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IESDE
2019
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dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A.
Imagem da capa: Avgust Avgustus/vvoe/ABO PHOTOGRAPHY/cobalt88/Shutterstock
Apresentação 7
Gabarito 99
Apresentação
Pensando nisso, ao final de cada capítulo, temos atividades de revisão para promover um
melhor aprendizado e fixar o conhecimento adquirido. É possível, também, encontrar nesta obra
diversas dicas de livros, filmes e sites para instigar sua sede de conhecimento sobre as artes.
Boa viagem!
1
Da pintura rupestre à reprodução da obra de arte
Para que serve, afinal, a arte? Refletindo brevemente sobre o papel da arte na sociedade,
podemos perceber que ela acompanha a nossa história e foi, desde sempre, um meio de marcar nossa
existência no mundo, mesmo que os primitivos não tivessem sobre essa forma de expressão a mesma
concepção que temos hoje.
Neste capítulo, abordaremos o percurso das artes visuais pelos desenhos, pinturas e
gravuras, além de conhecer sua trajetória em diversas práticas criativas, desde os tempos
primitivos até os dias atuais.
Dante Petrone/Shutterstock
Podem ser considerados arte desde esses desenhos mais rudimentares até os que apresentam
mais requinte e segurança no fazer, no uso de cores, nas proporções e na precisão do traço.
10 História das artes visuais
Segundo Janson (1996), as pesquisas sobre essa representação artística primitiva sugerem
que sua evolução até um estágio mais avançado (Figura 2) foi lenta e acompanhou o próprio avanço
das sociedades.
Figura 2 – Arte rupestre
avançar no modo de fazer arte. A manipulação de vários materiais nos permitiu fabricar desde
vasos cerâmicos, lanças e casas – voltados à sobrevivência – até papel e tinta, que tinham como
funcionalidade produzir arte. Posteriormente, foram criados tecidos especiais, sobre os quais eram
realizadas pinturas que foram emolduradas e que, após séculos, permanecem em bom estado e à
disposição para apreciação.
Infelizmente, não é possível abranger aqui todas as possibilidades sobre desenho, pintura
e seus materiais e suportes. Abordaremos, portanto, os aspectos mais importantes do desenho e
da pintura.
Fonte: DA VINCI, L. Homem vitruviano, 1492. Fonte: DA VINCI, L. Autorretrato. ca. 1512.
Tinta sobre papel: 24,5 x 34,3 cm. Milão, Itália. Sanguínea sobre papel: 33,3 cm x 21,6 cm.
Biblioteca Reale, Turim.
Os desenhos também são importantes para registrar a história. Entre os séculos XVIII e
XIX, por exemplo, inúmeros viajantes de todo o globo vieram ao Brasil em caráter exploratório.
12 História das artes visuais
Marzolino/Shutterstock
Fonte: DEBRET, Jean-Baptiste. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. São Paulo: Edusp, 1978.
Diversos livros sobre o Brasil, com imagens da natureza, dos índios, dos animais e da fauna,
foram publicados na Europa. Os desenhos dos viajantes foram os responsáveis por mostrar a nova
terra ao mundo. Por se tratar de uma época em que viajar longas distâncias não era algo muito
acessível, os desenhos acabaram sendo uma das únicas formas de muitas pessoas conhecerem
outros lugares, povos e estilos de vida. Além de serem belos trabalhos, esses desenhos nos
permitiram conhecer melhor como era o nosso país, colaborando, assim, para a reconstrução da
nossa memória.
1.2.2 Afrescos
Avançando um pouco mais nas possibilidades das artes visuais, trataremos agora de
um suporte permanente e fixo: as paredes. Nelas podemos encontrar representações artísticas
como afrescos, murais e grafites, que apresentam semelhanças e diferenças entre si. Entre as
características comuns, podemos observar que todas demandam um planejamento em escala,
pois são pinturas de grande porte; sua execução pode demorar muito tempo; e necessitam de
grande quantidade de material, bem como andaimes, escadas, auxiliares, além da preocupação
Da pintura rupestre à reprodução da obra de arte 13
Michelangelo levou quatro anos para pintar as centenas de figuras e passagens bíblicas em
vários nichos entre as estruturas arquitetônicas, com uma pintura diferente em cada um deles. Lá
estão imagens bastante conhecidas, como O juízo final e A criação do homem, na qual Deus toca o
dedo de Adão, conforme ilustra a Figura 6.
14 História das artes visuais
Wikimediacommons
Fonte: MICHELANGELO. A criação do homem. 1510. Afresco: 280 x 570 cm. Capela Sistina, Vaticano, Roma.
Além das obras já citadas na seção anterior, dentro da categoria de afrescos, Leonardo da
Vinci produziu, entre 1495 e 1498, A última ceia.
Você pode acessar imagens dos trabalhos de Rivera e conhecer um pouco mais
sobre o artista neste site:
No século XX, o grafite expandiu as possibilidades estéticas dos murais, que passaram a
ganhar ruas e ambientes públicos como forma de manifestação e apropriação do espaço urbano.
Seu surgimento se deu durante o movimento da contracultura, conquistando representatividade
e dando visibilidade a grupos sociais que, muitas vezes, eram marginalizados, tornando-se, assim,
a expressão artística de comunidades periféricas das grandes cidades. Por essas características, o
grafite é frequentemente considerado uma arte marginal.
De acordo com Rink (2015, p. 21), “o estudo sobre o graffiti – enquanto produção objetiva
e subjetiva no meio urbano – contribui e repercute socialmente, visto o grande impacto que esta
Da pintura rupestre à reprodução da obra de arte 15
forma de arte tem tido nas grandes cidades de todo o mundo”. Ainda hoje o grafite é representado
por grandes pinturas realizadas em muros, fachadas de prédios, viadutos e outros espaços urbanos
ao redor do mundo. É uma arte bastante democrática, além de ser de fácil acesso e apreciação, uma
vez que, por serem um meio de contestação do estado das coisas, estão sempre visíveis para toda a
comunidade. Passamos por essas pinturas diariamente. Convivemos com elas.
O grafite vem ganhando uma visibilidade diferente daquela de sua origem. Ele ainda é
usado com o objetivo de contestar e expor as mazelas urbanas, mas, no momento presente, muitos
grafiteiros são reconhecidos internacionalmente como artistas e convidados a grafitarem espaços
urbanos e privados, assim como os murais tradicionais.
A técnica usada na produção do grafite, a exemplo dos afrescos e murais, também deve
levar em consideração um planejamento – que inclui a produção de um desenho prévio a ser
reproduzido em grande escala –, mas se diferencia pelo uso mais tradicional de tinta spray. A
maioria dessas pinturas é efêmera, ou seja, não é feita para durar muito tempo. A linha que separa
o mural e o grafite é tênue, e diversos artistas se dedicam aos dois.
O brasileiro Eduardo Kobra, por exemplo, se autodenomina muralista, mas, segundo o site
oficial do artista (KOBRA, 2019), ele iniciou sua carreira como grafiteiro na periferia de São Paulo.
Existem também outros artistas dessa modalidade que alcançaram reconhecimento mundial.
É o caso dos paulistas Gustavo e Otávio Pandolfo, conhecidos como OSGEMEOS, que começaram
a se destacar nos anos 1980 e passaram a ser convidados para pintar grandes espaços urbanos em
todo o mundo. Um dos famosos trabalhos deles foi o grafite produzido em silos de concreto em
Vancouver, no Canadá, no qual há a representação de figuras humanas estilizadas, que olham para
a fábrica e para a baía, humanizam e se integram ao ambiente urbano industrial.
Podemos perceber que as artes visuais realizam um percurso que acompanha as sociedades
e o período em que estão inseridas, adaptando as técnicas, o estilo artístico, os materiais
disponíveis, o suporte e a dimensão da obra, deslocando-se de espaços interiores para exteriores
e fixando, cada uma no seu tempo, o modo de viver, pensar e se relacionar consigo e com suas
crenças e os desafios humanos.
16 História das artes visuais
IgorGolovniov/Shutterstock
ilustrados, as gravuras se popularizaram e houve
um aumento de sua demanda. Antes da gravura,
as imagens e os textos dos livros precisavam
ser copiados e desenhados à mão – o que era
realizado, por exemplo, nos mosteiros –, de modo
quase artesanal, tornando os livros muito caros
e acessíveis apenas a uma camada mais rica da
população.
A gravura foi trazida do Oriente para
a Europa, por volta do século XV, durante o
período das navegações e das descobertas de
novos mundos. Segundo Costella (2003, p. 10),
“os chineses praticam a xilografia há mais de um
milênio e meio. Empregaram-na inicialmente
para imprimir orações budistas e, depois, cartas
de baralho e papel-moeda”.
Existem diversas maneiras tradicionais e
antigas de registrar imagens e textos em suportes Fonte: PEROTTI, Nicolai. Horativs. 1543.
De topo – sentido
transversal da
madeira.
Xilogravura Madeira Entalhe Papel ou tecido
Ao fio – paralela
ao fio da madeira
(tábua).
Comumente
Gravura Metal Relevo Papel chamada de gravura
feita em metal.
Não é feito o
entalhe, a técnica
consiste em
desenhar com um
lápis gorduroso,
aplicar substâncias
Litogravura Pedra Plana Papel
próprias para
fixação e gravar
o desenho. Ela
permite reaproveitar
a matriz várias
vezes.
Matriz feita em
um tipo de tecido
Serigrafia Tecido Permeação Tecido próprio que permite
vazar o desenho a
ser impresso.
Os tipos móveis de
metal eram moldes
de letras separadas
Letras ou tipos Papel, livros e para formar
Tipografia Metal
móveis jornais palavras em uma
matriz, formando
páginas a serem
impressas.
Fonte: Elaborado pela autora.
1.3.1 Xilografia
Conheceremos um pouco melhor a arte de xilogravar, que é uma das maneiras mais antigas
de fazer cópias. A xilografia é um modo de reproduzir uma gravura a partir de uma matriz talhada
na madeira – o que possivelmente facilitava a sua produção, visto que a madeira era a matéria mais
fácil de ser encontrada e talhada. Essa aparente simplicidade permitiu enorme riqueza e diversidade
de produções artísticas, algo que permanece até os dias atuais.
Para cada imagem a ser multiplicada, é feita uma matriz com sulcos talhados na madeira e
que vão espelhar as formas e contornos no papel. O que caracteriza a gravura como arte é o olhar
e a produção do artista. A xilogravura se tornou um meio de difusão cultural e religiosa, sendo
bastante usada para fazer imagens de santinhos, orações, cartas de baralho e ilustrações de livros.
Para produzir uma matriz que será utilizada para fazer várias cópias por meio da técnica
da xilogravura, é necessário um pedaço de madeira com um lado liso, no qual será entalhada a
imagem. O artista começa fazendo um desenho a lápis (Figura 8a), ou seja, um esboço da imagem
que pretende reproduzir. A partir desse rascunho, ele vai entalhando, com pequenos formões de
metal, sulcos sobre as linhas do desenho esboçado (Figura 8b). O passo seguinte é aplicar tinta
nessa matriz utilizando um rolo, o que permitirá uniformidade à gravura e manterá os sulcos em
branco, reproduzindo o desenho ao se prensar a matriz sobre o papel. Resumidamente, funciona
como um grande carimbo feito de madeira.
Figura 8 – Xilogravura que ilustra o processo de xilografia (1568).
A Profissional fazendo o esboço B Profissional entalhando a matriz na madeira
Henri Matisse, Lasar Segall e Pablo Picasso também produziram obras por meio da
xilografia. Apesar dos avanços tecnológicos do século XXI, a xilografia continua a ser utilizada
por muitos artistas.
Durante muito tempo, esse tipo Figura 10 – Cordéis em exposição nas cordas que lhe deram
o nome
de arte popular usou a xilografia para
Viniciusmc/Wikimedia Commons
manter vivo um repertório de histórias
e personagens como cangaceiros,
padres, coronéis e o povo típico
do Norte e do Nordeste brasileiro.
Atualmente, podemos encontrar com
mais facilidade um estilo xilográfico
feito em equipamento gráfico.
