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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CAMPUS ARAPIRACA
CURSO DE PEDAGOGIA

ELÂNIA MAGALY LÚCIO E SILVA

DIMENSÃO DO CUIDADO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:


LEVANTAMENTO DOS REFERENCIAIS TEÓRICOS EM PUBLICAÇÕES
ACADÊMICAS

Arapiraca
2023
Elânia Magaly Lúcio e Silva

DIMENSÃO DO CUIDADO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:


LEVANTAMENTO DOS REFERENCIAIS TEÓRICOS EM PUBLICAÇÕES
ACADÊMICAS

Trabalho de conclusão de curso, submetido ao


corpo decente do Curso do Curso de licenciatura
em Pedagogia, da Universidade Federal de
Alagoas/Campus de Arapiraca.

Orientador: Prof. Dr. Fábio Hoffmann Pereira

Arapiraca
2023
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Campus Arapiraca
Biblioteca Setorial Campus Arapiraca - BSCA

S586d Silva, Elânia Magaly Lúcio e


Dimensão do cuidado na educação infantil: levantamento dos referenciais teóricos
em publicações acadêmicas / Elânia Magaly Lúcio e Silva. – Arapiraca, 2023.
26 f.

Orientador: Prof. Dr. Fábio Hoffmann Pereira.


Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Pedagogia) - Universidade
Federal de Alagoas, Campus Arapiraca, Arapiraca, 2023.
Disponível em: Universidade Digital (UD) – UFAL (Campus Arapiraca).
Referências: f. 23-25.
Anexo: f. 26

1. Educação. 2. Educação infantil. 3. Creches. I. Pereira, Fábio Hoffmann. II. Título.

CDU 37

Bibliotecário responsável: Márcio Thiago dos Santos Albuquerque


CRB - 4 / 2052
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, quero agradecer a Deus por ter me permitido a realização de um


sonho, que foi obter a conclusão do nível superior em pedagogia.
Gostaria também de agradecer a todos os meus colegas que cursaram comigo, à
Universidade Federal de Alagoas, Campus Arapiraca pelo acolhimento e acompanhamento na
trajetória do curso e em especial ao meu professor e orientador Dr. Fabio Hoffmann Pereira
pela paciência, por não desistir de mim e pela condução e metodologia que muito me ajudou
na construção do meu trabalho de conclusão de curso.
E por fim, não poderia deixar de agradecer a minha família, meus filhos e em especial
à minha mãe que sempre me deu força para eu não desistir do curso e não mediu esforços em
me esperar todas as noites pela minha chegada da UFAL em casa para poder ir dormir.
RESUMO

Este trabalho apresentou o resultado de um estudo documental sobre o cuidado na Educação


Infantil, etapa da educação básica que tem essa dimensão como indissociável da educação em
ações da rotina diária em creches. Com objetivo central de entender melhor o cenário teórico,
foi feito um levantamento bibliográfico na plataforma da CAPES de produções publicadas em
periódicos acadêmicos de Educação dos anos de 2017 a 2021. Após a etapa de refinamento,
baseada na leitura dos títulos e resumos dos artigos inicialmente encontrados, foram
selecionados doze artigos, os quais foram lidos na íntegra. Por fim, após as análises destes
trabalhos foi possível identificar que é muito comum que profissionais da educação infantil
ainda não conseguirem integrar o cuidado-educação no seu dia a dia de trabalho. Além disso,
algumas reflexões a cerca da importância da profissiona lização e capacitação continuada com
todos os profissionais atuantes em creches destacam a importância de todos atuarem com
objetivos que respeitem os direitos da criança.

Palavras-chave: educação infantil; cuidado e educação; levantamento bibliográfico.


ABSTRACT

This work presents the result of a documentary study on care in Early Childhood Education, a
stage of basic education that has this dimension as inseparable from education in actions of
the daily routine in day care centers. With the central objective of better understanding the
theoretical scenario, a bibliographic survey was carried out on the CAPES Platform of
productions published in academic journals of Education from the years 2017 to 2021. After
the refinement stage, based from reading titles and abstracts of the articles initially found,
twelve articles were selected, which were fully read. Finally, after analyzing these works, it
was possible to identify that it is very common for early childhood education professionals
not yet to be able to integrate care-education into their daily work. In addition, some
reflections on the importance of professionalization and continued training with all
professionals working in day care centers highlight the importance of everyone acting with
objectives that respect the rights of the child.

Keywords: early childhood education; bare and education; bibliographic survey.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 07
2 EDUCAÇÃO INFANTIL: FINALIDADES E FORMAS DE ORGANIZAÇÃO 09
2.1 Organização da Educação Infantil na legislação brasileira 10
2.2 Princípios e fundamentos da Educação Infantil brasileira 12
3 CUIDADO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 14
4 DESENHANDO UM ESTUDO 16
5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS 19
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 21
REFERÊNCIAS 23
ANEXO A – FICHA DE LEITURA (MODELO) 26
7

