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Ano: 2022
1
Yara Rodrigues de la Iglesia
Psicologia da educação
1ª Edição
2022
Curitiba, PR
Faculdade UNINA
2
Faculdade UNINA
Rua Cláudio Chatagnier, 112
Curitiba – Paraná – 82520-590
Fone: (41) 3123-9000
Conselho Editorial
D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Marli Pereira de Barros Dias /
D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno /
D.ra Yara Rodrigues de la Iglesia
Revisão de Conteúdos
Soeli Terezinha Pereira
Designer Instrucional
Alexandre Kramer Morgenterm
Revisão Ortográfica
Lucimara Ota Eshima
Desenvolvimento Iconográfico
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério
Desenvolvimento da Capa
Carolyne Eliz de Lima
FICHA CATALOGRÁFICA
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PALAVRA DA INSTITUIÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA!
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Sumário
Prefácio ..................................................................................................... 07
Aula 1 – Introdução ao estudo da Psicologia ............................................. 10
Apresentação da aula 1 ............................................................................. 10
1.1 A evolução da ciência psicológica ................................................. 10
1.1.1 Wilhelm Maxilian Wundt: o nascimento da psicologia científica 15
1.1.2 As diferentes escolas de pensamento ....................................... 22
Conclusão da aula 1 .................................................................................. 26
Aula 2 – Psicologia da Educação e seu campo de estudos ....................... 27
Apresentação da aula 2 ............................................................................. 27
2.1 Psicologia da Educação: conceito e objeto de estudo ................... 28
2.1.1 Psicologia da Educação no Brasil .............................................. 37
Conclusão da aula 2 .................................................................................. 41
Aula 3 – Teorias de aprendizagem: primórdios do behaviorismo .............. 42
Apresentação da aula 3 ............................................................................. 42
3.1 A controvérsia natureza-educação ............................................... 43
3.1.1 Conceito de aprendizagem ........................................................ 47
3.1.2 Aprendizagem a partir da perspectiva behaviorista: Watson e
Pavlov ........................................................................................................ 50
Conclusão da aula 3 .................................................................................. 59
Aula 4 – Condicionamento operante: o behaviorismo radical de Skinner .. 60
Apresentação da aula 4 ............................................................................. 60
4.1 O Condicionamento operante ....................................................... 61
4.1.1 Conceitos básicos ...................................................................... 63
4.1.2 Implicações do Condicionamento Operante para a Educação ... 68
Conclusão da aula 4 .................................................................................. 74
Aula 5 - Desenvolvimento e aprendizagem na teoria de Jean Piaget ........ 74
Apresentação da aula 5 ............................................................................. 74
5.1 A Psicologia e a Epistemologia Genética: noções gerais ............. 75
5.1.1 Aprendizagem: acomodação, assimilação e equilibração .......... 80
5.1.2 Estágios de desenvolvimento da inteligência ............................. 84
Conclusão da aula 5 ................................................................................... 90
Aula 6 – Memória ....................................................................................... 91
Apresentação da aula 6 ............................................................................. 91
6.1 O processamento da informação .................................................. 92
5
6.1.1 Conceitos básicos e definições da memória .............................. 94
6.1.2 Modelo de memória de três componentes ................................. 97
Conclusão da aula 6 .................................................................................. 102
Aula 7 – Motivação ..................................................................................... 103
Apresentação da aula 7 ............................................................................. 103
7.1 A motivação desde diferentes perspectivas .................................. 103
7.1.1 Perspectivas teóricas da motivação ........................................... 105
7.1.2 A Teoria da Motivação de Maslow: a satisfação das
necessidades humanas ............................................................................. 110
Conclusão da aula 7 .................................................................................. 115
Aula 8 – Teoria da aprendizagem: Lev Semionovitch Vygotsky ................. 116
Apresentação da aula 8 ............................................................................. 116
8.1 Psicologia histórico-cultural ........................................................... 117
8.1.1 Noção de desenvolvimento de aprendizagem dentro da
psicologia histórico-cultural ........................................................................ 120
8.1.2 A noção de zona de desenvolvimento próximo ......................... 125
Conclusão da aula 8 ................................................................................... 129
Índice Remissivo ........................................................................................ 131
Referências ............................................................................................... 133
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Prefácio
7
que ocorrem principalmente na escola. Aqui nos concentraremos no tema da
aprendizagem, um dos temas mais fecundos dentro do âmbito da Psicologia da
Educação.
Caberá a você analisar cada uma das abordagens apresentadas e suas
repercussões nos contextos educacionais, mantendo sempre presente a ideia
de que cada abordagem apresentada esteve sempre vinculada a questões ético-
políticas. Portanto, cada escola de pensamento aqui apresentada é discutida
como um movimento inserido em um contexto histórico e social que traz
determinadas repercussões tanto para a Psicologia quanto para a Educação.
Importante destacar que a razão de comparar teorias não é concluir qual
é a melhor, a pior, a certa ou a errada. Nós as apresentamos e as comparamos
para que você possa entender a contribuição única que cada uma dá ao
entendimento abrangente do desenvolvimento humano. Talvez a questão mais
relevante que precisa ser respondida por qualquer teoria psicológica, diz respeito
à sua utilidade para prever e explicar.
Sabidamente, não esgotaremos em profundidade os temas abordados,
pois esta tarefa supera os limites de uma disciplina introdutória, portanto é
importante esclarecer que, caso você pretenda aprofundar suas incursões à
Psicologia da Educação, precisará realizar as leituras que serão apontadas em
todas as aulas. Não deixe de assistir às videoaulas, pois muitos temas serão
aprofundados e elucidados durante este momento.
Aqui apresentaremos um material introdutório, escrito de maneira sintética
e simples, mas não superficial. Portanto, em muitos momentos, você precisará
reler os conceitos apresentados, pois, apesar da escrita ser simples, não
significa que deixam de ter sua complexidade teórica.
Vale destacar que, apesar das aulas serem escritas e gravadas pela
autora, você é o protagonista de sua aprendizagem. Existe uma
corresponsabilidade na construção dos conhecimentos aqui propostos. Cabe a
você, estudante, apropriar-se criticamente, problematizando os conteúdos
propostos, fazendo relação com aquilo que já conhece.
Tenho certeza de que juntos trilharemos um bonito caminho de reflexões
e aprendizagens. Para isso, é muito importante que você leia de maneira crítica
este livro, assista às videoaulas e faça as atividades propostas, pois estas são
8
as ferramentas pedagógicas que lhe darão suporte para a apropriação dos
conhecimentos propostos para esta disciplina.
Além disso, minha expectativa é que você vá além do que está sendo
proposto na disciplina, que busque ampliar seus conhecimentos por meio das
indicações que serão apontadas no decorrer das aulas. Almejo que esta
disciplina sirva como um disparador e que acenda em você o desejo pelo
conhecimento.
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Aula 1 – Introdução ao estudo da Psicologia
Apresentação da aula 1
10
Baseando-se nas primeiras dissecações do corpo humano, Hipócrates
sustentou que no cérebro residia a origem dos nossos problemas emocionais.
Ele estabeleceu quatro temperamentos nos indivíduos: temperamento
sanguíneo, temperamento melancólico, temperamento colérico e temperamento
fleumático. Nasceu assim, de maneira rudimentar, a “Teoria da Personalidade”,
que, com algumas variações, segue vigente até a atualidade (BUR, 2003).
A partir desse exemplo, você pode perceber que na Antiguidade, por
exemplo, os médicos já entendiam que para identificar as doenças era
necessário saber descrever a consciência do ser humano e descobrir as causas
dos seus atos. Entretanto, o mundo psicológico do homem e sua consciência
foram vistos durante séculos como fenômenos do tipo especial, isolados de
todos os outros processos naturais. Os filósofos assumiam diferentes posições
em relação à consciência, considerando-a manifestação da razão divina ou
resultado de sensações subjetivas [...] e por isto sua análise não podia ser feita
a partir da explicação causal dos fenômenos” (LURIA, 1979, p. 2).
Importante
11
Fonte: Google, 2021
12
utiliza o método científico para estudar o psiquismo humano. Enquanto os
filósofos estavam
Saiba mais
13
Foi no século XIX que o conhecimento científico teve um grande avanço,
tornando-se imprescindível, diante da nova ordem econômica, o capitalismo,
visto que o crescimento dessa nova ordem econômica trouxe consigo o processo
de industrialização, exigindo respostas e soluções aos problemas existentes.
Não é o nosso objetivo discutirmos os fundamentos do capitalismo, mas é
importante sinalizar que existe uma inter-relação entre as exigências do
conhecimento em cada momento histórico e a realidade socioeconômica e
política.
Podemos dizer que no século XIX se deu as condições materiais para o
desenvolvimento da ciência moderna, permitindo “ao cientista observar o real e
construir um conhecimento racional, sem interferência de suas crenças e
valores. Assim, surge a ciência moderna experimental, empírica e quantitativa”
(BOCK, 2007, p. 15).
Importante
14
A ciência é uma das formas, mas o que diferencia a ciência dos demais
conhecimentos é o método com que essas ideias são produzidas: o método
científico.
Reflita
Você leu no decorrer desta primeira aula que existem diferentes tipos de
conhecimento. Suponhamos que um amigo lhe procure para compartilhar um
problema. Ele inicia contando que se sente um pouco deprimido e que vai
abandonar os estudos, afirmando, em seguida, que adora falar com você porque
“você sabe ouvir e tem muita psicologia para entender as pessoas”. Será que é
essa a psicologia dos psicólogos? Que tipo de conhecimento seria esse? Pense
sobre isso.
15
Foi a pesquisa fisiológica uma das áreas que estimulou e orientou a nova
psicologia. Muitas das experiências realizadas até agora não pertenciam
claramente ainda ao campo da psicologia. Podemos dizer que pertenciam ao
campo da física e/ou da fisiologia. Foram os fisiologistas que realizaram o
mapeamento das funções cerebrais, ou seja, determinaram as partes
específicas do cérebro responsáveis pelo controle das diferentes funções
cognitivas. Importante destacar que o termo “psicologia fisiológica pode dar
margem a interpretações equivocadas, já que, naquela época, o vocábulo
fisiológico era sinônimo da palavra alemã que queria dizer experimental”
(SCHULTZ, D.; SCHULTZ, S., 2019, p. 85).
Um marco importante para a autonomia da psicologia como ciência, foi a
criação do primeiro laboratório de psicologia experimental, em 1879, por Wundt,
em que permaneceu até se aposentar em 1917. Foi a partir de então que a
psicologia passou a se tornar uma ciência totalmente independente da filosofia.
Oficialmente, o laboratório criado por Wundt marcou os primórdios da
psicologia como uma disciplina separada e distinta da filosofia. Durante todo o
último quarto do século XIX,
16
Na primeira edição do seu livro, Principies of physiological psychology,
traduzido para o português como Princípios da psicologia fisiológica, Wundt
deixa claro que seu objetivo era promover a psicologia como uma ciência
independente e formaliza a psicologia como uma ciência com um método
experimental. Considera-se que ele conseguiu realizar seu objetivo, criando uma
instituição destinada à pesquisa e ao ensino de psicologia. Wundt foi responsável
pela formação de profissionais de psicologia, muitos vinham, inclusive, de outros
países para estudar com ele.
Saiba mais
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mudanças em uma área do conhecimento não ocorrem de maneira isolada,
alheia ao que vem acontecendo no restante do mundo.
Nesse sentido, abordaremos a seguir a influência de dois cientistas
ingleses: Charles Darwin (1809-1882) e Francis Galton (1822-1911), e como
suas teorias repercutiram na psicologia. Mesmo que nenhum dos dois possam
ser considerados psicólogos, suas teorias tiveram um impacto relevante na
psicologia.
Para a psicologia, Darwin revolucionou a maneira como se entendia o ser
humano, visto que, de acordo com o darwinismo, somos uma espécie a mais
que se desenvolveu ao longo da evolução natural. Darwin questionou o lugar
absoluto e excepcional que o ser humano ocupava.
A obra de Charles Darwin (1809-1882), A origem das Espécies, foi
publicada em 1859. Não temos a pretensão de abordar a obra de Darwin, mas
discorreremos brevemente sobre a tese da nossa ancestralidade comum e a
seleção natural.
Darwin foi um grande biólogo britânico, que apresentou a ideia de que
todos os seres vivos descendem de um ancestral comum. O conceito de
evolução, proposto por Darwin, teve uma grande repercussão no pensamento
da humanidade, visto que todas as áreas do conhecimento sofreram algum
impacto por essa nova ideia. Com o prestígio das ciências naturais e biológicas
e do evolucionismo de Darwin, o homem pode ser estudado como um organismo,
da mesma forma que os outros seres vivos. Essa ideia revolucionou a ciência,
pois perde-se a unidade entre corpo e alma.
