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Secretaria da Educação do Estado do Mato Grosso do Sul

SED-MS
Professor - Arte
EDITAL n. 01/2018 - SAD/SED/MAG
OT027-2018
DADOS DA OBRA

Título da obra: Secretaria da Educação do Estado do Mato Grosso do Sul - SED-MS

Cargo: Professor - Arte

(Baseado no EDITAL n. 01/2018 - SAD/SED/MAG)

• Língua Portuguesa
• Conhecimentos Pedagógicos e Metodológicos
• Conhecimentos Específicos

Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza

Diagramação/ Editoração Eletrônica


Elaine Cristina
Ana Luiza Cesário
Thais Regis

Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira
Leandro Filho

Capa
Joel Ferreira dos Santos
APRESENTAÇÃO

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SUMÁRIO

Língua Portuguesa

Leitura, compreensão e interpretação de textos. ....................................................................................................................................... 83


Estruturação do texto e dos parágrafos. ........................................................................................................................................................ 90
Articulação do texto: pronomes e expressões referenciais, nexos, operadores sequenciais. ................................................... 07
Significação contextual de palavras e expressões. ..................................................................................................................................... 76
Equivalência e transformação de estruturas. ................................................................................................................................................ 88
Sintaxe: processos de coordenação e subordinação. ............................................................................................................................... 63
Emprego de tempos e modos verbais. ........................................................................................................................................................... 07
Pontuação. .................................................................................................................................................................................................................. 50
Estrutura e formação de palavras. .................................................................................................................................................................... 04
Funções das classes de palavras. ....................................................................................................................................................................... 07
Flexão nominal e verbal. ....................................................................................................................................................................................... 07
Pronomes: emprego, formas de tratamento e colocação. ...................................................................................................................... 07
Concordância nominal e verbal. ........................................................................................................................................................................ 52
Regência nominal e verbal. .................................................................................................................................................................................. 58
Ortografia oficial. ..................................................................................................................................................................................................... 44
Acentuação gráfica.................................................................................................................................................................................................. 47

Conhecimentos Pedagógicos e Metodológicos

Fundamentos da Educação;.................................................................................................................................................................................. 01
Concepções e tendências pedagógicas contemporâneas;...................................................................................................................... 10
Relações socioeconômicas e político-culturais da educação;................................................................................................................. 11
Processo ensino-aprendizagem: papel do educador, do educando, da sociedade....................................................................... 12
Avaliação. Educação inclusiva.............................................................................................................................................................................. 13
Educação e Direitos Humanos,............................................................................................................................................................................ 17
Democracia e Cidadania;....................................................................................................................................................................................... 21
A função social da escola; Inclusão educacional e respeito à diversidade;....................................................................................... 23
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica;....................................................................................................................... 24
Didática e organização do ensino;..................................................................................................................................................................... 61
Saberes Escolares, processos metodológicos e avaliação da aprendizagem;.................................................................................. 66
Novas tecnologias da informação e comunicação e sua contribuição com a prática pedagógica;........................................ 66
Currículo: planejamento, seleção e organização dos conteúdos.......................................................................................................... 76
Planejamento: a realidade escolar; o planejamento e o projeto pedagógico da escola;............................................................. 77
Lei nº 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional;........................................................................................................ 78
Lei nº 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente;......................................................................................................................... 95
Lei nº 10.639/03 – História e Cultura Afro Brasileira e Africana;..........................................................................................................146
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos - 2007..................................................................................................................147
Compreensão das tendências metodológicas para a ciência, levando-se em consideração o atual momento his-
tórico. ..................................................................................................................................................................................................183
Fundamentos técnicos e científicos da abordagem científica para a solução de problemas na área da educação. ......... 189
Análise das relações entre pesquisa em educação e as práticas educativas e enfoques da pesquisa em educação. ...........194
Características e delimitações do conhecimento científico. O conhecimento científico e a questão da verdade. ........197
Fatos, descrição, leis, teorias, classificação da ciência e modelos de estudo. ...............................................................................200
Processos indutivos e dedutivos na produção de conhecimento. .....................................................................................................202
Pesquisa básica e aplicada. ................................................................................................................................................................................204
Aspectos fundamentais da investigação científica: referencial teórico como ponto de partida; delimitação do pro-
blema e objetivos; papel das hipóteses; variáveis, indicadores de variáveis e qualidade dos indicadores; população
e amostras. ................................................................................................................................................................................................ 204
Base Nacional Comum Curricular. ..................................................................................................................................................................209
Lei no 13.415, de 16 de fevereiro de 2017...................................................................................................................................................222
SUMÁRIO

Conhecimentos Específicos

A produção artística em diversas épocas, diferentes povos, países e culturas. .............................................................................. 01


A identidade e a diversidade cultural brasileira. ......................................................................................................................................... 13
A Arte como Linguagem: as Linguagens das artes visuais, audiovisuais, música, teatro e dança. ......................................... 16
Diálogo da Arte brasileira com a Arte internacional. ................................................................................................................................ 35
Museus, teatros e espaços expositivos. .......................................................................................................................................................... 38
Pluralidade cultural: códigos estéticos e artísticos de diferentes culturas. ...................................................................................... 39
Interculturalidade: a questão da diversidade cultural no ensino de Arte. ........................................................................................ 48
Arte e Educação: o papel da arte na educação; o professor como mediador entre a arte e o educando. ......................... 53
O ensino e a aprendizagem em arte: o fazer artístico, a apreciação estética e o conhecimento histórico da produção
artística em sala de aula. ...................................................................................................................................................................................... 58
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). ................................................................................................................................................... 61
Base Nacional Comum Curricular. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017................................................................................. 68
LÍNGUA PORTUGUESA

Letra e Fonema.......................................................................................................................................................................................................... 01
Estrutura das Palavras............................................................................................................................................................................................. 04
Classes de Palavras e suas Flexões..................................................................................................................................................................... 07
Ortografia.................................................................................................................................................................................................................... 44
Acentuação................................................................................................................................................................................................................. 47
Pontuação.................................................................................................................................................................................................................... 50
Concordância Verbal e Nominal......................................................................................................................................................................... 52
Regência Verbal e Nominal................................................................................................................................................................................... 58
Frase, oração e período.......................................................................................................................................................................................... 63
Sintaxe da Oração e do Período......................................................................................................................................................................... 63
Termos da Oração.................................................................................................................................................................................................... 63
Coordenação e Subordinação............................................................................................................................................................................. 63
Crase.............................................................................................................................................................................................................................. 71
Colocação Pronominal............................................................................................................................................................................................ 74
Significado das Palavras......................................................................................................................................................................................... 76
Interpretação Textual............................................................................................................................................................................................... 83
Tipologia Textual....................................................................................................................................................................................................... 85
Gêneros Textuais....................................................................................................................................................................................................... 86
Coesão e Coerência................................................................................................................................................................................................. 86
Reescrita de textos/Equivalência de Estruturas............................................................................................................................................. 88
Estrutura Textual........................................................................................................................................................................................................ 90
Redação Oficial.......................................................................................................................................................................................................... 91
Funções do “que” e do “se”................................................................................................................................................................................100
Variação Linguística...............................................................................................................................................................................................101
O processo de comunicação e as funções da linguagem......................................................................................................................103
LÍNGUA PORTUGUESA

PROF. ZENAIDE AUXILIADORA PACHEGAS BRANCO

Graduada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Adamantina. Especialista pela Universidade Estadual Paulista
– Unesp

LETRA E FONEMA

A palavra fonologia é formada pelos elementos gregos fono (“som, voz”) e log, logia (“estudo”, “conhecimento”). Significa
literalmente “estudo dos sons” ou “estudo dos sons da voz”. Fonologia é a parte da gramática que estuda os sons da lín-
gua quanto à sua função no sistema de comunicação linguística, quanto à sua organização e classificação. Cuida, também,
de aspectos relacionados à divisão silábica, à ortografia, à acentuação, bem como da forma correta de pronunciar certas
palavras. Lembrando que, cada indivíduo tem uma maneira própria de realizar estes sons no ato da fala. Particularidades na
pronúncia de cada falante são estudadas pela Fonética.
Na língua falada, as palavras se constituem de fonemas; na língua escrita, as palavras são reproduzidas por meio de
símbolos gráficos, chamados de letras ou grafemas. Dá-se o nome de fonema ao menor elemento sonoro capaz de esta-
belecer uma distinção de significado entre as palavras. Observe, nos exemplos a seguir, os fonemas que marcam a distinção
entre os pares de palavras:
amor – ator / morro – corro / vento - cento

Cada segmento sonoro se refere a um dado da língua portuguesa que está em sua memória: a imagem acústica que
você - como falante de português - guarda de cada um deles. É essa imagem acústica que constitui o fonema. Este forma
os significantes dos signos linguísticos. Geralmente, aparece representado entre barras: /m/, /b/, /a/, /v/, etc.

Fonema e Letra
- O fonema não deve ser confundido com a letra. Esta é a representação gráfica do fonema. Na palavra sapo, por
exemplo, a letra “s” representa o fonema /s/ (lê-se sê); já na palavra brasa, a letra “s” representa o fonema /z/ (lê-se zê).
- Às vezes, o mesmo fonema pode ser representado por mais de uma letra do alfabeto. É o caso do fonema /z/, que
pode ser representado pelas letras z, s, x: zebra, casamento, exílio.

- Em alguns casos, a mesma letra pode representar mais de um fonema. A letra “x”, por exemplo, pode representar:
- o fonema /sê/: texto
- o fonema /zê/: exibir
- o fonema /che/: enxame
- o grupo de sons /ks/: táxi

- O número de letras nem sempre coincide com o número de fonemas.


Tóxico = fonemas: /t/ó/k/s/i/c/o/ letras: t ó x i c o
1 2 3 4 5 6 7 12 3 45 6

Galho = fonemas: /g/a/lh/o/ letras: ga lho


1 2 3 4 12345

- As letras “m” e “n”, em determinadas palavras, não representam fonemas. Observe os exemplos: compra, conta. Nestas
palavras, “m” e “n” indicam a nasalização das vogais que as antecedem: /õ/. Veja ainda: nave: o /n/ é um fonema; dança: o
“n” não é um fonema; o fonema é /ã/, representado na escrita pelas letras “a” e “n”.

- A letra h, ao iniciar uma palavra, não representa fonema.


Hoje = fonemas: ho / j / e / letras: h o j e
1 2 3 1234

Classificação dos Fonemas


Os fonemas da língua portuguesa são classificados em:

1) Vogais
As vogais são os fonemas sonoros produzidos por uma corrente de ar que passa livremente pela boca. Em nossa língua,
desempenham o papel de núcleo das sílabas. Isso significa que em toda sílaba há, necessariamente, uma única vogal.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Na produção de vogais, a boca fica aberta ou entrea- 1) Ditongo


berta. As vogais podem ser:
É o encontro de uma vogal e uma semivogal (ou vice-
- Orais: quando o ar sai apenas pela boca: /a/, /e/, /i/, versa) numa mesma sílaba. Pode ser:
/o/, /u/. - Crescente: quando a semivogal vem antes da vogal:
sé-rie (i = semivogal, e = vogal)
- Nasais: quando o ar sai pela boca e pelas fossas na- - Decrescente: quando a vogal vem antes da semivo-
sais. gal: pai (a = vogal, i = semivogal)
/ã/: fã, canto, tampa - Oral: quando o ar sai apenas pela boca: pai
/ ẽ /: dente, tempero - Nasal: quando o ar sai pela boca e pelas fossas na-
/ ĩ/: lindo, mim sais: mãe
/õ/: bonde, tombo
/ ũ /: nunca, algum 2) Tritongo

- Átonas: pronunciadas com menor intensidade: até, É a sequência formada por uma semivogal, uma vo-
bola. gal e uma semivogal, sempre nesta ordem, numa só sílaba.
Pode ser oral ou nasal: Paraguai - Tritongo oral, quão - Tri-
- Tônicas: pronunciadas com maior intensidade: até, tongo nasal.
bola.
3) Hiato
Quanto ao timbre, as vogais podem ser:
- Abertas: pé, lata, pó É a sequência de duas vogais numa mesma palavra que
- Fechadas: mês, luta, amor pertencem a sílabas diferentes, uma vez que nunca há mais
- Reduzidas - Aparecem quase sempre no final das pa- de uma vogal numa mesma sílaba: saída (sa-í-da), poesia
lavras: dedo (“dedu”), ave (“avi”), gente (“genti”). (po-e-si-a).

2) Semivogais Encontros Consonantais

Os fonemas /i/ e /u/, algumas vezes, não são vogais. O agrupamento de duas ou mais consoantes, sem vo-
Aparecem apoiados em uma vogal, formando com ela uma gal intermediária, recebe o nome de encontro consonantal.
só emissão de voz (uma sílaba). Neste caso, estes fonemas Existem basicamente dois tipos:
são chamados de semivogais. A diferença fundamental en- 1-) os que resultam do contato consoante + “l” ou “r”
tre vogais e semivogais está no fato de que estas não de- e ocorrem numa mesma sílaba, como em: pe-dra, pla-no,
sempenham o papel de núcleo silábico. a-tle-ta, cri-se.
Observe a palavra papai. Ela é formada de duas sílabas: 2-) os que resultam do contato de duas consoantes
pa - pai. Na última sílaba, o fonema vocálico que se destaca pertencentes a sílabas diferentes: por-ta, rit-mo, lis-ta.
é o “a”. Ele é a vogal. O outro fonema vocálico “i” não é tão Há ainda grupos consonantais que surgem no início
forte quanto ele. É a semivogal. Outros exemplos: saudade, dos vocábulos; são, por isso, inseparáveis: pneu, gno-mo,
história, série. psi-có-lo-go.

3) Consoantes Dígrafos

Para a produção das consoantes, a corrente de ar expi- De maneira geral, cada fonema é representado, na es-
rada pelos pulmões encontra obstáculos ao passar pela ca- crita, por apenas uma letra: lixo - Possui quatro fonemas e
vidade bucal, fazendo com que as consoantes sejam verda- quatro letras.
deiros “ruídos”, incapazes de atuar como núcleos silábicos.
Seu nome provém justamente desse fato, pois, em portu- Há, no entanto, fonemas que são representados, na es-
guês, sempre consoam (“soam com”) as vogais. Exemplos: crita, por duas letras: bicho - Possui quatro fonemas e cinco
/b/, /t/, /d/, /v/, /l/, /m/, etc. letras.

Encontros Vocálicos Na palavra acima, para representar o fonema /xe/ fo-


ram utilizadas duas letras: o “c” e o “h”.
Os encontros vocálicos são agrupamentos de vogais e Assim, o dígrafo ocorre quando duas letras são usadas
semivogais, sem consoantes intermediárias. É importante para representar um único fonema (di = dois + grafo = le-
reconhecê-los para dividir corretamente os vocábulos em tra). Em nossa língua, há um número razoável de dígrafos
sílabas. Existem três tipos de encontros: o ditongo, o triton- que convém conhecer. Podemos agrupá-los em dois tipos:
go e o hiato. consonantais e vocálicos.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Dígrafos Consonantais

Letras Fonemas Exemplos


lh /lhe/ telhado
nh /nhe/ marinheiro
ch /xe/ chave
rr /re/ (no interior da palavra) carro
ss /se/ (no interior da palavra) passo
qu /k/ (qu seguido de e e i) queijo, quiabo
gu /g/ ( gu seguido de e e i) guerra, guia
sc /se/ crescer
sç /se/ desço
xc /se/ exceção

Dígrafos Vocálicos

Registram-se na representação das vogais nasais:

Fonemas Letras Exemplos


/ã/ am tampa
an canto
/ẽ/ em templo
en lenda
/ĩ/ im limpo
in lindo
õ/ om tombo
on tonto
/ũ/ um chumbo
un corcunda

* Observação: “gu” e “qu” são dígrafos somente quando seguidos de “e” ou “i”, representam os fonemas /g/ e /k/:
guitarra, aquilo. Nestes casos, a letra “u” não corresponde a nenhum fonema. Em algumas palavras, no entanto, o “u” repre-
senta um fonema - semivogal ou vogal - (aguentar, linguiça, aquífero...). Aqui, “gu” e “qu” não são dígrafos. Também não há
dígrafos quando são seguidos de “a” ou “o” (quase, averiguo) .
** Dica: Conseguimos ouvir o som da letra “u” também, por isso não há dígrafo! Veja outros exemplos: Água = /agua/ nós
pronunciamos a letra “u”, ou então teríamos /aga/. Temos, em “água”, 4 letras e 4 fonemas. Já em guitarra = /gitara/ - não
pronunciamos o “u”, então temos dígrafo [aliás, dois dígrafos: “gu” e “rr”]. Portanto: 8 letras e 6 fonemas).

Dífonos

Assim como existem duas letras que representam um só fonema (os dígrafos), existem letras que representam dois
fonemas. Sim! É o caso de “fixo”, por exemplo, em que o “x” representa o fonema /ks/; táxi e crucifixo também são exemplos
de dífonos. Quando uma letra representa dois fonemas temos um caso de dífono.

Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/fono/fono1.php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Questões
ESTRUTURA DAS PALAVRAS
1-) (PREFEITURA DE PINHAIS/PR – INTÉRPRETE DE LI-
BRAS – FAFIPA/2014) Em todas as palavras a seguir há um
dígrafo, EXCETO em
(A) prazo. As palavras podem ser analisadas sob o ponto de vista
(B) cantor. de sua estrutura significativa. Para isso, nós as dividimos
(C) trabalho. em seus menores elementos (partes) possuidores de sen-
(D) professor. tido. A palavra inexplicável, por exemplo, é constituída por
três elementos significativos:
1-)
(A) prazo – “pr” é encontro consonantal In = elemento indicador de negação
(B) cantor – “an” é dígrafo Explic – elemento que contém o significado básico da
(C) trabalho – “tr” encontro consonantal / “lh” é dígrafo palavra
(D) professor – “pr” encontro consonantal q “ss” é dí- Ável = elemento indicador de possibilidade
grafo
RESPOSTA: “A”. Estes elementos formadores da palavra recebem o
nome de morfemas. Através da união das informações
2-) (PREFEITURA DE PINHAIS/PR – INTÉRPRETE DE LI- contidas nos três morfemas de inexplicável, pode-se en-
BRAS – FAFIPA/2014) Assinale a alternativa em que os itens tender o significado pleno dessa palavra: “aquilo que não
destacados possuem o mesmo fonema consonantal em to- tem possibilidade de ser explicado, que não é possível tornar
das as palavras da sequência. claro”.
(A) Externo – precisa – som – usuário.
MORFEMAS = são as menores unidades significativas
(B) Gente – segurança – adjunto – Japão.
que, reunidas, formam as palavras, dando-lhes sentido.
(C) Chefe – caixas – deixo – exatamente.
(D) Cozinha – pesada – lesão – exemplo.
Classificação dos morfemas:
2-) Coloquei entre barras ( / / ) o fonema representado
Radical, lexema ou semantema – é o elemento por-
pela letra destacada:
tador de significado. É através do radical que podemos for-
(A) Externo /s/ – precisa /s/ – som /s/ – usuário /z/
mar outras palavras comuns a um grupo de palavras da
(B) Gente /j/ – segurança /g/ – adjunto /j/ – Japão /j/ mesma família. Exemplo: pequeno, pequenininho, pequenez.
(C) Chefe /x/ – caixas /x/ – deixo /x/ – exatamente O conjunto de palavras que se agrupam em torno de um
/z/ mesmo radical denomina-se família de palavras.
(D) cozinha /z/ – pesada /z/ – lesão /z/– exemplo /z/
RESPOSTA: “D”. Afixos – elementos que se juntam ao radical antes (os
prefixos) ou depois (sufixos) dele. Exemplo: beleza (sufi-
3-) (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR/PI – CURSO DE xo), prever (prefixo), infiel.
FORMAÇÃO DE SOLDADOS – UESPI/2014) “Seja Sangue
Bom!” Na sílaba final da palavra “sangue”, encontramos Desinências - Quando se conjuga o verbo amar, ob-
duas letras representando um único fonema. Esse fenôme- têm-se formas como amava, amavas, amava, amávamos,
no também está presente em: amáveis, amavam. Estas modificações ocorrem à medida
A) cartola. que o verbo vai sendo flexionado em número (singular e
B) problema. plural) e pessoa (primeira, segunda ou terceira). Também
C) guaraná. ocorrem se modificarmos o tempo e o modo do verbo
D) água. (amava, amara, amasse, por exemplo). Assim, podemos
E) nascimento. concluir que existem morfemas que indicam as flexões das
palavras. Estes morfemas sempre surgem no fim das pala-
3-) Duas letras representando um único fonema = dí- vras variáveis e recebem o nome de desinências. Há desi-
grafo nências nominais e desinências verbais.
A) cartola = não há dígrafo
B) problema = não há dígrafo • Desinências nominais: indicam o gênero e o número
C) guaraná = não há dígrafo (você ouve o som do “u”) dos nomes. Para a indicação de gênero, o português cos-
D) água = não há dígrafo (você ouve o som do “u”) tuma opor as desinências -o/-a: garoto/garota; menino/
E) nascimento = dígrafo: sc menina. Para a indicação de número, costuma-se utilizar
RESPOSTA: “E”. o morfema –s, que indica o plural em oposição à ausência
de morfema, que indica o singular: garoto/garotos; garota/
garotas; menino/meninos; menina/meninas. No caso dos
nomes terminados em –r e –z, a desinência de plural assu-
me a forma -es: mar/mares; revólver/revólveres; cruz/cruzes.

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LÍNGUA PORTUGUESA

• Desinências verbais: em nossa língua, as desinências Palavras primitivas: aquelas que, na língua portugue-
verbais pertencem a dois tipos distintos. Há desinências sa, não provêm de outra palavra: pedra, flor.
que indicam o modo e o tempo (desinências modo-tem-
porais) e outras que indicam o número e a pessoa dos ver- Palavras derivadas: aquelas que, na língua portugue-
bos (desinência número-pessoais): sa, provêm de outra palavra: pedreiro, floricultura.

cant-á-va-mos: Palavras simples: aquelas que possuem um só radical:


cant: radical / -á-: vogal temática / -va-: desinência mo- azeite, cavalo.
do-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do indicati-
vo) / -mos: desinência número-pessoal (caracteriza a primei- Palavras compostas: aquelas que possuem mais de
ra pessoa do plural) um radical: couve-flor, planalto.
* As palavras compostas podem ou não ter seus ele-
cant-á-sse-is: mentos ligados por hífen.
cant: radical / -á-: vogal temática / -sse-:desinência mo-
do-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do subjunti- Processos de Formação de Palavras
vo) / -is: desinência número-pessoal (caracteriza a segunda
pessoa do plural) Na Língua Portuguesa há muitos processos de forma-
ção de palavras. Entre eles, os mais comuns são a derivação,
Vogal temática a composição, a onomatopeia, a abreviação e o hibridismo.
Entre o radical cant- e as desinências verbais, surge Derivação por Acréscimo de Afixos
sempre o morfema –a. Este morfema, que liga o radical
às desinências, é chamado de vogal temática. Sua função É o processo pelo qual se obtêm palavras novas (deri-
é ligar-se ao radical, constituindo o chamado tema. É ao vadas) pela anexação de afixos à palavra primitiva. A deri-
tema (radical + vogal temática) que se acrescentam as de- vação pode ser: prefixal, sufixal e parassintética.
sinências. Tanto os verbos como os nomes apresentam vo-
gais temáticas. No caso dos verbos, a vogal temática indica
Prefixal (ou prefixação): a palavra nova é obtida por
as conjugações: -a (da 1.ª conjugação = cantar), -e (da 2.ª
acréscimo de prefixo.
conjugação = escrever) e –i (3.ªconjugação = partir).
In feliz des leal
• Vogais temáticas nominais: São -a, -e, e -o, quando
Prefixo radical prefixo radical
átonas finais, como em mesa, artista, perda, escola, base,
combate. Nestes casos, não poderíamos pensar que essas
terminações são desinências indicadoras de gênero, pois Sufixal (ou sufixação): a palavra nova é obtida por
mesa e escola, por exemplo, não sofrem esse tipo de flexão. acréscimo de sufixo.
A estas vogais temáticas se liga a desinência indicadora
de plural: mesa-s, escola-s, perda-s. Os nomes terminados Feliz mente leal dade
em vogais tônicas (sofá, café, cipó, caqui, por exemplo) não Radical sufixo radical sufixo
apresentam vogal temática.
Parassintética: a palavra nova é obtida pelo acréscimo
• Vogais temáticas verbais: São -a, -e e -i, que ca- simultâneo de prefixo e sufixo. Por parassíntese formam-
racterizam três grupos de verbos a que se dá o nome de se principalmente verbos.
conjugações. Assim, os verbos cuja vogal temática é -a per-
tencem à primeira conjugação; aqueles cuja vogal temática En trist ecer
é -e pertencem à segunda conjugação e os que têm vogal Prefixo radical sufixo
temática -i pertencem à terceira conjugação.
Em tard ecer
Interfixos prefixo radical sufixo

São os elementos (vogais ou consoantes) que se in- Outros Tipos de Derivação


tercalam entre o radical e o sufixo, para facilitar ou mes-
mo possibilitar a leitura de uma determinada palavra. Por Há dois casos em que a palavra derivada é formada
exemplo: sem que haja a presença de afixos. São eles: a derivação
Vogais: frutífero, gasômetro, carnívoro. regressiva e a derivação imprópria.
Consoantes: cafezal, sonolento, friorento.
Derivação regressiva: a palavra nova é obtida por re-
Formação das Palavras dução da palavra primitiva. Ocorre, sobretudo, na formação
de substantivos derivados de verbos.
Há em Português palavras primitivas, palavras deriva- janta (substantivo) - deriva de jantar (verbo) / pesca
das, palavras simples, palavras compostas. (substantivo) – deriva de pescar (verbo)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Derivação imprópria: a palavra nova (derivada) é ob- Fontes de pesquisa:


tida pela mudança de categoria gramatical da palavra pri-
mitiva. Não ocorre, pois, alteração na forma, mas somente http://www.brasilescola.com/gramatica/estrutura-e-
na classe gramatical. formacao-de-palavras-i.htm
Não entendi o porquê da briga. (o substantivo “porquê” SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
deriva da conjunção porque) coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Seu olhar me fascina! (olhar aqui é substantivo, deriva Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
do verbo olhar). ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
** Dica: A derivação regressiva “mexe” na estrutura da Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
palavra e geralmente transforma verbos em substantivos: ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
caça = deriva de caçar, saque = deriva de sacar.
A derivação imprópria não “mexe” com a palavra,
apenas faz com que ela pertença a uma classe gramatical Questões sobre Estrutura das Palavras
“imprópria” da qual ela realmente, ou melhor, costumeira-
mente faz parte. A alteração acontece devido à presença de 1-) (RIOPREVIDÊNCIA – ESPECIALISTA EM PREVIDÊN-
outros termos, como artigos, por exemplo: CIA SOCIAL – CEPERJ/2014) A palavra “infraestrutura” é for-
O verde das matas! (o adjetivo “verde” passou a fun- mada pelo seguinte processo:
cionar como substantivo devido à presença do artigo “o”) A) sufixação
Composição B) prefixação
C) parassíntese
Haverá composição quando se juntarem dois ou mais D) justaposição
radicais para formar uma nova palavra. Há dois tipos de E) aglutinação
composição: justaposição e aglutinação.
1-) Infra = prefixo + estrutura – temos a junção de um
Justaposição: ocorre quando os elementos que for- prefixo com um radical, portanto: derivação prefixal (ou
mam o composto são postos lado a lado, ou seja, justapos-
prefixação).
tos: para-raios, corre-corre, guarda-roupa, segunda-feira,
girassol.
RESPOSTA: “B”.
Composição por aglutinação: ocorre quando os ele-
mentos que formam o composto aglutinam-se e pelo me-
2-) (SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL/MG –
nos um deles perde sua integridade sonora: aguardente
AGENTE DE SEGURANÇA SOCIOEDUCATIVO – IBFC/2014)
(água + ardente), planalto (plano + alto), pernalta (perna +
alta), vinagre (vinho + acre). O vocábulo “entristecido”, presente na terceira estrofe, é
um exemplo de:
Outros processos de formação de palavras: a) palavra composta
b) palavra primitiva
Onomatopeia – é a palavra que procura reproduzir c) palavra derivada
certos sons ou ruídos: reco-reco, tique-taque, fom-fom. d) neologismo

Abreviação – é a redução de palavras até o limite per- 2-) en + triste + ido (com consoante de ligação “c”) =
mitido pela compreensão: moto (motocicleta), pneu (pneu- ao radical “triste” foram acrescidos o prefixo “en” e o sufixo
mático), metrô (metropolitano), foto (fotografia). “ido”, ou seja, “entristecido” é palavra derivada do processo
de formação de palavras chamado de: prefixação e sufixa-
* Observação: ção. Para o exercício, basta “derivada”!
- Abreviatura: é a redução na grafia de certas palavras,
limitando-as quase sempre à letra inicial ou às letras ini- RESPOSTA: “C”.
ciais: p. ou pág. (para página), sr. (para senhor).
- Sigla: é um caso especial de abreviatura, na qual se
reduzem locuções substantivas próprias às suas letras ini-
ciais (são as siglas puras) ou sílabas iniciais (siglas impuras),
que se grafam de duas formas: IBGE, MEC (siglas puras);
DETRAN ou Detran, PETROBRAS ou Petrobras (siglas impu-
ras).
- Hibridismo: é a palavra formada com elementos
oriundos de línguas diferentes.
automóvel (auto: grego; móvel: latim)
sociologia (socio: latim; logia: grego)
sambódromo (samba: dialeto africano; dromo: grego)

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LÍNGUA PORTUGUESA

de lago lacustre
CLASSES DE PALAVRAS E SUAS FLEXÕES
de leão leonino
de lebre leporino
de lua lunar ou selênico
Adjetivo é a palavra que expressa uma qualidade ou
característica do ser e se relaciona com o substantivo, con- de madeira lígneo
cordando com este em gênero e número. de mestre magistral
de ouro áureo
As praias brasileiras estão poluídas.
de paixão passional
Praias = substantivo; brasileiras/poluídas = adjetivos de pâncreas pancreático
(plural e feminino, pois concordam com “praias”).
de porco suíno ou porcino
Locução adjetiva dos quadris ciático
de rio fluvial
Locução = reunião de palavras. Sempre que são ne-
cessárias duas ou mais palavras para falar sobre a mesma de sonho onírico
coisa, tem-se uma locução. Às vezes, uma preposição + de velho senil
substantivo tem o mesmo valor de um adjetivo: é a Locu- de vento eólico
ção Adjetiva (expressão que equivale a um adjetivo). Por
exemplo: aves da noite (aves noturnas), paixão sem freio de vidro vítreo ou hialino
(paixão desenfreada). de virilha inguinal
de visão óptico ou ótico
Observe outros exemplos:
* Observação: nem toda locução adjetiva possui um
de águia aquilino adjetivo correspondente, com o mesmo significado. Por
de aluno discente exemplo: Vi as alunas da 5ª série. / O muro de tijolos caiu.
de anjo angelical Morfossintaxe do Adjetivo (Função Sintática):
de ano anual
de aranha aracnídeo O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função
dentro de uma oração) relativas aos substantivos, atuando
de boi bovino como adjunto adnominal ou como predicativo (do sujeito
de cabelo capilar ou do objeto).
de cabra caprino
Adjetivo Pátrio (ou gentílico)
de campo campestre ou rural
de chuva pluvial Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser.
Observe alguns deles:
de criança pueril
de dedo digital Estados e cidades brasileiras:
de estômago estomacal ou gástrico
de falcão falconídeo Alagoas alagoano
de farinha farináceo Amapá amapaense
de fera ferino Aracaju aracajuano ou aracajuense
de ferro férreo Amazonas amazonense ou baré
de fogo ígneo Belo Horizonte belo-horizontino
de garganta gutural Brasília brasiliense
de gelo glacial Cabo Frio cabo-friense
de guerra bélico Campinas campineiro ou campinense
de homem viril ou humano
de ilha insular
de inverno hibernal ou invernal

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LÍNGUA PORTUGUESA

Adjetivo Pátrio Composto

Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita.
Observe alguns exemplos:

África afro- / Cultura afro-americana


Alemanha germano- ou teuto-/Competições teuto-inglesas
América américo- / Companhia américo-africana
Bélgica belgo- / Acampamentos belgo-franceses
China sino- / Acordos sino-japoneses
Espanha hispano- / Mercado hispano-português
Europa euro- / Negociações euro-americanas
França franco- ou galo- / Reuniões franco-italianas
Grécia greco- / Filmes greco-romanos
Inglaterra anglo- / Letras anglo-portuguesas
Itália ítalo- / Sociedade ítalo-portuguesa
Japão nipo- / Associações nipo-brasileiras
Portugal luso- / Acordos luso-brasileiros

Flexão dos adjetivos

O adjetivo varia em gênero, número e grau.

Gênero dos Adjetivos

Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem (masculino e feminino). De forma semelhante aos subs-
tantivos, classificam-se em:

Biformes - têm duas formas, sendo uma para o masculino e outra para o feminino: ativo e ativa, mau e má.
Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no feminino somente o último elemento: o moço norte-americano, a
moça norte-americana.

* Exceção: surdo-mudo e surda-muda.

Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino como para o feminino: homem feliz e mulher feliz.
Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no feminino: conflito político-social e desavença político-social.