Por outro lado, no século XX,
muitos artistas retornaram ao modo
original de trabalhar com a xilografia,
mantendo viva a tradição. Em matrizes de vários tamanhos, suas obras ilustravam cenas, paisagens
e costumes nordestinos – as baianas, a capoeira e o frevo, por exemplo. Existiam também artistas
que criavam cenas urbanas e cenas da realidade das cidades em que viviam.
Dedicamos uma parte significativa desta obra à xilografia a fim de compreendermos que
algumas formas artísticas se reinventam ao longo do tempo. Assim, ainda podemos encontrar
artistas que deixam sua marca por meio dessa técnica em várias partes do mundo e em ateliês por
todo o Brasil.
1.3.3 Litografia
Na litografia, a matriz é feita na pedra calcária, em superfície plana, isto é, sem entalhe. O
artista que deseja trabalhar com essa técnica deve ter uma preparação que o permita realizar as
etapas na sequência correta, principalmente na repulsão entre óleo e água.
Figura 11 – Processo de litografia Dmytro Vietrov/Shutterstock
Da pintura rupestre à reprodução da obra de arte 21
Por ser tecnicamente mais difícil, a litografia é menos popular e, de certo modo, menos
acessível do que a xilografia. Em contrapartida, esse princípio possibilita um trabalho mais
detalhado, no qual o artista desenha na pedra plana, com um tipo de lápis “gorduroso”, a imagem
a ser espelhada e gravada no papel. Em seguida, aplica a tinta na matriz, que deve se fixar no óleo
do desenho, que, por sua vez, ao ser prensado no papel, será transferido. Outro detalhe importante
dessa técnica é que o desenho pode ser apagado para que a pedra seja reutilizada em outra gravação.
No século XIX, muitos artistas se deslocaram para o Brasil e realizaram trabalhos em
litografia, nos quais podemos observar a riqueza de detalhes do traço mais fino, que evidencia
figuras humanas e da natureza e cria nuances com mais facilidade, como a perspectiva que dá a
noção de profundidade às imagens planas.
Figura 12 – Rio de Janeiro (século XIX).
Fonte: RUGENDAS, Johann Moritz. Vista da igreja. Rio de Janeiro, século XIX.
A litografia foi inventada em 1796 pelo alemão Alois Senefelder e eliminou a necessidade
da existência de duas etapas diferentes para produzir a matriz. Na xilografia, era preciso fazer
primeiramente o desenho e, depois, o trabalho de entalhe. A litografia, então, possibilitou ao artista
desenhar diretamente na pedra calcária. Se, por um lado, desenhar diretamente na matriz parecia
mais difícil devido às etapas de execução, por outro, era mais rápido e simples, e o desenho, por
depender somente dos traços do artista, acabava sendo mais preciso.
Na litogravura Aqueduto do Rio de Janeiro (Figura 14), feita pelo artista Johann Jacob
Steinmann por volta de 1844, é possível observar outro exemplo do uso de cores. Nesse caso, ele
pintou sobre a litografia tradicional, produzindo, após a gravação, o efeito das cores como em uma
pintura natural.
Figura 13 – Xilografia colorida Figura 14 – Litogravura aquarelada
japonesa
Wikimedia Commons
Wikimedia Commons
xilografia também pode ser colorida, conforme mostra a
Figura 15.
Como pudemos perceber, a arte de produzir
a xilogravura passa por um processo praticamente
artesanal, tanto na produção de imagens com uma única
cor quanto nas coloridas, nas quais o artista precisa gravar
as diferentes cores, cada uma de uma vez, precisamente
no mesmo lugar. Essas sutilezas mantêm, ainda hoje,
muitos apaixonados por essa técnica artística.
Assim como o mundo passou a produzir uma enorme quantidade de produtos de todo
tipo nas fábricas, o que os tornou mais baratos para quem os fabrica, a cultura e a arte também
aderiram a essa forma de produção em série. O termo reprodutibilidade vem da ideia de reproduzir
(ou produzir inúmeras vezes) o mesmo item com recursos técnicos, em oposição à ideia de
autenticidade ligada à arte.
O conceito de reproduzir sempre esteve ligado à arte, relacionado à imitação feita pelos
discípulos ou à cópia. Com o tempo, foram realizados avanços no sentido de copiar a arte. Segundo
Benjamin (1994, p. 166), “com a xilogravura, o desenho tornou-se pela primeira vez tecnicamente
reprodutível, muito antes que a imprensa prestasse o mesmo serviço para a palavra escrita”. O autor
também menciona o aumento da precisão e a facilidade na reprodução de gravuras, o que permitiu
fazer um número maior de cópias e de maneira mais rápida.
No entanto, mesmo a melhor cópia que a reprodutibilidade técnica é capaz de produzir não
pode ser comparada à autenticidade de uma obra de arte original. O que Benjamin (1994) expõe
é que um pôster da Mona Lisa na nossa parede não tem o mesmo valor que a pintura autêntica de
Leonardo da Vinci, agora preservada em museu. Atualmente, isso é de conhecimento popular, mas
foi justamente Walter Benjamin que nos trouxe esse conceito no início do século XX.
O que faz com que uma obra de arte seja considerada original ou autêntica é o fato de ter
sido tocada pelo artista em pessoa, que ela tem uma história, marcas que o tempo deixou, que é
possível ver as pinceladas que o artista deu na tela. Pensando nesses detalhes, o autor afirmou que
as obras de arte possuem uma “aura” que as torna únicas.
Por outro lado, a reprodutibilidade, iniciada, dentre outros métodos, com a xilogravura,
foi importante para que as obras artísticas pudessem ser conhecidas e apreciadas por um círculo
muito maior de pessoas. Somente a partir das cópias é que foi possível universalizar o acesso a
obras de arte, que eram restritas a um ambiente elitista.
Benjamin se dedicou a vários temas relacionados à história e às artes. Ele escreveu seus textos
sobre esses assuntos pouco tempo depois da invenção do cinema, que é derivado da fotografia e no
qual a noção de reprodutibilidade técnica se amplia com mais evidência.
Como foi exposto anteriormente, ficaremos, por ora, com essas informações. É importante
que, a partir de agora, você procure perceber o efeito dessas técnicas na cultura e na arte produzidas
principalmente a partir do século XX. A apreciação e a observação constantes nos ajudam a
compreender cada vez melhor todas as possibilidades que a arte nos oferece.
Considerações finais
Neste capítulo, foi possível conhecer um pouco sobre a trajetória das artes visuais produzidas
em suportes planos, como a pintura, o desenho e a gravura. Estudamos que a evolução da arte corre
em paralelo à do ser humano, ao mesmo tempo em que, de alguma forma, ajuda a impulsioná-lo.
Com base na visão que a arte nos proporciona, conhecemos as marcas deixadas no mundo antes de
nós e percebemos que também podemos usá-la para deixar o nosso legado.
24 História das artes visuais
Atividades
1. Qual é a importância das pinturas rupestres encontradas em cavernas primitivas para o
nosso conhecimento sobre a origem das artes visuais?
2. Como podemos avaliar a evolução da arte por meio dos afrescos, murais e grafites? Que
aspecto foi mudando nesses três tipos de artes visuais ao longo do tempo?
3. Sobre a produção de gravuras feitas com a xilografia e com a litografia, quais principais
aspectos você destacaria?
Referências
BENJAMIN, W. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: Magia e técnica, arte e política:
ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.
Lefteris Tsouris/Shutterstock
passado muito distante. De acordo com Janson
(1996, p. 16), “além da arte das cavernas feita em
grandes proporções, os homens do Paleolítico
também criaram pequenas esculturas do
tamanho de uma mão, utilizando-se de osso,
chifre ou pedra cortados com talhadeiras
rudimentares”. A estatueta da fertilidade,
conhecida pelo nome de Vênus de Willendorf
(Figura 1), é um exemplo de escultura datada
no período primitivo.
As esculturas demonstram um tipo de
evolução dos povos primitivos. Há milhares
de anos eles conseguiram criar objetos que
demonstram uma noção cognitiva e artística,
imitando formas humanas e suas proporções
em escala menor. Além disso, objetos como a A escultura original (de 10,45 cm) foi encontrada pelo
paleontólogo Hugo Obermaler em 1908, na baixa Áustria.
Vênus nos mostram o conhecimento técnico (BOZAL, 1995 apud Velázquez, 2017).
e a existência de ferramentas produzidas por Fonte: VÊNUS de Willendorf (cópia do original de 25.000 a.C.).
Pedra: 12 cm. Museu de História Natural de Viena.
esses povos, que já começavam a dominar e
transformar a natureza a seu favor.
26 História das artes visuais
Quem vence o jogo pedra, papel ou tesoura? Depende. Uma pedra mais dura pode quebrar
uma pedra mais mole. A tesoura pode vencer o papel e a pedra, ao menos no que se refere ao jogo
de esculpir, visto que ela representa o metal. Depois que a humanidade descobriu o fogo e percebeu
que com ele era possível fundir o metal, iniciou-se uma verdadeira revolução. Isso permitiu inúmeras
invenções e toda a evolução das civilizações. Em paralelo, ocorreu também a evolução da arte. As
esculturas, entre outros utensílios, marcaram o período aproximado em que ocorreu o fim de uma
era e o início de outra. Janson (1996, p. 17), em relação à arte primitiva, elucida que:
há, então, uma diferença básica entre o Paleolítico e o Neolítico, embora o
homem ainda dependesse da pedra como o material de seus principais utensílios
e armas. A nova forma de vida deu origem a um grande número de habilidades
e invenções, muito antes do surgimento dos metais: a cerâmica, a tecelagem e a
fiação, métodos básicos de construção arquitetônica. Sabemos tudo isso a partir
dos povoados do Neolítico que foram revelados por escavações.
Ao longo de muitos anos, por meio da arqueologia, foram encontradas esculturas feitas
com materiais diferentes, por exemplo o barro, a madeira e a pedra, as quais representam figuras
humanas e de diferentes deuses por todo o mundo, como no Himalaia, no Havaí, em diferentes
regiões dos continentes africano, europeu e americano.
Figura 2 – Esfinge
AlexAnton/Shutterstock
Ao fundo, encontram-se as pirâmides dos faraós Queóps (2530 a.C.), Quéfren (2500 a.C.) e Miquerinos (2470 a.C.).
Fonte: A GRANDE Esfinge. 2500 a.C. 20 x 19 x 73 m. Gizé, Egito.
Em 1360 a.C., tivemos o modelo mais próximo do que Figura 3 – Escultura da Rainha Nefertiti
entendemos hoje por escultura: o busto da rainha Nefertiti
tkachuk/Shutterstock
Jbribeiro1/Wikimedia Commons
Esculturas em uma das laterais do arco triunfal do Imperador Septímio Severo com colunas de pedra no Fórum
Romano na Itália.
Esse tipo de escultura também é comum de ser encontrado em túmulos arquitetados durante
os primórdios da era cristã, como o sarcófago de Junius Bassus, prefeito de Roma (Figura 5).
Figura 5 – Sarcófago de Junius Bassus
Fonte: SARCÓFAGO de Junius Bassus. 395 d.C. 1,18 x 2,44 m. Grutas do Vaticano, Roma.
Escultura: arte tridimensional 29
Janson (1996, p. 94) afirma que a escultura, “comparada à pintura e à arquitetura, teve
um papel secundário”. Como o Velho Testamento havia proibido o culto a ídolos esculpidos, as
esculturas religiosas passaram a ser evitadas, e “as primeiras obras esculpidas que podem ser
chamadas de cristãs são os sarcófagos construídos para membros mais ricos da congregação;
tendo seu início nos meados do século III” (JANSON, 1996, p. 94). A prática de esculpir painéis,
sarcófagos ou túmulos importantes se estendeu até o Renascimento. Michelangelo, por exemplo,
chegou a esculpir vários deles, como o Túmulo de Giuliano Médici, família rica e influente na Itália,
em Florença, entre 1524 e 1534.
2.2.2 Renascimento
No capítulo anterior, analisamos os afrescos da Capela Sistina, realizados por Michelangelo.
Apesar de ser um excelente pintor, Michelangelo é mais reconhecido como escultor, uma vez que
foi no mármore que o artista deixou a marca de sua genialidade, durante o Renascimento.
