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METODOLOGIA
E PRÁTICA DE
ENSINO DA ARTE
autor
PROFA DRA SUSELAINE ZANIOLO MASCIOLI
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2016
Conselho editorial luis claudio dallier saldanha; roberto paes; gladis linhares;
karen bortoloti; marília gomes godinho
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.
isbn: 978-85-5548-178-9
Prefácio 7
2. A História da Arte e
o Trajeto da Arte no Brasil 27
4. As Linguagens Artísticas:
Artes Visuais, Música, Dança e Teatro 61
Bons estudos!
5
1
A Arte Como
Produção Social
e o Processo de
Criação Humana
“A formação de uma personalidade criadora projetada em direção ao amanhã se faz
pela imaginação criadora encarnada no presente.” (VIGOTSKY, 1982, p. 108).
Este capítulo está estruturado de forma que o papel social da arte e aos ensejos
da ação criadora sejam desvelados. Destacaremos também em nossas aprecia-
ções, a capacidade criadora infantil.
Você pode acreditar que não conhece arte, que não sabe qual a sua função,
importância, mas na verdade você está muito próximo dela.
Nossa vida está rodeada de arte por todos os lados. Ao acordar pela manhã
e olhar o relógio para saber a hora, você tem o primeiro contato do dia com a
arte, pois o relógio passou por processo de produção que exigiu planejamento
de especialistas que estudaram e aplicaram noções de arte em sua concepção
e design.
Em outros objetos do seu quarto você pode observar a presença da arte: no
desenho da sua cama, na estampa do lençol e das cortinas, entre outros.
Baseado neste contexto, convidamos você a compreender melhor qual a
função social da arte, e o processo de Criação humana.
OBJETIVOS
• Refletir sobre as contribuições da arte para o desenvolvimento social;
• Refletir sobre a arte enquanto produção social e cultural;
• Abordar alguns pressupostos que orientam a concepção da arte como produção social
apresentando o pensamento de diferentes autores;
• Apresentar duas perspectivas distintas sobre a criação e a criatividade, ou seja: a Perspec-
tiva Humanista e a Perspectiva da Teoria Histórico-Cultural.
8• capítulo 1
1.1 A arte e o poder da Arte
O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holan-
da Ferreira possui duas definições para a palavra arte, transcritos abaixo:
capítulo 1 •9
A foi elaborada na antiga União Soviética, entre as décadas de 1920 e 1930 por Liev
Semenovich Vigotski?
Você sabia que a grafia do nome do autor é encontrada na literatura de formas distin-
tas, dependendo do idioma de origem das traduções e das obras utilizadas? Segundo
Duarte (2000) as traduções de edições norte-americanas adotam a grafia VIGOTSKY.
Os Alemães substituem o V por W, utilizando, portanto, a grafia WYGOTSKI. As obras
traduzidas de forma direta do russo para o espanhol adotam a grafia VIGOTSKI. Exis-
tem ainda traduções em português, que utilizam a grafia VIGOTSKII.
10 • capítulo 1
Parte-se do pressuposto que a relação entre o eu e o outro que, no contexto
mais específico da escola, se traduz na relação entre educador-educando, e na
relação entre criador-obra-espectador no campo da criação artística, desenca-
deiam os processos de constituição do sujeito e de aprendizagem.
Para Vigotski, a presença do outro é indispensável para a internalização da
linguagem, organização dos processos psicológicos superiores, constituição da
subjetividade e construção do conhecimento.
A arte é um campo de construção de conhecimento, que se difere da Ciência,
mas que é igualmente relevante e contribui para a ampliação do horizonte de
percepção, representação e significação do mundo que nos cerca.
Nota-se na teoria Vigotskiana o papel fundamental da arte enquanto produ-
to social e enquanto instrumento humanizador do ser humano:
O social existe até mesmo onde há apenas um homem e as suas emoções indivi-
duais. Por isso, quando a arte realiza a catarse e arrasta para esse fogo purificador as
comoções mais íntimas e mais vitalmente importantes de uma alma individual, o seu
efeito é um efeito social. A questão não se dá da maneira como representa a teoria
do contágio, segundo a qual o sentimento que nasce em um indivíduo contagia a
todos, torna-se social; ocorre exatamente o contrário. A refundição das emoções fora
de nós realiza-se por força de um sentimento que foi objetivado, levado para fora de
nós, materializado e fixado nos objetos externos da arte, que se tornaram instrumento
da sociedade. A peculiaridade essencialíssima do homem, diferentemente do animal,
consiste em que ele introduz e separa de seu corpo tanto o dispositivo da técnica
quanto o dispositivo do conhecimento científico, que se tornaram instrumentos da so-
ciedade. De igual maneira, a arte é uma técnica social do sentimento, um instrumento
da sociedade através do qual incorpora ao ciclo da vida social os aspectos mais ínti-
mos e pessoais do nosso ser. Seria mais correto dizer que o sentimento não se torna
social, mas, ao contrário, torna-se pessoal,quando cada um de nós vivencia uma obra
de arte, converte-se em pessoal sem com isto deixar de continuar social. (VIGOTSKI,
1998, p. 315, apud DUARTE, 2008, p. 1).
capítulo 1 • 11
para interferir no seu (da obra de arte); não implica nem momentos de prepa-
ração do espectador ou leitor para a percepção da obra de arte.” (VIGOTSKI,
1999, p.321).
Você sabia que por ter morrido precocemente, Vigotski deixou muitos estudos incom-
pletos que foram retomados e acrescidos de outras pesquisas por seus seguidores e
colaboradores (entre eles: Alexei Nikolaevich Leontiev, Alexander Romanovich Luria,
Lidia Bozhovich, Piotr, Galperin, Daniil Elkonin, Vasili Davídov, Arthur Vladimirovich
Petrovski, dentre outros)?
12 • capítulo 1
Esta obra denuncia as barbaridades presentes em uma guerra civil e provo-
ca sentimentos como revolta e tristeza nas pessoas que a apreciam.
No segundo caso, a arte pode intrigar quando sugere às pessoas várias
interpretações.
Isso pode ser observado na famosa obra de Leonardo da Vinci (1452-1519):
“Mona Lisa” (ou Gioconda) – por meio de seu sorriso.
capítulo 1 • 13
No terceiro caso, a arte pode ensinar quando apresenta imagens históricas,
temas sociais e até mesmo o contexto em que foi concebida. Isso fica evidente
na obra “Os Retirantes” de Cândido Portinari (1903-1962). Esta obra denuncia
uma triste realidade social.
Assim podemos afirmar que a arte permite ao artista mostrar o seu olhar e
a sua leitura de mundo.
A arte pode ser compreendida também como a articulação do fazer, do re-
presentar e do exprimir. (FERRAZ & FUSARI, 1993).
Segundo essas autoras, num contexto histórico-social que envolve o artista,
a obra de arte, os difusores (meios) comunicacionais e o público, a arte apresen-
ta-se como produção, trabalho e construção.
Neste contexto, a arte é vista como a representação do mundo cultural com
significado, imaginação, interpretação, conhecimento do mundo, expressão
dos sentimentos, da energia interna, da efusão que se expressa, que se mani-
festa, que se simboliza, ou seja, é a dialética da relação homem-mundo.
Em relação aos artistas, salienta-se que eles elaboram suas obras visuais,
arquitetônicas, cênicas, sonoras, audiovisuais entre outras concretizando-se
através de sínteses formais resultantes de sentimentos, atos técnicos, inventi-
vos e estéticos.
As obras de arte são, em cada sociedade, época, sínteses que dependem da
trajetória pessoal de quem as fez e de suas concepções sobre o ser humano, o
gosto, os valores, etc.
Logo, podemos compreender porque os artistas em suas relações com natu-
reza ou cultura produzem obras que se diferenciam formal e expressivamente.
Ferraz e Fusari (1993) complementam que o processo expressivo é gerado
pelo sentimento resultante de uma síntese emocional que, por sua vez, origina-
se de estados tensionais provocados por forças de ordem interna e externa: são
as relações entre o sujeito e as coisas, o subjetivo e o objetivo, o ser sensível e o
símbolo.
A elaboração de obras de arte depende, portanto, de um saber formar ou
transformar intencional a partir de materiais e por meio da elaboração de re-
presentações expressivas.
Ao mesmo tempo, a verdadeira concretização da obra de arte ocorrerá no
contato com as pessoas, quando o ato criador se completa.
14 • capítulo 1
Em outras palavras, tanto o processo de produção como o de recepção de-
vem ser levados em conta, pois dessa forma pode-se entender a inserção da obra
de arte num determinado meio social, onde difundem-se conceitos de estética.
Que importância é essa dada às artes enquanto assunto e objeto de estudo?
V Neste cenário Bosi (2006) salienta que a arte é:
capítulo 1 • 15
Neste contexto, destaca-se a motivação que busca na expressão um signifi-
cado pessoal aplicável no dia a dia dos sujeitos.
Diante desta interessante reflexão, torna-se fundamental conhecer a história
da arte bem comoo as influências culturais e sociais presentes neste contexto.
Definindo a Criatividade
A palavra criatividade vem do latim creare que tem por significado fazer e do
grego kreinen, que, além de significar crise, também expressa ações como rea-
lizar, preencher, o que de acordo com Wechsler (1998 apud OLIVEIRA, 2003),
demonstra a preocupação, que se tinha desde a antiguidade com o como pen-
sar e sentir criativamente.
A mesma autora relata que apesar de já se ter obtido progressos neste
último século, quanto à compreensão da criatividade por meios de diferentes
pesquisas e estudos, a sua conceituação ainda é alvo de diversas discussões,
sendo apresentada de maneiras distintas por muitos autores.
Em uma pesquisa bibliográfica Taylor (1976 apud OLIVEIRA, 2003)
constatou que haviam mais de cem definições diferentes, e as vezes até mesmo
contrárias, ligadas a determinação do conceito de criatividade, enfatizando sua
complexidade, já que esta envolve diversas dimensões, destacando as de natu-
reza cognitiva, afetiva, cultural, familiar e educacional.
Apresentaremos agora duas perspectivas distintas sobre a criação e a cria-
tividade, ou seja: a Perspectiva Humanista (apresentando ideias de represen-
tantes como Lowenfeld e Brittain; Ostrower e outros) e a Perspectiva da Teoria
Histórico-Cultural (apresentando Vigotski e seus colaboradores).
16 • capítulo 1
1.2.1 A criação na Perspectiva Humanista
Em seus estudos, Lowenfeld e Brittain (1977), uns dos mais renomados estu-
diosos que contribuíram para a difusão da ideia da criatividade no contexto
educacional, apontam que:
capítulo 1 • 17
Porém, observa que, em geral, a criatividade é considerada como um com-
portamento produtivo e construtivo que está presente no modo de agir e em
suas realizações, não havendo necessidade de ser um fenômeno único ou algo
nunca visto antes, mas simplesmente uma contribuição do próprio indivíduo.
Alencar (1996) apresenta a criatividade como sendo:
18 • capítulo 1
Contudo Alencar e Fleith (2003) observam que:
capítulo 1 • 19
Entretanto, quando se lida com crianças, os materiais não são escolhidos por suas
qualidades singulares ou suas características únicas que os tornam particularmente
expressivos para o artista profissional. Pelo contrário, a criança vê esses materiais
como algo que está intimamente vinculado à própria expressão e finalidade da arte,
de um modo bastante parecido àquele como aceita um lápis para escrever ou um livro
para ler. Portanto, um grande dano pode ser causado à criança, se seu nível de desen-
volvimento não for levado em consideração, ao proceder-se à escolha dos materiais
que ela vai usar para seu trabalho criador. (p. 108).
20 • capítulo 1
ser vista como uma potencialidade psicológica com a qual o individuo nasce,
mas sim como uma característica ou processo especificamente humano que é
constituído nas condições culturais, sociais e históricas de vida de uma socie-
dade concreta.” (MITJÁNS MARTÍNEZ, 2004, p.85).
