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História da Arte

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Olá, estudante!

A partir deste momento, estaremos conectados neste ambiente de aula da disciplina


História da Arte.

Ela foi preparada especialmente para permitir que você, futuro profissional, analise o
papel que as artes visuais e a arquitetura têm no âmbito social, enquanto
manifestação cultural de uma determinada época. Essa análise será capaz de permitir
ao observador um mergulho no período estudado por meio da leitura das
representações, imagens, objetos e construções. Por isso, os objetivos instrucionais
estarão voltados para aprendizagem e observação das principais correntes artísticas,
seus estilos e suas características, buscando fazer um trabalho de educação do olhar
e de compreensão dos objetivos e causas dos movimentos.

Por meio da história da arte, podemos ter contato com a materialização e a


representação das ideias e pensamentos do homem em transformação constante.
Será um grande prazer construir esse conhecimento com você. Sinta-se desde já
convidado a conhecer, em quatro unidades de estudo, algumas das principais
manifestações artísticas ocorridas ao longo da história, desde o Paleolítico até a
Contemporaneidade.

Aproveite para interagir com sua turma e tutor.

Bons estudos!
Objetivos

Ao final desta disciplina, você deverá ser capaz de:

• Explicar a produção artística da Antiguidade, do Egito à queda


do Império Romano, no que se refere aos elementos visuais e à
finalidade a que a arte se destinava.
• Avaliar os caminhos que a arte trilhou a partir do encontro da
tradição clássica greco-romana com as tradições cristã e
bárbara.
• Identificar as alterações apresentadas na produção artística
europeia no período de formação do mundo moderno
envolvendo o renascimento artístico italiano, o maneirismo e o
barroco, em conjunto com a sistematização do ensino das artes
por meio das academias de arte.
• Explicar o processo de mudança no estatuto das artes no que
se refere à produção, à contextualização e à desconstrução dos
modelos artísticos a partir do século XVIII.

Conteúdo Programático

Esta disciplina está organizada de acordo com as seguintes


unidades:

• Unidade 1 – Os caminhos da arte na Antiguidade


• Unidade 2 – Arte e religiosidade: o período medieval
• Unidade 3 – Uma nova era: Renascimento e Barroco
• Unidade 4 – O mundo moderno: do neoclassicismo às
vanguardas

Autoria

Professora Rogéria Olimpio dos Santos

É doutora e mestre em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF e


especialista em Docência do Ensino Superior pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro – UFRJ. Possui licenciatura em História pelo Centro de Ensino Superior de
Juiz de Fora – CES/JF e em Educação Artística pela UFJF. É professora da
graduação presencial e autora da disciplina virtual na graduação da Universidade
Veiga de Almeida – UVA/RJ, professora de arte da rede pública do estado do Rio de
Janeiro e pesquisadora do Laboratório de História da Arte da UFJF. Áreas de estudo:
história da arte; historiografia; história medieval e moderna.

Revisão e atualização

Professor Arnaldo Lucas Pires Junior


Os caminhos da arte na Antiguidade

Esta unidade apresentará as primeiras manifestações artísticas, das quais temos


notícia na história da humanidade, ainda no período paleolítico, o desenvolvimento das
artes visuais e da arquitetura no Egito Antigo, a arte grega em seus três períodos,
cujos princípios ainda encontram-se presentes na produção artística atual e, por fim,
as características da arte romana.

Objetivo
Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

• Explicar a produção artística da Antiguidade, do Egito à queda


do império romano, no que se refere aos elementos visuais e
às representações que buscava expressar, além de suas
finalidades.

Conteúdo Programático
Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes temas:

• Tema 1 - Arte, magia e eternidade


• Tema 2 - O despertar do belo
• Tema 3 - Arte romana: os conquistadores do mundo

O que é uma obra de arte? Para que serve uma obra de arte?

Ignoramos como a arte começou, tanto quanto desconhecemos como teve início a
linguagem. Se aceitarmos que arte significa o exercício de atividades tais como a
edificação de templos e casas, a realização de pinturas e esculturas, ou a tessitura de
padrões, nenhum povo existe no mundo sem arte. Se, por outro lado, entendermos por
arte alguma espécie de belo artigo de luxo, algo para nos deleitar em museus e
exposições, ou uma coisa muito especial para usar como preciosa decoração na sala
de honra, cumpre-nos reconhecer que esse uso da palavra constitui um
desenvolvimento bem recente e que muitos dos maiores construtores, pintores ou
escultores do passado sequer sonharam com ele. (GOMBRICH, 1999, p. 39)
Tema 1
Arte, magia e eternidade

De que forma a arte pode ser entendida nos primeiros


períodos da existência humana na Terra? Existe algum
ponto de contato entre a chamada arte primitiva e a
produzida pelos egípcios?

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Ainda hoje é difícil e complexo explicar o que é arte, pois esse é um conceito que
depende muito do ambiente, do meio e da cultura de cada povo. Sabemos do seu
caráter de expressão cultural, de registro por meio de pinturas, desenhos e esculturas
dos elementos culturais, que cada povo entende que deva ser registrado ou marcado,
de alguma forma, para a posteridade. O que se pode dizer, portanto, é que o conceito
de arte é histórico e contextual, variando conforme as sociedades em que se inserem
e as expressões/finalidades que artistas buscavam com suas peças.

A ideia que temos atualmente sobre a arte como algo belo, que nos impressiona
esteticamente e que, por isso, deva receber um lugar de honra em nossas casas ou
em nossa sociedade, é algo relativamente novo. Durante a maior parte da história da
humanidade, o que os artistas produziam eram objetos concretos e com finalidade
prática específica. Aquilo que entendemos nos dias atuais como sendo obras de arte
produzidas nos tempos passados, regra geral, eram peças criadas para se adequarem
a um fim específico. Seu caráter pragmático era o principal.

