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Ano: 2021
1
Jacyara Batista Santini
2021
Curitiba, PR
Faculdade UNINA
2
Faculdade UNINA
Rua Cláudio Chatagnier, 112
Curitiba – Paraná – 82520-590
Fone: (41) 3123-9000
Conselho Editorial
D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Marli Pereira de Barros Dias /
D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno /
D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia
Revisão de Conteúdos
Cláudio Rodrigo Vicente
Designer Instrucional
Raphael Pereira Nunes de Souza
Revisão Ortográfica
Lucimara Ota Eshima
Desenvolvimento Iconográfico
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério
Desenvolvimento da Capa
Carolyne Eliz de Lima
FICHA CATALOGRÁFICA
3
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA!
4
Sumário
Prefácio ....................................................................................................... 07
Aula 1 – Ensino de arte no Brasil: um ensino escolar com história .............. 08
Apresentação da Aula 1 ............................................................................. 08
1.1 – Marcos históricos do ensino de arte no Brasil .............................. 08
1.1.1 – Dos jesuítas à Missão Artística Francesa ................................. 09
1.1.2 – Liceus de Artes e Ofícios .......................................................... 13
1.1.3 – O desenho utilitário na base da educação escolar popular ....... 15
Conclusão da aula 1 .................................................................................... 18
Aula 2 – Ensino de arte escolar a partir do século XX .................................. 19
Apresentação da Aula 2 .............................................................................. 19
2.1 – Ensino de arte no Brasil: marcos históricos a partir do século XX 20
2.1.1 – Modernismo e liberdade de expressão infantil .......................... 21
2.1.2 – O ensino de arte em reformulações ......................................... 23
2.1.3 – A reação durante os anos 1980 ................................................ 25
Conclusão da Aula 2 ................................................................................... 27
Aula 3 – Concepções de ensino e aprendizagem da arte no Brasil ............. 29
Apresentação da Aula 3 .............................................................................. 29
3.1 – Concepções do ensino de arte – Lei n. 5692/71 e LDB n.
9.394/96 ...................................................................................................... 30
3.1.1 – Lei n. 5.692/71 e o ensino de arte como atividade .................... 30
3.1.2 – O ensino de arte como conhecimento na LDB n. 9.394/96 ....... 32
3.2 – Abordagens do ensino-aprendizagem de arte ............................ 33
3.2.1 – Abordagem Triangular .............................................................. 34
3.2.2 – Cultura Visual ........................................................................... 36
3.2.3 – Multiculturalismo ....................................................................... 40
Conclusão da Aula 3 ................................................................................... 42
Aula 4 – Educação Estética, Territórios da arte e Cultura, BNCC ................ 43
Apresentação da Aula 4 .............................................................................. 43
4.1 – Educação Estética ....................................................................... 43
4.2 – Territórios da arte e Cultura ......................................................... 47
4.3 – A Base Comum Curricular – BNCC e suas questões para o
ensino de arte ............................................................................................. 51
Conclusão da Aula 4 ................................................................................... 54
5
Aula 5 – Configuração do ensino de arte no Brasil a partir de seus
elementos históricos e teóricos ................................................................... 55
Apresentação da Aula 5 .............................................................................. 55
5.1 – Marcos normativos a partir da educação artística ....................... 56
5.2 – Entre avanços e recuos ............................................................... 58
5.3 – A questão do ensino médio ......................................................... 60
Conclusão da Aula 5 ................................................................................... 63
Aula 6 – Panorama do ensino das artes visuais em suas relações com as
práticas escolares ....................................................................................... 63
Apresentação da Aula 6 .............................................................................. 63
6.1 – Das artes plásticas às artes visuais ............................................ 63
6.2 – Artes visuais na BNCC ................................................................ 65
6.3 – Artes visuais no espaço escolar .................................................. 66
6.4 – Aspectos da polivalência ............................................................. 68
Conclusão da Aula 6 ................................................................................... 69
Aula 7 – Narrativas docentes ....................................................................... 72
Apresentação da Aula 7 .............................................................................. 72
7.1 – Caminhos e escolhas na profissão docente ................................. 72
7.2 – E o professor de arte? ................................................................. 74
7.3 – Diário docente ............................................................................. 76
Conclusão da Aula 7 ................................................................................... 77
Aula 8 – Ensino não-formal nas instituições artísticas ................................. 78
Apresentação da Aula 8 .............................................................................. 78
8.1 – Educação não-formal .................................................................. 78
8.2 – O museu em seu papel educativo ................................................ 81
8.3 – A mediação no processo educativo ............................................. 83
Conclusão da Aula 8 ................................................................................... 86
Índice Remissivo ......................................................................................... 88
Referências .................................................................................................
6
Prefácio
7
Aula 1 – Ensino de arte no Brasil: um ensino escolar com história
Apresentação da Aula
Mídias
Antes de prosseguir, o vídeo endereçado no link a seguir ajudará você a
relembrar um pouco sobre os jesuítas e a catequização indígena:
https://www.youtube.com/watch?v=vJiKGEsGtkI
8
1.1.1 Dos jesuítas à Missão Artística Francesa
9
MEIRELLES, Victor. A primeira missa no Brasil, 1860.
Óleo sobre tela, 268 cm X 356 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de
Janeiro.
Fonte: https://www.infoescola.com/historia/primeira-missa-no-brasil/
Reflita
A pintura histórica de Victor Meirelles apresentada é uma representação artística
neoclássica de um aspecto da colonização e não um retrato fiel da convivência
entre colonizadores, jesuítas e indígenas, desde o descobrimento até o século
XVIII. Muitas pinturas são utilizadas em livros de história para contar e ilustrar
episódios importantes já ocorridos. No entanto, é preciso sempre observar que
essas imagens, embora sejam produções artísticas relevantes de nossa história,
acabam compondo uma certidão visual do Brasil. Muitas pinturas históricas ou
religiosas, como essa de Victor Meirelles, foram criadas sob encomenda por
governos políticos para formar uma imagem do país. São produções que podem
e devem ser questionadas, seja em aula ou em qualquer outra situação na qual
estejam presentes.
10
Vocabulário
Neoclássica: o estilo neoclássico surgiu do movimento cultural denominado
Neoclassicismo na Europa Ocidental, por volta da metade do século XVIII, como
uma nova tendência estética que abrangeu a arte e a cultura, até meados do
século XIX. Baseava-se nos ideais do Iluminismo e em um interesse renovado
pela cultura da Antiguidade Clássica. Como um movimento de reação aos
excessos de decoração e drama existentes no Barroco, apresentava um estilo
sóbrio, não decorativo, linear, voltado ao desenho e à simplicidade da natureza.
Na pintura, por exemplo, a pincelada era suave, para que a superfície parecesse
polida e as composições fossem simples, evitando também os exageros do estilo
rococó.
Mídias
Assista a um vídeo sobre a obra apresentada, de Victor Meirelles e perceba mais
pontos interessantes sobre a pintura em questão:
https://www.youtube.com/watch?v=El3nhTDreyw
Vocabulário
Barroco: estilo artístico marcado por uma estética extravagante, tendo
dominado a arquitetura, a literatura, a pintura e a música entre o século XVII e
as primeiras décadas do século XVIII. O Barroco surgiu em oposição ao
Renascimento, caracterizado pela harmonia e simplicidade, com a missão de
conter a Reforma Protestante. Por isso, sua estética extravagante, caracterizada
pelo excesso de ornamentos e representações do divino. Dessa forma,
expandiu-se como uma arte eclesiástica.
Saiba mais
A respeito da perspectiva do jesuitismo, consulte também:
• NASCIMENTO, Erinaldo Alves do. Formação profissional do “bom
silvícola” nas Artes e Ofícios: a perspectiva do jesuitismo. In: BARBOSA,
Ana Mae (org.). Ensino de arte: memória e história. São Paulo:
Perspectiva, 2008.
12
• VALE, Renata William Santos do. A corte no Brasil: Ensino e ilustração.
O Arquivo Nacional e a História Luso-Brasileira, 2018. Disponível em:
http://www.historiacolonial.arquivonacional.gov.br/index.php?option=com
_content&view=article&id=5225&Itemid=279
• WANDERLEY, Monica Cauhi. História da Academia - diferentes nomes,
propostas e decretos. 19&20, Rio de Janeiro, v. VI, n. 2, abr./jun. 2011.
Disponível em:
<http://www.dezenovevinte.net/ensino_artistico/academia_mcw.htm>.
13
O grande objetivo da Sociedade Propagadora das Belas-Artes com o
ensino de artes e ofícios era o de romper com o distanciamento entre o ensino
superior acadêmico e o analfabetismo, implantando um segmento intermediário
de estudo que permitisse o exercício específico de uma profissão nas diversas
divisões das artes industriais. Além disso, a intenção era de estimular as
habilidades e o talento dos alunos-operários por meio do ensino artístico aplicado
às artes e ofícios. Dessa forma, as artes se propagariam fazendo surgir uma
nova estética nos produtos brasileiros, impulsionando assim a indústria do país
e tornando-a competitiva no mercado.
A aprendizado do desenho era sustentação da grade curricular e da
ligação das artes aos ofícios no Liceu do Rio de Janeiro. Victor Meirelles foi
professor de Desenho de Figuras no Liceu e coordenou a reforma dos programas
das várias disciplinas ligadas ao desenho, criando ali um método próprio de
ensino. A instituição foi precursora no Brasil por ter sido uma escola gratuita,
noturna, que oferecia ensino básico, técnico-profissional e artístico para a
população. Seu pioneirismo também foi evidenciado pela criação, em 1881, das
classes de desenho para mulheres, demonstrando uma atenção com a
profissionalização feminina. O Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro foi
modelo, inclusive, para a criação de outras instituições congêneres em diversos
estados, como na Bahia, em São Paulo, em Pernambuco e no Paraná, entre
diversos outros. O próprio Bethencourt da Silva foi patrono de muitos Liceus, em
consideração ao apoio por ele prestado.
Saiba mais
A artista Abigail de Andrade (1864-1890), natural de Vassouras – RJ, iniciou seus
estudos no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro em 1882, um ano depois
de a instituição acolher mulheres nas aulas. Estudou com o pintor Angelo
Agostini, participou da exposição do Liceu em 1882 e da Exposição Geral de
Belas Artes de 1884, na qual recebeu medalha de ouro pelas telas Cesto de
compras e Um canto do meu ateliê, tendo sido a primeira artista do Brasil a
receber essa condecoração. Para mais informações sobre mulheres artistas,
você pode consultar: CHIARELLI, Tadeu; SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti; DIAS,
Elaine. Mulheres artistas: as pioneiras. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2015.
14
1.1.3 O desenho utilitário na base da educação escolar popular
15
É importante destacar que Rui Barbosa almejava implantar o modelo
americano de ensino da arte no Brasil, cujo objetivo era o de educar para a vida
prática. O desenho teria, então, como principal objetivo, a capacitação para o
trabalho, possibilitando o fornecimento de mão de obra qualificada para o
mercado da indústria. Por outro lado, em sua visão, o desenho poderia contribuir
também na aprendizagem intuitiva, que baseada nos sentidos.
