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2010
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição à SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
(SEAD/UECE). Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer
meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores.
EXPEDIENTE
Design instrucional
Antonio Germano Magalhães Junior
Igor Lima Rodrigues
Pedro Luiz Furquim Jeangros
Projeto gráfico
Rafael Straus Timbó Vasconcelos
Marcos Paulo Rodrigues Nobre
Coordenador Editorial
Rafael Straus Timbó Vasconcelos
Organização de Conteúdo
Edite Colares Oliveira
Diagramação
Lívia Karoline Bezerra Mello
Ilustração
Marcos Paulo Rodrigues Nobre
Capa
Emilson Pamplona Rodrigues de Castro
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Luiz Inácio Lula da Silva
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Fernando Haddad
VICE-REITOR
Antônio de Oliveira Gomes Neto
PRÓ-REITORA DE GRADUAÇÃO
Josefa Lineuda da Costa Murta
Unidade 1
A pesquisa e a prática Pedagógica na estrutura do Estágio supervisionado:
Reflexões iniciais................................................................................................................... 9
Capítulo 1 - A pesquisa e a prática pedagógica na estrutura do estágio supervisionado:
reflexões iniciais.................................................................................................................. 11
Introdução..............................................................................................................................11
1.1. Os eixos que fundamentam as atividades de estágio...........................................12
1.2. A importância do estágio curricular supervisionado para a formação do docente........14
Considerações finais....................................................................................................................... 16
Capítulo 2 - Estágio supervisionado: aprofundando conceitos .......................................... 19
2.1. O que é estágio supervisionado?.................................................................................... 19
2.1.1. O Estágio como a hora da prática......................................................................................... 20
2.1.2. O Estágio como aproximação da realidade.......................................................................... 21
2.1.3. Estágio como atividade teórica, instrumentalizadora da práxis........................................... 21
2.1.4. O estágio como pesquisa ............................................................................................... 22
Textos complementares.........................................................................................................24
Unidade 2
Construção da Identidade Profissional Docente..................................................................... 29
Capítulo 1 - O processo de construção da identidade docente......................................... 31
Introdução..............................................................................................................................31
1.1. Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante!................................................................. 32
1.2. Os saberes da experiência na constituição da identidade .............................................32
1.3. Aluno ou profissional em formação?.............................................................................. 33
Capítulo 2 - Identidade e profissionalização docente: caminhos e descaminhos do
direito à formação .............................................................................................................. 37
Capítulo 3 - Identidade docente, autonomia e construção do conhecimento.................... 41
Textos complementares.........................................................................................................46
Unidade 3
Memória e docência.............................................................................................................. 53
Capítulo 1 - Memória e formação docente: construindo saberes a partir da
experiência vivida .............................................................................................................. 55
Introdução..............................................................................................................................55
1.1. Memórias docentes: projetos de (auto) conhecimento e (auto) formação....................56
1.2. A dimensão pessoal e profissional do professor.............................................................57
Capítulo 2 - A memória como recurso para compreensão das tendências de
formação docente............................................................................................................... 61
2.1. A memória como referência para construção de novos conhecimentos .......................65
Textos complementares.........................................................................................................68
Unidade 4
Aprendendo a ser professor a partir do projeto de estágio na escola.................................... 75
Capítulo 1 - A arquitetura da identidade profissional docente na escola........................... 77
Introdução..............................................................................................................................77
1.1. Aporte metodológico......................................................................................................78
1.2. Alguns elementos do processo de construção identitário..............................................79
1.3. A Escola - “Um Caldeirão de Cultura” ............................................................................ 80
Texto complementar..............................................................................................................83
Capítulo 2 - Projetos de trabalho na escola: revendo concepções ..................................... 89
2.1. Estágio e escola..............................................................................................................91
2.1.1. Partes de um projeto............................................................................................................ 91
2.2. Papel do professor-orientador........................................................................................ 92
2.3. A avaliação dos projetos de estágio................................................................................ 92
Textos complementares.........................................................................................................93
A disciplina Pesquisa e Prática Pedagógica se constitui como um importante
componente curricular que atravessa todo o curso de Pedagogia com a finalidade de
propocionar, de forma cada vez mais constante, o contato dos futuros professores com
sua profissão, através do desenvolvimento de práticas investigativas que articulem te-
oria e prática.
