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LITERATURA

3ª EDIÇÃO - 2019
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Agradecimentos, 3

Agradecimentos,
Em primeiro lugar, meu agradecimento especial e minha
consideração a dois professores extraordinários – aqueles
que me levaram a gostar de ensinar com excelência –
Dometildes Tinoco e Euzébio Cidade. (Olá, Mamãe e Papai!
In Momorian)

Um agradecimento sincero aos meus queridos alunos e a


excelente e dedicada equipe de professores do
Preparatório para a EsPCEx, profissionais liderados pela
Prof. Adriana e que reúnem as qualidades de verdadeiros

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líderes e que me apoiaram nesse trabalho.

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Esperamos que você utilize esta obra, exercitando com
atenção cada redação proposta para que possa obter um
excelente desempenho no concurso.
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Aceite nossa companhia nesta viagem de treinamento
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Rumo à EsPCEx.

Bons Estudos!!
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Luiz Cidade
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Diretor
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7.
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EQUIPE
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Professores dos Concursos


EQUIPE Sormany Fernandes – História Geral e do Brasil
Djalma Augusto – História Geral e do Brasil
Diretor Geral Atila Abiorana – Língua Portuguesa
Valber Freitas Santos – Gramática (EAD)
Luiz Alberto Tinoco Cidade
Adriana Bitencourt – Redação e Literatura
Drº Adriano Andrade – Geografia geral e do Brasil
Diretora Executiva Enio Botelho – Geografia Geral e do Brasil
Clara Marisa May Drª Janaina Mourão – Geografia Geral e do Brasil
(EAD)
Diretor de Artes Ms Rubia de Paula Rubio – Geografia Geral e do
Brasil
Fabiano Rangel Cidade
Luiz Alberto Tinoco Cidade – Espanhol
Drº Daniel Soares Filho – Espanhol (EAD)
Gerente Operacional Maristella Mattos Silva – Espanhol (EAD)

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Laura Maciel Cruz Monike Cidade – Espanhol e Alemão (EAD)

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Ivana Mara Ferreira Costa - Inglês
Coordenação Geral dos Cursos Preparatórios Márcia Mattos da Silva – Francês (EAD)

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Profº Luiz Alberto Tinoco Cidade Marcos Henrique – Francês
Edson Antonio S. Gomes – Administração de
Coordenação dos Cursos de Idiomas EAD in
Empresas
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Tomé de Souza – Administração de Empresas (EAD)
Profº Dr. Daniel Soares Filho
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Alexandre Santos de Oliveira – Direito


Drº Evilásio dos Santos Moura – Direito
Secretaria
Rafael – Direito
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Evilin Drunoski Mache Cirelene E. Martins - Direito


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Genilson Vaz Silva Sousa – Ciências Contábeis


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Suporte Técnico Rodrigo Flórido Brum – Ciências Contábeis


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Fernnanda Moreira Teodoro Ricardo Sant'Ana – Informática


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Lídia Maciel Cruz Fausto Santos – Informática


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Rômulo Santos – Informática


Editoração Gráfica Cintia Lobo César – Enfermagem
7.

Maria Luiza - Enfermagem


Edilva de Lima do Nascimento
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Marcelo Herculano – Enfermagem


Lacerda – Enfermagem
Fonoaudióloga e Psicopedagoga Murilo Roballo – Matemática
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Mariana Ramos – CRFa 12482-RJ/T-DF


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Fernando Cunha Córes - Matemática


Marcos Massaki – Física I, II e III
Assessoria Jurídica Andrei Buslik – Física e Matemática
Luiza May Schmitz – OAB/DF – 24.164 Mauro – Química
Antenor Nagi Passamani – Química
Assessoria de Línguas Estrangeiras
Monike Rangel Cidade (Poliglota-Suíça)

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CONTEÚDO 5

CONTEÚDO
A LITERATURA E A HISTÓRIA DA LITERATURA ........................................................... 7

OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS) .................................................................. 11

TROVADORISMO ............................................................................................................. 17

JÁ DEMOS UMA PANORÂMICA NA TEORIA. VAMOS VER UM TEXTO COMO


EXEMPLO? ....................................................................................................................... 19

HUMANISMO .................................................................................................................... 31

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CLASSICISMO .................................................................................................................. 36

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QUINHENTISMO ............................................................................................................... 43

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BARROCO ........................................................................................................................ 49
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ARCADISMO ..................................................................................................................... 61
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ROMANTISMO I ................................................................................................................ 72
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ROMANTISMO II ............................................................................................................... 81
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REALISMO – NATURALISMO - PARNASIANISMO ........................................................ 98


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SIMBOLISMO .................................................................................................................. 107


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PRÉ-MODERNISMO ....................................................................................................... 112


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VANGUARDAS EUROPEIAS ......................................................................................... 116


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VANGUARDAS EUROPEIAS E MODERNISMO BRASILEIRO ..................................... 128

MODERNISMO BRASILEIRO ......................................................................................... 130

(AS 3 GERAÇÕES) ......................................................................................................... 130

TENDÊNCIAS ATUAIS DA LITERATURA BRASILEIRA .............................................. 138

GABARITOS ................................................................................................................... 141

OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS).............................................................................................. 141

TROVADORISMO ......................................................................................................................................... 141

HUMANISMO ................................................................................................................................................ 141

CLASSICISMO .............................................................................................................................................. 142

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CONTEÚDO 6

QUINHENTISMO ........................................................................................................................................... 142

BARROCO .................................................................................................................................................... 142

ARCADISMO ................................................................................................................................................. 143

ROMANTISMO I ............................................................................................................................................ 143

REALISMO – NATURALISMO - PARNASIANISMO ................................................................................... 143

SIMBOLISMO ................................................................................................................................................ 144

PRÉ-MODERNISMO ..................................................................................................................................... 144

VANGUARDAS EUROPEIAS ....................................................................................................................... 144

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VANGUARDAS EUROPEIAS E MODERNISMO BRASILEIRO.................................................................. 145

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A LITERATURA E A HISTÓRIA DA LITERATURA 7

A LITERATURA E A HISTÓRIA DA
LITERATURA

Antes de iniciarmos nossas aulas, vamos pensar um pouco sobre o que é literatura e qual é a sua função no mundo. Vamos
pensar um pouco para que serve a literatura (principalmente a brasileira) e o que uma pessoa com um nível de escolaridade
compatível com o concurso que vamos fazer deve saber sobre literatura.

No site INFOESCOLA vemos um texto introdutório sobre literatura de Cristina Gomes que nos auxiliará a refletir sobre as questões
propostas no parágrafo anterior.

Antes de transcrevermos o texto, gostaríamos de lembrar que para conhecer literatura, a forma correta é LER… LER… e LER….
Portanto, não desanime se nossas aulas apresentarem propostas de leituras. Lembre-se: você está se preparando para um
concurso de um nível elevado, onde cada questão acertada é mais uma chance de aprovação.

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Feita esta pequena (mas necessária) digressão, passemos ao texto de Gomes:

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A história da literatura procura entender todas as modificações que a produção literária passou ao longo da evolução da sociedade.

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Para este estudo, a análise e compreensão dos textos literários são muito importantes, pois nos ajudam a entender melhor o
contexto histórico em que o texto foi escrito.
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Quando estudamos a história ou origem da literatura deparamos com um conceito: o de estilos literários ou estilos de época.
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- Estilos de época: é o nome dado conjunto de obras escritas em uma determinada época.

O critério usado para dividir os estilos de época varia muito: às vezes, o autor publica uma obra revolucionária e ela acaba se
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tornando o marco inicial de um determinado período, outras vezes um fato histórico influencia uma infinidade de obras que darão
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origem a um determinado movimento literário.


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É importante ressaltar que as datas estabelecidas para um determinado período não são tão rigorosas quanto parecem, são
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apenas recursos didáticos usados para facilitar o estudo, já que é quase impossível estabelecer precisamente quando iniciou ou
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terminou um período.
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Também é bom sabermos que um estilo de época não “morre” por completo e que a passagem de um estilo para outro não é
tão rápida assim.
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Muitas ideias adotadas em um período podem ser aproveitadas por outros estilos literários que fazem uma releitura ou uma
reinterpretação de textos já escritos.
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A Literatura busca influência nela mesma para sempre ter a possibilidade de abrir novos caminhos e novas ideias.
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É por esta razão que o entendimento correto sobre cada estilo é tão importante, pois através dessa compreensão temos uma
visão geral da Literatura e da sociedade que a produziu.
(http://www.infoescola.com/literatura/historia-e-origem-da-literatura/)

Como pudemos ver, conhecer as épocas literárias, as obras, seus autores e as formas como escrevem cada um em seus “tempos”
auxiliam-nos a compreender os períodos históricos nos quais foram produzidos os textos.

Chegadas a estas primeiras conclusões, vamos adiante:

Conhecer a “história da literatura” é mergulhar no universo dos movimentos literários (um estudo da época, dos autores e seus
textos). Ao analisar as estruturas, os temas, as formas de escrituras e etc, os teóricos estabelecem uma espécie de relação entre
as produções escritas de uma época e as categorizam em “períodos” (que apresentam, em linhas gerais, características e tópicos
semelhantes).

Desta forma, podemos dizer que a história da literatura (seja ela em qual nível for: mundial, nacional, continental ou outra
atribuição) se divide em “movimentos” que costumamos chamar de estilos de época ou escolas literárias. Cada um desses
movimentos é estudado a partir de suas características estéticas (temas, formas de escrever, abordagens, etc). Isto configura
uma “época” literária.

Desde muito tempo, a necessidade de “categorizar” os textos existiu. Muitos desses estudos são importantes e utilizados até
hoje.

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A LITERATURA E A HISTÓRIA DA LITERATURA 8

Um exemplo claro desta afirmação acima é a divisão dos “Gêneros” literários:

Todos os gêneros, porém, partem de uma classificação padrão, adotada desde a Antiguidade: narrativo ou épico; lírico e
dramático. Deste tronco principal partem as ramificações menores, ou seja, os subgêneros.
(http://www.infoescola.com/generos-literarios/)

E quais são as características (gerais) de cada um dos 3 gêneros?

Épico: narrativas de fatos e acontecimentos grandiosos. Há, de um modo geral, a figura de um grande herói. Na Antiguidade,
eram comuns os textos que descreviam feitos de conquista (reais ou fictícias) e que eram “cantadas” para que todo o povo
soubesse e tomasse conhecimento.

Com o tempo, estes textos passaram a ser escritos (também narrando fatos, mas sem a necessidade obrigatória de ser sobre
conquistas grandiosas). A vida social passou também a fazer parte desse gênero. Temos então:

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No gênero narrativo o autor estrutura uma história, quase sempre em prosa, que pode se inspirar em eventos reais ou ser apenas

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de natureza fictícia. Nessa modalidade as cenas se desenrolam de forma consecutiva no espaço e no tempo. Ele pode ser

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classificado nos subgêneros romance, conto, crônicas, novelas, entre outros. Esta modalidade se distingue, estruturalmente, por
apresentar uma trama com início, um clímax e uma conclusão.

in (http://www.infoescola.com/generos-literarios/)
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Lírico: A palavra “lírico” tem sua origem no instrumento musical LIRA. E qual a razão de um gênero literário estar ligado a um
instrumento?
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7.

No período medieval, os poemas declamados eram acompanhados pelo som da lira. Assim, associavam-se os temas amorosos,
os de cunho sentimental, pessoais, etc. (compostos em formas de versos) às questões subjetivas da alma. Com o passar do
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tempo, ainda que os poemas não fossem mais declamados ao som das liras, o gênero ficou conhecido.Em outras palavras, o
gênero lírico tem por principais características a expressão da subjetividade (o “eu-lírico” se manifesta) através da versificação.
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Duas perguntas cabem aqui:

a) Todo poema pertence ao gênero lírico?

b) Só podemos classificar um texto como gênero lírico se ele estiver escrito em forma de poema?

A resposta para as duas perguntas é a mesma: NÃO!

Mas como assim???

Vejamos:

Existem poemas que não são subjetivos, que não expressam sentimentos do personagem que está falando ou do autor que
escreveu o poema.

Como também, existem textos que não foram escritos na forma de versos (textos em prosa) que envolvem questões
absolutamente emocionais e pontos de vistas particulares de quem escreve.

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A LITERATURA E A HISTÓRIA DA LITERATURA 9

Assim sendo, podemos concluir que se nem todo poema revela subjetividade e há outras formas de textos (em prosa e não em
verso) que são absolutamente sentimentais, logo, o gênero lírico não é só poema e os textos em prosa podem ser classificados
como líricos. Tudo dependerá das características do texto analisado.

É bem verdade que é mais fácil entender um texto lírico quando ele está escrito em versos. Tanto é assim que muitos manuais
de estudos de literatura classificam os poemas líricos em algumas categorias, a saber:

Soneto – De origem italiana, surgido no século XIII, é um poema composto por quatro estrofes, sendo as duas primeiras com
quatro versos (quartetos) e as duas últimas com três (tercetos). Essa forma perpetuou-se por todos os estilos literários, atingindo
a contemporaneidade.

Elegia – Originado na Grécia, trata-se de um poema no qual a temática pauta-se pela morte ou outros acontecimentos tristes.

Écloga – poema que retrata a vida bucólica, os acontecimentos ligados à vida pastoril.

Idílio – Retratado sob a forma de diálogos, também traduz a temática campesina.

Ode – É um poema originário da Grécia, exaltando valores nobres sob um tom entusiástico.

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Hino – Ode destinada à exaltação dos deuses da pátria.

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Dramático: mais uma vez iniciamos nossa exposição a partir da origem do termo. Quando lemos “dramático” o que nos vem à

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cabeça é a palavra “DRAMA” (que significa “ação”) e para que haja uma ação são necessários alguns elementos como:
personagens (que desenvolvem as ações), em um determinado momento (tempo) e dentro de um determinado local (espaço).
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Um tipo de texto onde isto fica mais claro para que entendamos é a peça de teatro. Nela vemos os personagens que dialogam
sobre suas vidas, seus feitos, suas angústias, seus dilemas. Tudo isto ocorre dentro de um período de tempo e em lugares
determinados.
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Um texto de apoio para entendermos melhor o que é o gênero dramático:


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O drama tem a sua origem no Séc. V a.C., na Grécia, onde aparecem as relações entre os personagens, com seus conflitos, e
sem a necessidade de interferência do narrador para que a ação dramática seja compreendida pelo público. Os personagens
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nesse período são autonarrativos em seus diálogos e atitudes. A poética aristotélica classifica o drama como categoria literária,
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ao lado do lírico e do épico. As tragédias gregas são exemplos de dramas que chegam, ainda hoje, com toda a sua dramaticidade,
por sobreposições de conflitos. A maioria das tragédias gregas possui um narrador, porém o foco central do drama são os diálogos
7.

travados entre os personagens, e os problemas que precisam ser resolvidos no tempo e espaço definido pelo autor da obra, o
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dramaturgo. A dramaturgia é a arte ou ciência da construção teatral, envolvendo personagem(ns), o contexto da ação, e o conflito
teatral, ou melhor, a ação dramática.
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O drama litúrgico foi o marco do teatro na Idade Média, período que a igreja não aceitava em suas propriedades, as artes de
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caráter profano. Este drama medieval era apresentado como parte dos serviços religiosos para divulgar a moralidade e os mistérios
da religião dominante. Mas na Idade Média os menestréis também desenvolveram sua arte de múltiplas habilidades, onde a ação
dramática era parte integrante dos espetáculos de rua.

Com as novas descobertas, no Renascimento, o homem passa ser o centro de todas as coisas, e a monarquia começa a exigir
um teatro que venha enaltecer a nobreza. Então surge o drama histórico, que pretende colocar em cena os heróis segundo as
encomendas dos monarcas e da nobreza, com destaque àqueles bem sucedidos em guerras e batalhas. A exemplo deste drama
temos “Ricardo III” e “Henrique V”, obras de Shakespeare.

Na França do Séc. XVIII surgiu um novo gênero de teatro, o drama burguês, no qual se pretendia unir as linguagens próprias da
tragédia e da comédia. A proposta mais conhecida nas teorias do teatro é a de Denis Diderot, que em seus discursos sobre o
teatro daquele momento, dizia que seria necessária a produção de uma estética que expressasse a realidade contemporânea da
época, a criação de personagens que produzissem um elo de identificação com o cidadão comum, para que desta forma a ação
dramática fosse interessante para este espectador. Seu sonho seria colocar o drama burguês no lugar da tragédia resgatada no
Renascimento. Do drama burguês surge o melodrama, que inicialmente buscava expressar elementos da tragédia, inserindo
música e a própria ação dramática, muito similar a ópera por possuir esses elementos. O melodrama caracteriza-se pelo forte
apelo emocional, e entra o Séc. XX, com maior ênfase no sofrimento, sentimentalismo e tudo que possibilita impressionar e
comover o espectador. Hoje ainda é forte o uso do melodrama no palco e nas diferentes mídias de entretenimento.
(http://www.infoescola.com/artes/drama/)

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A LITERATURA E A HISTÓRIA DA LITERATURA 10

Muitas informações ao mesmo tempo, não é mesmo?

Que tal pararmos um pouco para descansar, tomar um copo d'água e retornarmos à aula?

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Baseado em tudo que vimos até o momento, responda:

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1. Por que o estudo dos textos literários é importante?

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2. O que são “estilos de época” (quando nos referimos à literatura)?


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3. Cite um marco especial que pode definir o começo de um período literário?


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4. Quais é a divisão clássica dos gêneros literários?


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5. Cite as principais características de cada gênero literário.

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Na aula anterior, tivemos uma visão geral sobre os gêneros literários. Agora, daremos prosseguimento ao assunto e
aprofundaremos as questões que envolvem estilos de época.

Estamos prontos?

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OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS) 11

OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS)


1ª parte

A partir das características gerais sobre os estilos de época, vamos estudar mais detalhadamente cada um deles:

Para esta aula, tomaremos como referência a obra do Professor Domício Proença Filho “Estilos de época na literatura”, da editora
Ática (1995).

Sabemos que escrever não é uma “receita de bolo” pois, caso contrário, quando cada escritor, em uma determinada época da
história, escrevesse, não haveria obras diferentes e originais. Tudo seria igual. E reconhecemos que não é bem assim.

Há diferentes formas de abordar e relatar a realidade, ainda que possamos perceber determinadas características que se repetem.

Aqui está a diferença entre ESTILO INDIVIDUAL (a liberdade criativa do escritor) e o ESTILO DE ÉPOCA (características similares

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e formas semelhantes de expressar a percepção da realidade)

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A seguir estão algumas citações de diversos autores que o professor PROENÇA FILHO transcreve em seu livro e que nos ajudarão

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entender o assunto:

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Há em todas as épocas o tipo ideal daquela época, o homem medieval, o homem renascentistas, o homem barroco, o homem

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classicista, o homem romântico; e esses homens seriam mudos e por consequência esquecidos se certos entre eles não tivessem
o dom da expressão artística, realizando-se em obras que ficam.
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Há um estilo que empresta fisionomia própria e inconfundível a cada época e que se traduz em características comuns aos vários
escritos representativos desta mesma época.
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A atividade de uma cultura que surge com tendências análogas nas manifestações artísticas, na religião, na psicologia, na
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sociologia, nas formas de polidez, nos costumes, nos vestuários, gestos, etc. No que diz respeito à literatura, o estilo de época
1

só pode ser avaliado pelas contribuições do estilo, ambíguas em si mesmas, constituindo uma constelação que aparece em
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diferentes obras e autores da mesma era e aparece informada pelos mesmos princípios perceptíveis nas artes vizinhas.
9.
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Agora que entendemos um pouco o que é um estilo de época, surge uma pergunta:
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Como se denominam esses Estilos dentro da história da literatura ocidental?


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Em um painel amplo temos:


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(fonte: http://www.coladaweb.com/literatura/estilos-de-epoca-literatura)

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OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS) 12

Dentro da realidade brasileira (lembrando que a Europa já produzia textos escritos antes da descoberta do Brasil), teremos o
seguinte resumo:

Era colonial

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Era Nacional
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Fonte (tabelas): DE NICOLA, José. Painel da literatura em língua portuguesa: teoria e estilos de época do Brasil e Portugal. São Paulo:
Scipione, 2006

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OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS) 13

Duas considerações devemos fazer aqui:

1.Não devemos tomar as datas apresentadas em cada período como algo rígido.

Não aconteceu de um dia, em um determinado ano, um autor escrever um texto e dizer: “A partir de hoje está inaugurado
o período literário 'tal'!”

Lembremo-nos de que as datas são somente referências de um momento histórico, onde tanto o início do período como o seu
final estão mesclados com o período anterior ou o posterior a ele.

Por esta razão, muitas vezes, não é tão fácil determinar a que período literário pertence um texto, devido a uma confluência de
características ou sob a influência da época anterior, ou já com marcos das novas tendências literárias posteriores.

2.Ao se estudar um período literário (o estilo de uma época) devemos ter sempre em mente que são as características históricas
daquele tempo que influenciarão as características dos textos produzidos naqueles momentos.

Desta maneira, será inevitável que para estudar literatura devamos ter uma visão histórica (fatos, acontecimentos, política,
economia, etc.) do período analisado.

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Agora que já temos uma visão panorâmica do que venha a ser “estilo de época” na literatura, antes de passarmos a estudar cada

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um deles, vejamos alguns conceitos literários que serão importantes na hora de analisarmos os textos produzidos ao longo da
história da literatura ocidental.
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Mantenha o foco!
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2ª parte

- A linguagem poética;

- Os elementos da Narrativa.

Quando mencionamos os dois tópicos acima, o que nos vem à cabeça?

O que é linguagem poética?

Quais são os elementos de uma narrativa?

Em ambos os casos estamos nos referindo somente a textos escritos?

Mais dúvidas lançadas aqui, não é mesmo? Mas fique calmo…

Com tempo e leitura, vamos sanando as questões.

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OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS) 14

Ao falarmos em LINGUAGEM não queremos dizer especificamente texto escrito e sim COMUNICAÇÃO que pode ser feita através
de palavras (escritas e orais) e também através de gestos, símbolos ou até mesmo silêncio. Não é verdade?

Este é o primeiro ponto a se considerar.

Muito bem. Prossigamos para entender, então, o que é LINGUAGEM POÉTICA.

Quando usamos das palavras para relatar um fato, descrever uma situação ou tecer um comentário e só usamos a palavra com
o objetivo de informar, temos um uso referencial da comunicação (ou seja, tudo que é dito – ou escrito – está empregado com
referências denotativas).

Agora, se para expressar uma visão de determinado acontecimento ou sentimento, prestamos um cuidado maior à escolha das
palavras, à ordem em que elas deverão aparecer, que sinônimos empregar, que lugar do texto colocar frases e pontuações,
estamos imprimindo uma função primordial da literatura que é a LINGUAGEM POÉTICA.

Então, devemos entender que LINGUAGEM POÉTICA não se refere somente à poesia e sim a todo texto que demonstra um
cuidado na seleção e na forma de apresentação do tema ou assunto.

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Em resumo:

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A linguagem exerce função poética quando valoriza o texto na sua elaboração, ou seja, quando o autor faz uso de
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combinação de palavras, figuras de linguagem (metáfora, antítese, hipérbole, aliteração, etc.), exploração dos sentidos e
sentimentos, expressão do chamado eu-lírico, dentre outros.
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Assim, é mais comum em textos literários, especialmente nos poemas que enfatizam com mais frequência a subjetividade. No
entanto, podemos encontrar esse tipo de função nos anúncios publicitários e na prosa, bem como aliada aos demais tipos de
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função, como a emotiva.


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É muito comum a utilização de palavras no seu sentido conotativo (figurado) ao invés do denotativo (do dicionário).
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9.

(http://brasilescola.uol.com.br/redacao/funcao-poetica-linguagem.htm)
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Podemos seguir com a aula?


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Quando você lê um texto (seja um romance, uma história de ação, policial, suspense, etc.) que elementos é capaz de destacar
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que compõem a narração?


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Eis a resposta: O texto narrativo é baseado na ação que envolve personagens, num determinado tempo, dentro
de um limite espacial. Seus elementos são: narrador, enredo, personagens, espaço e tempo.

Dessa forma, o texto narrativo apresenta uma determinada estrutura que, mais ou menos, sempre está assim
esquematizada:

- Apresentação;

- Complicação ou desenvolvimento;

- Clímax;

- Desfecho.

Vamos analisar cada um destes elementos?

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OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS) 15

Narrador

Antes de mais nada, não confunda NARRADOR de um texto com o AUTOR. Ainda que alguém esteja escrevendo
sobre um fato de sua própria vida, a “voz” que “fala” no texto é de um narrador e a autoria do texto é de seu
escritor.

Ué? Não entendi! Como assim? Se uma pessoa escreve um texto narrando coisas da vida dela, ela não é o narrador
do texto?

Claro que sim… Mas para que você possa entender melhor, lembre-se de que um texto, quando é escrito, quando
as palavras são selecionadas para serem colocadas nos lugares certos, há uma visão pessoal dos acontecimentos.
E isto permite a que os relatos possam não ser a expressão fiel da realidade (e sim a subjetividade de quem está
contando o fato).

Desta forma, teremos alguém que escrevendo (pessoa física) e uma voz que estará narrando as ações.

Esta noção é muito importante para o momento de analisar uma obra literária. NÃO SE ESQUEÇA!

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Em resumo:

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O autor revela-se como uma pessoa de carne e osso, como é o caso de Machado de Assis, Eça de Queiroz, Clarice
Lispector, como também pode ser qualquer outra pessoa, não apenas representante da arte literária em si.
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O narrador é quem se revela como uma personagem de total autonomia para dar rumo aos fatos que deseja
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relatar, pois o enredo somente se materializa porque ele existe.
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E quais são os tipos de narradores que podem existir?


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* Narrador-personagem – quem conta a ação está participando dela de algum modo, por esta razão, a narrativa, geralmente,
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está em 1ª pessoa.
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* Narrador-observador – o narrador só tem a função de contar algo. Ele está afastado da trama e não participa dos atos.
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Geralmente, a sua voz está em 3ª pessoa. Ele está do “lado de fora”. Só observa e conta.
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* Narrador-onisciente – Ter “onisciência” é saber de tudo. Isto inclui saber sobre a história e conhecer também até mesmo o
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que vai dentro dos pensamentos e sentimentos dos personagens.


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Personagens
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– São os agentes responsáveis pelos acontecimentos das narrativas. As ações são desencadeadas por personagens com descrição
de tipos físicos, psicológicos ou outras caracterizações quaisquer que queira o autor.

Podem ser protagonistas (heróis ou personagens principais); antagonistas e personagens secundários (que colaboram para a
sustentação da trama).

Tempo

– é a duração em que se dão as ações. Podemos ter um tempo mais linear ou cronológico onde o desenrolar da trama se
marca por horas, dias, meses, anos, séculos. Mas há também um tempo psicológico que não precisa, necessariamente seguir
uma ordem natural, pois pode se referir a acontecimentos ligados a lembranças e emoções que nem sempre são claras para o
narrador ou os personagens.

Espaço

Do mesmo modo como podemos ter dois tipos de tempo numa narrativa, também as ações podem ocorrer em diferentes tipos
de espaços. Um espaço físico – o qual revela o ambiente onde se movem as personagens, podendo ser ao ar livre, em uma casa,
um lugar criado, mas com descrição de ambiente, etc. e um espaço psicológico ligado muito mais às experiências subjetiva e
emocionais vividas pelos personagens.

15
OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS) 16

Falta-nos, ainda, falar de um elemento muito importante para um texto: a própria forma de escrever, ou seja, o DISCURSO

é a própria mensagem transmitida e sobre que forma. Podemos ter diferentes tipos de discursos também:

- Direto – a fala das personagens é revelada na íntegra (tal e qual acontecem). Para isso, o uso dos diálogos é a tônica do texto
(com base nos sinais de pontuação adequados, com os chamados verbos de elocução, tais como: dizer, afirmar, interrogar,
retrucar, gritar, negar, entre outros.

- Indireto – neste tipo de discurso é o narrador quem conta as ações através de suas próprias palavras.

- Indireto livre – no discurso indireto livre, o narrador pode colocar de modo sutil o que vai na alma das personagens (seus
sentimentos, pensamentos e emoções). Em alguns momentos desse discurso, o leitor pode chegar a se confundir sobre quem
está falando, se a personagem ou é o narrador quem fala.

er
Novamente tivemos nesta aula muita informação, não é?

t
in
eW
in
al
-L
7
1 -1

Vamos então a nossa pequena “parada” e descansemos um pouco antes de voltar para os exercícios. ara responder as
84

questões, não hesite em reler a matéria. Isto é uma forma a mais de estudar (vamos usar muito da nossa lógica para responder
algumas questões):
9.
10

1. Por que não temos o período do Trovadorismo?


7.

_______________________________________________________________________________________________________
06

_________________________________________________________
F
CP

2. Por que o Romantismo pode ser estudado na Era Nacional e o Barroco não?

_______________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________

3. Por linguagem devemos entender somente textos escritos? Justifique sua resposta.

_______________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________

4. Cite 3 elementos da narrativa que você conhece.

_______________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________

5. Todo narrador é personagem da narrativa? Justifique sua resposta.

_______________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________

16
TROVADORISMO 17

TROVADORISMO

t er
in
eW
Para esta aula, vamos tomar como referência o texto do site http://www.coladaweb.com/
in
Ao que tudo indica, através de pesquisas históricas e textos recuperados ao longo da história, o TROVADORISMO parece haver
al
surgido entre os séculos X e XI da Era Cristã e teve grande destaque e expansão na Península Ibérica entre os séculos XII e XIV.
-L

Por que este nome de TROVADORISMO?


7
1 -1
84

Os trovadores eram compositores de diversos tipos de cantigas (amorosas, religiosas ou satíricas) e eram muito respeitados na
Idade Média, porque deles provinha a música que servia para acompanhar as festividades ou as reuniões solenes das cortes,
9.

assim como os banquetes ou as cerimônias de casamentos.


10
7.

Relembrando:
06

Idade Média: um período da história da Europa entre os séculos V e XV. Inicia-se com a Queda
do Império Romano do Ocidente e termina durante a transição para a Idade Moderna.
F
CP

Continuando a nossa aula…

Estes “poetas” além do texto que escreviam, faziam suas composições ligadas à música, o que
permitia que a declamação dos textos (as trovas ou cantigas) fossem acompanhadas por
instrumentos musicais.

Do trovadorismo português poucas partituras sobreviveram até nós: o que temos, na maioria, são apenas as letras das cantigas
coletadas em grandes livros manuscritos e ilustrados, chamados Cancioneiros.

Chegaram até nós apenas três cancioneiros:

Cancioneiro da Ajuda,

Cancioneiro da Vaticana e

Cancioneiro da Biblioteca Nacional.

São aproximadamente 1680 cantigas de 153 trovadores.

17
TROVADORISMO 18

A função dos trovadores nas cortes medievais era compor os textos (e as músicas). Executar a música (tocar e cantar) era função
de grupos de artistas pagos para esse trabalho, liderados por menestréis, segréis (músicos) e jograis (cantores).

Para ter acesso livre à vida na corte, o trovador também precisava de ser nobre, em geral um nobre de baixa linhagem — filho
bastardo ou vassalo empobrecido ou desertor de lutas e batalhas.

Com o transcorrer da Idade Média, foram surgindo trovadores de altas linhagens da nobreza — como os reis don Sancho (século
XII), don Afonso X (século XIII) e don Dinis (séculos XIII-XIV) —, o que prova o prestígio e a influência da arte trovadoresca nas
cortes ibéricas.

Agora que entendemos o que é TROVADORISMO, em que período da história se encontra e quem são os autores
desse estilo, vamos ver os textos literários da época.

Eram três os tipos de cantigas (ou cantares):

Cantigas lírico-amorosas;

er
Cantigas satíricas;

t
in
Cantigas religiosas.

eW
Vejamos cada uma delas in
al
-L

CANTIGAS LÍRICO-AMOROSAS
7

Quando vemos a referência a “lírico”, logo nos lembramos das aulas anteriores quando estudamos que a linguagem poética tem
-1

como uma de suas características a presença do eu-lírico. Lembra-se disso?


1

Pois bem, se assim é, estes tipos de “cantigas” terão um forte amparo na questão dos sentimentos e da subjetividade.
84

Por esta razão, as Cantigas lírico-amorosas serão de dois tipos: de amor e de amigo.
9.
10

CANTIGAS DE AMOR
7.
06

Refletiam sentimentos de um eu-lírico masculino, que reclama de sua coita (sofrimento por um amor rejeitado). A mulher que o
faz sofrer é retratada sempre como superior, ingrata, cruel até, impiedosa. Mas, mesmo assim, o tratamento que dispensa a ela
F

é respeitoso, na justa medida do amor cortês: não divulga o nome da amada, nem se excede na exposição emocional. Essa
CP

amada é chamada apenas de “senhor” ou “dona” – no galego-português (língua falada na época) não havia ainda a distinção de
gênero em senhor/senhora; a pronúncia, aliás, era a mesma para o masculino e para o feminino (“o senhor”, “a senhor”).

As cantigas de amor têm como modelo as cantigas provençais.

As cortes de Provença, na França, eram um rico posto de passagem de caravanas de


comércio e de peregrinação religiosa a Roma ou à Terra Santa. A moda trovadoresca parece
ter sido criada em Provença e difundida a outras partes pelos viajantes.

Nos cantares de amor, por conta do sentimento platônico do compositor e do traçado idealizante da mulher amada, percebemos
uma linguagem mais refinada, com influências provençais no vocabulário. Todavia, essa linguagem não se distinguia muito do
falar geral galego-português. Na Idade Média, a linguagem da corte e a do povo eram muito próximas: a oralidade imperava
mesmo entre os nobres. Não nos esqueçamos de que a leitura e a escrita eram restritas em geral à nobreza real e a altos cargos
religiosos.

Você se lembra do significado do adjetivo platônico?

É referência ao filósofo e matemático grego Platão. Popularmente, o termo passou a ser


utilizado com o significado de algo ideal ou casto, sem interesses materiais. Por exemplo, um
amor platônico é aquele que fica apenas pelo plano espiritual, sem contato carnal ou sexual.

18
Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? 19

A situação de vítima do amor em que se coloca o trovador e o respeito servil à mulher amada refletem o contexto das relações
suserano-vassalo próprias das cortes medievais. É o que chamamos de vassalagem amorosa.

Como vimos até aqui, como é o homem que fala do seu sentimento pela mulher. Mas quem é esta mulher amada?

A dualidade com que é apresentada a figura feminina nas cantigas de amor reflete uma dualidade típica da época. Por um lado,
a mulher é vista como um ser estranho, cruel, próximo do sobrenatural, do demoníaco — a bruxa: afinal, ela expele sangue, dá
à luz, muda de humor facilmente… Por outro lado, a mulher traz parentesco com o divino: sua figura maternal, sensível, aproxima-
se da imagem de Nossa Senhora. Essa imagem santa da mulher foi disseminada pela Igreja Católica e assimilada pelos códigos
do amor cortês.

MAS ATENÇÃO: Temo-nos referido à figura feminina como “amada”, mas não devemos esquecer que um trovador jamais
empregaria essa palavra. Na época, “amada” era a pessoa com quem já se tinha travado um contato mais íntimo (a amante),
fato que o trovador não podia de modo algum mencionar, segundo os códigos do amor cortês.

Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo?

t er
in
Se eu pudesse desamar

eW
a quen me sempre desamou,

e pudess’algum mal buscar

a quen me sempre mal buscou!


in
al
-L

Assi me vingaria eu,

se eu pudesse coita dar


7
-1

a quen me sempre coita deu.


1
84

Mais non poss’eu enganar


9.

meu coraçon, que m’enganou,


10

por quanto me fez desejar


7.

a quen me nunca desejou.


06

E por esto non dórmio eu,


F
CP

se eu pudesse coita dar

a quen me sempre coita deu.

Pero da Ponte, Portugal (séc XIII)

Vocabulário:

coita: sofrimento de amor

desemparar: desamparar

dórmio: durmo

Vejamos agora o outro tipo de cantiga lírico-amorosa:

CANTIGAS DE AMIGO

Não podemos dizer que esse tipo de cantiga é o oposto da de amor, pois, como veremos mais adiante, eram também compostas
por homens, mas as cantigas de amigo dão lugar à exposição do sentimento amoroso de um eu-lírico feminino.

19
Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? 20

Os textos mostram uma moça do povo que revela suas saudades do amado ausente. Aqui, emprega-se a palavra “amado” com
frequência, pois a intimidade amorosa existe de fato, não há idealizações. O que ocorre é que o amado está distante — a trabalho
ou em luta ou no mar.

Muitas vezes, esse amado era um homem da corte, que buscava experiência sexual com moças menos “difíceis” que as vigiadas
donzelas da nobreza.

Aqui cabe uma pergunta:

Se os temas falam de uma relação até mesmo física e trata de um sentimento amoroso,
por que chama “amigo” e não “amante”?

Não devemos estranhar o termo “amigo”. Na época, era sinônimo de “amante” ou “namorado”, quando aplicado à relação entre
homem e mulher. Resquício desse significado temos hoje na expressão popular “amigados”, que se refere a um casal que vive
junto sem confirmação legal ou religiosa.

er
Numa linguagem bem simples e repetitiva, com elementos próprios do universo popular ibérico, com versos curtos e refrões

t
in
fáceis de memorizar, a moça saudosa conversa com a mãe, com as irmãs, com as amigas, com o mar, com os seres da natureza,

eW
com Deus, e vai com eles compartilhando seus anseios de rever o namorado. É de se notar a ausência de interlocutores masculinos
— o que revela a itinerância dos homens do povo, na época, por conta das obrigações militares, de trabalho em outras terras ou
no mar.
in
al
Embora o eu-lírico seja feminino, o autor das cantigas de amigo é o trovador. Em geral, quem cantava essas cantigas eram
homens mesmo, e também as jogralesas (esposas dos jograis) e as soldadeiras (cantoras-dançarinas). Não há notícia de que
-L

tenha havido trovadoras em Portugal, como houve em Provença (a Condessa de Die, do século XII).
7
-1

Vamos a um exemplo:
1
84

Ondas do mar de Vigo


9.

Se vistes meu amigo


10

E ai Deus se verra cedo.


7.

Ondas do mar levado


06

Se vistes meu amado


F

E ai Deus se verra cedo.


CP

Se vistes meu amigo

O por que eu sospiro

E ai Deus se verra cedo.

Se vistes meu amado

O por que ei gran cuidado

E ai Deus se verra cedo.

Matim Codax (sec XIII-XVI)

Vocabulário

Vigo: cidade litorânea da Galícia, destino de peregrinações religiosas

verrá: voltará, virá

levado: agitado

o por que: aquele por quemei cuidado: por quem tenho carinho, atenção

20
Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? 21

Passemos para outro tipo de Cantiga – as Satíricas.

CANTIGAS SATÍRICAS

Não só de amor vivia a Idade Média. Também, como em qualquer sociedade, ha os momentos de relaxar e os de extravasar as
frustrações e as pressões sociais vividas.

Lembrando que sátira é uma técnica literária ou artística que ridiculariza um determinado tema (indivíduos, organizações,
estados).

Eram cantigas para situações mais descontraídas. Propunham ridicularizar os costumes sociais e as pessoas mal-queridas das
cortes a que o trovador servia.

Eram de dois tipos: de maldizer e de escárnio.

CANTIGAS DE MALDIZER

er
Eram composições onde se viam críticas diretas, muitas vezes mencionando o nome da pessoa criticada ou alguma característica

t
tão evidente que as pessoas logo sabiam sobre quem se estava falando. Por vezes, grosseiras, essas cantigas empregavam até

in
palavrões e insultos.

eW
Vamos a um exemplo: in
al
Don Foão, que eu sei
-L

que á preço de livão,


7

vedes que fez ena guerra


-1

(d’aquesto soõ certão):


1
84

sol que viu os genetes,


9.

come boi que fer tarvão,


10

sacudiu-s’e revolveu-se,
7.

alçou rafe foi sa via


06

a Portugal.
F

Don Foão, que eu sei


CP

que á preço de ligeiro,

vedes que fez ena guerra

(d’aquesto son verdadeiro):

sol que viu os genetes,

come bezerro tenreiro,

sacudiu-s’e revolveu-se,

alçou rab’e foisa via

a Portugal.

Don Foão, que eu sei

que á prez de liveldade,

vedes que fez ena guerra

(sabede-o por verdade):

sol que viu os genetes,

come can que sal de grade,

21
Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? 22

sacudiu-s’e revolveu-se,

alçou rab’e foi sa via

a Portugal.

D. Afonso Mendes de Besteiros (sec XIII)

Vocabulário:

Foão: fulano (embora não mencione o nome, os ouvintes certamente sabiam de quem se tratava a cantiga, por conta do gesto
de covardia relatada nela; trata-se de João Pires de Vasconcelos, que ficou famoso na corte por fugir do campo de batalha, na
guerra de Granada)

preço de livão: reputação de pessoa leviana

soõ certão: estou certo

er
sol: assim que

t
in
genetes: ginetes, cavalos

eW
come boi que fer tarvão: como boi que vespa ferra (como boi ferrado por vespa)

alçou rab’e foi sa via: levantou o rabo e foi embora in


al
tenreiro: novo (apelido de João Pires de Vasconcelos)
-L

prez de liveldade: mérito de ligeireza


7

cam que sai de grade: cão que sai da gaiola


1 -1
84

CANTIGAS DE ESCÁRNIO
9.

