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ESTUDO DIRIGIDO DE

REVISÃO GRAMATICAL
JOILSON PORTOCALVO
ELIANA JORGE LEITE
PROJETO GRÁFICO
RAFAEL HILDEBRAND
CAPA (COM BASE NA OBRA A NOITE ESTRELADA DE VINCENT VAN GOGH)
RAFAEL HILDEBRAND
COPIDESQUE E PROJETO EDITORIAL
ANDERSON BATISTA DE MELO
IMPRESSÃO
STARPRINT - GRÁFICA E EDITORA
1a EDIÇÃO
2000 EXEMPLARES
COMPOSTO EM UTOPIA
UNIVERSO T T E A R IA L

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D a d o s I n t e r n a c i o n a i s de C a t a l o g a ç ã o na P u b l i c a ç ã o ( C I P )
( C â m a r a B r a s i l e i r a d o L i v r o , SP, B r a s i l )

Borges
E s t u d o d i r i g i d o de a r t e s : ensino médio :
v o l u m e ú n i co / B o r g e s e Ri b e i r o . -- Br a s í l i a ,
DF : E d i t o r a do C e n t r o , 2011.

I SBN 9 7 8 - 8 5 - 6 2 6 8 3 - 0 5 - 3

1. A r t e s ( En s i n o mé d i o ) I. Ri b e i r o . II. T í t u l o

11-03864 CDD-700
S umário
Capítulo 1 - A Estética e a Arte 07

Capítulo 2 - Arte Primitiva 22

Capítulo 3 - O Egito e sua Arte 34


Etapa I

Capítulo 4 - A Cultura Greco-Romana 38

Capítulo 5 - Arte na Idade Média 54

Capítulo 6 - A Era Moderna 66


Capítulo 7 - Arte Barroca 76

Capítulo 8 - Neoclassicismo 97
Etapa II

Capítulo 9 - Romantismo 104

Capítulo 10 - Realismo 112

Capítulo 11 - Arte do final do século XIX 119


I

Capítulo 12 - Arte Moderna 131

Capítulo 13 - Arte Contemporânea 154


Etapa III

P a n ítu ln 1 d - Arte Moderna e 166


o a p n u io Contemporânea no Brasil

Arquitetura Moderna e
Capitulo 15 - contemporânea 194

Capítulo 16 - Artesanato e Indústria 201

Exercícios 207

Bibliografia 285
A Editora do C entro apresenta o livro Estudo D irigido de A rte s , que é resultado da
cuidadosa elaboração de obra did ática, organizada pelos professores Borges e Ribeiro.
Estes, com vasta experiência didática e teórica/acadêm ica, produziram te xto s, coletânea
de exercícios e questões que atendem aos mais rigorosos padrões de preparação de alunos
do ensino médio.

O material integra de form a inteligente e prática os conteúdos - m úsica, artes cêni­


cas e artes visuais - em blocos que conferem lógica e referência ao leitor. Sua utilização
é voltada para a fluidez e com preensão das m anifestações estéticas e artísticas ao longo
da história, e garante, com a profundidade exigida, a preparação do aluno para os tem as
cobrados pelos principais exames e provas nacionais. A parte iconográfica, estruturada
para uma visualização agradável e pertinente, garante apreciação, olhar crítico e aguçado
sobre o tem a.

A divisão da obra em três etapas perm ite ao professor utilizar o livro com o manual
qualificado e estruturado conform e suas necessidades didáticas e programáticas. Equilíbrio,
pertinência e praticidade são as palavras-chave para aqueles que adotam este livro.

Sobre os Autores:

Maria Abadia Borges

Cursou A rtes Plásticas pela U niversidade Federal de Uberlândia e Licenciatura em


Educação A rtística pela Faculdade Dulcina de Moraes, em Brasília. Pós-graduada em A rte
e Tecnologia pela Universidade Católica, é professora desde 1972 e trabalha com o Ensino
de H istória da A rte há quinze anos, atendendo a estudantes pré-vestibulandos. M inistra
cursos em História e A rte para em presários e pessoas com interesse nesta área de conhe­
cim ento. Promove palestras sobre diversos artistas e modalidades artísticas para galerias
de arte e eventos correlatos. Participou com o palestrante de eventos artísticos prom o vi­
dos pela Secretaria da Educação de Brasília. Foi m em bro de mesas redondas sobre arte
moderna e seus desdobram entos, idealizadas pelo CCBB do Rio de Janeiro.

Marcone Cutrim Ribeiro

Professor de A rtes, com Licenciatura em Educação A rtística e habilitação em A rtes


Cênicas pela Faculdade Dulcina de Moraes, em Brasília. Pós-graduado em A rtetera pia e
Saúde, m inistra palestras em congressos de arte e trabalha em vários projetos que envol­
vem arte, nos âm bitos estadual e federal. Desenvolve oficinas, tendo o teatro e a música
com o form a de melhoria pessoal e da qualidade de vida. Há treze anos leciona em grandes
escolas de Brasília; participa de diversas produções teatrais e musicais, sempre defendendo
a cultura popular e suas m anifestações.
aos olhos, para configurar crenças, modos
A arte é o espelho e a crônica da sua época. de vida, denúncias, exa lta çã o , a c o n te c i­
William Shakespeare m entos sociais e políticos, estudos cie n tífi­
cos e outros. Portanto, vejam os algumas:

Definição de estética 1- Função individual: A través da produção


artística, o com positor, m otivado pelos
É o estudo do belo, do go sto in d iv i­ acontecim entos que o rodeiam, expressa
dual através de conceitos filo só fico s , his­ seus sentim entos. Exemplo:
tóricos e culturais.
Ternura
Designa uma dim ensão da experiên­
cia e da ação humana que perm ite carac­ Eu te peço perdão por te amar de repente
terizar algo agradável, sublim e, gracioso, Embora o meu amor
poético ou, ao invés disso, algo desagra­ seja uma velha canção nos teus ouvidos
dável, inferior, ruim. Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Refere-se a tu d o o que em beleza a Das noites que vivi acalentando
existência do homem: o corpo, o vestuário, Pela graça indizível
a casa, os adornos, o carro e tud o o que dos teus passos eternamente fugindo...
sim bolizar adorno.
Vinícius de Moraes - Poesia completa e prosa, Editora Nova
O que é arte Aguilar, Rio de Janeiro, 1998, p.259.

Habilidade própria do homem , de exe­


cutar atividades que transcendam o objeto
m aterial, que expresse sentim ento, cultura,
crença, etc.

A arte pode ser representada através


do desenho, da pintura, da música, da lite ­
ratura, da atividade cênica, da artesania,
da fo to g ra fia , da escultura, do design de
produtos e moda, da organização de espa­
ços, e de outras form as de expressão.

Funções da arte

A a rte o b je tiv a , s in g u la r m e n te ,
expressar os se n tim e n to s, sejam eles do
artista ou até mesmo de uma determ inada
civilização e com unidade. Assim sendo, o
estudo da produção artística transcende a O Grito, Edvard Munch, 1893,
Museu Munch de Oslo, Noruega
mera apreciação da beleza estética visível
No quadro O Grito, o artista evidencia 4- Função religiosa: Objetiva divulgar precei­
o sentimento de solidão e desespero através tos, dogmas e eventos de uma determinada
das linhas sinuosas e das cores muito fortes. religião, para referenciar os fiéis da mesma.

2- Função ambiental: Visa exaltar e/ou de­


nunciar aspectos relacionados com o meio
am biente: sua beleza, preservação e, ta m ­
bém, sua exploração.

Flor do mangue, Franz Krajberg, madeira, 12m x 8m x 5m

Na escultura acima, construída a partir


de resíduos de árvores de manguezais des­
truídos pela especulação imobiliária, vemos
o apelo ao debate sobre o meio ambiente.

3- Função pragmática: Apresenta um ca­


ráter educacional. Visa tra n sm itir conhe­ Descida da Cruz, Caravaggio, óleo sobre tela, 1608,
cim entos de todas as ordens: científicos, Museu do Vaticano, Roma
espirituais, políticos e culturais através da
produção artística. 5- Função histórica: Registra e retrata fatos
relacionados com uma determ inada época
relevante para uma civilização.

6- Função política: Tem objetivo social ao


representar eventos da ação política de uma
comunidade, um povo ou nação. Pode estar
relacionada com ufanismo, propaganda de Es-

Homem vitruviano, Leonardo da Vinci, 1490, Lápis e tinta Independência ou Morte, ou O Grito do Ipiranga, Pedro Américo,
sobre papel, 34 x 24 cm. Gallerie dell'Accademia óleo sobre tela, 1888, Museu Paulista
ta d o , agrem iação p o lítica ou ide ológ ica . Linha:
Associa-se à função histórica. Sequência de pontos aglomerados ou não.

7- Função artística: A través da organiza­ Cor:


ção dos elem entos que com põem a sinta­ E um fenôm eno óptico provocado pela luz
xe artística, cria com posições que atraem sobre a retina que transm ite, através de
a atenção do espectador. inform ação pré-processada no nervo ó p ti­
co, impressões para o sistema nervoso.

Forma:
É criada por uma linha fechada.

Textura:
É a característica de uma superfície. Pode ser
visual quando é perceptível através da obser­
vação visual; e tátil quando a percepção se
dá através do processo de apalpação.

Profundidade:
Tratam ento de volum e e/ou perspectiva
de uma imagem, que pode ser criado pela
cor, luz ou linha.

Tipos de profundidade:

Modelado:
Criado através da gradação de cores.

Modulado:
Quando há uma contradição entre as cores
Sarah Bernharc/t, Felix Nadar, Fotografia, 1859 e parece que as cores mais claras estão à
frente e o uso dos matizes mais escuros
Observação: Além dessas funções existem dão a impressão de sombra e profundidade.
ou tras, e todas podem co e xistir em uma
só obra ou projeto artístico. Claro/escuro:
Produzido através da gradação de tons.
Sintaxe compositiva É a quantidade de luz em uma imagem,
onde os espaços de sombra sugerem pro­
E a ordem , a fo rm a , a maneira com fundidade e volum e.
que os elem entos são dispostos em uma
determ inada com posição, seja ela textual, Perspectiva:
visual, m usical, teatral, etc... Tratam ento de profundidade criado pela li­
nha. Pode ser geom étrica ou linear (linhas
Elementos que com põem uma sintaxe: na diagonal que partem de pontos diferen­
tes e convergem para um mesmo ponto,
1- Visual: que chamam os de ponto de fuga) e, ainda,
aérea ou plana, gerada pela organização
Ponto: de linhas na horizontal e vertical separan­
M enor fragm ento de uma com posição. do a imagem em planos diversos.
A última ceia, Leonardo da Vinci, afresco, refeitório do Convento de Santa Maria delle Grazie, Milão, 1495-8

O uso da perspectiva na pintura acima Melodia:


é notável. O ponto de fuga localiza-se por Para a grande maioria das pessoas a melodia
trás da cabeça de C risto, no centro da pin­ pode ser considerada a parte mais importan­
tura. As linhas do espaço convergem todas te da música. Como em toda composição, é
para o ponto central. o que leva a emoção em primeiro lugar ao
ouvinte, seja cantada por bela voz ou tocada
2- Musical: por um instrumento. Mas no dicionário musi­
cal ela aparece com o seguinte conceito: se­
O som é causado b a sica m e n te por quência de notas, de diferentes sons, orga­
algo que vibra, sendo levado através do ar nizados de uma dada forma de modo a fazer
na fo rm a de ondas sonoras que se espa­ sentido musical para o ouvinte.
lham sim ultaneam ente em várias direções,
a tin gind o a m em brana do tím pano e cau­ Harmonia:
sando vibração. Esses d ife re n te s tip o s de É a união de notas de diferentes sons ouvi­
sons, gerados pelas vib ra çõ e s, são ide n­ das ao mesmo tem po, form ando um acorde
tific a d o s pelo cérebro. que pode ser consonante ou dissonante.

Com relação a isso, podem os de finir Ritmo:


som com o uma vibra ção regular e c o n s ­ É a form a do com positor agrupar os sons
ta n te . Ex.: o som da nota de uma fla u ta musicais, principalm ente do ponto de vista
doce ou de um violino. da duração dos sons e de sua acentuação.

Barulho: podem os d e fin ir com o baru­ Timbre:


lho vib ra çõ e s irre gula res e in c o n s ta n te s Quando alguém liga para você e logo é iden­
e sem altu ra d e fin id a . Ex.: uma bandeja tificado, isso significa que você conhece o
cheia de copos de vidro caindo no chão. som da voz. A esse fenômeno chamamos
de tim bre, que é o equivalente à cor do som,
Dessa fo rm a o cérebro id e n tific a o que tam bém está presente nos instrum en­
som de origem e faz uma transferência para tos. O tim bre de um violino tem um som
identificar o som e a imagem original. mais agudo do que o do contrabaixo.
Textura: 3- Cênica:
Em algumas obras m usicais a sua com po­
sição apresenta uma sonoridade densa e C o m p o sta por c e n o g ra fia , ilu m in a ­
outras rarefeitas e esparsas, transm itin do ção, sonoplastia, fig u rin o s e m aquiagem .
para o ouvinte com o foi m ontada a tram a Em term os gerais, aquilo que é suplem en­
da com posição. Há três maneiras básicas ta r ou adicional ao am biente da represen­
de com por e tecer uma música: tação. Em te a tro , elem entos portáteis de
com plem entação ou decoração do cenário,
° Monofônica: representada basicam ente tais com o quadros, estátuas, placas, telas,
por uma única linha melódica, sem qual­ m áscaras, cub os, e tc. Esses e le m e n to s,
quer espécie de harmonia. u sa d o s às veze s no lu g a r do c e n á rio ,
recebem o nome genérico de acessórios
o Polifônica: representada por duas ou cênicos. O term o tem sido usado tam bém
mais melodias entrelaçadas ao mesmo com o sinônim o de adereço.
tem po.
Sobre o c o n c e ito de adereço, acres­
0 Homofônica: uma única melodia é ouvida c e n ta -s e que to d o e le m e n to do v e s tu á ­
contra um acom panham ento de acordes, rio pode se to rn a r ace ssó rio , desde que
sendo característica m arcante o ritm o em ten ha um papel p a rtic u la r correlacio nad o
todas as vozes. com as fu n ç õ e s s e m io ló g ic a s (signos e
sinais em pregados em co m u n ic a ç ã o ) da
Intensidade: v e s tim e n ta .
Todos os instrum entos podem ser m edi­
dos pela am plitude de sua onda e d e fi­ Interpretação:
nidos com o fo rte ou fraco. Dependendo, A in te rp re ta ç ã o é a arte na qual o a rtista
claro, da força do ataque ao instrum ento. usa a si m e sm o , seu c o rp o e sua voz
com o in s tru m e n to de expressão e m a n i­
Duração: fe s ta ç ã o . Fica s u je ita à im a g in a ç ã o do
O som pode ser medido pelo tem po de a u to r, que alia ao papel sua inspiração e
ressonância, recebendo a classificação de sua té c n ic a .
longo ou curto.
O ato r é o principal in s tru m e n to de
Altura: expressão do tea tro , e para m elhor desem ­
É o equivalente aos sons graves e agu­ penhar seu papel é preciso que tenha tre i­
dos, pois quanto m enor fo r o número de nam ento té c n ic o e destreza em sua arte.
vibrações sonoras mais grave será o som Desse m odo, a subjetividade e experiência
e vice-versa. de quem atua é expressa durante o ato da
interpretação de um te x to teatral.
O s e n tid o de a u d içã o para o ser
humano sempre foi m uito im portante, tanto O a to r é o e le m e n to v iv o do te a tro
no que diz respeito à sobrevivência com o e sua p ro x im id a d e com o p ú b lic o gera
no sentido estético, o que fez com que cri­ um a relação de c o m p ro m e tim e n to e s té ­
ássemos obras-primas musicais. Entretanto, tic o e é tic o . Sua e xp ressã o é o v e íc u lo
te m o s na h istó ria da m úsica um grande do qual d e pen de quase to d o o e s p e tá ­
com positor, que nos m ostrou que com as cu lo . 0 te a tro depende da in te rp re ta ç ã o
vibrações podem os criar m úsica tam bém , do a to r, da sua c a ra c te riz a ç ã o , de seu
esse m estre fo i o austríaco Ludw ig Van te m p o , de seu espaço, de sua ação, pois
Beethoven (1 7 7 0 -1 8 2 7 ),que após a perda é a p a rtir daí que se o b té m a in te ra ç ã o
total da audição com pôs obras-primas. com o p ú b lic o .
A interpretação, mesmo inspirada no Texto teatral
texto dramático e orientada pelo diretor, pode
ser considerada uma criação do ator. É neces­ A p rin c ip a l p re o cu p a çã o do d ra m a ­
sário que ele seja sincero, sensível, emotivo e turgo é o público. Ao escrever uma peça, o
racional ao mesmo tem po, observador, per- dramaturgo autêntico já supõe a encenação.
ceptivo, im aginativo. O ator deve exercitar É ele o "a rtista criador".
toda sua potencialidade intelectual.
No jogo cênico, o te x to é a base onde
A sinceridade do ator é sua sensibili­ tudo se constroi. Sua função é fornecer aos
dade de entender o te x to , o personagem , atores as palavras que deverão ser ditas
pois te a tro não é a verdade absoluta: é a no palco.
transposição da verdade. A alma e o corpo
do ator devem estar sempre à disposição O te x to tem que oferecer ao ator ins­
do personagem. piração para que realize um trabalho expres­
sivo, e não apenas mecânico. 0 diálogo é a
Nas origens da interpretação, no principal ferram enta do dram aturgo.
mundo greco-rom ano antigo, sabemos
que os atores usavam máscaras, coturnos O diálogo teatral requer um encadea-
(kothornos), uma túnica longa m ulticor mento próprio, porque deve ser transm itido
(poiki/os) e um m anto (epiblema). Todos pelo ator. Sua m atéria, na boca de um ser
que interpretavam eram homens, mesmo hum ano que pronuncia, visa a criação da
quando os papéis eram fem ininos. personagem. No transcurso do espetáculo,
instaura-se o universo teatral por interm é­
A orquestrite - dança do coro - apre­ dio da ação do personagem em cena.
sentava coreografia com ênfase nas poses
e nos m o vim e n to s dos braços; os passos A ação é confundida com o enredo ou
e os gestos ora sugeriam , ora ilustra vam intriga. Para Pierre-Aimé Touchard (1803)
a ação. Essas e x p re ssõ e s c o rp o ra is do o "enredo é o esqueleto da ação".
c o ro e ra m , ao m e sm o te m p o , da n ça e
p a n to m im a . O a to r, na p a n to m im a , era A ação é a dinâmica das personagens,
denom inado m im o. que criam situações que tendem a ser dire­
cionadas a um s e n tid o . O enredo é que
Os mimos é que apresentavam o espe­ delim ita a ação em seu tem po e espaço.
táculo realmente popular, pois não eram sus­
tentados pelo governo (como as tragédias e O te x to é obra de fic ç ã o . Para que
as comédias). Seus critérios artísticos eram haja uma peça bem fe ita é preciso obser­
ditados a partir da relação direta com o público v a r o s e g u in te e sq u e m a : a p re s e n ta ç ã o ,
e interesses comerciais. d e s e n v o lv im e n to e s o lu ç ã o de um c o n ­
flito . Esse processo c o n s tru tiv o sugere a
Em Roma, os atores eram, na m aio­ ideia de unidades de ação, tem po e lugar,
ria, escravos gregos, e só passavam a usar o que dará e s tím u lo à c o n c e n tra ç ã o e
m áscaras depois da fa m a . Os rom anos com preensão do esp ecta dor.
preferiam a pantom im a, pouco valorizando
a tra g é d ia . O m im o , a to r e x tra o rd in á rio , Ao tra ta r do te x to não se pode esque­
pouco se u tiliza va das palavras, pois os cer dos gêneros a ele relacionados. Na Gré­
gestos e o ritm o dom inavam a cena. V o l­ cia a comédia e a tragédia definiam -se pelo
tado mais para o entretenim ento, o tea tro gênero dionisíaco em seus te x to s , im p ri­
la tin o a n tig o , em pregava com p ro fu sã o m indo, deste m odo, uma fo rte conotação
personagens caricatos. de caráter ritualístico.
"O predom ínio da ação ou da intriga Q ualquer que seja o te x to escolhido,
enquadra uma peça. A fro n te ira entre os o e le n c o e a e q u ip e d e v e rã o fa z e r um
gêneros não pode ser determinada com pre­ estudo da peça abrangendo filo s o fia , p s i­
cisão, vendo-se, a cada instante, comédia c o lo g ia , lin g u ís tic a , s o c io lo g ia , h is tó ria
com elem entos dram áticos e dram a com e p o lític a .
elem entos cô m ico s."
A contem poraneidade das peças inde­
Ao estudar o te x to dram ático, não se pende da época em que foram escritas.
pode deixar de pensar na montagem cênica,
pois se não for assim, o texto será somente A le itu ra de um a peça p e rm ite ao
literário. grupo (atores, diretor, cenógrafo, m úsico,
iluminador, técnicos) levantar questões que
D iante do te x to de um a peça, s u r­ levam à com preensão do tem a, dos perso­
gem m uitas divergências. Uns buscam um nagens, do enredo e consequentem ente, a
te m a p o lític o , o u tro s , um tem a de am or uma encenação coerente:
ou m orte.
1. de que fala a peça?
É im p o rta n te que o grupo faça uma - tema.
leitura coletiva do te xto escolhido, fazendo
reflexões e debates a respeito. 2. o que conta para o espectador?
- fábula ou história.
O que é tema?
3. o que tenta dizer?
É a ideia central ou pensam ento dom i­ - teses ou discursos.
nante que serve de ponto de partida para
a estrutura do te x to dram ático através do É através do enredo que se chega ao
qual o autor se expressa. Exemplo: tem a de um te x to dram ático. O tem a é a
ideia central ou sua organização.
Peça A u to r Tem a
O tema geral é a síntese da ação, o que
Os Persas Ésquilo Patriotismo dificulta sua identificação, pois cada membro
Destino do da equipe pode extrair um tema diferente, daí
Édipo Rei Sófocles
Homem a importância de se organizar todos os temas
e convertê-lo em tema geral.
0 poder do
Medeia Eurípedes amor contra
o ódio É de fundam ental im portância que se
observe a estrutura do texto: a biografia do
Morte e Vida João Cabral Retirante fugin­
Severina de Melo Neto do da seca
autor, suas idéias filosó ficas e políticas ,a
época em que vivem e a época em que se
situam os acontecim entos narrados.
Ao ler as peças, o grupo deve deixar
flu ir to d a sua s e n s ib ilid a d e para p e rc e ­ E preciso que se destaquem as idéias
ber seus p ró p rio s a n seios e d e se jo s . É ocultas no subtexto, espécie de comentário
p re c is o que a peça e s c o lh id a a tin ja os e fe tu a d o pela encenação e jo g o do ato r,
e sp e cta d o re s e que, os leve, ao m esm o esclarecendo ao e sp ecta dor para m elhor
te m p o , a s e n tir prazer e a re fle tir sobre com preender o espetáculo. Para Stanisla-
os seus p ro b le m a s, não so m ente pesso­ vski, o sub texto é o traço psicológico que
ais, mas ta m b é m os de ordem so cia l e o ator im prim e à sua personagem no flu ir
p o lític a . da interpretação.
Uma peça não é contada, ela se m os­ V e m , em s e g u id a , o m o m e n to da
tra . O prazer e sté tico deve aco nte cer na criação do personagem , e a com unicação
presença do a to r; aí está a e fic á c ia do passa a ser e n tre um in d iv íd u o e o u tro
espetáculo. Ao final do ato tem os o resul­ (e n tre p e rson age ns) ou e n tre s ím b o lo s ,
tado da interpretação. inicialm e nte numa linguagem em que pre­
do m ina o olhar. O ato r é aquele que no
Elementos formais palco é visto , encarna e tem a imagem do
personagem.
Figurino
É o conjunto de trajes que veste a peça, ou T e atro é o que aco nte ce num d e te r­
melhor, veste seus personagens. É o mesmo m inado m om ento e espaço, onde algum a
que indum entária e o mesmo que guarda- coisa se tra n s fo rm a através de m o vim en­
roupa de determinada produção teatral. to s , g e s to s , p a lavra s e, ao se tra n s fo r­
m ar, m o d ific a o a m b ie n te e as pessoas
Adereços em v o lta . O a to r é o p ro ta g o n is ta dessa
Acessórios que compõem o visual do perso­ m odificação.
nagem, como óculos, chapéus, etc. Comple­
mentam o figurino na caracterização do ator. Um a to te a tr a l a c o n te c e q u a n d o
o in d iv íd u o que o e x e c u ta se m o d ific a ,
Maquiagem c o lo c a n d o o u tra p e rs o n a lid a d e em seu
Recurso utilizado no te a tro , que su b stitu i lu g a r. É o u tro o seu to m de vo z, o u tra
a máscara antiga, ou seja, é uma máscara sua ap a rê n cia , tra ta e re p re se n ta o u tra
m oderna. A m aquiagem possui duas fu n ­ co isa que não a s im p le s ro tin a . O p e r­
ções básicas no te a tro : caracteriza o per­ sonagem surge quando o a to r de ixa de
sonagem e projeta a expressão fisionôm ica ser sim plesm ente o que é, para aparentar
do ator. Pode ser realista ou estilizada. ou sim b o liza r algo além de si m esm o. O
te a tro e x is te desde que o hom em p a s ­
Composição de personagens sou a s e n tir esse tip o de n e ce ssid a d e :
de sair de si, de se d e sp e rs o n a liz a r, de
Teatro é transfo rm açã o. No te a tro o se d is fa rç a r, de escapar do dia a dia para
ator m orre enquanto indivíduo e renasce expressar ou tra s m aneiras de ser.
enquanto personagem. Existem sem elhan­
ças entre ritual e teatro. Assim , da mesma Elementos estruturais do texto teatral
form a que o crente oferece seu corpo e se
torna um instrum ento para que o con tato Gênero
com o divino aconteça, o ator, para esta­ Term o usado em te o ria da lite ra tu ra para
belecer com unicação com seu público, to r­ c la s s ific a r, sob um m esm o títu lo , obras
na-se outra pessoa. Passa, assim, por um que p o s s u a m tra ç o s e c a ra c te rís tic a s
processo de constante am biguidade, osci­ s e m e lh a n te s . Os p rim e iro s gêneros d ra ­
lando entre o ser ele mesmo e o pretender m á tic o s fo rm a lm e n te d e fin id o s fo ra m a
ser outro, entre o criar e m anter disfarces, tra g é d ia e a c o m é d ia , se n d o to d o s os
sempre consciente destes desdobramentos. d e m a is , d ire ta ou in d ire ta m e n te , deles
de rivados. As m ais antigas investigações
A prim eira etapa no tra b a lh o de um te ó ric a s a c e rc a de um a c la s s ific a ç ã o
a to r é o a p re n d iza d o do sair de si. Ele dos g ê neros fo ra m as fe ita s por P latão
deve estar aberto, disponível, ter a m ente ( 4 2 7 7 - 3 4 7 ? a .C .) e A ris tó te le s ( 3 8 4 ­
vazia, sem tensões, procurando p rin cip a l­ 3 2 2 a .C .), que c o n s titu e m , ainda hoje,
m ente com unicar-se com o próprio corpo. obras obriga tória s em qualquer discussão
É um estado de prontidão e alerta. sobre a m atéria.
Com o rom antism o, passou a vigorar cios construídos à imagem e sem elhança
a teoria dos "gêneros híbridos", ou seja, a dos seres h u m a n o s " (M assaud M oisés,
que sustenta a possibilidade de m istura do D icionário de term os literá rios, p .3 9 6 ). A
côm ico com o trá g ico , em con traposição palavra grega para designar personagem
ao princípio clássico ou neoclássico dos é éthé, que significa "aquele que escolhe".
"gêneros puros". Segundo A ristóteles, personagem é a resul­
tante da interação da dianoia (pensamento)
A n atol Rosenfeld (1 9 1 2 -1 9 7 3 ) , em e do éthos (ação, ato, escolha); em outras
O Teatro Épico, aponta para a questão dos palavras, de uma intenção ou von tad e e
s ig n ific a d o s s u b s ta n tiv o e a d je tiv o dos do ato decorrente desta von tad e. Assim
gêneros literários, o que perm ite falar-se sendo, dianoia e éthos co n stitu e m o fu n ­
num "dram a é p ico" ou numa "poesia dra­ dam ento do personagem.
m ática".
No c a p ítu lo VI da P o é tic a , A r is tó ­
D entro do gênero d ra m á tic o , ig u a l­ teles descreve o personagem com o uma
m ente, a ad jetivação de um gênero an te­ das partes essenciais da tragédia, sendo
riorm ente definido tem proporcionado uma as outras o enredo, a dicção, a dianoia, a
nova c la s s ific a ç ã o g e nérica, co m o , por metopeia (música de acom panham ento) e
exe m plo , o dram a h is tó ric o , a com édia o espetáculo.
sentim ental ou a ópera côm ica. Além das
já citadas tragédia e comédia, os principais Raisonneur
gêneros dram áticos são a farsa, o drama Traduzindo literalm ente: aquele que racio­
e o melodrama. cina. No drama, aquele que esclarece a pla­
téia sobre os significados da peça. Qualquer
Ação dramática personagem que pode ser identificado como
É a in te n çã o m o tiv a d o ra do enredo ou porta-voz do dram aturgo. Trata-se de um
seq uên cia de um a c o n te c im e n to . Para recurso de qualidade dram ática discutível,
A ris tó te le s , ação é o elem ento prin cipal já que favorece a indução do espectador
da tragédia. Assim sendo, ação é o m o vi­ na interpretação do te x to . É tam bém cha­
m ento dos acontecim entos determ inados mado de personagem -coro, uma vez que,
pela vontade humana em co n flito . Em tea­ no drama moderno, assume as funções que
tro , é o co m p o rta m e n to do personagem : cabiam ao coro no teatro grego.
físico e em ocional - ou seja, ele "fa z " a
partir de sua vontade. Personagem fixo
Q ualquer personagem cujo s tra ç o s fís i­
Diálogos cos ou ca ra c te rís tic a s co m p o rta m e n ta is
São in stru m e n to s da ação dram ática, ou podem ser im ed iata m en te reconhecidas
seja, o na rra dor é s u b s titu íd o pela v o n ­ pelo espectador. Tais personagens apre­
tade e objetivos dos personagens, que se sentam-se geralm ente vestidos de acordo
expressam e se com unicam . com um m odelo e atendem sem pre pelo
m esm o nom e. O mais fam oso grupo de
Monólogo personagens fixos que se conhece é o que
Tipo de peça estruturada em torno de um se form ou em torno da com media deii'arte\
só p e rso n a g e m . A d ra m a tic id a d e está A rlequim , Colom bina, Palhaço, etc. Esses
ligada ao te x to e à ação pontual do ator. personagens, às vezes modificados, podem
ser encontrados em dramaturgias de épocas
Personagens e locais diferentes. São tam bém chamados
Num s e n tid o g e n é ric o , "n o in te rio r da personagens-tipo, pois são característicos
prosa literária e do te a tro , os seres fic tí­ de uma determinada modalidade cênica.
Com o rom antism o, passou a vigorar cios construídos à imagem e sem elhança
a teoria dos "gêneros híbridos", ou seja, a dos seres h u m a n o s " (M assaud M oisés,
que sustenta a possibilidade de m istura do D icionário de term os literá rios, p .3 9 6 ). A
côm ico com o trá g ico , em contraposição palavra grega para designar personagem
ao princípio clássico ou neoclássico dos é éthé, que significa "aquele que escolhe".
"gêneros puros". Segundo A ristóteles, personagem é a resul­
tante da interação da dianoia (pensamento)
A n atol Rosenfeld (1 9 1 2 -1 9 7 3 ) , em e do éthos (ação, ato, escolha); em outras
O Teatro Épico, aponta para a questão dos palavras, de uma intenção ou vontade e
s ig n ific a d o s s u b s ta n tiv o e a d je tiv o dos do ato decorrente desta von tad e. A ssim
gêneros literários, o que perm ite falar-se sendo, dianoia e éthos co n stitu e m o fu n ­
num "dram a é p ico " ou numa "poesia dra­ dam ento do personagem.
m ática".
No c a p ítu lo VI da P o é tica , A ris tó ­
D entro do gênero d ra m á tico , ig u a l­ teles descreve o personagem com o uma
m ente, a adjetivação de um gênero an te­ das partes essenciais da tragédia, sendo
riorm ente definido tem proporcionado uma as outras o enredo, a dicção, a dianoia, a
nova c la s s ific a ç ã o genérica, com o, por me/opeia (música de acom panham ento) e
exe m plo , o dram a h is tó ric o , a com édia o espetáculo.
sentim ental ou a ópera côm ica. Além das
já citadas tragédia e comédia, os principais Raisonneur
gêneros dram áticos são a farsa, o drama Traduzindo literalm ente: aquele que racio­
e o melodrama. cina. No drama, aquele que esclarece a pla­
téia sobre os significados da peça. Qualquer
Ação dramática personagem que pode ser identificado como
É a in te n çã o m o tiv a d o ra do enredo ou porta-voz do dram aturgo. Trata-se de um
se q uên cia de um a c o n te c im e n to . Para recurso de qualidade dram ática discutível,
A ris tó te le s , ação é o elem ento principal já que favorece a indução do espectador
da tragédia. Assim sendo, ação é o m o vi­ na interpretação do te x to . É tam bém cha­
m ento dos acontecim entos determ inados mado de personagem -coro, uma vez que,
pela vontade humana em co n flito . Em te a ­ no drama moderno, assume as funções que
tro , é o co m p o rta m e n to do personagem : cabiam ao coro no teatro grego.
físico e em ocional - ou seja, ele "fa z " a
partir de sua vontade. Personagem fixo
Q ualquer personagem cujos tra ç o s fís i­
Diálogos cos ou c a ra cte rística s co m p o rta m e n ta is
São in stru m e n to s da ação dram ática, ou podem ser im ed iata m en te reconhecidas
seja, o narrador é s u b s titu íd o pela v o n ­ pelo espectador. Tais personagens apre­
tade e objetivos dos personagens, que se sentam-se geralm ente vestidos de acordo
expressam e se com unicam . com um m odelo e atendem sem pre pelo
m esm o nom e. 0 mais fam oso grupo de
Monólogo personagens fixos que se conhece é o que
Tipo de peça estruturada em torno de um se form ou em torno da commedia dell'arte\
só p e rso n a g e m . A d ra m a tic id a d e está A rlequim , Colom bina, Palhaço, etc. Esses
ligada ao te x to e à ação pontual do ator. personagens, às vezes modificados, podem
ser encontrados em dramaturgias de épocas
Personagens e locais diferentes. São tam bém chamados
Num s e n tid o g e n é rico , "n o in te rio r da personagens-tipo, pois são característicos
prosa literária e do te a tro , os seres fic tí­ de uma determinada modalidade cênica.
Estudo da linha Tipos de Cores:

A linha é o resultado da transform ação de 1- Cor luz: fenôm eno im aterial.


um ponto de elem ento estático em dinâm ico. É
um ponto que escorrega em um determ inado Estudada a tra vé s do e s p e c tro sola r em
plano, em um determ inado espaço. física dentro do conteúdo Óptica.

Tipos Posições Expressividade 2- Cor pigmento: processo quím ico que re­
sulta da m istura de com ponentes naturais
Horizontal Sono, Repouso. ou não.

Acomodação,
É estudada através do círcu lo c ro m á tic o
estaticidade
Reta Vertical Arrogância, poder, em artes.
equilíbrio,
estabilidade. A - Cor primária convencionalmente assim cha­
M ovim ento brusco, mada por ser a primeira no estudo da cor, pura
Diagonal desequilíbrio, ação, devido ao fato de não advir de nenhuma mis­
instabilidade. tura e geratriz por ser responsável pela geração
das demais cores do círculo cromático.
Côncava M ovim ento calmo,
Curva Leveza.
A 1 - vermelho + verde + azul = luz branca.
Convexa Bailado.
Az - vermelho + amarelo + azul = ± marrom
Diminui o ritm o da escuro
Qualquer
Tracejada composição,
posição
interrupção. B - Secundária: dá-se através da união de duas
primárias:
Qualquer Confusão,
Mista
posição movimento.
B1 - amarelo + azul = verde
Mudança de direção, B2 - azul e vermelho = roxo
Qualquer
Quebrada interrupção, B3 - vermelho e amarelo = laranja
posição
movim ento.
C - Cores terciárias: é a junção de uma primária
Qualquer
Ondulada M ovim ento gracioso. com uma secundária.
posição

Reduz o ritm o da D - Cores análogas: são vizinhas no círculo


Qualquer
Pontilhada composição, crom ático e participam necessariamente da
posição
delicadeza. formação de outra cor.

Teoria da cor ex - amarelo e vermelho são análogos do laranja.

Definição E - Cores complementares são opostas no cír­


culo cromático.
Cor é um aspecto físico da natureza.
A cor de um m aterial é determ inada pelos ex - verde e o vermelho
com prim entos de onda dos raios luminosos
que suas m oléculas co n stitu in te s refletem . F - Cores inexistentes:
Um objeto terá uma determ inada cor se o
mesmo não absorver ju sta m en te os raios É a intensidade que uma cor adquire perto
correspondentes à frequência daquela cor. de outra contrastante.
0 roxo e o amarelo: ambos ganham maior Já a identidade pode ser definida como
intensidade ao serem aproxim ados um do um conjunto de características que perso­
outro. nalizam uma pessoa ou um grupo delas.
Está relacionada não só às suas caracterís­
Expressividade da cor ticas físicas, mas tam bém à sua form a de
vestir, falar, agir, bem com o ao seu gosto
Vermelho: Paixão, sedução, fom e, agressi­ pessoal relacionado à comida, leitura, ações
vidade/ dram aticidade; e expectativas.

Amarelo: Inquietação, m ovim ento, alegria, E n tre ta n to , a c u ltu ra é m ais c o m ­


animação; plexa, pois é form ada por práticas e ações
e x e c u ta d a s po r um g ru p o de p e sso a s,
Azul: Tranquilidade, paz , ideal para m edi­ um a c o m u n id a d e : suas cre n ç a s , ações,
tação e sono; e x p e c ta tiv a s , c o m p o rta m e n to s , regras
m o ra is , e m b a s a m e n to in te le c tu a l que,
Verde: Natureza, tranquilidade; ju n to s , poderão id e n tific a r uma d e te rm i­
nada sociedade.
Roxo: Reflexão, introspecção.
A c u ltu ra popular é c o n s titu íd a pelo
Circulo cromático co n ju n to de hábitos, costum es e crenças
que são pra tica d a s por um d e te rm in a d o
grupo de pessoas de no m in a d o de povo.
Cores Quentes | Cores Frias
O co n te ú d o dessa c u ltu ra é d e term inad o,
Amarela n o rm a lm e n te pela in d ú s tria , p rodu ção e
(Primária) consum o de p ro d u to s da própria c o le tiv i­
Laranja dade, pelo co n ju n to de hábitos e crenças
Verde
(Secundária) que as une.
(Secundária)

A C u ltu ra brasileira é b a s ta n te e c lé ­
tic a e re fle te a in flu ê n c ia dos d iv e rs o s
po vos que a c o n s titu e m : europ eus, a fri­
c a n o s , o p o v o in d íg e n a , d e n tre o u tra s .
Azul D evido a essa m iscig e n a çã o e a enorm e
Vermelha (Primária)
(Primária) e x te n s ã o do nosso te r r itó r io , a c u ltu ra
b ra s ile ira é d iv id id a por c a ra c te rís tic a s
Violeta
re g io n a is . Nas regiõe s N o rte , N o rd e ste
(Secundária) e pa rte da C e n tro -O e ste c o n c e n tra m -s e
as in flu ê n c ia s a fric a n a s e indígenas. A
c o n fe c ç ã o do a rte s a n a to em m adeira e
indivíduo, cultura e identidade a rg ila , as fe s ta s típ ic a s , roupas e c o m i­
das assim com o a m úsica, a dança, c re n ­
O term o "indivíduo" está associado a ças re lig io s a s . S o ta q u e s e o rig e n s das
uma visão do que é único em si só. Faz refe­ p a la v ra s e s tã o re la c io n a d o s , em m a io r
rência à individualidade. Considera o homem escala, à influ ência dessas origens acima
de forma isolada, sem par, exclusivo. Assim d e s c rita s .
sendo, não encontram os um ser igual, em
sua totalidade, a outro ser. É a caracteriza­ Já na região Sul e parte da Sudeste a
ção que personaliza alguém, que o destaca, maior influência é europeia: Portugal, Itália,
de alguma form a em um meio coletivo. Alem anha e outros.
O aniversário do macaco, J. Borges, xilogravura
Artesanato feito com fibras naturais

Obras do Mestre Didi

Tipos e gêneros

Bumba meu boi, Aldemir Martins, 35.5 X 42 cm, 0 gênero se configura com o um con­
acrílico sobre tela, 1981 ju n to de pessoas, o b jetos, anim ais, plan­
ta s , obras a rtís tic a s e/ou lite rá ria s , m e r­
cadorias, que apresentam características
co m uns e que, p o rta n to , com põe m um
m esm o cenário.

Aglomerados em um mesmo contexto,


os tipo s com características sem elhantes
form am os gêneros. A ssim , re trato e pai­
sagem são gêneros da pintura; a valsa, o
bolero, o pagode, o forró, o funk são gêne­
ros da dança; a ópera, o instrumental, o pop
são gêneros musicais; a comédia, o drama,
Rico artesanato popular, Caruaru-PE
peças infantis são gêneros cênicos.
Estruturas Compositivas m e ntos ta n to socia is q u anto p o lític o s , e
agregam dependendo do interesse trib o s
Toda estrutura com positiva obedece a e grupos d is tin to s . D entre os vários gêne­
uma organização conceituai e estética que ros podem os c ita r:
resulta em um projeto final, seja ele visual,
literário, m usical, cênico, etc. Erudito:

Na produção visual essa e strutu ra é Ópera, oratório, valsa, sonatas, cantatas etc.
obtida através do arranjo dos elementos visu­
ais, tais como: ponto, linha, cor, e outros. Popular:

Distribuição dos elementos Samba, rap, sertanejo, forró.

Nas com posições visuais atribuím os Gêneros teatrais


à parte inferior da imagem o term o "base".
É a p a rtir daí que a imagem se e stru tu ra , O te a tro ta m b é m te m um nú m ero
e tod os os elem entos que nela estiverem m uito grande de gêneros desde os prim ei­
contribuem para o aumento do peso visual ros m omentos do m ovim ento teatral no oci­
da imagem analisada. Ao contrário disso, a dente com o teatro grego até os dias de hoje.
parte superior da imagem confere leveza à Desde o teatro brasileiro de comédia até o
mesma. Nela, norm alm ente, os elementos teatro moderno. Com grandes representantes
ganham uma dimensão mais suave. A cen­ como Constatin Stanislavski, Brecht, Artaud,
tralização de uma imagem requer um deslo­ Boal. Dentre os vários gêneros tem os desde
camento do eixo com positivo ou do centro a tragédia, comédia e o drama.
geom étrico da referida obra.
Ritmos visuais
Equilíbrio visual é a organização coe­
rente, sem destaque m uito acentuado para É a sucessão de elem entos que, com ­
um elem ento específico. Quando isso não bin ado s, criam um a ideia de m o v im e n to
ocorre apresentando elem entos com maior seja ele visual, m usical, corporal, etc.
destaque que outros, o peso visual da im a­
gem concentra-se mais em um quadrante, No caso das artes visuais, co m b in a ­
o mais cham ativo, do que em outros, oca­ m os linha s, cores, fo rm a s de m aneira a
sionando um desequilíbrio com positivo . c o n s titu ir um espaço a rtís tic o harm ônico.
A sequência ou a alternância é que d e te r­
Os e le m e n to s visu a is re spon sáveis mina o ritm o da obra analisada.
por essa relação são as linhas: se grossas
carregam m ais a im agem , e n q u a n to que Como analisar uma obra de arte
as finas, pontilhadas e tracejadas sugerem
uma leveza m aior; as cores, as quentes e Qualquer tipo de obra de arte, seja de
as frias m uito saturadas são mais densas que natureza for, estabelece uma relação com
do que as pastéis e neutras. o espectador, uma troca de sentido e signifi­
cado, um testemunho histórico, social, cultural
Gêneros musicais e religioso.

Na m ú s ic a e n c o n tra re m o s v á rio s Uma obra de arte pode ser analisada


g ê n e ro s de g ra n d e im p o rtâ n c ia para o de vá ria s fo rm a s e p re te n d e a u x ilia r no
c a n c io n e iro p o p u la r e e ru d ito que criam entendim ento do que o autor deseja passar
para o o u v in te uma d is tin ç ã o entre m o v i­ enquanto mensagem.
Para analisar uma obra deve-se levar é e v id e n c ia d o pela linha na v e rtic a l. Os
sem pre em consideração a época, a té c ­ c o n tra s te s re a lç a m a p re s e n ç a da p e r­
nica, o tem a e os recursos usados pelo s o n a g e m . Os b rin c o s e o o lh a r são os
artista em sua execução (o gênero, a har­ p o n to s de m a io r a tra ç ã o v is u a l. A c o m ­
m onia, o e q u ilíb rio , o ritm o e a escala). p o s iç ã o é a s s im é tric a , e n tre ta n to a p re ­
Portanto, é necessário: senta harm o nia e s té tic a . É um a obra de
Jo h a n n e s V e rm e e r ( 1 6 3 2 -1 6 7 5 ) , re p re ­
O bse rvar as in fo rm a ç õ e s do rodapé da s e n ta n te do B arroco H olandês. Faz re fe ­
im agem , ta is com o: títu lo , a u to r, época, rê ncia à v id a ca m pon esa de sua época.
dim ensões e técnica. Traduz um aspecto sublim e da sociedade
do sé cu lo X V II.
A n a lis a r o o b je tiv o da e xe cu çã o de ta l
obra: sua natureza funcional.

Perceber os e le m en tos que a com põe m ,


suas disposições, tipo s e significados.

Examinar o direcionam ento da luz e qual o


foco principal.

Discernir as cores mais utilizadas e a forma


com a qual foram empregadas na obra.

Tipos de análise de obra de arte

1- Objetiva: O que tod o mundo vê e só,


sem deixar margem para especulações.

2- Subjetiva: O que cada um sente ao v i­


sualizá-la, uma percepção que individual­
m ente é atribuída a determ inada obra.

3- Formal: Análise da sintaxe, ou seja, da


com posição visual, seu co n te xto histórico,
seu tem a e sua organização.

Atividade de fixação

Análise da obra M oça com brinco de pérola Johannes Vermeer, Moça com brinco de pérola,
Óleo sobre tela, 46,5 x 40 cm, 1665
1- Objetiva: É uma mulher.
A obra M o ça com b rin c o de p é ro la
2- Subjetiva: Uma jovem mulher. é um a das m a is fa m o s a s p in tu ra s da
H is tó ria . C onsiderada por e s tu d io s o s de
3- Formal: A obra aprese nta fo rte s c o n ­ arte a "M o n a Lisa h o la n d e s a ", po uco se
tra s te s de luz e som bra . Há um a in c lin a ­ sabe sobre sua real in s p ira ç ã o . Isso p o r­
ção para a esquerda e um olhar lânguido que a vida de seu c ria d o r é e n v o lta em
d ire ta m e n te d irig id o para o o b s e rv a d o r. m is té rio e, até os dias a tu a is , é o b je to
A p o s tu ra da m o ça é e le g a n te , o que de e sp ecula ção.
A produção a rtística nos prim órdios Período Paleolítico
da humanidade constitui-se do acervo pro­
duzido pelos povos com preendidos desde Conhecido com o Idade da Pedra Las­
a P ré -h is tó ria até c iv iliz a ç õ e s de c a rá ­ cada, apresenta duas divisões:
te r c o m u n itá rio trib a l. É variada e indica
os prim eiros tra ços cultu rais dos homens 1- Paleolítico Inferior, período que rem onta
desse período. A A rqueologia tem nessas de 2 .5 0 0 .0 0 0 até 1 0 0 .0 0 0 a.C.
m anifestações artísticas prim itivas um pre­
cioso registro sobre a vida e organização A p re s e n ta a m ais an tig a produ ção
humana nesta época. artística de que se tem conhecim ento e o
primeiro objeto de observação para a histó­
Pré-história ria da arte. Devido ao distanciam ento te m ­
poral não existe uma quantidade sig n ifica ­
T rata-se de um longa fase da h is tó ­ tiva de registros encontrados dessa época.
ria, convencionada e dividida em períodos
distin tos: Paleolítico Inferior/S uperior, Neo- 2- P a le o lític o S u p e rio r, de 3 0 .0 0 0 até
lític o e a Era dos M e ta is. O correu a p ro ­ 8 .0 0 0 a.C.
xim ad am e nte em 4 .0 0 0 a.C. e antes do
advento da escrita form al. São os antrop ó­ Os povos desse período eram nôm a­
logos e arqueólogos que, através de seus des e m igravam de região para região em
estudos, docum entam e esclarecem a res­ busca de suprim ento que garantisse suas
peito de época tão im portante da história. necessida des de s o b re v iv ê n c ia . A b rig a ­
vam -se em cavernas, e é no seu in te rio r
As manifestações artísticas foram fu n ­ que são encontradas a maioria das pinturas
dam entais para o estudo e entendim ento do período. Fabricavam utensílios dom és­
das ações, m odo de vida e crenças dos tic o s e armas em pedra, osso e m adeira:
povos prim itivos. m a ch a d in h a s, m a rte lo s , arpões, anzóis,
agulhas, flechas, encontrados em profusão
Os re g is tro s p ic tó ric o s p ro d u zid o s em sítios arqueológicos.
nesse período denom inam -se A rte Rupes­
tre , por tra tar-se de inscrições fe ita s nas
paredes das rochas, pois a palavra deriva
do latim científico rupestris e este do latim
rupes (rochedo).

Os prim eiros registros que se tem da


música e do teatro estão entremeados com
rituais que se relacionavam diretam ente à
caça e guerras e, em alguns m om entos, à
presença da mím ica para m ostrar os peri­
gos contidos no dia a dia dos nossos ances­
trais. Com conotação rítmica, a música não
era usada para outros fins, a não ser que Pintura rupestre, encontrada na caverna de Lascaux,
envolvesse questões ritualísticas. na região francesa de Dordogne
Nesse período as com unid ade s d e i­ 3- Cronlecks: São agrupam entos circula­
xam de ser n ô m ad es e a o rg a n iza çã o res de menires, norm alm ente dispostos
adquire caráter trib a l. Começam a dom es­ em volta de dólm ens. O mais fam oso de­
tic a r anim ais e desenvolver a agricultu ra, les é o de Stonehenge (Grã-Bretanha).
inclusive com arado de tração animal. As
m ulheres eram responsáveis pelas a tiv i­
dades do c u ltiv o agrícola , e n q u a n to os
homens se dedicavam à dom esticação dos
animais e às tarefas mais pesadas.

Q ua nto a m a n ife sta çõ e s a rtís tic a s ,


estavam relacionadas com a evolução do
m o m e n to . A p in tu ra apresenta um cará­
te r m ais g e o m é trico e estilizado: form as
sim plificadas que eram geradas através da
gravação dessas figuras em osso, madeira
e pedra. Eram bastante dinâm icas, e mais
sugeriam do que evidenciavam as caracte­
rísticas dos seres representados.

Menir da Meada, Castelo de Vide, Marvão, Espanha

Pinturas rupestres do período Neolítico, cenas coletivas

Os te m a s m o tiv a d o re s ainda eram


o tipo de vida que levavam , seus hábitos,
costum es e rituais. A reverência aos fe n ô ­
menos naturais, ao tro v ã o , ao sol, à lua
eram a tem ática usual.

A construção de estruturas em pedra


é im portante registro da habilidade e enge-
nhosidade dos povos dessa fase. Essas Dólmen de Sorginetxe, Espanha
estruturas são chamadas de m onum entos
m egalíticos (pedras grandes), que são d ivi­
didos em três categorias:

1- Menires: São grandes blocos de pedra


fincados no chão, com objetivos sim bóli­
cos, religiosos e principalm ente funerários.

2- Dólmens: São m egálitos verticais, so­


brepostos a outros horizontais, que ta m ­
bém poderíam servir de abrigo. Círculo de Stonehenge, Grã-Bretanha
Idade dos Metais

Está c o m p re e n d id a e n tre 5 .0 0 0 a
4 .0 0 0 a.C ., em bora a adoção do bronze
tenha variado de acordo com as d ife re n ­
tes civilizaçõe s.

O homem já tinha o domínio do fogo


desde o período N e o lítico . A Idade dos
M etais dá início à exploração de alguns
minérios, com o o cobre, o bronze e o ferro Escultura em bronze. Museu Pigorini, Itália
e sua fundição.

S urgem , nesse p e ríod o, pequenas


com unidades que centraliza m o poder e
que são denom inadas cidades-estado.

A agricultura ressurge com novas té c ­


nicas e novos in stru m e n to s criados com
tecnologias relacionadas com os minérios
descobertos. A vida sedentária e co m u n i­
tária propicia o desenvolvim ento da escrita,
por volta de 4 .0 0 0 a.C.

Esse período é subdividido em: Caldeirão em ferro, com a borda em estado original, 200 a.C.
Hertfordshire, Inglaterra
Era do Bronze
Tem início no Oriente Médio, por volta de Pré-história Brasileira
3 .3 0 0 a.C. Apresenta significativa produ­
ção de máscaras, armas e ornam entos fe i­ A arte pré-histórica brasileira é encon­
tos com tal m atéria-prim a. trada em to d o o te rritó rio nacional, com
grande riqueza e d iv e rs id a d e . O Brasil
Era do Cobre possui valiosos sítios arqueológicos, ape­
Neste período, entre 2 .5 0 0 e 1 .8 0 0 a.C., sar da precária preservação. Várias grutas
os rios passam a ser o principal veículo de foram e x tin ta s devido à ação do homem
com unicação. A um enta a produção de ar­ e seu avanço predatório. Devido à grande
cos e flechas com o instrum entos, não só dim ensão te rrito ria l, a produção artística
de caça mas tam bém de defesa. A arqui­ distingue-se de região para região. Entre
tetura reflete o espírito da época e se v o l­ os estados que apresentam vestígios da
ta para construções de caráter defensivo, presença hum ana, de stacam -se o Piauí,
com o muralhas com torres altas. M inas Gerais e as regiões litorâ ne as do
Centro-Sul do país. São, pelo menos, duas
Era do Ferro divisões bem distintas:
A partir de 1 .2 0 0 a.C. o ferro, por ser su­
perior ao bronze quanto à rigidez e abun­ a) R epresentações n a tu ra lis ta s que
dância de jazidas, ganha ampla utilização e la b o ra m fo rm a s z o o m ó rfic a s e a n tro -
na produção de objetos, artefatos e escul­ p o m ó rfic a s , m u ito re c o rre n te s nas g ru ­
turas. Seu emprego na produção bélica foi ta s pia uien ses (S ítio de São R aim undo
fundam ental na história m ilitar. Nonato) e em outras regiões do interior do
país. Predomina, nas form as naturalistas, responsáveis pela criaçã o das prim eiras
a fig u ra hum ana (isolada ou em grupos) e s tru tu ra s co n struídas no Brasil. Nesses
em cenas de caça e rituais diversos. Tam ­ lugares, m ontes de conchas, de resíduos
bém são m u ito recorrentes as representa­ m a rinho s, e sq uele tos hum anos e restos
ções na fo rm a de anim ais, com o peixes, de u te n s ílio s d o m é s tic o s vão se a c u m u ­
aves e veados, usualm ente elaboradas em lando. Com o te m p o , to d o esse m aterial
ton s terrosos. sedim en ta-se e fo rm a grandes a m o n to a ­
dos que são denom inados sam baquis.

T a m bé m c o n h e c id o s co m o p o vo s
s a m b a q u is , e ssa s p o p u la ç õ e s fo ra m
d e te c ta d a s p rin c ip a lm e n te no Rio de
J a n e iro , Santa C a ta rina , Rio G rande do
Sul e São Paulo. No ano de 2 0 0 1 , o mais
antigo sam baqui brasileiro foi encontrado
no Vale do Ribeira (SP).

Toca do Boqueirão da Pedra Furada.


Parque Nacional Serra da Capivara

b) Formas geom étricas elaboradas a


pa rtir de elem entos fo rm a is geom étricos,
tais com o: pontos, linhas paralelas, cruzes,
círculos e triângulos. Corte lateral de um sítio arqueológico de
sambaqui em Santa Catarina

Produção artesanal e artística dos


índios brasileiros

De acordo com pesquisas e cálculos


de historiadores e antropólogos, antes da
chegada dos portugueses havia cerca de
25 m ilhões de nativos em solo brasileiro.
Dividiam -se em grupos tribais e possuíam
uma relação baseada em regras próprias de
caráter social, político e religioso. O c o n ­
Formas geométricas ta to entre os grupos ocorria em eventos
de guerra, enterros, casam entos, dentre
Nas duas representações predomina o ou tros. V ivia m da caça e da pesca, que
uso de tons terrosos, que vão do bege até eram abundantes na época. C ultivava m
o vermelho intenso e amarronzado. m andioca e c o le ta va m fru to s s ilve stre s,
além de d o m estica r anim ais de pequeno
A a b u n d â n c ia de re c u rs o s n a tu ­ porte. Com a colonização europeia, essa
rais presen tes na co sta brasileira atraiu quantidade reduziu-se a percentuais m uito
v á rio s g ru p o s h u m a n o s, que fo ra m os baixos: um verdadeiro genocídio.
A s c o m u n id a d e s in d ígen as a tu a is feita s em madeira ou argila. Existiam ur­
lutam para preservar a herança de seus nas an trop om ó rficas de ambos os gêne­
antepassados. Hábeis artesãos, os índios ros (fem inino e m asculino), em form as
produzem diversos tipos de artefatos para de desenhos e/ou baixos-relevos, que por
atender suas necessidades co tid ia n a s e vezes com binavam form as humanas e de
ritualísticas, e tam bém servem com o gera­ anim ais. A lgum as delas apresentavam
dores de recursos financeiros com plem en­ círculos verm elhos pintados em referên­
tares. A ssim , encontram -se belos tra n ç a ­ cia à fertilidade.
dos que tom am form a de cestos, bolsas e
esteiras, moldam a cerâmica que dá origem
a panelas, esculturas, urnas. Entalham a
madeira da qual nascem armas, instrum en­
tos musicais, máscaras e esculturas, além
das plumárias e adornos de materiais diver­
sos, com o sementes, ossos, conchas.

Elementos da cultura indígena brasileira

As culturas indígenas são ecléticas e Igaçaba Marajoara. Museu do Encontro,


se m anifestam de maneira bastante dive r­ Forte do Presépio. Belém-PA
sificada. Por exem plo, a cerâm ica tapajô-
nica ou santarena desenvolveu-se entre
os índios que habitavam as m argens do 3- Tangas: As tangas são objetos trian­
Rio Tapajós. Segundo a arqueóloga Anna gulares feitos em cerâmica com orifícios
R oosevelt, os Tapajós, que se d e se n vo l­ nas extremidades, para amarração junto ao
veram na região de Santarém a p a rtir do corpo. Eram usadas por mulheres das tri­
ano de 1 .2 0 0 a.C ., seriam descendentes bos marajoaras, em contextos cerimoniais.
de hábeis a rte sã o s, s u p o s ta m e n te dos
Maias ou dos Incas.

Objetos e utensílios

1- Muiraquitãs: Da cultura Tapajó (região


amazônica), são pequenas esculturas de ani­
mais feitas em jade, que simbolizam bons
fluidos, desejo de sorte e prosperidade. Pre­
dominam os de cor verde e a forma de sapo.

Tanga de cerâmica. Museu Paraense Emílio Goeldi. Belém-PA

4- Cariátides: São vasos elaborados a


pa rtir de exuberantes decorações feita s
com pequenas estatuetas zoom órficas ou
an trop om ó rficas que prom ovem a ligação
Muiraquitâ de Nefrita: MAE-USP
entre a base e o bojo da peça. Além disso,
podem os notar incisões feita s com fo r­
2- Igaçabas: Próprias da região am a­mas geom étricas, que servem para en fei­
zônica, as igaçabas eram urnas funerárias tar ainda mais esses vasos.
A d e c o ra ç ã o s a n ta re n a a p re se n ta
c o m p le x o s a rra n jo s ta m b é m em vaso s
d e c o ra tiv o s e u tilitá rio s , com bojo e g a r­
galo m ais fin o s , onde p re d o m in a m e le ­
m e n to s zo o m o rfo s e re p re se n ta çõ e s de
ro sto s hum anos nos bojos e sfé rico s dos
m esm os.

Catálogo do Museu do índio. FUNAI


Peças elaboradas em fibra de arumã nas cores
preta e natural Povos baniwa

Arte plumária

H abilidosos a rtis ta s , os índios brasi­


leiros lançam mão de to d o s os recursos
naturais disponíveis para a elaboração de
Museu de Arqueologia e Etnologia da suas peças, sejam elas com fins utilitários
Universidade de São Paulo (MAE-USP) e/ou decorativos. A arte plumária está rela­
cionada a rituais m u ito interessantes e é
Cestaria executada por homens, desde a caça até o
final da concepção da peça. Rica em cores
Segundo o D icionário do A rtesanato e form as, é sím bolo de hierarquia dentro
Indígena de Berta G. Ribeiro, cestaria é o da trib o e m uito reverenciada pelo imaginá­
conjunto de objetos — cestos-recipientes, rio dos homens brancos. Tangas, cocares,
cestos-coadores, cestos-cargueiros, arma­ lanças são só alguns dos exemplos onde a
dilhas de pesca e ou tros — ob tidos pelo pena é utilizada. Vale ressaltar que a cu l­
trançado de elem entos vegetais flexíveis tura indígena respeita o meio am biente e
ou semi-rígidos, usados para transporte de só usa o material que não degrada a fauna
carga, arm azenagem , receptáculo, tam is local.
ou coa dor. V ariam em ta m a n h o , fo rm a ,
decoração, té c n ic a de m a n u fa tu ra , mas
ob e d e ce m b a s ic a m e n te às e x ig ê n c ia s
ditadas por sua funcionalidade. As socie­
dades indígenas no Brasil são detentoras
das mais variadas técnicas de confecção
de tra n ça d o s, u tilizan do -se delas para a
confecção de cestos, que estão entre os
objetos mais usados, pois estão associa­
dos a vários fins. A cestaria produzida e
utilizada por uma determ inada sociedade
indígena está associada à sua cultura, prin­ Cid Collection, do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira,
cipal característica humana. agora sob guarda do Memorial da América Latina.
Adolescente pataxó, Brasília, 2007
Pintura corporal personagens antagônicos eram sem pre as
divind ad es que os índios tin h a m em seu
A p in tu ra c o rp o ra l é fe ita com p ig ­ im aginário.
m e n to s n a tu ra is : c a rv ã o , u ru c u m ou
g e n ip a p o ; te m co m o o b je tiv o e s ta b e le ­ A m ú s ic a e a d a n ça a p re s e n ta m
cer relação de h ie ra rq u ia em um a trib o , expressividade, e sua prática ocorre nos
d ife re n c ia r povos, e até para d e m o n stra r ritos da puberdade, cerim ônias espirituais
inte resse em algum parceiro ou parceira. e de guerra, bem com o por ocasião do
Cada etn ia cria sua própria m arca, e n o r­ plantio e da colheita.
m a lm e n te esses de se n h o s são fe ito s a
p a rtir de fo rm a s a b s tra ta s . São usados Cantos e danças ritualísticas envol­
em r itu a is d iv e rs o s , ta is c o m o c a s a ­ vem oferendas aos deuses. Os m itos, len­
m e n to , gu erra, ritu a is e s p iritu a is . das e tradição oral são preservados em
cerim ônias prom ovidas com a participa­
ção de toda a com unidade.

Os in stru m e n to s m usicais, fe ito s de


m adeira e ossos de a n im a is, são: to ró
(flauta de taquara), boré (flauta de osso),
o mimbi (buzina) e o uai (tam bor de pele e
de madeira).

A música nativa sofre alterações com


a chegada dos je su íta s ao Brasil, a par­
tir do século X VI, que com a intenção de
catequizar os indios com eçaram a in tro d u ­
zir instrum entos e estilos musicais.
índia Kadiwéu, Mato Grosso do Sul

Pintura corporal dos índios da tribo Kadiwéu

O te a tro tem com o referência p rin ci­


pal a catequização, que teve nos jesuítas
seus m aiores representantes. As d ra m a ti­
zações eram m ontadas ten do com o base
a vida de Jesus e dos sa n to s. Nelas os Instrumentos musicais indígenas
Arte pré-co/ombiana tado que, depois do séc.X, foram abando­
nadas e permaneceram por m uito tem po
A s c iv iliz a ç õ e s da A m é ric a e sua escondidas na floresta. As construções
c u ltu ra e sta va m org a n iza d a s ce n te n a s eram feitas em pedra, no form ato pira-
de anos antes da chegada de C ristóvã o midal. Similar ao Egito, apresentam um
C o lo m b o , m a rco in ic ia l da d o m in a ç ã o caráter fúnebre e serviam para rituais sa-
hispânica nesta região. E struturadas em crificiais. Criaram medidas de tem po com
Estado ou federações nas regiões norte e grande precisão horária.
central da Am érica, destacam -se:

1- Astecas: Eram indígenas advindos da


América do Norte que habitavam a atual
região do M éxico. Na sociedade asteca o
artista possuía papel de grande destaque.
Suas obras eram fom entadas por concei­
tos religiosos e representavam o imaginário
coletivo. Na pintura destacam-se formas
abstratas, geométricas e figurativas. Os
códices (pinturas em livros) e as pinturas
murais feitas em grandiosos tem plos e pa­
lácios não eram personalizadas. A cerâmica
constituía-se de artefatos, como jarras, po­ Templo de Kulculcán - cada lado desta construção
tes e louças em geral. M uitos desses uten­ equivale a uma estação do ano
sílios dom ésticos, com pinturas policroma-
das, eram verdadeiros objetos de arte. 3- Incas: Civilização que habitava a Cordi­
lheira dos Andes. Destaca-se pela exube­
rância dos trabalhos em ouro e artefatos
com fibras naturais. Na arquitetura usa­
vam a pedra na construção de palácios e
observatórios astronôm icos.

Grande parte dos ritu a is re lig iosos,


sacrifícios humanos e de animais ocorriam
em honra aos deuses (do sol, da chuva, do
trovão). Um de seus acervos rem anescen­
tes é a cidade de Machu Picchu, no Peru.

Calendário asteca, também conhecido como Pedra do Sol, é o


calendário utilizado pelos astecas, povo que habitou a região
do México até meados do século XVI. Este calendário era
baseado no ano solar, possuindo, portanto 365 dias.

2- Maias: É um povo mesoamericano que


se destacou nos conceitos m atem áticos,
astronôm icos e no desenvolvim ento da
escrita. Os maias construíam cidades-es- Monumento Inca, Cordilheira dos Andes, Machu Picchu, Peru
Máscara Inca, representação do deus sol, Sec. XV

A m ú sica desses p o vo s c o n tin u o u


sendo ritualística mas, já com a presença
de instrum entos de sopro e percussão. Máscara Gelede do Benim no Brasil

Arte africana Gelede é originalm ente uma form a de


sociedade secreta fem inina de caráter reli­
Uma arte m u ito rica de ca rá te r fu n ­ gioso existente nas sociedades tradicionais
cional, a arte africana representa os usos e yorubas. Expressa o poder fem inino sobre
costum es das trib os em form as e com té c ­ a fertilidade da terra, a procriação e o bem-
nicas diversas. A representação da figura estar da com unidade.
humana está relacionada a questões morais
e éticas, assim com o, os valores religiosos. Pintura: A pintura é elaborada com o
Esculturas em m arfim , bronze e ouro estão decoração nas paredes dos palácios dos
relacionadas à incorporação dos espíritos e reis, celeiros, etc. Os m otivos são m uito
à magia e são usadas em rituais diversos. variados e vão desde form as essencial­
As máscaras elaboradas em argila, madeira, m ente geom étricas até a reprodução de
metais também apresentam uma conotação cenas de caça e guerra. Serve tam bém
m ística de purificação do espírito. para o acabam ento das máscaras e para
os enfeites corporais.

Máscara do século XVI, Nigéria, Edo, Corte de Benin,


marfim, Metropolitan Museum of Art Desenhos e pinturas com formas geométricas, Nigéria
-

A civilização egípcia se desenvolveu cu lto dos m ortos, isto porque a transição


às m argens do rio Nilo, no nordeste a fri­ da vida à m orte é vista, antecipada e pre­
cano, entre 3 .2 0 0 a.C. e 32 a.C. O rio parada com o um m om ento de passagem
era u tiliza d o com o via de tra n s p o rte de da vida terrena à vida após a m orte.
pessoas e m ercadorias. Situada em região
d e s é rtic a , a trib u ía ao rio um a enorm e O fa ra ó é im o rta l e to d o s os seus
im portância, ta n to para a navegação como fam iliares e altos representantes da socie­
para a agricultura. Sua cultura era pautada dade têm o privilégio de poder tam bém ter
em valores religiosos. O faraó era co n s i­ acesso à outra vida. Os túm ulos são, por
derado autoridade m áxim a em uma socie­ isso, os m arcos mais re p re se n ta tivo s da
dade hierarquicam ente dividida. Era um ser arte egípcia: lá são depositados a múmia
sagrado, respeitado e adorado com o um ou estátua (corpo físico que acolhe poste­
deus. O povo egípcio acreditava na e te r­ riorm ente a alma, ka) e todos os bens físi­
nidade de sua vida. A civilização egípcia cos do cotidiano que lhe serão necessários
desde sem pre se preocupou com a e xis­ à existência após a m orte.
tência após a m orte. Sua religião era poli-
te ís ta e a n tro p o z o o m ó rfic a e re pleta de O que m ais se destaca na arte egíp­
rituais para o pós-m orte. cia é de fa to a a rq u ite tu ra , a tra v é s da
c o n s tru ç ã o de te m p lo s de ta m a n h o s
A escrita era praticada pelos cha m a­ m o n u m e n ta is . A p rim e ira im ag em que
dos e scrib as, que de vid o à sua posição nos vem à m e n te é a de uma p irâ m id e .
de destaque gozavam de d ire ito s e p riv i­ As pirâm ides eram túm ulos para os faraós
légios na c o rte fa ra ô n ic a . A e s c rita hie- e tin h a m uma área de ocupação inte rna
ró g lifa d e s e n v o lv e u -s e a tra v é s de c ó d i­ m uito pequena em relação ao tam anho do
gos e sím bolos e eram fe ita s em papiros, m o n u m e n to . É d ifíc il im aginar com o elas
um a esp écie de papel fe ito a p a rtir da eram c o n s tru íd a s . A a rq u ite tu ra egípcia
fibra de m adeira, e, tam bém nas paredes era m onum enta l em to d o s os aspectos.
das co n stru çõ e s.
Pirâm ides: São, sem nenhum a dúvida,
Arte Egípcia o m aior paradigm a da a rq u ite tu ra egíp­
cia. Com bases em fo rm a to quadra­
A arte do antigo Egito servia, acima do ou tria n g u la r, paredes m u ito altas,
de tu d o , a o b je tiv o s p o lític o s e re lig io ­ c o n s titu íd a s de cam adas sob rep osta s de
sos. As representações artísticas eram a pedras de grandes proporções, criavam
expressão do poder do faraó e da classe fo rm a s exte rna s agigantadas. As linhas
sacerdotal. A crença do retorn o da alma inclinadas e n contrava m -se no alto e pa­
ao seu co rp o o rig in a l é te m á tic a re c o r­ reciam estar em c o n ta to com os céus,
rente no de senvolvim ento da arte. com o referência à busca do d ivin o e do
sublim e. Suas té c n ic a s de co n s tru ç ã o
A s s im s e n d o , a a rte re p re s e n ta , c o n tin u a m sendo estudadas, in v e s tig a ­
e xa lta e hom enageia c o n s ta n te m e n te o das e question ada s por té c n ic o s e h is to ­
faraó e as diversas divindades da m ito lo ­ riadores até os dias atuais. As pirâm ides
gia egípcia, sendo aplicada principalm ente são, até hoje, fo n te de inspiração para a
a objetos ou espaços relacionados com o a rq u ite tu ra contem p orâ nea m undial.
divididos em duas ou três câmaras: a pri­
meira para os profanos; a segunda para o
faraó e os nobres; e a terceira para o sumo
sacerdote. A entrada desses tem plos era
protegida por galerias de estátuas de gran­
de porte e esfinges.

Pirâmide de Djoser em Sakara, Mênfis, Egito

As primeiras pirâmides foram as do Rei


Djoser, e elas eram escalonadas. As pirâmi­
des mais célebres do mundo pertencem à IV
dinastia e se encontram em Gizé: Quéops, Templo Abu Simbel, Núbia, Baixo Egito
Quéfren e Miquerinos, cujas faces são com ­
pletamente lisas. A regularidade de certas pi­ Pintura: Na representação da figura huma­
râmides deve-se aparentemente à utilização na o tronco era pintado de maneira frontal,
de um número áureo õ (phi) e da proporção rosto e membros de perfil, mesmo os olhos
n (pi), que poucos arquitetos conheciam. sendo m ostrados de frente: "lei da fro n ta ­
lidade". É fácil observar essa característica
Mastabas: As construções de pirâmides, na maior parte dos relevos e representa­
eram primeiramente em mastabas (de­ ções pictóricas do antigo Egito. É interes­
graus); com a evolução da arquitetura che­ sante notar que, nos painéis apresentados,
gou-se à pirâmide de linhas retas da form a as figuras masculinas usavam cor vermelha
que conhecemos. A mastaba é um tipo de e as fem ininas o tom ocre. As form as eram
túm ulo, e/ou capela, egípcio que apresenta chapadas, sem m uito volume e profundida­
uma form a de tronco de pirâmide. As pare­ de. A pintura com plem entava a escultura
des eram inclinadas em direção a um topo ou decorava as grandes superfícies dos edi­
plano de menores dimensões que a base. fícios. Não se utilizava gradação, mistura
de tonalidades ou claro-escuro.

Típica mastaba egípcia do Antigo Reinado, Egito, 2.467 a.C.

Hipogeus: Eram tem plos escavados nas Olho de Hórus é um símbolo, proveniente do Egito Antigo, que
rochas, dedicados a várias divindades ou significa proteção e poder, relacionado à divindade Hórus. Trata-se
a uma em particular. Norm alm ente eram de um dos amuletos mais usados no Egito em todas as épocas.
A representação de um faraó ou um
nobre era o s u b stitu to físico destes na
m orte. Isso talvez pudesse ju s tific a r o
exacerbado naturalism o alcançado pelos
escultores egípcios, principalm ente no Im­
pério A n tig o (3 .2 0 0 a 2 .3 0 0 a.C.). Com o
passar do tem po, a exemplo da pintura, a
escultura acabou se estilizando.

Pintura parietal do túmulo de Nefertari, Egito

Escultura: A escultura servia à arquitetura,


com pletando-a, geralm ente em form a de
baixos-relevos que, em pedra ou bron­
ze, representavam ta n to as cenas diárias
quanto as vitória s dos faraós, ou ainda
paisagens sim plificadas. A estatuária era
principalm ente religiosa.

Escriba Sentado, Egito, IV Dinastia, 2.620-2.500 a.C.

M úsica: Foram e n co n tra d a s, a p a rtir de


e s c a v a ç õ e s a rq u e o ló g ic a s , fig u ra s em
baixos-relevos, m osaicos, te x to s e alguns
ob je to s que co m pro vam a e x is tê n c ia de
atividades m usicais. A m úsica tinha uma
função ta n to social quanto religiosa e era
peça essencial na sociedade egípcia, o
que elevava o sta tu s do m úsico.

A música egípcia tinha características


próprias: era inspirada nos deuses e prati­
cada em qualquer evento de ordem social.
Composta por cantos, era sempre acom pa­
nhada de instrum entos com o citara, harpa
e tam bores, que mais tarde foram ad ota­
dos pelos gregos. Usualmente, os músicos
acom panhavam os faraós em suas apari­
ções e cerim ônias públicas.
Greco-romanos é o adjetivo, no plural, Deuses gregos e romanos
para tudo o que for comum aos gregos e aos
romanos. Essas duas civilizações da A n ti­ Grego Romano Representação
guidade são consideradas a base cultural Zeus Júpiter principal deus
do Ocidente, servindo de fonte inspíradora Hera Juno protetora do lar
para gerações posteriores. Suas conquistas,
Efesto Vulcano fogo
poder econômico e riqueza cultural incluem-
Poseidon Netuno mares
nas no rol das grandes civilizações.
Ares Marte guerra

A mitologia como fonte de inspiração Atena Minerva sabedoria


Deméter Ceres agricultura
Os deuses gregos, posteriormente apro­ Apoio Febo sol e beleza
priados pelos romanos, tinham suas histórias
narradas por escritores, com o Homero e
Hesíodo. Eles eram apresentados como seres A ssim , cercada por m uita magia e
imortais, física e psicologicamente semelhan­ beleza, desenvolve-se a cultura greco-ro-
tes aos humanos (antropom orfism o), com mana. A cultura grega fo i adotada pelos
poderes sobre-humanos. Os mortais estavam romanos (séc.ll a.C.) e a cidade de Roma
sujeitos aos caprichos dos deuses. tornou-se im portante centro de difusão da
cultura helênica.
D entre as divindades, está a hierar­
quia superior encabeçada por Zeus (gover­ A Arte Grega
nante de tod os os deuses). Numa classe
inferior está Hades (irmão de Zeus e deus Os gregos antigos tiveram m uito des­
dos infernos). Mas os heróis, seres m o r­ taque nas produções artísticas e culturais.
tais em sua maioria, têm tanta im portância Foram exím ios construtore s, escultores e
quanto os deuses na m itologia grega. Um filó s o fo s . Eram racionais e an tro p o cê n tri-
dos mais conhecidos é Hércules. cos e seus atos eram norteados por esses
princípios. Buscavam representar, através
As festas eram dedicadas às divindades, das artes, cenas do cotidiano grego, acon­
tais como: Dioniso, deus do vinho e da ale­ te c im e n to s h is tó ric o s e, p rin c ip a lm e n te ,
gria, Deméter, deusa da colheita. Uma das tem as m itológicos e desportivos.
festividades mais destacadas eram os jogos
Pan-helênicos (Olimpíadas), realizados de 4 Arquitetura
em 4 anos, dedicados a Zeus.
As grandes obras de arquitetura, como
Os tem plos gregos e romanos eram os te m p lo s, por exem plo, eram erguidos
locais de visitação e adoração aos quais acor­ em homenagem aos deuses gregos. Suas
riam os devotos fiéis. Existiam templos para form as são copiadas ainda hoje e causam
cada um dos deuses, como: Afrodite, deusa espanto pela beleza e consistente estrutura.
da beleza; Apoio, deus da beleza masculina, Um dos templos gregos mais conhecidos é a
da juventude e da luz, além de ser conside­ Acrópole de Atenas (Partenon). Essa cons­
rado patrono das artes; Atena, deusa da sabe­ trução foi feita pelos atenienses em hom e­
doria, da paz e protetora dos atenienses. nagem à deusa Atena (protetora da cidade).
Foi construído em mármore no ponto mais As colunas gregas apresentam-se em três
alto da cidade, entre os anos de 44 7 e 438 tipos diferentes:
a.C. Além das funções religiosas, foi u tili­
zado tam bém com o ponto de observação 1- Dórica: mais simples, com poucos de­
m ilitar. As colunas desse tem plo seguiram talhes e decoração, atribuía estabilidade e
o estilo arquitetônico dórico e apresentavam m uita elegância à construção.
na parte superior um belo frontão (capitel),
com painel em baixo-relevo executado pelo 2- Jônica: um pouco mais elaborada, com
grande escultor Fídias. desenhos, inscrições e base circular.Trans­
mitia leveza e graciosidade ao edifício.

