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Estruturas de Edifícios

ESTRUTURAS
DE
EDIFÍCIOS

Aníbal Costa

2012

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Estruturas de Edifícios

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Estruturas de Edifícios

ESTRUTURAS
DE
EDIFÍCIOS

Apontamentos para a disciplina de Estruturas de Edifícios do2º Ano do2ª Ciclo do


Curso de Mestrado em Engenharia Civil da Universidade de Aveiro (1ª versão de
trabalho para ser melhorada nos anos seguintes)

Aníbal. Costa

2012

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Estruturas de Edifícios

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Estruturas de Edifícios

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

1.1 - Introdução
A construção civil em Portugal enferma de muitos vícios que o decorrer dos anos tem
vindo a agravar de uma forma perigosa. Com efeito, a generalidade dos intervenientes na
construção ainda não considera o projecto e a execução de um edifício como elementos
indispensáveis à realização de uma obra com qualidade.

O Engenheiro é normalmente visto, em obra, como um "tipo que faz uns riscos" e para
os quais não é normalmente necessário prestar grande atenção. É evidente que a tradição, até
cerca de 1900, diz-nos que sempre se construíram casas como se plantaram cebolas no
quintal, só que enquanto não apareceu o betão armado as casas eram construídas segundo
processos tradicionais, baseados no empirismo, em que as soluções eram baseadas nas
formas simples, os materiais empregues eram sempre os mesmos (pedra e madeira) e as casas
tradicionais portuguesas ainda hoje atestam essa boa construção.

Com o aparecimento do betão armado, este foi substituindo os elementos interiores


mantendo-se, em pedra, as paredes exteriores e resistentes e as formas simples.

A partir dos anos 50 do século XX, com o processo de migrações internas e externas,
com o aumento crescente do ritmo de construção foi necessário não só procurar novas
técnicas e processos de construção, até então não testados pela experiência, como ajustar a
construção aos gostos e formas cada vez mais bizarras que apareceram um pouco por toda a
parte. Por outro lado, a necessidade de grandes volumes de construção, em prazos
relativamente curtos, obriga a que a construção deva ser encarada como uma indústria e não
como um processo artesanal. Isto obriga também a que os intervenientes no processo e
nomeadamente os técnicos assumam os mesmos métodos de trabalho que se exigem a
qualquer outra indústria.

É assim indispensável que aqueles que projectam edifícios o façam assentes em


conceitos científicos, partindo de dados físicos e económicos que lhes permitam conceber
industrialmente um produto de primeira necessidade e de qualidade garantida.

O projecto e a construção de um edifício, deve ser encarado nos dias de hoje, como a
resolução do problema posto pela satisfação das exigências dos utentes no desempenho de

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Estruturas de Edifícios

determinadas funções para que o edifício é (ou deve ser concebido), (Canha da Piedade,
1995).

Apesar da estrutura do edifício ficar escondida pelos revestimentos é, sem sombra de


dúvida, um dos elementos fundamentais na garantia da qualidade, funcionalidade e
desempenho estrutural durante a vida útil do edifício. Por isso o engenheiro estruturalista terá
de ter sempre um papel fundamental na concepção e na execução de um edifício.

O projecto de estruturas de um edifício abrange um leque de conhecimentos que cobre


as matérias curriculares de várias disciplinas.

Nesse sentido, procura-se com a disciplina de Estruturas de Edifícios cimentar os


conhecimentos adquiridos nas disciplinas fundamentais do Curso de Engenharia Civil
(Resistência de Materiais, Estruturas e Betão Armado) aplicando-os a um caso concreto.

1.2 – Objectivo da disciplina


Como objectivo geral desta disciplina pode indicar-se a realização na escola, pelos
alunos, do primeiro projecto de execução das estruturas resistentes de um edifício.

No âmbito da licenciatura o objectivo referido concretiza-se com a entrega de um


projecto de arquitectura de um edifício, que normalmente está na fase de construção (sendo
portanto um caso real), e pretende-se que os alunos entreguem no final do semestre o projecto
de execução das estruturas resistentes desse edifício. Para o efeito são fornecidos, nas aulas
teóricas, os conhecimentos necessários à realização desse trabalho, fazendo-se nas aulas
práticas o acompanhamento e o esclarecimento de qualquer dúvida que possa surgir no
decorrer do mesmo.

São fornecidos programas de cálculo automático, que permitem ao aluno condições


idênticas aquelas que irá usufruir nos locais de trabalho após a licenciatura e exige-se a
apresentação de um relatório completo do trabalho efectuado e os desenhos das estruturas
resistentes desse edifício, de modo a que esse projecto possa ser executado.

Durante o decorrer do trabalho poderá ser proporcionada uma visita de estudo a uma
obra, que esteja na fase de execução, para que se possa fazer uma confrontação de soluções e
permita aos alunos esclarecer aspectos práticos em que eles normalmente ainda estão muito
"verdes".

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Estruturas de Edifícios

1.3 - Programa
1 - INTRODUÇÃO

.1 - Considerações Gerais
.2 - Objectivo e âmbito da Disciplina

2 - CONCEPÇÃO ESTRUTURAL

.1 - Considerações Gerais
.2 - Sistemas Estruturais
.3 - Diferentes Elementos Estruturais
.4 - Materiais de Construção
.5 - Critérios a Respeitar na Concepção de um Edifício
.6 - Objectivo de um Projecto de Estruturas
.7 - Patologias Possíveis Devidas a uma Má Concepção Estrutural
.8 - Exemplificação de Problemas Reais Ocorridos em Edifícios - Slides
.9 - Alguns Exemplos Práticos

3 - CRITÉRIOS GERAIS DE VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA

.1 - Estados Limites
.1 - Estados Limites Últimos
.2 - Estados Limites de Utilização

.2 - Acções
.3 - Quantificação das Acções
.4 - Verificação da Segurança
.1 - Em Relação aos Estados Limites Últimos
.2 - Em relação aos Estados Limites de Utilização

4 - ACÇÃO DO VENTO

.1 - Introdução
.2 - Zonamento do Território
.3 - Rugosidade Aerodinâmica do Solo
.4 - Quantificação da Acção do Vento
.5 - Determinação dos Efeitos da Acção do Vento
.6 - Pressão Dinâmica do vento
.7 - Coeficientes de Forma
.1 - Coeficientes de Pressão em Edifícios
.8 - Exemplos

5 - ACÇÃO DOS SISMOS

.1 - Introdução
.2 - Noções de Sismologia
.3 - Considerações Sobre Dinâmica de Estruturas
.1 - Equação de Equilíbrio Dinâmico
.2 - Vibração Livre sem Amortecimento
.3 - Vibração Livre com Amortecimento
.4 - Resposta de um Sismo com 1 gl a uma Acção Dinâmica
.5 - Espectro de Resposta
.6 - Espectro de Potência
.7 - Sistemas com n Graus de Liberdade
.1 - Método da Sobreposição Modal
.2 - Método de Rayleigh

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Estruturas de Edifícios

.4 - Aspectos Regulamentares
.1 - Zonamento do território
.2 - Quantificação da Acção dos Sismos
.1 - Noções breves sobre Sismicidade da Zona e Acção Sísmica
.3 - Determinação dos Efeitos da Acção dos Sismos
.1 - Métodos Gerais e Exactos
.2 - Métodos Simplificados
.4 - Exemplos de Aplicação

6 - CONTRAVENTAMENTO DE EDIFÍCIOS

.1 - Pórticos
.2 - Paredes Resistentes
.3 - Sistemas Especiais
.4 - Centro de Torção
.5 - Distribuição de Forças Horizontais
.6 - Associação de Pórticos em Comboio
.7 - Programas de Cálculo

7 - ESFORÇOS E DIMENSIONAMENTO DE ELEMENTOS ESTRUTURAIS

.1 - Dimensionamento de Lajes
.2 - Pré-dimensionamento
.1 - Pilares
.2 - Paredes
.3 - Vigas
.3 - Cálculo de Esforços
.1 - Apresentação do Programa TRICALC
.2 - Exemplos
.4 - Escadas
.5 - Fundações
.6 - Muros de Suporte
.7 - Rampas
.8 - Caixas de Elevadores

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Estruturas de Edifícios

CAPÍTULO II

CONCEPÇÃO ESTRUTURAL

2.1 - Introdução
Ainda no início do século XX a grande generalidade dos edifícios, nomeadamente os não
industriais, não diferia muito das propostas normativas de Manuel da Maia para a
reconstrução Pombalina no final do século XVIII.

O século XIX traria como elemento inovador a estrutura metálica e esta aparecia, em regra,
em toda a sua nobreza, em grande número de edifícios industriais, pavilhões de grandes vãos
e pontes, embora a sua generalização se verificasse mais para a execução de coberturas.

Seria contudo o advento do betão armado, sentido entre nós por volta dos anos 10, do século
XX, e o rescaldo da 2ª guerra mundial na generalidade dos países da Europa, onde a carência
de recursos e a correspondente necessidade de se construir a um ritmo até então desconhecido
deu início à utilização decidida de novas tecnologias da construção - que traria até nós,
embora com certo atraso, uma diversificação das soluções estruturais utilizadas em edifícios.

Assim, na primeira metade do século verificou-se uma substituição progressiva das estruturas
resistentes de alvenaria pelas estruturas reticuladas de betão armado.

Na década de 60, do século XX, apareciam as primeiras construções pré-fabricadas - em


"sistema fechado" - de paredes resistentes a que se seguiriam anos mais tarde - já nos meados
de 70 - as paredes de betão moldadas em obra e os sistemas de estrutura reticulada pré-
fabricada solidarizada em obra.

Pontualmente, iam-se realizando outros tipos de construções, alguns dos quais ocupam
actualmente lugar significativo - como por exemplo, as estruturas de pilares de betão armado
com lajes nervuradas vazadas nas duas direcções (correspondente à evolução das primitivas
lajes fungiformes), as estruturas metálicas com pavimentos de betão armado ou ainda os
vulgarizados sistemas de construção leve. Para uma descrição mais detalhada das soluções
estruturais existentes seria então interessante dispôr de uma classificação adequada. Tal
classificação dependerá, obviamente, dos critérios a adoptar e que, por exemplo, podem ser
tão distintos como o grau de industrialização ou o peso.

O primeiro destes critérios corresponde ao adoptado por Lewicki (1965) e referido por Trigo
(1978) dando lugar à classificação representada no Quadro 2.1.

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Estruturas de Edifícios

Quadro 2.1 – Classificação das soluções estruturais quanto ao grau de industrialização


I - Construção primitiva
II - Construção tradicional artesanal
III - Construção tradicional racionalizada
IV- Construção com cofragens
industrializadas

grau de industrialização: V - Construção com grandes painéis


pré-fabricados

Num critério quanto ao peso poderiam classificar-se as soluções como de estruturas leves,
semi-leves e pesadas. Crê-se todavia que o critério mais interessante será o de basear a
classificação na tipologia da estrutura resistente dos edifícios, (Canha da Piedade, 1995)
dando assim lugar à ordenação que se apresenta na Figura 2.1:

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Estruturas de Edifícios

Estrutura Reticulada Moldada em Obra


Pré-fabricada pesada c/ elementos maciços de betão
c/ elementos ôcos de betão

leve c/ elementos metálicos


c/ elementos de madeira
Estrutura Parede Moldada em Alvenarias de pedra
Obra resistentes
de blocos cerâmicos
de betão denso
leve

de betão denso
leve de inertes leves
"aerizado"
sem finos

Pré- painéis pesados de betão denso


fabricada
de betão leve
de blocos cerâmicos
painéis leves
Estrutura reticulada metálica c/ pavimentos de betão
Pilares de betão e lajes nervuradas nas duas direcções (lajes fungiformes
aligeiradas) sem vigas
Sistemas Híbridos
Estruturas reticuladas com associação de elementos de estrutura-parede e/ou
painéis pré-fabricados, etc...

Figura 2.1- Classificação das soluções estruturais para edifícios

Com base nessa classificação caracterizam-se adiante com algum detalhe as diferentes
soluções estruturais.

O ideal no dimensionamento de projectos de estruturas de edifícios é o processo de


optimização que conduz a um projecto estrutural que dá a máxima resistência com o mínimo
de custo de materiais. Mas, este processo está, geralmente limitado aos elementos estruturais.
Assim a extensão à totalidade do edifício criada apresenta muitas dificuldades, dado que há
uma série de elementos não estruturais, que têm influência na resistência mas que não são
fáceis de quantificar. Esta consideração é um bocado aparente, dado que, a conceção óptima
de um elemento estrutural (ex. viga de um piso) não é necessariamente a concepção mais
económica da viga mas a combinação apropriada de todos os subsistemas em materiais e
métodos que poderão tornar mais eficiente, económico e social o edifício.

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Estruturas de Edifícios

O que normalmente conta no investimento tipo de um edifício é o custo final do mesmo e aí


aparecem uma série de custos que nada têm a ver com a parte estrutural e que na maioria das
vezes pesam muito mais.

O nível de optimização depende muito das variáveis que são consideradas. Se só interessa
considerar a estrutura do edifício, então a solução óptima poderá reflectir uma estrutura
económica.

Por outro lado se no sistema estrutural só podemos seleccionar a estrutura de betão armado aí
o sistema económico poderá não ser fácil encontrar, já que esta poderá passar por um sistema
em estrutura de aço mista.

A concepção estrutural de um edifício alto, está muito associado ao local (Cidade, País,
Continente) onde o edifício irá ser construído, já que normalmente a altura do edifício
pressupõe uma planta com espaços amplos e abertos.

Normalmente somos conduzidos a concepções estruturais muito dependentes da solução


arquitectónica que se pretende contudo que à medida que o edifício cresce em altura deverá
ser a solução estrutural que condiciona a solução arquitectónica.

Deve-se selecionar, em função da altura do edifício, a solução estrutural que deverá ser
adotada. Esta escolha deve basear-se na experiência e conhecimento do projetista, tendo por
base o critério de economia definido anteriormente e como resultado um bom comportamento
estrutural do edifício, nomeadamente às ações horizontais.

2.2 Caracterização das diferentes soluções estruturais


para edifícios
2.2.1 - Introdução

A primeira preocupação do Engenheiro que vai projetar um edifício é a escolha de uma


solução estrutural adequada que consiga conciliar a resolução dos problemas arquitetónicos e
funcionais com a necessidade de garantir resistência à estrutura actuada pelas acções a que irá
estar sujeita (Torroja, 1981).

Existe um conjunto de sistemas estruturais básicos que, quer isolados quer combinados,
proporcionam variadas possibilidades para a escolha da solução estrutural a adoptar em cada
caso (Vale e Azevedo, 1986).

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Estruturas de Edifícios

Pretende-se neste capítulo rever os principais sistemas estruturais utilizados em edifícios e


avaliar as suas possibilidades e limitações, assim como os problemas que surgem aquando da
sua análise, em particular no que se refere à resistência a acções horizontais. Abordar-se-ão
apenas os edifícios em betão armado por serem aqueles de maior uso entre nós.

A estrutura de um edifício é um sistema tri-dimensional complexo formado pela associação


de elementos estruturais lineares e laminares dispostos em geral em planos horizontais e em
planos verticais. Vai-se analisar os diversos sistemas estruturais sob o ponto de vista da
resistência a ações verticais e da resistência.

2.2.2 - Resistência a acções verticais

A primeira finalidade dos edifícios é a sua resistência às acções verticais, sendo este o factor
que condiciona a escolha inicial de um sistema estrutural. A localização e distribuição em
planta dos pilares e paredes corresponde ao início da organização estrutural e
consequentemente à escolha de um outro sistema.

Os sistemas estruturais resistentes às acções verticais podem-se subdividir em sistemas


horizontais, correspondentes aos pisos, e sistemas verticais, correspondentes aos pilares e
paredes, que fazem a transmissão de cargas entre pisos ou para o solo. Os sistemas estruturais
verticais serão descritos quando nos referimos à resistência e às ações horizontais.

2.2.2.1 - Lajes apoiadas em vigas

Este sistema tem larga aplicação e o seu emprego está normalmente apenas limitado pela
altura livre disponível entre pisos. Tem as vantagens de poder vencer grandes vãos, ser
facilmente adaptável quando da existência de grandes aberturas (escadas, elevadores,
equipamento mecânico, etc.), ser adaptável a qualquer tamanho e forma do edifício e tem
ainda a vantagem estrutural de conferir resistência às ações verticais e às ações horizontais.

2.2.2.2 - Lajes fungiformes

Têm esta designação os sistemas formados por lajes contínuas armadas em duas direções e
apoiadas diretamente em pilares, podendo ser aligeiradas nas zonas centrais dos vãos.
Englobam-se neste grupo as lajes nervuradas, com a forma corrente de caixotões. A
resistência destes sistemas estruturais é frequentemente limitada pelo punçoamento nas
secções à volta dos pilares, pelo que se costuma tornar maciça esta zona. Trata-se por outro
lado de sistemas estruturais que não estão naturalmente vocacionados para resistirem às ações
horizontais, para o que se costumam criar bandas maciças nas zonas de ligação entre os
pilares. Têm o inconveniente de serem sistemas sensíveis à dimensão e localização de
aberturas e poderem estar sujeitos a deformações relativamente grandes.

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Estruturas de Edifícios

2.2.2.3 - Sistemas túnel

Neste sistema utilizam-se lajes maciças, armadas numa só direção, apoiadas em paredes. Esta
é a solução adoptada para o emprego da chamada cofragem túnel, havendo no entanto o
problema da resolução da resistência e estabilidade da estrutura na direcção perpendicular às
paredes do túnel. Este sistema que utiliza, em geral, vãos pequenos é pouco flexível em
relação às exigências arquitetónicas.

2.2.2.4 - Lajes apoiadas em vigas-parede alternadas

Este sistema, conhecido na literatura como "staggered wall beams", é formado por lajes
maciças armadas numa só direção, que apoiam em vigas-parede alternadas, permitindo assim
obter com um vão estrutural (L) um espaço de vão livre de (2 L).

2.2.3 - Resistência a ações horizontais

O crescimento em altura dos edifícios, a utilização de paredes divisórias ou de enchimento


em materiais leves e não estruturais, o emprego de materiais de construção com elevadas
características de resistência conduzindo a estruturas mais esbeltas, são alguns dos factores
que conduziram à necessidade de desenvolver sistemas estruturais adequados para resistirem
a ações horizontais, como a ação do vento e a ação dos sismos.

2.2.3.1 - Alvenarias estruturais

Correspondem, no fundo, às soluções mais comuns na generalidade dos edifícios até o início
do século e que ainda hoje continuam a ser utilizadas, um pouco por todo o país, nas
construções de pequeno porte.

São constituídas por paredes de alvenaria de pedra ou de blocos - podendo estes ser de betão,
denso ou leve, ou cerâmicos - cintadas por elementos de betão armado.

Julga-se ser um tipo de solução com capacidade competitiva para edifícios com pequenos
vãos e de um a três pisos, desde que se disponha de materiais com características mecânicas
adequadas para alvenarias resistentes. Ora é aqui precisamente que reside o principal
problema, porquanto a alvenaria de granito ou calcário implica custos elevados
(nomeadamente de mão de obra) e a qualidade dos produtos cerâmicos tem registado quebra
sensível, não se dispondo actualmente de tijolos furados que possam ser aceites em alvenaria
resistentes. Restam assim os blocos de que há produções cujas características mecânicas e
estabilidade dimensional se mantém dentro de limites perfeitamente aceitáveis.

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Estruturas de Edifícios

Historicamente este foi o primeiro sistema utilizado para resistir às ações horizontais,
sobretudo em zonas de baixo risco sísmico.

As lajes dos pisos que se apoiam nas paredes, e conferem rigidez ao conjunto do edifício,
poderão ser betonadas em obra ou, serem realizadas a partir de elementos pré - fabricados
complementados em obra, com vigotas e blocos cerâmicos de cofragem, pranchas vazadas,
pré-lajes, etc...

Na Figura 2.2, apresenta-se um exemplo que traduz a realização deste tipo de solução.

Figura 2.2 – Estruturas de alvenarias estruturais

2.2.3.2 - Estrutura reticulada

Neste tipo de estrutura, muito comum entre nós, a sua resistência às ações horizontais provêm
das características de rigidez dos seus elementos estruturais, vigas e pilares, e da rigidez das
suas ligações. As estruturas reticuladas sob a ação de forças horizontais têm uma deformação
predominantemente por corte (Figura 2.3).

Figura 2.3 – Deformação predominantemente por corte duma estrutura reticulada

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Estruturas de Edifícios

2.2.3.3 - Estrutura parede

Constituem normalmente estas soluções as de estrutura de betão armado com paredes e


pavimentos moldados em obra, em regra, com o recurso a cofragens industrializadas.

Dentre as tecnologias mais utilizadas contam-se as das cofragens-túnel, as que usam


cofragens independentes para paredes e pavimentos e ainda, embora menos correntes, as de
cofragens deslizantes.

Com as primeiras, cofragens-túnel, que constituem a solução deste tipo mais generalizada
entre nós, realiza-se a betonagem simultânea de paredes e pavimentos permitindo um elevado
grau de industrialização, entendida esta como o resultado da introdução na construção de
acções de racionalização sistemática, e apelando a forte participação da mecanização.

Sendo o processo que permite uma industrialização mais potente é também o que mais
limitações fixa para a geometria da construção.

Nos edifícios com estrutura laminar, construídos com cofragem-túnel, é normalmente usual
dispôr as paredes transversalmente, ficando as fachadas por definir, e dando origem a
edifícios em banda.

Nas soluções com cofragens independentes para paredes e pavimentos a betonagem é


realizada em fases alternadas, podendo mesmo os pavimentos ser constituídos por elementos
pré-fabricados ou pré-lajes às quais será necessário adicionar a lâmina de compressão. Há
então que atender a disposições adequadas que permitem uma boa ligação entre os elementos
horizontais e verticais.

Problema semelhante, até com dificuldade acrescidas, ocorre nas soluções que utilizam a
técnica das cofragens deslizantes para a execução das paredes dos edifícios. Esta técnica, que
se vem realizando com êxito nalguns países, preferindo-a mesmo à da cofragem-túnel (Trigo,
1978), tem sido, contudo, limitada entre nós, na construção de edifícios, à moldagem de
núcleos centrais, em geral os que comportam os acessos verticais dos edifícios, em soluções
estruturais híbridas.

Em todas estas soluções de estruturas laminares deverá atender-se no projecto à necessidade


de dispôr de paredes que assegurem o contraventamento da construção, particularmente no
caso das soluções em "banda", e na vantagem de os pisos manterem sempre a mesma planta,
isto é, paredes sempre com igual espessura, suprindo-se os eventuais acréscimos de
resistência necessários nos pisos inferiores recorrendo ao reforço das armaduras.

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Estruturas de Edifícios

É de boa norma não executar paredes com espessura inferior a 0,15 m, atendendo a que
quanto mais fina for a parede maiores serão as dificuldades de betonagem correcta podendo
exigir betões fluidos e com inertes de menores dimensões, não favorecendo uma resistência
apreciável nas primeiras idades do betão e protelando a desmoldagem para tempos que não
permitam um bom rendimento da cofragem.

Quanto a aspectos complementares há que atender, por um lado, à execução das fachadas e
elementos de compartimentação, e, por outro, à integração dos elementos de equipamento e
instalações nas paredes de betão.

No primeiro caso, tem-se observado entre nós as soluções mais diversificadas, com paredes
de fachada e de divisória realizadas por processos tradicionais, paredes de alvenaria de tijolo
ou blocos de betão, ou com paredes de fachada realizadas com painéis pré-fabricados
complementados em obra com dobragem interior por pano de alvenaria de betão leve,
idêntico ao das divisórias, ou ainda soluções pré-fabricadas quer para os painéis de fachada
quer para os da divisória, nuns casos provenientes da fábrica, noutros executados mesmo no
estaleiro da obra, etc...

Sendo obvia a vantagem da integração das redes das instalações, permitindo logo a sua
definição com a execução da estrutura (o que mostra também a necessidade de um projecto
cuidadosamente executado e coordenado entre todos os intervenientes), nalguns países tem-se
vindo a autorizar a incorporação de algumas (nomeadamente as canalizações de água) desde
que executadas com materiais de elevada durabilidade, aço "inox" ou cobre, ou ainda desde
que se prevejam "reservas" nos pavimentos e paredes para a sua colocação, reservas essas que
seriam posteriormente complementadas com argamassa de enchimento.

Considera-se, contudo, que a solução preferível será a de conceber a arquitectura do edifício


prevendo "mangas" ou "corettes" de molde a que todas estas canalizações, água, gás e
esgotos, embora não aparentes possam ser facilmente acessíveis (Canha da Piedade, 1995).

As paredes, designadas usualmente por "shear walls", podem-se definir como elementos
estruturais bidimensionais e verticais caracterizados pela sua pequena espessura relativamente
ao seu desenvolvimento. Para se garantir a resistência da estrutura é necessário dispor de
paredes em pelo menos duas direcções, geralmente ortogonais, visto que a rigidez transversal
deste elemento é pequena (Vale de Azevedo, 1986). As paredes podem ter diversas
disposições em planta constituindo paredes interiores, paredes exteriores ou núcleos (caixas
de escadas e de elevadores) (Figura 2.4).

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Estruturas de Edifícios

Figura 2.4 – Posições de paredes em planta

Quando dois ou mais elementos de parede estão ligados entre si por elementos estruturais
relativamente flexíveis dão origem às chamadas "coupled shear walls" cujo comportamento
merece cuidados especiais.

Sob a ação de forças horizontais as estruturas parede têm uma deformação


predominantemente por flexão (Figura 2.5). Na realidade comportam-se como consolas
verticais com um grau de encastramento na base variável, sendo portanto a sua deformação a
soma das parcelas de deformação por momento flector, por esforço transverso e por rotação
da base.

Figura 2.5 – Deformada essencialmente de flexão de estruturas parede

A relativa falta de ductilidade das estruturas parede em betão armado tem limitado a sua
utilização em edifícios altos situados em zonas sísmicas. Esta limitação tem sido reduzida ou
através da adopção de técnicas e pormenores construtivos ou através da utilização do sistema
estrutural misto reticulado-parede.

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Estruturas de Edifícios

2.2.3.4 Estrutura mista reticulada-parede

Este sistema é o resultado da associação dos dois sistemas descritos anteriormente. Sob a
acção de forças horizontais esta estrutura assume um tipo de deformação intermédia entre a
deformação da estrutura reticulada e a da estrutura parede, havendo uma transferência de
forças horizontais entre os dois sistemas estruturais, como se pode ver na Figura 2.6.

Figura 2.6 – Transferência de forças horizontais entre a estrutura reticulada e a parede

2.2.3.5 - Estrutura em tubo

Este sistema estrutural é constituído por um conjunto de pilares periféricos muito próximos
ligados por vigas muito rígidas. Em geral, estas estruturas têm planta rectangular com dois
planos verticais de simetria. Sob a acção de forças horizontais as estruturas em tubo, quando
não são perfuradas, tem um comportamento semelhante ao das estruturas parede. Contudo, a
ocorrência de aberturas nestes sistemas conduz a um comportamento intermédio entre as
estruturas reticuladas e as estruturas parede.

À medida que a estrutura cresce em altura torna-se necessário dispor de elementos estruturais
adicionais resistentes ao corte. Uma solução é a utilização do sistema tubo em tubo que
consiste em dispor de um tubo interior formado por paredes resistentes e um tubo exterior
formado pelo conjunto dos pilares periféricos (Figura 2.7). Este sistema combina as
vantagens da estrutura reticulada em tubo com as da estrutura parede. O tubo interior em
paredes resistentes aumenta significativamente as características de resistência da estrutura
reticulada do tubo exterior reduzindo a deformação por esforço transverso dos pilares. Outro
sistema utilizado por vezes para edifícios mais altos é o chamado tubo modular (Figura 2.7)
que permite atingir maiores alturas para o edifício, devido à maior resistência conferida para
as acções horizontais.

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Estruturas de Edifícios

Figura 2.7 – Plantas de estruturas em tubo

2.2.3.6 - Estrutura reticulada contraventada

Este sistema estrutural é constituído por uma estrutura reticulada formada por pilares e vigas
contraventados com uma ou duas diagonais ou com um contraventamento em forma de X ou
K. É um sistema composto inteiramente de elementos estruturais lineares caracterizado pela
deformação axial dos elementos horizontais dos pisos e das diagonais. Este sistema tem
grande aplicação em edifícios em aço estrutural. A dificuldade de fazer as ligações em betão
armado, aliada às vantagens dos sistemas em estrutura parede, tem reduzido o uso desta
solução em edifícios de betão armado. O contraventamento pode ser feito interiormente ou
nas paredes exteriores.

