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ARTES

ARTES

POVOS PRÉ-HISTÓRICOS E PRIMITIVOS; A-


MÉRICA ANTIGA
Se partirmos do significado da arte como exer- o fato refletia-se em suas representações naturais ao
cício de atividades, como o processo de edificação de desenhar como observavam. Sua pintura era parte de
uma casa ou templo tem-se que nenhum povo existe um ritual, no qual se pretendia interferir na captura de
ou existiu no mundo sem arte. Por outro lado, enten- animais.
demos a arte como aquilo que é belo o artigo de luxo A imagem aqui apresentada trata do estudo do
deleitados em museus e exposições. período neolítico em que observamos as diversas al-
Ao recuarmos na história, diversas são as fina- terações ocorridas, que podem ser a confirmação que
lidades que se crê serem servidas pela arte. Entre os precisávamos ter de que eles representavam tanto o
mais ancestrais, citando aqui os “primitivos”, não que viam como o que viviam.
porque se tornaram mais simples do que nós, mas pe-
lo seu processo racional. Entre os primitivos não há
diferença entre fazer a imagem em relação ao que se
refere a utilidade.
Nesses estranhos começos, se procurarmos pe-
netrar na ação pensante dos povos desse período, à
compreensão da imagem representada é algo podero-
so a ser usado e não contemplado e belo.
Quando foram descobertas em paredes de ca-
vernas e em rochas na Espanha e no Sul da França os
estudiosos passaram a crer que as representações a-
nimadas, naturais e vigorosos dos animais pudessem Pinturas rupestres encontradas em Tassili, região do Saara
ser feitas por homens na Era Glacial. (cerca de 4500 a.C) (1.2.)

Por isso o início do texto menciona a questão


do processo do primitivo, e não de uma classificação
artística, de função ou de estética.
Ainda existem povos primitivos limitados ao
emprego de ferramentas de pedra raspando imagens
rupestres de animais para fins mágicos. Muitas tribos
celebram festividades regulares, nas quais se vestem
como animais e como eles se movimentavam em
danças solenes e rituais.
Cada família tem de fato suas próprias tradi-
ções e predileções, sem as quais a árvore não parece
ficar adequada. Todavia, quando chega o grande
Pré - História cerca de 15.000 anos a.C., Bisonte, Caverna de
momento de decorar a árvore, ainda resta muita coisa
Altamira, Espanha.
por decidir.
(1.1)
A arte primitiva funciona justamente de acordo
A imagem (1.1) do Bisonte é um exemplo do com essas diretrizes preestabelecidas, mas permite ao
período Paleolítico, em que seus artistas viviam ex- artista margem bastante para revelar sua índole O
clusivamente da caça, a organização das imagens e- domínio técnico de alguns artífices tribais é deveras
ram distribuídas de forma sobreposta, com variação surpreendente.
de pigmentação amarela, vermelha, branca e a preta,
lembrando que o preto auxiliava ao desempenho das
formas, assim como as saliências das cavernas pro-
porcionavam volume. Os primitivos desse período
não tinham uma vida de organização desenvolvida e

Editora Exato 1
ARTES

EGITO
A história da arte como um esforço contínuo não se propuseram a bosquejar a natureza tal como se
não começa nas cavernas do sul da França nem entre lhes apresentava sob qualquer ângulo fortuito. Dese-
os índios norte–americanos. Todos sabemos que o nhavam de memória, contrários aos primitivos que
Egito é a terra das pirâmides, montanhas de pedra observavam, e submetidos a regras estritas, as quais
que, de fato, tinham importância prática aos olhos asseguravam que tudo o que tivesse de entrar no qua-
dos reis e seus súditos. O faraó era considerado um dro se destacaria com perfeita clareza.
ser divino que exercia completo domínio sobre seu Na representação do corpo humano, a cabeça
povo e que, ao partir deste mundo, voltava para junto era mais facilmente vista de perfil, de modo que eles
dos deuses dos quais viera. As pirâmides, erguendo- a desenhavam lateralmente. O olho humano, se ob-
se em direção ao céu, ajudá-lo-iam provavelmente a servarmos, era representado de frente e era plantado
realizar essa ascensão. Os egípcios acreditavam que o na vista lateral da face. Os ombros e o tronco são vis-
corpo tinha que ser preservado a fim de que a alma tos melhor de frente, pois assim observamos como os
pudesse continuar vivendo no além. Em toda a volta braços se ligam ao corpo. Braços e pernas posiciona-
da câmara funerária, eram escritas fórmulas mágicas dos com intenção de movimento, porém, vêem-se
e encantamentos para ajudá-los em sua jornada para o com muito mais clareza de lado. Esta técnica ficou
outro mundo. Um nome para designar o escultor era: conhecida como Lei da Frontalidade (2.2.).
“Aquele que mantém vivo”.
A religião se tornou o fator de maior relevância
para os egípcios, e a morte o grande argumento para
sustentação do poder e da arte.
Na quarta “dinastia” do “Antigo império”, den-
tro das características peculiares da arte, os escultores
não eram fiéis à realidade. A observação da natureza
e a regularidade do todo são equilibradas de um mo-
do tão uniforme que essas cabeças nos impressionam
por sua expressão de vida, sendo, no entanto, remotas
Baixo relevo de um túmulo próximo de Sacará
e permanentes. Podemos estudá-las melhor nos rele- (Cerca de 2500 a.C.). Museu do louvre, Paris. (2.2.)
vos e pinturas que adornavam as paredes dos túmu-
los. As pinturas e os modelos encontrados em A regra para a arte egípcia permitia incluir tu-
túmulos egípcios estavam associados à idéia de for- do o que consideravam importante na forma humana;
necer servos para a alma no outro mundo, uma crença supõe-se ter algo a ver com a finalidade mágica da
que é encontrada em muitas culturas antigas. representação pictórica.
Representavam o que eles sabiam fazer, da
pessoa ou de uma cena, partiam de formas aprendidas
e dele conhecidas, construía figuras a partir do mo-
mento que suas formas podiam ser dominadas. Não
se tratava apenas do conhecimento técnico, mas pelo
conhecimento que eles tinham do significado das
formas representadas.
Um outro exemplo na arte egípcia em relação
ao significado de suas figuras destinava à separação
de aspecto social, representar a figura de um chefe
maior em uma comunidade egípcia, seu tamanho em
relação às outras figuras destacava-se.
O estilo egípcio incorporou uma série de leis
bastante rigorosa e todo artista tinha que apreendê-las
O jardim de Nebamun, c. 1400 a.C. Mural um tumulo em Tebas, desde muito jovem. Estátuas sentadas deviam ter as
64 x 74,2 cm; British Museum, Londres. mãos sobre os joelhos; os homens eram sempre pin-
(2.1.) tados com a pele um pouco mais escura que as mu-
lheres; aparência rigorosamente estabelecida.
A tarefa do artista consistia em preservar tudo
com maior clareza e permanência possível. Assim,

Editora Exato 3
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GRÉCIA, SÉCULOS VII A V A.C


Entre os diferentes climas temperados do mar comunidades, mas nenhuma delas conseguiu-se do-
nas múltiplas ilhas, grandes e pequenas, do mediter- minar todas as outras.
râneo oriental e nas costas recortadas por inúmeras Quando os artistas começaram a fazer estátuas
enseadas das penínsulas da Grécia a Ásia Menor es- de pedras, partiram do ponto em que os egípcios pa-
tavam o povo cretense cuja arte foi copiada no conti- raram, estudaram e imitaram seus modelos, dos quais
nente grego, sobretudo em Micenas. aprenderam como reproduzir a figura de um jovem
Nos primeiros séculos de sus domínio sobre a de pé, marcando as divisões do corpo e os músculos
Grécia, a arte dessas tribos ora bastante rude desgra- que o mantêm unido, os artistas apresentam-se de
ciosa e primitiva. Nada existe nessas obras que lem- forma que se limitava em obedecer a fórmulas fixas
bre, mesmo de longe, o alegre movimento do estilo por melhor que elas fossem.
cretense, pareciam superar até os egípcios em rigidez. Contrários aos egípcios que baseavam sua arte
As cenas representadas faziam parte do desenho aus- no conhecimento, os gregos usavam seus próprios o-
tero e rigoroso. lhos, o sorriso de suas escultura surgia de uma expe-
Na Grécia do século VI a.C., os artistas dos an- riência embaraçada, com uma postura rígida parecia
tigos impérios orientais tinham – se empenhado em criar impressão de falsidade.
obter um tipo peculiar de perfeição. Sobre a pintura egípcia pouco se soube, algu-
As tribos gregas tinham-se instalado em várias ma maneira que se pode formar uma vaga idéia de
cidades pequenas e em portos de abrigo ao longo da seu surgimento está em observar as decorações em
costa. Havia muita rivalidade e atritos entre essas cerâmicas. Neles também se encontram os vastos mé-
todos egípcios.

Figura 1 Figura 2

A desoedida do guerreiro, c. 510 - 500 a.C.


Aquiles e Ájax jogando damas, c. 540 a.C. Vaso em estilo de “Figuras vermelhas” , assinado
vaso no estilo de “ iguras pretas” , assinado por Eutímedes; altura 60 cm; Staatliche
por exekias; altua 61 cm; Museu Etrusco Vaticano. Antikensammlugen und G lyptothek, Munique.

Começaram assim a representar como real- Podemos concluir que o artista tinha a intenção
mente viam, foi justamente através desses artistas que de imitar um rosto real, com todas as suas imperfei-
surgiam a técnica do escorço. Exemplo apresentado ções, mas o modelava a partir de seus conhecimentos
na figura 2. sobre a forma humana.
Passou-se a ter a pretensão de levar em conta o Século IV a.C a I d. C A Beleza do Im-
ângulo de onde o artista via o objeto, logo as técnicas pério Grego
mudavam-se aos poucos, e era possível notar os níti-
O artista revela-se agora orgulhoso do seu i-
dos contornos, incluindo-se o conhecimento do corpo
menso poder e gradualmente durante o século IV dis-
humano. Amantes das linhas firmes e planos equili-
cutiam pinturas e estátuas como discutiam poemas e
brados.
Editora Exato 4
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teatro e elogiavam suas beleza ou criticavam sua Outra religião Oriental que aprendeu a repre-
forma e concepção. sentar suas histórias sagradas para a construção dos
Durante todo o século, os artistas estiveram crentes foi a judaica. Mesmo pela proibição que tinha
analisando se empenhavam em insuflar cada vez em relação às imagens, temendo a idolatria. Suas i-
mais vida nos corpulentos modelos antigos. magens distanciavam da realidade justamente pelo
Século I a IV d. C medo de pecar, e as imagens apenas restringiam-se a
A maioria dos artistas que trabalhavam em lembrar, pois, a manifestação do poder de Deus.
Roma eram gregos, e a maioria dos colecionadores Foi exatamente através deles que surgiu a pri-
romanos adquiria obras dos grandes mestres gregos meira representação de Jesus, apesar das origens da
ou cópias dessas obras. A esses artistas foram confia- arte cristã estarem ainda mais longe.
das diferentes tarefas e eles tiveram, por conseguinte,
que se adaptar aos novos métodos.
O mais citado do edifício é o Panteão, templo
dedicado a todos os deuses. O único templo da anti-
guidade clássica que sempre se conservou como local
de culto.

Cristo com São Pedro e São Paulo, c. 389


d. C. Relevo em mármore do sarcófago
de Junius Bassus; cripta de São Paulo, Roma.

Os primeiros artistas chamados a pintar ima-


gens para lugares cristãos de sepultamento – as cata-
cumbas humanas. A representação pictórica deixara
de existir como uma coisa bela por si mesma. Seu
principal intuito era recordar agora aos fiéis um dos
exemplos do poder e da misericórdia de Deus.
Começava a separar os ideais de fiel imitação,
O interior do Panteão, Roma, c. 130 d. C. Pinturas atentando-se à idéia de clareza e simplicidade, procu-
de G.P. Pamini, Santeuns Museum for kunst, Copenhague. rando o máximo de nitidez e objetividade.
A arte primitiva cristã pode ser comparada à
Os romanos agiam dentro de seu principal ob- tentativa infantil de se criar um desenho. De traços
jetivo, narravam as façanhas de um herói e procura- simples e contornos toscos, suas imagens eram priva-
vam o grande valor para as religiões. das de apuro técnico, pois não eram executadas por
A arte grega e romana, que tinha ensinado o artistas profissionais e sim por homens simples da
homem a visualizar deuses e heróis com belas for- sociedade cristã ainda perseguida pela proibição ao
mas, também ajudou os indianos a criar uma imagem cristianismo.
do seu salvador. Suas imagens giravam em torno dos símbolos
cristãos, como a âncora, a palma, a cruz e o peixe,
símbolo predileto dos cristãos.

Cabeça do Buda, século IV - V d.C. Encontrada em Hadda,


Afeganistão (Antiga Gandhara); estuque com traços de
pigmentos, altura 29 cm, Victoria Albert Museum, Londres.

Editora Exato 5
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O GÓTICO
O estilo romântico não sobreviveu sequer ao permitiam que significado e mensagem pudessem ser
século XII, permitindo nascer na França setentrional entendidos e meditados pelos fiéis.
o aparecimento do estilo gótico. A tarefa dos pintores nórdicos era a iluminação
As diferenças inovadoras foram descobertas de manuscrito; observe “o sepultamento de cristo”:
pelo método de alobar uma igreja por meio de arcos “Mostra-nos semelhante importância em expor
transversais, desejaram empregar pilares leves e os sentimentos das figuras. A virgem debruça-se so-
“costelas” estreitas nas arestas da abóbada. Passou a bre o corpo morto de Cristo e S. João entrelaça a
ser o ideal dos arquitetos construir igrejas quase à mão, numa atitude de profundo pesar”.
maneira como hoje se constrói estufa. No século XIII,a época das grandes catedrais, a
Surgia uma idéia dominante das catedrais góti- França era o mais rico e o mais importante da Euro-
cas, desenvolvidas ao norte da França durante a 2ª pa. Somente na segunda metade século XIII é que um
metade do século XII. escultor italiano começou a seguir o exemplo dos
O princípio de cruzamento de “nervuras” não mestres franceses e a estudar os métodos da escultura
foi suficiente, foi preciso unir segmentos de arcos – clássica a fim de representar a natureza de modo mais
criando os arcos mais achatados ou pontiagudos, se- concrescente.
guindo as exigências da estrutura. A arte italiana encontrou o pintor genial floren-
No interior de uma catedral gótica somos leva- tino Giotto de B. As mais famosas obras de Giotto
dos a compreender complexas interações de traços e são os murais ou afrescos (pintura ainda fresca, ou
pressões que mantêm a grandiosa abóbada em seu lu- úmida).
gar. Todo o interior parece tecidos delicados, fustes e Ele criou a ilusão de que a história sagrada es-
nervuras e ao longo as paredes da nave parecem reu- tava acontecendo diante dos nossos olhos, já não era
nir no capitel dos diversos pilares que são formados suficiente examinar as representações mais antigas da
por um feixe de varas de pedras. mesma cena e adaptar aqueles modelos consagrados
Eram formadas de vitrais policromos que refu- pelo tempo a um novo uso.
gam como rubis e esmeraldas. Os pilares, nervuras e Observe a obra, o tema é o velório em torno do
rendilhados despendiam cintilações douradas. corpo de Cristo, a virgem abraçando-lhe pela última
Nos portais, as figuras esculpidas que se aglo- vez.
meram nos poéticos das grandes catedrais góticas

Editora Exato 6
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Variou o tamanho das figuras de modo a en- uma vez que os interesses enveredaram por esse ca-
caixá-la bem na página, e se tentarmos imaginar as minho, a arte medieval podia realmente considerar-se
figuras em 1º plano e S. João ao fundo – com Cristo e no fim. E a partir daqui chegamos a tal grandioso pe-
a Virgem, percebe-se que tudo está espremido e que ríodo renascentista.
o artista não se importou com problemas de espaço. O início do século XV, conquistando a
Para Giotto, o observar é como uma testemu- realidade
nha do que estava acontecendo, ele mostra de modo
O renascimento ganhava terreno na Itália des-
tão convincente como cada figura reflete a dor pro-
de a época de Giotto, e ali mesmo a idéia de renasci-
funda suscitada pela trágica cena que não podemos
mento associava-se, na mente dos romanos, à idéia de
deixar de pressentir a mesma aflição nas figuras aga-
ressurreição da “grandeza de Roma”.
chadas, cujos rostos não podemos ver.
Os italianos do século XIV acreditavam que a
Como o trabalho continuava no século XIV,
arte, a ciência e o saber haviam florescido no período
vem-se a ambição dos grandes bispados por podero-
clássico, que todas essas coisas foram destruídas pe-
sas catedrais. Podemos dizer que o gosto do século
los bárbaros do Norte e que a eles cabia a missão de
XIV se inclinava mais para o refinado do que para o
reviver o passado glorioso.
grandioso.
O líder foi o arquiteto Fillipo Brunelleschi, que
Em sua arquitetura, já não se contentavam com
decidiu descartar inteiramente o estilo tradicional a-
os métodos e majestosos contornos, gostavam de exi-
dotado e ansiava pelo modelo romano.
bir sua habilidade na decoração e nos rendilhados
Tinha como intenção que as formas da arquite-
complexos. Há quem afirme que as obras mais carac-
tura clássica fossem desenvolvidas de formas livres
terísticas deste século são os trabalhos menores em
usadas para criar novos modos de harmonia e beleza.
metais preciosos ou marfim, em que o amor dos pin-
Brunelleschi não foi apenas o pioneiro da ar-
tores do século XIV por detalhes graciosos e delica-
quitetura da Renascença, mas também dominou toda
dos é visto em manuscritos iluminados, e o método
a arte de séculos subseqüentes: a da perspectiva,
de contar a história continua um tanto irreal.
culminou colunas, pilastras e arcos à sua própria ma-
Somente no decorrer do século XIV é que os
neira, a fim de lograr um efeito de leveza e elegância
dois elementos dessa arte, a leve narrativa e a obser-
diferente de tudo o que se construíra antes.
vação se conjugaram gradualmente.
Foi Brunelleschi quem forneceu a artistas mei-
Giotto foi contemporâneo do grande poeta flo-
os técnicos para solucionar esse problema. E o entu-
rentino Dante, que o menciona na divina comédia.
siasmo que isso causou entre os seus amigos pintores
Esses, entre outros artistas do século XIV, pintaram
deve ter sido imenso.
copiando da natureza, o que desenvolveu a arte retra-
A figura a seguir trata de um mural numa igre-
tista.
ja florentina representando a Santíssima trindade com
A Boêmia tornou-se um dos centros através do
a Virgem e S.João sob a cruz, e os doadores – um ve-
qual essa influência, oriunda da Itália e da França,
lho mercador e sua esposa – ajoelhados do lado de
propagou-se mais amplamente, alcançado contato a-
fora.
inda com a Inglaterra. A Europa da igreja latina ainda
O artista que representou tal grandiosidade
era mais vasta. Artistas e idéias circulavam livremen-
chama-se Masaccio, que significa “desejeitado”, sua
te de um centro para o outro, e ninguém pensava em
arte não constituía apenas a perspectiva elaborada na
rejeitar uma realização por ser “estrangeira”. O estilo
pintura, mas elaborou através da simplicidade e gran-
surgiu do intercâmbio em fins do século XIV, é co-
deza das figuras que eram emolduradas por essa nova
nhecido entre os historiadores como o “estilo interna-
arquitetura.
cional”.
Figuras maciças em sólidas formas angulares e
Os artistas desse estilo aplicaram a mesma ca-
a presença de um túmulo sombrio com um esqueleto
pacidade de observação e o mesmo prazer em coisas
acima, substituindo a delicadeza das flores e pedras
belas e delicadas sempre que retrataram o mundo à
preciosas.
sua volta. Tinha o costume da Idade Média ilustrar
calendários com quadros das diversas ocupações ca-
racterísticas dos sucessivos meses: se menteira, caça,
colheita etc.
Aqui era possível colocar todo o conhecimento
adquirido da natureza a serviço da arte religiosa, co-
mo os mestres do século XIV tinham feito. Havia o
treino antes das antigas fórmulas para representar as
principais figuras da história sagrada. Sendo assim,

Editora Exato 7
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tante determinado na reprodução minuciosa de cada


detalhe em sua pintura.
Os artistas aqui citados até agora tinham de-
senvolvido um método pelo qual a natureza podia ser
representada num quadro com exatidão quase cientí-
fica. Começavam com uma estrutura de linhas em
perspectivas, e construíam o corpo humano graças
aos seus conhecimentos de anatomia e das leis da na-
tureza, mediante a paciente adição de detalhe, até que
a tonalidade da sua pintura se convertesse num espe-
lho do mundo visível.
Jan foi o inventor da pintura a óleo, os artistas
tinham que preparar suas tintas extraídas de plantas e
minerais, adicionado um líquido aos pigmentos ad-
quiridos, a fim de convertê-los em uma pasta.
Observe a obra em que descreve o espelho da
realidade, onde nada lhe faltava: o tapete e os chine-
los, o rosário na parede, entre outros detalhes.

