Você está na página 1de 129

Secretaria da Educação do Estado do Ceará

SEDUC-CE
Professor Nível A - Arte-Educação

Edital Nº 030/2018 – SEDUC/SEPLAG, de 19 de Julho de 2018


JL089-2018
DADOS DA OBRA

Título da obra: Secretaria da Educação do Estado do Ceará - SEDUC - CE

Cargo: Professor Nível A - Especialidade: Arte-Educação

(Baseado no Edital Nº 030/2018 – SEDUC/SEPLAG, de 19 de Julho de 2018)

• Conhecimentos Específicos

Autora
Silvana Guimarães

Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza

Diagramação/ Editoração Eletrônica


Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Ana Luiza Cesário
Thais Regis

Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira
Julia Antoneli
Leandro Filho

Capa
Joel Ferreira dos Santos
SUMÁRIO

Conhecimentos Específicos

1 A arte na Educação para todos – LDB/PCN/RCB. ................................................................................................................................... 01


2 Fundamentos e tendências pedagógicas do ensino de Arte no Brasil. ......................................................................................... 08
3 A arte e o processo de construção da cidadania. ................................................................................................................................... 14
4 As diversas linguagens artísticas: Estética - conceitos e contextos. ................................................................................................ 19
5 Aspectos da cultura popular brasileira e as manifestações populares: formação histórica, multiculturalismo. ............ 27
6 A arte da pré-história brasileira e cearense. .............................................................................................................................................. 37
6.1 Arte Indígena. ............................................................................................................................................................................................... 37
6.2 Arte Africana. ................................................................................................................................................................................................ 37
7 As artes visuais no Brasil e no Ceará: do barroco colonial brasileiro aos dias atuais. .............................................................. 43
8 As artes audiovisuais: TV, cinema, fotografia, multimídia – novos recursos/novas linguagens. ........................................... 52
9 A música no Brasil e a contribuição cearense, partindo do período colonial aos nossos dias. ............................................ 54
10 O teatro no Brasil e no Ceará: história e movimentos. ....................................................................................................................... 65
11 A dança no Brasil e no Ceará: dramática e folclórica, popular e erudita. .................................................................................... 72
12 Principais movimentos artísticos do século XX no Brasil. ................................................................................................................. 82
13 Lei nº 11.769/2009 – Ensino e aprendizagem da Música na Escola. ............................................................................................. 89
14 Competências e habilidades propostas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio para a Disciplina
de Arte........................................................................................................................................................................................................................114
APRESENTAÇÃO

PARABÉNS! ESTE É O PASSAPORTE PARA SUA APROVAÇÃO.

A Nova Concursos tem um único propósito: mudar a vida das pessoas.


Vamos ajudar você a alcançar o tão desejado cargo público.
Nossos livros são elaborados por professores que atuam na área de Concursos Públicos. Assim a
matéria é organizada de forma que otimize o tempo do candidato. Afinal corremos contra o tempo,
por isso a preparação é muito importante.
Aproveitando, convidamos você para conhecer nossa linha de produtos “Cursos online”, conteúdos
preparatórios e por edital, ministrados pelos melhores professores do mercado.
Estar à frente é nosso objetivo, sempre.
Contamos com índice de aprovação de 87%*.
O que nos motiva é a busca da excelência. Aumentar este índice é nossa meta.
Acesse www.novaconcursos.com.br e conheça todos os nossos produtos.
Oferecemos uma solução completa com foco na sua aprovação, como: apostilas, livros, cursos on-
line, questões comentadas e treinamentos com simulados online.
Desejamos-lhe muito sucesso nesta nova etapa da sua vida!
Obrigado e bons estudos!

*Índice de aprovação baseado em ferramentas internas de medição.

CURSO ONLINE

PASSO 1
Acesse:
www.novaconcursos.com.br/passaporte

PASSO 2
Digite o código do produto no campo indicado no
site.
O código encontra-se no verso da capa da apostila.
*Utilize sempre os 8 primeiros dígitos.
Ex: FV054-18

PASSO 3
Pronto!
Você já pode acessar os conteúdos online.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
1 A arte na Educação para todos – LDB/PCN/RCB. ................................................................................................................................... 01
2 Fundamentos e tendências pedagógicas do ensino de Arte no Brasil. ......................................................................................... 08
3 A arte e o processo de construção da cidadania. ................................................................................................................................... 14
4 As diversas linguagens artísticas: Estética - conceitos e contextos. ................................................................................................ 19
5 Aspectos da cultura popular brasileira e as manifestações populares: formação histórica, multiculturalismo. ............ 27
6 A arte da pré-história brasileira e cearense. ............................................................................................................................................. 37
6.1 Arte Indígena. ............................................................................................................................................................................................... 37
6.2 Arte Africana. ................................................................................................................................................................................................ 37
7 As artes visuais no Brasil e no Ceará: do barroco colonial brasileiro aos dias atuais. .............................................................. 43
8 As artes audiovisuais: TV, cinema, fotografia, multimídia – novos recursos/novas linguagens. .......................................... 52
9 A música no Brasil e a contribuição cearense, partindo do período colonial aos nossos dias. ............................................ 54
10 O teatro no Brasil e no Ceará: história e movimentos. ....................................................................................................................... 65
11 A dança no Brasil e no Ceará: dramática e folclórica, popular e erudita. .................................................................................... 72
12 Principais movimentos artísticos do século XX no Brasil. ................................................................................................................. 82
13 Lei nº 11.769/2009 – Ensino e aprendizagem da Música na Escola. ............................................................................................. 89
14 Competências e habilidades propostas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio para a Disciplina
de Arte........................................................................................................................................................................................................................114
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
de forma permanente um espaço reservado para as crian-
1. A ARTE NA EDUCAÇÃO PARA TODOS – ças provido de material visual, ferramentas de interativida-
LDB/PCN/RCB de, oficinas de pintura, artesanato, música, etc. A arte tem
sido, tradicionalmente, uma parte importante nos progra-
mas da primeira infância.
A arte na educação foi considerada, em passado re-
cente, como atividade de lazer e recreação na escola. Um Friedrich Froebel, o pai do jardim de infância, foi o
bom exemplo que ilustra essa concepção merece ser lem- primeiro educador a enfatizar o brinquedo e a atividade
brado. Em 1972, quando Ana Mae Tavares Bastos Barbosa, lúdica. Ele disseminou o conceito de que as crianças de-
considerada a grande pioneira da arte-educação, solicitou veriam criar as próprias expressões artísticas e apreciar a
à Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de arte criada por outros. No Distrito Federal existe um campo
Ensino Superior) uma bolsa para a realização de seu mes- fértil para experiências pedagógicas que poderiam estimu-
trado no exterior e teve sua solicitação negada. A resposta lar os benéficos estímulos das artes no desenvolvimento
foi negativa, pelo não reconhecimento da arte-educação das crianças. A parceria virtuosa que está se estabelecendo
como área de pesquisa. entre a Secretaria da Criança do GDF (Governo do Distrito
Felizmente, os conceitos mudaram e hoje a pioneira é Federal) e o Instituto de Artes da Universidade de Brasília
bolsista de produtividade em pesquisa, nível 1A, do Conse- (IDA/UnB) certamente será um instrumento importante no
lho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico desenvolvimento integral de nossas crianças, que perpas-
(CNPq). As ideias e pensamentos de Ana Barbosa foram sam também pelo seu desenvolvimento cultural. É preciso
fundamentais para a conceituação e importância das artes apreciar, entender e estimular a criatividade das crianças,
na educação. Em 1991, ela dizia: “Como a matemática, a ilustrada pela célebre frase de Pablo Picasso: “Precisei de
história e as ciências, a arte tem domínio, uma linguagem toda uma existência para aprender a desenhar como as
e uma história. Se constitui num campo de estudos espe- crianças”.1
cíficos e não apenas em meia atividade. A arte-educação é
epistemologia da arte e, portanto, é a investigação dos mo- A arte e a legislação atual
dos como se aprende arte na educação infantil, no ensino
fundamental e médio e no ensino superior. Talvez seja ne- O ensino de Artes é componente curricular obrigatório
cessário para vencer o preconceito sacrificarmos a própria desde a Educação Infantil até o Ensino Médio e seu en-
expressão arte-educação que serviu para identificar uma sino esta garantido na Lei 9.394, de 20 de dezembro de
posição e vanguarda do ensino da arte contra o oficialismo 1996, determinando no artigo 26, § 2º: “O ensino da arte
da educação artística dos anos 1970 e 1980. Eliminemos a constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos
designação arte-educação e passemos a falar diretamente níveis da educação básica, de forma a promover o desen-
de ensino da arte e aprendizagem da arte sem eufemismos, volvimento cultural dos alunos”.
ensino que tem de ser conceitualmente revisto na escola No artigo 26-A, a Lei torna obrigatório no ensino
fundamental, nas universidades, nas escolas profissionali- fundamental e médio o ensino sobre História e Cultura
zantes, nos museus, nos centros culturais e a ser previsto Afro-Brasileira (Incluído pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003) e
nos projetos de politécnica que se anunciam”. será obrigatório em todo o currículo incluindo em especial
a disciplina de Artes.
A arte é um importante trabalho educativo, pois pro- No artigo 36, em relação ao ensino médio é destaca-
cura, através das tendências individuais, amadurecer a for- da a compreensão das artes, o processo histórico da for-
mação do gosto, estimular a inteligência e contribuir para mação da sociedade e da cultura.
a formação da personalidade do indivíduo, sem ter como Em 2008, foi publicada uma nova ementa sobre o
preocupação única e mais importante a formação de artis- ensino de Música no currículo escolar, decretada e sancio-
tas. No seu trabalho criador, o indivíduo utiliza e aperfeiçoa nada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
processos que desenvolvem a percepção, a imaginação, O artigo 26 passa então a vigorar acrescido do § 6º,
a observação e o raciocínio. No processo de criação, ele que regulamenta a música como conteúdo obrigatório,
pesquisa a própria emoção, liberta-se da tensão, ajusta-se, mas não exclusivo, do componente curricular.
organiza pensamentos, sentimentos, sensações e forma A referida alteração entrou em vigor na data de sua pu-
hábitos de trabalho. blicação, e exigiu que os sistemas de ensino se adaptassem
no período de três anos letivos.
Sendo a escola o primeiro espaço formal onde se dá A LDB promoveu avanços no sentido do reconheci-
o desenvolvimento de cidadãos, nada melhor que por aí mento e obrigatoriedade do ensino de Artes nas escolas,
se dê o contato sistematizado com o universo artístico e no entanto, há flexibilidade no sentido de não exigir que
suas diferentes linguagens: arte cênica, cinema, desenho, sejam trabalhadas todas as modalidades artísticas, o que
escultura, pintura, literatura, teatro, dança, música, etc. No de fato acontece, tendo o educando, na maioria das vezes,
entanto, a contemplação e a criatividade nas artes devem acesso a uma somente.
transcender o ambiente escolar. Além da expansão dos es- 1 Fonte: www.abc.org.br – Adaptado de Isaac Roitman
paços culturais é importante que, em cada um deles, haja

1
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Altasi (2009) comenta sobre as alterações que ocorre- Mas, afinal, será que todos tem a mesma concepção
ram na Legislação, mencionando o quanto é perceptível a sobre a Arte?
atenção que foi dada a essa área com a publicação e san- Zagonel (2008) diz que a tarefa de tentar definir a arte
ção de Decretos, Ementas e Leis, e ainda ressalta a necessi- gera discussões intermináveis, motivo este de não haver
dade da reflexão sobre o que é o ensino de música, o que é uma definição abrangente ou precisa o suficiente. Tal pa-
o ensino das artes plásticas, do teatro e da dança na Educa- lavra costuma ser usada com diferentes significados: a arte
ção Básica e como desenvolver essas linguagens artísticas. de executar bem alguma tarefa, a arte de preparar algo ou
Para auxiliar o professor na efetivação do ensino de Ar- de dominar alguma técnica, ou pode ser usada corriqueira-
tes nas escolas, conforme as exigências da Lei, há uma sis- mente e popularmente para definir quando a criança está
tematização metodológica fundamentada no Referencial inventando algo diferente: “Essa criança esta fazendo arte”.
Curricular para a Educação Infantil e nos Parâmetros Cur- Segundo a autora, a arte é estruturada a partir de có-
riculares Nacionais que compõem a Área de Linguagens, digos particulares e sua compreensão vem do hábito das
Códigos, e suas tecnologias. pessoas em apreciá-la e dos conhecimentos adquiridos so-
Nesses documentos, o ensino da Arte é tratado como co- bre ela, e as pessoas não familiarizadas com a arte têm uma
nhecimento histórico e cultural, constituindo-se de diversas propensão à cegueira ou à surdez estética.
linguagens, como: as Artes Visuais (linguagem que tem a No contexto escolar, a Arte é definida como uma forma
imagem fixa ou em movimento como objeto); o Teatro (cujo de promover o desenvolvimento cultural dos alunos.
objeto é a ação dramática); a Música (constituída da com- É certo que todo cidadão culturalmente produz ou
posição sonora – articulação entre som e silêncio) e a Dança convive com manifestações artísticas inseridas em seu
(com o gesto e o movimento corporal como objetos). (ACER- meio, e, no entanto nem sempre tais obras são apreciadas,
VOS COMPLEMENTARES: AS ÁREAS DO CONHECIMENTO valorizadas ou caracterizadas como arte, mesmo fazendo
NOS DOIS PRIMEIROS ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL, parte de sua identidade. Tal insegurança e a falta de expe-
2009, p.48). riência teórico-prática refletem na postura dos mesmos, o
Os Parâmetros Currículares Nacionais de Arte são que acarreta em aulas que não ultrapassam os cadernos, e
meios de consulta que podem nortear o trabalho do pro-
pouco motivadoras.
fessor, servindo como um suporte para a reflexão, que
Vygotsky explicitava sobre o assunto, conforme men-
pode possibilitar mudanças qualitativas na ação do profes-
ciona Japiassu em artigo:
sor em sala de aula.
A representação cotidiana e habitual da criatividade não
Kehrwald (2008), analisa a constituição dos PCNs e os
enquadra suficientemente o seu sentido científico. Quase
considera como um avanço na dimensão do ensino da dis-
ciplina, pois a partir do momento em que ele incorpora os sempre, a criatividade é concebida como propriedade priva-
três eixos norteadores, como produzir, apreciar e contex- da de uns poucos eleitos (gênios, talentosos, artistas, inven-
tualizar, o documento aponta perspectivas de trabalho e tores e cientistas). (VYGOTSKY apud JAPIASSU)
de compreensão da arte para além de atividades descola- A falta dessa leitura artística presente no cotidiano se
das do contexto dos estudantes e meramente tarefeiras. É deve principalmente à falta de um estímulo ou despertar
certo que todo cidadão culturalmente produz ou convive artístico.
com manifestações artísticas inseridas em seu meio, e, no Nesse aspecto, a função da escola é primordial, que
entanto nem sempre tais obras são apreciadas, valorizadas por meio do conhecimento, da análise, da apreciação e do
ou caracterizadas como arte, mesmo fazendo parte de sua fazer arte, promove essa alfabetização estética, que possi-
identidade. bilitará a leitura dos alunos a diferentes códigos culturais.
Esses três eixos norteadores fundamentam metodo- Ana Mae Barbosa (2003) menciona que é por meio da
logicamente tanto o Referencial Curricular Nacional para Arte que a pessoa desenvolve a percepção e a imaginação,
Educação Infantil quanto os Parâmetros Curriculares Na- aprende a realidade do meio ambiente, desenvolve a capa-
cionais e, atualmente, está sendo questionado o fato dessa cidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade
concepção considerada contemporânea já estar fazendo percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar
parte de documentos oficiais. a realidade, que foi analisada.
De acordo com os PCNs de Artes, a área de Arte tem
Refletindo sobre a arte uma função importante a cumprir. Ela situa o fazer artístico
Com a finalidade de garantir uma aula consistente e como fato e necessidade de humanizar o homem histórico,
prazerosa, além do conhecimento metodológico, é neces- brasileiro, que conhece suas características tanto particula-
sário sensibilidade por parte do educador sobre o que vem res, tal como se mostram na criação de uma arte brasileira,
a ser Arte e consciência sobre a importância do ensino no quanto universais, tal como se revelam no ponto de encon-
desenvolvimento pessoal e social do aluno. tro entre o fazer artístico dos alunos e o fazer dos artistas
Atualmente mudou-se a ideia de que a criatividade é de todos os tempos, que sempre inauguram formas de tor-
importante somente no campo da Arte, pois muitas vezes nar presente o inexplicável.
é no momento das aulas de Arte que o aluno terá a única Diante das diversas definições e conceitos existentes,
oportunidade de desenvolvê-la primeiramente. todas acordam basicamente que todo cidadão que de-
“Desenvolver o pensamento criativo passou a ser uma senvolve sua sensibilidade artística e estética lida melhor
meta prioritária na preparação para o futuro, visto que os com suas emoções e expressões, é autoconfiante e cada
conhecimentos adquiridos hoje podem não valer nada vez mais preparado para fazer parte de uma sociedade que
amanhã.” (CUNHA, 2010, p.91) necessita de pessoas críticas, inovadoras e criativas.

2
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Professor: o ensinar x aprender arte
Atualmente, muitos professores sentem-se inseguros ao planejar suas aulas de Artes, dentre os motivos estão: resquícios de
uma formação escolar tradicionalista; as lacunas no aprendizado de Artes durante o curso de graduação e a falta de especialização.
Tal insegurança e a falta de experiência teórico-prática refletem na postura dos mesmos, o que acarreta em aulas que
não ultrapassam os cadernos, e pouco motivadoras.
O professor que atua de maneira tradicional acredita que a cópia e a repetição são as únicas formas de fixar um modelo
estabelecido e acaba se limitando a avaliar se o aluno atingiu o máximo possível do modelo original.
Alguns se acostumaram com um meio mais fácil de lecionar, fazendo uso de materiais pedagógicos compostos por
desenhos e atividades prontas, prática comum nas formações em magistério até há pouco tempo atrás.
Encarar um modo diferente do aprendido para trabalhar gera um pouco de insegurança, principalmente por exigir um
pouco mais de reflexão do professor sobre a prática pedagógica.
A falta de definições para trabalhar as diferentes modalidades artísticas também está presente na queixa de muitos profissio-
nais da área, que acabam explorando mais o campo das artes visuais e deixando de lado as modalidades: teatro, música e dança.
Nesse contexto, o teatro, a música e a dança, muitas vezes acabam sendo trabalhados de forma repetida e exaustiva
com o único objetivo da criança se apresentar em datas festivas.
Sobre o assunto Lins (2009) conclui que:
Hoje é grande a preocupação dos professores de Arte em fazer a integração das quatro áreas artísticas. De modo que, não se
deve colocar os conteúdos no currículo de forma isolada e esperar que o aluno possa integrá-los na sua cabeça. Há grandes dificul-
dades em estabelecer uma relação mais aprofundada entre as linguagens artísticas, mas mesmo assim, o professor pode compreen-
der os elementos básicos de cada área da Arte e a partir de seu conhecimento e experiência, proporcionar aos alunos o contato com
outras linguagens, que não a de sua formação. Os alunos em suas vidas entram em contato com estas artes e tem suas preferências.
Além dessa problemática, há também a visão equivocada de irrelevância do referido ensino dentre as demais discipli-
nas que compõem o currículo escolar, disciplina esta não exigida em vestibulares e processos seletivos.
Os PCNs orientam para que a Arte faça parte de todas as disciplinas, reconhecendo sua importância como qualquer outra
matéria, pois ela traz grandes benefícios aos alunos, por exemplo, a compreensão em outras áreas do conhecimento humano.
A solução para a problemática dos professores de Artes está no próprio profissional e sua postura. Primeiramente, ele
deve romper a falsa ideia de que sua formação acaba quando termina a faculdade.
A formação do educador ocorre em suas experiências diárias e por meio de incessantes pesquisas, refletindo, cons-
truindo e reconstruindo sua prática, buscando suporte pedagógico necessário para sua atuação profissional.
No contexto da educação escolar, a disciplina Arte compõe o currículo compartilhado com as demais disciplinas num
projeto de envolvimento individual e coletivo. O professor de Arte, junto com os demais docentes e através de um trabalho
formativo e informativo, tem a possibilidade de contribuir para a preparação de indivíduos que percebam melhor omundo
em que vivem, saibam compreendê-lo e nele possam atuar. (FERRAZ, 2001, p.24)
Os PCNs de Arte não dão fórmulas prontas, mas fornecem subsídios importantes em suas orientações didáticas. Cabe
ao professor desenvolver reflexão pedagógica específica para o ensino das diferentes modalidades artísticas.
Essa busca de aperfeiçoamento é essencial para garantir o direito dos alunos de experimentar tais modalidades de
forma coerente e democrática.
Atualmente, a internet é uma ótima ferramenta para troca de informações e experiências entre educadores e para que
professores e alunos superem a falta de acesso a obras artísticas.
Um bom exemplo de recurso tecnológico é o “Google Art Project” que disponibiliza o acesso às obras de arte e museus
mais visitados do mundo em que tanto os alunos podem utilizar o site e ter a sensação de andar pelos corredores de um
museu apreciando com detalhes e alta qualidade de zoom obras renomadas, quanto os professores podem aprofundar
seus conhecimentos artísticos, pois nesse site há vídeos explicativos que contam o significado e a história de cada peça.

Figura 1: Google art´s

3
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
O referido site serve apenas como um exemplo, pois Pensando dessa maneira, se faltar recursos materiais,
existem diversos outros meios que servem de suporte me- o educador irá pesquisar alternativas de promover a arte
todológico para explorar a arte, mas para isso o professor com reciclagem ou outros materiais diferentes, e caso faltar
deve buscar sempre pesquisar e manter-se atualizado. espaço físico dentro da escola, é possível explorar locais
De acordo com os PCNs Artes (1997 p.72), a prática de alternativos no entorno da escola ou promover visitas a es-
aula é resultante da combinação de papéis que o professor paços disponíveis, como uma brinquedoteca, por exemplo.
pode desempenhar antes, durante e depois de cada aula:
Antes da aula, o professor desempenha os papéis de: pes- A visão de um todo e não particionado sobre a Arte
quisador de fontes de informação, materiais e técnicas; apre- no contexto escolar, perpassando todas as disciplinas e o
ciador de arte, escolhendo artistas a serem estudados; criador compartilhamento de ideias entre os demais professores
na preparação e na organização da aula e seu espaço; estu- devem fazer parte da rotina do fazer pedagógico.
dioso da arte, desenvolvendo seu conhecimento artístico; e Assim, para romper essa concepção e fazer a diferença, é
um profissional que trabalha junto com a equipe escolar. primordial que haja motivação e inovação por parte do edu-
Durante a aula: incentivador da produção individual ou cador, e que se estabeleça uma relação de entrega e respon-
grupal; estimulador de um olhar crítico; propiciador de um sabilidade ao campo estudado com comprometimento em
clima que tenha curiosidade, constante desafio perceptivo; relação à Educação. É necessário que esse profissional tenha
qualidade lúdica e alegria; inventor de formas de aprecia- a consciência da sua responsabilidade social e da transforma-
ção da arte; acolhedor de materiais, ideias e sugestões tra- ção que suas aulas poderão fazer na vida de cada educando.
zidos pelo aluno; formulador de destino para os trabalhos Acredito positivamente que a Arte está cada vez mais
dos alunos; descobridor de propostas de trabalho para de- extrapolando a disciplina em si e também o ambiente es-
senvolver o processo de criação, reflexão e apreciação de colar e isso se deve ao fato de existir boas referências so-
obras de arte; reconhecedor do ritmo pessoal dos alunos; e bre o ensino contemporaneamente. Aos poucos, as novas
analisar os trabalhos junto com os alunos. concepções sobre a Arte estão demostrando que a arte vai
E depois da aula ele assume os respectivos papéis: arti- além de ser apenas leitura e representação, e compete a
culador das aulas, uma em relação com as outras; avaliador nós educadores buscarmos isso.
de cada aula particular; e imaginador do que está por acon- “Sem a curiosidade que me move, que me inquieta,
tecer na continuidade do trabalho com base no conjunto que me insere na busca, não aprendo nem ensino”. ( FREI-
de dados adquiridos na experiência das aulas anteriores. RE, 1996, p.52 )2
A motivação do educador é o eixo norteador para su-
perar os desafios deste ensino, é a motivação e o compro- LEI Nº 13.278, DE 2 DE MAIO DE 2016.
misso com a educação que servirão de alicerce para que
este profissional desempenhe significativamente tantos Altera o § 6o do art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de de-
papéis em sua atuação, assim, ele poderá romper os mitos zembro de 1996, que fixa as diretrizes e bases da educação
que cercam o ensino de Artes. nacional, referente ao ensino da arte.
Segundo reportagem de Santomauro á revista Nova
Escola, existem três mitos pedagógicos no ensino de Arte. A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faç
O primeiro mito é sobre “reprodução e releitura”. De o saber que o Congresso Nacional decreta e eu sancio-
acordo com a autora, mostrar uma obra de arte, discutir no a seguinte Lei:
suas características e pedir ao aluno que faça o mesmo De Art. 1o  O § 6o do art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de de-
acordo com a autora, qualidade não é quantidade, pois zembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação:
um trabalho que garanta uma aprendizagem significativa “Art. 26.  ………………………………………………………..
para os alunos não depende da riqueza de material, mas …………………………………………………………………………
do conteúdo, estratégia e propostas que ofereçam oportu- • 6oAs artes visuais, a dança, a música e o teatro são
nidades de participação. as linguagens que constituirão o componente curricular de
desenho no caderno não é propor releitura, e sim re- que trata o § 2odeste artigo.
produção ou cópia. Na releitura o aluno, partindo de uma …………………………………………………………………….” (NR)
obra, cria uma nova, transformando e interpretando. Art. 2o  O prazo para que os sistemas de ensino im-
O segundo mito que ronda o ensino de Arte é o descri- plantem as mudanças decorrentes desta Lei, incluída a ne-
to: “Sem material, não dá”. De acordo com a autora, quali- cessária e adequada formação dos respectivos professores
dade não é quantidade, pois um trabalho que garanta uma em número suficiente para atuar na educação básica, é de
aprendizagem significativa para os alunos não depende da cinco anos.
riqueza de material, mas do conteúdo, estratégia e propos- Art. 3o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
tas que ofereçam oportunidades de participação. Brasília, 2 de maio de 2016; 195o da Independência e
O último mito é que “a Arte estimula a criatividade”. Na 128o da República.
verdade, a arte desenvolve a criatividade e outras habilida- DILMA ROUSSEFF
des, se os conteúdos são aprendidos. Aloizio Mercadante
O educador deve encarar as aulas de Arte como um João Luiz Silva Ferreira
desafio e não como um problema, ele deve romper mitos e 2 Fonte: www.fals.com.br – Adaptado de Júlia Maria de
paradigmas, assim podendo superar os obstáculos prove- Jesus Cunha
nientes do ensino.

4
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Os Parâmetros Curriculares Nacionais e o ensino de Arte análise e a apreciação da arte podem contribuir tanto para
o processo pessoal de criação dos alunos como também
Desde sua publicação e distribuição às escolas, os Pa- para sua experiência estética e conhecimento do signifi-
râmetros Curriculares Nacionais, constituem um referen- cado que ela desempenha nas culturas humanas.” (BRA-
cial de qualidade para a educação para o ensino básico SIL, 1997, p.49). Essa articulação dos conteúdos dentro do
em todo Brasil. Segundo o PCN (BRASIL, 1997, p. 13), sua processo de ensino e aprendizagem vem efetivar os eixos
função é orientar e garantir a coerência dos investimentos que norteiam esse processo com o tripé produzir, apre-
no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas ciar e contextualizar, de suma importância na compreensão
e recomendações, subsidiando a participação de técnicos das atividades, movendo o aluno no desenvolvimento do
e professores brasileiros, principalmente daqueles que se pensamento individual e coletivo. “Isso traz consciência do
encontram mais isolados, com menor contato com a pro- desenvolvimento de seu papel de estudante em arte e do
dução pedagógica atual. valor e continuidade permanente dessas atitudes ao longo
Até dezembro de 1996 o ensino fundamental esteve de sua vida.” (BRASIL, 1997, p.50).
estruturado nos termos previstos pela Lei Federal n. 5.692, A partir dessa estrutura as escolas têm a liberdade de
de 11 de agosto de 1971. Segundo (BRASIL, 1997, p. 13): elaborar seus próprios currículos, desde que articulados
Essa lei, ao definir as diretrizes e bases da educação com conteúdos da área, de outras áreas e dos Temas Trans-
nacional, estabeleceu como objetivo geral, tanto para o en- versais, segundo as diretrizes preestabelecidas, atentando
sino fundamental (primeiro grau, com oito anos de escola- para o seu próprio contexto educacional.
ridade obrigatória) quanto para o ensino médio (segundo “Os três eixos estão articulados na prática, ao mesmo
grau, não obrigatório), proporcionar aos educandos a for- tempo que mantêm seus espaços próprios. Os conteúdos
mação necessária ao desenvolvimento de suas potenciali- poderão ser trabalhados em qualquer ordem, conforme
dades como elemento de autorrealização, preparação para decisão do professor, em conformidade com o desenho
o trabalho e para o exercício consciente da cidadania. curricular de sua equipe e segundo critérios de seleção e
Na proposta geral dos Parâmetros Curriculares Nacio- ordenação adequados a cada ciclo.” (BRASIL, 1997, p.49).
nais, Arte tem uma função tão importante quanto a dos
O ensino e aprendizagem de Arte não é mera propo-
outros conhecimentos no processo de ensino e aprendiza-
sição de atividades sem fundamentos, ao aluno bem como
gem. A área de Arte está relacionada com as demais áreas e
a instituição de ensino deve se fazer entender que a dis-
tem suas especificidades. (BRASIL 1977, p.19). Tal proposta
ciplina tem objetivos específicos e os conteúdos “sempre
é considerada uma vitoria diante das lutas em igualar no
se ligam a determinado espaço cultural, tempo histórico
mesmo patamar as disciplinas, contudo não esquecendo
e a condições particulares que envolvem aspectos sociais,
de trazer a tona os questionamentos quanto ao tempo e
espaço para aplicação da disciplina. ambientais, econômicos, culturais, etários.” (BRASIL, 1997,
p.49). O professor é o mediador entre as partes: instituição/
Os conteúdos do Ensino de Arte no Ensino fundamental aluno – disseminação do conhecimento.
Os três eixos norteadores produzir, apreciar e contex-
No Ensino Fundamental o aluno poderá desenvolver tualizar, são definidos nesta articulação individualizados,
sua competência estética e artística nas diversas modalida- porém interligados no contexto.
des da área de Arte (Artes Visuais, Dança, Música, Teatro), O produzir refere-se ao fazer artístico, o produzir. São
tanto para produzir trabalhos pessoais e grupais quanto as experiências que o aluno tem na prática nas atividades
para que possa, progressivamente, apreciar, desfrutar, va- propostas (como expressão, construção, representação),
lorizar e julgar os bens artísticos de distintos povos e cul- observando a temática a que está relacionada. É o processo
turas produzidos ao longo da história e na contempora- de criação que se realiza por intermédio de experimenta-
neidade. ções (técnicas, materiais, substratos) e também do uso das
  Tais modalidades visam organizar sistematicamente diversidades de linguagens artísticas.
os conteúdos de arte estabelecendo critérios, como intuito Apreciar é a percepção, decodificação, interpretação,
de promover a “formação artística e estética do aluno e a fruição de arte e do universo a ela relacionado. A ação
sua participação na sociedade” (BRASIL, 1997, p.49) de apreciar refere-se a analise da produção artística indi-
  Para a elaboração dos conteúdos é importante que vidual e do outro, interpretando segundo seus conheci-
considerar a diversidade de saberes adquiridos pelo alu- mentos preconcebidos, “a produção histórico-social em
no na informalidade, atentando para a contextualização do sua diversidade, a identificação de qualidades estéticas e
mesmo, bem como da comunidade da qual a escola faz significados artísticos no cotidiano, nas mídias, na indús-
parte e também introduzir os conteúdo “das diversas cul- tria cultural, nas práticas populares, no meio ambiente.”
turas e épocas a partir de critérios de seleção adequados (BRASIL, 1997, p.50)
à participação do estudante na sociedade como cidadão Contextualizar é situar o conhecimento do próprio tra-
informado.” (BRASIL, 1997, p.49) balho artístico, do outro e da arte no contexto social, his-
  O objetivo dos conteúdos é atender os níveis de tórico e cultural.
aprendizagens do aluno no domínio do conhecimento A seleção dos conteúdos é baseada em critérios que
artístico e estético, ou no processo de criação, pelo fazer, visam despertar a curiosidade estimulando o conhecimento
seja no contato com obras de arte com outras manifesta- da própria cultura, e a descoberta da cultura do outro em
ções presentes nas culturas ou na natureza. “O estudo, a diferentes épocas. Segundo os PCN’s (BRASIL, 1997, p.51):

5
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
(...) acredita-se que para a seleção e a organização dos Os conteúdos são específicos por área e estão organi-
conteúdos gerais de Artes Visuais, Música, Teatro e Dança zados de maneira que possam ser trabalhados ao longo do
por ciclo é preciso considerar os seguintes critérios: ensino fundamental e seguem os critérios para seleção e
• conteúdos que favoreçam a compreensão da arte ordenação propostos nos PCN’s. Os conteúdos gerais têm
como cultura, do artista como ser social e dos alunos como por objetivo direcionar os conteúdos específicos por área
produtores e apreciadores; em cada serie. Aqui estão selecionados alguns dos conteú-
• conteúdos que valorizem as manifestações artísticas dos específicos por área, para que possa ser entendido a
de povos e culturas de diferentes épocas e locais, incluindo abrangência dos mesmos.
a contemporaneidade e a arte brasileira;
• conteúdos que possibilitem que os três eixos da Conteúdos de Artes Visuais
aprendizagem possam ser realizados com grau crescente Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, as dire-
de elaboração e aprofundamento. trizes para os conteúdos de arte são estabelecidos quanto
 Assim, de forma abrangente os conteúdos gerais do à produção, à apreciação e contextualização.
ensino de Arte segundo os PCN’s, (BRASIL, 1997, p.52) são: Quanto à produção:
• a arte como expressão e comunicação dos indivíduos; • A produção artística visual por meio do desenho, pin-
• elementos básicos das linguagens artísticas, modos tura, colagem, gravura, construção, escultura, instalação,
de articulação formal, técnicas, materiais e procedimentos fotografia, cinema, vídeo, meios eletroeletrônicos, design,
na criação em arte; artes gráficas e outros.
• produtores de arte: vidas, épocas e produtos em • Observação, análise, utilização dos elementos da lin-
conexões; guagem visual e suas articulações nas imagens produzidas.
• diversidade das formas de arte e concepções estéti- • Representação e comunicação das formas visuais,
cas da cultura regional, nacional e internacional: produções concretizando as próprias intenções e aprimorando o do-
e suas histórias; mínio dessas ações.
• a arte na sociedade, considerando os artistas, os pen- • Conhecimento e utilização dos materiais, suportes,
sadores da arte, outros profissionais, as produções e suas instrumentos, procedimentos e técnicas nos trabalhos pes-
soais, explorando e pesquisando suas qualidades expressi-
formas de documentação, preservação e divulgação em di-
vas e construtivas.
ferentes culturas e momentos históricos.
Quanto à apreciação:
  Além dos conteúdos específicos envolvendo a arte
• Percepção e análise de formas visuais presentes nos
em termos gerais as diretrizes atentam para a multiplici-
próprios trabalhos, nos dos colegas.
dade de informações visuais ao redor do aluno, instigan-
• Observação da presença e transformação dos ele-
do-o ao conhecimento, amplitude da visão e posiciona-
mentos básicos da linguagem visual, em suas articulações
mento critico, uma educação para “saber ver e perceber, nas imagens produzidas, apresentadas em diferentes cul-
distinguindo sentimentos, sensações, ideias e qualidades turas e épocas.
contidas nas formas e nos ambientes.” (BRASIL, 1997, p.64). • Identificação, observação e análise das diferentes téc-
Nos conteúdos também estão inclusos modalidades re- nicas e procedimentos artísticos.
sultantes do avanço tecnológico, visuais como: fotografia, • Percepção e análise de produções visuais (originais e
moda, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação, reproduções) e conhecimento sobre diversas concepções
performance, holografia, desenho industrial, arte em com- estéticas presentes nas culturas.
putador. O objetivo é contextualizar o aluno facilitando a Quanto à como produção cultural e histórica
comunicação e a expressão, integrando-o socialmente. “No • Observação, pesquisa e conhecimento de diferentes
mundo contemporâneo as linguagens visuais ampliam-se, obras de artes visuais, produtores e movimentos artísticos
fazendo novas combinações e criam novas modalidades. de diversas culturas e em diferentes tempos da história.
A multimídia, a performance, o videoclipe e o museu vir- • Compreensão sobre o valor das artes visuais na vida
tual são alguns exemplos em que a imagem integra-se ao dos indivíduos e suas possíveis articulações com a ética
texto, som e espaço.” (BRASIL, 1997, p.64). A proposta edu- que permeia as relações de trabalho na sociedade contem-
cacional visa a transformação das informações, dos conhe- porânea.
cimentos impulsionando o desenvolvimento do aluno. “(...) • Reflexão sobre a ação social que os produtores de
a meta desse ensino é desenvolver nos jovens a disposição arte concretizam em diferentes épocas e culturas, situando
de apreciar a excelência nas artes em função da experiên- conexões entre vida, obra e contexto.
cia maior que a arte é capaz de proporcionar” (BARBOSA, • Conhecimento e investigação sobre a arte do entorno
2008, p. 99). próximo e distante a partir das obras, fontes vivas, textos e
  No contexto educacional é de suma importância con- outras formas de registro.
siderar a relação empiria e o aprender, considerar que as
experiências do cotidiano do aluno podem facilitar o apren- Conteúdos de Dança
dizado e que esse universo cultural pode ser trazido para As articulações do corpo humano simplesmente pela
dentro da sala de aula contribuindo para a formação do necessidade de movimentar-se, o movimento faz parte do
mesmo como cidadão participativo. “A escola deve incor- corpo. O movimento é a expressão do corpo. O corpo fala
porar o universo jovem, trabalhando seus valores estéticos, através da dança. Há movimentos inatos e natos e conse-
escolhas artísticas e padrões visuais.” (BRASIL, 1997, p.64) quentemente objetivos nos movimentos apreendidos. “Se

6
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
por um lado a música estimula os movimentos, a dança, • Aperfeiçoamento e compreensão dos elementos do
por outro, pode também restringi-los, pois a sociedade já movimento: partes do corpo, dinâmicas do movimento,
tem modelos de danças que se “encaixam” a certos estilos uso do espaço e das ações.
de música.” (BRASIL, 1997, p. 73). A dança no âmbito es- • Experimentação e diferenciação entre repertório, im-
colar não está restrita somente as apresentações e festas provisação, composição coreográfica e apreciação, aten-
comemorativas, nem tampouco limitada a ritmos estereoti- tando para as diferentes sensações e percepções indivi-
pados. “(...) sempre se aprende, formal e/ou informalmente, duais e coletivas que ocorrem nos quatro processos.
como, por que e quando se movimentar e transformar esse • Experimentação, investigação e utilização de diferen-
movimento em dança.” (BRASIL, 1997, p. 70). E ainda: tes estímulos para improvisação e para composição co-
Propomos que o professor que trabalhe com a Dança reográfica (notícias de jornal, poesia, quadros, esculturas,
em localidades diferentes das pesquisadas sempre ouça histórias, elementos de movimento, sons e silêncio, objetos
atentamente o que seus alunos têm a dizer sobre seus cênicos).
corpos, sobre o que dançam e/ou gostariam de dançar; Quanto às dimensões histórico-sociais e culturais da
que observe atentamente as escolhas de movimento e dança e seus aspectos estéticos:
como eles são articulados em suas criações de dança, • Conhecimento dos dançarinos/coreógrafos e grupos
para que possa escolher conteúdos e procedimentos não de dança brasileiros e estrangeiros que contribuíram para
somente adequados, mas também problematizadores das a história da dança nacional, reconhecendo e contextuali-
realidades em que esses corpo/danças estão inseridos. zando épocas e regiões.
(idem, p.72) • Reflexão sobre os principais aspectos de escolha de
A dança tem contribuição importante para o desen- movimento, estímulos coreográficos, gênero e estilo dos
volvimento dos alunos, não se trata simplesmente de mo- coreógrafos estudados às danças que criam em sala de
vimento, o corpo não é mero instrumento da dança. “O aula, contextualizando as diferentes opções.
corpo é conhecimento, emoção, comunicação, expressão. • Análise, registro e documentação dos próprios traba-
Ou seja, o corpo somos nós e nós somos o nosso corpo. lhos de dança e dos utilizados por diferentes dançarinos e
Portanto, o corpo é a nossa dança e a dança é o nosso coreógrafos.
corpo.” (idem, p.72). O aluno é o inovador, se atentar para
Conteúdos de Música
a importância das inúmeras possibilidades de movimentos
No decorrer da historia tornam-se perceptíveis as
proporcionados pela dança, fator diferencial nas atividades
transformações nos estilos e gostos musicais. Na escola
de danças no contexto educacional.
como proporcionar aos alunos uma educação musical en-
Os objetivos gerais da Dança para o ensino fundamen-
volvendo-os no contexto atual, valendo-se das experiên-
tal esta interligada mais diretamente às experiências dos
cias trazidas do cotidiano individual? Segundo os PCN’s
movimentos corporais dos alunos que a vivência social, (BRASIL, 1997, p 79) essa relação pode ser realizada “Esta-
possibilitando ao aluno capacidade de construir uma rela- belecendo relações com grupos musicais da localidade e
ção de cooperação, aperfeiçoar a capacidade de discrimi- da região, procurando participar em eventos musicais da
nação verbal, visual e cinestésica, situar e compreender as cultura popular, shows, concertos, festivais, apresentações
relações entre corpo, dança e sociedade, buscando orga- musicais diversas, a escola pode oferecer possibilidades de
nizar, registrar e documentar informações sobre dança em desenvolvimento estético e musical por meio de aprecia-
contato com artistas, fontes documentais relacionando-os ções artísticas.” O conhecimento musical do professor é
a suas próprias experiências pessoais como criadores, in- essencial no processo ensino e aprendizagem.
térpretes e apreciadores de dança.    “A consciência estética de jovens e adultos é elabo-
Os conteúdos específicos da Dança estão agrupados rada no cotidiano, nas suas vivências, daí a necessidade de
em três aspectos principais utilizados observando as ne- propiciar, no contexto escolar, oportunidades de criação e
cessidades dos alunos e o contexto sociopolítico e cultural apreciação musicais significativas.” (BRASIL, 1997, p 80).
em que se encontram: dançar, apreciar e dançar e as di-   A escola ao proporcionar nos conteúdos de arte a
mensões sociopolíticas e culturais da dança. musica busca auxiliar o jovem a desenvolver capacidades,
Quanto a dançar: habilidades e competências em música envolvendo-o no
• Desenvolvimento das habilidades corporais adqui- aprender a sentir, expressar e pensar a realidade sonora ao
ridas nos ciclos anteriores, iniciando trabalho de memo- seu redor. Assim os conteúdos de música estão elencados
rização e reprodução de sequências de movimentos quer em três aspectos: expressão e comunicação em Música (im-
criadas pelos alunos, pelo professor quer pela tradição da provisação, composição e interpretação); apreciação signi-
dança. ficativa em Música (escuta, envolvimento e compreensão
• Relacionamento das habilidades corporais adquiridas da linguagem musical) e compreensão da Música como
com as necessidades contidas nos processos da dança tra- produto cultural e histórico.
balhados em sala de aula.   Quanto à Expressão e comunicação em Música: im-
• Reconhecimento das transformações ocorridas no provisação, composição e interpretação:
corpo quanto à forma, sensações, percepções, relacionan- • Improvisações, composições e interpretações utili-
do-as às danças que cria e interpreta e às emoções, com- zando um ou mais sistemas musicais, desenvolvendo a per-
portamentos, relacionamentos em grupo e em sociedade. cepção auditiva, a imaginação, a sensibilidade e memória
Quanto a apreciar e dançar: musicais e a dimensão estética e artística.

7
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
• Percepção e utilização dos elementos da linguagem operando com um modo coletivo de produção de arte. “Ao
musical (som, duração, timbre, textura, dinâmica, forma etc.). buscar soluções criativas e imaginativas na construção de
• Experimentação, improvisação e composição a partir cenas, os alunos afinam a percepção sobre eles mesmos e
de propostas da própria linguagem musical de propostas sobre situações do cotidiano.” (BRASIL, 1997, p 88). Os con-
referentes a paisagens sonoras de distintos espaços geo- teúdos do teatro estão agrupados em três aspectos: teatro
gráficos, épocas; de propostas relativas à percepção visual, como comunicação e produção coletiva, como apreciação
tátil; de propostas relativas a ideias e sentimentos próprios e como produto histórico-cultural.
e ao meio sociocultural, como as festas populares.   Quanto ao teatro como comunicação e produção coletiva:
• Audição, experimentação, escolha e exploração de • Participação em improvisações, buscando ocupar es-
sons de inúmeras procedências, vocais e/ou instrumentais, paços diversificados, considerando-se o trabalho de cria-
de timbres diversos, ruídos, produzidos por materiais e ção de papéis sociais e gêneros (masculino e feminino) e
equipamentos diversos, empregando-os de modo indivi- da ação dramática.
dual e/ou coletivo em criações e interpretações. • Reconhecimento e utilização das capacidades de ex-
• Construção de instrumentos musicais convencionais pressar e criar significados no plano sensório-corporal na
(dos mais simples) e não-convencionais a partir da pesqui- atividade teatral.
sa de diversos meios, materiais, e de conhecimentos ele- • Identificação e aprofundamento dos elementos es-
mentares de ciências físicas e biológicas aplicadas à música. senciais para a construção de uma cena teatral.
  Quanto à apreciação significativa em Música: escuta, • Exercício constante da observação do universo cir-
envolvimento e compreensão da linguagem musical: cundante, do mundo físico e da cultura.
• Manifestações pessoais de ideias e sentimentos su- • Experimentação, pesquisa e criação com os elemen-
geridos pela escuta musical, levando em conta o imaginá- tos e recursos da linguagem teatral.
rio em momentos de fruição.   Quanto ao Teatro como apreciação:
• Percepção, identificação, comparação, análise de mú- • Reconhecimento e identificação da interdependência
sicas e experiências musicais diversas, quanto aos elemen- dos diversos elementos que envolvem a produção de uma
tos da linguagem musical: estilo, forma, motivo, andamen- cena.
to, textura, timbre, dinâmica, em momentos de apreciação • Reconhecimento da relação teatral atuantes e público
musical, utilizando vocabulário musical adequado. (palcoplatéia) como base nas atividades dos jogos teatrais
• Audição, comparação, apreciação e discussão de e da organização das cenas.
obras que apresentam concepções estéticas musicais di- • Observação e análise da necessidade de reformula-
ferenciadas, em dois ou mais sistemas, tais como: modal, ção constante dos produtos das cenas em função do cará-
tonal, serial e outros, bem como as de procedimento alea- ter inacabado da cena teatral.
tório. • Exercício constante de observação e análise diante
• Apreciação de músicas do próprio meio sociocultu- das propostas e cenas de colegas, por meio de formula-
ral, nacionais e internacionais, que fazem parte do conhe- ções verbais e escritas.
cimento musical construído pela humanidade no decorrer Quanto ao Teatro como produto histórico-cultural:
dos tempos e nos diferentes espaços geográficos, estabe- • Compreensão do teatro como atividade que favorece
lecendo inter-relações com as outras modalidades artísti- a identificação com outras realidades socioculturais.
cas e com as demais áreas do conhecimento. • Compreensão e pesquisa dos diferentes momentos
  Quanto à compreensão da Música como produto cul- da história do teatro, dos autores de teatro (dramaturgos),
tural e histórico: dos estilos, dos encenadores, cenógrafos.
• Identificação da transformação dos sistemas musi- • Interação e reconhecimento da diversidade cultural
cais, ao longo da história e em diferentes grupos e etnias, e presentes no teatro de diferentes culturas.
sua relação com a história da humanidade. • Compreensão e distinção das diferentes formas de
• Conhecimento de algumas transformações pelas construção das narrativas e estilos: tragédia, drama, comé-
quais passaram as grafias musicais ao longo da história e dia, farsa, melodrama, circo, teatro épico. 3
respectivas modificações pelas quais passou a linguagem
musical.
• Identificação e caracterização de obras e estilos mu-
sicais de distintas culturas, relacionando-os com as épocas 2. FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS
em que foram compostas. PEDAGÓGICAS DO ENSINO DE ARTE NO
• Pesquisa, reflexões e discussões sobre a origem, BRASIL.
transformações e características de diferentes estilos da
música brasileira.
Observa-se que o ensino de arte, desde a década de
     Conteúdos de Teatro 1970, tomando de empréstimo uma expressão utilizada
O teatro busca, através das apresentações, dramatiza- por Azevedo (1997), vem se constituindo como uma “ques-
ções e construções de cenas, promover oportunidades para tão socialmente problematizada”; uma temática que tem
os alunos, vivenciando fatos, possam observar e confron- 3 Fonte: www.arcos.org.br – Texto adaptado de Franci-
tar diferentes culturas em diferentes momentos históricos, nely P Dinelly

8
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
sido tratada, até certo ponto, com abundância pela lite- citar os trabalhos de Räsänem (1998), Agirre (2000) e Eisner
ratura educacional brasileira, sob variados ângulos e cri- (2002). De forma geral, esses teóricos buscaram estabelecer
térios e que conta, inclusive, com um amplo movimento quais as concepções de ensino de arte estão presentes nas
de discussão e reflexão institucionalizada sobre o campo práticas pedagógicas na contemporaneidade. No entanto,
denominado “Arte/Educação”. o diagnóstico realizados por esses pesquisadores estão re-
Dessa forma, a Arte/Educação é epistemologia da arte. lacionados aos seus contextos sociais e históricos imedia-
É a ciência do ensino de arte (BARBOSA, 1998b, 2002b; RI- tos, neste caso, estamos nos referindo ao ensino de arte
ZZI, 2002; SAUNDERS, 2004). Nesse sentido, a Arte/Edu- desenvolvido respectivamente na Finlândia, Espanha e Esta-
cação tem se caracterizado como um campo amplo de dos Unidos da América. No entanto, como este fenômeno
conhecimento que, durante a sua trajetória histórica e só- tem se caracterizado na realidade educacional brasileira?
cio-epistemológica, vem agregando diferentes estudos, os Entendendo que todo e qualquer processo situa-se
quais são frutos de pesquisas científicas na área da arte e historicamente no contexto em que está inserido política e
seu ensino, pesquisas artísticas e da produção de conheci- culturalmente e que não são fenômenos que se constituí-
mento/saberes, através da prática de ensino experimental ram a priori, mas que vêm emergindo das diversas concep-
de arte, na educação escolar e não-escolar. ções de educação e sociedade presentes em determinada
Assim, a Arte/Educação, como campo de conhecimen- realidade, buscamos através desta pesquisa compreender
to empírico-conceitual, tornou-se aberto a diferentes en- quais as tendências e concepções de ensino de arte estão
foques e vêm agregando em seu corpus uma diversificada presentes na realidade educacional brasileira.
linha de atuação, estudo e pesquisa, tais, como: a formação Para tanto, foi realizada uma pesquisa exploratória na
do professor para o ensino de arte; a história do ensino de literatura brasileira especializada sobre Arte/Educação. Do
arte no Brasil; Dança/Educação; Educação Musical; o ensino levantamento realizado, apenas os estudos sobre a história
da arte na educação escolar; o ensino da arte na educação e os fundamentos da Arte/Educação foram selecionados
não-escolar; o ensino das artes visuais; o ensino inclusivo para fazer parte do rolde documentos que seriam analisa-
de arte; os fundamentos da Arte/Educação; os processos dos. Os estudos selecionados foram os de Azevedo (2000;
de aprendizagem da arte; Teatro/Educação; entre outros. 2003; 2005), os de Barbosa (1984; 1975; 1998a; 2002a;
2002b; 2002c; 2002d; 2005), o de Efland (2005), o do INEPE
Apesar dos diferentes olhares desse campo de conhe-
(1980), o de Jogodzinski (2005), os de Richter (2002; 2003),
cimento, o enfoque desta pesquisa está relacionado ao
o de Rizzi (2002) e o de Varela (1986).
campo do ensino da arte na educação escolar.
Utilizamos, como procedimento para a análise dos es-
Sobre o ensino da arte na educação escolar, diferen-
tudos, as técnicas da análise de conteúdo, sistematizadas
tes estudos vêm sendo realizados para diagnosticar essa
por Bardin (1977). Diante da especificidade do nosso ob-
prática educativa (SILVA, 2004; ALMEIDA, 2001; BARBOSA, jeto de investigação e da compreensão de que a análise
2002b, 2002d). A partir desses estudos e de uma simples de conteúdo não é um instrumento, mas, um conjunto de
observação analítica sobre a prática de ensino da arte na técnicas de análise das comunicações, adotamos para tra-
escola vamos encontrar a presença de diferentes tratamen- tamento e análise dos dados desta pesquisa os procedi-
tos conceituais, didáticos e metodológicos, tais, como: mentos da análise temática.
(1) produção de desenho, pintura e atividades artísticas livres; Desta forma, A nossa análise foi operacionalizada a
(2) realização de dramatizações didáticas; partir de quatro operações básicas:
(3) cantar músicas da rotina escolar e/ou o canto pelo canto; (1) a pré-análise; (2) a exploração do material; (3) o tra-
(4) assistir a apresentações artísticas; tamento dos resultados obtidos; (4) e a interpretação dos
(5) realização de jogos teatrais e jogos dramáticos; resultados, a partir da inferência.
(6) ensino do desenho, do desenho geométrico, dos Na próxima seção, apresentaremos os dados encontra-
elementos da linguagem visual e a aplicação desses con- dos a partir da realização do percurso metodológico que
teúdos a objetos; acabamos de explicitar. Esses resultados são frutos tanto
(7) pintura de desenhos e figuras mimeografadas; da análise dos conteúdos manifestos, como da análise dos
(8) preparação de apresentações artísticas e objeto conteúdos latentes, encontrados nas unidades de contex-
para comemoração de datas comemorativas e festivas; to, conforme poderá ser verificado, a seguir.
(9) leitura e releitura de obras de grandes artistas;
(10) pesquisa sobre a vida e obra de artistas famosos; O Ensino de Arte na Educação Escolar: as Diferentes Ten-
entre outros. dências e Concepções de Ensino
Conforme explicitado na seção anterior, a partir dos di-
A nossa compreensão é a de que por trás de cada ati- ferentes estudos na área dos fundamentos e da história da
vidade dessa existe, respectivamente, uma concepção de Arte/Educação, foi possível caracterizar as tendências e as
ensino de arte, que teve sua origem ao longo da trajetória concepções de ensino de arte presentes na trajetória histó-
histórica da Arte/Educação no Brasil; pois, essas são práti- rica da educação brasileira.
cas que historicamente vêm se afirmando e se cristalizando Dessa forma, os resultados apontaram que o ensino de
na educação escolar. arte no Brasil possui três grandes tendências conceituais,
Segundo Barbosa (2005), nos últimos anos a necessi- que, didaticamente, classificamos em:
dade de compreendermos a área de Arte/Educação em re- (1) Ensino de Arte Pré-Modernista;
lação com a cultura que nos cerca tem gerado muitos estu- (2) Ensino de Arte Modernista; e
dos importantes. Dentre esses estudos, Barbosa (2005) vai (3) Ensino de Arte Pós-Modernista ou Pós-Moderno.

9
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Assim, percebe-se que o Modernismo, através da uti- meio de redenção econômica do país e da classe obreira,
lização de prefixos gregolatinos (pré e/ou pós), nomeia que engrossara suas fileiras com os recém-libertos” (BAR-
as outras tendências da Arte/Educação no Brasil. A nos- BOSA, 2002c, p. 30).
sa compreensão é a de que o Modernismo, tanto na Arte A corrente liberal teve em Rui Barbosa o seu grande re-
como na Arte/Educação, é considerado a grande ruptura presentante, o qual propôs, através de suas reformas edu-
no modo de conceber a arte e o seu ensino, que tradicio- cacionais, a implantação do ensino de Desenho no currícu-
nalmente era centralizada no ensino da técnica. “Na reali- lo escolar, com o objetivo primordial de preparar o povo
dade, nossa primeira grande renovação metodológica no para o trabalho.
campo da Arte-Educação se deve ao movimento de Arte Tomando como base os princípios filosóficos de Au-
Moderna de 1922” (BARBOSA, 1975, p. 44). gusto Comte, os positivistas brasileiros acreditavam que
Dentro dessas tendências, vamos encontrar, diferentes a arte possuía importância na medida em que contribuía
concepções de ensino da arte. Na Tendência Pré-Moder- para o estudo da ciência. Acreditavam que a arte era um
nista, encontraremos a concepção de Ensino da Arte como poderoso veículo para o desenvolvimento do raciocínio e
Técnica; já na Tendência Modernista, vamos encontra a da racionalização da emoção, desde que ensinada através
concepção de Ensino da Arte como Expressão e também do método positivo, que subordinava a imaginação à ob-
como Atividade; e finalmente na Tendência Pós- Moder- servação.
nista, a concepção de ensino da Arte como Conhecimento. Conforme apresentado neste breve histórico, aproxi-
No entanto, quais os princípios e finalidades do ensino madamente, quatro séculos do ensino de arte no Brasil fo-
da arte nessas concepções? Quais os seus contextos sócio- ram baseados, exclusivamente, na concepção de arte como
-históricos? Quais as matrizes teóricas que as fundamen- técnica. No entanto, essa concepção de ensino não ficou
tam? Quais os princípios metodológicos? Para responder restrita apenas a esse período histórico, pois, ainda hoje
a essas questões iremos, a seguir, caracterizar todas essas encontramos nas práticas escolares essa concepção de en-
concepções de ensino de arte, que acabamos de explicitar. sino de arte, que vem se manifestando através do ensino
do desenho, do ensino do desenho geométrico, do ensino
O Ensino de Arte como técnica
dos elementos da linguagem visual, descontextualizada da
A idéia de ensino de arte como técnica está ligada à
obra de arte; na produção de artefatos, utilizando-se de
origem do ensino de arte no Brasil.
elementos artísticos para a sua composição; na pintura de
Com a presença dos Jesuítas, em 1549, iniciou-se o en-
desenhos e figuras mimeografadas.
sino de arte na Educação Brasileira através de processos
Observa-se, então, que a orientação de ensino de arte
informais, caracterizados pelo ensino da arte em oficinas
como técnica parte basicamente de dois princípios: (1) a
de artesões. O objetivo era catequizar os povos da terra
nova, utilizando-se, como um efetivação do processo de aprendizagem da arte através
dos instrumentos, o ensino de técnicas artísticas. do ensino de técnicas artísticas, para uma formação me-
Na educação formal, o ensino de arte tem a sua gênese ramente propedêutica, que visa, como por exemplo, à
marcada pela criação da Academia Imperial de Belas Artes, preparação para a vida no trabalho; (2) e na utilização da
em 1816, com a chega da Missão Artística Francesa, forma- arte como ferramenta didático-pedagógica para o ensino
da por grandes nomes da arte da Europa. das disciplinas mais importantes do currículo escolar, tais,
Todos os membros da Missão Francesa possuíam uma como Matemática e Língua Portuguesa.
orientação neoclássica, que marcou o seu modo de ensinar Nessa concepção, o ensino de arte na educação esco-
arte. No ensino, nessa orientação predominava basicamen- lar não possui um fim em si mesmo, mas, serve como meio
te o exercício formal da produção de figuras, do desenho para se alcançar objetivos que não estão relacionados com
do modelo vivo, do retrato, da cópia de estamparias, obe- o ensino de arte propriamente dito.
decendo a um conjunto de regras rígidas. No texto legal, Contrapondo-se à Tendência Pré-Modernista do Ensi-
o ensino da arte nos moldes neoclássico era caracterizado no de Arte, que foi caracterizada pela concepção de ensino
como acessório; um instrumento de modernização de ou- de arte como técnica, a partir de 1914, começou a despon-
tros setores, e não como uma atividade com importância tar a Tendência Modernista, através da influência da pe-
em si mesmo. dagogia experimental, conforme apresentaremos a seguir.
Com a abolição do trabalho escravo (1888) e com a
Proclamação da República (1889), os liberais e positivistas O Ensino de Arte como expressão
provocaram grandes reformas nas diferentes esferas da A concepção de ensino de arte como o desenvolvi-
sociedade, com a pretensão de consolidar o novo regime mento da expressão e da criatividade tem as suas bases
político do Brasil, através de uma mudança radical nas ins- conceituais e metodológicas ligadas ao Movimento Escoli-
tituições. nhas de Arte (MEA).
Nessa direção, a educação brasileira teve que acom- Apesar de o MEA ter se constituído na prática em um
panhar esse novo momento político, pois os liberais e os movimento de ensino de arte extra-escolar, ele exerceu
positivistas encaravam a educação como um campo estra- grande influência sobre o ensino de arte na escola. Essa
tégico para a efetivação dessas mudanças. influência se deve ao fato de o MEA ter se constituído
Dessa forma, o ensino de arte passou a desempenhar como o primeiro importante movimento que possibilitou
um importante papel, através do ensino do desenho como o processo de transformação filosófica e metodológica de
linguagem da técnica e da ciência, sendo “valorizadas como nossa Arte/Educação (AZEVEDO, 2000). Um outro fator foi

10
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
que o MEA, durante mais de duas décadas, foi responsável Foi nesse campo fértil que, em 1948, foi fundada, no
pela formação inicial e continuada dos arte/educadores de Rio de Janeiro, a Escolinha de Arte do Brasil (EAB), pelos
diferentes regiões brasileiras, conforme apresentado nos artistas plásticos Augusto Rodrigues, Margaret Spencer e
estudos de Varela (1986). Lúcia Valentim.
No entanto, a origem histórica da Tendência Modernis- A EAB foi o início do que seria mais tarde denominado
ta do Ensino de Arte no Brasil antecede à criação do MEA. MEA, formado por um conjunto de “140 escolinhas espa-
Dessa forma, diferentes fatores contribuíram para o surgi- lhadas ao longo do território nacional e mais uma em As-
mento da Tendência Modernista de Ensino da Arte que, ao sunção, no Paraguai; uma em Lisboa, Portugal e duas na
longo de mais de duas décadas, iriam produzir um campo Argentina, sendo uma em Buenos Aires e a outra na cidade
fértil para a criação do MEA. de Rosário” (AZEVEDO, 2000, p. 25).
A partir de 1914, através da influência americana e eu- Com o surgimento do MEA como um grande e im-
ropeia, que implementou a pedagogia experimental nos portante movimento, novas possibilidades surgiram para
cursos de formação de professores no Estado de São Pau- a Arte/Educação brasileira, conforme explicitado por Bar-
lo, observa-se que, pela primeira vez no Brasil o desenho bosa:
infantil foi tomado como livre expressão da criança, como Somente em 1948, com a criação da Escolinha de Arte
uma representação de um processo mental, passível de in- do Brasil, novos horizontes se abrem para novas concep-
vestigação e interpretação. Apesar dessa nova concepção ções, e o objetivo mais difundido da Arte-Educação passou
psicopedagógica ter tido seu início em São Paulo, ela pas- a ser, entre nós, o desenvolvimento da capacidade criadora
sou a influenciar o Brasil como um todo, a partir da atuação em geral (BARBOSA, 1975, p. 46).
dos diferentes educadores paulistas nas reformas educa- O MEA, ao longo de sua história, recebeu diferentes
cionais dos outros Estados da Federação. influências e contribuições teóricas de educadores, psi-
Entretanto, apesar dessa nova visão sobre o desenho cólogos, artistas. No entanto, as bases conceituais que
da criança, os valores estéticos da arte infantil só passaram marcaram profundamente o MEA devem-se aos estudos
a ser reconhecidos e valorizados como produto estético dos estrangeiros Herbert Read, especialmente da sua obra
“Educação Através da Arte” (READ, 1982), e Viktor Lowen-
com a introdução das correntes artísticas expressionistas,
feld, através de sua obra “Desenvolvimento da Capacidade
futuristas e dadaístas na cultura brasileira, através da reali-
Criadora” (LOWENFELD, 1977).
zação da Semana de Arte Moderna de 1922.
Essas obras traduziam o ideário pedagógico do MEA
Os modernistas Mário de Andrade e Anita Malfatti de-
que, através da proposta de educar mediante a arte, bus-
sempenharam um papel fundamental na introdução das
cou valorizar a arte da criança, a partir de uma concepção
ideias da livre-expressão do ensino de arte para as crianças,
de ensino baseada no desenvolvimento da livre expressão
através da implementação de novos métodos baseados na
e da liberdade criadora. A grande Arte/Educadora Noêmia
valorização da expressão e da espontaneidade da criança,
Varela foi de fundamental importância na introdução desse
conforme citação abaixo: ideário pedagógico no MEA.
A ideia da livre-expressão, originada no expressionis- Ainda segundo Azevedo (2000), um outro valor ressal-
mo, levou à ideia de que a Arte na educação tem como fi- tado pela Arte/Educação Modernista era a democratização
nalidade principal permitir que a criança expresse seu sen- da Arte através da dessacralização da obra de arte, baseada
timento e à idia de que a Arte não é ensinada, mas expres- na ideia de que todas as crianças, em potencial, eram ca-
sada. Esses novos conceitos, mais do que aos educadores, pazes de produzir e de expressar-se através da arte, inclu-
entusiasmaram artista e psicólogos, que foram os grandes sive crianças com necessidades educacionais especiais. No
divulgadores dessas correntes e, talvez por isso, promover entanto, para que a criança fosse capaz de produzir a sua
experiências terapêuticas passou a ser considerada a maior própria arte era preciso preservá-la da arte instituída, que
missão da Arte na Educação (BARBOSA, 1975, p. 45). era produzida pelo adulto, pois, a arte adulta não deveria
Com a democratização política do Brasil na década ser apresentada para a criança como um modelo.
de 1930, surgiu um movimento de renovação educacional Na proposta do MEA, a aproximação com o univer-
denominado “Escola Nova”. Inspirado no pensamento do so da arte adulta deveria acontecer naturalmente. Nesse
filósofo americano John Dewey, esse novo ideário pedagó- sentido, a função do Arte/Educador era interferir o mínimo
gico foi trazido para o Brasil através dos educadores Nereu possível na arte da criança. Essa maneira de proceder iria
Sampaio e Anísio Teixeira. possibilitar conservar um valor fundamental divulgado pela
Nesta direção, o MEN se contrapõe ao modelo peda- Arte/Educação Modernista: a originalidade como um fator
gógico tradicional, defendendo no centro das discussões primordial do fazer artístico.
educacionais da época uma nova concepção de criança, Conforme acabamos de apresentar, o ensino de arte
conforme citação abaixo: modernista possui uma trajetória conceitual de, aproxima-
[...] nela a criança não era pensada como miniatura damente, 57 anos (1914-1971). Se comparada à tendência
de adulto, mas deveria ser valorizada e respeitada em seu pré-modernista (arte como técnica), ela possuiu uma tra-
próprio contexto, com sua forma peculiar de pensar/agir jetória relativamente curta. No entanto, apesar dessa curta
no mundo, possuindo uma capacidade expressiva original, trajetória, a concepção de ensino de arte como desenvol-
comunicando-se por meio de seu gesto-traço, seu gesto- vimento da expressão e da criatividade deixou marcas pro-
-teatral e seu gesto-sonoro (AZEVEDO, 2000, p. 37). fundas na maneira de ensinar arte na escola. Dessa forma,

11
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
encontramos, ainda, na escola práticas de ensino de arte, matéria que poderia mostrar abertura em relação às humani-
tais, como: (1) produção de desenho e pintura como forma dades e ao trabalho criativo, porque mesmo Filosofia e His-
de expressão do pensamento da criança; (2) levar as crian- tória foram eliminadas do currículo” (BARBOSA, 2002b, p. 9).
ças para assistirem a diferentes apresentações artísticas Na realidade, a referida Lei, no campo do ensino da
(dança, teatro, cinema, circo, entre outras) e a exposições arte, caracterizou-se como uma ação não planejada, pois,
em museus de arte e em centros culturais. Atividades essas, as atividades eram desenvolvidas, apenas, para cumprir as
realizadas, sem, contudo, terem sido planejadas as estraté- formalidades e ocupar os horários, sendo ministradas por
gias de compreensão do conhecimento artístico antes, du- professores de outras áreas que não compreendiam o sig-
rante e após a excursão didática, caracterizando-a, apenas, nificado da Arte na Educação.
como uma simples aula passeio. Essas atividades, em geral, É necessário destacar, que diferente das outras con-
são trabalhadas de forma “livre”, sem qualquer intervenção cepções de ensino de arte, não encontramos em nossos
e/ou mediação do professor na percepção dos produtos estudos registros históricos ou conceituais de uma matriz
artísticos e na realização da produção da criança, partindo
teórica que a fundamentasse. Na realidade, essa concep-
da crença de que a aprendizagem do conhecimento artísti-
ção é a maior expressão da presença do tecnicismo peda-
co ocorre de forma espontânea, sem haver necessidade de
gógico no ensino de arte.
qualquer trabalho de mediação do professor.
Dessa forma, a grande ênfase nessa concepção é so- Apesar de uma trajetória conceitual curta, a concep-
bre as ações mentais desenvolvidas durante a realização da ção de ensino da arte como atividade cristalizou no ensino
atividade artística, ou seja, sobre o processo, tendo pouca de arte diferentes práticas pedagógicas, que encontramos,
importância o produto resultante. ainda hoje, nas escolas brasileiras, tais, como: (1) cantar
É a partir dessa ideia que vai surgir à concepção de músicas da rotina escolar e/ou o canto pelo canto; (2) pre-
ensino de arte como lazer, auto expressão e catarse, o que parar apresentações artísticas e objetos para a comemo-
descaracteriza a arte como um conhecimento indispensá- ração de datas comemorativas; (3) fazer a decoração da
vel para a formação das novas gerações, passível de ser escola para as festas cívicas e religiosas; entre outras.
ensinado e aprendido. Isenta de qualquer conteúdo de ensino, a concepção
Essa interpretação custou à área de arte ser configura- de ensino da arte baseada exclusivamente no “fazer artísti-
da apenas como uma mera atividade, sem conteúdos pró- co” contribuiu muito para relegar a arte a um lugar inferior
prios, conforme verificaremos na concepção de ensino de na educação escolar. Essa compreensão custou, inclusive,
arte como atividade, que apresentaremos a seguir. a retirada do ensino de arte das três primeiras versões da
nova LDBEN, nos meados da década de 1980.
O Ensino de Arte como atividade Convictos da necessidade do ensino de arte no desen-
A concepção de ensino da arte baseada na simples rea- volvimento intelectual das novas gerações, os arte/educa-
lização de atividades artísticas é resultado do esvaziamen- dores brasileiros se organizaram e lutaram politicamente
to dos conteúdos específicos da área de arte na educação para garantir a presença da arte no currículo escolar, a
escolar. partir da ideia de que arte é um campo de conhecimento
Essa concepção de ensino foi legitimada através da Lei específico, com objetivos, conteúdos, métodos de ensino
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de n° e processos de avaliação da aprendizagem próprios, e não
5.692, promulgada em 11 de agosto de 1971, que instituiu apenas uma mera atividade, conforme poderemos verificar
a obrigatoriedade do ensino de arte nos currículos das es- na concepção de ensino de arte, a seguir.
colas de 1° e 2° graus.
A partir dessa Lei, o ensino de arte no Brasil passou
O Ensino de Arte como conhecimento
a ser designado através da rubrica “Educação Artística”.
A concepção de ensino de arte como conhecimento,
Uma terminologia ultrapassada para o período em que foi
ao contrário das teses liberais, positivistas e modernistas,
criada, diante dos avanços possibilitados pelos diferentes
defende a ideia da arte na educação com ênfase na própria
estudos e discussões da área da arte e seu ensino, desen-
volvidas no Brasil, Estados Unidos e Europa. arte, denominada por Eisner (2002) como o “essencialismo”
No entanto, apesar de instaurar a obrigatoriedade do no ensino de arte.
ensino da arte na educação escolar, a Lei, ao designar os Segundo Rizzi (2002), a corrente essencialista:
componentes do currículo, classificou-os em duas moda- …acredita ser a Arte importante por si mesma e não
lidades: por ser instrumento para fins de outra natureza. Por ser
I. Disciplinas (áreas do conhecimento com objetivos, uma experiência que permite a integração da experiência
conteúdos, metodologias e processo de avaliação específica); singular e isolada de cada ser humano com a experiência
II. Atividades (desenvolvimento de práticas e proce- da humanidade (RIZZI, 2002, p. 64-65).
dimentos). Por tanto, compreender a arte como uma área de co-
Dessa forma, coube à arte, dentro do currículo escolar, nhecimento, como uma construção social, histórica e cul-
desempenhar, apenas, o papel de mera atividade. tural é trazer a arte para o domínio da cognição. Nessa di-
No contexto político e social do Regime Militar, a Lei reção, o conceito de arte também está ligado à cognição
5.692/71 desempenhou, apenas, uma função meramente como um dos elementos de manifestação da razão, pois
ideológica, que tinha como objetivo dar um caráter huma- existe na arte um conhecimento estruturador, que permite
nista ao currículo. “As artes eram aparentemente a única a potencialização da cognição.