Número dos Adjetivos

Plural dos adjetivos simples

Os adjetivos simples se flexionam no plural de acordo com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos substan-
tivos simples: mau e maus, feliz e felizes, ruim e ruins, boa e boas.
Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça função de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a palavra que
estiver qualificando um elemento for, originalmente, um substantivo, ela manterá sua forma primitiva. Exemplo: a palavra
cinza é, originalmente, um substantivo; porém, se estiver qualificando um elemento, funcionará como adjetivo. Ficará, en-
tão, invariável. Logo: camisas cinza, ternos cinza.

Veja outros exemplos:


Motos vinho (mas: motos verdes)
Paredes musgo (mas: paredes brancas).
Comícios monstro (mas: comícios grandiosos).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Adjetivo Composto Observe que:


a) As formas menor e pior são comparativos de supe-
É aquele formado por dois ou mais elementos. Nor- rioridade, pois equivalem a mais pequeno e mais mau, res-
malmente, esses elementos são ligados por hífen. Apenas pectivamente.
o último elemento concorda com o substantivo a que se b) Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas
refere; os demais ficam na forma masculina, singular. Caso (melhor, pior, maior e menor), porém, em comparações fei-
um dos elementos que formam o adjetivo composto seja tas entre duas qualidades de um mesmo elemento, deve-se
um substantivo adjetivado, todo o adjetivo composto ficará usar as formas analíticas mais bom, mais mau,mais grande
invariável. Por exemplo: a palavra “rosa” é, originalmente, e mais pequeno. Por exemplo:
um substantivo, porém, se estiver qualificando um elemen- Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois ele-
to, funcionará como adjetivo. Caso se ligue a outra pala- mentos.
vra por hífen, formará um adjetivo composto; como é um Pedro é mais grande que pequeno - comparação de
substantivo adjetivado, o adjetivo composto inteiro ficará duas qualidades de um mesmo elemento.
invariável. Veja:
Camisas rosa-claro. Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de Infe-
Ternos rosa-claro.
rioridade
Olhos verde-claros.
Sou menos passivo (do) que tolerante.
Calças azul-escuras e camisas verde-mar.
Telhados marrom-café e paredes verde-claras.
Superlativo
* Observação:
- Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer O superlativo expressa qualidades num grau muito ele-
adjetivo composto iniciado por “cor-de-...” são sempre in- vado ou em grau máximo. Pode ser absoluto ou relativo e
variáveis: roupas azul-marinho, tecidos azul-celeste, vestidos apresenta as seguintes modalidades:
cor-de-rosa. Superlativo Absoluto: ocorre quando a qualidade de
- O adjetivo composto surdo-mudo tem os dois ele- um ser é intensificada, sem relação com outros seres. Apre-
mentos flexionados: crianças surdas-mudas. senta-se nas formas:
1-) Analítica: a intensificação é feita com o auxílio
Grau do Adjetivo de palavras que dão ideia de intensidade (advérbios). Por
exemplo: O concurseiro é muito esforçado.
Os adjetivos se flexionam em grau para indicar a inten- 2-) Sintética: nesta, há o acréscimo de sufixos. Por
sidade da qualidade do ser. São dois os graus do adjetivo: exemplo: O concurseiro é esforçadíssimo.
o comparativo e o superlativo.
Observe alguns superlativos sintéticos:
Comparativo
benéfico - beneficentíssimo
Nesse grau, comparam-se a mesma característica atri-
buída a dois ou mais seres ou duas ou mais características bom - boníssimo ou ótimo
atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser de igual- comum - comuníssimo
dade, de superioridade ou de inferioridade.
cruel - crudelíssimo
Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade difícil - dificílimo
No comparativo de igualdade, o segundo termo da doce - dulcíssimo
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto ou
quão. fácil - facílimo
fiel - fidelíssimo
Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de Supe-
rioridade Analítico Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade de
No comparativo de superioridade analítico, entre os um ser é intensificada em relação a um conjunto de seres.
dois substantivos comparados, um tem qualidade supe- Essa relação pode ser:
rior. A forma é analítica porque pedimos auxílio a “mais...do 1-) De Superioridade: Essa matéria é a mais fácil de
que” ou “mais...que”.
todas.
2-) De Inferioridade: Essa matéria é a menos fácil de
O Sol é maior (do) que a Terra. = Comparativo de Supe-
todas.
rioridade Sintético

Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de * Note bem:


superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. São 1) O superlativo absoluto analítico é expresso por meio
eles: bom /melhor, pequeno/menor, mau/pior, alto/superior, dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente, an-
grande/maior, baixo/inferior. tepostos ao adjetivo.

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LÍNGUA PORTUGUESA

2) O superlativo absoluto sintético se apresenta sob - de inferioridade: menos + advérbio + que (do que):
duas formas: uma erudita - de origem latina - outra po- Renato fala menos alto do que João.
pular - de origem vernácula. A forma erudita é constituída - de superioridade:
pelo radical do adjetivo latino + um dos sufixos -íssimo, 1-) Analítico: mais + advérbio + que (do que): Renato
-imo ou érrimo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo. A forma fala mais alto do que João.
popular é constituída do radical do adjetivo português + o 2-) Sintético: melhor ou pior que (do que): Renato fala
sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo. melhor que João.
3-) Os adjetivos terminados em –io fazem o superlativo
com dois “ii”: frio – friíssimo, sério – seriíssimo; os termi- Grau Superlativo
nados em –eio, com apenas um “i”: feio - feíssimo, cheio
– cheíssimo. O superlativo pode ser analítico ou sintético:
- Analítico: acompanhado de outro advérbio: Renato
Fontes de pesquisa: fala muito alto.
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf32. muito = advérbio de intensidade / alto = advérbio de
php modo
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: - Sintético: formado com sufixos: Renato fala altíssimo.
Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- * Observação: as formas diminutivas (cedinho, perti-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. nho, etc.) são comuns na língua popular.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- Maria mora pertinho daqui. (muito perto)
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. A criança levantou cedinho. (muito cedo)

Advérbio Classificação dos Advérbios

Compare estes exemplos: De acordo com a circunstância que exprime, o advér-


bio pode ser de:
Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, atrás,
O ônibus chegou.
além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí, abaixo,
O ônibus chegou ontem.
aonde, longe, debaixo, algures, defronte, nenhures, adentro,
afora, alhures, aquém, embaixo, externamente, a distância,
Advérbio é uma palavra invariável que modifica o sen-
à distância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à es-
tido do verbo (acrescentando-lhe circunstâncias de tempo,
querda, ao lado, em volta.
de modo, de lugar, de intensidade), do adjetivo e do próprio Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora,
advérbio. amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes,
Estudei bastante. = modificando o verbo estudei doravante, nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já, en-
Ele canta muito bem! = intensificando outro advérbio fim, afinal, amiúde, breve, constantemente, entrementes,
(bem) imediatamente, primeiramente, provisoriamente, sucessiva-
Ela tem os olhos muito claros. = relação com um adje- mente, às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, de
tivo (claros) vez em quando, de quando em quando, a qualquer momen-
to, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia.
Quando modifica um verbo, o advérbio pode acrescen- Modo: bem, mal, assim, adrede, melhor, pior, depressa,
tar ideia de: acinte, debalde, devagar, às pressas, às claras, às cegas, à
Tempo: Ela chegou tarde. toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse jeito, desse
Lugar: Ele mora aqui. modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado a lado,
Modo: Eles agiram mal. a pé, de cor, em vão e a maior parte dos que terminam em
Negação: Ela não saiu de casa. “-mente”: calmamente, tristemente, propositadamente, pa-
Dúvida: Talvez ele volte. cientemente, amorosamente, docemente, escandalosamen-
te, bondosamente, generosamente.
Flexão do Advérbio Afirmação: sim, certamente, realmente, decerto, efeti-
vamente, certo, decididamente, deveras, indubitavelmente.
Os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não apre- Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de
sentam variação em gênero e número. Alguns advérbios, forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum.
porém, admitem a variação em grau. Observe: Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, provavel-
mente, quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe.
Grau Comparativo Intensidade: muito, demais, pouco, tão, em excesso,
bastante, mais, menos, demasiado, quanto, quão, tanto, as-
Forma-se o comparativo do advérbio do mesmo modo saz, que (equivale a quão), tudo, nada, todo, quase, de todo,
que o comparativo do adjetivo: de muito, por completo, extremamente, intensamente, gran-
- de igualdade: tão + advérbio + quanto (como): Re- demente, bem (quando aplicado a propriedades graduá-
nato fala tão alto quanto João. veis).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão, somen- Locução Adverbial


te, simplesmente, só, unicamente. Por exemplo: Brando, o
vento apenas move a copa das árvores. Quando há duas ou mais palavras que exercem função
Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, também. de advérbio, temos a locução adverbial, que pode expres-
Por exemplo: O indivíduo também amadurece durante a sar as mesmas noções dos advérbios. Iniciam ordinaria-
adolescência. mente por uma preposição. Veja:
Ordem: depois, primeiramente, ultimamente. Por lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto, para
exemplo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer aos meus dentro, por aqui, etc.
amigos por comparecerem à festa. afirmação: por certo, sem dúvida, etc.
modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão, em
* Saiba que: geral, frente a frente, etc.
- Para se exprimir o limite de possibilidade, antepõe-se tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde, hoje
ao advérbio “o mais” ou “o menos”. Por exemplo: Ficarei em dia, nunca mais, etc.
o mais longe que puder daquele garoto. Voltarei o menos
tarde possível. * Observações:
- Quando ocorrem dois ou mais advérbios em -mente, - tanto a locução adverbial como o advérbio modifi-
em geral sufixamos apenas o último: Por exemplo: O aluno cam o verbo, o adjetivo e outro advérbio:
respondeu calma e respeitosamente. Chegou muito cedo. (advérbio)
Joana é muito bela. (adjetivo)
Distinção entre Advérbio e Pronome Indefinido De repente correram para a rua. (verbo)

Há palavras como muito, bastante, que podem apare- - Usam-se, de preferência, as formas mais bem e mais
cer como advérbio e como pronome indefinido. mal antes de adjetivos ou de verbos no particípio:
Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro Essa matéria é mais bem interessante que aquela.
advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito. Nosso aluno foi o mais bem colocado no concurso!
Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo e - O numeral “primeiro”, ao modificar o verbo, é advér-
sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilômetros. bio: Cheguei primeiro.

* Dica: Como saber se a palavra bastante é advérbio - Quanto a sua função sintática: o advérbio e a locução
(não varia, não se flexiona) ou pronome indefinido (varia, adverbial desempenham na oração a função de adjunto
sofre flexão)? Se der, na frase, para substituir o “bastante” adverbial, classificando-se de acordo com as circunstân-
por “muito”, estamos diante de um advérbio; se der para cias que acrescentam ao verbo, ao adjetivo ou ao advérbio.
substituir por “muitos” (ou muitas), é um pronome. Veja: Exemplo:
Meio cansada, a candidata saiu da sala. = adjunto ad-
1-) Estudei bastante para o concurso. (estudei muito, verbial de intensidade (ligado ao adjetivo “cansada”)
pois “muitos” não dá!). = advérbio Trovejou muito ontem. = adjunto adverbial de intensi-
dade e de tempo, respectivamente.
2-) Estudei bastantes capítulos para o concurso. (estudei
muitos capítulos) = pronome indefinido Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf75.
Advérbios Interrogativos php
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
São as palavras: onde? aonde? donde? quando? como? ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
por quê? nas interrogações diretas ou indiretas, referentes Saraiva, 2010.
às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa. Veja: Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Interrogação Direta Interrogação Indireta SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Como aprendeu? Perguntei como aprendeu.
Onde mora? Indaguei onde morava. Artigo
Por que choras? Não sei por que choras.
O artigo integra as dez classes gramaticais, definindo-
Aonde vai? Perguntei aonde ia. se como o termo variável que serve para individualizar ou
Donde vens? Pergunto donde vens. generalizar o substantivo, indicando, também, o gênero
Quando voltas? Pergunto quando voltas. (masculino/feminino) e o número (singular/plural).
Os artigos se subdividem em definidos (“o” e as va-
riações “a”[as] e [os]) e indefinidos (“um” e as variações
“uma”[s] e “uns”).

11
LÍNGUA PORTUGUESA

Artigos definidos – São aqueles usados para indicar Mas, se o nome apresentar um caracterizador, a pre-
seres determinados, expressos de forma individual: sença do artigo será obrigatória: O professor visitará a bela
O concurseiro estuda muito. Os concurseiros estudam Roma.
muito.
- antes de pronomes de tratamento:
Artigos indefinidos – São aqueles usados para indicar Vossa Senhoria sairá agora?
seres de modo vago, impreciso: Exceção: O senhor vai à festa?
Uma candidata foi aprovada! Umas candidatas foram
aprovadas! - após o pronome relativo “cujo” e suas variações:
Esse é o concurso cujas provas foram anuladas?
Circunstâncias em que os artigos se manifestam: Este é o candidato cuja nota foi a mais alta.

* Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do Fontes de pesquisa:


numeral “ambos”: http://www.brasilescola.com/gramatica/artigo.htm
Ambos os concursos cobrarão tal conteúdo. Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
* Nomes próprios indicativos de lugar admitem o uso Saraiva, 2010.
do artigo, outros não: Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
São Paulo, O Rio de Janeiro, Veneza, A Bahia... ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.SACCO-
NI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed.
* Quando indicado no singular, o artigo definido pode Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
indicar toda uma espécie: Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
O trabalho dignifica o homem. ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
* No caso de nomes próprios personativos, denotando
a ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso Conjunção
do artigo:
Marcela é a mais extrovertida das irmãs. Além da preposição, há outra palavra também invariá-
O Pedro é o xodó da família. vel que, na frase, é usada como elemento de ligação: a con-
junção. Ela serve para ligar duas orações ou duas palavras
* No caso de os nomes próprios personativos estarem de mesma função em uma oração:
no plural, são determinados pelo uso do artigo: O concurso será realizado nas cidades de Campinas e
Os Maias, os Incas, Os Astecas... São Paulo.
A prova não será fácil, por isso estou estudando muito.
* Usa-se o artigo depois do pronome indefinido to-
do(a) para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele Morfossintaxe da Conjunção
(o artigo), o pronome assume a noção de qualquer.
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda) As conjunções, a exemplo das preposições, não exer-
Toda classe possui alunos interessados e desinteressa- cem propriamente uma função sintática: são conectivos.
dos. (qualquer classe)
Classificação da Conjunção
* Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é
facultativo: De acordo com o tipo de relação que estabelecem, as
Preparei o meu curso. Preparei meu curso. conjunções podem ser classificadas em coordenativas e
subordinativas. No primeiro caso, os elementos ligados
* A utilização do artigo indefinido pode indicar uma pela conjunção podem ser isolados um do outro. Esse iso-
ideia de aproximação numérica: lamento, no entanto, não acarreta perda da unidade de
O máximo que ele deve ter é uns vinte anos. sentido que cada um dos elementos possui. Já no segundo
caso, cada um dos elementos ligados pela conjunção de-
* O artigo também é usado para substantivar palavras pende da existência do outro. Veja:
pertencentes a outras classes gramaticais:
Não sei o porquê de tudo isso. Estudei muito, mas ainda não compreendi o conteúdo.
Podemos separá-las por ponto:
* Há casos em que o artigo definido não pode ser Estudei muito. Ainda não compreendi o conteúdo.
usado:
- antes de nomes de cidade e de pessoas conhecidas: Temos acima um exemplo de conjunção (e, conse-
O professor visitará Roma. quentemente, orações coordenadas) coordenativa – “mas”.
Já em:

12
LÍNGUA PORTUGUESA

Espero que eu seja aprovada no concurso! As conjunções subordinativas subdividem-se em inte-


Não conseguimos separar uma oração da outra, pois a grantes e adverbiais:
segunda “completa” o sentido da primeira (da oração prin-
cipal): 1. Integrantes - Indicam que a oração subordinada por
Espero o quê? Ser aprovada. Nesse período temos uma elas introduzida completa ou integra o sentido da principal.
oração subordinada substantiva objetiva direta (ela exerce Introduzem orações que equivalem a substantivos, ou seja,
a função de objeto direto do verbo da oração principal). as orações subordinadas substantivas. São elas: que, se.
Quero que você volte. (Quero sua volta)
Conjunções Coordenativas
2. Adverbiais - Indicam que a oração subordinada
São aquelas que ligam orações de sentido completo exerce a função de adjunto adverbial da principal. De acor-
e independente ou termos da oração que têm a mesma do com a circunstância que expressam, classificam-se em:
a) Causais: introduzem uma oração que é causa da
função gramatical. Subdividem-se em:
ocorrência da oração principal. São elas: porque, que, como
1) Aditivas: ligam orações ou palavras, expressando
(= porque, no início da frase), pois que, visto que, uma vez
ideia de acréscimo ou adição. São elas: e, nem (= e não),
que, porquanto, já que, desde que, etc.
não só... mas também, não só... como também, bem como, Ele não fez a pesquisa porque não dispunha de meios.
não só... mas ainda.
A sua pesquisa é clara e objetiva. b) Concessivas: introduzem uma oração que expressa
Não só dança, mas também canta. ideia contrária à da principal, sem, no entanto, impedir sua
realização. São elas: embora, ainda que, apesar de que, se
2) Adversativas: ligam duas orações ou palavras, ex- bem que, mesmo que, por mais que, posto que, conquanto,
pressando ideia de contraste ou compensação. São elas: etc.
mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não Embora fosse tarde, fomos visitá-lo.
obstante.
Tentei chegar mais cedo, porém não consegui. c) Condicionais: introduzem uma oração que indica a
hipótese ou a condição para ocorrência da principal. São
3) Alternativas: ligam orações ou palavras, expressan- elas: se, caso, contanto que, salvo se, a não ser que, desde
do ideia de alternância ou escolha, indicando fatos que se que, a menos que, sem que, etc.
realizam separadamente. São elas: ou, ou... ou, ora... ora, já... Se precisar de minha ajuda, telefone-me.
já, quer... quer, seja... seja, talvez... talvez.
** Dica: você deve ter percebido que a conjunção con-
Ou escolho agora, ou fico sem presente de aniversário.
dicional “se” também é conjunção integrante. A diferença é
clara ao ler as orações que são introduzidas por ela. Acima,
4) Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração
ela nos dá a ideia da condição para que recebamos um
que expressa ideia de conclusão ou consequência. São elas: telefonema (se for preciso ajuda). Já na oração:
logo, pois (depois do verbo), portanto, por conseguinte, por Não sei se farei o concurso...
isso, assim. Não há ideia de condição alguma, há? Outra coisa: o
Marta estava bem preparada para o teste, portanto não verbo da oração principal (sei) pede complemento (objeto
ficou nervosa. direto, já que “quem não sabe, não sabe algo”). Portanto,
Você nos ajudou muito; terá, pois, nossa gratidão. a oração em destaque exerce a função de objeto direto da
oração principal, sendo classificada como oração subordi-
5) Explicativas: ligam a oração anterior a uma oração nada substantiva objetiva direta.
que a explica, que justifica a ideia nela contida. São elas: d) Conformativas: introduzem uma oração que expri-
que, porque, pois (antes do verbo), porquanto. me a conformidade de um fato com outro. São elas: confor-
Não demore, que o filme já vai começar. me, como (= conforme), segundo, consoante, etc.
Falei muito, pois não gosto do silêncio! O passeio ocorreu como havíamos planejado.

Conjunções Subordinativas e) Finais: introduzem uma oração que expressa a fina-


lidade ou o objetivo com que se realiza a oração principal.
São elas: para que, a fim de que, que, porque (= para que),
São aquelas que ligam duas orações, sendo uma delas
que, etc.
dependente da outra. A oração dependente, introduzida
Toque o sinal para que todos entrem no salão.
pelas conjunções subordinativas, recebe o nome de ora-
ção subordinada. Veja o exemplo: O baile já tinha começado f) Proporcionais: introduzem uma oração que expres-
quando ela chegou. sa um fato relacionado proporcionalmente à ocorrência do
O baile já tinha começado: oração principal expresso na principal. São elas: à medida que, à proporção
quando: conjunção subordinativa (adverbial temporal) que, ao passo que e as combinações quanto mais... (mais),
ela chegou: oração subordinada quanto menos... (menos), quanto menos... (mais), quanto
menos... (menos), etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA

O preço fica mais caro à medida que os produtos escas- Fontes de pesquisa:
seiam. http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf84.
php
* Observação: são incorretas as locuções proporcio- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
nais à medida em que, na medida que e na medida em que. coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
g) Temporais: introduzem uma oração que acrescenta ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
uma circunstância de tempo ao fato expresso na oração Saraiva, 2010.
principal. São elas: quando, enquanto, antes que, depois que, Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
logo que, todas as vezes que, desde que, sempre que, assim ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
que, agora que, mal (= assim que), etc. Interjeição
A briga começou assim que saímos da festa.
Interjeição é a palavra invariável que exprime emo-
h) Comparativas: introduzem uma oração que expres- ções, sensações, estados de espírito. É um recurso da lin-
sa ideia de comparação com referência à oração principal. guagem afetiva, em que não há uma ideia organizada de
São elas: como, assim como, tal como, como se, (tão)... como, maneira lógica, como são as sentenças da língua, mas sim
a manifestação de um suspiro, um estado da alma decor-
tanto como, tanto quanto, do que, quanto, tal, qual, tal qual,
rente de uma situação particular, um momento ou um con-
que nem, que (combinado com menos ou mais), etc.
texto específico. Exemplos:
O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem.
Ah, como eu queria voltar a ser criança!
ah: expressão de um estado emotivo = interjeição
i) Consecutivas: introduzem uma oração que expressa Hum! Esse pudim estava maravilhoso!
a consequência da principal. São elas: de sorte que, de modo hum: expressão de um pensamento súbito = interjei-
que, sem que (= que não), de forma que, de jeito que, que ção
(tendo como antecedente na oração principal uma palavra
como tal, tão, cada, tanto, tamanho), etc. O significado das interjeições está vinculado à maneira
Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do como elas são proferidas. O tom da fala é que dita o senti-
exame. do que a expressão vai adquirir em cada contexto em que
for utilizada. Exemplos:
Atenção: Muitas conjunções não têm classificação úni- Psiu!
ca, imutável, devendo, portanto, ser classificadas de acor- contexto: alguém pronunciando esta expressão na rua
do com o sentido que apresentam no contexto (grifo ; significado da interjeição (sugestão): “Estou te chamando!
da Zê!). Ei, espere!”

O bom relacionamento entre as conjunções de um Psiu!


texto garante a perfeita estruturação de suas frases e pa- contexto: alguém pronunciando em um hospital; sig-
rágrafos, bem como a compreensão eficaz de seu conteú- nificado da interjeição (sugestão): “Por favor, faça silêncio!”
do. Interagindo com palavras de outras classes gramaticais
essenciais ao inter-relacionamento das partes de frases e Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio!
textos - como os pronomes, preposições, alguns advérbios puxa: interjeição; tom da fala: euforia
e numerais -, as conjunções fazem parte daquilo a que se
pode chamar de “a arquitetura textual”, isto é, o con- Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte!
junto das relações que garantem a coesão do enunciado. puxa: interjeição; tom da fala: decepção
O sucesso desse conjunto de relações depende do conhe-
cimento do valor relacional das conjunções, uma vez que As interjeições cumprem, normalmente, duas funções:
a) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo alegria,
estas interferem semanticamente no enunciado.
tristeza, dor, etc.
Dessa forma, deve-se dedicar atenção especial às con-
Ah, deve ser muito interessante!
junções tanto na leitura como na produção de textos. Nos
textos narrativos, elas estão muitas vezes ligadas à expres-
b) Sintetizar uma frase apelativa.
são de circunstâncias fundamentais à condução da história, Cuidado! Saia da minha frente.
como as noções de tempo, finalidade, causa e consequên-
cia. Nos textos dissertativos, evidenciam muitas vezes a li- As interjeições podem ser formadas por:
nha expositiva ou argumentativa adotada - é o caso das a) simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô
exposições e argumentações construídas por meio de con- b) palavras: Oba! Olá! Claro!
trastes e oposições, que implicam o uso das adversativas e c) grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu Deus!
concessivas. Ora bolas!

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LÍNGUA PORTUGUESA

Classificação das Interjeições 3) A interjeição pode ser considerada uma “palavra-


frase” porque sozinha pode constituir uma mensagem. Por
Comumente, as interjeições expressam sentido de: exemplo:
Advertência: Cuidado! Devagar! Calma! Sentido! Aten- Socorro! Ajudem-me! Silêncio! Fique quieto!
ção! Olha! Alerta!
Afugentamento: Fora! Passa! Rua! 4) Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imi-
Alegria ou Satisfação: Oh! Ah! Eh! Oba! Viva! tativas, que exprimem ruídos e vozes. Por exemplo: Miau!
Alívio: Arre! Uf! Ufa! Ah! Bumba! Zás! Plaft! Pof! Catapimba! Tique-taque! Quá-quá-
Animação ou Estímulo: Vamos! Força! Coragem! Âni- quá!, etc.
mo! Adiante!
Aplauso ou Aprovação: Bravo! Bis! Apoiado! Viva! 5) Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” com
Concordância: Claro! Sim! Pois não! Tá! a sua homônima “oh!”, que exprime admiração, alegria,
Repulsa ou Desaprovação: Credo! Ih! Francamente! tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois do “oh!” exclamativo
Essa não! Chega! Basta! e não a fazemos depois do “ó” vocativo. Por exemplo:
Desejo ou Intenção: Pudera! Tomara! Oxalá! Queira “Ó natureza! ó mãe piedosa e pura!” (Olavo Bilac)
Deus! Oh! a jornada negra!” (Olavo Bilac)
Desculpa: Perdão!
Dor ou Tristeza: Ai! Ui! Ai de mim! Que pena! Fontes de pesquisa:
Dúvida ou Incredulidade: Que nada! Qual o quê! http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf89.
Espanto ou Admiração: Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus! Quê! php
Caramba! Opa! Nossa! Hein? Cruz! Putz! SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
Impaciência ou Contrariedade: Hum! Raios! Puxa! Pô! coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Ora! Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática
Pedido de Auxílio: Socorro! Aqui! Piedade! – volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa
Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve! Viva! Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
Adeus! Olá! Alô! Ei! Tchau! Psiu! Socorro! Valha-me, Deus! Numeral
Silêncio: Psiu! Silêncio!
Numeral é a palavra variável que indica quantidade
Terror ou Medo: Credo! Cruzes! Minha nossa!
numérica ou ordem; expressa a quantidade exata de pes-
soas ou coisas ou o lugar que elas ocupam numa determi-
* Saiba que: As interjeições são palavras invariáveis,
nada sequência.
isto é, não sofrem variação em gênero, número e grau
como os nomes, nem de número, pessoa, tempo, modo,
* Note bem: os numerais traduzem, em palavras, o que
aspecto e voz como os verbos. No entanto, em uso espe-
os números indicam em relação aos seres. Assim, quando
cífico, algumas interjeições sofrem variação em grau. Não
se trata de um processo natural desta classe de palavra, a expressão é colocada em números (1, 1.º, 1/3, etc.) não se
mas tão só uma variação que a linguagem afetiva permite. trata de numerais, mas sim de algarismos.
Exemplos: oizinho, bravíssimo, até loguinho. Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem a
ideia expressa pelos números, existem mais algumas pala-
Locução Interjetiva vras consideradas numerais porque denotam quantidade,
proporção ou ordenação. São alguns exemplos: década,
Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma dúzia, par, ambos(as), novena.
expressão com sentido de interjeição: Ora bolas!, Virgem
Maria!, Meu Deus!, Ó de casa!, Ai de mim!, Graças a Deus! Classificação dos Numerais
Toda frase mais ou menos breve dita em tom exclama-
tivo torna-se uma locução interjetiva, dispensando análise - Cardinais: indicam quantidade exata ou determina-
dos termos que a compõem: Macacos me mordam!, Valha- da de seres: um, dois, cem mil, etc. Alguns cardinais têm
me Deus!, Quem me dera! sentido coletivo, como por exemplo: século, par, dúzia, dé-
cada, bimestre.
* Observações:
1) As interjeições são como frases resumidas, sintéticas. - Ordinais: indicam a ordem, a posição que alguém ou
Por exemplo: alguma coisa ocupa numa determinada sequência: primei-
Ué! (= Eu não esperava por essa!) ro, segundo, centésimo, etc.
Perdão! (= Peço-lhe que me desculpe.)
* Observação importante:
2) Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é As palavras anterior, posterior, último, antepenúltimo,
o seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras classes final e penúltimo também indicam posição dos seres, mas
gramaticais podem aparecer como interjeições. Por exem- são classificadas como adjetivos, não ordinais.
plo:
Viva! Basta! (Verbos) - Fracionários: indicam parte de uma quantidade, ou
Fora! Francamente! (Advérbios) seja, uma divisão dos seres: meio, terço, dois quintos, etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação - Para designar papas, reis, imperadores, séculos e par-
dos seres, indicando quantas vezes a quantidade foi au- tes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até
mentada: dobro, triplo, quíntuplo, etc. décimo e, a partir daí, os cardinais, desde que o numeral
venha depois do substantivo;
Flexão dos numerais
Ordinais Cardinais
Os numerais cardinais que variam em gênero são um/
uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/du- João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
zentas em diante: trezentos/trezentas; quatrocentos/quatro- D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
centas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão, variam
em número: milhões, bilhões, trilhões. Os demais cardinais Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
são invariáveis. Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)
Os numerais ordinais variam em gênero e número:
- Se o numeral aparece antes do substantivo, será lido
primeiro segundo milésimo como ordinal: XXX Feira do Bordado. (trigésima)
primeira segunda milésima
** Dica: Ordinal lembra ordem. Memorize assim, por
primeiros segundos milésimos associação. Ficará mais fácil!
primeiras segundas milésimas - Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o
ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Os numerais multiplicativos são invariáveis quando
atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do esforço Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
e conseguiram o triplo de produção. Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)
Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses tri- - Ambos/ambas = numeral dual, porque sempre se
plas do medicamento. refere a dois seres. Significam “um e outro”, “os dois” (ou
Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e “uma e outra”, “as duas”) e são largamente empregados
número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/ para retomar pares de seres aos quais já se fez referência.
duas terças partes. Sua utilização exige a presença do artigo posposto: Ambos
Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma os concursos realizarão suas provas no mesmo dia. O arti-
dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros. go só é dispensado caso haja um pronome demonstrativo:
É comum na linguagem coloquial a indicação de grau Ambos esses ministros falarão à imprensa.
nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização de
sentido. É o que ocorre em frases como: Função sintática do Numeral
“Me empresta duzentinho...”
É artigo de primeiríssima qualidade! O numeral tem mais de uma função sintática:
O time está arriscado por ter caído na segundona. (= - se na oração analisada seu papel é de adjetivo, o
segunda divisão de futebol) numeral assumirá a função de adjunto adnominal; se fizer
papel de substantivo, pode ter a função de sujeito, objeto
Emprego e Leitura dos Numerais direto ou indireto.
- Os numerais são escritos em conjunto de três alga- Visitamos cinco casas, mas só gostamos de duas.
rismos, contados da direita para a esquerda, em forma de Objeto direto = cinco casas
centenas, dezenas e unidades, tendo cada conjunto uma Núcleo do objeto direto = casas
separação através de ponto ou espaço correspondente a Adjunto adnominal = cinco
um ponto: 8.234.456 ou 8 234 456. Objeto indireto = de duas
- Em sentido figurado, usa-se o numeral para indicar
Núcleo do objeto indireto = duas
exagero intencional, constituindo a figura de linguagem
conhecida como hipérbole: Já li esse texto mil vezes.
- No português contemporâneo, não se usa a conjun-
ção “e” após “mil”, seguido de centena:
Nasci em mil novecentos e noventa e dois.
Seu salário será de mil quinhentos e cinquenta reais.

* Mas, se a centena começa por “zero” ou termina por


dois zeros, usa-se o “e”:
Seu salário será de mil e quinhentos reais. (R$1.500,00)
Gastamos mil e quarenta reais. (R$1.040,00)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Quadro de alguns numerais

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


um primeiro - -
dois segundo dobro, duplo meio
três terceiro triplo, tríplice terço
quatro quarto quádruplo quarto
cinco quinto quíntuplo quinto
seis sexto sêxtuplo sexto
sete sétimo sétuplo sétimo
oito oitavo óctuplo oitavo
nove nono nônuplo nono
dez décimo décuplo décimo
onze décimo primeiro - onze avos
doze décimo segundo - doze avos
treze décimo terceiro - treze avos
catorze décimo quarto - catorze avos
quinze décimo quinto - quinze avos
dezesseis décimo sexto - dezesseis avos
dezessete décimo sétimo - dezessete avos
dezoito décimo oitavo - dezoito avos
dezenove décimo nono - dezenove avos
vinte vigésimo - vinte avos
trinta trigésimo - trinta avos
quarenta quadragésimo - quarenta avos
cinqüenta quinquagésimo - cinquenta avos
sessenta sexagésimo - sessenta avos
setenta septuagésimo - setenta avos
oitenta octogésimo - oitenta avos
noventa nonagésimo - noventa avos
cem centésimo cêntuplo centésimo
duzentos ducentésimo - ducentésimo
trezentos trecentésimo - trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo
quinhentos quingentésimo - quingentésimo
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo
setecentos septingentésimo - septingentésimo
oitocentos octingentésimo - octingentésimo
novecentos nongentésimo
ou noningentésimo - nongentésimo
mil milésimo - milésimo
milhão milionésimo - milionésimo
bilhão bilionésimo - bilionésimo

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LÍNGUA PORTUGUESA

fontes de pesquisa: Dicas sobre preposição


http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf40.
php - O “a” pode funcionar como preposição, pronome
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- pessoal oblíquo e artigo. Como distingui-los? Caso o “a”
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. seja um artigo, virá precedendo um substantivo, servindo
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere- para determiná-lo como um substantivo singular e femi-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: nino.
Saraiva, 2010. A matéria que estudei é fácil!
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. - Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois
Preposição termos e estabelece relação de subordinação entre eles.
Preposição é uma palavra invariável que serve para Irei à festa sozinha.
ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece, Entregamos a flor à professora!
normalmente há uma subordinação do segundo termo em *o primeiro “a” é artigo; o segundo, preposição.
relação ao primeiro. As preposições são muito importantes
na estrutura da língua, pois estabelecem a coesão textual - Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o
e possuem valores semânticos indispensáveis para a com- lugar e/ou a função de um substantivo.
preensão do texto. Nós trouxemos a apostila. = Nós a trouxemos.

