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DE IPATINGA
1
José Tadeu de Almeida
Doutor em História Econômica (2015) pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em
Desenvolvimento Econômico (2010) e graduado em Ciências Econômicas (2008) pela
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atualmente (2022), cursa o pós-doutorado
em Ciências da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pós-graduação
lato sensu em Liturgia pelo Centro Universitário Católico de Santa Catarina, e graduação
em Teologia pela Universidade São Francisco (USF). É autor e revisor técnico de livros
didáticos para as áreas de Ciências Humanas, Ciências Exatas e Ciências Sociais
Aplicadas, no Ensino Básico e no Ensino Superior, com várias obras publicadas.
COSMOGONIAS E COSMOLOGIAS:
ORIGENS DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS
1ª edição
Ipatinga – MG
2022
2
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização
escrita do Editor.
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920.
3
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Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo
aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles
são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um
com uma função específica, mostradas a seguir:
4
SUMÁRIO
01
1.1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 8
1.2 A DEFINIÇÃO DE COSMOGONIA .......................................................................... 9
1.3 A COSMOLOGIA NA PERSPECTIVA DA RELIGIOSIDADE INDIVIDUAL ............... 12
1.4 COSMOLOGIAS, COSMOGONIAS E A ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO ........... 16
1.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 19
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 21
02
2.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 27
2.2 O CAOS E O LUGAR DA DIVINDADE NOS MITOS DE CRIAÇÃO ........................ 27
2.2.1 Caos e Criação ..................................................................................................30
2.3 A COSMOGÊNESE NAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS DO OCIDENTE....................... 32
2.4 UM OLHAR SOBRE AS COSMOGONIAS INDO-ASIÁTICAS ................................. 35
2.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 36
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 38
03 3.1
3.2
3.3
3.4
3.5
INTRODUÇÃO........................................................................................................ 44
O SOPRO DA VIDA E O SURGIMENTO DO INDIVÍDUO ....................................... 44
A RELAÇÃO ENTRE SERES DIVINOS E SERES MORTAIS ........................................ 48
DEUSES, ANIMAIS REAIS E ANIMAIS FABULOSOS ............................................... 54
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 56
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 58
04
4.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 64
4.2 A IMPORTÂNCIA DA TRADIÇÃO ORAL NA EXPRESSÃO RELIGIOSA ................. 65
4.3 NARRATIVAS ORAIS, LITERATURA DE CORDEL E A RELIGIOSIDADE POPULAR NO
BRASIL .................................................................................................................... 70
4.4 AS VISÕES DO FIM E A NARRATIVA RELIGIOSA .................................................. 75
4.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 80
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 82
05
5.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 89
5.2 OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS ....................................................................... 89
5.3 A RELIGIÃO ÓRFICA ............................................................................................. 93
5.4 O PITAGORISMO................................................................................................... 95
5.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 98
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 100
06
6.1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 106
6.2 PLATÃO E O DUALISMO ALMA E CORPO .......................................................... 106
6.3 ARISTÓTELES E OS CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA METAFÍSICA ................... 110
6.4 A ESCOLÁSTICA E A LÓGICA ARISTOTÉLICA NO MUNDO MEDIEVAL ............ 113
6.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 117
5
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 119
6
CONFIRA NO LIVRO
7
COSMOGONIAS E COSMOLOGIAS: UNIDADE
UMA INTRODUÇÃO
1.1 INTRODUÇÃO
01
Prezado estudante, seja bem-vindo ao estudo desta disciplina. Por meio dos
conceitos e conteúdos que serão apresentados ao longo deste livro-texto, você
poderá observar de que modo as diferentes tradições religiosas conceberam
estruturas narrativas e contos que justificam e sintetizam o surgimento da vida
humana e da ordem natural, como parte de um programa preestabelecido que
concebe a influência da(s) divindade(s) em relação ao universo e às pessoas.
Desta forma, a importância destas tradições é observada a partir de um
conjunto de explicações objetivas a respeito da existência, como parte de uma
relação entre o mundo natural e as instâncias sobrenaturais. Desta forma, a
experiência religiosa se consolida para justificar ao ser humano as motivações
fundamentais da sua existência, e o fenômeno religioso desenvolve, por meio de
rituais elaborados, um processo de associação intrínseca e permanente entre a
pessoa e o sagrado.
Ou seja, estas narrativas a respeito de diferentes etapas e contextos do
universo permitem desenvolver razões que levam a pessoa religiosa a convencer-se
de sua importância como um elemento dentro da ordem estabelecida pelo sagrado.
Estas narrativas, quando observadas a partir de uma abordagem antropológica e
teológica, permitem revelar o modo de organização das civilizações e sociedades a
respeito de seu tempo e seu espaço, a partir de diferentes mitos e relatos associados
a fatos extraordinários que ocorreram em tempos imemoriais.
Deste modo, este livro-texto pretende apresentar, de uma forma bastante
objetiva, as diferentes concepções da tradição religiosa oriental e ocidental que
foram fundamentais para o desenvolvimento de compreensões a respeito do
universo e a aspectos correlatos à existência humana.
A criação do mundo, o surgimento do homem, a relação entre o divino e o
humano apresentam-se como contextos ilustrados por relatos cuja influência vai além
8
dos limites da religião, consolidando-se, portanto, como fatores que organizam e
sintetizam a vida em sociedade ao longo da história.
Enfim, está pronto para começar? Então, bons estudos!
9
religiosa, etc (ARANHA; MARTINS, 2005).
Assim, você pode explicar uma parcela de sua realidade a partir destas formas
de convívio em sociedade: é fortemente provável que você deva se lembrar da sua
escola, dos amigos de infância, etc. Mas, o ser humano precisa transcender esta
abordagem, isto é, necessita compreender a origem da sua existência e do mundo
no qual ele nasce, cresce, se reproduz... e por fim, morre.
Para viabilizar estas compreensões e concepções a respeito da natureza e da
existência, as civilizações construíram argumentos e análises que justificavam esta
ordem estabelecida a partir do discurso religioso. Ou seja, estes grupos
desenvolveram métodos e narrativas que conferem uma sustentação real à vida
humana a partir de suas questões existenciais (PHILIP, 1996).
Consequentemente, é possível pensar nestas narrativas como parte de um
conjunto de conceitos que procura compreender uma ‘linha do tempo’ na qual o
universo existe, se reproduz e, hipoteticamente, atinge a finitude – como ocorre, por
exemplo, nas concepções cristãs que associam a existência em um tempo bíblico
que decorre da criação (Gênesis) até o fim de todas as coisas (o Apocalipse).
10
cosmos (‘ordem’, ‘harmonia’) e gónos, isto é, ‘criar’ ou ‘conceber’. Portanto, uma
Cosmogonia é criada a partir da necessidade de compreensão das ordenações e
lógicas do espaço natural, e em particular, para explicar a criação de todas estas
coisas (STEINER, 2006).
As Cosmogonias associam-se, via de regra, ao conhecimento religioso e às
diferentes expressões doutrinárias que definem os cultos em uma sociedade: ou seja,
uma Cosmogonia se estrutura como parte de uma crença, que pode estar ligada a
relatos primitivos (mitos) a respeito de acontecimentos fabulosos em épocas remotas,
nas quais a ordem – isto é, a harmonia, o espaço – substitui um vazio (caos) no qual
nada existe com exceção da(s) própria(s) divindade(s) – como o Deus dos cristãos, o
único ser existente antes de todos os tempos (para além, inclusive, do Bem e do Mal,
de acordo com o relato bíblico).
Portanto, uma Cosmogonia é criada com o objetivo de elucidar dúvidas
humanas a respeito do surgimento do universo e da vida nas suas diferentes
expressões (MOZENA, 2018).
11
1.3 A COSMOLOGIA NA PERSPECTIVA DA RELIGIOSIDADE INDIVIDUAL
12
Por exemplo, ao observar os saberes contidos nas poesias do poeta grego
Homero (928 – 898 a.C), o pesquisador terá condições de observar não apenas uma
série de poesias escritas com o objetivo de entreter o seu público, mas sim, um
conjunto de observações historicamente determinadas a respeito da vocação dos
gregos para a superação de grandes desafios, como o de vencer os troianos em uma
guerra prolongada.
Nesta narrativa, Homero absorve conceitos de seu tempo a respeito das
Cosmogonias religiosas que enfatizavam o convívio primitivo entre deuses e homens,
gerando heróis que se destacavam em batalhas e momentos épicos, tais como o
guerreiro Aquiles, o rei Ulisses (Odisseu) com sua sabedoria, a experiência do rei idoso
Nestor, etc. Assim, as poesias de Homero, descritas na Ilíada e na Odisseia, elaboram
uma Cosmologia importante a respeito da civilização grega, descrevendo saberes e
ações que eram adotadas por este povo nas especificidades de seu contexto
histórico e social (BULLFINCH, 2000).
13
Figura 2: Representação contemporânea do cavalo de Troia (Turquia)
14
possuem uma autoria que confere credibilidade à obra e relevância social aos
objetos e conceitos descritos por esta Cosmologia.
Observando o contexto histórico e social do povo hebreu no Antigo
Testamento, por exemplo, você poderá observar que a criação dos cinco primeiros
livros bíblicos (o Pentateuco) é atribuída ao profeta Moisés. Assim sendo, a escrita da
Torah (a tradução judaica para os livros mencionados) ocorre por inspiração divina,
e contém saberes estruturados a partir de Sua palavra (de Yahweh), organizando a
sociedade e imprimindo formas de comportamento que se associam ao saber da
religião e ao conhecimento de mundo que era disponível a esta civilização em seu
contexto histórico de referência. A religião, portanto, pode absorver o conhecimento
presente e utilizá-la para favorecer o desenvolvimento da fé e dos elementos de
crença (RODRIGUES, 2007).