Já, em 1870, a evolução por seleção natural teve apoio da maioria dos
intelectuais. Na natureza, o processo de seleção natural tem como resultado a
sobrevivência dos organismos mais bem adaptados a seu ambiente e a
eliminação dos demais, ou seja, as espécies que não se adaptam não
sobrevivem.
Em sua teoria, Darwin propôs que possuímos diferentes características,
as quais podemos passar de uma geração para outra. Herdamos as
características que nos conferem vantagem de sobrevivência, maior chance de
nos desenvolver e nos reproduzir, passando essas características vantajosas
aos nossos descendentes.
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É verdade que a teoria de Darwin não pode ser extrapolada para o nível
psicológico, já que se trata de uma teoria fundamentalmente de ordem biológica,
mas a noção de adaptação desperta muito interesse para quem estuda a
psicologia (BUR, 2003).
Saiba mais
Conhecido como o livro que abalou o mundo, A Origem das Espécies foi lançado
em 1859 e as cópias da obra do biólogo e naturalista Charles Darwin se
esgotaram logo no primeiro dia de lançamento. Este livro reúne o relato dessa
pesquisa. Você pode baixar o livro de maneira totalmente gratuita no link:
https://www.baixelivros.com.br/biologicas-e-saude/botanica/a-origem-das-espec
ies, ePub, MOBI ou Ler Online | Le Livros
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abriria a possibilidade para a manipulação científica da própria espécie
humana (BUR, 2003).
A teoria da evolução suscitou a intrigante possibilidade de Galton descrever
e mensurar as diferenças individuais. Galton propôs o desenvolvimento de testes
de inteligência para selecionar homens e mulheres brilhantes, destinados à
reprodução seletiva e recomendou que os melhores recebessem incentivos
financeiros para se casarem e procriarem (SCHULTZ, D.; SCHULTZ, S., 2019,
p. 124). Foi Galton quem deu origem ao conceito de testes mentais.
Francis Galton era fascinado pelos números e medidas e, a partir da obra
de seu primo, entendeu que o intelecto é uma ferramenta criada pela evolução
e seleção dos indivíduos mais bem adaptados. Este conceito, reunido com sua
convicção de que tudo o que se podia medir é hereditário, ou seja, herdamos
de nossos antepassados, levou-o a postular uma das teorias mais polêmicas,
questionada e ainda vigente na psicologia: a teoria do caráter hereditário da
inteligência (BUR, 2003). “Seu argumento era de que a superioridade ou a
ausência dela deviam-se exclusivamente a uma função hereditária e não a
oportunidades” (SCHULTZ, D.; SCHULTZ, S., 2019, p. 124).
Galton teve uma influência no desenvolvimento da psicologia americana
e muitos temas pesquisados por ele proporcionaram a base necessária para que
se desenvolvesse uma série de desdobramentos na psicologia moderna, tais
como: adaptação, hereditariedade versus ambiente, comparação das espécies,
desenvolvimento infantil, o método do questionário, técnicas estatísticas,
diferenças individuais e testes mentais.
Importante
Francis Galton cunhou o termo “eugenia” em 1883, que pode ser definido como
“a ciência do melhoramento biológico do tipo humano". Galton fundou uma
corrente teórica que propôs a melhora da espécie por meio da descendência
seletiva, prática que se denomina Eugenia e que será o argumento que vai
legitimar, anos mais tarde, o assassinato de milhões de seres humanos durante
a Segunda Guerra Mundial. Se você quiser saber mais sobre este polêmico
assunto, sugiro a leitura do artigo: Francis Galton: eugenia e hereditariedade,
escrito por Valdeir Del Cont. Você pode acessar o artigo no seguinte link:
https://www.scielo.br/j/ss/a/nCZxGgFHn8MVtq8C9kVCPwb/?format=pdf&lang= pt
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Jornal da época “Boletim da Eugenia”
Fonte: https://www.cafehistoria.com.br/wp-content/uploads/2021/03/Boletim-de-Eugeni
a-2.jpg
21
1.1.2 As diferentes escolas de pensamento
Reflexão
Fonte: Google 2021
22
Saiba mais
23
estruturalismo é considerado como a primeira escola de
pensamento da psicologia e seus métodos de pesquisa se baseiam
na observação, experimentação e medição, eram, cientificamente
falando, os mais tradicionais. O objeto de estudo para os
estruturalistas era a experiência consciente. Titchener, assim como
de Wundt, utilizava a técnica da introspecção para analisar os
processos internos da mente humana. Posteriormente, o
estruturalismo recebeu muitas críticas, principalmente no que se
refere ao método de introspecção, no entanto, apesar das críticas,
embora o objeto de estudo e “os propósitos dos estruturalistas não
sejam mais fundamentais, o método de introspecção, mais
amplamente definido como relato oral baseado na experiência,
ainda é empregado em diversas áreas da psicologia” (SCHULTZ, D.;
SCHULTZ, S., 2019, p. 121).
24
procuram aplicar suas descobertas na melhoria da vida. Esta escola
do pensamento pode ser considerada como uma junção de uma
preocupação prática da psicologia, da ênfase no indivíduo e da
teoria da evolução de Darwin (SCHULTZ, D.; SCHULTZ, S., 2019);
Saiba mais
25
Finalizando nossa primeira aula, fica evidente que a psicologia representa
hoje um sistema amplamente ramificado de disciplinas, que estudam a atividade
psíquica do ser humano em diferentes aspectos. No entanto, na atualidade, os
pesquisadores tentam evitar um tipo de adesão rígida a uma única perspectiva
teórica, em vez disso, adotam diferentes perspectivas teóricas para explicar e
estudar o desenvolvimento e a aprendizagem humana.
Conclusão da aula 1
26
Atividade de Aprendizagem
Apresentação da aula 2
27
Pois bem, o próprio nome da nossa disciplina nos remete à ideia de que
é uma disciplina psicológica que trata da educação, ou seja, tem relação com a
psicologia e a educação. Aqui reside outro problema, visto que para os
psicólogos é um saber psicológico, enquanto para os pedagogos, é um saber
que pertence às ciências da educação. A seguir nos concentraremos na
definição conceitual da psicologia da educação.
Psicologia educação
Fonte: Google 2021
28
esta questão, nosso objetivo não é analisar as diferentes abordagens em termos
de certo ou errado, mas, antes, conhecê-las para poder compará-las e avaliá-las
de maneira crítica.
Diante do exposto, é importante destacar que na psicologia da educação
não existe uma super teoria que possa dar conta de todos os problemas
enfrentados pela prática educacional. Você lembra de William James, o
precursor da psicologia funcional, que estudamos na aula passada?
James é considerado um dos mais importantes psicólogos educacionais
norte-americanos. Para ele o ensino é um processo que nunca entenderemos
completamente e que “temos que nos contentar com uma série de aproximações
a boas ideias e boas práticas, em vez de ideias e práticas perfeitas”
(SPRINTHALL, N.; SPRINTHALL, R., 1990, p. 3).
É conveniente recordar que a formulação de cada teoria pela psicologia,
quer pela concepção de sujeito que contém, quer pelos pressupostos teóricos
adotados ou pelos seus desdobramentos práticos, necessariamente, implica
uma estrutura que envolve uma dada política educacional, um conjunto de
objetivos específicos na formação acadêmica e um projeto sociocultural.
Importante
Vocabulário
30
psicologia da educação, um número significativo de pesquisadores a definem
como uma disciplina-ponte de natureza aplicada.
Importante
31
psicologia geral ao campo da educação. Para clarificar esta questão,
apresentaremos no quadro a seguir as duas principais correntes teóricas dentro
do campo da psicologia da educação: a psicologia da educação entendida como
um âmbito de aplicação da psicologia e a psicologia da educação definida como
uma disciplina-ponte entre a psicologia e a educação, retirados de Coll, et al.
(2016, p.24).
Apesar das diferenças, ambas as teorias estão plenamente vigentes na
atualidade, coexistindo entre si. A forma como entendemos essa disciplina tem
um impacto muito grande na maneira como explicamos o fenômeno educativo.
32
➢ A abordagem e o tratamento das questões e dos problemas
educacionais exige uma aproximação multidisciplinar.
33
As duas diferentes posições da psicologia da educação são vigentes
ainda hoje. Ambas têm em comum a busca para explicar e compreender os
fenômenos educativos. Entretanto, a primeira tem um caráter mais reducionista,
“para qual o estudo das variáveis e dos processos psicológicos é a única via
adequada para proporcionar uma base científica à teoria e à prática educativa”
(COOL et al., 1999, p. 39).
Enquanto a segunda, conhecida como disciplina-ponte, tem em comum
a ideia de que a principal finalidade da psicologia da educação é a de utilizar e
aplicar os conhecimentos, os princípios e os métodos da psicologia para análise
e estudo dos fenômenos educativos. Mas, fora isso, mantém uma estreita
relação com as disciplinas que se dedicam ao estudo dos fenômenos educativos,
por exemplo: política, história, sociologia, sociolinguística e antropologia, porém,
sem se deixar identificar ou confundir com um ou outro (COLL et al., 1999).
Nas palavras de Alexander Romanovich Luria (1902-1977), psicólogo
soviético e um dos maiores nomes da psicologia histórico-cultural, “a psicologia
só pode desenvolver-se em estreita ligação com outras ciências, que não a
substitui, mas lhe assegura informação importante para que ela possa ser bem-
sucedida na elucidação do seu próprio objeto” (LURIA, 1979, p.11).
Retomaremos a discussão referente à psicologia histórico-cultural nas próximas
aulas.
Além de áreas como a biologia, fisiologia, etologia e sociolinguística, as
ciências sociais têm uma importância muito grande para a psicologia da
educação.
Saiba mais
34
Diante desse debate, entendemos que a psicologia da educação deve ser
entendida como uma disciplina-ponte, utilizando os conhecimentos da psicologia
científica, mas de maneira autônoma e com um domínio próprio, uma vez que o
domínio da psicologia da educação é o processo educativo.
Não devemos cair em reducionismos psicológicos que pressupõem que a
psicologia tem as respostas para todos os problemas da educação ou em um
reducionismo pedagógico que nega o papel e importância dos componentes
psicológicos, dando ênfase aos outros componentes (sociológicos, institucionais,
políticos, econômicos, entre outros).
Cabe à psicologia da educação estudar o comportamento e os processos
psicológicos gerados nos alunos como resultado da participação em atividades
educativas e explicar como as pessoas aprendem e como o desenvolvimento
cognitivo influencia na própria aprendizagem: teorias de aprendizagem. Dessa
forma, contribui na elaboração de uma teoria que permite compreender e explicar
melhor os processos educacionais.
Você pode estar se perguntando: por que é importante discutir essas duas
abordagens da psicologia da educação? E, por que assumimos que a segunda
posição é mais adequada? Para responder aos dois questionamentos,
utilizaremos as palavras de Fenstermacher e Richarson, citada por Cool et al.
(2016, p. 27), que, de maneira brilhante, assumem uma abordagem crítica da
psicologia da educação.
“A educação é uma prática social e que envolver-se uma prática social significa
necessariamente adotar determinadas opções ideológicas e morais, em vez
de refugiar-se em uma suposta e enganosa neutralidade de um enfoque
científico e disciplinar. Recuperando e assumindo, com todas as suas
consequências, o discurso e as preocupações do reformismo social dos
pioneiros e primeiros impulsionadores da disciplina, os psicólogos
educacionais não devem aceitar que não podem orientar seu trabalho para a
compreensão e a melhoria das práticas educacionais, sem formular-se e
responder algumas perguntas fundamentais sobre a educação que não são de
natureza psicológica em sentido estrito: quais devem ser as finalidades da
35
educação? Que tipo de pessoas se pretende contribuir para formar com as
práticas educacionais? Que tipo de sociedade se pretende contribuir para
engendrar com a educação das novas gerações? Como a educação deve
atender à diversidade das necessidades educacionais das pessoas? Que
papel a educação deve desempenhar na compreensão das desigualdades
econômicas, sociais e culturais das pessoas?”
36
E, diante do exposto, estudaremos a seguir a psicologia em relação à
educação no Brasil.
Mídias
37
Helena de Souza Patto, considerado uma obra de referência para profissionais
da educação.