No decorrer deste módulo teremos a oportunidade de compreender o Estágio Su-
pervisionado como a aproximação do futuro professor com as questões político-peda-
gógicas presentes no trabalho do professor, mediada por uma atitude reflexiva diante
dos desafios postos à profissão; refletir sobre o processo de construção identitária dos
educadores, situando o papel das memórias neste contexto de tomada de consciência
acerca de como entramos na profissão docente e como vivenciamos as diferentes eta-
pas do “tornar-se professor”; finalmente nos propomos a apresentar nossa proposta
de trabalho, na qual o Estágio é concebido como um projeto articulador dos diferentes
saberes que compõem a docência.
Esperamos que as referências que trazemos acerca do Estágio Supervisionado
articuladas às memórias de vida e formação que cada um de vocês carrega possam
ajudá-los a pensar sobre a profissão professor, seus limites e possibilidades, seus avan-
ços e retrocessos, mas, sobretudo, na oportunidade que se tem de projetar algo novo
para uma história de profissão que é ao mesmo tempo de cada um e de todos.
A nova legislação de ensino, nos meados de 1990, provocou um desafio aos do-
centes da universidade, em particular aos cursos de formação de professores, no senti-
do de rever a questão da Prática Pedagógica e do Estágio Supervisionado, considerados
por nós como elementos que se aproximam e se complementam, tendo um percurso
que vai do início do curso de licenciatura e caminha passo a passo em direção à sala
de aula.
A resolução CNE Nº 1/2002 regulamenta a prática pedagógica nos cursos de
formação de professores, recomendando que a mesma deva permear todo o período de
formação docente. O Estágio terá como finalidade promover a articulação das diferen-
tes práticas, numa perspectiva interdisciplinar.
Outro documento regulador da dimensão prática dos cursos de formação é a re-
solução CNE N° 2/2002, que afirma:
Art. 1°. A carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica,
em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, será efetivada me-
diante a integralização de, no mínimo, 2.800 (duas mil e oitocentas) horas, nas quais
a articulação teoria-prática garanta, nos termos dos seus projetos pedagógicos, as
seguintes dimensões dos componentes comuns:
Os autores
Unidade
1
A pesquisa e a prática
Pedagógica na estrutura do
Estágio supervisionado:
Reflexões iniciais
Objetivos:
• Conhecer os fundamentos e eixos que sustentam o Estágio Supervisionado, através
dos pesquisadores que estudam esse campo de conhecimento pedagógico.
• Reconhecer o Estágio com pesquisa como espaço de compreensão do fenômeno
educativo e da prática pedagógica.
• Refletir sobre as ideias que fundamentam e operacionalizam a compreensão atual
de Estágio Supervisionado, situando o trabalho docente como categoria fundante
dessa compreensão.
• Compreender o Estágio como eixo do trabalho docente e campo de conhecimento
pedagógico.
Capítulo 1
A pesquisa e a prática pedagógica na estrutura
do estágio supervisionado: reflexões iniciais
(Piaget)
Introdução
Quem me ensinou a ser professor? Com que traços eu comporia um
desenho do professor que eu gostaria de me tornar? Que caminhos me le-
vam à profissão docente? Como estou me preparando para isso? Dos profes-
sores que eu tive, qual deles gosto de lembrar como um profissional, como
educador? Pergunto isso, porque estamos aqui para refletir sobre o Estágio
do Curso de formação de professores e agora um novo desafio se apresenta.
Imagine que aquele lugar do professor na sala de aula, agora, é seu. Como
seria essa aula? O que eu faria com os alunos que continuavam conver-
sando após minha chegada? Como iniciaria a conversa com a classe? Esse
primeiro desafio solicita uma identificação dessa atividade com a de outro
professor e ao mesmo tempo requer de mim uma abertura para assumir e
adicionar na minha vida a postura de profissional do magistério.
A questão de se aproximar da profissão magistério e se identificar com Ninguém educa ninguém,
ela tem dois movimentos: um que vem de dentro, da sua vontade, da sua ninguém educa a si mes-
mo, os homens se educam
abertura para isso e, outro, que vem de fora, das pessoas que começam a entre si, mediatizados
identificá-lo como professor. Assim, o Estágio curricular traz para o curso a pelo mundo. (FREIRE,
oportunidade dos alunos vivenciarem momentos que favoreçam a um pro- 1987, P.79)
cesso de identificação com o trabalho docente. Para Pimenta (2002: 183):
O Estágio Supervisionado É preciso que a prática nos ajude a compreender a profissão, refletir
configura-se como um es- sobre o magistério, a entender as condições de trabalho dos professores, a
paço de inserção das pro-
fessoras em formação, no realidade das instituições de ensino, as relações de poder e a cultura escolar.