15
fundamental, mas não é a única instituição capaz de interpretar a realidade, muito
embora o sagrado faça parte do universo e o influencie diretamente (HELLERN;
NOTAKER; GAARDER, 2000).
Assim, ocorre um paralelismo importante entre as Cosmologias e a
religiosidade individual, pois a partir delas, o conhecimento humano se desenvolve e
se articula com os saberes religiosos e formas de culto, de acordo com o conteúdo
que será destacado com maior detalhe a seguir.
16
No entanto, o discurso cristão prevaleceu no Ocidente, e as demais
concepções religiosas e racionais das antigas civilizações foram relegadas a segundo
plano, descritas como mitologias que narram fábulas sobre personagens heroicos e
inexistentes: a mobilização destes conhecimentos para a preservação da tradição
religiosa, inclusive, poderia ser compreendida como bruxaria por parte da Igreja, em
particular, durante o período medieval (SUFFERT, 2001).
O estudo das tradições religiosas, portanto, deve ser estabelecido com a
isenção e a neutralidade que são fundamentais ao método científico: a análise
comparativa das Cosmogonias e das Cosmologias revela, acima de tudo, uma
lógica que é subjacente a todos estes povos.
Isto é, cada civilização construiu princípios sobre as suas origens e seu próprio
destino, gerando proposições que se desdobram em outros conceitos. Esta relação
entre proposições gera, portanto, uma lógica que associa o conhecimento a um
sentido para a existência. Por exemplo, ao compreender a vida humana a partir do
exílio do Jardim do Éden, a Cosmogonia cristã associa a necessidade do trabalho
como elemento de sobrevivência após a perda do paraíso primitivo (CONE, 2021).
17
Ao compreender estas Cosmologias, assim como as Cosmogonias, você
deverá observá-las não apenas como narrativas mitológicas, tal como se costuma
observar nas histórias em quadrinhos, onde heróis lutam entre si para salvar a
humanidade ou fazer valer sua força.
Na verdade, estas categorias analíticas definem modos de construção das
sociedades desde o início da civilização humana. Todas estas sociedades, desde os
indígenas mais isolados na Amazônia (que se organizavam em sociedade muito
antes de Abraão e dos hebreus) até a realidade atual, onde a ciência se impõe
como Cosmologia, compreendem a sua existência a partir da racionalidade
científica, da vontade dos deuses ou a partir de quaisquer elementos que sejam
capazes de sustentar uma narrativa coerente, gerando, assim, um significado à vida
humana em seu espaço natural (WRIGHT, 2004).
Ao viver no Brasil, um país moldado pela tradição cristã, é fortemente
provável que você tenha conhecimento a respeito de temas bíblicos
teologicamente relevantes, como as narrativas do Antigo Testamento que tratam da
criação do mundo, ou dos primeiros seres cuja duração de vida seria muito superior
à dos humanos, ou ainda, da destruição do mundo conhecido e do recomeço dos
tempos com a narrativa da arca de Noé.
18
Figura 4: Representação do século XVI para a narrativa da Arca de Noé
19
que moldaram o desenvolvimento das civilizações desde a Pré-história: ao associar a
vida humana e o universo à inspiração de um ser superior, cuja força suprema seria
capaz de organizar todo o caos, estes grupos e populações desenvolveram
concepções importantes para justificar a vida humana em um mundo hostil e sujeito
a diferentes formas de sofrimento.
Desta maneira, estas Cosmogonias e Cosmologias estão associadas a
narrativas que conferem não apenas um significado para todas as coisas (materiais
e imateriais) que existam na terra: por meio destas categorias analíticas, a pessoa
pode obter uma interpretação objetiva para a sua própria existência, revelando uma
vocação à vida que confere uma lógica para o convívio comum e para a vida em
sociedade.
À medida que estas sociedades evoluíram e se impuseram umas sobre as
outras, as visões e concepções racionais e religiosas acompanharam esta ‘marcha
da vitória’ e tornaram-se igualmente dominantes em relação a outras tradições: por
exemplo, o Cristianismo sobrepujou o Mitraísmo como elemento de vida e salvação
para os soldados do exército romano. Deste modo, o culto ao deus Mitra (uma
divindade persa a qual os romanos prestavam culto e sacrifícios) praticamente se
extinguiu, enquanto os cristãos representam, hoje, uma parcela significativa da
população mundial.
Existem, portanto, muitas (certamente milhares) de Cosmogonias e
Cosmologias que procuram observar, compreender e justificar a existência do
cosmos e do ser humano. O estudo destes conceitos, realizado a partir de um
percurso antropológico que observe fatores culturais nos mitos de criação, nas
narrativas sobre o ser humano e o fim da vida no planeta, permite analisar de que
modo os povos concebiam a si próprios em relação ao meio em que viviam e a outros
povos associados a narrativas fabulosas.
Portanto, neste momento, realizamos apenas uma breve delimitação teórica:
a avaliação objetiva das narrativas cosmogônicas e cosmológicas das civilizações
será parte fundamental dos objetos de estudo nas próximas Unidades.
20
FIXANDO O CONTEÚDO
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.
21
II. ( ) As Cosmogonias são tacitamente compreendidas e assimiladas pelas pessoas
e pelas sociedades como elementos ordenadores da realidade.
III. ( ) Por meio de uma Cosmogonia, é possível superar a imanência da vida humana,
de modo que o homem passa a abandonar suas crenças primitivas.
a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – F – F.
d) F – V – V.
e) F – V – F.
22
4. Ao refletir sobre o conceito de ‘Cosmologia’ de um modo mais abrangente, torna-
se possível destacar os modos pelos quais as sociedades conceberam a si próprias
e a seus respectivos espaços. Portanto, este conceito tem uma relevância
importante no contexto das Ciências Humanas, notadamente, na Filosofia e na
História.
a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – F – F.
d) F – V – V.
e) F – V – F.
23
conhecimento religioso necessariamente contestar e dispensar a ciência
como elemento interpretativo.
II. Os saberes desenvolvidos por meio das Cosmologias implicam na necessidade
de exclusão do conhecimento religioso, uma vez que este se associa a
doutrinas inobserváveis.
III. A dinâmica das Cosmologias religiosas envolve a presença de relatos e
concepções doutrinárias acerca da realidade, muito embora o debate com
a ciência seja possível e mesmo aceitável.
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.
24
e) o desenvolvimento das Cosmogonias religiosas ocorreu a partir das religiões
abraâmicas e suas interpretações sobre a vida humana.
Deste modo, para consolidar seus conhecimentos sobre o tema das Cosmogonias
e das Cosmologias no contexto do fenômeno religioso, leia o trecho com lacunas
que se segue:
25
A Lógica é a ciência que estuda princípios e métodos de inferência, e tem como
objetivo principal:
26
AS COSMOGONIAS FUNDADORAS UNIDADE
DO MUNDO: MITOS E NARRATIVAS
DE ORIGEM
02
2.1 INTRODUÇÃO
27
Para dar início a uma reflexão sobre os relatos de criação do mundo e do ser
humano em diferentes tradições e Cosmogonias, é preciso realizar um resgate de
alguns conceitos teóricos.
O principal destes conceitos refere-se ao mito. Uma consulta rápida a um
dicionário permitirá observar a seguinte explicação para esta expressão: ‘História
fantástica de transmissão oral, cujos protagonistas são deuses, semideuses, seres
sobrenaturais e heróis que representam simbolicamente fenômenos da natureza,
fatos históricos ou aspectos da condição humana’ (MICHAELIS, 2021).
Na perspectiva do pensamento histórico, portanto, um mito apresenta uma
forma distinta – eventualmente ingênua por sua limitação científica – de explicar a
realidade e a origem do mundo, recorrendo, assim, a alegorias e relatos de
comprovação impossível a respeito de fatos importantes que ocorreram em tempos
imemoriais, e que se colocam como verdades de fé e dão sustentação a crenças e
tradições religiosas (CORDI et al., 2003).
28
isto é, ‘fábula’ ou ‘palavra’) descrevem as etapas de criação e destruição do mundo,
a existência humana e a finitude do existir com a morte. Assim, o mito oferece um
porquê, uma motivação para a vida, garantindo-lhe um significado frente à angústia
de sobreviver a um ambiente repleto de perigos e dificuldades para quaisquer
civilizações (PHILIP, 1996).
Lembre-se, neste sentido, que estes mitos normalmente fazem parte de relatos
primitivos de diferentes sociedades e grupos tribais que, a seu modo, procuraram
compreender a criação e a ordem natural: os desafios de sobrevivência em um
planeta cercado de perigos e mistérios fazia com que as pessoas não se
preocupassem apenas com um abrigo, ou com o que comer, ou com o que vestir
para se abrigar contra as intempéries.
O ser humano não é apenas senciente (sensível ou capaz de assimilar
impressões sobre o meio em que está); na verdade, sua consciência gera uma
capacidade interpretativa e crítica a respeito de seu espaço, dando-lhe aptidões
para moldá-lo de acordo com a sua própria vontade e os interesses de seu grupo,
promovendo a fertilidade da terra e obtendo os recursos de que necessita para
sobreviver.
Não obstante, há uma necessidade de compreensão para questões
aparentemente infantis, porém extremamente complexas – ‘Como o mundo
começou?’ ‘Como as pessoas foram criadas?’ ‘Porque foram criadas’? ‘Por que
temos de morrer?’. Estas questões, a seu modo, são respondidas pelas diferentes
narrativas mitológicas ao redor do mundo, que revelam Cosmogonias fundamentais
para o desenvolvimento das civilizações (ARANHA; MARTINS, 2005).
29
Cosmogonias que recorrem a narrativas fabulosas para compreender e exemplificar
a existência destas sociedades – como por exemplo, a Cosmogonia bíblica, a qual é
referência para um estudo do Cristianismo e sua influência cultural.
30
sempre vazio.