Se aceitarmos essa proposição, fica mais fácil empreender a viagem que estamos
iniciando neste momento. Uma viagem em direção às produções artísticas do
passado, dirigidas para o campo das chamadas artes visuais e da arquitetura.
Até pouco tempo atrás, entendia-se que a história iniciava-se a partir do momento no
qual havia a escrita, já que ela forneceria os dados necessários para se comprovar a
veracidade dos fatos. Antes disso, era a pré-história. Temos aí um problema para a
história da arte. As primeiras pinturas e esculturas, de que temos conhecimento, foram
produzidas muito tempo antes de a escrita surgir. Como saber, então, a intenção com
que essas pinturas e esculturas foram produzidas? Se não existe registro escrito,
como conhecer esses artistas e suas necessidades?

O século XX nos ensinou que o diálogo entre as diversas áreas do conhecimento


poderia ajudar a suprir as lacunas que os registros oficiais e tradicionais haviam
deixado. E a antropologia e a arqueologia mostraram-se amigas íntimas da história da
arte. Alguns antropólogos, ao estudarem os povos que ainda hoje encontram-se em
estágios de desenvolvimento humano – é importante ressaltarmos aqui que a ideia de
estágios de desenvolvimento não depreende uma ‘evolução natural da cultura
humana’ e sim um processo de desenvolvimento das expressividades – social e
cultural, ou seja, próximos àqueles nos quais encontrávamo-nos no início da história
da humanidade, descobriram algumas relações interessantes em torno da produção
artística. Esses povos, chamados primitivos, mostraram aos antropólogos o quanto a
magia ou a religiosidade e a crença no poder das imagens norteavam suas práticas.
Seguindo esses caminhos, os historiadores da arte puderam levantar hipóteses e
possibilidades de leitura daquilo que foi produzido nesse passado remoto da história
da humanidade.

É com o auxílio desses estudos de antropologia, em torno desses povos primitivos,


que iniciaremos nossa jornada pela pré-história da arte.

Arte pré-histórica, arte primitiva

Em algumas cavernas da França (Lascaux) e da Espanha (Altamira) foram


encontradas algumas das mais antigas pinturas que se tem notícia. Por encontrarem-
se nos tetos e nas paredes de cavernas, elas são chamadas de pinturas rupestres. As
figuras 1 e 2 são de animais pintados nas cavernas de Lascaux, na França. As duas
trazem cenas semelhantes, sendo ambas imagens de veados, cavalos e bois,
pintados com tinta preta e vermelha. Não existe uma ordenação lógica na sua
disposição sobre a parede. Ao contrário, elas parecem estar amontoadas, sem a
preocupação de que cada imagem pudesse ser observada isoladamente, ou de outra
forma, ou seja, sem a preocupação de que cada uma tivesse o seu espaço de
observação.
Crédito de atribuição editorial: thipjang / Shutterstock.com
Figura 1 e 2 – Animais pintados na caverna de Lascaux, França.

Os estudos dos antropólogos junto aos povos primitivos chamou a atenção para um
fator que ainda hoje é de extrema importância, inclusive para os chamados povos
modernos. Esse fator é a crença no poder das imagens. Em meio a toda tecnologia,
ao conforto e à segurança com que vivemos, ainda temos dificuldades em danificar as
imagens de pessoas que nos são caras e importantes. Quando registramos as
imagens dos nossos pais, filhos e parentes, lidamos com elas dotando-as de uma
importância que beira o fervor religioso.

Partindo dos estudos apresentados por esses antropólogos, os historiadores da arte


desenvolveram a hipótese da finalidade mágica dessas pinturas. Como algumas delas
apresentam pequenas fissuras ou marcas de golpes sofridos, acredita-se que os
caçadores do paleolítico fizessem essas pinturas com a intenção “mágica” de capturar,
previamente, os animais que seriam alvos das caçadas nas quais participariam os
homens da tribo. Algumas delas trazem inclusive nos desenhos a representação dos
órgãos vitais dos animais e desenhos de flechas ou arpões golpeando-os nesses
lugares. A própria disposição dessas pinturas, amontoadas em um mesmo canto, viria
confirmar essa hipótese, já que elas não eram feitas para serem admiradas e
observadas. Afinal de contas, estavam localizadas em cavernas específicas, sem
iluminação para a contemplação. Era como se aquelas cavernas fossem os lugares
mais propícios para que a “magia” se concretizasse.

A segunda hipótese para a existência dessas pinturas baseia-se em estudos feitos a


partir de pinturas murais a céu aberto. As existentes no Brasil, no Parque Nacional da
Serra da Capivara, no Piauí, situam-se entre elas. Algumas trazem cenas que
lembram festividades rituais, com pessoas vestindo fantasias e dançando em círculo
(figura 3). Nesses casos, acredita-se que elas tinham uma finalidade pedagógica, na
qual a vida, a cultura e os rituais da tribo eram ensinados aos mais jovens, como em
uma sala de aula.

Poucas esculturas restaram desse período. Na Europa, foram encontrados alguns


exemplares que receberam a denominação de Vênus, que são pequenas estatuetas
de aproximadamente 10 a 15 cm, representando mulheres com seios fartos, quadris
largos e ventre avantajado. A mais famosa é a Vênus de Willendorf (Áustria) (figura 4
— em primeiro plano ao centro). Como algumas dessas imagens foram encontradas
junto aos fósseis de mulheres grávidas, acredita-se que elas eram usadas como
pequenos talismãs, símbolos de fertilidade, para ajudarem, talvez, na hora do parto.

Crédito de atribuição editorial: frantic00 /


Figura 3 – Pintura parietal no Parque Shutterstock.com
Nacional da Serra da Capivara — Piauí, Figura 4 – Vênus de Willendorf, no Museu
Brasil. de História Natural de Viena. Cerca de
29.000 a.C.

Primeiras construções

As primeiras construções feitas para habitação no período neolítico eram, ao que tudo
indica, feitas de madeira e cobertas com pele de animais. Por isso, não sobraram
exemplares significativos para nossa análise e conhecimento. No entanto, em diversas
regiões, foram encontradas algumas construções em pedra.