12
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Atualmente, no Brasil, a abordagem mais contemporâ- A partir dos estudos de Barbosa (1998a; 2002b; 2002d),
nea da Arte/Educação está relacionada ao desenvolvimen- Richter (2002; 2003), Efland (2005) e Jogodzinski (2005)
to cognitivo, que, segundo Barbosa (2005), vem se impon- foi possível compreender que, entre outros princípios, a
do cada vez mais entre os arte/educadores brasileiros. Essa concepção de ensino de arte como conhecimento está
compreensão nos impõe a pensar de maneira diferente o baseada no interculturalismo, na interdisciplinaridade e na
ensino de arte na educação escolar, provocando o deslo- aprendizagem dos conhecimentos artísticos, a partir da in-
camento das nossas preocupações relacionadas à questão ter-relação entre o fazer, o ler e o contextualizar arte.
de “como se ensina arte” para “como se aprende arte”. Segundo Barbosa, “o compromisso com a diversida-
Questão essa que vem gerando, ao longo de mais de duas de cultural é enfatizado pela Arte-Educação Pós-moderna”
décadas, teorias e estudos, tais, como os trabalhos de Pillar (2002d, p. 19), através da “idéia de reforçar a herança artís-
(2001), de Barbosa (2002b) e de Parsons (1992), entre ou- tica e estética dos alunos com base em seu meio ambien-
tros, que buscam explicar o processo de ensino aprendiza- te” (BARBOSA, 2002b, p. 24). Nessa direção, tanto Richter
gem dos conhecimentos artísticos. É nessa ressignificação (2002; 2003) como Barbosa (1998a; 2002d) vêm, ao longo
dos anos, produzindo diferentes estudos sobre a diversida-
de paradigmas que nasce, no Brasil, a Tendência Pós-Mo-
de cultural no ensino da arte. Segundo as referidas autoras,
derna de ensino de arte. Para explicar essa terminologia,
definir diversidade cultural pressupõe evocar diferentes
Barbosa afirma: termos, tais, como multiculturalismo, pluriculturalidade,
Como diz Homi Bhadha, nossa existência hoje é marca- interculturalidade, que, na atualidade, aparecem como si-
da pela tenebrosa sensação de sobrevivência, vivendo um nônimos no ensino de arte. No entanto, Barbosa (2002d)
presente que não tem nome próprio, mas é designado por e Richter (2002) nos alertam que o termo mais adequado
um prefixo acrescentado ao passado. Trata-se do prefixo para designar a diversidade cultural no ensino da arte é a
‘pós’ do pós-modernismo, do pós-colonialismo, do pós-fe- “interculturalidade”.
minismo etc. No livro “Inquietações e Mudanças no Ensino da Arte”,
Queremos explicitamente ultrapassar o passado sem Barbosa nos explica que, “enquanto os termos ‘Multicultu-
deixá-lo de lado (BARBOSA, 1998a, p. 33). ral’ e ‘Pluricultural’ pressupõem a coexistência e mútuo en-
Dessa forma, a nossa compreensão é a de que o movi- tendimento de diferentes culturas na mesma sociedade, o
mento de mudançaepistemológica na forma de conceber, termo ‘Intercultural’ significa a interação entre as diferentes
filosófica e metodologicamente, o ensino da arte na con- culturas” (2002d, p. 19).
temporaneidade, que não ocorria desde o modernismo, Defendendo essa ideia, Richter afirma que “esse termo
não é fruto do poder legislativo, através da implantação seria, portanto, o mais adequado a um ensino-aprendiza-
de leis e decretos, que determinaram a obrigatoriedade do gem em artes que se proponha a estabelecer a interrelação
ensino da arte na educação escolar; antes, foi fruto da luta entre os códigos culturais de diferentes grupos culturais”
política e conceitual dos arte/educadores brasileiros, que (2002, p. 86).
buscaram justificar a presença da arte na educação a partir No entanto, esse processo precisa estar apoiado em
do paradigma da cognição. uma perspectiva interdisciplinar, que vem sendo defendida
Na década de 1980, com a redemocratização do país, por Barbosa (1984), desde a década de 1980, ao afirmar
eclodiram, no cenário nacional, as associações de arte/edu- que polivalência não é interdisciplinaridade. Nessa direção,
cadores e cursos de pós-graduação (lato sensu e stricto Richter explica que, diferente da “multidisciplinaridade” e
sensu), fazendo com que surgissem novas reflexões sobre “transdisciplinaridade”, a “interdisciplinaridade”:
o ensino de arte e novas concepções para o processo de …indica a inter-relação entre duas ou mais disciplinas,
sem que nenhuma se sobressaia sobre as outras, mas que se
ensino-aprendizagem de arte no âmbito escolar.
estabeleça uma relação de reciprocidade e colaboração, com
Em 1988, foi promulgada a Constituição Brasileira,
o desaparecimento de fronteiras entre as áreas do conheci-
iniciando-se, logo em seguida, discussões sobre a nova
mento (RICHTER, 2002, p. 85).
LDBEN. Em três de suas versões, foi retirada a obrigatorie- Nessa compreensão, o ensino de arte deve interdisci-
dade do ensino de arte nas escolas. Organizados, os arte/ plinar consigo mesmo, através de diferentes linguagens,
educadores protestaram, convictos da importância da arte como, também, com outras áreas do conhecimento huma-
para a formação do aluno. Iniciou-se, aí, uma longa luta no. Seria o que poderíamos chamar de uma “educação sem
política e conceitual dos arte/educadores brasileiros para territórios e fronteiras”, conforme esclarece Barbosa:
tornar a arte uma disciplina curricular obrigatória, com to- O estudo da interdisciplinaridade como abordagem
das as suas especificidades (objetivos de ensino, conteúdos pedagógica é central para o ensino de arte. A arte con-
de estudos, metodologia e sistema de avaliação). temporânea é caracterizada pelo rompimento de barrei-
Foi nesse contexto de luta que, em 20 de dezembro de ras entre o visual, o gestual e o sonoro. O happening, a
1996, os arte/educadores brasileiros conquistaram a obri- performance, a bodyart, a arte sociológica e ambiental, o
gatoriedade do ensino de arte para toda a Educação Bási- conceitualismo e a própria vídeo art são algumas das ma-
ca, através da promulgação da nova LDBEN, de n° 9.394, nifestações artísticas que comprovam uma tendência atual
que, depois de quase uma década, revogou as disposições para o inter-relacionamento de diversas linguagens repre-
anteriores e consagrou, oficialmente, a concepção de ensi- sentativas e expressivas. Portanto, pelo isomorfismo orga-
no de arte como conhecimento, ao explicitar que o ensino nizacional, a interdisciplinaridade dever ser o meio através
de arte escolar deverá promover o desenvolvimento cultu- do qual se elaborem os currículos e a práxis pedagógica da
ral dos alunos. arte (BARBOSA, 1984, p. 68).

13
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Um outro princípio defendido pela Arte/Educação Pós- aos períodos históricos em que eles surgiram e tampouco
-Moderna está relacionado à aprendizagem dos conheci- estão circunscritos de forma isolada na prática educativa
mentos artísticos, a partir da inter-relação entre o fazer, o dos professores, pois, podemos encontrar em uma mesma
ler e o contextualizar arte, designados por Barbosa (2002b) prática a presença de concepções de ensino de arte com-
como ações necessárias para a compreensão da Arte como pletamente antagônicas, conforme apresentada na pesqui-
epistemologia. sa realizada por Silva (2004). Elaboramos essa classificação
Com o esvaziamento dos conteúdos do ensino de arte, para que pudéssemos compreender cada concepção den-
que vinha ocorrendo desde o início do Século XX, através tro do contexto social e histórico em que elas surgiram.
da Tendência Modernista da Arte/Educação, surgem, na Ao confrontarmos a classificação que elaboramos com
década de 1970, no cenário internacional, alguns pensado- a classificação elaborada nos estudos dos teóricos estran-
res que propunham resgatar os conteúdos para as aulas de geiros Räsänem (1998), Agirre (2000) e Eisner (2002), foi
arte. Foi desse movimento que apareceram, no cenário da possível compreender que esse fenômeno possui caracte-
Arte/Educação, diferentes abordagens de ensino da arte. rísticas singulares na realidade educacional brasileira. No
Inspirada nesses teóricos e nessas abordagens, Ana entanto, constatamos também, que apesar da singularida-
Mae e suas colaboradorassistematizam, na década 1980, de, algumas concepções aparecem tanto no Brasil, como
a partir das atividades educativas desenvolvidas no Museu em outros países, constituindo-se como fenômeno “uni-
de Arte Contemporânea (MAC), da Universidade de São versal”. A explicação para este fato está na origem e de-
Paulo (USP), a abordagem pós-colonialista no ensino de rivação epistemológica dessas concepções, o que deve se
arte do Brasil, denominada Proposta Triangular de Ensino constituir em um novo objeto de estudo.
de Arte, conforme afirmação abaixo: Esperamos que o presente estudo possibilite o desen-
A Proposta Triangular deriva de uma dupla triangula- volvimento de um olhar mais clínico e crítico sobre a prá-
ção. A primeira é de natureza epistemológica, ao designar tica pedagógica de ensino de arte desenvolvida no âmbito
aos componentes do ensino/aprendizagem por três ações da educação escolar brasileira e que possa subsidiar a re-
mentalmente e sensorialmente básicas, quais sejam: criação -configuração do ensino de arte voltado e comprometido
com o crescimento integral dos alunos, que perpassam,
(fazer artístico), leitura da obra de arte e contextualização. A
também, pelo seu desenvolvimento cultural.4
segunda triangulação está na gênese da própria sistemati-
zação, originada em uma tríplice influência, na deglutinação
de três outras abordagens epistemológicas: as Escuelas al
Aire Libre mexicanas, o Critical Studies inglês e o Movimen- 3. A ARTE E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO
to de Apreciação Estética aliado ao DBAE (Discipline Based DA CIDADANIA.
Art Education) americano (BARBOSA, 1998a, p. 35).
Para uma maior compreensão sobre Abordagem Trian-
gular de Ensino de Arte, do ponto de vista das teorias edu- Pensar a Arte-cidadania significa refletir sobre o lugar
cacionais e das teorias da aprendizagem, Barbosa afirma: da arte em nosso mundo, sob uma perspectiva abrangente
A educação cultural que se pretende com a Proposta e democrática, que reconhece indivíduos e comunidades
Triangular é uma educação crítica do conhecimento cons- como agentes da construção de nossa diversidade cultu-
truído pelo próprio aluno, com a mediação do professor, ral e que reitera a importância da participação cultural na
acerca do mundo visual e não uma “educação bancária” conquista das autonomias individuais e coletivas. Significa
(BARBOSA, 1998a, p. 40). considerar um novo campo para a política pública de cul-
Ao contrário da concepção de ensino como técnica – tura no país. “ 
que valoriza o produto artístico em detrimento do proces-
so – e da concepção de ensino de arte como expressão A arte e sua influência na sociedade e na cultura
– que supervaloriza o processo, dando pouca importância Pela arte, pensamentos tomam forma e ideais de cultu-
ao produto estético –, a concepção de arte como conheci- ras e etnias têm a oportunidade de serem apreciados pela
mento vem buscando a valorização tanto do produto artís- sociedade no seu todo. Assim, o conceito de arte está li-
tico como dos processos desencadeados no ensino de arte, gado à história do homem e do mundo, porém não está
trazendo para o contexto atual da Arte/Educação a ideia de preso necessariamente a determinado contexto, é essen-
arte como processo e produto, que vem sendo defendida cialmente mutável.
por Barbosa (1975), desde a década de 1970. Para exemplificar, voltemos algumas décadas no tem-
Na contemporaneidade, a concepção de ensino de po e analisemos como a arte era entendida antigamente.
arte como conhecimento vem sendo apontada pelos di- Como será que nossos bisavôs definiriam a arte?
ferentes estudos, como a orientação mais adequada para Possivelmente, na época, fosse difícil pensar em uma
o desenvolvimento do ensino de arte na educação escolar. arte digital, ou no desenvolvimento de uma ciberarte (ma-
A seguir, apresentaremos as considerações finais do nosso nipulação das novas tecnologias e mídias atuais para a
trabalho e suas contribuições para o campo educacional. construção de objetos artísticos), mas hoje esse fator é de-
Essa divisão que acabamos de apresentar tem um ca- terminante para compreendermos a arte num sentido mais
ráter mais didático e analítico do que prescritivo e norma- amplo e completo.
tivo, pois, a partir de uma observação mais cuidadosa, é
possível verificar que as diferentes concepções de ensino 4 Fonte: www.30reuniao.anped.org.br – Por SILVA,
de arte que acabamos de apresentar não estão limitadas Everson Melquiades Araújo Silva/Clarissa Martins Araújo

14
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Tudo passa pelas tecnologias e a humanidade está A arte como instrumento político-pedagógico
marcada pelos desafios políticos, econômicos e sociais Talvez o fato de as teorias pedagógicas encontrarem-se
decorrentes de uma nova configuração da realidade, em distanciadas do mundo social cotidiano tenha colaborado
que campos da atividade humana, estão utilizando inten- para que os espaços de educação passassem a ser vividos
samente as redes de comunicação e a informação compu- como um privilégio, dos eleitos, dos intelectuais, dos mes-
tadorizada (SANTOS, 2006). tres que distribuem seu saber àqueles que “nada sabem”.
O conceito de obra de arte é uma construção social, Isso nos remete àquela figura do professor catedrático
não pode ser um trabalho isolado. A arte possibilita um que, do alto da sua tribuna, profetiza para os discípulos as
diálogo com quem a observa, cria situações que podem se verdades sobre o mundo. Verdades que só aqueles que de-
tornar desafiantes para o apreciador e, algumas vezes, os senvolveram seus saberes em universidades, em especiali-
materiais utilizados na própria composição propõem uma zações, concluem como ninguém e que, como vanguarda
reflexão sobre o significado da arte. e guardiões do saber têm o dever nobre e a legitimidade,
Um novo tipo de sociedade condiciona um novo tipo quase natural de as repassarem para os “homens comuns”,
de arte. Porque a função da arte varia de acordo com as quase sempre considerados “sem sabedoria”.
exigências colocadas pela nova sociedade; porque uma E foi exatamente assim que o espaço da aprendizagem
nova sociedade é governada por um novo esquema de veio se constituindo ao longo dos séculos XIX e XX, no Bra-
condições econômicas; e porque mudanças na organiza- sil. Professores corporativizaram o saber em tomo da sua
ção social e, portanto, mudanças nas necessidades objeti- profissão e afastaram-se do cotidiano, do mundano, que
vas dessa sociedade, resultam em uma função diferente de também é, sem dúvida, um grande espaço de educação e
arte (KOELLREUTTER, 1997). de aprendizagem.
Contudo, a arte está ligada aos fatores históricos e so- Comprometendo-se em reproduzir as normas e os va-
ciais, mas dialoga ativamente com nossa sociedade, crian- lores formais presentes nas estruturas da formação da so-
do os estilos de época, e acompanhando a evolução do ciedade brasileira e seguindo os Planos Nacionais de Edu-
homem e da tecnologia. cação (PNE), educadores esqueceram-se de que deveriam
Quando se lida com as formas em artes visuais con-
desempenhar um papel importante na mediação entre Es-
vive-se habitualmente com as relações entre superfície,
cola e Sociedadel Comunidade.
espaço, volume, linhas, cores e a luz. Cada um desses ele-
Esse esquecimento não se deu por vontade individual,
mentos tem suas próprias possibilidades expressivas e são
ma’) sim pelo próprio “lugar” de onde estavam falando.
ricos em significados, tanto em si mesmo como em relação
Convém dizer que o “lugar” representa mais do que uma
aos demais. E todos eles são intermediados pelos autores
simples fala, representa uma carga cultural e ideológica im-
e observadores ao se utilizarem de métodos e técnicas es-
pecíficas para produzi-las e percebê-las (SANTOS, 2007). portantíssima para a relação ensino-aprendizagem.
Ressalta-se ainda o valor de uma educação da práxis Neste sentido, o cotidiano de cada sujeito “aprendi-
artística, preocupada com o aprofundamento de conceitos, z-ensinante” é um espaço de ressignificação de todos os
critérios e processos, considerando o universo de visuali- conteúdos apreendidos, de maneira formal, nas institui-
dade do mundo contemporâneo e a complexidade do dis- ções de ensino e é “ali fora” que essas reelaborações se
curso visual, e nesse contexto, promovendo a ampliação e tomam momentos de transformação e construção, assim
enriquecimento dos repertórios sensível-cognitivos, apro- como de intolerância e de simples reproduções, depen-
fundando os modos de ver, observar, expressar e comuni- dendo da forma como são reelaboradas.
car por meio de imagens, sons ou movimentos corporais. O fato é que os educadores contemporaneamente dis-
Muitas vezes, o primeiro contato que os indivíduos têm cutem sob a luz de teorias como a de Paulo Freire ou a de
com a arte é na escola, nas aulas de arte, obrigatórias no Morin, a necessidade de reincorporar às práticas educati-
currículo do ensino fundamental. Espera-se que os estudan- vas esse cotidiano que também é aprendizado.
tes, nestas aulas, vivenciem intensamente o processo artísti- A prática educativa proposta pelas metodologias de
co, a fim de contribuir significativamente em seus modos de arte-educação demonstra que à medida que nos aproxi-
fazer técnico, de representação imaginativa e de expressivi- mamos de outras formas de conhecimento que não a for-
dade. Ao mesmo tempo, espera-se também que aprendam mal, abrimos a possibilidade para outras formas de relação
sobre os artistas e obras de arte de diferentes períodos, entre escola e aluno, pois cada conhecimento não-formal,
complementando assim seus conhecimentos na área. incorporado nos espaços formais de educação, representa
Mas, será possível que o professor de artes trabalhe a potencialidade de transformar o “mundo da vida” de cada
com as funções terapêuticas do fazer artístico? um daqueles que aprendem. Essa relação estabelece-se por
O professor pode explorar, estudar e se especializar em uma relação de respeito mútuo e íntima com o outro.
arteterapia e, na medida do possível, conversar sobre as Essa relação íntima passa pelo prazer de “estar no lu-
produções de seus alunos, se algum caso chamar sua aten- gar”. Esse prazer de estar ali intercambiando conhecimen-
ção e ele não conseguir dar conta em sala, é aconselhável tos e histórias é o que conduz a prática educativa a uma
que ele faça o encaminhamento do aluno para um atendi- pedagogia não mais punitiva, castradora e repressiva das
mento psicológico. expressividades que estão para além da escrita.
A arte foi e é sinônimo de expressão de sentimentos, Não restam dúvidas de que as complexidades que
emoções, revoltas, traumas... Nossa forma de ver a arte ou emergiram com a sociedade globalizada trouxeram para a
de fazer arte revela a compreensão que temos do mundo. educação uma série de questionamentos no que tangencia

15
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
o seu papel, assim corno também ao que realmente envol- explicativas a partir da racionalidade científica, encontra
ve o espaço educativo. Com a emergência da sociedade meios de elaborar e reelaborar o conhecimento tendo cor-
moderna, viu-se crescer, cada vez mais, a importância da no referência o chão onde pisa.
educação corno aquela que possibilita ao ser humano o Há algo de rico no senso comum que reelabora o cien-
acesso ao conhecimento, cada vez mais racional, corno fer- tífico, e não só o contrário. Aqui, descobre-se que a estrada
ramenta imprescindível para sua participação, de maneira é de mão dupla e que o sujeito que aprende é sujeito que
plena, na sociedade capitalista de bens e serviços. A educa- ensina, e o que ensina, naturalmente, aprende nessa rela-
ção passou a ser vista corno um elemento fundamental de ção. Nasce assim, o sujeito “aprendiz-ensinante”.
abertura para o progresso, bem corno para o encaixe dos Nesse sentido defendemos urna escola ‘’fora do lugar”,
indivíduos na sociedade moderna, entendida corno urna isto é, uma escola em que os conteúdos, corno os raios
sociedade dotada de racionalidade, que por muitas vezes de um círculo misterioso, atinja todas as partes do mundo
se confunde com racionalização, por não obter a capaci- social, mas cujo centro apresenta-se em lugar algum. Urna
dade de dialogar com a realidade, ignorando “os seres, a escola que interaja e inclua a realidade cotidiana em seus
subjetividade, a afetividade e a vida irracional”. aprendizados e que construa esse novo caminho em parce-
De fato, a educação passou a ser o elemento-chave ria com os jovens e outros educadores da cidade.
para a ascensão e para a aquisição de status, ainda que, e Vivendo a tensão do paradoxo proposto acima e na
hoje se pode afirmar isso, esse estatuto e a possibilidade contracorrente dos que se mantêm na tradição de ênfase
de mobilidade social ficaram restritos à ideia de que cada na escrita, entendemos a importância contemporânea de
indivíduo, diante das oportunidades dadas pela sociedade urna “escola descentrada”, isto é, fundada em diferentes lu-
liberal, deveria tomar-se um perito em alguma especialida- gares, linguagens e estéticas, tal corno proposto por cubis-
de, e essa mesma especialidade lhe determinaria o lugar a tas corno Picasso, que, em 1904, sugeriu um novo olhar:
ser ocupado socialmente. sem um ponto de vista único, mas diverso, reunindo numa
O problema é que a decisão por uma dada especialida- mesma imagem a colagem de vários pontos de vista.
de acabou colonizando todos os espaços da vida humana, Somente na perspectiva interdiscursiva e dialógica, de
que não necessariamente apresentam, em suas relações e estarmos falando não de um lugar, no “entre” de um lugar
construções sociais, a ideia presente na especialização. Se onde o sentido seja partilha verbo-visual, teremos possibi-
ela foi importante para a fundamentação de uma ciência lidade de apreender o real, metaforicamente simbolizado
racional, o impacto dessa racionalidade, nas outras esfe- pela criança que, na parábola de viagem de colégio de in-
ras das relações humanas, criou um estatuto seletivo que terior ao litoral, dirigiu-se à professora e de mão estendida
tornou insignificantes e menores os saberes pautados em pediu: “-Tia, me ajuda a olhar esse mar, ele é tão grande ... “.
lógicas afetivas e culturais. A racionalização da experiência Nesta perspectiva, o papel de educadores, seria o de
pedagógica não permitiu a inclusão da afetividade e do tomar essa criança pelas mãos e auxiliá-la a ver o mar e o
desejo nas práticas de aprendizagem. resto do mundo por diversos caminhos, possibilitando a
Criou-se, para essas esferas, um estatuto inferiorizado. ela a descoberta do seu caminho!
E a arte é representativa desses saberes inferiorizados. Des- A arte-educação promove o desenvolvimento humano,
sa maneira, durante um bom curso de nossa vida, na lógica pois permite novas formas de pensar, agir, conviver, co-
da modernidade racional, foi disseminada a ideia de que nhecer e produzir a partir de uma linguagem que não abor-
só o saber cientificamente construído é dotado de legiti- ta o mundo sensível. Desta forma, a partir de uma pedago-
midade cognitiva. gia que considera o diálogo, o desejo e a emoção como
Ora, parece hoje, em um mundo globalizado de forma construtores da socialidade cotidiana, busca-se construir
não homogênea, que o contato entre diferentes culturas e uma convivência sempre com pés fincados na ética e na
o apelo por respeito à diversidade cultural e pela intercul- estética, ou seja, respeitando aquilo que une, e que “for-
turalidade trouxeram à tona are-significação da construção ma” a subterraneidade, não apenas na aparência, mas nos
do saber e do conhecimento. interstícios históricoculturais.
Será que o conhecimento construído a partir da espe- Poder ser negro, branco, índio, por exemplo, e não
cialização científica é o único dotado de verdade? Será que precisar se afirmar numa identidade universal, mas sim po-
o conhecimento tem que necessariamente ser “duro”, es- der viver desenvolvendo a potencialidade de suas diversas
tanque e uniforme? Será que apenas uma pequena parcela identificações. A busca pelo despertar das potencialidades
da humanidade tem a prioridade e o privilégio de construir humanas.
as ideias sobre as coisas e os homens? Será que não po- Essa busca baseia-se numa reconstrução da cidada-
demos revelar o mundo por meio da música, da poesia, do nia, na qual o cidadão é diferenciado tanto do consumidor
movimento do corpo, do verso, da rima, da brincadeira, do como do indivíduo passivo diante do Estado de Direito. A
místico, do alternativo? Será que o lúdico não pode tam- cidadania, neste sentido, é pensada como a representação
bém ser uma maneira legítima de conhecer? do indivíduo na cidade. A cidade, vista como o lugar da
Graças a uma característica intrinsecamente humana, o reunião, da religação, das trocas socioculturais e da ação
indivíduo constrói-se a si mesmo a partir das necessidades política.
e problemas que lhe são postos, e assim busca soluções E essa representação política do indivíduo constitui-
nos mais variados campos. Não deixaria de ser verdade, -se de realidade concreta, de sonhos e de desejos que são
então que aquele indivíduo, destituído das construções estimulados pelas inter-relações estético-comunicativas

16
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
considerando as diversidades culturais que se apresentam permanentemente, de retomar à natureza humana inscrita
no cotidiano da cidade. Neste aspecto, a formulação do nas matérias culturais, refazendo o percurso originário do
que seja “ser cidadão” é mutável e construída a partir do conhecimento e da compreensão. É o esforço educativo de,
desejo e dos valores presentes em determinado momento com o aluno, fazer nascer o saber via conhecimento. É esfor-
histórico. ço de com o aluno pegar a experiência e transformá-la em
Contrapõe-se ao modelo de sociedade que utiliza do sentido e responsabilidade, ação compreensiva dinâmica e
desenvolvimento económico para estabelecer os parâme- ininterrupta que busca não confundir formação humana
tros educacionais (seja na escola ou fora dela). Os modelos com acúmulo intelectual ou mera preparação profissional.
de aprendizagem e conhecimento das sociedades ociden- A discussão proposta trouxe como objetivo dialogar
tais refletem uma ética utilitária voltada a garantir a “cons- com preocupações que permeiam a “pedagogia do dese-
trução de cidadãos” que se posicionam nas relações socio- jo e do reconhecimento”. Esta é compreendida como uma
políticas como se posicionam diante das escolhas merca- pedagogia que utiliza do encantamento e da beleza para
dológicas. As escolhas são “ensinadas”, promovidas, sob a atingir o “Ser”, promovendo um sentido diferenciado das
lógica de interesses baseados na tríade saber-produzir-pos- pedagogias até então experimentadas nos cotidianos das
suir, distanciando-se da relação conhecer-conviver-ser que escolas formais, habituadas a formar crianças e jovens para
está no cerne de nossa discussão. (BRANDÃO, 2(02) uma sociedade em que aprender relaciona-se diretamente
A pedagogia aqui proposta diferencia-se das metodo- com possuir, ou seja, que prioriza o aprender-para-produ-
logias educacionais das escolas formais por estar ancora- zir-para-possuir, baseando-se no Ter e não no Ser como
da na relação conhecer conviver-ser. O conhecimento neste finalidade última humana.
caso não se reduz a um saber técnico racional, mas é um Daí, também a importância de que o professor pegue
conhecimento que se desenvolve a partir do momento em junto com o aluno e manuseie os objetos desvelando suas
que há uma abertura para o outro, para a compreensão do possibilidades, indo do concreto ao abstrato; de que se co-
outro (seja ser humano ou natureza) que conduza o indiví- loque, então, no lugar do outro, transmitindo a importância
duo a uma prática reflexiva crítica. da compreensão como norte de uma postura humana que
O mais relevante não é o progresso do saber, mas a
leva em conta o aspecto relacional, a dialogia.
liberdade em compreender para retornar a si mesmo de
Ele deve diferenciar-se da postura autoritária que des-
uma forma mais consciente. E essa consciência de si e do
considera os interesses originais dos alunos pelo conhe-
outro implica em lidar conscientemente com as qualidades
cimento e impõe uma cultura científica racionalista que, a
racionais, emocionais e afetivas.
princípio, não pode ser vista pelos alunos como dizendo
Segundo Carlos Brandão (2002, p.65), “toda educação
respeito à sua realidade. Que ele tenha em mente o desa-
cidadã começa por um aprender a sair-de-si-mesmo em
direção ao outro”, e isso é possível com a ampliação de fio imposto pelas diferenças entre as subjetividades tradi-
“círculos e circuitos interativos de diálogos”. Neste sentido, cionais e as subjetividades contemporâneas, estas últimas,
a educação “serve à comunicação e ao que ela constrói en- subjacentes à atitude e comportamento do jovem, e con-
tre as pessoas”. templadas pela passagem da modernidade à “pós-moder-
A ampliação de “círculos e circuitos” de diálogos en- nidade”, tempos do efémero, dos valores fluidos, do co-
tre jovens faz parte desta metodologia, em que o exercício nhecimento descartável, da velocidade técnica, de etcéteras
de “sair de si” em direção ao outro funciona como prática que fazem do processo educativo uma constante aventura
política para atingir em conjunto, por meio da experiência em novos territórios imaginários e exigem dos educadores
de estar fazendo parte de um movimento social, direitos atenção sócioantropológica.
para todos. Diante disso tudo, o professor deve enfatizar aqui-
Esse diálogo construtor de cidadania propõe a crítica lo que não é efémero porque é permanente, a natureza
ao modelo “puramente crítico”, disseminando uma ética humana (a intencionalidade e o desejo pelo bem) que se
baseada na solidariedade, na diversidade e no desejo de materializa mesmo nessas caracterizações pós-modernas.
transmutar a realidade social, e essa transmutação ocorre Dessa natureza, ele pode desenvolver a importância de
com o prazer de se relacionar pela arte. Arte que possibilita transmitir um percurso racional correto, correspondente à
estar em comunhão consigo e com “o outro”. intencionalidade inseparável da experiência vivencial, isto
A arte transforma-se na principal via de comunicação. é, impregnada de afetos, desejos, sonhos ...
Comunicação que representa o espaço em que acontece a
relação ensino-aprendizagem que também é estética. Es- A importância da Arte na Educação – vida plena à
tética que engendra comunhão, que entrelaça, e conjuga, cidadania
fundando o sentido do que é comum, auxiliando no pro- Através da experimentação dos sentimentos e das
cesso de compreensão. emoções, a arte auxilia no encontro da identidade pessoal
O que pode haver, então, de mais importante que o no mundo em que se vive. Durante este processo, o indiví-
paroxismo da razão (racionalismo) como norte educativo? duo não apenas entra em contato com o mundo sensorial,
A resposta que se propõe é: o paroxismo da natureza hu- mas simultaneamente desenvolve e educa seus sentimen-
mana. Re-encantamento do mundo, consideração plena tos através da prática dos símbolos artísticos.
pela alteridade, observação do melhor das tradições (refle- A Arte é a expressão da vida que, associada ao pro-
xo do melhor do homem), busca filosófica -e não exclusiva- cesso de criação, transforma-se na capacidade de exercer
mente científica -pelos sentidos da vida. A educação tem, plenamente a condição de ser humano. A Arte favorece o

17
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
desenvolvimento integral do indivíduo, possibilitando a um dos maiores presentes que temos é a nossa própria
expressão livre do pensamento e das emoções, desenvol- capacidade de pensar, de elaborar… Por isso deve-se esti-
vendo seu raciocínio com criatividade e imaginação. Crian- mular sempre a criação, invenção, produção, reconstrução
do, o indivíduo torna-se mais seguro dos seus potenciais e e reinvenção.
consciente dos seus limites;  torna-se mais autêntico e livre A Arte na Educação refere-se ao desenvolvimento das
para fazer suas escolhas. aptidões e potencialidades de cada indivíduo.  O aluno não
A Arte protagoniza as mudanças sociais e o proces- pode ser manipulado como objeto. Deve ser tratado como
so de construção da sociedade. Na Educação, ela forma ser humano único, próprio, espontâneo e com diferenças
um cidadão consciente, crítico e participativo, capaz de individuais que anseiam por se manifestar. O ser humano
compreender a realidade em que vive. A ação educativa não pode ser encarado como uma máquina copiadora, mas
da Arte tem como objetivo a preparação do jovem para a como algo novo, extraordinário e excepcional. Não pode
vida plena da cidadania, buscando a formação de cidadãos ser moldado ou sufocado, mas orientado para expor toda a
que possam intervir na realidade, podendo ser considerada sua originalidade, sua criatividade, reflexão, sua tendência
como um instrumento de transformação social. para a liberdade, para a auto-criação, sua capacidade de
Ao longo da vida, o ser humano é inundado por conhe- auto-limitar-se e de aspirar, e o seu poder de inquietação
cimentos pré-fabricados, como “receitas de bolo”, trans- interior que o impele até mesmo para o transcendental.
mitidos de maneira hermética. Todos os instrumentos de Ao invés de se desenvolver trabalhos impessoais, onde
uma vida prática parecem imunes às livres reproduções o educando apenas recria e transcreve as técnicas apren-
de valores, idéias e ideais. Havendo apenas uma repetição, didas, a Arte o estimulará a se retratar em suas produções
não há espaço para os sonhos, fantasias e experimentação. artísticas.  Desta maneira, o educando é capaz de manifes-
Não sobra lugar para criar, ocasionando uma transmissão tar a sua própria realidade, com todos os seus conflitos e
de respostas prontas e conservadas.  Sem a oportunida- desejos.  Essa possibilidade que se abre contribui em muito
de de realizar algo novo, que exprima simplesmente o que para o amadurecimento do indivíduo, para o seu auto-co-
nós realmente somos, há o contínuo exercício das respos- nhecimento, para o despertar dos seus sentimentos, para a
tas determinadas e acabadas. O ato criador é renegado, manifestação de suas próprias opiniões e, principalmente,
abandonado e esta postura repetitiva cerceia a capacidade para o verdadeiro sentido do “viver em grupo”.
criadora, reflexiva e sensorial. A cada dia a nossa dura realidade se mostra mais co-
O uso da Arte na Educação aponta para um cenário tidiana.  As marcas da injustiça, do sofrimento e das trai-
em que as respostas moldadas e impermeáveis não podem ções, feitas ao direito de ser, são cada vez mais simples e
mais ser seguidas por pontos finais.  Devem, sim, serem normais. E o futuro? Este então é definido como algo sem
levadas para “seres humanos pensantes”, que possam re- saída.  Completamente imutável.
construí-las e adaptá-las às suas realidades e às suas ne- Devemos saber dos acontecimentos como possibili-
cessidades.  A Arte na Educação busca a intensificação do dades, mas nunca como limites definitivos ou intransponí-
interesse por novas criações, pela reflexão e pelo desen- veis. O papel do cidadão não pode ser apenas o de quem
volvimento de uma capacidade crítica, visando à formação constata o que ocorre, mas também o de quem intervém.
de sujeitos ativos e autênticos.  É exatamente neste sentido Não podemos ser apenas objetos da História.  Devemos ser
que a Arte na Educação atua como veículo de transforma- sujeitos ativos. Ninguém pode estar no mundo de uma for-
ção e um canal para o vislumbre de novas possibilidades, ma neutra, passiva, de braços cruzados. A chave que tanto
novos horizontes. procuramos está e sempre estará nas mãos de cada um. 
O aluno deve ser trabalhado na sua totalidade: corpo, Chegou a hora de transformar.  De transformar com Arte.
mente e espírito. Através desse processo, ele automatica- Faz-se necessário mudar!
mente vê a razão sob uma nova ótica.  Na verdade, a inser-
ção da Arte na Educação propõe uma releitura integral e A Importância do Ensino de Artes na Formação Humana
profunda do processo de aprendizagem, e não apenas de Trabalhar arte na educação escolar demanda requerer
forma verborrágica. seleção dos professores em termos de propostas, escolhas,
Educar com Arte significa educar através do contato estando essas diretamente relacionadas aos conhecimen-
com o outro, do despertar dos sentimentos e da troca.  É tos que possuem sobre arte, educação, aprendizagem na
sair de si mesmo para enxergar o outro.  O que se almeja é instituição escolar e os propósitos da escola na vida dos
que a descoberta interiorizada de sentimentos reais evolua alunos, todas as áreas de conhecimento são importantes
para a externalização dos mesmos de maneira consciente na formação humana, pois, cada uma traz para a humani-
e engajada. O Teatro, por exemplo, é uma das manifesta- dade várias contribuições, intervenções didáticas, os docu-
ções artísticas que consegue trabalhar o indivíduo e, prin- mentos que norteiam e direcionam os conteúdos do ensi-
cipalmente, o coletivo, além de possibilitar o conhecimento no de artes sobre nossa prática formação na elaboração de
histórico e cultural da sua existência passada e contempo- projetos e ações de intervenção pedagógica. A arte tem a
rânea. função tão importante quanto os outros conhecimentos no
É importante ressaltar que o objetivo da Arte na Educa- processo de ensino e aprendizagem.
ção não é formar artistas, mas sim indivíduos conscientes e Desse modo, a introdução da atividade de artes aju-
aptos a exercerem a cidadania, desenvolvendo suas capaci- da no desenvolvimento do pensamento artístico, físico,
dades de reflexão e crítica. Certamente, na nossa existência, intelectual dos alunos buscando uma relação do ensino e

18
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
aprendizagem de artes com as práticas desenvolvidas nas Possivelmente, na época, fosse difícil pensar em uma
aulas do fundamental I, onde o aluno amplia a percepção, arte digital, ou no desenvolvimento de uma ciberarte (ma-
a reflexão e a imaginação. O contexto sobre o ensino fun- nipulação das novas tecnologias e mídias atuais para a
damental nos Parâmetros Curriculares nacionais tem como construção de objetos artísticos), mas hoje esse fator é de-
objetivo formar alunos capazes de compreender e partici- terminante para compreendermos a arte num sentido mais
par do mundo social e democrático, respeitando seus di- amplo e completo.
reitos e deveres. Mostrando ser responsável e estabelecer Tudo passa pelas tecnologias e a humanidade está
críticas construtivistas através de diálogos. marcada pelos desafios políticos, econômicos e sociais
Ter conhecimento sobre as características do Brasil decorrentes de uma nova configuração da realidade, em
suas culturas e identidade, valorizando sem discriminação que campos da atividade humana, estão utilizando inten-
social, racial, sexual e contribuir com a melhoria ambiental samente as redes de comunicação e a informação compu-
da nação brasileira. Desenvolver conhecimento pessoal so- tadorizada (SANTOS, 2006).
bre capacidades física, afetiva, ética. Valorizar e cuidar da O conceito de obra de arte é uma construção social,
saúde e qualidade de vida no individual e coletivo. Utilizar não pode ser um trabalho isolado. A arte possibilita um
intelectualmente as diferentes linguagens verbais, corpo- diálogo com quem a observa, cria situações que podem se
ral, matemática, plástica e gráfica, recursos tecnológicos tornar desafiantes para o apreciador e, algumas vezes, os
para valorizar a construção do conhecimento. Questionar materiais utilizados na própria composição propõem uma
formulando problemas e resolução para os mesmos com reflexão sobre o significado da arte.
pensamento lógico e criativo. Um novo tipo de sociedade condiciona um novo tipo
Conforme Vygotsky (1999): “A arte é o social em nos, e de arte. Porque a função da arte varia de acordo com as
o seu efeito se processa em um indivíduo isolado, isto não exigências colocadas pela nova sociedade; porque uma
significa, de maneira nenhuma, que suas raízes e essência nova sociedade é governada por um novo esquema de
sejam individuais”. (p.315) condições econômicas; e porque mudanças na organiza-
Nesta concepção, a arte é concebida como ação huma- ção social e, portanto, mudanças nas necessidades objeti-
vas dessa sociedade, resultam em uma função diferente de
na intencional que recria a realidade material e transforma
arte (KOELLREUTTER, 1997).
o próprio sujeito, sob a concepção social e histórica do psi-
Contudo, a arte está ligada aos fatores históricos e so-
quismo, um resultado imediato dessa concepção reside em
ciais, mas dialoga ativamente com nossa sociedade, crian-
não se compreender a arte como fruto de um homem só, o
do os estilos de época, e acompanhando a evolução do
artista, mas como um objeto cultural, elaborado sob dada
homem e da tecnologia.
técnica construída socialmente e com temática para obje-
Quando se lida com as formas em artes visuais con-
tivar os sentimentos e, entendemos as demais capacidades
vive-se habitualmente com as relações entre superfície,
mentais tipicamente humanas. Pela interação social, apren- espaço, volume, linhas, cores e a luz. Cada um desses ele-
demos e nós desenvolvemos, criamos novas formas de agir mentos tem suas próprias possibilidades expressivas e são
no mundo, ampliando nossas ferramentas de atuação. ricos em significados, tanto em si mesmo como em relação
A criança e o adolescente é um ser em constante mo- aos demais. E todos eles são intermediados pelos autores
bilidade e utiliza dela mesma para ter conhecimentos da- e observadores ao se utilizarem de métodos e técnicas es-
quilo que os cercam. Contudo, abordarmos o ensino de pecíficas para produzi-las e percebê-las (SANTOS, 2007).
Arte e percebemos que foram inúmeras as tendências que Ressalta-se ainda o valor de uma educação da práxis
influenciaram o ensino e aprendizagem da disciplina ao artística, preocupada com o aprofundamento de conceitos,
longo de sua história.5 critérios e processos, considerando o universo de visuali-
dade do mundo contemporâneo e a complexidade do dis-
curso visual, e nesse contexto, promovendo a ampliação e
enriquecimento dos repertórios sensível-cognitivos, apro-
4. AS DIVERSAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS: fundando os modos de ver, observar, expressar e comuni-
ESTÉTICA - CONCEITOS E CONTEXTOS. car por meio de imagens, sons ou movimentos corporais.
Muitas vezes, o primeiro contato que os indivíduos têm
com a arte é na escola, nas aulas de arte, obrigatórias no
Pela arte, pensamentos tomam forma e ideais de cultu- currículo do ensino fundamental. Espera-se que os estudan-
ras e etnias têm a oportunidade de serem apreciados pela tes, nestas aulas, vivenciem intensamente o processo artísti-
sociedade no seu todo. Assim, o conceito de arte está li- co, a fim de contribuir significativamente em seus modos de
gado à história do homem e do mundo, porém não está fazer técnico, de representação imaginativa e de expressivi-
preso necessariamente a determinado contexto, é essen- dade. Ao mesmo tempo, espera-se também que aprendam
cialmente mutável. sobre os artistas e obras de arte de diferentes períodos,
Para exemplificar, voltemos algumas décadas no tem- complementando assim seus conhecimentos na área.
po e analisemos como a arte era entendida antigamente. Mas, será possível que o professor de artes trabalhe
Como será que nossos bisavôs definiriam a arte? com as funções terapêuticas do fazer artístico?
5 Fonte e adaptado por: www.portaleducacao.com.br/ O professor pode explorar, estudar e se especializar
www.feata.edu.br /www.erra.multivix.edu.br/ Vivian Lacerda / em arteterapia e, na medida do possível, conversar sobre
Adriana Castro Bonfante/Jéssica Fernandes/Rhamona Sales as produções de seus alunos, se algum caso chamar sua

19
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
atenção e ele não conseguir dar conta em sala, é aconse- Uma das finalidades do ensino de arte é a formação
lhável que ele faça o encaminhamento do aluno para um estética, além do refinamento da percepção e da sensibi-
atendimento psicológico. lidade, por meio do fomento à criatividade, da autonomia
A arte foi e é sinônimo de expressão de sentimentos, na produção e fruição da arte. A questão neste texto é con-
emoções, revoltas, traumas... Nossa forma de ver a arte ou seguir explicar como a estética está diretamente vincula-
de fazer arte revela a compreensão que temos do mundo. da ao ensino de arte e vice-e-versa. É um exercício difícil
Podemos nos expressar de diversas maneiras: falando, e relevante para a educação, pois a estética esta presente
rindo, cantando… Também nos expressamos através da em praticas sociais e culturais como forma de expressão e
arte e de diversas formas. representação do mundo, contudo, é essencialmente pre-
dominante na arte. Por meio da educação estética se pode
Linguagens Artísticas despertar a sensibilidade, perceber e organizar os estímu-
Cada pessoa pode ter a sua idéia sobre o que é Arte, los do exterior e as funções globais do corpo.
e, muitas dessas idéias estão corretas, afinal, quem nunca O desenvolvimento estético e artístico, são temas e as-
realizou um desenho, nunca mexeu com tinta, nunca viu ou suntos que estão no cotidiano da prática pedagógica dos
ouviu um artista cantando, nunca assistiu uma peça ou um professores de arte, que utilizam-se de reflexões sobre arte
filme? Creio que todos já tiveram contato com pelo menos e teorias da arte, porém questões conceituais sobre estéti-
uma dessas manifestações artísticas. ca ou sobre os problemas da estética não são amplamente
Defino Arte como algo maravilhoso, que dá prazer às discutidos, ou as teorias sobre arte não são compreendidas
pessoas, pois a Arte contribui para a felicidade do ser hu- como categorias da estética. Na verdade existe uma se-
mano, seja em quaisquer das formas de linguagem artís- paração entre o fazer arte e o pensar arte, entre prática e
tica, porém, não se resume somente a isto, a Arte é mais, teoria da arte.
com ela aprendemos um pouco do nosso passado, através Este texto apresenta algumas reflexões sobre estética
das obras de arte feitas nos períodos mais distintos, po- na prática pedagógica, por meio de um recorte feito a par-
dendo analisar o contexto histórico para verificar o que o tir de pesquisas sobre a prática pedagógica de professores
artista quis expressar. de Artes do ensino fundamental, o objetivo é evidenciar o
Quando uma pessoa aprecia uma obra de arte, seja ela, conceito de estética apontando sua relação com a prática
um quadro, uma escultura, uma música, uma dança, uma pedagógica do professor de Artes numa perspectiva só-
representação cênica, é importante que ela não seja ape- cio-histórica. Para isso discutimos a conceituação e alguns
nas, uma apreciadora passiva, mas que ela, saiba analisar a dos principais problemas da Estética, para depois fazermos
obra em vários contextos. a articulação com a prática pedagógica.
Segundo BARBOSA (1994), o ensino da Arte deve se- Dessa maneira, é relevante desencadear reflexões e
guir, o que ela chama de Metodologia Triangular que é interesses para novos conhecimentos. Refletir sobre uma
composta pela História da Arte, pela leitura da obra de arte educação estética que busque suprir os limites de um en-
e pelo fazer artístico, ou seja, a pessoa que aprende Arte, sino de arte fragmentado, tecnicista e padronizado. Uma
deve saber, não apenas fazer algo, mas também saber de educação estética, que vá além, centrada na realidade em
onde veio aquilo que ela está fazendo, o que levou aque- que se vive, que busque aprimorar e refinar os sentidos,
las pessoas a fazerem aquela obra, para assim, fazerem a compreender os significados e sentidos estéticos da arte,
leitura da obra, podendo perceber a mensagem o que o para melhor compreender e fundamentar a função da ex-
artista quis passar através da sua obra. Além disso, ao cria- periência estética tanto na formação de nossos alunos,
rem suas obras artísticas, poderão criar algo que transmita quanto na formação do professor.
uma mensagem, dando sentido à Arte. Isso não significa O conceito de estética, ao longo da história, foi incor-
que a técnica deva ser deixada de lado, é importante que porando imposição de uma estética ocidental, universalis-
o aprendiz venha a conhecê-las para aprimorar cada dia ta, produção artística elitizada, a influência da cultura in-
mais o seu trabalho, mas, a técnica sozinha, não dá sentido dustrial; a supervalorização do novo; o imediatismo; de ati-
à obra. vidades mentais nas procura do prazer sem esforço e ime-
diato; por gosto e opiniões dirigido pela cultura de massa,
O desenvolvimento do pensamento estético. rompimento da sensibilidade com a educação do intelecto
Atualmente, o mundo vive transformações sociais, cul- e a busca pelo belo idealizado, imposições que acarretou
turais, políticas, tecnológica, estética, resultantes de um em um empobrecimento ou uma vulgarização do real sig-
longo processo de mudanças de comportamentos, hábi- nificado de estética. Outra questão a se considerar é que,
tos, formas de pensar e agir que estejam além de aspectos conceito de estética ficou durante muito tempo atrelado a
objetos e da lógica, mas que também contemple os aspec- beleza, atualmente, ocorreu um rompimento, tornando-se
tos subjetivos e sensíveis de ver e compreender o mundo. supérfluo, pois a questão do belo depende da cultura em
Essas mudanças afetam a articulação da educação com o que o indivíduo está inserido.
campo da arte, pois a educação é uma prática social que Portanto, a partir dessas concepções, surgem alguns
visa a formação do ser humano, contribui e amplia possi- questionamentos quanto educação estética na escola: os
bilidades cognitivas, e também afetivas e expressivas, daí professores de artes têm realmente construído ações que
a necessidade de um conhecimento que estabeleça cone- promovam a educação estética em todos os níveis e con-
xões entre o processo mental e a educação dos sentidos. texto do ensino fundamental?

20
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Porque se fala tanto de estética e qual necessidade his- conhecer as ideias, pois, só pela intuição se apreenderá”
tórica que responde as inúmeras formulações dentro deste (BAYER, 1978, p.47). A aparência sensível, é constituída pela
tema? imitação de um ideal concebido no mundo das Ideias. A
Essas questões sintetizam parte de inúmeros questio- única arte aceita por Platão é arte do raciocínio, a poesia
namentos que podem ser formulados sobre a estética e a é uma arte, tal qual como a política, a guerra, a medicina,
educação estética no ensino de arte no ensino undamental. a justiça etc, principalmente pelo caráter virtuoso das nar-
Vamos no ater somente às questões citadas acima, por um rativas.
questão de tempo e espaço, embora tenhamos clareza que Já Aristóteles, diferentemente de Platão, afirmava que
as nossas reflexões não se extinguiram neste texto. não havia uma estética, fazia uma separação entre a arte da
De princípio, é importante afirmar que a estética é emi- ciência e restringindo assim, o conceito de arte. Por outro
nentemente filosófica, os conceitos sobre estética confun- lado, ele diferenciava as coisas geradas por obra da nature-
dem-se com o conceito de arte, mas se ocupa especifica- za e não define a arte como imitação dos objetos naturais,
mente do conhecimento sensível. Nesse sentido, a estética mas da própria natureza. Não uma imitação da imitação,
estuda as qualidades de formas de representação artísticas como Platão concebia, porque a imitação direta vinda do
racional, da inteligência, por meio da sensibilidade, é ne-
perceptíveis pelos sentidos, busca a construção de um dis-
cessário, absoluto e ideal.
curso reflexivo sobre o fazer artístico e o processo criativo.
Para Aristóteles, o belo é visto como algo de bom, ao
A reflexão sobre estética é uma vivência, afinal a obra lado do belo moral encontra-se o belo formal, assim, o belo
de arte não é percebida somente pelos órgãos do sentido, e a moral é uma estética do bem. Ele foi influenciado pelas
mas é uma atividade interior que entra em contato com a teorias matemáticas de Pitágoras, considerava a percepção
vivência do outro indivíduo. Nesse sentido, a Estética se da beleza ocorre entre os sentidos e o intelecto e resulta
constitui por um discurso reflexivo e autônomo, de natu- de um perfeito equilíbrio de uma série de elementos. As-
reza filosófica acerca dos aspectos gerais da arte, do fazer sim, considerava que só existe beleza se há simetria; que as
e produzir artístico, a estética evidencia particularidade da formas supremas do belo são está em conformidade com
obra artística, configurando suas nuances entre a produção as leis, da simetria e da determinação.
singular e universal. Aristóteles, criou duas importantes concepções que in-
fluenciou a reflexão sobre estética: a arte é uma imitação
A estética ao longo da história (mímesis) da natureza e a arte é um meio de purificação
Cada época, cada movimento artístico, cada filosofia, (catharsis) dos sentimentos.
logo que surgiam novas concepções era substituída, revista Avançando para a estética alemã, do século XVIII, des-
ou rejeitada, por novos conceitos sobre forma e conteúdo taca-se os precursores de Kant. Esse período que foi mar-
em arte, desse modo, falar de estética é demasiado com- cado pela dissociação da estética da moral, porém Kant re-
plexo. Na tentativa de analisar e compreender os conceitos toma essas ideias e busca demarcar os limites desses dois
estéticos convém retomar os conceitos de estética cons- domínios.
truídos historicamente de maneira a apresentar suas prin- Inicialmente, apresenta-se a concepção de Leibniz,
cipais manifestações. segundo Bayer (1978), a filosofia europeia foi influencia-
As teorias estéticas começaram a ser construídas desde da pelas concepções de Leibniz. Ele considerava que é na
a antiguidade clássica e até hoje são objetos de pesquisa harmonia que percebemos o belo e o universo é apenas
e têm merecido especial destaque, especialmente a partir o reflexo da própria harmonia interior do homem, sendo
do desenvolvimento do modo de produção capitalista, que o universo, “um conjunto harmonicamente acabado, pois,
impõe a necessidade de trabalhadores criativos e flexíveis todo o universo é dominado por uma visão estética e re-
integra o novamente o sentido de Belo e que o domínio
para que possam se adaptar às constantes oscilações do
estético não é um domínio original, mas, conhecimento do
mercado de trabalho.
perfeito” (Idem, p.174) .
Segundo Bayer (1978), na antiguidade primeiramente
Ele defendia a existência, de uma única realidade, mas
pode-se destacar o pensamento de Platão sobre estética, dividida em uma infinidade de seres, as Mónadas. Cada Mó-
(427 a 348 a.C), porém não existe uma estética Platônica, nada representa uma alma e um corpo indissoluvelmente
porque toda a sua filosofia é estética e as suas concepções unidos num desenvolvimento contínuo. “As mónadas estão
estão centradas no Mundo das Ideias. Platão, entendia a em evolução contínua; a evolução da representação, que
arte por meio de regras que poderiam dirigir a vida do ser é a manifestação única da mónada, vai do conhecimento
humano e não separava arte da ciência, sua estética é cen- vago ao conhecimento inteiro, distinto, que é o conheci-
trada na metafísica. mento divino”. (BAYER, 1978, p.176).
Platão, considerava impossível separar o belo do mun- Na verdade, Leibniz criou suas teorias dentro de uma
do das Ideias, pois, a beleza é a única ideia que verdadei- psicologia estética, para ele, o estado artístico surge das
ramente resplandece no mundo, o belo é o bem e a perfei- próprias pessoas e toda estética dá sempre à forma em
ção. Ele criou uma concepção de belo, que se afastava da lugar importante e a substância formadora apela para uma
interferência e da participação do juízo humano, ou seja, o estética, a criação .
homem tem uma atuação passiva ao conceito de belo. Wolff, afirmava que era impossível uma separação en-
A estética deve aparentar os sentimentos, agradáveis tre consciência e pensamento. Leibiniz, que por sua vez,
ou não, pois, vêm da natureza da alma, onde “A realidade afirmava que existe outro nível de conhecimento (cogni-
não é mais do que uma cópia imperfeita, o que importa é ção) e não havia divisões entre a extensão do pensamento,

21
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
e que eles não são parados, porque eles se unem e iden- Quanto a filosofia moral Kant afirma que:
tificam num determinado elemento. Assim, esses dois filó- A base para toda razão moral é a capacidade do ho-
sofos utilizavam sistemas de conhecimento: inferiores os mem de agir racionalmente. O fundamento para esta lei de
sentidos e superior o espírito. Kant é a crença de que uma pessoa deve comportar-se de
Baumgarten, foi influenciado pela as idéias de Christian forma igual a que ela esperaria que outra pessoa se com-
Wolff e de Leibinz. portasse na mesma situação, tornando assim seu próprio
Baseando-se nas concepções de Leibniz, Baumgarten comportamento uma lei universal (HÖGE, 2000, p. 38).
viu a região da estética entre a sensibilidade e a inteligên- O século XIX, foi um período marcado por grandes
cia pura. Afirmava que a estética é a ciência da cognição transformações, entre eles o aparecimento do movimento
sensorial e que a cognição sensorial deriva por meio do romântico, na arte romântica ocorre o recomeço de ati-
trabalho natural. Que o conhecimento origina da sensação vidade da Ideia. Na estética alemã deste período aparece
e também da lógica ou cognição. Considerava que a cog- Schiller, que discute a objetividade e sua cultura, mostra
nição sensorial se amplia com formação. A cognição senso- muita consciência, sobre as possibilidades da arte e seus
rial prazerosa conduz a um sentido de beleza. recursos, porque, para ele o fim estético era o de tornar o
Com relação à beleza, Baumgarten, estava a frente “instinto em arte e o inconsciente em saber” (BAYER, 1978,
dos demais filósofos da sua época, afirmou a relação entre p. 293).
beleza e pensamento belo e que a beleza é o resultado Schiller escreveu a sua principal obra as Cartas sobre a
de uma cognição do sensível. Por volta de 1750, passou a Educação estética do Homem. Esta obra além de ser esté-
determinar regras para beleza estética e o estudo do que tica, é também sociológica, pois a estética aparece como
experimenta-se perante a arte percepção, sensação, con- um suplemento da política e da nova moral. Na sua teoria,
siderou que a estética é a “ciência do conhecimento sen- a virtude educadora da arte é a junção do moralismo e do
sível”. Para ele o artista, ao criar, altera intencionalmente a romantismo, porém o seu moralismo salva-o do roman-
natureza, adicionando elementos de sentimento a realida- tismo. Schiller escreveu sobre estética e adaptou as suas
de percebida por estes. próprias concepções com as de Kant, não há duvidas que
Nesse sentido para Baumgarten, iguala-se ao prévio a obra estética da maturidade de Schiller foi baseada nos
pensamento grego clássico que considerava a arte princi- seus primeiros pensamentos, pois o belo á a manifestação
palmente como mimesis da realidade. Dividiu em estética da humanidade ideal.
em duas partes: estética teórica e prática. (BAYER, 1978, Schiller afirmava, que há uma manifestação em que
p.180). essa contradição é resolvida, “a reconciliação, a catharsis,
Outro filósofo de relevância para a discussão sobre esta na contemplação, em que o homem verdadeiramente
estética é Emmanuel Kant, um dos mais importantes e in- não deseja e em que, por isso, não tem de lutar em nome
fluentes filósofos da modernidade. Em seus estudos, con- da moral” (idem, p.302). Com relação a transcendência da
siderava que toda ação deve orientada pela razão, e que arte na criação artística, pela catharsis, pela habilidade de-
a razão humana é a base da moralidade. Na crítica da ra- legada ao homem pela técnica do fazer, pois, no momen-
zão pura apropria-se da palavra estética de Baumgarten, to em que o artista cria ou realizar uma produção artística
como um estudo gnosiológico denominando de estética (pintura, poesia, escultura, música, teatro), ele está eviden-
transcendental. As suas concepções no campo da estéti- ciando uma representação sensível, por meio do fazer ar-
ca e despertaram interesse em grandes pensadores que se tístico mostra a força da estética.
surgiram depois dele. A sua Crítica da Faculdade de Julgar, A obra estética de Hegel é a primeira que combina a
publicada em 1790, contribuiu para as bases teóricas para reflexão filosófica com uma história da arte. A base da filo-
todo criticismo romântico alemão e as fundações de uma sofia hegeliana é a noção de Ideia, onde a arte é a repre-
nova Estética. sentação particular da Ideia, é a manifestação ou a própria
Para Kant, o prazer estético, quanto à sua natureza, não aparência sensível da Ideia. Hegel defendia o belo artístico
é igual a nenhum outro tipo de prazer, porém existe uma como o único com interesse estético. E que o belo artístico
diferença, pois, as “duas das faculdades intelectuais, habi- é um produto do espírito, por isso só o podemos encontrar
tualmente divergentes, estão de acordo aqui: imaginação e nos seres humanos e nas obras que eles produzem.
o entendimento. Esta coincidência inabitual causa-nos pra- Para Hegel, o que existe de profundo e verdadeiro na
zer; e esse prazer, é prazer estético; e por isso ele é desin- obra de arte escapa ao sentimento particular do belo e ao
teressado e na o precisa de posse material” (idem, p. 201). do gosto como aos demais sentimentos, ele acrescenta “o
Assim, o aspecto emocional, foi ligado à estética, por- que há de profundo na obra de arte apela não só para os
que relacionou com o prazer e desprazer, portanto, segun- sentimentos e para a reflexão abstrata, mas para a plena
do Martindale (2000), o juízo estético se resume em pura razão e para a totalidade.” No processo estético, o sensí-
contemplação, não possui interesse ou desejo, não quer vel é espiritualizado e o espiritual aparece como sensibili-
atribuir um conceito fixo, é um juízo livre na sua essência; zação. Ainda sobre a concepção de belo Hegel, considera
são verdadeiros juízo individual. que toda obra de arte tem um fim em si, ela é somente
A beleza é a única maneira de satisfação e sensibilida- um instinto natural de reproduzir e o prazer de ver a obra
de, e é livre de todo sentimento de egoísmo,daí livre de terminada , o fim das belas artes não é imitar, é despertar
deste sentimento castrador, liberta o homem. paixões e sentimentos, e acordar acontecimentos humanos
Considera que o único ideal de belo é o homem, pois por meio “dos espetáculos multiformes da natureza” (BA-
este é o único ser livre e moral. YER, 1978, p.309).

22
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Hegel sempre ocupou cargos ou desempenhou fun- escritos considera a arte inspiradora, porque une o possí-
ções relacionadas à educação, para ele, uma sociedade não vel e o real, gerando uma forma concreta, ele afirmou que,
sobrevive sem a educação, pois ela é expressão da razão “uma emoção estética, é um fato distinto, porém, não mui-
que busca estabelecer a liberdade e implantá-la enquanto to afastado de outras experiências naturais” (BAYER, 1978.
prática corrente. Nesse sentido, Hegel atribui centralidade p. 434).
ao conteúdo e não aos métodos e técnicas. Dewey não concebia uma estética sem a influencia da
O conteúdo deve ser ministrado enquanto direito e educação e da sociedade e o conhecimento da história é
também necessidade, pois é por ele que o homem aprende indispensável para julgar uma obra de arte. A estética ao
a ser livre, isto é, racional. A liberdade como fim da educa- mesmo tempo que é uma estética experimental, é também
ção somente se realiza na totalidade da comunidade o que sociológica e cultural, talvez por isso, preocupava-se com
implica a superação de posicionamentos individualistas. o desenvolvimento de uma sociedade democrática. Nesse
Avançado para o século XX, a estética ganha uma vas- sentido, participava ativamente na crítica social, mas, não
ta dimensão, pois esse período foi marcado por grandes como um mero expectador de exercícios abstratos de con-
revoluções na estética. Na teoria da educação destaca-se templação, dissociados da moralidade prática.
o filósofo Herbert Read, que considerava a importância do A arte para Dewey é também expressão de um valor
conhecimento intelectual para o processo educativo e John particular e a expressão do sentimento do artista, essa ex-
Dewey, a importância da interação dos elementos psicoló- pressão é revelado no momento da criação, na fusão dos
gicos e sociais. meios e do fim, do útil e do belo, deve conservar sua uni-
Herbert Read, no final do século XIX, foi influenciado versalidade. Bayer (1978, p. 434) escreveu: “ O sentimento
pelas teorias de Platão e Schiller, ele considerava que “o numa obra de arte não é uma experiência pessoal, antes
objetivo da educação pode ser apenas o de devolver, ao deve ter o caráter universal”
mesmo tempo em a singularidade, a consciência social ou A partir do século XX, é interessante apresentar os pen-
reciprocidade do indivíduo”. samentos do filósofo húngaro Lukács (1978), que em suas
No campo da educação artística, ele afirmava que a concepções, sobre estética, apresenta a arte, como reflexo
arte deve ser a base para educação. estético da realidade, tendo em vista os valores humanos e
Para Herbert Read a criação artística deve ser pensada
a realidade objetiva.
por meio de métodos, pois, são fenômenos de auto-reve-
Faz uma reflexão sobre as categorias da particularidade
lação, “ideais para revelar ao homem sua personalidade
e de realismo crítico, baseando-se nos fundamentos teóri-
(READ, 1956, p. 18).
cos marxistas, não deixando, contudo, de dialogar e fazer
Para Herbert Read, a estética é uma ciência empírica
a crítica a estética de Hegel, Kant, Aristóteles, entre outros.
que prova cientificamente esses fenômenos, busca meios
Em suas concepções sobre a estética, Lukács acredi-
e apresenta ferramentas para a sua aplicação no sistema
educativo. Assim a estética nas suas concepções, dividiu-se ta que o prazer estético deve ser vivido mesmo diante do
em duas ordens de fatos evidentes: fatos subjetivos que comportamento da sociedade capitalista, afinal, a arte não
poder ser apreendidos introspectivamente, cuja importân- deve cultivar uma visão estática, congelando a vida social.
cia é o capital e o mundo de fatos analisáveis, que tentava A arte tem o poder de realizar uma leitura correta do con-
mostrara estética por meio das observações das propor- texto social e ter uma apreciação exata do momento pre-
ções, ritmos, harmonia. sente. Ela deve estar centrada na busca incessante de estar
Nos Estados Unidos, no início da primeira metade do ligado à vida cotidiana e buscar suas maiores conquistas e
século XX, destaca-se a estética do norte-americano John transformações, afinal, é para o cotidiano que se vive.
Dewey, cuja principal característica é a utilização da técnica Desse modo, a vida social deste homem é constante-
da experiência que pode ser percebida diretamente dessa mente transformada, por meio das aquisições obtidas por
relação. A estética experimental de observação e de des- intermédio da arte e da ciência, a forma pura de reflexo.
crição, encontra-se na obra estética Arte é experiência, que A arte e a ciência se desenvolvem intensamente, segundo
escreveu sobre os seguintes valores: moral e educação, em Lukács:
1934. A ciência descobre nas suas leis a realidade objetiva in-
Dewey se considerava empírico e pragmático. O prag- dependente da consciência. A arte opera diretamente sobre
matismo permeou todo o seu estudo, pois, acreditava que o sujeito humano: o reflexo da realidade objetiva, o reflexo
toda a ideia, valor e instituição social surge das circunstân- dos homens sociais em suas relações recíprocas, no seu in-
cias práticas da vida do ser humano. Para ele essas ideias tercâmbio social com a natureza, é um elemento de media-
não botavam de revelações divinas e nem refletiam um ção – ainda que indispensável –, é simplesmenteum meio
modelo ideal. Para ela a verdade não representava uma para provocar este crescimento do sujeito (1978, p. 295-6).
ideia na esperança de ser descoberta, afinal só poderia ser Os pensamentos do autor, trouxeram uma enorme
realizada na prática. contribuição para valorização da criação artística. Toda
A teoria estética Dewey, nem sempre coloca uma se- criação artística tem a capacidade de conquistar uma uni-
paração entre o estético e artístico, ele entendia o estético versalização que transcende o campo restrito da singula-
como o gozo, e o artístico como atividade produtora. ridade, porém, isso poderá acontecer se criação artística
Ele era veementemente contra a filosofia idealista, pois conquista a particularidade estética. Quando isto acontece,
e compreendia, que a estética deveria servir para realizar a a obra criada, toma novas proporções, para elevar-se da
vida de um povo, e jamais ser “a arte pela arte”. Em seus imediata individualidade cotidiana.