A Teoria Histórico-Cultural compreende que é o impulso criador que permi-
te ao ser humano projetar-se para o futuro, transformar a realidade e modificar
o presente. “Todos os objetos da vida diária, sem excluir os mais simples e habi-
tuais, vêm a ser algo assim como fantasia cristalizada." (VIGOTSKI, 1982, p.10).
Ensinar o ato criador da arte é impossível; entretanto, isto não significa, em absoluto,
que o educador não pode contribuir para sua formação e manifestação. Através da
consciência penetramos no inconsciente, de certo modo podemos organizar os pro-
cessos conscientes de maneira a suscitar através deles os processos inconscientes, e
todo o mundo sabe que qualquer ato artístico incorpora forçosamente como condição
obrigatória os atos de conhecimento racional precedentes, as concepções, identifica-
ções, associações etc. (VIGOTSKI, 1999, p 325).
capítulo 1 • 21
nesse diálogo que o objeto artístico se constitui como uma forma materializada
da inter-relação estabelecida entre criador e contemplador, inseridos no con-
texto sócio-histórico.
Desta forma, o processo de criação é o resultado deste processo, ou seja, qual-
quer invenção é fruto de sua época e de seu ambiente, de parte das condições já
alcançadas e de outras possibilidades, que são encontradas fora de seu criador.
O ato de criar e imaginar não se limita à reprodução de imagens historica-
mente constituídas, pois é a partir das experiências históricas e culturais, de
pensamentos, imagens e expressões que o homem cria.
Quanto mais veja, ouça e experimente, quanto mais aprenda e assimile, quanto mais
elementos reais disponham em sua experiência infantil, tanto mais considerável e pro-
dutiva será, a igualdade das restantes circunstâncias, a atividade de sua imaginação.
(VIGOTSKI, 1982, p.8-9).
22 • capítulo 1
O autor na referida obra diferencia no ser humano dois tipos básicos de ati-
vidades cerebrais que impulsionam diferentes condutas humanas. Um deles
é o impulso reprodutor ou reprodutivo, que está estreitamente vinculado ao
exercício da memória; o outro tipo de conduta é guiado pelo impulso criador
ou combinador e relaciona-se intimamente à imaginação, sendo denominado
pelo autor de fantasia. Demonstra também que tanto a memória como a fan-
tasia são funções psicológicas complexas e dialeticamente interrelacionadas,
o que ocorre é que "a fantasia não está contraposta à memória, mas se apoia
nela e dispõe de seus dados em novas e novas combinações." (VIGOTSKI, 1982,
p.18).
A partir de uma perspectiva sócio-histórica, Vigotski ressalta o papel das in-
terações entre os sujeitos, o meio e os objetos de cultura como base para a ati-
vidade criadora da imaginação e de produção artística, uma vez que toda obra
criada está inserida no fluxo da história e se apoia nas experiências e criações
que a precederam.
Constata assim, que o ato de imaginar constitui uma complexa composi-
ção processual e que a atividade da imaginação criadora depende, portanto, de
toda uma cadeia de diversos fatores.
Nesse aspecto, Vigotski valoriza sobremaneira o ato imitativo para que a
criança esteja representando algo que ela ainda não domina, mas que poderá
dominar num futuro próximo ou mais distante dependendo do que se quei-
ra atingir. “Através da imitação na atividade coletiva, orientada pelos adultos
a criança está em condições de fazer bem mais, e fazer compreendendo com
autonomia.” (VIGOTSKI, 2010, p. 480).
O cérebro humano é compreendido não apenas como um órgão que pode
conservar e reproduzir as experiências vividas, mas também como um órgão
que pode combinar e reelaborar tais experiências para então, partindo de tais
elementos, desempenhar a atividade criadora.
A atividade de imaginação criativa depende prioritariamente da variedade e
da riqueza das experiências. Quanto mais ricas forem as experiências pessoais,
mais material a imaginação terá à sua disposição.
Os conceitos imaginação e fantasia, muitas vezes na compreensão advinda
do senso comum, se associam ao irreal, mas contrariamente, entende-se aqui a
partir do ideário de Vigotski (1998), que a imaginação é a base de toda atividade
criadora e, se manifesta em todos os aspectos da vida cultural, possibilitando a
criação artística, científica e técnica.
capítulo 1 • 23
Segundo o autor, em cada nível do desenvolvimento humano, observa-se
uma forma própria de expressão imaginativa e um processo singular de cria-
ção; características próprias que diferenciam a imaginação infantil da imagi-
nação do jovem e do adulto.
Evidencia assim, a necessidade de uma ação pedagógica que amplie a expe-
riência da criança proporcionando-lhe bases suficientemente sólidas para sua
atividade criadora.
Contrariamente ao que algumas correntes teóricas defendem, Vigotski
(1998) adverte para o fato de que a imaginação infantil não é mais rica do que
a imaginação do adulto, pois, como a imaginação depende da experiência, a
experiência da criança acumula-se e amplia-se paulatinamente com profun-
das peculiaridades.
O autor em pauta defende, portanto, que com o crescimento da criança se
desenvolve também sua imaginação.
Durante todo esse período de amadurecimento, a conduta do adulto consti-
tui-se como fator determinante da função imaginativa infantil. Assim, quanto
mais essas crianças puderem usar de seus sentidos em experiências que pos-
sam, ver, tocar, experimentar, mais aptas estarão a aprender, assimilar e criar.
Observa-se um movimento histórico em defesa do desenvolvimento do ser
humano em sua magnitude e integridade, que vai muito além de sua capacida-
de de ler, escrever.
Vigotski (1998) defende a importância de se permitir nas escolas um tra-
balho pedagógico voltado para todas as possibilidades de criação e expressão
infantil, que abarca desde a mais simples gestualidade. “O gesto é o signo vi-
sual inicial que contém a futura escrita da criança, assim como uma semente
contém um carvalho.” (VIGOTSKI, 1998, p. 141).
CONEXÃO
Visite os sites da Fundação Arte na Escola, do Ministério da Educação, da 24ª Bienal de São
Paulo para conhecer um pouco mais sobre o assunto: www.artenaescola.org.br www.mec.
gov.br http://www.uol.com.br/bienal/24bienal/edu/index.htm
24 • capítulo 1
ATIVIDADES
Vimos que Vigotski morreu precocemente e que suas pesquisas foram retomadas e acresci-
das por seus seguidores e colaboradores. Para entender um pouco mais sobre sua proposta
teórica pesquise:
REFLEXÃO
Título original: (Girl with a Pearl Earring)
Lançamento: 2003 (Inglaterra)
Direção: Peter Webber
Atores: Colin Firth, Scarlett Johansson, Tom Wilkinson, Judy Parfitt.
Duração: 95 min
Gênero: Drama
Status: Arquivado
Moça com Brinco de Pérola
capítulo 1 • 25
LEITURA
OLIVEIRA J. & GARCEZ, L. Explicando Arte: uma iniciação para entender e apreciar artes visuais. Rio
de Janeiro: Ediouro, 2006.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENCAR e FLEITH. Criatividade Múltiplas perspectivas. Brasília: Fundação Universidade de
Brasília (UNB), 2003.
BOSI, A. Reflexões sobre a arte. São Paulo: Ática, 2006.
DUARTE, Newton. Arte e formação humana em Lukács e Vigotski. In: REUNIÃO ANUAL DA
ANPED, 31., 2008, Caxambu. Constituição brasileira, direitos humanos e educação. Anais... Rio
de Janeiro: ANPEd, 2008. www.31reuniao.anped.org.br/1trabalho/GT17-4026--Int.pdf. Acesso: 15/
03/2014.
FERRAZ, Maria Heloisa C. de T.; FUSARI, Maria Felisminda de R. e. Arte na Educação Escolar. São
Paulo: Cortez, 1993.
FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1986.
LIMA, M. G. A psicologia da arte e os fundamentos da teoria histórico cultural do
desenvolvimento humano. Interações, jan-jun,ano/vol V 009., SP: Universidade São Marcos, 2000.
LOWENFELD, V. & BRITTAIN, W. Desenvolvimento da capacidade criadora. São Paulo: Mestre
Jou, 1977.
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. 16ª edição. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
MITJÁNS MARTÍNEZ, A. O outro e sua significação para a criatividade: implicações
educacionais. In: O outro no desenvolvimento humano. Diálogos para a pesquisa prática profissional
em psicologia. São Paulo: Pioneira Thomson Learnig, 2004.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 1987.
ROSA, N.S.S. & SCÁLEA, N.S. Arte-educação para professores. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2006.
VIGOTSKI, L. S. Psicologia da Arte. São Paulo: Martins Fontes. 1999.
______________. La imaginación y el arte en la infância. Madrid: Akal, 1982.
______________. Psicologia pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2010.
26 • capítulo 1
2
A História da Arte
e o Trajeto da Arte
no Brasil
Arte não é apenas básica, mas fundamental na educação de um país que se desen-
volve. Arte é cognição, é profissão, é uma forma diferente da palavra para interpretar o
mundo, a realidade, o imaginário, e é conteúdo. (BARBOSA, 1991, p. 4).
OBJETIVOS
• Compreender alguns períodos e fatos que compõe a História da arte.
• Analisar o trajeto da arte no Brasil.
28 • capítulo 2
2.1 A história da arte
2.1.1 Pinturas pré-históricas
Você sabia que nos primórdios da civilização, a arte era concebida como uma mani-
festação mítica e mágica?
Arte na Pré-História
capítulo 2 • 29
• Período Paleolítico
Também conhecido como “Idade da Pedra Lascada” porque as armas e ins-
trumentos de pedra produzidos pelos grupos humanos eram “lascados” para
adquirir bordas cortantes.
São deste período as primeiras manifestações artísticas que se tem registro
através das pinturas encontradas nas cavernas de Chauvet e Lascaux (França) e
de Altamira (Espanha).
Elas consistiam em traços feitos nas paredes ou das mãos em negativo. Para
tanto, os indivíduos obtinham um pó colorido extraído da trituração de pedras
coloridas e com um canudo sopravam sobre a mão colocada na parede.
Assim, criava-se a silhueta da mão, pois o envolvo da mesma ficava colorido
e a outra superfície não, como numa fotografia.
Podemos observar o exemplo ‘Contorno de mão’
CONEXÃO
Para saber mais sobre a Caverna de Pech Merle acesse: https://pt.wikipedia.org/wiki/
Caverna_de_Pech_Merle
30 • capítulo 2
A principal característica deste período é o naturalismo, uma vez que o artis-
ta reproduzia a natureza tal qual a via ou captava.
Essas pinturas são denominadas rupestres.
Você sabia que Arte rupestre é o termo que denomina as representações artísticas
pré-históricas realizadas em paredes, tetos e outras superfícies de cavernas e abrigos
rochosos, ou mesmo sobre superfícies rochosas ao ar livre?
• Período Neolítico
Também conhecido como “Idade da Pedra Polida” porque neste período se
desenvolveu a técnica de produzir armas e instrumentos com pedras polidas
por atrito, que as tornava mais afiadas.
Veja alguns artefatos do período Neolítico:
capítulo 2 • 31
Destaca-se neste cenário o início da agricultura e da domesticação de ani-
mais. Esses fatos possibilitaram a fixação do homem na terra, o aumento po-
pulacional, o desenvolvimento de núcleos familiares e a divisão do trabalho.
Criou-se assim técnicas como a de tecelagem, cerâmica e construção de mo-
radias. Aparece ainda a possibilida-
de de derreter e trabalhar os metais
por meio da produção do fogo.
A arte neste período refletiu to-
das essas técnicas. Além disso, cabe
ressaltar o uso do estilo geométri-
co com figuras na representação
dos seres.
Esta é a primeira grande trans-
formação na história da arte.
Observa-se que o ser humano
passou a ser representado em suas
atividades cotidianas o que levava à
ideia de movimento, uma vez que o
artista buscou representar cenas co-
letivas. Isso pode ser constatado pelo
posicionamento dos braços e pernas
presentes nessas representações.
