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CURSO: LICENCIATURA EM COMUNICACAO SOCIAL

ANO LECTIVO: 2023/24


II ANO
I. SEMESTRE
DISCIPLINA DE: HISTORIA DE ARTE E ESTETICA

Prof. Dr. Pe. Bantu M. K. Sayla


Katchipwi@gmail.com
949114922
Reflexões sobre a arte e o seu valor diante da
PREAMBULO reprodutibilidade técnica das imagens, iniciada pela
fotografia, pelo cinema, transformada pela música
pop, pela televisão, vídeo, pelos Dispositivos
Midiáticos, com o advento das Novas Tecnologias de
Comunicação e Informação, constitui uma cultura
visual actual na sociedade contemporânea. No
âmbito da Midiatização e dos Processos Sociais, a
disciplina de História da Arte e Estética propõe uma
abordagem introdutória acerca dos processos
evolutivos da representação artística ao longo do
desenvolvimento da cultura ocidental de
consequências globais e planetárias.
Sob essas angulações, em termos empíricos cremos perseguir um objecto
de estudo que congregue uma abordagem de matriz conjunta de elementos
sócio-histórico-midiáticos e formais, tem como enfoque a localização
temporal das diversas escolas e estilos, tendências artísticas e estéticas e
suas relações com o quadro histórico de que são resultado. Ou seja, a
disciplina objectiva discorrer sobre os principais conceito de Arte e da
Estética ao longo da história da humanidade e bem como suas
dificuldades. Para o efeito, por meio de aulas expositivas, mesas redondas,
focus group, adopta como estratégias o estabelecimento de contractos de
leituras com autores credenciados na área de Arte e Estética por meio de
inferências indutivas e dedutivas e abdutivas sob o ponto de vista
comunicacional.
O objectivo aqui é entabular uma
abordagem socio-discursiva, em torno
daquelas categorias, capazes de criar uma
ambiência que possibilite a percepção,
recepção e, sobretudo, construção de uma
Episteme a cerca da produção artística e
estética ao longo da história da
humanidade. Dito de outra forma, nossas
reflexões criativas, analíticas e críticas
partem do mundo clássico e perpassam por
todas as experiências subjectivas dos
indivíduos enquanto sujeitos
epistemológicos da produção sócio técnica,
tecnológica, histórico e cultural das obras
artísticas e estéticas.
OBJECTIVOS:

 GERAL:

 Conhecer e discutir a relação


entre a arte e a estética em
Comunicação Social;
Objectivos especificos

Estudar os fenómenos artísticos ao longo dos


anos como forma de transmissão da cultura do
povo;
Interpretar as imagens artísticas,
identificando-as segundo seu estilo e contexto;
Reconhecer os preceitos de arte e associar sua
utilização na comunicação e imagem;
Perceber marcos comunicacionais nas
diferenças e especificidades da produção
artística e cultural das sociedades em
midiatização.
Habilidade / Competências
No fim da unidade curricular os estudantes possuam
as seguintes compentencias:
Que sejam capazes de perceber o surgimento e a afirmação
do campo de conhecimento específico da História da Arte e
da Estética como parte integrante do processo
comunicacional, assim como as diversas formas de análise de
obras de arte;
Que saibam reflectir sobre os fenómenos artisticos socio
antropológico, técnico-tecnológicos midiáticos que nas
interfaces circulam entre o passado, presente e o futuro.
Que consigam Identificar e problematizar as especificidades
das produções artísticas e estilos em sua relação com a cultura
midiática.
Metodologia Ensino

Utilizaremos diferentes estratégias para efectivação dos


objectivos propostos:
Método Expositivo (mais propriamente uma orientação crítica
impregnada de maiêutica socrática); Método construtivista;
Método de Trabalhos independentes; Método de Trabalhos
em grupos;
Estratégias diferenciadas de leitura e produção textual;
Pesquisa bibliográfica e Debates.
Recursos Didácticos
 Aulas expositivas;
 Projeccao / Data Show
 Filmes e Vídeos
Conteudo Programatico

UNIDADE I
CONCEITUAÇÃO BÁSICA DA ARTE.

1- Definições sobre o fazer artístico e


estético.

1.1- Interfaces e perspectivas de


abordagem da arte:

1.1.1. Arte e sociologia;


1.1.2. Arte e história;
1.1.3. A arte como meio de comunicação;
UNIDADE II

ESTUDO DE PERÍODOS HISTÓRICOS RECENTES DA ARTE

2. – Movimentos da arte moderna e da modernidade tardia:


2.1. Impressionismo;
2.2. Vanguardas do século XX;
2.3. Do expressionismo abstracto e da Pop Art ao final do século XX;
2.4. Artes mecânicas
2.4.1. Fotografia
2.4.2. Cinema e
2.4.3. Arte electrónica.
UNIDADE III
A INDÚSTRIA CULTURAL E A ARTE

3 – Arte, cultura popular e cultura de massas.


3.1. Modalidades artísticas da actualidade:
3.2. Performance,
3.3. Land art,
3.4. Happening,
3.5. Minimalismo,
3.6. Arte conceitual,
3.7. Vídeo arte,
3.8. Intervenção urbana, grafiti,
3.9. Arte digital.

4 – Modos culturais da actualidade:


Relações entre arte, cultura de consumo e expressões de massa.
5 – Questões estéticas contemporâneas:
5.1. O corpo nas artes; arte, consumo e
ironia;
5.2. Arte e paisagem urbana;
5.3. Multiculturalismo e arte engajada;
5.4. Sampleamento e cultura da
reciclagem;
5.5. Melancolia pós-pop;
5.6. Metalinguagem e discursos do real.
 UNIDADE I
I.1 CONCEITUAÇÃO BÁSICA DA ARTE.
Palavra de origem latina, ars, artis, significa técnica, habilidade natural ou
adquirida, maneira de ser ou de agir. Segundo o dicionário Houaiss, arte é a
"produção consciente de obras, formas ou objetos, voltada para a concretização de
um ideal de beleza e harmonia ou para a expressão da subjetividade humana".
Na verdade, a arte transforma a forma de imaginar e de entender o mundo. É uma
forma de um indivíduo expressar as suas emoções, história e cultura por meio de
valores estéticos, como beleza, harmonia e equilíbrio. Por meio da história da arte,
é possível conhecer um pouco mais sobre o ser humano através da evolução das
suas diversas expressões, ou conhecer a história e as tradições de um país através
de suas manifestações culturais.
A arte pode ser representada através de várias formas, expressões, movimentos,
sons e linguagens.
I.1.1. A arte como expressao do ideal estetico

Arte é a expressão de um ideal estético através de uma atividade


criadora. É um tipo de manifestação humana universal (existe em
todas as culturas) que se comunica de forma simbólica e criativa
com a sociedade.
Uma obra de arte transmite ideias, sentimentos, crenças ou
emoções. Essa linguagem pode ter também finalidade
transgressora, expondo ao mundo uma visão crítica, de denúncia e
nem sempre agradável da realidade.
O termo arte vem da palavra latina ars, que significa "talento",
"saber fazer".
I.1.2. A arte sob o ponto de vista filosofico

Existem muitas definições de arte e seu significado varia conforme


a época e a cultura. Atualmente, a palavra arte é usada para
designar a atividade artística ou o produto da atividade artística.
Enquanto atividade, a arte é uma criação humana que busca aliar
forma e conteúdo para se comunicar a partir de um conjunto de
técnicas.
Para o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), a arte imita a
natureza (mímesis), mas também, por vezes, a completa. Segundo
Aristóteles, está na origem da atividade artística a propensão
natural do homem a imitar.
Para o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), a arte
diferencia-se da natureza por ser uma atividade racional e livre.
Assim, uma teia de aranha, embora possa parecer bela, não é uma
obra de arte, já que se trata de uma tarefa mecânica e natural.
Para Kant, a arte também se diferencia da ciência. Para ele, para se
produzir uma obra de arte não basta ter conhecimento sobre um
determinado assunto - é preciso ter habilidade para fazer. Kant
define a arte estética como aquela cuja finalidade imediata é o
sentimento do prazer, não apenas o prazer ligado às sensações,
mas também o prazer da reflexão.
A dificuldade de definir arte está na sua direta relação e
dependência com a conjuntura histórica e cultural que a fazem
surgir. Isso acontece porque quando um estilo é criado e
estabilizado, ele quebra com os sistemas e códigos
estabelecidos.
Para os povos primitivos, a arte, a religião e a ciência andavam
juntas. Originalmente, a arte poderia ser entendida como o
produto ou processo em que o conhecimento é usado para
realizar determinadas habilidades.
Assim, a arte é um reflexo do ser humano e representa a sua
condição social e essência de ser pensante.
I.1.3. História da Arte

A história da arte consiste em uma ciência que estuda os


movimentos artísticos, as modificações na valorização estética,
as obras de arte e os artistas.
Esta análise é feita de acordo com a vertente social, política e
religiosa da época que é estudada. Várias outras ciências servem
de auxílio para a história da arte, como a numismática,
paleografia, história, arqueologia, etc.
Através da história da arte é possível aprender um pouco sobre
o ser humano ao investigar a evolução das diversas expressões
e manifestações artísticas.
1.1.3.1 Cronologia da Arte

A história da arte é um ramo da ciência que estuda os processos


artísticos no contexto em que foram realizados. Assim, com o intuito
de facilitar os estudos, a arte está dividida em períodos, a saber:
Arte Pré-Histórica: período anterior a 3000 a.C., por exemplo, a arte
rupestre.
Arte Antiga: de 3000 a.C. até 1000 a.C., por exemplo a arte egípcia.
Arte Clássica: de 1000 a.C. a 300 d.C., por exemplo a arte grega e
romana.
Arte Medieval: do século V ao séc XV.
Arte Renascentista na Idade Moderna: parte do séc XIV ao séc XVII.
Arte na Idade contemporânea: a partir de 1789 até o fim do séc XIX,
por exemplo o neoclassicismo, romantismo e realismo.
Arte Moderna: fim do séc XIX até meados do séc XX, por exemplo o
cubismo e dadaísmo.
Arte Contemporânea: de meados do séc XX até os dias de hoje, por
exemplo a arte conceitual.
I.1.4. Função da Arte