1 INTRODUÇÃO

É notório que o cuidado é algo fundamental na vida do ser humano, em especial para
as crianças nos primeiros anos de vida, por não terem habilidades suficientes para serem
independentes. Nos primeiros anos de vida, os bebês e as crianças pequenas dependem dos
adultos para suprir suas necessidades vitais como: alimentação, higiene, descanso, entre
outras. Na educação infantil, as crianças de zero a três anos de idade frequentemente ficam
mais do que oito horas diárias em creches. Nesse período da infância, o cuidado pode ser
considerado um ponto central o ideal para auxiliar a criança a se desenvolver integralmente.
Este trabalho teve a preocupação de estudar as dimensões do cuidado na educação infantil, a
partir de um levantamento da literatura especializada em Educação.
O interesse pela temática surgiu a partir das disciplinas do curso de Pedagogia,
especialmente na disciplina de Fundamentos da Educação infantil. Enquanto cursava
Pedagogia, comecei uma experiência direta com a educação infantil, ao trabalhar em uma
creche pública como auxiliar de desenvolvimento infantil. Na prática cotidiana, eu vinha
observando como as atividades de cuidado estavam presentes no cotidiano de educadoras e
crianças.
Durante alguns dos meses de maior restrição à presencialidad e física de atividades em
decorrência da pandemia de covid-19, participei do projeto Conexões Infâncias Feminismos,
que reuniu pesquisadoras, pesquisadores e estudantes de setembro a dezembro de 2020 para
estudar e discutir sobre relações de gênero, infância e educação. Em alguns dos encontros,
pude conhecer pesquisadoras e autoras que debatem questões relacionadas com o cuidado na
Educação Infantil. A partir da minha participação nesse projeto, pude aproximar as práticas
que eu vivenciava como profissional da Educação Infantil das teorias e ideias que
sustentavam minhas práticas, fazendo convergir teoria e a aplicação na prática. Assim, surgiu
esse trabalho de conclusão de curso.
Na primeira seção, são abordadas as finalidades e formas de organização da educação
infantil, desde elementos históricos relacionados a trajetória desta etapa da educação no nosso
país, até detalhes sobre a legislação vigente no Brasil, que determina que o estado tem o dever
de ofertar a educação infantil. Além disso, são apresentad os os princípios e fundamentos da
educação infantil brasileira.
Há uma breve discussão sobre o cuidado na educação infantil na segunda seção, onde
é mostrada a importância do cuidar e educar indissociável por alguns autores. Também é
8

enunciado o perfil ideal dos profissionais da educação infantil, que devem buscar a integração
entre o cuidar e o educar, segundo documentos do Ministério da Educação.
A terceira seção apresenta a metodologia utilizada neste trabalho. Optou-se por um
levantamento bibliográfico em periódicos acadêmicos de Educação, com a seleção de
trabalhos para leitura na íntegra, que compuseram as análises apresentadas. Na quarta e última
seção são apresentados os resultados encontrados após a leitura das obras selecionadas: os
trabalhos foram categorizados de acordo com o tipo e foram destacados os objetivos comuns
entre as obras, que em geral, se baseavam na premissa de que ainda não se consegue fazer a
integração ideal do cuidar e educar.
Por fim, são apontadas as considerações finais do trabalho, que, dentre outras coisas,
pôde compreender que os desafios são numerosos: desde a compreensão teórica até a
formação de professores. É de suma importância o empenho da sociedade e de todos os
profissionais que estão envolvidos com essa modalidade d e ensino o comprometimento da
tarefa de construir uma pedagogia que respeite os direitos das crianças do nosso país.
9

2 EDUCAÇÃO INFANTIL: FINALIDADES E FORMAS DE ORGANIZAÇÃO

A Educação Infantil é a primeira etapa da Educação básica que atende a faixa etária
das crianças de 0 a 5 anos de idade em instituições educativas públicas ou privadas. A oferta
da Educação Infantil é prevista na legislação como um dever do Estado e da sociedade a fim
de garantir um serviço de qualidade, que promova o desenvolvimento integral da criança, nos
seus aspectos físico, psicológico, cognitivo e social. Por ser a primeira etapa da Educação
Básica e por atender a seres humanos de tão pouca idade, a Educação Infantil tem
singularidades e características didático-pedagógicas próprias, diferenciada do ensino
fundamental.
Dentre essas singularidades e características, a Educação Infantil tem como uma das
finalidades a atuação complementar à da família e da comunidade. No seu currículo, as
interações e a brincadeira devem ser compreendidas como eixos norteadores das práticas
pedagógicas para a garantia de que as crianças vivenciem experiências significativas de
aprendizagem.
Ao longo da história, o atendimento de cuidados, proteção e educação de crianças
pequenas nem sempre esteve associado a instituições educativas. Com distintos nomes,
serviço de assistência a famílias e crianças pobres, são relatados em estudos das áreas de
Educação, Política Pública e Serviço Social, dentre outros (SILVA; FRANCISCHINI, 2012).
Ao longo dos anos 1970, é possível identificar dois tipos principais de atendimento às
crianças. De um lado, os jardins de infância, criados com base nas tradições de pensamento
pedagógico sobre o desenvolvimento infantil, com ideias originárias principalmente em
Friedrich Fröebel (ano-ano), se constituem como espaços educativos e voltados quase sempre
para crianças de famílias de classes sociais mais abastadas, que podem pagar pelo serviço de
educação. Já as creches, espaços de acolhimento e guarda das crianças pequenas enquanto
suas mães trabalham, não tinham inicialmente a preocupação com o desenvolvimento e a
aprendizagem das crianças, sendo destinadas às camadas mais populares da população, a
classe trabalhadora.
Fúlvia Rosemberg identificou diferentes terminologias para as atividades que hoje em
dia chamamos de Educação Infantil. Para a autora, a diversidade de nomes dificultou o acesso
a dados estatísticos precisos e confiáveis em documentos oficiais e textos acadêmicos
brasileiros até a década de 1970. Como até 1996 não havia políticas educativas para crianças
de zero a seis anos de idade que fossem consenso e fruto de amplo financiamento nacional, as
ações de proteção, guarda, cuidados, educação e acompanhamento do desenvolvimento de
10