23
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Na visão de Lukács, o julgamento de estética é deter- Numa compreensão sócio-histórica a educação estéti-
minada pela passagem do universal ao particular: é apenas ca é o contato com a arte, que adequadamente vivido e as-
reflexivo se o universal é buscado a partir do particular. similado, se insere no processo mais íntimo do desenvolvi-
Para o autor a obra de arte é o reflexo estético da rea- mento pessoal; promove a auto-realização e ajuda o aluno
lidade, no processo criador e no comportamento estéti- a desenvolver melhor as suas potencialidades. O objetivo
co-receptivo em face da arte, ou seja, “universalidade da da educação estética é ensinar a capacidade de perceber e
forma artística”. entender arte e a beleza em geral (LEONTIEV, 2000).
A educação estética oportuniza uma experiência que
Educação estética não é uma simples manifestação da sensibilidade desco-
Entender educação estética e a arte como conheci- nectada da sociedade, mas que sintetiza um conjunto de
mento é romper com a ideia de que a ciência é puramen- relações significativas e universais; propicia a oportunida-
te racional e a arte puramente sensível, na verdade arte e de de interpretar os elementos das linguagens artísticas e
ciência integram as diferentes formas de conhecer. O pri- preparar a criança para romper as fronteiras da sua vida
meiro a defender essa junção é Baumgarten que começa a cotidiana. É fundamental para a formação da criança, busca
utilizar o termo Estética como ciência que estuda o belo, a a interação com a vasta gama de textos e imagens, sons e
percepção e a teoria da arte. movimentos, tanto no espaço da escola como fora da esco-
Autores como Schiller, Herbert Read, Dewey, citados la, de maneira a possibilitar a apreensão e compreensão da
acima desenvolveram estudos sobre educação estética, cultura na sua totalidade e a socialização do saber em arte.
cada um com uma concepção e em tempos históricos dis- Esse processo de revelar e construir nosso olhar, audição
tintos. De maneira geral a educação estética pressupõe a e movimentos, de apontar novos significados e sentidos.
formação integral do aluno, tanto em seus aspectos sen- O educador precisa propiciar à criança um diálogo
síveis e cognitivos, que contemple a arte como forma de íntimo e profundo com produções culturais, para que ela
propiciar um processo de ensino e aprendizagem mais sig- amplie horizontes particulares, quanto maior for o conta-
nificativo e amplo, tendo a arte como base para a educação to com os bens culturais, à medida que ela compreende e
integral do homem. dialoga com a cultura que a cerca, como estão configura-
das os elementos construtivos e qual é o contexto estético,
Outro autor que estuda e aponta para a necessidade
social e histórico, maior será o desenvolvimento e aprendi-
de uma educação estética é Vigotski (2001a), que afirma
zado da criança.
que educar esteticamente significa criar um conduto per-
A experiência estética é uma vivência individual e co-
manente e de funcionamento constante, que canalize e
letiva, pois a obra de arte não é percebida somente pelos
desvie para necessidades úteis a pressão interior do sub-
órgãos do sentido, mas é uma atividade interior que entra
consciente. A reação estética que se opera ante uma obra
em contato com a vivência do outro indivíduo, segundo
de arte, não serve apenas para repetir no espectador o FISCHER (1976, p. 13), “a arte é o meio indispensável para
sentimento ou a percepção do autor, mas para superar e essa união do indivíduo como o todo; reflete a infinita ca-
vencer o efeito por ela causado, por exemplo a obra Crian- pacidade humana para a associação, para a circulação de
ça Morta de Portinari, nos coloca diante de uma realidade experiências e ideias”.
triste, mas ao vê-la nos colocamos acima dela, superamos Dentro desta perspectiva Vigotski, considera que
e vencemos a impressão de tristeza. Essa vivencia estética quanto mais a criança “veja, ouça e experimente, quanto
contribui para a organização de nossos comportamentos, mais aprenda e assimile, quando mais elementos da reali-
enfim “a arte implica em emoção dialética que reconstrói o dade disponha em sua experiência, tanto mais considerá-
comportamento e por isso ela sempre significa uma ativi- vel e produtiva será, como as outras circunstâncias, a ati-
dade sumamente complexa de luta interna que se conclui vidade de sua imaginação” (2006, p. 18). Isto pode ocorrer
na catarse” (VIGOTSKI, 2001a, p. 345). por meio do oferecimento de diferentes possibilidades de
A educação estética não é um recurso pedagógico que leitura de imagens, por meio do contato com fotografias
ajude a resolver problemas difíceis e complexos da educa- (publicadas em jornais, revistas), literatura, pinturas, qua-
ção ou que exista para a distração e execução prazerosa drinhos, desenhos, esculturas, peças de teatro, dança, com-
de atividades escolares, onde a arte é utilizada como meio putador, televisão, filmes, imagens publicitárias (cartazes,
para atingir resultados pedagógicos estranhos à própria outdoors, anúncios, charges) entre outros.
estética. A escola e os professores são os mediadores que de-
Também a arte não pode adquirir valor no processo vem oferecer perspectivas teóricas e práticas, discussões
educativo pelo sentido moral que, por vezes lhe é atribuído e experiências com atividades que promovam o entendi-
as impressões estéticas, os contos por exemplo, são utiliza- mento de formas de expressão, das tradicionais e novas
dos como forma de trabalhar a rotina, sermões ou regras técnicas artísticas.
sociais.
A arte não deve ser trabalhada por si mesma, não pode A estética na prática pedagógica
estar restrita aos estudos da forma ou de aprendizado de A prática pedagógica do professor de arte tem sido
técnicas, mas deve estar voltada para a complexidade do objeto de estudo por parte dos técnicos da Secretaria Mu-
observar, ouvir e sentir. Conforme Vigotski (2001a, p. 351), nicipal de Educação, responsáveis pelo componente curri-
“só é útil aquele ensino da técnica que além dessa técnica e cular Artes no ensino fundamental. Questões como meto-
ministra um aprendizado criador: ou de criar ou de perceber”. dologia de ensino, avaliação, currículo e função da arte na

24
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
escola estão presentes em cursos de formação continuada A questão é que se menciona a capacidade estética, o
e atendem às necessidades que emanam da prática peda- conhecimento estético, padrões estéticos. Esses conceitos
gógica do professor de Arte. Uma das discussões que rea- podem ser compreendidos quando se discute o conheci-
lizamos trata da educação estética, que se apresenta como mento artístico como produção e fruição, ou seja, como
uma das propostas metodológicas específicas do ensino experiência estética direta da obra de arte. Esse conheci-
das aulas de Artes em consonância com as teorias pedagó- mento caracteriza-se: pela obra de arte situar-se entre o
gicas libertária, libertadora e histórico-crítica (PESSI, 1994). particular e o universal da experiência humana, revela a
Essa temática gerou uma grande polêmica, pois a ten- possibilidade da existência e comunicação para além da
tativa de conceituar, definir e caracterizar estética, eviden- realidade e relações habitualmente conhecidos; pela cria-
ciou a grande confusão e imprecisão do conceito de esté- ção artística que distingue-se das outras produções huma-
tica e por consequência sobre o que é educação estética. nas pela qualidade da comunicação que ela propicia por
A partir dessa problemática iniciamos um estudo so- meio das especificidades das linguagens artísticas, onde a
bre a estética e a educação estética no ensino de arte, de
forma artística fala por si mesma, indo além das intenções
maneira a apreender a constituição histórica do conceito,
do artista; a percepção estética é a chave da comunicação
apontando as raízes que sustentam tal discurso. Para reali-
artística, o processo de conhecimento artístico advém da
zar nossa análise recorremos ao levantamento bibliográfico
sobre a temática contrapondo os estudos teóricos com as percepção das qualidades da linha, texturas, cores, sons,
informações empíricas colhidas por meio de questionários movimentos, etc., onde o receptor deixe-se tocar sensivel-
aplicados a professores de Artes do ensino fundamental mente para perceber os significados que emanam dessas
da Rede Municipal de Ensino, além observações e contatos qualidades; a personalidade do artista é ingrediente que se
com professores de arte em grupos de estudos e cursos transforma em gesto criador; a imaginação criadora trans-
oferecidos no decorrer do ano de 2006 e no primeiro se- forma a existência humana.
mestre de 2007. O conhecimento artístico engloba, ainda a reflexão,
As nossas observações permitem afirmar que no en- pois o universo da arte contém um outro tipo de conhe-
sino de Artes tem na educação estética seus fundamentos cimento que é gerado pela necessidade de investigar o
e princípios, mas que na prática pedagógica do professor campo artístico como atividade humana, tal conhecimento
existe um distanciamento desses fundamentos. Isto ocor- delimita o fenômeno artístico: “como produto das cultu-
re pela ausência de uma discussão mais aprofundada dos ras; como parte da cultura; como estrutura formal na qual
próprios fundamentos do ensino de arte. Como diz Saviani podem ser identificados os elementos que compõem os
(2003), o óbvio, por ser muito evidente acaba por ser es- trabalhos artísticos e os princípios que regem sua combi-
quecido e não é tomado como objeto de estudo. Assim, nação” (BRASIL, 1997, p. 43).
ocorre com a questão da educação estética, que por ser Segundo consta nos PCNs, apenas um ensino criador,
fundante e inerente para compreender o processo de ensi- que favoreça a integração entre a aprendizagem racional e
nar e aprender Arte, deixa de ser discutida e estudada, até estética dos alunos, poderá contribuir para o exercício con-
mesmo de ser mencionada. junto complementar da razão e do sonho, no qual conhe-
Essa análise pode ter início em um dos principais do- cer é maravilhar-se, divertir-se, brincar com o desconheci-
cumentos que regem o ensino de Arte no Brasil: os Parâ- do, arriscar hipóteses ousadas, trabalhar duro, esforçar-se e
metros Curriculares Nacionais de Arte. De início podemos alegrar-se com descobertas (BRASIL, 1997, P. 35).
apontar a presença da estética em dos objetivos gerais do Os princípios presentes nos PCNs, apresentam princí-
ensino fundamental: “desenvolver o conhecimento ajus- pios do ensino de Arte que começaram a ser discutidos
tado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas
na década de 1980 com o movimento Arte-educação que
capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de
definiu linhas políticas e a defesa de ensino de arte de qua-
inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com
perseverança na busca de conhecimento e no exercício da lidade. Uma das principais questões é a necessidade da lei-
cidadania”. Já nos objetivos gerais de Arte para o ensino tura da imagem, essa discussão é levantada por Barbosa
fundamental, consta - Edificar uma relação de autocon- (1991) que, na proposta triangular propõe o fazer artístico,
fiança com a produção artística pessoal e conhecimento a apreciação estética e a contextualização.
estético, respeitando a própria produção e a dos colegas, Decorrem daí uma série de estudos sobre a imagem
no percurso de criação que abriga uma multiplicidade de no ensino de artes, Meira (2006, p. 121) afirma que “Hoje
procedimentos e soluções. o estético está na ordem do dia, já que dizem ser a nossa
- Compreender e saber identificar a arte como fato his- a civilização da imagem. Nada é tão representativo de ex-
tórico contextualizado nas diversas culturas, conhecendo periência estética como uma imagem, seja ela algo etéreo,
respeitando e podendo observar as produções presentes fantástico, ou algo materializado numa forma natural ou
no entorno, assim como as demais do patrimônio cultural e cultural”.
do universo natural, identificando a existência de diferenças Essas discussões se desdobram em estudos sobre a
nos padrões artísticos e estéticos. (BRASIL, 1997, p. 53-4). educação do olhar (PILLAR, 2006) tendo em vista a neces-
Em sequência no bloco de conteúdo “as artes visuais sidade de discussões sobre a leitura estética e a compreen-
como objeto de apreciação significativa” temos o conteú- são estética. Martins (2005) aponta para provocações esté-
do: convivência com produções visuais (originais e repro- ticas e mediações pedagógicas. Surgem estudos que abor-
duzidas) e suas concepções estéticas nas diferentes cultu- dam a estética e o desenvolvimento estético (ROSSI, 2006;
ras (regional, nacional e internacional). MEIRA, 2006), a estética do cotidiano e a interculturalidade

25
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
(RICHTER, 2003), os diferentes olhares sobre a educação Esse movimento provoca um distanciamento da teo-
estética e artística (FRÓIS, 2000) e os fundamentos esté- ria que explica o ensino de Artes e a prática pedagógica
ticos da educação propostos por (DUARTE Jr, 1981; 1983). do professor, pois cotidianamente a experiência estética é
A questão é que existe uma fragmentação da com- propiciada aos alunos, mas sem que se conheça as teorias
preensão sobre a estética no ensino de Arte, pois em ou- que fundamentam essa prática.
tros estudos a educação estética ou a estética não é cla- A educação estética e o estudo sobre estética repre-
ramente conceituada e o enfoque recai sobre experiência senta a possibilidade de aprofundar conceitos, de com-
estética, conhecimento estético, desenvolvimento estético preender a complexidade que envolve ensinar e aprender
que aparecem sobre a ótica da educação do olhar, para a arte, pois o que a educação estética propõe é uma forma-
leitura de obras, para a imagem esquece-se de anunciar os ção ampla e sensível aos alunos.
seus fundamentos. Propõe a reflexão e a continuo estudo sobre as formas,
Toda a discussão feita acima e que está presente em conteúdos da arte, bem como dos mecanismos envolvidos
livros e documentos oficiais encontra eco na prática do nesse processo, como a criatividade, a expressão, a míme-
professor. Os questionários analisados evidenciam que os
ses, o belo e a qualidade das percepções oriundas de obras
professores de Artes procuram desenvolver suas aulas de
de arte ou não.
acordo com os pressupostos da proposta triangular, e que
No Brasil as concepções sobre educação estética ini-
enfocam os valores estéticos da cultura regional como for-
ciaram-se centradas nas ideias do filósofo Herbert Read. As
ma de tornar contextualizado ensino de Arte.
Outra questão que merece ser mencionada é que o concepções de Read, ancoradas no princípio de que a arte
professor de Artes acredita ainda, em uma educação que é a base para a educação, foi amplamente difundida nas
favoreça a arte como princípio para a execução de ativida- Escolinhas de Arte no Brasil.
des que desenvolvam habilidades motoras e a satisfação e Segundo Ivone Richter (2000), a estética é vista como
a ludicidade necessária para o aprendizado de conceitos, área do conhecimento, com ênfase na apreciação e com-
regras e habilidades intrínsecas a outras áreas de conhe- preensão da arte. Esta tendência foi proposta a partir do
cimento. DBAE - Discipline-based Art Education, nos Estados Unidos
A questão é que na prática pedagógica do professor a que defendia o ensino das artes visuais apoiado em quatro
dimensão estética está distante do discurso do professor. grandes eixos: a produção artística, a apreciação da arte
Na prática pedagógica o professor de Artes evidencia toda (estética), a crítica da arte e a história da arte.
uma discussão sobre leitura e releitura de imagens, de per- A educação estética, a arte é vista como parte da vida
cepção dos elementos das linguagens artísticas, com maior cotidiana, abrangendo além da estética vinculada à produ-
ênfase nas artes visuais, pois a maioria tem formação em ção artística, mas também a estética do cotidiano.
artes visuais, mas não discutem o que é educação estética Este enfoque dá ênfase à sensibilidade, à relação com
e, quando o fazem seguem os princípios defendidos por o meio ambiente e ao multiculturalismo. A interdiscipli-
Herbert Read. naridade aparece como uma possível proposta de ensino
Outra questão é que a experiência estética é com- (Feldman, Fichtner).
preendida sob os mesmos pressupostos da experiência Duarte Jr (2004) afirma que atualmente experiência
artística, ou seja, é uma experiência pautada no fazer arte. estética pede uma mudança na maneira pragmática de
Mas, a estética deve ser compreendida como uma ca- perceber o mundo. Esta experiência (e também o trabalho
pacidade reflexiva sobre esse fazer, enquanto que arte é científico ou filosófico) foi transformando-se em um obstá-
a representação, expressão e materialização da percepção culo dentro da realidade cotidiana. A experiência do belo é
estética.. uma espécie de parêntese aberto na linearidade do dia-a-
Nesse sentido é interessante observar que a estética
-dia. (Duarte Jr.,1991, p.33)
ocupa-se com o conhecimento sensível e com a qualidade
Diante do exposto, no processo de construção histó-
da percepção seja do belo como do feio que emanam das
rica, pode-se perceber que a estética ganhou novos, que
qualidades dos elementos constitutivos das diferences lin-
não pertence somente ao campo da arte e atualmente a
guagens artísticas.
Os nossos estudos evidenciaram que a educação es- estética é uma ciência independente da filosofia e foi fir-
tética tem suas raízes históricas na estética e se desdobra mando-se como uma ciência e se estabilizou na educação.
em diferentes nuances no ensino de Artes. De início pode- O conceito de estética deixa de estar centrado somente aos
mos considerar que documentos oficiais contribuem para pensamentos platônicos que ligava a estética à noção de
a não explicitação sobre a proposta de educação estéti- Bem (Platão), a visão Kantiana que associava a arte ao belo.
ca, pois está diluída em termos como capacidade estética, Atualmente, a noção belo pertence a uma das categorias
em conhecimento estético, experiência estética, percepção estéticas e arte é mais do que prender-se a com conceitos
estética, alguns destes inclusive não são conceituados ou pré estabelecidos.
definidos. Em outras publicações sobre o ensino de arte A educação estética graças à importância que Herbet
a educação estética aparece como inerente ao ensino de Read atribuiu à arte, pois percebeu que o objetivo da edu-
Arte e à arte-educação, então sendo naturalizados não pre- cação seria também o de encorajar o desenvolvimento da-
cisam ser explicados, pois se subentende que não precisam quilo que é individual no ser humano, em equilíbrio com a
ser explicados. unidade orgânica do grupo social a que cada um pertence.

26
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Somando a essas concepções, destaca-se John Dewey, Talvez as reflexões aqui abordadas possa contribuir,
ao afirmar que: nenhuma experiência poderá constituir-se para despertar a importância do entendimento de alguns
numa unidade, amenos que apresente qualidade estética. conceitos que ainda continuam a fazer diferença, na bus-
(...) Os inimigos do estético são o monótono, a submissão à ca de novas perspectivas e por um conhecimento estético,
convenção nos procedimentos práticos e intelectuais. (DE- que contribua para o desenvolvimento integral do homem.
WEY, 1974, p.251) Talvez nossa inquietação e angustia passa contribuir
O contato com a arte é realmente viver uma experiên- com os educadores possam sentir, movimentados e moti-
cia estética. Segundo Duarte Jr, (2004) afirma que a beleza vados para começar ou recomeçar uma reflexão mais apro-
apenas atrelada apenas às formas, somente às qualidades fundada sobre suas atitudes teórico/práticas retirar destas
dos objetos, mas; a beleza diz respeito à maneira de como contribuições as implicações para uma verdadeira Educa-
nos relacionamos com os objetos – e não necessariamente ção Estética e Artística.6
uma obra de arte –, mas, é a relação entre sujeito e objeto.
Se tal relação for determinada pela função das coisas tere-
mos simplesmente uma experiência, mas se for determina-
da pela sua forma, vive-se uma experiência completa, ou
5. ASPECTOS DA CULTURA POPULAR
seja, uma experiência estética.
Outra concepção importante para o momento é ressal- BRASILEIRA E AS MANIFESTAÇÕES
tar a contribuição da ideia de Lukács (1978) ao estabelecer POPULARES: FORMAÇÃO HISTÓRICA,
relações entre a universalidade, a particularidade e a singu- MULTICULTURALISMO.
laridade. Para ele elas são categorias, ou um o conceito es-
sencial que reflete sobre a capacidade da obra em superar
a todos os limites impostos (social, religiosos, moral, etc). Ao abordar o tema da cultura brasileira e permitir que
E que a forma estética presente um uma determina- aspectos relacionados à história e à identidade ganhem re-
da obra de arte é a objetivação estética da realidade no levo, é importante atentar para algumas questões. O que
processo criador e no comportamento estético-reflexivo denominamos “cultura brasileira” é um amálgama, uma
em face da arte. O ser humano por meio da experiência trama de fios os mais diversos, cuja dinâmica é tanto mais
estética, as limitações e as concretas possibilidades do ho- rica quanto menos escondamos suas variações, suas con-
mem, sua dimensão histórica e classista; percebe, também, tradições, suas linhas de força divergentes.
o jogo de forças que atuam na vida cotidiana. Se a reflexão sobre cultura e identidade ganha lucidez
Assim diante dos pensamentos destes autores, perce- na medida em que consegue se precaver de generaliza-
be-se que o conceito de estética e de educação estéticas, ções, não basta apelarmos para o polo oposto, e adotar
modifica-se a cada diferentes gerações, e isto podemos um relativismo absoluto, cujo resultado pode ser uma indi-
perceber por meio dos variados conceitos sobre estética, ferenciação pouco estimulante. Afinal, há sim possibilidade
exposto pode-se afirmar que: “sem a nova arte não haverá de lermos o panorama cultural brasileiro apontando linhas
o novo homem”. (VIGOTSKI, 2001b, p.329). de força principais, desde que fiquem claros os critérios
Após essa intensa reflexão proporcionada por estas mobilizados nessa leitura.
abordagens, fica-se talvez a sensação a necessidade de Está colocada, desse modo, a pergunta: como organi-
uma persistente caminhada em busca de saberes que não zar uma análise adequada da realidade da cultura brasilei-
são definitivos e que continuamente desafiam as rotinas ra, sem evitar o tema da identidade brasileira, atentando
sociais, adaptando-se a novos caminhos. Nas escolas, ain- para as dificuldades já apontadas?
da encontramos muitos professores que consideram que Para esse exercício de pensamento, farei primeiro uma
só se pode ensinar por meio das imagens de pintores da consideração geral sobre cultura e, depois, irei me reportar
história da arte, que são contempladas e reproduzidas pe- à cultura brasileira, procurando pontuar características que
los alunos. Ainda cultivam a importância da criança de ex- me parecem marcantes.
pressar dentro de um conceito de beleza, afinal, acreditam
que criação artística deve seguir rígidos padrões ideais de Da palavra cultura
beleza, esquecendo-se que belo para o professor pode não Voltemo-nos então para o conceito de cultura.
ser para o aluno, que o padrão de beleza modifica-se de- Não quero me deter-nos muitos significados históri-
pendendo do momento histórico, social e cultural. cos que foram e são atribuídos à cultura, principalmente
Professores que não compreende a educação estética na antropologia. Mas quero ressaltar dois aspectos de seu
e continuam em suas práticas ensinado o uso de técnicas sentido etimológico, que permanecem muito atuais nos
centradas nas suas funções utilitárias, a uma ciência redu- dias correntes.
zida a relações causais, presa à lógica, à questão prática, Na tradição romana, a palavra cultura advém, original-
de causa e efeito. Mas, embora a natureza seja o grande mente, do verbo latino “colo”, que era utilizado para desig-
modelo de beleza mimética e um mistério a ser constan- nar o plantio e que significava “eu cultivo”.
temente desvendado pela razão científica, ela não é capaz
de significar, ela não tem a autonomia do signo, porque é 6 Fonte e adaptado de: www.portaleducacao.com.br/
só do homem a tarefa de criar representações e a mais vis- www.webartigos.com/www.histedbr.fe.unicamp.br/João Bezer-
ceral de todas é a arte, feita de intelecção e sensibilidade, ra Da Silva Júnior
matérias primas do ser. Por Ana Lúcia Serrou Castilho/Vera Lúcia Penzo Fernandes

27
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
À época, tratava-se de uma Roma ainda agrária, con- Não afirmo que sejam ideias desprovidas de realidade, mas
trastando com o império em que se converteria mais tarde. são inadequadas se queremos vislumbrar, de modo mais
Por isso, o uso específico para esse verbo: “eu cultivo o integrado e orgânico, as conexões entre arte e cultura.
solo”. Assim, a palavra cultura circunscreve, rigorosamente, Para não progredir apenas com abstrações, tomemos,
“aquilo que deve ser cultivado”. na forma de uma indagação, um caso específico:
Seguindo esse sentido, Alfredo Bosi, professor emérito (¿)Em que medida a circunstância cultural, que carac-
do Departamento de Letras da Universidade de São Paulo, terizou a região das Minas Gerais no século XVIII, marcada
nos diz que: por alta concentração de poder político-econômico e por
“[a palavra cultura] era um modo verbal que tinha sem- uma estruturação social inédita no país, foi causa da criati-
pre alguma relação com o futuro; tanto que a própria pa- vidade manifestada na arquitetura, nas artes visuais e nas
lavra tem essa terminação –ura, que é uma desinência de letras? E, em que medida, foi consequência?
futuro, daquilo que vai acontecer, da aventura. As palavras Urge notar que uma reflexão que considere a cultura
terminadas em –uro e –ura são formas verbais que indicam como campo de ações – ou seja, um jogo polissêmico de
projeto, indicam algo que vai acontecer.” mútuas influências – pode dar conta de um panorama so-
Este sentido destacado na citação se refere simples- fisticado como esse. Panorama que se inscreveu como me-
mente ao aspecto material do verbo, que durou séculos mória persistente em nossa matriz cultural, e que se revela
entre os romanos. Não se tinha, ainda, o sentido ideal e pelos mesmos traços nos quais se esconde: nas marcas que
intelectual como “desenvolvimento humano”, “conjunto de deixou em nós, em nossos modos de falar, em nossas casas
ideias e valores” ou “transmissão de conhecimentos”. e museus, em nossas culinárias e cidades.
Isso só vai ocorrer quando o mundo romano se heleni- Cabe ressaltar, por esse caro exemplo, que a cultura,
za, após a conquista da Grécia. pensada como campo, está aberta a variadas pressões in-
Nesse momento os significados do termo grego “Pai- ternas e externas. Tal campo constrói-se nesse embate, que
déia”, que se referem ao sentido ideal e intelectual, ligados não ocorre sem uma mistura de desejos, frustrações e aco-
à formação e ao desenvolvimento humano, passam a ali- modações. Afinal, estamos falando do terreno das mani-
mentar e a manter equivalência com o termo latino “cul- festações humanas, pleno de articulações que flexionam o
individual e coletivo, sem jamais apartar as duas instâncias.
tura”.
Assim, é impossível pensar a cultura da velha Vila Rica
Cabe lembrar que Paidéia deu origem à Pedagogia, o
sem considerar a mescla rara de aspirações iluministas, das
que indica a forte relação entre cultura e educação.
particularidades do lirismo ibérico, das marcas de resistên-
Com a influência grega, a palavra cultura ganha den-
cia de negros e índios. Se tal legado nos diz respeito até os
sidade e se liga a uma outra dimensão: passa a se referir,
dias de hoje, é porque aquilo que era condição transfor-
também, ao passado, à herança, à transmissão de valores,
mou-se em projeto, conectando, no conceito de cultura,
ideias e conhecimentos. vetores divergentes de tempo.
Assim, é possível notar que a cultura, em sua riqueza Guardadas as imensas distinções históricas, é possível
etimológica, mantém, ainda nos dias de hoje, esses dois fazer uma analogia com outros contextos de riqueza cul-
sentidos: tural cuja importância é semelhante. Dentre eles, nos vêm
• ela se refere a tudo aquilo que foi herdado, ou seja, rapidamente à lembrança duas referências:
ao passado; e • um caso evidente é o modernismo brasileiro em sua
• ela diz respeito àquilo que é projeto, que está direcio- primeira fase, na década de 1920, cujo epicentro foi a ci-
nado para o futuro. dade de São Paulo, embalado pela economia cafeeira, e
Abordar a cultura brasileira tendo como perspectiva ligado a uma primeira promessa de efervescência urbana; e
investigar traços identitários consiste numa tarefa que, se • outro exemplo faz referência à passagem da década
manejada de modo grosseiro, leva a estereótipos que des- de 1950 aos anos 60, quando energias oriundas de varia-
respeitam a riqueza cultural em questão. Para isso, é impor- dos terrenos – as artes, os esportes, as humanidades, o ur-
tante termos em mente a natureza ambivalente da cultura, banismo – explicitaram seus respectivos projetos de nação,
sua dupla face que olha para o que foi feito e para o que confluindo num mosaico que nos diz respeito até hoje.
será construído. Recuperando a dupla face etimológica de “cultura”,
É nesse sentido que vale a pena olharmos para a ques- seria possível aprofundar a análise de cada um dos três
tão da identidade brasileira como projeto – ou seja, ela- exemplos citados.
boração contínua e coletiva – e como herança – ou seja, Essa tarefa consistiria em investigar em que medida
considerando um legado constantemente re-significado. cada um deles revisitou e revigorou sua herança e suas
Exemplos do enredamento entre passado e futuro não ascendências, bem como os modos pelos quais cada um
faltam, e remetem, inclusive, à dialética entre linguagens dos processos comentados ajudou a reelaborar o que se
artísticas e o contexto cultural mais amplo, que inclui for- entendia, à época, por cultura brasileira.
mas diversas de ser, conviver e se expressar. Ao citar esses três momentos privilegiados da histó-
ria cultural do Brasil, emergem questionamentos dos quais
Três exemplos entre muitos não devemos nos desviar. Isso porque tais questionamen-
Quando nos remetemos, por exemplo, a momentos tos sublinham o caráter arredio inerente a um debate so-
valiosos da história cultural brasileira, vale a pena colocar bre cultura e identidade brasileiras que procure escapar de
em suspensão noções como “genialidade” e “inspiração”. estereótipos e fórmulas prontas.

28
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Várias culturas no Brasil • na pintura de Tarsila do Amaral, na qual se fundiam
Uma primeira questão a ser colocada refere-se a nos- características cubistas com elementos iconográficos do
so olhar sobre o passado, quando se propõe a buscar as interior do país.
nossas possíveis raízes. Nos acostumamos a pensar sobre Ao mesmo tempo em que as fronteiras entre cultura
o passado com um apego excessivo a episódios privilegia- erudita e cultura popular tornavam-se mais tênues, uma
dos, muitas vezes desconsiderando um fluxo mais amplo, nova instância ganhava consistência, colaborando para
impulsionado e refreado por motivações, camadas de sedi- embaralhar ainda mais o campo cultural: a cultura de mas-
mentação, inconsciências e concessões. sa ou indústria cultural. Resultante da organização em larga
Tal miopia histórica, sobre a qual os estudiosos devem escala do trato com a cultura, a cultura de massa incorpora
estar permanentemente advertidos, nos leva ao problema meios de reprodução de som e imagem, metodologias in-
da legitimação. Quem deve opinar e quais critérios devem dustriais e ferramentas publicitárias de difusão.
ser levados em conta nos debates acerca de “história brasi- Criticada por teóricos da Escola de Frankfurt, a cultu-
leira”, “identidade brasileira” e “cultura brasileira”? ra de massa constituiu uma sintaxe específica a partir da
Novamente, o professor Alfredo Bosi nos adverte que: apropriação seletiva de aspectos da cultura erudita e da
“[...] não existe uma cultura brasileira homogênea, ma- cultura popular. Sua presença no contexto urbano impôs-
triz dos nossos comportamentos e dos nossos discursos. -se velozmente. Logo após a Segunda Grande Guerra, artis-
Ao contrário, a admissão de seu caráter plural é um tas norte-americanos e europeus já estabelecem diálogos
passo decisivo para compreendê-la como um ‘efeito de com o universo das propagandas, das histórias em quadri-
sentido’, resultado de um processo de múltiplas interações nhos e do imaginário do cinema e da televisão.
e oposições no tempo e no espaço”.  Assim como ocorreu com artistas mundo afora, muitos
Somos um país continental, com marcantes diferenças pintores, músicos e escritores brasileiros incorporaram sig-
constitutivas e culturais ao longo de nossa história; com nos dessa nova realidade a seus repertórios, dotando-os
processos de urbanização e desenvolvimento distintos; e de agudo senso crítico.
com especificidades geográficas e culturais, local e regio- Desse modo, notamos nas últimas décadas uma pro-
nalmente. gressiva aproximação e mistura de elementos das várias
dimensões da cultura: cultura erudita, cultura de vanguar-
As várias culturas que habitam simultaneamente a rea-
da, cultura popular, cultura de massa. Parece ocioso buscar
lidade brasileira travam, há séculos, embates tácitos ou de-
algo de puro num contexto cuja riqueza advém, precisa-
clarados, em busca de legitimação. Nesse sentido, até as
mente, desses contatos entre culturas. 
primeiras décadas do século XX o Brasil experimentou uma
situação comum no mundo ocidental, na qual a chamada
Culturas do Brasil, culturas do mundo
“arte erudita” ocupava, de forma quase exclusiva, o posto
É fácil notar que o debate sobre a identidade cultural
de representante da cultura brasileira, chegando mesmo a deve, necessariamente, considerar essa complexidade ra-
se confundir com a própria ideia de cultura. pidamente descrita. Outro ponto a ser levado em conta,
Segundo esse modo restritivo de ver a cultura, parcelas inescapável no caso brasileiro, é o fator geográfico, confor-
numerosas da população brasileira, apesar de desenvolve- me se manifestou ao longo dos séculos até os dias de hoje.
rem modos próprios de dar sentido ao mundo, não produ- O que é a realidade brasileira, senão o resultado de
ziam ou consumiam a cultura legitimada. Estavam, assim, encontros entre matrizes culturais de diversas partes do
alijadas do debate sobre cultura e identidade nacional. globo, aliado a uma vocação para contágios mútuos?
Outro sintoma de uma leitura classista de cultura, o Aqui, algumas considerações devem ser feitas:
reverso da moeda que acabamos de descrever, consistia 1. as aproximações entre tais matrizes culturais se de-
em reservar um espaço circunscrito à denominada “cultura ram ao longo de cinco séculos, formando extratos antigos
popular”, embutindo nessa precária noção alguns precon- e recentes que se interpenetram;
ceitos ligados à pureza e à espontaneidade. O efeito mais 2. devemos considerar tanto os contatos entre culturas
grave dessa construção teórica consiste em desconsiderar estrangeiras, que se encontraram no Brasil, como os inten-
os ricos contatos entre essas manifestações e a cultura le- sos trânsitos de pessoas e bens culturais dentro do próprio
gitimada. país;
Entretanto, as condições históricas que emergiram no 3. as diversas culturas que constituem a nossa realida-
mundo ocidental ao longo do século XX tornaram mais de sofreram e sofrem processos desiguais de legitimação -
fluidas as fronteiras entre as várias “culturas”. Um dos sin- mais lentos ou mais rápidos, mais ou menos aprofundados.
tomas dessa fluidez foi o interesse de artistas, considera- Hoje, parece restar poucas dúvidas de que a comple-
dos eruditos ou de vanguarda, por manifestações ditas xidade advinda dessas noções de espaço e de tempo é a
populares: lembremo-nos de Picasso, lembremo-nos de principal marca de nossa riqueza cultural. Daí a pluralidade
James Joyce. de modos de ser, conviver e se expressar.
No Brasil, o modernismo escancarou o trânsito intenso Se não faz sentido pensarmos em culturas estanques,
entre culturas. Isso fica claro, por exemplo: mas na dinâmica entre elas, não é certo imaginar que as
• na pesquisa por uma “linguagem brasileira” feita pela particularidades possam se dissolver em homogeneidade
literatura de Mario de Andrade; resultante de repetidos contatos. Identidades regionais e
• no interesse de Villa-Lobos pela música popular e por locais reinventam maneiras de manter o vigor de suas for-
aspectos das culturas indígenas; e mas de ver o mundo contemporâneo e nele agir.

29
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
A cultura como condição humana O que parece um jogo de palavras tenta dar conta de
Ao descrever o que denominamos polifonia cultural, uma situação profundamente paradoxal, cujos paradoxos
ressaltamos dois vetores, que tentam dar ordem para o não devem ser reduzidos a qualquer síntese apaziguadora.
que é, em essência, pouco afeito a ordenações precisas: A expressão “campo cultural” pode nos ser útil nesse
• o vetor das dimensões da cultura, abrangendo ins- momento. Afinal, trata-se de um campo onde as culturas
tâncias interligadas, como cultura erudita, cultura popular, negociam por maior ou menor visibilidade e legitimação.
cultura de massa e suas variações; e O Brasil é um terreno fértil para essas negociações: temos
• o vetor geográfico, que mostra a dinâmica de influên- uma disposição para o outro que não se encontra em qual-
cia de ascendências e localidades diversas. quer parte. A identidade brasileira e as muitas identidades
Os dois vetores não devem ser pensados isoladamen- que a compõem só podem ser pensadas como soluções
te: interpenetram-se e têm uma realidade histórica, varian- provisórias para um debate que é permanente.
do ao longo do tempo. Tomados em conjunto, podem nos Emerge aqui a veia processual que deve estar presente
ajudar a vislumbrar a complexa rede de relações do campo em qualquer abordagem da cultura:
cultural. • as políticas culturais são eficazes se concebidas como
A rede da cultura não conhece limites, tem vocação processos;
para o espalhamento, para a amplidão. Ao invés de incor- • as ações educativas relacionadas à cultura ocorrem
rermos na visão restritiva que compreende a cultura como em regimes processuais – é o que podemos denominar de
uma esfera da vida humana que estabelece relações com educação permanente;
outras, sejam elas políticas, econômicas, filosóficas ou cien- • a produção, a difusão e o consumo são mais bem
tíficas, sugiro que pensemos a cultura numa perspectiva entendidos quando considerados em sua dependência
expandida: a cultura confunde-se com a própria condição mútua. 
humana para vivenciar as coisas do mundo e construir re- A construção de uma identidade brasileira encontra-se
presentações dessas coisas. num processo que, felizmente, não atingirá seu fim: seria
A essa disposição do campo cultural para o espalha- uma contradição. Ou sua morte.
mento, soma-se outro fenômeno, mais diretamente re-
A cultura é um testemunho da dinâmica dos indivíduos
lacionado à experiência contemporânea. A cultura tem
e das comunidades. A trama de culturas que enreda coti-
adquirido crescente centralidade em agendas do debate
dianamente o Brasil registra e qualifica essas movimenta-
econômico, político e social. Há pensadores que a consi-
ções.7
deram, inclusive, o elemento mais importante para formas
renovadas de desenvolvimento.
Cultura e Costumes do Povo Brasileiro
Quando consideramos de forma conjugada essas duas
Diversidade Humana
expressões da cultura – sua onipresença e sua relevância -,
naturalmente percebemos o desafio envolvido em se pen- A humanidade sempre teve reações variadas pelas di-
sar em identidade cultural, ainda mais num contexto como ferenças que percebiam entre si e os vários povos com os
o brasileiro. quais tinham contato. Guerreiros; viajantes; comerciantes;
Identidade e diversidade cultural podem ser encaradas e lendas relatavam a seus pares, desde a mais remota anti-
como faces de uma mesma moeda: é o convívio respeitoso guidade, as exoticidades dos demais.
de identidades culturais que permite que a diversidade seja As reações eram e são variadas: desde o medo e a
experimentada como valor. Contra previsões pessimistas, repulsa, até a curiosidade e o apreço (Mair, 1965; Laraia,
percebemos que um mundo globalizado não é hostil a esse 1986; Maggie, 1996).
binômio. A própria posição central da cultura na circuns- Aspectos culturais e físicos imediatamente perceptíveis
tância contemporânea está relacionada à coexistência de da singularidade dos “outros”, como vestimentas; orna-
visões culturais – convergindo aqui, divergindo acolá. mentos corporais; estatura; cor da pele, cabelos e olhos; e
Podemos falar de uma identidade brasileira? língua, ressaltavam a singularidade mais aparente.
Como ela se relaciona com a diversidade típica de um Os “costumes” mais estranhos, porém, sobressaiam
país de dimensões continentais, marcado por cinco séculos aos que tinham a oportunidade de passar um certo tem-
de fluxos migratórios externos e internos? po maior entre os “estrangeiros” e outras diferenças mais
Enxergamos um grau de regionalização em certas ma- profundas entre os povos só poderiam ser apreendidas por
nifestações culturais brasileiras, que nos leva a identificar um olhar mais detalhado: historiadores como Heródoto
traços gaúchos ou mineiros, particularidades nordestinas são tidos, por alguns, como os primeiros “antropólogos”,
ou cariocas. por se preocuparem com a organização das sociedades
De forma análoga, percebemos que grandes cidades que descrevia, e não somente com os acontecimentos his-
de uma determinada região chegam a compartilhar modos tóricos, buscando assim uma razão, uma causalidade para
de expressão, sem negar sotaques locais. os eventos (Mair, op. cit.).
Entretanto, é possível sugerir elementos que, em linhas As explicações sobre a diversidade humana sem-
gerais, parecem dizer respeito a uma “brasilidade”. Citá-los pre ressaltaram com mais ênfase os aspectos negativos
pode significar a adesão a estereótipos que simplificariam dos “outros”, tendo como parâmetro as características
nossa complexidade cultural.
A identidade na diversidade. O diverso como fator de 7 Adaptado de: www.sescsp.org.br - Danilo Santos
reconhecimento identitário. de Miranda

30
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
positivas, físicas e culturais, dos povos sob cujo ponto de A noção de Raça, e sua associação de características
vista se pensava a diferença. Chega-se até a negar a quali- biológicas; comportamentais e sociais foi, neste longo pe-
dade de “humano” aos demais povos. ríodo que se estendeu até o século XX, a expressão científi-
Alguns exemplos: entre os povos indígenas brasileiros, ca do racismo colonial luso-espanhol.. Na cultura luso-his-
a autodesignação, a rigor, enfatiza as qualidades de “seres pânica, este movimento teve desdobramentos importantes
humanos”; “gente”; “povo de Deus” de cada povo. E para que incluíram, como no Brasil, a política de incentivo a aos
os demais restam termos, no mínimo, desagradáveis, como movimentos migratórios – desde a importação esclavagista
“os agressivos selvagens”; “os comedores de carne de ma- da África até as tentativas de “branqueamento” do povo
míferos ou de cobra” ou outra característica repulsiva. Já brasileiro (Seyferth, 1996), no século XIX – e influenciaram
nos primeiros séculos da colonização luso-espanhola, o os estudos raciais acadêmicos até meados do século XX.
estatuto de “seres com alma” chegou a ser negado aos ha- Darwin e sua obra “A origem das espécies” foi um im-
bitantes tradicionais das Américas, sendo objeto de discus- portante marco da revolução metodológica que expres-
sava uma “síntese revolucionária” na ciência classificatória
sões acirradas no âmbito da Igreja Católica.
naturalista das espécies. Sua teoria da evolução biológica
A esta atitude a antropologia chama de “etnocentris-
das espécies introduziu uma visão dinâmica que desvincu-
mo”, uma atitude generalizada entre as sociedades huma-
lou das ciências classificatórias naturais das explicações da
nas de valorizarem ao máximo como as melhores, as mais
origem “inata” das diferenças entre as espécies. Não obs-
corretas, suas formas de viver; agir; sentir e pensar coleti- tante, desde meados do século XIX até meados do século
vamente. XX, nos debates científicos sobre Raça, este pensamento
Outros exemplos demonstram atitudes mais positivas dinâmico não se havia consolidado. Segundo Ventura dos
em relação à alteridade, como na Primeira Carta ao Rei de Santos (1996:125-127), a obra de Darwin e de outros, com
Portugal, em que Caminha descreveu os “índios” como ale- modelos evolucionistas, levaram um longo tempo para se
gres e inocentes como crianças, sem notarem que estavam consolidarem nas Ciências Antropológicas que se basea-
expondo suas “vergonhas”. Rousseau, um crítico da socie- vam na construção de categorias como “tipos raciais” e
dade européia, cunhou a idéia do “bom selvagem” e as “raças”.
cortes européias deleitavam-se com a exoticidade animal Somente pouco antes da metade do século XX, quan-
e humana do “Novo Mundo”. do autores como Franz Boas (1940) e Stocking (1968) le-
Segundo Maggie (op. cit. : 226), foi a partir do sécu- vantaram as influências das condições ambientais na cons-
lo XVI, com a expansão colonial européia, que caracteres tituição das diversidades humanas, o que Santos chama de
como a cor da pele e outros traços físicos dos povos en- “segunda revolução darwinista” na Antropologia “Física”
contrados por exploradores passou a ser um aspecto privi- (biológica) se consolidou. O conceito de raça, nas ciências
legiado no imaginário europeu, como marcador das dife- antropológicas, foi substituído então pela categoria “popu-
renças entre os povos. lação” (cf. Ventura dos Santos, op.cit. :125-129), construí-
A autora cita Camões, em Os Lusíadas, que, ao descre- da a partir de critérios estatísticos e genéticos, cuja ênfase
ver um encontro com um habitante da África, disse acerca estava mais em seus aspectos dinâmicos, e na separação,
daquela parte do mundo: por inspiração da biologia experimental, estes critérios dos
“ Onde jazem os povos a quem nega extrabiológicos (sócio-culturais).
O filho de Clymenes a cor do dia”. O clima do pós-guerra europeu, em fins da década de
e ainda, mais adiante: “ 40 e na dos 50, trouxe reações radicalmente contrárias aos
hum estranho…de pelle preta” fundamentos da eugenia levada ao extremo pela política
nazista. Esta transição foi significativamente marcada na
Assembléia da UNESCO (United Nations Educational and
A partir desta época, igualmente, o pensamento euro-
Scientific Organization) de 1949 (cf. Ventura dos Santos,
peu começou a desenvolver uma forma específica de clas-
op. cet.:129-132). Nesta Assembléia, Boas e alguns antro-
sificar e pensar “as coisas do mundo”. A ânsia pelo saber,
pólogos, como Lévi-Strauss (Raça e História) foram convi-
separando-se da Religião e da Filosofia, tornara-se Ciência, dados a participar e exerceram influência no relatório final,
buscando dar conta de um novo mundo de proporções contrária à ênfase na diversidade racial como explicativa
multi-continentais. Os critérios da observação sistemática de fenômenos sócio-culturais e ambientais. A negação da
e da classificação em hierarquias racionais foram aplicados diversidade biológica e sua influência em certas caracterís-
às novas formas de vida (vegetal; animal e humanas) que ticas individuais dos grupos humanos, levou a uma reação
passaram a conhecer. de geneticistas; biólogos e antropólogos físicos, que tive-
A escravização dos povos indígenas sul-americanos e ram a oportunidade de participar de outra reunião, cuja
africanos, trouxe contradições políticas e morais no pen- conclusão não foi, segundo Ventura dos Santos, muito di-
samento colonial e os critérios de classificação das diver- ferente da anterior, embora resguardasse um espaço para
sidades vegetais e animais foram tomados como critérios se pensar a diversidade biológica humana.
principais de demarcação das diferenças humanas. Segun-
do Maggie (op.cit. : 225-226), “as diferenças são a própria Diversidade Biológica
matéria do pensamento, desde a passagem da natureza à Às classificações da diversidade humana, baseadas na
cultura, mas foi nesse encontro entre povos distantes que morfologia física e no conceito de raça, sobrepunham-
se levou a troca simbólica a níveis tão intensos.” -se igualmente aspectos do comportamento e formas de

31
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
pensar e sentir (aspectos sócio-culturais). O evolucionismo no âmbito da Antropologia de cunho mais social, em que
darwinista inspirara, inicialmente, uma hierarquização da a diversidade humana transitou pelos conceitos de Raça;
diversidade humana e das “raças” em que a raça “branca” Etnia e Cultura. E se confunde com a própria história da
estaria no ápice da escala de evolução, devido à sua “supe- disciplina.
rioridade” tecnológica e, acreditava-se, moral (etnocentris- Para uma visão mais abrangente, resumirei antes de
mo evolucionista que, na antropologia social ou cultural, entrar no assunto específico do conceito de cultura e o de-
teve também grande influência). bate entre este conceito e o de raça, enfocarei outra ques-
Não obstante, com a influência do evolucionismo dar- tão importante, que diz respeito à história da antropologia.
winista e da biologia experimental do início do século XX, Por influência do darwinismo, no início da antropologia
as classificações da antropologia física passaram, das ca- social, o projeto de dar conta da diversidade cultural levou
racterísticas morfológicas à inclusão de parâmetros mais naturalistas e historiadores a debruçarem-se sobre os rela-
profundos da biologia humana, como os grupos sanguí- tos de viajantes; exploradores e administradores coloniais
neos; as características da hereditariedade genética; da es- que falavam sobre “as exoticidades” das sociedades “infe-
tatística, com as seqüências médias de caracteres genéticos riores”; incivilizadas; simples, em relação a uma visão indus-
e da teoria da probabilidade. trial da técnica; e, finalmente, primitivas, por serem mais
A associação entre a antropologia biológica e a gené- remanescentes de formas antigas, primeiras, da evolução
tica faz parte deste movimento que aprofundou o olhar das sociedades humanas. O relativo isolamento geográfi-
científico da morfologia para as moléculas e que, segundo co destas sociedades e povos contribuiu para esta visão.
Ventura dos Santos (op. cit. : 126-129), consistiu em um Assim, a Antropologia Social , partindo de questões evo-
movimento metodológico significativo, designado como a lucionistas importantes para os estudiosos do século XIX,
“segunda revolução darwinista”. A associação entre antro- ficou vista como “ciência das sociedades primitivas”. Mas
pologia e genética faz parte deste movimento metodoló- com a persistência destas sociedades em resistirem até a
gico. atualidade de forma bastante diferente da tradição euro-
Os antropólogos físicos, atualmente, buscam mais me- péia, colocou um problema crucial para esta visão evolu-
dir a distribuição de certas substâncias no sangue; a pres- cionista e etnocêntrica da diversidade humana. Este fato
são sanguínea e de seqüências genéticas específicas em motivou variações ao longo da história da disciplina e de
determinados grupos humanos. seus conceitos.
Os estudos da antropologia física estariam assim, mais Os antropólogos voltaram-se, a partir dos próprios
próximos dos estudos arqueológicos; médicos e genéticos, resultados das pesquisas nestes povos com “culturas di-
voltados, no contexto do processo saúde-doença, para as ferenciadas”, para sub-grupos ou sub-culturas no interior
interações adaptativas entre a biologia humana e o meio- das sociedades “complexas”: os estudos de “comunidades
-ambiente natural e sócio-cultural. Para uma revisão crítica camponesas” de Redford; os estudos voltados para grupos
e síntese dos rumos da Antropologia Física atual, ver Gould marginalizados nas regiões urbanas até, finalmente, estu-
(1991). dos voltados para grupos pertencentes às classes popula-
A genética, aprofundando mais o enfoque metodoló- res e altas da sociedade moderna, culminaram por desem-
gico, ganhou um estatuto que passou de disciplina pura- bocar em uma análise crítica da visão de mundo ocidental
mente científica para a de técnica, com a engenharia ge- moderna e da globalização, inclusive a da própria cultura
nética. É particularmente decisivo para as questões atuais científica nas áreas médicas e da saúde pública (cf. Verani,
sobre a diversidade humana, na bioética e na antropologia 1990 e 1994; Duarte, et al., 1998; Lupton, 1999; Petersen e
social, o emprego da engenharia genética, o decifrar da Bunton, 2002).
cadeia de DNA humano, e a ênfase no “genoma”. Voltando ao conceito de cultura, algumas das principais
A “Nova Genética”, fruto das revisões críticas pós-mo- correntes teóricas que influenciaram variações do mesmo
dernas, define-se enquanto técnica terapêutico-preventiva são: o evolucionismo e suas influências no difusionismo e
de doenças herdadas e como uma engenharia. Este assun- na sociologia francesa de Durkheim e Mauss; o marxismo
to será reelaborado no próximo item, sobre a Diversidade e a sociologia de Marx Weber; e o estruturalismo de Lévi-
Cultural. Para uma crítica atual das questões ligadas às im- -Strauss. O funcionalismo inglês e as vertentes culturalistas
plicações sócio-culturais e políticas da Nova Genética, cf. americanas também se inserem neste campo.
Petersen e Bunton, 2002. Tylor e Boas foram os que mais enfatizaram o adjetivo
Diversidade Cultural cultural ligado à antropologia, em um movimento inicia-
No campo das antropologias não-biológicas (etno- do na Inglaterra, em início do século XIX, e nos Estados
logia; antropologia social e cultural), há uma diversidade Unidos. Mas na França, com a Sociologia de Comte bem
de abordagens. A noção de cultura é básica para se com- solidificada enquanto disciplina independente das demais
preender os movimentos pelos quais passou esta disciplina, Ciências Humanas, Durkheim; Mauss e Lévi-Strauss são
inicialmente parte da Antropologia (geral, sem distinções) autores importantes que vinculam a Antropologia Social à
do início do século XIX, e que pretendia abordar todos os Sociologia, como uma sub-disciplina desta última.
aspectos das questões acerca da diversidade humana. A noção de cultura é o cerne de uma antropologia que
O mesmo debate que, na Antropologia Física (biológi- separava o determinismo biológico “racial” das manifesta-
ca) substitui o conceito de Raça pelo de População, desde ções de comportamento aprendidas pelos indivíduos de
meados do século XIX até meados do Século XX, ocorreram uma sociedade após o nascimento. Estes aspectos eram

32
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
considerados então como de ordem “ambiental” no deba- Para o a antropologia atual, cultura é um sistema sim-
te das relações entre Raça e Cultura. Para uma revisão dos bólico (Geertz, 1973), característica fundamental e comum
diversos conceitos de cultura e de antropologia, até à me- da humanidade de atribuir, de forma sistemática; racional e
tade do século XX, com suas teorias subjacentes, conferir estruturada, significados e sentidos “às coisas do mundo”.
a coletânea de Shapiro, 1956; Mair, 1965; Copans, 1971; Observar; separar; pensar e classificar; atribuindo uma or-
Laraia, 1986. dem totalizadora ao mundo, é fundamental para se com-
Mas para efeitos didáticos, cito aqui a definição de preender o conceito de cultura atualmente definido como
cultura de Tylor (1871, apud Mair, op.cit.:15-16): Cultura “sistema simbólico”, e sua diversidade nas sociedades hu-
é (…) “conhecimentos; crenças; artes; moral; leis; costume manas, mesmo neste período atual de modernidade tardia.
e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo
homem como membro da sociedade.” Questões mais atuais
Como comenta Mair, esta é mais uma lista de itens do No que concerne aos rumos intelectuais dos objetos
que uma definição ou uma teoria que descreva e explique a de interesse para o estudo e construções teóricas atuais
diversidade humana.Boas, na América, interessou-se pelas da Antropologia Social, o individualismo; a fragmentação;
“artes e técnicas”. Na prática, o estudo da cultura refere- a alta especialização técnica e a dificuldade de se articular
-se a costumes; maneiras e técnicas tradicionais específicas níveis distintos de relações qualitativas e quantitativas en-
de uma sociedade. Esta vertente culturalista da Antropo- tre os fenômenos, no modo globalizado hegemônico de
logia considerava-se mais próxima da Antropologia Física; pensar, são os problemas mais enfatizados (cf. Dumont,
da Lingüística; e da Arqueologia. Sua ênfase maior era em 1985; Duarte, 1998). Conceitos como “disembeddeness”;
descrever e entender a diversidade humana. “embodiment” e “reflexivity” são importantes para o que,
Já a outra vertente citada, incluindo o funcionalismo na Epidemiologia, se considera característico da “socieda-
institucional de Malinowiski e o funcionalismo-estrutural de de risco”, como podemos chamar o capitalismo global
de Radcliffe-Brown, considerando-se mais próximo das da modernidade tardia. Deborah Lupton (1999) faz uma in-
Ciências Sociais, detiveram-se mais, através do método teressante síntese dos conceitos e análises sócio-políticas
comparativo, no desenvolvimento teórico de generaliza- e culturais na pós-modernidade e atualmente, aplicados à
ções sobre todos os tipos de sociedades humanas. Malino- noção de Saúde Pública de “sociedade de risco” e subjetivi-
wiski, também considerado o “pai do trabalho de campo”, dade “reflexiva”, onde as escolhas individuais são predomi-
o método privilegiado de estudos etnológicos, enfatizava nantemente privilegiadas para a prevenção e controle do
que os estudiosos deveriam descrever todos os aspectos risco de adoecimento e morte.
vinculados numa dada sociedade ao complexo, por exem- A questão do genoma e da genética passa por ques-
plo, da função alimentar: técnicas agrícolas; formas de dis- tões tanto de ordem biológica quanto culturais e éticas. A
tribuição dos alimentos entre grupos e indivíduos; institui- “Nova Genética”, conforme reflexão de Petersen e Bunton
ções de trocas (comércio ou circulação de bens); etc. (2002), na modernidade tardia de nossa sociedade capita-
Malinowiski via a sociedade através de uma metáfora lista global, poderia estar, enquanto técnica (engenharia)
anatômica em que na morfologia das sociedades, as ins- aplicada dos conhecimentos científicos da biologia e ge-
tituições cumpriam as mesmas funções que os órgãos e nética, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida
sistemas do corpo humano. A metáfora mecânica de estru- humana, prevenindo doenças e evitando riscos, ou criando,
tura e funcionamento também influenciou as teorias sobre em uma reedição individualista (i.e., não imposta pelos es-
as sociedades humanas, como no funcionalismo, em que, tados-nações, já bastante enfraquecidos com o neolibera-
porém, a metáfora fisiológica predominava. A noção de sis- lismo; a abertura dos mercados internacionais e a enorme
tema dinâmico é parte desta influência. amplitude via Internet da circulação de informações), uma
É necessário, não obstante, as diferenças atribuídas ao nova diferença e eugenia?
conceito de “estrutura”. Apesar de utilizado por Malino- Assim como, na antropologia física, ainda subsistem
wiski; Radcliffe-Brown; Evans-Pritchard; e outros, foi com noções mais ligadas ao conceito de “tipo racial” (Ventura
Lévi-Strauss que este conceito, influenciado pelas teorias dos Santos, op. cit.: 132-137), e na antropologia social (ou
da lingüística, tornaram-se mais abstratos e ligados a ques- cultural) até recentemente, ainda se encontravam bastan-
tões mais sociais que a metáforas tomadas de disciplinas tes influências de idéias evolucionistas; positivistas e de
como a biologia e a mecânica. cunho comportamentalista, a Nova Genética pode estar,
Lévi-Strauss, critica e sintetiza a definição de cultura sob o argumento de uma aposta no futuro “positivo” para
mais utilizada: “hábitos; atitudes; comportamentos; ma- a prevenção e controle de doenças herdadas, construin-
neiras próprias de agir sentir e pensar de um povo” e en- do novas identidades de sociedade, grupos e indivíduos
fatiza a “estrutura sub-consciente de pensamento”. Para o “inferiores”; de “risco” , baseadas inclusive em diferenças
estruturalismo de Lévi-Strauss, a diversidade humana não biológicas. Desta vez, não da cor da pele, mas da herança
é importante, e sim a similaridade humana de pensamento. genética.
Nesta teoria, o conceito de cultura ganha um sentido resi- Outras questões, como as patentes de organismos
dual. “Residual, porém irredutível”, como coloca Carneiro geneticamente modificados (OGM), sejam sementes agrí-
da Cunha (1986), em que a identidade de grupo é funda- colas; sejam híbridos animais ou embriões humanos clona-
mental na construção da Pessoa Humana. dos, iriam tornar-los, com o uso médico terapêutico, mais

33
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
uma forma de criar consumo e lucro. Neste campo, as lu- História do Multiculturalismo
tas sócio-econômicas e bioéticas ganham novo papel no O movimento multiculturalista se inicia no final do sé-
contexto global. Os debates são atuais e estão abertos aos culo XIX nos Estados Unidos com a ação principal do movi-
rumos da história.8 mento negro para combater a discriminação racial no país
e lutar pelos seus direitos civis.
Multiculturalismo e Educação Segundo SILVA e BRANDIM (2008:56) “Os precursores
O termo multiculturalismo possui uma polissemia de do multiculturalismo foram professores, doutores afro-a-
significados; com o estudo do artigo de Flávia Pansini e mericanos, docentes universitários na área dos estudos
Miguel Nenevé que citaram Silva (2007) Entendemos que o sociais que trouxeram por meio de suas obras, questões
multiculturalismo se refere a estudos voltados para as dife- sociais, políticas e culturais de interesse para os afro-des-
rentes culturas espalhadas nos lugares do mundo, objeti- cendentes”. Esses precursores foram essenciais para que
vando a partir da aprendizagem a importância de cada cul- no século XX por meio de novos intelectuais o tema se vol-
tura a fim de evitar os conflitos sociais. Podendo também tasse também à educação.
estar voltado à política, quando os grupos como negros, Na década de 90 algumas universidades estaduniden-
índios, mulheres e outros reivindicam perante as autorida- ses aderem ao movimento e que com as pressões popula-
des políticas seus direitos e deveres como cidadãos. res ganham força e espaço com a criação de políticas pu-
O multiculturalismo é um movimento social surgido blica em todas as esferas do poder público no que cocerne
nos estados unidos e tem como objetivos principais: a luta a oportunidades educacionais iguais aos grupos sociais
pelos direitos civis dos grupos dominados, excluídos por favorecidos daquele país.
conta de não pertence a uma cultura e classe social con- O pós-modernismo que defende a valorização da plu-
siderada superior a euro americana, branco, letrado, mas- ralidade cultural no seu discurso curricular ajuda o fortale-
culino, heterossexual e cristão. A formação de um currículo cimento dos estudos multiculturais nos anos 80 e 90. Hoje
escolar que aborde essa questão ensinando os alunos a na contemporaneidade o tema é influenciado pela globali-
“não terem preconceitos e discriminações, já que a escolar zação, com os intercâmbios culturais fala-se de uma hege-
e uma espaço de socialização”. monia cultural o que tem causado problemas sociais.
O multiculturalismo só ganhou pulso e força a nível Segundo McLaren (1997 apud PANSINI E MENEZES,
estadunidense e mundial, pois os grupos silenciados num 2008, P. 35) há pelo menos quatro tendências de multicul-
primeiro momento, não calaram sua voz se uniram nos turalismo enquanto projeto político: O multiculturalismo
movimentos negro, feminista, homossexuais, e a luta dos conservador, multiculturalismo humanista liberal, multicul-
deficientes. Hoje o assunto interressa o currículo escolar e turalismo liberal de esquerda e multiculturalismo critico e
aos políticos. Relataremos para exemplificação o que tem de resistência, visão esta ultima do qual se diz partidário o
acontecido de eventos no Brasil e no mundo tratado da próprio autor.
temática e os desafios para a justiça social O multiculturalismo conservador ou empresarial e
Ainda falaremos como o currículo escolar e o educa- aquele que pretender construir uma cultura comum o que
dor são fundamentais no assunto e quando se contradizem faz com que apartir desse princípio negue a diversidade
quando as praticas curriculares segregam as crianças ne- existente e construída há séculos e que nos leva a entende
gras e a formação universitária não prepara de forma eficaz sua defesa a uma cultura padrão a branca. Nesse contexto
os profissionais da educação a tratarem da diversidade em desmotiva os grupos dominados em suas lutas a seu capi-
suas aulas. tal cultural.
O não reconhecimento e respeito a identidades cultu- Esse tipo de visão conservadora (...) “mesmo quando
rais diferentes das nossas criam atritos; quando olhamos reconhece outras culturas assenta-se sempre na incidên-
para determinado grupo social e vemos esses com mais cia, na prioridade a uma língua normalizada- e, portanto,
direitos do que o nosso, principalmente as questões eco- é um multiculturalismo que de fato não permite que haja
nômicas já que precisamos de oportunidades para apren- um reconhecimento efetivo das outras culturas’’. (SOUZA
der e se desenvolver como ser social e profissional. E por SANTOS, 2003, P 12).
isso que Paulo Freire defende que o fim maior da educação “A vertente Humanista liberal por ingenuidade ou idea-
deve ser desenvolvido a partir do diálogo e da consciência, lismo ressalta a existência de uma igualdade natural entre
onde as pessoas podem lutar por sua liberdade, contra a as diversas etnias, sem se preocupar em evidenciar a falta
máquina opressora do capitalismo. de oportunidades iguais em termos sociais e educacionais”
Escolhemos o tema devido à necessidade individual de (SILVA E BRADIN, 2008, P.63). Sem levar a risca a realidade
convivência com o próximo, sabendo das nossas diferenças, social do sistema econômico capitalista se valendo de seus
buscamos entender o multiculturalismo para aprendermos próprios argumentos. Fala-se da criação de uma organiza-
a interagir e respeitar os diferentes grupos sociais de for- ção econômica mais igualitária daí dizer que todos somos
ma harmoniosa e influenciar como futuro educador, nossos capazes de competir e vencer no mundo.
alunos a tais práticas, minimizando os preconceitos e confli- O multiculturalismo liberal de esquerda defende a di-
tos no ambiente escolar e consequentemente social. versidade cultural, Pansini e Nenevé quando citam McLa-
8 Adaptado de: www.portalsaofrancisco.com.br/Por Ci- ren compreendemos que o fim desse tipo de vertente é
bele Verani se focar mais nas diferenças e respeita-las esquecendo-se
que elas são formadas nas pessoas pela interação do meio

34
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
social em que convivem sendo negativa a tendência a eliti- havendo uma aparente falta de acolhimento por parte de
zar outros grupos ao mesmo tempo em que deixa de lado pessoas autorizadas (educadores), que silenciam ou se
a participação de outros grupos nas discussões multicul- omitem em face de uma situação de discriminação. Tal pos-
turais. tura denuncia a banalização do preconceito e a conivência
O multiculturalismo critico ou de resistência é o que dos profissionais com ele” (Romão, 2001)
podemos considerar mais voltados aos anseios dos movi- Quanto à diminuição do preconceito, o que não e tão
mentos multiculturais conforme Silva e Bradim fácil a exemplo do Brasil aonde a exclusão dos negros, ín-
O multiculturalismo critico levanta a bandeira da plu- dios vem desde a colonização portuguesa. O que pode ser
ralidade de identidades culturais,a heterogeneidade como feito e incorporar nos currículos das instituições formado-
marca de cada grupo e opõe-se á padronização e uniformi- ras de professores a temática multicultural seja as institui-
zação definidas pelos grupos dominantes. Celebrar o direito ções públicas ou privadas. O educador que tem papel na
á diferença nas relações sociais como forma de assegurar a formação de identidades pode segundo Moreira (2001, p.
convivência pacifica e tolerante entre os indivíduos caracte- 49 apud PANSINI E NENEVÉ, 2008, P.41) a ideia e que o
riza o compromisso com a democracia e a justiça social, em professor reflexivo preserve a preocupação com os aspec-
meios às relações de poder em que tais diferenças são cons- tos políticos, sociais e culturais em que se insere sua prati-
truídas. Conceber, enfim, o multiculturalismo numa perspec- ca, leve em conta todos os silêncios e discriminações que
tiva critica e de resistência pode contribuir para desencadear se manifestam na sala de aula, bem como amplie o espaço
e fortalecer ações articuladas a uma pratica social cotidiana de discussão de sua atuação.
em defesa da diversidade cultural, da vida humana, acima Focalizamos a etnia negra, tendo em vista que o mul-
de qualquer forma discriminatória, preconceituosa ou exclu- ticulturalismo se iniciou como movimento por esse grupo
dente. (2008, p.64) racial. A exclusão deles começa desde a infância dentro das
escolas por possuírem características físicas e costumes di-
A escola e a Pluralidade Cultural ferentes; de acordo com pesquisas, feitas com crianças elas
A escola é um sistema aberto que faz parte da supe- se sentem oprimidas pelos seus colegas, pois são chama-
restrutura social formada por diversas instituições como: a das de “feias, fedoretas, cabelo duro, preta”, ou seja, são
igreja, família, meios de comunicação; faz parte do ambien- desvalorizados seus atributos individuais o que influencia
te escolar crianças pertencentes a classes sociais, costumes, na sua formação identitária porque nesse período da vida
aspectos físicos,e culturais diferentes que estão em proces- seu caráter esta sendo formado.
so de aprendizagem. O preconceito racial e a discriminação fazem com que
De acordo com Menezes: aos índios e, em especial aos negros se mantenham em
(...) Ao contemplarmos as relações raciais dentro do es- uma situação marginal e excluída sem a assistência devida
paço escolar questionarmos até que ponto ele está sendo dos órgãos responsáveis, eles tornam-se alheios ao exer-
coerente com a sua função social quando se propõe a ser um cício de cidadania, sem condições de crescer intelectual e
espaço que preserva a diversidade cultural, responsável pela profissionalmente.
promoção da equidade. Sendo assim, aguardamos mecanis- Nessa direção MENEZES destaca:
mos que devam possibilitar um aprendizado sistematizado O preconceito racial cria uma ação perversa que de-
favorecendo a ascensão profissional e pessoal de todos os sencadeia estímulos dolorosos e retira do sujeito toda pos-
que usufruem os seus serviços. sibilidade de reconhecimento e mérito, levando-o a utilizar
A escola atende aos padrões dominantes das classes mecanismos defensivos das mais diversas ordens, contra a
consideradas superiores, os brancos euros americanos essa identidade ou o pensamento persecutório que o despersona-
cultura e ensinada e os que dela não fazem parte ou não se liza e o enlouquece. Nessa perspectiva, é fortalecida a ideia
adéquam são excluídos vemos isso no dia a dia quando os de dominação de grupos que se julgam mais adiantados,
grupos inferiores índios e negros sofrem, são insultados no legitimando os desequilíbrios e desintegrando a dignidade
espaço escolar, e dificilmente vemos algum negro ocupado dos grupos dominados.
um posto elevado na sociedade. Na escola os educandos não conseguem relacionar ou
Como coloca Menezes: “a escola pode ser um espaço praticar os conteúdos ensinados a sua realidade fora da
de disseminação quanto um meio eficaz de prevenção e escola, pois a maioria deles fazem parte dos grupos inferio-
diminuição do preconceito”. A escola dissemina o precon- res, daí a importância do professor ter criatividade e levar
ceito quando em seus currículos aplicados, métodos de seus alunos a refletir e investigar as questões relacionadas
ensino, apresentação de imagens caricatas negras em car- a vida e cultura dos grupos mais próximos a sua vida, tendo
tazes ou livros didáticos e através da linguagem não verbal autonomia em seu ensino e deixando um pouco de lado as
desprezam a cultura dos grupos não dominantes, a exem- praticas colonizadoras.
plo quando falam só da escravidão negra e não valoriza a Devido aos padrões de branqueamento muitas crian-
cultura dessa raça. ças negras querem ser brancas e incorporam em suas ati-
O docente passa a ser um disseminado do problema tudes os costumes deles porque estes são incluídos na
quando pela linguagem não verbal não mantém contato sociedade nos aspectos econômicos políticos e sociais e
físico com as crianças negras, o que demonstra rejeição culturais. Como relatam pesquisas feitas com crianças ne-
a elas por sua cor e condição social da qual fazem parte gras, que demonstra isso muito bem quando uma garota
causando-lhe sofrimento. “A sua dor não é reconhecida, diz: eu gostaria de dormir e acordar branca e de cabelo liso,

35
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
essa fala demonstra o seu sofrimento porque vem sofren- mesma abrange gênero, sexualidade, cultura. Também de
do preconceitos por colegas de classe, elas tem acesso a entidades políticas do mundo inteiro. Temos observado a
matricula e sala de aula exceto as atividades escolares com inserção do assunto nos debates, literatura, eventos con-
êxito e aceitação, daí resulta em sua reprovação, e quando ferencias, teses e dissertações, que são respostas as vozes
adultos sua indignação ou silenciamento por sua condição dos diferentes movimentos sociais que lutam pelos seus
de vida. direitos e legitimidades
Na verdade o que seria necessário era “uma formação Ainda nesse contexto apoiado – nos em SILVA e BRADIM,
cultural deve voltada para sua realidade local de modo que nas universidades CANDAU (1997) reafirma o crescimento,
os educadores possam romper com tais praticas possibi- nos últimos anos, de encontros, seminários e congressos
litando aos educadores” afirmar suas tradições culturais e abordando temas relativos à globalização, pluralismo cul-
recuperar suas historias reprimidas” (Bhabha, 1998, p. 29). tural, identidades sociais e culturais etc. O marco para o ini-
Os movimentos sociais conquistaram na constituição cio dos debates nos foros educacionais universitários deu-se
brasileira de1988 admissão do nosso pluralismo étnico. Os numa das reuniões anuais da ANPED. Ela relata que, “(...) em
efeitos são observados na educação no campo da produ- 1995, pela primeira vez, foi realizada uma sessão especial
ção artística, sobretudo da literatura fala-se em “escrita fe- sobre o tema multiculturalismo e universidade. Os partici-
minina”, em “vozes negras”, homoerótico etc. Nessa linha pantes fomos testemunhas das reticências e reservas que o
de raciocínio: tema suscitou no debate” (Ibid,: 241)
“A cultura torna-se instrumento de definição de políti- Na área educacional muitos estudos têm sido formu-
cas de inclusão social - as “políticas compensatórias” ou as lados na tentativa de criar um currículo que busque os in-
“ações afirmativas” - que tomam os diversos setores da vida teresses dos não pertencentes aos padrões dominantes,
social. Cotas para minorias, educação bilíngue, programas assim:” Nos parâmetros curriculares nacionais – PCN (BRA-
de apoio aos grupos marginalizados, ações anti-racistas e SIL,1997) consta que o Brasil tem participado de eventos
antidiscriminatórias são experimentadas em toda parte.(Da- importantes, como a Conferencia Mundial de Educação
niel Bell) para Todos, realizada em Jostiem, na Tailândia, em 1990,
Para Romão (2001), a reversão desse quadro será pos-
convocada por organizações como a UNESCO, UNICEF e
sível pelo reconhecimento da escola como reprodutora das
Banco Mundial”.(SILVA e BRADIM,P. 59, 2008)
diferenças étnicas, investindo na busca de estratégias que
“Somente no inicio do século XXI e que podemos perce-
atendam as necessidades especificas de alunos negros,
ber uma significativa mudança, posto que varias instituições
incentivando-os e estimulando-os nos níveis cognitivo,
do ensino superior começaram a adotar as denominadas
cultural, físico. O processo educativo pode ser uma via de
ações afirmativas para negros e indígenas, com ênfase no
acesso ao resgate da autoestima, da autonomia e das ima-
gens distorcidas, pois a escola é ponto de encontro e de sistema de cotas. E, desde 2003, há a obrigatoriedade das
embate das diferenças étnicas, podendo ser instrumento temáticas história e cultura do negro no Brasil nos currículos
eficaz para diminuir e prevenir o processo de exclusão so- escolares, sancionada através da Lei 10.639”.(Santos E Quei-
cial e incorporação do preconceito pelas crianças negras. roz,2007)
É impossível viver na escola e na sociedade sem se re- “No contexto educacional as praticas que se engajaram
laciona com pessoas diferentes de nos, não somos melho- a despeito do multiculturalismo são:” Nos parâmetros cur-
res do que nenhuma raça somos iguais às diferenças não riculares nacionais – PCN (BRASIL, 1997) consta que o Brasil
devem ser vistas como barreiras e sim como o complemen- tem participado de eventos importantes, como a Conferen-
to de nossa existência e aprendizado. Mais uma vez coloco cia Mundial de Educação para Todos, realizada em Jostiem,
a participação dos docentes no sentido de comprometi- na Tailândia, em 1990, convocada por organizações como
mento a estuda o multiculturalismo e respeita a bagagem a UNESCO, UNICEF e Banco Mundial”. (SILVA e BRADIM, P.
cultural de seus alunos. 59, 2008)
Daí citaram que a “leitura critica que ser realiza nos cur- O movimento negro no Brasil só ganhou força nos
sos de formação deve ser entendida como uma interseção anos 50 porque eles tomaram atitudes eficazes como: fim
da linguagem, da cultura, do poder, e da historia”.(McLaren do isolamento dos movimentos brasileiros em relação aos
e Giroux,2000) movimentos de libertação racial em outros países. Os con-
A manifestação do multiculturalismo nas análises gressos e conferencias pan-africanas irão possibilitar tro-
educacionais, de fato trouxe desafios muito importantes cas de informações visando á conscientização do valor da
às investigações sobre o conhecimento, e com isso abriu cultura negra e a libertação do complexo de inferioridade
possibilidades para se pensar em práticas curriculares e de em relação ás culturas branca; a criação de organizações
formação docente que pode ser voltadas à construção de de revindicação do movimento negro no país, a exemplo
identidades discente e docente multiculturalmente com- da Associação dos Negros Brasileiros (ANB), Convenção
prometidas com o ensino/aprendizagem, visando assim Nacional do Negro Brasileiro (CNNB), União Nacional dos
promover o respeito à diferença e à pluralidade cultural. Homens de Cor (UNHC), a criação do Teatro Experimen-
tal Negro (TEM); a atuação de organizações internacionais,
As ações escolares e políticas como a ONU.
A problemática multicultural tem sido um tema discu- Nos parâmetros curriculares nacionais – PCN (BRASIL,
tido principalmente na pedagogia e no currículo com um 1997) consta que o Brasil tem participado de eventos im-
intuito de solucionar os conflitos que dela surgem, já que a portantes, como a Conferencia Mundial de Educação para

36
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Todos, realizada em Jostiem, na Tailândia, em 1990, convo- O professor deve ser crítico reflexivo, humano; Ques-
cada por organizações como a UNESCO, UNICEF e Banco tionado o que ele vai ensinar aos seus alunos e propor
Mundial”. (SILVA e BRADIM, P. 59, 2008)  reformas pedagógicas já que ele e o mediador do conhe-
Quanto às ações políticas SILVA e BRADIM relatam que cimento, ouvindo seus alunos quanto a suas dificuldades,
devido as pressões populares multiculturais e as teorias cri- incentivar trabalhos que levem os mesmos a pesquisa sua
ticas e pós – criticas, as próprias organizações internacionais realidade local, humano quando não despreza um aluno
de defesa dos direitos humanos firma o compromisso de pro- que não pertence ao padrão cultural aceito, ele deve ser
mover uma educação para a cidadania baseada no respeito um profissional com todas essas competências e não ape-
a diversidade cultural, visando a superação das discrimina- nas aquele que sabe do conteúdo, mas que com sua baga-
ções e preconceitos. CANDAU (1997) menciona a conferen- gem teórica ensine a viver neste mundo capitalista.
cia mundial sobre políticas culturais, promovida pela UNES- Queremos, sobretudo a ação das autoridades políticas
CO, em 1982, no México, cujo papel é o de contribuir para com projetos, leis mais eficazes que inclua a diversidade
a aproximação entre os povos e uma melhor compreensão
dando chances para que tenham seus direitos atendidos,
entre as pessoas.
pois estes vem lutando há muito tempo pelo seu valor e
“A propósito a ONU e suas agencias especializadas, so-
dignidade. Isso é possível mesmo sabendo que a globaliza-
bretudo a UNESCO, impulsionarão os países membros a
ção parece querer cria apenas uma cultura algo que jamais
elaborar garantias jurídico-institucionais para proteger as
vidas de grupos culturalmente dominados” (SILVA e BRA- acontecera, pois a multiculturalidade estar presente antes
DIM, 2008) dos avanços tecnológicos.
Propomos que esses assuntos estejam presentes no
O multiculturalismo e a educação estão intimamente processo ensino – aprendizagem desde as primeiras series
ligados, porque ao mesmo tempo em que a escola ensina do ensino básico, na formação de professores enfim con-
as pluralidades culturais ela segrega os que não fazem par- cordamos com Silva e Bradim
te daquele padrão aceitável pelo seu sistema educacional. “Defendemos o multiculturalismo crítico para quem
Quando em seus ensinamentos morais pregam o respeito as diferenças não têm um fim em si, mas situam-se num
à tolerância ao próximo ela segrega dando num mesmo contexto de lutas por mudança social, contrapondo- se ao
espaço maiores oportunidades de expressão e atenção aos ideário neoliberal e a globalização econômica e cultural
brancos. vigente, como expressões legitimas do modelo capitalista
Daí a s discussões, e os inúmeros estudos voltados as opressor”.
multiculturalidades, sendo que abrangem não apenas um Contudo somos afavor do multiculturalismo crítico, en-
grupo social mais várias vitimas do preconceito, exclusão tendendo que o respeito à vida humana, diversidade cul-
social, discriminação juntamente com as manifestações tural e essencial para a construção de um mundo de paz,
desses grupos oprimidos, o olhar governamental e a ins- como futuro educador vemos na instituição escolar uma
tituição escolar se preocupam em criar mecanismos que força maior que nos conduzirá a esse processo de justiça
silencie ou minimize os conflitos das diferenças. No sentido social e democracia. Nessa vertente é necessário o avanço
político ouvimos mais discursos, sem grandes repercussões de pesquisas teóricas e praticas envolvida na formação de
concretas. identidades e pluralidades culturais.9
Como argumenta SILVA e BRADIM o problema ameaça
todos, indistintamente (dominados e dominantes, pobres
e ricos, negros e brancos, mulheres e homens), indepen-
dente de classe ou grupo social. Para isso traçam metas, 6. A ARTE DA PRÉ-HISTÓRIA BRASILEIRA E
definem propostas e promovem eventos (fóruns e confe- CEARENSE.
rencias), a fim de manter sob controle os antagonismos 6.1 ARTE INDÍGENA
sociais e culturais. 6.2 ARTE AFRICANA.
Vimos no subtítulo ações escolares e políticas que a
ONU, por exemplo, tem dado sua contribuição ao tema
para combater as discriminações e preconceitos assim
como os espaços acadêmicos de formação de professores Artes Plásticas na Pré-História (de 15.000 a 3.000
onde constatamos a necessária intervenção do professor a.C.)
nessas questões. As pinturas rupestres (em paredes de cavernas) mais
Torna-se urgente uma educação verdadeiramente de- antigas do Brasil foram encontradas na Serra da Capiva-
mocrática, que inclua a diversidade cultural, para que este ra, no estado do Piauí. Na época entre 5000 a.C e 1100,
processo aconteça é necessário o convívio multicultural povos da Amazônia fabricaram objetos de enfeites e de
que implica respeito ao outro, diálogo com os valores do cerâmica Destacam-se os vasos de cerâmica da ilha de
outro.  Propomos a realização eficaz de mudanças nos sis- Marajó e do rio Tapajós. A arte plumária  (com penas de
temas educacionais enquanto espaços monoculturais, atra- pássaros) feitas por índios e a pintura corporal, usando
vés do desenvolvimento de atitudes, projetos curriculares tintas derivadas da natureza, representam importantes
e ideias pedagógicas, que sejam sensíveis à emergência do exemplos da arte indígena.
multiculturalismo. 9 Fonte: www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br

37
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
As mais importantes pinturas rupestres do Brasil:
· PEDRA PINTADA (PA), aqui, em 1996, a arqueóloga americana Anna Rosevelt achou pinturas com cerca de
11.000 anos.
· PERUAÇU (MG), tem vários estilos de pinturas entre 2.000 a 10.000 anos. Exibe espetaculares desenhos geométricos.
· LAGOA SANTA (MG), suas pinturas de animais, conhecidas desde 1834, têm entre 2.000 e 10.000 anos de idade.
· SÃO RAIMUNDO NONATO (PI), segundo Niède Guindon, da Universidade Estadual de Campinas, possui vestígios
humanos de 40.000 anos e pinturas de 15.000 anos.
Para seu conhecimento:
A tinta de pedra é feita de cacos de minério que forneciam as cores para as pinturas rupestres: os artistas raspavam as
pedras para arrancar os pigmentos coloridos, o vermelho e o amarelo vinham do minério de ferro, o preto, do manganês.
Misturado com cera de abelha ou resina de árvores o pigmento virava tinta.
As imagens abaixo referem-se à Serra da Capivara/Piauí.