A preocupação com os movi-
mentos levou à criação de figuras mais leves, pequenas e com poucas cores.
Posteriormente, essas figuras reduziram-se a traços e linhas simples. Delas sur-
giria depois a primeira forma de escrita: a escrita pictográfica.
Você sabia que se denomina Idade dos Metais por ser um período marcado pelo
início da fabricação de ferramentas e armas de metal?
32 • capítulo 2
2.1.2 A Arte na Antiguidade
Segundo Oliveira e Garcez (2006) no Egito (4.000 a 1.000 a.C.) observa-se um sig-
nificativo desenvolvimento da arquitetura, escultura, desenho e pintura bem
como ouso de linhas simplificando volumes e perspectivas associadas à ideia
de eternidade.
Isso pode ser verificado por meio das pirâmides, por exemplo.
Podemos afirmar que a arte grega influenciou toda a civilização ocidental e que
neste período a escultura em mármore branco e a imagem do corpo humano
eram ser vistas com interesse estético, como representantes do belo.
capítulo 2 • 33
Em relação à arquitetura grega, podemos citar as construções com estru-
turas simples e harmônicas como é o caso das colunas de Paternon concebida
para homenagear os deuses.
34 • capítulo 2
Como consequência, houve a proibição de imagens de santos, pois, acre-
ditava-se que as pessoas estavam idolatrando ícones com manifestações
milagrosas.
A pena para quem desobedecesse era a morte. Todo este cenário acabou por
dificultar e restringir o trabalho dos artistas.
Além disso, neste período instaura-se a Inquisição (tribunal religioso que
perseguia todos aqueles que não fossem católicos e ameaçassem os dogmas da
Igreja).
Isso acabou levando à desumanização da figura humana sendo a arte afeta-
da em sua liberdade de criação e expressão.
Durante anos, a arte foi reduzida e confinada aos mosteiros e aos interesses
religiosos.
Essa afirmação é observada por meio de três estilos sucessivos:
Você sabia que imagem do Cristo Pantocratoro é mais célebre dos mosaicos Bizanti-
nos intactos da Basílica de Santa Sofia em Constantinopla?
capítulo 2 • 35
2. Romântico (século IX)
Exemplo: Castelo de Sintra, Portugal Vista das muralhas
36 • capítulo 2
Segundo Oliveira e Garcez (2006) observa-se neste contexto a construção de
catedrais e abadias grandiosas, produção de tapeçaria, joias para as Igrejas, en-
talhes em marfim, mosaicos, vitrais, entre outros.
Neste período destaca-se como expressão maior da arte a arquitetura e a es-
cultura que apresentam um verdadeiro renascimento e uma volta aos modelos
clássicos.
Segundo Oliveira e Garcez (2006) foi a partir do século XIII, na Idade Moderna,
que podemos observar com clareza uma volta às influências grecoromanas.
A figura humana retoma suas dimensões ideais e a influência religiosa vai
se transformando. Aspectos como profundidade, uso de figuras mais sólidas,
mais humanas, com contornos suaves em cenários concretos passam a ser res-
gatadas, o que remete à volta ao naturalismo.
Neste contexto, a Europa passa a “ditar” os caminhos para as artes.
Interessante citar que esse movimento tem origem em Florença (fim da
Idade Média) com Giotto e Cimabue.
Neste período, destacam-se ainda:
capítulo 2 • 37
MICHELANGELO Autor da Capela Sistina no Vaticano.
BUONARROTI (1475 – 1564)
Este período (século XVII até o século XVIII) apresentou como características:
• Trabalhos estruturados;
• Rebuscamento;
• Exagero ornamental;
• Temas ousados para época;
• Figuras que trazem a ideia de movimento e teatralidade;
• Colorido intenso;
• Luminosidade e sombra.
38 • capítulo 2
2.1.8 A Arte no Brasil Colonial
Conforme apontam Oliveira & Garcez (2006) no Brasil, existia arte mesmo antes
da chegada dos europeus em nosso país.
A arte indígena já havia se desenvolvido por meio de adornos feitos de plu-
mas coloridas, pinturas corporais, cerâmicas decoradas com formas geométri-
cas, lanças e escudos cerimoniais, entre outros.
Esses objetos podem ser considerados artísticos, pois são objetos cuja be-
leza resulta de sua perfeita realização e representam muito mais as tradições
dessas comunidades do que a personalidade de quem as fez.
Apoiado nisso Oliveira & Garcez (2006) afirmam que os estilos de pintura
corporal, por exemplo, variam de um grupo para outro e que assim, podemos
afirmar que existem “artes indígenas”.
Destaca-se que neste período o Renascimento atingiu seu apogeu e que,
com a invasão holandesa ocorrida em 1637, chegaram ao país pintores que do-
cumentaram a fauna, a flora e o cenário brasileiro como um todo.
A arte no Brasil colonial surgiu, sob influência do Barroco.
No início, muitas obras vinham de Portugal para igrejas e casas dos coloni-
zadores. Depois (século XVII) é que se visualiza a consolidação da arte nacional,
dentre eles a arte sacra.
Destacam-se como representantes deste período: Manuel da Costa Ataíde
eAntonio Francisco Lisboa (Aleijadinho).
capítulo 2 • 39
Exemplo: Anjo com o cálice da Paixão, na Via Sacra de Congonhas,
de Aleijadinho.
40 • capítulo 2
Os artistas procuravam novamente a emoção e a paixão. Surgem então os
“impressionistas”. Eles passam a pintar ao ar livre e se preocupam em repre-
sentar a realidade por meio da desconstrução da figura uma vez que buscavam
a impressão da sensação.
Observa-se neste momento uma ruptura com a arte imitativa, naturalista e
realista, sendo que o surgimento da fotografia motiva ainda mais esse cenário.
A pintura passa a ser concebida como o que o artista sente diante do que
busca representar.
Destacam-se como representantes deste período: Edgar Degas; Pierre
Renoir; Vicent Van Gogh; Paul Cézanne; Eliseu Visconti.
capítulo 2 • 41
A escultura, por exemplo, passa por transformações em busca de novas for-
mas de expressão.
Destacam-se como representantes deste período: Brancusi; Calder;
Matisse; Miró; Salvador Dali; Marc Chagall; Marcel Duchamp; Pablo Picasso;
Lasar Segall.
No Brasil, importante destacar que em fevereiro de 1922, um grupo de inte-
lectuais organiza a Semana de Arte Moderna em São Paulo.
O Movimento Modernista ganha força, tendo como representantes Anita
Malfati (1878-1935), Mário de Andrade (1923-1945) e Oswald de Andrade (1890-
1954), que tinham intenção de despertar uma consciência nacional, visando a
valorização da cultura brasileira, “libertando-se assim, da adoção das influen-
cias estrangeiras, ou pelo menos, recriando-as a partir dos valores e da cultura
de nosso país” (PENTEADO, 2001 p.18).
A partir daí, as influências das teorias impressionistas e dos escritos de
Freud (1856-1939), proporciona e valoriza a ideia de livre expressão para as
crianças. Este fato foi concebido como o primeiro progresso em arte-educação
no Brasil e, em 1951 a criação da exposição Bienal Internacional de São Paulo.
Neste cenário, destacam-se: Tarsila do Amaral, Victor Brecheret, Anita
Malfatti, Cícero Dias, Guignard, Portinari, Mabe, Othake e Sckiar.
Exemplo: Abaporu, Tarsila do Amaral - Óleo sobre tela, 1928
42 • capítulo 2
Você sabia que o Abaporu é uma de suas obras mais conhecidas de Tarsila do Ama-
ral, uma das telas brasileiras mais valorizada no mundo e um ícone do Modernismo
brasileiro?
ATIVIDADES
A Capela Sistina, uma das mais famosas capelas do mundo: Sua arquitetura é inspirada no
Templo de Salomão do Antigo Testamento, e seu interior é magistralmente decorado por
afrescos pintados por alguns dos maiores artistas da Renascença, incluindo Michelangelo,
Rafael, Bernini e Botticelli. Podemos dizer sobre a técnica afresco que:I- Do italiano“buona
fresco" ("boa nova"). Consiste em técnica de pintura bastante antiga, sendo utilizada, princi-
palmente, na Grécia e Roma.
01. É uma técnica artística onde a pintura geralmente ocorre em tetos ou paredes.
02. Trata-se de uma pintura com pigmentos à base de água, feita sobre argamassa ainda
fresca de cal queimada e areia.
03. Não era muito usada por sua baixa resistência ao tempo.
REFLEXÃO
Vale a pena conferir os sites indicados abaixo com sugestões de atividades para serem feitas
entre professores e alunos:
http://www.abra.com.br
http://www.portaldarte.com.br/literaturacriancas.htm
http://www.historiadaarte.com.br/artecriancas.html
capítulo 2 • 43
LEITURA
AMARAL, A. A. Tarsila: sua obra e seu tempo. São Paulo: Ed. 34; Edusp, 2003
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, A,.M. e SALES, H. M. O ensino da arte e sua história. São Paulo: MAC, 1991.
BOSI, A. Reflexões sobre a arte. São Paulo: Ática, 2006.
FERRAZ, M. F de R. & FUSARI, M.H.C. de T. Arte na Educação Escolar. São Paulo: Cortez, 1993.
FISCHER, E. A Necessidade da Arte. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
OLIVEIRA J. & GARCEZ, L. Explicando Arte: uma iniciação para entender e apreciar artes visuais: Rio
de Janeiro (RJ): Ediouro; 2001.
PROENÇA, G. História da Arte. São Paulo: Ática, 2007.
44 • capítulo 2
3
O Percurso do
Ensino da Arte
Brasileira e a
Legislação Atual do
Ensino de Artes no
Brasil
O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da
educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. (LDB
Nº 9.394/96).
OBJETIVOS
• Conhecer as origens e a evolução do Ensino de arte no Brasil;
• Analisar o contexto histórico do surgimento das primeiras escolas de arte no Brasil;
• Conhecer o Movimento da Escola Nova e o Movimento das ‘Escolinhas de Arte;
• Analisar a legislação atual do ensino de artes no Brasil voltadas para a Educação Infantil e
para o ensino fundamental.
46 • capítulo 3
3.1 O percurso do Ensino da arte no Brasil
No Brasil, a educação formalizada dentro das instituições escolares surge no
final do século XVI para iniciar o processo de substituição da então chamada
“educação informal, realizada na família, como primeiro e privilegiado espaço
de transmissão da cultura, [que] também se estende no convívio com os ami-
gos, nas atividades de trabalho e de lazer [...]”. (ARANHA, 2006, p. 93).
Do mesmo modo que a sociedade e o meio cultural em que se está inserido
influenciam na educação de uma forma geral, a ideologia e a situação política
predominantes na época também refletem suas características particulares no
ensino de arte, ministrado nas instituições, no decorrer dos anos.
De acordo com Varela (1992 apud PENTEADO, 2001 p. 14), a partir deste
acontecimento, surgem formas diferenciadas de educação que irão preparar os
filhos dos nobres para cargos e funções de mando, enquanto “o adestramento
para os ofícios, a moralização e a fabricação de súditos vitoriosos são os pilares
sobre os quais se assenta a política de recolhimento dos pobres”.
Embora os registros e estudos bibliográficos relacionados à história da edu-
cação tenham início após a colonização do nosso país, não podemos deixar de
fazer referência ao modo educacional que os índios desenvolviam, primeiros
habitantes desta terra. Segundo Schaden (1993 apud PENTEADO 2001), a edu-
cação na cultura Guarani não é repressiva e a medida que as crianças vão de-
senvolvendo seu potencial físico e mental, começam a participar da vida, das
atividades e dos problemas dos adultos.
Depois do descobrimento do Brasil, como aponta Penteado (2001), os colo-
nizadores europeus trazem características particulares de sua cultura que passa
a exercer uma forte influência principalmente durante este período histórico.