qual a concretude das de-
mandas da prática social
da educação, não raro, co-
loca em xeque a formação 1.1. Os eixos que fundamentam as atividades de
dessas profissionais (PO-
WACZUK; TOMAZZET- estágio
TI; LIBERALESSO; CAN-
CIAN, 2008, p. 02). O Estágio é um componente curricular e como tal, não vai solucionar
todas as falhas do curso. É um espaço de reflexão sobre o curso, no sentido
A pesquisa coloca o esta-
giário em contato com a de compreender e se aproximar da profissão. Sua obrigatoriedade leva em
realidade, e assim o pos- consideração a aplicabilidade da legislação, a consistência teórica, a produ-
sibilita analisar a distân- ção do conhecimento, a relação teoria e prática, a docência e a pesquisa. Des-
cia entre as de situações
concretas do fenômeno sa forma, reafirmamos o compromisso com uma formação docente pautada
educacional e os estudos nos princípios da pedagogia dialética e nas posturas críticas e reflexivas.
já realizados. Tudo isso é Acreditando que a teoria ilumina a prática e a prática ressignifica a teoria,
feito na passagem dos es-
tagiários pelo espaço da sem perder de vista o tempo histórico e as condições objetivas em que o pro-
escola recebedora. (SOU- cesso se realiza, priorizamos os seguintes eixos na elaboração do Estágio:
SA 2008, p. 87)
• Eixo 1 - O referencial teórico- Constitui as bases do Estágio, como
parte integrante do projeto político-pedagógico do curso. Assim, as
atividades desenvolvidas por nós derivam de uma concepção de pro-
fessor como um intelectual em processo de formação. Nesse con-
texto, a atividade docente é práxis (Pimenta, 1996) e o Estágio se
constitui um campo de conhecimento que tem a pesquisa como eixo
(Pimenta; Lima, 2004).
• Eixo 2 - A pesquisa - Conduz à concretização das ideias e estudos,
transformando-os em atividades, posturas metodológicas e ações
pedagógicas ligadas ao ensinar e ao aprender. Assim, inclui pro-
cedimentos de pesquisa e de intervenção, problematização, análi-
se, reflexão e proposição de soluções para os problemas surgidos.
O Estágio trabalha também com a investigação sobre a identidade
e a memória docente, as ações pedagógicas, o trabalho docente e
Ao pensar a pesquisa ar- as práticas institucionais, a escola, sua organização e movimento,
ticulada à prática gostaria
de que você, aluno, se re- situados em contextos sociais, históricos e culturais. A atenta ob-
metesse a disciplina PPP III servação pode abrir um leque de outras questões sobre o cotidiano
quando já propusemos escolar. Assim, os estagiários vão tendo a oportunidade de aprender
que você pesquisasse pre-
liminarmente o campo de
a profissão docente e de encontrar elementos de construção da sua
estágio, através de um identidade na interação e intervenção que lhes confiram um maior
guia de caracterização da reconhecimento de sua presença naquele espaço e, assim, realiza-
escola, bem como bus-
cando em sua memória
rem as articulações pedagógicas possíveis que os tornam sempre
todos de sua experiência estagiários de novas experiências.
escolar.
• Eixo 3 - As atividades do Estágio – Para a consecução das ativida-
des propostas no decorrer do Estágio são necessários instrumentais
de pesquisa: roteiros de questionários, de entrevistas e de observação.
Neste caso, é importante destacar três momentos em sala de aula: o
estudo do referencial teórico, a elaboração dos instrumentais para a
ESTRUTURA DO ESTÁGIO
ESTRUTURA SUPERVISIONADO
DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO
Paulo Freire
A construção ou a produ-
ção do conhecimento do
objeto implica o exercício
da curiosidade, sua ca-
pacidade crítica de tomar Ensinar e aprender a profissão docente
distância do objeto, de
observa-lo, de delimita- Maria Socorro Lucena Lima
lo, de cindi -lo, de cer-
car o objeto ou fazer sua
aproximação metódica, Pensar sobre os cursos de formação para o magistério em suas pers-
sua capacidade de com-
parar, de perguntar . pectivas teóricas e práticas leva-nos a refletir sobre o trabalho docente, a
(FREIRE, 1996, p. 86). profissão do professor na sociedade e no momento histórico em que esta-
mos inseridos. Implica na construção de conhecimentos, no estabelecimento
Leituras
Estágio e Docência
Obra de autoria das professoras Selma Garrido Pimenta (USP) e
Maria Socorro Lucena Lima (UECE), este livro apresenta o estágio como
componente curricular dos cursos que formam professores e pedagogos,
discute e aponta caminhos para as questões de estágio desde sempre
marcadas pela problemática relação entre teoria e prática, que pode ser
equacionada na proposta de um estágio realizado com pesquisa e, como
pesquisa, contribui para uma formação de melhor qualidade de profes-
sores e de pedagogos.