Arte cearense
A cultura artística cearense tem como base essencialmente as culturas europeia e ameríndia, de forte tradição sertaneja
e também influência afro-brasileira. Quando da introdução da cultura portuguesa no Ceará, ao longo do século XVII, os
índios já produziam diversificado artesanato a partir de vegetais como o cipó e a carnaúba, bem como dominavam técnicas
primitivas de tecelagem do algodão, inclusive tingindo os tecidos de vermelho com a casca da aroeira. Com a colonização,
diversas técnicas europeias se somaram a essa base cultural, formando uma arte popular que viria a ser renomada nacional
e internacionalmente.
Com origens portuguesas e relevante influência indígena, têm destaque a produção de redes com os mais diversos
bordados e formas e intrincadas rendas feitas em bilros, talvez o maior destaque da produção artesanal cearense, sendo
uma arte tradicional no Ceará desde meados do século XVIII. As rendas e os labirintos possuem maior destaque nas ime-
diações do litoral, enquanto o interior se destaca mais pelos bordados. As pedras semipreciosas também são exploradas na
confecção de jóias, sobretudo em Juazeiro do Norte, Quixadá e Quixeramobim.
Ademais, o artesanato feito em madeira e barro é também de grande destaque, com produção de esculturas humanas,
representando tipos da região; quadros talhados em madeira e vasos adornados. Outro importante item do artesanato cea-
rense são as garrafas de areias coloridas, onde são reproduzidas, manualmente, paisagens e temáticas diversas. São ainda
encontrados, em diversas cidades - em especial Massapê, Russas, Aracati, Sobral e Camocim, cestarias, chapéus e trançados
com variadas formas e desenhos feitos da palha da carnaúba, do bambu e do cipó. Por fim, como consequência natural de
uma economia que, durante séculos, foi essencialmente pecuarista, o couro é trabalhado artesanalmente, em especial para
a produção de chapéus e outras peças da roupa de vaqueiros, assim como de móveis e esculturas. As principais cidades no
artesanato coureiro são Morada Nova, Juazeiro do Norte, Crato, Jaguaribe e Assaré.
Em diversas áreas do interior cearense, os cordéis, assim como os repentistas e poetas populares, especialistas no im-
proviso de rimas, ainda estão presentes e ativos, seguindo uma tradição que remonta aos trovadores e poetas populares
da Idade Média lusitana. Outra forte influência portuguesa se encontra na grande importância das festas religiosas nas
cidades de todo o interior, particularmente as festas de padroeiros, que estão entre as principais festividades da cultura
cearense, abarcando não só cerimônias religiosas, mas também de dança, musicais e outras formas de entretenimento,
numa complexa mistura de aspectos sagrados e profanos. Destaca-se a Festa de Santo Antônio em Barbalha, famosa pelo
pau da bandeira, que é comemorada nessa forma há 78 anos.10
10 Fonte: www.pt.wikipedia.org

38
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Arte Indígena brasileira.
Os olhos e as mentes intelectuais da humanidade começaram no séc. XX a reconhecer os povos nativos como culturas
diferentes das civilizações oficiais e vislumbraram contribuições sociais e ambientais deixadas pelos guerreiros que tiveram
o sonho como professores. Mas a maior contribuição que os povos da floresta podem deixar ao homem branco é a prática
de ser uno com a natureza interna de si. A Tradição do Sol, da Lua e da Grande Mãe ensinam que tudo se desdobra de uma
fonte única, formando uma trama sagrada de relações e inter-relações, de modo que tudo se conecta a tudo. O pulsar de
uma estrela na noite é o mesmo que do coração. Homens, árvores, serras, rios e mares são um corpo, com ações interde-
pendentes. Esse conceito só pode ser compreendido através do coração, ou seja, da natureza interna de cada um. Quando
o humano das cidades petrificadas largarem as armas do intelecto, essa contribuição será compreendida. Nesse momento
entraremos no Ciclo da Unicidade, e a Terra sem Males se manifestará no reino humano.

A arte indígena brasileira é um tipo de arte produzida pelos povos nativos brasileiros, antes, durante e depois da colo-
nização portuguesa, que começou no século XV.
Devido à grande diversidade dos índios brasileiros, é difícil definir um padrão artístico, porém, a cerâmica, o trançado,
os enfeites do corpo, as danças e os rituais merecem destaque. É importante saber que quando falamos que um objeto
indígena é artístico, provavelmente estaremos lindando com conceitos da nossa civilização, porém, estranhos aos índios.
Para eles, o objeto precisa ser perfeito ao produzido, e não na sua utilização.
Outro aspecto importante, é que a arte indígena é a representação de uma tribo, e não da personalidade de quem o
faz. Por isso, essa arte é tão diversificada. Eles também usam apenas elementos naturais na composição da arte: madeira,
palhas, cipós, resinas, ossos, dentes, couro, conchas, pedras, sementes, plumas, tintas, e etc. As peças de cerâmica mostram
os muitos costumes dos povos indígenas.  
As máscaras para os índios, são produzidas pelo homem comum, mas ao mesmo tempo, são a figura viva do sobrena-
tural. São feitas com troncos de árvores, cabaças, palhas, e são normalmente usadas em danças cerimoniais. As cores mais
usadas pelos índios são: o vermelho muito vivo, o negro esverdeado, e o branco. A importância desse tipo de cor, é que ao
fazerem a pintura corporal, os eles tem a intenção de transmitir a alegria com cores vivas e intensas. Além do mais, através
dessa pintura corporal, as tribos se organizam socialmente, como por exemplo: guerreiros, nobres e pessoas comuns.

Musica e Dança
A música e a dança estão frequentemente associadas aos índios e a sua cultura, variando de tribo para tribo. Em muitas
sociedades indígenas a importância que a musica tem na representação de ritos e mitos é muito grande. Cada tribo tem
seus próprio instrumentos, havendo também os instrumentos que são utilizados em diferentes tribos no entanto de dife-
rentes formas como é o caso do maracá ou chocalho, onde em determinadas sociedades indígenas como a dos Uaupés o
uso do mesmo acontece em cerimonias religiosas, já outras tribos como a dos Timbiras é utilizado para marcar ritmo junto a
um cântico por exemplo. A dança junto aos indígenas se difere da nossa por não dançarem em pares, a não ser por poucas
exceções como acontece no alto Xingú. A dança pode ser realizada por um único indivíduo ou por grupos.

39
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Trançado e Tecelagem Existem dois grandes estilos na arte plumária, são eles,
Os trançados feitos pelos indígenas possuíam como os trabalhos majestosos e grandes, como os diademas, e
matérias-primas as folhas, palmas, cipós, talas e fibras. Os os delicados adornos de corpo, que está no colorido e na
indígenas produzem uma variada gama de peças de ves- combinação dos matizes, que seriam um tipo de colar.
tuário, cestas e redes, além de perneiras e abanos.
Os principais produtos que eram produzidos com esta Arte em Pedras
arte de tecelagem eram as vestimentas, que caracterizam A confecção de instrumentos de pedra (ex.: machadi-
muito a sua cultura indígena, já que dependendo de qual nhas) fora de extrema importância no passado indígena,
cultura a vestimenta também muda. mas nos dias atuais os índios não mais costumam produzir
     Nos trabalhos de cestaria dos índios há uma defini- artefatos em pedra devido à inserção de instrumentos de
ção bastante clara no estilo do trabalho, de forma que um ferro, que se mostraram mais eficientes e práticos, embora
estudioso da área pode através de um trabalho em trança- algumas tribos ainda utilizam estes artefatos para ocasiões
do facilmente identificar a região ou até mesmo que tribo especiais.
o produziu. As cestarias são utilizadas para o transporte de  Esta arte acabou sendo também um dos fatos mais im-
víveres, armazenamento, como recipientes, utensílios, ces- portantes ocorridos na arte indígena, pois foi um momento
tas, assim como objetos como esteiras. em que os índios desenvolveram-se na caça, alimentação,
vestimentas entre outros.
Cerâmica
As peças de cerâmica que se conservaram ao longo do Arte em Madeira
tempo testemunham costumes de diferentes povos indí- A madeira é utilizada para a fabricação de diversos tra-
genas já desaparecidos, numa linguagem artística que nos balhos nas sociedades indígenas. Vários artefatos são pro-
impressiona. Elas possuem várias formas diferentes para duzidos como ornamentos, máscaras, banquinhos, bone-
cada local, como também figuras, isso explica a diversidade cas, reprodução de animais e homens, pequenas estatuetas,
cultural presente na época indígena. canoas entre vários outros. Os karajá, por exemplo, produ-
A fabricação de artefatos de cerâmica não é caracte- zem estatuetas na forma humana que nos faz lembrar de
rística de todas as tribos indígenas. Entre os Xavantes, por uma boneca. No alto Xingu os trabalhos em madeira são
exemplo, ela falta totalmente. Em algumas sua confecção bastantes desenvolvidos. São produzidos máscaras, bancos
é bastante simples, mas o que é importante ressaltar é que esculpidos na forma animal, notando-se grande habilidade
por mais elaborada que seja a cerâmica sua produção é no trabalho, sendo sua demanda comercial muito grande
sempre feita sem a ajuda da roda de oleiro. As cerâmicas advinda principalmente de turistas.
são utilizadas na fabricação de bonecas, panela, vasos e Além do mais, com a arte em madeira foi possível pro-
outros recipientes. Muitas são produzidas visando atender duzir a arma mais conhecida do índio que seria o arco, que
a demanda dos turistas. até hoje é utilizado por eles. 

Mascaras Arte Corporal


  Para os indígenas, as máscaras têm um caráter du- Uma das características que mais marcam a cultura
plo: ao mesmo tempo que são um artefato produzido por indígena é a pintura corporal. Ela pode ser comparada a
um homem comum, são a figura viva do ser sobrenatural necessidade e importância de uso de roupas do homem
que representam. Feitas com cascas de árvores, cabaças de moderno.
palhas de buriti, geralmente são usadas em danças ceri- A tinta que se usa, é extraída principalmente de jeni-
moniais, representando personagens da mitologia indíge- papo, carvão, urucum e calcário. Essa pintura corporal tem
na.  Com seu simbolismo, as máscaras aproximam estas como objetivo, caracterizar e diferenciar os povos, deter-
forças sobrenaturais ao indivíduo e materializam todos os minar funções dentro de uma aldeia, mostrar valores, e em
códigos inscritos nos rituais e mitos, facilitando a leitura alguns casos, o “estado civil”. Algumas índias até usam esse
que cada um dos índios fará destes códigos. método para transmitir a ideia de que estão interessadas
Um aspecto recorrente nas mitologias indígenas é que em arrumar um parceiro. Se duas tribos tiverem as mesmas
em um passado distante aconteceram conflitos entre as pinturas corporais, uma luta pode ocorrer entre elas.
entidades representadas pelas máscaras e os índios, po- Em algumas tribos, os homens se pintam diferentes
rém no presente os índios preparam festas que servem das mulheres para que se possam diferenciar, e pode ocor-
para “alegrar” e controlar estas entidades. Assim os índios rer, que as pinturas masculinas sejam mais bem produzi-
superam os confrontos passados, e influenciam as forças das, dando uma posição de liderança.11
sobrenaturais em favor de seus interesses.
Arte Africana
Arte Plumaria A arte afro-brasileira trilhou um longo percurso du-
Essa é uma arte muito especial, pois ela não está as- rante séculos, tendo nascida a partir de profundas raízes
sociada a nenhum fim lucrativo e sim apenas à pura busca africanas, conquistando visível autonomia e criatividade
da beleza, com esta arte os índios criam mantos, diade- própria. Percorreu uma trajetória de trocas, sobretudo com
mas e colares. Uma das peças mais conhecidas é o “manto 11 Fonte: www.artedosindigenas.blogspot.com.br - Texto
Tupinambá” confeccionada pelos Tupinambás, para serem de Rafael Fernandes Pereira/Matheus Ribeiro/Lucas Trindade/
usadas pelos pajés. Felipe Georg´s/Thales Henrique e João Paulo Dantas

40
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
os europeus, em meio a um mundo escravocrata e cató- étnica felizmente não só desapareceu dos anuários oficiais
lico que lhe acarretou perdas e ganhos, continuidade e do Itamaraty como também aumentou a participação dos
mudança. Essa arte, realimentada pelas levas sucessivas de negros nas artes nacionais.
escravos que lhe inspira uma visão de mundo herdada da Porém, é preciso ter presente a mentalidade reinante
África, estava, porém, sujeita simultaneamente à dinâmica durante a época do escravismo, em que qualquer tipo de
proveniente da evolução da sociedade brasileira. Participou trabalho, mesmo artístico, era considerado indigno de um
de tal modo na construção e desenvolvimento de nossa branco da casa-grande. A única exceção a essa regra foram
sociedade que o sociólogo Gilberto Freyre, pioneiramente, os padres que, quase todos, aprenderam as artes na me-
considerou o negro como “um co-colonizador, apesar da trópole. Para uma eficaz ação evangélica da Igreja foram
sua condição de escravo”. indispensáveis várias artes, e não só a retórica dos sermões.
A função primordial da arte africana, também chamada Eram necessários muitos templos, que se espalharam por
de arte negra, foi a de produzir valores emocionais para cada capitania. Cada um deles requisitou arquitetos, pin-
as comunidades às quais pertenceu e que possuíam um tores, escultores, músicos (o padre mestiço José Maurício
saber cultural já estabelecido. Acompanhava, assim, a vida Nunes Garcia foi o músico mais reverenciado da época). E
cotidiana da comunidade, participando dos rituais da vida não esqueçamos os corais dos jesuítas, quase todos forma-
doméstica desde o nascimento, dos ritos de passagem, dos por negros, principalmente até meados do século XVIII.
passando pela fatalidade da morte e continuando ainda na No entanto, foi somente na época do barroco que os
perene ligação com a ancestralidade. Essa arte não tinha o negros constituíram, de certo modo, uma elite na arte bra-
compromisso de ser retrato da realidade e se apresentou sileira. O barroco brasileiro, com seu epicentro situado em
sem simetria e proporção. Na figura humana, por exemplo, Minas Gerais (mas com núcleos importantes em Pernam-
quase sempre a cabeça é demasiado grande, pois repre- buco, Bahia e Rio de Janeiro), beneficiou-se economica-
senta a personalidade, o saber, sobretudo quando é a de mente do chamado “ciclo do ouro” das décadas de 1729 a
alguém mais velho; a língua, por vezes, ultrapassa a cavi- 1750. Do fecundo período barroco, resultaram os mais be-
dade da boca, já que expressa a fala, que é a chave da tra- los monumentos religiosos do Brasil, no dizer de Fernando
dição oral; a barriga e os seios femininos representam, em
Azevedo, que acrescenta terem sido os anos Setecentos o
conjunto, a fertilidade; os pés, normalmente grandes, estão
“século do Aleijadinho”, o gênio mulato que deu aos “cen-
sempre bem fixados na terra.
tros urbanos de Minas Gerais algumas das igrejas rococós
De base rural-comunitária, a arte africana feriu direta-
mais belas do mundo”. É natural, portanto, que muitos crí-
mente os cânones europeus até quase o final do século XIX
ticos considerem que, de fato, a história das artes no Brasil
e, com o seu “expressionismo”, conseguiu atrair pintores
se iniciou com o estilo barroco.
como Picasso e Braque, justamente quando enveredaram
pelo cubismo. No entanto, por volta da mesma época, os Além das ordens religiosas – exclusivistas do ponto
europeus também reagiram com espanto a um outro tipo de vista racial, uma vez que não toleravam a participação
de arte africana: os “bronzes de Benin”, levados para a Eu- de quem não provasse ter “sangue puro” (os judeus, por
ropa após a conquista colonial. O crítico alemão F. von Lun- exemplo) –, outro fator benéfico para o aparecimento de
cham escreveu, em 1901: “Estes trabalhos de Benin (ela- artistas negros foram as irmandades, a quem estavam liga-
borados com a secular técnica da ‘cera perdida’) estão no das as corporações de ofícios. Separadas pela cor dos seus
patamar mais elevado da técnica de fundição da Europa. membros – brancos, pardos (ou mulatos) e pretos – essas
Cellini, e ninguém antes nem depois dele, poderia tê-los irmandades competiam entre si, mas não se tratava de uma
fundido melhor”. Essas cabeças e estátuas em bronze já competição muito excludente, já que, com frequência, o ta-
eram produzidas assim pelos iorubás desde o século XVI, lento era priorizado. Dois exemplos foram a Irmandade do
conforme testemunharam os portugueses quando ali apor- Rosário dos Homens Pretos, que patrocinou a publicação,
taram no tempo das grandes navegações. em Lisboa, do livro Testemunho eucarístico de o Aleijadi-
Analisando a fraca presença dos negros brasileiros nas nho, artista escolhido pela Irmandade de São Francisco, de
artes visuais contemporâneas – em flagrante contraste com brancos, para fazer a planta e para construir as suas duas
o período do barroco, quando eram dominantes – Clari- mais belas igrejas, localizadas em Vila Rica e em São João
val do Prado Valadares (1988) menciona que essa presença Del Rei. Além de Aleijadinho, outro artista mulato de desta-
passou a traduzir-se, quase que exclusivamente, no que se que foi o Mestre Valentim, também filho de pai português
convencionou chamar de “arte primitiva”. Essa arte, segun- e de mãe escrava. Enquanto Aleijadinho atuou em Minas
do ele, aceitavelmente dócil, era aquilo que se esperava do Gerais, no terreno da arte religiosa, arquitetura e escultu-
negro, uma arte adequada ao lugar que lhe era permitido ra, o Mestre Valentim veio para o Rio de Janeiro, onde se
ocupar na hierarquizada sociedade brasileira. imortalizou no campo do urbanismo e da construção civil.
Compreende-se isso melhor ao se consultar Quem é De acordo com Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira
quem nas artes e letras do Brasil, lançada pelo Ministério (2008), a sobrevivência desses dois nomes na memória co-
das Relações Exteriores em 1966. Das 298 fichas biográfi- letiva brasileira não se explica somente pela qualidade de
cas de artistas brasileiros ali listadas, somente 16 eram de suas obras: “Há algo com raízes mais profundas na psico-
negros. O mesmo Itamaraty – numa edição, em francês, do logia do povo brasileiro que arriscaríamos chamar de uma
seu Anuário de 1966  assinala que, no que diz respeito à cor espécie de identidade nacional com esses dois artistas,
“a maioria da população brasileira é constituída de bran- ambos mulatos e, portanto, representantes autênticos da
cos; a percentagem de mestiços é fraca”. Essa “distração” originalidade de uma cultura criada na periferia do mundo

41
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
e que apresenta tal força e originalidade”. Originalidade ca- com o rosto em perfil, o corpo de frente e “os dentinhos
paz de manifestar uma força expressionista, de talha geo- de fora”. Tornou-se prestigiado após a sua participação na
métrica angulosa, tão próxima da África, como se sente em I Bienal de São Paulo, em 1951, como um dos represen-
Aleijadinho e também no Mestre Valentim, com os traços tantes da delegação brasileira no Festival Mundial de Arte
negróides de suas esculturas e pinturas. Negra, em Dacar (Senegal, 1966).
Quem sugeriu o reconhecimento dessa “africanidade” Djanira da Motta e Silva (1914-1979) – Embora sem
na arte desses dois mestres, e em outros artistas menos sangue negro, dedicou atenção à cultura e às tradições
estudados, foi o crítico George Nelson Prestan, que elabo- africanas. Descendente de índios guaranis e de austríacos,
rou a teoria do “neoafricanismo” voltada para a evolução nasceu no interior de São Paulo e foi morar na capital, onde
da arte da diáspora africana nas Américas. Emanuel Araú- passou uma vida de privações. Contraiu tuberculose aos
jo lembra que Mário de Andrade chamava de “racialidade 23 anos, mas conseguiu sobreviver. Mudou-se para o Rio,
brasileira” essa marca deixada pelos nossos artistas negros. onde trabalhou como modista e cozinheira, fez aulas de
Já Sérgio Buarque de Holanda preferiu o termo “mulatis- pintura com Emeric Marcier e frequentou o Liceu de Artes
mo”. O crítico Augusto de Lima Júnior considera o mula- e Ofícios. Expôs a partir de 1942, com ampla aceitação da
tismo uma marca reconhecível em artistas, muitas vezes crítica e do público. Fez o retrato apaixonado de sua terra e
anônimos,  dessa época, que também apresentaram traços sua gente, sem concessões ao fácil e ao pitoresco.
negróides nas figuras humanas que pintaram. Mestre Didi (1917) – Natural de Salvador e alto dig-
Se no período colonial, a maior parte da nossa criação natário do culto dos ancestrais na Bahia. Seu livro mais co-
artística foi de autoria de negros, o mesmo não ocorreu nhecido, publicado em 1962 e reeditado, intitula-se Contos
nos séculos XIX e XX. O século XIX, com efeito, propor- negros da Bahia. Os seus trabalhos, de cunho ritual, são
cionou uma nova feição às artes visuais brasileiras. Logo esculturas feitas com produtos naturais.
em seus primeiros anos, alguns acontecimentos aponta- José de Dome (1921-1982) – Figurativista intuitivo e
ram nessa direção. Em novembro de 1800 foi criada, no Rio lírico, dedicou-se a paisagens e a tipos populares. Em Cabo
de Janeiro, a Escola Pública de Desenho e Figura. A vinda Frio, onde viveu grande parte da sua vida, o prédio da se-
da Corte portuguesa, em 1808, foi outro marco nessa mu- cretaria de Cultura leva seu nome.
dança, completada com a chegada, em 1816, da Missão Rubem Valentim (1922-1991) – Sua carreira se pro-
Francesa, que instituiu o neoclassicismo no Brasil. Após a jetou a partir de 1942 e, dois anos depois, expôs na Bahia
chegada dos professores franceses, foi criada a Escola Real aquele que é considerado como o primeiro quadro abstra-
de Artes e Ofícios, no Rio de Janeiro, em agosto de 1818. to executado no estado. Expositor constante nas Bienais
Poucos anos depois, com a colaboração francesa, foi criada de São Paulo (entre 1955 e 1977) como pintor e escultor,
a Academia Imperial de Belas Artes (em 1890, com a Repú- participou da delegação brasileira em dois festivais mun-
blica, Escola Nacional de Belas Artes). As artes passaram, diais de Arte Negra: em Dacar (1966) e em Lagos (1977),
então, a participar diretamente de um circuito internacional com uma arte geométrica ostentando símbolos dos cultos
que o barroco não tivera, o que provavelmente contribuiu afro-brasileiros.
para a sua originalidade afro-brasileira. Antonio Bandeira (1922-1967) – Nascido no Ceará,
A consolidação do estilo implantado pela Academia formou-se em Paris, onde faleceu. Com valiosa produção
acarretou um grande aumento de encomendas do gover- abstracionista, participou das Bienais de São Paulo e Vene-
no imperial, o mercado das artes expande-se e aumentam za, e sua obra foi distribuída por diversos museus no Brasil
as viagens de estudo ao exterior. A capacidade da arte em e no exterior. Ocupa uma das mais destacadas posições em
constituir carreiras promissoras passou a atrair os filhos da toda a história da arte brasileira.
aristocracia rural e da burguesia emergente. Ainda assim, Otávio Araújo (1926) – Natural de São Paulo, e de con-
durante os Oitocentos, alguns artistas negros se sobres- dição modesta, conseguiu realizar sua primeira exposição
saíram na arte propugnada pela Academia, entre os quais no Rio de Janeiro, em 1946, participando do “Grupo dos
Firmino Monteiro, Estevão Silva, Fernando Pinto Bandeira e 19”. A obtenção de um prêmio permitiu-lhe viajar para a
Artur Timóteo da Costa. Europa. Foi assistente de Portinari entre 1952 e 1957, e em
A arte afro-brasileira só passou a ser devidamente seguida viajou para a União Soviética.
valorizada como expressão da brasilidade a partir do mo- Maria Auxiliadora (1938-1974) – Artista mineira, a
vimento modernista dos anos 1920 e nas excursões que sua produção foi marcada por uma técnica de colagem
Mário de Andrade liderou por Minas Gerais e pelo Nor- de cabelo natural, que iniciou em 1968. A sua outra ca-
deste. O reconhecimento ganhou foros intelectuais com a racterística, na qual alguns veem um afloramento da “pop
criação da Universidade de São Paulo (USP) em 1934 e, a art”, foi a utilização da massa plástica para obter relevo e
seguir, com a Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. A movimento. Em sua arte, misturam-se sexualidade e temas
partir de então, vários artistas brasileiros contemporâneos religiosos, fertilidade e candomblé.
de origem negra se destacaram pela produção de suas res- Emanoel Araújo (1940) – Artista baiano que sempre
pectivas obras: se inspirou nas tradições populares do seu estado natal.
Heitor dos Prazeres (1898-1966) – Compositor e pin- Também crítico de arte, produtor e administrador cultural,
tor nascido e falecido no Rio de Janeiro, sambista pioneiro dono de uma importante coleção de obras de arte, organi-
que participou da fundação das escolas de samba Portela e zou em 1988 o livro A mão afro-brasileira, considerado por
Mangueira. Sua carreira de pintor só foi iniciada em 1936, especialistas a mais completa obra sobre o tema.12 
tendo como inspiração o samba e o cotidiano dos mor- 12 Fonte e adaptado de: www.raulmendessilva.com.br/
ros cariocas, onde a sua gente aparecia nos seus quadros Arnaldo Marques da Cunha

42
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação

7. AS ARTES VISUAIS NO BRASIL E


NO CEARÁ: DO BARROCO COLONIAL
BRASILEIRO AOS DIAS ATUAIS.

A arte brasileira surgiu da mistura de outros estilos e se inicia desde o período da Pré-História há mais de 5 mil anos,
até a arte primitiva. Ela também foi influenciada pelo estilo artístico de outras sociedades.
Dentre elas, temos a arte da Pré-História brasileira, com vários sítios arqueológicos espalhados pelo território e tom-
bados pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Outra a ser citada é a arte indígena, na época
do descobrimento do Brasil, quando no início, havia cerca de 5 milhões de índios. Atualmente, esse número foi reduzido,
assim como parte de sua cultura.
Outra arte brasileira a ser citada é a do Período Colonial. O Brasil transformou-se em colônia de Portugal, depois da
chegada de Cabral e eram feitas construções simples, como as feitorias, várias vilas, engenhos de açúcar como representa-
ção da arte. Após a divisão do Brasil em capitanias hereditárias, foi necessária a construção de casas para os colonizadores.
Na invasão dos holandeses que ficaram no nordeste do Brasil por quase 25 anos, no início de 1624, se instalou uma
cultura vinda dos povos holandeses. Apesar dos portugueses terem defendido o Brasil de invasores, estes ainda consegui-
ram instalar-se. Artistas e cientistas vieram para o Recife, trazendo a cultura holandesa.
Outro estilo que surgiu foi o Barroco, ligado ao catolicismo. A influência da Missão Artística Francesa, no início do sé-
culo XIX, quando a família real veio ao Brasil foi intensa. A população começou a imitar a cultura europeia. Eram pintados
retratos da família real e algumas imagens dos índios brasileiros.
A Pintura Acadêmica, também no século XIX, na arte brasileira, retrata a riqueza clássica, sendo que era refletido um
padrão de beleza ideal (padrões propostos pela Academia de Belas Artes).
Já no início do século XX, presenciamos o Modernismo Brasileiro, marcado inicialmente pela Semana de Arte Mo-
derna. E, antes disso, o Expressionismo já começa a chegar ao Brasil e fazer história com Lasar Segall (1891-1957) que
contribui para o Modernismo.13

A arte no Ceará
São variadas as produções feitas no Ceará:
– Redes com diversos bordados e formas;
– Rendas (peças bordadas pelas rendeiras usando a almofada, linha e os birros.)
A renda é confeccionada sobre uma almofada redonda, apoiada em uma armação de madeira.

Fonte: http://www.cearacultural.com.br/artesanato
13 Fonte: www.historia-da-arte.info

43
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
– Esculturas humanas, quadros talhados na gravura, vasos adornados(artesanato feito em madeira e barro);

Fonte: http://www.cearacultural.com.br/artesanato

– garrafas de areias coloridas (são usadas para ornamentação de ambientes diversos de residências às salas de escritórios.);

Fonte: http://www.cearacultural.com.br/artesanato

– cestarias, chapéus e trançados com variadas formas e desenhos feitas de palha da carnaúba, do bambú e do cipó.

Fonte: http://www.cearacultural.com.br/artesanato

44
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Abaixo destacamos quatro artistas plásticos cearenses que fizeram história dentro e fora do Estado e representam até
hoje o grande potencial artístico do Ceará: Antonio Bandeira, Nice Firmeza, Estrigas e Aldemir Martins.

Obra de Antonio Bandeira

1. Antonio Bandeira
Entrando na cena artística de Fortaleza na década de 1940, o pintor, desenhista e gravador Antonio Bandeira foi pio-
neiro da arte abstrata no País. Junto a outros artistas locais, participou da criação do Centro Cultural de Belas Artes (CCBA)
- que, posteriormente, deu origem à Sociedade Cearense de Artes Plásticas (Scap). Morou no Rio de Janeiro, onde realizou
sua primeira exposição individual, e em Paris, local em que estudou na École nationale supérieure des beaux-arts e na
Académie de la Grande Chaumière.
No início da carreira, o artista retratava cenas da vida suburbana da Capital e, com o passar do tempo, sua obra ganhou
aspectos mais abstratos - mas ainda com a preocupação de ter imagens ou paisagens entre seus traços e pinceladas. Ao
longo dos anos, ele recorreu a materiais como miçangas, barbantes e isopor. Bandeira faleceu em 1967, em Paris. O traba-
lho do artista está disponível na sala permanente Antonio Bandeira, no Museu de Arte da UFC (Mauc), e também na exposi-
ção “Antonio Bandeira: um abstracionista amigo da vida”, em cartaz no Espaço Cultural Unifor até 12 de dezembro de 2017.

Nice Firmeza

45
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
2. Nice Firmeza
Nascida em 1921 em Aracati, a artista plástica, bordadeira e doceira Maria de Castro Osório, a Nice Firmeza, foi uma
das primeiras mulheres a ingressar na Scap, na década de 1950. Destacou-se nas artes plásticas cearenses pelo trabalho
ligado à arte Naif, estilo caracterizado pela simplicidade, e se dedicou também ao bordado, utilizando material em cores
vivas e vibrantes para fazer suas “pinturas em linha”. Nice foi reconhecida como Mestre da Cultura do Ceará, em 2007, pela
Secretaria da Cultura do Ceará (Secult).
A artista também atuou como professora, ministrando aulas de pintura para crianças. Em 1961, casou-se com o tam-
bém artista plástico Nilo de Brito Firmeza, o Estrigas, com quem fundou o Minimuseu Firmeza, no sítio onde moravam. Lá,
além dos trabalhos de Nice e Estrigas, o público encontra acervo com mais de 500 obras de artistas como Mário Baratta,
Raimundo Cela, Chico da Silva, Jean Pierre Chabloz e outros. Nice faleceu em 2013, na capital cearense.

Obra de Estrigas

3. Estrigas
Formado em Odontologia, Nilo de Brito Firmeza adotou o apelido - recebido nos anos de estudo no Liceu do Ceará
- aos 31 anos, quando começou a fazer cursos na Scap - instituição na qual assumiu a presidência em 1953. Em suas aqua-
relas, desenho e pintura a óleo, estão registradas paisagens, cenas urbanas, animais, natureza-morta e outras temáticas.
Além da produção de suas obras, Estrigas participou também ativamente do cenário artístico, por meio de estudos e
publicações. Pesquisador e crítico de arte, escreveu livros como “Arte: Aspectos Pré-Históricos no Ceará”, de 1969; “Contri-
buição ao Reconhecimento de Raimundo Cela”, 1988; entre outros. Em 1980, foi homenageado pelo 30º Salão de Abril, pe-
los serviços prestados às artes no Estado. O artista atuou como ilustrador de publicações de autores cearenses, a exemplo
de Milton Dias e Otacílio Colares. Ao lado da esposa, Nice Firmeza, o artista realizou diversas exposições em circuito local
e nacional. Estrigas faleceu em 2014.

Obra de Aldemir Martins

46
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
4. Aldemir Martins
Nascido no distrito de Ingazeiras, no Cariri, Aldemir Martins trabalhou com pintura, gravura, desenho, cerâmica e escul-
tura em suportes diversos. O artista serviu no exército brasileiro entre 1941 e 1945, sem deixar as obras de lado, e ganhou
a patente de “cabo pintor”. Atuante no cenário artístico local, Aldemir foi outro nome atuante na Scap e exibiu suas obras
em exposições marcantes para a história cearense, como o Salão de Abril. Em 1945, mudou-se para o Rio de Janeiro e, no
ano seguinte, para São Paulo, onde realizou sua primeira exposição individual. Ele trabalhou também como ilustrador para
livros, revistas e jornais.
Sempre em constante experimentação, o artista utilizou diferentes superfícies para trabalhar, de caixas de charuto a
papeis de carta, telas de linho e outros tecidos. Com obras em cores fortes e tons vibrantes, Martins utilizou técnicas rela-
cionadas à Pop Art - apesar de não pertencer a uma escola artística específica - e retratou temas diversos, de personagens
e paisagens do Nordeste a animais - como na sua série de gatos. O artista faleceu em 2006, em São Paulo. Alguns de seus
quadros podem ser vistos na exposição permanente da sala que leva seu nome no Mauc.

Vejamos com mais detalhes as fases que constroem a historia da Arte no Brasil.

Artes Plásticas no início da colonização (séculos XV e XVI )


Junto com os portugueses, chegam ao país influências artísticas renascentistas e do começo da fase barroca. Na época
em que os holandeses invadiram o nordeste brasileiro e lá permaneceram (de1630 a 1654), muitos artistas retratam a pai-
sagem, os índios, os animais, as flores e o cotidiano do Nordeste. Na época do governo de Mauricio de Nassau, chegam ao
Brasil muitos pintores, entre eles o paisagista Frans Post. Este artista holandês usa técnicas de luz e cor típicas da pintura
holandesa e retrata desta forma os cenários do nordeste do Brasil, no século XVII.

Arte Colonial
Após a chegada de Cabral, Portugal tomou posse do território e transformou o Brasil em sua colônia. Primeiramente,
foram construídas as feitorias, que eram construções muito simples com cerca de pau-a-pique ao redor porque os portu-
gueses temiam ser atacados pelo índios. Preocupado com que outros povos ocupassem terras brasileiras, o rei de Portugal
enviou, em 1530, uma expedição comandada por Martim Afonso de Sousa para dar início à colonização. Martim Afonso
fundou a vila de são Vicente (1532) e instalou o primeiro engenho de açúcar, iniciando-se o plantio de cana-de-açúcar, que
se tornaria a principal fonte de riqueza produzida no Brasil.
Após a divisão em capitanias hereditárias, houve grande necessidade de construir moradias para os colonizadores que
aqui chegaram e engenhos para a fabricação de açúcar.

Arte Holandesa
Na virada do século, os portugueses defenderam o Brasil dos invasores ingleses, franceses e holandeses. Porém, os holan-
deses resistiram e se instalaram no nordeste do país por quase 25 anos (início em 1624).
O Conde Maurício de Nassau trouxe à “Nova Holanda” artistas e cientistas que se instalaram em Recife. Foi sob a orien-
tação de Nassau que o arquiteto Pieter Post projetou a construção da Cidade Maurícia e também os palácios e prédios admi-
nistrativos.
Embora fosse comum a presença de artistas nas primeiras expedições enviadas à América, Maurício de Nassau afirmou,
em carta à Luiz XIV, em 1678, ter a sua disposição seis pintores no Brasil, entre os quais Frans Post e Albert Eckhout. Holan-
deses, flamengos, alemães, os chamados pintores de Nassau, por não serem católicos, puderam facilmente dedicar-se a temas
profanos, o que não era permitido aos portugueses. Em consequência disso foram os primeiros artistas no Brasil e na América
a abordar a paisagem, os tipos étnicos, a fauna e a flora como temática de suas produções artísticas, livre dos preconceitos
e das superstições que era de praxe se encontrar nas representações pictóricas que apresentavam temas americanos. Foram
verdadeiros repórteres do século XVII.

47
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação

O Barroco e o Rococó (séculos XVI ao XIX)


Período que se destaca as esculturas e decoração de igrejas com características religiosas. Destacam-se neste período
os seguintes artistas:  frei Agostinho da Piedade, Agostinho de Jesus, Domingos da Conceição da Silva e frei Agostinho do
Pilar. No auge do século do ouro, as igrejas são decoradas para mostrar o poder da Igreja. A utilização de curvas e espirais
prevalecem nas obras deste período. Os artistas utilizam muito matérias-primas típicas do Brasil, tais como: pedra-sabão e
madeira. O artista que mais se destacou nesta época foi Aleijadinho. 

Arte Barroca
O estilo barroco desenvolveu-se plenamente no Brasil durante o século XVIII, perdurando ainda no início do século XIX.
O barroco brasileiro é claramente associado à religião católica. Duas linhas diferentes caracterizam o estilo barroco brasi-
leiro. Nas regiões enriquecidas pelo comércio de açúcar e pela mineração, encontramos igrejas com trabalhos em relevos
feitos em madeira - as talhas - recobertas por finas camadas de ouro, com janelas, cornijas e portas decoradas com deta-
lhados trabalhos de escultura. Já nas regiões onde não existia nem açúcar nem ouro, as igrejas apresentam talhas modestas
e os trabalhos foram realizados por artistas menos experientes e famosos do que os que viviam nas regiões mais ricas.
O ponto culminante da integração entre arquitetura, escultura, talha e pintura aparece em Minas Gerais, sem dúvida a
partir dos trabalhos de Aleijadinho.

48
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação

O Neoclassicismo (século XIX)


D. João VI ao chegar ao Brasil em 1808 efetuou mudanças no cenário cultural da colônia. Em 1816, trouxe para o Brasil,
pintores e escultores comprometidos com o ideal do neoclassicismo. Destacavam-se na Missão Artística Francesa: Nico-
las-Antoine Taunay, Félix-Émile Taunay, Jean-Baptiste Debret, Auguste Taunay e Le Breton (chefe da missão). Estes artistas
buscaram retratar o cotidiano da colônia de uma forma romântica, idealizando a figura do índio e ressaltando o naciona-
lismo e as paisagens naturais.

Arte Francesa
Nesse momento, o Brasil recebe forte influência cultural europeia, intensificada ainda mais com a chegada de um gru-
po de artistas franceses (1816) encarregado da fundação da Academia de Belas Artes (1826), na qual os alunos poderiam
aprender as artes e os ofícios artísticos. Esse grupo ficou conhecido como Missão Artística Francesa.
Os artistas da Missão Artística Francesa pintavam, desenhavam, esculpiam e construíam à moda europeia. Obedeciam
ao estilo neoclássico (novo clássico), u seja, um estilo artístico que propunha a volta aos padrões da arte clássica (greco-
-romana) da Antiguidade.

49
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
O Ecletismo nas artes plásticas (1870 a 1922)
Período marcado pesa fusão de estilos artísticos europeus como, por exemplo, o impressionismo, o simbolismo, o na-
turalismo e o romantismo. Fazem parte desta época: Eliseu Visconti, Almeida Júnior e Hélios Seelinger.

O expressionismo (início do século XX)


Dois artistas expressionistas se destacam neste período: Lasar Segall e Anita Malfatti. O primeiro, ao realizar sua pri-
meira exposição em São Paulo, mostra sua pintura cheia de cores tropicais e repleta de cenas da realidade do Brasil. Anita
Malfatti choca a sociedade tradicional com suas obras expressionistas como, por exemplo, O homem Amarelo e O Japonês.
No Brasil, observa-se, como nunca, um desejo expresso e intenso de pesquisar nossa realidade social, espiritual e cul-
tural. A arte mergulha fundo no tenso panorama ideológico da época, buscando analisar as contradições vividas pelo país
e representá-las pela linguagem estética.

Arte Moderna: modernismo na 1ª metade do século XX


O marco desta época foi a Semana de Arte Moderna realizada em São Paulo, em fevereiro de 1922. Nesta semana,
vários artistas comprometidos em mudar a cara da arte nacional se apresentaram e chocaram a sociedade. Quebraram
com os padrões europeus e buscaram valorizar a identidade nacional e uma arte, cujo cenário de fundo, eram as paisagens
brasileiras e o povo brasileiro. Inovaram e romperam com o tradicional. O modernismo preocupou-se muito a parte social
do Brasil. Destacam-se como artistas modernistas: Di Cavalcanti, Vicente do Rêgo, Anita Malfatti, Lasar Segall, Tarsilla do
Amaral e Ismael Nery.

Semana da Arte Moderna 1922


Essa arte nova aparece inicialmente através da atividade crítica e literária de Oswald de Andrade, Menotti del Picchia,
Mário de Andrade e alguns outros artistas que vão se conscientizando do tempo em que vivem. Oswald de Andrade, já em
1912, começa a falar do Manifesto Futurista, de Marinetti, que propõe “o compromisso da literatura com a nova civilização
técnica”.
Mas, ao mesmo tempo, Oswald de Andrade alerta para a valorização das raízes nacionais, que devem ser o ponto de
partida para os artistas brasileiros. Assim, cria movimentos, como o Pau-Brasil, escreve para os jornais expondo suas idéias
renovadores de grupos de artistas que começam a se unir em torno de uma nova proposta estética.
Antes dos anos 20, são feitas em São Paulo duas exposições de pintura que colocam a arte moderna de um modo
concreto para os brasileiros: a de Lasar Segall, em 1913, e a de Anita Malfatti, em 1917.
Essa divisão entre os defensores de uma estética conservadora e os de uma renovadora, prevaleceu por muito tempo
e atingiu seu clímax na Semana de Arte Moderna realizada nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal
de São Paulo. No interior do teatro, foram apresentados concertos e conferências, enquanto no saguão foram montadas
exposições de artistas plásticos, como os arquitetos Antonio Moya e George Prsyrembel, os escultores Vítor Brecheret e W.
Haerberg e os desenhistas e pintores Anita Malfatti, Di Cavalcanti, John Graz, Martins Ribeiro, Zina Aita, João Fernando de
Almeida Prado, Ignácio da Costa Ferreira, Vicente do Rego Monteiro e Di Cavalcanti (o idealizador da Semana e autor do
desenho que ilustra a capa do catálogo).

50
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação

O Concretismo (décadas de 1950 e 1960)


Movimento de arte abstrata marcado pelo uso de figuras geométricas e pela elaboração baseada no raciocínio. Esse
movimento artístico foi criado pelo grupo paulista Ruptura, formado pelos artistas Haroldo de Campos, Geraldo de Bar-
ros e Valdemar Cordeiro.No Rio de Janeiro, surge o grupo Frente que contesta a arte concreta e inicia o neoconcretismo.
Aproximando-se da pop art e da arte cinética, elaboram obras de arte valorizando a luz, o espaço e os símbolos. São deste
período: Amilcar de Castro, Franz Weissmann, Lygia Clark, Lygia Pape e Hélio Oiticica e Ivan Serpa.

O informalismo e a arte abstrata (1960 a 1970)


Nesta fase, a arte abstrata passa a ser marcada pelo informalismo lírico e gestual. Os meios de comunicação fornecem
os temas para a produção de obras de arte politicamente engajadas. Destacam-se os seguintes artistas: Tomie Ohtake,
Manabu Mabe, Arcângelo Ianelli e Maria Bonomi. 

Década de 1970: tecnologias e arte


Nesta época novos sistemas e meios são utilizados nas obras de arte. A instalação (utilização de tecnologia para pro-
mover uma interação entre obra e espectador), o grafite (pinturas em spray em locais públicos), a arte postal ( uso dos
meios postais para criação de obras de arte) e a performance (uso de teatro ou dança em conjunto com as obras).Desta-
cam-se nesta época: Sirón Franco, Antonio Lizárraga, Luiz Paulo Baravelli, Cláudio Tozzi, Takashi Fukushima, Alex Vallauri,
Regina Silveira, Evandro Jardim, Mira Schendel e José Roberto Aguilar.

Neo-Expressionismo (década de 1980)


Na década de oitenta a arte resgata os meios artísticos tradicionais, embora haja, ao mesmo tempo, o fortalecimento
da arte conceitual e do abstracionismo. Meios tecnológicos interferem, tornando possível o surgimento da videoarte. Re-
lações entre o espaço público e a obra de arte possibilitam uma intervenção urbana, dando origem à arte pública. Impor-
tantes artistas neo-expressionistas: Guto Lacaz, Cildo Meireles, Tunga, Carmela Gross, Dudi Maia Rosa, Rafael França, Ivald
Granato, Marcelo Nitsche, Mário Ramiro, Hudnilson Junior, Daniel Senise e Alex Flemming.

Pós-modernismo (década de 1990 )


As discussões sobre a história da arte e os conceitos artísticos ganham importância e influenciam este período. Uso de
tecnologias, desconstrução da arte, aproximações da arte e do mundo real, globalização da arte. Estes foram os caminhos
da arte na década de 1990.Artistas desta época : Leda Catunda, Sandra Kogut, Laurita Sales, Iran do Espírito Santo, Rosânge-
la Rennó, Jac Leirner, Hélio Vinci, Aprígio, Ana Amália, Marcos Benjamin Coelho, Cláudio Mubarac, Adriana Varejão, Beatriz
Milhazes, Luis Hermano e Alex Cerveny.14
14 Texto adaptado por Geraldo de Souza / Antonio Marcos N. dos Reis

51
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Vejamos agora uma linha do tempo do ensino de Arte Artes audiovisuais
no Brasil: Comunicação audiovisual é todo meio de comunica-
1816 Durante o governo de dom João VI, chega ao Rio ção expresso com a utilização conjunta de componentes
de Janeiro a Missão Artística Francesa e é criada a Acade- visuais (signos, imagens, desenhos, gráficos etc.) e sonoros
mia Imperial de Belas Artes. Seguindo modelos europeus, é (voz, música, ruído, efeitos onomatopeicos etc.), ou seja,
instalado oficialmente o ensino de Arte nas escolas. tudo que pode ser ao mesmo tempo visto e ouvido.)
1900 Até o início do século 20, o ensino do desenho é Então, os citados abaixo só podem ser peças audiovisuais...
visto como uma preparação para o trabalho em fábricas e Animação refere-se ao processo segundo o qual cada
serviços artesanais. São valorizados o traço, a repetição de fotograma de um filme é produzido individualmente, po-
modelos e o desenho geométrico. dendo ser gerado quer por computação gráfica quer fo-
1922 Apesar da efervescência das manifestações da tografando uma imagem desenhada quer repetidamente
Semana de Arte Moderna, o ensino segue as tendências fazendo-se pequenas mudanças a um modelo (ver clayma-
da escola tradicional, que defende a necessidade de copiar tion e stop motion), fotografando o resultado. Quando os
modelos para treinar habilidades manuais. fotogramas são ligados entre si e o filme resultante é vis-
1930 O compositor Heitor Villa-Lobos, no governo de to a uma velocidade de 16 ou mais imagens por segun-
Getúlio Vargas, institui o projeto de canto orfeônico nas do, há uma ilusão de movimento contínuo (por causa da
escolas. São formados corais, que se desenvolvem pela persistência de visão). A construção de um filme torna-se
memorização de letras de músicas de caráter folclórico e assim um trabalho muito intensivo e por vezes entediante.
cívico. O desenvolvimento da animação digital aumentou muito
1935 O escritor Mario de Andrade, então diretor do a velocidade do processo, eliminando tarefas mecânicas e
Departamento de Cultura do município de São Paulo, pro- repetitivas
move um concurso de desenho para crianças com tema O cinema, abreviação de cinematógrafo, é a técnica de
livre. O ganhador recebe uma quantia em dinheiro. projetar fotogramas (quadros) de forma rápida e sucessi-
1948 É criada no Rio de Janeiro a primeira «Escolinha va para criar a impressão de movimento (“kino” em grego
de Arte», com a intenção de propor atividades para o aluno
significa movimento e “grafos” escrever ou gravar), bem
desenvolver a auto expressão e a prática. Em 1971, chega a
como a arte de se produzir obras estéticas, narrativas ou
32 o número de instituições particulares desse tipo no país.
não, com esta técnica.
1960 As experimentações que marcam a sociedade,
A invenção da fotografia e sobretudo a da fotografia
como o movimento da bossa nova, influenciam o ensino
animada foram momentos cruciais para o desenvolvimento
de Arte nas escolas de todo o país. É a época da tendência
não só das artes como da ciência, em particular no campo
da livre expressão se expandir pelas redes de ensino.
da antropologia visual.
1971 Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), a Educação Artística (que inclui artes plás- O cinema é possível graças à invenção do cinemató-
ticas, educação musical e artes cênicas) passa a fazer parte grafo pelos Irmãos Lumière no final do século XIX. A 28
do currículo escolar do Ensino Fundamental e Médio. de dezembro de 1895, no subterrâneo do Grand Café, em
1973 Criação dos primeiros cursos de licenciatura em Paris, eles realizaram a primeira exibição pública e paga de
Arte, com dois anos de duração e voltados à formação de cinema: uma série de dez filmes, com duração de 40 a 50
professores capazes de lecionar música, teatro, artes vi- segundos cada, já que os rolos de película tinham quinze
suais, desenho, dança e desenho geométrico. metros de comprimento. Os filmes até hoje mais conheci-
1989 Desde 1982 desenvolvendo pesquisas sobre três dos desta primeira sessão chamavam-se “A saída dos ope-
ideias (fazer, ler imagens e estudar a história da arte), Ana rários da Fábrica Lumière” e “A chegada do trem à Estação
Mae Barbosa cria a proposta triangular, que inova ao colo- Ciotat”, cujos títulos exprimem bem o conteúdo. Apesar de
car obras como referência para os alunos. também existirem registros de projeções um pouco ante-
1996 A LDB passa a considerar a Arte como disciplina riores a outros inventores (como os irmãos Skladanowski
obrigatória da Educação Básica. Os Parâmetros Curriculares na Alemanha), a sessão dos Lumiére é aceita pela maciça
Nacionais definem que ela é composta de quatro lingua- maioria da literatura cinematográfica como o marco inicial
gens: artes visuais, dança, música e teatro. 15 da nova arte. O cinema expandiu-se, a partir de então, por
toda a França, Europa e Estados Unidos, através de cinegra-
fistas enviados pelos irmãos Lumière, para captar imagens
de vários países.
8. AS ARTES AUDIOVISUAIS: TV, CINEMA, Nesta mesma época, um mágico ilusionista chamado
FOTOGRAFIA, MULTIMÍDIA – NOVOS Meliès, quis comprar o aparelho produzido pelos irmãos
RECURSOS/NOVAS LINGUAGENS. Lumiére mas foi barrado pelos próprios. Depois de muita
insistência, Meliès obteve seu aparelho e começou produ-
zir filmes mais teatrais, com efeitos e narrativas e acabou se
A linguagem audiovisual é composta por outras três transformando no Pai do Cinema.
linguagens - verbal, sonora e visual - que, conjugadas, Logo depois veio Griffithi, gênio do Cinema, que no co-
transmitem uma mensagem específica. meço do século XX, fez superproduções com vários planos
15 Fonte: www.revistaescola.abril.com.br – Texto de Bea- de filmagens nunca dante vistos. Destaque para “Intolerân-
triz Santomauro cia”, admirado até hoje entre cineastas e cinéfilos.

52
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Como forma de registrar acontecimentos ou de narrar explorados. A televisão, no mundo contemporâneo, com
histórias, o Cinema é uma arte que geralmente se denomi- suas opções a cabo, suas antenas parabólicas, traz o mun-
na a sétima arte, desde a publicação do Manifesto das Sete do para dentro da escola por meio dos múltiplos progra-
Artes pelo teórico italiano Ricciotto Canudo em 1911. Den- mas, mas também introduz a escola em um novo espaço e
tro do Cinema existem duas grandes correntes: o cinema nova perspectiva com enfoque global.
de ficção e o cinema documental. Uma das principais características do mundo contem-
Como registro de imagens e som em comunicação, o porâneo consiste no acontecimento de que diferentes es-
Cinema também é uma mídia. A indústria cinematográfi- paços se integram e se interatuam.
ca se transformou em um negócio importante em países A escola, no contexto da sociedade contemporânea
como a Índia e os Estados Unidos, respectivamente o maior não pode mais ser avaliada como um ambiente indepen-
produtor em número de filmes por ano e o que possui a dente, mas sim um lugar dentro de outros espaços, intera-
maior economia cinematográfica, tanto em seu mercado gindo-se mutuamente. O grande desafio que se depara é
interno quanto no volume de exportações. o de integrar consciente e criticamente toda a comunidade
A projeção de imagens estáticas em seqüência para escolar, no mundo da sociedade globalizada. Torna-se in-
criar a ilusão de movimento deve ser de no minimo 16 fo- dispensável a constituição de novas metodologias que per-
togramas (quadros) por segundo, para que o cérebro hu- mitam a introdução de professores e educandos no mundo
mano não detecte que são, na verdade, imagens isoladas. do cultivo de mensagens por meio da linguagem audiovi-
Desde 1929, juntamente com a universalização do cinema sual, método que alguns autores chamam de alfabetização
sonoro, as projeções cinematográficas no mundo inteiro audiovisual.
foram padronizadas em 24 quadros por segundo A comunicação terá que ser de mão dupla, não so-
Televisão (do grego tele - distante e do latim visione - mente para garantir a possibilidade da livre expressão, mas
visão) é um sistema eletrônico de transmissão de imagens também proporcionar o próprio processo de construção
e som de forma instantânea. Funciona a partir da análise do diálogo humano. A atração da linguagem audiovisual
e conversão da luz e do som em ondas eletromagnéticas é constante, proporcionando ao público uma enxurrada
e de sua reconversão em um aparelho - o televisor - que
de informações, que mesmo sem procedimento pedagó-
recebe também o mesmo nome do sistema ou pode ainda
gico, transforma-se em formação através da comunicação.
ser chamado de aparelho de TV. O televisor ou aparelho
Quando introduzimos os recursos audiovisuais em sala de
de TV capta as ondas eletromagnéticas e através de seus
aula, devemos nos atentar para ao resgatarmos o compo-
componentes internos as converte novamente em imagem
nente de estudo podermos oferecer recursos para inter-
e som.
pretá-lo e analisá-lo criticamente, permitindo a compreen-
O vídeo, do latim “eu vejo”, é uma tecnologia de pro-
são do procedimento da inclusão da cultura audiovisual.
cessamento de sinais electrónicos analógicos ou digitais
Atraído pela linguagem audiovisual, o homem perde o seu
para representar imagens em movimento. A aplicação prin-
cipal da tecnologia de vídeo é a televisão, mas ela também referencial, adquirindo o referencial da imagem transmiti-
é muito aplicada em engenharia, ciência, manufatura, se- da, “coisificando- se”. Por isso, temos que tomar cuidado,
gurança e artes plásticas (vídeo-arte). Outras utilizações do zelando para que os educandos adquiram consciência críti-
vídeo tendem a usar os formatos de vídeo desenvolvidos ca em relação aos meios de comunicação, para não ficarem
para a televisão. despersonalizados.
Chama-se também de vídeo uma animação composta Quando o professor constrói competência e habilidade
por sua grande maioria de fotos sequenciais, quadro-a- para trabalhar com recursos tecnológicos, ao contextuali-
-quadro.16 zar suas atividades didáticas, esses procedimentos serão
usados como mais uma ferramenta pedagógica enriquece-
A linguagem audiovisual e a educação dora do texto e do contexto que estão sendo trabalhados.
Os processos interativos, procuram estabelecer a pro- Pois, o conhecimento do consumo midiático é um instru-
babilidade da expressão e da criação por meios audiovi- mento importante para a educação de uma maneira geral,
suais. Os meios audiovisuais deixam de ser apenas uma fer- não só para o entendimento dos conteúdos escolares, mas
ramenta didática, demandando uma interação continuada para a avaliação, interpretação e o refinamento do gosto
que permite mais do que olhar imagens, mas interpretá-las do público escolar. Estamos sugerindo descobrir, através
visando à criação de novas mensagens e informações. de atividades metódicas a postura dos educandos diante
É especialmente por meio das imagens e sons passí- do mundo, dos seus princípios e das suas identidades, para
veis de serem anotados por ferramentas audiovisuais que interagirmos com eles nossas e novas idéias. A era da in-
se fundamenta a sociedade global. A linguagem audiovi- formação é também a era da educação, plena e unificada.
sual torna possível a veiculação de uma enorme variável Os alunos têm que viver a experiência de descobrir por
de informações, sob os mais diversos contornos e gêneros. si mesmos o que está acontecendo, o que está sendo mos-
A televisão na escola significa, não apenas mais um trado e como está sendo mostrado, e também o que está
expediente pedagógico, mas também uma nova opção sendo omitido. Parece-me que a comunicação atualmen-
educativa de colocar essa escola no mundo, abrindo no- te está muito sustentada em todos os meios pela tecno-
vos espaços e novas perspectivas ainda não integralmente logia de informação. E isso coloca, à educação, múltiplos
16 Fonte: www.audiovisualcontent.blogspot.com.br temários. Um é a alfabetização múltipla, pois a linguagem

53
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
escrita já não basta com a proliferação de tecnologias, de tiveram o auge de sua cultura na bacia mesopotâmia a mi-
linguagens e de expressões. Isso implica alfabetizar os es- lhares de anos antes de Cristo, utilizavam em sua liturgia,
tudantes para que sejam capazes de elaborar suas próprias hinos e cantos salmodiados, influenciando as culturas ba-
comunicações, com suas distintas linguagens, com distin- bilônica, caldéia, e judaica, que mais tarde se instalaram
tas lógicas de articulação. (Guillermo Orozco Gómez)17 naquela região.
A cultura egípcia, por volta de 4.000 anos a.C., alcançou
um nível elevado de expressão musical, pois era um terri-
tório que preservava a agricultura e este costume levava às
cerimônias religiosas, onde as pessoas batiam espécies de
9. A MÚSICA NO BRASIL E A CONTRIBUIÇÃO discos e paus uns contra os outros, utilizavam harpas, per-
cussão, diferentes formas de flautas e também cantavam.
CEARENSE, PARTINDO DO PERÍODO Os sacerdotes treinavam os coros para os rituais sagrados
COLONIAL AOS NOSSOS DIAS. nos grandes templos. Era costume militar a utilização de
trompetes e tambores nas solenidades oficiais.
Na Ásia, a 3.000 a.C., a música se desenvolvia com ex-
Podemos dizer que a “Música” é a arte de combinar pressividade nas culturas chinesa e indiana. Os chineses
os sons e o silêncio. Se pararmos para perceber os sons acreditavam no poder mágico da música, como um espe-
que estão a nossa volta, concluiremos que a música é par- lho fiel da ordem universal. A “cítara” era o instrumento
te integrante da nossa vida, ela é nossa criação quando mais utilizado pelos músicos chineses, este era formado
cantamos, batucamos ou ligamos um rádio ou TV. Hoje a por um conjunto de flautas e percussão. A música chine-
sa utilizava uma escala pentatônica (cinco sons). Já na Ín-
música se faz presente em todas as mídias, pois ela é uma
dia, por volta de 800 anos a.C., a música era considerada
linguagem de comunicação universal, é utilizada como for-
extremamente vital. Possuíam uma música sistematizada
ma de “sensibilizar” o outro para uma causa de terceiro, em tons e semitons, e não utilizavam notas musicais, cujo
porém esta causa vai variar de acordo com a intenção de sistema denominava-se “ragas”, que permitiam o músico
quem a pretende, seja ela para vender um produto, ajudar utilizar uma nota e exigia que omitisse outra.
o próximo, para fins religiosos, para protestar, intensificar A teoria musical só começou a ser elaborada no sé-
noticiário, etc. culo V a.C., na Antiguidade Clássica. São poucas as peças
A música existe e sempre existiu como produção cul- musicais que ainda existem deste período, e a maioria são
tural, pois de acordo com estudos científicos, desde que gregas. Na Grécia a representação musical era feita com le-
o ser humano começou a se organizar em tribos primiti- tras do alfabeto, formando “tetracordes” (quatro sons) com
vas pela África, a música era parte integrante do cotidiano essas letras. Foram os filósofos gregos que criaram a teoria
dessas pessoas. Acredita-se que a música tenha surgido há mais elaborada para a linguagem musical na Antiguidade.
50.000 anos, onde as primeiras manifestações tenham sido Pitágoras acreditava que a música e a matemática forma-
feitas no continente africano, expandindo-se pelo mundo vam a chave para os segredos do mundo, que o universo
cantava, justificando a importância da música na dança, na
com o dispersar da raça humana pelo planeta. A música,
tragédia e nos cultos gregos.
ao ser produzida e/ou reproduzida, é influenciada direta- É de conhecimento histórico que os romanos se apro-
mente pela organização sociocultural e econômica local, priaram da maioria das teorias e técnicas artísticas gregas
contando ainda com as características climáticas e o acesso e no âmbito da música não é diferente, mas nos deixaram
tecnológico que envolvem toda a relação com a linguagem de herança um instrumento denominado “trompete reto”,
musical. A música possui a capacidade estética de traduzir que eles chamavam de “tuba”. O uso do “hydraulis”, o pri-
os sentimentos, atitudes e valores culturais de um povo ou meiro órgão cujos tubos eram pressionado pela água, era
nação. A música é uma linguagem local e global. freqüente.
Na pré-história o ser humano já produzia uma forma Hoje é possível dividir a história da música em períodos
de música que lhe era essencial, pois sua produção cultural específicos, principalmente quando pretendemos abordar
constituída de utensílios para serem utilizados no dia-a-dia, a história da música ocidental, porém é preciso ficar claro
não lhe bastava, era na arte que o ser humano encontrava que este processo de fragmentação da história não é tão
campo fértil para projetar seus desejos, medos, e outras simples, pois a passagem de um período para o outro é
gradual, lento e com sobreposição. Por volta do século V,
sensações que fugiam a razão. Diferentes fontes arqueoló-
a igreja católica começava a dominar a Europa, investindo
gicas, em pinturas, gravuras e esculturas, apresentam ima- nas “Cruzadas Santas” e outras providências, que mais tar-
gens de músicos, instrumentos e dançarinos em ação, no de veio denominar de “Idade das Trevas” (primeiro período
entanto não é conhecida a forma como esses instrumentos da Idade Média) esse seu período de poder.
musicais eram produzidos. A Igreja, durante a Idade Média, ditou as regras cul-
Das grandes civilizações do mundo antigo, foram en- turais, sociais e políticas de toda a Europa, com isto inter-
contrados vestígios da existência de instrumentos musicais ferindo na produção musical daquele momento. A música
em diferentes formas de documentos. Os sumérios, que “monofônica” (que possui uma única linha melódica), sacra
ou profana, é a mais antiga que conhecemos, é denomina-
17 Fonte: www.educador.brasilescola.uol.com.br - Por da de “Cantochão”, porém a música utilizada nas cerimô-
Amelia Hamze nias católicas era o “canto gregoriano”. O canto gregoria-
no foi criado antes do nascimento de Jesus Cristo, pois ele

54
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
era cantado nas sinagogas e países do Oriente Médio. Por Enquanto os compositores clássicos buscavam um
volta do século VI a Igreja Cristã fez do canto gregoriano equilíbrio entre a estrutura formal e a expressividade, os
elemento essencial para o culto. O nome é uma homena- compositores do “Romantismo” pretendem maior liber-
gem ao Papa Gregório I (540-604), que fez uma coleção dade da estrutura da forma e de concepção musical, va-
de peças cantadas e as publicou em dois livros: Antipho- lorizando a intensidade e o vigor da emoção, revelando
narium e as Graduale Romanum. No século IX começa a os pensamentos e sentimentos mais profundos. É neste
se desenvolver o “Organum”, que são as primeiras músicas período que a emoção humana é demonstrada de forma
polifônicas com duas ou mais linhas melódicas. Mais tar- extrema. O Romantismo inicia pela figura de Beethoven e
de, no século XII, um grupo de compositores da Escola de passa por compositores como Chopin, Schumann, Wagner,
Notre Dame reelaboraram novas partituras de Organum, Verdi, Tchaikovsky, R. Strauss, entre outros. O romantismo
tendo chegado até nós os nomes de dois compositores: rendeu frutos na música, como o “Nacionalismo” musical,
Léonin e Pérotin. He also began the “Schola Cantorum” that estilo pelo qual os compositores buscavam expressar de
gave great development to the Gregorian chant. diversas maneiras os sentimentos de seu povo, estudando
A música renascentista data do século XIV, período a cultura popular de seu país e aproveitando música fol-
em que os artistas pretendiam compor uma música mais clórica em suas composições. A valsa do estilo vienense de
universal, buscando se distanciarem das práticas da igreja. Johann Strauss é um típico exemplo da música nacionalista.
Havia um encantamento pela sonoridade polifônica, pela O século XX é marcado por uma série de novas tendên-
possibilidade de variação melódica. A polifonia valorizava cias e técnicas musicais, no entanto torna-se imprudente
a técnica que era desenvolvida e aperfeiçoada, caracterís- rotular criações que ainda encontra-se em curso. Porém
tica do Renascimento. Neste período, surgem as seguintes algumas tendências e técnicas importantes já se estabele-
músicas vocais profanas: a “frótola”, o “Lied” alemão, o Vil- ceram no decorrer do século XX. São elas: Impressionismo,
lancico”, e o “Madrigal” italiano. O “Madrigal” é uma forma Nacionalismo do século XX, Influências jazzísticas, Polito-
de composição que possui uma música para cada frase do nalidade, Atonalidade, Expressionismo, Pontilhismo, Seria-
texto, usando o contraponto e a imitação. lismo, Neoclassicismo, Microtonalidade, Música concreta,
Os compositores escreviam madrigais em sua própria Música eletrônica, Serialismo total, e Música Aleatória. Isto
língua, em vez de usar o latim. O madrigal é para ser can- sem contar na especificidade de cada cultura. Há também
tado por duas, três ou quatro pessoas. Um dos maiores os músicos que criaram um estilo característico e pessoal,
compositores de madrigal elisabetano foi Thomas Weelkes. não se inserindo em classificações ou rótulos, restando-
Após a música renascentista, no século XVII, surgiu a -lhes apenas o adicional “tradicionalista”.
“Música Barroca” e teve seu esplendor por todo o século
XVIII. Era uma música de conteúdo dramático e muito ela- A música cearense
borado. Neste período estava surgindo a ópera musical. Na O género musical mais identificado com o Ceará é o
França os principais compositores de ópera eram Lully, que forró, em suas variadas formas. O baião é outro género
trabalhava para Luis XIV, e Rameau. Na Itália, o compositor muito apreciado pelos cearenses. As bandas cabaçais, que
“Antonio Vivaldi” chega ao auge com suas obras barrocas, utilizam pífanos, zabumbas, fazendo acompanhar sua mú-
e na Inglaterra, “Haëndel” compõe vários gêneros de mú- sica com movimentos e acrobacias com facões, também se
sica, se dedicando ainda aos “oratórios” com brilhantismo. destacam na música tradicional cearense.
Na Alemanha, “Johann Sebastian Bach” torna-se o maior Nos anos 1940, o cearense Humberto Teixeira formou
representante da música barroca. uma famosa parceria com o pernambucano Luiz Gonzaga,
A “Música Clássica” é o estilo posterior ao Barroco. O criando o baião, que se tornou muito apreciado. Uma das
termo “clássico” deriva do latim “classicus”, que significa principais tradições da música cearense - e, principalmente,
cidadão da mais alta classe. Este período da música é mar- do Cariri - são também as bandas cabaçais, que utilizam pí-
cado pelas composições de Haydn, Mozart e Beethoven fanos, zabumbas e pratos e frequentemente fazem acom-
(em suas composições iniciais). Neste momento surgem panhar sua música com movimentos e acrobacias com
diversas novidades, como a orquestra que toma forma e facões, com destaque para a Banda Cabaçal dos Irmãos
começa a ser valorizada. As composições para instrumen- Aniceto. Outros representantes tradicionais da música cea-
tos, pela primeira vez na história da música, passam a ser rense são os seresteiros e repentistas.
mais importantes que as compostas para canto, surgindo a Dos anos 1980 em diante, cresceu bastante o cha-
“música para piano”. A “Sonata”, que vem do verbo sonare mado forró eletrônico, que adotou novos instrumentos e
(soar) é uma obra em diversos movimentos para um ou absorveu muitas influências de diversos estilos populares,
dois instrumentos. A “Sinfonia” significa soar em conjunto, afastando-se um pouco da tradição do “pé-de-serra” e ga-
uma espécie de sonata para orquestra. A sinfonia clássica é nhando grande popularidade no estado.
dividida em movimentos. Os músicos que aperfeiçoaram e O importante momento musical dos anos 1960, no qual
enriqueceram a sinfonia clássica foram Haydn e Mozart. O floresceram a MPB e o tropicalismo no Brasil, também teve
“Concerto” é outra forma de composição surgida no perío- grande influência no Ceará, onde se revelaram artistas como
do clássico, ele apresenta uma espécie de luta entre o solo Ednardo, Belchior, Fagner, Amelinha, J. Camelo Ponte e ou-
instrumental e a orquestra. No período Clássico da música, tros, alguns dos quais conseguiram projeção nacional, re-
os maiores compositores de Óperas foram Gluck e Mozart. cebendo da crítica musical o apelido de “pessoal do Ceará”.