Para Rui Barbosa, todo o ensino do desenho deveria ter por base as
formas geométricas, as quais, por serem regulares, dariam o embasamento às
formas naturais, normalmente irregulares. Diante disso, o desenho das formas
naturais deveria ser primeiramente reduzido às formas geométricas, tendendo
frequentemente à estilização. Defendia ainda que o traçado deveria ser à mão
livre, estimulando a desenvoltura manual e que o desenho a partir de modelos
deveria iniciar com um estudo integral do objeto, assim como de suas partes. A
partir das ideias de Walter Smith, Rui Barbosa via o desenho também como um
auxiliar de outras matérias do currículo escolar, sobretudo a geografia. As ideias
defendidas por Rui Barbosa inspiraram diversos educadores no Brasil, como
Abílio César Pereira Borges, que publicou uma Geometria popular, uma espécie
de manual editado aproximadamente até o final dos anos 1950, propondo um
estudo no qual o desenho começaria por linhas verticais, horizontais, oblíquas,
paralelas, denominadas por ele como alfabeto do desenho.
O positivismo, por sua vez, teve seu ideário largamente propagado no
Brasil na segunda metade do século XIX. Contrário ao liberalismo de Rui
Barbosa, considerava que o ensino do desenho não deveria ser aplicado ao
desenvolvimento industrial. Autor da primeira reforma educacional republicana
de 1890, Benjamin Constant expressava os ideais positivistas da arte na
educação, propondo a extinção da Academia de Belas-Artes e a reorganização
do ensino da arte em geral. Nessa reforma, republicana, os artistas teriam a
liberdade de escolher os ateliês para se formar e sob a finalidade de regeneração
do povo, o ensino da arte deveria ocorrer em todos os graus das escolas
públicas. Entretanto, o ensino do desenho acabou sendo tomado no currículo
como contribuição para o estudo das ciências.
16
Vocabulário
Liberalismo: de uma forma geral, o Liberalismo se constitui de uma filosofia
política e moral baseada em liberdade e igualdade perante a lei. Pode ser visto
sob três principais enfoques: liberalismo político, liberalismo econômico e
liberalismo como corrente de pensamento. A partir desses enfoques e
dependendo da compreensão dos princípios do liberalismo, a sua defesa
costuma se ancorar na democracia, em direitos individuais (direitos civis e
direitos humanos), em um governo restrito, no livre mercado, no secularismo, na
igualdade de gênero, na igualdade racial, no internacionalismo, nas liberdades
de expressão, de imprensa e religiosa. Particularmente para Rui Barbosa, o meio
liberal de atingir um projeto liberal era por uma democratização gradual e uma
organizada abertura do sistema político, sendo de grande relevância o projeto
educacional, o qual se efetivou por meio de seus Pareceres.
Saiba mais
Procure pesquisar sobre outros liceus no Brasil e tente perceber se havia
diferenças ou particularidades em suas atuações.
Reflita
A partir do que foi tratado até aqui, como era entendido e para que servia o
ensino de arte?
17
Conclusão da aula
Artes e ofícios
1800 - 1821
18
Reforma do Ensino Secundário e Desenho para formação de mão de
Superior de 1882 (Rui Barbosa) obra para a indústria
Atividade de aprendizagem
Pense sobre como foi se configurando o ensino de arte desde a colonização
até o século XIX. Você pode ampliar esses conhecimentos, pesquisando o
tema pelas referências finais deste livro ou outras. Depois, escreva sobre
quais concepções foram se delineando e o que delas afetaram de algum
modo sua experiência pessoal na aprendizagem ou na sua forma de ver a
arte.
Apresentação da Aula
19
2.1 Ensino de arte no Brasil: marcos históricos a partir do século XX
20
2.1.1 Modernismo e liberdade de expressão infantil
21
dos impulsos infantis, a EAB possuía ideais opostos aos da escola regular, onde
essa compreensão sobre a arte para a infância ainda não se fazia tão presente
e efetiva.
A partir da EAB, diversas escolinhas de arte foram criadas no Brasil e
até em outros países. As primeiras foram a Escolinha de Cachoeiro do
Itapemirim, a Escolinha de Arte do Círculo Militar de Porto Alegre, a Escolinha
de Arte da Bahia, e a Escolinha de Arte do Recife, chegando a ter nos anos de
1970 aproximadamente 50 escolinhas, incluindo o Paraguai, a Argentina e
Portugal. A experiência da EAB foi e é uma das mais conhecidas e referenciadas
quando se trata de liberdade de expressão infantil e de arte na educação.
Entretanto, as crescentes pesquisas em História da Educação comprovam a
existência de outras experiências análogas, as quais, embora comunguem de
ideias sobre a arte na educação, foram encaminhadas de um modo próprio. Um
exemplo é a Escolinha de Arte do Colégio Estadual do Paraná, que diversamente
da EAB, foi organizada no interior e da dinâmica escolar.
Vocabulário
Escola Nova: foi um movimento de renovação do ensino, surgido na Europa,
Estados Unidos e Brasil no final do século XIX, e que ganhou impulso na primeira
metade do século XX. Foi também chamada de Escola Ativa ou Escola
Progressiva, porém com algumas diferenças de direcionamento. No Brasil, esse
movimento se ampliou na década de 1930, após a divulgação do Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova, de 1932. Fundamentada no pensamento de
Adolphe Ferrière, a maior finalidade da Escola Nova era o estímulo espiritual e
o desenvolvimento da autonomia da criança. No sentido de estimulá-la a
pesquisar e ensiná-la a aprender de modo autônomo, eram adotados métodos
ativos. As ideias de livre expressão em arte foram ao encontro dessa pedagogia
centrada no aluno e, na busca da valorização da criatividade, o papel do
professor foi o de oferecer oportunidades para a expressão espontânea dos
alunos.
22
Curiosidade
No ensino de arte, nem todas as conduções de professores de arte foram
semelhantes no período da Escola Nova e algumas particularidades foram
evidenciadas em pesquisas. É o caso de Jeanne Milde, artista e professora belga
que veio da Europa para o Brasil em 1929, junto a um grupo de professores, a
fim de integrar o processo de renovação do ensino em Minas Gerais. Com
formação superior, ela foi a primeira mulher escultora que atuou em Belo
Horizonte. Em sua docência, Jeanne Milde buscava trabalhar com arte e vida
por meio de uma proposta integrada, especialmente, em situações mais
próximas possível da realidade dos seus alunos. Sendo assim, seu intuito era
promover a criatividade dos alunos também por meio de atividades manuais,
com o uso de materiais fáceis e alternativos.
23
essas foram mantidas no papel de instrumental para o entendimento de outros
conteúdos.
Diversas também foram as mudanças no âmbito educacional,
determinadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 4.024, de
20 de dezembro de 1961, entre elas, a flexibilidade aos currículos que
possibilitou certa singularidade às escolas. As mudanças na organização da
educação nacional abrangeram, inclusive, o ensino de artes. Por meio do artigo
38 § 4.º, essa lei determinou a inserção de atividades complementares de
iniciação artística no ensino de grau médio, compreendido pelo ginasial e o
colegial. Além dessas atividades complementares, a LDB nº 4.024 substituiu o
canto orfeônico, após trinta anos de vigência no ensino escolar, pela educação
musical. O mesmo tratamento foi dirigido aos trabalhos manuais, que a partir
dessa legislação, trocado pelas artes aplicadas. Por sua vez, o desenho
continuava a ser exigido como disciplina obrigatória nos currículos de quase
todos os estados do Brasil.
Nos anos de 1970, o sistema educacional passou novamente por um
processo de mudanças e teve uma reorientação de normas com a instituição da
Lei n. 5.692/71 em um período ditatorial. Contudo, é importante considerar que
essa mudança política já tinha ocorrido em 1964, praticamente na sequência da
promulgação da LDB de 1961. Com a reforma educacional de 1971, uma nova
e obtusa organização de currículo foi estabelecida sob uma mescla conceitual
de áreas, campos, matérias e formas didáticas de trabalho nas séries e graus.
Toda essa mudança afetou demasiadamente os modos de ensinar e
aprender, impondo uma lógica diferente aos objetivos e processos educacionais,
mas talvez um dos maiores impactos tenha sido a constituição da educação
artística sob uma parca demarcação no currículo. Por meio do 7º artigo a Lei n.
5.692/71 instituiu esse ensino junto à educação física e à educação moral e
cívica, sem uma definição clara de tratamento, como disciplina. Além do mais, a
confusão causada pelas impostas formas didáticas de trabalho contribuiu para
que a educação artística fosse, por muito tempo, compreendida como uma
simples atividade, baseada em uma série de aprendizado de técnicas.
Aos poucos, as disciplinas da área de arte como o desenho, a música e
as artes aplicadas foram extintas após a entrada da educação artística na
maioria dos currículos. No caso do desenho, o seu conteúdo mais técnico foi
24
transposto para a disciplina de matemática. Finalmente, além dessas mudanças
terem acarretado aos professores um complemento às suas formações, a
transposição das diversas linguagens artísticas praticadas nas escolinhas de
arte para a educação artística acabou por impor um formato polivalente ao
trabalho do professor.
25
Foi por meio dos debates contínuos e de mobilizações de educadores
vinculados a Faeb e das associações estaduais, que se deu a obrigatoriedade
da Arte na Lei de Diretrizes e Bases da Educação n. 9.394 de 1996. Essa lei
substituiu a denominação educação artística por ensino de arte, constituído
como componente curricular obrigatório em todos os níveis de ensino da
educação básica. Ainda que com um texto simplificado e com diversos cortes,
essa lei permitiu que a arte fosse garantida como área de conhecimento.
No ano seguinte, em 1997, foram lançados os Parâmetros Nacionais
Curriculares – PCN, documento que forneceu diretrizes para o desenvolvimento
das áreas de conhecimento, como a língua portuguesa, a matemática, as
ciências naturais, a história, a geografia, a arte e a educação física, propondo
uma integração destas com temas transversais.
Sob a premissa da arte como área de conhecimento, em conformidade
com a LDB de 1996, o PCN de arte foi composto por orientações para o
desenvolvimento das artes visuais, da dança, da música e do teatro, com base
na diversidade de repertório cultural e introduzindo informações das produções
sociais e históricas. A base de encaminhamento desse PCN, formada por
produção, fruição e reflexão, era os pilares da abordagem triangular.
Experimentada por Ana Mae Barbosa durante os anos 1980 no Museu de Arte
Contemporânea de São Paulo - MAC-USP, essa abordagem foi concretizada no
início dos anos 1990 com o lançamento do livro A imagem no ensino da arte:
anos oitenta e novos tempos. Tema que será discutido mais adiante, em
concepções de ensino.
Nos anos 2000, foram lançadas normativas importantes, como as
Diretrizes Curriculares dos cursos de graduação, as Diretrizes Curriculares
Nacionais da Educação Básica (2013) e o Plano Nacional de Educação - PNE
(2014 - 2024). A necessidade percebida de nortear e promover a equidade do
ensino nas diversas regiões do Brasil, fez com que fosse anunciada uma base
nacional comum no artigo 26 LDB de 1996 e depois retomada no PNE. Assim,
em 2015 foi apresentada a primeira versão da Base Nacional Comum Curricular
– BNCC.