Filmes
Escola da vida
Esse filme conta a história de Matt Warner, professor de biologia da
Fallbrook Middle School, e filho do professor Stormin Norman, ganhador
do prêmio de Professor do Ano por 43 temporadas. Com a aposentadoria do
pai, Mr. Warner alimenta a expectativa de continuar a tradição familiar, até
a chegada do professor D, professor novato na escola que facilmente con-
quista a admiração de todos pela simpatia e informalidade. No decorrer da
trama, a identidade docente de Warner entra em crise, sendo constantemen-
te confrontada com o perfil de seu pai e de Mr. D. O filme demonstra como,
mesmo exercendo a profissão, permanecemos continuamente aprendendo,
somos eternos aprendizes e estagiários da vida.
Sites
revista sísifo - http://sisifo.fpce.ul.pt/ Revista de Ciências da Edu-
cação Unidade de I&D de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa,
sob direcção de Rui Canário e Jorge Ramos do Ó. A Revista Sísifo traz dis-
cussões acerca do processo de formação profissional, construção do conhe-
cimento e elementos ligados à docência (como avaliação, profissionalização,
didática, entre outros).
2
Construção da Identidade
Profissional Docente
Objetivos:
• Refletir sobre o movimento de constituição da identidade profissional docente,
reconhecendo-o como um processo complexo, permeado por questões de ordem
social, política, econômica, cultural e existencial.
• A formação da identidade profissional docente.
Capítulo 1
O processo de construção da identidade
docente
(Raul Seixas)
Introdução
Quantas vezes você já parou para se perguntar: Quem sou eu? Quais
minhas características mais marcantes? Como fui me constituindo na pes-
soa que sou hoje? Que pessoas foram (e são) referência para mim nessa
constituição e por quê? Que transformações têm ocorrido na minha manei-
ra de ser, de lidar comigo mesmo(a), com o(a) outro(a) e com o mundo que
me cerca? O que determinou tais transformações?
Perguntas dessa natureza nos remetem à compreensão de inacaba Na verdade, o inacaba-
mento abordada por Freire (1996), que se relaciona à questão da historicida- mento do ser ou sua in-
de dos seres humanos que, mediados por determinantes de ordens diversas conclusão é próprio da
(sociais, culturais e econômicas, por exemplo), vão constituindo, em um experiência vital. Onde há
vida, há inacabamento.
movimento constante, maneiras diferenciadas de lidar com o mundo e de (FREIRE, 1996, p.50)
ser no mundo.
A discussão sobre identidade profissional docente, tema deste capítulo,
vai ajudá-lo (a) a iniciar (ou continuar) suas reflexões acerca de sua identida-
de como educador em formação. Nossa intenção é que essa construção, que é
ao mesmo tempo individual e coletiva, seja permeada por processos reflexivos
que permitam a tomada de consciência acerca dos elementos utilizados por
você para a construção do referencial do bom professor, que o(a) ajudará a
pensar sobre o tipo de profissional que você está começando a se tornar.
Nesse movimento, verificaremos, entre outras questões, a compre-
ensão abordada por Nóvoa (1995) do professor como pessoa, evidenciando
que características de nossa identidade pessoal se encontram impressas
em nossa identidade profissional, sobretudo pela dimensão ética de nossa
profissão, articulada a outras dimensões que conferem profissionalismo à
mesma, como as dimensões estética, política e técnica (RIOS, 2005).
O Estágio Curricular é espaço privilegiado para reflexões acerca da
constituição da identidade profissional docente, pois possibilita o contato
com a vivência cotidiana das tensões que envolvem o exercício da profissão
e que anunciam a necessidade da busca constante por novas referências
(sobretudo por meio da formação contínua) que ajudem o professor a lidar
de forma mais consciente com os inúmeros desafios que emergem no espaço
da sala de aula.