Entendemos aqui como as construções, as disposições sofreram intervenção


humana. Ou seja, as pedras que foram dispostas em uma posição que não
corresponde à sua colocação original e que se presta a alguma atividade
humana.

As primeiras construções de que temos notícias são divididas em três categorias:

1. Menires – São monumentos megalíticos, pré-históricos e, geralmente, de


dimensão elevada. Não se sabe sua finalidade, porém acredita-se que possam
ter relação com os cultos de fertilidade da terra, de fins religiosos ou de
demarcação do território (figura 5).
2. Dólmens – São monumentos funerários, megalíticos e pré-históricos, que
marcam a entrada de túmulos, geralmente, coletivos (figura 6).
3. Cromlechs – São monumentos formados por menires e dólmens dispostos em
círculo. Acredita-se que tenham servido como templos primitivos e abrigado
túmulos. O mais famoso deles é o de Stonehenge, na Inglaterra (figura 7).
Figura 5 – Menir em Évora, Portugal.

Figura 6 – Dólmen em Burren, Irlanda.

Figura 7 – Cromlech de Stonehenge, Inglaterra.


Aprofunde seu conhecimento, lendo a indicação a seguir:

PEREIRA, T.; LESSA, S. N. Um bestiário pré-histórico? A pré-história através


das pinturas rupestres. In: Revista de História da Arte e Arqueologia.
Campinas: Unicamp, n. 21. Acesso em: 30 jun. 2017.

Ampliando o foco

Sobre a arte pré-histórica e primitiva, ver:

GALVES, M. C. P.; PINHEIRO, A. C. F.; CRIVELARO, M. História da


arte e do design: princípios, estilos e manifestações culturais. São
Paulo: Érica, 2014, p. 13-31. Disponível na Minha Biblioteca.

Arte egípcia

A civilização egípcia é uma das mais avançadas da Antiguidade em termos de


complexidade organizacional. É o primeiro estado-nação de que temos notícia e sua
estrutura política baseia-se em um modelo teocrático. Para entender a arte egípcia, é
fundamental compreender a cultura desse povo.

Os egípcios entendiam o faraó — seu governante — como um deus vivendo entre


eles, responsável pela manutenção da vida e da ordem. Por esse motivo, no Egito
Antigo, era considerado o melhor artista aquele que conseguia fazer uma obra
exatamente da mesma forma como ela era feita dois ou três mil anos antes. E essa
produção artística destinava-se, sobretudo, a garantir a sobrevivência do faraó junto
aos outros deuses após sua morte. Percebam, portanto, a importância da continuidade
e da arte como elemento de ligação entre o presente e o passado, além de sua
funcionalidade fundamental naquela sociedade.

Quando um faraó subia ao trono do Egito, ele já começava a construção da sua


“morada eterna”, ou seja, de seu túmulo ou pirâmide. Os desenhos encontrados nas
paredes das pirâmides destinavam-se a contar os episódios da vida do morto. A figura
8 mostra a rainha Nefertari, esposa de Ramsés II, fazendo oferendas à deusa Ísis. O
que chama a atenção nas pinturas egípcias é o rigor formal. Eles adotavam a lei da
frontalidade e as figuras também eram dispostas de forma a mostrar a hierarquia na
qual inseriam-se, ou seja, as figuras mais importantes na sociedade eram desenhadas
e/ou representadas maiores do que as outras (figura 9). A convenção adotada definia
que o artista deveria desenhar tudo o que ele sabia que existia no modelo e da forma
mais clara e completa possível, de modo a garantir que a imagem retratada
conseguisse manter as funções que se esperavam dela.
A lei da frontalidade regia toda a representação da pintura egípcia. Tudo era
representado de forma a mostrar seu ângulo ou lado mais claro, da maneira
mais completa e objetiva. Os olhos e o tronco eram mostrados de frente. Já o
rosto, os braços e as pernas, de perfil.

As figuras ainda traziam junto a elas textos em hieróglifos narrando as cenas. Aliás, os
textos e as fórmulas sagradas eram utilizados para decorar e preencher todos os
espaços dos templos (figura 10). Isso acontecia porque os egípcios acreditavam que,
após a morte, o faraó seria julgado pelos deuses. As imagens nas paredes dos
túmulos narravam, muitas vezes, os fatos referentes à vida do faraó. Isso o auxiliaria
durante o julgamento.

Os templos ajudariam, também, a manter a energia criadora do faraó. E, nesses


casos, os símbolos sagrados deveriam ser corretamente grafados, para garantir que a
magia restauradora ocorresse da forma correta, fazendo parte dos rituais religiosos.

Figura 8 – Reprodução em papiro de uma pintura existente na tumba da rainha Nefertari, na


qual são levadas oferendas à deusa Ísis — Vale das rainhas, Tebas.
Figura 9 – Relevo em um templo egípcio.

Figura 10 – Interior do templo de Dendera, Egito.

A mesma rigidez encontrada nas pinturas pode ser vista nas esculturas. Elas tinham
como principal objetivo mostrar toda a dignidade dos faraós (figura 11), que não eram
seres comuns, sendo, portanto, representados como deuses e retratados em toda a
sua glória. Ramsés II povoou o Egito, por exemplo, com esculturas como a da figura
11.
Ramsés II reinou no Egito aproximadamente entre os anos de 1.279 a.C. e
1.213 a.C., sendo um período longo, no qual ele reformou diversos templos e
mandou construir vários outros. Entre eles, os principais são o Ramesseum,
destinado a renovar o seu Ka, e os dois templos de Abu Simbel, no norte da
Núbia, sendo um para ele (figura 12) e o outro em homenagem a sua esposa
Nefertari. Foi o terceiro faraó da XIX dinastia egípcia, uma das dinastias do
Império Novo.