26
Saiba mais
A BNCC teve diversas discussões até sua publicação final em 2018. Em relação
a área de arte, o esboço inicial do documento provocou ampla discussão sobre
o texto durante o XXV Congresso da Federação de Arte Educadores sobretudo
pelo uso do termo subcomponente para nomear as linguagens de artes visuais,
dança, música e teatro. Várias entidades organizadas de educadores em Arte
solicitaram participação. Para acessar algumas discussões em torno do tema,
você pode consultar:
• VASCONCELLOS, Sonia Tramujas; STORCK, Karine; MOMOLI, Daniel
Bruno. Para onde caminha o ensino das Artes Visuais? Revista GEARTE,
Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 245-258, maio/ago. 2018. Disponível em:
https://www.ufrgs.br/arteversa/para-onde-caminha-o-ensino-das-artes-
visuais-de-sonia-tramujas-vasconcellos-karine-storck-daniel-bruno-
momoli/ Acesso em: 20/10/2021, às 13h35min.
Conclusão da aula
27
Exposição de
Desenhos de
Escolares da Grã- Ideia de livre expressão infantil e de arte na
Bretanha (1941-1942) educação
Criação da Escolinha
de Arte do Brasil - EAB
(1948)
1950 - 1960
Inseriu atividades de iniciação artística no
ensino ginasial e colegial
Lei de Diretrizes e Troca do Canto Orfeônico pela Educação
Bases da Educação Musical e dos Trabalhos Manuais pelas Artes
Nacional n. 4.024, de
Aplicadas
20 de dezembro de
1961 Manutenção da disciplina do Desenho
Reação de
educadores em Arte e Organização dos profissionais de Arte‐
intensos debates para Educação
mudar o ensino de Produção de bases teóricas para o ensino de
Anos Arte no país Arte
1980 - 1990
Criação da Federação dos Arte‐Educadores
Lei de Diretrizes e do Brasil – Faeb (1987)
Bases da Educação n.
9.394 de 1996
28
Substituiu a denominação Educação Artística
por Ensino de Arte, constituído como
Parâmetros Nacionais componente curricular obrigatório da
Curriculares – PCN educação básica.
(1997)
Atividade de aprendizagem
Descreva como você entendeu as mudanças de concepções de arte de
acordo com as legislações discutidas, associando a alguns exemplos de
práticas desse ensino.
Apresentação da Aula
29
3.1 Concepções do ensino de arte – Lei n. 5692/71 e LDB n. 9.394/96
30
predominantemente como atividades. Até o fim do 1º grau, as matérias de
comunicação em língua portuguesa, estudos sociais e matemática e ciências,
tratadas predominantemente como áreas de estudo. Finalmente, somente no 2º
grau o tratamento seria o de disciplina, na qual a aprendizagem se daria
essencialmente pela sistematização e aplicação dos conhecimentos,
conformando-se ao mesmo tempo em conteúdo e processo.
Nessa mesma configuração, a educação artística foi criada no currículo
de 1º e 2º graus, pelo 7º artigo da Lei n. 5.962/71:
Art. 7º Será obrigatória a inclusão de Educação Moral e Cívica,
Educação Física, Educação Artística e Programa de Saúde nos
currículos plenos dos estabelecimentos de 1º e 2º graus, observado
quanto à primeira o disposto no Decreto-lei no 869, de 12 de setembro
de 1969.
Parágrafo único. O ensino religioso, de matrícula facultativa constituirá
disciplina dos horários normais dos estabelecimentos oficiais de 1º e
2º graus. (BRASIL, 1971).
31
ameaçado a continuidade desse ensino, a organização de arte-educadores
tornou possível outros caminhos, que serão tratados a seguir.
32
Contemporânea de São Paulo - MAC-USP e concretizada no início dos anos
1990 como Proposta Triangular de Ensino de Arte.
Em todo caso, tratar a arte como conhecimento inclui desenvolver por
meio das linguagens artísticas um olhar sensível, a emoção, a intuição, a
imaginação, a percepção e a criação. A partir dessas considerações, veremos a
seguir as abordagens ligadas a essa forma de ver o ensino de arte.
33
teorias baseadas, concomitantemente, em propostas de pesquisadores da área
e em nossas práticas escolares em arte, e que acabam por dar forma às
propostas e aulas. Em outras palavras, formam os arranjos sobre “como
deveriam ser” as práticas educativas em arte (FERRAZ; FUSARI, 2001, p. 98).
Esse processo de opções e composição que ao final se traduz em um
modo encaminhar as aulas de arte pode ser dialógico, com diversas
combinações e proposições, com tanto que sejam respeitados os seus princípios
e, sobretudo, que faça sentido para o professor. Desse modo, ao invés de
optarmos por termos como metodologia, à semelhança de um conjunto de
passos inflexíveis, trataremos a seguir algumas abordagens contemporâneas
para o ensino de arte.
34
DBAE – Disciplined Based Art Education. Esse era um projeto da década de
1960, baseado nas disciplinas de estética, História da Arte, crítica e em produção
artística. Vinculado à Getty Fundation e elaborado pelo Getty Center of Education
in the Arts, o programa foi desenvolvido por teóricos da Arte-Educação
americanos tais como: Brent Wilson, Marjorie Wilson, Elliot Eisner, Robert Stake
e Michael Day.
Ao ser voltada essencialmente à leitura de imagens, a Abordagem
Triangular, automaticamente implica o domínio de códigos que permitam o
acesso a essa leitura. Desse modo, o sentido e a efetividade da Abordagem
Triangular se dão quando viabiliza o domínio do conhecimento artístico.
Conforme pode se observar na figura abaixo, o encaminhamento da
Abordagem Triangular não privilegia ou impõe uma sequência obrigatória para
os três eixos nos quais se fundamenta.
35
Na leitura da obra de arte, a proposta da Abordagem Triangular se baseia
na utilização de imagens como referencial para a produção artística. Direcionado
mais especificamente às artes plásticas, esse eixo é centrado na leitura de
imagem, por meio da gramática visual e elementos como linha, ponto e plano,
entre outros. Independentemente da escolha que se faça, a análise formal da
obra de arte não pode, contudo, ter um peso excessivo na articulação dos três
eixos.
Pelo eixo da História da Arte, a ideia é não ter uma ênfase prescritiva,
destituindo a subjetividade do observador. E sim, admitir o direito de olhar e
interpretar a história de uma maneira singular, sem abdicar da discussão sobre
o contexto, seja ele histórico, social, psicológico, antropológico, geográfico,
biológico, ecológico ou outro.
Finalmente, pelo fazer artístico, oportuniza-se o desenvolvimento do
pensamento e da produção criativa na linguagem artística. No fazer artístico, é
importante o processo poético e o protagonismo do aluno, emergidos por meio
de experimentos, pesquisa e projetos de arte, por exemplo.
36
Como não se restringe à abordagem crítica das obras de arte, a
abordagem da cultura visual procura para o ensino da arte referências na
publicidade, na moda, na arquitetura, no design e em outras manifestações
culturais para o estudo da imagem. Considera, principalmente, as relações
estabelecidas entre as produções e seus significados culturais.
É papel da cultura visual questionar saberes constituídos e os sistemas
da cultura. Nesse sentido é importante levar para sala de aula imagens não
legitimadas como arte e que fazem parte do cotidiano dos alunos, como
publicidades, desenho de moda, tatuagens, vídeogame, história em quadrinhos
e outras tantas. Para a escolha das imagens, Hernández sugere alguns critérios:
ser inquietantes; estar relacionadas a valores compartilhados por diferentes
culturas; ecoar as vozes da comunidade; possibilitar múltiplas interpretações; ter
a ver com a vida das pessoas; expressar valores estéticos; suscitar a reflexão
do espectador; não ser incompreensíveis; não atender apenas à vaidade pessoal
do artista; ter em vista o futuro e não estar presa pela ideia de novidade.
Nessa proposta de reflexão crítica das produções visuais é esperado que
os alunos cheguem à compreensão do modo como as imagens afetam seus
pensamentos, suas ações e sentimentos. Que possam ainda refletir sobre a
própria identidade e subjetividade em relação a essas imagens e seus contextos
históricos.
A seguir, veremos um exemplo de questionamentos sobre uma imagem
publicitária. Não se trata de uma receita, mas de uma das muitas formas de
encaminhar uma discussão sobre as imagens, com inspiração na abordagem da
cultura visual.
37
Campanha Do Guaraná Antarctica (2007/2008)
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=dyC8YG58IxY
Acesso em: 23/10/2021, às 19h05min.
38
Âmbito Biográfico - Questionamentos sobre as relações com a vida do
aluno e a imagem considerando a formação da identidade, valores e
crenças:
• Qual relação esta imagem tem com a sua vida?
• Você costuma tomar guaraná ou outro refrigerante? Qual sua
preferência?
• Qual propaganda teve ou tem muito significado para sua vida?
Saiba mais
Para ampliar a compreensão nesse conteúdo por meio do encaminhamento de
Histórias em Quadrinhos, acesse o texto:
• Instrumento de Mediação e Análise Crítica de uma Imagem, de Teresinha
Sueli Franz e Thais Paulina Gralik. Disponível em:
http://www.revista.art.br/site-numero-06/trabalhos/3.htm
Acesso em 24/10/2021, às 9h12min.
39
E quanto a saber o quanto a abordagem triangular e a cultura visual se excluem
ou se somam, leia o texto de Sylvia Bojunga:
• Abordagem triangular e cultura visual: possibilidades no ensino da arte
complementares ou excludentes? Disponível em:
<http://artenaescola.org.br/boletim/materia.php?id=75450> Acesso em
24/10/21, às 10h17min.
3.2.3 Multiculturalismo
40
Dessa forma, uma educação baseada no multiculturalismo envolve um
diálogo cultural e de códigos sem que alunos e professores abram mão ou
rompam com as identificações de seus grupos de origem. Significa incluir na
educação estética empreendida no ensino de arte, os padrões culturais e
estéticos das famílias dos alunos, bem como os da comunidade onde a escola
se insere. Trata-se, neste ponto, sobre inserir a estética do cotidiano, abordada
por Ivone Richter, na qual destaca ser importante dar atenção àquele ‘fazer
especial’ (bordado, crochê, tapeçaria, receita culinária etc.) que muitas famílias
possuem, por meio das avós, tias ou mães. A partir disso, é possível ampliar a
discussão sobre códigos hegemônicos, como o de uma arte erudita e outra
popular, por exemplo.
Para um ensino baseado no multiculturalismo é importante a aquisição de
uma competência em múltiplas culturas, numa visão horizontalizada das
manifestações culturais.
Mídias
Aproveite para assistir à própria Ivone Richter falar sobre seus estudos e projetos
que envolvem a questão multicultural:
https://www.youtube.com/watch?v=2VTGUGaepDk&t=89s
Acesso em: 25/10/21, às 14h37min.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=2VTGUGaepDk&t=89s
Sobre arte contemporânea, abordada por meio da questão do racismo, você
pode assistir às considerações da artista Rosana Paulino em:
https://youtu.be/l7u-mrfq9fs Acesso em: 25/10/21, às 18h20min.
