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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA PRÓ-REITORIA

DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA- PROPESQ COORDENAÇÃO


GERAL DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUIONAL DE BOLSAS DE
INICIAÇÃO CIENTIFICA-PIBIC

RELATÓRIO FINAL

Plano de trabalho: Qual a finalidade da Educação Infantil na concepção e


prática dos professores e professoras?

Regina Martins de Holanda


Bolsista /UNIR/PIBIC
Orientadora Profª Ms.Ednéia
Maria de Azevedo Machado
Co-orientadora Profª Drª Josélia
Gomes Neves

Ji-Paraná
Julho/2016
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA PRÓ-REITORIA
DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA- PROPESQ COORDENAÇÃO
GERAL DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUIONAL DE BOLSAS DE
INICIAÇÃO CIENTIFICA-PIBIC

Relatório final apresentado para o


Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica – PIBIC da
Universidade Federal de Rondônia sob
orientação da Profª Ms. Ednéia Maria
Azevedo Machado no período de
Agosto de 2015 a julho de 2016.

Identificação

Projeto: Educação Infantil: O que fazer? Como Fazer? O que revelam as


Concepções e as práticas pedagógicas?

Plano de trabalho: Qual a finalidade da Educação Infantil na concepção e


prática dos professores e professoras?

Bolsista: Regina Martins de Holanda

Orientador: Profª Ms. Ednéia Maria Azevedo Machado

Período de execução do projeto: Agosto de 2015 a Julho de 2016


SUMÁRIO

1. Introdução

2. Educação Infantil ao longo da história.

3. A formação do Professor da Educação Infantil

4. Percurso metodológico

5. Resultados e discussões das observações de campo e das entrevistas


5.1. Tempo de docência das pesquisadas, dos conhecimentos e
formação especificas para atuação e o papel da secretaria de educação
na formação profissional.
5.2. Das estruturas físicas e ideológicas das instituições de educação
infantil
5.3. Da organização curricular municipal, das concepções entre ensino
fundamental e educação infantil
5.4. Breve relato da concepção do cuidar e educar no olhar das
educadoras pesquisadas
5.5. Da concepção entre finalidade e função da educação infantil
6. Considerações finais

7. Referências bibliográficas
1. INTRODUÇÃO

Os pressupostos que norteiam este estudo considera que a Educação


Infantil, como uma importante etapa da Educação Básica que precisa estar em
amplo debate nacional principalmente em relação qualidade de seu
atendimento. Os Estudos e pesquisas e os investimentos nas políticas públicas
em relação ao atendimento às crianças de 0 a 05 anos de idade ampliaram-se
nos últimos anos e ganharam diferentes contornos, com também as discussões
sobre a organização da prática pedagógica considerando as concepções e as
especificidades da infância.

A inclusão das Creches e Pré-Escolas nos sistemas educacional


significou pensar a Educação Infantil numa perspectiva mais ampla e complexa
implicando assim, levantamento de discussões profundas em relação a
finalidade desta etapa da educação básica. Educação Infantil deixa de ser
tratada como assistencialismo e precisa ser pensada de forma educacional
tendo como eixo principal o cuidar e educar de formas indissociáveis.

Esse movimento causa diversos questionamentos em relação a prática


educacional para o atendimento as crianças em idade de 0 a 5 anos. Como
organizar práticas pedagógicas para crianças tão pequenas? Como planejar
considerando os conhecimentos prévios destas crianças nesta faixa etária?
Além destes questionamentos esbarramos também na formação dos
profissionais que atendem essas crianças, que até então bastava “gostar de
crianças” “ser meiga e carinhosa”.

Os objetivos dessa pesquisa foi os seguintes: Analisar como os


professores e professoras concebem as finalidades da educação infantil e
como essas dialogam com suas práticas pedagógicas.

Este relatório foi dividido em três partes, sendo que no primeiro


momento serão apresentados um pouco da trajetória da educação infantil nos
últimos anos e como os documentos oficiais elaborados como objetivo orientar
as ações e práticas vem contribuindo para as reflexões e avanços para nesta
etapa de ensino da educação básica.
Logo em seguida trás algumas reflexões sobre a formação dos(as)
profissionais da educação infantil e como essa formação vem contribuindo para
efetivação das ações e práticas na educação infantil.
Em seguida, apresentamos os procedimentos metodológicos utilizados
no estudo, descrevendo a realidade investigada, sujeitos e instrumentos para
coleta de dados e os procedimentos de análise. Posteriormente serão
apresentados os resultados da pesquisa e sua análise, onde serão expostas
também, as conclusões do estudo.
2. Educação Infantil ao longo da história.

Os últimos 30 anos foi um marco na garantia dos direitos dos cidadãos


brasileiros principalmente em relação à infância. A promulgação da
Constituição Federal em 1988, Criação do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) em 1990 e, no campo educacional, em 20 de dezembro de
1996 foi aprovada a nova LDB, a Lei de nº 9.394 a qual inclui a Educação
Infantil na primeira etapa da educação básica. A referida lei veio para
regulamentar e delinear uma nova concepção de Educação Infantil no país,
onde a criança é vista como sujeito de direitos apresentados de forma
específica.

E assim, nos últimos anos, ocorreram mudanças significativas em


termos legais em relação à Educação Infantil como a elaboração de diversos
documentos elaborados pelo Ministério da Educação entre eles: Referencial
Curricular Nacional da Educação Infantil – RCNEI (1998), Diretrizes
Curriculares Nacionais para Educação Infantil – DCNEI (2010) e os Parâmetros
de Qualidade de Atendimento na Educação Infantil – PQAEI (2006) com
objetivo de pensar a organização prática pedagógica com também os espaços
físicos que considere a criança como sujeito capaz de construir conhecimento.

Com as determinações expressas na LDB 9394/96, devido a


incorporação da educação infantil à secretaria de educação, houve a
necessidade de elaborar documentos para orientar e buscar uma ação
integrada que incorpore às atividades educativas e os cuidados essenciais das
crianças e suas brincadeiras, pois as creches e pré-escolas deixariam de ter
um caráter assistencialista desvinculando-se da secretaria de ação social.
Entre os documentos podemos citar o Referencial Curricular
Nacional para Educação Infantil – RCNEI, de 1998.