Entre os maiores escultores, citamos Donatel-


lo, o qual transmitia a suas imagens uma impressão
de vida e movimento, cujos contornos permanecem
claros e sólidos como uma rocha. Ele nos revela, as-
sim, tirar uma nova representação através da obser-
vação na natureza.
Jan Van Eyck – Os ensaios dos Amolfini, 1434. Óleo sobre madeira, 81,8
O estudo do corpo humano era inevitável e pa- x 59,7 cm: Nacional Gallery, Londres
ra realizá-lo solicitava a seus colegas artistas que po- O pintor foi chamado a registrar esse importan-
sassem para ele em atitude requerida, a fim de te momento como testemunha. Entende-se que ele foi
parecer sua obra mais convincente. chamado para declarar que estivera presente num ato
A arte da perspectiva aumenta ainda mais a i- solene idêntico. O fato se explica no momento em
lusão de realidade. Auxiliada pelo domínio da ciência que pôs seu nome numa posição de destaque do qua-
e o conhecimento da arte clássica permaneceu de dro, com as palavras latinas: “Johannes de eyck fuit
posse exclusiva dos artistas italianos da Renascença. hit”. (Jan Van Eyky esteve aqui).
Deixemos um pouco a pintura de lado, afinal
de contas não foi a única arte que realizou conquistas
da realidade do Norte. Na região dos Países Baixos, o
pintor Jan Van Eyck fazia descobertas revolucioná-
rias.
Jan Van Eyck atinham-se à observação da na-
tureza e cada vez mais paciente, ele parecia ser bas-

Editora Exato 8
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Final do Século XV na Itália cela de cada monge e no final de cada corredor. Ob-
As novas descobertas que os artistas da Itália e serve uma de suas pinturas.
Flandres tinham feito nos começos do século XV: a
nobreza do período comungava nos ideais da cavala-
ria; sua lealdade ao rei ou ao senhor feudal não im-
plicava que se considerassem os paladinos de
qualquer povo ou nação. Cada cidade orgulhava-se e
era ciosa de sua própria posição e privilégios no co-
mércio e indústria. Assim que os artistas ganharam
importância. Os artistas, como todos os artesão e artí-
fices, organizaram-se em corporações, as quais eram
companhias ricas que faziam ouvir sua voz na admi-
nistração da cidade, e não só a ajudavam a prosperar
como também se empenhavam em fazê-la bela, po-
rém dificultavam a todo e qualquer artista estranho
obter emprego ou instalar-se entre eles.
No século XV, a arte fragmentou-se numa sé-
rie de “escolas” diferentes; quase todas as cidades,
grandes ou pequenas, da Itália, Flandres e Alemanha
tinham sua própria “escola de pintura”. O termo es-
cola era para determinar que se uma criança se dedi-
Fra Angélico – A anunciação, 1440. Afresco
casse à pintura, o pai a colocava desde cedo na casa
187 x 157. Museu di San Marco, Florença.
dos mestres da cidade, com a intenção dele se tornar
um aprendiz.
Outro a ser citado é o pinto Paolo Uccello, a-
Como exemplo do período citamos Fra Angé-
parentemente sua pintura parece bastante medieval.
lico, um frade dominicano, e os afrescos que pintou
em uma de suas mais belas obras, uma cena sacra na

Paolo Uccello – A Batalha de San Romano, c. 1450. Provavelmente de um aposento do Palazzo Médici Florença, óleo sobre madeira,
181,6 x 320 cm. National gallery, Londres.

O pintor empenhou-se em representar as várias bordagem oposta. Tentou construiu um convincente


peças de armadura que juntam o solo da perspectiva. alço onde suas figuras parecessem sólidas e reais.
Isso deve ter sido de extrema dificuldade. Uma pintu- Apesar de tudo, Uccello ainda não aprendera a
ra pequena em relação a tantas outras figuras. usar os efeitos de luz e sombra, a fim de suavizar os
Paollo devia à tradição gótica, e como a trans- duros contornos de uma representação estritamente
formou, optou por uma abordagem de todas as coisas perspectivada.
até o ínfimo sombreado. Uccello optou por uma a-
Editora Exato 9
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Nesse tempo, outros pintores nas cidades ao


norte e ao sul de Florença tinham absorvido a mensa-
gem da nova arte de Donatello e Masaccio, e ansio-
sos por extrair dela o máximo proveito do que os
próprios florentinos.
Outro grande pintor foi Piero della Francesca.
Seus afrescos foram pintados pouco depois de mea-
dos do século XV, uma geração após Masaccio.

Editora Exato 10
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LISTA DE EXERCÍCIOS
EXERCÍCIOS 2 Conforme a imagem, julguem os seguintes itens:

1 Em Giotto, encontramos um artista de tempera-


mento muito mais ousado e dramático. Desde o
início, Giotto estava menos próximo da maneira
grega e foi, por instinto, um pintor de afrescos,
muito mais de painéis. Devemos agora voltar
nossa atenção para a pintura italiana que no final
do século XII, gerou uma extraordinária explosão
de energia criadora, cujos resultados foram tão
prolíferos quanto havia sido a ascensão das cate-
drais góticas na França.

1 As duas pinturas foram colocadas lado a lado


para dar a impressão de constituírem uma só
obra.
2 Os detalhes da paisagem são proporcionais às
figuras características das obras renascentistas.
3 Percebe-se na obra um esforço do artista em
fazer-nos crer que a paisagem envolve o edifí-
cio.
4 Apesar de todos os detalhes, o painel não apre-
senta profundidade.

3 Usando seu próprio testemunho, Piero della


Conforme imagem e texto, julgue os itens: Francesca, podemos dizer que suas obras nasce-
1 A ação da cena desenvolve-se em primeiro ram de sua paixão pela perspectiva. Mais que
plano. qualquer artista de seu tempo, ele acreditava na
2 Giotto faz com que o olhar do espectador fique perspectiva científica como sendo a base da pin-
no mesmo nível das cabeças das figuras, pare- tura; em um tratado repleto de rigor matemático,
ce dar continuidade ao espaço em que nos en- o primeiro do gênero, ele demonstrou como a
contramos. perspectiva se aplicava aos corpos estereométri-
3 A arquitetura é apresentada na imagem com a cos e formas arquitetõnicas, bem como a forma
mesma importância com que é narrada a histó- humana.
ria em sua obra.
4 A profundidade é obtida através dos volumes
combinados dos corpos sobrepostos na pintura.

Editora Exato 11
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Com base no texto e imagem, julgue os itens: 6 A arte gótica, como a conhecemos até o presente,
1 A sua obra apresenta, em sua arquitetura, uma reflete um desejo de conferir aos temas tradicio-
ilusão de formas geométricas. nais do cristianismo um apelo emocional cada
2 Suas pinturas já não têm por função represen- vez mais intenso. A mais característica e difundi-
tar um acontecimento. da dessas imagens é chamada Pietà, uma repre-
3 A pintura observada destina-se a transmitir sentação da Virgem lamentando o Cristo morto.
emoções, como alegria e tristeza. Essa cena não aparece nas escrituras. foi criado
4 As figuras representadas parecem estar estáti- em contrapartida ao tema da Madona com o Me-
cas. nino.

4 No século XVI, a nova arquitetura foi chamada


desdenhosamente de gótica, porque tinha uma de
aparência tão bárbara que poderia ter sido criada
pelos godos, povo que invadiu o Império Romano
e destruiu muitas obras da antiga civilização ro-
mana. Mais tarde, o nome gótico perdeu seu cará-
ter depreciativo e ficou definitivamente ligado à
arquitetura dos arcos ogivais.
Partindo da leitura feita do texto, julgue os itens:
1 A rosácea, uma janela arredondada, é um ele-
mento arquitetônico característico do estilo gó-
tico, porém foi na renascença que recebeu um
destaque maior.
2 A característica mais importante gótica é a a-
bóbada de nervura, a mesma utilizada na igre-
jas românicas. Conforme texto e imagem, julgue os itens:
3 A utilização de arcos ogivais possibilitava que 1 O realismo registra na expressão quase até o
as igrejas fossem construídas mais altas. grotesco, de modo a provocar uma opressiva
4 A igreja gótica apresenta um tímpano na sua sensação de horror e piedade.
fachada principal, os quais narram, através de 2 Seus corpos macelentos e parecidos com mari-
trabalhos escultóricos, momentos diferentes da onetes, atinge o ponto extremo da negação dos
vida de Cristo. aspectos físicos da figura humana.
3 É possível notar a ausência ao observador, já
5 Nas, artes, o ideal humanista e a preocupação que a sua intenção era representar os temas
com o rigor cientifica podem ser encontrados nas cristãos.
mais diferentes manifestações. Trabalhando ora o 4 A imagem incorpora as forças das trevas, se-
espaço, na arquitetura, ora as linhas e cores, na melhantes às enormes famílias de criaturas
pintura, ou ainda os volumes, na escultura, os ar- selvagens ou monstruosas ,registradas na Idade
tistas do Renascimento sempre expressaram os Média.
maiores valores da época a racionalidade e a dig-
nidade do ser humano. 7 Michelângelo exemplifica mais plenamente que
Com base no texto, julgue os seguintes itens: qualquer outro artista o conceito de genialidade
1 O renascimento buscava em sua arquitetura a como inspiração divina, um poder sobre-humano
ordem e a disciplina que igualasse ao ideal de concedido a poucos e raros indivíduos, e que atua
infinitude do espaço das catedrais góticas. através deles. Ao contrário de Leonardo, para
2 A matemática estabelecida para a ocupação do quem a pintura era a mais nobre das artes porque
espaço pelo edifício foi estabelecida para o ob- abarcava todos os aspectos visíveis do mundo; A
servador pudesse compreender a lei que o or- arte, para ele, era uma ciência. mas sim "a criação
ganiza, de qualquer ponto em que se coloque. de homens", a análoga à criação divina.
3 A preocupação dos construtores renascentistas
era criar espaços compreensíveis de todos os
ângulos visuais.

Editora Exato 12
ARTES

3 Toda a gestualidade registrada na obra é desvi-


ada para a virgem, já que ela é o ponto mais al-
to da imagem e o mais iluminado.
4 A profundidade da imagem é dada pela luz que
brilha muito além da escuridão da superfície
das pedras.

9 No Egito, ao dominar uma série de leis rigoro-


sas,o artista dava por encerrada a sua aprendiza-
Conforme texto e imagem, julgue os itens: gem. Ninguém queria coisas diferentes, ninguém
1 A cena apresenta uma dramática justaposição lhe pedia que fosse original. As figuras eram re-
do homem e de Deus. presentadas da forma mais claramente visível.
2 A imagem é semelhante às imagens gregas, Na Grécia, embora os artistas não copiassem a
que mostram sua beleza e corpos trabalhados. natureza tal como a viam, já não consideravam a
3 A imagem possui uma construção diagonal, o fórmula de representação da figura humana como al-
que desequilibra a obra. go sagrado, que devesse ser seguida em todos os
4 A imagem de Adão representado por um ho- pormenores.
mem jovem, cujo corpo forte e harmonioso A grande revolução da arte grega, a descoberta
concretiza o ideal da beleza do Renascimento. de formas naturais e do escorço, ocorreu em uma é-
poca que é, acima de tudo, o mais assombroso perío-
do da história humana. É a época em que o povo das
8 Leonardo não pensa em termos de contornos, cidades gregas começou a contestar as antigas tradi-
mas sim de corpos tridimensionais que tornam ções e lendas sobre os deuses e a investigar sem pre-
visíveis, em graus variados, através da luz. Nas conceitos a natureza das coisas
sombras, essas formas permanecem incompletas,
e seus contornos são sugeridos.

Conforme a figura e o pequeno trecho sobre os


estudos da pintura do autor Leonardo, julgue os itens:
Figura I A deusa Hathor e o rei Sthi I, 19, dinastia, 1303-1290 a.C.
1 As figuras estão em disposição geométrica, de
maneira que formem uma pirâmide, onde a ba-
se é a Virgem.
2 O contraste de claro e escuro que incide no
rosto da virgem a torna o centro da obra.

Editora Exato 13
ARTES

dos instrumentos que os grupos utilizavam em suas


atividades, como pontas de projéteis em osso, lâmi-
nas de machado, quebra-coquinhos, agulhas, pesos de
rede, anzóis, além de objetos de arte, como o objeto
de pedra representando uma ave, mostrando na figura
II, acima.

Figuras II Cenas de aprendizagem, pintura sobre cerâmica.


Com o auxílio do texto e das figuras acima,
julgue os itens que se seguem, acerca das diferenças
de estilo e de forma nas artes egípcia e grega.
1 Na arte egípcia, os artistas utilizavam a lei da Figura I-Sambaqui. Sítio Figueirinha-I, Jaguaruna, Santa Catarina
frontalidade.
2 As figuras humanas, na obra egípcia mostrada
na figura I, têm o mesmo tamanho e, portanto,
possuem a mesma importância na cena.
3 O desenho sobre o vaso grego, mostrado na fi-
gura II, embora naturalista, tem função decora-
tiva.
4 Ao contrário do que mostra a obra de arte e-
gípcia, representada na figura I, o desenho do
vaso grego representado na figura II é estático.
5 O autor do relevo egípcio, mostrado na figura
Figura II- Zoolito, acervo do MAE-USP
I, teve liberdade para escolher as cores de sua
pintura. Com base no texto e nas figuras acima, julgue
os itens seguintes, acerca dos sambaquis e de outras
evidências da arte e da cultura dos habitantes primiti-
10 Esta narrativa faz parte da mitologia contada pe- vos do Brasil.
los povos de língua tupi e relata a história de um 1 Alguns sambaquis demoraram centenas de a-
povo na busca da Terra sem Mal, da eterna fonte nos para serem construídos.
de juventude de Maíra e de uma inesgotável pro- 2 Os sambaquis eram construídos por grupos que
fusão de alimentos e recursos em geral. De fato, habitavam e exploravam o ambiente marinho.
mais ou menos há 1.500 anos, partindo do Ama- 3 O objeto mostrado na figura II traduz a mani-
zonas, esses grupos empreenderam um enorme festação de um valor cultural ligado à sobre-
deslocamento populacional, expandindo seu terri- vivência do grupo social que o produziu.
tório e alcançando, na época da colonização eu- 4 A técnica de desbaste utilizada no trabalho em
ropéia,uma verdadeira unidade nacional. Suas pedra mostrado na figura II permitiu obter de-
aldeias se distribuíam da Amazônia ao sul do talhes minuciosos.
Brasil, formando uma extensa faixa ao longo do 5 As dimensões dos sambaquis e o seu destaque
litoral. na paisagem fazem que eles pareçam monu-
Há mais ou menos 6.000 anos, uma parte do li- mentos para a demarcação do território ocupa-
toral brasileiro começou a ser ocupada por grupos do pelo grupo que os construiu.
que, utilizando os recursos oferecidos por oceanos,
mangues e lagunas, construíam sambaquis, como o
mostrado na figura I, acima, com cerca de 15 m de 11 O trecho a seguir traz a opinião de Ulpiano Be-
altura. zerra de Meneses acerca da definição da arte no
O nome sambaqui vem da língua tupi (tampa = período pré-colonial no Brasil.
marisco e ki = amontoado), e é mais ou menos isso É preciso evitar noções associadas ao fenôme-
que os sambaquis representam. no artístico na civilização ocidental, em que a produ-
Em um sítio sambaqui, encontramos marcas de ção internacional (ou a conversão de produção
fogueiras, de habitações, restos de alimentos e deze- originada de outro contexto), a circulação e o consu-
nas de sepultamentos. Encontramos, ainda, muitos mo de certos bens obedecem a tal especificidade, que

Editora Exato 14
ARTES

é possível falar em categorias como objetos artísticos, 15 A arte egípcia tinha como seu deus não a coca–
artista, colecionador de arte, marchand e assim por cola, mas ao faraó a quem exortavam em suas
diante. Dentro dessa perspectiva, é totalmente inade- pinturas e esculturas.
quado presumir uma atividade artística para as cultu-
16 As figuras encontradas no período egípcio eram
ras primitivas e, portanto, tentar identificar uma
bastante adornadas com ouro e brilho para manter
classe de produtos de arte ou buscar especialização
a crença e o poder hierárquico de seu povo.
na sua manufatura. Por outro lado, remeter, como so-
lução alternativa, todos e quaisquer fenômenos for- 17 A arte na pré–história assemelha-se aos egípcios
mais relevantes, nessas culturas, a um contexto quando suas figuras produzem movimento e ins-
cerimonial e a conteúdos simbólicos é praticar outra tabilidade em cena.
forma de reducionismo que nada pode esclarecer. 18 As imagens no período paleolítico e neolítico não
se diferenciavam em suas formas apenas na temá-
tica e na organização das figuras.
19 Os artistas gregos iniciavam sua arte semelhante
à arte egípcia o tronco do corpo geometrizado aos
quadris.
20 Os egípcios e os povos primitivos possuíam suas
estilizadas.
21 Os romanos diferenciam em sua arte dos artistas
gregos apenas pelos valores das vestimentas.
22 Os artistas gregos idealizavam os homens como
Ulpiano Bezerra de Meneses. A arte no período pré-colonial. Walther Zanini. Histo- centro do universo, semelhantes aos deuses.
ria geral da arte no Brasil. São Paulo,Instituto Walther Moreira Salles, 1982, v 1 p
21. 23 Os romanos, além da escultura, que aperfeiçoa-
A partir do texto e da figura acima, que mostra ram em seu estilo artístico, tinham a arquitetura
urna funerária confeccionada em argila, julgue os i- como um dos seus grandes méritos, pois conse-
tens a seguir. gue elaborá-las em andares.
1 A urna exibida não tem função utilitária.
2 Os pés da figura humana representada pela 24 A arte cristã–primitiva era realizada em templos,
uma mostrada têm também a função de dar a- onde estabelecia a nova religião cristianismo.
poio ao objeto. 25 Os gregos dividem-se em três períodos artístico
3 O material utilizado na confecção da uma mos- arcaico, clássico e o período helênico, onde suas
trada na figura é raro no Brasil esculturas desenvolvem-se com novas formas e
4 A cerâmica é geralmente produzida por socie- sem implementação de materiais inovadores.
dades que não atingiram um estágio agrícola.
5 Conforme o exemplo da uma exibida na figura, 26 As catacumbas cristãs assemelham-se aos rituais
as irregularidades na superfície do objeto em egípcios, pois eles acreditavam em desenhos ar-
cerâmica tomam sua forma assimétrica. tísticos, como magia, pré–destinadores de salva-
ção.

Julgue os itens: 27 O dinamismo da arte grega é dado quando as fi-


guras femininas são representadas envolvidas por
12 Apesar do texto no final criticar o contemporâ- pequenos panos sugerindo o movimento.
neo, enfatiza a importância de conhecer o princí-
pio e a cultura que motiva a existência destes 28 A escultura helenística é o auge grego quando se
povos. descobre o bronze e o mármore um material que
permite maior maleabilidade para esculpi-las e
13 O princípio apresentado pelos arqueólogos em assim criar novas formas e posições.
seus estudos científicos era uma organização so-
cial de no classes paleolítico e no neolítico. 29 Algumas esculturas gregas foram encontradas i-
nacabadas, por causa do material que não propor-
14 Não existe, segundo pesquisas realizadas, ne- cionava firmeza e assim quebravam quando não
nhuma relação do ritual realizado pelos povos e- estavam em repouso.
gípcios ao ritual dos povos primitivos.
30 As imagens na pré–história, durante o período
paleolítico, eram sobrepostas, pois eles não ti-

Editora Exato 15
ARTES

nham um sistema organizacional como o período Lendo o texto, julgue os itens sobre a arte roma-
neolítico. na.
31 A arquitetura na Grécia limitava-se a grandes es-
1 A estrutura romana era exclusiva para que se
pudessem glorificar os deuses em que eram re-
paços retangulares com colunas dóricas e jônicas.
presentados através de esculturas.
32 A tentativa de perspectiva da arte egípcia é dada 2 A arte romana é menos idealizada e intelectual
pela proporção em que as figuras são representa- que a arte clássica grega, porém os romanos
das. desenvolviam um maior poder de razão e inte-
33 A arte no período paleolítico já demonstrava a lecto em relação a administração, enquanto que
necessidade de criar volume e dar formas com os gregos queriam apenas brilhar.
maior precisão, pois tratava da sobrevivência e 3 As formas romanas são exclusivas e distintas.
fé. 4 A utilização inovadora da arquitetura romana
permitiu projetos mais flexíveis como a utili-
34 Os egípcios eram regidos por leis e regras deter- zação de abóbadas, formas curvas e circulares.
minadas pelos faraós, que manipulavam a arte em
seu favor. 38 A pintura de vasos tornou-se uma importante in-
35 A arte iniciou por estranhos começos nos quais dústria em Atenas, e os humildes artífices empre-
os homens estabeleciam uma comunicação entre gados nas oficinas estavam ávidos por introduzir
si. as mais recentes descobertas em seus trabalhos.
Nos primeiros vasos, pintados no século VI a.C.,
36 A arte é considerada primitiva porque seus artis-
ainda encontram-se vestígios dos métodos egíp-
tas não sabiam desenhar e manipular as cores
cios.
conforme as observavam.

37 A maioria dos artistas que trabalhavam em Roma


eram gregos, e a maioria dos colecionadores ad-
quiria obras dos grandes mestres gregos ou có-
pias dessas obras. Apesar disso, a arte mudou,
quando Roma se tornou senhora do mundo. Aos
artistas foram confiadas diferentes tarefas, e eles
tiveram, por conseguinte, que se adaptar aos no-
vos métodos. A mais importante característica da
arquitetura romana é, porém, o uso de arcos.
Construir um arco com pedras separadas em for-
ma de cunha é uma dificílima façanha de enge- 1 Ambas as figuras são rigorosamente mostradas
nharia. Cada vez mais ousados, os romanos de perfis, assim como na arte egípcia, onde
tornaram-se grandes especialistas na arte da cons- nobres e escravos eram representados pela lei
trução de abóbadas, graças a diversos expedientes da frontalidade.
de natureza técnica. 2 Com o passar do tempo, os gregos atingem e-
feitos realistas através de utensílios domésti-
cos.
3 Nas pinturas em cerâmica, exclusivamente em
vasos, encontravam-se apenas figuras de he-
róis.
4 A cor avermelhada que faz o plano de fundo
aos heróis é a descoberta da arte grega.

39 A grande revolução da arte grega, a descoberta


de formas naturais e do escorço (síntese do dese-
nho), ocorreu numa época que é, certamente, o
mais assombroso período da história humana. É a
época em que os povos das cidades gregos come-
çaram a contestar as antigas tradições e lendas
sobre deuses, e a investigassem preconceitos a

Editora Exato 16
ARTES

natureza das coisas. É período em que a ciência, 3 O desenho do vaso grego representado é estáti-
tal como hoje entendemos o termo, e a filosofia co.
desperta pela primeira vez entre os homens, e de- 4 A arte grega envolve uma harmonia em sua
senvolvendo-se o teatro a partir das cerimônias obra tão expressiva que tudo se combina, o que
em honra a Dionísio. produziu uma composição harmoniosa.
5 A arte grega possui suas formas geométricas
de rigidez, retendo uma singela beleza e luci-
dez em sua obra.

