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07/03/2022

Metodologia do Ensino da Arte 0 6 /0 3 /2 0 2 3

Introdução ao conceito de Arte

O que é arte?

A arte é uma área do conhecimento que analisa as obras de artes por meio de estilos artísticos e valor
estético. Dewey (2010, p. 128) complementa dizendo que “[...] a arte, em sua forma, une a mesma
relação entre o agir e o sofrer, entre a energia de saída e a de entrada, que faz com que uma experiência
seja uma experiência.” Assim, a arte reflete aspectos do contexto social, econômico, político e religioso
em que a sociedade vive em determinado período. No entanto, essa não é uma área que se basta, pelo
contrário, ela conta com outras ciências para complementá-la e ampará-la nessas análises, como
história, antropologia, filosofia, arqueologia e sociologia.
Desde o início da história da humanidade, encontramos vestígios da existência de criações artísticas,
sejam gravadas nas pedras ou por meio da produção de cerâmica utilizada no cotidiano, expressando
seus sentimentos e sua visão de mundo ao modelar. No decorrer da história da arte é possível aprender
um pouco sobre o ser humano na sua evolução e com as diversas expressões e manifestações artísticas
dos diferentes povos. Se você considerar que todas as culturas, mesmo em circunstâncias materiais
muito difíceis, desenvolveram sua forma de arte, nesse sentido, cabe a arte:
Papel de clarificação das relações sociais, ao papel de iluminação dos
homens em sociedades que se tornavam opacas, ao papel de ajudar o
homem a reconhecer e transformar a realidade social. Uma sociedade
altamente complexificada com suas relações e contradições sociais
multiplicadas, já não pode ser representada à maneira dos mitos (FISCHER,
1983, p. 1).
Podemos dizer, ainda, que a arte também pode ser pensada como disciplina, pois se constitui de tudo o
que o ser humano vem produzindo por necessidade ou para expressar seus sentimentos e emoções,
com manifestações de ordem estéticas realizadas ao longo do tempo. O artista é quem emprega o ato
de produção e se entrega ao prazer da criação, como explica Dewey (2010, p. 130): “[...] é alguém não
especialmente dotado de poderes de execução, mas também de uma sensibilidade inusitada às
qualidades das coisas. Essa sensibilidade também orienta seus atos de criação.” Arte é um termo que
vem do latim, e significa técnica e habilidade. Portanto, podemos considerar que é a linguagem
fundamental para estimular o ser humano na criação das práticas culturais de seu povo, pois é por meio
da arte que se veicula à noção de estética e imprime a noção da beleza, permitindo materializar algo
que inspira. Dessa forma, a arte passa a ser uma atribuição humana, que é produzida em um
determinado contexto social, pois, como enfatiza o crítico de arte John Ruskin (apud PROENÇA, 2003, p.
7): “As grandes nações escrevem sua autobiografia em três volumes: o livro de suas ações, o livro de
suas palavras e o livro de sua arte.”. Assim, podemos afirmar que, além de forma de se expressar, a arte
se apresenta também em sua finalidade, conforme nos diz Ferreira (2011, p. 67):
A finalidade da arte não se restringe a produzir o útil ou o belo, o prazer. É
mais que isso. A arte pode contribuir para a compreensão do mundo real e
expressão da verdade. O artista, através de sua obra de arte autêntica,
pode protestar contra as barbáries do mundo, transformando a submissão
em ato de luta, buscando resgatar a dignidade humana, o ser humano
pleno, rumo a uma sociedade melhor, mais justa e mais democrática, onde
todos possam ter acesso aos bens culturais de consumo e ao lazer.

Dentre muitas classificações possíveis, podemos dividir as manifestações artísticas em quatro linguagens
essenciais:
 Artes visuais — todos os ‘tipos’ de arte que atuam no campo da visualidade, como a pintura, o
desenho, a gravura, a escultura e a fotografia.
 Dança — trata da relação do corpo em movimento em um determinado tempo e espaço.
 Teatro — se vale da representação e da encenação para contar uma história.
 Música — atua com sons, silêncios, timbres, alturas e intensidades em seu percurso de criação.

Não é fácil definir um critério objetivo e universal para apresentar o conceito de arte ou as linguagens
artísticas que nele habitam. Inicialmente, essa definição ficou restrita às áreas do conhecimento
tradicionais e consideradas artísticas, que resultavam em uma impressão estética a seu receptor.