3- Coríntia: mais sofisticada e m uito deco­


rada, era pouco usada pelos arquitetos da
época, devido ao seu custo em relação ao
material e tem po de execução. Os capitéis
das colunas eram decorados com folhas
feitas em concreto.

Os a rq u ite to s gregos c o n s tru íra m ,


além dos te m p lo s , te a tro s de gra n d e
extensão que tinham capacidade para abri­
gar toda a população da cidade. Feitos em
pedra eram c o n s titu íd o s por um espaço
circ u la r que co n tin h a o alta r de D ioniso,
cham ado de orquestra, onde o coro can­
tava, dançava e os atores representavam .
Ruínas do Partenon - século V a.C, Acrópole de Atenas, Grécia
Os palcos eram singelos e os espec­
ta d o re s aco m od avam -se em a rq u ib a n ca ­
das ou degraus que ficavam em vo lta da
orquestra. As apresentações tinham lugar
durante o dia, ao ar livre.

Podemos citar o Teatro de Epidauro, que


foi projetado por Policleto entre 370 e 360 a.C.
Sua capacidade era de 20 mil pessoas.

Frontão decorado e visão lateral da réplica do Partenon grego,


Centennial Park, 1897, Nashville, Tennessee, EUA Teatro Dioniso, Sec. V a.C, Acrópole de Atenas, Grécia
Detalhe do Teatro Dionísio, Grécia

Esses te a tro s eram co n stru íd o s em


lugares de pouco ruídos para evitar a inte r­
ferência dos sons urbanos. Sua form a favo­
recia a ve n tila çã o , pois o ve n to passava
atrás do palco em direção aos espectado­
res. O objetivo além de refrescar, era uma
form a de auxiliar a difusão das falas e sons
diversos do palco para a platéia. Discóbolo de Miron, 1,55m de altura, 450 a.C,
Museu Nacional Romano, Roma

Escultura

Os escultores gregos, por vezes cha­


mados de gênios, foram exím ios em seu
o fic io . E ntalhavam a pedra com grande
m aestria e delicadeza. Buscavam a perfei­
ção estética e primavam por uma constante
representação realista. As obras apresen­
tavam m ovim ento adequado à ação e ao
estudo da proporção anatôm ica.

Mais tarde introduziu-se o conceito de


contraposto - posição na qual a escultura se
apoiava totalm ente numa perna, deixando a
outra livre causando maior dinam ism o nas
representações de atletas em plena ação.

N e rvo s, m ú s c u lo s , veia s, e x p re s ­
sões e s e n tim e n to s são observados nas
e scu ltu ra s. Os tem as mais usados foram
a m ito lo g ia , p rin c ip a lm e n te , re p re s e n ta ­
ções de deuses e deusas, e o a tle tis m o .
Entre os grandes a rtis ta s do classicism o
e s tã o : P o lic le to , M iro n , P ra x íte le s e Hermes, séc. IV a.C. 2,15 m de altura,

Fídias. destinava-se ao Templo de Hera, em Olímpia


No Período Clássico (séc.VIII a V a.C.), 0 grande desafio e a grande conquista
inspirados na razão e no naturalismo ideali­ da escultura desse período foi a representa­
zado, os gregos representavam o movimento ção, não de uma figura apenas mas de gru­
de uma forma mais efetiva. Surge o nu fem i­ pos de figuras que mantivessem a sugestão
nino com muita suavidade e delicadeza. de mobilidade. 0 belo deveria ser apreciado
por todos os ângulos.
No Período Helenístico (séc.lV a II a.C.)
os escultores abandonaram a representação Pintura
ideal na busca pelo real. Novas técnicas e
materiais favoreceram a criação de formas Essa modalidade artística foi desenvol­
muito expressivas e de grande valor estético vida através da pintura cerâmica. Há bastante
e, por vezes, propagandístico. equilíbrio e harmonia nos desenhos execu­
tados. As formas são chapadas e mostram
um dinamismo bem relativo. Há uma predo­
minância dos tons terrosos, branco e preto,
com alternância de aplicação entre eles. Além
de servir para rituais religiosos, esses vasos
eram usados para armazenar, entre outras
coisas, água, vinho, azeite e m antim entos.
Por isso, sua form a correspondia à função
para a qual eram destinados. Os temas apre­
sentavam pessoas em suas atividades diárias
e cenas da mitologia grega.

Grupo de Laocoonte, cópia romana possivelmente de


Hagesandro, Atenodoro e Polidoro de Rodes, séc. I d.C.
Mármore, 2,13 m, Museu do Vaticano, Roma

Exéquias: Dioniso em seu barco, 530 a.C., figura negra,


Staatliche Antikensammlungen, Munique

O repouso de Heracies, ânfora do Pintor de Andokides (esquerda)

Vênus de Mito, 1,98m, mármore, sec. II a.C, achada na Ilha de e ânfora grega, cerca de 540 a.C, Museu Arqueológico

Milos, no Mar Egeu. Encontra-se hoje no Museu do Louvre, Paris Nacional de Atenas
panos de linho uma pedra e deu-a a Cronos, vões. O palácio da princesa incendiou-se e
com o se fosse a criança, e o deus logo o ela morreu carbonizada. Zeus recolheu do
engoliu. Quando cresceu, Zeus pediu a Géia ventre da amante o fru to inacabado de seus
uma droga para dar ao pai, a fim de que este amores e colocou-o em sua coxa, até que
restituísse os filhos devorados. Isso feito , se completasse a gestação normal. Nascido
à frente dos irmãos, Zeus declarou guerra o filh o , c o n fio u -o , para e vita r novo estra­
a Cronos. A guerra durou dez anos e Zeus tagem a de Hera, aos cuidados das Ninfas
conseguiu vencer, com auxílio dos Heca- e dos sátiros do m onte Nisa. Lá, em som ­
tô n q u iro s. Tornou-se chefe de uma nova bria gruta, cercada de frondosa vegetação
geração de deuses do Olimpo. e em cujas paredes se entrelaçavam galhos
de viçosas vides, de onde pendiam m adu­
Zeus desposa Hera, mulher defensora ros cach os de uva, v iv ia fe liz o filh o de
e protetora dos esposos. Davam-na com o Sêm ele. C erta vez o jo ve m deus colheu
cium enta e vingativa, pois frequentem ente alguns desses cachos, esprem eu-lhes as
encontrava-se irritada contra Zeus por sua frutinhas em taças de ouro e bebeu o suco
infidelidade, perseguindo-lhe as am antes e em com panhia de sua c o rte . Todos fic a ­
os filhos adulterinos. Zeus não se co n te n ­ ram então conhecendo o novo né ctar: o
tava apenas com as deusas e por vezes se vinho acabava de nascer. Bebendo repeti­
apaixonava pelas m ortais. A vítim a dessa das vezes, sátiros. Ninfas e Baco com eça­
vez era a princesa tebana Sêmele, mãe do ram, a dançar vertiginosam ente ao som dos
segundo Dioniso. címbalos. Embriagados do delírio báquico,
todos caíram por terra desfalecidos.
É que de Zeus e Perséfone (filha de
Dem éter) nasceu Zagreu, o prim eiro D io­ Historicamente, por ocasião da vindima,
niso. P referido do pai dos deuses e dos celebrava-se a cada ano, em Atenas e por
homens, estava destinado a sucedê-lo no toda a Ática, a festa do vinho novo, em que
governo do m undo, mas o destino decidiu os pa rticipantes, com o outrora os com pa­
o con trário. Para proteger o filh o dos ciú ­ nheiros de Baco, se embriagavam e começa­
mes de sua esposa Hera, Zeus o con fiou vam a cantar e dançar freneticam ente, até
aos cuidados de A poio e dos Curetes que caírem desfalecidos. Ao que parece, esses
o criaram na flo re s ta do Parnaso. Hera, adeptos do vinho disfarçavam -se de S áti­
m esm o assim , de scobriu o paradeiro do ros, que eram concebidos pela imaginação
deus ainda m enino e encarregou os Titãs popular com o "hom ens bodes". Teria nas­
de raptarem -no. Palas A tena pôde salvar- cido assim o vocábulo tragédia (trago =
lhe o coração que ainda palpitava. Foi esse bode: ode = canto) = tragoedia em latim
coração que Sêmele engoliu, engravidando e tragédia em português.
do segundo Dioniso.
A h is tó ria de D ioniso p ro vo ca va as
O Segundo Dioniso, no entanto, não mais diversas emoções em seus fiéis, desde
teve um nascim ento norm al. Hera, ao ter a tristeza profunda à alegria desmedida, ou
notícias das relações amorosas do esposo seja, dando fiel continuidade às co n tro vé r­
com Sêmele, resolveu eliminá-la. Transfor­ sias do período do caos: Eros (atração) e
mando-se na ama da princesa tebana, acon­ A nteros (repulsão), etc.
selhou-a a pedir ao amante que se lhe apre­
sentasse em todo o seu esplendor. O deus D urante a celebração, seus de voto s
advertiu a Sêmele que sem elhante pedido e n to a v a m o d itira m b o , c a n to lírico que
lhe seria fu n esto , mas com o havia jurado reunia dança, poesia, co ro , tu d o re la cio ­
pelo rio Estige jamais contrariar-lhe os dese­ nando-se à religião (presente tam bém na
jos, apresentou-se-lhe com seus raios e tro ­ evolução musical).
Origem do Teatro Grego
O culto a Dioniso: O Mito

Para a plena com preensão da origem


do te a tro , faz-se necessário o resgate de
fa to s m ito ló g ic o s , os quais estão d ire ta ­
m ente relacionados à sociedade grega.

O estudo será melhor contextualizado


a partir da leitura do te x to abaixo.

Dioniso ou Baco

No p rin cíp io e x is tia o Caos, a p e r­


sonificação da vida prim ordial, anterior à
criação, no te m p o em que a Ordem não
tin h a sido ainda im po sta aos elem entos
do mundo recém -criado. Lá era onde tudo
estava aglutinado e m ovido por forças con­
trárias: Eros (atração) e A nteros (repulsão, Estátua romana do séc. II, representando Dioniso de acordo
separação) — que dá origem à teoria do com um modelo helenístico, séc.VI a.C., Louvre, Paris
"Grande Bum ".
Surge então Géia, a Terra, elemento
primordial de onde saíram as raças divinas.
Sem auxílio de nenhum elemento masculino
engendrou o Céu (Urano), depois uniu-se a ele,
tendo a primeira geração divina — os Titãs,
as Titânidas, os Ciclopes e os Hecatônquiros,
que eram seres monstruosos. Conforme nas­
ciam, o pai, Urano, prendia-os nas profunde­
zas da terra. Géia, então, arquitetou um plano
contra o esposo: tirou do próprio seio o aço
e fabricou uma foice de lâmina afiada, depois
incitou os Titãs a se voltarem contra o pai.
Todos hesitaram, menos Cronos, que castrou
o pai, reduzindo-o à impotência e libertando
os irmãos, tornando-se, assim, o chefe da
nova dinastia.

Cronos desposou sua irmã Réia, que


lhe deu trê s filh o s : H ades, P oseidon e
Zeus, e três filhas: Héstia, Deméter e Hera.
A p avo rad o com um oráculo que predisse
que um filh o seu haveria de s u p la n tá -lo ,
C ronos d e v o ra v a to d o s os filh o s assim
que n a s c ia m . Q u a nd o da g ra v id e z de
Zeus, Réia se escondeu. Para salvar esse
Cronos devorando um filho, óleo sobre tela, 146 x 83 cm, últim o filh o fug iu para Creta e lá deu à luz
1819-1823, Francisco Goya, Museu do Prado, Madri o m e nino , às e sco n d id a s. E nvolveu em
panos de linho uma pedra e deu-a a Cronos, vões. O palácio da princesa incendiou-se e
com o se fosse a criança, e o deus logo o ela morreu carbonizada. Zeus recolheu do
engoliu. Quando cresceu, Zeus pediu a Géia ventre da amante o fru to inacabado de seus
uma droga para dar ao pai, a fim de que este amores e colocou-o em sua coxa, até que
restituísse os filhos devorados. Isso feito , se completasse a gestação normal. Nascido
à fre nte dos irmãos, Zeus declarou guerra o filh o , c o n fio u -o , para e v ita r novo e stra ­
a Cronos. A guerra durou dez anos e Zeus tagem a de Hera, aos cuidados das Ninfas
conseguiu vencer, com auxílio dos Heca- e dos sátiros do m onte Nisa. Lá, em som ­
tô n q u iro s. Tornou-se chefe de uma nova bria gruta, cercada de frondosa vegetação
geração de deuses do Olimpo. e em cujas paredes se entrelaçavam galhos
de viçosas vides, de onde pendiam m adu­
Zeus desposa Hera, mulher defensora ros cach os de uva, v iv ia fe liz o filh o de
e protetora dos esposos. Davam-na como Sêm ele. C erta vez o jo v e m deus colheu
cium enta e vingativa, pois frequentem ente alguns desses cachos, esprem eu-lhes as
encontrava-se irritada contra Zeus por sua fru tinha s em taças de ouro e bebeu o suco
infidelidade, perseguindo-lhe as am antes e em com pan hia de sua c o rte . Todos fic a ­
os filho s adulterinos. Zeus não se co n te n ­ ram então conhecendo o novo n é cta r: o
tava apenas com as deusas e por vezes se vinho acabava de nascer. Bebendo repeti­
apaixonava pelas m ortais. A vítim a dessa das vezes, sátiros, Ninfas e Baco com eça­
vez era a princesa tebana Sêmele, mãe do ram, a dançar vertiginosam ente ao som dos
segundo Dioniso. cím balos. Embriagados do delírio báquico,
todos caíram por terra desfalecidos.
É que de Zeus e Perséfone (filha de
D em éter) nasceu Zagreu, o prim eiro D io­ Historicamente, por ocasião da vindima,
niso. P referido do pai dos deuses e dos celebrava-se a cada ano, em Atenas e por
hom ens, estava destinado a sucedê-lo no toda a Ática, a festa do vinho novo, em que
governo do m undo, mas o destino decidiu os participantes, com o outrora os com pa­
o con trário. Para proteger o filh o dos ciú ­ nheiros de Baco, se embriagavam e começa­
mes de sua esposa Hera, Zeus o con fiou vam a cantar e dançar freneticam ente, até
aos cuidados de A poio e dos Curetes que caírem desfalecidos. Ao que parece, esses
o criaram na flo re s ta do Parnaso. Hera, adeptos do vinho disfarçavam -se de S áti­
m esm o assim , de scobriu o paradeiro do ros, que eram concebidos pela imaginação
deus ainda m enino e encarregou os Titãs popular com o "hom ens bodes". Teria nas­
de raptarem -no. Palas A tena pôde salvar- cido assim o vocábulo tragédia (trago =
lhe o coração que ainda palpitava. Foi esse bode: ode = canto) = tragoedia em latim
coração que Sêmele engoliu, engravidando e tragédia em português.
do segundo Dioniso.
A h is tó ria de D ioniso p ro v o c a v a as
O Segundo Dioniso, no entanto, não mais diversas emoções em seus fiéis, desde
teve um nascim ento norm al. Hera, ao ter a tristeza profunda à alegria desmedida, ou
notícias das relações amorosas do esposo seja, dando fiel continuidade às co n tro vé r­
com Sêmele, resolveu eliminá-la. T ransfo r­ sias do período do caos: Eros (atração) e
mando-se na ama da princesa tebana, acon­ A nteros (repulsão), etc.
selhou-a a pedir ao amante que se lhe apre­
sentasse em todo o seu esplendor. O deus D urante a celebração, seus devoto s
advertiu a Sêmele que sem elhante pedido e n to a v a m o d itira m b o , c a n to lírico que
lhe seria fun esto , mas com o havia jurado reunia dança, poesia, coro, tu d o re la c io ­
pelo rio Estige jamais contrariar-lhe os dese­ nando-se à religião (presente tam bém na
jos, apresentou-se-lhe com seus raios e tro ­ evolução musical).
Por volta do fim do século VI a.C. o Evolução do Teatro
ditiram bo acontecia fora das muralhas da Os festivais e seus representantes
polis (cidade), porém, com a adesão cada
vez maior de populares, tornou-se po litica ­ O tea tro se fixo u e evoluiu coinciden­
m ente estratégico trazer essa prática para te m e n te com a estabilização do governo
dentro das muralhas. dem ocrático em Atenas. Em 5 3 4 a.C. nas­
ceu o c o n c u rs o no Estado de P isístrato.
O ditiram bo caracterizava-se pela antí­ D ifu n d ir o te a tro era um a ne ce ssid a d e
tese dos sentimentos, bem ao gosto do deus sociopolítico econôm ica e religiosa. Nessa
do êxtase. Cheios de improvisos, os entona- época havia incentivos para os atores que
dores acabavam por passar de seus limites, re cebia m dos c o re g o s d in h e iro , honras
pois dançavam vertiginosamente e saíam de e m oradia e a esse encargo de fin a n c ia r
si. Nessa perda da consciência, interagiam peças dava-se o nome de liturgia.
deus e fiel, num contato divino.
Nesse período havia três festivais por
Tal co n ta to fazia-se possível quando ano, nos quais cada candidato devia inscrever
o fiel ultrapassava o MÉTRON (medida de três textos trágicos e um drama satírico. Esses
cada um), m om ento em que deixa de ser festivais aconteciam da seguinte forma:
um simples m ortal e passa-se a ser ANÉR
(ator) ou hypocrités (o que responde). Essa Dionisíacas Rurais: a mais antiga das festas
ultrapassagem desperta o ciúme dos deuses, Á tica s, acontecia no final de dezembro;
que a consideram uma dísmesure (violência no início era apenas uma procissão, mas
a si próprio e aos deuses im ortais), o que a partir do século V a.C. passa a ter repre­
acarreta a punição imediata do hypocrités. sentações dram áticas.

É a partir daí que surge a tragédia, ou Leneanas: duravam de três a quatro dias,
seja, da punição daqueles que desafiaram os nos fins de janeiro. Contribuiu efetivam ente
deuses. Portanto, não só o trecho de uma his­ para o desenvolvim ento das comédias (Ko-
tória deve ser definido como trágico, mas as mos = máscara da alegria), pois se carac­
obras cujo conteúdo caracteriza a tragédia. terizava por brincadeiras e coisas alegres.

Dionisíacas Urbanas: em fins de m arço, na


prim avera, durava seis dias e as tragédias
ocupavam os três prim eiros dias.

Destacaram-se nesses festiva is três trage-


diógrafos:

Ésquilo (525 a.C. a 456 a.C.): Era um poeta de


nível cósmico. Foram escritas cerca de 80
a 90 peças, em 40 anos de ator, e sobrevi­
veram apenas 7 delas. É autor de: Os per­
sas, Os sete contra Tebas, A s suplicantes,
Prometeu acorrentado e Orestes (a única
trilogia completa conhecida, com posta por
Agamêmnon, A s coéfaras e A s eumênides).

Baco, óleo sobre tela, 95 x 98 cm, 1597, Caravaggio, Sófocles (496 a.C. a 406 a.C.): Dramaturgo
Galeria dos Ofícios, Florença, Itália m uito conhecido em Atenas, segundo au­
tor da época da tragédia, mais jovem, com grande reputação na Grécia no te a tro cô­
personalidade diferente, cidadão nascido e m ico. Os fragm entos que sobreviveram
criado. Escreveu 90 peças, das quais 7 sobre­ eram suficientes para se saber sobre a
viveram: Ajax, Antígona, Édipo Rei, E/ectra, nova com édia introduzida por ele, que foi
A s Traquínias, Filoctetes, Édipo em o Colono chamada de "com édia nova" (Néa). As pe­
e Os Sabujos (drama satírico incompleto). ças eram mais hum orísticas e tinham um
lado político mais leve; tra tava m su p e rfi­
Estimado por seus contem porâneos, cialm ente de situações urbanas da vida
preocupava-se com a com plexidade hu­ da época: tem as fam iliares, m atrim ônios,
mana. Suas tram as teatrais eram sutis e crianças, relações de pais e filhos. Nessa
suas líricas mais flexíveis em linguagem . ocasião nasceu o Turbo (o enganador), pa­
A tragédia, na era de Sófocles, com eçou pel mais im po rta nte da peça, interpretado
a se afastar da rigidez de Ésquilo. Elevou pelo personagem de um escravo.
o coro de doze para quinze pessoas, m u­
dança apenas técnica, por causa da co­ Gêneros Dramáticos
reografia. A ntíg ona , sua m aior peça, foi Tragédia, Drama Satírico e Comédia
produzida em 441 a.C. e seu sucesso fez
com que os governadores dessem o posto Da evolução das cerim ônias do culto
de general a Sófocles. a Dioniso surgiram alguns gêneros dram áti­
cos, dentre os quais a com édia, a tragédia
Eurípides (484 a.C. a 406 a.C.): Dentre os dra­ e o drama satírico.
m aturgos foi o autor que mais levou este
tem a a sério, m ostrando as paixões hum a­ Tragédia
nas em sua form a mais intensa. Foi o pri­
meiro a analisar o amor e o ciúme em cena. A tra g é d ia su rg iu a p a rtir do c u lto
Há registro de som ente 18 peças: A/ceste, agrário para saudar D ioniso . C onhecido
Medéia, H ipóiito, A s Troianas, Helena, M u ­ co m o d itira m b o , d is ta n c io u -s e desses
lheres Fenícias, Orestes, Os filhos de Hé- tem as e passou a adotar em sua estrutura
racles, A ndrôm aca, Hécuba, Hérac/es, A s m ito s e lendas, bem com o a cria çã o de
Suplicantes, íon, E/ectra, Ifigênia e Táurida, heróis. A pesar do parcial d ista n cia m e n to
A s Ba cantes, Ifigênia e Á u i ida e Ciclope. de suas origens, esse gênero conservou
vários tra ç o s , com o a presença do alta r,
Dois com ediógrafos: que rem ete à religiosidade; a form ação do
coro; e a ocasião em que os espetáculos
Aristófanes (447 a.C. a 385 a.C.): Crítico das aconteciam : festas de louvor a Dioniso.
mudanças estéticas e políticas de sua épo­
ca, escrevia sobre os valores dem ocráticos Para Aristóteles, a figura que contribuiu
e eventos da vida cívica. Inimigo ferrenho para o surgim ento da tragédia foi o corifeu
de Sócrates, satirizou-o em sua peça A s (membro do coro), que estabeleceu o diálogo
Nuvens, que figura entre suas 11 peças com os demais componentes, surgindo assim
conhecidas até hoje, que são: Os Acarnia- o PROTAGONISTA. Téspis (séc.V a.C.) é o
nos, Os Cavaleiros, A s A ves, Lisístrata, A s primeiro ator a quem tal denominação é atri­
Tesmoforiantes, A Paz, A s Rãs, A s Vespas, buída. É dele tam bém a introdução do cos­
Assem bléia das M ulheres e Pluto. tum e de mascarar os atores, a fim de dissi­
mular seus rostos e enfatizar a personalidade
Menandro - (342 a 292 a.C.): A té 1 9 5 7 , 5 do personagem representado.
peças incom pletas eram conhecidas. Nes­
se ano, no Egito, foi descoberto o prim eiro Posteriorm ente, Ésquilo introduziu um
te x to com pleto, Curm udgeon. Tinha uma segundo ator, passando o diálogo a acon­
tecer entre dois atores e não apenas entre satírico feria violentam ente as autoridades.
um ator e o coro, tornando mais dinâmica A proxim ando-se do caricatural, o gênero
a encenação e a interação com o público. visava à correção pela deform ação e pelo
ridículo, com um objetivo claro: o riso.
Finalm ente, S ófocles in trodu ziu um
terceiro ator. No entanto, mesmo com três De acordo com Aristóteles, a comédia
atores havia mais de trê s papéis, a u xilia ­ deriva-se dos Komos, grupos em festas ou
dos pelo recurso das máscaras. procissões cheias de im provisos, em que
se o ste nta va um enorm e fa lo ereto, que
A tragédia estrutura-se a partir de um significava a fertilidade masculina.
erro de ju lg a m e n to , que leva os persona­
gens da fo rtu n a ao in fo rtú n io e, embora Incorporada às Dionisíacas Urbanas, a
sem culpa, há o ju lg a m e n to . Esquem ati- com édia do Teatro Grego era dividida em
zando, tem -se: três tipos:

Caráter do herói: Comédia Antiga (580 a.C. a 450 a.C.): caracte­


o que com ete a falta grave riza-se pela sátira política e ataques pessoais
Hamartía: violentos. O coro era composto por 24 figu­
falha trágica (julgamento) ras; seu maior expoente foi Aristófanes.
Peripécia:
passagem da fortun a para o info rtún io Comédia Média (400 a.C. a 300 a.C.): fase de
Anagnorisis: transição na qual o coro desaparece e em que
tom ada de consciência do erro é enfraquecida a sátira da comédia do perío­
Catástrofe: do anterior. A temática evolui de mitológica
punição para social, adotando a crítica de costumes.

Drama Satírico Comédia Nova ou Néa (330 a.C.): Desaparece


completamente o coro. A temática se volta
O dra m a s a tíric o é um a v a ria ç ã o para a vida privada; questões ligadas a casais
da tra g é d ia , com a c a ra c te rís tic a de ser enamorados são abordadas frequentemente.
m ais c u rto . O rig in a lm e n te é m ais a n tig o Fixa-se, portanto, nos tipos e costumes, Me-
que a própria tra g é d ia , sem , no e n ta n to , nandro revela-se como principal autor. Toda
d ife re n c ia r-s e m u ito de la. A m b o s tê m essa radical transformação deu-se pela falta
em c o m u m a te m á tic a d o s m ito s e de liberdade política da qual Atenas não mais
h e ró is, porém a esse gênero som a-se o dispunha, após ser vencida por Esparta.
a sp e cto de p a ród ia, em que he róis são
rid ic u la riz a d o s , a exe m plo da com édia. Espetáculo Grego
Elementos expressivos do espetáculo grego
A Tetralogia que era apresentada nos
festivais era com posta pelo drama satírico Os elem entos que com põem o espe­
e três tragédias. O drama tinh a a função tá cu lo grego nasceram do ditira m bo e se
de desfazer a im pressão de triste za cau­ a d aptara m à e v o lu ç ã o do te a tro . Seus
sada pelas tragédias. com ponentes eram:

Comédia O teatro

Aproxim adam ente 50 anos após a tra ­ O espetáculo grego, com o no c u lto
gédia, surgiu a comédia. Essa demora ocor­ agrário, era ao ar livre, sob a luz do dia.
reu por questões políticas, pois seu te o r Compreendia-se em três partes:
Orquestra: local do coro e da personagem, O ator
circular, de terra batida, onde ficava o tí-
mele, altar para Dioniso. V alorizava mais o te x to falado que a
m ovim entação, a qual era dificu ltada pelo
Teatro: loca l do e sp e c ta d o r; a rq u ib a n ­ uso das máscaras, coturnos etc.
cadas em s e m ic írc u lo s , na e n co sta de
um a c o lin a , a p rin c íp io , de m adeira, de­ S a b e -se qu e a to re s trá g ic o s não
pois de pedra, havia lugares de honra representavam peças côm ica s, Eram res­
para a u to rid a d e s. p e ita d o s e bem pagos pelo rei. Sabe-se
tam bém que os cô m ico s não re p re se n ta ­
Skené: uma espécie de camarim, era onde se vam tragédias.
dava a troca de máscaras e indumentárias.
A p a rtir dos c o n c u rs o s , a fig u ra do
Cenário poeta separa-se da do ato r, o qual passa
pelo processo de individualism o. Por volta
A n te s de e x is tir o c a n á rio , o que de 4 4 9 a.C.
h a v ia era um a lta r para D io n is o , que
evolui p o ste rio rm e n te com o su rg im e n to Indumentária
de a rtis ta s e sp e cia liza d o s nessa a rte . É
c o n v e n cio n a d o e fís ic o : te m p lo , palácio, Trágica: ostentava luxo e a sua cor deter­
te n d a de um ch e fe e paisagem m arinha m inava a classe social do personagem.
e rú s tic a . D ife rin d o -s e do c ô m ic o , que
re p re s e n ta v a h a b ita ç õ e s p a rtic u la re s ; Cômica: causava a impressão de nudez,
e x e m p lo se g uido pela co m édia nova ou pois eram malhas coladas no corpo e da
Néa. cor da pele. Tam bém se usava a túnica
curta que, para enfatizar o ridículo deixava
Maquinismos aparecer nádegas e falos falsos.

M ecanism os facilitadores para cenas Coturnos: sapatos altíssim os, m edindo de


difíceis e com efeitos. 6 cm a 11 cm (na época helenística), eram
usados pelos atores trágicos. Nota-se que,
a) Equidema: recursos para cenas violentas, do alto das arquibancadas, os atores pare­
substituído posteriorm ente pelo m ensagei­ ciam m uito pequenos, por isso o uso dos
ro ou pela narração do próprio assassino. coturnos lhes era m uito conveniente, pois
os elevava.
b) Mekhané: dragão, cavalos alados, m ons­
tro s; era uma espécie de guindaste para Krepis: sandálias presas aos pés por cor­
erguer os atores. reias entrelaçadas.

c) Theologuêion: tribuna aérea na parte su­ Máscaras: Feitas de gesso ou barro pasto-
perior do cenário. so podiam ser:
d) Anapiema: ergue personagens que sur­
gem de abism os, infernos, etc. a) Trágica: ten ta exprim ir a situação de dor
e dificuldade representada pelas persona­
e) Brontáion: re cu rso de s o n o p la s tia que gens. Só depois é que passa a assum ir t i ­
c o n s is tia no uso de um a bacia de b ro n ­ pos: rainha, rei, etc.
ze onde a tira v a m pedras, fe rro s para
re p ro d u zir o som do a p a re c im e n to dos b) Cômica: enfatiza o ridículo de suas perso­
deuses. nagens. Algum as vezes eram monstruosas.
mm
INÜrf

Tipos de Palco

Arena: Espaço te a tra l que pode ser c o b e rto ou não, com o espaço de encenação a b a i­
xo da p la té ia . Podendo ser c irc u la r, 3 /4 de c írc u lo , s e m ic irc u la r, qu a d ra d o , tria n g u la r
ou o va lado .

Circular 3 /4 de círculo Semicircular

Quadrado Ovalado

Elisabetano: Espaço te a tra l m is to que fu n c io n a em local fe c h a d o e te m fo rm a re ta n g u ­


lar com d e sta q u e para o p ro scê n io , o p ú b lic o fic a d is p o s to na fre n te e dos lados.

Retangular Circular
Italiano: Espaço te a tra l re ta n g u la r fe c h a d o em seus trê s lados e o q u a rto lado fic a n d o
de fre n te para o p ú b lico .

Retangular Semicircular Misto

Mise-en-scène

A representação em si, o momento pon­


tual em que o ator representa. Observa-se, no
entanto, que a arte ainda não tinha se separado
do mito, tornando assim o teatro um espetá­
culo religioso e político para um público diverso:
o povo, a Igreja, enfim, toda a sociedade.

Os gregos e sua musicalidade


Lira e Flauta
Como em todos os com ponentes artís­
ticos, a Grécia contribuiu de form a decisiva
na música como influência para o Ocidente.
A palavra "m ú s ic a " é de origem grega e
sig n ifica a "a rte das m usas". A brangia a
poesia e a dança, que naquele período eram
praticam ente uma só m anifestação.

Não havia ainda notação e/ou ico n o ­


grafia musicais sistem atizadas e porm eno­
rizadas - criadas som ente no século X V.
Existiam , en tre ta n to , as Neumas, que são Utilização do auloi (pífano duplo)
sinais de notação m usical (agudos e gra­
ves) usados até a Idade Média. Elas repre­ O ator em seu estrelato
sentavam tipos específicos de m ovim entos
m elódicos e de execução e estavam asso­ É marcante a participação do ator grego
ciadas à música vocal. na evolução da interpretação e do desenvol­
vimento do teatro no Ocidente. A construção
Os instrum entos serviam com o mera arquitetônica evolui a partir das experimenta­
base para essas m e lo d ia s, a ju d a n d o a ções cênicas de atores e dramaturgos. 0 tea­
com por obras vocais, pois não tinham fu n ­ tro adquiriu im portante função social, tanto
cionalidade sig n ifica tiva nas com posições como entretenim ento quanto como veículo
desse período. de informação e crítica de sua época.
Os gregos valorizavam m uito os espe­ fam oso deles era o Coliseu, construído por
táculos teatrais, que eram patrocinados pelo ordem dos imperadores Vespasiano e Tito
Estado. As peças duravam o dia inteiro e no século I a.C. Ornam entado com arcos,
os espectadores levavam comidas e bebidas, colunas e esculturas, abrigava até 4 7 .0 0 0
trasform ando o evento em uma grande cele­ espectadores. Suas arquibancadas desenvol­
bração comunitária. Os atores eram respeita­ vem-se em três pavimentos e são sustenta­
dos e adulados com presentes e louvores. das por uma série de abóbadas, cujos arcos
permitem a ventilação.
Arte romana

A arte romana foi m uito influenciada


pela grega (ideal de beleza e elitizada) e a
etrusca (realista e popular). Sua produção
era muito politizada e voltada para os feitos
militares e políticos. Sua tem ática apresen­
tava um forte caráter de registro histórico.

O senso de realismo fez com que os


romanos investissem em construções mais
racionais, voltadas para a funcionalidade.
Coliseu, 49 metros de altura, construído em mármore, ladrilho,
Arquitetura tufo e pedra travertina. Roma, Itália

Aqueduto romano, séc. I a.C., Nimes, França

Usavam o arco, a abóbada, as colunas,


frisos em baixos-relevos narrativos; criaram
uma forma de coletar água da chuva através
do implúvio (aqueduto). As construções exi­
biam grandeza material, força, energia e cará­ Arco de Trajano, 117 d.C., 15,6 x 8,6 m,
ter. A arquitetura era também instrumento de pedra calcária revestida em mármore, Roma, Itália
demarcação da dominação romana.
Os romanos tam bém usavam colunas
As termas, centro social dos romanos, e arcos triu n fa is para hom enagear seus
eram constituídas de ginásio, piscina, pór­ heróis. S erviam com o d e m o n stra çã o de
ticos e jardins. M uito ligados a divertim en­ poder e prestígio perante a população. A
tos, os romanos gostavam de teatros, cir­ a rq u ite tu ra estava in tim a m e n te ligada à
cos, corridas de cavalos, espetáculos com propaganda política.
animais e gladiadores.
Pintura
A concepção arquitetônica romana de
teatro é diferente da grega, que preferia o A pintura mural recorreu ao efeito da
modelo circular em forma de arena. O mais tridim ensionalidade e ao uso de cores bas­
ta n te saturadas. Os afrescos da cidade de do ro s to m o stra a in flu ê n c ia e tru s c a na
Pom peia (soterrada pelo vulcã o V e sú vio escultura romana.
em I a.C.) são representativos deste perí­
odo. Cenas do cotidiano, figuras m ito ló g i­ A pose e o semblante dos personagens
cas, religiosas e conquistas m ilitares foram denotam a autoridade dos retratados como
tem as das pinturas romanas. podemos observar nas imagens a seguir.

A presenta um tra ta m e n to de p ro fu n ­
didade m u ito exp re ssivo e valo rizava os
am bientes, arrem atados por belos m osai­
cos no chão.

Retrato do Imperador romano Antonino Pio. Esculpido em


mármore 140 d.C. Museu do Prado (Madrid, Espanha)

Afresco romano que representa a cidade portuária de Estábias,


destruída com Herculano e Pompéia, por uma erupção do
Vesúvio no ano 79. (Museu Nacional, Nápoles)

Escultura

A escu ltura rom ana está ligada dire­


tam ente à cultura grega, embora adaptada
à estrutura político-social da Roma A ntiga.
As classes dom inantes utilizavam a escul­
tu ra com o m a n ife sta çã o da sua elevada
posição social e política com caráter pro-
p a g a n d ístico . Baseava-se em dois m a te ­
riais: o m árm ore e o bronze. Representou
b u s to s de pe rso n a g e n s im p o rta n te s da
época. Ao longo do te m p o , essa te n d ê n ­
cia evo luiu para m odelos de m eio corpo, Imperador Augusto, mármore, aproximadamente

já no século II. A acentuação dos detalhes 15 d.C. 2,08 m. Museu do Vaticano


Lupa Capitolina, Bronze, 75 cm, Musei Capitolini, Roma, Itália

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Alto-relevo do sarcófago Ludovisi representando uma batalha entre romanos e germanos. Museu Nacional Romano, Roma, Itália
A Idade M édia te v e in íc io com a
desintegração do Império Romano do Oci­
dente, em 4 7 6 , e term inou com o fim do
Império Romano do Oriente, com a Queda
de C onstantinopla, em 1453.

Com as invasões bárbaras e a crise do


sistema escravista antigo, a estrutura estatal
e cultural romana dá lugar a novas relações
éticas, morais, políticas e estéticas. No Oci­
dente, os reinos bárbaros apresentavam fra­
gilidade do poder central face à descentrali­
zação política característica da organização
feudal. A grande instituição era a Igreja, que
unia os poderes temporal e espiritual.

No Oriente, a parte que perdurou do


Império Romano, com capital em Constanti­
nopla (Bizâncio), mantinha um Estado centra­
lizado e vigorosa vida comercial e urbana.

De um modo geral, a arte medieval se


desenvolve em torno da tem ática religiosa e
em ambas as regiões é o marco das mani­
festações artísticas.

Arte bizantina

A união de alguns elementos dessa cul­


tura form ou um estilo novo, rico ta n to na
técnica como na cor. A arte se desenvolveu
dentro de uma perspectiva religiosa, onde os
artistas eram meros executores de projetos
da Igreja Católica Ortodoxa e do Estado. O
imperador era representado com uma auréola
na cabeça, o que o distinguia dos demais. A
ele eram atribuídos poderes tan to clericais
quanto estatais (cesaropapismo), caracterís­
tica dos monarcas bizantinos.

O mosaico, técnica que consiste na jus­


taposição de peças para formar imagens, era Cristo, detalhe de um mosaico da Igreja de Santa Sofia.

muito utilizado pelos bizantinos para enfeitar Constantinopla, séc. XIII

paredes e abóbadas.
Na arte mosaica, as pessoas são repre­ A arte bizantina atin g iu seu apogeu
sentadas de frente e verticalizadas, para criar no século VI, durante o reinado do Im pe­
certa espiritualidade; a perspectiva e o volume rador Justin iano . Porém, logo sucedeu-se
são ignorados. O dourado é demasiadamente um período de crise cham ado de "ic o n o -
utilizado, devido à associação com o poderio clastia", pautado na destruição de qualquer
comercial e financeiro do Império Bizantino. imagem santa, devido ao c o n flito entre os
im peradores e o clero.
A arquitetura é influenciada por valores
romanos: arco cilíndrico, abóbada e diversas A arte românica A

janelas e portas que permitiam intensa ilumi­


nação natural. As igrejas, maior expressão Desenvolvida na Idade Média ociden­
do período, eram planejadas sobre uma base ta l, entre os séculos XI e XII, tornou-se a
circular, octogonal ou quadrada. Os bizanti­ expressão artística dos tem pos dos cruza­
nos criaram imensas cúpulas, possibilitando dos, das lutas dos m ouros contra os cris­
construções espaçosas. A Igreja de Santa tãos e da proliferação das ordens religiosas.
Sofia foi um dos maiores triunfos da técnica A arte rom ânica apresentava divergências
arquitetônica bizantina. Possui uma cúpula de estéticas, em um co n texto geral, pois con­
55 m, apoiada em quatro arcos plenos. Extre­ servava a te m á tic a religiosa do período
mamente elevada, sugere, por associação à m edieval, ao mesmo tem po em que valori­
abóbada celeste, sentim entos de universali­ zava os feitos militares em belos mosaicos.
dade e poder absoluto. Apresenta pinturas
nas paredes, colunas com capitéis decorados A arquitetura da época foi fundamental­
com mosaicos e o chão de mármore polido. mente religiosa, pois somente a Igreja Católi­
ca Romana e suas ordens religiosas possuíam
fundos suficientes para promover e resguar­
dar as produções artísticas e culturais. In­
vestiram na construção de igrejas, capelas
e mosteiros, que foram conhecidos como
"Fortalezas de Deus", devido ao seu aspecto
austero e gigantesco. Suas paredes eram bai­
xas, muito grossas, com poucas perfurações
e janelas e, por isso, a ambientação interna
era sombria, escura, fria e abafada.

Basílica de São Marcos, Praça de São Marcos, Veneza, Itália,


construída no ano de 828 d.C.

Igreja de Santa Sofia, 532 a 537 d.C. projetada po Antêmio


de Tales e Isidoro de Mileto, Istambul, Turquia Mosteiro de Tibães, Braga, Portugal, séc. XI
bíblicos. A lém disso, os m osaicos, que,
ao c o n trá rio das dem ais artes, apresen­
ta va m uma te m á tic a pagã e eram ela bo­
rados a p a rtir de m ateria is m enos nobres
do que o b iza n tin o .

A Igreja da Misericórdia de Braga, 1560-1562, Braga, Portugal

Maria Madalena anuncia a ressurreição de Jesus aos


Apóstolos, iluminura do saltério de São Albano

A escultura românica serviu exclusivamente


à Igreja, sendo utilizada, juntam ente com a
pintura, para decorá-las e transm itir os seus
ensinamentos aos fiéis, numa época em que
a grande maioria da população era analfabe­
ta e catequizada através do apelo visual.

Cristo Pantocrator, afresco da abside da Igreja de


São Clemente, Barcelona, Espanha

A p in tu ra rom ânica não fo i de grande ex­


pressividad e. C o n s titu iu -s e , ba sicam e n­
te de p in tu ra s m urais de pouca re p e rcu s­
são que obedecia, sem pre, a p ro p ó sito s
re lig iosos. H avia, ta m b é m , as ilu m in u ­
ras que eram p in tu ra s de pequenas e x ­ O juízo final, Tímpano do portal da Catedral de Saint Lazare,
te n sõe s e que visavam decorar te x to s sec. V, Autun, França
~3*'
lrt\ , bimSF

Jesus e Maria, Mosaico Bizantino, Igreja de Santa Sofia, Constantinopla, Século XIII
A arte gótica

Surgiu no séc. XII durante a Baixa Idade


Média, e ao longo de quatro séculos flores­
ceu nos mais diversos países europeus. Inú­
meras catedrais foram erguidas nesse estilo
e até hoje causam admiração pela beleza,
elegância, delicadeza e engenharia perfeita.
Suas principais características são:

1- Na arquitetura: ao contrário da igreja ro-


mânica, solidamente plantada na terra, a ca­
tedral gótica é um monumento em direção
ao céu. Tanto no exterior como no interior,
todas as linhas da construção apontam para
o alto. Essa atração para cima é acentuada
pelo uso de arcos pontiagudos (arcos ogi-
vais), substituindo os arcos plenos do estilo
românico. As abóbadas são mais leves que
as do românico. Além disso, parte do seu
peso é distribuída externamente, por meio
de arcobotantes, apoiados em contrafortes. Detalhe de gárgula da Catedral de Notre-Dame, Paris, França

As paredes, devido a esse recurso de cons­


trução, são muito altas e cortadas por jane­ As alturas vertiginosas ressaltam a ideia
las com belos vitrais. da pequenez do homem diante da grandeza
de Deus. As fachadas são quase sempre
enquadradas por torres laterais m uito altas,
rodeadas por gárgulas (esculturas de seres
m onstruosos criados para afugentar maus
espíritos) e arrematadas por flechas agudas.
A tendência para o alto é reforçada por várias
torrezinhas (pináculos). Os pórticos, colunas,
frisos e tímpanos são rebuscados e recebem
painéis narrativos em baixos-relevos.

2- Na pintura: no estilo gótico, a pintura ga­


nha características diferentes. Por se tratar
do final do período medieval, apresenta um
tratam ento mais natural que nas versões an­
teriores. É rica também na diversidade de
Fachada da Catedral de Notre-Dame, Paris, França suportes usados: vitrais, painéis em madei­
ra, afrescos, papel e pele. Os vitrais são os
O exemplo mais notório é a Catedral responsáveis por uma luminosidade muito
de Notre-Dame, situada na Praça Parvis, em especial na parte interna das igrejas. O uso
Paris, rodeada pelas águas do rio Sena. É predominante de cores vermelhas e azuis
uma das mais antigas catedrais francesas em resultam em uma luz lilás, apropriada para
estilo gótico. Sua construção foi iniciada no oração e reflexão. Os temas passam pela
ano de 1163, dedicada à Virgem Maria, daí o religião e estão também relacionados à na­
nome Notre-Dame (Nossa Senhora). tureza: folhas, flores e animais.
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Catedral de Notre-Dame, 1163-1345, dedicada a Maria, mãe de Jesus Cristo, Praça Parvis, às margens do Rio Sena, Paris
Morte e Crucificação de Cristo, afresco,
Giotto, Capela de Arena, Pádua, 1307

A obra acima é um dos afrescos mais


bonitos do artista, tem como tema principal
a m orte de Jesus Cristo. A mãe o abraça
Vitral da Rosácea, 13m de diâmetro, Catedral de Notre-Dame, Paris com grande emoção numa expressão explíci­
tam ente trágica, enquanto Maria Madalena
A s pranchas em m adeira receberam segura, humildem ente, seus pés. Todos os
tra ta m e n to s mais n a tura listas e uma v e r­ presentes, Maria e apóstolos, se rendem ao
são mais realista. A s cores são vividas e sofrimento. A cena comovente é cortada por
bem saturadas. As formas apresentam m ovi­ uma linha na diagonal que divide a história
m entos naturais e um discreto tratam ento em dois planos distintos: O plano terreno e
de profundidade. Nesse período os artistas o espiritual.
já não são visto s com o meros artesãos e
com eçam a assinar suas obras. Buscavam
resgatar o com prom isso com a realidade
na representação dos corpos humanos que
representavam as divindades. Os corpos não
eram m uito volum osos, repletos de roupas,
com um olhar direcionado para o céu em
alusão à adoração divina.

A presentam -se com o precursores do


R enascim ento. Os artistas mais im p o rta n ­
tes foram :

Giotto: A representação humanizada


de santos e personagens bíblicos com cores
fortes e formas chapadas, constituem em
suas principais características. Seu trabalho
vem ao encontro de uma visão humanista do
mundo, que vai cada vez mais se firmando Giotto, O beijo de Judas, 1305-1306,
até ganhar plenitude no Renascimento. 200 X 185 cm, Capella degli Scrovegni, Pádua
O Beijo de Judas é um afresco de gene­ m a to de c e rv o b ra n co , o em blem a pe s­
rosas proporções e é também uma das obras soal do re i. A s fo rm a s ch a p a d a s e as
que compõem o cenário da Capela de Pádua. cores c e le s tia is aum entam a solenidade
Toda a agitação criada pelas linhas na dia­ da cena.
gonal e cores bem saturadas descreve o
momento em que Judas, discípulo de Cristo,
toma-o e o beija, mascarando a hipocrisia e
a traição. Traído e traidor estão no centro
da imagem, e é em torno deles que toda a
cena se desenrola. As tochas e as lanças
reforçam o caráter agressivo da obra.

A ob ra à d ire ita é a n ô n im a e fo i
c o n stru íd a em um painel de duas partes,
daí o nom e d íp tic o . M o s tra R ica rd o II
ajoelhado d ia n te da V irgem e o m enino.
O rei, a co m pa nha do por s a n to s, presta
reverências à im agem de Nossa Senhora
e o M e n in o Je su s. Os anjos que a c o m ­ Díptico de Wilton, 1395, 45,7 cm x 29,2 cm.
panham a cena usam um a jó ia em f o r ­ Galeria Nacional de Londres, Reino Unido

Jan Van Eyck, O casamento dos Arnotfini, 1434, 82 x 60 cm, Galeria Nacional de Londres

Van Eyck (1 3 9 5 -1 4 4 1 ) foi um grande Em seus tra b a lh o s p riv ile g ia v a os


artista da época. A prim orou a tin ta a óleo aspectos da vida urbana e da sociedade
e criou um tip o de verniz que prom o via de sua época. N ota-se em suas pinturas
sua secagem de maneira uniform e. um cuidado com a perspectiva e a repre­
sentação da luz. As form as não são veros­
símeis, pois o volum e e as proporções não
são naturais.

Signos e símbolos podem ser observa­


dos, principalm ente na cena do Casamento
dos Arnolfini'. o cão, símbolo da fidelidade,
os tam ancos e a noiva descalça, símbolos
de intim id ade . O espelho convexo repre­
senta a cena de outro ângulo, pelos olhos
do espectador. Em sua moldura entalhada
foi incrustada uma série de medalhões que
reproduzem cenas da vida de Cristo.

As iluminuras são imagens feitas com o


objetivo de decorar textos bíblicos e profanos.
Podem ser figurativas ou abstratas. As cores
são intensas e muito expressivas. Advindas
da técnica dos vitrais, são elaboradas em Psautier de Saint Louis. Hospitalidade de Abraham,

pergaminhos e diferem-se destes pelo fato Iluminura do ano de 1256, Paris, Biblioteca Nacional

de serem mais opacas. No período gótico as


formas ganhavam um caráter de arabescos, 3- Na escultura: A escultura gótica, em geral,
que são adornos oriundos da cultura árabe, e está integrada na arquitetura. Aos poucos
representavam folhas, flores e animais. ela foi se libertando das rígidas formas româ-
nicas e adquirindo maior expressão, primeira­
mente no rosto e depois nos movimentos.

A lém dessa varia ção no te m p o , há


grande d ife re n c ia ç ã o de um lu g a r para
o u tro . Na fase fin a l da Idade M édia as
figuras já apresentavam uma grande n a tu ­
ralidade, prenúncio renascentista.

Mas, no decorrer do processo, as formas


ainda obedecem à deformação visual: corpos
esguios, com pouco volume e movimento.

Baixos-relevos entalhados nas ombreiras (laterais) do portal,

Cristo e os Evangelistas, Iluminura de 1 220 Catedral de Estrasburgo, 1439, Leste da França


Com o passar do te m p o , o U t fo i
s u b s titu íd o pelo Dó, em d e c o rrê n c ia de
sua característica pouco sonora, principal­
mente na sua articulação vocal, pois a boca
ficava m uito fechada no m om ento em que
era entoada.

A m ú s ic a e o te a tro n a Id a d e M é d ia

Assim com o a maioria das prim eiras


Tímpano do pórtico da Catedral de Paris, séc. XIII m a n ife s ta ç õ e s a rtís tic a s , a m úsica e o
te a tro na Idade Média tiveram um grande
4 - Na música e teatro: Surge com o per­ crescim ento no aspecto técnico e artístico.
sonagem decisivo o padre italiano Guido Desde a co n stru çã o do personagem até
d'A rezzo (9 5 5 -1 0 5 0 ), que a partir do Hino a m ontagem do cenário, o te a tro desen­
a São João organiza a grafia musical: cada volveu sua base, que m antém várias das
frase do hino iniciava com um tom acima características até os dias atuais.
e ele identificou os sons com as sílabas
correspondentes. A m úsica da Idade M édia tem seu
d e s e n v o lv im e n to v o lta d o para a im p le ­
U t queant ia xis mentação de novos instrum entos de corda,
Ressonare fibris sopro e percussão. Esse período deixa claro
M ira gesto rum uma rápida evolução em seus parâm etros
Fam uii tuorum té c n ic o s , em bora o hom em ainda tenha
S olvi p o iiu ti m uito o que criar. Nos próxim os séculos a
Labii reatum tendência dessa arte é crescer.
Sancte iohannes (Si)
A inda sobre o te a tro , podem os des­
ta c a r o ca rá te r sacro, pois sem pre re tra ­
tava em suas encenações os m istérios e
m ilagres tira d o s da Bíblia e da vida dos
santos, com o O Filho Pródigo e A Paixão
de Cristo.

Os espetáculos sempre aconteciam nas


igrejas com a participação da música, sendo
que tanto na Idade Média como na antiga
Grécia havia já um melodrama. Embora não
exista registro, imagina-se que o teatro tinha
em suas representações musicais m otivos
populares com estrofes poéticas.

A Ig re ja e a fé na m ú s ic a

A Igreja dá início a um tra b a lh o de


c a te q u iz a ç ã o usa ndo a m ú sica para a
Hino a São João, pertencente à liturgia da Igreja Católica e es­ c o n s c ie n tiz a ç ã o re lig io s a , c o n ta n d o as
colhido por Guido D'Arezzo para denominar as notas musicais. h is tó ria s dos s a n to s , seus a to s e m ila ­
Utilizou a primeira sílaba de cada verso gres, exibindo-as em períodos fe s tiv o s e
v o tiv o s , dando o rig e m ta m b é m ao que Hieronymus Bosch (1450-1516)
cham am os de anonim ato na m úsica, pois
o cria d o r não assina suas obras. H ieronym us ou Jeroen A n th o n isse n
van A k e n - H ie ro n y m u s B osch - n a s ­
O teatro e a música na Igreja ceu na Holanda. Seu pai e seu avô eram
p in to re s , daí sua in c lin a ç ã o para a arte.
A Igreja, desde o seu surgim ento, usa Representou tem as religiosos e populares
as artes em to d o o seu sentido para m os­ usando uma m aneira d ife re n te , com um
trar e preservar a fé do povo. A Paixão de estranho sim bo lism o, o que m u ito atraía
C risto é o e sp e tá cu lo te a tra l m ais en ce­ os observadores. Sua produção re trata a
nado no m undo, e até os dias de hoje é vulnerabilidade do hom em diante das te n ­
representado de maneira sem elhante à da ta çõ e s terren as. O período de sua re p ro ­
Idade Média. dução artística marca a tra nsição da arte
m edieval para a re nasce ntista , do pensa­
A conexão que a Igreja faz entre em o­ m ento religioso para o m undano. Pesqui­
ções e razão perm ite que as peças teatrais sas c ie n tífic a s a g uçava m a c u rio s id a d e
ten ha m um sucesso m u ito grande, a tin ­ in te le c tu a l. Pouco a p o u co , as pessoas
gindo seu objetivo m aior, que é aum entar fo ra m se to rn a n d o c é tic a s em relação à
a fé da sociedade da época. religiosidade form al.

A m ú s ic a , ao c o n trá rio do te a tro , Essas m u d a n ç a s de p e n s a m e n to


cresce de form a mais organizada e consis­ fo ra m essenciais para a criação de uma
te n te , com o pa trocínio da Igreja. O rgani­ obra instigadora e curiosam ente atraente.
zou-se a partir do canto gregoriano, cum i-
nando, nos dias de hoje, com o gospel. O Vejam os o exem plo da obra O Jardim
vocal e o instrum ental são desenvolvidos e das Delícias (à direita). Esse tríp tic o (obra
organizados, deixando um grande legado de d iv id id a em trê s partes) de grandes p ro ­
com posições e com positores. porções representa os pecados c a p ita is .
As fo rm a s idealizadas com cores a le a tó ­
E nfim , sem pre haverá por parte da rias e a rb itrá ria s enchem de curio sidad e
Igreja a intenção de usar a música e o te a ­ quem as observa.
tro com o form a de socialização.
A prim eira parte é o Éden, a segunda
Trovadores e saltimbancos O Jardim da Luxúria e a terceira O Fogo do
In fern o. Em relação ao pecado, represen­
Na vida secular verifica-se a presença tado em cada retábulo, as cores tornam -se
de tro v a d o re s , m ú sico s que an im ava m som brias e as figuras tom am proporções
fe sta s e reuniões e preservavam letras e e stranh as a cam in ho do in fe rn o , c o n d u ­
m elodias do ca n cione iro popular. Os sal­ zidas por um dem ônio sem pre disponível.
tim b a n co s eram artistas te a tra is que iam O pecado que vem associado ao sexo é
de localidade em localidade apresentando retratado por estranhos m orangos, já que
suas peças, que geralm ente utilizava m a no período medieval o ato de colher fru tas
tem ática dos costum es e moral. significa fazer sexo.

Os a rtis ta s po p u la re s gozavam de O prim eiro quadro retrata o princípio


p re s tíg io em suas co m u n id a d e s e, m u i­ de tu d o , a c ria çã o do m u ndo . 0 painel
tas vezes, eram cham ados aos castelos e central, da luxúria, relata os prazeres efê­
casas abastadas para o entretenim ento em meros na terra. No te rce iro quadrante da
dias festivo s. te rce ira parte podem os n o ta r uma estra-
nha fig u ra que engole um personagem e É uma verdadeira viagem onírica que
depois o defeca numa fossa nojenta. A n i­ causa espanto, estranheza e encantamento.
mais estranhos, parecidos com anfíbios e Esse tríptico, quando fechado apresenta a ins­
répteis devoram pessoas. crição "Ele mesmo mandou e tudo foi criado".

Hieronymus Bosch, O Jardim das Delícias, 1505. Tríptico. Óleo sobre madeira, 220 x 389 cm, Museu do Prado, Madri

Bosch consegue transform ar o bizarro tações com o sofrerá Cristo no período de


em obra de arte. Profetiza e questiona. Pro­ jejum , nos seus quarenta dias no deserto.
põe uma farta discussão sobre ética, moral,
estética e religião. Nesse tríp tic o podem os observar as
te n ta çõ e s m undanas envolvendo o santo
que m ostra-se con victo de sua fé. Retrata
um mundo corrupto, grotesco e pu trefato.

Sua m a is s u rp re e n d e n te o b ra , A
T e n ta ç ã o de S a n to A n tã o , re tra ta um
m u n d o c o rru p to , g ro te s c o e p u tre fa to .
A in d a a s s im , to d a a d e c a d ê n c ia m o s ­
tra d a é inca paz de a b a te r o s a n to , c o n ­
v ic to de sua fé. A variedade de m o nstro s
e diabos num a re fe rê n cia aos devaneios
Hieronymus Bosch, A tentação de Santo Antão, 1500, que a flig e m a alm a do s a n to e, nu m a
Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa abordagem m ais am pla, a alm a hum ana
de m odo geral.
A obra acima descreve as tentações
v ivid a s por S anto A n tã o , que nasceu no Em vez de im o rta liz a r o belo com
Egito em 25 1, vivendo grande parte da sua su a s p in c e la d a s , B o sch tra n s fo rm a o
vida no deserto, aonde sofreu terríveis te n ­ bizarro em arte.

65
Depois da forte presença teocêntrica e a ser conhecida com o o berço do Renas­
teórica medieval, o pensamento assume pers­ c im e n to . Os a s p e c to s p rin c ip a is desse
pectivas de caráter humanista e racional. A período eram:
interferência da Igreja em questões sociais e
formais é considerada nociva ao desenvolvi­ a) o racionalism o e o abandono do mundo
mento e ao progresso da sociedade, conhe­ sobren atu ral;
cimento e filosofia. Defende-se, portanto, a
existência de verdades consolidadas pela pes­ b) o a n tro p o c e n tris m o : o hom em é o cen­
quisa e conhecimento empírico. tro de tu d o ;

O homem volta a ser o foco principal c) o universalismo, caracterizado pela desco­


e to d a s as m a n ife s ta ç õ e s c u ltu ra is são berta do mundo;
nortea da s pelo c o n h e c im e n to . O c re s c i­
m ento m e rca n til e a vida urbana p ro m o ­ d) o n a tu ra lis m o , acentu and o o papel da
vem a p o s s ib ilid a d e de um a p ro d u çã o natureza no seu â m b ito ra cio na l;
artística em larga escala, patrocinada pela
riqueza que circula pela Europa Ocidental e) o in d ivid u a lism o , valorizando o ta le n to
nessa época. e o c o n h e cim e n to s u b je tiv o .

Renascimento As obras re n a s c e n tis ta s são c a ra c ­


te riz a d a s pelo n a tu ra lis m o e re tra ta m o
Foi um período de grande evolução dinam ism o com ercial do período. Os e s ti­
artística, científica e cultural. Surgiu na Itá­ los d e senvo lvidos levaram a uma divisão
lia, difu n d in d o -se por tod a a Europa O ci­ da Renascença em trê s fases:
d e nta l.T ra nscorreu entre os séculos XIV
e XVI e tinh a com o o b je tivo básico uma 1- Trecento: destaque para a pintura de
crítica aos valores te o cê n trico s e m íticos G iotto (1 2 7 6 -1 3 3 6 ), oriundo do estilo gó­
m edievais. E xcessivam ente a n tro p o cê n - tico , que marca as prim eiras característi­
tric o , propunha um retorno aos princípios cas renascentistas, influenciando s ig n ifi­
da c u ltu ra greco-rom ana. V aloriza va os cativam ente os demais pintores;
conhecim entos da natureza, primando pela
racionalidade e naturalism o. O m ecenato 2- Quatrocento: período de atuação da fam í­
era uma prática que consistia em financiar lia dos Médicis, que são ricos comerciantes
os artistas e intelectuais. Era exercido por (criaram uma academia para estudos filosó­
burgueses, ricos com erciantes e membros ficos) e financiadores de artistas. Lourenço
da Igreja, que desejavam exibir o poderio de Médici foi o grande mecenas da época.
das cidades e am pliar o prestígio pessoal. Destaque para Botticelli (1444-1510) e Leo­
nardo da Vinci (1452-1 519).
Foi na península itá lica que houve o
m aior d e se n vo lvim e n to com ercial e, po r­ 3- C inqu ece nto: o grande m ecenas do
ta n to , a m aior qu antidade de produções período fo i o Papa Jú lio II, que p re te n ­
a rtís tic a s da época. V eneza, Florença e dia re fo rça r a grandiosidade e o poder
Gênova concentraram o m aior núm ero de da Igreja e de Roma. Iniciou as obras
a rtis ta s. Por esse m o tivo a Itália passou da nova Basílica de São Pedro. O au tor



66
W M .tm m m M s f w o - y '.- . . . . - .tM
do projeto fo i Bram ante e a pin tura em tempo é empregado na arte. Também é cha­
afresco fo i atribuída a Rafael Sânzio e, mada de: razão áurea, razão de ouro, divina
p rin cip a lm e n te , a M ichelângelo. proporção, proporção em extrema razão, divi­
são de extrema razão. A perfeição da beleza
A pintura é, nas artes plásticas, uma em quadros de diversos grandes artistas é
das maiores vertentes culturais. Nela valo­ resultado dessa técnica, dentre outras.
res novos relacionados com a ciência são
a d o ta d o s. Tem in ício com G io tto , que A M ona Lisa, de Leonardo da V in ci,
apresenta trabalhos com m otivos naturais utiliza o núm ero áureo nas relações entre
e fig u ra s hum anizadas. Por v o lta dessa seu tro n c o e cabeça e tam bém entre os
m esm a época, d u ra n te a prim e ira fase e le m e n to s do ro s to . A s s im , o u tro s ta n ­
do R enascim ento, Dante A lig hieri (1 2 6 5 ­ to s p in to re s e e s c u lto re s lançaram mão
1321), contem porâneo de G iotto, escreve das possibilidades que a proporção lhes
A D ivina Comédia, consagrando o idiom a dava para re tra ta r a realidade com mais
flo re n tin o , ou a língua ita lia n a , p ra tic a ­ perfeição.
m ente com o é conhecido hoje.
O uso da cor e da luz de forma racional,
A p e rsp e ctiva fo i um recurso am pla­ o sfum ato, o chiaroescuro e um movimento
m e nte usado na busca de uma re pre sen­ natural, tam bém foram recursos utilizados
ta ç ã o trid im e n s io n a l, dada a obsessão pelos artistas desse movim ento estético.
dos p in to re s pela projeção n a tu ra lis ta .
O U ffizi é o museu mais fam oso de
A proporção áurea é uma constante real Florença e uma das principais galerias de
algébrica representada pela letra grega 0 (phi) arte do mundo. Contém obras de grandes
e com o valor arredondado a três casas deci­ artistas italianos, como Rafael, Michelângelo,
mais de 1,618. É um número que há muito Botticelli e Leonardo da Vinci.

O Nascimento de Vênus, Sandro Botticelli, 1483, têmpera sobre tela, 172.5cm x 2 7 8 .5cm Galleria degli Uffizi, Florença
M ichelângelo que ela atingiu um grau de
perfeição dificilm ente alcançável. Repare no
dinam ism o, no vigo r ou na dram aticidade
que esse artista admirável consegue imprimir
em todas as suas obras.

Mona Lisa (La Giooonda), Leonardo da Vinci, 1503-1507, óleo


sobre madeira de álamo, 77 x 53cm, Museu do Louvre

Mona Lisa (ou La Gioconda) é um retrato


famosíssimo. Uma obra de arte feita pelo ita­
liano Leonardo da Vinci. O quadro, no qual Moisés (1515), mármore, 2,35 m, Michelângelo,
foi utilizada a técnica do sfum ato, retrata a Igreja de São Pedro, Roma
figura de uma mulher com um sorriso tímido
e uma expressão introspectiva. M o is é s é um a das m ais b rilh a n te s
obras-prim as de M iche lâng elo. C onta-se
A escultura renascentista tam bém se que assim que te rm in o u de escu lpi-la, o
rende ao perfeccionismo clássico. As figuras a rtis ta passou por um m o m e n to de a lu ­
humanas são representadas de form a har­ cina ção d ia n te da beleza da obra. Teria
moniosa e com um realismo notável para o batido com um m artelo na escultura e gri­
qual contribui o estudo profundo de anatomia. tou : Por que não falas?
Tal estudo revela o desejo de perfeição que
esses escultores sempre almejaram alcançar. Pietá de Michelângelo, representa Jesus
Usaram materiais rígidos com o o mármore morto nos braços da Virgem Maria. Fica na
e o bronze. A proporcionalidade e o princí­ Basílica de São Pedro, na primeira capela da
pio do contraposto (equilíbrio do peso sobre alameda do lado direito. Tem 174 centím e­
uma das pernas) são recursos herdados da tros por 195 centím etros e é feita em már­
estatuária grega. A beleza e veracidade das more de Carrara.
formas são inquestionáveis.
Suas obras p re fig u ra m a d ra m a tic i­
Donatello foi um dos grandes nomes dade presente em m o vim entos esté tico s
da escultura re nasce ntista , mas fo i com posteriores.
Donato Bramante (1 44 4 -1 5 1 4 ) desta­
cou-se como arquiteto a partir da construção
da Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Pietà, Michelângelo, 1499, escultura em mármore,


174 cm x 195 cm, Basílica de São Pedro, Vaticano

Arquitetura Renascentista: Basílica de São Pedro, 1506-1626, Vaticano

O artista pioneiro da arquitetura renas­ Em ambas as construções, aqui repre­


centista foi Filipo Brunelleschi (1 377 -14 46), sentadas, nota-se a influência clara da arte
estudioso da arquitetura greco-romana e da greco-romana, como o uso do arco cilíndrico,
teoria das proporções. C onstrutor da Cate­ a abóbada, as colunas e a definição da espa-
dral de Florença e da Capela dos Pazzi, em cialidade características do Renascimento.
Florença, valorizou a proporção e a escala, São a incorporação da perspectiva como ins­
eliminando progressivamente as influências trum ento de projeto e da noção do desenho
góticas. Suas obras apresentam fachadas como uma forma de conhecimento.
sim étricas e proporcionais.
A pesar das construçõ es serem , em
vários casos, de cunho religioso, evidencia-se
o estudo científico na elaboração do projeto.

Música Renascentista

A Renascença caracteriza-se, na His­


tória do Ocidente, sobretudo pelo interesse
devotado ao saber e à cultura, revivendo o
pensamento dos antigos gregos e romanos.

As composições passam a ter um cará­


ter profano e não só religioso. Nesse período
a polifonia coral e instrum ental surge de
forma acentuada. Ainda assim, compõem-se
Basílica Maria Del Fiore, 1 294, Florença, Itália, projetada por peças para a Igreja, cantadas sem acompa­
Arnolfo di Cambio nhamento de instrumentos.
A p o lifo n ia tem com o ca ra cte rís tic a os primeiros álbuns para esse instrum ento,
principal m elodias tocadas e cantadas ao que é o precursor do piano.
m esm o te m p o .
A lg u n s in s tru m e n to s c o n tin u a ra m
MÚSICA VOCAL (sacra) sendo populares e outros evoluíram, como
o alaúde.
Motetos em estilo polifônico vocal refe­
rentes a fatos ou festividades religiosas. Compositores Renascentistas
William Byrd 1543 - 1623
Missa com composição em várias partes,
sobre certos trechos do texto da liturgia. Josquin des Préz 1445 - 1521

Palestrina 1525 - 1594


MÚSICA PROFANA (secular)
Giovanni Gabriel 1555 - 1612
C om posição vocal c o n tra p o n tís tic a
Cláudio Monteverdi 1567 - 1643
para quatro ou cinco vozes sobre pequena
poesia italiana, sendo que todos os m úsi­
cos do século XVI escreveram m adrigais. Renascimento na música e no teatro
D entre os mais fa m osos podem os c ita r
Palestrina e M onteverdi. O R enascim ento é período no qual
se c a r a c te r iz a um a m a io r p ro d u ç ã o
Instrumental da época v o lta d a para o saber e para a c u ltu ra .
T a m bé m se d e s ta c a m as g ra n d e s d e s ­
co b e rta s na a stro n o m ia e na navegação.
O hom em passa e n tã o à cre n ça h u m a ­
n is ta ; é p resen ça p o derosa na p in tu ra
e na e s c u ltu ra . A p o lifo n ia , ta n to vocal
com o in s tru m e n ta l, passa a ser o grande
m om ento da época, bem com o a m úsica
sacra e a profan a.

O teatro humanista

O teatro desse período parecia m uito


m o desto . Em seus prim eiros m o m en tos
ainda havia uma grande lacuna no aspecto
de m o n tag em , pois o te x to inte ressa va
mais do que qualquer e fe ito de palco. O
te a tro dos hum anistas é de se n vo lvid o a
A té o início do século X V I, os c o m ­ partir do ensino acadêmico. Com esse fim ,
positores escreviam som ente para canto. enqua nto p in to re s e e scu lto re s v a lo riz a ­
A os poucos com eçaram a escrever ta m ­ vam o aqui e agora e o belo, o tea tro o fe ­
bém para in stru m e n to s. recia o drama histó rico , com c a ra c te rís ti­
cas da tragédia, resgatando e valorizando
É nesse período que surgem novos o período greco-rom ano.
in s tru m e n to s , com o os que são m o s tra ­
dos na fig u ra , e tam bém o cla vicó rd io ou O te x to tam bém se vo lta para esse
virg in a l (teclado). A p a rtir dai, os co m p o ­ m o m en to do hom em , valo rizand o o o ti­
sitores apresentam interesse em escrever mismo, o naturalism o e o individualism o.
m ento entrou em declínio. Foi uma época
m a rc a d a p o r m o v im e n to s re lig io s o s e
em m u ito s países, pela c o n s o lid a ç ã o do
a b s o lu tis m o .

Esse e s tilo era c a ra c te riz a d o pela


deform ação das figu ras, o corpo hum ano
com form as alongadas, a riqueza de de ta­
lhes, criaçã o de fig u ra s a b s tra ta s e e fe i­
tos visuais usando cores intensas. Marca
um retorno a certas expressões da cultura
m edieval que, aproxim adam ente entre os
anos 1515 e 1 6 1 0 , constituíram uma rea­
ção contra os valores clássicos prestigiados
pelo hum anism o renascentista.

mira»

Interior e fachada do Teatro Municipal do Rio de Janeiro,


1905-1909, projeto de Francisco de Oliveira Passos que
contou com a colaboração do francês Albert Guilbert, com um
desenho inspirado na Ópera de Paris, de Charles Garnier

C om um a fa c h a d a im p o n e n te , em
estilo Renascentista, voltada para o mar, o
Teatro M unicipal do Rio de Janeiro, avulta
num deslum bram ento de ouro e m árm ore,
de c ris ta is e v itra u x . Em no ites de espe­
tácu lo, o visitan te pode sentir algo do gla-
m o u r que o te a tro o ste n ta va à época de
sua inauguração, sendo, ainda hoje, um dos
mais im ponentes ícones arquitetônicos da
cidade do Rio de Janeiro e um dos seus mais
belos e ilustres cartões-postais. Davi, de Michelângelo, escultura feita em mármore de Carrara
5,17m de altura
Maneirismo
Trata-se de uma arte mais turbule nta
M a n e ir is m o , d e r iv a da it a lia n a com um a e s tiliz a ç ã o e x a g e ra d a e um
m a n e ira qu e s ig n ific a e x p re s s iv id a d e enorme capricho nos detalhes, que começa
fo rç a d a , e s tilo in d iv id u a l. O M a n e irism o a ser sua m arca, extra p o la n d o as rígidas
te v e in íc io em 1 5 2 0 , q u a n d o o re n a s c i­ linhas dos cânones clássicos. B uscavam
idéias novas e invenções cheias de s ig ­ O enterro de Orgas. Ao fu n d ir as form as
nificados obscuros em referências à alta iconográficas bizantinas com o colorism o
cultura. O clima de instabilidade proposto dos renascentistas e a religiosidade espa­
pela contra-reform a pode ter sido um dos nhola, personaliza seu próprio estilo que
fatores m otivadores da criação dessa nova é m a rcad o pela e x p re s s iv id a d e e é um
modalidade artística. Faz a passagem entre c o n vite à contem plação.
a Renascença e o Barroco, apresentando
alguns elementos ora mais próximo de uma 0 senhor Orgaz, da obra ao lado, era
escola, ora de outra. um hom em bom e c o m p la c e n te , e não
propria m en te um conde. D evido a isso o
Um bom exemplo é o David de Miche- a rtista representa em sua obra uma cena
langelo. A fig u ra representada não ob e­ com c o n c e ito s s im b ó lic o s e s ig n ific a ti­
dece às proporções estabelecidas pelos v o s . A s duas d im e n sõ e s da e x is tê n c ia
tra tad os clássicos. As mãos e os pés são hum ana que são a m o rte (parte in fe rio r
bastante desproporcionais. da tela) e a vida eterna (parte superior)
onde há a fig u ra de C risto que inunda de
Luz o espaço.

Laocoonte, escultura em mármore, também conhecida


como Laocoonte e os seus filhos, exposta no Museu do
Enterro do Conde de Orgaz, El Greco, 1 588, óleo sobre tela, Vaticano, em Roma
480 cm x 360 cm, Igreja de San Tomé, Toledo
Em Laocoonte, os personagens têm
O utra grande re fe rê n cia é o p in to r seus corpos dispostos de maneira um tanto
El Greco. Foi p in to r, e scu lto r e a rq u ite to perturbadora, desesperadora. M ostra os
g re g o que d e s e n v o lv e u a m a io r p a rte hom ens nus segurando cobras, fazendo
da sua carreira na Espanha. Seu e s tilo referê ncia sim b ó lica ao pecado orig inal.
era extrem am ente d ram á tico, com cores Assim ele expressa sim bolicam ente a ago­
m u ito viva s, fig u ra s m u ito alongadas e nia dos homens que lutam contra o pecado,
grande dinam icidade. São obras que cau­ contra a tentação das mulheres nuas. A luz
sam espanto e encantam ento. Destaca-se se detém sobre objetos e fig u ra s, pro d u ­
entre elas, O m artírio de São Sebastião e zindo sombras inadmissíveis.
Tintoretto, A Última Ceia, 1 592-94, óleo sobre tela,
365 x 568 cm. Igreja S. Giorgio Maggiore, Veneza, Itália

No c o n ju n to das obras de Ja co p o Fonte de Netuno, Michelângelo, mármore,


C om in, o T in to re tto (1 5 1 8 -1 5 9 4 ), predo­ Piazza delia Signoria, Florença, Itália
m inam os tem as relacionados com a re li­
gião. Sua estética apresenta características Florença é localizada em um ponto
próprias criadas a partir dos estudos feitos turístico considerado um museu a céu aberto,
acerca das obras góticas e renascentistas. pois abriga obras importantes da história da
arte, dentre elas a Fonte de N etuno. Essa
Há o alongamento ou deform ação das obra pretendia destacar a vocação marítima
fig u ra s, deixando-as altas e lânguidas. A de Florença; fica no term inal de um aque-
form a de distribuição do espaço am biente duto romano ainda em funcionam ento.
é desigual e coloca os personagens mais
im portantes em segundo plano.

Na pintura A Ú ltim a Ceia, Jesus e os


a p ó s to lo s estão p o sicio n a d o s ao fu n d o ,
onde um lustre ilum ina suas cabeças e v i­
denciando o caráter religioso. A perspec­
tiv a recebe um tra ta m e n to d ife re n te do
d e d ica d o à S anta Ceia de Leonardo da
V in ci. A diagonalidade dinam iza a obra e
enfatiza as cenas principais.