“A prática da reflexão tem Mergulhados no Estágio Supervisionado, que é ao mesmo tempo espaço
contribuído para o escla-
recimento e o aprofunda- de vivência da profissão e de unidade teórico-prática (PIMENTA, 2006a) me-
mento da relação dialéti- diada por reflexões e posturas investigativas, os alunos passam a constituir
ca prática-teoria-prática; posturas profissionais através da articulação dos saberes da docência em um
tem implicado um mo-
vimento, uma evolução, contexto vivo e dinâmico.
que revela as influências Assim, os saberes da experiência (decorrentes das histórias de vida e
teóricas sobre a prática do
professor e as possibilida-
formação), passam a se articular de forma cada vez mais sistemática aos
des e/ou opções de modi- saberes do conhecimento (ligados à produção científica sobre as diferentes
ficação na realidade, em áreas do ensino) e aos saberes pedagógicos (que compreendem a prática pe-
que a prática fornece ele-
mentos para teorizações
dagógica como prática social, que se configura como ponto de partida e de
que podem acabar trans- chegada das reflexões acerca da docência).
formando aquela prática
De acordo com Ghedin e Almeida (2008, p. 10) [...] o professor em proces-
primeira. Daí a razão de
ser um movimento na di- so de formação é alguém que mais do que estar fazendo a passagem de uma
reção da prática-teoria- cultura à outra, está aprendendo a gestar em si mesmo um modo próprio de
prática recriada” (PICO- ser no mundo, que está engravidante de outros mundos.
NEZ, 1991, P. 25).
A partir dessa reflexão, compreendemos que é importante reafirmar o
Estágio Supervisionado como espaço de ressignificação pessoal e social da
profissão professor; de reflexão sobre as práticas educativas, de construção
de novos conhecimentos sustentados no confronto entre teoria e prática e so-
bretudo de reconhecimento da construção da autonomia docente, sem a qual
seríamos relegados a reproduzir práticas institucionalizadas sem a devida
reelaboração necessária aos novos contextos que surgem cotidianamente.
Tomando como referência o alerta que acabamos de fazer acerca da re-
produção acrítica de práticas educativas, retomamos a ideia de metamorfose
apresentada no início de nossa discussão, pois assim como a ideia de trans-
O Determinismo nega a
formação de nós mesmos em alguém diferente existe, o contrário também
possibilidade de escolha. acontece: a não metamorfose.
Para os deterministas não
Na compreensão de Ciampa (2005, p. 165) não metamorfose é a manu-
há possibilidade de esco-
lhas, não há um objetivo tenção da mesmice, ou seja, a aparência da não-mudança. Nesse processo
a atingir, pelo contrário, encontram-se presentes as marcas de condições socioeconômicas que de-
existe uma sucessão de sumanizam o próprio homem, impedindo-o de transformar-se em alguém
fatos que o homem não
pode interromper e es- diferente, superando perspectivas deterministas que o prendem a uma reali-
capar deles. Tudo já está dade como se esta fosse um dado natural e não socialmente construído. Nas
previamente determina- palavras do autor, as pessoas são forçadas a se reproduzir como réplicas de
do. Para os defensores do
Determinismo o homem si, involuntariamente, a fim de preservar interesses estabelecidos, situações
está submetido, inexora- convenientes, interesses e conveniências [...].
velmente, a uma série de
leis naturais, sujeitas ao
Transportando essa reflexão para a formação de professores, sobre-
princípio da causalidade. tudo no desenvolvimento de propostas de Estágio Supervisionado, podemos
Como características as- associá-la às perspectivas que dicotomizam teoria e prática, associando-se
sinalam-se o medo a toda
mudança, a toda novida-
à lógica da racionalidade técnica, como ilustra a obra intitulada A hora da
de imprevista e o desejo prática (LIMA, 2001, p. 19):
de ser subjugado ou de
subjugar.
Ainda não somos os pro- É preciso assumir que o educador brasileiro é um cidadão concreto, por-
fessores que queremos e tanto uma síntese de múltiplas determinações, que trabalha para garan-
necessitamos ser. A com-
tir seu sustento (e de uma família, por vezes) e deve trabalhar também
petência se coloca para
nós como um ideal. Esse para a transformação da sociedade. Assim sempre deverá considerar o
ideal – utopia – não é, en- conjunto de fatores condicionantes – estruturais e conjunturais – que
tretanto, uma quimera,
agem sobre sua prática, delimitando seu espaço real de possibilidades.
uma vez que descobrimos
no real, no presente, em
nós e nas circunstân-
cias, as possibilidades
de concretizá-lo. O pro- Considerando a construção da identidade dos profissionais da edu-
fessor, nem vítima, nem cação, é importante observamos os conceitos de profissão, profissiona-
salvador da pátria. Nem lização, profissionalismo, profissionalidade e qualificação docente,
derrotado, nem vitorioso.
