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POLÍTICAS
INCLUSIVAS
Profª. Me. Denise Matias Soares Silva
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POLÍTICAS INCLUSIVAS
PROFª. ME. DENISE MATIAS SOARES SILVA
3

Diretor Geral: Prof. Esp. Valdir Henrique Valério

Diretor Executivo: Prof. Dr. William José Ferreira

Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Profa Esp. Cristiane Lelis dos Santos

Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Profa. Esp. Gilvânia Barcelos Dias Teixeira

Revisão Gramatical e Ortográfica: Profa. Clarice Virgilio Gomes

Revisão Técnica: Profª. Dr. Carlos Eduardo Candido Pereira

Revisão/Diagramação/Estruturação: Clarice Virgilio Gomes


Fernanda Cristine Barbosa
Prof. Esp. Guilherme Prado

Design: Bárbara Carla Amorim O. Silva
Daniel Guadalupe Reis
Élen Cristina Teixeira Oliveira
Maria Eliza P. Campos
Victor L. dos Reis Lopes
© 2022, Faculdade Única.

Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza-
ção escrita do Editor.

Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920.
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POLÍTICAS INCLUSIVAS
1° edição

Ipatinga, MG
Faculdade Única
2022
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DENISE MATIAS SOARES SILVA


Mestre em Psicologia, linha de pesquisa Pro-
cessos Psicossociais (PUCMinas). Pós-Gradua-
da em Docência em Ensino Superior (Unileste),
Educação Inclusiva e Educação Especial (UNIN-
TER), Psicanálise e os desafios na Contempo-
raneidade (Rede Pitágoras). Graduada em Pe-
dagogia e Psicologia (Unileste). Atuou como
docente na Educação Infantil, Ensino Funda-
mental séries iniciais, Ensino Técnico e tutoria
em EaD para cursos de graduação.

Para saber mais sobre a autora desta obra e suas qualificações,


acesse seu Curriculo Lattes pelo link :
http://lattes.cnpq.br/6568022440669877
Ou aponte uma câmera para o QRCODE ao lado.
6
LEGENDA DE

Ícones
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do
conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones
ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado
trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a
seguir:

FIQUE ATENTO
Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes nas
quais você precisa ficar atento.

BUSQUE POR MAIS


São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca
virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro.

VAMOS PENSAR?
Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade,
associando-os a suas ações.

FIXANDO O CONTEÚDO
Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos
conteúdos abordados no livro.

GLOSSÁRIO
Apresentação dos significados de um determinado termo ou
palavras mostradas no decorrer do livro.
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SUMÁRIO
UNIDADE 1
ASPECTOS HISTÓRICOS DA DEFICIÊNCIA

1.1 História Da Deficiência ..............................................................................................................................................................................................................................................................10


1.2 A Deficiência Na Antiguidade E Idade Média ..........................................................................................................................................................................................................10
1.3 A Deficiência Na Idade Moderna, Contemporânea E Últimas Décadas ................................................................................................................................................13
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................................................................................................................................................................................................17

UNIDADE 2
A HISTÓRIA DA DEFICIÊNCIA NO BRASIL
2.1 A Deficiência No Brasil ..............................................................................................................................................................................................................................................................21
2.2 A Institucionalização ................................................................................................................................................................................................................................................................23
2.3 Marco No Cenário Político Brasileiro .............................................................................................................................................................................................................................25
FIXANDO O CONTEÚDO ...............................................................................................................................................................................................................................................................28

UNIDADE 3
A ESCOLA COMO ESPAÇO PARA A DIVERSIDADE
3.1 Diversidade Cultural ..................................................................................................................................................................................................................................................................32
3.2 Multiculturalismo E A Escola Cultural ..........................................................................................................................................................................................................................33
3.3 Diversidade Étnico-Racial .....................................................................................................................................................................................................................................................36
FIXANDO O CONTEÚDO ...............................................................................................................................................................................................................................................................43

UNIDADE 4
PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO: IMPLICAÇÕES SOCIAIS
4.1 Preconceito Racismo E Discriminação, Existe Diferença? ..............................................................................................................................................................................47
4.2 A Legislação Pune? ..................................................................................................................................................................................................................................................................49
4.3 A Legislação ...................................................................................................................................................................................................................................................................................50
FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................53

UNIDADE 5
A EDUCAÇÃO ESPECIAL E OS MARCOS LEGAIS
5.1 Marcos Legais Na Educação ................................................................................................................................................................................................................................................57
5.2 Lei De Diretrizes E Bases E As Políticas Educacionais Inclusivas ..............................................................................................................................................................58
5.3 Deficiência Legislação E Trabalho ..................................................................................................................................................................................................................................63
FIXANDO O CONTEÚDO ...............................................................................................................................................................................................................................................................69

UNIDADE 6
NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: AVANÇO OU RETROCESSO?
6.1 Deficiências, Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) e Altas Habilidades: noções introdutórias ...................................................................73
6.2 Perspectivas acerca da inclusão educacional ........................................................................................................................................................................................................75
6.3 Tecnologia Assistiva e Avaliação Assistida ................................................................................................................................................................................................................78
FIXANDO O CONTEÚDO ...............................................................................................................................................................................................................................................................82

RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ......................................................................................................................................................................................................................85


REFERÊNCIAS .....................................................................................................................................................................................................................................................................................86
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UNIDADE 1
Na unidade 1, conversaremos sobre como o percurso da pessoa com deficiência é
atravessado por práticas discriminatórias e diversas lutas e movimentos em favor da
manutenção do direito à cidadania. A forma como se origina e evolui a cultura de
C ONFIRA NO LI VRO

um povo ou de um grupo definirá seu processo de educação e seu olhar acerca do


outro e da diferença, portanto cultura e educação estão intrinsecamente associadas,
caminham lado a lado.

UNIDADE 2
Na unidade 02, discutiremos acerca do surgimento da educação das crianças
com deficiência no final do século XVIII e início do século XIX, e suas formas de
institucionalização. O liberalismo defendia a liberdade em todos os campos:
intelectual, político, social, religioso e econômico, consequentemente sua
interferência em todos esses campos, influenciou também o início da educação das
pessoas com deficiência no Brasil.

UNIDADE 3
Na terceira unidade, “A escola como espaço para a diversidade”, apresentaremos
o conceito de diversidade e pluralidade cultural destacando questões sociais que
impactam diretamente dentro da sala de aula, no modo de ser e agir dos alunos
e na prática docente que precisa contemplar no processo de aprendizagem
a diversidade, além de nos questionarmos acerca das práticas excludentes
homogeneizadoras.

UNIDADE 4
Trataremos na unidade 4, sobre o preconceito, discriminação e racismo, as
manifestações dessas formas e os mecanismos de manutenção. Refletiremos
sobre a relação de preconceito e discriminação e conheceremos os dispositivos
legais aplicados para casos de racismo e preconceito. Perceberemos que apesar da
legislação vigente as práticas não são contidas e a escola ainda é um reprodutor
dessas manifestações.

UNIDADE 5
Na unidade cinco conversaremos sobre os marcos legais que regem o atendimento
educacional especializado para alunos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação a partir da década de 1990, em
que se contextualizam os primeiros movimentos de inclusão. Além disso, refletiremos
sobre a importância de o professor conhecer esses dispositivos e as lutas sociais que
os promoveram.

UNIDADE 6
Na unidade seis, conversaremos um pouco sobre algumas terminologias utilizadas
pela sociedade para nomear as pessoas com deficiência ao longo dos anos.
Iniciaremos a reflexão com necessidades educacionais especiais. Muitas pessoas
equivocadamente diriam que estão contemplados nessa terminologia a pessoa com
deficiência, por outro lado, essa terminologia apresenta muitas críticas em relação
ao seu uso.
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ASPECTOS
HISTÓRICOS DA
DEFICIÊNCIA
10
“Ser outro, outro, outro. Cada um também deveria a
1.1 HISTÓRIA DA DEFICIÊNCIA ver-se como ou-tro” (Elias Canetti)

O percurso da pessoa com deficiência é atravessado por práticas discriminatórias


e diversas lutas e movimentos em favor da manutenção do direito à cidadania. Não é
possível pensar em todo esse movimento sem, entretanto, refletir sobre a cultura de
cada grupo de indivíduos na sociedade.
A forma como se origina e evolui a cultura de um povo ou de um grupo de-finirá
seu processo de educação e seu olhar acerca do outro e da diferença, portanto cultura e
educação estão intrinsecamente associadas, caminham lado a lado.
Pensamos na apropriação não só das formas de viver como também no mundo
do trabalho. O homem se faz a partir da adaptação a natureza e consequentemente
pelo seu trabalho, que satisfaz suas necessidades de sobrevivência.
Cabe ressaltar que do ponto de vista cultural e já discorrido anteriormente,
o homem se produz por meio do trabalho que sua está ligado à sua condição de
sobrevivência, desenvolvimento e atuação social.
Ao refletirmos acerca de questões como a sobrevivência, desenvolvimento e
atuação social, somos atravessados por um ponto importante da existência humana:
como a pessoa com deficiência se “enquadra” em um contexto social de produção para
a própria sobrevivência?
Algumas questões se farão presentes neste capítulo. Reflexões necessárias
para quem deseja não apenas circular, mas fazer parte do mundo da pessoa com
deficiência. Culturalmente e socialmente como ela é vista? Quais são suas chances
de sobrevivência? Como é engajada no mercado de trabalho? Quais as formas de
acolhimento? No passado foi possível a sua inserção social e sobrevivência?
Avancemos agora destrinchando alguns períodos históricos! Como a história da
deficiência começou?
A deficiência sempre foi tratada como a diferença que incomoda. Ao longo dos
anos, em cada período histórico construía-se uma percepção a respeito da deficiência.
Conversaremos detalhadamente com a seguir sobre cada período.

VAMOS PENSAR?
Podemos pensar o infanticídio a partir de como a deficiência era vista em Esparta. Após
a leitura do texto e os esclarecimentos dados para essas ações, é possível estabelecer al-
guma relação com a chegada de uma criança com deficiência em uma família, na soci-
edade ou na escola?

1.2 A DEFICIÊNCIA NA ANTIGUIDADE E IDADE MÉDIA


“Teus verdadeiros educadores, aqueles que te forma-
rão, te revelam o eu são verdadeiramente o sentido
original e a substância fundamen-tal a tua essência[...]
Teus educadores não podem ser outra coisa senão li-
bertadores” (Friedrich Nietzsche)
A antiguidade foi considerada o período do extermínio, a deficiência não era
aceita. Todas as crianças que nasciam deficientes ou com algum tipo de anormalidade
eram rejeitadas e eliminadas sumariamente.
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Segundo Gugel (2007) por meio de evidências arqueológicas no Egito Antigo as
pessoas com deficiência podiam trabalhar e ocupar um lugar social juntamente com as
demais.

FIQUE ATENTO
A pessoa com deficiência física, tal como o Porteiro de Roma de um dos templos de deuses
egípcios, exercia normalmente suas atividades conforme revela a Estela votiva da XIX
Dinastia e originária de Memphis, que pode ser vista no Museu Ny Carlsberg Glyptotek, em
Copenhagen, Dinamarca.
Essa placa de calcário traz a representação de uma pessoa com deficiência física, sua
mulher e filho, fazendo uma oferenda à deusa Astarte, da mitologia fenícia.
Stele of Roma the Doorkeeper, dedicated to the goddess Astarte

1400-1365 BC

No entanto, na Antiguidade Clássica, a negligência era total, não havia


atendimento ou acolhimento e as pessoas estavam condenadas a serem abandonadas.
Já na Grécia Antiga, precisamente em Esparta, segundo Emmel (2002) havia um
padrão de beleza estabelecido: um adulto saudável e forte, militar que servisse a sua
pátria, que participasse de jogos e representasse a estética e a beleza. A partir desse
padrão físico e estético estabelecido, as crianças nascidas com deficiências físicas ou
mentais eram eliminadas. Cabia ao Estado verificar se as crianças ao nascer eram fortes
e sadias, isso mesmo antes de serem cuidadas pelos pais. Após inspeção minuciosa, os
bebês doentes, frágeis ou deficientes eram abandonados até a morte.

Figura 1: A Seleção de Crianças em Esparta


Fonte: Jean-Pierre Saint-Ours (1785)
12
Já em Atenas o procedimento era o mesmo, porém, sem a intervenção do Estado.
Cabia ao pai decidir o que fazer com os filhos que não apresentavam o padrão de saúde
esperado socialmente.
Na Roma Antiga os bebês do sexo feminino que nasciam deficientes eram
colocados aos pés do pai para que ele decidisse o futuro da criança: se não trouxesse
orgulho no futuro por não ser saudável, seria abandonado por falta de cuidados básicos,
alimentação e proteção (EMMEL, 2002).
Práticas de abandono e negligencia eram comuns na Antiguidade, uma
crueldade devido a limitação e a diferença. À pessoa com deficiência não era
permitido o direito à vida, já nascia excluída!
Na Idade Média a doutrina Cristã modifica e interfere neste cenário. Ela postula
entre que o homem é uma criatura divina, portanto, precisa ser aceito e amado.
Dessa forma o infanticídio cometido pelos pais e pelo Estado passou a ser duramente
condenado e criticado (EMMEL, 2002).
Foi na Idade Média, em Paris que o primeiro hospital para cegos foi fundado.
Seu fundador o Rei Luís IX, por volta de 1260. Seu objetivo inicial não era atender pessoas
que nasciam ou se tornavam cegas devido a alguma enfermidade, muito ao contrário ele
queria atender os soldados que haviam ficado cegos durante a Sétima Cruzada. O nome
dado ao hospital foi “Quinze-Vingts, o que significa 15 vezes 20, ou seja, 300 soldados
cegos (GUGEL, 2007).
No período cristão as pessoas com deficiência tiveram o apoio da Igreja, em
destaque do bispo de Myra, que alimentava e acolhia as pessoas abandonadas. Destaca-
se neste período ações de acolhimento em conventos e Igrejas, que em exigiam em
contrapartida dessas pessoas pequenos favores e serviços (PESSOTTI 1984).
Ainda segundo o autor as pessoas com deficiência foram culpabilizadas pela
própria deficiência, diferentemente da época medieval, que eram consideradas como
castigadas com a deficiência pelos pecados cometidos. “Muitos chegaram a admitir que
o deficiente era possuído pelo demônio, o que tornava aconselhável o exorcismo com
flagelações para expulsá-lo” (PESSOTI, 1984, p. 6).
Ou seja, a sobrevivência estava atrelada a troca de serviços. O respeito ainda não
havia sido construído, o que existia era o assistencialismo.

VAMOS PENSAR?
Você leu que ao longo da história o abandono, práticas de negligência, preconceito,
segregação ocorreram com indivíduos com deficiência. Você acredita que práticas co-mo
essas ficaram no passado, ou atualmente as pessoas com deficiência ainda são víti-mas
de tais atitudes?

Visite uma instituição especializada no atendimento às pessoas com defici-ência


da sua cidade. Quais medidas pedagógicas e de infraestrutura essa institui-ção possibilita
para a inclusão das pessoas com deficiência?
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Assista o filme “O garoto selvagem”
Direção: Francois Truffaut
O filme francês conta a história do menino encontrado na
floresta apelidado como o selvagem de Aveyron e seu tutor
Jean Itard, que recebe a difícil tarefa de educá-lo. Disponível
em: https://bit.ly/3W2XwRq
Acesso em 25 ago. de 2020

1.3 A DEFICIÊNCIA NA IDADE MODERNA,


CONTEMPORÂNEA E ÚLTIMAS DÉCADAS

Como dito anteriormente a educação especial estava atrelada a caridade ou ao


assistencialismo. Avançando um pouco mais na história, com os surdos não era diferente.
O primeiro educador de surdos da história o monge espanhol beneditino Pedro Ponce de
Léon dedicou parte de sua vida ao ensino de surdos, filhos de nobres, os demais ficavam
a cargo do assistencialismo (MOURA, 2000). Assim, a história da educação especial no
mundo teve seu início no século XVI,
com médicos e pedagogos que, desafiando os concei-
tos vigentes na época, acreditaram nas possibilidades
de indivíduos até então considerados ineducáveis. Cen-
trados no aspecto pedagógico, numa soci-edade em
que a educação formal era direito de poucos. Esses pre-
cursores desenvolveram seus trabalhos em bases tuto-
riais, sendo eles próprios os professores de seus pupilos
(MENDES, 2009).

Neste cenário em 1664 a doença mental não é descartada e é explicada nas bases
científicas, como estruturas cerebrais defeituosas ou falhas neurais.
A partir de então podemos começar em outra teoria, do campo organicista em
que a deficiência deixa existir como aberração e castigo divino e passa a ser considerada
e enxergada do ponto de vista médico: as modificações estruturais no cérebro.
A teoria organicista explica que no início do desenvolvimento poderiam ocorrer
tipos de problemas e que pouco provavelmente poderiam ser modificados ao longo da
vida (MARCHESI & MARTÍN, 1995).
É fato que a obra de John Locke não só representou um marco na história da
deficiência como também contribuiu no campo pedagógico, ao afirmar que a
individualidade é um fator primordial no processo de aprendizagem, que a experiência é
a condição primeira dos processos complexos de pensamento e que os objetos concretos
são importantes para a aquisição de noções.
Ele propõe o quanto é importante estimular as crianças a desenvolverem o
pensamento e a razão, assim, as formas de ensinar deveriam levar o aluno a pensar e ao
professor não caberia apenas a tarefa de ensinar os conteúdos.
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Em 1690 John Locke já postulava mudanças no processo de en-
sino aprendizagem, um aluno mais ativo e um professor me-
diador.
Complemente sua leitura lendo o livro Teorias cognitivas da
aprendizagem e reflita o quanto John Locke já era atual em
suas postulações; Disponível em: https://bit.ly/3hMHyaR Acesso
em 25 ago. de 2020

A partir da segunda metade do século XVIII inicia-se a educação para surdos de


forma institucionalizada, o abade Charles Michel de I’Epée fundou a primeira escola
pública para surdos em Paris. Sua grande contribuição foi reconhecer a existência de
uma língua por meio da qual os surdos poderiam se comunicar e desenvolver um
método para o ensino de sinais (MOURA, 2000).
Embora, não fosse surdo e não sofresse de nenhuma deficiência auditiva,
contribuiu para o acesso dos surdos à educação pública e gratuita.
Quando pensamos em cegueira, o Instituto Nacional dos Jovens Cegos, foi a
primeira escola para cegos no mundo, foi fundada também em Paris, porém, por Valentin
Haüy, em 1784. Assim como o abade Charles Michel de L’Epée, Valentin se preocupava
com um método de ensino diferenciado, utilizava as letras em relevo. Alguns livros foram
escritos utilizando esse método, mas, eram poucos e permitiam apenas uma leitura
suplementar (MAZZOTA, 1995).
De acordo com o mesmo autor, a fim de aprimorar o método de Valentin Haüy,
um dos alunos bolsistas da escola, Louis Braille, jovem cego francês, adaptou o código
militar de comunicação noturna criado por Charles Barbier de La Serre. Inicialmente
a adaptação recebeu o nome de sonografia, e, posteriormente, Braille. Mesmo com o
passar do tempo o Braille ainda é conhecido como o sistema composto por pontos em
relevo, que de acordo com sua organização e disposição, formam as letras do alfabeto,
numerais, sinais de pontuação, símbolos químicos, letras acentuadas e as notas
musicais.

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Conheça na íntegra a história de Braille, um jovem que revolucionou a comuni-
cação entre cegos e videntes, sua parceria para o desenvolvimento desse siste-
ma, a aceitação pelos professores conservadores que preferiam usar o método
de Valentin Haüy, e por fim, a aceitação do sistema. Disponível em: https://bit.
ly/3gzxerc. Acesso em 25 ago. de 2020.