Mas, afinal, para que serve a arte? Por ser uma atividade de difícil
definição e ter formas variadas de expressão, muitas vezes a "função"
da arte tende a ser mal compreendida.
Na verdade, não há um único objetivo ou finalidade ao se fazer arte.
Entretanto, podemos dizer que essa atividade contribui grandemente
para uma melhor compreensão do mundo, da sociedade e dos anseios
humanos.
Cada cultura e lugar possui seus próprios códigos artísticos e através
das obras de artes produzidas por esse povos, podemos entender
melhor sobre a vida e a cultura de nossos antepassados. E analisar o
passado nos ajuda a refletir sobre o presente.
Além disso, a arte também tem uma função catártica tanto para quem
a produz quanto para quem a aprecia - o que chamamos de "fruição".
Ou seja, há um sentido de "limpeza", libertação e cura na arte.
I.1.5. As belas artes

Denominadas “artes clássicas”, a pintura, a escultura, a música, a


literatura, a dança e a arquitetura, se destacam pelo apelo emocional e
valor estético que provocam a quem as observa. A definição ganhou forma
no século XVII e na Grécia.
No século XX, em 1912, Ricciotto Canudo, intelectual italiano radicalizado
na França, escreveu o Manifesto das Sete Artes que, na verdade, foi
publicado somente em 1923. Neste manifesto, Canudo define o cinema
como sétima arte por ser a arte plástica em movimento. Ou seja, aquela que
consegue congregar todas as outras em uma só.
Guiados por essa definição, muitos autores e críticos começaram a utilizar o
termo “belas artes” paras as sete artes clássicas.
I.2 A Arte na Perspectiva sócio linguístico e comunicacional
A arte é um poderoso meio de comunicação. São as cordas
vocais que o artista preservou para desgastar todos os seus
membros, desde os nervosos até aos motores, para dar forma e
significado àquilo que produz. A partir desta construção,
aparente contextualizada ou não, originou uma mensagem. O
típico ditado que afirma que “uma imagem vale mais do que mil
palavras” assenta que nem uma luva naquele que capta a
objetividade subjetiva da criação artística. Apresenta-se uma
dialética que converge aquele que fomenta o amor e o que ama.
A arte tem o dom de, para além de emitir tanto quanto as
palavras, arrecadar o sentimento. Leva-o a partir de si para todo
o lugar. Ganha asas numa inspiração sem discriminação ou
opressão.
A arte chega ao mundo das mais diversas formas. É um distintivo cultural que
caracteriza e formula aqueles que nascem nesta ou naquela comunidade.
Influenciados pelas obras dos mais vários artistas, nasce esta forma de chegar
ao outro. Uma forma mais simples, colorida mas que, não obstante, dá
também origem a ambiguidades. As interpretações são várias e inconstantes,
originando uma paleta de visões diferenciadas. Umas mais racionais, outras
mais emocionais. É esta variedade que é produzida pela arte e que a
linguagem muitas vezes não consegue. O discurso escrito e falado não
consegue chegar lá por si só. Precisa de atrair, de trazer para junto de si aquele
que é o seu interlocutor. Mesmo que não ouça, vê e sente. O sentimento nunca
foge. Deixa-se estar e agrada pela experiência que regala a sua vista.
No entanto, e aquilo que fica para o foro interno, a arte é também meio que se
expressa para o artista em si. É a forma que ele encontra para desbobinar tudo
aquilo que sente. É um método que usa para se reencontrar e acertar aquilo que
em si milita com as contas das representações. Dando contornos e cores às
coisas que sente, talvez facilite aquilo que é o cruzamento dos mundos em que
participa. Também o artista precisa de esclarecimento para conferir realidade
ao que mais lhe lateja na sua personalidade artística. É a forma de dar forma
para em si se formar. Completa a sua formação pessoal naquilo que consagra
no que faz. É o passo final que se inicia na carreira do que pinta, do que
esculpe, do que engenha, do que concebe, do que visualiza. Acima de tudo,
naquele que se inspira e que sonha. O sentimento é o motor da razão, por muito
que o contrário pareça estar confirmado e consolidado.
O que se repercute daquilo que o artista constrói é a empatia. Há muitos que se
comovem, compreendendo aquilo que é expresso pela criação. Existe desde
logo uma associação entre o criador e o apreciador, entre o artista de membros
com o artista de mentes, dando largas à sua imaginação na construção de uma
interpretação e na formalização de uma apreciação. Esta ligação nunca se
quebra desde que é iniciada porque uma obra não se esquece. É das tais que se
entranha no sentimento e que de lá não sai. É um dos elementos que faz parte
de uma autêntica galeria de arte que se vai organizando no memorial de cada
um. A expressão da arte não se limita àquilo que fica na tela ou na figura. A
expressão artística fica armazenada também em todo o seu amante, em todo
aquele que se declara sintonizado com a mensagem do artista.
Tudo isso é comunicação. Um valiosíssimo meio de comunicação. Tudo isso é
uma forma mais ou menos discreta de fazer passar a mensagem que o criador
pretende. Também este é um orador, embora recorrendo ao símbolo da imagem
na arte da sua retorica. A visão é despertada, assim como uma vontade visceral
de dar uso ao tato. Embora nem sempre seja possível este toque, a emoção
promovida por ambas as partes da criação artística engole por completo a
vontade de sentir com a ponta dos dedos e a palma das mãos. O coração sente-
se realizado. Quando isto acontece, pouco mais pode ser exigido. É desfrutar
de uma mensagem que é enviada num certo dia e que chega sem destino,
muitas vezes de surpresa. Uma comunicação que fica e que ruma ao conforto
do eterno.
Arte é uma forma de o ser humano expressar suas emoções, sua história e sua
cultura através de alguns valores estéticos, como beleza, harmonia,
equilíbrio. A arte pode ser representada através de várias formas, em especial
na música, na escultura, na pintura, no cinema, na dança, entre outras.
Após seu surgimento, há milhares de anos, a arte foi evoluindo e ocupando
um importantíssimo espaço na sociedade, haja vista que algumas
representações da arte são indispensáveis para muitas pessoas nos dias atuais,
como, por exemplo, a música, que é capaz de nos deixar felizes quando
estamos tristes. Ela funciona como uma distração para certos problemas, um
modo de expressar o que sentimos aos diversos grupos da sociedade.
Muitas pessoas dizem não ter interesse pela arte e nem por
movimentos ligados a ela, porém o que elas não imaginam é
que a arte não se restringe a pinturas ou esculturas, também
pode ser representada por formas mais populares, como a
música, o cinema e a dança. Essas formas de arte são
praticadas em todo o mundo, em diferentes culturas.
Atualmente a arte é dividida em clássica e moderna e qualquer
pessoa pode se informar sobre cada uma delas e apreciar a
que melhor se encaixar com sua percepção de arte.
I.2.1Arte e suas linguagens

A arte enquanto criação humana apresenta-se por diversas


formas e linguagens, tais como a música, escultura, cinema,
teatro, dança, arquitetura, etc. Existem várias expressões que
servem para descrever diferentes manifestações de arte, por
exemplo: artes plásticas, artes cênicas, arte gráfica,
artes visuais, etc.
Alguns pensadores (como Hegel e Ricciotto Canudo)
organizaram as diferentes artes em uma lista numerada. A
inclusão de algumas formas de arte não foi consensual, mas
com a evolução da tecnologia, esta é a lista mais comum nos
dias de hoje:
I.2.1.1 A Linguagem visual como Comunicaçao

As artes desta linguagem normalmente lidam com a visão como o seu


meio principal de apreciação costumam ser chamadas de artes visuais.
As artes visuais que lidam com a manipulação e transformações de
materiais para construção de obras de artes se chamam artes plásticas,
podemos destacar: o desenho, a pintura, a escultura, a gravura, o
grafite, o mosaico, a arte vitral, as artes gráficas, a cerâmica, o
artesanato.
Além dessas, são consideradas ainda como artes visuais: a arquitetura,
o design (industrial, gráfico, moda, jóias, computação e jogos), a
decoração e o paisagismo, a instalação, a intervenção (interferência de
ambientes urbano), a land art (interferências no espaço natural), a body
art (interferências do corpo humano) a fotografia e a arte sequencial.
A arte sequencial usa imagens implantadas ou montadas em
sequencia para narrar história ou transmitir informações: os
quadrinhos, a animação e o cinema (com produções áudio
visuais criativas como filmes, novelas, seriados e vídeo-clipes).

https://www.youtube.com/watch?v=fl_Mk4R7uZk
I.2.1.1.1 Arquitectura
“Arquitetura é música petrificada”. A frase do escritor alemão Goethe (1749-
1832) sintetiza uma das funções primordiais da arquitetura: fazer arte, mas
um tipo de arte diferente, onde tijolos e cimento são a matéria prima.
Nos dias atuais, a arquitetura pode ser definida como a relação entre o
homem e o espaço, ou melhor, a forma como ele interfere no meio criando
condições estéticas e funcionais favoráveis para habitação, utilização e
organização dos ambientes. Responsável por criar espaços – públicos e
privados – capazes de unir, ao mesmo tempo, funcionalidade, estética e
conforto. O Museu de Arte de São Paulo (MASP), projetado por Lina Bo
Bardi e a Praça dos Três Poderes em Brasília, projetada por Oscar Niemeyer
e Lúcio Costa, são importantes exemplos da arquitetura.