No quadro das contradi- trabalhados por Lima (2001), como forma de refletirmos de maneira mais
ções que constituem sua completa sobre esses importantes elementos que a compõem:
vida e seu trabalho na
sociedade é que se vai
Profissão é definida no Dicionário Aurélio Buarque de Holanda como
configurando/concreti- atividade ou ocupação especializada e que supõe determinado preparo, que
zando o ofício de profes- encerra com certo prestígio pelo caráter social ou intelectual. Temos presen-
sor. (RIOS, 2002, p. 120).
te, hoje, o desafio de resgatar o prestígio social da profissão docente, tendo
em vista o desgaste sofrido pela categoria diante dos baixos resultados obti-
A educação, principal- dos pela escola pública brasileira a partir dos sistemas oficiais de avaliação.
mente a qualificação
profissional, revela-se Sabemos que os maus resultados passam por vários fatores, inclusive,
como fator de desenvolvi- pela deficiência nos processos de formação vivenciados pelos educadores
mento, competitividade, desde a Educação Básica até a sua formação inicial no Ensino Superior.
qualidade, produtividade
e empregabilidade, com- Refletindo sobre a responsabilidade das agências formadoras, no caso das
preendida como a capa- universidades, Nóvoa (1991) adverte que nesta Instituição não se forma ape-
cidade da mão-de-obra de nas profissionais, produz-se uma profissão. Dessa maneira, a mudança es-
se manter empregada ou
encontrar um novo em- perada na perspectiva da profissão docente somente poderá ser efetivada
prego quando demitida. mediante formações iniciais cada vez mais exigentes e responsáveis com
Para Leite (1997, p. 64- sua função social.
65), a noção de emprega-
bilidade parte do princípio Por profissionalização compreendemos um processo de valorização
de que os trabalhadores profissional que implica em melhoria das condições de trabalho, das con-
desempregados se encon-
tram nessa situação, não
dições salariais e conquista da autonomia. Implica, ainda, a proposição e
porque haja falta de em- efetivação de políticas educacionais comprometidas com o magistério. O
prego, mas porque não se caminho contrário à profissionalização implica na desvalorização da ca-
adaptam às novas exigên-
tegoria, no desrespeito ao direito dos educadores à formação em serviço, o
cias de qualificação das
empresas, ou, em outras que deságua na falta de compromisso com o ensino público. A definição de
palavras, porque não políticas de valorização do magistério se efetiva mediante lutas e confronto
apresentam o perfil de de interesses, como podemos verificar na elaboração da Lei de Diretrizes e
qualificação exigido pelo
novo modelo de produção. Bases da Educação Nacional (Lei n 9394/96), em que apesar de apontar o
Esse é o aspecto ideologi- nível superior como formação mínima para o exercício do magistério, es-
zante do conceito de em- tendeu por mais dez anos a possibilidade de atuação dos profissionais com
pregabilidade, que enco-
bre os reais motivos pela nível médio na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental;
falta de emprego. O profissionalismo envolve as dimensões políticas, técnicas e éticas
(SILVA E BEZERRA, 2006).
que permeiam o exercício docente, concretizando-se na postura do profis-
Sou tão melhor professor, então, quanto mais eficazmente consiga provo-
car o educando no sentido de que prepare ou refine sua curiosidade, que
deve trabalhar com minha ajuda, com vistas a que produza sua inteli-
gência do objeto ou do conteúdo de que falo. Na verdade, meu papel como
professor, ao ensinar o conteúdo a ou b, não é apenas o de me esforçar
para, com clareza máxima, descrever a substantividade do conteúdo
para que o aluno o fixe. Meu papel fundamental, ao falar com clareza
do objeto, é incitar o aluno afim de que ele, com os materiais que ofere-
ço, produza a compreensão do objeto em lugar de recebê-la, na íntegra,
por mim. Ele precisa se apropriar da inteligência do conteúdo para que
a verdadeira relação de comunicação entre mim, como professor, e ele,
como aluno se estabeleça. É por isso, repito, que ensinar não é transferir
conteúdo a ninguém, assim como aprender não é memorizar o perfil do
conteúdo transferido no discurso vertical do professor.