bebês e crianças pequenas recebiam diferentes nomes e modelos de atendimento. De acordo


com a autora, havia uma grande instabilidade nas políticas públicas, que sofriam imensa
variação e descontinuidade de ações ao longo do tempo. Para ela, “essa instabilidade, além do
desperdício, dificulta[va] a construção de uma experiência nacional do que sejam programas
de EI de qualidade, abertos a qualquer criança” (2003, p. 191).
Enfim, a trajetória da Educação Infantil foi delineada por muitos entraves,
legitimando-se a partir da Constituição Federal (BRASIL, 1988) e da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação – LDB (BRASIL, 1996), quando a criança de zero a cinco anos de idade é
finalmente reconhecida como sujeito de direitos. A partir desses marcos legais que mostram
um grande avanço e da discussão entre diferentes atores da sociedade civil e esferas estatais,
surgiram, na primeira década dos anos 2000 políticas públicas destinadas à inclusão de bebês
e crianças bem pequenas aos serviços públicos de educação, as creches. Ainda que o Brasil
não tenha conseguido universalizar a Educação Infantil, a busca de políticas públicas que
possibilite a garantia do direito da criança nessa faixa etária tem sido uma constante.

2.1 Organização da Educação Infantil na legislação brasileira

Como vimos anteriormente, o atendimento educativo a crianças pequenas era diferente


daquelas mais ricas daquelas mais pobres. Este trabalho teve como foco a relação
indissociável entre educação e cuidado e, por isso, também está intimamente relacionado com
a creche, ou seja, com o atendimento das crianças de zero a três anos de idade.
A Educação Infantil é resultado de lutas feministas (ROSEMBERG, 1984; CAMPOS,
1991; 1999; OLIVEIRA, 2006; FINCO; GOBBI; FARIA, 2015) que, pela necessidade das
mães trabalharem fora do ambiente doméstico, precisavam de um lugar seguro onde suas
crianças pudessem ser cuidadas e educadas. Além disso, estudiosos da área da psicologia e
biologia descobriram a importância da educação e cuidados na primeira infância como a base
e o fundamento para o desenvolvimento humano (TIRIBA, 2005; FALK, 2016, FOCHI et. al.,
2017; SILVA; SOUZA; MELLO; LIMA, 2018; GONZALEZ-MENA; EYER, 2014;
GOLDSCHMIED; JACKSON, 2006).
Um referencial fundamental é Lev S. Vigotsky, que foi um pensador de destaque pela
grande contribuição para a área do desenvolvimento e aprendizagem infantil. Segundo ele, o
homem, como ser social, precisa estar em contato com outros seres humanos para
desenvolver-se. Esses contatos se dão por meio de interações e é dito que o desenvolvimento
humano acontece pelos processos de mediação, geralmente entre as pessoas mais velhas junto
11

aos seres humanos mais jovens. Vigotsky fala da brincadeira como uma ferramenta essencial
para a estruturação e o desenvolvimento sociocognitivo da criança, destacando que é a partir
do brincar que são criadas as bases que, mais tarde, permitirão aprendizados mais elaborados
para a criança (VIGOTSKI, 2009).
Segundo a Constituição Federal (BRASIL, 1988), a Educação Infantil é oferecida em
creches, para crianças de até 3 anos de idade, e em pré-escolas, para crianças de 4 a 5 anos. A
matrícula em creche é facultativa à famílias, mas desde 2013, quando a Emenda
Constitucional n. 53 e a Lei Federal n. 12.796/2013 ampliaram a obrigatoriedade da Educação
Básica, a frequência à pré-escola passou a ser obrigatória dos 4 aos 17 anos de idade. Assim, a
pré-escola é uma etapa considerada de matrícula obrigatória no Brasil.
Para todo o território brasileiro, a educação infantil deve ser organizada de acordo com
algumas regras comuns:
a. mínimo de quatro horas diárias de atendimento e uma carga horária mínima anual
de 800 horas, que devem ser distribuídas por pelo menos 200 dias letivos; (...)
b. controle de frequência que comprove pelo menos 60% do total de horas para as
crianças da pré-escola; (...)
c. avaliação própria, com expedição de documentação que permita atestar os
processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança e sem objetivo de
promoção (BRASIL, 1996).

O oferecimento da Educação Infantil pelo poder público é de competência dos


municípios, que devem também fazer a fiscalização dos estabelecimentos privados. A
destinação financeira para a manutenção e desenvolvimento da Educação Infantil vem de
recursos municipais e de uma distribuição federativa de recursos estaduais e federais, prevista
pela Lei Federal 14.113/2020, que regulamenta o Fundeb (BRASIL, 2020).