Na história da educação especial conversamos sobre as contribuições do abade


Charles Michel de L’Epée, no campo da surdez, Valentin Haüy e Louis Braille, na área da
cegueira e passaremos agora a conversar sobre a deficiência mental.
Segundo Pessotti (1984) Jean Marc Gaspard Itard, médico francês, ganha enorme
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destaque na história ao receber um garotinho que foi capturado na floresta no Sul da
França por volta de 1800. Itard deu o nome de Victor para o menino. Sua tarefa era educar
o garoto “selvagem”.
De acordo com Itard em sua obra Mémoire sur les premiers développments de
Victor l’Aveyron citada por Pessotti (1984, p. 36):
enorme déficit perceptivo e intelectual do menino, in-
capaz de discriminações mesmo grosseiras entre odo-
res, ruídos, imagens, o que o torna um retardado mental
profundo, mais despreparado que um animal domésti-
co, incapaz de articular qualquer som vocal humano e
de fixar sua atenção em um dado ou evento.

Pessotti (1984) e Mazzotta (1995) concordam que Itard foi reconhecido pela sua
habilidade na reeducação de Victor de l’Averyon, ensinar uma linguagem aos surdos e
empregar métodos sistematizados para instruir uma pessoa com deficiência mental.
Seu trabalho e esforços introduziram uma nova era no campo da deficiência mental: “a
educação era uma resposta aos problemas associados à deficiência”.
Outras instituições e contribuições foram surgindo ao longo da história. Em
Munique na Alemanha foi fundada uma instituição para atender os deficientes físicos
(MAZZOTA, 1995).
Ainda segundo o autor merece destaque o médico e educador Edouard Seguin,
aluno de Itard.
Sua publicação The moral treatment, and éduction of idiots and other backward
childrenI em 1846 foi considerada um marco na área da educação especial, em que
aborda primariamente as necessidades das crianças com deficiência. Participou em
1876 na Associação Americana de Retardo Mental (American Association on Mental
Retardation – AAMR) a mais antiga associação interdisciplinar voltada para a deficiência
mental.
Outras importantes contribuições para a educação especial foi a de Maria
Montessori, médica italiana que desenvolveu um programa de treinamento para crianças
com deficiência mental em Roma. Percebe-se que o cenário começa a ser modificado.
Montessori enfatiza em seu programa de treinamento a autoaprendizagem por meio de
uso de “materiais didáticos, blocos, recortes, caixas, letras em relevo, objetos coloridos”
específicos ao alcance de cada objetivo educacional.
Ela iniciou seus trabalhos com crianças com deficiência cognitiva, demonstrando
que a aprendizagem é possível por meio de experiências concretas e quando são
expostas a ambientes ricos em materiais que possam ser manipulados (SMITH, 2008).

FIQUE ATENTO
O método montessoriano valorizava o aluno e ela acreditava que o “potencial para aprender
está em cada um de nós”. Foi ela quem valorizou a redução no tamanho do mobiliário das
escolas infantis, além de também sugerir que os objetos domésticos tivessem o tamanho
reduzido para serem utilizados no dia a dia nas brincadeiras de casinha. Esse método
lembra a você a realidade da sala de aula atualmente, cada um aprende de um jeito?
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Após esse percurso teórico, verifica-se que o acesso das pessoas com deficiência
à educação foi conquistado lentamente, de acordo com a ampliação das oportunidades
educacionais para a população.
Conhecemos a evolução do panorama da educação especial no mundo. A partir
de agora apresentaremos como essa área surgiu e se desenvolveu no Brasil.

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Conheça um pouco mais a história de Maria Montessori
Assista também o vídeo com a professora de psicologia da educação Mitsuko
Antunes, que aborda o processo de desenvolvimento e a aprendizagem das
crianças pelas teorias de Montessori. Após assistir o vídeo, reflita se o método
montessoriano é aplicado nas salas de aula regulares ou de recursos Disponí-
vel em: https://bit.ly/3bmfWHd. Acesso em 25 ago. de 2020.

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“Como estrelas na terra, toda criança é especial”
Qual a relação do o filme com o método montessoriano? Dis-
ponível em: https://bit.ly/3biLlKu. Acesso em 25 ago. de 2020
17
FIXANDO O CONTEÚDO
1. A antiguidade foi considerada o período do extermínio, a deficiência não exista como
tal. Todas as crianças que nasciam deficientes ou com algum tipo de anormalidade eram
rejeitadas e eliminadas sumariamente.

I. No Egito Antigo as pessoas as pessoas com deficiência faziam parte da sociedade


conforme revelavam as evidências arqueológicas.
II. Na Antiguidade Clássica, tanto na Grécia como em Roma, as crianças consideradas
doentes, frágeis ou deficientes eram abandonadas até a morte.
III. Na Idade Média o cristianismo foi propagado e as pessoas com deficiência, começaram
a ser culpadas por sua deficiência, já que esta era considerada um castigo de Deus pelos
pecados cometidos.

Considerando as afirmativas, marque a CORRETA.

a) Apenas I é verdadeira.
b) Apenas II e III são verdadeiras.
c) Apenas II é verdadeira.
d) Todas as alternativas são falsas.
e) Todas as alternativas são verdadeiras.

2. A deficiência ao longo dos períodos da história é incompatível com a proposta de um


sujeito capaz por sua própria força do trabalho para sobreviver e culturalmente e ser
inserido na sociedade.

Assinale a alternativa CORRETA

a) A história da deficiência não buscava um padrão de beleza e perfeição.


b) Todas as pessoas com deficiência em toda a história devem esperar para que as outras
pessoas lutem por seus direitos de cidadania e trabalho.
c) Todas as crianças que nasciam deficientes ou com algum tipo de anormalidade eram
acolhidas pelas famílias e tinham seus direitos resguardados.
d) A deficiência sempre foi tratada de forma desrespeitosa e sem empatia. Ao longo dos
anos, em cada período histórico construía-se uma percepção a respeito da deficiência.
e) Um adulto saudável e forte, militar que servisse a sua pátria, que participasse de jogos
e representasse a estética e a beleza teria sido condenado a morte ao nascer.

3. Leia as alternativas a seguir e assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso:

As alternativas verdadeiro/falso dizem respeito a que tema?

( ) Após a doutrina cristã, a morte de crianças passou a ser condenada.


( ) Na antiguidade as práticas de abandona eram comuns e aconteceram em diversas
regiões americanas.
( ) A doutrina cristã modificou o cenário da deficiência, as pessoas passaram a ser vistas
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como criaturas divinas.
( ) Na Roma Antiga, bebês do sexo feminino ou com alguma deficiência eram colocados
aos pés do pai para que ele decidisse se viveria ou morreria.
( ) As pessoas que nasciam com algum tipo de deficiência na Antiguidade Clássica
não recebiam nenhum tipo de atendimento, eram negligenciadas e condenadas ao
abandono.

A sequência correta é

a) F, V, V, V, F.
b) V, F, F, V, V.
c) V, F, V, V, V.
d) V, V, V, V, V.
e) F, F, F, V, V.

4. Assinale a alternativa CORRETA:

a) Foi na Idade Média, Alemanha, que o primeiro hospital para cegos foi fundado.
b) O objetivo do hospital de cegos era atender toda a população que desse serviço
necessitasse.
c) Foi na Idade Média, Paris, que o primeiro hospital para cegos foi fundado
d) O objetivo do hospital de cegos era atender os soldados que haviam ficado surdos na
Sétima Cruzada.
e) No período cristão as pessoas com deficiência tiveram o apoio da Igreja, em destaque
do bispo de Myra, que alimentava e acolhia as pessoas abandonadas

5. Uma vez que a capacidade de sobrevivência decorria de habilidades individuais para


a caça, pesca e abrigo, diante da total submissão do homem aos desígnios da natureza,
assim, muito provavelmente, eram seletivamente eliminados aqueles que não poderiam
contribuir para a manutenção da subsis-tência do grupo.
BIANCHETTI, L. Aspectos históricos da apreensão e da educação dos considerados Deficientes. In BIANCHETTI, L;

FREIRE, I.M. (Org.). Um olhar sobre a diferença: interação, trabalho e cidadania. São Paulo: Papi-rus, 1998.

De acordo com os conteúdos aborda dos nas aulas e no livro base Funda-mentos
para Educação Especial, a tentativa de apreender o significado do preconceito e da
discriminação e da exclusão de pessoas com deficiência requer a significação

a) no espaço histórico e na cultura.


b) no presente e no passado.
c) no tempo e no espaço histórico.
d) no tempo e na história moderna.
e) no tempo e na cultura.

6. Em Atenas, Esparta e Roma são recorrentes os relatos dos filósofos – trabalhadores


intelectuais daquela sociedade – sobre extermínio de crianças com deficiências desde
o nascimento deficiências, desde o nascimento; tratavam de disseminar os valores
19
necessários a manutenção da nobreza em seus discursos.
SILVA S.; VIZIM, M. (Org.). Educação especial: múltiplas leituras e diferentes significados. Campinas: Mercado de Letras, 2001.

De acordo com o texto assinale a alternativa CORRETA.

a) Eram cuidadas e colocadas em lugares especiais.


b) Os recém-nascidos mal constituídos eram negligenciados até a morte.
c) Eram devorados pelos cães.
d) Eram pisoteadas pelos touros.
e) Eram tratadas como iguais.

7. Assinale a alternativa CORRETA:

a) Foi na Idade Média, Alemanha, que o primeiro hospital para cegos foi fundado.
b) O objetivo do hospital de cegos era atender toda a população que desse serviço
necessitasse.
c) Foi na Idade Média, Paris, que o primeiro hospital para cegos foi fundado
d) O objetivo do hospital de cegos era atender os soldados que haviam ficado surdos na
Sétima Cruzada.
e) No período cristão as pessoas com deficiência tiveram o apoio da Igreja, em destaque
do bispo de Myra, que alimentava e acolhia as pessoas abandonadas

8. Em relação aos dispositivos legais que fizeram parte da história, assinale os que se
apresentam de forma consecutiva:

a) Constituição Federal, Declaração de Salamanca, Convenção de Guatemala, Plano


Nacional de Educação.
b) Constituição Federal, Declaração de Salamanca, Convenção de Guatemala, PNEE,
Plano Nacional de Educação.
c) Declaração de Salamanca, Convenção de Guatemala, PNEE, Plano Nacional de
Educação e Política da Inclusão.
d) Constituição Federal, Declaração de Salamanca, Convenção de Guatemala, PNEE,
Plano Nacional de Educação e Política da Inclusão.
e) Constituição Federal, Convenção de Guatemala, PNEE, Plano Nacional de Educação e
Política da Inclusão.
20

A HISTÓRIA DA
DEFICIÊNCIA NO
BRASIL
21
2.1 SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO: CONCEITOS E FUNÇÕES
“A primeira ideia que uma criança precisa ter é a da di-
ferença entre o bem e o mal. A principal função do edu-
cador é cuidar para que ela não confunda o bem com a
passividade e o mal com a atividade.” (Maria Montessori)
No Brasil, a educação das crianças com deficiência surge com as ideias
divulgadas no final do século XVIII e início do século XIX, e se deu inicialmente de forma
institucionalizada (JANNUZZI, 2004 ).
Com liberalismo, ocorreu uma luta pela abolição de algumas instituições coloniais,
oposição à interferência do Estado na economia e a defesa da liberdade de expressão e
da propriedade privada (COSTA, 1979).
O liberalismo defendia a liberdade em todos os campos: intelectual, político,
social, religioso e econômico, consequentemente sua interferência em todos esses
campos, influenciou também o início da educação das pessoas com deficiência
no Brasil. A relação explica-se pelo fato de como o movimento estava vinculado com
a democratização dos direitos para todos os cidadãos, as pessoas com deficiência
começam a ser vistas dessa forma, como cidadãos de direitos.
No Brasil as Santas Casas de Misericórdia seguiam a tradição europeia, acolher
pobre e doentes. Devido a isso exerceram um papel importante na educação de
pessoas com deficiência. Em são Paulo, a partir de 1717, a Santa Casa de Misericórdia
acolhia crianças abandonadas até os 07 anos de idade. Supõe-se que que muitas destas
crianças apresentavam doenças mentais.
Ao completarem 7 anos de idade as crianças que não apresentavam deficiência
eram enviadas para outros seminários a fim de que pudessem se preparar apara o
futuro. É possível, porém, sem registros históricos que algumas crianças com deficiências
menos severas talvez tivessem o mesmo destino.
Por outro lado, as mais acometidas pela deficiência, permaneciam nas Santas
Casas, doentes e alienadas (SILVA A. M., 2012).
O abandono de crianças com ou sem anomalias nas Santas Casas de Misericórdia
pode ter sido facilitado pela criação do Asilo dos Expostos. Segundo Moraes (2000, p. 73):
[...] o então presidente da Província, Lucas A. M. de Bar-
ros, cria em 1825, a Casa da roda ou Casa dos Expostos
e a instala no pavimento térreo da Santa Casa de Mise-
ricórdia. O Asilo dos expostos era também chamado de
Casa da Roda em alusão ao dispositivo nela existente,
uma roda que, girando em torno de um eixo perpendi-
cular, ocupava toda uma janela – sempre aberta do lado
de fora, de modo que que desejasse se desfaze de uma
criança pudesse depositá-la na caixa e, movimentando
a roda, passá-la para o interior do prédio.

FIQUE ATENTO
Numa Sociedade iletrada era raro que o enjeitado se fizesse acompanhar por algum bi-
lhete. Os registros escritos que sobreviveram ao tempo dão conta de que a preocupação
com o batismo era mais importante que a sobrevivência.
22
Cabe ressaltar que apesar do abandono e do assistencialismo de algumas
instituições, o direito das pessoas com deficiência estava previsto implicitamente desde
a primeira constituição do Brasil promulgada em 22 de abril de 1824.
Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos
dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberda-
de, a segurança individual, e a propriedade, é garantida
pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte.
XXXII. A Instrucção primaria, e gratuita a todos os Cida-
dãos. (Brazil, 1824).

A Constituição é clara com relação à educação primária minimamente gratuita


“a todos os cidadãos”, contudo, na prática o lugar da pessoa com deficiência não era na
escola, mas para a Roda dos Excluídos, e, como alguma talvez pudesse ingressar em um
seminário. Eis uma das facetas cruéis da exclusão, já referenciada há séculos atrás.
Por volta de 1857, o Brasil passava por um momento de estabilização e crescimento
econômico, além da crescente influência das ideias vindas principalmente da França,
local onde o movimento da deficiência já caminhava a passos mais largos (JANNUZZI,
2004 ).
A inspiração chega ao Brasil com base nas experiências de médicos filósofos e
educadores da Europa e Estados Unidos. A partir de então, inicia-se uma organização de
serviços voltados para o atendimento das pessoas com deficiências sensoriais, mentais
e físicas (MAZZOTA, 1995).
De acordo com o referido autor, D. Pedro II inaugura em 17 de setembro de 1854
o Imperial Instituto dos Meninos Cegos. Sua fundação recebeu a participação do José
Álvares de Azevedo, ex-aluno do Instituto de Jovens Cegos de Paris.

Figura 2: Imperial Instituto dos Meninos Cegos


Fonte: Rio de Janeiro (1854)

Logo em seguida, no Rio de Janeiro, por meio da Lei nº 839, de 26 de setembro de


1857, aprovada também por D. Pedro II, foi criado o Imperial Instituto de Surdos-Mudos,
a primeira instituição do Brasil voltada para o atendimento des-se público. Em 1956,
o instituto foi nomeado como Instituto Nacional de Surdos e Mudos e, em 1957, como
Instituto Nacional de Educação de Surdos (FENEIS).
Apesar de alguns esforços, Mazzotta (1995) esclarece que durante o século XIX as
iniciativas voltadas para o atendimento de pessoas com deficiência foram isoladas. Por
outro lado, Jannuzzi (2004 ) esclarece que apesar de serem pouco significativas essas
23
iniciativas, houve preocupação em melhorar a vida dos alunos com deficiência mais
severa, apesar das instituições que atendiam cegos e surdos, serem privilegiadas.
Após 1920, ocorreu o crescimento do número de instituições especializadas
no atendimento a pessoa com deficiência, configurando-se no período da
institucionalização, que conversaremos a seguir.

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Assista a entrevista à Rádio Brasil atual no dia 07 de
fevereiro de 2020, com a pesquisadora Meire Caval-
canti, que aponta que o governo atual tenta destruir
a Política Nacional de Educação Especial na Perspec-
tiva da Educação inclusiva. Essas mudanças estão as-
sociadas à segregação /institucionalização da pessoa
com deficiência? Disponível em: https://bit.ly/3bjC2de
Acesso em 25 ago. de 2020

2.2 A INSTITUCIONALIZAÇÃO

A história da educação especial passou por diversos momentos como já lido


anteriormente, um desses períodos foi nomeado com período da institucionalização.
Ele foi caracterizado segundo Aranha (2004, p. 14):
pela retirada das pessoas com deficiência de suas co-
munidades de origem e pela manutenção delas em ins-
tituições residenciais segregadas ou escolas especiais,
frequentemente situadas em localidades distantes de
suas famílias.

Por volta de 1930, a sociedade começa a se organizar por meio de associações


de pessoa envolvidas com a deficiência, paralelamente observa-se algumas iniciativas
do governo, como a criação de instituições para atender às necessidades das pessoas
com deficiência. Foram criadas escolas anexas aos hospitais e ao ensino regular. Foram
fundadas instituições filantrópicas e criados institu-tos pedagógicos e centros de
reabilitação, geralmente particulares (MAZZOTA, 1995).
Contudo a educação especial se firma na década de 1960, em função do grande
desenvolvimento econômico pelo qual o país estava passando. Do ponto de vista
econômico, a escola surge como a produtora e formadora de mão de obra essenciais
as necessidades das formas de produção, principalmente para a ocupação de cargos
elevados, administradores, técnicos, planejadores, etc.
A valorização do trabalho possibilitou a valorização da escola, como dispositivo de
promoção individual, acesso ao emprego e melhoria na renda familiar. A escola deixa
de ter um papel meramente educativo, mas, agrega-se a ele o compromisso de fazer
desenvolver o país (JANNUZZI, 2004 ).
Incialmente nos referimos a um período em que muitas instituições foram criadas,
algumas ainda existem e exercem um papel importante na prestação de serviços
em educação especial. Mazzotta (1995) destaca a criação de algumas instituições
especializadas no ensino de pessoas surdas, cegas, deficientes físicos e mentais.
24
O autor destaca na área da cegueira o Instituto de Cegos Padre Chico, escola
fundada em 1928, que objetivava atender crianças com deficiência visual em idade
escolar, e a Fundação para O livro do Cego no Brasil instalada em São Paulo em 1946. Sua
finalidade era produzir e distribuir livros em impressos em Braille. Em seguida passou
também a reabilitar pessoas cegas e baixa visão.
Para o atendimento das pessoas surdas, as referências foram o Instituto Santa
Terezinha, fundado em 1929 atendia meninas surdas em regime de internato. A partir
de 1970 passou a atender também meninos, com regime externato, integrando os
alunos no ensino regular. A Escola Municipal de Educação Infantil e de Primeiro Grau
par Deficientes Auditivos Helen Keller foi fundada em 1951e contribuiu para a criação de
outras 04 escolas para o atendimento de alunos surdos.
O Instituto Educacional São Paulo (Iesp) foi criado em 1954, atendendo crianças
com idade entre 5 e 7 anos. Em 1969 foi doado à Fundação São Paulo, sendo subordinado
ao Centro de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comu-nicação (Cerdic).
Ainda segundo Mazzotta (1995) com relação ao atendimento das pessoas com deficiência
física, destaca-se a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, o Lar-Escola São Francisco e
a Associação de Assistência à Criança Defeituosa (AACD).
A AACD foi fundada em 1950 pelo médico Renato da Costa Bonfim. É uma
entidade privada sem fins lucrativos. Hoje é chamada de Associação de Assistência à
Criança Deficiente. Seu objetivo é habilitar, prevenir e reabilitar crianças e jovens com
deficiência, possibilitando a integração social (MAZZOTA, 1995).
Em relação à deficiência mental o autor destaca duas instituições renomadas e
reconhecidas no Brasil e que mantêm até hoje um papel relevante no atendimento a
pessoas com deficiência mental: a Sociedade Pestallozi e a Associação de Pais e Amigos
dos Excepcionais (APAE).
A primeira Sociedade Pestallozi foi fundada em Porto Alegre no ano de 1926
por um casal de professores que se inspiraram na concepção da pedagogia social
desenvolvida pelo Educador Henrique Pestalozzi.