Eram textos onde as críticas eram mais indireta. Usavam mais a ironia. Eram mais sugestivas. Não se revelava o nome do
criticado, nem se deixava clara a crítica. Como eram criadas para provocar suspense entre os ouvintes, essas cantigas prendiam-
10

se bastante a situações cotidianas específicas de uma corte, o que dificulta para os leitores atuais detectar qual a real intenção
7.

do escárnio.
06
F

Veja uma cantiga de Pero Garcia Burgalês (século XIII) em uma linguagem mais próxima de nós:
CP

Embora não me queirais, donzela,

já que vos amo, vou dar-vos um conselho;

como vós não sabeis vos entoucar,

fazei quanto vos direi:

buscai quem vos entouque melhor

e vos corrija, pelo meu amor,

as formas do corpo e o cós que tendes.

E se isso fizerdes, tereis,

assim me valha Nosso Senhor,

beleza e um corpo elegante, e sereis

muito formosa e de boa cor;

se cada vez que essa touca torcer

e cada vez que tiverdes quem vos corrija,

então serás muito bela.

22
Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? 23

Ai, minha senhora, por Deus em que credes,

já que a outro ser não ouso pedir por vós;

como sempre trazeis a touca mal posta,

crede no que vou aconselhar:

em vez de alguém a corrigir por vós,

que essa pessoa corrija as formas de vosso corpo

e a maneira como falais, e se não, nem faleis.

Observe que na cantiga acima o trovador chama a atenção de uma donzela sobre o mau gosto que ela tem em se “entoucar”,
que quer dizer “pentear-se”. Porém, “entoucar” também podia significar “colocar touca [de dormir]”. Ficamos, então, em dúvida:
será que o trovador não estaria satirizando uma mulher — ironicamente chamada de “donzela” — com a qual ele dormiu? Veja a
insistência em relação aos dotes físicos dela, que precisam ser “corrigidos”, melhorados, assim como sua fala — ao final, ele pede

er
que a moça corrija a fala ou então que se cale!

t
Falta-nos somente mais um tipo de Cantiga:

in
eW
CANTIGAS RELIGIOSAS
in
Como podemos ver pelo próprio nome, essas cantigas apresentavam uma temática religiosa. Eram de cunho devocional (exaltação
al
à imagem de um santo) ou hagiográfico (narrativas dos feitos milagrosos de um santo). O alvo mais frequente dos cantares
-L

trovadorescos religiosos era Santa Maria, a mãe de Cristo.


7

Ufa! Terminamos…
-1

Espere… não é bem assim!!!! Nem só de poesia viveu o Trovadorismo. Também floresceu um
1
84

tipo de prosa ficcional, as novelas de cavalaria.


9.
10

As Novelas De Cavalaria
7.
06

São composições originárias das “Canções de gesta” francesas (narrativas de assuntos guerreiros), onde havia sempre a presença
de herois cavaleiros que passavam por situações perigosíssimas para defender o bem e vencer o mal.
F

Sobressai nas novelas a presença do cavaleiro medieval, concebido segundo os padrões da Igreja Católica (por quem luta):
CP

O cavaleiro medieval é casto, fiel, dedicado, disposto a qualquer sacrifício para defender a honra cristã.

Esta concepção de cavaleiro medieval opunha-se à do cavaleiro da corte, geralmente sedutor e envolvido em amores ilícitos. A
origem do cavaleiro-heroi das novelas é feudal e nos remete às Cruzadas: ele está diretamente envolvido na luta em defesa da
Europa Ocidental contra sarracenos, eslavos, magiares e dinamarqueses, inimigos da cristandade.

As novelas de cavalaria estão divididas em três ciclos e se classificam pelo tipo de herói que apresentam.

Ciclo Clássico (novelas que narram a guerra de Tróia, as aventuras de Alexandre, o grande). Apresentam heróis da mitologia
greco-romana;

Ciclo Arturiano ou Bretão (A Demanda do Santo Graal). Apresentam o Rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda;

Ciclo Carolíngeo (a história de Carlos Magno).Apresentam o rei Carlos Magno e os doze pares de França.

Geralmente, as novelas de cavalaria não apresentam um autor específico. Sã textos que circulavam pela Europa como verdadeiras
propagandas das Cruzadas, e tinham o objetivo de estimular a fé cristã e angariar para este movimento o apoio das populações.
As novelas Amandis de Gaula e A Demanda do Santo Graal foram as histórias mais populares que circulavam entre os
portugueses.

23
Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? 24

As novelas eram tidas em alto apreço e foi muito grande a sua influência sobre os hábitos e os costumes da população da época.

O parágrafo acima nos faz lembrar nossa aula sobre estilos de época. Lembra-se de que
falamos da importância da literatura para entender os modos e costumes de um período da
história da humanidade? É isto que está dito sobre a influência das novelas naquelas
sociedades.

E dá-lhe informações, não é?

Vamos a já conhecida pausa antes dos exercícios.

Tomando como base uma cantiga do trovador galego Airas Nunes, de Santiago (século XIII), e o poema Confessor Medieval, de
Cecília Meireles (1901-1964), responda as questões 1 e 2.

er
Cantiga

t
Bailemos nós já todas três, ai amigas,

in
eW
So aquestas avelaneiras frolidas, (frolidas = floridas)

E quem for velida, como nós, velidas, (velida = formosa)

Se amigo amar, in
al
-L

So aquestas avelaneiras frolidas (aquestas = estas)

Verrá bailar. (verrá = virá)


7
1 -1

Bailemos nós já todas três, ai irmanas, (irmanas = irmãs)


84

So aqueste ramo destas avelanas, (aqueste = este)


9.

E quem for louçana, como nós, louçanas, (louçana = formosa)


10

Se amigo amar,
7.

So aqueste ramo destas avelanas (avelanas = avelaneiras)


06

Verrá bailar.
F
CP

Por Deus, ai amigas, mentr’al non fazemos, (mentr’al = enquanto outras coisas)

So aqueste ramo frolido bailemos,

E quem bem parecer, como nós parecemos (bem parecer = tiver belo aspecto)

Se amigo amar,

So aqueste ramo so lo que bailemos

Verrá bailar.

(Airas Nunes, de Santiago. In: SPINA, Segismundo. Presença da Literatura Portuguesa - I. Era Medieval. 2ª ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro,
1966.)

24
Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? 25

Confessor Medieval

(1960)

Irias à bailia com teu amigo,

Se ele não te dera saia de sirgo? (sirgo = seda)

Se te dera apenas um anel de vidro

Irias com ele por sombra e perigo?

Irias à bailia sem teu amigo,

er
Se ele não pudesse ir bailar contigo?

t
in
eW
Irias com ele se te houvessem dito

Que o amigo que amavas é teu inimigo?


in
al
Sem a flor no peito, sem saia de sirgo,
-L

Irias sem ele, e sem anel de vidro?


7
-1

Irias à bailia, já sem teu amigo,


1

E sem nenhum suspiro?


84

(Cecília Meireles. Poesias completas de Cecília Meireles - v. 8. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.)
9.
10
7.
06
F
CP

As cantigas que focalizam temas amorosos apresentam-se em dois gêneros na poesia trovadoresca: as “cantigas de amor”, em
que o eu-poemático (eu-lírico) representa a figura do namorado (o “amigo”), e as “cantigas de amigo”, em que o eu-poemático
representa a figura da mulher amada (a “amiga”) falando de seu amor ao “amigo”, por vezes dirigindo-se a ele ou dialogando
com ele, com outras “amigas” ou, mesmo, com um confidente (a mãe, a irmã, etc.). De posse desta informação, responda:

1. Classifique a cantiga de Airas Nunes em um dos dois gêneros, apresentando a justificativa dessa resposta.

_____________________________________________________________________________

2. Identifique, levando em consideração o próprio título, a figura que o eu-poemático do poema de Cecília Meireles representa.

_____________________________________________________________________________

25
Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? 26

3. A partir da leitura dos textos I e II abaixo, assinale a afirmativa correta com relação ao Trovadorismo.

_____________________________________________________________________________

Texto I

Ondas do mar de Vigo,

se vistes meu amigo!

E ai Deus, se verrá cedo!

Ondas do mar levado,

se vistes meu amado!

E ai Deus, se verrá cedo!

er
(Martim Codax)

t
in
Obs.: verrá = virá

eW
levado = agitado

in
al
Texto II
-L

1. Me sinto com a cara no chão, mas a verdade precisa ser dita ao


7
-1

2. menos uma vez: aos 52 anos eu ignorava a admirável forma lírica da


1

3. canção paralelística (...).


84

4. O “Cantar de amor” foi fruto de meses de leitura dos cancioneiros.


9.

5. Li tanto e tão seguidamente aquelas deliciosas cantigas, que fiquei


10

6. com a cabeça cheia de “velidas” e “mha senhor” e “nula ren”;


7.

7. sonhava com as ondas do mar de Vigo e com romarias a San Servando.


06

8. O único jeito de me livrar da obsessão era fazer uma cantiga.


F
CP

(Manuel Bandeira)

(A) Um dos temas mais explorados por esse estilo de época é a exaltação do amor sensual entre nobres e mulheres
camponesas.

(B) Desenvolveu-se especialmente no século XV e refletiu a transição da cultura teocêntrica para a cultura antropocêntrica.

(C) Devido ao grande prestígio que teve durante toda a Idade Média, foi recuperado pelos poetas da Renascença, época
em que alcançou níveis estéticos insuperáveis.

(D) Valorizou recursos formais que tiveram não apenas a função de produzir efeito musical, como também a função de
facilitar a memorização, já que as composições eram transmitidas oralmente.

(E) Tanto no plano temático como no plano expressivo, esse estilo de época absorveu a influência dos padrões estéticos
greco-romanos.

26
Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? 27

4. Ainda sobre o TEXTO I acima, assinale a afirmativa correta:

(A) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino manifesta a Deus seu sofrimento amoroso.

(B) Nessa cantiga de amor, o eu lírico feminino dirige-se a Deus para lamentar a morte do ser amado.

(C) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino manifesta às ondas do mar sua angústia pela perda do amigo em trágico
naufrágio.

(D) Nessa cantiga de amor, o eu lírico masculino dirige-se às ondas do mar para expressar sua solidão.

(E) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico feminino dirige-se às ondas do mar para expressar sua ansiedade com relação à
volta do amado.

5. Leia o texto abaixo para responder à questão:

er
Endechas à escrava Bárbara

t
Aquela cativa,

in
eW
que me tem cativo

porque nela vivo,

já não quer que viva. in


al
-L

Eu nunca vi rosa

em suaves molhos,
7

que para meus olhos


1 -1

fosse mais formosa.


84

Uma graça viva,


9.

que neles lhe mora,


10

para ser senhora


7.

de quem é cativa.
06

Pretos os cabelos,
F

onde o povo vão


CP

perde opinião

que os louros são belos.

Pretidão de Amor,

tão doce a figura,

que a neve lhe jura

que trocara a cor.

Leda mansidão

que o siso acompanha;

bem parece estranha,

mas bárbara não.

27
Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? 28

Vocabulário:

Endechas: Versos em redondilha menor (cinco sílabas).

Molhos: feixes.

Leda: risonha.

Vão: fútil.

Em sua obra, Camões continua a tradição da conduta amorosa das cantigas medievais. Nela, a mulher amada era considerada:

(A) responsável pelas contradições e insatisfações do homem.

(B) símbolo do amor erótico.

(C) incapaz de levar o homem a atingir o Bem.

er
(D) um ser impuro e prejudicial ao homem.

t
in
(E) uma pessoa superior, fonte de virtudes.

eW
6. Senhor feudal
in
al
-L

Se Pedro Segundo

Vier aqui
7
-1

Com história
1

Eu boto ele na cadeia.


84

(Oswald de Andrade)
9.
10

O título do poema, apesar de moderno, remete o leitor à Idade Média. Nele, assim como nas cantigas de amor, a ideia de poder
7.

retoma o conceito de:


06
F

(A) fé religiosa.
CP

(B) relação de vassalagem.

(C) idealização do amor.

(D) saudade de um ente distante.

(E) igualdade entre as pessoas.

7. Leia os 5 textos a seguir para responder à questão:

Texto I

Ao longo do sereno

Tejo, suave e brando,

Num vale de altas árvores sombrio,

Estava o triste Almeno

28
Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? 29

Suspiros espalhando

Ao vento, e doces lágrimas ao rio.


(Luís de Camões, Ao longo do sereno.)

Texto II

Bailemos nós ia todas tres, ay irmanas,

so aqueste ramo destas auelanas

e quen for louçana, como nós, louçanas,

se amigo amar,

so aqueste ramo destas auelanas

er
uerrá baylar.

t
in
(Aires Nunes. In Nunes, J. J., Crestomatia arcaica.)

eW
Texto III

Tão cedo passa tudo quanto passa!


in
al
-L

morre tão jovem ante os deuses quanto

Morre! Tudo é tão pouco!


7
-1

Nada se sabe, tudo se imagina.


1

Circunda-te de rosas, ama, bebe


84

E cala. O mais é nada.


9.

(Fernando Pessoa, Obra poética.)


10
7.

Texto IV
06
F

Os privilégios que os Reis


CP

Não podem dar, pode Amor,

Que faz qualquer amador

Livre das humanas leis.

mortes e guerras cruéis,

Ferro, frio, fogo e neve,

Tudo sofre quem o serve.


(Luís de Camões, Obra completa.)

Texto V

As minhas grandes saudades

São do que nunca enlacei.

Ai, como eu tenho saudades

29
Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? 30

Dos sonhos que não sonhei!…)


(Mário de Sá Carneiro, Poesias.)

A alternativa que indica texto que faz parte da poesia medieval da fase trovadoresca é:

(A) I
(B) II
(C) III
(D) IV
(E) V

ter
in
eW
in
al
-L
7
1 -1
84
9.
10
7.
06
F
CP

30
HUMANISMO 31

HUMANISMO

Um período literário não acaba em um dia e no dia seguinte começa outro. Há um momento de transição que deve ser percebido.

Surge a primeira reflexão que gostaríamos que você pensasse tomando como base as aulas anteriores:

Quem (ou o que) nos indica essas mudanças? Em outras palavras, o que nos ajuda a entender essas transições e a instauração
de um novo período?

A resposta, obviamente, é a HISTÓRIA. Ao entender os processos pelos quais a humanidade vai passando, ao perceber o caminho
que as relações sociais vão tomando e ao notar as tendências que vão surgindo (hábitos, política, relações econômicas, etc.)
podemos “desenhar” as características das sociedades e perceber os reflexos dessas mudanças na literatura.

Recapitulemos:

er
Na Idade Média, o Trovadorismo tinha por características as “cantigas” declamadas e acompanhadas por instrumentos

t
musicais. Vimos os diversos tipos de composições e suas peculiaridades.

in
eW
O humanismo foi uma época de transição entre a Idade Média e o Renascimento.
in
al
Como o próprio nome já diz, o ser humano passou a ser valorizado.
-L

Foi nessa época que surgiu uma nova classe social: a burguesia. Os burgueses não eram nem servos e nem comerciantes.

Com o aparecimento desta nova classe social foram aparecendo as cidades e muitos homens que moravam no campo se mudaram
7

para morar nestas cidades, como consequência o regime feudal de servidão desapareceu.
1 -1

Foram criadas novas leis e o poder parou nas mãos daqueles que, apesar de não serem nobres, eram ricos.
84

O “status” econômico passou a ser muito valorizado, muito mais do que o título de nobreza. As Grandes Navegações trouxeram
9.

ao homem confiança de sua capacidade e vontade de conhecer e descobrir várias coisas. A religião começou a decair (mas não
desapareceu) e o teocentrismo deu lugar ao antropocentrismo, ou seja, o homem passou a ser o centro de tudo e não mais
10

Deus.
7.

Os artistas começaram a dar mais valor às emoções humanas.


06
F

O próximo período da história é um marco importantíssimo para a humanidade. Passamos do que pejorativamente era chamada
CP

“Era das trevas” para uma fase “de luz” na história. O foco dessa “iluminação” passa a ser o próprio HOMEM. Descobre-se que é
através da própria inteligência humana que tudo se movimenta. Com esta valorização do humano, do racional, da criatividade,
etc. surge uma nova etapa: a Idade Moderna. Renasce assim a credibilidade no homem. Estamos falando do Renascimento.

E quais são os feitos humanos que colaboram para esta “entrada” em uma nova Era, a renascentista?

O que vemos aqui é um momento onde o ser humano procura se valorizar mais, ou seja: o Teocentrismo (Deus no centro de
tudo) e o domínio da Igreja Católica são substituídos pelo Antropocentrismo (o homem no centro de tudo). É uma época de
grandes avanços científicos (destaque para Galileu Galilei, que provou que o sol era o centro do Sistema – teoria heliocêntrica)
e, assim, o homem passa a ser mais racional (Racionalismo).

Já que a valorização do homem é o tópico central do período, a literatura espelhará isto. Os textos, antes mais voltados para as
questões de entretenimento da corte, passa a ser mais valorizada no sentido de mais elaboração, mais cuidado formal. Afinal, o
gênio (a inteligência) humano é capaz de burilar as palavras e buscar trabalhos mais minuciosos. Saímos das “cantigas” para a
poesia “palaciana”.

Ao ganhar mais credibilidade como centro dos acontecimentos, o homem se permitiu ousar mais nas artes e nas ciências. Prova
disto está nos novos intentos de busca de soluções para seus problemas comerciais. Evitando assim depender mais dos
comerciantes que abusivamente cobravam por mercadorias que traziam de longe. Vemos surgir um investimento grande nas
navegações.

Para que possamos fixar mais ainda o que é este período, vejamos o resumo a seguir:

31
HUMANISMO 32

Você tem 8 minutinhos para fecharmos este assunto sobre HUMANISMO?

Veja o vídeo sobre um “resumão” sobre essa época.

https://www.youtube.com/watch?v=jSbyeCXcl38

Para que você tenha uma ideia de como o HUMANISMO é importante para a história da literatura, pois marca uma transição
capital para o pensamento humano entre as produções TROVADORESCAS (Idade Média) e o CLASSICISMO (Renascimento),
observe uma questão que já caiu na seleção para ingresso de uma Universidade como a PUC/SP.

Leia a questão, tente respondê-la e só aí então, vá à nota de pé de página para verificar a resposta certa.

Considerando a peça "Auto da Barca do Inferno" como um todo, indique a alternativa que melhor se adapta à proposta do teatro
vicentino.1

(A) Preso aos valores cristãos, Gil Vicente tem como objetivo alcançar a consciência do homem, lembrando-lhe que tem

er
uma alma para salvar.

t
(B) As figuras do Anjo e do Diabo, apesar de alegóricas, não estabelecem a divisão maniqueísta do mundo entre o Bem e

in
o Mal.

eW
(C) As personagens comparecem nesta peça de Gil Vicente com o perfil que apresentavam na terra, porém apenas o
Onzeneiro e o Parvo portam os instrumentos de sua culpa.
in
(D) Gil Vicente traça um quadro crítico da sociedade portuguesa da época, porém poupa, por questões ideológicas e
al
políticas, a Igreja e a Nobreza.
(E) Entre as características próprias da dramaturgia de Gil Vicente, destaca-se o fato de ele seguir rigorosamente as normas
-L

do teatro clássico.
7
-1

Até aqui a teoria. Agora, partamos para a prática. Veja alguns exemplos de textos pertencentes ao HUMANISMO.
1
84

Senhora, partem tão tristes


9.

meus olhos por vós, meu bem,


10

que nunca tão tristes vistes


7.

outros nenhuns por ninguém.


06

Tão tristes, tão saudosos,


F

tão doentes da partida,


CP

tão cansados, tão chorosos,

da morte mais desejosos

cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes os tristes,

tão fora d’esperar bem,

que nunca tão tristes vistes

outros nenhuns por ninguém.

João Ruiz de Castelo Branco viveu na segunda metade do século XV. É um dos inúmeros poetas do Cancioneiro Geral. A
“Cantiga sua partindo-se” é, merecidamente, um dos mais conhecidos poemas do período humanista. A delicadeza expressiva
dessa pequena cantiga bastou para perpetuar o nome de seu autor.

32
HUMANISMO 33

A DRAMATURGIA também foi importante no HUMANISMO. Já comentamos anteriormente sobre o escritor GIL VICENTE. Vejamos
as características do seu teatro.

Considerado o criador do teatro português pela apresentação, em 1502 de seu Monologo do Vaqueiro (também conhecido como
Auto da Visitação).

Sobre sua vida pouco se sabe. Supõe-se que tenha nascido por vota de 1465 e morrido cerca de 1536.

Se nada se sabe a respeito de sua origem, podemos afirmar que viveu a vida palaciana como funcionário da corte e que possuía
bons conhecimentos da língua portuguesa, bem como do castelhano, do latim e de assuntos teológicos.

O teatro vicentino é basicamente caracterizado pela sátira, criticando o comportamento de todas as camadas sociais: a
nobreza, o clero e o povo.

Apesar de sua religiosidade, seu “tipo” mais comumente satirizado é o frade que se entrega a amores proibidos (chegando a
enlouquecer de amor), à ganância (na venda de indulgências), ao exagerado misticismo, ao mundanismo, à depravação dos
costumes. Criticou desde o frade de aldeia até o alto clero dos bispos, cardeais e mesmo o papa.

A baixa nobreza representada pelo fidalgo decadente e pelo escudeiro é outra faixa social criticada pelo autor.

er
Também satiriza o povo que abandona o campo em direção à cidade ou mesmo aqueles que sempre viveram na cidade, mas

t
que, em ambos os casos, se deixam corromper pela perspectiva do lucro fácil.

in
eW
Riquíssima é a galeria de tipos humanos que formam o teatro vicentino: o velho apaixonado que se deixa roubar; a alcoviteira; a
velha beata; o sapateiro que rouba o povo; o escudeiro fanfarrão; o médico incompetente; o judeu ganancioso; o fidalgo
decadente; a mulher adultera; o padre corrupto. Gil Vicente não tem a preocupação de fixar tipos psicológicos, e sim a de fixar
in
tipos sociais. Observe que a maior parte dos personagens do teatro vicentino não tem nome de batismo: os personagens são
al
normalmente designados pela profissão ou pelo tipo humano que representam.
-L

Quanto à forma, a utilização de cenários e montagens, o teatro de Gil Vicente é extremamente simples. Pouco obedece às três
unidades do teatro clássico – ação, lugar e tempo. Seu texto apresenta uma estrutura poética, com o predomínio da redondilha
7

maior (sete sílabas), havendo mesmo várias cantigas no corpo de suas peças.
1 -1

Bem… chegamos ao final de nossa aula. Como você pode notar HÁ MUITO para se ler. Lembre-se que aqui damos as informações
84

principais sobre cada tema, mas você DEVE buscar ler mais sobre os assuntos, estudar mais textos literários e se preparar para
as questões da prova.
9.

Feitas essas observações, damos uma dica:


10

Descanse um pouco antes partir para os exercícios.


7.
06
F
CP

Baseado em nossa aula, atenda os pedidos:

1. Tomando como referência o período do Renascimento, coloque V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

1. ( ) As “trovas” ganham caráter mais sarcásticos.


2. ( ) Vemos surgir a valorização do antropocentrismo.
3. ( ) Galileu Galilei e a sua teocêntrica tem lugar na história.
4. ( ) A burguesia e a nobreza, classes sociais que despontam no final da Idade Média, passam a dividir o poderio com a
Igreja.
5. ( ) As grandes navegações caracterizam este período.

(A) F – F – V – V – F

33
HUMANISMO 34

(B) F–V–V–V–V
(C) V–V–F–F–F
(D) V–F–F–V–F
(E) F–V–V–F–V

2. Ao estudarmos o HUMANISMO, vimos diversas de suas características histórico-culturais. Das afirmações abaixo, qual a que
NÃO está correta em relação ao período:

(A) estendeu do final do século XVI ao início do século XVII (séc XV ao XVI)
(B) foi notória a expansão da burguesia, classe que não pertencia nem à nobreza e nem à classe dos servos.
(C) a posição econômica se tornava privilegiada em detrimento à simples títulos de nobreza.
(D) a crise do feudalismo também se acentuou no plano espiritual, visto que vários outros movimentos chegavam para
contrariar os princípios ligados à doutrina cristã.
(E) tiveram início as grandes navegações com vistas à expansão marítima e comercial.

er
3. Sobre o Humanismo, identifique a alternativa falsa:

t
in
(A) Em sentido amplo, designa a atitude de valorização do homem, de seus atributos e realizações.

eW
(B) Configura-se na máxima de Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”.
(C) Rejeita a noção do homem regido por leis sobrenaturais e opõe-se ao misticismo.
(D) Designa tanto uma atitude filosófica intemporal quanto um período especifico da evolução da cultura ocidental.
(E) in
Fundamenta-se na noção bíblica de que o homem é pó e ao pó retornará, e de que só a transcendência liberta o homem
al
de seu insignificância terrena.
-L

4. Ainda sobre o Humanismo, assinale a afirmação incorreta:


7
1 -1
84
9.
10
7.
06

(A) Associa-se à noção de antropocentrismo e representou a base filosófica e cultural do Renascimento.


F

(B) Teve como centro irradiador a Itália e como precursor Dante Alighieri, Boccaccio e Petrarca.
CP

(C) Denomina-se também Pré-Renascentismo, ou Quatrocentismo, e corresponde ao século XV.


(D) Representa o apogeu da cultura provençal que se irradia da França para os demais países, por meio dos trovadores e
jograis.
(E) Retorna os clássicos da Antiguidade greco-latina como modelos de Verdade, Beleza e Perfeição.

5. Sobre a poesia palaciana, assinale a alternativa falsa:

(A) É mais espontânea que a poesia trovadoresca, pela superação da influência provençal, pela ausência de normas para a
composição poética e pelo retorno á medida velha.
(B) A poesia, que no trovadorismo era canto, separa-se da música, passando a ser fala. Destina-se à leitura individual ou à
recitação, sem o apoio de instrumentos musicais.
(C) A diversidade métrica da poesia trovadoresca foi praticamente reduzida a duas medidas: os versos de 7 sílabas métricas
(redondilhas menores).
(D) A utilização sistemática dos versos redondilhas denominou-se medida velha, por oposição à medida nova, denominação
que recebemos os versos decassílabos, trazidos da Itália por Sá de Miranda, em 1527.
(E) A poesia palaciana foi compilada em 1516, por Garcia de Resende, no Cancioneiro Geral, antologia que reúne 880
composições, de 286 autores, dos quais 29 escreviam em castelhano. Abrange a produção poética dos reinados de D.
Afonso V (1438-1481), de D. João II (1481-1495) e de D. Manuel I – O Venturoso (1495-1521).

34
HUMANISMO 35

Relembrando:

Veja uma linha temporal das eras da história do mundo para se lembrar das datas que marcam esses eventos.

Agora vamos entrar no próximo período literário, depois de passadas as modificações sociais (o

surgimento da burguesia, a busca pela valorização do homem, as novas descobertas, etc.) que foram impressas nas expressões
artísticas do HUMANISMO.

Desta maneira, nossa próxima aula, já dento da Idade Moderna, vamos estudar:

t er
in
eW
in
al
-L
7
1 -1
84
9.
10
7.
06
F
CP

35
CLASSICISMO 36

CLASSICISMO

t er
in
eW
(O nascimento de Vênus – Sandro Botticelli 1486)

in
A valorização do homem e as novas descobertas mudaram a visão de mundo. As novas relações sociais, a busca da perfeição e
al
do conceito de beleza e estética mudaram os destinos da humanidade. Isto vimos ter início no HUMANISMO e veremos ter
-L

prosseguimento ao longo do século XV e XVI. Estamos em pleno “Renascimento” dos valores humanos e isto será expresso nas
artes de um modo geral. Estamos vivendo o período do CLASSICISMO.
7
-1

Entendamos melhor o contexto histórico do Classicismo para depois podermos analisar as obras literárias daquele período.
1
84

Entre os anos de 1400 e 1650, a Europa viu surgir um movimento artístico que acabou sendo o agente
9.

transformador de diversas ideologias do homem da época, afetando áreas como a fé, a política e a
filosofia. Este movimento é conhecido nos dias de hoje como Renascimento. Tal nome é dado pelo
10

fato de tal escola buscar uma verdadeira retomada dos ideais e características artísticas da antiga
7.

Grécia.
06

O classicismo é considerado o retrato vivo do Renascimento, que surgiu principalmente por conta do
intercâmbio cultural que começou a acontecer entre o Oriente e o Ocidente, nessa época. A
F

urbanização e o aperfeiçoamento da imprensa também foram fatores importantes para que a corrente
CP

se desenvolvesse.
(http://www.zun.com.br/classicismo-contexto-historico-e-caracteristicas/)

Depois de ler este resumo acima, começamos com as perguntas:

Classismo e Renascimento são a mesma coisa?

Quais são as características, então, do Classicismo?

De onde vem a inspiração artística para as artes?

Quais os principais artistas do período?

Vamos com calma e por partes:

Para podermos entender o que representou o Classicismo, devemos estudar o que


caracterizou o Renascimento como época histórica da humanidade.

36
CLASSICISMO 37

Renascimento, Renascença ou Renascentismo são os termos usados para identificar o período da História da Europa
aproximadamente entre fins do século XIV e o fim do século XVI. Este período foi marcado por transformações em muitas áreas
da vida humana. Apesar de tais transformações serem bem evidentes na cultura, sociedade, economia, política e religião,
caracterizando a transição do feudalismo para o capitalismo e significando uma ruptura com as estruturas medievais, o termo é
mais comumente empregado para descrever seus efeitos nas artes, na filosofia e nas ciências.

Chamou-se "Renascimento" em virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais da antiguidade clássica, que
nortearam as mudanças do período em direção a um ideal humanista e naturalista. Como disse o escritor Jacob Burckhardt, foi a
época de "descoberta do mundo e do homem".

O Renascimento cultural manifestou-se primeiro na região italiana da Toscana, tendo como principais centros as cidades de
Florença e Siena, de onde se difundiu para o resto da península Itálica e depois para praticamente todos os países da Europa
Ocidental, impulsionado pelo desenvolvimento da imprensa por Gutenberg. A Itália permaneceu sempre como o local onde o
movimento apresentou maior expressão, porém manifestações renascentistas de grande importância também ocorreram na
Inglaterra, Alemanha, Países Baixos, Portugal e Espanha.

er
Costumamos dizer que no Renascimento a ideia de mundo se modificou:

t
Neste período foram inventados diversos instrumentos científicos, e foram descobertas diversas leis naturais e objetos físicos

in
antes desconhecidos; a própria face do planeta se modificou nos mapas depois dos descobrimentos das grandes navegações,

eW
levando consigo a física, a matemática, a medicina, a astronomia, a filosofia, a engenharia, a filologia e vários outros ramos do
saber a um nível de complexidade, eficiência e exatidão sem precedentes, cada qual contribuindo para um crescimento
in
exponencial do conhecimento total, o que levou a se conceber a história da humanidade como uma expansão contínua e sempre
al
para melhor. Talvez seja esse espírito de confiança na vida e no homem o que mais liga o Renascimento à Antiguidade Clássica
e o que melhor define a essência do seu legado.
-L

Todas as disciplinas são agora ressuscitadas, as línguas estabelecidas: Grego, sem o conhecimento do qual é uma vergonha
7

alguém chamar-se erudito, Hebraico, Caldeu, Latim[...] O mundo inteiro está cheio de acadêmicos, pedagogos altamente
-1

cultivados, bibliotecas muito ricas, de tal modo que me parece que nem nos tempos de Platão, de Cícero ou Papiniano, o estudo
era tão confortável como o que se vê a nossa volta. [...] Eu vejo que os ladrões de rua, os carrascos, os empregados do estábulo
1
84

hoje em dia são mais eruditos do que os doutores e pregadores do meu tempo.
9.

(fragmento do texto Pantagruel – 1532 – de François Rabelais)


10
7.

Como estamos vendo, o Classicismo é um período de expressões artísticas dentro do Renascimento.


06
F
CP

37
CLASSICISMO 38

Somente a título de explicar melhor, veja os marcos históricos do Classicismo e do Renascimento para entender onde se localizam:

t er
in
eW
in
al
-L
7

Características do Classicismo
-1

Racionalismo: a razão predomina sobre o sentimento, ou seja, a expressão dos sentimentos era controlada pela razão.
1
84

Universalismo: os assuntos pessoais ficaram de lado e as verdades universais (de preocupação universal) passaram a ser
privilegiadas.
9.
10

Perfeição formal: métrica, rima, correção gramatical, tudo isso passa a ser motivo de atenção e preocupação.
7.

Presença da mitologia greco-latina.


06

Humanismo: o homem dessa época se liberta dos dogmas da Igreja e passa a se preocupar com si próprio, valorizando a sua
vida aqui na Terra e cultivando a sua capacidade de produzir e conquistar. Porém, a religiosidade não desapareceu por completo.
F
CP

Vejamos agora, os principais artistas Renascentistas e suas obras:

O escritor mais conhecido em língua portuguesa desse período é sem dúvida LUÍS VAZ DE CAMÕES.

Sua importância é tão grande para o nosso idioma que se diz que foram os textos de CAMÕES que codificaram a língua portuguesa.

Escreveu poesias (líricas e épicas) e peças teatrais. Sua obra mais conhecida e consagrada é a epopeia “Os Lusíadas” (considerada
uma obra-prima da literatura universal).

- Dividida em 10 partes (cantos) com 8816 versos distribuídos em 1120 estrofes, a obra “Os Lusíadas” narra a viagem de Vasco
da Gama às Índias enfatizando alguns momentos importantes da história de Portugal.

38
CLASSICISMO 39

A seguir, vejamos um facsimile2 dos dois primeiros cantos de “Os Lusíadas”

ter
in
eW
in
al
-L
7

As armas e os barões assinalados,


-1

Que da ocidental praia Lusitana,


1
84

Por mares nunca de antes navegados,


9.

Passaram ainda além da Taprobana,


10

Em perigos e guerras esforçados,


7.

Mais do que prometia a força humana,


06

E entre gente remota edificaram


F

Novo Reino, que tanto sublimaram;


CP

E também as memórias gloriosas

Daqueles Reis, que foram dilatando

A Fé, o Império, e as terras viciosas

De África e de Ásia andaram devastando;

E aqueles, que por obras valerosas

Se vão da lei da morte libertando;

Cantando espalharei por toda parte,

Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

39
CLASSICISMO 40

Mais uma pergunta surge;

Houve Classicismo no Brasil?

Mesmo antes de falarmos sobre isto, o que você pensa sobre o assunto?

Pelo que estudamos aqui, observando as linhas temporais que disponibilizamos nesta aula, podemos deduzir que na época do
Classicismo ainda não tínhamos uma “nação” brasileira formada. Nossa terra estava povoada por portugueses que iniciavam a
colonização. Logo pois, não tínhamos ainda uma produção literária genuinamente brasileira. Havia sim, alguns escritores que,
com o objetivo de informar à Corte o que havia pelas terras daqui, produziram textos informativos e descritivos sobre a realidade
da nova descoberta.

Os primeiros vestígios de literatura brasileira foram trazidos por estes jesuítas em sua bagagem cultural, como por exemplo o
Padre Antônio Vieira que ficava entre Brasil e Portugal e escreveu OS SERMÕES. Além dele, Gregório de Matos fez também
literatura aqui no Brasil dos primórdios. Um pouco depois, nos idos 1700, a Europa viveu o Neoclassicismo (que estudaremos em
outra aula), com suas correntes Iluministas e que influenciaram os Inconfidentes de Ouro Preto a formarem as arcádias que nada
mais eram do que agremiações ou associações literárias que faziam toda uma volta ao classicismo.

er
As principais produções da Literatura informativa no Brasil Colônia do século XVI foram a Carta, de Pero Vaz de Caminha; o

t
in
Tratado da terra do Brasil, de Pero de Magalhães Gândavo; o Tratado descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa; e a Arte

eW
da Gramática da língua mais usada na costa do Brasil, do Padre José de Anchieta.

Parece falta de originalidade o que vamos dizer, mas não temos como fugir disto e falar que o tema não se encerra aqui. Nós
in
vimos as linhas gerais do Renascimento, suas características, o Classicismo como expressão artística e algo sobre o escritor
al
português Camões. Mas ainda HÁ MUITO para se ler. Não desanime. Com tudo isso que lemos aqui, você tem condições de
ampliar as questões e os assuntos, pois, na verdade, você viu o panorama deste período renascentista.
-L

Vamos pro nosso descanso antes dos exercícios ?


7
1 -1
84
9.
10
7.
06
F
CP

Agora é a nossa vez de verificar se entendemos bem a aula. Atenda aos pedidos:

1. Não pertence ao Classicismo:

(A) Valorização dos aspectos culturais e filosóficos da cultura das antigas Grécia e Roma.
(B) Influência do pensamento humanista.
(C) Antropocentrismo: o homem como o centro do Universo.
(D) As explicações e a visão de mundo são pautadas pela religião.
(E) Universalismo: abordagem de temas universais como, por exemplo, os sentimentos humanos.

2. No Brasil, o Classicismo é mais conhecido como Quinhentismo, abrangendo toda produção literária da fase Renascentista no
século XVI. Toda literatura desse período foi escrita por portugueses e se resume à:

(A) Literatura de catequese, cuja principal função era doutrinar os indígenas segundo os preceitos cristãos. São escritos,
principalmente, dos padres Antônio Vieira e José de Anchieta.
(B) Literatura de informação, com documentos sobre as terras descobertas, suas belezas e habitantes, e também a
Literatura indígena que foi posteriormente traduzida para o português.

40
CLASSICISMO 41

(C) Literatura de informação, representada principalmente pela Carta de Pero Vaz de Caminha , cuja finalidade era a de
relatar as características da terra descoberta, e a Literatura jesuíta, que produziu textos simples com a finalidade de
catequizar os índios.
(D) Literatura de protesto, produzida para denunciar o extermínio da população indígena e os desmandos da coroa
portuguesa no Brasil. Essa literatura foi representada por nomes como Gonçalves Dias e Padre José de Anchieta.
(E) As primeiras escolas literárias eram feitas por portugueses, que, com saudades da terra natal, escreviam textos sobre
a saudade do que deixaram para trás.

3. A questão seguinte baseia-se no poema épico Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, do qual se reproduzem, a seguir, três
estrofes.

Mas um velho, de aspeito venerando, (= aspecto)

Que ficava nas praias, entre a gente,

er
Postos em nós os olhos, meneando

t
in
Três vezes a cabeça, descontente,

eW
A voz pesada um pouco alevantando,

Que nós no mar ouvimos claramente,


in
al
-L

C’um saber só de experiências feito,


7

Tais palavras tirou do experto peito:


1 -1

“ Ó glória de mandar, ó vã cobiça


84

Desta vaidade a quem chamamos Fama!


9.
10

Ó fraudulento gosto, que se atiça


7.

C’uma aura popular, que honra se chama!


06

Que castigo tamanho e que justiça


F
CP

Fazes no peito vão que muito te ama!

Que mortes, que perigos, que tormentas,

Que crueldades neles experimentas!

Dura inquietação d’alma e da vida

Fonte de desamparos e adultérios,

Sagaz consumidora conhecida

De fazendas, de reinos e de impérios!

Chamam-te ilustre, chamam-te subida,

Sendo digna de infames vitupérios;

Chamam-te Fama e Glória soberana,

Nomes com quem se o povo néscio engana.

41
CLASSICISMO 42

4. Os versos de Camões foram retirados da passagem conhecida como “ O Velho do Restelo” . Nela, o velho ...

(A) abençoa os marinheiros portugueses que vão atravessar os mares à procura de uma vida melhor.
(B) critica as navegações portuguesas por considerar que elas se baseiam na cobiça e busca de fama.
(C) emociona-se com a saída dos portugueses que vão atravessar os mares até chegar às Índias.
(D) destrata os marinheiros por não o terem convidado a participar de tão importante empresa.
(E) adverte os marinheiros portugueses dos perigos que eles podem encontrar para buscar fama em outras terras.

5. No Brasil, os principais representantes do Quinhentismo foram:

(A) Gregório de Matos, Padre Antônio Vieira, Tomás Antônio Gonzaga e Basílio da Gama.
(B) Pero Vaz de Caminha, Pero M. Gândavo, Gabriel Soares de Sousa e José de Anchieta.
(C) Cláudio Manuel da Costa, Alvarenga Peixoto, Santa Rita Durão e José de Anchieta.
(D) Pero Vaz de Caminha, José de Anchieta, Padre Antônio Vieira e Gabriel Soares de Sousa.
(E) Tomás Antônio Gonzaga, José de Anchieta, Pero Vaz de Caminha e Silva Alvarenga.

t er
Até agora, vimos os períodos literários da história da Literatura Portuguesa: Trovadorismo (Idade Média), Humanismo

in
(transição da Idade Média para Renascimento) e Classicismo (Renascimento).

eW
E então, ocorreram as Grandes Navegações e o Brasil foi descoberto em 1500. Portanto, o estudo da Literatura Brasileira começa
in
com a descoberta do Brasil em 1500 e esse primeiro período de nossa história literária é chamada de Quinhentismo (por causa
al
do "1500")
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1 -1
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QUINHENTISMO 43

QUINHENTISMO

O que é?

O Quinhentismo foi o período das manifestações literárias do século XVI (ou seja, a partir de 1500). O Brasil era recém-descoberto
e tudo o que tínhamos eram textos sobre o Brasil no ponto de vista dos europeus.