ESCULTURA

Na escultura, os m aneiristas seguem


o tra ç a d o de M ich e lâ n g e lo . P roporções
e stranh as, sup erp osiçõe s de planos, ou
ainda o exagero nos detalhes, são elemen­
tos que criam a atm osfera de tensão tão
característica do espírito desse m ovim ento.
As form as parecem entrelaçadas e com um
grande efeito de m ovim ento e volum e. Há
um exagero e sté tico e xp lícito que preco­ O Rapto das Sabinas, Michelângelo, 4,10 m, mármore,

niza a estética barroca. Loggia dei Lanzi, Giambologna, Galleria delTAccademia, Itália
0 Rapto das Sabinas apresenta um res. Nas áreas triangulares alocou as figuras
m ovim ento helicoidal que pode ser obser­ de profetas e sibilas; nas retangulares, os
vado por todos os ângulos. O movimento é episódios do Gênesis. Os profetas foram
intenso e as expressões muito fortes. A ana­ representados, a partir de uma visão antro-
tomia apresenta uma grande perfeição, o que pocêntrica, como homens e mulheres nor­
aproxima o autor do período renascentista. mais. Estão sempre em posição meditativa.
Essa mescla do exagero com a racionalidade
resulta num belo plano escultórico. Q uando ab ord ado pelo Papa J ú lio
II para p in ta r o te to , ju lg o u ser um c o n ­
ARQUITETURA luio de seus adversários para desviá-lo de
sua principal fu n ção : a de e scu lto r. Sob
Os espaços arquitetônicos maneiristas o patrocínio da Igreja, o artista pintou 12
apresentam formas mais compridas, com a mil m e tros quadrados entre os anos de
cúpula sobre o transepto. Toda essa altera­ 1 5 0 8 e 1 5 1 2 . H oje, o te to e, e s p e c ia l­
ção alcança a iluminação e a decoração das m ente, O J u lg a m e n to F inai são c o n sid e ­
igrejas, que são m uito enfeitadas e pressu­ rados com o realizações c u lm in a n te s na
põem aproximação da abordagem barroca. pintura de M ichelângelo.

A Basílica (Andréa di Pietro), séc. XVI, Palladio, Vicenza, Itália

As principais características são nota­


das na criação de am bientes mais escuros,
com ilum inação escassa em ângulos d ife ­
rentes. A decoração dos inte riore s apre­
senta riqueza o ste nsiva, com adornos e
afrescos nas abóbadas.

O teto da Capela Sistina é uma obra con­


cebida para representar cenas do Antigo Testa­
mento, como A Criação de Adão, A Expulsão
do Paraíso e O Dilúvio. Michelângelo utilizou
a técnica do afresco para sua concepção. Em
cada espaço relatou um dos temas bíblicos.

A superfície da abóbada foi dividida em


áreas, concebendo-se arquitetonicam ente Pintura do teto da Capela Sistina, afrescos inspirados em cenas do
o trabalho de maneira que resultasse numa Velho e do Novo Testamento decoram as paredes laterais e o teto.
articulação do espaço entremeado por pila­ 1508-1512, Museu do Vaticano
A R eform a p ro te s ta n te iniciada por A arte barroca surgiu na Itália no fim do
Martinho Lutero provoca uma crise sem pre­ século 16 e estendeu-se pelo 17, período
cedência na Igreja Católica. Com o objetivo em que ocorreu uma série de mudanças eco­
de catequizar e atrair os fiéis novam ente nômicas, sociais e religiosas na Europa.
para a re lig iosida de, os papas, m ecenas
con victos, recorrem à arte com o um meio T e v e c o m o e v e n to m o tiv a d o r a
de atingir seus propósitos. Assim nasce a R efo rm a P ro te s ta n te , que fo i um a c o n ­
arte barroca, num m om ento de crise e m ui­ te c im e n to de cu n h o re lig io s o . M a rtin h o
tos co n flito s. Lu tero fo i um dos p rim e iro s a c o n te s ta r
fo r te m e n te os d o g m a s da Ig re ja : c r it i­
ca va a ve n d a de in d u lg ê n c ia s e p ro p u ­
nha a fu n d a ç ã o do lu te ra n is m o (religião
lu te ra n a ). De aco rd o com L u te ro , a sa l­
vaçã o do hom em o c o rria pelos a to s pra­
tic a d o s em vida e pela fé . Embora ten ha
sido c o n trá rio ao c o m é rc io , te v e grande
apoio dos reis e p ríncipe s da época. Em
suas te se s, co n den ou o c u lto a im agens
e re vo g o u o c e lib a to .

A ARTE BARROCA

As obras barrocas romperam o equilíbrio


entre o sentim ento e a razão ou entre a arte
e a ciência, que os artistas renascentistas
procuram realizar de forma muito consciente.
Na arte barroca predominam as emoções e
não o racionalismo da arte renascentista. O
estilo barroco traduz a tentativa angustiante
de conciliar forças antagônicas: bem e mal;
Deus e diabo; céu e terra; pureza e pecado;
São Sebastião, 1577-1578, pintado por El Greco, alegria e tristeza; paganismo e cristianismo;
Catedral de Palência, Espanha espírito e matéria.

O term o barroco sign ifica pérola de A s s im , a Igreja re co rre u aos fe ito s


fo rm a to irre gula r, sem fo rm a d e fin id a , e a rtís tic o s com o meio de re co n q u ista r seu
essa d e sig n a çã o c o rro b o ra com to d o o p re s tig io e poder e d iv u lg a r seus fe ito s e,
aspecto da arte de m om ento. O dram a, a assim organizou a C o n trarrefo rm a . Criou
dor, a angústia to m a m fo rm a a p a rtir da a Com panhia de Jesus, ordem jesuíta que
ação dos artistas. Os elem entos visuais e tin h a com o o b je tiv o d ifu n d ir a fé cató lica
as composições cênicas e músicais ganham entre cristãos e não-cristãos. Construíram
um a sp ecto tra n s c e n d e n ta l e d ra m á tic o . grandes igrejas com decoração rebuscada
Assim é a cultura barroca. e m u ito su n tuo sa.

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^ J k l 76 ■
Arquitetura barroca Na Escultura

A arquitetura barroca teve início em Suas c a ra c te rís tic a s são: o p re d o ­


Roma, na Itália. Dedicava-se a construções m ínio das linhas cu rva s, dos drapeados
religiosas, promovendo a sensação de dina­ das ve ste s e o uso do dourado. Os ges­
mismo e distorção espacial. Empregava as tos e os rostos dos personagens ganham
ordens clássicas a partir de com binações um ar te a tra l e revelam em oções v a ria ­
audaciosas, m uito atrativas e rebuscadas. das, a tin g in d o um a d ra m a tic id a d e d e s ­
Apresentava uma grande afinidade com a conhecid a no R enascim ento.
majestosa arquitetura gótica.

Lorenzo Bernini (1598-1680) integrou os


elementos arquitetônicos, pictóricos e escul-
tóricos em uma síntese repleta de movimento.
Um exemplo é a Igreja de Sant'Andrea dal
Quirinale, iniciada em 1677.

O êxtase de Santa Teresa, Bernini.


Igreja de Santa Maria da Vitória, Roma, Itália

Essa escultura representa o momento


em que Santa Teresa é trespassada com uma
flecha por um anjo, contendo o amor divino.
Foi esculpida durante os anos de 1645 e
Igreja de Sant'Andrea dal Quirinale, 1652 e representa toda a emoção, caracte­
Gian Lorenzo Bernini, Roma, Itália rística fundamental da proposta barroca.

O bserva-se o excesso de rebusca- Bernini foi um dos maiores expoentes


m e n to , o m o vim e n to e as fo rm a s e n tre ­ da estatuária barroca. Inspirado nas obras
laçadas, os co n tra ste s de luz e som bra de M ichelângelo, esculpiu belas imagens
nas dobras e redobras dos baixos-relevos com fo rte s expressões e de caráter ape­
incrustados na construção. lativo e grande dram aticidade.
Na Pintura

Os con ceitos e o b jetivos da pintura


corroboram com os da escultura. Há grande
expressividade e os exageros estão presentes
em vários aspectos do plano pictórico.

Existe um acentuado contraste de luz


e som bra, o que aum enta a sensação de
profun dida de. As cores são fo rte s e bas­
ta n te saturadas. As linhas predom inantes
são curvas e na diagonal, pois prom ovem
m a io r sen sação de m o v im e n to . A c o m ­
p o siçã o é a s s im é tric a , s u b s titu in d o os Degolação de São João Baptista, 1608, óleo sobre tela,
c o n c e ito s de equilíbrio sim é tric o da arte 361 x 520 cm, Saint John Museum, Valletta, Malta
re n a s c e n tis ta . D entre os p in to re s b a rro ­
cos italianos estão: Velázquez: de uma linguagem mais pagã,
representava a corte espanhola e tipos po­
Caravaggio: recorria a tipos com uns pulares com muita intensidade e beleza.
(imagens de mulheres do povo, com er­
ciantes e marinheiros) para retratar Maria
e Jesus. Talvez tenha sido um dos prim ei­
ros artistas a conciliar a arte com o m inis­
tério religioso. O que m elhor caracteriza a
sua pintura é o modo revolucionário como
ele usa a luz, de form a intencional, para
direcionar a atenção do observador.

/ls meninas, de Velásquez, Museu do Prado, Madrid

Andréa Pozzo: realizou grandes co m ­


posições em perspectiva nas pinturas dos
tetos das igrejas barrocas. Essa técnica cau­
sava a ilusão de que as paredes e colunas
da igreja continuavam no teto, e de que este
Crucificação de São Pedro, 1601, Capela Cerasi, se abria para o céu. Sua obra reforçava o
Igreja de Santa Maria dei Popolo, Roma efeito de infinita profundidade.
A Glória de Santo Inácio, Andréa Pozzo, afresco, Igreja de Santo Inácio, Roma

A Lição de Anatomia do Dr.Tulp, Rembrandt, 1632, óleo sobre tela, 169,5 x 216,5 cm, Mauritshuis, Haia, Holanda
I

Rembrandt: este pintor holandês, con­


siderado o mestre da representação da
luz, foi um dos grandes nomes da pintura
barroca. A té hoje sua obra é respeitada
por grandes artistas e intelectuais. Pintor
e gravador, sobrepunha diversas camadas
de tin ta , criando um aspecto rústico em
seu trabalho. No decorrer de seu projeto
artístico privilegiou membros da corte e
pessoas com uns. Mais tarde, acom etido
por uma lim itação auditiva, pintou m ons­
tros e tam bém cenas de guerra. Deixou
grande legado para seus seguidores e ad­
miradores. A gravura foi uma de suas té c ­
nicas mais im portantes.

A Ronda Nocturna, Rembrandt, 1642, óleo sobre tela, 363 x 437 cm, Rijksmuseum, Amsterdã
Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, Ouro Preto, Minas Gerais

Barroco Brasileiro

O Barroco Brasileiro ocorre tardiamente, A p a rtir de m ateriais com o argila e


entre os séculos XVII e XVIII. Desenvolveu-se m adeira, os e s c u lto re s davam fo rm a a
inicialmente na região litorânea, onde tem iní­ diversas esculturas e objetos. Algumas des­
cio o processo de colonização na América sas obras serviam de sacrifícios dos fiéis
Portuguesa. Foi diretamente influenciado pelo (santos de roca), pois eram carregados em
Barroco Português e Italiano, porém, com o procissões como pagamento de promessas.
tempo, foi assumindo características próprias. Suas articulações eram destacáveis e suas
roupas eram com uns. Outras imagens de
O Barroco Brasileiro é claramente asso­ santos possuíam um com partimento interno,
ciado à religião católica. Duas linhas diferentes onde eram colocados o ouro e pedras pre­
caracterizam esse estilo. Nas regiões enrique­ ciosas extraídos das minas brasileiras. São
cidas pelo comércio de açúcar e pela minera­ os ditos "santos do pau oco".
ção, encontram-se igrejas com trabalhos em
relevos feitos em madeira — as talhas — reco­ Os artistas brasileiros herdaram a prá­
bertos por finas camadas de ouro; eram feitas tica da azulejaria portuguesa, em que divul­
em janelas, cornijas e portas decoradas com gavam cenas bíblicas em painéis de cores
detalhados trabalhos de escultura. predom inantem ente azuis e brancas.
rr~n **-

Parte interna da Igreja de São Francisco de Assis, Salvador-BA

Talhas barrocas

Fragmento de talha barroca, Minas Gerais


Altar-mor da Igreja de São Bento, Olinda-PE séc. XVIII, 55 x 75 cm
0 principal representante do barroco
nineiro foi o escu ltor e arquite to A ntô nio
rancisco de Lisboa (1 7 3 0 -1 8 1 4 ), o "Aleija-
linho". Suas obras, de forte caráter religioso,
ram feitas em madeira e pedra-sabão. Apre-
entam uma grande expressividade e, espe-
ula-se, carregam um teor de politização.

Os Doze Profetas (detalhes), Igreja de Bom Jesus de


Igreja de Bom Jesus de Matozinhos, Congonhas do Campo-MG Matozinhos, Congonhas do Campo-MG

'
1 41
Esse conjunto arquitetônico e paisagís­ Rococó
tico, form ado por um adro com esculturas
dos Doze Profetas e seis capelas com cenas Rococó é o e s tilo a rtís tic o que s u r­
da Paixão de Cristo, feitas por Aleijadinho, giu na França com o d e sd o b ra m e n to do
foi construído a pedido do português Feli- barroco.Todavia, diferencia-se do barroco,
ciano Mendes, em pagam ento a uma pro­ p rin c ip a lm e n te pela leveza e delicadeza
messa, após grave enfermidade. com que se exprim e, oferecendo menos
exuberância e vigor.

D esenvolveu-se pela Europa, sendo


articulado pelas linguagens artísticas: pin­
tu ra , escultura e a rquite tura . Recorria ao
uso de linhas curvas na criação das mais
diversas form as. As cores apresentavam
grande su a vidad e e a luz era re p re se n ­
tada de form a intensa. Criava uma grande
ilusão de profundidade e os m ovim entos
eram bem graciosos e elegantes.

A te m á tic a do R ococó m o s tra p re ­


Última ceia de Cristo, conjunto de esculturas em madeira poli- fe re n cia lm e n te uma vida de d iv e rtim e n to ,
cromada, Aleijadinho, Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, que le vo u um a p a rte da c rític a a c la s ­
Congonhas do Campo-MG s ific á -lo de p in tu ra " f ú t il" . Seus te m a s
eram a vida co rte sã , a m ito lo g ia e cenas
Outros artistas importantes do Barroco se n su a is. A p re s e n ta v a um a e s tiliz a ç ã o
Brasileiro foram o pintor mineiro Manuel da e s té tic a v e g e ta l: flo re s e fo lh a s com o
Costa A taíde e o escu ltor carioca M estre m oldura. Na França, o Rococó é tam bém
V alen tim . No estado da Bahia, o barroco cham ado Estilo Luís X V e Luís X V I. Suas
se destacou na decoração das igrejas em c a ra cte rística s gerais são:
S alvador, com o, por exem plo, a de São
Francisco de Assis e a da Ordem Terceira Uso abundante de fo rm a s cu rva s e
de São Francisco. p rofusã o de elem entos d e c o ra tiv o s , tais
com o co n ch a s, laços e flo re s . Tam bém
utiliza o a rtifíc io da profundidade ilusória.

Teto da nave da igreja de São Francisco de Assis, Manuel da Reunião no parque, Jean-Antoine Watteau, 1616-1617,
Costa Ataíde, 1801, Ouro Preto-MG 32 x 46 cm, Museu do Louvre
Possui leveza, caráter intimista, elegância, François Boucher, 1 7 0 3 . Foi um p in ­
alegria, bizarro, frivolidade e exuberância. O tra­ to r fra n c ê s , que cedo se re ve lo u co m o
tamento de luz provoca uma imensa profundi­ a rtis ta de carreira prom issora.
dade. Os movimentos são suaves e graciosos.
Embora tenha vivido num século dom i­
nado pelo Barroco, ia além desse estilo e
identificava-se mais com Rococó — estilo
muitas vezes alvo de apreciações estéticas
pejorativas. Foi seguram ente um dos pin to­
res que melhor soube interpretar o espírito
do Rococó.

É muito conhecido por suas pinturas idí­


licas, plenas de volume e carisma, essas que
constantemente recorriam a temas m itológi­
cos e evocavam a Antiguidade Clássica.

Escultura

Desjejum, François Boucher, 1739,


81 x 65 cm, Museu do Louvre

Vênus Consolando o Amor, François Boucher, 1751 Jean-Baptiste Pigalle, Mausoléu do Marechal Maurice de
National Gallery of A rt, Washington Saxe, 1753-1776, Strasbourg, Paris
Com proporções m enores e de cora­
ção com patível com o tem a, os a rtista s
desenvolvem form as em gesso, madeira
e mármore. Os volum es de linhas suaves
e graciosas substituem o vigor e a energia
barroca. A escultura rococó foi m uito u tili­
zada para retratar personalidades da época.
Esse estilo caiu no gosto das elites.

Voltaire, Antoine Houdon, 1779-1795, Museu do Louvre

Voltaire foi mais um iluminista famoso


representado pelo artista. As sessões eram
longas e precederam a morte do retratado, o
que viria a eternizar Houdon como o retratista
póstumo do filósofo. Fez várias versões de
retratos de Voltaire.

Arquitetura

Diderot, Houdon, 1771, Museu do Louvre

Jea n-A ntoine Houdon (1 7 4 1 -1 8 2 8 ),


num a hom enagem p restad a a D id e ro t,
criador da Enciclopédia, demarca a íntima
ligação entre esse estilo e a elite pensante
do llum inism o.

Houdon consolidou a imagem de gran­


des pensadores do século XVIII através de
bronze e mármore. Seus bustos continuam
impressionando o público e transm itindo o
espírito de seu tem po. Palácio de Schonbrunn, Viena, séc XVIII
Igreja da Peregrinação de Wies, Dominikus Zimmermann, séc. XVIII

A arquitetura rococó perde o rigor da A r q u ite to s , p in to re s e e s c u lto re s


barroca e ganha uma decoração excessiva sem pre tiv e ra m lugar e p re s tíg io g a ra n ti­
ta n to na fachada quanto na parte interna dos e re m un era ção c o m p a tív e l com sua
das co n stru çõ e s. As paredes fica m mais im p o rtâ n c ia .
finas e os tons pastéis contracenam e dis­
putam com os to n s brancos. G uarnições O p ro fis s io n a l de te a tro é c o n s id e ­
de dourado e fo lh a g e n s, com fig u ra s de rado o mais m arginal de to d o s, pois será
anjos, adornam as janelas e colunas. usa do apenas em e v e n to s e s p e c ífic o s
e p o n tu a is , com o o N atal e a Paixão de
A Igreja e as artes C risto (autos e m ilagres).

Preocupada em m anter sua represen­ O m ú s ic o , por sua vez, é a p ro v e i­


tação de poder, a Igreja agrega artistas de tado de outra form a, tendo a oportunidade
vária s áreas, com o p in to re s , e s c u lto re s , de e vo lu ir em seus estu do s, com o to ta l
a rq u ite to s, m úsicos e atores, que passam p a tro c ín io da Igreja, que, em c o n tra p a r­
a receber pelos serviços prestados. tida , fica com a produção e todos os direi-
tos autorais das obras. Mas sob a cúpula O barroco teatral e musicai
dessa igreja erguida pela promessa de sal­
vação, faz com que esse artista não perca Barroco talvez seja um dos períodos
a re fe rê n cia do sensível, cria n d o novas mais brilhantes da cu ltu ra ocidental com
técnicas e, sobretudo novas propostas de grandes desenvolvim entos na música e no
encenação e de musicalidade. te a tro , a c o n te c im e n to s no cam po in s tru ­
mental e vocal. O teatro vivia um momento
A música barroca e sua história de grande ascensão. 0 barroco viu o nas­
c im e n to da ópera e o te a tro m u sica l. A
O teatro elisabetano tem seu auge de metamorfose que ocorre no período barroco
1 5 6 2 a 1 6 4 2 . As peças caracterizam -se afeta a todos os segmentos artísticos como
pela m istura do dram ático e côm ico; pelo música teatro e artes plásticas.
abandono das unidades aristotélicas clássi­
cas; pela variedade na escolha dos tem as, Após a música renascentista, no século
tirados da m itologia, da literatura medieval X VII, surgiu a música barroca e teve seu
e renascentista, e da histó ria; e por uma esplendor por todo o século XVIII. Era uma
linguagem que m istura o verso mais re fi­ música de conteúdo dramático e muito elabo­
nado à prosa mais descontraída. rado. Neste período estava surgindo a ópera
musical. Na França os principais com posito­
Autores elisabetanos: O maior nome do res de ópera eram Lully, que trabalhava para
período é o de William Shakespeare. Além Luis XIV, e Rameau. Na Itália, o compositor
dele se destacam Christopher Marlowe Dou­ Antonio Vivaldi chega ao auge com suas obras
tor Fausto, Ben Jonson Volpone e Thomas barrocas, e na Inglaterra, Haéndel compõe
Kyd Tragédia espanhola. vários gêneros de música, se dedicando ainda
aos oratórios com brilhantismo. Na Alemanha,
W illia m S hakespeare (1 5 6 4 -1 6 1 6 ) Johann Sebastian Bach torna-se o maior repre­
nasce em S tratford-upon-A von e mora em sentante da música barroca.
Londres durante parte da vida. Alguns his­
toriadores contestam a autoria de sua obra Logo após o período medieval em que
por a acharem muito culta para a sociedade a em oção impera de form a m u ito fo rte a
da época. É nesse período que o ator já tem adoração a religião e com isso as com posi­
respeito e posição de status de importância ções eram voltadas para esse tema, criando
na sociedade desse período e também nesse o anonimato das artes, onde os autores não
cenário surge o ator Shakespeare que não assinavam suas obras, pois esse m aterial
tinha uma qualidade cênica m uito confiável. estava a serviço da igreja. Logo após esse
período chegam os à renascença, período
em que os com positores dem onstram um
interesse mais vivo para a música profana,
e screven do in c lu s iv e peças para in s tru ­
m entos. Então chegam os a um dos perío­
dos mais belos e não menos cria tivo s da
m úsica m undial conhecido com o barroco.
Esse período marca o surgim ento de vários
gêneros vocais (ópera, oratório), e in s tru ­
mentais (sonata, concerto, etc...) Mais tarde,
o termo passou a ser empregado pelos músi­
cos para indicar o período da história da
música que vai do aparecimento da ópera e
Cena do filme Shakespeare Apaixonado, 1998 do oratório até a m orte de J.S.Bach.
Quando a nova civilização chegou ao
Brasil, aqui e n c o n tro u cerim ônia s ritu a is
entre tribos nativas. Lendas, cânticos, sím ­
bolos, mimos, música e danças, elementos
que com põem os jogos dram áticos.

N e c e s s ita n d o o c u p a r a nova te rra ,


homens e mulheres condenados pela lei dos
homens ou pela lei de Deus foram "c o n v i­
dados" a habitar o Brasil, pelo Rei de Portu­
gal (D. João III). Preocupado em m anter a
ordem entre colonos e em atrair o indígena
à civilização cristã, o Rei traz para o país a
Companhia de Jesus: os jesuítas.

Chegaram ao Brasil em 1549, trazendo


na bagagem o aprendizado da dramatização,
característica do Teatro M edieval.

Alguns vieram da Espanha, de onde o


teatro já havia alcançado grande desenvolvi­
m ento. Teatro de um povo profundam ente
religioso, por origem, vocação, por determ i­
Royal Opera House, 2006, Londres nação do Santo Ofício.

Na in te n ç ã o de re v iv e r o p e ríod o Um te a tro que brilhava no esplendor


grego no que diz re speito às suas en ce­ dos autos sacram entais, das m oralidades,
nações, fazendo que surgisse a "Ó p e ra ". dos dram as sacros, da vida dos S antos,
A inda nessa m esm a época, a igreja atrai dos m ilagres de Nossa Senhora.
grande número de fiéis com representações
dramático-músicais sobre a vida dos santos, Em n o v a te r r a , os p a d re s , c o m
originando o "O ra tó rio ". g ra n d e d o m ín io da té c n ic a e re c u rs o
d ra m á tic o , d e s e m p e n h a ra m re le v a n te
• Ópera: com encenação, figurino e cenário papel na c o m u n ic a ç ã o co m os in d íg e ­
acompanhado de orquestra (tema profano). nas, pois suas re p re se n ta çõ e s c o n s titu í­
• O ratório: sem encenação, figurino e cená­ ram um p o n to de e n c o n tro n a tu ra l, pelo
rio, mas com acom panham ento de orques­ in te re sse que d e sp o n ta va m no co lo n o e
tra (tema religioso). no g e n tio .

O Teatro Jesuíta O padre José de A n ch ie ta é o autor


da p rim e ira peça n a c io n a l, e s c rita aqui,
O teatro é um fenômeno universal que pondo em cena fa to s e problemas da terra
o culto dos deuses inspirou e desenvolveu. e dedicada ao interesse im ed iato de sua
gente (o colono e o indígena).
Os gregos fizeram do tea tro a grande
tribuna, onde a humanidade equaciona seus A lé m de a u to r, o pa d re A n c h ie ta
anseios, seus c o n flito s , suas aspirações, assum iu o papel de d ire to r e c e n ó g ra fo .
buscando form as de fixação d e fin itiva da Cuidava de to d o espetáculo para que seu
vida humana. o b je tivo fosse alcançado.
Seu te x to é bilíngue (espanhol e po r­ O padre Fernão Cardim deixou regis­
tuguês) e/ou trilín g u e (com boa parte da tro s sobre a c o m e m o ra ç ã o da chegada
língua tu p i), conform e a conveniência. Ele da relíquia de São S eba stião ao Rio de
se apropria da m úsica e dança dos in d í­ Janeiro. Foi uma grande festa, com imensa
genas, assim com o de seus personagens, p rocissão até a S anta Casa. Um m agní­
prin cipalm ente os que sim bolizavam seus fico espetáculo teatral com palco, diálogos
tem ores e crenças. em ocionados e um público que chegou às
lágrimas de devoção.
A lg u n s d e m ô n io s - G U A IX A R Á ,
T A T U A R A N A , URUBU, JA G U A R U C U , A repre senta ção ao v iv o do m a rtírio
CADORE - m isturam -se aos im peradores do sa n to causou m u ita alegria à cidade,
rom anos - D IO CLECIANO , V A LE R IA N O , até m esm o as m u lh ere s c o m p a re c e ra m
DÉCIO - carrascos de São Sebastião, São (e s ta s não eram bem re c e b id a s p e lo s
Lourenço e São M aurício. je su ítas, nem pelo público em geral - fo r ­
m ado por hom ens).
Por meio de relatos do padre Fernão
C ardim ao rei de P ortu ga l, fica ra m re gis­ A com em o raçã o iniciava -se no m ar,
tra d o s com detalhes vários a co n te cim e n ­ onde era sim ulada uma batalha naval. Em
to s c u ltu ra is em te rra s b ra sile ira s, com terra apresentava-se o m a rtírio do santo,
destaque para a C apitania da Bahia. seguido do sermão do dia. Term inava com
a dança indígena e xe c u ta d a por in d io zi-
A dram aturgia jesuítica: "T eatro con­ nhos nus. O público era ora p a rtic ip a n te ,
cebido como parte de uma festa maior, que ora espectador.
nem por ser religiosa deixa de ter lados pro­
fanos e divertidos; o constante lançamento A diferença entre Cardim e A nchieta,
no espaço (observável tam bém , nas fe s tiv i­ com o e scritore s, é que o prim eiro optou
dades indígenas), com o suporte de diálogos pelo otim ism o em suas cartas, enquanto o
ocasionais, não necessariam ente ligados segundo retratava com mais ênfase o pes­
entre si, que faziam a procissão e s ta c io ­ simismo do Cristianismo - o pecado original
nar por m inutos; as figuras simbólicas não que era apagado pelo sacrifício de Jesus.
sacras (a Sé, a Cidade, o A njo); o cenário
quase sempre natural; os papéis interpreta­ Nas duas pe ças de A n c h ie ta , Na
dos por alunos de vários níveis, sem exclu­ fe s ta de São L o u re n ç o e A u to da Vila
são dos indígenas. O diabo visto como fonte V itó ria , há re g is tro s de grande c o n h e c i­
de com icidade, à maneira indígena (e por­ m e nto da linguagem te a tra l. Na festa de
tuguesa, se lem brarm os de Gil V icente); a São Lourenço foi representada em Niterói,
com unicação de natureza sensorial, propor­ no terreiro da capela de São Lourenço, em
cionada pela música e pela dança, com os 10 de agosto de 1 583.
instrum entos indígenas de sopro e percus­
são sendo equiparados aos correspondentes Personagens:
europeus (flauta e tam bor); e, antes e acima
de tudo, o aspecto lírico do tea tro , enten­ • Guaixará e A im berê (chefes tam oios que
dido como jogo, brincadeira, porta imaginá­ haviam lu ta d o c o n tra os p o rtu g u e s e s e
ria através da qual entravam com enorme jesuítas ao lado dos franceses);
entusiasm o os índios, sim ulando ciladas,
declarações de guerra, com bates navais." • N óbrega, A n ch ie ta ;

(Décio de Almeida Prado - Teatro de • Décio e Valeriano (imperadores romanos do


Anchieta a Alencar, p. 19-20) início da Era Cristã), carrascos dos santos;
• São Sebastião (m orto a flechadas) e São foi o tem or / do bravo fogo infernal") e o
Lourenço (m orto "assado na grelha"); A m or de Deus ("O utro foi o amor fervente
/ de Jesus que ta n to am ava").
• Um A njo;
Então, o martírio de São Lourenço to r­
• Figuras simbólicas: Temor e Amor de Deus. nou-se em triunfo e a morte em vida eterna.

Em um p e q u e n o tre c h o da peça, No contexto histórico das duas peças


A n ch ie ta busca no passado as batalhas está a Reforma Religiosa. Nesse m om ento
vividas pelos santos, e m ostra para a pla­ a In g la te rra se desliga do V a tic a n o . A
téia que os erros com etidos são passíveis França se debate entre o C ato licism o e
de punição, com o um ajuste de con tas o P rotestantism o. A Espanha de Felipe II
retirado do Velho Testam ento: "O lho por (União Ibérica, 1 5 8 0 -1 6 4 0 ) era a única
olho, dente por dente". potência capaz de oferecer suporte à Con-
trarreform a. Assim , justifica-se o senso de
Há tam bém duas conotações: a geo­ disciplina que A nchie ta cum pre em suas
gráfica e a histórica - a vila e a vida do peças. Guerra é guerra, e é preciso fo rta le ­
santo. O tem po e o espaço não são situa­ cer o chefe mais poderoso, representante
dos na ação dramática. A peça compõe-se de Deus.
de partes (que não são autos) que alcançam,
no final, o objetivo central do seu autor: o O A u to da Vi/a V itória fo i represen­
Bem (Deus) vence o Mal (Lúcifer). tada no Espírito S anto, em 22 de sete m ­
bro de 1 5 8 6 , em lou vor a São M aurício,
No d e co rre r da batalha , os chefes pela libertação da cidade cercada por t r i­
indígenas são co n ve n cid o s pelo A n jo a bos hostis.
mudar de lado e enfrentar os chefes Décio
e Valeriano (o Mal). Há, nessa p e ça , a a m p lia ç ã o do
fo c o c ê n ic o e id e o ló g ic o , A lé m dos
A com édia se dá nas covardias do índios, portugueses e espanhóis tam bém
Mal e ao tem or do fogo do inferno, que é p a rtic ip a m . O b s e rv a -s e nesse te x to a
a punição do pecado. in te nção de ensinar sobre a organização
do E stado, as re la çõe s e n tre g o v e rn a n ­
Nas terceira e quarta partes não há tes e governados e a obediência ao novo
c o n flito s . O A njo, o Tem or e o A m or de rei, Felipe II, pois nesta época os tro n o s
Deus d e se n vo lve m suas fa la s p o e tic a ­ de P o rtu g a l e Espanha eram c o m a n d a ­
m ente. O espetáculo é encerrado com a dos por ele.
dança e o canto dos curum ins.
"Quem ao contrário disser
Diz o A njo, referindo-se ao sacrifício é digno de pena eterna,
suportado por São Lourenço: pois Jesus nos manda ser
sujeitos, e obedecer
"Dois fogos trazia na alma como a Deus, a quem governa (...)"
com que as brasas resfria, "(...) Porque estas são leis humanas
e no fogo em que se assou, que dependem da divina."
com tão gloriosa palma,
dos tiranos triu n fo u " A União Ibérica é o evento político que
inspira um final conciliador das duas fracio-
Esses dois fogos, que salvam e não nalidades, considerando-as irmãs. Portanto,
castig am , cham am -se Tem or ("um fog o o Auto tem forte conotação política.
Os personagens são quase todos os Santíssim a T rinda de, o de C risto e o de
mesmos da "Festa de São Lourenço", em Nossa Senhora.
co n flito s do Bem contra o Mal. O que as
d ife re n c ia é a unidade te m á tic a , quase Como classificar as peças de Anchieta?
ausente na 1a peça. Na segunda peça a
tem ática é explícita em seu próprio títu lo : A pesar de A n c h ie ta te r e scrito ta is
A vitória - a cidade, a vitória obtida sobre peças, a questão dram atúrgica era o que
os indígenas, a vitória alcançada por São m e nos in te re s s a v a aos je s u íta s , po is
M aurício sobre a INGRATIDÃO e por fim so fria m in flu ê n c ia do te a tro m edieval e
as v itó ria s passageiras do diabo sobre o sua única meta era a catequisação.
hom em , e a v itó ria sem pre renovada de
Deus sobre Lúcifer. Para escrever, o que lhe m o tiv a v a ,
eram as festividades e as relações Deus -
Outras duas peças: Diabo, Bem - Mal.

Na A ld e ia de G u a ra p a rim : a m ais C om o poeta era in d is c u tív e l, pois


longa e scrita em tu p i, de interesse indí­ seus versos se apresentavam geralm ente
gena. São 8 6 5 v e rso s. Nessa peça os sob o fo rm a to da quintilha espanhola de
D e m ô n io s d e sa fia m o po d e r de N ossa sete sílabas.
Senhora. O inferno é representado por 4
diabos - o co n cilio do mal - que d ife re n ­ A Companhia de Jesus preocupou-se
cia-se de o u tra s peças, por estes a p re ­ para que os espetáculos não degenerassem
sen tare m -se de fo rm a e s tá tic a . Não há em arte profana, proibindo tem as de amor
antag onista . Um dos diabos, o represen­ humano e excluindo a mulher do palco.
tante, defende Nossa Senhora, advertindo
os colegas: A Ópera e o Oratório

"A mãe de Deus O e s tilo m u sica l c o n h e c id o com o


está sabendo de tudo. música barroca vem para substituir o estilo
Ela se ergue altaneira, renascentista, após o século XVII, e m ar­
libertando-se de nós, cou a m úsica da Europa até cerca 17 50.
perdoando os seus filhos." Uma m úsica com características dram á ti­
cas e em ocionais bastante fo rte s. Então
"Ainda que os pecados sejam muitos, surge a ópera que traz grandes novidades
ainda que sejam grandes, em sua form a m usical, e logo aparece o
se a gente os confessa oratório, mas com características dife ren­
eles são todos perdoados, tes. A música barroca tem representantes
aplicando-se a cólera de Deus." em vários países.

A visitação de Santa Isabel, com 572 A Ó pera e o O ra tó rio são fo rm a s


versos e scritos em espanhol, é a últim a m úsicais que m arcaram o início do perí­
peça de A nchieta. odo B arroco e que aprese nta m c a ra c te ­
rís tic a s c o m u n s e n tre elas: c o n s is te m
Esta fo i re p re s e n ta d a no p á tio da num a seq uên cia de v á rio s tre c h o s que
Ig re ja do R o s á rio , no Rio de J a n e iro , contam uma história; os tre chos que con­
quando da in a ugu raçã o da S anta Casa. ta m a h is tó ria podem ser c a n ta d o s por
É um te x to de sen tido mais cris tã o , pois um ou m ais personagens, pelo coro ou
Santa Isabel relata a história que envolve pela orquestra, que tam bém acom panha
trê s g ra n d e s m is té rio s c ris tã o s : o da as partes cantadas.
Surge então no final da renascença o música clássica a não repetir esse tipo de
instrum ento que vem a organizar a orques­ composição, enveredando por um caminho
tra que é a fa m ília do v io lin o que veio mais simpes.
s u b s titu ir as violas, e a orquestra então
foi tom ando form a, com as cordas con sti­ Principais características da música barroca
tuindo uma seção de peso em sua organiza­
ção — embora as outras seções ainda não 1- A retomada de tessituras leves e homo-
estivessem bem padronizadas. Todas essas fônicas (uma única melodia é ouvida contra
m odificações prepararam o surgim ento de um acom panham ento de acordes) com a
dois gigantes do barroco: Bach e Haendel; mesma apoiada em acordes simples. Retor­
e Vivaldi (barroco tardio). nando assim as tessituras polifônicas;

E nesse período tam bém que surge a 2- O baixo co n tín u o , torna-se a base de
monodia: uma única linha vocal, sustentada quase toda a música barroca - como já foi
por uma linha de baixo instrum ental, sobre explicado;
a qual os acordes eram construídos.
3- A fam ília das violas é substituída pela
É p rin c ip a lm e n te no barroco que a dos violinos;
orquestra com eçou a tom ar form a, como
co n h e ce m o s hoje em dia, pois no p rin ­ 4- Principais form as em pregadas: binária,
c íp io , o te rm o " o r q u e s tr a " era usa do ternária;
para designar um c o n ju n to , fo rm a d o ao
acaso, sendo que os m ú sico s to c a v a m
quase que ao m esm o te m p o , re sultan do
em um a g rand e "b a g u n ç a ". À m e dida
em que o século XVII avançava, e com
o a p e rfe iço a m e n to dos in s tru m e n to s de
corda em particular, o violino , por esplên­
didos artesãos, com o as fam ílias A m a ti,
G uarnieri e S tra d iv a ri, fizeram com que
a seção de cordas se to rnasse uma u n i­
dade indepe nde nte .

Então essa passou a constituir a base


da orquestra — um núcleo central aos quais
os com positores acrescentavam outros ins­
tru m e n to s, individ ualm ente ou em dupla,
de acordo com a proposta: Oboés, flautas,
fagotes, (sopro: família das madeiras) tro m ­
pas, trom petes e tím panos (sopro: família
dos metais).O ponto m arcante nesse perí­
odo é o surgim en to do baixo co n tin u o e
tinh a a presença de um órgão ou cravo
co n tín u o , preenchendo a harm onia, en ri­
quecendo a tessitura e, de fa to , mantendo
a unidade da o rq u e stra . A co m p o siçã o
desse período marca em m uitos aspectos
a música m undial, com adornos e arabes-
cos que ficam claro e depois inspiram a Johann Sebastian Bach, 1685-1750
palm ente os C oncertos Brandeburgueses.
Foi em Cõthen que Bach com pôs a maior
parte de ste gênero de m úsica: son ata s,
partitas, concertos e aberturas francesas.
As sonatas de Bach são das mais belas do
barroco, igualando-se às de Corelli, mas a
perfeição é atingida nas pa rtitas para v io ­
lino. Com efeito, Bach é o principal com po­
sitor alemão para violino de seu tem po.

Na obra c o n c e rta n te , é com Bach


que esta adquire a sua fo rm a m ais p e r­
fe ita , prin cipalm ente no te rceiro con certo
brandeburguês. Os in s tru m e n to s solistas
e a o rq u e s tra d ia lo ga m na m a io r p e rfe i­
Bach com três dos seus filhos ção , e tu d o is to g ra ça s à m a e s tria de
Bach sobre o c o n tra p o n to e à sua in ca n ­
J o h a n n S e b a s tia n B ach ( 1 6 8 5 ­ sável in v e n tiv id a d e m e ló d ica e e m o tiv i­
1 7 5 0 ) e n tra para a H is tó ria da M ú s ic a dade. Suas aberturas co n tê m alguns dos
com o o m aior c o m p o s ito r, não só da sua m a is fa m o s o s tre c h o s o rq u e s tra is da
era e do seu e s tilo mas com o de to d o s H istória da M úsica, e estão ao nível das
os te m p o s . Bach nasceu em E isena ch, paixões ou dos co n c e rto s .
num a fa m ília de m ú s ic o s . Logo após a
m o rte dos seus pais vai m o rar com seu
irm ã o , em O h rd ru f, onde seus e s tu d o s
seguem no la tim e no c a n to co ra l.

Na escola destaca-se com o grande


vio lin ista e can tor, o que vem a ser m uito
im p o rta n te para sua fo rm a ç ã o m u s ic a l.
Bach casa-se m ais ta rd e e tem 8 filh o s .
Sua esposa adoece e m orre; ele se casa
de novo e torna-se pai de mais 13 filh o s,
que herdam seu ta le n to para a m ú sica ,
ele va n d o o legado m u sica l de Bach ao
mais alto nível, sem , no e n tan to, alcançar
o do pai.

A m úsica de Bach é realm ente insp i­


rada por Deus. O uvindo a Paixão segundo
São M ateus e a Paixão segundo São João,
percebem os que ta le n to aliado a trabalho Busto de Bach, Carl Seffner, 1895

faz com que estas obras sejam únicas para


a m úsica, elevando o e sp írito e criando No fim de sua v id a Bach c o m p o ­
novas perspectivas na form a de com por. ria m enos. Nesse período ele co m e ço u
a fic a r cego, ela borando ainda as suítes
Deve-se, ainda, contar com a música para v io lo n c e lo , hoje consideradas com o
orquestral de Bach, que apesar da m enor a prova de fo g o de qualquer grande inté r
quantidade, é de igual im portância, prin ci­ prete deste in s tru m e n to .

>
Ficou completamente cego em 1750, e A ópera é um espetáculo co m posto
neste mesmo ano morrería em Leipzig, A le­ por interpretação cênica, acompanhamento
manha. Apesar da sua grande genialidade, musical e elaborados cenários e figurinos.
só a partir do revivalism o da sua música
(em 1825, com A Paixão de São João, diri­ P o ste riorm ente são organizados os
gida por Schumann) este grande com positor O ratórios com características m u ito s im i­
conquistou espaço na antologia da música lares à ópera. Com conotação to ta lm e n te
universal. Seu legado é, até os dias atuais, religiosa, são baseados em histórias sacras,
considerado patrimônio da humanidade. que na maioria das vezes eram tiradas da
Bíblia. Com o tem po tornaram-se totalm ente
Somente em 1850 sua obra começou litúrgicos, sem cenário, figurino ou atuação.
a ser sistem aticam ente publicada. Isso não
aconteceu em vida, talvez por Bach ter se Georg Friedrich Haendel (1 6 8 5 -1 7 5 9 ),
preocupado mais em com por do que em foi um dos grandes mestres do barroco. Con­
divulgar sua obra. tribuiu m uito para o estudo da polifonia na
música desse período. Sua obra mais conhe­
cida é Hallelujah (Aleluia), parte integrante
do oratório Messiah. A música de Haendel é
popular até hoje.

Apoio e Dafne, Giovanni Battista Tiepolo, 1744, Museu do Louvre

Ópera e Oratório m iO i
Durante o período da produção barroca
surgem as primeiras óperas e a orquestra se
organiza em definitivo. Dafne (1597), com ­
posta por Jacopo Peri, baseada em uma Cantata #33
narrativa mitológica grega, pode ser conside­
rada a primeira ópera. O estilo cênico-musi- O século XVIII é considerado a época
cal, a partir daí, contribui para o surgimento do baixo contínuo: instrumento (grave) man­
da figura do solista. tendo uma melodia base do começo ao fim .
c iru rg iã o . E studou em H alle, onde te v e
uma base cultural m uito fo rte , o que logo
se m ostrou evidente em seu tale nto para
música criando em seu pai grande fru s tra ­
ção, pois o queria jurista.

É nesse período que cantores conhe­


cid o s co m o c a s tra tis aparecem para o
m u ndo , com a e v o lu ç ã o da ópera e da
orquestra tornando-os verdadeiras estrelas
com paradas às dos dias de hoje. No perí­
odo da renascença eram lim itados apenas
ao meio eclesiástico, mas com a em anci­
pação da música e a divulgação dos seus
extraordinários ta le n to s , o público com e­
çou a te r interesse por seu tra balh o, d is ­
putando apresentações.

George Frederic Haendet, Thomas Hudson, 1749, óleo sobre


tela 121 x 100 cm (1685-1759)

Hallelujah, movimento mais conhecido do oratório Messiah de Cena do filme Farinelli, 1994, mostrando os castratis e sua

George Frederic Haendel contribuição para o canto coral

Dentre os mais famosos podemos citar:


FARINELLI, SENESINO, CAFARELI.

No mesmo período em que a música


instrumental passa a ter a mesma im portân­
Haendel nasceu na Alemanha e foi o cia que a vocal, os compositores ainda usam
segundo filho de seu pai que era barbeiro formas do período renascentistas.

96 7
0 fim do século XVII foi m arcado por mente aos conceitos clássicos, com grande
um grande avanço cie n tífic o e so cio cu ltu - exatidão técnica. Colunas e fro ntõ es, abó­
ral. Todas as áreas do co n hecim ento fic a ­ badas e arcos, fris o s decorados com bai-
ram em evidência. Foi lançado o prim eiro xos-relevos. Eram encomendas da alta bur­
D ic io n á rio de A rte s e C iências, na Ing la­ guesia que ostentava riqueza e poder.
terra, sob a direção de Ephrain Cham bers,
reforçando o espírito inte lectua l da época.
Nesse cen ário os va lo re s h u m a n is ta s , a
inspiração cien tífica e m udanças políticas
deram vida ao espírito neoclássico.

Neodassicismo

N e o c la s s ic is m o fo i um m o v im e n to
a rtís tic o e c u ltu ra l que se d e s e n v o lv e u
na Europa, e sp e cia lm e n te na França, no
final do século X V II. Inspirado nas form as
greco-rom anas, renunciou às estruturas do
Barroco (dram ática, su b je tiva , exagerada,
te o c ê n tric a ) e do R ococó (m u ito e x u b e ­
rante) e buscou inspiração nos princípios
estéticos da A ntiguidade Clássica (racional,
equilibrada, antrop ocê ntrica).

A aristocracia enfraquece de maneira


geral: é a queda do A n tig o R egim e em
andam ento. Em breve o mundo seria sacu­
dido pela Revolução Francesa (1 7 8 9 -1 8 1 5 )
e, a partir daí, a liderança com eça a ser da
burguesia industrial e financeira.

O neoclássico se confirm a, com unani­


midade entre a burguesia, como o estilo capaz
de mostrar a influência e o poder das novas
classes dominantes. Sua sobriedade e formas
monumentais evocam a inspiração nos valo­
res da Roma Antiga em sua fase republicana
e na época imperial dos césares.

Apresenta grandes avanços estéticos


nos cam pos da pintura, da escultura e na
arquitetura. Surgem grandiosas edificações
sim ilares aos edifícios públicos e tem plos
romanos. Suas form as obedecem rigorosa­ Biblioteca Sainte-Geneviève, Paris, França

1 ;
A perfeição do Neoclassicismo pode ser
vista no quadro anterior, em que Jacques-
Louis David (1748-1825) representou deze­
nas de pessoas. Cada uma delas foi retratada
com o seu rosto verdadeiro, de forma veros­
símil, como uma fotografia. Seus temas pre­
diletos eram relacionados à história e à nar­
rativa greco-romana. Representou as figuras
da sua época, especialmente Napoleão Bona­
parte: deixou-se inspirar por esta figura mítica,
retratando-a durante toda a sua vida.

Arco do Triunfo, 1806, 50 m, construído para comemorar as


vitórias militares de Napoleão Bonaparte, Paris, França

Pintura Neodássica

A pintura neodássica atende aos princí­


pios de racionalidade e objetividade comuns
aos conceitos clássicos. Predomina o uso
de tons insólitos, com modelagem discreta
e contrastes amenos. O uso da perspectiva
e movimento cadenciado é elaborado a par­
tir das informações adquiridas pela ação do
personagem. O domínio técnico e o desenho
rigoroso e linear dão vida ao belo ideal.

A tem ática é fom entada pelos adven­


tos históricos, representando feitos herói­
cos dos líderes p o lítico s e m ilitares da
época, relacionados à burguesia e à Revo­ Bonaparte cruzando os Alpes, Jacques-Louis David, 1800,
lução Francesa. óleo sobre tela, 261 x 221 cm. Castelo de Malmaison, França

Coroação de Napoleão, Jacques-Louis David, 1808, O Juramento dos Horácios, Jacques-Louis David, 1784,
6,21 x 9,79 m, Museu do Louvre, Paris óleo sobre tela, 330 x 425 cm, Museu do Louvre, Paris
A pintura O Juram ento dos Horácios,
na página anterior, apresenta um caráter tea­
tral, onde os soldados juram defesa à pátria.
A cena ocorre num ambiente romano, que
pode ser identificado pelos arcos que o ador­
nam. A posição dos personagens apresenta
rigor, coragem e determinação. É conside­
rada uma das-obras-primas do autor.

O utro célebre pin tor neoclássico foi


J e a n -A u g u ste D om inique Ingres (1 7 8 0 ­
1867). Ao contrário de David, suas obras
apresentam maior vigor anatômico e menor
comprometimento com o contexto histórico
e político da época.

A banhista de Valpiçon, Ingres, 1808, óleo sobre


tela, 146 x 97,5 cm, Museu do Louvre, Paris

Ingres revelou um inegável apuro té c­


nico na pintura do nu. Em sua célebre tela
acima, fica evidente o domínio dos tons cla­
ros e translúcidos (para a representação da
pele) e o domínio do desenho. É uma pintura
carregada de sensualidade: as costas nuas
são expostas em meio a um cenário forçado,
no qual se veem uma cortina voluptuosa em
tons verdes e o lençol em cor branca, suge­
rindo maciez e acolhimento.

Autorretrato com 24 anos, Ingres, 1804, Museu Condé, França

Ingres ficou fam oso por suas m ulhe­


res nuas e pela forma como as representava,
com nobreza e sobriedade. Realçava o corpo
fem inino, atribuindo-lhe uma beleza anatô­
mica sem precedentes e à sua nudez um
caráter ao mesmo tempo pudico e sensual.

Representou tam bém : temas histó ri­


cos antigos e m itológicos; retratos; cenas
de gênero; natureza m orta; paisagens. A
técnica mais utilizada em seu trabalho foi Os embaixadores de Agamemnon na tenda de Aquiles, 1801,
o óleo sobre tela. Ingres, óleo sobre tela, École des Beaux Arts, Paris
Apoteose de Homero, Ingres, 1827, óleo sobre tela, 388 x 515 cm. Museu do Louvre, Paris

A grande odalisca, Ingres, 1814, óleo sobre tela, 91 x 162 cm, Museu do Louvre, Paris
A forma como o artista trata a cor e os
outros elementos que compõem a imagem
(.Apoteose de H om ero) dignificam a obra e
o autor. O rigor das linhas e a postura dos
personagens enchem o plano artístico de
lirismo e despojamento. O tem plo ao fundo
acrescenta ainda mais elegância e charme
à pintura. O equilíbrio e a harmonia ce rtifi-
cam-na como um dos maiores exemplos de
arte clássica.

Escultura:

Os e s c u lto re s n e o c lá s s ic o s d e fe n ­ Eros e Psyche, Canova, 1786-1793, 155 cm de altura.


dem a re to m a d a da arte g re co -ro m a n a , Museu do Louvre, Paris
considerada m odelo de equilíbrio, clareza
e p ro p o rçã o . R espeitam -se os m o v im e n ­
to s e x p re s s iv o s e as p o siçõ e s reais do
co rp o . E sculturas de sold ado s u n ifo rm i­
zados e m ulheres cob erta s por d iscre tas
vestes são os principais tem as dos escul­
tores neoclássicos. Mais tarde, na época
de Napoleão, essa m odalidade artística se
representa por estátuas equestres e bus­
tos que evidenciam a personalidade apolí-
nia do ideal burguês.

A busca do equilíbrio p e rfe ito entre


n a tura lism o e beleza ideal fica e vid ente ,
pois os volumes e as diversas posições do Teseu e o Centauro, Canova, 1804-1819,
corpo são estudados com afinco em proje­ Kunsthistorisches museum, Viena, Áustria
tos com bastante realismo.
Neodassicismo no Brasil
Os m a te ria is mais u tiliz a d o s são o
mármore, o bronze e a terracota, os quais Em 18 1 6 , desem barca na costa bra­
recebem um tra ta m e n to delicado e m uito sileira um grupo de artistas e intelectuais
harmonioso. franceses trazido pela corte portuguesa. A
ele foi atribuído o nome de "M issão A rtís ­
Dentre os escultores do período, evi­ tic a Francesa", que tin h a com o o b je tiv o
dencia-se A n to n io Canova (1 7 5 7 -1 8 2 2 ). básico a re g u la m e n ta ç ã o do ensino de
Sua escultura em m árm ore representa os A rte no Brasil e a docum entação pictórica
a m ante s m ito ló g ic o s Eros e P syche. O de sua gente, seus costum es e natureza.
ab raço a p a ixo n a d o de am bos fo i re g is ­ A ssim , os m em bros da M issão re v o lu c io ­
tra d o para sem pre nessa obra do e s c u l­ naram a prim itiva form a de representação
to r ita lia n o . A sensualidade e e x p re s s iv i­ dos adventos relacionados com a corte. A
dade estão evidentes na graciosidade de beleza da paisagem, retratos, fauna e flora
m ovim ento e dram aticidade de gestos. Os b ra s ile ira s , bem com o os c o s tu m e s da
volum es e as proporções anatôm icas c o r­ época, form avam im portantes docum entos
respondem à realidade. dos acontecim entos sociais.
Diversos registros foram fe ito s por Debret, mais tarde, escreve o livro Via­
esses renomados artistas, que são, até hoje, gem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1831),
objetos de análise historiográfica e larga­ em dois volumes, considerado um dos pri­
mente utilizados para ilustrar a vida no Brasil meiros registros da nação recém-formada.
na primeira metade do século XVIII. Nessa obra as ilustrações retratam com
grande vigor o povo brasileiro.
Em 1 8 2 6 , é fu n d a d a a A ca d e m ia
Im p eria l de Belas A rte s , fu tu ra A c a d e ­
mia N a cio n a l, que ad o ta o g o s to neo-
clássico. Joachim Lebreton (1 7 6 0 -1 8 1 9 ),
e x -s e c re tá rio do In s titu t de France, fo i
responsável pela organização do projeto,
do qual era líder.

Integraram a missão:

Joachim Lebreton:
Pintor, líder e responsável;

Jean-Baptiste Debret (1768-1848):


Pintor de paisagens e costum es;
Negros e mulatos coletando esmolas para irmandades. Jean-

Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830): Baptiste Debret, Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil

Pintor de paisagens e de batalhas;

Auguste Henri Victor Grandjen de Montagny


(1776-1850):
A rquiteto;

Charles de Lavasseur:
A rquiteto;

A ugust Marie-Taunay (1 7 6 8 -1 8 2 4 ):
Escultor;

Charles-Simon Pradier (1783-1847):


Gravador;
Enterro de uma negra. Jean Debret

François Ovide:
Mecânico;

Jean Baptiste Leve:


Ferreiro;

Nicolas Magliori Enout:


Serralheiro;

Louis Jean Roy:


Carpinteiro. Enterro do filho de um rei negro, Jean Debret

102
A .. ^ pW7»
. X K.
A d ife re n ç a p e rc e p tív e l e n tre as H enry C ham berlain, resum e bem as m a r­
representações do enterro de um homem cas do p in to r - um p a is a g is ta fra n c ê s
e de uma m ulher, am bos negros, reside pouco a fe ito à e scravidã o, em busca da
no fa to do co rte jo da prim eira ser unica­ beleza dos tró p ic o s . Foi nom eado p ro ­
m ente de m ulheres, à exceção dos ca r­ fesso r da Escola Real de C iências, A rte s
regadores, do m estre de cerim ônias e do e O fício s, cargo que não chegou a o c u ­
acom panhante ao tam bor. par e fe tiv a m e n te . Realizou de co ra çõ e s
na cid a d e do Rio, na a cla m a çã o de D.
Mais tarde, outros artistas estrangei­ João VI.
ros, com o A ugu ste e A n to in e Taunay e
Johann M oritz Rugendas (1 8 0 2 -1 8 5 8 ) são A partir desse m om ento form am -se
atraídos para a Escola de Belas A rtes. vários pintores brasileiros, dentre os quais:
Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879)
e Rafael M endes Carvalho (1 8 1 7 -1 8 7 0 ),
retratistas de personalidades da época.

índios caçando onça, "Chasse au Tigre", Johann Rugendas,


litografia aquarelada - 20,5 x 26,5 cm

Retrato de D. Pedro I, Manuel de Araújo,


óleo sobre tela, 1826

M anuel de A ra ú jo fo i o prim eiro e


único Barão de Santo  ngelo. Foi pintor,
Vista do Pão-de-Açúcar, Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830) escritor, arquiteto, caricaturista, crítico e
historiador de arte e diplom ata brasileiro.
Na obra de A n to in e T aunay, as pai­
sagens cariocas são m ostradas à maneira Deixou trabalhos que marcariam a his­
de vila ita lia n a , com uma lu m in o sid a d e tória da arte brasileira, como o retrato de D.
um ta n to fo sca . A p in tu ra Vista do Pão- Pedro I, acima. Várias gerações de artistas
d e -A ç ú c a r, a p a rtir do te rra ç o de S ir brasileiros estudaram seu trabalho.
0 R om a ntism o , tam bém m o tiva d o toras que representam os acontecim entos
pela "Era das Revoluções", apresenta com ­ político-sociais da época.
portam ento divergente do Neoclassicismo.
V e rte n te su b jetiva, exagerada em todas Eugène Delacroix (1 798-1863) foi
as suas form as de expressão, valoriza as considerado romântico por excelência. Suas
angústias e dores que permeiam o s e n ti­ obras têm grande apelo visual e um vigor
m ento hum ano. Os p rotag on istas desse próprio do movim ento artístico. A liberdade
m ovim ento são ecléticos no que tange à guiando o po vo é um marco universal da
estética, conceitos musicais e tem as que representação das revoltas sociais: eviden­
d e s e n vo lve m . Não a p re se n ta m , e n fim , cia o espírito de liberdade (bela mulher de
uma linha unificada de ação. seios à mostra, empunhando a bandeira da
França) guiando o povo sofrido e molestado
No Brasil, cita-se a música do composi­ pela ação dos poderosos.
tor Antônio Carlos Gomes (1836-1896), autor
da famosa ópera O Guarani, impressionado
pela temática indigenista típica da época. É
uma conjugação cênica, plástica e musical de
grande apelo artístico e histórico.

Romantismo

Foi um movim ento artístico e cultural


de origem europeia. O ambiente intelectual e
político estava em grande ebulição. Surgia o
liberalismo político, o inconformismo social e
a rejeição às regras e convenções artísticas.
O advento foram as agitações sociais que se
seguiram à Revolução Francesa. As idéias
liberais, nacionalistas e o socialismo utópico A liberdade guiando o povo, Delacroix, 1830, 260 x 325 cm, Louvre
orientavam a ação dos m ovim entos políti­
cos e sociais. Do outro lado do Atlântico, as 0 quadro, pintado em 1830, comemora
independências das nações ibero-americanas a revolução liberal que derrubou Carlos X e
acentuavam o caráter revolucionário. levou ao trono Luís Felipe, o "rei burguês".

Na pintura Outro grande personagem da pintura do


período foi Francisco José de Goya y Lucien-
A representação pictórica romântica é tes (1746-1828). Pintor de origem espanhola,
caracterizada pelo forte contraste de luzes transitou por diversos estilos e temas, do
e som bras, m ovim ento excessivo propor­ Rococó ao Romantismo. Abusa dos efeitos
cionado uso de linhas curvas e na diagonal, de contraste e ilusão de profundidade de uma
excesso de dram aticidade e subjetivism o. forma extremamente expressiva. Executou
Naturalm ente não apresenta simetria nem suas composições com grande maestria e
equilíbrio na d istrib u içã o dos elem entos presteza. Suas obras impressionam pelo grau
visuais. São imagens provocativas e sedu­ de realidade e emocionam pela excessiva
expressividade. Goya cultiva magistralmente a O u tro p in to r do R o m a n tism o , que
pintura da imaginação, que dá passagem para m erece a te n ç ã o para seu tra b a lh o , é
o grotesco, para o fantástico e para o mons­ Willian Turner (1 7 7 5 -1 8 5 1 ), que elaborou
truoso da natureza humana. D e n tre suas paisagens com uma estética toda especial
ob ras de cu n h o p o lític o , d e s ta c a -s e o no tratam ento da luz. Sua proposta artística
3 de m a io de 1 8 0 8 , em que o a rtis ta pode ser exemplificada nas telas abaixo.
re g is tra o m a ssacre de c iv is pelas t r o ­
pas n a pole ônica s.

Suas ta p e ç a ria s e ca rtõ e s , com a


g ra cio sid a d e e beleza do R ococó e os
tem as com uns e supérfluos, são apresen­
tados com excelência form al. Foi pintor da
corte espanhola e não poupou a feiura da
nobreza em seus traços verossim ilhantes.

Mais tarde, Goya foi acom etido por


uma grave doença, que provocou te m p o ­
rária paralisia, parcial cegueira e surdez
to ta l. Tudo isso fez com que perdesse sua
vivacidade, seu dinam ism o e sua autocon­ A Batalha de Trafalgar, Willian Turner, 1839
fiança. Nessa época, elaborou uma série
de gravuras m o stran do as crueldades e
ho rro res co m e tid o s na guerra c o n tra a
dom inação francesa. Suas taurom aquias
são outra fam osa série de gravuras.

Mortlake Terrace, Willian Turner

jGrande hazana! jCon muertos!, Francisco Goya A obra M o rtla k e Terrace representa
um a cena ao e n ta rd e c e r, no in íc io do
verão, às margens do rio Tâmisa. As árvo­
res altas em sequência criam uma noção
de p e rsp e ctiva ; as luzes são por elas f il­
tra das. Poucas personagens presenciam
tal cena. Um pequenino c a ch o rro sobe
no parapeito para apreciar as águas, que
deslizam le n ta m e n te . Tudo, e n fim , c o la ­
bora para que o artista, fascinado pela luz,
possa representá-la em toda sua plenitude,
iQ ué hay que hacer mas?, Francisco Goya suavidade e beleza.
Não se pode deixar de ressaltar a impor­ Grandes representantes da música romântica:
tância de John Constable(1776-1837) Notá­
vel paisagista inglês. Seu naturalism o sin­ Frédéric Chopin; Giusepe Verdi; Richard Wagner;
cero re fle te ta n to a paz e a serenidade Claude Debussy.
como as atmosferas instáveis. Usa a cor de
forma vivida e com muita liberdade, o que Esses autores criaram com posições
provoca a admiração dos im pressionistas para pe q u e n o s a m b ie n te s , com e s tilo
franceses. São famosas as suas paisagens pessoal e em ocional.
com a Catedral de Salisbúria ao fundo, fei­
tas a partir de diferentes pontos de vista e Teatro Romântico
com diferentes iluminações.
O romantismo teatral surgiu na Alema­
nha, nas últim as décadas do século XVIII.
Johann W olfgang von Goethe (1749-1 832)
foi o responsável pela literatura inspiradora
da geração rom ântica. O sentim entalism o
romântico, o escapismo e o suicídio movem
o espírito dessa geração.

Na Inglaterra, essa nova tendência


surge nos prim eiros anos do século XIX.
E ntretanto, é o te a tro rom ântico francês
que a divulga para outras regiões do O ci­
dente. Foi assim que os intelectuais brasi­
leiros foram influenciados.

A Catedral de Salisbúria, vista do Jardim do Bispado, O teatro romântico compunha-se de poe­


John Constable, 1823, Victoria and Albert Museum, Londres sia e ficção. Também foram produzidas peças
de gênero dramático. Esse tipo de teatro se
Música romântica apoia na tradição teatral de Shakespeare, no
drama burguês e no teatro tradicional. É o
As revoluções liberais abalaram os período em que ocorre o rompimento com o
últim os resquícios da ordem absolutista e teatro clássico (espaço, tempo e ação). Os
tra sform ara m o pensam ento e as aspira­ espetáculos m ostram m últiplas situações
ções humanas. É nesse cenário que surge com seus respectivos personagens.
a música rom ântica, trazendo novos con­
ceito s co n trá rio s ao C lassicism o. A nte s Os adventos responsáveis pelo nasci­
re strita aos salões, a música tem sua lin­ mento do teatro brasileiro estão ligados ao
guagem sim plificada e é levada ao povo estabelecimento da corte portuguesa no Rio
com um tipo de com posição que valoriza de Janeiro (1808): a montagem da primeira
os acontecim entos nacionais e a liberdade companhia de teatro no Brasil, por João Cae­
conquistada. tano (1808-1863); a composição da primeira
peça romântica no Brasil, em 1838, por Gon­
Os rom ânticos tinham na em oção e çalves de Magalhães.
na expressão subjetivas seu maior tru n fo
e em suas letras inspirações na literatura e Em 1 8 1 0 , D. João VI manda c o n s ­
nas artes visuais. Essa música procurava tru ir a primeira casa de espetáculos, o Tea­
captar das pinturas, das relações sociais e tro São João (atual Teatro João Caetano),
das histórias suas emoções. que m ovim entou boa parte da vida teatral
brasileira; a princípio um te a tro e litista a Sua peça fo i e n cena da pela c o m ­
serviço da Corte. panhia de João C aetano, o prim eiro ator
verdadeiram ente brasileiro.
Com a Independência do Brasil, em
1822, nasce um sentimento de nacionalidade Martins Pena (1815-1848).
e necessidade de auto-afirmação da Pátria.
A elite, como de costume, envia seus filhos O ju iz de paz na roça é uma comédia
para estudarem na Europa e essas gerações encenada em outubro de 1838, pela compa­
letradas demandam por produtos culturais nhia teatral de João Caetano. Com o sucesso
com estética eurocêntrica. desse espetáculo, nasce a necessidade da
formação de um elenco puramente brasileiro.
T odavia, o c o n tra ste entre a so c ie ­
dade e econom ia em relação à europeia A obra de M artins Pena é de grande
destoa dos padrões e stilístico s co n su m i­ im portância na dram aturgia do país. Foi o
dos no âm bito cultural. Enquanto a Europa primeiro dram aturgo a usar no palco uma
e stru tu ra -se na in d ú stria , o Brasil ainda linguagem brasileira, criando caricaturas
vive uma sociedade a ris to c rá tic a depen­ através das quais criticava os costumes da
dente da mão de obra escrava. época, como por exemplo: o jovem ingênuo
e trapalhão, mas bem intencionado; a moci­
No início do século XIX, a economia nha namoradeira; o sertanejo bronco, mas
agroexportadora vive um momento de cres­ puro de coração; o estrangeiro espertalhão
cim ento acelerado; o café é seu principal que quer enganar o povo da terra.
produto e riqueza. A criação de bibliotecas,
museus, jornais e escolas superiores, incen­ Algum as obras:
tivam as atividades artísticas. Despontam
os dramaturgos românticos brasileiros: O Judas no sábado de aleluia (1844) - trata
de amores contrariados, tendo como pano
Gonçalves Magalhães (1 8 1 1 -1 8 8 2 ): de fundo as superstições populares;

Um e s b o ç o para o R o m a n tis m o B rasileiro. Os dois ou O inglês m aquinista (1845) -


sátira do cinismo de muitos estrangeiros, que
Foi quem introduziu o Romantismo no enriqueciam mais ou menos honestamente
Brasil, estreando com a peça Antônio José ou no Brasil. Por exemplo: invenção da máquina
O poeta e a Inquisição, em 13 de março de que transforma rapidamente bois em bifes;
1838, data histórica para o teatro brasileiro.
Os três médicos (1845);
Não se pode caracterizar o Rom an­
tism o Brasileiro com todas as mesmas nor­ O diletante (1845);
mas do Europeu, pois no Brasil não havia a
que se opor, e sim um objetivo: resolver os A s casadas solteiras (1845);
problemas internos com urgência.
O terrível capitão-do-mato (1846) - paródia de
A novidade nas representações te a ­ Ote/o de Shakespeare;
tra is de G on ça lve s M agalhães está na
fo rm a da re p re s e n ta ç ã o . S u b s titu iu a A barriga do meu tio (1846);
ca n tile n a pela declam ação m ais e x p re s ­
siva , o que levo u os a rtis ta s a a d o ta r Quem casa quer casa (1847);
uma nova p o s tu ra , com m ais liberdade
de criação. O noviço (1853).
Trechos da peça: O Ju iz de Paz da Roça, esta contenda, que é darem os senhores
M artins Pena. Cena XI (...) este leitão de presente a alguma pessoa.
Não digo com isso que mo dêem.
Escrivão, lendo — Diz João de Sampaio que,
sendo ele "senhor absoluto de um leitão que Tom ás - Lem bra V ossa S enhoria bem .
teve a porca mais velha da casa, aconte­ Peço licença a Vossa Senhoria para lhe
ceu que o dito acima referido leitão furasse ofe rece r.
a cerca do Sr. Tomás pela parte de trás, e
com a sem-cerimônia que tem todo o porco, Juiz - M u ito o b riga do. É o senhor um
fuçasse a horta do mesmo senhor. Vou a res­ homem de bem, que não gosta de deman­
peito de dizer, Sr. Juiz, que o leitão, carece das. E que diz o Sr. Sampaio?
agora advertir, não tem culpa, porque nunca
vi um porco pensar como um cão, que é outra Sampaio - Vou a respeito de dizer que se
qualidade de alimária e que pensa às vezes Vossa Senhoria aceita, fico contente.
como um homem. Para V.Sa. não pensar que
minto, lhe conto uma história: a minha cadela Juiz - M u ito obriga do, m u ito obrigado!
Tróia, aquela mesma que escapou de morder Faça o favor de deixar ver. Ó homem, está
a V.Sa. naquela noite, depois que lhe dei gordo, tem toucinho de quatro dedos! Com
uma tunda nunca mais comeu na cuia com efeito! Ora, Sr. Tomás, eu que gosto tanto
os pequenos. Mas vou a respeito de dizer que de porco com ervilha!
o Sr. Tomás não tem razão em querer ficar
com o leitão só porque comeu três ou quatro Tomás - Se Vossa Senhoria quer, posso
cabeças de nabo. Assim, peço a V. Sa. que mandar algumas.
mande entregar-me o leitão. E. R. M. "
Juiz - Faz-me m u ito fa v o r. Tom e o le i­
Juiz - É verdade, Sr. Tom ás, o que o Sr. tã o e bo te no c h iq u e iro quando passar.
Sampaio diz? Sabe aonde é?

Tomás - É verdade que o leitão era dele, Tomás, tomando o leitão - Sim senhor.
porém agora é meu.
Juiz - Podem se retirar, estão conciliados.
Sampaio - Mas se era m eu, e o senhor
nem mo com prou, nem eu Iho dei, com o Com M artins Pena a gente brasileira
pode ser seu? se apresenta e exige seu lugar. E o fez
com tan ta autenticidade que merece, de
Tomás - É meu, tenho dito. Sílvio Romero (notório jornalista e crítico
literário da época), a observação de que a
Sampaio - Pois não é, não senhor. (A gar­ sua comédia é o painel histórico da vida do
ram am bos no leitão e puxam , cada um país, na primeira metade do século XIX.
para sua banda.)
Com o caminho aberto por Gonçalves
Juiz, levantando-se - Larguem o pobre Magalhães e M artins Pena, outros rom an­
animal, não o matem! cistas e poetas interessaram-se pelo teatro,
Tomás - Deixe-me, senhor! por ser este o meio de com unicação mais
imediato. Cabe lembrar que, assim como a
Juiz - Sr. E scrivão, cham e o m e irin h o . televisão e o cinema são os grandes veícu­
(Os dous apartam -se.) Espere, Sr. Escri­ los de comunicação atuais, o teatro, ju n ta ­
vão, não é preciso. (A ssenta-se.) M eus mente com a literatura e os jornais, eram
senhores, só vejo um m odo de con cilia r os grandes difusores de idéias.
Conhecendo os outros rom ancistas e suas Joaquim Manoel de Macedo, romancista:
características:
A u to r de A M o re n in h a , rom ance e s c ri­
Gonçalves Dias (1a fase): to enqua nto estava em férias escolares
na cidade de Ita boraí, RJ. Foi adaptado
para o te a tro .
Deixa-se conduzir pelos valores universais
e não nacionais;
A característica do teatro de Macedo
é a sua total despreocupação de uma pes­
Escreveu P atkull, B eatriz C euci e Leonor
quisa no cam po da fo rm a . C om o seus
de M endonça, te x to de m aior intensidade
te m a s e n c o n tra v a m acesso no p ú b lico
ro m ân tica;
médio, o autor não se sentiu no dever de
pesquisar uma form a própria e original. No
Não viu suas peças representadas.
entanto, seu estilo é de profunda pessoali-
dade, pelo encanto e pelo seu ritm o cons­
Álvares de Azevedo: tantem ente adolescente.

Extrem amente rom ântico e boêmio; M a c e d o le g o u -n o s a lg u m a s das


melhores peças do século XIX. Difere de
Sua co n tribu ição para o te a tro fo i in co m ­ M artins Pena, pois em lugar de ser p a rti­
pleta. Foram te n tativa s dram áticas; cular, procurava ser genérico. C riticava o
vício e não o viciado. Procurava critica r a
M acário\ te x to que exem plifica sua desor­ sociedade em seus m últip los aspectos.
denada liberdade poética.
Algum as de suas obras dram áticas:
Casimiro de Abreu:
O cego, Cobé, O fa n ta sm a bra n co e O
prim o da Califórnia são te xto s que o inicia­
Foi exilado em Lisboa, a mando do próprio
ram com o autor dram ático. O últim o des­
pai, para afastá-lo da arte;
ses é o de maior sucesso.

Estreia no Teatro D. Fernando (18/01/1856)


R om ance de um a velha, C in cin a to Que-
Camões e Jaú (cena dramática em um ato);
bra-Louças, O m acaco da vizinha, Lusbeia,
Remissão de pecados (ilustra o adultério,
A sim plicidade de seus diálogos c a ra c te ­
o roubo, a prostituição e a falta à palavra
rizam seus te x to s .
empenhada).

Castro Alves, o poeta da abolição: José de Alencar, romancista:


(01/05/1829-1877 Ceará)
Para o crítico Sábato Magaldi, foram suas
peças a melhor contribuição para o teatro Ao te a tro dedica apenas 4 anos de sua
romântico, depois de Leonor de Mendonça. vida. Em poucos meses são encenadas
três obras: Rio de Janeiro ou Verso e re ­
Sua peça Gonzaga ou a Revolução de Minas verso, A s asas de um anjo e O je s u íta ,
é um drama romântico, de muita inspiração, com posta para João C aetano, que de­
transbordante de riqueza e intenções. pois de alguns ensaios desistiu de apre­
sentá-la. Por esse m o tiv o o au tor criou a
Toda sua obra engaja-se na defesa dos escra­ ideia de que o público não se interessava
vos e até na Proclamação da República. pelas obras de dram a turg os nacionais.
A grande preocupação de Alencar, em
relação à comédia, era "fazer rir sem corar".
Sua comicidade é sempre com decoro. Elimi­
nou os chamados "apartes" e os solilóquios,
usados abusivamente até então. Foi autor
das comédias: O crédito, As asas de um
anjo, A expiação e O que é um casamento.

A m ãe é uma peça e m o c io n a n te ,
com o ele dizia, para "fa ze r chorar sem
arrepiar". Alencar tam bém investe na pos­
sibilidade de um segundo am or em sua Teatro de Ópera de Paris, Charles Garnier
criação, não que fosse contrário ao m ito
de um único amor.

José de Alencar foi criticado, pois diziam


que excedia na propaganda abolicionista.

Pode-se co n clu ir que os poetas e


romancistas brasileiros muito contribuíram
para a história do teatro no Brasil. Embora
não tenham tid o m u ito tem po para tal
desempenho, alguns pela vida breve e outros
pela falta de dedicação integral, todos par­
ticiparam da construção de uma literatura Parlamento de Londres, Charles Barry e
nacional, preocupados com os problemas Augustus Pugin, séc. XIX

da sociedade no século XIX.