A forma de construção egípcia mais conhecida no mundo são as pirâmides, que eram
os túmulos feitos para os faraós. Conta-se que, ao chegar no Egito e se deparar com
as grandes pirâmides de Gizé (figura 13), Napoleão Bonaparte disse aos seus
soldados: “Do alto dessas pirâmides quarenta séculos vos contemplam”. Isso teria
ocorrido em 1798. Desde então, o fascínio pelo Egito nunca mais cessou ou diminuiu.
O complexo de Gizé é formado pelas grandes pirâmides dos faraós Quéfren, Quéops
e Miquerinos, por uma ampla construção de mastabas, que são os túmulos dos nobres
que viveram sob seus governos, e a grande esfinge.

Figura 11 – Estátua colossal de Ramsés II no Templo de Luxor, Egito.


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Figura 12 – Templo de Abu Simbel — Assuã, Egito.

Figura 13 – Esfinge e pirâmide de Quéfren ao fundo — Gizé, Egito.

Mastabas são túmulos particulares destinados aos nobres. Geralmente, elas


têm a forma quadrangular e são erguidas sobre a câmara funerária
subterrânea. Dentro delas, assim como nas pirâmides, existe uma capela
para as oferendas e um cubículo secreto para a estátua do morto.

A primeira pirâmide a ser construída, a de Djoser, em Saqqara (figura 14), data da


terceira dinastia, aproximadamente em 2.700 a.C. e foi construída por Imhotep. As
pirâmides foram, com o passar do tempo, substituídas por templos funerários que
chamassem menos a atenção de ladrões e invasores. Contudo, os estudos
geométricos e astronômicos envolvidos nos projetos, assim como as avançadas
técnicas de construção, continuaram a deslumbrar aqueles que se interessam por
estudar a cultura e a arte egípcias.

Figura 14 – Pirâmide de Djoser — Saqqara, Egito.

Ampliando o foco

Sobre a arte egípcia, ver:

GALVES, M. C. P.; PINHEIRO, A. C. F.; CRIVELARO, M. História da


arte e do design: princípios, estilos e manifestações culturais. São
Paulo: Érica, 2014, 75-93. Disponível na Minha Biblioteca.
Tema 2
O despertar do belo

Quais as mudanças desenvolvidas pelos gregos em


comparação com a produzida pelos egípcios, que
foram incorporadas ao programa artístico desenvolvido
por eles?

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Um fato fundamental para se entender a arte na Grécia Antiga é admitir que eles
aprenderam com os egípcios. Quem nos dá notícias desse fato é o general romano do
século I, Plínio Gaius Segundo, ou Plínio, o Velho, autor de uma enciclopédia de
história natural. Entendendo que as artes, pelos materiais utilizados para que elas se
concretizassem ou se materializassem, poderiam se enquadrar em um livro de história
natural, voltado para as ciências conhecidas até então, Plínio tratou das artes, em
geral, mas afirmou que os gregos aprenderam pintura e escultura com os egípcios.

O que temos da pintura feita na Grécia Antiga são os vasos de figuras negras e
vermelhas, encontrados em diversos lugares da Grécia. Os mais antigos são os de
figuras negras (figura 15). Nessa técnica, as figuras eram pintadas em negro sobre o
fundo vermelho da cerâmica. A técnica originou-se em Corinto, por volta do século VII
a. C., irradiando-se para as outras cidades gregas.
Figura 15 – Cena de um vaso de figuras negras representando um centauro, pessoas e deuses
do Olimpo.

Nota-se, nessas figuras, um início de distanciamento do padrão da frontalidade,


adotado pelos egípcios na representação do corpo humano. No entanto, os rostos
continuaram sendo representados de perfil e as pernas de lado, como forma de criar a
ilusão de movimento. E não é incomum encontrar nelas os olhos representados de
frente.

Às figuras negras, sucedeu-se a cerâmica decorada com figuras vermelhas. Nessa


técnica, desenvolvida por volta do século V a.C., o fundo era pintado de negro e as
figuras ficavam com a cor da cerâmica, o que permitia uma riqueza maior de detalhes
dos desenhos. Entretanto, ainda aqui, aplicam-se os comentários feitos anteriormente
com relação à utilização da lei da frontalidade nas cerâmicas de figuras negras.

Figura 16 – Vaso de figuras vermelhas.


O que é interessante perceber é que, apesar de ainda seguirem alguns modelos
formais herdados dos egípcios, os gregos aventuraram-se ao tentar representar as
figuras como eles as viam, no lugar de desenhar o que eles sabiam que existia. Isso
vai ser mais claramente percebido com relação às esculturas. Contudo, antes, vamos
conhecer os elementos da arquitetura grega.

Estilo dórico, jônico e coríntio

Normalmente, referimo-nos à arquitetura grega em função dos estilos das colunas que
sustentam os seus templos. Porém antes, é importante apresentar aqui a relação
estabelecida entre os gregos e os seus deuses, uma vez que essa relação será a
responsável por uma diferença entre os templos egípcios e os gregos. Os templos
egípcios eram construídos para deuses, com características realmente divinas e
distintas das humanas. Já os deuses gregos possuíam características humanas:
apaixonavam-se, eram vingativos, ciumentos e rancorosos. Isso se reflete na própria
dimensão dos templos. Se os templos egípcios eram construídos para os deuses, os
gregos eram construídos para os homens, que eram representados e valorizados
enquanto espécime máximo da criação.

Todo templo grego possuía a mesma estrutura (figura. 17). Sobre uma base eram
erguidas as colunas que sustentariam o entablamento, que era composto de
arquitrave, friso e cornija. A arquitrave é a parte que se apoia nas colunas. O friso,
elemento intermediário entre a arquitrave e a cornija, geralmente, era decorado com
relevos. A cornija, nas fachadas anterior e posterior, emoldurava o frontão triangular, o
qual podia também apresentar esculturas em relevo.

Figura 17 – Esquema de um templo grego.