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Sociedade Pestalozzi de Niterói
Tem como finalidade “defender e garantir a dignidade e os direitos do ser hu-
mano”, principalmente da pessoa com deficiência visando a inclusão. Ofere-
ce serviços de Assistência Social, Saúde e Educação. Disponível em: https://bit.
ly/2IujTzf. Acesso em 25 ago. de 2020

Em 1927 ela foi transferida para Canoas. Em 1935 foi criado o instituto Pestalozzi
de Minas Gerais com a participação ativa de Helena Antipoff. Em 1948 outra Sociedade
Pestalozzi foi criada no Rio de Janeiro e em 1952, em São Paulo (MAZZOTA, 2005).
De acordo ainda com o autor, Helena Antipoff participou do movimento que
criou a primeira Apae em 1954 no Rio de Janeiro. Atualmente existem mais de 2000
municípios atendidos pelas APAES.
25

VAMOS PENSAR?
APAE EM NÚMEROS
2.201
Apaes e entidades filiadas coordenadas por
24
Federações Estaduais abrangendo todos os estados brasileiros para atender cerca de
250.000
pessoas com deficiência intelectual e múltipla diariamente.

Na sua cidade tem APAE? Você conhece o trabalho que é desenvolvido lá? Procure sa-ber!

2.3 MARCO NO CENÁRIO POLÍTICO BRASILEIRO

Um dos importantes marcos para a pessoa com deficiência no cenário político


mundial ocorre em 1948, com a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos
que garante a igualdade de direitos para todos os cidadãos sem distinção. (Organização
das Nações Unidas, 1948):
Art. I - Todos os seres humanos nascem livres e iguais
em dignidade e direitos. São dotados de razão e consci-
ência e devem agir em relação uns aos outros com espí-
rito de fraternidade.
Art. II - Todo ser humano tem capacidade para gozar os
direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração,
sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor,
sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natu-
reza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou
qualquer outra condição.
[...]
Art. V - Ninguém será submetido à tortura nem a trata-
mento ou casti-go cruel, desumano ou degradante.
Art. VII - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem
qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm
direito a igual proteção contra qualquer discriminação
que viole a presente Declaração e contra qualquer inci-
tamento a tal discriminação.
[...]

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, marca a história da deficiência


à medida que garante a liberdade e a igualdade de direitos, bem como privilegia as
minorias (incluindo as pessoas com deficiência) que historicamente foram excluídas,
discriminadas, diferenciadas além de sofrer maus tratos físicos e psicológicos.
Até a década de 60 predominavam os serviços privados, as classes especiais nas
redes públicas existiam de forma menos expressiva. De acordo com Ferreira (2006) o
aumento no número de instituições se deu entre 1960 e 1970, instituições estas voltadas
para alunos com deficiência mental.
Este momento foi marcado segundo a autora pela influência médica na educação,
26
tanto de crianças com deficiência como das demais.
A psicologia também teve suas influências sobre a educação, com a aplicação
dos testes de inteligência, favorecendo a homogeneização e a organização das classes,
consequentemente, a aprendizagem.
Outro marco no período da institucionalização foi a promulgação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), lei nº 4.024, de 1961. A partir dessa lei
a deficiência não mais aparece nas entrelinhas ou no entendimento de cada um.
Art. 88 - A educação de excepcionais deve no que for
possível enquadrar-se no sistema geral da educação, a
fim de integrá-los na comunidade.
Art. 89 – Toda iniciativa privada considerada eficiente
pelos conselhos estaduais de educação, e relativa à edu-
cação de excepcionais, receberá dos poderes públicos
tratamento especial mediante bolsa de estudo e sub-
venções (BRASIL , 1961).

Não obstante a Lei nº 9.394/1996, evidencia mais claramente o direito da pessoa


com deficiência.
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efei-
tos desta Lei, a modalidade de educação escolar ofere-
cida preferencialmente na rede regular de ensino, para
educandos com deficiência, transtornos globais do de-
senvolvimento e altas habilidades ou superdotação.
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio espe-
cializado, na escola regular, para atender às peculiarida-
des da clientela de educação especial.
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes,
escolas ou ser-viços especializados, sempre que, em
função das condições específicas dos alunos, não for
possível a sua integração nas classes comuns de ensino
regular.
§ 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput
deste artigo, tem início na educação infantil e estende-
-se ao longo da vida [...] (BRASIL, 1996).

Posteriormente foi instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Defi-ciência


(LBI) nº 13.146 de 06 de julho de 2015. Essa lei consolidou os direitos funda-mentais da
pessoa com deficiência.
Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiên-cia (Estatuto da Pessoa com Deficiência),
destinada a assegurar e a promover, em condições de
igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fun-
damentais por pessoa com deficiência, visando à sua
inclusão social e cidadania.
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que
tem impedi-mento de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou senso-rial, o qual, em interação
com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participa-
ção plena e efetiva na sociedade em igualdade de con-
27
dições com as demais pessoas (Brasil, 2015).

A LDBEN de 1961 foi considerada o início do reconhecimento dos direitos da


pessoa com deficiência, ela expande os direitos assegurando condições de igualdade e
a permanência do aluno com deficiência nas escolas regulares, visando a plena inclusão,
o que talvez no cenário real ainda esteja longe de ocorrer.
Na próxima unidade conversaremos acerca dos marcos legais que cercei-am a
educação especial, conquistas obtidas e os movimentos da inclusão.

VAMOS PENSAR?
Faça um levantamento sobre o número de pessoas com deficiência de sua cidade e o
número de instituições especializadas no atendimento a essas pessoas.
Agora, vamos pensar...O número de instituições é suficiente para atender ao número de
pessoas com deficiência e suas demandas? Em que medida a inclusão garantida por lei é
praticada em sua cidade?

VAMOS PENSAR?
É possível pensarmos atualmente que as entidades especializadas para a pessoa com
deficiência ainda cumprem mesmo que sutilmente o papel da institucionalização?

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Assista o filme “Extraordinário”
O filme retrata a vida de um garoto que nasceu com uma
deformação facial e que frequentará a escola pela primei-
ra vez aos 10 anos de idade. Lá precisará lidar com todos
os colegas o observando e com as questões relativas ao
preconceito. Tente relacionar o filme a garantia dos direi-
tos da pessoa com deficiência e com o preconceito ainda
fortemente praticado nas escolas. Disponível em: https://bit.
ly/2DlgeBs. Acesso em 25 ago. de 2020

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Conheça um pouco mais sobre a educação especial e inclu-
são escolar lendo a obra Aline Maira da Silva.
Disponível em: https://bit.ly/3lCqJSe
Acesso em 25 ago. de 2020
28
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Apesar de alguns esforços, Mazzotta (2005) esclarece que durante o século XIX as
iniciativas voltadas para o atendimento de pessoas com deficiência foram isoladas.

Diante do exposto é CORRETO afirmar que

a) a Educação inclusiva se fortaleceu nesse período.


b) a Educação Especial foi criada para atender a educação inclusiva e alunos sem
deficiência.
c) as ações nesse período foram voltadas para as altas habilidades/superdotação.
d) foram criadas escolas especializadas para atender a demanda de crianças deficientes.
e) apesar de serem pouco significativas essas iniciativas, houve preocupação em
melhorar a vida dos alunos com deficiência mais severa, apesar das instituições que
atendiam cegos e surdos, serem privilegiadas.

2. De acordo com a legislação vigente, as escolas devem desenvolver práticas inclusivas.


Considere as seguintes afirmativas com relação à perspectiva da educação inclusiva no
espaço escolar.

I- A escola deve evitar o contato entre estudantes que não apresentam deficiências e os
que apresentam.
II- A escola deve promover o contato entre estudantes que não apresentam deficiência
e os que apresentam, atuando de forma a evitar situações que envolvam intimidação
vexatória.
III- O professor deve acompanhar, sem o auxílio de outros profissionais, a aprendizagem
dos estudantes com deficiência, e altas habilidades/superdotação e transtornos globais
do desenvolvimento.
IV- A escola deve elaborar uma proposta pedagógica que atenda aos grupos e às
necessidades individuais.

Estão CORRETAS, apenas, as afirmativas:

a) I e II.
b) II e III.
c) II e IV.
d) III e IV.
e) Todas as alternativas estão corretas.

3. A LDBEN de 1961 foi considerada o início do reconhecimento dos direitos da pessoa


com deficiência, ela expande os direitos assegurando condições de igualdade e a
permanência do aluno com deficiência nas escolas regulares, visando a plena inclusão,
o que talvez no cenário real ainda esteja longe de ocorrer.

Outra lei que marca a história da inclusão no Brasil é


29
a) Lei 13.146/2015 – LBI Lei Brasileira de Inclusão.
b) Declaração de Salamanca.
c) Declaração de Jontien.
d) Decreto Federal nº3.965/2001.
e) Resolução nº 4/2009.

4. Com relação as Santas Casas de Misericórdia, elas exerceram um papel fundamental


na educação das pessoas com deficiência, já que seguindo a tradição europeia, atendiam
pobres e doentes. A partir de 1717, essas instituições passaram a acolher

a) crianças surdas.
b) crianças cegas.
c) adultos deficientes abandonados.
d) apenas meninas abandonadas.
e) crianças abandonadas até 7 anos de idade que poderiam ou não apresentar prejuízos
físicos ou mentais.

5. A institucionalização refere-se a

a) retirada das pessoas com deficiência de suas comunidades de origem pela e pela
manutenção delas em instituições residenciais segregadas ou escolas especiais,
frequentemente situadas em localidades distantes de suas famílias.
b) a inclusão das pessoas com deficiência em suas comunidades de origem e pela
manutenção delas em instituições residenciais ou escolas especiais, frequentemente
situadas em localidades próximas de suas famílias.
c) a criação de instituições para atender às necessidades das pessoas com deficiência.
d) vulnerabilidade social em diferentes situações.
e) a criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos e Asilo dos expostos.

6. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu art. 58,
entende-se por Educação Especial a modalidade de educação escolar oferecida
preferencialmente na rede regular de ensino para educandos com

a) deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades e


superdotação.
b) vulnerabilidade social em diferentes situações.
c) transtornos de aprendizagem e com deficiência.
d) deficiência e atrasos no desenvolvimento.
e) transtornos no desenvolvimento e transtornos mentais.

7. Um dos importantes marcos para a pessoa com deficiência no cenário político mundial
ocorre em 1948 por meio de um documento mundial que garante a igualdade de direitos
para todos os cidadãos sem distinção.
Esse documento refere-se

a) a Lei 13.146/2015.
b) a LDBEN.
30
c) a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
d) a Constituição Federal de 1988.
e) a Declaração de Salamanca.

8. Em relação à deficiência mental duas instituições fundadas no passado e reconhecidas


no Brasil se mantêm até hoje. São elas a Sociedade Pestallozi e a Associação de Pais e
Amigos dos Excepcionais (APAE).

a) Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e o Instituto de Surdos-mudos.


b) a Sociedade Pestallozi e Asilo dos expostos.
c) a Sociedade Pestallozi e a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE).
d) o Instituto de Surdos-mudos e o Imperial Instituto dos Meninos Cegos.
e) o Imperial Instituto dos Meninos Cegos e Asilo dos expostos.
31

A ESCOLA COMO ESPAÇO


PARA A DIVERSIDADE
32
3.1 DIVERSIDADE CULTURAL
“Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa em
que o destino, para escrever um novo caso, precisa de
apagar o caso escrito. “Machado de Assis
Quando pensamos em diversidade cultural associamos rapidamente a ideia de
cultura, linguagem, culinária, tradição, política, modelo de organização familiar, costumes
entre outras características que fazem parte de um grupo de pessoas que habitam um
mesmo lugar. Estas características dão a identidade a uma comunidade, uma vez que a
cultura é transmitida de geração a geração reforçando os costumes de uma população
(PAULA, 2013).
Segundo Hirye; Neuza e Altoé (2016) quando pensamos no Brasil, em toda a sua
extensão territorial e em sua população numerosa e miscigenada pela colonização,
entendemos que somos um país composto por um povo que apresenta uma vasta
diversidade cultural. A diversidade cultural é exatamente o contrário da homogeneidade,
ela representa a pluralidade, a diferenciação e a variedade.
Ela se traduz como um componente ativo na vida das pessoas, não é possível pensar
em seres humanos sem cultura, porque nos apropriamos dela ao nascer, a recriamos ao
longo da vida e a propagamos por onde formos (PAULA, 2013).
Ela nos possibilita compreender a diferença que existe entre as várias culturas ao
nosso redor, no Brasil e no mundo, e como nos construímos por meio dela.

FIQUE ATENTO
Diversidade Cultural são as diferenças que existem entre os seres humanos. Essas diferen-
ças podem ser referentes a religião, ao gênero, a linguagem, entre outros costumes e tra-
dições, de acordo com a organização social de cada grupo.

É essa variedade cultural que chamamos de identidade cultural de um grupo de


indivíduos ou de uma sociedade. É ela quem marca, criva, personaliza e diferencia um
determinado grupo dos demais membros da população.
Diante deste contexto de uma variedade cultural que marca uma população, é
preciso repensar a sala de aula e seus inúmeros vieses. É de suma importância que o
aluno conheça e reconheça sua história, cultura local e a cultura das outras regiões que
compõem o nosso país, ou seja, a nossa diversidade. Pen-sando nisto, o professor exerce
o papel fundamental de “ponte” entre o aluno e diversidade cultural com suas mais
variadas manifestações (MOSER, 2017).
Para a autora, é ele quem fortalecerá este processo de valorização, sem, entretanto,
tentar unificá-la ou fundi-la, muito ao contrário, sua tarefa é desmistificar a tentativa
imposta pelos meios de comunicação de agrupar ou menosprezar os processos culturais
e suas características singulares.
Atualmente os meios de comunicação em suas propagandas e campanhas de
Marketing publicitário escolhem modelos que representem e fortaleçam a diversidade.
Entretanto, apesar desse esforço, ainda é muito comum que os(as) alunos (as) sofram
diversos tipos preconceitos: etnia, região, classe social, gênero entre outros.
Esses preconceitos provocam constrangimentos e consequentemente
33
comprometem a qualidade da aprendizagem e a convivência com os colegas de sala e
até mesmo com o professor. O preconceito desconsidera a diversidade!

VAMOS PENSAR?
Cada aluno (a) é único e singular, traz para a sala de aula toda a sua bagagem cultural,
costumes, formas de pensar e agir, religiosidade/espiritualidade, classe social, gênero entre
outros.

Diante da singularidade que cada aluno traz para a sala de aula, percebe-se os
desafios encontrados e a serem enfrentados pelos professores, uma vez que precisam
aprender a respeitar a diversidade e suas implicações no processo de aprendizagem,
bem como a forma de ensinar e contornar situações sem “ferir” aquilo que o(a) aluno(a)
carrega consigo e que possivelmente levará por toda a vida.
Ao refletirmos acerca dos desafios e das dificuldades e deficiências dos processos
de aprendizagem ampliamos ainda mais essa discussão ao examinarmos o Art. 2º das
diretrizes Curriculares Nacionais (2015) que trata da formação Inicial e Continuada em
Nível Superior, aplicando-a a todas as modalidades de educação: Educação Especial,
Educação Profissional e Tecnológica, Educação de Jovens e adultos, Educação do Campo,
Educação Escolar indígena, Educação a Distância e Educação Quilombola.
Após o exposto, estamos todos preparados para atuar em alguma destas
modalidades de ensino abarcando sua diversidade sem desconsiderar a identidade
cultural dos grupos sociais? Todas as modalidades de educação são contempladas
na Formação Inicial e Continuada a nível Superior? Existe integração entre elas?
Interdisciplinaridade? Transdisciplinaridade? Estas e outras questões permearão o Livro
Didático, e possivelmente ao chegarmos ao término dele, talvez não tenhamos respostas
para tantas questões.
Dando sequência às questões que permeiam a diversidade e os desafios a serem
enfrentados nas instituições de ensino, Freitas (2006) esclarece que a escola é um
espaço em que as contradições sociais se revelam por todo o tempo, é um espaço de
multicultralismo.

3.2 MULTICULTURALISMO E A ESCOLA CULTURAL

O multiculturalismo é o resultado da convivência e da interação entre as pessoas,


seja por processos de migração, colonização ou êxodo, como podemos verificar na
imagem anterior.
Para além destas reflexões, e de acordo com o documento Parâmetros
Curriculares Nacionais (1997) a pluralidade cultural refere-se à valorização e
ao conhecimento das características étnicas e culturais, as práticas sociais
discriminatórias e às desigualdades econômicas dos diferentes grupos sociais que
convivem no território nacional. Ela possibilita ao aluno conhecer o seu país por
meio de sua complexidade e a desconstruir conceitos enraizados na sociedade.
34
VAMOS PENSAR?
A discriminação e o preconceito minimizam as chances de qualidade de ensino para
todos? A escola é pensada em uma dimensão cultural? Que tipo de professor você é di-
ante do preconceito e da discriminação? A escola promove a exclusão ou a liberdade? Para
responder a essas questões, assista ao vídeo: https://bit.ly/3bgG1r7
Vamos enfrentar o preconceito na escola?

Nesse contexto em que a escola pode promover a exclusão ou a liberda-de, ela


precisa realizar um deslocamento de lugar: deixar de ser o veículo da cultura dominante
tanto do saber quanto da cultura para ceder lugar ao acolhimento “das culturas” da
pluralidade em que alunos e alunas estão inseridos.
Ressaltamos diante do exposto o quanto é importante a mudança do papel da
escola e do professor no sentido de (re)conhecer cada aluno e cultura. Esse extenso
trabalho de campo a ser realizado pelo(a) docente e pela escola é o mesmo que promover
cindir com a cultura dominante e excludente que vivemos, em busca de um lugar que
privilegie a singularidade, o aluno e sua cultura.
É papel do professor promover a transformação social, acolher as diversidades,
buscar estratégias de ensino em que o aluno seja o grande protagonista, e não a escola.
Ela seria o veículo promotor da liberdade.
Na série “ Anne with an E” a chegada da nova professora cheia de ideias, distanciada
de preconceitos e em busca de novas práticas pedagógicas, ilustra a dominância de uma
cultura preconceituosa de uma cidadezinha do interior bem como toda nossa discussão!
Não deixe de assistir!

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Na segunda temporada, episódio 09 a professora recém-
chegada ao vilarejo traz métodos de estudo nada conven-
cionais para a época, rompendo com barreiras como racis-
mo, homofobia, cultura dominante, além de ter uma forma
inusitada de ensinar, baseando-se na experiência prática
associa-da à teoria, completamente diferente do professor
anterior.
De acordo com os dois posicionamentos dos professores
apresentados na série, qual é seu posicionamento em sala
de aula? Disponível em: www.netflix.com.br. Acesso em 25
ago. de 2020.

Como na série, cindir com a cultura dominante é o mesmo que rever o tra-balho
desenvolvido por muitas escolas que ainda não estão devidamente preparadas para
atender a todo tipo de diferença com vistas à transformação social que estamos vivendo.
As diferenças chegam todos os dias nas escolas, já fazem parte do nosso cotidiano. Será
que estamos atentos a elas?
Cabe à escola (Educação Infantil e demais segmentos) e programas educacionais
investir na valorização da diversidade, objetivando ensinar crianças e jovens a respeitar e
a conviver com a diferença.
35
Nesse sentido é válido nos questionarmos acerca de que tipo de educação
queremos para nossos(as) alunos(as) e que tipo de professores e professoras precisamos
ser hoje, pensando em uma sociedade futura completamente marcada pela diferença e
pela diversidade.
Para Gadotti (2000, p. 1) os discentes precisam de uma educação pautada em uma
ética e cultura da diversidade. A escola deve educar pensando no pluralismo cultural,
em que o outro não só existe, mas que é legítimo e singular com sua cultura, sua história,
sua etnia, um ser heterogêneo, multifacetado, atravessado por costumes que provém
de suas famílias e lugares onde reside, além de apresentar diferenças no ritmo
de aprendizagem. Um ser único e dialeticamente plural, inserido em um espaço
de aprendizagem em que a sua característica mais marcante é a diversidade e a
pluralidade.
Por trabalhar com a diversidade humana, comporta
uma ampliação de horizontes para o professor e para o
aluno, uma abertura para a consciência de que a reali-
dade em que vivem é apenas parte de um mundo com-
plexo, fascinante e desafiador, na qual o elemento uni-
versal subjacente e definidor das relações intersociais e
interpessoais deve ser a Ética (BRASIL, 1997, p. 16).