A pintura romântica no Brasil
Arquitetura Romântica
Surge em 1 8 3 0 , influ encia da pela
M arcada pelo e c le tis m o e s té tic o , Independência (1822). Seus temas aludiam
tin h a caráter h is to ric is ta , inspirado em à natureza, à vida política e social da época
estilo s a rq u ite tô n ico s anteriores. Foram e, sobretudo, às causas indígenas, tão
criadas obras de form a exuberante e sedu­ presentes no imaginário dos intelectuais e
tora, consideradas neogóticas. Reprodu­ artistas naquele momento.
ziam a grandiosidade dos castelos e igre­
jas m edievais dentro de uma visão mais Podemos citar como importantes repre­
profana. Teatros, museus e prédios públi­ sentantes: Araújo Porto-Alegre (1806-1879),
cos foram suntuosam ente erigidos. Rodolfo Amoedo (1857-1941) e outros. Os
pintores procuram registrar em seus quadros
Entre os a rq u ite to s mais re co n h e ­ os acontecim entos relativos à história do
cidos desse período, deve-se m encionar Brasil. A nação recém-formada começava a
Charles Garnier (1 8 2 5 -1 8 9 8 ), responsá­ criar sua identidade e, devido à diversidade
vel pelo Teatro de Ópera de Paris; Char­ de povos e regiões, era necessário construir
les Barry (1 7 9 5 -1 8 6 0 ) e Augustus Pugin um sentimento de pertencimento.
(1 8 1 2 -1 8 5 2 ), que reconstruíram o Parla­
mento de Londres; e Hermann Waesemann As cores ganham ainda mais v iv a c i­
(1 8 1 3 -1 8 7 9 ), na Alem anha, responsável dade, as formas mais expressão e as linhas
pelo distrito neogótico de Berlim. dão maior dinamismo às cenas.
O último tamoio, Rodolfo Amoedo
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

Na obra O último tamoio podemos notar


o forte apelo religioso, espiritual e histórico
(faz alusão ao fim da C onfederação dos
Tamoios, no século XVI). A cena é diagona- Tiradentes Esquartejado, Pedro Américo, 1893
lizada pela distribuição da luz, que divide a
imagem em dois momentos distintos: a pre­ O a rtis ta expõe o personagem de
sença do padre, que abençoa o índio, e das form a dilacerada, com elem entos de to r ­
aves, que simbolizam a espiritualidade. tura, como cordas, pregos, cadafalso e o
crucifixo. O uso da cor vermelha nas áreas
Pedro Am érico de Figueiredo e Melo da cabeça e perna, bem com o as linhas
(1843-1905), resgata a figura de Tiradentes rigorosas e na diagonal aum entam a dra-
como herói dos ideais republicanos, compa­ maticidade da cena.
rando o protagonista com Jesus Cristo. Os
elementos da cena são representados em A idealização da história brasileira é
uma sobreposição de triângulos, que desta­ bem exem plificada no quadro O g rito do
cam os fatos relevantes da obra. Ipiranga, representado abaixo.

independência ou Morte, mais conhecido como O Grito do Ipiranga, Pedro Américo, 1888, Museu Paulista

111
A segunda m e ta d e do sécu lo X IX O Realismo
fo i marcada por grandes tra nsfo rm açõ es
te c n o ló g ic a s e s o c ia is . As te o ria s f ilo ­ A segunda fase da Revolução Indus­
sófica s e c ie n tífic a s m udaram a direção tria l tro u xe a perspectiva das distinções
dos in te le c tu a is e a rtis ta s , que p a ssa ­ entre capital e trabalho e da exploração do
ram a re p re s e n ta r o hom em e a s o c ie ­ homem pelo homem.
dade da época em busca da sem elhança
com o real. Com o avanço te cn o ló g ico , a socie­
dade muda seu foco e passa a pensar de
Os c o n ce ito s e sté tic o s e lite rá rio s form a mais objetiva, com propósitos mais
evocavam a racionalidade e tinham como fu n cio n a is do que e s té tic o s . A ideia de
fo c o as in ju stiça s sofridas pelo homem progresso é aliada ao pragm atismo.
com um , como operários e camponeses.
A e s té tic a realista representa uma
Longe dos apelos e excessos rom ân­ reação ao s u b je tiv is m o do ro m a n tism o .
ticos, os realistas pautavam seus trabalhos Sua ra d ica liza çã o rum o à o b je tiv id a d e ,
na verdade e nos conceitos que motivaram conjugada com as idéias da época, leva
os grandes conflitos políticos da época. As ao Naturalism o. M uitas vezes Realismo e
lutas sociais ganhavam tom radical. Naturalismo se confundem .

Os quebradores de pedra, Gustave Courbet, óleo sobre tela, 160 x 259 cm

112
Na pintura, as obras privilegiam cenas Na te p id e z de seus to n s ocres e
cotidianas de grupos sociais menos fa v o ­ m arrons, na sobriedade e dignidade das
recidos. O tip o de com posição e o uso fo rm a s hum anas, na palidez de sua luz,
das cores neutras e em tons cinzas criam M illet representa a integração entre seus
telas pesadas e triste s. As linhas propor­ pe rso n a g e n s e a n a tu re z a . Os c a m p o ­
cionam obras com um m ovim ento natural, neses ganham m a g n itu d e nas mãos do
condicion ado pela ação do personagem . hábil a rtis ta . Em sua obra A n g e lu s , faz
As perspectivas e volumes, bem como os alusão não só à vida dos tra balh ado res
contrastes de luz e sombra, sugerem natu­ do cam po com o tam bém traz conotação
ralidade e introspecção. religiosa. Esse quadro exprim e seu c o m ­
prom isso realista, pois nele m ostra dois
O fra n cê s G ustave C ourbet (1 8 1 9 ­ ca m p o n e se s rezand o, dando graças a
1877) foi o grande expoente do Realismo. Deus pela colheita obtida através do suor
Dizia que nunca haveria de pintar um anjo, e do esforço de m uitos dias. Denomina-se
pois nunca havia v is to um. Para ele, a "A n g e lu s " a prática religiosa dedicada à
beleza estava na verdade. Imaculada C onceição, que acontece três
vezes ao dia - costum e habitual na Europa
A obra Os quebradores de pedra evi­ católica do século XIX.
dencia o tra balh o pesado dos operários.
Posteriorm ente foi considerada um m ani­ Outro grande e respeitado pintor é o
festo socialista, quando a sua intenção ori­ a rtista Édouard M anet (1 8 3 2 -1 8 8 3 ). Foi
ginal seria representar, afinal, apenas um c o n s id e ra d o o p re c u rs o r do Im p ressio -
trabalho miserável. nism o. Sua obra Um b a r em Folies Ber-
gère foi apresentada no salão de Paris, em
Ao lado de C ou rbe t, Jean-F rançois 1882. A pintura descreve uma cena típica
M ille t (1 8 1 4 -1 8 7 5 ) fo i um dos principais de um bar francês, onde os elementos que
representantes do realism o europeu. Sua com põem a cena (balcão, talheres, flores,
obra fo i uma resposta à e sté tica rom ân­ garrafas, etc.) criam um espaço triangular
tic a , exagerada e irracional, e deu form a que culmina no colo da personagem.
à realidade da vida p ro le tá ria : operários
e cam poneses. Na imagem refletida no espelho, o salão
é exposto de forma inversa, com as costas
da personagem em contraste com a elite.

Angelus, Jean-François Millet, 1858, Um bar em Folies Bergère, Édouard Manet, 1882 , óleo sobre
óleo sobre tela , 55 x 66 cm, Museu d'Orsay, Paris tela, 96 x 130 cm, Tate Modern National Gallery, Londres
A a rq u ite tu ra r e a lis ta fo i p a u ­ A escultura realista não se preocupou
tada pelas necessidades geradas pelo cres­ com a idealização da realidade social. Ao
cimento industrial e tecnológico. As formas co n trá rio , procurou recriar os seres tais
valorizavam os conceitos de racionalidade com o eles são. D entre os e scu ltore s, o
e funcionalidade. Os m ateriais industriais que mais se destacou foi A uguste Rodin
promoviam construções mais práticas e de (1 8 4 0 -1 9 1 7 ) , cuja p ro d u çã o d e sp e rta
concepções mais instantâneas e seguras. m uita curiosidade e admiração.
Os ricos palácios e igrejas foram substituí­
dos por fábricas, casas populares, escolas M u ito interessado pelas esculturas
e hospitais públicos, bibliotecas, ferrovias, de Donatello e Michelângelo, buscou uma
armazéns e outros. Em 1889, Alexandre expressividade naturalista dentro dos parâ­
Gustave Eiffel (1 8 3 2 -1 9 2 3 ) levantou, em metros da época.
Paris, a Torre Eiffel.

Danaíde, August Rodin, Museu Rodin, França

Danaíde co n verte em beleza e per­


feição uma das lendas gregas. A precisão
anatôm ica, a representação do cabelo ao
Torre Eiffel, séc XIX, Paris, França pé, a partir da pedra, só é possível devido à
maestria do artista.

Sesc Pompéia, São Paulo, Brasil O beijo, August Rodin, Museu Rodin, Paris
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A porta do inferno, Auguste Rodin, cópia produzida através da matriz original. Universidade Stanford, Califórnia, EUA
Teatro realista

0 teatro passa a ter uma conotação


social e histórica e encontra um novo estilo
de encenação e cenário, mas também há uma
evolução na parte escrita e falada. O palco se
transforma e ganha sofás, vasos, abajures e
plantas, dando caráter da vida real.

D en tre os p rin c ip a is d ra m a tu rg o s
do R ealism o te m o s A le x a n d re D um as
Filho (1 8 2 4 -1 8 9 5 ) - A dam a das cam é­
lias, Henrik Ibsen (1 8 2 8 -1 9 0 6 ) - Casa de
bonecas, M áxim o Gorki (1 8 6 8 -1 9 3 6 ) - Os
pequenos burgueses e Gerhart Hauptmann
(1 8 6 2 -1 9 4 6 ) - Os tecelões. Nessas peças
o dram a social e a h ip o crisia da ordem
burguesa são colocados em questão.
Caipira picando fumo, 1893, José Ferraz de Almeida Júnior
Pinacoteca do Estado de São Paulo

Realismo brasileiro
A obra de A lm e id a J ú n io r (1 8 5 0 ­
Os acontecim entos que marcaram o 1899) acim a, retrata um tip o com um do
período são a crise do Império e o processo de interior brasileiro. Seus hábitos, costum es
urbanização. O realismo se desenvolve dentro e brejeirices estão e xp lícito s na imagem
desse contexto e mantém o foco de caráter que, com cores naturais e opacas, linhas
histórico, que aborda de maneira natural os predom inantem ente retas e profundidade
adventos da época. Os tipos sociais também real, resume o tipo de vida do protagonista
fazem parte de sua temática. do interior, em especial de Minas Gerais,
Goiás e São Paulo: o caipira.

O Realismo e a fotografia

Desde o século X eram feita s expe­


riências a partir de câmaras escuras para
o registro de imagens. O desenvolvim ento
tecnológico no século XIX permitiu a efe ti­
vação da fotografia. As perspectivas realis­
tas deram-lhe orientação quanto à tem ática
e enquadramento. A fotografia ganhou rapi­
damente cunho e conceito de arte.

Uma im agem produzida, em 1 8 2 6 ,


pelo fra n c ê s Joseph N icéphore Niépce
(1 7 6 5 -1 8 3 3 ), através de uma chapa de
estanho co b erta por p e tró le o , m arca o
princípio da fo to g ra fia . Na mesma época,
outro francês, Louis Daguerre (1787-1851),
Fala do trono, 1873, Pedro Américo, Museu Imperial, RJ produziu uma m áquina com efeitos visu-
ais numa apresentação. A divulgação do
evento resultou numa sociedade entre eles
e, assim, as pesquisas ganharam força.

Mais tarde, Daguerre desenvolveu um


procedimento que reduzia o tem po de reve­
lação de forma m uito significativa, e deno­
minou-o de "daguerreotipia". Esse processo
foi o m em ento que resultou no estudo da
incidência da luz sobre os objetos, denomi­
nado impressionismo fotográfico.

A fo tografia pode ser definida como A morte do soldado legalista, próximo ao cerco de Muriano,
um processo instantâneo de captação de Robert Capa, Guerra Civil espanhola, 1936, Córdoba
imagens através da luz, fixando-a em um
papel fo tográfico ou a uma superfície sen­
sível. Devido a essa técnica, os artistas rea­
listas partiram para outras pesquisas estéti­
cas e temáticas. Hoje, os meios digitais são
capazes de provocar a redução dos custos
e a melhoria nas imagens obtidas.

Ao longo do século X X, a fo tografia


dem arcou estilos e autores. Tanto com o
re gistro quanto com o arte é parte in d is ­
sociável da apreciação e sté tica c o n te m ­
porânea. São diversas as modalidades ou Massacre da Praça da Paz Celestial, 1989, Pequim, China
os m otivos que alimentam a atividade dos
fo tó g ra fo s . A seg uir são aprese nta dos
alguns exemplos de tem as e form as abor­
dados pela fotografia mundial.

Temas históricos / jornalísticos

Ataques de 11 de setembro ao World Trade Center,


Iraque, foto de Jean-Marc Bouju, 2001, Nova Iorque, EUA 2001, Nova Iorque, EUA
Retratos Social

Man Ray, fotografado por Carl van Vechten, 1934

Retratos de crianças do livro Êxodos, Sebastião Salgado, 2000

"M in h a s fo to g r a fia s são um v e to r


e n tre o que a c o n te c e no m u n d o e as
Campo de Cazombo, em Luena, para angolanos deslocados, pessoas que não têm com o presenciar o
Província de Alto Zambeze, Sebastião Salgado, 1997, Angola que a co nte ce. Espero que a pessoa que
e n tra r num a e x p o s iç ã o m inha não saia
a m e sm a ."
Sebastião Salgado

Cantora americana Lady Gaga Sebastião Salgado em exposição de seu livro África
No fin a l do século X IX , após uma imagem, numa brincadeira visual de grande
crise histé rica, um crítico de arte, ao se beleza. A luz e a cor apresentam-se como
opor à m aneira com o os a rtis ta s desen­ os elem entos p ro ta g o n ista s enquanto a
v o lv ia m suas ob ra s, bradou em a lto e linha perde sua im po rtâ ncia. A imagem
p e jo ra tivo to m : "estas são telas im p re s­ parece vibrar com energia e vigor.
sio n a n te s". A ssim ficaram conhecidas e
o te rm o "Im p re s s io n is m o ", que de pe jo­ Claude M onet (1 8 4 0 -1 9 2 6 ) é con si­
ra tiv o não tin h a nada, to m o u fo rm a e derado um dos nomes mais im portantes da
nomeou o m ovim ento. pintura m undial. Ao lado de Paul Cézanne
(1 8 3 9 -1 9 0 6 ), valorizou a pintura de pai­
A produção desses artistas era pau­ sagens, conferindo a ela a mesma im por­
tada na relação de artes, ciência e na cap­ tân cia dos gêneros nobres, dos re trato s
tação dos efeitos efêm eros da incidência e das cenas h istó rica s. Para se te r uma
da luz, sobre os objetos e pessoas. ideia da dim ensão revolucionária de seu
tra b a lh o , desde o R enascim ento o tem a
Impressionismo central da pintura era a figura humana.

A A rte Im p re s s io n is ta , ta m b é m A tualm ente, a maioria de suas obras


conhecida com o "Revolução da M ancha", está na França e nos EUA. Em Paris, pode-se
surgiu na Europa e visava uma profunda ter uma visão de conjunto da sua produção
pesquisa c ie n tífic a re la cio n a d a com a no Museu d'Orsay e no Museu Marmottan.
luz. Os a rtis ta s desse m o vim e n to re tra ­
tavam os objetos e pessoas e xp o sto s à
luz natural e sua pintura era processada
em tem po real.

As pinceladas soltas eram de cor pura e


diretamente na tela, o que dispensava o uso
da paleta, tão comum em outros momentos.
Assim, a mistura das cores se dava a partir
de um processo óptico: de perto parecia um
conjunto de borrões coloridos, enquanto que
à distância a imagem tomava forma, como
num passe de mágica. A cor complementar
era usada para criar o efeito de sombra, como
por exemplo: o verde fazia a sombra do ver­
melho; o azul do laranja; o roxo do amarelo. Impressão, sol nascente, 1874, Claude Monet.
Museu Marmottan, Paris
O volum e e a solidez, características
da pintura tradicional, começam a ser des­ A obra Impressão, sol nascente, que dá
respeitados, abrindo caminho para as van­ nome ao movimento, é uma vista do Porto
guardas estéticas do século XX. A form a de Havre. Os barcos e a fumaça das indús­
cede lugar ao caráter mágico da represen­ trias misturam-se com a neblina matinal. O
tação, que desloca o foco, o contorno da Sol nasce e, por conseguinte, a luz.
Ponte japonesa, Claude Monet, 1918-1924, Minneapolis
Institute of Arts, Minnesota, EUA

As duas telas Ponte japonesa, pintadas


em diferentes momentos de sua vida mos­
tram a diferença de imagens produzidas pelo
artista. Na segunda representação ele está
sofrendo de problemas visuais (catarata) e
sua obra ganha um aspecto mais rústico.
Catedral de Rouen, Monet, Museu do Louvre, Paris
Auguste Renoir (1 8 4 1 -1 9 1 9 ) é outro
M onet pintou, durante um ano e em grande expoente do m ovim ento impressio­
horários diferentes, cinquenta imagens da nista. Seu estilo artístico era marcado pela
Catedral de Rouen, reproduzindo a incidência presença de cores fortes e brilhantes, te x ­
da luz. Assim, pretendia analisar as diferentes turas e linhas harm ônicas. O sentim ento
influências que a luminosidade pode exercer lírico é outra característica im portante nas
sobre a percepção da realidade. obras de Renoir. Em suas pinturas preva­
lecem as form as humanas individuais, gru­
pos de pessoas e paisagens.

Ponte japonesa, Claude Monet, 1899, Galeria Nacional de Renoir, Almoço dos remadores (1880-1881),

Arte, Washington D.C. EUA óleo sobre tela, Phillips Collection, Washington

120
%%

A pequena bailarina de catorze anos, Renoir, escultura em cera,


1881, livro-catálogo da exposição "Edgar Degas: O Universo de
um Artista", Museu de Arte Moderna de São Paulo
O pescador, Renoir, 1867, óleo sobre tela
A jovem magra e desajeitada que ser­
Edgar Degas (1 8 3 4 -1 9 1 7 ) fo i um viu de modelo para o artista, na obra acima,
influente artista do final do século XIX. Sua descendia de familia humilde e representava
produção, considerada impressionista, apre­ uma gama significativa de garotas que, à
senta um ecletismo estético e tem ático que epoca, lutavam por melhores condições de
o diferencia dos artistas do período. As cenas vida. A estrutura física, bem como o material
de degradação social por ele registradas trans­ usado pelo artista, evidenciam a fragilidade
portam-no para o contexto do Realismo. da personagem, representando uma classe
de meninas que sucumbiam ante a miséria e
Sua série de bailarinas, tanto na pintura o machismo. Representa também uma socie­
quanto na escultura, evidencia uma técnica dade fragilizada e hipócrita em seus valores.
apurada e de rara beleza.
Pós-impressionistas

Grupo de artistas que propunha ecle­


tism o estético e form al, liberdade de repre­
sentação e leitura dos acontecim entos da
época. Preconizaram as estéticas do século
XX. Ditaram normas que seriam, mais tarde,
revistas e adaptadas às novas necessidades
estilísticas. Os mais influentes pós-impres­
sionistas foram Paul Gauguin, Paul Cézanne,
Van Gogh, Henri Rousseau, Georges Seurat,
e Henri de Toulouse-Lautrec.

Van Gogh (1 8 5 3 -1 8 9 0 ), pintor holan­


dês, representava os próprios sentim entos
de form a m uito efusiva em seus trabalhos.
Através de pinceladas densas, dinâmicas e
de cores intensas registrava, em imagens
expressivas, todo o seu sofrim ento, angús­
tia e desilusão. T ransitou por tem as que
A primeira bailarina, Degas, 1878, Museu d'Orsay. Obra que denunciavam as condiçõe s de vida dos
apresenta grande leveza de movimentos, delicadeza das cores e mineradores e camponeses. Retratou natu­
capacidade de apreender a atmosfera feérica e graciosa dos balés rezas-mortas com maestria e valor estético.
e das bailarinas, o que lhe valeu o nome de "pintor das bailarinas". Sugeria, no conjunto de suas obras, muita
sensibilidade artística e humana. Sua té c ­
nica orientou a produção expressionista de
sua época.

Quarto em Ades, Vincent Van Gogh, 1888, óleo em tela,


72 x 90 cm, Museu Van Gogh, Amsterdã, Holanda

A noite estrelada, Vincent Van Gogh, 1889, óleo sobre tela, Paul Gauguin (1848-1903), pintor de
73,7 x 92,1 cm, Museu de Arte Moderna, Nova Iorque origem francesa que praticava a pintura, em
sua fase inicial, como lazer. Mais tarde assu­
A obra A n o ite estrelada fo i ela bo­ miu o ofício e, junto de grandes profissio­
rada no período em que esteve h o s p ita ­ nais da área, firmou-se como um dos maio­
lizado e fixa o rom pim ento com o estilo res pintores do século XIX. Rejeitou a teoria
im pressionista, estabelecendo um marco impressionista do efeito momentâneo que a
em sua produção. luz produz sobre os objetos e partiu para a
pesquisa de cores e simplificação das formas.
No Q uarto em A rie s o a rtista apre­ A natureza recebia um versão simbólica.
senta características inquietantes: cores
fo rte s, m uitas linhas na diagonal, os qua­ A p re se n ta va um ca rá te r p rim itiv o .
dros d ista n te s da parede e m óveis d is ­ Usava cores m uito fortes e saturadas, que
postos de form a desorganizada. A luz é eram colocadas na tela de form a arbitrária.
intensa e difusa. Tudo parece confuso e As linhas eram precisas na demarcação da
indefinido. Há um paradoxo entre a esté­ form a, mostrando uma forte influência das
tica e o objetivo de um quarto. gravuras japonesas.

De onde viemos? O que somos? Para onde vamos?, Paul Gauguin, 1897,
Museu de Belas-Artes, Boston, EUA
Autorretrato, Vincent Van Gogh, setembro de 1889, óleo sobre tela, 65 x 54 cm, Museu d'Orsay, Paris
Havia em G auguin um din am ism o Paul Cèzanne (1 8 3 9 -1 9 0 6 ), p in to r
gracioso, obtido através de linhas curvas, francês, cujas obras e idéias foram influen­
que tornavam as form as sensuais. Buscou tes no desenvolvim ento estético de m uitos
transcender o imaginário humano, através artistas do século XX e nos m ovim entos
de sentim entos profundos e espiritualidade de arte, especialm ente na A rte C ubista.
aflorada. Tais características preconizaram Para ele, as form as deveriam ser represen­
a A rte Fauvista do início do século XX. tadas a partir de perspectivas geométricas
básicas: cubos, esferas e cilindros.
A tela De onde viemos? O que som os?
Para onde vam os? foi pintada em apenas Cézanne foi mal compreendido e desa­
um mês. Da direita para esquerda é pos­ creditado pelo público durante a maior parte
sível notar uma evolução da vida humana: de sua vida. Cresceu fora do Im pressio-
começando com uma criança no canto, um nismo e, eventualmente, desafiou todos os
adulto ao meio, em contato com o conhe­ valores convencionais da pintura, através
cim ento, e no outro extrem o uma anciã. de sua insistência na expressão pessoal e
da integridade da própria obra. C ultivava,
sobretudo, a paisagem e a representação
de naturezas m ortas, mas tam bém pintou
figuras humanas em grupos e retratos. Ele
é chamado de "o pai da pintura moderna".

Visão após sermão, Paul Gauguin, 1888, 73 x 92 cm,


National Gallery of Scotland, Edimburgo

A obra acima, de tem ática religiosa,


descreve um sermão cujo tema é a luta de
Jacó com um anjo, narrada no A ntigo Tes­ Natureza-morta com maçãs e laranjas, Cézanne,
tam ento. Percebe-se que não há sombras. 1873-1874, Museu d'Orsay, Paris
Os tons saturados, fora da proporção natu­
ral, reforçam a ideia de tropicalismo própria Toulouse-Lautrec (1 8 6 4 -1 9 0 1 ), p in ­
do T a iti, onde Gauguin viveu por m uitos to r que de senvolveu um tra b a lh o m u ito
anos. A com posição é toda de opostos: ric o e e x p re s s iv o , re la c io n a d o com a
verm elhos gritantes e brancos brilhantes. vida de person age ns que v iv ia m à m a r­
Um grande tronco corta a pintura diagonal­ gem da sociedade parisiense. Utilizava-se
mente em duas metades distintas. O mundo de linhas dinâm icas, não respeitando as
real à esquerda, com as bretãs humildes e fo rm a s an a tô m ica s c o n v e n c io n a is , ta m ­
a vaca desgarrada, que dá patadas na terra pouco a p e rsp e ctiva . As cores intensas
verm elha; e o mundo visionário à direita, e a luz criam um clim a de d ra m a tu rg ia
onde lutam o anjo e o homem. Assim é a em suas obras. A s d a nçarinas de ca b a ­
obra do autor: constituída de enigmas. rés apresentam as pernas em referência
à dança do Cancã. As form as são carica­ fom entou seu gosto pela arte e passou a
tas e bastante d ife ren tes das e xiste nte s estudar grandes nomes da pintura, como
na época. D esenvolveu novas té cn ica s e R em brandt e Goya. Usava os retângulos
tra b a lh a va com lito g ra fia na elaboração de ouro, a exemplo de Mondrian e Da Vinci,
dos cartazes usados para veiculação dos criando uma atm osfera de grande beleza
eve nto s dos cabarés. Sua obra é p ro v o ­ e suavidade em seus tra b a lh o s. Criou a
cativa e in stig a n te e faz parte da história té c n ic a do p o n tilh is m o ou d iv is io n is m o ,
da propaganda. que con siste na ju s ta p o s iç ã o de pontos
de cores puras, e deu uma repaginada
no Impressionismo, criando o neo-impres-
sionismo. Achava que sua obra não tinha
poesia e não passava de um conceito cien­
tífic o . Dizia: "Eu apenas sigo um método,
nada mais".

Tarde de domingo na Ilha de Grande Jatte, 1884-1886, Georges


Seurat, óleo sobre tela, The Art Institute of Chicago, EUA

A pintura acima apresenta c a ra c te ­


rísticas próprias do Im pressionism o, onde
ocorre o uso de elem entos com plem enta­
res como sombra, mistura óptica das cores
através de pontos coloridos. Foi exposta
Moulin Rouge La Goulue, 1891, litografia, 1 9 1 x 1 1 7 cm, pela prim eira vez em 2 de feve reiro de
Henri Toulouse-Lautrec 1887, no Salon des Vingt, em Bruxelas.

A obra M o u lin R ouge La G ou lue, Impressionismo no Brasil


representa o cabaré M oulin Rouge, que a
partir de 1889 tornou-se o centro da vida No B ra s il, o Im p re s s io n is m o s u r­
noturna de M ontm a rtre , bairro boêm io de giu tardia e precariam ente nas obras de
Paris. Lautrec m ostra uma das estrelas do alguns artistas, entre eles: Eliseu V isconti
lugar com o a bailarina La Goulue, que rea­ (1 8 6 6 -1 9 4 4 ) e Georgina de Albuquerque
liza a dança escandalosa (cancã). ( 1 8 8 5 - 1 9 6 2 ) . O riu n d o s da A c a d e m ia
Imperial de A rtes e Ofícios, esses artistas
Georges Seurat (1 8 5 9 -1 8 9 1 ), pintor deram vida às paisagens ilum inadas brasi­
francês, herdou do pai o estilo reservado. leiras. Seguiam os padrões europeus com
V is ita n te assíduo do M useu do Louvre, adaptações nacionais.
Retratos do Brasil

Eckhout, de origem holandesa, foi


um p in to r e d e s e n h is ta que p ro ta g o n i­
zou o re g istro de cenas im p o rta n te s do
cenário brasileiro. C onvidado por M aurí­
cio de Nassau, desem barcou nas costas
b ra s ile ira s em 1 6 3 7 , com a ta re fa de
re p re s e n ta r a fa u n a , a flo ra e os tip o s
hum anos brasileiros, com o o b je tiv o de
re tra ta r o Brasil holandês para os in ve s­
tidores europeus saberem da im portância
das terras ocupadas.

P ro d u z iu , nesse p e río d o , v á rio s


de senhos e esb oços a p a rtir da o b s e r­
vação de anim ais v iv o s , ta n to nas suas
viagens pelo Brasil com o no jard im b o tâ ­
n ic o , cria d o por Nassau no Palácio de
Friburgo, co n stru íd o em Recife, Pernam ­
bu co. Ficou co n h e c id o com o um a p re ­
Gioventü, 1898, Eliseu Visconti, óleo sobre tela, 65 x 49 cm, c ia d o r da fa u n a , da flo ra e dos tip o s
Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), RJ p o p u la re s que c o n s titu ía m a m assa
populacional brasileira.

Sua c a ra c te rís tic a era pautada no


n a tu ra lism o , com fo rte apelo d e s c ritiv o
voltado para o paisagismo.

Deixou valiosos re gistro s da visão


europeia do N ovo M undo e dos tip o s
hum anos do N ordeste co lo n ia l, e xp re s­
sando a classificação desde selvagens a
povos civilizados, onde, nesta escala, os
europeus estariam no topo da civilização.

O a rtis ta representa na Dança dos


Tapuias um a se lva g e m d e sn u d a , mas
acrescenta fo lh a s o b je tiva n d o esconder
Moça no trigal, 1916, Eliseu Visconti, sua se xu a lid a d e . A p in tu ra desses v ia ­
óleo sobre tela, 69 x 84 cm, coleção particular jantes que vieram ao Brasil colonial tinha
fo rte cunho in fo rm a tiv o e servia com o
Nessa imagem podemos perceber uma relato da terra conquistada. O im aginário
sinfonia lindíssima de tons dourados, que europeu fo i fo rte m e n te influ encia do por
mostra a luz natural incidente sobre o campo essas imagens. Estereótipos e preconcei­
de trigo. A moça o colhe delicadamente. As to s faziam a produção in te le c tu a l e u ro ­
linhas e formas delimitadas são dispensáveis, peia im aginar estas terras habitadas por
pois a beleza da imagem consiste, exata­ bárbaros a n tro p ó fa g o s in d o le n te s , sem
mente, nessa espontaneidade. lei, sem religião e sem rei.
A dança dos tapuias, Eckhout, 1610-1666, óleo sobre tela,
168 x 294 cm, Museu Nacional da Dinamarca, Copenhague

Paisagem com plantação (0 Engenho), Frans Post, 1668,


Coleção Museu Boijmans, Roterdã, Holanda

Almeida Júnior, um dos maiores pin­


tores acadêmicos do Brasil, discursou sobre
diversos tem as, com o os tipos populares,
paisagens e história. Sua delicada técnica
divide o plano em dois momentos distintos:
o primeiro plano, onde encontra-se a prota­
gonista, e o fundo, onde o artista se prepara
Mulher Tupinambá de Eckhout, 1641 (esquerda) e para o trabalho. Há uma gradação de tons
Mulher africana de Eckhout, 1641, óleo sobre tela, 267 x 178 cm e o ambiente parece tranquilo e harmonioso.
Museu Nacional da Dinamarca, Copenhague A tonalidade da roupa da personagem pro­
move maior solenidade à cena. A cortina e
Frans Post, artista de origem holan­ a escada colocam-se como um contraponto
desa, veio para o Brasil com a com itiva de de equilíbrio para a composição.
Maurício de Nassau, onde se tornou o maior
paisagista da arte brasileira da época. Seus
quadros ganharam em originalidade, devido
aos horizontes baixos, típ ico s da pintura
holandesa, aplicados às paisagens nordes­
tinas, que eram seus temas mais frequentes.
As cenas possuem um ar de tranquilidade e
paz que encanta o observador.

Paisagem com tamanduá, Frans Post, óleo sobre madeira, Inoportuno, Almeida Júnior, óleo sobre tela, 1898,
1660, 56 x 79 cm. Coleção Assis Chateaubriand 145 x 97 cm, Pinacoteca do Estado de São Paulo
A rt Nouveau

M o d a lid a d e a rtís tic a c o m o rig e m


e fo r te p re s e n ç a na E u ro p a . É c a r a c ­
te riz a d a pe lo e x c e s s o c o m p o s itiv o , o
u so de lin h a s e fo rm a s o n d u la re s e
s e d u to ra s . Tem um c a rá te r d e c o ra tiv o
e um d e s c o m p ro m is s o co m q u a lq u e r
tip o de id e o lo g ia p o lític a ou s o c ia l.
R om pe com os v a lo re s a p re g o a d o s no
p a s s a d o , c o m to d a e q u a lq u e r t r a d i­
ção da a rte c lá s s ic a . Na a rq u ite tu ra e
no d e s ig n , segue um e s tilo in d iv id u a l
e e x u b e ra n te , onde a fo rm a to m a um a
d im e n s ã o não só fu n c io n a l m as ta m ­
bém m u ito d e c o ra tiv a .

Os m a te ria is e s tã o re la c io n a d o s
com a in d ú s tria e há um e n te n d im e n to
entre produção fa b ril e artesania.

O artista que mais se destacou nessa


m odalidade talvez tenha sido o espanhol
A ntonio Gaudi (1 8 5 2 -1 9 2 6 ). Ele criou pra­ Igreja Sagrada Família, iniciada em 1882, assumida por Gaudi em
ças a partir da técnica do m osaico, com 1883 e ainda inacabada. Barcelona, Espanha
riqueza de imagem e grande beleza. Na
a rq u ite tu ra , idealizou form as curvilíneas Victor Horta (1861-1947) foi também
que dão m ovim ento e leveza a criações de um dos grandes expoentes do estilo N ou­
concreto. Sem dúvida, seu acervo é rico veau. Sua produção reúne obras com carac­
em detalhes e poder de sedução. te rís tic a s orgân icas: fo rm a s dinâm icas,
texturas e cores para revestim entos, ferro
fundido retorcido e moldado com form atos
sinuosos, irregulares e muito expressivos.

Parque Güell, 1900-1914, Gaudi, Barcelona, Espanha Casa Tassel, Victor Horta, 1892-1893, Bruxelas, Bélgica

128
Os princípios básicos dessa corrente foram :

• V a lo riz a ç ã o da fo rm a em co n s o n â n c ia
com a fu n ç ã o ;

• R etorno à p ro d u çã o m anual associada


aos v a lo re s in d u s tria is ;

• In s p ira ç ã o nas g u ild a s m e d ie v a is ;

• C ria çã o de um a a rte m ais p o p u la r;

• Uso da o rn a m e n ta ç ã o c o m o e n riq u e ­
c im e n to da c o n s tru ç ã o ;

• U tiliz a ç ã o de m a te ria is e té c n ic a s
m ais c o n v e n c io n a is ;

• C riaçã o de c id a d e s -ja rd im .

John Ruskin fo i e s c rito r, c rític o de


a rte , s o c ió lo g o e um a p a ix o n a d o p e lo
d e s e n h o e pela m ú s ic a . Em sua é p o ca
ha via um a g ra n d e c o n tra d iç ã o e n tre os
n o v o s c o n c e ito s da era in d u s tria l e os
a n tig o s c o s tu m e s . R uskin p ro ta g o n iz o u
Casa Tassel, V ictor Horta, fachada, Bruxelas, Bélgica uma luta co n tra os n o c iv o s e fe ito s desse
n o vo m o d e lo e em prol da c o n s e rv a ç ã o
A rts an d C rafts foi um movimento artís­ da tr a d ic io n a lid a d e . S e g u n d o e le : " A
tic o e cultural que surgiu na Inglaterra, na a rq u ite tu ra é a arte que disp õ e e adorna
segunda metade do século XX. de ta l fo rm a as c o n s tru ç õ e s e rg u id a s
pelo ho m e m , para q u a lq u e r uso, que vê-
M u ito re b u sca d o e com p ro fu n d a s las pode c o n trib u ir para sua saúde m e n ­
semelhanças estéticas com o A r t Nouveau, ta l, p o d e r e p ra z e r". Por is s o , to rn a -s e
apresenta conotação social e fo i baseado n e c e s s á rio p re s e rv a r os v a lo re s p a s s a ­
nos ideais de John Ruskin (1 8 1 9 -1 9 0 0 ) e do s, c o m o e x p re s s ã o de a rte e c u ltu ra ,
W illiam M orris (1 8 3 4 -1 8 9 6 ). co m o um v a lio s o d o c u m e n to de a n tig a s
g e ra çõ e s e co m o um v e íc u lo de c o m u n i­
Propunha a perm uta da produção em cação dos processos de d e s e n vo lvim e n to
série pelo processo a rtesan al, no qual o e e v o lu ç ã o .
objeto teria mais personalidade e qualidade,
além de estética elaborada e personalizada. W illia m M o rris d e s e n v o lv e u um a
Diziam que um bom design estava relacio­ p ro lífic a a tiv id a d e co m o a rtis ta -a rte s ã o ,
nado a uma sociedade de qualidade. Dessa d e s e n h is ta , a tiv is ta p o lític o , sem pre te n ­
form a, a produção se dava a partir de con­ ta n d o p re s e rv a r as a rte s e o fíc io s m e d ie ­
ceitos sociais, com vistas a uma divisão de vais, ao m esm o te m p o em que se opunha
atribuições e resultados. A presentava rela­ à p ro d u ç ã o em m a ssa , típ ic a do m o d o
ção com as corp o ra çõ e s m edieva is, que de p ro d u ç ã o in d u s tria l e c a p ita lis ta . O
apreciavam o processo m anufatureiro. d e sig n de in te rio re s e bens de c o n s u m o

129
era o fo c o dessa v e rte n te a rtís tic a . Belas
pa dro n a g e n s de papel de parede e ta p e ­
ç a ria , v itra is s o fis tic a d o s e m u ito c o lo ­ T H E N A T U R E O F G O T H IC .
now about to
rid o s . M ó v e is e o b je to s de d e c o ra ç ã o
eram e la b o ra d o s co m g ra n d e m a e s tria
e p re cisã o .

be conveniently considered in its connexíon


with thc latter style. C In ordcr that wc m ay
discem the tendency o f each step o f this
change, it will be wisc in the outset to em
dcavour to form some general idea o f its £1nal
tesult.W e know already what the B y zam
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and definite, o f the true nature of Gothic
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of Venice only, but o f universal G oth ic: for I
it will be oneof them ost ínteresting parts of
our subsequent ínquiry,to find out how far J
Venetian arehitecture reaehed the universal i

A natureza do gótico, 1892, John Ruskin,


design de William Morris

Dnigontly, brocho ínmlntno, Honé l iillquo, 1897-1898

A arte do final do século XIX sinalizou


que o interessante é a associação entre a
beleza estética, o decorativism o e a função
Vaso Orange, René Lalique do objeto artístico.

130
Arte do Século X X Van Gogh, Cézanne, Gauguin. Estes foram
fundam entais para a criação de estéticas
O ecletism o é a principal caracterís­ m odernistas das vanguardas europeias.
tica da arte do século XX. M otivados pelos
acontecim entos da época, os conflitos de Expressionismo
ordem filosófica, política e social direcionam
os m ovim entos e a ordem (ou desordem) M ovim ento artístico de grande enga­
vigentes nesse período para o contexto polí­ jam ento político e social, que originou-se
tico-social. Talvez, e por ironia, a falta de em Dresden, na A lem anha, no início do
definição da estética de então venha a ser a sé cu lo X X . A p re s e n to u -s e co m o uma
própria definição em si. Diversos projetos e oposição ao caráter cie n tífico do Impres-
propostas subsequentes ou concomitantes sionism o, que objetivava a representação
surgem e ditam rumos independentes. da luz natural e não se preocupava com
acontecim entos sociais.
Realidades ou sentim entos exacerba­
dos contracenam com linguagens científicas Norteados pelos sentimentos humanos,
e filosó ficas. Essas diferentes realidades os protagonistas de tal m ovim ento criam
ditam as normas que não existem: aí está a obras com grande apelo emocional.
beleza e a sedução da arte modernista.
Na pin tura recorrem à deform ação
O século XX fo i m arcado por uma da imagem, ao uso de cores densas que
grande evolução nas diversas áreas cien­ ressaltam o imaginário do autor e ao dina­
tífic a s e c u ltu ra is . Crescem tam bém as m ism o in q u ie n ta n te , re a lça n d o , assim ,
disputas políticas e sociais, em busca de toda a angústia, a dor, o amor exacerbado
conquistas de ordem financeira e política. e o ódio doentio do artista.
A c e n tu a m -s e as d ivisõ e s de classe na
sociedade. Com tudo isso, grandes c o n fli­ Van G ogh a lim e n to u , com suas
tos ideológicos aconteceram , provocando pinceladas grossas de aspecto trá g ico e
desespero e a m orte de m uitos inocentes. e m o cio n a l, as produções p ic tó ric a s do
Esses e ve n to s fo m e n ta ra m a produção período, configurando-se como precursor
a rtística e cu ltu ra l da época, na qual os do Expressionismo.
a rtis ta s se po sicio n a ra m de fo rm a vee­
m ente diante dos acontecim entos. Jun to Algum tem po depois da form ação do
com esse processo dinâm ico de m udan­ Die Brücke (A Ponte), os representantes
ças, a arte tam bém se posiciona com a deste grupo artístico alemão uniram-se ao
mesma versatilidade. Der B/aue Reiter (O Cavaleiro Azul), grupo
de tendência a b stra cio n ista , que grande
No início do século, Paris é a capital influência teria na pintura contemporânea.
artística do mundo, onde tan to escritores,
com positores e artistas franceses quanto Edward Munch ( 1 8 6 3 - 1 9 4 4 ) , p in ­
estrang eiro s se en co n tra m . E, aí, entre to r e g ravad or, apresentou as angústias
1901 e 1 9 0 6 , acontecem várias e xp o si­ e x is te n c ia is do ser h u m a n o em suas
ções abrangentes, que exibem obras dos obras. O h is tó ric o de vida do a rtis ta foi
a rtis ta s p ó s-im p re ssio n ista s, ta is com o m u ito tu rb u le n to e isso m a rco u a sua
p ro d u çã o . "Eu não posso me d e sfa ze r
de m inhas enferm idad es, pois há m uita
coisa em m inha arte que só e x is te por
causa d e la s ", dizia ele. 0 que ju s tific a
essa fala é que perdeu a mãe aos cinco
anos e, m ais ta rd e , a irm ã que era re s­
ponsável pela sua educação. "A doença,
a lo u c u ra e a m o rte fo ra m os a n jo s
negros que vela ram sobre meu b e rç o ",
escreveu o p in to r norueguês.

T o d o o seu d ra m a p e s s o a l fic a
re g istra d o em suas p in tu ra s e gravuras.
O G rito , sua obra m á xim a , e x p lic ita a
solidão, o medo e a dor. As cores in te n ­
s ific a m a a n g ú s tia re p re s e n ta d a pelo Cinzas, 1894, Munch, óleo sobre tela, 120 x 141 cm
p e rs o n a g e m em p rim e iro p la n o . Seu
ro sto im pessoal relata os medos e inse­ A m bas as obras de M unch estão na
g u ra n ç a s de to d a s as pessoas d ia n te Galeria de O slo, na Noruega.
das adversidades.
Na obra C inzas, o a rtis ta m antém
M unch, com suas pinceladas in te n ­ o dram a mas e n fo c a o u tro te m a . Nele
sas e tem áticas de fo rte te o r psicológico, os a sp ecto s socia is refere nda m o s o fr i­
to rn o u -s e uma das p rin cip a is fo n te s do m ento dom éstico. Percebe-se na posição
m o vim e n to exp re ssio n ista alem ão. do person age m em p rim e iro plano um
a c e n tu a d o d e s o la m e n to que se re fle te
em sua provável com panheira ao fu n d o .
A o p o s iç ã o c ro m á tic a e v id e n c ia ainda
m a is esse c o n flito . A d ia g o n a lid a d e
das pedras ind ica uma p e rs p e c tiv a e o
a m b ie n te , no ú ltim o pla n o , re p re se n ta
uma tenebrosa flo re s ta , arrem atando os
se n tim e n to s d e scrito s.

Egon S chiele (1 8 9 0 -1 9 1 8 ), fo i um
p in to r a u stría co de grande im p o rtâ n c ia
para o ce n á rio a rtís tic o de sua época.
Polêm ico pelo erotism o de grande parte
de sua coleção, registrou o espírito s o li­
tário e atorm entado do ser humano. Con­
seguiu um e stilo independente, no qual
suas linhas irregulares sugeriam os esta­
dos psicológicos e espirituais do homem
diante dos a co n te cim e n to s que o cerca­
vam , valorizando uma estética fo rte e ins-
tig a n te . Ressalta a im po tên cia e as lim i­
O grito, 1893, Edvard Munch, têmpera e pastel sobre cartão tações humanas. A partir da deform ação
Galeria Nacional, Oslo, Noruega visual exorciza os m edos, angústias e a
solidão que ele próprio protagoniza.

132
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Donna Seduta, 1917, Egon Schiele, Leopold Museum, Viena


Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938) foi,
também, um grande expoente do Expressio-
nismo. Nasceu na Alemanha, 1880, onde
iniciou seus estudos em arquitetura. Realizou
trabalhos de decoração e design de interio­
res, mas sua maior expressão foi na pintura.
Foi fundamental para o grupo Die Brücke.

Usava contrastes agressivos e formas


desconexas para a representação de seus
personagens. Toda a sua expressividade e
emoção tom am form a a partir das pincela­
das agressivas e da distorção form al. A tra ­
vés da xilogravura, imprime valores sociais
de caráter político em seus cartazes.

Autorretrato, Schiele, 1912, lápis, aquarela e têmpera


46,5 cm x 31,5 cm, coleção particular

Autorretrato, 1915, Kirchner, óleo sobre tela, 69 x 61 cm


Fundação Charles F. Olney

As cenas urbanas eram um dos temas


preferidos pelo autor que, depois do início
da Primeira Guerra (1 9 1 4 -1 9 1 9 ), tra n s fe ­
riu para suas telas o horror e o medo do
homem diante da fúria das armas.

Depois da dissolução do grupo Die


Brücke, o artista fez uma série de quadros
O homem e o monge, 1912, Schiele, de grande fo rm a to sobre a sociedade de
óleo sobre tela, Pinacoteca de Munique, Alemanha Berlim. Cena de rua em Berlim é uma delas.

134
0 alongam ento dos corpos, as expressões
de elegância e, ao mesmo tem po, de des­
dém , as cores bem saturadas e tu d o o
mais, reforçam o caráter expressionista do
trabalho desse artista.

Retrato de família, Max Beckmann, 1920, óleo sobre tela,


65 x 100 cm, Museum of Modern Art, Nova Iorque

Fauvismo

M ovim ento de origem francesa que,


sob a liderança de Henri M atisse (1 8 6 9 ­
1 9 5 4 ), visa a e x p lo ra ç ã o das p o s s ib ili­
dades plásticas prom ovidas pela cor e a
form a sim plificada.

Os artistas simpatizantes dessa estética


buscavam uma oposição ao estilo Expressio­
nista - que representa uma parte agressiva
e deprimente da arte alemã, devido ao alto
compromisso com valores sociais.

Os Fauves (feras) propunham uma


arte p rim itiv a n o rte a d a pela p ro d u ç ã o
de G auguin, que usava as cores puras
Cena de rua em Berlim, 1913, Kirchner de m aneira a rb itrá ria , linhas c o n tín u a s
Museum of Modem Art, Nova Iorque na c ria ç ã o de fo rm a s s im p lific a d a s e
ausência do c o m p ro m is s o com a p e rs ­
De origem alem ã, M ax Beckm ann p e c tiv a . Longe da d ra m a tic id a d e e das
(1 8 8 4 -1 9 5 0 ) fo i a rtis ta g rá fic o e dese­ figu ras deform adas dos alem ães, os p in ­
nhista. Em suas obras evidencia toda a tores franceses elegem a arte decora tiva,
sua an gústia e sua visão pessim ista do com cores, luzes e cenários alegres para
m undo. A pós sua dram ática experiência expressar suavidade, ao invés da dor e
na Primeira Guerra Mundial, sua obra tom a da angústia.
um aspecto ainda mais dram ático: as fo r­
mas são distorcidas e bem demarcadas por A re speito de seu quadro A dança
cores m uito fo rte s e contornos definidos. (página s e g u in te ), M a tisse dizia: "Três
Valoriza a dor e o drama social. Na obra cores para um grande painel de d a n ça ri­
Retrato de família pode-se notar tais carac­ nos: azul para o céu, alaranjado para os
terísticas: uma fam ília desolada, onde os corpos, verde para a c o lin a ". Suas linhas
personagens e n contram -se isolados em a rre d o n d a d a s e as fo rm a s " c h e in h a s "
seus próprios pensamentos. expressam dinam ism o e graciosidade.
uma obra na qual m ulheres nuas fazem
referência à Calle Avignon, ponto de pros­
tituiçã o de Barcelona.

A Dança, Henri Matisse, 1910, 260 x 391 cm.


Museu Hermitage, São Petersburgo, Rússia

O riu n d o do e s tilo Im p re s s io n is ta ,
André Derain (1880-1954) valorizava o uso
da cor pura na criação de obras de cará­
ter prim itivo. Exímio colorista, usava seu
talento e evocava um plasticism o estético
que provoca grande prazer visual. Longe
das expressões dramáticas, dialogava com Les demoise/les d ’Avignon, Pablo Picasso, 1907, óleo sobre tela,

a beleza e a simplicidade. 243,9 x 233,7 cm, Museu de Arte Moderna, Nova Iorque

A ponte de Charing Cross, 1906, Andre Derain, 80 x 100 cm

Cubismo
Máscara africana
0 m arco inicial do C ubism o fo i em
Paris, com a tela Les Demoise/les d ’Avignon, O Cubismo dividiu-se em duas fases:
em 1 9 0 7 , obra de Pablo Picasso (1 8 8 1 ­
1 9 73). O rientado pelo estudo de m ásca­ Cubismo Analítico: geometrização e o
ras e esculturas africanas e pela natureza- desmembramento da forma com o uso pre­
morta de Cézanne, o artista espanhol criou dominante das cores terrosas.
Todas as faces de um ob jeto eram
representadas em um mesmo plano, sem
usar o recurso da perspectiva. É com o se
ele estivesse aberto e apresentasse todos
os seus lados no plano fro nta l em relação
ao espectador.

Na verdade, essa a titu d e de decom ­


por os o b je to s não tin h a co m p ro m is s o
algum de fidelidade com a aparência real
das coisas.

E n tre ta n to , essa fra g m e n ta ç ã o fo r ­


mal chegou ao exagero. Os artistas resol­
v e ra m , e n tã o , fa ze r um a re to m a d a de
valor e criaram um novo Cubism o.

Le portugais, Georges Braque, 1911-1912, óleo sobre tela,


117 x 81 cm, Kunstmuseum Basel, Suíça

Além de Georges Braque (1882-1963)


e Picasso outros aderiram a esse projeto.
Dentre eles Juan Gris (1887-1927).

Observa-se a sutileza desse autor na


obra abaixo. Há uma redução no uso de for­
mas geométricas, uma demanda maior no uso
das cores e a inserção de letras e números.

Violino, Georges Braque, óleo sobre tela, 117 x 73 cm,


1909-1910, Kunstmuseum Basel, Suíça

Cubismo S intético: Também conheci­


do com o "Fase de Colagens", há nele uma
exposição mais clara e precisa da form a,
além da introdução de letras, números e
até objetos inteiros colados na obra. Guitarra diante do mar, Juan Gris, 1925, óleo sobre tela

137
Pablo Picasso

As duas irmãs, 1902, Picasso


Hermitage Museu, São Petersburgo, Rússia

A Fase Rosa (1 9 0 5 - 1 9 0 7 ) é c a ra c­
terizada por um e stilo m ais alegre, com
Autorretrato, 1901, Picasso, Museu Picasso, Paris as cores rosa e laranja e m uitos arlequins,
personagens de circo que têm com o obje­
A rtis ta polêm ico e de grande reper­ tiv o levar alegria às pessoas. Apaixonado,
cussão mundial, teve sua obra marcada por m uitas das pinturas desse período foram
fases distintas relacionadas com sua vida in flu e n c ia d a s por Fernande O liv ie r, sua
e com características bastante ecléticas. modelo e seu amor na época.
Os seus prim eiros anos em Paris foram de
m uitas dificuldades de ordem econôm ica.
Neles suas tela s são m arcadas por im a­
gens que denotam triste za, isolam ento e
solidão. Sua paleta, quase m onocrom ática,
enche as telas de ton s som brios e triste s.
Ficaram co n h e cid o s com o "Fase A z u l",
devido a essa sobriedade.

Pablo Picasso (1881-1973) Os amantes, 1923, Picasso, óleo sobre tela, 130 x 97 cm

138
Mulher chorando, Picasso, óleo sobre tela,
60 x 40 cm, 1937, Tate Gallery, Londres

A fase de tauromaquia está relacionada


com a história de Picasso. Sua origem catalã
Acrobata com jovem arlequim, Picasso, 1 905, óleo sobre tela, esteve sempre enraizada em seus projetos
190,3 x 107,8 cm, Barnes Foundation, Merion, EUA artísticos e aflorou nesse período. São regis­
tros de infância, indissoluvelmente ligados à
A fase Cezaniana é marcada pela pes­ identidade do povo espanhol. Assim, a to u ­
quisa e estu d o das m áscaras a frica n a s, rada foi escolhida como tema recorrente des­
bem com o das obras de Cézanne. É ta m ­ sas obras. Com um desenho simples, o artista
bém chamada de "fase negra" ou "cubista", consegue transcender a crueldade do sacrifício
citada anteriorm ente. a que os animais eram submetidos.

Guernica, Picasso, 350 x 782 cm, Museu da Rainha Sofia, Madri, Espanha
Um dos quadros mais fam osos de Pablo Picasso foi realmente um artista
Pablo Picasso é Guernica (página anterior), de m últiplas habilidades. Em meados do
que faz referência à Guerra Civil Espanhola século XX, resolveu recriar obras de gran­
(1936-1939). O artista ficou revoltado com des m estres. Uma delas foi o A lm o ço na
o massacre de milhares de civis pelas tropas Relva, de Manet. A partir da visão cubista o
alemãs. Só então interessou-se por política. artista fragm enta as formas e traduz a obra
A partir daí, passou a militar, usando, como (coluna anterior) em tons frios.
bandeira, suas obras e o respeito que adquiriu.
As imagens do episódio são utilizadas como Futurismo
base para a construção do painel, que mede
3,50 x 7,82m e foi colocado na frontaria do Movimento artístico e cultural que teve
pavilhão espanhol da Exposição de Paris de origem na Itália, oficialmente em 1909, com
1937, dedicada ao progresso e à paz. o M anifesto Futurista de Filippo M arinetti
(1 8 7 6 -1 9 4 4 ). Seus artistas exaltavam a
Na análise da obra, percebe-se que velocidade e o movimento. Através de linhas,
o artista faz uso da técnica de colagem e cores e luzes, representavam a dinamicidade
também da geometrização da forma, ambas do mundo moderno. Para eles o objeto não se
características do Cubismo Sintético. esgota no contorno da forma, mas coexiste
com diversos fatores da sociedade tecnoló­
As cores são sombrias e há deform a­ gica. Pretendiam libertar a arte de todas as
ção visual nas imagens representadas, o que amarras históricas e promover a celebração
remete às características expressionistas. do mundo moderno. Buscavam dar vazão aos
elementos tecnológicos, suas representativi-
dades e repercussão onde estavam inseridos.
O foco dos artistas não estava no objeto em
si, mas em suas referências estéticas.

Minotauro, bebedouro e mulheres, gravura, 1933, Picasso


Pinacoteca, SP

Automóvel + velocidade + luz, Giácomo Baila, óleo sobre tela,


220 x 173 cm, coleção particular

Na obra acima, o artista não deseja e


nem pinta o objeto, e sim a forma plástica de
sua velocidade descrita no espaço.

Os expoentes desse movimento foram:


Almoço na Relva. Picasso, 1 960 Cario Carrà (1881-1966), Umberto Boccioni
Museu Picasso, Paris (1882-1916) e Giácomo Baila (1871-1958).

140
A p a rtir das c a ra c te rís tic a s do qua­
dro ao lado, Boccioni m ostra com clareza
a a p o lo g ia à m o d e rn id a d e : a m á q u in a ,
a v e lo c id a d e , a luz. A sob re p o siçã o de
cores e fo rm a s , bem com o a sequência
de linhas, con fere m m u ito dinam ism o à
cena. A alusão ao ruído e sua sensação a
partir da imagem corroboram com os pro­
pósitos dos a rtis ta s fu tu ris ta s , que pres­
tavam uma reverência à m odernização e
A carga dos lanceiros, Boccioni, óleo sobre tela, à tecnologia.
Coleção Jucker, Milão
Abstracionismo
Em 1 9 1 1 /1 2 , Boccioni e Baila, na te n ­
ta tiva de representar o m ovim ento e a luz, O m ovim ento artístico abstracionista
produzem obras totalm ente abstratas. surgiu na Europa, no início do século XX.
Atribui-se ao artista russo Wassily Kandinsky
(1866-1944) a criação de tal estética.

As obras abandonam o com prom isso


de representar a realidade aparente e não
reproduzem figuras nem re trata m tem as
específicos.

C aracterizam -se pela representação


da fo rm a , que é aberta a diversas in te r­
pretações. As cores correspondem a uma
pa leta fa rta e sem um d ire c io n a m e n to
único. P erspectivas, volum es e p ro fu n d i­
Formas únicas de continuidade do espaço, 1913, dades não obedecem a padrão e s té tic o
Bronze, Boccioni, 1,26 x 89 x 40 cm, MAM, SP algum. Na arte abstrata, o uso da luz, das
diferentes texturas e contornos das linhas,
do espaço e das co re s ganham nova
expressividade.

Na e scu ltura , os a rtista s trabalham


principalm ente o volume e a textura, explo­
rando todas as possibilidades da tridim en-
sionalidade do objeto.

Existem dois tipos de Abstracionismo:

O Informal: que explora as form as in­


definidas e livres, sem a intenção de pren­
der-se a uma única mensagem. É vigor puro,
energia e m ovim ento. Os artistas abando­
nam a perspectiva tradicional e criam as
Ruídos que invadem a casa, 1911, Boccioni, formas no ato da pintura, utilizando-se de
100 x 100 cm, óleo sobre tela linhas e cores para exprimir emoções.
0 a rtista , m unido de cores diversas,
consegue passar, através da obra Batalha
N aval, to d a a ag itação de um a c o n te c i­
mento correspondente. Embora com beleza
e graciosidade, com form as sem definição,
a dinamicidade da cena espanta e encanta
ao mesmo tem po.

Paul Klee (1 879-1 94 0), artista suíço


que cresceu na A lem anha, tam bém c o n ­
trib u iu ge nero sa m e n te para o d e s e n v o l­
v im e n to da arte a b s tra ta . Embora suas
o b ra s a p re s e n te m um a im a g e m m ais
d e fin id a , deixa a in te rp re ta ç ã o ab stra ta .
Foi um grande d e senh ista e c o lo ris ta e,
^KKKÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ^M
em bora m u ito afe içoad o à m úsica, re a li­
Paisagem, Kandinsky, 1913. Museu Hermitage, zou-se na pin tura .
São Petersburgo, Rússia
A ssim com o K andinsky e Piet M on-
Segundo K and insky, a arte do pas­ drian (1 8 7 2 -1 9 4 4 ), Paul Klee lecionou na
sado estava esgotada, e só através da cor e Bauhaus (escola de a rq u ite tu ra e design
da linha podia-se expressar os sentim entos de m uita im po rtâ ncia para o século X X ).
do artista. Não tinha com prom isso com as Segundo ele: "A arte não reproduz o que
representações figurativas e convencionais, vem os. Ela nos faz v e r". Com os abstra-
que não davam margem para a interpreta­ c io n is ta s a arte to m a uma nova d im e n ­
ção do espectador. são, uma visão vanguardista.

Batalha naval, 1913, Kandinsky, 140 x 120 cm Legend o f the NHe, Paul Klee, 1937, pastel sobre tela de
National Gallery of Art, Washington algodão montado em pano de saco, 69 x 61 cm

142
ser supérfluo em sua obra, que terá influên­
cia na arquitetura e no design moderno.

Lounge do Hospital da Baleia, Aloizio Meireles,


catálogo Casa Cor, Minas Gerais, 15a edição
Howling Dog, 1928, Paul Klee, óleo sobre tela.
The Minneapolis Institute, EUA S uprem atism o: A pesar das linhas e
cores p ro p o rcio n a re m sem pre uma fo rte
A bstracionism o Geom étrico: é com ­ carga e m o cio n a l, poucas vezes pode-
posto por form as geom étricas planas, co­ se observa r im agens com ta n ta ener­
res básicas e puras, criando espaços p ictó ­ gia e s té tic a com o na obra de M a le v itc h .
ricos que apresentam grande rigor técnico P intor de grande re fe rê n cia , fo i in flu e n ­
e form al. Os principais responsáveis pelo ciado pelo C ubism o e pela A rte P rim iti­
início da abstração geom étrica foram o va. 0 a rtis ta consegue, através da s o ­
russo Kazimir M alevitch (1 8 7 8 -1 9 3 5 ) e o breposição e do din am ism o de fo rm a s
holandês Piet Mondrian. g e o m é trica s de cores diversas e in te n ­
sas, espaços de e xtrem a eloquência e
fu lg o r. A independência dessas fo rm a s ,
e ao m esm o te m p o a ligação en tre elas,
está co n e cta d a com as reações s u b je ti­
vas da pe rsonalidade.

Composition with red, yellow, blue and black, 1921, Piet Mondrian,
óleo sobre tela, 60 x 60 cm, Gemeentemuseum, Holanda

M ondrian busca e consegue um equi­


líbrio com posicion al, despojado de tod o Suprematismo, 1916-1917, Malevitch, óleo sobre tela,
excesso de cor, linha ou forma. Nada deve 80 x 80 cm. Fine Arts Museum, Krasnodar, Rússia
n iilis ta e x p re s s a um m o v im e n to sem
e s tilo ou p rá tic a e s p e c ífic o s , é a d e p to
da d ive rsidad e.

Seus protagonistas criaram, em 1916,


em Zurique, o "Cabaré V o lta ire ", local des­
tinado a reuniões, apresentações de música,
poesia, tea tro , desenho, instalações e pin­
turas. Unidos pelo espírito anárquico e de
questionam ento crítico, expressavam sua
rejeição aos moldes da sociedade da época
da mesma form a com o a viam : sem v a lo ­
res humanos expressivos e significativos.

Suprematismo, 1915, Malevich,


óleo sobre tela, 87,5 x 72 cm

Artes entre guerras

Os conflitos de caráter político, bélico


e social do início do século XX, resultaram
numa m udança radical no modo de ver e
sentir o m undo. Os artistas e intelectuais
m anifestaram -se com presteza, m uita dis­
posição e engajam ento. Nesse período as
artes re p re se n ta va m seus s e n tim e n to s , A Fonte, 1917, Duchamp, urinol de porcelana, 23,5 x 18 cm,
p e nsam entos e re v o lta em relação aos 60 cm de altura, Milão, Coleção de Arturo Schwarz
desvarios que ocorreram.
Marcei Duchamp é o responsável pelo
O p r im e iro m o v im e n to e s té tic o conceito de ready-made (pronto para uso),
dessa época fo i o D ad aísm o , m a rcad o corrente que se apropria de objetos, produ­
pelo p ro te s to e c o n te s ta ç ã o de va lo re s tos ou produções já prontos e destinados a
v ig e n te s . M a n ife s ta v a -s e po r d iv e rs o s outro co n texto e os colocam no con texto
c a n a is c u ltu ra is : e x p o s iç õ e s , a p re s e n ­ a rtístico dadaísta. Prega a antiarte , v is to
ta ç õ e s p ú b lica s, re v is ta s , jo rn a is , m a n i­ que o requisito principal para que uma obra
fe s to s e o u tro s . V isa va a tin g ir o m a io r seja considerada arte é a necessidade de
n ú m e ro de p e s s o a s , nas q u a is p r o v o ­ ser original e única.
cava q u e stio n a m e n to s e choque. A pesar
do aparente d e lírio , estava engajado em A través de suas obras, os dadaístas,
e v e n to s da época e m o stra va a re v o lta , evidenciavam a inversão de valores sociais,
a desilusão e o m edo, m arcas do "te m p o nesse m om ento de descrédito com gover­
s o m b rio " de g u e rra . Sua p e rs p e c tiv a nos, partidos e ideologias.

144
Porta-garrafas, Duchamp, 1964, 66 cm de altura,
Milão, Galeria Schwarz

A obra A Fonte, foi um marco da ver­ A noiva, Marcei Duchamp


tente ready-made. Esse urinol foi adquirido Museu de Arte Moderna, Filadélfia
pelo autor no comércio de Nova Iorque, em
1917. Assinou-o com o codinome R. M utt e Valores de outras linguagens e s té ti­
inscreveu-se numa exposição que marcaria cas são apropriados, porém com objetivos
definitivam ente a presença da arte dadaísta. comuns. Em qualquer linguagem os propósi­
tos são os mesmos: a denúncia, o protesto,
Apresenta um desafio à arte tradicional o questionamento. As cores e deformações
e clássica defendendo que a obra em si, seu usadas na imagem A mulher-monóculo, apro-
material e concepção, não importa mas sim ximam-na de um discurso estético expressio-
o conceito que dela emana. nista. Já a segunda pintura, A Noiva, traduz
os conceitos modernistas relacionados com
o avanço tecnológico.

Pintura metafísica

A linguagem artística começou a apre­


sentar uma abordagem mais lírica e enigmá­
tica . Os anseios sociais tam bém inco m o­
davam os intelectuais, que se m ostravam
insatisfeitos com os episódios da Primeira
Guerra e, assim, passaram a contem plar o
m undo com um olhar mais crítico e refle­
xivo. Apresentavam uma visão mais elabo­
rada a partir do conhecim ento dos fatos e
do sentim ento de estranheza e desconforto
provocados pelos adventos p o lítico s de
então. Tem inspiração na M etafísica, ciên­
cia que estuda tudo quanto se m anifesta
A mulher-monóculo, Picabia além da matéria, no campo da cognição, do
Coleção Simone Collinet, Paris sentim ento e do sobrenatural.
Assim , os artistas da época extraíam
de tudo isso o desejo de representar, atra­
vés de sua arte, os delírios humanos.

Na pintura apresentavam perspectivas


inesperadas, conexões ilógicas entre os ele­
mentos da obra e criação de espaços vazios,
da mesma forma com que sentiam o mundo.

Giorgio Di Chirico foi um grande repre­


sentante desse movim ento estético. Usava
a luz de form a não convencional, dando a
ela direcionam entos e intensidades estra­
nhas. Os elem entos eram com binados de
maneira im prevista, criando uma sensação Piazza d'ltalia, 1913, Giorgio, óleo sobre tela
de m istério. Galeria de Arte de Ontário, Toronto, Canadá

R etratava cenas urbanas com ele­ Surrealismo


mentos construtivos, isolados e estranhos
dentro da p e rspe ctiva aos quais estava O S u rre a lism o te v e seu in íc io em
introduzidos. Associava personagens des­ 1 9 2 4 , com o M a n ife s to S u rre a lis ta de
caracterizados, inertes e desproporcionais, A ndré B reton (1 8 9 6 -1 9 6 6 ). Os a rtis ta s
prolongados por som bras ilógicas e sem desse m ovim ento tinham com o objetivo a
sentido, rem etendo o con junto a term os expressão dos sentim en tos mais íntim os
oníricos e estranhos ao mundo real. e v e rd a d e iro s do ser hu m an o em re la ­
ção às suas dores, desilusões, am ores e
Suas obras causam sensações comple­ m edos. Sua abordagem está relacionada
xas, de natureza inquietante e com múltiplas com a irra c io n a lid a d e , com uma busca
possibilidades de interpretação. Ele antecipa in te rio r e com a va lo rização das an g ú s­
elementos que depois aparecem na pintura tia s hum anas. A s s im ilo u c o n c e ito s das
surrealista, onde há padrões arquitetônicos, modalidades artísticas anteriores, com o o
grandes espaços vazios, manequins anôni­ Expressionismo e a Pintura M etafísica. Os
mos e ambientes estranhos. c o n c e ito s da Teoria da Psicanálise e os
devaneios dos sonhos tam bém serviram
com o fundam ento para a sustentação de
re p re senta ções fa n tá s tic a s e m arcadas
por um subjetivism o inconsciente.

M a rca s das m a n ife s ta ç õ e s desse


período, os valores oníricos, a prática do
a u to m a tis m o psíquico, a explora ção do
inconsciente e dos sonhos, o hipnotism o,
a sexualidade e o amor exacerbado, são o
norte da pesquisa surrealista.

Não apresentavam técnica específica,


mas, além da pintura e escultura, recorrem
The Soothsayer's Recompense, 1913, Giorgio, óleo em tela à assem blagem (colagem ) e à fro ta g e m
Museu de Arte Moderna, Filadélfia, EUA (coleta de texturas).
Os Surrealistas não se prendiam à moral,
à lógica ou à razão. Os principais artistas são:
Salvador Dali (1 9 0 4 -1 9 8 9 ), Marc Chagall
(1887-1985), Joan Miró (1893-1983), Frida
Kahlo (1907-1954), Marc Ernst (1891-1978)
e René Magritte (1898-1967).

Salvador Dali foi um dos artistas que se


destacaram dentro dessa modalidade. Suas
obras encantam e seduzem o observador, evi­
denciando o caráter enigmático e irracional
de suas criações. Usava cores e expressões
fortes. Os elementos, em muitos casos, riva­
lizavam entre si, evidenciando a fragilidade
e as contradições do sentim ento humano. A face da guerra, 1940-1941, Salvador Dali, óleo sobre
Confrontou a insegurança, a fugacidade dos tela, 64 x 79 cm, Museu Boymans, Van Beuningen, Roterdã
relacionamentos e os medos humanos.
A c im a , uma in trig a n te obra fe ita na
Segundo ele, "O Surrealismo é destru­ C a lifó rn ia , no fin a l de 1 9 4 0 , no auge da
tiv o , mas ele destroi som ente o que acha S e g u n d a G ue rra M u n d ia l. Nela o b s e r­
que lim ita nossa visão". va-se to d o o pâ nico, a n gústia e repulsa
do a rtis ta em relação ao a c o n te c im e n to .
Uma cabeça de a p a rê n c ia m o n s tru o s a
é o rnad a po r s e rp e n te s que saem po r
to d o s os o rifíc io s , re p le to s de ca ve iras.
São c a v e ira s d e n tro de c a v e ira s e há
um grand e va zio em v o lta . Isso ta lv e z
expresse o s e n tim e n to , não só do a u to r
mas de m u ito s de seus con tem p orâ neo s.
É um o lh a r c rític o e s u b je tiv o , porém
re pleto de sim b o lism o .

Persistência da memória, 1931, Salvador Dali, óleo sobre tela,


24 x 33 cm, The Museum of Modem Art, Nova Iorque

Persistência da memória, tela de peque­


nas dimensões, é extremamente expressiva:
ao centro da imagem observa-se um autor-
retrato de forma estilizada. Sobre ele e em
volta do mesmo os relógios parecem se der­
reter, em alusão à efemeridade do tem po;
estão em consonância com seus olhos cer­
rados e a representatividade do conjunto.
O tem po é relativo, passado e presente se
fundem. Os espaços vazios representam os Criança geopolítica assistindo ao nascimento do novo homem,
vazios existenciais humanos. 1943, Salvador Dali
A obra Criança geopolítica... foi criada direcionamentos político-sociais do seu tempo,
em plena Segunda Guerra Mundial. Dali, de evidenciados no âmbito do fantástico.
certa form a, ironiza as expectativas de um
mundo melhor após a derrota do Fascismo.
A casca mole do ovo (a Terra) não dá a
proteçã o necessária à criança que está
para nascer, e ao rom per sua e stru tu ra ,
esta sangra. Isso se dá na altura do c o n ti­
nente norte-am ericano, o que faz relação
com a força política daquele país. Nota-se,
tam bém , uma pequena gota (lágrima?) que
escorre no alto do continente africano. A
m ulher que observa a cena é ao mesmo
tem po esquelética e musculosa. No plano
de fundo observa-se um amarelo intenso,
ta lve z fazendo referência ao deserto . À
direita há um obelisco, símbolo de poder. Homem nu visto de costas, Lucian Freud, 1991-1992, óleo sobre
No a lto percebe-se uma c o b e rtu ra que, tela, 183,5 x 137,5 cm, National Galleries of Scotland, Edimburgo
d e n tro da visão do a u to r, protege essa
criatura enigm ática. Lucian M ichael Freud (1 9 2 2 -2 0 1 1)
nasceu em B erlim , filh o de pais ju d e u s ,
neto do p sica nalista Sigm und Freud. Foi
g ra v u ris ta e p in to r. Suas ob ras fo ra m
considerada s, in ic ia lm e n te , su rre a lista s.
Em seu tra b a lh o lança um olhar d ife re n ­
ciado sobre a representação do nu. Retra­
tava o corpo sem idealização e s té tic a e
em posições inu sitada s, com cores mais
em pastadas e u m id ific a d a s . P intou pes­
soas re lacionadas com o seu c o tid ia n o :
a rtis ta s , p a re n te s , a m ig o s . A s e n s u a li­
dade das obras está, p rin cip a lm e n te , na
Cisnes refletindo elefantes, Salvador Dali, 1937, óleo sobre veracidade das fo rm a s.
tela, 51 x T i cm, Cavalieri Holding Co. Inc., Genebra
Modernistas Mexicanos
Dali era realmente surpreendente. Na
obra acim a tra to u de tem as p o lítico s e Magdalena Carmen Frida Y Calderon,
sociais. O foco envolve vários conceitos, mais conhecida como Frida Kahlo, foi uma
da filo so fia à física. Com cores fo rte s e das mais representativas artistas do século
formas ondulantes, os cisnes são converti­ XX. Marcada por um terrível acidente em sua
dos em elefantes. Essa circunstância pode juventude, sua obra evidencia esse episódio.
ser explicada pela física (imagem refletida As cenas do acidente, do hospital, os autor-
em espelho d'água) e ficou registrada na retratos, as relações efetivas são relatados de
genialidade do artista. Pode-se inferir sobre modo efusivo em sua arte. O observador é
os conceitos humanos: será que às vezes transportado para a sua dor. Suas pinturas são
tam bém não são invertidos? carregadas de angústia e solidão. As cores e
as formas transmitem o medo, a insegurança
Assim, com obras instigantes, Dali pro­ e o desespero, sentimentos que emocionaram
põe uma reflexão aprofundada acerca dos uma legião de apreciadores.
Autorretratos, Frida Kahlo (1907-1954)

A artista conseguiu traduzir, em fo r­ Frida Kahlo foi m ilitante com unista ao


mas e cores, as dores humanas. Segundo lado dos muralistas mexicanos, em especial
Frida, "A lg u m te m p o a trá s, ta lv e z uns Diego Rivera, com quem foi casada.
dias, eu era uma moça cam inhando por
um mundo de cores, com form as claras e "O rigem das duas Fridas. Recordação.
tangíveis. Tudo era m isterioso e havia algo Devia ter 6 anos quando vivi intensam ente
o c u lto ; adivin ha r-lhe a natureza era um a amizade imaginária com uma menina de
jogo para mim. Se você soubesse como é minha idade. (...) Não me lem bro de sua
terrível obter o conhecim ento de repente im agem , nem de sua cor. Porém sei que
— com o um relâmpago iluminando a Terra! era alegre e ria m uito. Sem sons. Era ágil e
A gora, vivo num planeta dolorido, tra n s ­ dançava como se não tivesse nenhum peso.
parente com o gelo. É com o se houvesse Eu a seguia em todos os seus m ovim entos
aprendido tu d o de uma vez, numa ques­ e contava para ela, enquanto ela dançava,
tão de segundos. M inhas am igas e c o le ­ meus problemas secretos. Quais? Não me
gas tornaram -se mulheres lentam ente. Eu lembro. Porém ela sabia, por minha voz, de
envelhecí em instantes e agora tud o está todas as minhas c o is a s ..." (Frida Kahlo).
em botado e plano. Sei que não há nada
escondido; se houvesse, eu veria". Muralistas Mexicanos

A pintura mural rem onta os tem pos


mais rem otos, prim itivos. No princípio era
re g istro de há b ito s e c o stu m e s, depois
de crenças. Mais tarde publicou idéias e
pensam entos. Por fim , serviu para fazer
d e nún cias h is tó ric a s , s o c ia is , p o lític a s
e am bientais. Não se pode negar que se
trata de um dos meios de com unicação de
grande alcance público.

O M uralismo Mexicano, considerado


o "Renascimento" da arte mexicana, foi um
movim ento artístico singular e de extrema
importância para a arte mundial do século XX.
Dentre os artistas, citam-se Jose Clemente
Orozco (1883-1949), Davi Alfaro Siqueiros
As duas Fridas, 1939, óleo sobre tela, 173,5 x 173 cm, México (1896-1974) e Diego Rivera (1886-1957).

149
A o b ra d e sse s a r tis ta s e stá i n t i­
m am en te re la cio n a d a com a re vo lu çã o
m exicana de 19 1 0 e os ideais de ju stiç a
so cia l. O program a de p in tu ra s m u rais,
narrando a h is tó ria do país e e xa lta n d o
o fe rv o r re volucion ário do povo, adquire
lugar destaca do no p ro je to e d u ca tivo e
c u ltu ra l do período.

Jose Clemente Orozco

Orozco destacou-se na pintura, não


só de m ural mas ta m b é m de c a v a le te . Deuses de um Novo Mundo, Orozco,

E c lé tic o te c n ic a m e n te , tra b a lh o u com Dartmouth College, New Hampshire, EUA

aquarela, carica tura e desenho. A te m á ­


tic a p rin cip a l de seu tra b a lh o fo ra m os Davi A faro Siqueiros
id e a is re v o lu c io n á rio s , c iê n c ia , te c n o ­
logia e re lig iã o . Suas co m p o siçõ e s fo r ­ S ique iros usa uma m atização c o n ­
mam obras instigantes, que provocam no centrada para relatar e denunciar os fatos
observador a ação reflexiva. o c o rrid o s em seu país à época. A ssim
com o O ro zco, fic a m e v id e n te s os p ro ­
pósitos de denúncia socio política de sua
produção artística.

Vítima proletária (esquerda), El tormento (direita), 1930,


David Alfaro Siqueiros

Diego Rivera

Seus projetos artísticos evidenciam um


ecletism o tem ático sem precedentes. Em
suportes de grandes formatos e cores intensas
com relações contrastantes, reforçava seus
Mural Carnival o f the Ideologies, Orozco, conceitos revolucionários e seus relacionamen­
Palácio de Gobierno, Guadalajara, México tos pessoais. A relação de Diego Rivera e Frida

150
Kahlo era muito intensa. Os dois partilhavam A ssim , um grupo de com positores
suas afinidades artísticas e políticas. reunidos em Viena, a partir das necessida­
des emergentes da sociedade e do mercado
cultural, redimensionou o fazer artístico e a
produção musical, negando os pressupostos
teóricos acerca das tradições tonais.

Seus componentes criaram uma nova


linguagem musical, o atonalismo, isto é, des-
construção da escala cromática tornando-a
sem hierarquia tonal. A melodia vai de uma
nota a outra, num estilo denominado "alea­
tório", em que é feita ao acaso e caracteriza
uma música não centrada numa tonalidade.