As colunas são os elementos do templo que mais facilmente auxiliarão a identificar a
ordem arquitetônica a que ele pertence. São compostas de fuste (corpo da coluna) e
capitel (parte superior da coluna, sobre a qual se apoia o entablamento).
As ordens arquitetônicas gregas podem ser divididas em:

Dórica – O fuste é estriado e o capitel é simples, sem decorações. É o


modelo que está no meio na figura 18. Um modelo de templo dórico é o
Partenon (figura 19), construído na Acrópole de Atenas, quando ela foi
reconstruída, sob o governo de Péricles, no final do século V a.C. Os
relevos que ornavam a arquitrave e a cornija (figura 20), de um realismo
impressionante nas figuras humanas, animais e na própria narrativa, foram
levados para Londres, no século XIX, por Lorde Elgin.

Jônica – O fuste é feito com canaletas e o capitel ganha um elemento


novo, uma decoração lateral com volutas (coluna da esquerda, na figura
18). O Erecteion (figura 21), também construído na acrópole de Atenas, foi
feito segundo a ordem jônica. O pórtico sul, voltado para o Partenon, traz o
Varandim das Cariátides. Nele, o telhado se assenta sobre seis estátuas
femininas, colocadas no lugar das colunas.

Coríntia – O fuste é semelhante ao da coluna jônica, o capitel é decorado


com as mesmas volutas da coluna jônica, mas são acrescidos a ele folhas
de acanto (coluna da direita, na figura 18). A ordem coríntia traz elementos
orientalizantes. Esse capitel é o que foi mais utilizado pelos romanos.

Figura 18 – Esquema das colunas jônica, dórica e coríntia.


Figura 19 – Partenon — Acrópole de Atenas, Grécia.

Crédito de atribuição editorial: Giannis Papanikos / Shutterstock.com


Figura 20 – Relevos retirados do Partenon — Museu Britânico, Londres.
Figura 21 – Erecteion — Acrópole de Atenas, Grécia.

O Partenon é a única construção que foi utilizada como templo religioso de


quatro religiões diferentes. Templo de Atena na Antiguidade, ele foi
transformado, sucessivamente, em igreja bizantina, em catedral católica,
após o advento do cristianismo, e, posteriormente, em mesquita turca. Ele
está em ruínas desde 1687. A cella, parte do templo destinada a abrigar a
estátua de Atena, foi usada, originalmente, como paiol pelos otomanos e
acabou explodindo durante um cerco no qual a cidade foi bombardeada por
canhões. Os mármores retirados do Partenon, por Lorde Elgin, nos primeiros
anos do século XIX, constituem o maior tesouro do Museu Britânico.

As ordens arquitetônicas podem, de certa forma, ser associadas aos três períodos da
Grécia Antiga. O período arcaico pode ser associado ao estilo dórico, mais severo e
forte. No período clássico, notamos uma presença maior da ordem jônica, mais suave
e feminina. Já no período helenístico, período que corresponde ao da expansão da
cultura grega durante o reinado de Alexandre, o Grande, encontramos a ordem
coríntia, com as tendências orientalizantes. Entretanto, os três períodos trazem,
também, elementos interessantes com relação à estatuária.

Outra forma de construção característica da Grécia é o teatro (figura 22). Construídos


ao ar livre, aproveitando, muitas vezes, o declive do terreno, e escavados em
hemiciclo com filas concêntricas de bancadas, os teatros reuniam toda a população
das cidades gregas. As tragédias e as comédias encenadas tinham uma função social.
Sendo assim, destinavam-se a educar e a moralizar os habitantes da polis. Ao centro,
na parte inferior do declive, situavam-se a orquestra — na qual atuava o coro — o
proscênio e a cena, a qual se desenrolava a peça. As tragédias eram patrocinadas
pelo Estado, faziam referência aos deuses e traziam as regras sociais. Já as comédias
celebravam a vida e os assuntos mundanos, cotidianos. A primeira era digna dos
deuses, a segunda era digna dos homens.
Figura 22 – Teatro de Herodes Atico — Atenas, Grécia.

Período arcaico, clássico e helenístico

No período arcaico da Grécia Antiga, encontramos diversas esculturas de jovens,


homens e mulheres, sempre na mesma posição. As estátuas representando homens,
geralmente, mostravam-se nus, em rigorosa posição frontal. Já as femininas eram
vestidas. Essas esculturas eram chamadas de kouros — “homens” (figura 23) e
de koré — “mulheres” (figura 24).

Figura 23 – Kouros. Figura 24 – Koré.

Essas esculturas receberam forte influência das esculturas egípcias, pois os gregos,
provavelmente, entraram em contato com a cultura egípcia por causa dos contratos
comerciais. Suas características são a rigidez, a frontalidade, a rigorosa simetria e o
chamado sorriso arcaico. Os braços são estendidos ao longo do corpo, mas, em
alguns casos, um dos braços pode estar dobrado em um ângulo de 90º com a mão
segurando alguma oferenda. O termo kouros é usado por Homero para se referir aos
jovens soldados. Acredita-se que essas esculturas tenham sido feitas com duas
finalidades. A primeira delas, coloca-as como destinadas aos templos, como uma
espécie de estátua votiva. A segunda, situa-as nos cemitérios, em túmulos de pessoas
importantes.

Elas nunca representavam pessoas reais, não sendo, portanto, os retratos como os
entendemos hoje. Elas representavam as virtudes ou os ideais que deveriam ser
alcançados pelos homens. Contudo, ao contrário das esculturas egípcias que as
influenciaram, podemos notar que já existia uma tentativa de aproximar a obra
esculpida daquilo que realmente era visto, que existia em um homem real. Assim,
encontramos um início de estudo anatômico, na musculatura em detalhes, como o da
aparência dos joelhos, com a intenção de representar as imagens como elas
realmente eram.

O período clássico é o que iria assistir à exaltação máxima da figura humana. A


representação continuou sendo impessoal, e as virtudes e os deuses os modelos mais
frequentemente retratados. Apesar de as esculturas dos kouros continuarem sendo
feitas, as obras que caracterizam esse período perderam a rigidez e buscaram, cada
vez mais, a cópia perfeita daquilo que existia na natureza.

Figura 25 – Discóbolo de Míron — Museu Britânico, Londres.