Deste modo, de 1549 a 1759, a educação brasileira fica a cargo dos jesuítas,
que, por questões políticas, foram expulsos após esse período. Eles priorizavam
o ensino da arte literária, deixando de lado as artes plásticas, o que provocou
uma dicotomia entre o intelectual e o manual, como comprovamos nesta pas-
sagem de Aranha (2006):
capítulo 3 • 47
secundária, destinada aos filhos dos colonos e ao encaminhamento dos futuros
padres. O descaso pela educação popular se explica pela vigência de uma econo-
mia dependente e exclusivamente agrária, que não exigia mão-de-obra qualificada.
Além disso, a mentalidade escravocrata depreciava a atividade manual, considerada
trabalho desqualificado, e os artesãos não eram preparados em escolas, mas sim pela
educação informal. Na primeira metade do século XVIII, porém, a Companhia de Jesus
dispunha de oficinas em que mestres jesuítas ensinavam os ofícios mais necessários
(p. 126).
O aprendizado através do trabalho do primeiro período foi substituído por árduos exer-
cícios formais. Nas escolas secundárias dominavam o retrato e a cópia de estampas.
Usavam-se os mesmos métodos nas escolas elementares particulares. A atividade
artística não era incluída nas escolas elementares pública. (BARBOSA, 1982 apud
PENTEADO, 2001, p. 17).
48 • capítulo 3
Para iniciar oficialmente o ensino das artes no Brasil, D. João VI convidou ar-
tistas franceses, que aqui chegaram em 1816, chefiados por Joachim Lebreton,
constituindo a célebre Missão Francesa, para compor o quadro de docentes
da Academia Imperial de Belas-Artes, no Rio de Janeiro, que passa então, a ser
considerada o marco do ensino de arte no nosso país. Assim, o ensino passou
a reproduzir características dos modelos europeus que atribuía importância ao
desenho por meio de habilidades técnicas e gráficas, consideradas fundamen-
tais à expansão industrial.
Para isso, de acordo com Marotte (2004), era empregado o desenho que pas-
sou a ser considerado, também na nossa Academia, como disciplina obrigató-
ria, utilizando uma linguagem específica e técnica, ressaltando a importância
desta como uma base de todas as artes. Nesta concepção de ensino sobre o dese-
nho é enfatizado aspectos como a linha, o contorno, o traçado e a configuração.
O período posterior foi marcado por diversas lutas contra o regime monár-
quico e também contra a escravidão que predominava nesta época.
Diante de tantos conflitos, a educação esteve entre duas forças: o Liberalismo
de influência americana e o Positivismo europeu. Este último atribuía uma
grande importância ao ensino do desenho para as classes menos favorecidas
economicamente e defendiam a ideia de que o ensino de arte integrasse o cur-
rículo das escolas primárias e secundárias.
capítulo 3 • 49
Alguns professores brasileiros, seguidores das ideias do filósofo america-
no John Dewey (1859-1952), romperam com o ensino tradicional que segundo
Penteado (2001) era baseado em cópias de modelos e passam a valorizar os es-
tados psicológicos das pessoas implantando, novas concepções que visavam a
estruturação de experiências individuais de percepção, de integração, de um
entendimento sensível do ambiente no qual o indivíduo encontra-se inserido.
Marotte (2004) observa ainda que com a valorização do aspecto psicológico
do aluno também nas aulas de artes os professores passaram a adotar uma con-
cepção estética provenientes de duas vertentes distintas:
50 • capítulo 3
forma livre e flexível a sensibilidade e a conscientização de todos os sentidos,
realizando assim uma interação do sujeito com seu meio; c) formas construti-
vas de autoexpressão e autoidentificação dos sentidos, emoções e pensamen-
tos dos indivíduos a partir de suas próprias experiências pessoais, para que
eles, bem ajustados, vivam cooperativamente e contribuam de forma criadora
para a sociedade.
CONEXÃO
Os Pioneiros, Entusiastas da Educação Nova. In: https://youtu.be/f6LTmh7Vn04
capítulo 3 • 51
do Barbosa, este fato não foi uma conquista dos educadores brasileiros, mas
uma criação ideológica dos educadores norte-americanos que, sob um acordo
oficial, o MEC-USAID, reformulou a área educacional.
Essa lei estabeleceu uma educação voltada para os interesses tecnológicos a
fim de iniciar uma profissionalização a partir da 7ª série, sendo a escola secun-
dária completamente profissionalizante. Com a crescente demanda das em-
presas multinacionais, esta foi uma das maneiras encontradas para preparar a
mão-de-obra mais barata e assim adquirir um grande poder econômico no país
de 1964 a 1983.
Fusari e Ferraz (1992) esclarecem que:
52 • capítulo 3
país. Esses cursos de licenciatura em educação artística nas universidades ti-
nham um currículo adaptado para formar professores capazes de lecionar to-
dos os seguimentos da área artística como música, teatro, desenho, dança e
desenho geométrico ao mesmo tempo, e pretendiam formar os profissionais
em apenas dois anos de estudo para atuar em salas de aulas da 1ª à 8 série e, em
alguns casos até o 2º grau.
Barbosa (1991) aponta esse fato como sendo um erro:
capítulo 3 • 53
De março a julho de 1983, Ana Mae Barbosa desenvolveu uma pesquisa di-
recionada a concepção dos professores sobre a disciplina de educação artística.
Participaram da pesquisa, 2.500 professores de escola de São Paulo e verificou-
se que :
54 • capítulo 3
arte, educação física e educação moral e cívica, substituindo assim a determi-
nação da Lei 5.692/71. Houve uma mobilização entre os arte-educadores para
reverter esta situação. Encaminharam um documento a Assembleia Nacional
Constituinte descrevendo as contribuições e a importância que o ensino de arte
exerce com a relação a escola e a cultura. Este documento foi levado em con-
sideração e a partir da Lei 9.394/96 o ensino da arte torna-se um componente
curricular obrigatório em todos os níveis da educação básica, anulando as leis
estabelecidas anteriormente.
Com a ocorrência de todos esses fatos, Penteado (2001) esclarece que os
professores foram levados a realizar a Primeira Semana de Arte e Ensino, rea-
lizada na Universidade de São Paulo (USP) e depois começaram a se organizar
em associações para discutir e refletir vários pontos críticos da arte educação
no nosso país, inclusive suas práticas.
capítulo 3 • 55
do de conteúdos, metodologias, objetivos e instrumentos avaliativos próprios.
Esta grande conquista histórica e social, era a tempos almejada por educadores
e arte-educadores, convictos da importância deste conhecimento para a forma-
ção e o desenvolvimento integral dos alunos.
É também por meio da referida Lei que a Educação Infantil passa a ser definida
como a primeira etapa da Educação Básica. Ao abordar os vários aspectos do desen-
volvimento humano como dimensões interligadas e não áreas estanques, a nova Lei
de Diretrizes e Bases norteia o caráter educacional da educação infantil e “[...] evi-
dencia a necessidade de se considerar a criança como um todo, para promover seu
desenvolvimento integral e sua inserção na esfera pública.” (BRASIL, 2006, p. 10).
De forma a atender às determinações da LDBEN nº 9.394/96, o governo fede-
ral, através do MEC, sistematizou e publicou o Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil (RCNEI) em três volumes, com o objetivo de nortear a
prática pedagógica dos professores, apontando metas de qualidade que contri-
buam para o desenvolvimento integral das crianças.
Em relação às artes visuais, ênfase deste trabalho, o terceiro volume do
RCNEI aponta que “tal como a música, as Artes Visuais são linguagens, e, por-
tanto, uma das formas importantes de expressão e comunicação humanas, o
que, por si só, justifica sua presença no contexto da educação, de um modo ge-
ral, e na educação infantil, particularmente.” (RCNEI, 1998, vol.3, p. 85).
Segundo o RCNEI (1998), as propostas de ensino de arte na educação infantil
brasileira, assumem diversas conotações e significados: passatempo, decoração,
reforço para a aprendizagem de outros conteúdos, exercícios de coordenação
motora ou até ilustração das demais áreas do conhecimento. Para contrapor pos-
síveis visões dicotômicas no ensino de arte, tornasse necessário compreender
que “as Artes Visuais devem ser concebidas como uma linguagem que tem estru-
tura e características próprias, cuja aprendizagem se dá por meio da articulação
do fazer artístico, apreciação e reflexão.” (RCNEI, 1.998, vol.3, p. 89).
Trata-se de uma concepção que defende a ideia da arte na educação com
ênfase nos conteúdos específicos da própria arte, integrando o fazer artístico, a
apreciação e leitura das obras de arte e, sobretudo a prática reflexiva.
Martins, Picosque e Guerra (1998) compreendendo a arte enquanto lingua-
gem, afirmam que a comunicação entre as pessoas e as leituras de mundo não
se dão apenas por meio da palavra. Segundo os autores, a arte permite que o ser
humano expresse não só suas emoções, mas também sua cultura, por meio de
valores estéticos, como beleza, harmonia e equilíbrio.
56 • capítulo 3
Segundo Duarte Junior (1991) pela arte o indivíduo pode expressar aquilo
que o inquieta. Para o autor, a arte e a criatividade são indissociáveis. A criati-
vidade esta relacionada às características do sujeito em relação ao seu modo
de ser, agir e pensar. No ato de criar o indivíduo necessita compreender seus
sentimentos para expressar o ícone de sua relação simbólica, transformando
formas imaginadas em objetos concretos.
Para Ostrower (1987) criar é, basicamente, formar. A autora enfatiza no homem o
seu papel como ser formador, que tem como principal motivação para o ato de criar
a busca de ordenações e de significados que o auxiliem a compreender a vida. Neste
contexto o criar só pode ser visto num sentido global, como um agir integrado em um
viver humano, pois, a natureza criativa do homem é elaborada no contexto cultural.
Outro princípio defendido pela referida autora relaciona-se à aprendizagem
dos conhecimentos artísticos a partir da inter-relação entre o fazer, o ler e o
contextualizar a arte. Inspirada em alguns teóricos do contexto internacional,
a partir da década de 80, a autora sistematiza, em conjunto com suas colabo-
radoras, uma proposta denominada ‘Proposta Triangular do Ensino de Arte’,
que segundo ela, deve valorizar três ações mental e sensorialmente básicas, que
são: a criação (fazer artístico), a leitura da obra de arte e a contextualização.
Trata-se de uma proposta que barca uma visão crítica de arte-educação e do
mundo visual, onde o conhecimento é construído pelo próprio aluno, com a
mediação do professor e onde não se valoriza apenas o produto artístico, mas
também, os processos desencadeados durante o ensino.
Porém, tal mediação por parte dos professores só será possível diante do
exercício constante de saberes, conhecimentos e concepções que os impul-
sionem; uma reflexão sobre as características que deveriam ser priorizadas na
busca por uma formação continuada com qualidade.
capítulo 3 • 57
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (2001), aprender arte
promove o desenvolvimento da criação além de oferecer ao aluno a oportuni-
dade de estar em contato com valores e modos de produção artística dos mais
diversos contextos culturais.
Nesse sentido, o documento aponta os objetivos gerais para o ensino de
Arte que devem ser contemplados, para que os alunos sejam capazes de desen-
volver a comunicação articulada com a percepção, com a imaginação, com a
emoção, com a sensibilidade e com a reflexão ao produzirem artisticamente.
Neste contexto, espera-se atitudes de autoconfiança e de conhecimento estéti-
co mediante a própria produção, bem como com a dos colegas.
Os alunos, ao final do ensino fundamental também devem conhecer diver-
sos materiais, instrumentos e procedimentos em Artes. Saber localizar a Arte
historicamente e relacionar suas produções à existência humana também se
constitui em um dos objetivos.
Além disso, há que se atentar também que eles devem demonstrar conhe-
cimentos para identificar os trabalhos de artistas e saber coletar informações
em documentos, acervos públicos e demais meios de armazenamento de dados
sobre obras e artistas.