2.2.3.7 - Estruturas híbridas

Incluem-se dentro deste tipo de estruturas todas as que associam as soluções atrás referidas e
dentre as diversas combinações possíveis sobressaem:

i) as estruturas reticuladas metálicas com pavimentos de betão armado

ii) as constituídas por pilares e lajes fungiformes, maciças ou vazadas, e que podem
associar ainda elementos verticais de grande rigidez;

iii) as estruturas reticuladas correntes associadas a elementos verticais de grande rigidez,


caixas de escadas ou paredes de contraventamento.

Das soluções atrás descritas apenas a segunda apresenta aspectos ainda não abordados nas
descrições realizadas em parágrafos anteriores pelo que se referirá adiante.

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Estruturas de Edifícios

Trata-se duma solução que começa a ser frequente, particularmente em edifícios do sector
terciário, por permitir vencer vãos apreciáveis sob solicitações elevadas e com a vantagem de
garantir pé-direito livre constante a toda a superfície do pavimento.

Na sua forma mais corrente é executada com lajes nervuradas nas duas direcções e vazadas
com o recurso a moldes de plástico ou com blocos leves de cofragem perdida (ficando
incorporados no betão).

Nos alinhamentos dos pilares a laje é amaciçada, por razões de dimensionamento e as


dimensões mais correntes dos vazamentos são as que resultam dos moldes de cofragem
disponíveis no mercado de que se apresenta um exemplo na Figura 2.8.

Figura 2.8 – Estruturas de pilares e lajes fungiformes

2.4 - Escolha do sistema estrutural


Apresentou-se anteriormente um conjunto de sistemas estruturais utilizados em edifícios para
resistirem a ações horizontais e a ações verticais. Apesar da sua descrição ter sido feita em
separado, na realidade o processo de conceção da estrutura não consiste necessariamente na
escolha isolada de um destes sistemas. Pelo contrário, trata-se de um processo criativo em que
a conceção é desenvolvida como resposta a um conjunto de condições impostas ou de
restrições. Raramente a escolha cairá numa das soluções básicas apresentadas, mas poderá ser
o fruto da combinação de algumas destas soluções de modo a se conseguir responder
adequadamente às exigências arquitetónicas e funcionais impostas. Existem, por outro lado,
limitações de aplicabilidade dos sistemas descritos. A Figura 2.9 indica (Khan, 1981) o
sistema estrutural mais adequado em função da altura do edifício.

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Estruturas de Edifícios

Figura 2.9 – Sistemas Estruturais para edifícios de betão armado

Como é evidente, muitas das soluções estruturais descritas, caiem fora do âmbito desta
disciplina e por isso iremos focar as estruturas reticuladas moldadas em obra que se trata da
solução hoje em dia mais generalizada entre nós na construção de edifícios, empregando
materiais e métodos de construção de custo e execução normalmente acessíveis em todas as
regiões de país.

No seu modo tradicional de execução tudo era inicialmente realizado em obra. Até o início
dos anos 60, do século XX, o elemento condicionante era, regra geral, o custo do aço e daí
que o estudo da estrutura residisse fundamentalmente na redução daquele. Com a evolução
dos salários para valores mais dignos - que a emigração então proporcionou - passaram a ter
bastante importância os outros aspectos observando-se assim a tendência para a utilização de
betões provenientes de centrais de fabrico - excepto no caso de grandes empreendimentos que
justificassem a existência de central de betonagem própria - para a normalização de
cofragens, com eventual recurso a industrialização, e para a normalização e pré-fabricação de
armaduras.

A solução estrutural que pode ser assimilada a um reticulado de peças lineares de betão
armado - as vigas e os pilares - é complementada com as lajes dos pisos que podem ser
também maciças de betão moldado em obra ou executadas a partir de vigotas pré-fabricadas e
blocos cerâmicos de cofragem - muito vulgar no Norte do país - ou ainda por pranchas
vazadas ou a partir de pré-lajes pré-fabricadas -e, eventualmente pré-esforçadas - sobre as
quais se betona em obra a lâmina de compressão.

A solução estrutural assim constituída tem como grande vantagem a de permitir uma grande
flexibilidade (em termos de uso) ao edifício - pois define-se apenas um "esqueleto" cujas
envolventes e compartimentação interior poderão ser modificadas durante a vida útil da

22
Estruturas de Edifícios

estrutura. Daí decorre também que represente uma pequena parcela do custo total da obra -
cerca de 1/4, do qual metade pode ser atribuível aos pavimentos, Quadro 2.2.

Na comparação de custos entre soluções estruturais diversas deve assim ter-se em conta este
aspecto, isto é, a maior versatilidade proporcionada há como contrapartida uma não
contribuição para a definição da envolvente e da compartimentação.

Nas figuras seguintes - Figuras 2.10 e 2.11 - apresentam-se alguns exemplos tradutores da
descrição acima realizada.

Quadro 2.2 –Estrutura de custos de um edifício corrente

Fundações 3-5%

Estrutura (inclui pavimentos em tosco) 20 - 25 %

Paredes (no tosco) 10 - 15 %

Coberturas 2-3%

Revestimentos e acabamentos 30 - 35 %

Instalações de águas, esgotos e gás 6-7%

Instalações eléctricas e ascensores 7 - 11 %

Equipamento diverso 2-5%

Figura 2.10 – Estrutura reticulada de betão armado em “esqueleto”

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Estruturas de Edifícios

Figura 2.11 – Estrutura reticulada de betão armado na compartimentação

Na definição desta solução estrutural o engenheiro projectista tem um papel fundamental, que
deve ser iniciado logo no início do projecto. Assim, quando o arquitecto inicia o ante-projecto
ou mesmo o estudo prévio, deve ter o apoio do engenheiro, que vai definindo a solução
estrutural ao mesmo tempo, que o projecto evolui. Um projecto em que haja colaboração
mútua entre o arquitecto e o engenheiro resulta, normalmente, num bom projecto de
estruturas e de arquitectura.

Muitas das vezes, por razões várias, o engenheiro só entra no processo, quando o projecto de
arquitectura está licenciado. Hoje em dia, os projectos de especialidade dos edifícios, entre
eles o de estruturas, só são executados após a aprovação, por parte da Câmara do projecto de
arquitectura. Este facto leva a que muitas vezes, até por interesse dos requerentes, o
engenheiro projectista só entre no processo nesta fase. Esta situação levanta muitos problemas
na concepção estrutural, já que a grande maioria das vezes, muitas das regras fundamentais na
execução de um bom projecto estrutural, não podem ser respeitadas, já que existem
imposições arquitectónicas. Por exemplo é frequente a caixa de elevadores e a caixa de
escadas, que são elementos estruturais importantes na resistência às acções horizontais,
estarem situados em zonas não centrais da planta do edifício.

Por outro lado, a articulação entre as diversas plantas dos diferentes pisos em algumas
situações é extremamente complexa. Felizmente alguns arquitectos, mais experientes,
utilizam uma malha (3x3 ou 4x4) para a execução do projecto de arquitectura, prevendo a
utilização de pilares, nos pontos de intersecção, ao longo da altura do edifício.

Muitas vezes, e esta tendência tende a aumentar, as plantas dos diferentes pisos não
coincidem, aparecendo situações particulares nos diferentes pisos, por vezes devido ao
arranjo de fachadas, outras vezes devido à existência de recuados, que não têm

24
Estruturas de Edifícios

correspondência com paredes nos pisos inferiores, que dificultam a realização do projecto de
estruturas.

Por outro lado o projecto mais habitual é o de prédios com 4 a 8 pisos, de iniciativa de
privados ou de cooperativas, com tipologias construtivas perfeitamente definidas,
nomeadamente na zona norte, que na maioria das vezes condiciona a solução estrutural.

Dentro deste princípio, e porque será talvez a situação mais comum e a que gera mais
conflitos, no bom sentido da palavra, entre o arquitecto e o engenheiro, vamos analisar um
exemplo dum edifício de habitação e comércio, em que são apresentadas as plantas de
arquitectura para se executar o projecto de estruturas.

Neste ponto parece-nos importante clarificar o que se entende por um projecto de estruturas, e
que será exigido como trabalho a apresentar.

2.5 - Projecto de estruturas

Um projecto de estruturas deverá conter uma parte escrita, composta por memória descritiva,
mapa de trabalhos, medições e orçamento e cadernos de encargos, e uma parte desenhada,
que compreende os desenhos de execução do projecto.

Os desenhos que compõem o projecto de estruturas de um edifício são, habitualmente, os


seguintes:

• planta de implantação;

• planta de fundações;

• plantas estruturais dos diversos pisos;

• cortes construtivos;

• quadro de lajes;

• mapa de pilares;

• quadro de vigas;

• pormenores.

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Estruturas de Edifícios

As plantas estruturais devem ser designadas por pisos, ou seja num prédio de cave, rés do
chão e 5 andares, na arquitectura a planta de rés do chão é designada, normalmente por esse
nome, a designação no projecto de estruturas será a planta estrutural do 1º piso. Esta
designação é importante que se compreenda bem, para que na execução das plantas
estruturais não faltem elementos. Assim a planta estrutural do 1º piso corresponde à cobertura
da cave e ao piso do rés do chão, ou seja, a linha envolvente, os acessos, os buracos, as
varandas da planta estrutural são definidas pela planta do rés do chão; as implicações do
posicionamento dos pilares devem ser vistas na planta da cave. Portanto esta planta estrutural
corresponde a um corte feito por baixo da laje do 1º piso olhando para cima.

Nas plantas estruturais devem-se fazer cortes estruturais em zonas que possam levantar
dúvidas de interpretação, nomeadamente quando existem diferenças de níveis entre lajes, ou
outros pormenores relevantes. Esta pormenorização pode substituir os cortes construtivos que
servem para indicar o tipo de vigas (embebidas, invertidas ou aparentes) e outros pormenores
que interessa evidenciar e que serão diferentes de caso para caso.

Muitos projectos apresentam desenhos dos pórticos de betão armado, aparecendo


representados os pilares e as vigas no mesmo desenho. O sistema mais habitual e talvez o
mais usado é a apresentação de um quadro de pilares, Figura 2.12 e de um quadro de vigas,
Figura 2.13. Muitos dos programas disponíveis no mercado utilizam este tipo de
apresentação. Nos pormenores são apresentados todos os outros elementos estruturais,
escadas, muros de suporte, varandas, etc., Figura 2.14.

Normalmente as plantas (implantação, fundações e estruturais) são representadas à escala 1 /


100, o quadro de pilares e vigas à escala 1/50 e/ou 1/20, enquanto os pormenores são
apresentados à escala 1/20.

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Estruturas de Edifícios

Figura 2.12 – Quadro de pilares

Figura 2.13 – Quadro de vigas

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Estruturas de Edifícios

Figura 2.14 – Pormenores de betão armado

2.6.- Exemplo de aplicação

Trata-se de um edifício com cave, rés do chão e cinco andares a realizar na Cidade da Trofa.
Os desenhos disponibilizados pelo arquitecto correspondem às plantas de arquitectura, cortes
e alçados, que estão representados nas Figuras 2.15 a 2.23.

Figura 2.15 – Planta da cave

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Estruturas de Edifícios

Figura 2.16 – Planta do Rés do Chão

Figura 2.17– Planta do 1º ao 3º andar

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Estruturas de Edifícios

Figura 2.18 – Planta do 4º e 5º andar

Figura 2.19 – Planta da cobertura

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Estruturas de Edifícios

Figura 2.20 – Alçado Norte

Figura 2.21 – Alçado Poente

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Estruturas de Edifícios

Figura 2.22 – Alçado Sul

Figura 2.23 – Corte transversal pela caixa de escadas

Para a concepção de uma planta estrutural é indispensável uma boa compreensão do projecto
de arquitectura. Assim a primeira tarefa é olhar para as plantas com atenção, procurar
perceber as diferenças de níveis nos pisos, as irregularidades em altura, como por exemplo a
presença de corpos avançados ou de andares recuados. O contexto do corpo avançado é uma
consola que dá apoio a uma fachada do edifício. Deve-se ter em atenção a planta estrutural do

32
Estruturas de Edifícios

piso que realiza o rés do chão, que é normalmente diferente das outras, já que: tem diversas
entradas, que andam, muitas vezes, a níveis diferentes; tem as escadas de ligação da cave ao
rés do chão que, na maioria das vezes são diferentes das que realizam o acesso aos andares;
tem o acesso principal que anda a uma cota diferente do restante piso, etc.

Compreendido o projecto de arquitectura, começa-se a esboçar a planta estrutural de um piso.


Deve-se começar pelo piso que se repete mais vezes, que é normalmente o dos andares,
definindo-se a sua envolvente, que corresponde à linha mais externa do projecto de
arquitectura do piso de que se vai fazer a planta estrutural. Ou seja corresponde ao que se vê
quando se corta o edifício numa cota abaixo do plano da laje e se olha para cima. Em seguida
implantam-se os acessos verticais, que são comuns aos diversos pisos e por isso são
elementos sempre a ter em conta no projecto estrutural. Normalmente começa-se por
representar a caixa de escadas e a caixa de elevadores. Seguidamente deve-se definir os
pilares de canto do edifício. Aqui é preciso ter presente os avançados e os recuados,
principalmente os primeiros, já que muitas vezes, os cantos correspondem a pontos que caiem
fora da malha estrutural do rés do chão. A sobreposição do esboço da planta estrutural com a
arquitectura ajuda a dissipar dúvidas. Na Figura 2.24 vemos um exemplo deste esboço e na
Figura 2.25 a sobreposição deste esboço com a arquitectura do rés do chão.

Figura 2.24 – Implantação na envolvente dos elementos verticais

33
Estruturas de Edifícios

Figura 2.25 – Sobreposição dos elementos verticais na planta de rés do chão

Como é visível na Figura 2.25 um dos pilares está implantado fora da envolvente do rés do
chão, seria necessário passar o pilar para o alinhamento da fachada do rés do chão. Na Figura
2.26 apresenta-se a planta com o pilar no alinhamento da fachada do rés do chão, aliás na
posição que o arquitecto já tinha considerado. Nestes casos quando são pilares de fachada ou
exteriores é importante tentar respeitar os pilares previstos pelo arquitecto, ou dialogar com
ele se for necessário alterar a posição de um deles.

Figura 2.26 – Correcção da implantação do pilar

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Estruturas de Edifícios

Definidos os elementos verticais comuns e os pilares de canto é necessário definir a posição


dos restantes pilares. Neste ponto é indispensável ter presente algumas regras principalmente,
no que se refere a vãos económicos ou assim considerados. Assim, deve-se procurar vãos
entre pilares que variem entre os 5.0 e os 7.0 metros e vãos para as lajes entre os 5.0 e os 6.0
metros (Figueiras, 1986). Estes vãos são os habitualmente usados na construção na zona
Norte do País, não querendo isto significar que não seja possível usar vãos maiores quer para
as vigas quer para as lajes.

Nesta disciplina procura-se usar soluções construtivas tradicionais o que implica a utilização
de lajes aligeiradas e estrutura reticulada composta por vigas e pilares.

Com base neste critério, deve-se olhar para a planta de arquitectura e esboçar os alinhamentos
que vão permitir a realização de pórticos em cada uma das direcções. Neste ponto mais uma
vez a presença dos avançados deve ser encarada prioritariamente, já que este tipo de solução
arquitectónica induz péssimos comportamentos estruturais, que normalmente só podem ser
resolvidos ou pelo menos atenuados com uma solução estrutural adequada. Assim, no caso de
existirem avançados, os alinhamentos deverão ser definidos na direcção normal à fachada que
está avançada relativamente ao plano da estrutura. Ou seja, a consola deve ser resolvida com
vigas e não com lajes. Esta solução proporciona a utilização de elementos mais rígidos (vigas)
para atenuar as deformações em detrimento de elementos mais flexíveis (lajes) que são mais
deformáveis. Além disso a utilização de alinhamentos paralelos à fachada do avançado, induz
a utilização de vigas nessa direcção que ficariam no interior das divisões, o que acaba por
resultar numa má solução arquitectónica, que muitas vezes é resolvida com vigas embebidas,
que induzem um mau comportamento da fachada. Esta situação será novamente analisada
quando a planta estrutural do edifício estiver a ser definida nessa zona.

Na Figura 2.27 apresenta-se os alinhamentos onde poderão ser enquadrados pórticos e que
devem ser definidos ainda de uma forma provisória.

35
Estruturas de Edifícios

Figura 2.27 – Alinhamentos dos pórticos nas duas direcções

A intersecção desses alinhamentos serão posições possíveis de pilares a implantar. Da


consulta da Figura 2.27 pode-se verificar que há vários ajustes a fazer a alguns alinhamento
para evitarmos pilares em zonas comuns e vigas a atravessar divisões. Portanto pode-se
começar por fazer alguns ajustes aos alinhamentos, como se apresenta na Figura 2.28. Neste
momento começa-se já a definir a zona do avançado, eliminando o alinhamento horizontal
nessa zona.

Figura 2.28 – Correcção de alguns alinhamentos dos pórticos nas duas direcções

36
Estruturas de Edifícios

O passo seguinte seria a introdução de mais alguns pilares de modo a ser possível o esboço de
alguns pórticos nas duas direcções que comecem a definir a malha estrutural. Na Figura 2.29
apresenta-se essa planta.

Figura 2.29 – Implantação de mais alguns pilares nos alinhamentos dos pórticos nas duas
direcções

Neste momento é fundamental começar a verificar o que se passa nos outros andares. Neste
exemplo merece referência especial os andares superiores, já que existe um recuado no 4º e 5º
piso, que poderá obrigar a um alinhamento de pilares na fachada desse recuado, sendo
importante analisar se algum dos alinhamentos esboçados serve para o efeito, ou se terá de ser
criado outro. Por outro lado deve-se verificar a implantação dos pilares na cave, já que as
vagas de garagem são elementos importantes a ter em conta no projecto estrutural. Muitas
vezes um pilar mal colocado pode pôr em causa vários lugares de garagem, ou mesmo a
circulação automóvel.

Apresentam-se nas Figuras 2.30 e 2.31 a sobreposição da planta de implantação dos pilares
com a planta de arquitectura dos andares superiores, 4º e 5º e com a planta de arquitectura da
cave.

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Estruturas de Edifícios

Figura 2.30 – Sobreposição da planta com a implantação dos pilares com a planta de
arquitectura dos andares 4º e 5º

Figura 2.31 – Sobreposição da planta com a implantação dos pilares com a planta de
arquitectura da cave

Como se pode reparar a planta estrutural que estava a ser definida enferma de vários
problemas, de difícil resolução, já que quase todos os pilares centrais, aparecem nos andares
superiores em locais nada aconselháveis e por outro lado a fachada exterior do prédio, não

38
Estruturas de Edifícios

fica apoiada num pórtico mas sim a meio vão da laje, o que não é recomendável. Na cave, ao
nível das garagens os problemas são menores, com excepção de dois pilares que condicionam
o acesso às vigas situadas a seguir à caixa de elevador.

A fachada do prédio deverá apoiar num pórtico, pelo que os dois pórticos previstos para
realizarem o avançado deveriam ser substituídos por um que cumpre a mesma função e além
disso resolva também o avançado. A concordância entre os pisos é complicada e passaria por
procurar uma solução que satisfaça aos dois. Assim, deveriam ser dispensados alguns dos
pilares centrais e deslocados outros de modo a ajustar-se aos dois pisos. Na figura 2.32
apresenta-se uma nova planta com os ajustes referidos.

Figura 2.32 – Planta com ajustes em função dos pisos superiores

Na planta representada na Figura 2.32 ajustou-se o alinhamento entre os pilares P7 e P8, para
evitar que a viga aparecesse à vista no quarto e aproveitar o facto de a parede que fica nesse
alinhamento ser uma parede de 0.20m de espessura, o que permite esconder a viga, já que
neste caso se deve fazer a largura da viga igual à espessura da parede. Ajustou-se o
alinhamento entre os pilares P18 e P21 de modo a que este pórtico possa suportar a parede da
fachada exterior dos pisos de cima; o pilar P14 foi deslocado para o alinhamento da parede e
ajustou-se o pilar P15. Apresenta-se nas Figuras 2.33 a 2.36 esta planta estrutural sobreposta
às plantas de arquitectura, para se analisar outros eventuais problemas.

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Estruturas de Edifícios

Figura 2.33 – Planta estrutural sobreposta à planta de arquitectura da cave

Figura 2.34– Planta estrutural sobreposta à planta de arquitectura do rés do chão

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Estruturas de Edifícios

Figura 2.35 – Planta estrutural sobreposta à planta de arquitectura do 1º ao 3º andar

Figura 2.36 – Planta estrutural sobreposta à planta de arquitectura do 4º e 5º andar

Da análise das plantas pode-se concluir que deveriam ser efectuados os seguintes ajustes:

• P22 pode ficar na posição definida pelo arquitecto. Equilibra o vão da viga no pórtico
P18 – P25;

• P20 deve ser deslocado na direcção do P21, para ficar na parede da sala e melhorar a
entrada na vaga de garagem na cave;

41
Estruturas de Edifícios

• P19 deveria ser puxado na direcção do P18 para não inviabilizar a vaga de garagem.
Ao mesmo tempo na planta do 4º e 5º andar resolve o problema da janela. No entanto
na planta do 1º ao 3º andar esta solução origina que o pilar fique situado na divisória
entre a cozinha e a marquise, a meio das divisões o que poderá dar origem a algumas
objecções por parte do arquitecto. Esta solução, que teria de ser avalizada pelo
arquitecto, levanta outro problema de difícil solução, que é a existência de uma viga
entre os pilares P19 e P20 a atravessar a sala nos apartamentos do 1º ao 3º andar;

• O pilar P16 levanta alguns problemas. Assim na planta do 4º e 5º andar fica em cima
de uma porta de um dos quartos. Esta poderia ser mudada, com a concordância do
arquitecto. Na cave deveria ser puxado na direcção do P17 para melhorar o acesso à
vaga da garagem;

• O pilar P15 deveria ser mudado no sentido contrário ao P14 para diminuir o vão da
viga embebida e para melhorar o acesso à vaga de garagem na planta da cave. No rés
do chão o pilar fica escondido na parede;

• O pilar P12 no rés do chão fica a meio da entrada principal. Ao ser puxado para um
dos lados, o vão da viga fica desequilibrado e normalmente estas vigas têm limitações
de altura devido às janelas, portas, caixa de estores e imposições arquitectónicas. Por
isso este pilar deveria ser substituído por outros dois convenientemente posicionados;

• O pilar P9 tem um problema parecido com o P12, a solução poderia ser semelhante,
mas a implantação de dois pilares no alinhamento dos que foram colocados do outro
lado, resolve a maior parte dos problemas referidos, mas inviabiliza o acesso às vagas
de garagem, já que fica no meio do corredor. Por isso optou-se por um só pilar, de
modo ao acesso ficar livre. Apesar de esta ser a melhor solução seria necessário mexer
a porta do estabelecimento do rés do chão;

• O pilar P25 deveria ser mudado para trás, no alinhamento do P24 . É conveniente que
em todos os pontos que há mudança de direcção a existência de um pilar. Neste caso
seria necessário dialogar com o arquitecto já que existe um pilar previsto no rés do
chão no lugar do P25. Em termos estruturais é preferível mexer no pilar.

Realizados os ajustes referidos apresenta-se a planta estrutural tipo, Figura 2.37 e a sua
sobreposição com as plantas de arquitectura, Figuras 2.38 a 2.41.

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Estruturas de Edifícios

Figura 2.37 – Planta estrutural tipo

Figura 2.38 – Planta estrutural sobreposta à planta de arquitectura da cave

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Estruturas de Edifícios

Figura 2.39 – Planta estrutural sobreposta à planta de arquitectura do rés do chão

Figura 2.40 – Planta estrutural sobreposta à planta de arquitectura do 1º ao 3º andar

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Estruturas de Edifícios

Figura 2.41 – Planta estrutural sobreposta à planta de arquitectura do 4º e 5º andar

Definida a planta estrutural tipo, seria necessário percorrer as plantas uma a uma para se ver
as adaptações necessárias em cada piso.

Como já se referiu a planta estrutural do 1º piso, correspondente à cobertura da cave é sempre


uma planta estrutural com a qual é preciso ter alguma atenção. Nesta planta não existem
varandas, nem corpos avançados. Por outro lado, como corresponde à cobertura da cave é
necessário prever a cobertura do resto da cave, até ao muro de suporte, já que no alinhamento
do P1 – P20 não existe junta de dilatação. Nestes casos é preciso ter presente que essa zona
irá pertencer ao domínio público, sendo necessário analisar o que está previsto ser colocado
na parte de cima dessa laje. Esta situação origina, habitualmente, que esta laje seja executada
a uma cota mais baixa, que o resto do piso. Este facto por outro lado tem como consequência
que as dimensões da viga do alinhamento P1 – P20 sejam condicionadas pelo desnível entre
os dois pisos.

A linha envolvente desta planta é muitas vezes um muro de suporte, que deverá ser assinalado
na planta.

A caixa de escadas é sempre a mesma em todos os pisos, situação que, como já se referiu, não
é habitual, estando muitas vezes a escada de acesso da garagem ao rés do chão situada fora da
caixa de escada de acesso do rés do chão aos andares.

Normalmente existe uma diferença de cotas (entre 30 a 50 cm) correspondente à diferença de


pé direito do rés do chão para os andares, que tem de ser vencida fora da caixa de escadas.
Muitas vezes a arquitectura resolve este problema, colocando a zona da entrada à mesma cota

45
Estruturas de Edifícios

que os pisos do lado (que é o caso presente, a zona mais alta localiza-se no patamar entre a
caixa de escadas e o elevador), mas outras vezes tal não se verifica, sendo necessário na
planta estrutural criar apoios (através de vigas ou até de pilares) no alinhamento das paredes
da entrada para realizar esse desnível.

2.7 – Considerações sobre a durabilidade das estruturas


no projecto
Deve reconhecer-ser que há, normalmente, uma grande preocupação com o cálculo da
estrutura do edifício e não se vê essa mesma preocupação com a concepção e a execução, as
quais conduzem a que muitas estruturas tenham uma vida útil bastante mais curta que a
teoricamente prevista.

Uma boa exposição, ainda que breve, dos aspectos da durabilidade relacionados com o
projecot, está contida no Model Code C.E.B.-F.I.P.90. Uma informação mais detalhada pode
ser obtida no Boletim de Informação nº 182 do C.E.B., para além de outros autores que se
têm dedicado a esse tema (ACI, 1975; CEB, 1989).

No Model Code C.E.B.90 são salientados os requisitos básicos do projecto a respeitar no que
se refere à durabilidade: “As estruturas de betão armado, devem ser projectadas, construídas e
utilizadas, de tal maneira que, debaixo da influência do meio ambiente previsto, mantenha as
suas condições de segurança, serviço e aparência aceitáveis durante um período de tempo
explícito ou implícito, sem requerer custos anormalmente altos de manutenção e reparação.”

Como é evidente, para que estes requisitos sejam postos em prática é indispensável que os
vários intervenientes no processo de construção tenham um papel importante. Assim é
necessário:

• o proprietário definir o uso do edifício assim como o período de vida útil que deseja
para o mesmo;

• o projectista executar um projecto que tenha em atenção todos os problemas


relacionados com a durabilidade da estrutura evitando-os. Por outro lado, exigir nos
diversos elementos do projecto, o controlo dos materiais usados;

• o construtor civil deve respeitar todas as disposições de projecto e usar materiais de


qualidade na construção;

46
Estruturas de Edifícios

• a fiscalização deve controlar a construção alertando para problemas que possam surgir
na obra, muitas vezes por má interpretação do projecto por parte do construtor ou por
falta de elementos de projecto;

• finalmente, os utilizadores do edifício são responsáveis, não somente pelo uso do


edifício mas também pela sua manutenção e reparação ao longo da sua vida útil.

Em geral, o respeito pelas especificações e regulamentações nacionais, Regulamento de


Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes, que daqui em diante será
designado por RSA, (RSA, 1983) e o Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré –
Esforçado, que será designado por REBAP (REBAP, 1984), conduzem a uma vida útil do
edifício acima do 50 anos. O Eurocódigo 1, EC1 e o Eurocódigo 2, EC2 embora não refira
directamente este valor, baseia-se nas mesmas considerações. O EC8 introduz um coeficiente
de importância (0,8; 1; 1,2 e 1,4) que pretende ter em conta o encurtar desse período de vida
útil (0,8) ou o seu prolongamento (1,2 e 1,4) para estruturas especiais ou que devam ficar
operacionais na ocorrência de um sismo de grande intensidade.