O Referencial pretende apontar metas de qualidade que


contribuam para que as crianças tenham um desenvolvimento
integral de suas identidades, capazes de crescerem como
cidadãos cujos direitos à infância são reconhecidos. Visa,
também, contribuir para que possa realizar, nas instituições, o
objetivo socializador dessa etapa educacional, em ambientes
que propiciem o acesso e a ampliação, pelas crianças, dos
conhecimentos da realidade social e cultural. (RCNEI, 1998).

Desta forma, acreditamos que apesar das criticas existentes em relação


ao RCNEI, ele é um documento importante que vem subsidiar a organização
das práticas na educação infantil nos últimos anos uma vez que tem a proposta
de olhar a educação infantil a partir de suas especificidades do atendimento
dessa faixa etária.

Já as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil –


DCNEI, de 2010, que foram elaboradas a partir da Resolução nº 5, de 17 de
novembro de 2009 que: “Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil”, que traz em sua redação orientações a serem observadas
na organização de propostas pedagógicas na Educação Infantil, ressaltamos
que as DCNEI se caracterizam como um documento mandatório.

Sendo que uma das propostas das DCNEI (2010) é a construção de um


currículo específico para a educação infantil, uma vez que, trabalhar com
crianças dessa faixa etária exige reconhecimento de suas especificidades e o
mesmo não deve ser uma reprodução ou “adaptação” do currículo do ensino
fundamental.

Desta forma, Oliveira (2012, p. 38), aponta que o desafio do currículo, “é


superar uma prática pedagógica centrada no professor e trabalhar, sobretudo,
a sensibilidade deste para fazer uma aproximação real da criança,
compreendendo-a do ponto de vista dela, e não do ponto de vista do adulto”.
Acreditamos que essa proposta de currículo da educação infantil requer do
professor uma nova postura deixando de ser a figura central do processo de
aprendizagem e assumindo o papel de mediador entre a criança e o objeto de
aprendizagem.
Para reforçar a importância da criança como protagonista no
currículo da educação infantil Kramer, (1999) apud Nascimento, (2000, p. 15),
diz que:

O currículo é algo vivo e dinâmico. Ele está relacionado a todas


as ações que envolvem a criança no seu dia-a-dia dentro das
instituições de ensino, não só quando nós professores
consideramos que as crianças estão aprendendo. O currículo
deve prever espaço de interações entre as crianças sem a
mediação direta do professor, e espaços de aprendizagem na
interação com os adultos, nos quais as crianças sejam as
protagonistas.

Além da necessidade da elaboração de um currículo que considere a


criança como protagonista na educação infantil, essa faixa etária também
necessita de ambientes/ espaços adequados que favoreçam o processo de
aquisição de conhecimentos, bem como seu desenvolvimento social e afetivo.
Para Horn (2004, p.16), “[...] os espaços destinados a crianças pequenas
deverão ser desafiadores e acolhedores, pois, consequentemente,
proporcionarão interações entre elas e delas com os adultos”.

A autora ainda especifica que “no caso de crianças em idade pré-


escolar, o papel do adulto é o de parceiro mais experiente que promove,
organiza e provê situações em que as interações entre as crianças e o meio
sejam provedoras de desenvolvimento”. (HORN, 2004, p.20).

Conforme o Referencial Curricular para a Educação Infantil (1998),a


organização do espaço físico, os materiais, brinquedos, instrumentos sonoros e
o mobiliário não devem ser vistos como elementos passivos, mas como
componentes ativos do processo educacional. A organização dos espaços
físicos nas escolas de educação infantil sempre revela os valores e as
concepções por elas adotadas.

Corroborando com essa ideia Horn (2004, p.37) afirma que: o


espaço é algo socialmente construído, refletindo normas sociais e
representações culturais que não o tornam neutro e, como conseqüência,
retrata hábitos e rituais que contam experiências vividas. Sendo assim, por
meio da organização dos espaços e das brincadeiras a criança passar a obter
a noção de coletividade e cooperatividade, desenvolver autonomia, estabelecer
vínculos afetivos com os colegas e adultos, conhecer a cultura e o mundo do
adulto, pela imitação e a expressar seus sentimentos e desejos. Sendo desta
forma, de fundamental importância o papel do professor para considerar as
crianças como protagonistas nestes espaços.

No RCNEI (1998), o professor da Educação Infantil é considerado como


aquele que disponibiliza as condições para que a criança organize de forma
pessoal e autônoma suas emoções, sentimentos, conhecimentos e regras
sociais, brincando de maneira espontânea e prazerosa.

Apesar dos avanços e das conquistas da educação infantil vale ressaltar


que ainda existem situações bastante diversificadas que merecem ser
questionadas e repensadas para que se realmente possa falar em uma
educação de qualidade às crianças de 0 a 5 anos de idade em nosso país.
Entre elas podemos citar: mais investimentos para reestruturação e ampliação
de vagas; melhoria dos espaços físicos das escolas que atendam essa
clientela; valorização e formação dos docentes desse nível; a ausência das
propostas pedagógicas que atendam às especificidades desta faixa etária.

Dentre essas questões que ainda precisam ser aperfeiçoadas e


aprofundadas, consideramos como primordial para a melhoria da qualidade na
educação infantil as discussões em relação da formação e valorização do
profissional da educação infantil e a construção de uma identidade do
profissional que atende esse nível de ensino.

3. A formação do (a) Professor (a) da Educação Infantil

Os estudos e pesquisas (KRAMER, 2002, KISHIMOTO, ) referente a


infância e a educação infantil nos últimos anos apontam para a necessidade de
uma organização e redirecionamento levando em consideração as
especificidades faixa etária atendida. Ressaltando ainda aspectos sobre a
formação dos professores, as questões de ordem pedagógica e a organização
dos espaços físicos e materiais que fazem parte de um conjunto de aspectos
que contribuem de forma efetiva para a qualidade do atendimento.
Traz uma perspectiva de olhar para crianças como sujeito complexo,
desta forma não cabe mais um trabalho fragmentado sem levar em
consideração todo conhecimento já construído pela criança antes desta chegar
à escola. De acordo com Kramer (2005) a Educação Infantil tem a finalidade de
valorizar os conhecimentos prévios das crianças.

Para tanto é necessário profissionais que reconheçam as


especificidades das crianças em idade de zero a cinco anos. Mas o que se
espera de um(a) profissional de Educação Infantil? Que tipo de atividade
desenvolver com as crianças? Como organizar um trabalho que vá realmente
desenvolver as crianças nos seus aspectos físicos, cognitivos e afetivos de
forma integral?