41
Há também uma experiência premiada pelo Instituto Arte na Escola: UBUNTU -
sou porque somos - XX Prêmio Arte na Escola Cidadã - 2019 - Ensino
Fundamental 1. Assista, vale a pena conhecer!
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Mfwa5qova1I&t=1s Acesso
em 25/10/21, às 18h03min.
Saiba mais
Você também pode ler o capítulo A Multiculturalidade e os Parâmetros
Curriculares Nacionais de 97/98, do livro Tópicos Utópicos (1998) p. 89-97, de
Ana Mae Barbosa. Disponível em:
https://repep.fflch.usp.br/sites/repep.fflch.usp.br/files/Topicos%20Utopicos%20
BARBOSA_A.pdf Acesso em: 25/10/21, às 14h48min.
Para refletir sobre o artesanato nas aulas de arte, você pode ler:
• Artesanato na escola: construindo saberes através da práxis, de Ana
Paula Boaventura Mota de Lima (2019). Disponível em:
https://faeb.com.br/wp-
content/uploads/2020/07/2019_anais_xxix_confaeb_manaus.pdf Acesso
em: 25/10/21, às 17h26min.
Conclusão da aula
42
Atividade de aprendizagem
Descreva como você entendeu as mudanças de concepções de arte de
acordo com as legislações discutidas e as novas formas de ensinar arte
através das abordagens tratadas a partir dos anos 1990.
Apresentação da Aula
A educação estética tratada aqui tem muito mais a ver com uma forma de
alfabetização visual em arte. Pensada como uma abordagem contemporânea
em crítica estética, pretende passar de uma ênfase na percepção para um
destaque maior na interpretação. Sua relevância deriva de estudos de alguns
pesquisadores, e junto a qualquer abordagem podem fornecer subsídios aos
professores de arte em relação aos estágios de compreensão estética de seus
alunos.
Além de autores como Edmund Feldman, Robert Saunders e Willian Ott,
que propuseram entre as décadas de 1970 e 1980, metodologias de leitura de
imagem no ensino da arte em museus e escolas, outros se dedicaram a estudos
mais específicos da educação estética. Trataremos aqui dos estudos de Michael
Parsons, Abgail Housen e da brasileira Maria Helena Wagner Rossi.
Nos anos 1980, Michael Parsons, em sua obra Compreender a Arte
(PARSONS, 1992) propôs um método de leitura que se baseava na
compreensão das imagens pela pessoa em cinco diferentes estágios. O estágio
43
a que cada indivíduo consegue chegar depende da natureza das obras de arte
com que entra em contato, das oportunidades às quais tem acesso e do grau em
que se vê estimulado a refletir sobre elas.
O quadro a seguir mostra os estágios evolutivos:
Estágios Descrição
44
• O que acha deste quadro? (O termo “quadro” pode ser substituído
por desenho, pintura, gravura etc., conforme a produção
selecionada)
• De que é que mais gosta nele?
• Este quadro é sobre o quê?
• Colocaria este quadro em seu museu?
• Este é um bom quadro?
• Mas como sabe se um quadro é ruim?
• Por que acha que os artistas pintam?
• Acha que é um bom tema para um quadro?
• O que é que faz com que um quadro seja bom?
• Que sentimentos encontra neste quadro?
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• Recriativo: com uma longa história de olhar e refletir sobre obras
de arte, agora os observadores reagem a um quadro com
familiaridade, é como um velho amigo que se conhece na
intimidade. Porém, apresenta sempre uma surpresa ao observá-lo
novamente.
46
imagem-mundo tipo 1; b) relação imagem-mundo tipo 2; c) relação imagem-
mundo tipo 3; d) relação imagem-artista; e) relação imagem-leitor.
A autora demonstra em sua pesquisa que de acordo com que o grupo
pesquisado foi avançando no andamento do desenvolvimento estético e as
habilidades foram surgindo, as questões e a escolha das imagens foram se
ajustando, especialmente na comparação das ideias, intuições e teorias
levantadas pelos alunos. Rossi (2005) também comprovou que a realização da
discussão estética em aula, uma vez por mês no ensino fundamental, possibilitou
o desenvolvimento de uma compreensão estética mais apurada e adequada ao
mundo da arte pelos alunos do grupo experimental. Além disso, confirma a
importância do papel do educador como mediador em todo esse processo.
Saiba mais
No texto A estética no ensino das artes visuais, Maria Helena Rossi aborda os
pontos principais da sua pesquisa nesse tema, colocando alguns exemplos de
discussão estética com os alunos. Disponível em:
https://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/view/12415/7345
Acesso em: 30/10/2021, às 15h01min.
47
Esses trajetos podem ser iniciados em qualquer um dos seguintes
campos conceituais:
• Linguagens artísticas – Por meio do estudo das produções
artísticas, seja nas artes visuais, na música, no teatro, nas artes
audiovisuais ou na dança, é possível entrar em contato com os
códigos artísticos, com a singularidade do modo de produção de
cada uma delas;
• Processo de criação – Trata-se do estudo do percurso que envolve
toda criação em arte, que pode ser percebido por meio de estudos,
projetos, esboços, ensaios com a materialidade e outros tantos;
• Forma e conteúdo – Da união entre forma e conteúdo se pode
revelar as identidades e sentidos estéticos, de produção e de
expressão. Nessa junção os elementos que compõem as
linguagens artísticas (forma) dão visibilidade aos seus invisíveis
conteúdos;
• Mediação cultural – As diversas práticas artísticas ocorrem em
instituições culturais, galerias, museus, salas de espetáculo e
concerto. Esses lugares também recebem os espectadores e se
preocupam em pesquisar e viabilizar o acesso à produção artística
de forma sensível e significativa de modo a propiciar a experiência
estética ao público. Nesse sentido, é pelo território da mediação
cultural que se estuda a experiência estética e os modos de
promovê-la, tanto em instituições culturais como no próprio espaço
escolar, onde o professor também pode fazer o papel de curador;
• Materialidade – Cada produção artística envolve uma combinação
de materiais, suportes e procedimentos. Porém, perdem seu
estado bruto na prática artística, quando unidas ao simbólico.
Embora possa ser analisada, não é possível separar a obra de sua
materialidade, pois é a matéria que fornece o suporte da
significação, tal qual no conteúdo e forma;
• Patrimônio cultural – Todas as manifestações artísticas espalhadas
em museus, nas ruas ou nas mais diversas mídias são patrimônio
cultural da humanidade e representam a sua história por meio do
48
pensamento estético e artístico. O estudo por esse viés amplia o
olhar sobre a cultura e as heranças culturais;
• Saberes estéticos e culturais – O estudo da arte por meio desses
campos estéticos e culturais fornece embasamento para a
ampliação do nosso pensamento acerca da arte e do sistema
simbólico e social ao qual pertence, assim como sobre o papel do
artista na sociedade;
• Conexões transdisciplinares – Diz respeito às conexões que a arte
faz com as outras áreas de conhecimento, da mesma forma com
que espelha contribuições delas, indo muito além de qualquer
fronteira. Esse deslocamento de territórios nos solicita um olhar,
sentir, pensar e agir sobre a arte permanentemente novos,
exigindo-nos a necessidade de lidar com limites conceituais mais
flexíveis.
49
sem hierarquia e com as mais diversas possibilidades de transitar entre eles,
como mostra o exemplo de mapa de recortes de Leda Catunda abaixo.
50
Saiba mais
Para ampliar a compreensão da ideia de rizoma na educação, leia o texto
Mangue’s school ou por uma pedagogia rizomática, de Daniel Lins. O autor se
remete a uma pedagogia rizomática, na qual os saberes tornam-se sabores por
permitir que as inteligências acolham a um outro universo. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/es/a/y9J3XqrtFrvpRJQ7YLr7NYn/?lang=pt&format=pdf
Acesso em: 1/11/2021, às 20h58min.
51
reflexão. Essas dimensões, que a BNCC afirma não se tratar de eixos temáticos,
interpenetram-se sem uma hierarquia ou ordem específica:
• Criação – É ligada ao fazer artístico, aquele em que os sujeitos
criam, produzem e constroem. Implica uma atitude intencional e
investigativa que associa materialidade estética a sentimentos,
desejos, ideias e representações em processos, acontecimentos e
produções artísticas individuais ou coletivas;
• Crítica – Essa dimensão diz respeito às impressões que incitam os
sujeitos a novas compreensões do espaço em que vivem, por meio
das relações, do estudo e da pesquisa, articulando ação e
pensamento propositivos, os quais envolvem aspectos estéticos,
políticos, históricos, filosóficos, sociais, econômicos e culturais;
• Estesia – Trata-se da experiência sensível dos sujeitos em relação
ao espaço, ao tempo, ao som, à ação, às imagens, ao próprio corpo
e aos diferentes materiais. É uma dimensão que articula a
sensibilidade e a percepção, entendidas como uma forma de
conhecer a si mesmo, o outro e o mundo;
• Expressão – Tem a ver com as possibilidades de exteriorizar e
manifestar as criações particulares pelos procedimentos artísticos,
seja de âmbito individual ou coletivo. Surge da experiência artística
com os elementos que constituem cada linguagem, seus
vocabulários e materialidades específicos.
• Fruição – É a dimensão associada ao prazer, ao deleite, ao
estranhamento e à abertura da sensibilização durante a
participação em práticas artísticas e culturais. Solicita a
disponibilidade dos sujeitos para com as produções artísticas e
culturais provenientes dos mais diversos tempos, lugares e grupos
sociais.
• Reflexão – Relaciona-se ao processo de construção de
argumentos e considerações sobre as fruições, as experiências e
os processos criativos, artísticos e culturais. É a disposição de
perceber, analisar e interpretar as manifestações artísticas e
culturais, tanto pelo criador como pelo leitor.
52
É possível observar que, embora não tenham sido referenciados, as
dimensões indicadas pela BNCC desdobram e ampliam os eixos, fazer artístico
(produção), história da arte (contextualização) e leitura da obra de arte
(fruição/reflexão), basilares da Abordagem Triangular. É recomendável ler o
documento já que sua presença no quadro legislativo educacional tem a função
de normatizar e de determinar as diretrizes, nesse caso, as do ensino de arte.
Alguns pontos seguem em questionamento por educadores e
pesquisadores da área de artes, tais como a dificuldade de identificação de
conexões dos conteúdos da BNCC com os conteúdos indispensáveis à formação
do docente de arte, especialmente, para educação infantil e ensino fundamental
e a questão da integração entre as modalidades artísticas e entre elas e outros
campos do saber, que só pode ocorrer caso todas tenham o mesmo valor no
momento da integração. Do contrário, sempre ocorrerá sobreposição de uma em
prejuízo de outras, que, uma vez submissas, em nada poderão contribuir com a
construção de conhecimento no seu próprio campo.