https://www.youtube.com/watch?v=fl_Mk4R7uZk
I.2.1.1.1.2. Musica como comunicaçao
É uma forma de arte que se constitui basicamente em combinar sons e silêncio. A
criação, a performance, o significado e até mesmo a definição de música variam de
acordo com a cultura e o contexto social. A música expandiu-se ao longo dos anos,
e atualmente se encontra em diversas utilidades não só como arte, mas também com
propósitos educacionais ou terapêuticos, por exemplo, a musicoterapia – forma de
tratar o indivíduo por meio da música. Através do ritmo, harmonia e melodia, os
artistas compõem canções capazes de marcar a vida das pessoas. São muitos os
estilos de música que existem, como, rock, reggae, samba, sertanejo, jazz, músicas
folclóricas, clássica, entre tantas outras vertentes.
A música está nas ruas, festas, carros, celulares, escolas, instituições e eventos de
nossa vida. Ela também está presente nas lembranças tristes e felizes de um
indivíduo.
https://www.youtube.com/watch?v=UwRRMn9k5AA
I.2.1.1.1.3. Escultura
A escultura é a arte de transformar matéria bruta em formas em terceira
dimensão, isto é, com volume, altura e profundidade.
Utiliza-se de materiais como gesso, pedra, madeira, resinas sintéticas, aço,
ferro, mármore e das seguintes técnicas, como a moldagem, fundição ou a
aglomeração de partículas. A sua origem baseia-se na imitação da natureza,
com o intuito maior de representar o corpo humano.
Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho, e Abelardo da
Hora são importantes escultores brasileiros. Victor Brecheret (1894-1955)
foi um escultor ítalo-brasileiro, considerado o introdutor da arte moderna na
escultura brasileira. É o autor da obra Monumento às Bandeiras, localizado
no Parque do Ibirapuera, na capital paulista.
I.2.1.1.1.4. Pintura
A pintura é um tipo de arte que acompanha a humanidade há muito tempo. Os
primeiros registros de pinturas datam da Pré-História, e podem ser encontrados nas
paredes das cavernas, onde eram desenhadas cenas de caça, dança, e figuras de
animais.
A pintura artística, em um conceito simples, é a técnica que utiliza pigmentos para
colorir uma superfície (tela, papel, tecido, parede, etc), atribuindo tons e texturas.
A cor é o elemento essencial da pintura. A pintura se expressa através da superfície
onde será produzida e dos materiais, como pincéis e tintas, que lidam com os
pigmentos.
Além da pintura convencional existe a pintura figurativa, que é a reprodução de
um tema familiar à realidade natural ou interna do artista.
Anita Malfatti, Candido Portinari, Di Cavalcanti, Ismael Nery, Tarsila do Amaral e
Vicente do Rego Monteiro são alguns dos pintores brasileiros, com obras expostas
no Brasil e no mundo.
I.2.1.1.1.5. Dança

A dança é uma manifestação artística que se caracteriza pelo uso do corpo


para realizar movimentos ritmados, criando uma harmonia própria,
geralmente com o auxílio de sons ou de músicas. É uma das expressões mais
antigas da humanidade.
Os movimentos podem acontecer independente do som que se ouve, e até
mesmo sem ele. É uma atividade que pode ser praticada de forma individual
ou coletiva.
A dança pode ser usada de várias formas, como forma de expressão,
interação espiritual, conexão social ou comunicação não verbal.
Klauss Vianna, Ivaldo Bertazzo, Ana Botafogo e Deborah Colker, bailarinos
e coreógrafos, reconhecidos representantes da dança no Brasil.
https://www.youtube.com/watch?v=91U3nGCSmDk
I.2.1.1.1.6. Literatura

A literatura é uma arte produzida com palavras. Tem papel fundamental na


construção do ser humano enquanto sujeito e cidadão. Por meio do texto
literário é possível compreender a si mesmo e as diversas dinâmicas sociais
do mundo.
O conceito de literatura também pode compreender o conjunto de estórias
fictícias inventadas por escritores em determinadas épocas e lugares, sejam
poemas, romances, contos, crônicas e novelas.
Ariano Suassuna, Cecilia Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Lima
Barreto, Machado de Assis, Manuel Bandeira, Mario de Andrade e Luis
Fernando Veríssimo, são alguns dos grandes nomes da literatura.
I.2.1.1.1.7. Cinema
A linguagem do cinema surgiu a partir da fotografia. A invenção é atribuída aos
irmãos Auguste e Louis Lumière. Eles foram os responsáveis pela primeira
exibição de uma película, no ano 1885, em Paris. As cenas apresentadas tinham em
torno de 40 segundos e as que ficaram mais conhecidas são A saída dos operários
da Fábrica Lumière e A chegada do trem à Estação Ciotat.
O cinema é uma das diversões mais apreciadas do mundo. Arte que representa a
realidade como a pintura e a escultura, mas que também consegue trazer
movimento, como a dança, e sons.
Além de conseguir retratar a beleza que existe no mundo real, ao mesmo tempo, a
sétima arte consegue manifestar histórias pessoais, estilos de vida, grandes
momentos históricos e características da vida humana com toda a peculiaridade que
envolve essas realidades.
Anselmo Duarte, Glauber Rocha, Fernando Meirelles, Walter Salles, José Padilha e
Anna Muylaert, alguns dos cineastas brasileiros premiados no Brasil e no exterior.
I.2.1.1.1.8. Teatro
O teatro teve origem na Grécia Antiga, por volta do século VI a.C.
Esta forma de arte não integrou a lista das sete belas artes, por não
ser considerado um gênero independente, mas sim uma variação da
literatura. Esta manifestação artística está relacionada à atuação ou
interpretação, por meio da qual são representadas histórias na
presença de um público. Esta forma de arte combina discurso,
gestos, sons, música e cenografia, e estimula sentimentos, como:
alegria, tristeza, empatia, raiva, curiosidade, entre outros.
https://www.youtube.com/watch?v=I-wB6qEpGBQ
I.2.1.1.1.9. Fotografia
A fotografia é o processo e a arte que permite registrar e reproduzir, através
de reações químicas e em superfícies preparadas para o efeito, as imagens que
se tiram no fundo de uma câmara escura. O princípio da câmara escura
consiste em projetar a imagem que é captada por um pequeno orifício sobre a
superfície. Desta forma, o tamanho da imagem é reduzido e pode aumentar a
sua nitidez. Louis Daguerre em 1839, é considerado o precursor da fotografia
moderna. Na época, a fotografia era utilizada somente para retratar a realidade
e reproduzi-la em papel. Por esta razão, não foi considerada arte em um
primeiro momento, e sim um aparato técnico/científico. Com o passar do
tempo, identificou-se todas as potencialidades dessa forma de expressão.
https://www.youtube.com/watch?v=4J3t2vFwYkA
I.2.1.1.1.10. História em quadrinhos (HQ)

A história em quadrinhos (HQ) foi criada, da forma como


conhecemos, pelo americano Richard Outcault entre 1894 e 1895.
Nessa época, ele publicou em revistas e jornais uma narrativa
contando sobre o Yellow Kid (Menino amarelo). Nessa tirinha, o
personagem era uma criança em situação de vulnerabilidade e se
comunicava por meio de gírias. A intenção do autor era fazer uma
crítica social através de uma linguagem coloquial e simples,
combinando desenhos e textos.
I.2.1.1.1.11. Video Games

O universo dos games surgiu para o público na década de


70. Foi com o lançamento do jogo Atari, em 1977, que essa
manifestação ganhou força, pois a pessoa podia jogar vários
jogos utilizando o mesmo equipamento. Atualmente, os
games constituem uma das formas mais utilizadas de
diversão e, por conta da tecnologia em constante
desenvolvimento e o surgimento do smartphone, muitos
games são lançados com frequência.
I.2.1.1.1.12. Artes Digitais

O conceito das artes digitais engloba diversas manifestações


artísticas realizadas por meio da ajuda dos meios eletrônicos, com
destaque para os computadores, tablets, smartphones, entre outros.
As artes digitais são criadas a partir de processos digitais, com a
ajuda de programas e softwares destinados para este tipo de
trabalho. As criações podem ser impressas ou serem vistas no
próprio ambiente de criação.
https://www.youtube.com/watch?v=VytkYGScwPQ
I.3 A Estética e o Belo como expressão da Arte
Estética é uma palavra com origem no termo grego aisthetiké, que
significa “aquele que nota, que percebe”. Estética é conhecida
como a filosofia da arte, ou estudo do que é belo nas
manifestações artísticas e naturais.
A estética é uma ciência que remete para a beleza e também
aborda o sentimento que alguma coisa bela desperta dentro de
cada indivíduo.
Como está intimamente ligada ao conceito de beleza, existem
vários centros ou clínicas de estética, onde as pessoas podem
fazer vários tratamentos com o objetivo de melhorar a sua
aparência física.
I.3.1 A Estética e o Belo sob o ponto de vista filosófico
O início do nosso pensamento sobre o belo e a estética tem
como época as mitológicas gregas, em que imperava o
pensamento matemático e geométrico refletido em toda as
esferas sociais. É importante trazermos esses elementos
para entendermos a origem do pensamento ocidental,
hegemônico, em relação ao estudo do belo e em um
segundo momento a origem da disciplina estética no âmbito
acadêmico.
Tatarkiewicz (2001) articula o desenvolvimento do conceito
de arte desde a época da Grécia antiga até os dias atuais.
Àquela época, a palavra arte tinha um significado muito mais
amplo e era utilizada de forma coloquial para todos os tipos
de fazer, de produção.
As palavras músico, poeta, arquiteto não se faziam
necessárias naquele contexto histórico. Os gregos não
utilizavam as denominações artes visuais, música, poesia,
arquitetura como nos dias atuais porque não necessitavam
desses conceitos, pois a divisão do trabalho artístico era
diferente e muitas vezes coletiva, como a música e a dança,
uma vez que um único nome representaria essa união.
Para os gregos, a palavra arte era entendida como toda forma
de produção com destreza, ou seja, toda a práxis era arte. Um
carpinteiro, escultor, pintor eram considerados artistas pois
produziam com destreza. As divisões também se davam em
razão do esforço físico utilizado na produção da obra: se havia
esforço físico, era considerada arte inferior; se não havia, era
considerada arte superior.
Escultores estavam no mesmo patamar de carpinteiros,
pois ambos produziam determinado produto artístico e
faziam esforço físico; em contrapartida, o músico era
considerado superior, pois utilizava apenas seu intelecto
para realizar sua arte. Apresentaremos breves e
sintéticas definições sobre o belo no decorrer da história
acadêmica ocidental. Iniciando pelo complexo
pensamento de Platão a respeito do belo.
Para Platão (340 a.C.) o belo é o ideal da perfeição só
podendo ser contemplado em sua essência por meio de
um processo de evolução filosófica e cognitiva do
indivíduo por meio da razão que lhe proporcionaria
conhecer a verdade harmônica do cosmo.
Este processo proporcionaria a superação das ilusões e
aparências sensórias do mundo, revelando sua verdadeira
essência, essa essência de certa forma, divina, está além de
formas físicas e experiências empíricas. Por isso a arte para
Platão é uma distração da verdadeira essência das coisas. Para
o filósofo a arte é a reprodução do mundo, que por sua vez, é
a representação de ideias no mundo manifesto e por isso a
arte distância a mente da realidade e consequentemente do
Belo. O filósofo reconhece que a arte possui valor em si
mesma, por isso, cria confusão com o objeto real e deturpa a
essência do belo. Essa conceituação de Platão tem forte
ligação com conceito de real, pois não permite mediações de
nenhum tipo.
A arte, para ele, está ligada à emoções e sentimentos que
distorcem e influenciam as pessoas. “Nesse sentido o
caminho do filosofo é o caminho para a realidade e a
verdade.” (GREUEL 1994, p. 148). Para Platão o artista
deveria se submeter ao filósofo. Platão é extremamente
“bairrista” em relação à filosofia como podemos perceber no
diálogo entre Sócrates e Glauco, no livro 10, da obra A
República. Nesta obra, Platão fala de três graus em relação à
natureza das coisas, a ideia, os objectos em geral e a
imagem destes objectos, e, já adianta em alguns séculos as
discussões que ainda hoje permeiam os debates acadêmicos
sobre visualidade, realidade e representatividade.
Aristóteles, pupilo de Platão refuta o pensamento platônico e
segundo o professor e pesquisador Clóvis de Barros (2010) em
sua aula “A Beleza e a Arte”, para Aristóteles “o mundo é belo
quando na sua simples contemplação enseja a quem o
contempla um instante de vida que vale por ele mesmo, um
instante eudaimônico”. O belo para Aristóteles também estaria
ligado à natureza, entretanto, diferentemente do pensamento
de Platão, a arte, a criação humana, assume protagonismo na
concepção do belo uma vez que é o homem que define o que é
belo, ou seja, existe um filtro humano tanto do artista quanto
do observador. Aristóteles reconhece que a tendência para
imitação é instintiva no homem desde a infância e que esta
aptidão é uma das características que o difere de outros seres
vivos. Para o autor é pela imitação que adquirimos nossos
primeiros conhecimentos e experimentamos prazer.
O filósofo em sua obra “Poética” cita pintores e poetas que
utilizavam sua criação artística para potencializar ações
humanas, ou seja, para o autor a arte poderia, ainda,
complementar o que falta na natureza, por meio da poética.
Podemos entender que para Aristóteles o belo não é ligado a
conceitos de real. O artista teria a liberdade para criar
realidades e dar sentido para um mundo que não tem sentido.
A obra de arte teria também um papel histórico e didático na
evolução humana.
Em um breve salto temporal, iremos direto para à época em
que a disciplina estética é designada como disciplina
acadêmica para estudar o belo, a filosofia e a arte. O conceito
de arte moderna só veio a ser amplamente discutido e
objetivado na Europa durante a Idade Média, quando surgiu a
classificação das belas-artes.
La tradición del concepto griego de «techne» se mantuvo
durante mucho tiempo. Durante la Edad Media «ars» no
significó otra cosa. Con el paso del tiempo, surgieron las
(bellas artes) clasificándose, sin embargo, por separado y
ocupando, en tiempos modernos, um lugar importante entre
las artes, hasta que finalmente se apoderaron: absolutamente
del término «artes». (Tatarkiewicz, 2001, p.101)
I.3.2 Estética como conhecimento do sensível