55
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Inusitadamente, o Ceará tem também tido certo destaque na música clássica brasileira, embora aí não encontre gran-
des incentivos. Um dos mais destacados compositores clássicos brasileiros foi o cearense Alberto Nepomuceno, consi-
derado o “pai” do nacionalismo na música erudita do Brasil, que em Fortaleza batiza o Conservatório de Música Alberto
Nepomuceno. Outro representante da música clássica foi o renomado regente Eleazar de Carvalho, um dos fundadores da
Orquestra Sinfônica Brasileira e professor de maestros célebres, como Claudio Abbado e Zubin Mehta. Em sua homenagem
foi criada a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho. Nessa seara, há também iniciativas que unem a música à filantropia
como a Orquestra Filarmônica da Chapada do Araripe, em Araripe e a Sociedade Lírica do Belmonte, no Crato.18

O JAZZ E SUA INFLUÊNCIA


O jazz nasceu por volta de 1890, na cidade de Nova Orleans, no sul dos EUA, combinando ritmos da música africana
com sons e instrumentos da música europeia.
Estilo totalmente novo, rapidamente espalhou sua influência pelo mundo todo, tanto na chamada música erudita
quanto na popular. Com a vitória na 1ª Grande Guerra Mundial, Paris, cheia de soldados americanos, encantou-se com as
“jazz-bands” que os soldados divulgaram.
Em fins dos anos 20, Pixinguinha organizou o conjunto “Oito Batutas”, do qual faziam parte ele próprio, José Alves, Luís
Silva, Jacó Palmieri, China (seu irmão), Nelson Alves, João Pernambuco, Raul Palmieri e Donga. O conjunto foi a Paris e fez
enorme sucesso com a dança do maxixe. E voltaram ao Brasil com as influências das “jazz-bands”: baterias, mais sopros,
banjos, etc.
Uma das formações do conjunto Oito Batutas: Pixinguinha está ao centro, com seu saxofone.

Os gêneros do jazz daquela época eram o “shimmy”, o “charleston”, o “blackbotton” e, sobretudo o “fox-trot”. Este
último adaptou-se à música brasileira sob a forma de “fox-canção”, produzindo algumas das mais importantes obras da
MPB, como Nada Além, de Mário Lago e Custódio Mesquita, lançada em 1938.
Compositores como Debussy, Stravinsky e Ravel usaram livremente a influência jazzística em suas obras.

Alguns Compositores

18 Fonte: www.infoescola.com/www. pt.wikipedia.org

56
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação

O MODERNISMO NO BRASIL
As novas tendências nas artes e na literatura tiveram grande repercussão no Brasil, onde já havia jovens inquietos
contra o academicismo reinante e à submissão aos padrões estéticos europeus. Esses rebeldes se uniram em um empreen-
dimento interdisciplinar que culminou na Semana da Arte Moderna de 1922, em São Paulo. Da área musical participaram
a grande pianista Guiomar Novaes e Villa-Lobos, o compositor brasileiro de maior prestígio internacional. A Semana foi
um manifesto contra o passado e contra seus preconceitos e tabus. Foi quando se criou o Movimento Antropófago (ou
Antropofágico), cujo objetivo era “devorar todas as artes, com o fim de as assimilar”. Bem mais tarde, nos anos 60, jovens
da MPB reeditaram a simbologia Antropofágica em um movimento que foi batizado de Tropicalismo.

57
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação

História da Música Popular Brasileira


Nossa música é riquíssima em estilos, gêneros e movimentos. A partir do século XX a produção musical se diversificou,
acompanhando as inúmeras novidades técnicas que foram surgindo: desde a gravação sonora que permitiu o registro das
músicas, até o rádio, a televisão e a internet. Vamos fazer um breve passeio por essa história!

Gêneros e Movimentos musicais nacionais


A História do Samba
Origem da palavra “SAMBA”
O nome samba é, provavelmente, originário da palavra angolana semba, um ritmo religioso, que significa umbigada,
devido à forma como era dançado. O primeiro registro da palavra “samba” aparece na Revista O Carapuceiro, de Pernam-
buco, em 3 de fevereiro de 1838, quando Frei Miguel do Sacramento Lopes Gama escreve contra o que chamou de “samba
d’almocreve”.
O Samba é uma das principais formas de música com raízes africanas criadas no Brasil. O samba carioca possivelmente
recebeu muita influência de ritmos da Bahia, com a transferência de grande quantidade de escravos para as plantações de
café no Estado do Rio, onde ganhou novos contornos, instrumentos e histórico próprio, de forma tal que o samba moder-
no, como gênero musical, surgiu no início do século 20, na cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente na Praça Onze,
reduto que ficou conhecido como a “Pequena África”, por conter uma enorme população de afrobrasileiros.
A “Deixa Falar”
Fundada em 1928 no Estácio, a Deixa Falar é considerada a primeira Escola de Samba. Os “bambas” do Estácio criaram
um novo tipo de carnaval para tentar acabar com a violência nos blocos e cordões, reduto dos foliões afrodescendentes.
“Os sambistas do Estácio estavam cansados de apanhar da polícia”, conta Maria Thereza, biógrafa de Ismael Silva, o mais
emblemático desses “bambas”.

O início das Escolas


As primeiras agremiações não tinham enredo ou samba definidos. Os mestres de canto puxavam os versos e os foliões
repetiam, mostrando ao público duas ou três músicas compostas durante o ano. A grande novidade da Deixa Falar foi in-
cluir instrumentos de percussão nos desfiles. Isso porque até meados dos anos 20, os sambas eram acompanhados apenas
por violões, pandeiros, violinos e até castanholas.
Em entrevista ao jornal Correio da Manhã nos anos 60, Ismael Silva explicou a origem do nome ”Deixa Falar”:
“Naquela época, existia uma grande rivalidade entre os blocos e todos se achavam superiores. O pessoal do Estácio di-
zia: --”Deixa falar!”. Eles achavam que os sambistas de lá eram melhores e não admitiam que ninguém pudesse diminuí-los”.
Sobre a origem do termo “Escola de Samba”, Ismael esclareceu: “Perto da nossa sede ficava a Escola Normal para mu-
lheres. Lá as professoras ensinavam a cozinhar e na “Deixa Falar” a gente ensinava o samba. Ficou então escola de samba”.
As primeiras músicas de carnaval
Antigamente não era costume os compositores criarem músicas especialmente para o carnaval. A primeira composi-
tora a fazer uma música especialmente para o carnaval foi Chiquinha Gonzaga, que criou a marchinha “Ó Abre Alas” em
homenagem ao rancho Rosa de Ouro.

58
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
A Era do Rádio
Entre 1940 e 1950, a música popular brasileira viveu um momento de especial riqueza, tendo como principal meio de
difusão o Rádio. Inúmeros artistas (compositores e cantores) tornaram-se famosos com os programas de auditório levados
aos ouvintes pelas ondas do rádio.
Naquela época, não havendo televisão, os jovens brasileiros estavam sintonizados diariamente às principais emissoras
de rádio, cujos prefixos sempre iniciavam com um PR (de prefixo). A primeira rádio brasileira foi a Rádio Sociedade do Rio
de Janeiro (cujo prefixo era PRA-A), que entrou no ar em 1923. O pioneiro do rádio no Brasil foi Roquette Pinto.
A partir dos anos 1940 começaram a aparecer outras emissoras como a Rádio Mayrink Veiga e a Rádio Nacional. Esta
última se tornou a mais popular de todas, principalmente por causa da programação musical, por conta dos famosos pro-
gramas de auditório apresentados por Ary Barroso e César de Alencar, entre outros.
A Rádio Nacional, entre outros programas famosos, teve em sua programação o lendário programa PRK-30, comanda-
do por Lauro Borges e Castro Barbosa.
Tipo de programação das rádios na época: A programação das rádios como a Nacional consistia em programas de
música, rádio-novela, programas de humor, programas esportivos, todos realizados ao vivo em seus auditórios abertos
ao público. Na programação musical, os cantores se apresentavam acompanhados de orquestras ou conjuntos musicais,
muitas vezes com o auditório lotado. A Rádio Nacional foi responsável pelo sucesso de inúmeros artistas, entre cantores e
compositores.
Cantores e cantoras: os ídolos do rádio no Brasil
O Rádio brasileiro lançou inúmeros artistas, entre compositores e cantores. Nas fotos abaixo podemos ver alguns deles:
Emilinha Borba, Carmen Miranda, Orlando Silva, Sílvio Caldas e Francisco Alves.

A História do Carnaval
Todo mundo acha que o Carnaval é uma festa tipicamente brasileira. Mas toda essa farra teve sua origem há muito
tempo atrás... O Carnaval tem sua origem associada aos cultos agrários da Grécia antiga (cerca do século V a.C.). Com o
surgimento da agricultura, os homens passaram a comemorar a fertilidade do solo e as colheitas, a cada ano que chegava.
Foi desse tipo de comemoração que surgiram os festejos do carnaval.
Ao longo dos séculos seguintes essa tradição se espalhou pela Grécia, Roma e por toda a Europa medieval. A separa-
ção da sociedade em classes fazia com que houvesse a necessidade de válvulas de escape. Foi na Idade Média que sexo e
bebida passaram a fazer parte das festas.
Em seguida, o Carnaval chegou à cidade de Veneza, Itália, para, então, se espalhar pelo mundo. Diz-se que foi lá que a
festa tomou as características atuais: máscaras, fantasias, carros alegóricos, desfiles...

Máscaras Venezianas

O Carnaval Cristão passou a existir quando a Igreja Católica oficializou a festa, em 590 d.C. Antes dessa data, a institui-
ção condenava a festa por seu caráter “pecaminoso”.
No entanto, as autoridades eclesiásticas da época se viram num beco sem saída, pois já não era mais possível proibir o
Carnaval. Foi então que houve a imposição de cerimônias oficiais sérias para conter a libertinagem. Mas esse tipo de festa
batia de frente com a principal característica do Carnaval: o riso, o deboche, a brincadeira...
O Carnaval no Brasil
O Carnaval brasileiro surgiu em 1723, com a chegada dos portugueses das Ilhas da Madeira, Açores e Cabo Verde. A prin-
cipal diversão dos foliões, naquele tempo, era jogar água uns nos outros. Dava-se a essa manifestação o nome de Entrudo.

59
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação

E Dom Pedro II proíbe os excessos...


O Entrudo passou a significar coisa incivilizada nos tempos imperiais. As ruas acabavam ficando imundas depois das
tais “batalhas” de limões e farinha. Muitos foliões acabavam jogando, além de água e perfume, urina e outros excrementos.
Por causa disso, o imperador D. Pedro II proibiu o entrudo em todo o Império.
Os primeiros cordões, ranchos e bailes
O primeiro registro de baile carnavalesco no Rio de Janeiro é de 1840. Ao receberem informações sobre as festas car-
navalescas da Europa, as elites cariocas resolveram criar o seu próprio carnaval, organizando bailes em hotéis famosos da
cidade como o Hotel Itália, na atual Praça Tiradentes. Nesses bailes, dançavam-se ritmos importados como a valsa, a polca
e schottisches. Também eram moda as máscaras ao estilo dos carnavais de Veneza.
Depois surgiram as primeiras Grandes Sociedades Carnavalescas, formadas pela elite social, que saíam pelas ruas em
carros alegóricos. Em contrapartida, as camadas humildes da sociedade também começavam a organizar seu carnaval na
forma de
Ranchos e Cordões.
Com o passar do tempo o carnaval foi sofrendo modificações até os dias atuais. Hoje o carnaval possui características
próprias em cada região do país.

No passado...
Desfile das Grandes Sociedades
Desfile dos Ranchos
Desfile dos Cordões
Desfiles das Primeiras Escolas de samba

Hoje...
Desfile das Escolas de Samba
Desfile de Blocos Carnavalescos
O Carnaval Nordestino (Trios Elétricos e Micaretas, Blocos Afro, Maracatus e Orquestras de Frevo)

A Bossa Nova
“Oficialmente”, podemos dizer que a Bossa Nova começou num dia de agosto de 1958, quando chegou às lojas de
discos um disco duplo de 78 rotações, do selo ODEON, do cantor e violonista João Gilberto. O disco é um marco, pois trazia
a música que dava título ao LP, Chega de Saudade (de Tom Jobim e Vinícius de Moraes).
João Gilberto é hoje uma dos mais conhecidos artistas brasileiros, justamente porque sua trajetória se confunde com
o gênero Bossa Nova. Sua inovadora “batida” de violão e seu jeito coloquial de cantar são características incorporadas ao
gênero musical que se tornou um símbolo do Brasil no exterior.
Antes de lançar seu disco, João já havia participado, com seu violão moderno, de outro importante disco do novo gê-
nero. Trata-se de Canção do Amor Demais, da cantora Elizeth Cardoso. A canção que dava título ao disco também era de
Tom e Vinícius, considerados os “papas” da Bossa Nova.

60
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Tom Jobim e Vinícius de Moraes deixaram uma obra anos 1960, mesclando letras românticas e descontraídas
vastíssima com músicas que hoje são grandes sucessos: com guitarras elétricas, ditando um novo comportamento
“Garota de Ipanema”, “Chega de Saudade”, “Canção do voltado para a juventude: a moda das calças Saint Tropez,
amor demais”, “Se todos fossem iguais a você”, “Eu sei que das minissaias, dos cabelos compridos para os rapazes, das
vou te amar”, entre outras. blusas com babados e das gírias como “é uma brasa mora”,
Tom teve outros parceiros também. Newton Mendonça “brotinho”, “é papo firme”, entre outras.
é autor da letra em “Samba de uma nota só” e “Desafina-
do”, dois grandes sucessos do gênero.
É importante registrar o famoso show do Carnegie Hall
em Nova Iorque, quando Tom Jobim e Vinícius de Moraes,
ao lado de outros artistas, apresentaram suas canções à
América. O show rendeu diversos convites de trabalho e
abriu as portas para a música brasileira. Frank Sinatra pas-
sou a gravar vários sucessos da dupla brasileira, como
“Garota de Ipanema”, a música mais gravada em todo o
mundo.
Vinícius – o Filme
A montagem de um pocket show em homenagem a
Vinícius de Moraes por dois atores (Camila Morgado e Ri-
cardo Blat) é o ponto de partida para reconstituição de sua
trajetória. O documentário mostra a vida, a obra, a família, As roupas, as gírias foram novos comportamentos cria-
os amigos, os amores de Vinícius de Moraes, autor cente- dos pelos artistas do movimento Jovem Guarda
nas de poesias e letras de música. A essência criativa do O gênero tem esse nome devido ao programa homô-
artista e filósofo do cotidiano e as transformações do Rio nimo que reunia as maiores estrelas do movimento, como
de Janeiro através de raras imagens de arquivo, entrevistas Ronnie Von, Martinha, Eduardo Araújo, Wanderley Cardo-
e interpretações de muitos de seus clássicos. so, Jerry Adriani e as bandas “Os Incríveis”, “Renato e seus
A direção é de Miguel Farias. Vale ver e conferir! Blue Caps”, “Golden Boys” e “The Fever”. Apresentado por
Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia (Calhambe-
Outros artistas da Bossa Nova que, Tremendão e Ternurinha), fez um grande sucesso en-
A Bossa Nova é um gênero musical que já comemorou tre o público jovem, impulsionando a venda de produtos
seus 50 anos de atividades! Ainda está viva na produção relacionados à marca e estética da Jovem Guarda.
contemporânea. Muitos artistas brasileiros mantêm seu Entre os sucessos da Jovem Guarda estão: “Quero Que
trabalho atrelado ao gênero, como é o caso de Roberto Vá Tudo Pro Inferno” e “O Calhambeque” (Roberto Car-
Menescal – um dos mais influentes artistas ligados à Bos- los); “Festa de Arromba” (Erasmo Carlos); “Biquíni de Boli-
sa Nova. Produtor, arranjador, compositor (O Barquinho), nha Amarelinha” (Celly Campello e Ronnie Cord); “O Bom”
cantor e violonista (guitarrista) é um dos mais ativos repre- (Eduardo Araújo).
sentantes do gênero no Brasil e no mundo. O programa Jovem Guarda estreou em 1965 e termi-
Carlos Lyra – um dos grandes compositores do gênero. nou em 1969. Junto também terminou o movimento da
É autor das músicas de um importante espetáculo chamado Jovem Guarda, que perdeu muita força na época para a
“Pobre Menina Rica”, que realizou com Vinícius de Moraes. Tropicália. Segundo Erasmo Carlos: “A Tropicália era uma
Wanda Sá – a cantora, compositora e violonista tem Jovem Guarda com consciência das coisas, e nos deixou
atuado ao lado de Menescal, no Brasil e no mundo, princi- num branco total”. O movimento iê-iê-iê e suas guitarras
palmente no Japão. elétricas influenciaram tanto a Tropicália quanto a música
Joyce – a compositora, violonista e cantora também da MPB dos anos 70 até os dias de hoje.
garantiu seu nome no seleto time da Bossa Nova. Atua no
Brasil e no exterior, sempre com muito sucesso.
Samba Trio – um dos mais importantes conjuntos de
Bossa Nova. Conjunto formado pelo já falecido Luiz Eça
(piano, voz e arranjos), Bebeto Castilho (contrabaixo, flauta,
sax e voz) e Hélcio Milito (bateria, percussão e voz). Primei-
ro grupo estável de música instrumental, que tocava bossa
nova e que exerceu substancial influência nos padrões de
execução musical fora do canto e do violão.
Johnny Alf – o pianista, compositor e cantor é conside-
rado um precursor da Bossa Nova, pelo estilo de tocar seu
piano moderno.

A Jovem Guarda
A Jovem Guarda foi um gênero musical surgido na
metade dos anos 60. Foi o equivalente nacional ao movi- Os quatro “garotos” de Liverpool (The Beatles) foram
mento liderado pelos Beatles, banda inglesa surgida nos uma grande inspiração para a juventude brasileira

61
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação

Elis Regina, Jair Rodrigues, Nara Leão e Chico Buarque:


artistas que se consagraram nos Festivais

A Música de Protesto
A palavra festival vem do latim “festivitas”, que significa
tanto ‘um dia de festa’ quanto ‘uma maneira engenhosa
de dizer’. E essa maneira engenhosa faz-se muito presente
nos festivais da década de 1960, precisamente pelo caráter
crítico à ditadura militar vigente no período.
Alguns artistas se empenharam em produzir obras que
O trio principal do movimento: Roberto Carlos, Wan- pudessem expressar o momento político de então. Ficaram
derléia e Erasmo Carlos conhecidos como o grupo da “música de protesto”. Exem-
plo emblemático é a música Para não dizer que não falei
O Tempo dos Festivais da Canção de flores (”Caminhando”) de Geraldo Vandré, que até hoje
Os Festivais da Canção, que tiveram seu auge no fim é cantada nas passeatas e manifestações políticas, princi-
dos anos 60, foram eventos musicais que possuíam um palmente as da classe dos estudantes. Ela concorreu no IIIº
apelo similar a de uma final de Copa do Mundo dos dias de FIC, em 1968, pouco antes da vigência do Ato Institucional
hoje, tamanha era a mobilização da população que, literal- número 5 (AI-5), instrumento legal que decretou censura
mente, vestia a camisa de seu cantor e/ou música preferida, absoluta aos meios de comunicação e nas manifestações
comportando-se como um verdadeiro torcedor. artísticas, sobretudo a música. De certa forma, o AI-5 de-
cretou, também, o fim dos festivais.
Em abril de 1965 ocorreu o primeiro festival de músi-
ca popular brasileira transmitido pela TV Excelsior, de São
Paulo. Devido ao sucesso retumbante, a emissora promo-
veu, no ano seguinte, a segunda edição do evento, nova-
mente cercado de pleno êxito. Foi tão grande a repercussão
que a TV Record (SP) também decidiu investir no modelo e
criou o seu próprio festival, ainda no ano de 1966. Em 1967
foi realizado o III Festival de Música Popular Brasileira, pela
TV Excelsior, a versão mais famosa de todas, que revelou
vários novos compositores e intérpretes que acabaram es-
crevendo um pouco da história da música brasileira, como
Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Elis Regina.
Paralelamente aos festivais paulistas, a então iniciante
TV Globo lançou o Festival Internacional da Canção (FIC),
que tinha o seu maior destaque na eliminatória brasilei- Vandré interpretando Caminhando no III FIC
ra, também lançando nomes definitivos na nossa música,
como Milton Nascimento, Ivan Lins, Raul Seixas, Beth Car- A Censura e o declínio dos Festivais
valho e muitos e muitos outros. A ação da censura durante o regime militar, como já
O que se cantava na década de 1960? foi visto, foi a grande responsável pelo declínio e fim dos
festivais. Curiosamente, iniciou-se um período muito fértil
Ao falar-se em música brasileira da década de 60 deve-
na música brasileira, já que os compositores, diante da ne-
-se pensar em quatro gêneros: Jovem Guarda, Bossa Nova,
cessidade de “driblar” a censura, criaram inúmeras letras
Tropicália e MPB, que, por sua vez, eram divididos em dois
de fundo político traduzidas em metáforas poéticas. Mas
grupos: os “alienados” (Jovem Guarda e Bossa Nova) e os logo no início do AI-5, a situação ficou insustentável. Chi-
“engajados” (MPB e Tropicália). co Buarque, depois de preso e interrogado autoexilou-se
na Itália. Caetano e Gil não tiveram a mesma sorte. Depois
de presos por um tempo, foram obrigados a abandonar
o país. A Tropicália O Tropicalismo foi um movimento de
ruptura que sacudiu o ambiente da música popular e da

62
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
cultura brasileira entre 1967 e 1968. Seus participantes for- experimentalismo estético, as idéias tropicalistas acabaram
maram um grande coletivo, cujos destaques foram os can- impulsionando a modernização não só da música, mas da
tores-compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, além das própria cultura nacional.
participações da cantora Gal Costa e do cantor-compositor
Tom Zé, da banda Mutantes, e do maestro Rogério Duprat. Rock Nacional (O Rock dos Anos 1980)
A cantora Nara Leão e os letristas José Carlos Capinan e O rock brasileiro da década de 80 é também considera-
Torquato Neto completaram o grupo, que teve também o do por muitos como pop rock nacional dos anos 80. Foi um
artista gráfico, compositor e poeta Rogério Duarte como movimento musical que surgiu já no início daquela década.
um de seus principais mentores intelectuais. Ganhou o apelido de BRock do jornalista Nelson Motta. O
BRock se caracterizou por influências variadas, indo desde
a chamada new wave, passando pelo punk e pela música
pop emergente do final da década de 70. Em alguns casos,
tomou por referência ritmos como o reggae e a soul mu-
sic. Suas letras falam na maioria das vezes sobre amores
perdidos ou bem sucedidos, não deixando de abordar é
claro algumas temáticas sociais. O grande diferencial das
bandas deste período era a capacidade de falar sobre estes
assuntos sem deixar a música tomar um peso emocional ou
político exagerados.
Fora a capacidade que seus integrantes tinham de falar
a respeito de quase tudo com um tom de ironia, outra ca-
racterística marcante do movimento. Outra particularidade
típica foi o visual próprio da época; cabelos armados ou
bastante curtos para as meninas, gel, roupas coloridas e
extravagantes para os meninos e a unissexualidade de tudo
A foto da capa do disco-emblema do movimento: Tro- isso, herança direta do Glam Rock de Marc Bolan, David
picália - Panis et Circenses Bowie e seus discípulos, como o “Kiss” e o “The Cure”.

Os tropicalistas deram um histórico passo à frente no


meio musical brasileiro. A música brasileira pós-Bossa Nova
e a definição da “qualidade musical” no país estavam cada
vez mais dominadas pelas posições tradicionais ou nacio-
nalistas de movimentos ligados à esquerda. Contra essas
tendências, o grupo baiano e seus colaboradores procuram
universalizar a linguagem da MPB, incorporando elemen-
tos da cultura jovem mundial, como o rock, a psicodelia e
a guitarra elétrica.

O Rock in Rio foi um dos grandes eventos que impulsio-


naram o BRock

Tudo começou com o aparecimento de bandas como


a Gang 90, seguida por sua contrapartida carioca, a Blitz e
Caetano, Gil e os Mutantes no III FIC seu grande sucesso “Você não soube me amar”. O auge da
Blitz aconteceu em 1985, no show do Rock in Rio. Liderada
Ao mesmo tempo, sintonizaram a eletricidade com as por Evandro Mesquita, a banda tinha como característica
informações da vanguarda erudita por meio dos inovado- marcante as performances teatrais no palco, que se tor-
res arranjos de maestros como Rogério Duprat, Júlio Me- naram grandes brincadeiras responsáveis pela animação
daglia e Damiano Cozzela. Ao unir o popular, o pop e o coletiva do público que comparecia aos shows.

63
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Com o tempo, o funk ganhou grande apelo dentre os
marginalizados – as músicas tratavam o cotidiano dos fre-
quentadores: abordavam a violência e a pobreza das fa-
velas. Há ainda os funks chamados de “proibidões”, cujas
letras que exaltam o crime organizado (tráfico de drogas)
ou tratam de temas pornográficos.
MANGUE BIT (MANGUE BEAT)
“Mangue beat” (também grafado como “mangue bit”)
é um movimento musical que surgiu no Brasil na década
de 90 em Recife que mistura ritmos regionais com rock, hip
hop, maracatu e música eletrônica.

O Circo Voador, ainda na praia do Arpoador, foi ideali-


zado por Perfeito Fortuna, tornando-se o
berço de muitas bandas de sucesso

Outro marco importante do BRock foram os shows no


“Circo Voador”, local que se tornou o berço de várias ban-
das que estouraram naquela época, que revelaram “Para-
lamas do Sucesso”, “Kid Abelha e Os Abóboras Selvagens”,
“Gang 90”, “Barão Vermelho”, entre outras. Destas, as que
tiveram mais destaque (e continuam tocando e fazendo re-
lativo sucesso até hoje) são os “Paralamas”, “Kid Abelha” e Chico Science, um dos mais importantes criadores do
“Barão Vermelho”. Mangue Bit

Novas Tendências da Música Popular Brasileira Esse estilo tem como ícone o músico Chico Science,
ex-vocalista, já falecido, da banda Chico Science e Nação
FUNK CARIOCA Zumbi, idealizador do rótulo “mangue” e principal divulga-
O funk carioca, diferente do norte-americano, é um dor das idéias, ritmos e contestações do Mangue Bit. Outro
tipo de música eletrônica originado nas favelas do Rio de grande responsável pelo crescimento desse movimento foi
Janeiro, derivado do Miami Bass, devido à sua batida rápi- Fred 04, vocalista da banda Mundo Livre S/A e autor do
da e aos vocais graves. primeiro manifesto do Mangue de 1992, intitulado “Caran-
Ao longo da nacionalização do funk, os bailes - até
guejos com cérebro”.
então, realizados nos clubes dos bairros das periferias da
capital e região metropolitana - expandiram-se céu aberto,
A CENA DOS BLOCOS SHOW
nas ruas, onde as equipes rivais se enfrentavam, disputan-
do quem tinha a aparelhagem mais potente, o grupo mais No final dos anos 1990, começa a surgir um movimen-
fiel e o melhor DJ. Neste meio surge DJ Marlboro, um dos to de revitalização do carnaval carioca, com a profissiona-
vários protagonistas do movimento funk. lização de blocos que passam a formar batuqueiros dentro
de uma concepção inspirada na aprendizagem dos mestres
de bateria das Escolas de Samba.
O pioneiro nesse processo é o MONOBLOCO. Com for-
mação de escola de samba, o grupo carnavalesco – criado
no ano 2000 pelo grupo Pedro Luís e A Parede - mistura
samba, batucada coco, funk e charm. Sai com uma bateria
de cerca de 120 batuqueiros, comandados pelo maestro
Celso Alvim.
A partir daí foram surgindo muitos outros blocos como
o Bangalafumenga, o Empolga às 9, o Quizomba, o Cordão
do Boitatá, o Mulheres de Chico (grupo só de mulheres
que interpreta somente músicas de Chico Buarque) e a Or-
questra Céu na Terra, que toca marchinhas do passado e
do presente.19

DJ Marlboro, um ícone do funk carioca 19 Fonte: www.portaledumusicalcp2.mus.br

64
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
O grande nome do teatro na área educativa foi Viola
10. O TEATRO NO BRASIL E NO CEARÁ: Spolim, que foi a sistematizadora de uma proposta para o
HISTÓRIA E MOVIMENTOS. ensino de teatro através dos jogos teatrais.
COURTNEY (2001) destaca que na escola deve haver
distinção entre duas formas de Educação Dramática, a
primeira que é o método dramático, que envolve os jo-
Quem nunca imitou alguém nesta vida? Ou procurou gos dramáticos, que segundo o autor são reflexos do in-
viver situações irreais numa inocente brincadeira? Quem consciente da criança; e, segundo, que é o jogo dramático,
nunca virou cambalhota ou estrelinha, ou ainda, tentou fa- como tal, que seria o teatro em si, a representação, visando
zer malabarismo ou mágica? Pois bem, acredito que todos, o desenvolvimento da criança.
pelo menos um dia na vida já foram atores, ou seja, já re- O jogo reforça a passagem da representação em ato
presentaram algo. para a representação em pensamento.
Segundo BERTHOLD (2000) há várias fontes que po- Além dos jogos dramáticos, existem outros tipos de
demos considerar para o surgimento do teatro, como por jogos que são os jogos teatrais, na qual KOUDELA (2001)
exemplo, as danças e os costumes populares, ela diz que o cita que Viola Spolim estabelece uma diferença entre eles,
teatro primitivo tem como base os impulsos vitais, os cos- segundo ela, assim como um adulto, a criança gasta mui-
tumes dos povos, a religiosidade, etc. tas horas do dia fazendo um jogo dramático subjetivo. Ao
Na Grécia, o teatro foi um importante instrumento passo que a versão adulta consiste usualmente em contar
educacional na medida em que disseminava o conheci- estórias, devaneios, tecer considerações, identificar-se com
mento e representava para o povo, o único prazer literário as personagens de TV etc., a criança tem, além destes, o fa-
disponível. z-de-conta, onde dramatiza personagens e fatos de sua ex-
Em Roma, tragédia e comédia tinham tratamento dife- periência. Ao separar o jogo dramático da realidade teatral
renciado e as personagens eram criadas de acordo com o e, em segundo momento, fundindo o jogo com a realidade
tipo da obra. do teatro, o jovem ator aprende a diferenciar sobre o que é
No período medieval, foi o teatro que proporcionou ilusão e o que é realidade, no meio de seu próprio mundo.
educação às massas. Para uma melhor compreensão podemos dizer que jogos
Na renascença, as atividades dramáticas surgiram em dramáticos são aqueles em que são feitas representações
quase todas as escolas, e, enfim, a história do teatro acom- sem uma determinada regra, enquanto nos jogos teatrais,
panhou a história da humanidade, tendo cada povo a sua as representações são feitas seguindo alguma regra.
forma de representar, ganhando no decorrer nos séculos, Segundo JAPIASSU (2001), a avaliação em teatro deve
principalmente com o pensamento humanista, mais espa- ir além das avaliações coletivas e auto avaliações, verifican-
ço na área da educação. do também questões que tenham surgido no processo de
O teatro pode estar ligado ou não com outras lingua- trabalho, bem como os conceitos adquiridos pelos alunos.
gens artísticas, como, por exemplo, com a música, num Além disso, o professor não deve se preocupar em manter
musical ou numa ópera e com as artes plásticas na confec- um plano de aulas rígido, pois poderão ocorrer imprevis-
ção dos cenários. tos.
A arte de se representar consiste em viver a vida de ou- Além do Teatro, devem ser trabalhadas atividades vol-
tra pessoa (personagem), coisa que fazemos desde criança, tadas para o circo e o cinema, falando sobre a forma em
sem percebermos. que as atrações são produzidas, bem como o seu processo
O ensino de teatro, assim como o de qualquer outra histórico, além do rádio e da TV.20
linguagem, não deve ser voltado para a formação de gran-
des atores, mas, para desenvolver a concentração dos es- O Teatro Cearense
tudantes, ajudá-los a trabalhar em equipe e também a se Os Primeiros Tempos - Em 1830 Fortaleza teve sua
desinibirem com a presença do público. Além disso, é im- primeira casa de espetáculos, o Teatro Concórdia, em 1842
portante saber a estrutura de uma peça teatral, para saber este teatro muda de endereço com o nome de Teatro Ta-
analisar o que se passa em uma que venha assistir. liense. Quase vinte anos depois, em 1860, foi construído
Segundo DESGRANGES (2003), o teatro deve funcionar um teatro na cidade de Icó, imponente edifício de linhas
como instrumento de denúncia, revelando bastidores da clássicas. Os primeiros grupos de teatro cearense que se
cena da vida, dando condições para que o telespectador tem notícia foram: Sociedade Particular Recreio Dramático,
perceba, negue ou modifique a sua conduta. Isso nos leva de 1867, apresentando as peças Dalila e Casar sem saber
ao papel de fazer com que algo seja modificado através com Quem, e a Sociedade Grupo das Musas, também de
da arte. 1867, montando Punição. Em Sobral funcionava o Clube
Melpômene.
Como citado acima, o objetivo do teatro na escola, não
Teatro São Luiz - Fortaleza teve ainda os teatros São
é de se formar atores, o teatro na educação básica, é tra-
José (1876) e Variedades (1877) antes de inaugurar o seu
balhado principalmente com jogos envolvendo a dramati-
primeiro teatro importante, o Teatro São Luís, aberto em
zação de situações cotidianas, que acaba ajudando o es-
20 Fonte: www.mundoeducacao.bol.uol.com.br - Por Os-
tudante nas outras disciplinas e também, no seu dia-a-dia
car Wilde
fora do ambiente escolar,

65
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
1880, na rua Barão do Rio Banco esquina com rua Dr. João na Visconde do Rio Branco, e o palco era montado sobre
Moreira. No São Luís exibiram-se as grandes companhias - barricas de bacalhau e coberto de palhas de coqueiros; o
que enfrentando o acanhado porto cearense - dirigiam-se salão era de terra batida. Tanto sucesso fizeram seus es-
a Belém e Manaus na época áurea da borracha. O Teatro petáculos que os bondes de Fortaleza recolhiam-se para,
São Luís foi palco de acalorados discursos abolicionistas, após o espetáculo, levaram os espectadores de volta às
onde conferenciou José do Patrocínio; e de homenagem a suas casas. E mais: o Majestic Palace suspendia filmes de
Carlos Gomes que, do camarote presidencial, ouviu a ou- atores famosos de Hollywood para apresentar os artistas
verture do Guarani. cearenses. E ainda mais, as peças de Carlos Câmara serviam
Teatro São João - Também em 1880 era inaugurado para salvar da ruína companhias profissionais que nos vi-
o Teatro São João, de Sobral, construído nos moldes do sitavam.
Santa Isabel, de Recife, e um dos mais antigos teatros do Grupos da década de 1920 - Merecem citação outros
Brasil ainda existentes, por iniciativa de Domingos Olímpio grupos que existiram na década de 20, como o Recreio Ira-
e outros sobralenses ilustres. cema, o Grêmio Pio X - onde se destacaram os amadores
Clube de Diversões Artísticas - Mas o teatro não vive Antônio Ribeiro e João de Deus - o Grêmio Dramático de
apenas de suas casas de espetáculos. O mais importante Círculo São José e a Troupe Recreativa Cearense. No Grê-
grupo do século passando foi o Clube de Diversões Artísti- mio Pio X é que foram encenadas a maioria das peças de
cas (1897), criado pelo romancista e teatrólogo Pápi Júnior, outro teatrólogo importante: Silvano Serra. Silvano obteve
funcionando no Clube Ira-cema. Deste grupo foi que saiu a sucessos com Meninas de Hoje, Por Causa de Você, Trinca
atriz Maria Castro que depois se tornaria uma das maiores de Damas, Almas de Aço, A Valsa Proibida.
atrizes do teatro brasileiro do começo do século, chegando A Valsa Proibida - A opereta Valsa Proibida com mú-
a ter companhia própria. sicas de Paurillo Barroso e libreto de Silvano Serra, estreou
O Theatro José de Alencar – A principal casa de espe- em 1941 montada pela Sociedade de Cultura Artística. Em
táculos do Ceará data de 1910, quando, numa bonita festa 1965 montada pela Comédia Cearense constituiu-se no
(17 de junho) em homenagem ao Presidente Antônio Pin- maior sucesso de público do teatro no norte e nordeste
to Nogueira Accioly, ele foi inaugurado com um concerto
brasileiro. Levou mais de oitenta mil pessoas ao teatro José
da Banda Sinfônica do Batalhão de Segurança, regida pelo
de Alencar por quase três meses.
maestro Luigi Maria Smido. Mas a primeira representação
O Mártir do Gólgota - O tradicional espetáculo da se-
teatral seria da Companhia Lucília Perez com O Dote de
mana santa O Mártir do Gólgota foi pela primeira vez repre-
Arthur Azevedo a 23 de setembro do mesmo ano.
sentado em 1933 na sede do Centro Artístico Cearense. Daí
O Theatro José de Alencar, construído com projeto do
continuou através dos anos no Teatro José de Alencar até
engenheiro militar Capitão Bernardo José de Melo, é hoje
1972. Em 1977 voltou a ser produzido para ser interrompi-
patrimônio artístico e histórico nacional. Desde sua inau-
do definitivamente em 1983.
guração tem se apresentando em seu palco os maiores
nomes da cena brasileira. Restaurações: As reformas por Conjunto Teatral Cearense - O mesmo ano de 1933
que passou o teatro procuraram de alguma maneira não é o ano de fundação do Conjunto Teatral Cearense de J.
alterar o projeto inicial do teatro conservando inalterado Cabral que foi grupo dramático de longa duração (1933-
o seu patrimônio. A primeira foi em 1918; a segunda em 1970), o que mais viajou pelo interior do Estado e nele es-
1937, por iniciativa da sociedade de Cultura Artística, pois treou um nome nacional: Milton Morais. J. Cabral foi um
o teatro havia sido fechado pela Secretaria de Saúde, tal o dos maiores batalhadores pelo teatro no Ceará.
estado deplorável de conservação. A terceira em 1957, no Modernismo - O moderno teatro no Ceará começa
governo de Paulo Sarasate. A quarta em 1960, quando o em 1950 com a montagem da peça O Demônio e a Rosa de
teatro completou cinquenta anos. A quinta em 1973 sob Eduardo Campos, pelo Teatro Universitário do Ceará, grupo
orientação de Liberal de Castro. Data daí o jardim ao lado. da Faculdade de Direito, dirigido por e. Eduardo Campos é
A última restauração foi por iniciativa da Secretária de Cul- o maior dramaturgo cearense, estando para o drama como
tura Vio-leta Arraes (governo Tasso Jereissati), dotando o Carlos Câmara está para a comédia. Nos anos seguintes
teatro de infra-estrutura moderna e um anexo. suas principais peças viriam a ser encenadas pela Comédia
Novo Século XX - De 1914 é a fundação do grupo Ad- Cearense.
miradores de Talma. Nesse mesmo ano (1914) foi inaugu- Teatro Escola e Experimental - Na década de 50 sur-
rado o Cine Teatro Politeama e alguns anos depois (1917) giram dois importantes grupos de teatro. O primeiro foi
o Majestic Palace, que abrigaram nossos grupos e princi- Teatro-Escola do Ceará, dirigido por Nadir Sabóia e Maris-
palmente as companhias visitantes. O Teatro São José foi ther Gentil. Viajaram para muitos festivais, montaram peças
inaugurado em 1915. de grande sucesso e tinham um bom elenco, com José Ma-
Com a criação do Grêmio Dramático Familiar (1918 a ria Lima e Fernanda Quinderé. Considerado um grupo de
1939) o teatro cearense teve os eu período mais brilhante. eli-te montou peças como “A Importância de ser Severo”,
O Grêmio fundado por Carlos Câmara (1881-1939) “com A Moreninha, Os Deserdados, A Visa Sacra. O Teatro Expe-
o fim de proporcionar espetáculos, a título de diversão, às rimental de Arte, de jovens de classe média, foi fundado
famílias do Boulevard Visconde do Rio Branco” foi muito por Marcus Miranda, B. de Paiva, Hugo Bianchi, e Haroldo
além de suas pretensões, marcando época na vida sócio- Serra. Destacaram-se as produção de O Morro dos Ventos
-cultural da cidade. Funcionou num teatrinho entre muros Uivantes, Lampião, de Rachel de Queiroz, e Mortos em Se-

66
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
pultura, de Sartre. Os atores Emiliano Queiroz e Aderbal Jú- Anos Noventa - Marcos da década de 90 são a res-
nior começaram no Teatro Experimental de Arte, que tinha tauração do Theatro José de Alencar (1991), o Colégio de
ainda, além dos fundadores e os já citados, a atriz Glyce Direção Teatral do Instituo Dragão do Mar, o Festival Nor-
Sales e José Humberto Cavalcante. destino de Teatro de Guaramiranga, o Troféu Carlos Câ-
Curso de Arte Dramática - Na década de 60 o tea- mara e o Premio Destaques do Ano, pelo Grupo Balaio; a
tro cearense teria outro período de efervescência, liderado inauguração dos teatros, Paurillo Barroso (1993), Teatro do
pela figura de B. de Paiva. Daí é a criação do Curso de Arte IBEU Aldeota (1995), Teatro Marista (1996), e Teatro Nadir
Dramática da UFC pelo então reitor Antônio Martins Filho Sabóia (1999). A atuação de grupos como Cia. Boca Rica
em 1961. O Curso viria a criar uma nova mentalidade cê- de Teatro, Grupo Mirante, Aprendizes de Dionisyos, Cia. de
nica, uma nova geração de atores e dando oportunidade Teatro Lua, ao lado de veteranos como Comédia Cearen-
a quem quer se iniciar no teatro de maneira correta. Entre se e Grupo Balaio, a criação da teoria Radical de Ricardo
as grandes montagens do Teatro Universitário estão: Auto Guilherme pela Associação dos Radicais Livres, o desen-
da Compadecida, A Raposa e as Uvas, Antígona, Bodas de volvimento teatro de bonecos e teatro infantil. Os novos
Sangue, Macbeth, e a dramatização dos poemas Lamento dramaturgos como Rafael Martins, Marcos Barbosa, José
pela Morte de Inácio de Lorca, e Cancioneiro de Lampião, Mapurunga, Fernando Lira, Caio Quinderé. Diretores como
Rosário, Rifles e Punhal, de Nertan Macedo. Augusto Abreu, Francinice Campos, Herê Aquino, Ueliton
Comédia Cearense - Grupo fundado por Haroldo Rocon, Yuri Yamamoto, Ricardo Bessa.
Serra a Comédia Cearense nasceu em 1957, com a peça E já no novo século, Grupo Bagaceira, Palmas Pro-
“Lady Godiva”. A Comédia produziu grandes espetáculos e duções, Expressões Humanas, o Teatro Emiliano Queiroz
teve tempos gloriosos. Marcaram época os sucessos, com (2000), do SESC, e a programação do Centro Cultural do
mais de cem récitas de O Morro do Ouro (1963), Rosa do Banco de Nordeste, implantação do SATED e ressurgimen-
Lagamar (1964). Quase todas as produções da Comédia to da FESTA, os Festivais da Funcet, Festivais de Sketes, Cia.
Cearense foram sucesso. O Pagador de Promessas, Médico Cearense de Molecagem e seu repertório, o Teatro Celina
á Força, Lady Goodiva, Amor a Oito Mãos, A Ratoeira, Eles Queiroz (2003), o Grupo Abre Alas, Mostra do Estudante, e
não usam Black-Tie, Beijo no Asfalto, Canção dentro do Pão, a criação do curso de CEFET-CE (2002).21
Valsa Proibida, Casamento da Peraldiana, e outras. O Sim-
pático Jeremias. A Comédia tendo à frente Haroldo e Hira- Historia do Teatro no Brasil
misa Serra deram grande contribuição ao teatro ce-arense. O teatro brasileiro surgiu quando Portugal começou a
Venceram festivais e criaram o Teatro Arena Aldeota. fazer do Brasil sua colônia (Século XVI). Os Jesuítas, com o
Os Anos 70 - No início dos anos 70 estavam em ativi- intuito de catequizar os índios, trouxeram não só a nova
dade em Fortaleza os grupos: Quintal, Teatro Experimental religião católica, mas também uma cultura diferente, em
de Cultura, o; Grupo Artístico de Teatro Infantil,; e a Coo- que se incluía a literatura e o teatro. Aliada aos rituais fes-
perativa de Teatro e Artes, fundada por José Carlos Matos tivos e danças indígenas, a primeira forma de teatro que
e Marcelo Costa, dentre outros, e que foi responsável pela os brasileiros conheceram foi a dos portugueses, que tinha
montagem do Romance do Pavão Mysteirozo, Orixás do um caráter pedagógico baseado na Bíblia. Nessa época, o
Ceará e A Vida e o Testamento de Cancão de Fogo, marcos maior responsável pelo ensinamento do teatro, bem como
do teatro cearense dessa. pela autoria das peças, foi Padre Anchieta.
Grupo Balaio - Rápida e brilhante como um cometa, O teatro realmente nacional só veio se estabilizar em
foi à passagem da Cooperativa, sendo sucedida pelo Gru- meados do século XIX, quando o Romantismo teve seu iní-
po Balaio que surge em 1976 estreando com Cesarion, o cio. Martins Pena foi um dos responsáveis pôr isso, através
Imperador do Mundo de Geraldo Markan. O Balaio teve ini- de suas comédias de costumes. Outros nomes de desta-
cialmente a preocupação de montar texto de autores cea- que da época foram: o dramaturgo Artur Azevedo, o ator e
renses, assim produziu: Corações Guerreiros, Adolpho em empresário teatral João Caetano e, na literatura, o escritor
Prosa e Verso, Latin Lover de Marcelo Costa, Alarme Geral Machado de Assis.
de Zaza Sampaio, A Moda da Casa de Marcus Fernandes, O
Dia que Vaiaram o Sol na Praça do Ferreira, e Vice Versa de Teatro dos jesuítas - Século XVI
Gilmar de Carvalho. Nos primeiros anos da colonização, os padres da cha-
Outros grupos - Na década de 80 aturam outros gru- mada Companhia de Jesus (Jesuítas), que vieram para o
pos importantes como: Grupo Independente de Teatro Brasil, tinham como principal objetivo a catequese dos ín-
Amador, dirigido por José Carlos Matos, voltando para um dios. Eles encontraram nas tribos brasileiras uma inclinação
teatro popular e político; Grupo Metateatro de Tinoco Filho natural para a música, a dança e a oratória. Ou seja: ten-
e Admir Maciel, cujo título define sua proposta de traba- dências positivas para o desenvolvimento do teatro, que
lho; Grupo de Teatro do SESI, dirigido por Ivonilson Borges, passou a ser usado como instrumento de “civilização” e de
uma verdadeira escola de teatro; Grupo Opção, de Erotilde educação religiosa, além de diversão. O teatro, pelo “fas-
Honório, com grande produção e valorização do teatro in- cínio” da imagem representativa, era muito mais eficaz do
fantil; unindo jovens idealistas; para só citar os principais e que um sermão, pôr exemplo.
o nome de seus líderes. O mais novo deles, Grupo Pesquisa, 21 Fonte: www.sesc.com.br - Por Marcelo Farias Costa
sob a direção de Ricardo Guilherme.

67
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
As primeiras peças foram, então, escritas pelos Jesuí- O que podemos notar neste século é a repercussão do
tas, que se utilizavam de elementos da cultura indígena (a teatro espanhol em nosso país, e a existência de um nome -
começar pelo caráter de “sagrado” que o índio já tinha ab- ligado ao teatro - de destaque: Manuel Botelho de Oliveira
sorvido em sua cultura), até porque era preciso “tocar” o ín- (Bahia, 1636-1711). Ele foi o primeiro poeta brasileiro a ter
dio, falando de coisas que ele conhecia. Misturados a esses suas obras publicadas, tendo escrito duas comédias em es-
elementos, estavam os dogmas da Igreja Católica, para que panhol (Hay amigo para amigo e Amor, Engaños y Celos).
o objetivo da Companhia - a catequese - não se perdesse.
As peças eram escritas em tupi, português ou espanhol Século - XVIII
(isso se deu até 1584, quando então “chegou” o latim). Ne- Foi somente na segunda metade do século XVIII que as
las, os personagens eram santos, demônios, imperadores peças teatrais passaram a ser apresentadas com uma certa
e, pôr vezes, representavam apenas simbolismos, como o freqüência. Palcos (tablados) montados em praças públicas
Amor ou o Temor a Deus. Com a catequese, o teatro aca- eram os locais das representações. Assim como as igrejas
bou se tornando matéria obrigatória para os estudantes da e, pôr vezes, o palácio de um ou outro governante. Nessa
área de Humanas, nos colégios da Companhia de Jesus. No época, era forte a característica educacional do teatro. E
entanto, os personagens femininos eram proibidos (com uma atividade tão instrutiva acabou pôr merecer ser pre-
exceção das Santas), para se evitar uma certa “empolga- senteada com locais fixos para as peças: as chamadas Ca-
ção” nos jovens. sas da Ópera ou Casas da Comédia, que começaram a se
Os atores, nessa época, eram os índios domesticados, espalhar pelo país.
os futuros padres, os brancos e os mamelucos. Todos ama- Em seguida à fixação dos locais “de teatro”, e em con-
dores, que atuavam de improviso nas peças apresentadas seqüência disso, surgiram as primeiras companhias tea-
nas Igrejas, nas praças e nos colégios. No que diz respeito trais. Os atores eram contratados para fazer um determina-
aos autores, o nome do número de apresentações nas Casas da Ópera, durante
de mais destaque da época é o de Padre Anchieta . É todo o ano, ou apenas pôr alguns meses. Sendo assim, com
dele a autoria de Auto de Pregação Universal, escrito entre os locais e elencos fixos, a atividade teatral do século XVIII
1567 e 1570, e representado em diversos locais do Brasil,
começou a ser mais contínua o que em épocas anteriores.
pôr vários anos.
No século XVIII e início do XIX, os atores eram pessoas das
Outro auto de Anchieta é Na festa de São Loureço,
classes mais baixas, em sua maioria mulatos. Havia um pre-
também conhecido como Mistério de Jesus. Os autos sa-
conceito contra a atividade, chegando inclusive a ser proi-
cramentais, que continham caráter dramático, eram prefe-
bida a participação de mulheres nos elencos. Dessa forma,
ridos às comédias e tragédias, porque eram neles que es-
eram os próprios homens que representavam os papéis
tavam impregnadas as características da catequese. Eles ti-
femininos, passando a ser chamados de “travestis”. Mesmo
nham sempre um fundo religioso, moral e didático, e eram
quando a presença de atrizes já havia sido “liberada”, a má
repletos de personagens alegóricos.
fama da classe de artistas, bem como a reclusão das mu-
Além dos autos, outros “estilos teatrais” introduzidos
pelos Jesuítas foram o presépio, que passou a ser incorpo- lheres na sociedade da época, as afastava dos palcos.
rado nas festas folclóricas, e os pastoris. Quanto ao repertório, destaca-se a grande influência
estrangeira no teatro brasileiro dessa época. Dentre nomes
Século - XVII mais citados estavam os de Molière, Voltaire, Maffei, Gol-
No século XVII, as representações de peças escritas pe- doni e Metastásio. Apesar da maior influência estrangeira,
los Jesuítas - pelo menos aquelas com a clara finalidade de alguns nomes nacionais também merecem ser lembrados.
catequese- começaram a ficar cada vez mais escassas. Este São eles: Luís Alves Pinto, que escreveu a comédia em ver-
período, em que a obra missionária já estava praticamen- so Amor Mal Correspondido, Alexandre de Gusmão, que
te consolidada, é inclusive chamado de Declínio do Teatro traduziu a comédia francesa O Marido Confundido, Cláudio
dos Jesuítas. No entanto, outros tipos de atividades teatrais Manuel da Costa, que escreveu O Parnaso Obsequioso e
também eram escassos, pôr conta deste século constituir outros poemas representados em todo o país, e Inácio José
um tempo de crise. As encenações existiam, fossem elas de Alvarenga Peixoto, autor do drama Enéias no Lácio.
prejudicadas ou inspiradas pelas lutas da época (como pôr Século XIX Transição para o tetro nacional
exemplo, as lutas contra os holandeses). Mas dependiam A vinda da família real para o Brasil, em 1808, trouxe
de ocasiões como festas religiosas ou cívicas para que fos- uma série de melhorias para o Brasil. Uma delas foi dire-
sem realizadas. cionada ao teatro. D. João VI, no decreto de 28 de maio de
Das peças encenadas na época, podemos destacar as 1810, reconhecia a necessidade da construção de “teatros
comédias apresentadas nos eventos de aclamação a D. decentes”.
João IV, em 1641, e as encenações promovidas pelos fran- Na verdade, o decreto representou um estímulo para
ciscanos do Convento de Santo Antônio, no Rio de Janei- a inauguração de vários teatros. As companhias teatrais,
ro, com a finalidade de distrair a comunidade. Também se pôr vezes de canto e/ou dança (bailado), passaram a tomar
realizaram representações teatrais pôr conta das festas de conta dos teatros, trazendo com elas um público cada vez
instalação da província franciscana da Imaculada Concei- maior. A primeira delas, realmente brasileira, estreou em
ção, em 1678, no Rio. 1833, em Niterói, dirigida pôr João Caetano, com o drama

68
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
O Príncipe Amante da Liberdade ou A Independência da Época Realista Metade o Século- XIX
Escócia. Uma conseqüência da estabilidade que iam ga- Realismo na dramaturgia nacional pode ser subdivi-
nhando as companhias dramáticas foi o crescimento, pa- dido em dois períodos: o primeiro, de 1855 - quando o
ralelo, do amadorismo. empresário Joaquim Heliodoro monta sua companhia - até
A agitação que antecipou a Independência do Brasil 1884 com a representação de O mandarim, de Artur Aze-
foi refletida no teatro. As platéias eram muito agressivas, vedo, que consolida o gênero revista e os dramas de ca-
aproveitavam as encenações para promover manifesta- saca. O segundo período vai de 1884 aos primeiros anos
ções, com direito a gritos que exaltavam a República. No do século XX, quando a opereta e a revista são os gêneros
entanto, toda esta “bagunça” representou uma preparação preferidos do público.
do espírito das pessoas, e também do teatro, para a exis- Essa primeira fase não se completa em um teatro na-
tência de uma nação livre. Eram os primórdios da fundação turalista. À exceção de uma ou outra tentativa, a literatura
do teatro - e de uma vida - realmente nacional. Até porque, dramática não acompanhou o naturalismo pôr conta da
em conseqüência do nacionalismo exacerbado do público, preferência do público pelo “vaudeville”, a revista e a pa-
os atores estrangeiros começaram a ser substituídos pôr ródia.
nacionais. A renovação do teatro brasileiro, com a consolidação
Ao contrário desse quadro, o respeito tomava conta do da comédia como gênero preferido do público, iniciou-se
público quando D.Pedro estava presente no teatro ( fato quando Joaquim Heliodoro Gomes dos Santos montou seu
que acontecia em épocas e lugares que viviam condições teatro, o Ginásio Dramático, em 1855. Esse novo espaço
“normais”, isto é, onde e quando não havia este tipo de tinha como ensaiador e diretor de cena o francês Emílio
manifestação). Nestas ocasiões, era mais interessante se Doux que trouxe as peças mais modernas da França da
admirar os espectadores - principalmente as senhoras ri- época.
camente vestidas - do que os atores. Além do luxo, podia O realismo importado da França introduziu a temática
se notar o preconceito contra os negros, que não compa- social, ou seja, as questões sociais mais relevantes do mo-
reciam aos teatros. Já os atores eram quase todos mulatos, mento eram discutidas nos dramas de casaca. Era o teatro
mas cobriam os rostos com maquiagem branca e vermelha. da tese social e da análise psicológica.
Nome de grande importância para o teatro dessa fase
é o do dramaturgo Artur Azevedo (1855-1908). Segundo
Século –XIX
J. Galante de Souza ( O Teatro no Brasil, vol.1), Artur Aze-
Época Romântica
vedo “foi mais aplaudido nas suas bambochatas, nas suas
Desde a Independência, em 1822, um exacerbado sen-
revistas, escritas sem preocupação artística, do que quando
timento nacionalista tomou conta das nossas manifesta-
escreveu teatro sério. O seu talento era o da improvisação,
ções culturais. Este espírito nacionalista também atingiu o
fácil, natural, mas sem fôlego para composições que exigis-
teatro. No entanto, a literatura dramática brasileira ainda sem amadurecimento, e para empreendimentos artísticos
era incipiente e dependia de iniciativas isoladas. Muitas de larga envergadura”.
peças, a partir de 1838, foram influenciadas pelo Roman-
tismo, movimento literário em voga na época. O romancis- O teatro no Brasil
ta Joaquim Manuel de Macedo destacou alguns mitos do Fernando Peixoto define bem a história do teatro no
nascente sentimento de nacionalidade da época: o mito da Brasil e no mundo em seu livro “O que é teatro”, e nos traz
grandeza territorial do Brasil, da opulência da natureza do referências de datas que ajudam entender sua trajetória no
país, da igualdade de todos os brasileiros, da hospitalidade decorrer dos séculos.
do povo, entre outros. Estes mitos nortearam, em grande A história do teatro brasileiro dramático surgiu em
parte, os artistas românticos desse período. 1564, coincidentemente com a data de nascimento de Wil-
A tragédia Antônio José ou O poeta e a inquisição es- lian Shakespeare, quando foi encenado o Auto de Santiago
crita pôr Gonçalves de Magalhães (1811-1882) e levada à pôr missionários jesuítas, na Bahia.
cena pôr João Caetano (1808-1863), a 13 de março de 1838, No Brasil o teatro surge como instrumento pedagógi-
no teatro Constitucional Fluminense, foi o primeiro passo co. Eram Autos utilizados para a catequização dos índios,
para a implantação de um teatro considerado brasileiro. os quais o padre Manuel da Nóbrega encomendava-os ao
No mesmo ano, a 4 de outubro, foi representada pela padre José de Anchieta.
primeira vez a comédia O juiz de paz da roça, de Martins Já no século XIX (mais ou menos 1838), o teatro fica
Pena (1815-1848), também no teatro Constitucional Flu- marcado pela tragédia romântica de Gonçalves Magalhães
minense pela mesma companhia de João Caetano. A peça com a peça: “O Poeta e a Inquisição” e também Martins
foi o pontapé inicial para a consolidação da comédia de Pena com “O juiz de paz na roça”. Martins Pena com toda
costumes como gênero preferido do público. As peças de sua simplicidade para escrever, porém justa eficácia para
Martins Pena estavam integradas ao Romantismo, portan- descrever o painel da época, teve seguidores “clássicos” de
to, eram bem recebidas pelo público, cansado do formalis- seus trabalhos, como Joaquim Manoel de Macedo, Macha-
mo clássico anterior. O autor é considerado o verdadeiro do de Assis e José de Alencar.
fundador do teatro nacional, pela quantidade - em quase Foi em 1880 , em Lagos, na Nigéria que escravos bra-
dez anos, escreveu 28 peças - e qualidade de sua produ- sileiros libertados deram um enorme salto no desenvolvi-
ção. Sua obra, pela grande popularidade que atingiu, foi mento do teatro, fundando a primeira companhia dramáti-
muito importante para a consolidação do teatro no Brasil. ca brasileira – a Brazilian Dramatic Company .

69
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Em 1900, o teatro deu seu grito de liberdade. Embo- elementos renovadores na dramaturgia e na encenação
ra tenha enfrentado as mais duras crises políticas do país, brasileiras. A montagem de Eles Não Usam Black- Tie, de
conseguiu com muita luta estacar sua bandeira e marcar Gianfrancesco Guarnieri, em 1958, introduz a luta de clas-
sua história. ses como temática. Sob a liderança de Augusto Boal, o
De 1937 a 1945, a ditadura procura silenciar o teatro, Arena forma novos autores e adapta textos clássicos para
mas a ideologia populista, através do teatro de revista, que mostrem a realidade brasileira. Chega à implantação
mantém-se ativa. Surgem as primeiras companhias está- do sistema curinga, no qual desaparece a noção de pro-
veis do país, com nomes como: Procópio Ferreira, Jaime tagonista, em trabalhos como Arena Conta Zumbi (1965)
Costa, Dulcina de Moraes, Odilon Azevedo, Eva Tudor, en- e Arena Conta Tiradentes (1967), que fazem uma revisão
tre outros. histórica nacional. O Arena termina em 1970.
Uma nova ideologia começava a surgir, juntamente
com um dos maiores patrimônios do teatro brasileiro: Os- 1958
wald de Andrade, que escreveu O Rei da Vela (1933), O Ho- Zé Celso, Renato Borghi, Carlos Queiroz Telles e Amir
mem e o Cavalo (1934) e A Morta (1937), enfrentando de- Haddad, entre outros, fundam um grupo amador – chama-
sinibido e corajoso, a sufocante ditadura de Getúlio Vargas. do Teatro Oficina – na Faculdade de Direito do Largo São
Em 1938, Paschoal Carlos Magno funda o Teatro do Francisco, em São Paulo (SP). Seus integrantes passam por
Estudante do Brasil. Começam surgir companhias experi- uma fase stanislavskiana (interpretação realista criada pelo
mentais de teatro, que estendem-se ao longo dos anos, dramaturgo russo Stanislavski, orientada por Eugênio Kus-
marcando a introdução do modelo estrangeiro de teatro net. A peça mais importante desse período é Os Pequenos
entre nós, consagrando então o princípio da encenação Burgueses (1963), de Maxim Gorki. Logo após a antológica
moderna no Brasil.22 montagem de O Rei da Vela (1967), de Oswald de Andra-
de o grupo evolui para uma fase brechtiana (interpretação
1938 distanciada desenvolvida pelo alemão Bertolt Brecht) com
É lançado no Rio de Janeiro (RJ) o Teatro do Estudante Galileu Galilei (1968) e Na Selva das Cidades (1969), sempre
do Brasil, concebido e dirigido por Paschoal Carlos Magno
sob a direção artística de José Celso. Com a obra coletiva
e com um elenco constituído de universitários. A primeira
Gracias Señor, inicia- se a chamada fase irracionalista do
montagem é Romeu e Julieta, de Shakespeare, protagoni-
Oficina. Uma nova relação com o espaço e com o público
zada por Paulo Porto e Sônia Oiticica, com direção de Itália
reflete as profundas mudanças pelas quais o grupo passa.
Fausta.
Essa fase se encerra com As Três Irmãs (1973), de Tchecov.
Década de 60 – Uma vigorosa geração de dramaturgos
1943
irrompe na cena brasileira nessa década. Entre eles desta-
Estréia a peça Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues,
encenada pelo grupo amador Os Comediantes, do Rio de cam- se Plínio Marcos, Antônio Bivar, Leilah Assumpção,
Janeiro. A direção de Zbigniew Ziembinski – É inaugurado, Consuelo de Castro e José Vicente.
em São Paulo (SP), o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC);
inicialmente uma casa de espetáculos criada para abrigar 1964
os trabalhos de grupos amadores. O grupo Opinião entra em atividade no Rio de Janeiro,
Dois desses grupos estão à frente da renovação do adaptando shows musicais para o palco e desenvolvendo
teatro brasileiro: o Grupo de Teatro Experimental (GTE), de um trabalho teatral de caráter político.
Alfredo Mesquita, e o Grupo Universitário de Teatro (GUT), Responsável pelo lançamento de Zé Keti e Maria Be-
de Décio de Almeida Prado. No ano seguinte, o TBC se thânia, realiza a montagem da peça Se Correr o Bicho Pega,
profissionaliza, com a contratação de atores e do diretor Se Ficar o Bicho Come, de Oduvaldo Vianna Filhoe Ferreira
italiano Adolfo Celi. Um repertório eclético, constituído de Gullar.
grandes textos clássicos e modernos, além de comédias de
bom nível, torna- se a tônica dessa companhia, que, lidera- 1968
da por Franco Zampari em seu período áureo, marca uma Estréia Cemitério de Automóveis, de Arrabal. Este es-
das mais importantes fases do teatro brasileiro. petáculo e O Balcão, de Genet, ambos dirigidos por Victor
O TBC encerra suas atividades em 1964. Outras compa- Garcia e produzidos por Ruth Escobar, marcam o ingresso
nhias se formam nos seus moldes: o Teatro Popular de Arte, do teatro brasileiro numa fase de ousadias cênicas, tanto
de Maria Della Costa, a Cia. Nydia Lícia- Sérgio Cardoso o espaciais quanto temáticas.
Teatro Cacilda Becker a Cia. Tônia- Celi- Autran.
Alfredo Mesquita funda a Escola de Arte Dramática Década de 70
(EAD) em São Paulo (SP), um dos principais centros de for- Com o acirramento da atuação da censura, a dramatur-
mação de atores. gia passa a se expressar por meio de metáforas. Apesar dis-
so, Fauzi Arap escreve peças que refletem sobre o teatro, as
1953 opções alternativas de vida e a homossexualidade. Surgem
Fundação do Teatro de Arena de São Paulo, por José diversos grupos teatrais formados por jovens atores e di-
Renato. A princípio apenas uma tentativa de inovação retores. No Rio de Janeiro destacam- se o Asdrúbal Trouxe
espacial, acaba sendo responsável pela introdução de o Trombone, cujo espetáculo Trate- me Leão retrata toda
22 Fonte: www.baraoemfoco.com.br uma geração de classe média, e o Pessoal do Despertar,

70
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
que adota esse nome após a encenação de O Despertar da consegue fenômeno de público com Ubu, de Alfred Jarry.
Primavera, de Wedekind. Em São Paulo surgem a Royal Be- Na dramaturgia predomina o besteirol – comédia de costu-
xiga’s Company, com a criação coletiva O Que Você Vai Ser mes que explora situações absurdas. O movimento cresce
Quando Crescer; o Pessoal do Vítor, saído da EAD, com a no Rio de Janeiro e tem como principais representantes
peça Vítor, ou As Crianças no Poder, de Roger Vitrac; o Pod Miguel Falabella e Vicente Pereira. Em São Paulo surgem
Minoga, constituído por alunos de Naum Alves de Souza, nomes como Maria Adelaide Amaral, Flávio de Souza, Alci-
que se lançam profissionalmente com a montagem coleti- des Nogueira, Naum Alves de Souza e Mauro Rasi. Trair e
va Follias Bíblicas, em 1977; o Mambembe, nascido sob a Coçar É Só Começar, de Marcos Caruso e Jandira Martini,
liderança de Carlos Alberto Soffredini, de quem represen- torna- se um dos grandes sucessos comerciais da década.
tam Vem Buscar- me Que Ainda Sou Teu; e o Teatro do Or- Luís Alberto de Abreu – que escreve peças como Bella, Ciao
nitorrinco, de Cacá Rosset e Luís Roberto Galizia, que inicia e Xica da Silva- é um dos autores com obra de maior fôle-
sua carreira nos porões do Oficina, em espetáculos como go, que atravessa também os anos 90.
Os Mais Fortes e Ornitorrinco Canta Brecht- Weill, de 1977.
1987
1974 A atriz performática Denise Stoklos desponta interna-
Após a invasão do Teatro Oficina pela polícia, Zé Celso cionalmente em carreira solo. O espetáculo Mary Stuart,
parte para o auto- exílio em Portugal e Moçambique. Re- apresentado em Nova York, nos Estados Unidos, é total-
gressa ao Brasil em 1978, dando início a uma nova fase do mente concebido por ela. Seu trabalho é chamado de tea-
Oficina, que passa a se chamar Uzyna- Uzona. tro essencial porque utiliza o mínimo de recursos materiais
e o máximo dos próprios meios do ator, que são o corpo, a
1978 voz e o pensamento.
Estréia de Macunaíma, pelo grupo Pau Brasil, com di-
reção de Antunes Filho. Inaugura- se uma nova linguagem Década de 90
cênica brasileira, em que as imagens têm a mesma força da No campo da encenação, a tendência à visualidade
narrativa. Com esse espetáculo, Antunes Filho começa ou- convive com um retorno gradativo à palavra por meio da
tra etapa em sua carreira, à frente do Centro de Pesquisas montagem de clássicos. Dentro dessa linha tem destaque
Teatrais (CPT), no qual desenvolve intenso estudo sobre o o grupo Tapa, com Vestido de Noiva, de Nélson Rodrigues
trabalho do ator. e A Megera Domada, de William Shakespeare. O experi-
Grandes montagens suas fazem carreira internacional: mentalismo continua e alcança sucesso de público e críti-
Nelson Rodrigues, o Eterno Retorno; Romeu e Julieta, de ca nos espetáculos Paraíso Perdido (1992) e O Livro de Jó
Shakespeare; Xica da Silva, de Luís Alberto de Abreu; A (1995), de Antônio Araújo. O diretor realiza uma encenação
Hora e a Vez de Augusto Matraga, adaptado de Guimarães ritualizada e utiliza- se de espaços cênicos não- convencio-
Rosa; Nova Velha História; Gilgamesh; Vereda da Salvação, nais – uma igreja e um hospital, respectivamente. As téc-
de Jorge Andrade nicas circenses também são adotadas por vários grupos.
Em 1990 é criado os Parlapatões, Patifes e Paspalhões. A
1979 figura do palhaço é usada ao lado da dramaturgia bem-
A censura deixa de ser prévia e volta a ter caráter ape- humorada de Hugo Possolo, um dos membros do grupo.
nas classificatório. É liberada e encenada no Rio de Janeiro Também ganha projeção a arte de brincante do pernambu-
a peça Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho, que fora cano Antônio Nóbrega. O ator, músico e bailarino explora
premiada num concurso do Serviço Nacional de Teatro e, o lado lúdico na encenação teatral, empregando músicas e
em seguida, proibida. danças regionais.
Outros nomes de destaque são Bia Lessa (Viagem ao
Década de 80 Centro da Terra) e Gabriel Villela (A Vida É Sonho). No final
A diversidade é o principal aspecto do teatro dos anos da década ganha importância o diretor Sérgio de Carvalho,
80. O período se caracteriza pela influência do pós- mo- da Companhia do Latão. Seu grupo realiza um trabalho de
dernismo movimento marcado pela união da estética tra- pesquisa sobre o teatro dialético de Bertolt Brecht, que re-
dicional à moderna. O expoente dessa linha é o diretor e sulta nos espetáculos Ensaio sobre o Latão e Santa Joana
dramaturgo Gerald Thomas. Montagens como Carmem dos Matadouros.
com Filtro, Eletra com Creta e Quartett apresentam um
apuro técnico inédito. Seus espetáculos dão grande impor- 1993
tância à cenografia e à coreografia. Novos grupos teatrais, O diretor Zé Celso reabre o Teatro Oficina, com a mon-
como o Ponkã, o Boi Voador e o XPTO, também priorizam tagem de Hamlet, clássico de Shakespeare. Zé Celso opta
as linguagens visuais e sonoras. O diretor Ulysses Cruz, da por uma adaptação que enfoca a situação política, econô-
companhia Boi Voador, destaca- se com a montagem de mica e social do Brasil.
Fragmentos de um Discurso Amoroso, baseado em texto
de Roland Barthes. Outros jovens encenadores, como José 1998
Possi Neto (De Braços Abertos), Roberto Lage (Meu Tio, o Estréia Doméstica, de Renata Melo, espetáculo que
Iauaretê) e Márcio Aurélio (Lua de Cetim), têm seus tra- tem forte influência da dança. Essa encenação dá seqüên-
balhos reconhecidos. Cacá Rosset, diretor do Ornitorrinco, cia ao trabalho iniciado em 1994, com Bonita Lampião. Sua

71
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
obra se fundamenta na elaboração da dramaturgia pelos
atores, por meio do estudo do comportamento corporal
das personagens.