Cumprir as transformações ocorridas nessa modalidade, bem como,


atender as novas exigências implantadas por meio das políticas públicas para a
Educação Infantil, exige desse profissional uma formação que considere os
conhecimentos prévios dos alunos e com ele, construir possibilidades de uma
educação cidadã, tal como preconiza a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional - LDB 9394/96.

Isto porque o profissional requerido para a contemporaneidade deve ter


um novo estilo, uma nova atitude, superando, assim as práticas tradicionais.
Deve ser competente, criativo, capaz de planejar, executar e avaliar as ações a
serem desenvolvidas, e que estas respondam aos interesses dos meninos e
meninas, e, de modo geral, da sociedade como um todo. Desta forma, os/as
professores/as não devem ser vistos apenas como técnicos do ensino, mas
como sujeitos que constroem sua identidade, que podem teorizar sobre sua
prática pedagógica a partir de saberes construídos pela experiência e por meio
da reflexão (NÓVOA, 2008; TARDIF, 2004).

É consenso que falar de professores e professoras da Educação Infantil


é diferente de falar de professores e professoras do Ensino Fundamental, pois
as especificidades das instituições de Educação Infantil estão pautadas no ato
de cuidar e educar, que exige respeito e valorização deste profissional.

O RCNEI (1998) define o perfil do professor para a educação infantil


como um mediador entre a criança e o conhecimento, isso implica na
compreensão da infância como um tempo que precisa ser vivido plenamente
possibilitando as interações, a apropriação de conceitos, códigos sociais e
diferentes linguagens. Daí a necessidade de um profissional que conheça as
especificidades do trabalho a ser desenvolvido nessa faixa etária e concebam o
cuidar e o educar como atos indissociáveis.

Desta forma, esses profissionais necessitam de uma formação ampla


que garanta saberes, competências e habilidades que atendam às
necessidades infantis e os tornem aprendizes e professores e professoras
reflexivos/ as que observam e repensam suas práticas. De acordo com Oliveira
(2005), esses profissionais passam a discutir em suas práticas pedagógicas,
uma visão sobre o cuidar e educar de maneira educativa, distinguindo o cuidar
educacional do cuidar familiar, buscando a autonomia e o desenvolvimento da
criança.
Esses profissionais terão elementos para desenvolver um trabalho de
qualidade, pois estarão cientes das especificidades para o atendimento às
crianças e também equipados teórica e metodologicamente. De acordo com
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), as creches e
as pré-escolas, como instituições educativas, têm responsabilidade com o
desenvolvimento e a aprendizagem de crianças pequenas, o que exige um
trabalho intencional e de qualidade.

É nesse sentido que a formação continuada dos professores que atuam


nessa etapa educacional merece destaque especial, por se tratar de um
trabalho que se realiza com a criança que, como sabemos, possui
especificidades e necessidades próprias da idade. Então, a formação dos
professores da Educação Infantil hoje é um direito dos próprios professores e
também das crianças.

A valorização da educação infantil articula-se com a constatação feita


pelas ciências modernas de que a inteligência infantil se forma a partir do
nascimento e se estende ao longo da infância, sendo influenciada pelo meio e
por suas interações. Daí a necessidade de que profissionais que atuam na
Educação sejam oportunizados a uma formação que garanta ampliação das
discussões entorno das especificidades da educação infantil, entre elas
destacamos as finalidades das escolas para as crianças de 0 a 5 anos de
idade.

Em relação à formação destes profissionais Horn (2004, p.14) afirma


que: “a precariedade na formação de educadores infantis no Brasil, de modo
geral, é de toda a ordem. [...], desde os aspectos históricos da trajetória dessa
etapa de ensino, [...], até a cultura ainda forte de que para trabalhar com
crianças basta gostar e ter paciência com elas. Desta forma, podemos afirmar
que a visão de muitos profissionais ainda está atrelada a concepção
assistencialista de que para atuar com crianças pequenas basta apenas gostar.

Já para Nakano (2015, p.4) a falta de formação específica para os


profissionais da educação infantil pode causar, “A falta do entendimento acerca
da identidade pode dar como resultado o não saber fazer pedagógico na
Educação Infantil, a exemplo dos embates das concepções entre o cuidar e
educar”. Assim, os cuidados dispensados as crianças seriam os mesmo que
recebem em casa que envolve o banho, troca de fraldas, alimentação, sono.
Esses profissionais não conseguem perceber que o cuidar da criança em
creche não é o mesmo que cuidar em casa, causando assim, a desvalorização
dos profissionais que atuam nesta etapa de ensino.

Os documentos legais que orientam a organização do trabalho na


educação infantil como a Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação
Infantil – DCNEI (2010) traz o conceito do Cuidar e Educar como processos
indissociáveis nas práticas da Educação Infantil. Neste contexto, faz-se
necessário que os profissionais da educação estejam aptos a exercerem essa
nova visão de educação infantil discutindo e refletindo sobre as relações e
interfaces do cuidar e educar entendendo que não existe uma educação sem
cuidado.

Assim, concluímos que a formação com qualidade, do professor da


Educação Infantil, é fundamental para garantir o desenvolvimento das crianças,
desse modo, faz-se necessária uma reflexão conjunta entre família e
sociedade, objetivando uma maior valorização destes profissionais.

4. Percurso Metodológico
A pesquisa apresentada foi realizada através do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) 2015/2016 do Projeto intitulado:
Educação Infantil: O que fazer? Como fazer? O que revelam as concepções e
as práticas pedagógicas?

Os métodos utilizados na pesquisa são de pesquisa qualitativa que para


André (1997) a fonte direta de dados é o meio natural, o investigador se
preocupa com o contexto compreendendo, que as ações são bem mais
entendidas quando observadas em seu contexto.

Os objetivos foram alcançados seguindo o roteiro pré-estabelecido pela


bolsista e orientadoras no plano de trabalho, que é as observações em sala e
entrevistas semiestruturadas com quatro professoras de educação infantil em
dois centro de Educação Infantil (CMEI) no município de Ji-Paraná/RO.

De acordo com Lüdke & André (1996, p.26) “[...] a observação ocupa um
lugar privilegiado nas novas abordagens de pesquisa educacional e possibilita
um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado”.
Desta forma a técnica de observação poderá possibilitar descobertas de
aspectos novos do problema que pretendemos investigar, além de oferecer
elementos que permitam o enriquecimento no cruzamento de dados.