41 A partir do século 12 os centros irradiadores de


cultura deixaram de ser os mosteiros e se expan-
diram para as igrejas das grandes cidades da Eu-
ropa. A catedral da cidade tornou-se o edifício
mais importante e é nela que vamos encontrar to-
das as características do estilo gótico.
A respeito da Arte Gótica, julgue os itens:
1 A pintura é o elemento mais característico da
arte Gótica.
2 A arquitetura Gótica é esbelta e muito alta,
como querendo elevar-se ao céu em busca de
Deus.
3 A escultura gótica está associada diretamente
à arquitetura.
4 Os vitrais filtram a luz natural e colorem o in-
1 O pé direito ainda foi desenhado da maneira terior das igrejas góticas.
“padronizada”, mas o esquerdo já está “escor-
çado”, ver-se os cincos dedos dispostos como 42 A difusão do cristianismo e sua afirmação coin-
uma fileira de cinco pequenos círculos. cidiu historicamente com o momento de esplen-
2 Neste vaso, é possível observar que o artista dor do Império Bizantino e a arte tomou novo
grego desenvolveu o seu olhar sobre a obra, ou direciomamento, refletindo toda a grandeza e o
seja, passa a levar em conta o ângulo de onde contexto político daquela sociedade.
ele vê o objeto. Quanto à Arte Bizantina, julgue os itens:
3 As artes gregas estavam voltadas apenas para 1 Com a oficialização do cristianismo a arte
narração de eventos contemporâneos surgidos cristã assume um caráter majestoso.
na época. 2 Apesar das tentativas de conquista do povo a-
4 O escorço ajuda a obter uma maior perfeição través da oficialização do cristianismo e da
para se pintar a realidade tal como ela é vista. mudança da linguagem dos temas artísticos, a
arte assumiu um caráter de contestação política
40 Todas as obras gregas do século V a.C. mostram contra a posição do Imperador de se colocar no
essa sabedoria e habilidade na distribuição das fi- lugar de Deus.
guras, mas os gregos de então valorizam ainda 3 A arte Bizantina ganhou, além da expressivi-
mais o fato de que a recém–adquirida liberdade dade natural da arte, uma função de divulgação
para representar o corpo humano em qualquer e promoção política.
posição ou movimento podia ser utilizada para 4 Na verdade, mesmo com todas as mudanças
refletir a vida interior das figuras representadas. político-sociais, houve uma mudança significa-
Após ler o texto e observar a obra, julgue os i- tiva no fazer artístico daquele período.
tens:
1 Subentende-se através do texto que os artistas
43 Desde que Roma adotou a religião cristã o ho-
gregos tinham dominado os meios de transmi-
mem europeu passou a viver apenas para Deus e
tir um pouco dos sentimentos mudos existentes
a arte servia como veículo para afirmar sua cren-
entre as pessoas.
ça. No século 14 houve muito progresso nas ar-
2 O desenho representado sobre o vaso grego
tes, na literatura e nas ciências e o homem voltou-
mostrado, embora naturalista, tem função de-
se para si mesmo, recolocando-se como a criatura
corativa.
mais importante da Terra.
Editora Exato 17
ARTES

A respeito do Renascimento, julgue os itens: GABARITO


1 O Renascimento é dividido em quatrocentis-
mo (séc. XV) e quinhetismo (séc. XVI). 1 C, C, C, E
2 A pintura no quatrocentismo empregou muito
os tons claro e escuro e preocupou-se com a fi- 2 C, E, C, E
delidade anatômica. 3 E, C, E, C
3 A escultura do renascimento não tinha preo-
4 E, E, C, E
cupação com a anatomia.
4 Na arquitetura os prédios eram inovadores e 5 E, C, E, C
não tinham ligações com a antiguidade clássi-
6 C, C, E, E
ca.
7 C, C, E, C
44 Quanto às características da escultura gótica ana- 8 E, C, E, C
lise e julgue os itens a seguir em certos ou erra- 9 E, C, C, E, E
dos.
1 A escultura está intensamente ligada a arqui- 10 E, E, C, C, E
tetura. 11 C, C, C, C, E
2 Sua função é ocupar espaço dentro das cons-
truções. 12 C
3 As imagens nuas são um marco, pois se des- 13 E
tacam das demais criações deste período.
4 Sua função era única e meramente decorativa. 14 E
15 E
45 Quanto às características do Renascimento, jul- 16 C
gue os itens.
17 E
1 Na escultura renascentista predomina o nu,
assim como no clássico grego. 18 E
2 A posição do homem como o centro do mun- 19 E
do é visto pela primeira vez no Renascimento.
3 É na arquitetura renascentista que se decora o 20 C
interior dos ambientes com inspiração na arte 21 E
da Idade Média.
4 A pintura renascentista acompanha os mes- 22 E
mos padrões da escultura grega. 23 C
24 E
46 Quanto à pintura renascentista, julgue os itens.
1 No chamado quatrocentismo empregou-se o 25 E
claro e o escuro. 26 C
2 Houve uma grande preocupação com a fideli-
dade anatômica. 27 E
3 Personagens de outras épocas foram vestidos 28 C
com roupas do século XV.
29 C
4 Apesar das tentativas de conquista do povo a-
través da oficialização e da mudança da lin- 30 C
guagem dos temas artísticos, a arte assume um
31 C
caráter de contestação política contra a posição
do Imperador de se colocar no lugar de Deus. 32 C
33 C
34 C
35 E
36 E

Editora Exato 18
ARTES

37 E, C, E, C
38 E, C, E, C
39 C, C, E, C
40 C, C, C, C, E
41
42
43
44
45
46

Editora Exato 19
ARTES

BARROCO
1. INTRODUÇÃO Barroco apresentou um dinamismo e um exagero de
formas e cores jamais visto no Renascimento.
Historicismo A Pintura Barroca na Itália
1523 – Reforma Protestante de Lutero. De um modo geral, a pintura barroca pode ser
1541 – Contra-Reforma Católica. resumida em alguns pontos principais. O primeiro é a
1542 – Instaurada a Santa Inquisição pelo Concílio disposição dos elementos dos quadros, que sempre
de Trento. forma uma composição em diagonal. Além disso, as
1600 – Caravaggio pinta A Conversão de Santo Pau- cenas são envolvidas em acentuado contraste de cla-
lo. ro-escuro, intensificando a expressão de sentimentos.
1607 – Final das obras da Basílica de São Pedro. E se a pintura barroca é realista, essa realidade não é
1612 – Ingleses iniciam a colonização da Índia. só a vida de reis e nobres, mas também a do povo
1636 – Rembrandt pinta O Cegamento de Sansão. simples.
1654 – Expulsão dos Holandeses do Brasil. Dentre os pintores italianos desse período, qua-
1660 – Vermeer cria A Moça de Turbante. tro são os mais expressivos; Michelangelo, o verda-
1687 – Jesuítas fundam Sete Povos das Missões deiro precursor do barroco, ainda dentro do
(Brasil). Renascimento. Seu trabalho na Capela Sistina já pre-
1740 – Bouchet pinta Triunfo de Vênus. diz o que seria o barroco. Ele lançou as bases da pin-
1757 – Início da Construção da Igreja de Sta. Geno- tura barroca, seu estilo e suas tendências. O Segundo
veva. foi Tintoretto, o mestre do Maneirismo que, com o
1766 – Aleijadinho projeta a Igreja de São Francisco passar dos anos, enveredou pelo barroco, encontran-
de Assis. do nesse estilo o campo fértil para seu talento. Tinto-
O surgimento do Barroco no século XVII, na retto determinou aqui duas características bem
Itália, deve-se a uma série de mudanças econômicas, marcantes: os corpos das figuras são mais expressi-
religiosas e sociais ocorridas na Europa. Com o hu- vos do que seus rostos e a luz e a cor têm grande in-
manismo, o Renascimento e, principalmente, a Re- tensidade.
forma Religiosa de Lutero, a Igreja católica teve seu Tintoretto (Jacopo Robusti, 1518 –
poder enfraquecido. O grande Império cristão frag- 1594) – O mestre filho de um tintureiro
mentou-se em diversas religiões e para reconquistar Pintor italiano de Veneza, cujo apelido, Tinto-
seu prestígio e poder, organiza a Contra-Reforma, retto, deriva da profissão de seu pai, um tintureiro.
tomando iniciativas que visavam reafirmar e difundir Foi na tinturaria do pai que o jovem pintor começou a
a fé católica. Uma dessas iniciativas é a imediata experimentar cores e tons, ainda sobre tecidos velhos
construção de grandes igrejas que serão verdadeira e manchados. Produziu uma grande quantidade de
exibição artística da riqueza, do esplendor e do poder obras para a Igreja, além de cenas mitológicas e retra-
católico. É na construção desse tipo de Igreja que tos. Foi um desenhista formidável que se destacou
nasce a arte Barroca. por empregar em suas telas vívidos exageros de luz e
Da Itália, a arte barroca se propagou para ou- movimento. Já velho e milionário, resolveu ensinar
tros países europeus e pelo continente americano a- sua arte a jovens discípulos, fundando sua própria es-
través dos colonizadores portugueses e espanhóis. cola de arte, atitude incomum para a época.
Mas ela não se desenvolveu de forma igual. Houve
grandes diferenças entre artistas e entre obras produ-
zidas nos diferentes países. Inclusive no Brasil, onde
a arte Barroca, em muitos aspectos e também na sua
duração histórica, superou a própria arte italiana. A-
pesar disso, alguns princípios gerais podem ser indi-
cados como característicos dessa arte: o barroco
rompeu o equilíbrio entre o sentimento e a razão ou
entre a arte e a ciência, que os renascentistas procura-
ram realizar de forma consciente. No barroco, pre-
dominam as emoções e não o racionalismo
renascentista. As figuras barrocas são representadas
de tal forma que parecem estar em movimento. O A Última Ceia, de Tintoretto

Editora Exato 20
ARTES

Caravaggio(1573 – 1610) – O uso revo-


lucionário da luz
Caravaggio não se interessou pela beleza clás-
sica que encantou o Renascimento. Procurava seus
modelos entre pessoas do povo. O que melhor carac-
teriza a pintura de Caravaggio é essa atitude de retra-
tar os temas sagrados como um acontecimento atual
entre pessoas humildes; as figuras bíblicas asseme-
lham-se a trabalhadores comuns, com fisionomias
curtidas pelo tempo.

Vocação de São Mateus, de Caravaggio.


E mais que isso, a forma revolucionária como
ele usava a luz. Ela não aparece como reflexo da luz
A Glória de Sto. Inácio, afresco de A. Pozzo no teto da igreja de
solar, mas é criada intencionalmente pelo artista para Sto. Inácio, Roma.
dirigir a atenção do observador. Isso foi tão funda-
mental na sua obra, que ele é conhecido como funda- 2. O BARROCO FORA DA ITÁLIA
dor do estilo Iluminista. Espanha
Andrea Pozzo (1642 – 1709) – Os tetos Na Espanha, o Barroco se desenvolveu princi-
das igrejas abrem-se para o Céu palmente na arquitetura, nos entalhes requintados das
A pintura barroca desenvolveu-se também nos portadas de edifícios religiosos e civis. Em relação à
tetos de igrejas e de palácios. Essa pintura, decorati- pintura, a Espanha foi muito influenciada pelo Barro-
va, marcou o trabalho de Pozzo, que ao pintar os inte- co italiano, onde predominou o realismo. O artista
riores e teto das igrejas, impressionava pelo número que mais se destacou no Barroco espanhol foi:
de figuras e pela ilusão – criada pela perspectiva – de Diego Velázquez (1599-1660) – A cara
que as paredes e colunas da igreja continuam no teto, da nacionalidade espanhola
e que este se abre para o céu, de onde anjos e santos O maior pintor da escola espanhola, mestre na
convidam o homem para a santidade. representação de luz e sombra. Nasceu em Sevilha, e
logo na adolescência produziu obras que impressio-
nam pela elaborada técnica utilizada. Em 1623, foi
nomeado um dos pintores da corte do rei Filipe IV,
tornando-se o mais prestigiado pintor do reino.
Embora tenha se dedicado a pintar retratos da
realeza, também registrou em seus quadros o cotidia-
no de pessoas humildes do seu país.
El Greco (Domenikos Theotocopoulus,
1541 – 1614) – A verticalidade da pin-
tura
Nascido na Grécia (daí o apelido El Greco),
destacou-se em Toledo, na Espanha, onde se estabe-

Editora Exato 21
ARTES

leceu e desenvolveu seu estilo próprio, a partir de guras, a luz e a cor numa vasta escala, sugerindo um
1577. Suas obras se caracterizam pela predominância intenso movimento.
da verticalidade, que lembra os temas góticos, as fi-
guras são alongadas e geralmente pintadas em cores
frias. Extravasou em sua pintura um intenso senti-
mento religioso, uma forte ironia com a Igreja (no
quadro O Enterro do Conde Orgaz, metade dos ros-
tos das figuras presentes ao enterro são do próprio El
Greco), em diferentes fases da vida e a outra metade,
de bispos e padres. O pintor se divertiu com a ironia,
mas o Papa quis excomungá- lo.

Erguimento da Cruz, de Rubens


Rembrandt van Rijn (1606-1669)- A
Emoção da Claridade
Foi o maior artista da escola holandesa. Nas-
Velha Fritando Ovos, de Velazquez.
ceu em Leiden e se mudou para Amsterdã aos 17 a-
Países Baixos nos. Sua obra se caracteriza pela predominância de
O Estilo Barroco expandiu-se da Itália para vá- expressões dramáticas e pela utilização de vívidos e-
rios países europeus entre os séculos XVII e XVIII. feitos de luz. Rembrandt conseguiu reproduzir em
Na Holanda, ele adquiriu características próprias do suas telas uma gradação de claridade nunca vista an-
povo holandês, a austeridade e a praticidade. Realis- tes. Embora os retratos e cenas religiosas e mitológi-
ta, o artista holandês não se preocupava com padrões cas constituam a maior parte de sua obra, ele também
de beleza, preferindo retratar cenas do cotidiano, di- contribuiu de forma original com outros gêneros, in-
ferenciando-se do artista italiano, que retratava na cluindo a natureza-morta e o desenho.
maioria das vezes temas nobres. Dentre os holande-
ses, cita-se:
Peter Rubens (1577-1640) – A força da
cores quentes
Rubens nasceu em Siegen, na Alemanha, lugar
em que seu pai, um advogado holandês, se refugiou
para escapar da perseguição religiosa. Aos 10 anos de
idade, após a morte de seu pai, Rubens vai para a An-
tuérpia acompanhado de sua mãe. Foi na Antuérpia
que ele teve como um de seus mestres o pintor Otto
van Veen, que o influenciou a ir para a Itália. Em
1600, dois anos após ter se tornado mestre, Rubens
vai para Roma, onde conhece as obras renascentistas
que serviriam de base para seu grande estilo.
Rubens costumava dar às vestimentas um colo-
rido exuberante que contrastava com a pele clara das
figuras retratadas. Trouxera da Itália a predileção por
telas gigantescas e foi mestre na arte de dispor as fi-

Editora Exato 22
ARTES

A Sagrada Família, de Rembrandt.


O Enterro do Conde Orgaz, de El Greco.
Vermeer (1632 – 1675) – A beleza deli-
cada da vida cotidiana 3. A ESCULTURA BARROCA
Diferente de Rembrandt, Vermeer trabalha os O Equilíbrio entre razão e emoção, caracterís-
tons em plena claridade. Seus temas são sempre os da tica da escultura renascentista, desapareceu com o
vida burguesa da Holanda seiscentista. Seus quadros predomínio do Barroco, que escolheu a dramaticida-
documentam com uma beleza delicada os momentos de das expressões e o dinamismo dos movimentos
simples da vida cotidiana. No quadro Mulher Lendo como elementos básicos de seu espírito. Essas pecu-
uma Carta, por exemplo, observamos o quarto inun- liaridades da escultura barroca se concretizaram a-
dado de luz e uma suave harmonia de cores e formas. través da predominância de linhas curvas, excesso de
Assim como essa obra, muitas outras pinturas de dobras nas vestes e a utilização do dourado. Os ges-
Vermeer que retratam ocupações domésticas em inte- tos e os rostos das personagens revelam emoções vi-
riores mostram um sugestivo trabalho com os efeitos olentas e atingem uma dramaticidade desconhecida
de luz. no Renascimento. Como na pintura, o impulso inicial
para esse desenvolvimento artístico partiu de artistas
italianos, entre os quais Gian Lorenzo Bernini (1598-
1680) foi o mais importante. Arquiteto, escultor, ur-
banista e pintor, Bernini conseguiu, com suas escul-
turas, registrar momentos de pura expectativa, que
envolvem o observador emocionalmente.

Mulher lendo uma carta, Vermeer.

Editora Exato 23
ARTES

Davi, de Bernini (Mostra grande vigor. Compare com o Davi de


Michelângelo). O Êxtase de Sta. Teresa, de Bernini.

4. ARQUITETURA BARROCA
A arquitetura do séc. XVII realizou-se princi-
palmente nos palácios e nas igrejas. A Igreja Católi-
ca queria proclamar o triunfo de sua fé e, por isso,
realizou obras que impressionaram pelo seu esplen-
dor. Por outro lado, governantes como Luís XIV, da
França, que se consideravam reis por direito divino,
também desejaram palácios que demonstrassem po-
der e riqueza.
Quanto ao estilo da construção, os arquitetos
deixam de lado os valores de simplicidade e raciona-
lidade típicos da Renascença e insistem nos efeitos
decorativos, pois “no barroco, todo muro se ondula e
dobra para criar um novo espaço".
Outro fato importante que merece ser assinala-
do é o reconhecimento, no barroco, de que as áreas
que cercam os prédios tinham importância para a be-
leza final da construção. Daí a preocupação paisagís-
tica com os grandes jardins dos palácios, como em
Versalhes, ou com as praças das igrejas, como a basí-
lica de São Pedro, no Vaticano.

Editora Exato 24
ARTES

1505 – Giovanni Bellini pinta Nossa Senhora


do Prado.
1532 – Fundação de S. Vicente, por Martim
Afonso de Souza.
1543 – Copérnico fundamenta a tese do Sol
como centro do universo.

O termo Renascimento é comumente aplicado


à civilização européia que se desenvolveu entre 1300
e 1650. Ele sugere que, a partir do século XIV, teria
havido na Europa um súbito reviver dos ideais da
cultura greco-romana. Essa é, no entanto, uma visão
Palácio de Versalhes (França), com seus jardins. simplista da História, já que, mesmo durante o perío-
do medieval, o interesse pelos autores clássicos nun-
ca deixou de existir. Nas escolas das catedrais e dos
mosteiros, autores gregos ou romanos, como Cícero,
Virgílio, Sêneca e os grandes filósofos gregos eram
muito estudados.
Outro problema é o da subestimação e do des-
conhecimento da cultura medieval. O termo “renas-
cimento” pode sugerir que todo o período medieval
foi uma época de trevas e ignorância. Essa falsa idéia
foi difundida pelos próprios renascentistas, que, no
desejo de combater tudo que fosse medieval, chama-
vam a Idade Média de “Idade das Trevas”.
Na verdade, já a partir do século XI, começa a
Praça da Basílica de São Pedro, no Vaticano. surgir por toda a Europa Ocidental uma série de mo-
vimentos de renovação cultural inspirados nos ideais
greco-romanos. No entanto, sob vários aspectos, o
Renascimento retoma certos elementos da cultura
medieval. Por outro lado, o Renascimento foi um
momento da História muito mais amplo e complexo
do que o simples reviver da antiga cultura greco-
romana. Ocorreram nesse período muitos progressos
e incontáveis realizações no campo das artes, da lite-
ratura e das ciências, que superaram a herança clássi-
ca. O ideal humanista foi, sem dúvida, o móvel desse
progresso e tornou-se o próprio espírito do Renasci-
mento. Num sentido amplo, esse ideal é entendido
como a valorização do homem e da natureza em opo-
O RENASCIMENTO sição ao divino e ao sobrenatural conceituados na I-
dade Média.
Devido ao humanismo e ao ideal de liberdade
HISTORICISMO predominante no período, o artista renascentista teve
1308 – Dante Alighieri começa a escrever A a oportunidade de expressar suas idéias e sentimentos
Divina Comédia. sem estar submetido à Igreja ou a outro poder. Ele
1333 – Simoni de Martini pinta O Anjo e a era um criador e tinha um estilo pessoal, diferencian-
Anunciação. do-se dos artistas medievais. Além disso, o artista era
1415 – Navegadores portugueses chegam a dignamente pago para produzir suas obras, quer fos-
Ceuta. sem elas feitas para compradores particulares ou para
1448 – Gutenberg inventa a imprensa. a própria Igreja.
1474 – Da Vinci pinta O Retrato de Ginevra 5. ARQUITETURA RENASCENTISTA
Benci.
1492 – Colombo descobre a América. A preocupação dos construtores renascentistas
1500 – Cabral chega ao Brasil. foi criar espaços compreensíveis de todos os ângulos