Neste momento, uma divindade criadora (que precede a existência do tempo
e, em geral, precede também ao caos) surge e, com sua força suprema, começa a
realizar o seu ofício, usando a sua força criadora para ordenar o caos, dividindo o
céu e a terra, separando as águas em mares e organizando o universo – em volta
deste planeta. Assim, a divindade impõe uma lógica sobre o que antes era caótico,
por meio de uma capacidade imperativa, isto é, de obediência irrestrita por todas as
coisas criadas (BULLFINCH, 2000).
31
Figura 6: Audhumla alimenta Ymir
32
conjunto de dias, desenvolve-se o paraíso terrestre, o qual, mesmo não sendo
cientificamente passível de comprovação, coloca-se como uma verdade de fé para
todos os seguidores destas tradições religiosas.
O Novo Testamento, por sua vez, traz igualmente o conceito de ‘Reino dos
Céus’ como um elemento expresso não como uma alegoria mitológica, mas como
uma realidade vívida na Cosmogonia cristã (HELLERN; NOTAKER; GAARDER, 2000).
No entanto, ao tratar destas tradições ocidentais, é incorreto pensar apenas
nas religiões abraâmicas, haja visto que outras crenças e tradições – em geral,
politeístas – se estabeleceram antes e durante o desenvolvimento da espiritualidade
do povo hebreu. De fato, a Cosmogonia egípcia precede a Cosmogonia dos
hebreus em uma perspectiva cronológica.
Neste embate, o titã Cronos (a figura paterna que devorava seus filhos) foi
33
morto, e Zeus e os demais deuses assumiram o comando de toda a criação, e
também dos homens, que no início dos tempos tinham uma convivência próxima
com os deuses, de modo que a vontade ou os sentimentos do sagrado eram
expressos por meio de fenômenos naturais diversos, como o trovão (Zeus) ou os
maremotos (Poseidon) (BULLFINCH, 2000).
34
Moça-do-Ar, um espírito que vagava pelos céus e mares vazios e tormentosos. O
vento e as ondas fecundaram a Moça-do-Ar, cuja gravidez durou mais de setecentos
e trinta anos. Neste intervalo, um pato pousou em seu joelho, construindo um ninho,
no qual sete ovos foram chocados, dando origem à terra, aos céus, ao sol, à lua, às
nuvens e às estrelas. Por fim, a Moça-do-Ar gerou Vainamoinen, um herói mitológico
associado a outros relatos míticos, em embates com vários seres sobrenaturais (PHILIP,
1996).
35
Figura 8: Representação pictográfica de Ahura Mazda
Fonte: A. Davey
36
fenômenos para a existência humana. As Cosmogonias e cosmovisões religiosas,
neste sentido, estão associadas diretamente a narrativas de períodos imemoriais e
além do tempo, nos quais o caos reinante era um espaço eventualmente material,
formado por águas e ares, mas sempre sem vida, havendo apenas a(s) divindade(s)
criadora(s) da terra e do ser humano.
Estas tradições religiosas, portanto, apresentam um padrão muito interessante
de convergência entre seus discursos e interpretações: o início dos tempos é pautado
por um ambiente hostil e inóspito – como a terra seca ou os mares agitados – nos
quais apenas o divino sobrevive; a partir de sua vontade, o universo assume forma e
ordem, tornando possível o surgimento da vida e dos seres humanos como parte de
uma complexa atividade de criação.
Desta forma, estas Cosmogonias inserem o caos e a cosmogênese em seu
conjunto de narrativas e histórias que são transmitidas entre gerações,
complementando a sabedoria e o conhecimento religioso em diferentes civilizações.
A criação do mundo representa, portanto, uma situação na qual o divino se impõe
sobre o caos, possibilitando criar uma estrutura material e objetiva, que abre espaço
para o surgimento da vida e da etapa mais importante da criação: o ser humano.
37
FIXANDO O CONTEÚDO
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.
38
um momento inicial de desordem que precede a criação.
( ) Nas Cosmogonias religiosas, há um entendimento de que o caos se sobrepõe ao
divino, pois sua força é superior à ordem existente.
( ) Ao ordenar o caos, a divindade utiliza sua capacidade imperativa para inserir
uma lógica em relação ao vazio e/ou à desordem absoluta.
a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – F – F.
d) F – V – V.
e) F – V – F.
39
Desta forma, a partir do conteúdo apontado pelo texto-base, analise as seguintes
afirmações, julgando-as como (V) Verdadeiras ou (F) Falsas:
a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – F – F.
d) F – V – V.
e) F – V – F.
40
conscientes e dominadores do seu espaço.
III. A presença de elementos naturais nos mitos de criação, como a água, a terra
e o ar, molda as tradições religiosas, pois a capacidade criadora da divindade
se manifesta a partir destes elementos.
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.
41
universo e da realidade humana. Deste modo, tais figuras devem ser observadas
na perspectiva das Cosmogonias e suas características.
CROATTO, J. S. As linguagens da experiência religiosa: uma introdução à fenomenologia da religião. 2. ed. São Paulo: Paulinas,
2004 (adaptado).
Texto 1
42
No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia;
havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as
águas. Disse Deus: Haja luz; e houve luz (Gênesis 1,1-3).
Texto 2
O reino dos céus é também semelhante a um [homem] que negocia e procura
boas pérolas; e tendo achado uma pérola de grande valor, vende tudo o que
possui e a compra (Mateus 13,45-46).
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I e III, apenas.
43
O NASCIMENTO DO SER HUMANO UNIDADE
SEGUNDO ALGUMAS
COSMOGONIAS ORIGINÁRIAS
03
3.1 INTRODUÇÃO
44
A Cosmogonia bíblica refere-se ao surgimento do ser humano a partir de uma
iniciativa de Deus, na qual o primeiro homem, Adão, foi moldado da argila e recebeu
a imagem e semelhança de seu criador: ‘Então Yahweh Deus modelou o homem
com a argila do solo, soprou-lhe nas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se
um ser vivente’ (BÍBLIA, 1990, p. 15).
Esta cosmovisão, referencial para o estudo bíblico, é destacada a partir das
tradições dos povos semíticos do século X a.C, contemporâneos ao reinado de
Salomão. A elaboração desta narrativa, no segundo capítulo do Gênesis, refere-se à
criação do homem ocorrida em um espaço físico – a terra – já existente, porém
desolada, seca e sem vida: não havia chuvas nem ervas sobre o solo.
45
Consequentemente, a importância da criação do ser humano se estabelece
como a síntese, ou o objetivo final, de um esforço de desenvolver um sistema
geocêntrico, no qual a terra centraliza o universo e, ao redor dela, localiza-se o ser
humano como reflexo direto da ação de seu criador.
46
seu sustento (PHILIP, 1996).
Os nórdicos, por sua vez, apresentam o relato da criação de Ask e Embla, um
homem e uma mulher criados pelos deuses liderados por Odin, a divindade maioral,
a partir de troncos de árvores encontrados às margens do grande oceano (o lugar
do caos e da desordem). A partir de Ask e Embla, a humanidade se desenvolveu
(BULLFINCH, 2000).
Na Cosmogonia chinesa, por fim, há a narrativa de P’an-ku, o primeiro ser, um
humanoide cujo corpo era coberto de pelos, com chifres e presas. P’an-ku nasceu
do caos, que tinha a forma de um ovo de galinha cujas metades formavam o Yin e
o Yang, as forças opositoras que regem o universo. Entre estas forças, estava P’an-ku,
e de suas pulgas, nasceu a humanidade, que foi instruída pelo primeiro ser a respeito
das ciências e de todo o conhecimento a respeito do sol, da lua e dos mares. Ao
completar a sua obra de criar e instruir a humanidade, P’an-ku desapareceu (PHILIP,
1996).
Perceba, assim, a importância da presença da divindade junto aos homens
nos instantes iniciais da criação: há uma proximidade relevante com os primeiros
humanos que, em sua fragilidade, precisam não apenas de proteção, mas de
instrução sobre os mistérios do mundo, desenvolvendo-se, assim, as narrativas que
sustentam as Cosmogonias religiosas. Entre os gregos, por exemplo, há a presença de
Prometeu, um titã que instrui os humanos sobre a Astronomia, a Navegação e outras
ciências importantes para o desenvolvimento da humanidade (BULLFINCH, 2000).
47
descansa da obra de sua criação, conforme o relato do primeiro capítulo do Gênesis
(A BÍBLIA, 1990).
Este afastamento pode ocorrer, ainda, no momento em que os homens se
afastam dos desígnios de seu(s) criador(es). Neste momento, a intervenção divina
gera narrativas de destruição e recomeços, pautando uma relação eventualmente
tormentosa entre o sagrado e os seres humanos, conforme a discussão a ser realizada
no próximo tópico.
É fortemente provável que, a partir deste texto, você tenha realizado uma
associação com a narrativa bíblica do dilúvio, entre os capítulos 6 e 9 do livro do
Gênesis. No entanto, o texto apresentado nesta seção pertence aos relatos de
criação dos sumérios, e relata o conto de Uthnapishtim, isto é, ‘Aquele que descobriu
a vida’. Este conto narra a história de Gilgamesh, um herói lendário que teria vivido
em Uruk (nome que dá origem ao atual Iraque), e que foi criado pelos deuses para
governar os homens. Gilgamesh escapou à fúria dos deuses ao criar um barco que
sobrevivesse ao dilúvio, e preservou assim a história dos primeiros tempos (PHILIP,
1996).
48
Ocorre nas Cosmogonias, portanto, uma relação intrincada entre deuses e
mortais como parte de um processo de criação e renovação constante da
humanidade. Em diversos momentos, o sagrado fez valer-se de sua capacidade
suprema e força infinita para reestruturar o mundo de acordo com o seu desejo.