Vocabulário
Artes: a expressão arte no plural é usada para denominar a área de
conhecimento, pois engloba as diversas modalidades artísticas. A designação
arte é utilizada para designar a disciplina. É associada à noção de conhecimento,
em substituição à educação artística da Lei n. 5692/71, que a entendia como
atividade.
Saiba mais
Para acessar a BNCC, acesse sua versão final em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofin
al_site.pdf
Acesso em: 03/11/2021, às 9h10min.
53
Acesso em: 04/11/2021, às 8h21 min.
Os elementos constitutivos das artes visuais, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=LMdpJzuGCdk&t=168s
Acesso em: 04/11/2021, às 8h43 min.
Para saber o que pesquisadores têm discutido sobre a BNCC, acesse qualquer
um dos textos:
PIMENTEL, Lucia Gouvêa; MAGALHÃES, Ana Del Tabor Vasconcelos.
Docência em Arte no contexto da BNCC: É preciso reinventar o
ensino/aprendizagem em Arte? Revista GEARTE, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 220-
231, maio/ago. 2018.Disponível em:
https://seer.ufrgs.br/gearte/article/view/83234/49626
Acesso em: 04/11/2021, às 15h29min.
Conclusão da aula
Chegamos ao final dessa aula, na qual você aprendeu sobre mais duas
abordagens no ensino de arte. A primeira, Educação Estética, é voltada para o
desenvolvimento da compreensão estética de alunos e/ou espectadores.
Michael Parsons, Abigail Housen e Maria Helena Wagner Rossi são os autores
que estudaram e propuseram essa forma de abordagem, cada um ao seu modo.
A segunda abordagem vista nessa aula foi a Territórios da arte e cultura,
uma ideia de construção rizomática de currículo em arte, na qual não há uma
ordem certa ou hierarquia para se abordar campos conceituais e linguagens
artísticas.
Finalmente, você iniciou seu aprendizado sobre a BNCC por meio de
alguns aspectos do ensino de arte, em especial, a inclusão das artes integradas
junto às artes visuais, música, teatro e dança. O outro aspecto diz a respeito às
seis dimensões do conhecimento que se interpenetram: criação, crítica, estesia,
expressão, fruição e reflexão. Embora essas dimensões tragam alguma
similaridade com a Abordagem Triangular, elas têm suas especificidades e
demandam do professor mais aprofundamento sobre as diretrizes de arte na
BNCC.
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Reflita
Agora que você entrou em contato com algumas diretrizes da BNCC, quais
abordagens estudadas seriam possíveis de serem utilizadas ou quais as que
você sente afinidade para lançar mão em sua docência?
Atividade de aprendizagem
Volte ao texto e depois escreva qual a forma com que a BNCC indica que seja
feita a integração das modalidades artísticas entre si e com outros campos do
saber no ensino de arte.
Apresentação da Aula
Olá, nessa aula vamos tratar de alguns marcos legais que definiram o
ensino de arte no Brasil, a partir da Lei n. 5692/71. Antes, vamos observar um
quadro que sintetiza o ensino praticado na área de artes nos séculos XX e XXI:
Ensino-aprendizagem na área
Períodos Legislações Área de Artes
de Artes
Desenho
Lei n. 4.244/42 Música Arte como aprendizado técnico
Trabalhos Manuais
Século Desenho
Arte como atividade finalizadora
LDB n. 4.024/61 Música
XX e instrumental
Artes Aplicadas
55
A intenção desse quadro é colocar as principais legislações, ainda que
antes dos anos 1940 houvesse outras. Porém, a área de artes foi instituída
apenas a partir da Lei n. 4.244/42, também conhecida como Lei Orgânica do
Ensino Secundário. Antes dela havia apenas o ensino do desenho, visto na
primeira aula, no qual vigorava a mesma concepção de arte como aprendizado
técnico, direcionado ao preparo de ofícios.
Ao lado dessas legislações, está a configuração do ensino da área de
artes em disciplinas e concepção de ensino de arte em cada lei. No caso da LDB
n. 4024/61, a música e as artes aplicadas eram consideradas práticas
educativas. Já, na Lei n. 5.692/71, para a educação artística não havia uma
definição clara de seu posicionamento no currículo, em um momento referida
como atividade, em outro como conteúdo, só seria considerada à medida que
fosse relacionada a outros componentes do currículo. A quarta coluna formada
pelo ensino-aprendizagem em arte é resultado de análises feitas por
pesquisadores e estudos que se debruçaram sobre o tema. Trataremos então
dos marcos desse ensino desde essa legislação.
56
Durante a década de 1970, após sua entrada, na maioria das escolas o
desenho, a música e as artes aplicadas foram retirados do currículo. Mesmo com
posicionamento indefinido no quadro curricular nacional, a educação artística
nos currículos foi implantada na comunicação e expressão, composta
principalmente pela língua portuguesa. A educação artística foi então alocada
nesse campo junto à educação física e à língua portuguesa por uma relação de
aproximação, já que para a legislação eram entendidas como forma de
comunicação e expressão.
A formação específica de professores para a educação artística só foi
iniciada no Brasil a partir de 1973. A abertura de licenciaturas se deu aos poucos,
dependendo da realidade de cada estado. Até aproximadamente o início da
década de 1990, essas licenciaturas ofereciam as quatro linguagens (artes
plásticas, música, teatro e expressão corporal), tornando o futuro docente um
professor polivalente e gerando um inconformismo profissional.
Nesse contexto, enquanto não se efetivavam as licenciaturas, os
professores que operaram a implantação do novo ensino nas escolas tinham
outras formações, tais como: Licenciatura em Desenho e Pintura com Didática
em Desenho, Licenciatura em Educação Musical e Musicoterapia, Pintura,
Desenho, Escultura em faculdades de Belas-Artes, Letras, especialização em
Literatura, Pedagogia e até de outras áreas, sem conexão com o significado da
arte na educação. Além dessas, alguns haviam feito cursos de extensão em
Desenho e artes; artes Brasil - EAB; Movimento Escolinhas de Arte (1972) na
EAB etc.
Assim, as marcas desse ensino instituído vão além dos anos de 1970 e
podem ser consideradas como: a indefinição curricular; o reducionismo causado
pela substituição de três disciplinas pela educação artística; a ideia de arte e da
produção artística discente como processo, desconsiderando o produto; a
condução docente desse ensino como uma simples atividade, por meio de
técnicas artísticas; e a imposição de uma docência polivalente.
Essa legislação afirmava ter instituído a educação artística no ensino
brasileiro em atendimento a reivindicação de artistas e educadores brasileiros,
porém as condições de sua criação levaram esses profissionais a resistir e se
organizar cada vez mais. Dessa forma, no final da década de 1980, já com o
processo de redemocratização da política brasileira e com a Constituição de
57
1988, foram criadas associações como a Associação Gaúcha de Arte-
Educadores – AGARS a Associação Nordestina de Arte-Educadores – ANARTE
a Associação dos de Arte-Educação do Paraná - APAEP em Curitiba – PR, entre
outras organizações.
A partir dessas uniões de educadores, ocorreram encontros, congressos
e diversos eventos em muitas cidades, nos quais foram debatidos temas como
as relações entre arte, vida, educação, cultura e comunicação. Assim, fez-se
urgente a produção de pesquisa e bases teóricas, bem como uma pedagogia
que garantisse aos discentes o acesso ao conhecimento acumulado para o
ensino de arte. Nesse importante processo de consolidação da união de
educadores, foi criada em Brasília, a Federação dos Arte‐Educadores do Brasil
– Faeb, em 1987, durante o II Encontro Latino‐Americano de Arte‐Educação e o
I Festival Latino‐Americano de Arte e Cultura – Flaac. Novamente, foram os
debates públicos e movimentos de educadores e/ou artistas, especialistas,
pesquisadores que exigiram o espaço do ensino de arte na próxima legislação.
De 1996 para cá, de acordo com o exposto nas aulas anteriores, o ensino
de arte é legislado pela LDB n. 9.394 em 20 de dezembro de 1996, a qual a
tornou obrigatório esse ensino para toda a Educação Básica. Como uma primeira
grande marca dessa lei está a troca da denominação educação artística por arte.
Dessa vez, incluída na estrutura curricular como área, com conteúdos próprios
ligados à cultura artística. Com isso, abriu o espaço para a concepção de ensino
de arte como conhecimento, tomada, por sua vez, como processo e produto no
âmbito escolar, contrariamente à lei anterior.
De acordo com Faria Filho (1998), as leis possuem várias dimensões e
uma delas é de prática social, em que existem dois momentos, o da produção e
o da realização. É uma dimensão pela qual se pode ter em vista os sujeitos
envolvidos na legislação. Nesse processo, é preciso considerar também o
caráter de intervenção social e o de elemento gerador de espaço de lutas sociais,
uma vez que, em função de uma legislação, estão implícitos o controle e a
formalização de práticas.
58
Comparada às leis anteriores, foram importantes os avanços na LDB n.
9.394/96, conquistados pelo empenho dos educadores em suas associações
como a FAEB, por exemplo. Entre eles, o mais expressivo foi a mudança de
concepção de ensino de arte, que mais beneficiou muitos dos estudantes. Mas,
como um documento não neutro, que expressa demandas sociais, econômicas
e políticas partidárias passou por muitas modificações, supressões e acréscimos
de textos e as que competem ao ensino de arte, de um modo ou de outro
afetaram algumas importantes conquistas.
A LDB de 1996 também possibilitou na primeira década de 2000 a
aprovação das diretrizes para os cursos de graduação em artes visuais, dança,
música e teatro. Uma das alterações importantes foi dada quase uma década
mais tarde, com a redação do § 6o do art. 26 feita pela Lei n. 13.278, em 2016,
nomeando “as artes visuais, a dança, a música e o teatro” como as linguagens
que constituirão o componente curricular arte. A distinção das linguagens
artísticas foi considerada uma conquista pelas associações de arte-educadores
e um importante passo rumo à concretização das especificidades da arte no
espaço escolar. Contudo, essa mudança, por outro lado, exige atenção e diálogo
para que não seja considerada como uma volta da polivalência.
Das alterações que ocorreram no artigo 26, boa parte foi em alinhamento
à BNCC. O texto original “O ensino da arte constituirá componente curricular
obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o
desenvolvimento cultural dos alunos” recebeu em 2017 a seguinte alteração: “O
ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá
componente curricular obrigatório da educação básica” (BRASIL, 1996). Ao ser
retirada a ênfase nos “diversos níveis da educação básica” e no
“desenvolvimento cultural dos alunos”, o texto se tornou genérico, pouco
específico e sujeito a qualquer interpretação, dando margem ao não
cumprimento do ensino para todos.
Outras questões têm sido levantadas desde a elaboração da versão
preliminar da BNCC por arte-educadores e entidades representativas. Uma
delas é a preocupação pela localização da arte na área de linguagens e sua
relação de autonomia com os demais componentes, independentemente de a
arte ser ou não linguagem e quais as razões de estar inserida na referida área.
Ainda que muitos pesquisadores e educadores entendam que a arte deveria ser
59
conformada em uma área própria de conhecimento. Historicamente, cinquenta
anos atrás, a introdução da educação artística no currículo foi muito importante
para a educação. Porém, colocá-la na área de comunicação e expressão, de
modo evasivo, implicou décadas de um ensino-aprendizagem esvaziado e seu
retorno significaria um retrocesso.