Tipos de Preposição Relações semânticas (= de sentido) estabelecidas


por meio das preposições:
1. Preposições essenciais: palavras que atuam exclusi-
vamente como preposições: a, ante, perante, após, até, com, Destino = Irei a Salvador.
contra, de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás, Modo = Saiu aos prantos.
Lugar = Sempre a seu lado.
atrás de, dentro de, para com.
Assunto = Falemos sobre futebol.
Tempo = Chegarei em instantes.
2. Preposições acidentais: palavras de outras classes
Causa = Chorei de saudade.
gramaticais que podem atuar como preposições, ou seja,
Fim ou finalidade = Vim para ficar.
formadas por uma derivação imprópria: como, durante, ex-
Instrumento = Escreveu a lápis.
ceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, visto.
Posse = Vi as roupas da mamãe.
Autoria = livro de Machado de Assis
3. Locuções prepositivas: duas ou mais palavras va-
Companhia = Estarei com ele amanhã.
lendo como uma preposição, sendo que a última palavra é Matéria = copo de cristal.
uma (preposição): abaixo de, acerca de, acima de, ao lado Meio = passeio de barco.
de, a respeito de, de acordo com, em cima de, embaixo de, Origem = Nós somos do Nordeste.
em frente a, ao redor de, graças a, junto a, com, perto de, por Conteúdo = frascos de perfume.
causa de, por cima de, por trás de. Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso.
Preço = Essa roupa sai por cinquenta reais.
A preposição é invariável, no entanto pode unir-se a
outras palavras e, assim, estabelecer concordância em gê- * Quanto à preposição “trás”: não se usa senão nas lo-
nero ou em número. Ex: por + o = pelo por + a = pela. cuções adverbiais (para trás ou por trás) e na locução pre-
positiva por trás de.
* Essa concordância não é característica da preposição,
mas das palavras às quais ela se une. Fontes de pesquisa:
Esse processo de junção de uma preposição com outra http://www.infoescola.com/portugues/preposicao/
palavra pode se dar a partir dos processos de: SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
1. Combinação: união da preposição “a” com o artigo Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
“o”(s), ou com o advérbio “onde”: ao, aonde, aos. Os vocá- ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
bulos não sofrem alteração. Saraiva, 2010.
2. Contração: união de uma preposição com outra pa- Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
lavra, ocorrendo perda ou transformação de fonema: de + ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
o = do, em + a = na, per + os = pelos, de + aquele = da- Pronome
quele, em + isso = nisso. Pronome é a palavra variável que substitui ou acom-
3. Crase: é a fusão de vogais idênticas: à (“a” prepo- panha um substantivo (nome), qualificando-o de alguma
sição + “a” artigo), àquilo (“a” preposição + 1.ª vogal do forma.
pronome “aquilo”). O homem julga que é superior à natureza, por isso o
homem destrói a natureza...

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LÍNGUA PORTUGUESA

Utilizando pronomes, teremos: Pronome Reto


O homem julga que é superior à natureza, por isso ele
a destrói... Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na senten-
Ficou melhor, sem a repetição desnecessária de termos ça, exerce a função de sujeito: Nós lhe ofertamos flores.
(homem e natureza).
Os pronomes retos apresentam flexão de número, gê-
Grande parte dos pronomes não possuem significados nero (apenas na 3.ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a
fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação dentro principal flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso.
de um contexto, o qual nos permite recuperar a referên- Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é assim confi-
cia exata daquilo que está sendo colocado por meio dos gurado:
pronomes no ato da comunicação. Com exceção dos pro-
nomes interrogativos e indefinidos, os demais pronomes - 1.ª pessoa do singular: eu
têm por função principal apontar para as pessoas do dis- - 2.ª pessoa do singular: tu
curso ou a elas se relacionar, indicando-lhes sua situação - 3.ª pessoa do singular: ele, ela
no tempo ou no espaço. Em virtude dessa característica, - 1.ª pessoa do plural: nós
- 2.ª pessoa do plural: vós
os pronomes apresentam uma forma específica para cada
- 3.ª pessoa do plural: eles, elas
pessoa do discurso.
* Atenção: esses pronomes não costumam ser usa-
Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada. dos como complementos verbais na língua-padrão. Frases
[minha/eu: pronomes de 1.ª pessoa = aquele que fala] como “Vi ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada? eu até aqui”, comuns na língua oral cotidiana, devem ser
[tua/tu: pronomes de 2.ª pessoa = aquele a quem se evitadas na língua formal escrita ou falada. Na língua for-
fala] mal, devem ser usados os pronomes oblíquos correspon-
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada. dentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na praça”, “Trouxeram-
[dela/ela: pronomes de 3.ª pessoa = aquele de quem me até aqui”.
se fala]
* Observação: frequentemente observamos a omissão
Em termos morfológicos, os pronomes são palavras do pronome reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque
variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em núme- as próprias formas verbais marcam, através de suas desi-
ro (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência nências, as pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto:
através do pronome seja coerente em termos de gênero Fizemos boa viagem. (Nós)
e número (fenômeno da concordância) com o seu objeto,
mesmo quando este se apresenta ausente no enunciado. Pronome Oblíquo

Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da nos- Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sen-
sa escola neste ano. tença, exerce a função de complemento verbal (objeto
[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância direto ou indireto): Ofertaram-nos flores. (objeto indireto)
adequada]
[neste: pronome que determina “ano” = concordância * Observação: o pronome oblíquo é uma forma va-
adequada] riante do pronome pessoal do caso reto. Essa variação in-
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = concor- dica a função diversa que eles desempenham na oração:
dância inadequada] pronome reto marca o sujeito da oração; pronome oblíquo
marca o complemento da oração.
Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos,
a acentuação tônica que possuem, podendo ser átonos ou
demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos.
tônicos.
Pronomes Pessoais Pronome Oblíquo Átono
São aqueles que substituem os substantivos, indicando São chamados átonos os pronomes oblíquos que não
diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve são precedidos de preposição. Possuem acentuação tônica
assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se os pronomes fraca: Ele me deu um presente.
“tu”, “vós”, “você” ou “vocês” para designar a quem se di- Tabela dos pronomes oblíquos átonos
rige, e “ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer referência à - 1.ª pessoa do singular (eu): me
pessoa ou às pessoas de quem se fala. - 2.ª pessoa do singular (tu): te
Os pronomes pessoais variam de acordo com as fun- - 3.ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
ções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto - 1.ª pessoa do plural (nós): nos
ou do caso oblíquo. - 2.ª pessoa do plural (vós): vos
- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes

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LÍNGUA PORTUGUESA

* Observações: - As preposições essenciais introduzem sempre prono-


- O “lhe” é o único pronome oblíquo átono que já se mes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso
apresenta na forma contraída, ou seja, houve a união en- reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o uso da
tre o pronome “o” ou “a” e preposição “a” ou “para”. Por língua formal, os pronomes costumam ser usados desta
acompanhar diretamente uma preposição, o pronome forma:
“lhe” exerce sempre a função de objeto indireto na oração. Não há mais nada entre mim e ti.
Os pronomes me, te, nos e vos podem tanto ser objetos Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.
diretos como objetos indiretos. Não há nenhuma acusação contra mim.
Os pronomes o, a, os e as atuam exclusivamente como Não vá sem mim.
objetos diretos.
* Atenção: Há construções em que a preposição, ape-
- Os pronomes me, te, lhe, nos, vos e lhes podem com- sar de surgir anteposta a um pronome, serve para introdu-
binar-se com os pronomes o, os, a, as, dando origem a for- zir uma oração cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos,
mas como mo, mos, ma, mas; to, tos, ta, tas; lho, lhos, lha, o verbo pode ter sujeito expresso; se esse sujeito for um
lhas; no-lo, no-los, no-la, no-las, vo-lo, vo-los, vo-la, vo-las. pronome, deverá ser do caso reto.
Observe o uso dessas formas nos exemplos que seguem: Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
Trouxeste o pacote? Não vá sem eu mandar.
Sim, entreguei-to ainda há pouco.
Não contaram a novidade a vocês? * A frase: “Foi fácil para mim resolver aquela questão!”
Não, no-la contaram. está correta, já que “para mim” é complemento de “fácil”.
A ordem direta seria: Resolver aquela questão foi fácil para
No Brasil, essas combinações não são usadas; até mes- mim!
mo na língua literária atual, seu emprego é muito raro.
- A combinação da preposição “com” e alguns prono-
* Atenção: Os pronomes o, os, a, as assumem formas mes originou as formas especiais comigo, contigo, consigo,
especiais depois de certas terminações verbais.
conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos fre-
- Quando o verbo termina em -z, -s ou -r, o pronome
quentemente exercem a função de adjunto adverbial de
assume a forma lo, los, la ou las, ao mesmo tempo que a
companhia.
terminação verbal é suprimida. Por exemplo:
Ele carregava o documento consigo.
fiz + o = fi-lo
fazeis + o = fazei-lo
- A preposição “até” exige as formas oblíquas tônicas:
dizer + a = dizê-la
Ela veio até mim, mas nada falou.
Mas, se “até” for palavra denotativa (com o sentido de)
- Quando o verbo termina em som nasal, o pronome
assume as formas no, nos, na, nas. Por exemplo: inclusão, usaremos as formas retas:
viram + o: viram-no Todos foram bem na prova, até eu! (=inclusive eu)
repõe + os = repõe-nos
retém + a: retém-na - As formas “conosco” e “convosco” são substituídas
tem + as = tem-nas por “com nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais
são reforçados por palavras como outros, mesmos, próprios,
Pronome Oblíquo Tônico todos, ambos ou algum numeral.
Você terá de viajar com nós todos.
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos Estávamos com vós outros quando chegaram as más
por preposições, em geral as preposições a, para, de e com. notícias.
Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função Ele disse que iria com nós três.
de objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica
forte. Pronome Reflexivo
Quadro dos pronomes oblíquos tônicos:
- 1.ª pessoa do singular (eu): mim, comigo São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcio-
- 2.ª pessoa do singular (tu): ti, contigo nem como objetos direto ou indireto, referem-se ao sujeito
- 3.ª pessoa do singular (ele, ela): si, consigo, ele, ela da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação
- 1.ª pessoa do plural (nós): nós, conosco expressa pelo verbo.
- 2.ª pessoa do plural (vós): vós, convosco Quadro dos pronomes reflexivos:
- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): si, consigo, eles, elas - 1.ª pessoa do singular (eu): me, mim.
Eu não me lembro disso.
Observe que as únicas formas próprias do pronome tô-
nico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As - 2.ª pessoa do singular (tu): te, ti.
demais repetem a forma do pronome pessoal do caso reto. Conhece a ti mesmo.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- 3.ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo. * Observações:


Guilherme já se preparou. * Vossa Excelência X Sua Excelência: os pronomes de
Ela deu a si um presente. tratamento que possuem “Vossa(s)” são empregados em
Antônio conversou consigo mesmo. relação à pessoa com quem falamos: Espero que V. Ex.ª, Se-
nhor Ministro, compareça a este encontro.
- 1.ª pessoa do plural (nós): nos.
Lavamo-nos no rio. ** Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito
da pessoa: Todos os membros da C.P.I. afirmaram que Sua
- 2.ª pessoa do plural (vós): vos. Excelência, o Senhor Presidente da República, agiu com pro-
Vós vos beneficiastes com esta conquista. priedade.

- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo. - Os pronomes de tratamento representam uma for-
Eles se conheceram. ma indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao
Elas deram a si um dia de folga. tratarmos um deputado por Vossa Excelência, por exemplo,
estamos nos endereçando à excelência que esse deputado
* O pronome é reflexivo quando se refere à mesma supostamente tem para poder ocupar o cargo que ocupa.
pessoa do pronome subjetivo (sujeito): Eu me arrumei e saí.
** É pronome recíproco quando indica reciprocidade - 3.ª pessoa: embora os pronomes de tratamento diri-
de ação: jam-se à 2.ª pessoa, toda a concordância deve ser feita
Nós nos amamos. com a 3.ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes possessi-
Olhamo-nos calados. vos e os pronomes oblíquos empregados em relação a eles
devem ficar na 3.ª pessoa.
Pronomes de Tratamento Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas pro-
messas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos.
São pronomes utilizados no tratamento formal, ceri-
- Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos ou
monioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor (portan-
nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, ao longo
to, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira pes-
do texto, a pessoa do tratamento escolhida inicialmente.
soa. Alguns exemplos:
Assim, por exemplo, se começamos a chamar alguém de
Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques
“você”, não poderemos usar “te” ou “teu”. O uso correto
Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais
exigirá, ainda, verbo na terceira pessoa.
Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e religio-
sos em geral
Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente superior
teus cabelos. (errado)
à de coronel, senadores, deputados, embaixadores, profes-
sores de curso superior, ministros de Estado e de Tribunais, Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos
governadores, secretários de Estado, presidente da Repú- seus cabelos. (correto) = terceira pessoa do singular
blica (sempre por extenso) ou
Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de universi-
dades Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores teus cabelos. (correto) = segunda pessoa do singular
Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, oficiais
até a patente de coronel, chefes de seção e funcionários de Pronomes Possessivos
igual categoria São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
Vossa Meritíssima (sempre por extenso) = para juízes (possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo
de direito (coisa possuída).
Vossa Santidade (sempre por extenso) = tratamento Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1ª pessoa do
cerimonioso singular)
Vossa Onipotência (sempre por extenso) = Deus
NÚMERO PESSOA PRONOME
Também são pronomes de tratamento o senhor, a se-
nhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empre- singular primeira meu(s), minha(s)
gados no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tra- singular segunda teu(s), tua(s)
tamento familiar. Você e vocês são largamente empregados
singular terceira seu(s), sua(s)
no português do Brasil; em algumas regiões, a forma tu é
de uso frequente; em outras, pouco empregada. Já a forma plural primeira nosso(s), nossa(s)
vós tem uso restrito à linguagem litúrgica, ultraformal ou plural segunda vosso(s), vossa(s)
literária.
plural terceira seu(s), sua(s)

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LÍNGUA PORTUGUESA

* Note que: A forma do possessivo depende da pessoa *Em relação ao tempo:


gramatical a que se refere; o gênero e o número concordam - Este(s), esta(s) e isto = indicam o tempo presente em
com o objeto possuído: Ele trouxe seu apoio e sua contribui- relação à pessoa que fala:
ção naquele momento difícil. Esta manhã farei a prova do concurso!

* Observações: - Esse(s), essa(s) e isso = indicam o tempo passado, po-


- A forma “seu” não é um possessivo quando resultar rém relativamente próximo à época em que se situa a pes-
da alteração fonética da palavra senhor: Muito obrigado, soa que fala:
seu José. Essa noite dormi mal; só pensava no concurso!

- Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam um afasta-


- Os pronomes possessivos nem sempre indicam pos-
mento no tempo, referido de modo vago ou como tempo
se. Podem ter outros empregos, como:
remoto:
a) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha. Naquele tempo, os professores eram valorizados.
b) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40 *Em relação ao falado ou escrito (ou ao que se fala-
anos. rá ou escreverá):
- Este(s), esta(s) e isto = empregados quando se quer
c) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem fazer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se falará:
lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela. Serão estes os conteúdos da prova: análise sintática, or-
tografia, concordância.
- Em frases onde se usam pronomes de tratamento,
o pronome possessivo fica na 3.ª pessoa: Vossa Excelência - Esse(s), essa(s) e isso = utilizados quando se pretende
trouxe sua mensagem? fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou:
Sua aprovação no concurso, isso é o que mais deseja-
- Referindo-se a mais de um substantivo, o possessi- mos!
vo concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus livros e
anotações. - Este e aquele são empregados quando se quer fa-
zer referência a termos já mencionados; aquele se refere
ao termo referido em primeiro lugar e este para o referido
- Em algumas construções, os pronomes pessoais oblí-
por último:
quos átonos assumem valor de possessivo: Vou seguir-lhe
os passos. (= Vou seguir seus passos) Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Paulo;
este está mais bem colocado que aquele. (= este [São Paulo],
- O adjetivo “respectivo” equivale a “devido, seu, pró- aquele [Palmeiras])
prio”, por isso não se deve usar “seus” ao utilizá-lo, para ou
que não ocorra redundância: Coloque tudo nos respectivos
lugares. Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Paulo;
aquele está mais bem colocado que este. (= este [São Paulo],
Pronomes Demonstrativos aquele [Palmeiras])

São utilizados para explicitar a posição de certa palavra - Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou
em relação a outras ou ao contexto. Essa relação pode ser invariáveis, observe:
de espaço, de tempo ou em relação ao discurso. Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aque-
la(s).
*Em relação ao espaço: Invariáveis: isto, isso, aquilo.
- Este(s), esta(s) e isto = indicam o que está perto da
* Também aparecem como pronomes demonstrativos:
pessoa que fala:
- o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e
Este material é meu.
puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo.
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.)
- Esse(s), essa(s) e isso = indicam o que está perto da Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te
pessoa com quem se fala: indiquei.)
Esse material em sua carteira é seu?
- mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s): variam em
- Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam o que está dis- gênero quando têm caráter reforçativo:
tante tanto da pessoa que fala como da pessoa com quem Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
se fala: Eu mesma refiz os exercícios.
Aquele material não é nosso. Elas mesmas fizeram isso.
Vejam aquele prédio! Eles próprios cozinharam.
Os próprios alunos resolveram o problema.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- semelhante(s): Não tenha semelhante atitude. Os pronomes indefinidos podem ser divididos em va-
riáveis e invariáveis. Observe:
- tal, tais: Tal absurdo eu não comenteria.
Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vário,
* Note que: tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, muita, pouca,
- Em frases como: O referido deputado e o Dr. Alcides vária, tanta, outra, quanta, qualquer, quaisquer*, alguns, ne-
eram amigos íntimos; aquele casado, solteiro este. (ou en- nhuns, todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros, quantos,
tão: este solteiro, aquele casado) - este se refere à pessoa algumas, nenhumas, todas, muitas, poucas, várias, tantas,
mencionada em último lugar; aquele, à mencionada em outras, quantas.
primeiro lugar.
Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada,
- O pronome demonstrativo tal pode ter conotação algo, cada.
irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor?
*
Qualquer é composto de qual + quer (do verbo que-
- Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em rer), por isso seu plural é quaisquer (única palavra cujo plu-
com pronome demonstrativo: àquele, àquela, deste, desta, ral é feito em seu interior).
disso, nisso, no, etc: Não acreditei no que estava vendo. (no
= naquilo) - Todo e toda no singular e junto de artigo significa
inteiro; sem artigo, equivale a qualquer ou a todas as:
Pronomes Indefinidos Toda a cidade está enfeitada. (= a cidade inteira)
Toda cidade está enfeitada. (= todas as cidades)
São palavras que se referem à 3.ª pessoa do discurso, Trabalho todo o dia. (= o dia inteiro)
dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando quan- Trabalho todo dia. (= todos os dias)
tidade indeterminada.
Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém São locuções pronominais indefinidas: cada qual,
-plantadas. cada um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que),
seja quem for, seja qual for, todo aquele (que), tal qual (=
Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pessoa
certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma ou outra, etc.
de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma
Cada um escolheu o vinho desejado.
imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser hu-
mano que seguramente existe, mas cuja identidade é des-
Indefinidos Sistemáticos
conhecida ou não se quer revelar. Classificam-se em:
Ao observar atentamente os pronomes indefinidos,
- Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o lu-
percebemos que existem alguns grupos que criam oposi-
gar do ser ou da quantidade aproximada de seres na frase.
São eles: algo, alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, nin- ção de sentido. É o caso de: algum/alguém/algo, que têm
guém, outrem, quem, tudo. sentido afirmativo, e nenhum/ninguém/nada, que têm
sentido negativo; todo/tudo, que indicam uma totalidade
Algo o incomoda? afirmativa, e nenhum/nada, que indicam uma totalidade
Quem avisa amigo é. negativa; alguém/ninguém, que se referem à pessoa, e
algo/nada, que se referem à coisa; certo, que particulariza,
- Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um ser e qualquer, que generaliza.
expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quantidade Essas oposições de sentido são muito importantes na
aproximada. São eles: cada, certo(s), certa(s). construção de frases e textos coerentes, pois delas muitas
vezes dependem a solidez e a consistência dos argumen-
Cada povo tem seus costumes. tos expostos. Observe nas frases seguintes a força que os
Certas pessoas exercem várias profissões. pronomes indefinidos destacados imprimem às afirmações
de que fazem parte:
* Note que: Ora são pronomes indefinidos substanti- Nada do que tem sido feito produziu qualquer resultado
vos, ora pronomes indefinidos adjetivos: prático.
algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos), Certas pessoas conseguem perceber sutilezas: não são
demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns, pessoas quaisquer.
nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer,
quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s), *Nenhum é contração de nem um, forma mais enfática,
tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias. que se refere à unidade. Repare:
Nenhum candidato foi aprovado.
Menos palavras e mais ações. Nem um candidato foi aprovado. (um, nesse caso, é nu-
Alguns se contentam pouco. meral)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Pronomes Relativos - O pronome “cujo”: exprime posse; não concorda com


o seu antecedente (o ser possuidor), mas com o conse-
São aqueles que representam nomes já mencionados quente (o ser possuído, com o qual concorda em gênero
anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem e número); não se usa artigo depois deste pronome; “cujo”
as orações subordinadas adjetivas. equivale a do qual, da qual, dos quais, das quais.
O racismo é um sistema que afirma a superioridade de Existem pessoas cujas ações são nobres.
um grupo racial sobre outros. (antecedente) (consequente)
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros
= oração subordinada adjetiva). *interpretação do pronome “cujo” na frase acima: ações
das pessoas. É como se lêssemos “de trás para frente”. Ou-
O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema” tro exemplo:
e introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra Comprei o livro cujo autor é famoso. (= autor do livro)
“sistema” é antecedente do pronome relativo que.
O antecedente do pronome relativo pode ser o prono- ** se o verbo exigir preposição, esta virá antes do pro-
me demonstrativo o, a, os, as. nome:
Não sei o que você está querendo dizer. O autor, a cujo livro você se referiu, está aqui! (referiu-
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem se a)
expresso.
Quem casa, quer casa. - “Quanto” é pronome relativo quando tem por an-
tecedente um pronome indefinido: tanto (ou variações) e
Observe: tudo:
Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os Emprestei tantos quantos foram necessários.
quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas, (antecedente)
quantas. Ele fez tudo quanto havia falado.
Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde. (antecedente)

Note que: - O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sem-


- O pronome “que” é o relativo de mais largo emprego, pre precedido de preposição.
sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser subs- É um professor a quem muito devemos.
tituído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando seu (preposição)
antecedente for um substantivo.
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual) - “Onde”, como pronome relativo, sempre possui an-
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a tecedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar: A
qual) casa onde morava foi assaltada.
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os
quais) - Na indicação de tempo, deve-se empregar quando
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as ou em que.
quais) Sinto saudades da época em que (quando) morávamos
no exterior.
- O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente
pronomes relativos, por isso são utilizados didaticamente - Podem ser utilizadas como pronomes relativos as pa-
para verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” (que lavras:
podem ter várias classificações) são pronomes relativos. To- - como (= pelo qual) – desde que precedida das pala-
dos eles são usados com referência à pessoa ou coisa por vras modo, maneira ou forma:
motivo de clareza ou depois de determinadas preposições: Não me parece correto o modo como você agiu semana
Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, o qual passada.
me deixou encantado. O uso de “que”, neste caso, geraria
ambiguidade. Veja: Regressando de São Paulo, visitei o sítio - quando (= em que) – desde que tenha como antece-
de minha tia, que me deixou encantado (quem me deixou dente um nome que dê ideia de tempo:
encantado: o sítio ou minha tia?). Bons eram os tempos quando podíamos jogar videoga-
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas me.
dúvidas? (com preposições de duas ou mais sílabas utiliza-
se o qual / a qual) - Os pronomes relativos permitem reunir duas orações
numa só frase.
- O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, e O futebol é um esporte. / O povo gosta muito deste es-
se refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas deixou porte.
de ser poeta, que era a sua vocação natural. = O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode -lugares: Alemanha, Portugal


ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de -sentimentos: amor, saudade
gente que conversava, (que) ria, observava. -estados: alegria, tristeza
-qualidades: honestidade, sinceridade...
Pronomes Interrogativos -ações: corrida, pescaria...

São usados na formulação de perguntas, sejam elas di- Morfossintaxe do substantivo


retas ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos,
referem-se à 3.ª pessoa do discurso de modo impreciso. Nas orações, geralmente o substantivo exerce funções
São pronomes interrogativos: que, quem, qual (e variações), diretamente relacionadas com o verbo: atua como núcleo
quanto (e variações). do sujeito, dos complementos verbais (objeto direto ou
Com quem andas?
indireto) e do agente da passiva, podendo, ainda, funcio-
Qual seu nome?
nar como núcleo do complemento nominal ou do aposto,
Diz-me com quem andas, que te direi quem és.
como núcleo do predicativo do sujeito, do objeto ou como
Sobre os pronomes: núcleo do vocativo. Também encontramos substantivos
como núcleos de adjuntos adnominais e de adjuntos ad-
O pronome pessoal é do caso reto quando tem função verbiais - quando essas funções são desempenhadas por
de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo grupos de palavras.
quando desempenha função de complemento.
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar. Classificação dos Substantivos
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia
lhe ajudar. Substantivos Comuns e Próprios

Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele” Observe a definição:


exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso
reto. Já na segunda oração, o pronome “lhe” exerce função Cidade: s.f. 1: Povoação maior que vila, com muitas ca-
de complemento (objeto), ou seja, caso oblíquo. sas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Brasil, toda a
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso. sede de município é cidade). 2. O centro de uma cidade (em
O pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para oposição aos bairros).
a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não sabia se
devia ajudar... Ajudar quem? Você (lhe).
Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas
e edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou
tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição, cidade. Isso significa que a palavra cidade é um substantivo
diferentemente dos segundos, que são sempre precedidos comum.
de preposição. Substantivo Comum é aquele que designa os seres de
- Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que uma mesma espécie de forma genérica: cidade, menino,
eu estava fazendo. homem, mulher, país, cachorro.
- Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim Estamos voando para Barcelona.
o que eu estava fazendo.
O substantivo Barcelona designa apenas um ser da es-
Fontes de pesquisa: pécie cidade. Barcelona é um substantivo próprio – aquele
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf42. que designa os seres de uma mesma espécie de forma par-
php ticular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Substantivos Concretos e Abstratos
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: Substantivo Concreto: é aquele que designa o ser que
Saraiva, 2010. existe, independentemente de outros seres.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Observação: os substantivos concretos designam se-
res do mundo real e do mundo imaginário.
Substantivo
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra,
Substantivo é a classe gramatical de palavras variáveis, Brasília.
as quais denominam todos os seres que existem, sejam Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantas-
reais ou imaginários. Além de objetos, pessoas e fenôme- ma.
nos, os substantivos também nomeiam:

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LÍNGUA PORTUGUESA

Substantivo Abstrato: é aquele que designa seres que enxoval roupas


dependem de outros para se manifestarem ou existirem.
Por exemplo: a beleza não existe por si só, não pode falange soldados, anjos
ser observada. Só podemos observar a beleza numa pes- fauna animais de uma região
soa ou coisa que seja bela. A beleza depende de outro ser
feixe lenha, capim
para se manifestar. Portanto, a palavra beleza é um subs-
tantivo abstrato. flora vegetais de uma região
Os substantivos abstratos designam estados, qualida- frota navios mercantes, ônibus
des, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem ser
girândola fogos de artifício
abstraídos, e sem os quais não podem existir: vida (estado),
rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade (sentimento). horda bandidos, invasores
médicos, bois, credores,
Substantivos Coletivos junta
examinadores

Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, ou- júri jurados
tra abelha, mais outra abelha. legião soldados, anjos, demônios
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas. leva presos, recrutas
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
malta malfeitores ou desordeiros
Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi ne- manada búfalos, bois, elefantes,
cessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha, matilha cães de raça
mais outra abelha. No segundo caso, utilizaram-se duas
palavras no plural. No terceiro, empregou-se um substan- molho chaves, verduras
tivo no singular (enxame) para designar um conjunto de multidão pessoas em geral
seres da mesma espécie (abelhas).
insetos (gafanhotos,
nuvem
mosquitos, etc.)
O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
penca bananas, chaves
Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que, pinacoteca pinturas, quadros
mesmo estando no singular, designa um conjunto de seres
quadrilha ladrões, bandidos
da mesma espécie.
ramalhete flores
Substantivo coletivo Conjunto de: rebanho ovelhas
assembleia pessoas reunidas repertório peças teatrais, obras musicais
alcateia lobos réstia alhos ou cebolas
acervo livros romanceiro poesias narrativas
antologia trechos literários selecionados revoada pássaros
arquipélago ilhas sínodo párocos
banda músicos talha lenha
bando desordeiros ou malfeitores tropa muares, soldados
banca examinadores turma estudantes, trabalhadores
batalhão soldados vara porcos
cardume peixes
caravana viajantes peregrinos
cacho frutas
cancioneiro canções, poesias líricas
colmeia abelhas
concílio bispos
congresso parlamentares, cientistas
elenco atores de uma peça ou filme
esquadra navios de guerra

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LÍNGUA PORTUGUESA

Formação dos Substantivos Substantivos Uniformes: apresentam uma única forma,


Substantivos Simples e Compostos que serve tanto para o masculino quanto para o feminino.
Classificam-se em:
Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a
terra. - Epicenos: referentes a animais. A distinção de sexo se
O substantivo chuva é formado por um único elemento faz mediante a utilização das palavras “macho” e “fêmea”: a
ou radical. É um substantivo simples. cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré macho e o jacaré fêmea.
- Sobrecomuns: substantivos uniformes referentes a
Substantivo Simples: é aquele formado por um único pessoas de ambos os sexos: a criança, a testemunha, a víti-
elemento. ma, o cônjuge, o gênio, o ídolo, o indivíduo.
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja - Comuns de Dois ou Comum de Dois Gêneros: in-
agora: O substantivo guarda-chuva é formado por dois ele- dicam o sexo das pessoas por meio do artigo: o colega e a
colega, o doente e a doente, o artista e a artista.
mentos (guarda + chuva). Esse substantivo é composto.
Substantivo Composto: é aquele formado por dois ou
Saiba que: Substantivos de origem grega terminados
mais elementos. Outros exemplos: beija-flor, passatempo.
em ema ou oma são masculinos: o fonema, o poema, o sis-
tema, o sintoma, o teorema.
Substantivos Primitivos e Derivados
- Existem certos substantivos que, variando de gênero,
Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva de ne- variam em seu significado:
nhuma outra palavra da própria língua portuguesa. O subs- o águia (vigarista) e a águia (ave; perspicaz)
tantivo limoeiro, por exemplo, é derivado, pois se originou o cabeça (líder) e a cabeça (parte do corpo)
a partir da palavra limão. o capital (dinheiro) e a capital (cidade)
Substantivo Derivado: é aquele que se origina de ou- o coma (sono mórbido) e a coma (cabeleira, juba)
tra palavra. o lente (professor) e a lente (vidro de aumento)
o moral (estado de espírito) e a moral (ética; conclusão)
Flexão dos substantivos o praça (soldado raso) e a praça (área pública)
o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora)
O substantivo é uma classe variável. A palavra é variá-
vel quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por Formação do Feminino dos Substantivos Biformes
exemplo, pode sofrer variações para indicar:
Plural: meninos / Feminino: menina / Aumentativo: - Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno
meninão / Diminutivo: menininho - aluna.
- Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a ao
Flexão de Gênero masculino: freguês - freguesa
- Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino
Gênero é um princípio puramente linguístico, não de- de três formas:
vendo ser confundido com “sexo”. O gênero diz respeito 1- troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa
a todos os substantivos de nossa língua, quer se refiram 2- troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã
a seres animais providos de sexo, quer designem apenas 3- troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona
“coisas”: o gato/a gata; o banco, a casa.
* Exceções: barão – baronesa, ladrão- ladra, sultão -
Na língua portuguesa, há dois gêneros: masculino e
sultana
feminino. Pertencem ao gênero masculino os substantivos
que podem vir precedidos dos artigos o, os, um, uns. Veja - Substantivos terminados em -or:
estes títulos de filmes: acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora
O velho e o mar troca-se -or por -triz: = imperador - imperatriz
Um Natal inesquecível
Os reis da praia - Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: côn-
sul - consulesa / abade - abadessa / poeta - poetisa / duque
Pertencem ao gênero feminino os substantivos que - duquesa / conde - condessa / profeta - profetisa
podem vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
A história sem fim - Substantivos que formam o feminino trocando o -e
Uma cidade sem passado final por -a: elefante - elefanta
As tartarugas ninjas
- Substantivos que têm radicais diferentes no masculi-
Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes no e no feminino: bode – cabra / boi - vaca