Curiosidade
38
No livro que deixamos como sugestão, Antunes (2014) sugere que alguns
pioneiros da psicologia no Brasil, como Plínio Olinto, Lourenço Filho e Annita
Cabral, não definem uma data de fundação da psicologia brasileira. Entretanto,
todos mencionam a inauguração do laboratório de psicologia do “Pedagogium”,
criado por Bomfim, como um marco para a psicologia brasileira.
Isso implica dizer que a psicologia, com certeza, contribuiu muito com as
discussões referentes à educação, principalmente sobre a aprendizagem e o
desenvolvimento. Mas é importante salientar que a psicologia no Brasil, como
área de conhecimento, esteve ligada a “uma tradição de controle, categorização
e classificação, apresentando-se como uma profissão e um saber a serviço dos
interesses das elites brasileiras” (ANTUNES, 2014, p. 32).
Do ponto de vista deste subponto, o que interessa destacar são as
contradições de um corpo de conhecimento, que pode ser utilizado para libertar,
para formar ou para oprimir. Para ilustrar esta questão, utilizaremos como
exemplo os instrumentos de medida de inteligência e personalidade criados por
Galton. Você lembra? A explicação de que algumas crianças eram mais capazes
do que outras, devido a fatores hereditários, receberam respaldo dos
instrumentos de medida de inteligência e personalidade criados por Galton e
desenvolvidos por Binet, na França. Aqui no Brasil, esses testes padronizados
tinham como objetivo classificar as crianças que necessitavam de educação
escolar especial em “normais e anormais”.
Esses testes possibilitaram o início de um movimento pioneiro de
assistência a crianças com deficiência, ao qual, mais tarde, engajar-se-ia a
psicóloga e educadora Helena Antipoff, chegada ao Brasil em 1929. Esse
aspecto foi muito importante no desenvolvimento do trabalho com as crianças
com deficiência.
Por outro lado, os mesmos testes aplicados de forma massiva para medir
a inteligência das crianças criaram uma postura segregadora, desconsiderando
as diferenças individuais, como a classe social, a etnia, o gênero, entre outros.
Explicando dessa forma, as dificuldades de aprendizagem principalmente das
crianças negras ou indígenas que viviam na extrema pobreza, como falta de
inteligência. Dessa forma, oferecia-se uma explicação “científica” do porquê os
“mais capazes” ocupavam as melhores posições na sociedade. Os “mais
39
capazes”, em sua maioria, eram pessoas brancas de origem europeia, que
tinham condições socioeconômicas melhores, tendo acesso à cultura, a livros, a
viagens, a alimentação adequada e assim por diante.
Diante do exposto, podemos concluir que a psicologia da educação no
Brasil teve, sem dúvidas, uma grande contribuição no avanço da educação.
Entretanto, no seu surgimento, em muitos momentos, foi utilizada para manter e
reforçar a posição social que a criança ocupava na escola, desconsiderando os
aspectos sociais e culturais, culpabilizando dessa maneira a criança em situação
de pobreza ou de sua família por seu fracasso escolar.
Muitos desses dogmas e inverdades continuam a fazer parte das
representações sociais dos profissionais da educação, daí a importância de você
conhecer e refletir sobre teorias que explicam os processos de desenvolvimento
e de aprendizagem.
Seguindo esta linha de raciocínio, abordaremos no decorrer das seguintes
aulas os dois grandes enfoques que dominaram, sucessivamente, o panorama
da psicologia da educação, desde as primeiras décadas do século passado.
Estes dois enfoques podem ser classificados em: behaviorismo e cognitivismo.
Entendemos que esta é uma disciplina introdutória, por isso é importante
que você conheça essas duas perspectivas clássicas produzidas no campo da
psicologia. Clássico é entendido aqui como “aquilo que se firmou como
fundamental, como essencial. Pode, pois, se constituir em um critério útil para a
seleção dos conteúdos do trabalho pedagógico” (SAVIANI, 2003, p. 13). Para
Saviani, “o clássico é aquilo que resistiu ao tempo, logo sua validade extrapola
o momento em que ele foi proposto” (SAVIANI, 2003, p. 101).
Importante destacar que nenhuma teoria está errada ou totalmente
superada, algumas se complementam, outras se contrapõem, mas todas estão
vinculadas aos seus contextos históricos e sociais. Como autores, nossos
posicionamentos teóricos, muitas vezes, também serão expressos.
Lembre-se de que a sua prática em sala de aula sempre estará
fundamentada em uma ou outra perspectiva ou em várias, mesmo que você as
desconheça. Cada uma delas defende uma concepção de ser humano, de
aprendizagem, de desenvolvimento e assim por diante. Por isso, não existe uma
prática educativa neutra.
40
Conclusão da aula 2
Atividade de Aprendizagem
41
Aula 3 – Teorias de aprendizagem: primórdios do behaviorismo
Apresentação da aula 3
Estamos iniciando um tema que por séculos tem originado muita polêmica
e divisões entre os teóricos. Esse problema é formulado, frequentemente, assim:
é possível por meio da educação formar em uma pessoa certas capacidades ou
qualidades mentais que não tinha anteriormente? Sendo a resposta afirmativa,
como ocorre o processo de aprendizagem?
O primeiro problema que encontramos ao tentarmos responder a esta
pergunta é que não existe uma resposta, mas várias, ainda que nenhuma delas
seja tão conclusiva que nos permita adotá-la, descartando as demais. Sem
dúvidas, esta é uma das maiores queixas feitas pelos profissionais da educação:
que a psicologia oferece demasiadas teorias, às vezes difíceis de entender,
outras difíceis de aplicar na prática educativa, mas, acima de tudo, a psicologia
não explica exatamente como atuar diante de um determinado problema na sala
de aula.
É verdade. A psicologia da educação oferece princípios gerais, sugerindo
a utilização de determinadas estratégias e técnicas de ensino, mas estes
princípios são flexíveis. Cada perspectiva teórica oferece normas fundamentais
que darão a sustentação à prática pedagógica, jamais prescreverão normas
específicas de como atuar em cada situação específica.
Na psicologia da educação diversas teorias têm sido criadas acerca da
aprendizagem, tratando desse tema de maneira muito diferente pelas diferentes
explicações teóricas. A aprendizagem é um processo muito complexo e, ao
mesmo tempo, inclui diferentes tipos de aprendizagem. Os estudantes na sala
de aula não aprendem somente conhecimentos teóricos; aprendem também
valores, hábitos e modos de comportamento, cuja aquisição é explicada de uma
maneira mais clara e efetiva por uma ou outra teoria. Cabe destacar que esses
sujeitos, ao adentrarem o ambiente escolar, já são portadores de uma cultura,
de saberes e de valores próprios do seu contexto social e familiar, que devem
ser considerados no processo educativo.
Todos nós temos, implícita ou explicitamente, uma “teoria” sobre como se
ensina e aprende. Pare e pense um pouco. Como você ensina sua irmã mais
42
nova a atar os sapatos? Como você aprendeu a cozinhar? Como você aprendeu
o nome da capital do seu estado?
No entanto, também podemos constatar que há pessoas que quando
ensinam têm mais êxito do que outras, assim como há indivíduos que nas
mesmas condições aprendem melhor do que outros. Como compreender estas
situações?
Uma análise das diversas teorias da aprendizagem pode nos ajudar a
compreender melhor essa realidade. Conhecer os princípios científicos sobre a
aprendizagem nos possibilitará desenvolver práticas pedagógicas
fundamentadas, refletidas e conscientes.
Como dissemos, a aprendizagem precisa ser entendida desde uma
perspectiva ampla, dentro da qual seja explicitada as principais teorias. O leque
é bastante grande, mas nós nos centraremos em duas abordagens principais: a
psicologia behaviorista, também denominada comportamental e a psicologia
cognitiva. O fato de a psicologia cognitiva ter desbancado a psicologia
comportamental não significa que muitas das explicações behavioristas
perderam totalmente sua validade explicativa.
Nesta aula, o tema central será a aprendizagem, iniciando-se pela
perspectiva da teoria behaviorista. Também abordaremos as implicações desta
teoria para o processo de ensino-aprendizagem, embora esta teoria tenha sido
alvo de muitas críticas, continua servindo de referência teórica para muitas
práticas pedagógicas.
43
Diante do exposto, encontramos duas posturas teórico-epistemológicas
que defendem pontos de vista opostos: o inatismo, que defende que o
conhecimento de um indivíduo já estaria presente desde o seu nascimento e o
empirismo, segundo o qual todo o conhecimento provém unicamente da
experiência.
Sem nos aprofundarmos nessas questões, queremos apenas apontar que
a busca por respostas começou na Antiguidade grega, com os filósofos, mais
especificamente com Platão e Aristóteles.
Mas o Deus que vos modelou, àqueles dentre vós que eram aptos para
governar, misturou-lhes ouro na sua composição, motivo por que são
mais preciosos; aos auxiliares, prata; ferro e bronze aos lavradores e
demais artífices” (PLATÃO, no livro A República).
44
A hipótese subjacente a essa concepção é a de que a criança recém-
nascida está predeterminada pela herança genética: tudo o que ela será já está
determinado, de alguma forma, nos seus genes, na sua bagagem hereditária ou,
ainda, na sua alma ou na sua inteligência. Você lembra de Francis Galton?
Galton defendia que a inteligência e muitas outras características físicas e
mentais dos humanos eram herdadas e baseadas biologicamente. Foi ele quem
criou os primeiros testes para medir o potencial intelectual. Os defensores dos
testes destacavam tradicionalmente a hereditariedade.
Dentro dessa concepção se entende o processo de desenvolvimento e de
aprendizagem como o desabrochar de características internas, genéticas ou
constitutivas. Espera-se que a criança “amadureça naturalmente” ou, pior ainda,
não podemos ter muitas expectativas daquelas crianças que por herança
genética ou cultural não apresentam bom prognóstico, ou seja, que não
nasceram com potencial, por isso os processos educativos podem contribuir
pouco para com elas.
Ainda hoje, lamentavelmente, encontramos docentes que justificam o
baixo rendimento educacional de certos discentes a fatores inatos. Você já deve
ter ouvido o refrão: “filho de peixe, peixinho é” ou “pau que nasce torto morre
torto”.
Por outro lado, a segunda abordagem entende que a mente é uma “tábula
rasa” sobre a qual se escreve a experiência. Quem não conhece a famosa frase
do filósofo John Locke (1632-1704): a criança é uma “tábula rasa”, uma folha em
branco e sobre essa folha vão sendo impressas suas experiências sensório-
motoras. Ele acreditava que as crianças não sabem nada quando nascem e que
todas as ideias que os seres humanos desenvolvem vêm da experiência. Para
os defensores do meio, a criança não é mais do que um pedaço de barro que
pode ser moldada e trabalhada pelas mãos de um mestre artesão, ou seja, o
meio, de modo a ficar na forma que se pretenda.
Nos séculos XVI e XVII essa perspectiva ganha força com filósofos como
Francis Bacon (1561-1626), Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632-
1704). No entanto, sua origem remete ao filósofo Aristóteles (384-322 a.C.).
45
➢ Empirismo: Aristóteles (384-322 a.C.)
Reflita
Imagine uma criança que é muito boa em matemática. Essa é uma habilidade
inerente que ela possui? Ou ela teve mais acesso a jogos lógicos, a brincadeiras
que envolvem a quantificação e seriação? Ela herdou de seus pais essa
capacidade ou desenvolveu porque estudou em escolas que desenvolvem
atividades de raciocíno lógico-matemático?
46
as possibilidades de compreensão da sociedade humana, uma vez que cultura
e natureza formam um híbrido, trabalhando uma sobre a outra, não como causa
e efeito, mas de um modo mais recíproco, sistêmico e complexo” (PROUT, 2013,
p. 21). Para este autor, a superação do dualismo natureza-cultura só será
alcançada por meio do diálogo interdisciplinar. Retomaremos este debate em
aulas posteriores.
A seguir, apresentaremos algumas definições propostas para a
aprendizagem, contudo adiantamos que não é possível eleger uma, que é
suficientemente satisfatória, capaz de encontrar apoio de todos os
pesquisadores. Se você fizer uma leitura atenta, poderá perceber nas definições
apresentadas que cada uma delas privilegia mais aspectos internos (teorias
cognitivistas) ou aspectos aprendidos (teorias behavioristas/comportamentais).