2.2 Princípios e fundamentos da Educação Infantil brasileira

A Constituição de 1988 reconhece as crianças como sujeitos de direito, inaugurando a


necessidade de atenção por parte de toda a sociedade sobre a proteção, os cuidados e a
educação de todas as crianças. Os documentos oficiais de orientação curricular atualmente em
vigor no Brasil acompanham essa ideia e ressaltam que, além de serem sujeitos históricos e de
direitos, as crianças constroem sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura, a
partir das interações, relações e práticas cotidianas que vivencia. Concebem também, as ideias
de que as crianças constroem sua identidade pessoal e coletiva, brincam, imaginam,
12

fantasiam, desejam, aprendem, observam, experimentam, narram, questionam, dentre outras


cosias, ou seja, participam da vida social.
Sua finalidade está descrita no art. 29 da LDB:

A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade


o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus
aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da
família e da comunidade (BRASIL, 1996).

Quando falamos em desenvolvimento integral, compreendemos que a criança cresce,


aprende e interage usando todo o seu corpo. A preocupação da Educação Infantil é promover
o desenvolvimento pleno das crianças e por isso é preciso atenção aos aspectos físicos, ou
seja, da saúde, do movimento, da força, da coordenação motora. Em outras palavras, o
desenvolvimento físico é a garantia de um desenvolvimento com saúde corporal. Também
deve-se levar em consideração o desenvolvimento psico lógico, entendido como aquele
aspecto no qual a criança desenvolve as capacidades de conhecer-se a si mesma, suas
potencialidades e limitações e também a crescer formando uma identidade positiva sobre si
mesmas, entre outras coisas.
O desenvolvimento intelectual é, geralmente, aquele que é mais valorizado, sendo
observado no aparecimento da linguagem e na demonstração de habilidades de raciocínio. Por
último, o desenvolvimento social é compreendido como o desenvolvimento da socialização e
a aprendizagem sobre regras e valores partilhados socialmente. É muito importante destacar
que nenhum destes aspectos deveria sobressair-se aos demais, visto que desenvolvem-se
paralelamente e contribuem no desenvolvimento dos demais aspectos.
Nesse âmbito, a ação complementar à da família é de extrema importância porque o
trabalho educativo deve ter continuidade no lar e também porque a instituição educativa
precisa acolher a cultura que as crianças trazem de casa e da sua comunidade. Por serem seres
humanos de tão pouca idade, é esperada uma grande mobilização articulada entre as famílias e
as instituições de educação infantil.
As propostas pedagógicas da educação infantil devem respeitar princípios éticos;
políticos e estéticos, conforme preconizam as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil (BRASIL, 2009):
1. Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem
comum, ao meio ambiente e as diferentes culturas, identidades e singularidades;
13

2. Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito a


ordem democrática;
3. Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de
expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais.
As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da educação infantil
devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira e garantir experiências
significativas de aprendizagem. As experiências podem ser entendidas, segundo John Dewey,
como aquelas vivências que, de alguma forma afetam as crianças (assim como quaisquer seres
humanos). São as experiências que acumulamos ao longo de nossas vidas que nos fazem ser
quem somos. Os saberes advindos das experiências são, para Dewey, aqueles que são mais
marcantes e provocam mudanças e aprendizagem mais significativas.
Tanto as Diretrizes Curriculares Nacionais (BRASIL, 2009) quanto a Base Nacional
Comum Curricular (BRASIL, 2017) trazem muito fortemente a organização das práticas
pedagógicas a partir da organização de experiências de aprendizagem. Essas experiências
convertem-se em aprendizagem graças às interações das crianças com adultos educadores,
com outras crianças, com os ambientes e com os materiais. Quando lúdicas, as experiências
vivenciadas pelas crianças são construídas a partir de suas formas de linguagem e de
expressão mais naturais.
Por isso, as interações e a brincadeira são consideradas tão importantes na Educação
Infantil. Elas são os “motores” que impulsionam as crianças a se movimentarem, a
questionarem-se, a se deparar com problemas e buscar meios para resolvê-los, a enfrentarem
situações de conflito, ou seja, a passarem por experiências educativas.
14