O estilo musical romântico permanece,


Mural Unidad Panamericana, Diego Rivera, 1 940, Campus de ao longo do século XIX, como produto de
San Francisco Community College, Califórnia consumo principalmente das classes médias
urbanas. Sua apreciação e produção é mais
longeva do que em outras manifestações.

Esse estilo musical ganhou mais liberdade


na sua forma e composição para adequar-se
ao gosto dos consumidores e assume uma
longa permanência como um produto clássico.
Mesmo nas primeiras décadas do século XX,
os compositores românticos faziam parte dos
repertórios musicais por todo o Ocidente.

O arsenal, Diego Rivera, 1928,


Frida Kahlo distribuindo armas

No Brasil a arte mural influenciou artis­


tas de renom e, tais com o: Cândido Porti-
nari (1 9 0 3 -1 9 6 2 ), Emiliano Di C avalcanti
(1 8 9 7 -1 9 7 6 ) e outros.

A música na virada do século

O final do século XIX foi marcado por Frédéric Chopin, compositor romântico
fortes mudanças também na música. A indus­
trialização ditava novas normas e maneiras de M uitos desses com positores rom ânti­
trabalho, exigindo maior especialização. Os cos tinham interesse claro nas artes visuais.
músicos da época assumiram novo papel e Em m uitas de suas criações encontra-se a
a produção musical passou a ter um caráter presença clara de inspiração em pinturas
industrial: bem de consumo e mercadoria. ou poemas.
"Minha terra tem palmeiras onde canta o Principais características da música romântica;
sabiá. As aves que aqui gorjeiam não gor-
jeiam como Lá" Maior liberdade na criação com as emoções
mais livres, dando ênfase também à fantasia e
Canção do Exílio, Gonçalves Dias imaginação.

Nesse período a orquestra tam bém Um lirismo mais acentuado característico da


cresceu de form a sig n ifica tiva , ta n to em canção e harmonias ricas.
dimensão como em abrangência e respeito.
As seções de metais foram complementadas Crescimento significativo da orquestra tor­
com a tuba. Sua im portância foi ampliada nando-se gigantescas.
com a invenção do sistema de válvulas, que
deu mais flexibilidade aos instrumentos. Virtuosismo técnico nos setores do piano e
violino.

Aparecimento do nacionalismo em que os


compositores expressavam fortes sentimen­
tos pelo seu país.

A abrangência desse período é de 1810a 1910.

Música do século X X

Para atender à demanda pela música As a rte s vis u a is a fe ta m de fo rm a


ro m â n tic a , fo i cria d o to d o um siste m a decisiva os músicos desse período, com o,
co m e rcia l de p ro d u çã o e d ito ria l de p a r­ por exemplo Claude Debussy (1862-1 918),
titu ra s , que eram avidam ente com pradas que inspirado em Claude M onet cria uma
pelos apreciadores e e stu d io so s. Nesse m úsica de desenhos m elódicos sinuosos,
p e río d o , há um a g ra n d e p ro d u ç ã o de com harmonia colorida e luxuosa, grande
m úsicas para piano, ten do sem pre com o sutileza e sim plicidade na instrum entação.
referência os grandes, com o: Franz Schu- A m ú sica P rélude à L 'A p re s -M id i d 'u n
b e rt ( 1 7 9 7 - 1 8 2 8 ) , F elix M e n d e ls s o h n Faune dá origem ao primeiro estilo musical
( 1 8 0 9 - 1 8 4 7 ) , F ré d é ric C h o p in ( 1 8 1 0 ­ do século XX, inspirado na pintura com o
1 8 4 9 ), Franz Liszt (181 1 -1 8 8 6 ), R obert mesmo nome.
S chum ann (1 8 1 0 -1 8 5 6 ) e Johannes
Brahms (1 8 3 3 -1 8 9 7 ). Os com posito res, os inté rpretes, os
in s tru m e n tis ta s eram p ro fissio n a is espe­
cializados co n fo rm e a exigência do m e r­
cado. O pleno ê x ito no desem penho de
suas funções e os interesses econôm icos
perm itiram a in stitu içã o de "g ê n io s ", que
criavam de fo rm a in d iv id u a l, g a ran tidos
por polpudos financiadores.

A s s im , e n q u a n to a m ú s ic a dos
períodos anteriores era caracterizada por
um único estilo, agora desenvolvia-se de
form a mais personalizada, form ada a par­
Mãos em momento de graça tir de vária s e c o m p le xa s te n d ê n c ia s e
conceitos m usicais, apesar de possuírem
um viés com um , que era a aversão pelo
caráter rom ântico.

Entretanto, existem marcas de estilo


capazes de definir uma apresentação como
genuinamente modernista, que são:

Melodias: Curtas e fragmentadas, an­


gulosas e pontiagudas, podendo em algu­
mas composições, nem existir.

Ritmos: Com vigor e bastante dina­


mismo, m étricas inusitadas e compassos
de cinco a sete tem pos, produzem m ovi­
mentos diversificados e m uito dinâm icos,
dando outro andam ento, algumas vezes
inusitado.

Harmonia: É o período onde a dissonân­


cia reina, com acordes consonantes e notas
adjacentes tocadas de forma simultânea.

Timbres: A pesquisa que permeia todos


esses segmentos está presente, também,
na música. Assim, os timbres apresentam Igor Stravinsky (1882-1 971), Rússia
uma característica exótica e sons estranhos,
com contrastes intensos tirados de instru­
mentos diferentes e convencionais, ligados
ou não a meios virtuais e eletrônicos.

Os maiores compositores dessa época foram:

Claude Debussy (1862-1918), França Serguei Prokofiev (1891-1953), Rússia

153
A Idade Contemporânea está marcada, As produções a rtís tic a s tom am as
de maneira geral, pelo desenvolvim ento e ruas, d ia lo g a m , d ive rg e m ou re fo rça m
consolidação da ordem burguesa. Guerras, os valores contem porâneos. Na verdade,
revoluções, crises econôm icas, avanços essa diversidade de linguagem que m es­
te cn o ló g ico s, crescim ento urbano fazem cla os conceitos e técnicas, é, ao mesmo
parte do imaginário do homem atual. tem po, contraditória e independente. Cria
uma verdade "c o n c re ta ", tã o a b soluta
O grande fluxo de acontecim entos e quanto o m undo, a vida, os seres e tudo
a rapidez como tudo acontece reflete nas mais: é a arte pela arte.
artes e na produção industrial. O avanço
da ciência é um dos esto pins de todas Op A rt
essas transform ações.
O term o "Op A r t" é uma abreviação
A arte acompanha o ritm o das trans­ de Ó ptica/ A rt, que sign ifica arte óptica.
form ações e, de form a fre n é tica , cria e Surgiu nos anos 1 9 6 0 , sim ultaneam ente
recria conceitos e estéticas, apresentando nos Estados Unidos e Europa.
afinidades que aparelham com conceitos
p rim itivo s, subjetivos, racionais, político- Caracteriza-se pela conjugação de for­
sociais e tecnológicos. mas geométricas e cores planas, que são
colocadas de uma maneira tal em um plano
A Arte Contemporânea que o observador tem a impressão que estão
em pleno dinamismo. Proporciona, também,
A arte contem porânea acontece na ao espectador uma sensação de volum e
segunda metade do século XX, logo após e profundidade m uito significativa. Utiliza
o fim da Segunda Guerra M undia l, e se cores que dão a sensação de imensos con­
prolonga até a atualidade. O que a carac­ trastes, além de diversos níveis de ilumina­
teriza é o ecletism o e sté tico e te m á tic o , ção, explorando a criação de formas virtuais
uma ampla disposição para a experim en­ e efeitos ópticos criativos e sedutores.
ta ç ã o , levando os a rtis ta s a realizarem
um a v e rd a d e ira fu s ã o de lin g u a g e n s , B astante s is te m á tic a , conjuga um
m ateriais e tecn olog ias. racionalism o form al com um aos modelos
c ie n tífic o s . E n tre tan to, suas p o s sib ilid a ­
Os a rtis ta s prota g o n iza m uma p ro ­ des parecem ser tão ilim itadas quanto as
dução rica e d ive rsifica d a . Nessa época da ciência e da tecnologia. São imagens
queriam e xp e rim e n ta r novas fo rm a s de m uito atraentes, curiosas e divertidas.
e x p re ssã o , no vas té c n ic a s , m e to d o lo ­
gias e s ig n ific a d o s , eq u ip a ra n d o -se ao Em 1965, foi organizada a primeira
progresso. M udam -se, po rta n to , os para­ exposição da Op A rt, no Museu de A rte
digm as esté ticos. A profundam -se as pes­ Moderna de Nova Iorque. Os artistas que
quisas e discussões. A arte vai além de dela participaram foram : V ic to r Vasarely
seu in tu ito esté tico , m ergulha no mundo (1906-1997), Alexander Calder (1898-1976),
c ie n tífic o , além do so cia l e in tim is ta . Richard Anusziewicz (1930), Bridget Riley
Romper, recriar e inovar são palavras de (1931), Ad Reinhardt (1913-1967), Kenneth
ordem para os artistas do pós-guerra. Noland (1924-2010) e Larry Poons (1937).
A partir de elementos gráficos sequen­
ciais, form as geom étricas e linhas que se
sucedem, a imagem é criada e valorizada
pela dinâmica que gera. Os elementos de
caráter científico acontecem pela sucessão
de formas, que produzem um belo e interes­
sante efeito ao olhar. Sua arte foi divulgada
e respeitada por todo o mundo.

Victor Vasarely, óleo sobre tela. 100 x 100 cm


Catálogo da Galeria Hansson, Suécia

V ic to r V asarely fo i um dos m aiores


expoentes da Arte Óptica. De origem norue­
guesa, experim entou diversas técnicas e
possibilidades plásticas na construção do
co n ju n to de sua obra. A com binação de
fo rm a s geom é tricas e cores bem sa tu ra ­
das e brilhantes resultam em imagens de Alexander Calder
grande beleza. Folha de metal policromada e fio de aço

A lexander Calder, um artista norte-


americano form ado em engenharia, foi con­
siderado um integrante m uito im portante
da Op A rt. A partir de materiais simples e
form as geom étricas com uns, cria imagens
atraentes e que causam admiração em seus
observadores.

Calder ocupa lugar de destaque entre


os escultores modernos. Esculpiu stabiles:
sólidas esculturas fixas e m o b ile s: placas
e discos m etálicos unidos entre si por fios
que se agitam , tocados pelo vento. Com
isso, marca uma nova versão escultórica
distante dos rígidos padrões clássicos.

Pop A rt

C onsiderada "n e o -d a d á " por a p ro ­


priar-se de produtos da tecnologia indus­
tria l, a Pop A r t apresenta um fo rte apelo
Movement in squares, Bridget Riley, 1961 p o lític o -s o c ia l. M arca o resgate da arte
do p ro te s to , da c rític a e o c o n fro n to .

155
Seu c o n c e ito sugere um debate com a
produção intelectual da época. Surgiu nos
Estados U nidos, em 1 9 6 0 , e alcançou
grande repercussão pelos dem ais países
e continentes. Dialoga com o espectador
através de códigos e símbolos extraídos da
cultura de massa, dos elem entos produzi­
dos e consum idos em série.

V isa um a in te g ra ç ã o e n tre o dia


a d ia , os e le m e n to s da v id a co m u m
e a a rte , a s u b s titu iç ã o do é p ico pelo
c o tid ia n o . Usa a rg u m e n to s e s té tic o s
que tra d u ze m bem esse p ro p ó s ito , ta is
c o m o : ró tu lo s de p ro d u to s , h is tó ria s
em q u a d rin h o s, m ito s co n te m p o râ n e o s ,
s ím b o lo s p u b lic itá rio s e o u tro s . Esses
apelos a p ro xim a m o co m u m , o p o p u la r Imagem de Che Guevara, Andy Warhol
do in te le c tu a l.

Entre os a rtista s que se destacaram


nessa ve rte n te de vanguarda, podem ser
citados, A ndy W arhol (1 9 2 8 -1 9 8 7 ) e Roy
L ich tenstein (1 9 2 3 -1 9 9 7 ).

A ndy W arhol trabalhou com o ilustra­


dor de importantes revistas em Nova Iorque,
como The N ew Yorker, Vogue e a Harper's
Bazaar. Criou displays e anúncios publicitá­
rios. A partir de 1960, passou a criar qua­
dros relacionados com a publicidade usando
tecnologias modernas. As tintas sintéticas,
com cores m uito fortes e brilhantes tra d u ­ Green Coca-Cola bottles, Andy Warhol, 1962
ziram o imaginário do artista que, ao exal­ 2,09 x 1,45 m, Whitney Museum of
tar a modernidade e a tecnologia, expunha American Art, Nova Iorque
uma sociedade con sum ista . A pa rtir daí,
repaginou o conceito ready-m ade ao u tili­ Roy L ic h te n s te in a p re s e n ta um
zar latas de sopa CampbelTs, tênis AH Star, acervo rico em im agens que nos rem ete
garrafas de Coca-Cola e os ícones da mídia à c o m u n ic a ç ã o v is u a l. D ialogou com o
contem porânea com o tem as e norte para mundo dos gibis e das histórias em quadri­
a produção de seu acervo. Cultivava uma nhos, transportando ingenuidade e graça
série de técnicas, que vão desde a pintura para o m eio a rtís tic o . Reelaborou o im a­
à colagem, fotografia e serigrafia. ginário in fa n til e adolescente em p o ste rs
im ensos, que atraem a atenção devido às
Foi e xe m plo de c rític a à p rodu ção cores e form as com as quais foram c o n ­
em série e à m a ssifica çã o c u ltu ra l. Sua cebidos. Empregou em seus tra balh os a
fam osa frase "No fu tu ro todos terão seus retícula dos quadrinhos por meio de uma
15 m inutos de fa m a " soa, nos dias atuais, técnica pontilhista. Sua obra era produzida
com o p ro fe cia co n cre tiza d a . com fo rte tem ática subjetiva.
Coleção Polaroid: Muhammad Ali (1977), Andy Warhol, Basquiat (1982), Pelé (1977), Schwarzenegger (1977)
Roy usava imagens da publicidade, que Toy A rt
sugeriam consumismo e atividades domésti­
cas. Em 1979, foi eleito membro da Academia
Americana e Instituto das Artes e Letras.

Bonecos atuais conhecidos como Toy Art

Toy A rt é uma das vertentes da van­


guarda e encontra uma conexão com a arte
Kitsch. Surgiu no final da década de 1990,
Forget it! Forget me!, Roy Lichtenstein. 1962, óleo e em Hong-Kong, e espalhou-se para o mundo.
magna sobre tela, 203,2 x 172,7 cm, Rose A rt Museum, Seu protagonista foi M ichael Lau (1 9 5 3 ),
Brandeis University Waltham, Massachusetts, EUA que fundiu o conceito estético dos brinque­
dos com a produção artística. Os materiais
utilizados são os mais diversos possíveis:
resina, vinil, plástico. São elaborados por
designers e artistas plásticos, com recursos
que utilizam tecnologia de ponta.

Traduz-se no processo de colecionar


objetos e, ao m esm o te m p o , reelaborar
essas peças com outras versões. Mais do
que mera diversão ou sim ples alusão ao
consumismo, a Toy A r t é um fenômeno da
arte pop contemporânea.

Expressionismo Abstrato

Termo cunhado em meados do século


XX, como um retorno aos princípios esté ti­
cos dos trabalhos de Kandinsky e tam bém
Live ammo (Ha! Ha! Ha!), 1962, ao autom atism o psíquico surrealista. Con­
Roy Lichtenstein, óleo sobre tela, 172,7 x 172,7 cm, siste na aplicação espontânea e direta da
Chrysler Museum, Norfolk, Virginia, EUA tin ta sobre telas de grandes proporções.
j j :

Um dos p rin c ip a is a rtis ta s dessa Evitava enfatiza r aspectos isolados,


m odalidade fo i Ja ckso n P ollock (1 9 1 2 ­ criando, p o rta n to , espaços uniform es no
1 9 5 6 ). P intor e sta d u n id e n se , re v o lu c io ­ que tan ge à fo rm a e à cor. Na verdade,
nou o mundo artístico a partir da criação com o se tra ta de a b s tra to , a form a não
de uma arte destituída de valores sociais. segue a perspectiva fig u ra tiv a .
Trabalhou com Orozco e Rivera, artistas
mexicanos que montaram um laboratório de
pesquisa de m ateriais para suas pinturas-
murais. Encantava-se com a pintura secun­
dária no chão, causada pelos respingos de
tin ta no m om ento da aplicação nas pare­
des por esses artistas. Essa acomodação
natural assemelhava-se à Teoria do Caos e
aos fractais (relação m atem ática entre as
partes de um todo) e resultava em espaços
esteticam ente interessantes.

A ssim , o a rtista se dispôs a estudar


essa p ro d u çã o n a tu ra l e crio u o m o v i­
m e n to , que recebe o nom e de A c tio n Lavender mist, 1950, Jackson Pollock, 221 x 300 cm
P a in tin g (p in tu ra em açã o ), d e v id o ao National Gallery of Art, Washington
seu c a rá te r d in â m ic o . A co n ce p ç ã o da
obra dava-se a p a rtir de uma grande tela O Expressionismo Abstrato mostra uma
jogada ao chão, do lado de fo ra do a te ­ afinidade m uito grande com o Tachismo,
liê. Daí, m otivado pelo dinam ism o c irc u n ­ movimento de origem francesa que consiste
dante , o a rtis ta saltava sobre a m esm a, na produção a partir da técnica de mancha-
jogando respingos de tin ta até cobrir toda ções irregulares da cor. Essa afinidade, além
a superfície do suporte, e então surgia o do efeito abstrato, está também no desejo
trabalho a rtístico finalizado. da concepção espontânea da obra. Desta­
cam-se: Georges Mathieu (1921), Pierre Sou-
lages (1919), Nicholas de Staèl (1914-1955),
Hans Hartung (1904-1989), Serge Poliakoff
(1906-1969) e Jean Dubuffet (1901-1985).

Fotografia de Jackson Pollock, por Hans Namuth, 1950.


Coleção de fotografias do Centro de Criação 0/7 on aluminum foil on composition board, Jean Dubuffet, 1959,
Fotográfica da Universidade do Arizona 149,6 x 195 cm, Museu de Arte Moderna, Nova Iorque
Land A rt

"Arte da terra", onde o próprio ambiente


natural é condicionado ao propósito de cria­
ção do artista.

Utiliza-se a própria terra, areia, pedras


ou até árvores no contexto artístico. Cul­
mina, portanto, na intervenção artística em
ambiente natural. Surgiu nos anos 1960, em
resposta à crescente valorização dos meios
tecnológicos e, portanto, como uma resposta
a essa arte massificada pela indústria e pelo
consumismo. Conhecida também como Earth-
work, teve sua primeira exposição na Galeria
Dwan, em Nova Iorque, em 1968. Devido às
suas características, galerias e museus não
são muito indicados. Entretanto, várias tenta­
tivas nesse sentido foram feitas, no intuito de
divulgação e agregação de simpatizantes.

A m aioria das m anifestações desse


tip o de arte é efêm era, ligando-se in tim a ­
m ente à paisagem para a qual foi criada, Surrounded Islands, 1980-1983, Christo e
procurando am bientes mais acessíveis ao Jeanne-Claude, Miami, Flórida

público. Devido à sua fragilidade, são natu­


ralmente destruídas pela ação do tempo, da Body A rt
própria natureza ou do homem.
A s s o c ia d a à a rte c o n c e itu a i e ao
Os maiores expoentes foram : Michael Happening, a Body A r t usa o corpo como
Heizer (1 9 4 4 ), R obert S m ithso n (1 9 3 8 ­ suporte para a expressão do artista. Pode
1 9 73), W a lte r De Maria (1 9 3 5 ) e Robert ser instantânea, com a presença do público,
M orris (1931). ou registrada em film es ou fotografia para
ser apresentada em exibição posterior. Em
vários casos está relacionada a algum tipo
de sofrim ento ou sacrifício do protagonista.
Em uma apresentação, no ano de 1 9 7 0 ,
em Nova Iorque, o artista V ito Acconci fric-
cionou um braço até ferir-se. Essa peça
ficou conhecida como Rubbing piece.

Elem entos hum anos naturais, com o


esperma, suor, sangue, fezes, urina, saliva
e outros, podem ser usados nessas m ani­
festações. São gestos, atitudes que podem
Spiral jetty, Robert Smithson, 460 m de comprimento e 50 m resultar em com posições belas ou aterro-
de diâmetro, realizada com 6.000 toneladas de basalto e pedra- rizantes. O uso de ta tuag ens, pie rcings,
pomes deitadas na água vermelha do bronzeam entos ou c la rifica çõ e s de pele,
Great Salt Lake, em Utah, EUA m anipulações de cabelos, com cortes ou
modelagens radicais, podem ser um exer­
cício público ou registrado em mídias.

Os o b je tivo s dessa a u to fla g e la çã o


podem ser encontrados no desejo de nega­
ção da arte convencional, ou na manipula­
ção da arte comercial, mercantil.

Os maiores protagonistas foram: Bruce


Nauman (1941), Gina Pane (1 9 3 9 -1 9 9 0 ),
Mona Hatoum (1952), Vito Acconci (1940),
Yves Klein (1928-1962).

Janelas, Charles Sheeler, óleo sobre tela, 1952, 61 x 74 cm


Museu de Arte Moderna de Nova Iorque

Fotorrealismo/Hiperrealismo

0 pintor Richard Estes (1936) foi um


dos fundadores do Fotorrealism o, m oda­
lidade criada no final da década de 1960,
nos Estados Unidos. Essa técnica se desen­
volveu a partir de duas tradições artísticas:
a pintura trom pe /'oe i/ e a técnica m eticu­
losa de superfícies delicadam ente acaba­
das da pintura holandesa do século XVII.
Usa várias tom adas fo to g rá fic a s para a
criação de suas ilusões de óptica, gerando
uma imagem realista, mas que não se cor­
responde em luz, cor ou elementos com a
realidade expressa.

O H iperrealism o ou Realismo F o to ­
g rá fic o é uma té c n ic a de p in tu ra e/ou
escultura que procura m ostrar uma im a­
gem com bastante de ta lh a m e n to . A p re ­
senta grande exatidão de detalhes, que
confere uma qualidade visual fa n tá s tic a ,
culm inando em obras "m ais reais" do que
a própria realidade. U tilizando tem as do
cotidiano, essa técnica se expandiu para
Performance, Yves Klein, acompanhada por orquestra e
outros continentes e com o avanço te cn o ­
observada por audiência.
lógico ganhou dimensões inimagináveis.
tou arranha-céus e outros temas. Conheceu
glória e prestígio, sendo considerada uma das
maiores artistas americanas de seu tempo.

Lips, 2000, Jeff Koons, óleo sobre tela, 340,8 x 436,8 cm


Deutche Guggenheim, Berlim
Ron Mueck, Ghost, 1998, fibra de vidro, silicone, espuma de
poliuretano e acrílico, 202 x 65 x 99 cm, Tate Collection, Londres Artista contemporâneo de grande refe­
rência, Je ff Koons (1955) criou um estilo
Nota-se, na escultura de Ron Mueck polêmico. A partir de elementos da arte
(1958), um grande detalhamento anatômico. O Kitsch, critica aspectos culturais e valores
artista começou fazendo fantoches para filmes morais contemporâneos. Na obra acima, cria,
e programas de televisão e acabou trabalhando a partir de recursos diversos, uma reflexão em
na construção de cenários superrealistas. relação aos conceitos convencionais e marca
Começou usando látex e, mais tarde, partiu um retorno à sedução da produção surrealista.
para resinas de fibra de vidro, que permitem Com um toque pós-moderno, questiona os
um acabamento ainda mais inacreditável. conceitos estéticos do significado da arte e
da cultura de massa. Inspira-se em elementos
cotidianos e usa cores intensas e vibrantes
para compor seus trabalhos.

Orquídea (esquerda), flor (direita), Geórgia 0'Keefe

Nascida nos Estados Unidos, Geórgia


0'Keefe (1887-1986) estudou no A rtlnstitute
o f Chicago e depois na Universidade de Nova
Iorque. Pintou paisagens e plantas de modo
geral. Sua obra apresenta afinidade estética
com o surrealismo. A clareza de detalhes e
todo o lirismo poético de sua composição fez
com que fosse muito apreciada por críticos e Mona Usa, 1997, Fernando Botero, óleo sobre tela,
amantes de arte no século XX. Também pin­ 187 x 166 cm, Art Museum of the Américas, Washington, EUA
I jL,

Fernando Botero (1932), pintor e escul­


tor colombiano, filho de pessoas humildes,
ficou órfão ainda na infância e enfrentou várias
dificuldades em seu processo de formação.
Suas primeiras obras apresentam um caráter
expressionista. Após estudar em vários países
cria seu próprio estilo. Ele agrega característi­
cas e ícones da pintura europeia.

Entre seus trabalhos mais conhecidos


está a releitura da Mona Lisa de Leonardo
Da Vinci e A s Meninas de Velázquez, den­
tre outras. Seu ideal estético centra-se em
form as volumosas. Na série Meninas esse
conceito fica explícito. Sempre em primeiro
plano, a pose de seus personagens dialoga
diretamente com o observador.

No plano com positivo, rejeita as som ­


bras e a luz é oriunda do fu n d o da im a­
gem. A cor é um elemento vital na obra de Série Body-builders - Modeladores do corpo, Alex Flemming,
Botero. Segundo o artista, "a cor é funda­ Acrílica e impressão digitalizada sobre lona plástica, 2001
mental, pois dá luz à pintura. A imagem só
alcançará a perfeição quando a questão da Na série B o d y B u ild e rs, apresenta
cor tive r sido resolvida". tra b a lh o em c o rp o s m odela dos por a ti­
v id a d e s fís ic a s . In s c riç õ e s , m apas de
Alex Flemming nasceu em São Paulo, zonas de c o n flito s re lig io s o s ou p o líti­
em 1954. Declara-se cosm opolita, pois se cos (M éxico, Croácia, Paquistão, índia e
considera um cidadão do mundo. Daí a expli­ outros) são ali representados. Essas ins­
cação para o ecletismo de sua obra. Foi pin­ crições são de palavras de ordem , te x to s
tor, escultor, gravador e instalador. Usou uma bíblicos e ponderações acerca dos aco n­
diversidade enorme de materiais e técnicas. te c im e n to s desta época. Na sua visão o
Os mais inusitados suportes são utilizados no corpo humano atende aos com andos, mas
desenvolvimento de seus projetos: cadeiras, está tam bém à mercê de decisões p o líti­
sofás, paredes, corpo humano. A fotografia cas norteadas por interesses escusos. O
e a programação visual foram as bases para homem aparece com o um ser c o n s tru to r
vários de seus trabalhos. de uma sociedade e ta m b é m com o um
veículo de transform ação da mesma.

David Hockney (1 937) é um artista da


Pop A rt. É pin tor, cenógrafo, fo tó g ra fo e
gravador. Nasceu em uma pequena cidade
inglesa. Estudou em Londres, onde teve os
prim eiros co n ta to s com a produção artís­
tica internacional. Dali foi para Nova Iorque,
onde conheceu Andy W arhol, grande m oti­
vador de seu trabalho. Saiu de uma região
fria e foi para Califórnia, onde encontrou ins­
Portão de Brandemburgo, Alex Flemming piração na cultura e no clima. Ao sobrevoar
a região e observar a quantidade de pisci­
nas, encontrou, no contraste do ambiente
urbano, um novo tema para suas obras.

Street Crossing, escultura de George Segai, gaze gessada

Artista norte-americano, George Segall


(1924-2000) nasceu em Nova Iorque e estu­
dou arquitetura, psicologia, literatura, histó­
ria e filosofia. Quando era professor univer­
sitário, em uma de suas aulas, ganhou gesso
branco de um aluno. Esse material, a partir
daí, foi um marco em seu trabalho. Pioneiro
na técnica de esculturas com ataduras em
A bigger splash, 1967, David Hockney, gesso, usou um personagem como modelo
acrílico sobre tela, 242,5 x 243,9 cm original. Levou dois anos para dom inar e
aperfeiçoar esse estilo, que se espalhou e
Hockney foi um incansável estudioso ganhou os mais renomados ateliês. Seu pri­
da representação de elem entos naturais. meiro modelo foi a própria esposa.
A água, por exem plo, foi um desafio: sua
maleabilidade, suas possibilidades crom áti­ Representou cenas do cotidiano, em
cas, suas formas e como registrá-la. Como geral m e la n có lica s ou fa n ta s m a g ó ric a s .
um espelho d'água reflete e reluz o que tem E struturava as esculturas com o "In s ta la ­
em vo lta , as obras desse artista acom pa­ çõe s" para am bientes fechados, com ilu ­
nham este princípio. m inação e sonoplastia, ou para espaços
urbanos nada usuais.
A série C a lifó rn ia dre a m in g fo i rea­
lizada na década de 1 9 6 0 e te ve com o
palco a piscina da casa de Beverly Hills, da
filan trop a americana B etty Freeman. Nela
o artista utiliza todo um con texto em suas
representações: os elementos circundantes
e o am biente natural prom ovem a beleza
desse conjunto de obras.

Em A bigger splash não há presença


humana explícita, apenas a cadeira so litá ­
ria e vazia. No entanto, a grande espadana
branca só pode ter sido produzida por um
ser hum ano, o que leva o ob se rva d o r a
perceber que um nadador im plícito salta e Dança, George Segai, gaze gessada, 1971, tamanho natural

provoca o borrifo de água da piscina. National Gallery of Art de Washington


.. Ê ?ci

........

Suas ob ra s fo ra m e s c u lp id a s em
pedra, madeira e metais. As form as eram
orgânicas e prom oviam uma grande intera­
ção com o espectador. Os tem as estavam
relacionados aos corpos masculinos e fem i­
ninos e ligados aos sentim entos de raiva,
traição e até mesmo de m orte. Abordava
principalm ente a necessidade de proteção
e alim entação do ser humano.

O Jantar, George Segai, gaze gessada A s aranhas, d e nom inad as M a m an ,


fazem uma metáfora para suas produções
Suas esculturas não recebiam pintura. artísticas. Seu processo de criação estava
M ais tarde ganharam to n s m o n o c ro m á ti­ conectado aos conceitos freudianos, do sub­
cos e, por fim , cores mais vibrantes. Suas consciente e sonhos. Segundo ela: "A arte
obras são em tamanho natural e a partir de vem da incapacidade de seduzir. Sou incapaz
diversos tem as. Segai transform ou gestos de me fazer amada. A equação é na verdade
e atitudes cotidianas em material de análise sexo e assassinato, sexo e m orte".
e estudo do com portam ento humano. Sua
prim eira exp osição aconteceu na Hansa A a rtis ta plá stica m orreu em 2 0 1 0 ,
Gallery de Nova Iorque, em 1956. em Nova Iorque, com 98 anos, e deixou um
grande legado de admiradores e seguidores.
Suas peças aracnídeas fazem parte de um
conjunto e pertencem a diferentes acervos
espalhados pelo mundo. Certamente a série
"Aranhas" é um dos trabalhos mais famosos
da artista. A Tate Gallery em Londres foi
pioneira na exposição da coleção. Outros
museus a seguiram: o Guggenheim de Bil­
bao, o L'Herm itage de São Petersburgo, a
Galeria Nacional do Canadá. As M am ans
c o n tin u a m e n c a n ta n d o as pessoas em
Aranha, Louise Bourgeois, escultura em aço, 1996 várias partes do mundo.
Parque do Ibirapuera, São Paulo

Louise Bourgeois (1911 -2010) foi uma


im portante artista do século XX. Seu traba­
lho recebeu muita influência de surrealistas,
cubistas e construtivistas europeus. Apesar
de sua form ação europeia, desenvolveu a
m aior parte de seu trabalho nos Estados
Unidos, estim ulada pelo m arido, que era
crítico de arte. Ficou m uito conhecida no
Brasil, especialmente em São Paulo, devido
à sua escultura Aranha, exposta no M AM
(M useu de A rte M oderna), no Parque do
Ibirapuera, em regime de com odato, pois, Exemplar da Aranha em frente ao Museu Guggenheim de
na realidade, pertence ao acervo de um Bilbao, Espanha. Mede mais de 10 m de altura. É feita em
banco privado. bronze, aço e mármore. Louise Bourgeois, 1999

165
A ssim com o na Europa e nos Esta­ 0 Brasil passou por profundas m odi­
dos Unidos, a arte do século XX no Brasil ficaçõ es sociais, políticas e econôm icas
ganha dim ensões inesperadas. Os o b je ­ no início do sécu lo X X . A in d u s tria liz a ­
to s a rtís tic o s são e clé tico s em to d a s as ção e a chegada de im igrantes europeus
suas dim ensões e e stilo s. davam uma nova versão à sociedade do
país nesse período.
Os p ro ce sso s de p ro d u ç ã o e stã o
conectados aos valores e conceitos vigen­ E n tre ta n to , o te rre n o a rtís tic o , no
tes. O discurso varia de acordo com as âmbito formal, não caminhava com a mesma
estimulações de ordem política e social. As velocidade. Um grupo formado por artistas e
vanguardas europeias dividem as opiniões intelectuais brasileiros que estudavam fora
e, assim , grupos d is tin to s são form ados, do Brasil foi influenciado por essas transfor­
proporcionando ainda mais dinam ism o e mações mundiais e adequou-as ao contexto
vigor à produção da época. Sendo um país brasileiro. O tenentism o, fundação do PCB,
de dimensões generosas, também generosa Coluna Prestes, críticas ao sistem a oligár-
é sua arte. quico, greves e a luta pelo vo to fem inino
marcaram o momento em que surgiam essas
Arte Moderna e novas modalidades estéticas. A estética fo r­
Contemporânea no Brasil mal era o objeto a ser contestado.

O m o dernism o no Brasil é d iv id id o A primeira exposição dentro desse con­


em duas ve rte n te s, a saber: te x to , no país, foi prom ovida pelo lituano
chamado Lasar Segall (1891-1957), em São
V e rd e -A m a re lism o : que é conserva­ Paulo e C am pinas, em 1 9 1 3 . A m ostra
dor e tradicional. Rejeita as concepções vanguardista não teve grande repercussão
vanguardistas europeias. Pautado num devido à reação indiferente da imprensa.
nacionalismo exacerbado, recorre a temas Nela era e v id e n te a in flu ê n c ia da arte
regionais relacionados com a fauna, flora exp ressionista alemã. Essas c a ra c te rís ti­
e o índio, no desenvolvim ento de seu pro­ cas do artista ganharam força após ele ter
jeto artístico. O grupo, form ado por Plínio passado um tem po em um campo de con­
Salgado (1 8 9 5 -1 9 7 5 ), M onteiro Lobato centração. A guerra e os m onstros que o
(1 88 2 -1 9 4 8 ) e outros, criticava as pro­ circundavam passaram a m otivar uma esté­
postas herdadas de culturas estrangeiras tica de dor e exaustão, marcada pela defor­
e pregava o ufanism o e a defesa de uma midade visual.
brasilidade "hom ogênea". Com uma maior
referência na literatura, não teve grande A nos depois, in sta lo u -se d e fin itiv a ­
expressividade nas artes visuais. m ente no Brasil e natura lizou-se após o
casam ento com uma brasileira. Tom ado
Pau Brasil: é uma corrente de oposição p o r um f o r te b r a s ile ir is m o , r e tr a to u
à vertente anterior, pois rejeita o tradiciona- tem as com uns aos co stu m e s nacionais.
lismo da arte clássica. Sua produção é mar­ Os p e rs o n a g e n s são m u la to s , ín d io s ,
cada pela forte influência das vanguardas eu­ negros, p ro s titu ta s . P rivilegia va as pes­
ropeias e por valores sociais e políticos, com soa s c o m u n s e o m u n d o que as c e r­
imagens instigantes e muito significativas. cava. As agruras da guerra tam bém são

166
fre q u e n te s entre seus tem as re tra ta d o s. A nita M a lfa tti (1 8 8 9 -1 9 6 4 ) fo i um
A ssim , seu acervo é rico de fo n te s ins- elemento aglutinador entre os artistas van-
piradoras, de brados sociais e p o lític o s , guardistas. Locou um espaço no M appin
e representa um m arco h is tó ric o para a Stores, na rua Libero Badaró, e, em 12 de
expressivida de e sté tica brasileira. dezembro de 1917, realizou uma única apre­
sentação de seus trabalhos. Foi um desastre
total. Monteiro Lobato, que havia ido à expo­
sição, escreveu uma crítica para o jornal na
qual, ao mesmo tempo em que reconhecia
o talento da artista, discordava veem ente­
mente de sua forma de representação. Con­
servador, Lobato tinha sérias reservas às
inovações estéticas.

A rtis ta e c lé tic a , M a lfa tti produziu


retratos, naturezas-m ortas, gêneros, cos­
tu m e s . N avegou pelo E x p re s s io n is m o ,
F auvism o, C ubism o e o u tra s e s té tic a s
europeias. Participou da Semana de A rte
Moderna de 22. Fez parte do "Grupo dos
C inco", integrado por M a lfa tti, M ário de
Andrade (1 8 9 3 -1 9 4 5 ), Tarsila do Amaral
Perfil de Zulmira, 1928, Lasar Segall, óleo sobre tela, (1 8 8 6 -1 9 7 3 ), O swald de Andrade (1 8 9 0 ­
62,5 x 54 cm, Museu Nacional 1954) e M enotti Del Picchia (1 892 -19 88).

Nas obras desta coluna percebemos


características expressionistas e cubistas,
no que tan ge à d e fo rm a çã o visua l e ao
uso de tons terrosos. A representação do
negro com o personagem p ic tó ric o apre­
senta m a g n itu d e , sensualidade e fo rç a ,
com uma expressividade reverente tra d u ­
zida pelo artista.

A boba, 1915-1916, Anita Malfatti, 61 x 50,6 cm,


óleo sobre tela. Museu de Arte Contemporânea

Em A boba, a deform ação visual e as


cores fortes remetem a um de seus estilos
mais recorrentes do período, que é funda­
Cabeça de negro, Lasar Segall, 1929, xilogravura mentado no Expressionismo. Percebe-se a
presença de uma figura tímida, que observa D esejavam , e n fim , e lim in ar o ranço
acanhadam ente algo num plano superior. do passado e x is te n te na vida in te le c tu a l
As form as são bastante m arcadas e real­ brasileira . S im p lific a r o g e s to , o v o c a b u ­
çam um engessam ento, uma falta de ação lário , o tra ç o . B uscavam a liberdade de
por parte da p ro ta g o n is ta , um a pessoa expressão sem os cânones a n te rio re s.
com um em seu am biente.
D u ra nte os sete dias, podia-se ver
os quadros, e s c u ltu ra s , m aquetes e p ro ­
je to s . O u vir m ú s ic a /c o n c e rto s , poesias
e pa lestra s sobre a im p o rtâ n c ia da re n o ­
vação c u ltu ra l. Foi um advento marcado
pelo protesto, pelo brado intelectual, que
pesquisava novos rumos.

Participaram da Semana nomes consa­


grados do modernismo brasileiro, como Mário
de Andrade, Oswald de Andrade, Victor Bre-
cheret (1 8 9 4 -1 9 5 5 ), Plínio Salgado, Anita
M alfatti, M enotti Del Pichia, Sérgio M illiet
(1898-1966), Heitor Villa-Lobos (1887-1959),
Vicente do Rego Monteiro (1899-1970), Tar-
sila do Amaral, entre outros.

Torso, Malfatti, 1915-1916, carvão e pastel sobre papel,


61 x 46,6 cm, Museu de Arte Contemporânea

Os tra ço s e o m o vim ento expresso


na obra Torso são realçados pela cor e a
linha. Grande deformação visual (Expressio-
nismo) e cores predominantemente terrosas
(Cubismo) constroem essa figura, que não
apresenta sua personalidade. É um sujeito
anônimo, que talvez represente seus medos
e angústias. As extrem idades do persona­
gem não cabem na tela, onde o desenho é
bem marcado pelo uso de pastel.

Semana de Arte Moderna

Considerada o marco do Modernism o


no Brasil, ocorreu na semana de 11 a 1 8
de fevereiro de 19 22, no Teatro M unicipal
nooEm^mm»
de São Paulo.

Através de diversas linguagens artísti­


cas, os autores desse evento deixaram claro o
desejo de renovação cultural brasileira: imple­ Capa do Catálogo da Semana de Arte Moderna,
mentar os valores não alterando a essência. Desenho de Di Cavalcanti

168
V íc to r B recheret fo i um a rtis ta que Di Cavalcanti foi um dos idealizadores
remodelou o aspecto e o tema da escultura da Semana de A rte Moderna e é uma refe­
brasileira. Italiano de origem , era paulista rência im portantíssim a para todo o grupo
de coração. O conjunto de sua obra é mar­ m odernista. O universo de Di C avalcanti
cado por angulações sensuais que remetem singulariza-se na cor, na alegria, no povo
à geometrização cubista. Foi estudante no e nos elementos da natureza.
Liceu de Artes e Ofícios de Sâo Paulo, onde
adquiriu seus conhecim entos sobre entalhe C om fre q u ê n c ia , re p re s e n to u em
e desbaste de m ateriais, que resultariam sua p in tu ra flo re s , fr u to s e a lim e n to s ,
em belas form as. com m u ita n a tu ra lid a d e e beleza. Nas
paisagens, destaca-se o tro p ica lism o pró­
Participou da Semana de Arte Moderna prio do país: cenas do su b ú rb io , do lito ­
de 1 9 2 2 , e xp ond o v in te e s c u ltu ra s no ral, dos m o rros, tu d o com m u ito lirism o ,
saguão e nos corredores do Teatro M u ni­ cor e fre s c o r.
cipal de São Paulo.
A p a ix o n a d o p e la s m u la ta s , d e d i­
c o u -s e a re p re s e n tá -la s com b a s ta n te
sensualidade. Suas fo rm a s curvilín ea s e
volu m osa s são re presentadas a ltru ís tic a
e g ra c io s a m e n te . São dam as, p r o s titu ­
ta s , jo v e n s ou não, mas to d a s belas e
g u e rre ira s. Seus te m a s a p rese nta m um
c a rá te r re a lis ta e são v o lta d o s à c o n s ­
tru ç ã o da id e n tid a d e na ciona l. As cores
e fo rm a s dão v u lto ao desejo e anseio
do a rtis ta .

Túmulo de Olívia Guedes Penteado, Victor Brecheret,


Cemitério da Consolação, São Paulo, Brasil

Mulheres protestando, Di Cavalcanti, óleo sobre tela,

Monumento às Bandeiras, Victor Brecheret, escultura em granito. 51 x 70 cm, 1941, coleção particular

Praça General Estilac Leal, ao lado do Parque Ibirapuera


Comunista confesso, o artista coloca
A imensa obra acim a, com 50 m de na força da mulher, tão admirada por ele,
com primento x 1 6 m de altura, foi feita em um brado de protesto, de luta e de cora­
granito. Foi inaugurada em 1954, no quarto gem. Lutadoras reivindicam seus direitos com
centenário da cidade de São Paulo. muita dignidade e determinação.
A Conquista da Lua, acrílico sobre tela colada em madeira,
1 969, Vicente do Rego Monteiro, 106 x 130 cm,
Fundação Armando Álvares Penteado

Samba, Di Cavalcanti, óleo sobre tela, 177 x 154 cm, 1925


Catálogo da exposição Brasil 500 anos

V icente do Rego M onteiro foi influ en­


ciado pelas te n d ê n cia s e sté tica s m o d e r­
nistas das vanguardas europeias, embora
tenha conseguido um estilo p a rticula r de
m u ita a u te n tic id a d e . P ernam bucano de
nascim ento, passou sua vida entre o Bra­
sil e a Europa. M orreu antes de conhecer
um sucesso m erecido e esperado em sua
terra natal.
Pietá, Vicente do Rego Monteiro, óleo sobre tela, 80 x 90 cm,
As características de sua arte são: a 1924, Coleção Gilberto Chateaubriand, Rio de Janeiro
sensação v o lu m é tric a que se desprende
dos planos criados pela geometrização da Tarsila do Amaral, considerada um dos
form a, a textura de leveza quase imaterial, ícones da arte moderna brasileira, foi, com
o desenho definido e esquem atizado e a certeza, uma artista marcada por sua deter­
ciência da com posição, que o tornam um m inação. Apesar de não te r exposto na
clássico, preocupado com a construção das Semana de 22, sua participação foi funda­
form as m odernistas. mental para a organização da mesma.

Seus te m a s são e c lé tic o s e a b a r­ Teve uma formação ilibada e mesclada


cam v á rio s a s s u n to s : da Bíblia a q u e s ­ por valores nacionais e europeus. Recebeu
tõ e s so cia is e h is tó ric a s . A abordagem forte influência da vanguarda europeia, em
b ra s ile ira está se m p re p re s e n te nesse especial do C ubism o, E xpressionism o e
a rtis ta itin e ra n te . Surrealismo.

170
_

Tarsila, durante uma visita a Minas


G erais, fo i sed uzida pela e s té tic a das
cidades h istó rica s e pela generosa n a tu ­
re za. N esse p e río d o na sce sua fa s e
"P a u -B ra s il", nom e e m p re sta d o do c o n ­
ju n to hom ônim o de poemas e scritos por
O s w a ld , com quem T a rs ila se casaria
m ais ta rd e . Nessa fase re co rre ao que
chama de "cores caipiras" (cores fo rte s e
bem saturadas que vão do laranja e rosa
até o verde e azul), que lem bram a p in ­
tu ra das casas do in te rio r, bem com o o
colorido da fauna e da flora brasileiras.

Com um olhar crítico mais aguçado, O Mamoeiro, Tarsila do Amaral, 1925


a a rtista se posicionou diante das d is to r­
ções sociais brasileiras e passou a regis­
tra r im agens com a n a to m ia d e fo rm a d a ,
com cores m u ito intensas, criando, com
isso, uma linguagem de fo rte denúncia e
reinvindicações sociais. A tela inaugural
fo i A baporu (aquele que com e), que faz
parte da coleção do M A LB A - Museu de
A rte L a tin o a m e rica n a de Buenos A ire s .
Essa te la fo i usada com o fo n te in sp ira -
dora para O sw ald de A ndrade, que criou
o M o v im e n to A n tro p o fá g ic o , de cun ho
a rtís tic o -c u ltu ra l. O Pescador, Tarsila, 1925, óleo sobre tela, 66 X 75 cm
Coleção Museu Hermitage, São Petersburgo

Cartão Postal, 1929, Tarsila do Amaral


óleo sobre a tela. 162 x 176 cm

Caracteristicamente da série Pau-Brasil,


os quadro de Tarsila acima tratam de um tema
Estação Centra! do Brasil, Tarsila do Amaral, 1924 comum entre os chamados "Caipiras". Quando
___

criança, Tarsila gostava de acompanhar seus Depois de uma viagem à Rússia, com
irmãos mais velhos nas pescarias no riacho, um olhar ainda mais politizado, pintou o qua­
que consistiam em pegar os peixes, não com dro Operários, que deu origem a uma fase
varas, mas com peneiras. A cada pesca uma de alto engajamento, em que chegou a ser
circunstância festiva se formava. Mais tarde, presa por causa de suas idéias políticas.
a artista faz alusão a esse tempo através de
suas obras, dentre elas O Pescador. O apelo visual agora estava relacio­
nado aos conceitos sociais próprios das
A n tro p o fa g ia se to rn a uma palavra grandes m etrópoles, à industria e à vida
chave para os novos conceitos estéticos operária. A nalisou de form a b rilh ante a
e literários que viriam. Marca um caminho subserviência do homem moderno aos fe i­
novo para a arte brasileira. Significa, dentro tos e mandos dos avanços tecnológicos.
da perspectativa cultural, que o artista deve­
ria engolir certas inspirações estrangeiras,
digerí-las e transform á-las em uma versão
nacionalista e abrasileirada. Para Tarsila, a
fase antropofágica marcou uma expansão
de pesquisas e um florescim ento visual.

Operários, 1933, Tarsila do Amaral, óleo sobre teia,


150 x 205 cm, Acervo Artístico e Cultural do
Palácio do Governo do Estado de São Paulo

Antropofagia, Tarsila do Amaral, 126 x 142 cm, Coleção


José Nemirowsky, São Paulo

Segunda Classe, Tarsila do Amaral, 1933,


óleo sobre tela, 110 x 151 cm

Na obra acim a, a pin to ra evidencia


A Feira, Tarsila do Amaral, óleo sobre tela, 1925, 46 x 55 cm a fra g ilid a d e s o c ia l a tra v é s de p e q u e ­
Coleção Zitta Penteado de Camargo, São Paulo nas fig u ra s hum an as, que são alijadas

172
- mm

da so cie dad e de vid o às suas precária s


c o n d iç õ e s de v id a . T a rsila p e rs o n ific a
esse povo s o frid o através de cores p á li­
das, pés de scalços e tris te s expressões
v is u a is , assim co m o suas fe iç õ e s e o
aspecto m u ito hum ilde.

Cândido P ortinari, a rtista de grande


re p e rcu ssã o em to d o o m u n d o , é n a tu ­
ral de B ro d ó s k i, e s ta d o de São Paulo.
Foi um a rtis ta m u ito preocupado com a
sociedade de seu te m p o . A pesar de te r
navegado por té cn ica s e tem as diversos,
to rn o u -s e c o n h e c id o e re s p e ita d o pela
série Os R e tira n te s, onde propunha um
q u e stio n a m e n to sobre os problem as do
povo nordestino. As imagens apresentam
uma fo rte deform ação visual e as cores
usadas são m uito som brias. As imagens
são m u ito fo rte s , a p e la tiv a s e com um
grande teo r de caráter político. Trabalhou
com tem as religiosos, histó ricos, in fa n tis, Lavrador de Café, Cândido Portinari, 1934
n a ture zas-m orta s e tra balh ado res. P o rti­ óleo sobre tela, 1 0 0 x8 1 cm, Museu de
nari pintou inúm eras obras, desde peque­ Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, SP
nos esboços a gigantescos m urais. Foi o
pintor brasileiro a alcançar maior projeção
internacional em sua época.

Fragmento do mural de Cândido Portinari na Igreja de


São Francisco, Pampulha, Belo Horizonte

A in clin a çã o por tra b a lh o s de g ra n ­


des dim ensões surgiu por v o lta de 1 9 3 6 ,
quando produziu afrescos no M in is té rio
da S aúde. Esses tra b a lh o s a b o rd a va m
te m á tic a de cunho social.
Retirantes, Cândido Portinari, 1 944
óleo sobre tela, 190 x 180 cm, Museu de Arte de Mais tarde, foi contratado pelo governo
São Paulo Assis Chateaubriand, SP brasileiro para criar os painéis Guerra e Paz

174
para o h a ll da sede da ONU (Organização o andam ento da obra, visto que o artista
das Nações Unidas), em Nova Iorque. O sofria intoxicação pelo chumbo contido no
suporte utilizado foi madeira compensada material. Contrariando indicações médicas,
naval e tin ta a óleo, o que com prom eteu Portinari seguiu adiante.

Painéis Guerra e Paz, Cândido Portinari, 1952-1956, 14 x 10 m, aproximadamente, sede da ONU, Nova Iorque

Em função de suas convicções políti­


cas (Comunismo) o trabalho não pôde ser
desenvolvido in loco e tam pouco apresen­
tado pelo artista.

No Painel Guerra pode-se observar


que as cores são mais som brias, o m o v i­
m ento desordenado, devido ao foco dado.
Já no Painel "Paz" tudo ganha uma dim en­
são fe stiva e pacífica.

Com esse trabalho Portinari recebeu


a m edalha de ouro concedida pelo In te r­ Anunciação, Djanira Motta e Silva, guache,
national Fine-Arts Council de Nova Iorque, 1963, 47 x 68 cm
como o melhor pintor do ano.

175
Djanira M o tta e Silva (1 9 1 4 -1 9 7 9 ) tos com temas populares: cangaço, futebol,
nasceu em A v a ré , São Paulo, neta de trabalho nas fábricas, etc. Essa etapa, aliás,
im igrantes austríacos e de indígenas. Foi corresponde a uma época que se caracte­
pintora, desenhista, cartazista, ilustradora, rizou por um surto nacionalista, observado
cen ógrafa e gravadora. T rabalhava com em diversos setores. A afirmação de brasili-
azulejaria e tapeçaria. Teve momentos som­ dade era identificada com o discurso desen-
brios, representados em tons cinza, negro e volvim entista e o crescimento da economia
marrons. As formas eram simples e geomé­ nacional. Datam dessa época a construção
tricas, a linguagem era purista. Mais tarde, de Brasília, o desenvolvimento industrial de
sua paleta retom ou a vibração: cores ale­ São Paulo e de outras regiões, bem como o
gres e intensas deram luz à imaginação da surgimento de correntes culturais, que pro­
artista. Apresentava em seus tipo s hum a­ curavam ligar-se com a identidade brasileira,
nos uma expressão de solene dignidade. como a Bossa Nova e o Cinema Novo.

O teatro brasileiro contemporâneo Flávio Im pério (1 9 3 5 -1 9 8 5 ), im p o r­


ta n te nome do A rena, inovou o con ceito
T eatro Brasileiro de Com édia de cenografia e figurinos e instituiu novos
parâmetros para a dramaturgia brasileira. O
Criado em 1 9 4 8 , o TBC herdou as autor nacional ganha espaço e desm istifica
d ire trize s de Os C om e dian tes, reunindo o preconceito da falta de audiência. Nesse
um elenco estável de mais de trin ta a to ­ período, grande parte das peças encena­
res fix o s em uma d in â m ic a de c a rá te r das fizeram sucesso, criando uma "linha
em p re sa ria l. Esse grupo tra b a lh o u com de pre stíg io ". Na fase seguinte, o te a tro
peças da d ra m a tu rg ia e u ro p e ia e e s ta ­ deu início à montagem de textos clássicos,
dunidense. C onservou a ten dê ncia a um adaptando os personagens a um estilo bra­
te a tro de q u alida de e v o lta d o ao e n tre ­ sileiro de dram atização, baseado no c o n ­
te n im e n to , a tra in d o o p ú blico de classe te x to social e político do seu público-alvo.
média aos espetáculos.
A fase dos musicais do Teatro Arena
Em 1956, como reação a esse teatro teve vários sucessos interpretados em seu
desvinculado da realidade brasileira, surgiu palco, com o: A rena conta Z u m b i (1 965 ),
o Teatro de Arena de São Paulo, dirigido ini­ Arena conta Tiradentes (1967-1968), A cria­
cialmente por José Renato (1926-2011) e ção do m undo segundo A ri Toledo (1967).
depois por Augusto Boal (1931-2009). O tra­ Era utilizado o "sistem a coringa", proposto
tamento dado ao espetáculo já correspondia por Boal com o uma form a permanente de
a uma preocupação: alcançar uma interpreta­ fazer teatro. Consistia em expor e analisar a
ção brasileira, com atores falando sua própria trama dentro do próprio espetáculo, desen­
língua, com os vícios e defeitos do coloquia­ volvendo-o em duas categorias diferentes:
lismo. Não mais uma língua declamada, pura, a fábula, onde todos atores se revezavam
mas a mesma falada pelo povo. representando quase todos os personagens,
e a conferência, com o "coringa", persona­
Em 1958, o grupo obteve seu primeiro gem onisciente que interpretava, explicava,
grande êxito, com a montagem de Eles não alterava o te x to e interagia com a platéia.
usam btack-tie, de Gianfrancesco Guarnieri Esse processo, além de diminuir o custo da
(1934 -20 06). Foi então que teve início um produção, dava mais liberdade e fluidez à
laboratório de dram aturgia, que produziu peça, pois abria a possibilidade de variações
textos encenados um após outro, sempre nas cenas, no estilo, na m úsica, criando
com o propósito de examinar um aspecto uma espécie de "colagem ". O coringa dava
da realidade do país. Foram escritos te x ­ ênfase especial na elaboração das "explica­
ções", cuidando para que tudo se encaixasse Fraser (1931), Maria Alice Vergueiro (1935),
na proposta geral, evitando que o espetáculo entre outros.
resultasse em uma anarquia, sem contexto
e sem sentido. A pressão do Regime acabou por invia­
bilizar parcialm ente a produção do teatro
D e vid o ao apelo p o lític o e s o cia l nesse período. Muitos dos atores e diretores
dessas ob ras, a repressão da D itad ura viram-se obrigados a migrar para a teledra-
M ilita r, in sta u ra d a em 1 9 6 4 , perseguiu maturgia e seus conteúdos "pasteurizados".
tu d o que representasse a m ínim a o p o si­
ção e censurou parte de seus tra b a lh o s, Censura, o te a tro sob pressão
com o form a de inviabilizar a continuidade
dessas produções tea tra is. O te a tro brasileiro é m uito precário
em registros e bibliografias. Assim , faz-se
O OFICINA e o OPINIÃO n e c e s s á rio re g is tra r e re s g a ta r esses
m om entos de extrem a im portância para a
O Teatro Oficina foi fundado em 1961, memória nacional. A história da cultura bra­
liderado por José Celso M artinez Corrêa sileira é parte da identidade de seu povo.
(1937). Foi um im portante ponto de resis­
tência no período de autoritarism o do país, O teatro como manifestação e evento
pois abrigava e difundia vanguardas. Com a da c o n d iç ã o hum ana é, em si m esm o,
nacionalização dos textos, iniciada pelo Tea­ repleto de sign ifica do s e interpretaçõ es:
tro de Arena, o Oficina foi responsável por ao mesmo tem po em que diverte, assusta,
algumas das mais im portantes montagens re v o lta , apaixona e fo rm a opiniões. Por
da cena brasileira contem porânea, com o isso mesmo tornou-se, em vários m om en­
Pequenos burgueses (1964), de Gorki e O tos, desde o início do século XX, alvo de
rei da vela (1967) de Oswald de Andrade. censuras e perseguições. No Brasil, além
do viés social e p o lític o , houve um des­
Após 5 anos em pleno funcionamento, é pertar para elementos da cultura brasileira
obrigado a interromper as atividades, devido (em suas várias dimensões), em oposição
a um grande incêndio, em junho de 1966. ao gosto elitista e eurocêntrico.
A fase que se seguiu teve início em agosto
de 1967, com a apresentação da peça de A Semana de A rte Moderna de 1 922
Oswald de Andrade, escrita 30 anos antes. foi um marco para despertar novas idéias
e c o m p o rta m e n to s . O te a tro re ta rd o u
A adoção de uma linguagem mais colo­ sua evolução, mas logo surgiram estrelas
quial e brasileira atraía cada vez mais espec­ para m o dernizá-lo . Na década de 1 9 4 0 ,
tadores, que lotavam o teatro num momento N e lso n R o d rig u e s ( 1 9 1 2 - 1 9 8 0 ) , com
de reflexão sobre a situação política e social V e stid o de n o iv a , c e n o g ra fia de Santa
que o país atravessava. Nessa fase, o cenó­ Rosa e d ire ç ã o de Z ie m b in s k i ( 1 9 0 8 ­
grafo Hélio Eichbauer (1941) junta-se ao 1 9 7 8 ), que p ro p u n h a um a lin g u a g e m
grupo e a parceria com a direção de José cênica estilizada.
Celso resulta num estilo moderno de apre­
sentação, com caráter anti-ilusionista e car­ O Arena teve em O d u v a ld o V iann a
regado de malícia grossa e desmoralizante, Filho (1 9 3 6 -1 9 7 4 ), carinhosam ente apeli­
com influências do tropicalismo. dado de "V ia n n in h a " , a p re o c u p a ç ã o
com os te m a s n a c io n a is e abordagem
O Oficina form ou centenas de atores das re iv in d ic a ç õ e s s o c io p o lític a s com o
como, Eugênio Kusnet (1 8 9 8 -1 9 7 5 ), Raul o b je to fu n d a m e n ta l. O e n g a ja m e n to e
Cortez (1932-2006), Fauzi Arap (1938), Etty c o m p ro m is s o dem arcam as p ro d u ç õ e s
te a tra is e m ostram com o, no início dos 0 te x to -te s ta m e n to de O du valdo
anos 6 0 , o te a tro passou a ser usado Vianna Filho revelava a profundidade do seu
com o uma "a rm a " na luta pelas tra n s ­ engajamento humano e político e a comple­
form ações. A ssim , os a rtista s saídos do xidade dos problemas que ele abordou com
Arena e liderados por Vianninha montaram admirável honestidade e calor. 0 protago­
um dinâm ico esquema de atividades agit- nista, Manguari Pistolão, antigo m ilitante
prop, que apresentava pequenos esquetes da esquerda, agora reduzido a um medío­
circunstanciais para serem encenados em cre cotidiano da pequena classe média, com
locais de presença popular. tudo que esta vida diária tem de conservador
nas sua relações com o filho hippie, com
O espaço da UNE seria transform ado a mulher, com o trabalho, mas que assim
em sala de espetáculos, com a estreia da mesmo preserva dentro de si a essência de
peça Os Azevedos m ais os Benevides, de lutador por um mundo melhor. No pano de
Vianninha e com direção de Nelson Xavier fundo da história da família, o público rece­
(1941), não fosse um evento que destruiu bia, através de flashbacks, uma análise de
tud o: o m aterial e o moral. Esse co n texto quarenta anos de "História do Brasil".
de efervescência cultural foi abruptamente
in te rro m p id o pela D itadura M ilita r: já no G ianfrancesco Guarnieri (1 934 )
dia 1 de abril de 1 9 6 4 , a sede da UNE
fo i m iste rio sa m e n te incendiada e to d o s Em 1 9 5 6 , com apenas 23 anos,
os equipam entos e arquivos usados pelos escreveu seu p rim e iro te x to , Eles não
teatrólogos viraram cinzas. Em dezembro usam b la ck-tie , m ontado pelo Teatro de
desse m esm o ano, porém , renascem as Arena, em 1958. Morava em São Paulo e
forças e a resistência cultu ral tem início. era amigo de Oduvaldo Vianna Filho e da
Em Copacabana, instalado no prédio de atriz Beatriz Segall (1926).
um centro com ercial, surge o novo espaço
do grupo Opinião, liderado por Vianninha, A u to r de clássicos da dra m a tu rg ia
João das Neves (1 9 3 5 ), A rm ando Costa nacional, como Arena conta Zumbi, Castro
(1 9 3 3 -1 9 8 4 ) , Ferreira G ullar (1 9 3 0 ) e A lve s pede passagem e Um g rito parado
Paulo Pontes (1 9 4 0 -1 9 7 6 ). no ar, tam bém é diretor e ator. Por várias
vezes foi alvo de censura e perseguições.
Em 19 66, Vianninha e Ferreira Gullar Como ator, fez algumas telenovelas que
escrevem a d iv e rtid a peça Se c o rre r o o popularizaram : M eu pé de ia ra nja-iim a,
b ic h o pega, se fic a r o b ich o com e, um Mulheres de areia e o Mapa da mina. M or­
dos melhores espetáculos do ano, dirigido reu em 2 0 0 6 , deixando seu legado para a
por Gianini R atto (1 9 1 6 -2 0 0 5 ). Para d ri­ história do teatro brasileiro.
blar a censura, os autores usaram de indi­
retas, analogias e m etáforas. A cultura se O Teatro do O prim ido
reinventava para resistir.
A u g u sto Boal
Essa época de criatividade e desprendi­
mento formou toda uma geração de autores, Form ado em quím ica, aos 22 anos
produtores e atores, que ficaram "órfãos" em decidiu ir para Nova Iorque estudar d ra ­
1974, com a morte de Vianninha. A "lenda maturgia com John Gassner (1 9 0 3 -1 9 6 7 ).
do te a tro " deixou sua últim a obra, ditada Boal já havia trabalhado em teatro com o
no seu leito de agonia: Rasga coração, que grupo Teatro Experimental do Negro.
estreou com grande sucesso no mesmo ano,
em Curitiba, sob a direção de José Renato, Quando retornou de Nova Iorque, entrou
com Raul Cortez no papel principal. em contato com o método Stanislavski, que
já era usado no Brasil por Sadi Cabral (1906­ A u g u s to Boal e seu tra b a lh o c o n ­
1986), desde 1952, no Rio de Janeiro. Em quistaram , ao longo dos anos, respeito e
1956, esse método foi sistematicamente apli­ admiração em países da Am érica Latina e
cado por ele ao dirigir Ratos e homens. Europa. Ele transform ou o espaço cênico
num cam po aberto para a criação de um
tea tro sem amarras ou preconceitos. Seu
trabalho é, ao mesmo tem po, artístico, polí­
tico e educativo. No conjunto de sua obra
estão, também, livros que foram publicados
para profissionais e público em geral: 2 0 0
exercícios e jogos para ato r e não ator. Tea­
tro do oprimido, Técnicas latino-americanas
de teatro popular e o recente O arco-íris do
desejo, no qual mistura teatro e terapia.

O T e a tro do O p rim id o era v e rs á til


Augusto Pinto Boal, diretor de teatro, e a d a p tá v e l; va lia -se , in c lu s iv e , da in s ­
dramaturgo e ensaísta brasileiro p ira çã o no m é to d o do e d u c a d o r Paulo
Freire (1 9 2 1 -1 9 9 7 ), considerado um dos
Com um grupo fo rm a d o por Guar- pensadores mais notáveis na histó ria da
nieri, Vianninha, Flávio M iggliaccio (1934) Pedagogia m undial.
e depois Nelson X avier, estudava tu d o e
depois selecionava o que seria aplicado. A repressão e a censura não consegui­
A ssim , fo rm a ra m o cham ado "la b o ra tó ­ ram calar uma geração de artistas das mais
rio de interpretação". Com o tem po, essa diversas m odalidades. O te a tro , por sua
metodologia passou a ser usada por outros natureza e articulação, foi terreno fértil para
grupos teatrais por todo o Brasil. a criatividade e a resistência. O subterfúgio,
a dissim ulação, a analogia e o eufem ism o
Boal defendeu a fo rm a çã o de uma eram ferram entas que perm itiam levar o
interpretação brasileira, o que não ocorria público à reflexão sobre o seu tempo.
com o TBC. Para ele, a form a de interpre­
tar dos atores-nacionais deveria afastar-se Um bom exem plo do espírito dessa
dos trejeitos e formas preestabelecidas, em época pode ser encontrado nas palavras
oposição à interpretação simbolista. do própio Boal: "O Teatro do Oprim ido é
o teatro no sentido mais arcaico do termo.
A presença de músicos no Grupo Opi­ Todos os seres humanos são atores - por­
nião, com o Nara Leão (1 9 4 2 -1 9 8 9 ), Zé que atuam - e espectadores - porque obser­
K etti (1 9 2 1 -1 9 9 9 ), João do Vale (1 9 3 4 ­ vam. Somos todos "espect-atores".
1996), enriqueceu o diálogo e Boal soube
conjugar, com m aestria, música e tea tro . Plínio M arcos - O bruxo do te a tro

Em A rena con ta Z u m b i havia a in te r­ Em São Paulo, no ano de 1 9 6 6 , o


p re ta çã o do P residente C astelo Branco nome de Plínio M arcos com eçou a entrar
em um discurso, que term ina va com ele em e v id ê n c ia . Foi com D o is p e rd id o s
sa lta ndo com o m acaco e faze nd o "H eil n u m a n o ite s u ja que ele p ro je to u sua
H itle r " . Foi um e s p e tá c u lo de c rític a voz nova e fo rte nos palcos. No Rio de
à D itadura; Zum bi em ergia entre m úsica Ja n e iro , essa peça te v e m aior re p e rcu s­
e te x to para lu ta r con tra o a u to rita ris m o . são com a d ire ç ã o e in te rp re ta ç ã o de
O sucesso fo i a rtístico e p o lítico . Fauzi A rap e Nelson X avier.
C olocou em cena personagens a tí­ cena brasileira: coloca em campos separa­
picos para o te a tro tra d ic io n a l. Com lin ­ dos um teatro vivo, experim ental e aberto,
guagem popular e bem brasileira em toda para o qual existe um público jovem e uni­
sua autenticidade, eles m ostram no palco versitário, e um outro, que conta com um
a realidade m arginal das periferias e s u r­ público tradicional, interessado pelo teatro
preendem o especta dor com o co n cre to como form a de mero entretenim ento, sem
e o real do dia a dia. conteúdo e "pasteurizado".

O utro im pacto fo i Navalha na carne, Os anos de 1970 confirm aram a ino­


d ire ç ã o de Fauzi A ra p , que re nde u a vação pelo trabalho de vanguarda, cujas
T ô n ia C a rre ro (1 9 2 2 ) ta lv e z o m e lh o r montagens reuniram o que havia de melhor
d e s e m p e n h o de sua c a rre ira a rtís tic a . em term os de diretores, atores e cenógra­
E screveu, ain da, as peças H om e ns de fos. Nesse grupo podem ser citados: José
papeI e Quando as m áquinas param . Celso; Paulo A fonso Grisolli (1 9 3 4 -2 0 0 4 ),
Onde canta o sabiá; V ic to r Garcia (1 9 3 4 ­
1 9 8 2 ), O balcão e C em itério de a u to m ó ­
veis', A m ir H addad (1 9 3 7 ), D ep ois do
corpo e Tango; Ivan A lbuquerque (1 9 3 2 ­
2 0 01), O arquiteto e o im perador da A ssí­
ria; e Flávio Império, Os fuzis. Todas essas
m ontagens, embora diferentes, trouxeram
uma salutar renovação de enfoque, que
perm itiu uma m odificação gradual na ótica
"Um povo que não ama e não preserva suas formas de expres­ geral da mise-en-scène brasileira.
são mais autênticas jamais será um povo livre." Plínio Marcos
A contribuição de jovens dramaturgos,
Para concluir, em 1967, Plínio Marcos como A ntônio Bivar (1939), José Vicente
talvez tenha sido o autor mais proibido e (1945-2007) e Roberto Athaíde (1949), ao
perseguido pela censura. tom arem com o ponto de partida de suas
peças a não aceitação do m undo, negou
A década de 70 tam bém a e s té tic a te a tra l herdada das
gerações anteriores. Empreenderam uma
A popularização do teatro, na segunda revolução em nível form al, m uito embora,
metade do século XX, acompanhou o cres­ na m a io ria dos caso s, o p tasse m c la ra ­
cim ento da sociedade e economia. Apesar mente pelo escapismo.
disso, uma boa parcela da população brasi­
leira jamais assistiu a uma peça ou encenação. Essa vanguarda tem nos grupos semi-
Essas deficiências são de ordem institucional am adores as m elhores e x e m p lific a ç õ e s
— principalmente a falta de política de apoio do radical e inovador. Em galpões, praças,
oficial, coerente com uma política cultural garagens foram criadas e encenadas peças
— profissional, falta de casas de espetáculo, que demarcaram uma nova dinâmica teatral.
estreiteza da mentalidade empresarial e insu­ A fusão da experiência do tea tro popular
ficiente oferta de atores. com as diversas correntes culturais brasilei­
ras, como a Antropofagia e o Tropicalismo,
O crescim ento da difusão televisiva e construíram a estrutura de novos elem en­
os interesses com erciais da indústria c u ltu ­ tos no cenário cultural nacional.
ral e seus produtos massificados contribuem
para uma insignificante taxa de crescimento Um passo im portante no sentido de
do público. Soma-se a isso a dicotom ia na uma nova dramaturgia nacional foi dado em

180
1976, com a montagem de Gota d'água, de Nas primeiras décadas do século XX,
Paulo Pontes e Chico Buarque de Hollanda o choro ganha corpo e espaço. Nas ruas,
(1944), com destaque para a atuação de Bibi bares e rodas de amigos é presença cons­
Ferreira (1922). Transpondo para o contexto tante e demonstração do gosto popular. Daí
brasileiro o tema da tragédia de Medéia, de em diante, surgem músicas de compositores
Eurípedes, os autores conseguiram colocar o como Ernesto Nazareth (1863-1934) e Chi­
impasse da luta entre os pobres moradores quinha Gonzaga (1847-1935). Filha de mili­
de um conjunto habitacional e o proprietário, tar e mãe mestiça, Chiquinha é um marco da
que reclama os aluguéis atrasados. música brasileira. Moça de família de classe
média urbana, recebeu educação form al
A música brasileira nas primeiras igual a de qualquer "senhorita de família" da
décadas do século X X época; sua formação musical teve início no
piano, como era de costume, e desde muito
Rica em estilos, instrumentos e intérpre­ cedo dem onstrou talento e tem peram ento
tes, a música nacional desse século ganhou decidido e rebelde.
o mundo com artistas e compositores, como:
H e ito r V illa -L o b o s (1 8 8 9 -1 9 5 9 ), Carmen Aos 16 anos, mais por sua iniciativa do
Miranda (1 9 0 9 -1 9 5 5 ), Chiquinha Gonzaga que por decisão de seu pai, casou-se com
(1847-1935), Pixinguinha (1897-1973), que, Jacinto Ribeiro do Amaral, rico e devotado
entre outros, marcam a afirmação de estilos homem de negócios. Agora, casada Chi­
e letras com a originalidade brasileira. quinha dedica seu tem po exclusivam ente
ao estudo do piano e teoria musical. Após
Temos no "choro" um gênero musical cinco anos, sua obsessão pela música levou
capaz de exem plificar a constituição e afir­ à separação de seu marido e de sua família,
mação de uma música brasileira fora dos por não concordarem com sua postura.
cânones elitistas. Sua origem está ligada
ao processo de urbanização e ao período A partir daí, Chiquinha passa a frequen­
de transição da República para o Império, tar o meio musical carioca, a despeito dos
no Rio de Janeiro, em fins do século XIX. com entários maldosos e preconceituosos.
Pode-se considerar o "ch o rin h o " um dos Indiferente, ela começa a colecionar amores
mais im portantes estilos do cenário instru­ e sucessos. Suas com posições obtiveram
mental brasileiro. Sua característica principal grande destaque, e citam-se, dentre outras,
é o improviso e possui raízes na polca, de Atraente, Desalento, Sultana, mas de todas
origem européia. À medida que os anos pas­ a mais executada foi a marcha de carnaval
sam, recebe influência dos estilos nacionais, "Ô abre alas", que até os dias atuais con ti­
tornando-se mais sincopado e tem perado, nua fazendo enorme sucesso.
com semelhanças ao samba.
E assim , no início do século X X, a
O maior representante do choro, em Modinha ganha as ruas e se torna popular,
seu início, foi o flautista e com positor Joa­ dando abrindo caminho a vários cantores e
quim Antônio da Silva Callado (1848-1880), compositores que marcaram o início do can­
responsável, por várias com posições que, cioneiro popular. Em 1914, para escândalo
infelizmente, foram perdidas em boa parte, da elite, Chiquinha executou, a convite da
por não terem sido editadas. Restaram primeira-dama Nair de Tefé, o seu fam oso
apenas 66 peças, em que se pode id e n ti­ "C o rta -ja ca ", em pleno Palácio do Catete
ficar polcas e quadrilhas, várias delas com (residência oficial do Presidente da Repú­
nomes fem ininos: "Conceição", "Ernestina" blica). O "cho rinh o" ganha, então, espaço
e "Salomé", que dão uma pista sobre a vida nos salões mais abastados e dem arca a
boêmia e apaixonada do com positor. genialidade da produção musical popular.
0 samba tem suas raízes nas batuca­ 0 compositor e maestro Heitor Villa-Lo-
das de negros e mulatos em seus folguedos bos nasceu no Rio de Janeiro e, desde cedo,
e lundus. Seu nome tem origem na palavra teve a música em sua vida: aprendeu piano
angolana "semba", que significa "umbigada". e clarineta e, aos 12 anos, começou a tocar
Compositores, como Ernesto Joaquim Maria violoncelo em teatros, cafés e bailes. Tam­
dos Santos "Donga" (1890-1974) e Alfredo bém aprendeu violão e conviveu com os cha­
da Rocha Viana Filho "Pixinguinha", demar­ mados "chorões", que com suas canções de
caram a popularização desse estilo musical e rua conquistaram o jovem para a brasilidade.
sua viabilidade comercial. Donga, que parti­
cipava das famosas rodas de "Tia Ciata", foi Suas primeiras composições, ainda indi­
pioneiro ao gravar um samba, intitulado Pelo cam a influência de compositores da virada
telefone, em 1917. Pixinguinha é um dos do século, do alto romantismo e do impres-
músicos mais importante da primeira metade sionismo francês.
do século XX. De família grande e repleta de
músicos, teve em seu pai, apreciador de cho-
rinho, sua maior influência. Aos 14 anos já
atuava como músico profissional nas noites
cariocas. Foi responsável por grandes suces­
sos, como São João debaixo d'água, Isso não
é vida e Carinhoso - grande sucesso, até hoje
regravado em várias versões e instrumentos.