Não restam dúvidas que é inadiável e urgente considerar a proposta de se valorizar


a diversidade em sala de aula e nos espaços escolares, essa demanda emerge há muito
tempo, a lembrarmos pelos movimentos e lutas sociais.
Não devemos chamar o povo à escola para receber ins-
truções, pos-tulados, receitas, ameaças, repreensões e
punições, mas para participar coletivamente da cons-
trução de um saber que vai além do saber de pura ex-
periência feito, que leve em conta suas necessidades e
o torne instrumento de luta, possibilita-lhe transformar-
-se em sujeito da própria história (FREIRE, 1991, p. 16).

O desafio que encontramos hoje está em como estabeleceremos as conexões


necessárias entre os conteúdos programáticos da escola e a vida de cada aluno. É
importante deixar de enxergar estas conexões como obstáculos ou dificuldades.
É preciso que a escola se planeje de modo a atender a diferença, a diversidade e as
formas de aprendizagem, contribuindo para uma formação ampla e plena do cidadão,
como um agente social e transformador de si e da sociedade em que vive. Nessa
perspectiva, o olhar do professor precisa estar voltado para as diferenças, para o que
o nosso país tem de melhor, buscando aprimorar seus conhecimentos, de forma que
consiga ser coerente com a realidade cultural da escola que trabalha.
[...] A escola deve ser também um centro irradiador da
cultura popular, à disposição da comunidade [...] um
centro de debate de ideias, soluções, reflexões, onde, a
organização popular vai sistematizando sua própria ex-
periência. A escola não é só um espaço físico. É um cli-
ma de trabalho, uma postura um modo de ser (FREIRE,
1991, p. 16).
36
Finalmente, a prática pedagógica docente precisa ter como premissa conteúdos
e valores ressaltem a igualdade e a equidade, visando o combate da discriminação e
preconceito, possibilitando a cada aluno se sentir especial e único, independentemente
de sua cultura e suas raízes, valorizando a experiência prévia e já construída de cada um,
indicando que essa valorização é um dos primeiros passos para a construção de uma
sociedade mais igualitária e justa.

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Os caminhos para uma educação voltada para a diversi-
dade são permeados de dificuldades e preconceitos. O livro
Educar para a diversidade: entrelaçando redes, saberes e
identidades aborda as questões relativas ao respeito à di-
versidade.
A autora Cláudia Regina de Paula ressalta que o respeito à
di-versidade não está apenas voltado para a empatia e a
boa vontade do professor, mas para questões que vão mui-
to além dos muros da escola.
Qual a relação da leitura do livro com a sua prática em sala
de aula? Disponível em: https://bit.ly/3hSjLpS. Acesso em 25
ago. de 2020

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Assista o filme “Crianças Invisíveis
O filme trata de conflitos étnicos, políticos e econômicos, re-
abilitação de crianças, exposição a fatores de risco como o
HIV e drogas ilícitas utiliza-das pelos familiares, violência
escolar, trabalho infantil como forma de ajudar a família
a manter o sustento da casa, maus tratos, violência não
apenas nas classes populares e por fim a superação dessas
crianças em meio as adversidades. Você consegue estabe-
lecer uma relação do filme com o conteúdo estudado? Dis-
ponível: https://bit.ly/2GiZige
Acesso em 25 ago. de 2020

3.3 DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL


Nossa pretensão é de uma sociedade não racial. Estamos lutando por
uma sociedade em que o povo deixará e pensar em termos de cor. Não é
uma questão de raça, é uma questão ideias. Nelson Mandela
Antes de começarmos a conversar sobre diversidade étnico-racial, é preciso
esclarecer o conceito de raça, objeto de diversos estudos sociológicos e um termo
muito complexo. Infelizmente a palavra raça é utilizada erroneamente nos dias atuais
por parte do senso comum. Esse emprego inadequado se perpetuou durante muitos
anos, como uma forma de dividir ou categorizar os grupos humanos por suas diferenças
biológicas.
As teorias sobre as diferentes raças humanas existem desde o final do século
XVIII e início do século XIX, Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882), filósofo francês, “pai
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do racismo moderno” e que defendia veementemente a ideia de que pessoas brancas
eram superiores ao grupo de pessoas não brancas. Foram tantos os trabalhos nesta
área que foram elencadas por pesquisadores quatro ou cinco raças, outros conseguiram
identificar aproximadamente vinte (RODRIGUES, s.d).
Segundo Carvalho et al. (2012) no século XIX, a “raça apresentava-se como um
objeto de estudos dos “homens de ciência”, repleto de paradigmas científicos, sendo
inscrita em um debate clássico acerca da “unidade” humana.
O debate transcorria e perpassava pelas noções de hierarquia e diferença social,
ancorados e respaldados pelos Estados Unidos e Europa, relação que podemos apontar
como científica, discriminatória, política e acadêmica. Acadêmica porque as escolas
eram as grandes responsáveis por produzir e reproduzir as teorias raciais, respaldadas
pelas lideranças políticas e culturais dos países citados.
Para os autores, a ideia principal “ensinada” pelas escolas era que existia um
pensamento “naturalizante” de “raça”. Isso nada mais, nada menos, quer dizer que havia
uma diferença biológica marcante entre os sujeitos, consequentemente produzindo
“naturalmente” hierarquias sociais.
Estes pressupostos teóricos construídos nos mostram que o conceito de raça foi
apreendido ao longo do tempo e do espaço, corroborando para a apreensão de sentidos
de inferioridade e superioridade, marcando cruelmente diversas comunidades.
Esse princípio resume os indivíduos ou uma classe de indivíduos como seres
“prontos e acabados”; comportamentos, formas de pensar seriam determinadas pelos
componentes biológicos, o que facilmente se justificava as desigualdades sociais, ou
seja, o sujeito não era capaz de se modificar, de construir sua história, seus componentes
biológicos determinavam sua existência e seu lugar na sociedade, como inferior ou
superior.
Assim, o conceito de teoria racial no período da Segunda Guerra Mundial foi
amplamente adotado pelo mundo inteiro, principalmente quando as ameaças nazistas
potencializaram o preconceito e o ódio em relação a determinados grupos. Podemos
inferir que após tantos anos ainda existem grupos que se apropriam das teorias nazistas,
imprimindo ódio e preconceito em determinadas comunidades.
Isso explica a supremacia do povo europeu em relação aos demais povos. As
diferenças culturais estavam ligadas as diferenças do corpo, como a cor da pele, ou seja,
eram vistas como possibilidades de progresso social das sociedades mais adiantadas
(CARVALHO, SALAINI, ALLEBRANDT, MEINERZ, & WEISHEIMER, 2012).
O corpo negro, a cor negra, os cabelos negros eram considerados inferiores e força
de trabalho em um mundo capitalista e escravocrata.

VAMOS PENSAR?
O corpo negro, a cor negra, o cabelo negro, deixaram de ser apenas corpo, cor e cabelo na
atualidade, ou a sociedade é ainda é marcada por uma política branqueadora?

Após refletir sobre a posição do negro em nossa sociedade atualmente, Pinto e


Ferreira (2014) esclarecem que no passado o processo de imigração no Brasil reforçou
a ideia do “branqueamento”, o trabalho negro foi largamente substituído pela força de
trabalho europeia. Isso explica-se pelas supostas evidências racistas de que o negro era
38
menos preparado que o trabalhador branco.
A partir deste contexto, os autores afirmam que surge a ideologia da mestiçagem,
que emerge como uma opção de aprimoramento ou melhoria da descendência étnica
do povo brasileiro, culminando na construção de um Brasil pós-abolição, considerada
pelos autores como mito da democracia racial.
É impossível negar a desigualdade racial, social e econômica, além de sua função
discriminatória. A elite dominante "trama" uma ideologia de que no Brasil não haveria
discriminação racial, seria dada a todos os habitantes, negros, brancos e mestiços
as mesmas oportunidades, sem diferenciação, muito embora a realidade vivida e
experienciada era completamente divergente.
Esse mito da democracia racial ganhou a simpatia de alguns autores, entre eles
o sociólogo Freyre (2006) que destaca em sua obra Casa Grande e Senzala, o processo
de miscigenação como fator positivo e passível de reduzir a distância social oriunda do
sistema escravocrata.
A miscigenação resolveria a questão da não aceitação social, além de representar
uma nova configuração do povo brasileiro (PINTO & FERREIRA, 2014).
Em sua obra Freyre (2006, p. 27) argumenta que os negros foram os fundadores da
civilização brasileira, objetos culturais, sem, entretanto, dar a eles o direito à cidadania.
Podemos inferir que foram inseridos socialmente por meio de uma sutileza brutal,
que fere os princípios da cidadania, do sujeito, da diversidade, da singularidade. Essa
sutileza desarmoniosa promove na sociedade a visão míope de que o negro era aceito,
mantendo, porém, os preceitos da hierarquia da escravatura.
Seria possível pensar que vivemos em uma sociedade completamente diferente
do passado? Ou o mito da democracia racial ainda existe em uma completa sutileza
presente nas comunidades, nas escolas e dentro das próprias famílias?

VAMOS PENSAR?
O Mito da democracia Racial no
Brasil, expresso pela tirinha de
Carlitos Pinheiro (s.d.) tem relação
com a sua vivência em sociedade e
sala de aula?

Retomando as premissas do mito da democracia racial e a questão da


mestiçagem biológica e cultural, encontramos outra ideia que ganha força e estrutura
na sociedade: a convivência entre os sujeitos de grupos étnicos e de todas as camadas
39
sociais.
Essa ação possibilitou a classe dominante reforçar ainda mais as desigualdades
sociais impossibilitando a criação de uma identidade própria do grupo, uma vez que
não era permitido as comunidades não brancas a disseminação de sua cultura e
características.
Essas características são "expropriadas", "dominadas" e convertidas em símbolos
nacionais pelas elites dirigentes (MUNANGA, 2004).
Ou seja, o mito da democracia racial foi disfarçado pela não existência do racismo
e da discriminação no nosso país.
A desigualdade foi reconhecida como um problema relacionado à renda, em que
nem toda a população poderia ter acesso à educação por falta de recursos financeiros,
mascarando mais uma vez uma sociedade que não é racista nem mesmo discriminatória.

VAMOS PENSAR?
Assista o vídeo do cantor Marvyn, artista selecionado no concurso de música autoral da tv
globo, Brasília independente em 2017. Em seu estilo próprio a música negra brasileira (MNB)
apresenta grandes influências. No seu repertório é possível encontrar músicas auto-rais e
clássicos da mpb, funk samba, soul, reggae e outros. Em sua opinião, a música:
“RESPEITE MINHA PELE PRETA”
Reflete de uma forma muito contemporâneo “expropriamento” da cultura negra e a ten-
tativa de apagamento das características culturais?
Disponível em: https://bit.ly/3EsgGtj. Acesso em 25 ago. de 2020

Com o passar dos anos, muitos trabalhos científicos comprovaram que


biologicamente não existem “raças”, o que existe verdadeiramente são variações físicas
entre as pessoas: cor de olhos, cor da pele, tipo de cabelo etc.
As pesquisas fizeram com que a comunidade científica basicamente
abandonasse o uso do termo “raça”, por ser uma ideia construída socialmente e
perpetuada pela própria história de colonização do Brasil, pelo preconceito e políticas
raciais.
O conceito raça está equivocadamente associado a biologia, por outro lado o
conceito de etnicidade está vinculado ao campo do social. Ao se tratar de etnia nos
referimos a como as pessoas, grupos ou comunidades constroem suas manifestações
culturais.
Ainda segundo o autor, além da identidade do grupo, é necessário que ela se
mantenha. Essa manutenção se perpetua pelas tradições culturais que evocam um
passado, suas memórias, crenças, mitos que ao se agrupar se transformam um conjunto
de interpretações de cada grupo ou comunidade, possibilitando que a constituição
étnica se perpetue pelas gerações e permaneçam no mundo social.
Resgatando os conceitos de raça e etnia, percebemos que são termos que não
mantém nenhum tipo de similaridade, não se justapõem e não se complementam,
muito ao contrário, o termo raça já foi e ainda é utilizado como um depreciador das
características culturais de um determinado povo, grupo ou comunidade.
40
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Kabengele Munanga é um cientista social brasileiro que questiona as relações
raciais no brasil. Assista os vídeos dele e saiba mais sobre: Os conceitos de raça,
racismo e etnia. Disponível em: https://bit.ly/2EXGsdX.
Você já utilizou esses conceitos equivocadamente?

Quando pensamos na atualidade percebemos que as relações foram pautadas em


significados universalizantes. O negro é marcado desde então por atributos negativos e
pela diferença em relação aos padrões normativos brancos. Os mecanismos ideológicos
reforçam as práticas racistas e preconceituosas, e tudo isso não é muito diferente em
vários contextos escolares.

VAMOS PENSAR?
Ainda é a cultura que funda a noção de raça, e não o contrário. Como você explicaria essa
frase baseando-se em algum exemplo social ou de sala de aula?

O fato é que a população negra sempre esteve à margem da sociedade e excluída


do espaço educacional. Nesse contexto é imperativo interrogar como os avanços legais
contribuíram ou contribuem para a valorização e inclusão da população negra na
educação.
A partir de agora discutiremos a trajetória da educação dos negros no Brasil com
base nas legislações que surgiram como resultado da luta pela igualdade de direitos no
âmbito da educação.
O recorte será realizado a partir da lei 10.639/03 que altera a Lei no 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, incluindo no currículo
oficial o ensino e a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira"
§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput
deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos
Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra
brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,
resgatando a contribuição do povo negro nas áreas so-
cial, econômica e política pertinentes à História do Brasil
(Brasil, 2003).

A Lei 10.639/03 resgata e torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura


Afro-brasileira, graças ao Movimento Negro, que é citado no parágrafo 1º do texto da Lei.
Além disso, refere-se também ao resgate, valorização e a contribuição do povo negro no
Brasil, desconstruindo o mito da democracia racial.
Em seguida, a Lei 11.645/08, altera novamente a Lei 9.394/96 de 1996,
já anteriormente modificada pela Lei no 10.639/03, estabelecendo outras diretrizes
obrigatórias, História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este ar-
tigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura
41
que caracterizam a formação da população brasileira,
a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo
da história da África e dos africanos, a luta dos negros
e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indí-
gena brasileira e o negro e o índio na formação da so-
ciedade nacional, resgatando as suas contribuições nas
áreas social, econômica e política, pertinentes à história
do Brasil (Brasil, 2008).

A Lei 11.645/08 além de resguardar a cultura negra, reforça também a


obrigatoriedade de resgatar a cultura indígena. Podemos compreender que as leis se
configuram como formas de redenção a tudo que foi retirado do negro e dos povos
indígenas, como formadores de uma sociedade miscigenada e rica em diversidade e
cultura, o que não quer dizer que na prática ocorra como deveria.

FIQUE ATENTO

Fonte: Leite (s.d.)

VAMOS PENSAR?
Não existe imparcialidade, todos são orientados por uma base ideológica. A questão é: Sua
base ideológica é inclusiva ou excludente?
Paulo Freire
42
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Assista o documentário “Atlântico Negro na rota dos Ori-
xás”. Trata-se da influência africana na religiosidade bra-
sileira, mostrando-nos como a etnicidade é um fenômeno
dinâmico e sujeito a mudanças. Disponível em: https://bit.
ly/31N4Nfo

VAMOS PENSAR?
As noções de raça e etnia são construções sociais. Em que medida a Lei 10.639/03 resgata a
valorização e a contribuição do povo negro no Brasil, desconstruindo o mito da democracia
racial? Quais são as implicações dessa lei em sala de aula?

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Quer saber um pouco mais sobre as relações étnico-raciais
na escola? Leia o livro:

“Educação escolar das relações étnico-raciais: história e cul-


tura afro-brasileira e indígena no Brasil.”

Disponível em: https://bit.ly/32Rq3jc. Acesso em 25 ago. de


2020.
43
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Quando pensamos em diversidade cultural associamos rapidamente a ideia de cultura,
linguagem, culinária, tradição, política, modelo de organização familiar, costumes entre
outras características que fazem parte de um grupo de pessoas que habitam um mesmo
lugar (PAULA, 2013)

A autora neste caso se refere

a) a igualdade é referente a religião, gênero e a linguagem.


b) a homogeneidade dos grupos sociais na forma de pensar, agir e na linguagem.
c) diversidade cultural como a representação de culturas igualitárias existentes no
mundo.
d) as características dão a identidade a uma comunidade, uma vez que a cultura é
transmitida de geração a geração reforçando os costumes de uma população.
e) ao fortalecimento de uma cultura que marca um grupo social e que sua identidade
precisa ser preservada em sala de aula a fim de todos os alunos sejam contemplados.

2. O professor exerce o papel fundamental de “ponte” entre o aluno e a diversidade


cultural com suas mais variadas manifestações (MOSER, 2017).

De acordo com a autora, neste contexto ser um “professor ponte”

a) representa desconsiderar as singularidades dos alunos.


b) fortalece na sala de aula os modelos culturais difundidos pelos meios de comunicação.
c) repensa a sala de aula e seus inúmeros vieses, pautando-se em uma cultura
universalizante.
d) respeita as variantes culturais de cada aluno, suas histórias, cultura local, cultura
regional, ou seja, a diversidade.
e) valoriza a cultura, unificando, fundindo na tentativa e responder as ideias impostas
pelos meios de comunicação.

3. (UEG 2012) “Não quero que a minha casa seja cercada de muros por todos os lados,
nem que minhas janelas sejam tapadas. Quero que as culturas de todas as terras sejam
sopradas para dentro de minha casa, o mais livremente possível. Mas recuso-me a ser
desapossado da minha por qualquer outra.”
GANDHI, M. Relatório do desenvolvimento humano 2004. In: TERRA, Lygia; COELHO, Marcos de A.

Geografia geral. São Paulo: Moderna, 2005. p.137.

Considerando-se as ideias pressupostas, o texto

a) critica a intolerância com relação a outras culturas, gerando assim os conflitos comuns
neste novo século.
b) critica a intolerância com relação a outras culturas, sem, no entanto, gerar conflitos,
constituindo-se apenas de uma ideologia.
c) nega a existência da exclusão cultural e ressalta a homogeneização mundial e a
superação/eliminação de fronteiras culturais.
44
d) indica o reconhecimento à diversidade cultural, além das necessidades de afirmação
e de identidade, seja étnica, seja cultural, seja religiosa.
e) afirma que a globalização aumentou, de modo sem precedente, os contatos e a união
entre os povos e seus valores, reforçando o respeito às diferenças socioculturais.

4. Os pressupostos teóricos construídos nos mostram que o conceito de raça foi


apreendido ao longo do tempo e do espaço, corroborando para a apreensão de sentidos
de inferioridade e superioridade.

Acerca do conceito de raça, assinale a alternativa CORRETA.

a) Conceito adotado por brasileiros e franceses no período da Segunda Guerra Mundial.


b) Resume os indivíduos ou uma classe de indivíduos como seres em construção, e seus
comportamentos são determinados por componentes sociais.
c) As escolas se negavam por produzir e reproduzir as teorias raciais, respaldadas pelas
lideranças políticas e culturais dos países europeus.
d) Quer dizer que havia uma diferença social marcante entre os sujeitos,
consequentemente produzindo “naturalmente” componentes biológicos.
e) As diferenças culturais estavam ligadas as diferenças do corpo, como a cor da pele,
ou sejam eram vistas como possibilidades de progresso social das sociedades mais
adiantadas.

5. Em sua obra Freyre (2006) argumenta que os negros foram os fundadores da civilização
brasileira, objetos culturais (p.27), sem, entretanto, dar a eles o direito à cidadania.

De acordo com a afirmação, assinale a alternativa CORRETA.

a) O processo de civilização brasileira, garantiu o direito ao mito da democracia.


b) Sua inserção social promoveu a sua aceitação social, desmistificando os preceitos da
hierarquia da escravatura.
c) Mesmo sem ter o direito à cidadania, os negros ganharam força, estrutura na sociedade
e autonomia de ir e vir.
d) Como fundadores da civilização brasileira, os negros tiveram seus direitos garantidos,
bem como sua liberdade e autonomia financeira.
e) Os negros foram inseridos socialmente por meio de uma sutileza brutal, que fere os
princípios da cidadania, do sujeito, da diversidade, da singularidade.