Vida Maria
Gênero: curta metragem
Brasil, 2006.
Escrito, animado e dirigido por: Márcio Ramos
Produzido em computação gráfica 3D, e ganhador de vários prêmios, o
curta-metragem escrito, animado e dirigido por Márcio Ramos, mostra per-
sonagens e cenários inspirados no sertão cearense, criando uma atmosfera
realista e humanizada. Conta a história de Maria José, uma menina de 5
anos de idade, que é obrigada a largar os estudos para trabalhar. Enquanto
trabalha, ela cresce, casa, tem filhos e envelhece, reproduz exatamente a
3
Memória e docência
Objetivos:
• Compreender a memória como projeto de (auto)conhecimento e (auto)formação
profissional docente.
Capítulo 1
Memória e formação docente: construindo
saberes a partir da experiência vivida
(NÓVOA, 1995)
Introdução
Frequentemente somos apanhados pensando sobre o passado e tra-
zendo para o presente memórias de um tempo vivido que envolve experiên-
cias de naturezas diversas.
O pensar sobre a docência passa pelas experiências que tivemos e
nos ajuda a identificar alguns pontos importantes para a reflexão sobre
a mesma, como a postura dos professores, as características referentes à
estrutura e ao funcionamento das escolas, a postura de nossos pais diante
de nossa educação escolar, os hábitos e brincadeiras de nosso tempo de
criança, enfim, todo o contexto que marcou uma época de nossa vida e
que se constitui como um dos fatores que nos levaram a escolher a profis-
são professor.
O objetivo desta reflexão é para que possamos compreender a memó-
ria como projeto de autoconhecimento e autoformação profissional docente,
uma vez que ao nos debruçarmos sobre nossas próprias histórias encontra-
mos referências que nos ajudam a analisar o contexto atual, nossas postu-
ras diante da vida, nossas escolhas e, sobretudo, nos ajuda a compreender
quem fomos, quem somos hoje e quem podemos nos tornar como pessoas e
como profissionais.
Durante esse movimento de reconstituição de nós mesmos temos a
oportunidade de nos reconhecer como autores de nossa própria história,
pois elaboramos um conhecimento sobre nós mesmos e os contextos vividos
por nós à luz dos conhecimentos dos quais dispomos hoje (BASTOS, 2003).
Essa reconstituição, que é de ordem pessoal, não se encontra descola-
da do contexto social mais abrangente e revela como acontecimentos e fatos
ligados a determinantes de ordem social, política, econômica e cultural in-
terferem na caminhada formativa dos profissionais (MOITA, 1995).
Assim, ao revermos nossa trajetória temos a oportunidade de com-
preender em uma dimensão mais vivencial os conteúdos que fazem parte
da constituição da história da educação brasileira, que é também história
de nossa formação.
Ao realizarmos essa contextualização nos inserimos na história de
uma categoria profissional que vem buscando a sua valorização através dos
caminhos da profissionalização docente e compreender os referenciais de
formação vigentes em diferentes tempos históricos.
As instituições escolares
Considerações finais
As discussões acerca da autobiografia como método investigativo es-
tão inseridas no contexto de reelaboração epistemológica da pesquisa em
educação, e acompanham a gradativa compreensão do professor como pes-
soa que o coloca como sujeito do processo de construção do conhecimento
acerca da docência, fato que ressignifica a relação entre universidade e es-
cola e entre pesquisadores e professores.
Leituras
Vidas de professores
Este livro, organizado por António Nóvoa, procura despertar nos pro-
fessores a vontade de refletir sobre os seus percursos profissionais, sobre
o modo como sentem a articulação entre o pessoal e o profissional, sobre
a forma como foram evoluindo ao longo da sua carreira. Pode ser que este
interesse renovado pelas histórias da vida ajude a estimular novas investi-
gações e estudos, que contribuam para produzir um pensamento propria-
mente pedagógico sobre a profissão docente.NÓVOA, António (Org.). . 2ªed.
Porto: Porto Editora, 1995.