Substantivos Biformes (= duas formas): apresentam - Substantivos que formam o feminino de maneira es-
uma forma para cada gênero: gato – gata, homem – mulher, pecial, isto é, não seguem nenhuma das regras anteriores:
poeta – poetisa, prefeito - prefeita czar – czarina, réu - ré

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LÍNGUA PORTUGUESA

Formação do Feminino dos Substantivos Uniformes Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata, a
cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a libido,
Epicenos: a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa).
Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros.
- São geralmente masculinos os substantivos de ori-
Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. Isso gem grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilo-
ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma forma grama, o plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o
para indicar o masculino e o feminino. telefonema, o estratagema, o dilema, o teorema, o trema, o
Alguns nomes de animais apresentam uma só forma
eczema, o edema, o magma, o estigma, o axioma, o traco-
para designar os dois sexos. Esses substantivos são cha-
ma, o hematoma.
mados de epicenos. No caso dos epicenos, quando houver
a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se palavras
macho e fêmea. * Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
A cobra macho picou o marinheiro.
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira. Gênero dos Nomes de Cidades: Com raras exceções,
nomes de cidades são femininos.
Sobrecomuns: A histórica Ouro Preto.
Entregue as crianças à natureza. A dinâmica São Paulo.
A acolhedora Porto Alegre.
A palavra crianças se refere tanto a seres do sexo mas- Uma Londres imensa e triste.
culino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso, nem Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
o artigo nem um possível adjetivo permitem identificar o
sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja: Gênero e Significação
A criança chorona chamava-se João.
A criança chorona chamava-se Maria. Muitos substantivos têm uma significação no masculi-
no e outra no feminino. Observe:
Outros substantivos sobrecomuns: o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os
a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma boa
movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai à
criatura.
frente de um bloco carnavalesco, manejando um bastão), a
o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de
Marcela faleceu baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou proibi-
ção de trânsito), o cabeça (chefe), a cabeça (parte do cor-
Comuns de Dois Gêneros: po), o cisma (separação religiosa, dissidência), a cisma (ato
Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois. de cismar, desconfiança), o cinza (a cor cinzenta), a cinza
(resíduos de combustão), o capital (dinheiro), a capital (ci-
Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher? dade), o coma (perda dos sentidos), a coma (cabeleira), o
É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro), a coral (cobra
vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme. venenosa), o crisma (óleo sagrado, usado na administração
A distinção de gênero pode ser feita através da análise da crisma e de outros sacramentos), a crisma (sacramento
do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o substanti- da confirmação), o cura (pároco), a cura (ato de curar), o
vo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante; um jovem estepe (pneu sobressalente), a estepe (vasta planície de vege-
- uma jovem; artista famoso - artista famosa; repórter fran- tação), o guia (pessoa que guia outras), a guia (documento,
cês - repórter francesa pena grande das asas das aves), o grama (unidade de peso),
a grama (relva), o caixa (funcionário da caixa), a caixa (re-
- A palavra personagem é usada indistintamente nos cipiente, setor de pagamentos), o lente (professor), a lente
dois gêneros. (vidro de aumento), o moral (ânimo), a moral (honestidade,
a) Entre os escritores modernos nota-se acentuada
bons costumes, ética), o nascente (lado onde nasce o Sol), a
preferência pelo masculino: O menino descobriu nas nuvens
nascente (a fonte), o maria-fumaça (trem como locomotiva
os personagens dos contos de carochinha.
b) Com referência a mulher, deve-se preferir o femini- a vapor), maria-fumaça (locomotiva movida a vapor), o pala
no: O problema está nas mulheres de mais idade, que não (poncho), a pala (parte anterior do boné ou quepe, antepa-
aceitam a personagem. ro), o rádio (aparelho receptor), a rádio (emissora), o voga
(remador), a voga (moda).
- Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
fotográfico Ana Belmonte. Flexão de Número do Substantivo

Observe o gênero dos substantivos seguintes: Em português, há dois números gramaticais: o singular,
Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó que indica um ser ou um grupo de seres, e o plural, que
(pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o indica mais de um ser ou grupo de seres. A característica
maracajá, o clã, o herpes, o pijama, o suéter, o soprano, o do plural é o “s” final.
proclama, o pernoite, o púbis.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Plural dos Substantivos Simples - Flexionam-se os dois elementos, quando formados


de:
- Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
“n” fazem o plural pelo acréscimo de “s”: pai – pais; ímã – substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-per-
ímãs; hífen - hifens (sem acento, no plural). Exceção: cânon feitos
- cânones. adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-ho-
mens
- Os substantivos terminados em “m” fazem o plural numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras
em “ns”: homem - homens.
- Flexiona-se somente o segundo elemento, quando
- Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plu- formados de:
ral pelo acréscimo de “es”: revólver – revólveres; raiz - raízes. verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas
palavra invariável + palavra variável = alto-falante e al-
to-falantes
* Atenção: O plural de caráter é caracteres.
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-re-
cos
- Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam-
se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quintais; cara-
- Flexiona-se somente o primeiro elemento, quando
col – caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e males, cônsul formados de:
e cônsules. substantivo + preposição clara + substantivo = água-
de-colônia e águas-de-colônia
- Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de substantivo + preposição oculta + substantivo = cava-
duas maneiras: lo-vapor e cavalos-vapor
- Quando oxítonos, em “is”: canil - canis substantivo + substantivo que funciona como determi-
- Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis. nante do primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo do
termo anterior: palavra-chave - palavras-chave, bomba-re-
Observação: a palavra réptil pode formar seu plural de lógio - bombas-relógio, homem-rã - homens-rã, peixe-espa-
duas maneiras: répteis ou reptis (pouco usada). da - peixes-espada.

- Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de - Permanecem invariáveis, quando formados de:
duas maneiras: verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora
1- Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os sa-
acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses ca-rolhas
2- Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam inva-
riáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus. * Casos Especiais

- Os substantivos terminados em “ao” fazem o plural o louva-a-deus e os louva-a-deus


de três maneiras.
o bem-te-vi e os bem-te-vis
1- substituindo o -ão por -ões: ação - ações
2- substituindo o -ão por -ães: cão - cães o bem-me-quer e os bem-me-queres
3- substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos o joão-ninguém e os joões-ninguém.

- Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis: Plural das Palavras Substantivadas


o látex - os látex.
As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras
Plural dos Substantivos Compostos classes gramaticais usadas como substantivo, apresentam,
no plural, as flexões próprias dos substantivos.
- A formação do plural dos substantivos compostos Pese bem os prós e os contras.
depende da forma como são grafados, do tipo de palavras O aluno errou na prova dos noves.
que formam o composto e da relação que estabelecem en- Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.
tre si. Aqueles que são grafados sem hífen comportam-se
como os substantivos simples: aguardente/aguardentes, gi- * Observação: numerais substantivados terminados
rassol/girassóis, pontapé/pontapés, malmequer/malmeque- em “s” ou “z” não variam no plural: Nas provas mensais con-
res. segui muitos seis e alguns dez.
O plural dos substantivos compostos cujos elementos
são ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas e
discussões. Algumas orientações são dadas a seguir:

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LÍNGUA PORTUGUESA

Plural dos Diminutivos Singular Plural


Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” final Corpo (ô) corpos (ó)
e acrescenta-se o sufixo diminutivo. esforço esforços
fogo fogos
pãe(s) + zinhos = pãezinhos forno fornos
animai(s) + zinhos = animaizinhos fosso fossos
botõe(s) + zinhos = botõezinhos imposto impostos
chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos olho olhos
farói(s) + zinhos = faroizinhos osso (ô) ossos (ó)
tren(s) + zinhos = trenzinhos ovo ovos
colhere(s) + zinhas = colherezinhas poço poços
flore(s) + zinhas = florezinhas porto portos
mão(s) + zinhas = mãozinhas posto postos
papéi(s) + zinhos = papeizinhos tijolo tijolos
nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas
funi(s) + zinhos = funizinhos Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bol-
sos, esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros, etc.
túnei(s) + zinhos = tuneizinhos
pai(s) + zinhos = paizinhos * Observação: distinga-se molho (ô) = caldo (molho
pé(s) + zinhos = pezinhos de carne), de molho (ó) = feixe (molho de lenha).
pé(s) + zitos = pezitos
Particularidades sobre o Número dos Substantivos
Plural dos Nomes Próprios Personativos
- Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o
Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
sempre que a terminação preste-se à flexão. - Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsames,
as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes.
Os Napoleões também são derrotados. - Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do
As Raquéis e Esteres. singular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probidade,
bom nome) e honras (homenagem, títulos).
Plural dos Substantivos Estrangeiros - Usamos às vezes, os substantivos no singular, mas
com sentido de plural:
Substantivos ainda não aportuguesados devem ser es- Aqui morreu muito negro.
critos como na língua original, acrescentando-se “s” (exceto Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas
quando terminam em “s” ou “z”): os shows, os shorts, os jazz. improvisadas.

Substantivos já aportuguesados flexionam-se de acor- Flexão de Grau do Substantivo


do com as regras de nossa língua: os clubes, os chopes, os
jipes, os esportes, as toaletes, os bibelôs, os garçons, os ré- Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir
quiens. as variações de tamanho dos seres. Classifica-se em:

Observe o exemplo: - Grau Normal - Indica um ser de tamanho considera-


Este jogador faz gols toda vez que joga. do normal. Por exemplo: casa
O plural correto seria gois (ô), mas não se usa.
- Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho
Plural com Mudança de Timbre
do ser. Classifica-se em:
Analítico = o substantivo é acompanhado de um adje-
Certos substantivos formam o plural com mudança de
tivo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um fato
fonético chamado metafonia (plural metafônico). Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indi-
cador de aumento. Por exemplo: casarão.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho Classificação dos Verbos


do ser. Pode ser:
Analítico = substantivo acompanhado de um adjetivo Classificam-se em:
que indica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indi- - Regulares: são aqueles que apresentam o radical
cador de diminuição. Por exemplo: casinha. inalterado durante a conjugação e desinências idênticas às
de todos os verbos regulares da mesma conjugação. Por
Fontes de pesquisa: exemplo: comparemos os verbos “cantar” e “falar”, conju-
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf12.php gados no presente do Modo Indicativo:
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- canto falo
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: cantas falas
Saraiva, 2010.
canta falas
Verbo cantamos falamos
cantais falais
Verbo é a palavra que se flexiona em pessoa, núme-
ro, tempo e modo. A estes tipos de flexão verbal dá-se o cantam falam
nome de conjugação (por isso também se diz que verbo
é a palavra que pode ser conjugada). Pode indicar, entre * Dica: Observe que, retirando os radicais, as desi-
outros processos: ação (amarrar), estado (sou), fenômeno nências modo-temporal e número-pessoal mantiveram-se
(choverá); ocorrência (nascer); desejo (querer). idênticas. Tente fazer com outro verbo e perceberá que se
repetirá o fato (desde que o verbo seja da primeira conju-
Estrutura das Formas Verbais gação e regular!). Faça com o verbo “andar”, por exemplo.
Substitua o radical “cant” e coloque o “and” (radical do ver-
Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar bo andar). Viu? Fácil!
os seguintes elementos:
- Radical: é a parte invariável, que expressa o significa- - Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca altera-
do essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-ava; fal-am. ções no radical ou nas desinências: faço, fiz, farei, fizesse.
(radical fal-) * Observação: alguns verbos sofrem alteração no ra-
- Tema: é o radical seguido da vogal temática que in- dical apenas para que seja mantida a sonoridade. É o caso
dica a conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo: de: corrigir/corrijo, fingir/finjo, tocar/toquei, por exemplo.
fala-r. São três as conjugações: Tais alterações não caracterizam irregularidade, porque o
1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática - fonema permanece inalterado.
E - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir).
- Desinência modo-temporal: é o elemento que de-
- Defectivos: são aqueles que não apresentam conju-
signa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo:
gação completa. Os principais são adequar, precaver, com-
falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicativo)
/ falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo) putar, reaver, abolir, falir.
- Desinência número-pessoal: é o elemento que de-
signa a pessoa do discurso (1.ª, 2.ª ou 3.ª) e o número (sin- - Impessoais: são os verbos que não têm sujeito e, nor-
gular ou plural): malmente, são usados na terceira pessoa do singular. Os
falamos (indica a 1.ª pessoa do plural.) / falavam (in- principais verbos impessoais são:
dica a 3.ª pessoa do plural.)
* haver, quando sinônimo de existir, acontecer, realizar-
* Observação: o verbo pôr, assim como seus derivados se ou fazer (em orações temporais).
(compor, repor, depor), pertencem à 2.ª conjugação, pois a Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia = Exis-
forma arcaica do verbo pôr era poer. A vogal “e”, apesar tiam)
de haver desaparecido do infinitivo, revela-se em algumas Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram)
formas do verbo: põe, pões, põem, etc. Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão)
Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz)
Formas Rizotônicas e Arrizotônicas
* fazer, ser e estar (quando indicam tempo)
Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura Faz invernos rigorosos na Europa.
dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce- Era primavera quando o conheci.
bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acento Estava frio naquele dia.
tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, amo, por
exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico não cai
no radical, mas sim na terminação verbal (fora do radical):
opinei, aprenderão, amaríamos.

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LÍNGUA PORTUGUESA

* Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, amanhecer,
escurecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Amanheci cansado”, usa-se o verbo “amanhecer” em sentido figurado. Qual-
quer verbo impessoal, empregado em sentido figurado, deixa de ser impessoal para ser pessoal, ou seja, terá conjugação
completa.
Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu)
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)

* São impessoais, ainda:


- o verbo passar (seguido de preposição), indicando tempo: Já passa das seis.

- os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição “de”, indicando suficiência:


Basta de tolices.
Chega de promessas.

- os verbos estar e ficar em orações como “Está bem, Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal”, sem referência a
sujeito expresso anteriormente (por exemplo: “ele está mal”). Podemos, nesse caso, classificar o sujeito como hipotético,
tornando-se, tais verbos, pessoais.

- o verbo dar + para da língua popular, equivalente de “ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo.
Dá para me arrumar uma apostila?

- Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural. São
unipessoais os verbos constar, convir, ser (= preciso, necessário) e todos os que indicam vozes de animais (cacarejar, cricrilar,
miar, latir, piar).

* Observação: os verbos unipessoais podem ser usados como verbos pessoais na linguagem figurada:
Teu irmão amadureceu bastante.
O que é que aquela garota está cacarejando?

Principais verbos unipessoais:

1. cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser (preciso, necessário):


Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos bastante)
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
É preciso que chova. (Sujeito: que chova)

2. fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da conjunção que.
Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei à Europa)
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a vejo. (Sujeito: que não a vejo)

* Observação: todos os sujeitos apontados são oracionais.

- Abundantes: são aqueles que possuem duas ou mais formas equivalentes, geralmente no particípio, em que, além
das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio irregular).
O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular é em-
pregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser, ficar e estar. Observe:

Infinitivo Particípio Regular Particípio Irregular


Aceitar Aceitado Aceito
Acender Acendido Aceso
Anexar Anexado Anexo
Benzer Benzido Bento
Corrigir Corrigido Correto
Dispersar Dispersado Disperso

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LÍNGUA PORTUGUESA

Eleger Elegido Eleito


Envolver Envolvido Envolto
Imprimir Imprimido Impresso
Inserir Inserido Inserto
Limpar Limpado Limpo
Matar Matado Morto
Misturar Misturado Misto
Morrer Morrido Morto
Murchar Murchado Murcho
Pegar Pegado Pego
Romper Rompido Roto
Soltar Soltado Solto
Suspender Suspendido Suspenso
Tingir Tingido Tinto
Vagar Vagado Vago

* Importante:
- estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/dito, escrever/
escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.

- Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois, fui) e
ir (fui, ia, vades).

- Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo principal
(aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é expresso numa das
formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.

Vou espantar todos!


(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)

Está chegando a hora!


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

* Observação: os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.

Conjugação dos Verbos Auxiliares

SER - Modo Indicativo

Presente Pret.Perfeito Pret. Imp. Pret.mais-que-perf. Fut.do Pres. Fut. Do Pretérito


sou fui era fora serei seria
és foste eras foras serás serias
é foi era fora será seria
somos fomos éramos fôramos seremos seríamos
sois fostes éreis fôreis sereis seríeis
são foram eram foram serão seriam

33
LÍNGUA PORTUGUESA

SER - Modo Subjuntivo


Presente Pretérito Imperfeito Futuro
que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

SER - Modo Imperativo


Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês

SER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


ser ser eu sendo sido
seres tu
ser ele
sermos nós
serdes vós
serem eles

ESTAR - Modo Indicativo



Presente Pret. perf. Pret. Imp. Pret.mais-q-perf. Fut.doPres. Fut.doPreté.
estou estive estava estivera estarei estaria
estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

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LÍNGUA PORTUGUESA

ESTAR - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem

HAVER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


hei houve havia houvera haverei haveria
hás houveste havias houveras haverás haverias
há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo


Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo
ja houvesse houver
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

HAVER - Formas Nominais


Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio
haver haver havendo havido
haveres

haver

havermos
haverdes
haverem

TER - Modo Indicativo


Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Preté.mais-q-perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

35
LÍNGUA PORTUGUESA

TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

- Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita no
próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:

1. Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a reflexibilidade já
está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.
A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela mes-
ma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula integrante
do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de reforço da ideia refle-
xiva expressa pelo radical do próprio verbo.
Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e respectivos pronomes):
Eu me arrependo
Tu te arrependes
Ele se arrepende
Nós nos arrependemos
Vós vos arrependeis
Eles se arrependem

2. Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto repre-
sentado por pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre ele mesmo. Em
geral, os verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os pronomes mencionados,
formando o que se chama voz reflexiva. Por exemplo: A garota se penteava.
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode ser exercida também sobre outra pessoa. Por exemplo: A garota
penteou-me.

* Observações:
- Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função
sintática.
- Há verbos que também são acompanhados de pronomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente prono-
minais - são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à do
sujeito, exercem funções sintáticas. Por exemplo:
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; me (objeto direto) – 1.ª pessoa do singular

Modos Verbais

Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadeiro. Existem
três modos:

Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu estudo para o concurso.


Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade: Talvez eu estude amanhã.
Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estude, colega!

Formas Nominais

Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas que podem exercer funções de nomes (substantivo, adjetivo,
advérbio), sendo por isso denominadas formas nominais. Observe:

36
LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Infinitivo
1.1-) Impessoal: exprime a significação do verbo de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de substan-
tivo. Por exemplo:
Viver é lutar. (= vida é luta)
É indispensável combater a corrupção. (= combate à)

O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente (forma simples) ou no passado (forma composta). Por exemplo:
É preciso ler este livro.
Era preciso ter lido este livro.

1.2-) Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do singular, não
apresenta desinências, assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira:
2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu)
1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós)
2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós)
3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles)
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.

2-) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou advérbio. Por exemplo:
Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de advérbio)
Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo)

Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação em curso; na forma composta (2), uma ação concluída:
Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro.
Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro.

* Quando o gerúndio é vício de linguagem (gerundismo), ou seja, uso exagerado e inadequado do gerúndio:
1- Enquanto você vai ao mercado, vou estar jogando futebol.
2 – Sim, senhora! Vou estar verificando!

Em 1, a locução “vou estar” + gerúndio é adequada, pois transmite a ideia de uma ação que ocorre no momento da
outra; em 2, essa ideia não ocorre, já que a locução verbal “vou estar verificando” refere-se a um futuro em andamento,
exigindo, no caso, a construção “verificarei” ou “vou verificar”.

3-) Particípio: quando não é empregado na formação dos tempos compostos, o particípio indica, geralmente, o resul-
tado de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e grau. Por exemplo: Terminados os exames, os candidatos
saíram.

Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a função de
adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida pela turma.

(Ziraldo)

Tempos Verbais

Tomando-se como referência o momento em que se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos tempos.

37
LÍNGUA PORTUGUESA

1. Tempos do Modo Indicativo


- Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste colégio.
- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual, mas que não foi completamente
terminado: Ele estudava as lições quando foi interrompido.
- Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado: Ele
estudou as lições ontem à noite.
- Pretérito-mais-que-perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já estudara as lições
quando os amigos chegaram. (forma simples).
- Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual: Ele
estudará as lições amanhã.
- Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado: Se ele
pudesse, estudaria um pouco mais.

2. Tempos do Modo Subjuntivo


- Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual: É conveniente que estudes para o exame.
- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele vencesse o jogo.

Observação: o pretérito imperfeito é também usado nas construções em que se expressa a ideia de condição ou de-
sejo. Por exemplo: Se ele viesse ao clube, participaria do campeonato.

- Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele vier
à loja, levará as encomendas.

Observação: o futuro do presente é também usado em frases que indicam possibilidade ou desejo. Por exemplo: Se
ele vier à loja, levará as encomendas.
** Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)

No próximo final de semana, faço a prova!


faço = forma do presente indicando futuro ( = farei)

Modo Indicativo

Presente do Indicativo
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal
CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M

Pretérito Perfeito do Indicativo


1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal
CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
cantaSTE vendeSTE partISTE STE
cantoU vendeU partiU U
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM

38
LÍNGUA PORTUGUESA

Pretérito mais-que-perfeito

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

Pretérito Imperfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3ª. conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantAVA vendIA partIA
cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

Futuro do Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão

Futuro do Pretérito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM

39
LÍNGUA PORTUGUESA

Presente do Subjuntivo

Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).

1.ª conjug. 2.ª conjug. 3.ª conju. Desinên. pessoal Des. temporal Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M

Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de nú-
mero e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

Futuro do Subjuntivo

Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito, ob-
tendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de número e
pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR R Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM partiREM R EM

40
LÍNGUA PORTUGUESA

Modo Imperativo

Imperativo Afirmativo

Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:

Presente do Indicativo Imperativo Afirmativo Presente do Subjuntivo


Eu canto --- Que eu cante
Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem

Imperativo Negativo

Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.

Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo

Que eu cante ---


Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
Que nós cantemos Não cantemos nós
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles
Observações:
- No modo imperativo não faz sentido usar na 3.ª pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem, pedido
ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
- O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), sede (vós).

Infinitivo Pessoal

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar vender partir
cantarES venderES partirES
cantar vender partir
cantarMOS venderMOS partirMOS
cantarDES venderDES partirDES
cantarEM venderEM partirEM

* Observações:
- o verbo parecer admite duas construções:
Elas parecem gostar de você. (forma uma locução verbal)
Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito oracional, correspondendo à construção: parece gostarem de você).

- o verbo pegar possui dois particípios (regular e irregular):


Elvis tinha pegado minhas apostilas.
Minhas apostilas foram pegas.

41
LÍNGUA PORTUGUESA

fontes de pesquisa: 3-) (POLÍCIA MILITAR/SP – OFICIAL ADMINISTRATIVO


http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54. – VUNESP/2014) Considere o trecho a seguir.
php Já __________ alguns anos que estudos a respeito da
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- utilização abusiva dos smartphones estão sendo desen-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. volvidos. Os especialistas acreditam _________ motivos para
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere- associar alguns comportamentos dos adolescentes ao uso
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: prolongado desses aparelhos, e _________ alertado os pais
Saraiva, 2010. para que avaliem a necessidade de estabelecer limites aos
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- seus filhos.
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa,
as lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e res-
pectivamente, com:
Questões sobre Verbo (A) faz … haver … têm
(B) fazem … haver … tem
1-) (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – (C) faz … haverem … têm
2014) A assertiva correta quanto à conjugação verbal é: (D) fazem … haverem … têm
A) Houveram eleições em outros países este ano. (E) faz … haverem … tem
B) Se eu vir você por aí, acabou.
C) Tinha chego atrasado vinte minutos. 3-) Já FAZ (sentido de tempo: não sofre flexão) alguns
D) Fazem três anos que não tiro férias. anos que estudos a respeito da utilização abusiva dos
E) Esse homem possue muitos bens. smartphones estão sendo desenvolvidos. Os especialistas
acreditam HAVER (sentido de existir: não varia) motivos
1-) Correções à frente: para associar alguns comportamentos dos adolescentes ao
A) Houveram eleições em outros países este ano = uso prolongado desses aparelhos, e TÊM (concorda com o
houve termo “os especialistas”) alertado os pais para que avaliem
C) Tinha chego atrasado vinte minutos = tinha chegado a necessidade de estabelecer limites aos seus filhos.
D) Fazem três anos que não tiro férias = faz três anos Temos: faz, haver, têm.
RESPOSTA: “A”.
E) Esse homem possue muitos bens = possui
RESPOSTA: “B”.
Vozes do Verbo
2-) (POLÍCIA CIVIL/SC – AGENTE DE POLÍCIA – ACA-
Dá-se o nome de voz à maneira como se apresenta a
FE/2014) Complete as lacunas com os verbos, tempos e
ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, indicando
modos indicados entre parênteses, fazendo a devida con-
se este é paciente ou agente da ação. Importante lembrar
cordância.
que voz verbal não é flexão, mas aspecto verbal. São três
• O juiz agrário ainda não _________ no conflito porque
as vozes verbais:
surgiram fatos novos de ontem para hoje. (intervir - preté-
rito perfeito do indicativo) - Ativa = quando o sujeito é agente, isto é, pratica a
• Uns poucos convidados ___________-se com os vídeos ação expressa pelo verbo:
postados no facebook. (entreter - pretérito imperfeito do
indicativo) Ele fez o tra-
• Representantes do PCRT somente serão aceitos na balho.
composição da chapa quando se _________ de criticar a sujeito agente ação objeto
atual diretoria do clube, (abster-se - futuro do subjuntivo) (paciente)
A sequência correta, de cima para baixo, é:
A-) interveio - entretinham - abstiverem - Passiva = quando o sujeito é paciente, recebendo a
B-) interviu - entretiveram - absterem ação expressa pelo verbo:
C-) intervém - entreteram - abstêm
D-) interviera - entretêm - abstiverem O trabalho foi feito p o r
E-) intervirá - entretenham - abstiveram ele.
sujeito paciente ação agente
da passiva
2-) O verbo “intervir” deve ser conjugado como o ver-
bo “vir”. Este, no pretérito perfeito do Indicativo fica “veio”, - Reflexiva = quando o sujeito é, ao mesmo tempo,
portanto, “interveio” (não existe “interviu”, já que ele não agente e paciente, isto é, pratica e recebe a ação:
deriva do verbo “ver”). Descartemos a alternativa B. Como
não há outro item com a mesma opção, chegamos à res-
posta rapidamente!
RESPOSTA: “A”.

42
LÍNGUA PORTUGUESA

O menino feriu-se. Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva

* Observação: não confundir o emprego reflexivo do Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar subs-
verbo com a noção de reciprocidade: tancialmente o sentido da frase.
Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
Nós nos amamos. (um ama o outro) O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa)
Sujeito da Ativa objeto Direto
Formação da Voz Passiva
A apostila foi comprada pelo concurseiro.
A voz passiva pode ser formada por dois processos: (Voz Passiva)
analítico e sintético. Sujeito da Passiva Agente da Passi-
va
1- Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte ma-
neira: Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva; o
sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo ativo
Verbo SER + particípio do verbo principal. Por exemplo: assumirá a forma passiva, conservando o mesmo tempo.
A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos: os Observe:
alunos pintarão a escola) - Os mestres têm constantemente aconselhado os alu-
O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho) nos.
Os alunos têm sido constantemente aconselhados pelos
* Observação: o agente da passiva geralmente é acom- mestres.
panhado da preposição por, mas pode ocorrer a constru-
ção com a preposição de. Por exemplo: A casa ficou cercada - Eu o acompanharei.
de soldados. Ele será acompanhado por mim.
- Pode acontecer de o agente da passiva não estar ex- * Observação: quando o sujeito da voz ativa for inde-
plícito na frase: A exposição será aberta amanhã. terminado, não haverá complemento agente na passiva.
Por exemplo: Prejudicaram-me. / Fui prejudicado.
- A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar
(SER), pois o particípio é invariável. Observe a transforma-
** Saiba que:
ção das frases seguintes:
- com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir,
acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, passiva ou reflexiva,
a) Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo)
porque o sujeito não pode ser visto como agente, paciente
O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito per-
ou agente-paciente.
feito do Indicativo, assim como o verbo principal da voz
ativa)
Fontes de pesquisa:
b) Ele faz o trabalho. (presente do indicativo) http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.
O trabalho é feito por ele. (ser no presente do indica- php
tivo) SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
c) Ele fará o trabalho. (futuro do presente) Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
O trabalho será feito por ele. (futuro do presente) ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
- Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assume Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
o mesmo tempo e modo do verbo principal da voz ativa. ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Observe a transformação da frase seguinte:
O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio) Questões

2- Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética - ou 1-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA/GO – ANALISTA JUDICIÁ-
pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª pessoa, segui- RIO – FGV/2014 - adaptada) A frase “que foi trazida pelo
do do pronome apassivador “se”. Por exemplo: instituto Endeavor” equivale, na voz ativa, a:
Abriram-se as inscrições para o concurso. (A) que o instituto Endeavor traz;
Destruiu-se o velho prédio da escola. (B) que o instituto Endeavor trouxe;
(C) trazida pelo instituto Endeavor;
* Observação: o agente não costuma vir expresso na (D) que é trazida pelo instituto Endeavor;
voz passiva sintética. (E) que traz o instituto Endeavor.

43
LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Se na voz passiva temos dois verbos, na ativa tere- Regras ortográficas
mos um: “que o instituto Endeavor trouxe” (manter o tem-
po verbal no pretérito – assim como na passiva). O fonema s
RESPOSTA: “B”.
S e não C/Ç

2-) (PRODAM/AM – ASSISTENTE – FUNCAB/2014 - palavras substantivadas derivadas de verbos com radi-
adaptada) Ao passarmos a frase “...e É CONSIDERADO por cais em nd, rg, rt, pel, corr e sent: pretender - pretensão /
muitos o maior maratonista de todos os tempos” para a expandir - expansão / ascender - ascensão / inverter - inver-
voz ativa, encontramos a seguinte forma verbal: são / aspergir - aspersão / submergir - submersão / divertir
A) consideravam. - diversão / impelir - impulsivo / compelir - compulsório /
B) consideram. repelir - repulsa / recorrer - recurso / discorrer - discurso /
C) considerem. sentir - sensível / consentir – consensual.
D) considerarão.
E) considerariam.
SS e não C e Ç
2-) É CONSIDERADO por muitos o maior maratonista
nomes derivados dos verbos cujos radicais terminem
de todos os tempos = dois verbos na voz passiva, então na
em gred, ced, prim ou com verbos terminados por tir ou
ativa teremos UM: muitos o consideram o maior marato-
nista de todos os tempos. -meter: agredir - agressivo / imprimir - impressão / admitir
RESPOSTA: “B”. - admissão / ceder - cessão / exceder - excesso / percutir -
percussão / regredir - regressão / oprimir - opressão / com-
prometer - compromisso / submeter – submissão.
3-) (TRT-16ª REGIÃO/MA - ANALISTA JUDICIÁRIO –
ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC/2014) *quando o prefixo termina com vogal que se junta com
Transpondo-se para a voz passiva a frase “vou glosar a palavra iniciada por “s”. Exemplos: a + simétrico - assimé-
uma observação de Machado de Assis”, a forma verbal re- trico / re + surgir – ressurgir.
sultante deverá ser *no pretérito imperfeito simples do subjuntivo. Exem-
(A) terei glosado plos: ficasse, falasse.
(B) seria glosada
(C) haverá de ser glosada C ou Ç e não S e SS
(D) será glosada
(E) terá sido glosada vocábulos de origem árabe: cetim, açucena, açúcar.
vocábulos de origem tupi, africana ou exótica: cipó, Ju-
3-) “vou glosar uma observação de Machado de Assis” çara, caçula, cachaça, cacique.
– “vou glosar” expressa “glosarei”, então teremos na pas- sufixos aça, aço, ação, çar, ecer, iça, nça, uça, uçu,
siva: uma observação de Machado de Assis será glosada uço: barcaça, ricaço, aguçar, empalidecer, carniça, caniço,
por mim. esperança, carapuça, dentuço.
RESPOSTA: “D”. nomes derivados do verbo ter: abster - abstenção / de-
ter - detenção / ater - atenção / reter – retenção.
após ditongos: foice, coice, traição.
palavras derivadas de outras terminadas em -te, to(r):
ORTOGRAFIA marte - marciano / infrator - infração / absorto – absorção.

O fonema z
A ortografia é a parte da Fonologia que trata da correta
S e não Z
grafia das palavras. É ela quem ordena qual som devem
ter as letras do alfabeto. Os vocábulos de uma língua são
grafados segundo acordos ortográficos. sufixos: ês, esa, esia, e isa, quando o radical é subs-
tantivo, ou em gentílicos e títulos nobiliárquicos: freguês,
A maneira mais simples, prática e objetiva de apren- freguesa, freguesia, poetisa, baronesa, princesa.
der ortografia é realizar muitos exercícios, ver as palavras, sufixos gregos: ase, ese, ise e ose: catequese, metamor-
familiarizando-se com elas. O conhecimento das regras é fose.
necessário, mas não basta, pois há inúmeras exceções e, formas verbais pôr e querer: pôs, pus, quisera, quis, qui-
em alguns casos, há necessidade de conhecimento de eti- seste.
mologia (origem da palavra). nomes derivados de verbos com radicais terminados
em “d”: aludir - alusão / decidir - decisão / empreender -
empresa / difundir – difusão.