6. A Lei 10.639/03 resgata e torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-
brasileira, graças ao Movimento Negro, que é citado no parágrafo 1º do texto da Lei.

De acordo com a afirmação, assinale a alternativa CORRETA.

a) Esta lei foi pensada em garantir também o direito dos indígenas.


b) A Lei 11.645/08 já anteriormente modificada pela Lei no 10.639/03 reforçou o ensino
História e Cultura Afro-brasileira.
c) Refere-se também ao resgate, valorização e a contribuição do povo negro no Brasil,
desconstruindo o mito da democracia racial.
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d) Esta lei garante o ensino de História e Cultura Afro-brasileira em algumas instituições
em que grande parte dos estudantes são negros.
e) A Lei 10.639/03 resgata o ensino sobre História e Cultura Afro-brasileira, sem torná-lo
obrigatório em todas as escolas do país, contemplando apenas a região Nordeste.

7. ENEM (2017) A luta contra o racismo, no Brasil, tomou um rumo contrário ao imaginário
nacional e ao consenso científico, formado a partir dos anos 1930. Por um lado, o
Movimento Negro Unificado, assim como as demais organizações negras, priorizou em
sua luta a desmistificação do credo da democracia racial, negando o caráter cordial das
relações raciais e afirmando que, no Brasil, o racismo está entranhado nas relações sociais.
O movimento aprofundou, por outro lado, sua política de construção de identidade
racial, chamando de “negros” todos aqueles com alguma ascendência africana, e não
apenas os “pretos".
GUIMARÃES, A. S. A. Classes, raças e democracia. São Paulo: Editora 34, 2012.

A estratégia utilizada por esse movimento tinha como objetivo

a) eliminar privilégios de classe.


b) alterar injustiças econômicas.
c) combater discriminações étnicas.
d) identificar preconceitos religiosos.
e) reduzir desigualdades sociais.

8. CESMAC (2020). Quando falamos em herança social, estamos nos referindo

a) à série de instruções pragmáticas a serem seguidas nos processos das heranças


patrimoniais, para garantir-lhes legitimidade jurídica.
b) à totalidade dos conhecimentos científicos obtidos por várias gerações de
pesquisadores que visaram sempre o progresso e bem estar da humanidade.
c) o conjunto de princípios e dogmas religiosos que um particular grupo étnico cultua, e
que procura passar às gerações vindouras, sem alterações.
d) ao conjunto de costumes, tradições, culturas e valores que determinada sociedade
recebe, aceita e incorporara, vindas das gerações que precederam.
e) à totalidade das leis e regulamentos que permeiam as relações interpessoais de
determinada sociedade, e que são garantes de paz e harmonia sociais.
46

PRECONCEITO E
DISCRIMINAÇÃO:
IMPLICAÇÕES SOCIAIS
47
4.1 PRECONCEITO RACISMO E DISCRIMINAÇÃO,
EXISTE DIFERENÇA?
“Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos haverá
guerra.” Bob Marley
No final do capítulo anterior encerramos com a frase de Paulo Freire que nos
interroga acerca da nossa base ideológica: Inclusão ou exclusão. Ser interpelado por
estas questões revelam que vivemos em uma sociedade em que o preconceito e a
discriminação existem de forma velada.
É comum ouvir piadas sobre portugueses, judeus, negros, mulheres, homossexuais,
entre outros grupos sociais. O humor é utilizado para expressar as mais variadas formas
de preconceito, discriminação além de reforçar as desigualdades e diferenças entre as
pessoas.
Por mais que o assunto seja debatido, discutido, leis regulamentadas, atitudes
reflexivas acerca dos fatos não são adotadas.
Trataremos a seguir do preconceito, seu significado, formas de manifestação e os
mecanismos de manutenção e refletiremos brevemente sobre a relação de preconceito
e discriminação.
Afinal, o que é PRECONCEITO? Conforme definido no Dicionário Aurélio, deriva o
termo do latim praeconceptu e possui os seguintes significados:
1) Conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou
conhecimento dos fatos; ideia preconcebida.
2) Julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste;
prejuízo.
3) Superstição, crendice.
4) por extensão: suspeita, intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças,
credos, religiões.
Preconceito é a organização de ideias que se alicerçam em vivências ou
experiências aportadas em concepções prévias que não passaram pela reflexão ou
ideias que foram elaboradas ou concebidas a partir de fatos deturpados. Em síntese
um “pré-conceito” é objeto de uma falsa reflexão ou racionalização. Implica em um
julgamento imaturo e inadequado sobre algo, ou ainda, uma opinião formada sem
reflexão (CARVALHO, SALAINI, ALLEBRANDT, MEINERZ, & WEISHEIMER, 2012; SANTOS,
2010).
Podemos inferir a partir das construções dos autores citados, que o preconceito
pode ser definido como uma ação hostil/agressiva contra uma pessoa porque ela tem
ideias diferentes ou pertence a um grupo de pessoas que é visto e é desvalorizado
socialmente. Vamos organizar as ideias.
48
FIQUE ATENTO
Preconceito Racismo Discriminação
Significado Opinião construída su- Acreditar na teoria que Tratamento injusto ou ne-
perficialmente sobre membros de uma et- gativo a uma pessoa por
uma pessoa, grupo ou nia são superiores a ela pertencer a um deter-
comunidade. Não pos- outra devido as suas minado grupo. Representa
sui embasamento em características ou ha- o preconceito ou racismo
uma experiência ou bilidades. em forma de ação.
um motivo.
Motivo Baseado em estereóti- Resultado de precon- Causada pelo preconceito
pos. ceito, ódio para com as ou racismo em relação ao
pessoas diferentes em gênero, idade, orientação
cor de pele, tradições e sexual etc.
costumes etc.
Resultados Racismo ou discrimi- Discriminação ou pre- Rejeição e exclusão de um
nação de um grupo ou conceito com base na grupo de pessoas ou uma
comunidade. etnia. Guerras, xenofo- comunidade. Segregação,
bia etc. exclusão social etc.
Manifestação Crença. Crença. Ação.
Natureza Não consciente. Consciente e não cons- Consciente e não cons-
ciente ciente
Ação ilegal Não é possível recorrer Pode-se aplicar as Lei Pode-se aplicar a Lei
no Brasil à justiça, porque não 7.716/89 e 12.288/2010. 7.716/89 e 12.288/2010.
representa uma ação.
Exemplo Achar que alguém é Considerar uma negra Diferença salarial entre ho-
obeso por preguiça. ser suspeita de crime mens e mulheres na reali-
com base na sua cor zação da mesma atividade.
de pele.
Fonte: Elaborado pela Autora (2020)

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De acordo com o FIQUE ATENTO anterior, em sua prática de sala de aula,
já presenciou um aluno sendo preconceituoso, racista ou discriminando
outro aluno?
Qual foi a sua reação? Interviu ou deixou acontecer?
Conheça um pouco mais sobre o preconceito, a imagem que o aluno
faz de si em sala de aula e se essa imagem interfere diretamente no
processo de aprendizagem e no seu desempenho escolar. Além dos jul-
gamentos realizados pela própria escola, ele se depara também com os
julgamentos realizados pelos colegas.
49
4.2 A LEGISLAÇÃO PUNE?

Acerca do preconceito, racismo e discriminação a Lei n. 12.288/2010 – Estatuto


da Igualdade Racial, no art. 1º, parágrafo único, definiu alguns termos relacionados ao
assunto, a saber:
I – Discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção,
exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor,
descendência ou origem nacional ou étnica que tenha
por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo
ou exercício, em igualdade de condições, de direitos hu-
manos e liberdades fundamentais nos campos político,
econômico, social, cultural ou em qualquer outro cam-
po da vida pública ou privada;

II – Desigualdade racial: toda situação injustificada de di-


ferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e opor-
tunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de
raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica;

III – Desigualdade de gênero e raça: assimetria existente


no âmbito da sociedade que acentua a distância social
entre mulheres negras e os demais segmentos sociais;

IV – População negra: o conjunto de pessoas que se au-


todeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou
raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição
análoga;

V – Políticas públicas: as ações, iniciativas e programas


adotados pelo Estado no cumprimento de suas atribui-
ções institucionais; e

VI – Ações afirmativas: os programas e medidas espe-


ciais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para
a correção das desigualdades raciais e para a promoção
da igualdade de oportunidades” (Brasil, 2010).

No âmbito da penal, a Lei nº 7.716/89, estabelece punição aos crimes resultantes


em discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, sem, entretanto,
esclarecer precisamente cada um desse termos. A primeira lei a punir os crimes
resultantes de preconceito, raça e cor, foi a Lei 1.390/51, chamada “Lei Afonso Arinos”, em
homenagem ao deputado federal Afonso Arino de Melo e Franco.
Percebemos que apesar de ser uma lei da década de 50 e que já foi substituída
por outras, o preconceito não deixou de existir, mesmo sob a ameaça de punição legal,
muitas pessoas ainda praticam o preconceito, o racismo, ou seja, tanto um quanto outro
estão enraizados em nossa cultura e são reproduzidos de geração a geração e também
pela escola, quando é permitido aos alunos causar bullying entre os colegas.
Ressaltamos a grande importância do papel do professor e da comunidade
50
acadêmica, se destituindo de qualquer forma de preconceito, racismo ou discriminação,
além de não permitir a repercussão dessas ações dentro do ambiente escolar.

VAMOS PENSAR?
Nelson Mandela:
“Nossa pretensão é de uma sociedade não racial.
Estamos lutando por uma sociedade em que o
povo deixará de pensar em termos de cor. Não
é uma questão de raça, é uma questão ideias.”
Em que medida a posição de Mandela está correta socialmente e em sala de aula?

4.3 A LEGISLAÇÃO

Observe a tirinha abaixo:

VAMOS PENSAR?

Fonte: https://bit.ly/3X99kD6

Assim como Nelson Mandela ela chama nossa atenção para o fato de que o
preconceito está presente em todos os lugares, ele se apresenta também em outros
grupos sociais que se encontram na condição de desprivilegiados e desvalorizados, pela
sua forma de pensar, agir, seus costumes ou orientação sexual. Entre eles, destacam-se:

• Sexual, que se refere à orientação sexual, como algo desviante do comportamento


das pessoas;
• Racial, dirigido aos grupos que possuem determinadas características físicas ou
fenotípicas, herdadas de pessoas negras;
• Étnico, reportado às culturas diversas;
• Social, representado pela aversão a pessoas de classes diferentes (como as pessoas
menos favorecidas).
• Machismo, representado pela crença de que as mulheres são consideradas
menos capazes que os homens;
• Homofobia, desprezo, aversão ao grupo ou ódio LGBTQ+;
• Discriminação religiosa, valorização ou desprezo de um grupo ou comunidade
em função de suas crenças.
51
Quando retornamos ao período pós-colonial podemos nos lembrar de que os
europeus acreditavam ser uma sociedade muito mais evoluída em relação as que se
encontravam em estágios mais primitivos de civilização, por não apresentarem as
mesmas características, estrutura social, costumes e cultura.
Esse é um exemplo de etnocentrismo, um tipo de preconceito marcado por
sentimentos de superioridade em relação a outros grupos. Etnocentrismo vem de “etno”
(etnia, que significa, semelhança de cultura, costumes e hábitos) e “centrismo” (posição
que coloca algo no centro, a tudo que está a sua volta), ou seja, compreender que a partir
da sua cultura você se encontra em uma posição mais privilegiada que outros grupos.
Várias pesquisas foram realizadas sobre os tipos de preconceitos segundo o sociólogo
americano Robin Willians M. Júnior (1996) e alguns consensos foram estabelecidos sobre
o tema:

Figura 3: Preconceitos
Fonte: Elaborado pela Autora (2020)

Ainda conforme o autor, o preconceito pode apresentar componentes


comportamentais, afetivos e cognitivos.
O preconceito como já dissemos está relacionado a um julgamento ou juízo de
valor antecipado, sem reflexão e postura crítica.
Por outro lado, a discriminação consiste no ato de fortalecer e estabelecer as
diferenças, as separações ou as distinções. Assim, a discriminação é a materialização do
preconceito, ou seja, tenho uma ideia e logo, a coloco em prática.
Williams (1996, p. 33) explica essa ideia com mais detalhes e aprofundamento
teórico:
O aumento das hostilidades, dos estereótipos negativos
das atitudes de distanciamento social leva a intensifica-
ção da discriminação, incluindo a exclusão e a segrega-
ção imposta. Por sua vez, o aumento da discriminação
leva a um preconceito mais profundo. A discriminação
52
gera e reforça o preconceito, enquanto o preconceito
cria uma base ideológica para a discriminação e sua ra-
cionalização. Dito de outro modo, o preconceito corres-
ponde às ideias e crenças que respaldam ações e prá-
ticas em relação a determinados indivíduos e grupos
sociais.

Podemos pensar que preconceito e discriminação caminham juntos e na mesma


direção, a segregação. Você já parou para pensar se tem alguma base ideológica que
gere preconceitos e discriminação? Se tem, isso interfere em sua prática educativa?
Cabe à escola e ao professor repensar as bases ideológicas, as formas de combate e
como incluir a família nesse processo.

BUSQUE POR MAIS


VOCÊ JÁ SOFREU PRECONCEITO ALGUMA VEZ?
Muitas vezes o preconceito parte de uma ideia míope e reduzida acerca de um
assunto ou de uma pessoa. Normalmente essa ideia passa por julgamentos
e valores próprios, sem ser avaliada com clareza e permeada pela criticidade,
consequentemente, sem refletir a realidade.

Conheça um pouco mais sobre outros grupos que sofrem preconceitos.


Busque em 6 principais tipos de preconceitos
Fonte: https://bit.ly/2NFS3yg

Após a leitura do último parágrafo, pense em que tipo de estratégias podem


ser utilizadas em sala de aula que contemplem a valorização da diversidade cultural
evitando o preconceito e a discriminação.

BUSQUE POR MAIS


Assista o filme: “Cidade de Deus.”
Direção: Fernando Meirelles, Kátia Lund
Drama/policial, 2002, 2h20 min
Trata-se da influência africana na religiosidade brasilei-
ra), mostrando-nos como a etnicidade é um fenômeno di-
nâmico e sujeito a mudanças. Disponível em: https://bit.
ly/3X45smJ. Acesso em 25 ago. de 2020
53
FIXANDO O CONTEÚDO

1. (UEMA 2017) A ideia da existência de uma democracia racial no Brasil foi desconstruída
pelos estudos de Florestan Fernandes, sobretudo, em seu livro A integração do negro
na sociedade de classes. Nesta obra de 1965, o autor argumenta que a democracia racial
na sociedade brasileira é um mito na medida em que a abolição da escravatura libertou
os negros “oficialmente”, mas não os incluiu na sociedade como cidadãos, mantendo,
assim, a discriminação e a submissão da população negra aos brancos, permanecendo,
portanto, as desigualdades sociais entre negros e brancos.

Acerca do texto acima está CORRETA a alternativa

a) “A coisa tá preta”; “Cabelo ruim”; “Negro de alma branca”.


b) “Da cor do pecado”; “Ser diferente é legal”; “Não sou tuas negas”.
c) “Nasceu com um pé na cozinha”; “Inveja branca”; “A primeira igualdade é a justiça”.
d) “Cabelo de palha de aço”; “Todas as pessoas nascem iguais.”; “Lápis cor de pele”.
e) “Vamos acabar com essa negrinhagem”; “serviço de preto”; “Respeito à diversidade”.

2. (URCA 2017) No dia 04 de abril de 2017, portanto, 15 dias antes da data que se comemora
no Brasil o Dia do Índio, o Deputado Jair Bolsonaro em palestra no Clube Hebraico na
Zona Sul do Rio de janeiro faz a seguinte fala: “Não vai ter um centímetro demarcado
para reserva indígena ou para quilombola.” A fala do parlamentar foi entendida para
muitos como preconceituosa.

Identifique nas assertivas abaixo, fatores que expliquem porque não devemos assumir
atitudes preconceituosas ou de indiferença em relação as comunidades indígenas.

a) Os índios foram bons selvagens e fortes colaboradores da colonização brasileira.


b) São de fato culturas inferiores, pois foram os primeiros a habitarem o Brasil, e não
evoluíram tecnologicamente.
c) A cultura indígena é uma “não cultura” por não se adequar aos valores ocidentais
contemporâneos, por isso devemos preservá-la.
d) Os grupos indígenas vivem, ainda hoje, na sua formação original, sem influência da
cultura ocidental, por isso devemos respeitá-los.
e) Sofrem, historicamente, o extermínio impiedoso de suas comunidades, que sepulta não
somente sua gente como também conhecimentos culturais e ambientais importantes.

3. Preconceito está presente também em outros grupos sociais que se encon-tram


na condição de desprivilegiados e desvalorizados, pela sua forma de pensar, agir, seus
costumes ou orientação sexual. Entre eles, destacam-se

a) preconceito sexual, racial, étnico e social.


b) preconceito racial, sexual e social.
c) preconceito político, social e étnico.
d) preconceito escolar, racial, sexual e social.
54
e) preconceito educacional sexual, racial, étnico e social.

4. Muitos grupos em nossa sociedade se encontram na condição desprivilegiada de


vários tipos de preconceitos. Pensando nisso, assinale a alternativa CORRETA em relação
ao preconceito.

a) O preconceito se alicerça em bases verdadeiras, sem cunho ideológico.


b) Pré-conceito é objeto de uma reflexão acerca de nossas formas de viver e virtudes.
c) Preconceito é a organização costumes que alicerçam leituras e aprendizados em sala
de aula.
d) O preconceito passa pela nossa reflexão a partir de ideias bem construídas e
elaboradas ao longo de nossa existência.
e) Preconceito é a organização de ideias que se alicerçam em vivências ou experiências
aportadas em concepções prévias que não passaram pela reflexão ou ideias que foram
elaboradas ou concebidas a partir de fatos deturpa-dos. Em síntese um “pré-conceito” é
objeto de uma falsa reflexão ou racionalização.

5. Discriminação é o mesmo que

a) preconceito sexual, racial, étnico e social.


b) extermínio de uma comunidade acadêmica, literária e política.
c) entender que preconceito e discriminação conceitos iguais, usados para qualquer
situação.
d) dizer que a discriminação não fortalece as diferenças, separações, ou faz qualquer
distinção entre as pessoas.
e) está relacionado a um julgamento ou juízo de valor antecipado, sem reflexão e postura
crítica.

6. (FCMMG 2019) A discriminação e o preconceito racial, embora sejam considerados


crimes, ainda são práticas recorrentes na sociedade brasileira. Esses são crimes
inafiançáveis, ou seja, não pode haver liberdade provisória mediante pagamento
de fiança, e imprescritíveis, o que significa dizer que a denúncia pode ocorrer a
qualquer momento, independentemente do tempo que se tenha passado desde o ato
discriminatório e criminoso.

Com relação aos crimes de discriminação e ao comportamento preconceitu-oso, assinale


a afirmativa CORRETA.

a) O preconceito ou discriminação refere-se a ideias positivas a respeito de uma pessoa


ou a um grupo de pessoas com base em características físicas ou culturais relativas a
uma raça.
b) A discriminação existe quando há distinção, exclusão, restrição ou privilégio com base
na etnia/ cor, na descendência, na origem nacional, na aparência física, na condição
social ou cultural.
c) A vítima de preconceito que considera ter sofrido algum tipo de prejuízo, seja ele
financeiro, psicológico ou de outra ordem, não pode entrar com a ação de indenização
por danos morais por não existir legislação específica para isso,
55
d) A vítima de qualquer tipo de preconceito ou discriminação ao realizar uma denúncia,
sabe que essa ação serve apenas como um ato de formalização, sem intuito de punição.
e) A vítima de discriminação racial/étnica ou injúria qualificada que considera ter sofrido
algum tipo de prejuízo, seja ele financeiro, psicológico ou de outra ordem, não tem direito
de pode entrar com a ação de indenização por danos morais.