Como é evidente, a vida útil de um edifício está relacionada com o desejo do proprietário, que
pode exigir uma vida útil maior ou menor. Por outro lado, há estruturas que para as quais é
preciso prever uma vida útil superior aos 50 anos (barragens, pontes, hospitais, etc.) e outras
para as quais deveria ser previsto um período inferior (armazéns, obras provisórias, etc.).
Nestes casos as acções previstas no RSA não são aplicáveis.

Os principais elementos relacionados com a durabilidade são os relativos às combinações de


transporte de calor, humidade e substâncias químicas, tanto no interior do betão como no
intercâmbio com o ambiente em que está situada a estrutura. A humidade, deixando de parte a
deterioração do tipo mecânico, é o factor mais importante a controlar. A estrutura deve ser
projectada tendo em conta o ambiente e o nível de exposição em que está situada, mas
também deve considerar-se a existência de micro-climas que podem diferir completamente do
meio ambiente habitual. Algumas zonas da estruturas podem ter níveis de humidade
consideravelmente mais altos que os outros. Em geral e dado que o betão absorve água com
muita mais facilidade que a elimina por secagem, o conteúdo de humidade no betão pode ser
bastante mais alto que a humidade relativa ambiental.

A própria disposição da superfície dos elementos de betão, horizontais ou verticais,


conduzem a diferenças quanto aos problemas causados pela humidade. Por outro lado, a
orientação geográfica de determinadas zonas da estrutura podem fazer, que dentro da mesma,
se originem zonas muito mais degradadas que outras. Há situações, de avançados (com cerca
de 1,20m de consola) virados a sul, que todos os anos se pode extrair “pipas” de água do
interior dos apartamentos nessa prumada dos edifícios. Como se referiu anteriormente,

47
Estruturas de Edifícios

avançados, com paredes exteriores suportadas por lajes em consola, relativamente esbeltas (±
15cm), que são resolvidas com grandes quantidades de armadura (ex: φ20//0.10) dá origem a
problemas futuros na construção que além de ser uma fonte de preocupações, são um factor a
afectar a durabilidade do edifício.

Outro factor que influencia a agressividade ambiental é a temperatura. Um incremento de


10ºC na temperatura implica que a velocidade de reacção química passe para o dobro
(Calavera,1990). Um critério importante relacionado com a durablidade, onde muitas vezes o
engenheiro desempenha um pequeno papel, tem a ver com a escolha da forma estrutural. O
projectista deve examinar com rigor se a complexidade das formas estruturais está justificada
com o meio ambiente em que está colocada a estrutura. As formas complexas aumentam a
possibilidade de danos estruturais, afectando por conseguinte a durabilidade. Um princípio
fundamental é que todas as superfícies de betão devem ter prevista uma eliminação fácil da
água depositada.

Um dos problemas que se nota na construção civil, nomeadamente na construção de edifícios,


é a falta de qualidade dos materiais, associada a uma mão-de-obra cada vez com pior
qualidade. O gosto por construir com qualidade, que se notava nos pedreiros, trolhas,
carpinteiros, etc., foi desaparecendo e a tendência de se executar as obras a “metro” piorou a
qualidade da construção. Mesmo os grandes construtores, entregam as obras a
sub-empreiteiros, não garantindo assim a qualidade que lhes era habitual.

A qualidade dos materiais também tem piorado. Obter em obra um betão de qualidade
(muitas vezes um C20/25), é uma tarefa difícil nos dias correntes. A areia usada em obra é
normalmente muito suja, outras vezes é oriunda de pedreiras, saibrosas e não lavadas. A água
é uma mistura de vários produtos químicos e orgânicos com uma composição muito variada.
A sua quantidade é normalmente acima da recomendável (A/C=0,4). A própria qualidade do
cimento tem sido posta em causa em algumas obras, para além da tendência de se usar cada
vez menos quantidade de cimento por metro cúbico (de 1930 a 1980 houve um decréscimo de
30%) dado que, teoricamente, a qualidade do betão melhorou, (Calavera,1990).

A durabilidade de uma estrutura pode ser melhorada respeitando-se algumas regras


tradicionais:

• suficiente quantidade de cimento;

• baixa relação água/cimento;

• recobrimentos adequados;

• emprego de separadores nas armaduras;

48
Estruturas de Edifícios

• cura correcta e suficiente da estrutura.

O projectista deve ter sempre presente que os detalhes construtivos além de serem
importantes para o funcionamento dos diversos elementos estruturais, e de fazerem parte da
boa norma construtiva, são importantes para a durabilidade da estrutura. A colocação correcta
da armadura em obra, associada a um betão de qualidade, permite que o betão rodeie
completamente a armadura e a proteja de uma forma compacta se esta tiver sido
correctamente colocada.

Por outro lado, a verificação da quantidade mínima de armadura em alguns elementos,


eventualmente não estruturais, é importante ser verificada. A garantia de armaduras mínimas
dispostas por considerações de retracção e variações de temperatura, como garantia do
controlo das fissuras, é importante para a durabilidade. As platibandas são elementos em que
é fundamental atender a estas questões pois infelizmente na grande maioria dos casos
fendilham e trazem problemas estéticos e estruturais ao edifício.

Em casos especiais, deverão ser usadas soluções especiais para garantir a durabilidade do
edifício.

49
Estruturas de Edifícios

50
Estruturas de Edifícios

CAPÍTULO III

CRITÉRIOS GERAIS DE VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA

3.1 - Introdução
O RSA especifica os critérios gerais que devem ser respeitados na verificação da segurança
das estruturas, independentemente da natureza dos materiais que as constituem a partir da
classificação e quantificação dos diferentes tipos de acções que interessam ao
dimensionamento das estruturas de edifícios e pontes e das regras de combinação dessas
mesmas acções,.

A verificação da segurança é feita em termos de estados limites, isto é, estados a partir dos
quais se considera que a estrutura fica total ou parcialmente prejudicada na sua aptidão para
desempenhar as funções para que foi projectada.

A diferenciação entre os tipos de estados limites que correntemente se consideram é feita,


fundamentalmente, tendo em conta a magnitude dos prejuízos que a sua ocorrência pode
implicar. Assim distinguem-se dois tipos de estados limites:

Estados limites últimos - de cuja ocorrência resultam prejuízos muito severos.

Estados limites de utilização - de cuja ocorrência resultam prejuízos pouco severos.

Dependendo do tipo de estrutura e da sua finalidade, compreende-se que um mesmo estado de


comportamento estrutural possa corresponder nuns casos a um estado limite último, por
provocar elevados prejuízos, e noutros, apenas a um estado limite de utilização.

Nos estados limites últimos, a simples ocorrência desse estado de comportamento estrutural
constitui uma situação limite, independentemente da sua duração; em contrapartida, os
estados limites de utilização estão em geral associados a uma determinada permanência, isto
é, um determinado estado de comportamento só constituirá situação limite caso se mantenha
instalado durante um certo tempo mínimo (ou a repetição da sua ocorrência ultrapasse
determinados limites).

Por isso que, para este último tipo de estados limites, são definidas diversas durações de
referência, em geral, de três ordens de grandeza:

- muito curta duração;

- curta duração;

51
Estruturas de Edifícios

- longa duração.

correspondendo a primeira a durações que totalizam poucas horas no período de vida da


estrutura e a segunda e terceira a durações que totalizam, respectivamente, cerca de 5% e 50%
desse período de referência. Esta duração ou permanência do estado limite reflectir-se-á
naturalmente, na definição das intensidades com que as acções variáveis no tempo devem ser
consideradas na verificação da segurança em relação aos estados limites de utilização
(Castanheta, 1985).

O REBAP define os seguintes estados limites:

Estados limites últimos:

- de resistência: correspondentes à rotura ou deformação excessiva em secções dos


elementos da estrutura;

- de encurvadura: relativos à instabilidade de elementos da estrutura ou da estrutura no


seu conjunto;

- de equilíbrio: correspondentes à perda de equilíbrio de parte ou do conjunto da


estrutura considerada como um corpo rígido.

Estados limites de utilização

- de deformação: correspondentes à ocorrência de níveis de deformação que prejudicam


o desempenho das funções atribuídas à estrutura;

- de fendilhação: relativos quer à descompressão (anulamento da tensão normal de


compressão numa fibra especificada da secção), quer à largura de fendas (ocorrência de
fendas com largura superior a dados limites) quer eventualmente, à formação de fendas.

Estes estados podem ser resumidos em quadros, Quadro 3.1.

52
Estruturas de Edifícios

Quadro 3.1 - Estados limites de fendilhação - armaduras ordinárias

Ambiente Combinações de acções Estado limite

pouco agressivo frequente largura das fendas: w = 0.3mm

moderadamente agressivo frequente largura das fendas: w = 0.2mm

muito agressivo raras largura das fendas: w = 0.1mm

3.2 – Acções a considerar no projecto de edifícios

Os edifícios são actuados por diversas acções simultâneas, mas que actuam continuamente e
outras de forma descontínua. Por isso, tendo em conta a sua variação no espaço (fixas ou
móveis), o seu modo de actuação (estáticas ou dinâmicas) ou as suas características de
variação no tempo, sendo este último tipo de classificação aquele que é definido no RSA.

Visando a aplicação de regras de combinação que, embora de uma forma simplificada,


permitem considerar de modo suficientemente adequado a possibilidade de ocorrência
simultânea de diversas acções, o RSA classifica as acções, tendo em conta a sua variabilidade
no tempo, nos tipos fundamentais seguintes.

3.2.1 – Acções permanentes

São consideradas como permanentes as acções que actuam durante a quase totalidade do
período de vida da estrutura com um valor constante ou praticamente constante, assumindo
pequenas variações em torno do seu valor médio. Estão neste caso os pesos dos diversos
elementos estruturais e, em geral, os de outros elementos não estruturais, os pesos dos
equipamentos fixos, os impulsos de terras, certos casos de pressões hidrostáticas, os
pré-esforços e os efeitos da retracção do betão e dos assentamentos de apoios.

3.2.2 – Acções variáveis

As acções variáveis são aquelas que assumem valores com variação significativa em torno do
seu valor médio durante a vida da estrutura. Estão neste caso as sobrecargas de utilização,
acções da neve, vento, sismos, das variações de temperatura e, em geral, as pressões
hidrostáticas.

As acções de acidente consideram-se aquelas cuja probabilidade de ocorrência é


extremamente reduzida durante o período de vida da estrutura e cuja quantificação apenas

53
Estruturas de Edifícios

pode, em geral, ser feita por meio de valores nominais estrategicamente escolhidos.
Consideram-se como acções de acidente as que resultam de causas tais como explosões,
choques de veículos e incêndios.

Um aspecto fundamental que permite destrinçar as acções variáveis das de acidente reside no
julgamento dos respectivos níveis de probabilidade de ocorrência, com intensidades
significativas, durante a vida de estruturas: às primeiras corresponderão probabilidades muito
próximas da unidade, isto é, a sua ocorrência no período referido é praticamente certa; às
segundas estão associadas probabilidades de ocorrência muito próximas de zero, isto é, será
extremamente improvável que actuem durante a vida da estrutura.

Isto justifica que a acção sísmica deva, em princípio, ser classificada como acção variável em
regiões de alta ou média sismicidade, podendo ser considerada como de acidente em regiões
em que a sismicidade seja extremamente reduzida.

Como é evidente, sempre que uma acção variável tenha alguma parcela que se possa manter
constante, durante o período de vida da estrutura, tal parcela poderá ser tratada como uma
acção permanente.

Se por outro lado, houver dúvidas, quanto à classificação da acção, entre acção permanente e
variável, ela deve ser classificada na forma que traz efeitos mais desfavoráveis para a
estrutura.

3.3 – Quantificação das acções

3.3.1 - Introdução

Com a quantificação das acções, pretende-se definir e quantificar determinados valores


particulares das acções (em geral, os valores ditos característicos), com vista,
fundamentalmente, à verificação da segurança num quadro de verificação dito de nível I, que
é ainda o mais correntemente adoptado.

Exceptuando as acções cuja variabilidade não é susceptível de ser adequadamente traduzida


por distribuições de probabilidade, e que por isso são quantificadas por valores nominais
estrategicamente escolhidos, as acções são, em geral, quantificadas por valores característicos
e, no caso de acções variáveis, também por valores reduzidos que se obtêm dos característicos
multiplicando-os por coeficientes ψ; em alguns casos utilizam-se também valores médios.

54
Estruturas de Edifícios

O valor característico de uma acção, Xk, é definido como sendo a intensidade da acção
correspondente ao quantilho de 0.95 da sua distribuição de probabilidade (ou ao quantilho
complementar, 0.05, dito valor característico inferior, no caso de acções com efeitos
favoráveis).

3.3.2 – Acções permanentes

Tratando-se de acções permanentes, isto é, que não apresentam significativa variabilidade no


tempo, as distribuições de probabilidade a considerar são as que traduzem a sua variabilidade
num conjunto de estruturas análogas.

Nos casos correntes estas acções apresentam pequena variabilidade podendo, em geral, os
valores característicos, Gk, serem identificados com os respectivos valores médios, Gm.

Quadro 3.2 - Coeficientes γf de segurança das acções

Estados Coeficientes de força

Acções permanentes:

- no caso de a acção permanente

ter efeito desfavorável γg = 1.5

Limites últimos - quando as acções possam ser

previstas com muito rigor γg = 1.35

- no caso de a acção permanente

ter efeito favorável γg = 1.5

Limites de utilização γg = 1.0

As acções permanentes devem figurar em todas as combinações e ser tomadas com os seus
valores característicos superiores ou inferiores, conforme for mais desfavorável; as acções
variáveis apenas devem figurar nas combinações quando os seus efeitos forem desfavoráveis
para a estrutura.

A quantificação destas acções pode ser efectuada a partir dos pesos específicos médios,
apresentam-se nos quadros seguintes os valores desses pesos para diferentes materiais que
interessam à construção. Estes quadros foram obtidos por cópia directa das Tabelas Técnicas
(Farinha, 1988).

55
Estruturas de Edifícios

Quadro 3.3 - Pesos específicos médios de materiais que interessam à construção


Pesos (kN/m3) Pesos (kN/m3)
Materiais Materiais
limites a adoptar limites a adoptar

I - Aglutinantes IV - Betões e betonilhas


cal hidráulica ............................................ 6-9 7 betão armado ou pré-esforçado .............. --- 25
cal viva em pedra ..................................... --- 8.5 betão asfáltico ........................................ 18-20 19
cal viva em pó .......................................... 3-5 5 betão corrente ........................................ 20-24 24
cal apagada em pó .................................... 5-7 6 betão de calcário sem areia .................... 16-19 18
cal em pasta .............................................. --- 13 betão de escórias de altos fornos ............ 18-24 22
cimento aluminoso ................................... 10-12 11 betão de jorra (escória de carvão) .......... 12-19 16
cimento branco ......................................... --- 11 betão de pedras pomes ........................... 9-14 11
cimento de escórias .................................. 8.5-9.5 9 betão de pedra pomes sem areia ............ 7-12 10
cimento de presa rápida ............................ 7-10 9 betão de tijolo britado ............................ 15-20 18
cimento portland artificial ........................ 9-14 12 betão poroso .......................................... 3-13 ---
gesso ......................................................... 9-15 13 betonilha ................................................ --- 20
pozolana ................................................... --- 10

II - Argamassas V - Britas, inertes, pedras naturais


argamassa alfáltica ................................... --- 17 ardósia ................................................... 25-28 27
argamassa de cal hidráulica ...................... --- 18 areia ....................................................... 11-18 16
argamassa de cal ordinária ....................... 16.5-18 17 areia húmida .......................................... 11-19 18
argamassa bastarda (cal e cimento) .......... 18-20 19 agregado para betão ............................... 16-20 18
argamassa de cimento .............................. 20-22 21 basalto ................................................... 27-33 3.0
argamassa de gesso ................................... 9-15 12 basalto britado ....................................... --- 16.5
brita ....................................................... 13-16 15
III - Alvenaria e cantarias calhau rolado ......................................... 14-19 17
alvenaria de adobe calcário compacto .................................. 25-27 26
(tijolo cru, seco ao sol) ........................... --- 17 calcário poroso ...................................... 18-24 22
alvenaria de tijolo furado vulgar ............... 13.5-15.5 14.5 diorite, gabro ......................................... --- 30
alvenaria de tijolo furado leve .................. --- 12 gneiss, granito ........................................ 24-28 26
alvenaria de tijolo maciço leve ................. --- 16 grês ........................................................ 20-26 24
alvenaria de tijolo maciço pesado ............. --- 18 mármore ................................................ 26-28 27
alvenaria de blocos furados de betão leves 10-13 13 pedra-pomes .......................................... 4-9 8
alvenaria de blocos de betão pesados ....... --- 16 pórfiro .................................................... 24-28 26
alvenaria de blocos furados de betão de quartzite ................................................. --- 27
jorra .......................................................... --- 7.5 sienite .................................................... 24-28 26
alvenaria de blocos maciços de betão de xisto ....................................................... 25-28 27
jorra .......................................................... --- 14
alvenaria seca de basalto .......................... --- 27
alvenaria de basalto .................................. --- 28 VI - Combustíveis e óleo
alvenaria seca de calcário ......................... --- 23 antracite ................................................. 7.5-9.5 8.5
alvenaria seca de calcário duro ................. --- 25 briquetes de carvão ................................ 7.5-12.5 10
alvenaria seca de granito .......................... --- 24 carvão de madeira .................................. 3.3-4.2 4
alvenaria de granito, gneiss, sienite ou carvão de pedra (hulha) ......................... 8.0-9.5 9
pórfiro ...................................................... 26-27 26 coque metalúrgico ................................. 3.0-5.3 5
alvenaria de taipa ..................................... --- 19 coque de gás .......................................... 3.5-4.7 4.5
cataria ou silharia de basalto .................... 27-33 30 fuel-oil ................................................... 8.2-9.5 8.8
cantaria de calcário ................................... 25-27 27 gasóleo ................................................... 8.6-8.9 8.8
cantaria de granito .................................... 24-28 28 gasolina ................................................. 6.7-7.4 6.7
cantaria de mármore ................................. 25-28 27

56
Estruturas de Edifícios

Quadro 3.4 - Pesos específicos médios de materiais que interessam à construção


Pesos (kN/m3) Pesos (kN/m3)
Materiais Materiais
limites a adoptar limites a adoptar

lenha em toros .......................................... --- 4.5 VIII - Metais


lenha partida ............................................. --- 2.0 aço de construção .................................. --- 7.7
lenhite ....................................................... 7.0-8.0 7.5 alumínio fundido ................................... --- 25.6
óleo de lubrificação .................................. 8.8-9.4 9.0 alumínio martelado ................................ --- 27.5
óleo de baleia e de bacalhau ..................... --- 9.3 alumínio puro ........................................ --- 27
óleo de cachalote ...................................... --- 8.8 alumínio em ligas .................................. --- 28
petróleo ..................................................... 7.9-8.2 8.0 bronze .................................................... 75-86 86
turfa .......................................................... 3.3-9 6.0 cobre electrolítico .................................. 89-89.5 89
cobre fundido ......................................... 86-89 88
VII - Madeiras cobre laminado ...................................... 88-90 8.9
A - Resinosas cobre martelado ..................................... 89-90 8.9
casquinha ................................................. 4.5-5.5 5.0 chumbo .................................................. 113-114 114
cipreste do Buçaco (cedro) ....................... 5.0-6.0 5.5 chumbo líquido ...................................... --- 106
criptoméria ............................................... 2.5-3.0 2.7 duralumínio ........................................... 26.5-28.5 ---
pinho ........................................................ 5.0-7.0 6.0 estanho fundido ..................................... --- 72
pinho manso ............................................. 5.0-6.0 5.5 estanho laminado ................................... 72-75 74
- pitespaine (Pitch-pine) ........................... 5.0-7.0 6.0 ferro em arame ....................................... --- 78
ferro puro ............................................... --- 78.7
B - Folhosas ferro fundido .......................................... --- 75
Europeias latão ....................................................... 84-87 86
acácia ....................................................... 5.5-6.5 6.0 lingotes de ferro (gusa) branco .............. 70-78 75
azinho ....................................................... 8.0-9.5 8.7 lingotes de ferro (gusa) cinzento ............ 67-77 72
carvalho .................................................... 6.0-9.0 7.5 mercúrio ................................................ --- 136
castanho ................................................... 5.5-7.0 6.0 zinco fundido ......................................... 68-70 69
choupo ...................................................... 4.0-5.8 5.0 zinco laminado ...................................... 71-72 72
eucalipto ................................................... 7.0-8.5 8.0 zinco martelado ..................................... 70-72 71
faia ........................................................... 6.6-8.0 7.3
freixo ........................................................ 6.5-8.8 7.6 IX - Produtos agrícolas
nogueira .................................................... 6.0-7.5 6.5 algodão em fardos .................................. --- 13.0
plátano ...................................................... 6.5-8.0 7.0 aveia ...................................................... --- 5.5
sobro ......................................................... 8.0-9.5 8.7 azeite ..................................................... 9.1-9.3 9.2
ulmo ......................................................... 7.0-8.0 7.5 batatas .................................................... --- 7.5
Africanas café ........................................................ --- 7.0
bissilom .................................................... 7.5-8.5 8.0 cânhamo ................................................ --- 15.0
câmbala .................................................... 6.5-7.5 7.0 cevada .................................................... 6-7 6.9
limba ........................................................ 5.0-6.5 5.7 cenouras, nabos, beterrabas ................... --- 6.5
teca ........................................................... 6.5-7.5 7.0 centeio ................................................... 7-8 7.5
tola ........................................................... 4.5-5.5 5.0 cortiça .................................................... 1-3.5 2.4
umbila ...................................................... 4.7-7.4 6.4 farinha em sacos .................................... --- 5.0
undianuno ................................................ 5.0-6.0 5.5 forragens ................................................ --- 3.5
Brasileiras fruta ....................................................... --- 3.5
andirova ................................................... 6.5-8.0 7.2 lã em fardos ........................................... --- 13.0
freijó ......................................................... 5.9-6.5 6.2 linho ...................................................... --- 15.0
macacaúba ................................................ 8.0-10.0 9.5 milho ..................................................... 7-7.5 7.5
peroba rosa ............................................... 6.6-8.7 7.6 óleo de cereais ....................................... --- 9.2
sicupira ..................................................... 8.9-10.6 9.7 óleo de coco ........................................... --- 9.3
óleo de palma ......................................... --- 9.1
óleo de soja ............................................ 9.3-9.8 9.5

57
Estruturas de Edifícios

Quadro 3.5 - Pesos específicos médios de materiais que interessam à construção


Pesos (kN/m3) Pesos (kN/m3)
Materiais Materiais
limites a adoptar limites a adoptar

palha em fardos ........................................ --- 2.8 nitrato de sódio ...................................... 10.7-13.5 12.0
resinas ...................................................... --- 10.7 nitrato de potássio .................................. --- 11.0
tabaco ....................................................... --- 3.5 óleo de lubrificação ............................... 9-9.3 9.2
trigo .......................................................... 7-8.5 7.0 papel ...................................................... 7-11.5 11
vinagre ...................................................... --- 10.1 pó de pedra ............................................ 13-15 15
vinho ........................................................ --- 9.6 pólvora ................................................... --- 9
porcelana ............................................... 23-25 24
X - Produtos diversos sabão ...................................................... --- 9.8
açúcar ....................................................... --- 7.5 sal .......................................................... --- 12.5
aglomerado de cortiça .............................. 1.3-1.5 1.4 sarradura de madeira ............................. 1.0-2.2 2.0
aglomerado de fibra de madeira com sulfato de amónio .................................. --- 9.5
cimento ..................................................... 4.5-6.5 6.5 sulfato de cobre ..................................... --- 22.7
água de esgotos ........................................ --- 10.60 sulfato de potássio ................................. --- 12.8
água destilada ........................................... --- 10.00 super-fosfato .......................................... 10-12 11.0
água do mar .............................................. --- 10.30 vidro em chapa ...................................... 24-27 25
água potável ............................................. --- 10.05
aguarrás .................................................... --- 8.06 XI - Solos
aguardente ................................................ --- 9.5 areão seco .............................................. 13-15 15
alcatrão de hulha ...................................... 11-12 11.5 areão húmido ......................................... 14-16 16
álcool ........................................................ --- 8.0 areão molhado ....................................... 15-17 17
amianto ..................................................... 21-28 --- areia seca ............................................... --- 16
aparas de madeira, apertadas .................... 1-1.4 1.3 areia húmida .......................................... --- 18
asfalto ....................................................... 12.5-14 12.5 areia encharcada .................................... --- 20
azulejos .................................................... 15-16.5 16 argila seca .............................................. 15-17 16
betume ...................................................... 11-15 13 argila húmida ......................................... 15-18 18
borracha ................................................... --- 18 argila molhada ....................................... 16.5-20 19
cerveja ...................................................... 10.2-10.4 10.3 argila magra, arenosa ............................. --- 18
cinzas ....................................................... 5.6-6.2 --- burgau seco ............................................ --- 15
coiro ......................................................... 8.5-10 --- burgau húmido ...................................... --- 16
detritos de obras ....................................... --- 14 calhau anguloso ..................................... --- 17
diatomite em pó ........................................ --- 7.7 calhau rolado ......................................... --- 18
diatomite .................................................. --- 13 pedra partida seca .................................. --- 18
enxofre ..................................................... --- 27 pedra partida húmida ............................. --- 16
escórias e cinzas de coque ........................ 6-8.5 7 terra arenosa seca ................................... --- 17
escórias de carvão (jorra) ......................... 7-10 10 terra arenosa húmida ............................. --- 17.5
escórias de altos fornos, fragmentadas ..... 12-17 15 terra argilosa seca .................................. --- 16
escórias de altos fornos, granuladas ......... 5-14 10 terra argilosa húmida ............................. --- 18
fibrocimento ............................................. 17-21 19 terra argilosa molhada ........................... --- 20
gelo ........................................................... 8-9.2 9.2 terras fortes (argilas misturadas com
glicerina .................................................... --- 13.0 areia e burgau) secas .............................. 16-18 17
guano ........................................................ 8.5-11.0 10 terras fortes (argilas misturadas com
lã de vidro ................................................ 0.6-1.6 1.2 areia e burgau) húmidas ........................ 17-19 18
lã animal ................................................... --- 13 terras fortes (argilas misturadas com
leite ........................................................... 10.1-10.3 10.3 areia e burgau) molhadas ....................... 18-20 19
linóleo ...................................................... 11-13 12 terra vegetal seca ................................... 14-16 15
macadame ................................................ 24-27 25 terra vegetal húmida .............................. 15-17 16
mel ........................................................... --- 14.5 terra vegetal molhada ............................. 16-18 17
melaço ...................................................... 14-15 14.5 terrenos encharcados ou pantanosos ...... 11-14 ---
mosto ........................................................ --- 11.0
neve (recém-caída) ................................... 0.8-1.9 1.2

58
Estruturas de Edifícios

Quadro 3.6 - Peso de tabiques e paredes


Designação Peso g Designação Peso g
kN/m3 kN/m2
a) Materiais de construção
alvenaria de adobe ......................................................... 17.00 furado e maciço (alvenaria mista) a 1 vez 4.10
alvenaria de tijolo maciço pesado 18.00 ................ 4.75
.................................. 16.00 maciço a 1 vez ......................................................... 2.55
alvenaria de tijolo maciço leve ...................................... 14.00 maciço a 1/2 vez ...................................................... 1.90
alvenaria de tijolo furado vulgar .................................... 12.00 maciço a 1/4 vez (ao cutelo) ....................................
alvenaria de tijolo furado leve ....................................... 20.00
alvenaria de tijolo silicocalcário maciço 13.00 3 - Paredes de tijolo furado leve para enchimento de
........................ 16.00 painéis de estrutura incluindo argamassa de
alvenaria de blocos furados de betão, leves ................... 9.00 assentamento e reboco em ambas as faces 1.40
alvenaria de blocos furados de betão, pesados .............. 21.00 0.10m de espessura .................................................. 1.80
alvenaria de blocos de gesso furados ............................. 0.15m de espessura .................................................. 2.30
argamassa de cimento 0.18m de espessura .................................................. 2.60
.................................................... kN/m2 0.24m de espessura .................................................. 2.90
0.26m de espessura .................................................. 3.30
b) Elementos estruturais, incluindo rebocos 1.35 0.32m de espessura .................................................. 3.80
e estuque em ambas as faces 0.35m de espessura .................................................. 4.20
Tabiques diversos 0.40m de espessura ..................................................
tabique de madeira fasquiada ....................................... 1.00
tabiques de placas ou blocos de fibra de madeira 1.30 4 - Paredes de blocos furados de betão, incluindo
aglutinada por cimento ("omnille") tendo: 1.40 argamassa de assentamento e reboco em ambas as 1.85
- 0.09m de espessura com placas de 0.05m ................ faces 2.80
- 0.17m de espessura com blocos de 0.13m ............... de 0.14m com blocos furados .................................. 1.50
- 0.26m de espessura com blocos de 0.22m ............... 0.60 de 0.26m com blocos furados .................................. 1.80
tabique de 0.10m de espessura, de blocos de cortiça de 0.08m com blocos maciços ................................. 2.30
aglom. com gesso, incluindo estuque em ambas as 0.70 de 0.11m com blocos maciços ................................. 5.20
faces .............................................................................. de 0.14m com blocos maciços .................................
tabique de 0.08m de espessura com placas de gesso, 0.90 de 0.26m com blocos 1/2 maciços ........................... 4.30
incluindo reboco de 0.05m em ambas as faces .............. de 0.38m com blocos 1/2 maciços em fiadas
tabique de tijolo de vidro de 0.08m de espessura, alternadas com blocos furados .................................
incluindo argamassa de assentamento ........................... 1.00
3.75 5 - Grelhagens 2.50
2 - Paredes resistentes de tijolo pesado incluindo 2.10 de tijolo ....................................................................
argamassa de assentamento e reboco em ambas as 1.55 de betão ...................................................................
faces
furado a 1 vez (0.25m espessura) ............................... c) Elementos de revestimento, incluindo argamassa 0.55
furada a 1/2 vez (0.14m espessura) ......................... de assentamento 0.55
furada a 1/4 vez (ao cutelo, 0.10m espessura) ......... - azulejo cerâmico .................................................... 0.20
- azulejo hidráulico ..................................................
- marmorite de 0.08m de espessura .........................