Editora Exato 25
ARTES

e que fossem o resultado de uma justa proporção en- Na Idade Média, a produção artística era anô-
tre todas as partes do edifício. A principal caracterís- nima, de acordo com os ideais eclesiástico e real da
tica da arquitetura do Renascimento, portanto, é o iniqüidade do homem diante de Deus e de seu Rei.
equilíbrio das linhas, a organização matemática dos Na arte renascentista, sobretudo na pintura, surge o
espaços e a presença de elementos da Antigüidade artista com estilo pessoal, idéias próprias e liberdade
clássica na decoração. A cúpula é um detalhe impor- para divulgá-las. A partir dessa época, começa a exis-
tante e constante nas construções renascentistas. O tir o artista como o conceituamos atualmente: um cri-
mais famoso exemplo de cúpula existente nesse perí- ador individual e autônomo, que expressa em suas
odo é sem dúvida a da basílica de São Pedro, no Va- obras os seus sentimentos e suas idéias, sem submis-
ticano, em Roma. Erguida entre 1507 e 1607, da sua são a nenhum poder que não a sua própria capacidade
construção participaram grandes arquitetos como de criação.
Donato Bramante, de 1507 a 1510; Rafael, de 1514 a Assim, no Renascimento, são inúmeros os no-
1520; Antonio Sangalloi, de 1540 a 1546; Michelan- mes de artistas conhecidos, cada um com característi-
gelo, de 1546 a 1564, juntamente com Giacomo Del- cas próprias.
la Porta, que continuou a execução do projeto até
7. LEITURA DE OBRAS RENASCENTISTAS
1602; e Carlo Moderni, que a concluiu entre 1602 e
1607. Este, como outros prédios públicos e palácios Masaccio (1421-1428): a pintura como
do período, teve sua arquitetura fortemente influenci-
imitação da realidade
ada pelas características do Renascimento.
Foi um artista genial e precoce que, aos 21 a-
nos, concebeu a pintura como imitação fiel do real e
morreu aos 27 anos, deixando obras que retratam as
formas humanas com impressionante beleza. Seu rea-
lismo é tão cuidadoso que ele parece ter a intenção de
nos convencer da realidade da cena retratada e mais,
parece nos convidar a participar do que está represen-
tado na pintura.
Fra Angélico (1400 –1455) – a busca da
conciliação entre o plano terrestre e o
sobrenatural
Frade dominicano que seguiu as tendências re-
alistas de Masaccio, mas, por respeitar seriamente
seus votos, tem em sua obra como tema principal a
Cúpula da Basílica de S.Pedro – de Michelangelo e Della Porta. religião. Sua pintura, embora siga os princípios re-
6. A PINTURA RENASCENTISTA nascentistas da perspectiva e da técnica claro-escuro,
está impregnada de um sentido místico. O ser huma-
A pintura do Renascimento confirma as três no representado nas obras de Fra Angélico não pare-
conquistas que os artistas do último período gótico ce manifestar angústia ou inquietação diante do
haviam alcançado: a perspectiva, o realismo e o uso mundo, mas serenidade, pois se reconhece como
do claro-escuro. Na Antigüidade, pintores gregos e submisso à vontade de Deus.
romanos já haviam dominado esses recursos da pin- Paollo Uccello (1397-1475) – O encon-
tura, entretanto, os pintores românicos e medievais
tro das fantasias medievais com a
abandonaram essas possibilidades de imitar a reali-
dade. No período Gótico e no Renascimento, porém, perspectiva geométrica
predomina a tendência de uma interpretação científi- Uccello procura compreender o mundo segun-
ca da realidade e do mundo. O resultado disso nas ar- do os conhecimentos científicos do seu tempo e, em
tes plásticas, e sobretudo na pintura, são os estudos suas obras, tenta recriar a realidade segundo princí-
da perspectiva segundo princípios da Matemática e pios matemáticos. Por outro lado, sua imaginação o
da Geometria. O uso da perspectiva conduziu a outro remete às fantasias medievais, um mundo lendário de
recurso, o claro-escuro, que consiste em pintar algu- um passado superado. Sua pintura está repleta de
mas áreas iluminadas e outras na sombra, reforçando movimento e realismo fantástico.
a sugestão de volume dos corpos. A combinação da
perspectiva com o claro-escuro deu maior realismo às
pinturas.

Editora Exato 26
ARTES

Leonardo da Vinci (1452 – 1519) – A


busca do conhecimento científico e da
beleza artística
Foi o talento mais versátil do Renascimento.
Desenhista, pintor, escultor, engenheiro e arquiteto,
realizou vários trabalhos e pesquisas aprofundando-
se nos mais diversos setores do conhecimento huma-
no, entre eles anatomia, botânica, mecânica, hidráuli-
ca, óptica, arquitetura e astronomia. Em artes, seus
estudos de perspectiva são considerados insuperáveis.
Na verdade, pintou pouco: o afresco da Santa Ceia,
em Milão, e cerca de quinze quadros, a maioria, o-
bras-primas de expressivos jogos de luz e sombras.

Madonna com o Menino, de Masaccio.

O Nascimento de Vênus, de Botticelli.

Anunciação, de Fra Angélico.


Sandro Botticelli (1444-1510) – A Linha
que sugere mais ritmo que energia
Nasceu e viveu em Florença, Itália. Trabalhou
na decoração da Capela Sistina, em 1481. Botticelli
retratava dois temas em suas obras: a Antigüidade La Gioconda (Mona Lisa), de DaVinci.
grega e o Cristianismo. Uma característica comum Michelangelo Buonarroti(1475-1564) –
em suas obras é a leveza dos corpos, esguios e des- A genialidade a serviço da expressão
providos de força: parecem flutuar, com ritmo, ex-
pressando suavidade e graça. As figuras humanas de da dignidade humana
seus quadros são belas, porque manifestam a graça Arquiteto, pintor, poeta e escultor, um dos
divina, e, ao mesmo tempo, melancólicas, porque maiores representantes do Renascimento. Como ar-
supõem que perderam esse dom de Deus. quiteto, trabalhou na cúpula da igreja de São Pedro,
em Roma, e na praça do Capitólio. Como pintor, sua

Editora Exato 27
ARTES

maior obra é a pintura do teto da capela Sistina. Em-


bora tenha concordado em realizar esta obra, ele se
considerava, acima de tudo, um escultor. As poses
das figuras da capela Sistina baseiam-se em famosas
esculturas gregas e romanas, que Michelangelo estu-
dava minuciosamente.

Pietá, escultura de Michelangelo, considerada a de acabamento mais elaborado de


toda a sua obra.
Rafael Sanzio (1483 –1520) – O equilí-
brio e a simetria
É considerado o pintor que melhor desenvol-
veu, na Renascença, os ideais clássicos de beleza:
harmonia e regularidade de formas e cores. Rafael
A Criação do Homem e, em seguida, O Juízo Final, afrescos no teto da Capela Sis-
tina, obras de Michelangelo.
planejava detalhadamente suas obras e fazia centenas
de desenhos preliminares a partir de modelos vivos,
antes de pintar os afrescos. Suas obras comunicam ao
observador um sentimento de ordem e segurança,
pois os elementos que compõem seus quadros são
dispostos em espaços amplos, claros e de acordo com
uma simetria equilibrada, expressando de forma clara
e simples os temas pelos quais se interessou.

Davi, escultura de Michelangelo. Inspirada nos modelos greco-romanos.

Editora Exato 28
ARTES
Madona do Grã-Duque, de Rafael.
8. O RENASCIMENTO FORA DA ITÁLIA
Ticiano Vecellio (1490 –1576) – O pin-
tor que virou nobre As concepções estéticas italianas de valoriza-
ção da cultura greco-romana começaram a se interna-
Ticiano foi o maior pintor da escola veneziana.
cionalizar. Nesses países, foi comum o conflito entre
Viveu toda a sua vida em Veneza, considerada a mais
as tendências nacionais e as novas formas artísticas
importante cidade italiana do Renascimento. Em
vindas da Itália. Mas tal conflito se resolveu com a
1533, o rei Carlos V nomeou-lhe pintor da corte e lhe
nacionalização das idéias italianas.
concedeu um título de nobreza, nunca antes conquis-
Fora da Itália, foi a a pintura, entre as artes
tado por um artista. Ticiano produziu uma série de
plásticas, que melhor refletiu a nacionalização do es-
obras religiosas, mitológicas e retratos utilizando co-
pírito humanista renascentista italiano. No séc. XV,
res vivas e movimentos que mais tarde serviram de
ainda eram conservadas, na pintura alemã e na dos
base para outros artistas.
Países Baixos, por exemplo, as características do esti-
lo gótico. Mas, alguns artistas, como Dürer, Hans
Holbein, Bosch e Bruegel, fizeram uma espécie de
conciliação entre o gótico e a nova pintura italiana,
intérprete científica de uma realidade. Assim, Albre-
cht Dürer (1471-1528) foi o primeiro artista alemão a
conceber a arte como uma representação fiel da reali-
dade e a buscar traços psicológicos do ser humano e
retratá-los em seus quadros, como por exemplo, no
retrato de Oswolt Krell, onde registra fielmente os
traços físicos do personagem, mas também a atitude
enérgica desse comerciante alemão.

Ascensão da Virgem, de Ticiano.

O Maneirismo
A partir de 1520, alguns pintores italianos co- Oswold Krel, de Dürer

meçaram a procurar formas alternativas para a cria- Já Hans Holbein (1498-1543) ficou conhecido
ção de suas obras. Embora tenham buscado como retratista de políticos, intelectuais e financistas
inspiração nas obras renascentistas de Michelângelo, da Inglaterra e dos Países Baixos. Tudo retratado
Leonardo da Vinci e Rafael, deram início a um novo com um realismo tranqüilo, diferente da inquietação
estilo artístico que rompeu com o equilíbrio, a orga- de Dürer. Soube expressar o esmero técnico e o ideal
nização espacial, a simetria, a racionalidade e as pro- renascentista de beleza com precisão e forma. Ao re-
porções estabelecidas pela arte renascentista. Este tratar seu amigo Erasmo de Roterdã, Holbein o fez
novo estilo foi denominado Maneirismo, termo origi- com simplicidade, traçando com sutileza os traços
nário da palavra italiana maniera, que designa o estilo psicológicos e físicos do grande humanista do séc.
ou a maneira própria com que cada artista realiza a XVI.
sua obra. As características iniciadas no Maneirismo
tiveram total desenvolvimento no estilo Barroco, que
sucedeu o renascimento.

Editora Exato 29
ARTES

Erasmo de Roterdã, de Holbein


Hieronymus Bosch (1450-1516) criou um es- Jogos Infantis, de Bruegel.
tilo inconfundível. Sua pintura é repleta de símbolos
da astrologia, da alquimia e da magia conhecidas ao
final da Idade Média. E nem todos os elementos de
suas telas podem ser decifrados, dada a combinação
de seres e formas presentes em sonhos ou delírios do
pintor. Para muitos críticos, esta era a representação
do conflito interior do homem ao final da Idade mé-
dia: tensão ante o pecado dos prazeres materiais e a
busca da virtude de uma vida espiritual. Tudo envolto
em superstições e crenças malignas.

O Jardim das Delícias, de Bosch.


Pieter Bruegeli, o Velho (1525-1569), viveu
nas grandes cidades da região de Flandres, sob os i-
deais renascentistas, mas retratou como ninguém a
realidade das pequenas aldeias que ainda conserva-
vam a cultura medieval. Esta temática aparece em
quadros como Jogos Infantis, em que apresenta 84
brincadeiras de crianças, da época.

Editora Exato 30
ARTES

POVOS PRÉ-HISTÓRICOS E PRIMITIVOS; A-


MÉRICA ANTIGA
Se partirmos do significado da arte como exer- um ritual, no qual se pretendia interferir na captura de
cício de atividades, como o processo de edificação de animais.
uma casa ou templo tem-se que nenhum povo existe A imagem aqui apresentada trata do estudo do
ou existiu no mundo sem arte. Por outro lado, enten- período neolítico em que observamos as diversas al-
demos a arte como aquilo que é belo o artigo de luxo terações ocorridas, que podem ser a confirmação que
deleitados em museus e exposições. precisávamos ter de que eles representavam tanto o
Ao recuarmos na história, diversas são as fina- que viam como o que viviam.
lidades que se crê serem servidas pela arte. Entre os
mais ancestrais, citando aqui os “primitivos”, não
porque se tornaram mais simples do que nós, mas pe-
lo seu processo racional. Entre os primitivos não há
diferença entre fazer a imagem em relação ao que se
refere a utilidade.
Nesses estranhos começos, se procurarmos pe-
netrar na ação pensante dos povos desse período, à
compreensão da imagem representada é algo podero-
so a ser usado e não contemplado e belo.
Quando foram descobertas em paredes de ca-
vernas e em rochas na Espanha e no Sul da França os Pinturas rupestres encontradas em Tassili, região do Saara
estudiosos passaram a crer que as representações a- (cerca de 4500 a.C) (1.2.)
nimadas, naturais e vigorosos dos animais pudessem
ser feitas por homens na Era Glacial. Por isso o início do texto menciona a questão
do processo do primitivo, e não de uma classificação
artística, de função ou de estética.
Ainda existem povos primitivos limitados ao
emprego de ferramentas de pedra raspando imagens
rupestres de animais para fins mágicos. Muitas tribos
celebram festividades regulares, nas quais se vestem
como animais e como eles se movimentavam em
danças solenes e rituais.
Cada família tem de fato suas próprias tradi-
ções e predileções, sem as quais a árvore não parece
ficar adequada. Todavia, quando chega o grande
momento de decorar a árvore, ainda resta muita coisa
por decidir.
Pré - História cerca de 15.000 anos a.C., Bisonte, Caverna de
A arte primitiva funciona justamente de acordo
Altamira, Espanha.
com essas diretrizes preestabelecidas, mas permite ao
(1.1)
artista margem bastante para revelar sua índole O
A imagem (1.1) do Bisonte é um exemplo do domínio técnico de alguns artífices tribais é deveras
período Paleolítico, em que seus artistas viviam ex- surpreendente.
clusivamente da caça, a organização das imagens e-
ram distribuídas de forma sobreposta, com variação
de pigmentação amarela, vermelha, branca e a preta,
lembrando que o preto auxiliava ao desempenho das
formas, assim como as saliências das cavernas pro-
porcionavam volume. Os primitivos desse período
não tinham uma vida de organização desenvolvida e
o fato refletia-se em suas representações naturais ao
desenhar como observavam. Sua pintura era parte de

Editora Exato 1
ARTES

EGITO
A história da arte como um esforço contínuo lhes apresentava sob qualquer ângulo fortuito. Dese-
não começa nas cavernas do sul da França nem entre nhavam de memória, contrários aos primitivos que
os índios norte–americanos. Todos sabemos que o observavam, e submetidos a regras estritas, as quais
Egito é a terra das pirâmides, montanhas de pedra asseguravam que tudo o que tivesse de entrar no qua-
que, de fato, tinham importância prática aos olhos dro se destacaria com perfeita clareza.
dos reis e seus súditos. O faraó era considerado um Na representação do corpo humano, a cabeça
ser divino que exercia completo domínio sobre seu era mais facilmente vista de perfil, de modo que eles
povo e que, ao partir deste mundo, voltava para junto a desenhavam lateralmente. O olho humano, se ob-
dos deuses dos quais viera. As pirâmides, erguendo- servarmos, era representado de frente e era plantado
se em direção ao céu, ajudá-lo-iam provavelmente a na vista lateral da face. Os ombros e o tronco são vis-
realizar essa ascensão. Os egípcios acreditavam que o tos melhor de frente, pois assim observamos como os
corpo tinha que ser preservado a fim de que a alma braços se ligam ao corpo. Braços e pernas posiciona-
pudesse continuar vivendo no além. Em toda a volta dos com intenção de movimento, porém, vêem-se
da câmara funerária, eram escritas fórmulas mágicas com muito mais clareza de lado. Esta técnica ficou
e encantamentos para ajudá-los em sua jornada para o conhecida como Lei da Frontalidade (2.2.).
outro mundo. Um nome para designar o escultor era:
“Aquele que mantém vivo”.
A religião se tornou o fator de maior relevân-
cia para os egípcios, e a morte o grande argumento
para sustentação do poder e da arte.
Na quarta “dinastia” do “Antigo império”, den-
tro das características peculiares da arte, os escultores
não eram fiéis à realidade. A observação da natureza
e a regularidade do todo são equilibradas de um mo-
do tão uniforme que essas cabeças nos impressionam
Baixo relevo de um túmulo próximo de Sacará
por sua expressão de vida, sendo, no entanto, remotas (Cerca de 2500 a.C.). Museu do louvre, Paris. (2.2.)
e permanentes. Podemos estudá-las melhor nos rele-
vos e pinturas que adornavam as paredes dos túmu- A regra para a arte egípcia permitia incluir tu-
los. As pinturas e os modelos encontrados em do o que consideravam importante na forma humana;
túmulos egípcios estavam associados à idéia de for- supõe-se ter algo a ver com a finalidade mágica da
necer servos para a alma no outro mundo, uma crença representação pictórica.
que é encontrada em muitas culturas antigas. Representavam o que eles sabiam fazer, da
pessoa ou de uma cena, partiam de formas aprendidas
e dele conhecidas, construía figuras a partir do mo-
mento que suas formas podiam ser dominadas. Não
se tratava apenas do conhecimento técnico, mas pelo
conhecimento que eles tinham do significado das
formas representadas.
Um outro exemplo na arte egípcia em relação
ao significado de suas figuras destinava à separação
de aspecto social, representar a figura de um chefe
maior em uma comunidade egípcia, seu tamanho em
relação às outras figuras destacava-se.
O estilo egípcio incorporou uma série de leis
bastante rigorosa e todo artista tinha que apreendê-las
desde muito jovem. Estátuas sentadas deviam ter as
O jardim de Nebamun, c. 1400 a.C. Mural um tumulo em Tebas, mãos sobre os joelhos; os homens eram sempre pin-
64 x 74,2 cm; British Museum, Londres. tados com a pele um pouco mais escura que as mu-
(2.1.) lheres; aparência rigorosamente estabelecida.
A tarefa do artista consistia em preservar tudo
com maior clareza e permanência possível. Assim,
não se propuseram a bosquejar a natureza tal como se
Editora Exato 2
ARTES

Um artífice egípcio trabalhando numa esfnge dourada, c


.1380 a.C.

Editora Exato 3
ARTES

GRÉCIA, SÉCULOS VII A V A.C


Entre os diferentes climas temperados do mar comunidades, mas nenhuma delas conseguiu-se do-
nas múltiplas ilhas, grandes e pequenas, do mediter- minar todas as outras.
râneo oriental e nas costas recortadas por inúmeras Quando os artistas começaram a fazer estátuas
enseadas das penínsulas da Grécia a Ásia Menor es- de pedras, partiram do ponto em que os egípcios pa-
tavam o povo cretense cuja arte foi copiada no conti- raram, estudaram e imitaram seus modelos, dos quais
nente grego, sobretudo em Micenas. aprenderam como reproduzir a figura de um jovem
Nos primeiros séculos de sus domínio sobre a de pé, marcando as divisões do corpo e os músculos
Grécia, a arte dessas tribos ora bastante rude desgra- que o mantêm unido, os artistas apresentam-se de
ciosa e primitiva. Nada existe nessas obras que lem- forma que se limitava em obedecer a fórmulas fixas
bre, mesmo de longe, o alegre movimento do estilo por melhor que elas fossem.
cretense, pareciam superar até os egípcios em rigidez. Contrários aos egípcios que baseavam sua arte
As cenas representadas faziam parte do desenho aus- no conhecimento, os gregos usavam seus próprios o-
tero e rigoroso. lhos, o sorriso de suas escultura surgia de uma expe-
Na Grécia do século VI a.C., os artistas dos an- riência embaraçada, com uma postura rígida parecia
tigos impérios orientais tinham – se empenhado em criar impressão de falsidade.
obter um tipo peculiar de perfeição. Sobre a pintura egípcia pouco se soube, algu-
As tribos gregas tinham-se instalado em várias ma maneira que se pode formar uma vaga idéia de
cidades pequenas e em portos de abrigo ao longo da seu surgimento está em observar as decorações em
costa. Havia muita rivalidade e atritos entre essas cerâmicas. Neles também se encontram os vastos mé-
todos egípcios.

Figura 1 Figura 2

A desoedida do guerreiro, c. 510 - 500 a.C.


Aquiles e Ájax jogando damas, c. 540 a.C. Vaso em estilo de “Figuras vermelhas” , assinado
vaso no estilo de “ iguras pretas” , assinado por Eutímedes; altura 60 cm; Staatliche
por exekias; altua 61 cm; Museu Etrusco Vaticano. Antikensammlugen und G lyptothek, Munique.

Começaram assim a representar como real- Podemos concluir que o artista tinha a intenção
mente viam, foi justamente através desses artistas que de imitar um rosto real, com todas as suas imperfei-
surgiam a técnica do escorço. Exemplo apresentado ções, mas o modelava a partir de seus conhecimentos
na figura 2. sobre a forma humana.
Passou-se a ter a pretensão de levar em conta o Século IV a.C a I d. C A Beleza do Im-
ângulo de onde o artista via o objeto, logo as técnicas pério Grego
mudavam-se aos poucos, e era possível notar os níti-
O artista revela-se agora orgulhoso do seu i-
dos contornos, incluindo-se o conhecimento do corpo
menso poder e gradualmente durante o século IV dis-
humano. Amantes das linhas firmes e planos equili-
cutiam pinturas e estátuas como discutiam poemas e
brados.
Editora Exato 4
ARTES

teatro e elogiavam suas beleza ou criticavam sua Outra religião Oriental que aprendeu a repre-
forma e concepção. sentar suas histórias sagradas para a construção dos
Durante todo o século, os artistas estiveram crentes foi a judaica. Mesmo pela proibição que tinha
analisando se empenhavam em insuflar cada vez em relação às imagens, temendo a idolatria. Suas i-
mais vida nos corpulentos modelos antigos. magens distanciavam da realidade justamente pelo
Século I a IV d. C medo de pecar, e as imagens apenas restringiam-se a
A maioria dos artistas que trabalhavam em lembrar, pois, a manifestação do poder de Deus.
Roma eram gregos, e a maioria dos colecionadores Foi exatamente através deles que surgiu a pri-
romanos adquiria obras dos grandes mestres gregos meira representação de Jesus, apesar das origens da
ou cópias dessas obras. A esses artistas foram confia- arte cristã estarem ainda mais longe.
das diferentes tarefas e eles tiveram, por conseguinte,
que se adaptar aos novos métodos.
O mais citado do edifício é o Panteão, templo
dedicado a todos os deuses. O único templo da anti-
guidade clássica que sempre se conservou como local
de culto.