Esses objetivos podem ser trabalhados mediante quatro grandes áreas de
conteúdos, quais sejam: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro, que serão apre-
sentadas no próximo capítulo.
ATIVIDADES
Um momento marcante na história da arte brasileira foi o correspondente ao período Barro-
co. Sobre o Barroco é correto afirmar que:
01. foi uma tendência artística que se desenvolveu primeiramente nas artes plásticas e de-
pois se manifestou na literatura, no teatro e na música.
02. A palavra barroco significa "pérola irregular" ou "pérola deformada" e representa a ideia
de irregularidade.
03. O berço do barroco é a Itália do século XVII, porém se espalhou por outros países.
58 • capítulo 3
REFLEXÃO
Analise a Declaração Universal dos Direitos das Crianças e procure observar onde está ga-
rantido o direito infantil à arte e acultura.
UNICEF. Declaração Universal dos Direitos das Crianças. Assembléia Geral da ONU, 1959.
LEITURA
BRASIL, Ministério da Saúde. Estatuto da criança e do adolescente. 3ª Ed. Brasília: Editora do
Ministério da Saúde, 2008.
IAVELBERG, Rosa. Para Gostar de Aprender Arte: sala de aula e formação de professores.
Porto Alegre: Artmed, 2003.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARANHA, M. L. de A.a. Filosofia da Educação.3.ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 2006.
BARBOSA. A. M. A imagem no ensino de arte. São Paulo: Perspectiva, 1991.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/96, de 20 de Dezembro
de 1996.
_________. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Arte.
Brasília: MEC/SEF, 1997.
BRASIL. Constituição 1988. Rio de Janeiro: FAE, 1989.
______.Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96. Brasília: MEC, 1996.
_______. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. MEC/SEF 1998. Vol. 1, 2 e 3.
DUARTE JUNIOR, J. F. Por que arte-educação? 6. ed. Campinas: Papirus, 1991.
MARTINS, PICOSQUE, GUERRA. Didática do ensino de Artes: A língua do mundo – Poetizar, Fruir e
Conhecer Arte. São Paulo: FDT,1998.
MAROTTE, O. M. O ensino de arte: a arte na educação como conhecimento humano. 105 f.
Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Educação, Rio de
Janeiro, 2004.
OSTROWER, F. Criatividade e processo de criação. Petrópolis/RJ: Vozes, 1987.
PENTEADO, C. A arte e a educação na escola: Os caminhos da apreciação estética de jovens e
adultos. 146 f. Dissertação (Pós graduação em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, 2001.
capítulo 3 • 59
60 • capítulo 3
4
As Linguagens
Artísticas: Artes
Visuais, Música,
Dança e Teatro
A arte ensina que nossas experiências geram um movimento de transforma-
ção permanente, que é preciso reordenar referências a cada momento, ser fle-
xível (PCN 1998), ou seja, o conhecimento sobre arte deve sempre ser continuo
e constante, pois como outras disciplinas e conteúdos, ela sempre estará em
construção e transformação.
OBJETIVOS
• Compreender as diferentes linguagens artísticas: Artes Visuais, música, dança e teatro.
• Refletir sobre as redes de influências do capitalismo sobre o trabalho e a Arte.
62 • capítulo 4
4.1 Linguagens artísticas
As linguagens artísticas abordadas neste capítulo são: artes visuais, música,
teatro e dança.
capítulo 4 • 63
4.2 Artes Visuais
Em Brasil (1998) observamos que as artes visuais, além das formas tradicio-
nais, incluem outras modalidades que resultam dos avanços tecnológicos e
transformações estéticas a partir da modernidade (fotografia, artes gráficas,
cinema, televisão, vídeo, computação, desenho). Cada uma dessas visualidades
é utilizada em várias possibilidades de combinações entre imagens, por inter-
médio das quais os alunos podem expressar-se e comunicar-se entre si de dife-
rentes maneiras.
Em nossa sociedade, onde se faz massiçamente presente a visualidade me-
diante, por exemplo, os outdoors, a educação tem a função de assegurar aos alu-
nos a percepção para distinguir sentimentos, sensações, ideias e qualidades.
O Referencial Curricular Nacional (BRASIL, 1998), afirma que as artes vi-
suais estão presentes no cotidiano da vida infantil. Ao rabiscar e desenhar no
chão, na areia e nos muros, ao utilizar materiais encontrados ao acaso (gra-
vetos, pedras, carvão), ao pintar os objetos e até mesmo seu próprio corpo, a
criança pode utilizar-se das artes visuais para expressar experiências sensíveis.
Entende-se que educar é importante para transformar e ter consciência da
participação no meio ambiente, na realidade cotidiana. Ver significa essencial-
mente conhecer, perceber pela visão, alcançar com vista os seres, as coisas e
as formas do mundo ao redor, é também um exercício de construção perspec-
tiva onde os elementos selecionados e o percurso visual podem ser educados
(FERREIRA, 2007)
Os diversos professores de arte que desenvolvem uma reflexão sobre os fun-
damentos históricos e metodológicos do conhecimento artístico, enfatizam o
fazer arte. Atualmente, predomina uma cultura político-pedagógica que privi-
legia os processos racionais em detrimento dos processos sensíveis, despren-
dendo a arte um papel de menor importância em nosso contexto diário. A arte
é algo único e pessoal, é importante que o educador vivencie e experimente o
exercício de sua própria sensibilização, afirma Andrade (2009).
A educação em artes visuais requer trabalho continuamente informado so-
bre os conteúdos e experiências relacionados aos materiais, às técnicas e às for-
mas visuais de diversos momentos da história. A escola deve colaborar para que
os alunos passem por um conjunto amplo de experiências de aprender e criar,
articulando percepção, imaginação, sensibilidade, conhecimento e produção
artística pessoal e grupal. A educação visual deve considerar a complexidade de
64 • capítulo 4
uma proposta educacional que leve em conta as possibilidades e os modos de
os alunos transformarem seus conhecimentos em arte (BRASIL,1997).
Segundo Andrade (2009), as crianças muitas vezes passam aulas e aulas
aprendendo como ser silenciosas ao amassarem uma folha de papel crepom
para representar as folhas de uma árvore. Elas aprendem a ser reprodutores,
o que o professor considera “certo”, não produtores e pensar por si mesmas.
4.3 Música
Quando se fala em música, é preciso levar em conta que sua conceituação é
muito subjetiva, e, portanto tem variado bastante com o decorrer dos tempos.
Até alguns anos atrás, a ideia de música esteve associada à combinação orde-
nada e racional de sons. É válido citar que se entende por som musical uma
emissão vibratória, com frequência bem definida, capaz de ser captada pelas
limitações fisiológicas do ouvido humano (MONTANARI, 1993).
A musicalização foi considerada desnecessária, por razões históricas, so-
ciais, culturais e políticas, durante os anos finais do século XX. Com o movi-
mento Modernista nos anos de 1920, a identidade brasileira começa a ganhar
espaço e importância, e a música passa a ser compreendida no objetivo de sua
função social. Villa Lobos se tornou um dos principais nomes da educação mu-
sical, pois exerceu notável influência no período (DALL´ACQUA; PREVIATO;
SOUZA, 2009).
Para Montanari (1993), é possível fazer música tanto com sons quanto com
ruídos (frequências mal definidas geradas por fontes que não possuem compor-
tamento vibratório com periodicidade estabelecida). Então a ideia de música fi-
cou muito mais ampla, para alguns há música até no motor em funcionamento.
O autor afirma ainda que muito se tem questionado sobre o papel da arte
na vida humana e na sociedade, é preciso levar em conta que a arte muito tem
servido ao ser humano para expressar seus sentimentos, e isso é o que mais
conta. A música, em especial, exerce um papel importante nessa conceituação,
porque é a mais popular das artes, superando inclusive a escrita, que acompa-
nha a própria história. Para fazer musica, a única coisa que o individuo precisa,
é estar vivo. Não precisa saber ler, nem adquirir materiais e sequer sair de casa,
basta abrir a boca e cantar, bater palmas ou os pés, assobiar ou murmurar, que
você estará fazendo música.
capítulo 4 • 65
Em 1971 ocorreu uma grande mudança, quando a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB n. 5.692/71) extingue a disciplina de educação mu-
sical do sistema educacional brasileiro e, em segundo lugar, institui o ensino
de educação artística.
Segundo DALL´ACQUA; PREVIATO; SOUZA (2009) diminuiu tanto o núme-
ro de professores de música, que se hoje fosse reimplantado o ensino de mú-
sica nas escolas, não seria possível cumprir. É preciso resgatar o professor que
goste de música e a traga para dentro da escola.
66 • capítulo 4
É interessante observar a influência que a música tem na criança. Devemos
seguir em relação à música, o mesmo processo que é adotado no desenvolvi-
mento da fala. A criança pertence a um universo musical, como acontece com a
linguagem em diferentes culturas (JEANDOT, 1997).
[...] uma das funções mais importantes da música é ser guia da evolução da humani-
dade, em permanente interação como meio, o indivíduo, a comunidade, pressupondo
a construção de uma sociedade democrática no sentido mais amplo do termo. Ela não
é apenas gozo estético, sensibilidade, mas também força e potência, sustentando a
formação de uma consciência individual e coletiva (SEKEFF, 2007 apud DALL´AC-
QUA; PREVIATO; SOUZA, 2009).
4.4 Teatro
Teatro vem do grego theatron que significa local onde se vê. Na Escola Nova o
papel do teatro na educação escolar, especialmente na educação infantil, ga-
nha um status epistemológico e uma importância psicopedagógica. A inclusão
do teatro no currículo escolar caracterizou a democratização do ensino laico
ao longo do século XX e justificou-se como recurso de estímulo e criatividade.
Era muito mais um processo de estudo do que uma recreação (DEL´BIANCO,
2009).
capítulo 4 • 67
Segundo Peixoto (1995), o teatro tem uma história específica que foi o es-
sencial da história da produção cultural da humanidade. Um espetáculo de tea-
tro seja tragédia ou comédia, drama ou revista musical, mímica ou ópera, pode
ter como ponto de partida um texto escrito em seus mínimos detalhes, com
diálogos completos e indicações cênicas, expondo conflitos entre personagens
perfeitamente delineados e as relações que os homens estabelecem entre si em
determinadas circunstâncias.
O Teatro é a manifestação artística onde o homem pode se expressar de for-
ma completa, utilizando o corpo, a fala, o gesto, a expressão e o movimento.
A criança tem a oportunidade de dramatizar interagindo com o meio, de-
senvolvendo por sua vez a capacidade artística e expressiva.
No plano coletivo, contribui para o exercício da cooperação, do diálogo, do
respeito mútuo, da reflexão e da flexibilidade para aceitar as diferenças.
Ao contrário da ópera e do balé, que têm cenas ou coreografias sujeitas à
música, geralmente no teatro, a música sujeita-se à arte cênica, ou seja, com-
pletando o espetáculo representado. No entanto, no século XX, surgiram algu-
mas propostas de conjunção e complementação reais entre as artes, dramática
e musical, isto é, as duas funcionando em conjunto e ambas dependentes uma
da outra, afirma Ferreira (2007).
O teatro pode dispensar tudo, salvo o interprete, o que não significa que o
ator seja sempre o centro do espetáculo. O trabalho do ator pressupõe treina-
mento constante e aperfeiçoamento técnico, além de inteligência e sensibi-
lidade atentas à observação da vida social, ao entendimento das relações de
produção e suas consequências no cotidiano social dos homens. Um vigoroso
treinamento físico, pois seu corpo é seu instrumento de trabalho (PEIXOTO,
1995).
DEL´BIANCO (2009) acredita que o teatro é linguagem humana e seu obje-
tivo aborda o domínio, a fluência e a compreensão das formas de expressão que
movimentam processos afetivos, cognitivos e psicomotores.