Nestes momentos, o mundo conhecido é destruído, pela água ou pelo fogo, como
ocorreu no relato de Sodoma e Gomorra, por exemplo.
49
humanidade após um período inicial de rebelião e desobediência. A(s) divindade(s)
se lançam, neste momento, em um processo de purificação da humanidade
decaída, salvando um grupo pequeno de eleitos que dará continuidade à obra da
criação.
Há, portanto, um processo regenerador da natureza após eventos trágicos e
grandes holocaustos; no entanto, diferentemente dos dinossauros que pereceram
pela ação de um asteroide errante, na Cosmogonia religiosa é a raiva dos deuses
que libera a força dos elementos naturais sobre a fragilidade humana, como
destaca, por exemplo, a Cosmogonia dos gregos com a destruição de Atlântida, a
cidade criada por Poseidon como uma morada perfeita para os homens de sua
descendência (BULLFINCH, 2000).
A narrativa do dilúvio está presente em inúmeras Cosmogonias. Retomando as
concepções dos povos balcânicos, é possível observar que a vida terrena é destruída
após uma grande enchente, pois os homens estavam insultando a Deus com a
ignorância de Sua vontade, perdendo, assim, o direito a viver no mundo que Ele
havia criado.
Neste momento, a narrativa sérvia se afasta do relato bíblico para revelar a
renovação da humanidade a partir de um semideus chamado Kurent. Este indivíduo
foi o único a sobreviver à enchente, juntamente com o gigante Kraynatz, no cume
de uma montanha. Kraynatz passou nove anos agarrado em um tronco de parreira
na montanha, alimentando-se das uvas e de seu suco, sem saber que o tronco era,
na verdade, a bengala de Kurent.
Estes dois seres disputaram o domínio do mundo quando as águas refluíram.
Kraynatz sobrepujou Kurent, e este teve de servi-lo. No entanto, Kurent conseguiu,
com sua esperteza, embebedar Kraynatz com vinho misturado com seu sangue e
com heléboro negro (uma planta alucinógena), fazendo o gigante subir à montanha
de Deus e comer de sua comida. Enraivecido, Deus atinge Kraynatz, que rola pelas
montanhas. Ferido, Kraynatz perde para sempre a sua força perante Kurent, que
passa a governar o mundo e a humanidade (PHILIP, 1996).
50
A benevolência e a maldição, como uma relação ‘agridoce’ entre Bem e Mal,
são fatores constantes das Cosmogonias religiosas a respeito do contato entre o
sagrado e o ser humano. Estas relações são proporcionalmente benéficas ou
prejudiciais à vida humana à medida que os homens afastam-se dos desígnios da(s)
divindade(s) para fazer valer sua própria vontade ou ceder a outros instintos.
Nestas circunstâncias, o ser humano geralmente perde o direito e a primazia
de desfrutar das coisas boas que o divino havia criado e oferecido às pessoas desde
os primeiros tempos. Assim, a punição pode ocorrer de uma forma objetiva – pela
destruição do mundo conhecido por eventos naturais importantes – ou pela
condenação do homem a uma vida de rigor e severidade, na qual a alegria do
paraíso primitivo é substituída pela angústia da morte futura e pelas dores de parto
que antecedem a todos os nascimentos (BULLFINCH, 2000).
Em relação a esta segunda forma de castigo, o texto bíblico refere-se à
importância da expulsão do Éden após a traição de Adão e Eva. Neste momento, o
ser humano assume a sua mortalidade e a sua condição frágil, devendo sofrer para
obter sua sobrevivência frente aos males do mundo.
51
Figura 11: A expulsão de Adão e Eva do Paraíso, por Eugene Delacroix
52
Figura 12: Pandora abre a caixa, por Walter Crane
53
mesmo tempo que temem o julgamento destas entidades, o qual pode condená-los
à morte e à destruição, exatamente por haverem traído a vontade do sagrado em
tempos imemoriais.
54
Figura 13: Vaca nas ruas de Délhi (Índia)
55
a Azazel (um anjo que habita o deserto e que é responsável por contar os pecados
dos homens perante Deus) faria com que as pessoas pudessem ser redimidas de seus
pecados (CONE, 2021). Assim, você pode observar que estes animais também
apresentam uma função cerimonial (e de sacrifício) relevante entre as tradições da
Antiguidade.
56
estabelece não apenas por meio de rituais, mas pelo convívio direto entre estes seres.
Em muitos momentos, os deuses aproximam-se dos humanos para transmitir
conhecimento, receber culto ou mesmo para manterem relacionamentos íntimos,
nos quais os criadores e criaturas (ou apenas as próprias criaturas) se unem
sexualmente e geram heróis fabulosos ou criaturas aberrantes, a partir de bênçãos e
maldições que pairam sobre estas criaturas – os exemplos de Hércules (gerado a
partir da relação entre Zeus e a mortal Alcmena) e do Minotauro destacam
objetivamente estas relações entre deuses, humanos e animais.
Da mesma forma, é importante destacar o lugar dos animais nestes relatos de
criação: estes seres podem assumir um intelecto típico dos seres humanos,
transmitindo a mensagem dos deuses ou interagindo com eles, ao mesmo tempo em
que possuem papéis bem definidos nas diferentes tradições: seja como ofertas de
sacrifício, ou como mensageiros dos deuses, ou como sustento para a vida humana,
estas criaturas se integram à tradição religiosa como parte de uma ação divina que
interfere em um caos que precede a existência do universo.
57
FIXANDO O CONTEÚDO
58
1. Azazel
2. Quimera
3. Prometeu
4. Gilgamesh
( ) Trata-se do anjo ao qual era oferecido um bode para a expiação dos pecados
dos hebreus.
( ) Configura-se como uma criatura em forma de leão que foi morta pelo herói grego
Belerofonte.
( ) É um personagem central na Cosmogonia suméria, e que está presente nos relatos
de seus primeiros tempos.
( ) Trata-se de um titã que despertou a ira de Zeus, o líder dos deuses gregos, ao
revelar conhecimentos à humanidade.
a) 3 – 4 – 1 – 2
b) 2 – 3 – 1 – 4.
c) 4 – 1 – 3 – 2.
d) 1 – 2 – 4 – 3.
e) 4 – 3 – 2 – 1.
59
III. As Cosmogonias religiosas antigas compreendem que a divindade é um
resultado direto do pensamento humano, sendo isenta de materialidade.
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.
a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – F – F.
d) F – V – V.
60
e) F – V – F.
( ) Os animais podem ser usados para ações rituais nas quais o povo deposita a sua
confiança na divindade, a exemplo das tradições que se referem o sacrifício de
um bode ao anjo Azazel.
61
( ) Na Cosmogonia religiosa, o animal é colocado sempre em posição de
inferioridade em relação aos seres humanos, como ocorre, por exemplo, na
narrativa chinesa do Imperador dos Céus.
( ) O relato do Minotauro é útil para observar de que modo os homens são
eventualmente apresentados com características de animais, como resultado de
relações diretas com os deuses.
a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – F – F.
d) F – V – V.
e) F – V – F.
62
É correto o que se afirma em:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.
63
NARRATIVAS ORAIS COMO UNIDADE
FORMAÇÕES RELIGIOSO-
MITOLÓGICAS
04
4.1 INTRODUÇÃO
64
desde o alvorecer dos tempos, gera a possibilidade de extinção de toda a
humanidade, ou seja, dos indivíduos fiéis e infiéis.
Deste modo, está pronto para começar? Então, bons estudos!
Em sua infância e adolescência, o autor deste livro aprendeu, com seus pais,
a recorrer aos préstimos de uma senhora especializada na realização de benzeções
que teriam a capacidade de retirar os quebrantes e influências negativas da vida
das pessoas. Assim, por intermédio da benzedeira, tornava-se possível realizar um
trabalho de limpeza espiritual que abrisse caminhos em relação a eventuais
demandas que trouxessem algum tipo de problema ao corpo físico.
Desta forma, expressões diferentes de sentimentos considerados negativos na
realidade humana, como a inveja, o mau olhado, o olho gordo e o ciúme poderiam
ser efetivamente retirados por meio de um ritual que combinava orações e alguns
tipos de somatização (especialmente bocejos e lacrimações) que demonstravam
que o quebrante estava sendo retirado: em um ciclo de três dias de orações, o
primeiro dia gerava vários bocejos, e no terceiro dia, a frequência era menor.
Com isto, havia uma indicação clara de que os caminhos espirituais estavam
abertos, e os objetivos no plano físico – como a aprovação em concorridos
vestibulares, por exemplo – teriam melhores condições de serem alcançados
(OLIVEIRA, 1985).
65
Ao retomar esta memória sobre a benzeção, há um interesse em demonstrar
não apenas a sua influência em relação a um grupo ou uma população; para os
objetivos deste livro, é mais importante destacar que estes rituais, que são comuns
à realidade brasileira e ocorrem de diferentes formas, geralmente são transmitidos
por meio de relatos não-codificados (WRIGHT, 2004).
Figura 15: Sacerdote católico aplicando bênçãos sobre a garganta dos fiéis
Ou seja, estes relatos e ações nem sempre estão disponíveis em suporte físico,
e remetem a tradições que são repassadas oralmente entre gerações. O benzedor,
via de regra, herda esta capacidade de algum antepassado ou de alguma pessoa
piedosa que mantinha este hábito – no caso destacado, a filha da senhora
responsável pelas benzeções deu prosseguimento ao seu trabalho.
66
Assim, estas pessoas herdam e transmitem diferentes carismas que geram
concepções importantes acerca da vida humana: a crença na bênção como um
ritual capaz de limpar energias espirituais da pessoa e promover diferentes tipos de
alívio ao sofrimento psíquico faz com que as pessoas consolidem a busca pelo(a)
benzedeiro(a), ou pelo líder espiritual, em seus momentos de dificuldade (OLIVEIRA,
1985).