Cristo com São Pedro e São Paulo, c. 389


d. C. Relevo em mármore do sarcófago
de Junius Bassus; cripta de São Paulo, Roma.

Os primeiros artistas chamados a pintar ima-


gens para lugares cristãos de sepultamento – as cata-
cumbas humanas. A representação pictórica deixara
de existir como uma coisa bela por si mesma. Seu
principal intuito era recordar agora aos fiéis um dos
exemplos do poder e da misericórdia de Deus.
Começava a separar os ideais de fiel imitação,
O interior do Panteão, Roma, c. 130 d. C. Pinturas atentando-se à idéia de clareza e simplicidade, procu-
de G.P. Pamini, Santeuns Museum for kunst, Copenhague. rando o máximo de nitidez e objetividade.
A arte primitiva cristã pode ser comparada à
Os romanos agiam dentro de seu principal ob- tentativa infantil de se criar um desenho. De traços
jetivo, narravam as façanhas de um herói e procura- simples e contornos toscos, suas imagens eram priva-
vam o grande valor para as religiões. das de apuro técnico, pois não eram executadas por
A arte grega e romana, que tinha ensinado o artistas profissionais e sim por homens simples da
homem a visualizar deuses e heróis com belas for- sociedade cristã ainda perseguida pela proibição ao
mas, também ajudou os indianos a criar uma imagem cristianismo.
do seu salvador. Suas imagens giravam em torno dos símbolos
cristãos, como a âncora, a palma, a cruz e o peixe,
símbolo predileto dos cristãos.

Cabeça do Buda, século IV - V d.C. Encontrada em Hadda,


Afeganistão (Antiga Gandhara); estuque com traços de
pigmentos, altura 29 cm, Victoria Albert Museum, Londres.

Editora Exato 5
ARTES

O GÓTICO
O estilo romântico não sobreviveu sequer ao permitiam que significado e mensagem pudessem ser
século XII, permitindo nascer na França setentrional entendidos e meditados pelos fiéis.
o aparecimento do estilo gótico. A tarefa dos pintores nórdicos era a iluminação
As diferenças inovadoras foram descobertas de manuscrito; observe “o sepultamento de cristo”:
pelo método de alobar uma igreja por meio de arcos “Mostra-nos semelhante importância em expor
transversais, desejaram empregar pilares leves e os sentimentos das figuras. A virgem debruça-se so-
“costelas” estreitas nas arestas da abóbada. Passou a bre o corpo morto de Cristo e S. João entrelaça a
ser o ideal dos arquitetos construir igrejas quase à mão, numa atitude de profundo pesar”.
maneira como hoje se constrói estufa. No século XIII,a época das grandes catedrais, a
Surgia uma idéia dominante das catedrais góti- França era o mais rico e o mais importante da Euro-
cas, desenvolvidas ao norte da França durante a 2ª pa. Somente na segunda metade século XIII é que um
metade do século XII. escultor italiano começou a seguir o exemplo dos
O princípio de cruzamento de “nervuras” não mestres franceses e a estudar os métodos da escultura
foi suficiente, foi preciso unir segmentos de arcos – clássica a fim de representar a natureza de modo mais
criando os arcos mais achatados ou pontiagudos, se- concrescente.
guindo as exigências da estrutura. A arte italiana encontrou o pintor genial floren-
No interior de uma catedral gótica somos leva- tino Giotto de B. As mais famosas obras de Giotto
dos a compreender complexas interações de traços e são os murais ou afrescos (pintura ainda fresca, ou
pressões que mantêm a grandiosa abóbada em seu lu- úmida).
gar. Todo o interior parece tecidos delicados, fustes e Ele criou a ilusão de que a história sagrada es-
nervuras e ao longo as paredes da nave parecem reu- tava acontecendo diante dos nossos olhos, já não era
nir no capitel dos diversos pilares que são formados suficiente examinar as representações mais antigas da
por um feixe de varas de pedras. mesma cena e adaptar aqueles modelos consagrados
Eram formadas de vitrais policromos que refu- pelo tempo a um novo uso.
gam como rubis e esmeraldas. Os pilares, nervuras e Observe a obra, o tema é o velório em torno do
rendilhados despendiam cintilações douradas. corpo de Cristo, a virgem abraçando-lhe pela última
Nos portais, as figuras esculpidas que se aglo- vez.
meram nos poéticos das grandes catedrais góticas

Editora Exato 6
ARTES

Variou o tamanho das figuras de modo a en- uma vez que os interesses enveredaram por esse ca-
caixá-la bem na página, e se tentarmos imaginar as minho, a arte medieval podia realmente considerar-se
figuras em 1º plano e S. João ao fundo – com Cristo e no fim. E a partir daqui chegamos a tal grandioso pe-
a Virgem, percebe-se que tudo está espremido e que ríodo renascentista.
o artista não se importou com problemas de espaço. O início do século XV, conquistando a
Para Giotto, o observar é como uma testemu- realidade
nha do que estava acontecendo, ele mostra de modo
O renascimento ganhava terreno na Itália des-
tão convincente como cada figura reflete a dor pro-
de a época de Giotto, e ali mesmo a idéia de renasci-
funda suscitada pela trágica cena que não podemos
mento associava-se, na mente dos romanos, à idéia de
deixar de pressentir a mesma aflição nas figuras aga-
ressurreição da “grandeza de Roma”.
chadas, cujos rostos não podemos ver.
Os italianos do século XIV acreditavam que a
Como o trabalho continuava no século XIV,
arte, a ciência e o saber haviam florescido no período
vem-se a ambição dos grandes bispados por podero-
clássico, que todas essas coisas foram destruídas pe-
sas catedrais. Podemos dizer que o gosto do século
los bárbaros do Norte e que a eles cabia a missão de
XIV se inclinava mais para o refinado do que para o
reviver o passado glorioso.
grandioso.
O líder foi o arquiteto Fillipo Brunelleschi, que
Em sua arquitetura, já não se contentavam com
decidiu descartar inteiramente o estilo tradicional a-
os métodos e majestosos contornos, gostavam de exi-
dotado e ansiava pelo modelo romano.
bir sua habilidade na decoração e nos rendilhados
Tinha como intenção que as formas da arquite-
complexos. Há quem afirme que as obras mais carac-
tura clássica fossem desenvolvidas de formas livres
terísticas deste século são os trabalhos menores em
usadas para criar novos modos de harmonia e beleza.
metais preciosos ou marfim, em que o amor dos pin-
Brunelleschi não foi apenas o pioneiro da ar-
tores do século XIV por detalhes graciosos e delica-
quitetura da Renascença, mas também dominou toda
dos é visto em manuscritos iluminados, e o método
a arte de séculos subseqüentes: a da perspectiva,
de contar a história continua um tanto irreal.
culminou colunas, pilastras e arcos à sua própria ma-
Somente no decorrer do século XIV é que os
neira, a fim de lograr um efeito de leveza e elegância
dois elementos dessa arte, a leve narrativa e a obser-
diferente de tudo o que se construíra antes.
vação se conjugaram gradualmente.
Foi Brunelleschi quem forneceu a artistas mei-
Giotto foi contemporâneo do grande poeta flo-
os técnicos para solucionar esse problema. E o entu-
rentino Dante, que o menciona na divina comédia.
siasmo que isso causou entre os seus amigos pintores
Esses, entre outros artistas do século XIV, pintaram
deve ter sido imenso.
copiando da natureza, o que desenvolveu a arte retra-
A figura a seguir trata de um mural numa igre-
tista.
ja florentina representando a Santíssima trindade com
A Boêmia tornou-se um dos centros através do
a Virgem e S.João sob a cruz, e os doadores – um ve-
qual essa influência, oriunda da Itália e da França,
lho mercador e sua esposa – ajoelhados do lado de
propagou-se mais amplamente, alcançado contato a-
fora.
inda com a Inglaterra. A Europa da igreja latina ainda
O artista que representou tal grandiosidade
era mais vasta. Artistas e idéias circulavam livremen-
chama-se Masaccio, que significa “desejeitado”, sua
te de um centro para o outro, e ninguém pensava em
arte não constituía apenas a perspectiva elaborada na
rejeitar uma realização por ser “estrangeira”. O estilo
pintura, mas elaborou através da simplicidade e gran-
surgiu do intercâmbio em fins do século XIV, é co-
deza das figuras que eram emolduradas por essa nova
nhecido entre os historiadores como o “estilo interna-
arquitetura.
cional”.
Figuras maciças em sólidas formas angulares e
Os artistas desse estilo aplicaram a mesma ca-
a presença de um túmulo sombrio com um esqueleto
pacidade de observação e o mesmo prazer em coisas
acima, substituindo a delicadeza das flores e pedras
belas e delicadas sempre que retrataram o mundo à
preciosas.
sua volta. Tinha o costume da Idade Média ilustrar
calendários com quadros das diversas ocupações ca-
racterísticas dos sucessivos meses: se menteira, caça,
colheita etc.
Aqui era possível colocar todo o conhecimento
adquirido da natureza a serviço da arte religiosa, co-
mo os mestres do século XIV tinham feito. Havia o
treino antes das antigas fórmulas para representar as
principais figuras da história sagrada. Sendo assim,

Editora Exato 7
ARTES

tante determinado na reprodução minuciosa de cada


detalhe em sua pintura.
Os artistas aqui citados até agora tinham de-
senvolvido um método pelo qual a natureza podia ser
representada num quadro com exatidão quase cientí-
fica. Começavam com uma estrutura de linhas em
perspectivas, e construíam o corpo humano graças
aos seus conhecimentos de anatomia e das leis da na-
tureza, mediante a paciente adição de detalhe, até que
a tonalidade da sua pintura se convertesse num espe-
lho do mundo visível.
Jan foi o inventor da pintura a óleo, os artistas
tinham que preparar suas tintas extraídas de plantas e
minerais, adicionado um líquido aos pigmentos ad-
quiridos, a fim de convertê-los em uma pasta.
Observe a obra em que descreve o espelho da
realidade, onde nada lhe faltava: o tapete e os chine-
los, o rosário na parede, entre outros detalhes.

Entre os maiores escultores, citamos Donatel-


lo, o qual transmitia a suas imagens uma impressão
de vida e movimento, cujos contornos permanecem
claros e sólidos como uma rocha. Ele nos revela, as-
sim, tirar uma nova representação através da obser-
vação na natureza.
Jan Van Eyck – Os ensaios dos Amolfini, 1434. Óleo sobre madeira, 81,8
O estudo do corpo humano era inevitável e pa- x 59,7 cm: Nacional Gallery, Londres
ra realizá-lo solicitava a seus colegas artistas que po- O pintor foi chamado a registrar esse importan-
sassem para ele em atitude requerida, a fim de te momento como testemunha. Entende-se que ele foi
parecer sua obra mais convincente. chamado para declarar que estivera presente num ato
A arte da perspectiva aumenta ainda mais a i- solene idêntico. O fato se explica no momento em
lusão de realidade. Auxiliada pelo domínio da ciência que pôs seu nome numa posição de destaque do qua-
e o conhecimento da arte clássica permaneceu de dro, com as palavras latinas: “Johannes de eyck fuit
posse exclusiva dos artistas italianos da Renascença. hit”. (Jan Van Eyky esteve aqui).
Deixemos um pouco a pintura de lado, afinal
de contas não foi a única arte que realizou conquistas
da realidade do Norte. Na região dos Países Baixos, o
pintor Jan Van Eyck fazia descobertas revolucioná-
rias.
Jan Van Eyck atinham-se à observação da na-
tureza e cada vez mais paciente, ele parecia ser bas-

Editora Exato 8
ARTES

Final do Século XV na Itália cela de cada monge e no final de cada corredor. Ob-
As novas descobertas que os artistas da Itália e serve uma de suas pinturas.
Flandres tinham feito nos começos do século XV: a
nobreza do período comungava nos ideais da cavala-
ria; sua lealdade ao rei ou ao senhor feudal não im-
plicava que se considerassem os paladinos de
qualquer povo ou nação. Cada cidade orgulhava-se e
era ciosa de sua própria posição e privilégios no co-
mércio e indústria. Assim que os artistas ganharam
importância. Os artistas, como todos os artesão e artí-
fices, organizaram-se em corporações, as quais eram
companhias ricas que faziam ouvir sua voz na admi-
nistração da cidade, e não só a ajudavam a prosperar
como também se empenhavam em fazê-la bela, po-
rém dificultavam a todo e qualquer artista estranho
obter emprego ou instalar-se entre eles.
No século XV, a arte fragmentou-se numa sé-
rie de “escolas” diferentes; quase todas as cidades,
grandes ou pequenas, da Itália, Flandres e Alemanha
tinham sua própria “escola de pintura”. O termo es-
cola era para determinar que se uma criança se dedi-
Fra Angélico – A anunciação, 1440. Afresco
casse à pintura, o pai a colocava desde cedo na casa
187 x 157. Museu di San Marco, Florença.
dos mestres da cidade, com a intenção dele se tornar
um aprendiz.
Outro a ser citado é o pinto Paolo Uccello, a-
Como exemplo do período citamos Fra Angé-
parentemente sua pintura parece bastante medieval.
lico, um frade dominicano, e os afrescos que pintou
em uma de suas mais belas obras, uma cena sacra na

Paolo Uccello – A Batalha de San Romano, c. 1450. Provavelmente de um aposento do Palazzo Médici Florença, óleo sobre madeira,
181,6 x 320 cm. National gallery, Londres.

O pintor empenhou-se em representar as várias bordagem oposta. Tentou construiu um convincente


peças de armadura que juntam o solo da perspectiva. alço onde suas figuras parecessem sólidas e reais.
Isso deve ter sido de extrema dificuldade. Uma pintu- Apesar de tudo, Uccello ainda não aprendera a
ra pequena em relação a tantas outras figuras. usar os efeitos de luz e sombra, a fim de suavizar os
Paollo devia à tradição gótica, e como a trans- duros contornos de uma representação estritamente
formou, optou por uma abordagem de todas as coisas perspectivada.
até o ínfimo sombreado. Uccello optou por uma a-
Editora Exato 9
ARTES

Nesse tempo, outros pintores nas cidades ao


norte e ao sul de Florença tinham absorvido a mensa-
gem da nova arte de Donatello e Masaccio, e ansio-
sos por extrair dela o máximo proveito do que os
próprios florentinos.
Outro grande pintor foi Piero della Francesca.
Seus afrescos foram pintados pouco depois de mea-
dos do século XV, uma geração após Masaccio.

Editora Exato 10
ARTES

LISTA DE EXERCÍCIOS
2 Conforme a imagem, julguem os seguintes itens:
EXERCÍCIOS

1 Em Giotto, encontramos um artista de tempera-


mento muito mais ousado e dramático. Desde o
início, Giotto estava menos próximo da maneira
grega e foi, por instinto, um pintor de afrescos,
muito mais de painéis. Devemos agora voltar
nossa atenção para a pintura italiana que no final
do século XII, gerou uma extraordinária explosão
de energia criadora, cujos resultados foram tão
prolíferos quanto havia sido a ascensão das cate-
drais góticas na França.

1 As duas pinturas foram colocadas lado a lado


para dar a impressão de constituírem uma só
obra.
2 Os detalhes da paisagem são proporcionais às
figuras características das obras renascentistas.
3 Percebe-se na obra um esforço do artista em
fazer-nos crer que a paisagem envolve o edifí-
cio.
4 Apesar de todos os detalhes, o painel não apre-
senta profundidade.

3 Usando seu próprio testemunho, Piero della


Conforme imagem e texto, julgue os itens: Francesca, podemos dizer que suas obras nasce-
1 A ação da cena desenvolve-se em primeiro ram de sua paixão pela perspectiva. Mais que
plano. qualquer artista de seu tempo, ele acreditava na
2 Giotto faz com que o olhar do espectador fique perspectiva científica como sendo a base da pin-
no mesmo nível das cabeças das figuras, pare- tura; em um tratado repleto de rigor matemático,
ce dar continuidade ao espaço em que nos en- o primeiro do gênero, ele demonstrou como a
contramos. perspectiva se aplicava aos corpos estereométri-
3 A arquitetura é apresentada na imagem com a cos e formas arquitetõnicas, bem como a forma
mesma importância com que é narrada a histó- humana.
ria em sua obra.
4 A profundidade é obtida através dos volumes
combinados dos corpos sobrepostos na pintura.

Editora Exato 11
ARTES

Com base no texto e imagem, julgue os itens: 6 A arte gótica, como a conhecemos até o presente,
1 A sua obra apresenta, em sua arquitetura, uma reflete um desejo de conferir aos temas tradicio-
ilusão de formas geométricas. nais do cristianismo um apelo emocional cada
2 Suas pinturas já não têm por função represen- vez mais intenso. A mais característica e difundi-
tar um acontecimento. da dessas imagens é chamada Pietà, uma repre-
3 A pintura observada destina-se a transmitir sentação da Virgem lamentando o Cristo morto.
emoções, como alegria e tristeza. Essa cena não aparece nas escrituras. foi criado
4 As figuras representadas parecem estar estáti- em contrapartida ao tema da Madona com o Me-
cas. nino.

4 No século XVI, a nova arquitetura foi chamada


desdenhosamente de gótica, porque tinha uma de
aparência tão bárbara que poderia ter sido criada
pelos godos, povo que invadiu o Império Romano
e destruiu muitas obras da antiga civilização ro-
mana. Mais tarde, o nome gótico perdeu seu cará-
ter depreciativo e ficou definitivamente ligado à
arquitetura dos arcos ogivais.
Partindo da leitura feita do texto, julgue os itens:
1 A rosácea, uma janela arredondada, é um ele-
mento arquitetônico característico do estilo gó-
tico, porém foi na renascença que recebeu um
destaque maior.
2 A característica mais importante gótica é a a-
bóbada de nervura, a mesma utilizada na igre-
jas românicas. Conforme texto e imagem, julgue os itens:
3 A utilização de arcos ogivais possibilitava que 1 O realismo registra na expressão quase até o
as igrejas fossem construídas mais altas. grotesco, de modo a provocar uma opressiva
4 A igreja gótica apresenta um tímpano na sua sensação de horror e piedade.
fachada principal, os quais narram, através de 2 Seus corpos macelentos e parecidos com mari-
trabalhos escultóricos, momentos diferentes da onetes, atinge o ponto extremo da negação dos
vida de Cristo. aspectos físicos da figura humana.
3 É possível notar a ausência ao observador, já
5 Nas, artes, o ideal humanista e a preocupação que a sua intenção era representar os temas
com o rigor cientifica podem ser encontrados nas cristãos.
mais diferentes manifestações. Trabalhando ora o 4 A imagem incorpora as forças das trevas, se-
espaço, na arquitetura, ora as linhas e cores, na melhantes às enormes famílias de criaturas
pintura, ou ainda os volumes, na escultura, os ar- selvagens ou monstruosas ,registradas na Idade
tistas do Renascimento sempre expressaram os Média.
maiores valores da época a racionalidade e a dig-
nidade do ser humano. 7 Michelângelo exemplifica mais plenamente que
Com base no texto, julgue os seguintes itens: qualquer outro artista o conceito de genialidade
1 O renascimento buscava em sua arquitetura a como inspiração divina, um poder sobre-humano
ordem e a disciplina que igualasse ao ideal de concedido a poucos e raros indivíduos, e que atua
infinitude do espaço das catedrais góticas. através deles. Ao contrário de Leonardo, para
2 A matemática estabelecida para a ocupação do quem a pintura era a mais nobre das artes porque
espaço pelo edifício foi estabelecida para o ob- abarcava todos os aspectos visíveis do mundo; A
servador pudesse compreender a lei que o or- arte, para ele, era uma ciência. mas sim "a criação
ganiza, de qualquer ponto em que se coloque. de homens", a análoga à criação divina.
3 A preocupação dos construtores renascentistas
era criar espaços compreensíveis de todos os
ângulos visuais.

Editora Exato 12
ARTES

3 Toda a gestualidade registrada na obra é desvi-


ada para a virgem, já que ela é o ponto mais al-
to da imagem e o mais iluminado.
4 A profundidade da imagem é dada pela luz que
brilha muito além da escuridão da superfície
das pedras.

9 No Egito, ao dominar uma série de leis rigoro-


sas,o artista dava por encerrada a sua aprendiza-
Conforme texto e imagem, julgue os itens: gem. Ninguém queria coisas diferentes, ninguém
1 A cena apresenta uma dramática justaposição lhe pedia que fosse original. As figuras eram re-
do homem e de Deus. presentadas da forma mais claramente visível.
2 A imagem é semelhante às imagens gregas, Na Grécia, embora os artistas não copiassem a
que mostram sua beleza e corpos trabalhados. natureza tal como a viam, já não consideravam a
3 A imagem possui uma construção diagonal, o fórmula de representação da figura humana como al-
que desequilibra a obra. go sagrado, que devesse ser seguida em todos os
4 A imagem de Adão representado por um ho- pormenores.
mem jovem, cujo corpo forte e harmonioso A grande revolução da arte grega, a descoberta
concretiza o ideal da beleza do Renascimento. de formas naturais e do escorço, ocorreu em uma é-
poca que é, acima de tudo, o mais assombroso perío-
do da história humana. É a época em que o povo das
8 Leonardo não pensa em termos de contornos, cidades gregas começou a contestar as antigas tradi-
mas sim de corpos tridimensionais que tornam ções e lendas sobre os deuses e a investigar sem pre-
visíveis, em graus variados, através da luz. Nas conceitos a natureza das coisas
sombras, essas formas permanecem incompletas,
e seus contornos são sugeridos.

Conforme a figura e o pequeno trecho sobre os


estudos da pintura do autor Leonardo, julgue os itens:
Figura I A deusa Hathor e o rei Sthi I, 19, dinastia, 1303-1290 a.C.
1 As figuras estão em disposição geométrica, de
maneira que formem uma pirâmide, onde a ba-
se é a Virgem.
2 O contraste de claro e escuro que incide no
rosto da virgem a torna o centro da obra.