68 • capítulo 4
O papel do teatro na educação só ganhou força quando se inspirou no pen-
samento filosófico de Rousseau, que destacava a atividade da criança no pro-
cesso educativo e defendia a importância do jogo como fonte de aprendizado.
Viola Spolin (teatro-educadora, diretora e atriz que fez pesquisas nos Estados
Unidos da América com crianças até com idosos) foi a primeira a elaborar uma
proposta para o ensino do teatro na educação formal através de jogos teatrais
(DEL´BIANCO, 2009).
O teatro na escola tem uma importância fundamental na educação, per-
mite ao aluno um enorme aprendizado, exercita a socialização, criatividade,
coordenação, memorização e o vocabulário. Através do teatro é possível ob-
servar o comportamento do aluno, em grupo e individual e também traços do
seu desenvolvimento.
A dramatização está contida em cada um, com necessidade de compreen-
der e representar uma realidade acompanha também o desenvolvimento da
criança como uma manifestação espontânea, assumindo funções diversas,
sem perder o caráter de interação. Ao observar uma criança em suas primeiras
manifestações, percebe-se através do jogo simbólico, a procura no seu conhe-
cimento do mundo. “Essa atividade evolui do jogo espontâneo para o jogo de
regras, do individual para o coletivo” (BRASIL, 1997, p.57).
A criatividade está extremamente ligada às artes, à linguagem e ao desenvol-
vimento da representação e do simbolismo. DEL´BIANCO (2009, p. 112) afirma
que “tanto nas formas de arte, como em diferentes formas do brincar, existe
uma riqueza de oportunidades criativas para que adultos e crianças expressem
seu pensamento e apreciem o talento de outros”.
Peixoto (1995) acredita que o teatro é uma arte grupal em todos os níveis,
produzido pelo esforço de muitos e não há ato solitário na atividade teatral. A
música esteve sempre presente no teatro, desde suas origens. Acompanhou a
história das manifestações teatrais desempenhando um papel de variada rele-
vância. Em certo nível é possível distinguir a música no teatro e o teatro musical.
capítulo 4 • 69
4.5 Dança
Desde que existe o homem, existe a dança. Antes mesmo de existir dança o ho-
mem já se usava o movimento corporal para expressar seus sentimentos. Uniu-
se a música ao gesto, descoberto o som, o ritmo e o movimento, nasceu a dança.
É uma das mais antigas artes criadas pelo homem, onde se manifestava todos
os seus impulsos, crenças e desejos. A dança desde seu surgimento até a atua-
lidade estampa uma linguagem corporal moldurada e inserida sob influencia
dos contextos econômicos, sociais, políticos e religiosos. A dança sempre será
um patrimônio histórico que permeia a cultura corporal do homem (GARCIA;
HASS, 2006).
As crianças se movimentam desde que nascem adquirindo cada vez maior
controle sobre seu próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibili-
dades de interação com o mundo. Ao movimentar-se, a criança expressa senti-
mentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso signifi-
cativo de gestos e posturas corporais (BRASIL, 1998).
Garcia e Hass (2006) afirmam que a dança relacionou-se com cultura, diver-
são, lazer, prazer, religião e trabalho apresentando como todo campo de expres-
são artística, funções específicas articuladas diante da sociedade, no sentido
de demonstrar o potencial dessa arte enquanto fenômeno social em constante
processo de renovação, transformação e significação. Os seis tipos de funções
da dança são: auto-expressão, comunicação, diversão e prazer, espiritualidade,
identificação cultural, ruptura e revitalização da sociedade.
Por meio do Referencial Curricular Nacional (BRASIL,1998) constata-se que
o movimento é importante para o desenvolvimento da cultura humana. É mais
do que um simples deslocamento do corpo no espaço, é uma linguagem que
permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente hu-
mano, mobilizando as pessoas por meio da expressão.
Antigamente o homem dançava com o intuito de agradecer, homenagear,
pedir alguma coisa aos deuses. “Embora ainda existam essas cerimônias, hoje é
possível apreciar diversos grupos de dança que representam coreografias coor-
denadas sempre com o acompanhamento de algum som ou ritmo” (ARTAXO,
2003, p.38).
Segundo o PCN de Arte (BRASIL, 1997), a dança é uma forma de integra-
ção e expressão, individual e coletiva, em que a criança exercita a atenção,
percepção, colaboração e solidariedade. É uma atividade lúdica que permite a
70 • capítulo 4
experimentação e criação, exercitando a espontaneidade. Contribui para o seu
desenvolvimento, construindo sua imagem corporal, que são aspectos funda-
mentais para seu crescimento individual e consciência social.
Dançar é movimentar-se pelo espaço, sentir o corpo livre, comunicar-se
consigo mesmo, convidar a dançar é quebrar preconceitos, medos, vergonhas.
O movimento é comunicação, comunicar uma mensagem é utilizar a lingua-
gem, a linguagem corporal. Ela é movimento resultante de uma sucessão de
poses, são voluntários, harmoniosos. É ciência ou arte que representa como o
entendimento completo das possibilidades físicas do corpo humano, é neces-
sário disciplinar e desenvolver o corpo para tingir todas as linhas de expressão,
é uma atividade social que contribui no desenvolvimento harmônico do ser hu-
mano (GARCIA; HASS, 2006).
capítulo 4 • 71
4.6 Orientações didáticas
Para o trabalho com os blocos de conteúdos aqui elencados, os PCNS (1997) su-
gerem algumas orientações para o desenvolvimento do trabalho docente, tais
como organizar o espaço e o tempo do trabalho de acordo com as condições
da escola para melhor disponibilizar os materiais e os instrumentos para o tra-
balho artístico. Além disso, o professor deve atentar para o registro e a docu-
mentação das atividades dos alunos, como relatos de aulas e observações sobre
atitudes individuais e em grupo.
Ser um profundo conhecer da história da arte e trabalhar considerando a
interdisciplinaridade (arte e temas transversais por exemplo) e o desenvolvi-
mento de projetos são outras orientações que deverão embasar as intervenções
docentes em prol da efetiva aprendizagem em Arte.
72 • capítulo 4
Encontramos no nosso contexto duas situações que contribuíram para a
decadência da aura na obra de arte. De um lado, Benjamin comenta que há a
necessidade das coisas tornarem-se mais humanas, mais próximas, podendo
comprometer assim a sua função social. De outro lado, aceitando as reprodu-
ções, deprecia-se o caráter daquilo que é oferecido apenas uma vez, subverten-
do mais uma vez a função da arte.
Para entendermos um pouco mais sobre essas questões, devemos recorrer
à compreensão da obra de arte como objeto de culto e como realidade exibível.
A produção da obra de arte inicia-se a partir de imagens que servem ao culto, tal
como foi feito na Idade da Pedra, quando o homem pintava figuras de animais
nas paredes das cavernas, para oferecer aos deuses. Mas à medida que a obra
de arte se emancipa como objeto de culto, as situações em que ela passa a ser
exposta tornam-se cada vez mais frequentes. Conforme Benjamin expõe:
A arte vendida como mercadoria também foi objeto de estudo para Rolnik
(2001). Segundo a autora, a arte, por ter como característica a potência criado-
ra, ao entrar no mercado de trabalho, tende a ser clonada e esvaziada, tal como
ocorre com a subjetividade do artista: “Juntas, obra e subjetividade traficadas,
formam o pacote a ser veiculado pela mídia e vendido no mercado de arte, cujo
valor será determinado por seu poder de sedução.” (p.4).
No entanto, ambas as autoras relatam experiências de luta para a emancipa-
ção filosófica dos indivíduos e para a transformação social. O movimento Arte
contra a barbárie foi criado por grupos teatrais paulistas em 1999 com o obje-
tivo de “disputar e transformar o pensamento sobre arte e cultura no Brasil”.
(COSTA, 2007, p.25).
capítulo 4 • 73
Nota-se, portanto que a mercantilização da arte alterou não somente a sua
autenticidade, mas a subjetividade das pessoas envolvidas neste contexto. Faz-
se urgente a mudança estrutural da lógica do capital e seus impactos junto à
sociedade, como aponta Mészáros (2005):
CONEXÃO
M.; IAVELBERG, R. Ensino de Arte. São Paulo. Coleção Ideias em ação, 2006).
Cultura e educação: Os sites elencados abaixo se referem às ações culturais e educa-
cionais desenvolvidos no país além de trazer informações sobre documentos e legislações.
http://www.mec.gov.br
http://www.cultura.gov.br
http://www.funarte.gov.br
http://www.pnud.org.br/educacao
Pesquisas e projetos em arte: Os sites listados nesse item trazem os núcleos de pesquisa
e projetos em artes no Brasil.
http://www.eca.usp.br
http://www.eba.ufmg.br
http://www.ida.unb.br
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_cultural/cultural.html
ATIVIDADES
Dentre as Teorias que valorizam a autoexpressão da criança podemos citar os autores Lo-
wenfeld (1947), Read (1943) e Kellog (1969). Segundo tais teorias:
74 • capítulo 4
02. O professor de arte é um estimulador, um guia, que deve ajudar a criança a expressar-se.
REFLEXÃO
Crianças de revistas (1930/1950)
Artes visuais - Fotografia
Escrito por Olga Brites
As revistas brasileiras Vida Doméstica e Fon-Fon! publicaram entre 1930 e 1959 di-
ferentes materiais sobre infância: textos, fotografias, caricaturas, desenhos ilustrativos, etc.
Este artigo analisa algumas imagens fotográficas ali presentes, discutindo seus campos te-
máticos e alguns procedimentos de análise que contribuíram para a caracterização das crian-
ças no universo social brasileiro pelos periódicos indicados. As crianças neles representadas
eram, na sua maioria, brancas e possuíam vida familiar estruturada (pai, mãe) e condição
social privilegiada.
As fotos das crianças, em algumas circunstâncias, eram produzidas em estúdios foto-
gráficos e destacavam a beleza e felicidade. Seus trajes e adereços ajudavam a compor a
imagem de criança bem nascida e feliz. O universo da fotografia na infância está articulado a
outras preocupações constantes quando se fala de criança: saúde, educação, religiosidade,
lazer e moda. As fotos institucionais como, por exemplo, dos parques infantis assumem ca-
racterísticas diferentes daquelas explicitadas anteriormente. Nesse caso, as crianças eram
fotografadas coletivamente como propaganda das atividades desenvolvidas pelas institui-
ções. Considerando a fotografia como produção social, e evitando, portanto, concebê-la
como reflexo do real, o artigo procura articular textos e imagens, bem como refletir sobre
diferentes possibilidades do mundo infantil.
Scientific Electronic Library Online – SciELO é uma biblioteca eletrônica que abrange
uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros.
Sítio: www.scielo.br
Artigo escrito por Olga Brites
capítulo 4 • 75
LEITURA
Não deixe de ler o artigo sugerido por Olga Brites, no link indicado (http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022000000100011).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, E. A arte e a capacidade mágica de pintar, desenhar, criar e sonhar! In: ANGOTTI, M. (Org.)
Educação Infantil: da condição de direito à condição de qualidade no atendimento. Campinas: Ed.
Alínea, 2009, p.67-76.
ARTAXO, I Ritmo e movimento. Guarulhos: Phorte Editora, 2003.
BRASIL, Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Brasília: MEC/SEF, 1997
DALL´ACQUA, M.J.C.; PREVIATO, D.; SOUZA, S.R.de. Musicalização na Educação Infantil In:
ANGOTTI, M. (Org.) Educação Infantil: da condição de direito à condição de qualidade no atendimento.
Campinas: Ed. Alínea, 2009. Cap. 6, p.79-87.
DEL´BIANCO, M. L. O teatro Na Educação Infantil. In: ANGOTTI, M. (Org.). Educação Infantil: da
condição de direito à condição de qualidade no atendimento. Campinas: Ed. Alínea, 2009. Cap.8,
p.105-116.
FERREIRA, M. Como usar a música na sala de aula. 7ª ed. São Paulo: Contexto, 2007.