59
Estruturas de Edifícios

Quadro 3.7 - Peso de pavimentos de habitações


Designação Peso g Designação Peso g
kN/m2 kN/m2

a) Elementos estruturais Pavimentos armados de vigotas ocas de fibrocimento


incluindo o betão de ligação das vigotas e excluindo
Solho de 0.022m sobre vigas de madeira afastadas a lajeta de compressão
0.35m a 0.40m eixo a eixo (para peso do ecto ver
quadro 4.2.3). 0.5 espessura 0.13m 1.20
Abobadilha de tijolo de 0.10-0.12m de espessura ....................................................... 1.45
apoiada em vigotas metálicas, incluindo argamassa de espessura 0.15m
ligação aos tijolos. Pavimentos armados de blocos .......................................................
cerâmicos(1) incluindo o betão de ligação dos blocos e
a lajeta de compressão. 2.1
b) Elementos de enchimento 0.16
espessura 0.08m ......................................................... 1.10 0.17
espessura 0.10m ......................................................... 1.45 areia, por cm de espessura .......................................... 0.21
espessura 0.12m ......................................................... 1.85 arg. de cal, por cm de espessura 0.25
espessura 0.15m ......................................................... 2.00 .................................. 0.07
espessura 0.18m ......................................................... 2.20 arg. de cimento, por cm de espessura ......................... 0.10
espessura 0.20m ......................................................... 2.60 betão, por cm de espessura .........................................
espessura 0.25m ......................................................... 3.00 escórias e cinzas de choque, por cm de espessura ......
espessura 0.30m ......................................................... 3.50 jorra, por cm de espessura ..........................................

Pavimentos de blocos leves(1), apoiados em vigotas 0.02


armadas pré-esforçadas, incluindo o betão de c) Elementos de revestimento e isolamento 0.18
enchimento 0.10
cortiça em placas, por cm de espessura ...................... 0.20
espessura 0.18m ......................................................... 1.80 borracha, por cm de espessura .................................... 0.50
espessura 0.25m ......................................................... 2.70 linóleo, por cm de espessura ....................................... 0.70
tacos de madeira assentes com cola asfáltica .............. 0.90
Pavimentos de blocos cerâmicos apoiados em vigotas tacos de madeira assentes com arg. e prego de fixação 1.10
ou "pranchas" pré-fabricadas e pré-esforçadas, ladrilho cerâmico, incl. argamassa de assentamento ...
incluindo o betão de enchimento ladrilho hidráulico, incluindo arg. de assentamento ... 1.20
ladrilho asfáltico, incluindo arg. de assentamento ...... 0.20
espessura 0.15m ......................................................... 2.30 revestimento de pedra serrada de 0.03m, incluindo
espessura 0.20m ......................................................... 3.00 argamassa de assentamento ........................................
espessura 0.22m ......................................................... 3.50 marmorite com 0.008m de espessura ..........................
espessura 0.25m ......................................................... 3.80
espessura 0.30m ......................................................... 4.20

(1) Os valores médios que se indicam variam consoante o tipo de pavimento e o fabricante, devendo consultar-se os
respectivos catálogos para cada caso particular dos tipos de mercado actual.

60
Estruturas de Edifícios

Quadro 3.8 - Pesos e dimensões de veículos automóveis


Veículos Dimensões (m) Peso (kN)
automóveis ligeiros comprimento ...................... 2.00 - 6.04 pequenos até 10

largura ................................. 1.44 - 1.82 médios, 10 - 16

altura ................................... 1.48 - 1.76 grandes, 16 - 20

Camiões comprimento ...................... 2.00 - 6.04 25 - 120

largura ................................. 1.44 - 1.82 com as cargas distribuídas pelas rodas da maneira
a seguir indicada
altura ................................... 1.48 - 1.76

Peso por roda Peso total


a b c d e f g dianteira traseira do veículo

4 1.5 1.5 0.75 1.2 0.08 0.14 3.0 4.5 15

5 2 3 1.0 1.4 0.08 0.18 5.0 7.5 25

6 2.5 3 1.5 1.6 0.08 0.18 7.5 22.5 60

6 2.5 3 1.5 1.6 0.12 0.24 15.0 30.0 90

6 2.5 3 1.5 1.6 0.12 0.24 20.0 40.0 120

Figura 3.1 - Indicações gerais sobre veículos.

61
Estruturas de Edifícios

Quadro 3.9 - Peso de coberturas de edifícios


Designação Peso g Designação Peso g
kN/m2 kN/m2

I - Coberturas inclinadas − cobertura de chapa de fibrocimento incluindo


1 - Estruturas de madeira madres ..................................................................... 0.35
− cobertura de chapa ondulada de ferro zincado sobre
ripas ............................................................................... 0.03-0.10 madres de madeira, incluindo estas ......................... 0.20
varas .............................................................................. 0.10-0.15 − cobertura de chapa ondulada de ferro zincado sobre
madres e elementos de contraventamento 0.10-0.20 madres metálicas, incluindo estas ........................... 0.25
...................... 0.15-0.20 − cobertura de chapa ondulada de ferro zincado sobre
asnas, até 10m de vão .................................................... 0.20-0.40 guarda-pó, incluindo varas ...................................... 0.40
asnas, de 10 a 18m de vão ............................................. − clarabóias com estrutura metálica incluída e vidro
de 5mm de espessura ............................................... 0.30
2 - Estruturas metálicas − idem com vidro de 6mm .......................................... 0.35
0.10
ripas ............................................................................... 0.10-0.12 II - Forro de tectos
varas .............................................................................. 0.10-0.20 1 - Esteira de madeira 0.20
madres e elementos de contraventamento 0.15 2 - Estuque (excl. esteira)
...................... 0.15-0.25
asnas até 10m de vão ..................................................... 0.20-0.35 − sobre fasquiado, incluindo reboco e esboço ............ 0.40
asnas de 10 a 30m, em construções ligeiras .................. 0.10-0.50 − sobre placas de estafe, incluindo esboço ................. 0.20
asnas de 10 a 30m, em construções pesadas − sobre rede cerâmica, incluindo reboco e esboço ...... 0.40
.................. − sobre placas pré-fab. de fibra de madeira aglutinada
grandes naves, de vãos 30-60m ..................................... por cimento (incluindo esboço). Espessura das
placas e = 0.02m ..................................................... 0.25
3 - Revestimento exterior 0.70 − sobre lajes de betão armado incluindo chapinhado e
(excluindo madeiramento) 0.90 esboço ..................................................................... 0.20
0.45
de telha 1/2 cana, tipo valadio ....................................... 0.50 3 - Forro de madeira (excluindo esteira)
de telha 1/2 cana, tipo 1/2 mouriscado .......................... 0.40
de telha de Marselha ...................................................... 0.35 − rincoado com tábua a três fios ................................. 0.06
de telha lusa ................................................................... 0.06-0.09 − sobreposto, com tábua a três fios ............................. 0.07
de telha de betão ............................................................ 0.05-0.10 − rincoado, com tábua a dois fios ............................... 0.10
ardósia ........................................................................... 0.14
chapa de cobre ............................................................... 0.03 III - Impermeabilização de terraços
chapa de ferro zincado
................................................... a) Não acessíveis a público
chapa de fibro-cimento ..................................................
lona − com o emprego de telas e emulsão betuminosa ....... 0.05
................................................................................ − com emprego de feltros, betume e seixo miúdo ....... 0.15
1.45
4 - Pesos médios de coberturas usuais 0.65 b) Acessíveis ao público
(excluindo asnas, contraventamento e madres) 0.70
0.50 − com tijoleira maciça de esp. 0.03m assente com
− telha 1/2 cana, tipo mouriscado, incluindo forro argamassa sobre o elemento impermeabilizante ...... 1.30
(guarda-pó), argamassa, ripas e varas ........................ 0.60 − com tijoleira furada de esp. 0.035m assente com
− telha de Marselha incluindo ripas e varas .................. argamassa sobre o elemento impermeabilizante ...... 1.00
− telha lusa, incluindo ripas e varas ..............................
− cobertura de ardósia, incluindo ripas e varas .............
− cobertura de ardósia, assente sobre tabuado,
incluindo varas
...........................................................

62
Estruturas de Edifícios

Quadro 3.10 - Pesos aproximados de máquinas (kN)


Potência Máquinas Motores
cv de vapor de explosão diesel eléctricos
1 --- 0.4 --- 0.15
3 --- 0.8 --- 0.45
7.5 --- 1.2 1.5 1.0
10 30 1.5 2.0 1.2
15 40 2.5 3.0 2.0
20 45 2.6 4.0 2.5
30 50 3 5.0 2.9
50 90 5 6.0 4.5
100 150 6 9.0 6.0
200 350 15 16.0 12.0

63
Estruturas de Edifícios

Quadro 3.11 - Peso próprio aproximadode estruturas metálicas e de betão armado


Designação Peso
kN/m2
1 - Edifícios com estrutura de betão armado corrente (pilares, vigas e lajes), variável com o fim a
que se destina e consoante a disposição das divisórias, e o tipo das lajes. Peso por metro
quadrado, em planta ................................................................................................. 7 - 10
O referido peso distribui-se em média, do modo seguinte:
lajes dos pavimentos, incluindo revestimentos ......................................................... 3.5
paredes divisórias, incluindo revestimentos ................................................................ 2.5
vigas e paredes ............................................................................................................... 2.0
2 - Estruturas metálicas para edifícios - peso da estrutura por metro quadrado de piso, em planta
grandes edifícios para escritórios ................................................................................... 1.2 - 1.8
hotéis e grandes edifícios habitacionais .......................................................................... 0.8 - 1.2
grandes arcos para coberturas ........................................................................................ 0.75 - 0.9
grandes naves industriais ............................................................................................. 1.0 - 1.7
fábricas, oficinas ........................................................................................................ 0.8 - 1.2
3 - Estruturas metálicas soldadas para telhados - peso de asnas por metro quadrado, em planta
Peso das asnas (kN/m2)
Esque Vão(l) Espaçamento das asnas (m)
ma nº m 3.00 4.00 5.00 6.00
I 8.0 0.093 0.083 0.074 ---
10.0 0.123 0.108 0.093 ---
8.0 0.069 0.064 0.059 ---
II 10.0 0.098 0.088 0.083 0.078
12.0 0.123 0.118 0.108 0.098
8.0 0.078 0.074 0.064 ---
III 10.0 0.108 0.093 0.088 0.083
12.0 0.142 0.123 0.113 0.103
10.0 0.088 0.083 0.078 0.074
IV 12.0 0.118 0.108 0.103 0.098
14.0 0.142 0.132 0.123 0.118
16.0 0.167 0.157 0.147 0.137
16.0 0.162 0.152 0.147 0.137
18.0 0.186 0.176 0.167 0.157
V 20.0 0.211 0.196 0.181 0.172
22.0 0.245 0.225 0.210 0.196
24.0 0.270 0.255 0.240 0.230
16.0 0.152 0.142 0.137 0.132
18.0 0.172 0.162 0.152 0.147
20.0 0.191 0.181 0.176 0.172
VI 22.0 0.221 0.206 0.196 0.186
24.0 0.245 0.225 0.211 0.196
26.0 0.270 0.255 0.240 0.225
28.0 0.294 0.270 0.255 0.245

64
Estruturas de Edifícios

3.3.3 - ACÇÕES VARIÁVEIS

No caso de acções cujos valores apresentam variabilidade no tempo, deverão considerar-se,


para definição de Xk, as distribuições de valores extremos correspondentes a intervalos de
tempo de referência da ordem do "período de vida da estrutura" (em geral 50 anos).

Quadro 3.12 - Valores característicos das sobrecargas nas coberturas


Tipo de coberturas q Tipo de coberturas q
kN/m2 kN/m2
a) Coberturas ordinárias: (*) b) Terraços não acessíveis (**)
Sobrecarga uniforme distribuída (em Sobrecarga uniformemente distribuída 1.0
plano horizontal ................................. 0.30
No caso, porém, de terraços não
e uma sobrecarga concentrada, única, de acessíveis utilizados como cobertura
1.0 kN a considerar apenas no de grandes espaços (hangares, naves
dimensionamento dos elementos industriais, etc.), podem ser adoptadas
secundários e não simultaneamente com as sobrecargas especificadas para as 0.3
a sobrecarga distribuída; coberturas ordinárias ........................
Neste tipo de coberturas, as acções permanentes g c) Terraços acessíveis (***)
são avaliadas por m2 de vertente, considerando o Sobrecarga uniformemente distribuída 2.0
rebatimento da cobertura num plano horizontal.
Para transformar g em g1 (em plano horizontal - No caso, porém de o terraço
como q é dado) desempenhar funções específicas,
devem considerar-se as sobrecargas
g
g1 = correspondentes ao tipo de utilização
cos β
sendo β o ângulo do plano vertente como um
plano horizontal.
(*) Coberturas ordinárias - coberturas que, em virtude da sua forma (curvatura ou inclinação) ou pela natureza dos
elementos de construção que as constituem, não permitem a fácil circulação de pessoas.
(**) Terraços não acessíveis - coberturas que, embora formadas por elementos de construção que constituem habitualmente
pavimento, têm a sua acessibilidade condicionada a fins de reparação.
(***) Terraços acessíveis - coberturas formadas por elementos de construção que constituem habitualmente pavimento e
destinadas a utilização como tal.

65
Estruturas de Edifícios

Quadro 3.13 - Valores característicos das sobrecargas em pavimentos


A - Utilização em que a concentração de pessoas q B - Utilização em que o elemento q
é o elemento preponderante kN/m2 preponderante não é a concentração de pessoas kN/m2
a) Compartimentos destinados a utilização de a) Escritórios com equipamento pesado,
carácter privado (por exemplo: habitações, cozinhas de hotéis e de restaurantes ......... 4.0
quartos de hotéis, quartos e pequenas
b) Arquivos ............................................... 5.0
enfermarias de hospitais):
c) Oficinas de indústria ligeira .................... 5.0
- em geral ....................................................... 2.0
d) Garagens para automóveis ligeiros:
- para habitação em que a compartimentação
esteja perfeitamente definida e em que os Particulares ............................... 4.0
compartimentos não excedam áreas da ordem de Públicas ...................................... 5.0
20m2 ................................................................. 1.5
e) Auto-silos destinados exclusivamente ao
b) Compartimentos destinados a utilização de estacionamento de automóveis ligeiros de
carácter colectivo sem concentração especial (por passageiros que, mercê das suas características
exemplo: dormitórios, salas de aula, escritórios dimensionais, nomeadamente altura livre entre
em geral, salas de tratamento em hospitais) ......... pisos limitada a cerca de 2.20 m, não possam
c) Compartimentos destinados a utilização de 3.0 ser utilizadas por veículos de maior porte, e
carácter colectivo de média concentração (por onde não sejam permitidas actividades de
exemplo: salas de venda ao público, salas de reparação ................................................... 3.0
espectáculos com cadeiras fixas, zonas acessíveis ou, quando mais desfavorável, uma sobrecarga
ao público de edifícios públicos, salas de espera, concentrada de 10 kN
restaurantes, cafés) ...................... 4.0
d) Recintos destinados a utilização de carácter g
C - Paredes divisórias(*)
colectivo com possibilidade de elevada kN/m2
concentração (por exemplo: igrejas, salões de Quando no projecto não seja definida a posição
festas, ginásios, salas de espectáculos com de paredes divisórias por não se conhecer a
cadeiras amovíveis) ..................................... 5.0 compartimentação que o utilizador pretende
e) Recintos destinados a utilização de carácter realizar, deve considerar-se o peso de tais
colectivo com possibilidade de muito elevada paredes como sobrecarga uniformemente
concentração (por exemplo: estádios e recintos distribuída em todo o pavimento com valores
desportivos análogos) ............................... 6.0 característicos por metro quadrado obtidos
pelas percentagens seguintes do peso g de uma
faixa de parede com o comprimento de 1.0 m
de altura igual à altura da parede:
Pavimentos tipo A .................. 0.40g

Pavimentos tipo B e C .................... 0.30g

(*) O processo simplificado referido pressupõe que os pavimentos possuem capacidade de distribuição de cargas, o que é o
caso, por exemplo, de lajes maciças ou lajes aligeiradas nervuradas nas duas direcções.

Como já se viu, no caso de acções variáveis são também definidos determinados valores,
ditos valores reduzidos, relacionados com os valores característicos através do coeficiente ψ.

As regras de verificação da segurança ao nível I implicam em geral que se tenham de


considerar os seguintes valores reduzidos:

66
Estruturas de Edifícios

ψ0Xk - valores de combinação


ψ1Xk - valor frequente
ψ2Xk - valor quase permanente

No quadro seguinte apresentam-se os valores dos coeficientes ψ a usar em pavimentos.

Quadro 3.14 - Sobrecargas em pavimentos. Valores dos coeficientes ψ.


Tipos de utilização ψ0 ψ1 ψ2
a)
d) 0.4 0.3 0.2
A e)
b)
0.7 0.6 0.4
c)
a) 0.7 0.6 0.4
b)
B c)
0.8 0.7 0.6
d)
e)
C 1.0 1.0 1.0

Em que A, B e C definem o tipo de utilização previsto no Quadro 3.13.

Em certos casos haverá ainda que definir outros valores reduzidos - valores raros - através de
coeficientes ψ adequados, naturalmente superiores a ψ1; em geral e por simplificação,
identificam-se os valores raros com os próprios valores característicos Xk, isto é,
consideram-se que os correspondentes coeficientes ψ podem ser tomados iguais à unidade.

Os valores de combinação ψ0Xk intervêm nas combinações de acções adoptadas na


verificação da segurança em relação aos estados limites últimos e pretendem ter em conta
que, se numa dada combinação uma das acções figura com o seu valor característico Xk
(acção de base da combinação) ou seja, um valor com reduzida probabilidade de ser
ultrapassado no intervalo de tempo de referência, os valores a considerar para as restantes
acções variáveis acompanhantes deverão corresponder a uma maior probabilidade de serem
excedidos, para que a probabilidade correspondente à actuação simultânea seja ainda
significativa.

O critério adoptado para a definição de ψ0Xk é o de considerar valores característicos das


distribuições de extremos relativos a intervalos de referência convenientemente escolhidos e
significativamente inferiores ao adoptado para definr o valor característico Xk (intervalo da

67
Estruturas de Edifícios

ordem do "período de vida da estrutura") que por tal razão pode ser designado por valor
característico principal.

Em edifícios aparecem alguns elementos estruturais, que pela sua especificidade, as


sobrecargas são explicitamente definidas. Assim, os valores característicos das sobrecargas a
considerar nas varandas, ou em locais que possam desempenhar funções análogas (por
exemplo, certas galerias), são: numa faixa de 1m de largura adjacente ao parapeito, 5.0kN/m2
e, na restante superfície, um valor igual ao estabelecido para o compartimento contíguo de
acordo com os parágrafos A, B e C e o a seguir apresentado que se refere a sobrecargas em
acessos.

Os valores reduzidos das sobrecargas a considerar nas varandas são em geral iguais aos
valores reduzidos das sobrecargas correspondentes ao compartimento contíguo e devem ser
considerados uniformemente distribuídos em toda a superfície.

A sobrecarga de 5.0kN/m2 numa faixa de 1m adjacente ao parapeito representa a elevada


concentração de pessoas que é provável verificar-se nessa zona; na restante superfície não se
julga indispensável considerar uma sobrecarga superior à prevista para o compartimento que
dá acesso à varanda.

Os valores característicos das sobrecargas a considerar nos acessos, tais como escadas,
rampas, galerias, átrios e corredores, devem ser iguais aos valores adoptados para os
pavimentos a que dão serventia, havendo que respeitar em todos os casos, excepto nos átrios
e corredores do interior das habitações os seguintes valores mínimos:

• em locais privados 3.0kN/m2

• em locais públicos 5.0kN/m2

Os valores reduzidos das sobrecargas em acessos devem, em geral, ser obtidos através de
valores dos coeficientes ψ iguais aos adoptados para definir os valores reduzidos das
sobrecargas nos comprimentos a que dão serventia.

Os valores das sobrecargas indicados no presente capítulo têm já em consideração os efeitos


dinâmicos que correntemente lhes correspondem. Os valores das sobrecargas provenientes de
máquinas, pontes rolantes ou outros dispositivos mecânicos devem ser convenientemente
acrescidos para ter em conta os efeitos dinâmicos inerentes ao seu funcionamento.

Em guardas e parapeitos de edifícios deve considerar-se, aplicada na sua parte superior, uma
força horizontal uniformemente distribuída com os valores característicos:

68
Estruturas de Edifícios

• em locais privados 0.5kN/m2

• em locais públicos 1.0kN/m2

os correspondentes valores reduzidos são nulos.

Para representar a acção das variações da temperatura ambiente sobre as estruturas, considerar
actuando nestas, dois tipos de variações de temperatura: uniformes e diferenciais.

Os valores característicos das variações uniformes de temperatura em relação à temperatura


média anual do local, salvo indicação em contrário expressa pelos regulamentos relativos aos
diferentes tipos de estrutura e de materiais, são os indicados no Quadro 3.15:

Quadro 3.15 - Valores característicos das acções térmicas


Tipo de estrutura ∆T Tipo de estrutura ∆T
+35ºC Estruturas de betão armado e pré-
Estruturas metálicas não protegidas.....
-25ºC esforçado não protegidas constituídas
por elementos de pequena espessura .... ±15ºC
Estruturas metálicas protegidas ......... ±10ºC
Estruturas de betão armado pré-
Estruturas de madeira ....................... ±10ºC esforçado protegidas ou constituídas
por elementos de grande espessura .... ±10ºC
Estruturas de alvenaria...................... ±10ºC

Consideram-se como "estruturas protegidas" aquelas em que exista um bom isolamento


térmico dos seus elementos, e consideram-se "elementos de grande espessura" aqueles cuja
menor dimensão é, pelo menos, 70cm.

Se, na fase de construção em que se proceder à ligação dos elementos da estrutura, a


temperatura diferir significativamente da temperatura média anual do local, há que tomar tal
facto em consideração.

Os valores reduzidos das variações uniformes de temperatura relativamente à temperatura


média anual do local devem ser obtidos através dos seguintes coeficientes: ψ0=0.6; ψ1=0.5;
ψ2=0.3.

3.4 – Verificação da segurança


3.4.1 – Estados limites últimos

Esta verificação é geralmente feita em termos de esforços e consiste em respeitar a condição:

S d ≤ Rd (3.1)

69
Estruturas de Edifícios

em que

Sd é o valor de cálculo do esforço actuante;

Rd o valor de cálculo do esforço resistente.

Os valores de cálculo dos esforços resistentes, correspondentes à ocorrência do estado limite


em causa, devem ser obtidos segundo as teorias da Resistência dos Materiais, admitindo
como válidas as hipóteses de Bernoulli e conforme as leis dos materiais envolvidos e os tipos
estruturais. Este cálculo é feito com base em valores de cálculo das propriedades dos
materiais dividindo-os por coeficientes de segurança γm, os quais são fixados nos
regulamentos para os diversos materiais.

Quanto aos valores de cálculo dos esforços actuantes, no caso usual de se poder considerar
linear a relação entre as acções e os respectivos esforços (e no caso usual de se fazer a
verificação do lado do efeito das acções) estes devem ser obtidos pelas seguintes regras de
combinação

Combinações fundamentais

Em geral
m  n 
S d = ∑ γ gi S Gik + γ q  S Qsk + ∑ψ oj S Qjk  (3.2)
i =1  j=2 

No caso da acção variável de base ser a acção sísmica


m n
Sd = ∑ SGik + γ q SEk + ∑ ψ 2 j SQjk (3.3)
i =1 j =2

Combinações acidentais
m n
Sd = ∑ SGik + SFa + ∑ ψ 2 j SQjk (3.4)
i =1 j =1

Nestas expressões SGik , SQ1k , SQjk e SEk representam os valores dos esforços devidos,
respectivamente, aos valores característicos das acções permanentes, das acções variáveis de
base, das restantes acções variáveis (excepto a sísmica) e da acção sísmica, representando-se
por SFa o esforço devido à acção de acidente quantificada por um valor nominal
convenientemente escolhido.

Devem ser consideradas tantas combinações quantas as acções variáveis em causa.

No Quadro 3.16 apresentam-se as combinações de acções a considerar na determinação dos


valores máximos de cálculo para dimensionamento de estruturas de edifícios.

70
Estruturas de Edifícios

Quadro 3.16 - Combinações de acções a considerar na determinação dos valores máximos de


cálculo para dimensionamento de estruturas de edifícios
Tipos Acções de base Combinações de acções
Coberturas ordinárias de sobrecarga variável Q Sd = 1.5 (SGk + SQk)
edifícios
vento W Sd = (1.0 ou 1.5) SGk + 1.5 SQk

neve S Sd = 1.5 (SGk + SSk)

Estrutura de edifícios para sobrecarga variável Q Sd = 1.5 (SGk + SQk + 0.4Swk + 0.6 STk)
utilização privada ou
colectiva com vento W Sd = 1.5 (SGk + Swk + 0.4SQk + 0.6 STk)
possibilidade de elevada
ou de muito elevada temperatura T Sd = 1.5 [SGk + STk + 0.4(Swk + 0.6 Swk)]
concentração de pessoas sismo E Sd = 1.0 (SGk + 0.2SSk) + 1.5SEk

Estrutura de edifícios sem sobrecarga variável Q Sd = 1.5 (SGk + SQk + 0.4Swk + 0.6 STk)
concentração especial ou
de média concentração de vento W Sd = 1.5 (SGk + Swk + 0.7SQk + 0.6 STk)
pessoas
temperatura T Sd = 1.5 [SGk + STk + 0.7SQk + 0.4 Swk)

sismo E Sd = 1.0 (SGk + 0.4SQk) + 1.5SEk

Estruturas de edifícios em sobrecarga variável Q Sd = 1.5 [SGk + SQk + 0.6(Swk + STk)]


que a concentração de
pessoas não é vento W Sd = 1.5 (SGk + Swk + 0.8SQk + 0.6 STk)
predominante
temperatura T Sd = 1.5 (SGk + STk + 0.8 SQk + 0.6 Swk)

sismo E Sd = 1.0 (SGk + 0.6SQk) + 1.5SEk

3.4.2 – Estados limites de utilização

Estas verificações são, em geral, efectuadas em termos dos parâmetros que definem os
estados limites (flecha, largura de fenda, etc.) e adoptando, salvo indicação em contrário,
valores unitários para os coeficientes de segurança, γ, não só nos relativos às acções mas
também nos relativos às propriedades dos materiais.