O Discóbolo de Míron (figura 25) representa um jovem atleta no momento no qual


arremessará o disco. O contrapeso na posição adotada pelo modelo, a fidelidade da
representação anatômica, a harmonia nas proporções, o vigor e a força presentes
nessa escultura do período clássico fizeram dela uma das mais famosas do mundo. O
realismo é tal que temos a sensação de que a qualquer momento o disco realmente
será arremessado. A tradição diz que foi a partir da observação e da reprodução exata
dos movimentos apresentados nessa escultura, que o esporte de arremesso de disco,
o qual não era praticado desde a Antiguidade, pôde ser reativado e incorporado aos
jogos olímpicos modernos.

No período que ficou conhecido como helenístico, quando a cultura grega ou helênica
foi difundida para outras partes do mundo antigo, a escultura ganhou outras
características, como a emoção, a fluidez e uma maior liberdade na escolha dos
temas. Foi também nesse período que os primeiros retratos, tais como os entendemos
hoje, foram executados. A figura 26 traz uma cabeça esculpida, um retrato de
Alexandre, o Grande. Percebemos nela traços e os elementos que contribuem para
uma individualização, para uma tendência de dotar essa cabeça de uma identidade
própria, capaz de fazer com que o retratado seja perpetuado por meio da obra de arte.
Entretanto, essa perpetuação não se dá por meio daquilo que o retratado representa,
como no caso do faraó, que representava o Estado teocrático egípcio. É a vontade de
ser perpetuado, lembrado por aquilo que o retratado é, ou seja, por seus caracteres
individuais.

Crédito de atribuição editorial: Tony Baggett / Shutterstock.com


Figura 26 – Cabeça de Alexandre, o Grande.

É claro que essa possibilidade de representação era restrita à realeza. O retrato não
era algo a ser adotado ou partilhado com o restante da população. Porém, o contato
da cultura helênica com as culturas orientais contribuiu para que alguns elementos
fossem mais exacerbados. Os detalhes de relevo no corpo humano, percebidos nos
panejamentos que envolviam os corpos, já eram utilizados há muito tempo. Ensaiados
timidamente nas koré, mas já bastante desenvolvidos nos relevos que ornavam os
templos, esses panejamentos alcançaram a perfeição da leveza e do movimento nas
esculturas do período helenístico, como na Vitória encontrada sem os braços e sem a
cabeça na ilha grega de Samotrácia (figura 27).
Figura 27 – Vitória da Samotrácia.

A sutileza e a delicadeza do relevo fazem com que não sintamos falta dos elementos
que foram perdidos. A escultura parece que está prestes a alçar vôo e é quase
palpável, tangível o vento que movimenta suas vestes.

Outra importante escultura do período, que nos permite fazer uma leitura não somente
dos caracteres técnicos, mas, sobretudo, da dramaticidade que caracteriza a escultura
helenística, é o conjunto escultórico representando Laocoonte e seus filhos (figura 28).

Figura 28 – Laocoonte e seus filhos — Museu Vaticano.

Laocoonte era um sacerdote troiano que foi prevenido por um oráculo com relação à
invasão dos gregos e tentou aconselhar seus conterrâneos para que não aceitassem o
presente deixado nos portões da cidade, o cavalo de Troia. Os deuses enviaram,
assim, as serpentes marinhas para que o matassem e a seus dois filhos. Os autores
poderiam ter escolhido qualquer momento da história para representá-la. Contudo,
será que algum outro momento poderia ter permitido que seus autores explorassem ao
máximo a dramaticidade do episódio? Existe situação pior do que um pai ver seus
filhos serem mortos e não poder fazer nada para impedir? O desespero de Laocoonte
salta aos olhos e cada músculo do seu corpo e dos seus filhos expressam a luta sem
trégua enfrentada por eles em busca da vida que se sabe perdida. Essa é a
dramaticidade da escultura helenística. Ela é capaz de envolver-nos e de nos fazer
sofrer junto com os retratados, sem que a harmonia e o equilíbrio, característicos da
escultura grega, sejam prejudicados.

Aprofunde seu estudo lendo o texto a seguir:

MEDEIROS, A. C. O ideal de beleza na escultura grega: reflexões sobre as


acepções formais construídas pela sociedade grega. Acesso em: 30 jun.
2017.

Ampliando o foco

Sobre a arte grega, ver:

GALVES, M. C. P.; PINHEIRO, A. C. F.; CRIVELARO, M. História da


arte e do design: princípios, estilos e manifestações culturais. São
Paulo: Érica, 2014, p. 33-54. Disponível na Minha biblioteca.

NOYAMA, Samon. Estética e filosofia da arte. Curitiba: Intersaberes,


2016, p. 20-85. Disponível na Biblioteca Virtual.
Tema 3
Arte romana: os conquistadores do mundo

Quais são as características da arte romana?

Clique na imagem para visualizar o vídeo.

Colecionismo romano

Os romanos ficaram conhecidos no mundo das artes pelas grandes obras de


engenharia e pela predileção que apresentaram por tudo o que se referia à cultura
grega. A historiadora Françoise Choay define o ano de 146 a.C. como o ano do
nascimento simbólico da obra de arte como algo colecionável. Isso se deu em função
do seguinte fato.


[...] ao partilhar o butim entre os exércitos aliados que se seguiu ao saque de
Corinto, o general romano L. A. Múmio ficou desconcertado com os lances que
Átalo II oferecia pagar pelos objetos a que os romanos davam pouca importância.
(CHOAY, 2006, p. 33)


Ao se dar conta de tal fato, o general assegurou para si algumas pinturas de Aristides,
as quais enviou à Roma, como oferenda aos deuses, juntamente com algumas
estátuas. A partir de então, tornou-se prática comum a disputa entre as famílias nobres
pelos objetos gregos espoliados pelos exércitos romanos. Acredita-se que Roma
tenha espoliado a Grécia em uma escala equivalente às pilhagens napoleônicas. Os
objetos, que eram alvo do interesse dos romanos, pertenciam aos períodos clássico e
helenístico. Segundo Choay, são modelos que “servem para suscitar uma arte de viver
e um refinamento que só os gregos tinham. [...] Não se tratava de uma medida
reflexiva e cognitiva, mas de um processo de apropriação” (2006, p. 34).