44
LÍNGUA PORTUGUESA

diminutivos cujos radicais terminam com “s”: Luís - Lui- CH e não X


sinho / Rosa - Rosinha / lápis – lapisinho.
após ditongos: coisa, pausa, pouso, causa. palavras de origem estrangeira: chave, chumbo, chassi,
verbos derivados de nomes cujo radical termina com mochila, espadachim, chope, sanduíche, salsicha.
“s”: anális(e) + ar - analisar / pesquis(a) + ar – pesquisar.
As letras “e” e “i”
Z e não S
Ditongos nasais são escritos com “e”: mãe, põem. Com
sufixos “ez” e “eza” das palavras derivadas de adjetivo: “i”, só o ditongo interno cãibra.
macio - maciez / rico – riqueza / belo – beleza. verbos que apresentam infinitivo em -oar, -uar são
sufixos “izar” (desde que o radical da palavra de ori- escritos com “e”: caçoe, perdoe, tumultue. Escrevemos com
gem não termine com s): final - finalizar / concreto – con- “i”, os verbos com infinitivo em -air, -oer e -uir: trai, dói,
cretizar. possui, contribui.
consoante de ligação se o radical não terminar com “s”:
pé + inho - pezinho / café + al - cafezal * Atenção para as palavras que mudam de sentido
quando substituímos a grafia “e” pela grafia “i”: área (super-
Exceção: lápis + inho – lapisinho. fície), ária (melodia) / delatar (denunciar), dilatar (expandir)
/ emergir (vir à tona), imergir (mergulhar) / peão (de estân-
O fonema j cia, que anda a pé), pião (brinquedo).

G e não J * Dica:
- Se o dicionário ainda deixar dúvida quanto à orto-
palavras de origem grega ou árabe: tigela, girafa, ges- grafia de uma palavra, há a possibilidade de consultar o
so. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), ela-
estrangeirismo, cuja letra G é originária: sargento, gim. borado pela Academia Brasileira de Letras. É uma obra de
terminações: agem, igem, ugem, ege, oge (com pou- referência até mesmo para a criação de dicionários, pois
cas exceções): imagem, vertigem, penugem, bege, foge. traz a grafia atualizada das palavras (sem o significado). Na
Internet, o endereço é www.academia.org.br.
Exceção: pajem.
Informações importantes
terminações: ágio, égio, ígio, ógio, ugio: sortilégio, - Formas variantes são formas duplas ou múltiplas,
litígio, relógio, refúgio. equivalentes: aluguel/aluguer, relampejar/relampear/re-
verbos terminados em ger/gir: emergir, eleger, fugir, lampar/relampadar.
mugir. - Os símbolos das unidades de medida são escritos
depois da letra “r” com poucas exceções: emergir, sur- sem ponto, com letra minúscula e sem “s” para indicar plu-
gir. ral, sem espaço entre o algarismo e o símbolo: 2kg, 20km,
depois da letra “a”, desde que não seja radical termina- 120km/h.
do com j: ágil, agente. Exceção para litro (L): 2 L, 150 L.
- Na indicação de horas, minutos e segundos, não deve
J e não G haver espaço entre o algarismo e o símbolo: 14h, 22h30min,
14h23’34’’(= quatorze horas, vinte e três minutos e trinta e
palavras de origem latinas: jeito, majestade, hoje. quatro segundos).
palavras de origem árabe, africana ou exótica: jiboia, - O símbolo do real antecede o número sem espaço:
manjerona. R$1.000,00. No cifrão deve ser utilizada apenas uma barra
palavras terminadas com aje: ultraje. vertical ($).

O fonema ch Fontes de pesquisa:


http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/or-
X e não CH tografia
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
palavras de origem tupi, africana ou exótica: abacaxi, coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
xucro. Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
palavras de origem inglesa e espanhola: xampu, lagar- ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
tixa. Saraiva, 2010.
depois de ditongo: frouxo, feixe. Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
depois de “en”: enxurrada, enxada, enxoval. ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

Exceção: quando a palavra de origem não derive de


outra iniciada com ch - Cheio - (enchente)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Hífen ** O hífen é suprimido quando para formar outros ter-


mos: reaver, inábil, desumano, lobisomem, reabilitar.
O hífen é um sinal diacrítico (que distingue) usado para
ligar os elementos de palavras compostas (como ex-presi- Lembrete da Zê!
dente, por exemplo) e para unir pronomes átonos a verbos Ao separar palavras na translineação (mudança de li-
(ofereceram-me; vê-lo-ei). Serve igualmente para fazer a nha), caso a última palavra a ser escrita seja formada por
translineação de palavras, isto é, no fim de uma linha, se- hífen, repita-o na próxima linha. Exemplo: escreverei anti
parar uma palavra em duas partes (ca-/sa; compa-/nheiro). -inflamatório e, ao final, coube apenas “anti-”. Na próxima
linha escreverei: “-inflamatório” (hífen em ambas as linhas).
Uso do hífen que continua depois da Reforma Or-
tográfica: Não se emprega o hífen:

1. Em palavras compostas por justaposição que formam 1. Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo
uma unidade semântica, ou seja, nos termos que se unem termina em vogal e o segundo termo inicia-se em “r” ou
para formarem um novo significado: tio-avô, porto-ale- “s”. Nesse caso, passa-se a duplicar estas consoantes: antir-
grense, luso-brasileiro, tenente-coronel, segunda- -fei- religioso, contrarregra, infrassom, microssistema, minissaia,
ra, conta-gotas, guarda-chuva, arco-íris, primeiro-ministro, microrradiografia, etc.
azul-escuro.
2. Nas constituições em que o prefixo ou pseudopre-
2. Em palavras compostas por espécies botânicas e fixo termina em vogal e o segundo termo inicia-se com
zoológicas: couve-flor, bem-te-vi, bem-me-quer, abóbora- vogal diferente: antiaéreo, extraescolar, coeducação, autoes-
-menina, erva-doce, feijão-verde. trada, autoaprendizagem, hidroelétrico, plurianual, autoes-
cola, infraestrutura, etc.
3. Nos compostos com elementos além, aquém, re-
cém e sem: além-mar, recém-nascido, sem-número, recém- 3. Nas formações, em geral, que contêm os prefixos
-casado. “dês” e “in” e o segundo elemento perdeu o “h” inicial: de-
sumano, inábil, desabilitar, etc.
4. No geral, as locuções não possuem hífen, mas algu-
mas exceções continuam por já estarem consagradas pelo 4. Nas formações com o prefixo “co”, mesmo quando o
uso: cor-de-rosa, arco-da-velha, mais-que-perfeito, pé-de- segundo elemento começar com “o”: cooperação, coobriga-
meia, água-de-colônia, queima-roupa, deus-dará. ção, coordenar, coocupante, coautor, coedição, coexistir, etc.

5. Nos encadeamentos de vocábulos, como: ponte Rio- 5. Em certas palavras que, com o uso, adquiriram noção
Niterói, percurso Lisboa-Coimbra-Porto e nas combinações de composição: pontapé, girassol, paraquedas, paraquedis-
históricas ou ocasionais: Áustria-Hungria, Angola-Brasil, ta, etc.
etc.
6. Em alguns compostos com o advérbio “bem”: benfei-
6. Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e su- to, benquerer, benquerido, etc.
per- quando associados com outro termo que é iniciado
por “r”: hiper-resistente, inter-racial, super-racional, etc. - Os prefixos pós, pré e pró, em suas formas corres-
pondentes átonas, aglutinam-se com o elemento seguinte,
7. Nas formações com os prefixos ex-, vice-: ex-diretor, não havendo hífen: pospor, predeterminar, predeterminado,
ex-presidente, vice-governador, vice-prefeito. pressuposto, propor.
- Escreveremos com hífen: anti-horário, anti-infeccio-
8. Nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-: so, auto-observação, contra-ataque, semi-interno, sobre-
pré-natal, pré-escolar, pró-europeu, pós-graduação, etc. -humano, super-realista, alto-mar.
- Escreveremos sem hífen: pôr do sol, antirreforma,
9. Na ênclise e mesóclise: amá-lo, deixá-lo, dá-se, abra- antisséptico, antissocial, contrarreforma, minirrestaurante,
ça-o, lança-o e amá-lo-ei, falar-lhe-ei, etc. ultrassom, antiaderente, anteprojeto, anticaspa, antivírus,
autoajuda, autoelogio, autoestima, radiotáxi.
10. Nas formações em que o prefixo tem como se-
gundo termo uma palavra iniciada por “h”: sub-hepático, Fontes de pesquisa:
geo--história, neo-helênico, extra-humano, semi-hospitalar, http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/or-
super-homem. tografia
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
11. Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
termina com a mesma vogal do segundo elemento: micro
-ondas, eletro-ótica, semi-interno, auto-observação, etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Questões Armandinho, personagem do cartunista Alexandre


Beck, sabe perfeitamente empregar os parônimos “cestas”
1-) (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – 2014) “sestas” e “sextas”. Quanto ao emprego de parônimos, da-
De acordo com a nova ortografia, assinale o item em que das as frases abaixo,
todas as palavras estão corretas: I. O cidadão se dirigia para sua _____________ eleitoral.
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial. II. A zona eleitoral ficava ___________ 200 metros de um
B) supracitado – semi-novo – telesserviço. posto policial.
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som. III. O condutor do automóvel __________ a lei seca.
D) contrarregra – autopista – semi-aberto. IV. Foi encontrada uma __________ soma de dinheiro no
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor. carro.
V. O policial anunciou o __________ delito.
1-) Correção:
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial = correta Assinale a alternativa cujos vocábulos preenchem cor-
B) supracitado – semi-novo – telesserviço = seminovo retamente as lacunas das frases.
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som = hi- A) seção, acerca de, infligiu, vultosa, fragrante.
droelétrica, ultrassom B) seção, acerca de, infligiu, vultuosa, flagrante.
D) contrarregra – autopista – semi-aberto = semiaberto C) sessão, a cerca de, infringiu, vultosa, fragrante.
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor = infraes- D) seção, a cerca de, infringiu, vultosa, flagrante.
trutura E) sessão, a cerca de, infligiu, vultuosa, flagrante.
RESPOSTA: “A”.
3-) Questão que envolve ortografia.
I. O cidadão se dirigia para sua SEÇÃO eleitoral. (setor)
2-) (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – 2014) II. A zona eleitoral ficava A CERCA DE 200 metros de um
De acordo com a nova ortografia, assinale o item em que
posto policial. (= aproximadamente)
todas as palavras estão corretas:
III. O condutor do automóvel INFRINGIU a lei seca. (re-
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial.
lacione com infrator)
B) supracitado – semi-novo – telesserviço.
IV. Foi encontrada uma VULTOSA soma de dinheiro no
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som.
carro. (de grande vulto, volumoso)
D) contrarregra – autopista – semi-aberto.
V. O policial anunciou o FLAGRANTE delito. (relacione
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor.
com “pego no flagra”)
2-) Correção: Seção / a cerca de / infringiu / vultosa / flagrante
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial = correta RESPOSTA: “D”.
B) supracitado – semi-novo – telesserviço = seminovo
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som = hi-
droelétrica, ultrassom
D) contrarregra – autopista – semi-aberto = semiaberto ACENTUAÇÃO
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor = infraes-
trutura
RESPOSTA: “A”.
Quanto à acentuação, observamos que algumas pala-
vras têm acento gráfico e outras não; na pronúncia, ora se
3-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/ dá maior intensidade sonora a uma sílaba, ora a outra. Por
UFAL/2014) isso, vamos às regras!

Regras básicas – Acentuação tônica

A acentuação tônica está relacionada à intensidade


com que são pronunciadas as sílabas das palavras. Aquela
que se dá de forma mais acentuada, conceitua-se como sí-
laba tônica. As demais, como são pronunciadas com menos
intensidade, são denominadas de átonas.
De acordo com a tonicidade, as palavras são classifica-
das como:
Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre
a última sílaba. Ex.: café – coração – Belém – atum – caju –
papel

Paroxítonas – São aquelas em que a sílaba tônica recai


na penúltima sílaba. Ex.: útil – tórax – táxi – leque – sapato
– passível

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LÍNGUA PORTUGUESA

Proparoxítonas - São aquelas cuja sílaba tônica está ** Alerta da Zê! Cuidado: Se os ditongos abertos esti-
na antepenúltima sílaba. Ex.: lâmpada – câmara – tímpano verem em uma palavra oxítona (herói) ou monossílaba (céu)
– médico – ônibus ainda são acentuados: dói, escarcéu.

Há vocábulos que possuem mais de uma sílaba, mas Antes Agora


em nossa língua existem aqueles com uma sílaba somente:
são os chamados monossílabos. assembléia assembleia
idéia ideia
Os acentos
geléia geleia
acento agudo (´) – Colocado sobre as letras “a” e “i”, jibóia jiboia
“u” e “e” do grupo “em” - indica que estas letras represen- apóia (verbo apoiar) apoia
tam as vogais tônicas de palavras como pá, caí, público.
paranóico paranoico
Sobre as letras “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre
aberto: herói – médico – céu (ditongos abertos).
Acento Diferencial
acento circunflexo (^) – colocado sobre as letras “a”,
“e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre fechado: tâma-
Representam os acentos gráficos que, pelas regras de
ra – Atlântico – pêsames – supôs .
acentuação, não se justificariam, mas são utilizados para
acento grave (`) – indica a fusão da preposição “a”
diferenciar classes gramaticais entre determinadas palavras
com artigos e pronomes: à – às – àquelas – àqueles
e/ou tempos verbais. Por exemplo:
trema ( ¨ ) – De acordo com a nova regra, foi totalmen-
Pôr (verbo) X por (preposição) / pôde (pretérito perfeito
te abolido das palavras. Há uma exceção: é utilizado em
de Indicativo do verbo “poder”) X pode (presente do Indica-
palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: mülle-
tivo do mesmo verbo).
riano (de Müller)
Se analisarmos o “pôr” - pela regra das monossílabas:
til (~) – indica que as letras “a” e “o” representam vo-
terminada em “o” seguida de “r” não deve ser acentuada,
gais nasais: oração – melão – órgão – ímã
mas nesse caso, devido ao acento diferencial, acentua-se,
para que saibamos se se trata de um verbo ou preposição.
Regras fundamentais
Os demais casos de acento diferencial não são mais
utilizados: para (verbo), para (preposição), pelo (substanti-
Palavras oxítonas:
vo), pelo (preposição). Seus significados e classes gramati-
Acentuam-se todas as oxítonas terminadas em: “a”, “e”,
cais são definidos pelo contexto.
“o”, “em”, seguidas ou não do plural(s): Pará – café(s) – ci-
Polícia para o trânsito para realizar blitz. = o primeiro
pó(s) – Belém.
“para” é verbo; o segundo, preposição (com relação de fi-
Esta regra também é aplicada aos seguintes casos:
nalidade).
- Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”, se-
** Quando, na frase, der para substituir o “por” por
guidos ou não de “s”: pá – pé – dó – há
“colocar”, estaremos trabalhando com um verbo, portanto:
- Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos,
“pôr”; nos outros casos, “por” preposição. Ex: Faço isso por
seguidas de lo, la, los, las: respeitá-lo, recebê-lo, compô-lo
você. / Posso pôr (colocar) meus livros aqui?
Paroxítonas:
Regra do Hiato:
Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em:
- i, is: táxi – lápis – júri
Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, for a se-
- us, um, uns: vírus – álbuns – fórum
gunda vogal do hiato, acompanhado ou não de “s”, haverá
- l, n, r, x, ps: automóvel – elétron - cadáver – tórax –
acento. Ex.: saída – faísca – baú – país – Luís
fórceps
Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato quan-
- ã, ãs, ão, ãos: ímã – ímãs – órfão – órgãos
do seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z. Ra-ul, Lu-iz,
- ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou
sa-ir, ju-iz
não de “s”: água – pônei – mágoa – memória
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se esti-
verem seguidas do dígrafo nh. Ex: ra-i-nha, ven-to-i-nha.
** Dica: Memorize a palavra LINURXÃO. Para quê? Re-
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vierem
pare que esta palavra apresenta as terminações das paro-
precedidas de vogal idêntica: xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba
xítonas que são acentuadas: L, I N, U (aqui inclua UM =
fórum), R, X, Ã, ÃO. Assim ficará mais fácil a memorização!
Observação importante:
Regras especiais:
Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, formando
Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” (ditongos
hiato quando vierem depois de ditongo (nas paroxítonas):
abertos), que antes eram acentuados, perderam o acento
de acordo com a nova regra, mas desde que estejam em
palavras paroxítonas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Antes Agora Questões

bocaiúva bocaiuva 1-) (PREFEITURA DE SÃO PAULO/SP – AUDITOR FISCAL


feiúra feiura TRIBUTÁRIO MUNICIPAL – CETRO/2014 - adaptada) Assi-
nale a alternativa que contém duas palavras acentuadas
Sauípe Sauipe
conforme a mesma regra.
(A) “Hambúrgueres” e “repórter”.
O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi
(B) “Inacreditáveis” e “repórter”.
abolido:
(C) “Índice” e “dólares”.
(D) “Inacreditáveis” e “atribuídos”.
Antes Agora (E) “Atribuídos” e “índice”.
crêem creem
1-)
lêem leem
(A) “Hambúrgueres” = proparoxítona / “repórter” = pa-
vôo voo roxítona
enjôo enjoo (B) “Inacreditáveis” = paroxítona / “repórter” = paro-
xítona
** Dica: Memorize a palavra CREDELEVÊ. São os verbos (C) “Índice” = proparoxítona / “dólares” = proparoxí-
que, no plural, dobram o “e”, mas que não recebem mais tona
acento como antes: CRER, DAR, LER e VER. (D) “Inacreditáveis” = paroxítona / “atribuídos” = regra
Repare: do hiato
1-) O menino crê em você. / Os meninos creem em você. (E) “Atribuídos” = regra do hiato / “índice” = proparo-
2-) Elza lê bem! / Todas leem bem! xítona
3-) Espero que ele dê o recado à sala. / Esperamos que RESPOSTA: “B”.
os garotos deem o recado!
4-) Rubens vê tudo! / Eles veem tudo! 2-) (SEFAZ/RS – AUDITOR FISCAL DA RECEITA FEDERAL
Cuidado! Há o verbo vir: Ele vem à tarde! / Eles vêm à – FUNDATEC/2014 - adaptada)
tarde! Analise as afirmações que são feitas sobre acentuação
As formas verbais que possuíam o acento tônico na gráfica.
raiz, com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de I. Caso o acento das palavras ‘trânsito’ e ‘específicos’
“e” ou “i” não serão mais acentuadas: seja retirado, essas continuam sendo palavras da língua
portuguesa.
II. A regra que explica a acentuação das palavras ‘vá-
Antes Depois rios’ e ‘país’ não é a mesma.
apazigúe (apaziguar) apazigue III. Na palavra ‘daí’, há um ditongo decrescente.
averigúe (averiguar) averigue IV. Acentua-se a palavra ‘vêm’ para diferenciá-la, em si-
tuação de uso, quanto à flexão de número.
argúi (arguir) argui Quais estão corretas?
A) Apenas I e III.
Acentuam-se os verbos pertencentes a terceira pessoa B) Apenas II e IV.
do plural de: ele tem – eles têm / ele vem – eles vêm (verbo C) Apenas I, II e IV.
vir) D) Apenas II, III e IV.
E) I, II, III e IV.
A regra prevalece também para os verbos conter, obter,
reter, deter, abster: ele contém – eles contêm, ele obtém – eles 2-)
obtêm, ele retém – eles retêm, ele convém – eles convêm. I. Caso o acento das palavras ‘trânsito’ e ‘específicos’
seja retirado, essas continuam sendo palavras da língua
Fontes de pesquisa: portuguesa = teremos “transito” e “especifico” – serão ver-
http://www.brasilescola.com/gramatica/acentuacao. bos (correta)
htm II. A regra que explica a acentuação das palavras ‘vá-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- rios’ e ‘país’ não é a mesma = vários é paroxítona terminada
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. em ditongo; país é a regra do hiato (correta)
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- III. Na palavra ‘daí’, há um ditongo decrescente = há um
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: hiato, por isso a acentuação (da - í) = incorreta.
Saraiva, 2010. IV. Acentua-se a palavra ‘vêm’ para diferenciá-la, em
situação de uso, quanto à flexão de número = “vêm” é uti-
lizado para a terceira pessoa do plural (correta)
RESPOSTA: “C”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Dois pontos (:)


PONTUAÇÃO
1- Antes de uma citação
Vejamos como Afrânio Coutinho trata este assunto:

Os sinais de pontuação são marcações gráficas que 2- Antes de um aposto


servem para compor a coesão e a coerência textual, além Três coisas não me agradam: chuva pela manhã, frio à
de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas. tarde e calor à noite.
Um texto escrito adquire diferentes significados quando
pontuado de formas diversificadas. O uso da pontuação 3- Antes de uma explicação ou esclarecimento
depende, em certos momentos, da intenção do autor do Lá estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo
discurso. Assim, os sinais de pontuação estão diretamente a rotina de sempre.
relacionados ao contexto e ao interlocutor.
4- Em frases de estilo direto
Principais funções dos sinais de pontuação
Maria perguntou:
- Por que você não toma uma decisão?
Ponto (.)

1- Indica o término do discurso ou de parte dele, en- Ponto de Exclamação (!)


cerrando o período.
1- Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera,
2- Usa-se nas abreviaturas: pág. (página), Cia. (Com- susto, súplica, etc.
panhia). Se a palavra abreviada aparecer em final de pe- Sim! Claro que eu quero me casar com você!
ríodo, este não receberá outro ponto; neste caso, o ponto
de abreviatura marca, também, o fim de período. Exemplo: 2- Depois de interjeições ou vocativos
Estudei português, matemática, constitucional, etc. (e não Ai! Que susto!
“etc..”) João! Há quanto tempo!

3- Nos títulos e cabeçalhos é opcional o emprego do Ponto de Interrogação (?)


ponto, assim como após o nome do autor de uma citação:
Haverá eleições em outubro Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
O culto do vernáculo faz parte do brio cívico. (Napoleão “- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Aze-
Mendes de Almeida) (ou: Almeida.) vedo)

4- Os números que identificam o ano não utilizam pon- Reticências (...)


to nem devem ter espaço a separá-los, bem como os nú-
meros de CEP: 1975, 2014, 2006, 17600-250. 1- Indica que palavras foram suprimidas: Comprei lápis,
canetas, cadernos...
Ponto e Vírgula ( ; )
2- Indica interrupção violenta da frase.
1- Separa várias partes do discurso, que têm a mesma “- Não... quero dizer... é verdad... Ah!”
importância: “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os ricos
dão pelo pão a fazenda; os de espíritos generosos dão pelo
3- Indica interrupções de hesitação ou dúvida: Este
pão a vida; os de nenhum espírito dão pelo pão a alma...”
mal... pega doutor?
(VIEIRA)

2- Separa partes de frases que já estão separadas por 4- Indica que o sentido vai além do que foi dito: Deixa,
vírgulas: Alguns quiseram verão, praia e calor; outros, mon- depois, o coração falar...
tanhas, frio e cobertor.
Vírgula (,)
3- Separa itens de uma enumeração, exposição de mo-
tivos, decreto de lei, etc. Não se usa vírgula
Ir ao supermercado;
Pegar as crianças na escola; * separando termos que, do ponto de vista sintático,
Caminhada na praia; ligam-se diretamente entre si:
Reunião com amigos. - entre sujeito e predicado:
Todos os alunos da sala foram advertidos.
Sujeito predicado

50
LÍNGUA PORTUGUESA

- entre o verbo e seus objetos: Fontes de pesquisa:


O trabalho custou sacrifício aos http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/
realizadores. http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-virgu-
V.T.D.I. O.D. O.I. la.htm
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere-
Usa-se a vírgula: ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
- Para marcar intercalação: SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
a) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua abun- coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
dância, vem caindo de preço.
b) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão Questões
produzindo, todavia, altas quantidades de alimentos.
c) das expressões explicativas ou corretivas: As indús- 1-) (SAAE/SP - FISCAL LEITURISTA - VUNESP - 2014)
trias não querem abrir mão de suas vantagens, isto é, não
querem abrir mão dos lucros altos.

- Para marcar inversão:


a) do adjunto adverbial (colocado no início da oração):
Depois das sete horas, todo o comércio está de portas fe-
chadas.
b) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos
pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma.
c) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de
maio de 1982.

- Para separar entre si elementos coordenados (dis-


postos em enumeração):
Era um garoto de 15 anos, alto, magro.
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais.

- Para marcar elipse (omissão) do verbo:


Nós queremos comer pizza; e vocês, churrasco.

- Para isolar: (SAAE/SP - FISCAL LEITURISTA - VUNESP - 2014) Se-


- o aposto: São Paulo, considerada a metrópole brasilei- gundo a norma-padrão da língua portuguesa, a pontuação
ra, possui um trânsito caótico. está correta em:
- o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem. A) Hagar disse, que não iria.
B) Naquela noite os Stevensens prometeram servir, bi-
Observações: fes e lagostas, aos vizinhos.
- Considerando-se que “etc.” é abreviatura da expres- C) Chegou, o convite dos Stevensens, bife e lagostas:
são latina et cetera, que significa “e outras coisas”, seria dis- para Hagar e Helga
pensável o emprego da vírgula antes dele. Porém, o acordo D) “Eles são chatos e, nunca param de falar”, disse, Ha-
ortográfico em vigor no Brasil exige que empreguemos etc. gar à Helga.
precedido de vírgula: Falamos de política, futebol, lazer, etc. E) Helga chegou com o recado: fomos convidados, pe-
los Stevensens, para jantar bifes e lagostas.
- As perguntas que denotam surpresa podem ter com-
binados o ponto de interrogação e o de exclamação: Você 1-) Correções realizadas:
falou isso para ela?! A) Hagar disse que não iria. = não há vírgula entre ver-
bo e seu complemento (objeto)
- Temos, ainda, sinais distintivos: B) Naquela noite os Stevensens prometeram servir bi-
1-) a barra ( / ) = usada em datas (25/12/2014), sepa- fes e lagostas aos vizinhos. = não há vírgula entre verbo e
ração de siglas (IOF/UPC); seu complemento (objeto)
2-) os colchetes ([ ]) = usados em transcrições feitas C) Chegou o convite dos Stevensens: bife e lagostas
pelo narrador ([vide pág. 5]), usado como primeira opção para Hagar e Helga.
aos parênteses, principalmente na matemática; D) “Eles são chatos e nunca param de falar”, disse Ha-
3-) o asterisco ( * ) = usado para remeter o leitor a gar à Helga.
uma nota de rodapé ou no fim do livro, para substituir um E) Helga chegou com o recado: fomos convidados, pe-
nome que não se quer mencionar. los Stevensens, para jantar bifes e lagostas.
RESPOSTA: “E”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

2-) (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – MÉDICO DO TRA- Concordância Verbal


BALHO – CESPE/2014 - adaptada)
A correção gramatical do trecho “Entre as bebidas al- É a flexão que se faz para que o verbo concorde com
coólicas, cervejas e vinhos são as mais comuns em todo seu sujeito.
o mundo” seria prejudicada, caso se inserisse uma vírgula
logo após a palavra “vinhos”. a) Sujeito Simples - Regra Geral
( ) CERTO ( ) ERRADO O sujeito, sendo simples, com ele concordará o verbo
em número e pessoa. Veja os exemplos:
2-) Não se deve colocar vírgula entre sujeito e predi- A prova para ambos os cargos será aplicada
cado, a não ser que se trate de um aposto (1), predicativo às 13h.
do sujeito (2), ou algum termo que requeira estar separado 3.ª p. Singular 3.ª p. Singular
entre pontuações. Exemplos:
O Rio de Janeiro, cidade maravilhosa (1), está em festa! Os candidatos à vaga chegarão às 12h.
Os meninos, ansiosos (2), chegaram! 3.ª p. Plural 3.ª p. Plural
RESPOSTA: “CERTO”.
Casos Particulares
3-) (PRODAM/AM – ASSISTENTE – FUNCAB/2014) Em
apenas uma das opções a vírgula foi corretamente empre- 1) Quando o sujeito é formado por uma expressão par-
gada. Assinale-a. titiva (parte de, uma porção de, o grosso de, metade de, a
A) No dia seguinte, estavam todos cansados. maioria de, a maior parte de, grande parte de...) seguida de
B) Romperam a fita da vitória, os dois atletas. um substantivo ou pronome no plural, o verbo pode ficar
C) Os seus hábitos estranhos, deixavam as pessoas per- no singular ou no plural.
plexas. A maioria dos jornalistas aprovou / aprovaram a ideia.
D) A luta em defesa dos mais fracos, é necessária e Metade dos candidatos não apresentou / apresentaram
fundamental. proposta.
E) As florestas nativas do Brasil, sobrevivem em peque-
na parte do território. Esse mesmo procedimento pode se aplicar aos casos
dos coletivos, quando especificados: Um bando de vânda-
3-) los destruiu / destruíram o monumento.
A) No dia seguinte, estavam todos cansados. = correta
B) Romperam a fita da vitória, os dois atletas = não se Observação: nesses casos, o uso do verbo no singular
separa sujeito do predicado (o sujeito está no final). enfatiza a unidade do conjunto; já a forma plural confere
C) Os seus hábitos estranhos, deixavam as pessoas per- destaque aos elementos que formam esse conjunto.
plexas = não se separa sujeito do predicado.
D) A luta em defesa dos mais fracos, é necessária e fun- 2) Quando o sujeito é formado por expressão que in-
damental = não se separa sujeito do predicado. dica quantidade aproximada (cerca de, mais de, menos de,
E) As florestas nativas do Brasil, sobrevivem em peque- perto de...) seguida de numeral e substantivo, o verbo con-
na parte do território. = não se separa sujeito do predicado corda com o substantivo.
RESPOSTA: “A”. Cerca de mil pessoas participaram do concurso.
Perto de quinhentos alunos compareceram à solenidade.
Mais de um atleta estabeleceu novo recorde nas últimas
Olimpíadas.
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL
Observação: quando a expressão “mais de um” asso-
ciar-se a verbos que exprimem reciprocidade, o plural é
obrigatório: Mais de um colega se ofenderam na discussão.
Os concurseiros estão apreensivos. (ofenderam um ao outro)
Concurseiros apreensivos.
3) Quando se trata de nomes que só existem no plu-
No primeiro exemplo, o verbo estar encontra-se na ral, a concordância deve ser feita levando-se em conta a
terceira pessoa do plural, concordando com o seu sujeito, ausência ou presença de artigo. Sem artigo, o verbo deve
os concurseiros. No segundo exemplo, o adjetivo “apreen- ficar no singular; com artigo no plural, o verbo deve ficar
sivos” está concordando em gênero (masculino) e núme- o plural.
ro (plural) com o substantivo a que se refere: concurseiros. Os Estados Unidos possuem grandes universidades.
Nesses dois exemplos, as flexões de pessoa, número e gê- Estados Unidos possui grandes universidades.
nero correspondem-se. Alagoas impressiona pela beleza das praias.
A correspondência de flexão entre dois termos é a con- As Minas Gerais são inesquecíveis.
cordância, que pode ser verbal ou nominal. Minas Gerais produz queijo e poesia de primeira.

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LÍNGUA PORTUGUESA

4) Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou *Quando “um dos que” vem entremeada de substanti-
indefinido plural (quais, quantos, alguns, poucos, muitos, vo, o verbo pode:
quaisquer, vários) seguido por “de nós” ou “de vós”, o verbo a) ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atravessa
pode concordar com o primeiro pronome (na terceira pes- o Estado de São Paulo. ( já que não há outro rio que faça o
soa do plural) ou com o pronome pessoal. mesmo).
Quais de nós são / somos capazes? b) ir para o plural – O Tietê é um dos rios que estão
Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso? poluídos (noção de que existem outros rios na mesma con-
Vários de nós propuseram / propusemos sugestões ino- dição).
vadoras.
8) Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o
Observação: veja que a opção por uma ou outra forma verbo fica na 3ª pessoa do singular ou plural.
indica a inclusão ou a exclusão do emissor. Quando alguém Vossa Excelência está cansado?
diz ou escreve “Alguns de nós sabíamos de tudo e nada fize- Vossas Excelências renunciarão?
mos”, ele está se incluindo no grupo dos omissos. Isso não
ocorre ao dizer ou escrever “Alguns de nós sabiam de tudo e 9) A concordância dos verbos bater, dar e soar faz-se de
nada fizeram”, frase que soa como uma denúncia. acordo com o numeral.
Nos casos em que o interrogativo ou indefinido estiver Deu uma hora no relógio da sala.
no singular, o verbo ficará no singular. Deram cinco horas no relógio da sala.
Qual de nós é capaz? Soam dezenove horas no relógio da praça.
Algum de vós fez isso. Baterão doze horas daqui a pouco.