Estímulos
Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSwQ2BY1eHSfyllbaK
vS4KWB1ykkQShD0bFwKiTjcX2B7PWCOx4egFeUvt9V-B7_SPctB8&usqp=CAU
47
➢ Kimble (1961): aprendizagem é uma mudança relativamente
permanente do comportamento, que ocorre como resultado da
experiência;
➢ Gagné (1974): aprendizagem é uma mudança de estado interior que
se manifesta por meio da mudança de comportamento e na
persistência dessa mudança;
➢ Good e Brophy (1990): aprendizagem é como a aquisição ou
reorganização das estruturas cognitivas pelas quais as pessoas
processam e armazenam informações;
➢ Campos (1986, p.30): “a aprendizagem pode ser definida como uma
modificação sistemática do comportamento, por efeito da prática ou da
experiência, com um sentido de progressiva adaptação ou
ajustamento”.
48
permite ao sujeito responder adequadamente a uma situação concreta;
esta mudança pode estar relacionada à capacidade que se tem para fazer
algo ou uma modificação das atitudes, interesses e valores.
➢ A aprendizagem se adquire por meio da experiência, visto que nem todas
as mudanças que ocorrem conosco podem ser definidas como
aprendizagem, somente aquelas adquiridas, por exemplo, por meio da
prática ou da observação dos outros. Isso implica saber que existem
algumas mudanças que não podem ser consideradas como
aprendizagem, tais como: as mudanças que ocorrem em função do
desenvolvimento físico como o crescimento, o peso, entre outros; ou as
mudanças que ocorrem em função da maturação biológica, ou seja, as
modificações que são uma consequência do crescimento ou
desenvolvimento normal das estruturas internas do sujeito.
Provavelmente, você deve estar se perguntando: andar, falar ou controlar
os esfíncteres dependem da aprendizagem realizada pelo sujeito ou da
maturação biológica? Resposta difícil. A diferença entre o
amadurecimento e o aprendizado nem sempre é muito clara na
psicologia. Muitos psicólogos defendem que somos geneticamente
predispostos a agir de determinada maneira, mas o desenvolvimento de
comportamentos específicos depende do ambiente. Em outras palavras,
existe uma influência recíproca entre a maturação biológica e a
aprendizagem. Para ilustrar a questão, imaginemos um bebê que já tem
condições biológicas de falar, será que falaria se nunca tivesse ouvido
ninguém falar ao seu redor? Possivelmente não. Mesmo que para falar
seja necessário certa maturidade biológica, também é resultado direto das
práticas culturais realizadas. Retomaremos este debate nas aulas
posteriores. Outros tipos de mudança que também não se podem
considerar aprendizagem são as mudanças relacionadas à fadiga ou às
drogas. Isso exclui mudanças temporárias no comportamento (por
exemplo, fala arrastada) causadas por fatores como drogas, álcool e
fadiga. Esses tipos de mudanças são temporários, porque revertem assim
que eliminamos o fator que as causa.
➢ Outro aspecto que caracteriza a aprendizagem é que deve ser
relativamente permanente, possível de ser transferível para outras
49
situações. As mudanças não podem ser momentâneas ou pouco
duradouras. Só podemos considerar que houve aprendizagem se a
mudança se mantém durante um longo período em nossas vidas. Esta
aprendizagem duradoura pode ser transferida para a aquisição de novas
aprendizagens.
50
Em 1919, o professor e pesquisador John Watson e sua estudante de pós-
graduação, Rosalie Rayner, decidiram realizar um experimento com um bebê,
conhecido como o pequeno Albert, para comprovar sua teoria. Veja o vídeo
indicado a seguir.
Mídias
51
Albert aprendeu a associar o rato ao forte ruído e, segundo Watson,
aprendeu a ter medo do rato. Mais tarde, o bebê Albert começou a apresentar
medo, por meio de um processo denominado generalização de estímulos, de
qualquer estímulo que lhe fizesse lembrar um rato.
Reflita
Vocabulário
52
Por isso, essa perspectiva teórica é conhecida como
comportamentalismo, análise experimental do comportamento, análise do
comportamento, entre outros. A principal referência intelectual de Watson foi
Ivan Petrovitch Pavlov (1849 -1936). A seguir vamos conhecer um pouco da vida
deste grande pesquisador russo.
Curiosidade
Mídias
53
conseguiu perceber a seguinte sequência no vídeo: a) primeiro, Pavlov
apresentou o estímulo condicionado: o som de uma campainha; b)
imediatamente depois, ele exibiu o estímulo incondicionado: a comida; c) após
certo número de pareamentos do som da campainha e da comida, o animal
passou a salivar ao som da companhia.
Neste caso, formou-se uma associação ou uma ligação entre o som da
campainha e a comida e o animal foi condicionado a responder mediante a
apresentação do estímulo condicionado. Este tipo de aprendizagem do
behaviorismo é conhecido como condicionamento clássico. Observe a
sequência na imagem abaixo.
54
A campainha é um estímulo condicionado (EC): é o estímulo,
originalmente neutro, que antes do condicionamento não provocava resposta.
No experimento de Pavlov, o som da campainha é o estímulo condicionado.
Antes do experimento, o som da campainha não produzia uma resposta de
salivação, era um estímulo neutro. Somente mediante o pareamento dos
estímulos incondicionado (EI) e condicionado (EC) efetuado ao longo de um
período, tornou-se possível a salivação.
Importante
55
Importante
Para ilustrar o assunto, vamos assumir que, de início, uma determinada matéria,
como matemática, seja um estímulo neutro, ou seja, não acarreta nenhuma
reação emocional positiva ou negativa na maioria dos estudantes. Segue-se a
isso o que sabemos sobre o condicionamento clássico, isto é, que estímulos não
neutros que são repetidamente apresentados quando o estudante fica exposto
à matemática podem servir como estímulos incondicionados. Esses estímulos
incondicionados poderiam estar associados a reações positivas (um professor
sorridente e camarada, uma mesa confortável e um ambiente acolhedor) ou
poderiam estar associados a reações negativas (um professor severo e exigente,
cuja voz é desagradável, áspera; uma mesa desconfortável, fria ou um ambiente
não amistoso). Depois de um tempo, a matemática pode se tornar um estímulo
condicionado associado a reações positivas ou negativas, dependendo do
estímulo incondicionado com o qual é repetidamente associada. Assim, é
perfeitamente possível ensinar matemática enquanto se ensina os estudantes,
por meio do condicionamento clássico, a gostarem ou desgostarem da
matemática (LEFRANÇOIS, 2009, p. 44).
56
À Thorndike é atribuído o mérito de ter estabelecido as bases do
condicionamento operante, tema que abordaremos na aula seguinte.
Para Thorndike a aprendizagem é uma série de conexões ou vínculos
estímulo-resposta (E-R). A sua teoria da aprendizagem descreve o modo como
estas conexões podem ser fortalecidas (recompensa) ou enfraquecidas
(punição). Essa lei é conhecida como a “Lei do Efeito”. Esse pesquisador realizou
vários experimentos com animais, o mais peculiar foi o que ele fez com um gato.
Conhecido como a caixa-problema de Thorndike.
Pois, bem. Está curioso para saber o que é a caixa-problema? Assista ao
vídeo.
Mídias
Caixa-problema de Thorndike
Fonte: Google, 2021
57
A experiência que você acabou de assistir no vídeo é uma das muitas
caixa-problema criadas pelo pesquisador. Neste experimento Thorndike colocou
um gato faminto na caixa deixando a comida do lado de fora da caixa, como um
prêmio se ele conseguisse escapar. Para escapar, o gato tinha que puxar uma
alavanca ou uma corrente e às vezes repetir muito a manobra para afrouxar o
trinco e conseguir abrir a porta.
Qual foi a conclusão de Thorndike? Como você viu, no início, o gato fez
algumas tentativas aleatórias, como farejar e arranhar com as patas, tentando
alcançar a comida; por fim, por tentativa e erro, acabou executando o
comportamento certo, destrancando. Posteriormente, o gato passou a
demonstrar o comportamento apropriado assim que era colocado na caixa. Para
este pesquisador, nós aprendemos da mesma maneira: “esses fenômenos
simples, semimecânico [...] que a aprendizagem animal nos mostra, também
fundamentam a aprendizagem humana” (THORNDIKE, 1913b, p. 16).
A partir dos resultados desse experimento, Thorndike criou três leis
fundamentais de aprendizagem, destacaremos a lei da aprendizagem, a mais
conhecida e considerada a mais importante: a “Lei do Efeito”, conhecida por
aprendizagem por tentativa e erro.
O que diz esta lei? Aquelas ações que têm resultados agradáveis para o
animal tendem a se repetir, enquanto as que têm resultados desagradáveis,
tendem a desaparecer.
Essa ideia influenciou muito a educação. Mesmo que ao final de sua vida,
revendo seu trabalho, ele chega a novas conclusões, de que a recompensa
fortalece muito mais as aprendizagens do que a punição as enfraquece.
58
Reflita
Conclusão da aula 3
59
A Lei do Efeito de Thorndike é sua principal contribuição para o campo da
aprendizagem, muitos estudos posteriores fundamentaram seus estudos e
pesquisas na Lei do Efeito.
A modo de conclusão se pode dizer que nas teorias de aprendizagem
behavioristas podemos dar duas explicações diferentes para a aprendizagem: a
contiguidade ou o reforçamento. Uma associação é formada entre dois
estímulos, porque eles se apresentam em contiguidade (simultaneamente ou
bem próximos), enquanto o reforçamento defende que a aprendizagem ocorre
devido às consequências do comportamento.
Atividade de Aprendizagem
Apresentação da aula 4
Reflita
61
Skinner em seu laboratório
Fonte: Google, 2022.
62
Ele tinha uma visão determinista da natureza humana, ou seja, somos
controlados por forças ambientais, não agimos movidos por causas internas e
espontâneas. Para Skinner, nós não somos passivos porque interagimos com o
mundo e somos constantemente mudados pelo ambiente.
Saiba mais
Se você quiser saber mais sobre a vida de Skinner e sua obra, recomendamos
este vídeo. Link: Skinner - Coleção Grandes Educadores - Completo - Bing vídeo
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0Hn9dN1_W4U
➢ Comportamento operante
63
manifestação do organismo, portanto, existem comportamentos que não são
visíveis, por exemplo: pensar, respirar, entre outros.
Pode-se dizer que um dos conceitos mais importantes de sua teoria é o
comportamento operante. A melhor maneira de compreender o comportamento
operante é examinar a situação experimental utilizada durante anos por Skinner.
Mídias
➢ Reforçamento
64
apresentado, aumenta a frequência do comportamento ao qual é contingente”
(SKINNER, 2007, p. 81, apud SILVA; AGUIAR).
Vocabulário
65
O comportamento (B) produz consequências (C) e essas consequências
determinam a probabilidade da ocorrência (frequência) desse comportamento
em situações futuras. Em outras palavras, a chave do condicionamento operante
é o reforçamento da resposta, ou seja, a pessoa faz algo que é reforçado pelo
ambiente. O que aumenta as chances de a mesma resposta ser emitida no futuro
em um contexto semelhante.
Mas não é reforçamento que causa o comportamento, aquele aumenta as
possibilidades de que este se repita no futuro. Importante destacar que no
condicionamento operante não se pode forçar a ocorrência da resposta, tem que
esperar que ela aconteça. Skinner demonstrou que o condicionamento pode ter
lugar quando se permite que as respostas ocorram e a seguir se apresentam
estímulos reforçadores. Por exemplo: a professora inicia a aula com uma
pergunta sobre uma questão trabalhada na aula passada e aguarda as possíveis
respostas. A resposta precisa surgir de maneira espontânea, a professora não
deve forçar os estudantes para que respondam. Se houver uma resposta correta,
a professora elogia o estudante que a emitiu e agradece a participação.
Para um condicionamento ótimo, o reforço deve seguir imediatamente a
resposta. Este é um importante princípio de Skinner. Skinner considera que, na
sala de aula, o aluno deve ser reforçado assim que a resposta apropriada seja
emitida. Para Skinner o que importa é a resposta, não considerando o que
acontece dentro do organismo.
Você deve estar se perguntando: como aprendemos, se nem tudo o que
fazemos recebemos um reforço imediato? Skinner (1953) respondeu a essa
pergunta com o método de aproximação sucessiva ou modelagem.
Vamos pensar em uma sala de aula na própria alfabetização, por
exemplo, que é adquirida por meio do processo de modelagem. Imaginemos
uma criança que ainda não reconhece as letras do alfabeto e, em cada tentativa
da criança de nomear a letra, a professora reforça com olhares afetuosos e uma
palavra carinhosa. Depois de um tempo, a professora recompensa essas
tentativas de modos diferentes, oferecendo recompensas mais fortes para
quando ela consegue juntar as sílabas. À medida que o processo continua, o
reforço se torna mais restrito, dado somente quando a criança consegue ler uma
palavra corretamente. A aprendizagem da leitura pela criança é moldada ao se
oferecer reforço diferenciado por fase.