7. Revista VEJA – Vê uma atitude racista no culto à mulata ou reafirma sua tese de
que esse culto está uma prova da ausência de problemas raciais no Brasil? O Brasil é,
realmente, uma democracia racial perfeita?

GF (Gilberto Freyre) – Perfeita, de modo algum. Agora, que o Brasil é, creio que se pode
dizer sem dúvida, a mais avançada democracia racial do mundo de hoje, isto é, a mais
avançada nestes caminhos de uma democracia racial. Ainda há, não digo que haja
racismo no Brasil, mas ainda há preconceito de raça e de cor entre grupos de brasileiros
e entre certos brasileiros individualmente.
Trecho de entrevista de Gilberto Freyre publicada na revista Veja de 14 de abril de 1970

É possível afirmar que a resposta de Gilberto Freyre

a) desrespeita a figura da mulata.


b) incita o ódio entre as raças.
c) ignora a história do passado escravista brasileiro.
d) reforça o preconceito racial dos antigos senhores escravocratas.
e) pondera a questão do racismo no Brasil com a evidência de que há democracia racial,
ainda que imperfeita.

8. O preconceito foi criado e bastante estimulado socialmente, principalmente no


período da escravidão da Idade Moderna, período em que o negro era inferiorizado e
desumanizado através de violência física, verbal e psicológica.

Assinale a alternativa CORRETA.

a) O racismo se limita somente a discriminação contra os negros.


b) Os negros não sofreram ou sofrem preconceito e discriminação.
c) Racismo e preconceito não estão interligados, ocorrem separadamente.
d) O preconceito pode estar ligado tanto à caraterísticas físicas quanto ao estilo de vida
de uma pessoa.
e) Preconceito institucional é a organização de ideias que se alicerçam em vivências ou
experiências aportadas em concepções prévias que não passaram pela reflexão.
56

A EDUCAÇÃO ESPECIAL
E OS MARCOS LEGAIS
57
5.1 MARCOS LEGAIS NA EDUCAÇÃO

Não podemos pensar a educação especial sem, contudo, pensar nos marcos
regulatórios necessários para assegurar as conquistas históricas obtidas para os alunos
com necessidades educacionais especiais.
Nesta unidade conversaremos sobre os marcos legais que regem o atendimento
educacional especializado para alunos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação a partir da década de 1990,
momento em que se contextualizam os primeiros movimentos de inclusão.
Inicialmente a educação especial organiza-se como uma modalidade de
ensino completamente integrada à educação em um contexto geral. Fragmentos de
textos legais embasaram a utilização de conceitos e terminologias utilizados na área,
como educação especial e atendimento educacional especializado e necessidades
educacionais especiais, como vistas a oferecer subsídios à compreensão dos
professores a função e natureza da educação especial na perspectiva da inclusão social.

VAMOS PENSAR?
Qual a relação existente entre essas terminologias:
Educação especial, atendimento educacional especializado e necessidades educacio-nais
especiais. Em que elas se aproximam e ao mesmo tempo se distanciam?

Sabemos da importância da Declaração de Salamanca e da Convenção de


Guatemala (2001) que direcionam as grandes frentes de ações nas políticas públicas
dos governos, entretanto, são os fundamentos legais que apontam os caminhos que os
sistemas de ensino devem trilhar na organização das práticas escolares.
É fundamental que a comunidade acadêmica de forma geral, conheça
a legislação que rege a educação para que ela seja cumprida e os direitos das pessoas
com deficiência sejam garantidos. Avançando um pouco mais, sabemos que que
não são apenas os dispositivos legais que definem as práticas pedagógicas que são
desenvolvidas e construídas dentro das instituições de ensino, mas, as pessoas, as
famílias, professores, enfim, toda a comunidade escolar.
Para Fernandes (2013) os textos legais carregam discursos que envolvem os
interesses de uma classe que revelam como essa classe significa e apreende a realidade,
além de representar a existência da sua história.
“Os discursos não convivem harmoniosamente, eles confrontam-se ativamente
localizados nas relações de poder que definem o que eles dizem e como dizem, e, de
outro, efeitos de poder que eles põem em movimento” (SILVA T. T., 2004, p. 44).
A partir desse pressuposto, quando nos apropriamos do discurso legal, nos
apropriamos também de um processo de construção e significação acerca da realidade.
Compreender os fundamentos legais que norteiam as a educação e as práticas
escolares, significa compreender o mundo, a sociedade e nossas relações.
Ao conhecermos a história e o percurso da deficiência e da educação especial
nos permitimos também realizar uma análise da legislação e como nossas relações são
regidas pela diversidade.
É inegável que durante toda a história da educação inclusiva muitas foram as
58
conquistas para o processo de inclusão, para a promoção da acessibilidade, garantia de
direitos, eliminação de barreiras arquitetônicas, e até mesmo mudanças sócio culturais
no que se refere às diferenças.
Ross (1998, p. 68) alerta que “o mero direito jurídico não produz um novo sujeito
político, não materializa formas organizativas, não expressa necessidades e, tampouco,
institucionaliza bandeiras de lutas e resistências”.
De acordo com o autor, a desigualdade está na falta de acesso não só da produção
social, bem como da divisão da riqueza, ou seja, na igualdade de direitos e possibilidades
de todos para a transformação da realidade.
O estudo de alguns dispositivos legais nos possibilita ampliar nossa compre-ensão
social e a forma como a sociedade se organizou na construção de um sistema inclusivo,
de uma educação especial.

VAMOS PENSAR?
O que se entende por educação especial na atualidade? Uma educação voltada para alguns
alunos ou um modo diferente de fazer educação? A partir da sua experiência pro-fissional,
e do autor Ross (1998), em que medida os dispositivos legais e o apoio social transformaram
um sistema escolar integrador em inclusivo?

5.2 LEI DE DIRETRIZES E BASES E AS POLÍTICAS


EDUCACIONAIS INCLUSIVAS

O texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDBEN, nos possibilita


refletir acerca da questão proposta e do que já ocorria na década de 1990 em relação aos
períodos anteriores.
Poderíamos pensar no seguinte esquema evolutivo das leis educacionais e a
situação do aluno com deficiência:

Figura 4: Leis educacionais


Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Podemos observar no esquema, que a Lei 4.024/1961 trata do movimento da


integração do aluno com deficiência, a educação especial, “dentro das possibilidades”.
Nesse momento a educação recebe o título de excepcional, e os alunos seriam atendidos
dentro das classes regulares.
59
Por outro lado, a Lei 5.692/71 ainda no movimento da integração apresenta um
caráter terapêutico, revelado pela terminologia tratamento ao se referir aos alunos.
Após vinte anos, a Lei 9.394/1996, verificamos uma valorização da educação
especial:
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efei-
tos desta Lei, a modalidade de educação escolar ofere-
cida preferencialmente na rede regular de ensino, para
educandos com deficiência, transtornos globais do de-
senvolvimento e altas habilidades ou superdotação.
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educan-
dos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi-
mento e altas habilidades ou superdotação:
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino es-
tabelecerão critérios de caracterização das instituições
privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atua-
ção exclusiva em educação especial, para fins de apoio
técnico e financeiro pelo Poder Público (BRASIL, 1996).

Suas diretrizes englobam aspectos conceituais, para quem se destina, locais de


oferta, organização político-pedagógica e financiamento, além de definir seu caráter de
modalidade de educação.
A LDBEN de 1996 se inspira nas políticas educacionais inclusivas, em nível mundial,
principalmente no que preconiza a Declaração de Salamanca. Percebe-se uma mudança
enorme em relação a integração e a natureza clínico tera-pêutica para uma proposta
inclusiva.
Da Educação Infantil ao Ensino Superior à escola passou a ofertar a matrícula para
a criança ou adulto com deficiência, ofertando serviços educacionais especializados,
possibilitando sua entrada e a permanência na instituição.
Contudo, as mudanças não param por aí, a Lei 13.146/2015, Lei Brasileira de Inclusão
assegura um sistema inclusivo em todos os níveis de acordo com as necessidades de
aprendizagem de cada aluno.
Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com defi-
ciência, assegurados sistema educacional inclusivo em
todos os níveis e aprendi-zado ao longo de toda a vida,
de forma a alcançar o máximo desenvolvimento pos-
sível de seus talentos e habilidades físicas, sensori-ais,
intelectuais e sociais, segundo suas características, in-
teresses e necessidades de aprendizagem (Brasil, 2015).

Essa lei modifica toda a nossa visão acerca da inclusão, pois, trata-se
especificamente de um dispositivo legal que regulamenta a inclusão do ponto de
vista da igualdade, da prioridade ao atendimento, direito à saúde, inclusão no trabalho,
acessibilidade, acesso à informação, comunicação, tecnologia assistiva entre outros
direitos. Muito foi feito até aqui!
60

Figura 5: Inclusão
Fonte: Ferraz (2011)

Podemos pensar agora que temos uma lei específica que trate da inclusão. Vale
ressaltar que as demais apontam para uma orientação inclusiva.
Vejamos abaixo em síntese o que consta em alguns documentos legais:

Legislação O quê? Para quem? Onde?


Constituição de Atendimento Portadores de deficiência. Preferencialmente na
1988 educacional rede regular de ensino.
especializado.
Estatuto da crian- Atendimento Portadores de deficiência. Preferencialmente na
ça e do adoles- e d u c a c i o n a l rede regular de ensino.
cente – Capí- especializado.
tulo IV – Lei nº
8.069/1990
Lei de Diretrizes Educação Educandos Portadores de Rede regular de ensino
e Bases da Edu- Especial. deficiência. (preferencialmente) clas-
cação Nacional nº ses especiais ou escolas
9.394/1996 especiais.
Diretrizes Nacio- Educação Educandos com necessi- Classes comuns (preferen-
nais da Educação Especial. dades educacionais espe- cialmente), classes espe-
Especial na Edu- ciais. ciais ou escolas especiais.
cação Básica Res.
CNE 2/2001
Plano Nacional de Educação Pessoas com necessida- Classes comuns, classes
Educação – PNE, Especial. des especiais. especiais ou escolas espe-
Lei nº 10.172/2001 ciais.
Política Nacional Atendimento Alunos com deficiência, Escolas da rede pública,
de Educação Es- e d u c a c i o n a l transtornos globais do de- centros de atendimento
pecial na Pers- especializado. senvolvimento e altas ha- educacional especializado
pectiva da Edu- bilidades e superdotação. públicos ou conveniados.
cação Inclusiva
- Res. CNE 4/2009.
Lei 13.146/2015 Atendimento Pessoa com deficiência. Instituições escolares pú-
educacional blicas e privadas.
especializado.
Quadro 1: Documentos Legais
Fonte: Elaborado pela Autora (2020)
61
Conforme o quadro acima percebemos uma variação de terminologias em relação
aos serviços prestados: Educação especial e atendimento educacional especializado.
O mesmo percebemos para portadores de deficiência, educandos com necessidades
educacionais especiais, pessoas com necessidades especiais e por fim e correto, pessoa
com deficiência. Com relação ao lugar, os dispositivos legais indicam preferencialmente
na rede regular, observa-se, portanto, a prioridade do serviço e não a obrigatoriedade.
Com relação à Educação Especial na Educação Básica, promulgado pela Resolução
nº 2/2001, define-se:
Art. 3º Por educação especial, modalidade da educação
escolar, en-tende-se um processo educacional definido
por uma proposta pedagógica que assegure recursos e
serviços educacionais especiais, organizados institucio-
nalmente para apoiar, complementar, suplementar e,
em alguns casos, substituir os serviços educacionais
comuns, de modo a garantir a educação escolar e pro-
mover o desenvolvimento das potencialidades dos edu-
candos que apresentam necessidades educacionais es-
peciais, em todas as etapas e modalidades da educação
básica (Brasil, 2001).

Para Fernandes (2013) esse conceito nos auxilia a compreender a educa-ção


especial, pois, ela está inserida no contexto geral da educação alinhada à educação
regular, com uma proposta pedagógica clara e bem definida. Além de oferecer os
recursos necessários para as necessidades educacionais em todas as etapas da vida do
aluno.
Na citação podemos ainda perceber as finalidades da educação especial: (I) apoiar
a inclusão, auxiliando no ensino regular professores e alunos, por meio de recursos físicos,
materiais e humanos; (II) complementar a Base Nacional Comum Curricular ofertando
metodologias, práticas escolares em atendimentos contraturnos; (III) suplementar o
currículo visando atender os alunos com altas habilidades/superdotação com atividades
de aprofundamento ou enriquecimento curricular. Continuando a análise de outro
trecho da lei
Art. 10. Os alunos que apresentem necessidades educa-
cionais especiais e requeiram atenção individualiza-
da nas atividades da vida autônoma e social, recursos,
ajudas e apoios intensos e contínuos, bem como adap-
tações curriculares tão significativas que a escola co-
mum não consiga prover, podem ser atendidos, em ca-
ráter extraordinário, em escolas especiais, públicas ou
privadas, atendimento esse complementado, sempre
que necessário e de maneira articulada, por ser-viços
das áreas de Saúde, Trabalho e Assistência Social.

Percebemos, que existe uma preocupação com o atendimento individualizado e


especializado, tanto na escola regular como nas escolas especiais, além da articulação
com demais áreas que possam assegurar também o bem-estar, a inserção no mercado
de trabalho e a saúde.
Assim, as diretrizes asseguravam o atendimento educacional especializado
62
nos dois contextos de ensino, conforme apontam os dois parágrafos do Art. 58, Lei nº
9.394/1996:
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio espe-
cializado, na escola regular, para atender às peculiari-
dades da clientela de educação especial.
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes,
escolas ou serviços especializados, sempre que, em
função das condições específicas dos alunos, não for
possível a sua integração nas classes comuns de ensino
regular (BRASIL, 1996).

A escola regular seria um espaço preferencial em um contexto inclusivo permeado


por práticas pedagógicas e currículos flexíveis e dinâmicos, contrários às práticas
pedagógicas tradicionais e excludentes.
Porém em direção contrária, o documento Política de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva do MEC ressalta uma divergência sobre os objetivos
do atendimento educacional especializado, em relação ao texto da Resolução nº 2/2001.
Até então a educação especial cumpria quatro finalidades: apoio,
complementação, suplementação e substituição dos serviços educacionais comuns.
De acordo com a legislação as classes e escolas especiais seriam mantidas, ainda que
em caráter excepcional para o atendimento de alunos que apresentassem deficiências
mais severas e que comprometessem a aprendizagem e convívio social.
Entretanto, a Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
apresenta restrições à substituição da educação especial, como forma de rompimento
com a perspectiva da integração, até então praticada. A Resolução nº 2/2001 que
praticava ainda a integração previa serviços especializados: apoio aos alunos nas classes
regulares, e até a possibilidade de frequência apenas em instituições especializadas
dependendo da opção de matrícula.
A legislação em vigor indica que a educação especial não pode ser substituída,
conforme trecho extraído da Resolução nº 4/2009
Art. 5º O AEE é realizado, prioritariamente, na sala de
recursos multifuncionais da própria escola ou em outra
escola de ensino regular, no turno inverso da escola-
rização, não sendo substitutivo às classes comuns,
podendo ser realizado, também, em centro de Atendi-
mento Educacional Especializado da rede pública ou
de instituições comunitárias, confessionais ou filantró-
picas sem fins lucrativos, conveniadas com a Secretaria
de Educação ou órgão equivalente dos Estados, Distrito
Federal ou dos Municípios (Brasil, 2009).

FIQUE ATENTO
Após a análise de trechos de vários dispositivos importantes no que diz respeito a inclusão
e a garantida de direitos da pessoa com deficiência, percebemos que durante um perío-
do dois textos em vigência são contraditórios em relação ao atendimento educacional
especializado em caráter substitutivo ao ensino comum, em classes em escolas especiais.
63
A Convenção de Guatemala como já dito anteriormente, prevê a eliminação
de qualquer forma de discriminação contra pessoas com deficiência e interpreta o
tratamento educacional de pessoas com deficiência em espaços separados como
discriminatório. O aluno não pode ser privado do seu direito de acesso às classes
regulares, essa privação estabelecida pela legislação como “substituição de serviços” é
tida como um ato discriminatório.
Por outro lado, o financiamento do Atendimento Educacional Especializado (AEE)
está condicionado à matrícula no ensino regular, o que provocou a migração de alunos
que antes estudavam apenas nas escolas especializadas, para esses espaços onde
receberão o AEE no contraturno.
Assim, o AEE imprime à educação especial um novo olhar, e sua inserção no
contexto da inclusão escolar, viabilizando o atendimento às necessidades educativas
especiais no espaço da escola regular.
A partir de então temos uma desvinculação entre educação especial e escola
especial, já que os recursos matéria, humanos tecnológicos, pedagógicos e curriculares
passam a integrar a cotidiano, favorecendo a diversidade, retirando o foco da deficiência
em busca da equidade.
Na próxima unidade discutiremos o Atendimento Educacional Especializado e
sua relação com as necessidades educacionais especiais.

VAMOS PENSAR?
A sala de recursos multifuncionais é um espaço organizado com materiais didáticos,
pedagógicos, equipamentos e profissionais com formação para o atendimento
às necessidades educacionais especiais dos alunos.
Agora, vamos pensar...
Com base nessa definição, faça uma pesquisa em seu município e identifique quais escolas
regulares disponibilizam esse serviço no contraturno.

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Saiba mais sobre o preconceito na educação infantil lendo o livro
Educação inclusiva: percursos na educação infantil: laboratório de estudos so-
bre o pre-conceito.
Disponível em https://bit.ly/3jIrcjY. Acesso em 25 ago. de 2020

5.3 DEFICIÊNCIA LEGISLAÇÃO E TRABALHO

Ao longo das unidades conversamos sobre diversidade, deficiência e diferença.


Agora. Sem perder o foco, voltaremos nossos olhares para fora da escola. É chegado
o momento de avançarmos tanto no conceito da deficiência quanto nas leis que
regulamentam o mercado de trabalho para as pessoas com deficiência.
Sabemos por meio de nossos estudos que o preconceito está enraizado na
cultura, e que a deficiência infelizmente é vista como uma incapacidade ou ausência de
habilidades no mercado de trabalho.
Retirar da sociedade o olhar míope sobre a deficiência como algo incapacitante
64
o para possibilidades que o sujeito tem de desenvolvimento, ainda é um dos grandes
desafios sociais.

Figura 6: Preconceito e mercado de trabalho


Fonte: (FERRAZ, 2021)

Outro desafio que encontramos no mercado de trabalho, refere-se à infraestrutura


dos ambientes para receber as pessoas com deficiência. Muitos prédios e salas são
antigos e não foram pensados pelos engenheiros e arquitetos como locais de trabalho
para pessoas com deficiência. Não possuem rampas de acesso, banheiros adaptados,
sinais sonoros e luminosos, placas em braile, piso tátil, mobiliários adaptados, enfim, são
completamente inacessíveis.

Figura 7: Falta de acessibilidade


Fonte: (FERRAZ, 2021)

Outro ponto a se destacar, é que às pessoas com deficiência as vagas destinadas


referem-se à trabalhos operacionais, devido a crença cultural que a deficiência invalida
as capacidades, habilidades e produtividade.
Muitos gestores acreditam que ter um colaborador com deficiência representa
um custo elevado dada a necessidade de acessibilidade e de adaptação do ambiente.
65
Infelizmente, a cultura do preconceito está enraizada em nossa sociedade e
principalmente no mercado de trabalho.
Assim, se nós temos dificuldades de ingressarmos e nos mantermos no mercado
de trabalho, para essas pessoas, as dificuldades são ainda maiores, porque além das
questões referentes à acessibilidade, eles ainda enfrentam o preconceito e as barreiras
atitudinais.
Mas, e com relação à uma legislação que ampare essas pessoas no mercado de
trabalho? Em 1991 foi promulgada a “Lei de Cotas”, Lei 8.213, de 24 de julho de 1991. Esta
lei dispõe sobre os planos de benefícios da previdência social e em seu Art. 93 é previsto
o direito ao trabalho.
Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados
está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5%
(cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários rea-
bilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilita-
das, na seguinte proporção:
I - Até 200 empregados ..................................................................2%;
II - Até 201 a 500 .....................................................................................3%;
III - de 501 a 1.000 ..................................................................................4%;
IV - de 1.001 em diante. ......................................................................5%.
(BRASIL, Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, 1991)

Ou seja, o percentual de vagas disponibilizadas para as pessoas com deficiência


varia de acordo como número de empregados de cada empresa. Você conhecia essa Lei?
Infelizmente poucos a conhecem com riqueza de detalhes, principalmente as pessoas
com deficiência.
Podemos pensar que a Lei de Cotas surgiu como uma garantia e possibilidade de
superação do assistencialismo que as pessoas com deficiências estiveram culturalmente
submetidas ao longo dos anos, possibilitando-lhes a inclusão social e a inserção no
mercado.
Contudo o Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999 em seu artigo 36, § 2º e 3º
prevê
§ 2º Considera-se pessoa portadora de deficiência ha-
bilitada aquela que concluiu curso de educação profis-
sional de nível básico, técnico ou tecnológico, ou curso
superior, com certificação ou diplomação expedida por
instituição pública ou privada, legalmente credenciada
pelo Ministério da Educação ou órgão equivalente, ou
aquela com certificado de conclusão de processo de ha-
bilitação ou reabilitação profissional fornecido pelo Ins-
tituto Nacional do Seguro Social - INSS.
§ 3º Considera-se, também, pessoa portadora de defici-
ência habilitada aquela que, não tendo se submetido a
processo de habilitação ou reabilitação, esteja capacita-
da para o exercício da função (BRASIL, 1999).