1999
Antunes Filho apresenta Fragmentos Troianos, baseada
em As Troianas, de Eurípedes. Pela primeira vez, o diretor
monta uma peça grega. Essa montagem é resultado da
reformulação de seu método de interpretação, alicerçado
em pesquisas de impostação da voz e postura corporal dos
atores. Fonte: br.geocities.com23

Seculo XXI
No início do século XXI, o teatro continua a evoluir e
a progredir a partir dos paradigmas e das propostas de
experimentação teatral já mencionados, enquadrados,
naturalmente nos momentos históricos e políticos das so-
ciedades atuais, não existindo ainda a necessária distan-
cia histórica para fazer uma avaliação rigorosa quanto aos
múltiplos impactos conseguidos nesta área. O reconheci- 11. A DANÇA NO BRASIL E NO CEARÁ:
mento da importância do teatro nas suas múltiplas funções DRAMÁTICA E FOLCLÓRICA, POPULAR E
e objetivos pedagógicos, sociais e culturais, relançam no- ERUDITA.
vos desafios que se colocam às sociedades atuais, exigin-
do que se elaborem prioridade relativamente à formação
de públicos mais exigentes e consequentemente cidadãos A dança no Brasil originou-se dos mais variados lu-
mais bem preparados que contribuam para a evolução das gares, recebendo muitas influências de outros países.
comunidades, ao nível da organização do pensamento e Com as danças, há uma mistura de ritmo e som, que
das mentalidades.24 fazem as pessoas criarem cada vez mais passos e modos
diferentes para dançar.

A formação  etnográfica e cultural do cearense é obra


do índio e do europeu. É mínima a participação do negro. E
daí se explica que a quase totalidade das manifestações do
folclore cabeça chata, só esporadicamente (caso dos “con-
gos”) mostre alguma procedência africana.

Vejamos a seguir as principais danças típicas do Ceará:

Bumba-meu-boi
Tem como figura central, evidentemente, o boi. Repre-
senta-o um arcabouço de madeira coberto de pano ordi-
nário e colorido, com uma pessoas recurvada dentro e que,
no desenrolar do drama pula, dança e berra. Quase todos
os municípios cearenses o encenam, como igualmente, na
periferia da capital, onde se fixam os sertanejos que para
aqui migraram. “O meu boi morreu, / o que será de mim /
manda buscar outro / maninha / lá no Piauí”. Eis um trecho
que compõe a  parte semifinal desta dança dramática do
folclore cearense.

23 Fonte: www.portalsaofrancisco.com.br
24 Fonte: www.oteatrobrasileirosecxx.blogspot.com.br

72
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Cabaçais do Carirí Maneiro-pau
O nome cabaçal é pejorativo, em virtude de a caixa, o É dança oriunda do cangaço, possivelmente da região
zabumba e os pífaros – seus instrumentos básicos – faze- caririense, mas hoje tomando parte de todas as programa-
rem um ruído semelhante a muitas cabaças secas entre- ções festivas do interior do Ceará. Todos os participantes
chocando-se. São dança e música, de ritmo forte, tanto cantam sob o refrão que dá o nome ao folguedo – ma-
que os cabaçais eram também chamados de “esquenta neiro-pau! Dançam todos em roda, com os cacetes que
mulher”, porque, à sua chegada ou passagem, o mulheril portam, batem-nos fortemente no chão, de forma ritmada.
se afogueava... De quando em vez, enquanto uns depõem os cacetes no
chão, outros usam-nos para duelarem entre si, o fazendo
cadenciadamente. A dança empolga, especialmente por-
que tem uma expressão machista, muito adequada ao tem-
peramento nordestino.

Torém
É dança que Almofala (Acaraú), nos legou, como uma
herança dos índios tremembés, que habitavam a região. Ao
sabor do mocororó – aguardente do cajú – cerca de 20
caboclos (homens e mulheres) iniciam a dança ao ritmo do
“aguaim”, espécie de maracá, empunhado pela figura do
“chefe”.
Maracatu
A rigor é um folclore pernambucano, que lá, realmen-
te, é forte a dosagem africana na sua etnografia e cultura.
No Ceará, em verdade, é uma tradição carnavalesca. Nos
triduos mominos, em Fortaleza, há 60 anos os maracatus
desfilam no corso, empolgando os foliões, pelo ritmo que
apresentam e ricas fantasias que vestem. Há um dia do car-
naval só para eles, que são vários, Ás de Ouro, Reis de Paus,
Rei de Espada, Nação Verdes Mares, Nação Baobab, Vozes
da África  e o Leão Coroado.

Côco
Na praia de Majorlândia, município de Aracati, ainda
se pode presenciar exibições de dança do Côco, também
denominada de pagode, zambé, bambelô. É apresentado
ao som de caixas, pandeiros, ganzás, íngonos, numa batida
contagiante. Homens e mulheres reunem-se em roda, com
um solista no centro, fazendo passos ritmados, “puxando
o côco”, e ao cumprimentar e a despedir-se dos parceiros
com umbigadas, fazendo vênia ou com batida do pé. E a
entoarem quadras, emboladas, sextilhas e décimas, puxa-
das pelo refrão. Um bailado indígena, dos tupis do litoral.

Caninha Verde
Dança-cordão de origem portuguesa, introduzida no
Brasil durante o ciclo da cana-de-açúcar, No Ceará come-
çou a ser conhecida no início do presente século, nas praias
de Aracati e passou a ser comum nas colônias de pesca-
dores, estendendo-se aos festejos mominos e eventos di-
versos. Apresenta também elementos de outros folguedos,
tais como: casamento matuto (quadrilha junina), mestres e
a formação de cordões (pastoril).

73
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação

Dança Aranha
Cantando, os índios procuraram formar uma teia de DANÇA DRAMÁTICA
aranha com cordões amarrados nos galhos de cajueiros. A “dança dramática” é uma expressão criada por Mário
Segundo Silva Novo, a Aranha foi trazida do Rio Grande de Andrade para designar os bailados coletivos que obede-
do Norte para Almofala por Francisco Mossoró em 1954. É cem a tema tradicional e caracterizador, respeitando o prin-
feita em ritmo de baião, não tem acompanhamento instru- cipio formal de suíte (seqüência de motivos), podendo incluir
mental e sua música é tipo estrofe refrão. A ou não trechos de representação dramática. 
letra possui versos fixos e outros improvisados, como
podemos observar. Sua coreografia é simples. Em roda de A partir de 1947, os folcloristas brasileiros adotaram as
mãos dadas, dançando em ritmo de baião vão girando em palavras folguedo e auto para designar essas manifestações.
sentido horário enquanto se canta a estrofe, quando come- O próprio povo não possui nome genérico que englobe to-
dos esses bailados; as denominações populares mais gerais
ça o refrão ficam dois a dois segurando mão com mão (as
permitem apenas a divisão de alguns deles em três grupos: 
quatro mãos) e dançam, assim, no final do refrão dão um
giro segurando mão esquerda com direita passando cada
1) bailes pastoris, manifestações de caráter burguês e
um por baixo do seu braço e retornam a roda. Em resumo de origem semi-erudita, comemorando o Natal; 
assim: nas estrofes dançam em roda de mãos dadas num
grande círculo, nos refrões dançam dois a dois dando um 2) cheganças, celebração das aventuras marítimas por-
giro final. tuguesas e das batalhas entre cristãos e mouros; e 

3) reisados, manifestações de inspiração variada, cada


um apresentado em um ato, a seqüência terminando sem-
pre com o bumba-meu-boi. 

As danças dramáticas surgiram no Brasil provavelmen-


te em fins do séc. XVIII ou inícios do XIX, atingindo seu
apogeu durante o reinado de Pedro II (1840/89). Existem
até hoje por quase todo o Brasil. O enredo gira em torno de
motivos tradicionais, e a letra, os episódios, a coreografia e
a música são criados ou adaptados pelo povo. 
Realizam-s principalmente no Natal e no dia de Reis,
embora algumas ocorram durante as festas do Espírito
Santo, de São João (junho) e no Carnaval (menos freqüen-
temente). São encenadas ao ar livre, defronte às casas de
pessoas gradas. O fato de essas danças serem apresenta-
Dança de São Gonçalo das em datas do calendário religioso católico não significa
Como parte integrante da bagagem cultural do coloni- que elas tenham cunho necessariamente religioso. Ao con-
zador lusitano, a dança que integrava o culto a São Gonça- trário, versam geralmente assuntos profanos. Suas caracte-
lo do Amarante, bastante popular em Portugal, foi introdu- rísticas misturam tradições ibéricas, africanas e lembranças
zida no Brasil, sendo, talvez, um dos ritmos mais difundidos ameríndias.
do catolicismo rural brasileiro. No município de São Gonça- Estruturalmente dividem-se num cortejo dançado nas
lo do Amarante (Ceará) a dança é realizada durante a festa ruas, parte móvel chamada pelo povo de cantigas, e numa
do santo padroeiro e apresentada em nove jornadas, num embaixada, a parte fixa, representada, à qual também se
ambiente de muita fé e animação. São Gonçalo é o prote- associam cantos e danças. Não se incluem nessa estrutura
tor dos violeiro e das donzelas casamenteiras.25 o maracatu e as taieiras, que são apenas cortejos, não che-
25 Fonte: www.mundodadanca.art.br gando a constituir autos propriamente ditos. 

74
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
As danças dramáticas têm participação quase exclusivamente masculina, o que revela a ausência de intrigas amorosas
nessas manifestações. A única exceção é dada pelos pastoris, representados só por mulheres. 
Apesar das suas origens variadas, as danças dramáticas adquiriram no Brasil, através da mestiçagem caráter nacional,
sem equivalentes em qualquer parte da Espanha ou de Portugal. A única exceção também são os pastoris, continuadores
da tradição ibérica dos vilancicos.26
As Cheganças se caracterizam principalmente pelo tema marítmo e de navegação. As cantigas e brincadeiras, em geral,
abordam as aventuras e desventuras no mar, e o tema das lutas entre mouros e cristãos é sempre acentuado. São conheci-
das por não terem uma linha objetiva de “narração”, pois seus episódios são desligados uns dos outros e não apresentam
nenhum momento que os unifique, a não ser pelo tema geral da atividade.
Dentre todas as Danças Dramáticas, seria a de maior teor profano, pois não apresenta elementos místicos, e é embasa-
da em situações mundanas; apesar de sua origem ser rastreável, já o Séc. XVI, em procissões católicas, tanto em Portugal,
quanto no Brasil. Os únicos tipos de Cheganças conhecidos são as “de Marujos” e as “de Mouros” e há grupos espalhados
por todo o Brasil.

Chegança dos Marujos Fragata Brasileira


////Chegança de Marujos////
////Chegança de Mouros////

Os Reisados possuem muitas variantes e encontra-se muita dificuldade em categorizá-los, pois é um termo muito
inespecífico. Possuem formas variadas e abrangem temáticas diferentes, porém o que se observa no geral, é o elemento de
morte e ressureição, dado o embasamento direto ou indireto nos costumes ibéricos do Ciclo de Natal.
É comum que haja um cortejo pelas ruas, e quando são convidados por uma familia a entrar, festejam dentro de sua
casa. Outra característica é levarem até o presépio um presente para o menino Jesus, por isso, ao fim de várias cantigas
e danças, geralmente se encontra a tão conhecida brincadeira do Bumba-meu-Boi, Boi-Bumbá, ou simplesmente Boi; do
qual encena-se a morte e ressureição. Porém, possivelmente influenciadas pelas tendências totêmicas africanas, a figura
do Boi pode ser substituída por algum outro animal, planta, ente ou até mesmo um objeto inanimado, com cujo nome a
brincadeira é então entitulada.
Os tipos de Reisados encontrados são muitos: Folia de Reis, Auto dos Guerreiros, Bumba-meu-Boi, Cordões de Bichos
(Amazônia), Reisado da Burrinha, dos Caboclos, etc;

Cia de Reis Filhos do Oriente


////Reisado de São Joaquim////
////Autos dos Guerreiros////
26 Fonte: www.dancasfolcloricas.blogspot.com.br

75
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Os Pastoris são formados por dois grupos, um vermelho e um azul e as peças cantadas por ambos não são de origem
anônima, como nas outras Danças, mas sim escritas por diferentes poetas, o que dá às as cantigas certo teor erudito. São
certamente inspirados pelos vilhancicos ibéricos. A Temática é claramente religiosa e católica: encena-se a ida dos Pastores
à Belém.

Pastoril Dona Joaquina


////Pastoril Céu na Terra////

   Os Ranchos e Ternos não são Danças propriamente ditas. Levam essa denominação os grupos de cantores e toca-
dores que de alguma forma participam da execução de uma Dança Dramática. Porém, apresentam-se também desligados
dela. Tanto os Ranchos quanto os Ternos se apresentam em cortejo. A dinstinção entre eles é que os Ternos são de caráter
religioso, normalmente ligados a procissões, e os Ranchos independentes de religião. Exemplos são os “Ternos de Pífanos“
e os „Ternos de Reis“

Banda de Pífanos de Caruaru


////Terno de Reis Amigos da Caieira da Barra do Sul////
////Zabumba de Mané Rita////
   
Para os do lado de cá do oceano, já no começo da colonização e até hoje, e do lado de lá, seja em português ou em
espanhol, muitas das palavras pertencentes ao mundo mágico do foclore fazem parte da constelação de crenças de muitos
de nós brasileiros, e é certo que elas nada nos solucionem dos mistérios da vida. Mas ainda mais certo, é que o universo
que essas palavras nos abrem faz manter ainda viva e vigente a ligação com o nosso transcendental, o nosso antepassado
e o inexplicável sobre nossas raizes, e faz termos sempre maior a ânsia de querermos proteger aquilo que mais nos firma
a nós mesmos e à nossa terra.27
27 Fonte: www.armorialbrasileiro.wordpress.com

76
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação

Dança Folclórica e Popular


As danças constituem um importante componente cultural da humanidade. E no caso do Brasil, que possui uma cultura
tão rica e diversificada, a gama de modalidades são enormes, e muito importantes para a cultura brasileira. O folclore bra-
sileiro é rico em danças que representam as tradições e a cultura de uma determinada região. 
Estão ligadas aos aspectos religiosos, festas, lendas, fatos históricos, acontecimentos do cotidiano e brincadeiras. As
danças folclóricas brasileiras caracterizam-se pelas músicas animadas (com letras simples e populares) e figurinos e cená-
rios representativos. Estas danças são realizadas, geralmente, em espaços públicos: praças, ruas e largos.
As danças folclóricas são uma forma de desenvolver essa expressão artística com base em tradições e costumes de um
povo. Elas podem ser executadas de várias formas com pares ou em grupos e a forma original de dançar e cantar perma-
nece praticamente a mesma. Em diversos países, a dança folclórica é a expressão daquele povo.
No Brasil, as danças folclóricas sofreram influências das tradições dos estados, dos povos africanos e europeus. Dessa
forma, dependendo do estado, as danças podem ser mais influenciadas pelos africanos, indígenas ou europeus. 
Além disso, a Igreja Católica também ajudou no surgimento de personagens e contos da história brasileira. Uma das
principais características das danças folclóricas do país são as músicas simples e os personagens chamativos.

As danças folclóricas são caracterizadas por um conjunto de danças sociais, peculiares de cada estado brasileiro,
oriundas de antigos rituais mágicos e religiosos.
As danças folclóricas possuem diversas funções como a comemoração de datas religiosas, homenagens, agradecimen-
tos, saudações às forças espirituais, etc.
Já as danças populares são aquelas ligadas à cultura popular, também chamada espontânea é qualquer estilo musi-
cal e de dança, crença, literatura, costumes, artesanatos e outras formas de expressão que é transmitida por um povo, por
gerações e geralmente de forma oral. Como por exemplo a literatura de cordel dos nordestinos, ou a culinária do povo
baiano, são algumas das formas de cultura popular que resiste ao tempo.
Trata-se da cultura mais simples, que se adquire com a experiência do contato entre pessoas; é a chamada cultura
espontânea, mais próxima do senso comum; transmitida em geral oralmente, registra as tradições e os costumes de um
determinado grupo social. Da mesma maneira que a cultura erudita, a cultura popular formas artísticas expressivas e sig-
nificantes.
Essa cultura não é produzida após muitos estudos, mas é aprendida de forma simples, em casa, com a convivência da
pessoa nesse meio. Ela está ligada à tradição e não é ensinada nas escolas. A cultura popular é muito contemporânea, pois
ela resiste ao tempo e raramente se modifica.
Essa cultura vem do povo, não é imposta por uma indústria cultural ou por uma elite. Por exemplo, o carnaval é uma
festa da cultura popular brasileira, o frevo é uma cultura brasileira, mas é muito mais expressiva no norte do país. Ela repre-
senta a diferença de cada povo, desde o micro até o macro.28

Algumas das principais danças folclóricas do Brasil

O Samba
O samba chegou junto com os negros ao Brasil e primeiramente era dançado apenas nas senzalas pelos escravos. Os
primeiros estados brasileiros a difundirem esse ritmo foram o Rio de Janeiro, a Bahia e o Maranhão. A dança tinha sons de
percussão e batidas com os pés. Já o samba de roda surgiu na África e também veio para o Brasil através dos escravos. O
samba de roda é praticado em círculos e as pessoas têm a liberdade nos movimentos. Pode ser visto principalmente em
estados como Rio de Janeiro e Bahia. Conheça mais sobre o samba, visitando o site Samba Enredo.
28 Fonte: www.portaleducacao.com.br

77
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
O Samba de Roda Reisado
Trata-se de um estilo musical caracterizado por ele- Uma dança popular realizada entre a véspera de natal
mentos da cultura afro-brasileira. Surgida no estado da e o dia seis de janeiro, Dia de Reis. Também chamada de
Bahia, no século XIX, é a variante mais tradicional do sam- folia de Reis, essa dança envolve cantores e músicos que
ba. Os dançarinos dançam numa roda ao som de músicas, vão até as casas para anunciar a chegada de um Messias.
acompanhadas por palmas e cantos. Chocalho, pandeiro, As pessoas que participam possuem diversos personagens
viola, atabaque e berimbau são os instrumentos musicais e são acompanhados por instrumentos como o violão, a
mais utilizados. sanfona, o triângulo e a zabumba. 

Maracatu Caninha Verde


Trata-se de um ritmo musical com dança, típico da Dança portuguesa que foi inserida no país durante o
região pernambucana, que reúne a mistura de elementos Ciclo do Açúcar. Também foi praticada em colônias de pes-
culturais afro-brasileiros, indígenas, e europeus, e com for- cadores, festa de casamento e cordões.
Pau da bandeira
te característica religiosa. Os dançarinos representam per-
Estilo de dança realizado principalmente na região nor-
sonagens históricos, como duques, duquesas, embaixado-
deste que acontece principalmente durante o dia de Santo
res, o rei e a rainha, e o cortejo é acompanhado por uma Antônio. Um tronco é escolhido e carregado pelos homens
banda que vai tocando instrumentos de percussão, como da cidade. Como manda a tradição, as mulheres que dese-
tambores, caixas, taróis, e ganzás. jam casar devem tocar esse tronco.
Frevo Maneiro-Pau
Este é o estilo pernambucano de carnaval, surgida por Dança com maior influência no estado do Ceará, Ma-
volta de 1910, é uma espécie de marchinha muito acelera- neiro-Pau conta com dançarinos que realizam os passos
da, que, ao contrário de outras músicas de carnaval, não em rodas e com pedaços de pau nas mãos. Esses pedaços
possui letra, sendo simplesmente tocada por uma banda são batidos no chão formando o ritmo da dança. Durante
que segue os blocos carnavalescos, enquanto os dançari- toda a coreografia, alguns participantes duelam enquanto
nos se divertem dançando. Os dançarinos de frevo usam, outros batem no chão.
geralmente, um pequeno guarda-chuva colorido como
elemento coreográfico, e usam diversos passos de danças Bumba meu Boi
com malabarismos, passos elaborados, rodopios e saltos. Um dos símbolos folclóricos do Brasil, o Bumba meu
Boi mescla dança, música e teatro. Além disso, é praticado
Baião nas mais variadas regiões do país. Os personagens cantam
O baião é um ritmo musical, com dança típica da re- e dançam para contar a história de um boi que morreu e
gião nordeste do Brasil, onde os músicos tocam instrumen- ressuscitou após ter sua língua cortada para satisfazer os
tos como o triângulo, a viola, o acordeom e a flauta doce. desejos de uma mulher grávida.
A dança é realizada em pares, entre homem e mulher, com
movimentos parecidos com o do forró, que é uma dança Fandango
onde o casal, dança com os corpos colados. O maior repre- Essa dança chegou à região sul do Brasil por volta de
sentante do baião no Brasil foi Luiz Gonzaga. 1750 e foi trazida por portugueses. Os dançarinos recebiam
o nome de folgadores e folgadeiras, dançavam em festas
executando diversos passos. Atualmente, permanece pre-
Catira
servado na região com passos, música e canto. Os instru-
A catira, é também conhecida como cateretê, é uma
mentos mais usados são as violas, a rabeca, o acordeão e
dança caracterizada pelos passos, batidas de pés, e palmas
o pandeiro. Os dançarinos vestem roupas típicas da região
dos dançarinos, e está ligada à cultura caipira, ela é comum e rodam próximo ao seu par, mas sem se tocar.  Eles se
no interior dos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais movimentam para atrair a atenção do outro e os homens
, Goiás e Mato Grosso. O instrumento usado é a viola, ge- sapateiam de forma contínua. A dança contém traços de
ralmente tocada por um par de músicos. valsas e bailes e forte presença de sensualidade.
Quadrilha Carimbó
Esta é uma dança típica da época de festa junina, onde Enquanto os homens vestem camisas e calças lisas, as
um animador vai anunciando frases, e marcando os mo- mulheres utilizam blusas com ombros à mostra e saias ro-
mentos da dança, e os casais de dançarinos, vestem roupas dadas. Os casais ficam em fileiras e o homem se aproxima
típicas da cultura caipira, como camisas e vestido xadrez, e de seu par batendo palmas. Segue-se passos de volteio e
chapéu de palha. Os dançarinos realizam uma coreografia as mulheres também jogam um lenço no chão para que
especial, e muito animada, com muitos movimentos coreo- seu parceiro possa pegar como forma de respeito.
grafados, e as músicas de festa junina são parecidas com
marchinhas, mas nada semelhante com as marchinhas de A congada
carnaval. As mais conhecidas são: Capelinha de Melão, Pula As dança dos congos foi trazida pelos escravos negros
Fogueira e Cai,Cai balão. e usada pelos jesuítas para sublimar o instinto guerreiro do
negro, criando uma luta irreal entre cristãos e pagãos.

78
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Cabaçais do Cariri E muito mais!
O nome cabaçal é pejorativo, em virtude de a caixa, o A lista de estilos de danças brasileiras é vasta, e suas
zabumba e os pífaros – seus instrumentos básicos – faze- origens também são bem diversificadas, porque o Brasil é
rem um ruído semelhante a muitas cabaças secas entre- muito rico em diversidade cultural, influenciada pelas di-
chocando-se. São dança e música, de ritmo forte, tanto versas culturas presentes no país, e certamente sua cultura
que os cabaçais eram também chamados de “esquenta popular e suas danças compõem essa vasta riqueza sem
mulher”, porque, à sua chegada ou passagem, o mulheril fim. 
se afogueava... Eu poderia pesquisar por todas as modalidades exis-
tentes e ainda sim, eu acabaria deixando algum estilo de
Torém fora, porque o brasileiro está sempre criando, inventando,
É dança que Aracajú nos legou como uma herança dos e restaurando estilos adormecidos e esquecidos de estilos
índios tremembés, que habitavam a região. Ao sabor do de danças desde o inicio da colonização até os dias atuais.29
mocororó (aguardente do caju), cerca de 20 caboclos (ho-
mens e mulheres) iniciam a dança ao ritmo do “aguaim”, Danças Populares Típicas Brasileiras
espécie de maracá, empunhado pela figura do “chefe”.

Côco
Na praia de Majorlândia, município de Aracati, ainda
se pode presenciar exibições de dança do Coco, também
denominada de pagode, zambé, bambelô. É apresentado
ao som de caixas, pandeiros, ganzás, íngonos, numa batida
contagiante. Homens e mulheres reúnem-se em roda, com
um solista no centro, fazendo passos ritmados, “puxando
o côco”, e ao cumprimentar e a despedir-se dos parceiros
com umbigadas, fazendo vênia ou com batida do pé.
O Brasil é um país cheio de diferenças culturais, e isso
Xaxado
se expõe na dança. De norte á sul, a dança é uma forma de
Muito popular no Nordeste brasileiro, o xaxado era ini-
o povo brasileiro expressar sua alegria, seu jeitinho debo-
cialmente praticado pelo grupo de Lampião, o Rei do can-
chado de levar a vida.
gaço, como uma forma de afrontar a polícia. Substituindo
as parceiras, os cangaceiros dançavam com seus rifles, se-
guindo em fila e arrastando as alpargatas no chão. Devido
aos movimentos da dança, os calçados produziam um som
de “xá, xá, xá”, que deu origem ao nome do ritmo. Em meio
a um bailado cheio de ritmo e vigor, a música é simples e
de fácil aprendizado, sendo acompanhada da sanfona, da
zabumba e do triângulo.

E ainda temos: 

Axé - Origem na capoeira - descendência Baiana.


Pagode - Origem no samba - descendência Brasileira As regiões brasileiras têm cada uma um estilo diversi-
com desenvolvimento em São Paulo. ficado de dança, uma cultura. Na região norte, por exem-
Gafieira - Origem no samba - descendência brasileira plo, encontramos danças como o Boi-Bumba e a Dança de
com desenvolvimento no Rio de Janeiro. Iansã, já na região centro-oeste é diferente, podemos en-
Forró - Origem nordestina - descendência do xote e baião. contrar danças mais indígenas.
Lambada - Origem no zouk com desenvolvimento no Brasil.
Zouk - Origem francesa com desenvolvimento na Eu-
ropa e no Brasil.
Xote - Origem indígena com descendência e desenvol-
vimento nordestino.
Vaneirão - Origem alemã com desenvolvimento no
Rio Grande do Sul.
Chorinho - Origem de ritmos musicais populares no
Brasil até ser desenvolvido para a dança.

Sem mencionar o Quilombo, Jongo, Tambor de Criou-


la, Araruna, Bugio, Danças indígenas, Funk, Lpinha, Lundu, 29 Fonte: www.gazetadebeirute.com – Por Claudinha
Maculelê, Maxixe, Mazuca, Merengue, Rasqueado, Ran- Rahme
cheira, Siriri, Tecnobrega, Ticumbi... 

79
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Na região sul danças como a Congada, dança de es- Um impulso importante ao balé brasileiro deve-se
padas, dança Gaucha, Abi de afaria, entre outras recebem à visita de algumas companhias renomadas, como a de
diretamente uma influência mais europeia, e já a região Diaghilev. Em 1913 e 1917 veio Nijinsky e depois Pavlova
nordeste recebe uma grande carga de cultura africana com (1918 e 1919), que se apresentaram no Teatro Municipal do
suas danças como o Axé, a dança de terreiro, candomblé, Rio de Janeiro.
xaxado entre outras danças nordestinas. Maria Olenewa, primeira-bailarina da Companhia de
Pavlova, acabou por se instalar no Rio de Janeiro. Conse-
guiu criar uma escola de balé clássico sob sua direção no
Teatro Municipal, oficializada em 1930.
Outra escola foi fundada nesse período em Curitiba,
por Tadeuz Morozowicz, a primeira do sul do país. Nessa
época vários bailarinos vindos de importantes companhias
europeias se instalaram no Rio de Janeiro.

Os Balés Brasileiros
Os primeiros balés brasileiros buscaram criar identida-
de usando temas indígenas em suas apresentações. Assim
como aconteceu em outras áreas, como o indianismo na
literatura.
A região Sudeste é caracterizada pelo samba, pago- O espetáculo “Arirê e o Pássaro Ferido”, assinado por
de, pela quadrilha, e outras danças mais modernas como Naruna Corder nos anos de 1930, foi um dos primeiros no
o funk, o hip-hop, e o black. Confira agora alguns vídeos Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
das danças e gingados típicos desse enorme país chamado
Nesse período, as escolas de balé não buscavam a ex-
Brasil.30
celência na dança, como nas escolas europeias. A ideia era
introduzir uma atividade física e até mesmo dar noções
Dança erudita
de etiqueta às alunas (a maioria eram da alta sociedade
A cultura erudita é aquela considerada superior, nor-
carioca).
malmente apreciada por um público com maior acúmulo
de capital e seu acesso é restrito a quem possui o neces- Os espetáculos eram uma forma de apresentar o tra-
sário para usufruir dela. A cultura erudita está muitas vezes balho desenvolvido e ao mesmo tempo educar o público
ligada a museus e obras de arte, óperas e espetáculos de pouco acostumado com o bailado.
teatro com preços elevados. Existem projetos que levam
esse tipo de cultura até as massas, colocando a preços bai- Primeira Instituição de Ensino Superior
xos, ou de forma gratuita, concertos de música clássica e Em 1956 foi criada a Escola de Dança da Universida-
projetos culturais. de Federal da Bahia (UFBA), a primeira instituição oficial
Como o acesso a esse tipo de cultura fica restrito a de ensino superior da dança no país.
um grupo pequeno, ela fica ligada ao poder econômico Inicialmente dirigida por Yanka Rudzka, bailarina polo-
e é considerada superior. Essa consideração pode acabar nesa ligada ao expressionismo alemão. Rudzka desenvol-
tornando-se preconceituosa e desmerecendo as outras veu um trabalho ligado à improvisação e ao candomblé,
formas de cultura. O erudito é tudo aquilo que demanda também com forte componente teórica.
estudo muito estudo, mas não se deve pensar que uma Pela escola passaram nomes importantes da dança no
expressão cultural popular como o hip-hop, por exemplo, Brasil, como Clyde Morgan, Dulce Aquino, Roger George,
é pior que uma música clássica. Lia Robatto, Teresinha Argolo, o casal Vianna, Graciela Fi-
A dança é uma das três principais artes cênicas da An- gueroa, entre outros.
tiguidade. As danças eruditas eram dirigidas às camadas
sociais instruídas e intelectualizadas. Possui uma coreogra- A Dança Moderna
fia baseada em música clássica de grandes compositores. No final do século XIX acontece uma revolução no balé
originando a dança moderna. Há uma nova preocupação
No Brasil, o tipo mais difundido da dança erudita é o com os movimentos executados, que se tornam mais livres,
Balé – Clássico e Contemporâneo. e se exploram outras possibilidades de trabalhos corporais
que se utilizam de torções, contrações, quedas e improvi-
Primeiro Balé no Brasil sações.
Segundo consta, o primeiro balé teria sido apresenta-
do no Rio de Janeiro em 1813, no Real Theatro de São
João, hoje João Caetano.

30 Fonte: www.zun.com.br

80
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
É resultado da influência de outras linguagens e uti-
lização de técnicas, criando uma nova abordagem da dan-
ça, que vai além da habilidade corporal e da produção de
coreografias.
Usa métodos como Laban, Contato-Improvisação,
além de técnicas somáticas e de conscientização do cor-
po e movimento como Eutonia, Feldenkrais, Movimento
Autêntico, Klauss Vianna (no Brasil) entre outras. Se relacio-
na fortemente com o teatro e seus elementos, além de usar
vídeo, fotografia e outras formas de comunicação.
O Casal Vianna

Isadora Duncan
A americana Isadora Duncan que dançava descalça Os jovens Angel e Klauss Vianna
com vestidos de seda, lembrando as dançarinas gregas, Klauss Vianna e sua mulher Angel, se conheceram na
em contraposição às vestimentas tradicionais do balé, cau- época de escola em Belo Horizonte. Estudaram nos anos
sou polêmica na época. Duncan é considerada criadora 1940 no Balé de Belo Horizonte com Carlos Leite (discípulo
da dança moderna, outros nomes importantes são Mar- de Olenewa). Começaram a lecionar na casa onde mora-
ta Graham, Émile Jacques-Dalcroze, Mary Wigman, Rudolf vam.
von Laban, entre outros. Fundaram o Balé Klauss Vianna em 1959, que rompeu
A dança moderna foi introduzida no Brasil por bailari- com a estética clássica. Mudaram para Salvador em 1962,
nos de renome que fugiam da Segunda Guerra Mundial. para lecionar na UFBA, e em 1965 foram para o Rio de Ja-
Luiz Arrieta, Maria Duschenes, Marika Gidali, Nina Verchi- neiro, onde passaram a desenvolver profundamente o seu
nina, Oscar Araiz, Renée Gumiel e Ruth Rachou são alguns trabalho.
desses bailarinos que trouxeram ao país novas ideias. Klauss foi pioneiro na pesquisa e aplicação da técni-
A Dança Contemporânea ca somática, além daquelas que criou como preparador
A dança contemporânea não se define em movimen- corporal de atores, que lhe permitiram desenvolver um
tos específicos. Diferente da dança clássica e da moderna, método próprio. É considerado o primeiro a usar o termo
não possui um código que seja facilmente identificado, “expressão corporal” no Brasil.
por isso, as vezes pode causar um estranhamento do tipo: Angel ao longo do seu desenvolvimento profissional,
“isso é mesmo dança?”
sempre se interessou pela relação corpo e mente, sendo
referenciada por seu trabalho de dançaterapia e expres-
são corporal. Criou o curso de Recuperação Motora e Tera-
pia através do Movimento na sua escola. Já recebeu vários
prêmios e homenagens pelo seu trabalho.
Primeira Escola de Dança Contemporânea
Em 1975 o casal fundou sua escola, primeiramente
chamada de Centro de Pesquisa Corporal – Arte e Educa-
ção. Inauguraram assim o primeiro curso de formação de
bailarinos contemporâneos no Rio, atualmente chamada
Escola e Faculdade Angel Vianna, oferece cursos de gra-
duação e pós-graduação.31

Técnicas da dança contemporânea 31 Fonte: www.todamateria.com.br

81
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
enriquecimento dos repertórios sensível-cognitivos, apro-
12. PRINCIPAIS MOVIMENTOS ARTÍSTICOS fundando os modos de ver, observar, expressar e comuni-
DO SÉCULO XX NO BRASIL. car por meio de imagens, sons ou movimentos corporais.
Muitas vezes, o primeiro contato que os indivíduos têm
com a arte é na escola, nas aulas de arte, obrigatórias no
Pela arte, pensamentos tomam forma e ideais de cultu- currículo do ensino fundamental. Espera-se que os estu-
ras e etnias têm a oportunidade de serem apreciados pela dantes, nestas aulas, vivenciem intensamente o processo
sociedade no seu todo. Assim, o conceito de arte está li- artístico, a fim de contribuir significativamente em seus
gado à história do homem e do mundo, porém não está modos de fazer técnico, de representação imaginativa e de
preso necessariamente a determinado contexto, é essen- expressividade. Ao mesmo tempo, espera-se também que
cialmente mutável. aprendam sobre os artistas e obras de arte de diferentes
Para exemplificar, voltemos algumas décadas no tem- períodos, complementando assim seus conhecimentos na
po e analisemos como a arte era entendida antigamente. área.
Como será que nossos bisavôs definiriam a arte? Mas, será possível que o professor de artes trabalhe
Possivelmente, na época, fosse difícil pensar em uma com as funções terapêuticas do fazer artístico?
arte digital, ou no desenvolvimento de uma ciberarte (ma- O professor pode explorar, estudar e se especializar em
nipulação das novas tecnologias e mídias atuais para a arteterapia e, na medida do possível, conversar sobre as
construção de objetos artísticos), mas hoje esse fator é de- produções de seus alunos, se algum caso chamar sua aten-
terminante para compreendermos a arte num sentido mais ção e ele não conseguir dar conta em sala, é aconselhável
amplo e completo. que ele faça o encaminhamento do aluno para um atendi-
Tudo passa pelas tecnologias e a humanidade está mento psicológico.
marcada pelos desafios políticos, econômicos e sociais A arte foi e é sinônimo de expressão de sentimentos,
decorrentes de uma nova configuração da realidade, em emoções, revoltas, traumas... Nossa forma de ver a arte ou
que campos da atividade humana, estão utilizando inten- de fazer arte revela a compreensão que temos do mundo.32
samente as redes de comunicação e a informação compu- Principais Movimentos Artísticos do Século XX
tadorizada (SANTOS, 2006). O século XX é marcado por profundas mudanças his-
O conceito de obra de arte é uma construção social, tóricas, as quais afetaram drasticamente o comportamento
não pode ser um trabalho isolado. A arte possibilita um político-social do nosso tempo. Foi onde acentuaram-se as
diálogo com quem a observa, cria situações que podem se diferenças entre a alta burguesia e o proletariado, dando
tornar desafiantes para o apreciador e, algumas vezes, os maior força ao capitalismo  e fazendo surgir os primei-
materiais utilizados na própria composição propõem uma ros movimentos sindicais, como algumas das consequên-
reflexão sobre o significado da arte. cias do Pós Guerra.
Um novo tipo de sociedade condiciona um novo tipo Mediante todo o acúmulo de acontecimentos perten-
de arte. Porque a função da arte varia de acordo com as centes à esse período, cheio de contradições e complexi-
exigências colocadas pela nova sociedade; porque uma dades, é possível encontrar um terreno farto para a criação
nova sociedade é governada por um novo esquema de de novos conceitos no campo das artes.
condições econômicas; e porque mudanças na organiza- Assim, os movimentos e as tendências artísticas, tais
ção social e, portanto, mudanças nas necessidades objeti- como o Expressionismo, o Fauvismo, o Cubismo, o Futuris-
vas dessa sociedade, resultam em uma função diferente de mo, o Abstracionismo, o Dadaísmo, o Surrealismo.
arte (KOELLREUTTER, 1997).
Contudo, a arte está ligada aos fatores históricos e so- O Expressionismo
ciais, mas dialoga ativamente com nossa sociedade, crian- O Expressionismo surge como uma reação ao Impres-
do os estilos de época, e acompanhando a evolução do sionismo, pois no primeiro, a preocupação está em expres-
homem e da tecnologia. sar as emoções humanas, transparecendo em linhas e cores
Quando se lida com as formas em artes visuais con- vibrantes os sentimentos e angústias do homem moderno.
vive-se habitualmente com as relações entre superfície, Enquanto que no Impressionismo, o enfoque resumia-se
espaço, volume, linhas, cores e a luz. Cada um desses ele- na busca pela sensação de luz e sombra.
mentos tem suas próprias possibilidades expressivas e são O expressionismo é um movimento artístico que pro-
ricos em significados, tanto em si mesmo como em relação cura a expressão dos sentimentos e das emoções do autor,
aos demais. E todos eles são intermediados pelos autores não tanto a representação objetiva da realidade. Este mo-
e observadores ao se utilizarem de métodos e técnicas es- vimento revela o lado pessimista da vida, desencadeado
pecíficas para produzi-las e percebê-las (SANTOS, 2007). pelas circunstâncias históricas de determinado momento.
Ressalta-se ainda o valor de uma educação da práxis A face oculta da modernização, o isolamento, a alienação, a
artística, preocupada com o aprofundamento de conceitos, massificação se fizeram presentes nas grandes cidades e os
critérios e processos, considerando o universo de visuali- artistas acharam que deveriam captar os sentimentos mais
dade do mundo contemporâneo e a complexidade do dis- profundos do ser humano, assim, o principal motor deste
curso visual, e nesse contexto, promovendo a ampliação e movimento é a angústia existencial.
32 Fonte: www.portaleducacao.com.br

82
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Algumas raízes expressionistas podem ser encontradas O mais importante para os impressionistas são os
nas pinturas negras de Goya, que rompeu com as convic- efeitos visuais, a impressão imediata da imagem, a fixa-
ções com as quais eram representadas as anatomias para ção desse instante único, pois o momento seguinte será
mergulhar nummundo interior. Portanto, são referências certamente diferente. O prazer de pintar ao ar livre pode
imediatas  Van Gogh e Gaugain, tanto pela técnica como ser explicado pela importância dada ao fenômeno da luz.
pela profundidade psicológica. Os adeptos desta escola usavam cores vivas e puras, justa-
O expressionismo começa com um período preliminar pondo-as nas telas, visando obter os meios-tons deseja-
e está representado pelo artista norueguês Munch (autor dos, dando sempre a impressão de captar a luz refletida em
de O Grito) e pelo belga Ensor. superfícies naturais. As formas desaparecem, não mais se
percebem os contornos, permanecendo no quadro apenas
borrões de tinta.

Impressão, nascer do sol - Claude Monet

Algumas raízes expressionistas podem ser encontradas


nas pinturas negras de Goya, que rompeu com as convic-
ções com as quais eram representadas as anatomias para
mergulhar num mundo interior. Portanto, são referências
imediatas  Van Gogh e Gaugain, tanto pela técnica como
pela profundidade psicológica.

Impressionismo
Pode-se dizer que o Impressionismo  foi uma tendên-
cia da arte, principalmente francesa, que dominou o fim do
século passado. Investido de um realismo mais objetivo, foi
uma reação ao romantismo da época. De certa forma, pre-
parou o caminho para futuras manifestações artísticas. Re-
velou nomes importantes como Manet, Monet, Renoir, Pis-
sarro, Sisley, Edgar Degas, Boudin, Cézanne, Lautrec, Gau- Ponte sobre Hève na Vazante de Claude Monet
guin, Van Gogh e outros, na área da pintura.
Os contatos entre o público e os pintores davam-se Fauvismo
através dos Salons – o Salão dos Recusados foi muito uti- O  Fauvismo  foi um movimento que teve basicamente
lizado para mostras coletivas dos impressionistas, e nele dois princípios: a simplificação das formas das figuras e o
foi exposta a tela de Édouard Manet, o célebre O Almoço emprego das cores puras, sem mistura. As figuras não são
Campestre, que a muitos chocou e provocou aplausos de representadas tal qual a forma real, ao passo que as cores
outros tantos. Para Manet, os objetos tinham somente va- são usadas da maneira que saem do tubo de tinta.  O nome
lor pictórico. Depois de 1870, ele adota cores claras. Este deriva de ‘fauves’ (feras, no francês), devido a agressividade
artista pode ser considerado um precursor do Impressio- no emprego das cores.
nismo, ao lado de Jongkind e Boudin. O movimento foi tipicamente francês, iniciou-se por
O termo ‘Impressionismo’ foi criado por um crítico de parte dos artistas da época que se opunham a seguir a regra
arte, pelo pintor e escritor Louis Leroy, em 1874, ao comen- da estética impressionista, em vigor na época. A tendência
tar o quadro Impressão: Nascer do Sol, de Claude Monet. foi considerada movimento artístico apenas em 1905.
Definir este movimento não é fácil, mas o artista Eugéne O Fauvismo, ou Fovismo, tinha temática leve, basea-
Boudin o resumiu como um movimento que leva a pintura da na alegria de viver e nas emoções, e não tinha funda-
à pesquisa da luz total do espaço exterior. mentação ou intenção crítica nem política. A gradiente de

83
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
cores é consideravelmente reduzida nestas obras, mas o
papel das cores é extremamente importante nelas, pois
eram responsáveis pela noção de limites, volume, relevo e
perspectiva. Além disso, as cores não tinham relação direta
com a realidade, não correspondiam à cor real do objeto
representado.
O início do movimento, no final do século XIX, teve
como representantes precursores Paul Gauguin e Vincent
Van Gogh. Os estilos destes dois renomados artistas exer-
ceram forte influência sobre os  adeptos do Movimento
Fauvista. O Fauvismo influenciou muito a ruptura da arte
moderna com a antiga estética vigente, além disso, modifi-
cou a idéia de utilização das cores nas artes plásticas. Duas taitianas com flores de manga, 1899.
O termo surgiu de uma expressão pejorativa, utilizada
pelo  crítico de arte Louis Vauxcelles ao ver uma obra de Características da obra
Henry Matisse, em 1905, no Salão de Outono, em Paris. A Gauguin desenvolveu as técnicas do “sintetismo” e
expressão utilizada pelo crítico, “Les Fauves”, significa “os “cloisonnisme” (alveolismo), estilos de representação sim-
selvagens”. Apesar dos artistas seguidores e dos adeptos bólica da natureza onde são utilizadas formas simplificadas
do movimento renegarem a nomenclatura, esta acabou fi- e grandes campos de cores vivas chapadas, que ele fechava
cando na história da arte. com uma linha negra, e que mostravam uma forte influên-
cia das gravuras japonesas2 .
Vincent van Gogh pinta girassóis, 1888, Amsterdã A sua pintura é caracterizada por:
Existia uma certa amizade entre Gauguin e Vincent van • Natureza alegórica, decorativa e sugestiva;
Gogh. Apesar de não concordarem em muitos pontos de • Formas dimensionais, estilizadas, sintéticas e es-
vista estavam sempre conversando sobre obras e tendên- táticas.
cias do mundo artístico. Este quadro afirma o laço de ami- •  O Cubismo 
zade existente entre ambos. No  Cubismo podemos observar a mesma despreo-
cupação em representar realisticamente as formas de um
objeto, porém aqui, a intenção era representar um mesmo
objeto visto de vários ângulos, em um único plano. Com
o tempo, o Cubismo evoluiu em duas grandes tendências
chamadas Cubismo Analítico e Cubismo Sintético. O mo-
vimento teve o seu melhor momento entre 1907 e 1914, e
mudou para sempre a forma de ver a realidade.
O  cubismo começou no ano de 1907, quando Pablo
Picasso  terminou seu conhecidíssimo quadro As Senho-
ritas de Avignon, considerado o ponto de partida deste
movimento. Pablo Picasso e George Braque inspiraram o
cubismo e dentre os principais mestres podemos citar Fer-
nand Leger, Juan Gris, Albert Gleizes e Jean Metzinger.

Café em Arles, 1888

Esta pintura foi uma entre muitas que foram temas co-
muns para Gauguin e Van Gogh. Não era raro eles escolhe-
rem um tema comum e realizarem estudos diferenciados.
Sobre este quadro Gauguin ainda chegou a comentar que
não gostou muito, pois dizia que o Café em Arles possuí
cores escuras e uma decoração que não o agradava.

As Senhoritas de Avignon (Les demoiselles d’Avignon)

84
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
O cubismo é um tipo de arte considerada mental, ou seja, desliga-se completamente da interpretação ou semelhança
com a natureza, a obra tem valor em si mesma, como maneira de expressão das ideias. A desvinculação com a natureza
é obtida através da decomposição da figura em seus pequenos detalhes, em planos que serão estudados em si mesmos
não na visão total do volume. Desta forma, um objeto pode ser observado de diferentes pontos de vista, rompendo com a
perspectiva convencional e com a linha de contorno. As formas geométricas invadem as composições, as formas observa-
das na natureza são retratadas de forma simplificada, em cilindros, cubos ou esferas. O cubismo nunca atravessou o limite
da abstração, as formas foram respeitadas sempre. As naturezas mortas urbanas e os retratos são temas recorrentes neste
movimento artístico.

Guernica

Durante o desenvolvimento do cubismo há duas principais etapas, são elas:


1. Cubismo Analítico: caracterizado pela decomposição das figuras e formas em diversas partes geométricas, é o
cubismo em sua forma mais pura e de mais difícil interpretação.
2. Cubismo Sintético: é a livre reconstituição da imagem do objeto decomposto, assim, este objeto não é desmonta-
do em várias partes, mas sua fisionomia essencial é resumida. Algo muito importante nesta etapa é a introdução da técnica
de colagem, que introduz no quadro elementos da vida cotidiana (telas, papéis e objetos variados), o primeiro a praticar
esta técnica foi Braque.
Os principais pintores cubistas foram o espanhol Pablo Ruiz Picasso (1881-1973), que criou obras como Guernica, Retra-
to de Ambroise Vollard e Natureza Morta, George Braque (1882-1963), Juan Gris (1887-1927) e Fernad Leger (1881-1955).

Futurismo
O Futurismo abrange sua criação em expressar o real, assinalando a velocidade exposta pelas figuras em movimento no
espaço. Foi um movimento que desenvolveu-se em todas as artes e exerceu influência sobre vários artistas que, posterior-
mente, criaram outros movimentos de arte moderna. Repercutiu principalmente na França e na Itália, onde diversos artistas
se identificaram com o fascismo nascente.
O movimento futurista  eclodiu historicamente no dia 20 de fevereiro de 1909, sendo caracterizado como uma esco-
la de cunho artístico e literário. Ele nasceu dos princípios expostos no Manifesto Futurista, publicado no periódico francês
Le Figaro por Filippo Marinetti, renomado poeta italiano.

Futurismo

Esta corrente desprezava explicitamente todo padrão moral, bem como os valores que permaneceram no passado. Ela
primava por um novo paradigma estético, o qual deveria seguir parâmetros fundados na celeridade temporal, no engran-
decimento dos combates e, consequentemente, na recorrência à força.

85
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Seus seguidores se fiavam excessivamente no progres- O ABSTRACIONISMO
so tecnológico vigente em fins do século XIX. Eles  culti- O abstracionismo é a arte que se opõe à arte figurativa
vavam especialmente a publicidade como principal meio ou objetiva. A principal característica da pintura abstrata é
de comunicação, exaltando a tipografia  à qual se recorria a ausência de relação imediata entre suas formas e cores e
nesteperíodo. O lema do primeiro manifesto era “Liberdade as formas e cores de um ser. A pintura abstrata é uma ma-
para as palavras”. Qualquer fronteira ainda existente entre nifestação artística que despreza completamente a simples
a arte e o design é então eliminada. cópia das formas naturais.
O Futurismo se insinua no âmbito de todas as expres- A arte abstrata ou abstracionismo é geralmente en-
sões artísticas e inspira muitos artífices a instituir suas pró-
tendido como uma forma de arte (especialmente nas artes
prias escolas modernistas. Ele cultua de tal forma a novi-
visuais) que não representa objetos próprios da nossa rea-
dade, que até mesmo se vê tentado a demolir instituições
lidade concreta exterior. Ao invés disso, usa as relações for-
museológicas e cidades ancestrais. Para os futuristas as
conflagrações bélicas visavam sanar o Planeta. mais entre cores, linhas e superfícies para compor a realida-
Os futuristas navegavam pelas vertentes dos jogos, do de da obra, de uma maneira «não representacional». Surge
idioma puro, do rompimento das regras tipográficas con- a partir das experiências das vanguardas europeias, que
vencionais, optando pelo recurso às onomatopéias, figuras recusam a herança renascentista das academias de arte,
de linguagem com as quais é possível simular sonoridades em outras palavras, a estética greco-romana. A expressão
através de um fonema ou de uma palavra. Esses meios ex- também pode ser usada para se referir especificamente à
plorados pelo futurismo reverberaram, posteriormente, em arte produzida no início do século XX por determinados
movimentos como o dadaísta, oconcretista, bem como na movimentos e escolas que genericamente encaixam-se
tipografia dos tempos modernos e no design gráfico típico na arte moderna.
da pós-modernidade. No início do século XX, antes que os artistas atingissem
a  abstração absoluta, o termo também foi usado para se
OBRAS FUTURISTAS referir a escolas como o cubismo e o futurismo que, ainda
que fossem representativas e figurativas, buscavam sinteti-
zar os elementos da realidade natural, resultando em obras
que fugiam à simples imitação daquilo que era «concreto».
O abstracionismo divide-se em duas tendências:
• Abstracionismo lírico, expressivo ou informal;
• Abstracionismo geométrico.

Umberto Boccioni, Carlo Carrà, Luigi Russolo, Gia-


como Balla e Gino Severini, em A Pintura Futurista –
Manifesto Técnico

Sobre o branco II - obra abstrata de Kandinsky


(1923) (Musée National d´Art Moderne, Centre George
Pompidou, Paris.

86
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
ao expectador, sob uma nova perspectiva, mas sempre fa-
zendo parte de um contexto artístico. A irreverência na arte
era a forma de combater as velhas escolas artísticas euro-
peias, que eram engessadas e pouco inovadoras.
Devido à sua mensagem anarquista, o dadaísmo com-
batia o capitalismo e todo o consumismo da sociedade na
época. Aliado a uma visão pessimista e irônica da política
mundial, o dadaísmo criticava o sistema vigente.
Outra característica do dadaísmo é a extrapolação dos
materiais convencionais: tela e pincel não são mais sufi-
cientes, e novos objetos começaram a fazer parte da arte:
fotografias, recortes de jornais, músicas, sons e objetos
diversos ajudam a compor as obras absurdas e ilógicas
propostas como representação da sociedade segundo o
Kandinsky  dadaísmo.
Artist: Wassily Kandinsky Os principais dadaístas foram Tristan Tzara, Marcel Du-
champ e André Breton. Revoltados com os destinos desa-
O DADAISMO tinados do homem civilizado, os dadaístas propunham a
Movimento artístico e estético que abalou a estrutura “antiarte“, ou seja, a forma sem sentido. Pela desconstru-
da arte na Europa e no mundo, o dadaísmo se originou no ção do real, preconizavam “desfuncionalizar” os objetos do
ano de 1916, na cidade de Zurique, na Suíça. mundo burguês, em uma atitude rebelde e demolidora.
A principal característica do dadaísmo é a ruptura com
o tradicional, é a subversão da maneira tradicional de se
fazer arte. Como não podia deixar de ser, o dadaísmo pos-
suía uma forte tendência à anarquia, com uma mensagem
claramente libertária.
A origem do nome “dada” vem de um termo infan-
til utilizado na língua inglesa para designar brinquedos:
“dadá”, significa algo como brinquedo ou cavalo de pau
(brinquedo infantil). Esse nome representa muito bem a
desconstrução proposta pelo movimento e a aparente falta
de sentido nas obras de arte dos artistas dadaístas.

A Fonte, Marcel Duchamp

O SURREALISMO
O  Surrealismo foi um movimento artístico e literá-
rio surgido primeiramente em Paris nos anos 20, inserido
no contexto das vanguardas que viriam a definir o moder-
nismo no período entre as duas Grandes Guerras Mundiais.
A priori, a característica deste movimento era unir uma
combinação do representativo, do abstrato, do irreal e do
inconsciente. Segundo os surrealistas, a arte deve se liber-
tar das exigências da lógica e da razão e ir além da cons-
ciência cotidiana, buscando expressar o mundo do incons-
ciente e dos sonhos.
O surrealismo é também uma espécie de mecanismo
que não se limita a transcrever passivamente o sonho e sim
descobrir um modo de acionar o inconsciente mediante
ao “automatismo psíquico”. Dessa maneira, uma ideia se-
gue a outra sem a consequência lógica das demonstrações
usuais e sim automaticamente. Técnicas como a escrita au-
Principais Características do Dadaísmo tomática da literatura, da colagem e a decalcomania, em
Um dos objetivos do dadaísmo era conseguir fazer com relação às artes plásticas, tornaram-se muito populares en-
que as pessoas refletissem sobre o cotidiano, olhassem as tre os surrealistas que as utilizavam na produção dos seus
coisas de sempre com novos olhos. Por isso, objetos comu- jogos de associação livre de sentidos.33
mente utilizados no dia a dia são apresentados novamente 33 Por Eloina Souza

87
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação

Pintura de Vladimir Kush Os cinco principais movimentos artísticos do Brasil


Apesar das escolas internacionais serem muito difun-
didas no que diz respeito a obras de arte, os movimentos
artísticos do Brasil são tão excelentes e relevantes quanto,
com exemplos existentes desde a época em que era uma
colônia de Portugal.
Ter uma obra clássica de um artista brasileiro é de uma
grande responsabilidade e de um elevado bom gosto. No
entanto, para fazer uma escolha de acordo com suas pre-
ferências e, paralelamente, mostrar o seu apreço pela arte
brasileira, é preciso conhecer suas escolas mais proeminen-
tes.
Para tanto, no post de hoje, separamos alguns dos
principais movimentos artísticos do Brasil. Vamos conhe-
A persistência da Memória (Salvador Dali - 1931 cê-los?
1. Barroco
Pinturas surrealistas impressionantes de Vladimir Foi o primeiro movimento artístico brasileiro. Basica-
Kush mente, ele combinava os ensinamentos dos jesuítas com os
aspectos culturais então presentes na colônia portuguesa,
como os dos indígenas, por exemplo.
A arte barroca associava tanto os aspectos religiosos
como as práticas artesãs e, hoje, podemos dizer que ela
é, de fato, uma arte popular. Mesmo nos dias atuais, suas
peças são muito procuradas e seus artigos mais raros, al-
tamente valorizados. Mestre Ataíde e Aleijadinho são dois
grandes representantes brasileiros desse movimento.
2. Fauvismo
Foi uma das várias vertentes artísticas que vieram após
a Semana de Arte Moderna de 1922. Seu foco era o des-
taque puro e simplista das cores, impedindo que elas se
misturassem, e suas formas eram menos fidedignas do real.
Não havia problema algum em pintar a água de vermelho,
por exemplo.
O Fauvismo foi inspirado nas correntes artísticas fran-
cesas da época. O nome é derivado de “fauves”, que signi-
fica “feras” em francês, o que tinha a ver com a rigidez e a
agressividade do estilo.
Inamá José de Paula é o principal representante brasi-
leiro do Fauvismo.
3. Neoclássico
A escola neoclássica é bem conhecida na Europa, e
veio para cá no período em que a família real portuguesa
se transladou para o Brasil, em 1808, fugindo da invasão

88
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
do exército de Napoleão Bonaparte à sua terra natal. Tal de música e instrumentalização com os estudantes. Essas
como diversas movimentações culturais da época, o estilo são formas de aguçar a sensibilidade, instigar a criatividade
foi instaurado aqui pela família de D.João VI, e deu início a e aumentar a integração dos alunos no ambiente escolar.
uma das correntes mais elitistas da arte brasileira. A lei 11.769/2008 altera o artigo 26 da Lei 9.394, de
Nas décadas seguintes à chegada da família real, o es- 1996, acrescentando o parágrafo §6º, que dispõe sobre a
tilo neoclássico fez parte da maioria das construções, das obrigatoriedade do ensino da música na educação básica.
pinturas e, até mesmo, das músicas produzidas no país. Foi No entanto, em 2016, a Lei 13.278 alterou o mesmo
nesse período que as escolas de artes começaram a surgir, artigo 26 da LDB/96, no que tange ao ensino da arte, o que
e ela passou a ser utilizada como base para sua formação implica no desaparecimento da Lei 11.769/2008.
cultural.
Pedro Américo, que pintou o clássico quadro “Inde- Vejamos os dois dispositivos:
pendência ou Morte”, é um bom exemplo de artista neo-  Lei 11.769/2008:
clássico. § 6o  A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas
4. Cubismo não exclusivo, do componente curricular de que trata o § 2o
Embora tenha despontado, na Europa, entre 1907 e deste artigo.” (NR)
1914 — grande parte graças a Picasso —, o Cubismo só
chegou no Brasil alguns anos depois, também por intermé-  Lei 13.278/2016:
dio da Semana de Arte Moderna. § 6o  As artes visuais, a dança, a música e o teatro são
Esse movimento valorizava a visualização da imagem as linguagens que constituirão o componente curricular de
por vários ângulos em um mesmo plano, o que adicionava que trata o § 2o deste artigo.
camadas mais complexas de entendimento acerca de suas
pinturas. Assim como no Fauvismo, não havia uma preocu- Quer saber mais sobre a música no processo de apren-
pação em demonstrar o real de maneira fiel. dizagem? Confira estas informações:
No país, Tarsila do Amaral pode ser considerada nossa
Música na escola: interação por meio dos sentidos
maior representante.
Um dos principais aspectos que a música representa
5. Abstracionismo
no processo de ensino-aprendizagem é o estímulo ao uso
As pinturas abstratas não seguem lógica alguma de
dos sentidos pelo aluno. Qualquer experiência musical,
formas e de cores, acompanhando, unicamente, a lógica
independentemente do estilo e dos instrumentos utiliza-
pessoal de seus artistas. Mas, ao contrário do que se possa
dos, promove maior habilidade de observação, localização,
imaginar com uma afirmação do tipo, ela não se tornava
compreensão, descrição e representação em quem toca e
mais fácil de produzir por causa disso — mesmo a des-
quem houve.
preocupação com as formas naturais também segue sua
No que se refere à criação musical, o uso de diversos
própria lógica. instrumentos em sala de aula pode evidenciar habilidades
O Abstracionismo pode ser considerado um grande desconhecidas, aumentar a interação com objetos e o “sa-
grupo que engloba outras vertentes, como o Cubismo e o ber-fazer”, entre outras capacidades tão importantes nessa
Fauvismo, mas com o passar das décadas, ele ganhou con- fase de desenvolvimento pedagógico.
tornos próprios. No Brasil, Antônio Bandeira é seu melhor Para o aluno, essas habilidades serão aplicadas não
representante.34 apenas no desenvolvimento das próprias aptidões musicais
no futuro, como também no aprendizado de outras disci-
plinas. O estudante com ouvido treinado para a observação
de letras e poderá ser também um bom leitor e intérprete
13. LEI Nº 11.769/2008 - ENSINO E de textos.
APRENDIZAGEM DA MÚSICA NA ESCOLA.
Análise e interpretação de letras musicais
Por falar em interpretação de textos, essa é outra van-
A música, entre outras artes, tem sido reconhecida tagem do uso da música no dia a dia escolar. A depender
como parte fundamental da história da civilização e como da qualidade das obras trabalhadas, sejam elas em portu-
excelente ferramenta para o desenvolvimento de inúmeras guês ou em língua estrangeira, abre-se um vasto campo de
capacidades humanas, fazendo parte do cotidiano das pes- atuação para que professores explorem o significado des-
soas e “sendo socialmente incorporada em seus diferentes sas letras, novos conceitos e vocabulário, metáforas, entre
usos e funções e nos mais distintos meios sociais” (SOBREI- outras coisas.
RA, 2012, p.9). Assim, a música acaba se tornando uma fonte de con-
Uma das formas de estimular o desenvolvimento de teúdo importante para ser utilizada em sala de aula. É o
alunos no processo metodológico é por meio da introdu- início de conversas importantes, sobre política, educação,
ção da música na escola. Isso pode ser colocado em prática cultura, gênero, relações interpessoais, ecologia e vários
de diversas formas: desde a utilização de letras nas inter- outros temas que vierem a ser abordados por obras musi-
pretações de texto em sala, até na realização de oficinas cais. Cabe ao professor analisar as músicas mais adequadas
34 Fonte: www.comalma.com.br - Por Aluisio Marinho e com maior potencial de aprendizado para seus alunos.