Escultura

Como falamos anteriormente, devemos aos romanos a preservação de grande parte


da estatuária grega. A maior parte das esculturas gregas eram em bronze e, por isso,
não sobreviveram às guerras e aos conflitos. Era prática comum derreter as estátuas
para se produzir armas. Porém, os romanos tinham o hábito de comprar réplicas de
esculturas gregas como uma espécie de souvenir, de recordações de viagem ou como
peças decorativas para suas villas.

Contudo, entre os romanos, o tipo mais comum que encontramos de escultura são os
bustos das estátuas dos imperadores. Eles seguiam um certo padrão de
representação, mas o realismo das faces demonstram uma preocupação quase
psicológica no estudo dos modelos para a execução das imagens. O busto de Júlio
César (figura 29), por exemplo, não mostra a preocupação com o ideal da beleza na
representação. As marcas do tempo na sua face nos permitem acreditar que não
tenha sido um retrato idealizado. Perecebam aqui o desenvolvimento da
individualidade quando comparado ao busto de Alexandre que vimos em nosso tema
anterior sobre arte grega. Os romanos aprenderam as técnicas com os gregos, porém,
as utilizaram para suprir as necessidades administrativas da república, em um primeiro
momento, e do império com força total.

Tal como os gregos haviam feito nos seus templos, as narrativas dos grande feitos,
representadas em relevo, contribuíam para se perpetuar a memória do Império. Por
isso, duas formas muito comuns de arquitetura comemorativa eram adotadas pelos
romanos: os arcos triunfais e as colunas comemorativas. No arco de Constantino
(figura 30), situado próximo ao Coliseu, estão narradas nos relevos os sucessos
ocorridos na batalha da Ponte Mílvio, na qual Constantino derrotou o imperador
Maxêncio. É em comemoração a essa batalha que o arco foi construído.

O arco de Trajano (figura 31) é um monumento construído, a pedido do próprio


imperador Trajano, em comemoração às vitórias militares na campanha contra os
dácios. Com uma altura total de 38 m (30 m de coluna mais 8 m de base) e 4 m de
diâmetro, a coluna traz em seu corpo os relevos narrando as batalhas (figura 32).
Figura 29 – Busto de Júlio César.

Figura 30 – Arco de Constantino.


Figura 31 – Coluna de Trajano.

Figura 32 – Detalhe da coluna de Trajano.

Pintura

Durante muito tempo, o que tínhamos sobre a pintura romana era o que restava nas
ruínas em Roma. No entanto, uma descoberta arqueológica, feita por acaso, trouxe à
tona um universo desconhecido. As cidades italianas de Pompeia e Herculano ficaram
soterradas durante aproximadamente dezesseis séculos. No ano de 79 d.C., o vulcão
Vesúvio, localizado próximo a essas cidades, entrou em erupção. Toneladas de cinzas
e pedras vulcânicas foram lançadas sobre a cidade de Pompeia, preservando-a da
ação do tempo. Por causa dessa cápsula que protegeu a cidade, os painéis que
decoravam as residências foram preservados. As residências e as demais construções
mostraram-se de repente repleta de cores e imagens decorativas, permitindo-nos
observar a realidade pictórica decorativa que foi narrada por tantos da Antiguidade,
mas que não haviam sobrevivido para contar sua própria história.
As pinturas encontradas trazem desde naturezas-mortas, cenas com figuras humanas
nas mais diversas situações (figura 33), animais até decorações imitando elementos
arquitetônicos (figura 34), todas com cores vibrantes, alegres e com preocupações
harmônicas, que demonstram claramente a influência dos preceitos da arte grega.

Crédito de atribuição editorial: mountainpix / Shutterstock.com


Figura 33 – Pintura mural em Pompeia.

Figura 34 – Pintura mural em Pompeia.


O acervo encontrado em Pompeia, que era uma cidade turística, balneária, nos dá
uma amostra do que poderia ser encontrado nos grandes palácios e villas do império
romano.

Arquitetura

Também na arquitetura, os romanos buscaram os modelos da arte grega, utilizando-


os, porém, de acordo com suas necessidades. Algo que não pode ser deixado de lado,
ao se pensar na arquitetura romana, é a sua finalidade prática. Como grandes
administradores e engenheiros, os romanos sempre pensavam nas necessidades e na
organização do império. O Coliseu (figura 35) e o Fórum Romano (figura 36)
representam muito bem essas características.

O Coliseu foi construído entre 70 e 90 d.C., iniciado sob o reinado de Vespasiano,


sendo somente concluído no reinado de Tito, seu sucessor. Localiza-se onde antes
situava-se o lago construído por Nero, em frente à sua ‘casa dourada’. O Coliseu é
uma construção de quatro andares formados por arcos. O primeiro andar segue a
ordem dórica, o segundo, a ordem jônica, e o terceiro, a ordem coríntia. O quarto
pavimento foi adicionado posteriormente. Sua planta tem forma elíptica e mede
aproximadamente 190 por 155 m. Sua parte central possuía um sistema com
elevadores que permitiam que os gladiadores, animais e prisioneiros fossem alçados
até o centro da arena. Um canal, que se comunicava com os aquedutos próximos,
permitia que o interior fosse inundado para a encenação de batalhas navais.

O Fórum Romano (figura 36) agregava diversas construções e era o principal centro
comercial da Roma imperial. Cabe lembrar que a utilidade dos edifícios vinha em
primeiro lugar para a administração romana. Ele abrigava as principais construções da
Roma antiga, entre eles diversos templos, basílicas, o tabulário, onde ficavam os
registros, os escritórios administrativos do governo romano e os arcos triunfais. Era o
centro político e econômico de Roma. As ruínas dos templos ainda impressionam pela
grandeza do conjunto, nos fazendo imaginar como deveria ter sido esse organismo
quando ainda pulsava vivo na conjuntura administrativa de Roma.