Com o passar dos anos o mundo foi mudando e, com ele, a arte. Pouco antes
do Renascimento ocorreram fatos que marcaram nossa história, como a
queda de Constantinopla, a descoberta da América e a Reforma Protestante.
“O Renascimento [...] não dividiu o passado de acordo com o plano divino da
salvação, mas sim com base nas ações humanas” (JANSON, 1996, p. 168). É aí
que o período se diferencia dos períodos anteriores da história, em que os vários
deuses sempre foram o centro de toda a criação. A arte renascentista vai refletir
a valorização humana e questionar as imposições religiosas.
carregando nos braços seu filho morto e recém-retirado da cruz. Nessa obra podemos perceber a
entrega das figuras no mármore. Fica evidente a dor da mãe que perdeu seu filho. Os detalhes
anatômicos e nos tecidos são surpreendentes.
Figura 8 – Escultura em mármore, Pietà.
Fonte: MICHELANGELO. Pietà. 1498-1499. 174 x 195 cm. Basílica de São Pedro. Florença, Itália.
Esses guerreiros foram colocados próximos ao túmulo do imperador Qin Shi Huang
para protegê-lo durante a vida após a morte, como creem os chineses. Assim, “estima-se que a
construção, datada de 246 a.C., levou 38 anos para ser completada e que empregou a incrível marca
de 700 mil trabalhadores” (COUTO, 2008, p. 39). A China é uma civilização milenar e, embora
nós não estudemos e não conheçamos tão bem a história oriental, é interessante mencioná-la para
compreendermos toda a importância desse povo e a abrangência global da arte.
Tetraktys/Wikimedia
Fonte: ALEIJADINHO (Antônio Francisco Lisboa). Passo da subida do calvário. Santuário do Bom Jesus de Matosinhos. Congonhas, MG.
O apelido de Aleijadinho lhe foi dado devido a uma doença que o fez perder partes das mãos
e dos pés, membros fundamentais para o ofício de escultor. Mesmo com essa limitação, ele não
deixou de esculpir seus trabalhos até o fim de sua vida, deixando profundas marcas no barroco
brasileiro:
a figura do Aleijadinho constitui, na arte de Minas, o ponto máximo duma
verdadeira escola que, nascida de mestres europeus, frutificou e amadureceu
na ânsia de encontrar uma expressão própria e autêntica, tal como o ser de
exceção viria a plasmar em definitivo. Tendo aludido à importância da talha da
reafirmação do barroco em Minas. (HOLANDA, 1997, p.119-120)
São atribuídas à autoria do Aleijadinho mais de quatrocentas obras; são tantas que alguns
historiadores questionam como ele teria conseguido realizar tudo isso sozinho, em cidades
diferentes, em uma época em que o transporte era mais difícil e com o agravante de sua doença. Uma
das explicações que justificam a autoria de Aleijadinho é o fato de que artistas como ele, também
chamados de artífices, tinham suas oficinas e, portanto, tinham aprendizes e ajudantes. O dono da
oficina, como era o caso de Aleijadinho, faria somente o trabalho final, dando a cada obra o seu toque
original (GRAMMONT, 2008), o que não diminui em nada o seu valor e a sua genialidade.
Atualmente, sabemos que Aleijadinho não foi o único artista a trabalhar com escultura e
talha nesse período. Muitos outros artistas estão sendo descobertos, pesquisados e tendo seus
nomes divulgados pelos historiadores da arte nos últimos anos.
Elysangela Freitas/Shutterstock
Também na região do Nordeste brasileiro, encontramos um tipo de arte popular esculpida
no barro. São figuras que retratam, muitas vezes, o povo típico daquela região, como artistas (Figura
15). Outra representação bastante encontrada dessas pequenas esculturas são os cangaceiros
Lampião e Maria Bonita e as imagens de santos de devoção católica.
Figura 15 – Músicos nordestinos
FlickrLickr/Wikimedia Commons
Fonte: BOTERO, Fernando. Grande pássaro. 1990. Singapura.
Um artista de muitas facetas é o espanhol Picasso, que fez pinturas, esculturas (Figura 17),
cerâmicas e até poesia, sendo considerado pertecente ao movimento abstrato e cubista, com um
estilo pessoal inconfundível. Quem conhece alguma obra desse artista, ao ver outra, provavelmente
a reconhecerá como arte do Picasso. Ele foi influenciado por vários artistas que o antecederam,
mas não apenas pelos clássicos ou por outros de sua época, além de também usar “a arte primitiva
como aríete contra a concepção clássica de beleza. Não somente as proporções, mas também a
integridade orgânica e a continuidade do corpo humano são negados” (JANSON, 1996, p. 366).
Ao usar o termo aríete, Janson (1996) se refere a uma grande tora de madeira usada em combate
para derrubar barreiras e, com essa analogia, está nos dando uma grande referência da importância
de Picasso como artista, que derrubou barreiras e influenciou inúmeros artistas do que é hoje
conhecido como arte contemporânea.
38 História das artes visuais
Jcrocker/Wikimedia Commons
Fonte: PICASSO, P. Maquette for Richard J. Daley Center Sculpture. 1964. Chicago, Illinois, EUA.
Umberto Boccioni tem uma liberdade artística presente no tamanho, na composição e nos
materiais das obras. A Figura 18 traz um exemplo de escultura desconstruída, com chapas de metal
cortadas e soldadas, produzida pelo artista Umberto Boccioni.
Figura 18 – Escultura em bronze
Fonte: BOCCIONI, Umberto. Formas únicas da continuidade no espaço. 1913. Bronze: 111,2 x 88,5 cm. Museu de Arte Contemporânea da
USP, São Paulo.
A artista plástica japonesa, naturalizada brasileira, Tomie Ohtake representa a leveza nas
formas da escultura. Na Figura 19, podemos observar uma obra da artista que deixa a liberdade de
criação evidente.
Escultura: arte tridimensional 39
A seleção de esculturas, neste capítulo, foi feita de modo livre, assim como a concepção
delas, visto que é importante deixarmos as imagens falarem por si. Alguns desses escultores
contemporâneos ainda estão vivos e produzem suas obras, sendo possível conhecê-los e acompanhar
a produção deles.
Considerações finais
Neste capítulo, abordamos um longo percurso de tempo, cruzando milhares de anos para
compreender as obras de artes visuais em esculturas. Conhecemos o fazer artístico primitivo, do
Egito Antigo, dos períodos greco-romano e renascentista, do Brasil e contemporâneo. No Brasil,
foi possível, mesmo que brevemente, entender o percurso artístico original e relevante, desde a
arte erudita até a arte popular. Sobre a arte contemporânea, foi possível conhecer um leque de
escultores recentes e as infinitas possibilidades de suas obras.
Para conhecer um pouco mais sobre a história e a arte dos faraós do Egito Antigo, você
pode acessar esse livro que a Unesco disponibilizou on‑line. Ele não trata apenas da arte,
mas de toda a história do continente africano, onde está inserido o Egito e outros países.
Aqui você vai conhecer a história de civilizações africanas milenares que culminou na
riqueza de arte do continente.
40 História das artes visuais
• A MÚMIA 3. Direção: Rob Cohen. Elenco: Brendan Frases, Jet Li, Maria Bello, John
Hannah. Universal Pictures, 2008. (122 min.).
Esse filme é interessante para conhecermos os guerreiros de terracota da China. Embora
seja uma obra de ficção, nos ajuda a visualizar as esculturas do período.
• CAMILLE Claudel. Direção: Bruno Nuytten. Elenco: Isabelle Adjani, Gérard Depardieu,
Alain Cuny. DD Productions, 1989. (175 min.).
O filme Camille Claudel nos ajuda a conhecer um pouco mais a história da escultura em
bronze, produzida por Auguste Rodin e Camille Claudel na França do século XIX. É um
filme com base na história dos dois escultores.
Atividades
1. Descreva as matérias‑primas que podem ser usadas na produção de esculturas ao longo de
sua história e onde elas podem ser encontradas.
2. Como as obras de arte da Grécia e Roma antigas influenciaram artistas ao longo da história?
Cite ao menos um artista que tenha sido marcado por esse período.
Referências
COUTO, S. P. A extraordinária história da China. São Paulo: Universo dos Livros, 2008.
GRAMMONT, G. de. Aleijadinho e o Aeroplano: o paraíso barroco e a construção do herói colonial. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
HOLANDA, Sérgio Buarque de (Intr./org.). A época colonial, tomo II: administração, economia, sociedade.
(Coleção: História Geral da Civilização brasileira; v.1, t.2) Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
VELÁZQUEZ. C. A história da Vênus feita arte em Willendorf. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA,
29, jul. 2017, Brasília, Anais [...]. Brasília: UNB, 2017. Disponível em: https://www.snh2017.anpuh.org/
resources/anais/54/1501619461_ARQUIVO_AVenusdeWillendorf.pdf. Acesso em: 14 out. 2019.
YOYOTTE, J. O Egito faraônico: sociedade, economia e cultura. In: MOKHTAR, Gamal (editor). História
Geral da África II. Brasília: UNESCO, 2010.
3
Fotografia e cinema: a captura do momento e do
movimento
Neste capítulo, abordaremos a história da fotografia e do cinema. Para isso, faremos uma
viagem no tempo e voltaremos dois séculos. Começaremos pela origem e evolução da arte de
capturar e fixar um momento: a fotografia; em seguida, conheceremos a história do cinema, que
teve origem ao ceder movimento à fotografia.
Desse modo, a fotografia surgiu no século XIX e foi se aperfeiçoando até chegar ao que
conhecemos hoje. Conforme Janson (1996, p. 424),
Em 1822, um inventor francês chamado Joseph Nicéphore Niépce conseguiu,
aos 57 anos, fazer a primeira imagem fotográfica permanente, embora a mais
antiga de suas fotos que chegou até nós seja de 1826. Na época Niépce juntou
suas forças às de um jovem chamado Louis Jacques Mandé Daguerre, que havia
criado uma câmara improvisada. Depois de mais de dez anos de pesquisas
químicas e mecânicas, o daguerreotipo, usando exposições positivas, foi trazido
a público em 1839, dando origem à era da fotografia.
Outros inventores já haviam tentado esse feito, mas o grande desafio era descobrir a
substância ou o processo que permitiria fixar imagens reais em um suporte. Quando a fotografia
foi inventada, nem se imaginava a possibilidade das fotos digitais, como as que temos hoje. As fotos
tinham que ser feitas dentro de uma câmara escura, pois se entrassem em contato com a luz, não
seria possível fixar a imagem vista na frente da lente do fotógrafo no papel localizado no fundo
da câmera. Demorou até que esse efeito fosse possível, uma vez que era necessário descobrir qual
produto químico devia ser usado para fixar a imagem no papel.
42 História das artes visuais
Daguerreótipo foi o nome dado à primeira câmera fotográfica, em uma evidente homenagem
ao jovem de sobrenome Daguerre que se uniu a Nièpce. A seguir, podemos ver uma ilustração do
daguerreótipo.
Figura 1 – Daguerreótipo (1839)
Claplante/W.Commons
Os motores a vapor foram um dos maiores exemplos de toda inovação no período que
compreendeu a invenção da fotografia. Utilizados nas máquinas das fábricas, nos trens e nos navios,
os motores a vapor eram impulsionados pela queima de carvão e foram sendo aperfeiçoados ao
longo do século XIX. Esses meios de transporte mais rápidos permitiram a muitos fotógrafos que
viajassem pelo mundo registrando cidades, pessoas em suas rotinas, monumentos, paisagens e até
obras de arte, como pinturas, que passaram a ser amplamente conhecidas pela circulação cada vez
maior das fotografias ao redor do mundo, possibilitando aos indivíduos conhecer lugares e pessoas,
sem a necessidade de ter o efetivo contato. Entretanto, essa forma artística acabou gerando para si
mimética: vem de uma “reputação pouco atraente de ser a mais realista e, portanto, a mais fácil das artes miméticas”
mimese, que, do
grego, significa (SONTAG, 2004, p. 34).
imitação.