Portanto, as narrativas estabelecidas por estes agentes, como representantes
e intermediários do sagrado, as narrativas geram uma proximidade maior com as
pessoas, em detrimento do presbítero (padre), o qual desconhece e/ou desaprova
estas práticas de religiosidade popular.
Para a constituição do benzedeiro/benzedor, esta figura de representação e
intermediação de carismas espirituais, é necessário absorver conhecimentos
eventualmente seculares e/ou milenares a respeito das doenças e problemas físicos
e emocionais do ser humano.
Estes conhecimentos, portanto, estão disponíveis na memória afetiva das
pessoas (ainda no tempo presente) como sendo capazes de promover a cura física
e espiritual por meio de ações e objetos específicos, como as benzeções, os
trabalhos, o uso de garrafadas, etc (CORRAL, 2010).
67
tempos imemoriais, e que podem ser mais ou menos herméticos (exclusivos) a
depender das características do ato e da mística subjacente às práticas
apresentadas.
Por exemplo, uma simpatia para curar soluço, aplicando um pedaço de
barbante vermelho à testa da criança, constitui-se em um gesto popular e que é
reproduzido em diferentes espaços e situações; entretanto, outros saberes mais
profundos, que relacionam a prática da benzeção, por exemplo, são reservados
apenas àqueles que irão desempenhar esta atividade junto aos demais fiéis,
preservando assim uma identidade e uma herança cultural que se perpetua e se
amolda a diferentes realidades e circunstâncias (OLIVEIRA, 1985).
Da mesma forma, a tradição oral pode ser mais que um mero complemento
ao fenômeno religioso; em muitos casos, esta tradição é a essência deste fenômeno,
relembrando fatos extraordinários de tempos antigos; este suporte de conhecimento
está presente, em particular, para sociedades e grupos que não dispõem de meios
eficientes de registro da doutrina, dos pensamentos de seus criadores, etc (MELLO,
2003).
Nestes casos, a recitação de trechos e situações armazenadas na memória
dos primeiros seguidores constitui-se como uma sabedoria institucional que, aos
poucos, molda as formas de culto e as expressões rituais. Vale dizer, se inexiste um
suporte literário e uma forma de comunicação escrita, o registro da história e dos
conhecimentos de cada sociedade torna-se possível por outros meios, como por
exemplo, o registro em pinturas rupestres, comuns aos povos indígenas brasileiros
68
(CAMPOS; MIRANDA, 2000).
Esta realidade, portanto, é comum às Cosmogonias orientais e ocidentais, em
quaisquer circunstâncias onde o registro dos saberes contidos na expressão religiosa
seja transmitido entre pessoas, consolidando diferentes padrões de memória e
história. Como referência desta discussão, leia um trecho do Evangelho de Lucas, em
seu primeiro capítulo, como se segue:
69
No contexto da religiosidade brasileira, a tradição oral se consolida, portanto,
como um relevante suporte para as Cosmogonias religiosas. No entanto, outros
métodos são igualmente importantes para o registro de concepções historicamente
estabelecidas em nossa sociedade: dentre estes suportes e estilos literários, cabe
mencionar o caso da literatura de cordel.
70
na verdade, tal ação ocorre a partir da ação de morcegos hematófagos que, muito
raramente, atacam animais domésticos para se alimentar.
De toda forma, estes saberes vão sendo incorporados à cultura popular e se
codificam na forma de conhecimentos e instruções que devem ser apreendidas
como parte da realidade cotidiana. Deste modo, mesmo quadros emocionais e
físicos importantes, como a paralisia do sono (um estado de rigidez muscular
involuntária que ocorre em algumas pessoas na passagem entre o dormir e o
acordar), também passam a ser explicados por meio da ação de figuras
extraordinárias, como o Pesador, um ser sobrenatural que prende as pessoas e
impede o seu movimento durante o sono (CRISPIM et al., 2007).
71
Assim, é importante perceber que as tradições orais e os relatos consolidados
na cultura popular são, em muitos momentos, absorvidos por diferentes gêneros
literários que dão suporte a estes relatos e os eternizam no tempo. Mais do que isto,
esta expressão literária condensa as visões do povo a respeito de seus heróis e
bandidos e suas obras boas e más, bem como os seus mitos e suas visões religiosas,
transportando fatos que ocorreram em regiões delimitadas para outros lugares e
comunidades, permitindo, assim, a expansão do mito e do conhecimento gerado ao
redor de tais personagens.
No Brasil, este gênero é particularmente vinculado à literatura de cordel, cujo
nome está associado aos varais onde são pendurados os livros de pequenas
dimensões, impressos artesanalmente, e que relatam histórias comuns aos sertanejos
da Região Nordeste, onde este estilo é mais difundido, relacionando estes fatos a
outros eventos extraordinários que relacionam personagens reais e/ou imaginários e
seus feitos, transpondo-os ao conhecimento popular (COSTA, 2018).
72
O cordel é uma forma importante de consolidação de diferentes relatos e
narrativas que sustentam a cultura religiosa desta parcela da sociedade, em um estilo
e formato de escrita que remonta à colonização portuguesa. Neste perfil de texto,
temas sagrados e profanos coexistem com naturalidade, inspirando autores
(anônimos, em muitos casos) a desenvolver textos curtos e romanceados que
destacam fatos historicamente comprovados ou situações heroicas onde o ser
humano vai além do senso comum e toca as raias do extraordinário, aproximando-
se, inclusive, da Cosmogonia bíblica ao evocar relatos de curas e milagres obtidos
pela intercessão de diferentes pessoas, que são consideradas santas pelo povo fiel
(COSTA, 2020).
73
objetiva e popular, sem deixar de lado um estilo poético e romanceado que
caracteriza a escrita do cordel e prende a atenção do público a que se destina
(COSTA, 2018, pp. 151-52):
74
fiéis. Esta Cosmogonia religiosa na realidade brasileira, portanto, destaca a existência
de figuras reais com capacidades extraordinárias ou taumatúrgicas, ou seja, que
canalizam o poder do sagrado para o alívio do sofrimento das pessoas.
As bênçãos de Padre Antônio, neste sentido, passam a ser cantadas em verso
por meio do cordel, e o conhecimento ao redor de sua pessoa permite desenvolver
devoções e uma fama de santidade que não aguarda pelo aval da Igreja para se
manifestar: ao contrário, o povo consagra estas pessoas como seus heróis e
intercessores, e agrega-os à sua cosmovisão, mesmo depois de sua morte, como
‘santos’ que, estando mais próximos a Deus, podem ainda continuar a distribuir suas
bênçãos sobre a terra (ASSIS, 2004).
75
as pessoas, ou ao menos a sua maioria. Deste modo, há uma construção importante
e recorrente nas civilizações a respeito das forças envolvidas neste combate, o modo
pelo qual a humanidade irá perecer, e de que modo um ‘outro mundo’ surgirá após
este grande conflito cósmico (BULLFINCH, 2000).
Para compreender esta recorrência das ‘visões do fim’ em relação às
Cosmogonias religiosas, é possível recorrer a exemplos em diferentes continentes e
civilizações, a fim de observar de que modo estas sociedades compreenderam a
viabilidade da existência humana em um cenário futuro onde a distopia e o terror da
aniquilação podem ser substituídos por uma esperança na renovação e na
continuidade da vida para um grupo de pessoas eleitas.
Inicialmente, é possível referenciar esta discussão a partir da Cosmogonia
bíblica; o livro do Apocalipse (‘Revelação’) complementa os ensinamentos do Novo
Testamento ao descrever representações de situações que os cristãos enfrentariam
em tempos futuros: perseguições, mortes e destruição trariam terror à terra, embora
aqueles que testemunhassem sua fé teriam assegurada a sua salvação pelo martírio,
desfrutando da convivência com Deus no paraíso (A BÍBLIA, 1990).
Há, portanto, um relato importante que destaca este processo (de angústia,
sofrimento, morte, purificação, renovação) a partir de uma Cosmogonia associada
intimamente ao povo de Israel, cuja convivência com civilizações próximas permitiu
uma associação importante com outras Cosmogonias.
Entre os iranianos seguidores de Ahura Mazda, por exemplo, há uma dinâmica
76
razoavelmente semelhante: de acordo com esta narrativa, o grande sábio Saoshyant
virá dos céus, no fim dos tempos, para renovar a criação e o planeta, e auxiliar Ahura
Mazda (a divindade criadora, suprema e benevolente) a destruir Ahriman, a deidade
negativa desta religião. Neste momento, os primeiros humanos, Mashya e Mashyoi,
irão ressuscitar dos mortos, e a humanidade junto com eles (PHILIP, 1996).
Enfim, haverá a purificação dos pecados humanos, no qual as pessoas serão
mergulhadas em torrentes de lava: o metal derretido será como água morna para os
justos, e um tormento para os infiéis. Por fim, resgatados da condição mortal, as
pessoas irão cruzar a Ponte Cinvat, a ponte simbólica que liga o novo mundo ao céu
e ao inferno – sendo que o inferno possui características próximas aos rios de fogo
descritos pela religiosidade cristã, principalmente no período medieval (PHILIP, 1996).
77
Figura 21: Hades e Perséfone, divindades greco-romanas
78
Figura 22: Ragnarok, a batalha final dos deuses nórdicos
79
Figura 23: Quetzalcoatl navega em seu barco de serpentes
Por fim, entre os inuits, uma civilização que habita o Alasca e o círculo polar
ártico, há o relato dos pais fundadores desta sociedade, que percorreram toda a
Terra para descobrir as suas dimensões e o que havia no planeta: os inuits começam
a se desenvolver quando estes dois homens, ao cruzarem o planeta e formarem suas
famílias, retornam ao seu ponto de origem, morrendo ao se reencontrarem – neste
caso, não são os deuses que revelaram o conhecimento indispensável para os
humanos, sendo eles mesmos os responsáveis por haver conhecido o mundo (PHILIP,
1996).