Participaram da pesquisa quatro educadoras que atuam educação


infantil (Pré I e Pré II), todas do quadro público municipal, onde o tempo de
atuação variam entre 2 anos à 10 anos de experiências. Dentre esses dados,
duas delas tem experiência também no ensino fundamental e as outras com
experiência apenas na educação infantil. As escolas foram escolhidas
aleatoriamente, em bairros distantes e com aspectos financeiros e estruturas
diferentes entre si. Uma recém-reformada e amplo espaço quantidades de sala
em tamanho razoável e todas as adaptações para a criança e outra em espaço
bem reduzido, pouca área verde e espaço interno bem reduzido e poucas
adaptações para a criança.

As professoras pesquisadas possuem estabilidade profissional, pois são


concursadas e se dedicam exclusivamente a educação infantil, algumas com
pouca ou mais experiências, mas formação exigida pela LDB. As entrevistas
foram entregues anteriormente as mesmas para uma previa leitura e realizadas
posteriormente em ambiente escolar, no horário oposto das aulas, apenas uma
professora foi logo após a aula, devido à disponibilidade de horário. Foram
realizadas e gravadas individualmente sem tempo pré-estabelecido e depois
transcritas em documento e anexadas ao projeto.

Quanto às entrevistas André (1995, p.28)“[...] afirma que têm a finalidade


de aprofundar as questões e esclarecer os problemas observados”.
Entendemos que na hora da entrevista, a docente estrutura sua fala
envolvendo a relação teoria e prática, o que permite a análise, por meio do
diálogo, da expressão, de novos dados para o estudo.

Na Tabela 1, a seguir, constam as características profissionais das


colaboradoras.

Nome Habilitação Gênero Anos de Situação Atuação


serviço profissional
Acadêmica

A Pedagogia Feminino 5 Professora Pré II


Pré-Escola e efetivada
Ensino
Fundamental

B Pedagogia Feminino 2 Professora Pré II


Pré-Escola e efetivada
Ensino
Fundamental

C Pedagogia Feminino 10 Professora Pré I


Pré-Escola e efetivada
Ensino
Fundamental

D Pedagogia Feminino 5 Professora Pré I


Pré-Escola e efetivada
Ensino
Fundamental

As entrevistadas assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido


para participarem do referido estudo.

5. Resultados e discussões das observações de campo e das entrevistas


Após a realização de todas as entrevistas, iniciou‐se o processo das
transcrições, um trabalho que exigiu bastante tempo, mas que já possibilitou
fazer as primeiras reflexões a partir das escutas repetidas durante esse
processo. Logo após o término das transcrições, foi feita uma leitura detalhada
dos discursos resultantes das transcrições, que, em seguida, foram
individualmente discutidas com as orientadoras cada resposta e comparando
com as anotações de acordo com o caderno de campo, como se observa nos
anexos.

As perguntas foram reorganizadas e separadas por categorias, onde


segue a dinâmica das respostas das pesquisadas com contribuições dos
pressupostos teóricos e também a contribuição da bolsista pesquisadora. As
categorias ficaram assim organizadas

1. Tempo de docência das pesquisadas, dos conhecimentos e


formação especificas para atuação e o papel da secretaria de
educação na formação profissional.
2. Das estruturas físicas e ideológicas das instituições de
educação infantil
3. Da organização curricular municipal, das concepções entre
ensino fundamental e educação infantil
4. Breve relato da concepção do cuidar e educar no olhar das
educadoras pesquisadas
5. Da concepção entre finalidade e função da educação infantil
5.1. Tempo de atuação das professoras, conhecimentos e formação
especifica para atuação e o papel da secretaria de educação na formação
profissional.

O tempo que atuação das professoras pesquisadas foi de 2 a 10 anos,


mas observou-se uma preocupação constante das professoras, mesmo as
mais experientes, com a permanência em sala e a possível entrevista da
bolsista. Em alguns momentos da observação foi notado uma mudança de
atitude em relação as professoras em sua rotina educacional, mesmo
justificando o planejamento semanal das docentes, em alguns momentos
percebia-se uma ociosidade nos alunos ou no tempo destinados as atividades,
que demonstraram uma total falta de planejamento e aplicação das atividades.
A professora canta e bate palmas com as crianças, depois
todos vão ao parque por trinta minutos. Retornar para a sala e
conversa com as crianças sobre os animais e depois disso as
crianças ficam ociosas, a professora improvisa uma atividade
de pintura (Caderno de campo, Prof. C Pré I).

A professora chama aluno por aluno em sua mesa com o


caderno e pega o numero 6 recortado em EVA, segura na mão
da criança e contorna o numero com o lápis, em seguida pede
para o aluno pintar o numero 6 com o lápis de cor que ela
entrega para ele. (caderno de campo Prof. C Pré I)

[...] em seguida cantou uma musica que estava pregada no


quadro e pediu que os alunos lhe respondesse que era material
escolar, com ajuda das crianças escreveu no quadro logo após,
eles tinham que copiar o que estava no quadro, no caderno,
enquanto isso ela fazia uma atividade escrita com um aluno
especial. (Caderno de campo Prof. B Pré II)

Com uma formação inicial acadêmica bem estruturada e direcionada


para a área da educação infantil e uma formação continuada oferecida pelas
secretarias de educação, com componentes curriculares específicos para a
Educação Infantil e que eleve o status das professoras dessa modalidade
contribuiria para o despertamento desses profissionais para práticas efetivas.

Ao serem questionadas sobre se o professor deve ter formação


específica para atuar na educação infantil, todas foram unanimes e apontar a
necessidade de uma melhor organização acadêmica e mais oferecimentos de
formação continuada e conhecimentos específicos, mas uma das falas da
professora C indicam que gostar e ter jeito com crianças ainda são as
habilidades mais exigidas para um profissional que pretende atuar nesse
segmento.