Isso nos permitiu conhecer, hoje, os rostos de pessoas ilustres ou mesmo de familiares e
antepassados. Foi possível também registrar acontecimentos, o que marcou o início do uso de
imagens jornalísticas, pois “fotos fornecem um testemunho. Algo de que ouvimos falar, mas de
que duvidamos, parece comprovado quando nos mostram uma foto” (SONTAG, 2004, p. 9). As
primeiras fotos só podiam ser reproduzidas em preto e branco e ainda não possuíam a nitidez das
fotografias atuais. A seguir, na Figura 2 observaremos uma foto feita com o daguerreótipo.
Figura 2 – Foto de Munique, na Alemanha, feita com o daguerreótipo.
Franz von Kobell; Carl August von Steinheil; James E. Pioneiros da fotografia na
Alemanha 1839-1869. Foto de Munique, 1839, em papel de cloreto de prata.
Uma foto é um registro de um momento único, que não se repetirá no tempo. De acordo
com Barthes (1984, p. 129), “toda fotografia é um certificado de presença. Esse certificado é o gene
novo que sua invenção introduziu na família das imagens”.
É importante, também, saber que “três elementos são essenciais para a realização de uma
fotografia: o assunto, o fotógrafo e a tecnologia” (KOSSOY, 2001, p. 37) e esses elementos se
completam “quando o objeto teve sua imagem cristalizada na bidimensão do material sensível,
num preciso e definido espaço e tempo” (KOSSOY, 2001, p. 37). Outra foto pode ser reproduzida
com a mesma pessoa ou paisagem, no entanto se trata de outro momento, em que, de alguma
maneira, será possível observar alguma diferença em relação à imagem anterior.
Após o início da Revolução Industrial, as mudanças foram se tornando cada vez mais
velozes. Grande parte da população se deslocou do campo às cidades para trabalhar nas fábricas;
as transformações trouxeram invenções, benefícios e novos desafios sociais e econômicos. A
fotografia faz parte das grandes inovações e, curiosamente, foi também a responsável por registrar
toda essa vertiginosa mudança mundial.
As imagens sem conta produzidas a partir de 1840 dos micro aspectos captados
de diferentes contextos sócio geográficos tem preservado a memória visual de
inúmeros fragmentos do mundo, dos seus cenários e personagens, dos seus
eventos contínuos, de suas transformações ininterruptas. (KOSSOY, 2001, p. 27)
44 História das artes visuais
A fotografia em preto e branco percorreu um longo caminho e sua versão colorida foi
inventada somente no século XX. Com isso, houve a continuidade do aperfeiçoamento das câmeras,
com o intuito de melhorar a qualidade das fotos produzidas. A Figura 3 a seguir exemplifica um
pouco a trajetória evolutiva dos aparelhos de fotografia.
Figura 3 – Evolução das câmeras fotográficas do século XIX ao XX.
Babich Alexander/Shutterstock
Da esquerda para a direita: daguerreótipo (1839), câmera de fole (1947), Rolleiflex (1950), Leica (1958) e Canon (1983).
A popularização das câmeras veio com o surgimento do filme fotográfico (Figura 4), que
facilitou a revelação das imagens e possibilitou a cópia de uma mesma fotografia quantas vezes
fosse desejado.
Figura 4 – Rolo de filme fotográfico
Chamille White/Shutterstock
Não é toda fotografia que é considerada arte. O que faz da fotografia arte é o olhar criativo
de alguns fotógrafos. Nesse debate, conforme Janson (1997), entre alguns exemplos de fotografias
como representação artística estão as da fotógrafa Dorothea Lange. A Figura 5, denominada Mãe
migrante da Califórnia, nos permite observar o olhar de Lange, que, em 1936, registrou uma mãe
com seus filhos, todos atingidos pela fome ocasionada pelo efeito da depressão econômica iniciada
nos Estados Unidos da América em 1929. Além da estética, o impacto da imagem, dentro do
contexto histórico, a tornou um objeto artístico conhecido em todo o mundo.
Figura 5 – Mãe e filhos migrantes da Califórnia, 1936.
Dorothea Lange/W.Commons
No Brasil, um dos primeiros entusiastas da fotografia foi D. Pedro II, que definia a si
mesmo como um homem de letras e ciência e “que não só foi um grande incentivador dessa
técnica, como se tornou, ele próprio, um fotógrafo precoce: o primeiro fotógrafo brasileiro, o
primeiro soberano--fotógrafo do mundo” (SCHWARCZ, 1998, p. 345). Na biografia sobre o
imperador, Schwarcz (1998) cita-o como pioneiro, por ter feito uso da fotografia dois anos antes
da rainha Vitória, da Inglaterra.
46 História das artes visuais
Fonte: FROND, Victor. Retrato de D. Pedro II. c. 1858. Fotografia, 7,5 x 5,5 cm. Coleção privada.
Podemos citar, também, outros fotógrafos do Brasil imperial, como Marc Ferrez e Christiano
Júnior, que retrataram, por exemplo, os índios e escravos da época. Ferrez, durante a década de
1870, foi fotógrafo da corte e, segundo Mauad (1997), das paisagens brasileiras. A Figura 8 é uma
imagem capturada por Marc Ferrez em 1875, no Rio de Janeiro.
Figura 8 – Foto de paisagem tirada por Marc Ferrez
FERREZ, Marc. Corcovado visto da Rua São Clemente.1880-1900. Fotografia, 24 x 30 cm. Coleção
Instituto Moreira Salles.
Fæ/W.Commons
B Zootrópio externamente c–
C Zootrópio internamente
Monkey Business Images/ShutterStock
Solipsist~commonswiki/Wikimedia Commons
Mas algumas invenções obtiveram mais sucesso do que outras nesse caminho e os inventores
chegaram a requisitar a paternidade de sua criação.
As primeiras exibições de filmes com uso de um mecanismo intermitente
aconteceram entre 1893, quando Thomas A. Edison registrou nos EUA a
patente de seu quinetoscópio, e 28 de dezembro de 1895, quando os irmãos Louis
e Auguste Lumière realizaram em Paris a famosa demonstração, pública e paga,
de seu cinematógrafo. (COSTA, 2006, p. 17)
equipamentos fotográficos na família e os manuseavam desde muito jovens. Com o passar dos
anos passaram a ser donos de um estúdio e Antoine Lumière instalou em seu porão um pequeno
gerador, uma vez que a energia elétrica ainda não estava em rede.
De acordo com Rittaud‑Hutinet (1995), os Lumière pensaram em reproduzir fotos
capturadas em sequência, mas isso ainda não era possível, visto que a tecnologia da época não
permitia a captura rápida o bastante para obter a sequência de movimentos. Anos mais tarde, o pai
deles trouxe a notícia de que um americano conseguiu registrar a corrida de um cavalo a galope
(RITTAUD-HUTINET, 1995), conforme Figura 12.
Figura 12 – Sequência de fotos reproduzindo movimento.
Todas essas informações e experiências combinadas fizeram com que Auguste e Louis
Lumière chegassem a um equipamento que chamaram de cinematógrafo (Figura 13), que teve sua
estreia em 1895, em Paris.
Figura 13 – Cinematógrafo
Victorgrigas/W.Commons
Fotografia e cinema: a captura do momento e do movimento 51
Para produzir a ilusão de movimento, era necessário projetar várias fotos por segundo em
rotação. Anos após, o padrão usado era de 24 fotos, ou frames, por segundo: 24 FPS. Na Figura a
seguir podemos ver a imagem do interior do projetor de cinema, o que nos permite compreender
um pouco melhor o processo. As engrenagens são responsáveis pela reprodução das sequências
fotográficas, resultando na projeção do filme.
Figura 14 – Projetor de cinema
Fabio Pagani/Shutterstock
O cinema também passou por grandes evoluções. Assim, a partir do século XXI, passamos
a ter a possibilidade de assistir aos filmes com mais facilidade; as plataformas provedoras de filmes
on-line vieram para ficar. E as evoluções continuam, atualmente temos o cinema 3D e diversas
novidades. Isso prova que a arte e a tecnologia podem andar juntas.
No filme Viagem à Lua, George Méliès traz à tona o desejo do homem, que já conhece todo
o mundo, de viajar pelo espaço por meio da ficção.
Figura 16 – Filme Viagem à lua (1902)
Fotografia e cinema: a captura do momento e do movimento 53
George Méliès, por meio de cenários construídos em seu estúdio, como a cápsula que é
lançada ou a própria superfície lunar, produziu sua narrativa com princípio, meio e fim. Isso
em um tempo em que não havia possibilidades científicas de realizar qualquer viagem para
fora do planeta.
Orson Welles é outro diretor que deixou uma marca tão permanente que não pode deixar de
ser mencionado nessa breve história da criação da sétima arte. Seu filme mais conhecido é Cidadão
Kane (Figura 18), até hoje considerado um dos melhores filmes de todos os tempos. Nele, Welles
exercita vária funções, como a de ator, diretor e roteirista, para contar a história de um magnata da
imprensa.
Cidadão Kane é talvez o único filme falado americano que parece tão novo
hoje quanto no dia em que estreou. Talvez pareça ainda mais novo. [...] as
caracterizações populares viraram modernas, e até melhores do que na época.
As novas plateias podem gostar ainda mais da exuberância teatral de Orson
Welles. (KAEL, 2000, p. 163)
54 História das artes visuais
O filme é tão comemorado por usar uma série de detalhes de filmagem que ajuda a contar
a história, “Kane faz alguma coisa tão bem, e com tal espírito, que sua plenitude e complexidade
continuam a satisfazer” (KAEL, 2000, p. 164). Cidadão Kane continua um filme atual pela história
que conta, os recursos de filmagem e as surpresas em seu enredo. Conforme Kael (2000, p. 164),
“raramente o mecanismo do cinema é tão absorvente como em Cidadão Kane, tão inteligentemente
planejado para ser essa diversão que nos mantêm alertas e conscientes do prazer dos artifícios em
si”. Parece um pouco exagerado, mas o filme é insuperável em alguns aspectos, principalmente se
pensarmos na limitação de recursos no período em que foi produzido.
Semelhante a outros países, desde muito cedo criamos aqui um modo de narrar histórias,
por meio de imagens em movimento. Humberto Mauro, ator e diretor mineiro, foi um nome
indispensável na compreensão dessa trajetória, visto que mesmo com poucos recursos fez inúmeros
filmes entre os anos de 1930 a 1940, retratando histórias de pessoas comuns.
Nascido em 1897, quase simultaneamente com o cinema, Humberto Mauro
foi espectador e ator de todo o processo de criação e evolução da linguagem
cinematográfica: dos filmes mudos ao advento do som ótico; do preto e branco
à cor; das câmeras acionadas por manivelas às Arriflex; da película de nitrato
ao acetato; dos irmãos Lumière a Glauber; do artesanato à indústria, passando
por Griffith, Eisenstein, Chaplin, Murnau, Welles, Rossellini, Buñuel, Huston e
Ford. Nada no século do cinema lhe foi indiferente. (ADRIES, 2001, p. 19)
A arte do cinema também carrega em si as marcas de cada cultura. No Brasil, não seria
diferente. Nosso cinema acompanha fases da nossa história, desde a formação de uma indústria
cinematográfica embrionária no estúdio Vera Cruz nos anos 1930, cujo maior sucesso foi o filme
O cangaceiro, de Lima Barreto, exibido internacionalmente; até o surgimento de personalidades
marcantes como Mazzaropi, Oscarito e Grande Otelo, para citar apenas alguns da fase fundadora
do cinema brasileiro.
Mesmo acompanhando o decorrer de todas as transformações na historiografia
sobre o cinema nacional até os dias de hoje, a diversidade permanece como
a marca central dos estudos aqui presentes, que abrangem desde a transição
do cinema silencioso para o sonoro, passando pela produção de obras não
ficcionais e educativas, a chanchada, o Cinema Novo, a produção da Embrafilme
e o cinema experimental até a inclusão de temas ainda pouco valorizados na
historiografia, como a presença das mulheres no cinema, as temáticas de gênero
e a participação de atores negros e indígenas na produção cinematográfica.
(MIRANDA, 2018, p. 16)
São muitas questões a serem levadas em consideração, visto que o cinema no Brasil não
deixa de estar inserido no modo de fazer cinema da indústria estrangeira, mas, ao mesmo tempo,
demanda recursos técnicos que pedem um enorme investimento financeiro para ser concretizado.