66
A seguir, veja um outro aspecto muito importante da teoria de Skinner.
Quando um comportamento aumenta, diz-se que ele foi reforçado; quando o
comportamento diminui, diz-se que o comportamento foi punido. Para ilustrar
a questão apresentaremos quatro exemplos:
Importante
Importante
67
Às vezes, punições envolvem eliminar coisas boas, por exemplo: tirar o
celular, não deixar ver a TV ou administrar coisas desagradáveis como uma
repreensão ou um grito. “O que é confuso em relação a essas consequências é
que elas nem sempre fazem o que se pretende: elas nem sempre suprimem o
comportamento indesejado” (BEE; BOYD, 2011, p. 41).
Importante
68
o poder e autoridade, mas, com o tempo o estudante descobre outros
meios de fugir. Ele chega atrasado ou falta, não presta atenção
(retirando assim reforçadores do professor), devaneia ou fica se
mexendo, esquece o que aprendeu, pode tornar-se agressivo e recusar
a obedecer, pode abandonar os estudos quando adquire o direito legal
de fazê-lo” (SKINNER, 1972, p. 43-44).
69
estudantes apenas para compensar as falhas. Isso é desconfortável e chama a
atenção para a incapacidade do estudante de obter um reconhecimento genuíno.
Não aplique "um final ruim", ou seja, evite fazer uma crítica no final, por exemplo:
“você fez um bom trabalho terminando sua lição de casa esta semana. Por que
você não pode fazer isso toda semana?” (KAZDIN, 2008).
➢ Máquinas de ensino
70
De maneira resumida, as críticas de Skinner à educação tradicional
centraram-se em quatro pontos. Em primeiro lugar, que na sala de aula o
comportamento estava controlado, geralmente por estímulos aversivos, isto é,
os professores, em sua opinião, utilizavam mais o castigo que as recompensas.
As crianças trabalhavam para evitar consequências desagradáveis, tais como:
críticas do professor, notas baixas, fazer papel de ridículo diante dos amigos,
entre outros.
Em segundo lugar, quando se utilizavam as recompensas, o tempo que
transcorria entre a resposta e o reforçamento era excessivamente longo, ou seja,
os estudantes obtinham as recompensas com uma considerável demora em
relação ao momento em que se produziu a resposta desejada.
Em terceiro lugar, ausência de reforçamento em série. De acordo com
Skinner, os programas de educação não estavam organizados de maneira
sistemática, permitindo aos estudantes avançar passo a passo, por meio de uma
série de aproximações sucessivas, com os reforçamentos correspondentes até
chegar ao comportamento final desejado.
Por último e o mais importante de todos, era a pouca frequência de
reforçamento. A quantidade total de recompensas administradas aos estudantes
no transcurso de uma jornada escolar era extremamente baixa, pois não era
possível que o professor proporcionasse reforçadores adequados e, com
frequência, a todos os estudantes, visto que o número era excessivo.
A solução que propôs Skinner foi o ensino programado, que consiste em
um procedimento em que a cada aluno, de maneira individualizada, apresente-
se uma informação ou um conteúdo de aprendizagem breve. O estudante, após
a leitura, deve responder a uma pergunta e, imediatamente, recebe a informação
(reforçamento) acerca da correção de sua resposta.
Para resolver estes problemas, a solução que propôs Skinner não foi a de
construir novas escolas ou de aumentar o quadro de profissionais da educação,
mas o de organizar procedimentos de aprendizagem que permitissem organizar
os conteúdos de aprendizagem de maneira que o estudante pudesse avançar
progressivamente e a seu próprio ritmo em direção ao objetivo final de
aprendizagem e que ao mesmo tempo recebesse informação (reforçamento)
acerca das correções de suas respostas.
71
Foi assim que surgiram as máquinas de ensino e o ensino programado,
que é uma das contribuições mais importantes e duradouras de Skinner. O
pesquisador sugeriu também a definição e delimitação de objetivos
educacionais, o ensino personalizado e a modificação do comportamento.
A Máquina de Ensino é um instrumento para a apresentação de material
programado. Consiste em um dispositivo que em uma tela ou janela apresenta-
se sequencial e gradualmente aos estudantes uma série de perguntas ou
problemas que foram introduzidos em um tambor. Cada pergunta ou problema
inclui quatro respostas alternativas, das quais o aluno tem que escolher a correta.
Uma vez que a resposta era dada, se a resposta estivesse correta, um som de
sino ou outro tipo de recompensa era imediatamente produzido, enquanto o
tambor era liberado para passar para a próxima pergunta ou problema.
Máquinas de ensino
Fonte: Google, 2022
72
Para Skinner, o uso de tecnologias no ensino facilitaria o trabalho do
professor, dando a ele tempo para se interessar por seus alunos e aconselhá-
los ou orientá-los.
Saiba mais
Caso queira saber mais em que consiste a instrução programada, acesse o livro
Tecnologia do Ensino, escrito por Skinner e publicado aqui no Brasil na década
de 1960. Neste livro o autor vai apresentar a ciência da aprendizagem e a arte
de ensinar. Livro interessante e polêmico!!!
Link: https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvb
WFpbnxwc2ljb2xvZ2lhYmVoYXZpb3Jpc3RhfGd4OjQ2OTQ3MTM1ZDU4MTNh
MjI
73
Conclusão da aula 4
Atividade de Aprendizagem
Apresentação da aula 5
74
Perry: “quem sabe o que uma criança pensa?” Arrisco dizer que Jean Piaget
sabia disso melhor do que ninguém.
Vocabulário
75
conhecimento é fruto das trocas entre o organismo e o meio. Sua teoria é
cognitiva, pois
Alfred Binet
Fonte: google, 2021
76
padronizados e adotou o método clínico em suas investigações, que consistia
em buscar as justificativas que as crianças davam para as suas ações.
Piaget e seus colaboradores perceberam que as crianças formulavam
perguntas, além disso, propunham hipóteses na tentativa de explicar a realidade.
As crianças buscavam regras que lhes ajudassem a entender o funcionamento
das coisas e dos acontecimentos que fazia parte de suas vidas. Segundo Piaget,
os meninos e meninas insistiam em manter suas hipóteses e, em muitos casos,
eram contrárias àquilo que os adultos consideravam evidente.
Piaget notou que a presença de um conflito cognitivo levava as crianças
a modificar suas hipóteses e, em muitos casos, a contradição era tão grande que
ficava evidente a necessidade de modificar o que elas haviam sustentado
anteriormente. Para o autor, as crianças eram como os cientistas, porque
tentavam compreender e explicar a realidade a partir de seus marcos de
referência.
77
como funciona o mundo é muito diferente da ideia que têm os adultos. Essa
constatação o levou a concluir que as crianças pensam de maneira diferente dos
adultos, como também que as de distintas idades pensam de modo diferente.
Essa ideia foi capaz de fazer avançar os conhecimentos sobre a cognição
humana, ao mesmo tempo em que criava uma forma de refletir sobre o potencial
infantil. Piaget propõe a superação do dualismo entre as posições inatistas e
empiristas existente na época, partindo da ideia de uma relação recíproca entre
o sujeito e o meio. Para Piaget, o conhecimento é fruto das trocas entre o
organismo e o meio.
Piaget concluiu que o conhecimento é um processo que evolui
progressivamente. A partir daí, passou a investigar as origens e os mecanismos
presentes nos avanços do conhecimento em diferentes etapas. Piaget criou uma
teoria do conhecimento: a “Epistemologia Genética”, que busca por meio do
método científico compreender como surge e se desenvolve o conhecimento.
Vocabulário
78
As teorias cognitivo-desenvolvimentais, como a de Piaget, enfatizam
mais o desenvolvimento cognitivo do que a personalidade, dando centralidade
às ações da criança no ambiente e seu processamento cognitivo das
experiências. São teorias desenvolvimentais porque destacam a mudança
qualitativa sequencial, frequentemente em estágios que ocorre com a idade.
A partir das descobertas de Piaget, a história do desenvolvimento
cognitivo tomou outro rumo. Seu posicionamento lhe possibilitou romper com as
perspectivas existentes sobre a inteligência, passando a considerá-la como algo
dinâmico, que se desenvolve, que não está definida no nascimento e por isso
mesmo depende dos desafios e das vivências inerentes ao meio social onde a
pessoa está inserida. Piaget destaca o papel da criança na dinamização do seu
próprio desenvolvimento, fazendo um grande esforço na ânsia de superar os
reducionismos e dicotomias seculares na explicação do individual e do social.
Porém, antes de passarmos adiante, vamos conhecer um pouco mais da
história desse grande cientista, considerado um dos nomes mais influentes no
campo da educação, a ponto de quase se tornar sinônimo de pedagogia,
conhecido como o psicólogo da infância.
Jean Piaget nasceu em 9 de agosto de 1896, em Neuchâtel (Suíça), no
interior de uma família rica e culta. Sua curiosidade o levou a se interessar por
mecânica, pássaros, fósseis e conchas, aos dez anos publicou seu primeiro
trabalho em uma revista de história natural de sua cidade natal. Estudou
incialmente biologia na Universidade de Neuchâtel, em que concluiu o
seu doutorado e, posteriormente, dedicou-se à área da Psicologia,
Epistemologia e Educação.
Durante sua vida, Piaget escreveu mais de sessenta livros e em torno de
700 artigos. Piaget teve três filhas, que tiveram um papel importante no
desenvolvimento de sua teoria. A relevância e o significado da obra de Piaget
são incontestáveis, ele entrou para a história como um gênio, como um
revolucionário e como um trabalhador incansável. Recebeu inúmeros prêmios e
o seu legado não pertence somente à psicologia, mas à outras ciências como a
epistemologia e a pedagogia. É mundialmente conhecido por seu trabalho sobre
a inteligência e o desenvolvimento infantil, sendo base para inúmeros estudos
em psicologia e pedagogia até os dias atuais. A pegada piagetiana é profunda,
79
talvez indelével (BERMEJO FERNÁNDEZ, 1996). Caso você tenha interesse
em aprofundar-se na teoria piagetiana, consulte os títulos originais.
Saiba mais
Deixamos o título de dois livros que julgamos que podem contribuir para quem
está iniciando os estudos piagetianos: Seis estudos de psicologia, composto de
artigos e conferências, propõe-se a ser uma introdução à obra de Piaget, trata-
se de obra indispensável para professores, psicólogos, pedagogos e demais
profissionais da área de educação. No livro Psicologia e pedagogia, ele
apresenta tudo o que julgamos saber sobre a inteligência, sua origem, gênese e
fases diferentes do desenvolvimento, é o resultado de quarenta anos de
pesquisas.
Para Piaget,
80
desenvolvimento cognitivo é a adaptação e o conhecimento é fruto das trocas
entre o organismo e o meio. Essas trocas são responsáveis pela construção da
nossa própria capacidade de conhecer. A construção do conhecimento ocorre
quando acontecem ações físicas ou mentais sobre objetos que, provocando
desequilíbrio, resultam em assimilação ou acomodação e, assim, em construção
de esquemas ou conhecimento.
Piaget acredita que o que caracteriza o conhecimento é sua "novidade",
o fato de sempre envolver uma elaboração de novas estruturas a partir das
estruturas anteriores. O que ele quer dizer, de fato, é que as estruturas do
conhecimento não são pré-formadas internamente nem são uma cópia do
exterior. Piaget estende e aplica o modelo biológico do crescimento do
organismo vivo, proposto por Darwin, ao problema psicológico do
desenvolvimento da inteligência. Esta é uma forma superior de adaptação ao
meio ambiente.
Piaget define a inteligência como função e como estrutura. Enquanto
função ela deve ser entendida como adaptação (plano externo), ocorre quando
na interação do indivíduo com o ambiente, o organismo sofre mudanças
benéficas (sobrevivência). Nesse sentido, a inteligência tem a finalidade da
sobrevivência do indivíduo no meio em que está inserido.
No que tange à descrição do ponto de vista estrutural a inteligência é uma
organização e essas mudanças são integradas por meio da reestruturação
interna do sistema como um todo. Como a inteligência é uma organização,
“crescer é uma forma de reorganizar a própria inteligência de forma a ter maiores
possibilidades de assimilação” (PÁDUA, 2009, p. 22).