Não, a formação de pedagogia em si, ela não prepara você para


trabalhar com a educação infantil, tanto que eu fiz a minha pós,
especialização em educação infantil. ai sim você esta preparada,
porque só falar assim, ah, só porque fez pedagogia pode ir pra
educação infantil. Temos muitos pedagogos que estão na
educação infantil porque não tem outro lugar. [...](Pro. A PréII)

Primeiro ele precisa conhecer a criança! O desenvolvimento da


criança em cada etapa. A criança de 0 a 2 anos, ela tem uma
aprendizagem diferente, ela tem uma capacidade diferente de
uma criança de 3, 4 a 5 anos. Precisa conhecer o psicológico
dela, todas aqueles estruturas de Piaget, aquelas etapas de
desenvolvimento, tem gente que não leva em consideração e
não coloca em pratica tudo que aprendeu.(Prof. B Pré II)

De primeira mão, o professor ele tem que ter dom, depois ele
tem que ter o conhecimento das diretrizes, do conhecimento
didático, pedagógico pra poder desenvolver um bom trabalho
com as crianças, tem professor que leva um jeito, tem um dom
mais, um jeito mais especial, eu vejo que cada um tem um jeito,
um tem um dom mais pra arte, outro tem dom mais pra cantar,
brincar, tudo é um conjunto de coisas e dentro da formação
acadêmica, principalmente quando eu fiz a formação foi muito
bem explicado, nos estágios, foi feito três estágios na educação
infantil, as disciplinas as didáticas, então a gente fica ciente do
que é um trabalho na educação infantil e a pratica ainda a gente
vai aprimorando cada vez mais.(Prof. C Pré I)

Eu acho que o principal, a psicologia, saber como a criança


desenvolve, desde ali no ventre da mãe até chegar na escola.
Psicologia, a pedagogia, saber sobre o interesse da criança, o
que é necessário pra ele. Professor tem que ter muito, muito
conhecimento. Tem que conhecer de musica, de arte, ele tem
que estar em constante pesquisa, professor tem que conhecer
de tudo um pouco, um pouco de medicina, um pouco de coisas
assim que até fogem da educação, esses questionamentos que
as crianças até trazem de casa, que a você vai pensar, puxa, eu
não tinha pensado nisso, daí o professor vai ter que ir lá e
pesquisar. As coisas sobre o espaço, eu penso, eu não sei
disso. (Prof. D Pré I)

Para KRAMER os professores de Educação Infantil, ainda é uma


categoria profissional "em vias de formação" e que estão adquirindo
consciência da importância da função que desempenham. (2005, p. 9)

Isso significa que os participantes reconhecem a sua profissão como


uma atividade que exigem saberes e habilidades específicas, mas através das
observações e das entrevistas, isso ainda não se encontra absolvido e
expressos em suas ações. Gostar e ter paciência é uma das características
que compõem o que seria, na opinião delas, o perfil necessário ou desejável
para professores desse segmento.

Para alcançar uma melhor qualidade das praticas pedagógicas na


educação infantil, a formação específica do profissional em educação infantil é
imprescindível, pois caberá a ele construir práticas educativas que respeitem e
atendam à singularidade dessa fase da vida humana. No que se refere a
formação acadêmica e formação continuada as professoras foram quase
unanimes em expressar a insatisfação do curso acadêmico e do oferecimento
de formação continuada

[...]No curso de pedagogia deveria abranger mais a educação


infantil, um ano de curso, você escolhe, ou vou pra educação
infantil ou vou pro ensino fundamental. Nesse um ano você vai
estudar o que eu estudei agora na pós. Coisas próprias para a
educação infantil. Essa especialização para a educação infantil
me abriu tanto a mente, e aqui em Ji Paraná não poucas
pessoas que tem, se não me engano são cinco ou seis que tem,
mas essas formações continuadas da semed, elas estão sendo
muitos boas. Tão olhando a educação infantil com outro olhar
agora.(Prof. A 5 anos de docência)

Apesar da minha faculdade eu ter feito muito estagio, eu já tinha


feito bastante lá na outra, acho que eu fiz uns 12 estágios
juntando as duas, pra você atuar lá na pratica, não é o suficiente
não, apesar que na Unir ter muita disciplina da educação infantil,
sim, com certeza. Primeiro que para atuar na educação infantil,
creio que alem do professor gostar de criança, é primordial, acho
que tinha que ter lá _você gosta de criança? Na formação. Ele
tem que aprender sim, ter uma formação continuada, a procura
do professor, pode ser pela secretaria de educação, ele tem que
ser especifico sim. Assim como eles vão exigir lá no ensino
fundamental, eles, eles tem que exigir daqui também. (Prof. B 2
anos de docência)

[...] porque a pedagogia em si, ela não foca muito na educação


infantil. Essa formação eu penso que é essencial. (Prof. D. 5
anos de docência)

Apenas uma das professoras se mostrou satisfeita com sua formação

Eu vou falar por mim, eu, como já disse, na pedagogia a gente


teve a disciplina voltada para a educação infantil. As didáticas,
os estágios, os trabalhos, os seminários, isso já fica ciente que
você como pedagogo tem que saber trabalhar com educação
infantil ai depois vem a pós graduação, tem as formações
continuadas, a gente faz na semed, que é voltada para o
desenvolvimento da educação infantil, que a gente faz lá as
dinâmicas, as oficinas de arte, de musica, de tudo que envolve,
estudando letramento, a expressão oral, então isso ajuda muito,
o professor ele tem que se interessar, buscar esses
conhecimentos, também estar sempre inovando. (Prof. C 10
anos de docência)

De acordo com Horn (2004, p.14), “a precariedade na formação de


educadores infantis no Brasil, de modo geral, é de toda a ordem. [...], desde os
aspectos históricos da trajetória dessa etapa de ensino, [...], até a cultura ainda
forte de que para trabalhar com criança basta gostar e ter paciência com elas”.
Ainda afirma que a solução está no investimento na formação dos profissionais
que atuam nessa área.

É fundamental que se pensem os cursos de formação para os


profissionais da educação infantil que o considere como sujeito ativo neste
processo e que as discussões trazidas para o âmbito das formações sejam
significativas para que o professor possa estabelecer relação direta com suas
ações em sala de aula e que possa repensar suas práticas produzindo assim
um novo olhar sobre a criança, o mundo e a escola.