Figura 35 – Coliseu.
Figura 36 – Forum romano.

As construções deixadas pelos romanos figuram em todos os territórios nos quais eles
vieram a ocupar e simbolizavam o próprio poder civilizatório do império, capaz de levar
os ideais da civitas romana a todos os cantos do mundo conhecido.

Aprofunde seu conhecimento, lendo o texto a seguir:

FUNARI, P. P. A.; CAVICCHIOLI, M. R. A arte parietal romana e diversidade.


In: Atas do I Encontro de História da Arte. Campinas: Unicamp, v. 3, p.
111-124. Acesso em: 30 jun. 2017.

Ampliando o foco

Sobre a arte romana, ver:

GALVES, M. C. P.; PINHEIRO, A. C. F.; CRIVELARO, M. História da


arte e do design: princípios, estilos e manifestações culturais. São
Paulo: Érica, 2014, p. 57-73. Disponível na Minha Biblioteca.
Encerramento

De que forma a arte pode ser entendida nos primeiros


períodos da existência humana na Terra? Existe algum
ponto de contato entre a chamada arte primitiva e a
produzida pelos egípcios?
No início da história da humanidade, a arte tinha, antes de qualquer coisa, um caráter
pragmático. Ou seja, a arte era produzida com uma finalidade específica, uma
utilidade prática. Para entender essa utilidade no período dito pré-histórico, aquele
anterior aos registros escritos, os historiadores da arte utilizam-se dos conhecimentos
da antropologia e da arqueologia para compreender tanto a finalidade didática dos
desenhos e das pinturas, quanto da finalidade mágica, por trás de algumas pinturas
rupestres. Esse caráter mágico ou sobrenatural vai perpassar grande parte da
produção artística da Antiguidade, podendo ser percebido até mesmo no antigo Egito,
no qual um rigor extremo no controle dessa produção vai garantir a eficácia das
fórmulas mágicas destinadas a durar por toda a eternidade.

Quais as mudanças desenvolvidas pelos gregos em


comparação com a produzida pelos egípcios, que
foram incorporadas ao programa artístico desenvolvido
por eles?
Os egípcios, apesar de saberem retratar fielmente a natureza, por questões de ordem
prática relacionadas à estrutura social na qual se encontravam, seguiam os padrões
definidos pelos grandes artistas do passado. Esses artistas haviam elaborado fórmulas
que contribuiriam para a manutenção da ordem social, fosse ela referente à hierarquia
estabelecida ou relativa às fórmulas mágicas destinadas à vida após a morte. Os
gregos, ao contrário, depois de assimilarem o que era possível dos artistas egípcios,
optaram por partir para a observação da natureza, entendida por eles como a mestra
de todas as coisas. Ao agirem dessa forma, os gregos foram, gradativamente,
aprimorando a representação humana. A arte ainda se vinculava com a religião, mas,
ao contrário do mundo egípcio, o modo como ela era desenvolvida, valorizava o
homem e não os deuses.

Quais são as características da arte romana?


A principal característica da arte romana está ligada à arquitetura. Os romanos
preocuparam-se, antes de mais nada, em demarcar os limites do império e fizeram
isso utilizando, em grande medida, os recursos disponibilizados pela engenharia. Eles
foram buscar, principalmente dos gregos, em especial da arte helenística, as
características estilísticas. Eles foram grandes engenheiros e colecionadores. Daí a
construção de grandes obras, destinadas, em grande parte, às questões políticas e
administrativas, aliadas ao gosto estético, característico do período grego helenístico.

Resumo da Unidade

Nesta unidade, você estudou as primeiras manifestações artísticas de que temos


notícia na Antiguidade, seguidas dos trabalhos de artes visuais e de arquitetura
desenvolvidos pelos egípcios, gregos e romanos. Nesses primeiros momentos da
história da humanidade, a produção artística era feita de forma distinta daquela
que conhecemos hoje. A arte não existia enquanto algo belo, que seria passível de
ser admirado somente pelos seus caracteres estéticos. A arte prestava-se a
finalidades práticas. Nesse sentido, fica um pouco mais fácil entender a motivação
que os artistas tinham para desenvolver seu trabalho, principalmente os de
arquitetura. As obras, geralmente, eram feitas para glorificar os deuses ou para
garantir a sobrevivência da tribo ou ainda para vencer a morte, por meio da
representação dos governantes. Foi assim nos períodos paleolítico e neolítico e
essa tendência manteve-se no Egito Antigo.

Ao naturalismo, que pode ser percebido nas pinturas das cavernas, seguiu-se a
ordem e a rigidez do frontalismo egípcio. Tudo o que era necessário para entender
uma cena, ou uma imagem, deveria ser colocado em sua representação. Os
egípcios colocavam em uma pintura tudo o que eles sabiam que existia naquela
cena, no ângulo ou vista, que melhor se adequava ao entendimento do objeto. Os
gregos aprenderam com os egípcios, mas aliaram aos elementos apreendidos a
observação da natureza. Eles glorificavam o homem por sua importância na
natureza, pois era nela que se encontrava a perfeição, sendo, portanto, a mestra
de todas as coisas. Daí o realismo, a fidelidade à representação do que se via.

Os romanos, por sua vez, grandes administradores que eram, investiram na


organização dos espaços, fazendo da arquitetura e da engenharia sua principal
forma de expressão, sua marca registrada. Graças ao amor que votavam à cultura
grega, motivação para a prática do colecionismo de tudo o que havia sido
produzido nos períodos clássicos e helenísticos, é que chegaram até nós grande
parte do que conhecemos da escultura grega. Os romanos buscaram na Grécia os
elementos artísticos que os interessavam e os adequaram às necessidades
da urbis.

Para aprofundar e aprimorar os seus conhecimentos sobre os assuntos


abordados nessa unidade, não deixe de consultar as referências
bibliográficas básicas e complementares disponíveis no plano de
ensino publicado na página inicial da disciplina.

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