5) Quando o sujeito é formado por uma expressão que Observação: caso o sujeito da oração seja a palavra re-
indica porcentagem seguida de substantivo, o verbo deve lógio, sino, torre, etc., o verbo concordará com esse sujeito.
concordar com o substantivo. O tradicional relógio da praça matriz dá nove horas.
25% do orçamento do país será destinado à Educação. Soa quinze horas o relógio da matriz.
85% dos entrevistados não aprovam a administração do
prefeito. 10) Verbos Impessoais: por não se referirem a nenhum
1% do eleitorado aceita a mudança. sujeito, são usados sempre na 3.ª pessoa do singular. São
1% dos alunos faltaram à prova. verbos impessoais: Haver no sentido de existir; Fazer indi-
cando tempo; Aqueles que indicam fenômenos da nature-
Quando a expressão que indica porcentagem não é za. Exemplos:
seguida de substantivo, o verbo deve concordar com o nú- Havia muitas garotas na festa.
mero. Faz dois meses que não vejo meu pai.
25% querem a mudança. Chovia ontem à tarde.
1% conhece o assunto.
b) Sujeito Composto
Se o número percentual estiver determinado por artigo
ou pronome adjetivo, a concordância far-se-á com eles: 1) Quando o sujeito é composto e anteposto ao verbo,
Os 30% da produção de soja serão exportados. a concordância se faz no plural:
Esses 2% da prova serão questionados. Pai e filho conversavam longamente.
Sujeito
6) O pronome “que” não interfere na concordância; já o
“quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa do singular. Pais e filhos devem conversar com frequência.
Fui eu que paguei a conta. Sujeito
Fomos nós que pintamos o muro.
És tu que me fazes ver o sentido da vida. 2) Nos sujeitos compostos formados por pessoas gra-
Sou eu quem faz a prova. maticais diferentes, a concordância ocorre da seguinte ma-
Não serão eles quem será aprovado. neira: a primeira pessoa do plural (nós) prevalece sobre a
segunda pessoa (vós) que, por sua vez, prevalece sobre a
7) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve assu- terceira (eles). Veja:
mir a forma plural. Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão.
Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais encan- Primeira Pessoa do Plural (Nós)
taram os poetas.
Este candidato é um dos que mais estudaram! Tu e teus irmãos tomareis a decisão.
Segunda Pessoa do Plural (Vós)
Se a expressão for de sentido contrário – nenhum dos
que, nem um dos que -, não aceita o verbo no singular: Pais e filhos precisam respeitar-se.
Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga. Terceira Pessoa do Plural (Eles)
Nem uma das que me escreveram mora aqui.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Observação: quando o sujeito é composto, formado 5) Quando os núcleos do sujeito são unidos por “com”,
por um elemento da segunda pessoa (tu) e um da terceira o verbo fica no plural. Nesse caso, os núcleos recebem um
(ele), é possível empregar o verbo na terceira pessoa do mesmo grau de importância e a palavra “com” tem sentido
plural (eles): “Tu e teus irmãos tomarão a decisão.” – no muito próximo ao de “e”.
lugar de “tomaríeis”. O pai com o filho montaram o brinquedo.
O governador com o secretariado traçaram os planos
3) No caso do sujeito composto posposto ao verbo, para o próximo semestre.
passa a existir uma nova possibilidade de concordância: em O professor com o aluno questionaram as regras.
vez de concordar no plural com a totalidade do sujeito, o
verbo pode estabelecer concordância com o núcleo do su- Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se a
jeito mais próximo. ideia é enfatizar o primeiro elemento.
Faltaram coragem e competência. O pai com o filho montou o brinquedo.
Faltou coragem e competência. O governador com o secretariado traçou os planos para
o próximo semestre.
Compareceram todos os candidatos e o banca.
O professor com o aluno questionou as regras.
Compareceu o banca e todos os candidatos.
Observação: com o verbo no singular, não se pode
4) Quando ocorre ideia de reciprocidade, a concordân-
falar em sujeito composto. O sujeito é simples, uma vez
cia é feita no plural. Observe: que as expressões “com o filho” e “com o secretariado” são
Abraçaram-se vencedor e vencido. adjuntos adverbiais de companhia. Na verdade, é como se
Ofenderam-se o jogador e o árbitro. houvesse uma inversão da ordem. Veja:
“O pai montou o brinquedo com o filho.”
Casos Particulares “O governador traçou os planos para o próximo semes-
tre com o secretariado.”
1) Quando o sujeito composto é formado por núcleos “O professor questionou as regras com o aluno.”
sinônimos ou quase sinônimos, o verbo fica no singular.
Descaso e desprezo marca seu comportamento. *Casos em que se usa o verbo no singular:
A coragem e o destemor fez dele um herói. Café com leite é uma delícia!
O frango com quiabo foi receita da vovó.
2) Quando o sujeito composto é formado por núcleos
dispostos em gradação, verbo no singular: 6) Quando os núcleos do sujeito são unidos por ex-
Com você, meu amor, uma hora, um minuto, um segun- pressões correlativas como: “não só...mas ainda”, “não so-
do me satisfaz. mente”..., “não apenas...mas também”, “tanto...quanto”, o
verbo ficará no plural.
3) Quando os núcleos do sujeito composto são unidos Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o
por “ou” ou “nem”, o verbo deverá ficar no plural, de acor- Nordeste.
do com o valor semântico das conjunções: Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a no-
Drummond ou Bandeira representam a essência da poe- tícia.
sia brasileira.
Nem o professor nem o aluno acertaram a resposta. 7) Quando os elementos de um sujeito composto são
resumidos por um aposto recapitulativo, a concordância é
Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de “adi- feita com esse termo resumidor.
Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da apatia.
ção”. Já em:
Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante
Juca ou Pedro será contratado.
na vida das pessoas.
Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima Olim-
píada.
Outros Casos
* Temos ideia de exclusão, por isso os verbos ficam no 1) O Verbo e a Palavra “SE”
singular. Dentre as diversas funções exercidas pelo “se”, há duas
de particular interesse para a concordância verbal:
4) Com as expressões “um ou outro” e “nem um nem a) quando é índice de indeterminação do sujeito;
outro”, a concordância costuma ser feita no singular. b) quando é partícula apassivadora.
Um ou outro compareceu à festa. Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se”
Nem um nem outro saiu do colégio. acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos e
de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na ter-
Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural ou no ceira pessoa do singular:
singular: Um e outro farão/fará a prova. Precisa-se de funcionários.
Confia-se em teses absurdas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Quando pronome apassivador, o “se” acompanha ver- c) Quando o sujeito indicar peso, medida, quantidade e
bos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e indiretos for seguido de palavras ou expressões como pouco, muito,
(VTDI) na formação da voz passiva sintética. Nesse caso, o menos de, mais de, etc., o verbo SER fica no singular:
verbo deve concordar com o sujeito da oração. Exemplos: Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso.
Construiu-se um posto de saúde. Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido.
Construíram-se novos postos de saúde. Duas semanas de férias é muito para mim.
Aqui não se cometem equívocos
Alugam-se casas. d) Quando um dos elementos (sujeito ou predicativo)
for pronome pessoal do caso reto, com este concordará o
** Dica: Para saber se o “se” é partícula apassivadora verbo.
ou índice de indeterminação do sujeito, tente transformar No meu setor, eu sou a única mulher.
a frase para a voz passiva. Se a frase construída for “com- Aqui os adultos somos nós.
preensível”, estaremos diante de uma partícula apassivado-
ra; se não, o “se” será índice de indeterminação. Veja: Observação: sendo ambos os termos (sujeito e pre-
Precisa-se de funcionários qualificados. dicativo) representados por pronomes pessoais, o verbo
Tentemos a voz passiva: concorda com o pronome sujeito.
Funcionários qualificados são precisados (ou precisos)? Eu não sou ela.
Não há lógica. Portanto, o “se” destacado é índice de inde- Ela não é eu.
terminação do sujeito.
Agora: e) Quando o sujeito for uma expressão de sentido par-
Vendem-se casas. titivo ou coletivo e o predicativo estiver no plural, o verbo
Voz passiva: Casas são vendidas. Construção correta! SER concordará com o predicativo.
Então, aqui, o “se” é partícula apassivadora. (Dá para eu A grande maioria no protesto eram jovens.
passar para a voz passiva. Repare em meu destaque. Per- O resto foram atitudes imaturas.
cebeu semelhança? Agora é só memorizar!).
2) O Verbo “Ser” 3) O Verbo “Parecer”
O verbo parecer, quando é auxiliar em uma locução
A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo e o verbal (é seguido de infinitivo), admite duas concordâncias:
sujeito da oração. No caso do verbo ser, essa concordân- a) Ocorre variação do verbo PARECER e não se flexiona
cia pode ocorrer também entre o verbo e o predicativo do o infinitivo: As crianças parecem gostar do desenho.
sujeito.
b) A variação do verbo parecer não ocorre e o infinitivo
Quando o sujeito ou o predicativo for: sofre flexão:
As crianças parece gostarem do desenho.
a)Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo SER (essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho as
concorda com a pessoa gramatical: crianças)
Ele é forte, mas não é dois.
Fernando Pessoa era vários poetas. Atenção: Com orações desenvolvidas, o verbo PARE-
A esperança dos pais são eles, os filhos. CER fica no singular. Por Exemplo: As paredes parece que
têm ouvidos. (Parece que as paredes têm ouvidos = oração
b)nome de coisa e um estiver no singular e o outro no subordinada substantiva subjetiva).
plural, o verbo SER concordará, preferencialmente, com o
que estiver no plural: Concordância Nominal
Os livros são minha paixão!
Minha paixão são os livros! A concordância nominal se baseia na relação entre
nomes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles se
Quando o verbo SER indicar ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, pronomes
adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lembre-se:
a) horas e distâncias, concordará com a expressão normalmente, o substantivo funciona como núcleo de um
numérica: termo da oração, e o adjetivo, como adjunto adnominal.
É uma hora. A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as
São quatro horas. seguintes regras gerais:
Daqui até a escola é um quilômetro / são dois quilôme- 1) O adjetivo concorda em gênero e número quando
tros. se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas denun-
ciavam o que sentia.
b) datas, concordará com a palavra dia(s), que pode
estar expressa ou subentendida: 2) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos, a
Hoje é dia 26 de agosto. concordância pode variar. Podemos sistematizar essa fle-
Hoje são 26 de agosto. xão nos seguintes casos:

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LÍNGUA PORTUGUESA

a) Adjetivo anteposto aos substantivos: ** Dica: Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”. Se
- O adjetivo concorda em gênero e número com o a frase ficar coerente com o primeiro, trata-se de advérbio,
substantivo mais próximo. portanto, invariável; se houver coerência com o segundo,
Encontramos caídas as roupas e os prendedores. função de adjetivo, então varia:
Encontramos caída a roupa e os prendedores. Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo
Encontramos caído o prendedor e a roupa. Ele está só descansando. (apenas descansando) - ad-
vérbio
- Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de pa-
rentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural. ** Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula depois de
As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar. “só”, haverá, novamente, um adjetivo:
Encontrei os divertidos primos e primas na festa. Ele está só, descansando. (ele está sozinho e descansan-
do)
b) Adjetivo posposto aos substantivos: 7) Quando um único substantivo é modificado por dois
- O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo ou mais adjetivos no singular, podem ser usadas as cons-
ou com todos eles (assumindo a forma masculina plural se truções:
houver substantivo feminino e masculino). a) O substantivo permanece no singular e coloca-se o
A indústria oferece localização e atendimento perfeito. artigo antes do último adjetivo: Admiro a cultura espanhola
A indústria oferece atendimento e localização perfeita. e a portuguesa.
A indústria oferece localização e atendimento perfeitos.
A indústria oferece atendimento e localização perfeitos. b) O substantivo vai para o plural e omite-se o artigo
antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola e portu-
Observação: os dois últimos exemplos apresentam guesa.
maior clareza, pois indicam que o adjetivo efetivamente se
refere aos dois substantivos. Nesses casos, o adjetivo foi Casos Particulares
flexionado no plural masculino, que é o gênero predomi-
nante quando há substantivos de gêneros diferentes. É proibido - É necessário - É bom - É preciso - É per-
mitido
- Se os substantivos possuírem o mesmo gênero, o ad-
jetivo fica no singular ou plural. a) Estas expressões, formadas por um verbo mais um
A beleza e a inteligência feminina(s). adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a que se referem
O carro e o iate novo(s). possuir sentido genérico (não vier precedido de artigo).
É proibido entrada de crianças.
3) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo: Em certos momentos, é necessário atenção.
a) O adjetivo fica no masculino singular, se o substan- No verão, melancia é bom.
tivo não for acompanhado de nenhum modificador: Água É preciso cidadania.
é bom para saúde. Não é permitido saída pelas portas laterais.

b) O adjetivo concorda com o substantivo, se este for b) Quando o sujeito destas expressões estiver deter-
modificado por um artigo ou qualquer outro determinati- minado por artigos, pronomes ou adjetivos, tanto o verbo
vo: Esta água é boa para saúde. como o adjetivo concordam com ele.
É proibida a entrada de crianças.
4) O adjetivo concorda em gênero e número com os Esta salada é ótima.
pronomes pessoais a que se refere: Juliana encontrou-as A educação é necessária.
muito felizes. São precisas várias medidas na educação.

5) Nas expressões formadas por pronome indefinido Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso - Qui-
neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposição DE + te
adjetivo, este último geralmente é usado no masculino sin-
gular: Os jovens tinham algo de misterioso. Estas palavras adjetivas concordam em gênero e nú-
mero com o substantivo ou pronome a que se referem.
6) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem fun- Seguem anexas as documentações requeridas.
ção adjetiva e concorda normalmente com o nome a que A menina agradeceu: - Muito obrigada.
se refere: Muito obrigadas, disseram as senhoras.
Cristina saiu só. Seguem inclusos os papéis solicitados.
Cristina e Débora saíram sós. Estamos quites com nossos credores.

Observação: quando a palavra “só” equivale a “somen-


te” ou “apenas”, tem função adverbial, ficando, portanto,
invariável: Eles só desejam ganhar presentes.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Bastante - Caro - Barato - Longe Questões

Estas palavras são invariáveis quando funcionam como 1-) (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA
advérbios. Concordam com o nome a que se referem quan- E COMÉRCIO EXTERIOR – ANALISTA TÉCNICO ADMINIS-
do funcionam como adjetivos, pronomes adjetivos, ou nu- TRATIVO – CESPE/2014) Em “Vossa Excelência deve estar
merais. satisfeita com os resultados das negociações”, o adjetivo
As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio) estará corretamente empregado se dirigido a ministro de
Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho. (pro- Estado do sexo masculino, pois o termo “satisfeita” deve
nome adjetivo) concordar com a locução pronominal de tratamento “Vossa
Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio) Excelência”.
As casas estão caras. (adjetivo) ( ) CERTO ( ) ERRADO
Achei barato este casaco. (advérbio)
Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo) 1-) Se a pessoa, no caso o ministro, for do sexo femi-
nino (ministra), o adjetivo está correto; mas, se for do sexo
Meio - Meia masculino, o adjetivo sofrerá flexão de gênero: satisfeito. O
pronome de tratamento é apenas a maneira de como tratar
a) A palavra “meio”, quando empregada como adjetivo, a autoridade, não concordando com o gênero (o pronome
concorda normalmente com o nome a que se refere: Pedi de tratamento, apenas).
meia porção de polentas. RESPOSTA: “ERRADO”.
b) Quando empregada como advérbio permanece in- 2-) (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL – CADASTRO
variável: A candidata está meio nervosa. RESERVA PARA O METRÔ/DF – ADMINISTRADOR - IA-
DES/2014 - adaptada) Se, no lugar dos verbos destacados
** Dica! Dá para eu substituir por “um pouco”, assim no verso “Escolho os filmes que eu não vejo no elevador”,
saberei que se trata de um advérbio, não de adjetivo: “A
fossem empregados, respectivamente, Esquecer e gostar, a
candidata está um pouco nervosa”.
nova redação, de acordo com as regras sobre regência ver-
bal e concordância nominal prescritas pela norma-padrão,
Alerta - Menos
deveria ser
(A) Esqueço dos filmes que eu não gosto no elevador.
Essas palavras são advérbios, portanto, permanecem
(B) Esqueço os filmes os quais não gosto no elevador.
sempre invariáveis.
(C) Esqueço dos filmes aos quais não gosto no eleva-
Os concurseiros estão sempre alerta.
dor.
Não queira menos matéria!
(D) Esqueço dos filmes dos quais não gosto no eleva-
* Tome nota! dor.
Não variam os substantivos que funcionam como ad- (E) Esqueço os filmes dos quais não gosto no elevador.
jetivos:
Bomba – notícias bomba 2-) O verbo “esquecer” pede objeto direto; “gostar”, in-
Chave – elementos chave direto (com preposição): Esqueço os filmes dos quais não
Monstro – construções monstro gosto.
Padrão – escola padrão RESPOSTA: “E”.

Fontes de pesquisa: 3-) (SABESP – TECNÓLOGO – FCC/2014) Considerada a


http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint49. substituição do segmento grifado pelo que está entre pa-
php rênteses ao final da transcrição, o verbo que deverá perma-
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere- necer no singular está em:
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: (A) ... disse o pesquisador à Folha de S. Paulo. (os pes-
Saraiva, 2010. quisadores)
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- (B) Segundo ele, a mudança climática contribuiu para a
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. ruína dessa sociedade... (as mudanças do clima)
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- (C) No sistema havia também uma estação... (várias es-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. tações)
(D) ... a civilização maia da América Central tinha um
método sustentável de gerenciamento da água. (os povos
que habitavam a América Central)
(E) Um estudo publicado recentemente mostra que a
civilização maia... (Estudos como o que acabou de ser pu-
blicado).

57
LÍNGUA PORTUGUESA

3-) 1-) Verbos Intransitivos


(A) ... disse (disseram) (os pesquisadores)
(B) Segundo ele, a mudança climática contribuiu (con- Os verbos intransitivos não possuem complemento. É
tribuíram) (as mudanças do clima) importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos
(C) No sistema havia (várias estações) = permanecerá aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los.
no singular - Chegar, Ir
(D) ... a civilização maia da América Central tinha (ti- Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adver-
nham) (os povos que habitavam a América Central) biais de lugar. Na língua culta, as preposições usadas para
(E) Um estudo publicado recentemente mostra (mos- indicar destino ou direção são: a, para.
tram) (Estudos como o que acabou de ser publicado). Fui ao teatro.
RESPOSTA: “C”. Adjunto Adverbial de Lugar

Ricardo foi para a Espanha.


Adjunto Adverbial de Lugar
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL
- Comparecer
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido por
em ou a.
Dá-se o nome de regência à relação de subordinação Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o
que ocorre entre um verbo (regência verbal) ou um nome último jogo.
(regência nominal) e seus complementos.
2-) Verbos Transitivos Diretos
Regência Verbal = Termo Regente: VERBO
Os verbos transitivos diretos são complementados por
A regência verbal estuda a relação que se estabelece objetos diretos. Isso significa que não exigem preposição
entre os verbos e os termos que os complementam (obje- para o estabelecimento da relação de regência. Ao empre-
tos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos gar esses verbos, lembre-se de que os pronomes oblíquos
adverbiais). Há verbos que admitem mais de uma regência, o, a, os, as atuam como objetos diretos. Esses pronomes
o que corresponde à diversidade de significados que estes podem assumir as formas lo, los, la, las (após formas ver-
verbos podem adquirir dependendo do contexto em que bais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos, nas (após
forem empregados. formas verbais terminadas em sons nasais), enquanto lhe e
A mãe agrada o filho = agradar significa acariciar, con- lhes são, quando complementos verbais, objetos indiretos.
tentar. São verbos transitivos diretos, dentre outros: aban-
A mãe agrada ao filho = agradar significa “causar agra- donar, abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar,
do ou prazer”, satisfazer. admirar, adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxiliar,
Conclui-se que “agradar alguém” é diferente de “agra- castigar, condenar, conhecer, conservar, convidar, defender,
dar a alguém”. eleger, estimar, humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, prezar,
proteger, respeitar, socorrer, suportar, ver, visitar.
Saiba que: Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente
O conhecimento do uso adequado das preposições é como o verbo amar:
um dos aspectos fundamentais do estudo da regência ver- Amo aquele rapaz. / Amo-o.
bal (e também nominal). As preposições são capazes de Amo aquela moça. / Amo-a.
modificar completamente o sentido daquilo que está sen- Amam aquele rapaz. / Amam-no.
do dito. Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la.
Cheguei ao metrô.
Cheguei no metrô. Observação: os pronomes lhe, lhes só acompanham
No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no se- esses verbos para indicar posse (caso em que atuam como
gundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado. adjuntos adnominais):
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto)
A voluntária distribuía leite às crianças. Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua car-
A voluntária distribuía leite com as crianças. reira)
Na primeira frase, o verbo “distribuir” foi empregado Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau hu-
como transitivo direto (objeto direto: leite) e indireto (obje- mor)
to indireto: às crianças); na segunda, como transitivo direto
(objeto direto: crianças; com as crianças: adjunto adverbial). 3-) Verbos Transitivos Indiretos

Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos Os verbos transitivos indiretos são complementados
de acordo com sua transitividade. Esta, porém, não é um por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exi-
fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes gem uma preposição para o estabelecimento da relação de
formas em frases distintas. regência. Os pronomes pessoais do caso oblíquo de ter-

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LÍNGUA PORTUGUESA

ceira pessoa que podem atuar como objetos indiretos são Informar
o “lhe”, o “lhes”, para substituir pessoas. Não se utilizam - Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto
os pronomes o, os, a, as como complementos de verbos indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
transitivos indiretos. Com os objetos indiretos que não re- Informe os novos preços aos clientes.
presentam pessoas, usam-se pronomes oblíquos tônicos Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os novos
de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos pronomes átonos preços)
lhe, lhes.
- Na utilização de pronomes como complementos, veja
Os verbos transitivos indiretos são os seguintes: as construções:
- Consistir - Tem complemento introduzido pela prepo- Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços.
sição “em”: A modernidade verdadeira consiste em direitos Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou so-
iguais para todos.
bre eles)
- Obedecer e Desobedecer - Possuem seus complemen-
Observação: a mesma regência do verbo informar é
tos introduzidos pela preposição “a”:
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais. usada para os seguintes: avisar, certificar, notificar, cientifi-
Eles desobedeceram às leis do trânsito. car, prevenir.

- Responder - Tem complemento introduzido pela pre- Comparar


posição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indicar “a Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as
quem” ou “ao que” se responde. preposições “a” ou “com” para introduzir o complemento
Respondi ao meu patrão. indireto: Comparei seu comportamento ao (ou com o) de
Respondemos às perguntas. uma criança.
Respondeu-lhe à altura.
Pedir
Observação: o verbo responder, apesar de transitivo Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente na
indireto quando exprime aquilo a que se responde, admite forma de oração subordinada substantiva) e indireto de
voz passiva analítica: pessoa.
O questionário foi respondido corretamente.
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamen- Pedi-lhe favores.
te.
Objeto Indireto Objeto Direto
- Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus complemen-
Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio.
tos introduzidos pela preposição “com”.
Antipatizo com aquela apresentadora. Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
Simpatizo com os que condenam os políticos que gover- tantiva Objetiva Direta
nam para uma minoria privilegiada.
Saiba que:
4-) Verbos Transitivos Diretos e Indiretos - A construção “pedir para”, muito comum na lingua-
gem cotidiana, deve ter emprego muito limitado na língua
Os verbos transitivos diretos e indiretos são acompa- culta. No entanto, é considerada correta quando a palavra
nhados de um objeto direto e um indireto. Merecem desta- licença estiver subentendida.
que, nesse grupo: agradecer, perdoar e pagar. São verbos Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa.
que apresentam objeto direto relacionado a coisas e objeto
indireto relacionado a pessoas. Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz
uma oração subordinada adverbial final reduzida de infiniti-
Agradeço aos ouvintes a audiência. vo (para ir entregar-lhe os catálogos em casa).
Objeto Indireto Objeto Direto
Preferir
Paguei o débito ao cobrador.
Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto in-
Objeto Direto Objeto Indireto
direto introduzido pela preposição “a”:
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais.
- O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito
com particular cuidado: Prefiro trem a ônibus.
Agradeci o presente. / Agradeci-o.
Agradeço a você. / Agradeço-lhe. Observação: na língua culta, o verbo “preferir” deve
Perdoei a ofensa. / Perdoei-a. ser usado sem termos intensificadores, tais como: muito,
Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe. antes, mil vezes, um milhão de vezes, mais. A ênfase já é
Paguei minhas contas. / Paguei-as. dada pelo prefixo existente no próprio verbo (pre).
Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Mudança de Transitividade - Mudança de Signifi- CHAMAR


cado - Chamar é transitivo direto no sentido de convocar,
solicitar a atenção ou a presença de.
Há verbos que, de acordo com a mudança de transitivi- Por gentileza, vá chamar a polícia. / Por favor, vá cha-
dade, apresentam mudança de significado. O conhecimen- má-la.
to das diferentes regências desses verbos é um recurso lin- Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes.
guístico muito importante, pois além de permitir a correta
interpretação de passagens escritas, oferece possibilidades - Chamar no sentido de denominar, apelidar pode
expressivas a quem fala ou escreve. Dentre os principais, apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere predi-
estão: cativo preposicionado ou não.
A torcida chamou o jogador mercenário.
AGRADAR A torcida chamou ao jogador mercenário.
A torcida chamou o jogador de mercenário.
- Agradar é transitivo direto no sentido de fazer cari-
A torcida chamou ao jogador de mercenário.
nhos, acariciar, fazer as vontades de.
Sempre agrada o filho quando.
- Chamar com o sentido de ter por nome é pronominal:
Aquele comerciante agrada os clientes.
Como você se chama? Eu me chamo Zenaide.
- Agradar é transitivo indireto no sentido de causar CUSTAR
agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento in- - Custar é intransitivo no sentido de ter determinado
troduzido pela preposição “a”. valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial:
O cantor não agradou aos presentes. Frutas e verduras não deveriam custar muito.
O cantor não lhes agradou.
- No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo
*O antônimo “desagradar” é sempre transitivo indireto: ou transitivo indireto, tendo como sujeito uma oração re-
O cantor desagradou à plateia. duzida de infinitivo.

ASPIRAR Muito custa viver tão longe da família.


- Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspi- Verbo Intransitivo Oração Subordinada
rar (o ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o) Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo

- Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter Custou-me (a mim) crer nisso.
como ambição: Aspirávamos a um emprego melhor. (Aspi- Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
rávamos a ele) tantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo

* Como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pes- *A Gramática Normativa condena as construções que
soa, as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” não são atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por
utilizadas, mas, sim, as formas tônicas “a ele(s)”, “a ela(s)”. pessoa: Custei para entender o problema. = Forma
Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (= As- correta: Custou-me entender o problema.
piravam a ela)
IMPLICAR
- Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:
ASSISTIR
a) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes
- Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, pres-
implicavam um firme propósito.
tar assistência a, auxiliar.
b) ter como consequência, trazer como consequência,
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos.
acarretar, provocar: Uma ação implica reação.
As empresas de saúde negam-se a assisti-los.
- Como transitivo direto e indireto, significa compro-
- Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presen- meter, envolver: Implicaram aquele jornalista em questões
ciar, estar presente, caber, pertencer. econômicas.
Assistimos ao documentário.
Não assisti às últimas sessões. * No sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo
Essa lei assiste ao inquilino. indireto e rege com preposição “com”: Implicava com quem
não trabalhasse arduamente.
*No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é in-
transitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de NAMORAR
lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa - Sempre transitivo direto: Luísa namora Carlos há dois
conturbada cidade. anos.

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LÍNGUA PORTUGUESA

OBEDECER - DESOBEDECER Há uma construção em que a coisa esquecida ou lem-


- Sempre transitivo indireto: brada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve
Todos obedeceram às regras. alteração de sentido. É uma construção muito rara na lín-
Ninguém desobedece às leis. gua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos
clássicos tanto brasileiros como portugueses. Machado de
*Quando o objeto é “coisa”, não se utiliza “lhe” nem Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.
“lhes”: As leis são essas, mas todos desobedecem a elas. Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)
PROCEDER Não lhe lembram os bons momentos da infância? (=
- Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter momentos é sujeito)
cabimento, ter fundamento ou comportar-se, agir. Nessa
segunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto SIMPATIZAR - ANTIPATIZAR
adverbial de modo. - São transitivos indiretos e exigem a preposição “com”:
As afirmações da testemunha procediam, não havia Não simpatizei com os jurados.
como refutá-las. Simpatizei com os alunos.
Você procede muito mal.
Importante: A norma culta exige que os verbos e ex-
- Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a prepo- pressões que dão ideia de movimento sejam usados com
sição “de”) e fazer, executar (rege complemento introduzido a preposição “a”:
pela preposição “a”) é transitivo indireto. Chegamos a São Paulo e fomos direto ao hotel.
O avião procede de Maceió. Cláudia desceu ao segundo andar.
Procedeu-se aos exames. Hoje, com esta chuva, ninguém sairá à rua.
O delegado procederá ao inquérito.
Regência Nominal
QUERER
- Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter É o nome da relação existente entre um nome (subs-
vontade de, cobiçar. tantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse
Querem melhor atendimento. nome. Essa relação é sempre intermediada por uma prepo-
Queremos um país melhor. sição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em
conta que vários nomes apresentam exatamente o mesmo
- Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição, regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de
estimar, amar: Quero muito aos meus amigos. um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos
nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os
VISAR nomes correspondentes: todos regem complementos in-
- Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mi- troduzidos pela preposição a. Veja:
rar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
O homem visou o alvo. Obedecer a algo/ a alguém.
O gerente não quis visar o cheque. Obediente a algo/ a alguém.

- No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como Se uma oração completar o sentido de um nome, ou
objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”. seja, exercer a função de complemento nominal, ela será
O ensino deve sempre visar ao progresso social. completiva nominal (subordinada substantiva).
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar
público.

ESQUECER – LEMBRAR
- Lembrar algo – esquecer algo
- Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronomi-
nal)

No 1.º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja,


exigem complemento sem preposição: Ele esqueceu o livro.
No 2.º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc) e
exigem complemento com a preposição “de”. São, portan-
to, transitivos indiretos:
- Ele se esqueceu do caderno.
- Eu me esqueci da chave.
- Eles se esqueceram da prova.
- Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Regência de Alguns Nomes

Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por
Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios
Longe de Perto de

Observação: os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: para-
lela a; paralelamente a; relativa a; relativamente a.

Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

Questões

1-) (PRODAM – AUXILIAR - MOTORISTA – FUNCAB/2014) Assinale a alternativa em que a frase segue a norma culta da
língua quanto à regência verbal.
A) Prefiro viajar de ônibus do que dirigir.
B) Eu esqueci do seu nome.
C) Você assistiu à cena toda?
D) Ele chegou na oficina pela manhã.
E) Sempre obedeço as leis de trânsito.