GARCIA, A.; HAAS, A.N. Ritmo e Dança 2ªed. Canoas: Ulbra, 2006.
JEANDOT, N. Explorando o universo da música. São Paulo: Scipione, 1997, p.12- 26.
MONTANARI, V. História da música: da idade da pedra à idade do rock. 2ª ed. São Paulo: Ática,
1993, p.5-7.
PEIXOTO, F. O que é teatro. 14ª ed. São Paulo: Brasiliense,1995, p.9-23.
76 • capítulo 4
5
Tópicos
Emergentes no
Ensino de Artes:
Arte e Tecnologia;
Arte e Inclusão; Os
Projetos em Artes.
Na contemporaneidade a arte se constitui com uma abundância de estilos, for-
mas, práticas, programas, materialidades, linguagens, tecnologias, enfim, uma
verdadeira diversidade de práticas artísticas contemporâneas, caracterizadas
pelo experimental.
Por meio das linguagens artísticas obsevamos o pensamento de determi-
nada época e sociedade; as questões políticas, religiosas, econômicas e sociais
que envolvem os deferentes contextos.
A arte como instrumento de inclusão social pode e deve ser vista como fator
de complemento nas diversas formas de desenvolver aprendizagens ligadas a
diferentes áreas do conhecimento.
Assim a arte vem assumindo interfaces com questões temáticas que emer-
gem da realidade social. Entre tais questões se apresenta principalmente a tec-
nologia, a inclusão, e o trabalho educativo mediado por projetos temáticos.
A tecnologia vem ganhando cada vez mais espaço dentro de nossa socieda-
de. Com o avanço da globalização, ela passa a ser inserida no cotidiano, e as in-
formações e conhecimentos nos chegam com frequente intensidade, fazendo
surgir assim um novo paradigma social, chamado de sociedade da informação.
Os recursos tecnológicos quando presentes no processo ensino-aprendiza-
gem em artes oferecem múltiplas oportunidades de acesso e expressão e ex-
pandem suas ações servindo como instrumentos de pesquisa e de renovação
acadêmica, que beneficiam professores e alunos.
A arte também traz contribuições e transformações significativas quando
associada ao processo educativo de pessoas com necessidades educativas espe-
ciais, permitindo-lhes a socialização e a construção de conhecimentos.
Por isso, a importância de abordarmos neste capítulo a Arte/Educação na
perspectiva da educação inclusiva.
Aponta-se também para a interface dos campos da Arte/Educação e dos
Projetos Educacionais, expondo a Pedagogia dos Projetos como um caminho
metodológico a ser explorado no trabalho com a arte.
78 • capítulo 5
OBJETIVOS
• Elaborar reflexões sobre as interfaces da arte com questões temáticas que emergem da
realidade social.
• Analisar as consequências e possibilidades do processo ensino-aprendizagem da arte me-
diada pelas novas tecnologias.
• Refletir sobre as possibilidades da arte em interface com a Educação Inclusiva.
• Analisar a Pedagogia dos Projetos Temáticos enquanto caminho metodológico para o en-
sino da arte.
capítulo 5 • 79
5.1 Arte e Tecnologia
Vivemos na era das mídias. A tecnologia, de forma geral, permeia as relações
pessoais e interpessoais, afetando as relações humanas em todas as suas di-
mensões: econômicas, sociais.
Em consonância com as ideias de Chaves (1998) podemos dizer que tecno-
logia é um conceito amplo e que, o surgimento de uma nova tecnologia produz
não só transformações técnicas, mas, também, importantes mudanças sociais.
Buscando uma definição nas palavras do autor:
80 • capítulo 5
Diante dessa nova forma de organização, kumar (1997) afirma que a socie-
dade necessita criar procedimentos de ensino em tecnologias da informação,
permitindo aos indivíduos o acesso tecnológico, processo denominado como
inclusão digital ou infoinclusão.
Segundo Moran (2000) estes novos recursos, precisam ser disponibilizados
para serem apreendidos por todos os indivíduos:
[...] a sociedade precisa ter como projeto político a procura de formas de diminuir a
distância que separa os que podem e os que não podem pagar pelo acesso à infor-
mação. As escolas públicas e as comunidades carentes precisam ter esse acesso
garantido para não ficarem condenados à segregação definitiva, ao analfabetismo
tecnológico, ao ensino de quinta classe. (MORAN, 2000, p.51).
Chaves (1998) também defende tais preceitos básicos e aponta para um pro-
cesso educativo que ultrapassa o espaço escolar e inclui outras instituições:
Por sua vez, a escola, órgão social, deve buscar se adaptar às mudanças e
aos novos recursos advindos da Era Digital, tendo o papel de inseri-los em suas
práticas e utilizar a tecnologia a favor da instituição.
Se é função da educação preparar o indivíduo para uma vida plena (em que faça bom
uso até de seu tempo livro, do qual terá cada vez mais), o cidadão para o exercício de
seus direitos e deveres, e o profissional para o trabalho, se é inegável que a sociedade
capítulo 5 • 81
em que o indivíduo vai viver, exercer a sua cidadania e trabalhar está permeada pela
tecnologia, e se é fato que a escola é o principal agente da educação na sociedade,
parece lógico esperar que a escola estivesse extremamente interessada e envolvi-
da nesses desenvolvimentos, pois, doutra forma, correria o risco de rapidamente se
tornar uma ‘fábrica de obsoletos’. (CHAVES, 1998, p.19).
[...] é possível considerar que as mudanças sociais podem ser iniciadas ou estimuladas
também por meio de mudanças tecnológicas que motivem os sistemas educacionais
a reformularem determinados aspectos da educação e de seus recursos possíveis.
(ZANIOLO, 2009, p. 93).
Com o passar do tempo, observa-se que “o giz vai perdendo espaço ao com-
putador, para atender as exigências de um modelo globalizado, conectado às
inovações tecnológicas.” (SANTOS, 2003, p. 07).
Muitos são os recursos tecnológicos que podem ser utilizados no processo
educativo (como computadores, notebooks, lousas interativas, apresentações
multimídia, mesas educacionais de alfabetização interativas, dentre outros) e
nas novas linguagens utilizadas por eles (como os fóruns, weblogs, chats, etc),
existe a busca de informações, argumentações e conhecimento significativo
construído em rede.
É, portanto, “um fato incontestável que no momento contemporâneo a vida
se alimenta das tecnologias e configura estreitas interfaces criativas e técnicas,
num contexto transdisciplinar baseado em conceitos fundamentais da ciência,
da arte, da filosofia, da comunicação, da educação.” (Domingues, 2003, p.13).
O uso de tecnologias digitais nas escolas provoca transformações na edifi-
cação do conhecimento, assim como na produção, armazenamento e divulga-
ção das informações. Nos leva a repensar também, métodos e procedimentos
didáticos tradicionais de ensino, de avaliação e de relação professor e aluno.
82 • capítulo 5
Assim sendo, diante da realidade tecnológica que se vislumbra nos cenários
mundial e Nacional é necessário que o professor tenha conhecimento e domí-
nio deste novo meio para que possa efetivamente explorar suas possibilidades
nas aulas de arte.
Iavelberg (2003) assegura que aprender arte implica desafios para quem
aprende e para quem ensina e que o fascínio e a paixão do professor pela arte
parecem ser essenciais na relação do ensino e da aprendizagem.
A autora em pauta defende a ideia de que o professor de arte seja um “es-
tudante fascinado por Arte”, entusiasmado para ensinar aos seus alunos a
vontade de aprender, numa relação bastante significativa entre o ensino e a
aprendizagem.
Analisando o ensino da arte em interface com os recursos tecnológicos, ob-
serva-se o aluno em contato com diferentes maneiras de expressar suas ideias,
ampliar suas capacidades comunicativas e descobrir suas próprias formas de
utilizar os recursos existentes. “Para compreender e fruir a arte produzida pelos
meios eletrônicos, o público necessita de uma nova escuta e de um novo olhar”
(BARBOSA, 2005, p.110).
Novas possibilidades de questionamentos, percepções e visões da arte de-
vem ser criadas, pois, “para ampliar os limites da tecnologia e de seu uso, é pre-
ciso pensar as relações entre tecnologia e processo de conhecimento, tecnolo-
gia e processo criador” (BARBOSA, 2005, p. 111).
A arte contemporânea é norteada, principalmente, por questões que afetam
a todos diretamente, levando em conta suas especificidades.
Assim, têm-se propostas artísticas para serem tocadas, cheiradas, somente ouvidas,
abarcando um sistema para além das instituições oficiais de arte. Ela está presente
seja na rua, nos conceitos, nas relações pessoais, na pluralidade humana na mídia e
capítulo 5 • 83
na própria arte. Nesse sentido, a arte contemporânea envolve o intelecto e as emo-
ções, direciona com liberdade as escolhas. Ela é uma ação contínua que trabalha com
a informação, a descoberta, juntando a essência da aparência, desordenando a ordem
convencional, criando um novo conhecimento. A informação é o fio e a arte, o tecido.
A coletividade tece. A elaboração dessa tessitura é enfim, a construção do homem
que pensa com a própria cabeça e sabe o que importa para si e para o meio onde
vive. A arte mostra ferramentas para que se veja mais, pense mais e, por isso, tem
maior capacidade de decidir. (FREITAS, 2007, p.10).
A arte é acima de tudo comunicação, ou seja, um evento a ser vivido em diálogo com
um sistema dotado de hardware e software e não mais com um objeto. A partilha com
os participantes da experiência modifica a relação obra-espectador, pois não mais se
trata de um público em atitudes contemplativas, mas de sujeitos/atuantes que rece-
bem e transformam o proposto pelo artista, em ações e decisões que são respondidas
por computadores. É o fim do “espectador” em sua passividade. A passividade é troca-
da pela possibilidade. O espectador, que somente experimentava a dinâmica da obra
nas etapas interpretativas de natureza mental, troca sua atitude por possibilidades que
devem ser exploradas ao provocar um sistema (DOMINGUES, 2002, p.61e 62).
84 • capítulo 5
Em consonância com os pressupostos teóricos de Iavelberg (2003) o profes-
sor de arte deve desenvolver competências para saber ver e analisar a imagem.
Necessita ainda, motivar seus alunos para que conheçam a produção artística
visual contemporânea, valorizando nossa herança cultural.
Os estudos relativos às mudanças e possibilidades da arte proporcionada
pelos diferentes recursos tecnológicos, exige do sujeito/aluno uma postura crí-
tica e analítica sobre o padrão estético e suas consequências sobre a cultura
atual e o modo de apreciar as obras artísticas.
CONEXÃO
Assista a reportagem: A TECNOLOGIA A FAVOR DA EDUCAÇÃO In: http://redeglobo.globo.
com/globoeducacao/videos/t/edicoes/v/globo-educacao-01062013-literatura-e-disposi-
tivos-eletronicos-integra/2603722/
Veja também: O uso de tecnologias nas aulas de Arte (http://www.gentequeeduca.org.
br/planos-de-aula/o-uso-de-tecnologias-nas-aulas-de-arte).
Você sabia que a palavra iconografia vem do grego "Eykon" que significa imagem e
a palavra "graphia", significa descrição, escrita? Portanto, podemos dizer que a icono-
grafia estuda a origem e a formação das imagens.”
capítulo 5 • 85
de uma escola que tem que ser para todos, e que não pode mais excluir do seu seio,
seres humanos, com base em suas diferenças. Ele envolve também uma questão
ética, pois não podemos negar que construir uma escola inclusiva é, hoje, um imperati-
vo moral para um sistema educacional tão excludente e uma sociedade tão desigual
quanto à nossa. (MENDES, 2009, p. 13).