A condição de segurança exprime-se verificando que os valores dos parâmetros que definem
os estados limites são iguais ou superiores aos obtidos a partir das combinações de acções de
acordo com as seguintes regras:

Estados limites de muito curta duração - combinações raras


 r n 
U d = U  ∑ Gim , Q1k , ∑ψ 1 j Q jk  (3.5)
 i =1 j =2 

71
Estruturas de Edifícios

Estados limites de curta duração - combinações frequentes


 r n 
U d = U  ∑ Gim ,ψ 11Q1k , ∑ψ 2 j Q jk  (3.6)
 i =1 j=2 

Estados limites de longa duração - combinações quase permanentes


 r n 
U d = U  ∑ Gim , ∑ψ 2 j Q jk  (3.7)
 i =1 j =2 

72
Estruturas de Edifícios

CAPÍTULO IV

PRÉ - DIMENSIONAMENTO

4.1 - Introdução
O dimensionamento estrutural é feito recorrendo a programas de cálculo estrutural, que se
baseiam, a grande maioria, no comportamento elástico dos materiais. Para proceder a essa
análise é necessário conhecer antecipadamente as secções transversais dos diversos elementos
estruturais, nomeadamente dos pilares e das vigas.

Assim, antes de se proceder ao cálculo dos esforços que servirão de base ao dimensionamento
das armaduras é necessário efectuar um pré-dimensionamento dos elementos estruturais.

Atendendo à hiperestaticidade da estrutura do edifício, os esforços finais nos diversos


elementos são dependentes das dimensões atribuídas a esses elementos.

Por isso se o pré-dimensionamento não tiver sido convenientemente realizado, as secções


terão de ser alteradas e a análise estrutural terá de ser repetida. Um projectista experiente
consegue estimar as dimensões das vigas e dos pilares com relativa facilidade. É essa
experiência e um conjunto de regras e processos simplificados que se pretende transmitir de
forma a que um principiante possa estimar de forma conveniente as secções dos elementos
estruturais.

4.2 - Pilares

As dimensões dos pilares são estimadas a partir do valor da carga axial, a qual pode ser
rapidamente estimada, embora a presença de momentos nos pilares cause um aumento da área
determinada com base na carga axial.

O pré-dimensionamento dos pilares é, portanto, efectuado a partir da verificação de


segurança de peças sujeitas à compressão simples, comparando os esforços actuantes, Nsd, com
os esforços resistentes, Nrd.

Nsd ≤ Nrd (4.1)

Os esforços resistentes são calculados a partir da soma dos esforços resistentes de cada um
dos materiais, aço e betão.

73
Estruturas de Edifícios

Nrd = Nrdb + Nrda (4.2)

Onde:
Nrdb = 0.85 fcd Ac (4.3)
Nrda = fsyd As (4.4)

Considerando ρ = As / Ac = 1 % (esta percentagem deve variar entre 0.7 a 1.5 %, para que a
tensão de compressão no betão não seja elevada e consequentemente a durabilidade da
estrutura seja a adequada), teremos:

Nrd = 0.85 fcd Ac +0.01 fsyd Ac (4.5)

Que por sua vez é igual a Nrd = (0.85 fcd +0.01 fsyd) Ac (4.6)

O valor (0.85 fcd +0.01 fsyd), é uma tensão, que depende das características dos materiais a
usar, betão e aço. No Quadro 4.1 apresenta-se o valor dessa tensão, em função das várias
combinações possíveis de materiais, correntemente usados na construção de edifícios.

Quadro 4.1 – Tensão a usar no pré-dimensionamento dos pilares

Material Tensão
Betão Aço σ=0.85 fcd +0.01 fsyd
C15/20 A235 11.135
C15/20 A400 12.575
C15/20 A500 13.445
C20/25 A235 13.345
C20/25 A400 14.785
C20/25 A500 15.655
C25/30 A235 16.235
C25/30 A400 17.675
C25/30 A500 18.545

O valor dos esforços actuantes, Nsd, pode ser obtido através da seguinte expressão:

Nsd= 10 . Ai . γs . n . fp (4.7)

em que:
10 – representa o valor médio das cargas permanentes e da sobrecarga a actuar por m2 de laje
(tendo em conta o peso próprio das vigas e dos pilares);
Ai – área de influência de cada pilar i;
γs - factor de majoração (= 1.5);

74
Estruturas de Edifícios

n – número de andares acima do piso em que se está a pré-dimensionar o pilar;


fp – factor de posição.

A variação do esforço normal ao longo da altura do edifício é importante, dado que este
cresce de uma forma regular desde a parte superior do prédio até à parte inferior. A variação
do momento flector ao longo da altura do edifício é muito pequena. Por isso, a influência dos
momentos, comparada com a das cargas axiais, é maior nos andares superiores do que nos
inferiores. Como se referiu o pré-dimensionamento é feito só atendendo ao esforço normal,
desprezando-se a presença do momento flector. O valor de fp, pretende ter em conta a
importância que o momento flector pode ter no pré-dimensionamento. É portanto, um factor
que deverá ser maior quando maior for a importância do momento flector em relação ao
esforço normal. Assim nos pisos superiores este valor deverá ser maior do que nos pisos
inferiores e nos pilares extremos também deverá ser maior do que nos pilares interiores.

É habitual considerar-se para fp os valores de 1.5; 1.3 e 1.1, consoante a posição que os
pilares ocupam em planta e em altura. Assim, para pilares situados na parte de cima do
edifício, usa-se o valor de fp =1.5, para pilares extremos e fp =1.3 para pilares interiores. Se o
pilar está situado na parte de baixo do edifício (normalmente considera-se a parte de baixo,
como a correspondente à parte abaixo da meia altura do edifício) o valor de fp deve ser
tomado igual a 1.3 para os pilares extremos e 1.1 para os pilares interiores.

Determinado o valor de Nsd, a secção do pilar obtem-se a partir da expressão:

Nsd ≤ Nrd = σ . Ac (4.8)

Logo
Ac = Nsd/ σ (4.9)

Definida a área, Ac, do pilar começa-se a definir as secções do pilar ao longo da altura do
edifício. É habitual começar-se a definir a secção do pilar ao nível do 1º andar, já que é
normalmente neste piso que as dimensões são mais condicionantes, atendendo à presença das
divisórias.

4.2.1 - Exemplo de Aplicação

Para o edifício de cave, rés do chão e 5 andares referido no capítulo II, foram definidas as
plantas estruturais para cada um dos pisos. Na Figura 4.1 apresenta-se a planta estrutural tipo
desse edifício.

75
Estruturas de Edifícios

Figura 4.1 – Planta estrutural do piso tipo

O pré-dimensionamento dos pilares deste edifício será iniciado pela definição das áreas de
influência de cada um dos pilares. Na Figura 4.2 apresenta-se a planta estrutural do piso tipo
com a indicação dessas áreas.

Considerando um betão do tipo C20/25 e um aço A400, a tensão a usar no pré-


dimensionamento, Quadro 4.1, é igual a 14.785 Mpa.

No Quadro 4.2 apresenta-se a área da secção, obtida a partir da expressão 9, para os pilares
P4, P10 e P22

Figura 4.2 - Planta com a indicação das áreas de influência dos pilares

76
Estruturas de Edifícios

Quadro 4.2 – Área da secção dos pilares obtida no pré-dimensionamento


Pilar Piso Ai (m2) fp Nsd, piso Nsd,pilar Ac

1 8.95 1.3 174.525 1642 1111


2 12.48 1.3 243.36 1467.87 993
3 11.68 1.3 227.76 1224.5 830
P4 4 11.68 1.5 262.8 996.75 674
5 11.68 1.5 262.8 733.95 496
6 11.68 1.5 262.8 471.15 319
7 9.26 1.5 208.35 208.35 141
1 19.75 1.1 325.875 3074.445 2079
2 25.83 1.1 426.195 2748.57 1859
3 25.83 1.1 426.195 2322.375 1571
P10 4 25.83 1.3 503.685 1896.18 1283
5 25.83 1.3 503.685 1392.495 942
6 25.83 1.3 503.685 888.81 601
7 19.75 1.3 385.125 385.125 260
1 26.33 1.1 482.72 3041 2057
2 26.33 1.1 482.72 2606.67 1763
3 26.33 1.1 482.72 2172.22 1469
P22 4 26.33 1.1 482.72 1737.78 1175
5 26.33 1.1 482.72 1448.15 980
6 26.33 1.1 482.72 965.43 653
7 26.33 1.1 482.72 482.72 326

Em face dos valores de Ac para os três pilares, pudemos concluir o seguinte:

• Pilar P4

No piso 1, entre a cave e o rés do chão, o pilar encontra-se englobado no muro de suporte. É
boa política considerar um muro de suporte com 30 cm de espessura e prever um pilar a
mergulhar no muro ao nível do rés do chão (ver Figura 2.15 do capítulo II). No rés do chão
teria uma secção de 35x30 e no piso seguinte uma secção de 30x30cm2. Esta secção deveria
manter-se inalterável até à cobertura, dado que é a secção que consideramos mínima para
pilares de edifícios.

• Pilar P10

Na cave a secção seria 30x70 (2100 cm2). Normalmente nestas situações procura-se ver qual
a dimensão que é necessária ao nível do 1º andar, correspondente ao 3º piso. Esta zona, que

77
Estruturas de Edifícios

normalmente é uma zona habitacional, pode condicionar as dimensões dos pilares. Nestes
casos como é um pilar de fachada a dimensão transversal à fachada seria, normalmente
condicionada pelo arquitecto. Adoptando 30 cm teríamos nesse piso 30x55 cm2. Para os pisos
superiores a redução de 10 cm, na dimensão maior, por piso, é normalmente compensada pela
diminuição do esforço normal. Portanto, em resumo, teríamos as seguintes dimensões para o
pilar P10: 30x70; 30x65; 30x55; 30x45; 30x35; 30x30; 30x30.

• Pilar P22

Este pilar é central e nestes casos a dimensão que poderá condicionar é a que respeita ao 1º
andar. Assim poderia ser conveniente que o pilar nesse piso tivesse uma dimensão de 20 cm
para ficar escondido na parede. Neste caso teríamos que o pilar deveria ter uma dimensão
transversal de 20x75. Normalmente, somos conduzidos nos pisos inferiores a 25x75 e 30x75.
Quando a dimensão menor é de 20 cm deve-se aumentar ou diminuir 5 cm à dimensão
transversal. Em resumo a dimensão deste pilar seria: 30x75; 25x75; 20x75; 20x65; 20x55;
20x45; 20x40. A dimensão 20x40 é a dimensão mínima a usar em pilares estruturais de
edifícios.

4.3 - Vigas
As secções transversais mais correntes são a rectangular, em T e em L, Figura 4.3.

Figura 4.3 – Seções transversais mais correntes em vigas

A secção rectangular pode ser designada, conforme a sua ligação com a laje, do seguinte
modo: viga aparente, Figura 4.4; viga embebida, Figura 4.5, viga invertida, Figura 4.6.

Figura 4.4 –Viga aparente

78
Estruturas de Edifícios

Figura 4.5 – Viga embebida

Figura 4.6 – Viga invertida

Estas secções são as mais usadas no projecto de estruturas de edifícios e são definidas na fase
de concepção.

Assim, a viga aparente é a secção mais corrente e é adoptada de uma forma generalizada,
sendo preterida quando fica à vista nas divisões interiores dos apartamentos.

A viga embebida tem vindo a ser cada vez mais usada na construção, por várias razões:

• pode tomar qualquer posição em planta dado que é embebida na laje, podendo ser
enviezada;

• é mais económica, dado que a cofragem é muito simples. Hoje em dia os carpinteiros
de cofragem escasseiam e os que há são muito bem pagos;

• permite soluções arquitectónias limpas, com os tectos totalmente livres. Normalmente


os arquitectos preferem estas vigas.

No entanto esta viga deverá ser usada para vencer vãos limitados, aconselhando-se a sua
utilização até vãos máximos de 5.0 a 5.5 metros.

Normalmente a utilização deste tipo de vigas, para vãos maiores, obriga a lajes mais espessas.

A ligação destas vigas à laje deve ser realizada do modo que se representa na Figura 4.7. A
armadura de momentos negativos na laje é importante, devendo-se exigir sempre a sua
aplicação, principalmente nestas situações.

79
Estruturas de Edifícios

Figura 4.7 – Pormenor de ligação da laje à viga embebida

É habitual nas obras partirem as vigotas para que o aço entre na viga. Este hábito deve ser
contrariado, dado que a operação de partir a vigota pode afectar o pré-esforço da mesma.
Algumas empresas de vigas de pré – esforço fornecem vigotas já preparadas para serem
usadas nas vigas embebidas, o aço de pré – esforço já vem da fábrica saliente em relação à
vigota, sendo esta a melhor solução para ser usada em obra.

A viga invertida é usada em situações particulares devendo a ligação da laje à viga ser
efectuada do mesmo modo que se referiu para a viga embebida.

No caso de estruturas de edifícios as secções das vigas são condicionadas de dois modos:

• razões arquitectónias

• razões estruturais

Assim a grande maioria das vigas de fachada são normalmente condicionadas por razões
arquitectónicas. A largura é condicionada pela espessura da parede e por razões relacionadas
com o comportamento térmico do edifício (deixando espaço para as forras do tijolo). A altura
depende do tipo de solução que está definida para os vãos das janelas e portas. Quando se
utiliza caixa de estores é necessário ver a altura da viga de modo que o resto da altura fique
disponível para a caixa de estores (28 a 30 cm), mais a altura da janela (1.0 a 1.05) e mais a
altura do parapeito (1.0 a 1.05), Figura 4.8. Se não se utiliza estores a altura vem

80
Estruturas de Edifícios

normalmente condicionada na arquitectura, Figura 4.9. É habitual o arquitecto definir as


dimensões destas vigas.

Figura 4.8 – Pormenor da colocação da caixa de estores em obra

Figura 4.9 – Corte transversal com indicação da viga a usar

No caso de estruturas de edifícios, as secções das vigas são geralmente condicionadas pelos
momentos negativos e esforços transversos na zona dos apoios, onde a sua secção efectiva é
rectangular.

81
Estruturas de Edifícios

As vigas no interior do edifício e nas fachadas cegas são condicionadas por razões estruturais,
embora a largura possa ser muitas vezes condicionada pela arquitectura (largura igual à
espessura da parede).

A largura do banzo das vigas é ainda condicionada pela:

• estabilidade ao fogo;

• recobrimentos mínimos do aço da armadura principa;

• resistência ao esforço transverso;

• resistência aos momentos flectores, principalmente na zona dos momentos negativos e


quando é necessário limitar a altura da viga.

A largura das vigas deve ser sempre igual ou superior a 20 cm.

A altura da viga, h, depende:

• da organização arquitectónica e detalhes construtivos;

• dos esforços instalados, momentos flectores e esforços transversos.

A altura da secção deve ser obtida em função do momento solicitante. A obtenção desta altura
deve ser feita para um valor do momento reduzido (µ) entre os 0.15 e 0.25.
M
Como µ = 2 sd = 0.20
bd f cd

Definidos os materiais, f cd , é conhecido; b é definido em projecto ou pelas razões já


enuncidas anteriormente é conhecido, falta determinar o valor do momento flector.

O momento flector deve ser obtido a partir da acção actuante majorada, (acção transmitida
pela laje + peso próprio +peso de paredes directamente aplicadas) e do próprio vão, fazendo:

p.l 2
M sd =
12

l
h=
O peso próprio da viga deve ser estimado fazendo 10 . Esta relação deve estar sempre
presente no prédimensionamento, sendo a altura da viga dada por esta relação um bom
indicador para vigas interiores que suportem lajes dos dois lados com vãos em torno dos 4.50

82
Estruturas de Edifícios

a 5.0m. Se os vãos forem menores ou se a viga só recebe carga de um dos lados então a altura
poderá baixar cerca de 5cm, se os vaões da laje forem maiores deve-se aumentar 5cm.

A altura útil, h, é obtida a partir da altura útil, d, somando a esta o recobrimento, que
normalmente tem valores entre os 3 a 4 cm.

Nas vigas de fachada a altura mínima deve ser os 40 cm.

83
Estruturas de Edifícios

4.4 - Lajes
Lajes aligeiradas são lajes constituídas por nervuras dispostas numa só ou em duas direcções
ortogonais, solidarizadas por uma lajeta, podendo conter blocos de cofragem incorporados
entre as nervuras. Estas lajes oferecem a vantagem de um pequeno peso próprio para uma
grande espessura. Neste tipo de estruturas, os esforços actuantes são determinados como se
tratasse de lajes e os esforços resistentes como se tratasse de um conjunto de vigas em T,
(Figueiras, 1995).

Em lajes aligeiradas contínuas, a consideração de grande redistribuição de momentos


(redistribuição forçada) é particularmente vantajosa, já que com a diminuição de momentos
nos apoios evita-se um emaciçamento exagerado. No caso de lajes aligeiradas com vigotas
pré-esforçadas a necessidade de redistribuição é ainda mais notória quer por razões
económicas (mais barato absorver M+) quer por razões de segurança já que a vigota
comprimida não está em boas condições para receber momentos negativos. É frequente na
prática diminuir os momentos sobre os apoios de 50% ou mais aumentando os momentos
positivos de modo correspondente (Figura 4.10)

Figura 4.10 – Redistribuição de momentos em lajes aligeiradas

No caso de se proceder a grandes redistribuiç6es será de manter armadura na face superior


sobre o apoio para cobrir pelo menos um momento M-= 0.25M0 (M0, maior momento
isostático dos tramos adjacentes) e esta armadura deve ser prolongada para além do ponto de
momento nulo do diagrama original (ver Figura 4.10). Esta armadura deve ser constituída por
varões de pequeno diâmetro e pouco espaçados (espaçamento < 20 cm) para controlar a
fendilhação.

84
Estruturas de Edifícios

As lajes habitualmente usadas na construção no Norte do País são as lajes aligeiradas. Por
outro lado entende-se que no âmbito desta disciplina não faz sentido abordar outro tipo de
lajes, já que há disciplinas onde esta matéria é devidamente abordada.

No mercado existe muitos tipo de lajes aligeiradas e estas são comercializadas nos mais
diversos locais e por um grande número de pessoas. É recomendável que sejam tomadas
algumas cautelas com o tipo e qualidade de lajes que muitas vezes são fornecidas nas obras,
nomeadamente em empreitadas não devidamente fiscalizadas, que infelizmente ainda
abundam muito por esse país fora.

Hoje em dia a grande maioria das empresas fornece um programa de cálculo, que a partir de
alguns dados de entrada, fornece o tipo de laje a usar, tarugos, armadura de distribuição e a
flecha máxima instalada.

Os dados são normalmente os seguintes:

i) tipo de utilização ( valor da sobrecarga, ψ0,ψ1 e ψ2);

ii) altura da laje e recobrimento;

iii) vão;

iv) tipo de apoio ou valor do momento. Permitem simplesmente apoiado,


encastrado de um dos lados e apoiado do outro e encastrado dos dois lados e
p.l 2 p.l 2
três ou quatro valores do momento, desde o até ao ;
8 11

v) Peso do revestimento e das paredes divisórias;

vi) Tipo de materiais (aço e betão).

A altura da laje é dos parâmetros mais importantes no bom comportamento deste tipo de
estruturas. Assim, é preciso ter algum cuidado nas espessuras das lajes que muitas vezes
aparecem em obra, nomeadamente em lajes de cobertura.

l
A espessura mínima das lajes deve ser sempre superior a h ≥ . O recobrimento neste tipo
25
de lajes varia entre os 3 a 5 cm.

A acção nas lajes varia entre os 7.5 kN/m2 e os 8 kN/m2. Sendo este valor obtido da seguinte
forma:
i) peso próprio da laje 3 a 3.5 kN/m2

85
Estruturas de Edifícios

ii) revestimento 1.0 kN/m2

iii) peso das paredes divisórias 1.5 kN/m2

iv) sobrecarga 2.0 kN/m2

Neste tipo de lajes deverá ser sempre prevista uma armadura de momentos negativos, de
acordo com a Figura 4.11.

Figura 4.11 – Armadura de continuidade em lajes aligeiradas

86
Estruturas de Edifícios

CAPÍTULO V

ACÇÕES HORIZONTAIS

5.1 – Introdução
A consideração das acções horizontais no dimensionamento de edifícios reveste-se de grande
importância. Durante muitos anos verificava-se que a maior parte dos edifícios,
principalmente na zona Norte do País, eram só dimensionados para as acções verticais. Com a
entrada em vigor (1983) da nova regulamentação nacional (Regulamento de SegurançaSA,
REBAP) e com a obrigatoriedade de se considerar a acção dos sismos em todo o território
nacional, o meio técnico sentiu necessidade de "aprender" a dimensionar às acções
horizontais. Por outro lado, a inclusão nas disciplinas da licenciatura em Engenharia Civil da
Dinâmica de Estruturas e o tratamento das acções horizontais noutras, levou a que os novos
licenciados considerassem as forças horizontais no dimensionamento. A acrescentar a estes
factos, o aparecimento nos últimos anos de programas de cálculo automático comerciais,
onde a consideração da acção do vento e do sismo é feita de modo automático leva a que no
presente a generalidade dos edifícios sejam dimensionadas tendo em conta as acções do
horizontais.

O dimensionamento dos edifícios tendo em conta a presença das forças horizontais é


importante também porque além de dotar a estrutura de elementos resistentes nas duas
direcções, aumenta o grau de hiperestaticidade da estrutura, dada a interligação nas duas
direcções, dando-lhe uma segurança acrescida. A segurança aumenta com o aumento de
hiperestaticidade das estruturas, respeitando-se as regras de construção e de
dimensionamento.

Aliás, tem-se verificado que uma boa parte das estruturas que tem sofrido acidentes não têm
uma adequada capacidade resistente às acções horizontais, tendo sido exclusivamente
dimensionadas para as acções verticais.

A construção de edifícios com bom comportamento às acções horizontais, implica que estas
sejam convenientemente caracterizadas, que se conceba uma estrutura adequada, que a
determinação dos seus efeitos seja feita através de métodos apropriados, que se proceda a um
dimensionamento correcto, acompanhado de aspectos construtivos convenientes e finalmente
uma execução cuidada. Todas estas considerações garantem aos edifícios uma segurança
adicional.

As acções horizontais mais correntes são as devidas ao vento, sismos, impulsos de terras,
frenagem e explosões. Existem ainda outras acções que produzem efeitos semelhantes aos das

87
Estruturas de Edifícios

acções horizontais, nomeadamente induzindo momentos importantes nos elementos verticais,


destacando-se de entre elas, pela frequência com que ocorre, os assentamentos diferenciais
dos apoios.

No dimensionamento dos edifícios considera-se de modo especial a acção do vento e a acção


dos sismos.

5.2 – Acção do vento


5.2.1 Introdução

O Regulamento de Segurança e Acções (RSA) baseia a quantificação da acção do vento, na


definição do perfil de velocidades que se verifica no local interessado à construção do
edifício. Assim, consideram-se duas leis de variação em altura daquele perfil, em
correspondência com duas condições bem diferenciadas da rugosidade do solo.

A determinação dos efeitos da acção do vento sobre as construções é feita a partir de


coeficientes de forma que, de um modo geral, cobrem as situações as situações correntes na
prática.

5.2.2. Caracterização da Acção do Vento

Segundo o RSA art. 20º e 21º a caracterização da acção do vento depende da zona que se
considera e da correspondente rugosidade do solo. Assim para efeito da quantificação da
acção do vento, o país é dividido em duas zonas, Quadro 5.1.

Quadro 5.1 - Zonamento do território nacional para efeitos da quantificação do vento


Zona Regiões incluídas
A Inclui todas as regiões nao inseridos na zona B
B Inclui as regiões do continente situadas numa faixa costeira com 5 km de
largura ou a altitudes superiores a 600 m e os arquipélagos dos Açores e
Madeira

O Regulamento salvaguarda ainda que os locais que à partida se situariam na zona A, mas
cujas condições de orografia determinam exposição ao vento desfavorável (ex: vales,
estuários) devem considerar-se como pertencentes à zona B.

A divisão do território nas duas zonas referidas foi feita com base na análise de registos
meteorológicos existentes. Tal análise permitiu atribuir àquelas zonas, para a mesma
probabilidade de ocorrência, intensidades de vento diferentes.

88
Estruturas de Edifícios

Para atender à variação da acção do vento com a altura acima do solo, o Regulamento
considera dois tipos de rugosidade aerodinâmica do solo, Quadro 5.2.

Quadro 5.2 - Tipos de rugosidade aerodinâmica do solo em função do local do edifício


Rugosidade Locais incluídos
TIPO I Inclui todos os locais no interior de zona urbanas onde predominem
edifícios de médio e grande porte
TIPO II Inclui todos os restantes locais, nomeadamente zonas rurais e
periferia de zonas urbanas

A classificação da rugosidade do local reveste-se de grande importância já que as dimensões e


distribuição dos obstáculos ao escoamento do ar têm forte influência na variação do perfil de
velocidades. Refira-se ainda que a atribuição de um tipo de rugosidade ao solo em que se
localiza a construção poderá depender da direcção do vento. Assim, por exemplo, uma
construção situada na periferia duma zona urbana pode, para vento actuando do lado daquela
zona, ser considerada como implantada em solo com rugosidade tipo I.

A acção do vento resulta da interacção entre o ar em movimento e as construções, exercendo-


se sobre a fonna de pressões aplicadas nas suas superfícies. O vento pode em geral ser
considerado como actuando na horizontal podendo ter qualquer rumo.

No caso de estruturas identicamente solicitadas pelo vento qualquer que seja o rumo deste
(ex: estruturas com simetria de revolução ou estruturas cuja resistência nas diversas direcções
seja proporcionada às acções do vento que nessas direcções se exerçam), os valores
característicos da velocidade devem ser majorados pelo factor 1,3 .

5.2.3 - Determinação dos efeitos da acção do vento

Para os casos correntes, o Regulamento admite que a determinação dos esforços devidos ao
vento pode efectuar-se supondo aplicadas às superfícies forças estáticas que resultam da
multiplicação da pressão dinâmica do vento por coeficientes de pressão adequados à
construção em causa. Contudo, esta simplificação não conduz a resultados satisfatórios para
estruturas com frequências próprias de vibração muito baixas (inferiores a 0,5 Hz). Nestes
casos deverá recorrer-se a meios analíticos que contemplem as características geométricas e
dinâmicas da estrutura e sua interacção com o escoamento ar.

89
Estruturas de Edifícios

5.2.3.1 - Pressão dinâmica do vento

Os valores característicos da pressão dinâmica do vento para os locais da zona A poderão


obter-se a partir dos valores característicos da velocidade de rajada do vento, definidos em
função da altura acima do solo, h, pelas seguintes expressões:
0.28
h
Solos com rugosidade tipo I: v = 18  + 14 (5.1)
 10 
0.20
h
Solos com rugosidade tipo II : v = 25  + 14 (5.2)
 10 
h em [m] e v em [m/s]

Nestas expressões, a primeira parcela da adição corresponde à velocidade média do vento


(que é referida a intervalos de tempo de 10 minutos) e a segunda tem em conta as flutuações
da velocidade resultantes da turbulência do escoamento. As expressões anteriores não
deverão aplicar-se na vizinhança imediata do solo. Recomenda-se que para h<15 m no caso
de solos com rugosidade tipo 1 e para h<10 m para solos com rugosidade tipo II, os valores
característicos da velocidade média sejam tomados constantes e iguais a 20 m/s no primeiro
caso e a 25 m/s no segundo caso. Para a zona B, os valores médios da velocidade do vento
podem obter-se multiplicando por 1,1 os mesmos valores referidos à zona A.

A pressão dinâmica do vento poderá então calcular-se de acordo com a seguinte expressão:

w= 0,613 . v2 (5.3)

Para a zona B, os valores característicos da pressão dinâmica a considerar devem ser obtidos
multiplicando por 1,2 os valores indicados para a zona A.

No caso de estruturas identicamente solicitadas pelo vento qualquer que seja o rumo deste
(ex: estruturas com simetria de revolução ou estruturas cuja resistência nas diversas direcções
seja proporcionada às acções do vento que nessas direcções se exerçam), os valores
característicos da pressão dinâmica obtidos pela expressão anterior devem multiplicar-se pelo
factor 1,3.

A Figura 5.1 ilustra a variação da pressão dinâmica, wk com a altura acima do solo.

90
Estruturas de Edifícios

Figura 5.1 - Valores característicos da pressão dinâmica do vento em função da altura acima
do solo

5.2.3.2 - Coeficientes de pressão

Os coeficientes de pressão (õp) anteriormente referidos são apresentados no anexo I do RSA,


para os casos correntes da prática. A este respeito é ainda referido que para o caso de
estruturas muito importantes e de forma pouco usual ser aconselhável a utilização de
resultados obtidos em ensaios em túnel de vento.