Editora Exato 13
ARTES

dos instrumentos que os grupos utilizavam em suas


atividades, como pontas de projéteis em osso, lâmi-
nas de machado, quebra-coquinhos, agulhas, pesos de
rede, anzóis, além de objetos de arte, como o objeto
de pedra representando uma ave, mostrando na figura
II, acima.

Figuras II Cenas de aprendizagem, pintura sobre cerâmica.


Com o auxílio do texto e das figuras acima,
julgue os itens que se seguem, acerca das diferenças
de estilo e de forma nas artes egípcia e grega.
1 Na arte egípcia, os artistas utilizavam a lei da Figura I-Sambaqui. Sítio Figueirinha-I, Jaguaruna, Santa Catarina
frontalidade.
2 As figuras humanas, na obra egípcia mostrada
na figura I, têm o mesmo tamanho e, portanto,
possuem a mesma importância na cena.
3 O desenho sobre o vaso grego, mostrado na fi-
gura II, embora naturalista, tem função decora-
tiva.
4 Ao contrário do que mostra a obra de arte e-
gípcia, representada na figura I, o desenho do
vaso grego representado na figura II é estático.
5 O autor do relevo egípcio, mostrado na figura
Figura II- Zoolito, acervo do MAE-USP
I, teve liberdade para escolher as cores de sua
pintura. Com base no texto e nas figuras acima, julgue
os itens seguintes, acerca dos sambaquis e de outras
evidências da arte e da cultura dos habitantes primiti-
10 Esta narrativa faz parte da mitologia contada pe- vos do Brasil.
los povos de língua tupi e relata a história de um 1 Alguns sambaquis demoraram centenas de a-
povo na busca da Terra sem Mal, da eterna fonte nos para serem construídos.
de juventude de Maíra e de uma inesgotável pro- 2 Os sambaquis eram construídos por grupos que
fusão de alimentos e recursos em geral. De fato, habitavam e exploravam o ambiente marinho.
mais ou menos há 1.500 anos, partindo do Ama- 3 O objeto mostrado na figura II traduz a mani-
zonas, esses grupos empreenderam um enorme festação de um valor cultural ligado à sobre-
deslocamento populacional, expandindo seu terri- vivência do grupo social que o produziu.
tório e alcançando, na época da colonização eu- 4 A técnica de desbaste utilizada no trabalho em
ropéia,uma verdadeira unidade nacional. Suas pedra mostrado na figura II permitiu obter de-
aldeias se distribuíam da Amazônia ao sul do talhes minuciosos.
Brasil, formando uma extensa faixa ao longo do 5 As dimensões dos sambaquis e o seu destaque
litoral. na paisagem fazem que eles pareçam monu-
Há mais ou menos 6.000 anos, uma parte do li- mentos para a demarcação do território ocupa-
toral brasileiro começou a ser ocupada por grupos do pelo grupo que os construiu.
que, utilizando os recursos oferecidos por oceanos,
mangues e lagunas, construíam sambaquis, como o
mostrado na figura I, acima, com cerca de 15 m de 11 O trecho a seguir traz a opinião de Ulpiano Be-
altura. zerra de Meneses acerca da definição da arte no
O nome sambaqui vem da língua tupi (tampa = período pré-colonial no Brasil.
marisco e ki = amontoado), e é mais ou menos isso É preciso evitar noções associadas ao fenôme-
que os sambaquis representam. no artístico na civilização ocidental, em que a produ-
Em um sítio sambaqui, encontramos marcas de ção internacional (ou a conversão de produção
fogueiras, de habitações, restos de alimentos e deze- originada de outro contexto), a circulação e o consu-
nas de sepultamentos. Encontramos, ainda, muitos mo de certos bens obedecem a tal especificidade, que

Editora Exato 14
ARTES

é possível falar em categorias como objetos artísticos, 15 A arte egípcia tinha como seu deus não a coca–
artista, colecionador de arte, marchand e assim por cola, mas ao faraó a quem exortavam em suas
diante. Dentro dessa perspectiva, é totalmente inade- pinturas e esculturas.
quado presumir uma atividade artística para as cultu-
16 As figuras encontradas no período egípcio eram
ras primitivas e, portanto, tentar identificar uma
bastante adornadas com ouro e brilho para manter
classe de produtos de arte ou buscar especialização
a crença e o poder hierárquico de seu povo.
na sua manufatura. Por outro lado, remeter, como so-
lução alternativa, todos e quaisquer fenômenos for- 17 A arte na pré–história assemelha-se aos egípcios
mais relevantes, nessas culturas, a um contexto quando suas figuras produzem movimento e ins-
cerimonial e a conteúdos simbólicos é praticar outra tabilidade em cena.
forma de reducionismo que nada pode esclarecer. 18 As imagens no período paleolítico e neolítico não
se diferenciavam em suas formas apenas na temá-
tica e na organização das figuras.
19 Os artistas gregos iniciavam sua arte semelhante
à arte egípcia o tronco do corpo geometrizado aos
quadris.
20 Os egípcios e os povos primitivos possuíam suas
estilizadas.
21 Os romanos diferenciam em sua arte dos artistas
gregos apenas pelos valores das vestimentas.
22 Os artistas gregos idealizavam os homens como
Ulpiano Bezerra de Meneses. A arte no período pré-colonial. Walther Zanini. Histo- centro do universo, semelhantes aos deuses.
ria geral da arte no Brasil. São Paulo,Instituto Walther Moreira Salles, 1982, v 1 p
21. 23 Os romanos, além da escultura, que aperfeiçoa-
A partir do texto e da figura acima, que mostra ram em seu estilo artístico, tinham a arquitetura
urna funerária confeccionada em argila, julgue os i- como um dos seus grandes méritos, pois conse-
tens a seguir. gue elaborá-las em andares.
1 A urna exibida não tem função utilitária.
2 Os pés da figura humana representada pela 24 A arte cristã–primitiva era realizada em templos,
uma mostrada têm também a função de dar a- onde estabelecia a nova religião cristianismo.
poio ao objeto. 25 Os gregos dividem-se em três períodos artístico
3 O material utilizado na confecção da uma mos- arcaico, clássico e o período helênico, onde suas
trada na figura é raro no Brasil esculturas desenvolvem-se com novas formas e
4 A cerâmica é geralmente produzida por socie- sem implementação de materiais inovadores.
dades que não atingiram um estágio agrícola.
5 Conforme o exemplo da uma exibida na figura, 26 As catacumbas cristãs assemelham-se aos rituais
as irregularidades na superfície do objeto em egípcios, pois eles acreditavam em desenhos ar-
cerâmica tomam sua forma assimétrica. tísticos, como magia, pré–destinadores de salva-
ção.

Julgue os itens: 27 O dinamismo da arte grega é dado quando as fi-


guras femininas são representadas envolvidas por
12 Apesar do texto no final criticar o contemporâ- pequenos panos sugerindo o movimento.
neo, enfatiza a importância de conhecer o princí-
pio e a cultura que motiva a existência destes 28 A escultura helenística é o auge grego quando se
povos. descobre o bronze e o mármore um material que
permite maior maleabilidade para esculpi-las e
13 O princípio apresentado pelos arqueólogos em assim criar novas formas e posições.
seus estudos científicos era uma organização so-
cial de no classes paleolítico e no neolítico. 29 Algumas esculturas gregas foram encontradas i-
nacabadas, por causa do material que não propor-
14 Não existe, segundo pesquisas realizadas, ne- cionava firmeza e assim quebravam quando não
nhuma relação do ritual realizado pelos povos e- estavam em repouso.
gípcios ao ritual dos povos primitivos.
30 As imagens na pré–história, durante o período
paleolítico, eram sobrepostas, pois eles não ti-

Editora Exato 15
ARTES

nham um sistema organizacional como o período Lendo o texto, julgue os itens sobre a arte roma-
neolítico. na.
31 A arquitetura na Grécia limitava-se a grandes es-
1 A estrutura romana era exclusiva para que se
pudessem glorificar os deuses em que eram re-
paços retangulares com colunas dóricas e jônicas.
presentados através de esculturas.
32 A tentativa de perspectiva da arte egípcia é dada 2 A arte romana é menos idealizada e intelectual
pela proporção em que as figuras são representa- que a arte clássica grega, porém os romanos
das. desenvolviam um maior poder de razão e inte-
33 A arte no período paleolítico já demonstrava a lecto em relação a administração, enquanto que
necessidade de criar volume e dar formas com os gregos queriam apenas brilhar.
maior precisão, pois tratava da sobrevivência e 3 As formas romanas são exclusivas e distintas.
fé. 4 A utilização inovadora da arquitetura romana
permitiu projetos mais flexíveis como a utili-
34 Os egípcios eram regidos por leis e regras deter- zação de abóbadas, formas curvas e circulares.
minadas pelos faraós, que manipulavam a arte em
seu favor. 38 A pintura de vasos tornou-se uma importante in-
35 A arte iniciou por estranhos começos nos quais dústria em Atenas, e os humildes artífices empre-
os homens estabeleciam uma comunicação entre gados nas oficinas estavam ávidos por introduzir
si. as mais recentes descobertas em seus trabalhos.
Nos primeiros vasos, pintados no século VI a.C.,
36 A arte é considerada primitiva porque seus artis-
ainda encontram-se vestígios dos métodos egíp-
tas não sabiam desenhar e manipular as cores
cios.
conforme as observavam.

37 A maioria dos artistas que trabalhavam em Roma


eram gregos, e a maioria dos colecionadores ad-
quiria obras dos grandes mestres gregos ou có-
pias dessas obras. Apesar disso, a arte mudou,
quando Roma se tornou senhora do mundo. Aos
artistas foram confiadas diferentes tarefas, e eles
tiveram, por conseguinte, que se adaptar aos no-
vos métodos. A mais importante característica da
arquitetura romana é, porém, o uso de arcos.
Construir um arco com pedras separadas em for-
ma de cunha é uma dificílima façanha de enge- 1 Ambas as figuras são rigorosamente mostradas
nharia. Cada vez mais ousados, os romanos de perfis, assim como na arte egípcia, onde
tornaram-se grandes especialistas na arte da cons- nobres e escravos eram representados pela lei
trução de abóbadas, graças a diversos expedientes da frontalidade.
de natureza técnica. 2 Com o passar do tempo, os gregos atingem e-
feitos realistas através de utensílios domésti-
cos.
3 Nas pinturas em cerâmica, exclusivamente em
vasos, encontravam-se apenas figuras de he-
róis.
4 A cor avermelhada que faz o plano de fundo
aos heróis é a descoberta da arte grega.

39 A grande revolução da arte grega, a descoberta


de formas naturais e do escorço (síntese do dese-
nho), ocorreu numa época que é, certamente, o
mais assombroso período da história humana. É a
época em que os povos das cidades gregos come-
çaram a contestar as antigas tradições e lendas
sobre deuses, e a investigassem preconceitos a

Editora Exato 16
ARTES

natureza das coisas. É período em que a ciência, 3 O desenho do vaso grego representado é estáti-
tal como hoje entendemos o termo, e a filosofia co.
desperta pela primeira vez entre os homens, e de- 4 A arte grega envolve uma harmonia em sua
senvolvendo-se o teatro a partir das cerimônias obra tão expressiva que tudo se combina, o que
em honra a Dionísio. produziu uma composição harmoniosa.
5 A arte grega possui suas formas geométricas
de rigidez, retendo uma singela beleza e luci-
dez em sua obra.

41 A partir do século 12 os centros irradiadores de


cultura deixaram de ser os mosteiros e se expan-
diram para as igrejas das grandes cidades da Eu-
ropa. A catedral da cidade tornou-se o edifício
mais importante e é nela que vamos encontrar to-
das as características do estilo gótico.
A respeito da Arte Gótica, julgue os itens:
1 A pintura é o elemento mais característico da
arte Gótica.
2 A arquitetura Gótica é esbelta e muito alta,
como querendo elevar-se ao céu em busca de
Deus.
3 A escultura gótica está associada diretamente
à arquitetura.
4 Os vitrais filtram a luz natural e colorem o in-
1 O pé direito ainda foi desenhado da maneira terior das igrejas góticas.
“padronizada”, mas o esquerdo já está “escor-
çado”, ver-se os cincos dedos dispostos como 42 A difusão do cristianismo e sua afirmação coin-
uma fileira de cinco pequenos círculos. cidiu historicamente com o momento de esplen-
2 Neste vaso, é possível observar que o artista dor do Império Bizantino e a arte tomou novo
grego desenvolveu o seu olhar sobre a obra, ou direciomamento, refletindo toda a grandeza e o
seja, passa a levar em conta o ângulo de onde contexto político daquela sociedade.
ele vê o objeto. Quanto à Arte Bizantina, julgue os itens:
3 As artes gregas estavam voltadas apenas para 1 Com a oficialização do cristianismo a arte
narração de eventos contemporâneos surgidos cristã assume um caráter majestoso.
na época. 2 Apesar das tentativas de conquista do povo a-
4 O escorço ajuda a obter uma maior perfeição través da oficialização do cristianismo e da
para se pintar a realidade tal como ela é vista. mudança da linguagem dos temas artísticos, a
arte assumiu um caráter de contestação política
40 Todas as obras gregas do século V a.C. mostram contra a posição do Imperador de se colocar no
essa sabedoria e habilidade na distribuição das fi- lugar de Deus.
guras, mas os gregos de então valorizam ainda 3 A arte Bizantina ganhou, além da expressivi-
mais o fato de que a recém–adquirida liberdade dade natural da arte, uma função de divulgação
para representar o corpo humano em qualquer e promoção política.
posição ou movimento podia ser utilizada para 4 Na verdade, mesmo com todas as mudanças
refletir a vida interior das figuras representadas. político-sociais, houve uma mudança significa-
Após ler o texto e observar a obra, julgue os i- tiva no fazer artístico daquele período.
tens:
1 Subentende-se através do texto que os artistas
43 Desde que Roma adotou a religião cristã o ho-
gregos tinham dominado os meios de transmi-
mem europeu passou a viver apenas para Deus e
tir um pouco dos sentimentos mudos existentes
a arte servia como veículo para afirmar sua cren-
entre as pessoas.
ça. No século 14 houve muito progresso nas ar-
2 O desenho representado sobre o vaso grego
tes, na literatura e nas ciências e o homem voltou-
mostrado, embora naturalista, tem função de-
se para si mesmo, recolocando-se como a criatura
corativa.
mais importante da Terra.
Editora Exato 17
ARTES

A respeito do Renascimento, julgue os itens: GABARITO


1 O Renascimento é dividido em quatrocentis-
mo (séc. XV) e quinhetismo (séc. XVI). 1 C, C, C, E
2 A pintura no quatrocentismo empregou muito
os tons claro e escuro e preocupou-se com a fi- 2 C, E, C, E
delidade anatômica. 3 E, C, E, C
3 A escultura do renascimento não tinha preo-
4 E, E, C, E
cupação com a anatomia.
4 Na arquitetura os prédios eram inovadores e 5 E, C, E, C
não tinham ligações com a antiguidade clássi-
6 C, C, E, E
ca.
7 C, C, E, C
44 Quanto às características da escultura gótica ana- 8 E, C, E, C
lise e julgue os itens a seguir em certos ou erra- 9 E, C, C, E, E
dos.
1 A escultura está intensamente ligada a arqui- 10 E, E, C, C, E
tetura. 11 C, C, C, C, E
2 Sua função é ocupar espaço dentro das cons-
truções. 12 C
3 As imagens nuas são um marco, pois se des- 13 E
tacam das demais criações deste período.
4 Sua função era única e meramente decorativa. 14 E
15 E
45 Quanto às características do Renascimento, jul- 16 C
gue os itens.
17 E
1 Na escultura renascentista predomina o nu,
assim como no clássico grego. 18 E
2 A posição do homem como o centro do mun- 19 E
do é visto pela primeira vez no Renascimento.
3 É na arquitetura renascentista que se decora o 20 C
interior dos ambientes com inspiração na arte 21 E
da Idade Média.
4 A pintura renascentista acompanha os mes- 22 E
mos padrões da escultura grega. 23 C
24 E
46 Quanto à pintura renascentista, julgue os itens.
1 No chamado quatrocentismo empregou-se o 25 E
claro e o escuro. 26 C
2 Houve uma grande preocupação com a fideli-
dade anatômica. 27 E
3 Personagens de outras épocas foram vestidos 28 C
com roupas do século XV.
29 C
4 Apesar das tentativas de conquista do povo a-
través da oficialização e da mudança da lin- 30 C
guagem dos temas artísticos, a arte assume um
31 C
caráter de contestação política contra a posição
do Imperador de se colocar no lugar de Deus. 32 C
33 C
34 C
35 E
36 E

Editora Exato 18
ARTES

37 E, C, E, C
38 E, C, E, C
39 C, C, E, C
40 C, C, C, C, E
41
42
43
44
45
46

Editora Exato 19
ARTES

BARROCO
1. INTRODUÇÃO Barroco apresentou um dinamismo e um exagero de
formas e cores jamais visto no Renascimento.
Historicismo A Pintura Barroca na Itália
1523 – Reforma Protestante de Lutero. De um modo geral, a pintura barroca pode ser
1541 – Contra-Reforma Católica. resumida em alguns pontos principais. O primeiro é a
1542 – Instaurada a Santa Inquisição pelo Concílio disposição dos elementos dos quadros, que sempre
de Trento. forma uma composição em diagonal. Além disso, as
1600 – Caravaggio pinta A Conversão de Santo Pau- cenas são envolvidas em acentuado contraste de cla-
lo. ro-escuro, intensificando a expressão de sentimentos.
1607 – Final das obras da Basílica de São Pedro. E se a pintura barroca é realista, essa realidade não é
1612 – Ingleses iniciam a colonização da Índia. só a vida de reis e nobres, mas também a do povo
1636 – Rembrandt pinta O Cegamento de Sansão. simples.
1654 – Expulsão dos Holandeses do Brasil. Dentre os pintores italianos desse período, qua-
1660 – Vermeer cria A Moça de Turbante. tro são os mais expressivos; Michelangelo, o verda-
1687 – Jesuítas fundam Sete Povos das Missões deiro precursor do barroco, ainda dentro do
(Brasil). Renascimento. Seu trabalho na Capela Sistina já pre-
1740 – Bouchet pinta Triunfo de Vênus. diz o que seria o barroco. Ele lançou as bases da pin-
1757 – Início da Construção da Igreja de Sta. Geno- tura barroca, seu estilo e suas tendências. O Segundo
veva. foi Tintoretto, o mestre do Maneirismo que, com o
1766 – Aleijadinho projeta a Igreja de São Francisco passar dos anos, enveredou pelo barroco, encontran-
de Assis. do nesse estilo o campo fértil para seu talento. Tinto-
O surgimento do Barroco no século XVII, na retto determinou aqui duas características bem
Itália, deve-se a uma série de mudanças econômicas, marcantes: os corpos das figuras são mais expressi-
religiosas e sociais ocorridas na Europa. Com o hu- vos do que seus rostos e a luz e a cor têm grande in-
manismo, o Renascimento e, principalmente, a Re- tensidade.
forma Religiosa de Lutero, a Igreja católica teve seu Tintoretto (Jacopo Robusti, 1518 –
poder enfraquecido. O grande Império cristão frag- 1594) – O mestre filho de um tintureiro
mentou-se em diversas religiões e para reconquistar Pintor italiano de Veneza, cujo apelido, Tinto-
seu prestígio e poder, organiza a Contra-Reforma, retto, deriva da profissão de seu pai, um tintureiro.
tomando iniciativas que visavam reafirmar e difundir Foi na tinturaria do pai que o jovem pintor começou a
a fé católica. Uma dessas iniciativas é a imediata experimentar cores e tons, ainda sobre tecidos velhos
construção de grandes igrejas que serão verdadeira e manchados. Produziu uma grande quantidade de
exibição artística da riqueza, do esplendor e do poder obras para a Igreja, além de cenas mitológicas e retra-
católico. É na construção desse tipo de Igreja que tos. Foi um desenhista formidável que se destacou
nasce a arte Barroca. por empregar em suas telas vívidos exageros de luz e
Da Itália, a arte barroca se propagou para ou- movimento. Já velho e milionário, resolveu ensinar
tros países europeus e pelo continente americano a- sua arte a jovens discípulos, fundando sua própria es-
través dos colonizadores portugueses e espanhóis. cola de arte, atitude incomum para a época.
Mas ela não se desenvolveu de forma igual. Houve
grandes diferenças entre artistas e entre obras produ-
zidas nos diferentes países. Inclusive no Brasil, onde
a arte Barroca, em muitos aspectos e também na sua
duração histórica, superou a própria arte italiana. A-
pesar disso, alguns princípios gerais podem ser indi-
cados como característicos dessa arte: o barroco
rompeu o equilíbrio entre o sentimento e a razão ou
entre a arte e a ciência, que os renascentistas procura-
ram realizar de forma consciente. No barroco, pre-
dominam as emoções e não o racionalismo
renascentista. As figuras barrocas são representadas
A Última Ceia, de Tintoretto
de tal forma que parecem estar em movimento. O

Editora Exato 20
ARTES

Caravaggio(1573 – 1610) – O uso revo-


lucionário da luz
Caravaggio não se interessou pela beleza clás-
sica que encantou o Renascimento. Procurava seus
modelos entre pessoas do povo. O que melhor carac-
teriza a pintura de Caravaggio é essa atitude de retra-
tar os temas sagrados como um acontecimento atual
entre pessoas humildes; as figuras bíblicas asseme-
lham-se a trabalhadores comuns, com fisionomias
curtidas pelo tempo.

Vocação de São Mateus, de Caravaggio.