Popularizado e identificado como mani­


festação musical genuinamente brasileira, o
samba ganhou estilos, compositores e intér­
pretes ao longo de sua trajetória. Grandes
nomes como Noel Rosa (1910-1937), Ores-
tes Barbosa (1893-1966), Braguinha (1907­
2 0 0 6 ), A ra cy de A lm eida (1 9 1 4 -1 9 8 8 ),
A doniran Barbosa (1 9 1 0 -1 9 8 2 ), Cartola
(1908-1980), Paulinho da Viola (1942), Mar-
tinho da Vila (1938), Beth Carvalho (1946),
e mais uma infindável galeria de grandes Heitor Villa-Lobos
compositores e intérpretes garantem e enri­
quecem a manutenção desse estilo brasileiro E ntretanto, com as Danças c a ra cte ­
de música. Em suas vertentes, o samba rísticas africanas para piano, e com os bai­
demonstra sua versatilidade para todos os lados Am azonas e Uirapuru (1917), essas
gostos e estilos: canção, enredo, de breque, in flu ê n cia s com eçaram a ser ignoradas.
sambalada, de gafieira, bossa nova, partido Em 1 9 1 3 , com sua com posição de três
alto, pagode e vários outros chancelam sua suítes para piano, a Proie do bebê, ganhou
fama como estilo polissêmico, ou seja, com atenção internacional, através do trabalho
várias significâncias e sentidos. de divulgação fe ito por A rth u r Rubinstein
(1 8 8 6 -1 9 8 2 ), célebre pia nista, am igo e
A partir da década de 1930, com o cres­ admirador incondicional de Villa-Lobos.
cimento populacional e a presença de rádios
e gravadoras o Brasil desponta como uma Sua in te n s a a d m ira ç ã o por Bach
"nação musical", pela excelência e quantidade m anifesta-se com sua obra mais fam osa
de sua produção. Para mais informações, veja dos anos 1 9 3 0 -4 5 , as Bachianas brasilei­
o encarte na página 265 deste livro. ras. Nessa série de nove obras, adaptou

182
as peças às form as barrocas, clássicas e o colorido de seus trabalhos. A presentou
contrapontísticas. O trenzinho do caipira, uma diversidade enorme de temas e técni­
tocata final da Bachiana N°2 é, sem dúvida, cas. Além de pinturas em telas, trabalhou
a mais conhecida. Villa-Lobos, compositor com aquarelas, afrescos, cartões e vitrais.
brilhante, criou cerca de 1.500 obras, conse­
guindo realizar-se no espírito nacionalista que A lb e rto da Veiga Guignard viveu por
dominou sua época. Compôs 12 sinfonias, longo te m p o fo ra do B rasil, mas, ao v o l­
cirandas do cancioneiro popular para piano, ta r, to rnou -se um elem ento fu n d a m e n ta l
dentre outras que marcaram a produção eru­ para a cultura nacional. Ao lado de Ismael
dita no Brasil. N ery, C ân dido P o rtin a ri, Di C a v a lc a n ti
e O s w a ld o G oe ldi ( 1 8 8 4 - 1 9 6 8 ) , p a r ti­
Artistas e movimentos cipou do Salão R e vo lu cio n á rio de 1931
após a Semana de 2 2 e fo i considerado um dos de staques da
m ostra. De 1931 a 1 9 4 3 , dedicou-se ao
Além de Tarsila, outros artistas que não ensino de desenho e gravura na Funda­
participaram da Semana de 22, mas eram ção O sório, no Rio de Janeiro. Foi p in to r,
notórios no cenário cultural brasileiro, mere­ desenh ista, gravad or e ilu s tra d o r.
cem destaque. São eles: A ntonio Gomide
(1 8 9 5 -1 9 6 7 ), A lberto de Veiga Guignard
(1 8 9 6 -1 9 6 2 ), Ismael Nery (1 9 0 0 -1 9 3 4 ),
A lfredo Volpi (1 8 9 6 -1 9 8 8 ), Bruno Giorgi
(1905-1993) e Cícero Dias (1907-2003).

Vista de Ouro Preto, Alberto da Veiga Guignard, óleo sobre tela

O porto, 1923, Antonio Gomide, óleo sobre tela, 41 x 43 cm


Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo

Antonio Gomide teve convivência com


os cubistas europeus antes de retornar ao
Brasil, em 19 13. Dedicou-se tam bém ao Vaso de flores, Alberto da Veiga Guignard, 1958,
estudo da A rt Déco, o que muito influenciou óleo sobre tela , 73 x 60 cm
Ismael Nery, apesar do curto tem po Cícero Dias, o uso de cores intensas e
de vida, criou obras bastan te s ig n ific a ti­ de form as simples remete à natureza pró­
vas. Seus tra b a lh o s apresentam grande diga de Brasil. O colorism o natural de paí­
sensualidade. Pautou o de senvo lvim ento ses tropicais e a generosidade das form as
do seu a c e rv o nos e s tilo s s u rre a lis ta , fem ininas foram a base do trabalho desse
e x p re s s io n is ta e c u b is ta . U sava cores grande artista.
fo rte s e com m u ita e xp re ssivid a d e . Foi
tam bém poeta e e scrito r.

Moças em Olinda, Cícero Dias,


73 x 60 cm, óleo sobre tela

Figura, Ismael Nery, 1927, óleo sobre tela, 105 x 69.2 cm


Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo

Menino com caju e Recife ao fundo, Cícero Dias,


70 x 63 cm, óleo sobre tela

Alfredo Volpi, de origem italiana, vem


para o Brasil ainda pequeno e aqui constroi
sua vida e identidade profissional. Ainda
Casai em verde, Ismael Nery, óleo sobre tela, 44 x 38 cm, jovem, pintava painéis e frisos de casarões
Livro "Ismael Nery", p.219 como se fossem papéis de parede. Mais tarde

184
passou a trabalhar com telas. Suas pinturas B runo G io rg i, p a u lis ta do in te rio r,
eram variadas e bastante chamativas. Volpi esteve na Europa, onde aprim orou seus
pintava paisagens urbanas e rurais, fauna e e s tu d o s a rtís tic o s . T ra n s ito u por d iv e r­
flora, mas foi com o pintor da tem ática de sos tem as e e s tilo s . R etratou im p o rta n ­
"bandeirinhas" que ganhou reconhecimento e tes personagens h istó ricos com bastante
fama. Inspirado em festas do interior paulista, realismo. Devido à sua ligação com Mário
usava cores bem chamativas para colorir pai­ de A n d ra d e , passou a e s tiliz a r m ais as
néis e varais decorativos e imaginários. form as, a tribuin do a elas ca racterísticas
m odernistas. Usou o m árm ore e o bronze
com o p rin c ip a is m a te ria is . Em B rasília,
legou um a h o m e n a g e m aos o p e rá rio s
e c o n s tru to re s da c id a d e , ao e la b o ra r
a e s c u ltu ra Os c a n d a n g o s que está na
Praça dos Três Poderes. Também criou o
M e teoro, escultura que, apesar do peso,
dá ideia de m u ita leveza v is u a l. R epre­
senta os cinco continentes na parte sólida
e os oceanos nas vazadas.

Bandeirinha, Alfredo Volpi, 1958, têmpera sobre tela, Os candangos, Bruno Giorgi, 1960, monumento localizado na
44,2 x 22,1 cm, Doação Theon Spanudis, Coleção MAC, USP Praça dos Três Poderes, Brasília-DF

Natureza morta, Alfredo Volpi, 50 x 56 cm, Meteoro, Bruno Giorgi, mármore de Carrara,
óleo sobre tela colada em cartão 48 cm de diâmetro. Palácio do Itamaraty, Brasília-DF

185
A presença da tecnologia na arte São feitos em plástico e m uito leves,
justam ente para parecerem desafiar a gra­
Darlan Rosa (1947), natural de Coro- vidade. Desmontáveis, facilitaram o tra ns­
mandel, cidade do interior mineiro, foi para porte por via postal.
Brasília em 1 9 6 7 . Trabalhou em várias
fre n te s: fo i desenhista, ilu stra d o r e p ro ­
fessor universitário. Criou, para o U nicef
do Brasil, o personagem da campanha de
vacinação contra a poliomelite e o desenho
animado Zé Gotinha, e o Mr. todine para o
Unicef de Nova Iorque.

D esenvolveu o "P ro je to G ravidade


Zero", instalação onde são exploradas as
possibilidades do desenho no espaço trid i­
mensional, que consiste na relação entre
o virtual e o real. As peças, apresentadas
em uma exposição no Brookfield Place, em
Toronto, Canadá, foram concebidas dentro
de um cenário sem gravidade, invisivelmente
codificadas como sequências de "0 " e "1 ".

Para co m e ça r, Darlan u tiliz o u um


s o ftw a re de animação 3D na elaboração
da realidade imaginada dentro do mundo
dos com putadores, ou realidade virtual.

D entro dos dom ínios da gravidade


zero, Darlan a rticu lo u m atrizes positivas
que podem ser (re)construídas no mundo
ta n g ív e l, apesar de nunca deixarem de Esferas de plástico, Darlan Rosa
e x istir com o a rtifício s ou sim ulacros. Ele
c e rta m e n te se b e n e fic ia da h a b ilid a d e
que as te la s de c o m p u ta d o r tê m em
tra n s m itir sim ilitud e.

No entanto, nessa fase, a produção


de im agens não parece ser uma pre o cu ­
pação prioritária. Os esboços virtu ais são
desenhados com uma caneta dig ital. U ti­
liza s o ftw a re s equipados com os p rin c í­
pios do padrão de construção, com o uma
ferram enta de elaboração.

Dentro do am biente digital, o artista


gera diversas relações m atem áticas que,
uma vez lidas por o u tra m áquina, vão
fabricar os objetos materiais com os quais
ele faz arte. Esferas, 1,5 m de diâmetro suspensas por cabos de aço
C a su lo s são esculturas in te ra tiv a s há uma divergência conceituai entre cariocas
expostas do lado externo do Centro Cultural e paulistas, que fica explícita na Exposição
Banco do Brasil - CCBB, em Brasília. São muito Nacional de Arte Concreta, que ocorreu em
interessantes e propõem um diálogo lúdico São Paulo, em 1956 e no Rio de Janeiro, no
e direto com o observador, que por vezes ano seguinte. Enquanto o grupo carioca defen­
torna-se parte integrante das esculturas. dia a intuição como base para a produção e
análise da obra, os paulistas percebiam essa
estética de forma mais racional.

O Manifesto Neoconcreto, de 1959, foi


assinado por Amílcar de Castro (1920-2002),
Ferreira Gullar, Franz W eissm ann (1 9 1 1 ­
2005), Lygia Clark (1920-1988), Lygia Pape
(1927-2004), Reynaldo Jardim (1926-2011),
Hélio Oiticica (1937-1980) e Theon Spanudis
(1915-1986). Esses defendiam a liberdade de
experimentação, apresentando um retorno
saudosista ao subjetivism o e à expressivi­
dade formal. Assim criavam a possibilidade
da participação real e de caráter lúdico entre
Projeto Casulo, Darlan Rosa, CCBB, Brasília-DF espectador e obra, não só na contemplação
mas na alteração do projeto artístico. Cria­
ram uma nova maneira de trabalhar, fazendo
uso de formas inusitadas que questionavam
a ideia de contemplação estática da tela. Sur­
giu daí uma proposta da apreciação senso-
rial mais ampla da obra, através do tato, do
olfato, da audição e do paladar.

A m ilc a r de C astro é um protagonista


desse cenário e sua produção é norteada
por m ateriais rígidos que, recortados, to r­
nam-se maleáveis e dóceis. A cor, elemento
m uito significativo desse projeto, reforça o
caráter em otivo da produção.

Projeto Casulo, Darlan Rosa, CCBB, Brasilia-DF

Neoconcretismo

Movimento artístico que surgiu no Rio


de Janeiro, em 1959, oriundo das correntes
abstracionistas europeias, nos princípios da
Bauhaus e do De Stijl. Apresenta uma aproxi­
mação entre arte e indústria. Nele são abolidas
quaisquer possibilidades simbólicas da arte,
que passa a ter como argumento os elementos
estéticos concretos e a conjugação de formas
geométricas com cores planas. Entretanto, Escultura em ferro, sem título, Amílcar de Castro
O iticica fo i, tam bém , o responsável
pela criação do "P e n e trá v e l" Tropicália,
que além de in s p ira r o nom e do m o v i­
m e n to c u ltu ra l c o rre s p o n d e n te , ajudou
a consolidar uma estética do m ovim ento
tropicalista na música brasileira, nos anos
de 1960 a 1970.

Escultura de Amílcar de Castro, Instituto de Arte Contemporânea

Hélio O iticica foi considerado um dos


mais revolucionários de sua época e sua
obra exp e rim e n ta l e inovadora é re spei­
tada internacionalm ente. Em seu projeto Tropicália, Grande Núcleo, Hélio Oiticica, 1960
Parango/é traduziu em inúmeras possibili­
dades plásticas uma série de capas e/ou L y g ia C la rk , assim com o O iticica ,
estandartes que mostram sua versatilidade defendia a franca participação entre obser­
ao ser m anipulada. A partir dessa experi­ vador e obra. A apreciação acontece por
ência de m anipulação, as características meio da participação e da criação coletiva.
plásticas podem ser evidenciadas: textura, Os objetos passam a te r características
cor, maleabilidade ou não do material. Essa orgânicas e reagem à intervenção do outro.
"brincadeira" dá vida e energia para o pro­ M ineira de origem , foi no Rio de Janeiro
jeto artístico do autor. que desenvolveu seu tra b a lh o . Ganhou
fam a, respeito e admiração devido à sua
ousadia e coragem de propor uma nova
leitura e produção artística, além de ques­
tionar os valores tradicionais e clássicos.

0 artista plástico Hélio Oiticica veste o


Parangolé, um de seus trabalhos mais notáveis (1 968) Bicho, Lygia Clark, alumínio 22 x 26 cm, 1962

188
Ao mesmo tem po que passa a ideia
de proteção, passa tam bém a de exclusão
do homem dentro de uma sociedade.

Divisor, Lygia Pape, 1968, visita a exposição Kontexte der


Fotografie, Museu de Arte Contemporânea, Siegen, Alemanha

Máscaras sensoriais, Lygia Clark

Suas m áscaras sensoriais com o a


mostrada acima, sugerem uma busca pelo
autoconhecim ento, uma reflexão diante de
estímulos diferenciados. Feitas a partir de
materiais diferentes e cores diversas, cada
uma dá a sua versão do objeto. Quando
o espectador coloca a máscara, ele entra
em isolam ento absoluto do seu exterior.
Os cheiros, os sons e a visão estão agu­
çados e, ao mesmo tem po, concentrados
e dom inados pelos estím ulos da máscara
que está sendo vestida.
T téia, Lygia Pape, fio metalizado e luz, dimensões variadas
Lygia Pape foi gravadora, escultora e
artista multim ídia. Fez parte do grupo dos T téia é uma instalação que desafia
neoconcretos e nele desempenhou papel de o espectador ao analisá-la a partir de con­
grande relevância. Trabalhou com cinema, cepções ópticas criadas pela relação da luz
a partir de 1962, fazendo cartazes, roteiros, e das linhas esticadas. Oferece um pas­
montagem e direção. M estre em Estética seio através desse cenário divertido e ins-
Filosófica, lecionou durante duas décadas tigante. T téia sugere algo doce, delicado e
em universidades e escolas de Arte. a sutileza da obra explicita tudo isso.

Sua obra O divisor, que é constituída Celso Antônio Silveira de Menezes


por um pano de 20 x 20 m, possui algumas (1896-1984) foi escultor, pintor e professor.
perfurações, e as pessoas aparecem com a Iniciou seus estudos no grupo Bernadelli. Ga­
cabeça para fora e o corpo coberto. nhou uma bolsa de estudo e foi para Paris.

189
Conviveu, na Europa, com outros artistas linha, recursos que a colocaram em conso­
brasileiros de grande referência, como Victor nância com os propósitos neoconcretistas.
Brecheret, Anita Malfatti e outros.

Esculturas em bambu, lone Saldanha, 1980

Antônio José de Barros de Carvalho


e Melo Mourão (1952), conhecido como
"Tunga", é arquiteto, escultor, desenhista
Túmulo de Lydia Piza de Rangel Moreira, Celso Antônio, e ator de performance artística. Exigente,
1927, granito polido, 190 x 90 x 60 cm, Cemitério da busca articular sua arte com conceitos de
Consolação, São Paulo, SP filosofia, biologia, ciências exatas e outras
fontes do conhecimento humano. Sua pro­
Na década de 1920, fez várias escul­ dução é vigorosa em diversas vertentes. V i­
turas funerárias em bronze e mármore. Se­ sando novas possibilidades, procura introdu­
gundo o historiador Walter Zanini (1925), as zir diferentes materiais em suas obras: ímãs,
obras produzidas por Celso Antônio nesse cobre, vidros e madeiras, que são ressignifi-
período têm figuras de formas econômicas cados em suas montagens escultóricas. Dia­
e um modelado severo e conciso, que obe­ loga com conceitos dadaístas (ready-made)
decem a um rigor. As linhas são puras, os e com o discurso onírico surrealista.
volumes modestos, o movimento contido.

Retornou ao Brasil e executou vários


trabalhos de grande porte, dentre eles es­
culturas para túm ulos. Fez tam bém várias
encomendas para o governo, por solicita­
ção do então Presidente Getúlio Vargas e,
posteriorm ente, para o Presidente Eurico
Gaspar Dutra.

lone Saldanha (1919-2001) é natural


de Alegrete, Rio Grande do Sul. Foi influen­
ciada por Alfredo Volpi. Nota-se nas cores
e ingenuidade de suas obras, na página ao
lado, uma conexão com o colorido das ban-
deirinhas de Volpi. Nas obras "Bambus" pro­ Lesartes, Tunga, 1989, ferro, ímã e cobre,
move um divertido diálogo entre cor, luz e 73 x 30 x 9 cm, coleção particular
Cildo Meireles (1948) é um artista de gens sacras, ferraduras, objetos de cava­
grande importância para a produção artís­ laria, licoreiras, gamelas em madeira. Com
tica brasileira. Reconhecido mundialmente, um olhar amadurecido, revê e recicla esses
foi responsável pela transição do m ovim en­ materiais com combinações inusitadas. Seu
to neoconcreto para a arte conceituai. Sua trabalho, po rta n to , apresenta um caráter
obra marca novos conceitos na arte brasi­ autobiográfico.
leira. Questões de ordem política e social
podem ser discutidas a partir dos elementos
artísticos apresentados por ele. Na verdade,
Cildo Meireles usa a arte como um meio
de promover suas reflexões e, ao mesmo
tem po, estende essa possibilidade aos ob­
servadores. Sem diálogos verbais, as idéias
vão se formando e os ideais aflorando.

Oratório Cabeça de Mulher, Farnese de Andrade, 1973-1983


Inserções em Circuitos Ideológicos: Projeto Coca-Cola, Cildo Meireles,
1970, inscrições em garrafas de vidro, Coleção do artista

A p a rtir da obra acim a, podem os


perceber os c o n ce ito s de p o u c o /m u ito ,
de ch e io /va zio . Ao ser consum ida a be­
bida, sua garrafa retorna para a fá b rica
e o co n te ú d o é reposto . É um círculo
vic io s o . Pode-se re fle tir sobre esse pro­
cesso. Na realidade, será que tu d o é reci-
clável? Na natureza, será que tu d o pode
ser n a tu ra lm e n te re posto , sem perdas?
A fa m ília , am igos, saú de... obedecem a
esse m esm o princípio?

Farnese de Andrade (1926-1996), nas­


cido em Araguari-M G, foi pintor, escultor, A volta ao lar, Farnese de Andrade, 1994
desenhista, gravador e ilustrador. Mudou-se
com a mãe e irmãos para o Rio de Janeiro, O fom ento para o seu trabalho é
onde fixou residência, depois de passar por conseguido em antiquários, ex-votos, nas
Belo Horizonte. Saudoso de suas origens, praias e ruas cariocas. O artista os recicla,
passou a trabalhar com elem entos que o reorganiza e reinventa, através da técnica
tra n sp o rta va m para sua terra natal: im a­ de assemblagem e justaposição.

191
Os oratórios são m uito com uns, ain­
da hoje, nas residências mineiras. De
certa form a, além de representar as cren­
ças, angústias e súplicas, testem unham
segredos e vulnerabilidades do devoto. A
partir dessa perspectiva, a obra de Far-
nese corresponde aos princípios surrea­
listas. Esses objetos são com uns na arte
barroca cristã.
Imagem de Nossa Senhora no interior da "Igrejinha", Brasília-DF
Ainda hoje sua obra é admirada e
respeitada em diversas partes do mundo: A Igreja Nossa Senhora de Fátima,
suscitam , instigam , seduzem quem as vê. "Igrejinha", foi o primeiro tem plo de alve­
naria construído em Brasília e a primeira
Embora Rodolfo Bernadelli tenha nas­ igreja do setor residencial. É um projeto
cido no México, foi no Brasil que se formou, arquitetônico modernista de Oscar Nie-
tornando-se um dos escultores mais respei­ meyer (1907), com painéis de A thos Bul-
tados. Deixou um grande acervo. Executou cão (1 91 8 -2 0 0 8 ) na parte externa e de
estátuas, bustos, obras tumulares e outras. Volpi na parte interna. Em 2 0 0 8 sofreu um
Ingressou na Academ ia Imperial de Belas incêndio e teve de ser restaurada.
A rtes — AIB A em 1 8 7 0 , onde exerceu a
função de professor. 0 artista plástico Francisco Galeno
(1957) foi contratado para criar novos pai­
néis para substituir os originais. As pin tu­
ras tom am as duas paredes laterais e na
parede do altar-m or estão representadas
as três crianças que presenciaram o apa­
recim ento de Nossa Senhora, em Fátima
(Portugal), além da imagem da própria V ir­
gem, que aparece bem ao centro.

Recorreu ao estilo modernista. Sua


obra contracena com a imagem sacra e o
projeto arquitetônico de Niemeyer. As pipas
Moema, Rodolfo Bernardelli, escultura em bronze, 1895 coloridas são uma referência às crianças que
Pinacoteca do Estado de São Paulo teriam visto a Santa. O fundo azul do pai­
nel central aproxima-se muito da cor dos pai­
A respeito de sua obra Moema, per­ néis de azulejo de Bulcão. As imagens foram
sonagem im portante da literatura brasilei­ constituídas a partir de formas geométricas.
ra, é considerada uma de suas brilhantes Nossa Senhora exibe, na altura das mãos,
atuações. Feita em bronze, em tam anho uma pipa que é ornada por um terço com
natural, é representada na diagonal, com pequenos carretéis coloridos. "Ela (Nossa Se­
solfejos de realismo. Parte do corpo se en­ nhora) se apresentou para as crianças, então,
contra submersa na água, em contraste nada mais natural que usarmos elementos do
com outras partes que estão jogadas na universo infantil: carretei e pipa", diz Galeno.
areia. Cabelos e água se fundem . A ex­
pressão de desalento é explícita. 0 m ate­ Apesar de todo encantamento e lirismo,
rial e a técnica usados pelo artista refor­ a obra foi questionada por alguns fiéis e cau­
çam a ideia de desolação e isolam ento. sou polêmica, não artística e sim religiosa.
Nossa Senhora de Fátima, Francisco Galeno, interior da Igrejinha de Fátima, Asa Sul, Brasília

Athos Bulcão Suas form as são básicas com dese­


nhos simples e as cores planas são de grande
O riundo do Rio de Ja n e iro , A th o s beleza tonal. Desde form as pequenas até
Bulcão foi para Brasília no segundo semes­ grandes peças são projetadas pelo artista. O
tre de 1 9 5 8 . Iniciou sua carreira com o contexto, repetido inúmeras vezes, multiplica
desenhista e pintor dentro das tendências o espaço, criando movimento e harmonia.
figurativas. A depto a novidades, aderiu a
pesquisas de novos materiais e possibilida­
des plásticas. Em busca de novos caminhos,
encontrou parceria em contextos arquitetô­
nicos. Nessa empreitada recorreu a concei­
tos mais form ais e ajustou sua linguagem
às form as geom étricas apresentadas pela
arquitetura moderna. Sua proposta encon­
tro u ressonância com a dos arquitetos e
ganhou destaque e m uito reconhecimento.
Trabalhou em função do espaço proposto,
valo rizand o-o e destaca ndo -o. Integrou,
portanto, a arte com a arquitetura.
Azulejos de Athos Bulcão no Parque da Cidade
de Brasília Sarah Kubitschek

Sua colaboração fo i essencial para


unificar e harmonizar a linguagem arquite­
tônica brasiliense: concreto, vidros e muita
beleza promovida pelos painéis do artista.

Segundo Alvar Aalto (1898-1976), "Em


quase todas as tarefas relativas às formas
há milhares de elementos que, por vontade
humana, são forçados a trabalhar em harmo­
Painel externo da Igrejinha de Nossa Senhora nia. Só pela arte se pode alcançar essa har­
de Fátima, Athos Bulcão, Brasília monia." Assim é a obra de Athos Bulcão.

193
A im p o rtâ n c ia da a rq u ite tu ra está com o recurso para criar integração entre
no seu a s p e c to , nos m a te ria is que a os am bientes, além de captar a luz n a tu ­
co m p õ e m , na relação com a fu n ç ã o e, ral. Essas v e rte n te s fo ra m am plam ente
sobretudo, na atualidade, na preservação exploradas e valorizadas pelas p o s s ib ili­
e m elhoria do meio am biente. dades que criavam . E n tre ta n to , havia a
necessidade de fo rm a liza çã o do estudo
As tecnologias e os sistemas de orga­ dessa nova corren te c o n s tru tiv a .
nização social, suas necessidades práticas
e aspirações devem convergir para a per­ Assim, em 1919, em Weimar, W alter
feita integração entre obra e ambiente. Gropius (1883-1969) criou uma escola que
tinha como finalidade proceder a esses estu­
Observe as citações abaixo: dos, conectados a essa nova realidade. A ela
deu o nome de Bauhaus, que significa "casa
"A arquitetura é a arte que dispõe e de construção". Deu-se mediante a fusão
adorna de tal form a as construções ergui­ da Academia de Artes e a Escola de Artes
das pelo homem, para qualquer uso, que Aplicadas de Weimar. Tinha como objetivo a
vê-las pode contribuir para sua saúde men­ reorganização do ensino das artes e da cria­
tal, poder e prazer." (John Ruskin) ção de uma mão de obra mais especializada
e eficiente, voltada não só para a constru­
"A A rqu itetu ra não muda nada. Está ção civil mas também para a fabricação de
sem pre do lado dos mais ricos. O im p o r­ produtos em escala industrial.
ta n te é a c re d ita r que a vida pode ser
m e lh or." (Oscar Niemeyer) O program a de ensino dava-se a tra ­
vés de academias, que abrangiam diversas
Um bom a rq u ite to não está d is s o ­ áreas do conhecim ento artístico e era rela­
ciado do mundo em que vive. cionado com a área técnica.

O curso da Bauhaus iniciava-se com


Arquitetura Moderna e Contemporânea o estudo da form a e dos materiais (curso
básico), sob a coodenação de Johannes
A arquitetura moderna surgiu no início Itte n (1 8 8 8 -1 9 6 7 ); seguia-se o tre in o
do século XX. Impulsionados pela necessi­ numa técnica aplicada (um ofício), numa
dade oriunda das cidades industriais e pelo oficina, sob a orientação dupla de um té c ­
êxodo rural, os arquitetos da época tiveram nico industrial (um oficial) que aplicava as
que pensar uma arquitetura direcionada para soluções técnicas, e de um artista (mestre)
a nova realidade, pois as formas sinuosas e que investigava a resolução dos problemas
exuberantes já não encontravam referência formais; no terceiro grau, estudavam-se os
dentro dos conceitos modernistas. problemas construtivos e a A rquitetura.

P a ssa ra m a u tiliz a r o fe r r o , de Combatia a arte pela arte e estimulava


m aneira nunca antes v is ta nas c o n s tru ­ a livre criação, com a finalidade de ressaltar
ções. M ateriais com o o aço e o concreto a personalidade do homem. Mesmo aten­
armado davam aos arquitetos po ssibilida­ tos às convicções filosóficas que deveríam
des inéditas de criação. 0 vidro era usado estar ligadas a um certo padrão, os alunos e

194
ê
mestres tinham liberdade criativa. Segundo
G ropius, era im p o rta n te a fo rm a ç ã o de
homens conectados com os anseios sociais
modernos. Dentro do conceito dessa escola,
o artista não era diferente do bom artesão,
e foi a partir desse pensamento que surgiu
um personagem até então desconhecido:
o desenhista industrial.

Arquitetura moderna

Primava pela funcionalidade e raciona­


lidade form al. Todo o excesso deveria ser
recusado e a execução dos projetos estava
destinada à produção em série. Em Dessau, o arquiteto Walter Gropius, diretor da Bauhaus,
constroi para a nova sede edifícios funcionais, adequados
O estilo da Escola Bauhaus foi constru­ aos propósitos da Escola Bauhaus
ído a partir das várias convicções que conver­
giam para a praticidade e redução de custos A lg u n s a rtis ta s e p ro fe s s o re s da
e ocupação de espaços. Esses pensamentos Bauhaus: Walter Gropius, Josef Albers, Mar­
eram discutidos sem discriminação de nacio­ cei Breuer (1902-1981), Wassily Kandinsky,
nalidade e, ao contrário da política local, não Paul Klee, Gerhard M arks (1 8 8 9 -1 9 8 1 ),
pregava a supremacia ariana. Assim, devido M oholy-Nagy (1 8 9 5 -1 9 4 6 ), Georg Muche
a perseguições políticas, mudou sua sede por (1895-1986) e outros.
duas vezes: para Dessau e depois Berlim. Ali,
em 1933, foi fechada por ordem de Hitler, não Foi nesse c o n te x to que a m oderna
antes de resgatar para a Arquitetura sua posi­ arquitetura se consolidou. Usava materiais
ção de arte maior. Seus artistas, ou grande industriais na elaboração de form as isen­
parte deles, transferiram-se para os Estados tas de exuberância form al.
Unidos, onde dariam prosseguimento à sua
arte. Outros artistas e alunos buscaram pos­ Tipos de arquitetura moderna:
sibilidades diversas em diferentes lugares do
mundo. Outras escolas com objetivos afins Funcional: voltada para a criação de
foram criadas. form as simples e funcionais. Deveria estar
conectada com os valores mais imediatos
Em 1933, na Carolina do Norte (Esta­ e objetivos da construção.
dos Unidos) foi criado, por Jo se f A lbers
(1 8 8 8 -1 9 7 6 ), um d e p a rta m e n to re la c io ­ Racional: além da form a, preocupa-
nado com os princípios da Bauhaus. se com a economia de custos. Busca uma
construção eficaz, eficiente, onde a rela­
Gropius passou a ensinar na U niver­ ção custo-benefício atenda aos anseios.
sidade de Harvard, e Mies Van der Rohe
(1 8 8 8 -1 9 6 9 ) em Chicago. Clean: Criação de amplos vãos livres
para que o espaço possa ser ocupado ao
M ax Bill (1 9 0 8 -1 9 9 4 ), ex-aluno da bel-prazer ou necessidade do usuário.
Bauhaus dirigiu, a partir de 1950, em Ulm
(Alemanha), a nova Bauhaus, com o nome Observação: esses três tipos de cons­
de H o c h s c h u le fü r G e s ta ltu n g (Escola trução estão ligados à Escola Bauhaus. Veja
Superior da Forma). os exemplos a seguir:
A casa Schrôder foi um projeto defini­
tivo na consolidação da arquitetura moderna.
Apresenta uma estética purista, baseada dos
conceitos do De Sti/I de Mondrian. Com uma
composição volumétrica de planos sobrepos­
tos e bem distribuídos, desafia a arquitetura
convencional. Assim como a Villa Savoye,
transform a-se em um marco para o rom pi­
mento com as estéticas anteriores.

Ville Savoye: casa em Poissy, 1928-1929, França

P ro je ta d a co m o casa de fim de
sem ana , na V ille S a voye o a rq u ite to
usou o am plo espaço para a criação de
um projeto quadrado, com linhas puras.
Expressa o desejo de redefin ir o espaço
habitacional, dando ênfase à luz natural e
ao volum e, valorizando o traçado simples. Laje sobre parede, Pavilhão Barcelona,
Os pisos de lajes em con creto , su ste n ta ­ obra-prima do arquiteto Mies Van der Rohe
dos por p ilo tis, perm itiam ao projeto um
d e se n vo lvim e n to natural e a criação de Com projetos racionais e funcionais, a
vãos livres m uito interessantes. concepção arquitetônica de espaço envolvia
um grande depuração da forma e visava suprir
0 edifício expressa a vontade, o desejo as necessidades emergentes do lugar.
de uma nova linguagem arquitetônica, sin­
tonizada com os conceitos e a estética da 0 Pavilhão Alemão da Feira Universal
geração que a tecnologia impõe. de Barcelona é uma estrutura bastante leve,
sustentada por pilotis metálicos e organizada
sobre planos verticais e horizontais. Foi demo­
lida após a exposição. Devido à sua importân­
cia, foi reconstruído no final do século como
homenagem e como símbolo do modernismo.
Passou a se chamar Pavilhão Barcelona.

O quarto tipo de arquitetura moderna


é a orgânica, que é de origem norte-am e­
ricana. Surgiu a partir da ideologia de Frank
Lloyd W right (1867-1959), que acreditava
que o edifício, assim como um organismo,
precisa crescer a partir de seu meio. Deve
partir da função para a forma. A construção,
portanto, deveria compor o meio ambiente
natural e não denegrí-lo. Suas form as são
Casa Schrôder, em Utrecht.l 923-1924, mais sinuosas para acompanhar a m obili­
de Gerrit Thomas Rietveld dade e versatilidade do ambiente natural.
Um dos maiores exemplares é a Casa
Cascata, na Pensilvânia, Estados Unidos. Foi
construída em cima de uma queda d'água,
em meio a uma vasta vegetação. É uma ima­
gem apaixonante, capaz de seduzir as pes­
soas mais céticas em questões ambientais.
Observe a imagem.

Projeto da Fawcett Ranch House, Wright, 1946

No Brasil, essa m odernização arqui­


tetônica aconteceu a partir de 19 20, com
a contratação do arquiteto russo Gregori
W a rc h a v c h ik (1 8 9 6 -1 9 7 2 ), com o ob je­
tiv o de trabalhar para o grupo Sim onsen,
em São Paulo. O tim izando essa corrente
Casa cascata ou Casa Kaufmann, Pensilvânia, Estados Unidos no Brasil, fo rm o u uma equipe y por ele
c h e fia d a - que renovou o pensam ento
Foi construída no meio de um bosque, c o n s tru tiv o nacional. Participaram desse
no interior de uma propriedade particular. Sua período revolucionário: A ffo n s o E. Reidy
principal característica, no entanto, é o fato (1 9 0 9 -1 9 6 4 ), Carlos Leão (1 9 0 6 -1 9 8 3 ),
de ter sido erguida sobre uma pequena queda Jorge M oreira (1 9 0 4 -1 9 9 2 ), Lúcio Costa
d'água, utilizando-se dos elementos naturais (1 9 0 2 -1 9 9 8 ), com destaque para Oscar
ali presentes (como as pedras, a vegetação e Niemeyer. Conhecidos pela ousadia e cria­
a própria água) como constituintes da com­ tiv id a d e c o n s tru tiv a , fo ra m d ire ta m e n te
posição arquitetônica. Originalmente utilizada inspirados pela arquitetura da Bauhaus.
como residência de veraneio da família, a casa
é hoje um museu. Veja outros exemplos de A contratação de Le Corbusier (1 8 8 7 ­
arquitetura a seguir. 1965) pelo governo brasileiro, na década
de 1920, turbinou o pensamento e o desejo
criativo do grupo, além de propiciar avan­
ços significativos na vertente arquitetônica
e adjacentes. Novos materiais passaram a
ser usados na criação de form as limpas e
funcionais. O vidro assumiu um papel impor­
tante nessa nova abordagem e foi aplicado
com generosidade nos projetos dos novos
arquitetos. O concreto assumiu o com pro­
misso de promover a possibilidade de cria­
ção de formas rigorosas e arrojadas.

Guggenheim Nova Iorque, Frank Lloyd Wright, projeto de A planta livre, o uso de pilastras, o
1943, primeira sede própria para abrigar e te rra ç o -ja rd im , tu d o isso fo i usado com
expor as obras de Solomon R. Guggenheim. abundância.
Sua form a está, tam bém , m uito rela­ quem as vê num sobrevoo pela região. A
cionada com a seleção dos m ateriais e a fachada de vidro e as estruturas metálicas
preocupação com as questões ecológicas atribuem uma distinção ao projeto do cons­
inerentes a eles. A função social é outro tru to r. Pela imagem interna percebe-se as
aditivo condicionante do projeto e, portanto, dobraduras que, mescladas pelos efeitos
não desprende o olhar da funcionalidade. de luz, sugerem dinamismo e encantam en­
to. Possui inúmeras divisões, entre elas:
Como principais arquitetos citam -se: cinco teatros, estúdios para ensaios, res­
Jorn U tzon (1 9 1 8 -2 0 0 8 ), Kenzo Tange taurantes, bares, lojas.
(1 9 1 3 -2 0 0 5 ), Renzo Piano (1 937 ), Frank
O. Gehry (1929), Ruy Otake (1938), Oscar
Niemeyer e outros.

Teatro de Ópera de Sydney, Austrália, Jorn Utzon, parte externa Centro Cultural Jean Marie, Tjibaou em Nouméa
(Nova Caledônia), na Oceania, Renzo Piano

Renzo Piano: No período de criação


desse projeto, baseou-se em uma pesqui­
sa sobre a cultura local e, a partir daí, per­
cebeu que a solução estaria num edifício
em perfeita coerência com o meio natural.
Está localizado em uma pequena península
a leste de Nouméa, em parte cercada pelo
mar e em parte por uma lagoa coberta por
densa vegetação.

O a rq u ite to a rtis ta ide alizou, então,


c o n s tru ç õ e s que pudessem não só a te n ­
der aos anseios do povo com o tam bém
re s is tir às v a ria ç õ e s c lim á tic a s , com
Teatro de Ópera de Sydney, Austrália, Jorn Utzon, parte inter­ ciclo n e s que chegam a m ais 2 0 0 km /h .
na mostra o Concert Hall, com capacidade A s s im , os p a v ilh õ e s fu n c io n a m co m o
para 2.690 espectadores sentados velas, que giram explorando a ação dos
v e n to s e, ao m esm o te m p o , prom ovem
Jorn Utzon: Sua construção tornou-se ve n tila ç ã o in te rn a . A lém da beleza e sté ­
um marco na história da arquitetura mun­ tic a , há toda uma preocupação socioam -
dial. Suas cúpulas majestosas fascinam a biental na idealização do p rojeto .
Estádio Olímpico de Tóquio (1964), Kenzo Tange

Kenzo Tange: Projeto abarca três ele­ Procuradoria Geral da República do Distrito Federal,
mentos distintos: um estádio grande e ou­ Brasília, 1982, Oscar Niemeyer
tro pequeno, com um edifício de serviços
ao meio e uma passarela a partir de um Oscar Niemeyer: O m ajestoso edifí­
te to plano, para a circulação de pessoas. cio da Procuradoria, em Brasília, é form a­
Abriga piscinas, vestiários, escritórios e do por quatro prédios circulares, interliga­
refeitórios. Une função e estética numa dos por passarelas, sendo que só um deles
perfeita conjugação. não é revestido por pele de vidro.

A plasticidade da obra é m utante e


ganha as dim ensões da paisagem local,
refletindo tam bém os aspectos do tem po.
O recurso do vidro , além de integrar os
am bientes in te rn o s e e x te rn o s , filtra a
q u a ntid ade de luz natural que absorve.
Apresenta, portanto, características orga-
nicistas e associa funcionalism o a um rigo­
roso padrão estético do Pós-modernismo.

Esses e x e m p lo s m o s tra m que a


a rq u ite tu ra tra n s c e n d e a noção básica
de abrigo. Ela é uma linguagem poderosa,
Ruy Otake, Brasília Shopping, Brasília, Brasil que está associada a o u tro s valores de
grande im p o rtâ n cia social. Dialoga com
Ruy Otake: Integra vidro com alumí­ a espiritualidade, com a esté tica, com a
nio, materiais que compõem a fachada do fu n çã o e, sob retu do , com as necessida­
prédio, criando um aspecto futurista . A des do homem em diversas circunstâncias
form a inusitada chama a atenção do ob­ sociais: cu ltu ra , esporte, lazer, trabalho,
servador, pois faz contraste com a v e rti­ moradia. Dessa form a, os arquitetos cons­
calidade dos prédios circundantes. Abriga tróem e reconstroem os valores sociais a
lojas, cinemas, praça de alimentação, es­ partir do concreto, do vidro, dos elem en­
critórios e amplos corredores para a circu­ tos sintéticos e naturais, dando form a aos
lação dos usuários. anseios humanos.
Mudanças profundas vêm ocorrendo e ossos, ta n to com o ferram entas quanto
no cenário m undial. Essas mudanças alte­ com o m atérias-prim as, para a confecção
raram de m odo radical todas as c o n ce p ­ de objetos utilitários.
ções e modos de agir, seja em nível pes­
soal, cole tivo ou em presarial. No fim do período medieval surgiram
as guildas, que eram corporações de o fí­
Se os s e n tim e n to s e e le m e n to s cio e agremiavam artesãos que fabricavam
mais sinceros e a u tê n tico s puderem ser produtos de uma mesma linha. Eram ve r­
ide ntificad os, certam ente será mais fácil dadeiras escolas da m anufatura, nas quais
encontrar e com preender a dimensão e a os artesãos com eçavam os estudos como
im portância das atividades que emergem aprendizes, ainda na infância. A li, o aluno
do povo, e que ao conjugarem arte e tra ­ se to rn a va um profissional de artesania.
balho tra nsfo rm am -se em novas re ferê n­ Usavam m aquinários de te c n o lo g ia in c i­
cias, colo ca n d o em evid ência m aneiras piente e obedeciam uma sequência lógica
mais sim ples de viver e de dar respostas na linha de produção.
às urgências sociais e coletivas.
Com a in d u stria liza çã o e produção
Com essas e xp e cta tiva s, o homem em massa, a linguagem tom ou um aspecto
busca in ce ssa n te m e n te s a tisfa ze r seus radicalm ente diferente e os projetistas de
anseios. Cria e recria produtos e objetos desenho industrial passaram a adequar seu
que sejam mais adequados às suas neces­ trabalho aos interesses de mercado. A te c ­
sidades e que possam fa cilita r e melhorar nologia era avançada e a mão de obra alta­
sua vida. mente especializada. Os materiais usados
podiam ser naturais ou industrializados.
Dessa form a, desde os prim órdios, o
hom em vem numa busca incessante de Tudo isso surgiu de m aneira espon­
criação de produ tos que possam corre s­ tânea a partir da Revolução Industrial. No
ponder aos seus anseios. século X X , W a lte r G ropius e um grupo
generoso de p ro fe sso re s-a rtista s, perce­
Daí, no século XX, nasce, na Bauhaus, bendo a necessidade de uma form alização
o estudo form al da concepção de objetos da arquitetura moderna, inauguraram , na
que sejam ergonôm icos, funcionais, belos Alemanha, a Escola Bauhaus. Perceberam,
e que satisfaçam o homem moderno. então, que não poderíam dissociar o edifí­
cio dos móveis que o compunham, criando,
Artesanato e Indústria assim, a linguagem do design moderno.

A rte s a n a to é a ação de e la b o ra r Os prim eiros designers eram arquite­


p ro d u to s , usando com o recurso os in s ­ tos, pintores e alunos da Escola. A lingua­
tru m e n to s ru dim en tares ou m aquinários gem acompanhava a mesma da arquitetura:
básicos e m ateriais naturais. form as limpas, funcionais e racionais. As
linhas eram puras e diretas, criadas com
Surgiu desde os primórdios, no Período m ateriais leves e coloridos. Dentre esses
Paleolítico, quando os homens pré-históri­ materiais, pode-se citar o plástico, o vidro,
cos usavam pedaços de pedra, madeiras o metal, o couro, entre outros.
B riefin g genérico: visa o esclarecim ento
das e xp e cta tiva s do consum idor acerca
do referido produto. N orm alm ente é fe i­
to através de uma série de perguntas, ao
o público-a lvo, que podem ser desenvol­
vidas através dos meios virtu a is ou pes­
soalm ente. Essas devem ser elaboradas
pela equipe de designers e explorar exa­
ta m e n te as dúvidas e xiste n te s sobre as
necessidades do m ercado.

B riefing específico: consiste numa ficha


técnica que é o resultado da pesquisa
anterior, onde serão citadas as carac­
terísticas do fu tu ro produto: cor, form a,
dim ensão, e com porá o conjunto de in­
form ações que resultarão, naturalm ente,
num produto de sucesso no m ercado.

Desenho té c n ic o : Essa é uma e ta ­


Design gráfico pa considerada bidim ensional, apesar de
toda a tridim ensionalidade do desenho.
Isso se dá devido ao tipo de suporte usa­
do, que são o papel ou os meios digitais.

Essa etapa consiste no registro grá­


fico do projeto. É um desenho que recorre
a recursos g e o m é trico s em sua c o n c e p ­
ção. Deve ser preciso e co n te r todas as
inform ações a respeito do fu tu ro produto.
N orm alm e nte é re presentado por v is ta s
cortada s, com o por exem plo, vista fro n ­
tal ou lateral.

r“ - *

Móveis de Mies e Marcei Breuer,


arquivo da Bauhaus, Berlim

0 desenvolvimento do projeto se dá a
partir de etapas distintas e em ordem lógica,
com o objetivo de alcançar o sucesso do
projeto. São três etapas básicas:

B riefin g: consiste na primeira das eta­


pas de elaboração de um projeto de produ­
to e tem como objetivo identificar as reais
necessidades do público-alvo, bem como
as prováveis concorrências ao fu turo pro­
duto. É subdividido em duas partes: Desenho técnico, http://www.m avi.com .br
Projeto original de Brasília

Maquete do Veleiro Cutty Sark


M aquete é o tip o de representação
tridim ensional do projeto, pois através dela Um designe r nunca deve deixar de
pode-se mensurar as dimensões do produto lado os fa to re s e rg o n ô m ic o s e fu n c io ­
final. Pode ser em escala a maior, a menor nais de um p ro d u to . A lém disso, com a
ou em proporções reais. Os tipos existentes preocupação atual em relação ao meio
de maquetes podem ser agrupados em três, am biente, é de bom tom e po liticam ente
basicamente: correto que estes aspectos sejam levados
em consideração.
Maquete de trabalho: que são as
mais simples, feitas com qualquer material A criação de projetos tridim ensionais
e não apresentam o conjunto de funções, é de re sp o n sa b ilid a d e do p ro je tis ta de
só a estética do fu tu ro produto; p rodu tos ou designe r de p rodu tos. Mas,
além dessa possibilidade, existe tam bém
Maquete funcional: é considerada um o program ador visual ou designer gráfico,
simulador. Apresenta o conjunto de funções que é responsável pela criação de produ­
e sua estética é confeccionada a partir de tos bidim ensionais.
materiais similares aos do produto final;
Essa área é m u ito ligada à c o m u n i­
M aquete de aspecto: é fe ita com os cação visual. O designer lança mão dos
m ateriais, tam anho, e sté tica e funções elementos visuais, tais com o: linha, form a,
do produto fina l. É o próprio produ to em cor, p ro fu n d id a d e , v o lu m e , ta m a n h o e
fase de te ste . fon te de letras, enfim , signos representati­
vos da linguagem visual, para passar uma
m ensagem . São de sua responsabilidade
a elaboração de rótulos de produtos, cria­
ção de páginas virtuais ou não, capas de
livros, CDs, DVDs, cartazes, folders, pan­
fle to s, faixas, identidades visuais (marca,
logotipo, logomarca) e outros.

Em q u a lq u e r um desses p ro d u to s
Maquete de trabalho os p ro fissio n a is responsáveis devem te r
sensibilidade e perspicácia para m a n ip u ­ Design e ecologia
lar os elem entos da linguagem visual de
fo rm a a tra e n te , ra cio na l, clara e co n e c ­ O desafio do século XXI é evitar ou
tada com o produ to em questão. m inim izar os im pactos adversos dos pro­
dutos industriais no meio am biente. Como
qualquer desafio, este con stitui tan to uma
demanda quanto uma oportunidade.

A c re s c e n te p re o c u p a ç ã o com as
q u e s tõ e s a m b ie n ta is te m le v a d o ao
d e se n vo lvim e n to de te cn o lo g ia s que u ti­
lizam re curso s n a tu ra is de fo rm a ra c io ­
nal e p o litic a m e n te correta. O o b je tivo é
re c ic la r, re a p ro v e ita r os resíduos p o lu i-
dores, beneficiando-os de m odo a m elho­
rar o m eio a m b ie n te . Com isso, vá rio s
designers empenham -se em pesquisas de
m ateriais e suas possibilidades plásticas,
para atender aos anseios do mercado sem
degenerar a natureza.

Essas q u e stõ e s vêm a m pliand o as


possibilidades da indústria e m elhorando
a qualidade de vida de diversos segmentos
Capa de CD de Chico Buarque em linguagem Pop A rt sociais. A um enta o m ercado consum idor
ao mesmo tem po em que enriquece o com ­
petidor, com produtos de alta qualidade e
design interessante.

N esse a s p e c to , d e s ta c a m -s e aqui
os irm ãos Fernando (1 9 6 1 ) e H um berto
Campana (1953): paulistas de nascimento,
são, hoje, personalidades m undialm ente
respeitadas.

A ltam ente com prom etidos com a o ti­


A R E IN V E N C A O D O mização de produtos elaborados a partir da
reciclagem e re a p ro ve ita m e n to de m a te ­
riais, seus tra b a lh o s vão m u ito além da
beleza plástica. Apresentam funcionalidade,
• G kiw ;t queira (ormt
mudará i* mws \vm i^>í ui além de um asp ecto social d ig n ific a n te .
«C ator/c |K*íiv,idiircs tis oito jpàíse* Privilegiam a regionalidade e, ainda assim,
refletem m * hv »>aeunuvmvnlo são internacionalm ente adm irados.
qw?ínaupirttti o » « sArufo

São peças feitas em papelão, tecido,


0 CAOS N A A R G EN T IN A
♦ A bMttrb tnkçjHW* £9 Coixító 9 a rvn ã xta 4 » 0 » U feia plástico, arame e outros ta n to s m ateriais
♦ 0 rêttú ó c CúoiJ&z fiú Criiul
♦ çk * i pjrvr-s 4r*r?*r^ v:rí e c r io «t**K *in c o lh id o s dos excessos e dos lixos, que
tom am fo rm a de p ro d u to s e vão para o
Revista Veja, Edição 1.732, 26/12/2001 mercado seduzir e encantar o consum idor.
V eja a lg u m a s o b ra s desses g ê n io s do
eco-design:

Tapete Pirulito, Irmãos Campana, 2000, E.V.A. e arame

Assim, desenvolvem um design genuina­


mente brasileiro, que tira do cotidiano popu­
Poltrona feita de ursinhos de pelúcia e lar o fomento para sua inspiração. Os Irmãos
aço inox, Irmãos Campana Campana, mais que uma trajetória pessoal,
registram um retrato do Brasil.

Linha Corallo de sandálias e bolsas criadas pelos talentosos


Irmãos Campana, que são fabricadas com 30% de material Sofá Boa, feito com mais de 90 metros de veludo estofado
PVC átoxico e reciclado, produzido com sais minerais que se enrola nele mesmo, como uma jibóia, Irmãos Campana
à base de cálcio-zinco, que não agride a saúde.

A rtur Bispo do Rosário

Sergipano de origem, Bispo do Rosário


(1909-1989) foi marinheiro e também pres­
tou serviços na empresa energética carioca.
Trabalhava para uma tradicional família no Rio
de Janeiro quando foi acometido por alucina­
ções. Chegou a se apresentar como enviado
de Deus para religiosos que o enviaram para
um sanatório. Ali alternava m om entos de
lucidez e alucinações. Por volta de 1960,
passou a morar e trabalhar em uma clínica
psiquiátrica, onde deu início à sua produção
Sofá Papel, 1993, Irmãos Campana, papelão corrugado e ferro artística de fato.
Sua obra apresentava conexão com
a arte vanguardista europeia. Assim como
os dadaístas, coletava o material para suas
criações nos produtos descartados e no
lixo que recolhia pelas ruas. Fazia assem-
blagens com símbolos do candomblé e pin­
turas. Esculpia em pedaços de madeiras.

D edicou uma obra to ta lm e n te aos


sabonetes: vários recipientes de plástico
abrigando rótulos de Palmolive, Gessy, Lux.
Devido ao uso desses materiais, criados pela
tecnologia industrial, promoveu uma releitura
diferenciada dos artistas da Pop A rt.

Pegava roupas dos internos e as bor­


dava e rasgava, dando a elas uma nova Obra colheres, Artur Bispo do Rosário
versão. Fazia novas com binações e criava
linguagens inusitadas. Essa obra con siste na ju sta p o siçã o
de ta lh ere s. A in te n çã o não é clara; no
Prestou um serviço à humanidade e e n ta n to , podem os in fe rir as dificu ld ad es
à sociedade brasileira: recolheu entulhos e enfrentadas pelo artista. Viveu com o indi­
os transform ou em sonhos. Tirou sujeira e gente e depois foi considerado louco. Ima­
fez arte. A través dela deu voz às agruras ginem as circunstâncias a que o artista foi
humanas, ao expor sua própria loucura. exposto. Enquanto técnica, denom inam os
de assem blagem (colagem ), que é uma
Para alguns foi um louco. Para muitos form a moderna de concepção artística.
outros, um grande gênio a ser não só lem­
brado mas respeitado por todos.

Chaleira Alessi, Michael Graves, 1934


Manto da apresentação, Artur Bispo do Rosário, tecido e fio
118. 5 x 141 x 20 cm Com um form ato simplificado e muito
funcional, a chaleira Alessi constitui-se em
O Manto da apresentação é uma espécie um dos objetos mais comentados da década
de bata bordada sobre tecido, com superpo­ de 1980. A parte inferior mais larga e o afuni-
sição de cordas de cortina e que traz interna­ lamento superior caracterizam essa elegante
mente uma série de nomes que, segundo o peça cromada, com pegador de plástico. O
artista, seriam salvos juntamente com ele, no pássaro plástico, colocado na ponta do bico,
dia do Juízo Final. canta a cada vez que passa o vapor.
-
Artes Visuais da composição ilustrada na figura II, pro­
duz profundidade espacial.
QUESTÃO 7 (PAS/UnB) 3 . A presença de uma diagonal descenden­
te do canto esquerdo superior para o
canto direito inferior contribui para pro­
duzir simetria nas obras ilustradas.
4 . A distribuição das áreas de cor é inde­
pendente do ritmo da composição ilus­
trada na figura I.
5 . A similaridade das estruturas de compo­
sição em ambas as obras ilustradas pro­
duz conteúdos expressivos iguais.
Figura I - Paolo Ucello (1397-1475). A Batalha de São Romano.
Têmpera a ovo com óleo de nozes e linhaça sobre madeira, QUESTÃO 2 (PAS/UnB)
181,6cm x 320cm. National Gallery, Londres, 1440

Figura II - Pieter Brueghel, o Moço (1525-1569). Caçadores na Figura I - Giotto de Bondone (1267-1337).
neve, 117 cm x 162 cm. Museu de História da Arte, Viena, 1565 São Francisco recebendo os estigmas, Pintura sobre madeira,
3,13 m x 1,63 m. Museu do Louvre, Paris
As duas pinturas ilustradas acima, em­
bora tenham sido realizadas com mais de 1 0 0
anos de intervalo, apresentam similaridades
formais importantes. Com relação a essas
obras, julgue os itens seguintes.

1. Na pintura ilustrada na figura I, o ritmo pro­


duzido pelas lanças em diagonal, no lado es­
querdo da composição, produz dinamismo.
2. A diminuição progressiva dos troncos Figura II - Giovanni Bellini (1430-1 516). São Francisco em êxtase.
verticais das árvores, no lado esquerdo Têmpera e óleo sobre madeira. 124,4 cm x 141,9 cm, 1480

209
A pintura é, antes de tudo, uma compo­
sição na qual o artista organiza as qualidades
sensíveis da realidade observada para expres­
sar um conteúdo. Nesse contexto, e conside­
rando as pinturas de Giotto de Bondone e Gio-
vanni Bellini apresentadas acima, que ilustram
passagens da vida de São Francisco, julgue os
itens que se seguem.

1. Na obra ilustrada na figura I, a diferença


de tratamento entre as áreas em que se
encontram São Francisco e o Cristo ala­
do produz uma relação simbólica entre o
plano terreno e o plano divino.
2 . Uma variação na forma, como a inclina­ Figura II - Cena de caça. Eis Cavalls, Valltorta, Castellón.
ção de São Francisco para trás na obra Xilogravura, 39,2 cm x 28,3 cm, 1498

ilustrada na figura II, independe do signi­


ficado da cena.
3 . Embora São Francisco não se encontre
no centro geométrico da composição
ilustrada na figura II, a sua importância
na cena é acentuada pelo isolamento no
ambiente rochoso.
4 . A tendência de estruturar a composição
com elementos horizontais e verticais,
dominante em ambas as obras ilustra­
das, contribui para a instabilidade das
cenas.
5 . O tratamento da paisagem na obra ilus­
trada na figura I apresenta um grau de
naturalismo superior ao da ilustrada na
figura II. Figura III - Albrecht Dürer (1471-1528)
Combate de São Miguel com o dragão

Com relação às características de composição


QUESTÃO 3
e de estilo das obras reproduzidas nas figuras
I e II acima, julgue os itens a seguir.

1. Na obra representada na figura I, o ta­


manho exagerado do animal, centraliza­
do na cena, pode estar associado à sua
função simbólica.
2 . Na obra representada na figura I, a cena se
adapta a um suporte de formato horizontal.
Figura I - Caçada ao javali.
Museu Arqueológico Nacional, Florença 3 . Na obra representada na figura II, a mo­
vimentação dos elementos da composi-
ção é favorecida pela predominância de
linhas diagonais.
4 . A linha tem funções diferentes em cada
uma das obras: na representada na figu­
ra II, é ornamental, enquanto na repre­
sentada na figura I, delimita planos.
5 . Em ambas as obras, as formas são esti­
lizadas.

QUESTÃO 4

Na obra representada na figura III acima,


vê-se a luta de São Miguel contra o dragão. Com
relação às características formais e temáticas
dessa obra, julgue os itens subsequentes. Figura II - Cenas de aprendizagem, pintura sobre cerâmica
(vaso grego), 490-448 a.C.

1. Os personagens são tratados com a téc­


No Egito, ao dominar uma série de
nica de modelado para obter volume.
leis rigorosas, o artista dava por encerra­
2 . O artista utiliza recursos para obter da a sua aprendizagem. Ninguém queria
profundidade espacial com o desenho. coisas diferentes, ninguém lhe pedia que
3 . Na obra representada, a história é narrada fosse original. As figuras eram representa­
de forma sequencial. das da forma mais claramente visível. Na
Grécia, embora os artistas não copiassem
4 . Nesta obra, o espaço é dividido em duas a natureza tal como a viam, já não con­
faixas horizontais independentes. sideravam a fórmula de representação da
5 . O registro de grandes batalhas é um figura humana como algo sagrado, que de­
tema recorrente na história da arte. vesse ser seguida em todos os seus por­
menores. A grande revolução da arte gre­
QUESTÃO 5 (PAS/UnB) ga, a descoberta de formas naturais e do
escorço, ocorreu em uma época que é, aci­
ma de tudo, o mais assombroso período da
história humana. '

Ernest Gombrich. A história da arte. Zahar,


1979, p. 52 (com adaptações).

Com o auxílio do texto e das figuras acima,


julgue os itens que se seguem, acerca das
diferenças de estilo e de forma nas artes
egípcia e grega.

1. Na arte egípcia, os artistas utilizavam a


lei da frontalidade.
2 . As figuras humanas, na obra egípcia
mostrada na figura I, têm o mesmo ta­
Figura I - A deusa Hathor e o rei Sethi I, manho e, portanto, possuem a mesma
19a dinastia, 1303-1290 a.C. importância na cena.
3 . 0 desenho sobre o vaso grego mostrado
na figura II, embora naturalista, tem fun­
ção decorativa.
4 . Ao contrário do que mostra a obra de
arte egípcia representada na figura I, o
desenho do vaso grego representado na
figura II é estático.
5 . O autor do relevo egípcio mostrado na
figura I teve liberdade para escolher as
cores de sua pintura.
Figura II - Domenico Ghirlandaio (1449-1494). Casamento de
QUESTÃO 6 Maria, afresco. Igreja de Santa Maria Novella, Florença, 1491

Logo que o novo conceito de fazer do Com o auxílio do texto e das figuras aci­
quadro um espelho da realidade foi adota­ ma, julgue os seguintes itens, considerando as
do, a questão de como dispor as figuras diferenças estéticas e estilísticas inerentes às
deixou de ser tão fácil de solucionar. As duas obras, que pertencem a períodos distin­
figuras não se agrupam harmoniosamente, tos da história da arte.
nem se destacam nitidamente contra um
fundo neutro.
1. O congestionamento das figuras e ce­
nas, no relevo de Pisano, contrastam-se
O problema era particularmente sério
à ordenação geométrica das figuras e da
quando o artista se defrontava com a tarefa
arquitetura na pintura de Ghirlandaio.
de pintar grandes retábulos e outras obras se­
melhantes. Essas pinturas tinham de ser vis­ 2 . Na obra de Ghirlandaio, as figuras e o es­
tas de longe e tinham de se ajustar à moldura paço são distribuídos simetricamente, e
arquitetônica não só do altar, mas de toda a a tensão espacial é distribuída por todas
igreja. Além disso, tinham de apresentar uma as figuras humanas.
história sacra aos fiéis, de uma forma clara e 3 . A composição de Pisano é equilibrada
impressionante. pelo contorno preciso das formas.
4 . A profundidade espacial e o uso da pers­
pectiva são características renascentis­
tas da obra de Ghirlandaio.
5 . O naturalismo na obra de Pisano é uma
característica românica.

QUESTÃO 7

A busca da terra sem males. Esta narrativa


faz parte da mitologia contada pelos povos de lín­
gua tupi e relata a história de um povo na busca
da Terra sem Mal, da eterna fonte de juventude
de Maíra e de uma inesgotável profusão de ali­
Figura I - Nicola Pisano (1228-1278). Anunciação, natividade mentos e recursos em geral. De fato, mais ou
e pastores. Púlpito em mármore do batistério de Pisa, 1260
menos há 1.500 anos, partindo do Amazonas,
esses grupos empreenderam um enorme deslo­
camento populacional, expandindo seu território Com base no texto e nas figuras, julgue os
e alcançando, na época da colonização europeia, itens seguintes, acerca dos sambaquis e de
uma verdadeira unidade nacional. Suas aldeias outras evidências da arte e da cultura dos ha­
se distribuíam da Amazônia ao sul do Brasil, for­ bitantes primitivos do Brasil.
mando uma extensa faixa ao longo do litoral. Há
mais ou menos 6 . 0 0 0 anos, uma parte do litoral 1. Alguns sambaquis demoraram centenas
brasileiro começou a ser ocupada por grupos que, de anos para serem construídos.
utilizando os recursos oferecidos por oceanos, 2 . Os sambaquis eram construídos por gru­
mangues e lagunas, construíam sambaquis como pos que habitavam e exploravam o am­
o mostrado na figura I, abaixo, com cerca de 15 biente marinho.
m de altura. O nome sambaqui vem da língua tupi
(tampa - marisco e ki = amontoado), e é mais 3 . 0 objeto mostrado na figura II traduz a
ou menos isso que os sambaquis representam. manifestação de um valor cultural liga­
Em um sítio sambaqui, encontramos marcas de do à sobrevivência do grupo social que
fogueiras, de habitações, restos de alimentos e o produziu.
dezenas de sepultamentos. Encontramos, ainda, 4. A técnica de desbaste utilizada no traba­
muitos dos instrumentos que os grupos utilizavam lho em pedra mostrado na figura II per­
em suas atividades, como pontas de projéteis em mitiu obter detalhes minuciosos.
osso, lâminas de machado, quebra-coquinhos,
5 . As dimensões dos sambaquis e o seu
agulhas, pesos de rede, anzóis, além de objetos
destaque na paisagem fazem que eles
de arte, como o objeto de pedra representando
pareçam monumentos para a demarca­
uma ave mostrado na figura II, abaixo.
ção do território ocupado.
Arqueologia Brasileira, Itaucultural. Internet:
< www.itaucultural.org.br/arqueologia/pt/tempo/sambaquis/
QUESTÃO 8
monumentosOO.htm > (com adaptações)
O trecho a seguir traz a opinião de Ulpia-
no Bezerra de Meneses acerca da definição da
arte no período pré-colonial no Brasil.

É preciso evitar noções associadas ao fe­


nômeno artístico na civilização ocidental, em que
a produção internacional (ou a conversão de pro­
dução originada de outro contexto), a circulação
e o consumo de certos bens obedecem a tal es­
pecificidade, que é possível falar em categorias
Figura I - Sambaqui. Sítio Figueirinha-I, como objetos artísticos, artista, colecionador de
Jaguaruna, Santa Catarina arte, marchand e assim por diante. Dentro des­
sa perspectiva, é totalmente inadequado presumir
uma atividade artística para as culturas primitivas
e, portanto, tentar identificar uma classe de pro­
dutos de arte ou buscar especialização na sua ma­
nufatura. Por outro lado, remeter, como solução
alternativa, todos e quaisquer fenômenos formais
relevantes, nessas culturas, a um contexto ceri­
monial e a conteúdos simbólicos é praticar outra
forma de reducionismo que nada pode esclarecer.

Ulpiano Bezerra de Meneses. A arte no período pré-colonial.


In: Walter Zanini. História gerai da arte no Brasil. São Paulo,
Figura II - Zoolito, acervo do MAE-USP
Instituto Walther Moreira Salles, 1982, v. 1, p. 21
teúdo, e este conteúdo tem de comunicar-se
diretamente, visualmente.

Fayga Ostrower (1970). In: Frederico Morais. Arte é o que eu


e você chamamos arte. Rio de Janeiro: Record, 1998, p. 135

Figura I - Gislebertus. Detalhe da portada norte da Igreja de


Saint-Lazare de Autun, pedra, Museu Rolin: Autun

Urna funerária antropomorfa - fase Maracá. Amapá, Museu,


Nacional da Quinta da Boa Vista. Internet : < h ttp://w w w .
itaucultural.org.b r> . Acesso em dez./2001

A partir do texto e da figura acima, que mos­


tra uma urna funerária confeccionada em argi­
la, julgue os itens a seguir.

1. A urna exibida não tem função utilitária.


2 . Os pés da figura humana representada
pela urna mostrada têm também a fun­
Figura II - Anônimo. A visitação. Detalhe da portada ocidental
ção de dar apoio ao objeto. da Catedral de Notre-Dame, pedra, Reims

3 . 0material utilizado na confecção da urna


mostrada na figura é raro no Brasil. Considerando o texto, as figuras I e II acima
4 . A cerâmica é geralmente produzida por e o contexto social da Idade Média, julgue os
sociedades que não atingiram um está­ itens que se seguem.
gio agrícola.
1. A figura I é mais realista que a figura II.
5 . Conforme o exemplo da urna exibida na
figura, as irregularidades na superfície 2. Na Idade Média, a decoração das igrejas
do objeto em cerâmica tornam sua for­ tinha a função de ilustrar passagens da
ma assimétrica. Bíblia.
3 . Na figura I, o naturalismo não se associa
QUESTÃO 9 (PAS/UnB)
ao antropocentrismo.

Nas artes visuais, o conteúdo não pode 4 . Na Idade Média, a decoração das igrejas
ser desvinculado da precisa materialidade físi­ não era limitada pela estrutura arquite­
ca em que ocorre — o conteúdo não é senão a tônica.
ordenação espacial da matéria, intransponível 5 . Para executar uma escultura em pedra, o
para outros meios. A forma total é o seu con­ artista retira material da peça original.

214
QUESTÃO TO QUESTÃO 7 7

A técnica é o resultado de uma necessida­


de. Novas necessidades exigem novas técnicas.

Jackson Pollock. In: Frederico Morais. Arte é o que eu e você


chamamos arte. Rio de Janeiro: Record, 1998, p. 79

Figura I - Vaso marajoara com cariátides. Itaucultural. Inter­


net: http://w w w .itaucultural. org.br/arqueologia/pt/oq arqueo-
Iogia/images_gr/oquee06. JPG >

Figura I - Sítio arqueológico Pousada das Araras. Fazenda


Pedraria, município de Serranópolis, Goiás

Figura II - Muiraquitã. Internet: http://w ww .tvliberal.com .br> .


Acesso em fev./2003

A partir das figuras I e II acima, que mostram


dois exemplares da arte pré-colonial brasileira,
julgue os itens a seguir.
Figura II - Anônimo, Museu Arqueológico: Herákleion - Creta,
1. A posição simétrica das cariátides na fi­ em torno de 1 500 a.C.

gura I produz um ritmo regular na forma


do vaso. Considerando a afirmação e as figuras I e II
acima, julgue os itens seguintes.
2 . O uso de cariátides na cerâmica marajoara
reflete influências da arquitetura grega.
1. Na figura I, as formas são modeladas
3 . A estilização acentuada do muiraquitã
com claro/escuro.
proporciona um registro fiel da fauna
amazônica. 2. Na figura II, o artista preocupou-se em
representar a cena de modo naturalista.
4 . Nos objetos de uso cotidiano dos povos
indígenas brasileiros, percebe-se uma 3 . Na Pré-história, utilizavam-se pigmentos
preocupação naturalista. sintéticos na pintura mural.

5 . A cerâmica é uma técnica muito utiliza­ 4 . O suporte da figura II, a parede, é rebo­
da pelos povos indígenas brasileiros. cado para se criar uma superfície plana.
___________

5 . A superfície onde é pintada a figura II fa­ nascimento e o declínio de um espaço


0
vorece a obtenção de linhas contínuas. plástico está ligado ao nascimento e ao declí­
nio de um determinado estado de civilização.
QUESTÃO 12 Não foram somente uma nova estrutura e uma
nova pintura que surgiram no Renascimento,
mas uma nova sociedade e quase, material­
mente falando, um novo mundo.

Pierre Francastel (1951). In: Frederico Morais. Arte é o que eu


e você chamamos arte. Rio de Janeiro: Record, 1998, p. 235

Considerando o texto e as imagens acima, jul­


gue os itens a seguir.

1. As imagens reproduzidas exemplificam a


importância do mecenato eclesiástico no
Renascimento italiano.
2 . Na figura I, a composição produz uma
profundidade espacial.
3 . Na figura I, a posição das personagens é
aleatória e não contribui para a estrutura
da composição.
4 . Rafael Sanzio não utilizava os novos co­
nhecimentos trazidos pela arte renascen­
tista italiana.
5 . No Renascimento italiano, os papéis da
igreja e do Estado se confundem.

Figura I - Rafael Sanzio (1483-1520). A transfiguração.


QUESTÃO 13 (PAS/UnB)
Óleo sobre madeira, 405cm x 278cm.
Pinacoteca do Vaticano, 1518- 20

Figura II - Rafael Sanzio (1483-1520). O cardeal. Figura I - Anônimo. O milagre dos pães e dos peixes. Mosaico na Ba­
Óleo sobre tela, 79 cm x 61 cm. Museu do Prado, 1510 sílica de Santo Apolinário, o Novo. Ravena, Itália, cerca de 520 d.C.
A partir do ano 311, quando o Impe­
rador Constantino estabeleceu que a Igreja
Cristã era um poder no Estado, os lugares
de culto a serem construídos não poderiam
ser semelhantes aos templos pagãos e tam ­
pouco seus adornos semelhantes às está­
tuas que representavam os deuses da An­
tiguidade. Às pinturas, que não ofereciam
o risco de serem confundidas com as ima­
gens pagãs, era atribuído ao final do sécu­
lo VI um outro papel, que, nas palavras do
Papa Gregório, o Grande, consistia em po­
der "fazer pelos analfabetos o que a escrita
faz para os que sabem ler". Apesar disso,
em 745, nas regiões orientais do Império
Romano, toda a arte figurativa religiosa foi
Figura II - Giotto di Stefano (Giottino). Pietá. Têmpera sobre proibida e, mais tarde, somente as pinturas
madeira. 195 cm x 1 34 cm, cerca de 1365
que respeitavam certos modos permitidos
de representar o Cristo ou a Virgem eram
aceitas como verdadeiras imagens sacras
ou ícones. A partir do século XV, o artista
deixa de ser um artífice entre artífices para
ter autonomia e explorar os mistérios da na­
tureza e sondar as leis secretas do univer­
so. A exploração da natureza torna-se meio
de adquirir conhecimentos sobre o mundo
visível, já que as obras de arte, como hoje,
eram frequentemente julgadas pelos leigos
de acordo com o grau de fidelidade ao mun­
do real. Entretanto, em decorrência do estu­
do das estátuas da antiguidade, os artistas
do século XVI abandonaram gradualmente
os métodos de reprodução fiel da natureza
e passaram a representar o que viam com
Figura III - Giovanni Bellini e Ticiano. O banquete dos deuses. um tipo idealizado de beleza regular.
Óleo sobre tela. 170,2cm x188cm , 1490-1576

E.H. Gombrich. A História da Arte. 4 a ed. Rio de Janeiro:


Zahar Editores, 1985 (com adaptações)

Considerando o texto e as figuras de I a IV


acima, julgue os itens seguintes, acerca das
variações na produção de imagens dos sécu­
los VI a XVI.

1, Nas figuras de I a IV, o uso de diferentes


Figura IV - Leonardo da Vinci. A última ceia. Afresco no
Refeitório do Mosteiro de Santa Maria delle Grazie. Milão,
técnicas e formatos determina as quali­
Itália, entre 1495 e 1498 dades pictóricas das imagens.

■ —
SBSfei*
217
2 . 0 uso da técnica de mosaico na figura I de­ QUESTÃO 14 (PAS/UnB)
termina a função decorativa da imagem.
3 . Nas figuras de I a IV, os grupos de per­
sonagens configuram faixas horizontais
cujo peso predomina na composição.
4 . Embora semelhantes na forma, as figu­
ras de I a IV diferem no conteúdo.
5 . Na figura I, o detalhamento das pregas
das roupas contribui para o naturalismo
da cena.
Figura I - Procissão de figuras antropomórficas pintadas na gru­
6 . A cruz é o elemento central tanto na ta de Balé, região da Lagoa Santa - MG, sem data especificada
estrutura da imagem de Cristo na figu­
ra I quanto na forma representada na
figura II.
7 . As formas arredondadas das figuras ao
redor de Cristo em II configuram uma
área de destaque na composição em
primeiro plano.
8 . Sem a perspectiva linear, tanto o mosai­
co na figura I quanto a pintura bizantina
Figura II - Imagem azteca que representa um
na figura II não possuem profundidade guerreiro passando por diversas fases da morte
espacial.
9 . A figura II permite concluir que, para
produzir ícones do sagrado, o artista bi­
zantino desvalorizava o uso da cor.
10. Em contraposição à figura II, em IV a
composição do cenário humaniza a cena
religiosa.
11. As figuras II e IV ilustram de que forma
o antropocentrismo predominou tanto na
Arte Bizantina quanto no Renascimento.
12. Na figura IV, as linhas diagonais que se Figura III - Hércules estrangulando o leão de Neméia
originam na imagem de Cristo descen­ (detalhe). Psíax, ânfora ática de figuras em preto, de Vulci,
tralizam a composição. período arcaico, c. 525 b. C. Museu Cívico, Brescia - Itália

13. Nas figuras III e IV, a alternância entre


planos de luz e sombra produz profundi­
dade espacial.
14. Na figura III, o artista, sob a influência da
Antiguidade, representa um tema pagão
por meio de uma cena na qual homens
e deuses são mostrados em uma relação
não-hierárquica.
15. A figura III apresenta relação figura/fun-
do mais estática que as demais. Figura IV - Estudos de pés, Vogtther, 1538
2 . Na arte rupestre brasileira, predominam
as formas humanas e animais, sendo in-
comuns as formas geométricas.
3 . Os temas relacionados à gravidez (fertili­
dade) não são comuns nas obras de arte
rupestre, seja naquelas encontradas no
Brasil, seja em outros países.
4. A pintura ilustrada na figura V apresen­
ta características relacionadas ao estilo
gótico encontrado ao norte dos Alpes.
Nela, podem ser observadas as ex­
pressões faciais dos personagens.
5 . A superposição das figuras e a tentativa
de se mostrarem objetos em perspectiva
Figura V - Ressurreição, Mestre do Altar Trebon, antes de 1380.
intensificam o aspecto de profundidade
National Gallery, Convent of St. George, Praga - República Checa na pintura ilustrada na figura V.
6 . A figura III ilustra uma pintura que re­
No livro Arte e Ilusão, ao discutir o pro­ trata feitos mitológicos importantes para
cesso psicológico de "esquema e correção", a cultura grega, mas, apesar de seu sig­
Ernest Gombrich afirma: "Para a Idade Média, nificado e da maestria de execução, é
o esquema é a imagem. Para o artista pós- considerada obra de menor importância,
medieval, é o ponto de partida para correções, até os dias atuais, uma vez que a pintura
ajustamentos, adaptações; o meio de sondar a foi feita sobre um vaso cerâmico.
realidade e de lutar com o particular. A marca
7. Os escultores e arquitetos gregos domi­
do artista medieval é a linha firme, testemu­
navam a tecnologia do mármore e eram
nho da sua mestria no ofício escolhido. A do
exímios conhecedores das proporções.
artista pós-medieval não é a facilidade, que ele
Arte e arquitetura eram integradas, o
evita, mas a constante vigilância: seu sintoma
que transformava algumas edificações
é o esboço, ou melhor, os muitos esboços que
gregas em verdadeiras obras de arte.
precedem a obra acabada; e, mesmo com toda
a perícia manual e visual que caracteriza um 8 . A escultura romana, apesar de apresen­
mestre, é a constante disposição de aprender, tar correção nas proporções utilizadas,
de fazer, de combinar e recombinar, até que nada acrescentou à produção escultórica
o retrato deixe de ser um retrato de segunda universal, pois predominaram as cópias
mão e reflita a experiência — singular e única das esculturas gregas.
— que o artista deseja captar e conservar. É
9 , Enquanto os mosaicos romanos eram exe­
essa busca incessante, é essa sagrada insatis­
cutados com tesselas de mármore e, muitas
fação que constitui o fermento da mente oci­ vezes, aplicados sobre os pisos das cons­
dental desde a Renascença e que impregna a
truções, os mosaicos representativos da
nossa arte não menos que a nossa ciência."
arte cristã primitiva cobriam as paredes das
igrejas e eram feitos com vidros coloridos, o
Considerando o texto e as figuras, julgue os que lhes permitia simular o brilho celestial.
itens seguintes.
10. Além da perspectiva oblíqua, o escorço
é outra estratégia utilizada pelo artista
1, Na figura I, o artista usou a linha como do Renascimento para criar efeitos de
elemento formal dominante, mas não con­ profundidade espacial, como pode ser
seguiu transmitir a ideia de movimento. observado na figura IV.
11. Comparando-se as figuras II e IV, é cor­ QUESTÃO 16
reto afirmar que a primeira cria um efeito
de profundidade temporal e a segunda, "Não se dissocia da palavra teatro uma
um efeito de profundidade espacial. ideia de visão", assim julgue os itens para me­
12. Para o autor Ernest Gombrich, a realiza­ lhor compreender o que é teatro:
ção do esboço é o "sintoma" de que a
arte ocidental, desde o Renascimento, 1. O fenômeno teatral se processa a partir
utiliza o método experimental, geral­ da comunicação do ator com o público
mente atribuído à ciência. por meio da palavra, que é instrumento
13. De acordo com o texto apresentado, é de arte literária.
correto concluir que a autoria era valori­ 2 . O teatro é uma arte pura, pois só ele é
zada na arte da Idade Média, opondo-se capaz de, em poucas horas, mostrar um
aos esquemas da tradição dos mestres quadro tão real quanto a realidade de
de cada ofício. seu público.
14. O termo maneirismo foi criado para se 3 . Ao montar uma peça o diretor deve
identificarem as obras de artistas que preocupar-se com o trabalho exclusivo
acentuavam sua maneira pessoal de tra­ do ator, do cenário, pois o público é pas­
tar a cor e a forma, seguindo a norma sivo e imutável.
renascentista de representação da reali­
4 . As representações ou rituais, tomando
dade.
forma de teatro, passam a ter várias fun­
15 . Comparando-se as imagens apresenta­ ções: política, social, religiosa e de di­
das, é correto concluir que os diversos versão.
estilos artísticos espelham as diferentes
visões do mundo de cada época da so­ QUESTÃO 17
ciedade em que foram produzidas.
"Criar não representa um relaxamento ou
um esvaziamento pessoal, nem uma substitui­
Artes Cênicas e Música ção imaginativa da realidade, criar representa
uma intensificação do viver, um vivenciar-se
no fazer; (...)"
QUESTÃO 15
(Faya Ostrowe - Universidade da Arte)
Sobre a linguagem, é correto afirmar:
A partir do texto acima, julgue os itens:
1. 0 homem é um animal político, porque
somente ele é dotado de linguagem, 1. Ao fabricar uma panela de barro, o homem
possui a voz(phone) que modela o pen­ primitivo não foi criativo o bastante, apenas
samento. exerceu uma prática de sua necessidade.
2 . Sendo simbólica, a linguagem comunica 2 . A expressão está inserida na cultura e no
idéias, valores e sentimentos. sentimento de um determinado grupo, e
representam suas histórias passadas ou
3 . Pantomima é a forma como o ator mími­
presentes, despertando sentimentos e
co representa. É muito usada em teatro
idéias.
de comédia, circos, etc.
3 . O processo criativo está ligado direta­
4 . No sistema de linguagem simbólica, é
mente com à inspiração do artista, sem a
necessária a presença física das coisas
qual nada será desenvolvido ou criado.
para que seja apreciada.
4. O trabalho criativo é um processo es­ 4 , Cada diretor tem seu estilo próprio de
sencialmente consciente e racional, um encenar um espetáculo, mas cada um
processo ao fim do qual nasce a obra de tem sua função diferenciada.
arte como realidade dominada.
QUESTÃO 2 0
QUESTÃO 18
Sobre os signos teatrais, julgue a veracidade
Sobre os termos da linguagem teatral, julgue dos itens:
os itens:
1. Os acessórios, o cenário, o figurino, a
1. É o figurino um elemento pelo qual são iluminação fazem parte do conjunto dos
fornecidas, de modo sutil, informações a signos teatrais.
respeito do ator.
2 . Vestuário, luz, som e maquiagem fazem
2 . Sonoplastia é uma escritura no espaço parte da aparência do ator.
em três dimensões, empregando signos
3 . Mímica, gesto e movimento compreen­
e sinais à encenação.
dem a expressão corporal.
3 . É a iluminação um elemento de múltiplas
4 . Elementos portáteis, como quadros, es­
funções num espetáculo, empregando
tátuas, placas, telas, máscaras, cubos,
cores, causando efeitos emocionais,
etc., são elementos de complementação
temporais, climáticos e de localização.
ou de decoração do cenário.
4. 0 objetivo da maquiagem é transformar
o rosto do ator num elemento expressivo QUESTÃO 21
para a mímica.
Julgue a veracidade dos itens a respeito
QUESTÃO 19 do teatro grego:

"(...) 0 diretor é um artista, bom ou mau,


1. Na tragédia grega a música é um elemen­
já que cria uma forma teatral para a ideia que
to de grande importância, em que eram
apreende da peça".
marcadas as evoluções do coro.
(Stark Young - O Teatro - p.92) 2 . Tanto na Grécia como em Roma, os espe­
táculos eram apresentados ao anoitecer,
A partir da ideia acima, julgue a veracidade pois usavam tochas para iluminar o palco.
dos itens:
3 . Já na Grécia, havia uma preocupação com
a cenografia. Usavam mecanismos desti­
1. Em toda a história do teatro o papel do nados a produzir efeitos especiais que en­
diretor sempre foi o mesmo: representar riqueciam o aspecto visual do espetáculo:
a arte literária como outra forma de ex­ o ekidema, a mecané e a teologeion.
pressão.
4 . A indumentária do teatro grego era com­
2 . O aparecimento do diretor ou encenador posta por: máscaras, coturnos e túni­
data, mais ou menos, da segunda meta­ cas bem grandes, transformando o ator
de do séc. XIX, com a função de orga­ numa figura escultórica.
nizar o texto literário.
QUESTÃO 2 2
3 . Uma das funções do diretor, como meio
da expressão artística, é a de definir a
"Com o aparecimento de Téspis as no­
coerência do espetáculo.
vas formas do drama foram estratificadas (...)
(...) foi corifeu em sua mocidade." Pode-se QUESTÃO 2 4
dizer que Téspis criou o ator ou respondedor
(hypocrita), o qual representava todos os pa­ A história da música pode ser dividida
péis requeridos pelas perguntas do coro. em períodos distintos, que vão do Período Me­
dieval até a música do século XXI, passando
Sobre a evolução do teatro grego, é correto por significativas mudanças desde a polifonia
afirmar: vocal até a música eletrônica.