Portanto, a estética também é conhecida como a filosofia do belo e


na sua origem era uma palavra que indicava a teoria do
conhecimento sensível (estesiologia).
O significado que é atribuído atualmente à estético foi introduzido
por A.G. Baumgarten, para descrever aquilo que na sua altura se
chamava de "crítica do gosto".
Ao longo dos tempos, a filosofia sempre se interrogou a respeito da
essência do belo, o tópico central da estética.
Segundo Platão, o belo se identifica com o bom, e toda a estética
idealista tem como origem essa noção platônica. No caso de
Aristóteles, a estética tem como base dois princípios realistas: a
teoria da imitação e a catarse.
A estética neoplatônica, defendida por Plotino, ressurge no
Renascimento, particularmente com A.A.C. Shaftesbury (escola
inglesa do sentimento moral) e também em algumas noções do
idealismo romântico, que contemplam o belo como manifestação
do espírito.
O classicismo francês (Descartes e Boileau-Despréaux) mantém as
ideias de Aristóteles, apesar de serem introduzidos pelo
racionalismo os conceitos de "claridade" e "distinção" como os
critérios de beleza.
No século XVIII, a história da estética atinge o seu auge. Os ingleses
analisaram a impressão estética e estabeleceram a diferença entre a
beleza experimentada de forma imediata e a beleza relativa.
Também foi feita a separação entre o belo e o "sublime" (E. Burke).
Na Crítica do Juízo, Kant determinou o caráter a priori do juízo estético,
identificando o belo como uma "finalidade sem fim" e nomeando a
"ciência de todos os princípios a priori da sensibilidade" como estética
transcendental. O classicismo alemão foi potenciado pelos
fundamentos de Kant, como é possível verificar com Schiller, Goethe,
W. Von Humboldt.
No século XIX, G.T. Fechner criou a estética indutiva ou experimental,
uma oposição a estética especulativa.
Na estética contemporânea, é importante destacar duas tendências: a
ontológica-metafísica, que muda radicalmente a categoria do belo, e a
substitui pela vertente do verdadeiro ou do verídico; e a tendência
histórico-sociológica, que contempla a obra de arte como um
documento e como uma manifestação do trabalho do homem,
analisada no seu próprio âmbito sócio-histórico.
A partir da Idade Média, disciplinam-se as matérias da arte e
possibilitam-se estudos mais detalhados e profundos de cada
modalidade artística, dando margem a um maior desenvolvimento
individual dos artistas e das modalidades bem como movimentos
artísticos. Poderíamos citar inúmeros pensadores como Santo
Agostinho, Baruch de Espinoza que refletiram filosoficamente
sobre o belo e contribuíram para a fundamentação do que viria a
ser a disciplina estética no campo da arte que seria estabelecida
pelo filósofo alemão Alexander Baumgarten.
O filósofo alemão Alexander Baumgarten (1714-1762),
fundamenta a filosofia do belo na arte e avança na discussão de
tópicos como arte e beleza estabelecendo a estética4 como
disciplina em um campo distinto da investigação filosófica. A
ênfase característica da sua abordagem estava na importância do
sentimento no ato criativo do artista.
Ele queria modificar “a afirmação tradicional de que “a arte imita a
natureza”, afirmando que os artistas devem alterar deliberadamente
a natureza, adicionando elementos de sentimento à realidade
percebida. Dessa forma, o processo criativo do mundo se reflete em
sua própria atividade. ”O belo é uma materialização de sentimentos e
ideias puras através de obras de arte.
Outro pesquisador que se debruçou sobre o estudo da estética,
Immanuel Kant (1724- 1804), utilizou a Metafísica de Baumgarten
(1739) como texto para palestras. Tomou emprestado o termo
estética de Baumgarten, mas o aplicou a todo o campo da
experiência sensorial. Só mais tarde o termo se restringiu à
discussão da beleza e da natureza das belas-artes. Para o autor o
belo é um dado objetivo presente nos próprios objetos e agrada
universalmente a todos sem depender de um interesse ou um
conceito.
O belo nasce de um sentimento humano de prazer universal e da
capacidade humana de julgar essa informação nos objetos em
uma espécie de jogo entre imaginação e o entendimento que
promoveriam a manifestação do belo por meio de sensações,
sentimentos de prazer no sujeito. Nesse período e no que se
seguiu, a estética kantiana e a razão cartesiana foram as
protagonistas do fazer artístico e da percepção do que é arte.
Em um salto temporal, já no início do século XX, o antropólogo
francês, Leroy-Gourhan (2002) em seu livro “O Gesto e a Palavra
2 - Memórias e Ritmos”, mais precisamente no capítulo XI, “Os
fundamentos corporais dos valores e dos ritmos” explica os
diversos componentes dos equipamentos sensoriais dos
mamíferos que juntos formam um “maravilhoso” aparelho de
transformação de sensações em símbolos, e que, “tudo no
homem é assimilável às diligências do pensamento esteticamente
construtivo”.
O autor afirma que a estética se baseia na consciência do
homem, na sua capacidade de formar juízo de valor sobre as
formas e sobre os movimentos, ou, sobre os valores e sobre
os ritmos, sendo necessário entender as fontes que ele irá
beber para criar sua percepção do movimento e das formas.
O homem, com exclusão da sua integração intelectual e
mobilização da consciência possui sua máquina animal
idêntica aos outros mamíferos se sujeitando ao “movimento
da digestão”, comendo a horas fixas, “acompanhando a
multidão, e tal como um carneiro, o ritmo do passo coletivo”
(LEROY-GOURHAN, 2002, p. 85).
Ainda para o autor, uma das características que difere o ser humano dos outros
mamíferos é a conexão da sua vida mental a aparelhagem simbolizante que o
permite viver a vida sensitiva em toda sua dimensão. Esse sistema humano de
referências sensoriais que possibilita a análise estética comporta a ação como o
retorno da reflexão. Contudo, o autor diz que é necessário refletir sobre uma
segunda linha de pensamento que questiona se o pensamento estético não se
interrompe precisamente onde começam os comportamentos “naturais”, e, além
disso, mesmo que o pensamento possa efetivamente assegurar certa consciência
do vivido, o equipamento sensorial também atua a um nível infra-simbólico,
como o caso do gosto, o qual não se consegue dar a imagem e só pode ser
reconstituído por si só. Para o autor o comportamento estético não está confinado
à criação da obra de arte, entretanto, “A criação figurativa é o principal elemento
da libertação individual, enquanto que o comportamento técnico ou social é
vivido de acordo com normas coletivas que implicam uma execução uniforme”.
Leroy Gourhan (2002) diz que o comportamento dos animais sob o ponto de
vista sensorial pode ser definido por três aspectos: o comportamento nutritivo, o
da afetividade física e o da integração espacial. O comportamento nutritivo
assegura o funcionamento corporal através do tratamento das matérias
assimiláveis pelo organismo, tendo por motor os ritmos viscerais e por agentes
de percepção como o olfato, a degustação e o tato. O comportamento da
afetividade física assegura a sobrevivência genética das espécies e equilibra-se
entre a percepção do jogo muscular e o tato, a olfação e a visão. O
comportamento da integração espacial torna possível os dois primeiros, no caso
do homem a visão é o sentido dominante, pois junto com os órgãos do equilíbrio
contribui para percepção do corpo no espaço. Estes aspectos correspondem a
três níveis de referência dos indivíduos entre si e com o meio, entretanto, não é
possível “conceber nenhum dos três níveis de relação com o meio externo sem a
associação de certa criticidade corporal e de um dispositivo de referência” que
criam as percepções afetivas, de mobilidade e forma.
Leroy-Gohan (2020) afirma que o ritmo está ligado ao tempo e
ao espaço exterior. Às alternâncias no meio ambiente como as
sazonais mudanças meteorológicas, o dia e a noite, e as
cadências fisiológicas como o sono e a vigília, a digestão e a
fome que resultam no verdadeiro condicionamento a nível das
operações cotidianas, “mas que apenas intervém no
comportamento humano estético na medida em que este tem
por instrumento o corpo humano” (Leroy-Gohan, 2002, p. 88).
Contudo, em contrapartida a isso o autor diz que a ruptura do
equilíbrio rítmico, a quebra da rotina do aparelho fisiológico,
desempenha um papel importante para a excitação psíquica
necessária em rituais, nas danças, manifestações sonoras e
outras atividades “carregadas de um elevado potencial
sobrenatural”. Um tempo espaço desmistificado.
Os ritmos técnicos não possuem a imaginação humana, não
humaniza comportamentos, mas apenas a matéria bruta.
Os indivíduos estão impregnados, condicionados por uma
ritmicidade que já atinge um estado de maquinação quase
total mais que a humanização (LEROY- GOURHAN, 2002,
p.89).
Para o autor o organismo social regido pela cultura moderna
passou por um processo de racionalização que separou os
domínios da religião dos domínios da estética colocando o
indivíduo numa “situação favorável ao bom funcionamento
do dispositivo sócio- técnico.
Sendo que, a sociedade domina os indivíduos através do
condicionamento rítmico, uma espécie de “acertar o passo”, a
uniformização rítmica, a incorporação dos indivíduos numa
multidão condicionada em busca de uma “uniformidade
política”, criando o comportamento das multidões que
avançam (como um só homem)”. Após essa breve
contextualização transdisciplinar sobre o início dos estudos
acadêmicos que separaram a disciplina estética da arte da
estética da filosofia e uma introdução sobre o pensamento da
estética na antropologia propomos para futuras pesquisas
aprofundar o conhecimento em com a estética influência a
sociedade em redes.
I.3.3 Desdobramentos do fazer artístico e estético.