80
sobrevivência de pessoas justas que permitirão que a civilização reinicie seu ciclo de
existência sob o olhar da(s) divindade(s).
As ‘visões do fim’, portanto, são parte essencial do fenômeno religioso: tais
concepções orientam as pessoas na direção da contemplação do sagrado, e
formam uma consciência de temor e esperança na ação dos deuses para evitar os
males e sofrimentos decorrentes destes tempos finais. Estes eventos estão no limite da
história das civilizações, e revelam embates importantes entre o Bem o Mal, como
categorias ontológicas, isto é, como essências de uma forma de ser que caracteriza
os seres humanos e a sua existência.
81
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Cordel
2. Ragnarok
3. Atlântida
4. Cinvat
a) 3 – 4 – 1 – 2
b) 2 – 3 – 1 – 4.
c) 4 – 1 – 3 – 2.
d) 1 – 2 – 4 – 3.
e) 4 – 3 – 2 – 1.
82
2. As tradições orais refletem um conjunto de significações históricas que as
civilizações atribuem aos fenômenos naturais e a diferentes situações que se
configuram como especiais em suas Cosmogonias. Assim, tais narrativas podem
ser analisadas a partir de suas articulações culturais e sociais.
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.
83
( ) As tradições orais são intrínsecas a sociedades ‘atrasadas’ do ponto de vista
tecnológico, pois subsistem em períodos onde não há o desenvolvimento da
escrita.
( ) A tradição oral firma-se como uma Cosmogonia religiosa no momento em que
agrega narrativas históricas que remontam a eras onde ocorriam fatos
extraordinários.
a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – F – F.
d) F – V – V.
e) F – V – F.
84
d) este gênero literário ampara-se em diferentes perfis de narrativa que podem
abranger tanto os fatos históricos quanto as narrativas de heroísmo em diferentes
momentos.
e) este gênero literário realiza a adaptação de situações do cotidiano das pessoas,
embora mantenha distanciamento em relação à Cosmogonia bíblica, a qual é
considerada como sagrada.
a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – F – F.
d) F – V – F.
e) F – V – V.
85
6. Para compreender a importância dos eventos relativos aos ‘tempos finais’ nas
diferentes concepções religiosas e culturais, é fundamental sedimentar conceitos
que lhes dizem respeito, pois estes conceitos unificam perspectivas históricas e
teológicas acerca das cosmovisões individuais.
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.
86
a) a tradição oral é destacada na Cosmogonia bíblica particularmente para os
textos do Antigo Testamento, pois no Novo Testamento há destaque apenas para os
relatos que podem ser comprovados.
b) as narrativas do fim dos tempos relacionam, de forma recorrente, os ciclos de
morte, ressurreição e renovação que compõem a continuidade histórica de todas as
civilizações.
c) as civilizações onde o padrão de escrita é ausente, sem um alfabeto definido,
dependem apenas da tradição oral para a transmissão de conhecimentos
historicamente estabelecidos.
d) a Cosmogonia greco-romana destaca, na narrativa de Eneias e Anquises, a
supremacia dos gregos, pois estes, ao sobreviver à Guerra de Troia, iriam gerar a
civilização romana.
e) entre os relatos do fim dos tempos para a Cosmogonia asteca, é importante
destacar a morte de Quetzalcoatl como um evento que marca o momento de
renovação desta civilização.
O poeta é um repórter
De pensamento ligado
Ouvindo o que o povo diz
Fazendo todo apanhado
E sai contando na rua
Tudo quanto foi passado
87
I. A literatura de cordel apresenta estrutura formal bem articulada.
II. No trecho, o poeta de cordel é comparado ao repórter por trazer informações
sobre os fatos cotidianos.
III. Por apresentar elementos narrativos, os recursos poéticos são pouco utilizados
na literatura de cordel.
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.
88
ELEMENTOS FUNDADORES DAS UNIDADE
COSMOLOGIAS GRECO-
ROMANAS
05
5.1 INTRODUÇÃO
89
compreender as questões mais existenciais do ser humano, enfocando a sua origem
em uma ordem universal pré-estabelecida, bem como sobre sua função neste
universo e os objetivos mais básicos do ser em um grupo ou uma sociedade (CORDI
et al., 2003).
Estes pensadores e filósofos também são denominados como cosmólogos, pois
buscaram desenvolver formas coerentes de interpretação do universo que fossem
além do senso religioso ou das Cosmogonias que associavam relatos fabulosos e
narrativas mitológicas à compreensão do processo de desenvolvimento da ordem
natural.
90
preciso avançar na construção de conceitos que fossem realmente passíveis de
explicação, embora pudessem eventualmente admitir algumas abstrações de
acordo com as circunstâncias históricas e técnicas que estivessem disponíveis para a
investigação cosmológica.
Como exemplo de tais abstrações, pode-se destacar que a construção de
linhas teóricas sobre o átomo – a unidade básica da matéria, essencial para a
formação de moléculas e a difusão de energia – remonta à Antiguidade, sendo
discutida no Oriente entre a filosofia hindu, e no Ocidente a partir de Demócrito, que
enfatizou a existência de uma estrutura ‘única e indivisível’ que dava origem a todas
as coisas. Evidentemente, tal suposição estava baseada em uma abstração
científica, uma vez que as primeiras observações do átomo ocorreram apenas no
século XX (CORDI et al., 2003).
91
Já Anaximandro (610 – 546 a.C) era discípulo e aluno de Tales, e dá
prosseguimento à obra de seu mestre ao cogitar a existência de uma substância
conhecida como ápeiron. Embora não pudesse ser demonstrada ou apresentada
de um modo objetivo, esta substância consistia em um elemento presente de forma
infinita no universo, e a partir deste elemento, todas as outras coisas teriam sido
criadas.
O filósofo Demócrito de Abdera (460 – 370 a.C) desenvolveu uma Cosmologia
que associava o átomo (athomos, ‘indivísível’) como um elemento maciço e único,
a partir do qual era criado o universo e todas as criaturas nele existentes: o universo
apresentava uma ordem estabelecida a partir destes átomos, não desconsiderando,
inclusive, a hipótese de haver outros mundos semelhantes à Terra, no qual as demais
partículas (átomos) também coexistiam. Assim, a natureza apresentava uma origem
intrinsecamente material, na qual os átomos eram formadores de todas as coisas, as
quais eram geradas pelo acaso, e não pela vontade dos deuses.
E, por fim, Heráclito de Éfeso (500 – 450 a.C) articulou o conceito do movimento
perpétuo, no qual se compreende que o universo está associado a oposições
conceituais que geram um dinamismo constante à matéria. Por exemplo, ao
compreender a vida humana como um processo de nascimento, crescimento e
morte, observa-se que ocorre uma convivência contínua entre forças contrárias: o
que nasce irá morrer, e a dor atesta a existência e a importância do prazer. Deste
modo, Heráclito enfatiza que o universo está sujeito a uma mudança constante como
resultado de oposições que divergem e lutam entre si.
92
criação a partir de uma racionalidade objetiva, e não a partir da ação de deuses e
titãs, cuja luta determinava o surgimento e o fim da natureza tal como estes
pensadores a conheciam. Entretanto, suas concepções eram contemporâneas à
religião e à Cosmogonia religiosa dos gregos, na qual a relação entre corpo e alma
estava presente de modo a favorecer uma reflexão sobre as relações entre o ser
humano e as divindades; as características desta reflexão serão apresentadas na
próxima seção.
93
narrativas ligadas a Orfeu, um poeta que, acreditava-se, era filho da musa Calíope
com o deus Apolo (PHILIP, 1996).
94
A religião órfica, portanto, realiza uma distinção importante entre a
mortalidade do corpo e a imortalidade da alma. A ressonância destas concepções,
vale dizer, será observada em autores clássicos da filosofia grega, como Platão e
Aristóteles (BERNABÉ, 2011).
5.4 O PITAGORISMO
95
ser compreendidas no âmbito da Filosofia pré-socrática, dando origem, inclusive, ao
surgimento de uma importante tradição religiosa e cultural entre os gregos na
Antiguidade.
De acordo com os seus biógrafos, Pitágoras foi um pensador de capacidades
destacadas, e que teve condições de desenvolver suas habilidades matemáticas
mediante o contato com outras civilizações, em particular os egípcios
(conhecedores exímios da Geometria) e os caldeus (que se destacavam no mundo
antigo por seu conhecimento astronômico).
A partir destes contatos, Pitágoras absorveu não apenas uma ciência exata
importante (e que auxiliou no desenvolvimento de suas próprias teorias), mas sim, um
saber hermético e associado a conceitos religiosos quer permitiu-lhe destacar-se pela
capacidade psíquica e interpretativa das questões existenciais de seu tempo, de
acordo com suas referências sociais (CASORETTI, 2014).
Ao articular conceitos do orfismo (enfocando a dupla dimensão humana em
corpo e alma) com suas próprias concepções teocêntricas que destacavam a
origem divina dos seres, Pitágoras desenvolve uma cultura religiosa que atribui ao
conhecimento a chave interpretativa para a existência de todas as coisas. Ou seja,
o saber e a matemática que está contida em todos os seres e objetos permite
determinar uma centelha, isto é, uma iluminação divina nestes elementos.
96
Consequentemente, a instrução e a difusão das ideias acabariam por
favorecer o desenvolvimento não apenas de capacidades cognitivas, mas de
pensamento crítico; este pensamento seria diretamente responsável pela libertação
da pessoa em relação aos ciclos potencialmente eternos de libertação, de acordo
com as crenças do orfismo.