Em 1997, foram lançados os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN
como diretrizes pedagógicas e utilizados como referencial para o sistema
educacional escolar no país, abordado nas aulas anteriores. Nele, a indicação
do aprendizado em arte deveria envolver não somente uma atividade composta
pelo fazer artístico pelos alunos. Deveria contemplar também a aquisição da
significação de suas produções, pelo desenvolvimento da percepção estética,
nutrida pelo contato com a produção artística vista como objeto de cultura por
meio da história e como conjunto organizado de formas.
Uma diferença importante entre as diretrizes atuais e as anteriores é que
no PCN – arte (1998), havia as indicações de no mínimo duas aulas semanais e
que arte estivesse presente no currículo em todos os níveis de ensino. Além
dessas, havia também sugestão para desenhos curriculares para esse
componente. A atual BNCC deixou essas decisões importantes a critério dos
sistemas e redes de ensino.
Essas são questões que seguem em discussão. Como nos casos já
mencionados, a união de educadores e entidades representativas de parte da
sociedade foi e segue imprescindível tanto para garantia de direitos e novas
conquistas como para impedimentos aos retrocessos.
60
privadas. De acordo com o Ministério da Educação, sua implementação gradual
está prevista para 2022.
Sob as justificativas da baixa qualidade do ensino médio no país e a
necessidade de torná-lo mais atraente aos alunos, em razão dos índices de
abandono e de reprovação, a reforma se apoia no objetivo de tornar o currículo
mais flexível, para então atender os interesses dos alunos dessa etapa. Desse
modo, a modificação desconsidera os problemas de infraestrutura do sistema
educacional e a necessidade de contribuição dos jovens na renda familiar.
Na esteira das mudanças, o ensino de arte foi suprimido do ensino médio
por uma medida provisória, expressa na LDB em 2016, durante a tramitação da
BNCC. Após diversas manifestações da FAEB, de educadores e de suas
associações, em 2017 foi incluído na LDB n. 9394/96 o artigo 35-A § 2º, por meio
do qual esse ensino foi devolvido para o ensino médio, porém na forma de
estudos e práticas e não em caráter de disciplina. Situado dessa forma, assim
como a filosofia, a sociologia e a educação física, acabou destituído de seu
espaço como área de conhecimento obrigatória e, consequentemente, foi
interrompido o processo de formação integral do aluno.
Sua organização, de acordo com a BNCC de 2017, foi disposta em quatro
áreas do conhecimento, conforme o quadro a seguir:
ENSINO INFANTIL ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO MÉDIO
Campos de Áreas de Áreas de
Componentes Componentes
experiência conhecimento conhecimento
• O eu, o outro e Língua
Portuguesa, Língua
o nós
Arte, Portuguesa,
Linguagens Linguagens e
Educação Arte, Educação
suas tecnologias
• Corpo, gestos e Física, Língua Física, Língua
movimentos Inglesa Inglesa
Ciências da Ciências da
• Escuta, fala, Ciências Biologia, Física
natureza natureza e suas
pensamento e e Química
tecnologias
imaginação
Ciências Geografia e
humanas Historia Ciências História,
• Espaços,
humanas e Geografia,
tempos,
sociais Sociologia e
quantidades, Ensino
Ensino religioso Aplicadas Filosofia
relações e religioso
transformações
Fonte: elaborado a partir da BNCC (2017).
61
O quadro mostra uma simples e comparativa organização das outras
etapas da Educação Básica. Assim, na BNCC, o ensino infantil está organizado
em cinco campos da experiência, o Ensino Fundamental em cinco áreas do
conhecimento e o Ensino Médio em quatro áreas do conhecimento.
Grosso modo, por esse quadro é possível perceber também a introdução
do ensino de arte na área de linguagens, razão da preocupação de grande parte
dos arte-educadores, como a de Lúcia Gouvêa Pimentel (2018) e que perpassa
toda a Educação Básica. Ainda que o quadro atual do ensino de arte esteja mais
fortalecido, essa posição na BNCC traz muita similaridade com a introdução da
educação artística, pela Lei n. 5.692/71, sem definição precisa, na área de
comunicação e expressão.
O ensino médio é uma etapa importante na formação de estudantes,
configurando um momento apropriado para a concretização dos conhecimentos
e habilidades básicas, e contribuindo com a formação de cidadãos participativos
na sociedade. Nessa fase, o jovem possui uma capacidade de análise que
possibilita proposições didáticas em arte mais complexas, as quais podem se
beneficiar, inclusive, de situações do cotidiano. Por essa razão, o
enfraquecimento, não só da área de artes, reduz as oportunidades de estimular
a capacidade crítica necessária ao posicionamento do indivíduo perante o
mundo, seja pela via do aspecto lógico, ético ou estético.
Saiba mais
Para acessar a BNCC, acesse sua versão final em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofin
al_site.pdf
Acesso em: 14/11/2021, às 16h20min.
Além dos textos já sugeridos, você pode ler sobre experiências complexas, mas
exitosas com o ensino de arte, como as relatadas no texto O desenvolvimento
da percepção visual no ensino médio através das artes integradas numa
perspectiva interdisciplinar, de Juliana Maria de Lima (2018). Disponível em:
https://faeb.com.br/wp-
content/uploads/2020/07/2018_anais_xxviii_confaeb_brasilia.pdf
Acesso em: 14/11/2021, às 18h04min.
62
Conclusão da aula
Essa aula chega ao seu final e nela você aprendeu alguns marcos legais
que definiram o ensino de arte no Brasil, a partir da Lei n. 5692/71, na LDB de
1996 e nas diretrizes presentes na BNCC. Você também pode se inteirar sobre
alguns avanços do ensino de arte, mas também sobre algumas fragilidades,
como no caso do ensino médio. As questões apresentadas seguem em debate
pelos educadores, muitas expressas em textos de congressos, seminários,
encontros, como os sugeridos no Saiba Mais. Nossa próxima aula abordará o
panorama das artes visuais, relacionadas às práticas escolares.
Atividade de aprendizagem
Diante do que foi discutido nessa aula, o que você considera fragilidade e, por
outro lado, avanço no ensino de arte para o ensino fundamental e ensino
médio na BNCC?
Apresentação da Aula
63
Nos anos 1970, as artes plásticas se referiam a uma habilitação e um
grupo de disciplinas nos cursos de Licenciatura em Educação Artística, curta e
plena. Alinhada às concepções de arte das Escolas de Belas-Artes, as artes
plásticas eram associadas às formas tradicionais, tais como a pintura, a
escultura, o desenho, a gravura, a arquitetura, o artefato e o desenho industrial.
Com a LDB de 1996 e o PNC de arte de 1998, essa designação foi substituída
por artes visuais e nos anos 2000 foram aprovadas as diretrizes dos cursos de
graduação nessa linguagem.
A alteração se deu em razão dos avanços tecnológicos e transformações
estéticas a partir da modernidade, nos quais a denominação artes visuais tem
uma abrangência maior, incluindo outras criações que dispensam a ação direta
com a materialidade. Por exemplo, a fotografia, artes gráficas, cinema, televisão,
vídeo, computação, performance, etc. Desse modo, as artes visuais englobam a
composição que artistas fazem do espaço e diferentes objetos, e tem como
principal modo de fruição o olhar. É pela visualidade que o espectador entra em
contato com as obras nessa linguagem.
Nos anos 1990, o PCN de arte considerava que o mundo naquela época
fazia uma utilização da visualidade em proporções sem igual na história, criando
com isso uma exposição múltipla para as pessoas, gerando assim a necessidade
de uma educação voltada para a aquisição do saber perceber e distinguir
sensações, sentimentos e ideias.
Nessa direção, a educação visual no PCN de arte envolve criar e perceber
formas visuais, implicando o trabalho frequente com as relações entre os
elementos que as compõem, tais como ponto, linha, plano, cor, luz, movimento
e ritmo. As articulações desses elementos nas imagens se configuram como
códigos que se transformam ao longo do tempo. A aquisição dos códigos
presentes nas produções visuais, assim como na alfabetização, melhora a leitura
do mundo e ajuda a nos tornar mais críticos diante o universo crescente das
visualidades.
O PCN de arte justifica o estudo das visualidades integrado aos projetos
educacionais para que essa aprendizagem favoreça o desenvolvimento da
sensibilidade, da afetividade, dos conceitos, possibilitando que o aluno se
posicionasse criticamente. Segundo o documento, a educação em artes visuais
solicita um trabalho continuamente informado pelos conteúdos e experiências
64
relacionados aos materiais, às técnicas e às formas visuais de diferentes
momentos da história, inclusive contemporâneos. A partir disso, a escola tem o
dever de contribuir para que os alunos passem por um conjunto amplo de
experiências de aprender e criar, articulando percepção, sensibilidade,
imaginação, conhecimento e produção artística individual e coletiva.
65
hierarquia, para que se construa o conhecimento em arte na escola. A BNCC
considera também que as artes visuais sejam tratadas como processos e
produtos artísticos e culturais nos diferentes tempos históricos e contextos
sociais, que têm a expressão visual como elemento de comunicação.
Além disso, a BNCC também organiza o ensino das artes visuais por meio
dos objetos de conhecimento e habilidades do 6º ao 9 ano, como demonstra a
figura 6. Essas diretrizes expressam que o arranjo proposto é apenas um dentre
outros possíveis, não sendo um desenho obrigatório para os currículos. Porém,
afirmam que são esses pressupostos que devem garantir aos alunos o
desenvolvimento de algumas competências específicas dos alunos em todas as
linguagens do componente curricular de arte.
De todo modo, com as diretrizes presentes na BNCC o trabalho nas artes
visuais pode ser feito por meio de qualquer uma das várias abordagens já
estudadas nas aulas anteriores, pois é uma linguagem que permite aos alunos
explorar as diversas culturas visuais, dialogar com as diferenças e conhecer
outros espaços e possibilidades inventivas e expressivas.
Mídias
Vamos iniciar esse tema assistindo primeiramente ao vídeo, intitulado:
A bordadura nas artes visuais, XVI Prêmio Arte na Escola Cidadã de 2015.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HIg2VMw8Wzo
Acesso em: 18/11/2021, às 15h17min.
66
de arte como conhecimento e da apresentação de diversas abordagens para o
ensino de arte. Porém, esse país é imenso e a diversidade de formações, de
escolas e de docentes também é inúmera. Diante disso, qual será a realidade do
ensino de arte nas escolas e nas salas de aulas?
Em parte, há no cenário educacional uma convivência e permanência das
mesmas das concepções de arte como técnica, como atividade e como
expressão. Segundo Maria Betânia e Silva e Ana Maria de Oliveira Galvão
(2009), a arte tomada como expressão, surgida no início do século XX é ainda
hoje muito presente.
Entretanto, desde o final da década de 1980, com o início da concepção
de arte como conhecimento e da introdução da Abordagem Triangular, segundo
Analice Dutra Pillar (2009), os professores começaram a trabalhar também com
a leitura de imagem e a contextualização histórica, entendida como algo teórico.