Em relação ao desempenho da secretaria de educação do município na


elaboração e aplicação de formação continuada para os professores da
educação infantil, novamente não ouve um consenso em relação as respostas
oferecidas pelas pesquisadas

[...] Essa especialização para a educação infantil me abriu tanto


a mente, e aqui em Ji Paraná não poucas pessoas que tem, se
não me engano são cinco ou seis que tem, mas essas
formações continuadas da semed, elas estão sendo muitos
boas. Tão olhando a educação infantil com outro olhar agora.
(Prof. A)

To aqui tem pouco tempo, até hoje se teve alguma formação


especifica da secretaria de educação aqui, eu vou ta mentindo.
Não teve. Diretamente não! Só através da Rose. Assim pra atuar
na educação infantil num todo. Mas eles me cederam agora um
curso que teve sobre autismo, que eu participei. Mas a formação
continuada ainda não teve não. Só indiretamente através da
Rose, só através da escola. Mas não assim, vamos tirar dois
dias pra fazer formação! Não teve. Mas não é todo profissional
que participa, porque a direção não dispensa, os alunos pra
fazer isso, no seu horário de trabalho.[...] (Prof.B)

A secretaria tem muita coisa que eles mandam pra gente


desenvolver, eu acredito que eles podem estar aplicando mais
ainda, pensar mais nos professores, porque os professores
ficam um pouco de lado assim, muito esquecidos. Acho que
porque eles têm muitas escolas não dá tempo de atender e
organizar. Pensando em mais alguma coisa assim, muita
cobrança, outras coisas a mais da burocracia, e os professores
mesmo que vão ta aplicando, mais formação continuada, e até
mesmo a remuneração melhor para os professores, eu vejo
assim. (Prof. C)

Apenas uma professora se mostrou satisfeita e até maravilhada com os cursos


de formação oferecidos pela secretaria municipal.
Sim, olha, este ano, o ano passado também, eu percebi assim,
um grande avanço, uma grande mudança da secretaria em
relação a formação dos professores. [...] e quando eu vim para o
município, eu vi essa garantia também, de formações que eu
não esperava, porque eu tinha medo de chegar na educação
infantil municipal e falar assim, ai meu Deus, será que eu vou ter
essa formação? [...] Quando eu cheguei eu me surpreendi,
porque tinha sim, não sei se antes tinha, mas ano passado eu
achei muito legal, formações ótimas, que garantem essas
questões do currículo da educação infantil, e os documentos
pedem, e que eu vejo também que tem alguns professores, eu
percebi que alguns professores não acataram e que agora tem
que, porque como eu vim de uma realidade assim, então pra
mim não foi desafiador, só foi mesmo aprimorar os meus
conhecimentos, a minha formação. Cada vez mais, vem
aprimorando mais, porque nem sempre a gente sabe de tudo,
sempre a gente ta aprendendo, renovando.[...] (Prof. D)

A formação de professores no Brasil é permeada por diversos


paradigmas, e nas últimas décadas há um intenso movimento que busca a
superação da racionalidade técnica que está fortemente presente nos
programas de formação, ainda que de forma camuflada. Alguns estudos
(SAVIANI, 2001; TARDIF, 2004; entre outros) afirmam que nesta proposta de
formação, os professores são preparados para o domínio da técnica e há
pouca ou nenhuma relação com a realidade social, sendo que a prática
pedagógica é desenvolvida com a aplicação de técnicas, métodos e teorias.

5.2 Das estruturas físicas e ideológicas das instituições de educação


infantil
Parafraseando Antunes (2004), uma pré-escola de verdade educa,
ensina, transforma e modifica o ser humano e as primeiras experiências são as
que marcam mais profundamente e, quando positivas, tendem a reforçar ao
longo da vida as atitudes de autoconfiança, de cooperação, solidariedade e
responsabilidade proporcionando melhor desenvolvimento para as
aprendizagens posteriores (p. 41).

As escolas foram escolhidas aleatoriamente e tem grandes diferenças


entre si uma pequena com pouco espaço interno e outra com grande espaço
interno. As escolas aqui identificadas como escola A e escola B.
A escola fica localizada em um bairro considerado periférico,
com pouco espaço interno e nenhuma área verde, as salas são
pequenas e todas possuem ar condicionado. Na semana que
cheguei para fazer a observação havia acontecido um roubo na
noite anterior e todos os funcionários e professores estavam
extremamente preocupados e nervosos. Não possui pátio para a
realização de brincadeiras e o espaço das salas é bem pequeno
mas bem decorado. A escola possui três salas, a diretoria, a
secretaria e coordenação pedagógica, a cozinha, o refeitório e
os banheiros dos alunos (sem adaptação) e dos professores,
num primeiro pavilhão e num segundo bloco outra sala de aula,
a biblioteca sala de leitura (único ambiente) e a sala dos
professores. (caderno de campo escola A)

A escola B fica localizada em um bairro também considerado periférico, foi


recém reformada e possui um espaço amplo e todas a adaptações, algumas
ainda em conclusão, necessárias e exigidas para a educação infantil.

A escola possui porteiro eletrônico, um amplo espaço externo,


parque de areia, parque coberto, no primeiro bloco tem quatro
salas amplas que funcionam o pré II em dois turnos, sala de
recurso, sala de computação, ao lado outro pavilhão com a
secretaria, sala dos professores, e diretoria. Num segundo
pavilhão, separado por um pátio coberto com espaço para
atividades físicas, mais 4 salas de aula onde funcionam o pré I
em dois turnos, os banheiros, sala de movimento, biblioteca e
sala de texturas. Ao lado deste pavilhão fica a piscina cercada e
devidamente trancada e a cozinha e os banheiros dos
professores. Jardim e o inicio de uma pequena horta. (caderno
de campo escola B)

Observamos uma grande diferença entre as duas escolas no fator estrutura


físicas das escolas e com isso consequentemente a realização de poucas
atividades relacionadas ao brincar e explorar os espaços.

5.3 Da organização curricular municipal, das concepções entre ensino


fundamental e educação infantil.
Ao questionarmos sobre a organização curricular da educação infantil
estabelecida principalmente das orientações relacionadas ao município que foi
entregue nas escolas esse ano pela secretaria municipal, observamos que
apenas as professoras com menor tempo de docência souberam opinar e
demonstrar conhecimento da mesma.

As orientações elas estão tão esse ano, elas vieram


assim tão, bem completas, a gente olha assim, você
praticamente não vê o que ta faltando. Ela vem pensando
bem o aluno, o desenvolvimento, bem pratica, não ta
aquela coisa. As orientações ta abrangendo bem, ta
aquela coisa confiante a gente ta abrangendo tudo, todos
os campos de experiências que as crianças necessitam
passar, lá tem direitinho todas a áreas, todas as
aprendizagens para a faixa etária delas. Se seguir aquela
orientação, você consegue abranger toda.(Prof. A)

Em cima dos eixos? essa organização, ela ficou muito


boa, ta excelente, ta muito bonita. Mas na pratica é
diferente. Tudo que ta aqui o pessoal da educação não
consegue colocar em pratica não. Pode por sim, mas dá
muito trabalho. Você seguir cada ponto que está aqui, as
vezes, assim, a nossa escola até que tem uma estrutura
um pouco melhor, mas tem coisa aqui que não dá pra
fazer, tipo: a musica, nós vamos trabalhar a musica, tem
5 aparelho de som, tem um funcionário, porquê? O mal
uso.(Prof. B)