Como podemos perceber, nessa época, o que houve como produção de textos se divide, basicamente, em dois
tipos:

Literatura de Informação: contam sobre as viagens e os primeiros contatos com a nova terra descoberta. Os textos apresentam
uma linguagem mais simples e muito descritiva. O texto de maior referência foi A Carta de Pero Vaz de Caminha o rei D. Manoel
de Portugal. Este foi documento considerado marco inicial da Literatura Brasileira (ainda que escrito por um português, ele o
produziu no Brasil (e sobre o Brasil).

er
Literatura de Catequese: Para cá foram enviados padres da Ordem dos Jesuítas com o objetivo de catequizarem aqueles que

t
in
habitavam o Brasil antes da chegada dos portugueses. Um dos nomes mais proeminente dessa época José de Anchieta. Escrevia

eW
representações teatrais pois acreditava que através das encenações seria mais fácil atingir ao diversificado púbico daqui que eram
os índios, os marujos, os colonos que para o Brasil foram enviados e que possuíam pouca cultura erudita, os comerciantes, os

in
soldados, etc. Há que se dizer que o maior objetivo dos textos anchietanos era voltado para os indígenas. Para essa razão,
Anchieta escrevia em português e, inclusive, Tupi, havendo escrito uma gramática sobre esta língua.
al
-L

Enquanto que no Brasil estamos tratando dos primeiros vestígios de uma literatura Brasileira, conhecida como estamos chamando
7

de Quinhentismo (Literatura de Informação e de Catequese), em Portugal seguiam as produções do Classicismo.


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Literatura de Informação
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Você conhece a Carta de Pero Vaz de Caminha? Leia a seguir alguns fragmentos.
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Carta a el-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil

Senhor, posto que o capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento
desta Vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta. (...)

E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até terça-feira d’oitavas de Páscoa, que foram 21 dias d’Abril, que
topamos alguns sinais de terra (...) E à quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que chamam fura-buchos. Neste
mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d’um grande monte, mui alto e redondo, e
d’outras serras mais baixas ao sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs o nome o Monte
Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz. (...)

E dali houvemos vista d’homens, que andavam pela praia, de 7 ou 8, segundo os navios pequenos disseram, por chegaram
primeiro. (...) A feição deles é serem pardos, maneira d'avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus,
sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta
inocência como têm em mostrar o rosto. (...)

Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas;
e suas vergonhas tão altas e tão çarradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos
nenhuma vergonha. (...)

43
QUINHENTISMO 44

E uma daquelas moças era toda tinta, de fundo a cima, daquela tintura, a qual, certo, era tão bem feita e tão redonda e sua
vergonha, que ela não tinha, tão graciosa, que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhes tais feições, fizera vergonha, por
não terem a sua como ela. (...)

O capitão, quando eles vieram, estava assentado em uma cadeira e uma alcatifa aos pés por estrado, e bem vestido, com um
colar d'ouro mui grande ao pescoço. (...) Um deles, porém, pôs olho no colar do capitão e começou d'acenar com a mão para a
terra e despois para o colar, como que nos dizia que havia em terra ouro. E também viu um castiçal de prata e assim mesmo
acenava para a terra e então para o castiçal, como que havia também prata. (...)

Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si
é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos
como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa
das águas que tem! Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal
semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. (...)

Vocabulário:

er
capitão-mor: trata-se de Pedro Álvares Cabral.

t
in
conta: relato.

eW
oitavas de Páscoa: semana que vai desde o domingo de Páscoa até o domingo seguinte.

horas de véspera: final da tarde.


in
al
chã: plana.
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cousa: coisa.

vergonhas: órgãos sexais.


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çarradinhas: alguns historiadores consideram "saradinhas", isto é, sem doenças, e outros consideram "cerradinhas", isto é,
1

densas.
84

tinta: tingida.
9.

alcatifa: tapete, que cobre ou se estende.


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Entre-Douro-e-Minho: antiga província de Portugal.


7.
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Após tomar contato com o texto que “inaugura” a literatura brasileira, cabe uma reflexão :
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Para que serve este tipo de texto para o leitor de hoje em dia?

Para o leitor “comum”, a literatura informativa pode satisfazer a curiosidade a respeito do Brasil nos seus primeiros anos de vida,
oferecendo o encanto das narrativas de viagem. Para os historiadores, os textos são fontes obrigatórias de pesquisa.

Mais adiante, com o movimento modernista, esses textos foram retomados pelos escritores brasileiros, como Oswald de Andrade,
como forma de denúncia da exploração a que o país sofrera desde então.

E seguem as nossas perguntas:

Quais são os principais documentos que compõem a literatura informativa brasileira?

1. Carta do descobrimento (Pero Vaz de Caminha): escrita em 1500 e publicada pela primeira vez em 1817.

2. Tratado da terra do Brasil (Pero de Magalhães Gândavo): escrito por volta de 1570 e impresso pela primeira vez em 1826.

3. História da Província de Santa Cruz , a que vulgarmente chamamos Brasil (Pero de Magalhães Gândavo): editado em
1576.

4. Diálogo sobre a conversão dos gentios (Padre Manuel da Nóbrega): escrito em 1557 e impresso em 1880.

5. Tratado descritivo do Brasil (Gabriel Soares de Sousa): escrito em 1587 e impresso por volta de 1839.

44
QUINHENTISMO 45

Literatura de Catequese (ou Literatura Jesuítica)

Os impérios ibéricos continham em sua expansão uma profunda ambiguidade. Ao espírito capitalista-mercantil (buscavam riquezas
e mercadorias para boa comercialização) associavam um certo ideal religioso e salvacionista (imposição da fé católica como única
salvação). Principalmente devido a este segundo objetivo expansionista que dezenas de religiosos acompanhavam as expedições
a fim de converter os gentios.

Como consequência da Contrarreforma, chegam, em 1549, os primeiros jesuítas ao Brasil incumbidos de catequizar os índios
e de instalar o ensino público no país. Para tanto, fundaram os primeiros colégios, que foram, durante muito tempo, a única
atividade intelectual existente na colônia.

Do ponto de vista estético, os jesuítas foram responsáveis pela melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro. Além da
poesia de devoção, cultivaram o teatro de caráter pedagógico-doutrinário, inspirado em passagens bíblicas, e produziram
documentos que informavam aos superiores na Europa o andamento dos trabalhos.

O instrumento mais utilizado para atingir os objetivos pretendidos pelos jesuítas (moralizar os costumes dos brancos colonos e
catequizar os índios) foi o teatro. Para isso, os jesuítas chegaram a aprender a língua tupi, utilizando-a como veículo de
expressão. Os índios não eram apenas espectadores das peças teatrais, mas também atores, dançarinos e cantores.

er
Os principais jesuítas responsáveis pela produção literária da época foram o padre Manuel da Nóbrega, o missionário Fernão

t
Cardim e o padre José de Anchieta.

in
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José de Anchieta (1534 – 1597)
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Nascido em 1534 na ilha de Tenerife, Canárias, o padre da Companhia


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de Jesus veio para o Brasil em 1553 e fundou, no ano seguinte, um


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colégio na região da então cidade de São Paulo. Faleceu na atual cidade


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de Anchieta, litoral do Espírito Santo, em 1597.


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Conhecido como o grande piahy ("supremo pajé branco"), Anchieta deixou como legado a primeira gramática do tupi-guarani,
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verdadeira cartilha para o ensino da língua dos nativos ( Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil) .
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Destacou-se também por suas poesias e autos, nos quais misturava a moral religiosa católica aos costumes dos indígenas.

Entre as peças de teatro da época, destaca-se o Auto de São Lourenço , escrita pelo padre José de Anchieta. Nela, o autor
conta em três línguas (tupi, português e espanhol) o martírio de são Lourenço, que preferiu morrer queimado a renunciar a fé
cristã. Anchieta intentou conciliar os valores católicos com os símbolos primitivos dos habitantes da terra e com aspectos da nova
realidade americana. O sagrado europeu ligava-se aos mitos indígenas, sem que isso significasse contradição, pois as ideias que
triunfavam nos espetáculos eram evidentemente as do padre. A liberdade formal das encenações saltava aos olhos: o teatro
anchietano pressupunha o lúdico, o jogo coreográfico, a cor, o som.

A obra do padre Anchieta também merece destaque na poesia. Além de poemas didáticos, com finalidade catequética, também
elaborou poemas que apenas revelavam sua necessidade de expressão. Os poemas mais conhecidos de José de Anchieta são:
“Do Santíssimo Sacramento” e “A Santa Inês”. Veja, a seguir, um trecho do poema:

45
QUINHENTISMO 46

A Santa Inês

Cordeirinha linda,
Como folga¹ o povo, Virginal cabeça,
Porque vossa vinda Pela fé cortada,
Lhe dá lume² novo! Com vossa chegada

Cordeirinha santa, Já ninguém pereça;

De Jesus querida, Vinde mui depressa

Vossa santa vida Ajudar o povo,

O Diabo espanta. Pois com vossa vinda

Por isso vos canta Lhe dais lume novo.

Com prazer o povo,


Vós sois cordeirinha

er
Porque vossa vinda
De Jesus Formoso;

t
in
Lhe dá lume novo.
Mas o vosso Esposo

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Nossa culpa escura
já vos fez Rainha.
Fugirá depressa,

Pois vossa cabeça


in
Também padeirinha
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Sois do vosso Povo,
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Vem com luz tão pura.


pois com vossa vinda,
Vossa formosura
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Lhe dais trigo novo.


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Honra é do povo,
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1

Porque vossa vinda


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¹folga: se alegra
Lhe dá lume novo.
²lume: luz
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O poema fala do confronto entre o bem e o mal com bastante simplicidade: a chegada de Santa Inês espanta o diabo e, graças
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a ela, o povo revigora sua fé. A linguagem é clara, as ideias são facilmente compreensíveis e o ritmo faz com que os versos
tenham musicalidade, ajudando o poeta a envolver o ouvinte e a sensibilizá-lo para sua mensagem religiosa.
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Nesta aula, começamos a enveredar pelas produções literárias no Brasil. Não podemos dizer que se trata de uma literatura
“genuínamente” nacional, até porque a maioria dos escritores desse período eram portugueses, mas estamos começando a ver
o nascimento dos caminhos para a formação de nossa identidade.

Vamos para a nossa habitual “parada” antes de começarmos os exercícios.

Vamos verificar nosso conhecimento sobre o Quinhentismo:

1. São características da poesia do Padre José de Anchieta:

46
QUINHENTISMO 47

(A) linguagem cômica, visando a divertir os índios; expressão em versos decassílabos, como a dos poetas clássicos do
século XVI
(B) a temática, visando a ensinar os jovens jesuítas chegados ao Brasil
(C) função pedagógica; temática religiosa; expressão em redondilhas, o que permitia que fossem cantadas ou recitadas
facilmente
(D) temas vários, desenvolvidos sem qualquer preocupação pedagógica ou catequética
(E) n.d.a.

Leia a estrofe abaixo e faça o que se pede:

Dos vícios já desligados

nos pajés não crendo mais,

nem suas danças rituais,

nem seus mágicos cuidados.

er
(ANCHIETA, José de. O auto de São Lourenço Rio de Janeiro: Ediouro [s.d.]p. 110)

t
in
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2. Assinale a afirmativa verdadeira, considerando a estrofe acima, pronunciada pelos meninos índios em procissão:

in
(A) A presença dos meninos índios representa uma síntese perfeita e acabada daquilo que se convencionou chamar de
literatura informativa.
al
(B) Os meninos índios representam a revolta dos nativos contra a catequese trazida pelos jesuítas, de quem querem libertar-
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se tão logo seja possível.


(C) Os meninos índios são figuras alegóricas cuja construção como personagens atende a todos os requintes da dramaturgia
7

renascentista.
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(D) Os meninos índios estão afirmando os valores de sua própria cultura, ao mencionar as danças rituais e as magias
1

praticadas pelos pajés.


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(E) Os meninos índios representam o processo de aculturação em sua concretude mais visível, como produto final de todo
um empreendimento do qual participaram com igual empenho a Coroa Portuguesa e a Companhia de Jesus.
9.
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3. A importância das obras realizadas pelos cronistas portugueses dos séc XVI e XVII é:
7.
06

(A) caracterizar a influência dos autores renascentistas europeus


(B) sobretudo documental
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(C) a deterem sido escritas no Brasil e para brasileiros


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(D) determinada exclusivamente pelo seu caráter literário


(E) n.d.a.

4. As primeiras manifestações literárias que se registram na Literatura Brasileira referem-se a:

(A) Literatura informativa sobre o Brasil (crônica) e literatura didática, catequética (obra dos jesuítas)
(B) Poesia épica e prosa de ficção
(C) Obras de estilo clássico, renascentista
(D) Poemas românticos indianistas
(E) Romances e contos dos primeiros colonizadores

5. Anchieta só não escreveu:

(A) autos religiosos, à maneira do teatro medieval


(B) um dicionário ou gramática da língua tupi
(C) cartas, sermões, fragmentos históricos e informações
(D) poesias em latim, portugueses, espanhol e tupi
(E) sonetos clássicos, à maneira de Camões, seu contemporâneo

47
QUINHENTISMO 48

6. Sobre a literatura produzida no primeiro século da vida colonial brasileira, é correto afirmar que:

(A) Inicia com Prosopopéia, de Bento Teixeira


(B) É constituída por documentos que informam acerca da terra brasileira e pela literatura jesuítica
(C) Descreve com fidelidade e sem idealizações a terra e o homem, ao relatar as condições encontradas no Novo Mundo
(D) Os textos que a constituem apresentam evidente preocupação artística e pedagógica
(E) É formada principalmente de poemas narrativos e textos dramáticos que visavam à catequese

7. A “literatura jesuíta”, nos primórdios de nossa história:

(A) visa à catequese do índio, à instrução do colono e sua assistência religiosa e moral
(B) tem grande valor informativo
(C) está a serviço do poder real
(D) tem fortes doses nacionalistas
(E) é ingênua com relação a bondade dos índios

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8. Qual das afirmações não corresponde à Carta de Caminha?

t
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(A) Composição sob forma de diário de bordo
(B) Observação do índio como um ser disposto à catequização
(C) Aproximações barrocas no tratamento literário e no lirismo das descrições
(D) in
Mistura de ingenuidade e malícia na descrição dos índios e seus costumes
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(E) Deslumbramento diante da exuberância da natureza tropical
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Chegamos às primeiras expressões literárias no Brasil. O Quinhentismo e todo o seu caráter informativo e doutrinário abriu espaço
7

para o “fazer” literatura por aqui. O próximo período será muito mais profícuo e rico em relação ao anterior.
-1

Preparemo-nos para estudar o BARROCO.


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BARROCO 49

BARROCO

O Barroco (também conhecido como Seiscentismo) é constituído pelas primeiras manifestações literárias genuinamente brasileiras
ocorridas ainda quando éramos Colônia, embora diretamente influenciadas pelo barroco das Metrópoles europeias. O período
engloba genericamente todas as manifestações artísticas dos anos 1600 e início dos anos 1700.

Além da literatura, o Barroco teve grandes expressões artísticas relacionadas à música, pintura, escultura e arquitetura.

Contexto Histórico

Após o Concílio de Trento, realizado entre os anos de 1545 e 1563 e que teve como consequência uma grande reformulação
do Catolicismo, em resposta à Reforma protestante de Lutero, a disciplina e a autoridade da Igreja de Roma foram restauradas,
estabelecendo-se a divisão da cristandade entre protestantes e católicos.

er
Nos Estados protestantes, onde as condições sociais foram mais favoráveis à liberdade de pensamento, o racionalismo e a

t
curiosidade científica do Renascimento continuaram a se desenvolver. Já nos Estados católicos, sobretudo na Península

in
Ibérica, desenvolveu-se o movimento chamado Contrarreforma, que procurou reprimir todas as tentativas de manifestações

eW
culturais ou religiosas contrárias às determinações da Igreja Católica. Nesse período, a Companhia de Jesus passa a dominar
quase que inteiramente o ensino, exercendo papel importantíssimo na difusão do pensamento aprovado pelo Concílio de Trento.
in
O clima geral era de austeridade e repressão. O Tribunal da Inquisição, que se estabelecera em Portugal para julgar casos de
al
heresia, ameaçava cada vez mais a liberdade de pensamento. O complexo contexto sociocultural fez com que o homem tentasse
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conciliar a glória e os valores humanos despertados pelo Renascimento com as ideias de submissão e pequenez perante Deus e
a Igreja. Ao antropocentrismo renascentista (valorização do homem) opôs-se o teocentrismo (Deus como centro de tudo),
7

inspirado nas tradições medievais.


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Essa situação contraditória resultou em um movimento artístico que expressava também atitudes contraditórias do artista
1

em face do mundo, da vida, dos sentimentos e de si mesmo; esse movimento recebeu o nome de Barroco.
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O homem se vê colocado entre o céu e a terra, consciente de sua grandeza mas atormentado pela ideia de pecado e, nesse
9.

dilema, busca a salvação de forma angustiada (este é o homem barroco).


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Os sentimentos se exaltam, as paixões não são mais controladas pela razão, e o desejo de exprimir esses estados de alma vai se
7.

realizar por meio de antíteses, paradoxos e interrogações. Essa oscilação que leva o homem do céu ao inferno, que mostra
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sua dimensão carnal e espiritual, é uma das principais características da literatura barroca. Os escritores barrocos abusam do
jogo de palavras (cultismo) e do jogo de ideias ou conceitos (conceptismo).
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Temas frequentes na Literatura Barroca

- fugacidade da vida e instabilidade das coisas.

- morte, expressão máxima da efemeridade das coisas.

- concepção do tempo como agente da morte e da dissolução das coisas.

- castigo, como decorrência do pecado.

- arrependimento.

- narração de cenas trágicas.

- erotismo.

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BARROCO 50

- misticismo.

- apelo à religião.

Mas não só de literatura vive o Barroco ...

Arte

A arte barroca procurou captar a realidade em pleno movimento. Mais do que estrutura, porém, o que se buscava era o
embelezamento de portas e janelas e da ornamentação de interiores. As colunas, altares e púlpitos eram recobertos com espirais,
flores e anjos – revestidos de ouro –, numa integração da pintura, escultura e arquitetura, exercendo sobre o espectador uma
grande atração visual. No Brasil, a exploração do ouro e de pedras preciosas na região de Minas Gerais impulsionou a produção
da arte barroca.

A influência barroca manifestou-se claramente nas pinturas feitas em tetos e paredes de igrejas e palácios. As cenas e elementos
arquitetônicos (colunas, escadas, balcões, degraus) proporcionavam uma incrível ilusão de movimento e ampliação de espaço,

er
chegando, em alguns casos, a dar a impressão de que a pintura era a realidade, e a parede, de fato, não existisse.

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(“Vênus e Adônis” . Peter Paul Rubens (1577-1640) Espanha)


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(Basílica de Nossa Senhora do Carmo em Recife)

Até aqui já vimos muita coisa sobre esse estilo tão rico em detalhes e variedades. Nosso conselho é que dê uma parada agora,
releia tudo novamente e busque verificar se tem alguma dúvida.

Vamos estudar um pouco mais sobre o que é o Barroco

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BARROCO 51

Características

Como vimos, este estilo é decorrência de uma espécie de crise do Renascimento, principalmente, pelas divergências religiosas e
pelas imposições do catolicismo bem como pelas dificuldades econômicas advindas do declínio do comércio com o Oriente.

Até aqui, isto já havíamos visto!

É por esta razão que todo o rebuscamento que se nota nas expressões artísticas barrocas é reflexo dos conflitos dualistas ent re
o terreno e o celestial, o homem (antropocentrismo) e Deus (teocentrismo), o pecado e o perdão, a religiosidade medieval e o
paganismo presente no período renascentista.

1) A arte da contrarreforma

A ideologia do Barroco é fornecida pela Contrarreforma. Em nenhuma outra época se produziu tamanha quantidade de igrejas,
capelas, estátuas de santos e monumentos sepulcrais. As obras de arte deviam falar aos fiéis com a maior eficácia possível, mas
em momento algum descer até eles. A arte barroca tinha que convencer, conquistar e impor admiração.

t er
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(Profeta Daniel, de Aleijadinho, Congonhas do Campo, MG)2) Conflito entre corpo e alma
9.
10

O Renascimento definiu-se pela valorização do profano, pondo em voga o gosto pelas prazeres do mundo. Os intelectuais
barrocos, no entanto, não alcançam tranquilidade agindo de acordo com essa filosofia. A influência da Contrarreforma fez com
7.

que houvesse oposição entre os ideais de vida eterna em contraposição com a vida terrena e do espírito em contraposição à
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carne. Na visão barroca, não há possibilidade de conciliar essas antíteses: ou se vive a vida sensualmente, ou se foge dos gozos
humanos e se alcança a eternidade. A tensão de elementos contrários causa no artista uma profunda angústia: após arrojar-se
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nos prazeres mais mundanos, ele se sente culpado e busca o perdão divino. Assim, ora ajoelha-se diante de Deus, ora celebra as
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delícias da vida.

3) A fugacidade do tempo

O homem barroco assume consciência integral no que se refere à brevidade da vida humana (p que chamamos de “efemeridade”):

O tempo, veloz e avassalador, tudo destrói em sua passagem. Por outro lado, diante das coisas transitórias (instabilidade), surge
a o conflito: vivê-las, antes que terminem, ou renunciar ao passageiro e entregar-se à eternidade?

4) Forma tumultuosa

O estilo barroco apresenta forma conturbada, decorrente da tensão causada pela oposição entre os princípios renascentistas e a
ética cristã. Daí a frequente utilização de antíteses, paradoxos e inversões, estabelecendo uma forma contraditória, onde
existem muitos dilemas e conflitos.

Além disso, a utilização de interrogações revela as incertezas do homem barroco frente ao seu período e a inversão de frases a
sua tentativa na conciliação dos elementos opostos.

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BARROCO 52

5) Cultismo e conceptismo

O cultismo caracteriza-se pelo uso de linguagem rebuscada, culta, extravagante, repleta de jogos de palavras e do emprego
abusivo de figuras de estilo, como a metáfora e a hipérbole. Veja um exemplo de poema cultista:

Ao braço do Menino Jesus de Nossa Senhora das Maravilhas, A quem infiéis despedaçaram

O todo sem a parte não é todo;

A parte sem o todo não é parte;

Mas se a parte o faz todo, sendo parte,

Não se diga que é parte, sendo o todo.

(Gregório de Matos)

er
Já o conceptismo, que ocorre principalmente na prosa, é marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio

t
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lógico, nacionalista, que utiliza uma retórica aprimorada. A organização da frase obedece a uma ordem rigorosa, com o intuito
de convencer e ensinar. Veja um exemplo de prosa conceptista:

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Para um homem se ver a si mesmo são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não
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se pode ver por falta de olhos; se tem espelhos e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há
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mister¹ luz, há mister espelho e há mister olhos. (Padre Antônio Vieira)


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Figuras de Linguagem no Barroco


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As figuras de estilo mais comuns nos textos barrocos reforçam a tentativa de apreender a realidade por meio dos sentidos.
9.

Observe:
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7.

Metáfora: é uma comparação implícita. Tem-se como exemplo o trecho a seguir, escrito por Gregório de Matos:
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Se és fogo, como passas brandamente?


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Se és neve, como queimas com porfia?

Antítese: reflete a contradição do homem barroco, seu dualismo. Revela o contraste que o escritor vê em quase tudo. Observe
a seguir o trecho de Manuel Botelho de Oliveira, no qual é descrita uma ilha, salientando-se seus elementos contrastantes:

Vista por fora é pouco apetecida

Porque aos olhos por feia é parecida;

Porém, dentro habitada

É muito bela, muito desejada,

É como a concha tosca e deslustrosa,

Que dentro cria a pérola formosa.

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BARROCO 53

Paradoxo: corresponde à união de duas ideias contrárias num só pensamento. Opõe-se ao racionalismo da arte renascentista.
Veja a estrofe a seguir, de Gregório de Matos:

Ardor em firme Coração nascido;

pranto por belos olhos derramado;

incêndio em mares de água disfarçado;

rio de neve em fogo convertido.

Hipérbole: traduz ideia de grandiosidade, pompa. Veja mais um exemplo de Gregório de Matos:

É a vaidade, Fábio, nesta vida,

Rosa, que da manhã lisonjeada,

t er
in
Púrpuras mil, com ambição dourada,

eW
Airosa rompe, arrasta presumida.

in
al
Prosopopeia: personificação de seres inanimados para dinamizar a realidade. Observe um trecho escrito pelo Padre Antonio
-L

Vieira:

No diamante agradou-me o forte, no cedro o incorruptível, na águia o sublime, no Leão o generoso, no Sol o
7
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excesso de Luz.
1
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Como você notou, estudar literatura requer muita atenção e mais do que ler textos, é reconhecer as características de cada um
deles.
9.

Você viu até aqui como é importante recordar assuntos como as figuras de linguagem. Por esta razão, antes de prosseguir, nosso
10

conselho é que dê outra “paradinha” para estudar as figuras de linguagem que temos em nosso idioma.
7.
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Não perca o foco

Algumas dicas de sites para você relembrar as FIGURAS DE LINGUAGEM:

http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/portugues/resumo-portugues-figuras-linguagem-646762.shtml

https://www.youtube.com/watch?v=7gDDnH9sdZI

Vamos estudar agora alguns dos escritores mais conhecidos do Barroco no Brasil

O Barroco foi introduzido no Brasil por intermédio dos jesuítas. Inicialmente, no final do século XVI, tratava-se de um movimento
apenas destinado à catequização. A partir do século XVII, o Barroco passa a se expandir para os centros de produção açucareira,

53
BARROCO 54

especialmente na Bahia, por meio das igrejas. Assim, a função da igreja era ensinar o caminho da religiosidade e da moral a uma
população que vivia desregradamente.

Nos séculos XVII e XVIII não havia ainda condições para a formação de uma consciência literária brasileira. A vida social no país
era organizada em função de pequenos núcleos econômicos, não existindo efetivamente um público leitor para as obras literárias,
o que só viria a ocorrer no século XIX. Por esse motivo, fala-se apenas em autores brasileiros com características barrocas,
influenciados por fontes estrangeiras (portuguesa e espanhola), mas que não chegaram a constituir um movimento propriamente
dito. Nesse contexto, merecem destaque a poesia de Gregório de Matos Guerra e a prosa do padre Antônio Vieira
representada pelos seus sermões .

Didaticamente, o Barroco brasileiro tem seu marco inicial em 1601, com a publicação do poema épico Prosopopeia ,
de Bento Teixeira.

Conheça a seguir os trechos selecionados:

t er
Prosopopeia

in
eW
I
Cantem Poetas o Poder Romano,
Sobmetendo Nações ao jugo duro;
O Mantuano pinte o Rei Troiano, in
al
Descendo à confusão do Reino escuro;
-L

Que eu canto um Albuquerque soberano,


Da Fé, da cara Pátria firme muro,
7

Cujo valor e ser, que o Ceo lhe inspira,


-1

Pode estancar a Lácia e Grega lira.


1
84

II
9.

As Délficas irmãs chamar não quero,


10

que tal invocação é vão estudo;


Aquele chamo só, de quem espero
7.

A vida que se espera em fim de tudo.


06

Ele fará meu Verso tão sincero,


Quanto fora sem ele tosco e rudo,
F

Que per rezão negar não deve o menos


CP

Quem deu o mais a míseros terrenos.

Esse poema, além de traçar elogios aos primeiros donatários da capitania de Pernambuco, narra o naufrágio sofrido por um deles,
o donatário Jorge Albuquerque Coelho. Apesar de os críticos o considerarem de pouco valor literário, o texto tem seu valor
histórico pois foi a primeira obra do Barroco brasileiro e o marco inicial do primeiro estilo de época a surgir no Brasil.

54
BARROCO 55

Autores

Gregório de Matos Guerra: o Boca do Inferno

Gregório de Matos Guerra nasceu em Salvador (BA) e morreu em Recife


(PE). Estudou no colégio dos jesuítas e formou-se em Direito em
Coimbra (Portugal). Recebeu o apelido de Boca do Inferno, graças a sua
irreverente obra satírica.

er
Gregório de Matos firmou-se como o primeiro poeta brasileiro: cultivou a poesia lírica, satírica, erótica e religiosa. O que se

t
conhece de sua obra é fruto de inúmeras pesquisas, pois Gregório não publicou seus poemas em vida. Por essa razão, há dúvidas

in
quanto à autenticidade de muitos textos que lhe são atribuídos.

eW
O poeta religioso
in
al
A preocupação religiosa do escritor revela-se no grande número de textos que tratam do tema da salvação espiritual do homem.
-L

No soneto a seguir, o poeta ajoelha-se diante de Deus, com um forte sentimento de culpa por haver pecado, e promete redimir-
se. Observe:
7
1 -1

Soneto a Nosso Senhor


84
9.
10

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,


7.

Da vossa alta clemência me despido;


06

Porque quanto mais tenho delinquido


F
CP

Vos tem a perdoar mais empenhado.

Se basta a voz irar tanto pecado,

A abrandar-vos sobeja um só gemido:

Que a mesma culpa que vos há ofendido,

Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada

Glória tal e prazer tão repentino

Vos deu, como afirmais na sacra história.

Eu sou, Senhor a ovelha desgarrada,

Recobrai-a; e não queirais, pastor divino,

Perder na vossa ovelha a vossa glória.

55
BARROCO 56

O poeta satírico

Gregório de Matos é amplamente conhecido por suas críticas à situação econômica da Bahia, especialmente de Salvador, graças
à expansão econômica chegando a fazer, inclusive, uma crítica ao então governador da Bahia Antonio Luis da Camara Coutinho.
Além disso, suas críticas à Igreja e a religiosidade presente naquele momento. Essa atitude de subversão por meio das palavras
rendeu-lhe o apelido de "Boca do Inferno”, por satirizar seus desafetos

Triste Bahia

Triste Bahia!

ó quão dessemelhante

Estás e estou do nosso antigo estado!

t er
Pobre te vejo a ti, tu a mi abundante.

in
eW
A ti tricou-te a máquina mercante,

Que em tua larga barra tem entrado,


in
al
A mim foi-me trocando e, tem trocado,
-L

Tanto negócio e tanto negociante.


7
1 -1

O poeta lírico
84

Em sua produção lírica, Gregório de Matos se mostra um poeta angustiado em face à vida, à religião e ao amor. Na poesia lírico-
9.

amorosa, o poeta revela sua amada, uma mulher bela que é constantemente comparada aos elementos da natureza. Além disso,
10

ao mesmo tempo que o amor desperta os desejos corporais, o poeta é assaltado pela culpa e pela angústia do pecado.
7.
06

À mesma d. Ângela
F

Anjo no nome, Angélica na cara!


CP

Isso é ser flor, e Anjo juntamente:

Ser Angélica flor, e Anjo florente,

Padre Antônio Vieira

Padre Antônio Vieira nasceu em Lisboa, em 1608, e morreu na Bahia,


em 1697. Com sete anos de idade, veio para o Brasil e entrou para a
Companhia de Jesus. Por defender posições favoráveis aos índios e
aos judeus, foi condenado à prisão pela Inquisição, onde ficou por
dois anos.

56
BARROCO 57

Responsável pelo desenvolvimento da prosa no período do barroco, Padre Antônio Vieira é conhecido por seus sermões polêmicos
em que critica, entre outras coisas, o despotismo dos colonos portugueses, a influência negativa que o Protestantismo exerceria
na colônia, os pregadores que não cumpriam com seu ofício de catequizar e evangelizar (seus adversários católicos) e a própria
Inquisição. Além disso, defendia os índios e sua evangelização, condenando os horrores vivenciados por eles nas mãos de colonos
e os cristãos-novos (judeus convertidos ao Catolicismo) que aqui se instalaram. Famoso por seus sermões, padre Antônio Vieira
também se dedicou a escrever cartas e profecias.

Mito do Sebastianismo

Com o desenvolvimento do mercado marítimo, Portugal vivenciou um período de ascensão e grandeza. Porém, com o declínio do
comércio no Oriente, Portugal viveu uma crise econômica e dinástica. Como consequência, o então rei de Portugal D. Sebastião
resolve colocar em prática seu plano de organizar uma cruzada em Marrocos e levando à batalha de Alcacer-Quibir em 1578.

A derrota na batalha e seu desaparecimento (provável morte em batalha), gerou especulações acerca de seus paradeiro. A partir
de então, originou-se a crença de que o rei retornaria para transformar Portugal novamente em uma grande potência econômica.
Padre Antônio Vieira era um dos que acreditavam no Sebastianismo e, mais adiante, Antônio Conselheiro anunciava o retorno de

er
D. Sebastião nos episódios da Guerra de Canudos.

t
in
eW
Os sermões

Escreveu cerca de duzentos sermões em estilo conceptista, isto é, que privilegia a retórica e o encadeamento lógico de ideias e
conceitos. Estão formalmente divididos em três partes: in
al
Introito ou Exórdio: a apresentação, introdução do assunto.
-L

Desenvolvimento ou argumento: defesa de uma ideia com base na argumentação.


7

Peroração: parte final, conclusão.


1 -1
84

Seus sermões mais mais famosos são:


9.
10

Sermão da Sexagésima (1655):


7.

O sermão, dividido em dez partes, é conhecido por tratar da arte de pregar. Nele, Padre Antônio Vieira condena aqueles que
06

apenas pregam a palavra de Deus de maneira vazia. Para ele, a palavra de Deus era como uma semente, que deveria ser semeada
pelo pregador. Por fim, o padre chega à conclusão de que, se a palavra de Deus não dá frutos no plano terrreno a culpa é única
F

e exclusivamente dos pregadores que não cumprem direito a sua função. Leia um trecho do sermão:
CP

Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo que "saiu o pregador evangélico a semear" a palavra divina. Bem parece este
texto dos livros de Deus ão só faz menção do semear, mas também faz caso do sair: Exiit, porque no dia da messe hão-nos de
medir a semeadura e hão-nos de contar os passos. (...) Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros
que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são
os que se contentam com pregar na Pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-
lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e hão-lhes de contar os passos. Ah
Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os de lá, com mais passos: Exiit seminare. (...) Ora, suposto
que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual
deles devemos entender a falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus? (...)

Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda (1640):

Neste sermão, o padre incita os seguidores a reagir contra as invasões Holandesas, alegando que a presença dos protestantes
na colônia resultaria em uma série de depredações à colônia. Leia um trecho do sermão:

Se acaso for assim — o que vós não permitais — e está determinado em vosso secreto juízo, que entrem os hereges na Bahia, o
que só vos represento humildemente, e muito deveras, é que, antes da execução da sentença , repareis bem, Senhor, no
que vos pode suceder depois, e que o consulteis com vosso coração enquanto é tempo, porque melhor será arrepender
agora, que quando o mal passado não tenha remédio. Bem estais na intenção e alusão com que digo isto, e na razão, fundada

57
BARROCO 58

em vós mesmo, que tenho para o dizer. Também antes do dilúvio estáveis vós mui colérico e irado contra os homens, e por mais
que Noé orava em todos aqueles cem anos, nunca houve remédio para que se aplacasse vossa ira. Romperam-se enfim as
cataratas do céu, cresceu o mar até os cumes dos montes, alagou-se o mundo todo: já estaria satisfeita vossa justiça, senão
quando ao terceiro dia começaram a boiar os corpos mortos, e a surgir e aparecer em multidão infinita aquelas figuras pálidas, e
então se representou sobre as ondas a mais triste e funesta tragédia que nunca viram os anjos, que homens que a vissem, não
os havia.

Sermão de Santo Antônio (1654):

Também conhecido como "O Sermão dos Peixes", pois nele o padre usa a imagem dos peixes como símbolo para fazer uma
crítica aos vícios dos colonos portugueses que se aproveitavam da condição dos índios para escravizá-los e sujeitá-los ao seu
poder. Leia um trecho do sermão:

Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam
na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo
tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? (...) Enfim, que havemos de pregar hoje

er
aos peixes? Nunca pior auditório. Ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam. Uma só cousa
pudera desconsolar o Pregador, que é serem gente os peixes que se não há-de converter. Mas esta dor é tão ordinária, que já

t
in
pelo costume quase se não sente (...) Suposto isto, para que procedamos com clareza, dividirei, peixes, o vosso sermão em

eW
dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios. (...)

in
al
O poeta erótico
-L

Também alcunhado de profano, o poeta exalta a sensualidade e a volúpia das amantes que conquistou na Bahia, além dos
escândalos sexuais envolvendo os conventos da cidade.
7
1 -1

Necessidades Forçosas da Natureza Humana


84
9.

Descarto-me da tronga, que me chupa,


10
7.

Corro por um conchego todo o mapa,


06

O ar da feia me arrebata a capa,


F

O gadanho da limpa até a garupa.


CP

Busco uma freira, que me desemtupa

A via, que o desuso às vezes tapa,

Topo-a, topando-a todo o bolo rapa,

Que as cartas lhe dão sempre com chalupa.

Que hei de fazer, se sou de boa cepa,

E na hora de ver repleta a tripa,

Darei por quem mo vase toda Europa?

Amigo, quem se alimpa da carepa,

Ou sofre uma muchacha, que o dissipa,

Ou faz da mão sua cachopa.

58
BARROCO 59

Nossa aula sobre Barroco tomou como referência o site www.soliteratura.com.br/barroco/

Muito bem…. Ao ver este botão, você já deve ter se acostumado ao que vamos sugerir antes de partirmos para os exercícios.
Não?

t er
in
Vamos verificar nosso conhecimento sobre o Quinhentismo:

eW
in
1. Por que dizemos que o Barroco é um período artístico de expressões contraditórias? O que levou os artistas daquela época a
al
expressar seus sentimentos desta maneira?
-L

_______________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________
7
1 -1

2. Escolha a alternativa que completa de forma correta a frase abaixo:


84

A linguagem ______, o paradoxo, ________ e o registro das impressões sensoriais são recursos linguísticos presentes na poesia
9.

________.
10
7.

(A) simples; a antítese; parnasiana.


(B) rebuscada; a antítese; barroca.
06

(C) objetiva; a metáfora; simbolista.


(D) subjetiva; o verso livre; romântica.
F

(E) detalhada; o subjetivismo; simbolista.


CP

3. Assinale a alternativa incorreta:

(A) Na obra de José de Anchieta, encontram-se poesias que seguem a tradição medieval e textos para teatro com clara
intenção catequista.
(B) A literatura informativa do Quinhentismo brasileiro empenha-se em fazer um levantamento da terra, daí ser
predominantemente descritiva.
(C) A literatura seiscentista reflete um dualismo: o ser humano dividido entre a matéria e o espírito, o pecado e o perdão.
(D) O Barroco apresenta estados de alma expressos através de antíteses, paradoxos, interrogações.
(E) O conceptismo caracteriza-se pela linguagem rebuscada, culta, extravagante, enquanto o cultismo é marcado pelo jogo
de ideias, seguindo um raciocínio lógico, racionalista.

4. Com referência ao Barroco, todas as alternativas são corretas, exceto:

(A) O Barroco estabelece contradições entre espírito e carne, alma e corpo, morte e vida.
(B) O homem centra suas preocupações em seu próprio ser, tendo em vista seu aprimoramento, com base na cultura greco-
romana.
(C) O Barroco apresenta, como característica marcante, o espírito de tensão, conflito entre tendências opostas: de um lado,
o teocentrismo medieval; de outro, o antropocentrismo renascentista.

59
BARROCO 60

(D) A arte barroca é vinculada à Contrarreforma.


(E) O barroco caracteriza-se pela sintaxe obscura, uso de hipérbole e de metáforas.

5. Assinale o texto que, pela linguagem e pelas ideias, pode ser considerado como representante da corrente barroca.

(A) "Brando e meigo sorriso se deslizava em seus lábios; os negros caracóis de suas belas madeixas brincavam, mercê do
Zéfiro, sobre suas faces... e ela também suspirava."
(B) "De súbito, porém, as lancinantes incertezas, as brumosas noites pesadas de tanta agonia, de tanto pavor de morte,
desfaziam-se, desapareciam completamente como os tênues vapores de um letargo…"
(C) "Os sinos repicavam numa impaciência alegre. Padre Antônio continuou a caminhar lentamente, pensando que cem
vezes estivera a cair, cedendo à fatalidade da herança e à influência do meio que o arrastavam para o pecado."
(D) "Estiadas amáveis iluminavam instantes de céus sobre ruas molhadas de pipilos nos arbustos dos squares. Mas a
abóbada de garoa desabava os quarteirões."
(E) "Ah! Peixes, quantas invejas vos tenho a essa natural irregularidade! A vossa bruteza é melhor que o meu alvedrio. Eu
falo, mas vós não ofendeis a Deus com as palavras: eu lembro-me, mas vós não ofendeis a Deus com a memória: eu
discorro, mas vós não ofendeis a Deus com o entendimento: eu quero, mas vós não ofendeis a Deus com a vontade."

t er
in
6. Sobre cultismo e conceptismo, os dois aspectos construtivos do Barroco, assinale a única alternativa incorreta:

eW
(A) O cultismo opera através de analogias sensoriais, valorizando a identificação dos seres por metáforas. O conceptismo
valoriza a atitude intelectual, a argumentação.
in
(B) Cultismo e conceptismo são partes construtivas do Barroco que não se excluem. É possível localizar no mesmo autor e
al
no mesmo texto os dois elementos.
-L

(C) O cultismo é perceptível no rebuscamento da linguagem, pelo abuso no emprego de figuras semânticas, sintáticas e
sonoras. O conceptismo valoriza a atitude intelectual, o que se concretiza no discurso pelo emprego de sofismas,
7

silogismos, paradoxos, etc.


-1

(D) O cultismo na Espanha, Portugal e Brasil é também conhecido como gongorismo e seu mais ardente defensor, entre
nós, foi o Pe. Antônio Vieira, que, no Sermão da Sexagésima, propõe a primazia da palavra sobre a ideia.
1
84

(E) Os métodos cultistas mais seguidos por nossos poetas foram os de Gôngora e Marini e o conceptismo de Quevedo foi
o que maiores influências deixou em Gregório de Matos.
9.
10

Quanto já estudamos, não é verdade? Estamos ainda lá pelos séculos XVII e XVIII. Mas não desanime. Conhecer a literatura é
7.

entender muito da história da humanidade. E, no nosso caso, muito do nosso país.