Tipos de Artes: uma classificação possível

O intelectual italiano Ricciotto Canudo publicou, em 1923, o Manifesto das Sete Artes, e é a partir dele
que nos apoiaremos para propor uma classificação que agrupa a arte em elementos básicos de
linguagem (CANUDO, 1995). São eles: música, artes cênicas, pintura, escultura, arquitetura, literatura e
cinema. Mais tarde, também foram consideradas mais quatro linguagens que compõem a área:
fotografia, história em quadrinhos, jogos de vídeo e de computador e arte digital. Vamos focar nessas
sete primeiras, e falar um pouco mais de cada uma.
A forma de arte que combina sons e ritmos é nomeada música. Esta é uma prática cultural que se dá em
diferentes sociedades desde a pré-história. Apesar de conter elementos comuns, a sua forma e seu
conteúdo podem variar de acordo com a cultura e o contexto social. Desse modo, é difícil classificar a
música em gêneros, já que existe uma grande variação musical conforme a cultura e a época. Essas
classificações também consideram os instrumentos utilizados, as referências musicais e os envolvidos na
produção dessa arte.
O teatro é uma arte que percorre a história da humanidade. A representação teatral era evidenciada
com as pessoas imitando animais para os membros da sua sociedade, expondo seus sentimentos e suas
emoções, narrando histórias pertinentes aos seus povos e enaltecendo seus deuses. O teatro era
percebido pelos povos de antigamente como sagrado, e, por isso, se acreditava que rituais e cerimônias
expressos com danças, músicas e encenações dos heróis locais poderiam trazer bom agouro para o povo
que o representou.
Todo o conjunto de manifestações artísticas que utilizam tinta aplicada em uma superfície, chamamos
de pintura. Essa arte pode ser identificada em afrescos, pintura a óleo, pintura de mural, pintura a
têmpera, entre outras técnicas. Sabe-se que essa é uma forma de expressão utilizada como
representação desde os povos medievais e até os dias de hoje. Por muito tempo, a pintura foi a única
maneira de registrar e reproduzir a imagem de pessoas e lugares, até o surgimento de técnicas de
reprodução de imagem por meio da máquina, como a fotografia, na Revolução Industrial no século XIX,
e, posteriormente, a câmera de vídeo e o computador.
A escultura se dá por meio de modelação e transformação de materiais que podem passar por esse
processo com diferentes técnicas: moldagem, fundição, cinzelação ou a aglomeração de partículas,
entre outros. Conforme o material utilizado, mais perene e mais durável será a obra, podendo ser eles:
pedra, mármore, calcário, granito, ouro, prata, bronze ou argilas e madeiras. As primeiras esculturas
foram encontradas na Índia e na China com alguns vasos em bronze fundido que datam do século X a.C.
e 220-206 a.C.
A arte que projeta e constrói edificações é a arquitetura. Para realização dessas edificações, há
inspirações que consideram a harmonia das proporções, a estética da obra, as técnicas funcionais e
estruturais, o material utilizado, o local em que será construído, entre outros fatores. Essa arte se
desenvolveu no Egito Antigo com a construção de grandes obras, como os palácios de pirâmides e a
estátua da esfinge, realizadas pelo governo dos faraós.
A poesia utiliza a linguagem humana para expressar seus sentimentos e situações cotidianas, baseada
em recursos linguísticos e estéticos. Seu objetivo é retratar algo real ou imaginado, de forma lírica,
veiculando informações ao receptor sobre alguma questão pertinente à sociedade na qual se vive. A
obra produzida pela poesia é chamada de poema, e o poeta é aquele que a realiza. Essa forma de arte
foi bastante usada como técnica de memorização e transmissão oral nas sociedades pré-históricas,
quando ainda não existia a escrita.
Mais recentemente, surge aquela que é considerada a “sétima arte”, o cinema. Com os irmãos Lumìere,
na França, em 1895, surgiu o cinematógrafo, inspirado no domínio fotográfico com a ideia de síntese de
movimento e na proposição sonora. Aos poucos, essa arte foi envolvendo grandes eventos sociais e
também foi recebendo investimentos milionários para se aperfeiçoar. Cada vez mais documentários e
filmes transmitem e veiculam imagens e mensagens que provocam, informam e causam sensações nos
seus expectadores.

Noção de estética na arte

Quando falamos de arte, também atribuímos a ela noções sobre estética. Como diz Azevedo Junior
(2007, p. 7): “[...] arte é uma experiência humana de conhecimento estético que transmite e expressa
ideias e emoções.”. Logo, a obra realizada informa sobre elementos estéticos por meio da sua
aparência, de seu conteúdo e até mesmo da sua relação com o ambiente no qual ela está exposta.
Porém, o que é acionado quando falamos de estética? Vamos aprofundar um pouco mais esta questão!
A filosofia nos ensina que a estética é um parâmetro medido por meio de um julgamento realizado pelo
ser humano, que considera o universal e o particular para essa análise. Portanto, ao observar uma obra,
você compara o que está vendo e percebendo ao que já conhece da sociedade em que vive. Logo, após
essa análise mais minuciosa é possível concluir nosso posicionamento sobre a obra, ao mesmo tempo
em que estabelecemos um acordo social entre os membros da sociedade, às vezes mais inconsciente do
que consciente, sobre o que é belo e o que não é.
A arte envolve formas de registrar a imaginação ou a realidade por meio de representações imagéticas
carregadas de significados com valores artísticos. Esses valores também estão articulados à noção de
estética, uma vez que a obra é produzida com certa intencionalidade, podendo variar conforme as
pessoas, os locais e os períodos. Conforme avalia Lacoste (1986, p. 38): “[...] a arte, enquanto
representação, contemplação por um olhar puro, responde, de fato, a uma espécie de apelo
inconsciente da vontade.”. Essa vontade está aliada à expressão do ser humano no mundo, que ao ser
realizada na arte comunica ao outro alguma mensagem.
Essa questão é reforçada por Proença (2003, p. 8), quando ela analisa que a arte não é algo isolado e
pontual, mas que está atrelada às atividades humanas a todo mundo, uma vez que: “[...] a preocupação
do homem com a beleza está tão presente nas culturas, que até mesmo objetos essencialmente úteis
são concebidos de forma harmoniosa e apresentam-se em cores muito bem combinadas.”. Nesse
sentido, cores, formas e conteúdo compõem essa experiência estética do objeto artístico, voltado para
o que é considerado belo naquela sociedade e fazendo esses objetos comporem o modo de vida de
determinada cultura.
Por fim, cabe apontar que as obras de artes também carregam noções estéticas vinculadas aos
posicionamentos políticos das pessoas e dos grupos sociais, de modo que o que é considerado belo em
um contexto pode não ser visto da mesma forma em outro. Desse modo, percebe-se que a condição da
estética é constantemente negociada, uma vez que ela revela, apresenta e informa sobre elementos
pertinentes a certas pessoas ou a grupos sociais. Assim, devemos considerar essas questões como a
complexidade que envolve a arte.

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