Junto às leituras de imagem surgiram as releituras, consideradas mais como um
fazer artístico a partir da leitura de uma obra de arte. A utilização da leitura e da
releitura se constitui uma problemática, a partir do momento em que se tornou
uma prática mecânica, que muitas vezes desconsidera as dimensões do
conhecimento em arte.
Para Consuelo Schilichta (2011), a questão está no porquê da prática da
releitura proposta por Ana Mae Barbosa (1991) ter sido largamente assimilada
por grande dos educadores em arte, muitas vezes, reduzindo-se a cópia de
obras de arte. Um outro ponto de dúvida é se os professores de arte teriam visto
na releitura apenas o valor seu prático, por sentirem-se mais uma vez
pressionados pela necessidade de respostas ao dia a dia da sala de aula.
Na visão de Schilichta (2011), atualmente a releitura, atividade artística
predominante nas aulas de arte, apenas substitui as fórmulas do passado.
Entretanto, houve avanço, pois hoje a imagem já não é tratada como visita na
escola. Isso não quer dizer que o exercício de releitura, não tenha seu lugar,
porém, ainda é preciso compreender o espaço que a arte e a cultura ocupam na
vida humana, assim como da imagem no ensino de arte.
67
Saiba mais
Para ampliar o conhecimento sobre leitura e releitura você pode ler o texto A
leitura da imagem no ensino da arte e a persistência da releitura, de Consuelo
Alcioni B. D. Schlichta (2011).
Disponível em:
http://www.anpap.org.br/anais/2011/pdf/ceav/consuelo_alcioni_borba_duarte_s
chlichta.pdf
Acesso em: 20/11/2021, às 20h19min.
68
na fragmentação dos saberes artísticos, pedagógicos e teóricos. A ausência de
integração na formação causava dificuldades ao professor para fazer relações
entre o artístico e o pedagógico, e entre as próprias linguagens.
Se de um lado a polivalência vem sendo combatida e, de certo modo,
arrefecida nas escolas desde a LDB n. 9394/96, por outro, os concursos insistem
em solicitar um candidato a professor de artes sem uma habilitação clara,
estabelecendo, indiretamente, a prática polivalente.
Nessa questão, no entanto não há um consenso. Alguns pesquisadores
afirmam, ao contrário da maioria do campo do ensino da arte, que a polivalência
não é tão negativa e que tem o potencial de um trabalho interdisciplinar com as
próprias linguagens do componente arte. Segundo Carlos Cartaxo (2009), ao ser
excluída, teoricamente, do exercício da arte educação como algo prejudicial à
educação, essa rejeição deu origem à figura do especialista. Alguém que
conhece apenas uma área de conhecimento e só pode atuar nela. Entretanto, o
especialista é um profissional isolado e nesse contexto pós-moderno no qual
vivemos, é requerida a ampliação do conhecimento e uma prática rizomática do
saber em arte, não comportando um tratamento que limite as possibilidades de
intersecção do conhecimento. Para Cartaxo (2009), as mais variadas
expressões artísticas contemporâneas, sobretudo, não se sucedem, nem são
criadas de forma isolada e não devem ser tratadas pedagogicamente assim.
Contudo, entender a polivalência como uma forma de interdisciplinaridade
e uma potência não exclui a dificuldade real de trabalhar, sem o devido preparo,
com diversas linguagens artísticas na rotina de muitas salas de aulas. É preciso
por um lado, seguir refletindo e conquistando melhores formas de trabalho para
professores de arte. De outro, enriquecer o máximo possível as aulas de arte,
um direito de todo aluno.
Conclusão da aula
Ao final dessa aula, sobre o panorama das artes visuais, refletimos acerca
de sua configuração e suas relações com as práticas escolares. Vimos que as
antigas artes plásticas já não circunscrevem o universo das produções artísticas
e a expressão artes visuais abarca um universo muito maior delas. Nesse
sentido, documentos reguladores como os PCNs e agora a BNCC preveem
69
diretrizes específicas para esse ensino, mas que podem ser contempladas pelo
uso de qualquer abordagem já vista. Se de um lado, observamos projetos
interessantes nas artes visuais, de outro percebemos que as várias concepções
e formas de ensino já superados, ainda convivem no ensino das artes visuais.
Finalmente, discutimos mais de um aspecto da polivalência que, embora
arrefecida como condição de trabalho docente, também é vista por alguns
educadores como uma potência no ensino interdisciplinar, num contexto no qual
a atual produção artística não se define por uma única linguagem.
Saiba mais
Para ampliar o conhecimento sobre esse tema, você pode ler A interligação da
polivalência com a interdisciplinaridade e o ensino integrado das artes, de
Solange S. S. Cunha, e de Sonia R. A. Lima (2020, p. 97-120). Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/revistamusica/article/view/167859
Acesso em: 22/11/2021, às 21h.
Outra opção é a live Entrelaçamentos poéticos nas aulas de arte: diálogos, sim,
polivalência, não! Como essa live é mais longa, você pode assistir a partir de
20min40seg, para ouvir a fala da professora Lucia Gouvêa Pimentel. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=EfPLshybrWg
Acesso em: 23/11/2021, às 15h57min.
70
Atividade de aprendizagem
Essa é uma obra da série Bichos de Lygia Clark, denominada Bicho (1960).
Fonte: http://ofermentorevista.com.br/2020/12/02/a-participacao-do-espectador-de-
lygia-clark-a-contemporaneidade/
Você pode ter uma sensação melhor da série, assistindo ao vídeo O Bicho!
Lygia Clark. Itaú Cultural. SP. 2012.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=K9ZIrXlPI6c
Acesso em: 23/11/2021, às 15h25min.
Para Lygia Clark, cada Bicho da série é uma obra essencialmente ativa em
integração com o espectador.
A partir de suas impressões sobre essa obra, reflita e escreva sobre quais
possibilidades em trabalhar com ela nas artes visuais e quais outras
linguagens e/ou componentes de outras áreas podem ser associados.
71
Aula 7 – Narrativas docentes
Apresentação da aula
Mídias
Antes, vamos entrar no tema da docência assistindo ao vídeo sobre narrativas
na formação de professores, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=lH3bEzoC4Tg
Acesso em: 24/11/2021, às 19h37min.
72
tivessem suas escolas de primeiras letras". Em razão desse decreto, o Dia do
Professor é comemorado no dia 15 de outubro. Porém, a data só foi oficializada
em 1963. Segundo Cericato (2016), com a responsabilização do Estado
(estatização) pela docência, não foi possível a construção de um conjunto de
regras nos padrões das profissões liberais, como a dos advogados, médicos,
engenheiros, dentistas e outras. Mesmo que essas profissões também sejam
regulamentadas pelo Estado, possuem um grau bem maior de autonomia, o que
não acontece com a classe dos professores.
Em uma sociedade desigual como a em que vivemos a escolarização é
um elemento de diferenciação. De acordo com António Nóvoa (1995), os
professores personificam a esperança de mobilidade de várias camadas da
população, passando a ocupar na sociedade um papel de agente cultural e
consequentemente, de agente político. Isso mostra o quão significativo é o papel
do professor na sociedade.
A prática docente não se dá isoladamente. Envolve uma complexa rede
de pessoas e interações entre famílias, professores, estudantes, comunidade
escolar, etc. Na visão de Amalia Creus, Laura Peñafiel e Marta Moragas (2016),
todas essas pessoas acabam colaborando com nossos estudos e formação,
ajudando-nos a construir uma identidade docente. Algo muito similar ao texto de
Paulo Freire, citado na abertura da subunidade dessa aula.
Dois dos aspectos que cercam a profissão docente e que é tema de
pesquisa e discussão entre pesquisadores desse campo de investigação são as
condições objetivas e as subjetivas nas quais o trabalho é realizado, bem como
as relações entre elas. Sonia Penin (2009) aponta que as condições objetivas
podem ser entendidas pelos aspectos externos da profissão, ou seja, carreira,
salário, determinações legais, e por assim dizer, as condições concretas de
trabalho. As condições subjetivas são tidas como a vivência diária de um
profissional no desempenho de seu trabalho, compreendendo as alegrias e
angústias nas relações sociais que estabelece, principalmente com os alunos.
Desse modo, vamos acompanhar algumas narrativas de professores que
expressam parte de suas percepções em relação às suas escolhas e à sua
atividade profissional. A primeira delas explica o contexto de escolha da carreira:
73
específica de desenho. A professora do Ensino Médio dizia que para
passar eu precisaria fazer um curso preparatório. Claro que não tinha
a menor possibilidade de cursar tal preparação. Hoje percebo que a
professora não acreditava em mim e nem tinha qualquer pretensão de
ajudar, mas, no final, acho que eu precisava mesmo ir para a
pedagogia. Afinal, foi neste curso que recebi minhas primeiras
oportunidades profissionais e sempre tive a possibilidade de andar lado
a lado com artes (Depoimento da Professora Pró-ativa. In: SILVA,
2019, p. 60).
74
Minha relação profissional com o ensino das Artes Visuais começou ao
reproduzir nas escolas as aulas que tive enquanto aluna. Percebi que
minha formação no campo acadêmico modificava completamente
minha atuação em sala de aula. Escolhi ensinar artes porque era a área
que despertava muito interesse na Educação Básica e porque muitas
pessoas diziam que deveria ser professora de artes. Acreditei nelas!
Aos poucos fortaleci a ideia de ser professora de artes visuais com a
formação em pedagogia porque não encontrava possibilidade de
ensinar artes para crianças fora deste curso. Até poderia existir, mas
agarrei as possibilidades e as oportunidades da época) (Depoimento
da Professora Pró-ativa In: SILVA, 2019, p. 64).
75
estudar? As tradicionais? E o artesanato e as artes populares, como devem ser
estudados? Essas e muitas outras preocupações acompanham tanto o
estudante das licenciaturas quanto o docente de arte e que vão se resolvendo
com os diálogos, os estudos e as pesquisas constantes na área específica.
Aproximadamente há uma década, tem crescido a preocupação com a
valorização subjetiva da docência nos espaços de formação das licenciaturas na
área de arte. Nesse sentido, existem iniciativas que contribuem para a
construção de narrativas e da identidade e subjetividade docente, tema
abordado a seguir.
76
escolhas, sobre o que se destaca, bem como o que se omite, camufla. Nessa
escrita e narração, o professor estudante escuta a si mesmo e pode fazer
relações que talvez não estivessem tão evidentes.
Admitido e apresentado na disciplina de estágio nos mais diversos
formatos visuais e textuais o diário pode, na visão das autoras, ser um
instrumento que esboce formas de viver a docência por meio das várias formas
de atuar compartilhadas, fornecendo um novo olhar para o que tinha sido visto e
um espaço de problematização da experiência educativa.
Além dessa proposição, é possível acompanhar muitos relatos de
experiências sobre o exercício da docência nas linguagens artísticas em eventos
científicos como o CONFAEB, promovidos pela Federação de Arte-Educadores
- FAEB e os Encontros da Associação de Pesquisadores em Artes Plásticas -
ANPAP, por exemplo.