06
F
CP

60
ARCADISMO 61

ARCADISMO

Vamos começar a nossa aula com algumas perguntas?

Pense antes de responder:

1 - Que outros nomes pode ter o Arcadismo?

er
2 - Por que o nome “Arcadismo” para este período literário?

t
in
eW
Vamos às respostas.

Com elas estamos começando a nossa aula.


in
al
-L

Pergunta nº 1

O Arcadismo será um período literário localizado temporalmente no século XVIII (no Brasil, mais na segunda metade do século).
7

Assim sendo, se estamos tratando a partir dos anos de 1700, o Arcadismo também é conhecido como Setecentismo.
1 -1

Como é um movimento que surge após toda a efervescência dos conflitos barrocos entre razão e emoção, homem e Deus, corpo
84

e espírito, etc., veremos surgir uma revalorização das abordagens “clássicas” de visão de mundo. Sendo um retorno ao clássico,
o Arcadismo também é conhecido como Neoclacissismo.
9.
10

Pergunta nº 2
7.
06

Se é um retorno ao “clássico”, o próprio nome faz referência à Arcádia, região do sul da Grécia (cidade assim nomeada em
homenagem ao semideus Arcas (filho de Zeus e Calisto).
F
CP

Uma referência clara à mitologia grega que perpassa o movimento, logo um retorno ao clássico.

Contexto histórico

O que estava acontecendo no mundo para que o cenário mudasse? Para que a arte expressasse de forma diferente do período
anterior a visão de mundo?

Vemos surgirem as primeiras ideias do Iluminismo, que, diferente da angústia barroca entre emoção e razão, valorizava o
racionalismo, o progresso e as ciências.

A Independência dos Estados Unidos, em 1776, abriu caminho para a conscientização dos valores de liberdade e levou também
a vários movimentos de independência ao longo de toda a América, inclusive no Brasil, que vivenciou inúmeras revoluções e
inconfidências até a chegada da Família Real em 1808.

Como se pode notar, o movimento neoclássico tem características reformistas, questiona as formas de arte e ensino, propondo
novos valores a eles, aos hábitos e às atitudes daquela época.

Vimos uma a classe aristocrática em declínio, as riquezas se esvaíram e deram lugar a uma nova organização econômica liderada
pelo pensamento burguês.

No Brasil, se os textos produzidos no período Quinhentismo sofreram influência direta de Portugal e os do Barroco, da cultura
espanhola, os do Arcadismo foram influenciados pela cultura francesa devido aos acontecimentos movidos pela burguesia que
sacudiram toda a Europa (e o mundo Ocidental).

61
ARCADISMO 62

Toda esta forma de repensar os valores e confrontá-los com os do século anterior, trouxeram para o Brasil dois tipos de Arcadismo,
como nos mostra o professor Alfredo Bosi (in.: História Concisa da Literatura Brasileira) :

a) poético: retorno à tradição clássica com a utilização dos seus modelos, e valorização da natureza e da mitologia.

b) ideológico: influenciados pela filosofia presente no Iluminismo, que traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza
e do clero.

Seus principais autores são: No Brasil, o início do é

1768 com a publicação da


Claudio Manuel da Costa coletânea de poemas intitulada
“Obras” do poeta Claudio Manuel
Tomás Antônio Gonzaga
da Costa.

er
Basílio da Gama

t
in
Santa Rita Durão

eW
Arcádia Ultramarina
in
al
Na atual cidade de Outro Preto, Minas Gerais, chamada na época de Vila Rica, nasceu uma sociedade literária fundada na cidade
de Vila Rica (MG). Não se sabe ao certo a data de fundação desta sociedade, mas é possível afirmar que foi ante de 1769 e que
-L

foi influenciada pela Arcádia italiana (fundada em 1690). No Brasil, os membros da Arcádia Ultramarina adotavam pseudônimos
(nomes artísticos) de pastores cantados na poesia grega ou latina. Por isso que alguns dos principais nomes do Arcadismo
7

brasileiro publicavam suas obras com nomes inspirados na mitologia grega e romana.
-1

Principais características do nosso Arcadismo


1
84

- inspiração nos modelos clássicos greco-latinos e renascentistas, como por exemplo, em O Uraguai (gênero épico), em Marília
9.

de Dirceu (gênero lírico) e em Cartas Chilenas (gênero satírico);


10

- influência da filosofia francesa;


7.

- mitologia pagã como elemento estético;


06

- o bom selvagem (expressão do filósofo Jean-Jacques Rousseau) que denota a pureza dos nativos da terra fazem menção à
natureza e à busca pela vida simples, bucólica e pastoril;
F
CP

- tensão entre o burguês culto, da cidade, contra a aristocracia;

- pastoralismo: poetas simples e humildes;

- bucolismo: busca pelos valores da natureza;

- nativismo: referências à terra e ao mundo natural;

- tom confessional;

- estado de espírito de espontaneidade dos sentimentos;

- exaltação da pureza, da ingenuidade e da beleza.

Escritores Árcades

O poeta mineiro Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)

Conhecido como o "guardador de rebanhos" Glauceste Satúrnio, seu pseudônimo, Cláudio Manuel da Costa nasceu na cidade
de Mariana (antiga Vila do Ribeirão do Carmo). Estudou Direito em Coimbra, Portugal, onde travou contato com as principais
ideias do Iluminismo. Ao retornar ao Brasil, fundou da Arcádia Ultramarina. Homem rico e de posses, influenciou a elite

62
ARCADISMO 63

intelectual de sua época. Também participou do movimento pela libertação do Brasil – a Inconfidência Mineira. Por isto, foi preso
e encontrado enforcado na cadeia em 1789.

Os temas iniciais de sua obra giram em torno das reflexões morais e das contradições da vida com forte inspiração nos modelos
barrocos.

Posteriormente, dedicou-se à poesia bucólica e pastoril na qual a natureza funciona como um refúgio para o poeta que busca a
vida longe da cidade e reflete as angustias e o sofrimento amoroso com sua musa inacessível Nise. Estes poemas fazem parte do
conjunto intitulado “ Obras”, por nós aqui já mencionada anteriormente .

Cláudio Manuel da Costa também se dedicou à exaltação dos bandeirantes, fundadores de inúmeras cidades da região mineradora
e desbravadores do interior do país e de contar a história da cidade de Ouro Preto no poemeto épico Vila Rica (1773).

Veja um exemplo de sua poesia bucólica:

er
Eu ponho esta sanfona, tu, Palemo,

t
in
Porás a ovelha branca, e o cajado;

eW
E ambos ao som da flauta magoado

Podemos competir de extremo a extremo. in


al
-L

Principia, pastor; que eu te não temo;


7
-1

Inda que sejas tão avantajado


1
84

No cântico amebeu: para louvado


9.

Escolhamos embora o velho Alcemo.


10
7.
06

Que esperas? Toma a flauta, principia;


F

Eu quero acompanhar te; os horizontes


CP

Já se enchem de prazer, e de alegria:

Parece, que estes prados, e estas fontes

Já sabem, que é o assunto da porfia

Nise, a melhor pastora destes montes.

De sua poesia épica podemos ver:

Vila Rica

Canto VI

63
ARCADISMO 64

Levados de fervor, que o peito encerra

Vês os Paulistas, animosa gente,

Que ao Rei procuram do metal luzente

Co'as próprias mãos enriquecer o erário.

Arzão é este, é Este, o temerário,

Que da Casca os sertões tentou primeiro:

Vê qual despreza o nobre aventureiro,

Os laços e as traições, que lhe prepara

Do cruento gentio a fome avara.

t er
in
eW
José de Santa Rita Durão nasceu em Cata-Preta, nas
proximidades de Mariana em Minas Gerais. Ingressa na Ordem
Santa Rita Durão (1722-1784)
de Santo Agostinho, em Portugal, e lá permanece até sua morte
em 1784. in
al
-L

Vejamos outro escritor árcade:


7

Seu trabalho mais conhecido é o Caramuru: Poema épico do descobrimento da Bahia (1781) que remonta ao tempo em que
-1

os primeiros europeus chegaram ao Brasil e estiveram em contato com os nativos.


1
84

Caramuru é o nome dado ao português Diogo Álvares Correia que passa a viver entre os índios Tupinambás após sobreviver
a um naufrágio no litoral baiano.
9.
10

Considerado um herói "cultural", que ensinou as leis e as virtudes aos "bárbaros" que aqui viviam, ganhou o respeito dos índios
ao disparar uma arma de fogo. Os índios, assustados, equipararam-no a Tupã e passaram a respeitá-lo como uma entidade
7.

enviada à terra.
06

Caramuru se encantou com Paraguaçu, a bela índia de pele branca. Já instalado na tribo, Diego percebeu a possibilidade de
difundir a fé cristã para os índios, doutrinando-os após ter encontrado uma gruta que se assemelharia a uma igreja.
F
CP

Mais adiante, Diego ajudou a resgatar a tripulação de um barco espanhol que havia naufragado e vê a possibilidade de retornar
à Europa através da nau francesa que viera resgatar aquela tripulação. Parte, com Paraguaçu, deixando para trás as belas índias
que haviam se apaixonado por ele, incluindo Moema, a mais bela, que atira-se ao mar em direção ao navio na tentativa de
alcançar o seu amado. Ao chegar na Europa, Paraguaçu é batizada de Catarina, ambos são festejados e recebem as honras da
realeza lusitana.

O poema segue a estrutura dos versos utilizados por Camões e da epopeia clássica, com fortes influências da mitologia grega:
composto por 10 cantos, versos decassílabos, oitava rima camoniana. Segue também com a divisão tradicional das epopeias:
proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo.

64
ARCADISMO 65

Conheça um trecho do poema épico em que é narrada a morte da índia Moema, uma das mais belas cenas já descritas na
literatura brasileira:

t er
in
eW
in
al
-L
7
1 -1

Canto VI
84

XXXVII
9.
10

Copiosa multidão da nau francesa


7.

Corre a ver o espetáculo assombrada;


06

E, ignorando a ocasião de estranha empresa,


F
CP

Pasma da turba feminil que nada.

Uma, que às mais precede em gentileza,

Não vinha menos bela do que irada;

Era Moema, que de inveja geme,

E já vizinha à nau se apega ao leme.

XXXVIII

"- Bárbaro (a bela diz), tigre e não homem...

Porém o tigre, por cruel que brame,

Acha forças amor que enfim o domem;

Só a ti não domou, por mais que eu te ame.

65
ARCADISMO 66

Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem.

Como não consumis aquele infame?

Mas apagar tanto amor com tédio e asco...

Ah que o corisco és tu... raio... penhasco?

(...)

XLI

Enfim, tens coração de ver-me aflita,

Flutuar moribunda entre estas ondas;

t er
Nem o passado amor teu peito incita

in
eW
A um ai somente com que aos meus respondas!

Bárbaro, se esta fé teu peito irrita,


in
al
(Disse, vendo-o fugir), ah não te escondas!
-L

Dispara sobre mim teu cruel raio..."


7
-1

E indo a dizer o mais, cai num desmaio.


1
84

XLII
9.

Perde o lume dos olhos, pasma e treme,


10

Pálida a cor, o aspecto moribundo;


7.
06

Com mão já sem vigor, soltando o leme,


F

Entre as salsas escumas desce ao fundo.


CP

Mas na onda do mar, que irado freme,

Tornando a aparecer desde o profundo,

- Ah! Diogo cruel! - disse com mágoa,

E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.

José Basílio da Gama nasceu em 1741 na cidade de São José


Basílio da Gama (1741-1795) do Rio das Mortes, atual Tiradentes, em Minas Gerais. Falece
em Lisboa no dia 31 de julho de 1795.

Estudou, no Rio de Janeiro, no Colégio dos Jesuítas e era noviço quando os jesuítas foram expulsos do país. Exilou-se na Itália e
filiou-se à Arcádia Romana, sob o pseudônimo de Termindo Sipílio. É preso por jesuitismo, em Lisboa, e enviado para Angola,
livrando-se do exílio ao escrever um poema para a filha do Marquês de Pombal.

66
ARCADISMO 67

Em 1769 publica o poema épico O Uraguai, criticando os jesuítas e defendendo a política do Marquês de Pombal que o transforma
em oficial da Secretaria do Reino. A crítica recaía no fato de que os jesuítas não defendiam os índios, apenas pretendiam
falsamente libertá-los e usar a mão de obra indígena para proveito próprio.

Em 1750, com o Tratado de Madrid, a missão dos Sete Povos passaria aos portugueses enquanto que Colônia de Sacramento,
no Uruguai, passaria para os espanhóis. O poema narra a luta dos portugueses contra os índios das Missões (instigados pelos
jesuítas espanhóis) que se recusam a sair de suas terras, dando início aos conflitos conhecidos como as Guerra Guaranítica (1754-
56).

A crítica recai, principalmente, sobre o personagem Balda, padre jesuíta que encarna o mal. Corrupto e desleal, seduz uma índia
e tem um filho com ela, Baldeta. Na aldeia moram também o chefe da tribo Cacambo e sua mulher Lindóia, casal que representa
a força do guerreiro e a beleza e delicadeza da índia. Balda quer forçar Lindóia a se casar com Baldeta, enviando Cacambo para
as batalhas na esperança de que o índio morra para uni-la a seu filho.

No Canto II, Basílio da Gama relata o encontro entre os caciques Sepé Tiaraju e Cacambo com o comandante português Gomes
Freire de Andrada, ocorrido às margens do rio Uruguai (chamado então de "Uraguai"). O comandante tenta estabelecer um
acordo com os índios, sem sucesso, dando início aos combates.

er
O cacique Sepé Tiaraju lidera a disputa e acaba morto. Cacambo, seu sucessor, é capturado e descobre que o perigo estava o
tempo todo na mão dos jesuítas. Os portugueses, então, permitem que ele retorne a sua aldeia para alertar seus companheiros

t
in
contra os perigos dos jesuítas. De volta, o valente guerreiro é envenenado por Balda e Lindóia, vendo-se forçada a casar com

eW
Baldeta, comete suicídio, deixando-se picar por uma cobra venenosa.

in
al
-L
7
1 -1

Alguns críticos literários sustentam que Basílio da Gama é o homem do fim do século XVIII "cujos valores pré-liberais prenunciam
84

a Revolução e se manteriam com o idealismo romântico". Assim, pode-se dizer que O Uraguai prenuncia muitos dos aspectos que
9.

serão desenvolvidos durante o movimento do Romantismo.


10
7.

Características principais do poema


06

- exaltação da natureza e do "bom selvagem", atribuindo aos jesuítas a culpa pelo envolvimento dos índios na luta;
F

- rompimento da estrutura poética camoniana;


CP

- inovação no gênero épico: versos decassílabos brancos, isto é, sem rima, sem divisão de estrofes e divididos em apenas cinco
cantos;

- ao contrário da tradição épica, o poema conta um acontecimento recente na história do país;

- inicia o poema pela narração;

- discursos permeados por ideias iluministas;

A cena da morte de Lindóia mostra as características típicas do movimento árcade:

Canto IV

(...)

Cansada de viver, tinha escolhido

Para morrer a mísera Lindóia.

Lá reclinada, como que dormia,

67
ARCADISMO 68

Na branda relva e nas mimosas flores,

Tinha a face na mão, e a mão no tronco

De um fúnebre cipreste, que espalhava

Melancólica sombra. Mais de perto

Descobrem que se enrola no seu corpo

Verde serpente, e lhe passeia, e cinge

Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.

Fogem de a ver assim, sobressaltados,

E param cheios de temor ao longe;

ter
in
E nem se atrevem a chamá-la, e temem

eW
Que desperte assustada, e irrite o monstro,

E fuja, e apresse no fugir a morte. in


al
Porém o destro Caitutu, que treme
-L

Do perigo da irmã, sem mais demora


7
-1

Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes


1
84

Soltar o tiro, e vacilou três vezes


9.

Entre a ira e o temor. Enfim sacode


10

O arco e faz voar a aguda seta,


7.
06

Que toca o peito de Lindóia, e fere


F

A serpente na testa, e a boca e os dentes


CP

Deixou cravados no vizinho tronco.

Açouta o campo co’a ligeira cauda

O irado monstro, e em tortuosos giros

Se enrosca no cipreste, e verte envolto

Em negro sangue o lívido veneno.

Leva nos braços a infeliz Lindóia

O desgraçado irmão, que ao despertá-la

Conhece, com que dor! no frio rosto

Os sinais do veneno, e vê ferido

Pelo dente sutil o brando peito.

68
ARCADISMO 69

Os olhos, em que Amor reinava, um dia,

Cheios de morte; e muda aquela língua

Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes

Contou a larga história de seus males.

Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,

E rompe em profundíssimos suspiros,

Lendo na testa da fronteira gruta

De sua mão já trêmula gravado

O alheio crime e a voluntária morte.

t er
in
E por todas as partes repetido

eW
O suspirado nome de Cacambo.

Inda conserva o pálido semblante in


al
Um não sei quê de magoado e triste,
-L

Que os corações mais duros enternece


7
-1

Tanto era bela no seu rosto a morte!


1
84
9.

Quem foi Sepé Tiaraju?


10

Importante personagem na história do país, o Sepé Tiaraju é retratado em O Uraguai como um guerreiro defensor de seu
território na tentativa de impedir que os portugueses se apropriassem de suas terras e de seus gados. Morto em batalha, quando
7.

lutava contra a decisão que dava as terras aos portugueses, o índio é considerado um herói nacional, sendo nomeado "herói
06

guarani missioneiro rio-grandense", e também santo popular por alguma religiões brasileiras.
F
CP

1. O Arcadismo, didaticamente, inicia-se, no Brasil, em 1768:

(A) com a fundação de Arcádia de Lusitana.


(B) com a publicação do poema O Uraguai.
(C) com a publicação dos poemas de Cláudio Manuel da Costa (em Lisboa) e pela fundação da Arcádia Ultramarina.
(D) pela vinda da família real para o Brasil.
(E) nenhuma das anteriores.

69
ARCADISMO 70

2. Sobre o Arcadismo brasileiro só não se pode afirmar que:

(A) tem suas fontes nos antigos grandes autores gregos e latinos, dos quais imita os motivos e formas.
(B) teve em Cláudio Manuel da Costa o representante que, de forma original, recusou a motivação bucólica e os modelos
camonianos da lírica amorosa.
(C) nos legou os poemas de feição épica Caramuru (de Frei José de Santa Rita Durão) e O Uraguai ( de Basílio da Gama),
no qual se reconhece qualidade literária destacada em relação ao primeiro.
(D) norteou, em termos dos valores estéticos básicos, a produção dos versos de Marília de Dirceu, obra que celebrizou
Tomás Antônio Gonzaga e que destaca a originalidade de estilo e de tratamento local dos temas pelo autor.
(E) apresentou uma corrente de conotação ideológica, envolvida com as questões sociais do seu tempo, com a crítica aos
abusos de poder da Coroa Portuguesa.

3. Uma das afirmações abaixo é incorreta. Assinale-a:

(A) O escritor árcade reaproveita os seres criados pela mitologia greco-romana, deuses e entidades pagãs. Mas esses
mesmos deuses convivem com outros seres do mundo cristão.

er
(B) A produção literária do Arcadismo brasileiro constitui-se sobretudo de poesia, que pode ser lírico-amorosa, épica e

t
satírica.

in
(C) O árcade recusa o jogo de palavras e as complicadas construções da linguagem barroca, preferindo a clareza, a ordem

eW
lógica na escrita.
(D) O poema épico Caramuru, de Santa Rita Durão, tem como assunto o descobrimento da Bahia, levado a efeito por Diogo
Álvares Correia, misto de missionários e colonos português. in
al
(E) A morte de Moema, índia que se deixa picar por uma serpente, como prova de fidelidade e amor ao índio Balda, é
trecho mais conhecido da obra O Uruguai, de Basílio da Gama.
-L
7

4. Na poesia arcádica ou neoclássica, NÃO se encontra...


-1

(A) a influência das ideias iluministas.


1
84

(B) a valorização do campo em detrimento da cidade.


(C) a ênfase na interpretação subjetiva da realidade.
9.

(D) o retorno aos ideais greco-latinos.


10

(E) a adoção de pseudônimos pelos poetas, que se figuravam pastores.


7.

5. Antes de marcar a opção correta com relação à pergunta que se segue, leia o fragmento do poema "Marília de Dirceu", de
06

Tomás Antônio Gonzaga.


F
CP

Não toques, minha musa, não, não toques

Na sonorosa lira,

Que às almas, como a minha, namoradas

Doces canções inspira:

Assopra no clarim que apenas soa,

Enche de assombro a terra!

Naquele, a cujo som cantou Homero,

Cantou Virgílio a guerra.

"Marília de Dirceu" apresenta um dos principais traços do arcadismo. A opção que aponta esta característica temática, presente
no texto, é:

(A) o bucolismo.
(B) a presença de valores ou elementos clássicos.
(C) o pessimismo e negatividade.
(D) a fixação do momento presente.

70
ARCADISMO 71

(E) a descrição sensual da mulher amada.

6. Basilo da Gama, em seu poema épico, tenta conciliar a louvação do Marquês de Pombal e o heroísmo do índio. Afasta-se do
modelo de Os Lusíadas e emprega como maravilhoso o fetichismo indígena.

São heróis desse poema:

(A) Cacambo, Lindóia, Moema


(B) Diogo Álvares Correia, Paraguaçu, Moema
(C) Diogo Álvares Correia, Paraguaçu, Tanajura
(D) Cacambo, Lindóia, Gomes Freire de Andrade
(E) n.d.a.

Recapitulemos um pouco sobre a dinâmica dos períodos literários estudados. Você consegue perceber que há uma
“certa” alternância entre um período mais voltado para as questões racionais e o seguinte que busca mais as

er
expressões sentimentais?

t
Pois bem, o Arcadismo (nossa aula anterior), tendo a influência das ideias iluministas, foi um momento histórico que valorizava a

in
razão como um dos componentes importantes das artes (arte como expressão do homem no mundo em que vive).

eW
Se assim foi, o próximo estilo a ser estudado não se oporá à razão, mas, certamente, dará mais ênfase ao “sentir” a vida e, com
isso, externar mais as emoções.
in
al
-L

Preparado? Vamos a isto então !


7
1 -1
84
9.
10
7.
06
F
CP

71
ROMANTISMO I 72

ROMANTISMO I

Consideramos o Romantismo mais que um estilo literário. É, na verdade, um período cultural como um todo, onde a arte (em
suas mais variadas formas de expressões) denota um momento da história da humanidade.

Cronologicamente falando, o Romantismo se inicia na Europa no final do século XVIII, e se espalha pelo mundo até o final do
século XIX.

Podemos considerar como “berço” do movimento três países: Itália, Alemanha e Inglaterra.

Mas será na França, que o Romantismo ganhará força como em nenhum outro país e, através dos artistas franceses, os ideais
românticos se difundiram pela Europa e pela América.

As características principais deste período são:

er
- valorização das emoções,

t
in
- liberdade de criação,

eW
- amor platônico,

- temas religiosos,
in
al
- individualismo,
-L

- nacionalismo e história.
7
-1

Vejamos algumas marcas importantes em algumas expressões artísticas do período:


1
84

Nas Artes Plásticas


9.

Nas artes plásticas, o romantismo deixou importantes marcas. Artistas como o espanhol Francisco Goya e o francês Eugène
10

Delacroix são os maiores representantes da pintura desta fase. Estes artistas representavam a natureza, os problemas sociais e
7.

urbanos, valorizavam as emoções e os sentimentos em suas obras de arte. Na Alemanha, podemos destacar as obras místicas
06

de Caspar David Friedrich, enquanto na Inglaterra John Constable traçava obras com forte crítica à urbanização e aos problemas
gerados pela Revolução Industrial.
F
CP

Literatura

Foi através da poesia lírica que o romantismo ganhou formato na literatura dos séculos XVIII e XIX. Os poetas românticos usavam
e abusavam das metáforas, palavras estrangeiras, frases diretas e comparações. Os principais temas abordados eram: amores
platônicos, acontecimentos históricos nacionais, a morte e seus mistérios. As principais obras românticas são: Cantos e Inocência
do poeta inglês William Blake, Os Sofrimentos do Jovem Werther e Fausto do alemão Goethe, Baladas Líricas do inglês William
Wordsworth e diversas poesias de Lord Byron. Na França, destaca-se Os Miseráveis de Victor Hugo e Os Três Mosqueteiros de
Alexandre Dumas.

Música

Na música ocorre a valorização da liberdade de expressão, das emoções e a utilização de todos os recursos da orquestra. Os
assuntos de cunho popular, folclórico e nacionalista ganham importância nas músicas.

Podemos destacar como músicos deste período: Ludwig van Beethoven (suas últimas obras são consideradas românticas), Franz
Schubert, Carl Maria von Weber, Felix Mendelssohn, Frédéric Chopin, Robert Schumann, Hector Berlioz, Franz Liszt e Richard
Wagner.

72
ROMANTISMO I 73

Teatro

Na dramaturgia o Romantismo se manifesta valorizando a religiosidade, o individualismo, o cotidiano, a subjetividade e a obra de


William Shakespeare. Os dois dramaturgos mais conhecidos desta época foram Goethe e Friedrich von Schiller. Victor Hugo
também merece destaque, pois levou várias inovações ao teatro. Em Portugal, podemos destacar o teatro de Almeida Garrett.

E a realidade do Brasil? Como se desenvolveu o Romantismo em nosso país?

Em nossa terra, inicia-se em 1836 com a publicação, na França, da Nictheroy - Revista Brasiliense, por Gonçalves de Magalhães.
Neste período, nosso país ainda vivia sob a euforia da Independência do Brasil. Os artistas brasileiros buscaram sua fonte de
inspiração na natureza e nas questões sociais e políticas do país. As obras brasileiras valorizavam o amor sofrido, a religiosidade
cristã, a importância de nossa natureza, a formação histórica do nosso país e o cotidiano popular.

Artes Plásticas

As obras dos pintores brasileiros buscavam valorizar o nacionalismo, retratando fatos históricos importantes. Desta forma, os
artistas contribuíam para a formação de uma identidade nacional. As obras principais deste período são : A Batalha do Avaí de

er
Pedro Américo e A Batalha de Guararapes de Victor Meirelles.

t
in
eW
Literatura

No ano de 1836 é publicado no Brasil Suspiros Poéticos e Saudades de Gonçalves de Magalhães. Esse é considerado o ponto de
in
largada deste período na literatura de nosso país. Essa fase literária foi composta de três gerações:
al
1ª Geração – conhecida também como nacionalista ou indianista, pois os escritores desta fase valorizaram muito os temas
-L

nacionais, fatos históricos e a vida do índio, que era apresentado como " bom selvagem" e, portanto, o símbolo cultural do Brasil.
Destaca-se nesta fase os seguintes escritores: Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, Araújo Porto Alegre e Teixeira e Souza.
7
-1

2ª Geração – conhecida como Mal do século, Byroniana ou fase ultra-romântica. Os escritores desta época retratavam os temas
amorosos levados ao extremo e as poesias são marcadas por um profundo pessimismo, valorização da morte, tristeza e uma
1
84

visão decadente da vida e da sociedade. Muitos escritores deste período morreram ainda jovens. Podemos destacar os seguintes
escritores desta fase: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Junqueira Freire.
9.

3ª Geração – conhecida como geração condoreira, poesia social ou hugoana. Seus textos são marcados por crítica social. Castro
10

Alves, o maior representante desta fase, criticou de forma direta a escravidão no poema Navio Negreiro.
7.
06

Música
F

A emoção, o amor e a liberdade de viver são os valores retratados nas músicas desta fase. O nacionalismo, nosso folclore e
CP

assuntos populares servem de inspiração para os músicos. O Guarani de Carlos Gomes é a obra musical de maior importância
desta época.

Teatro

Assim como na música e na literatura os temas do cotidiano, o individualismo, o nacionalismo e a religiosidade também aparecem
na dramaturgia brasileira desta época. Em 1838, é encenada a primeira tragédia de Gonçalves de Magalhães: Antônio José, ou o
Poeta e a Inquisição. Também podemos destacar a peça O Noviço de Martins Pena.

73
ROMANTISMO I 74

er
(Primeira Missa no Brasil – Vitor Meireles)

t
in
eW
Agora que já demos um panorama sobre o Romantismo, vamos estudá-lo mais detalhadamente.

in
Voltando um pouco antes, no tempo, vejamos alguns precedentes do Romantismo
al
-L

Período de Transição (1808-1836)


7
-1

Simultaneamente ao final das últimas produções do movimento árcade, ocorreu a vinda da Família Real portuguesa para o Brasil.
Esse acontecimento, no ano de 1808, significou o início do processo de Independência da Colônia.
1
84

Assim sendo, o período compreendido entre 1808 e 1836 é considerado como transição na literatura brasileira de vido à
transferência do poder de Portugal para as terras brasileiras que trouxe consigo, além da corte e da realeza, as novidades e
9.

modelos literários do Velho Continente nos moldes franceses e ingleses.


10

Houve também a mudança de foco artístico e cultural, da Bahia para o Rio de Janeiro, capital da colônia desde o ano de 1763.
7.

Vejamos o que nos diz o professor Antônio Cândido sobre isto:


06

No Brasil não havia universidades, nem tipografias, nem periódicos. Além da primária, a instrução se limitava à formação de
F

clérigos e ao nível que hoje chamamos secundário, as bibliotecas eram poucas e limitadas aos conventos, o teatro era paupérrimo,
CP

e muito fraco o intercâmbio entre os núcleos povoados do país, sendo dificílima a entrada de livros.

O que explica o desenvolvimento literário incipiente, se comparado com o mesmo período na metrópole. Os autores vistos até
então eram produto da educação europeia e/ou religiosa que receberam.

Com a vinda da Família Real, os livros puderam ser impressos no território brasileiro, em função da Imprensa Régia, derrubando
a medida que proibia sua impressão e difusão sem a autorização prévia de Portugal, dando início não apenas ao desenvolvimento
da literatura mas, também, a um sentimento de nacionalidade no território, uma das principais características do período
romântico brasileiro.

74
ROMANTISMO I 75

Contexto Histórico na Europa

er
(A Liberdade Guiando o Povo (1830), de Eugène Delacroix)

t
in
eW
O final do século XVIII presenciou a ascensão da tipografia, inventada pelo alemão Johannes Gutenberg, que possibilitou o
desenvolvimento da impressão em grandes quantidades de jornais e romances.
in
al
No início, os romances eram publicados diariamente nos jornais de forma fragmentada, assim, a cada dia um novo capítulo da
história era revelada. Esse esquema, importado para a colônia, ficou conhecido como "folhetim" ou "romance de folhetim" e deu
-L

origem às telenovelas que conhecemos nos dias de hoje.


7

Assim, com a Revolução da Imprensa, uma das principais características do período Moderno, houve também a ascensão dos
-1

romances impressos, popularizando o artefato (o livro não era mais considerado um artigo de luxo, inacessível) e proporcionando
1

um largo alcance da literatura às camadas inferiores da sociedade e também às mulheres, que raramente tinham acesso às letras
84

e, quando muito, eram alfabetizadas.


9.

Considera-se o marco inicial do romantismo na Europa a publicação do romance Os sofrimentos do jovem Werther , do escritor
10

alemão Johann Wolfgang von Goethe no ano de 1774.


7.

Historicamente, um dos marcos principais do movimento foi a Revolução Francesa, responsável pela difusão dos pensamentos
06

Iluministas na Europa e nas suas colônias, que tanto inspirou os poetas árcades brasileiros.

Com o processo de industrialização dos grandes centros, houve um delineamento das classes sociais: a burguesia, com riquezas
F

provenientes do comércio, e os operários das indústrias. Logo, a literatura do período foi produzida pela classe dominante e para
CP

a classe dominante, deixando claro qual a ideologia defendida por seus autores.

Romantismo no Brasil

Considera-se que o período romântico no Brasil inicia em 1836, com a publicação da obra Suspiros Poéticos e Saudades , do

poeta Gonçalves de Magalhães e vai até o ano de 1881, com a publicação do romance realista Memórias Póstumas de Brás

Cubas de Machado de Assis.

Como já vimos, o desenvolvimento da literatura brasileira propriamente dita aconteceu a partir da vinda da Família Real para o
Rio de Janeiro que possibilitou expressão artística e cultural na colônia, agora afinado com a produção literária europeia. Porém,
a insatisfação das classes dominantes com o Império fez com que surgissem tentativas de independência da metrópole,
produzindo um sentimento de nacionalismo que culminaria com a Declaração da Independência, em 1822, por Dom Pedro I.

Outro ponto importante está relacionado à escravidão dos negros: o Brasil era uma das poucas colônias americanas que ainda
sustentava o sistema econômico baseado do trabalho escravo, o que gerou opiniões controversas por parte dos autores daquela
época. Temos expressões literárias abolicionistas (como o poeta Gonçalves de Magalhães) e outras que tratavam do tema
superficialmente (o romancista Bernardo Guimarães).

75
ROMANTISMO I 76

A independência das colônias latino-americanas impulsionou um sentimento de nacionalidade diretamente refletida pela literatura.
A formação dessas literaturas esteve a cargo de autores que projetavam os ideais de uma nação em crescimento e
desenvolvimento e que até hoje são considerados constitutivos da história da nação. No entanto, essa literatura fundacional e
canônica da América Latina é revista por muitos professores, críticos literários e historiadores pois apresentam apenas uma visão
referente à formação das nações latino-americanas. Como diz o crítico literário Eduardo Coutinho:

O que causa uma sensação de estranhamento é o paradoxo observado no período: ao mesmo tempo em que ideias sobre o
sentimento de nacionalidade aflorava nos corações dos brasileiros (e demais latino-americanos), parte da população permanecia
na miséria e/ou em situações de escravidão, sem acesso à emancipação e aos direitos humanos básicos.

Na América Latina, durante o século XIX, o sujeito enunciador do discurso fundador do estado-nação tomou como base um
projeto patriarcal e elitista, que excluiu não só a mulher, mas índios, negros, analfabetos e, em muitos casos, aqueles que não
possuíam nenhum tipo de propriedade. A preocupação dominante era marcar a diferença da nova nação com relação à matriz
colonizadora, mas o modelo era obvia e paradoxalmente a metrópole; daí a necessidade de forjar-se uma homogeneidade que
excluísse todas as diferenças.

t er
in
eW
Principais Características do Período Romântico

Há uma diferença significativa com relação aos padrões poéticos vistos até então no Arcadismo, que se assemelhavam à estrutura
in
camoniana e eram inspirados nas obras greco-romanas. O verso clássico deu espaço ao verso livre, aquele sem métrica e sem
al
entonação, e ao verso branco, sem rima, que possibilitou uma maior liberdade de criação do poeta romântico, agora livre para
expressar sua individualidade.
-L

Os temas principais da poesia romântica giram em torno do sentimento de nacionalidade surgido a partir novo do contexto
7

histórico e cultural. A nova pátria, com a declaração da independência, manifestava-se através da exaltação da natureza do país,
-1

no retorno ao passado histórico e na criação dos heróis nacionais.


1

A hipervalorização dos sentimentos e das emoções pessoais (angústias, tristezas, paixões, felicidades etc.) também é
84

característica do movimento, que pressupunha uma olhada para o interior do artista e de suas emoções, em detrimento do
9.

racional e do objetivo iluminista. Esse sentimentalismo exagerado está refletido nos enredos que, em sua maioria, consistem em
10

histórias de amor ou, quando este não é o mote principal, em histórias em que o amor e a paixão prevalecem.
7.

A individualidade como refúgio proporciona também a evasão para mundos distantes como forma de escapar a sua realidade.
Essa característica está associada, principalmente, aos autores da chamada Geração Mal-do-Século - autores acometidos pela
06

tuberculose (a doença considerada o mal do século XIX) - que almejavam uma vida de prazeres em países e territórios distantes
para escapar à dor e à morte.
F
CP

O culto à natureza ganha traços diferenciados no romantismo pois, a partir de agora, passa a funcionar não apenas como pano
de fundo para as histórias mas também, passa a exercer profundo fascínio pelos artistas. Além disso, a natureza passa a entrar
em contato com o eu romântico, refletindo seus estados de espírito e sentimentos.

Nos romances góticos, surgidos no final do século XVII e desenvolvidos durante o século XIX, a natureza tem um papel muitas
vezes hostil e ameaçador na trama, responsável por momentos de tensão. Com o passar do tempo, essa natureza transformou-
se em um clichê para histórias de terror na forma de cenários assustadores: noite, névoa, pântanos, neve, árvores retorcidas
etc.

Conceitos importantes

a) Subjetivismo e Individualismo

Vaçorização do que é particular e íntimo, dos sentimentos. Segundo o professor Sergius Gonzaga, em seu livro Manual de
Literatura Brasileira (Mercado Aberto, 1989):

Com frequência, o destino da grandeza individual é a "maldição", ou seja, distanciamento pessoal da vida em
sociedade, através da solidão voluntária, da orgia, da ofensa aos valores comuns, da recusa em aceitar os
princípios da comunidade. Isto ocorre em um segundo momento, quando os artistas se dão conta da

76
ROMANTISMO I 77

impossibilidade de uma nova experiência napoleônica e da mediocridade da burguesia pós-revolucionária,


voltada apenas para a acumulação de capital.

b) Patriarcalismo

O século XIX também é conhecido por refletir em sua literatura canônica uma sociedade conservadora e patriarcalista. Neste
modelo, a família (homem, mulher e filhos) é o núcleo da sociedade burguesa, cujo poder está centrado na figura do pai. Os
enredos giram basicamente em torno dela, de suas relações, seus costumes e seus desejos.

Embora no Brasil o modelo de sociedade patriarcal sempre esteve presente desde o início da colonização, no Romantismo que
uma explicitação desse modelo, pois ele fazia parte do projeto nacional presente no século XIX, isto é, aparecia na literatura
como reflexo da ideologia dominante e para estabelecer os costumes esperados na sociedade e destinados principalmente às
mulheres

Com o advento do Realismo (movimento literário seguinte) muitos autores dedicam-se a criticar este modelo e a retratar (da
forma mais realista possível) as mazelas que se encontravam por trás da família burguesa, como a submissão das mulheres, a
violência praticada contra esposas e filhas e a própria condição dessas personagens, moedas de troca a fim de garantir a situação
financeira das famílias.

t er
in
eW
c) Eurocentrismo

Com a expansão mercantilista, a Europa se transformou na grande potência mundial expandindo seus mercados para além do
in
continente, espalhando sua visão de mundo e acreditando na soberania dos países e no modo de pensar europeu. As
al
consequências causadas pelo choque cultural dos europeus com outras sociedades (principalmente africanas, asiáticas e
americanas) criou uma série de estereótipos a respeito desses povos "bárbaros" e a ideia de que o pensamento europeu seria
-L

civilizatório moldou as colônias e que foi refletida através da história principalmente na literatura do século XIX.
7
-1

d) Nacionalismo
1
84

Com o desenvolvimento de uma burguesia mercantil, os reinos europeus foram se dissolvendo e desenvolvendo, inicialmente,
uma ideia de organização política e cultural autônoma. Nas colônias, o sentimento de nacionalidade surgiu como reação à política
9.

mercantil restritiva das metrópoles e do desejo de liberdade econômica e política. No Brasil, os escritores produziram obras
10

importantes motivadas pelo ideal nacionalista no sentido de delinear uma literatura que fosse considerada brasileira e não mais
submissa à colônia.
7.
06

Principais escritores românticos brasileiros


F
CP

- Gonçalves Dias: principal poeta romântico e uns dos melhores da língua portuguesa, nacionalista, autor da famosa Canção
do Exílio, da nem tão famosa mas muito melhor I-Juca-Pirama e de muitos outros poemas.

- Álvares de Azevedo: o maior romântico da Segunda Geração Romântica; autor de Lira dos Vinte Anos, Noite na Taverna e
Macário.

- Castro Alves: grande representante da Geração Condoeira, escreveu, principalmente, poesias abolicionistas como o Navio
Negreiro.

- Joaquim Manuel de Macedo: romancista urbano escreveu A Moreninha e também O Moço Loiro.

- José de Alencar: principal romancista romântico. Romances urbanos: Lucíola; A Viuvinha; Cinco Minutos; Senhora. Romances
regionalistas: O Gaúcho, O Sertanejo, O Tronco do Ipê. Romances históricos: A Guerra dos Mascates; As Minas de Prata.
Romances indianistas: O Guarani, Iracema e o Ubirajara.

- Manuel Antônio de Almeida: romancista urbano, precursor do Realismo. Obras: Memórias de um Sargento de Milícias.

- Bernardo Guimarães: considerado fundador do regionalismo. Obras: A Escrava Isaura; O Seminarista.

- Franklin Távora: regionalista. Obra mais importante: O Cabeleira.

- Visconde de Taunay: regionalista. Obra mais importante: Inocência.

77
ROMANTISMO I 78

- Machado de Assis: estilo único, dotado de fase romântica e realista. Em sua fase romântica destacam-se "A Mão e a Luva" e
"Helena". Ainda em tal fase realizava análise psicológica e crítica social, mostrando-se atípico dentre os demais românticos.

O Romantismo tem uma importância capital para a literatura brasileira. Em muitos concursos e provas de admissão, quando há
questões sobre literatura é quase que inevitável ver, pelo menos, uma sobre este estilo de época.

O Romantismo teve uma produção literária grande em nosso país, tanto na prosa quanto na poesia.

Podemos comprovar esta afirmação verificando os parágrafos acima quando mencionamos alguns autores do período e algumas
de suas obras. Mas há muito mais!!!!