Desse modo tivemos, e ainda temos, por aqui tanto uma trajetória voltada ao entretenimento,
quanto para um cinema artístico e contestador.
Outro nome importante foi o de Glauber Rocha, cineasta nascido na Bahia, que marcou
seu espaço na criação de filmes autorais e críticos sobre as difíceis condições do Brasil na região
Nordeste, mais distante do chamado eixo cultural, Rio-São Paulo.
Queremos fazer filmes anti-industriais; queremos fazer filmes de autor, quando
o cineasta passa a ser um artista comprometido com os grandes problemas
de seu tempo; queremos filmes de combate na hora do combate e filmes para
construir no Brasil um patrimônio cultural. (ROCHA, 1981, p. 17)
Glauber Rocha ficou conhecido pelos filmes Terra em transe e Deus e o diabo na terra do
sol, ambos com uma linguagem diferente e única do movimento chamado Cinema Novo no Brasil,
“movimento notadamente carioca, que engloba de forma pouco discriminada tudo o que se fez de
melhor – em matéria de ficção ou documentário” (GOMES, 1996, p. 81). O Cinema Novo, iniciado
em 1960, como o nome diz, propôs um novo modo, mais criativo, de fazer cinema no Brasil.
56 História das artes visuais
O movimento cinematográfico brasileiro era feito por cineastas que não queriam mais copiar
o chamado filme de qualidade de outros países; “o Cinema Novo expressou sua direta relação com o
momento político em filmes onde falou a voz do intelectual militante, sobreposta à do profissional
de cinema” (XAVIER, 2001, p. 62). Eles queriam criar um modo de fazer cinema que ainda fosse
experimental, mas que contasse os problemas da sociedade brasileira.
Entre o Cinema Novo e a retomada do cinema brasileiro, nos anos 1990, após alguns anos de
crise nas produções, o filme Carlota Joaquina (1995) conta, de modo caricato, a história da chegada
da família real portuguesa ao Brasil em 1808. O filme, dirigido por Carla Camurati, produzido com
poucos recursos, foi “considerado o primeiro filme do período da retomada do cinema nacional”
(BORGES, 2007, p. 107) e por isso é tão celebrado na história do cinema brasileiro.
Lançada em 1995 por Elimar Produções/Copacabana Filmes, empresa da atriz
e produtora Carla Camurati, a comédia Carlota Joaquina atraiu 1,3 milhões de
espectadores aos cinemas, ainda que se tratasse de uma produção independente
e sem grandes campanhas de marketing. O filme, que conta a história da infanta
espanhola que se casou com o príncipe de Portugal e veio com a corte portuguesa
para o Brasil, não contou com nenhuma ajuda governamental e, apesar de ser
obra de época, custou apenas R$ 600 mil. De acordo com a empresa produtora,
seu êxito pode ser explicado pela sua participação em mais de 40 festivais de
cinema, o que acabou lhe proporcionando publicidade. (BORGES, 2007, p. 18)
No mesmo período, Walter Salles foi um diretor igualmente relevante, de quem podemos
mencionar dois filmes que marcaram a sua carreira. O primeiro é Terra estrangeira (1995), feito em
parceria com a diretora Daniela Thomas, em que o protagonista Paco, um jovem ator, vê sua mãe
falecer devido ao confisco das poupanças de todos os brasileiros. Então, o personagem parte para
Portugal em busca das raízes familiares e de si mesmo. O segundo filme, denominado Central do
Brasil (1998), traz a história da trajetória de busca pessoal de Dora que, após ver o menino Josué
ficar órfão e sozinho no Rio de Janeiro, o ajuda a encontrar sua família no Nordeste. Nesse filme, a
atriz Fernanda Montenegro concorreu ao Oscar por sua atuação.
Por fim, temos o cineasta Fernando Meirelles, que conseguiu grande projeção como
diretor para seu filme Cidade de Deus (2002), adaptado de um livro com o mesmo nome, e para
a questão das periferias brasileiras que vivem sob o domínio do tráfico de drogas. O cinema
brasileiro costuma, assim como os exemplos citados, retratar as realidades das pessoas que
vivem no Brasil.
Considerações finais
Neste capítulo, passamos brevemente pela história da fotografia e do cinema. Abordamos a
origem e os principais artistas de ambas representações artísticas. As duas formas de artes visuais
Fotografia e cinema: a captura do momento e do movimento 57
nasceram da evolução das tecnologias e vieram para ficar. Mais do que nunca a ordem: “Luz,
câmera, ação!” estabelece novos padrões para a sétima arte.
Atividades
1. Como a fotografia modifica, a partir do século XIX, a relação de reprodução de imagens?
Referências
ANDRIES, A. O cinema de Humberto Mauro. Rio de Janeiro: Funarte, 2001.
BARTHES, R. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
58 História das artes visuais
CARVALHO, M. S. Cinema Novo Brasileiro. In: MASCARELLO, F. História do cinema mundial. Campinas,
SP: Papirus, 2006.
COSTA, A. M.; SHWARCZ, L. M. 1890-1914, no tempo das certezas. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
COSTA, F. C. Primeiro cinema. In: MASCARELLO, F. História do cinema mundial. Campinas, SP: Papirus,
2006.
GUNNING, T. Cinema e História: “Fotografias animadas”, contos do esquecido futuro do cinema. In: Xavier,
Ismail (org.). O cinema no século. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
MAUAD, A. M. Imagem e autoimagem do segundo reinado. In: NOVAIS, F. A. (org.). História da vida
privada no Brasil: império. São Paulo: Cia das Letras, 1997.
ROCHA, G. Revolução do Cinema Novo. Rio de Janeiro: Alhambra-Embrafilme: Paz & Terra, 1981.
SILVA JUNIOR, N. Cinema Brasileiro primeiros anos: origens e história. Publicação do 60 Encontro Regional
sul de História da Mídia, 2016.
SONTAG, S. Sobre fotografias: ensaios. São Paulo: Cia das Letras, 2004.
SHWARCZ, L. M. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Cia das Letras,
1998.
Neste capítulo, abordaremos três artes cênicas: o teatro, a dança e a ópera. As artes cênicas
são todas aquelas que acontecem em cena ou no palco. Apesar de serem modalidades antigas
das artes visuais, elas continuam se reinventando e se mantêm modernas e atuais, evoluindo de
acordo com a época e as tecnologias disponíveis. São representações artísticas efêmeras, uma vez
que têm início e fim no palco. Cada apresentação é única. Conheceremos essas e muitas outras
características próprias das artes cênicas.
Então, vamos lá. Que se abram as cortinas e bom espetáculo!
Por ser uma arte que parece fazer parte da formação das civilizações, podemos encontrar
representações teatrais na história de vários povos, desde a Mesopotâmia, como um precursor
do teatro grego, até a América, com os povos originários do Brasil em danças aos deuses de sua
devoção.
Desse modo, o teatro foi sendo formado, agrupando seus elementos um a um. Primeiro, os
cantos para agradecer a colheita de uvas a Dionísio, deus do vinho e, posteriormente, do teatro.
Depois, os cantos tornaram-se tradicionalmente coro, unindo música e dança à celebração. Ao sair
do que era primitivo, surgiu a organização de tudo isso em encenação de fato.
Pisístrato, o sagaz tirano de Atenas que promoveu o comércio e as artes e foi o
fundador [...] das Grandes Dionisíacas, esforçou-se para emprestar esplendor a
essas festividades públicas. Em março do ano de 534 a.C., trouxe de Icária para
Atenas o ator Téspis, e ordenou que ele participasse da Grande Dionisíaca. Téspis
teve uma nova e criativa ideia que faria história. Ele se colocou à parte do coro
como solista, e assim criou o papel do hypokrites (“respondedor” e, mais tarde
ator), que apresentava o espetáculo e se envolvia num diálogo com o condutor
do coro. Essa inovação, primeiramente não mais do que um embrião dentro do
rito do sacrifício, se desenvolveu mais tarde na tragédia. (BERTHOLD, 2001, p.
104-105)
Berthold (2001) menciona vários termos importantes, como a criação das Grandes
Dionisíacas, que se tornariam os monumentais festivais teatrais com milhares de pessoas assistindo
às tragédias; os ritos do sacrifício, que também deram origem ao teatro; e, por fim, a Téspis, que
se colocou como solista e interpretou o papel de Dionísio. Essa foi a primeira encenação da qual
temos conhecimento e fez de Téspis o primeiro ator da história.
Desde sua origem, o teatro foi muito conhecido pela Grécia e permaneceu sendo usado em
festividades. Diversas peças gregas foram preservadas e chegaram até os nossos dias. Esses textos
são, em sua maioria, tragédias e algumas comédias. Conforme Aristóteles (2006), as tragédias eram
consideradas obras superiores, por retratarem a vida dos reis e dos deuses, já as comédias eram
inferiores, por serem feitas com base na vida do povo.
Foi preservado também o texto A poética, escrito pelo filósofo Aristóteles em 335 a.C. e que,
segundo Vasconcelos (2010), nos conta em detalhes como eram as encenações da época e nos
permite compreender com mais facilidade a maneira como ocorriam os festivais que eram
promovidos na Grécia.
As festividades Grandes Dionisíacas, Figura 1 – Máscaras de teatro
De acordo com Berthold (2001), a multidão reunida não era meramente espectadora, mas
participante; o público se envolvia ativamente nas encenações e, com cantos ritmados, o coro rodeava
a orquestra. O evento representava o ponto alto e festivo da vida religiosa, intelectual e artística da
cidade-Estado de Atenas. Os espaços teatrais foram sendo aperfeiçoados, aproveitando-se os vales
entre duas montanhas, onde eram colocados acentos para a público e à sua frente um semicírculo
onde ficavam a orquestra e o coro, além de um tipo de cenário de pedra com portas e janelas para
a aparição dos atores. A seguir, na Figura 2, podemos observar como eram monumentais os teatros
gregos que comportavam esses espetáculos.
Figura 2 – Ruínas do teatro Odeon em Atenas, Grécia
Aerial-motion/Shutterstock
Diferentemente da sua fase primitiva e fundadora, em que a aglutinação de coro e dança
fez surgir a representação artística por encenação, o teatro passou a ser produzido com base em
um texto escrito. De acordo com Aristóteles (2006), a poesia representava o teatro, imitando a
realidade pela voz, e se distinguia das artes plásticas, que imitavam pela forma e cor. Essa definição
de poesia permitia ao filósofo estabelecer diferentes formas poéticas, desde a dança até a poesia
lírica, a tragédia e a comédia. Por causa dessa relação entre teatro, poesia e escrita, o livro desse
filósofo se chamava Poética, que significa a arte de escrever versos ou dramas.
Aristóteles viveu no século IV a.C., época em que deu início ao seu livro Poética. Em sua
obra, o pensador grego afirmou que poética é considerada toda forma de arte, porém o foco de seu
texto era tratar da arte da imitação. A preservação de um livro como Poética foi fundamental para
a história do teatro.
Por essa razão, as encenações apresentadas eram sempre ligadas à guerra, os grandes
espetáculos eram lutas entre gladiadores. O Coliseu foi um espaço dedicado a isso e ainda se
encontra preservado. Na Figura 4 podemos observar o local.
Figura 4 – Coliseu Viacheslav Lopatin/Shutterstock
Artes cênicas: a arte da imitação 63
O espaço era bem complexo em sua construção e seu funcionamento, recebia milhares
de espectadores e muitos guerreiros que participavam das lutas. O espaço dedicado ao público
também precisava ser grande e, como podemos observar na Figura 5, não era mais um semicírculo,
como o dos gregos, mas tinha um formato oval completo.
Figura 5 – Coliseu internamente
Vitold Muratov/Shutterstock
Ao observar a estrutura interna do Coliseu podemos ver os espaços dedicados ao público,
as salas usadas para a preparação dos gladiadores e, no centro, o palco, onde aconteciam as lutas.
As características dos grandes teatros também compõem as missas celebradas que, até hoje,
têm o padre em um espaço elevado, como uma espécie de palco, e os fiéis sentados em frente ao
púlpito, como que em uma plateia.