Após a leitura dos fragmentos do referido decreto surgem algumas dúvidas


e inquietações: a pessoa com deficiência para ocupar o mercado de trabalho precisa
se profissionalizar ou ser capacitada. Entretanto, o que mais ocorre é que PCDs
66
capacitados, diplomados muitas vezes não conseguem empregos em suas áreas de
atuação, restando apenas as atividades operacionais, ou em casos ainda extremos a
aparência física também surge como um dificultador.

Figura 8: Deficiência e Mercado de trabalho


Fonte: (FERRAZ, 2021)

É importante que nos indaguemos sobre algumas questões relativas à essa


lei. Sabemos que as empresas são obrigadas a oferecer vagas para as pessoas com
deficiência, contudo, será que as empresas estão preocupadas em além de garantir as
vagas de também elaborar uma política de acesso e permanência? Essa é uma garantia
e uma política apresentada por poucas empresas.
A Lei 13.146/2015 prevê que
Art. 34. A pessoa com deficiência tem direito ao tra-
balho de sua livre escolha e aceitação, em ambiente
acessível e inclusivo, em igualdade de oportunidades
com as demais pessoas.
§ 1º As pessoas jurídicas de direito público, privado ou de
qualquer natureza são obrigadas a garantir ambientes
de trabalho acessíveis e inclusivos.
§ 2º A pessoa com deficiência tem direito, em igualdade
de oportunidades com as demais pessoas, a condições
justas e favoráveis de trabalho, incluindo igual remu-
neração por trabalho de igual valor.
§ 3º É vedada restrição ao trabalho da pessoa com de-
ficiência e qualquer discriminação em razão de sua
condição, inclusive nas etapas de recrutamento, sele-
ção, contratação, admissão, exames admissional e peri-
ódico, permanência no emprego, ascensão profissional
e reabilitação profissional, bem como exigência de ap-
67
tidão plena.
§ 4º A pessoa com deficiência tem direito à participa-
ção e ao acesso a cursos, treinamentos, educação con-
tinuada, planos de carrei-ra, promoções, bonificações e
incentivos profissionais oferecidos pelo empregador,
em igualdade de oportunidades com os demais em-
pregados (BRASIL, 2015, grifo do autor).

Como podemos perceber, existe um abismo entre o real e o ideal quando nos
referimos às vagas para PCD (Pessoas com deficiência). Existem poucas pessoas
inseridas no mercado de trabalho, entretanto as fiscalizações do Ministério do Trabalho
e Emprego (MTE) vem mudando esse cenário.
Muitos procedimentos adotados pelo MTE foram atualizados, entre eles a
fiscalização para garantir que as pessoas com deficiência e as beneficiárias da Previdência
Social já reabilitadas ingressem e permaneçam no mercado de trabalho. A fiscalização
nas empresas incentivará a contratação, bem como a permanência da PCD no ambiente
de trabalho, salvaguardando questões relativas à acessibilidade e comunicação (PCD,
2020).
Além disso, será também responsabilidade do MTE acompanhar a contratação, a
adaptação e o desligamento quando for necessário. Todo esse movimento já apresentou
alguns resultados
As contratações de pessoas com deficiência sob ação da
fis-calização do MTE têm aumentado anualmente. Em
2009, foram 26.449 profissionais inseridos no mercado
de trabalho, somente com a intermediação do ministé-
rio. No ano de 2010, os audito-res do trabalho formaliza-
ram a contratação de 28.752 pessoas com deficiência.
Em 2011, este número teve um aumento de 19,62%, atin-
gindo 34.395 pessoas em todo o país (PCD, 2020).

Contudo muito ainda há para se fazer, principalmente porque não temos fiscais
suficientes para exercer a tarefa que foi confiada ao MTE.

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Saiba mais o PCD ON-LINE
Uma plataforma que oferece gratuitamente dicas de vagas e contratação de
pessoas com deficiência.
Disponível em https://bit.ly/3kgq2BK. Acesso em 23 mar. de 2021

Percebemos que as leis e decretos tiveram e ainda tem com objetivo, garantir
o direito ao trabalho às pessoas com deficiência, e isso, desde a Constituição de 1988,
garantindo que não haja nenhuma forma de preconceito, discriminação ou segregação
no ambiente de trabalho, além de penalidades ao empregador caso as leis não sejam
cumpridas.
No entanto isso não significa dizer que as leis e as fiscalizações são efetivas e que as
pessoas com deficiência estejam livres de qualquer forma de discrimina-ção, ou de não
68
ter a sua subsistência garantida, ficando essa em muitos casos a cargo dos benefícios
do INSS, ou seja, retornamos em alguns pontos à política do assistencialismo. Assim o
trabalho na vida das pessoas com deficiência perde o sentido de socializador e condição
de existência do homem (LUKÁCS, 1979).
69
FIXANDO O CONTEÚDO
1. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclu-siva
considera que a educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e pedagógica,
desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo
e participando, sem nenhum tipo de discriminação.
Nesse sentido, dentre os objetivos previstos na referida política, encontra-se promover

a) a educação especial, separada da educação comum, como a maneira mais


apropriada para o atendimento de alunos com deficiência.
b) a escolarização da pessoa com deficiência na educação básica, com prioridade.
c) a transversalidade da educação especial desde a educação infantil até o ensino
fundamental.
d) a individualização dos programas escolares, adaptando os currículos e os objetivos
educacionais apenas para os alunos sem deficiência.
e) o acesso da pessoa com deficiência aos espaços públicos e equipamentos,
contornando os obstáculos existentes.

2. Referente à educação inclusiva, avalie as afirmativas abaixo:

I. A educação especial é fundamentada nos princípios de que todos são iguais e precisam
de tratamento igual.
II. A educação inclusiva é fundamental para garantia de mão de obra qualificada de
deficientes para o trabalho produtivo.
III. As ações afirmativas são medidas especiais voltadas para promover a inclusão de
grupos discriminados e vitimados pela exclusão social.
IV. O princípio da educação inclusiva é a garantia de educação de qualidade para todos,
independente de características físicas, mentais, psíquicas, culturais e sociais.
V. A educação inclusiva é baseada no papel do professor, sendo este o responsável pelo
sucesso ou fracasso escolar dos estudantes.

Assinale a alternativa CORRETA.

a) Apenas III e IV.


b) Apenas I, e II.
c) Apenas I, III e IV.
d) Apenas I, III e V.
e) Apenas II e IV.

3. (ABADE - 2020) Antes, nós tínhamos a escola regular e a escola especial, separadamente.
A educação inclusiva aparece para acabar com essa separação. Ela é a educação especial
dentro da escola regular com o objetivo de permitir a convivência e a integração social
dos alunos com deficiência, favorecendo a diversidade. A educação inclusiva não é
a mesma coisa que a educação especial. A educação especial é uma modalidade de
ensino que tem a função de promover o desenvolvimento das habilidades das pessoas
com deficiência, e que abrange todos os níveis do sistema de ensino, desde a educação
70
infantil até a formação superior. Ela é responsável pelo atendimento especializado ao
aluno e seu público-alvo são os alunos com algum tipo de deficiência (auditiva, visual,
intelectual, física ou múltipla), com distúrbios de aprendizagem ou com altas habilidades
(superdotados).

A educação inclusiva é uma modalidade de ensino na qual o processo educativo deve


ser considerado como um processo social, em que

a) o ensino a distância não pode ser utilizado com complementação da aprendizagem.


b) as comunidades indígenas e quilombolas não se encontram contempladas.
c) todas as pessoas, como deficiência ou não, tem direito a escolarização.
d) é fundamental o fortalecimento dos vínculos com as famílias e rede de apoio.
e) o ensino religioso faz parte integrante da formação básica em prol da cidada-nia.

4. (VUNESP - 2020) De acordo com o artigo 28 da Lei n° 13.146/2015, Lei Brasileira de


Inclusão da Pessoa com Deficiência, incumbe ao poder público, entre outras ações,
assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar o(a)

a) formação continuada de professores, em educação especial, através de cur-sos


gratuitos de pós-graduação sobre as diferentes deficiências.
b) projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacional apartado
para deficientes, promovendo a sua anomia.
c) oferta de educação bilíngue para surdos, em Sistema Braille, como primeira língua,
e língua portuguesa como segunda língua.
d) inclusão obrigatória de temas relacionados à pessoa com deficiência em con-
teúdos curriculares de cursos de nível fundamental e médio.
e) acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de condições, a jogos e ati-
vidades recreativas, esportivas e de lazer, no sistema escolar.

5. (CETRED - 2019) Segundo o Decreto 6571/2018, podemos considerar o Atendi-mento


Educacional Especializado – AEE como sendo

a) o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados


institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos
alunos no ensino regular.
b) uma concepção de ensino cujo objetivo é garantir o direito de todos à educação.
c) uma modalidade de ensino destinada a educandos com necessidades educativas
especiais no campo da aprendizagem, originadas quer de deficiência física, sensorial,
mental ou múltipla, quer de características como altas habilidades/superdotação.
d) uma sala de aula em escola do Ensino Regular, em espaço físico e modulação
adequados, onde o professor especializado na área da deficiência mental uti-liza
métodos, técnicas, procedimentos didáticos e recursos pedagógicos especializados e,
quando necessário, equipamentos e materiais didáticos.
e) sala de atendimento que segue a educação comum com os níveis de ensino e faixas
etárias estabelecidas.

6. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu art. 58,
71
entende-se por Educação Especial a modalidade de educação escolar oferecida
preferencialmente na rede regular de ensino para educandos com

a) deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades/


superdotação.
b) vulnerabilidade social em diferentes situações.
c) transtornos de aprendizagem e com deficiência.
d) deficiência e atrasos do desenvolvimento.
e) transtornos do desenvolvimento e transtornos mentais.

7. O dia 14 de abril ficou estabelecido como o Dia Nacional de Luta pela Educação Inclusiva.
De acordo com o MEC, a educação especial abrange todos os níveis de escolaridade e
dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializa-do (AEE).

a) Deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades.


b) Limitações motoras, deficiência intelectual e transtornos de ansiedade.
c) Limitações motoras, deficiência mental e transtorno afetivo global.
d) Deficiências visuais e auditivas, distimia e superdotação.
e) Deficiências visuais, deficiência intelectual e transtornos de ansiedade.

8. (AMEOSC - 2019) De acordo com a política nacional de educação inclusiva e trabalho


pedagógico, Resolução nº 4 de 2 de outubro de 2009, com relação aos alunos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação,
pode-se dizer que:

I. Tais alunos devem ser matriculados nas classes comuns do ensino regular;
II. Alunos com habilidades/superdotação não devem ser matriculados em classes
comuns;
III. Alunos com transtornos globais do desenvolvimento devem ser encaminhados ao
Atendimento Educacional Especializado da rede particular, sob encargos do Estado.

Assinale a alternativa CORRETA.


a) Apenas I.
b) Apenas I, e III.
c) Apenas II, III.
d) Apenas I, III.
e) Todas estão corretas.
72

NECESSIDADES
EDUCACIONAIS
ESPECIAIS: AVANÇO
OU RETROCESSO?
73
6.1 PENSANDO SOBRE AS TERMINOLOGIAS

Conversaremos um pouco sobre algumas terminologias utilizadas pela sociedade


para nomear as pessoas com deficiência ao longo dos anos. Iniciaremos a reflexão com
necessidades educacionais especiais. Muitas pessoas equivocadamente diriam que
estão contemplados nessa terminologia a pessoa com deficiência.
Comumente as pessoas substituem deficiência por necessidades educacionais
especiais. Todas as pessoas com deficiência apresentam necessidades especiais, isso não
quer dizer que toda pessoa com necessidade especial é deficiente, ou seja, deficiência
não é sinônimo de necessidade especial.
Por outro lado, a expressão necessidades educativa especiais se popularizou após
ser utilizada na Declaração de Salamanca que teve como como um de seus objetivos
atenuar as terminologias negativas e os rótulos dados às pessoas com deficiência:
deficientes, anormais, retardados, idiotas, excepcionais, incapazes entre outros.
Contudo, ela acabou por incorporar outro grupo de alunos, aqueles que apresentavam
dificuldades de aprendizagem, sem necessariamente apresentar algum tipo de
deficiência (FERNANDES, 2013).
Sabemos que mesmo atualmente algumas instituições escolares ainda têm
práticas homogeneizantes e completamente tradicionais, que buscam um perfil
de “aluno ideal”, entretanto elas precisavam também atender ao aluno que não era
considerado como “ideal”.

Figura 9: Falta de inclusão


Fonte: (FERRAZ, 1999)

As estratégias criadas para atender a essa classe foi separá-los dos demais, nas
famosas classes especiais. A criação das classes especiais foi fundamental para separar
os alunos ideais dos chamados alunos “lentos”, “carentes culturais”, “lerdos” entre outros
rótulos.
Contudo sabemos que o número de alunos com dificuldades de aprendizagem
crescia assustadoramente. Oriundos das classes populares, muitos não se adaptavam às
estratégias e práticas escolares, pensadas originalmente para os alunos ideais. Por força
circunstancial, esses alunos com dificuldades de aprendizagem foram absorvidos pela
educação especial.
Neste momento observa-se uma discrepância entre os alunos e uma necessidade
de redefinição dos grupos que de fato necessitavam de um atendimento educacional
especializado, dadas as suas caraterísticas e formas de aprendizagem únicas e
74
diferenciadas.
Um dos grandes problemas do Brasil refere-se a desigualdade social, a pobreza e
às condições da escola em atender a toda essa demanda de forma a atingir a equidade.
Não se atende na escola apenas a criança ou um jovem menos favorecido. A escola
recebe junto com ele suas diferenças culturais, econômicas, étnicas, preconceitos e
discriminações.
A migração, a pobreza, problemas sociais ocasionaram inúmeras problemas às
crianças das classes menos favorecidas, grupo em que encontramos o maior índice de
problemas de aprendizagem.

FIQUE ATENTO
A terminologia necessidades educacionais especiais foi empregada oficialmente
pela primeira vez nos anos de 1970, na Inglaterra, pela pesquisadora Mary Warnock, ao
apresentar os resultados de um estudo aprofundado que buscava identificar as causas do
maciço fracasso escolar, o qual atingia percentuais elevadíssimos.
Em seus estudos, a pesquisadora revelou dados contrários à ótica, até então adotada,
sobre problemas de aprendizagem, já que, segundo ela, apenas 2% da população escolar,
aproximadamente, apresentava dificuldades cuja origem fossem quadros permanentes,
como as deficiências ou outros distúrbios orgânicos que ocasionam atrasos, lentidão na
compreensão, problemas da linguagem, distúrbios emocionais ou de conduta (MARCHESI
& MARTÍN, 1995).

A fome, a pobreza, o isolamento social, maus-tratos, contribuíram para o fracasso


escolar, contudo, a escola não teve uma resposta efetiva frente a essa situação social,
que até hoje, vemos muitas situações em que esse quadro permanece, sem nenhuma
alteração. Ainda há muito o que se fazer, o que se cons-truir, o que se refletir.
Há de se refletir que quanto mais for homogênea e tradicional a proposta
pedagógica da escola, mais se intensificam as dificuldades de aprendizagem, os
processos de adaptação ou o surgimento fantasioso de necessidades especiais.
Faz-se necessário pensar uma escola diferente, sem padrões, sem igualdades,
mas que se paute nas diferenças. Uma escola que busque extrapolar as desigualdades
sociais dentro de seus muros, que fortaleça os laços de afetividade. Uma ação
que supere os possíveis e os problemas de aprendizagem, estruturando-se,
organizando-se em torno de propostas que ofertem recursos adequados a cada caso: a
escola da subjetividade e da singularidade.
Uma escola que reconhecesse a diferença entre as deficiências permanentes
(transtornos, distúrbios e deficiências) ou as temporárias (causadas por questões
culturais, familiares e sociais).
Quais seriam os recursos a serem utilizados para atender a deficiência permanente
e a temporária? São recursos primeiramente de natureza humana, em seguida, técnica,
material e tecnológica, sem, no entanto, perder de vista seu Projeto Político Pedagógico
(PPP), seus componentes curriculares, bem como as metodologias diferenciadas (para
todos) e as mais variadas formas de avaliação. A avaliação tradicional precisa perder o
caráter de único processo de avaliação.
75
6.2 TERMINOLOGIA COMO FATOR DE IGUALDADE

Retomando o conceito de necessidades educacionais especiais, que até os dias


de hoje ainda é utilizado equivocadamente para substituir a deficiência ainda temos o
problema de que a deficiência é do aluno e está “localizada apenas nele”. A deficiência é
também da escola, do professor, dos recursos, e da sociedade.
Fernandes (2013) esclarece que o grande erro está ao nos apropriarmos da
terminologia necessidades educacionais especiais para todos os alunos que necessitem
ao logo do processo de escolarização de recursos diferenciados são contemplados
nessa categoria junto com os alunos com deficiência.

VAMOS PENSAR?
Um aluno que troca fonemas na fala ou letras na escrita, uma criança que perde os pais
tragicamente em um acidente, ou que tem em casa a chegada de um bebê recém-nascido,
ou que tenha perdido o animalzinho de estimação, ou usa uma cadeira de ro-das porque
sofreu um acidente, situações que interferem momentaneamente em sua aprendizagem.
Deve ser considerado deficiente ou precisa que a escola busque estratégias de atenção
mais individualizada e uma mudança na organização escolar?

De acordo com a Lei 13.146 de 06 de julho de 2015, Lei Brasileira de Inclusão da


Pessoa com Deficiência
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que
tem impedimento de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação
com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participa-
ção plena e efetiva na sociedade em igualdade de con-
dições com as demais pessoas.
§ 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será
biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e
interdisciplinar e considerará:
I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do cor-
po;
II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;
III - a limitação no desempenho de atividades;
IV - a restrição de participação (Brasil, 2015).

É possível compreender a diferença entre deficiência e necessidade educacional


especial? Que uma terminologia se alinha a outra sem, contudo, serem sinônimas?
Ferreira (2006) assevera que a terminologia necessidades educativas especiais foi
utilizada em um documento da Unesco em 1994. Esse documento teve como objetivo
avaliar os impactos da Declaração de Salamanca cinco anos após sua convenção:
Reconvocando as várias declarações das Nações Unidas
que culminaram no documento das Nações Unidas "Re-
gras Padrões sobre Equalização de Oportunidades para
Pessoas com Deficiências", o qual demanda que os Es-
tados assegurem que a educação de pesso-as com defi-
76
ciências seja parte integrante do sistema educacional[...]
[...] aqueles com necessidades educacionais especiais
devem ter acesso à escola regular, que deveria acomo-
dá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança,
capaz de satisfazer a tais necessidades (Unesco, 1994).