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LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Quanto à estrutura da frase, as que possuem verbo


A) Prefiro viajar de ônibus do que dirigir. = prefiro viajar (oração) são estruturadas por dois elementos essenciais:
de ônibus a dirigir sujeito e predicado.
B) Eu esqueci do seu nome. = Eu me esqueci do seu O sujeito é o termo da frase que concorda com o verbo
nome em número e pessoa. É o “ser de quem se declara algo”, “o
C) Você assistiu à cena toda? = correta tema do que se vai comunicar”; o predicado é a parte da
D) Ele chegou na oficina pela manhã. = Ele chegou à frase que contém “a informação nova para o ouvinte”, é o
oficina pela manhã que “se fala do sujeito”. Ele se refere ao tema, constituindo
E) Sempre obedeço as leis de trânsito. = Sempre obe- a declaração do que se atribui ao sujeito.
deço às leis de trânsito Quando o núcleo da declaração está no verbo (que in-
RESPOSTA: “C”. dique ação ou fenômeno da natureza, seja um verbo signi-
ficativo), temos o predicado verbal. Mas, se o núcleo estiver
2-) (POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO/SP – em um nome (geralmente um adjetivo), teremos um predi-
MÉDICO LEGISTA – VUNESP/2014 - adaptada) Leia o se- cado nominal (os verbos deste tipo de predicado são os
guinte trecho para responder à questão. que indicam estado, conhecidos como verbos de ligação):
A pesquisa encontrou um dado curioso: homens com O menino limpou a sala. = “limpou” é verbo de ação
baixos níveis de testosterona tiveram uma resposta imuno- (predicado verbal)
lógica melhor a essa medida, similar _______________ . A prova foi fácil. – “foi” é verbo de ligação (ser); o nú-
A alternativa que completa, corretamente, o texto é: cleo é “fácil” (predicado nominal)
(A) das mulheres
(B) às mulheres Quanto ao período, ele denomina a frase constituída
(C) com das mulheres por uma ou mais orações, formando um todo, com sentido
(D) à das mulheres completo. O período pode ser simples ou composto.
(E) ao das mulheres
Período simples é aquele constituído por apenas uma
oração, que recebe o nome de oração absoluta.
2-) Similar significa igual; sua regência equivale à da
Chove.
palavra “igual”: igual a quê? Similar a quem? Similar à (su-
A existência é frágil.
bentendido: resposta imunológica) das mulheres.
Amanhã, à tarde, faremos a prova do concurso.
RESPOSTA: “D”.
Período composto é aquele constituído por duas ou
mais orações:
Cantei, dancei e depois dormi.
Quero que você estude mais.
FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO
SINTAXE DA ORAÇÃO E DO PERÍODO Termos essenciais da oração
TERMOS DA ORAÇÃO
COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO O sujeito e o predicado são considerados termos
essenciais da oração, ou seja, são termos indispensáveis
para a formação das orações. No entanto, existem orações
formadas exclusivamente pelo predicado. O que define a
Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para oração é a presença do verbo. O sujeito é o termo que es-
estabelecer comunicação. Normalmente é composta por tabelece concordância com o verbo.
dois termos – o sujeito e o predicado – mas não obrigato- O candidato está preparado.
riamente, pois há orações ou frases sem sujeito: Trovejou Os candidatos estão preparados.
muito ontem à noite.
Na primeira frase, o sujeito é “o candidato”. “Candida-
Quanto aos tipos de frases, além da classificação em to” é a principal palavra do sujeito, sendo, por isso, deno-
verbais (possuem verbos, ou seja, são orações) e nominais minada núcleo do sujeito. Este se relaciona com o verbo,
(sem a presença de verbos), feita a partir de seus elementos estabelecendo a concordância (núcleo no singular, verbo
constituintes, elas podem ser classificadas a partir de seu no singular: candidato = está).
sentido global: A função do sujeito é basicamente desempenhada por
- frases interrogativas = o emissor da mensagem for- substantivos, o que a torna uma função substantiva da ora-
mula uma pergunta: Que dia é hoje? ção. Pronomes, substantivos, numerais e quaisquer outras
- frases imperativas = o emissor dá uma ordem ou faz palavras substantivadas (derivação imprópria) também po-
um pedido: Dê-me uma luz! dem exercer a função de sujeito.
- frases exclamativas = o emissor exterioriza um estado Os dois sumiram. (dois é numeral; no exemplo, subs-
afetivo: Que dia abençoado! tantivo)
- frases declarativas = o emissor constata um fato: A Um sim é suave e sugestivo. (sim é advérbio; no exem-
prova será amanhã. plo: substantivo)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Os sujeitos são classificados a partir de dois elementos: 1-) com verbo na terceira pessoa do plural, desde que
o de determinação ou indeterminação e o de núcleo do o sujeito não tenha sido identificado anteriormente:
sujeito. Bateram à porta;
Um sujeito é determinado quando é facilmente iden- Andam espalhando boatos a respeito da queda do mi-
tificado pela concordância verbal. O sujeito determinado nistro.
pode ser simples ou composto.
A indeterminação do sujeito ocorre quando não é * Se o sujeito estiver identificado, poderá ser simples
possível identificar claramente a que se refere a concor- ou composto:
dância verbal. Isso ocorre quando não se pode ou não inte- Os meninos bateram à porta. (simples)
ressa indicar precisamente o sujeito de uma oração. Os meninos e as meninas bateram à porta. (composto)
Estão gritando seu nome lá fora.
Trabalha-se demais neste lugar. 2-) com o verbo na terceira pessoa do singular, acres-
cido do pronome “se”. Esta é uma construção típica dos
O sujeito simples é o sujeito determinado que apre- verbos que não apresentam complemento direto:
senta um único núcleo, que pode estar no singular ou no Precisa-se de mentes criativas.
plural; pode também ser um pronome indefinido. Abaixo, Vivia-se bem naqueles tempos.
sublinhei os núcleos dos sujeitos: Trata-se de casos delicados.
Nós estudaremos juntos. Sempre se está sujeito a erros.
A humanidade é frágil.
Ninguém se move. O pronome “se”, nestes casos, funciona como índice de
O amar faz bem. (“amar” é verbo, mas aqui houve uma indeterminação do sujeito.
derivação imprópria, transformando-o em substantivo)
As crianças precisam de alimentos saudáveis. As orações sem sujeito, formadas apenas pelo predi-
cado, articulam-se a partir de um verbo impessoal. A men-
O sujeito composto é o sujeito determinado que apre- sagem está centrada no processo verbal. Os principais ca-
sos de orações sem sujeito com:
senta mais de um núcleo.
Alimentos e roupas custam caro.
1-) os verbos que indicam fenômenos da natureza:
Ela e eu sabemos o conteúdo.
Amanheceu.
O amar e o odiar são duas faces da mesma moeda.
Está trovejando.
Além desses dois sujeitos determinados, é comum a
2-) os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam
referência ao sujeito implícito na desinência verbal (o
fenômenos meteorológicos ou se relacionam ao tempo em
“antigo” sujeito oculto [ou elíptico]), isto é, ao núcleo do
geral:
sujeito que está implícito e que pode ser reconhecido pela Está tarde.
desinência verbal ou pelo contexto. Já são dez horas.
Abolimos todas as regras. = (nós) Faz frio nesta época do ano.
Falaste o recado à sala? = (tu) Há muitos concursos com inscrições abertas.
* Os verbos deste tipo de sujeito estão sempre na pri- Predicado é o conjunto de enunciados que contém a
meira pessoa do singular (eu) ou plural (nós) ou na segun- informação sobre o sujeito – ou nova para o ouvinte. Nas
da do singular (tu) ou do plural (vós), desde que os prono- orações sem sujeito, o predicado simplesmente enuncia
mes não estejam explícitos. um fato qualquer. Nas orações com sujeito, o predicado é
Iremos à feira juntos? (= nós iremos) – sujeito implícito aquilo que se declara a respeito deste sujeito. Com exceção
na desinência verbal “-mos” do vocativo - que é um termo à parte - tudo o que difere
Cantais bem! (= vós cantais) - sujeito implícito na desi- do sujeito numa oração é o seu predicado.
nência verbal “-ais” Chove muito nesta época do ano.
Houve problemas na reunião.
Mas:
Nós iremos à festa juntos? = sujeito simples: nós * Em ambas as orações não há sujeito, apenas predi-
Vós cantais bem! = sujeito simples: vós cado.

O sujeito indeterminado surge quando não se quer - As questões estavam fáceis!


ou não se pode - identificar a que o predicado da oração Sujeito simples = as questões
refere-se. Existe uma referência imprecisa ao sujeito, caso Predicado = estavam fáceis
contrário, teríamos uma oração sem sujeito.
Na língua portuguesa, o sujeito pode ser indetermina- Passou-me uma ideia estranha pelo pensamento.
do de duas maneiras: Sujeito = uma ideia estranha
Predicado = passou-me pelo pensamento

64
LÍNGUA PORTUGUESA

Para o estudo do predicado, é necessário verificar se No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta
seu núcleo é um nome (então teremos um predicado no- duas funções: a de verbo significativo e a de verbo de liga-
minal) ou um verbo (predicado verbal). Deve-se considerar ção. Este predicado poderia ser desdobrado em dois: um
também se as palavras que formam o predicado referem- verbal e outro nominal.
se apenas ao verbo ou também ao sujeito da oração. O dia amanheceu. / O dia estava ensolarado.

Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona
de opinião. o complemento homens com o predicativo “inconstantes”.
Predicado
Termos integrantes da oração
O predicado acima apresenta apenas uma palavra que
se refere ao sujeito: pedem. As demais palavras ligam-se Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o
direta ou indiretamente ao verbo. complemento nominal são chamados termos integrantes da
A cidade está deserta. oração.
Os complementos verbais integram o sentido dos ver-
O nome “deserta”, por intermédio do verbo, refere-se bos transitivos, com eles formando unidades significativas.
ao sujeito da oração (cidade). O verbo atua como elemento Estes verbos podem se relacionar com seus complementos
de ligação (por isso verbo de ligação) entre o sujeito e a diretamente, sem a presença de preposição, ou indireta-
palavra a ele relacionada (no caso: deserta = predicativo mente, por intermédio de preposição.
do sujeito).
O objeto direto é o complemento que se liga direta-
O predicado verbal é aquele que tem como núcleo mente ao verbo.
significativo um verbo: Houve muita confusão na partida final.
Chove muito nesta época do ano. Queremos sua ajuda.
Estudei muito hoje!
O objeto direto preposicionado ocorre principalmen-
Compraste a apostila?
te:
- com nomes próprios de pessoas ou nomes comuns
Os verbos acima são significativos, isto é, não servem
referentes a pessoas:
apenas para indicar o estado do sujeito, mas indicam pro-
Amar a Deus; Adorar a Xangô; Estimar aos pais.
cessos.
(o objeto é direto, mas como há preposição, denomi-
na-se: objeto direto preposicionado)
O predicado nominal é aquele que tem como núcleo
significativo um nome; este atribui uma qualidade ou esta- - com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes
do ao sujeito, por isso é chamado de predicativo do sujei- de tratamento: Não excluo a ninguém; Não quero cansar a
to. O predicativo é um nome que se liga a outro nome da Vossa Senhoria.
oração por meio de um verbo (o verbo de ligação).
Nos predicados nominais, o verbo não é significativo, - para evitar ambiguidade: Ao povo prejudica a crise.
isto é, não indica um processo, mas une o sujeito ao pre- (sem preposição, o sentido seria outro: O povo prejudica
dicativo, indicando circunstâncias referentes ao estado do a crise)
sujeito: Os dados parecem corretos.
O verbo parecer poderia ser substituído por estar, an- O objeto indireto é o complemento que se liga indi-
dar, ficar, ser, permanecer ou continuar, atuando como ele- retamente ao verbo, ou seja, através de uma preposição.
mento de ligação entre o sujeito e as palavras a ele rela- Gosto de música popular brasileira.
cionadas. Necessito de ajuda.
* A função de predicativo é exercida, normalmente, por
um adjetivo ou substantivo. O termo que integra o sentido de um nome chama-se
complemento nominal, que se liga ao nome que comple-
O predicado verbo-nominal é aquele que apresen- ta por intermédio de preposição:
ta dois núcleos significativos: um verbo e um nome. No A arte é necessária à vida. = relaciona-se com a palavra
predicado verbo-nominal, o predicativo pode se referir ao “necessária”
sujeito ou ao complemento verbal (objeto). Temos medo de barata. = ligada à palavra “medo”
O verbo do predicado verbo-nominal é sempre sig-
nificativo, indicando processos. É também sempre por in- Termos acessórios da oração e vocativo
termédio do verbo que o predicativo se relaciona com o
termo a que se refere. Os termos acessórios recebem este nome por serem
1- O dia amanheceu ensolarado; explicativos, circunstanciais. São termos acessórios o ad-
2- As mulheres julgam os homens inconstantes. junto adverbial, o adjunto adnominal, o aposto e o vocativo
– este, sem relação sintática com outros temos da oração.

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LÍNGUA PORTUGUESA

O adjunto adverbial é o termo da oração que indi- O aposto pode ser classificado, de acordo com seu va-
ca uma circunstância do processo verbal ou intensifica o lor na oração, em:
sentido de um adjetivo, verbo ou advérbio. É uma função a) explicativo: A linguística, ciência das línguas huma-
adverbial, pois cabe ao advérbio e às locuções adverbiais nas, permite-nos interpretar melhor nossa relação com o
exercerem o papel de adjunto adverbial: Amanhã voltarei a mundo.
pé àquela velha praça. b) enumerativo: A vida humana compõe-se de muitas
coisas: amor, arte, ação.
As circunstâncias comumente expressas pelo adjunto c) resumidor ou recapitulativo: Fantasias, suor e sonho,
adverbial são: tudo forma o carnaval.
- assunto: Falavam sobre futebol. d) comparativo: Seus olhos, indagadores holofotes, fixa-
- causa: As folhas caíram com o vento. ram-se por muito tempo na baía anoitecida.
- companhia: Ficarei com meus pais.
- concessão: Apesar de você, serei feliz. O vocativo é um termo que serve para chamar, invocar
- conformidade: Fez tudo conforme o combinado. ou interpelar um ouvinte real ou hipotético, não mantendo
- dúvida: Talvez ainda chova. relação sintática com outro termo da oração. A função de
- fim: Estudou para o exame. vocativo é substantiva, cabendo a substantivos, pronomes
- instrumento: Fez o corte com a faca. substantivos, numerais e palavras substantivadas esse pa-
- intensidade: Falava bastante.
pel na linguagem.
- lugar: Vou à cidade.
João, venha comigo!
- matéria: Este prato é feito de porcelana.
Traga-me doces, minha menina!
- meio: Viajarei de trem.
- modo: Foram recrutados a dedo.
- negação: Não há ninguém que mereça.
- tempo: Ontem à tarde encontrou o velho amigo. Questões

O adjunto adnominal é o termo acessório que deter- 1-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/
mina, especifica ou explica um substantivo. É uma função UFAL/2014 - adaptada)
adjetiva, pois são os adjetivos e as locuções adjetivas que
exercem o papel de adjunto adnominal na oração. Também
atuam como adjuntos adnominais os artigos, os numerais
e os pronomes adjetivos.
O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu
amigo de infância.

O adjunto adnominal se liga diretamente ao substan-


tivo a que se refere, sem participação do verbo. Já o predi-
cativo do objeto se liga ao objeto por meio de um verbo.
O poeta português deixou uma obra originalíssima.
O poeta deixou-a.
(originalíssima não precisou ser repetida, portanto: ad-
junto adnominal)

O poeta português deixou uma obra inacabada. O cartaz acima divulga a peça de teatro “Quem tem
O poeta deixou-a inacabada. medo de Virginia Woolf?” escrita pelo norte-americano
(inacabada precisou ser repetida, então: predicativo do Edward Albee. O termo “de Virginia Woolf”, do título em
objeto)
português da peça, funciona como:
A) objeto indireto.
Enquanto o complemento nominal se relaciona a um
B) complemento nominal.
substantivo, adjetivo ou advérbio, o adjunto adnominal se
relaciona apenas ao substantivo. C) adjunto adnominal.
D) adjunto adverbial.
O aposto é um termo acessório que permite ampliar, E) agente da passiva.
explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida em um ter-
mo que exerça qualquer função sintática: Ontem, segunda- 1-) O termo complementa a palavra “medo”, que é
feira, passei o dia mal-humorado. substantivo (nome – nominal). Portanto é um complemen-
to nominal. O verbo “ter” tem como complemento verbal
Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tempo (objeto) a palavra “medo”, que exerce a função sintática de
“ontem”. O aposto é sintaticamente equivalente ao termo objeto direto.
que se relaciona porque poderia substituí-lo: Segunda-feira RESPOSTA: “B”.
passei o dia mal-humorado.

66
LÍNGUA PORTUGUESA

2-) (TRT/AL - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2014) Coordenadas Assindéticas


... que acompanham as fronteiras ocidentais chinesas...
O verbo que, no contexto, exige o mesmo tipo de com- São orações coordenadas entre si e que não são liga-
plemento que o da frase acima está em: das através de nenhum conectivo. Estão apenas justapos-
(A) A Rota da Seda nunca foi uma rota única... tas.
(B) Esses caminhos floresceram durante os primórdios Entrei na sala, deitei-me no sofá, adormeci.
da Idade Média.
(C) ... viajavam por cordilheiras... Coordenadas Sindéticas
(D) ... até cair em desuso, seis séculos atrás.
(E) O maquinista empurra a manopla do acelerador. Ao contrário da anterior, são orações coordenadas en-
tre si, mas que são ligadas através de uma conjunção coor-
2-) Acompanhar é transitivo direto (acompanhar quem denativa, que dará à oração uma classificação. As orações
ou o quê - não há preposição): coordenadas sindéticas são classificadas em cinco tipos:
A = foi = verbo de ligação (ser) – não há complemento, aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicati-
mas sim, predicativo do sujeito (rota única); vas.
B = floresceram = intransitivo (durante os primórdios =
adjunto adverbial); ** Dica: Memorize SINdética = SIM, tem conjunção!
C = viajavam = intransitivo (por cordilheiras = adjunto Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas: suas prin-
adverbial); cipais conjunções são: e, nem, não só... mas também, não
D = cair = intransitivo; só... como, assim... como.
E = empurra = transitivo direto (empurrar quem ou o Nem comprei o protetor solar nem fui à praia.
quê?) Comprei o protetor solar e fui à praia.
RESPOSTA: “E”.
Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas: suas
Período Composto por Coordenação principais conjunções são: mas, contudo, todavia, entretan-
to, porém, no entanto, ainda, assim, senão.
O período composto se caracteriza por possuir mais de Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante.
uma oração em sua composição. Sendo assim: Li tudo, porém não entendi!
- Eu irei à praia. (Período Simples = um verbo, uma
oração) Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas: suas
- Estou comprando um protetor solar, depois irei à principais conjunções são: ou... ou; ora...ora; quer...quer;
praia. (Período Composto =locução verbal + verbo, duas seja...seja.
orações) Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador.
- Já me decidi: só irei à praia, se antes eu comprar
um protetor solar. (Período Composto = três verbos, três Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas: suas
orações). principais conjunções são: logo, portanto, por fim, por con-
seguinte, consequentemente, pois (posposto ao verbo).
Há dois tipos de relações que podem se estabelecer Passei no concurso, portanto comemorarei!
entre as orações de um período composto: uma relação de A situação é delicada; devemos, pois, agir.
coordenação ou uma relação de subordinação.
Duas orações são coordenadas quando estão juntas Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas: suas
em um mesmo período, (ou seja, em um mesmo bloco de principais conjunções são: isto é, ou seja, a saber, na verda-
informações, marcado pela pontuação final), mas têm, am- de, pois (anteposto ao verbo).
bas, estruturas individuais, como é o exemplo de: Não fui à praia, pois queria descansar durante o Do-
Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia. mingo.
(Período Composto) Maria chorou porque seus olhos estão vermelhos.
Podemos dizer:
1. Estou comprando um protetor solar. Período Composto Por Subordinação
2. Irei à praia.
Separando as duas, vemos que elas são independen- Quero que você seja aprovado!
tes. Tal período é classificado como Período Composto Oração principal oração subordinada
por Coordenação.
Quanto à classificação das orações coordenadas, te- Observe que na oração subordinada temos o verbo
mos dois tipos: Coordenadas Assindéticas e Coordenadas “seja”, que está conjugado na terceira pessoa do singular
Sindéticas. do presente do subjuntivo, além de ser introduzida por
conjunção. As orações subordinadas que apresentam ver-
bo em qualquer dos tempos finitos (tempos do modo do
indicativo, subjuntivo e imperativo) e são iniciadas por con-
junção, chamam-se orações desenvolvidas ou explícitas.

67
LÍNGUA PORTUGUESA

Podemos modificar o período acima. Veja: * Atenção: Observe que a oração subordinada subs-
tantiva pode ser substituída pelo pronome “isso”. Assim,
Quero ser aprovado. temos um período simples:
Oração Principal Oração Subordinada É fundamental isso ou Isso é fundamental.
Desta forma, a oração correspondente a “isso” exercerá
A análise das orações continua sendo a mesma: “Que- a função de sujeito.
ro” é a oração principal, cujo objeto direto é a oração su- Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na oração
bordinada “ser aprovado”. Observe que a oração subordi- principal:
nada apresenta agora verbo no infinitivo (ser). Além disso,
a conjunção “que”, conectivo que unia as duas orações, - Verbos de ligação + predicativo, em construções do
desapareceu. As orações subordinadas cujo verbo surge tipo: É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece certo - É
numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou particí- claro - Está evidente - Está comprovado
pio) chamamos orações reduzidas ou implícitas. É bom que você compareça à minha festa.
* Observação: as orações reduzidas não são introdu-
- Expressões na voz passiva, como: Sabe-se, Soube-se,
zidas por conjunções nem pronomes relativos. Podem ser,
Conta-se, Diz-se, Comenta-se, É sabido, Foi anunciado, Ficou
eventualmente, introduzidas por preposição.
provado.
Sabe-se que Aline não gosta de Pedro.
1-) Orações Subordinadas Substantivas

A oração subordinada substantiva tem valor de subs- - Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar -
tantivo e vem introduzida, geralmente, por conjunção inte- importar - ocorrer - acontecer
grante (que, se). Convém que não se atrase na entrevista.

Não sei se sairemos hoje. Observação: quando a oração subordinada substanti-


Oração Subordinada Substantiva va é subjetiva, o verbo da oração principal está sempre na
3.ª pessoa do singular.
Temos medo de que não sejamos aprovados.
Oração Subordinada Substantiva b) Objetiva Direta = exerce função de objeto direto
do verbo da oração principal:
Os pronomes interrogativos (que, quem, qual) também
introduzem as orações subordinadas substantivas, bem Todos querem sua aprovação no concurso.
como os advérbios interrogativos (por que, quando, onde, Objeto Direto
como).
Todos querem que você seja aprovado. (Todos
O garoto perguntou qual seu nome. querem isso)
Oração Subordinada Subs- Oração Principal oração Subordinada Substantiva
tantiva Objetiva Direta

Não sabemos quando ele virá. As orações subordinadas substantivas objetivas diretas
Oração Subordinada Substan- (desenvolvidas) são iniciadas por:
tiva - Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e
“se”: A professora verificou se os alunos estavam presentes.
Classificação das Orações Subordinadas Substanti-
vas
- Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às ve-
zes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: O
Conforme a função que exerce no período, a oração
pessoal queria saber quem era o dono do carro importado.
subordinada substantiva pode ser:
a) Subjetiva - exerce a função sintática de sujeito do
verbo da oração principal: - Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às ve-
zes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: Eu
É fundamental o seu comparecimento à reu- não sei por que ela fez isso.
nião.
Sujeito c) Objetiva Indireta = atua como objeto indireto do
verbo da oração principal. Vem precedida de preposição.
É fundamental que você compareça à
reunião. Meu pai insiste em meu estudo.
Oração Principal Oração Subordinada Substan- Objeto Indireto
tiva Subjetiva

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LÍNGUA PORTUGUESA

Meu pai insiste em que eu estude. (Meu pai insiste 2-) Orações Subordinadas Adjetivas
nisso)
Oração Subordinada Substantiva Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui
Objetiva Indireta valor e função de adjetivo, ou seja, que a ele equivale. As
orações vêm introduzidas por pronome relativo e exercem
Observação: em alguns casos, a preposição pode estar a função de adjunto adnominal do antecedente.
elíptica na oração.
Marta não gosta (de) que a chamem de senhora. Esta foi uma redação bem-sucedida.
Oração Subordinada Substantiva Substantivo Adjetivo (Adjunto Adno-
Objetiva Indireta minal)

d) Completiva Nominal = completa um nome que O substantivo “redação” foi caracterizado pelo adjetivo
pertence à oração principal e também vem marcada por “bem-sucedida”. Neste caso, é possível formarmos outra
preposição. construção, a qual exerce exatamente o mesmo papel:

Sentimos orgulho de seu comportamento. Esta foi uma redação que fez sucesso.
Complemento Nominal Oração Principal Oração Subordinada
Adjetiva
Sentimos orgulho de que você se comportou. (Sen-
timos orgulho disso.) Perceba que a conexão entre a oração subordinada
Oração Subordinada Substantiva adjetiva e o termo da oração principal que ela modifica é
Completiva Nominal feita pelo pronome relativo “que”. Além de conectar (ou
relacionar) duas orações, o pronome relativo desempenha
Lembre-se: as orações subordinadas substantivas ob- uma função sintática na oração subordinada: ocupa o pa-
jetivas indiretas integram o sentido de um verbo, enquanto pel que seria exercido pelo termo que o antecede (no caso,
que orações subordinadas substantivas completivas nomi- “redação” é sujeito, então o “que” também funciona como
nais integram o sentido de um nome. Para distinguir uma sujeito).
da outra, é necessário levar em conta o termo complemen-
tado. Esta é a diferença entre o objeto indireto e o com-
Observação: para que dois períodos se unam num
plemento nominal: o primeiro complementa um verbo; o
período composto, altera-se o modo verbal da segunda
segundo, um nome.
oração.
e) Predicativa = exerce papel de predicativo do sujei-
Atenção: Vale lembrar um recurso didático para re-
to do verbo da oração principal e vem sempre depois do
conhecer o pronome relativo “que”: ele sempre pode ser
verbo ser.
substituído por: o qual - a qual - os quais - as quais
Nosso desejo era sua desistência. Refiro-me ao aluno que é estudioso. = Esta oração é
Predicativo do Sujeito equivalente a: Refiro-me ao aluno o qual estuda.

Nosso desejo era que ele desistisse. (Nosso desejo Forma das Orações Subordinadas Adjetivas
era isso)
Oração Subordinada Substantiva Quando são introduzidas por um pronome relativo e
Predicativa apresentam verbo no modo indicativo ou subjuntivo, as
orações subordinadas adjetivas são chamadas desenvolvi-
Observação: em certos casos, usa-se a preposição ex- das. Além delas, existem as orações subordinadas adjetivas
pletiva “de” para realce. Veja o exemplo: A impressão é de reduzidas, que não são introduzidas por pronome relativo
que não fui bem na prova. (podem ser introduzidas por preposição) e apresentam o
verbo numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou
f) Apositiva = exerce função de aposto de algum ter- particípio).
mo da oração principal.
Ele foi o primeiro aluno que se apresentou.
Fernanda tinha um grande sonho: a felicidade! Ele foi o primeiro aluno a se apresentar.
Aposto
No primeiro período, há uma oração subordinada ad-
Fernanda tinha um grande sonho: ser feliz! jetiva desenvolvida, já que é introduzida pelo pronome re-
Oração subordinada lativo “que” e apresenta verbo conjugado no pretérito per-
substantiva apositiva reduzida de infinitivo feito do indicativo. No segundo, há uma oração subordina-
(Fernanda tinha um grande sonho: isso) da adjetiva reduzida de infinitivo: não há pronome relativo
e seu verbo está no infinitivo.
* Dica: geralmente há a presença dos dois pontos! (:)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas Naquele momento, senti uma das maiores emoções de
minha vida.
Na relação que estabelecem com o termo que caracteri- Quando vi o mar, senti uma das maiores emoções de
zam, as orações subordinadas adjetivas podem atuar de duas minha vida.
maneiras diferentes. Há aquelas que restringem ou especifi-
cam o sentido do termo a que se referem, individualizando-o. No primeiro período, “naquele momento” é um adjun-
Nestas orações não há marcação de pausa, sendo chamadas to adverbial de tempo, que modifica a forma verbal “sen-
subordinadas adjetivas restritivas. Existem também orações ti”. No segundo período, este papel é exercido pela oração
que realçam um detalhe ou amplificam dados sobre o ante-
“Quando vi o mar”, que é, portanto, uma oração subordi-
cedente, que já se encontra suficientemente definido. Estas
nada adverbial temporal. Esta oração é desenvolvida, pois
orações denominam-se subordinadas adjetivas explicativas.
Exemplo 1: é introduzida por uma conjunção subordinativa (quando)
Jamais teria chegado aqui, não fosse um homem que e apresenta uma forma verbal do modo indicativo (“vi”, do
passava naquele momento. pretérito perfeito do indicativo). Seria possível reduzi-la,
Oração obtendo-se:
Subordinada Adjetiva Restritiva Ao ver o mar, senti uma das maiores emoções de minha
vida.
No período acima, observe que a oração em destaque
restringe e particulariza o sentido da palavra “homem”: tra- A oração em destaque é reduzida, apresentando uma
ta-se de um homem específico, único. A oração limita o uni- das formas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não é
verso de homens, isto é, não se refere a todos os homens, introduzida por conjunção subordinativa, mas sim por uma
mas sim àquele que estava passando naquele momento. preposição (“a”, combinada com o artigo “o”).

Exemplo 2: Observação: a classificação das orações subordinadas


O homem, que se considera racional, muitas vezes age adverbiais é feita do mesmo modo que a classificação dos
animalescamente. adjuntos adverbiais. Baseia-se na circunstância expressa
Oração Subordinada Adjetiva Explicativa pela oração.
Agora, a oração em destaque não tem sentido restritivo
Orações Subordinadas Adverbiais
em relação à palavra “homem”; na verdade, apenas explici-
ta uma ideia que já sabemos estar contida no conceito de
“homem”. a) Causal = A ideia de causa está diretamente ligada
àquilo que provoca um determinado fato, ao motivo do
** Saiba que: A oração subordinada adjetiva explicati- que se declara na oração principal. Principal conjunção su-
va é separada da oração principal por uma pausa que, na bordinativa causal: porque. Outras conjunções e locuções
escrita, é representada pela vírgula. É comum, por isso, que causais: como (sempre introduzido na oração anteposta à
a pontuação seja indicada como forma de diferenciar as ora- oração principal), pois, pois que, já que, uma vez que, visto
ções explicativas das restritivas; de fato, as explicativas vêm que.
sempre isoladas por vírgulas; as restritivas, não. As ruas ficaram alagadas porque a chuva foi muito forte.
Já que você não vai, eu também não vou.
3-) Orações Subordinadas Adverbiais
A diferença entre a subordinada adverbial causal e a
Uma oração subordinada adverbial é aquela que exerce sindética explicativa é que esta “explica” o fato que aconte-
a função de adjunto adverbial do verbo da oração principal. ceu na oração com a qual ela se relaciona; aquela apresenta
Assim, pode exprimir circunstância de tempo, modo, fim, a “causa” do acontecimento expresso na oração à qual ela
causa, condição, hipótese, etc. Quando desenvolvida, vem se subordina. Repare:
introduzida por uma das conjunções subordinativas (com
1-) Faltei à aula porque estava doente.
exclusão das integrantes, que introduzem orações subor-
2-) Melissa chorou, porque seus olhos estão vermelhos.
dinadas substantivas). Classifica-se de acordo com a con-
junção ou locução conjuntiva que a introduz (assim como Em 1, a oração destacada aconteceu primeiro que o
acontece com as coordenadas sindéticas). fato expresso na oração anterior, ou seja, o fato de estar
doente impediu-me de ir à aula. No exemplo 2, a oração
Durante a madrugada, eu olhei você dormindo. sublinhada relata um fato que aconteceu depois, já que
Oração Subordinada Adverbial primeiro ela chorou, depois seus olhos ficaram vermelhos.
b) Consecutiva = exprime um fato que é consequên-
A oração em destaque agrega uma circunstância de cia, é efeito do que se declara na oração principal. São in-
tempo. É, portanto, chamada de oração subordinada adver- troduzidas pelas conjunções e locuções: que, de forma que,
bial temporal. Os adjuntos adverbiais são termos acessórios de sorte que, tanto que, etc., e pelas estruturas tão...que, tan-
que indicam uma circunstância referente, via de regra, a to...que, tamanho...que.
um verbo. A classificação do adjunto adverbial depende da Principal conjunção subordinativa consecutiva: que
exata compreensão da circunstância que exprime. (precedido de tal, tanto, tão, tamanho)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou con- g) Final = indica a intenção, a finalidade daquilo que
cretizando-os. se declara na oração principal. Principal conjunção subordi-
Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração Reduzi- nativa final: a fim de. Outras conjunções finais: que, porque
da de Infinitivo) (= para que) e a locução conjuntiva para que.
Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigas.
c) Condicional = Condição é aquilo que se impõe Estudarei muito para que eu me saia bem na prova.
como necessário para a realização ou não de um fato. As
orações subordinadas adverbiais condicionais exprimem o h) Proporcional = exprime ideia de proporção, ou
que deve ou não ocorrer para que se realize - ou deixe de seja, um fato simultâneo ao expresso na oração principal.
se realizar - o fato expresso na oração principal. Principal locução conjuntiva subordinativa proporcional: à
Principal conjunção subordinativa condicional: se. Ou- proporção que. Outras locuções conjuntivas proporcio-
tras conjunções condicionais: caso, contanto que, desde que, nais: à medida que, ao passo que. Há ainda as estruturas:
salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, sem que, quanto maior...(maior), quanto maior...(menor), quanto me-
uma vez que (seguida de verbo no subjuntivo). nor...(maior), quanto menor...(menor), quanto mais...(mais),
Se o regulamento do campeonato for bem elaborado, quanto mais...(menos), quanto menos...(mais), quanto me-
certamente o melhor time será campeão. nos...(menos).
Caso você saia, convide-me. À proporção que estudávamos mais questões acertáva-
mos.
d) Concessiva = indica concessão às ações do verbo À medida que lia mais culto ficava.
da oração principal, isto é, admitem uma contradição ou
um fato inesperado. A ideia de concessão está diretamente i) Temporal = acrescenta uma ideia de tempo ao fato
ligada ao contraste, à quebra de expectativa. Principal con- expresso na oração principal, podendo exprimir noções de
junção subordinativa concessiva: embora. Utiliza-se tam- simultaneidade, anterioridade ou posterioridade. Principal
bém a conjunção: conquanto e as locuções ainda que, ainda conjunção subordinativa temporal: quando. Outras con-
quando, mesmo que, se bem que, posto que, apesar de que. junções subordinativas temporais: enquanto, mal e locu-
Só irei se ele for. ções conjuntivas: assim que, logo que, todas as vezes que,
A oração acima expressa uma condição: o fato de “eu”
antes que, depois que, sempre que, desde que, etc.
ir só se realizará caso essa condição seja satisfeita.
Assim que Paulo chegou, a reunião acabou.
Compare agora com:
Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando termi-
Irei mesmo que ele não vá.
nou a festa) (Oração Reduzida de Particípio)
A distinção fica nítida; temos agora uma concessão:
Fontes de pesquisa:
irei de qualquer maneira, independentemente de sua ida. A
http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/fra-
oração destacada é, portanto, subordinada adverbial con-
se-periodo-e-oracao
cessiva.
Observe outros exemplos: SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
Embora fizesse calor, levei agasalho. coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse / em-
bora não estudasse). (reduzida de infinitivo)

e) Comparativa= As orações subordinadas adverbiais CRASE


comparativas estabelecem uma comparação com a ação
indicada pelo verbo da oração principal. Principal conjun-
ção subordinativa comparativa: como.
Ele dorme como um urso. (como um urso dorme) A crase se caracteriza como a fusão de duas vogais
Você age como criança. (age como uma criança age) idênticas, relacionadas ao emprego da preposição “a” com
o artigo feminino a(s), com o “a” inicial referente aos pro-
*geralmente há omissão do verbo. nomes demonstrativos – aquela(s), aquele(s), aquilo e com
o “a” pertencente ao pronome relativo a qual (as quais).
f) Conformativa = indica ideia de conformidade, ou Casos estes em que tal fusão encontra-se demarcada pelo
seja, apresenta uma regra, um modelo adotado para a acento grave ( ` ): à(s), àquela, àquele, àquilo, à qual, às
execução do que se declara na oração principal. Principal quais.
conjunção subordinativa conformativa: conforme. Outras O uso do acento indicativo de crase está condicionado
conjunções conformativas: como, consoante e segundo (to- aos nossos conhecimentos acerca da regência verbal e no-
das com o mesmo valor de conforme). minal, mais precisamente ao termo regente e termo regido.
Fiz o bolo conforme ensina a receita. Ou seja, o termo regente é o verbo - ou nome - que exige
Consoante reza a Constituição, todos os cidadãos têm complemento regido pela preposição “a”, e o termo regido
direitos iguais. é aquele que completa o sentido do termo regente, admi-
tindo a anteposição do artigo a(s).