Com base no texto, julgue os itens:


1 Ao se organizarem os festivais de teatro,
o coro foi consumido pela importância
do ator em cena. 1_ O cantochão pode ser considerado o esti­
lo musical mais antigo que conhecemos.
2 . Prólogo, momento em que um ator ou
mais dialogam com o espectador para 2 . A música grega foi muito valorizada pe­
situá-lo na peça. los romanos, devido ao desinteresse de­
les pela arte.
3 . Ditirambo, que a princípio era improvisa­
do, era o hino com que o coro saudava o 3 . A Igreja Católica ajudou muito na popu­
deus. Era formado por 50 pessoas. larização da música, mas sua intenção
era somente divulgar suas crenças.
4 . Ao dialogar com o corifeu, o ator desa­
parecia no fim de cada episódio, reapare­ 4 . A música teve um grande festival que
cendo encarnando outro personagem ajudou muito na sua valorização históri­
da ação. O lugar onde se trocava era ca. Tal festival ficou conhecido como
chamado de skênê. Festival de Atenas.

QUESTÃO 2 5
QUESTÃO 2 3
"Fecundadas pelo trabalho negro, as capi­
Algumas peças musicais apresentam tanias de Pernambuco e Bahia ganharam vida.
uma sonoridade bem densa, rica e com fluido Ao longo do litoral floresceram os canaviais e se
facilitado. Outras podem mostrar-se com os multiplicaram os engenhos. Ao final do século
sons mais rarefeitos e esparsos, produzindo, XVI, Pernambuco e Bahia já se sobressaíam no
por vezes, um efeito penetrante e agressivo. mercado mundial como maiores produtores de
A isso podemos chamar de tessitura, com­ açúcar. Para que isso fosse possível, os trafican­
parando à trama formada pelos fios de um tes descarregavam, nas costas brasileiras, uma
tecido. média anual de cinco mil negros".

Com base no texto, julgue os itens: (Décio Freitas - Palmares - a guerra dos escravos)

De acordo com o texto acima, julgue os itens:


-j Monofônica, constituída por uma única
harmonia destituída de qualquer melodia. 1. A música negra chegou ao Brasil com
2. Polifônica, duas ou mais linhas melódi­ batuques, cantos e danças.
cas entretecidas ao mesmo tempo. 2 . Os negros cantavam e tocavam porque
3 . Homofônica, uma única melodia é ouvida estavam felizes em terras brasileiras.
contra um acompanhamento de acordes. 3 . O sincretismo dos rituais negros fez com
4 . Tessitura, sons agressivos e muito rare­ que a música brasileira seguisse para
feitos, tocados por instrumentos de corda. uma vertente mais religiosa.
4. A capoeira pode ser considerada uma QUESTÃO 2 8
dança - luta em função de ter a música
4s. como objeto principal dessa modalidade Ao escrever uma peça de música, o com­
esportiva e artística. positor está combinando simultaneamente di­
versos elementos musicais.
QUESTÃO 2 6
Dentre esses elementos, destacam-se:
O canto estridente e monótono próprio
da música ameríndia, quase sempre acompa­
1. Melodia, harmonia, ritmo, timbre, forma
nhado de instrumentos ruidosos, foi recebendo
o influxo direto dos cânticos serenos, melodio­ e tessitura.
sos e tão cheios de sentimentos religiosos dos 2 . Melodia, harmonia, ritmo, timbre, forma
missionários jesuítas. e tempo.
3 . Harmonia, ritmo, melodia, duração e tes­
De acordo com o texto, julgue os itens:
situra.
4 . Ritmo, harmonia, timbre, duração e
1. Entre os primeiros missionários, destaca-
tessitura.
se o Padre Navarro, que traduzia os cân­
ticos religiosos para os índios.
QUESTÃO 2 9
2 . Os jesuítas foram responsáveis pela lei­
tura musical entre os índios. Partindo da ideia do igual e do diferente,
3 . Os índios não usavam tipo algum de ins­ o cineasta Torero fez um documentário a res­
trumento em seus rituais. peito da história de imigrantes na cidade de
São Paulo — a partir de cabelos! "Cabelos são
4 . Os jesuítas atraíam primeiro os adultos, como impressões digitais: únicos. Eles deter­
para depois conquistar as crianças. minam diferenças individuais. Mas cada raça
tem um cabelo, e aí é tudo muito igual".
QUESTÃO 2 7
Silvana Arantes. Cineasta leva o mundo para a barbearia.
A música nasceu com a natureza. Ao In: Folha de S. Paulo, 6/12/2002
considerarmos que seus elementos formais, o
som e o ritmo, fazem parte do universo e par­ Analogicamente, abordagem semelhante
ticularmente da estrutura humana: à do texto acima pode ser aplicada à música:
todas as culturas têm música. Mas cada cul­
1. Podemos considerar a voz humana como tura, cada grupo e até mesmo cada indivíduo
o primeiro instrumento conhecido. tem a sua música.

2 . Os sons da natureza podem ser conside­ Relacionando as informações dos textos


rados sons artificiais. acima com os quadros do texto I, julgue os
3 . O violão, considerado o instrumento mais itens subsequentes:
socializante, exige que o aluno tenha um
conhecimento prévio sobre notação mu­ 1. No Nordeste, um traço característico do es­
sical e afinação. tilo associado ao quadro II é o acompanha­
4. O timbre vocal da cantora Cássia Eller pode mento instrumental constante, marcando o
ser comparado ao instrumento baixo. ritmo dos versos do cantador.

5 . O tenor Luciano Pavarotti foi considerado 2. A combinação de scratchs, grooves,


o maior barítono de todos os tempos. styles e beatbox são elementos pecu­
liares do quadro I.
A polifonia formada em determinados
trechos da música, com vozes cada vez I_ No texto M-l, é mencionado o papel for­
mais agudas que a principal, com sons mador e transformador da arte em uma
abertos e timbres penetrantes seguran­ ação tipicamente assistencialista.
do um mesmo acorde, faz da música do
I 0 texto M-ll expressa uma crítica a políti­
quadro V uma experiência musical única.
cas assistencialistas.
4. 0 uso de melismas remete o ouvinte ao
3 0 provérbio popular "Ensine a pescar
quadro II.
em vez de dar o peixe" traduz, de forma
5. As características mais marcantes das metafórica, idéias apresentadas nos dois
músicas relacionadas ao quadro IV são a textos.
liberdade e o ecletismo no uso e na com­
\ Uma característica comum entre uma
binação de estilos e instrumentação.
cooperativa de catadores de lixo e a
festa do Maracatu é que ambas envol­
QUESTÃO 3 0
vem atitudes de solidariedade, especial­
mente porque realizam atividades em
Texto M-l
conjunto e o bom resultado do trabalho
desenvolvido depende da colaboração
Por meio da música, os Meninos do
de todos.
Morumbi dão voz à fome, à exclusão, ao
abandono, às desigualdades sociais, às si­ 5 . Os catadores de lixo de Brasília prestam
tuações de risco pessoal e social em que vi­ importante serviço ao bioma Cerrado, ao
vem seus integrantes. O papel formador e realizarem a coleta seletiva de lixo para
transformador da arte surge como um gri­ a reciclagem de materiais reutilizáveis.
to coletivo pela cidadania (...) "O projeto é Esse é exatamente o tema da letra de
mais que um desafio, é uma luta, onde os Quebra-mar, da banda Charlie Brown Jr.
tambores, como clarins guerreiros, chegam
6 . Vozes da Seca e O Xote das Meninas
para provocar um canto, onde o direito à li­ têm em comum a regularidade rítmica do
berdade, ao respeito, à dignidade, à vida e
triângulo.
ao ser cidadão tornam-se instrumentos para
a construção da cidadania e dos direitos hu­ 7 . Tanto o maracatu nação quanto o ma­
manos", diz Flávio Pimenta, coordenador racatu rural combinam vozes e instru­
do projeto Meninos do Morumbi. Cada vez mentos, em solo ou em conjunto. No
mais requisitados, os Meninos do Morum­ entanto, as diferenças entre eles são
bi tocam, dançam e cantam mais de vinte encontradas nos padrões rítmicos usa­
arranjos diferentes, como jongo, maracatu, dos, na instrumentação e na forma de
funk, samba e aguerê. combinar voz e instrumentos.
8 . Nos maracatus, o diálogo do cantador
Internet: < http://www.meninosdomorumbi.org.br/
com o coro é um exemplo de cânone.
banda/partituras/maracatu.htm> (com adaptações)
9 . No repertório dos Meninos do Morum­
Texto M-ll bi (texto M-l) está incluído o estilo da
música Vozes da Seca (texto M-ll).
"Mas doutô uma esmola a um homem que é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão"

Luiz Gonzaga e Zé Dantas. Fragmento de Vozes da Seca.

Com base nas idéias dos textos M-l e M-ll aci­


ma, julgue os itens seguintes:
QUESTÃO 1 (PAS/UnB) pela parte do fluido anteriormente aquecido. Esse
processo se repete inúmeras vezes enquanto o
aquecimento é mantido dando origem às chama­
das correntes de convecção. São as correntes de
convecção que mantêm o fluido em circulação.

Internet: < w w w .c iti.p t>

No quadro acima, estão mostrados qua­


tro conjuntos de linhas, em quadrantes dis­ Trabalhadores franceses do século XIX (cena do filme
tintos, que permitem remeter à ideia dos ele­ Germinai). Internet: < w ww .reelw ork.org>
mentos da natureza: ar, água, terra e fogo.
Com base nessa informação, julgue os itens
a seguir.

1. Os conjuntos de linhas dos dois quadran­


tes inferiores permitem remeter à ideia
dos seguintes elementos da natureza:
água e terra.
2 . As linhas onduladas verticais podem re­
presentar o elemento fogo, pois remetem Trabalhadores de minas de carvão da região de Dhaubad,
à ideia do movimento convectivo asso­ índia, 1989. Internet: < w ww .terra.com .br>

ciado ao calor, que provoca o tremular


de imagens devido à variação do índice A partir das imagens acima e considerando
de refração do ar. o processo histórico de industrialização do mun­
do ocidental, com suas transformações sociais,
Quando uma certa massa de um fluido é ambientais e culturais, julgue os itens seguintes.
aquecida suas moléculas passam a mover-se mais
rapidamente, afastando-se, em média, uma das 3 . No século XIX, o uso do preto-e-branco
outras. Como o volume ocupado por essa massa em fotografias era questão de escolha
fluida aumenta, ela torna-se menos densa. A ten­ estética.
dência dessa massa menos densa no interior do
4 . A crítica à exploração do homem pelo
fluido como um todo é sofrer um movimento de
homem, uma das faces da industrializa­
ascensão ocupando o lugar das massas do flui­
ção, é tema recorrente na obra de Ber-
do que estão a uma temperatura inferior. A par­
told Brecht, para quem o teatro devia ser
te do fluido mais fria (mais densa) move-se para
um espaço de transformação social.
baixo tomando o lugar que antes era ocupado

225
que estes rejeitavam os rituais cristãos
de morte e realizavam os seus próprios
rituais, de acordo com as suas tradições.
6. Há, na cena ilustrada, escravos portando
tabuleiros com alimentos, o que indica
o afastamento do artista em relação à
fidedignidade dos fatos retratados, visto
que os escravos urbanos eram impedi­
dos por lei de realizar comércio.

Jean Baptiste Debret. Enterro de uma mulher negra.


In: Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. São Paulo:
Edusp. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989

O impacto da varíola sobre os escravos ca­


riocas pode ser compreendido como uma refe­
rência à longa campanha de saúde pública para
controlar a doença por meio da inoculação, no
organismo humano, de vírus vivos para produzir
um caso brando. Após a sua introdução no Brasil,
Figura I Jacob A Riis. Árabes de rua
em 1804 , a campanha contra a varíola enfatiza­ na área da rua Mulberry, 1889
va duas abordagens: vacinação dos africanos em
Angola e de bebês e escravos novos no Rio. Ape­
sar do fracasso inicial em garantir a vacinação
de escravos em Angola, os traficantes acabaram
percebendo que os africanos vacinados sobre­
viviam mais nos navios negreiros e, na década
de 1840 , com a vacinação dos africanos antes
da partida para o Brasil, diminuira o número de
mortos pela doença. Havia, no entanto, muitas
regiões na África e no Brasil onde os escravos não
eram vacinados e a cidade defrontava-se sempre
com o risco da chegada de gente infectada.

Mary Karasch. A vida dos escravos no Rio de Janeiro, 1808-1850.


São Paulo: Cia. das Letras, 2000, p. 215 (com adaptações) Figura II Vick Muniz, Valentina - a mais rápida

Considerando a figura acima, que repre­ A figura I ilustra a condição de vida miserá­
senta o ritual funerário de uma mulher negra nas vel dos imigrantes na cidade de Nova Iorque, no
ruas da cidade do Rio de Janeiro, o trecho da final do século XIX. A figura II é uma reprodução
obra de Mary Karasch, bem como as condições do retrato de Valentina, obra de Vick Muniz. Con­
de vida dos escravos na sociedade brasileira no siderando essas figuras, julgue os itens a seguir.
século XIX, julgue os itens que se seguem.
7. Na figura I, a composição da foto, que refor­
5. Na cena ilustrada, a igreja está de por­ ça a amplitude espacial, retrata um cenário
tas abertas e os escravos concentrados de esperança à possibilidade de superação
do lado de fora, o que retrata o fato de da miséria em grandes centros urbanos.

——
226
EBBBÊÈ
8. Ao empregar o açúcar, material frágil e
doce, para construir a imagem de uma
criança explorada pelo trabalho em ca­
naviais —figura II —, Vick Muniz oculta
o sofrimento e a violência de tal práti­
ca, ressaltando os aspectos delicados e
agradáveis da infância de Valentina, sím­
bolo de uma criança operária.

QUESTÃO 2 (PAS/UnB)

Figura IV - Igreja de São Francisco, 1774,


João Pessoa- PB

Figura I - Peter Paul Rubens. As três graças, 1638


Figura V - Basílica do Carmo, 1767, Recife - PE

Figura II - François Boucher. Odalisca ou


Mademoiselle 'Murphy, 1745 Figura VI - Igreja de São Francisco, 1723, Salvador-BA

Figura III - Eugène Delacroix. Figura VII - Jacques-Louis Day.


A liberdade guiando o povo, 1830 O juramento dos Horácios, 1784

227
A arte antecipa a medicina: médico 4. 0 Rococó teve sua origem vinculada à
encontra em tela do século XVII sintomas nobreza e à vida mundana e hedonista.
de doença descrita 327 anos depois. O pin­ Porém, apesar de sua procedência, o
tor Peter Paul Rubens mal poderia supor que Rococó terminou por penetrar também
uma tela pintada por ele em 1 638 contribui­ na arte sacra, marcadamente ligada ao
ría para o estudo de uma doença descober­ Barroco.
ta mais de três séculos depois. O quadro foi
5. Na Europa, Barroco e Rococó tiveram
usado pelo médico J. Dequeker, da Universi­
seu contraponto na arte neoclássica,
dade Gasthuisberg, Bélgica, para traçar um
que rejeitava o estilo associado ao ex­
panorama histórico da síndrome de hipermo-
cesso e aos detalhes ornamentais e de­
bilidade. Dequeker procurava sinais de distúr­
fendia o modelo de equilíbrio, clareza e
bios reumáticos em pinturas antigas quando proporção clássicos. No Neoclassicismo,
se deparou com A s Três Graças, de Rubens
a sinuosidade típica das estéticas bar­
(figura I, ao lado). A tela mostra três irmãs que
roca e rococó foi abandonada em função
apresentam traços típicos da síndrome de hi-
de um rigor formal, como fica evidente
permobilidade adquirida hereditariamente. Na na comparação entre as obras ilustradas
tela, a mulher do meio mostra claramente a
nas figuras I e VII.
escoliose manifesta na forma de S na coluna
e sinal de Trendelenburg positivo: quando o
quadril 'cai' para o lado oposto ao que seria
natural para equilibrar o peso do corpo.

Sarita Coelho. In: Ciência Hoje, 23/11/2001


(com adaptações)

Considerando as obras ilustradas nas figuras


de I a VII e o texto acima, julgue os itens a
seguir, acerca das manifestações do Barroco,
do Rococó e do Neoclassicismo.

José Maria de Medeiros. Iracema


1. A descoberta realizada pelo médico J.
Dequeker a partir do estudo do quadro Apenas alvorou o dia, ela moveu o passo
de Rubens, a que se refere o texto, evi­ rápido para a lagoa, e chegou à margem. A
dencia que esse pintor manteve estreita flecha lá estava como na véspera: o esposo
relação com a ciência, utilizando princí­ não tinha voltado.
pios racionais e científicos para a con­
cepção de sua obra, em conformidade José de Alencar. Iracema.
com os ideais do Barroco europeu.
2. Peter Paul Rubens, François Boucher e O exótico e o pitoresco nas pinturas A
Eugène Delacroix foram expressivos pin­ análise das imagens do Brasil produzidas por
tores da arte barroca na Europa, cujo es­ artistas desperta interesse entre pesquisado­
tilo fica evidenciado em seus trabalhos res há muito tempo. Em parte porque essas
exemplificados pelas obras ilustradas, imagens dizem algo da história, do povo que
respectivamente, nas figuras I, II e III. aqui vivia, dos estrangeiros que para cá vie­
ram, de como se organizavam as cidades, as
3. No Brasil, uma das grandes manifesta­ formas de trabalho, e as plantas e os animais
ções do Barroco encontra-se na arquite­ que aqui existiam. Mas, sobretudo, porque
tura. As fachadas das igrejas ilustradas essas imagens dizem também da história dos
nas figuras IV, V e VI são exemplos do seus autores, dos lugares e sociedades a que
barroco nacional.

— — —

228
pertenciam, das influências que recebiam e No século XIX, o poeta Goethe se apai­
que passavam para as suas obras, e das esco­ xonou pela questão da cor e passou 30 anos
lhas técnicas que faziam. tentando terminar o que considerava sua obra
máxima: um tratado sobre as cores que su­
Susana Dias. In: Ciência, revista eletrônica plantaria a teoria de Newton. Ele realmente
de jornalismo científico (com adaptações)
descobriu aspectos que Newton ignorava so­
bre a fisiologia e a psicologia da cor. Observou
A partir do quadro Iracema, de José Maria de
a retenção das cores na retina, a tendência do
Medeiros, e dos textos apresentados acima, olho humano em ver nas bordas de uma cor
julgue os itens seguintes.
complementar e notou que os objetos bran­
cos sempre parecem maiores que os negros.
6. Para compor um quadro de tema indíge­ Atualmente, o estudo da teoria das cores se
na, os artistas acadêmicos, que valoriza­ divide em três matérias com as mesmas ca­
vam o domínio da técnica, observavam racterísticas que Goethe propunha para cores:
atentamente os corpos, posturas e mo­ a cor física, a cor fisiológica e a cor química.
vimentação corporal dos indígenas, a fim
de retratá-los o mais fielmente possível Considerando essas informações e a importân­
em seus quadros. cia e os modos de uso da cor na arte, julgue os
itens subsequentes.
7. O índio, como elemento simbólico da
identidade nacional, foi tema recor­
rente na arte romântica do Brasil, a 10. Os impressionistas deram à cor um im­
exemplo do quadro mostrado, que portante papel em suas obras. Seus
mantém vínculos com o fragmento principais artistas, como Claude Monet,
apresentado do romance Irace m a, de Edgard Degas e Renoir, exploraram em
José de Alencar. suas telas paisagens e temas do cotidia­
no, momentos de ócio, festas e passeios
8. A pintura de paisagem brasileira do
de cidadãos comuns pela natureza, para
alemão Georg Grimm, professor da
captar os efeitos cromáticos da luz do
Academia Imperial de Belas Artes, é
Sol sobre esses panoramas.
marcada por uma iluminação opaca e
densa, não condizente com a luz natu­ 11 . O pontilhismo é uma técnica em que
ral vista nas paisagens brasileiras. Essa pequenas manchas de cores justapos­
característica da pintura de Grimm tas provocam uma mistura óptica nos
decorre do fato de que o pintor prezava olhos do observador, deixando à retina
o trabalho em ateliê e desencorajava a a tarefa de reconstruir o tom desejado
produção sob luz natural, como era o pelo pintor.
costume da academia.
12. Os contornos nítidos dos objetos pinta­
9. Jean-Baptiste Debret foi um artista eu­ dos e a predominância dos tons de preto
ropeu que veio ao Brasil como membro e cinza na representação das sombras
da Missão Artística Francesa. Entre suas são características marcantes nas obras
obras mais expressivas está o volume impressionistas.
Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil,
que traz representações de cenas e ca­
racterísticas do cotidiano e da sociedade A substituição das ferramentas pelas
brasileira, como casas, ocas de índios, máquinas, da energia humana pela energia
rostos de pessoas, seus costumes, festas motriz e do modo de produção doméstico pelo
populares, relações de trabalho e utensí­ sistema fabril foi promovida pela Revolução
lios e ferramentas utilizadas pelo povo. Industrial. Em função do enorme impacto so­
bre a estrutura da sociedade, essa revolução
resultou em um processo de transformação
acompanhado por notável evolução tecnoló­
gica. Também a arte reagiu a essas transfor­
mações.

A respeito desse assunto, julgue os próximos


itens.

13. Na Inglaterra da segunda metade do


século XIX, artistas do movimento Artes
e Ofícios (A rts and Crafts) reafirmavam
em suas obras a importância do trabalho
artesanal diante da crescente mecaniza­
ção industrial e da produção em massa.
14. Os artistas do movimento A rts and C rafts
recusavam veementemente a indústria
e, por isso, renegaram os materiais nas­
cidos da industrialização, tais como o vi­
dro, o ferro e o concreto.
Figura II - Gustav Coubert. Jovens da vila (les demoiselles Du
15. O movimento A r t Nouveau e a Revolução
village), detalhe, 1851-52, 76% polegadas x 10 2'A polega­
Industrial foram contemporâneos, em­ das (medidas da tela inteira), coleção The Metropolitan Mu-
bora os artistas do movimento A r t N ou­ seum of Arts. In: Howard Hibbard. The Metropolitan Museum
veau tenham negado essa revolução, uti­ Arts. Harrison House. New York, 1984, p. 411 of.
lizando em suas obras formas curvas em
demasia e símbolos da fauna e da flora,
para fazer alusão à soberania do natural
e da manufatura, em clara rejeição ao ar­
tificial e ao industrial.

QUESTÃO 3 (PAS/UnB)

Figura I - Antonio Joaquim Gonçalves. Menino com cão. Cerca Figura ill - Eliseu Visconti. Giuventú, 1898, óleo sobre tela, 65 cm x
de 1817, coleção Fundação Raimundo Ottoni Castro Maio, Rio 49 cm, coleção Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. In:
de Janeiro. In: Quirino Campo Fiorito. História da pintura brasi­ Walterzamini. História gerai da arte no Brasil. Instituto Walter Moreira
leira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983, p. 26 Salles e Fundação Djalma Guimarães. São Paulo, 1983, p. 445
aventura individual de uma inteligência ou sensibi­
lidade especificamente dotada, visando a um fim
em si mesmo. Duvignaud aponta, com proprieda­
de, que, em cada obra, o artista parece inculcar
toda uma comunidade, ou seja, toda a substân­
cia social. A obra de arte só pode ser entendida
como tal enquanto ela puder ser assim definida
pelo homem, aqui e acolá, ontem, hoje, amanhã.
A obra de arte cristaliza a substância social, e
sua perenidade vem, justamente, da grande im­
portância de que se reveste para nosso conhe­
cimento como seres humanos, inseridos em um
determinado espaço (físico, cultural, ideológico) e
em uma comunidade específica.

Ana Mae Barbosa. A imagem no ensino da arte


anos oitenta e novos tempos. São Paulo:
Perspectiva, 1991, p. 12 (com adaptações)

Considerando o texto acima e as figuras I, II e


III, julgue os itens a seguir.

1. A arte barroca predominou, sobretudo,


Figura IV - Duas versões do rótulo da bebida pernambucana
Xarope d'abacachi, técnica de litografia. Rafael Cardoso. O no período compreendido entre o iní­
design brasileiro antes do design: aspectos da história gráfica, cio do século XVII e meados do século
1870-1960. São Paulo: Cosac Naify, 2005, p. 34 XVIII, tendo apresentado variações nos
diversos países em que foi difundida, in­
cluído o Brasil.
2. Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho,
o mais importante artista do Barroco bra­
sileiro, apesar de sua mestria em criar
talhas e esculturas, não elaborou dese­
nhos ou projetos para a construção das
igrejas para as quais criou suas obras.
3. A arquitetura Rococó apresentava rendi-
Figura V - Rótulo da Imperial Fábrica de São João de Nic- Ihados adicionados à estrutura das cons­
theroy, técnica de litografia. Rafael Cardoso. O design brasilei­ truções e mantinha as pinturas e ilusões
ro antes do design: aspectos da história gráfica, 1870-1 960.
espaciais cobrindo totalmente os tetos
São Paulo: Cosac Naify, 2005, p. 47
das diversas construções, como era co­
mum no estilo Barroco.
A Arte é um rio cujas águas profundas ir­
rigam a humanidade com um saber outro que 4. Os movimentos revolucionários ocorri­
não o estritamente intelectual e que diz respeito dos no final do século XVIII e as idéias
à interioridade de cada ser. A vida humana se racionalistas que fundamentaram o llu-
confunde, em suas origens, com as manifesta­ minismo motivaram o surgimento do
ções artísticas: os primeiros registros que temos movimento artístico denominado Neo-
da vida inteligente sobre a Terra são, justamente, classicismo, que se difundiu, nas primei­
as manifestações artísticas do homem primitivo. ras décadas do século XIX, por toda a
O fazer artístico não pode ser entendido como a Europa e pelas Américas.
5. Quando a Missão Artística Francesa, tra­ Considerando o texto acima e as figuras IV e
zida para o Brasil por D. João VI, chegou V, julgue os itens seguintes.
ao Rio de Janeiro, já existia, no Brasil,
um grupo de artistas locais criando obras
11. A técnica de gravura em litografia, larga­
com características nacionais, de que é
mente empregada no século XIX, possibilitou
exemplo a obra ilustrada na figura I.
o início da impressão de imagens em larga
6. Apesar de composta por artistas que, na escala, porque a pedra (matriz da litografia)
sua maioria, eram de reconhecida com­ permite que desenho e texto sejam feitos
petência, a Missão Artística Francesa sobre a matriz a ser impressa praticamente
não contribuiu para as modificações como se fossem feitos sobre o papel.
artísticas que marcaram as gerações de
12. As duas versões do rótulo de bebida ilus­
artistas brasileiros daquele período.
tradas na figura IV são exemplos de como
7. O movimento artístico conhecido como a versatilidade da técnica da litografia veio
Romantismo, que surgiu na Europa nas ao encontro das demandas do comércio.
primeiras décadas do século XIX, teve em As duas versões de texto — uma em
Francesco Goya, William Blake e Eugène português, outra em francês — podiam
Delacroix alguns dos seus melhores repre­ ser facilmente impressas sobre a mesma
sentantes nas artes plásticas. No Brasil, o base, alternando-se somente a matriz dos
Romantismo teve pouca repercussão. escritos, conforme a conveniência.
8. A pintura ilustrada na figura II apresenta 13 . Na figura V, na janela central, a imagem
características relacionadas ao movi­ de uma cena urbana — fábrica, rua pavi­
mento denominado Realismo, que teve mentada, calçamento e transeuntes — é
no pintor Gustav Coubert um de seus representação atípica de modernidade e
mais destacados representantes. progresso da época.
9. Nas pinturas ilustradas nas figuras I, II 14. Os padrões da representação do corpo e
e III, os artistas usaram o claro-escuro da pose dos índios nas figuras IV e V são
como elemento modelador dos persona­ característicos da figuração humana no
gens, dando-lhes volume e luminosidade. repertório clássico acadêmico.
10 . A figura III ilustra uma pintura de um 15 . A figura V mostra uma malha gráfica em
dos mais representativos artistas do que é nítida a busca por uma composição
Movimento Expressionista no Brasil, Eli- equilibrada, haja vista a repetição de pesos
seu Visconti, que, natural da Itália, veio e de elementos nos dois lados da figura.
muito jovem para o Brasil, onde realizou
sua formação artística. QUESTÃO 4 (PAS/UnB)

Em todo o mundo ocidental, a segun­


da metade do século XIX foi um período de
crescimento das elites urbanas e, portanto, de
ampliação de atividades culturais de toda es­
pécie, incluindo-se a produção e a veiculação
de imagens. Além das novas tecnologias para
impressão de texto, outro fator decisivo para
a expansão do mercado de produtos gráficos
foram as evoluções importantíssimas no cam­
po da reprodução de imagens.
Figura I - Manoel da Costa Athaíde. Ascenção de Cristo (deta­
Rafael Cardoso Denis. Uma introdução à história, do design. lhe do forro, da Capela-mor). Pintura sobre madeira. Igreja de
São Paulo: Edgard Blücher, 2000, p. 44 Santo Antônio (Santa Bárbara - MG), 1806
Figura II - Giambattista Tiepolo, (1696-1770). Alegoria de Figura VI - Courbet. Bom-dia, Monsieur Courbet. Óleo sobre
casamento. Óleo sobre tela, 343 cm x 172 cm, 1741 tela, 129cm x 149cm. Museu Fabre, Montpellier, 1854

Considerando as figuras de I a IV, julgue os


itens a seguir, acerca das relações formais,
estilísticas e temáticas encontradas nas obras
reproduzidas.

1. Nas figuras I e II, os elementos arqui­


tetônicos estão representados no modo
ilusionista.
Figura III - Jean Baptiste Debret (1768-1848). Estudo para
desembarque de D. Leopoldina no Brasil. Óleo sobre tela. 2. Nas obras ilustradas em I e II, a concentra­
44,5 cm x 69,5 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de ção de figuras humanas na parte inferior
Janeiro, 1818
de cada composição acentua a importân­
cia da figura isolada na parte superior.
3. Na figura I, a imagem central da obra re­
produzida é enquadrada por um conjunto
de ornamentos ondulantes e orgânicos,
criando uma passagem do mundo ter­
reno para o mundo divino.
4. Nas figuras I e III, apesar das diferenças
temáticas e estilísticas, o espaço arqui­
Figura IV - Louis David (1748-1825). Consagração do impe­ tetônico tende à simetria.
rador Napoleão e coroação da imperatriz Josefina. Óleo sobre
tela, 6,21 m x 9,79m, 1804 5. Nas obras reproduzidas nas figuras III e
IV, a simplicidade das cenas retratadas é
característica da pintura neoclássica do
século XIX.

QUESTÃO 5

Considerando as figuras V e VI, julgue os itens


subsequentes.

1. A valorização de cenas do cotidiano é uma


Figura V - José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899). O vio­ característica da pintura épica, o que pode
leiro. Óleo sobre tela, 141 cm x 172cm. Pinacoteca do estado
ser observado em ambas as figuras.
de São Paulo
2. A representação de cenas cotidianas re­ Tendo como referência as figuras I e II acima,
flete mudanças sociais que foram mar­ julgue os itens seguintes.
cadas no Brasil pela Independência e, na
França, pela Revolução Francesa.
1. A escolha do material e da técnica para
3. Diferentemente da representação idea­ a confecção das obras ilustradas acima
lizada dos nativos, feita pelos viajantes foi uma contribuição original para se pro­
europeus, vê-se, na obra reproduzida na duzir objetos de função utilitária.
figura V, que Almeida Júnior, pintor bra­
2. Na obra da figura I, as linhas onduladas
sileiro, retrata, com naturalidade, tipos
e a superfície irregular expressam quali­
humanos nacionais.
dades emocionais do retratado.
4. Na obra da figura V, embora a janela re­
3. Na obra da figura II, a repetição de ele­
tangular funcione como moldura interna
mentos gráficos de cor plana acentua o
para a cena, o movimento visual pre­
caráter decorativo da peça.
dominante é produzido pelas figuras em
diagonal. 4. As características especiais dos obje­
tos utilitários, como as verificadas na
5. Em ambas as figuras, a centralização dos
peça da figura I, eram valorizadas pela
elementos provoca instabilidade.
produção industrial do século XIX.

QUESTÃO 6 5. Na figura II, fica evidente que a decora­


ção altera o formato do objeto.

QUESTÃO 7

Figura I - Paul Gauguin. Jarra autorretrato. Cerâmica esmal­ Figura I - Paul Gauguin. Natureza morta com maçãs, um
tada em verde oliva, cinza e vermelho, 1 9,3 cm de altura. pêssego e autorretrato em jarra de cerâmica. Óleo sobre papel
Museu de Artes Decorativas, Copenhague, 1889 montado. 28,6 cm x 36,2 cm. Museu de Arte Fogg, 1889

Figura II - Pablo Picasso. Rosto com folhas. Cerâmica esmalta­ Figura II - Pablo Picasso. As senhoritas de Avignon. Óleo sobre tela.
da, 41,6 cm de diâmetro por 3,9 cm de profundidade, 1956 243cm x 233,7cm. Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, 1907

234
Considerando as figuras I e II acima, em que Com o auxílio das figuras acima, julgue os
se pode perceber a influência de culturas não- itens seguintes.
europeias na produção de Gauguin e Picasso,
julgue os itens subsequentes.
1. Eckhout documentou tipos e costumes
de habitantes do Novo Mundo.
1. Na obra da figura I, a ausência de modela­
2. Para retratar os habitantes do Brasil,
do revela influências do Renascimento.
Eckhout aplicou regras europeias de re­
2. Na obra da figura I, a inserção de um presentação da figura humana.
objeto confeccionado pelo próprio artista
3. As pinturas do período colonial brasileiro
— autorretrato em jarra de cerâmica —
são um registro importante da formação
na composição da natureza morta, um
étnica do povo brasileiro.
gênero tradicional da pintura europeia,
situa a cena no provável universo do­ 4. Infere-se da figura II que os habitantes
méstico do artista. do Novo Mundo não receberam influên­
cia da cultura europeia.
3. A simplificação do tratamento das formas
nas pinturas I e II revela as influências es­
QUESTÃO 9
tilísticas de culturas não-europeias.
4. Na obra ilustrada em II, as figuras femini­
nas recebem um tratamento uniforme.
5. A natureza morta e o triângulo no centro
inferior da figura II enfatizam a caracte­
rística plana da composição. (E )

QUESTÃO 8 (PAS/UnB)

Figura I - Francisco de Goya (1746-1828). 3 de maio. Óleo


sobre tela, 268 cm x 347 cm, 1808/14

Figura II - Edouard Manet (1832-1883). Execução do Impera­


dor Maximiliano. Óleo sobre tela, 196cm x 2 59,8cm, 1867

Na figura I, é reproduzida uma obra de


Francisco de Goya que retrata a violenta re­
pressão francesa aos patriotas espanhóis que
se rebelaram em 2 de maio de 1808 contra
as forças invasoras de Napoleão. Maximiliano
foi capturado e executado pelas forças mexi­
canas leais ao governo anterior. Manet, um
republicano e fervoroso crítico do imperialis­
mo francês, decidiu imortalizar esse evento
em uma escala tradicionalmente reservada a
cenas da história antiga ou da Bíblia, como
mostra a obra reproduzida na figura II.

Considerando as figuras acima e os textos que


as introduzem, julgue os itens a seguir.

1. À maneira dos neoclássicos, essas pin­


turas épicas de grande formato glorifi­ Figura II - Parmigianino (1503-1540). O casamento
místico de Santa Catarina. Óleo sobre madeira,
cam os aspectos mitológicos da vida
74,2cm x 57,2cm , 1527/31
política.
2. Nas pinturas reproduzidas, expressam-se Considerando as figuras acima e seus textos in­
claramente os posicionamentos políticos trodutórios, julgue os itens que se seguem.
dos artistas.
3. Observa-se, na pintura de Manet, que a 1. Na figura I, a distorção das proporções é
predominância de figuras verticais pro­ um recurso que antecipa o Barroco.
duz uma composição dinâmica.
2. Na figura I, o tamanho exagerado da
4. Na pintura de Manet, o contorno nítido mão em relação ao rosto produz uma
das personagens retrata uma caracterís­ acentuada profundidade espacial.
tica do Impressionismo.
3. Uma característica do Maneirismo presente
5. Na pintura de Goya, a dramaticidade da nas duas obras mostradas é a diagonali-
cena é acentuada pelo direcionamento dade da composição, evidente na figura II.
da luz.
4. Na figura II, o centro da composição coin­
cide com o centro geométrico da pintura.
QUESTÃO 10
5. Observa-se em ambas as figuras o pre­
domínio de temas religiosos característi­
cos do Maneirismo.

QUESTÃO 11

Figura I - Parmigianino (1503-1540). Autorretrato em um espelho, Figura I - Michelangelo Merisi Caravaggio (1571-1610). Os músi­
convexo. Óleo sobre madeira, diâmetro de 24,4cm, 1523/24 cos. Óleo sobre tela, 92,1 cm x 118,4cm, 1595

236
Figura II - Pierre-Auguste Renoir (1841-1919). Duas jovens ao
piano. Óleo sobre tela, 116,2cm x 90cm, 1892

Edgar Degas. Quatro dançarinas, óleo sobre tela, 1899


Com relação às figuras acima, julgue os itens
subsequentes.
Considerando o texto e a reprodução da pin­
tura de Edgar Degas acima, julgue os itens
1. Assim como na pintura de Renoir, na seguintes.
de Caravaggio as cores são usadas para
modelar as formas, como é caracterís­
1. Edgar Degas omite as pernas das bailari­
tico da pintura impressionista.
nas para ser fiel ao tema escolhido para
2. Na pintura de Caravaggio, os trajes ins­ a obra.
pirados nas figuras da Antiguidade Clás­
sica revelam o idealismo de seu autor. 2. O braço em diagonal da bailarina no alto,
à esquerda, e a faixa diagonal formada
3. Na figura II, Renoir, ao retratar uma cena pelas saias das outras três bailarinas, em
doméstica, recriou um tema épico. primeiro plano, dão maior profundidade
4. Enquanto na pintura de Caravaggio a ilu­ à cena.
minação destaca apenas as figuras, na de 3. A cor e o desenho são os elementos es-
Renoir ela se distribui uniformemente. truturadores da cena.
5. A fusão óptica das cores é uma caracte­ 4. O pintor impressionista fixa cenas que
rística da pintura de Caravaggio. passam rapidamente.

QUESTÃO 12 (PAS/UnB) QUESTÃO 13

A rejeição de convenções não se encontra


apenas nas composições de Degas, mas também
na escolha dos temas. O pintor evita os tipos e as
atitudes amáveis, preferindo o que então se con­
siderava deselegante. Degas não vai buscar os
temas na arte oriental, mas as suas composições
são influenciadas por ela, assimilando-a a ponto
de a integrar no próprio estilo. É por isso que lhe
acontece omitir uma parte de um objeto, mesmo
a parte mais importante, desde que a parte res­
tante cumpra a função plástica procurada.

Everard M. Upjohn e outros. História mundial da arte. Lisboa: Pierre-Auguste Renoir. O almoço da festa no barco,
Livraria Bertrand, 4 .a ed., v. 6 (com adaptações) óleo sobre tela, 1881
Acerca da reprodução da pintura de Pierre- 4. Conforme se observa nessa obra, o uso
Auguste Renoir acima e do impressionismo, da cor delimitada pelo contorno das for­
julgue os itens que se seguem. mas é característico do impressionismo.

1. Nessa pintura, a redução do tamanho QUESTÃO 15


das figuras e o uso de diagonais pro­
duzem profundidade espacial.
2. A predominância de tonalidades claras
torna as formas mais leves nessa obra.
3. A fonte de luz nessa pintura é unidirecional.
4. Os impressionistas não se preocupavam
em captar as variações de luz, conforme
se observa nessa obra de Renoir.

QUESTÃO 14

Francisco Goya. Pessoas no balcão, óleo sobre tela, 1810-15

Com base na reprodução da pintura de Fran­


cisco de Goya acima, julgue os itens a seguir.
Henri de Toulouse-Lautrec. O ballet de Chilpéric ,
óleo sobre tela, 1896
1. A luz foi utilizada para destacar as duas
A respeito da reprodução da pintura de mulheres em primeiro plano.
Henri de Toulouse-Lautrec apresentada acima, 2. A simplicidade das formas e a escolha
julgue os seguintes itens. do tema caracterizam essa pintura como
uma obra neoclássica.
1. Na cena apresentada, a cor é naturalista. 3, A unidade da composição é obtida por
2. 0 dinamismo do desenho é subordinado intermédio do desenho geométrico e
às suas cores. contínuo que contorna as formas.

3. As tintas espessas utilizadas nessa pintu­ 4, As figuras femininas iluminadas cons­


ra geram uma grande variação de cores. tituem a característica iluminista dessa
pintura.

238
QUESTÃO 16 1. O desenho registra as emoções agressi­
vas manifestadas pela mulher.
2. Na composição, o espaço é representado
por planos que se sobrepõem.
3. As linhas verticais predominam em am­
bos os lados da composição.
4. Na representação das pernas, há uma
deformação produzida pelo escorço.

Artes Cênicas e Música

QUESTÃO 17

"A verdade é que a missão dos jesuítas


tinha proporções gigantescas. Se aos colonos
portugueses competia conquistar a terra, sub­
jugando-lhes os habitantes, cabia aos padres
uma tarefa ainda mais árdua: sujeitar a alma
indígena."

(Prado, Décio de Almeida. Teatro de Anchieta a Alencar.


São Paulo: Perspectiva, p.52)

Sobre o teatro catequético, é correto afirmar:


Dominique Ingres. A banhista, óleo sobre tela, 1808

1. Se considerarmos somente como repre­


Em seus ensinamentos, insistiu sobre sentação teatral o trabalho em que há
a disciplina de absoluta precisão na classe
palco, dramaturgo, atores e público,
vital e desprezava as improvisações e a con­
o teatro jesuítico não se encaixa nesta
fusão. A figura mostra sua maestria na re­ composição formal.
presentação de formas e a fria clareza de
sua composição. É fácil compreender porque 2. Todos os textos do teatro catequético
tantos artistas invejavam Ingres por sua se­ foram criados por Fernão Cardin, o pa­
gurança técnica e respeitavam sua autori­ dre jesuíta que chegou ao Brasil em
dade mesmo quando discordavam de seus 1567.
pontos de vista. Mas também compreende- 3. É por meio do relato espontâneo do pa­
se facilmente porque os seus contemporâ­ dre Fernão Cardin que a história tem os
neos mais veementes achavam insuportável registros da importância do padre jesuíta
essa perfeição fluente. José de Anchieta e seu teatro.

E. H. Gombrich. A história da arte. Rio de Janeiro: Zahar, 4. O teatro jesuítico tinha proporções gi­
1985, 4 .a ed. (com adaptações) gantescas, pois servia para receber uma
autoridade e, ao mesmo tempo, intimidar
Considerando o texto e a reprodução da pintu­ os indígenas, impondo-lhes uma cultura
ra de Dominique Ingres acima, julgue os itens europeia, onde o temor a Deus orientava
que se seguem. a sociedade.
QUESTÃO 78 2. A peça Antônio José ou O poeta é a in­
quisição é uma tragédia romântica do
Sobre as principais peças teatrais dos jesuítas, século XIX.
é correto afirmar:
3. É com Magalhães que a discussão do
"en nacional" é posta aos olhos da pla­
1. Pregação Universal é considerada a 1a téia, que estava acostumada às apresen­
peça criada por José de Anchieta, em tações do cancã francês.
1567 , data aproximada de sua chegada
4. Assim como na Grécia Clássica, a comé­
ao Brasil.
dia teatral era apresentada em segundo
2. A Festa de São Lourenço congrega per­ plano, valorizando o drama, a tragédia,
sonagens de várias origens: os índios pois estas representações tratavam mais
Guaixará e Aimberê, os imperadores ro­ a fundo, ou de modo mais espetacular,
manos Décio e Valeriano, os santos São os "temas da época" (patrióticos).
Lourenço e São Sebastião e um Anjo,
além de referências simbólicas. Por isso, QUESTÃO 2 0
a unidade dramática nessa representa­
ção é tão rica.
Sobre o teatro romântico brasileiro, analise os
3. Em Na Vila de Vitória há a união da pa­ itens:
lavra vitória (modulada em conotações
variadas) à história da humanidade e ao
1. No momento em que no Brasil crescia
momento da vila, em sua luta entre a fé
um sentimento nacionalista, também no
e o pecado.
teatro nasce a necessidade do fazer na­
4. Em Na Aldeia de Guaraparim o conflito se cional, com a tríade da terra, ou seja,
dá ao desafiar o poder de Nossa Senhora. texto escrito por um brasileiro, com ator
brasileiro, para um público estrangeiro.
QUESTÃO 19
2. Em 1833 , João Caetano fundou sua
própria companhia dramática, sob a in­
"Ninguém negará a Domingos José Gon­
fluência francesa e, em 1 838 , represen­
çalves de Magalhães ( 1811 - 1882 ) no míni­
tou o Antônio José, um personagem da
mo duas grandes virtudes: historicamente, ter
história brasileira, imaginando assim um
percebido antes de qualquer outro a necessi­ teatro nacional.
dade de renovar a literatura nacional, usando,
para tanto, ao lado da poesia, o teatro; este­ 3. 0 teatro romântico inaugura a nova es­
ticamente, ter tentado distinguir o drama ro­ tética da dramaturgia brasileira, aban­
mântico da tragédia clássica em nível de acui­ donando a cantilena por uma fala mais
dade conceituai, até então inédito em âmbito expressiva.
brasileiro." 4. 0 trágico era o gênero teatral de
preferência de João Caetano, que
(Prado, Décio de Almeida. Teatro de Anchieta a Alencar.
ficou famoso com sua representação
São Paulo: Perspectiva, p. 139-140)
de Antônio José.

Sobre o teatro romântico brasileiro, julgue os itens:


QUESTÃO 21

1. Foi Gonçalves de Magalhães o precur­ "0 romantismo e o realismo não são ab­
sor do teatro romântico no Brasil, com a solutamente, de modo exclusivo, opostos que
peça Juiz de Paz na Roça, encenada em se excluem: o romantismo é, sobretudo, uma
1838 , no Rio de Janeiro. fase primitiva do realismo crítico. A atitude
não mudou, no fundamental, apenas o méto­ 4. O dem ôn io fa m ilia r, de José de Alen­
do tornou-se diferente, mais frio, mais "objeti­ car, expõe os inconvenientes da es­
vo", mais distante." cravidão doméstica no interior de uma
família burguesa, com críticas e solu­
(Fisher, Ernst. A necessidade da arte. Zahar editores, p. 120)
ções moralizadoras.

A partir do esclarecimento do fragmento aci­ QUESTÃO 2 3


ma, julgue os itens das questões 5 e 6:
TEXTO 1
1. Analisando por meio do pensamento de Roda Viva
E. Fisher, entende-se que a oposição do (fragmento)
realismo ao romantismo está apenas na Tem dias que a gente se sente
estética. Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
2. O teatro realista corresponde a um de­
Ou foi o mundo então que cresceu
senvolvimento social, específico a uma
A gente quer ter voz ativa
sociedade burguesa não mais "fechada";
No nosso destino mandar
a preocupação deixa de ser individual.
Mas eis que chega a roda viva
3. Encarar o teatro como uma arte rege- E carrega o destino pra lá
neradora da sociedade tornou-se uma
atitude comum a toda a geração dos jo­ (Chico Buarque)

vens intelectuais, que se agruparam em TEXTO 2


torno do Ginásio para apoiar a reforma 1968
realista. (fragmento)
4. Os dramaturgos realistas se deixaram Talvez o ano mais trágico da história
influenciar pelas formas e temas da co­ do teatro brasileiro. A censura, seja oficial
média realista francesa, distanciando-se ou oficiosa, assume o papel de protagonista
dos aspectos da realidade brasileira. na cena nacional, desencadeia uma guerra
aberta contra a criação teatral, torna-se in­
QUESTÃO 2 2 comodamente presente no cotidiano dos ar­
tistas. Já em janeiro o general Juvêncio Fa­
Julgue os itens seguintes: çanha (que no ano anterior já havia mandado
aos homens de teatro e cinema o ameaçador
recado: "ou vocês mudam, ou acabam.") dá
1. A estética realista trouxe para os palcos
em público uma estarrecedora declaração,
a novidade dos praticáveis, proporcio­
que define com clareza a atitude do regime
nando ao espectador o reconhecimento
em relação à atividade cênica: "A classe
imediato da ação cênica.
teatral só tem intelectuais, pés sujos, des­
2. Os temas do teatro realista procuraram vairados e vagabundos, que entendem de
esconder os feridos que ameaçavam a tudo, menos de teatro".
sociedade de classe média emergente,
e por isso tais temas assemelhavam-se (MICHALSKI, Yan. O teatro sob pressão)
tanto ao romantismo.
Infere-se da leitura dos textos acima:
3. Os principais personagens das peças
realistas eram médicos, advogados, ne­
gociantes, etc., todos os representantes 1. O sujeito poético sofre a opressão de
da classe média, participantes do pro­ um momento tenso da história brasileira,
gresso capitalista que vivia o país. qual seja, a Ditadura Vargas.
2. 0 antagonista do sujeito poético é a Julgue os itens a seguir, de acordo com o
Roda Viva. O contexto em que se insere texto citado:
é o da repressão política. 1. Ao longo dos séculos, os músicos ten­
3. Roda Viva é m etáfora da ditadura m ilitar taram criar um sistema de notação mais
instaurada no Brasil a partir de 1 968. simples e funcional, porém, só con­
tribuíram para complicar mais.
4. Chico Buarque, ao escrever Roda Viva,
torna-se o mais expressivo dramaturgo 2. No século XI, o Monge Guido D'Arezzo
daquele momento do teatro brasileiro. conseguiu acabar com a notação musi­
cal grega.
3. O festival organizado pelos gregos,
QUESTÃO 2 4 chamado de Festival de Pisístrato, só
Os Gregos tinham muitos deuses. Entre privilegiava o teatro.
eles havia Apoio, deus que protegia a músi­ 4. Os gregos contribuíram com a invenção
ca. Além de extraordinária beleza física, Apoio de instrumentos de corda, sopro e per­
possuía a habilidade de tocar maravilhosamen­ cussão, criando assim a família dos ins­
te todos os instrumentos musicais... trumentos.

Com base no te x to , julgue os itens:


QUESTÃO 2 6
1. Desde os tempos mais remotos, a música
O período da Renascença se caracteri­
foi um elemento indissociável das cerimô­
za na história da Europa Ocidental, sobretu­
nias religiosas. No culto a Apoio, a lira era
do pelo enorme interesse devotado ao saber
o instrumento característico, enquanto no
e à cultura, particularmente a muitas idéias
culto a Dionísio, era o aulo.
dos gregos e romanos, e também com enor­
2. A mitologia grega atribuía à música origem me avanço nas navegações, ciência e na as­
divina, e designava como seus inventores tronomia.
e primeiros intérpretes, deuses e semideu-
ses, como Apoio, Anfião e Orfeu. De acordo com o texto, julgue os itens:
3. A música grega não era apreciada pelos
romanos, pois era pobre em conteúdo. 1. A Igreja Católica usa os musicais para
4. Com as forças Eros e Anteros, nas quais divulgar sua doutrina, como fez com o
os gregos acreditavam, podemos afirmar teatro.
que desse sentimento nasceu a melodia 2. É nesse período que é criada a polifonia
e a harmonia. coral, sendo que boa parte desta músi­
ca tinha que ser cantada a cappella.
3. O Renascimento tem como ponto mar­
QUESTÃO 2 5
cante a falta de fé em deuses e santos.

No teatro grego a música também es­ 4. O piano é um instrumento característico


tava presente: cantada e tocada. Contu­ desse período.
do, o sistema de notação musical, ou seja,
o modo de registrar a melodia, era muito
com plicado. Os gregos usavam letras de QUESTÃO 2 7
seu alfabeto para representar o tom e a
duração dos sons, bem como as pausas da O canto é a atividade musical cujo ins­
melodia. trumento é o corpo humano. A voz é o re­
sultado sonoro de uma série de estímulos ram os barrocos, mas Bach e Haendel, ape­
e movimentos corporais, compreendendo sar de suas características barrocas tardias,
componentes respiratórios, ressoador, ar- são apontados como os grandes destaques
ticulador, controlador e vibratório. O canto dessa época. No Barroco começaram tam ­
coral tem sido, ao longo da história da mú­ bém as primeiras experiências com melo­
sica, uma das atividades musicais mais pro­ dia acompanhada por baixo cifrado, prática
curadas e exploradas como performance e essa que se opunha ao contraponto musical
como prática pedagógica. O quarteto vocal e que viria a constituir, até os dias de hoje,
clássico é composto pelas vozes femininas a base da harmonia e tessitura de muitos
- soprano e contralto, e vozes masculinas - tipos de música.
tenor e baixo. Para cantar, o corpo humano,
como qualquer outro instrumento musical, Julgue os itens:
deve ser e maturidade musical. A técnica
vocal tem por objetivo esse preparo vocal
1. A ópera é uma composição musical que
para o mais variado uso da voz.
integra música orquestral, canto, enredo
literário e representação teatral.
Com base no texto, julgue os itens:
2. Bach compôs diversas peças musicais de
caráter religioso, entre as quais a peça
1. A respiração, no canto, compreende os
A leluia, do oratório O Messias.
movimentos do diafragma, dos músculos
intercostais e dos músculos abdominais. 3. O baixo contínuo escrito em cifras é
uma indicação harmônica para determi­
2. No canto coral, as vozes femininas são
nada melodia, em que o instrumentista
denominadas tenor - a mais aguda - e
tem liberdade de improvisar e fazer seu
baixo - a mais grave.
próprio arranjo para o acompanhamento
3. A técnica vocal compreende exercícios melódico.
de respiração, de emissão da voz, de ar­
4. No Brasil, o barroco musical foi tardio
ticulação vocal e de expressão musical.
e se concentrou nas colônias de extra­
4. As cordas vocais são duas cartilagens tivism o de ouro e de pedras preciosas,
distendidas, que vibram na passagem do como em Minas Gerais. Os registros
ar através da laringe. musicológicos brasileiros mostram
que o Barroco mineiro tem somente
exemplos de música profana e popu­
QUESTÃO 2 8 lar e está totalm ente desvinculado dos
ofícios da Igreja.
O Barroco nas artes plásticas foi um
movimento caracterizado pelo uso excessi­
vo de curvas e contrastes de claro e escu­ QUESTÃO 2 9
ro, tendo sido, ao mesmo tempo, sensual
e emotivo. A dramaticidade das obras de A Música Barroca substituiu o estilo
arte do Barroco demonstra a luta da emo­ Renascentista após o século XVII e dominou
ção contra a razão, opondo-se às idéias a música europeia até cerca de 1 7 5 0 . Era
racionalistas presentes no Renascimento. elaborada e emocional, ideal para integrar-se
Nessa época de governos absolutistas e a enredos dramáticos.
de expansão colonialista e m ercantilista, a
música barroca teve seu esplendor nos ora­ 1. A ópera era, nesse período, a mais im­
tórios, nas óperas e nas formas musicais: portante novidade em forma musical,
fuga, suíte, concerto e sonata. Muitos fo ­ depois do oratório.
2. 0 baixo contínuo era uma forma mu­ apresentação orquestral não poderíam des­
sical que usava melodias de forma qualificar a apreciação do talento e imagina­
aleatória. ção puramente musicais envolvidos na peça.
Ou, como observa Octávio Paz, apesar da
3. O baixo de Alberti tinha como caracterís­
formulação simples, a realização é magnífica.
tica o uso de um instrumento de som
Seja por seu valor intrínseco, seja pela inter­
grave tocando ao fundo.
venção da mídia, a verdade é que foi o Bolero
4 . Antônio Vivaldi atinge seu auge no Bar­ que divulgou o nome de Ravel.
roco Italiano.
5. O início do século XVIII foi marcado Com o auxílio dessas informações, julgue os
por dois grandes compositores: Bach e itens que se seguem, acerca da obra Bolero,
Haidel. de Maurice Ravel:

QUESTÃO 3 0 1. O Bolero de Ravel é uma das mais popu­


lares peças musicais do repertório clás­
Todos os dias, ao final da tarde, al­ sico, o que sugere que a popularização
guns bares de Cabedelo-PB tocam o Bole­ de uma obra erudita se deve mais à sua
ro de Ravel para acompanhar o pôr do sol. veiculação pela mídia que à sua esco­
O que faz com que uma música erudita se lha a partir do conhecimento da obra do
torne de gosto popular? Seriam suas ca­ compositor.
racterísticas musicais? A veiculação pela
2. O longo e constante crescendo da peça
mídia? A obra Bolero, de Maurice Ravel
Bolero é enfatizado pela introdução gra­
( 1 8 7 5 - 1 9 3 7 ), apresenta curiosidades e
dual de diferentes instrumentos. Nes­
mesmo contradições, se compararmos as
se sentido, a variação de intensidade é
intenções do com positor com a recepção
obtida, não só pela incorporação de um
da obra por parte de outros com positores
número cada vez maior de instrumentos
e do público leigo. Compositores contem ­
mas também pela variação tímbrica, que
porâneos de Ravel odiaram a obra, um pú­
influi na densidade da peça.
blico leigo atual adora, e Ravel não dava
muita importância a ela. Em entrevista ao 3. A escolha de temas derivados do folclo­
jornal inglês Daily Telegraph, em 1 9 3 1 , e re espanhol, feita por Ravel para o Bolero
após as duras críticas recebidas quando da confere à peça certo caráter oriental, fru­
apresentação da peça pela primeira vez, to de cerca de 700 anos de convivência
em 1 9 2 8 , Ravel explica que esta obra foi dos mouros com os espanhóis na Penín­
apenas um experimento — um estudo de sula Ibérica.
orquestração e do conceito de crescendo.
4 . Assim como o Bolero, O Trenzinho do
De acordo com Ravel, os temas são de­
Caipira, de Villa-Lobos, também empre­
rivados do folclore hispano-árabe, não há
ga o ostinato, que consiste na repetição
contrastes nem inovações form ais e o tra ­
de um determinado padrão rítmico por
tam ento orquestral é simples, sem nenhu­ toda a peça, como base para o acompa­
ma pretensão virtuosística. nhamento da melodia principal.
Morgenstern. Composers on music, 1956 (com adaptações) 5. Ravel não considerava que o Bolero
fosse uma música, porque a peça não
No caso do Bolero, possivelmente não possui contrastes de dinâmica, tendo
se terá uma resposta única da razão da sua uma mesma intensidade sonora duran­
popularidade. Talvez, como observa Martin te toda sua execução, o que, em úl­
Cooper, o efeito hipnótico das repetições e tima instância, confere-lhe um caráter
variações do tema e a ingenuidade de sua hipnótico.
QUESTÃO 1 (PAS/UnB) que relaciona o processo de criação da
forma às necessidades e aos desejos dos
Os aspectos mais essenciais das rela­ usuários.
ções do usuário com os produtos industriais
4. Atualmente, os produtos de design que
são as funções dos produtos, as quais se tor­
incorporam chips e outros elementos mi-
nam perceptíveis durante o processo de uso e
croeletrônicos em suas estruturas sepa­
possibilitam a satisfação de necessidades.
ram uma forma interior, praticamente
Bernd Lõbach (com adaptações)
vazia, de uma função exterior.

QUESTÃO 2

l-Book - Microcomputadores Macintosh


Fritz Schleifer. Bauhaus exhibition, litografia, 1923

Considerando o texto e as imagens acima, jul­


gue os itens que se seguem.

1. No processo de projeto de produtos,


compete exclusivamente ao designer
otimizar as funções de um produto em
correspondência às necessidades dos fu­
turos usuários.
2. A linha de microcomputadores mostrada
nas imagens acima é um exemplo típico
da tendência do design contemporâneo,
que tem como principal característica
a desvalorização de elementos prático-
funcionais.
3. As linhas curvas e arredondadas e o uso
de cores e de materiais translúcidos e Josef Müller-Brockmann. Less noise, litografia, 1960
recicláveis são expressão de um design

245
Com base na reprodução dos cartazes acima, cisa ser um signo, isto é, necessita cumprir
julgue os itens a seguir. sua função como elemento de comunica­
ção, efetivando a união de um significado e
um significante para o observador.
1. Nos dois cartazes, a utilização da cor
vermelha tem a mesma finalidade, inde­ 3, As figuras acima possuem alto grau de
pendentemente do conteúdo. síntese gráfica como uma de suas ca­
racterísticas principais, o que facilita a
2. No primeiro cartaz — Bauhaus Exhibition
legibilidade de cada uma delas.
—, há separação entre figura e fundo,
além de a distribuição das cores acentuar 4. A figura I ilustra que um pictograma é
a verticalidade da composição e da ima­ um símbolo universal; isso o dispensa
gem, o que não ocorre no outro cartaz. sempre de seguir os critérios do estilo
gráfico da sinalização como parte da am-
3. Em comparação com o primeiro, a ima­
bientação local.
gem fotográfica no segundo cartaz —
Less Noise — confere maior dramatici-
QUESTÃO 4
dade à mensagem.
4. No segundo cartaz — Less Noise —, o posi­
cionamento diagonal dos elementos e o
corte da imagem e das letras tornam a com­
posição mais estática que a do primeiro.

QUESTÃO 3

So
0ÊÊÊF
Paul Klee (1879-1940). Jardins do templo,
guache sobre papel, 1920
Figura I Figura II
A pintura Jardins do Templo, reproduzi­
A programação visual divide-se em sub- da ao lado, parece aludir às impressões que
áreas que têm como ponto comum o orde­ Paul Klee obteve em sua viagem à Tunísia, em
namento de elementos estético — formais abril de 1 9 14 . 0 brilho das cores assemelha-
textuais e não-textuais com o objetivo comu- se aos vitrais de uma janela em dia ensolara­
nicacional expresso. do. A respeito dessa obra, julgue os itens que
André Villas-Boas (com adaptações). se seguem.

Em relação às figuras acima e à definição de


1. A composição é assimétrica e fragmen­
André Villas-Boas e considerando que o design
tada em três retângulos verticais.
de pictogramas é uma das subáreas da progra­
mação visual, julgue os seguintes itens. 2. A alternância de formas e cores confere
ritmo à composição.
1. Os pictogramas devem permitir rapidez 3. A representação das faces laterais de
na decodificação da informação, como formas tridimensionais é uma caracterís­
ocorre nas figuras I e II. tica do Suprematismo nesta pintura.
2. As figuras acima mostram que um picto­ 4. A geometrização da paisagem torna-a
grama não é apenas uma ilustração, ele pre­ mais expressionista.

246
QUESTÃO 5 4. Nessa pintura de Segall, observa-se a
representação do tipicamente brasileiro
à época: a figura é o trabalhador mulato
e o fundo é uma monocultura.

QUESTÃO 6 (PAS/UnB)

Texto AV - I - questões 1 e 2

No século XIX, os temas e os preceitos


das academias europeias foram abandonados
Lasar Segall. Bananal, óleo sobre tela, 1927 por várias causas. Entre essas pode-se citar:
a valorização da visão individual e emocional
Quando Lasar Segall imigra em 1924 , o que o artista tem das coisas do mundo e as
impacto da cor tropical resulta na mais violen­ relações comerciais entre os países europeus
ta relação cromática de sua trajetória. É uma e suas colônias na Ásia e na África. Muitos
dupla 4 relação de estranhamento e aproxima­ artistas viajaram para as colônias e outros co­
ção. "Vi-me transportado sob a fulgência de lecionaram objetos exóticos e de arte popular
um sol tropical cujos raios iluminavam a gente que eram vendidos na Europa e que serviram
e as cousas em seus recantos mais remotos de modelo para suas obras, o que lhes permi­
e recônditos, emprestando até ao que estava tiu incorporar visões de mundo diferentes. A
na sombra uma espécie de resplandescência", arte moderna do século XX é produto do senti­
descreve Segall essa fase em que "a vista se mento de insatisfação de três artistas com os
deixou fascinar pela beleza exótica da nature­ caminhos da arte europeia no final do século
za, submersa num deslumbramento de cores e XIX e início desse século: Vincent Van Gogh
formas ornamentais", momento que Mário de ( 1853 - 1890 ), Paul Gauguin ( 1848 - 1903 ) e
Andrade denominou de "quase perdição". Paul Cézanne ( 1839 - 1906 ). Na opinião do his­
toriador Ernest H. Gombrich (A História da
Paulo Herkenhoff. XXIV Bienal de São Paulo. Núcleo, His­ Arte), as várias soluções que esses pintores
tórico: Antropofagia e histórias de canibalismos. São Paulo: tinham buscado tornaram-se os ideais de três
Fundação Bienal de São Paulo, 1998 (com adaptações)
movimentos fundamentais para a arte moder­
na: "A solução de Cézanne levou, em última
Considerando o texto de Paulo Herkenhoff e instância, ao cubismo, que se originou na
a obra de Segall reproduzida acima, julgue os França; a de Van Gogh, ao expressionismo,
itens seguintes.
que encontrou sua principal resposta na Ale­
manha; e a de Gauguin culminou nas várias
1. Os pintores modernistas representavam a formas de primitivismo."
paisagem com a gestualidade dos pintores
fovistas, conforme exemplifica a obra acima.
2. Mário de Andrade fez uso do advérbio na
expressão "quase perdição", em vez de
denominar aquela fase como momento
de perdição, porque, no Modernismo,
a paisagem brasileira é retratada ainda
com o realismo acadêmico.
3. A paisagem e o homem brasileiros são te­
mas frequentes na pintura regionalista pos­
terior à Semana de Arte Moderna de 1922 . The Dessert, 1908, Matisse
Henri Matisse ( 1869 - 1954 ) foi o pintor do
grupo dos Fauves (Feras) que, influenciado por
Gauguin e Van Gogh, utilizou um esquema de
cores puras e intensas. Havia estudado os es­
quemas de cores dos tapetes orientais e das pai­
sagens do norte da África, onde esteve diversas
vezes ao longo de sua vida. Seu estilo tem sido
de grande influência sobre o design moderno.

Com o auxílio dessas informações e do texto


AV-I, julgue os itens seguintes, a respeito da
obra de Matisse reproduzida acima.

Os motivos decorativos na pintura da


Figura II - Amedeo Modigliani. Cabeça de mulher,
parede e da toalha da mesa revelam o
pedra, 1910/1911
orientalismo e as influências da Arte
Nova (Art Nouveau).
2. O uso de cores planas e puras é a carac­
terística pontilhista da pintura.
3 As formas são modeladas para parece­
rem mais selvagens.
4, As linhas diagonais à direita do tampo
da mesa e do assento da cadeira con­
vergem para um ponto de fuga que está
dentro do retângulo da tela.

QUESTÃO 7

Em Paris, o escultor Constantin Brancusi


( 1876 - 1957 ) estudou a escultura africana para
poder representar uma síntese das formas, e não Figura III - Amedeo Modigliani. Jeane Hebusterne com gola
branca, óleo sobre tela, 1919
a realidade tal como a via. As figuras abaixo são
reproduções de uma escultura de Brancusi e de
duas obras de um pintor que foi por ele influen­ Com o auxílio do texto AV-I, julgue os seguin­
ciado: Amedeo Modigliani ( 1884 - 1920 ). tes itens, a respeito das obras reproduzidas
acima e de seus autores.

1. A representação da figura humana nes­


sas obras obedece aos padrões naturalis­
tas da Antiguidade Clássica.
2. As figuras acima são decompostas em
partes e recombinadas em construções
cubistas livres.
3. Nas figuras I e II, a geometrização das
formas torna-as mais universais, ou seja,
Figura I - Constantin Brancusi. A musa, mármore, representam um grupo de indivíduos e
1912, Museu Solomon R. Guggenheim não um em particular.
4. Assim como Cézanne, esses artistas in­
terpretavam as formas utilizando o cilin­
dro, a esfera e o cone.

QUESTÃO 8 (PAS/UnB)

Figura IV - Adriano Braun Galvão, Blood Valve,


equipamento que facilita a retirada de sangue

Beleza, inteligência, surpresa, humor, poe­


sia, utilidade, qualidade e necessidade são parâ­
metros atuais do design, sem esquecer a pesquisa
de novos materiais e a tecnologia que reduz cus­
tos na produção. Entre esses parâmetros, desta­
ca-se a necessidade. É importante não esquecê-
la. A tradicional dupla forma e função é hoje um
tripé, que deve incluir a necessidade real de mais
um objeto nesse universo contemporâneo já tão
saturado de produtos idênticos. Produto necessá­
rio, por definição, é produto inovador.
Figura I - Van Philips, Cheetah Flex-Foot. Pé protético, produzido
em fibra de carbono e tecido, Islândia / EUA
Maria Helena Estrada. ARC Design,
n.° 44, 2005, p. 19 (com adaptações)

Considerando o texto acima e as figuras de I a


IV, julgue os itens que se seguem.

1. Na abordagem apresentada no texto,


produtos que satisfazem novas necessi­
dades dos usuários, novas exigências
da vida moderna e melhoria dessa vida
poderiam ser considerados inovadores.
2. A valorização de elementos da cultura bra­
sileira e a redução do acúmulo de descartes
estão presentes no produto da figura II.
3. Apesar de possuírem funções bastante
Figura II - Renato Imbroisi. Bolsa da família dos lacres com crochê.
Coleção de bolsas produzidas pela comunidade de baixa renda Cia distintas, os produtos apresentados nas
do Lacre, de cidades satélites da região de Brasília, 2002 figuras de I a IV evidenciam uma busca
pela diversificação tipológica, diversifi­
cação formal e por novas qualidades.
4. As figuras II e III ilustram produtos adequa­
dos à produção seriada em larga escala.
5. As figuras I e IV ilustram produtos do uni­
verso da medicina em que há uma grande
valorização da tecnologia e da utilidade
em detrimento dos outros parâmetros do
Figura III - Luiz Pedrazzi, luminária com legos, 2005 design apresentados no texto.
QUESTÃO 9

Considerando os produtos apresentados nas fi­


guras de I a IV, julgue os itens subsequentes.

1. Os produtos ilustrados nas figuras II e III


possuem ritmo e noção de espacialidade,
obtidos pelo uso de cores contrastantes
e de figura/fundo.
2. O uso de cores no produto da figura IV
demonstra a preocupação na utilização de
elementos para uma composição visual. Figura II - Máscara de corredor, República dos Camarões,
Bafum. Século XIX. Madeira, altura 34 cm. Coleção Haus
3. Os produtos apresentados nas figuras Glauning, adquirida em 1910
de I a IV têm as mesmas características
projetuais daquelas da época do Funcio­
nalismo.
4. As linhas curvas e o uso de pequenas es­
pessuras proporcionadas pela utilização
do material (fibra de carbono) produzem
no produto da figura I uma noção de es-
taticidade formal.
5. A produção flexível, a valorização da
sensibilidade do artista ou do designer
e a preocupação com as necessidades
subjetivas/emocionais dos usuários den­
tro da produção industrial surgiram na
época da Revolução Industrial.
Figura III - Cabeça comemorativa de um rei, Nigéria, Reino do
QUESTÃO 10 Benim. Século XIX. Latão, altura 47 cm. Coleção Eduard Schmidt,
adquirida em 1898

A crise da cultura europeia nos anos que


precederam a Primeira Guerra Mundial, o tédio
da pintura acadêmica de então e a necessidade
de uma ruptura com a tradição abriram o olhar
para uma arte inteiramente distinta. A admira­
ção dos artistas de vanguarda era provocada
pelo suposto primitivismo, pelo vigor originário,
pela animação dos objetos com força mágico-
religiosa. Assim a descoberta da arte da África
foi sobretudo uma projeção. Ela foi construída
como oposto do que se afigurava como tradi­
cional, vazio e entediante no mundo artístico
europeu de caráter acadêmico.