89
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Estudo contextual de compositores e intérpretes e estilos musicais preferidos também pode ser aplicado no
Paralelamente ao estudo de textos e cifras musicais, desenvolvimento da individualidade do aluno, no estímulo
também é possível que artistas, bandas, gêneros e até mes- de sua autonomia a e na caracterização de escolhas aca-
mo letras sejam objeto de estudo para disciplinas como dêmicas e profissionais ao longo do processo pedagógico.
Geografia e História. Afinal, toda música revela também Ou seja, a introdução de crianças no mundo musical,
um contexto social e temporal em que ela se insere: movi- seja como agentes produtores de música, seja como ouvin-
mentos sociais, cultura regional, folclore, biografia de seus tes, é outra forma de avançar sua individualidade e gostos
compositores e intérpretes etc. pessoais. Vale a pena incentivar esse tipo de experiência,
Essas também são características imprescindíveis para que poderá proporcionar não apenas bandas e estilos mu-
o estudo musical, que adicionam uma nova dimensão ao sicais favoritos, como também maior assertividade acerca
aprendizado. Se utilizada adequadamente, a música pode de suas vontades e autoconhecimento.
dar ensejo a importantes discussões em sala de aula, reve-
lando novas  conexões entre ideias, disciplinas e temas de Incentivo à criatividade do aluno
estudo. Finalmente, a música também tem como benefício a
exploração de um lado mais criativo dos alunos. Indepen-
Cifras e o raciocínio matemático dentemente das áreas acadêmica e profissional pelas quais
Muitos estudos relacionam o desenvolvimento de ha- esses estudantes venham a se interessar, é sempre impor-
bilidades na música ao raciocínio matemático. Isso ocorre tante que a inovação e a imaginação façam parte do racio-
porque a sistemática das cifras e partituras utilizadas na cínio e da prática cotidiana desses indivíduos em formação.
composição são verdadeiras equações matemáticas: repe- Afinal, vivemos em uma sociedade na qual há maior
tições, padrões, tríades, escalas, dicotomias, coerências e valorização de mentes inovadoras, que pensam de forma
adequação de tom. diferenciada e por meio de novas perspectivas. A música
Para o aprendizado da matemática, são vários os be- é uma forma de explorar essas habilidades, já que expõe o
nefícios desse tipo de aprendizado musical. A familiaridade aluno ao diferente, o convida a criar e a testar novas ideias
com estruturas pré-definidas de estilo e construção lógica (e instrumentos), além de proporcionar aprendizados dis-
de sentido contribuem para o aprendizado também de fór- tintos das disciplinas curriculares tradicionais.35
mulas, truísmos e outros raciocínios lógicos.
Elementos da linguagem musical
Música na escola e a integração entre os alunos A palavra música que em sua origem quer dizer a “arte
Outro benefício da música na escola é o estabeleci- das musas” é usada para definir a arte ou ciência de com-
mento de mais oportunidades de interação e cooperação binar os sons.
entre alunos. Por um lado, há cooperação na produção mu- São três os elementos básicos da música. 
sical no sentido de executar obras musicais em conjunto,
contribuindo para resultados comuns. Por outro lado, mul-  Ritmo
tiplicam-se as formas de interação entre estudantes, que  Melodia
podem identificar gostos em comum, formar grupos de  Harmonia
interesse e desinibir alunos mais tímidos.
 Ritmo
Ajuda a instigar e engajar alunos em sala de aula Ritmo são os diferentes modos pelos quais um compo-
Muitos professores também aplicam oficinas musicais sitor agrupa os sons musicais, do ponto de vista da duração
em sala de aula com o objetivo de instigar e engajar seus dos sons e de suas acentuações. Ritmo é tudo o que diz
alunos. Afinal, em um mundo de cada vez mais estímulos, respeito à duração dos sons.
interações digitais e fontes de desconcentração dos alunos, A acentuação é um fator importante no ritmo musi-
por que não apostar em oportunidades inovadoras de re- cal. A marcação regular de uma sucessão de sons fortes e
lação estudante-professor para tornar a sala de aula mais fracos permite que uma obra musical seja dividida em por-
atrativa? ções de igual valor chamadas compassos, os quais  estuda-
A música tem essa vantagem, já que desperta a aten- remos detalhadamente em uma postagem futura. Através
ção dos alunos, contribui para a concentração e o foco no das várias formas de subdivisões podemos distinguir uma
momento da aula e ainda proporciona maior participação valsa de uma marcha.
dos estudantes no processo de aprendizado. É algo ideal O ritmo é sem dúvida o elemento mais básico da músi-
para que a relação entre professor e aluno não fique pau- ca embora algumas pessoas pensem que é a melodia, pois
tada apenas por uma verticalidade hierárquica, em que um através dela reconhecemos determinada música. A melo-
ensina e outro aprende. Cada vez mais, a horizontalidade dia é a canção. Mas se tirarmos o ritmo? Não é possível ir
dessa relação é priorizada por pedagogos e educadores de à nota seguinte sem criar algum tipo de ritmo (movimen-
diversas áreas. to). Sem ritmo não há música. Mas se tirarmos a melodia?
Continua sendo música, pois música é o som organizado
Desenvolvimento de gostos e preferências pessoais no tempo, exemplo disto é uma bateria, que embora não
A música também contribui para que seu filho desen- construa uma melodia, constitui uma significativa contri-
volva suas próprias preferências em relação a uma varieda- buição na execução de uma obra musical.
de de temas. Afinal, o exercício de escolher um instrumento 35 Fonte: www.novosalunos.com.br

90
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Todo som organizado é música, pode ser você batendo Notamos que algumas músicas possuem uma introdu-
palmas ou contando. ção, estrofe, refrão, solo no meio e um final determinado.
As acentuações desempenham um papel fundamental Isso é um exemplo de forma musical. Veremos que vários
no ritmo. Já imaginou se falássemos assim: estilos possuem formas pré-estabelecidas, podemos citar
“ON-TEM-EU-FUI-À-ES-CO-LA-E-VI-UM-CA-CHOR- algumas formas clássicas como a sonata, a fuga e o rondó
-RO-BRAN-CO-COR-REN-DO” e também a forma de blues em 12 compassos.
Sem acentuação ou repouso não identificaríamos as sí-
labas tônicas das palavras. Consequentemente prejudicaria Tessitura
a compreensão. Da mesma maneira é a música, precisamos 1 - Extensão musical de voz ou instrumento, indepen-
de acentuações e repousos para perceber a organização dente dos limites extremos possíveis de alcançar; também
rítmica. pode se referir ao âmbito médio relativo a uma determi-
nada peça.
Melodia 2 – Em outro sentido, a palavra tessitura é sinônimo de
Melodia é uma sequência de notas organizadas de for- textura (palavra que possui o mesmo radical no original).
ma a proporcionar sentido musical para quem a escuta. A
melodia é a canção propriamente dita. É através dela que Podemos “tecer” uma obra musical de três formas
reconhecemos a música que está sendo tocada. básicas:
Notamos nesta definição a subjetividade em julgar
uma melodia, pois uma sequência organizada de notas Monofônicamente: Uma linha melódica, destituída de
pode fazer sentido musical para uns e não fazer para ou- qualquer espécie de harmonia. Exemplo: uma pessoa sozi-
tros. Mas guardemos o seguinte conceito: nha cantando.
Suponha que queremos construir uma melodia; então Polifômicamente: Várias linhas melódicas (duas ou
começaremos a organizar notas musicais umas após as ou- mais), tocadas ao mesmo tempo, às vezes chamadas con-
tras, com durações, alturas e intensidades diferentes. As- trapontísticas. Exemplo: canto coral.
Homofônicamente: Uma linha melódica com acompa-
sim a cada nova forma de organizar estas notas estaremos
nhamento de acordes. Basicamente é uma música com o
construindo uma nova melodia.
mesmo ritmo em todas as vozes que compõem os acordes,
O ritmo e a melodia já encerram um expressivo sen-
menos na principal. Exemplo: Voz e violão. 
so musical, mas para a execução musical estar realmente
completa faz-se necessária a presença de mais um elemen-
Estilo musical
to: O que chamamos...
É a maneira particular como os componentes musicais
são tratados, equilibrados e combinados. Cada compositor
Harmonia possui uma forma particular para isso.36
Ocorre quando dois ou mais sons são ouvidos simul-
taneamente, produzindo um acorde (mais à frente estuda- Som, silêncio e ruído
remos as leis que regem o agrupamento dos sons simul- A música não é só composta por sons. Ela é também
tâneos). formada pela ausência dos sons, isto é, por silêncios, os
Usamos a palavra harmonia de duas maneiras, para quais podem ter também uma duração mais longa ou mais
nos referirmos à seleção de notas que compõem determi- curta. Os silêncios têm também figuras que os represen-
nado acorde (formação), e em sentido amplo, para descre- tam, chamadas pausas.
vermos o desenrolar ou a progressão dos acordes durante Para entender os parâmetros do som, faz-se necessário
toda uma composição. discutir um pouco de som, silêncio e ruído.
Para exprimir profundamente qualquer sentimento ou Os sons podem ser fortes ou fracos, agradáveis ou
descrever por meio da música qualquer quadro da nature- não, estridentes, repetitivos, irritantes, relaxantes. Qualquer
za, torna-se imprescindível a participação em comum des- que seja a maneira e a intenção estética, o material sono-
ses três elementos: ritmo, melodia e harmonia. ro usado na música é geralmente dividido de acordo com
três elementos: melodia, harmonia e ritmo. Estes são com-
OUTROS ELEMENTOS DA MÚSICA preendidos à medida que as propriedades específicas de
Gostaria de citar a definição de certos termos musicais, alguns elementos básicos do som são levadas em conta,
tais como: como: intensidade, altura, timbre, duração e densidade.
   No que se refere ao silêncio, partimos da seguinte
Pulsação questão: Será que o silêncio tem menos importância para
Ouvida ou simplesmente sentida no plano de fundo a música?
musical, é a batida regular, sem acentuações ou repousos, Parece óbvio que o silêncio acontece quando não esta-
que serve de referência ao ouvido para medir o ritmo.  As- mos ouvindo nada, quando não existe som. Mas será que
sim como as batidas de um metrônomo. existe mesmo o silêncio absoluto?
Entendemos por silêncio a ausência de som, mas, na
Forma  verdade, a ele correspondem os sons que já não podemos
É o projeto ou configuração básica de que um compositor ouvir, ou seja, as vibrações que o nosso ouvido não perce-
pode valer-se para moldar ou desenvolver uma obra musical. 36 Por Fernando Vieira

91
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
be como uma onda, seja porque tem um movimento muito No mundo contemporâneo, é bastante pertinente a
lento, seja porque são muito rápidas. Tudo vibra, em per- observação feita por Souza (2002, p. 23) “reconhecendo
manente movimento, mas nem toda vibração transforma- que o espectro sonoro foi ampliado pelas novas tecnolo-
-se em sons para nossos ouvidos! (BRITO, 2003, p. 17) gias, o desafio maior é manter a capacidade de ouvir e con-
Outra observação feita por Brito (2003, p. 20), cita a tinuarmos sensíveis ao som.”
experiência do compositor John Cage, que questionou a Dessa forma, essa reflexão sobre som, silencio e ruído
existência do silêncio absoluto O compositor norte-ameri- acompanhou todo o processo de implementação da pro-
cano John Cage (1912-1992) realizou uma experiência mui- posta. No que se refere aos parâmetros do som, partindo
to interessante: ele queria vivenciar a sensação de plenitu- de experiências práticas, o trabalho foi desenvolvido, a par-
de silenciosa e, em busca do “silêncio total”, entrou numa tir deste quadro:
câmara anecóica, ou seja, uma cabine totalmente à prova
de sons. Após alguns segundos, Cage concluiu que o silên-
cio absoluto não existe, pois mesmo no interior da câmara
anecóica ele ouvia dois sons: um agudo, produzido por seu
sistema nervoso, e outro grave pela circulação do sangue
nas veias (BRITO, 2003, p. 20).
Tendo em vista a importância de uma conscientização
sonora, não somente para os professores, mas para todas
as pessoas, outro aspecto trabalhado foi o ruído.
Estamos constantemente em contato com o som, ele
faz parte do nosso cotidiano. No mundo contemporâneo,
podemos dizer que existe uma poluição sonora, onde tem
sido cada vez mais difícil “ouvir” somente o que queremos. Segundo Brito (2003), “Falar sobre os parâmetros do
Sobre isso, Schafer (1991, p. 67) diz que “ao contrário dos som não é, obviamente, falar sobre música! As característi-
outros órgãos do sentido os ouvidos são expostos e vul- cas do som não são, ainda, a própria musica. Mas a passa-
neráveis. Os olhos podem ser fechados, se quisermos; os gem do sonoro ao musical se dá pelo relacionamento entre
ouvidos não. Os olhos podem focalizar e apontar nossa sons (e seus parâmetros) e silêncio”, (BRITO, 2003, p. 26).
vontade, enquanto os ouvidos captam todos os sons do Por isso, a importância de conhecer esses componentes do
horizonte acústico, em todas as direções.” Numa paisagem som e como eles podem ser organizados no tempo.37
sonora bastante ampliada como a de hoje, sem possibilida- E a fronteira entre som e ruído se encontra em um hori-
des, muitas vezes, de selecionar o que queremos ouvir, nos zonte cada vez mais móvel e menos facilmente demarcável.
tornamos insensíveis à maioria dos sons.
Para os insensíveis, o conceito de ruído não é válido. E a fronteira entre som e ruído se encontra em um
Alguém que dorme como uma pedra não ouve nada. A horizonte cada vez mais móvel e menos facilmente de-
máquina é indiferente ao ruído porque não tem ouvidos. marcável.
Explorando essa indiferença, a música de fundo foi inven- Meghie Rodrigues/Labjor/ComCiência/DICYT - Na
tada para homens sem ouvidos. [...] Para o homem sensível noite de um domingo, 18 de janeiro de 2004, os especta-
aos sons, o mundo está repleto de ruídos (SCHAFER, 1991, dores que enchiam o Barbican Hall na capital inglesa pude-
p. 69). ram presenciar uma performance memorável da Orquestra
Com o passar do tempo, a música vem adquirindo ele- Sinfônica da BBC: músicos a postos, dedos sobre o piano,
mentos em sua composição, antes inaceitáveis, como é o arcos estendidos e olhos no maestro, que, curiosamente,
caso do ruído, que hoje faz parte de composições musicais começa a contar os minutos em um relógio. Um silêncio
sem causar nenhum espanto. ansioso de fôlegos suspensos preenche a sala. Só é que-
Uma enorme reviravolta dos princípios estéticos e uma brado com as tosses que acompanham o virar de página
nova atitude face ao som começam a se delinear, ainda nas do livro de partituras dos presentes no palco para dar início
primeiras décadas do século XX, provocando uma signi- ao segundo movimento. O mesmo se dá também no ter-
ficativa mudança na história do homem ocidental. Aque- ceiro. Quatro minutos e 33 segundos depois, a ovação do
les sons que, outrora, configuravam-se enquanto ‘pano de público. Haviam acabado de presenciar uma das compo-
fundo’ – os ruídos ambientais – tornam-se, agora, musicais sições mais emblemáticas da música erudita contemporâ-
(CARNEIRO, 2002, p. 53, apud BRITO, 2003, p. 27). nea, 4’33”, que naquela noite havia sido televisionada pela
É neste contexto que Schafer (1991) acredita que se primeira vez desde sua concepção, cerca de meio século
tivermos a intenção de ouvir os sons, eles tornam-se mú- antes, pelo artista, teórico e compositor norte-americano
sica. Dessa forma, aquilo que não se tem intenção de ouvir John Cage.
passa a ser chamado de ruído, ou seja, algo que está atra-  Segundo o crítico Alex Ross, autor de O resto é ruído:
palhando ouvir o que se quer, interferindo ou impedindo escutando o século XX e de Escuta só: do clássico ao pop,
ouvir o que se tem intenção de ouvir. O autor segue con- Cage foi para a segunda metade do século passado o que
ceituando, “ruído é o som indesejável. Ruído é a estática o austríaco Arnold Schoenberg foi para a primeira: este úl-
no telefone ou o desembrulhar balas do celofane durante timo, com seu pioneirismo ao defender a emancipação da
Beethoven.” (SCHAFER, 2001, p. 68). 37 Por Karina Fontanella Góss Camargo

92
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
dissonância e experimentar a atonalidade (não-linearidade ser considerados ruído, não-musicais ou não apropriados
entre notas que deviam se repetir em uma melodia, trazen- para uma continuidade musical. No trabalho de Cage, por
do uma espécie de conforto ao ouvinte e a “resolução de exemplo, não há ruído e música, apenas som”, observa.
conflito” para uma peça); e o primeiro, com suas perfor-  No entanto, o performer americano não foi o primeiro
mances e improvisações com “piano preparado”, em que a esfumaçar os limites entre silêncio, ruído e som musi-
objetos eram colocados entre suas cordas para produzir cal. “Já depois da Revolução Industrial havia quem fizesse
sons diferentes. Embora Cage tenha sido aluno de Schoen- experimentos com isso”, conta Pauxy Nunes. “Levavam as
berg durante a juventude, a música oriental é a influência máquinas para o palco e se fazia concertos com turbinas,
mais marcante em seu trabalho – e por isso, não era estra- por exemplo. Isso, à época, era uma extrema vanguarda”,
nho que ele considerasse que música, ruído e silêncio fos- que acabou desembocando na música eletrônica que co-
sem uma profusão inseparável. “O som deveria se apresen- nhecemos hoje. Um nome que ficou conhecido por essa
tar como si mesmo, sem interferência humana. 4’33” acaba prática e é tido como um dos precursores da música futu-
por ser um manifesto anti-egóico nesse sentido”, observa rista é o do pintor e compositor Luigi Russolo, que escre-
Pauxy Nunes, professor de composição da Universidade veu o manifesto A arte do ruído, em 1913. Não era inco-
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). mum que suas audiências ficassem chocadas com o som
 William Brooks, pesquisador das universidades de York de válvulas e motores que ele usava em suas performances:
e Illinois, conta que Cage não acreditava na existência do afinal de contas, era tudo ruído. Que se separa do som,
silêncio acústico absoluto. “A experiência que nutria essa segundo William Brooks, por critérios absolutamente so-
descrença foi sua passagem por uma câmara anecóica na ciais, históricos e contextuais. “Não há nenhuma proprie-
Universidade de Harvard”, onde mesmo em um ambiente dade física ou a priori que estabeleça uma diferença entre
à prova de som, ele ainda conseguia escutar o pulsar grave ambos”, observa.
de sua circulação sanguínea e o som agudo de seu sistema  Mas, ainda assim, não há como escapar de certas de-
nervoso funcionando. “Acho que na mente dele havia um finições, que servem como ponto de partida para análi-
tipo de distinção entre silêncio como uma real ausência de se. Pauxy Nunes diz que a conceituação clássica de ruído
estímulos acústicos – e isso foi o que ele disse que não abrange o som indesejado, “que exprime alguma coisa que
existia – e silêncio como um estado mental – e este, acredi- não traduza um estilo ou prática, que não se enquadra na
to que ele teria dito, especialmente em seus últimos anos, altura definida da melodia”, e que, apesar de ser historica-
que sim, existia”, pondera. mente evitado pelo cânone clássico, sempre teve seu es-
 Som versus silêncio, lembra Brooks, pode não ser uma paço, ainda que periférico: “No século XX, ou era evitado
oposição binária. “O oposto do silêncio não é necessaria- ou era usado como uma espécie de pequeno ornamen-
mente som, no ponto de vista do músico: existe um tipo de to, como se fosse uma cor diferente, em pintura”, conta.
oposição triádica que se tem entre silêncio, som musical e Mudanças no pensamento filosófico ocidental e o advento
ruído. Os dois últimos têm em comum a duração, ao passo da psicanálise fizeram, então, que o ruído começasse a se
que o silêncio é apenas duração”, aponta. Ele lembra que, igualar ao som desejado. “É um elemento que emerge e
sob tal ponto de vista, o silêncio se tornou uma metáfora, começa a se equiparar com a melodia”, diz o pesquisador.
uma descrição de um estado mental no qual nada está pri-  Enquanto ruído é distúrbio para o cânone, o silêncio é
vilegiado, no qual se está aberto a qualquer coisa ao redor. classicamente tido como valor negativo, “um pano de fun-
 Corrobora com a ideia de silêncio como não-diferen- do sobre o qual a música é desenhada, uma tela em bran-
ciação o compositor José Miguel Wisnik em seu livro O co”, observa Nunes, “mas que essas mesmas mudanças no
som e o sentido: uma outra história das músicas. Ele es- pensamento ocidental se encarregaram de fazer com que o
creve que, a exemplo do disco de Newton, que faz todas pano de fundo começasse a ganhar um valor por si próprio
as cores se fundirem em branco ao adquirir movimento, – assim como nas artes plásticas, onde a tela em branco se
“o total sonoro é silencioso” porque é “matriz de toda co- torna um elemento tão significativo quanto a tinta”, com-
municação possível, de toda canalização de qualquer que para.
seja a mensagem, matéria de todas as paisagens sonoras,  E não se pode esquecer que, ao passo que som, silên-
frequência das frequências, pulso dos pulsos, ruído/zero”. cio e ruído têm suas implicações musicais e geram discus-
O silêncio está, sob este ponto de vista, prenhe de sons em sões filosóficas e técnicas, também têm profundas impli-
sua essência. Por outro lado, lembra ainda Wisnik, “não há cações sociais – por vezes se manifestando em si mesmas
som sem pausa. O tímpano auditivo entraria em espasmo. e não apenas como metáfora. Como lembra Jacques Attali
O som é presença e ausência e está, por menos que isso em Noise: the political economy of music, o silêncio como
apareça, permeado de silêncio”. não-diferenciação se manifesta na sociedade contemporâ-
 E a fronteira entre som e ruído se encontra em um nea na produção e no consumo de bens, onde a “unanimi-
horizonte cada vez mais móvel e menos facilmente demar- dade se torna critério de beleza” e todas as superfícies pre-
cável. Brooks lembra que, no século passado, pessoas jo- cisam ser polidas e lisas. Por isso a importância do ruído,
gavam a pia da cozinha em um conjunto de percussão para dos rituais das festas e carnavais, diz ele. A quebra da uni-
produzir som em performances. “Historicamente, o limite formidade inverte as hierarquias e mostra, por um instan-
(entre som e ruído) mantém-se em constante movimen- te, as cordas que manipulam o poder por detrás delas. O
to. De uma forma mais geral, a tendência tem sido tor- ruído, neste sentido, passa longe de ser um distúrbio social.
nar-se mais inclusiva. Há cada vez menos sons que podem

93
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Parâmetros do som
O som é produzido por corpos quando colocados em vibração. Essa vibração se transfere no ar de molécula a molécula
até alcançar nossos ouvidos. As principais características do som são: altura, duração, intensidade e timbre.
A altura é uma característica do som que nos permite classificá-lo em grave ou agudo. Geralmente os homens têm voz
mais grave e as mulheres voz aguda, ou seja, voz grossa e fina, respectivamente. Essa propriedade do som é caracterizada
pela frequência da onda sonora. Um som com baixa frequência é dito som grave e o som com altas frequências é dito som
agudo. Dessa forma, podemos concluir que a voz masculina tem menor frequência que a voz feminina. Na linguagem téc-
nica ou musical dizemos que o som grave é baixo e o agudo é alto, assim sendo, concluímos que no cotidiano os termos
alto e baixo referentes à intensidade do som são aplicados erroneamente, sendo assim devem ser evitados.
A duração é o tempo que o som permanece em nossos ouvidos, isto é, se o som é curto ou longo. É a característica que
revela o tempo de emissão de um som. Depende do tempo que duram as vibrações do objeto que os produz. As diversas
durações são utilizadas em combinação com uma regularidade básica chamada de pulso ou pulsação. Essas variações são
comumente chamadas de ritmo.
Alguns sons possuem ressonância curta, isto é, continuam soando por um breve período de tempo, como o som dos
tambores, e outros tem ressonância longa, como os sons dos sinos que permanecem soando por um período de tempo
maior.
A intensidade é uma característica do som que está relacionada à energia de vibração da fonte que emite as ondas.
Essa propriedade do som é provocada pela pressão que a onda exerce sobre o ouvido ou sobre algum instrumento medi-
dor da intensidade sonora, como um decibelímetro ou um dosímetro, por exemplo. Quanto maior a pressão maior será a
intensidade medida por esse aparelho. A intensidade sonora é medida em bel, em homenagem ao cientista inglês Graham
Bell. Contudo, utiliza-se com mais frequência um submúltiplo: 1 decibel = 1 dB = 0,1 bel.
O timbre é a característica sonora que permite distinguir sons de mesma frequência e mesma intensidade, desde que
as ondas sonoras correspondentes a esses sons sejam diferentes. Por exemplo: dois aparelhos musicais, violão e violino,
por exemplo, podem emitir sons com a mesma frequência, mas com timbres diferentes, pois as ondas sonoras possuem
formas diferentes.38

Escrita convencional e não convencional


Convencional
A mais importante caracterísica do som é a altura. Antigamente (SEC XI), a altura era a única informação grafada.
No início, a transmissão musical era feita oralmente, de gerações em gerações.
SEC IX surgiu a pauta, apenas uma linha.
SEC XVII surgiu o PENTAGRAMA, 5 linhas paralelas.
A notação musical convencional é uma linguagem completa em si. Permite que a música seja escrita e, portanto, regis-
tradas ou comunicada sem que se tenha de ouvi-la.
As vantagens de aprender a usar a notação musical é uma excelente ideia:
1. usar qualquer partitura e aprender a tocar/cantar a música, mesmo que nunca a tenha ouvido;
2. manutenção de um registro preciso e permanente de qualquer composição e;
3. transmitir ideias musiciais a outros musicos.
Enfim a própria forma pela qual se escreve música ajuda a compreender melhor a construção de escalas, acordes, me-
lodia, harmonia e ritmo.
Dominar a notação musical básica não é dificil. Mas a obtenção da fluência requer tempo e prática.
O Sistema de notação é surpreendentemente simples em sua essência. A notação é feita numa grade de cinco linhas
chamada pauta ou pentagrama.

Para entendermos como funciona o pentagrama precisamos conhecer as notas e as figuras musicais.
Desde nossas infância aprendemos que são 7 as notas musicais. São representadas por
DÓ – RÉ – MI – FÁ – SOL – LÁ – SI
Diante de toda a complexidade da música chegou-se a conclusão de que cada altura de som, do mais grave ao mais
agudo teria um nome, ou seja, seria uma nota musical. Para isso precisou-se de uma referência. Essa referência foi a nota LÁ.39

38 Por Marco Aurélio da Silva


39 Fonte: www.mlga2015.wordpress.com

94
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Não Convencional
Já ouviu falar em partitura não tradicional? Pois bem, grafia musical tradicional, assim como a conhecemos hoje no oci-
dente, tem um longo histórico de desenvolvimento que na verdade segue um paralelo ao desenvolvimento da civilização
ocidental, ou seja, a civilização influenciada pela cultura greco-romana.
Infelizmente não se tem muitos registros sobre as grafias musicais no mundo antigo, tão pouco, podemos associar com
fidelidade a nossa escrita atual com um possível esboço de grafia musical antiga.
Talvez um dos únicos registros de grafia musical que se tem conhecimento seja o “Epitáfio de Seikilos”, um manuscrito
encontrado em uma lápide na Turquia cuja transcrição continha uma letra acompanhada de uma escrita musical.
É sabido também que na China antiga, havia já o conhecimento de teorias complexas como o ciclo das quintas, porém
não se tem provas de qualquer forma de grafia musical, assim como na mesopotâmia, Egito, etc.
O que podemos afirmar com certeza é que a grafia musical que conhecemos e utilizamos hoje nada tem com qualquer
outra do mundo antigo, isto é, se é mesmo que existiu, porém, não podemos descartar a hipótese de que uma possível
grafia sistematizada na Grécia antiga tenha influenciado outra em Roma durante o império que esta por sua vez tenha
acrescentado algo na formação da escrita neumática do séc. IX.
A escrita que utilizamos nos dias atuais, que chamamos de escrita convencional, foi desenvolvida a partir dos neumas
do séc.IX.
A escrita neumática se dava através do registro grafado das alturas, inicialmente em uma linha apenas.
Atribui-se a Guido d´Arezzo no séc. X, a introdução do tetragrama, exercendo uma influência preponderante na nota-
ção musical convencional assim como o acréscimo do uso das claves de Fá e de Dó na pauta.
A notação quadrada do séc.XII se deve ao uso dos neumas no tetragrama.
No séc. XV o pentagrama já era usado e havia se desenvolvido devido à necessidade de grafar as inovações no sentido
da extensão das alturas da melodia vocal da época. Ainda neste séc. temos o acréscimo do branco em uma notação que
era em sua totalidade preta. Este acréscimo ocorreu para fortalecer o desenvolvimento rítmico da escrita visto que desta
“nova” maneira, conseguiam-se distinguir os tempos dos sons de maneira mais precisa.
Entre os sécs. XVI e XVIII incluíam-se também as barras de compasso, os travessões ligando figuras de mesmo valor, a
ligadura, as claves se padronizavam, o que facilitava a leitura, e também o acréscimo da fusa e semifusa.
Os sinais de dinâmica, acentuação e articulação foram muito enriquecidos no séc. XIX
Enfim, temos a partitura convencional finalizada em relação ao seu desenvolvimento no séc. XX. Porém, também no
mesmo século, temos o uso de partituras não convencionais.
A partir de compositores como Debussy, começa a ser percebida uma necessidade de outro tipo de escrita, talvez uma
que seja impossível de se padronizar como a convencional devido às constantes mudanças que as civilizações experimen-
taram neste século, o que certamente se refletiu na arte e na cultura.
Muitos compositores do séc. XX precisaram do recurso da escrita não convencional para o registro de suas composi-
ções, alguns deles, muito renomados como John Cage, Stockhausen, Gyorgy Ligerti, Flo Menezes, entre outros.

Alguns compositores usam legendas em suas “partituras” como José Maria Garcia Laborda, por exemplo:

95
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
A partitura não convencional, não pertence apenas aos compositores do séc. XX. Na verdade, este sistema se caracte-
riza como uma tendência de estudos dos compositores da música erudita até os dias atuais.
A grafia musical com a estrutura que a conhecemos hoje, ou seja, sinais gráficos simbolizando alturas em linhas sobre-
postas e o uso das claves foi estabelecida por volta dos sécs. IX ao X, porém seu desenvolvimento se perpetuou através dos
séculos chegando até os dias atuais com consideráveis mudanças.
A grafia não convencional, ou melhor, pré-ocidental, voltou a ser usada no séc. XX, pois os compositores perceberam
que não havia sinais suficientes para registrar tantos sons, pois no séc. XX o experimentalismo se tornou uma forte carac-
terística na música erudita, o que acarretou infinitos sons marcados por vibrações regulares ou não regulares também, ou
seja, os ruídos começam a fazer parte da concepção musical dos compositores.
Exemplos de partituras não convencionais:40

Escalas
Escalas musicais são sequências ordenadas de notas. Por exemplo: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó…repetindo esse ciclo.
Nessa escala, começou-se com a nota dó e foi-se seguindo uma sequência bem definida de intervalos até o retorno para
a nota dó novamente. Essa sequência de distâncias foi: tom, tom, semitom, tom, tom, tom, semitom…repetindo o ciclo.
Escala maior
Essa escala que mostramos é chamada de “escala maior”. Poderíamos utilizar essa mesma sequência (escala maior)
começando de uma nota que não fosse dó, por exemplo, sol. A escala então seria sol, lá, si, dó, ré, mi, fá#, sol… Note como
a mesma lógica foi seguida (tom, tom, semitom, tom, tom, tom, semitom). No primeiro caso, formamos a escala maior de
dó. No segundo caso, a escala maior de sol. Seguindo a mesma lógica podemos montar a escala maior de todas as 12
notas que conhecemos. Faça isso como exercício e depois confira abaixo. Mostraremos a escala maior das 7 notas básicas:

40 Por Hallyson de Oliveira

96
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Escala menor
A chamada “escala menor” é formada a partir da seguinte sequência: tom, semitom, tom, tom, semitom, tom, tom…
repetindo o ciclo.
Vamos construir então a escala de dó menor. Você já é capaz de construir essa escala. Basta seguir essa sequência
dada começando pela nota dó. Fica assim:
dó, ré, ré#, fá, sol, sol#, lá#, dó… repetindo o ciclo.
As notas ré#, sol# e lá# equivalem, respectivamente, a mib, láb e sib. Poderíamos reescrever então a sequência acima
como:
dó, ré, mib, fá, sol, láb, sib, dó.
Note que a escala é absolutamente a mesma; a única diferença é que antes ela estava escrita com os acidentes susteni-
dos (#), e agora ela foi escrita com os acidentes bemóis (b). Geralmente a escala menor de dó é escrita da segunda forma
e não da primeira. Por quê? Simplesmente porque nela todas as 7 notas apareceram (com ou sem acidentes). No primeiro
caso, a nota si não aparece. Isso muda alguma coisa? Faz diferença? NÃO. Mas nas literaturas você provavelmente vai en-
contrar a segunda descrição, pelo motivo mencionado. Na realidade, a preferência pela segunda descrição tem um sentido
mais profundo, pois facilita a observação das funções harmônicas, mas não se preocupe com isso agora.
Confira então as digitações da escala maior e menor:

Escala Dó maior

Escala Dó menor

Obs: No braço do violão/ guitarra, para se obter a escala de outra nota (além da nota “dó” que mostramos), basta
deslocar esse mesmo desenho para a nota que se deseja. Experimente testar fazendo esse mesmo desenho (mesmo shape)
da escala maior de dó partindo da nota Ré. Depois confira as notas geradas comparando com a tabela que mostramos
anteriormente. Isso é ótimo, não? Significa que só precisamos decorar um desenho para cada escala! No teclado, não te-
mos esse privilégio. Porém, o teclado apresenta outras inúmeras vantagens facilitadoras. Cada instrumento tem seus prós
e contras!
Qual o motivo das escalas musicais serem chamadas de maiores e menores?
Isso é apenas uma definição. A diferença dessas escalas está no terceiro grau, no sexto grau e no sétimo grau. Na es-
cala “maior”, esses graus são maiores. Na escala “menor”, esses graus são menores. Por isso resolveu-se chamar a primeira
escala de “escala maior”, e a segunda de “escala menor”.
Escalas naturais
Como existem outros tipos de escalas maiores e menores, essas escalas básicas que acabamos de ver recebem o nome
de “escalas naturais”, pois são as mais básicas e primitivas no estudo de música.41
ESCALAS: MODAL, TONAL, DIATÔNICAS, PENTATÔNICAS, CROMÁTICAS
Música modal normalmente se refere ao modos citados aí em cima. Esses modos são obtidos pegando uma escala de
dó maior e criando escalas com as notas de dó, mas que começam e terminam nas outras notas.
Ex.:
Ré Mi Fá Sol La Si Dó Ré - Esse seria o modo Dórico
Mi Fá Sol La Si Do Ré Mi – Frígio
Fa Sol Lá Si Do Re Mi Fá – Lídio
Sol Lá Si Dó Ré Mi Fá Sol – Mixolídio
La Si Do Re Mi Fa Sol La – Eólio
Si Do Ré Mi Fá Sol Lá Si - Lócrio (modo teórico, não usado na prática)
Do Ré Mi Fá Sol Lá Si Do – Jônio
41 Fonte: www.descomplicandoamusica.com

97
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Existem muitas pessoas que fazem música pseudo-mo- permitidas pelas equações da mecânica quântica, na músi-
dal, pois pensam nos modos como se eles funcionassem ca tonal não se utiliza o contínuo do espectro audível, mas
semelhantemente aos modos maior e menor. apenas recortes de frequências definidas nesse espectro,
que formam a escala cromática, matéria prima utilizada
Ex.: nesse tipo de música.
Em dó maior -> C - F – G O teclado de um piano é um exemplo claro de que que
Em Ré dórico -> Dm G Am apenas determinadas freqüências são utilizadas na músi-
ca tonal. Assim como, no átomo de hidrogênio, o elétron
Não existem progressões de acordes na música modal pode saltar de um nível quântico para outro, mas não pode
antiga. O Conceito de acorde só surgiu muito depois disso. ficar entre dois níveis quânticos consecutivos permitidos
Essa música era composta pensando em cada ‘voz’. O en- pela teoria, no teclado do piano o menor salto que po-
trelaçamento das vozes gerava os ‘acordes’. demos dar (o menor intervalo possível) é o de umsemi-
Pode sim haver música modal com acordes, mas as tom (meio tom). Entre qualquer tecla do piano e a tecla
progressões ou seqûencias de acordes são bem diferentes. adjacente, para cima ou para baixo, há uma infinidade de
mais fácil achar música modal nas músicas tradicio- outras frequências que são descartadas pela música tonal
nais, ou folclóricas. No folclore nordestino há um amplo em função de um tipo de organização e hierarquização. Por
uso de um modo semelhante ao modo antigo mixolídio, às exemplo, há uma tecla preta entre o dó e o ré, que é a tecla
vezes recebendo um sustenido na sua quarta nota. dó sustenido ou ré bemol. Também que não há nenhuma
Então basicamente música modal é uma música não tecla ente o mi e o fá, nem ente o dó e o si que começa a
necessariamente composta de escalas diferentes (os mo- escala seguinte. Na verdade, dó sustenido e ré bemol não
dos Jônio e Eólio têm as mesmas notas das tonalidades são a mesma nota para um violinista, por exemplo, ou para
menor e maior), mas regidas por outras regras que não um cantor. O que acontece é que, nos instrumentos de te-
a do sistema tonal (Conduções de vozes, acordes, etc). O clado que vêm sendo construidos desde a era de Johann
nome modo, provavelmente veio do fato de tais modos Sebastian Bach, adota-se uma afinação chamada de tem-
serem usados por povos diferentes, então ao falar Modo perada, em que todas as teclas estão ligeiramente desafi-
Dórico, estava falando-se do modo dos dóricos serem e de nadas (exceto o lá fundamental), para fazer o dó sustenido
fazerem música. É como se fosse uma expressão ‘à maneira coincidir com o ré bemol. Assim, a oitava fica subdividida
dos dóricos’ em 12 notas, formando aquilo que nós chamamos de es-
cala cromática.
Música tonal Na música tonal não são usados aleatoriamente to-
O termo música tonal pode admitir dois sentidos, de dos os sons da escala cromática. Algumas dessas notas,
acordo com o contexto e a acepção desejada para o termo: dependendo da escala, serão usadas de forma estratégi-
• Em sentido lato, música tonal é toda música que ca, de acordo com uma hierarquia interna à tonalidade.
apresenta uma tonalidade definida, ou seja, uma hierarquia As notas não pertencentes à escala também serão usadas,
entre as notas utilizadas, girando em torno de uma princi- mas como “tempero” ou “colorido” na música. De fato es-
pal. Assim, pode-se entender como tonal a música penta- sas notas são chamadas notas cromáticas(do grego croma,
tônica, a música modal e mesmo a música ficta. Em outros que significa cor). Note-se que, na escala de dó maior, a
termos, esse conceito engloba toda a música ocidental não distância entre uma nota e a seguinte é de um tom, exceto
atonal. entre o mi e o fá, e entre o si e o dó da oitava seguinte, que
• Mais estritamente, diz respeito à música que adota é de meio tom. Para construir uma escala que soe melo-
o chamado sistema tonal, que se baseia em estruturas fun- dicamente igual à escala de dó maior, mas começando na
cionais determinadas, gerando um “percurso” harmônico nota ré, usa-se as notas ré-mi-fá#-sol-lá-si-dó# - é neces-
e melódico com tensões e repousos mais complexos, por sário acrescentar sustenidos, do contrário a escala não soa-
exemplo, que os da música modal. rá melodicamente igual à escala de dó maior. Repare que
A música fundamentada no sistema tonal (ver a segun- na escala de ré maior, a distância entre a terça e a quarta
da definição logo acima), de caráter tipicamente ociden- (fá#-sol), bem como a sétima e a prima (dó#-ré), a distância
tal, tem suas origens no fim da Idade Média. Foi predo- é novamente de meio tom.
minantemente utilizado até a segunda metade do século Cada grau da escala recebe um nome especial:
XIX. Sobretudo no século XX o sistema tonal passou por 1. tônica
várias rupturas, tendo sido abolido da prática de alguns 2. sobretônica
compositores e “relativizado” na de outros. Ainda é larga- 3. mediante
mente utilizado, inclusive na música popular e passa por 4. subdominante
uma reintrodução na música erudita por parte de alguns 5. dominante
compositores, como Penderecki e Arvo Pärt. 6. sobredominante
Para entender o sistema tonal, é preciso entender o 7. subtônica ou sensível (este último nome só é apli-
que são escalas musicais . Pode-se fazer uma analogia com cavel em alguns momentos)
a física atômica e com a mecânica quântica: assim como
um elétron numátomo de hidrogênio não pode ocupar Assim, na escala de ré maior, ré é a tônica, fá sustenido
qualquer posição ao redor do núcleo, mas apenas aquelas é a mediana, lá é a dominante.

98
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Toda escala maior tem sua relativa menor. A tônica da Krzysztof Penderecki.
relativa menor está uma terça menor abaixo da tônica da Muitos músicos e musicólogos tentaram atribuir às to-
escala maior. Uma terça menor abaixo do dó está o lá; por- nalidades um caráter, expressão ou colorido especial. Não
tanto, a relativa de dó maior é lá menor. Assim, a relativa de se pode determinar de um modo absoluto o caráter de
ré maior é si menor, a relativa de mi maior é dó sustenido cada tom, pois isso depende de reações subjetivas de cada
menor, etc. indivíduo. Contudo, alguns musicólogos, como Gevaert e
A escala menor pode assumir diversas formas, de acor- Lavignac, caracterizam os tons de acordo com a tabela que
do com as necessidades compositivas, daí, surgem nomes apresentamos a seguir. Seguimos aqui a seguinte ordem,
como escala menor natural’, harmônica, melódica ou ba- de fácil compreensão aos músicos: começando com seis
chiana. A escala menor natural natural tem as mesmas no- sustenidos (fá sustenido maior), vamos diminuindo um
tas da escala seu relativo maior (por exemplo, temos do sustenido (ou bemolizando) a cada passo, de forma que a
maior: do-re-mi-fa-sol-la-si-do e la menor; la-si-do-re-mi- tônica cai uma quinta a cada passo:
-fa-sol-la). A escala menor melódicanasce da necessidade
de se aplicar as funções tonais na escala menor natural, Tons maiores
para isso, utiliza-se o primeiro tetracorde da escala me- fá sustenido maior - rude (6 sustenidos)
nor (tom-semitom-tom) e o segundo tetracorde da escala
homônima maior (tom-tom-semitom), quando em escala si maior - enérgico (5#)
ascendente, e a escala menor natural quando em escala mi maior - brilhante (4#)
descendente (daí temos, por exemplo, Mi menor melódi-
lá maior - sonoro (3#)
ca: mi-fa#-sol-la-si-do#-re#-mi-re-do-si-la-sol-fa#-mi). A
escala bachiana também utiliza o princípio da escala me- ré maior - alegre, vivo (2#)
nor melódica, mas aplica o tetracorde maior também na sol maior - campestre (1#)
escala descendente (Mi menor bachiana: mi-fa#-sol-la-si-
dó maior - simples, natural
-do#-re#-mi-re#-do#-si-la-sol-fa#-mi). Já a escala menor
harmônica constitui apenas na elevação do sétimo grau da fá maior - rústico (1 bemol)
escala natural (o que é válido tanto para a escala ascenden- si bemol maior - nobre, elegante (2b)
te quanto para a descendente), o que leva à presença de
uma segunda aumentada entre o sexto e o sétimo graus, mi bemol maior - enérgico, sonoro (3b)
gerando uma estranheza na escuta. lá bemol maior - suave, meigo (4b)
Para determinar a tonalidade de um trecho musical, ré bemol maior - cheio de encanto, suave (5b)
verifica-se a armadura de clave, que é uma sequência de
sustenidos ou bemóis logo após a clave no início de uma sol bemol maior - doce e calmo (6b)
partitura. Por exemplo: se logo após a clave estão os be-
móis para as notas: si-mi-lá-ré, sabe-se que a música é da Tons menores
tonalidade de lá bemol maior, ou de fá menor. Numa to- sol sustenido menor - muito sombrio (5#)
nalidade com bemóis, é o penúltimo bemol que determina dó sustenido menor - brutal, sinistro (4#)
a tonalidade caso seja maior, e no caso dos sustenidos a
tonalidade maior é sempre um semitom acima do último fá sustenido menor - rude, aéreo (3#)
sustenido. Uma armadura sem acidentes designa tonalida- si menor - selvagem ou sombrio, mas enérgico (2#)
de de dó maior (ou lá menor), e com um bemol designa
mi menor - triste, agitado (1#)
tonalidade de fá maior (ou ré menor).
O sistema tonal foi fortemente utilizado na música oci- lá menor - simples, triste
dental por vários séculos, tendo sofrido uma ruptura ape- ré menor - sério, concentrado (1b)
nas na segunda metade do século XIX. Uma obra marcante
sol menor - melancólico (2b)
é a versão que Richard Wagner compôs para Tristão e Isol-
da - em ópera que estreou em 1865. Em três horas e meia dó menor - dramático, violento (3b)
de música, Wagner provou que era possível compor música fá menor - triste, melancólico (4b)
expressiva e até mesmo apaixonada completamente fora
do sistema tonal - a tonalidade nunca se define em Tristão si bemol menor - fúnebre ou misterioso (5b)
e Isolda. Lá pelo começo do século XX, muitos composito- mi bemol menor - profundamente triste (6b)
res começaram a achar que o sistema tonal estava esgota- lá bemol menor - lúgubre, aflito
do. A partir daí, muitos compositores passaram, cada um à
sua maneira, a questionar o sistema tonal. Debussy utilizou É preciso deixar bem claro que a tonalidade sozinha
a escala hexatônica simétrica, ou escala de tons inteiros; não determina o caráter de um trecho musical. Assim, por
mais tarde Arnold Schoenberg criou o dodecafonismo. En- exemplo, a Quinta Sinfonia de Beethoven tem um cará-
tretanto, nem todos os compositores eruditos do século ter dramático e violento, assim como a Sonata Patética, o
XX abandonaram o sistema tonal, ainda bastante presente Concerto para Piano no. 3 e outras peças de Beethoven e
em obras de compositores como Prokofiev, Shostakovitch, Mozart escritas nessa mesma tonalidade (dó menor). No
Kodály, Joaquín Rodrigo e, mais recentemente, Arvo Pärt e

99
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
entanto, o Concerto para piano no. 2 deRachmaninoff é Um outro conceito muito importante de se entender
uma peça romântica clara e luminosa, onde não há o me- quando se aborda a música tonal é o conceito de tonalida-
nor sinal de angústia ou qualquer sentimento opressivo - e des vizinhas. Definição: Diz-se que duas tonalidades são vi-
está escrito em dó menor, a mesma tonalidade da Quinta zinhas uma da outra quando ambas têm o mesmo número
Sinfonia de Beethoven. de alterações, ou uma alteração a mais, ou uma alteração
A tonalidade de ré menor tinha um significado dramá- a menos. Exemplo: mi maior e lá bemol maior são vizinhas:
tico especial para Mozart, que escreveu nesta tonalidade a a primeira tem 4 sustenidos; a segunda tem 4 bemóis. Mi
ária da Rainha da noite no segundo ato de A Flauta Mágica, maior (4 sustenidos) também é vizinha de lá maior (3 suste-
Der Hölle Rache kocht in meinem Herzen (A vingança do nidos) e si maior (5 sustenidos). Dó maior não tem nenhu-
inferno coze no meu coração) e a ária de Electra em Idome- ma alteração; suas vizinhas são sol maior (1 sustenido) e fá
neo, Tutte nel cor vi sento, furie del crudo averno (Eu sinto maior (1 bemol), e suas respectivas relativas menores. Dó
no peito todas as Fúrias do inferno), nas quais predomina maior não é vizinha de ré maior, já que ré maior tem dois
o ódio e o desejo de vingança. A tonalidade de ré menor sustenidos a mais.
também está intimamente associada à ópera Don Giovan- Chama-se uma modulação uma súbita mudança de
ni, em que ela aparece logo no começo da abertura, e na tonalidade no interior de um trecho musical. Os compo-
cena final, em que o espírito do comendador aparece para sitores do classicismo musical (Gluck, Haydn, Mozart), ao
arrastar a alma de Don Giovanni para o inferno. Por fim, ré modularem, modulam geralmente para uma tonalidade vi-
menor é a tonalidade da última obra de Mozart, a Missa de zinha ou para a relativa menor.
Requiem. A forma sonata está intimamente relacionada com o
A tonalidade de ré menor mostra também seu caráter conceito de tonalidade. Essa forma simplesmente não po-
lúgubre, por exemplo, no quarteto “A Morte e a Donzela” deria existir fora do sistema tonal. Uma peça em forma so-
(Der Tod und das Mädchen) de Schubert (D. 810) nata possui geralmente um tema principal e um segundo
A Sonata no. 2 em si bemol menor (“Marcha Fúnebre”) tema que, prescindindo ou não de introdução, é exposto
de Chopin atesta o caráter fúnebre e misterioso dessa to- o primeiro tema na tonalidade principal. A seguir, ouve-
nalidade. -se um segundo tema. Se a tonalidade principal for maior,
Há uma qualidade heróica associada à tonalidade de no segundo tema é comum o emprego da tonalidade da
mi bemol maior, a tonalidade da Sinfonia Eroica de Beetho- dominante do primeiro. Se a tonalidade principal for me-
ven, e do Concerto para Piano no. 5 (“Imperador”). nor, costuma-se destacar, no segundo tema, a tonalidade
O musicólogo Sir Denis Forman, autor de A Night at relativa maior.
the Opera, ao comentar a cena pastoral no segundo ato de A primeira parte da sonata, na qual são expostos ao
Orfeu e Eurídice de Gluck (Dança dos Espíritos Abençoa- ouvinte os temas, é chamada exposição. Após a exposição,
dos), nota que ela está escrita em fá maior, “o que era de segue-se a seção conhecida por desenvolvimento. Nela, o
rigueur para todas as cenas pastorais” naquela época, “nin- compositor, mesmo que se afaste da tonalidade principal,
guém sabe por que”. A Sinfonia Pastoral (6a) de Beethoven remete aos temas expostos anteriormente, explorando
também está escrita na mesma tonalidade. outras possibilidades de encaminhamento melódico, rít-
Embora uma melodia possa ser tocada em qualquer mico e harmônico não trabalhadas na exposição. A seção
tonalidade, e muitas vezes se transporte uma melodia de de desenvolvimento geralmente se encerra com a volta à
um tom para outro para facilitar sua execução por uma voz tonalidade principal. Na seção seguinte, chamada recapi-
ou instrumento diferente, a escolha da tonalidade não é tulação, ouve-se de novo o primeiro e o segundo temas.
indiferente, e o próprio Beethoven era de opinião que as Frequentemente, nesse trecho soam ambos os temas na
tonalidades têm sim, cada uma delas, um caráter próprio. tonalidade principal, como uma espécie de relaxamento da
Uma outra coisa que deve ficar bem clara é que o ca- tensão que foi gerada. É comum que a peça termine no
ráter expressivo do sistema tonal não implica de maneira acorde de tônica.
nenhuma que seja impossível escrever música altamente Alguns autores preferem falar em “primeiro material
expressiva fora dele. Assim, Debussy escreveu música al- temático” e “segundo material temático”, em vez de de pri-
tamente expressiva fora do sistema tonal. A partitura de meiro e segundo tema, já que um “tema” pode consistir de
Tristão e Isolda de Wagner é universalmente reconhecida várias melodias ou motivos.
como de alto impacto emocional, no entanto sua tonalida- O estudo das 32 sonatas para piano de Ludwig van
de é altamente duvidosa ou inexistente. Beethoven fornece abundantes dados sobre a forma de
Transportar uma peça de música significa executá-la sonata no apogeu do seu desenvolvimento histórico.
ou transcrevê-la numa tonalidade diferente da original. Isto
muitas vezes é feito para permitir a execução de uma peça Escala diatônica
musical por uma voz diferente ou um instrumento diferen- Escala diatônica é uma escala de oito notas, com cinco
te. O transporte pode ser escrito ou mental. No transporte intervalos de tons e dois intervalos de semitons entre as
mental, que é mais difícil, o cantor ou instrumentista sim- notas. Este padrão se repete a cada oitava nota numa se-
plesmente lê uma nota mas canta ou executa outra, subin- qüência tonal de qualquer escala. A escala diatônica é típi-
do ou descendo alguns graus. É óbvio que os intervalos ca da música ocidental e concerne à fundação da tradição
entre cada nota e a seguinte da linha melódica têm que ser da música européia. As escalas modernas maior e menor
mantidos, para que a melodia não se altere. No transporte são diatônicas, assim como todos os sete modos tonais uti-
escrito, que é bem mais fácil, alguém já fez isso para ele. lizados atualmente.

100
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
As escalas que hoje em dia são conhecidas como escala maior e escala menor, na Era Medieval e na Renascença, eram
apenas dois dos sete modos formados por cada escala diatônica iniciada a cada uma das sete notas de uma oitava---sendo
a oitava nota numa escala a repetição da primeira nota, logicamente, uma oitava acima---. No início da Era da Música bar-
roca, a noção musical de tonalidade estava estabelecida, baseada na idéia de um tríade central em vez de um tom central
de cada modo. As escalas maiores e menores dominaram a música ocidental até o início do Século XX, parcialmente porque
os seus intervalos são perfeitos para reforçar a idéia do tríade central. Alguns modos da Igreja sobreviveram até o início do
Século XVIII, e até apareceram ocasionalmente durante a era clássica e novamente na música erudita do Século XX, e mais
tarde no Jazz e em alguns Rock progressivos.
Usando as doze notas da escala cromática, originando em cada nota, podemos formar doze escalas maiores e doze
escalas menores.

Teoria da Escala Diatônica


Todas as escalas musicais empregadas na música ocidental não passam de variantes da escala diatônica. Ela teve ori-
gem na antiga Grécia.
O sábio grego Pitágoras acreditava que tudo no universo está governado pelos números. Ele notou que, quando uma
corda esticada é posta em vibração, ela produz um certo som. Se o comprimento da corda vibrante for reduzido à metade,
um som mais agudo é produzido, que guarda uma relação muito interessante com o primeiro. Para entender melhor o que
Pitágoras fez, vamos pensar na corda dó de uma viola ou violoncelo moderno. Quando submetida a uma certa tensão, se
a corda vibra em toda a sua extensão, ela produz um som de uma certa frequência, que se convencionou chamar de dó. O
instrumentista
varia o comprimento da corda vibrante, pondo o dedo em certas posições na corda. O que Pitágoras fez foi dividir a
corda segundo a sequência de frações

  ,  ,  ,  .
Assim foram obtidas as notas que hoje nós chamamos dó, sol, fá, mi.

Como a frequência do som produzido por uma corda vibrante é inversamente proporcional ao comprimento da corda,
se atribuimos o valor 1 à frequência fundamental da corda, as frequências das outras notas que acabamos de obter resul-

tam: mi =  , fá =  , sol =  .
Assim, as notas musicais são geradas a partir de relações de números simples com a frequência fundamental. Ao mul-
tiplicarmos a frequência de uma nota por 2, obtemos uma outra nota que recebe o mesmo nome da anterior. Se multipli-

camos a frequência por  , obtemos uma nota que guarda com a anterior uma relação harmônica tão interessante que ela
recebe um nome especial: a dominante.
É claro que uma escala musical com só quatro notas como a que obtivemos acima é muito pobre, mas a verdade é que
todas as notas musicais podem ser geradas a partir da dominante. Por exemplo, se quisermos saber qual é a dominante do

mi, só precisamos multiplicar a frequência do mi por  :

 *   =  ; obtivemos assim uma outra nota, que chamamos de si.

Se multiplicarmos a frequência do fá por   obteremos a própria nota dó, provando assim que a dominante do fá é dó: 

 *   = 2

101
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação

Já sabemos que sol é a dominante de dó; para saber qual é a dominante do próprio sol, fazemos  * = . Obtemos
então uma nota mais aguda que o segundo ré; dividindo sua frequência por 2 (para que ela fique na primeira gama que

estamos tentando preencher),  * =  - obtemos assim uma outra nota, que vamos chamar de ré.
Assim, seguindo o método acima, procurado achar a dominante de cada nota obtida (multiplicando sua frequência por
3/2), acabamos por obter a escala diatônica completa:

dó ré mi fá sol lá si dó
1 9/8 5/4 4/3 3/2 5/3 15/8 2
V V V V V V V
16/15
9/8 10/9 16/15 9/8 10/9 9/8

Percebemos que a dominante é o quinto grau da escala. Uma quinta acima do dó está o sol; uma quinta acima do sol
está o ré; uma quinta acima do ré está o lá; assim, seguindo o ciclo das quintas, obtemos todas as notas da escala diatônica
e retornamos ao dó.
Para sabermos em que ponto da corda dó o instrumentista deve pôr o dedo para obter as notas sucessivas da escala
diatônica, basta olharmos a figura abaixo:

Intervalos

O intervalo entre duas notas é definido da seguinte maneira: se a frequência de uma nota

é  , e a da outra é  , então o intervalo entre elas é a razão  . Se esta razão for igual a 2, o intervalo é chamado

de oitava justa. Outros intervalos também recebem nomes especiais:   = quinta justa,   = quarta justa,   = terça maior, 

 = terça menor,   = tom maior,   = tom menor,   = semitom. O intervalo entre o tom maior e o tom menor, igual
a 81/80, é chamado uma coma pitagórica, e é considerado o menor intervalo perceptível pelo ouvido humano.
A escala que acabamos de obter também se chama a escala de dó maior. Se tivéssemos começado com a corda sol de
um instrumento musical, e fizéssemos a mesmíssima divisão da corda que fizemos acima, obteríamos não mais a escala de
dó maior, mas sim a escala de sol maior. A escala que criamos acima tem a seguinte distribuição de intervalos:

dó ré mi fá sol lá si dó
V V V V V V V
tom tom semitom tom tom tom semitom

Suponhamos que queremos formar uma escala que soe melodicamente igual à escala de dó maior, mas começando
na nota sol.

sol lá si dó ré mi fá sol
V V V V V V V
tom tom semitom tom tom semitom tom

A escala acima não soa melodicamente igual à escala de dó maior, e é fácil ver porque. A distribuição dos semitons não

102
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
é a mesma. Para que isto aconteça, uma nota da escala tem T b3 4 5 b7
que ser alterada. Mais precisamente, o fá tem que subir (Obs: qualquer escala de 5 notas com a terça menor
um pouco para ficar mais próximo do sol e mais longe do poderia ser considerada uma pentatônica menor porém
mi. Ou seja: dizemos que o fá tem que virar fá sustenido. esta é a mais usada)
Resolvendo uma equação, acharemos facilmente que pre- Esta é a escala preferida pelos músicos de blues, rock
cisamos multiplicar a frequência desta nota por 25/24. e metal. Nela podemos incluir, ainda, uma sexta nota, no
Definição:  Sustenir uma nota é multiplicar sua fre- grau b5, também chamada de blue note, formando assim
quência por 25/24. uma escala típica do blues.
Similarmente, se quisermos criar uma outra escala que
soe melodicamente igual à escala de dó maior, mas come-
çando na nota fá, veremos que teremos que alterar uma Como já foi dito, podemos montar escalas pentatôni-
nota da escala. Mais precisamente, o si vai ter que virar si cas bastando, para isto, pegar 5 notas distintas quaisquer.
bemol.
Definição:  Bemolizar uma nota é multiplicar sua fre- Pentas menores
quência por 24/25. C Eb F G Bb : penta menor com sonoridade próxima
da escala menor de blues; C Eb F Ab Bb : penta menor com
sonoridade próxima da escala frígia; C Db F G Bb : penta
Escala pentatônica menor com sonoridade japonesa; C Eb F G A : penta me-
Denominam-se escalas pentatônicas, em música, ao nor com sonoridade jazz; C Eb F A Bb : penta menor com
conjunto de todas as escalas formadas por cinco notas sonoridade alterada.
ou tons. As mais usadas são as pentatônicas menores e as
maiores, que podem ser ouvidas em estilos musicais como Pentas maiores
o blues, o rock e a música popular. Muitos músicos deno- C D E G A : penta maior com sonoridade próxima da
minam-na simplesmente de penta. escala maior natural; C D E G Bb : penta maior com sonori-
Afirma-se que surgiu na China, por algum músico que
dade próxima da escala mixolídia; C D E Gb A : penta maior
reuniu as divisões melódicas propostas por Pitágoras, que
com sonoridade jazz ou lídio
descobriu que, se uma corda gerava uma nota “x” e fosse
dividida ao meio, geraria a mesma nota porém uma oitava
Aplicações
acima, ou dividida em 3 gerando outro intervalo harmôni-
• As escalas pentatônicas maiores e menores são as
co e assim sucessivamente[1]. Foi o início da harmonia na
escalas mais estáveis pois não possuem intervalos de se-
música.
mitom e por isso são facilmente reproduzidas vocalmente,
A escala pentatônica organizada com as divisões em
podendo ser cantadas
três propostas por Pitágoras, era gerada em seis intervalos
distintos: si, dó, ré, mi, sol, lá. A proximidade da nota si para • As escalas pentatônicas são mais ambíguas do que
a nota dó era muita e, quando tocadas juntas, geravam as escalas diatônicas de 7 notas e por isso são boas opções
uma dissonância. Por essa razão foi retirada a nota si desta para o improviso,assim para um mesmo acorde podemos
escala, sendo formada a escala de 5 tons. escolher várias pentas que soarão bem com ele…
Pentatônica maior • Invertendo as notas desta mesma escala pentatô-
A escala pentatônica maior, mais usada, é aquela de- nica maior temos outras quatro escalas pentatônicas. As-
rivada da escala maior (ou jônica, iônica) quando tiramos sim a escala penta maior de C começada na nota A formará
o 4º e o 7º grau. Exemplo de escala pentatônica maior em a escala penta menor de A.
Dó (C): • Na guitarra ou violão podemos memorizar facil-
C D E G A (ou Dó Ré Mi Sol La) ⇒ repare que as as notas mente os 5 padrões ou shapes formados por cada inversão
F (Fá) e B (Si) da escala maior natural foram suprimidas da escala pentatônica e usá-los para o improviso
T 2 3+ 5 6 ⇒ graus da escala com os intervalos de • No blues é comum usarmos a pentatônica menor
1+1+1+semitom+1 para improvisar sobre um acorde dominante maior. Por
exemplo, podemos improvisar com a penta menor de Lá
Obs: qualquer escala de 5 notas com a terça maior po- (A) no acorde A7 (lá maior dominante).
deria ser considerada como uma pentatônica maior, porém
esta é a forma mais comum. Escala cromática
O que é uma escala cromática?
Pentatônica Menor Quando introduzimos as notas alterada (acidentes mu-
O mesmo raciocínio feito para a construção da escala sicais), ou notas aumentadas – ou diminuídas – em meio
pentatônica maior pode ser feito para construir a pentatô- tom na Escala Diatônica (escala formada com as notas na-
nica menor que é baseada na escala menor natural, porém turais), formamos a Escala Cromática.
sem o 2º e o 6º grau. Veja o exemplo de uma escala penta- A Escala Cromática é formada pela sequência exata dos
tônica menor em Dó (C)e veja seus intervalos: Semitons que formam a nossa música, assim podemos ter
C Eb F G Bb (ou Dó Mib Fa Sol Sib) com os intervalos de a perfeita visualização das notas que formam o nosso sis-
1+semitom+1+1semitom. tema musical.

103
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Chamamos de cromática a escala de 12 sons criada pelos ocidentais através do estudo das frequências sonoras. A es-
cala é formada pelas 7 notas padrão da escala diatônica acrescidas dos 5 tons intermediários
Para entendermos a escala cromática, podemos pegar o padrão da escala de dó maior e inserir os cinco sons existentes
entre as notas que têm entre si o intervalo de um tom. No violão, basta seguir melodicamente casa por casa (semitom por
semitom) até a 12 nota, a partir do que se repetirá a escala. No piano, tocamos todas as teclas (brancas e pretas, sem pular
nenhuma) melodicamente.
Esta escala serve de embasamento para alguns estilos musicais como a música serial, aleatória, dodecafônica e micro-
tonal
A Escala Cromática pode ser disposta de duas formas: a ascendente e descendente.

Vejamos por exemplo a Escala Cromática ascendente em Dó:

 
 Ascendente —–>

  
Vejamos agora a Escala Cromática descendente em Dó:

 
 
<—– Descendente

 
  
Como podemos observar através da Escala Cromática Ascendente, as notas Mi e Si não possuem o acidente Sustenido,
caso ocorresse poderíamos afirmar que a nota Mi# é o mesmo que a nota Fá (natural) e a nota Si# é o mesmo que a nota
Dó (natural).
Também podemos observar na Escala Cromática Descendente que as notas Fá de Dó não possuem o acidente Bemol,
caso ocorresse poderíamos afirmar que as notas Fab é o mesmo que a nota Mi (natural) e que a nota Dób é o mesmo que
a nota Si (natural).

Intervalos
Um intervalo musical é a diferença de altura que existe entre duas notas musicais, ou seja, é a distância entre dois
sons de altura diferente.

104
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação

Intervalos Melódicos e Intervalos Harmónicos

Quando as duas notas de um intervalo são tocadas uma de cada vez formam um Intervalo Melódico.
Se as duas notas de um intervalo são tocadas ao mesmo tempo formam um Intervalo Harmónico.

Intervalos Melódicos Ascendentes e Intervalos Melódicos Descendentes


Se a primeira nota de um intervalo melódico é mais grave do que a segunda, esse intervalo é designado de Intervalo
Melódico Ascendente.
Por outro lado, se a primeira nota a ser tocada for mais aguda do que a segunda o intervalo chama-se Intervalo Me-
lódico Descendente.

105
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Síntese:

42

Harmonia
Harmonia é a combinação dos sons ouvidos simultaneamente, é o agrupamento agradável de sons. No nosso exemplo,
você poderia muito bem tocar a música apenas com uma nota de cada vez, porém ficaria sem graça. Por isso, quanto mais
notas musicais você tocar simultaneamente (acordes) de forma agradável, harmoniosa, melhor será a música.
Em música, a Harmonia é o campo que estuda as relações de encadeamento dos sons simultâneos (acordes). Tradicio-
nalmente, obedece a uma série de normas que se originam nos processos composicionais efetivamente praticados pelos
compositores da tradição européia, entre o período do fim da Renascença ao fim do século XIX.

Significado de Harmonia na Teoria Musical


No período histórico compreendido entre fins da Renascença e fins do século XIX, organizou-se e desenvolveu-se o
sistema tonal. A harmonia é assim, nesse contexto, a área da Teoria Musical que descreve e normatiza as relações de cons-
trução e encadeamento dos acordes dentro do sistema tonal. Essa visão foi claramente exposta em 1884 pelo musicólogo
alemão Hugo Riemannao comentar que “a teoria da harmonia tem por objeto o estudo e a aplicação das leis que regem
o encadeamento logicamente racional e tecnicamente correto dos acordes (ressonâncias simultâneas de vários sons de
alturas diferentes)”. Assim, a harmonia se articula com a organização interna do sistema tonal, que estrutura uma série es-
pecífica de acordes que formam o denominado campo harmônico, e os hierarquiza num conjunto de relações e funções.
Temos por um lado, então, a noção estrutural dos acordes que se baseiam na sobreposição das notas da tonalidade utili-
zando o intervalo de terça como gerador e, por outro lado, a noção funcional de que cada acorde desempenha uma função
específica dentro do sistema tonal. A Harmonia é às vezes uma terapia para muita gente..

História do Conceito
O conceito de Harmonia surge indubitavelmente com os gregos, especificamente em Pitágoras, mas também em Herá-
clito, Nicômaco e Platão, dentre outros. Resgatar essa origem é importante porque é o conceito grego antigo que permeia
a noção de Harmonia tal como ela foi compreendida pela tradição musical européia, em sua práxis e teoria. Para os gregos
a “arkhé” (princípio invisível da unidade) e a “phýsis” (princípio visível da unidade) - o Uno, se torna o “kosmos” - o Múltiplo,
se articulando através de duas dimensões, ordem e caos. Esse jogo dos opostos é a fonte da Harmonia Cósmica, dado que
ela, a Harmonia, representa a qualidade de relação, ordenação e organização dessas dimensões inerentes ao “kosmos”. A
partir da descoberta tradicionalmente creditada a Pitágoras da relação matemática dos intervalos musicais, a harmonia (e a
música como sua principal manifestação) passou a ser considerada como o princípio que organizava a transição do número
absoluto, a Unidade, para os números diversos, a Multiplicidade, através da concordância entre os princípios opostos de
ordem e caos. É dai que surge o conceito de Harmonia das Esferas, tão característico dos pitagóricos. E este pensamento
pode ser rastreado claramente nas praticas composicionais e teóricas da Harmonia européia. Quando Riemann, na defini-
ção citada acima, diz “leis” e “logicamente racional”, ele reflete claramente essa cosmovisão grega, ainda que possa estar
desprovida de seu caráter metafísico mais evidente. Harmonia na visão grega seria a qualidade cósmica que daria ordem
e sentido ao jogo entre o caos, as dissonâncias, e a ordem, as consonâncias, vencendo sempre e afirmando-se necessa-
riamente, a ordem ou consonância. Quando começamos a entender a harmonia na sua dimensão técnica e “artesanal”, tal
como na teoria de Riemann, não podemos nos esquecer que toda a sua construção reflete esse modo antigo de pensa-
mento, que dá um caráter natural e necessário as construções e normas harmônicas. Arnold Schoenberg foi o primeiro a
contestar essa visão de “legal” e “logicamente racional”, para ver a Harmonia (enquanto teoria) mais como um compêndio
das praticas dos compositores históricos (mas mesmo ele acaba cedendo ao caráter cósmico da ordem harmônica quando
42 Por Esmeralda Carvalho

106
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
postula a conquista dos materiais da série harmônica pela Funções Harmônicas
estruturação histórica dos acordes. A diferença nesse caso Introduzida a princípio por Hugo Riemann, a harmonia
é sua contestação do princípio cósmico da dualidade e sua funcional no Brasil teve como principal precursor e expoen-
resolução ao princípio do Um (phýsis)ou série harmônica te o compositor, professor e musicólogo alemão, naturali-
como repositório de todas as possibilidades harmônicas. zado brasileiro, Hans-Joachim Koellreutter. De acordo com
Desse modo haveria para Schoenberg apenas “phýsis”, essa teoria, a função principal do sistema tonal é a tônica,
sendo que o ordem e caos era apenas definível historica- da qual se origina o nome do sistema. Ela é representa-
mente e não ontologicamente). da, por exemplo, pelo acorde de Dó, dentro da tonalidade
de Dó. As funções harmônicas são as de repouso (tônica),
História da Prática e Teoria Moderna aproximação (dominante) e afastamento (sub-dominante).
No Séc. XVI o termo Harmonia, em música, passa a ter Essas funções permitiram ao discurso tonal configurar uma
o significado moderno que lhe atribuímos, com a transição relação temporal de perspectiva, onde o ouvinte é levado
das Formas Polifônicas para as Formas Homofônicas. Em a perceber o movimento musical em uma direção. Assim,
Bach tem-se o ponto de intersecção das duas diferentes por exemplo, era bastante comum que o final das peças de
formas composicionais. Em seus Corais, por exemplo, te- música clássica (música de concerto) européia sempre ter-
mos a perfeita integração das dimensões horizontais (po- minassem/finalizassem com o movimento (encadeamento)
lifônicas) e verticais (harmônicas). Cada uma das quatro dominante-tônica, fato esperado por todos os ouvintes.
vozes é uma voz melódica completa, ao estilo polifônico, e Por comparação, esse discurso é diferente do habitual-
simultaneamente, participam da estrutura dos acordes em mente praticado nas músicas modais, que é estruturado de
seus encadeamentos e cadências. Polifonia e Harmonia si- modo circular, ou seja, de modo não direcional, isto é, sem
multaneamente. a necessidade de que haja apenas um único centro polari-
Em 1722 o francês Jean-Philippe Rameau publica o seu zado; e ao das músicas pós-tonais, nas quais o conceito de
Traité de l’harmonie réduite à sés príncipes naturels (Tra- direção também não existe, passando a obedecer a diver-
tado de Harmonia Reduzida aos seus Princípios Naturais). sas outras formas de organização do discurso.
Não se trata da primeira obra teórica sobre harmonia, con-
tudo, ao espírito de seu tempo, busca fundar uma ciência
Campo Harmônico
harmônica, uma Teoria Natural da Harmonia. No Tratado
O conjunto de notas que uma tonalidade gera, através
Rameau introduz teoricamente a ideia de Tonalidade, e os
do princípio da sobreposição de terças, o conjunto de acor-
termos Tônica, Subdominante e Dominante. Porém estes
des denominado campo harmônico da tonalidade. Assim,
não têm para Rameau a acepção moderna das Funções
por exemplo, em dó maior temos um campo harmônico
Harmônicas, tais como veremos posteriormente em Hugo
com sete acordes gerados pelo esquema de sobreposição
Riemann e em Arnold Schoenberg. Para Rameau tônica era
de terças na composição dos acordes. Cada acorde desse é
o acorde perfeito (ou “natural”), resultado de duas terças
um grau da tonalidade. Esses sete acordes são a totalidade
sobrepostas; subdominante seria o acorde perfeito com
uma sexta adicionada e dominante o acorde perfeito com de possibilidades harmônicas da tonalidade em questão.
a sétima adcionada. Rameau e Bach são as duas vertentes, Cada acorde, individualmente ou em grupo, pertence a
teórica e prática, que consolidam e dão forma a todo o de- uma das funções especificadas acima. Assim, na tonalidade
senvolvimento posterior da Harmonia. A partir da Teoria de de dó maior, o acorde de dó maior representa a função
Rameau, surgem duas vertentes que compõem a base da de repouso, e sol maior e fá maior as funções de movi-
Teoria Harmônica moderna: a Teoria dos Graus e a Teoria mento, respectivamente, de aproximação e afastamento.
Funcional. A primeira foi originada porGottfried Weber e Temos, então, da junção das Teorias Funcional e da Teoria
bastante popularizada no século XX através do trabalho de do Graus, um campo harmônico com sete possibilidades
Heinrich Schenker, o qual faz uso da teoria dos graus em de acordes no modo maior e treze no modo menor, porém
sua obra, de cunho mais analítico. A segunda tem suas raí- com apenas três funções. Assim cada função será represen-
zes esboçadas por Moritz Hauptmann, compositor e teóri- tada por um acorde principal, ou por acordes secundários
co alemão, mas só ganha real status de teoria com Hugo (ou substitutos).
Riemann. Posteriormente, Schoenberg faz uma síntese Quando falamos em harmonia, vinculando-a ao siste-
desse material e, como compositor e teórico do ocaso das ma tonal, não significa que não haja harmonia nas formas
praticas composicionais do tonalismo, tem uma visão pri- modais e pós-tonais — mesmo porque nessas formas mu-
vilegiada do Sistema tonal. Em seu Tratado de Harmonia[3] sicais existem acordes, e eles se organizam com base em
de 1911, e em seu livro “Funções Estruturais da Harmonia”, estruturas e relações específicas — mas, apenas que o que
expõe didatica e exaustivamente a Teoria Harmônica tal é descrito como harmonia, dentro da teoria musical tradi-
como se compreende atualmente. Nessa obra vemos ainda cional — e que compreende as noções de acordes como
uma herança de Rameau, tendo em vista que Schoenberg sobreposição de intervalos de terça, de campo harmônico
busca dar um fundamento natural às questões harmônicas, e de funções harmônicas — faz parte apenas do sistema
entendendo-as como um desdobramento dos materiais tonal e das práticas composicionais através das quais esse
acústicos da Série harmônica. sistema se desenvolveu entre os séculos XVI e XIX.