Conhecido o diagrama das pressões características do vento e os coeficientes de pressão,


podem determinar-se as pressões p, que se exercem normalmente às superfícies através da
expressão:

p = δp . w (5.4)

O coeficiente de pressão, õp , para uma dada superfície do edifício resulta da composição de


um coeficiente de pressão exterior (δpe), que permite atender aos efeitos das pressões
exteriores, e de um coeficiente de pressão interior (δpi), que atende aos efeitos das pressões
interiores que por sua vez, resultam da existência de aberturas na envolvente do edifício. O
factor δpe depende fundamentalmente da forma da construção e da direcção e sentido da
actuação do vento. O factor δpi depende, além disto, da importância e distribuição das
aberturas pelo contorno da construção. Os coeficientes δpe e δpi são afectados de sinal positivo
ou negativo consoante correspondem a pressões ou a sucçoes exercidos na face do elemento a
que se referem. A acção resultante sobre o elemento é obtida somando vectorialmente as
resultantes das pressões que se exercem numa e noutra das suas faces.

Na Figura 5.2 são apresentados os valores do coeficiente de pressão exterior, δpe, para os
casos, mais frequentes, de edifícios de planta rectangular.

91
Estruturas de Edifícios

Figura 5.2 – Coeficientes de pressão exterior, δpe

O Regulamento apresenta ainda coeficientes de pressão exterior que deverão utilizar-se em


certas zonas restritas, junto às arestas das paredes e das coberturas, apenas para o
dimensionamento de elementos secundários situadas nestas zonas, tais como chapas, madres,
e suas ligações, janelas. Estas pressões não devem portanto ser adicionadas às pressões
exteriores definidas para o conjunto do edifício.

92
Estruturas de Edifícios

5.3 – Acção sísmica


5.3.1- Introdução

Para o estudo da vibração de sistemas estruturais é necessário fazer uso de alguns conceitos
relativos à resposta de sistemas de um grau de liberdade (1gl) que são aplicáveis a sistemas
com muitos graus de liberdade (ngl) como é o caso das estruturas de edifícios pelo que é
essencial passar em revista alguns conceitos básicos da análise dinâmica.

A utilidade do estudo de sistemas de um grau de liberdade reside no facto de permitir


estabelecer de maneira muito directa e simples diversos conceitos úteis na compreensão de
sistemas dinâmicos mais complexos. Muitas estruturas simples podem ser representadas
razoavelmente por um sistema de 1 gl. A solução de sistemas complexos pode obter-se
reduzindo o problema a um de 1 gl, assim como a maior parte dos problemas com mais
número de variáveis podem ser reduzidos a uma combinação de sistemas de 1 gl.

Um sistema de 1gl define-se como aquele em que só é possível um tipo de movimento, ou


seja, a posição do sistema, em qualquer instante, pode ser definida por uma só coordenada.

Portanto o sistema idealizado de uma massa concentrada na extremidade de uma consola é


uma ferramenta óptima na Engenharia Sísmica, (Duarte,1974), Figura 5.3.

Figura 5.3 – Sistema de 1 gl

O pórtico de um piso, Figura 5.4, pode ser representado aproximadamente por um sistema
semelhante ao da Figura 5.3, em que a massa na extremidade da consola será quantificada a
partir do peso do andar do pórtico, tomado igual ao valor valor médio das cargas permanentes
e ao valor quase permanente das cargas variáveis vezes a área do piso e a rigidez será a soma
das rigidez de cada pilar, considerado encastrado nas duas extremidades e sujeito a uma só
componente do deslocamento, correspondente ao deslocamento do piso. Esta simplificação é
idealizada dado que na Engenharia Sísmica os pisos são considerados como diafragamas
indeformáveis no seu plano, ou seja são elementos com rigidez infinita (Pozo, 1991).

93
Estruturas de Edifícios

Figura 5.4 – Pórtico de 1 piso

5.3.2- Equação de movimento

A equação diferencial de movimento de um sistema de 1gl pode obter-se de várias maneiras.


Normalmente usa-se o princípio de D’Alembert segundo o qual o equilíbrio dinâmico pode
ser estabelecido em qualquer instante somando às forças exteriores e interiores uma força de
inércia igual ao produto da massa pela aceleração, que se opõe ao movimento, ou seja
orientado no sentido contrário ao deslocamento. Desta forma, Figura 5.5, o equilíbrio será:

F(t) – K u – M u&& = 0 (5.5)


M u&& + K u = F(t) (5.6)

Figura 5.5 – Equlíbrio dinâmico de um sistema de 1 gl

Esta equação corresponde a uma equação diferencial de segunda ordem com coeficientes
constantes. A solução desta equação, ou seja a resposta do sistema, é a variação de u com o
tempo. Esta pode ser obtida como a soma da solução geral da equação homogénea (segundo
membro nulo) e qualquer solução particular da equação completa. As constantes de
integração determinam-se impondo as condições iniciais (deslocamento e velocidade) na
origem do tempo.

94
Estruturas de Edifícios

5.3.3 - Vibração Livre

Quando a força F(t) é igual a zero estamos perante o caso de vibração livre. Esta pode
produzir-se devido a certas condições iniciais (t=0) impostas ao sistema que resultam – apesar
de não haver força excitadora – num impulso inicial que se traduz numa vibração.

A equação de movimento é neste caso uma equação homogénea cuja solução corresponde à
solução geral da equação diferencial.

Neste caso a solução é da forma:


k k
u = A sen t + B cos t (5.7)
M M

e os deslocamentos iniciais u(0) = u0 e u& (0 ) = u& 0 teremos


k
fazendo w =
M
u&
u = u 0 cos wt + 0 sen wt (5.8)
w

que dá a resposta, u, em qualquer instante devido a um deslocamento inicial, ou velocidade


inicial, ou ambos. Como se observa na Figura 5.6 o movimento é periódico, ou seja repete-se
em cada intervalo de tempo, ou dizendo doutra forma, temos um harmónico com uma
frequência própria ou um um período dados por:
k
Frequência própria angular w = (rad/s) (5.9)
M
1 k
Frequência própria f = (Hertz ou ciclos /segundo) (5.10)
2π M
Período T= 1 / f (segundos) (5.11)

Figura 5.6 – Resposta de um sistema de 1 gl sujeito a um deslocamento inicial

5.3.4- Resposta a excitações simples

É útil analisar a resposta de um sistema de 1 gl a algumas excitações simples, que tenham


uma solução analítica, a fim de se ganhar familiaridade com o comportamento do sistema e
com a influência do período na resposta.

95
Estruturas de Edifícios

Como já se referiu a solução da equação de movimento consta de duas partes: a solução geral
que corresponde à solução homogénea, ou seja a vibração livre, que vimos no ponto anterior;
mais a solução particular, up – que é qualquer solução que satisfaça a equação diferencial – e
que em geral corresponde a uma que tem a mesma forma matemática que a função
excitadora:
u = u p + A sen wt + B cos wt (5.12)

Considerando o caso de uma força constante (F0) aplicada subitamente, a parcela up =


constante, é dada por up=F0/K. Se o sistema se encontrar no instante inicial em repouso,
teremos:
F0
u= (1 − cos wt ) (5.13)
K

Uma forma conveniente de tornar adimensional a resposta consiste em expressar esta através
de um factor de amplificação dinâmico, D, que representa o quociente entre a resposta e o
deslocamento estático ou seja:
D = u/uest (5.14)

E portanto no caso da força constante aplicada subitamente poderemos afirmar que D = 2,


Figura 5.7.

Figura 5.7 – Resposta de um sistema de 1 gl quando se aplica uma carga constante


subitamente

5.3.5- Excitação Sísmica. Movimento na Base

A acção dos sismos traduz-se por um conjunto de movimentos ug(t) que o solo impõe às
fundações das estruturas provocando deste modo um movimento vibratório.

Como se pode observar na Figura 5.8 o deslocamento da massa é representado por duas
parcelas: deslocamento do solo mais deslocamento em relação ao solo

96
Estruturas de Edifícios

ut = u + ug (5.15)

Figura 5.8 – Deslocamento da massa de um sistema de 1 gl quando se aplica um movimento


na base

A equação do movimento pode ser estabelecida tendo em consideração que as forças de


inércia dependem da aceleração total, enquanto as forças elásticas dependem do deslocamento
relativo resultando:
M u&&t + K u = 0 (5.16)

Ou expressando todas as parcelas em termos de deslocamentos relativos

M u&& + K u = − Mu&&g (5.17)

Esta equação é idêntica à expressão 5.2 onde F(t) foi substituído por − Mu&&g .

É interessante analisar os casos limites, da variação de rigidez dos sistemas de 1gl. Assim
para sistemas muito flexíveis (frequências baixas) o solo alcançará o deslocamento máximo
antes que a massa tenha tempo de reagir e por conseguinte o deslocamento relativo máximo
será igual ao máximo deslocamento da base. A aceleração máxima da massa será muito
pequena comparada com a aceleração da base.

Por outro lado, para sistemas muito rígidos, a massa simplesmente segue a base resultando
uma aceleração máxima da massa igual à da base e o deslocamento relativo é praticamente
zero.

O deslocamento relativo é, possivelmente, a variável mais importante, dado que é o indicativo


do esforço nos elementos estruturais. No entanto é mais comum especificar o movimento da
base em termos de aceleração mais que em deslocamentos. Além disso os sismos são,
normalmente, registados em acelerações. A solução da equação do movimento é expressa em
termos de deslocamentos relativos em vez dos absolutos.

97
Estruturas de Edifícios

Para a resolução da equação do movimento é necessário recorrer a procedimentos de


u&&
integração numérica dado que g não é uma função analítica simples.

Existe uma relação importante entre os valores máximos da aceleração absoluta e do


deslocamento relativo, ou seja os valores máximos ocorrem simultaneamente.

5.3.6- Amortecimento

Até agora ignoramos a presença do amortecimento na resposta das estruturas. A maioria das
estruturas apresentam um amortecimento pequeno. O seu efeito não é importante para
respostas de curta duração, ou seja quando a resposta máxima ocorre em um ou dois ciclos de
vibração. Para respostas de longa duração o amortecimento pode ser extremamente
importante, sendo este o caso da acção sísmica.

O amortecimento manifesta-se através de uma diminuição da amplitude do movimento em


cada ciclo devido à dissipação de energia.

Matematicamente a forma mais simples de considerar o amortecimento corresponde à


existência de um amortecedor viscoso com uma resistência proporcional à velocidade de
deformação. Nessa altura a equação de movimento passa a apresentar a seguinte forma:

Mu&& + Cu& + Ku = F (t ) (5.18)

Onde C é a constante de amortecimento.

A solução da equação homogénea (F(t)=0) é da forma

u = e −ξwt ( A sen wa t + B cos wa t ) (5.19)

Onde
K
w= e wa = w 1 − ξ 2 (5.20)
M

A diferença entre a frequência não amortecida w e a amortecida wa depende de ξ. Para


estruturas normais este valor de ξ é pequeno e a diferença pode ser ignorada (para ξ =5%,
valor habitualmente usado nos cálculos estruturais, wa= 0.9987 w).

O valor de ξ deve ser sempre inferior a 1, para que exista vibração (ou seja para que wa tenha
um valor real na equação 5.20).

98
Estruturas de Edifícios

A resposta a uma perturbação inicial deixa de ser a que vimos na Figura 5.6 para passar a ser
representada pela Figura 5.9, em que o movimento harmónico é agora multiplicado por uma

exponencial decrescente e −ξwt , que representa o efeito do amortecimento.

Figura 5.9 – Resposta de um sistema de 1 gl com amortecimento

É este tipo de sistemas que nos interessa considerar na acção dos sismos.

A perda de energia devida ao comportamento não linear da estrutura, sujeita a movimentos


cíclicos , resulta da existência de ciclos histeréticos, Figura 5.10. A área no interior de cada
diagrama representa a energia dissipada por ciclo. Esta energia dissipada é muitas vezes
contabilizada na resolução da equação do movimento através do valor do amortecimento, ou
seja, quando se faz análises lineares é comum usar-se ξ=5%, quando se fazem análises não
lineares o valor de ξ é tomado muitas vezes com um valor próximo de zero (Delgado, 1994).

Figura 5.10 – Ciclos histeréticos devidos ao comportamento não linear das estruturas

5.3.7- Sismos. Espectro de resposta

Para quantificar a intensidade dos sismos sentidos numa dada região têm sido estabelecidas
várias escalas.

99
Estruturas de Edifícios

A noção de magnitude foi introduzida por Richter em 1935 e definida como o logaritmo
decimal da amplitude máxima do movimento sísmico, expressa em mícrons, dada por um
sismógrafo de torção colocado a 100 km do foco do sismo.

A noção de magnitude está ligada à quantidade de energia E que se liberta no foco:

log E = 12,2+1,44M (5.21)

sendo E expresso em erg; correntemente usa-se a escala de Richter que se exprime


graficamente como a seguir se indica, Figura 5.11:

Figura 5.11 - Escala de Richter

A noção de intensidade está ligada à aceleração ou seja aos efeitos do sismo nos diferentes
locais, sendo portanto qualitativa e baseada (sobretudo em relatos de pessoas), no
comportamento das construções e nos efeitos sobre a natureza.

Escala de Mercalli - Sieberg

A escala de Mercalli-Sieberg modificada por Wood e Neumann tem os seguintes


graus:

100
Estruturas de Edifícios

• I - O sismo passa despercebido à maior parte das pessoas, sendo detectado pelos
sismógrafos.

• II - O sismo é sentido por pessoas em repouso, especialmente nos pisos superiores dos
edifícios altos (oscilação de objectos suspensos).

• III - As oscilações são claramente perceptíveis no interior das habitações mas muitas
pessoas não as identificam como sismo. Não há quaisquer estragos materiais.

• IV - O sismo é claramente perceptível como tal no interior das habitações, vibrando


loiças, vidros e portas. No exterior passa despercebido à maioria das pessoas.

• V - O sismo é claramente perceptível como tal tanto no exterior como no interior das
habitações, onde se partem algumas loiças e vidros e as portas batem fortemente;
abrem fendas nos estuques.

• VI - O sismo é imediatamente identificado; os móveis das habitações deslocam-se, há


quedas de estuque e danos nas chaminés e elementos afins.

• VII - O sismo produz danos ligeiros nos edifícios de boa construção danos médios nos
edifícios de alvenaria corrente e danos consideráveis nos edifícios de má construção.

• VIII - Produzem-se danos ligeiros em estruturas de boas características anti-sísmicas,


danos consideráveis nas construções de alvenaria de pedra irregular e colapso em
grande número de construções mal concebidas, como chaminés.

• IX - Produzem-se danos médios nas estruturas especiais e danos consideráveis em


grande número dos edifícios correntes. Fendilhações nos terrenos.

• X - O sismo destrói a maior parte dos grandes edifícios de alvenaria, uma parte dos
edifícios de estrutura de betão armado e alguns edifícios ligeiros de madeira.

• XI - Colapso generalizado dos edifícios de alvenaria.

• XII - Destruição total, objectos projectados pelas vibrações.

A acção sísmica que resulta de um terramoto quantifica-se através do registo das acelerações
que se produzem no terreno. Por sua vez esse terreno serve de fundação aos edifícios que nele
apoiam e por consequência vão estar sujeitos aos mesmos movimentos do terreno.

101
Estruturas de Edifícios

Os valores característicos da acção dos sismos são quantificados em função da sismicidade da


zona em que se situa a construção, Figura 5.12, e da natureza do terreno do local em que é
implantada.

Figura 5.12 – Mapa de delimitação das zonas sísmicas no território continental (RSA, 1983)

A influência da sismicidade é traduzido por um coeficiente de sismicidade, α, cujos valores


são os indicados no Quadro 5.3.

102
Estruturas de Edifícios

Quadro 5.3 – Valores do coeficiente de sismicidade

Valores do coeficiente de
sismicidade

Zona sísmica α

A 1.0

B 0.7

C 0.5

D 0.3

Em Portugal, segundo o RSA, os sismos são classificados como sismos afastados (sismo do
tipo 2) - com epicentro mo mar, a grande distância focal e de grande magnitude - e em sismos
próximos (sismo tipo 1) – com epicentro em terra, pequena distância focal e de magnitude
moderada. Estes sismos que podem ter como origem movimentos entre as placas tectónicas
(sismo tipo 2) ou fracturas no interior do território (sismo tipo 1), têm características muito
diferentes. De referir que no caso dos Açores, os sismos caracterizam-se por serem sismos
próximos, mas a sua génese é devida a movimentos entre placas e a fracturas no interior das
ilhas. Assim o sismo do tipo 2 caracteriza-se por ter uma grande distância focal, uma duração
maior, normalmente acima dos 30 segundos, uma frequência predominante baixa, em torno
de 1 Hz e uma componente vertical pouco importante em comparação com a horizontal
enquanto o sismo próximo se caracteriza por ter uma pequena distância focal, uma
componente vertical importante, chega a ser da ordem de grandeza da componente horizontal,
uma pequena duração, entre os 7 e os 14 segundos, e uma frequência predominante alta, entre
os 3 e os 3.5 Hz.

O Eurocódigo 8 (EC8), que entrará brevemente em vigor, introduzirá diversas melhorias


relativamente à regulamentação actual, em função de novos conhecimentos e estudos
entretanto efectuados, quer a nível nacional, quer a nível europeu. Estas incluem a revisão do
zonamento do país, que tem em conta que os movimentos sísmicos do solo expectáveis em
diferentes regiões do país são diferentes, dado que as distâncias às diferentes zonas
sismogénicas variam ao longo do território. No que diz respeito às fontes sísmicas
consideram-se separadamente dois tipos: (i) as associadas à falha que separa as placas
tectónicas europeia e africana e que se desenvolve ao sul do território de Portugal
Continental, e que dão origem às acções sísmicas que se designam por interplacas por terem
origem na zona de separação das placas, e (ii) as fontes sísmicas no interior da placa europeia

103
Estruturas de Edifícios

e que por isso dão origem às acções sísmicas que se designam por intraplacas. Às primeiras
correspondem sismos de magnitude elevada, pois na vizinhança da separação das placas há
maior potencial de acumulação de energia, com maior duração e predominância de baixas
frequências. Às segundas correspondem sismos de menor magnitude, menor duração e
predominância de frequências mais elevadas. Em geral não é possível prever à priori qual dos
dois tipos de acção provoca maiores acelerações do solo em cada local. Tal deve-se ao facto
de apesar dos sismos interplacas terem maior magnitude, como a fonte está mais afastada das
zonas habitadas, há mais espaço para as ondas atenuarem. O Anexo Nacional do Eurocódigo
8 contempla no continente português dois zonamentos diferenciados para caracterizar as
acções sísmicas intraplaca e interplaca, que se apresentam nas Figuras 5.13 e 5.14.

Zonas Zonas
1.1 2.1
1.2 2.2
1.3 2.3
1.4 2.4
1.5 2.5

Figura 5.13 - Acção sísmica Tipo 1 Figura 5.14 - Acção sísmica Tipo 2
(interplacas) (intraplacas)

No que se refere ao zonamento para a acção sísmica interplacas, como as principais fontes
sísmicas estão localizadas na zona sul do território e como a amplitude das ondas sísmicas
atenua com a distância, no norte do país as acelerações do solo provocadas pelos sismos são
menores. Daí o zonamento previsto, em que os valores da acção sísmica para as diferentes
zonas variam em função de um parâmetro, a aceleração horizontal máxima na rocha ag, que
assume os valores mais elevados na região oeste do Algarve e diminui do sul para o norte do
pais.

104
Estruturas de Edifícios

Como se pode verificar há uma alteração na designação dos sismos entre o EC8 e o RSA, ou
seja segundo o EC8 os sismos referidos no RSA como sismos afastados são designados como
sismos próximos (intraplacas), correspondente à acção sísmica tipo II e os sismos próximos
são designados como sismos afastados (simos interplacas), que correspondem à acção sísmica
tipo I.

Em função destas características peculiares de cada sismo, nomeadamente no que se refere ao


conteúdo em frequências, duração e aceleração máxima (que são os parâmetros fundamentais
para caracterizar um sismo), é importante compreender como amplifica um sismo em função
de determinadas frequências.

Recordemos que os edifícios têm frequências de vibração próprias, que podem ser mais ou
menos excitadas pelo sismo em função da energia que este contêm na banda de frequências
do edifício. Nestas situações poderemos ter fenómenos de ressonância, e o factor de
amplificação dinâmica, D, pode tomar valores relativamente elevados, ver Figura 5.15. A
ressonânica surge quando a frequência de excitação (we) tem valores coincidentes com a
frequência própria da estrutura. Na Figura 5.15, r, corresponde à razão das frequências, ou
seja r = we/w.

Figura 5.15 – Relação entre a razão das frequências e o factor de amplificação dinâmica

A natureza do terreno onde está fundado o edifício tem uma importância muito grande na
resposta da estrutura. Assim, o RSA, considera os seguintes tipos de terreno: Tipo I – Rochas
e solos coerentes rijos; Tipo II – Solos coerentes muito duros, duros e de consistência média e

105
Estruturas de Edifícios

solos incoerentes compactos; Tipo III – solos coerentes moles e muito moles e solos
incoerentes soltos.

No EC8 o tipo de terreno é definido no Quadro 3.1 do EC8 (EN 1998-1:2004), em função de
parâmetros geotécnicos objectivos, tais como o nº de pancadas no ensaio SPT (NSPT), a
velocidade de propagação das ondas de corte no solo (vs,30) e a coesão não-drenada (cu) no
caso de solos argilosos. Os cinco tipos de terrenos configuram a seguinte diferenciação,
conforme descrita no referido quadro, ver Quadro 5.4, com base na versão inglesa:

• Rocha (terreno Tipo A)

• Terrenos rijos (terreno Tipo B)

• Solos médios e brandos (terrenos Tipo C e D)

• Formações brandas de pequena espessura (5 a 20m), de tipo aluvionar, assentes sobre


maciços rochosos ou quase rochosos com grande contraste de rigidez (terreno Tipo E).

Quadro 5.4 – Tipos de terreno segundo o EC8

106
Estruturas de Edifícios

Uma ferramenta muito útil e comum na análise dinâmica de estruturas de edifícios é o


espectro de resposta, que vem a ser o lugar geométrico das máximas respostas de um sistema
de 1 gl submetido à acção de um sismo na base.

Na Figura 5.16 apresenta-se um espectro de resposta, extraído do RSA, para um terreno tipo I
e para uma acção sísmica tipo 1. Gráficos deste tipo, que são designados por espectros de
resposta, neste caso de acelerações, constituem um processo de caracterizar a acção dos
sismos já que fornecem uma medida dos efeitos que um dado sismo produz em sistemas de
um grau de liberdade.

Figura 5.16– Espectro de resposta segundo o RSA

Na Figura 5.17 apresenta-se o espectro de resposta do EC8 em que os quatro ramos do


espectro apresentam as seguintes expressões, Quadro 5.5.

107
Estruturas de Edifícios

Quadro 5.5 – Expressões para definir o espectro de resposta do EC8

0 ≤ T ≤ TB :  T 
S e (T ) = a g ⋅ S ⋅ 1 + ⋅ (η ⋅ β 0 − 1)
 TB 

TB ≤ T ≤ TC : S e (T ) = a g ⋅ S ⋅η ⋅β 0

TC ≤ T ≤ TD : T 
S e (T ) = a g ⋅ S⋅η ⋅β 0⋅  C 
T 

TD ≤ T : T T 
S e (T ) = a g ⋅ S⋅η ⋅β 0⋅  C 2D 
 T 

Onde:

T - é o período de vibração da estrutura

Se (T )
- é o valor do espectro de resposta elástico em aceleração

ag
- é a aceleração de projecto em rocha (terreno tipo A), já definida

S - é o factor do terreno

η = 10 /( 5 + ξ ) ≥ 0 . 55 :
é o factor de correcção do amortecimento, com valor
unitário para 5% de amortecimento

β 0 : - é o factor de amplificação dinâmica, que vale: 2,5 para a componente horizontal da

aceleração ag e 3,0 para a componente vertical avg, caso em que S = 1

T B : é o período limite inferior do ramo de aceleração constante

T C : é o período limite superior do ramo de aceleração constante

T D : é o período limite superior do ramo de deslocamento constante

108
Estruturas de Edifícios

Figura 5.17– Espectro de resposta segundo o EC8

No instante em que se verifica o máximo deslocamento a velocidade é aproximadamente


nula e então
Mu&&t + Ku max = 0 (5.22)
K
u&&t = − u max (5.23)
M
u&&t = − w 2 u max (5.24)

Verificando que este valor corresponde com uma grande aproximação à máxima aceleração
que se designará por Sa (w, §) resultando que

S a (w, ξ ) = w 2 S d (w, ξ ) (5.25)

o que quer dizer que pode obter-se o espectro de resposta de deslocamentos a partir do
conhecimento do espectro de resposta de resposta de acelerações e vice-versa.

Os espectros de resposta regulamentares, são obtidos calculando a envolvente dos


espectros de resposta de vários acelerogramas.

109
Estruturas de Edifícios

5.3.8- Sistemas com N graus de liberdade. Método Simplificado

Os sistemas com mais do que um grau de liberdade tem mais do que um modo de vibração
em movimento livre, existindo, de facto, tantos modos de vibração quantos os graus de
liberdade que se consideram na caracterização da estrutura. Assim, a análise da resposta
precisa em princípio de incluir a influência dos vários modos de vibração resultando por isso
N incógnitas, as quais podem ser determinadas resolvendo um sistema de N equações
diferenciais. Pode no entanto mostrar-se que para as estruturas planas correntes existe um
modo de vibração que contribui decisivamente para a resposta da estrutura sendo a
contribuição dos outros desprezável. Neste caso o problema resume-se a determinação do 1º
modo de vibração, ou modo fundamental da estrutura.

No método simplificado de Rayleigh admite-se que uma aproximação do modo fundamental


é a deformada que se obtém solicitando a estrutura pelo seu peso mas aplicado com a
direcção horizontal como se indica na Figura 5.18.

Figura 5.18 – Esquema de aplicação do método de Rayleigh

Os deslocamentos de cada andar que podem ser calculados usando os métodos correntes da
análise estática, correspondem aos valores máximos que se verificam no movimento livre de
frequência w da estrutura. A variação ao longo do tempo do deslocamento de um andar é
assim:
d i (t ) = d i cos wt (5.26)

À determinação da frequência w pode ser feita aplicando o princípio de conservação da


energia, igualando a máxima energia de deformação à máxima energia cinética.

A máxima energia de deformação obtém-se quando se verificam os máximos deslocamentos,


sendo nessa altura a velocidade nula e portanto nula a correspondente energia cinética.

A velocidade do movimento do andar i obtém-se derivando a expressão do seu deslocamento

110
Estruturas de Edifícios

d i (t ) = d i w sen wt (5.27)

atingindo o seu máximo valor quando sen wt = 1 ou seja quando os deslocamentos são nulos
e portanto nula a correspondente energia de deformação.

Deste modo a máxima energia de deformação Epmax e a máxima energia cinética Ecmax podem
ser calculadas facilmente
E p max = ΣFi d i / 2 (5.28)
E p max = Σmi (wd i ) / 2
2
(5.29)
e portanto
ΣFi d i = mi (wd i )
2
(5.30)
ΣFi d i
w= g ou (5.31)
ΣFi d i2
1 ΣFi d i
f = g (5.32)
2π ΣFi d i2

Fica assim caracterizado o modo de vibração fundamental através dos deslocamentos do


andar di e da frequência f, ou w.

Por outro lado e partindo da mesma expressão que exprime a variação ao longo do tempo do
deslocamento de um andar
d i (t ) = d i cos wt (5.33)

as correspondentes acelerações e forças de inércia são


d&&i (t ) = − w 2 d i cos wt
(5.34)
f in = mi w d i cos wt
2
(5.35)

cujo valor máximo é fin = mi w² di

Podemos encarar estas forças como resultantes da aplicação às massas da estrutura de uma
aceleração g, já que fi = mig. Se em vez de g tivermos uma aceleração Sa, que se obtem dos
espectros de aceleração regulamentares para o valor de frequência f da estrutura, a
correspondente força de inércia será:
Sa
f in = mi w 2 d i (5.36)
g

111
Estruturas de Edifícios

O cálculo da estrutura para estas forças fornece a resposta à acção sísmica. Como se verá nos
aspectos regulamentares para se obterem os esforços finais é necessário dividir os esforços
resultantes deste cálculo por um coeficiente de comportamento.

5.3.9 - Aspectos regulamentares

O Regulamento de Segurança e Acções refere-se à acção dos sismos a partir do art. 28º
fornecendo, nomeadamente, elementos para se proceder à determinação dos efeitos dos
sismos nas estruturas através de uma análise estática ou dinâmica.