Por esta razão, aqui fica a dica: busque na internet ler mais sobre estes escritores e seus textos. Não se esqueça de que as obras
apontadas em nossa aula são fundamentais e todo candidato a concursos deve conhecê-las.

Não despreze esta dica, ok?

Sabemos que são muitos autores e muitos textos, mas… a única maneira de conhecer é lendo!

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in
Vamos a nossa pausa habitual antes dos exercícios?

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in
al
-L
7
1 -1
84
9.

Sobre o Romantismo ...


10
7.

1. Poderíamos sintetizar uma das características do Romantismo pela seguinte aproximação de opostos:
06

(A) Aparentemente idealista, foi, na realidade, o primeiro momento do Naturalismo Literário.


F

(B) Cultivando o passado, procurou formas de compreender e explicar o presente.


CP

(C) Pregando a liberdade formal, manteve-se preso aos modelos legados pelos clássicos.
(D) Embora marcado por tendências liberais, opôs-se ao nacionalismo político.
(E) Voltado para temas nacionalistas, desinteressou-se do elemento exótico, incompatível com a exaltação da pátria.

2. Tradicionalmente, a poesia do Romantismo brasileiro é dividida em três diferentes gerações. Sobre elas, estão corretas as
seguintes proposições:

I. A primeira geração do Romantismo brasileiro ficou marcada pela inovação temática e pelo experimentalismo. Também
conhecida como fase heroica do Romantismo, tinha como principal projeto literário a retomada dos modelos clássicos
europeus;
II. O sofrimento, a dor existencial, a angústia e o amor sensual e idealizado foram os principais temas da literatura produzida
durante a segunda fase do Romantismo. Seus principais representantes foram Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu,
Fagundes Varela e Junqueira Freire;
III. Da primeira fase do Romantismo brasileiro destacam-se nomes como José de Alencar e Gonçalves Dias, responsáveis por
imprimir em nossa literatura o sentimento de nacionalismo e anticolonialismo;
IV. Entre as principais características da poesia romântica da terceira geração, estão o interesse por temas religiosos, os
dualismos que bem representam o conflito espiritual do homem do início do século XIX, o emprego de figuras de linguagem
e o uso de uma linguagem rebuscada;

78
ROMANTISMO I 79

V. O Condoreirismo, importante corrente literária que marcou a terceira geração da poesia romântica no Brasil, teve como
principal representante o poeta Castro Alves, cujo engajamento na poesia social lhe rendeu a alcunha de “poeta dos
escravos”.

(A) II, III e V.


(B) I e IV.
(C) II, IV e V.
(D) II e IV.
(E) Todas as alternativas estão corretas.

3. Assinale a alternativa que completa adequadamente a asserção:

O Romantismo, graças à ideologia dominante e a um complexo conteúdo artístico, social e político, caracteriza-se como uma
época propícia ao aparecimento de naturezas humanas marcadas por

(A) teocentrismo, hipersensibilidade, alegria, otimismo e crença.

er
(B) etnocentrismo, insensibilidade, descontração, otimismo e crença na sociedade.

t
(C) egocentrismo, hipersensibilidade, melancolia, pessimismo, angústia e desespero.

in
(D) teocentrismo, insensibilidade, descontração, angústia e desesperança.

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(E) egocentrismo, hipersensibilidade, alegria, descontração e crença no futuro.

4. Leia os versos a seguir: in


al
-L

Cantor das selvas, entre bravas matas

Áspero tronco da palmeira escolho,


7
-1

Unido a ele soltarei meu canto,


1

Enquanto o vento nos palmares zune,


84

Rugindo os longos, encontrados leques.


9.
10

Os versos acima, de Os Timbiras, de Gonçalves Dias, apresentam características da primeira geração romântica:
7.
06

(A) apego ao equilíbrio na forma de expressão; presença do nacionalismo, pela temática indianista e pela valorização da
natureza brasileira.
F

(B) resistência aos exageros sentimentais e à forma de expressão subordinada às emoções; visão da poesia a serviço de
CP

causas sociais, como a escravidão.


(C) expressão preocupada com o senso de medida; "mal do século"; natureza como amiga e confidente.
(D) transbordamento na forma de expressão; valorização do índio como típico homem nacional; apresentação da natureza
como refúgio dos males do coração.
(E) expressão a serviço da manifestação dos estados de espírito mais exagerados; sentimento profundo de solidão.

5. A respeito do Romantismo no Brasil, pode-se afirmar que:

(A) sua ação nacionalista deu origem às condições políticas que propiciaram a nossa Independência;
(B) coincidiu com o momento decisivo de definição da nacionalidade e colaborou para essa definição;
(C) espelhou sempre as influências estrangeiras, em nada aproveitando os costumes e a cor locais;
(D) foi decisivo para o amadurecimento dos sentimentos nativistas que culminaram na Inconfidência Mineira;
(E) ganhou relevo apenas na poesia, talvez por falta de talentos no cultivo da ficção.

6. Leia atentamente os versos seguintes:

Eu deixo a vida com deixa o tédio

Do deserto o poeta caminheiro

79
ROMANTISMO I 80

- Como as horas de um longo pesadelo

Que se desfaz ao dobre de um mineiro.

Esses versos de Álvares de Azevedo significam a:

(A) revolta diante da morte.


(B) aceitação da vida como um longo pesadelo.
(C) aceitação da morte como a solução.
(D) tristeza pelas condições de vida.
(E) alegria pela vida longa que teve.

7. Se uma lágrima as pálpebras me inunda,

Se um suspiro nos seios treme ainda,

er
É pela virgem que sonhei…que nunca

t
in
Aos lábios me encostou a face linda!

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(Álvares de Azevedo)

A característica do Romantismo mais evidente nesta quadra é:


in
al
-L

(A) o espiritualismo
(B) o pessimismo
7

(C) a idealização da mulher


-1

(D) o confessionalismo
1

(E) a presença do sonho


84
9.

8. Assinale a alternativa que traz apenas características do Romantismo:


10

(A) idealismo – religiosidade – objetividade – escapismo – temas pagãos.


7.

(B) predomínio do sentimento – liberdade criadora – temas cristãos – natureza convencional – valores absolutos.
06

(C) egocentrismo – predomínio da poesia lírica – relativismo – insatisfação – idealismo


(D) idealismo – insatisfação – escapismo – natureza convencional – objetividade.
F

(E) n.d.a.
CP

Dada a importância e abrangência do período romântico, achamos por bem reforçar as ideias centrais do Romantismo.

Isto lhe reafirmará a observação que fizemos na aula anterior (aula 9) sobre o quanto você deve ir além das aulas que aqui
estamos apresentando. Lembre-se, nossas aulas são um caminho a ser seguido e nunca o ponto de chegada.

O que queremos dizer com tudo isso?

Que você para ter sucesso nas questões sobre literatura brasileira no concurso que fará, deverá ler muito mais do que somente
o que estamos trazendo até o curso.

80
ROMANTISMO II 81

ROMANTISMO II

Leia com atenção o texto:

O romantismo foi um movimento artístico ocorrido na Europa por volta de 1800, que representa as mudanças no plano
individual, destacando a personalidade, sensibilidade, emoção e os valores interiores.

Atingiu primeiro a literatura e a filosofia, para depois se expressar através das artes plásticas. A literatura romântica, abarcando
a épica e a lírica, do teatro ao romance, foi um movimento de vanguarda e que teve grande repercussão na formação da sociedade
da época, ao contrário das artes plásticas, que desempenharam um papel menos vanguardista.

A arte romântica se opôs ao racionalismo da época da Revolução Francesa e de seus ideais, propondo a elevação dos sentimentos
acima do pensamento.

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CARACTERÍSTICAS DO ROMANTISMO

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Grande é o número de características que, centradas sempre na valorização do eu e da liberdade, vão-se entrelaçando, umas

in
atadas às outras, umas desencadeando outras e formando um amplo painel de traços reveladores.

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As mais significativas são: in
al
-L

1. Contraste entre os ideais divulgados e a limitação imposta pela realidade vivida.


7

O universo conhecido se alarga, o Século das Luzes deixa um rastro de anseios libertários, desloca-se o centro do poder; a
-1

dependência social e econômica, a inconsciência, o desconhecimento estabelecem para a imensa maioria, no entanto, uma
1

existência marcada por limitações de toda ordem.


84
9.

2. Imaginação criadora.
10

Num movimento de escapismo, o artista romântico evade-se para os universos criados em sua imaginação, ambientados no
7.

passado ou no futuro idealizados, em terras distantes envoltas na magia e no exotismo, nos ideais libertários alimentados nas
06

figuras dos heróis. A fantasia leva os românticos a criar tanto mundos de beleza que fascinam a sensibilidade, como universos
em que a extrema emoção se realiza no belo associado ao terrificante (vejam-se as figuras do Drácula, do Frankstein, do Corcunda
F

de Notre Dame e a ambiência que os rodeia).


CP

3. Subjetivismo.

É o mundo pessoal, interior, os sentimentos do autor que se fazem o espaço central da criação. Com plena liberdade de criar, o
artista romântico não se acanha em expor suas emoções pessoais, em fazer delas a temática sempre retomada em sua obra.

4. Evasão.

O escapismo romântico manifesta-se tanto nos processos de idealização da realidade circundante como na fuga para mundos
imaginários. Quando acompanhado de desesperança, sucumbe ao chamado da morte, companheira desejada por muitos e tema
recorrente em grande número de poetas.

5. Senso de mistério.

A valorização do mistério, do mágico, do maravilhoso acompanha a criação romântica. É também esse senso de mistério que leva
grande número de autores românticos a buscar o sobrenatural e o terror.

81
ROMANTISMO II 82

6. Consciência da solidão.

Consequência do exacerbado subjetivismo, que dá ao autor romântico um sentimento de inadequação e o leva a sentir-se
deslocado no mundo real e, muitas vezes, a buscar refúgio no próprio eu.

7. Reformismo.

Esta característica manifesta-se na participação de autores românticos em movimentos contestadores e libertários, com grande
influência em sua produção, como foi a campanha abolicionista abraçada por Castro Alves e o movimento republicano assumido
por Sílvio Romero.

8. Sonho.

Revela-se na idealização do mundo, na busca por verdades diferentes daquelas conhecidas, na revelação de anseios.

er
9. Fé.

t
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É a fé que conduz o movimento: crença na própria verdade, crença na justiça procurada, crença nos sentimentos revelados,

eW
crença nos ideais perseguidos, crença que se revela ainda em diferentes manifestações de religiosidade cristã – fé. Não se pode
esquecer a profunda influência do medievalismo na construção do mundo romântico, dele fazendo parte a religiosidade cristã.

in
al
10. Ilogismo.
-L

Manifestações emocionais que se opõem e contradizem.


7
-1

11. Culto da natureza.


1
84

A natureza adquire especial significado no mundo romântico. Testemunha e companheira das almas sensíveis, é, também, refúgio,
proteção, mãe acolhedora. Costuma-se afirmar que, para os românticos, a natureza foi também personagem, com papel ativo na
9.

trama.
10
7.

12. Retorno ao passado.


06

Tal retorno deu origem a diversas manifestações: saudosismo voltado para a infância, o passado individual; medievalismo e
F

indianismo, na busca pelas raízes históricas, as origens que dignificam a pátria.


CP

13. Gosto do pitoresco, do exótico.

Valorização de terras ainda não exploradas, do mundo oriental, de países distantes.

14. Exagero.

Exagero nas emoções, nos sentimentos, nas figuras do herói e do vilão, na visão maniqueísta a dividir o bem e o mal, exagero
que se manifesta nas características já listadas.

15. Liberdade criadora.

Valorização do gênio criador e renovador do artista, colocado acima de qualquer regra.

16. Sentimentalismo.

A poesia do eu, do amor, da paixão. O amor, mais que qualquer outro sentimento, é o estado de fruição estética que se manifesta
em extremos de exaltação ou de cinismo e libertinagem, mas sempre o amor.

82
ROMANTISMO II 83

17. Ânsia de glória.

O artista quer ver-se reconhecido e admirado.

18. Importância da paisagem.

A paisagem é tecida de acordo com as emoções dos personagens e a temática das obras literárias.

19. Gosto pelas ruínas.

A natureza sobrepõe-se à obra construída.

20. Gosto pelo noturno.

Em harmonia com a atmosfera de mistério, tão próxima do gosto de todos os românticos.

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in
21. Idealização da mulher.

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Anjo ou prostituta, a figura da mulher é sempre idealizada.

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al
22. Função sacralizadora da arte.
-L

O poeta sente-se como guia da humanidade e vê na arte uma função redentora.

Acrescentem-se a essas características os novos elementos estilísticos introduzidos na arte literária: a valorização do romance em
7

suas muitas variantes; a liberdade no uso do ritmo e da métrica; a confusão dos gêneros, dando lugar à criação de novas formas
-1

poéticas; a renovação do teatro.


1
84
9.

Analisemos agora alguns dos mais importantes autores brasileiros do período.


10
7.

No Brasil, era cada vez maior o desejo de uma literatura nacional. Assim apresentou-se a primeira tentativa consciente de se
06

produzir literatura verdadeiramente brasileira, abandonando o tom lusitano em favor de um estilo mais parecido com a fala
brasileira, principalmente porque a proclamação da Independência ocorreu e houve um desejo cada vez maior de desvincular a
F

linguagem brasileira da portuguesa.


CP

Exaltação dos sentimentos pessoais;

Exaltação do "eu" - subjetivismo;

Expressão dos estados da alma, paixões e emoções;

Desejo de liberdade, igualdade, valorização da natureza (poder de Deus, refúgio acolhedor para o homem que foge dos vícios e
corrupções da vida em sociedade.

Fuga da realidade através da arte.

Transformação da linguagem, composições de metro fixo não eram mais utilizadas, os românticos preferiram uma linguagem
simples, criando ritmos novos e variando as formas métricas.

A poesia romântica brasileira foi esquematizada em três modos:

Primeira geração - Indianista ou Nacionalista

Na Europa, os escritores valorizavam os tempos da Idade Média, valorizando os heróis que ajudaram a libertar suas nações. No
Brasil "nossos heróis" eram os índios, símbolos da nossa liberdade, valentes e nobres, livres das corrupções sociais e dos vícios
da civilização branca.

83
ROMANTISMO II 84

Segunda geração - Mal do século (Byroniana ou ultra-romântica)

Temas amorosos levados ao extremo, poesias marcadas por um profundo pessimismo, tristeza e visão decadente da vida e da
sociedade. Também aborda o amor platônico (fuga do real, sonho e fantasia), individualismo, a morte e seus mistérios.

Terceira geração (Condoreirismo)

Poesia social e libertária (abolicionista), "geração hugoana", poeta francês Victor Hugo - defesa do ser humano oprimido (no
Brasil, o escravo). Linguagem vibrante, metáforas, antíteses, hipérboles empregados em elementos da natureza, que sugerem
imensidão e força. Condoreirismo originou-se do condor, ave de voo alto capaz de enxergar à distância. A poesia amorosa é mais
sensual, aparece em um clima de erotismo e paixão.

Trechos do poema: O canto do guerreiro - Indianista (Gonçalves Dias)

Aqui na floresta

er
Dos ventos batida,

t
Façanhas de bravos

in
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Não geram escravos,

Que estimem a vida

Sem guerra e lidar. in


al
-L

-Ouvi-me, Guerreiros,

-Ouvi meu cantar.


7

Valente na guerra
1 -1

Quem há, como eu sou?


84

Quem vibra o tacape


9.

Com mais valentia?


10

Quem golpes daria


7.

Fatais, como eu dou?


06

-Guerreiros, ouvi-me;
F

-Quem há, como eu sou?


CP

Quem guia nos ares

A frecha implumada,

Ferindo uma presa,

Com tanta certeza,

Na altura arrojada

Onde eu a mandar?

-Guerreiros, ouvi-me,

-Ouvi meu cantar.

Nestes trechos do poema, Gonçalves Dias usou versos com ritmos (existe musicalidade no poema), o uso de travessão no poema
é para reforçar a emoção do poeta, os pontos de interrogação também. Guerreiros com letra maiúscula na primeira estrofe, é um
símbolo, um significado especial aos índios.

84
ROMANTISMO II 85

Poema: Soneto - Geração Mal do Século (Álvares de Azevedo)

Pálida à luz da lâmpada sombria,

Sobre o leito de flores reclinada,

Como a lua por noite embalsamada,

Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! Na escuma fria,

Pela maré das águas embaladas!

Era um anjo entre as nuvens d'alvorada Que em sonhos se embalava e se esquecia!

Era mais bela! O seio palpitando…

er
Negros olhos as pálpebras abrindo…

t
in
Formas nuas no leito resvalando…

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Não te rias de mim, meu anjo lindo!
in
al
Por ti - as noites eu velei chorando,
-L

Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!


7
-1

Este poema tem: subjetividade (egocentrismo), sentimentalismo, idealização da amada, amor platônico, mulher vista como um
1

anjo, ela é inatingível, virgem.


84

A abertura e o encerramento da primeira estrofe deste soneto, se dá com dois vocábulos polissêmicos: Pálida e dormia. Essa
9.

polissemia (uma palavra com mais de um sentido), processa a ambiguidade poética do soneto, ao mesmo tempo em que a amada
do poeta é virgem, pura, ele a descreve em certos trechos do poema uma erotização da sua musa. A idealização da mulher é
10

particularizada, subjetiva. Amor e felicidade são ideais impossíveis.


7.

Trechos do poema Navio Negreiro - Condoreirismo (Castro Alves)


06

'Stamos em pleno mar...Doudo no espaço


F

Brinca o luar - dourada borboleta;


CP

E as vagas após ele correm...causam

Como turba de infantes inquieta

'Stamos em pleno mar...Do firmamento

Os astros saltam como espumas de ouro…

O mar em troca acende as ardentias,

-Constelações do líquido tesouro…

......................................................…

Era um sonho dantesco...o tombadilho

Que das luzernas avermelha o brilho.

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros...estalar de açoite…

Legiões de homens negros como a noite,

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ROMANTISMO II 86

Horrendos a dançar…

Negras mulheres, suspendendo às tetas

Magras crianças, cujas bocas pretas

Rega o sangue das mães:

Outras moças, nuas e espantadas,

No turbilhão de espectros arrastados,

Em ânsia e mágoa vãs!

........................................................…

Fatalidade atroz que a mente esmaga!

Extingue nesta hora a brigue imundo

er
O trilho que Colombo abriu nas vagas,

t
in
Como um íris no pélago profundo!

eW
Mas é infâmia demais!...Da etérea plaga

Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!


in
al
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
-L

Colombo! fecha a porta dos teus mares!


7
-1

Podemos observar nestes trechos do poema que Castro Alves denunciava a desumanidade cometida nos navios negreiros, era
1

uma forma de "desabafo" à indignação do poeta contra as tiranias e opressões. é um tipo de poesia onde predominam as
84

comparações, metáforas, antíteses, hipérboles e apóstrofes, empregadas em função de elementos da natureza que sugerem
imensidão, força e majestade.
9.

Sabemos que são muitas informações ao mesmo tempo. É por isto que sempre aconselhamos a que antes de prosseguir, você
10

dê uma parada para descansar, pensar um pouco em tudo que leu até o presente momento, para somente depois retomar a
7.

matéria através dos exercícios.


06

Nossa proposta de exercício, nesta aula, será um pouco diferente. Vamos disponibilizar aqui alguns poemas do período do
Romantismo para que você leia. Poemas que “caem” em muitos concursos públicos (ou seja: você TEM que conhecer).
F
CP

Leia os poemas e vá buscando identificar características românticas em seus versos.

Boa leitura !

86
ROMANTISMO II 87

Gonçalves Dias:

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

er
Nossas várzeas têm mais flores,

t
in
Nossos bosques têm mais vida,

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Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,


in
al
Mais prazer encontro eu lá;
-L

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.


7
1 -1

Minha terra tem primores,


84

Que tais não encontro eu cá;


9.

Em cismar — sozinho, à noite —


10

Mais prazer encontro eu lá;


7.
06

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.


F
CP

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Álvares Azevedo:

Se Eu Morresse Amanhã

Se eu morresse amanhã, viria ao menos

Fechar meus olhos minha triste irmã,

Minha mãe de saudades morreria

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ROMANTISMO II 88

Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!

Eu perdera chorando essas coroas

Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n’alva

Acorda ti natureza mais louçã!

Não me batera tanto amor no peito

Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora

A ânsia de glória, o dolorido afã...

A dor no peito emudecera ao menos

er
Se eu morresse amanhã!

t
in
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Anjos do Céu

in
al
As ondas são anjos que dormem no mar,
-L

Que tremem, palpitam, banhados de luz...

São anjos que dormem, a rir e sonhar


7
-1

E em leito d'escuma revolvem-se nus!


1

E quando de noite vem pálida a lua


84

Seus raios incertos tremer, pratear,


9.

E a trança luzente da nuvem flutua,


10

As ondas são anjos que dormem no mar!


7.
06

Que dormem, que sonham- e o vento dos céus

Vem tépido à noite nos seios beijar!


F
CP

São meigos anjinhos, são filhos de Deus,

Que ao fresco se embalam do seio do mar!

E quando nas águas os ventos suspiram,

São puros fervores de ventos e mar:

São beijos que queimam... e as noites deliram,

E os pobres anjinhos estão a chorar!

Ai! quando tu sentes dos mares na flor

Os ventos e vagas gemer, palpitar,

Por que não consentes, num beijo de amor

Que eu diga-te os sonhos dos anjos do mar?

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ROMANTISMO II 89

Castro Alves:

A boa vista

Era uma tarde triste, mas límpida e suave...

Eu — pálido poeta — seguia triste e grave

A estrada, que conduz ao campo solitário,

Como um filho, que volta ao paternal sacrário,

E ao longe abandonando o múrmur da cidade

— Som vago, que gagueja em meio à imensidade,—

er
No drama do crepúsculo eu escutava atento

t
in
A surdina da tarde ao sol, que morre lento.

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A poeira da estrada meu passo levantava,
in
al
Porém minh'alma ardente no céu azul marchava
-L

E os astros sacudia no vôo violento

— Poeira, que dormia no chão do firmamento.


7
1-1

A pávida andorinha, que o vendaval fustiga,


84

Procura os coruchéus da catedral antiga.


9.

Eu — andorinha entregue aos vendavais do inverno,


10

Ia seguindo triste p'ra o velho lar paterno.


7.
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Como a águia, que do ninho talhado no rochedo


F
CP

Ergue o pescoço calvo por cima do fraguedo,

— (Pra ver no céu a nuvem, que espuma o firmamento,

E o mar, — corcel que espuma ao látego do vento... )

Longe o feudal castelo levanta a antiga torre,

Que aos raios do poente brilhante sol escorre!

Ei-lo soberbo e calmo o abutre de granito

Mergulhando o pescoço no seio do infinito,

E lá de cima olhando com seus clarões vermelhos

Os tetos, que a seus pés parecem de joelhos! ...

Não! Minha velha torre! Oh! atalaia antiga,

Tu olhas esperando alguma face amiga,

89
ROMANTISMO II 90

E perguntas talvez ao vento, que em ti chora:

"Por que não volta mais o meu senhor d'outrora?

Por que não vem sentar-se no banco do terreiro

Ouvir das criancinhas o riso feiticeiro,

E pensando no lar, na ciência, nos pobres

Abrigar nesta sombra seus pensamentos nobres?

Onde estão as crianças — grupo alegre e risonho

— Que escondiam-se atrás do cipreste tristonho ...

Ou que enforcaram rindo um feio Pulchinello,

er
Enquanto a doce Mãe, que é toda amor, desvelo

t
in
Ralha com um rir divino o grupo folgazão,

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Que vem correndo alegre beijar-lhe a branca mão?..."

in
al
É nisto que tu cismas, ó torre abandonada,
-L

Vendo deserto o parque e solitária a estrada.

No entanto eu — estrangeiro, que tu já não conheces —


7
-1

No limiar de joelhos só tenho pranto e preces.


1
84

Oh! deixem-me chorar!...Meu lar... meu doce ninho!


9.

Abre a vetusta grade ao filho teu mesquinho!


10

Passado — mar imenso!... inunda-me em fragrância!


7.
06

Eu não quero lauréis, quero as rosas da infância.


F
CP

Ai! Minha triste fronte, aonde as multidões

Lançaram misturadas glórias e maldições...

Acalenta em teu seio, ó solidão sagrada!

Deixa est'alma chorar em teu ombro encostada!

Meu lar está deserto... Um velho cão de guarda

Veio saltando a custo roçar-me a testa parda,

Lamber-me após os dedos, porém a sós consigo

Rusgando com o direito, que tem um velho amigo...

Como tudo mudou-se! ... O jardim 'stá inculto

As roseiras morreram do vento ao rijo insulto...

A erva inunda a terra; o musgo trepa os muros

90
ROMANTISMO II 91

A urtiga silvestre enrola em nós impuros

Uma estátua caída, em cuja mão nevada

A aranha estende ao sol a teia delicada! ...

Mergulho os pés nas plantas selvagens, espalmadas,

As borboletas fogem-me em lúcidas manadas ...

E ouvindo-me as passadas tristonhas, taciturnas,

Os grilos, que cantavam, calaram-se nas furnas ...

Oh! jardim solitário! Relíquia do passado!

Minh'alma, como tu, é um parque arruinado!

er
Morreram-me no seio as rosas em fragrância,

t
in
Veste o pesar os muros dos meus vergéis da infância,

eW
A estátua do talento, que pura em mim s'erguia,

Jaz hoje — e nela a turba enlaça uma ironia!...


in
al
Ao menos como tu, lá d'alma num recanto
-L

Da casta poesia ainda escuto o canto,

— Voz do céu, que consola, se o mundo nos insulta,


7
-1

E na gruta do seio murmura um tremo oculta.


1
84

Entremos! ... Quantos ecos na vasta escadaria,


9.

Nos longos corredores respondem-me à porfia! ...


10
7.
06

Oh! casa de meus pais! ... A um crânio já vazio,

Que o hóspede largando deixou calado e frio,


F
CP

Compara-te o estrangeiro — caminhando indiscreto

Nestes salões imensos, que abriga o vasto teto.

Mas eu no teu vazio — vejo uma multidão

Fala-me o teu silêncio — ouço-te a solidão! ...

Povoam-se estas salas...

E eu vejo lentamente

No solo resvalarem falando tenuemente

Dest'alma e deste seio as sombras venerandas

Fantasmas adorados — visões sutis e brandas...

Aqui... além... mais longe... por onde eu movo o passo,

Como aves, que espantadas arrojam-se ao espaço,

Saudades e lembranças s'erguendo — bando alado —

91
ROMANTISMO II 92

Roçam por mim as asas voando pra o passado.

José de Alencar:

Na ilha por vezes habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,

manhãs e madrugadas em que não precisamos de

morrer.

Então sabemos tudo do que foi e será.

O mundo aparece explicado definitivamente e entra

em nós uma grande serenidade, e dizem-se as

er
palavras que a significam.

t
in
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas

eW
mãos.

Com doçura.
in
al
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
-L

vontade e os limites. Podemos então dizer que somos livres, com a paz e osorriso de quem se reconhece e viajou à roda domundo
infatigável, porque mordeu a alma até aos
7

ossos dela.
1 -1

Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres


84

como a água, a pedra e a raiz.


9.
10

Cada um de nós é por enquanto a vida.


7.

Isso nos baste.


06
F

Manuel Antônio de Almeida:


CP

Arte de Amar

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.

A alma é que estraga o amor.

Só em Deus ela pode encontrar satisfação.

Não noutra alma.

Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Coisa Amar

92
ROMANTISMO II 93

Contar-te longamente as perigosas

coisas do mar. Contar-te o amor ardente

e as ilhas que só há no verbo amar.

Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.

Contar-te longamente as misteriosas

maravilhas do verbo navegar.

E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi

num tempo doce coisa amar. E mar.

er
Contar-te longamente como dói

t
in
desembarcar nas ilhas misteriosas.

eW
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.

E longamente as coisas perigosas.


in
al
-L

Bernardo Guimarães:
7
-1

A Orgia dos Duendes


1

Meia-noite soou na floresta


84

No relógio de sino de pau;


9.

E a velhinha, rainha da festa,


10

Se assentou sobre o grande jirau.


7.
06

Lobisome apanhava os gravetos

E a fogueira no chão acendia,


F
CP

Revirando os compridos espetos,

Para a ceia da grande folia.

Junto dele um vermelho diabo

Que saíra do antro das focas,

Pendurado num pau pelo rabo,

No borralho torrava pipocas.

Taturana, uma bruxa amarela,

Resmungando com ar carrancudo,

Se ocupava em frigir na panela

Um menino com tripas e tudo.

Getirana com todo o sossego

A caldeira da sopa adubava

Com o sangue de um velho morcego,

Que ali mesmo co’as unhas sangrava.

93
ROMANTISMO II 94

Mamangava frigia nas banhas

Que tirou do cachaço de um frade

Adubado com pernas de aranha,

Fresco lombo de um frei dom abade.

Vento sul sobiou na cumbuca,

Galo-Preto na cinza espojou;

Por três vezes zumbiu a mutuca,

No cupim o macuco piou.

E a rainha co’as mãos ressequidas

O sinal por três vezes foi dando,

A corte das almas perdidas

er
Desta sorte ao batuque chamando:

t
in
"Vinde, ó filhas do oco do pau,

eW
Lagartixas do rabo vermelho,

Vinde, vinde tocar marimbau,


in
al
Que hoje é festa de grande aparelho.
-L

Raparigas do monte das cobras,

Que fazeis lá no fundo da brenha?


7
-1

Do sepulcro trazei-me as abobras,


1

E do inferno os meus feixes de lenha.


84

Ide já procurar-me a bandurra


9.

Que me deu minha tia Marselha,


10

E que aos ventos da noite sussura,


7.
06

Pendurada no arco-da-velha.

Onde estás, que inda aqui não te vejo,


F
CP

Esqueleto gamenho e gentil?

Eu quisera acordar-te c’um beijo ]

Lá no teu tenebroso covil.

Galo-preto da torre da morte,

Que te aninhas em leito de brasas,

Vem agora esquecer tua sorte,

Vem-me em torno arrastar tuas asas.

Sapo-inchado, que moras na cova

Onde a mão do defunto enterrei,

Tu não sabes que hoje é lua nova,

Que é o dia das danças da lei?

Tu também, ó gentil Crocodilo,

Não deplores o suco das uvas;

Vem beber excelente restilo

94
ROMANTISMO II 95

Que eu do pranto extraí das viúvas.

Lobisome, que fazes, meu bem

Que não vens ao sagrado batuque?

Como tratas com tanto desdém,

Quem a c’roa te deu de grão-duque?”

II

Mil duendes dos antros saíram

Batucando e batendo matracas,

E mil bruxas uivando surgiram,

er
Cavalgando em compridas estacas.

t
in
Três diabos vestidos de roxo

eW
Se assentaram aos pés da rainha,

E um deles, que tinha o pé coxo,


in
al
Começou a tocar campainha.
-L

Campainha, que toca, é caveira

Com badalo de casco de burro,


7
-1

Que no meio da selva agoureira


1

Vai fazendo medonho sussurro.


84

Capetinhas, trepados nos galhos


9.

Com o rabo enrolado no pau,


10

Uns agitam sonoros chocalhos,


7.
06

Outros põem-se a tocar marimbau.

Crocodilo roncava no papo


F
CP

Com ruído de grande fragor:

E na inchada barriga de um sapo

Esqueleto tocava tambor.

Da carcaça de um seco defunto

E das tripas de um velho barão,

De uma bruxa engenhosa o bestunto

Armou logo feroz rabecão.

Assentado nos pés da rainha

Lobisome batia a batuta

Co’a canela de um frade, que tinha

Inda um pouco de carne corruta.

Já ressoam timbales e rufos,

Ferve a dança do cateretê;

Taturana, batendo os adufos,

95
ROMANTISMO II 96

Sapateia cantando — o le rê!

Getirana, bruxinha tarasca,

Arranhando fanhosa bandurra,

Com tremenda embigada descasca

A barriga do velho Caturra.

O Caturra era um sapo papudo

Com dous chifres vermelhos na testa,

e era ele, a despeito de tudo,

O rapaz mais patusco da festa.

Já no meio da roda zurrando

Aparece a mula-sem-cabeça,

er
Bate palmas, a súcia berrando

t
in
— Viva, viva a Sra. Condessa!...

eW
E dançando em redor da fogueira

vão girando, girando sem fim;


in
al
Cada qual uma estrofe agoureira
-L

Vão cantando alternados assim:


7
-1

Machado de Assis:
1
84

Círculo Vicioso
9.

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:


10

- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,


7.
06

que arde no eterno azul, como uma eterna vela !

Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:


F
CP

- Pudesse eu copiar o transparente lume,

que, da grega coluna á gótica janela,

contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela !

Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

- Misera ! tivesse eu aquela enorme, aquela

claridade imortal, que toda a luz resume !

Mas o sol, inclinando a rutila capela:

- Pesa-me esta brilhante aureola de nume...

Enfara-me esta azul e desmedida umbela...

Porque não nasci eu um simples vaga-lume?

96
ROMANTISMO II 97

Livros e flores

Teus olhos são meus livros.

Que livro há aí melhor,

Em que melhor se leia

A página do amor?

Flores me são teus lábios.

Onde há mais bela flor,

Em que melhor se beba

O bálsamo do amor?

er
No alto

t
in
O poeta chegara ao alto da montanha,

eW
E quando ia a descer a vertente do oeste,

Viu uma cousa estranha,


in
al
Uma figura má.
-L

Então, volvendo o olhar ao subtil, ao celeste,


7
-1

Ao gracioso Ariel, que de baixo o acompanha,


1

Num tom medroso e agreste


84

Pergunta o que será.


9.
10

Como se perde no ar um som festivo e doce,


7.
06

Ou bem como se fosse

Um pensamento vão,
F
CP

Ariel se desfez sem lhe dar mais resposta.

Para descer a encosta

O outro lhe deu a mão.

Acreditamos que você já começa a notar a alternância que falamos sobre os períodos literários. Quando um está mais voltado
para as questões internas e subjetivas, o seguinte surge como uma espécie contestatória (sem ser oposição no sentido de reação
ou tentativa de “golpe”). O que acontece é que em casa período que vamos estudando, percebemos que há um exercício tão
intenso de suas características, que, por vias naturais, surgem contestações e necessidades de inovações.

Em outras palavras para que possamos prosseguir: quando um estilo chega ao seu ápice (como tudo no mundo que chega ao
seu apogeu), outros caminhos têm que surgir. Assim sendo, se muito se abre espaço para a visão interna das interpretações do
mundo, o instante seguinte possibilitará uma ótica mais externa. Do emocional ao racional e deste para aquele outro, assim vai
caminhando a arte.

Todo este preâmbulo tem por objetivo preparar-lhe para a nossa próxima aula. Está lembrado que falamos do Romantismo?
Então, mãos à obra na nova expressão artística brasileira.

97
REALISMO – NATURALISMO - PARNASIANISMO 98

REALISMO – NATURALISMO -
PARNASIANISMO

Começamos nossa aula com uma definição do que vem a ser o Realismo na voz de um romancista português bastante conhecido:
Eça de Queirós.

“O Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose do sentimento; o Realismo é a
anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos - para condenar o que
houve de mau na nossa sociedade.”

er
Introdução

t
in
A poesia do final da década de 1860 já anunciava o fim do Romantismo; Castro Alves, Sousândrade e Tobias Barreto faziam uma
poesia romântica na forma e na expressão, mas os temas estavam voltados para uma realidade político-social. O mesmo se pode

eW
afirmar de algumas produções do romance romântico, notadamente a de Manuel Antônio de Almeida, Franklin Távora e Visconde
de Taunay. Era o pré-realismo que se manifestava.
in
Na década de 70 surge a chamada Escola de Recife, com Tobias Barreto, Sílvio Romero e outros, aproximando-se das ideias
al
europeias ligadas ao Positivismo, ao Evolucionismo e, principalmente, à filosofia alemã. São os ideais do Realismo que
-L

encontravam ressonância no conturbado momento histórico pelo Brasil, com os ideais do abolicionismo, da busca pela República
e a crise da Monarquia.
7
-1

Em 1857, o mesmo ano em que no Brasil foi publicado O guarani, de José de Alencar, na França foi publicado Madame Bovary,
de Gustave Flaubert, considerado o primeiro romance realista da literatura universal.
1
84

Aconselhamos a que você busque informações sobre estas duas obras, pois dada as suas
9.

importâncias, sempre aparecem questões relacionadas a elas.


10
7.

Em 1865, Claude Bernard publica Introdução à medicina experimental, com uma tese sobre a hereditariedade. Em 1867,
06

Émile Zola publica Thérèse Raquin, inaugurando o romance naturalista.

No Brasil, considera-se 1881 como o ano inaugural do Realismo. De fato, esse foi um ano fértil para a literatura brasileira, com a
F

publicação de dois romances fundamentais, que modificaram o curso de nossas letras: Aluísio Azevedo publica O mulato, o
CP

primeiro romance naturalista do Brasil; Machado de Assis publica Memórias póstumas de Brás Cubas, o primeiro
romance realista de nossa literatura.

Você já leu Memórias póstumas de Brás Cubas? Se não leu, é bom procurar saber sobre o
tema, a história e etc, pois também é “figurinha fácil” em questões de concursos.

Na divisão tradicional da história da literatura brasileira, o ano considerado data final do Realismo é 1893, com a publicação de
Missal e Broquéis, ambos de Cruz e Souza, obras inaugurais do Simbolismo. No entanto, é importante salientar que 1893
registra o início do Simbolismo, mas não o término do Realismo e suas manifestações na prosa, com os romances realistas e
naturalistas, e na poesia, com o Parnasianismo. Basta lembrar que Dom Casmurro, de Machado de Assis, é de 1900; Esaú e Jacó,
do mesmo autor, é de 1904. Olavo Bilac foi eleito “príncipe dos poetas” em 1907.

IMPORTANTE: A Academia Brasileira de Letras, templo do Realismo, é de 1897.

Na realidade, nos últimos vinte anos do século XIX e nos primeiros vinte anos do século XX, temos três estéticas que se
desenvolvem paralelas: o Realismo e suas manifestações, o Simbolismo e o Pré-Modernismo, que só conhecem o golpe fatal em
1922, com a Semana de Arte Moderna.

Mas Realismo e Naturalismo não são as mesmas coisas?

98
REALISMO – NATURALISMO - PARNASIANISMO 99

Vejamos as diferenças básicas

CONTEXTO HISTÓRICO

Mundial

O Realismo reflete as profundas transformações econômicas, políticas, sociais e culturais da Segunda metade do século XIX. A

er
Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, entra numa nova fase, caracterizada pela utilização do aço, do petróleo e da

t
in
eletricidade; ao mesmo tempo o avanço científico leva a novas descobertas nos campos da Física e da Química. O capitalismo se

eW
estrutura em moldes modernos, com o surgimento de grandes complexos industriais; por outro lado, a massa operária urbana
cresce, formando uma população marginalizada que não partilha dos benefícios gerados pelo progresso industrial mas, pelo
contrário, é explorada e sujeita a condições subumanas de trabalho.
in
al
Esta nova sociedade serve de pano de fundo para uma nova interpretação da realidade, gerando teorias de variadas posturas
-L

ideológicas. Numa sequência cronológica temos o Positivismo de Auguste Comte, preocupado com o real-sensível, o fato,
defendendo o cientificismo no pensamento filosófico e a conciliação da “ordem e progresso” (a expressão, utilizada na bandeira
republicana do Brasil, é de inspiração comtiana); o Socialismo Científico de Karl Marx e Friedrich Engels, a partir da publicação
7

do Manifesto Comunista, em 1848, definindo o materialismo histórico (“o modo de produção da vida material condiciona o
-1

processo de vida social, político e intelectual em geral” – diz Marx) e a luta de classes; o Evolucionismo de Charles Darwin, a
1

partir da publicação, em 1859, de A origem das espécies, livro em que ele expõe seus estudos sobre a evolução das espécies
84

pelo processo de seleção natural, negando portanto a origem divina defendida pelo Cristianismo.
9.
10

O Período No Brasil
7.

Também estamos passando por mudanças radicais tanto no campo econômico como no político-social, no período compreendido
06

entre 1850 e 1900, embora com profundas diferenças materiais, se comparadas às da Europa.
F

- A campanha abolicionista intensifica-se a partir de 1850;


CP

- a Guerra do Paraguai (1864/70) tem como consequência o pensamento republicano – o Partido Republicano foi fundado no ano
em que essa guerra acabou –;

- decadência da Monarquia. A Lei Áurea, de 1888, não resolveu o problema dos negros, mas criou uma nova realidade. A sua
substituição da mão de obra escrava pela assalariada, então representada pelas levas de imigrantes europeus que vinham
trabalhar na lavoura cafeeira, originou uma nova economia voltada para o mercado externo, mas agora sem a estrutura
colonialista.

Características

LEIA COM ATENÇÃO!

As características do Realismo estão intimamente ligadas ao momento histórico, refletindo, dessa forma, a postura do
Positivismo, do Socialismo e do Evolucionismo, com todas as suas variantes. Assim é que o objetivismo aparece como negação
do subjetivismo romântico e nos mostra o homem voltado para aquilo que está diante e fora dele, o não-eu; o personalismo
cede terreno para o universalismo. O materialismo leva à negação do sentimentalismo e da metafísica.

O nacionalismo e a volta ao passado histórico são deixados de lado; o Realismo só se preocupa com o presente, o
contemporâneo.

99
REALISMO – NATURALISMO - PARNASIANISMO 100

Influenciados por Hypolite Taine e sua Filosofia da arte, os autores realistas são adeptos do determinismo, segundo o qual a obra
de arte seria determinada por três fatores: o meio, o momento e a raça – esta, no que se refere à hereditariedade. O avanço das
ciências, no século XIX, influencia sobremaneira os autores da nova estética, principalmente os naturalistas, donde se falar em
cientificismo nas obras desse período.