O fazer artistico ou a criação artística nas sociedades em redes é um processo


comunicativo que valoriza os conceitos de criatividade e de arte. Enquanto a
criatividade é um processo ordenador e configurador do que assimilamos da
realidade mas ultrapassa-a ao alargar-se ao mundo do imaginário, a arte, por seu
turno, implica o belo, a beleza e a sedução. A criação artística implica uma
capacidade de transmutação de experiências e alimenta-se das condições que dão
acesso ao sentir da beleza. Este sentir associa-se à sedução que o mesmo objeto cria.
Já Fernando Pessoa considerava que a criação artística implica a conceção de
novas relações significativas, graças à distanciação que faz do real. O poeta parte da
realidade, mas distancia-se, graças à interação entre a razão e a sensibilidade, para
elaborar mentalmente a obra de arte.
Desde sempre, o Homem recorreu à criação artística como arma de
comunicação e, por vezes, de protesto, de intervenção e defesa. Mas, enquanto
uns a consideravam uma necessidade de expressão e realização ou de tomada
de consciência, outros censuravam-na ou receavam-na, precisamente por isso.
Na criação da obra de arte, são fundamentais a liberdade do indivíduo e a
vitalidade do povo. Esta vitalidade é apreendida pelo artista, que assume um
papel importante na consciência de um país ou de uma cultura.
Ao longo da história, o sentido de criação artística tem sofrido alterações. Na
antiga Grécia, Platão considerava que a obra de arte devia copiar modelos que
a alma tem e que por reminiscência recorda da sua vivência anterior no mundo
inteligível.
A criação artística é um reencontro com a beleza que existe dentro da mente do
artista. Aristóteles introduz o conceito de "mimésis", de imitação da realidade,
celebrando-a e transfigurando-a na perfeição que ela deveria ter. A arte surge
como imitação ou representação da Natureza, das ideias, da harmonia cósmica.
Na Idade Média, a produção artística surge como expressão de louvor a Deus,
o único verdadeiro criador.
O artista na Idade Média não tinha interesse pela natureza em si própria, mas
apenas quando ela era o espelho da realidade sobrenatural. Na Renascença, o
Homem acredita nas próprias capacidades criativas, defendendo a arte como
imitação da realidade.
O Renascimento quebra a síntese medieval da arte e da moral, em que a primeira tinha
como único fim fazer bem feito, e a moral dizia respeito à intenção mesma do autor.
Durante o século XIX e princípios do século XX, inicia-se uma desvalorização da
dimensão imitativa da arte e aposta-se na sua dimensão expressiva e subjetiva a nível
emotivo, formal ou simbólico.
Afirma Heineman (in A Filosofia no Século XX, 1983 3ª ed., Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian: 451) que "a expressão ars não se encontra limitada à
arte nem se opõe à ciência. Também abrange as regras que estão na base de uma arte ou
ciência, portanto as teorias, por exemplo, gramática e retórica." E considera que uma
análise linguística nunca pode apreender a essência da arte, mas é capaz de chamar "a
atenção para determinadas facetas do fenómeno, que não devem ser esquecidas na análise,
como, por exemplo, que a arte tem que ver com o poder, com a habilidade, instrumento,
atividade regrada e com algo fundamental que penetra todas as atividades do homem."
Nietzsche em A Vontade da Potência (§ 853) afirma que a arte "é a grande
possibilitadora da vida, a grande aliciadora da vida, o grande estimulante da vida".
O mesmo Heineman (idem: 451-452) diz que, por um lado, "a arte, como atividade, é
uma emanação da atividade fundamental da vida humana (alma, espírito)"; por outro
lado, "a arte, como atividade, é o ensaio incessante do espírito para se elevar à imagem
e à forma, isto é, para formar e estruturar domínios parciais da experiência humana e
do material que se encontra à sua disposição."Estas duas considerações mostram que a
arte tem sempre duas faces: uma mais inconsciente e outra consciente, ou seja, uma
imanente e outra autónoma. A arte imanente tem a ver com a relação natureza e arte e
permitiu que os antigos chegassem a considerar que o homem tinha imitado a atividade
artística dos animais, como na arquitetura "das células dos favos das abelhas, na
tecelagem das teias, na construção dos ninhos e no canto das aves" (idem).
A arte autónoma, consciente, conduz à especificidade da arte humana.
Schelling considera que a atividade da consciência é, de início, teórica e depois
prática, para em seguida tornar-se estética, quando se consegue, pela arte, pressentir a
unidade entre a natureza e o espírito. Afirma Schelling que "a arte é para o filósofo a
coisa mais sublime, a que lhe descobre o santuário onde arde numa única chama,
numa união eterna e original, o que está na vida e na ação, logo no pensamento
também" (in História do Pensamento, 1987, S. Paulo: Nova Cultural, p. 500). Isto
significa que na arte se encontra a exposição da união entre o espírito consciente e a
natureza inconsciente, o infinito e o finito, o sujeito e o objeto. Significa ainda que a
arte (e, por isso, a Beleza) é o lugar da união entre o eu limitado e os ilimitados, o
que levou a uma feliz afirmação de Hölderlin que diz que "a poesia é o princípio e o
fim da filosofia" (in História do Pensamento, 1987, S. Paulo: Nova Cultural. p. 497).
Na apreciação da criação artística há uma interação entre a obra de arte e o artista e
entre o espectador e o gozo do objeto. Para se apreciar a obra de arte é necessário
seduzir a obra e deixar-se seduzir por ela. Só depois de entendermos a necessidade
desta mútua sedução estamos aptos a entender qualquer obra de arte em qualquer
época da história.
O conceito de criação artística, abordado e desenvolvido pela filosofia e por todas as
correntes estéticas, abrange não apenas as tradicionais artes da pintura, da arquitetura,
da escultura, do desenho, da literatura, da música e da dança, como, posteriormente,
da fotografia, do cinema e, a partir da mudança do segundo para o terceiro milénio,
de experiências artísticas graças ao digital e ao computacional, que permitem
misturar sons, textos, imagens ou movimentos. As tecnologias favorecem o
desenvolvimento de uma criação artística scripto-audio-visual como veremos mais
adiante.
UNIDADE II

ESTUDO DE PERÍODOS HISTÓRICOS RECENTES DA ARTE

2. – Movimentos da arte moderna e da modernidade tardia:


2.1. Impressionismo;
2.2. Vanguardas do século XX;
2.3. Do expressionismo abstracto e da Pop Art ao final do século XX;
2.4. Artes mecânicas
2.4.1. Fotografia
2.4.2. Cinema e
2.4.3. Arte electrónica.
O conceito de arte moderna designa toda criatividade e
produção artística que iniciou no fim do século XIX, e se
estendeu até os anos de 1970. A arte modernista,
segundo alguns estudiosos,
“conversa”
com todos os estilos dos demais movimentos artísticos, como
forma de experimentar novas visões, porém no início do
modernismo buscou uma negação a tudo que era anterior na
arte.
II.1 Movimentos da arte moderna e da modernidade
tardia
UNIDADE III
A INDÚSTRIA CULTURAL E A ARTE

A partir do livro de Adorno e Horkheimer: A Dialética do Esclarecimento


(1944) onde se inclui o célebre capítulo sobre a Indústria Cultural, levantamos
a pergunta se ainda se poderia falar tanto tempo depois da atualidade das ideias
aí formuladas?
Para o pensamento pós-
moderno em sentido lato a resposta é clara: não. Este ponto de vista tornado do
minante nas últimas décadas gosta de acusar o conceito de indústria cultural de
ser portador de um “pessimismo cultural” conservador. Que mal poderá haver n
a industrialização da cultura? Não se encontrarão aí potenciais de liberdade e pr
ogresso que podem ser utilizados por todos os seres humanos?
III.2 A Arte na Indústria Cultural.