Eram feitas também encenações em outros períodos de celebração religiosa e em procissões.
As procissões são tradições ainda existentes em algumas cidades brasileiras por ocasião da Semana
Santa, por exemplo, “as origens do carro-palco remontam a 1264, quando o papa Urbano IV
64 História das artes visuais
instituiu a festa de Corpus Christi, que foi depois celebrada com procissões solenes por toda a
Europa ocidental” (BERTHOLD, 2001, p. 208).
Em uma época que poucas pessoas sabiam ler, as encenações e as missas eram o único acesso
dos fiéis à liturgia e ao texto da Bíblia.
Esse período foi muito importante devido ao surgimento de grandes artistas em todos os
segmentos das artes visuais, inclusive no teatro. Dentre eles, por exemplo, tivemos, na Inglaterra,
o dramaturgo que é considerado um grande gênio do teatro e da literatura inglesa e mundial:
William Shakespeare, autor de grandes clássicos, como Hamlet (1601), Otelo (1605), Rei Lear
(1606) e Romeu e Julieta (a data dessa produção é incerta).
De acordo com Berthold (2001), durante essa época, foram escritas mais de trinta mil
comédias na Península Ibérica, isto é, em Portugal e na Espanha. Entretanto, as que mais se
destacaram foram as de produção do dramaturgo espanhol Pedro Calderón de la Barca. De origem
familiar aristocrática, o autor teve boa formação erudita e foi bastante influenciado durante sua
permanência no colégio jesuíta. Calderón escreveu mais de 100 peças ao longo de sua vida. Dentre
suas peças mais relevantes estão A vida é sonho (1636), O príncipe Constante (1636) e O grande
teatro do mundo (1655) – espetáculos grandiosos e de grande profundidade existencial.
Na França, brilhou o gênio de Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molière. Autor,
ator e encenador, o que hoje equivale à função de diretor do espetáculo, absorveu influências da
Commedia dell’arte1, mas não usou a encenação de improviso, que era característica desse modo
teatral.
Todo o trabalho de Molière se tornou possível porque ele teve como admirador e apoiador
o rei da França, Luís XIV.
Em 24 de outubro de 1658, veio a grande oportunidade com o qual qualquer
diretor de companhia sonhava: Molière e seu conjunto apresentaram-se no
Louvre diante do rei [...] A peça principal redundou em um fracasso, mas a
divertida intriga que se seguiu e seu autor - e intérprete – foram calorosamente
aplaudidos por Luís XIV e sua corte. (BERTHOLD, 2001, p. 347)
Molière tentou escrever tragédias e peças dramáticas, mas sua vocação se manifestava
mesmo por meio da comédia. Dentre elas podemos citar A Escola de mulheres (1662), Médico à
força (1666) e O doente imaginário (1673).
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recebe tudo o que deseja na terra
e, em troca, tem de entregar a
sua alma. Já Schiller foi poeta,
filósofo e historiador; escreveu a
peça Maria Stuart, que contava
a vida da rainha da Escócia. Na
Figura 6 podemos observar o
teatro da província de Weimar,
na Alemanha, com as estátuas de
Goethe e Schiller, representando
a importância dos autores para a
nação alemã.
66 História das artes visuais
O teatro que conhecemos atualmente tem em si muitas características desse teatro realista.
Um espetáculo realista é tão fiel aos detalhes da vida cotidiana que poderíamos quase morar no
palco. O cenário representa uma casa como a que vivemos de fato. A sala tem poltronas, cortinas,
porta-retratos e, se houver um telefone e ele tocar, por exemplo, os personagens o atendem e travam
um diálogo fiel ao que temos com amigos e familiares. Esse é outro ponto importante desse estilo, o
texto não é erudito e em versos, como os de Goethe durante o Romantismo, tampouco rebuscado
de palavras difíceis e poéticas, como nos espetáculos trágicos clássicos. O diálogo no teatro realista
representa o modo como as pessoas falam diariamente. Além disso, o importante para o Realismo
era valorizar a vida das pessoas em sociedade, mostrar como viviam de fato em suas relações
pessoais e como a comunidade, com seus limites e desafios, interfere na vida das pessoas.
Um autor que podemos dar como exemplo do teatro realista é o norueguês Henrik Ibsen,
considerado o pai do drama moderno. Ele chegou a ser comparado a Shakespeare. Bernard Shaw,
dramaturgo irlandês da época, afirmou que o teatro moderno teve sua origem quando Ibsen
produziu sua peça Casa de bonecas (BERTHOLD, 2001), em 1879, seu maior reconhecimento
como dramaturgo. A peça é uma das primeiras a discutir a necessidade de emancipação da mulher,
a possibilidade de que as mulheres deixassem de viver como se estivessem em uma casa de bonecas
obedecendo ao marido, cuidando dos filhos, sem a possibilidade de trabalhar. Podemos analisar
que a peça, portanto, trata de um problema real da sociedade da época em que foi escrita, assim
como é característico do estilo realista.
naturalista se dá como sendo a própria realidade, e não como uma transposição artística no palco
[...] propõe-se ao espectador como a própria realidade” (PAVIS, 2008, p. 261), ou seja, o teatro
deve ser capaz de realizar uma imitação ainda maior da própria natureza, daí o nome. O teatro
naturalista se tornou um estilo de interpretação que caracteriza toda uma corrente contemporânea.
Pavis exemplifica como esse estilo influenciou a telenovela, mas podemos observar isso desde o
cinema até os comerciais.
O teatro se firmou no Brasil após a vinda da família real portuguesa, em 1808. A Corte trouxe
consigo costumes culturais, como bibliotecas e a imprensa e, segundo Cafezeiro (1996, p. 99), para
receber as companhias europeias foi preciso construir edifícios de teatro no Rio de Janeiro. Os
primeiros atores e dramaturgos brasileiros aprenderam seu ofício assistindo a essas companhias
teatrais. Durante muito tempo, as peças de origem brasileira foram consideradas inferiores, de
acordo com o padrão europeu, contudo muitas comédias fizeram grande sucesso e encheram os
teatros contando histórias do nosso povo, em um primeiro encontro com nossa nacionalidade.
Entre os autores fundamentais do teatro brasileiro, no século XX, estão Nelson Rodrigues
e Ariano Suassuna. O primeiro foi jornalista e dramaturgo, conseguindo elevar o nosso teatro ao
nível da originalidade e maturidade artística diante de todo o mundo.
A lufada renovadora da dramaturgia contemporânea partiu de Vestido de
Noiva – não se contesta mais. Nelson Rodrigues conheceu de súbito a glória
teatral e a repercussão transcendeu os limites do palco, irmanando-se ele às
outras artes. Talvez, em toda história do teatro brasileiro, nenhuma outra peça
tenha inspirado tantos artigos, tantos elogios, um pronunciamento maciço dos
escritores e dos intelectuais. (MAGALDI, 1997, p. 217)
Vestido de noiva foi levada ao palco por um grupo denominado Os comediantes, em 1943.
Nessa peça o autor usa as memórias, o inconsciente e os sonhos dos personagens para tecer uma
trama que só se fecha no final. Ainda considerada genial, é um marco do teatro brasileiro.
Magaldi (1997, p. 236) define Ariano Suassuna como “dramaturgo paraibano, fixado
no Recife, [que] aproxima o Nordeste de Florença e Roma renascentista”. Isso porque Suassuna
conseguiu prestar uma homenagem a vários textos clássicos, dos quais era grande conhecedor,
reunindo elementos que homenageiam comédias greco-romanas e o teatro mambembe medieval
com enorme genialidade. O exemplo mais claro disso é a obra O Auto da Compadecida, de 1955,
em que Suassuna soube traduzir para o teatro personagens do Nordeste brasileiro e reuniu
elementos de uma comédia romana chamada A aulularia e da peça O avarento, de Molière – o
grande comediante francês do século XVI, renascentista.
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O Globe Theater apresenta uma estrutura de semiarena. Parcialmente ao ar livre, ele possui
balcões nas laterais para acomodar o público sentado, enquanto na parte da frente do palco as
pessoas assistem à peça em pé, assim como era no tempo de Shakespeare.
Figura 9 – Globe Theater internamente
O espaço teatral mais conhecido é o de palco italiano (Figura 10). Nele, o público tem acesso
apenas à parte em frente ao palco e as laterais são utilizadas para entrada e saída de atores durante
o espetáculo. Alguns teatros maiores possuem, em frente ao palco, de modo não visível ao público,
um fosso usado para a orquestra executar a música ao vivo. A iluminação nesse modelo de palco
não é natural, como nas semiarenas; ela era feita com velas e todo tipo de lamparinas, mas isso
causava muitos incêndios e destruição dos teatros. Com a invenção da lâmpada incandescente, o
teatro passou a fazer uso da luz elétrica. O palco italiano permite aos espetáculos ter mais recursos
técnicos, como mudanças de cenários, com sistema de cordas e roldanas que elevam um painel
inteiro e substituem por outro.
70 História das artes visuais
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Um exemplo de espetáculo que precisa de recursos gerados pelo palco italiano, ou seja, a sala
escura e totalmente fechada, é o teatro de sombra, pois sem a escuridão não é possível projetar a luz
nem conseguir formar as sombras.
Figura 11 – Teatro de sombras
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Artes cênicas: a arte da imitação 71
No teatro de sombras os atores ficam escondidos atrás de um pano e somente a sombra deles é
exibida. Ao se movimentarem, fazem com que as imagens projetadas fiquem maiores ou menores, de
acordo com a proximidade da iluminação no fundo do palco. Isso ajuda a contar a história.
4.3.1 Mambembe
Mesmo tendo sido proibido pela Igreja católica durante a Idade Média, o teatro continuou
existindo e se desenvolvendo. Assim, nesse período, teve início o teatro mambembe.
O teatro mambembe tem como característica a improvisação dos artistas, “guardada sua
relação com a arte milenar do circo no seu aspecto de arena para a prática de jogos populares ou
de espaço reservado à recreação” (SANTOS, 2010, p. 34). O circo, grande influenciador da arte
mambembe, talvez seja o elemento mais presente em nossa memória coletiva. Assim como o artista
de circo, o ator mamabembe precisa viajar com todo o aparato cênico, indo de uma cidade a outra,
para se apresentar em praças e sobreviver como profissional das artes cênicas. Ele vive em um grande
modelo de “família artística”, cada dia mais raro nos dias atuais.
Falar sobre teatro mambembe, destacar as trupes amadoras que circulam [...]
é um pouco referir esse universo de trânsitos culturais e de permeabilidade
entre manifestações de literatura e cultura. Primeiro pela própria natureza da
atividade (o teatro mambembe), que não deixa de ser uma expressão genuína de
arte, feita a partir da força de vontade, apreendida na comunhão entre gerações,
sem o necessário aporte das escolas e da reflexão crítica. (SANTOS, 2010, p. 34)
O teatro mambembe pode ser um teatro de rua ou não, uma vez que os espetáculos podem
ser encenados dentro de um teatro ou até mesmo em uma lona, como é o caso do circo, que é de
natureza mambembe. A tradição que é mantida por meio do teatro mambembe carrega consigo o
desejo mais profundo de se fazer teatro, esteja o público onde estiver.
Trata-se de um tipo de teatro que é chamado desse modo por reunir um conjunto específico
de características. Era uma performance de grupos itinerantes que visitavam as cidades para
apresentar encenações caracterizadas, segundo Pavis (1999), pela criação em conjunto dos atores
que, com base em um roteiro básico, improvisavam cenas com acontecimentos e pessoas conhecidas
da cidade onde estavam se apresentando.
72 História das artes visuais
As apresentações eram feitas em feiras, teatros encontrados pelo caminho, ruas, praças
públicas ou na própria carroça que a trupe usava para se locomover. Os personagens eram
predefinidos e representavam casais jovens, velhos e criados. A interpretação usava de falas e gestos
improvisados, e a utilização de máscara era um recurso fundamental nesse teatro, pois era o que
definia grande parte dos personagens, como na Figura 12, na qual podemos ver a ilustração de um
Arlequim, e na 13, que demonstra a representação de um espetáculo.