Os processos responsáveis pelas mudanças na estrutura cognitiva são,
segundo Piaget, assimilação, acomodação e equilibração. O primeiro
processo de interação adaptativa entre o organismo e o ambiente e entre o
sujeito e o objeto do conhecimento é a assimilação. Para Piaget (1996, p.47) "a
assimilação constitui um processo comum à vida orgânica e à atividade mental,
portanto, uma noção comum à fisiologia e à psicologia". Como o autor retira da
biologia este conceito, ele o utiliza no mesmo sentido: assimilar é retirar partes
do alimento para transformar em energia. Seria o processo pelo qual o indivíduo
se adapta cognitivamente ao ambiente e o organiza.
81
Quando nos referimos aos processos cognitivos, significa que quando
entramos em contato com o objeto do conhecimento, retiramos algumas
informações e retemos. A assimilação ocorre quando o sujeito tenta interpretar
e incorporar as informações do meio a partir dos esquemas já disponíveis.
Portanto, isso implica necessariamente em assimilar algumas informações e
deixar outras de lado. A assimilação é acompanhada por outro processo que
opera na direção oposta, a acomodação das estruturas anteriores.
Para Piaget, quando não conseguimos assimilar as informações podem
ocorrer dois processos: a mente desiste ou se modifica. Caso se modifique,
ocorre, então, a acomodação, levando a construção de novos esquemas de
assimilação e resultando no processo de desenvolvimento cognitivo, ou seja, em
cada troca com o objeto do conhecimento a assimilação é acompanhada por
outro processo que age na direção oposta: a acomodação das estruturas
anteriores aos novos elementos e às mudanças específicas que ocorrem nas
características de cada estímulo.
Piaget descreveu e explicou essas transformações pelo processo de
acomodação. Qualquer modificação das estruturas internas de acordo com as
variações nas condições externas, supõe acomodação. Trata-se de ajustar os
esquemas para torná-los consistentes com as novas experiências. Unindo os
processos indissociáveis e antagônicos de assimilação e acomodação, pode-se
concluir que conhecer um objeto é assimilá-lo, mas como este objeto oferece
certas resistências ao conhecimento é necessário que a organização mental se
modifique.
O processo de adaptação tanto biológico quanto cognitivo envolve
interação ou transação entre os componentes da assimilação e acomodação,
entre os quais deve haver algum equilíbrio. Em nossa interação com o meio,
somos submetidos a desequilíbrios (ou conflitos cognitivos) que tendem a
compensar nossas ações. E é a esse processo de busca do equilíbrio dessas
modificações que Piaget denominou equilibração.
Veja a imagem.
82
Fonte: elaborado pela autora (2022).
83
velhas têm esquemas que incluem estratégias e planos para resolver problemas.
Os esquemas cognitivos dos adultos são derivados dos esquemas sensório-
motores da criança.
Por outro lado, os esquemas não são estáticos, mas, à medida que a
pessoa avança em seu desenvolvimento, eles são modificados por assimilação
e acomodação, eles são expandidos e coordenam para dar origem ao
desenvolvimento de novos esquemas mais organizados e complexos. Nós
organizamos as novas informações que recebemos para acomodá-las aos
nossos esquemas mentais do momento. Se a nova informação divergir de
nossos esquemas mentais atuais, ajustamo-los para acomodarem a informação
nova.
Essas estruturas permitem falar de diferentes níveis ou estágios. De
acordo com Piaget (1979), os mecanismos que condicionam o desenvolvimento
cognitivo e a passagem por diferentes estágios serão determinados pela
maturação das estruturas físicas herdadas, pelas experiências físicas com o
ambiente, pela transmissão social de informação e pela busca contínua de
equilíbrio, que se dará por meio dos processos de assimilação e acomodação.
Dependendo, o autor vai dividir com maior ou menor precisão os
diferentes estágios e subestágios de desenvonvimento cognitivo. Optamos por
apresentar a divisão em quatro estágios.
84
Estágio sensório-motor
Fonte: google, 2022.
➢ Noção de objeto;
85
forma, constrói a noção de objeto permanente. Dito de outra forma: o termo
permanência do objeto, para Piaget, é usado para descrever a capacidade da
criança de saber que os objetos continuam a existir, mesmo que estejam fora do
seu campo visual. Quem nunca brincou de “sumiu-achou” com um bebê? Os
bebês adoram se esconder atrás de uma manta ou das próprias mãos e depois
revelar os próprios rostos ou que alguém faça isso. O bebê nasce equipado com
uma série de movimentos de reflexos e sistemas perceptuais, que,
gradualmente, começa a construir conhecimento sobre o mundo ao relacionar
ações físicas ao resultado dessas ações.
➢ Noção de causalidade;
86
sensório-motores, até então restritos a uma inteligência prática, começam a
organizar-se em um plano representativo.
Estágio pré-operatório
Fonte: google, 2022
87
tipo de raciocínio que Piaget denominou como transdutivo, invés de indutivo ou
dedutivo.
Em um raciocínio transdutivo a criança tem dificuldade em relacionar o
todo com as partes, considerando simultaneamente as consequências das
transformações causadas pela sua ação. Por exemplo, se você aceita a
generalização de que todos os seres humanos têm cabeça e se lhe dizem que o
Pedrinho é humano, você pode deduzir que ele tem cabeça. Esse raciocínio
pode resultar em conclusões corretas, mas não há garantia de que isso ocorra.
Entretanto, ausência de reversibilidade não significa insucesso, já que a
criança consegue chegar a conclusões verdadeiras quando se centra em
esquemas práticos que podem ser generalizados a partir das ações executadas
sobre objetos. O mesmo já não acontece quando tem de emitir um julgamento
ligando dois fatos isolados e particulares relacionando um como sendo a causa
do outro. Assista ao vídeo, ele consegue explicar melhor quando se pede a uma
criança pré-operatória para responder à tarefa piagetiana.
Mídias
Piaget - Conservação de quantidades - Bing vídeo. Disponível no link:
https://www.youtube.com/watch?v=qyNGFOpRSE4
88
Estágio que ocorre entre os 7 e os 11 anos, aproximadamente. A criança
tem acesso à noção de reversibilidade, o que lhe possibilita realizar operações,
ou seja, ações internalizadas, reversíveis e coordenadas, porém somente no
nível do real, do concreto e do manipulável.
A grande conquista, nesse estágio, é a reversibilidade operatória, isto é,
a compreensão de que as operações consistem em transformações reversíveis,
podendo se constituir na forma. No entanto, o professor deverá ter o cuidado de
não privilegiar somente aulas expositivas, pois esta é uma habilidade que a
criança desse estágio ainda não domina, ela necessita operar sobre o concreto.
89
Diante do que foi exposto, é necessário que os profissionais da educação
proponham atividades desafiadoras que provoquem desequilíbrios e
reequilibrações sucessivas nas crianças e jovens. É fundamental que dentro da
perspectiva construtivista adotada por Piaget, o professor parta do saber do
cotidiano do estudante provocando o surgimento de hipóteses e criando conflitos
cognitivos para desenvolvimento do conceito desejado.
Portanto, é de fundamental importância dentro dessa perspectiva que o
professor crie situações compatíveis com o nível de desenvolvimento cognitivo
do estudante (de acordo com o estágio de desenvolvimento em que se encontra),
privilegiando atividades desafiadoras, em que os estudantes possam participar
de maneira ativa (MOREIRA, 1995).
Conclusão da aula 5
90
É certo que algumas habilidades cognitivas surgem muito antes do que
Piaget pensava e outras muito mais tarde. Por exemplo, que existe uma noção
de conservação do número a partir dos três anos de idade, embora Piaget não
pensasse que surgisse antes dos sete anos. Ou que a cultura e a educação
exercem influências muito mais fortes no desenvolvimento infantil do que o que
Piaget acreditava. Por exemplo, a idade em que as crianças desenvolvem a
noção de conservação está relacionada com as oportunidades que a criança
teve de vivenciar situações de aprendizagem (COLE, 2006).
Mesmo diante dessas lacunas, a teoria piagetiana é uma das mais
robustas e que mais influenciou a educação nas últimas décadas. Como
afirmamos nas aulas anteriores, a ciência é viva e precisa de revisão constante,
mas essa construção ocorre por meio da revisão das teorias clássicas. A teoria
piagetiana é uma teoria clássica que precisa ser estudada e compreendida por
qualquer estudante de licenciatura.
Na próxima aula estudaremos a memória, entendendo que memória e
aprendizagem são dois processos indissociáveis e que estudar a memória é
outra forma de estudar a aprendizagem.
Atividade de Aprendizagem
Aula 6 – Memória
Apresentação da aula 6
91
Além do papel essencial que a memória tem em nossas vidas, na verdade,
é o elemento indispensável e básico para a realização de qualquer uma das
inúmeras atividades que compõem nosso trabalho diário. Tudo o que fazemos,
mesmo o que achamos que fazemos e depois não fazemos, exige a participação
da nossa memória, inclusive, há autores que afirmam que memória e
aprendizagem são dois processos indissociáveis e que estudar a memória é
outra forma de estudar a aprendizagem.
Portanto, discutiremos o que entendemos por memória e sua implicação
nos processos de ensino-aprendizagem.
Reflita
92
VARGAS, 2010). “O cérebro não calcula respostas e problemas, mas as
recupera da memória" (HAWKINS, 2004 apud RUIZ-VARGAS, 2010, p. 28).
Já discutimos nas aulas passadas que a ciência se adapta às condições e
exigências do contexto sociopolítico. Pautados nesse entendimento, a partir dos
anos 1960, principalmente nos Estados Unidos da América, o paradigma
behaviorista começa a ser deslocado pela perspectiva cognitiva, que recupera a
mente como protagonista da atividade psicológica. O estudante agora é um
sujeito essencialmente ativo, cuja missão é adquirir e reorganizar suas estruturas
cognitivas, que lhes permitirão processar e armazenar informações.
O principal interesse da psicologia cognitiva centra-se nos processos
mentais superiores, deixa-se de lado a pesquisa com animais e dá-se ênfase na
pesquisa com humanos. Entretanto, como já mencionamos anteriormente, não
é correto pensar que a psicologia cognitiva nasceu apenas como uma oposição
à teoria behaviorista. Surgiram alguns trabalhos científicos e disciplinas que
ajudaram sua gestação, por exemplo: a tecnologia da computação, que após a
Segunda Guerra Mundial estabelece uma analogia computador-cérebro, uma
vez que ambos realizam tarefas semelhantes.
A transição de um paradigma para outro começou com o Processamento
da Informação (PI), que adotou a metáfora do computador para estudar e
explicar o funcionamento da mente humana e o processamento da informação.
O computador e a mente são canais de transmissão da informação, desde sua
entrada até sua saída (desde o input até o output), cuja atividade consiste em
uma série de processos: recolhida da informação, processamento,
armazenamento, recuperação e uso dela quando necessitarmos. Todos estes
processos operam de maneira sucessiva e sequencial.
O motivo da teoria do Processamento da Informação adotar a metáfora do
computador para estudar e explicar o funcionamento da mente humana originou-
se na ideia de que a memória é considerada como o aspecto mais importante
no processamento da informação, deixando os demais processos em segundo
plano. “Entende-se que a atenção, a memória e a aprendizagem são
indissociáveis. Estudar a memória é, na verdade, outra forma de estudar a
aprendizagem” (LEFRANÇOIS, 2009, p. 303).
93
Processamento da Informação
Fonte: Google, 2022
Saiba mais
94
encontram maior apoio dos cientistas e um número mais expressivo de
pesquisas.
A maioria das pesquisas assumem a metáfora do computador para estudar
e explicar o funcionamento da mente humana e o processamento da informação.
Para esses pesquisadores,
nossa memória não é constituída por um único sistema, que teria que
lidar com todos os tipos de informação, mas por sistemas diferentes,
cada um deles especializado e preparado para o processamento de
um tipo específico de informação (RUIZ-VARGAS, 2010).
Importante
95
sistema de armazenamento que permite manter informações; a capacidade de
evocar e de recordar as informações retidas.
Na figura abaixo apresentaremos um esquema do modelo proposto por
Richard Atkinson e Richard Shiffrin, da Universidade de Stanford, em 1968.
Apesar das críticas recebidas, o modelo Atkinson e Shiffrin continuam a exercer
uma grande influência nos pesquisadores como uma estrutura teórica e de
trabalho muito poderosa, guiando a maior parte da pesquisa da memória desde
sua aparição. Não podemos deixar de mencionar que com avanço da ciência na
última década um campo de pesquisa da memória surgiu com muita força e
aceitação entre os psicólogos e neurocientistas: a neurociência cognitiva.