Apenas uma professora se mostrou alheias a novas orientações municipais


e também em relação aos documentos oficiais

A organização pedagógica, que são o norte, que leva o


professor a ter essa programação, do seu planejamento,
e também no currículo contem tanta coisa especifica,
desde o cuidar, desde o momento que a criança entra na
escola pra ser recebido, a acolhida a alimentação, o
trabalho com os professores, tudo isso é muito
importante. As merendeiras. (Prof. C)

A professora D foi a que mais conseguiu fornecer dados concretos sobre as


normas estabelecidas pelos documentos que orientam a educação infantil
A educação infantil eu penso que a primeira coisa assim
que, um principio pra criança aprender ali é a rotina. A
criança tem que ter rotina, desde que a gente chega na
escola, ele vai saber o momento de cada coisa, vou
sempre estar falando, sempre repetindo, voltando lá no
quadro e agora o que a gente vai fazer, porque ai ele vai
ter a sua autonomia, que é outro ponto importante da
educação infantil. A autonomia, a escola tem que
propiciar essa autonomia pra criança, vamos ao parque,
vamos! Vamos andando, caminhando, vamos correndo,
agora a professora vai fazer atividade, a professora vai te
dar o lápis, e você vai fazer tal coisa, a criança ter
autonomia de fazer a sua atividade, as vezes a
professora vai mediar, você vai fazer tal coisa, escreve o
seu nome, a professora não precisa ir lá segurar na mão
ou ficar ali desenhando pra, ela vai ela mesma criando e
quando vem uma outra criança e fala _ah ele fez errado!
Não ele não fez errado, ele fez do jeito que ele ta
aprendendo do jeito que ele sabe, nós, todos estamos
aprendendo! Cada um da sua forma. A autonomia, a
interação rotina, a criança na educação precisa ter essas
coisas, pra ele situar, se responsabilizar. (Prof. D)
O currículo nas DCNEI é concebido como “conjunto de práticas que buscam
articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que
fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico,
de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de
idade”. (DCNEI, 2010, p.12).

A falta de assimilação e compreensão a respeito das normas e diretrizes


existentes a cerca da educação infantil é visível apenas em uma das
professoras, mas o que causa preocupação, é que é a profissional com maior
tempo de atuação na educação infantil.

A transição da pré escola para o ensino fundamental tem sido objeto de


muitos estudos e questionamentos, por ser uma fase muito difícil para a criança
atravessar. Para alguns educadores, como observaremos em algumas falas, o
ensino pré escolar seria uma preparação para o fundamental, e que o na contra
partida do ensino fundamental, na educação infantil só tem brincadeiras.

A ideia de um currículo baseado apenas na alfabetização e no letramento


da criança acima de 5 anos, deixando de lado a brincadeira e os jogos, faz o
educando entrar em conflito pela perda da rotina da educação infantil e novos
desafios no ensino fundamental.

Em relação a organização do currículo na educação infantil, em algumas as


respostas podemos observar uma constante preocupação na comparação
entre o que se pede nos documentos e o que a sociedade exige dos
professores. As atividades escritas para a confecção do portfólio e registro do
relatório que comprovem todas as ações realizadas em sala de aula é uma
constância em praticamente todas as professoras.

As observações revelam que na rotina e na organização do trabalho


educacional o que se destaca é a ordem engessada das atividades e a
preocupação com o tempo das atividades, uma preocupação constante com o
que precisa ser/ter registrado para prestação de conta para os pais, a
sociedade e as autoridades do meio. Quando uma professora pega na mão de
uma criança e a condiciona a fazer algo ou lhe entrega uma lápis sem lhe dar o
direito de escolher sua cor favorita, ela nega o direito dessa criança de se
expressar e consequentemente condicionada e moldada.

5.4 Breve relato da concepção do cuidar e educar no olhar das


educadoras pesquisadas
Em 2005, o MEC define a nova Política Nacional de Educação Infantil,
que indica diretrizes, objetivos metas e estratégias para esse nível da
educação básica. Dentre suas diretrizes destacamos: "A Educação Infantil deve
pautar-se pela indissociabilidade entre o cuidado e a educação" e dentre seus
objetivos está o de "Assegurar a qualidade de atendimento em instituições de
Educação Infantil (creches, entidades equivalentes e pré-escolas)" (Brasil,
2005, pp.17, 19).

Na minha concepção e também no que eu aprendi que os dois


caminham juntos, não tem como você cuidar sem educar, ajudar
nessa educação, porque quando você cuida você ta transmitindo
regras e valores e isso é o educa, na minha concepção os dois
caminham juntos, cuidar, educar e ensinar caminham juntos. Na
forma como a gente transmite, ensina esses valores, promove
essa interação, cobra da criança mostrando o afeto, o carinho, o
desenvolvimento das atividades, as crianças ficam bem inserida,
eles comentam algo que a gente faz com eles, chegam em casa
comenta com os pais, os pais retribui isso com a gente. E a
gente fica muito feliz de ver isso. (Prof. C)

Não dá pra separar! Tem gente que vem trabalhar na educação


infantil e fala _há, eu não vou fazer isso, isso não é meu serviço!
Eu não vim aqui pra poder limpar bunda de menino. Gente é
uma criança, vai acontecer, de você ter que fazer isso,
principalmente, para quem trabalha com crianças com
necessidades especiais, você tem que fazer isso. Eu fico
imaginando uma pessoa assim lá na creche que tem que dar
banho, não vai querer dar banho? É carinho e cuidado! A criança
que chega chorando e não quer ficar? Você tem que entender o
que tá acontecendo pra ela não querer ficar. Se deixar a criança
chorar, chorar, chorar, se esgoelar, ela não vai querer voltar
nunca mais! [...](Prof. B)

Eu vejo o cuidar e o educar, as vezes sou até criticada por isso


por algumas pessoas que acham que nos devemos só que
educar. Eu não, eu na minha concepção eu tenho que cuidar, eu
sou aquela professora mãezona, eu venho cuidar e o educar ali
junto, porque se eu não cuidar do aluno, se eu não tiver aquele
amor, aquele carinho como eu vou conseguir educar? Os dois
tem que estar juntos, juntamente. É preciso ta cuidando, a
criança chega na escola, tem muitas crianças que não tem o
amor da mãe ou do pai, ele quer um abraço. E eu já vi
professoras falar assim _eu não abraço, eu não arrumo cabelo
de menino, porque eu não sou paga pra isso, eu sou paga pra
ensinar ele, agora arrumar o cabelinho, a roupa e ajudar a ir no
banheiro não.[...] (Prof. A)

O cuidado que se refere às professoras em suas falas fica destinado


apenas aos cuidados higiênicos, trazendo de volta aquela visão
assistencialista. Acreditamos ser um desafio para os profissionais de educação
infantil compreenderem o binômio cuidar e educar como parte iminente da
educação da criança de zero a cinco anos, uma vez que historicamente somos
marcados por uma concepção assistencialista de atendimento à criança
pequena.