E mais que isso, a forma revolucionária como
ele usava a luz. Ela não aparece como reflexo da luz A Glória de Sto. Inácio, afresco de A. Pozzo no teto da igreja de Sto. Inácio, Roma.
solar, mas é criada intencionalmente pelo artista para
dirigir a atenção do observador. Isso foi tão funda- 2. O BARROCO FORA DA ITÁLIA
mental na sua obra, que ele é conhecido como funda-
dor do estilo Iluminista.
Espanha
Na Espanha, o Barroco se desenvolveu princi-
Andrea Pozzo (1642 – 1709) – Os tetos
palmente na arquitetura, nos entalhes requintados das
das igrejas abrem-se para o Céu portadas de edifícios religiosos e civis. Em relação à
A pintura barroca desenvolveu-se também nos pintura, a Espanha foi muito influenciada pelo Barro-
tetos de igrejas e de palácios. Essa pintura, decorati- co italiano, onde predominou o realismo. O artista
va, marcou o trabalho de Pozzo, que ao pintar os inte- que mais se destacou no Barroco espanhol foi:
riores e teto das igrejas, impressionava pelo número Diego Velázquez (1599-1660) – A cara
de figuras e pela ilusão – criada pela perspectiva – de
que as paredes e colunas da igreja continuam no teto,
da nacionalidade espanhola
e que este se abre para o céu, de onde anjos e santos O maior pintor da escola espanhola, mestre na
convidam o homem para a santidade. representação de luz e sombra. Nasceu em Sevilha, e
logo na adolescência produziu obras que impressio-
nam pela elaborada técnica utilizada. Em 1623, foi
nomeado um dos pintores da corte do rei Filipe IV,
tornando-se o mais prestigiado pintor do reino.
Embora tenha se dedicado a pintar retratos da
realeza, também registrou em seus quadros o cotidia-
no de pessoas humildes do seu país.
El Greco (Domenikos Theotocopoulus,
1541 – 1614) – A verticalidade da pin-
tura
Nascido na Grécia (daí o apelido El Greco),
destacou-se em Toledo, na Espanha, onde se estabe-
leceu e desenvolveu seu estilo próprio, a partir de

Editora Exato 21
ARTES

1577. Suas obras se caracterizam pela predominância


da verticalidade, que lembra os temas góticos, as fi-
guras são alongadas e geralmente pintadas em cores
frias. Extravasou em sua pintura um intenso senti-
mento religioso, uma forte ironia com a Igreja (no
quadro O Enterro do Conde Orgaz, metade dos ros-
tos das figuras presentes ao enterro são do próprio El
Greco), em diferentes fases da vida e a outra metade,
de bispos e padres. O pintor se divertiu com a ironia,
mas o Papa quis excomungá- lo.

Erguimento da Cruz, de Rubens


Rembrandt van Rijn (1606-1669)- A
Emoção da Claridade
Foi o maior artista da escola holandesa. Nas-
ceu em Leiden e se mudou para Amsterdã aos 17 a-
nos. Sua obra se caracteriza pela predominância de
Velha Fritando Ovos, de Velazquez.
expressões dramáticas e pela utilização de vívidos e-
Países Baixos feitos de luz. Rembrandt conseguiu reproduzir em
O Estilo Barroco expandiu-se da Itália para vá- suas telas uma gradação de claridade nunca vista an-
rios países europeus entre os séculos XVII e XVIII. tes. Embora os retratos e cenas religiosas e mitológi-
Na Holanda, ele adquiriu características próprias do cas constituam a maior parte de sua obra, ele também
povo holandês, a austeridade e a praticidade. Realis- contribuiu de forma original com outros gêneros, in-
ta, o artista holandês não se preocupava com padrões cluindo a natureza-morta e o desenho.
de beleza, preferindo retratar cenas do cotidiano, di-
ferenciando-se do artista italiano, que retratava na
maioria das vezes temas nobres. Dentre os holande-
ses, cita-se:
Peter Rubens (1577-1640) – A força da
cores quentes
Rubens nasceu em Siegen, na Alemanha, lugar
em que seu pai, um advogado holandês, se refugiou
para escapar da perseguição religiosa. Aos 10 anos de
idade, após a morte de seu pai, Rubens vai para a An-
tuérpia acompanhado de sua mãe. Foi na Antuérpia
que ele teve como um de seus mestres o pintor Otto
van Veen, que o influenciou a ir para a Itália. Em
1600, dois anos após ter se tornado mestre, Rubens
vai para Roma, onde conhece as obras renascentistas
que serviriam de base para seu grande estilo.
Rubens costumava dar às vestimentas um colo-
rido exuberante que contrastava com a pele clara das
figuras retratadas. Trouxera da Itália a predileção por
telas gigantescas e foi mestre na arte de dispor as fi-
guras, a luz e a cor numa vasta escala, sugerindo um
intenso movimento.
A Sagrada Família, de Rembrandt.

Editora Exato 22
ARTES

Vermeer (1632 – 1675) – A beleza deli- 3. A ESCULTURA BARROCA


cada da vida cotidiana O Equilíbrio entre razão e emoção, caracterís-
Diferente de Rembrandt, Vermeer trabalha os tica da escultura renascentista, desapareceu com o
tons em plena claridade. Seus temas são sempre os da predomínio do Barroco, que escolheu a dramaticida-
vida burguesa da Holanda seiscentista. Seus quadros de das expressões e o dinamismo dos movimentos
documentam com uma beleza delicada os momentos como elementos básicos de seu espírito. Essas pecu-
simples da vida cotidiana. No quadro Mulher Lendo liaridades da escultura barroca se concretizaram a-
uma Carta, por exemplo, observamos o quarto inun- través da predominância de linhas curvas, excesso de
dado de luz e uma suave harmonia de cores e formas. dobras nas vestes e a utilização do dourado. Os ges-
Assim como essa obra, muitas outras pinturas de tos e os rostos das personagens revelam emoções vi-
Vermeer que retratam ocupações domésticas em inte- olentas e atingem uma dramaticidade desconhecida
riores mostram um sugestivo trabalho com os efeitos no Renascimento. Como na pintura, o impulso inicial
de luz. para esse desenvolvimento artístico partiu de artistas
italianos, entre os quais Gian Lorenzo Bernini (1598-
1680) foi o mais importante. Arquiteto, escultor, ur-
banista e pintor, Bernini conseguiu, com suas escul-
turas, registrar momentos de pura expectativa, que
envolvem o observador emocionalmente.

Mulher lendo uma carta, Vermeer.

Davi, de Bernini (Mostra grande vigor. Compare com o Davi de Michelângelo).

O Enterro do Conde Orgaz, de El Greco.

Editora Exato 23
ARTES

Palácio de Versalhes (França), com seus jardins.

O Êxtase de Sta. Teresa, de Bernini.

4. ARQUITETURA BARROCA
A arquitetura do séc. XVII realizou-se princi-
palmente nos palácios e nas igrejas. A Igreja Católi- Praça da Basílica de São Pedro, no Vaticano.
ca queria proclamar o triunfo de sua fé e, por isso,
realizou obras que impressionaram pelo seu esplen-
dor. Por outro lado, governantes como Luís XIV, da
França, que se consideravam reis por direito divino,
também desejaram palácios que demonstrassem po-
der e riqueza.
Quanto ao estilo da construção, os arquitetos
deixam de lado os valores de simplicidade e raciona-
lidade típicos da Renascença e insistem nos efeitos
decorativos, pois “no barroco, todo muro se ondula e
dobra para criar um novo espaço".
Outro fato importante que merece ser assinala-
do é o reconhecimento, no barroco, de que as áreas
que cercam os prédios tinham importância para a be-
leza final da construção. Daí a preocupação paisagís-
tica com os grandes jardins dos palácios, como em
Versalhes, ou com as praças das igrejas, como a basí-
lica de São Pedro, no Vaticano.

Editora Exato 24
ARTES

O RENASCIMENTO
HISTORICISMO sição ao divino e ao sobrenatural conceituados na I-
dade Média.
1308 – Dante Alighieri começa a escrever A Devido ao humanismo e ao ideal de liberdade
Divina Comédia. predominante no período, o artista renascentista teve
1333 – Simoni de Martini pinta O Anjo e a a oportunidade de expressar suas idéias e sentimentos
Anunciação. sem estar submetido à Igreja ou a outro poder. Ele
1415 – Navegadores portugueses chegam a era um criador e tinha um estilo pessoal, diferencian-
Ceuta. do-se dos artistas medievais. Além disso, o artista era
1448 – Gutenberg inventa a imprensa. dignamente pago para produzir suas obras, quer fos-
1474 – Da Vinci pinta O Retrato de Ginevra sem elas feitas para compradores particulares ou para
Benci. a própria Igreja.
1492 – Colombo descobre a América.
1500 – Cabral chega ao Brasil. 1. ARQUITETURA RENASCENTISTA
1505 – Giovanni Bellini pinta Nossa Senhora
A preocupação dos construtores renascentistas
do Prado.
foi criar espaços compreensíveis de todos os ângulos
1532 – Fundação de S. Vicente, por Martim
e que fossem o resultado de uma justa proporção en-
Afonso de Souza.
tre todas as partes do edifício. A principal caracterís-
1543 – Copérnico fundamenta a tese do Sol
tica da arquitetura do Renascimento, portanto, é o
como centro do universo.
equilíbrio das linhas, a organização matemática dos
espaços e a presença de elementos da Antigüidade
O termo Renascimento é comumente aplicado
clássica na decoração. A cúpula é um detalhe impor-
à civilização européia que se desenvolveu entre 1300
tante e constante nas construções renascentistas. O
e 1650. Ele sugere que, a partir do século XIV, teria
mais famoso exemplo de cúpula existente nesse perí-
havido na Europa um súbito reviver dos ideais da
odo é sem dúvida a da basílica de São Pedro, no Va-
cultura greco-romana. Essa é, no entanto, uma visão
ticano, em Roma. Erguida entre 1507 e 1607, da sua
simplista da História, já que, mesmo durante o perío-
construção participaram grandes arquitetos como
do medieval, o interesse pelos autores clássicos nun-
Donato Bramante, de 1507 a 1510; Rafael, de 1514 a
ca deixou de existir. Nas escolas das catedrais e dos
1520; Antonio Sangalloi, de 1540 a 1546; Michelan-
mosteiros, autores gregos ou romanos, como Cícero,
gelo, de 1546 a 1564, juntamente com Giacomo Del-
Virgílio, Sêneca e os grandes filósofos gregos eram
la Porta, que continuou a execução do projeto até
muito estudados.
1602; e Carlo Moderni, que a concluiu entre 1602 e
Outro problema é o da subestimação e do des-
1607. Este, como outros prédios públicos e palácios
conhecimento da cultura medieval. O termo “renas-
do período, teve sua arquitetura fortemente influenci-
cimento” pode sugerir que todo o período medieval
ada pelas características do Renascimento.
foi uma época de trevas e ignorância. Essa falsa idéia
foi difundida pelos próprios renascentistas, que, no
desejo de combater tudo que fosse medieval, chama-
vam a Idade Média de “Idade das Trevas”.
Na verdade, já a partir do século XI, começa a
surgir por toda a Europa Ocidental uma série de mo-
vimentos de renovação cultural inspirados nos ideais
greco-romanos. No entanto, sob vários aspectos, o
Renascimento retoma certos elementos da cultura
medieval. Por outro lado, o Renascimento foi um
momento da História muito mais amplo e complexo
do que o simples reviver da antiga cultura greco-
romana. Ocorreram nesse período muitos progressos
e incontáveis realizações no campo das artes, da lite-
ratura e das ciências, que superaram a herança clássi-
Cúpula da Basílica de S.Pedro – de Michelangelo e Della Porta.
ca. O ideal humanista foi, sem dúvida, o móvel desse
progresso e tornou-se o próprio espírito do Renasci- 2. A PINTURA RENASCENTISTA
mento. Num sentido amplo, esse ideal é entendido
A pintura do Renascimento confirma as três
como a valorização do homem e da natureza em opo-
conquistas que os artistas do último período gótico
Editora Exato 25
ARTES

haviam alcançado: a perspectiva, o realismo e o uso mundo, mas serenidade, pois se reconhece como
do claro-escuro. Na Antigüidade, pintores gregos e submisso à vontade de Deus.
romanos já haviam dominado esses recursos da pin- Paollo Uccello (1397-1475) – O encon-
tura, entretanto, os pintores românicos e medievais tro das fantasias medievais com a
abandonaram essas possibilidades de imitar a reali-
dade. No período Gótico e no Renascimento, porém, perspectiva geométrica
predomina a tendência de uma interpretação científi- Uccello procura compreender o mundo segun-
ca da realidade e do mundo. O resultado disso nas ar- do os conhecimentos científicos do seu tempo e, em
tes plásticas, e sobretudo na pintura, são os estudos suas obras, tenta recriar a realidade segundo princí-
da perspectiva segundo princípios da Matemática e pios matemáticos. Por outro lado, sua imaginação o
da Geometria. O uso da perspectiva conduziu a outro remete às fantasias medievais, um mundo lendário de
recurso, o claro-escuro, que consiste em pintar algu- um passado superado. Sua pintura está repleta de
mas áreas iluminadas e outras na sombra, reforçando movimento e realismo fantástico.
a sugestão de volume dos corpos. A combinação da
perspectiva com o claro-escuro deu maior realismo às
pinturas.
Na Idade Média, a produção artística era anô-
nima, de acordo com os ideais eclesiástico e real da
iniqüidade do homem diante de Deus e de seu Rei.
Na arte renascentista, sobretudo na pintura, surge o
artista com estilo pessoal, idéias próprias e liberdade
para divulgá-las. A partir dessa época, começa a exis-
tir o artista como o conceituamos atualmente: um cri-
ador individual e autônomo, que expressa em suas
obras os seus sentimentos e suas idéias, sem submis-
são a nenhum poder que não a sua própria capacidade
de criação.
Assim, no Renascimento, são inúmeros os no-
mes de artistas conhecidos, cada um com característi-
cas próprias.
3. LEITURA DE OBRAS RENASCENTISTAS

Masaccio (1421-1428): a pintura como


imitação da realidade
Foi um artista genial e precoce que, aos 21 a- Madonna com o Menino, de Masaccio.

nos, concebeu a pintura como imitação fiel do real e


morreu aos 27 anos, deixando obras que retratam as
formas humanas com impressionante beleza. Seu rea-
lismo é tão cuidadoso que ele parece ter a intenção de
nos convencer da realidade da cena retratada e mais,
parece nos convidar a participar do que está represen-
tado na pintura.
Fra Angélico (1400 –1455) – a busca da
conciliação entre o plano terrestre e o
sobrenatural
Frade dominicano que seguiu as tendências re-
alistas de Masaccio, mas, por respeitar seriamente
seus votos, tem em sua obra como tema principal a
religião. Sua pintura, embora siga os princípios re-
nascentistas da perspectiva e da técnica claro-escuro,
está impregnada de um sentido místico. O ser huma-
no representado nas obras de Fra Angélico não pare-
ce manifestar angústia ou inquietação diante do
Anunciação, de Fra Angélico.

Editora Exato 26
ARTES

Sandro Botticelli (1444-1510) – A Linha


que sugere mais ritmo que energia
Nasceu e viveu em Florença, Itália. Trabalhou
na decoração da Capela Sistina, em 1481. Botticelli
retratava dois temas em suas obras: a Antigüidade
grega e o Cristianismo. Uma característica comum
em suas obras é a leveza dos corpos, esguios e des-
providos de força: parecem flutuar, com ritmo, ex-
pressando suavidade e graça. As figuras humanas de
seus quadros são belas, porque manifestam a graça
divina, e, ao mesmo tempo, melancólicas, porque
supõem que perderam esse dom de Deus.
Leonardo da Vinci (1452 – 1519) – A
busca do conhecimento científico e da
beleza artística
Foi o talento mais versátil do Renascimento.
Desenhista, pintor, escultor, engenheiro e arquiteto,
realizou vários trabalhos e pesquisas aprofundando- La Gioconda (Mona Lisa), de DaVinci.
se nos mais diversos setores do conhecimento huma- Michelangelo Buonarroti(1475-1564) –
no, entre eles anatomia, botânica, mecânica, hidráuli- A genialidade a serviço da expressão
ca, óptica, arquitetura e astronomia. Em artes, seus
estudos de perspectiva são considerados insuperáveis.
da dignidade humana
Na verdade, pintou pouco: o afresco da Santa Ceia, Arquiteto, pintor, poeta e escultor, um dos
em Milão, e cerca de quinze quadros, a maioria, o- maiores representantes do Renascimento. Como ar-
bras-primas de expressivos jogos de luz e sombras. quiteto, trabalhou na cúpula da igreja de São Pedro,
em Roma, e na praça do Capitólio. Como pintor, sua
maior obra é a pintura do teto da capela Sistina. Em-
bora tenha concordado em realizar esta obra, ele se
considerava, acima de tudo, um escultor. As poses
das figuras da capela Sistina baseiam-se em famosas
esculturas gregas e romanas, que Michelangelo estu-
dava minuciosamente.

O Nascimento de Vênus, de Botticelli.

A Criação do Homem e, em seguida, O Juízo Final, afrescos no teto da Capela Sis-


tina, obras de Michelangelo.

Editora Exato 27
ARTES

Davi, escultura de Michelangelo. Inspirada nos modelos greco-romanos.


Madona do Grã-Duque, de Rafael.
Ticiano Vecellio (1490 –1576) – O pin-
tor que virou nobre
Ticiano foi o maior pintor da escola veneziana.
Viveu toda a sua vida em Veneza, considerada a mais
importante cidade italiana do Renascimento. Em
1533, o rei Carlos V nomeou-lhe pintor da corte e lhe
concedeu um título de nobreza, nunca antes conquis-
tado por um artista. Ticiano produziu uma série de
obras religiosas, mitológicas e retratos utilizando co-
res vivas e movimentos que mais tarde serviram de
base para outros artistas.

Pietá, escultura de Michelangelo, considerada a de acabamento mais elaborado de


toda a sua obra.
Rafael Sanzio (1483 –1520) – O equilí-
brio e a simetria
É considerado o pintor que melhor desenvol-
veu, na Renascença, os ideais clássicos de beleza:
harmonia e regularidade de formas e cores. Rafael
planejava detalhadamente suas obras e fazia centenas
de desenhos preliminares a partir de modelos vivos,
antes de pintar os afrescos. Suas obras comunicam ao
observador um sentimento de ordem e segurança,
pois os elementos que compõem seus quadros são
dispostos em espaços amplos, claros e de acordo com
uma simetria equilibrada, expressando de forma clara
e simples os temas pelos quais se interessou.
Ascensão da Virgem, de Ticiano.

Editora Exato 28
ARTES

O Maneirismo Já Hans Holbein (1498-1543) ficou conhecido


A partir de 1520, alguns pintores italianos co- como retratista de políticos, intelectuais e financistas
meçaram a procurar formas alternativas para a cria- da Inglaterra e dos Países Baixos. Tudo retratado
ção de suas obras. Embora tenham buscado com um realismo tranqüilo, diferente da inquietação
inspiração nas obras renascentistas de Michelângelo, de Dürer. Soube expressar o esmero técnico e o ideal
Leonardo da Vinci e Rafael, deram início a um novo renascentista de beleza com precisão e forma. Ao re-
estilo artístico que rompeu com o equilíbrio, a orga- tratar seu amigo Erasmo de Roterdã, Holbein o fez
nização espacial, a simetria, a racionalidade e as pro- com simplicidade, traçando com sutileza os traços
porções estabelecidas pela arte renascentista. Este psicológicos e físicos do grande humanista do séc.
novo estilo foi denominado Maneirismo, termo origi- XVI.
nário da palavra italiana maniera, que designa o estilo
ou a maneira própria com que cada artista realiza a
sua obra. As características iniciadas no Maneirismo
tiveram total desenvolvimento no estilo Barroco, que
sucedeu o renascimento.
4. O RENASCIMENTO FORA DA ITÁLIA
As concepções estéticas italianas de valoriza-
ção da cultura greco-romana começaram a se interna-
cionalizar. Nesses países, foi comum o conflito entre
as tendências nacionais e as novas formas artísticas
vindas da Itália. Mas tal conflito se resolveu com a
nacionalização das idéias italianas.
Fora da Itália, foi a a pintura, entre as artes Erasmo de Roterdã, de Holbein
plásticas, que melhor refletiu a nacionalização do es- Hieronymus Bosch (1450-1516) criou um es-
pírito humanista renascentista italiano. No séc. XV, tilo inconfundível. Sua pintura é repleta de símbolos
ainda eram conservadas, na pintura alemã e na dos da astrologia, da alquimia e da magia conhecidas ao
Países Baixos, por exemplo, as características do esti- final da Idade Média. E nem todos os elementos de
lo gótico. Mas, alguns artistas, como Dürer, Hans suas telas podem ser decifrados, dada a combinação
Holbein, Bosch e Bruegel, fizeram uma espécie de de seres e formas presentes em sonhos ou delírios do
conciliação entre o gótico e a nova pintura italiana, pintor. Para muitos críticos, esta era a representação
intérprete científica de uma realidade. Assim, Albre- do conflito interior do homem ao final da Idade mé-
cht Dürer (1471-1528) foi o primeiro artista alemão a dia: tensão ante o pecado dos prazeres materiais e a
conceber a arte como uma representação fiel da reali- busca da virtude de uma vida espiritual. Tudo envolto
dade e a buscar traços psicológicos do ser humano e em superstições e crenças malignas.
retratá-los em seus quadros, como por exemplo, no
retrato de Oswolt Krell, onde registra fielmente os
traços físicos do personagem, mas também a atitude
enérgica desse comerciante alemão.

O Jardim das Delícias, de Bosch.


Pieter Bruegeli, o Velho (1525-1569), viveu
nas grandes cidades da região de Flandres, sob os i-
deais renascentistas, mas retratou como ninguém a
realidade das pequenas aldeias que ainda conserva-
vam a cultura medieval. Esta temática aparece em
quadros como Jogos Infantis, em que apresenta 84
brincadeiras de crianças, da época.
Oswold Krel, de Dürer

Editora Exato 29
ARTES

Jogos Infantis, de Bruegel.