Assim, o Pitagorismo apresenta uma convergência com a religião órfica à
medida que baseia-se em tradições orais e conhecimentos que são restritos a círculos
limitados de membros destacados e iniciados na tradição religiosa. Entretanto, há
cortes importantes com o orfismo conforme há um enfoque científico e a construção
de uma Cosmologia intrinsecamente associada aos números e sua capacidade de
organizar o universo (KAHN, 2007).
97
Figura 28: Razão áurea no crescimento da concha de um caracol
Deste modo, a aritmética que está presente nas coisas, e se destaca como um
elemento ordenador, é um fator que determina a presença divina no universo; estes
conceitos atuam como pilares da escola pitagórica, muito embora a ênfase na
tradição oral e na ausência de codificação dos saberes religiosos limite a
compreensão desta tradição religiosa até os dias atuais (KAHN, 2007).
98
seguintes.
99
FIXANDO O CONTEÚDO
100
I. Os filósofos pré-socráticos se destacam por oferecer uma abordagem
alternativa às interpretações cosmogônicas de seu tempo histórico.
II. O principal aspecto desta corrente filosófica é a livre aceitação da vontade
dos deuses como fator-chave no processo de criação das civilizações.
III. Por meio desta corrente, iniciada a partir de Demócrito, há um enfoque no
conhecimento como uma chave interpretativa da realidade e do universo.
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.
a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – F – F.
101
d) F – V – V.
e) F – V – F.
102
Agora, assinale a opção que corresponde à sequência correta:
a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – F – F.
d) F – V – V.
e) F – V – F.
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas
103
para a formação de um conjunto de observações sobre a realidade, o surgimento
e a consolidação do universo.
LAÊRTIOS, D. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Cap. 7, § 44. Tradução do grego, introdução e notas de Mário da Gama
Kury. 2. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2008 (adaptado).
104
PORQUE
II. Segundo Demócrito, tudo é formado por átomos e é o acaso – e não a vontade
dos deuses – que determina tanto o movimento dos átomos quanto o ser que eles
formam ao se juntarem.
105
COSMOGONIAS E A FILOSOFIA: UNIDADE
UM PERCURSO HISTÓRICO
6.1 INTRODUÇÃO
06
O objetivo principal desta Unidade é o de oferecer um breve percurso pelas
concepções filosóficas da Antiguidade e do período medieval, a fim de observar
como os importantes pensadores destes períodos históricos conceberam as relações
fundamentais entre a existência das coisas e a sua percepção objetiva, pelo
exercício da razão. Assim, será possível conectar a reflexão filosófica ao conteúdo
proposto para esta disciplina, enfatizando os modos pelos quais as pessoas
apreendem a realidade material e objetiva em seu respectivo espaço, definindo,
assim, uma relação de natureza metafísica com seu próprio ambiente e os seus
processos de reprodução e existência.
A conexão entre a racionalidade e o fenômeno religioso passa,
consequentemente, pela observação de conceitos elaborados desde a
Antiguidade a respeito do ser humano e da sua interpretação objetiva da realidade.
Desta forma, dinamismo do debate entre espiritualidade e racionalidade atravessa
os séculos e encontra uma importante ressonância no período medieval, onde
pensadores cristãos e islâmicos recuperam uma parte importante dos estudos
filosóficos da civilização grega e os reinterpretam de acordo com o perfil religioso e
social de seu próprio tempo.
Portanto, ao longo desta Unidade, você deverá mobilizar conhecimentos e
obter maiores referências sobre o desenvolvimento das Cosmogonias e Cosmologias
a partir dos preceitos filosóficos clássicos.
Enfim, está pronto para começar? Então, bons estudos!
106
sociedade. Obrigado a escolher entre o exílio e a morte, Sócrates aceita o suicídio
em vez de ter de deixar de ensinar (CORDI et al., 2003).
Na pintura A Morte de Sócrates, de Jacques-Louis David (1748 – 1825), o
discípulo de Sócrates, Platão (428 – 348 a.C) é representado ao pé de Sócrates, em
silêncio contemplativo frente ao sofrimento que se abateria sobre seu mestre.
Entretanto, este teria afirmado que não temia a morte: seus discípulos estranharam,
inclusive, o seu contentamento perante o veneno que teria de ingerir.
Sócrates responde, no entanto, que somente com a morte ele seria capaz de
atingir a verdade, pois somente com a separação definitiva entre a alma e o corpo
seria possível obter o pleno conhecimento sobre as coisas.
107
pessoa: de acordo com Platão, cada indivíduo apresenta em si uma dupla
dimensão. A primeira destas dimensões é o corpo físico, o qual é limitado
temporalmente e sujeito à morte, sendo, assim, transitório perante a imortalidade da
alma.
Esta, sim, representa a verdadeira essência do indivíduo, e estando ligada ao
corpo, também passará pelos mesmos sofrimentos ligados à dimensão física, e que
podem ser tratados por meio de um esforço terapêutico que seja capaz de
proporcionar não apenas o alívio de sintomas do corpo, mas a superação dos
sofrimentos da alma (WARBURTON, 2012).
108
manifestar (ARAÚJO, 2009).
Ou seja, o ato de atingir o conhecimento não implica em uma rejeição à
hipótese de existência dos deuses, ao contrário, permite inclusive legitimar a sua
existência não a partir do mistério, mas a partir de uma verdade que se afirme e
possa, assim, ser explicada.
Para entender esta afirmação, é possível recorrer a um exemplo: a
Cosmogonia grega refere-se à narrativa de Ícaro, um moço vaidoso que estava
preso com seu pai, o artesão Dédalo, após a morte do Minotauro, por Teseu, dentro
do labirinto que Dédalo havia criado. Dédalo idealiza a fuga da prisão ao criar dois
conjuntos de asas, para si e seu filho, com penas coladas com cera. Ambos logram
êxito no seu intento e escapam da cadeia, No entanto, Ícaro deixa-se levar pela
sensação de voar, e sobe em direção ao sol; a cera se aquece e derrete, quebrando
as asas e precipitando o jovem no mar (PHILIP, 1996).
109
a narrativa de Ícaro, pode perceber, a partir desta dualidade, que o jovem não
morreu pelo simples desprendimento de suas asas (coisa que, por si, já seria impossível
naquele tempo), mas sim, por dar vazão à sua vaidade e ao orgulho de querer imitar
as aves, rejeitando a sua natureza (BULLFINCH, 2000).
110
destas coisas, que se articulam com o conhecimento gerado no plano físico
(WARBURTON, 2012).
Em outras palavras, a Metafísica se ocupa em organizar e sistematizar os
conhecimentos agregados e acumulados pelo ser humano a partir da observação
de sua realidade. Estes conhecimentos estão implícitos na realidade e devem ser
absorvidos por meio da razão, mas há também diferentes saberes e verdades
contidas em espaços em que a racionalidade do corpo não pode alcançar.
Nestes casos, a Metafísica atua para apreender a verdade contida na
realidade sensível, e que não é captada pela dimensão física. Vale dizer, a Metafisica
permite aplicar este exercício da razão a todos os contextos comuns a uma
determinada situação recorrente. Ou seja, um elemento ‘universal’ surge quando ele
pode ser observado em quaisquer outras circunstâncias semelhantes – como ocorre,
por exemplo, no fenômeno religioso (GIACOIA JUNIOR, 2010).
Para compreender este recorte, pode-se recorrer a um breve exemplo da
Cosmogonia nórdica, que se refere ao autossacrifício de Odin para obter o
conhecimento de todas as coisas: para isto, este deus ficou pendurado durante dias
na árvore da vida, Yggdrasil, tendo ainda que entregar um de seus olhos a Mimir, o
gigante que controlava o acesso à fonte de onde emanava o conhecimento (PHILIP,
1996).
Neste relato, transparece a importância do sacrifício para que o elemento
metafísico – a busca do conhecimento pela sensibilidade – possa se manifestar. Aliás,
a renúncia a um dos olhos por Odin destaca exatamente a ideia de renunciar à
racionalidade física (o olho é um órgão dos sentidos, por meio do qual se apreende
a realidade visível) para atingir um fim maior, contido nas verdades até então
inalcançáveis.
A Cosmogonia bíblica apresenta um sentido semelhante na narrativa da
crucificação de Jesus: a Igreja é clara ao enfatizar que este sacrifício apresentou uma
dimensão redentora, isto é, a morte de Cristo é o evento-chave para a remissão dos
pecados da humanidade (CONE, 2021).
Assim, como se refere Paulo em relação à ‘loucura da cruz’, a racionalidade
não é capaz de captar o sentido da morte do Filho do Homem, que ao seu tempo
foi vista pela cultura greco-romana como um algo vergonhoso e desonroso
(havendo, inclusive, grafites do século I d.C. que figuravam Jesus com uma cabeça
de burro), mas que viabilizou, para os cristãos, o triunfo de Deus sobre o Mal e os
111
pecados dos homens (A BÍBLIA, 1990).
Figura 31: Reprodução de grafite em Roma com sátira aos cristãos, século I d.C.
112
Portanto, Aristóteles refina o ensinamento platônico ao se referir à existência
de uma função inerente a todos os seres humanos, ou seja, à existência humana em
si: a capacidade do homem para pensar e utilizar a razão gera um distanciamento
dos animais e em relação a todas as outras coisas criadas.
113
culturais) entre o mundo greco-romano e o mundo medieval ainda se faziam
materialmente presentes, nos antigos templos dos deuses romanos que foram
convertidos em igrejas, nas ruínas e demais monumentos (CAMPOS; MIRANDA, 2000).
114
passado e pela experiência da criação, representada pelas escrituras bíblicas. O
retorno a este ‘paraíso perdido’ implicava em uma busca pela espiritualidade e pela
construção de postulados filosóficos que auxiliassem o homem na busca por Deus.