Figura 12 – Arlequim Figura 13 – Representação de atores da Commedia
dell’arte
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Esse tipo de teatro se diferencia dos outros porque, enquanto no convencional o público
saía de casa para apreciar um espetáculo, a Commedia dell’art era apresentada nas ruas, em todo o
mundo, há muitos séculos.
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praticamente um novo mundo teatral a ser explorado, com
características e história próprias. Na Figura 14, podemos
observar um boneco do tipo marionete, suspenso e
manipulado por cordas ou fios.
Os atores por trás dos bonecos dedicam toda uma
vida ao aperfeiçoamento dessa técnica. De acordo com
Amaral (1996), enquanto na encenação teatral o ator cria
a imagem do personagem, no teatro de bonecos a imagem
já vem pronta e é dever do ator-manipulador servir ao
boneco, sem ser visível. Para isso, o ambiente em que as
peças são apresentadas deve esconder os manipuladores,
de modo que apenas os bonecos possam ser vistos pela
plateia. A Figura 15 traz um exemplo de estrutura usada
nesses tipos de apresentações.
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Como citado anteriormente, não existe somente um tipo de boneco, visto que pode ser
pequeno ou gigante; pode ser manipulado por um único bonequeiro, como o fantoche; ou pode
precisar de vários, como os bonecos gigantes Royal de Luxe em que a manipulação é feita com
guindastes e são necessárias muitas pessoas para mover um único boneco que, em tamanho,
equivale a um prédio de dois andares.
A própria confecção dos bonecos é um processo artístico. Os bonecos podem ser esculpidos
em madeira ou gesso, feitos com papel machê, com tecido ou até mesmo com materiais diversos.
74 História das artes visuais
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Esse período foi um divisor de águas para a dança, pois, foi nessa época que surgiu, pela
primeira vez, os profissionais dessa área, como dançarinos e mestres (BOUCIER, 2001). Por se
tratar de uma arte extremamente erudita, feita por nobres para a apreciação de outros nobres, era
inevitável que seus mestres, ensaiadores e criadores pertencessem à nobreza.
até então, a dança era uma expressão corporal de forma relativamente livre;
a partir deste momento, toma-se consciência das possibilidades de expressão
estética do corpo humano e da utilidade das regras para explorá-lo. Além disso,
o profissionalismo caminha, sem dúvida, no sentido de uma elevação do nível
técnico. (BOUCIER, 2001, p. 64)
Depois que as danças de corte saíram dos palácios, passaram a ser apresentadas em teatros,
e esse é o momento em que podemos dizer que surgiu de fato a dança clássica. Segundo Boucier
(2001), Charles-Louis Pierre de Beauchamps foi o responsável pela evolução ao elaborar a dança
76 História das artes visuais
técnica clássica, impondo a essa forma de representação artística uma organização universal.
“Como toda arte da época de Luís XIV, seu sistema tende à beleza das formas, à sua conformidade
a um cânone fixo e, consequentemente, à sua rigidez” (BOUCIER, 2001, p. 116).
Outras danças
A Figura 18 traz um breve resumo sobre outros tipos de dança.
Figura 18 – Danças
Capoeira
Jazz dance
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Samba
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Sapateado
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Tango
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Essa dança surgiu nos bairros populares da Argentina,
derivada do estilo musical de mesmo nome. Dançada em
par, pode possuir coreografia complexa e que exige muita
preparação dos bailarinos. Além da grande interação entre
os dançarinos, tem como características a paixão e a
sensualidade.
Dança moderna
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Surgiu entre a década de 1920 e 1930, nos Estados Unidos.
Tem origem diretamente ligada a Isadora Duncan, que ao
dançar descalça com túnicas no lugar da roupa tradicional
de balé questionou e se opôs aos estatutos rígidos do
balé clássico, e a Martha Graham, que estruturou a dança
moderna.
Frevo
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Street dance
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Fonte: Elaborada pela autora com base em: Boucier (2001); Franco (2016); Iphan (2019).
A dança clássica também surgiu nesse período e é marcada pelo rebuscamento do cenário,
das roupas e das carruagens, por exemplo. Nesse contexto, segundo Berthold (2001), o Barroco viu
a ópera nascer.
A ópera é considerada um espetáculo completo por misturar teatro, música e dança clássica. Se
por um lado é positiva essa mistura dos elementos que a compõem, por outro, segundo Vaconcellos
(2010), essa junção de linguagens é o grande problema desse gênero artístico. Isso porque, para
compor uma boa ópera, o compositor deve ser um exímio músico e, ao mesmo tempo, deve dominar
a escrita do drama. Alguns prodígios conseguiam reunir essas facetas, mas, por não ser uma atividade
comum, muitos compunham as partituras com base em dramas já produzidos. Muitas vezes, era
necessário que um outro profissional ficasse responsável pelas coreografias do balé.
Na busca dessa adequação, desde o início até nossos dias, cinco nomes devem
ser destacados: Cláudio Monteverdi (1567-1643), o primeiro a chegar a algum
resultado na fusão de música e drama; Christoph Gluck (1714-1787); Wolfgang
Amadeus Mozart (1756-1791); Richard Wagner (1813-1883) e Richard Strauss
(1864-1949). Evidentemente, esses cinco nomes não esgotam a lista dos grandes
compositores de ópera, mesmo que as obras dos demais se reduzam, muitas
vezes, a um enredo. (VASCONCELLOS, 2010, p. 171)
Mozart talvez seja o mais conhecido, e algumas de suas composições no gênero ópera são:
Don Giovanni, A flauta mágica e As bodas de Fígaro. Dentre os compositores não citados por
Vasconcellos está, por exemplo, George Bizet, que compôs a ópera Carmen, com libreto de Henri
Meilhac e Ludovic Halévy, em 1875.
A encenação das óperas clássicas ainda é uma tradição mantida em todo o mundo; todavia,
com o tempo, esse gênero evoluiu e passou a ganhar outras formas, como as óperas modernas e
os musicais. O fantasma da ópera, por exemplo, é um musical bastante apresentado pelo mundo.
Nesse enredo, uma soprano é assombrada por um músico desconhecido e obcecado por ela. Como
ninguém o conhece, acaba-se por chamá-lo de fantasma da ópera. O musical é baseado no livro de
mesmo nome. Na Figura 19, podemos observar um cartaz que traz a imagem de divulgação desse
musical.
Figura 19 – O fantasma da ópera
Artes cênicas: a arte da imitação 79
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Os movimentos artísticos não são estáticos, com início e fim definidos por uma data. Eles
se misturam e influenciam-se. O mesmo ocorre com a ópera: desde que surgiu, sob a influência do
estilo barroco, vem permitindo novas criações e continua a brilhar e emocionar a todos com sua
grandiosidade.
Considerações finais
As artes cênicas são todas aquelas concebidas para a cena ou para o palco. São também
artes efêmeras, que terminam imediatamente após a apresentação, mesmo com a possibilidade de,
atualmente, gravar as apresentações de dança, teatro ou ópera. Isso ocorre porque as artes cênicas
são interativas e o momento único do acontecimento artístico se esgota sem a presença do público.
80 História das artes visuais
• PODEROSA Afrodite. Direção: Woody Allen. Elenco: Michael Rapaport, Helena Bonham
Carter, Mira Sorvino, F. Murray Abraham. EUA: Europa Filmes, 1995. (95 min.).
Nesse filme, o diretor Woody Allen, com seu estilo peculiar, ambienta a história de um
homem de Nova York como se fosse uma tragédia grega antiga.
• SHAKESPEARE apaixonado. Direção: John Madden. Elenco: Ben Affleck, Judi Dench,
Tom Wilkinson, Geoffrey Rush, Gwyneth Paltrow. Inglaterra: Universal Pictures, 1999.
(124 min.).
Esse filme consegue se aproximar bastante do que pode ter sido a época em que
Shakespeare trabalhou, inclusive é gravado no teatro onde ele encenou.
Atividades
1. Como o teatro clássico greco-romano se conecta e supera sua versão primitiva?
2. Quais são as formas consideradas eruditas nas artes cênicas? Elas se relacionam entre si?
Como?
3. Quais são os modos mais populares das artes cênicas e suas principais características?
Artes cênicas: a arte da imitação 81
Referências
AMARAL, A. M. Teatro de formas animadas: máscaras, bonecos, objetos. São Paulo: Edusp, 1996.
CAFEZEIRO, E. História do teatro brasileiro: um percurso de Anchieta a Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro:
UFRJ: Euerj: Funarte, 1996.
CARLSON, M. Teorias do teatro: Estudo histórico-crítico, dos gregos à atualidade. São Paulo: Fundação
Editora Unesp, 1997.
FRANCO, Neil; FERREIRA, Nilce Vieira Campos. Evolução da dança no contexto histórico: aproximações
iniciais com o tema. Revista Repertório, Salvador, n. 26, p. 266-272, 2016.1
MÜLLER, R. P. Danças indígenas: arte e cultura, história e performance. Indiana, n. 21, p. 127-
137, 2004. Disponível em: http://www.iai.spkberlin.de/fileadmin/dokumentenbibliothek/Indiana/
Indiana_21/10MuellerRegPol_neu-kM__.pdf. Acesso em: 25 nov. 2019.
RENGEL, L. P.; SCHAFFNER, C. P.; OLIVEIRA, E. Dança, corpo e contemporaneidade. Salvador: UFBA,
Escola de Dança, 2016. Disponível em: http://www.danca.ufba.br/arquivos_pdf/Livros/DCC_E-book.pdf.
Acesso em: 1 nov. 2019.
SANTOS, P. B. Brasil adentro, Brasil afora: teatro mambembe em cartaz. Fragmentum, Laboratório
Corpus: UFSM, n. 25, abr.–jun. 2010. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/fragmentum/article/
view/11137/6746. Acesso em: 25 nov. 2019.
TADRA, D. S. A. et al. Metodologia do ensino de artes: linguagem da dança. Curitiba: Ibpex, 2009.
A arte reflete cada período da história. Por isso, estudar arte contemporânea nos permite
compreender e conhecer o olhar de vários artistas sobre o mundo em que vivemos e sobre as
mudanças vertiginosas de um planeta globalizado. Neste capítulo, abordaremos o que é a arte
contemporânea e conheceremos os principais movimentos artísticos do período.
Arte moderna
Everett - Art/Shutterstock
Fonte: KANDINSKY, Vasily. Rain Landscape. 1911. Watercolor on paper, 25.4 x 318 cm. The Metropolitan Museun of Art, Nova York.
5.2.1 Abstração
A abstração entra na composição da arte a partir do início do século XX. Costa (2004,
p.10) nos ajuda a entender um pouco mais o que esse movimento significa.
Chama-se abstração toda representação não figurativa, isto é, que não apresenta
figuras reconhecíveis de imediato (seres humanos, animais, paisagens e objetos
quaisquer), preocupando-se com formas – geométricas ou não – cores,
composição, texturas, pesos, manchas e relevos. Isso vale para pintura, escultura,
desenho, gravura, fotografia, cinema, vídeo, objeto e todos os meios possíveis.
86 História das artes visuais
Entre os principais artistas do movimento, temos Andy Warhol, bastante conhecido, cujo
estilo vemos copiado e recriado, ainda hoje, por outros artistas e pela publicidade, além de Roy
Lichtenstein, com obras produzidas nos anos 1960, expostas na galeria do Museu de Arte Moderna
de Viena.
O mundo contemporâneo e as artes visuais 87
Os Happenings são eventos artísticos nos quais a produção se dá de modo efêmero, ali no
momento, como um tipo de performance que incorpora elementos de improvisação de maneira
mais planejada e que nunca se repetem. Já no que concerne à arte conceitual, Janson avalia que:
[...] já que os produtos da arte são produtos secundários, acidentais, podemos
dispensá-los totalmente, da mesma forma o público do artista. O processo
criativo só tem que ser documentado de alguma maneira – geralmente de
uma forma verbal, e às vezes através da fotografia e do cinema. (JANSON,
1996, p. 399)
Ou seja, nesse movimento, não temos uma imagem como de costume para a visualização de
uma obra de arte final, mas um processo.
Marcel Duchamp é o padroeiro desse Figura 2 – Fonte, de Marcel Duchamp.