3 CUIDADO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Segundo Ana Beatriz Cerisara (1999), a nomenclatura educar e cuidar deve ser
considerada indissociável na educação infantil. A autora descreve um percurso histórico
atravessado pela creche e pré-escola no Brasil e recupera a ideia de que, nos Estados Unidos,
as políticas de integração entre educação e cuidado (education e care) receberam o nome
particular de educare (CALDWELL, 1975), indicando essa indissociabilidade. Por não existir
na língua portuguesa, uma nomenclatura que substituísse as duas palavras (educação e
cuidado) em uma única, tem só como exemplo do educare denominado por outros países
optaram pela utilização das palavras “educar” e “cuidar”. Muitos autores chamam a atenção
para o fato de que “educação e cuidado” devem ser considerados indissociáveis, quando se
trata da Educação Infantil (CERISARA, 1999; SAYÃO, 2010; PEREI RA, 2022).
Como o próprio termo nos diz não existem duas ações quando estamos educando uma
criança e sim as duas ações entrelaçadas como uma única, ou seja, integradas. Além disso, o
cuidado perpassa a existência humana e quase todas as culturas humanas têm práticas de
cuidado para com seus membros mais jovens (bebês e crianças pequenas).
Quando nos referimos a importância do cuidar e seu significado no dia a dia da criança
e na educação infantil, nos reflete a construção de bem estar, confiança, auto est ima, entre
outros elementos tão significativo para a criança nesse processo de conhecimento do mundo
que a instituição de Educação Infantil deve proporcionar pelos seus profissionais.
Porém, nota-se uma grande dificuldade dos profissionais em aceitar como trabalho a
ação do cuidar, sendo sempre algo notório a vontade de envolver o ensino de alguma coisa
(conteúdo) no processo. Ana Beatriz destaca que as creches não devem ser as casas das
crianças, muito menos hospitais ou escolas.
Nas obras de Lea Tiriba (2005) e Deborah Sayão (2010) também destacam o binômio
educar e cuidar como indissociável, bem como retratam a grande rejeição do cuidar por parte
dos professores, transferindo essas atividades para o auxiliar ou assistente de sala, referindo-
se a este apenas como alimentação, higiene e a saúde das crianças (Cuidados corporais).
Sendo que o cuidar vai muito além disso, compreendendo também intenções, sentimentos e
respeito pela construção e o conhecimento da criança, social e corporalmente. Além da
importância de entregar uma educação e cuidado infantil de modo mais equiparado
independente das classes sociais, religião, gênero ou etnia (SAYÃO, 2010; TIRIBA, 2005).
Além disso, Segundo Lea Tiriba (2005), pressupõe-se que a dificuldade em abordar o tema se
dá devido a questões sócio-históricas, relacionadas ao gênero de uma sociedade patriarcal. A
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expressão de uma dissociação entre corpo e mente, razão e emoção. Sendo assim, partindo de
platão, tem-se um certo preconceito com a parte emocional, dando-se muito mais ênfase e
importância à razão. A primeira historicamente mais relacionada à mulher, já a segunda ao
homem. Sendo assim, Tiriba destaca o quão desafiador é estabelecer esses laços nas questões
relacionadas à educação infantil, gênero e formação. O cuidado está muito relacionado à
natureza, amor, sentimentos e respeito.
Portanto, é possível afirmar que uma das especificidades da educação infantil é o
trabalho integrado ou indissociável do cuidado em todas as ações realizadas, planejadas,
previstas, imprevistas. Diferentemente do ensino fundamental e ensino médio e como futuros
profissionais da educação, é necessário pesquisar, se capacitar, refletir e avaliar as ações
pedagógicas vivenciadas e construída pelas ou com as crianças.
Segundo Maria Malta Campos (1994), o perfil ideal para o profissional de educação
infantil deve abranger o cuidar e educar integrados. Em muitas redes de educação, vemos a
figura do assistente ou auxiliar de sala com responsabilidades e funções mais ligadas aos
“cuidados”, enquanto a figura do professor estaria mais ligada às responsabilidades pelo
“educar”. Lea Tiriba (2005) e Fábio Hoffmann Pereira (2022) chamam a atenção para esta
cisão entre educar e cuidar que culmina em atribuição de funções e responsabilid ades de
forma diferenciada dependendo do cargo da/do profissional de educação. Ou seja, segundo a
proposta de Campos (1994), o profissional deve ser capaz de prestar a proteção e o apoio que
a criança necessita, além de ajudá-la a desenvolver habilidades e hábitos para a rotina
educativa. Para a autora, a formação desses profissionais poderia ser realizada em diferentes
níveis de profundidade e complexidade, que atenderiam as diversas etapas do sistema de
educação formal, desde que a formação inicial de todos os profissionais que trabalham
diretamente com as crianças seja no curso de graduação em Pedagogia.
Este tema é muito pertinente, pois, é bastante comum as crianças ficarem a maior parte
do dia em creches ou escolas e isso por vezes distância as crianças e os pais, sendo assim é
muito importante que estes saibam qual seu papel e suas responsabilidades, para que a relação
creche e família cooperem da melhor forma possível (CERISARA, 1999).
16