“[...] hoje lutamos para superar essa dicotomia, ou seja,


mudar essa ideia que o Centro de Educação Infantil
existe somente para assegurar o direito da mãe
trabalhadora” (MORENO, 2007, p. 55).

5.5. Da concepção entre finalidade e função da educação infantil


Através da pergunta relacionada a função da educação, percebemos
uma dificuldade de compreensão da pergunta e uma associação com a
pergunta anterior, que se refere a finalidade.

Podemos observar na entrevista que das quatro professoras, apenas


duas citaram algum documento que se refere a educação infantil e suas
especificidades:

[…] “As orientações ta abrangendo bem, ta aquela coisa


confiante a gente ta abrangendo tudo, todos os campos
de experiências que as crianças necessitam passar, lá
tem direitinho todas a áreas, todas as aprendizagens
para a faixa etária delas. Se seguir aquela orientação,
você consegue abranger toda.” (P. A)

“Acho que ta bom! É só a gente seguir, se seguir isso


aqui (apontou para as diretrizes municipais) alem da
pratica, mesmo ela dando ok, […] (P. C)

Podemos observar que conhecimento das professoras em relação aos


documentos são falhos e superficiais. Mesmo todas tendo conhecimento da
existência dele, não se observou nas suas falas e que os conceitos descritos
no documento são absorvidos e entendidos pelas professoras. Apenas duas
citaram e dessas apenas uma falou com segurança, citando partes do
documento e as áreas de conhecimentos.
Ao dialogar com as professoras entrevistadas e por meio das
observações foi possível entender que as concepções das professoras em
relação a finalidade da educação infantil, encontramos alguns conceitos como:
preparação para o ensino fundamental, socialização e aquisição de regras e
normas que lhes servirão na idade adulta.

“Ela vem pra preparar a criança para o ensino fundamental, pra


deixar ele mais preparado pra quando eles chegar no ensino
fundamental, eles não terem tanta dificuldades no egresso.”
(Prof. A)

[…] “A criança vir pra cá pra socializar, pra aprender conceitos


que ele não aprende em casa, mas de uma forma, mais dentro
da realidade dele, dentro das suas especificidades, cada um
precisa de alguma coisa. Eu tenho que conseguir alcançar
aquele objetivo daquela criança. Construir conceitos através do
lúdico, através da vivência com os colegas, aprender a respeitar
o outro, aprender a cuidar de si, a cuidar do seu corpinho”. (Prof.
B).

“A educação infantil ela colabora né com o desenvolvimento da


criança, a educação infantil ela é a base e colabora com o pleno
desenvolvimento da criança.” […] (Prof.C)

“A educação infantil ela vem pra trazer a criança, aproximar a


criança nesse mundo letrado, pra também auxiliar ele a se
tornar um cidadão, ele já é um cidadão, mas aqui na escola, ele
vai aprender as ações sociais, a conviver com o outro, a
interagir, então a educação infantil ela é muito importante na
vida da criança.”[...] (Prof.D)

Segundo Sampaio (1993) a educação infantil deve ser um espaço de


construção de conhecimento em que o aluno, ponto de partida para o processo
ensino-aprendizagem, é visto como sujeito. Ainda segundo a LDB, artigo 29, a
educação infantil tem como finalidade "o desenvolvimento integral da criança
até seis anos de idade em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e
social, complementando a ação da família e da comunidade".

As observações e as entrevistas revelaram uma preocupação excessiva


das professoras em alfabetizar as crianças, devido a cobrança dos professores
do ensino fundamental, ou seja, “eu tenho que ensinar alguma coisa ou algo,
porque senão serei cobrada pelo próximo professor desse aluno” dessa forma,
as professoras acabam negligenciando etapas importantes na educação infantil
e perdendo o conceito real da finalidade da educação infantil.
É necessário que o profissional reconheça as finalidades desse nível de
ensino, integrando e interligando rotina e planejamento, atendendo todas as
necessidades e o desenvolvimento dos pequenos em todos os aspectos. Os
resultados desse estudo revelaram que a organização da rotina pode contribuir
para o enriquecimento das experiências das crianças ou até mesmo dificultar o
seu desenvolvimento, considerando que toda a dinâmica dependerá da
concepção de finalidade da educação infantil que os professores e
coordenadores têm sobre a mesma.

O professor precisa ter bem estruturado e estabelecido toda a


organização do trabalho pedagógico, a fim de que dessa forma possa avaliar
as atividades que planeja e as suas próprias atitudes frente à criança. Deve
mediar, avaliar de forma individual e sem compará-las umas às outras,
compreendendo que cada uma dela tem sua história de vida e tempo
desenvolvimento próprios. Importante reiterar a importância da apropriação e
compreensão do professor no que diz respeito a finalidade da educação
infantil, estando amparado e baseado nessa finalidade a que se destina a
educação infantil, o professor conseguirá desenvolver atividades e estratégias
que tenha real valor e aproveitamento para as crianças, sobretudo daquelas
que se destinam à organização dos espaços e tempo.

Considerações Finais

Percorremos um longo caminho de avanços nesta etapa da educação


básica, mas temos consciência para saber que precisamos caminhar muito
mais, para que possamos realmente oferecer uma educação infantil de
qualidade. Não bastam leis que garantam o direito a educação infantil de
qualidade no papel e discussões teóricas aprofundadas sobre o
desenvolvimento infantil, é necessário para os profissionais que atendem
diretamente as crianças de 0 a 5 anos de idade, políticas de formação que
garantam possibilidades de refletirem sobre suas práticas e como essas podem
efetivamente colaborar com o desenvolvimento infantil possibilitando e
ampliando suas experiências e conhecimentos.
O educador deve organizar seu planejamento de acordo com um
currículo que priorize e valorize o espaço e o tempo disponível dentro da sua
realidade pedagógica e atenda as necessidades da turma.

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