A arte esteve, e ainda está sempre ligada a sensibilidade, imaginação e


inspiração do artista na busca do belo. Expressões de emoções e
desejos, e hoje no séc. XXI, a arte se faz presente interpretando e
fazendo criticas a realidade social.
Com a Indústria Cultural, a arte passou a ser mercadoria e estaria
assim sujeita às leis da oferta e da procura, se antes ela estava ligada a
contemplação, hoje ela está ligada mais ao lucro. Desta forma ela perde
a sua áurea inicial. A Arte Erudita e a Arte Popular seriam apagadas
pelo capitalismo.
O capitalismo que visa o lucro incessante estaria comprometendo o
valor crítico das formas artísticas e acabando com a capacidade crítica
do público ao impedir a sua participação intelectual na análise da obra.
Todos buscariam o já conhecido e experimentado e deixariam de lado a
crítica à sociedade, impedindo a formação de indivíduos autônomos,
independentes, capazes de julgar e decidir conscientemente.
Marcuse (1998) salienta que com a desestruturação da família burguesa,
o indivíduo antes socializado e formado por ela, também entra em
decadência. Agora, o ego do individuo é formado não mais pela família,
mas sim pela indústria cultural. Desta forma, o individuo identifica-se
com a sociedade, porém sem critica, uma vez que ele não está apto para
isso, pois foi socializado para não identificar as contradições e por
consequência para que não tenha uma consciência critica. O pai antes o
líder da família, é agora substituído pelos ídolos produzidos pela
indústria cultural. A indústria cultural não busca a promoção do
conhecimento, mas sim a manipulação cultural e política, a formação de
opinião e o condicionamento de mentes, enfatizando tudo como
necessidade de consumo.
Isto se torna evidente pela tendência atual de reproduzir exposições e de
expor criações artísticas de forma totalmente comercial (sendo
estampada em chinelos, camisetas, canecas e etc; como por exemplo, as
canecas com as pinturas de Portinari).
A cultura passa a ser mais um instrumento do capitalismo e se põe fim a
autonomia dos indivíduos com a manipulação de massas.
Outro exemplo que podemos citar é o movimento pop art , um dos
primeiros movimentos que apareceram com o surgimento da indústria
cultural.
O pop art é um movimento artístico que surgiu na década de 50, na Grã-
Bretanha e Estados unidos da América, um dos seus percursores foi
Andy Warhol. O pop art é em si, um tipo de arte que utiliza figuras e
ícones populares nos temas das suas figuras.
A razão crítica e irônica da sociedade capitalista. Irônica, pois a
sociedade capitalista apoderou-se desta forma de arte. Ela operava com
jogos de cores, materiais, e produtos intensos, reproduzindo objetos do
cotidiano. Transforma-os desta forma, em arte.
Segundo Kant (1724-1804): De direito, somente a produção por
liberdade, isto é, por um arbítrio, que toma como fundamento de suas
ações a razão, deveria denominar-se arte (1974: 337). A arte deve ser,
pois, um fazer artístico em que estão presentes, como condição sine qua
non, a racionalidade, acompanhada da liberdade e da intencionalidade,
ou seja, a intenção do fazer artístico, a criação em função de uma
finalidade estética – e não industrial.
Para Hegel (1770-1831), a arte liga-se ao lúdico, isto é, há, na poética,
uma espécie de jogo estético, algo (obra) capaz de provocar o prazer do
espírito (espectador).
Isso significa que a arte consiste tanto na atividade criadora (autor)
quanto na atividade contemplativa do espectador – daí a
intencionalidade presente na obra, intencionalidade considerada sob o
aspecto fenomenológico, isto é, o ser-para entre criador e público.
Adorno cita uma pesquisa de opinião pública americana que diz que “as
dificuldades de nossa época deixariam de existir se as pessoas se
decidissem simplesmente a fazer tudo aquilo que personalidades
eminentes sugerem”.
A indústria cultural aparece também na mídia e realmente realiza uma
comunicação unilateral. Tal como coloca Baudrillard, “a TV é, pela
própria presença, o controle social em casa de cada um” (Baudrillard). A
TV apresenta mensagens elaboradas por uma elite de especialistas que
estão, quer queira ou não, a serviço da classe dominante. Também é
verdade que os seus telespectadores não enviam uma mensagem (ou
contra-mensagem) de volta.
Isto vale para a maioria dos meios de comunicação de massas. A seção
de cartas em jornais e revistas, os pedidos e as entrevistas no rádio e na
TV são muito limitadas e marginalizadas (além de serem selecionadas
de acordo com os interesses de quem detém a propriedade desses
meios).“A mídia serve ao Senhor do Capital, que tem a função de
promover novos desejos e necessidades. Cada produto anunciado não é
apenas uma coisa material, ele é envolvido de carga emocional, a
indústria cultural tem como função promover necessidades constantes,
novas formas de apresentação, porém baseando nos velhos esquemas”
(GARÇÃO, apud ADORNO). O que a mídia, tenta vender é a felicidade
através do consumo. Porém para Marcuse (1979), a felicidade é
incompatível com o modo de vida capitalista, o pensamento otimista
paralisa, porque não nega a realidade, mantêm-se preso a uma ilusão.
Mas, esta ilusão precisa ser mantida, os sujeitos precisam acreditar na
realização individual, precisam acreditar que têm controle sobre a sua
vida, que possuem liberdade de escolha, quando na verdade esta
pretensa liberdade é mais uma das categorias ideológicas, pois
acreditando que têm poder de decisão, os indivíduos não resistem ao
controle imposto pelo sistema. Isto implica em que o individuo precisa
consumir para se constituir como sujeito.
Maria Rita Kehl (2004) fala sobre a chamada Sociedade do Espetáculo,
nesta sociedade o que se configura determinante para a existência do
homem, é sua imagem. Passado por um processo sócio histórico, o
homem, com a invenção de tantos recursos visuais se tornou um ser de
aparências, no qual a visibilidade dá ao indivíduo o certificado de que o
mesmo existe, sendo este proporcionado pela mídia.
Portanto, ser visto e reconhecido pelo outro, confere ao indivíduo status e
identidade, fazendo com que o mesmo deixe de ser meramente um
anônimo, ou até mesmo um ser invisível. O advento da televisão e do
computador, juntamente com as possibilidades que estes abriram, foi o
marco preponderante para permitir ao sujeito existir por meio da imagem.
Debord (1998) traduz bem a atual situação, segundo ele, a sociedade passou
por duas fases distintas: Na primeira para SER era preciso TER, e na
segunda que se trata da contemporaneidade, é a sociedade do espetáculo,
em que é preciso TER para PARECER, e isso nada mais é do que uma forma
de dominação da economia capitalista. Contudo, a dominação pelo aspecto
econômico já está consolidada e por isso, tem-se agora a dominação pela
imagem, onde a mídia nada mais é do que a soma dos poderes políticos e
econômicos. É a mídia ordenando o que se precisa ter e consumir e ao
mesmo tempo, organizando o tempo e lazer das pessoas.
Por fim, concluímos que: "O mundo inteiro é forçado a passar pelo filtro
da indústria cultural. A velha experiência do espectador de cinema, que
percebe a rua como um prolongamento do filme que acabou de ver,
porque este pretende ele próprio reproduzir rigorosamente o mundo da
percepção quotidiana, tornou-se a norma da produção. Quanto maior a
perfeição com que suas técnicas duplicam os objetos empíricos, mais
fácil se torna hoje obter a ilusão de que o mundo exterior é o
prolongamento sem ruptura do mundo que se descobre no filme. Desde
a súbita introdução do filme sonoro, a reprodução mecânica pôs-se ao
inteiro serviço desse projeto. A vida não deve mais, tendencialmente,
deixar-se distinguir do filme sonoro".
III.2 Expressão estética na Modernidade e na Pós-
modernidade.
Quais são as fronteiras da arte moderna? A expressão estética contemporânea se
caracteriza como uma expressão da Pós-modernidade ou de uma Modernidade
Tardia? Quais as heranças que a Semana da Arte Moderna de 1922 deixou?
Essas são algumas perguntas que se pretende investigar nesse ensaio. Afinal,
para os teóricos contemporâneos, sequer a denominação do momento histórico
atual se definiu. Para Gilles Lipovetsky (2004) e Hartmut Rosa (2019) o período
histórico atual se define como Hipermodernidade e a aceleração dos processos
da Modernidade. Zygmunt Bauman (2001) define nosso momento como
Modernidade Líquida.
Para Jean-François Lyotard a melhor definição seria Pós-
modernidade, assim como para Terry Eagleton (1998) e
David Harvey (1996), embora para esse último, assim
como para Rosa (2019), o termo Modernidade Tardia seja
também adequado. Porém, tanto Harvey (1996), como
Rosa (2019) concordam com Nicolau Sevcenko (2001),
quanto ao que se refere aos processos de aceleração
vertiginosos, a sensação de alto e baixo (de loop), de
descontrole e de entrega do humano à força do
movimento, como se estivesse em queda em uma
montanha-russa.
Condição Pós-moderna (LYOTARD, 2000) ou
Hipermodernidade (LIPOVETSKY, 2004), ou talvez, ainda,
Modernidade Tardia (ARAÚJO, 2008), Modernidade Líquida
(BAUMAN, 2008), ou Neobarroco (SARDUY, 1987); ou, quem
sabe, chegar à conclusão de que jamais, sequer fomos
modernos (LATOUR, 1994) ... Mediante estas indagações,
como se pode denominar este momento contemporâneo?
Mais árduo do que tentar nomear o momento contemporâneo
talvez seja saber definir sua existência, pois as opiniões são
extremamente contraditórias, gerando polêmicas
aparentemente insolúveis. Para Terry Eagleton, o 11 de
Setembro marca o momento em que o Pós-modernismo se
aproxima do fim.
Já para Jürgen Habermas o projeto moderno ainda não
se esgotou (ARAÚJO, 2008). Segundo Ciro Marcondes
Filho: “(...) não há e nunca houve um pós-moderno
(...)” (2003: p. 10). E Charles Jenks, em 1972, já
defendia, com a demolição de um projeto de Le
Corbusier, o nascimento do Pós-modernismo na
arquitetura (cf. BENETTI, 2004). Esta é a face, ou
melhor, são as múltiplas facetas do que ainda se reluta
em denominar, com muitas polêmicas e restrições, de
Pós-modernismo. (DUGNANI, 2013: p. 36)
Sendo assim, se nem sobre a definição do momento histórico que se vive se
tem uma certeza, como fica a definição das expressões estéticas no momento
contemporâneo? Observa-se como uma definição geral, pelo menos para arte,
o uso do termo genérico Arte Contemporânea, no entanto essa definição
parece ser genérica demais, fugindo de uma aproximação com as
características socioculturais da época que se encontra. Pós-modernidade é um
dos termos mais utilizados pelos teóricos contemporâneos, no entanto, mesmo
para esse ensaio, torna-se um termo questionável.
Nesse sentido, o principal questionamento contra o uso da Pós-modernidade,
está relacionado ao próprio conceito de Modernidade, pois ao aceitar o uso do
termo Pós-modernidade, admite-se, também, que seria um momento histórico
que se define a partir do fim da Modernidade, o que não é corroborado por
diversos teóricos.
Afinal, para muitos, entre eles Rosa (2019), Harvey (1996),
Bauman (2001), Lipovetsky (2004) a Modernidade não acabou, mas
sim, sofreu um processo de aceleração, de intensificação de suas
ideias, sendo assim, os termos Hipermodernidade, Modernidade
Líquida, ou Modernidade tardia seriam mais adequados.
Partindo desse pensamento, e levando em consideração a comemoração
do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, marco do início do
movimento moderno no Brasil, pretende-se, nesse ensaio, refletir se,
assim como a definição do período histórico contemporâneo ainda está
em debate, o conceito de expressão estética também não deveria estar.
Afinal, o termo arte contemporâneo não parece suficiente para
representar todas as experiências estéticas que compõem a expressão
humana atual.
III.2.1 Arte ou Expressão Estética?