Filmes
Colcha de retalho
Lançado no ano de 1995, Colcha de retalho nos conta a história de
Finn (Winona Ryder), uma garota prestes a se formar e confusa com os
rumos de seu noivado e da produção de sua dissertação. Para tentar re-
solver as questões que a atormentam, Finn se refugia na fazenda da avó
(Ellen Burstyn), que mora com a irmã Jo (Anne Bancroft). É tradição por lá
que as mulheres teçam colchas de retalho como presente de casamento. E
enquanto elas se dedicam à atividade, relembram antigas histórias de rela-
cionamentos amorososos. O contato com essas mulheres e suas histórias
ajudam Finn a compreendê-las melhor, pois identifica os conflitos pessoais
e a forma como cada uma sintetiza essas experiências.
Sites
• Revista presença pedagógica - www.presençapedagogica.com.
br é uma publicação bimestral. Em cada edição da revista o leitor
encontra entrevistas, textos, artigos, reportagens, entre outros que
abordam temas relacionados à educação.
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Aprendendo a ser professor a
partir do projeto de
estágio na escola
Objetivos:
• Refletir sobre a escola como espaço de aprendizagem da profissão e o projeto de
estágio como instrumento da formação.
Capítulo 1
A arquitetura da identidade profissional
docente na escola
Introdução
Guimarães Rosa
A escola de hoje preci-
sa não apenas conviver
com outras modalidades
Está começando o Estágio! E, agora, o quê fazer? de educação não formal,
Provavelmente esta pergunta já tenha passado por sua cabeça e trazi- informal e profissional,
mas também articular-se
do certo grau de ansiedade, decorrente da necessidade de saber qual será, e integrar-se a elas, a fim
efetivamente, o seu papel como estagiário(a). de formar cidadãos mais
preparados e qualificados
Compreendemos que o desenvolvimento do Estágio Supervisionado é para um novo tempo
um momento rico em possibilidades de aprendizagem para professores (re- ( LIBANEO,2006 p.56)
gentes e orientadores), alunos e estagiários, que pode ser desenvolvido de
forma colaborativa. Afinal de contas, são quatrocentas horas de trabalho
que envolvem um coletivo em atividades comuns (BRASIL, 2002).
Nesta unidade, abordamos a utilização de projetos de trabalho no
decorrer do Estágio Supervisionado, com o objetivo de trazer para debate
alguns elementos que possam ajudar na organização e no desenvolvimento
dessa modalidade organizativa da ação docente nas atividades de Estágio.
Muitos professores orientadores vêm trabalhando com projetos de tra-
balho como uma possibilidade de articulação da proposta de Estágio com o
Projeto Político-Pedagógico da Escola – campo; como espaço de autoforma-
ção e formação contínua para todos os sujeitos nele envolvidos; como opor-
tunidade de construção da autonomia e de promoção da integração entre Reitera-se a necessidade
escola e comunidade. de considerar o habitus
como sistema flexível de
O trabalho com projetos tem como fundamento primeiro a problemati- disposições, não ape-
zação da realidade e o envolvimento de diferentes sujeitos em atividades in- nas resultado da sedi-
mentação de vivências,
vestigativas e formativas que proporcionem a resolução coletiva de um pro- mas como um sistema
blema. Tal articulação de sujeitos /ideias / conhecimentos traz uma nova em constante mutação,
dimensão para a vida no espaço escolar, compreendida, como bem coloca portanto adaptável aos
estímulos do mundo mo-
Guimarães Rosa, como mutirão de todos, por todos remexida e temperada. derno, habitus como tra-
Neste texto são apresentadas discussões sobre a identidade profissio- jetória, fruto da mediação
do passado e do presente,
nal, tendo como pressuposto teórico que o habitus escolar é um espaço de
como história feita, ex-
construção de seus referentes identitários. Tais discussões foram desenvol- pressão de uma identida-
vidas junto a profissionais de ensino que atuavam em escolas públicas e de em construção.
particulares em Fortaleza.
A problemática de reflexão está configurada na questão central -
como os professores vêm construindo sua identidade profissional e em que
Frequentemente, quando
Para dar conta das práticas dos profissionais , posicionando-os no se fala da presença da éti-
campo de poder da escola, inicia-se, com uma reflexão dessas práticas, de ca na educação ou na es-
alguma maneira, reintegrando os conceitos de estrutura e de habitus, na cola, está-se, na verdade,
falando da moral. É neces-
tentativa de sintetizá-los, como diz Bourdieu, no âmbito mesmo da signifi- sário, portanto, fazer uma
cação completa do fenômeno a ser explicado. distinção entre os concei-
tos, para encaminhar de
Inicialmente, constata-se que as práticas são atravessadas pelas ne-
forma mais precisa nos-
cessidades habituais, de nível pessoal/profissional e organizacional, e se