5.3.9.1 - Caracterização da acção dos sismos

Os sismos são caracterizados através de espectros de respostas ou de potência, para a análise


dinâmica, ou através de um coeficiente sísmico de referência para a análise estática.

Como vimos a acção do sismo a considerar depende da zona e do tipo de terreno e para cada
zona e tipo de terreno há ainda que considerar duas acções sísmicas: acção sísmica tipo 1 e a
acção sísmica tipo 2. Sendo este um coeficiente de natureza essencialmente física, que num
âmbito de um processo de verificação da segurança, permite corrigir os valores obtidos numa
análise linear, transformando-os nos valores que se obteriam numa análise não linear, Figura
5.19.

Figura 5.19 – Definição de coeficiente de comportamento

O coeficiente de comportamento em força, ηF=FL/FNL, toma valores que são função da


ductilidade da estrutura, o coeficiente de comportamento em deslocamentos, ηD= DL/DNL
assume valores muito próximos da unidade, (Costa, 1989).

112
Estruturas de Edifícios

5.3.9.2 - Determinação dos efeitos da acção dos sismos

No RSA. são incluídos elementos que permitem que a análise possa ser efectuada através de
uma gama de métodos que vão desde os mais gerais e exactos até aos mais simplificados.

Fazendo referência às diversas possibilidades de análise, por ordem crescente do grau de


simplificação incluindo, tem-se

i) Estrutura tridimensional, análise dinâmica e não-linear (método padrão).

Este corresponde ao caso em que mais nos podemos aproximar da realidade sendo no entanto,
e por enquanto, de grande dificuldade a inclusão na análise dos aspectos não-lineares, quer
pela incerteza na definição nos modelos da análise não-linear quer pelo acréscimo da
complexidade que advém nos métodos de análise.

No entanto verifica-se que a inclusão dos efeitos não-lineares a par da aceitação que para a
acção dos sismos se possam verificar danos estruturais e custos de reparação mais elevados,
desde que se assegure a não ocorrência de colapso origina um dimensionamento
substancialmente mais económico. Assim, desde que a estrutura tenha uma certa ductilidade,
ou seja, desde que seja capaz de se deformar para além dos seus limites elásticos, sem grande
diminuição de resistência e rigidez, parte da energia que a acção dinâmica lhe transmite é
dissipada por um processo histerético. Conforme se reduz à capacidade resistente da secção
assim se equilibram os efeitos da mesma acção sísmica com menores esforços na estrutura
embora com uma cada vez maior incursão nos domínios não-lineares.

O comportamento não-linear é considerado no RSA., de uma força aproximada, através de


coeficientes de comportamento, que estão na base do segundo procedimento possível na
determinação dos efeitos da acção dos sismos.

ii) Estrutura tridimensional, análise dinâmica, comportamento linear corrigido através de


coeficientes de comportamento.

Nesta via de análise a análise é feita admitindo o comportamento linear e corrigido


posteriormente estes valores dividindo-os por um coeficiente, o coeficiente de
comportamento, sendo estes resultados finais por assim dizer os resultados que se obteriam se
se tivesse procedido a uma análise não-linear.

Os coeficientes de comportamento são diferentes para os deslocamentos e esforços e


dependem do tipo de estrutura e do material que a constitui. Os seus valores são fornecidos
no REBAP no art. 33º.

113
Estruturas de Edifícios

iii) Estrutura plana, análise dinâmica, comportamento linear, coeficiente de comportamento e


inclusão dos efeitos da torção.

Esta simplificação é possível desde que os elementos da estrutura se disponham em malha


ortogonal considerando-se neste caso que a acção sísmica actua separadamente segundo as
direcções em que a estrutura se desenvolve. É ainda necessário ter em conta os efeitos da
torção que sempre ocorrem, mesmo que a estrutura seja simétrica, já que existe uma
componente de rotação da acção sísmica.

iv) Método simplificado da análise estática.

Este método tem a sua aplicação limitada a certas situações como se apresentará no ponto
seguinte.

v) Método de recurso.

Consiste simplesmente em considerar forças horizontais iguais a 0.22 α das cargas


correspondentes às massas interessadas, conduzindo a uma avaliação por excesso dos efeitos
da acção sísmica.

Em qualquer caso o RSA. impõe um limite inferior para o efeito da acção dos sismos a
considerar. Este limite é definido em termos da máxima força de reacção horizontal, R (θ), da
estrutura na direcção θ. Sendo P o peso da estrutura e R o menor valor que R (θ) assume o
valor do coeficiente ∂ = R/P tem que ser maior que 0.04 α. Se for ∂ < 0.04α os resultados da
análise devem ser multiplicados por 0.04α/∂ . Existe também um limite superior que pode ser
usado quando a estrutura apresentar certa ductilidade. Assim se ∂ > 0.16 α, nestes casos, os
esforços resultantes da análise podem ser divididos por ∂/0.16α.

As massas a considerar são definidas no art. 30º do RSA. como sendo as que correspondem
ao valor médio das cargas permanentes e ao valor quase permanente das cargas variáveis.

5.3.9.3. - Método simplificado de análise estática

As estruturas em que pode usar-se o método simplificado da análise estática devem obedecer
às seguintes quatro condições.

i) A distribuição da massa e da rigidez em planta deve ser proporcionada.

A distância entre o centro de rigidez e da massa deve ser inferior a 0.15 a e a 0.15 b como se
mostra na Figura 5.20.

114
Estruturas de Edifícios

Figura 5.20 - Condição de distribuição proporcionada da massa e da rigidez em planta

Define-se o centro de rigidez de um piso como o ponto em que a aplicação de uma força
horizontal origina deslocamentos tais que não se verifique rotação. A determinação
simplificada do centro de rigidez pode ser feita considerando dois sistemas de forças
proporcionais à inércia dos elementos verticais e determinando a linha de acção das
correspondentes resultantes. O ponto de intersecção destas duas linhas de acção define o
centro de rigidez, ver Figura 5.21.

Figura 5.21 - Determinação aproximada do centro de rigidez

ii) A distribuição vertical da massa e da rigidez não deve apresentar grandes variações.

iii) A malha deve ser ortogonal e pouco deformável.

115
Estruturas de Edifícios

De um modo geral esta condição é verificada desde que a frequência fundamental seja maior
que 0.5Hz ou 8/nHz em que n é o número de andares. Observa-se ainda que neste caso, e
desde que se verifique a condição ii), devem obter-se deslocamentos relativos entre dois pisos
inferiores a 1.5% da distância entre os referidos nós o que, de acordo com o ponto 30.6 do
RSA., dispensa a consideração da instabilidade de conjunto da estrutura.

iv) Os pisos devem ser indeformáveis no seu plano.

Se estas condições se verificaram pode ser plicado o método estático. Neste método
simplificado a acção do sismo é quantificada através do coeficiente sísmico.

β = αβ 0 / η (5.37)

em que α e o coeficiente de sismicidade, η é o coeficiente de comportamento e

βo é o designado coeficiente sísmico de referência. Os valores de βo não são mais do que


uma envolvente dos espectros de resposta. Apresenta-se na Figura 5.22 uma comparação
desses valores, para um amortecimento de 5% e um dado tipo de terreno.

Figura 5.22 - Coeficiente sísmico de referência

Os valores de β devem ser maiores que 0.04α e menores que 0.16α.

A determinação da frequência pode ser feita através do método simplificado de Rayleigh ou


então usando as expressões apresentadas no RSA.

• f = 12/n - estrutura em pórtico

• f = 16/n - estrutura pórtico-parede

116
Estruturas de Edifícios

• f = 6b/h - em paredes

A caracterização do tipo de estrutura é feita em função do parâmetro ρi que depende da razão


entre a rigidez dos elementos verticais e horizontais que, respectivamente, são adjacentes ou
existem no piso i.

As forças estáticas são obtidas através de


ΣG i
Fki = β hi Gi (5.38)
Σhi Gi

Estas forças devem ser aplicadas com uma excentricidade de e1i ou e2i conforme for mais
desfavorável para o elemento que se analisa, Figura 5.23.

Figura 5.23 - Excentricidade das forças sísmicas

Quando há simetria e distribuição uniforme de rigidez em planta a torção pode ser atendida
multiplicando os esforços obtidos, sem consideração da torção, por

§ = 1 + 0.6 x/a (5.39)

em que x é a distância do plano de simetria ao elemento em questão e a é a dimensão do


edifício segundo a direcção perpendicular à direcção em que se está a analisar a estrutura.

Estes processos de considerar a torção estão incluídos no RSA nos artigos referentes
ao método simplificado da análise estática, no entanto, deverão ser igualmente usados quando
se proceder a uma análise dinâmica com modelos planos.

Os valores reduzidos da acção dos sismos são nulos (incluindo o valor raro).

117
Estruturas de Edifícios

5.3.4 - Exemplo de aplicação

Seja o edifício a construir no Porto, cuja planta estrutural, esquemática, se apresenta na Figura
5.24. Os pórticos são todos iguais, apresentando-se um deles na Figura 5.25.

Figura 5.24 – Planta estrutural, esquemática, de um edifício

Figura 5.25 – Corte do edifício de 8 pisos - estrutura em pórtico

118
Estruturas de Edifícios

Pretende-se determinar os esforços e deslocamentos do pórtico representado na Figura 5.25,


quando sujeito à acção sísmica. O prédio situa-se num terreno tipo II.

Os valores que se consideraram para acção gravítica foram de 416.67 kN por piso,
correspondendo este valor aproximadamente a:

Pesos próprios estruturas das vigas e pilares (para os pilares foi admitido o valor médio)

0.45 × 0.30 × 25 × 3.0 × 24 = 243 kN


0.20 × 0.45 × 25 × (15 × 6 + 20 × 4 ) = 382.5 kN

Peso próprio de lajes com espessura de e = 0.15

0.15 × 25 × 20 × 15 = 1125 kN

Peso de revestimentos e paredes de alvenaria a que se atribui o valor de 2.1 kN/m2

2.1 × 15 × 20 = 630 kN

Valor quase permanente da sobrecarga nos pavimentos

0.2 × 2 × 15 × 20 = 120 kN

Teremos assim uma carga gravítica por piso igual a:

GiT = 2500kN

Como temos 6 pórticos na direcção em que estamos a considerar a acção do sismo, teremos:

GiT 2500
Gi = = = 416 ,67 kN
6 6

Em termos de massa por piso m=42.517 ton.

5.3.4.1 Cálculo estático

As forças estáticas são dadas pela expressão:

ΣGi
FKi = β ⋅ hi ⋅ H i
Σhi Gi

teremos portanto que:

119
Estruturas de Edifícios

α
β = β0 ⋅
1. η

onde:

α = 0.3 − Art.29.2 − RSA.


η = 2.5 − Art.33.2 − REBAP
12
f = = 1.5 → β 0 = 0.20 1.5 = 0.245 − QuadroII − Art.31.2doRSA
8

0. 3
β = 0.245 × = 0.0294
2. 5

limites β 0.04a ≤ β ≤ 0.16α , portanto β= 0.0294

Σ Gi 8G1 8
= =
2. Σhi Gi (3 + 6 + 9 + 12 + 15 + 18 + 21 + 24 )G1 108

8
Fk1 = 0.0294 × 3.0 × 416.67 × = 0.907 × 3.0 = 2.72 kN
108
Fk2 = 6.0 × 0.907 = 5.44 kN
Fk3 = 9.0 × 0.907 = 8.16 kN
Fk4 = 10.88 kN
Fk5 = 13.61kN
Fk6 = 16.33kN
Fk7 = 19.04 kN
Fk8 = 21.77 kN

Corte basal = 97.95 kN

5.3.4.2 - Método de Rayleigh

Como se viu anteriormente o peso por andar é igual a 416.67 kN. Se considerarmos estas
forças como acções horizontais actuando ao nível de cada andar obtém-se o vector de
deslocamentos:

120
Estruturas de Edifícios

 28.4313 1.000
26.4656  0.931
   
22.8280 0.803
   
19.5627  0.688
φ =  φ = 
~ 15.3329 ~ 0.539
11.3767  0.400
   
 6.7956 0.239
 2.6726 0.094
  normalizando  

que será o 1º modo de vibração ou modo fundamental.

Para a utilização do método de Rayleigh, os valores expressos no vector referido serão os


deslocamentos ao nível do andar, referidos na expressão como di e assim teremos:

Σd i = 133.4654
Σd i
r= = 0.0471537
Σd i2
Σd i2 = 2830.4337

A frequência fundamental será

1
f = 980 × 0.0471537 = 1.082 Hz

Utilizando o espectro de resposta do RSA, ANEXO III, obtêm-se

S aI (1.082; 5% ) = 145 cm/s 2


S aII (1.082; 5% ) = 237 cm/s 2 Tomando o maior valor e atendendo ao coeficiente de

sismicidade teremos a
S = 2.37 x0.3 = 0.711m/s 2

Sa
f in = mi w 2 d i
A forca sísmica será dada pela expressão 5.32 ( g )

121
Estruturas de Edifícios

 28.4313
26.4656
 
22.8280
 
19.5627
 
15.3329
11.3767
 
0.711  6.7956
f in = 42.517 x(2π 1.082) 2  2.6726
9. 8  

− Obtendo-se as forças ao nível dos andares:

40.527  16.21
37.73  15.09
   
32.54  13.02
   
27.89  11.16
f in =   f in =  
~ 21.86  ~ 8.74 
16.22  6.49 
   
9.69  3.88 
3.81  1.52 
  (kN) atendendo ao coef. de comportamento   (kN)

f = K .z
Os deslocamentos ao nível de andar devem ser obtidos a partir de , mas as forças a
considerar devem ser as forças não divididas pelo coeficiente de comportamento, já que,
como se referiu anteriormente, o valor do coeficiente de comportamento em deslocamentos é
igual a 1.

0.021 
0.0192 
 
0.0166 
 
0.0142 
z = 
~ 0.0111 
0.00826
 
0.00493
0.00194
  (m)

− Corte basal:

R = 76.11 kN

122
Estruturas de Edifícios

5.3.4.3. – Consideração da torção global da estrutura

Os deslocamento e esforços determinados, deveriam ser multiplicados por um factor § para


atender aos efeitos da torção global do edifício (artº 32.2 do RSA).

Este factor depende da distância x entre o pórtico em consideração e o plano de simetria da


estrutura e depende também da dimensão longitudinal do edifício – a.

0. 6 x
§= 1+
a

Para o exemplo que se está a tratar obtinha-se os seguintes valores, para os pórticos extremos
(P1), pórticos intermédios (P2) e pórticos centrais (P3), tomando como valores de referência
os obtidos pelo método de Rayleigh.

PÓRTICO X/a § Deslocamento Corte basal (kN)


máximo (cm)

P1 10/20 1.3 2.73 98.94

P2 6/20 1.18 2.48 89.81

P3 2/20 1.06 2.23 80.68

O exemplo apresentado é o caso de uma estrutura simétrica em relação ao plano que contém a
acção sísmica e os seus elementos resistentes estão uniformemente distribuídos, tendo-se
considerado uma certa torção dada pela expressão regulamentar, expressa na equação 35 e
que pretende cobrir assimetrias devidas a comportamento não linear e a movimentos de
rotação do solo durante o sismo.

Nestes casos de estruturas simétricas a determinação do centro de rigidez é imediata. Nos


casos em que não há simetria esta determinação pode ser efectuada por métodos simplificados
ou pode-se ter em conta a rigidez relativa de cada pórtico na direcção do sismo.

123
Estruturas de Edifícios

5.4 – Distribuição das acções horizontais


5.4.1- Introdução

As acções horizontais que solicitam um edifício são aplicadas essencialmente ao nível das
lajes de piso. A pressão do vento por exemplo, exerce-se contra as fachadas que se apoiam
lateralmente contra as lajes. Da mesma forma, para as acções sísmicas, as massas que geram
as forças de inércia estão essencialmente concentradas ao nível das lajes de piso. Estas forças
horizontais são transmitidas aos elementos de contraventamento (paredes e pórticos) pelas
lajes. Sendo as lajes consideradas como diafragmas rígidos verifica-se a compatibilização de
deslocamentos ao nível de cada piso, de todos os elementos que asseguram a estabilidade a
acções horizontais. A acção do vento e do sismo são obtidas globalmente para o edifício
(considerando separadamente as duas direcções ortogonais) e em seguida são distribuídas
pelos vários elementos de contraventamento proporcionalmente à respectiva rigidez ao
deslocamento horizontal.

5.4.2 -Determinação do Centro de Rigidez

Um método para determinar o centro de rigidez de um edifício, considerando a rigidez


relativa de cada elemento de contraventamento, é o que se baseia na associação de pórticos
em comboio. Sendo dado um determinado edifício, por exemplo o representado nas Figuras
5.26 e 5.27, considera-se numa das direcções todos os pórticos alinhados uns a seguir aos
outros. Como é evidente neste processo não há interesse em duplicar número de nós e
elementos já que, tal facto, origina ficheiros demasiado pesados, com todas as dificuldades
inerentes. Assim, todos os pórticos iguais ou semelhantes devem ser agrupados, obtendo-se
neste caso um pórtico do tipo que se representa na Figura 5.28, em que os elementos 1 terão
as seguintes dimensões b=1.197m, H=5.00m, para se obter a inércia da caixa de escadas
I=12.469 m4, (a espessura da parede é de 20 cm). Os elementos 2, que simulam a laje, devem
ser elementos infinitamente rígidos e só terão esforços normais, portanto interessa considerar
um b grande e um h pequeno (para que o momento de inércia seja quase nulo) e l pequeno
(para que os deslocamentos entre os dois nós extremos sejam da mesma ordem de grandeza),
os valores habitualmente usados são: b=100m; h=0.001m e l=1.0m, (Delgado, 1986).

Os elementos 3 e 4, terão o b duplo, da estrutura porticada representada na figura ( já que


representam o agrupamento de dois pórticos) e os elementos 5 e 6 terão o b quádruplo do b
inicial.

Portanto: elemento 3 → b = 0.60

elemento 4 → b = 0.40

124
Estruturas de Edifícios

elemento 5 → b = 0.80

elemento 6 → b = 1.20

Figura 5.26 – Planta estrutural, esquemática, de um edifício

Figura 5.27 – Pórtico do edifício representado na Figura 5.26

125
Estruturas de Edifícios

Figura 5.28 – Associação em comboio, numa das direcções, do edifício representado na


Figura 5.26

Considerando o pórtico representado na Figura 5.28 sujeito à acção do peso de cada andar,
calcula-se o pórtico, com um programa de cálculo e obtêm-se, para além dos deslocamento de
piso, as reacções na base, bem como o esforço transverso em cada um dos pilares. O centro
de rigidez pode variar em altura, mas o processo de o determinar é semelhante ao que vai ser
descrito para a base. Com as reacções em cada pilar ao nível da fundação, calcula-se o corte
basal de cada um dos pórticos (o corte basal é a soma das reacções horizontais ao nível da
base). Neste caso a soma dos dois cortes basais é ser igual ao somatório das forças horizontais
aplicadas. Fazendo a razão entre cada corte basal e a soma dos dois obtêm-se a rigidez
relativa de cada pórtico. Vejamos este cálculo, da rigidez relativa, aplicado ao exemplo do
edifício que temos vindo a apresentar. O valor considerado para acção gravítica foi de 2690
kN, tendo este valor sido calculado do seguinte modo:

a) Pesos próprios estruturais de vigas, pilares e paredes (para os pilares foi admitido o
valor médio)

0.45 × 0.30 × 25 × 3.0 × 20 = 202.5 kN


0.20 × 0.45 × 25 × (15 × 4 + 20 × 2 + 16 × 2 + 10 × 2 ) = 342 kN
0.20 × (2 × 4.0 + 2 × 5.0 ) × 3.0 × 25 = 270 kN

Peso próprio de lajes, com espessura de 15cm

126
Estruturas de Edifícios

0.15 × 25 × 20 × 15 = 1125 kN

Peso de revestimento e paredes de alvenaria (p = 2.1 kN/m2)

2.1 × 15 × 20 = 630 kN

Valor quase permanente da sobrecarga nos pavimentos

0.2 × 2 × 15 × 20 = 120 kN

Aplicando a carga gravítica ao edifício obtêm-se as reacções de apoio e os respectivos cortes


basais representados na Figura 5.29.

Figura 5.29 – Cálculo do corte basal em cada pórtico

Fazendo a razão entre o corte basal de cada um dos pórticos e o total obtêm-se a rigidez
relativa de cada pórtico.

19983.07
Rig 1 =
21520 = 0.9286

1536.07
Rig 2 =
21520 = 0.0714

127
Estruturas de Edifícios

Rig 1
Relação de rigidez é dada por Rig 2 = 13.00 Isto permite concluir que os dois pórticos que
englobam a caixa de escadas são 13 vezes mais rígidos que os 4 pórticos.

O centro de rigidez agora calcula-se, considerando a rigidez relativa de cada pórtico como
uma força e determinando-se a posição da resultante dessas forças, Figura 5.30.

Figura 5.30 – Determinação do centro de rigidez

6.5 × 10 + 6.5 × 6 + 0.25 × 2 − 0.25 × 2 − 0.25 × 6 − 0.25 × 10 = 14 X rig

X rig =
7.143 m

A distribuição das forças horizontais pelos pórticos é efectuada a partir das seguintes
expressões:

Efeito de translacção

Ii
Fit = H ⋅
ΣI i (5.40)

Efeito de rotação

H .e. ⋅ d i ⋅ I i
Fir =
ΣI i d i2 (5.41)

Sendo a força final dada pela soma ou subtracção, conforme for o mais desfavorável para o
F = Fit ± Fir
pórtico em causa, das duas i em que :

Fi
- força horizontal a actuar no pórtico i

128
Estruturas de Edifícios

H ⋅ - força horizontal global devida o avento ou ao sismo

e – excentricidade da força H em relação ao centro de rigidez

Ii
- rigidez relativa do pórtico i

di
- distância do pórtico i ao centro de rigidez

Relativamente à excentricidade e deve-se ter em conta o seguinte:

i) no caso da acção do vento o valor de e corresponde à distância entre o centro de massa


e o centro de rigidez;

ii) No caso da acção sísmica à excentricidade entre o centro de massa e o centro de


rigidez deve ser adicionada as excentricidades e1i ou e2i conforme for mais desfavorável para
o elemento que se está a analisar.

5.4.3.- Exemplo de Aplicação

Para exemplificação do que foi referido vamos determinar como se distribuiriam as forças
sísmicas pelos pórticos da estrutura, que temos estado a analisar, Figuras 5.23 e 5.24.

A acção sísmica será determinada através do método de Rayleigh. Considerando a associação


das estruturas em comboio, Figura 5.25, solicitadas pela acção gravítica, determina-se o
vector de deslocamento di.

8.35 
7.07 
 
5.66 
 
4.39 
di =  
3.1 
 2. 0 
 
1.05 
0.389
  (cm)

e a frequência da estrutura:

1 Σd i Σd i 32
f1 = g⋅ r= = = 0.1722
2π Σd i2 Σd i2 185.88

129
Estruturas de Edifícios

S aI = 260 cm/s 2
1
f1 = 980 × 0.1722 = 2.068 Hz

S aII = 235 cm/s 2

8.35 
7.07 
 
5.66 
 
4.39 
 
3.1 
 2. 0 
 
fs =
(2 × π × 2.068)
2
1.05 
× 2.6 × 0.3 × 274.5 ×  
9.8 0.389

A massa mi obteve-se dividindo o peso, 2690 kN pela aceleração da gravidade.

 308 
 261 
 
 209 
 
 162 
fs =  
~ 114.5
 73.9 
 
 38.8 
 14.4 
  (kN)

0.665 
0.563 
 
0.45 
 
0.35 
z1 =  
~
0.247 
0.159 
 
0.084 
0.031 
  (cm)

Corte basal = 1181 kN

fs
Como já se viu, neste caso, o vector das forças, ~ , tem o seu ponto de aplicação
descentrado, não há coincidência entre o centro de massa e o centro de rigidez.

130
Estruturas de Edifícios

A repartição do vector de forças pelos pórticos respectivos irá ser feita por aplicação das
expressões (5.40) e (5.41), que vimos anteriormente,

Ii H .e. ⋅ d i ⋅ I i
Fi = H ⋅ ±
ΣI i ΣI i d i2

em que e representa o valor da excentridade da força global do sismo, que considerando-se as


excentricidades regulamentares e1i e e2i.

e1i = (0.5bi + 0.05a ) = 3.5715 + 1 = 4.5715 m


e2i = 0.05a = 1m

será igual a 7.143+4.5715=11.7145m ou 7.143-1=6.143m. Deverão ser analisadas as duas


hipóteses e considerar a situação mais desfavorável para cada pórtico

Repartição das forças horizontais

Fazendo por exemplo para o último piso e para um dos valores da excentricidade. Neste caso
teremos:

H = 308 kN
ΣI i d i2 = 6.5 × 2.857 2 + 6.5 × 1.143 2 + 0.25 × 5.143 2 + 0.25 × 9.143 2 + 0.25 × 13.143 2
+ 0.25 × 17.143 2 = 205.7143
6.5 308(7.143 + 4.5715) × 2.857 × 6.5
F1 = 308 × −
14 205.7143
F1 = 143 − 325.71 = −182.71kN

6.5 308 × 11.7145


F2 = 308 × + × 1.143 × 6.5 =
14 205.7143

F2 = 143 + 130.3 = 273.3 kN

0.25 308 × 11.7145


F3 = 308 × + × 5.143 × 0.25 =
14 205.7143

F3 = 5.5 + 22.55 = 28.05 kN

308 × 11.7145
F4 = 5.5 + × 9.143 × 0.25 = 45.59 kN
205.7143

308 × 11.7145
F5 = 5.5 + × 13.143 × 0.25 = 63.13 kN
205.7143

131
Estruturas de Edifícios

308 × 11.7145
F6 = 5.5 + × 17.143 × 0.25 = 80.67 kN
205.7143

5.5 Importância relativa da acção dos sismos e do vento


Com o objectivo de se analisar a importância relativa da acção do vento e dos sismos com a
altura do edifício procedeu-se à análise de um edifício, de planta regular e estrutura em
pórtico, em que se fez variar a sua altura, Delgado(1987).

Considerou-se na análise os três tipos de terreno, de que depende a acção sísmica, a


rugosidade tipo I e II e a zona A e B de que depende a acção do vento. Para a elaboração dos
dois gráficos, que se representam na Figura 5.31, elegeu-se como parâmetro de comparação o
corte basal e admitiram-se os dois casos de ductilidade das estruturas de betão armado,
normal e melhorada.

Figura 5.31 - Quadro comparativo da importância relativa da acção dos sismos e do vento

A análise dos quadros permite concluir que o vento ganha maior importância quando aumenta
a altitude de edifício, verificando-se que, para a zona D, nos edifícios com ductilidade normal
a acção sísmica é sempre condicionante para edifícios com menos de 8 andares, enquanto que

132
Estruturas de Edifícios

com a ductilidade melhorada a acção do vento é condicionante em muitos casos. A partir da


zona C verifica-se que o sismo é praticamente sempre condicionante.

Deve-se no entanto chamar a atenção que uma análise deste tipo depende muito do tipo de
estrutura e de que o efeito final na estrutura depende da combinação em que estas duas acções
estão incluídas, sendo de salientar, nomeadamente que a acção do vento entra com um valor
de combinação quando a acção de base é outra acção, enquanto o valor de combinação da
acção dos sismos é nulo.

Por outro lado é importante analisar a frequência das estruturas quando se fazem estas
comparações, já que, como se pode observar na Figura 5.32, o conteúdo em frequências do
vento é desprezável acima dos 0.5 Hz enquanto no sismo este conteúdo é importante na gama
dos 0.5 – 10 Hz. Assim o efeito dinâmico do vento é desprezável nos edifícios correntes
(frequências maiores que 0.5 Hz) sendo, para estes, importante a acção dos sismos (Ravara,
1989).

Figura 5.32 - Comparação entre os conteúdos em frequência da acção do vento e do sismo

5.6- Análise estática e o método de análise dinâmica


Como pode observar-se no ponto 5.3.4 a utilização do método estático conduz a valores
substancialmente mais elevados que o método de rayleigh. A mesma conclusão se tira
relativamente ao método dinâmico.

As diferenças são devidas quer à estimativa para a frequência, expressões do RSA. quer à
expressão aproximada de cálculo das forças sísmicas.

133
Estruturas de Edifícios

A influência destas aproximações foram analisadas, Delgado (1986), estudando-se quatro


tipos de edifícios, com alturas variáveis e com as plantas distintas. As comparações foram
estabelecidas entre a análise dinâmica, através do método de Rayleigh e análise estática
calculando-se, neste caso, a frequência a partir da estimativa do RSA. e através do método de
Rayleigh.