96
modelo hipotético. Este modelo diz respeito a como estudamos a memória, uma
maneira didática de compreender e explicar. Sua existência e todas as suas
características e funções são algo que deve ser inferido a partir do que as
pessoas fazem nas chamadas tarefas de memória. A memória não trabalha de
maneira fragmentada, é um sistema que opera de maneira integrada.
A seguir consideraremos cada um desses componentes propostos pelo
modelo de Atkinson e Shiffrin com mais detalhes.
➢ Memória Sensorial
97
interessante para você, a sua atenção vai ser captada imediatamente. Por isso,
nunca mencione o nome de alguém, se você não quiser que a pessoa escute o
que for falar, mesmo se ela estiver distante. Esse fenômeno sinaliza que mesmo
as impressões sensoriais às quais não estamos prestando atenção têm um
efeito, ao menos momentâneo, sobre nós.
98
vários sinais na estrada que indicam regras de trânsito, instruções sobre como
chegar ao destino, entre outros.
A permanência das informações neste registro é muito breve, alguns
centésimos de segundo quando as sensações são visuais e cerca de quatro
segundos quando são auditivas. Nesse contexto, os processos de atenção
(processo seletivo e capacidade limitada) e percepção (interpreta informações
sensoriais que lhe dão sentido) são muito importantes.
99
Em relação ao tempo de reter as informações, giram em trono de até 30
segundos, porém, é possível incrementá-lo repetindo a sequência ou
proporcionando um significado aos elementos. Para que as informações sejam
mantidas por um tempo maior, inclusive por um tempo ilimitado, você vai precisar
utilizar alguma estratégia, como a repetição, por exemplo.
Isso ocorre, por exemplo, quando precisamos ligar para um
estabelecimento e encontramos o número na Internet. Conseguimos discar o
número em nosso celular se o repetirmos mentalmente, mas se alguém falar
conosco, o número desaparece de nossa memória e temos que olhar novamente
para a tela do computador. “Se as pessoas não funcionassem dessa maneira, é
provável que suas memórias de longo prazo fossem atulhadas com todo tipo de
informação inútil e a recuperação da memória de longo prazo fosse muito mais
difícil do que é” (LEFRANÇOIS, 2009, p. 314).
A repetição dos números poderia prolongar sua permanência, inclusive,
sua transferência para a memória de longo prazo. A memória de curto prazo é
também conhecida como memória de trabalho, porque é ali que se mantém a
informação que trabalhamos mentalmente quando pensamos em um problema
em um momento determinado. Quando você tenta aprender uma lição do livro,
memorizar uma senha ou se lembrar de algumas linhas de um poema, você está
usando a sua memória de curto prazo.
Concluímos, então, que a memória de curto prazo age como uma porta de
acesso para a memória de longo prazo ou como um depósito que possibilita a
retenção de informações que não precisaremos necessariamente no futuro,
apenas as que precisamos nesse momento. Em geral, a memória de longo prazo
exige a ativação prévia da memória de curto prazo.
100
armazenadas ou memorizadas não é um problema de esquecimento, mas um
problema de recuperação. Experiências cotidianas como encontrarmos com
alguém que conhecemos e não sermos capazes de lembrar seu nome naquele
momento exato, mas um tempo depois conseguimos lembrá-lo
espontaneamente, levaram à suposição de que a informação da memória de
longo prazo nunca é perdida e que o esquecimento, em geral, poderia ser
explicado como uma falha na recuperação de uma determinada informação em
um determinado momento.
Entretanto, outros pesquisadores como Loftus e Loftus (1980) discordam
dessa visão e argumentam que uma informação pode ser perdida quando é
substituída por outra ou quando ocorre uma reorganização com outras
informações.
A memória de longo prazo é subdividida em memória explícita ou
declarativa e em memória implícita ou não declarativa.
A memória explícita ou declarativa é considerada a habilidade de
armazenar e reconhecer conscientemente fatos e eventos. Está relacionada à
capacidade de recordar palavras, cenas, rostos e histórias. As memórias
explícitas podem ser recordadas, expressas em palavras e declaradas
verbalmente.
Ela se divide em dois tipos: a episódica, que se refere ao armazenamento
de fatos, acontecimentos ou experiências pessoais que ocorreram em um
determinado momento e lugar, por exemplo, a primeira vez que você viu o mar
ou quando você conheceu seu/sua namorado/a. O conhecimento episódico é a
memória de ter feito coisas, por exemplo, o de lembrar de como estava vestida
sua amiga no casamento de seu irmão; e a semântica, ao contrário, não se
refere a fatos, mas ao conhecimento de conceitos relacionados à linguagem. É
um conhecimento estável e subjacente à linguagem, princípios e fatos.
Conhecer o significado de uma palavra, por exemplo, o que significa teorias
psicológicas ou conhecer a estrutura de uma frase.
Já a memória implícita ou não declarativa é a capacidade que envolve a
aprendizagem de habilidades motoras ou cognitivas, por meio da exposição
repetida e de maneira implícita, ou seja, não acessível à consciência. Por
exemplo, andar de bicicleta, dançar e caminhar são memórias que não podem
ser recuperadas rapidamente e explicadas em palavras. Mesmo que você saiba
101
andar de bicicleta, por exemplo, você não consegue verbalizar, ou seja, não pode
explicitar.
Na memória sensorial, as sensações duram uma fração de segundos; na
memória de curto prazo duram segundos ou frações de segundos e na memória
de longo prazo consiste em todos os efeitos relativamente permanentes da
experiência.
Na próxima aula conheceremos o papel da motivação no nosso
comportamento, especialmente nos processos de ensino-aprendizagem.
Conclusão da aula 6
Atividade de Aprendizagem
Como conseguimos manter uma conversa com uma única pessoa no meio de
uma sala lotada e ouvir o que ela está dizendo?
102
Aula 7 – Motivação
Apresentação da aula 7
103
porém, se refletirmos sobre elas, talvez possamos concluir que não são
excludentes entre si, mas que todas elas podem ser integradas dentro de uma
concepção ampla da inteligência. “A capacidade global de uma pessoa de agir
com propósito, de pensar racionalmente e de lidar efetivamente com seu meio
ambiente” (WECHESLER, 1994, p. 7).
No entanto, para que um estudante consiga aprender não depende
somente de sua capacidade intelectual, depende dela é claro, porém também
depende de outras variáveis. Se pensarmos em qualquer atividade que
precisamos realizar, a motivação desempenha um papel fundamental na sua
execução. A motivação é uma das palavras mais utilizadas nos mais variados
contextos, contudo, aqui, o nosso foco é o contexto educacional.
Mas, o que entendemos por motivação? Por que as pessoas se
comportam de determinada maneira? Seguramente, você já deve ter ouvido a
expressão “não tenho nenhuma motivação para ler este livro” ou “estou
totalmente desmotivada para assistir à videoaula de psicologia da educação”.
Além da capacidade cognitiva para que você seja capaz de aprender, é
importante algum conhecimento prévio, também é fundamental que você utilize
estratégias de estudo adequadas, mas isso não é suficiente. Para que ocorra a
aprendizagem você precisa estar motivado. Sem motivação não existe
aprendizagem.
A palavra latina movere deu origem ao vocábulo motivação e significa
mover. Daí o sentido de que motivação tem a ver com ação. Um motivo seria
uma força consciente ou inconsciente que incita a pessoa a agir ou, algumas
vezes, a não agir. Dito de outra maneira, a motivação é força que nos impulsiona
e nos orienta a atingirmos um objetivo. Motivação é aquilo que nos move.
Mas, como se ativa esse comportamento? Qual é a explicação que
podemos dar para um comportamento motivado? A motivação é um tema vasto
e complexo que engloba muitas teorias. Atendendo a complexidade do tema,
optamos por fazer uma seleção das principais abordagens, nomeadamente:
behavioristas, humanistas e cognitivistas. Antes de iniciarmos, sugerimos que
você assista ao filme O menino que descobriu o vento, uma grande fonte de
inspiração e motivação.
104
Mídias
Deixamos aqui a sugestão do filme O menino que descobriu o vento, que retrata
da história real do menino Willian Kamkwamba, que vivia com seus pais e irmãos
em Malawi, no continente africano. O filme conta a trajetória do menino, cujo
maior sonho era estudar e poder ajudar sua família e seu povoado diante da
seca que assola a região. O destaque do filme é a motivação de Willian que,
apesar de todos os obstáculos, nunca desistiu de lutar pelos seus sonhos. É,
sobretudo, um filme sobre força e sobre o que nos move na busca de nossas
realizações. A força do menino que descobriu o vento é verdadeira e pura e
ensina grandes lições ao longo de toda a sua projeção.
➢ Explicações behavioristas
105
diferença entre motivação intrínseca e extrínseca, examinaremos mais
detalhadamente estes conceitos.
➢ Explicações humanísticas
➢ Explicações cognitivas
106
na companhia de uma pessoa muito querida, mesmo que tenhamos fome, isso
não vai ser motivo para sairmos correndo atrás de comida.
Dentro das explicações que fundamentam a motivação em processos
cognitivos, existem duas teorias importantes: a de Tolman e a de Festinger.
Tolman (1951) propôs que o comportamento motivado está integrado a três tipos
de variáveis: o motivo, a expectativa e o incentivo. O motivo relaciona-se à
necessidade de algo e de algum objetivo em concreto; a expectativa é a
esperança de poder alcançar e o incentivo é o valor que o objetivo tem para a
pessoa.
Importante apontar a contribuição de Festinger (1957), que fundamenta a
motivação na dissonância cognitiva, ou seja, a alteração mental que se produz
quando duas ideias ou dois conceitos são incompatíveis e entram em conflito. A
dissonância ocorre quando existe uma incoerência entre as atitudes ou
comportamentos, que acreditamos serem certos e o que realmente praticamos.
Curiosidade
Quando uma pessoa possui uma opinião ou um comportamento que não condiz
com o que pensa de si, das suas opiniões ou comportamentos, ocorre uma
dissonância. A pessoa fica angustiada, sente-se desconfortável e pode gerar
muita ansiedade, tudo isso é causado quando existe inconsistência entre o que
se fala, o que se pensa e o que se faz. Esta angústia pode motivar a mudança.
Dissonância cognitiva
Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSbY3HcbczZaqttQLw
0JI-tpe72ojoNxISULU8fnLEpNJXUJaDSOQy9uYMm8vxf9f6cVFM&usqp=CAU
107
nossos fracassos ou sucessos, destacando o esforço como um fator importante
para obter o sucesso. Defende-se a ideia de que podemos controlar o ambiente,
estabelecendo metas, planejando e monitorando o progresso em direção a uma
meta.
Assim, enquanto a perspectiva behaviorista considera que a motivação do
estudante é consequência de incentivos externos, a cognitiva sustenta que se
deve minimizar a importância das pressões externas. De acordo com essa visão,
os estudantes deveriam ter mais oportunidades e responsabilidades para
controlar os resultados de seu desempenho.
Motivação
Fonte: Google 2022.
108
videoaulas, você lê os livros recomendados porque gosta de psicologia. Você
tem uma motivação intrínseca, está intrinsecamente motivado.
Já, por outro lado, a motivação extrínseca é influenciada por fatores externos,
tais como prêmios e punições. Em vez disso, se você ler o material didático e
assistir às videoaulas somente para obter uma nota, evitar punições
(reprovação) ou para agradar o professor tutor ou por qualquer outro motivo que
tenha pouco a ver com a tarefa em si, seu comportamento está sendo guiado
pela motivação extrínseca. Não está realmente interessado na atividade; só
importa a aprovação na disciplina para obter o diploma.
Importante
109
incentivar a motivação intrínseca estimulando a curiosidade do aluno pelo tema
não implica que você não possa ao mesmo tempo utilizar um elogio.
Se você como professor nutrir a expectativa que encontrará sempre um
aluno motivado intrinsecamente, ficará desapontado. Existem situações em que
são necessários os incentivos e os apoios externos. Os professores devem
incentivar e estimular a motivação intrínseca e, ao mesmo tempo, garantir que a
motivação extrínseca ative o interesse e possibilite ao estudante iniciar o
processo de aprendizagem.
O ideal seria que, enquanto profissionais da educação, pudéssemos ser
capazes de despertar a curiosidade e provocar conflitos cognitivos para
conseguir que as forças intrínsecas se tornem o motor de suas aprendizagens.