[...] cabe a educação do futuro cuidar para que a espécie humana não apague a ideia
de diversidade e que a diversidade não apague a da unidade. [...] É a unidade humana
que traz em si os princípios de suas múltiplas diversidades. Compreender o ser huma-
no é compreender sua unidade na diversidade, sua diversidade na unidade. É preciso
conceber a unidade do múltiplo, a multiplicidade do uno. A educação deverá ilustrar
este princípio de unidade/diversidade em todas as esferas (MORIN, 2000, p.52).
Trata-se de uma proposta que vem sendo discutida como uma “modalidade
transversal a todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação
complementar da educação especial ao ensino regular”. (BRASIL, 2008, p. 8).
Ao abordarmos o complexo contexto da arte em interface com a Educação
Inclusiva, notamos como a mesma se apresenta como um interessante agente
da inclusão social, permitindo à pessoa com deficiência elaborar, reelaborar e
expressar seus sentimentos, opiniões e pensamentos.
Mais do que dar conta de aspectos da inclusão social é uma maneira de inserir no
cotidiano questões de cidadania, voltada para a busca de conhecimento mútuo, onde
o outro se torne visível. Esta visibilidade dá representatividade social. A educação in-
clusiva só tem sentido se tiver projeção na estrutura social, integrando discursos que
vão além do âmbito educacional. (FREITAS, 2007, p.10).
86 • capítulo 5
Uma pessoa capaz de expressar-se artisticamente é também capaz de par-
ticipar de modo mais efetivo de seu contexto sociocultural, pois contribui pro-
dutivamente e transforma seu desenvolvimento em um constante processo de
aprendizagem e de reconstrução, exercendo, assim, sua cidadania. “Assim,
tanto como linguagem como meio de comunicação a arte promove a apropria-
ção pelo indivíduo, de conhecimentos sobre a realidade, aspectos de um mun-
do pleno de diversidades e em permanente transformação.” (ZANIOLO, 2009,
p.92).
Como aponta Soares, (2009) a arte, por permitir o exercício da formação in-
tegral do indivíduo, pode colaborar também para a inclusão escolar de pessoas
com necessidades especiais, uma vez que o fazer artístico gera o respeito aos
saberes e histórias individuais, valorizando os diferentes processos de criação
e as diferentes produções.
É importante considerar ainda que:
CONEXÃO
Assista a reportagem: Projeto trabalha arte como ferramenta de inclusão social e formação
da cidadania (https://www.youtube.com/watch?v=Ljgk3ts-yRk).
capítulo 5 • 87
O processo de ensino organizado por projetos não é uma ação educativa re-
cente. Suas raízes se encontram no Movimento da Escola Nova - também cha-
mada de Escola Ativa ou Movimento Escola Novista - durante o fim do século
XIX e início do século XX.
O Movimento em questão desabrochou em meio a uma conjuntura de mu-
danças que demarcavam a industrialização, a democracia e uma nova atitude
diante da vida. “Nasciam sob a influência do pensamento baseado na experi-
mentação, ou de modo geral no desenvolvimento da ciência e de suas aplica-
ções à atividade humana”. (KILPATRICK, 1969, p.20).
Na tentativa de superar a educação tradicional da época e de responder às
necessidades da ‘nova sociedade’, John Dewey, um dos estudiosos da Escola
Nova, compreendendo que vida, experiência e aprendizagem são aspectos inse-
paráveis e dialéticos, repensou a educação como “um processo de reconstrução
e reorganização da experiência, pelo qual lhe percebemos mais agudamente o
sentido, e com isso nos habilitamos a melhor dirigir o curso das nossas expe-
riências futuras” (DEWEY, 1973, p. 16).
Willian Heard Kilpatrick, ancorado em experiências e pressupostos teóri-
cos de Dewey e, na busca de propostas de novos métodos e novas técnicas de
trabalho, aperfeiçoa e apresenta o denominado Método de Projetos. “Nossa
época está mudando. Qual a tendência dominante nessa transformação?”
(KILPATRICK, 1965, p. 15).
A proposta de desenvolver atividades escolares na forma de Projetos tinha
como intenção central transformar a escola em um espaço de vida e de expe-
riência; compreendendo o aluno como sujeito ativo e no processo de aprendi-
zagem e privilegiando alguns princípios como: o exercício da cidadania, o res-
peito por si mesmo, a autonomia, a iniciativa, o espírito crítico, a liberdade de
pensamento, a persistência.
Desde então os Projetos se apresentam como alternativa pedagógica es-
tudada por diferentes autores: Santomé e Hernández na Espanha, Jolibert na
França, Monique Deheinzelin e Miguel Arroyo no Brasil, entre outros.
Conforme assinala Morin (1981) a organização do trabalho escolar por pro-
jetos flexibiliza e aborda a organização dos conteúdos curriculares, não de for-
ma linear e por disciplinas, mas articulada em espiral. Permite assim, promo-
ver as inter-relações entre o que estuda e o que se vive no cotidiano a partir de
problemas que emergem das reais necessidades dos alunos.
88 • capítulo 5
A proposta dos projetos envolve atitudes interdisciplinares, planejamento
conjunto, participação ativa e estímulo à criatividade.
Segundo Zaballa (1998) por meio dos projetos o aluno é convidado a buscar,
descobrir, construir, criticar, comparar, dialogar, analisar, vivenciar o próprio
processo de construção do conhecimento.
Os pressupostos que pautam a Pedagogia dos Projetos no contexto escolar
devem também ser considerados em relação à forma como irão explorar as te-
máticas de Arte.
Martins, Picosque e Guerra (1998), retomam a proposta de projetos especi-
ficamente para o ensino da arte e salientam que “na palavra projeto está conti-
da um intencionalidade, que ainda é um vir-a-ser [...]. A palavra projeto designa
igualmente tanto o que é proposto para ser realizado quanto o que será feito
para atingi-lo”. (MARTINS, PICOSQUE E GUERRA ,1998, p. 158).
Conforme visto anteriormente, a Arte é formada por manifestações cuja essên-
cia é representar o mundo, a realidade, de acordo com elementos específicos, que
contam com a subjetividade dos indivíduos para possuir estilos próprios, além de
formar um novo contexto artístico-cultural a partir de tais instintos criativos.
O uso de projetos no trabalho com a arte permite instrumentalizar o aluno no
domínio das diferentes linguagens artísticas, por meio de informações, do estudo
e da análise da construção do conhecimento, uma produção ativa, com formula-
ção de hipóteses, de significados e do entendimento daquilo que estudam, enfim,
"uma variedade de ações de compreensão que mostrem uma interpretação do
tema, e, ao mesmo tempo, um avanço sobre o mesmo". (Hernández, 2000, p. 184).
Você sabia que O Método de Projetos foi criado pelo norte-americano William Kilpa-
trick (1871-1965) baseado nas idéias de John Dewey (1859-1952)?
Em setembro de 1918, uma das mais importantes revistas de educação, Teachers
College Recort, divulgou um artigo no qual este autor explica e denomina o “Método
de Projetos”. Tal proposta caracteriza-se como uma forma de integração curricular e
preocupa-se com o “interesse” que deve acompanhar o trabalho pedagógico de modo
a suscitar no aluno a vontade de saber. O embasamento teórico de Kilpatrick estava
fundamentado nos estudos de uma “escola ativa” de John Dewey. Você pode rever as
idéias deste autor revisitando este link.
A dimensão socializadora das propostas curriculares foi a grande impulsionadora do
Método de Projetos.
capítulo 5 • 89
CONEXÃO
Assista aos vídeos:
Cadernos da TV Escola
http://portal.mec.gov.br/seed/index.php?option=content&task=-
view&id=80&Itemid=211
Por este endereço é possível acessar os "Cadernos da TV Escola", publicações com os
temas transmitidos nas séries da TV.
Fernando Hernández. Revista Nova Escola. Agosto/2002.
http://novaescola.abril.com.br/ed/154_ago02/html/repcapa_qdo_hernandez.htm
Reportagem que traz os principais assuntos focalizados pelo educador espanhol Fernan-
do Hernández, como a reorganização do currículo por projetos de trabalho.
Leia também sua entrevista, publicada na página:
http://novaescola.abril.com.br/ed/154_ago02/html/hernandez.doc
ATIVIDADES
Diante da revolução tecnológica e da era da informática, é possível falarmos hoje de um novo
tipo de analfabeto:
01. o analfabeto funcional: aquele que só sabe ler e escrever seu nome e poucas palavras.
02. o analfabeto tecnológico: aquele que não tem conhecimento e domínio de informática.
REFLEXÃO
Reflita sobre consequências e possibilidades do processo ensino-aprendizagem da arte me-
diado pelas novas tecnologias.
90 • capítulo 5
LEITURA
Educação e Pessoas com Necessidades especiais
A arte como instrumento de inclusão social pode e deve ser vista como fator de com-
plemento nas diversas formas de desenvolver aprendizagens ligadas a diferentes áreas do
conhecimento. Essa questão é abordada claramente pela interdisciplinaridade, ou seja, o
diálogo entre uma ou mais disciplinas com o intuito de solidificar a aprendizagem através de
oportunidades e de diferentes maneiras de entender e contextualizar os conteúdos escola-
res. Nesse sentido, pretende-se aqui tentar elevar a manifestação artística dos educandos
para bem aprimorar seus conceitos quanto às faces
da aprendizagem.
Antes de se adentrar aos estudos e benefícios da arte para educação de pessoas com
necessidades especiais, é de grande importância conhecer e interpretar a legislação no
que tange este assunto, muitas vezes tão distante da realidade e tão carente de atenção e
aplicabilidades.
A educação especial deve, de acordo com a LDB, nº 9.394/96, art. 58, da educação
nacional, ser entendida como “modalidade da educação escolar, oferecida preferencialmente
na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais” e, com
intuito de complementar o que já foi promovido na Lei, vê-se instituído as Diretrizes Nacionais
para a Educação Especial na Educação Básica, a promoção de uma “proposta pedagógica
que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente
para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educa-
cionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das
potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em
todas as etapas e modalidades da educação básica”.
Consonante, desenvolver potencialidades em alunos com necessidades especiais re-
quer, além de esforço e talento por parte do educador, compromisso político e ético, para
bem educar é preciso compreender as necessidades específicas de cada aluno, e quando se
trata de alunos especiais, é necessário que o educador se supere, buscando meios e meca-
nismos que atenda o perfil de cada necessidade.
Para o cientista das inteligências múltiplas, Haward Gardner, “a educação precisa jus-
tificar-se realçando o entendimento humano”, para o autor, a escola não pode sufocar as
aptidões dos alunos, pelo contrário, ela precisa canalizar as potencialidades de cada um
e adequá-las ao processo de ensino, “todos os indivíduos tem potencial para ser criativos,
mas só serão se quiserem”, e aqui entra o papel da Arte na Educação Inclusiva, propiciar um
capítulo 5 • 91
ambiente multiplicador de aprendizagens, aguçando a vontade de aprender através daquilo
que gera prazer.
A música, a pintura, a dança, a poesia, o artesanato, a culinária; inúmeras extensões da
arte podem contribuir para aquisição de aprendizagens ligadas às normas de conteúdo, bem
como elevar os conhecimentos acerca de cultura, valores e especificidades da vida cotidiana.
A amplitude do ensino de artes na educação de pessoas com necessidades especiais,
no sentido de ver, fazer e contextualizar pode referenciar-se por ser uma linguagem universal,
não precisa ser traduzida. Basta sua aplicação no sentido de evoluir o homem que deseja
espaço na sociedade para poder contribuir com seu talento e com seu potencial.
Por Giuliano Freitas
Equipe Brasil Escola
Orientações - Educador - Brasil Escola
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reflexões para a formação de professores. Curitiba: Editora CRV, 2009.
GABARITO
Capítulo 1
capítulo 5 • 93
Orientação: Procure destacar em sua pesquisa: - Os pontos centrais de suas cronologias(de-
terminando as datas e a ordem dos acontecimentos históricos principais como nascimento;
formação acadêmica, publicações, curiosidades, morte, etc).
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
94 • capítulo 5
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 95
ANOTAÇÕES
96 • capítulo 5