Ideologicamente os autores desse período são antimonárquicos, assumindo uma defesa clara do ideal republicano, como se
observa na leitura de romances como O mulato, O cortiço e O Ateneu, por exemplo. Negam a burguesia a partir da célula-
mãe da sociedade: a família; eis por que os sempre presentes triângulos amorosos, formados pelo pai traído, a mãe adúltera e o
amante, que é sempre um “amigo da casa”; para citarmos apenas exemplos famosos de Machado de Assis, eis alguns triângulos:
Bentinho/Capitu/Escobar; Lobo Neves/Virgília/Brás Cubas; Cristiano Palha/Sofia Palha/Rubião. São anticlericais, destacando-se
em suas obras os padres corruptos e a hipocrisia de velhas beatas.

Finalmente é importante salientar que Realismo é denominação genérica da escola literária, sendo que nela se podem perceber
três tendências distintas, expostas a seguir:

Romance Realista

er
Cultivado no Brasil por Machado de Assis, é uma narrativa mais preocupada com a análise psicológica, fazendo a crítica à

t
in
sociedade a partir do comportamento de determinados personagens. É interessante constatar que os cinco romances da fase
realista de Machado apresentam nomes próprios em seus títulos – Brás Cubas; Quincas Borba; D. Casmurro; Esaú e Jacó; Aires

eW
–, revelando clara preocupação com o indivíduo.

in
al
-L
7
1 -1

Estes romances sempre caem em provas de concursos. ATENÇÃO.


84

O romance realista analisa a sociedade “por cima”, ou seja, seus personagens são capitalistas, pertencem à classe dominante;
9.

mais uma vez nos voltamos para a obra de Machado e percebemos que Brás Cubas não produz, vive do capital, o mesmo
10

acontecendo com Bentinho; já Quincas Borba era louco e mendigo até receber uma herança; o único dos personagens centrais
de Machado que trabalhava era Rubião (professor em Minas), mas recebe a herança de Quincas Borba, muda-se para o Rio e
7.

não trabalha mais, vivendo do capital. O romance realista é documental, retrato de uma época.
06
F

Observe o trecho abaixo:


CP

Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza,
a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance,
em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto
nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o
indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação. Era isto Virgília, e era clara, muito clara, faceira, ignorante,
pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção, – devoção, ou talvez medo; creio que medo.
(ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas)

Podemos notar todo o estilo irônico do autor, aqui com suas baterias voltadas contra as idealizações românticas que haviam
moldado o gosto do público leitor. Repare que Machado parte de uma adjetivação que nos leva a montar um perfil da heroína
romântica (a mais atrevida, a mais voluntariosa, bonita, fresca, carregada de feitiço, faceira) para só num segundo momento
provocar a ruptura: ignorante, pueril, preguiçosa.

100
REALISMO – NATURALISMO - PARNASIANISMO 101

Romance Naturalista

Cultivado no Brasil por Aluísio Azevedo, Júlio Ribeiro, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Inglês de Souza e Manuel de Oliveira
Paiva; o caso de Raul Pompéia é muito particular, pois seu romance O Ateneu ora apresenta características naturalistas, ora
realistas, ora impressionistas.

A narrativa naturalista é marcada pela forte análise social a partir de grupos humanos marginalizados, valorizando o coletivo;
interessa também notar que os títulos dos romances naturalistas apresentam a mesma preocupação: O mulato, O cortiço, Casa
de pensão, O Ateneu. Há inclusive, sobre o romance O cortiço, a tese de que o principal personagem não é João Romão, nem
Bertoleza, nem Rita Baiana, nem Pombinha, mas sim o próprio cortiço ou, como afirma Antônio Cândido, “o romance é o
nascimento, vida, paixão e morte de um cortiço”. Sob um certo ponto de vista, o mesmo poderia ser dito sobre o colégio Ateneu
(os dois romances se encerram com a destruição dos prédios, abrigos coletivos).

Por outro lado, o naturalismo apresenta romances experimentais; a influência de Charles Darwin se faz sentir na máxima
naturalista segundo a qual o homem é um animal; portanto, antes de usar a razão, deixa-se levar pelos instintos naturais, não
podendo ser reprimido em suas manifestações instintivas, como o sexo, pela moral da classe dominante. A constante repressão
leva às taras patológicas, tão ao gosto naturalista; em consequência, esses romances são mais ousados e erroneamente tachados
por alguns de pornográficos, apresentando descrições minuciosas de atos sexuais, tocando, inclusive, em temas então proibidos,

er
como o homossexualismo: tanto o masculino, como em O Ateneu, quanto o feminino, em O cortiço.

t
in
eW
Observe o texto abaixo:

in
Ana Rosa, com efeito, de algum tempo a essa parte, fazia visitas ao quarto de Raimundo, durante a ausência do morador.
al
Entrava disfarçadamente, fechava as rótulas da janela, e, como sabia que o morador não aparecia àquela hora, começava a bulir
-L

nos livros, a remexer nas gavetas abertas, a experimentar as fechaduras, a ler os cartões de visita e todos os pedacinhos de
papel escrito, que lhe caíam nas mãos. Sempre que encontrava um lenço já servido, no chão ou atirado sobre a cômoda,
apoderava-se dele e cheirava-o sofregamente, como fazia também com os chapéus de cabeça e com a travesseirinha da cama.
7
-1

Estas bisbilhotices deixavam-na caída numa enervação voluptuosa e doentia, que lhe punha no corpo arrepios de febre.
1
84

(AZEVEDO, Aluísio. O mulato)


9.
10

Observamos que a personagem Ana Rosa, criada segundo alguns “caprichos românticos e fantasias poéticas”, não resiste à força
da atração física que Raimundo lhe desperta, chegando a invadir o quarto do rapaz. O importante é notar como a moça é
7.

dominada pelos instintos; como se fosse um animal, “lê” o mundo por meio dos sentidos (ela “conhece” o rapaz pelo cheiro que
06

ele imprimiu nos objetos); a excitação provoca reações físicas (enervação voluptuosa, febre), transformando-se num caso
patológico, doentio.
F
CP

Observação:

Como se observa, há vários pontos de coincidência entre o romance realista e o naturalista; diríamos até que ambos partem
de um mesmo ponto X e ambos chegam a um mesmo ponto Y, só que percorrendo caminhos diversos. Tanto um como
outro atacam a monarquia, o clero e a sociedade burguesa. Inclusive, podemos encontrar, num mesmo autor, determinadas
posturas mais realistas convivendo com enfoques mais naturalistas. É o caso de O Ateneu, citado acima.

Eça de Queirós, em Portugal, é outro exemplo significativo: alguns críticos o consideram realista, outros classificam-no
como naturalista.

Vimos muito sobre a prosa do período. Agora veremos um pouco sobre a poesia.

Poesia Parnasiana

Preocupada com a forma e a objetividade; a “arte pela arte”, com seus sonetos alexandrinos perfeitos. Olavo Bilac, Raimundo
Correia e Alberto de Oliveira formam a Trindade Parnasiana.

101
REALISMO – NATURALISMO - PARNASIANISMO 102

O soneto, a métrica alexandrina (12 sílabas poéticas), a rima rica, rara e perfeita, tudo isso se contrapondo aos versos livres e
brancos dos românticos. Em suma, é o endeusamento da Forma.

Como muitos dos movimentos culturais, o Parnasianismo teve sua inspiração na França, de uma antologia poética intitulada O
Parnaso contemporâneo, publicada em 1866. Parnaso era o nome de um monte, na Grécia, consagrado a Apolo (deus da luz e
das artes) e às musas (entidades mitológicas ligadas às artes).

No Brasil, em 1878, em jornais cariocas, um ataque à poesia do Romantismo gerou uma polêmica em versos que ficou conhecida
como a Batalha do Parnaso. Entretanto, considera-se como marco inicial do Parnasianismo no país o livro de poesias Fanfarras,
de Teófilo Dias, publicado em 1882. O Parnasianismo prolongou-se até a Semana de Arte Moderna, em 1922.

Exemplos:

Vaso Chinês

Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o

er
Casualmente, uma vez, de um perfumado

t
in
Contador sobre o mármor luzidio,

eW
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado in


al
Nele pusera o coração doentio
-L

Em rubras flores de um sutil lavrado,


7

Na tinta ardente, de um calor sombrio.


-1

Mas, talvez por contraste à desventura –


1
84

Quem o sabe? – de um velho mandarim


9.

Também lá estava a singular figura:


10

Que arte, em pintá-la! A gente acaso vendo-a


7.

Sentia um não sei quê com aquele chim


06

De olhos cortados à feição de amêndoa.


F

(Alberto de Oliveira)
CP

Via Láctea

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!” Eu vos direi, no entanto,

Que para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto

A via láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!

102
REALISMO – NATURALISMO - PARNASIANISMO 103

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas.”


(Olavo Bilac)

A Cavalgada

A lua banha a solitária estrada.

Silêncio! … Mais além, confuso e brando,

O som longínquo vem se aproximando

Do galopar de estranha cavalgada.

São fidalgos que voltam da calçada;

Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando,

er
E as tropas a soar vão agitando

t
in
O remanso da noite embalsamada…

eW
E o bosque estala, move-se, estremece…

Da cavalgada o estrépito que aumenta


in
al
Perde-se após no centro da montanha.
-L

E o silêncio outra vez soturno desce…

E límpida, sem mácula, alvacenta,


7
-1

A lua a estrada solitária banha…


1

(Raimundo Correia)
84
9.

Vamos recapitular?
10
7.

Realismo e Naturalismo no Brasil


06

O Realismo, no Brasil, nasceu em consequência da crise criada com a decadência econômica açucareira, o crescimento do prestígio
F

dos estados do sul e o descontentamento da classe burguesa em ascensão na época, o que facilitou o acolhimento dos ideais
CP

abolicionistas e republicanos. O movimento Republicano fundou em 1870 o Partido Republicano, que lutou para trocar o trabalho
escravo pela mão de obra imigrante.

Nesse período, as ideias de Comte, Spencer, Darwin e Haeckel conquistaram os intelectuais brasileiros que se entregaram ao
espírito científico, sobrepujando a concepção espiritualista do Romantismo. Todos se voltam para explicar o universo através da
Ciência, tendo como guias o positivismo, o darwinismo, o naturalismo e o cientificismo. O grande divulgador do movimento foi
Tobias Barreto, ideólogo da Escola de Recife, admirador das ideias de Augusto Comte e Hipólito Taine.

O Realismo e o Naturalismo aqui se estabelecem com o aparecimento, em 1881, da obra realista Memórias Póstumas de Brás
Cubas, de Machado de Assis, e da naturalista O Mulato, de Aluísio de Azevedo, influenciados pelo escritor português Eça de
Queirós, com as obras O Crime do Padre Amaro (1875) e Primo Basílio (1878). O movimento se estende até o início do século
XX, quando Graça Aranha publica Canaã, fazendo surgir uma nova estética: o Pré-Modernismo.

Características

A literatura realista e naturalista surge na França com Flaubert (1821-1880) e Zola (1840-1902). Flaubert (1821-1880) é o primeiro
escritor a pleitear para a prosa a preocupação científica com o intuito de captar a realidade em toda sua crueldade. Para ele a
arte é impessoal e a fantasia deve ser exercida através da observação psicológica, enquanto os fatos humanos e a vida comum
são documentados, tendo como fim a objetividade. O romancista fotografa minuciosamente os aspectos fisiológicos, patológicos
e anatômicos, filtrando pela sensibilidade o real.

103
REALISMO – NATURALISMO - PARNASIANISMO 104

Contudo, a escola Realista atinge seu ponto máximo com o Naturalismo, direcionado pelas ideias materialísticas. Zola, por volta
de 1870, busca aprofundar o cientificismo, aplicando-lhe novos princípios, negando o envolvimento pessoal do escritor que deve,
diante da natureza, colocar a observação e experiência acima de tudo. O afastamento do sobrenatural e do subjetivo cede lugar
à observação objetiva e à razão, sempre, aplicada ao estudo da natureza, orientando toda busca de conhecimento.

Sobre o movimento, o professor Alfredo Bosi diz:

“O Realismo se tingirá de naturalismo no romance e no conto, sempre que fizer personagens e enredos submeterem-se ao destino
cego das “leis naturais” que a ciência da época julgava ter codificado; ou se dirá parnasiano, na poesia, à medida que se esgotar
no lavor do verso tecnicamente perfeito”.

Vindo da Europa com tendências ao universal, o Realismo acaba aqui modificado por nossas tradições e, sobretudo, pela
intensificação das contradições da sociedade, reforçadas pelos movimentos republicano e abolicionista, intensificadores do
descompasso do sistema social. O conhecimento sobre o ser humano se amplia com o avanço da Ciência e os estudos passam a
ser feitos sob a ótica da Psicologia e da Sociologia. A Teoria da Evolução das Espécies de Darwin oferece novas perspectivas com
base científica, concorrendo para o nascimento de um tipo de literatura mais engajada, impetuosa, renovadora e preocupada
com a linguagem.

er
Os temas, opostos àqueles do Romantismo, não mais engrandecem os valores sociais, mas os combatem ferozmente. A
ambientação dos romances se dá, preferencialmente, em locais miseráveis, localizados com precisão; os casamentos felizes são

t
in
substituídos pelo adultério; os costumes são descritos minuciosamente com reprodução da linguagem coloquial e regional.

eW
O romance sob a tendência naturalista manifesta preocupação social e focaliza personagens vivendo em extrema pobreza,
exibindo cenas chocantes. Sua função é de crítica social, denúncia da exploração do homem pelo homem e sua brutalização.
in
A hereditariedade é vista como rigoroso determinismo a que se submetem as personagens, subordinadas, também, ao meio que
al
lhes molda a ação, ficando entregues à sensualidade, à sucessão dos fatos e às circunstâncias ambientais. Além de deter toda
-L

sua ação sob o senso do real, o escritor deve ser capaz de expressar tudo com clareza, demonstrando cientificamente como
reagem os homens, quando vivem em sociedade.
7

Outro tratamento típico é a caracterização psicológica das personagens que têm seus retratos compostos através da exposição
-1

de seus pensamentos, hábitos e contradições, revelando a imprevisibilidade das ações e construção das personagens, retratadas
1

no romance psicológico dos escritores Raul Pompéia e Machado de Assis.


84
9.

A Principal característica do Realismo é a Psicologia


10
7.
06

A Principal característica do Naturalismo é a Cientifica

É nesse contexto socio-político-científico que surgem o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo. A alteração do quadro
F

social e cultural exigia dos escritores outra forma de abordar a realidade: menos idealizada do que a romântica e mais objetiva,
CP

crítica e participante. Contudo há semelhanças e diferenças entre essas correntes. As semelhanças residem na objetividade, na
luta contra o Romantismo e no gosto por descrições minuciosas.

DEPOIS DE TANTAS INFORMAÇÕES, VOCÊ JÁ DEVE IMAGINAR O QUE VAMOS DIZER, NÃO?

104
REALISMO – NATURALISMO - PARNASIANISMO 105

1. Leia o poema abaixo.

“Quero que a estrofe cristalina,

Dobrada ao jeito

De ourives, saia da oficina

Sem um defeito

(...)”

er
Os versos do poema Profissão de fé, de Olavo Bilac, remetem ao:

t
in
(A) Simbolismo.

eW
(B) Modernismo.
(C) Romantismo.
(D) Parnasianismo. in
al
(E) Pré-modernismo.
-L

2. (U. Uberaba/MG) Leia com atenção os fragmentos a seguir:


7
-1

I
1

(A) “Esta, de áureos relevos trabalhada


84

(B) De divas mãos, brilhante copa, um dia,


(C) Já de aos deuses servir como cansada,
9.

(D) Vinda do Olimpo, a um novo Deus servia.”


10
7.

II
06

“A música da morte, a nebulosa,


F

A estranha, imensa música sombria


CP

passa a tremer pela minh’alma e fria

gela, fica a tremer, maravilhosa...”

3. Assinale a alternativa em que aparecem características relacionadas, respectivamente, aos fragmentos I e II.

Busca do vago e do diáfano / Palavras que despertam impressões sensoriais.

Cultivo da perfeição formal / Linguagem marcada pela objetividade temática.

Busca de um tema ligado à Grécia antiga / Registro da realidade de maneira simbólica.

Forma requintada, linguagem sugestiva / Descrição minuciosa de um objeto.

Observe as seguintes afirmações sobre o período literário denominado Realismo:

I. Os realistas fogem às exibições subjetivas dos românticos. O escritor deve manter a neutralidade diante daquilo que está
narrando, por isso mesmo, há um domínio das narrativas em terceira pessoa.
II. A ideia de que o escritor deve reproduzir fielmente o real é um dos princípios centrais do movimento realista, uma vez
que o leitor precisa acreditar na veracidade do texto.

105
REALISMO – NATURALISMO - PARNASIANISMO 106

III. Na tentativa de fugir dos devaneios sentimentais românticos, os realistas propuseram uma linguagem verossímil e repleta
de regionalismos, privilegiando, assim, o caráter oral.

Quais estão corretas?

(A) apenas I
(B) apenas II
(C) apenas I e II
(D) apenas II e III
(E) I, II e III

Na aula anterior vimos como as questões do racionalismo do século XIX influenciaram as artes. As ideias do
evolucionismo, da natureza humana nas relações sociais, etc. Ficaram como pano de fundo das obras artísticas.

Após isto, veremos surgirem outros questionamentos. Agora o foco e o ponto de vista colocam em xeque as teorias
do Positivismo de Comte, repensa o valor da revolução industrial. Ou seja, em outras palavras, iremos retomar o

er
esquecido sentir (que deu lugar ao ter e ao palpável).

t
Esta será nossa próxima aula: Simbolismo.

in
eW
in
al
-L
7
1 -1
84
9.
10
7.
06
F
CP

106
SIMBOLISMO 107

SIMBOLISMO

Visão geral

O simbolismo surgiu na França, no final do século XIX, em oposição ao Naturalismo e ao Realismo.

Suas principais características são:

- Ênfase em temas místicos, imaginários e subjetivos

- Caráter individualista

- Desconsideração das questões sociais abordadas pelo Realismo e Naturalismo

- Estética marcada pela musicalidade (a poesia aproxima-se da música)

- Produção de obras de arte baseadas na intuição, descartando a lógica e a razão

er
- Utilização de recursos literários como, por exemplo, a aliteração (repetição de um fonema consonantal) e a assonância (repetição

t
de fonemas vocálicos)

in
eW
Simbolismo no Brasil
in
Considera-se o início do simbolismo o ano de 1893, com a publicação de duas obras de Cruz e Souza: Missal (prosa) e Broquéis
al
(poesia). Podemos dizer que o movimento simbolista na literatura brasileira teve força até o surgimento do movimento modernista
-L

do começo da década de 1920.


7
-1

Principais artistas simbolistas


1
84
9.

Na Literatura internacional:
10

- Charles Baudelaire – autor francês da obra As flores do mal (1857) que é considerada um marco no simbolismo literário.
7.

- Eugênio de Castro - poeta português.


06

- Camilo Pessanha - um dos mais importantes poetas do simbolismo em Portugal.


F

- Arthur Rimbaud (Francês)


CP

- Stéphane Mallarmé (Francês)

- Paul Verlaine (Francês)

Na Literatura brasileira:

- Cruz e Souza

- Alphonsus de Guimaraens

Artes Plásticas:

- Paul Gauguin

- Gustave Moreau

- Odilon Redon

107
SIMBOLISMO 108

Teatro

- Maurice Maeterlinck

- Gabriele d'Annunzio

A partir deste panorama, você já pode notar quais as características mais marcantes do Simbolismo. Veremos, a seguir, de forma
mais detalhada, o período, suas características e alguns dos seus escritores mais importantes.

Relembramos a você que as obras citadas em nossas aulas (prosa e poesia), muitas vezes, “caem”
em provas de concursos. Por esta razão, sempre que houver uma referência sobre um texto, busque
na internet ler mais sobre o enredo, os personagens, as características e etc. para que não seja
surpreendido com uma questão que você nunca tenha nem ouvido falar.

er
Retomemos as questões sobre o período conhecido como Simbolismo

t
O simbolismo foi um movimento essencialmente poético do fim do século XIX e representou uma ruptura artística radical com

in
a mentalidade cultural do Realismo-Naturalismo (visto na última aula), buscando fundamentalmente retomar a atenção às

eW
dimensões não-racionais da existência.

Por tanto, o simbolismo torna a valorizar a subjetividade, o sentimento, a imaginação, a espiritualidade; busca desvendar o
in
subconsciente e o inconsciente nas relações misteriosas e transcendentes do sujeito humano consigo próprio e com o mundo.
al
-L

Numa visão mais ampla, tanto no campo da filosofia e das ciências da natureza quanto no campo das ciências humanas, houve
uma espécie de desconstrução das teorias racionalistas do período anterior através da física relativista de Einstein, da psicologia
do inconsciente de Freud ou das teorias filosóficas de Schopenhauer e de Friedrich Nietzsche.
7
-1

O surgimento do simbolismo refletiu a grande crise dos valores racionalistas da civilização burguesa, no contexto da virada do
1

século XIX para o século XX, criando, assim, novas propostas estéticas que serão consideradas precursoras à arte da modernidade.
84
9.

Origens do Simbolismo
10

Ao longo da década de 1890, desenvolveu-se na França um movimento estético a princípio apelidado de “decadentismo” e depois
7.

“Simbolismo”. Por muitos aspectos, este movimento estava ligado ao Romantismo e tinha um “berço” comum com o
06

Parnasianismo (“Parnasse Contemporain”, 1866).

O Simbolismo gerou-se quando escritores passaram a considerar que o Positivismo de Augusto Comte e o demasiado uso da
F

ciência e do ateísmo (procedimentos do Realismo) não conseguiam expressar completamente o que acontecia com o homem e a
CP

Natureza.

Havia uma espécie de cansaço de tanta busca racional, quando se sentia que o homem não é só racional.

A França foi o berço do Simbolismo, que se manifestou no satanismo e no spleen3 de As Flores do Mal, do poeta Charles
Baudelaire; no mistério e na destruição da linguagem linear de Um lance de Dados e de Tardes de um Fauno de Stéphane
Mallarmé; no marginalismo de Outrora e Agora, de Paul Verlaine e ainda no amoralismo de Uma Temporada no Inferno, de Jean
Nicolas Rimbaud.

Segundo algumas fontes, Edgar Allan Poe é considerado o precursor desse movimento, por ter influenciado nas obras de
Baudelaire.

108
SIMBOLISMO 109

O Simbolismo em Portugal

Com a publicação de Oaristos, de Eugenio de Castro, em 1890, inicia-se oficialmente o Simbolismo português, durando até 1915,
época do surgimento da geração Orpheu, que desencadeia a revolução modernista no país, em muitos aspectos baseada nas
conquistas da nova estética.

Conhecidos como adeptos do Nefelibatismo (espécie de adaptação portuguesa do Decadentismo e do Simbolismo francês), e,
portanto como nefelibatas (pessoas que andam com a cabeça nas nuvens), os poetas simbolistas portugueses vivenciam um
momento múltiplo e vário, de intensa agitação social, política, cultural e artística. Com o episódio do Ultimatum inglês, aceleram-
se as manifestações nacionalistas e republicanas, que culminarão com a proclamação da República, em 1910.

Portanto, os principais autores desse estilo em Portugal seguem linhas diversas, que vão do esteticismo de Eugênio de Castro ao
nacionalismo de Antônio Nobre e outros, até atingirem maioridade estilística com Camilo Pessanha: o mais importante poeta
simbolista português.

Principais autores e obras:

er
Além de Raul Brandão, um dos raros escritores de prosa simbolista, na verdade prosa poética, representada pela trilogia que

t
compreende as obras A farsa, Os pobres e Húmus, Eugênio de Castro, Antônio Nobre e Camilo Pessanha são os poetas mais

in
expressivos do simbolismo em Portugal.

eW
O Simbolismo no Brasil
in
al
Iniciado oficialmente em 1893, com a publicação de Missal (prosa poética) e Broquéis, de Cruz e Souza, considerado o maior
-L

representante do movimento no país, ao lado de Alphonsus de Guimarães, o Simbolismo brasileiro, segundo alguns autores, não
foi tão relevante quanto o europeu. Em outras palavras, não conseguiu substituir os cânones da literatura oficial,
7

predominantemente realista e parnasiana.


-1

Esse fenômeno não é difícil de entender: a ênfase no primitivo e no inconsciente desta poesia, seu caráter universalizante e ao
1

mesmo tempo intimista, não respondiam às questões nacionais.


84

Por outro lado, entretanto, pelas mesmas características mencionadas, as manifestações simbolistas no Brasil, especialmente no
9.

Sul, terra de Cruz e Souza, possuem uma aura de “seita”, com verdadeiras sociedades secretas cujos ritos, jargões e nomes
10

sugerem os traços essenciais do movimento (por exemplo: “Romeiros da Estrada de São Tiago”, “Magnificentes da palavra de
escrita”, etc).
7.
06

Movimento de cunho idealista, o Simbolismo teve que enfrentar no Brasil a atmosfera de oposição e hostilidade criada pelo
Zeitgeist realista e positivista dominante desde 1870. O prestígio do parnasianismo não deixou margem para que se reconhecesse
F

o movimento simbolista e avaliasse o seu valor e alcance, tão importantes que a sua repercussão e influência remotas são notórias
CP

em relação à literatura modernista. O Simbolismo foi abafado pela ideologia dominante e os adeptos do simbolismo sofreram
sob forte oposição.

Vejamos os Autores e suas características:

Cruz e Sousa

Principais obras:

- Missal (prosa)

- Broquéis (poesia)

- Tropos e fantasias

- Faróis

- Últimos sonetos

109
SIMBOLISMO 110

Principais características:

- No plano temático: a morte, a transcendência espiritual, a integração cósmica, o mistério, o sagrado, o conflito entre matéria e
espírito, a angústia e a sublimação sexual, a escravidão e uma verdadeira obsessão por brilhos e pela cor branca;

- No plano formal: as sinestesias, as imagens surpreendentes, a sonoridade das palavras, a predominância de substantivos e o
emprego de maiúsculas, utilizadas com a finalidade de dar um valor absoluto a certos termos.

Alphonsus de Guimaraens

Principais obras:

- Setenário das dores de Nossa Senhora (1899)

- Dona Mística (1899)

- Kyriale (1902)

er
- Pastoral aos crentes do amor e da morte (1923), entre outros.

t
in
Sua poesia desenvolve-se em torno de um misticismo marcado pela morte, que surge como uma inevitabilidade, e é praticamente

eW
transformada em objeto de adoração. Formalmente, o autor revela influências árcades e renascentistas, sem cair no formalismo
parnasiano. O poeta chegou a explorar a redondilha maior, de longa tradição popular, medieval e romântica, sua obra é rica em
recursos como aliterações e sinestesias. in
al
-L
7
1 -1
84
9.
10
7.

1. Assinale a alternativa que preenche adequadamente as lacunas.


06

O Simbolismo inicia como uma reação ao ________ e suas manifestações. A nova estética nega o _________, valorizando, em
contrapartida, as manifestações ____________.
F
CP

(A) Arcadismo – racionalismo – subjetivas


(B) Parnasianismo – cientificismo – espirituais
(C) Modernismo – materialismo – religiosas
(D) Impressionismo – objetivismo – subjetivas
(E) Romantismo – subjetivismo – nacionais

2. Considere as afirmativas abaixo, relativas ao Simbolismo:

I. No plano temático, o Simbolismo foi marcado pelo mistério e pela inquietação mística com problemas transcendentais do
homem. No plano formal, caracterizou-se pela musicalidade e certa quebra no ritmo do verso, precursora do verso livre
do modernismo.
II. O Simbolismo, surgido contemporaneamente ao materialismo cientificista, enquanto atitude de espírito, passou ao largo
dos maiores problemas da vida nacional. Já a literatura realista-naturalista acompanhou fielmente os modos de pensar
das gerações que fizeram e viveram a Primeira República.
III. O Simbolismo, com Cruz e Souza e Alphonsus de Guimarães, nossos maiores poetas do período, legou-nos uma produção
poética que se caracterizou pela busca da “arte pela arte”, isto é, uma preocupação com o verso artesanal, friamente
moldado. Devido a essa tendência à objetividade na composição, o movimento também se denominou “decadentista”.
Assinale a alternativa correta:

(A) I é falsa; II e II, verdadeiras.

110
SIMBOLISMO 111

(B) I e III são falsas; II, verdadeira.


(C) I é verdadeira; II e III, falsas.
(D) I, II e III são verdadeiras.
(E) I e II são verdadeiras; III, falsa.

3. Identifique os versos tipicamente simbolistas de Cruz e Sousa.

(A) Adeus! ó choça do monte!…


Adeus! palmeiras da fonte!…
Adeus! amores… adeus!…
(B) Rei é Oxalá que nasceu sem se criar.
Rainha é Iemanjá que pariu Oxalá sem se manchar.
(C) Minhas ideias abstratas
De tanto as tocar, tornaram-se concretas.
São rosas familiares
Que o tempo traz ao alcance da mão.

er
(D) Eu não devia te dizer
mas essa lua

t
in
mas esse conhaque

eW
botam a gente comovido como o diabo.
(E) Nessa Amplidão das Amplidões austeras
chora o Sonho profundo das Esferas
que nas azuis Melancolias morre… in
al
-L

4. “Faz descer sobre mim os brandos véus da calma,


7

Sinfonia da Dor, ó Sinfonia muda,


-1

Voz de todo meu Sonho, ó noiva da minh’alma,


1
84

Fantasma inspirador das Religiões de Buda.”


9.

A estrofe acima é de Cruz e Souza, e nela estão os seguintes elementos típicos da poesia simbolista:
10

(A) realidade urbana, linguagem coloquial, versos longos.


7.

(B) erotismo, sintaxe fluente e direta, ironia.


06

(C) desprezo pela métrica, linguagem concretizante, sátira.


(D) filosofia materialista, linguagem rebuscada, exotismo.
F

(E) misticismo, linguagem solene, valorização do inconsciente.


CP

5. Um dos aspectos que faz com que a poesia simbolista se contraponha frontalmente ao Parnasianismo é:

(A) o predomínio da linguagem denotativa sobre a figurada, como tentativa de exprimir com mais clareza as ambiguidades
da alma.
(B) a consideração do poema como um produto artístico, resultante de um processo lógico e analítico de interpretação do
real.
(C) a visão materialista do mundo, adequadamente expressa por uma linguagem eivada de sugestões plásticas que
acentuam a ideia de sensualidade.
(D) a adoção de uma postura subjetiva diante da realidade, expressa por uma linguagem rica de associações sensoriais.
(E) o abandono do soneto, que, como forma poética fixa, passa ser considerado impróprio para exprimir a fluidez onírica.

Passeamos pela história da literatura desde a Idade Média. Chegamos ao Brasil e estamos dando prosseguimento aos nossos
estudos.

Adentraremos o séc. XX que foi para a expressão das artes um tempo magistral da experimentação e da “mistura” entre razão e
emoção.

Vermos nesta aula como os homens do século passado puderam lidar com tantos conceitos, invenções, lutas (as Guerras
Mundiais), os gritos libertários, as vozes das minorias e etc.

111
PRÉ-MODERNISMO 112

PRÉ-MODERNISMO
No Brasil

O Pré-Modernismo teve seu desenvolvimento nas décadas de 1910 e 1920. É o que alguns estudiosos de literatura dizem ser a
transição entre o simbolismo e o modernismo.

Contexto histórico

O Pré-Modernismo brasileiro situa-se no contexto histórico da consolidação da República. A expectativa de um novo Brasil, mais
justo e moderno, com o advento do regime republicano foi frustrada. No novo regime, as desigualdades continuaram, a oligarquia
se manteve no poder, a participação política ficou restrita às elites e os conflitos sociais (exemplos: Guerra da Vacina, Guerra do
Contestado, Cangaço e Revolta da Chibata) surgiram pelo Brasil. Foi este contexto que influenciou a produção literária das duas
primeiras décadas do século XX.

t er
in
Principais características do Pré-Modernismo no Brasil

eW
- Abordagem de problemas sociais brasileiros (desigualdade, conflitos, pobreza e exclusão social e política). Estes temas serão
retratados, principalmente, nas obras de dois importantes escritores do período: Lima Barreto e Euclides da Cunha.

- Regionalismo: valorização de aspectos culturais de regiões do Brasil. in


al
- Estética literária marcada por valores do Naturalismo.
-L

- Mistura de estilos literários de escolas anteriores.


7

- Surgimento, em alguns escritores (Lima Barreto, por exemplo) do uso da linguagem coloquial.
1 -1

- Surgimento, embora o conservadorismo ainda se faça presente, de inovações técnicas na forma de expressão literária.
84

* importante: por não se tratar de uma escola literária, mas sim um período de transição, as características acima não estão
9.

presentes nas obras de todos os escritores pré-modernistas. Cada escritor possui seu próprio estilo e suas próprias temáticas de
destaque.
10
7.
06

Principais escritores pré-modernistas e suas obras

- Lima Barreto – escritor carioca, autor de Triste Fim de Policarpo Quaresma .


F
CP

- Monteiro Lobato – escritor paulista, autor de Cidades Mortas e Urupês .

- Graça Aranha – escritor maranhense, autor de Canaã .

- Euclides da Cunha – escritor carioca cuja principal obra foi Os sertões .

- João Simões Lopes Neto – escritor gaúcho, autor de Contos Gauchescos e Lendas do Sul .

- Augusto dos Anjos – poeta paraibano, autor da obra Eu .

Como sempre, é necessário entender um pouco o CONTEXTO da época para poder analisar questões sobre a literatura produzida.

O Pré-Modernismo situa-se, então, aproximadamente, entre as duas primeiras décadas do séc. XX, e precede o Movimento
Modernista de 1922.

Na verdade, o Pré-Modernismo não corresponde a uma escola literária, mas sim a um confluir de escritores que, não
correspondendo a nenhuma das estéticas de fins do século XIX, tiveram uma produção de impacto, apresentando novas
vertentes estilísticas e/ou temáticas em nossa literatura.

Os principais autores do período são:

112
113

Lima Barreto (1881-1922)

João do Rio (1881-1921)

Augusto dos Anjos (1884-1914)

Euclides da Cunha (1866-1909)

Monteiro Lobato (1882-1948)

O Rio de Janeiro do início do século XX, capital da recém-proclamada República, em meio a suas profundas transformações
promovidas pela reforma urbana do Presidente Pereira Passos, na região central da cidade, é o pano de fundo da obra de dois
grandes representantes do momento pré-modernista: Lima Barreto e João do Rio.

Esse início de século foi marcado por várias invenções e descobertas que influenciaram toda a humanidade.

O Brasil vivia sob o regime da chamada República do Café com Leite e foi uma época marcada por revoltas e conflitos sociais:
Revolta da Armada, Revolta de Canudos, Cangaço, Revolta da Vacina, Revolta da Chibata, Guerra do Contestado.

A Reforma Pereira Passos, também conhecida à época por Bota Abaixo, instaurava o período conhecido como Belle Époque,

er
marcado por ares europeizados do Centro da Cidade, sobretudo.

t
O Rio de Janeiro apresentava-se como a Paris dos Trópicos.

in
eW
Esse mesmo cenário acentua os conflitos sociais na cidade. A percepção dessa desigualdade social marcada será sublinhada na
obra de Lima Barreto. O escritor, de fato reconhecido em sua grandiosidade apenas postumamente, trouxe-nos uma prosa em
linguajar mais corrente, de certa forma, retomando o projeto de abrasileirar a linguagem literária brasileira, iniciado por Alencar
in
e que atingiria seu clímax com os modernistas de 22. Sua literatura é de denúncia de desigualdades sociais e preconceitos, de
al
temáticas que retratam aspectos mais populares da sociedade e de construção de um projeto de país utópico, como bem
-L

retratadas em sua obra maior O triste fim de Policarpo Quaresma.

Também nutrido de mordaz senso de observação, João do Rio − Paulo Barreto, de nascimento− em suas crônicas principalmente,
7

foi crítico severo das transformações por que o Rio passava. As quais, segundo ele, a título de modernidade, retiravam da cidade
-1

sua verdadeira alma.


1
84

Vemos isso no trecho seguinte:


9.
10

MODERNIZAÇÃO (João do Rio)*


7.

— As avenidas são a morte do velho Rio. Este mercado, onde não moram mais os mercadores, esse mercado fechado e higiênico
06

pode ser aquela antiga praça centro da miséria, da luxúria viscosa, de tantas e tantas tradições? Nunca! Amanhã, temo-lo
demolido como a velha Saúde, amanhã atiram esses becos por terra; amanhã desmancham a rua Tobias Barreto, a rua do Nuneio,
F

a rua da Conceição, e a parte bizarra, curiosa, empolgante da cidade desaparece absolutamente! Vamos ficar como todas as
CP

outras cidades!

— As ruas morrem, e mudam de alma. Se nós mudamos, que queres tu que elas façam?

[…]

(*Texto escrito por Paulo Barreto (João do Rio), publicado na Gazeta de Notícias, em 12 de janeiro de 1908)

Mais autores

Em estilo de produção totalmente diverso desses autores, eis que surge Augusto dos Anjos. Até hoje, é, possivelmente, um
caso único e de difícil classificação estética. Sua tradicional na forma e inovadoramente ímpar no conteúdo. Instaura-se em seu
texto todo um vocabulário e terminologia de viés cientificista e muito pouco usual na tradição poética.

Outro a se destacar em obra magnânima é o jornalista Euclides da Cunha, por meio deOs Sertões, marco introdutório da
temática do Nordeste, a ser retomada depois pela geração modernista de 30, em nossa literatura. Essa é uma produção que une
o tom literário ao apuro jornalístico, sobretudo em suas descrições e caracterizações do contexto da Guerra de Canudos, a qual
estava encarregado, profissionalmente, de acompanhar.

113
114

Por fim, o destacado Monteiro Lobato, autor cuja produção extrapola a temática infanto-juvenil de O sítio do Pica-pau
Amarelo a qual o consagrou por muitas gerações. Lobato foi autor atento às grandes questões do país. Como dizia, “Um país se
faz com livros e homens”. Além de escritor de dezenas de obras, também atuou como tradutor, ensaísta, editor. É seu o
personagem Jeca Tatu, até hoje tomado como certo estereótipo caricatural do caipira brasileiro.

Preparado para enfrentar as questões de avaliação? Descanse um pouco e vamos lá!

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Estamos nos aproximando de um período da literatura brasileira muito importante como foi o Modernismo e a Semana

eW
de 22. Por esta razão, busque ler mais sobre as obras aqui mencionadas, pois elas começam a dar indícios do que estava por vir
nas artes brasileiras. Não é a toa que em muitos concursos aparecem questões sobre os livros citados aqui.
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-L

Preparado para enfrentar as questões de avaliação? Descanse um pouco e vamos lá!

1. A obra de Lima Barreto:


7
-1

(A) Reflete a sociedade rural do século XIX, podendo ser considerada precursora do romance regionalista moderno
1

(B) Tem cunho social, embora esteja presa aos cânones estéticos e ideológicos românticos e influenciou fortemente os
84

romancistas da primeira geração modernista


9.

(C) É considerada pré-modernista, uma vez que reflete a vida urbana paulista antes da década de 20
(D) Gira em torno da influencia do imigrante estrangeiro na formação da nacionalidade brasileira, refletindo uma grande
10

consciência crítica dessa problemática


7.

(E) É pré-modernista, refletindo forte sentimento nacional e grande consciência crítica de problemas brasileiros
06

2. No romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, o nacionalismo exaltado e delirante da personagem principal motiva seu
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engajamento em três diferentes projetos, que objetivam “reformar” o país. Esses projetos visam, sucessivamente, aos
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seguintes setores da vida nacional:

(A) cultural, agrícola e político


(B) linguístico, político e militar
(C) linguístico, industrial, e militar
(D) escolar, agrícola e militar
(E) cultura, industrial e político

3. Nas duas primeiras décadas de nosso século, as obras de Euclides da Cunha e de Lima Barreto, tão diferentes entre si, têm
como elemento comum:

(A) A prática de um experimentalismo linguístico radical


(B) A intenção de retratar o Brasil de modo otimista e idealizante
(C) O estilo conservador do antigo regionalismo romântico
(D) A adoção da linguagem coloquial das camadas populares do sertão
(E) A expressão de aspectos até então negligenciados da realidade brasileira

114
115

4. A literatura do pré-modernismo brasileiro, nas obras de Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato, caracteriza-se
pela:

(A) descrição e romantização da sociedade rural.


(B) interpretação e polêmica voltadas para a problemática social.
(C) análise e idealização da sociedade urbana.
(D) restauração e mitificação da temática histórica.
(E) reconstrução e fabulação da sociedade indígena.

5. A expressão Pré-Modernismo traz implícita uma significação peculiar, uma vez que o termo “pré” remete a uma situação de
anterioridade, dentro de um contexto abrangente e múltiplo de sentidos; modernismo, em lato sensu, refere-se à evolução,
ao progresso, e, em stricto sensu, especificamente a um gênero literário que apresenta características próprias e inerentes.
Dessa maneira, pode-se dizer que, ao usar a expressão:

(A) pretende-se ensejar uma definição vaga do movimento que despontava.


(B) havia a certeza de que o movimento não teria repercussão.

er
(C) procurava-se refletir as contradições de uma realidade em que várias correntes de pensamento se distinguiam e,ao

t
mesmo tempo, contemplavam-se.

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(D) rotulou-se um estilo literário e único, reflexo da situação estável que ora existia.

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(E) tematizou-se o sentimento como a única fonte de inspiração de seus integrantes.