Ao constatarem as suas diferenças em relação aos autores da Antiguidade, os
autores medievais procuravam uma adaptação, para aquele tempo presente, dos
conceitos científicos, artísticos e filosóficos dos tempos antigos. Tais instrumentos, na
verdade, poderiam conferir poder aos seus detentores, recriando uma cosmovisão a
partir do mundo antigo, ao invés de, necessariamente, retornar a ele – vem daí o
conceito de um Renascimento, focado em uma produção intelectual cujas
aplicações eram contemplativas e ligadas à Teologia daquele período (ARANHA;
MARTINS, 2013).
Conforme a discussão anteriormente realizada, a filosofia escolástica já
representou uma destas formas de ‘revisitar’ a Antiguidade, aproximadamente três
séculos antes da fase áurea do Renascimento: o processo de adequação e
aplicação dos conceitos propostos por Aristóteles à religião consistia, certamente,
em uma forma de gerar uma coerente explicação e um esclarecimento dos
diferentes ensinamentos cristãos, utilizando, para isto, os princípios da lógica
aristotélica.
Para filósofos como Tomás de Aquino (1225 – 1274) e seus sucessores, a Fé não
se provava contrária ao exercício da razão, muito embora a razão não fosse criadora
da fé. Consequentemente, por meio da razão seria possível que estes autores
pudessem comprovar o que eles já consideravam como verdade, revelada por meio
da fé. Assim, este exercício interpretativo permitia desenvolver uma nova forma de
sintetizar a filosofia grega ao pensamento cristão (WARBURTON, 2012).
Este método, consequentemente, acaba por modificar em boa parcela a
tradição filosófica medieval, ligada a Agostinho de Hipona: este concebeu o mundo
natural, e o conhecimento das coisas (verdades) ligadas a este mundo como
obstáculos materiais ao pleno conhecimento, que era aquele associado à graça de
Deus mediada pela fé.
Deste modo, os escolásticos acreditavam que a ‘Cidade dos Homens’ não era
um local de pecado, ao qual o ser humano devia evitar ou fugir para adentrar a
‘Cidade de Deus’: o mundo natural era digno de ser investigado e compreendido,
estabelecendo uma relação entre a realidade superior (a graça) e o mundo natural,
inferior porque criatura, e imperfeito porque maculado pelo pecado. Este desejo de
115
investigação, portanto, impulsionaria o trabalho e a ação dos filósofos ao final da
Idade Média (MOCZAR, 2012).
Há, ainda, um ponto importante a ser tratado a respeito da lógica aristotélica
e sua retomada no período medieval: trata-se da relação entre realismo e
nominalismo. Este debate surge em um contexto hermenêutico acerca da realidade
sensível e seus objetos: os nominalistas, como Guilherme de Ockham (1285 – 1347),
sustentavam a posição que os conceitos ‘universais’, isto é, aplicáveis a todas as
circunstâncias e contextos, não são de fato reais.
116
expressões verbais que geram interpretações coletivas a respeito de temas
semelhantes entre si, em um processo de abstração – a mente humana reagiria à
semelhança das coisas, criando categorias analíticas que geram conceitos
teoricamente aplicáveis a todas as situações, quando na verdade não o são.
Esta discussão é a base da chamada ‘controvérsia dos universais’, que opõe
os nominalistas aos realistas. Os realistas (entre os quais se destacava Tomás de
Aquino) partiam de uma lógica aristotélica na qual a realidade é cognoscível pela
Razão e, portanto, concebe-se como possível a criação de categorias analíticas
aplicáveis a todas as circunstâncias para a construção do conhecimento. Ou seja,
os realistas defendiam a existência dos ‘universais’, enquanto os nominalistas
rejeitavam os ‘universais’ e a possibilidade de compreensão única de um elemento
sob quaisquer situações (REALE; ANTISERI, 2019).
117
transformá-lo em uma realidade acessível aos sentidos humanos. Assim, no momento
em que a pessoa religiosa assume para si o fenômeno religioso, mobilizará a
racionalidade de seus sentidos e a sensibilidade contida em sua alma para
desenvolver um relacionamento de proximidade com a(s) divindade(s).
118
FIXANDO O CONTEÚDO
119
1. Metafísica
2. Mimir
3. Tomás de Aquino
4. Escolástica
a) 3 – 4 – 1 – 2
b) 2 – 3 – 1 – 4.
c) 4 – 1 – 3 – 2.
d) 1 – 2 – 4 – 3.
e) 4 – 3 – 2 – 1.
120
civilizações.
II. As reflexões propostas por Tomás de Aquino para a reformulação do
pensamento filosófico no período medieval realizam uma concordância direta
com as propostas de Agostinho de Hipona, cuja escola era dominante entre
os católicos.
III. No contexto de desenvolvimento da corrente escolástica, ocorre um aumento
importante das tensões intelectuais entre árabes e cristãos, uma vez que se
compreendia que a lógica aristotélica era pagã, e consequentemente,
incompatível com a Cosmogonia cristã.
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.
Para recordar este período histórico e os seus aspectos gerais, avalie as asserções
a seguir e a relação proposta entre elas.
PORQUE
121
II. No contexto do movimento escolástico, inexiste a distinção ou subordinação entre
razão e espiritualidade, viabilizando, assim, uma compreensão mais abrangente
dos elementos comuns à existência humana.
122
e) Ao final da Idade Média, ocorre um processo de ortodoxia e radicalização do
discurso filosófico, à medida que a influência da Igreja inibia a possibilidade de
investigação de postulados alternativos.
7. Entre os séculos XIII e XV, uma geração de pensadores iria causar uma mudança
significativa nas bases da filosofia cristã na Europa. A partir desta mudança,
desenvolveram-se conceitos e temas de discussão que aliavam elementos
históricos, teológicos e sociais.
De acordo com as ponderações efetivadas pelo texto, analise as opções a seguir
e assinale a correta:
123
a) Este período é marcado pela reunificação do pensamento filosófico católico, após
o Cisma do Ocidente, no século XI (1054), que havia dividido o controle da Igreja.
b) Neste período histórico, surge a ‘controvérsia dos universais’, que faz um
contraponto entre o realismo e o nominalismo.
c) O período destacado está associado a uma fase de desenvolvimento econômico
e social importante na Europa, com o surgimento das universidades.
d) O desenvolvimento da filosofia cristã neste período histórico está atrelado ao
surgimento de pensadores que contestavam a Igreja, como Tomás de Aquino.
e) As principais discussões propostas neste período histórico revelavam a importância
das Cruzadas e das Grandes Navegações para a expansão do conhecimento.
124
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO
UNIDADE 01 UNIDADE 02
QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 D
QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 B
QUESTÃO 3 D QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 E QUESTÃO 4 A
QUESTÃO 5 C QUESTÃO 5 E
QUESTÃO 6 B QUESTÃO 6 C
QUESTÃO 7 C QUESTÃO 7 D
QUESTÃO 8 E QUESTÃO 8 B
UNIDADE 03 UNIDADE 04
QUESTÃO 1 C QUESTÃO 1 A
QUESTÃO 2 D QUESTÃO 2 C
QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 B
QUESTÃO 4 E QUESTÃO 4 D
QUESTÃO 5 B QUESTÃO 5 E
QUESTÃO 6 B QUESTÃO 6 B
QUESTÃO 7 E QUESTÃO 7 B
QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 D
UNIDADE 05 UNIDADE 06
QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 E
QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 C
QUESTÃO 3 D QUESTÃO 3 A
QUESTÃO 4 C QUESTÃO 4 A
QUESTÃO 5 B QUESTÃO 5 A
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 C
QUESTÃO 7 D QUESTÃO 7 B
QUESTÃO 8 A QUESTÃO 8 D
125
REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. São
Paulo: Moderna, 2005.
ASSIS, Margarida Drummond. Padre Antônio de Urucânia, a sua bênção. Brasília: Ed.
do autor, 2004.
BULLFINCH, Thomas. O livro de ouro da Mitologia: histórias de Deuses e Heróis. 12ª ed.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.
CAMPOS, Flávio; MIRANDA, Renan Garcia. Oficina de História – História Integrada. São
Paulo: Moderna, 2000.
COSTA, Neffertite Marques. Padre Antônio Ribeiro Pinto na religiosidade popular por
meio da literatura de cordel. Último Andar, n. 32, dez. 2018. Disponível em:
https://bit.ly/3jxOaw6. Acesso em 12 fev 2022.
COSTA, Neffertite Marques. Nossa Senhora dos Cordéis. Salvador: Sagga, 2020.
126
CRISPIM, Cibele Aparecida et al.. Relação entre sono e obesidade: uma revisão da
literatura. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, vol. 51, n.7, out. 2007.
Disponível em: https://bit.ly/3OjG1tE. Acesso em 12 fev 2022.
HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry; GAARDER, Jostein. O livro das religiões. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.
KAHN, C. H. Pitágoras e os pitagóricos: uma breve história. São Paulo: Edições Loyola.
2007.
MOCZAR, Diane. Dez datas que todo católico deveria conhecer. Rio de Janeiro:
Castela Editorial, 2013.
MOCZAR, Diane. Sete mentiras sobre a Igreja Católica. Rio de Janeiro: Castela
Editorial, 2012.
127
PASSOS, Márcia Maria Barros et al.. A disseminação cultural das garrafadas no Brasil:
um paralelo entre medicina popular e legislação sanitária. Saúde em Debate, vol. 42,
n.116, Jan/Mar. 2018. Disponível em: https://bit.ly/3jB55Op. Acesso em 12 fev 2022.
PHILIP, Neil. O livro ilustrado dos mitos: contos e lendas do mundo. São Paulo: Marco
Zero, 1996.
STEINER, João. A origem do Universo. Estudos Avançados, vol. 20, n.58, São Paulo, dez.
2006. Disponível em: https://bit.ly/36caGrA. Acesso em 05 fev 2022.
WARBURTON, Nigel. Uma breve história da Filosofia. São Paulo: L&PM, 2012.
128