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Desde sempre a arte tem despertado grande interesse. A procura por uma
explicação sobre o fenómeno artístico tem ocupado filósofos e investigadores, dando
origem a conceções diferentes do conceito de arte ao longo dos tempos. Arte é um
termo que deriva do Latim ars(artis) e implica “um certo saber, um certo fazer e, por
vezes mesmo, um certo sentir, como agrado ou como deleite desse saber e desse fazer
resultante” (Logos, 1989: 472). As definições do conceito de arte são muitas e
diversificadas, desde Platão ou Aristóteles que consideravam a arte uma ‘imitação’, os
românticos e simbolistas que entendem a arte como sendo essencialmente uma
‘expressão’ do mundo do homem, ou como um meio de ‘comunicação’ no entender dos
semiologistas e estruturalistas. (Logos, 1989) De acordo com o dicionário Houaiss, a
arte corresponde a uma “habilidade ou disposição dirigida para a execução de uma
finalidade prática ou teórica, realizada de forma consciente, controlada e racional”
(Houaiss, 2003: 397).
As primeiras representações visuais que se conhecem foram encontradas em
cavernas, como a de Rodésia, com mais de quarenta mil anos. Trata-se das primeiras
obras de arte realizadas. Já naquela época estas pinturas teriam um carácter utilitário,
servindo de referência relativamente a possíveis animais que podiam ser encontrados
naquela região. Não obstante a sua vertente utilitária, a representação de determinadas
características dos animais mostra uma grande capacidade de ver e captar as
características mais importantes de cada animal, nomeadamente as suas fragilidades
para que a atividade da caça fosse facilitada. Hoje, estas representações pré-históricas,
juntamente com os primeiros objetos utilitários criados pelo ser humano, são
consideradas peças de inestimável valor.
Entendemos que a capacidade criativa, inventora e comunicadora do ser humano
é o fundamento da obra artística, que abarca grande parte da atividade humana. Assim
“o termo arte é uma abstração. Não há A., mas artistas. Não há A., mas certos objetos
aos quais se apõe o qualificativo de «artísticos» em determinados contextos culturais”
(Logos, 1989: 478).
Os fatores que desencadearam o desenvolvimento do ser humano foram, em
primeiro lugar, a capacidade de estabelecer um sistema de comunicação com o seu
semelhante e, com igual importância, a sua capacidade criadora. A criatividade permitiu
a cada ser humano percecionar o seu mundo de uma forma atenta, possibilitando a
criação de novos objetos, introduzindo melhoramentos constantes na sua realidade. É
desta forma que se alcança a evolução da humanidade. Por exemplo, quando o cientista
pretende dedicar-se à busca de uma solução para uma doença como a diabetes, em
primeiro lugar precisa de conhecer profundamente essa realidade. Só posteriormente,
recorrendo à imaginação, pode criar algo novo que coloque a cura desta doença mais
próxima de ser alcançada. Na opinião de Alfonso Lópes Quintás “cuando el ser humano
adopta en la vida una actitud creadora, está convirtiendo constantemente los objetos y
los meros espacios en ámbitos” (1993: 28). A transformação dos âmbitos referida por
Quintas pode resultar na transformação da vida das pessoas. No exemplo dado, a
descoberta de uma cura para a doença da diabetes transforma a vida dos pacientes que
sofrem desta doença, dos seus familiares e também a do cientista que vê o seu trabalho e
esforço reconhecido socialmente por melhorar a qualidade de vida das pessoas. Se
analisarmos devidamente, constatamos que todas as criações humanas visam o bem, a
melhoria das condições de vida da sociedade. O ato criativo reveste-se de uma
componente moral e ética de grande valor, ao serem empreendidos esforços para o
avanço da sociedade. “La experiencia estética ayuda a descubrir la riqueza de la
experiencia ética”(1993: 47).
BIBLIOGRAFIA
Major, C. J., (2010) “States of becoming”. In Cowley, J. S., Major C. J., Steffensen, V.
S.,Dinis, A. Signifying bodies: biosemiosis, interaction and health. Braga: The Faculty
of Philosophy of Braga, Portuguese Catholic University, 101-118.