6. Assinale a alternativa INCORRETA sobre o Pré-Modernismo: in


al
-L

(A) Não se caracterizou como uma escola literária com princípios estéticos bem delimitados, mas como um período de
prefiguração das inovações temáticas e linguísticas do Modernismo.
7

(B) Algumas correntes de vanguarda do início do século XX, como o Futurismo e o Cubismo, exerceram grande influência
-1

sobre nossos escritores pré-modernistas, sobretudo na poesia.


(C) Tanto Lima Barreto quanto Monteiro Lobato são nomes significativos da literatura pré-modernista produzida nos
1
84

primeiros anos do século XX, pois problematizam a realidade cultural e social do Brasil.
(D) Euclides da Cunha, com a obra “Os Sertões”, ultrapassa o relato meramente documental da batalha de Canudos para
9.

fixar-se em problemas humanos e revelar a face trágica da nação brasileira.


10

(E) Nos romances de Lima Barreto observa-se, além da crítica social, a crítica ao academicismo e à linguagem empolada e
vazia dos parnasianos, traço que revela a postura moderna do escritor.
7.
06

Chegamos ao século XX. Muita coisa aconteceu, várias ideias surgiram, o mundo viveu uma crise logo no início com a Primeira
Grande Guerra Mundial. Isto, certamente foi expresso nas artes de um modo geral.
F
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Estamos sempre lhe dizendo que as expressões artísticas revelam muito do que acontece com os homens e representa uma
interpretação e uma visão de mundo de seus artistas.

Assim sendo, nossa aula de nr 14 tratará do Movimento (ou melhor, um conjunto de movimentos) que se chamou Vanguardas.

115
VANGUARDAS EUROPEIAS 116

VANGUARDAS EUROPEIAS

Chamamos de Vanguardas Europeias o conjunto de tendências artísticas – em sua maioria provenientes de Paris, que era naquela
época o centro cultural da Europa. Esses movimentos provocaram rupturas com a tradição cultural do século XIX. As correntes
de vanguarda surgiram antes, durante e depois da Primeira Guerra Mundial, introduzindo uma estética marcada pela
experimentação e pela subjetividade que influenciaria fortemente diversas manifestações artísticas em todo o mundo.

As Vanguardas Europeias apresentaram ao mundo uma nova maneira de fazer Arte, pautada na liberdade de criação e no
rompimento com o passado cultural tradicionalista.

O mundo no início do século XX

Com o advento da tecnologia, as consequências da Revolução Industrial, a Primeira Guerra Mundial e atmosfera política que
resultou destes grandes acontecimentos, surgiu um sentimento nacionalista, um progresso espantoso das grandes potências

er
mundiais, e uma disputa pelo poder. Várias correntes ideológicas foram criadas, como o nazismo, o fascismo e o comunismo, e

t
também com a mesma terminação “ismo” surgiram os movimentos artísticos que chamamos de Vanguardas.

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Todos os “ismos” das Vanguardas pautavam-se no mesmo objetivo, que era o questionamento, a quebra dos padrões, o protesto
contra a arte conservadora, a criação de novos padrões estéticos, que fossem mais coerentes com a realidade histórica e social
do século que surgia.
in
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Foram movimentos de rupturas como falamos e isto também influenciou a arte em todo o mundo.
-L

No Brasil não poderia ser diferente, uma vez que aquele era o momento da história em que as manifestações artísticas estavam
crescendo em nosso país, e que a maioria dos artistas se espelhavam nas tendências europeias, fosse para imitar-lhes, fosse para
7

combater-lhes.
-1

As vanguardas europeias passaram pela Literatura Brasileira deixando sua contribuição, especialmente ao somarem com a
1

Semana de Arte Moderna (1922) e o Movimento Modernista, pois juntos vieram romper com a antiga estética que até então
84

reinava em nosso país.


9.

As cinco correntes vanguardistas que mais influenciaram o fazer literário no Brasil foram: Expressionismo, Cubismo,
10

Futurismo, Dadaísmo e Surrealismo.


7.
06

Vejamos um pouco de cada uma delas:

Cubismo: Teve maior representatividade entre os anos de 1907 e 1914, mais especificamente na pintura. Seu propósito era
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decompor, fragmentar as formas geométricas. Investia na subjetividade de interpretação das obras, afirmando que um mesmo
objeto poderia ser visto de vários ângulos. Na literatura, caracteriza-se pela representação de uma realidade fragmentada, que é
retratada por palavras dispostas simultaneamente, com o objetivo de formar uma imagem. Os principais artistas que
representaram esta vanguarda foram: Pablo Picasso, Fernand Léger, André de Lothe, Juan Gris e Georges Braque, na pintura, e
Apollinaire e Cendras na literatura.

Dadaísmo: Surgiu em 1916 em plena Primeira Guerra Mundial, a partir do encontro de alguns artistas refugiados que buscaram
produzir algo que chocasse a burguesia. É mais um reflexo das emoções causadas pela Guerra, tais como revolta, agressividade
e indignação. Na literatura, se caracteriza pela agressividade verbal, pela desordem nas palavras, a incoerência, a quebra da
lógica e do racionalismo, e pelo abandono das regras formais do fazer poético: rima, ritmo, etc.

Expressionismo: Surgido em 1912, expressava a agitação e inquietação que buscava subverter a estética da época. Pela
primeira vez apareceu na livraria de arte der Sturm, em Berlim, expressando, como o nome diz, a renovação cultural que já estava
em curso na Alemanha e em toda a Europa. Não teve ideais claros e definidos, porém procurava transmitir ao mundo a situação
do homem, com seus vícios e horrores.

Surrealismo: Esta vanguarda surgiu após a Primeira Guerra, na França, mais precisamente em 1924. Trouxe para a arte
concepções freudianas, relacionadas à psicanálise. Segundo esta vanguarda, a arte deve surgir do inconsciente sem que haja
interferências da razão. Trabalha frequentemente com elementos como a fantasia, o devaneio e a loucura.

Futurismo: Surgiu através do Manifesto Futurista, criado pelo italiano Tommaso Marinetti em 1909. Suas proposições eram
negar o passado, o academicismo e trazer o interesse ideológico, a pesquisa, a experimentação, a técnica e a tecnologia para a
arte. Marinetti pregava o desapego ao tradicionalismo, especialmente quanto à sintaxe da língua.

116
VANGUARDAS EUROPEIAS 117

(Esta parte da aula tomamos como referência os textos do site infoescola)

Como você notou, os movimentos que compuseram o que chamamos de “Vanguardas Europeias” (os conhecidos “ismos”)
influenciaram bastante as expressões artísticas brasileiras (na pintura, literatura, música, etc.)

Fique atento a isto, pois, certamente, ao analisar o Modernismo Brasileiro, perceberá as características (ou influências) daquelas
Vanguardas.

Modernismo Brasileiro

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(Abaporu – Tarsila do Amaral - 1928)


7
1 -1

Anteriormente vimos um panorama do que estava acontecendo na Europa, no início do


84

século XX. Vimos também que os ares vividos naquele continente chegaram aqui ao Brasil.
E é justamente o que vamos estudar agora: o Modernismo Brasileiro.
9.
10
7.

O objetivo do Modernismo, no que se refere à literatura, foi indicar a necessidade de renovação. A própria seleção do nome
06

Modernismo tem este caráter (uma espécie de oposição ao tradicionalismo).

Na época, a preocupação dos autores “modernos” era substituir antigos valores. As principais características desta escola literária
F

são o progresso, a sensação de instabilidade e transitoriedade, a criação e investigação pessoal, o livre exame e o futuro.
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Como podemos notar, essas características são muito semelhantes às ideias das Vanguardas Europeias.

Podemos fixar o Modernismo na historiografia literária brasileira com o início da Semana de Arte Moderna de 1922, que ocorreu
entre os dias 11 e 18 de fevereiro no Teatro Municipal de São Paulo.

Porém, vimos na aula anterior (aula 13), que o país já vivia a efervescência de novas ideias mesmo antes destes dias de
manifestação de obras e expressões modernistas. Uma das primeiras manifestações do pré-modernismo no Brasil foi o
Futurismo, termo presente no país entre 1915 e 1921, ano em que Oswald de Andrade publicou um artigo em que chamou
outro escritor brasileiro (Mário de Andrade)de “o meu poeta futurista”.4

117
VANGUARDAS EUROPEIAS 118

A Semana de 22

er
A origem da Semana de Arte Moderna de 1922 foi uma sugestão do pintor Di Cavalcantifeita a Paulo Prado. A proposta era iniciar

t
in
uma “série de escândalos da Semana de Elegância de Deauville”. Até hoje, existem controvérsias sobre qual cidade teria criado

eW
o movimento. Rio de Janeiro ou São Paulo?

Consta que nas duas cidades existiam grupos renovando e indicando ideais modernos. Em São Paulo, os intelectuais eram Mário
in
de Andrade, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Luís Aranha, Agenor Barbosa, Plínio
al
Salgado e Cândido Mota Filho. No Rio, os principais nomes eram Graça Aranha, Ribeiro Couto, Renato Almeida, Ronald de
-L

Carvalho, Álvaro Moreira e Manuel Bandeira.

A Semana de Arte Moderna representou uma verdadeira renovação de linguagem, na busca de experimentação, na liberdade
7

criadora da ruptura com o passado e até corporal. O evento marcou época ao apresentar novas ideias e conceitos artísticos, como
-1

a poesia através da declamação, que antes era só escrita; a música por meio de concertos, que antes só havia cantores sem
1

acompanhamento de orquestras sinfônicas; e a arte plástica exibida em telas, esculturas e maquetes de arquitetura, com
84

desenhos arrojados e modernos.


9.

Apesar da Semana de Arte Moderna ser considerada um marco histórico, após o seu fim, o Modernismo entra em uma fase
de ruptura entre os grupos e de divergência de correntes. De São Paulo e Rio de Janeiro, as ideias foram proliferadas para outras
10

regiões do Brasil. De acordo com alguns intérpretes da literatura contemporânea, o Modernismo foi fixado historicamente na
7.

Semana de 22, mas se estende até a década de 60. Porém, o termo foi perdendo sua força e se estratificando como uma
06

denominação geral.

(Até aqui, tomamos como base o site infoescola)


F
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Vamos aprofundar as questões sobre o Modernismo Brasileiro?

Modernismo no Brasil

A proposta modernista brasileira era a de “ver com olhos livres”, sem limitações, sem fórmulas, procurando soluções artísticas
próprias e originais. O sentimento de liberdade de criação irmanava a todos os que participaram da Semana de Arte Moderna de
1922.

O desejo de romper com a cultura tradicional e acadêmica fez com que se juntassem várias tendências de renovação (cada artista
simpatizava com uma ou outra vanguarda europeia), e diferentes campos das Artes (literatura, música, pintura, arquitetura,
escultura), promovendo um riquíssimo intercâmbio de ideias e técnicas.

Embora a repercussão dos eventos da Semana, na época em que ocorreram, não fosse além dos limites metropolitanos de São
Paulo e Rio de Janeiro, suas propostas foram essenciais para guiar as Artes brasileiras no século XX. Como já dissemos, ideias e
realizações do grupo da Semana de 22 serviram de base para as vanguardas todas que surgiram no país até hoje, seja a Poesia
Concreta (1950-1970), seja a Poesia Marginal (1964-1985), seja a poesia e a música populares do Tropicalismo (1967-1980) e
do Rock nacional (1982-1995). A Semana de 22 é vista, na Europa de hoje, por exemplo, como a mais revolucionária fusão de
vanguardas no Modernismo ocidental.

118
VANGUARDAS EUROPEIAS 119

PRIMEIRA FASE DO MODERNISMO NO BRASIL: 1922-1930

A principal arma de renovação dos modernistas brasileiros foi o trabalho com a pesquisa de uma linguagem livre de quaisquer
normas e obrigações de métrica rígida, de rima regular e de uso de um vocabulário culto. Seus textos privilegiavam o
coloquialismo, a gíria, o verso livre, o erro gramatical como exemplo de usos típicos brasileiros. Ao mesmo tempo, procuraram
fundir essa linguagem brasileira cominfluências estrangeiras oriundas do mundo da publicidade e das indústrias.

O uso do poema-relâmpago (textos curtíssimos, à moda cubista ou dadaísta) e do poema-piada (com muito escracho e bom
humor) foram as descobertas dos modernistas que mais irritavam os acadêmicos e conservadores.

Os temas, sempre extraídos do cotidiano, eram tratados com irreverência, num processo constante de paródia à cultura, à arte
e à literatura de épocas anteriores, destruindo, não somente os valores artísticos do passado, mas também os valores ideológicos,
sociais e históricos que haviam formado o patriotismo brasileiro.

Dentre os autores do nosso primeiro modernismo, além de Manuel Bandeira e Oswald de Andrade, destacaram-se Mário de
Andrade. Antônio de Alcântara Machado, Raul Bopp, Menotti dei Picchia. Guilherme de Almeida, Cassiano Ricardo, Ronald de
Carvalho, Patrícia Galvão (a famosa Pagu) e Plínio Salgado.

O ideário modernista foi-se, ao longo da década de 1920, apresentando em manifestos e grupos organizados em revistas de

er
cultura e literatura.

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Revista Klaxon (1921-1923)

A revista Klaxon – Mensário de Arte Moderna foi o primeiro periódico modernista. Inovou não só no conteúdo, mas no projeto
in
gráfico e riamatéria publicitária, que trazia anto anúncios sérios, de produtos reais (como a brasileira Lacta), quanto anúnc ios
al
satíricos, de produtos absurdos (como uma fábrica internacional de sonetos). A proposta da revista era “buzinar”, chamando a
-L

atenção e pedindo passagem (“klaxon” era o nome que se dava à buzina externa dos automóveis da época).
7
-1

Poesia Pau-Brasil (1924)


1

Por meio do manifesto “Pau-Brasil” publicado no Correio da Manhã, em 18 de março de 1924, Oswald de Andrade propunha a
84

revisão crítica da cultura e da história brasileira, em busca de redefinir o que é o “ser brasileiro”. Propunha também pesquisa e
9.

reflexão sobre a linguagem como procura de uma expressão artística nacional, mas sem o patriotismo ufanista que herdáramos
do Romantismo do século XIX. Em 1925, Oswald publica o livro Pau-Brasil, ilustrado por Tarsila do Amaral, em que o poeta põe
10

em prática o ideário exposto no manifesto.


7.
06

Verde-Amarelismo (1926)
F

Idolatrando o tupi e escolhendo a anta como símbolo do grupo, os verde-amarelos formaram uma dissidência em relação a
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Oswald de Andrade. Propondo um nacionalismo primitivista, criticavam o traço satírico cosmopolita “estrangeirado” de Oswald.
Orientados por um patriotismo de traços fascistas, ditado pelo integrante Plínio Salgado — que viria, na década de 1930, a fazer
parte do Integralismo —, Menotti dei Picchia, Cassiano Ricardo e Guilherme de Almeida eram os escritores que se destacaram
nesse grupo.

Antropofagia (1928)

Em resposta à Escola da Anta, Oswald liderou, em 1928, o grupo que melhor representa a miscelânea ideológica e estética que
foi o primeiro momento de nosso modernismo. O grupo antropófago surgiu com a Revista de Antropofagia, que durou de
1928 a 1929, em duas fases.

Segundo o manifesto, escrito por Oswald, que abre o primeiro número, a proposta dos antropófagos era a deglutição cultural: o
que identificaria a nossa nacionalidade é o ato de “comer” as manifestações culturais que vêm de fora e de reorganizá-las dentro
da mistura cultural própria do Brasil. Hoje, o caráter antropófago da cultura brasileira tem sido considerado o que mais identifica
nossa cultura — essa facilidade que temos de aceitar e incorporar tudo o que vem de fora.

A primeira fase da revista foi dirigida por Alcântara Machado e Raul Bopp; a segunda, por Geraldo Ferraz. A primeira fase (ou
“dentição”, como diziam) trazia até mesmo contribuições do grupo da Anta, o que sugere o quanto de “jogada de marketing”
havia nas rixas ideológicas entre os grupos. A segunda “dentição”, todavia, marcou a grande ruptura entre os amigos Oswald e
Mário de Andrade. Por divergências estéticas, e mesmo pessoais — dizem que a timidez e a postura mais humilde de Mário se

119
VANGUARDAS EUROPEIAS 120

chocavam com o gênio agressivo, arrogante e irreverente de Oswald—, Mário de Andrade deixou de fazer parte do grupo.
Deixaram também o grupo Alcântara Machado e os escritores da Anta.

MODERNISMO NO BRASIL SEGUNDA FASE

À década de 30 coube sedimentar e oficializar as conquistas modernistas. Movimentos artísticos europeus, principalmente o
Expressionismo e o Cubismo inspiravam então artistas como Cândido Portinari, Guignard e Bruno Giorgi. Dois outros importantes
nomes dessa fase modernista como Ismael Nery e Cícero Dias (Cícero principalmente em suas primeiras obras) eram mais
pautados pelo Surrealismo. O poder público passa a apoiar o Modernismo e se São Paulo tinha sido o principal foco difusor dos
primeiros tempos do Modernismo, agora caberia ao Rio de Janeiro esse papel. A passagem de Le Corbusier e Frank Lloyd Wright
pelo Brasil (1929 e 1931) chama a atenção dos artistas para as possibilidades da integração das artes, renovando a arquitetura
brasileira, nela incluindo a nova pintura, escultura, paisagismo e decoração.

A temática social passaria ser grande fonte de inspiração para a geração Modernista dessa década e a técnica, que tinha assumido
uma posição secundária durante os anos 20, volta a ser valorizada. Surgiam importantes focos como o Núcleo Bernardelli (1931
– 1940) no Rio de Janeiro, preocupado em democratizar o ensino de artes plásticas e apontando para um Modernismo moderado.

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Em São Paulo surgiria a Sociedade Pró- Arte Moderna (SPAM), em 1932, reunindo artistas e promovendo uma série de atividades
divulgando seus trabalhos. Ainda em São Paulo surgiria o Clube dos Artistas Modernos (CAM), dissidência da SPAM, bastante

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ativo e irreverente, próximo ao espírito das primeiras épocas modernistas.

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Em 1934 dissolve-se a SPAM e o CAM e após um período relativamente morno de três anos surgem dois diferentes grupos: O
Salão de Maio e a Família Artística Paulista. A Família Artística Paulista, que vinha de reuniões no atelier do Santa Helena, marca
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uma grande diferenciação no Modernismo brasileiro: ao invés dos intelectuais que lideravam suas primeiras manifestações, esse
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grupo reunia artistas de origem proletária, que costumavam exercer profissões artesanais e com forte tradição italiana (devido à
imigração intensa em São Paulo no período), cultivando temas mais intimistas e cotidianos. Enquanto o Salão de Maio buscava
-L

ainda a sincronia com movimentos artísticos estrangeiros contemporâneos e desprezava a valorização técnica da Família Artística
Paulista, este último procurava repensar o modernismo desde 1922, separando os legados benéficos daquilo considerado radical.
7

Encerra suas atividades em 1940.


-1

O Modernismo até então, salvo alguns esforços de artistas isolados, permanecia restrito ao eixo Rio-São Paulo. Em 1944, uma
1
84

exposição modernista em Minas Gerais, patrocinada pela prefeitura da capital do estado na gestão de Juscelino Kubitschek,
marcaria o início do Modernismo nesse estado. Minas então passaria a ser extremamente importante para o movimento no
9.

período, produzindo grandes artistas. 1944 também marca o início do Modernismo baiano, seguido pelo Paraná e Recife (este
10

último em 1948). O Ceará já desde 1941 abrigava manifestações Modernistas. Entretanto, é importante lembrar que o Modernismo
brasileiro surgiu com a intenção de ser um movimento de vanguarda, numa época em que na Europa estava havendo um refluxo
7.

e uma tendência contrária, a de volta à ordem.


06

Enquanto a Europa procurava romper com o peso da arte passada e o abstracionismo era extremamente valorizado, no Brasil o
F

Modernismo assumia mais a função de promover uma atualização da arte brasileira capaz de ajudar na consolidação da identidade
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nacional e não abria mão do figurativismo. As vanguardas europeias tinham caráter universal, enquanto o Modernismo brasileiro
buscava expressar as particularidades nacionais, assimilando para isso aquilo que lhe interessava nas propostas de arte Moderna
que chegavam do velho continente.

A partir principalmente de meados da década de 40 e o pós-guerra uma arte não-figurativa começa a ser praticada e valorizada
por artistas brasileiros. Principalmente na década de 50 o abstracionismo surge como forte expressão modernista. Inspirados no
neoplasticismo, construtivismo, na Bauhaus e no artista americano Max Bill começam as primeiras manifestações do Movimento
Concreto em São Paulo e no Rio de Janeiro. O abstracionismo calculado matematicamente, o anti-romantismo, a integração das
artes e o racionalismo eram valorizados pelos concretistas. Em São Paulo surge o grupo Ruptura, liderado por Waldemar Cordeiro,
mais ortodoxos e contrário à subjetividade.

No Rio de Janeiro, em torno de Ivan Serpa, surge o Grupo Frente, menos homogêneo que o paulista e mais baseado na liberdade
de criação. A I Exposição Nacional de Arte Concreta intensifica as divergências entre os grupos das duas cidades. Surge então o
neo-concretismo, originado principalmente a partir do grupo carioca, contrário à rigidez concretista dos paulistas e mais
preocupado com a expressão. A experimentação passa a ser de extremo valor para os neo-concretos. Destacam-se os neo-
concretos Lygia Clark e Hélio Oiticica como artistas de grande contribuição para a discussão do papel da arte e do artista,
permanecendo como importantes figuras de vanguarda nacional, mesmo após a dissolução do movimento. Um abstracionismo
mais lírico também marcou presença na década de 50, bem como a influência do expressionismo abstrato norte-americano.
ManabuMabe foi um dos artistas nipo-brasileiros mais receptivos a essas tendências.

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VANGUARDAS EUROPEIAS 121

TERCEIRA GERAÇÃO MODERNISTA

Ruptura com a 1ª e a 2ª fase modernista, experimentação estética e a busca por uma nova expressão literária foram as principais
características da terceira geração modernista.

A terceira geração modernista, também conhecida como Geração de 1945, desenvolveu temáticas e estéticas diversas às gerações
anteriores. Nas fases precedentes, sobretudo na primeira fase modernista (1922-1930), havia uma grande preocupação em
consolidar a Literatura nacional através de elementos que reforçavam a identidade brasileira nas diferentes manifestações
artísticas. Os escritores da geração de 45 romperam com esse padrão, apresentando grandes inovações na pesquisa estética e
nas formas de expressão literária.

Grandes escritores, preocupados principalmente com a pesquisa em torno da própria linguagem, surgiram, pois o contexto
político, relativamente tranquilo em relação às gerações anteriores, fomentou o trabalho estético e linguístico, pois menos exigidos
social e politicamente, puderam explorar com maior afinco a forma literária, tanto na prosa quanto na poesia. Em 1945, terminada
a Segunda Guerra Mundial e, no Brasil, a ditadura de Vargas, o Brasil vivia um período democrático e desenvolvimentista, cujo
ápice ocorreu nos anos de governo do presidente Juscelino Kubitschek.

Em virtude da grande discrepância com o padrão estético inaugurado por nomes como Mário e Oswald de Andrade e Manuel

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Bandeira — a tríade do Modernismo de 1922 —, muitos críticos literários consideram a terceira geração como pós-modernista, na
qual se pode notar um rigor formal distante do proposto pelos precursores do movimento. Na poesia, um novo princípio literário

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surgiu, alterando assim a antiga concepção sobre o gênero: para os pós-modernistas, a poesia era a arte da palavra, rompendo

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assim com o caráter social, político, filosófico e religioso, muito explorado pela poesia da geração de 1930. Enquanto muitos
retomaram a estética parnasiana, outros buscaram uma linguagem sintética e precisa, dando continuidade à estética de Carlos
Drummond de Andrade e Murilo Mendes, grandes representantes da segunda fase modernista.
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Na prosa, especialmente nos gêneros conto e romance, escritoras como Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles aprofundaram
a sondagem psicológica das personagens e introduziram inovações nas técnicas narrativas, quebrando a frequência e a estrutura
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do gênero narrativo, canonizado na fórmula “começo, meio e fim”. Outros escritores, como Guimarães Rosa e Mário Palmério,
dedicaram-se ao regionalismo, estética muito desenvolvida nos anos 30, renovando-a. No caso de Guimarães Rosa, a inovação
7

atingiu fortemente a linguagem, através do emprego do discurso direto e do discurso indireto livre, revolucionando vocabulário e
-1

sintaxe:
1
84

Destacam-se como nomes de maior expressão da terceira geração modernista:


9.

→ João Cabral de Melo Neto (1920-1999)


10

→ Clarice Lispector (1920-1977)


7.

→ João Guimarães Rosa (1908-1967)


06

→ Ariano Suassuna (1927-2014)


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→ Lygia Fagundes Telles (1923)


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→ Mário Quintana (1906-1994)

Como notamos, o Modernismo Brasileiro foi um conjunto de atividades e expressões muito


diversas. Diferente dos movimentos que vimos anteriormente, o Modernismo tem uma gama
enorme de nuances e variações que vão requerer atenção.

É importante identificar as suas diferentes fases e os seus artistas para compreender muito
do que virá depois até os nossos dias.

Para prosseguir, faremos um pouco diferente do que sempre fizemos com relação aos exercícios, dada a complexidade do período.
Iremos apresentar algumas propostas de exercícios que apareceram em concursos e daremos as suas respostas. Desse modo,
você estará estudando um pouco mais sobre o Modernismo.

1. A principal característica da prosa modernista da geração da década de 1930 foi:

(A) o historicismo.
(B) a pesquisa lingüística
(C) a temática urbana
(D) o regionalismo

121
VANGUARDAS EUROPEIAS 122

(E) o indianismo

REGIONALISMO A geração da década de 1930 equivale à Segunda Geração Modernista, na qual a ficção ocupa um lugar de
grande importância em relação aos novos estilos e ideias. A década de 1930 - Segunda Geração Modernista - é marcada pela
publicação do romance regionalista A Bagaceira, de José Américo de Almeida, acompanhado por outros romances consagrados
de caráter regional, como O Quinze, de Rachel de Queiroz, em 1930; Menino de Engenho, de José Lins do Rego, em 1932.

2. Em determinada época, o romance brasileiro "procurou (...) enraizar fortemente as suas histórias e as suas personagens em
espaços e tempos bem circunscritos, extraindo de situações culturais típicas a sua visão do Brasil" (Alfredo Bosi)

Esta afirmação aplica-se a:

(A) Vidas Secas e Fogo Morto.


(B) Macunaíma e A Hora da Estrela.
(C) A Hora da Estrela e Serafim Ponte Grande.
(D) Fogo Morto e Serafim Ponte Grande.

er
(E) Vidas Secas e Macunaíma.

t
in
eW
Vidas Secas e Fogo Morto. Aludindo a "espaços e tempos bem circunscritos", Alfredo Bosi refere-se ao regionalismo na Literatura
Brasileira, como expressão de nossas "ilhas culturais".Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e Fogo Morto, de José Lins do Rego,
são obras representativas do melhor que o regionalismo produziu em sua vertente modernista, nordestina e neo-realista.
in
al
3. Sobre Fogo Morto, é correto afirmar que:
-L

(A) o caráter estanque de suas partes constitutivas é sublinhado pela mudança do foco narrativo em cada uma delas, indo
7

da primeira à terceira pessoa narrativas.


-1

(B) a relativa descontinuidade de sua divisão tripartite é contrastada pela recorrência de temas e motivos internos que
1

atravessam todo o romance.


84

(C) o caráter descontínuo e inconcluso de seu enredo é compensado pelas reflexões do narrador-personagem, que conferem
9.

finalização e acabamento ao romance.


(D) o caráter estanque de sua divisão tripartite é, no entanto, convertido à unidade pela comunicabilidade e entendimento
10

mútuo das personagens principais.


7.

(E) a cada uma das classes sociais nele representadas, o romance reserva um estilo de narrar próprio: erudito para os
06

senhores de engenho, oral-popular para as camadas humildes e cangaceiros.


F

A relativa descontinuidade de sua divisão tripartite é contrastada pela recorrência de temas e motivos internos que atravessam
CP

todo o romance: O que basicamente unifica os destinos dos protagonistas das três partes de Fogo Morto é a decadência do
engenho Santa Fé, em meio a um conjunto de temas e circunstâncias recorrentes: a sociedade patriarcal e as sequelas
psicológicas e sociais de seu anacronismo, a cultura popular nordestina, a difícil condição das mulheres, oprimidas duplamente
- pelo patriarcado e pela decadência econômica -, tudo filtrado pelas lentes do neo-realismo regionalista e pela poética oralidade
do autor

4. A frase que expressa uma relação de semelhança incorreta (ou falsa) entre as personagens Lula de Holanda e mestre José
Amaro (Fogo Morto) é:

(A) Os dois têm filhas solteiras, que são profundamente infelizes.


(B) São homens orgulhosos, com traços de mania de superioridade.
(C) Um e outro apresentam suscetibilidade e desconfiança exacerbadas.
(D) Ambos são marcados pela doença, que os expõe à curiosidade pública
(E) Ambos procuram compensar na religiosidade as infelicidades da vida pessoal.

Ambos procuram compensar na religiosidade as infelicidades da vida pessoal.O coronel Lula de Holanda, senhor de engenho
decadente, é muito místico, sendo, inclusive, influenciado pelo seu agregado Floripes, rezador de catimbó. Já o mestre, José
Amaro, seleiro, agregado do engenho do coronel Lula, não é religioso; ao contrário, blasfema

122
VANGUARDAS EUROPEIAS 123

5. Considere as seguintes afirmações sobre a obra de Graciliano Ramos:

I. Uma das características da ficção do autor é a construção do herói problemático, cujo traço marcante é a não aceitação
do mundo, nem dos outros, nem de si próprio.
II. O texto de Memórias do Cárcere ilustra a linguagem despojada de Graciliano Ramos, marcada pela sintaxe clássica, de
períodos curtos, como se encontra, também, em Vidas Secas e em São Bernardo.
III. A relação conflituosa do narrador com o meio familiar e o social é o que distingue Memórias do Cárcere (obra
autobiográfica e histórica) e São Bernardo (obra de ficção).
IV. O tom regionalista de Graciliano Ramos marca-se especialmente em Vidas Secas, romance sobre a opressão, tanto da
natureza (que impõe os rigores da seca) quanto dos que detêm o poder.

Quanto a essas afirmações, devemos concluir que:

(A) apenas a I, a II e a IV estão corretas.


(B) estão corretas a I, a II e a III, somente.
(C) estão corretas a I e a II, apenas.

er
(D) somente a III e a IV estão corretas.
(E) apenas a II e a III estão corretas.

t
in
eW
Apenas a I, a II e a IV estão corretasA relação conflituosa do narrador com o meio familiar e o social é característica da ficção e
da obra memorialística de Graciliano Ramos. Nesse fragmento, o conflito fica evidenciado em várias passagens, como: "A criatura
in
respondeu-me com quatro pedras na mão", "minha mulher replicava com estridência". Em São Bernardo, o conflito familiar
al
(marido x mulher) se encontra no centro da intriga.
-L

6. Assinale a melhor opção, considerando as seguintes asserções sobre Fabiano, personagem de Vidas Secas, de Graciliano
7

Ramos:
-1
1

I. Devido às dificuldades pelas quais passou no sertão, tornou-se um homem rude, mandante da morte de vários inimigos
84

seus.
9.

II. Comparava-se, com orgulho, aos animais, pois era um homem errante que vivia fugindo da seca.
III. Sentia-se fraco para exigir seus direitos diante de patrões e autoridades, por isso não se considerava um homem, mas
10

um bicho.
7.

Está(ão) correta(s):
06

(A) Apenas a I.
F
CP

(B) I e II.
(C) II e III.
(D) Apenas a III.
(E) I e III.

II e III. Fabiano aparece no romance Vidas Secas como vítima do clima árido, da estrutura fundiária e da condição socioeconômica.
Há a animalização e a impotência da personagem em face das circunstâncias. Fabiano considera-se bicho, fraco diante da
opressão do fazendeiro.

Em I, está errado afirmar que Fabiano é "mandante da morte de vários inimigos seus"

7. Bebendo aguardente, imaginava a cara de um juiz, entretinha-me em longo diálogo, e saía-me perfeitamente, como sucede
em todas as conversas interiores que arquiteto. Uma compensação: nas exteriores sempre me dou mal. (Graciliano Ramos,
Memórias do Cárcere)

Com base nesse trecho é correto afirmar que:

(A) o narrador-personagem está convencido de seu sucesso em defender-se diante de um juiz, seja qual for a circunstância.
(B) a expressão "uma compensação" e a afirmação que a ela se segue traduzem uma ironia do narrador sobre sua habilidade
em dialogar.

123
VANGUARDAS EUROPEIAS 124

(C) o narrador tem facilidade em expressar-se verbalmente, em especial quando está bebendo aguardente.
(D) a facilidade do narrador na conversa interior compensa suas dificuldades em externar seus argumentos.
(E) o diálogo é o forte do narrador, que, no entanto, sempre se dá mal quando se encontra diante das perguntas de um
juiz.

A expressão "uma compensação" e a afirmação que a ela se segue traduzem uma ironia do narrador sobre sua habilidade em
dialogar. A expressão "uma compensação" é utilizada ironicamente pelo narrador, para estabelecer um contraste entre sua
imaginação e a realidade.

8. Naquele momento a ideia da prisão dava-me quase prazer: via ali um princípio de liberdade. Eximira-me do parecer, do ofício,
da estampilha, dos horríveis cumprimentos ao deputado e ao senador; iria escapar a outras maçadas, gotas espessas,
amargas, corrosivas. (Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere)

A partir da leitura desse trecho, afirma-se:

er
I. Os sentimentos conflitantes do autor diante da prisão (que ele, por antítese, entende como libertação) revelam sua
incapacidade de vencer as dificuldades de seu dia-a-dia.

t
in
II. A prisão representaria uma forma de livrar-se de comportamentos formais a que o narrador se via obrigado.

eW
III. Em sua rotina, o narrador executava tarefas burocráticas.
IV. O narrador expressa desapreço a suas atividades; é o que se traduz na metáfora: gotas espessas, amargas, corrosivas.

Quanto a essas afirmações, devemos concluir que: in


al
-L

(A) somente a I e a IV estão corretas.


(B) somente a II e a III estão corretas.
7

(C) apenas a III e a IV estão corretas.


-1

(D) estão corretas a II, a III e a IV, apenas.


(E) estão corretas a I, a II e a III, apenas.
1
84
9.

Estão corretas a II, a III e a IV, apenas. O narrador não revela incapacidade de vencer as dificuldades de seu dia-a-dia. A rotina
enfada-o, mas isso não impede de transpor os obstáculos do cotidiano.
10
7.
06

9. Costuma-se reconhecer que a obtenção de verossimilhança (capacidade de tornar a ficção semelhante à verdade) é a principal
dificuldade artística inerente à composição de São Bernardo. Essa dificuldade decorre principalmente:
F
CP

(A) da mistura de narrativa psicológica, individual, com intenções doutrinárias, políticas e sociais.
(B) da junção do estilo seco, econômico, com o caráter épico eloquente, dos fatos narrados.
(C) do caráter inverossímil da acumulação de capital da zona árida do Nordeste.
(D) da incompatibilidade de base entre o narrador-personagem e Madalena, que torna difícil crer em seu casamento.
(E) da distância que há entre a brutalidade do narrador-personagem e a sofisticação da narrativa.

Da distância que há entre a brutalidade do narrador-personagem e a sofisticação da narrativaUm dos problemas compositivos
centrais de nossa ficção regionalista é exatamente a dissonância entre a fala das personagens, primitivas, incultas, e a linguagem
dos narradores, culta e sentenciosa. Alguns autores afetadamente mimetizam a fala sertaneja, como Jorge Amado. Outros,
mantendo o registro culto, projetam na fala das criaturas ficcionais a linguagem do ficcionista, com maior ou menor propriedade.
Dois caminhos buscaram superar essa dificuldade: a onisciência do narrador, como a que o próprio Graciliano adota em Vidas
Secas, ou o caráter mitopoético, a (re)invenção das palavras, como em Guimarães Rosa.

124
VANGUARDAS EUROPEIAS 125

1. “Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922. No poema, o autor
elabora críticas e propostas que representam o pensamento estético predominante na época.

Poética

Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente

er
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.

t
in
eW
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário

o cunho vernáculo de um vocábulo.


in
al
Abaixo os puristas
-L

[...]
7
-1

Quero antes o lirismo dos loucos


1

O lirismo dos bêbedos


84
9.

O lirismo difícil e pungente dos bêbedos


10

O lirismo dos clowns de Shakespeare


7.
06

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.


F
CP

( BANDEIRA , Manuel . Poesia completa e prosa. Rio de janeiro: José Aguilar, 1974)

Com base na leitura do poema, podemos afirmar corretamente que o poeta:

(A) Critica o lirismo louco do movimento modernista.


(B) Critica todo e qualquer lirismo na literatura.
(C) Propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico.
(D) Propõe o retorno do movimento romântico.
(E) Propõe a criação de um novo lirismo.

2. O uso do pronome átono no início das frases é destacado por um poeta e por um gramático nos textos abaixo.

Pronominais

Dê-me um cigarro

Diz a gramática

Do professor e do aluno

125
VANGUARDAS EUROPEIAS 126

E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco

Da Nação Brasileira

Dizem todos os dias

Deixa disso camarada

Me dá um cigarro.

(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos. São Paulo: Nova Cultural, 1988.)

“Iniciar a frase com pronome átono só é lícito na conversação familiar, despreocupada, ou na língua escrita quando se deseja
reproduzir a fala dos personagens (...)”.

er
(CEGALLA. Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa . São Paulo: Nacional, 1980.)

t
in
eW
Comparando a explicação dada pelos autores sobre essa regra, pode-se afirmar que ambos:

(A)
(B)
Condenam essa regra gramatical.
Acreditam que apenas os esclarecidos sabem essa regra.
in
al
(C) Criticam a presença de regras na gramática.
-L

(D) Afirmam que não há regras para uso de pronomes.


(E) Relativizam essa regra gramatical.
7
-1

3. O poema que segue é de Oswald de Andrade. Assim, sua tarefa consistirá em analisá-lo, tendo em vista, obviamente, que
1

ele, assim como muitos outros, pertenceu à era modernista, posicionando-se firmemente diante de todo um contexto, seja
84

esse, político, histórico e econômico. Não se esqueça de que, ao enfatizar tais características, ajuste-as a cada verso:
9.
10

Verbo crackar
7.
06

Eu empobreço de repente
F

Tu enriqueces por minha causa


CP

Ele azula para o sertão

Nós entramos em concordata

Vós protestais por preferência

Eles escafedem a massa.

Sê pirata

Sede trouxas

Abrindo o pala

Pessoal sarado

Oxalá eu tivesse sabido que esse verbo era irregular.

126
VANGUARDAS EUROPEIAS 127

4. Tendo em vista que Ode representa uma forma poética relacionada à exaltação, leia, analise e explicite todo o conhecimento
de que dispõe acerca das marcas ideológicas que caracterizaram o período modernista, subsidiando-se no poema de Ode ao
burguês, de Mário de Andrade (fragmentos):

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,

o burguês-burguês!

A digestão bem-feita de São Paulo!

O homem-curva! O homem-nádegas!

O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,

é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

[...]

Ódio aos temperamentos regulares!

er
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!

t
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!

in
eW
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,

sempiternamente as mesmices convencionais!

De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia! in


al
-L

Dois a dois! Primeira posição! Marcha!

Todos para a Central do meu rancor inebriante


7

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!


1 -1

Morte ao burguês de giolhos,


84

cheirando religião e que não crê em Deus!


9.

Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!


10

Ódio fundamento, sem perdão!


7.
06

Na aula 14 vimos as caraterísticas e os principais artistas de um período importante do mundo – o começo do século XX.
F

Você se lembra? Recapitulando:


CP

Na Europa, tratamos das Vanguardase, no Brasil, o Modernismo

Como é um tema muito vasto e requer muita atenção pois são muitas as informações, vamos, nesta aula, fazer de forma diferente
para que você possa fixar os pontos centrais dos movimentos.

127
VANGUARDAS EUROPEIAS E MODERNISMO BRASILEIRO 128

VANGUARDAS EUROPEIAS E MODERNISMO


BRASILEIRO

Nossa proposta nesta aula é a seguinte:

Vá até o link que lhe disponibilizamos aqui logo a seguir, assista os assuntos que pediremos (se quiser assistir todos, melhor
ainda) e, no final, responda as questões que verificarão que realmente você assistiu os vídeos.

https://www.youtube.com/watch?v=DfaYUFTGaO4&list=PLl90MWie7N3oD2RlAixfYf9fS6hzNEEXz

Os vídeos a serem assistidos:

Literatura - Vanguardas Europeias: Cubismo

er
Literatura - Aula 12: Pré-Modernismo

t
in
Literatura - Aula 13: Semana de Arte Moderna

eW
in
al
-L
7
1 -1
84
9.
10

1. Segundo explica o prof Bira, o que é Vanguarda?


7.

_______________________________________________________________________________________________________
06

_________________________________________________________
F
CP

2. Dê 3 propostas que caracterizam o Cubismo

_______________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________

3. Se Modernismo Brasileiro tem a proposta de romper com o passado, com o que vem da Europa, como podemos
explicar (segundo o prof Bira) q influência das Vanguardas (que são europeias) no Modernismo?