107
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Modalismo pelo sistema modal, além de despertar a curiosidade dos
Processo criativo musical: o modalismo como ferra- alunos, os desafia a criar e apreciar o resultado de uma
menta de ensino-aprendizagem na linguagem musical música antes nunca explorada. Nesse contexto, Sena (1990)
Desde a antiguidade e ao longo da História a música argumenta:
modal sempre esteve presente nas diversas culturas, so- Acho essencial o ensino de modalismo na formação do
bretudo orientais, assim como também foi a base da músi- músico.
ca eclesiástica na Idade Média. Mesmo com o surgimento A gente procura fazer um tipo de música envolvendo
do sistema tonal, a partir do Romantismo, foi retomado o sempre os alunos em processos criativos e você tem uma
interesse pelo modalismo na música de concerto; que, de aridez, uma esterilidade enorme, quando fica somente no
Brahms, passando por impressionistas como Debussy, che- modo maior e menor tonal. É impressionante quando você
gou até os nacionalistas como Béla Bartok, Zoltán Kodály, passa pelo canto de canções modais, e reflete um pouco so-
Guerra-Peixe, Radamés Gnattali e Villa-Lobos. bre aquelas estruturas e pede aos alunos para criarem em
Infelizmente há pouco material bibliográfico que dis- seguida. Eles deslancham maravilhosamente coisas sur-
corre acerca dos processos de composição e execução da preendentes, graças puro e simplesmente a um grau diferen-
música modal tal como era praticada nas diferentes cultu- cial. Isto deflagra na mente deles uma perspectiva melódica
ras. Todavia, algumas características presentes, sobretudo e harmônica que não dá para entender como a coisa é tão
na música grega, mostram que a música modal era qua- forte. Eles ficam deslumbrados com a atração, por causa de
se inteiramente improvisada e fortemente ligada à poesia. um grau diferencial e isso traz um conteúdo, uma substância
Descobertas musicológicas a revelam numa textura mo- muito grande para um trabalho de criação e renovação da
nofônica, construída sobre determinado modo com saltos música (FLAUZINO, 2008, p.01)
consonantes, geralmente compensados na direção oposta Gest (2010), em seu livro Harmonia, discorre sobre as
com ritmos irregulares obedecendo à musicalidade natural diferenças entre tonalismo e modalismo, propondo uma
das palavras (GROUT; PALISCA, 2001). Segundo Paz (1990) visão panorâmica entre essas duas linguagens musicais e
o que mais caracteriza o sistema modal é a multiplicidade tratando-as como polos opostos que se encontram hoje
de escalas, de configurações sonoras resultantes da distri- entrelaçados e inseparáveis na música do mundo. Em suas
citações, Gest explica metaforicamente e quase poetica-
buição de tons e semitons no contexto escalar.
mente as reações surpreendentes que a música modal
Na catequese dos índios brasileiros, empreendida pe-
pode causar no aluno de música, complementando a expe-
los jesuítas, a prática musical foi um instrumento de grande
riência de Helio Sena citada anteriormente.
importância, sendo bastante provável que várias das peças
A música modal é milenar, tem a história da humani-
musicais utilizadas nessa finalidade fossem gregorianas,
dade e expressa sua emoção. É base nos ritmos de vitória,
portanto modais. Souza (1959) postula que essa prática foi
derrota e prece. É contagiante e estimula à participação. É
uma das origens do modalismo na música folclórica brasi- intermitente, sem momento de partida e de término. É feita
leira e salienta que, após diligente pesquisa, pode-se afir- de ritmos, sonoridades e climas. A melodia é simples, curta e
mar que existem no populário musical brasileiro exemplos repetitiva. A harmonia, se é que existe, é feita de um ou pou-
escritos em todos os modos gregorianos. cos acordes, que sempre são tríades, por vezes não cifráveis
É nessa perspectiva que, no folclore musical do Brasil, (não decifráveis). Num permanente crescendo, acompanha
Siqueira (1981) sustenta a hipótese da influência gregoria- o entusiasmo tribal, ou lamenta e chora, conforme os capri-
na na formação do sistema modal. Todavia, na música fol- chos do ânimo. Tudo nela é coletivo, e convida a entrar na
clórica nordestina, que foi seu campo de estudo, reconhe- roda, a participar. A tribo vem até os nossos dias.
ce somente três modos maiores: o lídio, o mixolídio e um Diante deste quadro compararemos a música tonal a
que resulta da mistura destes dois. No Brasil, a ocorrência uma comunidade habitacional organizada e limitada, com
destas escalas seria a implicação dos expedientes utiliza- regulamentos, estatutos próprios, mapas e roteiros, onde a
dos pelos Jesuítas para evitar o trítono, intervalo visto pela harmonia seja a fina flor da sociedade. Modalismo é tudo
Igreja como o “diabo na música”. Assim, a fim de modificar que está fora das muralhas dessa comunidade; é o universo,
tal intervalo, nas escalas costumava-se baixar o sétimo grau é o restante da música, a própria liberdade. Dentro dela, a
ou elevar o quarto grau. O uso destas alterações teria se harmonia se reduz a mero ingrediente climático/ percussivo
tornado um hábito, o que resultou na origem dos modos. ou oferece um tapete de veludo. É de caminhos previsíveis e
Apesar de o estudo da música europeia ocupar posição inexplicáveis, como o próprio universo.
de destaque no Brasil, já existe a preocupação de inserir a O tonalismo constrói um castelo extremamente elabo-
música nacional na grade curricular das escolas de música. rado e delicado; o modalismo o derruba de um só golpe,
Nesse sentido, nota-se que nas aulas de teoria e percepção instalando em seu lugar uma fazenda imensa; o homem
musical os estudantes têm grande contato com o sistema volta ao contato com a terra, ainda que as memórias do
tonal, restrito aos modos maiores e menores. Por outro castelo continuem profundamente enraizadas. Isto acontece
lado, o sistema modal, um importante elemento da música porque a música hoje tem a tendência de uma linguagem
brasileira, ainda é pouco explorado pelos programas de es- cada vez mais voltada ao modalismo, posto que o tonalis-
tudos das escolas de música. mo, demasiado pragmático, não oferece estímulo suficiente
Em pesquisas realizadas no Centro de Educação Profis- para a contemplação, exaltação e desejo de participação do
sional em Artes Basileu França, na cidade de Goiânia, per- homem contemporâneo. Estamos vivenciando a volta às ori-
cebe-se que as diferentes possibilidades sonoras geradas gens. (IAN GUEST, 2010)

108
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Nas aulas de música, o processo criativo é um gran- partir do levantamento bibliográfico e da implantação de
de desafio no sentido de estimular a criatividade do aluno. aulas com 1h40min cada, divididas em duas (2) sessões de
Pode-se aduzir que quando se insere um elemento novo (50) cinquenta minutos. A verificação de aprendizagem foi
nesse processo, o modalismo, a aprendizagem se torna resultante das criações modais dos alunos e dos testes teó-
singular e inovadora, fornecendo ao estudante elementos ricos e de percepção aplicados periodicamente ao longo
para desenvolver suas aptidões, sua autonomia de ação, do processo.
suas características individuais e até mesmo seus próprios Tendo como referência a hipótese de que, através de
limites. um processo criativo musical, a utilização do modalismo
Uma atitude criativa representa uma resposta adequa- como ferramenta de ensino de música, promove um meio
da a uma situação nova e uma resposta mais adequada e favorável ao aprendizado da linguagem musical, os resulta-
construtiva a dos desta experiência mostraram que o ambiente inovador
uma situação antiga, devendo o indivíduo criador ser proporcionado pelo modalismo, tornou a aprendizagem
capaz de modificar seu comportamento em resposta a no- singular e mais receptiva. Também forneceu aos alunos
vas informações, desenvolver perspectivas a fim de progre- elementos para desenvolver suas aptidões, sua autonomia
dir por si mesmo, de modo consistente, num estilo único de ação, suas características individuais e explorar seus li-
de aprendizagem, estimulando a mudança, proporcionan- mites.43
do oportunidades para transgredir e aplicar o conhecimen-
to às situações da realidade ( NOVAES, 1980, p.48). O Ensino de Música
Com base no que foi visto, este trabalho teve como A música sempre esteve associada às tradições e às
meta investigar, entender e divulgar a importância do mo- culturas de cada época. Atualmente, o desenvolvimento
dalismo no ensino-aprendizagem de música, levando em tecnológico aplicado às comunicações vem modificando
conta a grande variedade sonora nele encontrada que mui- consideravelmente as referências musicais das sociedades
to enriqueceu o processo de criação musical. pela possibilidade de uma escuta simultânea de toda pro-
Após um breve levantamento bibliográfico acerca dução mundial por meio de discos, fitas, rádio, televisão,
do ensino do modalismo nas escolas de música do Bra-
computador, jogos eletrônicos, cinema, publicidade, etc.
sil, nota-se um déficit de trabalhos publicados nesta área.
Qualquer proposta de ensino que considere essa diver-
Constata-se ainda que as práticas de criação musical para
sidade precisa abrir espaço para o aluno trazer música para
desenvolvimento da escrita e percepção musical, direcio-
a sala de aula, acolhendo-a, contextualizando-a e ofere-
nadas para o modalismo, são escassas e pouco exploradas.
cendo acesso a obras que possam ser significativas para o
Pesquisas mostraram algumas poucas obras que discu-
seu desenvolvimento pessoal em atividades de apreciação
tem sobre o ensino do modalismo nas escolas, dentre elas
e produção. A diversidade permite ao aluno a construção
podemos destacar a tese de livre-docência de Emelinda
Paz, 1990 e a obra de Anita Mattos Ugarte, 2005. de hipóteses sobre o lugar de cada obra no patrimônio
Nesse contexto, sabe-se que alguns trabalhos são rea- musical da humanidade, aprimorando sua condição de
lizados para a compreensão histórica e teórica, porém pou- avaliar a qualidade das próprias produções e as dos outros.
co se faz em relação à prática, direcionada ao desenvolvi- Composições, improvisações e interpretações são os
mento da percepção, apreciação e criação musical. produtos da música.
Mesmo sabendo que o modalismo sempre presente O processo de criação de uma composição é condu-
em muitos universos musicais diferentes _ tais como em zido pela intenção do compositor a partir de um projeto
composições de Maurice Ravel, Claude Debussy, Jean Si- musical. Entre os sons da voz, do meio ambiente, de ins-
belius, Villa-Lobos e outros, na música popular urbana e trumentos conhecidos, de outros materiais sonoros ou
folclórica brasileira, no jazz e na música instrumental, _ per- obtidos eletronicamente, o compositor pode escolher um
cebe-se que ele é muito pouco explorado pelos programas deles, considerar seus parâmetros básicos (duração, altura,
de estudo nas escolas de música. timbre e intensidade), juntá-lo com outros sons e silêncios
Nesse sentido, o aluno de música, situado nos limites construindo elementos de várias outras ordens e organizar
demarcados pelo tonalismo, acaba perdendo a oportuni- tudo de maneira a constituir uma sintaxe. Ele pode também
dade de enriquecer seu conhecimento e expandir sua per- compor música pela combinação com outras linguagens,
cepção sonora para além de uma atmosfera pouco viven- como acontece na canção, na trilha sonora para cinema ou
ciada em seu cotidiano. para jogos eletrônicos, no jingle para publicidade, na mú-
A experiência teve como objetivo principal, realizar sica para dança e nas músicas para rituais ou celebrações.
um estudo sobre a importância do modalismo no ensino- Nesse tipo de produção o compositor considera os limites
-aprendizagem nas aulas de linguagem musical direcio- que a outra linguagem estabelece.
nando para o desenvolvimento da prática musical criativa. Uma vez que a música tem expressão por meio dos
Para isso, foram elaboradas vivências baseadas da expe- sons, uma obra que ainda não tenha sido interpretada só
riência-ação (aulas) de Linguagem Musical com alunos do existe como música na mente do compositor que a conce-
Centro de Educação Profissional em Artes Basileu França beu. O momento da interpretação é aquele em que o pro-
– Goiânia, adolescentes e adultos. jeto ou a partitura se tornam música viva. As interpretações
Esta experiência, de caráter qualitativo, com análise são importantes na aprendizagem, pois tanto o contato
quantitativa (perfil dos sujeitos e aferição de aprendizagem) direto com elas quanto a sua utilização como modelo são
e qualitativa, tratou-se de uma pesquisa-ação executada a 43 Por Rejane de Melo e Cunha e Silva

109
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
maneiras de o aluno construir conhecimento em música. seus elementos: o arranjo de base. Nas atividades com esse
Além disso, as interpretações estabelecem os contextos elemento é importante lembrar que se considera música,
onde os elementos da linguagem musical ganham signi- por exemplo, tanto uma batucada de samba quanto uma
ficado. canção que a utilize como arranjo de base.
As improvisações situam-se entre as composições e as Para que a aprendizagem da música possa ser funda-
interpretações. São momentos de composição coincidin- mental na formação de cidadãos é necessário que todos
do com momentos de interpretação. Na aprendizagem, as tenham a oportunidade de participar ativamente como ou-
atividades de improvisação devem ocorrer em propostas vintes, intérpretes, compositores e improvisadores, dentro
bem estruturadas para que a liberdade de criação possa ser
e fora da sala de aula. Envolvendo pessoas de fora no en-
alcançada pela consciência dos limites.
riquecimento do ensino e promovendo interação com os
Um olhar para toda a produção de música do mundo
grupos musicais e artísticos das localidades, a escola pode
revela a existência de inúmeros processos e sistemas de
composição ou improvisação e todos eles têm sua impor- contribuir para que os alunos se tornem ouvintes sensíveis,
tância em função das atividades na sala de aula. amadores talentosos ou músicos profissionais. Incentivan-
Do ponto de vista da organização das alturas dos sons, do a participação em shows, festivais, concertos, eventos da
o sistema modal/tonal11 , que está na base das músicas cultura popular e outras manifestações musicais, ela pode
de praticamente todas as culturas até o século XIX, per- proporcionar condições para uma apreciação rica e ampla
manece até hoje como a grande referência, inclusive para onde o aluno aprenda a valorizar os momentos importan-
compositores que criaram seus próprios sistemas. Sua in- tes em que a música se inscreve no tempo e na história.
clusão como conteúdo neste documento tem a finalidade
de garantir a presença, no ensino fundamental, dando ao Comunicação e expressão em música: Interpreta-
aluno maiores oportunidades para o desenvolvimento de ção, improvisação e composição
uma inteligência musical. • Interpretações de músicas existentes vivenciando um
Estudar o sistema modal/tonal no Brasil, por meio das processo de expressão individual ou grupal, dentro e fora
culturas locais, regionais, nacionais e internacionais, cola- da escola.
bora para conhecer a nossa língua musical materna. • Arranjos, improvisações e composições dos próprios
A escolha dessa expressão que integra os sistemas mo- alunos baseadas nos elementos da linguagem musical, em
dal e tonal está em consonância com tendências contem- atividades que valorizem seus processos pessoais, conexões
porâneas de estudá-los em função de suas interseções. Ver
com a sua própria localidade e suas identidades culturais.
Persichetti, V., 1965.
• Experimentação e criação de técnicas relativas à inter-
Figurando entre as mais importantes tradições musi-
cais, as canções são composições produzidas nesse siste- pretação, à improvisação e à composição.
ma, sendo responsáveis por parcela significativa da produ- • Experimentação, seleção e utilização de instrumentos,
ção musical do País, incluindo as veiculadas no mercado. As materiais sonoros, equipamentos e tecnologias disponíveis
canções brasileiras constituem um manancial de possibili- em arranjos, composições e improvisações.
dades para o ensino da música com música e podem fazer • Observação e análise das estratégias pessoais e dos
parte das produções musicais em sala de aula, permitindo colegas em atividades de produção.
que o aluno possa elaborar hipóteses a respeito do grau de • Seleção e tomada de decisões, em produções indi-
precisão necessário para a afinação, ritmo, percepção de viduais e/ou grupais, com relação às ideias musicais, letra,
elementos da linguagem, simultaneidades, etc. técnicas, sonoridades, texturas, dinâmicas, forma, etc.
Nas produções musicais em sala de aula, é importan- • Utilização e elaboração de notações musicais em ati-
te compreender claramente a diferença entre composição vidades de produção.
e interpretação. Numa canção, por exemplo, elementos • Percepção e identificação dos elementos da lingua-
como melodia ou letra fazem parte da composição, mas gem musical em atividades de produção, explicitando-os
a canção só se faz presente pela interpretação, com todos por meio da voz, do corpo, de materiais sonoros e de ins-
os demais elementos: instrumentos, arranjos em sua con- trumentos disponíveis.
cepção formal, arranjos de base com seus padrões rítmicos, • Utilização e criação de letras de canções, parlendas, raps,
características interpretativas, improvisações, etc. O intér-
etc., como portadoras de elementos da linguagem musical.
prete experiente sabe permitir que as mais sutis nuanças
• Utilização do sistema modal/tonal na prática do can-
da canção interpretada inscrevam-se na sua voz, que passa
to a uma ou mais vozes.
a ser portadora de uma grande quantidade de elementos
da linguagem musical. Para que possa ser capaz de fazer o • Utilização progressiva da notação tradicional da mú-
mesmo, o aluno necessita das interpretações como refe- sica relacionada à percepção da linguagem musical.
rência e de tempo para se desenvolver por meio delas, até • Brincadeiras, jogos, danças, atividades diversas de
que adquira condições de incorporar a canção com todos movimento e suas articulações com os elementos da lin-
os seus elementos. guagem musical.
A canção oferece ainda a possibilidade de contato com • Traduções simbólicas de realidades interiores e emo-
toda a riqueza e profusão de ritmos do Brasil e do mundo, cionais por meio da música.
que nela se manifestam principalmente por meio de um de

110
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Apreciação significativa em música: escuta, envolvi- como conhecemos hoje, na Grécia, porém, foi Guido D’Are-
mento e compreensão da linguagem musical zzo, monge italiano, quem colocou os nomes das notas
• Percepção e identificação dos elementos da lingua- musicais como conhecemos hoje - já que os gregos utili-
gem musical (motivos, forma, estilos, gêneros, sonoridades, zavam as letras do alfabeto, de A (lá) à G (sol), utilizando o
dinâmica, texturas, etc.) em atividades de apreciação, expli- Hino a São João, em latim.
citando-os por meio da voz, do corpo, de materiais sonoros Posteriormente, o Ut foi substituído pelo Dó, pelo fato
disponíveis, de notações ou de representações diversas. do Ut ser considerado muito difícil para cantar.
• Identificação de instrumentos e materiais sonoros as- Atualmente, a música está presente no dia-a-dia de to-
sociados a ideias musicais de arranjos e composições. das as pessoas que ouvem, mas nem todos que a ouvem,
• Percepção das conexões entre as notações e a lingua- sabem o que é música. Para saber o que é música, é preci-
gem musical. so primeiro ter conhecimento do que é som, e, som, nada
• Observação e discussão de estratégias pessoais e dos mais é do que a vibração produzida nos corpos elásticos e
colegas em atividades de apreciação. essas vibrações podem ser:
- regalares: aquelas que possuem altura definida, ou
• Apreciação e reflexão sobre músicas da produção, re-
seja, quando conseguimos ouvir que ali foi produzida uma
gional, nacional e internacional consideradas do ponto de
nota musical, como dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, bem como suas
vista da diversidade, valorizando as participações em apre- variações com sustenidos e bemóis;
sentações ao vivo. - irregulares: as vibrações irregulares são todos aqueles
• Discussão e levantamento de critérios sobre a possi- barulhos que ouvimos no dia-a-dia, que podem ditar o rit-
bilidade de determinadas produções sonoras serem música. mo para uma música, como a batida de um instrumento de
• Discussão da adequação na utilização da linguagem percussão (menos marimba e xilofone, que produzem sons
musical em suas combinações com outras linguagens na regulares) ou barulhos do dia-a-dia, que compõem a pai-
apreciação de canções, trilhas sonoras, jingles, músicas sagem sonora, como a sirene de uma ambulância, o som
para dança, etc. das britadeiras de operários, o som de marretas, o som da
• Discussão de características expressivas e da inten- buzina dos carros, o som dos aviões e outros inúmeros
cionalidade de compositores e intérpretes em atividades sons, na qual não podemos distinguir a altura.
de apreciação musical. Bom, agora que sabemos o que é som? O que vem a
• Explicitação de reações sensoriais e emocionais em ser Música? Segundo MED (1996, p. 11), “Música é a arte de
atividades de apreciação e associação dessas reações a as- combinar os sons simultânea e sucessivamente, com ordem,
pectos da obra apreciada. equilíbrio e proporção dentro do tempo.” Com isso, pode-
mos ter uma boa idéia do que vem a ser música, falando
A música como produto cultural e histórico: música sobre suas principais partes, sem, porém, citar os seus no-
e sons do mundo mes: harmonia (sons simultâneos, ou seja, aqueles que são
• Movimentos musicais e obras de diferentes épocas e tocados ao mesmo tempo), melodia (sons sucessivos, ou
culturas, associados a outras linguagens artísticas no con- seja, aqueles que são tocados um após o outro) e ritmo (o
texto histórico, social e geográfico, observados na sua di- andamento, velocidade da música).
versidade. O objetivo do ensino de música na educação básica,
• Fontes de registro e preservação (partituras, discos, não é de se formar músicos, mas sim de formar bons ouvin-
etc.) e recursos de acesso e divulgação da música dispo- tes, que tenham noções daquilo que forma a música (har-
níveis na classe, na escola, na comunidade e nos meios de monia, melodia e ritmo), bem como as suas propriedades
que são:
comunicação (bibliotecas, midiatecas, etc.).
-Altura - através dela podemos identificar se um som
• Músicos como agentes sociais: vidas, épocas e produções.
é grave (grosso) ou agudo (fino);
• Transformações de técnicas, instrumentos, equipa-
-Intensidade através dela podemos perceber a força
mentos e tecnologia na história da música. com que o som foi produzido, ou seja, o volume do som,
• A música e sua importância na sociedade e na vida que muitos chamam erroneamente de altura;
dos indivíduos. -Timbre - através dele podemos identificar os instru-
• Os sons ambientais, naturais e outros, de diferentes épo- mentos que compõem a música;
cas e lugares e sua influência na música e na vida das pessoas. -Duração - através dela podemos ter uma noção do
• Músicas e apresentações musicais e artísticas das co- tempo utilizado na música, podendo identificar compassos
munidades, regiões e País consideradas na diversidade cul- ou andamentos.
tural, em outras épocas e na contemporaneidade. A música sempre esteve muito ligada à poesia, antes
• Pesquisa e frequência junto dos músicos e suas obras enquanto era executada, eram recitadas poesias, com o
para reconhecimento e reflexão sobre a música presente tempo elas passaram a se unir, sendo a música a parte ins-
no entorno. trumental/vocal e a poesia, a letra da música em si.
Agora, por que estudar música? Segundo SCHAFFER
A música surgiu quando o homem descobriu que, ba- (1991), o ensino da música ajuda a criança na coordena-
tendo um objeto no outro, ele produzia sons e que isso não ção do ritmo do corpo, como o andar, caminhar, correr,
era simplesmente, um tanto de barulhos. A música teve vá- saltitar, balançar, podendo sincronizar-se bolas que pulam
rias funções no decorrer da história, como para louvar os com as ondas do mar; galopes de cavalos e outros ritmos
deuses, exaltar autoridades, lutar, etc. e foi sistematizada da natureza.

111
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
O trabalho com o canto envolve a voz, que por sua No ponto de vista da educação musical, Swanwick de-
vez cuida da respiração. Ao se produzir sons com objetos, fende que só é possível uma educação musical efetiva se
inventando uma linguagem própria, dirigindo a educação junto dela houver uma avaliação musical genuína. Mas o
no rumo da experiência e da descoberta. autor ressalta ainda que muitas experiências de aprendi-
Para se ter uma boa noção de tudo isso é importante zagem possam parecer não estar relacionadas a nenhum
que o estudante seja treinado auditivamente, pois, treinan- processo de avaliação, porém nesse momento Swanwick se
do o seu ouvido, conseguirá identificar as propriedades do refere a testes e exames formais.
som, que segundo JEANDOT (1990) é chamada de escuta É a partir desse ponto de vista que podemos iniciar
crítica, ou seja, a pessoa não apenas ouvirá a música, mas nossa discussão a respeito do conceito de avaliação apre-
sim, identificará os elementos que a compõem. sentado por esse autor, pois ele defende que a avaliação
Como aprender tudo isso? Assim, como em tudo na deve contribuir para o processo de aprendizado, sendo
vida, para se aprender música e necessário muito trei- que a verificação de aprendizagem é apenas uma das abor-
no, seja para entendê-la ou para se tocar ou cantar bem. dagens da avaliação, que visa o resultado final da eficiência
Para que a pessoa aprenda música, existem várias formas do trabalho do educador e não da capacidade de aprendi-
e métodos, um deles, que é muito utilizado na educação zado do aluno.
básica, é o método da utilização de jogos e brincadeiras,
que funciona muito bem, principalmente com as crianças, A avaliação no processo de aprendizagem
e que pode ser adaptado para jovens e adultos, através O laço entre os processos de aprendizagem, o desem-
das associações, por exemplo, para se identificar um inter- penho e a avaliação vêm se estreitando sempre com o ob-
valo musical, podemos utilizar trechos de alguma música jetivo de entrelaçá‐los no âmbito do conhecimento novo
conhecida, preferencialmente o início de alguma música. e na sua renovação (BOTH, 2008). BOTH (2008) defende a
Com as crianças podemos utilizar cantigas de roda, criar idéia de que é ensinando que se avalia e é avaliando que
com elas escritas musicais alternativas, etc., fazendo com se ensina. Para o autor a avaliação e o processo de apren-
que elas tenham uma noção rítmica, harmônica e melódica dizagem não só têm se aproximado, mas se fundido em
do que estão realizando.
suas funções de avaliar e ensinar, sendo que ambas são
Outra coisa importante para aprender música, é ouvir
dependentes e se completam. O ensino e a avaliação in-
bastante e imitar os sons que são ouvidos, adquirindo in-
teragem na realidade, porém sem se tornarem distintos.
fluências de alguns artistas, para com o tempo, poderem
É dessa forma que as novas abordagens e concepções de
criar a sua própria identidade musical. No canto, por exem-
avaliação têm se apresentado em investigações científicas
plo, para se adquirir afinação, é preciso treinar bastante a
ou como experimentação prática. Essas novas modalidades
respiração (ela deve ser igual a de um bebê, diafragmática),
avaliativas buscam saciar a necessidade de interação entre
além de se imitar as notas musicais, para afinar a voz e ter
hábitos saudáveis de alimentação. a avaliação e a aprendizagem BOTH (2008).
Além disso, é importante se aprender música, para De acordo com SARAIVA (2005 apud BOTH, 2008) uma
avaliar aquilo que se ouve, independentemente do gosto, consideração importante a respeito da avaliação é que
saber analisá-las sobre um ponto de vista técnico, mesmo quando o educador avalia o aluno, coloca em avaliação
que mínimo, podendo analisar criticamente uma obra mu- também o ensino oferecido, sendo que o aluno terá suces-
sical, analisando todos os elementos nela presentes. so em aprender tanto quanto o educador terá sucesso em
Uma atividade que pode integrar música e artes plásti- ensinar. A autora diz:
cas é a criação de instrumentos musicais com objetos con- “avaliar a aprendizagem do aluno significa, concomi-
siderados como lixo, que vão trabalhar com a criatividade tantemente, avaliar o ensino oferecido [...] [assim,] se não
dos alunos, obtendo sonoridades diferenciadas e estilos di- houver a aprendizagem esperada, estamos diante de uma
versificados, além de desenvolver o consciente dos alunos certeza – o ensino não cumpriu sua finalidade – a de fazer
quanto à preservação do meio ambiente.44 aprender” [...] um sistema de ensino comprometido com o
desenvolvimento das competências e habilidades dos alu-
Avaliaçao nos encontra na avaliação, não um instrumento para apro-
Em todas as circunstâncias da vida a aprendizagem, o var ou reprovar e, sim, uma referência à análise de seus
desempenho e a avaliação se complementam. Isso ocorre propósitos, permitindo‐lhes buscar caminhos para que os
tanto do ponto de vista acadêmico quanto na aplicação alunos sejam bem sucedidos na travessia da passarela da
prática (BOTH, 2008). aprendizagem. (SARAIVA, 2005 apud BOTH, 2008, p. 27)
De modo geral a avaliação torna possível a nossa vida, SARAIVA (2005 apud BOTH, 2008) coloca aqui o pa-
ao passo que em quase todos os momentos da vida pro- pel da avaliação inserida na função do sistema de ensino,
cessamos e passamos por processos de avaliação. Isso ou seja, chegando a abandonar a idéia de verificação de
ocorre mesmo em tarefas comuns do dia a dia como, por aprendizagem ‐ ainda que essa verificação continue sendo
exemplo, ao atravessar uma rua avaliamos a velocidade do necessária ‐ para dar à avaliação um papel fundamental
tráfego da mesma e em outras diversas situações corriquei- durante o processo de aprendizagem do aluno. Durante
ras passamos por processos similares (SWANWICK, 2003). esse processo, as linguagens, as abordagens, e até mesmo
44 Fonte: www.arcos.org.br – Texto adaptado de Franci- o sistema de ensino é que devem se adequar às necessida-
nely P Dinelly des do aluno, para que o processo de ensino e aprendiza-
gem tenha sucesso.

112
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Essa concepção de avaliação apresentada por SARAIVA (2005 apud BOTH, 2008) está relacionada às idéias apresenta-
das por SWANWICK (2003) quando se propõe a fundir a avaliação com o processo de aprendizagem vai ao encontro da
resolução da problemática apresentada por DEMO (2007) que diz que não há uma didática que se relaciona diretamente
ao interesse e à forma como os alunos lêem o mundo no século XXI.

A avaliação “musical” de Keith Swanwick


Para SWANWICK (2003) as práticas de avaliação existentes podem ser aprimoradas criando caminhos mais eficazes
para a avaliação musical. Porém para falarmos com profundidade das abordagens em avaliação de SWANWICK (2003) é
necessário considerar que o autor tem uma visão da música como discurso através de metáforas. E isso acarreta várias
consequências importantes para a educação musical. O autor apresenta três formas pelas quais entende que a música
funciona por metáforas:
1. Transformamos sons em “melodias”, gestos;
2. Transformamos essas “melodias”, esses gestos, em estruturas;
3. Transformamos essas estruturas simbólicas em experiências significativas;
Podemos observar três estágios de compreensão musical, dadas pelo tipo de experiência, ou seja, por cada uma das
três transformações apresentadas.
A primeira transformação se refere à fase inicial do desenvolvimento técnico de manipulação do instrumento musical, quando
o aluno passa a ser capaz de transformar os primeiros sons que pode produzir com o instrumento musical em melodias simples.
À segunda fase podemos atribuir o entendimento de frases musicais completas, através das melodias manipuladas na
fase anterior. Essa é uma experiência um pouco mais complexa, se considerarmos que para uma frase musical com sentido
completo é na maioria das vezes, necessário utilizarmos mais de uma melodia de sentido curto. Assim teremos um sentido
ou significado único atribuído a duas, três ou mais melodias.
Já a terceira fase é apresentada como experiência significativa, pois é a transformação de várias frases musicais em es-
truturas mais complexas, e outras o aluno terá uma compreensão ampliada, passando por notas soltas, melodias curtas, fra-
ses solitárias e chegando a compreensão de formas musicais mais intrincadas, como por exemplo, as formas AB, AABB e etc.
Além das três transformações apresentadas, SWANWICK (2003) ainda apresenta três princípios de ação em educação musical.
O primeiro princípio é considerar a música como discurso, e nele já estão inseridos as três transformações apresentadas,
“Um dos objetivos do professor é trazer a consciência musical do último para o primeiro plano” (SWANWICK, 2003, p.57).
O segundo princípio é considerar o discurso musical dos alunos. Para tanto precisamos levar em conta o conhecimento
musical que o aluno possui. Estando o aluno em qualquer uma das fases de transformação é necessário se considerar o
discurso dele, para que possamos inclusive avaliar – identificar ‐ em que fase de compreensão o aluno efetivamente está
inserido para encaminhá‐lo a uma compreensão mais complexa.
O terceiro princípio é a fluência musical do início ao fim. Assim como outros educadores musicais inseridos neste
mesmo cenário como George Self, John Paynter, Boris Porema e Murray Schafer, Swanwick valoriza o afastamento de
procedimentos técnicos ou teóricos, preferindo que o contato com a música seja como uma experiência de vida, ou seja,
valorizando mais a vivência musical.
Segundo FONTERRADA (2008) a criança passa por cada nível de transformação de maneira sucessiva aos blocos “ma-
terial”, “expressão”, “forma” e “valor” experimentando cada proposta inicialmente de forma intuitiva e depois analítica.

Figura 1. À esquerda e à direita da espiral

Fonte: SWANWICK,1994 apud FONTERRADA, 2008, p. 113

113
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
A figura espiral nos dá a idéia de que conforme o alu- Porém com as transformações ocorridas na educação
no passa pelas fases de transformação, ele não abandona musical do século XX, a partir de quando o que se valo-
as experiências anteriores, sendo que de maneira espiral riza no processo de aprendizagem musical é exatamente
sempre acaba passando novamente de certa forma pelas o contato com a música como uma experiência de vida,
experiências anteriores. ou seja, valorizando mais a vivência musical e se afastando
Considerando as três transformações apresentadas de procedimentos técnicos ou teóricos, a avaliação passa a
por SWANWICK (2003) como fases ou estágios de com- cumprir um papel essencial de apoio ao processo de ensi-
preensão musical, e, embasados nos três princípios de ação no e aprendizagem musical.45
pedagógica musical podemos entender o que Swanwick
chama de avaliar musicalmente, ou seja, inserir processos
de avaliação musical no decorrer do desenvolvimento da
aprendizagem do aluno.
14. COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
As três transformações e os três princípios apresenta- PROPOSTAS PELOS PARÂMETROS
dos por SWANWICK (2003) servem de base e de parâmetro CURRICULARES NACIONAIS DO ENSINO
para uma avaliação musical continua e efetiva. A proposta MÉDIO PARA A DISCIPLINA DE ARTE.
de SWANWICK (2003) está alinhada aos Parâmetros Curri-
culares Nacionais do Brasil de 1997 que a respeito da ava-
liação em artes diz que a mesma deve ser realizada em três No PCN de Arte, o professor deve capacitar seus alu-
momentos (BRASIL, 1997, p. 102): nos para que possam dominar com mais propriedade as
(1) A avaliação pode diagnosticar o nível de conheci- linguagens da Arte, bem como realizar trabalhos pessoais
mento dos alunos. Nesse caso costuma ser prévia de uma e/ou grupais com autonomia. Ao explicitarem argumentos
atividade; (2) A avaliação pode ser realizada durante a pró- e proposições pessoais, que estão relacionados aos conhe-
pria situação de aprendizagem, quando o professor identifi- cimentos prático e teórico já adquiridos e construídos, os
ca como o aluno interage com os conteúdos; (3) A avaliação alunos irão adquirir o saber artístico. Da mesma forma, eles
pode ser realizada ao término de um conjunto de atividades reconhecerão, com mais clareza, que existe contextualiza-
que compõem uma unidade didática para analisar como a ção histórico-social e marca pessoal nos trabalhos artísticos.
aprendizagem ocorreu (BRASIL, 1997, p. 102). É assim que passam a incluir esses componentes em seus
Cumprindo assim a avaliação três funções: Em primeiro próprios trabalhos escolares.
a avaliação diagnóstica, com a função de diagnosticar co- Para os Parâmetros, cabe ao educador auxiliar seus alu-
nhecimentos prévios musicais do aluno, conhecimentos es- nos para que estes possam identificar a posição que sua
tes desenvolvidos em experiências anteriores que o aluno comunidade ocupa no contexto de diferentes espaços de
vivenciou em espaços formais ou não formais de aulas de produção cultural, comparando, interpretando e se posicio-
música, ou ainda por meios de comunicação, tornando‐se nando em relação a uma gama variada de propostas artísti-
a avaliação de fundamental importância para se determinar cas da sua região, outras regiões do país e de outros países.
um ponto de partida nas ações pedagógicas com o aluno Com isso, os alunos passarão a estabelecer conexões, com
avaliado. Em segundo lugar temos a avaliação formativa, mais clareza, entre os trabalhos escolares e a cultura ex-
com o papel de acompanhar todo o processo de aprendi- traescolar, ambos envolvendo os objetos de estudo, tanto
zagem do aluno, servindo assim de parâmetro para ade- no âmbito de sua comunidade como no da produção na-
quação do espaço ou abordagem usada, visando atingir cional e internacional à qual tiverem acesso.
a modalidade de ensino – ou abordagem‐ que com maior O professor pode também desenvolver atividades em
eficácia cumprirá neste caso específico o papel de fazer grupo ou individualmente, articulando experiências rela-
aprender. Em terceiro lugar temos a avaliação somativa ou tivas às questões políticas, culturais e sociais da própria
final, apesar de ter essa avaliação um papel próximo da ve- comunidade e de outras, principalmente as que tratam
rificação de aprendizagem, não se espera que através dela das questões do universo cultural de seus alunos. Isso irá
se atribua notas, ou sentenças de aprovado ou reprovado agregar valor à comunidade por meio do reconhecimento
ao aluno, mas serve esta modalidade de avaliação princi- de semelhanças e contrastes, qualidades e especificidades,
palmente para avaliar o quanto foi eficaz o ensino (BOTH, abrindo o leque das múltiplas escolhas que os alunos terão
2008), o método, ou o educador. de realizar, ao longo de seu desenvolvimento educacional.
O papel da avaliação musical no século XX e nos dias Principalmente, porque a Arte se faz presente no co-
atuais em muito se difere das práticas do século XIX onde a tidiano dos alunos na forma dos objetos, no arranjo de
educação musical estava profundamente ligada à execução vitrines, na música dos puxadores de rede, nas ladainhas
musical virtuose, com base na técnica e na leitura musical, entoadas por tapeceiras tradicionais, na dança de rua exe-
sendo que a avaliação tinha um caráter formal e era realiza- cutada por meninos e meninas, nos pregões de vendedo-
da através de testes e audições formais, situações em que res, nos jardins, na vestimenta, entre outros. A curiosidade
se atribuía uma nota ao domínio técnico desenvolvido pelo
aluno, bem como lhe era dada a sentença de aprovado ou 45 Fonte: www.unoeste.br – Por Fernando Vieira da
reprovado. Cruz

114
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
dos alunos pela manifestação artística não só de sua co- e, com a mediação dos professores, desenvolvam e viven-
munidade, mas também de outras fora de seu contexto, ciem a Arte tanto na prática como na teoria, adquirindo
certamente irá despertar nos alunos o interesse por valores condições para analisar diferentes produtos culturais, com-
diferentes dos seus, promovendo o respeito e o reconheci- pará-los e ampliar seu raciocínio crítico.
mento dessas distinções.46 Para tanto, torna-se imprescindível o conhecimento da
Arte e sua história, das influências culturais que nela são
A arte no ensino médio incorporadas e das práticas artísticas. É necessário que se
A Arte não tem importância para o homem somente faça uma análise de como a inter-relação artística e estética
vem ocorrendo no processo histórico-social da humanida-
como instrumento para desenvolver sua criatividade, sua
de e de que forma tais relações geram valores, conceitos
percepção etc., mas tem a importância em si mesma, como
de mundo, conceitos sobre o ser humano, gostos variados
assunto, como objeto de estudo (BARBOSA, 2000).
e diversos grupos sociais.
Devido o importante papel que a Arte ocupa na vida Ao longo da história o ensino de Arte no Brasil vem
das pessoas e na sociedade, desde os primórdios da civili- ocorrendo através da constituição de práticas pedagógicas
zação, ela tem seu espaço reservado na educação geral e artísticas em diversos momentos.
escolar desde a década de 1980. Uma referência importante para compreender o ensi-
A Arte nada mais é do que a manifestação da criativi- no de Arte no Brasil é a célebre missão Artística Francesa,
dade dos seres humanos. trazida em 1816, por Dom João VI, quando foi criada a Aca-
Segundo Ferraz e Fusari (1999, p. 16) essa “atividade demia Imperial de Belas Artes, que após a proclamação da
criativa é inerente ao ser humano por suas potencialidades, República passou a ser chamada de Escola Nacional de Be-
múltiplas combinações de idéias, emoções e produções las Artes. O ponto forte dessa escola era o desenho com a
nas diversas áreas do conhecimento”. valorização da cópia fiel e utilização de modelos europeus.
Ela apresenta aspectos muito particulares que preci- (MARTIN Set al. 1998, p. 10).
sam ser conhecidos independentemente de estarmos es- Principalmente no Estado de Minas Gerais, o Brasil pas-
tudando ou produzindo Arte. sava pela explosão do estilo Barroco, porém o estilo assu-
Quando nascemos, já entramos num mundo com uma mido pelas elites e classes dirigentes como “mais moder-
história social e com várias produções que estruturam o no” foi o Neoclassicismo.
Nessa época a Arte era considerada “artigo de luxo”,
nosso olhar estético.
acessível apenas à elite privilegiada e, nesse tempo, não se
Contemplamos seres da natureza e objetos culturais,
valorizava nenhuma produção artística que não tivesse a
ouvimos músicas e histórias, participamos de jogos e te-
conotação “de luxo”.
mos acesso a várias informações em nosso cotidiano atra- A partir dessa época, o ensino da Arte centrava- se
vés dos livros ilustrados, feiras, exposições, televisão, revis- no autoritarismo (valorização do produto e da figura do
tas, cartazes etc. professor como dono absoluto da verdade). Nessa fase, a
Por meio de tudo isso é que construímos nossa própria ênfase estava no desenho e ensinava-se a copiar modelos.
maneira de admirar, gostar ou não, julgar e também pro- Todos elaboravam o mesmo desenho e o professor os ava-
duzir Arte, de acordo com nosso grupo social. liava segundo critérios de boa coordenação motora, preci-
As obras de arte, por exemplo, estão presentes em são, técnica, limpeza e ordem nos trabalhos, acreditando
nossa vida, influenciando direta e indiretamente nossas que contemplando esses itens os alunos estariam prepa-
manifestações estéticas. rados para a vida profissional, uma vez que eram em sua
Quando um autor ou artista produz uma obra, ele está maioria, desenhos técnicos ou geométricos com o objetivo
na verdade, representando seu mundo natural e cultural, de servir à ciência e à produção industrial utilitária neces-
manifestando através dela, sua sensibilidade, sua imagina- sárias para a proposição das aulas. Por volta dos anos 1970
ção, seus pensamentos e emoções, agindo e reagindo fren- / 1980 a situação se agravou e essa disciplina passou a ter
te às pessoas e ao mundo à sua volta, de forma abrangente um caráter indefinido.
e diversificada. Assim, em 20 de Dezembro de 1996 a nova Lei de Dire-
A Arte deve compor os conteúdos de estudo e mobili- trizes e Bases da Educação Nacional (LBD, nº 9.394) estabe-
leceu em seu artigo 26 parágrafo 2º que o ensino da Arte
zar as atividades que diversifiquem e ampliem a formação
passaria a ser obrigatório em todos os níveis da educação
artística e estética dos estudantes. As vivências emotivas e
básica, visando o desenvolvimento cultural dos alunos.
cognitivas tanto de fazeres quanto de análises do proces- Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Arte
so artístico nas modalidades artes visuais, música, teatro, estabeleciam que a área passasse a ser designada Arte e
dança, artes audiovisuais, devem abordar os componentes não mais Educação Artística, com conteúdos ligados à cul-
do processo artístico (artistas – obras – público – modos de tura artística e não simplesmente como atividade.
comunicação) e suas maneiras de interagir na sociedade. Desta forma, o conhecimento sobre a Arte tornou-se
(FERRAZ; FUSARI, 1999, p. 17). ponto principal, articulando-se em três eixos: criação/pro-
As escolas de ensino médio , portanto, deve abrir es- dução, percepção/análise e conhecimento da produção ar-
paço para que educandos, entendam o processo artístico e tístico-estética da humanidade (histórica e culturalmente).
sua história, constituam novos saberes artísticos e estéticos Segundo os PCNs de Arte, esses três eixos denominam-se:
46 Fonte: www.cpt.com.br produção, fruição e reflexão.

115
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
 A produção refere-se ao fazer artístico e ao conjun- Ana Mae Barbosa salienta que: Por meio da Arte é pos-
to de questões a ele relacionadas, no âmbito do fazer do sível desenvolver a percepção e a imaginação, apreender
aluno e dos produtores sociais de arte. A fruição refere-se a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade
à apreciação significativa de Arte e do universo a ela re- crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade perce-
lacionado. Tal ação contempla a fruição da produção dos bida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a
alunos e da produção histórico-social em sua diversidade. realidade que foi analisada. (BARBOSA, 2002, p. 18).
A reflexão refere-se à construção de conhecimento sobre o Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como
trabalho artístico pessoal, dos colegas e sobre a Arte como objetivos do ensino fundamental que os educandos sejam
produto da história e da multiplicidade das culturas huma- capazes de:
nas, com ênfase na formação cultivada do cidadão. (BRA-  Perceber-se integrante, dependente e agente
SIL, 1998a, p. 56). transformador do ambiente, identificando seus elementos
A escola tem a tarefa de proporcionar nos educandos, e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a
em cada nível Até 1950 o ensino da música não teve muita melhoria do meio ambiente;
ênfase nas escolas, pois se resumia na memorização dos  Desenvolver o conhecimento ajustado de si mes-
hinos pátrios. Só depois dessa década é que este ensino mo e o sentimento de confiança em suas capacidades afe-
entrou para o currículo escolar. tiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pes-
Na mesma época foram criadas as “artes domésticas”, soal e de inserção social, para agir com perseverança na
“trabalhos manuais” e “artes industriais”. Nessas aulas eram busca de conhecimento e no exercício da cidadania;
separados grupos de meninos e grupos de meninas, pois  Conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando
havia artes consideradas de caráter feminino (bordado, tri- e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos bá-
cô, roupinhas de bebê, aulas de etiqueta) e artes de caráter sicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade
masculino (uso de serrotes, serrinha, martelo para produ- em relação à sua saúde e à saúde coletiva;
zirem bandejas, porta-retratos, tapetes de sisal e outros.).  Utilizar as diferentes linguagens – verbais, mate-
Por volta das décadas de 1950 e 1960 surge um movi- mática, gráfica, plástica e corporal – como meio para pro-
mento chamado Escola Nova, que já acontecia na Europa e duzir, expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usu-
EUA desde o final do século XIX. fruir das produções culturais em contextos públicos.
Esse movimento sugeria um ensino centrado no aluno,
nas aulas de Arte, valorizando a livre expressão e a impor- A Linguagem é uma forma de comunicarmos com o
tância do processo do trabalho. mundo e através da arte exercitamos nosso modo de olhar,
O professor abria espaço para que os alunos se expres- agir e nos conscientizamos da realidade que nos cerca.
sassem de forma espontânea e pessoal, instigando a criati- Nesses termos, a aprendizagem artística passa a ser
vidade, ponto-chave no ensino da constituída como um conjunto de diversos, tipos de com-
Arte. petências com o objetivo de trazer novos significados, que
Porém, essa prática escolar valorizava demais o pro- se modificam no tempo e no espaço, transformando o ser
cesso sem se preocupar com os resultados e como os alu- humano e promovendo a percepção das diferenças e se-
nos tinham uma aula muito livre em termos de produção, melhanças expressas nas produções artísticas em diferen-
não se conquistava muitos conhecimentos em termos de tes contextos históricos.
aprendizagem de Arte. O objetivo principal do trabalho com linguagens ar-
Para dirimir esses problemas, em 1971, com a Lei nº tísticas no ensino médio é fazer com que os educandos
5.692, foi agregada ao currículo escolar a disciplina de Edu- adquiram sensibilidade e aprendam a lidar com sons, me-
cação Artística, que tinha por objetivo trabalhar os seguin- lodias, ritmos, imagens, formas, cores, falas, gestos, bem
tes aspectos: conteúdo de música, teatro, dança e artes como ter acesso às obras produzidas por artistas e por elas
plásticas, nos cursos de 1º e 2º graus. Com isso foi criada a próprias.
figura de um único professor que deveria abarcar toda essa As atividades que são propostas com o intuito de pro-
diversidade de competências. mover a expressividade dos educandos devem ser muito
Embora a criação dessa disciplina tenha sido consi- bem pesquisadas, eles precisam estar familiarizados tanto
derada um avanço para a formação dos indivíduos, havia com os materiais utilizados como com o processo do fazer
problemas em relação ao preparo dos professores que não artístico.
tinham todas as habilitações de desenvolvimento, a com- No ensino médio, primeiramente, os professores preci-
preensão da linguagem da Arte por meio da utilização dos sam verificar o que os educandos já sabem, a forma como
recursos pessoais, habilidades, pesquisa de materiais e téc- se expressam que tipos de trabalho gostam de produzir,
nicas, avaliação dos possíveis significados das formas, sob ver e escutar. e posteriormente propor atividades que fa-
pontos de vista variados, bem como ressaltar a importância çam sentido para elas. Os educadores devem trabalhar
de se conhecer a cultura em que o trabalho artístico foi para desenvolver a imaginação do alunado e isso pode ser
produzido, a história da Arte e os elementos e princípios feito através de jogos simbólicos, narrativa de histórias e
inseridos na produção artística. Os educandos devem com- trabalhos diversos com desenho, música e teatro. Quanto
preender o “fazer artístico” como ampliação de conheci- mais diversificadas forem as propostas de trabalho com os
mentos específicos sobre sua relação com o mundo que educandos mais elas ampliarão suas percepções sensoriais,
os cerca e como aquisição de capacidades de percepção, articulando as linguagens que já conhecem ou até mesmo
imaginação, sensibilidade etc. criando novas linguagens.

116
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
A arte deve ser fonte de alegria e prazer, pois ela exer- Por intermédio de desenhos, pinturas, modelagens, fo-
ce grande influência no desenvolvimento da personalida- tografias, cartazes e outros tipos de produções artísticas,
de, estimulando os sentidos e a imaginação podendo o os alunos do ensino médio precisam ter a oportunidade de
indivíduo expressar pensamentos e sentimentos. vivenciar diversas experiências da prática artística e quanto
Ainda hoje, o que vemos em relação ao trabalho com maior for o número de formas de arte conhecidas por eles,
linguagens visuais são atividades que não ampliam o uni- maior será a sua capacidade de exercitar o seu processo
verso dos educandos, pois a criação visual é tida como criador, obtendo um maior domínio artístico e estético so-
simples recreação, passatempo ou entretenimento. Um bre suas obras e também ampliando de forma progressiva
exemplo disso é o trabalho de pintar desenhos prontos,
e significativa os seus conhecimentos sobre o papel que a
repetido diversas vezes ao longo do ano. Atividades como
Arte desempenha nas culturas humanas.
essa seguem na contramão dos objetivos reais da Arte que
apontam para o desenvolvimento e para a manifestação de Tradicionalmente temos como artes visuais aquelas
todo potencial criativo educacional. que envolvem a pintura, a escultura, o desenho, a gravu-
No campo da produção visual, a arte do ensino médio e ra, a arquitetura, o artefato, o desenho industrial e outros.
em outros níveis de ensino deve-se cultivar a expressão do Com a modernidade e devido aos avanços tecnológicos,
educando no sentido de promover experiências voltadas passamos a ter também incluídos nas artes visuais a fo-
inicialmente para o modo exploratório, a fim de que eles tografia, as artes gráficas, o cinema, a televisão, o vídeo, a
possam se apropriar de diferentes procedimentos. Dessa computação. Todas essas variações e possibilidades pos-
forma, o educando compreendendo alguns aspectos das suem um modo particular de utilização e trazem em si inú-
linguagens visuais como contraste, tamanho e cor acaba meras possibilidades de combinações que devem ser utili-
por relacioná-los a outros aspectos de outras linguagens zadas pelos alunos para a comunicar e expressar.
através da leitura, fruição e produção de atividades organi- O trabalho com Artes Visuais implica na relação de ele-
zadas culturalmente com a pintura, a escultura, a fotografia mentos como pontos, formas, linhas, planos, cores, brilhos,
e a colagem. luzes, movimentos e outros. Esses elementos se articulam
As Artes Visuais estão presentes no dia a dia do indi- entre si originando uma configuração de códigos que so-
viduo. Quando rabiscam ou desenham nas paredes ou no frem modificações ao longo dos tempos.
chão, na areia, nos muros utilizando-se de materiais que O papel da escola é trabalhar com os educandos (além
sempre encontram por acaso, como gravetos, carvão, pe-
das informações históricas, produtores de obras e cultura)
drinhas e outros, estão na verdade trabalhando sentimen-
a percepção, imaginação, sensibilidade, compreendendo
tos e pensamentos através da organização de diferentes
linhas, formas, pontos, traços, volume, espaço, cor e ma- os conceitos de determinada obra e assumindo uma pos-
teriais. tura crítica diante da mesma.
Se levarmos em conta que a Arte na educação deve Os movimentos físicos são as primeiras formas de apren-
ser vista como algo que colabora para o conhecimento dos dizagem do individuo e estão diretamente relacionados à
educandos e não apenas como auto- expressão, é neces- sua atividade mental. Em nosso dia a dia estamos constan-
sário que estes tenham acesso às informações e transfor- temente em movimento, buscando, inconscientemente, ex-
mações da Arte no decorrer da história, desde o passado plorar o ambiente e adquirir uma melhor mobilidade.
até os dias atuais, ampliando o seu panorama cultural. Há Nesse contexto, as atividades relacionadas à dança no
quatro anos (15 de junho de 2010) o então presidente Luís ambiente escolar do ensino médio buscam desenvolver
Inácio Lula da Silva sancionou a lei 12.247, substituindo o nos educandos uma melhor compreensão de como o seu
parágrafo segundo do artigo 26 da lei de Diretrizes e Base corpo funciona e como utilizá-lo com maior autonomia, in-
da Educação (LDB). O novo texto ratifica a obrigatoriedade teligência e sensibilidade.
do ensino da arte nas escolas de Educação Básica (Educa- Nas atividades em grupo, o improviso tem a impor-
ção infantil, Ensino Fundamental e Médio. “especialmente tante função de oportunizar experiências com a sua plasti-
em suas expressões regionais”. O objetivo era promover o cidade corporal, potencialidades motoras e relacionamen-
desenvolvimento cultural de todos os educandos. to interpessoal, onde eles entenderão que as expressões
O ensino da arte no ensino médio não é promover ati-
e habilidades devem sempre se pautar no respeito e na
vidades de recreação, expressão criativa ou treino de habi-
lidades motoras, mas principalmente que através da disci- cooperação.
plina os educandos ampliem seus conhecimentos teóricos Desse modo, a proposta dos PCNs de Arte (BRASIL,
sobre ela, conhecendo como se produz uma obra de arte, 1998a) pressupõe três blocos de conteúdos:
passando pela apreciação do produto pronto, analisando a) A comunicação e expressão humanas através da
cada aspecto envolvido e refletindo acerca do contexto dança (imitação e recriação de movimentos individuais,
histórico que envolve uma obra. através da exploração de gestos e movimentos observados
É de suma importância que os educandos adquiram em dança);
conhecimento de novas tecnologias para utilizar em suas b) A dança como manifestação coletiva (movimentos
próprias produções e que através das diferentes lingua- diversos em duplas, grupos etc.);
gens artísticas passem a reconhecer e se apropriar dos c) A dança vista como produto cultural e de apre-
mais variados significados, das possíveis interferências cul- ciação estética (reconhecimento de estilos de dança e
turais, econômicas e políticas intrínsecas em determinados aspectos artísticos de diferentes culturas regionais, na-
trabalhos artísticos. cionais e internacionais).

117
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
Em relação ao ensino da música, é necessário priorizar dê-la como produção social e histórica, mantendo uma ati-
propostas que permitam ao educando trazer para a sala de tude transformadora, buscando seu aprendizado dentro e
aula toda a diversidade musical a que temos acesso hoje fora da escola por meio do contato permanente com todos
(devido aos avanços tecnológicos). Somente por meio da os tipos de manifestações artísticas.
diversidade é que o educando poderá construir hipóteses É importante lembrar que o estudo representa apenas
sobre nosso patrimônio musical e obter crescimento pes- o início de sua trajetória para a construção de conhecimen-
soal nas atividades de apreciação e produção musical. tos sobre arte.47
O teatro foi concebido como arte pelos gregos.
Inicialmente as apresentações simbolizavam as con-
cepções religiosas, depois passaram a ter um caráter mais Exercícios
centrado na cultura e no conhecimento.
Todo individuo tem dentro de si a capacidade teatral. 01. FIDESA/2012 - SESI-PA) Sobre o tema “arte
Portanto, é tarefa da escola proporcionar condições para como conhecimento”, abordado nos Parâmetros Curri-
que os educandos possam exercitar essa capacidade de culares Nacionais para a área de Arte, o correto está em:
maneira consciente, colaborando para a obtenção e am- a) A ideia de ciência e arte como disciplinas autônomas
pliação progressiva da linguagem dramática. é produto da Antiguidade Clássica, na cultura ocidental.
Ao permitir que os educandos tenham liberdade para b) O processo criador pode ocorrer na arte e na ciência
imaginar, perceber, intuir, bem como demonstrar sua emo- como algo que se revela à consciência do criador, vindo à
ção, raciocínio e memória, a escola está, na verdade, inse- tona independentemente de previsão, mas sendo posterior
rindo – aos poucos – no universo desses indivíduos, a visão a um imprescindível período de muito trabalho.
crítica e o conhecimento de conteúdos sociais e culturais c) Nas sociedades indígenas pré-históricas as formas
de seus grupos. artísticas existiam como atividades autônomas, dissociadas
Entendemos que no ensino médio o teatro tem como da vida.
objetivo promover, de forma individual, a ampliação das d) Arte e ciência foram consideradas no Ocidente
capacidades expressivas e artísticas dos educandos, maior como áreas de conhecimento totalmente diferentes após
domínio do próprio corpo, melhor verbalização e maior o Romantismo.
capacidade de organização do tempo. Torna-se necessário
também exercitar as relações interpessoais, melhorando o
diálogo, o respeito mútuo, a flexibilidade, a cooperação e 02. (CESPE/2014 - SEE/AL) A arte contribui para o
a compreensão das diferenças, tão importantes nas ativi- desenvolvimento do pensamento e da percepção artís-
dades teatrais. tica, elementos que caracterizam uma maneira indivi-
  dual de dar sentido à experiência humana. A respeito
O ensino de Arte proporciona o desenvolvimento de desse assunto, julgue os itens a seguir. O ensino das
habilidades e a ampliação de conhecimentos em diversas artes não se relaciona à dimensão social das manifes-
áreas de estudo. Enfim, ela faz parte do conhecimento hu- tações artísticas.
mano por suas potencialidades múltiplas, combinações de ( ) Certo
ideias, emoções e produções nas diversas áreas do conhe- ( ) Errado
cimento. Ela apresenta aspectos muito particulares que
precisam ser conhecidos independentemente de estarmos 03. (FUNIVERSA/2015 - Secretaria da Criança – DF)
estudando ou produzindo Arte. Devido ao importante pa- A respeito da história das artes no Brasil, assinale a al-
pel que a Arte ocupa na vida das pessoas e na sociedade, ternativa correta.
desde os primórdios da civilização, ela tem seu espaço re- a) No ano de 1964, o curso de Licenciatura em Artes
servado na educação geral e escolar desde a década de Plásticas foi desestruturado em função da frequente perse-
1980. Os PCNs de Arte estabeleciam que a área passasse guição a professores ocorrida após o estabelecimento da
a ser designada Arte e não mais Educação Artística, com ditadura.
conteúdos ligados à cultura artística e não simplesmente b) Em 1973 foi criado o curso de Educação Artística nas
como atividade. Desta forma, o conhecimento sobre a Arte universidades.
tornou-se ponto principal, articulando-se em três eixos: c) Entre 1968 e 1972, as escolas especializadas no en-
criação/produção, percepção/análise e conhecimento da sino de arte endureceram seus currículos, de modo que
produção artístico-estética da humanidade (histórica e cul- não eram permitidas experiências no sentido de relacio-
turalmente). nar projetos de arte de classes de crianças e adolescentes
Ao construir seus conhecimentos artísticos os educan- ao desenvolvimento dos processos mentais envolvidos na
dos fazem relações entre o seu processo de criação e sua criatividade.
reflexão pessoal sobre diversas linguagens. Passam a ma- d) Até meados da década de 1970, houve diminuição do
nifestar seu ponto de vista, colocando- -se como conhece- afastamento, que antes era crescente, entre os pobres e a
dores e produtores de Arte. elite, o que causou a ampliação do acesso ao ensino de artes.
Assim, no ensino médio, o educando aprendiz de Arte,
terá um sentimento de competência para criar e interpretar 47 Fonte: www.webartigos.com – Por Geneci de Souza
objetos artísticos e aprenderá a Arte de modo a compreen-

118
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
e) Na década de 1970, o ensino público era exemplo de  I) Ao ser introduzido na educação escolar brasileira, o
formação técnica e de preparação para a universidade e o ensino de Arte incorpora-se aos processos pedagógicos e
ensino de artes, nesse período, era negligenciado. de política educacional que vão caracterizar e delimitar sua
participação na estrutura curricular.
04. (FCC/2012 - SEE/MG) As manifestações culturais II) Na primeira metade do século XX, as disciplinas De-
brasileiras como Bumba Meu Boi, Carnaval e Folia de senho, Trabalhos Manuais, Música e Canto Orfeônico fa-
Reis articulam em sua realização diferentes linguagens ziam parte dos programas das escolas primárias e secun-
artísticas, como dárias, concentrando o conhecimento na transmissão de
a) artes plásticas, escultura e dança. padrões e modelos das classes sociais dominantes.
b) artes do corpo, artes da música e colagem. III) Na escola tradicional, não se valorizavam as habili-
c) pintura, iluminação e cenário. dades manuais, os “dons artísticos”, os hábitos de organi-
d) teatro de rua, música e dança. zação e precisão, mostrando, ao mesmo tempo, uma visão
utilitarista e imediatista da arte.
05. (CESPE/ 2011– SAEB-BA) Acerca da relação en- IV) Em fins dos anos 1960 e na década de 1970 no-
tre arte e processo de construção da cidadania, assinale ta-se a tentativa de aproximação entre as manifestações
a opção correta. artísticas ocorridas fora do espaço escolar e a que se en-
a) A arte voltada para o desenvolvimento da cidadania sina dentro dele: é a época dos festivais da canção e das
deve servir, antes de tudo, para fazer os alunos refletirem novas experiências teatrais, quando as escolas promovem
sobre a convivência e sobre o exercício da convivência de- festivais de música e teatro com grande mobilização dos
mocrática na escola. estudantes.
b) Na educação infantil, as atividades artísticas são V) No início da década de 70, autores responsáveis pela
dispensáveis ao desenvolvimento da criança, uma vez que, mudança de rumo do ensino de Arte nos Estados Unidos
do ponto de vista psicológico favorecem a personalidade afirmavam que o desenvolvimento artístico é resultado de
auto centrada, cujo comportamento é inadequado à vida formas complexas de aprendizagem e que, portanto, não
em sociedade.
ocorre automaticamente à medida que a criança cresce; é
c) A principal função da arte na construção da cida-
tarefa do professor propiciar essa aprendizagem por meio
dania consiste em formar pessoas moral e politicamente
da instrução. 
ativas, conscientes de seus direitos e de suas obrigações
a) I, II, IV, V.
em defesa dos direitos humanos e do meio ambiente.
b) I, II, III, IV, V.
d) As atividades artísticas que visam propiciar a cons-
c) I, III, IV, V.
trução da autonomia pelas crianças, por meio da aborda-
gem de valores morais, atitudes de respeito, ajuda mútua, d) I, II.
companheirismo, união e partilha, contribuem para a for- e) II, IV, V.
mação do cidadão.
08. (NUCEPE/2015 - SEDUC-PI) Na sociedade con-
06. (CESPE/2011 - SEDUC/AM) Tendo em vista que temporânea, não se pode tampouco ignorar a presença
a arte, no contexto educativo, é uma poderosa ferra- da dança virtual, que se relaciona com os corpos físicos
menta no processo de construção da cidadania, e que de maneira totalmente distinta da dos antepassados.
o contato com as várias linguagens artísticas é funda- Assim, não se tem, necessariamente, um corpo que se
mental para a educação, capacitando o aluno para a movimenta no tempo e no espaço sempre que se dan-
apreciação da arte, desenvolvendo o potencial criativo ça. Em suma, sempre se aprende, formal e/ou informal-
e o pensamento crítico, julgue o item abaixo. mente, como, por que e quando se movimentar e trans-
A arte permite que se trabalhe a sensibilidade, a formar esse movimento em dança (PCN Arte).
imaginação e a cognição de forma integrada. Em relação à Dança no Ensino Fundamental (de acor-
( ) Certo do com o PCN Arte), marque a alternativa INCORRETA.  
( ) Errado a) Conhecer e apreciar vários trabalhos e objetos de
arte por meio das próprias emoções, reflexões e conheci-
07. (NUCEPE/2015 - SEDUC-PI) Desde o início da mentos e reconhecer a existência desse processo em jo-
história da humanidade, a arte tem se mostrado como vens e adultos de distintas culturas. É critério de avaliação.
uma práxis presente em todas as manifestações cultu- b) Os alunos podem reforçar laços de amizade, traba-
rais. O homem que desenhou um bisão em uma caverna lhar e conhecer o grupo, assim como conhecer a si próprios
pré- histórica teve de aprender e construir conhecimen- de outra maneira, dando importância à questão da autoes-
tos para difundir essa prática. E, da mesma maneira, tima. É contribuição dessa linguagem.
compartilhar com as outras pessoas o que aprendeu. c) Construir uma relação de cooperação, respeito, diá-
A aprendizagem e o ensino da arte sempre existiram e logo e valorização das diversas escolhas e possibilidades
se transformaram, ao longo da história, de acordo com de interpretação e de criação em dança, que ocorrem em
normas e valores estabelecidos, em diferentes ambien- sala de aula e na sociedade. É objetivo geral.
tes culturais (PCN: Arte, 1998). Sobre o ensino da Arte d) Desenvolvimento de habilidades pessoais para traba-
no Brasil, marque a opção que contém somente as as- lhar aquecimento, relaxamento e compensação do corpo, re-
sertivas CORRETAS.  lacionando-as a noções de anatomia aprendidas. É conteúdo.

119
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
e) Para dançar e apreciar inclui-se o aprendizado da a) II, I, V, III, IV. 
coreologia, ou seja, compreender a lógica da dança: o que, b) I, II, III, IV, V.
como, onde e com o que as pessoas se movem. Mesmo c) II, III, I, V, IV.
existindo muitas variações, acabam se resumindo em par- d) III, I, II, IV, V
tes do corpo, dinâmicas, espaço, ações e relacionamentos. e) V, III, I, II, IV.
É conteúdo.
10. (UNAMA/2006 - Prefeitura de Itaituba) No que
09. (NUCEPE/2015 - SEDUC-PI) A história da arte é diz respeito aos elementos de visualidade e suas rela-
a história de qualquer atividade ou produto realizado ções compositivas, é correto afirmar:
pelo homem com propósito estético ou comunicativo, a) As Artes Visuais lidam com as relações entre espaço,
enquanto expressão de ideias, emoções ou formas de tempo, ação e ritmo sonoro.
ver o mundo. Ao longo do tempo, as artes visuais têm b) As Artes Visuais lidam com as relações entre espaço,
sido classificadas de várias formas diferentes, desde a tempo, luz e enredo.
distinção medieval entre as artes liberais e as artes me- c) Nas Artes Visuais, os elementos se apresentam sem-
cânicas, até à distinção moderna entre belas artes e ar- pre articulados, expressivamente, e em situações composi-
tes aplicadas, ou às várias definições contemporâneas, tivas indicadas por: movimentos, direções, ritmos, simetria/
que definem arte como a manifestação da criatividade assimetria, contrastes, tensões, proporção, dentre outros.
humana (COUTINHO, 1999). d) As modalidades compositivas, presentes na maioria
Considerando as características dos movimentos artís- das formas em Artes Visuais, são espaço, luz, ação e volume.
ticos descritos abaixo, enumere a coluna B pela coluna A.
COLUNA A: 11. (CESPE/2011 - Secretaria de Estado de Educação –
I) A arte desse período procura a pureza formal, o equi- AM) Acerca do teatro brasileiro, que, em seus diversos
líbrio, o rigor. A arte passa a ser antropocêntrica, os filóso- movimentos e momentos históricos, estabelece relação
fos estavam preocupados em entender a relação entre o com a história do Brasil, a proposta do teatro produzi-
homem e o universo. As pessoas mais belas se transforma- do por José de Anchieta era estabelecer uma contrapo-
ram na estética naturalista idealizada. A constante busca sição ao projeto político-religioso dos jesuítas no Brasil
pela perfeição faz o artista desse período criar uma arte colônia, por meio de autos que incitavam os indígenas
intelectual. a se rebelarem contra o projeto das missões jesuíticas.
II) É a arte do conflito, do contraste, do dilema, da ( ) Certo
contradição e da dúvida. Reflete o conflito entre a herança ( ) Errado
humanista, renascentista, racionalista e clássica do homem
quinhentista (século XVI) e o espírito medieval, místico reli- 12. (CESGRANRIO – 2010 - Prefeitura de Salvador
gioso exacerbado pela Contra-Reforma católica. – BA - Professor - Artes Plásticas) A educação multicul-
III) Esse estilo caracteriza-se sobretudo pelo princípio tural aproxima os alunos das culturas não dominantes
de que o artista deve representar a realidade com a mesma ampliando o conceito de Arte.
objetividade com que um cientista estuda um fenômeno PORQUE
da natureza. Ao artista não cabe “melhorar” artisticamente Através do estudo, da valorização, do respeito e das
a natureza, pois a beleza está na realidade tal qual ela é. inter-relações possíveis entre os diversos padrões cul-
Sua função é apenas revelar os aspectos mais característi- turais e estéticos existentes, amplia-se também a expe-
cos e expressivos da realidade. riência estética no espaço escolar.
IV) Na pintura desse movimento artístico, os artistas A esse respeito, conclui-se que
procuraram, a partir da observação direta do efeito da luz a) as duas afirmações são verdadeiras e a segunda jus-
solar sobre os objetos, registrar em suas telas as constantes tifica a primeira.
alterações que essa luz provoca nas cores da natureza. b) as duas afirmações são verdadeiras e a segunda não
V) Esse estilo procurou expressar as emoções humanas justifica a primeira.
e interpretar as angústias que caracterizaram psicologica- c) a primeira afirmação é verdadeira e segunda é falsa.
mente o homem do início do século XX. Essa tendência d) a primeira afirmação é falsa e a segunda é verdadeira.
para traduzir em linhas e cores sentimentos mais dramá- e) as duas afirmações são falsas
ticos do homem já vinha sendo realizado por artistas que
não se preocupavam mais em fixar os efeitos efêmeros da 13. (VUNESP/2012 - SEE/SP) Como característica
luz solar sobre os seres.  predominante das danças indígenas, encontra-se
COLUNA B: a) seu sentido ritualístico, celebrando momentos im-
( ) Barroco. portantes da comunidade.
( ) Clássico. b) o acompanhamento por melodias maliciosas e bre-
( ) Expressionismo. jeiras, que falam do amor.
( ) Realismo. c) a dança de roda com cantigas que falam da vida infantil.
( ) Impressionismo. d) a origem da comunidade no trabalho rural, sobre os
instrumentos e os ciclos da plantação.
Marque a opção que apresenta a sequência CORRETA, e) seu caráter profano, ligado ao dia a dia da convivên-
de cima para baixo.   cia na aldeia e nas relações entre homens e mulheres.

120
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação
14. (CESPE/2013 – SEDUC/CE) No que se refere ao
ensino e aprendizagem de música na escola, é correto ANOTAÇÕES
afirmar que a Lei n.º 11.769/2009 alterou
a) a LDB de 1996 e os PCNs, para dispor sobre o ensino
obrigatório de arte na educação básica. ___________________________________________________
b) os PCNs, para dispor sobre parte diversificada no
ensino de música na educação básica. ___________________________________________________
c) a LDB de 1996, para dispor sobre a diversidade no
ensino de música e arte na educação básica. ___________________________________________________
d) a LDB de 1996, para dispor sobre a obrigatoriedade
do ensino de música na educação básica. ___________________________________________________
e) os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que
passaram a dispor sobre a obrigatoriedade do ensino de ___________________________________________________
música na educação básica.
___________________________________________________
15. (CESPE/2013 – SEDUC/CE) Acerca do movimen-
to de teatro de grupo desenvolvido no Ceará entre os ___________________________________________________
anos de 1940 e 1970, assinale a opção correta. ___________________________________________________
a) O movimento de teatro de grupo foi responsável
pela criação do Curso de Arte Dramática e do Teatro Uni- ___________________________________________________
versitário, sob supervisão da SEDUC.
b) O grupo teatral Comédia Cearense dissolveu-se com ___________________________________________________
o surgimento do Teatro Experimental de Arte.
c) Os grupos Teatro Experimental de Arte e Comédia ___________________________________________________
Cearense continuam ativos nos palcos cearenses.
d) O Teatro Experimental de Arte surgiu a partir do de- ___________________________________________________
senvolvimento do movimento de teatro de grupo cearense.
e) O grupo teatral Comédia Cearense promoveu a su- ___________________________________________________
pervisão cênica do Teatro Universitário.
___________________________________________________
16. (CESPE/2013 – SEDUC/CE) Assinale a opção que ___________________________________________________
apresenta danças folclóricas típicas do Ceará.
a) reisado, xaxado, fandango e aranha ___________________________________________________
b) aranha, maneiro-pau, São Gonçalo e torém
c) pisa no pilão, xaxado, chula e maneiro-pau ___________________________________________________
d) xaxado, torém, reisando e aranha
e) anu, torém, aranha e reisado ___________________________________________________

GABARITO ___________________________________________________

___________________________________________________
1 B
2 Errado ___________________________________________________
3 B ___________________________________________________
4 D
___________________________________________________
5 D
___________________________________________________
6 Certo
7 A ___________________________________________________
8 A ___________________________________________________
9 A
___________________________________________________
10 C
11 Errado ___________________________________________________
12 E ___________________________________________________
13 A
___________________________________________________
14 D
15 D ___________________________________________________
16 B ___________________________________________________

121
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Especialidade: Arte-Educação

ANOTAÇÕES

__________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________

122

Você também pode gostar