4 DESENHANDO UM ESTUDO

Pela discussão aqui iniciada, é importante discutir como a relação entre educação e
cuidado se dá na Educação Infantil. Uma relação que precisa ser indissociável e com
responsabilidades partilhadas entre profissionais da educação, não divididas. Para tanto, foi
preciso buscar elementos teóricos para subsidiar essa discussão. Assim, o estudo aqui
apresentado procurou organizar parte da produção acadêmica sobre essa temática.
As práticas de cuidado corporal não estão apenas relacionadas ao desenvolvimento
físico. O cuidado é compreendido como educação a partir da compreensão de que aproximam
as crianças dos hábitos culturais de cuidados de si, de se limpar, se alimentar, descansar, etc; a
partir da compreensão de que o cuidado é uma forma de aprender sobre o respeito ao outro e
ao corpo do outro e de conhecer e respeitar as diferenças, é uma forma de educação a partir da
compreensão de que a criança conhece a si mesma e forma uma imagem sobre si mesma,
formando sua identidade pessoal e desenvolvendo sua autonomia.
Em nossa experiência profissional como auxiliar de desenvolvimento infantil,
percebemos que ainda existem lacunas na compreensão, por parte de muitas educadoras e
educadores, da qualidade indissociável ou integrada dos cuidados e educação na Educação
Infantil, ou seja, as ações de cuidados com os aspectos físicos (higiene, alimentação, sono)
ainda são pouco evidenciados, refletidos, discutidos e esclarecidos. Refletir sobre a integração
entre cuidado e educação é de fundamental importância para o profissionalismo docente que
atua na educação infantil porque as ações devem ter intencionalidade pedagógica, além de
proporcionar relações seguras e criação de laços afetivos com as crianças, bem como, uma
experiência capaz de desenvolver as potencialidades das crianças.
Os objetivos principais deste trabalho foram realizar um levantamento de produções
publicadas em periódicos acadêmicos, de 2017 a 2021. Como objetivos específicos,
pretendemos:
- Selecionar e organizar produções acadêmicas no período de 2017 a 2021 sobre
cuidado e educação na Educação Infantil;
- Identificar avanços nas discussões e práticas de profissionais da educação infantil;
Para atingir esses objetivos, foi realizado um estudo documental, baseado em
levantamento bibliográfico. Os princípios que guiaram os caminhos do estudo foram
inspirados nas pesquisas do tipo “estado da arte” (FERREIRA 2002; ROMANOWSKI; ENS,
2006; ROSSETTO et. al., 2013). O estado da arte tem como objetivo expor as contribuições
atuais do campo ou tema de pesquisa, quais lacunas ainda precisam ser preenchidas, além
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disso, elucidar os tópicos onde já se tem contribuições significativas e quais foram os métodos
e experiências inovadoras que os pesquisadores têm utilizado.
Com isto, neste estudo esteve como objetivo conhecer e destacar os referenciais que
norteiam pesquisas sobre o cuidado na educação infantil, sendo assim categorizado como um
estudo do conhecimento. De início foi feita uma busca por artigos acadêmicos na plataforma
de busca de Periódicos da CAPES. A busca utilizou as entradas <“cuidado e educação
infantil”> e <”cuidado” “educação infantil”> com o refinamento de artigos de revistas
científicas brasileiras e trabalhos publicados em língua portuguesa, no período de 2017 a
2021.
Inicialmente, foram retornados 238 trabalhos. Num primeiro momento, foram listados
todos os trabalhos encontrados, com título, autoria e link para o trabalho. Em seguida, foi
realizada a leitura dos títulos de todos os trabalhos e muitos puderam ser excluídos porque não
pareciam tratar centralmente da temática aqui desenvolvida. A segunda etapa do refinamento
dessa pesquisa foi a leitura dos resumos dos trabalhos. A partir dessa leitura pudemos
identificar os trabalhos que tinham a indissociabilidade entre educar e cuidar na educação
infantil como tema central de análise ou discussão. Ao final dessa etapa, foram selecionados
12 trabalhos, que foram lidos na íntegra e compuseram o corpo das análises aqui
apresentadas. Para cada trabalho, foi elaborada uma ficha de leitura, conforme modelo do
Anexo A. Os trabalhos analisados são apresentados no Quadro 1, abaixo.

Quadro 1 - Publicações acadêmicas (artigos) que discutem “cuidados e educação infantil”,


Portal de Periódicos CAPES, 2017-2021.
Periódico
Nº Autoria Título
(Ano)
Cenas do cotidiano na educação Educação e
Maria Aparecida Guedes
01 infantil: desafios da integração entre Pesquisa
Monção
cuidado e educação (2017)
Josivânia Sousa Costa Formação continuada dos docentes da Humanidades
02 Ribeiro Educação Infantil em uma perspectiva & Inovação
Maria José de Pinho complexa e transdisciplinar (2019)
Revista
O brincar e o cuidado nos espaços da Brasileira de
03 Rodrigo Avila Colla educação infantil: desenvolvendo os Estudos
animais que somos Pedagógicos
(2019)
Relações entre famílias e instituições de
Isabel de Oliveira; Silva EccoS
04 educação infantil: o compartilhamento
Iza Rodrigues da Luz (2019)
do cuidado e educação das crianças
O cuidado como dimensão ontológica Pro-Posições
05 Rodrigo Avila Colla
na educação infantil: sobre corpos, (2020)
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espaços e movimentos na constituição


do ser-no-mundo
Juliana Guimarães;
Educação
Marcelino Akuri; Érika Cuidado e educação dos bebês e
06 Popular
Christina Kohle; Marcelo crianças pequeninas
(2020)
Campos Pereira
Niágara Vieira Soares Revista
Cunha; Marcel Lima Concepção de formação humana para a Brasileira de
07
Cunha; Heraldo Simões educação infantil: um estado da questão Educação
Ferreira (2020)
Revista
Letícia de Souza Duque; Cuidar-educar na creche: Itinerários
Educação
08 Ana Rosa Costa Picanço pelos trabalhos da Anped, Grupeci e
(PUC-RS)
Moreira BDTD
(2020)
Keity Elen da Silva Melo; Uma análise crítica do campo de
Revista
Vanessa Maria Costa experiência O Eu, O Outro E O Nós
Estudos
Bezerra Silva; Líllian proposto pela BNCC (2017): A
09 Aplicados em
Franciele Silva Ferreira; ausência da afetividade como uma
Educação
Ana Carolina Beltrão prática de cuidado para a Educação
(2020)
Peixoto Infantil
Gênero e geração: Dimensões do Educação em
Juliana Schumacker Lessa;
10 cuidado nas relações educativas na Revista
Márcia Buss-Simão
Educação Infantil (2021)
Educação
Érika Beatriz Ramos A história da integração do cuidado e Infantil
11
Ferreira da educação na creche Online
(2021)
Educação infantil: entre cuidar e educar
Elizangela Dias Santiago; Revista
12 representações sociais dos auxiliares de
Laêda Bezerra Machado Cocar (2021)
professores
Fonte: Levantamento realizado pela autora, a partir de consulta ao Portal de Periódicos da CAPES
(2022).