Nesse ensaio, além das incertezas quanto a denominação do período


histórico, outro questionamento que inaugurou esse debate foi se
deveria ser utilizado o termo arte, ou expressão estética. Optou-se por
expressão estética, pois não se pretende limitar esse debate apenas aos
objetos considerados como arte, mas sim a toda expressão estética
humana que possa ter como suporte material, além de objetos
denominados arte, outras produções humanas no campo da moda,
publicidade, audiovisual, arquitetura e decoração.
Mesmo porque o autor entende que a expressão, ou mesmo a arte
contemporânea, já tem testado o limite desse conceito desde muito
tempo, principalmente com o advento da arte moderna, que testou
profundamente os limites do conceito de arte, principalmente o herdado
dos modelos clássicos. Levando-se em consideração que essa afronta ao
modelo clássico, não teve seu início no século XIX com o advento da
arte moderna, mas que se percebe-se desde o início da Idade Modena,
principalmente com o desenvolvimento do Barroco, em contrapartida ao
Renascimento Clássico, como assinalou Wölfflin (2000) Sarduy (1987)
e confirmou Dugnani (2013).
III.2.2 Expressão estética moderna: o novo ou um
novo clássico?
A expressão estética na modernidade se apresentou em paralelo
à modernização impressa pela revolução industrial do século
XIX como um fenômeno vertiginoso de resposta ao aumento da
velocidade e a fragmentação da vida na sociedade.
Nossa nova tecnologia elétrica apresenta tendências orgânicas e
não-mecânicas porque ela projeta e estende, não os nossos
olhos, mas o nosso sistema nervoso central, como uma
vestimenta planetária. No mundo espaço-temporal da tecnologia
elétrica, o velho tempo mecânico começa a se tomar
inaceitável, quanto mais não fosse pelo simples fato de ser
uniforme. (MCLUHAN, 2016: p. 169-170)
O desenvolvimento de meios de comunicação elétricos
(MCLUHAN, 2016), que ampliavam o alcance e a
distribuição da informação, produzindo transformações
mais rápidas e frequentes no comportamento e
consciência dos seres humanos, sendo suporte para o
início de um processo de globalização (DUGNANI, 2020
e 2018).
Para Mcluhan (2003) os meios de comunicação não são
apenas transmissores de informação, mas extensões dos
seres humanos. Mas extensões do que? Extensões da
percepção humana. Ou seja, os meios de comunicação
possibilitam que os seres humanos consigam ampliar sua
percepção em relação à quantidade de fenômenos que ele
pode ter contato, dessa forma os meios de comunicação
são capazes de fazer com que o humano veja mais longe
que o limite de seus olhos, escute mais sons do que o
limite de seus ouvidos, ou seja, que tenha mais
experiências sensoriais que o limite dos seus sentidos.
Com essa multiplicação de experiências, que os meios de
comunicação possibilitam, também ocorrerá uma
multiplicação na quantidade, e na velocidade de
informações que os indivíduos receberão.
Tomando o conceito de informação, baseado na visão de José
Teixeira Coelho (2010), como sendo um conteúdo que altera
comportamento e consciência dos seres humanos, pode-se concluir
que, se houver um aumento na quantidade de informações,
consequentemente, na quantidade de informações recebidas pelos
seres humanos, maiores, e mais velozes, serão as mudanças no
comportamento e na consciência de toda sociedade. (DUGNANI,
2020: p. 132 e 133)
O desenvolvimento dos meios de transporte, acelerando a
movimentação das populações, para além das fronteiras nacionais,
entre outras evoluções tecnológicas, atingiram o pensamento
cultural do ser humano desse período, fazendo com que ele
ampliasse o cruzamento entre culturas diferentes num processo de
intertextualidade (BARTHES, 2004), além de misturar concepções
de mundo, e, consequentemente, estilos de expressões estéticas
variadas.
[…] um texto é feito de múltiplas escrituras, elaboradas a
partir de diversas culturas e ingressante em uma relação
mútua de diálogo, paródia, contestação; mas há um lugar em
que esta multiplicidade é percebida, e este lugar (...) é o
leitor: o leitor é o espaço em que se inscrevem, sem que
nenhuma se perca, todas as citações que constituem a
escritura: a unidade do texto não reside em sua origem, mas
em seu destino, e este destino não pode ser pessoal: o leitor
é alguém sem história, sem biografia, sem psicologia; ele é,
simplesmente, um qualquer que articula, em um único
campo, todos os traços a partir dos quais se constitui a
escritura. (BARTHES, 2004: p.64).
O artista moderno, nesse momento, refutava cada vez
mais o modelo racional clássico em busca de novas
maneiras de expressar suas ideias: “abraçar todas as
revoltas formais”, como afirma Leda Tenório da Motta
(2022).
Para celebrar o funeral do parnasianismo, acabar com o
lirismo tedioso, o purismo do português lusitano, a
eloquência bacharelesca na “Babel do vocábulo
impróprio”, como Oswald chama a capital paulista, num
ensaio tardio, de 1953, chamado “A Marcha das
Utopias”, o movimento abraça todas as revoltas
formais. (MOTTA, 2022: p.16)
O Cubismo de Pablo Picasso em busca da geometrização das formas e a
fragmentação. O Surrealismo de Salvador e Rene Magritte procurando
expressar pela pintura a dimensão do inconsciente revelada pelos estudos de
Sigmund Freud. Coco Chanel criando roupas mais versáteis e geométricas para
imprimir a velocidade e a liberdade da modernidade no corpo feminino. Os
abstracionistas e suas vastas experiências libertando a arte das amarras do
texto. O design moderno, iniciado pela Arte Decó, depois continuado pelas
escolas de artes industriais como a Bauhauss e a Escola de Ulm, criando
espaços e objetos que se projetavam a partir das necessidades de consumo e
produção industrial, indicando um caminho minimalista que se consagrava
pela máxima menos é mais (ARGAN e FAGIOLO, 1994). Entre tantas outras
transformações que a Modernidade realçou em seu sonho utópico de um futuro
que se galgasse na liberdade e, muitas vezes, no equilíbrio indicado pelo
progresso, como se fosse a confirmação da promessa iluminista.
No entanto, esse desvario utópico e moderno, essa
vertiginosa sensação de liberdade, que poderia ser
expressa pelo vento dos veículos em movimento no
rosto posto para fora da janela, parece apenas ter se
revelado como um sonho, a subida da montanha-
russa, como Sevcenko (2001) observou. Afinal, após a
subida, vem a queda, e a sociedade entra num
pesadelo profundo marcado pelos períodos das guerras
e transformações cada vez mais rápidas.
A segunda é a fase em que num repente nos precipitamos numa
queda vertiginosa, perdendo as referências do espaço, das
circunstâncias que nos cercam e até o controle das faculdades
conscientes. Poderíamos interpretar essa situação como um novo
salto naquele processo de desenvolvimento tecnológico, em que a
incorporação e aplicação de novas teorias científicas propiciaram o
domínio e a exploração de novos potenciais energéticos de escala
prodigiosa. Isso ao redor de 1870 com a chamada Revolução
científico-Tecnológica, no curso da qual se desenvolveram as
aplicações da eletricidade, com as primeiras usinas hidro e
termelétricas, o uso dos derivados de petróleo, que dariam
origem aos motores de combustão interna e, portanto, aos
veículos automotores; o surgimento das indústrias químicas, de
novas técnicas de prospecção mineral, dos altos-fornos, das
fundições, usinas siderúrgicas e dos primeiros materiais plásticos.
No mesmo impulso foram desenvolvidos novos meios de
transporte, como os transatlânticos, carros, caminhões,
motocicletas, trens expressos e aviões, além de novos meios
de comunicação como o telégrafo com e sem fio, o rádio, os
gramofones, a fotografia, o cinema. Nunca é demais lembrar
que esse foi momento no qual surgiram os parques de
diversões e sua mais espetacular atração, a montanha-russa,
é claro. [...] A terceira Fase na nossa imagem de montanha-
russa é a do loop, a síncope final e definitiva, o clímax da
aceleração precipitada, sob cuja intensidade extrema
relaxamos nosso impulso de reagir, entregando os pontos
entorpecidos, aceitando resignadamente ser conduzidos até o
fim pelo maquinismo titânico. Essa etapa representaria o atual
período, assinalado por um novo surto dramático de
transformações, a Revolução da Microeletrônica.
A escala das mudanças desencadeadas a partir desse
momento é de uma tal magnitude que faz os dois momentos
anteriores parecerem projeções em câmera lenta.
(SEVCENKO, 2001: 14 - 16)
A Modernidade não termina com as guerras, mas revela a
temeridade do sonho mecânico da tecnologia. A liberdade
através da tecnologia, prometida pelos iluministas no século
XVIII, reafirmada pela Revolução Industrial do século XIX e
início do século XX, se demonstrou como falsa, trazendo com
a Modernidade, os pesadelos de um progresso definido pelo
mercado, e não pela razão.
Após as guerras, principalmente nos anos 70, a estética da
Modernidade começa a ser substituída pelas experiências
daquele estilo que pretendia-se ser denominado de Pós-
modernidade, principalmente nas áreas do design e da
arquitetura. O menos é mais do design moderno, começa a
ser substituído pelo menos é pouco de um novo design. A
arte, experimenta novas experiências, o que não parece ser
um rompimento com o modelo estético moderno, por isso,
provavelmente, a crítica ligada às artes não se encante com
a terminologia da Pós-modernidade, se limitando a chamar
suas experiências, de maneira genérica, de arte
contemporânea.
Nessa encruzilhada é que se questiona: a estética pós-moderna surgiu? Ela
rompeu verdadeiramente com a estética moderna? A arte se desvencilhou das
artes industriais do deisgn, num segundo ensaio, inaugurado pela Arte Decó?
Realmente iniciou-se uma arte pós-moderna, ou contemporânea, ou o que
vemos hoje é o aceleramento do estilo criado na Modernidade, sendo ainda Arte
Moderna? Existe uma arte contemporânea, ou a expressão estética
contemporânea é mais um efeito da Modernidade Tardia? A Arte Moderna já é
um novo clássico, disfarçada na busca por novas expressões? A busca de novas
expressões não seria mais um gesto cristalizado do fazer artístico
contemporâneo? Sendo assim, não seria a arte contemporânea um novo clássico
que se instaurou nesse período histórico como uma Arte Moderna Tardia?
16Certamente essas perguntas não poderiam ser respondidas na totalidade por
esse ensaio, mas é possível, e se caracteriza como tarefa desse debate, mais do
que determinar verdades, levantar questionamentos.
III.2.3 Expressão estética contemporânea: mais do que
Modernidade ou apenas Moderdinidade Tardia?