Figura I - Cabeça humana, Nigéria, Ife. Séculos XII a XV. Terraco­ Peter Junge. A recepção europeia da arte da África. In: Arte da Áfri­
ta, altura 19 cm. Coleção Leo Frobenius, adquirida em 1913 ca. Instituto Goethe do Rio de Janeiro, 2004 (com adaptações)
Considerando o texto e as figuras de I a ill Entre as tendências internacionais da arte
acima, julgue os itens seguintes. do século XX, encontramos três correntes prin­
cipais, cada uma delas abrangendo muitos "is-
1. As obras representadas nas figuras I e mos", que surgiram com os pós-impressionistas
II apresentam perfis de rostos humanos e têm-se desenvolvido muito desde então. Ex-
distintos e caracterizam-se pela abstra­ pressionismo, Abstração e Fantasia. A primeira
ção e pelo tratamento livre da forma. enfatiza a atitude emocional do artista para con­
sigo próprio e o mundo; a segunda, a estrutura
2. As obras apresentadas nas figuras de I a formal da obra de arte; e a terceira explora o
III são exemplos da arte africana, que, de­ domínio da imaginação, especialmente em suas
senvolvida a partir de princípios estéticos características irracionais e espontâneas.
predeterminados, serviu de motivação
plástica a muitos artistas modernos. A arte da nossa época. H.W. Janson e Anthony F. Janson. In: Ini­
ciação à história da arte. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1988
3. Na obra ilustrada na figura III, a ex­
pressão do poder real se caracteriza prin­
Considerando o texto acima e a figura ao lado,
cipalmente por insígnias: a gola alta de
julgue os seguintes itens.
colares de corais e coroa, que, de forma
inequívoca, identificam a escultura como
a representação de um rei. 1. O Expressionismo nasce não em oposição
às correntes modernistas, mas no interior
4. A escultura ilustrada na figura II representa
delas, como superação de seu ecletismo
um rosto marcado por formas côncavas e
e de sua retórica progressiva.
convexas, olhos que emergem em forma
cônica, narinas profundas, não como retra­ 2. Nessa obra, as extremidades das figuras
to pessoal, mas como imagem idealizada. das cinco mulheres são alongadas nas
linhas dos sapatos e nos enfeites dos
5. A escultura mostrada na figura III apresen­
chapéus, o que confere a essas mulhe­
ta configurações espaciais simétricas.
res um ar de compaixão, reforçado pela
expressão dos seus rostos.
QUESTÃO 7 7
3. Os pintores da corrente denominada
Fantasia têm em comum a crença de que
a imaginação é mais importante que o
mundo exterior.
4. As vestes escuras contra os tons cla­
ros do fundo da obra ilustrada na figura
enfatizam a sugestão de aspereza e de
dificuldade de comunicação no relacio­
namento entre os seres humanos.
5. A obra apresentada na figura obedece às
regras tradicionais de equilíbrio de com­
posição e de regularidade da forma.

QUESTÃO 12 (PAS/UnB)

Vimos Isadora Duncan estabelecer o vín­


culo que liga a dança grega à dança de amanhã.
Ernst Ludwig Kirchener. Cinco Mulheres na Rua. Dimensões: Um motivo idêntico impelira os pintores a vol­
118 cm x 89 cm. Wallraf-Richertz-Museum, Colônia, 1913 tarem-se para os primitivos. Naturalmente, isso
constitui, para uma e outra arte, apenas uma pintura citados no texto, encontra-se a
etapa, uma transição. A necessidade de criar a perspectiva, em que o artista, por meio
dança nova, a dança do futuro, impõe-se a nós. da representação de objetos, consegue
Também nesse caso será a lei da utilização ne­ o efeito de espessura e de profundidade
cessária do sentido interior do movimento como nas representações artísticas.
principal elemento da dança que decidirá sobre 4. A cor é uma linguagem individual, ou
a evolução e conduzirá ao objetivo. Essa dança seja, cada indivíduo reage a ela subordi­
do futuro, assim elevada à altura da música e nado às suas condições físicas e às suas
da pintura de hoje, concorrerá, como terceiro influências culturais.
elemento, para a composição cênica, primeira
realização da Arte Monumental. A composição
cênica será, portanto, formada primeiramente
pelos três elementos seguintes: o movimento
musical; o movimento pictórico; e o movimento
dançado convertido em arte (...). Os dois ele­
mentos principais da pintura (forma desenhada
e forma pintada) têm, cada um deles, uma vida
autônoma, e só se exprimem através dos meios
que lhes são próprios — e próprios apenas de­
les. Assim como na pintura, a composição só é
produzida pela combinação de seus elementos,
com suas propriedades e suas inúmeras possi­
bilidades; também a composição cênica só será 1 - Patrícia Urquiola. Luminária Chasen.
possível graças à ação concordante (ou discor­ In: Arc Design, n.° 54, jun./2007
dante) dos três movimentos em questão.

Wassily Kandinsky. Do espiritual na arte e na pintura em particular.


São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 116-18 (com adaptações).

Tendo o texto acima como referência inicial,


julgue os itens a seguir, relativos aos elemen­
tos visuais que compõem a pintura e as técni­
cas de representação dos objetos.

1, A forma desenhada, citada no texto 2 - Ross Lovegrove. Luminária Mercury.


como um dos elementos principais da In: Arc Design, n.° 54, jun./2007

pintura, utiliza-se da linha como instru­


mento fundamental da pré-visualização Recentemente, em Milão, foram apresen­
e como meio de representar, em forma tados ao público, na Euroluce, Feira de Ilumi­
palpável, outros elementos visuais. nação, alguns objetos que mostraram o design
e a tecnologia voltados à criação de produtos
2, A textura é uma das categorias plásticas que reflitam aspectos mais humanos: o design
de uma pintura; assim como a cor e a como manifestação exterior de uma necessi­
forma, depende de como é representada dade interna, subjetiva; a razão dando lugar ao
e das ferramentas utilizadas pelo artis­ instinto, que passa a mover a criação.
ta e é um elemento visual que deve ser
apreciado exclusivamente pela visão. Considerando esse contexto e os produtos
3, Entre as técnicas utilizadas para ex­ mostrados nas figuras acima, julgue os itens
pressar um dos elementos principais da que se seguem.
§k m
Ssk

5. No primeiro produto apresentado — Lu­


m inária Chasen —, a utilização da técni­
ca do recorte serve apenas ao emocional
em detrimento do funcional.
6. Com o multiculturalismo e a globalização,
o designer deve considerar, no desen­
volvimento de produtos, o surgimento
das novas tecnologias e materiais, bem
como adquirir conhecimento acerca do
valor de estima e da qualidade percebida
dos produtos industriais.
7. A configuração formal dos produtos
2-W. Kandinsky. Lírica. Óleo sobre tela, 94cm x 130cm. Museu
mostrados faz que as características
Boymans-van Beuningen, Rotterdam, Holanda, 1911
técnicas e as funções práticas desses
produtos sejam facilmente visualiza­
dos.
8. Nos produtos apresentados nas figu­
ras, muitas das tecnologias utiliza­
das são as grandes responsáveis por
uma mudança formal nesses produtos,
que os transforma em representações
oníricas.

3-W. Kandinsky. Composição VIII. Óleo sobre tela, 140cm x 201 cm.
Museu Guggenheim, Nova York, Estados Unidos da América, 1923

A partir das imagens acima, que apre­


sentam obras do artista Wassily Kandinsky,
julgue os itens a seguir, relativos a aspectos
formais da pintura abstrata e às estruturas for­
mais associadas à expressividade dos elemen­
tos encontrados nas referidas obras.

9, Telas enormes e melancólicas, com as­


pecto inquietante e perturbador, e artis­
tas com a preocupação em dar noção de
profundidade fazem parte das tendên­
cias da pintura abstrata.
10, Os artistas da arte abstrata utilizavam as
linhas retas e curvas e o relacionamento
delas com o todo para, por meio da si­
metria, chegar ao equilíbrio.
1-W. Kandinsky. Improvisação 7. Óleo sobre tela, 131 cm x 97
11, As formas idealizadas por Kandinsky,
cm. Galeria Tretyakov, Moscou, Rússia, 1910
nas obras apresentadas acima e em suas

253
obras, de maneira geral, são formas vi­
suais para comunicar a ideia de reali­
dade.
12 . A pintura de Kandinsky pode ser con­
siderada como o início da moderna arte
abstrata.
13. A obra Im provisação 7 , ilustrada acima,
revela que a cor pode, independente­
mente do conteúdo, despertar emoção.
Nessa obra, a tinta é aplicada sem ar­
ranjo prévio sobre a tela. Tarsila do Amaral. Operários. Óleo sobre tela, 150cm x 205cm,
1933, coleção do governo do estado de São Paulo
14. Por meio de um trabalho solto de pincel,
Kandinsky criou uma pintura absoluta­
mente objetiva na obra Lírica, ilustrada Considerando o fragmento de texto acima e
acima. essa pintura de Tarsila do Amaral, julgue os
próximos itens.
15. A obra Composição VIII apresenta for­
mas simplificadas e, nela, encontra-se a
sobreposição de planos, iluminados por 1. Na pintura de Tarsila do Amaral, é pos­
luz clara, sem foco específico. sível reconhecer, com base na classifi­
cação biológica, as diversas raças que
QUESTÃO 13 (PAS/UnB) constituem o povo brasileiro.
2. Os artistas modernos brasileiros, entre
Com o início tardio da industrialização eles, Tarsila do Amaral, contribuíram,
brasileira, surgiu a classe operária urbana. com sua produção artística, para propa­
A grande quantidade de mão-de-obra operá­ gar os ideais da Revolução Industrial, tais
ria disponível permitia que os patrões sub­ como a jornada de 14 horas de trabalho.
metessem seus empregados a miseráveis
3. Tarsila do Amaral é um dos expoentes do
condições de trabalho. A nascente classe
Modernismo brasileiro, amplo processo
operária brasileira vivia a seguinte situação
de renovação cultural que desabrochou
na República Velha: jornada diária de tra ­
com o fim da Segunda Guerra Mundial e
balho de 14 a 15 horas; exploração de tra ­
da ditadura getulista.
balho infantil nas fábricas; total ausência
de higiene nos locais de serviço; falta de
QUESTÃO 14 (PAS/UnB)
proteção e ocorrências frequentes de aci­
dentes de trabalho. Além disso, mulheres
e meninas sofriam, constantemente, assé­
dio e abuso sexuais por parte dos patrões,
mestres, contramestres e não havia direitos
trabalhistas, como salário mínimo, recebi­
mento de horas extras, férias remuneradas,
descanso semanal, aposentadorias e inde­
nização por acidente em serviço. Como os
salários das mulheres e das crianças eram 1 2
bem menores que o dos homens, os patrões
preferiam contratar a mão de obra feminina Ilha de Marajó, uma das maiores rique­
e infantil. zas intocadas do Brasil, teve seu repertório
Internet: < www.expo500anos.com.br> (com adaptações) de maravilhas revelado na mostra Brasil 500
Anos, realizada em São Paulo. A sua popu­
lação, que é extremamente pobre, hoje, por
meio das ações do Laboratório Piracema de
Design e em conjunto com alguns profissio­
nais, redescobre Marajó a partir de sua vege­
tação, de seus manguezais, dos adornos nas
casinhas de madeira, dos desenhos majesto­
sos da cerâmica pré-cabralina. O resultado de
ações como essa é a demonstração de que
o design de raiz artesanal, exemplificado nas
figuras I e II ao lado, é um caminho viável e
interessante para o desenvolvimento de um
vernáculo brasileiro.

Maria Helena Estrada. De Marajó a Moçambique. In: ARC Design,


n.° 46, 2006 (com adaptações)

À luz do texto e das figuras apresentados e


acerca da arte e do design no Brasil, julgue os
itens subsequentes.

1. As ações desenvolvidas na Ilha de Mara­


jó referidas no texto permitem, para a
arte da população daquela ilha, recupe­
ração de ícones e de simbolismos por
meio de um processo de transposição da
cultura popular para uma linguagem con­
temporânea.
2. Técnicas de trançados foram utilizadas
na obtenção dos produtos ilustrados nas
figuras I e II, sendo que a figura II faz
alusão aos traços gráficos típicos da cul­
tura marajoara.
3. Os produtos apresentados nas figuras
I e II são exemplos de design que uti­
lizam em seu desenvolvimento referên­
cia racional e funcionalista. 5

Winnie Bastian. Design em quatro elementos.


In: ARC Design, n.° 45, 2005

As figuras de I a V correspondem a ima­


gens de selos criados por Lars Sjõblom para
as comemorações do ano do design na Sué­
cia e reproduzem, de forma estilizada, ícones
do design desse país. Essas imagens possuem
• -£■ --r- - •-- -- em sua composição estruturas formais, sim­
1 bólicas e cognitivas.
Com relação aos elementos que integram a Considerando as figuras I e II, que ilustram
estrutura dessas composições, julgue os pró­ obras, respectivamente, de Robert Smithson
ximos itens. e de Donald Judd, julgue os itens a seguir,
acerca da arte contemporânea.

4 . O conceito de harmonia é ilustrado na


figura I, por apresentar fatores de ordem, 9 . A arte performática e as instalações têm
regularidade e equilíbrio visual, com dis­ em comum características que lembram
tribuição homogênea das unidades. a arte tradicional, envolvendo diversas
técnicas, como pintura ou escultura, e
5 . No selo representado na figura II, cores
expressam idéias em seu sentido mais
frias e quentes são utilizadas para propor­
literal possível.
cionar sensações de primeiro plano e de
profundidade. 10. O Expressionismo A bstrato, primeiro
dos grandes movimentos artísticos
6 . Na representação do relógio ilustrado na fi­
do pós-guerra, originou-se do Surre­
gura III, foram utilizadas unidades formais.
alismo.
7 Na composição do selo ilustrado na figura IV,
11 . Pinceladas vigorosas, cores intensas,
com o contraste apresentado, que constitui
motivos chapados e formas e perspec­
estratégia visual para aguçar o significado,
tivas distorcidas eram técnicas predo­
busca-se atrair a atenção do observador
minantes nas obras do Expressionismo
para a imagem da cadeira em vermelho.
Abstrato.
8 . A composição apresentada na figura V ex­
12 . A figura I ilustra uma obra de um dos
pressa o conceito de equilíbrio absoluto pela
mais representativos artistas do Ex­
distribuição equitativa dos pesos visuais.
pressionismo, movimento que teve
como características o conteúdo re­
conhecível, a referência histórica e a
subjetividade.
13 . O movimento artístico conhecido
como Minimalismo, que surgiu nos
Estados Unidos da América nas dé­
cadas de 60 e 70 do século passado,
teve em Donald Judd, Robert Morris,
Carl André e Dan Flavin alguns de
seus representantes.
14 . Na obra ilustrada na figura II, o ritmo é
Figura I - Robert Smithson. Spiral Jetty, 1970
caracterizado pela repetição das figu­
ras e pelas conexões visuais ininter­
ruptas.
15 . A obra ilustrada na figura II é caracterís­
tica do trabalho de Donald Judd, artista
que, por meio da simplicidade da forma
e com o objetivo de expressar a vida
interior, utilizava como referência a rea­
lidade visual.

Figura II - Donald Judd


Artes Cênicas e Música 2 . O sentimento de Independência do Brasil,
traz consigo o nacionalismo expressado em
obras literárias e teatrais da época, como
QUESTÃO 15 necessidade de autoafirmação da Pátria.
3 . Castro Alves, o poeta da Abolição, tam­
"A gesticulação, a mímica, a dança, bém contribuiu com o teatro brasileiro, tra­
o canto - todos elementos constitutivos de zendo em si obras com temas nacionais,
teatro — , são os primeiros meios de comuni­ que são características do romantismo.
cação social de que se serve o ser humano."
4 . João Caetano é o 10 ator verdadeiramen­
"No Brasil, à época do descobrimento, te brasileiro, mas se recusa a interpretar
não faltavam às tribos nativas as cerimônias textos escritos no Brasil.
rituais, com o seu corolário inevitável de
símbolos, lendas, mimos, cânticos, música QUESTÃO 17
e danças."
O Realismo foi um movimento artístico
(Revista de Teatro - set/out., 1977) do final do século XIX, em oposição ao subje-
tivism o do Romantismo. Analise os itens so­
A partir das informações acima, julgue os itens bre o Realismo no teatro brasileiro:
relacionados ao teatro catequético no Brasil:
1. O teatro realista brasileiro foi uma tri­
1. As celebrações ritualísticas dos índios buna onde combinava descrição com
foram censuradas pelos padres jesuítas, prescrição.
que aqui chegaram para converter os na­ 2 . A criação do Ginásio foi de grande im­
tivos à religião católica. portância para que os dramaturgos rea­
2 . Os intérpretes do teatro catequético listas pudessem encenar seus textos.
eram os índios convertidos ao cristianis­ 3 . No início de suas atividades, o Teatro Gi­
mo, colonos e noviços. násio apresentou algumas comédias rea­
3 . Os jesuítas apropriaram-se do teatro com listas francesas que muito influenciaram
o intuito de apenas divertir os colonos, os nossos escritores.
pois quando aqui chegaram já havia uma 4 . A nova estética da ação do teatro realis­
produção teatral intensa. ta foi bem aceita pelos críticos.
4 . O teatro catequético tinha como seu
maior representante o jesuíta José de QUESTÃO 18
Anchieta, que trouxe em sua bagagem
características do teatro medieval, ainda Sobre as principais características do Teatro
usado na Espanha e Portugal. de Revista, julgue os itens:

QUESTÃO 16
1. É um tipo de espetáculo que não carece
de texto prévio.
Julgue os itens sobre o teatro romântico no
Brasil: 2 . É uma espécie de representação com o
simples objetivo de provocar risos, sem
nenhum conteúdo literário.
1 . O teatro surge no Brasil na 1a metade
do século XIX, com a estreia da peça 3 . No Brasil, século XIX, Artur Azevedo foi
Antonio José ou o Poeta e a Inquisição, o seu principal representante com a peça
de Gonçalves Dias. O Tribofe.
4. A Revista tinha como característica A partir do texto, julgue os seguintes itens
partes faladas e cantadas a respeito relativos ao teatro jesuítico no Brasil:
dos principais acontecimentos sociais e
políticos do ano, com elegância e ironia. 1. Por ser a população da época predominan­
temente indígena, os autos eram represen­
QUESTÃO 19 tados integralmente em língua tupi.

Julgue os itens: 2. Apesar de o propósito catequético ser


superior ao estético, a descrição da re­
presentação do auto Na Festa de São
1. No teatro de revista aparecem quadros Lourenço demonstra zelo, por parte dos
independentes, como se fosse desfo- jesuítas, na escolha do local e da am-
Ihando uma revista impressa. A diferen­ bientação cênica.
ça está em seu movimento e no colorido
dado pelos personagens em cena. 3 . 0 padre José de Anchieta foi, no Brasil
do século XVI, um dos maiores divulga­
2. A "quarta parede" do teatro naturalista é dores da fé cristã, utilizando a represen­
utilizada pelo compère, que tem a função tação de autos sacramentais como ins­
de localizar e esclarecer a platéia sobre trumento catequético.
os quadros apresentados.
3 . O teatro de revista é realista, pois contém QUESTÃO 21
os acontecimentos contemporâneos, sa­
tirizando-os de forma cômica e elegante. Julgue os itens abaixo:

4 . Era a capital Paulista o palco para a Re­


vista das década de 1930 e 1940. 1. Arena Conta Z u m b i (1967) e Arena Con­
ta Tiradentes (1967), escritos por Au­
QUESTÃO 2 0 gusto Boal, tomavam por protesto a his­
tória para evocar revoluções sufocadas
A obra-prima de José de Anchieta para o ou mortas em seu nascedouro.
teatro talvez seja o auto Na Festa de São Lou- 2. Na peça Arena Conta Z um bi foi usado,
renço, representado, provavelmente em 1 586, pela primeira vez, o sistema curinga.
por ocasião da festa do santo, na vila de São
3 . Revolução na Am érica do Sul, de Augus­
Lourenço (em território da atual Niterói).
to Boal, marca a influência de Brecht no
Brasil.
Para esse fim, o genial jesuíta criara um
verdadeiro teatro, obviamente ao ar livre. A 4 . No Brasil, os primeiros indícios de in­
cena tinha sido armada no altar da igreja, e satisfação com o teatro político apare­
em um lado surgia um pavilhão destinado aos ceram em 1967, com a peça D ois Per­
padres da missão, ornamentado com ramos, didos Num a N o ite Suja e N avalha na
imagens religiosas e símbolos sagrados; o Carne, onde o autor atribui ao social
palco estava cercado de plantas odoríferas e uma função secundária, concentrando-
trepadeiras e era fechado por duas cortinas se nos conceitos interindividuais e psi­
de damasco vermelho. Atrás do palco havia cológicos.
camarins bem simples; o cenário era formado 5 . Na peça Eles Não Usam Black-Tie,
pela própria paisagem e pela fachada do tem­ Guarnieri instituiu, pela primeira vez
plo. Como as representações eram à noite, no teatro brasileiro, a favela carioca
tudo era iluminado por tochas de resina. como cenário de uma peça, os favela­
dos como seres humanos e não como
Mário Cacciaglia. Pequena história do teatro no Brasil, p. 12
(com adaptações)
figuras de folclore.
QUESTÃO 2 2 o solo da guitarra, porque os dois instru­
mentos têm intensidade diferentes.
Sobre Antunes Filho e Gerald Thomas, é cor­ 2. Do mesmo modo que se pode diferenciar
reto afirmar: sons longos de curtos, também se pode
diferenciar silêncios longos de curtos.
1. Ambos são diretores teatrais brasileiros, 3 . Os fatores que possibilitam a identifica­
mas de pouco reconhecimento. ção da voz de uma pessoa incluem o seu
2. Antunes Filho obteve reconhecimento timbre característico e a sua articulação
artístico com a montagem do espetácu­ de fala.
lo M acunaím a, em 1974, ainda sob a 4 . A voz da cantora de MPB Cássia Eller
pressão da censura. pode ser considerada um exemplo de
3 . Gerald Thomas, um grande diretor de voz aguda.
vanguarda, concebe sua direção com to­
tal atenção para o ator, no que é criticado
por confundir a linguagem cinematográ­ QUESTÃO 2 4
fica com a do teatro.
A Oficina Básica de Música propõe uma
4 . Preocupado com a preparação do ator,
aproximação desinibida entre o indivíduo e o
Gerald Thomas aprimora o lado técnico
mundo do fazer musical. Compor, improvisar,
do mesmo através de trabalhos vocais e
criar sons, construir instrumentos, desenvol­
corporais.
ver uma percepção aguçada para todos os
sons e fazer música com instrumentos não
QUESTÃO 2 3
convencionais, são exemplos de atividades
O fenômeno sonoro apresenta quatro desenvolvidas na oficina.
características básicas: altura, duração, tim ­
bre e intensidade. A altura relaciona-se dire­ Com relação a esse tema marque a alternativa
tamente com a frequência das ondas sono­ correta:
ras e permite a identificação e diferenciação
de sons agudos e sons graves. A intensida­ 1, As variadas formas de se utilizar o próprio
de sonora relaciona-se com a quantidade de corpo como instrumento para produzir
energia que provocou a vibração sonora, o sons constituem uma opção válida ao
que permite diferenciar entre sons fortes e emprego de instrumentos tradicionais ou
sons fracos. O timbre é uma característica especialmente desenvolvidos para elabo­
sonora resultante da vibração dos corpos, rar construções musicais.
sendo que cada objeto ou ser vivo, pelas
2. Na oficina, a única forma de composição
suas peculiaridades físicas, tem seu próprio
musical é o improviso.
timbre, o que permite diferenciar vozes, ins­
trumentos musicais e objetos sonoros. A du­ 3 . Uma das atividades que podem ser
ração é a propriedade que permite identificar desenvolvidas na oficina é a criação
e diferenciar sons longos e sons curtos. de novas sequências de sinais para
representar os sons ou as formas de
Com relação aos conceitos apresentados aci­ produzí-los.
ma, julgue os itens: 4 , A prática de oficina contribui para me­
lhorar a percepção do ambiente em que
1 , Em muitos conjuntos instrumentais, o o indivíduo se encontra, já que o ajuda a
baixo elétrico pode ser usado para fazer qualificar e compreender criativamente
a base ou linha melódica mais grave que os sons do seu entorno.
QUESTÃO 2 5 1. O rock, gênero popular internacionalizado
pelo mercado fonográfico, tem muito em
0 século XX presenciou o desenvol­ comum com a música do século XVIII des­
vimento de vários aspectos importantes na crita no texto como ideal: é agradável ao ou­
história da música, a junção com alguns es­ vido, despojado de complexidades técnicas,
tilos das artes visuais, a experimentação de cativante a qualquer ouvinte de sensibilida­
novos materiais, o surgimento da música de mediana. O rock brasileiro, por não estar
eletrônica. Julgue os itens: limitado a fronteiras nacionais, afirma a uni­
versalidade dos ideais do século XVIII.
•j. Foi o período onde apareceram impor­ 2. O rápido desenvolvimento das mídias nas
tantes compositores norte-americanos e últimas décadas tem contribuído para a
latino-americanos. internacionalização do pensamento, com
reflexos na arte atual; as mídias têm elimi­
2. A ascensão de estilos internacionais na
nado barreiras entre diferentes linguagens
música, pela primeira vez desde o Perío­
artísticas e criado novos fazeres em arte.
do Clássico do século XVIII.
3 . O quesito "linguagem (...) universal,
3 . A procura de novos princípios harmôni­
não limitada pelas fronteiras nacionais"
cos que substituíssem a harmonia tradi­
da música considerada ideal no século
cional de tônica dominante.
XVIII, pode ser verificado na obra Pago­
4 . A continuidade de pensamento român­ de Russo, de Luiz Gonzaga. Nessa sáti­
tico ainda é usado nas melodias. ra, o autor reinterpreta as festas popu­
5 . A falta de espírito nacionalista. lares russas, utilizando uma melodia no
modo maior, com ritmo de baião.
4 . Mozart viveu na época cosmopolita de
QUESTÃO 2 6 que trata o texto. A ópera As Bodas
de Fígaro é produto das idéias do sécu­
A Europa do século XVIII era cosmopoli­ lo XVIII. Nessa ópera, as diferenças de
ta. As diferenças nacionais eram minimizadas, classe social são amenizadas, já que per­
enquanto se sublinhava a natureza comum de sonagens da nobreza (conde e condessa
todos os homens. A internacionalização da vida Almaviva) se envolvem amorosamen­
e do pensamento refletia-se também na arte. te com serviçais (Fígaro e Susanna), e
A música considerada ideal na época pode ser Mozart, propositadamente, valoriza, na
descrita como se segue: sua linguagem devia trama, a personalidade de Susanna com
ser universal, não limitada pelas fronteiras na­ árias musicalmente mais interessantes.
cionais; devia ser, ao mesmo tempo, nobre e
5 . O enredo de A s Bodas de Fígaro, de Mozart,
agradável; devia ser expressiva, mas dentro
guarda semelhança com a trama da peça O
dos limites do decoro; devia ser natural, ou
Rei da Veia, de Oswald de Andrade: ambas
seja, despojada de complexidades técnicas inú­
as obras são metáforas de suas épocas.
teis, e capaz de cativar imediatamente qualquer
Uma diferença, no entanto, é que na obra
ouvinte de sensibilidade mediana; o compositor
citada de Mozart aparecem questões de foro
devia escrever em um estilo mais popular e uni­
íntimo das pessoas, dos dramas individuais
versalmente inteligível e agradável.
de cada um, e Oswald de Andrade, na refe­
Donald Grout e Claude Palisca. História da música ocidental —
rida peça, é mais crítico, mais direto e agres­
pensamentos sobre a música do século XVIII. Lisboa: Gradiva, sivo em relação às questões sociais.
1988, p. 480 (com adaptações)
6. O 3o movimento da Serenata em Sol M
(Eine Kleine Nachtm usik), de Mozart, é um
Considerando as idéias contidas no texto pre­ minueto dançado nos salões da nobreza
cedente, julgue os itens a seguir:
do século XVIII. Composta quase dois sé­ 5 . No quadrinho, a denominação "bate-esta­
culos depois, a valsa Faceira, de Ernesto ca" tem conotação pejorativa.
Nazareth, foi dançada nos salões do Rio
de Janeiro. Nota-se, porém, que, mesmo QUESTÃO 2 8
se tratando de gêneros diferentes de músi­
ca, há semelhança na estrutura formal das O ano de 1968 foi explosivo em todo o mun­
peças: ambas têm a forma ABACADA. do, inclusive no Brasil. Os acontecimentos políticos
e sociais desse ano foram também marcantes para
QUESTÃO 2 7 a história da música popular brasileira. Os festivais
de música, que aconteciam desde 1965, além de
lançarem nacionalmente compositores, intérpre­
tes e bandas, consistiam também em um fórum
de discussão sobre cultura e política brasileiras;
os músicos eram frequentemente considerados
com base em seus posicionamentos políticos. Os
festivais, promovidos e transmitidos ao vivo pela
televisão (Excelsior, Record, Globo), eram compe­
titivos e o público participava ativamente. Um dos
acontecimentos que marcaram o ano de 1968,
foi o discurso antológico que Caetano Veloso fez
durante a fase eliminatória do III Festival Interna­
cional da Canção (FIC) da TV Globo, no Teatro da
Universidade Católica — reduto da UNE e do PCB.
Sob vaias incessantes e com objetos atirados no
palco, ele dizia: "Mas é isso que é a juventude que
Considerando a história em quadrinhos aci­
diz que quer tomar o poder? Vocês não estão en­
ma, julgue os itens a seguir:
tendendo nada, nada, nada, absolutamente nada.
Que juventude é essa? Gilberto Gil está aqui comi­
1. Versos que se repetem, como no segun­ go para nós acabarmos com o festival e com toda
do quadrinho, são usados nas músicas a imbecilidade que reina no Brasil. Nós, eu e ele,
Geração Coca-Cola e Sociedade A lte rn a ­ tivemos coragem de entrar em todas as estruturas
tiva. e sair de todas. E vocês? E vocês?"
2. Tanto O Trenzinho do Caipira quanto Fa­ L. Worms e W. Costa, 2002, p. 107 e de F. Cáceres,
roeste Caboclo se enquadram na categoria 1993, p. 334. (com Adaptações)

de músicas com refrão, embora este esteja


presente somente na parte melódica. Considerando o texto acima, julgue os itens
a seguir, acerca dos acontecimentos de
3 . A técnica de começar a música com o
1968 na música popular brasileira:
refrão, inovação no rock de Raul Seixas
(Sociedade A lternativa e M etam orfose
A m bulante) , tem sido imitada por várias 1. Considerada um hino de resistência ao re­
correntes da MPB. Ela é característica gime autoritário, a música Caminhando con­
também no rock de Cazuza (Bete Balanço), tra o vento ("Caminhando e cantando / e
Skank (Rebelião) e mesmo nas músicas do seguindo a canção / somos todos iguais /
Quinteto Violado (Entrada de Bois de Reis) braços dados ou não"), composta por Chico
e da mídia em geral, como Festa no Apê. Buarque, foi interpretada por Geraldo Van-
dré no Festival de Música da TV Record.
4 . A repetição de padrões musicais, muitas
vezes usada no baixo, é encontrada nas 2. A música de protesto convivia com vários
músicas Bete Balanço e Coco Dub. outros movimentos, tendências e gêne-
ros musicais. Entre estes, estava a Jo­ dança nova, a dança do futuro, impõe-se a nós.
vem Guarda, voltada ao gênero iê-iê-iê e Também nesse caso, será a lei da utilização ne­
representada especialmente por Roberto cessária do sentido interior do movimento como
Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia. principal elemento da dança, que decidirá sobre
a evolução e conduzirá ao objetivo. Essa dança
3 . 0 LP Tropicália foi o grande acontecimento
do futuro, assim elevada à altura da música e da
musical do Tropicalismo. O disco apresen­
pintura de hoje, concorrerá, como terceiro ele­
ta uma colagem de sons, gêneros e ritmos
mento, para a composição cênica, primeira reali­
populares, nacionais e internacionais. As
zação da Arte Monumental. A composição cêni­
composições, assinadas por Gilberto Gil,
ca será, portanto, formada primeiramente pelos
Caetano, Torquato Neto, Capinan e Tom
três elementos seguintes: o movimento musical;
Zé, apresentam fragmentos sonoros e ci­
o movimento pictórico e o movimento dançado
tações poéticas, em um mosaico cultural
convertido em arte (...). Os dois elementos prin­
saturado de crítica ideológica.
cipais da pintura (forma desenhada e forma pin­
tada) têm, cada um deles, uma vida autônoma,
QUESTÃO 2 9 e só se exprimem através dos meios que lhes
são próprios — e próprios apenas deles. Assim
Na obra Os Planetas, de Gustav Holst, o
como na pintura, a composição só é produzida
primeiro movimento, que se refere ao planeta
pela combinação de seus elementos, com suas
Marte, o "causador da Guerra", inspirou John
propriedades e suas inúmeras possibilidades;
Williams a compor a música do filme Guerra
também a composição cênica só será possível
nas Estrelas. A partir dessa informação, julgue
graças à ação concordante (ou discordante) dos
os itens que se seguem:
três movimentos em questão.

Wassily Kandinsky. Do espiritual na arte e na pintura em particular.


1. Sabendo-se que a velocidade de escape São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 116-18 (com adaptações)
de Marte é de 5 km/s e que a da Terra
e 1 1,18 km/s, é correto concluir que um A partir do texto acima, e considerando
corpo precisaria de aproximadamente o as obras musicais Ópera do Malandro, de
dobro de energia cinética, em relação a Chico Buarque de Hollanda, Prelúdio e Fuga
Marte, para escapar da Terra. n° 1 em Dó Maior e Concerto de Brandem-
2 . Em M arte, 1o movimento da suíte Os burgo n° 2 em Fá Maior, de J. S. Bach, julgue
Planetas, o compositor intervém no os seguintes itens:
equilíbrio formal da obra, por meio de
1. O autor menciona no texto que a pintura
contrastes tímbricos e de andamento.
possui elementos que lhe são próprios.
3 . Em M arte, 1o movimento da suíte Os Também na música, identificam-se ele­
Planetas, a alternância entre os naipes de mentos próprios, como a melodia, o acom­
metais e cordas e a presença do ostinato panhamento harmônico e o ritmo.
aumentam a carga expressiva da peça,
além de ajudar na definição das seções. 2 . No texto, o autor propõe que, para a com­
posição cênica, as artes — música, pintura e
dança — interajam. A interação entre distin­
QUESTÃO 3 0
tas artes encontra-se na Ópera do Malandro,
obra de Chico Buarque de Hollanda.
Vimos Isadora Duncan estabelecer o vín­
culo que liga a dança grega à dança de amanhã. 3 . Exemplificam a interação entre distintas
Um motivo idêntico impelira os pintores a se artes, as seguintes obras do compositor J.
voltarem para os primitivos. Naturalmente, isso S. Bach: Prelúdio e Fuga n ° 1 em Dó Maior,
constitui, para uma e outra arte, apenas uma O Cravo Bem Temperado, e Concerto de
etapa, uma transição. A necessidade de criar a Brandemburgo n° 2 em Fá Maior.
*
Música Brasileira no sécu/o X X : política de "boa vizinha nça " adotada pe­
consolidação e crescimento los EUA, para aproxim ação com a A m éri­
ca Latina no período da II Guerra Mundial
A Época de Ouro (1 9 3 9 -1 9 4 5 ). Um marco desse m om ento
é o film e A lô A m igo s (1 9 4 2 ), de W alt Dis­
Durante as décadas de 1 9 3 0 e 1 9 4 0 , ney, que contou com a participação de
gravadoras e estações de rádio surgiram Carmen e lançou o personagem Zé Cario­
e cresceram no Brasil, configurando-se, ca. Portuguesa de nascim ento, brasileira
assim, um mercado da música com can­ de fa to , Carmen M iranda é um dos ícones
tores, com positores, program as de audi­ mais reconhecidos da brasilidade até os
tó rio , revistas especializadas, fãs-clubes dias de hoje. Seu estilo foi inspiração, até
e tod o o universo característico de uma mesmo para os integrantes da Tropicália.
indústria cultural.

No período conhecido com o Época


de Ouro surgiram , em uma mesma ge­
ração, vários a rtista s ta le n to so s , com o
A ry Barroso, a u to r de m archinhas, apre­
sentador, au tor das fam osas m úsicas Os
quindins de Yáyá, Tabuleiro da baiana e
im ortalizad o com sua A qua rela do Bra­
sil. Lam artine Babo, seu contem porâneo
e parceiro, co n trib u iu com com posições
volta das para o go sto popular. A u to r de
m archinhas fam osas, com o O teu cabe­
lo não nega, fo i ap resentador, além de
c o m p o sito r dos hinos de boa parte dos
clubes do fu te b o l carioca.
Carmen Miranda, a Pequena Notável
Em meio a todo esse "fre n e s i" de
produções, discos e program as de rádio, Esse período teve na radiodifusão o
surge a "Pequena N otá vel". Com apenas seu maior veículo e lançou dezenas de ar­
1,52 m de altura, pernas torneadas, olhos tistas ao estrelato. As décadas de 1940 e
castanhos e sorriso largo, Carmen M iran­ 1950 ficaram conhecidas como a "Era do
da pode ser considerada a m aior repre­ Rádio", e nomes como Mário Lago, Fran­
sentante da ascensão da música brasilei­ cisco Alves, Dorival Caymmi, Vicente Ce­
ra para o m undo. Desde cedo dem onstrou lestino, Cauby Peixoto, Sílvio Caldas, Nel­
grande destreza para o canto e presença son Gonçalves, Emilinha Borba, Marlene e
de palco, que logo cham aram a atenção Elizeth Cardoso eram parte do dia a dia m u­
da crítica especializada, sendo assedia­ sical do povo brasileiro. Serestas, marchi­
da por vários com positores e gravadores. nhas, sambas embalaram as gerações des­
Chegou a ser a artista mais bem paga de sa época e foram , em boa medida, espaço
H ollyw ood e, ao longo de sua carreira, fértil para a criação de estilos e costumes
pa rticipou de 13 film es; era a época da musicais das décadas seguintes.
I :
m i*
A M odernização da M úsica Brasileira nias mais que audaciosas, mas sem esque­
cer a simplicidade, sendo cantada de forma
O termo "bossa nova" significa um jei­ "m iúda" e sem vibrato na voz, muito comum
to novo e engenhoso de fazer alguma coisa. para os cantores de então.
Até o Presidente Juscelino Kubitscheck, com
sua política desenvolvimentista, foi chama­ Subjetivista e com forte apelo poético
do de "presidente bossa nova". Era um pe­ e lírico, esse novo gênero ganhou admirado­
ríodo de crescimento da economia mundial res em todo o mundo. Cantores como Sara
e o Brasil vivia os seus "anos dourados". Vaughan, Stan Getz e Frank Sinatra inter­
Na zona sul do Rio de Janeiro (região mais pretaram canções de compositores brasi­
nobre e mais rica da cidade) surgiram com­ leiros. Billy Blanco, Baden Powell, Newton
positores e intérpretes que, com influência Mendonça, Carlos Lyra, Roberto Menescal,
"jazzística", criaram o estilo musical que fi­ Johnny A lf e toda uma série de intérpretes e
cou conhecido no Brasil e no mundo como compositores marcaram a produção musical
"Bossa Nova". dos "anos dourados", propiciados pela esta­
bilidade política e econômica.

Em 1962, Tom Jobim e Vinícius de


Moraes escreveram Garota de Ipanema,
uma ode à mulher carioca, que a im orta­
lizou com poesia e sensualidade. Até hoje
é a música brasileira mais executada em
todo o mundo. Nomes como, Francis Hime,
Marcos e Paulo Sérgio Valle, Nelson M otta,
Ruy Guerra, Edu Lobo e Chico Buarque de
Hollanda representam uma geração inteira,
influenciada pelo estilo que abriu as portas
para a definição daquilo que ficou conheci­
do como Música Popular Brasileira.

A Televisão, a D itadura e o Protesto

Em 19 de setem bro de 1950, foi


tra nsm itid o o prim eiro programa de te le ­
visão no Brasil, conhecido com o "T V na
Taba". Então, a TV Tupi paulista e a TV
Tom Jobim e Vinícius de Moraes Tupi carioca deram início à caminhada da
televisão, graças ao espírito em preende­
Em 1958, foi lançada a música Chega dor de Assis Chateaubriand. Mesmo as­
de Saudade, que foi, sem dúvida, o ponto sim esse processo foi lento, ganhando
de partida para essa nova corrente musical. força a partir de 1960, quando cresce­
Antônio Carlos Jobim, Vinícius de Moraes, ram o número de emissoras e o preço dos
Luis Bonfá e João Gilberto apresentavam aparelhos dim inuiu. A televisão trouxe, a
uma nova forma harmônica e rítmica, que partir daí, uma nova dimensão artística e
na voz deste ultimo ganhava um aspecto estética à cultura brasileira, a presença
intimista todo particular. A Bossa Nova pas­ de uma densa produção musical perm i­
sou a figurar, não só como um gênero musi­ tiu a criação de m om entos m emoráveis
cal mas também como um estilo de vida que nas telas espalhadas pelos lares do país.
definia um grupo dessa época, com harmo­ Pressionada por uma geopolítica bipolar,

266
no período da "Guerra Fria", a cultura na­ ríodo, até mesmo Tim Maia e Raul Seixas
cional com eçou a sucum bir ao padrão es­ dialogaram com o "iê-iê-iê" antes de segui­
tadunidense e o "R ock and Roll" teve um rem seus estilos próprios. Roberto Carlos é
apelo m uito fo rte na juve ntud e brasileira. considerado por muitos, até a atualidade,
como o "Rei" da música brasileira.
Elvis Presley e The Beatles foram
só o "carro-chefe " desse "co m b o io " acul- O ano de 1968 marcou a efervescên­
turante, que teve na cantora Celly Cam­ cia dos m ovim entos populares em todo o
peio um de seus primeiros divulgadores mundo: na França, em maio, os estudan­
no Brasil, e ganhou form a e conteúdo nas tes em marcha; na Tchecoslováquia acon­
telas da televisão com a Jovem Guarda: tecia a "Primavera de Praga"; nos EUA o
programa de auditório inciado em 1965, m ovim ento "H ippie" e os protestos contra
pela TV Record, e apresentado por Rober­ a Guerra do Vietnam ferviam ; e no Brasil a
to Carlos, W anderléia e Erasmo Carlos. O "Passeata dos Cem M il" exigia a volta da de­
"iê-iê-iê" demarcava o "am erican w a y of mocracia. A Ditadura respondeu às reivin­
life " em terras brasileiras: chicletes, cal­ dicações com o endurecimento do regime,
ças jeans, carrões, m otocicletas, tênis e traduzido no famigerado A to Institucional
todo um sortim ento de usos e costum es N° 5 (AI-5), que autorizava arbitrariedades,
atípicos às matrizes culturais do país. reafirmava a censura, institucionalizava a
repressão e dava espaço para torturas e
execuções. Parte dessa geração encontrou
na música um espaço para refletir, mani­
festar suas inquietações e protestar contra
a situação social e política nacional.

Roberto Carlos, Wanderléia e Erasmo Carlos

A rtistas e grupos musicais, como


Jerry Adriani, W anderléia, Vanusa, Eduar­
do Araújo, Sérgio Reis, Os Vips, Ed W ilson,
Rosemary, Os Incríveis, Renato e seus
Blue Caps, Os Golden Boys, The Fevers
embalaram os jovens nos prim eiros anos
da Ditadura M ilitar. Os críticos tachavam
a Jovem Guarda de aculturada e alienante
e, em 1968, com o fim do programa, este
estilo foi perdendo espaço para a música Gilberto Gil na Passeata dos Cem Mil
de protesto e o Tropicalism o. M uitos dos
seus integrantes migraram para o estilo ro­ Os Festivais de Música Popular Brasi­
m ântico, sertanejo e pop. leira, realizados pelas emissoras de televi­
são, a partir de 1965, marcaram época com
Entretanto, purezas culturais à parte, nomes, como Elis Regina, Caetano Veloso,
deve-se levar em conta a repercussão e toda M ilton Nascimento, Gilberto Gil, Gal Costa,
uma galeria de artistas que vieram desse pe­ Rita Lee, Chico Buarque, Geraldo Vandré,
Chico Buarque e o MPB4, Festival da música, 1967

Jair Rodrigues, Roberto Carlos, Tony Tor­ Arnaldo Batista, Baby Consuelo, W ally
nado, Sérgio Ricardo, Clara Nunes, MPB4, Salomão, Rogério Duprat, Pepeu Gomes,
que entoavam músicas, como: Arrastão, A Paulinho Boca de Cantor e Moraes Moreira
banda, É proibido proibir. Ponteio, Alegria fizeram uso de vários estilos, como o rock,
alegria, Roda viva, Divino maravilhoso. Dis­ baião, forró, balada, xaxado e samba para
parada, Sabiá, Domingo no parque, Tra­ fusões perform áticas e melódicas.
vessia, BR-3, entre outras. A popularidade
e o apelo ao protesto davam aos festivais Foi um movimento que abarcava várias
ares de espaço para a liberdade de expres­ estéticas e mídias: no cinema, Glauber Ro­
são e imprimiram na memória nacional um cha, nas artes visuais, Hélio Oiticica e no tea­
cenário de tons que contrastavam com os tro, José Celso Martinez são exemplos dessa
"Anos de Chumbo". perspectiva. Inspirados na antropofagia dos
modernistas, na Pop A rt e no Concretismo,
A Tropicália organizaram um verdadeiro estilo de vida,
que tinha no protesto, na rebeldia e no psico-
Sandálias e bolsas de couro, fitas co­ delismo a marca de uma juventude desiludida
loridas, batas, calças largas, flores e muita com o stab/ishment e o status-quo. Os músi­
cor foram a tônica do M ovim ento Tropi- cos chegaram a viver, durante algum tempo,
calista. Influenciados pela C ontracultura em comunidades - prática dos "alternativos"
- tendo o m ovim ento "H ippie" com o uma daquele tempo - como as bandas Os Novos
de suas maiores evidências - os músicos Baianos e Os Mutantes. O Movimento Tropi-
e artistas da Tropicália produziram um es­ calista inspirou, e ainda inspira, um forte veio
tilo vanguardista, moderno e marcado por da estética jovem brasileira.
uma brasilidade quase permanente. A rtis ­
tas como Torquato Neto, Caetano Veloso, Vários artistas foram perseguidos pela
Gal Costa, Maria Bethânia, Tom Zé, Júlio Ditadura: Chico Buarque foi tão censurado
Medaglia, Capinan, Jorge Ben, Sérgio Dias, que as músicas de sua autoria eram auto­

268
maticamente vetadas. Ele passou a adotar Os mineiros do "Clube da Esquina"
o pseudônimo "Julinho da Adelaide" e a fa­ com seu "rock rural", como Lô Borges, Flá-
zer letras veladas. Suas músicas Apesar de vio Venturini e Beto Guedes, eram apresen­
você. Gota d'àgua e Meu caro amigo são tados ao país com o apoio de M ilton Nasci­
alguns exemplos de mensagens codifica­ mento. Eram os anos de 1980 chegando e
das contra a repressão e a censura. Outras, anunciando o epílogo da Ditadura.
como Cálice e Tanto mar, só puderam ser
cantadas no final do Regime; Jorge Ben O "Rock and Roll" ganhou contornos
(Jorge Ben Jor), usando o mesmo artifício, próprios e o term o "rock brasileiro" passou
assinava suas músicas com o pseudônimo a indicar uma estilização e aproximação
"Brabolina"; Geraldo Vandré, autor de Pra característica e original. Grupos e cantores,
não dizer que não falei das flores, foi to rtu ­ como Legião Urbana, Cássia Eller, Escola
rado até a loucura; Caetano e Gil, temendo de Escândalo, Anim a Verba, Paralamas do
algo pior, buscaram o exílio voluntário em Sucesso, Camisa de Vênus, Blitz, Eduar­
Londres. Enquanto isso, artistas como Dom do Dusek, Kid V inil, Capital Inicial, Biquini
e Ravel faziam músicas, como Só o amor Cavadão, Titãs, Cazuza e Barão Verm elho
constroi, Você também é responsável, Terra encontraram seu espaço na antologia da
boa e Eu te amo meu Brasil, com total apoio música brasileira. Era a "geração Coca-
e bem ao gosto dos militares ditadores. Cola" movida pelo inconform ism o e ex­
pectativa de dias melhores: rebeldes que
A A b ertura e a D iversidade M usical tentavam entender e m anifestar suas pre­
ocupações com um país que restabelecia
No decorrer dos anos de 1970, surgiu suas instituições e práticas dem ocráticas.
um verdadeiro "caleidoscópio" de temas e
estilos. Ney Matogrosso e os Secos e Molha­ No quesito "cultura de m assa", não
dos escandalizaram com suas performances se pode deixar de citar as reestilizações
musicais andróginas e psicodélicas; Raul Sei­ de tem áticas musicais nacionais, como os
xas, o "maluco beleza", embalou os jovens sertanejos e grupos de axé, pagode, forró
com Sociedade alternativa, Metamorfose am­ e funk, que, ao gosto do mercado, produ­
bulante, Mosca na sopa, Gita e outros suces­ zem música para consum o imediato.
sos, misturando baião, xaxado e muito rock;
as discotecas e o estilo "dancing days" lan­ A virada para o século XXI, com toda
çaram nomes como As Frenéticas e Lady Zu. uma juventude nascida na "pós-ditadura",
Fafá de Belém, Sidney Magal, Simone, Gon- marca o ecletism o de estilos, e cantores
zaguinha e outros, saudavam o firme retorno como Adriana Calcanhoto, Diogo Noguei­
a uma sociedade com Estado de Direito. ra, Hamilton de Holanda, Célia Porto, M ar­
celo D2, M artinália, Vanessa da M atta,
A Abertura política, a luta pela A nis­ Yamandu Costa, Maria Rita, Zeca Baleiro,
tia e a volta dos exilados políticos davam Seu Jorge, BNegão, Lenine, Maria Gadú,
um novo espírito à sociedade brasileira, e P itty, e tantos outros, passam a conviver
as músicas abriram mão da necessidade com as gerações das décadas anteriores,
do protesto em todas as suas letras. em cirandas, rocks, baladas, dubs, choros,
sambas, modinhas, em uma produção m o­
Nordestinos, como Elba Ramalho, A l­ numental e rica em diversidade.
ceu Valença, Ednardo e Raimundo Fagner,
despontavam com baladas melódicas ou xo­ A Música Brasileira é, desde as pri­
tes compassados, em convite à alegria e ao meiras décadas do século XX, um dos
regionalismo. Kleiton e Kledir cantavam o jo­ grandes patrim ônios de seu povo e marca
vem personagem gaúcho sem estereótipos. incontestável da identidade do país.
Pro Dia Nascer Feliz
Cazuza
Tom: A

intro: A D/A E/A D/A

A D/A D/A

Todo dia a insônia Procurando vaga


F7M/A F7M/A

Me convence que o céu Uma hora aqui, a outra ali


D A D A

Faz tudo ficar infini...to No vaivém dos teus quadris


A D/A G F
E que a solidão Nadando contra a corrente
F7M/A G F
É pretensão de quem fica Só pra exercitar...
D A G F
Escondido fazendo fi...ta Todo o músculo que sente
G F A

Todo dia tem a hora da sessão coruja, hum... Me dê de presente o teu bis

G D G D

Só entende quem namora Pro dia nascer feliz, é!

F G D

Agora vão'bora Pro dia nascer feliz


F A G D
Estamos bem por um triz O mundo inteiro acordar

G D F A

Pro dia nascer feliz, hum... E a gente dormir, dormir

G D G D
Pro dia nascer feliz Pro dia nascer feliz, é!

G D G D

O mundo inteiro acordar Pro dia nascer feliz


F A G D

E a gente dormir, dormir 0 mundo inteiro acordar


G D F A

Pro dia nascer feliz E a gente dormir, dormir

G D (A)

Ah! Essa é a vida que eu quis Oh oh oh oh

G D Oh oh oh oh
0 mundo inteiro acordar Oh oh oh oh...
F A
E a gente dormir...
A D/A A D/A

Todo dia é dia Todo dia é dia


F7M/A F7M/A

E tudo em nome do amor E tudo em nome do amor


D A D A

Ah! Essa é a vida que eu quis Essa é a vida que eu quis


Eu. nasci. com . fam a
M óveis Coloniais de A caju
Tom: D

Intro: D D G A (2x) D G A (2X)

D/A (D G A)
Procurando vaga
F7M/A 0 homem nasceu, pelado e ateu
Uma hora aqui, a outra ali Levou um tapa na bundinha e um boné recebeu
D A Nem nome ele tinha, deixaram a audiência escolher
No vaivém dos teus quadris Acessando seu site, seu e-mail ou ICQ
G F Depois de longa votação, elegeram João
Nadando contra a corrente Um nome simples, bonito, simboliza a nação
G F Lhe arranjaram uma parceira igualmente conhecida
Só pra exercitar 0 que só aumentou o interesse sobre sua vida
G F E ela fez com ele o que era mais provável
Todo o músculo que sente Sentiu na carne como era descartável
A
Me dê de presente o teu bis (D G A)
G D
Pro dia nascer feliz Intensa exposição
G D Dominava todos os meios de comunicação
Pro dia nascer feliz, hum... Então foi fácil aparecer
G D Vestindo slogans, usando marcas na TV
O mundo inteiro acordar Então foi fácil aparecer
F A Vestindo slogans, usando marcas na TV
Ea gente dormir, dormir
G D (D G A)
Pro dia nascer feliz
G D Não foram quinze segundos, mas a vida inteira de
Ah! Essa é a vida que eu quis fama
G D Que não amenizaram, porém, seu imenso drama
O mundo inteiro acordar Não sabia se existia, ou se era mera criação
F A De uma mídia arrependida que clamava por seu perdão
E a gente dormir...
(D G A)

Então, um certo dia


Olhou pra lua e viu que ela não mais refletia
Apenas um slogan ocupava a bela bola
Com simples dizeres: Beba Coca-Cola
Eu. nascí. com. fam a
M óveis Coloniais de A caju
Tom: D

Intro: D D G A (2x) D G A (2X)

D/A (D G A)
Procurando vaga
F7M/A 0 homem nasceu, pelado e ateu
Uma hora aqui, a outra ali Levou um tapa na bundinha e um boné recebeu
D A Nem nome ele tinha, deixaram a audiência escolher
No vaivém dos teus quadris Acessando seu site, seu e-mail ou ICQ
G F Depois de longa votação, elegeram João
Nadando contra a corrente Um nome simples, bonito, simboliza a nação
G F Lhe arranjaram uma parceira igualmente conhecida
Só pra exercitar 0 que só aumentou o interesse sobre sua vida
G F E ela fez com ele o que era mais provável
Todo o músculo que sente Sentiu na carne como era descartável
A
Me dê de presente o teu bis (D G A)
G D
Pro dia nascer feliz Intensa exposição
G D Dominava todos os meios de comunicação
Pro dia nascer feliz, hum... Então foi fácil aparecer
G D Vestindo slogans, usando marcas na TV
O mundo inteiro acordar Então foi fácil aparecer
F A Vestindo slogans, usando marcas na TV
Ea gente dormir, dormir
G D (D G A)
Pro dia nascer feliz
G D Não foram quinze segundos, mas a vida inteira de
Ah! Essa é a vida que eu quis fama
G D Que não amenizaram, porém, seu imenso drama
O mundo inteiro acordar Não sabia se existia, ou se era mera criação
F A De uma mídia arrependida que clamava por seu perdão
E a gente dormir...
(D G A)

Então, um certo dia


Olhou pra lua e viu que ela não mais refletia
Apenas um slogan ocupava a bela bola
Com simples dizeres: Beba Coca-Cola
Que País é Esse Você Não Soube M e A m ar
Legião Urbana Blitz
Tom: G Tom: C

Intro: (E C D) Intro: (Am7 Gm7) 4x

(E C D) Am7 Gm7
Sabe essas noites, que você sai caminhando, sozi­
Nas favelas, no Senado nho, de madrugada, com a mão no bolso
Sujeira pra todo lado Am7 Gm7 Am7 Gm7
Ninguém respeita a Constituição Na rua
Mas todos acreditam no futuro da nação Am7 Gm7
E você fica pensando, naquela menina, você fica
Que país é esse torcendo e querendo que ela, tivesse
Am7 Gm7 Am7 Gm7
(E C D) Na sua
GF
No Amazonas, no Araguaia, na Baixada Fluminense Aí finalmente, você encontra o broto
Mato Grosso, nas Geraes e no Nordeste tudo em paz G F G F
Na morte eu descanso mas o sangue anda solto Que felicidade, que felicidade
Manchando os papéis, documentos fiéis G F G F
Você convida ela pra sentar, muito obrigada
Ao descanso do patrão G F G F
Garçom uma cerveja, só tem chope
Que país é este G F G F
Desce dois, desce mais...
(E C D) GF GF
Amor pede mais uma porção de batata frita
Terceiro mundo se for G F G F
Piada no exterior OK, você venceu batata frita
Mas o Brasil vai ficar rico G F G F
Vamos faturar um milhão Ai blá blá blá blá blá blá blá blá blá
Quando vendermos todas as almas G F
Dos nossos índios em um leilão Ti ti ti ti ti ti ti ti ti
GF
Você diz pra ela
G F
Tá tudo muito bom bom
G F
Tá tudo muito bem bem
G F
Mas realmente
G F
Mas realmente
GF G F
Eu preferia que você estivesse
D C Bb D7
Nu...a
G C/G G C/G
Você não soube me amar Você não soube me amar
Cm/G CFG Cm/G CFG
Você não soube me amar Você não soube me amar
G A7/G G A7/G
Você não soube me amar Você não soube me amar
Cm/G G FC Cm/G G FC
Você não soube me amar Você não soube me amar
Em DC
Todo mundo dizia G F G F
Bm Am Amor que que'cê tem
Que a gente se parecia GF
Bm C D Cê tá tão nervoso
Cheio de tal coisa e coisa e tal GF
Em D C Nada nada nada nada nada nada
E realmente a gente era
Bm Am Em D C Bm Am
A gente era um casal Foi besteira usar essa tática
Bm C D Bm C D Em
Um casal sensacional Dessa maneira assimdramática, eu tava nervoso
D C Bm Am
G C/G O nosso amor era uma orquestra sinfônica, eu sei
Você não soube me amar Bm C D
Cm/G CFG E o nosso beijo uma bomba atômica
Você não soube me amar G C/G
G A7/G Você não soube me amar
Você não soube me amar Cm/G CFG
Cm/G G FC Você não soube me amar
Você não soube me amar G A7/G
Você não soube me amar
Em DC Cm/G G
No começo tudo era lindo É foi isso que ela me disse
Em Am FC G
Tá tudo divino era maravilhoso Oh! baby não!
Bm C D Em
Até debaixo d'água, nosso amor era mais gostoso
DC Bm Am
Mas de repente a gente enlouqueceu
Bm C
Ah! Eu dizia que era ela
D
Ela dizia que era eu
M atança
Xangai
Tom: G

Intro: G C G C G

G C G C A D
Cipó caboclo tá subindo na virola Não chame Nossa Senhora só quem pode nos salvar
C D G A G A
chegou a hora do pinheiro balançar ÉÉ., Caviuna, Cerejeira, Baraúna, Imbuia, Pau-d'arco,
A G G C G D
Sentir o cheiro do mato da imburana Solva, Juazeiro e Jatobá
A G C G D G A G A G
Descansar morrer de sono na sombra da barriguda Gonçalo Alves, Paraíba, Itaúba, Louro, Ipê, Paracaúba,
G C G C G D
De nada vale tanto esforço do meu canto Peroba, Maçaranduba
C D D A G
Pra nosso espanto tanta mata ah já vão matar Carvalho, Mogno, Canela, Imbuzeiro,
A G A G C G D
Tal Mata Atlântica e a próxima Amazônia Catuaba, Janúba, Aroeira, Araribá
A G C G D G A G
Arvoredos seculares impossível replantar Pau-ferro, Anjico, Amargoso, Gameleira,
G C G A G C G
Que triste sina teve Cedro nosso primo Andiroba, Copaíba, Pau-Brasil, Jequitibá
C D
Desde menino que nem gosto de falar (Repitir do início e cantar o Final)
A G DA C G
Depois de tanto sofrimento seu destino Quem hoje é vivo, corre periiiiiguuuu (Final)
A G A G D
Virou tamborete, mesa, cadeira, balcão de bar
G C G
Quem por acaso ouviu falar da Sucupira
C D
Parece até mentira que o Jacarandá
A G
Antes de virar poltrona, porta, armário
A G C G
Moro no dicionário vida eterna milenar
DA C G
Quem hoje é vivo corre perigo
D C D
E os inimigos do verde da sombra o ar
A C G
Que se respira e a clorofila
D C D
Da mata virgem destruída vão lembrar
C G C G
Que quando chegar a hora é certo que não demora
Feira de M angaio Sivuca
Tom: D

Intro: (Bm A GF # Bm F# Bm Em Bm F# Bm)


Bm Em F# Bm
Fumo de rolo, arreio de cangalha Menino vou me embora, tenho que voltar
Bm Em Ftt
Eu tenho pra vender, quem quer comprar Xaxar o meu roçado que nem boi de carro
Em Ftt Bm
Bolo de milho, broa e cocada Alpargata de arrasto não quer me levar
Bm
Eu tenho pra vender, quem quer comprar B7 Em
Em F# Porque tem um Sanfoneiro no canto da rua,
Pé de moleque, alecrim, canela A D
Bm fazendo floreio pra gente dançar
Moleque sai daqui me deixa trabalhar G Ftt
Em Ftt Tem Zefa de Purcina fazendo renda,
E Zé saiu correndo pra feira dos pássaros Bm
Bm e o ronco do fole sem parar
E foi pássaro voando pra todo lugar B7 Em
Porque tem um Sanfoneiro no canto da rua,
B7 Em A D
Tinha uma vendinha no canto da rua, fazendo floreio pra gente dançar
A D G Ftt
onde o mangaieiro ia se animar Tem Zefa de Purcina fazendo renda,
G F# Bm
Tomar uma bicada com lambú assado, e o ronco do fole sem parar
Bm
e olhar pra Maria do Joá
B7 Em
Tinha uma vendinha no canto da rua,
A D
onde o mangaieiro ia se animar
G Ftt
Tomar uma bicada com lambú assado,
Bm
e olhar pra Maria do Joá
(Bm A G F# Bm Ftt Bm Em Bm Ftt Bm)
Bm Em F#
Cabresto de cavalo e rabichola
Bm
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Em Ftt
Farinha, rapadura e graviola
Bm
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Em Ftt
Pavio de candeeiro, panela de barro
Panis Et Circenses O Quereres Caetano Ve/oso
Os M utantes Tom: C
Tom: C#
Intro: (C D/C)
Intro: C# C#7 F#/C#

Ab Eb Bbm C# Ab Eb Bbm C D/C


Eu quis cantar minha canção iluminada de sol Onde queres revólver sou coqueiro,
C# Ab Eb Bbm C
Soltei os panos sobre os mastros no ar onde queres dinheiro sou paixão
C# Ab Eb Bbm C D/C
Soltei os tigres e os leões nos quintais Onde queres descanso sou desejo,
C# Ab Eb Bbm Am
Mas as pessoas na sala de jantar e onde sou só desejo queres não
C# Eb7 Ab Eb°
São ocupadas em nascer e morrer E onde não queres nada, nada falta,
Ab Eb Bbm C# Ab Eb Bbm ' Am
Mandei fazer de puro aço luminoso um punhal e onde voas bem alta eu sou o chão
C# Ab Eb Bbm F
Para matar o meu amor e matei E onde pisas no chão minha alma salta,
C# Ab Eb Bbm D C
Às cinco horas na Avenida Central e ganha liberdade na amplidão
C# Ab Eb Bbm C D/C
Mas as pessoas da sala de jantar Onde queres família sou maluco,
C# Eb7 Ab C
São ocupadas em nascer e morrer e onde queres romântico, burguês
Ab C# Ab C# C D/C
Mandei plantar folhas de sonhos no jardim do solar Onde queres Leblon sou Pernambuco,
Ab C# Am
As folhas sabem procurar pelo sol e onde queres eunuco, garanhão
Ab C tf Eb°
E as raízes procurar, procurar E onde queres o sim e o não, talvez,
Ab Eb Bbm Am
Mas as pessoas da sala de jantar onde vês eu não vislumbro razão
C# Ab Eb Bbm F
Essas pessoas na sala de jantar Onde queres o lobo eu sou o irmão,
C# Ab Eb Bbm D C
São as pessoas da sala de jantar e onde queres cowboy eu sou chinês
C# Ab Eb Bbm
Mas as pessoas da sala de jantar Am D F7M
C# Eb7 Ab Ah! bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor
São ocupadas em nascer e morrer C D/C
Onde queres o ato eu sou o espírito,
Ab C# Ab C
Essas pessoas na sala de jantar e onde queres ternura eu sou tesão
Ab C# Ab C D/C
Essas pessoas na sala de jantar Onde queres o livre decassílabo,
Ab C# Ab Am
Essas pessoas na sala de jantar..acelerando até o fim! e onde buscas o anjo eu sou mulher
Eb C D/C
Onde queres prazer sou o que dói, O quereres e o estares sempre a fim
Am C
e onde queres tortura, mansidão do que em mim é de mim tão desigual
F C D/C
Onde queres o lar, revolução, Faz-me querer-te bem, querer-te mal,
D C Am
e onde queres bandido eu sou o herói bem a ti, mal ao quereres assim
C D/C Eb°
Eu queria querer-te e amar o amor, Infinitivamente pessoal,
C Am
construímos dulcíssima prisão e eu querendo querer-te sem ter fim
C D/C F
E encontrar a mais justa adequação, E querendo te aprender o total
Am D C
tudo métrica e rima e nunca dor do querer que há e do que não há em mim
Eb°
Mas a vida é real e de viés,
Am
e vê só que cilada o amor me armou
F
E te quero e não queres como sou,
D C
não te quero e não queres como és

(refrão)

C D/C
Onde queres comício, flipper vídeo,
C
e onde queres romance, rock'n roll
C D/C
Onde queres a lua eu sou o sol,
Am
onde a pura natura, o inseticídio
Eb°
E onde queres mistério eu sou a luz,
Am
onde queres um canto, o mundo inteiro
F
Onde queres quaresma, fevereiro,
D C
e onde queres coqueiro eu sou obus
Billie Jean M ichael Jackson
Tom: A

(intro 2x) F#m G#m/F# F#m7 G#m/F#

F#m G#m/F# F#m7 G#m/F#


She was more like a beauty queen from a movie scene.
F#m G#m/F# F#m7 G#m/F# Bm7
I said, "Don't mind, but what do you mean?" "I am the one
Bm7 F#m G#m/F# F#m7
who will dance on the floor in the round."
G#m/F# Bm7 F#m G#m/F# F#m7 G#m/F#
She said, I am the one who will dance on the floor in the round.

F#m G#m/F# F#m7 G#m/F#


She told me her name was Billie Jean, as she caused a scene,
F#m G#m/F# F#m7 G#m/F# Bm7
then every head turned, with eyes that dreamed of being the one,
F#m G#m/F# F#m7 G#m/F#
who will dance on the floor in the round.
D F#m
People always told me, "Be careful what you do,
D F#m
and don't go around breaking young girls' hearts"
D F#m
And mother always told me, "Be careful who you love,
D C#7/9 C#7
and be careful of what you do 'cause the lie becomes the truth." Hey!
F#m G#m/F# F#m7 G#m/F#
Billie Jean is not my lover,
F#m G#m/F# F#m7 G#m/F# Bm7
she's just a girl who claims that I am the one,
F#m G#m/F# F#m7
but the kid is not my son.
F#m7 G#m/F# Bm7 F#m G#m/F# F#m7 G#m/F#
she says I am the one, but the kid is not my son.

F#m G#m/F# F#m7 G#m/F#


For forty days and forty nights, the law was on her side,
F#m G#m/F# F#m7 G#m/F# Bm7
but who can stand, when she's in demand, her schemes and plans.
Bm7 F#m G#m/F# F#m7
'cause we danced on the floor in the round,
G#m/F# Bm7 F#m G#m/F#
so take my strong advice, just remember to always think twice.
F#m7 G#m/F#
(Do think twice) (2x)
F#m G#m/F# F#m7 G#m/F# F#m G#m/F#
She told my baby th a t's a threat as she look at me them showed a photo
F#m7 G#m/F# Bm7
of a baby cries, eyes would like mine
Bm7 F#m G#m/F# F#m7 G#m/F#
who w ill dance on the floor in the round, baby
D F#m
People always told me, "Be careful w hat you do,
D F#m
and d on 't go around breaking young girls' hearts!"
D F#m
she carne and stood right by me then the smell of sweet perfume
D C#7/9 C#7
this happened much too soon she called me to her room

(refrão 2x)
F#m G#m/F# F#m7 G#m/F# F#m G#m/F# F#m7 G#m/F#
Billie Jean is not my lover, Billie Jean is not my lover,
F#m G#m/F# F#m7 G#m/F# F#m G#m/F# F#m7 G#m/F# F#m
Billie Jean is not my lover, Billie Jean is not my lover, Norma Billy Jean.

Billie Jean M ich ae! Jackson (tradução)

Ela estava mais para uma linda rainha Por 40 dias e 40 noites
de uma cena de cinema A lei esteve do seu lado
Eu disse "Não se importe, mas o que quer dizer com Mas quem pode resistir quando ela insiste em
Eu sou o único Seus esquemas e planos?
Que vai dançar na pista de dança Vou dançar na pista de dança
"Ela disse que eu sou o único Então, aceite meu grande conselho,
Que vai dançar na pista de dança Se lembre de sempre pensar duas vezes
Ela me disse que seu nome era Billie Jean (Pense duas vezes)
Enquanto causava uma cena Ela disse, "Meu bem, isto é uma ameaça"
E toda cabeça se virou para ela com olhos Quando olhou pra mim
Que sonhavam em ser o único Então mostrou uma foto de um bebê chorando
Que vai dançar na pista de dança. Olhos que seriam meus
As pessoas sempre me disseram, Vai dançar na pista de dança, baby
"Cuidado com o que faz" As pessoas sempre me disseram,
"Não saia por aí partindo o coração das mocinhas" "Cuidado com o que faz"
E minha mãe sempre disse: "Não saia por aí partindo o coração das mocinhas"
"Cuidado com quem você ama" Ela veio e parou ao meu lado
"Cuidado com o que você faz" Então o suave cheiro de perfume
Porque a mentira se torna verdade" Isso aconteceu m uito rápido
(Refrão) Ela me chamou pro seu quarto
Billie Jean não é minha amante (Refrão)
Ela é só uma garota que diz que sou o único Ela diz que sou o único
Mas o garoto não é meu filho Mas o garoto não é meu filho
Ela diz que sou o único, mas o garoto não é meu filho (Refrão)
Geração Coca-co/a Legião Urbana Podres Poderes Caetano Ve/oso
Tom: D Tom: A

Intro: A
intro: (B D A)
A
B
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Quando nascemos fomos programados
B/A
D A
motos e fuscas avançam os sinais vermelhos
A receber o que vocês
D E7 F° F#m
B
e perdemos verdes somos uns boçais
nos empurraram com os enlatados
A
D A
Queria querer gritar setecentas mil vezes
dos U.S.A. de 9 às 6
B/A
B
como são lindos, como são lindos os burgueses
Desde pequenos nós comemos lixo
D E7 F° F#m
D A
e os japoneses mas tudo é muito mais
Comercial e industrial
C
B
Será que nunca faremos senão confirmar
Mas agora chegou nossa vez
E7
D A
a incompetência da américa católica
Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês
F7 + Bb7
B A G que sempre precisará, de ridículos tiranos
Somos os filhos da revolução C
B A G Será, será, que será, que será, que será
Somos burgueses sem religião E7
B A G (refrão) será que essa minha estúpida retórica
Somos o futuro da nação F7+ Bb7
A D B terá que soar, terá que se ouvir por mais mil anos?
Geração coca-cola A
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
B
B/A
Depois de vinte anos na escola
índios, padres e bichas, negros e mulheres
D A
D E7 F° F#m
Não é difícil aprender
e adolescentes fazem o carnaval
B
A
Todas as manhas do seu jogo sujo
Queria querer cantar afinado com eles
D A
B/A
Não é assim que tem que ser?
silenciar em respeito ao seu transe , num êxtase
B
D E7 F° F#m
Vamos fazer nosso dever de casa
ser indecente mas tudo é muito mau
D A
C
E aí então, vocês vão ver
Ou então cada paisano e cada capataz
B
E7
Suas crianças derrubando reis
com sua burrice fará jorrar sangue demais
D A
F7 + Bb7
Fazer comédia no cinema com as suas leis
nos pantanais, nas cidades, caatingas e nos gerais
A D B A D B solo 2 - 3x) (G A B) C
Geração coca-cola, geração coca-cola será que apenas os hermetismos pascoais
E7 D E7 F° F#m
e os tons e os mil tons, seus sons e seus dons geniais são tantas vezes gestos naturais
F7+ Bb7 A
nos salvam, nos salvarão dessas trevas e nada mais... eu quero aproximar o meu cantar vagabundo
A B/A
Enquanto os homens exercem seus podres poderes daqueles que velam pela alegria do mundo...
B/A D
morrer e matar de fome, de raiva e de sede Indo mais fundo
D E7 F° F#m E7 F° F#m
são tantas vezes gestos naturais tins e bens e tais
A D
eu quero aproximar o meu cantar vagabundo tudo mais fundo
B/A E7 F° F#m
daqueles que velam pela alegria do mundo tins e bens e tais
D E7 F° F#m D
indo e mais fundo tins e bens e tais tudo mais fundo
C E7 F° F#m
será que nunca faremos senão confirmar tins e bens e tais
E7
Na incompetência da américa católica
F7 + Bb7
que sempre precisará de ridículos tiranos?
C
será, será que, que será? que será, que será,
E7
será que essa minha estúpida retórica
F7+ Bb7
terá que soar, terá que se ouvir por mais mil anos...
C
ou então cada paisano e cada capataz
E7
com sua burrice fará jorrar sangue demais
F7+ Bb7
nos pantanais, nas cidades, caatingas e nos gerais...
C
será que apenas os hermetismos pascoais
E7
e os tons e os mil tons, seus sons e seus dons geniais
F7+ Bb7
nos salvam, nos salvarão dessas trevas e nada mais...
A
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
B/A
morrer e matar de fome de raiva e de sede
TropicáHa Caetano Ve/oso
Tom: A#

(Cm7 F7) Cm Bb (Cm7 F7)


Sobre a cabeça os aviões Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia
Sob os meus pés, os caminhões (Cm7 F7)
(Cm Bb) No pulso esquerdo o bang-bang
Aponta contra os chapadões, meu nariz Em suas veias corre muito pouco sangue
(Eb Bb) Mas seu coração
Eu organizo o movimento Bb Eb
Eu oriento o carnaval Balança a um samba de tamborim
Eu inauguro o monumento (Eb Bb)
No planalto central do país Emite acordes dissonantes
(Eb Db) Pelos cinco mil alto-falantes
Viva a bossa, sa, sa Senhoras e senhores
Cm Bb (Cm7 Bb) Ele põe os olhos grandes sobre mim
Viva a palhoça, ça, ça, ça, ça (Eb Db)
(Cm7 F7) Viva Iracema, ma, ma
O monumento é de papel crepom e prata Cm Bb
Os olhos verdes da mulata Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma
A cabeleira esconde atrás da verde mata (Cm7 F7)
Bb Domingo é o fino-da-bossa
O luar do sertão Segunda-feira está na fossa
(Eb Bb) Terça-feira vai à roça
O monumento não tem porta Bb
A entrada é uma rua antiga, Porém, o monumento
Estreita e torta (Eb Bb)
E no joelho uma criança sorridente, É bem moderno
Feia e morta. Não disse nada do modelo
Estende a mão Do meu terno
(Eb Db) Que tudo mais vá pro inferno, meu bem
Viva a mata, ta, ta Que tudo mais vá pro inferno, meu bem
Cm Bb (Cm Bb) (Eb Db)
Viva a mulata, ta, ta, ta, ta Viva a banda, da, da
(Cm7 F7) (Cm)
No pátio interno há uma piscina Carmem Miranda, da, da, da, da
Com água azul de Amaralina
Coqueiro, brisa e fala nordestina
Bb Eb
E faróis
(Eb Bb)
Na mão direita tem uma roseira
Autenticando eterna primavera
E no jardim os urubus passeiam
A tarde inteira entre os girassóis
(Eb Db)
Viva Maria, ia, ia
Parabolicamará Gilberto Gil
Tom: F

Intro: D C F C D
(D C) F
Antes mundo era pequeno porque No instante que tange o berimbau, meu camará
Terra era grande (Bb C)
Floje mundo é muito grande porque Ê volta do mundo, camará,
Terra é pequena (C D)
F ê ê mundo dá volta camará
Do tamanho da antena parabolicamará
(Bb C)
Ê volta do mundo camará, uma eternidade, de saveiro leva uma encarnação
F (C D) F C Bb C
ê mundo da volta camará De jangada leva uma eternidade,
(C D) F C Bb C
Antes longe era distante de saveiro leva uma encarnação
perto só quando dava Bb C D (Bb C D)
Quando muito ali defronte De avião o tempo de uma saudade
e o horizonte acabava (C D)
F Esse tempo não tem rédea vem nas asas do vento
Hoje lá trás dos montes dendê em casa camará O momento da tragédia, Chico Ferreira e Bento só
(Bb C) souberam na hora do destino apresentar é volta do
Ê volta do mundo camará, mundo camará, ê ê mundo dá volta camará ....
(C D) F C Bb C F C Bb C
ê ê mundo da volta camará De jangada leva
F C Bb C
De jangada leva uma eternidade,
F C Bb C
de saveiro leva uma encarnação
F C Bb C
De jangada leva uma eternidade,
F C Bb C
de saveiro leva uma encarnação
(C D)
Pela onda luminosa, leva o tempo de um raio
Tempo que levava rosa pra aprumar o balaio
F
Quando sentia que o balaio ia escorregar
(Bb C)
Ê volta do mundo, camará,
(C D)
ê ê mundo dá volta camará
(C D)
Esse tempo nunca passa
não é de ontem nem de hoje
Mora no som da cabeça,
nem tá preso nem foge
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to r de M a u rício de N assau no B r a s i l 1 6 3 7 -1 6 4 4 . Rio de Janeiro: Livro arte, 1 9 8 1 .
Estudo Dirigido de Artes é um livro que responde as atuais demandas
de preparação para o programa curricular do ensino médio e principais
exames de admissão ao ensino superior, tais como ENEM, PAS-UnB
e principais vestibulares brasileiros. Sua composição é fundamentada
no equilíbrio entre os conteúdos de artes, integrando música, cênicas e
visuais; o conjunto flui, com a perspectiva centrada na história e gran­
des escolas das artes no mundo, para que o leitor constitua, em seus
conhecimentos, a capacidade crítica e apreciativa do tema.

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