Editora Exato 30
BIOLOGIA
BIOLOGIA

CITOLOGIA
Água (H2O)
BIOQUÍMICA Substância mais abundante no organismo, a
água equivale a cerca de 60-70% (quantidade relati-
1. INTRODUÇÃO va) do peso do corpo humano. As quantidades podem
variar em função de inúmeros fatores, entre eles: ati-
Os seres vivos apresentam uma grande diver- vidade metabólica do tecido, idade do organismo e
sidade e é possível distingui-los da matéria bruta de- tipo de organismo.
vido a algumas características básicas: metabolismo,
Sais minerais
material genético, reprodução, excitabilidade e cres-
cimento. Há três maneiras básicas de apresentação dos
 Metabolismo: conjunto de reações quími- íons nos seres vivos. Encontraremos estes na forma
cas que ocorrem no organismo. As reações iônica (ex.: Mg+) imobilizados no esqueleto (ex:
que envolvem síntese de substâncias consti- CaCO3 - Tecido ósseo) ou combinados com molécu-
tuem o anabolismo e as reações que envol- las orgânicas (ex.: Cobalto, na vitamina B12).
vem a degradação de substâncias 3. SUBSTÂNCIAS ORGÂNICAS
constituem o catabolismo.
 Material genético: a maioria dos organis- Carboidratos
mos possui a molécula de DNA como de- São substâncias formadas por carbono(C), hi-
tentora da informação genética. O fato de drogênio(H) e oxigênio(O). Também são chamadas
os seres vivos terem a informação codifica- de hidratos de carbono, ou glúcides, ou glicídos.
da em uma molécula capaz de autoduplica- Classificação dos Carboidratos
ção é fundamental à ocorrência de  Monossacarídeos: moléculas de carboidra-
reprodução. O material genético possui tos simples (não sofrem hidrólise), forma-
também a vantagem de não ser estático; su- das segundo a fórmula geral Cn(H2O)n, onde
as transformações, as mutações, constituem n representa o número de átomos de carbo-
fator essencial à ocorrência da evolução no, que varia entre 3 e 7. Podem ser cha-
dos seres vivos, devido à possibilidade de mados de trioses, tetroses, pentoses,
surgimento aleatório de novos genes. hexoses e heptoses, de acordo com o núme-
 Reprodução: na reprodução sexuada, a ro de átomos de carbono.
troca de material genético entre organismos Exemplos de monossacarídeos:
leva à produção de prole variada, o que é Glicose: monossacarídeo do tipo hexose, é um
vantajoso para a evolução dos organismos. carboidrato com função energética, produzido pelos
Já, na reprodução assexuada, não há troca vegetais através da fotossíntese.
de material genético e, conseqüentemente,
os organismos produzidos são geralmente Frutose: monossacarídeo do tipo hexose, é um
idênticos àqueles que os produziram. carboidrato com função energética, encontrado em
 Crescimento: os seres vivos crescem por frutas.
transformações da matéria absorvida, o que  Dissacarídeos:
leva ao crescimento por aumento do volu- Os dissacarídeos são formados por 2 moléculas
me celular ou aumento do número de célu- de monossacarídeos (monossacarídeo + monossaca-
las. rídeo). Ao sofrerem hidrólise, geram monossacarí-
Os seres vivos apresentam uma composição deos.
química muito complexa. Na sua organização celular, Principais dissacarídeos:
consideraremos dois grandes grupos de substâncias: Maltose (glicose + glicose): encontrada em ce-
as orgânicas e as inorgânicas. Estas variam em quali- reais.
dade e quantidade em função do metabolismo a que Lactose (glicose + galactose): encontrada no
cada tipo se destina. leite.
Sacarose (glicose+frutose): encontrada na ca-
2. SUBSTÂNCIAS INORGÂNICAS na-de-açúcar.
Compreende o grupo de substâncias que não  Polissacarídeos:
apresentam o carbono como elemento principal da São cadeias formadas pela união de vários mo-
molécula. nossacarídeos (polímeros de oses).
Principais polissacarídeos:
Editora Exato 1
BIOLOGIA

Amido: reserva energética dos vegetais. Nos vegetais, as gorduras ficam armazenadas
Celulose: presente no tecido vegetal, apresenta em sementes ou em frutos, o que representa uma ca-
função estrutural. racterística adaptativa interessante, pois essas estrutu-
Glicogênio: reserva energética animal. ras compactas contêm grande quantidade de energia,
Lipídios empregada pelo embrião durante seu desenvolvimen-
São ésteres (ácido graxo + álcool) insolúveis to ou por muitos animais que se alimentam de frutos
em água, mas que degradam-se em meio a solventes e de sementes. Sendo estruturas relativamente peque-
orgânicos como álcool, clorofórmio, benzina etc. A- nas, as sementes e os frutos podem ser levados para
tuam como eficiente reserva energética, pois rendem locais distantes da planta mãe – o que se chama dis-
mais do que duas vezes a energia por grama do que persão - facilitando a ocupação de territórios. Os a-
os carboidratos. Também atuam como importantes nimais colaboram para esse transporte quando
componentes estruturais das células, especialmente comem os frutos e esparramam as sementes.
da membrana celular. Proteínas
Classificação dos Lipídios: São macromoléculas orgânicas formadas por
 Lipídios Simples: unidades (monômeros) denominadas aminoácidos.
a) Glicerídeos (óleos e gorduras). Composição Cada aminoácido é formado por um grupo carboxila,
básica: álcool de cadeia curta (glicerol + ácido gra- um grupo amina e uma porção variável da molécula
xo). São conhecidos como “triglicerídeos”. denominada radical.
b) Cerídeos (ceras). Composição básica: álcool
de cadeia longa.
Rn Radical
 Lipídios Compostos (Conjugados):
Encontram-se associados a outras substâncias.
Exemplo: fosfolipídios (lecitina, esfingomieli-
na, cefalina). H2N C COOH
 Esteróides:
Composição básica: álcoois de cadeia fechada
(ex.: colesterol + ácido graxo). São esteróides: hor- Amina Carboxila
mônios sexuais masculinos e femininos, hormônios H
corticais supra-renais (ex.: corticoesteróides), vitami- Estrutura de um aminoácido

na D, os sais biliares e o colesterol.


A combinação entre os aminoácidos se dá por
Armazenar gorduras ou amido? ligação peptídica, em que o grupo amina de um a-
Estocar substâncias ricas em energia é uma minoácido liga-se ao grupo carboxila de outro ami-
propriedade importante dos seres vivos. Cada grama noácido. Observe:
de gordura libera mais de duas vezes a quantidade de
energia liberada pela mesma massa de amido. Em
H H
termos de armazenagem, os vegetais armazenam a- H H H H N O
mido, enquanto os animais estocam gorduras. N
=

O H N O H C C H + HO H
Na fotossíntese, as plantas produzem molécu- H C C + H C C C N
las de glicose e a produção do amido, a partir delas, H OH H OH H O
exige um equipamento enzimático relativamente H C C C
simples. Como o gasto energético das plantas não é H H OH
tão elevado quanto o dos animais, já que são relati- Ligação peptídica
vamente imóveis, o fato de haver menos trabalho me-
tabólico favoreceu a armazenagem de amido no Um total de somente 20 aminoácidos compõe
processo evolutivo dos vegetais. todas as proteínas de todos os seres vivos. Um dos
Os animais, por sua vez, gastam muita energia principais fatores que caracterizam esses polipeptí-
na locomoção e devem carregar consigo seu estoque deos é o arranjo (ordem, tipo e número) dos aminoá-
de energia. Armazenar gorduras representa diminui- cidos que os constituem. Esse arranjo é determinado
ção da massa a ser transportada, com menor gasto pela ação dos ácidos nucléicos.
energético. Existem dois tipos básicos de aminoácidos, os
A capacidade de estocagem de carboidratos naturais e os essenciais. Os primeiros são sintetiza-
pelos animais é pequena, restringindo-se aos múscu- dos pelo organismo e os últimos, por não serem sinte-
los e ao fígado, na forma de glicogênio. tizados no organismo, devem estar incluídos na dieta.
A classificação de aminoácido essencial e natural é
Editora Exato 2
BIOLOGIA

variável entre os organismos, o que significa dizer  Estrutura terciária e quaternária: as ca-
que se um aminoácido é essencial para o homem, po- deias protéicas podem dobrar-se, formando
de ser natural para um cão, por exemplo. a estrutura terciária de natureza globular. A
As proteínas são classificadas da seguinte for- maioria das proteínas com atividade bioló-
ma: gica possui forma globular. Muitas proteí-
 Simples⇒ moléculas formadas exclusiva- nas são formadas por mais de uma cadeia
mente por aminoácidos. polipeptídica, sendo esse nível de organiza-
 Conjugadas⇒ apresentam um grupamento ção denominado estrutura quaternária. São
prostético, que é uma porção não protéica exemplos de proteínas globulares:
da molécula. Exemplos: nucleoproteínas  Hemoglobina;
(grupo prostético é um ácido nucléico), gli-  Mioglobina;
coproteínas (grupo prostético contém polis-  Hemocianina;
sacarídeos), lipoproteínas (grupo prostético  Enzimas;
contém lipídios), metaloproteínas (grupo  Proteínas da membrana.
prostético é um metal) .
Níveis de Organização das Proteínas
 Estrutura primária: refere-se à seqüência
linear de aminoácidos em uma cadeia poli-
peptídica. Cada tipo de proteína (cadeia po-
lipeptídica) possui uma seqüência particular
de aminoácidos.

ALA Estrutura terciária

GLY Atividade Biológica das Proteínas


 Defesa: anticorpos, ou imunoglobulinas,
LEU
são moléculas de natureza protéica, produ-
VAL zidas por células (glóbulos brancos ou leu-
cócitos) especiais denominadas
LYS plasmócitos.
 Estrutural: proteínas fibrosas, como o co-
LYS lágeno e a queratina. O colágeno é uma
proteína animal, encontrada em abundância
GLY em ossos, tendões, cartilagens. A queratina
também é uma proteína animal, encontrada
HIS
na pele, bicos, unhas e pêlos. Actina e mio-
Estrutura primária sina são proteínas encontradas em fibras
musculares e relacionadas à dinâmica da
contração muscular.
 Estrutura secundária: a estrutura secundá-  Hormonal: alguns hormônios, como o glu-
ria mais comum é a alfa-hélice, que se as- cagon e a insulina, são de natureza peptídi-
semelha a uma escada em espiral. A ca (protéica).
estrutura rígida da espiral é mantida às cus-  Enzimática: as enzimas são proteínas glo-
tas de pontes de hidrogênio. bulares que atuam como catalisadores bio-
lógicos, ou seja, atuam diminuindo a
energia de ativação necessária à ocorrência
de uma reação química. Os catalisadores
não são consumidos durante a reação, sen-
do, por isso, eficientes em doses pequenas.
A ação enzimática baseia-se em uma pro-
priedade denominada especificidade, ou
seja, uma enzima possui um ou mais cen-
Estrutura secundária:
tros ativos aos quais o substrato (substân-
Alfa hélice cia sobre a qual atua a enzima) combina-se
Editora Exato 3
BIOLOGIA

para que seja exercida a ação catalítica. Es- Observe os gráficos a seguir :
sa relação entre a enzima e seu substrato é
chamada de efeito chave-fechadura. Pelo
Velocidade máxima
que foi exposto, é fácil concluir que a ativi-
dade enzimática depende fundamentalmen-
te da forma espacial da molécula da Velocidade da
enzima. Modificações na forma dessa mo- reação
lécula, como as que ocorrem na desnatura- Temperatura
ção, inativam as enzimas. ótima

E1 Temperatura
A B A E2 produtos

A B
Velocidade máxima
E3
Especificidade enzimática: efeito chave-fechadura. (A)= enzima (B) substrato
Velocidade da
reação
A estrutura terciária da cadeia protéica de uma
enzima é mantida por pontes de hidrogênio entre os pH
grupos R dos aminoácidos em voltas adjacentes da ótimo
cadeia e por interações entre os vários grupos R dos
aminoácidos. Na desnaturação protéica, há o rom- pH
pimento dessas ligações, o que resulta em perda da
forma e, conseqüentemente, da atividade biológica da
proteína. A desnaturação pode ocorrer por alterações Velocidade máxima
no meio, tais como aumento da acidez ou aumento da Velocidade da
temperatura. A coagulação da clara do ovo é um bom reação
exemplo de desnaturação protéica. Em geral, os or-
ganismos não vivem em ambientes com temperaturas
muito altas, pois a desnaturação de suas enzimas in-
viabiliza o metabolismo celular. Concentração do substrato
Algumas enzimas necessitam, para exercerem
sua atividade biológica, de co-fatores, que podem ser
um íon ou uma molécula (coenzima). O complexo Inibidores Enzimáticos
formado pela enzima (apoenzima) e seu co-fator é
Existem substâncias capazes de impedir a ação
chamado de holoenzima.
de uma enzima. São chamados inibidores enzimáti-
O nome das enzimas é formado geralmente pe-
cos. Uma enzima “reconhece” seu substrato porque
la adição do sufixo ase à raiz de nome do substrato.
se liga ao seu centro ativo. Se outra molécula, com
Exemplos:
estrutura espacial semelhante à de seu substrato, li-
Amilase⇒ catalisa a hidrólise do amido. gar-se a ela, a enzima poderá ser desativada temporá-
Sacarase⇒ catalisa a hidrólise da sacarose. ria ou definitivamente.
Fatores que Interferem na Atividade Muitos dos inibidores enzimáticos competem
Enzimática com o verdadeiro substrato pela ligação com o centro
 Temperatura: a atividade enzimática é ativo. Há venenos que exercem sua ação tóxica dessa
inativada pelo calor, sendo que temperatu- maneira. Por exemplo: algumas plantas em decompo-
ras de 50 a 60 ºC inativam a maioria das sição geram dicumarol, cuja molécula é semelhante à
enzimas. Essa inativação é irreversível. Ge- da vitamina K.
ralmente as enzimas não são inativadas a- Olhando a molécula inteira, é possível saber de
pós o congelamento, mas sua atividade qual molécula se trata, mas, embora sejam um pouco
reduz-se bastante a baixas temperaturas. diferentes, ambas podem ligar-se a certas enzimas.
 pH: as enzimas são sensíveis às alterações As enzimas são “enganadas” pela semelhança.
no pH: alterações de acidez ou alcalinidade Se um animal ingerir esta substância, ela irá
no meio em que a reação está ocorrendo. competir com a vitamina K pela ligação com as en-
 Concentração do substrato. zimas que participam da produção da protrombina,
proteína indispensável para a coagulação do sangue.

Editora Exato 4
BIOLOGIA

Como conseqüência, poderão ocorrer hemorragias O DNA: Ácido Desoxirribonucléico


graves. O DNA é a molécula responsável por conter a
Algumas drogas antimicrobianas, como as sul- informação genética. Essa molécula é formada por
fas, também são inibidores enzimáticos. Elas “enga- dois filamentos dispostos em forma de hélice no es-
nam” as enzimas bacterianas responsáveis pela paço (modelo de Watson e Crick), conforme mostra a
produção do ácido fólico, componente indispensável figura abaixo.
para a reprodução das bactérias.
2
Fospato

Sulfa
PABA

Ação de um inibidor enzimático


3
base pentose
Ácidos Nucléicos: a vida em código 1 (1) Fosfato
Modelo de DNA proposto por J. Watson e F. Crick: dupla hélice (2) Pentose
As moléculas de ácidos nucléicos situam-se (3) Base
entre as maiores encontradas na célula. Recebem a
denominação DNA (ácido desoxirribonucléico) e Observe que, na molécula de DNA, os nucleo-
RNA (ácido ribonucléico). Essas grandes moléculas tídeos de uma mesma fita ligam-se através dos gru-
são formadas por unidades menores, denominadas pos fosfato e que os nucleotídeos de fitas
nucleotídeos, sendo, por isso, denominadas molécu- complementares ligam-se através de pontes de hidro-
las polinucleotídicas. gênio que se estabelecem entre as bases nitrogenadas.
Estrutura dos ácidos nucléicos (nucle- A ligação entre as bases ocorre entre adenina e timina
otídeos) (duas pontes de hidrogênio), citosina e guanina (três
Cada nucleotídeo é formado por um grupo fos- pontes de hidrogênio). Dessa forma, em uma molécu-
fato, uma pentose (carboidrato) e por uma base nitro- la de DNA, a porcentagem de adenina deve ser igual
genada púrica: adenina(A) ou guanina(G) ou uma à de timina, bem como a porcentagem de citosina de-
base nitrogenada pirimídica: citosina(C), timina(T) e ve ser igual à de guanina.
uracila(U).
Observe a figura abaixo: P P P P P
Fosfato

Fosfato Cadeia
D D D D polinucleotídea

C C
A A
Base
Carboidrato Nitrogenada Pontes de
Bases
(pentose) nitrogenadas Hidrogênio
Nuleotídeo: unidade de ácido nucléico G G
T T

 O fosfato é uma estrutura comum ao DNA D D D D


e ao RNA.
 A pentose dos nucleotídeos de DNA é a de-
soxirribose, enquanto que, no RNA, os nu- P P P P P
cleotídeos apresentam a ribose.
Estutrura da molécula de DNA: duas fitas poliucleotídicas
 DNA e RNA apresentam as mesmas bases
púricas (A e G) e diferem em relação a uma
O RNA: Ácido Ribonucléico
das bases nitrogenadas, de forma que a ti-
mina é uma base exclusiva para o DNA e a É uma molécula bem menor que o DNA e que
uracila é uma base nitrogenada exclusiva está relacionada diretamente com a síntese protéica.
É uma molécula formada por uma cadeia simples de
para o RNA.
nucleotídeos. Observe a figura a seguir:

Editora Exato 5
BIOLOGIA

P= fosfato Duplicação: o DNA, para a maior parte dos


P R= ribose seres vivos, é a molécula responsável por conter a in-
A, C, U, G = bases nitrogenadas formação genética. Portanto, é extremamente impor-
R
C tante para a hereditariedade que o DNA possua a
P capacidade de gerar cópias. Na duplicação, a molécu-
la de DNA tem rompidas as pontes de hidrogênio que
R U mantêm unidas as bases nitrogenadas e novos nucleo-
P tídeos encaixam-se obedecendo à correspondência:
adenina/timina e citosina/guanina. Como cada nova
A
R molécula possui uma fita “velha”, diz-se que o pro-
P
cesso é semiconservativo.
R U
P G C
T A
molécula original
G A T
R
P A T
G C
Modelo da molécula de RNA: única fita polinucleotidica
C G

T A
Os três tipos de RNA existentes, o mensageiro,
o ribossômico e o transportador, são indispensáveis à rompimento das
ocorrência da produção intracelular de proteínas. fontes de hidrogênio

G
C
C
G
 RNAm: molécula em que o número de nu- A
T
cleotídeos é diretamente proporcional ao T
A
tamanho da proteína que codifica. Na ver- T
A
dade, há uma relação entre o número de a- C
G
minoácidos e o número de trincas de G
C
nucleotídeos (ou bases). A seqüência de A
T
códons de RNAm é determinada pela se-
qüência de códons de um segmento de
DNA (gene). G
C
 RNAr: é a maior molécula de RNA e tam- G T
C
A
bém a mais abundante, responde por 80% T A
A
T
do total do RNA celular. Quando associada A T
T A
a moléculas de proteínas, constitui os ribos- A T
Inserção de
somos que, quando presos a filamentos de G C novos nucleotídeos
RNAm, formam os polirribossomos, onde C G G
ocorre a síntese protéica. T A
 RNAt: é a menor molécula de RNA. Tem
como função ligar-se a um aminoácido es-
pecífico e conduzi-lo ao local de síntese
protéica. Apresenta uma seqüência especí-
fica de três bases, o anticódon, que se liga G C G C
ao códon do RNAm. Existe pelo menos um T A T A Formação de
RNAt para cada aminoácido. duas novas
A T A T
moléculas, cada
Atividade dos ácidos nucléicos A T A T uma com uma
O esquema a seguir resume a atividade dos á- G C G C fita da original:
cidos nucléicos: C G C G
duplicação
semiconservativa.
T A T A

Replicação(duplicação) Duplicação semiconservativa do DNA.


DNA DNA
Transcrição Tradução Transcrição: é o fenômeno pelo qual o DNA
RNA Proteína
serve de molde para a produção de uma molécula de
RNA. Esse processo ocorre no núcleo e tem início

Editora Exato 6
BIOLOGIA

quando uma enzima, a RNA polimerase, atua sobre aminoácidos


um segmento de DNA, determinando o rompimento
das pontes de hidrogênio que mantêm unidas as duas
fitas. Após essa abertura, ocorre um pareamento de GLI
ribonucleotídeos, formando-se, assim, uma nova mo- ribossomo (RNAR )
lécula de RNA. É importante lembrar que a corres- HIS
pondência das bases será mantida, exceto no caso da
adenina, que fará par com a uracila, na molécula de C A
C A G
RNA formada. Após a transcrição, a molécula de U
RNA resultante destaca-se da molécula de DNA e di- G G U C A U G G C A U U C A U
rige-se ao citoplasma, onde irá participar da produção RNA mensageiro
de proteínas.
Tradução: síntese protérica

Filamento
de DNA Código Genético: dos 64, 61 codificam amino-
ácidos.
1ª base 2 base 3ª base

U C A G
UUU UCU UAU Tirosina (Tir) UGU Cisteína (Cis) U
Fenilalanina (Fen) UAC UGC C
UUC UCC
Serina (Ser)
U UUA Leucina (Leu)
UCA UAA Códons de UGA Códons de finalização A
UUG UCG UAG finalização UGG triptofano (Trp) G

CUU CCU CAU Histidina (His) CGU U


CUC CCC CAC CGC Arginina (Arg) C
C CUA
Leucina (Leu)
CCA
Prolina (Pro)
CAA
Glutamina (Glu)
CGA A
T U A CUG CCG CAG CGG G
T UA U
A A T AUU
Iisoleucina (lle)
ACU
ACC
AAU Asparagina (Asn) AGU
AGC
Serina (Ser)
C
AUC AAC
G GC RNA Polimerase A AUA ACA
Treonina (Tre)
AAA AGA
Arginina (Arg)
A
C CG AUG Metionina (Met) ACG AAG
Lisina (Lis) AGG G
A A T codão de iniciação
A A T GUU GCU
GCC
GAU Ácido GGU U
GUC