O primeiro dado que chamou a atenção foi a quantidade de trabalhos publicados no


ano de 2020, em comparação com os anos anteriores. Nossa hipótese é de que a situação de
pandemia, que trouxe grandes preocupações e desafios para os direitos, as políticas e as
pedagogias das infâncias (ANJOS; PEREIRA, 2021) tenha mobilizado pesquisadoras e
pesquisadores a desenvolverem estudos sobre essa temática, que se tornou latente devido à
interrupção de atendimento presencial nos anos de 2020 e 2021 em todas as esferas do sistema
educativo brasileiro.
Em seguida, passamos à leitura integral dos 12 trabalhos encontrados. As leituras
fizeram emergir alguns aspectos e temáticas importantes, que ressaltamos e desenvolvemos na
análise, nas seções a seguir.
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5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Dentre os trabalhos analisados, cinco são trabalhos teóricos, dois são revisões da
literatura, quatro são empíricos e um é documental.

Quadro 2 - Tipos de trabalhos analisados


Tipo de Trabalho Número do trabalho Quantidade
Teórico 02, 03, 05, 10, 11 5
Revisão de literatura 07, 08 2
Empírico 01, 04, 06, 12 4
Trabalho de análise documental 09 1
Fonte: Elaborado pela autora, a partir da leitura integral dos trabalhos selecionados (2022)

Nos estudos dos artigos teóricos foi possível identificar objetivos em comum. Esses
trabalhos pretendem, em geral, analisar formas como a integração dos cuidados e educação se
constituem na configuração de atendimento de qualidade aos bebês e crianças pequenas. Há
também trabalhos que debatem a importância das práticas de cuidado na Educação como
forma de perpetuação da espécie humana. Estes dois últimos trabalhos foram publicados pelo
mesmo autor (COLLA, 2019; 2020). No artigo de Ribeiro e Pinho (2019), o foco é defender a
inclusão de temas como complexidade das relações e transdisciplinaridade para uma
“religação dos saberes e práticas mais humanas e integradas” (RIBEIRO; PINHO, 2019, p.
76) na formação de professores.
Também foi possível perceber que os problemas de pesquisa apresentados partem do
pressuposto de que a Educação Infantil ainda não consegue articular a integração entre
cuidado e educação e procuram desenvolver uma reflexão sobre a necessidade de desenvolver
práticas pedagógicas cotidiana que busquem contribuir para a transformação da realidade. As
autoras e autores dos trabalhos analisados estão preocupados em entender como integrar
cuidado e educação, cuja finalidade é melhorar a qualidade da educação pública das
instituições de educação infantil.
Nas leituras dos trabalhos com revisão de literatura também foi visível objetivos em
comum, como fazer um levantamento bibliográfico e discutir a temática, fornecendo um
mapeamento do que vem sendo produzido em um determinado tempo. Os autores e autoras
estão preocupados em entender como se encontra o processo direcionado ao atendimento das
crianças brasileiras nas produções acadêmicas sobre educação infantil.
20

Letícia de Souza Duque e Ana Rosa Costa Picanço Moreira (2020) reclamam da
escassez de trabalhos sobre as temáticas da integração entre educar e cuidar na educação
infantil e sugerem que é importante que pesquisadoras e pesquisadores se interessem “ma is
sobre a compreensão das práticas de cuidado-educação no fazer pedagógico na Educação
Infantil fornecendo subsídios teórico-metodológicos que potencializem as discussões na
formação de professores/as de bebês e de crianças” (DUQUE; MOREIRA, 2020, p. 14). Já
Niágara Vieira Soares Cunha, Marcel Lima Cunha e Heraldo Simões Ferreira (2020) chamam
a atenção para o fato de que as práticas de cuidado são de formação humana e, em particular,
da formação integral da criança na Educação Infantil e, diante da dificuldade de que os
estudos acadêmicos reflitam ou ecoem nas práticas pedagógicas, “é preciso avançar para que
tais assertivas cheguem com consistência às escolas” (CUNHA; CUNHA; FERREIRA, 2020,
p. 18).
Quatro trabalhos analisados apresentavam pesquisas empíricas, ou seja, que de alguma
forma foram a campo, usando metodologias de observação, entrevistas e outras formas de
interação direta com bebês, crianças e professoras/es. Foram identificados objetivos comuns
também nos trabalhos empíricos. Os trabalhos de Maria Aparecida Guedes Monção (2017) e
de Juliana Guimarães Marcelino Akuri et al (2020) pretenderam discutir a rotina e o cotidiano
das crianças de 0 a 3 anos na educação infantil, com foco nos momentos de cuidados e nas
formas como as atividades de cuidado se materializam na formação humana.
O estudo de Isabel de Oliveira e Silva e Iza Rodrigues da Luz (2019) foi analisar os
pontos de vista de familiares sobre a frequência de seus filhos na instituição com foco no
compartilhamento das ações de educar e cuidar entre famílias e instituições de educação
infantil. O trabalho de Elizangela Dias Santiago e Laêda Bezerra Machado (2021) discute
representações sociais articuladas às práticas de auxiliares de instituições públicas de
Educação Infantil.
Esse conjunto de trabalhos empíricos trouxe diversos olhares para as práticas
integradoras de educação e cuidado, nomeadamente famílias e auxiliares. Também podemos
observar que quando a instituição possui um projeto político -pedagógico bem fundamentado,
essas práticas desenvolvem-se de forma mais integradas (AKURI et. al, 2020) e que a
articulação indissociável entre educação e cuidado é um forte indicador de que o atendimento
aos bebês e às crianças pequenas promove educação de qualidade (MONÇÃO, 2017).
21