Nesse estudo pode-se concluir-se que a estimativa para a frequência que é fornecida pelo
RSA. conduz a valores que se afastam substancialmente do valor exacto, erros superiores a 35
%.

Em termos do máximo deslocamento os resultados obtidos mostram que, quando se adopta a


frequência do RSA., os erros ultrapassam os 25% e que, para edifícios até 5 andares, os erros
podem ser da ordem de 50%. A consideração da frequência de Rayleigh reduz
significativamente os erros, sobretudo em edifícios altos, embora para edifícios até 5 andares
ainda se obtenham erros superiores a 20%.

Em resumo, para edifícios de pouca altura os erros do método simplificado são apreciáveis
enquanto que para edifícios altos se verifica uma melhor aproximação, embora seja
precisamente para edifícios de grande envergadura que se justifica a utilização de métodos de
análise mais exactos.

Se verifica uma aproximação, embora seja precisamente para edifícios de grande envergadura
que se justifica a utilização de métodos de análise mais exactos.

5.7 - ASPECTOS CONSTRUTIVOS


Os critérios gerais de dimensionamento, estudados no curso geral de betão armado, aplicam-
se a qualquer tipo de solicitação e, portanto, também às acções sísmicas.

Sucede porém que, para os casos correntes da prática, há todo o interesse em estabelecer
regras simples que permitam garantir a segurança contra a verificação dos diferentes tipos de
ruína. Regras deste tipo constam, como se sabe, dos regulamentos da construção anti-sísmica,
em vigor nos diferentes países nomeadamente o EC8. Estas regras têm, pela sua própria
natureza, campo de aplicação bem delimitada. Tais limitações são muitas vezes esquecidas
sendo generalizado o seu emprego a tipos de construção aos quais de modo algum se podem
aplicar. Tal facto, que pode conduzir a gravíssimas faltas de segurança, deve-se, não só a falta
de informação dos projectistas, mas também a própria redacção dos regulamentos que, em
geral, não contém uma satisfatória delimitação do seu próprio campo de aplicação.

134
Estruturas de Edifícios

Um exemplo flagrante da afirmação anterior é dado pela aplicação simplista dos coeficientes
sísmicos, estabelecidos para estruturas reticuladas metálicas ou de betão armado, ao
dimensionamento de estruturas constituídas, por exemplo, por paredes de alvenaria sem
travamentos. As estruturas de alvenaria, devido às elevadas frequências próprias que lhe são
inerentes, sofrem esforços sísmicos muito superiores aos das estruturas reticuladas,
facilmente 4 a 10 vezes superiores, que provocam a sua fendilhação. Como tais paredes não
dispõem, depois de fendidas, da reserva de resistência necessária, ruem completamente. Os
coeficientes de segurança que em geral constam dos regulamentos não são pois aplicáveis a
este tipo de estrutura, Duarte (1974).

Verifica-se assim a grande variedade de critérios a que há que recorrer para garantir a
segurança das construções dos diferentes tipos para as acções sísmicas.

As considerações que a seguir se apresentam referem-se sobretudo a edifícios de estrutura


reticulada de betão armado. Podem, no entanto, ser generalizadas para estruturas de outros
tipos, nomeadamente estruturas-parede e estruturas mistas, também de betão armado. Estudos
neste sentido encontram-se actualmente em curso.

No caso de estruturas que, pela sua própria natureza, apresentam rigidez muito elevada, uma
solução para reduzir os esforços sísmicos pode consistir na sua associação a tipos de
estruturas mais deformáveis, obtendo-se assim um abaixamento substancial da frequência
própria do conjunto.

Outro conceito que interessa ter bem presente na concepção das estruturas é o da ductilidade.
De facto, como se viu, quanto maior for a ductilidade, mais é possível baixar a capacidade
resistente para forças horizontais sem redução da segurança. Se o comportamento estrutural
for perfeitamente elástico (envolvendo roturas frágeis) a segurança somente poderá ser
garantida mediante elevadíssimas capacidades resistentes às forças horizontais. Estas
capacidades resistentes podem ser reduzidas a valores fáceis de atingir na prática se se
garantir em regime não-linear uma capacidade de deformação suficiente.

O facto anterior, adicionado à variabilidade de resistência que vem normalmente associada ao


comportamento frágil, impõe que as construções anti-sísmicas sejam construídas com
materiais suficientemente ductéis.

Interessa também chamar a atenção para o facto das forças sísmicas serem proporcionais às
massas postas em movimento. Uma redução dos pesos da construção traduz-se pois numa
redução das forças sísmicas.

135
Estruturas de Edifícios

No que se refere à concepção estrutural, há ainda que referir a conveniência de reduzir as


excentricidades provenientes duma assimetria, em planta, de elementos rígidos e flexíveis.
Tais assimetrias traduzem-se em esforços de torção que podem atingir valores muito elevados
e conduzir, por si só, à rotura.

Também é necessário garantir que, por efeito da deformação das estruturas se não verifiquem
choques com estruturas vizinhas. É esta consideração que justifica a necessidade de executar
juntas largas entre construções de deformabilidade diferente.

Em relação ao projecto de estruturas anti-sísmicas apresentaram-se regras de


dimensionamento simplificadas cujo campo de aplicação devidamente se delimitou. Estas
regras foram deduzidas de critérios gerais, os quais podem ser utilizados directamente para o
dimensionamento sísmico e, bem assim, para a dedução de regras simplificadas que se
apliquem a estruturas de outros tipos.

Os métodos de cálculo actualmente disponíveis para a determinação da distribuição dos


esforços nos tipos correntes de estruturas de edifícios são, como se viu, potentes e fornecem
resultados que representam com boa precisão o comportamento real dos edifícios. Graças ao
recurso aos computadores a resolução de problemas concretos encontram-se muito facilitada.
De facto, o projectista tem somente que preencher um conjunto de folhas de dados
definidoras da estrutura e das forças nela actuantes, efectuando o computador,
automaticamente, todas as operações necessárias ao cálculo completo dos esforços.
Aperfeiçoamentos futuros tornarão os programas de cálculo actualmente disponíveis ainda
mais eficientes.

Mediante o ensaio de modelos será possível esclarecer o comportamento de tipos especiais de


estruturas, nomeadamente daquelas que não possam ainda ser tratadas com precisão
suficiente pelos métodos analíticos disponíveis. Note-se que o ensaio de modelos pode ser de
grande utilidade não só para a determinação de esforços em regime linear, mas também para o
esclarecimento do comportamento dinâmico das estruturas quando solicitadas por vibrações
aleatórias e em fase já não linear.

Finalmente, há que chamar a atenção para a importância fundamental dos pormenores


construtivos. De facto, a experiência de sismos recentes claramente evidencia que muitos dos
colapsos foram devidos a pormenores construtivos deficientes, nomeadamente falta de
amarração de armaduras, má qualidade do betão, sobretudo em zonas de difícil betonagem, e
ineficiente interligação dos diferentes elementos estruturais, principalmente quando se trata
de elementos pré-fabricados.

136
Estruturas de Edifícios

Por exemplo, no caso de pilares, é na cabeça e na base que se localizam os esforços máximos.
Ora, é também nessas zonas que normalmente se localizam juntas de betonagem (pois é a sua
posição natural do ponto de vista construtivo) e se efectua a emenda dos varões. Para garantir
uma conveniente resistência a forças horizontais é conveniente efectuar a emenda dos varões
dos pilares a meia altura entre pisos, zona em que os momentos flectores serão em geral
pouco importantes.

No que se refere a vigas, esquece-se muitas vezes que as solicitações sísmicas provocarão
inversões dos esforços, em relação aos esforços devidos às solicitações verticais, e não se
colocam, ou não se amarram devidamente, as necessárias armaduras, principalmente junto
aos encastramentos.

Viu-se também que as paredes, mesmo as paredes de enchimento de alvenaria de tijolo,


podem representar um importantíssimo papel para a obtenção da conveniente resistência a
forças horizontais. Para que a contribuição da resistência destes elementos possa ser
explorada, é indispensável garantir que exista conveniente ligação entre as paredes e os
restantes elementos estruturais. Armaduras de pequenos diâmetros incluídas nas juntas ou
dispostas junto às faces muito eficientes para impedir o colapso da parede quando actuada por
forças sísmicas normais ao seu plano. O prolongamento das armaduras das vergas das portas
e das janelas, até aos elementos estruturais, é um meio simples e pouco oneroso para
melhorar muito a ligação das paredes à estrutura.

A tendência moderna de recorrer cada vez mais à pré-fabricação levanta também problemas
do ponto de vista da resistência aos sismos. Não se pretende afirmar que a pré-fabricação se
não adapte às regiões sísmicas, mas antes que a interligação dos elementos pré-fabricados
deve ser particularmente cuidada em regiões sísmicas. É muito importante que a ligação tenha
suficiente ductilidade e resistência, para que se explore devidamente a capacidade resistente
dos elementos interligados. O recurso à soldadura dos varões, ou a sua conveniente
sobreposição, e os cuidados postos na betonagem das juntas, são indispensáveis para que se
garanta a resistência de conjunto.

137
Estruturas de Edifícios

CAPÍTULO VI

MODELAÇÃO ESTRUTURAL

6.1 – Introdução
O cálculo de estruturas de edifícios e os processos de verificação da sua segurança têm
sofrido um desenvolvido importante ao longo dos anos, devido em grande parte à utilização
de computadores como instrumentos de apoio. Esta evolução tem gerado a procura intensa de
novos métodos numéricos cada vez mais aperfeiçoados e capazes de analisar estruturas com
um grau crescente de complexidade e com maior precisão.

No passado, o Engenheiro de Estruturas dispunha apenas de algumas tabelas ou pequenas


máquinas de calcular para analisar os seus pequenos modelos discretos que correspondiam a
problemas simples ou que eram aproximações grosseiras de problemas complexos. As
limitações das capacidades de cálculo tinham de ser ultrapassadas pela sua intuição de
Engenheiro, pela sua experiência e pela adopção de elevados factores de segurança.

Actualmente, os problemas de Engenharia exigem, por vezes, a utilização de modelos


discretos muito refinados que reproduzam o comportamento real da estrutura, o que conduz à
necessidade de dispor de técnicas numéricas eficientes para o desenvolvimento de programas
de análise estrutural.

Existem programas de cálculo automático genéricos para a análise de estruturas simples e


complexas através de modelos planos ou espaciais que podem ser utilizados para o cálculo de
estruturas de edifícios. No entanto, a sua utilização tem algumas desvantagens e torna, por
vezes, complexa não só a modelação da estrutura, como também a modelação das acções que
sobre ela actuam.

A regulamentação portuguesa de estruturas estipula que a determinação dos efeitos da acção


dos sismos sobre as estruturas deverá ser feita, em muitos casos, por meio de análises
dinâmicas. Em geral, os programas de análise dinâmica foram desenvolvidos para o
tratamento de tipos genéricos de estruturas e necessitam de um grande volume de dados e de
uma grande quantidade de cálculos estáticos, tanto na preparação de dados como no
tratamento de resultados. Por outro lado, os parâmetros da resposta das estruturas à acção dos
sismos, determinados através de análise dinâmicas, necessitam de ser combinados com os
valores que esses parâmetros tomam para as outras acções, de acordo com as especificações
regulamentares. Estas combinações de acções nem sempre podem ser feitas de uma forma
automática uma vez que os programas de análise estática não se encontram, em geral,
encadeados com os programas de análise dinâmica.

138
Estruturas de Edifícios

É importante tirar partido de métodos de cálculo que permitam efectuar as análises estática e
dinâmica de uma forma integrada, de modo a se poder dispôr de um instrumento de trabalho
que permita a análise e compreensão deste tipo de estruturas (Duarte, 1975).

6.2 – Modelos de análise

Um modelo é constituído em princípio por um conjunto de hipóteses que permitem definir


completamente o conjunto de comportamentos que se pretende simular e abstrair da
complexidade existente no protótipo que não é relevante para os comportamentos em causa
(Pedro, 1981).

A modelação exacta da estrutura de um edifício é uma tarefa difícil visto que existem muitos
parâmetros em jogos tais como: não linearidades geométricas e físicas; não homogeneidade
do material; definição pouco precisa das ligações da estrutura ao meio exterior (interacção
solo-estrutura); contribuição na resistência de elementos não estruturais (painéis de
enchimento); análise do processo construtivo; considerações dos efeitos de torção devido a
forças aplicadas (acção sísmica considerada estaticamente); etc.

Associada à ideia de modelo surge a de uma certa facilidade na obtenção de soluções. Em


engenharia é corrente adoptar modelos que, dentro de determinados limites e tendo em conta
os métodos de análise disponíveis, melhor traduzam o comportamento real do edifício. Assim
é usual considerar, entre outras hipóteses, que o comportamento da estrutura é elástico e
linear. Com o aparecimento dos computadores digitais, foi possível reformular os métodos de
análise, dando ao engenheiro a possibilidade de criar novos modelos que permitem simular
mais de perto o comportamento dos edifícios.

Pensa-se que dentro de pouco tempo os modelos possam traduzir ainda de uma forma mais
exacta o comportameto real da estrutura, nomeadamente através da introdução do
comportamento não linear geométrico e material nos programa comerciais.

Embora seja possível a escolha de um modelo espacial completo para a análise de qualquer
tipo de estrutura de edifício, a dimensão do problema é geralmente muito grande para poder
ser tratada convenientemente através do cálculo automático. Torna-se então necessário
reduzir a dimensão do problema e por conseguinte escolher qual a idealização estrutural que
melhor se adapte ao edifício em questão.

139
Estruturas de Edifícios

6.2.1 - Modelos planos

6.2.1.1 - Pórticos planos independentes

Este é o modelo mais simples, ainda bastante utilizado no projecto de edifícios, que consiste
em individualizar na estrutura pórticos planos independentes. Nesta idealização desprezam-se
alguns graus de liberdade dos nós e não existe compatibilidade de deslocamentos dos nós de
pórticos independentes, não só para acções horizontais em nós contidos no mesmo piso e
pertencentes a pórticos distintos, como também para acções verticais em nós que pertençam
simultaneamente a dois pórticos ortogonais. Esta idealização só tem correspondência com o
comportamento real da estrutura quando o edifício tem um eixo de simetria paralelo à
direcção de actuação das forças horizontais e quando os pórticos são todos iguais nessa
direcção. Neste modelo os elementos estruturais são formados pela associação de elementos
lineares (barras), sendo usual simular as paredes resistentes por barras verticais, cuja ligação
às barras horizontais (vigas) é feita através de troços rígidos. Usualmente entra-se em
consideração com a deformabilidade por esforço axial e por momento flector, sendo corrente
nos programas que dispõem de troços rígidos entrar em consideração com a deformabilidade
por esforço transverso.

6.2.1.2 - Associação de pórticos em comboio

Se se admitir que, sob a acção de forças horizontais, o edifício não tem torção, pode-se fazer a
análise da estrutura associando os pórticos em série, isto é, ligando-os uns aos outros ao nível
dos pisos por barras biarticuladas com grande rigidez axial, Figura 6.1. Este modelo estrutural
é correntemente designado por associação de pórticos em comboio e corresponde a considerar
que os pisos são indeformáveis no seu próprio plano e que a actuação das forças horizontais
não provoca torção na estrutura.

Figura 6.1- Associação de pórticos em comboio

140
Estruturas de Edifícios

6.2.1.3 - Grelhas, lajes ou lajes vigadas

Este modelo consiste em considerar as estruturas dos pisos isolados do edifício. É uma
idealização estrutural que traduz razoavelmente o comportamento dos edifícios correntes sob
a acção de forças verticais, desde que as deformações globais não sejam significativas, Figura
6.2. Os pilares dos edifícios correntes apresentam, em geral, diagramas de momentos
flectores com uma variação linear entre dois pisos consecutivos e que se anulam num ponto
intermédio, que é vulgar admitir que se situa a meia altura entre os pisos. Considere-se então
a estrutura do edifício admitindo articulações colocadas entre os pisos. As subestruturas de
pisos resultantes desta partição do edifício são então analisadas isoladamente. Esta
subestrutura de piso pode ser estudada como uma grelha, laje ou laje vigada em que os pilares
são substituídos por apoios elásticos de igual rigidez.

Figura 6.2- Idealização estrutural de grelha

6.2.2 - Modelos espaciais

6.2.2.1 - Pórtico espacial

Neste modelo cada nó tem 6 graus de liberdade (3 deslocamentos e 3 rotações) sendo, em


geral, constituído apenas por elementos lineares (vigas e pilares). As subestruturas planas
(lajes e paredes) ou são desprezadas ou assimiladas a estruturas discretas formadas por barras.
A utilização deste modelo levanta o problema da simulação das cargas, visto que elas são
directamente aplicadas nas subestruturas contínuas (lajes) que se desprezam ou que são
assimiladas a elementos lineares. Devido ao elevado número de pontos nodais necessários
para a discretização estrutural de um edifício, este modelo conduz a um elevado número de
graus de liberdade que dão origem a uma análise muito dispendiosa ou de difícil tratamento
em grande parte dos computadores disponíveis.

141
Estruturas de Edifícios

6.2.2.2 Associação de pórticos planos

Este modelo estrutural é constituído por um conjunto de pórticos planos independentes


ligados ao nível dos pisos, considerados como diafragmas indeformáveis no seu próprio plano
e de rigidez transversal nula. Estas simplificações conduzem a uma redução do número de
graus de liberdade da estrutura. Assim, cada piso apresenta três graus de liberdade, duas
translações horizontais segundo duas direcções ortogonais e rotação em torno de um eixo
vertical. Cada pórtico possui dois graus de liberdade por nó (deslocamento vertical e rotação
em torno do eixo perpendicular ao plano do pórtico). Neste modelo estrutural não existe
compatibilidade nos nós de intersecção de pórticos planos com orientação diferentes, quer no
que se refere a deslocamentos verticais, quer no que respeita a rotações.

6.2.2.3 Estrutura de Edifício

Este modelo estrutural baseia-se numa idealização estrutural em que os pisos são
considerados como diafragmas indeformáveis no seu próprio plano, possuem rigidez
transversal de grelha, laje ou laje vigada, e os elementos estruturais verticais (pilares e
paredes) possuem 6 graus de liberdade por nó (3 deslocamentos e 3 rotações), existindo,
portanto, compatibilidade total de deslocamentos verticais e rotações em torno dos eixos
horizontais.

Para resumir os diversos modelos de análise apresentam-se na Figura 6.3 os modelos


referidos para a análise de estruturas de edifícios.

EDIFÍCIO

MODELOS PLANOS MODELOS ESPACIAIS

ASSOCIAÇÃO DE GRALHAS, LAJES PISOS RÍGIDOS


PORTICOS PLANOS PÓRTICOS
PÓRTICOS PLANOS OU NO
INDEPENDENTES ESPACIAIS PRÓPRIO PLANO
NO PLANO LAJES VIGADAS

ASSOCIAÇÃO DE "ESTRUTURA
PÓRTICOS PLANOS DE EDIFÍCIO"

Figura 6.3 - Modelos de análise de edifícios

142
Estruturas de Edifícios

6.3.- Programa de cálculo automático


6.3.1- Introdução

O projecto de estruturas não dispensa actualmente a utilização de meios automáticos de


cálculo, dimensionamento e desenho que permitam por um lado, a simplificação das tarefas
de rotina e, por outro, a possibilidade de proceder a análises mais realistas obtendo,
consequentemente, soluções mais seguras e económicas.

A universidade não pode ignorar a existência de uma série de programas de cálculo


automático, que funcionam, como caixas negras, em que entra o modelo do edifício de um
lado e saiem os desenhos dos pilares, sapatas e vigas do outro.Ou seja, a maior parte dos
programas permitem que, de uma forma sugestiva e simples, se proceda ao estudo completo
de todos os seus elementos, (vigas, pilares e sapatas), percorrendo todas as fases do projecto
de estruturas (cálculo, dimensionamento e desenhos, (PAC, 1990; CYPE, 1992, MGM, 1993,
TRICALC).

Estes programas são uma ferramenta indispensável, hoje em dia, em qualquer gabinete de
projectos e portanto a maioria dos alunos, quando terminam o seu curso, vão ser colocados
em frente de um computador com um programa comercial qualquer, que lhe permite
determinar as armaduras de todos os elementos estruturais do edifício.

Nesse sentido pensa-se que é fundamental que a universidade, não ignore estes factos e que
saiba viver com eles, fazendo ver as grandes vantagens que o cálculo automático proporciona
aos projectistas, mas alertando para os perigos que podem resultar da utilização de programas
tipo “caixa negra”. Quase todos os programas comerciais são comercializados a partir de uma
versão base, que posteriormente vai sendo actualizada. Os próprios compradores pedem para
que os programas não tenham, nas diversas fases de cálculo, chamadas de atenção,
relembrando determinados passos essenciais, para que não se cometam erros. Nenhum
programa tem a capacidade de detectar os erros, emendá-los de forma automátiva ou chamar
a atenção do utente, o que fazem é em função dos dados introduzidos, calcular os esforços e
as armaduras.

É indipensável que no início da carreira os jovens licenciados, quando utilizam estes


programas, façam várias verificações, para que comecem a ganhar sensibilidade e experiência
de modo a que passados alguns anos possam estimar as secções e as armaduras sem fazerem
grandes cálculos.

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Estruturas de Edifícios

6.3.2- Programas de cálculo

A grande maioria dos programas de cálculo de estruturas de edifícios utilizam na sua


formulação os 3 graus de liberdade por piso. Estes programas permitem, que de uma forma
sugestiva e simples, se proceda ao estudo completo de todos os seus elementos estruturais.

As fases de introdução de dados são facilitadas através do apoio em meios gráficos de


visualização, permitindo a sua rápida e eficaz verificação, reduzindo-se a possibilidade de
erros e, em consequência, ganhando-se em tempo de projecto e na confiança dos resultados.
Todos os dados são fornecidos mediante o preenchimento de menus, adequados a cada caso
sendo, sempre que possível, imediatamente convertidos numa representação gráfica, seja na
geometria, secções, acções, posicionamento de pórticos em planta, etc.

A grande maioria dos programas efectuam os cálculos baseados em algoritmos elaborados de


acordo com a Regulamentação Portuguesa e com os Eurocódigos nos casos omissos na
Regulamentação Nacional.

Os resultados são apresentados de forma a permitirem uma fácil interpretação, através de


saídas gráficas e numéricas, nomeadamente no que se refere a deformadas e diagramas de
esforços, igualmente úteis para a constituição da parte escrita das memórias descritivas.

Os programa dispôem ainda de um conjunto de opções destinadas à criação de desenhos de


pormenor que, no ambiente de um programa de CAD, poderão ser visualizados,
eventualmente tratados e impressos ou desenhados. Podem ser obtidas plantas estruturais,
desenhos de vigas, em alçado e corte, sapatas e quadro de pilares, com um elevado grau de
pormenorização e detalhe.

O conjunto de opções está estruturado de modo a permitir uma fácil e rápida execução de
projectos correntes, mas dispondo, ao mesmo tempo, de versatilidade para se adaptar a
situações não triviais, ou mesmo especiais, através da exploração das suas potencialidades e
da possibilidade de intervenção do projectista em várias fases do desenvolvimento do
projecto no computador.

6.3.3. DESCRIÇÃO GERAL DA UTILIZAÇÃO DE UM PROGRAMA

A utilização de um programa de cálculo automático é normalmente feita percorrendo um


conjunto sucessivo de menus cujas opções permitem executar várias operações inerentes ao
projecto de estruturas.

Os programas têm normalmente um primeiro menu que fornece, desde logo, uma ideia sobre
as principais operações possíveis:

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Estruturas de Edifícios

FICHEIROS - Manuseamento de ficheiros e saídas para o sistema operativo.

MALHA 3D - Introdução tridimensional da estrutura de um edifício permitindo: a criação


dos ficheiros de dados dos pórticos que o integram, incluindo de forma automática as suas
cargas verticais; preparação e desenho das plantas estruturais; avaliação da acção global do
vento e das forças gravíticas, por piso, para posterior utilização na determinação dos efeitos
das acções horizontais.

PÓRTICO - Preparação dos ficheiros de dados dos pórticos, cálculo e visualização de


resultados.

ACÇÕES HORZ - Cálculo e distribuição das acções horizontais, actuantes numa dada
direcção, pelos elementos estruturais existentes nessa direcção.

VIGAS - Dimensionamento das vigas e preparação dos elementos necessários ao


desenho em CAD.

PILARES - Dimensionamento dos pilares quer de um pórtico isolado, quer integrados


numa malha representativa dum edifício. Preparação dos elementos necessários ao desenho
em CAD.

SAPATAS - Dimensionamento das sapatas, usando a malha definida para os pilares, e


preparação dos elementos necessários ao desenho em CAD.

DESENHO/CAD- Criação dos ficheiros *.DXF, necessários ao desenho em CAD, para as


vigas, pilares e sapatas.

No desenvolvimento do projecto de estruturas de um edifício, assistido com um programa,


podem seguir-se, geralmente por ordem, as várias opções do menu principal, como em termos
gerais se descreve no que se segue.

A primeira operação consiste, naturalmente, em preparar os ficheiros de dados dos pórticos a


considerar como elementos estruturais do edifício. Esta operação pode ser realizada quer
através da criação de uma malha (opção MALHA 3D), em que as características dos diversos
elementos estruturais são fornecidas num ambiente tridimensional, quer através da criação de
pórticos individuais (opção PÓRTICO), em que, para cada pórtico, se define a geometria e
apoios, secções, acções, matriz de combinação de esforços e dados gerais.

Na opção MALHA 3D, para além da criação dos ficheiros de dados dos pórticos que integram
o edifício, incluindo a possibilidade de serem geradas automaticamente as respectivas acções
verticais, podem ainda ser definidas, e preparado o desenho (ficheiro *.DXF), das plantas

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Estruturas de Edifícios

estruturais e proceder à avaliação da acção global do vento e cargas gravíticas, por piso, para
posterior consideração na determinação dos efeitos das acções horizontais.

Antes de se passar para o cálculo de cada pórtico, e no caso de se pretender considerar a acção
do vento ou dos sismos, deve passar-se à opção ACÇÕES HORZ. Nesta opção procede-se,
para cada direcção, ao cálculo da acção sísmica e à distribuição da acção global do vento e
dos sismos por cada um dos elementos estruturais. Como resultado, é criado um ficheiro com
as acções horizontais atribuidas a cada pórtico as quais são automaticamente inseridas em
cada um dos respectivos ficheiros de dados. Deste modo, se já se tiver previamente incluido
as acções permanentes e sobrecargas, ficará completo o conjunto das acções de cada pórtico
com a adição das forças do vento e dos sismos.

Novamente na opção PÓRTICO, procede-se à conclusão do ficheiro de dados de cada pórtico


(nesta altura poderá apenas faltar a adequação da matriz das combinações de acções), ao
cálculo dos pórticos, podendo imediatamente visualizar-se as deformadas e diagramas de
esforços nas vigas e pilares, bem como criar e analisar o ficheiro de resultados.

Segue-se a fase de dimensionamento das vigas, resultando um ficheiro contendo todas as


informações relativas às armaduras longitudinais e transversais a adoptar bem como os
correspondentes pontos de interrupção. Este ficheiro, que servirá mais tarde para o desenho
de pormenorização, poderá ser editado de forma a serem introduzidas as modificações
desejadas pelo projectista as quais serão incorporadas no desenho.

Para o dimensionamento dos pilares, e pretendendo-se um cálculo global envolvendo os


pórticos que interessam a cada pilar, é necessário criar uma malha ou importá-la se tiver sido
criada na opção MALHA 3D, para o posicionamento em planta dos pórticos, seguindo-se o
respectivo cálculo de que resulta um ficheiro contendo os esforços nas duas direcções, bem
como as armaduras resultantes do dimensionamento. Este ficheiro, que servirá para o desenho
do quadro de pilares, poderá ser editado de forma a serem introduzidas as modificações
pretendidas e que serão incorporadas nos desenhos.

O cálculo das sapatas efectua-se com base no ficheiro que contém os esforços dos pilares,
permitindo-se para cada uma definir o seu tipo e a tensão admissível no terreno. Como nas
vigas e nos pilares é criado um ficheiro, que poderá ser editado, de forma a serem
introduzidas as modificações desejadas no desenho.

Finalmente em DESENHO/CAD, podem ser criados os ficheiros *.DXF de vigas, pilares e


sapatas, a serem tratados posteriormente em ambiente CAD.

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Estruturas de Edifícios

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Estruturas de Edifícios

CAPÍTULO VII

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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