Saiba mais
No site da FAEB, é possível acessar os anais dos vários eventos anuais do
CONFAEB. Veja os anais do encontro de 2018 e entre em contato com os artigos
da Roda 07 - Processos e práticas docentes (p.1762). Disponível em:
https://faeb.com.br/wp-
content/uploads/2020/07/2018_anais_xxviii_confaeb_brasilia.pdf
Acesso em: 26/11/2021, às 16h05min.
Conclusão da aula
77
presentes na construção dessa aula e outros podem ser acessados nos links
sugeridos na seção Saiba mais.
Atividade de aprendizagem
Acompanhe os depoimentos:
“Espontaneamente e quanto mais meus alunos se envolvem e participam das
aulas, mais motivada me sinto para ensiná-los”.
Esses depoimentos estão no artigo sugerido na seção Saiba mais dessa aula.
Com base neles, escreva sobre sua escolha pela licenciatura em artes
visuais. Pense, reflita e escreva sem pressa, colocando o máximo de detalhes
que vierem à sua mente.
Apresentação da aula
78
ponto de vista de compreensão do que se passa ao seu redor; a educação
desenvolvida na mídia e pela mídia, em especial a eletrônica, etc.
A educação não-formal tem uma íntima relação com a ideia de cultura dos
países e das políticas públicas voltadas para essas ações. Denise Bandeira
explica (2017) que diante da diversidade de nacionalidades e de interesses são
também muitas as definições de cultura. Para a compreensão neste estudo,
vamos tomar o conceito de cultura como todo o modo de vida geral de um
determinado povo ou grupo social, incluindo aspetos material, social, intelectual
e espiritual.
Nessa perspectiva os países, estados e cidades têm uma preocupação
em desenvolver políticas públicas que promovam a cultura para as populações
de acordo com suas concepções sobre esse tema. No Brasil, a legislação
recente compreende a cultura como um direito fundamental do ser humano e um
importante vetor de inclusão social e desenvolvimento econômico. Dentro disso,
o cenário político é bastante determinante no fomento ou ausência de políticas
culturais nas gestões dos governos. Essa conjuntura incide sobre as
determinações para toda a educação, seja a formal ou não-formal.
Enquanto a educação formal ocorre em escolas que funcionam como
instituições regulamentadas por lei e organizadas segundo diretrizes nacionais,
a educação não-formal se dá em espaços educativos fora do sistema escolar,
em locais informais onde há processos interativos intencionais. Na educação
formal o exercício profissional é feito por professores. Na educação não-formal,
é o agente educador, sejam os pais, a família, os amigos, os vizinhos, colegas
de escola, a igreja paroquial, os meios de comunicação de massa, monitores e
outros.
A educação não-formal possui algumas características que a educação
não formal pode alcançar em termos de metas, em processos de ações coletivas.
São elas: o aprendizado das diferenças pelas quais se aprende a conviver no
coletivo; adaptação do grupo a culturas diversas; construção da identidade
coletiva de um grupo; balizamento de regras éticas quanto às condutas
socialmente aceitáveis.
Dessa forma, a educação não-formal é voltada para o ser humano como
um todo, cidadão do mundo, mulheres e homens. Porém, em nenhum caso, ela
substitui ou concorre com a educação formal, escolar, podendo inclusive
79
complementá-la com programações próprias, articulando escola e comunidade
educativa no entorno da escola. Entretanto, a educação não-formal possui
alguns objetivos comuns aos da educação formal, como a formação de um
cidadão integral. Porém, tem ainda a probabilidade de desenvolver alguns
objetivos mais específicos pela forma e espaços onde se desenvolvem suas
práticas.
Segundo Gohn (2006), a educação não-formal tem como objetivos:
educação para cidadania; educação para os direitos (humanos, sociais,
culturais, políticos etc.); educação para justiça social; educação para liberdade;
educação para igualdade; educação para democracia; educação contra
discriminação; educação para a manifestação das diferenças culturais.
Embora possamos entender os espaços de educação não-formal como:
casas de arte e cultura, centros culturais, museus, clubes, instituições religiosas,
organizações não governamentais – ONGs, entre outros, abordaremos nessa
aula as instituições artísticas e alguns projetos diferenciados.
80
8.2 O museu em seu papel educativo
81
O Conselho Internacional de Museus –ICOM, afirma que o museu é uma
instituição de caráter permanente, a serviço da sociedade, aberta ao público,
sem finalidade lucrativa, que realiza pesquisas sobre a evidência material do
homem e do seu ambiente, as adquire, conserva, analisa, comunica e exibe com
o fim de estudo, educação e fruição.
Dessa forma, o museu é reconhecidamente uma das instâncias
educativas indissociáveis da cultura. Desde 1951, especialmente, o ICOM e a
Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura – UNESCO
lutam pela consciência do papel educativo dos museus sob o pressuposto do
direito de todos os cidadãos a uma educação permanente nas dimensões
culturais, sobretudo na dimensão crítica do conhecimento.
Segundo Maria Isabel Leite e Luciana Ostetto (2006), pela especificidade
e associação com a elite e o significado com que se revestem as obras de arte,
os museus de arte foram os mais resistentes a se preparar para receber o público
leigo. Porém, cada vez mais os setores e serviços educativos instalados nos
museus se atêm a completar as exposições com atividades paralelas, como
oficinas de criação, atividades lúdicas e outras, por vezes questionáveis, que
auxiliem o público escolar. Em alguns casos, o público em geral acaba ficando
de fora dessas ações educativas, comumente voltadas ao público escolar.
Embora muito se tenha avançado na relação museu-obras-público, é
necessário cada vez mais um importante trabalho educativo para todos nos
museus, para que cada vez menos os visitantes sejam atraídos apenas pelo
marketing cultural ou se preocupem em ler as etiquetas ao lado das obras, a fim
de entendê-las minimamente.
Pensar no trabalho educativo dos museus, que são fundamentalmente
lugares de cultura, não quer dizer escolarizá-los. O desafio, segundo Leite e
Ostetto (2006), é buscar formas de relacionamento com o público de forma a
aproximá-lo respeitando seus conhecimentos anteriores e seus pontos de vista,
como pessoas singulares, pertencentes a diferentes grupos étnicos, sociais,
etários, civis, religiosos, etc.
Se o museu abriga a produção cultural e artística e a escola tem a
incumbência de possibilitar as experiências culturais para alunos e professores
fora do seu âmbito, outras reflexões se impõem, como a preparação do professor
para acompanhar alunos em museus, por exemplo, ou sobre os objetivos pelos
82
quais se levam alunos aos museus. Sejam quais forem, é importante dar lugar
ao repertório dos alunos, que diferentemente do nosso, possui padrão estético e
lógica próprios e é possível incluí-los na condução do olhar estético.
Vocabulário
Curadoria: refere-se à função do curador, pessoa responsável pela manutenção
das obras de artes em museus, galerias e espaços afins. Além de ser o
responsável pela concepção das peças de uma mostra, é o curador quem
desenvolve e gerencia a exposição, atua na produção e revisão do registro da
mostra. O curador de arte é também quem interpreta as obras e consegue
83
transmitir a ideia do artista para seu público, oferecendo diferentes
possibilidades de leitura para seus espectadores. Ao mesmo tempo, cuida para
que o contexto e a intenção do artista sejam preservados.
84
minutos e quinze segundos, que é o momento em que ela inicia a sua exposição
sobre mediação.
Mídias
85
Em algumas mediações a apresentação do objeto artístico é feita após ou
durante a conversa. Mas é preciso estar atento, pois a explicação, por outro lado,
pode ser uma prática dessensibilizadora que ignora a distância entre o aprender
e o compreender. A informação simples sem ser simplista, quando adequada
para quem a ouve, torna-se um bom acesso à leitura que se abre a novas
conexões. Porém, sem o devido cuidado, a informação em demasia pode retirar
o tão rico lugar da experiência.
Saiba mais
Para conhecer mais as concepções de mediação cultural de Mirian Celeste
Martins, acesse o site: https://www.mirianceleste.com.br/
Acesso em: 28/11/2021, às 15h05min.
O texto da autora Mediações culturais e contaminações estéticas, pode ser lido
em: https://seer.ufrgs.br/gearte/article/view/52575 Acesso em 28/11/2021, às
16h03min.
Conclusão da aula
86
Atividade de aprendizagem
Para Mirian Celeste Martins, a mediação cultural pode ser enriquecida pelas
provocações estéticas, entrelaçadas por experiências e conceitos. Para as
proposições, é importante pensar nas ações mediadoras, de modo a perceber
seus matizes e a potência para gerar encontros com a arte e a cultura.
Qual ou quais poderiam ser as provocações estéticas em torno dessa obra
de Rosana Paulino e quais outras produções artísticas (em qualquer
linguagem) poderiam ser colocadas juntas para uma mediação pensada por
você?
87
Índice Remissivo
88
Educação Estética, Territórios da Arte e Cultura, BNCC ............................. 43
(Arte; cultura; educação)
Educação não-formal .................................................................................. 78
(Ensino; prática; conceito)
Ensino de arte escolar a partir do século XX ............................................... 19
(Arte; ensino; desenho)
Ensino de arte no Brasil: marcos históricos a partir do século XX ................ 20
(Ensino; arte; expressão infantil)
Ensino de arte no Brasil: um ensino escolar com história ............................ 08
(Arte; ensino; história)
Ensino não-formal nas instituições artísticas ............................................... 78
(Ensino; instituições; arte)
Entre avanços e recuos ............................................................................... 58
(Educação artística; ensino; conteúdo)
Lei n. 5.692/71 e o ensino de arte como atividade ...................................... 30
(Arte; ensino; atividade)
Liceus de Artes e Ofícios ............................................................................. 13
(Arte; ensino; cultura)
Marcos históricos do ensino de arte no Brasil ............................................. 08
(Arte; ensino; marcos históricos)
Marcos normativos a partir da educação artística ....................................... 56
(Normas; ensino; educação artística)
Modernismo e liberdade de expressão infantil ............................................ 21
(Modernismo; expressão infantil; Escola Nova)
Multiculturalismo ......................................................................................... 40
(Multiculturalismo; interculturalismo; abordagem)
Narrativas docentes .................................................................................... 72
(Docência; exercício docente; arte)
O desenho utilitário na base da educação escolar popular .......................... 15
(Desenho; educação; escola popular)
O ensino de arte como conhecimento na LDB n. 9.394/96 ......................... 32
(Arte; conhecimento; metodologia)
O ensino de arte em reformulações ............................................................ 23
(Ensino; desenho; artes aplicadas)
O museu em seu papel educativo ............................................................... 81
(Museu; conhecimento; cultura)
Panorama do ensino das artes visuais em suas relações com as práticas
escolares .................................................................................................... 63
(Artes visuais; práticas; ensino)
Territórios da Arte e Cultura ........................................................................ 47
(Abordagem; linguagens; conteúdo)
89
REFERÊNCIAS
FARIA FILHO, Luciano Mendes de. A legislação escolar como fonte para a
História da Educação: uma tentativa de interpretação. In: FARIA FILHO, L. M.;
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