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cuidado na educação infantil é imprescindível em todas as ações planejadas e


organizada com e para as crianças desde a acolhida aos responsáveis e familiares ás variadas
formas na mediação e estímulos durante as interações (objetos, coisas, pessoas, seres, etc)
brincadeiras e experiências. Concordamos com Fábio Hoffmann Pereira quando alerta que
muito já se tem falado “sobre como essas práticas de cuidados corporais, higiene, sono e
alimentação, podem ser educativas” e concordamos com o autor no sentido de que “é preciso
superar a expressão ‘podem ser educativas’. Estas práticas são, ESSENCIALMENTE,
educativas” (PEREIRA, 2022, p. 167, destaques do autor). É necessário desenvolver uma
prática que compreenda educar e cuidar sempre na me sma medida valorizando todas as ações
como de fundamental importância para o desenvolvimento pleno da criança.
Os autores e as autoras dos artigos analisados enfatizam que o educar e cuidar na
educação infantil vai além de ser uma profissão destinada ao sexo feminino, como a
associação que geralmente é feita em relação a “ter jeito com criança”, ser amorosa e ter a voz
mansa. O trabalho docente na educação infantil é uma profissão que tem as suas
especificidades, exigindo formação inicial suficientemente sólida teoricamente, formação
continuada em serviço, sensibilidade e atenção às singularidades e particularidades de cada
criança.
Os desafios são muitos e apesar dos avanços alcançados nos últimos anos em
colocarmos a criança como centro das atenções ainda estamos longe de alcançarmos o que de
fato é de direito das crianças.
Respeitar todos os profissionais que atuam junto às crianças sem diferenciar algumas
ações em detrimento de outras, ou seja, ofertar capacitação continuada para toda a equipe,
bem como, atuarem sempre em conjunto na busca do mesmo objetivo, ou seja, de prestar um
serviço de qualidade para as nossas crianças.
Para isto é necessário uma nova metodologia de formação em serviço que integre
todos os profissionais que atuam com os bebês e as crianças no cotidiano das instituições de
educação infantil para que possam aprender e compartilhar saberes e experiências uns com os
outros na busca de um melhor atendimento do serviço para as crianças.
Esperamos que este estudo possa contribuir para reflexões sobre a profissão e o
cotidiano do profissional da educação infantil. Como estudante concluinte do Curso de
Pedagogia, pretendo ser uma profissional bem sucedida e valorizada. Para tanto, se faz
22

necessário estudo, empenho, pesquisa, reflexão, capacitação, rever conceitos, entre outros
aspectos constantemente na construção de uma práxis educativa.
23

REFERÊNCIAS

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Presidência da República, 1988. Disponível em:
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arts. 7º, 23, 30, 206, 208, 211 e 212 da Constituição Federal e ao art. 60 do Ato das
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1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a formação
dos profissionais da educação e dar outras providências. Brasília: Presidência da República,
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TIRIBA, Lea. Educar e cuidar ou, simplesmente, educar? Buscando a teoria para
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VIGOTSKI, Lev S. Criação e imaginação na infância. São Paulo: Ática, 2009.


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ANEXO A - FICHA DE LEITURA (MODELO)

Referência bibliográfica do texto lido, como deve ser no padrão ABNT.

1. DADOS GERAIS
Autoria:
Título:
Nome do periódico/Revista:
Ano de Publicação:
Palavras-chave:
Endereço web:

2. PROBLEMA DE PESQUISA

a) Temática:
b) Objetivos:
c) Há um problema ou pergunta de pesquisa? Qual?
d) Hipóteses:

3. METODOLOGIA
a) Natureza da pesquisa: Empírica (trabalho de campo, em creche/pré-escola). Teórica (reflexão
a partir de referenciais teóricos e legislação). Levantamento bibliog ráfico (utilizou metodologia
de estado da arte).

EM CASO DE PESQUISA EMPÍRICA


b) Instrumentos utilizados na pesquisa: Observação... Entrevista... Diário... fotografia...
c) Como era a instituição:

4. APORTES TEÓRICOS
a) Alguma teoria ou conceito é apresentado? Qual?

b) Quais autoras/autores são mencionados quando está apresentando ou discutindo o conceito


de cuidado? Marque autoria e nome do texto.

5. CONCLUSÕES DA PESQUISA
Quais são as conclusões? Tem alguma indicação prática? Recomendação para elaboração de
Projetos pedagógicos, para a formulação de políticas públicas, para mudanças no dia a dia das
instituições, para a formação de professores...?

6. COMENTÁRIOS: GRAU DE RELEVÂNCIA


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