_______________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________

128
VANGUARDAS EUROPEIAS E MODERNISMO BRASILEIRO 129

4. A partir do poema de Oswald de Andrade, caracterize o Modernismo Brasileiro.

5. O Pré-modernismo não é considerado uma escola literária devido a sua grande variedade de expressões que não compuseram
um todo. Entretanto foi fundamental para o surgimento do Modernismo. Explicite os dois valores que estiveram nas bases

er
das artes dos primeiros 22 anos do século XX.

t
_______________________________________________________________________________________________________

in
_________________________________________________________

eW
6. Explique a síntese do Pré-modernismo apresentada pelo vídeo. in
al
_______________________________________________________________________________________________________
-L

_________________________________________________________
7
-1

7. Estabeleça a relação entre as datas de 1822 e 1922 (esta última referente à Semana de Arte Moderna - SAM).
1

_______________________________________________________________________________________________________
84

_________________________________________________________
9.
10

8. Cite 3 características que estavam presentes na SAM?


7.

_______________________________________________________________________________________________________
06

_________________________________________________________
F
CP

Como você percebeu nas 14 e 15, o Modernismo Brasileiro tem uma gama de nuances e diferentes concepções, posturas,
assuntos, abordagens, etc.

Por isso, esta aula é o que podemos chamar de “resumão” desse período tão fértil da nossa literatura.

Vamos lá!

129
MODERNISMO BRASILEIRO 130

MODERNISMO BRASILEIRO
(AS 3 GERAÇÕES)

Modernismo no Brasil - a Semana de Arte: São Paulo e a 1ª geração modernista

Na época da Semana de Arte Moderna, São Paulo estava se transformando rapidamente; era uma capital progressista, por
causa do crescimento trazido pela economia; havia novos costumes, novas relações políticas, novas influências; havia tantos
estrangeiros, tantos burgueses, tantos intelectuais se mobilizando que a Semana de Arte Moderna só podia mesmo ter acontecido
nessa cidade - e não no Rio, que tinha sido, até então, o tradicional centro cultural do Brasil.

E aconteceu mesmo. Em fevereiro de 1922, três dias de intensas e escandalosas apresentações no moderníssimo Teatro Municipal
de São Paulo foram suficientes para "escandalizar" a sociedade paulistana.

Num dos dias, Villa-Lobos sobe ao palco de casaco e chinelos para tocar suas composições modernistas: novo escândalo, pois se

er
supôs que a unha encravada do maestro fosse uma atitude modernista e desrespeitosa para com a música clássica.

t
in
Um outro escândalo haveria de protagonizar o poeta Ronald de Carvalho, incumbido de declamar um poema, enviado por Manuel
Bandeira, para o evento. Tal poema, "Os sapos", debochava ostensivamente do parnasianismo tão exaurido de Olavo Bilac:

eW
[...] in
al
-L

O sapo-tanoeiro,

Parnasiano aguado,
7
-1

Diz: - "Meu cancioneiro


1
84

É bem martelado.
9.
10

Vede como primo


7.
06

Em comer os hiatos!
F

Que arte! E nunca rimo


CP

Os termos cognatos.

[...]

Características da primeira geração do modernismo

Com se pode imaginar, a Semana não foi o exato início do modernismo, que já agitava São Paulo desde 1912/1915, mas foi o
mais ruidoso momento em que se expuseram as novas ideias e posturas intelectuais, as quais viriam marcar todo o século 20.

O modernismo dessa primeira geração guerreira é, então, sobretudo um movimento contra tudo o que está instituído, o que é
velho; os modernistas dizem "não" à arte artificial, cheia de rimas frias e sonetos perfeitos e vazios.

O poeta Carlos Drummond de Andrade, sabendo exatamente o que é essa liberdade, viria a escrever, logo a seguir:

130
(AS 3 GERAÇÕES) 131

Não rimarei a palavra sono

Com a incorrespondente palavra outono

Rimarei com a palavra carne

Ou qualquer outra, que todas me convêm.

As palavras não nascem amarradas

Elas saltam, se beijam, se dissolvem

No céu livre por vezes um desenho

São puras, largas, autênticas, indevassáveis.

"Consideração do poema" ( A rosa do povo )

t er
in
O espírito desses artistas era polêmico, original e debochado. Havia entre eles, como se vê, uma posição anárquica, cuja frase

eW
famosa de Mário de Andrade os justificava: "Não sabemos definir o que queremos mas sabemos o que não queremos!". Tinham
de lutar para demolir a vida social brasileira, que consideravam colonial, antiga, lusitana. E havia, sobretudo, um nacionalismo
in
intransigente, que viria a criar Macunaíma, de Mário de Andrade, ou a Poesia Pau-Brasil de Oswald:
al
-L

Escapulário
7

No Pão de Açúcar
1 -1

De Cada Dia
84

Dai-nos Senhor
9.
10

A Poesia
7.

De Cada Dia
06
F
CP

Busca de originalidade

Foram esses artistas totalmente originais? Não, mas conseguiram levar para a poesia e para a prosa o vocabulário do cotidiano,
conseguiram subverter a ordem sintática tão artificial da poesia parnasiana, escolheram novos temas e, principalmente, trouxeram
a literatura para o momento presente, os fatos do presente para a literatura e a modernidade de se poder pensar a própria arte
para fazer arte (metalinguagem).

Sem esses ingênuos e lutadores artistas, porém fabulosos modernistas de primeira geração, os escritores que vieram depois
jamais seriam tão sólidos como foram. Na loucura desses moços, fundou-se no Brasil o que há de mais importante: estarmos
passo a passo com a modernidade do mundo. Ou seja, eles eram livres e "internacionais". Como disse Mário de Andrade:

Leitor

Está fundado o Desvairismo.

Este prefácio, apesar de interessante, inútil.

[...]

Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem

131
(AS 3 GERAÇÕES) 132

pensar tudo o que meu inconsciente me grita.

Penso depois: não só para corrigir, como para

justificar o que escrevi. Daí a razão deste

("Prefácio Interessantíssimo", 1922)

Modernismo no Brasil - a 2ª geração: O Romance de 30

Depois da Semana de Arte Moderna, a ideia de "modernismo" - ou seja, de novas atitudes artísticas contra a arte encarada
como artificial, contra tudo o que os escritores consideravam "velho"- parecia não ter sido absorvida e a literatura no Brasil parecia
não ter mudado em nada.

Entretanto, alguns intelectuais de várias regiões começaram a manifestar-se: a verdadeira arte moderna devia retratar
criticamente um Brasil mais abrangente, que mal se conhecia, cujas desigualdades sociais fossem retratadas com vigor num
realismo próprio do século 20. A arte literária, segundo vários intelectuais, devia sair dos "salões aristocráticos de São Paulo",

er
quer dizer, devia abandonar o contato apenas com o urbano, influenciado pelas vanguardas europeias.

t
in
eW
O Romance de 30

in
Em 1926, ocorre um congresso em Recife e nele se encontram escritores do Nordeste; estes se dispõem, aos poucos, a fazer
uma prosa regional consistente e participativa. É dessas primeiras manifestações que surgirá um dos momentos mais autênticos
al
da literatura brasileira, o Romance de 30.
-L

A data de 1930 é marcante porque consolida a renovação do gênero romance no Brasil, ou seja, traz novos rumos à prosa. Depois
de tanta arruaça intelectual dos primeiros modernistas no Sudeste do país, procura-se atingir equilíbrio e estabilidade, que, aos
7
-1

poucos, vai aparecendo em obras e mais obras: O quinze , de Rachel de Queiroz(1930); O país do Carnaval, de Jorge
1

Amado (1931); Menino de engenho , de José Lins do Rego (1932); São Bernardo , de Graciliano Ramos (1934); e Capitães
84

da areia , de Jorge Amado (1937).


9.

Esta nova literatura em prosa será antifascista e anticapitalista, extremamente vigorosa e crítica. Os livros didáticos a chamam
10

com vários nomes: "Romance de 30" (porque é o início cronológico da nova literatura); romance neo-realista (porque essas
7.

obras conseguiram renovar e modernizar o realismo/naturalismo do século 19, enriquecendo-o com preocupações psicológicas e
06

sociais) ou romance regionalista moderno (porque escapa das metrópoles e vai ao Brasil regional, preso ainda a antinomias dos
séculos anteriores).
F

Lembremos, inclusive, que algumas obras sociológicas fundamentais surgem nessa mesma época: Casa-grande & senzala , de
CP

Gilberto Freyre, é de 1933, e Raízes do Brasil , de Sérgio Buarque de Hollanda, de 1936.

De todos os nomes para essa época, o melhor parece ser o do título deste artigo. Por quê? Porque os romances de Rachel de
Queiroz, Jorge Amado, José Lins do Rego, Érico Verissimo, Graciliano Ramos e outros escritores criaram um estilo novo,
completamente moderno, totalmente liberto da linguagem tradicional, nos quais puderam incorporar a real linguagem regional,
as gírias locais.

A consciência crítica

Mais do que tudo, através dessa "fala", consolidaram em suas obras questões sociais bastante graves: a desigualdade social, a
vida cruel dos retirantes, os resquícios de escravidão, o coronelismo, apoiado na posse das terras - todos problemas sociopolíticos
que se sobreporiam ao lado pitoresco das várias regiões retratadas.

Leia, por exemplo, um trecho de Vidas secas , de Graciliano Ramos:

Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam
cansados e famintos[...]

132
(AS 3 GERAÇÕES) 133

Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo escanhacado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano
sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O
menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.

Perceba a força narrativa com que o narrador descreve a cena cruel, de retirantes exaustos sob o sol, a família silenciosa e triste,
com a qual ele se solidariza ("os infelizes"); ele e nós, os leitores. A lentidão proposital da narrativa é a superação difícil do
caminho sob o sol (para onde vai quem não tem terras?) e a secura descritiva reproduz o silêncio dos que estão exaustos. Essa
é a seca vida do herói - agora um anti-herói -, humilhado e vencido pelo meio hostil.

Esses romances foram fundamentais para o amadurecimento da consciência crítica e social do leitor brasileiro. Com eles,
encontramos formas de compreensão do homem em várias faixas da sociedade brasileira e do determinismo que o persegue em
situações adversas. É injusto pensarmos que esses romances mostraram apenas as "mulatas gabrielas" para o mundo exterior.
As formas de narrar o cotidiano ficaram mais complexas e tensas.

Leia mais um trecho de Graciliano Ramos, não da história de Fabiano, mas da de Paulo Honório, que foi guia de cego e trabalhador

er
de enxada, mas conseguiu conquistar, com violência e determinação, além da fazenda de São Bernardo, respeito, dinheiro e

t
prestígio: virou um coronel. Teria sido um Fabiano que deu certo? Parece que não:

in
eW
Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que
endureci, calejei in
al
-L

[…]

Creio que nem sempre fui egoísta e brutal. A profissão é que me deu qualidades tão ruins.
7
-1

[…]
1
84

Não consigo modificar-me, é o que aflige.


9.
10

[...]
7.

A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste que me deu uma alma agreste.
06
F

A adesão ao socialismo impôs aos escritores da época, às vezes de forma radical, fórmulas de compreensão do homem em
CP

sociedade. Os romancistas, imbuídos do sentimento de missão política, queriam mostrar as tensões que transformavam ou
destruíam os homens - aliás, um tema universal e sempre vivo na literatura.

Mas o fato é que sem os modernistas de 1922 (1ª geração), dificilmente os modernistas de 1930 (2ª geração) teriam conseguido
o feito literário e social que obtiveram, porque aqueles foram os primeiros que provocaram a atualização da "inteligência"
brasileira, foram eles que trouxeram para a literatura o fato não-literário e a oralidade, que tanto beneficiou o realismo seco dos
escritores regionalistas, dando-lhes maior autenticidade.

Por outro lado, mesmo com os romances mais pitorescos e menos brutais, os leitores aprenderam, como nos ensina Alfredo Bosi
(História concisa da literatura brasileira), que o velho mundo dos homens poderosos não acaba tão facilmente: as estruturas das
oligarquias regionais se mantêm através do poder e da força, e é contra eles que se tem de lutar. Como nos conta Jorge Amado,
ao final de Capitães da areia :

No ano em que todas as bocas foram impedidas de falar, no ano que foi todo ele uma noite de terror, esses jornais (únicas
bocas que ainda falavam) clamavam pela liberdade de Pedro Bala, líder da sua classe, que se encontrava preso numa colônia.

[...] E no dia em que ele fugiu..., em inúmeros lares, na hora pobre do jantar, rostos se iluminaram ao saber da notícia. [...]
Qualquer daqueles lares se abriria para Pedro Bala, fugitivo da polícia. Porque a revolução é uma pátria e uma família.

133
(AS 3 GERAÇÕES) 134

E a poesia, perguntará você? Deixou de ser feita nesses anos duros da seca? De jeito nenhum.. Manuel Bandeira, Carlos
Drummond de Andrade, Mário e Oswald de Andrade, Cecília Meireles, Cassiano Ricardo, Murilo Mendes e outros poetas
continuavam sua longa carreira lírica modernista.

Modernismo no Brasil - a 3ª geração: Crítica social e metalinguagem

Depois do modernismo da Semana de Arte Moderna, em 1922 (1ª geração modernista), e do incisivo e duro modernismo de
1930, em que predominou o romance regionalista (2ª geração modernista), começam a se instalar, a partir de 1945/1950, novos
rumos para a literatura brasileira.

A data é fundamental para o mundo todo porque corresponde ao término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O ano de
1945 foi especialmente importante para o Brasil literário, pois também é o ano da morte de Mário de Andrade - o grande artista,
poeta e teórico do modernismo. Com sua morte, encerram-se, simbolicamente, as primeiras vanguardas que realizaram a Semana
de Arte.

Além desses fatos, uma nova Constituição, a de 1946, estabelecia pactos sociais novos, tidos como modernizantes e mais justos
para o país. Ou seja, o Brasil se modernizava, como, aliás, ocorria no mundo todo. E todos olhavam para os Estados Unidos, que

er
crescia como potência.

t
in
Poetas, prosadores e artistas em geral, ajustando-se ao mundo pós-guerra, já tinham total liberdade de usar as formas que

eW
quisessem e a temática que lhes parecesse mais adequada para interpretar a vida e o nosso país. Com tal liberdade, até a rima
poderia voltar aos poemas - e voltou. Por que não?, diziam os poetas. E, embora esse retorno fosse uma espécie de retrocesso
da forma, falava-se muito em desenvolvimento e progresso.
in
al
Os avanços sociais e tecnológicos pipocavam no mundo todo e (é compreensível) havia uma postura entusiasmada em todas as
sociedades -norte-americana, europeia e japonesa: todas em reconstrução. É fácil entender, então, por que se volta a falar em
-L

"nacionalismo" e por que se volta a valorizar a arte regional e popular em todos os cantos.
7
-1

Novos caminhos
1
84

No Brasil, a essa geração de escritores dá-se o nome de 3ª geração modernista. Esse início da segunda metade do século 20
tem um momento cultural muito rico, pois as produções literárias, marcadas por todas essas novidades, diversificavam-se;
9.

acabava o predomínio da poesia da 1ª geração ou da prosa (2ª geração). Gêneros literários convivem, são feitos experimentos
10

temáticos e linguísticos, e muitos dos textos escritos para os jornais (as crônicas) começam a crescer e ganhar status de
7.

literatura.
06

Excelente momento esse, pois ao mesmo tempo em que a prosa (romance, conto) buscava caminhos para prosseguir, renovando
brilhantemente as técnicas de expressão - como fizeram Guimarães Rosa e Clarice Lispector -, a poesia moderna encontrava
F

ainda maior profundidade de temas, de preocupação social e investigação psicológica, com Carlos Drummond de Andrade, Murilo
CP

Mendes, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Vinicius de Moraes e outros.

Aliás, a poesia fez até mais crítica social do que a prosa durante o período entre 1945 e 1965. Veja, por exemplo, um trecho de
"Carta a Stalingrado", em que Carlos Drummond de Andrade registra a dor pela guerra e a morte:

Stalingrado...

Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!

O mundo não acabou, pois que entre as ruínas

Outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,

E o hálito selvagem da liberdade

Dilata os seus peitos, [...]

( A rosa do povo , 1945)

Ou leia um trecho de seu poema posterior, "A bomba" (a bomba de Hiroshima), em que a própria palavra bomba - como ênfase
na devastação da terra e das vidas - é repetida mais de 50 vezes:

134
(AS 3 GERAÇÕES) 135

A bomba

é uma flor de pânico apavorando

os floricultores

[...]

A bomba saboreia a morte com marshmallow

[...]

A bomba

não admite que ninguém se dê

ao luxo de morrer de câncer.

[...]

A bomba

er
É câncer.

t
in
(Lição de coisas, 1962)

eW
Vinicius de Moraes, mesmo depois do fim da guerra, também se deteve no sofrimento mundial, mergulhando na imagem da
in
"Bomba de Hiroxima". Esse poema (na verdade, uma letra de canção), todos nós conhecemos bem, musicado na voz de Ney
al
Matogrosso:
-L
7

Pensem nas crianças


-1

Mudas telepáticas
1
84

Pensem nas meninas

Cegas inexatas
9.
10

Pensem nas mulheres


7.

Rotas alteradas
06

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas


F
CP

Mas oh não se esqueçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroxima [...]


(1962)

Muitos poetas fazem uso insistente da metalinguagem, que se manifesta junto com a preocupação social e política: para que
serve a poesia, para falar de sentimentos ou do mundo exterior? A poesia é ou não a arte da palavra? No lindo "O poema", João
Cabral de Melo Neto diz:

A tinta e a lápis

Escrevem-se todos

Os versos do mundo.

Que monstros existem

135
(AS 3 GERAÇÕES) 136

Nadando no poço

Negro e fecundo?

Como o ser vivo

Que é um verso,

Um organismo

Com sangue e sopro,

Pode brotar

De germes mortos?

[...]

(O engenheiro , 1943-1945)

t er
in
E depois? O que vem?

eW
São tantos os escritores importantes de 1945 em diante que, para cada um deles devemos dar atenção particular. Unidos pela
época (guerra fria, bomba atômica, lutas raciais, EUA, (capitalismo), embora diferentes entre si, trouxeram à literatura brasileira
in
da segunda metade do século 20 o intimismo, a visão crítica política, reflexões sobre a poesia e o mundo regional.
al
Muitos historiadores dizem que o mundo tal qual a história o conhecia deixou de existir a partir da década de 1950. Televisão,
-L

liberação feminina, eletrodomésticos novos, telecomunicações muito rápidas, urbanização maciça... Todo esse novo mundo estará
vinculado à nova cultura de massa, não com a cultura letrada nem com a cultura popular.
7
-1

Mas o que vai acontecer com a literatura? Tudo e nada ao mesmo tempo. Dizem que esse é o mundo pós-moderno. Mas essa já
é outra história... E os escritores no Brasil participam dela. Enquanto isso, "repare" num trecho de Cecília Meireles, a poeta dessa
1
84

geração que, já em 1938, era premiada pela Academia Brasileira de Letras:


9.
10

Serenata
7.

Repara na canção tardia


06

Que timidamente se eleva,

Num arrulho de fonte fria.


F
CP

O orvalho trem sobre a treva

E o sonho da noite procura

A voz que o vento abraça e leva.

Repara na canção tardia

Que oferece a um mundo desfeito

Sua flor de melancolia.

[...]

( Viagem , 1939)

Agora é sua vez de pesquisar.

Retiramos desta aula 5 nomes importantes da Literatura Brasileira do século XX. Você deverá fazer uma pesquisa que atenderá
as seguintes questões:

136
(AS 3 GERAÇÕES) 137

1. nascimento e morte (se houver) do escritor;

2. local de nascimento;

3. a que geração pertenceu

4. obras mais importantes e famosas.

Carlos Drummond de Andrade

Oswald de Andrade

Manuel Bandeira

Graciliano Ram

Durante as nossas aulas, percorremos as origens da literatura (desde o período medieval com as “cantigas de amor” e “de amigo)

er
e chegamos ao Modernismo Brasileiro.

t
Uma longa caminhada que não se esgota.

in
eW
Agora veremos como “anda” a literatura brasileira nos dias atuais.

Não é fácil descrever um período literário no momento em que está acontecendo, por esta razão, vamos ver algumas
in
características e autores atuais para que, a partir desta nossa conversa, você possa buscar mais informações e ler mais sobre o
al
que nos dias de hoje estamos produzindo em termos de literatura.
-L

Uma dica MUITO importante: Quanto mais se lê, mais se conhece. Quanto mais se lê, mais vemos que ainda há muito por
conhecer
7

Não pense que esta é a última aula no sentido de que seus estudos terminaram. Ao contrário: aqui é que começa o seu caminhar.
-1

O que disponibilizamos durante este tempo em que estivemos juntos foi tão somente fornecer-lhe algumas pistas para que você
1

buscasse o caminho da pesquisa e da leitura.


84
9.
10
7.
06
F
CP

137
TENDÊNCIAS ATUAIS DA LITERATURA BRASILEIRA 138

TENDÊNCIAS ATUAIS DA LITERATURA


BRASILEIRA

Quais são as características mais marcantes da Literatura Brasileira atual?

A Literatura Brasileira Contemporânea engloba as produções do final do século XX e da primeira metade do século XXI sendo
marcada por uma multiplicidade de tendências.

Ela reúne um conjunto de caraterísticas de diversas escolas literárias anteriores, revelando assim, uma mistura de tendências que
inovarão a poesia e a prosa (contos, crônicas, romances, novelas, etc.) do período.

Vale lembrar que muitas características da literatura contemporânea estão relacionadas com o movimento modernista, por
exemplo, a ruptura com os valores tradicionais, entretanto, a identidade nesse momento não é mais uma busca, sendo revelada

er
por uma crise existencial do homem pós-moderno.

t
in
Alguns movimentos vanguardistas que assinalaram a produção contemporânea foram:

eW
Concretismo in
al
Neoconcretismo
-L

Poesia-Práxis
7

Poesia Marginal
-1

Poema Processo
1
84
9.

Características
10
7.

As principais características da literatura contemporânea são:


06

Mistura de tendências estéticas (ecletismo)


F

União da arte erudita e da arte popular


CP

Prosa histórica, social e urbana

Poesia intimista, visual e marginal

Temas cotidianos e regionalistas

Engajamento social e literatura marginal

Experimentalismo formal

Técnicas inovadoras (recursos gráficos, montagens, colagens, etc.).

Formas reduzidas (minicontos, minicrônicas, etc.)

Intertextualidade e metalinguagem

Principais Autores e Obras

Seguem abaixo alguns escritores da literatura brasileira contemporânea:

138
TENDÊNCIAS ATUAIS DA LITERATURA BRASILEIRA 139

Ariano Suassuna (1927-2014): escritor paraibano, escreveu poesias e romances, ensaios e obras de dramaturgia. Desde 1990
ocupou a cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras. É autor de “ Auto da Compadecida ” (1955) e “ O Romance d'A Pedra do

Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta ” (1971).

Antônio Callado (1917-1997): escritor e jornalista nascido em Niterói, Antônio Callado escreveu obras de dramaturgia, biografia
e romances, dos quais se destacam os romances “ A Madona de Cedro ” (1957) e “ Quarup ” (1967); e as obras de dramaturgia

“ O tesouro de Chica da Silva ” (1962) e “ Forró no Engenho Cananeia ” (1964).

Adélia Prado (1935-): nascida na cidade de Divinópolis, em Minas gerais, Adélia Prado escreveu poesias, romances e contos.
De sua produção literária destacam-se: o livro de poesias “ Bagagem ” (1976) e o romance “ O Homem da Mão Seca ” (1994).

Cacaso (1944-1987): poeta mineiro nascido em Uberaba, Antônio Carlos de Brito foi grande destaque na poesia marginal. De
suas obras destacam-se os livros de poesias “ Na corda bamba ” (1978) e " Mar de Mineiro " (1982).

Caio Fernando Abreu (1948-1996): escritor gaúcho nascido em Santiago, Rio Grande do Sul, Caio escreveu contos, romances,

er
novelas e obras de dramaturgia, das quais se destacam: o livro de contos “ Morangos Mofados ” (1982) e o romance “ Onde

t
in
Andará Dulce Veiga? ” (1990).

eW
Carlos Heitor Cony (1926-): nascido no Rio de Janeiro, Carlos é escritor e jornalista, dono de uma vasta obra. Membro da
Academia Brasileira de Letras desde 2000, ele escreveu contos, crônicas, romances, ensaios, obras infanto-juvenis, roteiros de
in
cinema, telenovelas, documentários, dentre outros. De sua obra destacam-se os romances “ Pessach: a travessia ” (1975) e
al
“ Quase Memória ” (1995).
-L

Cora Coralina (1889-1985): Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, nasceu em Goiás. Escreveu poesias e contos utilizando o
7

pseudônimo Cora Coralina. De sua obra destacam-se o livro de poesias “ Poemas dos Becos de Goiás e estórias mais ” (1965) e
1 -1

o livro de contos “ Estórias da Casa Velha da Ponte ” (1985).


84

Dalton Trevisan (1925-): escritor paranaense nascido em Curitiba, Dalton é um dos mais destacados contistas da literatura
9.

contemporânea. Por ser uma figura excêntrica e misteriosa Dalton Trevisan ficou conhecido pelo nome o “Vampiro de Curitiba”.
10

De sua obra merecem destaque o livro de contos “ O Vampiro de Curitiba ” (1965) e a recente obra de minicontos denominada
7.

“ 111 Ais ” (2000).


06

Ferreira Gullar (1930-): escritor maranhense nascido em São Luís, Ferreira Gullar é membro da Academia Brasileira de Letras
F

desde 2014. Escreveu poesia, contos, crônicas, ensaios, memórias, biografias, das quais se destacam os livros de poesias “ Poema
CP

Sujo ” (1976) e “ Em Alguma Parte Alguma ” (2010). Sem dúvida seu ensaio mais conhecido é a “ Teoria do não-objeto ” (1959).

Lya Luft (1938): nascida na cidade de Santa Cruz do Sul, no estado do Rio Grande do Sul, Lya é escritora, tradutora e professora.
Possui uma vasta obra literária desde romances, poesias, contos, ensaios e livros infantis das quais se destacam: “ Canções de

Limiar ” (1964) e “ Perdas e Ganhos ” (2003).

Millôr Fernandes (1923-2012): nascido no Rio de Janeiro, Millôr Fernandes é um artista multifacetado. Foi escritor, jornalista,
dramaturgo e desenhista (cartunista). Sua obra literária está repleta de ironia, humor e sarcasmo, da qual se destaca: “ Hai-

Kais ” (1968), “ Millôr Definitivo: A Bíblia do Caos ” (1994) e “ A Entrevista ” (2011).

Murilo Rubião (1916-1991): escritor e jornalista mineiro, Murilo foi redator de jornal e revista, se destacando na literatura com
sua obra de contos: “ O ex-mágico ” (1947), “ O pirotécnico Zacarias ” (1974) e “ O Convidado ” (1974).

Nélida Pinõn (1937-): escritora nascida no Rio de Janeiro, Nélida Piñon foi jornalista e editora. Membro da Academia Brasileira
de Letras desde 1989, Nélida escreveu ensaios, romances, contos, crônicas, e obras de literatura infantil, das quais se destacam
o romance “ A casa da paixão ” (1977) e o livro de contos “ O pão de cada dia: fragmentos ” (1994).

139
TENDÊNCIAS ATUAIS DA LITERATURA BRASILEIRA 140

Paulo Leminski (1944-1989): escritor curitibano pertencente à geração mimeógrafo ou literatura marginal, Paulo escreveu
poesia, ensaios, romances, contos, obras de literatura infantil. De sua obra merecem destaque o livro de poesia “ Distraídos

Venceremos ” (1987) e o romance “ Agora é que são elas ” (1984).

Rubem Braga (1913-1990): nascido no Espírito Santo, no município de Cachoeiro de Itapemirim, Rubem Braga é considerado
um dos maiores cronistas do país. De sua obra destacam-se “ Crônicas do Espírito Santo ” (1984) e “ O Verão e as Mulheres ”
(1990).

Terminada esta primeira parte da aula expositiva, vamos fazer uma proposta de estudo para que você tenha oportunidade de
pesquisando fixar melhor o tema.

Abra o link que disponibilizaremos a seguir e atenda as questões que lhe propomos.

er
http://tendenciascontemporaneasnobrasil.blogspot.com.br/

t
in
eW
in
al
-L
7
1 -1
84

Leia o texto: Principais Tendências contemporâneas e responda:


9.
10

1. Que fato “inaugura” o Concretismo da poesia brasileira contemporânea.


7.

_______________________________________________________________________________________________________
06

_______________________________________________________
F
CP

2. Por que o poema concretista é chamado de poema-objeto?


_______________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________

3. Cite os 4 tipos de poesia do concretismo.


_______________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________

4. Qual as características da prosa moderna (depois da década de 1980)?


_______________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________

140
GABARITOS 141

GABARITOS
OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS)

1. Por que no Brasil não temos o período do Trovadorismo?

Porque o Trovadorismo, segundo a linha temporal dos estilos se encontra no século XII e o Brasil só foi descoberto no começo
do século XVI.

2. Por que o Romantismo pode ser estudado na Era Nacional e o Barroco não?

Porque o Barroco está na linha temporal dentro do período em que o Brasil ainda era colônia de Portugal. Já o Romantismo
se encontra no período do Império.

t er
in
3. Por “linguagem” devemos entender somente textos escritos? Justifique sua resposta.

eW
Não. Linguagem é toda forma de comunicação. Seja oral, escrita ou mesmo gestos.

in
al
4. Cite 3 elementos da narrativa que você conhece.
-L

Personagem, espaço e tempo.


7
-1

5. Todo narrador é personagem da narrativa? Justifique sua resposta.


1

Não. Em algumas narrativas o narrador participa como personagem sim. Ele é parte integrante da trama. Mas em outras, ele
84

somente relata as ações, não tendo participado delas.


9.
10

TROVADORISMO
7.
06

1. Cantiga de amigo, pois há a presença do eu lírico feminino e os interlocutores são amigas desse interlocutor.
F
CP

2. O eu-poemático, como o título diz (Confessor Medieval), trata-se da figura de um religioso ou confidente que aconselha a
moça.

3. D

4. E

5. A

6. B

7. B

HUMANISMO

1. (B) F - V - V - V - V

2. (A) estendeu do final do século XVI ao início do século XVII (foi séc XV ao XVI)

3. (E) Fundamenta-se na noção bíblica de que o homem é pó e ao pó retornará, e de que só a transcendência liberta o homem
de sua insignificância terrena. (Isto se refere ao Teocentrismo e não ao Antropocentrismo, característico do Humanismo)

141
GABARITOS 142

4. (D) Representa o apogeu da cultura provençal que se irradia da França para os demais

países, por meio dos trovadores e jograis. (isto se refere ao Trovadorismo)

5. (A) É mais espontânea que a poesia trovadoresca, pela superação da influência provençal, pela ausência de normas para a
composição poética e pelo retorno á medida velha. (Não é espontânea. Ao contrário é mais elaborada)

CLASSICISMO

1. (D) As explicações e a visão de mundo são pautadas pela religião.

2. (C) Literatura de informação, representada principalmente pela Carta de Pero Vaz de Caminha, cuja finalidade era a de relatar
as características da terra descoberta, e a Literatura jesuíta, que produziu textos simples com a finalidade de catequizar os
índios.

er
O Classicismo no Brasil compreende toda a produção literária produzida no século XVI, ou seja, trata-se da fase mais conhecida
como Quinhentismo. Durante esse período, a produção literária concentrou-se nos textos da Literatura jesuíta e também na

t
in
Literatura de informação, que relatava as características da colônia à coroa portuguesa.

eW
3. (B) critica as navegações portuguesas por considerar que elas se baseiam na cobiça e busca de fama.

4. (B) Pero Vaz de Caminha, Pero M. Gândavo, Gabriel Soares de Sousa e José de Anchieta.
in
al
-L

QUINHENTISMO
7
-1

1. C
1
84

2. E
9.

3. B
10

4. A
7.

5. E
06

6. B
F

7. A
CP

8. C

BARROCO

1. Com o Concílio de Trento (1545 e 1563) houve uma grande reformulação do Catolicismo, para fazer frente a Reforma
protestante. A igreja católica, com isso, busca recuperar a disciplina e a sua autoridade, estabelecendo assim uma divisão da
cristandade entre protestantes e católicos.

Teremos então países protestantes (mais favoráveis à liberdade de pensamento, o racionalismo e a curiosidade científica do
Renascimento) e países católicos, sobretudo na Península Ibérica. Estes Estados católicos desenvolveram o movimento da
Contrarreforma (com repressões às tentativas de manifestações culturais ou religiosas contrárias ao Catolicismo).

O clima geral era de austeridade e repressão. O Tribunal da Inquisição ameaçava cada vez mais a liberdade de pensamento.
O complexo contexto sociocultural fez com que o homem tentasse conciliar a glória e os valores humanos despertados pelo
Renascimento com as ideias de submissão e pequenez perante Deus e a Igreja.

2. (B) rebuscada; a antítese; barroca.

142
GABARITOS 143

3. (E) O conceptismo caracteriza-se pela linguagem rebuscada, culta, extravagante, enquanto o cultismo é marcado pelo jogo de
ideias, seguindo um raciocínio lógico, racionalista.

4. (B) O homem centra suas preocupações em seu próprio ser, tendo em vista seu aprimoramento, com base na cultura greco-
romana.

5. (D) "Estiadas amáveis iluminavam instantes de céus sobre ruas molhadas de pipilos nos arbustos dos squares. Mas a abóbada
de garoa desabava os quarteirões."

6. (D) O cultismo na Espanha, Portugal e Brasil é também conhecido como gongorismo e seu mais ardente defensor, entre nós,
foi o Pe. Antônio Vieira, que, no Sermão da Sexagésima, propõe a primazia da palavra sobre a ideia.

(Vieira era conceptista)

ARCADISMO

er
1. (C) com a publicação dos poemas de Cláudio Manuel da Costa (em Lisboa) e pela fundação da Arcádia Ultramarina.

t
in
2. (B) teve em Cláudio Manuel da Costa o representante que, de forma original, recusou a motivação bucólica e os modelos

eW
camonianos da lírica amorosa.

3. (E) A morte de Moema, índia que se deixa picar por uma serpente, como prova de fidelidade e amor ao índio Balda, é trecho
mais conhecido da obra O Uruguai, de Basílio da Gama. in
al
4. (C) a ênfase na interpretação subjetiva da realidade.
-L

5. (B) a presença de valores ou elementos clássicos.


7

6. (D) Cacambo, Lindóia, Gomes Freire de Andrade


1 -1
84

ROMANTISMO I
9.
10
7.

1. (B) Cultivando o passado, procurou formas de compreender e explicar o presente.


06

O Romantismo nasceu no Brasil poucos anos depois de nossa independência política, ocorrida no ano de 1822. Embora ainda
estivessem presentes características dos moldes literários europeus, já era possível identificar na literatura romântica o
F

sentimento de nacionalismo e anticolonialismo, que norteariam a construção de uma identidade literária genuinamente
CP

brasileira.

2. (A) II, III e V.

3. (C) egocentrismo, hipersensibilidade, melancolia, pessimismo, angústia e desespero.

4. (A) apego ao equilíbrio na forma de expressão; presença do nacionalismo, pela temática indianista e pela valorização da
natureza brasileira.

5. (B) coincidiu com o momento decisivo de definição da nacionalidade e colaborou para essa definição;

6. (C) aceitação da morte como a solução.

7. (C) a idealização da mulher

8. (C) egocentrismo – predomínio da poesia lírica – relativismo – insatisfação – idealismo

REALISMO – NATURALISMO - PARNASIANISMO

1. D

143
GABARITOS 144

2. C

3. C

SIMBOLISMO

1. b) Parnasianismo – cientificismo – espirituais

2. b) I e III são falsas; II, verdadeira.

3. e) Nessa Amplidão das Amplidões austeras

chora o Sonho profundo das Esferas

que nas azuis Melancolias morre…

er
4. e) misticismo, linguagem solene, valorização do inconsciente.

t
5. a) o predomínio da linguagem denotativa sobre a figurada, como tentativa de exprimir com mais clareza as ambiguidades da

in
alma.

eW
PRÉ-MODERNISMO
in
al
-L

(E) É pré-modernista, refletindo forte sentimento nacional e grande consciência crítica de problemas brasileiros
7
-1

(A) cultural, agrícola e político


1

(E) A expressão de aspectos até então negligenciados da realidade brasileira


84

(B) interpretação e polêmica voltadas para a problemática social.


9.

(C) procurava-se refletir as contradições de uma realidade em que várias correntes de pensamento se distinguiam e, ao mesmo
10

tempo, contemplavam-se.
7.

(B) Algumas correntes de vanguarda do início do século XX, como o Futurismo e o Cubismo, exerceram grande influência sobre
06

nossos escritores pré-modernistas, sobretudo na poesia.


F
CP

VANGUARDAS EUROPEIAS

1. E

Ao nos atermos aos pressupostos ideológicos que demarcaram a estética modernista, todas as proposições, exceto a letra
“E”, consideram-se como incoerentes, uma vez que um dos posicionamentos de Manuel Bandeira era de extrair poesia das
coisas mais banais da realidade, renegando assim o sentimentalismo exacerbado dos românticos (por isso, ele não retoma ao
movimento), bem como repudiando quaisquer traços formais em termos de estética, razão pela qual se pautava, sobretudo,
pelo uso do verso livre (por isso, não retomou ao movimento clássico).

Dessa forma, o porquê de a letra “E” ser considerada correta deve-se ao fato de que a nova proposta não era a de abominar
a poesia, tanto é que, como expresso anteriormente, a temática por ele explorada se originava das coisas corriqueiras da
vida.

2. Podemos considerar que a alternativa “D” efetivamente se aplica aos requisitos expressos pelo enunciado, visto que, segundo
a opinião de ambos os autores, as regras são aplicáveis e comuns a todos os usuários, sem dúvida, mas que, no entanto, o
próprio contexto, a própria circunstância é que determina o uso delas.

144
GABARITOS 145

3. Tem-se que de forma magnífica, Oswald de Andrade, considerado o poeta irreverente por excelência, ao criticar a sintaxe
exacerbada, predominantemente dominante em estéticas passadistas, como é o caso do Parnasianismo, cria, ele próprio, um
novo verbo: o verbo crackar, conjugando-o em todas as pessoas gramaticais, só que de forma contundentemente crítica,
ainda que expresso pelas entrelinhas do poema. Dessa forma, apoia-se num dos marcantes fatos históricos – a quebra da
Bolsa de valores de Nova Iorque. Ao trabalhar as pessoais gramaticais, sobretudo no que se refere à primeira e à segunda
(eu empo breço/tu enriqueces), o autor, de forma magistral, alude ao fato de que os investidores, atraídos pela valorização
das ações, arriscavam todo o capital de que dispunham em prol de um negócio “aparentemente” atraente.

Ainda trabalhando a mesma temática, notamos que por meio de um instinto bastante crítico aos traços ideológicos de outros
estilos de época, Oswald de Andrade incorpora em sua criação o uso de uma linguagem voltada para o prosaico, para o
vulgar, como é o caso dos vocábulos “escafedem”, ”sarado”, “azula”.

4. Identificarmos a postura a que se propôs Mário de Andrade ao escrever o poema em questão não se torna algo assim tão
dispendioso, a começar pelo jogo que ele faz com a linguagem, apropriando-se das palavras Ódio e Ode. De forma bem
paronomástica (relacionada à paronomásia – figura de linguagem), ele explora de forma antitética (antítese) as marcas
semânticas presentes em exaltar (ode) e abominar (ódio). Dessa forma, constatamos que por meio de uma nítida ironia, ele

er
insulta, do começo ao fim, a classe burguesa, haja vista que o poeta possuía ideias socializantes, mas que, no entanto, via

t
na classe “dominante” uma barreira, pois em virtude do poderio econômico representava uma espécie de barreira às classes

in
menos favorecidas.

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VANGUARDAS EUROPEIAS E MODERNISMO BRASILEIRO
in
al
-L

1. Vanguarda é aquilo que vai à frente, que não toma modelos como parâmetros. São os inovadores, os arrojados.
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-1

2. supressão do sentimentalismo piegas recorte e colagens abolição da cópia na arte


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3. Mesmo tomando como referência modelos europeus, os artistas brasileiros assim o fizeram devido à proposta de inovação do
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movimento. A partir disto, houve uma espécie de adaptação à realidade brasileira. O professor Bira fala de “hipocrisia da
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época” no sentido de concordar com o fato de se não se queria um modelo, por que se buscou um. Sua explicação está no
fato da proposta de ser pela inovação e busca de nenhuma referência com o passado.
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4. O rompimento com os modelos clássicos. Sem uma pontuação convencional, o poema não apresenta vírgulas nem pontos. O
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poema tem versos livres. A linguagem é ágil e as imagens são como “recortes” que se juntam em uma ideia de descrever a
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burguesia paulistana das corridas de cavalo.

5. - redescoberta de um Brasil sofrido e ignorado pelos poderes dominantes;


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CP

- reinterpretação do estado social da miséria brasileira (tentativa de explicar os motivos que nos faziam ser como éramos no
que diz respeito à pobreza e o descaso dos governantes)

(As problemáticas do Brasil pela primeira vez de forma “nua e crua”)

6. Uma grande inovação do período foi a retratação das problemáticas nacionais através da descrição dos conflitos sociais
existentes no país. Denúncia, protesto, crítica e registra os problemas (literatura engajada)

7. 1922 são 100 anos depois da independência do Brasil. Em 1822 o país se libertou do governo imperial português. Um “grito”
de independência política que se repetiu 100 anos depois com outro grito de independência, desta vez, na expressão das
artes.

8. desintegração do passado; atualização intelectual; pesquisa; criação estética; consciência criadora nacional

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