A estética pós-moderna se apresentou como um contraponto à


estética moderna, principalmente no campo da arquitetura e do
design a partir dos anos 70. Um marco dessa estética seria as
cadeiras Proust (1968) de Alessandro Mendini: um design barroco
revisitado por cores e texturas mais modernas – enfim, pós-
moderna.
Com essa preposição de rever a máxima moderna – menos é
mais – é que a estética pós-moderna rebate com seu: menos é
pouco. Nesse sentido, percebe-se que nas características
particulares, a estética pós-moderna rompe realmente com a
Modernidade. Esse rompimento se dá por diversas estratégias,
entre elas destaca-se: o excesso decorativo, a intertextualidade.
Entendendo a intertextualidade, de acordo com Barthes (2004)
como sendo o cruzamento de culturas e períodos históricos. Esse
cruzamento era feito através do uso da citação, da paródia, do
pastiche (HUTCHEON, 1991), que acabava por criar um objeto
que se destacava do seu ambiente, exatamente por se tornar
estranho, deslocado de um momento histórico preciso. O objeto
ganhava um tom irônico e humorado, por se destacar não por
combinar com o ambiente, mas por destoar, como é o caso das
cadeiras Proust de Mendini (CHARLOTTE & FIEL, 2005).
[....] a arte pós-moderna (que é ao mesmo tempo auto-
reflexiva e paródica, e mesmo assim procura firmar-se
naquilo que constitui um entrave para a reflexividade e
a paródia: o mundo histórico) que percebi que as
abordagens formalista e pragmática por mim utilizadas
nos outros dois estudos estudos precisariam ser
ampliadas com o objetivo de incluir as considerações
históricas e ideológicas exigidas por essas irresolutas
contradições pós-modernas, [...] (HUTCHEON, 1991: p.
12)
Em suas particularidades, principalmente no campo da
estética, realmente a Pós-modernidade trouxe alguns
rompimentos, o que, de certa forma, já era de se
esperar, sempre, da Modernidade. Ao substituir, do
design, os princípios centrais, apresentados,
principalmente por escolas modernas como a Bauhaus, e
a Escola de Ulm, a estética pós-moderna inicia sua
trajetória como, aparentemente, inserida num novo
momento histórico de rompimento: a Pós-modernidade.
Contudo, após algumas décadas, essa posição de
rompimento não parece tão definitiva.
No design moderno, a busca pela funcionalidade, a
neutralidade do objeto em relação ao ambiente, a tendência à
abstração no desenho dos objetos, e a racionalidade
ilustravam o ideal do menos é mais. Já na estética pós-
moderna, o estilo decorativo, ornamental, a citação, a paródia,
o pastiche, o humor, e a ironia, representavam a sua máxima:
menos é pouco. Os edifícios ganhavam detalhes tirados de
elementos arquitetônicos de outras épocas (colunas gregas,
volutas barrocas etc.), os objetos ganhavam humor, por sua
característica caricata, ou mesmo pop (como o cabide Cactus
de Guido Drocco e Franco Mello, 1972). Por esse caminho
seguia a estética pós-moderna, que depois se difundiria para
outras áreas como a literatura, a publicidade, a moda, e,
mesmo, no comportamento do sujeito, o qual é denominado
como sujeito pós-moderno (HALL, 2004).
Esse processo produz o sujeito pós-moderno,
conceptualizado como não tendo uma identidade fixa,
essencial ou permanente. A identidade torna-se uma
“celebração móvel”: formada e transformada
continuamente em relação às formas pelas quais somos
representados ou interpelados nos sistemas culturais que
nos rodeiam (Hall, 1987). É definida historicamente, e não
biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes
em diferentes momentos, identidades que não são
unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de nós há
identidades contraditórias, empurrando em diferentes
direções, de tal modo que nossas identificações estão
sendo continuamente deslocadas.
[...] A identidade completamente unificada, completa,
segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à
medida em que os sistemas de significação e
representação cultural se multiplicam, somos
confrontados por uma multiplicidade desconcertante e
cambiante de identidades possíveis, com cada uma
das quais poderíamos nos identificar – ao menos
temporariamente. (HALL, 2004: p. 12-13)
Mas observando essa trajetória, como dito antes, passado algumas décadas é
que se questiona o quanto a estética pós-moderna pode ser considerada como
um elemento fora da diversidade e experimentação moderna.
22O que representa a estética na Pós-modernidade, embora tenha
características que, por vezes, poderiam parecer negar a Modernidade, de
certa forma aproximam: a busca de novas experiências estéticas, o uso de
novos materiais e suportes. Somente essas questões, já são capazes de fazer
refletir se existe mesmo uma Pós-modernidade no campo da estética, ou se,
ainda, se vive mais uma faceta de uma Modernidade Tardia?
23Como características, aparentemente, mais específicas na estética pós-
moderna é possível citar o uso recorrente da intertextualidade através da
citação, paródia, paráfrase (HUTCHEON, 1991); os jogos de linguagem, o
estilo labiríntico, a multiplicidade nas formas; o hibridismo de linguagens; o
gosto pelo decorativo e pela complexidade; o estilo vertiginoso.
Embora estas polêmicas estejam aparentemente longe de
se esgotar, algumas características unem as diversas
nomenclaturas e períodos que definem o contemporâneo
no sentido estético: os processos de intertextualidade
(citação e paródia, por exemplo), a multiplicidade das
formas, os jogos de linguagem que criam discursos
labirínticos, o gosto pela complexidade, o hibridismo, as
incertezas epistemológicas. Estas características são o
ponto de convergência que será utilizado para arquitetar a
retórica da análise do momento contemporâneo, cujo
termo por nós elegido é pós-modernismo, e que convive
com uma constante estética denominada, pelo seu excesso
lúdico e pelo intenso uso da intertextualidade, de estética
da vertigem. (DUGNANI, 2013: p. 41)
No entanto, mesmo na tentativa de indicar diferenças, parece ocorrer
peripécias como num teatro grego, pois aquilo que comprovaria a
hipótese do surgimento de uma estética pós-moderna, parece, muitas
vezes, se manter ligada à essência moderna da experimentação de
materiais, formas, temas etc.
O que diferencia a estética pós-moderna da moderna se dá por
particularidades ou pela essência?
Responderia que pelas particularidades, pois na essência, ambas
parecem buscar os mesmos objetivos: novas expressões, novos
temas, novos materiais, enfim, novas experiências.
III.3 Considerações finais

Longe desse ensaio, querer responder o problema desse debate: existe uma
estética pós-moderna, que indica o caminho da arte e do design
contemporâneo, ou a expressão estética atual se caracteriza como estando
inserida em uma Modernidade Tardia?
Como hipótese, e não como afirmação absoluta, acredita-se no momento dessa
reflexão, é que a estética da Pós-modernidade se parece, em sua essência, com
uma Modernidade Tardia, mais do que com um novo estilo. Afirma-se isso,
pois, embora não se possa negar as diferenças materiais e expressivas entre
elas, principalmente no campo do design, também não se pode esquivar sobre o
fato de que, se entendermos a Modernidade como um campo de
experimentação de materiais, formas e temas, fica mais difícil concluir que a
estética pós-moderna, não seria uma expressão tardia da Modernidade, e não
um rompimento definitivo.
No quesito do uso da intertextualidade, por exemplo, embora se perceba uma
intensificação quantitativa no uso dessa estratégia, ao mesmo tempo, não se
pode negar que ela já era usada pela Modernidade a muito tempo. Como
exemplo é possível citar a influência da pintura romântica dos paisagistas
ingleses na pintura impressionista, o resgate das formas africanas na
geometrização dos cubistas, a mistura de elementos que diferentes referências e
épocas como ocorreu no Surrealismo, ou na Arte Pop.
Enfim, talvez seja necessário mais tempo para entender quais os caminhos da
estética contemporânea, mesmo porque o próprio conceito que identifica o
momento histórico contemporâneo, ainda está sendo debatido por diversos
teóricos. Sendo assim esse ensaio pretende apenas levantar uma questão, para
que seja possível pensar futuramente numa definição para a estética
contemporânea: se ela seria pós-moderna, ou se classificaria melhor a ideia de
uma Modernidade Tardia, ou, ainda, se os pesquisadores não irão em busca de
uma outra definição, que está para nascer.
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