WikiArt
movimento e é um importante representante
do Dadaísmo1. Em 1917, ao expor a Fonte
(Figura 2), considerada uma das obras mais
significativas do ponto de vista da renovação
e mobilização causadas no meio artístico,
Duchamp se notabilizou como o precursor da
arte conceitual.
A obra em questão era um mictório,
também conhecido como urinol, que,
quando foi exposta em uma galeria de arte
em Nova York, em 1917, causou polêmica
justamente por contestar o status das obras
de arte. Transcendendo a peça, a obra
representava uma ideia, um conceito além Fonte: DUCHAMP, Marcel. Fonte (reprodução). 1917-1964.
Cerâmica vidrada com tinta preta, 38.1 x 48.9 cm x 62.55 cm. Tate
do objeto, e questionava se o urinol ganharia Modern, Londres, Reino Unido.
status de obra de arte ao ser assinada por
um pseudônimo. Com essa atitude, a arte deixou de ser somente o produto (como pinturas ou
esculturas) e passou a ser a concepção que o artista tem sobre o que é arte.
1 Um movimento de vanguarda artística iniciado em Zurique, 1916, de caráter antirracionalista ou mesmo ilógico, no
qual se pensava que destruir também era criar.
88 História das artes visuais
Por outro lado, é comum ouvirmos falar de performance no sentindo de desempenho, como
performance nos estudos, nos negócios ou, até, de um carro de corrida.
O termo performance é tão genérico quanto as situações nas quais é utilizado.
Na vida, bem como em distintas áreas do conhecimento, a palavra transita em
muitos discursos. Talvez por isso, por resistir tanto a uma única classificação,
torna-se tão instigante para o campo da arte. (MELIM, 2008, p. 5)
Daí a generalidade do termo, mas é preciso ter um elenco definido para o formato, que
nos permita compreendê-lo e até mesmo reproduzi-lo. “Performance é uma forma de arte
difícil de definir. Entre os seus ancestrais estão os ritos tribais, o teatro grego de improvisação
e, mais recentemente, as noitadas futuristas” (COSTA, 2004, p. 61). Melim (2008) esclarece que
a performance carrega consigo práticas interdisciplinares, ou seja, mescla teatro, dança, música,
poesia nos anos 1960 e, posteriormente, também vídeos.
Algumas performances propõem exercícios de dor física e até um enorme perigo de morte
e exposição pessoal em lugares públicos. “O performer geralmente é um artista plástico e a
performance pode se realizar por meio de gestos intimistas ou numa grande apresentação de cunho
teatral” (COSTA, 2004, p. 61). Uma das performers mais conhecidas no mundo artístico e que tem
trabalhos impactantes “foi a sérvia Marina Abramovic, sem dúvida, não apenas na década de 1970
– ela mantém até o presente essa mesma postura –, uma das artistas a levar seu corpo aos limites
físicos mais extremos para a experiência espiritual plena” (MELIM, 2008, p. 15-16).
O mundo contemporâneo e as artes visuais 89
Por fim, o poema visual transitável é representado por símbolos (Figura 6), como aspas,
colchetes e outros não visíveis na fotografia.
O mundo contemporâneo e as artes visuais 91
Benh/Wikimedia Commons
No Rio de Janeiro, o Museu do Amanhã, inaugurado em 2015, por exemplo, rompe com
a ideia de coisas antigas e do passado, trazendo em seu próprio nome uma projeção do futuro
da arte, da ciência e da tecnologia. O edifício do museu já é uma obra de arquitetura inovadora
(Figura 9) e o espaço oferece às crianças atividades culturais regulares, como clube de leitura, shows
de música, entre outras.
Figura 9 – Museu do Amanhã
vitormarigo/Shutterstock
Sturm/Wikimedia Commons
A estrutura do Inhotim segue uma tendência mundial muito similar, por exemplo, àquela
presente no Museu Calouste Gulbenkian. Este, localizado no centro de Lisboa, faz parte da fundação
de mesmo nome e possui uma ala tradicional somada ao jardim, no qual se expõem esculturas.
Além desses, temos outros museus por todo o mundo com espaços semelhantes ao de Inhotim, os
quais interagem com a população, possuem jardins com esculturas ou mesmo zoológicos.
5.6.3 As bienais
As bienais são eventos que ocorrem de dois em dois anos, com determinado tempo
de duração, e que promovem o encontro de novos artistas e obras, como pinturas, instalações,
esculturas, vídeos, performances e as mais recentes produções artísticas. Normalmente acontecem
em grandes espaços ou pavilhões e reúnem centenas de artistas de várias linguagens, mas costumam
focar na arte contemporânea.
O mundo contemporâneo e as artes visuais 95
É possível que você associe esse evento à Bienal do Livro, mas eles são
diferentes. A Bienal do Livro promove o encontro entre escritores, livros,
livrarias e editoras, demonstrando ter também um apelo comercial. No
caso da literatura, a comercialização é um aspecto importante, pois a
venda de livros é um dos pontos fundamentais na ampliação do número
de leitores. Já a Bienal de Arte não tem esse viés comercial, mas gera a
promoção dos artistas e amplia o alcance de suas carreiras.
No Brasil, a Bienal Internacional de Arte de São Paulo é umas das mais relevantes e conhecidas.
Ela ocorre tradicionalmente nos pavilhões do Parque Ibirapuera, que, além das edificações, conta
com uma ampla área verde. A escolha do local não é somente pelas condições técnicas, mas,
também, pela relação do paulistano com o parque, que é um espaço cultural, de shows e eventos.
As edificações dedicadas à Bienal de São Paulo, projetadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer,
são monumentais, com vários andares e muito espaço para acomodação de centenas de obras de
todo tipo de linguagem, conforme se pode observar na Figura 11.
Figura 11 – Um dos espaços internos da Bienal de São Paulo
Ibirapuera/Wikimedia Commons
A Bienal de São Paulo acontece desde 1951 e costuma estabelecer um tema, pulsante no
mundo da arte, que guia a curadoria no convite aos artistas. Durante todos esses anos o evento viu
nascer muitas tendências e seria impossível citarmos aqui tudo de interessante que já foi exposto
em cada uma de suas edições.
96 História das artes visuais
Considerações finais
A arte contemporânea é de caráter totalmente livre e inovador. Nela, é difícil enquadrar os
artistas ou as linguagens em um único modo de se fazer arte, pois são inúmeras as possibilidades de
criatividade dos artistas. Por esse motivo, é crucial observarmos a nossa civilização, seus conflitos
e como a arte absorve e transforma tudo isso: aqui e agora, somos testemunhas da arte.
• O SORRISO de Monalisa. Direção: Mike Newell. Elenco: Julia Stiles, Marcia Gay Harder,
Julia Roberts, Kirsten Dunst. EUA: Columbia Pictures. (119 min.).
Esse filme é bastante conhecido e acessível. Dirigido por Mike Newell, tem como
protagonista Julia Roberts, que interpreta uma professora de História da Arte em uma
escola tradicional para moças. O filme discute a função e a importância da arte como
um todo, passando por obras clássicas e citando, inclusive, o próprio Pollock, na arte
contemporânea.
Atividades
1. Dentre os movimentos estudados, dois podem ser considerados opostos, de acordo com a
concepção e objetivos artísticos. Quais são eles?
3. Quais são os projetos mais modernos/contemporâneos propostos pelos museus? Como isso
modifica a relação do visitante/usuário com essas instituições?
Referências
COSTA, C. T. da. Arte no Brasil 1950-2000: movimentos e meios. São Paulo: Alameda, 2004.
GIRAUDY, D.; BOUILHET, H. O museu e a vida. Rio de Janeiro: Fundação Nacional Pró-Memória; Porto
Alegra: Instituto Estadual do Livro-RS; Belo Horizonte: UFMG, 1990.
2. A evolução das pinturas realizadas em superfícies fixas, como afrescos, murais e grafites, aconte-
ceu de acordo com as matérias-primas, sejam fabricadas ou encontradas na natureza, disponíveis
em cada época – o tipo de tinta, por exemplo. Também influenciaram essa transição os temas
retratados. Nos afrescos, que foram produzidos desde o período medieval até o Renascimento
e o Barroco, era necessário aplicar os pigmentos ainda nas paredes frescas, que funcionavam
como um tipo de reboco ainda molhado. Nos murais do início do século XX, já existiam tintas
que poderiam ser aplicadas em paredes acabadas. Já no período em que se deu início ao grafite,
as matérias-primas passaram a ser principalmente tintas em spray. Cada período acompanhou a
disponibilidade e a evolução dos materiais.
Outro aspecto que deve ser levado em consideração são os temas pintados em cada período: nos
afrescos, eles eram majoritariamente religiosos; nos murais do artista Diego Rivera, por exemplo,
as questões retratadas estavam relacionadas à vida do homem nas fábricas e às condições de vida
do povo mexicano. Já o grafite se apresentou como manifestação de temas sobre a vida urbana
nas grandes cidades.
3. Os principais aspectos a serem considerados sobre a gravura dizem respeito aos processos en-
volvidos em sua produção, que é realizada gravando-se o desenho da matriz em um suporte. A
xilografia é uma técnica que usa a matriz feita de madeira, na qual o desenho é entalhado; na
litografia, por sua vez, a matriz é de pedra plana e o desenho é feito diretamente nela com o uso
de um lápis gorduroso, para depois ser aplicada a tinta que gravará o desenho no papel. Por fim,
é importante observar que a gravura popularizou a cópia de imagens ao redor de todo o mundo.
2. As obras de arte greco-romanas foram e ainda são uma grande influência para os artistas de
todo o mundo. Neste capítulo, observamos a influência que essas artes tiveram sobre as obras
de Michelangelo, em suas esculturas de mármore, produzidas durante o período do Renasci-
mento na Itália.
100 História das artes visuais
3. As obras de arte contemporâneas têm como influência o mundo globalizado, urbano e cada vez mais
veloz, estabelecido a partir do século XX. Elas são livremente mais criativas.
2. O cinema teve origem com os irmãos Lumière ao reproduzirem em velocidade uma sequência de
fotografias. Por isso, a invenção da fotografia está tão ligada à origem do cinema. Se não houvesse essa
invenção, dificilmente haveria o cinema.
3. Chamamos de retomada do cinema brasileiro um momento histórico para nosso cinema, ocorrido
em 1990. A partir desse período, iniciaram-se produções cinematográficas que atingiram grande pú-
blico e que até os dias atuais influenciam o mercado cinematográfico nacional.
2. São exemplos de artes cênicas que podem consideradas formas eruditas de arte: a tragédia, a dança
clássica e a ópera. Elas se relacionam na ópera, que reúne elementos da tragédia e da dança clássica
em seus espetáculos.
3. São formas populares de fazer teatro: o teatro mambembe, a commedia dell’arte e o teatro de bonecos.
Essas representações teatrais são consideradas populares, uma vez que eram de fácil acesso para a
população, diferentemente das representações eruditas, as quais eram feitas para a nobreza.
3. Os museus deixaram de ser espaços apenas para guardar objetos antigos, que poderiam ser visita-
dos pelo público, e passaram a interagir com os visitantes, oferecendo oficinas culturais e artísticas
relacionadas ao seu tipo de acervo. Alguns museus possuem grandes áreas abertas com obras de arte
expostas ao ar livre. As informações sobre as obras de arte estão disponíveis via terminais de compu-
tador dentro das instituições museológicas e também via internet, sendo possível até fazer visitas via
web. Nessa nova perspectiva, o público passou a ter uma relação bem mais próxima com os museus.
HISTÓRIA DAS ARTES VISUAIS
Ao contemplarmos as obras de arte, produzidas desde o período
primitivo até o contemporâneo, podemos, de certo modo, entender
como nossos ancestrais viveram. A arte nos permite conhecer nossa
origem e identidade como sociedade, além de ser uma maneira de nos
comunicarmos com as gerações anteriores e futuras. As representações
artísticas representam uma espécie de língua universal. Por isso,
entender as artes visuais é importante para qualquer profissional que
venha a trabalhar com algum tipo de criação, seja artística, industrial,
publicitária ou com design, moda, educação, decoração, arquitetura etc.