Considerando os contributos teóricos mais relevantes para a
compreensão da motivação, a seguir descreveremos uma teoria explicativa da
motivação: a Teoria de Maslow. É importante destacar que existem outras teorias
que poderiam ser estudadas, tão importantes e interessantes como a que vamos
apresentar.
110
Hierarquia das necessidades humanas, segundo Maslow (1968)
Fonte: Google, 2022
112
por Maslow, ela não é isenta de críticas. Uma das mais importantes, refere-se
ao fato que nem todos nós nos comportamos exatamente como prevê a teoria.
A maioria de nós vai para cima e para baixo entre diferentes tipos de
necessidades e podemos até ser motivados por muitas necessidades diferentes
ao mesmo tempo.
E, em relação à Educação?
Essa teoria oferece um marco de referência para que possamos refletir
sobre a motivação dos estudantes. Pensemos nos estudantes que não têm
como satisfazer as necessidades dos níveis inferiores. Não podemos esperar
que uma criança, um adolescente ou um jovem que não têm coberta suas
necessidades básicas como a comida, por exemplo, sintam-se motivados para
aprender e adquirir novos saberes. Sabemos que a fome é uma realidade no
Brasil. Passar fome em um país como o Brasil, que é um dos maiores
exportadores de alimentos, é inadmissível. Esta situação é perversa e impõe
um desafio ético e político.
Outro aspecto importante a destacar é que se a escola é um lugar
ameaçador e imprevisível, em que o clima emocional e relacional seja inseguro
ou hostil, é provável que os estudantes estejam mais preocupados com a sua
segurança física e psicológica do que com o aprendizado e o ensino. Os
estudantes precisam sentir-se aceitos e integrados em seu grupo, precisam
sentir-se respeitados e com confiança em si mesmos.
Pelo que viemos estudando, podemos afirmar que para que ocorra a
aprendizagem é fundamental que o estudante esteja motivado. Nesse caso, o
que pode fazer o professor para facilitar este processo? Já indicamos alguns
aspectos, mas destacaremos outros princípios e estratégias, adaptadas de
Maicas (2012):
113
percebem que seus esforços são apreciados e valorizados pelo
professor;
➢ Propor objetivos e conteúdos de aprendizagem significativos:
os estudantes devem conhecer quais são os objetivos que devem
alcançar com suas aprendizagens. Os objetivos devem estar
relacionados com os interesses e as necessidades particulares dos
estudantes, ter um nível adequado de dificuldade, serem
relevantes e que estejam em conexão com o mundo real;
➢ Provocar a dissonância ou o conflito cognitivo: quando os
conteúdos ou as atividades se apresentam de maneira que
provocam no estudante uma dissonância ou conflito cognitivo,
surge a necessidade de resolver a situação, estimula sua
curiosidade e seu desejo de aprender;
➢ Selecionar e organizar as tarefas e condições de
aprendizagem de maneira que o estudante perceba que tem
potencial para alcançar o êxito;
➢ Separar na sala de aula as atividades orientadas e as
experiências de aprendizagem das atividades de avaliação: o
professor deve organizar e apresentar as atividades de maneira
que o estudante perceba que as tarefas e exercícios estão
orientados a promover e facilitar a sua aprendizagem e não mostrar
a sua competência. Evitando, desta forma, a aparição da
ansiedade e inibição do estudante. Não obstante, como as
avaliações também são necessárias, é importante fazer com que o
estudante perceba a sua finalidade e comprove seu progresso,
evitando as comparações com seus companheiros e a deterioração
de sua autoestima;
➢ Orientar a aprendizagem dos estudantes: as diferenças
individuais na sala de aula são um fato, motivo que leva os
estudantes a progredirem em suas aprendizagens com distintos
ritmos e com distintos níveis de desempenho. A motivação do
estudante para aprender se estimula quando ele percebe que o
professor se preocupa por seu progresso, recebe, dá orientações
114
e faz adaptações curriculares adequadas para que ele possa
superar suas possíveis dificuldades.
Conclusão da aula 7
115
A conclusão a que podemos chegar dessas explicações é a de que, para
compreender determinados comportamentos, encontramos uma justificativa
mais adequada em uma ou em outra teoria, o que é certo é que o comportamento
humano é sempre um comportamento motivado.
Por outro lado, se o comportamento humano é sempre um
comportamento motivado, de acordo com o que afirmamos, não tem sentido que,
às vezes, atribuamos o nosso fracasso à falta de motivação. O que pode
acontecer, na verdade, é que a nossa motivação não está orientada na direção
que desejam os professores, por exemplo. Aqui entra o papel do professor que
vai precisar utilizar todos os seus recursos para dirigir e estimular a motivação
de seus alunos para a aprendizagem. Por isso, não em forma de receita, mas
reunindo os achados das pesquisas em motivação, foram indicadas algumas
sugestões do que se pode fazer em sala de aula.
Atividade de Aprendizagem
Apresentação da aula 8
117
aprendizagem puxa o desenvolvimento. Retomaremos este conceito
posteriormente.
Vygotsky
Fonte: Google, 2022.
118
obra do autor russo sobre o desenvolvimento e aprendizagem teve um impacto
muito grande na requalificação da prática pedagógica.
No entanto, “suas obras foram proibidas na União Soviética depois da
resolução de 1936. Ao longo de duas décadas, o seu nome ficou à margem dos
livros e sequer podia ser pronunciado” (PRESTES, 2010, p. 59). Foi somente a
partir dos anos 1960 que suas obras foram liberadas para a psicologia soviética
e começou a ser estudada por psicólogos e investigadores ligados à educação,
tanto da Europa ocidental quanto nos Estados Unidos da América.
Diferentes autores sinalizam que as primeiras obras de Vygotsky que
chegaram ao Brasil datam dos anos 1980, mas, de acordo com Prestes (2010),
existem algumas evidências de pesquisadores brasileiros que tiveram acesso à
sua obra, por meio das publicações em inglês, vindas do Estados Unidos da
América ainda em meados da década de 1970. No entanto, seu pensamento
começa a ser divulgado no meio acadêmico em meados dos anos 1980.
Saiba mais
119
aprendizagem e do desenvolvimento em uma perspectiva nova em relação às
existentes naquele momento: as origens sociais e as bases culturais do
desenvolvimento.
120
elementos herdados biologicamente e elementos que surgem na relação e sob
a influência do meio.
121
A transformação da natureza pelo homem implica também a
transformação de sua própria natureza, emergindo, assim,
historicamente, a partir da atividade social humana, novas formas de
comportamento e novos processos psicológicos especificamente
culturais (MARTINS; DUARTE, 2016, p. 168).
Importante
122
atividade coletiva e social, portanto, como uma função interpsicológica. Depois,
como atividade individual, sob a forma de uma propriedade interna do nosso
pensamento, enquanto função intrapsicológica. A passagem de uma função
interpsicológica à intrapsicológica é o resultado de um processo de
internalização.
Em outras palavras, processos mentais superiores, como direcionar a
atenção e analisar problemas, são primeiramente construídos cooperativamente
durante atividades compartilhadas entre nós e outra pessoa. Imaginemos uma
criança que perdeu seu carrinho preferido e pede ajuda da sua mãe para
encontrá-lo. A mãe pergunta à criança onde ela estava brincando quando perdeu
o carrinho. Ela responde que não sabe. A mãe, então, formula várias perguntas.
Que cor era o carrinho? Não está no teu quarto? Você levou consigo quando foi
na casa do seu primo? Quando foi a última vez que você brincou com ele? A
criança, então, internaliza os processos e eles se tornam parte do seu
desenvolvimento cognitivo.
Quem lembrou onde estava o carrinho? A resposta não é nem a mãe nem
o filho, mas os dois juntos. A memória e a solução do problema foram
construídas em cooperação (entre sujeitos) por meio da interação. No entanto,
o menino e a mãe também podem internalizar estratégias para usar na próxima
vez que algo se perder. Até certo ponto, o menino poderá agir de forma
independente para resolver esses problemas. Assim, como a estratégia para
encontrar o brinquedo, as funções superiores aparecem primeiro entre uma
criança e um “professor”, antes de existirem dentro da criança individual
(KOZULIN, 2003).
É ao colaborar e ao discutir com outros sujeitos que consideramos novas
alternativas e reelaboramos ideias pessoais, criando-se, assim, a possibilidade
de nos apropriarmos dos conhecimentos. Mas, compreender o funcionamento
da noção de apropriação obriga a presença do processo de internalização.
Assim, o processo de internalização, ou seja, a transformação do cultural em
psicológico, decorre ao longo do desenvolvimento do sujeito de forma gradual.
Para Vygotsky,
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humanos conservam as funções da interação social. A construção das
capacidades humanas deve ser concebida como um movimento do
exterior para o interior, ou seja, do Interpsicológico para o
Intrapsicológico (WERTSCH, 1988).
Vocabulário
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Tanto o controle do nosso comportamento, por meio dos signos, quanto o
controle da natureza, por meio dos instrumentos, acarretam mudanças no nosso
funcionamento cognitivo. A invenção desses elementos mediadores significou o
salto evolutivo da espécie humana.
A partir da inserção da criança em um determinado contexto cultural com
seus membros do grupo e de sua participação em práticas sociais historicamente
construídas, a criança incorpora ativamente as formas de comportamento já
consolidadas na experiência humana. Na visão de Vygotsky, aos pais ou aos
professores cabe gerar uma dinâmica que permita a cada criança a apropriação
de ferramentas e signos, ou seja, as interações sociais são um elemento crucial
do desenvolvimento cognitivo, mas, mais ainda, a qualidade dessas interações.
O que significa qualidade das interações dentro dessa abordagem?
Qualquer ensino pode levar à aprendizagem? Vygotsky ajuda a responder a
essas questões quando discute a relação entre as zonas de desenvolvimento
real e próximo.
Vocabulário
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potencial e imediato. A professora Zoia Prestes, em sua tese de doutoramento
intitulada Quando não é quase a mesma coisa: Análise de traduções de Lev
Semionovitch Vygotsky no Brasil: Repercussões no campo educacional, defende
que a tradução que mais se aproxima do termo russo é zona de desenvolvimento
iminente, cuja característica essencial, em suas palavras, é a das “possibilidades
de desenvolvimento”. Adotamos o termo zona de desenvolvimento próximo, é
importante destacar que você vai encontrar em muitos materiais traduzidos como
zona de desenvolvimento proximal.
Veja a figura abaixo, que tenta representar a metáfora de ZDP proposta
por Vygotsky.
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com um parceiro mais experiente, aqui destacamos a figura do professor e dos
colegas mais experientes. Esse nível de desenvolvimento refere-se às funções
psicológicas que estão em processo de desenvolvimento.
Nas palavras de Vygotsky:
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desnecessário se pudesse utilizar apenas o que já está maduro no
desenvolvimento, se ele mesmo não fosse fonte de desenvolvimento e
surgimento do novo” (VYGOTSKY, 2001a, p. 334). Com esta alteração
abandona-se uma perspectiva de índole biológica para explicar o nosso
desenvolvimento a favor de uma perspectiva sócio-histórica.
A modo de conclusão, é importante destacar que essa abordagem rejeita
a ideia de que o desenvolvimento é um processo espontâneo e natural, pois
entende que o ensino é uma fonte de desenvolvimento. Entretanto, é de
fundamental importância a participação de um interlocutor mais experiente, sem
o qual nós não teríamos como nos apropriar dos conteúdos culturais.
Aprendemos com o “outro” e nos desenvolvemos nesse processo. O
desenvolvimento individual está, assim, mediatizado pela interação com outros
sujeitos mais competentes e pelo uso de ferramentas culturais. É fundamental
que o professor problematize, forneça pistas aos alunos e fique atento ao curso
de raciocínio destes, reformulando questões ou problemas sempre que for
necessário.
Salientamos a importância do trabalho colaborativo em que os
estudantes, de diferentes níveis de desempenho, trabalhem juntos na resolução
de uma tarefa, podendo, dessa forma, desenvolver novos saberes. Outro
aspecto que destacamos é a valorização do diálogo entre os estudantes em uma
situação de aprendizagem, pois o diálogo entre os estudantes promove a
clarificação dos conceitos e dos conhecimentos envolvidos na resolução da
tarefa e o próprio diálogo do sujeito interno favorece a autorregulação da
aprendizagem.
Saiba mais
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Conclusão da aula 8
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Atividade de Aprendizagem
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Índice Remissivo
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(Estudo; introdução; psicologia)
Memória ..................................................................................................... 91
(Estudo; memória; memorização)
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REFERÊNCIAS
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PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e
rebeldia. In: A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia.
1987.
134
REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. (Educação e conhecimento)
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