A leitura do documento nos leva a crer que pessoas com necessidades especiais
são pessoas com deficiência, pode-se dizer que, a partir de então socialmente uma
terminologia torna-se equivocadamente sinônimo de outra.
Ou seja, as crianças que fracassavam na escola devido a vários fatores, sociais,
familiares, culturais e econômicos, e que ao longo do processo educativo necessitavam
de um recurso especializado, apoio adicional, de uma adaptação curricular ou de materiais
didáticos específicos que potencializassem ou estimulassem sua aprendizagem eram
consideradas deficientes (FERREIRA, 2006).
Por outro lado, no Brasil a LDBEN (1996)em seu Art.8 ao adotar a terminologia
necessidades especiais amplia a interpretação no contexto da inclusão, à medida que, o
que antes aplicava-se apenas aos alunos com deficiência, agora amplia-se também para
os demais: os excluídos ou marginalizados no contexto escolar (FERNANDES, 2013).
Para Coll, Palácios e Marchesi (1995, p. 11) alunos com necessidades especiais “são
aqueles alunos que por apresentar algum problema de aprendizagem ao longo de sua
escolarização exigem uma atenção mais específica e maiores recursos educacionais do
que os necessários para os colegas de sua idade”.

Figura 10: Ensinando


Fonte: Getty Images(s.d.)

Ao repensarmos esse conceito ou terminologia, do ponto de vista de Coll, Palácios


e Marchesi (1995) percebemos um novo aspecto no âmbito da positividade: deixar de
focar apenas na dificuldade e ampliar o olhar para os recursos e serviços educacionais
necessários capaz de atender às dificuldades de aprendizagem.
Elevamos assim para um conceito maior de universalidade, em que não serão
apenas os alunos com necessidades educacionais que serão beneficiados quando
deslocamos o olhar da necessidade e da deficiência para os recursos e serviços
educacionais, mas todo o alunado que faz parte da escola, conforme a Lei 13.146/15
77
II - Desenho universal: concepção de produtos, ambien-
tes, programas e serviços a serem usados por todas as
pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto
específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva
(Brasil, 2015).

Para Carvalho (2000, p. 40) essa visão desloca “a ênfase do ‘aluno com defeito’
para buscar na escola uma resposta educativa diferenciada, pautada na singularidade
de cada um. Uma resposta em que o as adequações curriculares sejam pensadas, o
currículo reformulado, nas intervenções com foco em cada dificuldade, considerando
todo o histórico do aluno.
Contudo, na teoria isso é impossível de ser planejado e executado, porém
as mudanças provocam inúmeras implicações na organização do atendimento
educacional, pois, o impacto é grande.

VAMOS PENSAR?
Se o número de alunos sem deficiência é bem menor que o número de alunos com deficiência
ou necessidades educacionais, qual seria a justificativa para uma nova organização no
atendimento educacional?

Avançando na discussão, encontramos também e muito bem difundida a


expressão pessoa portadora de deficiência. Essa expressão já não é mais utilizada, porém
ainda a encontramos na área da legislação. O termo correto é pessoa com deficiência e
vem sendo utilizado desde 2007 no texto da Convenção Internacional sobre Direitos das
Pessoas com deficiência, promulgada pela ONU.

BUSQUE POR MAIS


Por que devemos evitar dizer PORTADOR DE DEFICIÊNCIA?
As pessoas não “portam” ou “carregam” a deficiência como se ela fosse um ob-
jeto que pudesse ser deixado em um local quando não fosse mais necessário.
Deficiências ou ne-cessidades especiais não se carregam como “fardos”, mas
se manifestam como exigên-cias a serem supridas pelo meio social para supe-
rar impedimentos iniciais (Carvalho, 2004).
Assista o vídeo de Mariana Torquato, em que ela explica de forma divertida
cada um desses termos.
Disponível em: https://bit.ly/3QPuF2h

Ainda acerca das terminologias, Ferreira (2006a, p. 225) esclarece que o termo
necessidades educacionais especiais devem ser compreendidas como uma referência
a todas as pessoas (crianças, jovens e adultos) que enfrentam barreiras para aprender
e que podemos localizar essas barreiras no conteúdo curricular, acessibilidade física,
preconceito, discriminação bullying, e todas as outras que impedem a aprendizagem.
Ao longo da discussão percebemos que a terminologia necessidades educacionais
especiais minimizou os estereótipos que eram utilizados para deixar a margem aqueles
alunos que apresentavam dificuldades na aprendizagem, que não aprendiam no
78
mesmo ritmo de padrão esperados por professores e instituições. Contudo, a imprecisão
e a ausência de especificidade possibilitaram uma indefinição nas políticas educacionais
para o atendimento especializado.
Essa indefinição acabou por abarcar desde os alunos com severas deficiências até
aqueles que apresentavam simples dificuldades de aprendizagem, às vezes até mesmo
dificuldades transitórias.
De um extremo ao outro há de se pensar em quantos enganos foram cometidos
e ainda são na identificação do aluno com necessidades educacionais especiais,
grande desafio da educação especial, o desafio das escolas inclusivas.

FIQUE ATENTO
Romeu Sassaki, estudioso da Educação Especial fala ao programa Diversidade
sobre o desafio da inclusão social.
Disponível em: https://bit.ly/3kg5WYI. Acesso em 25 ago. de 2020

BUSQUE POR MAIS


Você sabe o que é Tecnologia Assistiva? Será que ela pode ser
utilizada na sala de recursos?
Confira essas informações lendo o livro
Tecnologia assistiva em educação especial e educação inclu-
siva.
Disponível em: https://bit.ly/2Z4eHHD
Acesso em 25 ago. de 2020

6.3 CRÍTICAS A TERMINOLOGIA NECESSIDADES


EDUCACIONAIS ESPECIAIS

Embora a terminologia necessidades educacionais especiais tenha ampliado


a forma da escola olhar o fracasso escolar, trazendo para a discussão as questões
transitórias, fatores culturais e sociais, ela recebeu muitas críticas de diversos estudiosos
como Marchesi e Martín (1995) e Carvalho (2000) que defendem que a educação especial
se volte para um grupo específico de alunos.
As principais críticas à terminologia segundo os autores são as seguintes:
79

Figura 11: Principais críticas à terminologia


Fonte: Elaborado pela Autora (2020)

Ao pensarmos que o universo de alunos atendidos pela educação especial


aumentou assustadoramente em função da imprecisão da terminologia, percebe-
se que o atendimento educacional especializado começa a receber novas demandas,
superlotando principalmente as salas de recursos, já que todo aluno que apresentava
uma ritmo diferenciado do padrão era identificado como aquele que necessitava de
apoio, mesmo que apresentasse dificuldades próprias do processo de alfabetização, do
raciocínio lógico matemático entre outros.
Essa terminologia permitiu a escola e professores pressupor que os alunos
ao apresentarem dificuldades de aprendizagem pudessem necessitar de serviços
e apoio da educação especial, durante parte ou todo o seu percurso escolar, o que
necessariamente talvez não fosse necessário.
Uma identificação clara e específica das características e condições do aluno,
bem como os procedimentos pedagógicos reflete na delimitação dos grupos a
serem atendidos sem prejuízos ao aluno, já que a grande maioria identificada pela
terminologia necessidades educacionais especiais demandam de uma reorganização
escolar nas práticas pedagógicas escolares do ensino regular.

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Saiba um pouco mais dobre Necessidades Educativas Especiais, o surgimento
desse ter-mo, sua relação com a concepção de deficiência, seus objetivos e sua
funcionalidade.
Disponível: https://bit.ly/3hWu0d0. Acesso em 25 ago. de 2020

Pensar na concepção de deficiência requer repensar as políticas públicas e a


legislação. Mas como? A escola precisa ser inclusiva, não deve integrar o aluno, mas,
incluí-lo conforme prevê a lei 13.146/2015
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que
tem impedimento de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação
com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participa-
ção plena e efetiva na sociedade em igualdade de con-
dições com as demais pessoas (Brasil, 2015).

Partindo do Art.2º que a deficiência é tratada como aquela impede e obstrui a


80
participação “plena e efetiva” do sujeito na sociedade há de se pensar que as definições
ou as classificações para os alunos com necessidades educacionais especiais devem
ser ampliadas a fim de não se esgotarem em quadros de deficiências ou quaisquer
patologias, ação que modifica nosso contexto educacional atual por meio de uma
atuação pedagógica adequada que permite a inclusão interativa e dinâmica.
Por outro lado, apesar da LDBEN de 1996 se referir genericamente aos alunos
“portadores de necessidades especiais”, a Resolução CNE/CEB nº 4, de 2 de outubro de
2009 indica claramente quais são os grupos de alunos que devem ser contemplados
pelo atendimento educacional especializado (AEE).
Art. 1º Para a implementação do Decreto nº 6.571/2008,
os sistemas de ensino devem matricular os alunos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento
e altas habilidades/superdotação nas classes comuns
do ensino regular e no Atendimento Educacional Es-
pecializado (AEE), ofertado em salas de recursos multi-
funcionais ou em centros de Atendimento Educacional
Especializado da rede pública ou de instituições comu-
nitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrati-
vos (Brasil, 2009).

Mas, quem são esses alunos? Veja a seguir no quadro abaixo uma breve definição
desses grupos conforme a Resolução CNE/CEB nº 4/2009.

GRUPOS INDICADOS DEFINIÇÃO


Alunos com deficiência Aqueles que tem impedimentos de longo prazo de nature-
za física, intelectual, mental ou sensorial.
Alunos com Aqueles que apresentam um quadro de alterações no de-
transtornos globais do senvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas
desenvolvimento relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras.
Incluem-se nessa definição alunos com autismo clássico,
Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett, transtorno de-
sintegrativo da infância e transtornos invasivos sem outra
especificação.
Alunos com altas Aqueles que apresentam um potencial elevado e grande
habilidades de envolvimento com áreas do conhecimento humano, iso-
superdotação ladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora,
artes e criatividade.
Quadro 2: Resolução CNE/CEB nº 4/2009
Fonte: (Brasil, 2009)

Diante das informações do quadro, qual o grande desafio das escolas públicas e
particulares? Oferecer condições estruturais e qualidade no ensino para todos os alunos,
promovendo as modificações necessárias para atender às necessidades de cada um dos
grupos citados.
Garantir a entrada e permanência desses alunos requer mudanças por parte dos
sistemas de ensino, recursos de acessibilidade na educação, definidos na Resolução
CNE/CEB nº 4/2009.
Parágrafo único. Para fins destas Diretrizes, consideram-
se recursos de acessibilidade na educação aqueles que
asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos
81
com deficiência ou mobilidade reduzida, promovendo
a utilização dos materiais didáticos e pedagógicos, dos
espaços, dos mobiliários e equipamentos, dos sistemas
de comunicação e informação, dos transportes e dos
demais serviços (Brasil, 2009).

Essa diretriz aponta para a necessidade da reorganização da estrutura da escola,


em relação aos recursos e apoios especializados a serem ofertados, uma reorganização
do ambiente, dos currículos, profissionalização dos profissionais especializados entre
muitas outras ações que possibilitem atender a cada aluno em sua singularidade. Reflete
na mudança do contexto em geral.
Pode-se perceber que a inclusão não se faz apenas por meio das leis, mas, pela
mudança dos espaços, da proposta pedagógica e das pessoas no acolhimento da
deficiência e da diferença, buscando sempre ações em que a equidade prevaleça.
Destacamos um trecho da Declaração de Salamanca (Unesco, 1994) em que se
evidencia que a preocupação da escola deve focar todas as diferenças, e não apenas
aquelas oriundas de deficiências.
As escolas deveriam acomodar todas as crianças inde-
pendentemente de suas condições físicas, intelectuais,
sociais, emocionais, linguísticas e outras. Aquelas deve-
riam incluir crianças deficientes e superdota-das, crian-
ças de rua e que trabalham, crianças de origem remota
ou de população nômade, crianças pertencentes a mi-
norias linguísticas, étnicas ou culturais, e crianças de ou-
tros grupos desavantajados ou marginalizados (Unesco,
1994).

Nas práticas de observação ou mesmo em seu local de trabalho, é possível


identificar quais grupos ainda sofrem maior marginalização no contexto escolar? Quais
mudanças didático-pedagógicas você identifica na prática docente para atender às
necessidades desses grupos?

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Assista o documentário DO LUTO à luta
O documentário reúne inúmeros depoimentos que destacam os limites e as
possibilidades vivenciados por pessoas que nascem com a síndrome de Down,
no enfrentamento de questões cotidianas relacionadas à família, à educação,
à sexualidade e ao trabalho. É uma referência efetiva para refletirmos sobre
os estereótipos e os estigmas que perpetuam o preconceito e a discriminação
social contra as pessoas, buscando superá-los por meio de conhecimento.
Disponível em: https://bit.ly/3kaYJJc. Acesso em 25 ago. de 2020
82
FIXANDO O CONTEÚDO

1. Em relação ao Capítulo V da LDBEN de 1996, referente à educação especial, é CORRETO


afirmar que

a) a educação Especial não se constitui uma modalidade de educação.


b) a Educação Especial destina-se aos alunos com necessidades educacionais especiais.
c) essa lei não prevê a criação de classes e escolas especiais .
d) a oferta da educação especial é dever constitucional da família e do município.
e) todas as alternativas estão corretas.

2. FUNDATEC (2019) É comum, ao presenciarmos discursos de dirigentes educacionais


ou conversas entre professores, a afirmação de que a inclusão se refere a um processo
direcionado aos alunos com necessidades educacionais especiais, mais precisamente
às crianças e aos jovens com deficiências. Essa definição, fruto da desinformação e da
superficialidade de análise, está equivo-cada por vários motivos, dos quais destacam-se
alguns:

I. A expressão ‘necessidades educacionais especiais’ é utilizada como sinônimo de


deficiência, o que não corresponde à verdade.
II. Somente os alunos com deficiência seriam alvos das políticas de inclusão, como se
apenas estes estivessem à margem do sistema educacional, apresentando problemas
na aprendizagem.
III. Reduz-se a complexa problemática social da inclusão, que estende seus tentáculos
aos diferentes segmentos sociais, ao espaço escolar como se, uma vez matriculados os
alunos nas classes comuns, estaria garantida sua inclusão edu-cacional e social.

Estão CORRETOS

a) apenas I.
b) apenas II.
c) apenas III.
d) apenas I e II.
e) I, II e III.

3. IBADE (2020) A alternativa que se refere a práticas pedagógicas inclusivas que


favorecem a aprendizagem e respeitam a diversidade dos alunos com defici-ência,
transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades/superdotação é a seguinte:

a) Realizar atividades que estimulem a individualidade e a aprendizagem de forma


lúdica.
b) Assegurar a homogeneidade da turma, evitando constituir espaços e atividades
segregadas.
c) Manter a comunicação entre o professor regular e o da sala de recursos.
d) Criar e alimentar estratégias individuais.
83
e) Manter os alunos em salas regulares os alunos por grupos de deficiências.

4. IBADE (2020) As alternativas abaixo se referem à necessária articulação entre ensino


comum e Atendimento Educacional Especializado (AEE).
I. A elaboração conjunta de planos de trabalho na construção do Projeto Pedagógico,
sendo a Educação Especial um tópico à parte da programação escolar, já que não é a
regra entre os alunos.
II. Estudo e a identificação, conjuntos, do problema pelo qual um aluno é encaminhado
à Educação Especial.
III. A discussão dos planos de AEE com todos os membros da equipe escolar.

Estão corretas as corretas as alternativas:

a) I.
b) I, II.
c) I, II. III.
d) I, III.
e) II, III.

5. (IBADE - 2020) Numerosos documentos nacionais e internacionais fundamentam o


direito universal à educação e, nos casos pertinentes, à educação inclusiva.

Está correto dizer sobre princípios da educação inclusiva:

a) Cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de


aprendizagem que lhe são iguais as dos outros alunos.
b) A aprendizagem deve ser adaptada às necessidades da criança ao invés de se tentar
adaptar a criança ao método de ensino e/ou teoria da aprendizagem em questão.
c) Todas as crianças devem aprender separadas, independentemente de quais-quer
dificuldades ou diferenças que elas tenham, sempre que isso seja possível.
d) As crianças com dificuldades de se adaptar ao método criado pela escola e equipe
técnica chegaram a seu limite definitivo de aprendizagem e isso deve ser nivelado ao
demais alunos da escola.
e) Os governos devem adotar como lei e como política o princípio da educação inclusiva,
admitindo todas as crianças nas escolas especiais, independentente das possibilidades.

6. (IBADE - 2020) “A inclusão também se legitima, porque a escola, para muitos alunos,
é o único espaço de acesso aos conhecimentos. É o lugar que vai proporcionar lhes
condições de se desenvolverem e de se tornarem cidadãos, alguém com uma identidade
sociocultural que lhes conferirá oportunidades de ser e de viver dignamente”. (Mantoan,
2003, p.30)

A autora defende que a escola precisa ofertar uma educação de qualidade, portanto,
pode-se dizer está CORRETA a seguinte afirmativa:

a) Existe ensino de qualidade quando as ações educativas se pautam na exclusão, na


colaboração, no compartilhamento do processo educativo com todos os que estão direta
84
ou indiretamente nele envolvidos.
b) Tem-se um ensino de qualidade a partir de condições de trabalho pedagógico que
implicam formação de redes de saberes e de relações, que se entrelaçam por caminhos
imprevisíveis para chegar ao conhecimento.
c) Existe ensino de qualidade quando as disciplinas atendem a uma determinada classe
de alunos.
d) Nas práticas pedagógicas predominam a experimentação, o tradicionalismo, a
descoberta, a coautoria do conhecimento.
e) Ensino deixa de ter qualidade quando as ações educativas se pautam na solidariedade
e na colaboração, visto que é necessário que a ação seja específica para aquela deficiência
e não compartilhada com outras, correndo o risco de incorrer em grave erro técnico.

7. São consideradas críticas a terminologia necessidades educacionais especiais:

I. Grande abrangência do termo, no que se refere a alunos com e sem deficiência,


incluindo as dificuldades de aprendizagem e até mesmo a superdotação.
II. A terminologia não se explica dada a sua indefinição e sentido muito vago.
III. Tentativa de suavizar a situação real da deficiência, acarretando prejuízos aqueles que
necessitam ser identificados para terem suas necessidades atendidas.
IV. Ampliação do universo de alunos a serem atendidos pela educação especial
descaracterizando a função dessa modalidade educacional.

Estão CORRETAS

a) apenas I e II.
b) apenas II e IV.
c) apenas III.
d) apenas I e III.
e) todas as alternativas estão corretas.

8. A Resolução CNE/CEB nº 4/2009 Indica quais grupos estão contemplados no


atendimento educacional especializado:

I. Alunos com deficiência;


II. Alunos com transtornos globais do desenvolvimento;
III. Alunos com altas habilidades de superdotação;
IV. Alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades
de superdotação.

Estão CORRETAS

a) apenas I e II.
b) apenas II e IV.
c) apenas III.
d) apenas I e III.
e) todas as alternativas estão corretas.
85
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO

UNIDADE 1 UNIDADE 2
QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 D
QUESTÃO 2 D QUESTÃO 2 C
QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 A
QUESTÃO 4 C QUESTÃO 4 E
QUESTÃO 5 E QUESTÃO 5 A
QUESTÃO 6 B QUESTÃO 6 A
QUESTÃO 7 C QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 C

UNIDADE 3 UNIDADE 4
QUESTÃO 1 D QUESTÃO 1 A
QUESTÃO 2 D QUESTÃO 2 E
QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 A
QUESTÃO 4 E QUESTÃO 4 E
QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 E
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 B
QUESTÃO 7 C QUESTÃO 7 E
QUESTÃO 8 D QUESTÃO 8 D

UNIDADE 5 UNIDADE 6
QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 B
QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 E
QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 E
QUESTÃO 4 E QUESTÃO 4 D
QUESTÃO 5 A QUESTÃO 5 B
QUESTÃO 6 A QUESTÃO 6 B
QUESTÃO 7 A QUESTÃO 7 E
QUESTÃO 8 A QUESTÃO 8 E
86
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir
no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura
Afro-Brasileira", e dá outras providências.

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dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece
as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de
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Racial; altera as Leis nos 7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347,
de 24 de julho de 1985, e 10.778, de 24 de novembro de 2003. Acesso em 25 de 07 de 2020,
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