71
LÍNGUA PORTUGUESA

Refiro-me a (a) funcionária antiga, e não a (a)quela con- * A letra “a” que acompanha locuções femininas (ad-
tratada recentemente. verbiais, prepositivas e conjuntivas) recebe o acento grave:
Após a junção da preposição com o artigo (destacados - locuções adverbiais: às vezes, à tarde, à noite, às pres-
entre parênteses), temos: sas, à vontade...
Refiro-me à funcionária antiga, e não àquela contratada - locuções prepositivas: à frente, à espera de, à procura
recentemente. de...
- locuções conjuntivas: à proporção que, à medida que.
O verbo referir, de acordo com sua transitividade, clas-
sifica-se como transitivo indireto, pois sempre nos referi- * Cuidado: quando as expressões acima não exerce-
mos a alguém ou a algo. Houve a fusão da preposição a + o rem a função de locuções não ocorrerá crase. Repare:
artigo feminino (à) e com o artigo feminino a + o pronome Eu adoro a noite!
demonstrativo aquela (àquela). Adoro o quê? Adoro quem? O verbo “adoro” requer
objeto direto, no caso, a noite. Aqui, o “a” é artigo, não
Observação importante: Alguns recursos servem de preposição.
ajuda para que possamos confirmar a ocorrência ou não da
crase. Eis alguns: Casos passíveis de nota:
a) Substitui-se a palavra feminina por uma masculina
equivalente. Caso ocorra a combinação a + o(s), a crase *a crase é facultativa diante de nomes próprios femini-
está confirmada. nos: Entreguei o caderno a (à) Eliza.
Os dados foram solicitados à diretora.
Os dados foram solicitados ao diretor. *também é facultativa diante de pronomes possessivos
femininos: O diretor fez referência a (à) sua empresa.
b) No caso de nomes próprios geográficos, substitui-se
o verbo da frase pelo verbo voltar. Caso resulte na expres- *facultativa em locução prepositiva “até a”: A loja ficará
são “voltar da”, há a confirmação da crase. aberta até as (às) dezoito horas.
Faremos uma visita à Bahia.
Faz dois dias que voltamos da Bahia. (crase confirmada) * Constata-se o uso da crase se as locuções preposi-
tivas à moda de, à maneira de apresentarem-se implícitas,
Não me esqueço da viagem a Roma.
mesmo diante de nomes masculinos: Tenho compulsão por
Ao voltar de Roma, relembrarei os belos momentos ja-
comprar sapatos à Luis XV. (à moda de Luís XV)
mais vividos.
* Não se efetiva o uso da crase diante da locução ad-
Atenção: Nas situações em que o nome geográfico se
verbial “a distância”: Na praia de Copacabana, observamos
apresentar modificado por um adjunto adnominal, a crase
a queima de fogos a distância.
está confirmada.
Atendo-me à bela Fortaleza, senti saudades de suas
praias. Entretanto, se o termo vier determinado, teremos uma
locução prepositiva, aí sim, ocorrerá crase: O pedestre foi
** Dica: Use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou arremessado à distância de cem metros.
A volto DE, crase PRA QUÊ?” Exemplo: Vou a Campinas. =
Volto de Campinas. (crase pra quê?) - De modo a evitar o duplo sentido – a ambiguidade -,
Vou à praia. = Volto da praia. (crase há!) faz-se necessário o emprego da crase.
ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especifica- Ensino à distância.
do, ocorrerá crase. Veja: Ensino a distância.
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo
que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE” * Em locuções adverbiais formadas por palavras repeti-
Irei à Salvador de Jorge Amado. das, não há ocorrência da crase.
Ela ficou frente a frente com o agressor.
* A letra “a” dos pronomes demonstrativos aquele(s), Eu o seguirei passo a passo.
aquela(s) e aquilo receberão o acento grave se o termo re-
gente exigir complemento regido da preposição “a”. Casos em que não se admite o emprego da crase:
Entregamos a encomenda àquela menina.
(preposição + pronome demonstrativo) * Antes de vocábulos masculinos.
As produções escritas a lápis não serão corrigidas.
Iremos àquela reunião. Esta caneta pertence a Pedro.
(preposição + pronome demonstrativo)
* Antes de verbos no infinitivo.
Sua história é semelhante às que eu ouvia quando crian- Ele estava a cantar.
ça. (àquelas que eu ouvia quando criança) Começou a chover.
(preposição + pronome demonstrativo)

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LÍNGUA PORTUGUESA

* Antes de numeral. Questões


O número de aprovados chegou a cem.
Faremos uma visita a dez países. 1-) (POLÍCIA CIVIL/SC – AGENTE DE POLÍCIA – ACA-
FE/2014) Assinale a alternativa que preenche corretamente
Observação: as lacunas da frase a seguir.
- Nos casos em que o numeral indicar horas – funcio- Quando________ três meses disse-me que iria _________
nando como uma locução adverbial feminina – ocorrerá Grécia para visitar ___ sua tia, vi-me na obrigação de ajudá
crase: Os passageiros partirão às dezenove horas. -la _______ resgatar as milhas _________ quais tinha direito.
A-) a - há - à - à - às
- Diante de numerais ordinais femininos a crase está B-) há - à - a - a – às
confirmada, visto que estes não podem ser empregados C-) há - a - há - à - as
sem o artigo: As saudações foram direcionadas à primeira D-) a - à - a - à - às
aluna da classe. E-) a - a - à - há – as
- Não ocorrerá crase antes da palavra casa, quan- 1-) Quando HÁ (sentido de tempo) três meses disse-
do essa não se apresentar determinada: Chegamos todos
me que iria À (“vou a, volto da, crase há!”) Grécia para vi-
exaustos a casa.
sitar A (artigo) sua tia, vi-me na obrigação de ajudá-la A
Entretanto, se vier acompanhada de um adjunto ad-
(ajudar “ela” a fazer algo) resgatar as milhas ÀS quais tinha
nominal, a crase estará confirmada: Chegamos todos exaus-
direito (tinha direito a quê? às milhas – regência nominal).
tos à casa de Marcela.
Teremos: há, à, a, a, às.
- não há crase antes da palavra “terra”, quando essa RESPOSTA: “B”.
indicar chão firme: Quando os navegantes regressaram a
terra, já era noite. 2-) (EMPLASA/SP – ANALISTA JURÍDICO – DIREITO –
Contudo, se o termo estiver precedido por um deter- VUNESP/2014)
minante ou referir-se ao planeta Terra, ocorrerá crase. A ministra de Direitos Humanos instituiu grupo de tra-
Paulo viajou rumo à sua terra natal. balho para proceder _____ medidas necessárias _____ exu-
O astronauta voltou à Terra. mação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart,
sepultado em São Borja (RS), em 1976. Com a exumação de
- não ocorre crase antes de pronomes que requerem o Jango, o governo visa esclarecer se o ex-presidente morreu
uso do artigo. de causas naturais, ou seja, devido ____ uma parada cardía-
Os livros foram entregues a mim. ca – que tem sido a versão considerada oficial até hoje –, ou
Dei a ela a merecida recompensa. se sua morte se deve ______ envenenamento.
(http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,-
Observação: Pelo fato de os pronomes de tratamento governo-cria-grupo-exumar--restos-mortais-de- jan-
relativos à senhora, senhorita e madame admitirem artigo, go,1094178,0.htm 07. 11.2013. Adaptado)
o uso da crase está confirmado no “a” que os antecede, no
caso de o termo regente exigir a preposição. Segundo a norma-padrão da língua portuguesa, as la-
Todos os méritos foram conferidos à senhorita Patrícia. cunas da frase devem ser completadas, correta e respecti-
vamente, por
*não ocorre crase antes de nome feminino utilizado em (A) a ... à ... a ... a
sentido genérico ou indeterminado: (B) as ... à ... a ... à
Estamos sujeitos a críticas. (C) às ... a ... à ... a
Refiro-me a conversas paralelas. (D) à ... à ... à ... a
(E) a ... a ... a ... à
Fontes de pesquisa:
http://www.portugues.com.br/gramatica/o-uso-crase-.
2-) A ministra de Direitos Humanos instituiu grupo de
html
trabalho para proceder a medidas (palavra no plural, ge-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. neralizando) necessárias à (regência nominal pede prepo-
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere- sição) exumação dos restos mortais do ex-presidente João
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: Goulart, sepultado em São Borja (RS), em 1976. Com a exu-
Saraiva, 2010. mação de Jango, o governo visa esclarecer se o ex-presi-
dente morreu de causas naturais, ou seja, devido a uma
(artigo indefinido) parada cardíaca – que tem sido a versão
considerada oficial até hoje –, ou se sua morte se deve a
(regência verbal) envenenamento. A / à / a / a
RESPOSTA: “A”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

3-) (SABESP/SP – ADVOGADO – FCC/2014) 2) Orações iniciadas por palavras interrogativas: Quem
Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores fizeram lhe disse isso?
uma escavação arqueológica nas ruínas da antiga cidade
de Tikal, na Guatemala. 3) Orações iniciadas por palavras exclamativas: Quanto
O a empregado na frase acima, imediatamente depois se ofendem!
de chegar, deverá receber o sinal indicativo de crase caso o
segmento grifado seja substituído por: 4) Orações que exprimem desejo (orações optativas):
(A) Uma tal ilação. Que Deus o ajude.
(B) Afirmações como essa.
(C) Comprovação dessa assertiva. 5) A próclise é obrigatória quando se utiliza o pronome
(D) Emitir uma opinião desse tipo. reto ou sujeito expresso:
(E) Semelhante resultado. Eu lhe entregarei o material amanhã.
Tu sabes cantar?
3-)
(A) Uma tal ilação – chegar a uma (não há acento grave Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do
antes de artigo) verbo. A mesóclise é usada:
(B) Afirmações como essa – chegar a afirmações (antes
de palavra no plural e o “a” no singular) Quando o verbo estiver no futuro do presente ou fu-
(C) Comprovação dessa assertiva – chegar à compro- turo do pretérito, contanto que esses verbos não estejam
vação precedidos de palavras que exijam a próclise. Exemplos:
(D) Emitir uma opinião desse tipo – chegar a emitir Realizar-se-á, na próxima semana, um grande evento
(verbo no infinitivo) em prol da paz no mundo.
(E) Semelhante resultado – chegar a semelhante (pala- Repare que o pronome está “no meio” do verbo “rea-
vra masculina) lizará”:
RESPOSTA: “C”. realizar – SE – á. Se houvesse na oração alguma palavra
que justificasse o uso da próclise, esta prevaleceria. Veja:
Não se realizará...
Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia
nessa viagem.
COLOCAÇÃO PRONOMINAL (com presença de palavra que justifique o uso de pró-
clise: Não fossem os meus compromissos, EU te acompanha-
ria nessa viagem).
Colocação Pronominal trata da correta colocação dos
Ênclise = É a colocação pronominal depois do verbo. A
pronomes oblíquos átonos na frase. ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não forem
possíveis:
* Dica: Pronome Oblíquo é aquele que exerce a função
de complemento verbal (objeto). Por isso, memorize: 1) Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo:
OBlíquo = OBjeto! Quando eu avisar, silenciem-se todos.
Embora na linguagem falada a colocação dos prono- 2) Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal: Não
mes não seja rigorosamente seguida, algumas normas de- era minha intenção machucá-la.
vem ser observadas na linguagem escrita.
3) Quando o verbo iniciar a oração. (até porque não se
Próclise = É a colocação pronominal antes do verbo. A inicia período com pronome oblíquo).
próclise é usada: Vou-me embora agora mesmo.
Levanto-me às 6h.
1) Quando o verbo estiver precedido de palavras que
atraem o pronome para antes do verbo. São elas: 4) Quando houver pausa antes do verbo: Se eu passo
a) Palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém, no concurso, mudo-me hoje mesmo!
jamais, etc.: Não se desespere!
b) Advérbios: Agora se negam a depor. 5-) Quando o verbo estiver no gerúndio: Recusou a pro-
c) Conjunções subordinativas: Espero que me expliquem posta fazendo-se de desentendida.
tudo!
d) Pronomes relativos: Venceu o concurseiro que se es- Colocação pronominal nas locuções verbais
forçou. - após verbo no particípio = pronome depois do verbo
e) Pronomes indefinidos: Poucos te deram a oportuni- auxiliar (e não depois do particípio):
dade. Tenho me deliciado com a leitura!
Eu tenho me deliciado com a leitura!
f) Pronomes demonstrativos: Isso me magoa muito. Eu me tenho deliciado com a leitura!

74
LÍNGUA PORTUGUESA

- não convém usar hífen nos tempos compostos e nas 1-) Primeiramente identifiquemos se temos objeto di-
locuções verbais: reto ou indireto. Reconhece o quê? Resposta: a informali-
Vamos nos unir! dade. Pergunta e resposta sem preposição, então: objeto
Iremos nos manifestar. direto. Não utilizaremos “lhe” – que é para objeto indireto.
Como temos a presença do “que” – independente de sua
- quando há um fator para próclise nos tempos com- função no período (pronome relativo, no caso!) – a regra
postos ou locuções verbais: opção pelo uso do pronome pede próclise (pronome oblíquo antes do verbo): que a re-
oblíquo “solto” entre os verbos = Não vamos nos preocupar conhecem.
(e não: “não nos vamos preocupar”). RESPOSTA: “A”.

Observações importantes: 2-) (SABESP – TECNÓLOGO – FCC/2014) A substitui-


ção do elemento grifado pelo pronome correspondente foi
Emprego de o, a, os, as realizada de modo INCORRETO em:
1) Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral, os (A) que permitiu à civilização = que lhe permitiu
pronomes: o, a, os, as não se alteram. (B) envolveu diferentes fatores = envolveu-os
Chame-o agora. (C) para fazer a dragagem = para fazê-la
Deixei-a mais tranquila. (D) que desviava a água = que lhe desviava
(E) supriam a necessidade = supriam-na
2) Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoantes
finais alteram-se para lo, la, los, las. Exemplos: 2-)
(Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho. (A) que permitiu à civilização = que lhe permitiu = cor-
(Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa. reta
(B) envolveu diferentes fatores = envolveu-os = correta
3) Em verbos terminados em ditongos nasais (am, em, (C) para fazer a dragagem = para fazê-la = correta
ão, õe), os pronomes o, a, os, as alteram-se para no, na, (D) que desviava a água = que lhe desviava = que a
nos, nas. desviava
Chamem-no agora. (E) supriam a necessidade = supriam-na = correta
Põe-na sobre a mesa. RESPOSTA: “D”.

* Dica: 3-) (TRT/AL - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2014)


Próclise – pró lembra pré; pré é prefixo que significa cruzando os desertos do oeste da China − que con-
“antes”! Pronome antes do verbo! tornam a Índia − adotam complexas providências
Ênclise – “en”... lembra, pelo “som”, /Ənd/ (end, em In- Fazendo-se as alterações necessárias, os segmentos
glês – que significa “fim, final!). Pronome depois do verbo! grifados acima foram corretamente substituídos por um
Mesóclise – pronome oblíquo no Meio do verbo pronome, respectivamente, em:
Pronome Oblíquo – função de objeto (A) os cruzando - que contornam-lhe - adotam-as
(B) cruzando-lhes - que contornam-na - as adotam
Fontes de pesquisa: (C) cruzando-os - que lhe contornam - adotam-lhes
http://www.portugues.com.br/gramatica/colocacao (D) cruzando-os - que a contornam - adotam-nas
-pronominal-.html (E) lhes cruzando - que contornam-a - as adotam
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. 3-) Não podemos utilizar “lhes”, que corresponde ao
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere- objeto indireto (verbo “cruzar” pede objeto direto: cruzar
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: o quê?), portanto já desconsideramos as alternativas “B”
Saraiva, 2010. e “D”. Ao iniciarmos um parágrafo ( já que no enunciado
temos uma oração assim) devemos usar ênclise: (cruzan-
Questões do-os); na segunda oração temos um pronome relativo (dá
para substituirmos por “o qual”), o que nos obriga a usar
1-) (IBGE - SUPERVISOR DE PESQUISAS – ADMINIS- a próclise (que a contorna); “adotam” exige objeto direto
TRAÇÃO - CESGRANRIO/2014) Em “Há políticas que reco- (adotam quem ou o quê?), chegando à resposta: adotam-
nhecem a informalidade”, ao substituir o termo destacado nas (quando o verbo terminar em “m” e usarmos um pro-
por um pronome, de acordo com a norma-padrão da lín- nome oblíquo direto, lembre-se do alfabeto: jklM – N!).
gua, o trecho assume a formulação apresentada em: RESPOSTA: “D”.
A) Há políticas que a reconhecem.
B) Há políticas que reconhecem-a.
C) Há políticas que reconhecem-na.
D) Há políticas que reconhecem ela.
E) Há políticas que lhe reconhecem.

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LÍNGUA PORTUGUESA

c) Homógrafas e homófonas simultaneamente (ou


SIGNIFICADO DAS PALAVRAS perfeitas): São palavras iguais na escrita e na pronúncia:
caminho (subst.) e caminho (verbo);
cedo (verbo) e cedo (adv.);
livre (adj.) e livre (verbo).
Semântica é o estudo da significação das palavras e
das suas mudanças de significação através do tempo ou - Parônimos = palavras com sentidos diferentes, po-
em determinada época. A maior importância está em dis- rém de formas relativamente próximas. São palavras pa-
tinguir sinônimos e antônimos (sinonímia / antonímia) e recidas na escrita e na pronúncia: cesta (receptáculo de
homônimos e parônimos (homonímia / paronímia). vime; cesta de basquete/esporte) e sesta (descanso após o
almoço), eminente (ilustre) e iminente (que está para ocor-
Sinônimos rer), osso (substantivo) e ouço (verbo), sede (substantivo e/
ou verbo “ser” no imperativo) e cede (verbo), comprimento
São palavras de sentido igual ou aproximado: alfabeto (medida) e cumprimento (saudação), autuar (processar) e
- abecedário; brado, grito - clamor; extinguir, apagar - abolir. atuar (agir), infligir (aplicar pena) e infringir (violar), deferir
Duas palavras são totalmente sinônimas quando são (atender a) e diferir (divergir), suar (transpirar) e soar (emi-
substituíveis, uma pela outra, em qualquer contexto (cara tir som), aprender (conhecer) e apreender (assimilar; apro-
e rosto, por exemplo); são parcialmente sinônimas quando, priar-se de), tráfico (comércio ilegal) e tráfego (relativo a
ocasionalmente, podem ser substituídas, uma pela outra, movimento, trânsito), mandato (procuração) e mandado
em determinado enunciado (aguardar e esperar). (ordem), emergir (subir à superfície) e imergir (mergulhar,
afundar).
Observação: A contribuição greco-latina é responsá-
vel pela existência de numerosos pares de sinônimos: ad- Hiperonímia e Hiponímia
versário e antagonista; translúcido e diáfano; semicírculo e
Hipônimos e hiperônimos são palavras que pertencem
hemiciclo; contraveneno e antídoto; moral e ética; colóquio e
a um mesmo campo semântico (de sentido), sendo o hipô-
diálogo; transformação e metamorfose; oposição e antítese.
nimo uma palavra de sentido mais específico; o hiperôni-
mo, mais abrangente.
Antônimos
O hiperônimo impõe as suas propriedades ao hipôni-
mo, criando, assim, uma relação de dependência semânti-
São palavras que se opõem através de seu significado:
ca. Por exemplo: Veículos está numa relação de hiperoní-
ordem - anarquia; soberba - humildade; louvar - censurar; mia com carros, já que veículos é uma palavra de significa-
mal - bem. do genérico, incluindo motos, ônibus, caminhões. Veículos é
um hiperônimo de carros.
Observação: A antonímia pode se originar de um pre- Um hiperônimo pode substituir seus hipônimos em
fixo de sentido oposto ou negativo: bendizer e maldizer; quaisquer contextos, mas o oposto não é possível. A utili-
simpático e antipático; progredir e regredir; concórdia e dis- zação correta dos hiperônimos, ao redigir um texto, evita a
córdia; ativo e inativo; esperar e desesperar; comunista e an- repetição desnecessária de termos.
ticomunista; simétrico e assimétrico.
Fontes de pesquisa:
Homônimos e Parônimos http://www.coladaweb.com/portugues/sinonimos,-an-
tonimos,-homonimos-e-paronimos
- Homônimos = palavras que possuem a mesma grafia SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
ou a mesma pronúncia, mas significados diferentes. Podem coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
ser Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
a) Homógrafas: são palavras iguais na escrita e dife- Saraiva, 2010.
rentes na pronúncia: Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
rego (subst.) e rego (verbo); ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
colher (verbo) e colher (subst.); XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Lìngua Por-
jogo (subst.) e jogo (verbo); tuguesa – 2ªed. reform. – São Paulo: Ediouro, 2000.
denúncia (subst.) e denuncia (verbo);
providência (subst.) e providencia (verbo). Denotação e Conotação

b) Homófonas: são palavras iguais na pronúncia e di- Exemplos de variação no significado das palavras:
ferentes na escrita:
acender (atear) e ascender (subir); Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido li-
concertar (harmonizar) e consertar (reparar); teral)
cela (compartimento) e sela (arreio); Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido
censo (recenseamento) e senso ( juízo); figurado)
paço (palácio) e passo (andar). Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado)

76
LÍNGUA PORTUGUESA

As variações nos significados das palavras ocasionam Polissemia


o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo
(conotação) das palavras. Polissemia é a propriedade de uma palavra adquirir
multiplicidade de sentidos, que só se explicam dentro de
Denotação um contexto. Trata-se, realmente, de uma única palavra,
mas que abarca um grande número de significados dentro
Uma palavra é usada no sentido denotativo quando de seu próprio campo semântico.
apresenta seu significado original, independentemente Reportando-nos ao conceito de Polissemia, logo per-
do contexto em que aparece. Refere-se ao seu significado cebemos que o prefixo “poli” significa multiplicidade de
mais objetivo e comum, aquele imediatamente reconheci- algo. Possibilidades de várias interpretações levando-se em
do e muitas vezes associado ao primeiro significado que consideração as situações de aplicabilidade. Há uma infini-
aparece nos dicionários, sendo o significado mais literal da dade de exemplos em que podemos verificar a ocorrência
palavra. da polissemia:
A denotação tem como finalidade informar o receptor O rapaz é um tremendo gato.
da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo um ca- O gato do vizinho é peralta.
ráter prático. É utilizada em textos informativos, como jor- Precisei fazer um gato para que a energia voltasse.
nais, regulamentos, manuais de instrução, bulas de medi- Pedro costuma fazer alguns “bicos” para garantir sua
camentos, textos científicos, entre outros. A palavra “pau”, sobrevivência
por exemplo, em seu sentido denotativo é apenas um pe- O passarinho foi atingido no bico.
daço de madeira. Outros exemplos:
O elefante é um mamífero. Nas expressões polissêmicas rede de deitar, rede de
As estrelas deixam o céu mais bonito! computadores e rede elétrica, por exemplo, temos em
comum a palavra “rede”, que dá às expressões o sentido
Conotação de “entrelaçamento”. Outro exemplo é a palavra “xadrez”,
que pode ser utilizada representando “tecido”, “prisão” ou
Uma palavra é usada no sentido conotativo quando “jogo” – o sentido comum entre todas as expressões é o
apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes in- formato quadriculado que têm.
terpretações, dependendo do contexto em que esteja inse-
rida, referindo-se a sentidos, associações e ideias que vão Polissemia e homonímia
além do sentido original da palavra, ampliando sua signifi-
cação mediante a circunstância em que a mesma é utiliza- A confusão entre polissemia e homonímia é bastante
da, assumindo um sentido figurado e simbólico. Como no comum. Quando a mesma palavra apresenta vários signifi-
exemplo da palavra “pau”: em seu sentido conotativo ela cados, estamos na presença da polissemia. Por outro lado,
pode significar castigo (dar-lhe um pau), reprovação (tomei quando duas ou mais palavras com origens e significados
pau no concurso). distintos têm a mesma grafia e fonologia, temos uma ho-
A conotação tem como finalidade provocar sentimen- monímia.
tos no receptor da mensagem, através da expressividade e A palavra “manga” é um caso de homonímia. Ela pode
afetividade que transmite. É utilizada principalmente numa significar uma fruta ou uma parte de uma camisa. Não é
linguagem poética e na literatura, mas também ocorre em polissemia porque os diferentes significados para a pala-
conversas cotidianas, em letras de música, em anúncios pu- vra “manga” têm origens diferentes. “Letra” é uma palavra
blicitários, entre outros. Exemplos: polissêmica: pode significar o elemento básico do alfabeto,
Você é o meu sol! o texto de uma canção ou a caligrafia de um determinado
Minha vida é um mar de tristezas. indivíduo. Neste caso, os diferentes significados estão in-
Você tem um coração de pedra! terligados porque remetem para o mesmo conceito, o da
escrita.
* Dica: Procure associar Denotação com Dicionário:
trata-se de definição literal, quando o termo é utilizado Polissemia e ambiguidade
com o sentido que consta no dicionário.
Polissemia e ambiguidade têm um grande impacto na
Fontes de pesquisa: interpretação. Na língua portuguesa, um enunciado pode
http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-denota- ser ambíguo, ou seja, apresentar mais de uma interpreta-
cao/ ção. Esta ambiguidade pode ocorrer devido à colocação
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- específica de uma palavra (por exemplo, um advérbio) em
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. uma frase. Vejamos a seguinte frase:
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- Pessoas que têm uma alimentação equilibrada frequen-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: temente são felizes.
Saraiva, 2010. Neste caso podem existir duas interpretações diferen-
tes:

77
LÍNGUA PORTUGUESA

As pessoas têm alimentação equilibrada porque são feli- Observação: toda metáfora é uma espécie de compa-
zes ou são felizes porque têm uma alimentação equilibrada. ração implícita, em que o elemento comparativo não apa-
rece.
De igual forma, quando uma palavra é polissêmica, ela Seus olhos são como luzes brilhantes.
pode induzir uma pessoa a fazer mais do que uma interpre- O exemplo acima mostra uma comparação evidente,
tação. Para fazer a interpretação correta é muito importan- através do emprego da palavra como.
te saber qual o contexto em que a frase é proferida. Observe agora: Seus olhos são luzes brilhantes.
Muitas vezes, a disposição das palavras na construção Neste exemplo não há mais uma comparação (note a
do enunciado pode gerar ambiguidade ou, até mesmo, co- ausência da partícula comparativa), e sim símile, ou seja,
micidade. Repare na figura abaixo: qualidade do que é semelhante.
Por fim, no exemplo: As luzes brilhantes olhavam-me.
Há substituição da palavra olhos por luzes brilhantes. Esta
é a verdadeira metáfora.

Observe outros exemplos:


1) “Meu pensamento é um rio subterrâneo.” (Fernando
Pessoa)
Neste caso, a metáfora é possível na medida em que
o poeta estabelece relações de semelhança entre um rio
subterrâneo e seu pensamento (pode estar relacionando a
fluidez, a profundidade, a inatingibilidade, etc.).

2) Minha alma é uma estrada de terra que leva a lugar


(http://www.humorbabaca.com/fotos/diversas/corto- algum.
cabelo-e-pinto. Acesso em 15/9/2014). Uma estrada de terra que leva a lugar algum é, na frase
Poderíamos corrigir o cartaz de inúmeras maneiras, acima, uma metáfora. Por trás do uso dessa expressão que
indica uma alma rústica e abandonada (e angustiadamente
mas duas seriam:
inútil), há uma comparação subentendida: Minha alma é
Corte e coloração capilar
tão rústica, abandonada (e inútil) quanto uma estrada de
ou
terra que leva a lugar algum.
Faço corte e pintura capilar
A Amazônia é o pulmão do mundo.
Fontes de pesquisa:
Em sua mente povoa só inveja.
http://www.brasilescola.com/gramatica/polissemia.
htm Metonímia
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: É a substituição de um nome por outro, em virtude de
Saraiva, 2010. existir entre eles algum relacionamento. Tal substituição
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- pode acontecer dos seguintes modos:
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
1 - Autor pela obra: Gosto de ler Machado de Assis. (=
Figura de Linguagem, Pensamento e Construção Gosto de ler a obra literária de Machado de Assis).
2 - Inventor pelo invento: Édson ilumina o mundo. (=
Figura de Palavra As lâmpadas iluminam o mundo).
3 - Símbolo pelo objeto simbolizado: Não te afastes
A figura de palavra consiste na substituição de uma da cruz. (= Não te afastes da religião).
palavra por outra, isto é, no emprego figurado, simbólico, 4 - Lugar pelo produto do lugar: Fumei um saboroso
seja por uma relação muito próxima (contiguidade), seja Havana. (= Fumei um saboroso charuto).
por uma associação, uma comparação, uma similaridade. 5 - Efeito pela causa: Sócrates bebeu a morte. (= Só-
Estes dois conceitos básicos - contiguidade e similaridade - crates tomou veneno).
permitem-nos reconhecer dois tipos de figuras de palavras: 6 - Causa pelo efeito: Moro no campo e como do meu
a metáfora e a metonímia. trabalho. (= Moro no campo e como o alimento que pro-
duzo).
Metáfora 7 - Continente pelo conteúdo: Bebeu o cálice todo. (=
Bebeu todo o líquido que estava no cálice).
Consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão em 8 - Instrumento pela pessoa que utiliza: Os microfo-
lugar de outra, sem que haja uma relação real, mas em vir- nes foram atrás dos jogadores. (= Os repórteres foram atrás
tude da circunstância de que o nosso espírito as associa dos jogadores).
e percebe entre elas certas semelhanças. É o emprego da 9 - Parte pelo todo: Várias pernas passavam apres-
palavra fora de seu sentido normal. sadamente. (= Várias pessoas passavam apressadamente).

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LÍNGUA PORTUGUESA

10 - Gênero pela espécie: Os mortais pensam e so- Fontes de pesquisa:


frem nesse mundo. (= Os homens pensam e sofrem nesse http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil2.
mundo). php
11 - Singular pelo plural: A mulher foi chamada para SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
ir às ruas na luta por seus direitos. (= As mulheres foram coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
chamadas, não apenas uma mulher). Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
12 - Marca pelo produto: Minha filha adora danone. ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
(= Minha filha adora o iogurte que é da marca Danone). Saraiva, 2010.
13 - Espécie pelo indivíduo: O homem foi à Lua. (=
Alguns astronautas foram à Lua). Antítese
14 - Símbolo pela coisa simbolizada: A balança pen-
derá para teu lado. (= A justiça ficará do teu lado). Consiste no emprego de palavras que se opõem quan-
to ao sentido. O contraste que se estabelece serve, essen-
Saiba que: Sinédoque se relaciona com o conceito de cialmente, para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos
extensão (como nos exemplos 9, 10 e 11, acima), enquanto que não se conseguiria com a exposição isolada dos mes-
que a metonímia abrange apenas os casos de analogia ou mos. Observe os exemplos:
de relação. Não há necessidade, atualmente, de se fazer “O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa)
distinção entre ambas as figuras. O corpo é grande e a alma é pequena.
“Quando um muro separa, uma ponte une.”
Catacrese Não há gosto sem desgosto.

Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contínuo, Paradoxo ou oximoro
cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando, por
falta de um termo específico para designar um conceito, É a associação de ideias, além de contrastantes, contra-
toma-se outro “emprestado”. Assim, passamos a empregar ditórias. Seria a antítese ao extremo.
algumas palavras fora de seu sentido original. Exemplos: Era dor, sim, mas uma dor deliciosa.
“asa da xícara”, “batata da perna”, “maçã do rosto”, “pé da Ouvimos as vozes do silêncio.
mesa”, “braço da cadeira”, “coroa do abacaxi”.
Eufemismo
Perífrase ou Antonomásia
É o emprego de uma expressão mais suave, mais nobre
ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa áspera,
Trata-se de uma expressão que designa um ser através
desagradável ou chocante.
de alguma de suas características ou atributos, ou de um
Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Senhor.
fato que o celebrizou. É a substituição de um nome por
(= morreu)
outro ou por uma expressão que facilmente o identifique: O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou)
A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua Fernando faltou com a verdade. (= mentiu)
atraindo visitantes do mundo todo. Faltar à verdade. (= mentir)
A Cidade-Luz (=Paris)
O rei das selvas (=o leão) Ironia
Observação: quando a perífrase indica uma pessoa, É sugerir, pela entoação e contexto, o contrário do que
recebe o nome de antonomásia. Exemplos: as palavras ou frases expressam, geralmente apresentando
O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida pratican- intenção sarcástica. A ironia deve ser muito bem construí-
do o bem. da para que cumpra a sua finalidade; mal construída, pode
O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito jo- passar uma ideia exatamente oposta à desejada pelo emis-
vem. sor.
O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções. Como você foi bem na prova! Não tirou nem a nota mí-
nima.
Sinestesia Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que
estão por perto.
Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as sen- O governador foi sutil como um elefante.
sações percebidas por diferentes órgãos do sentido. É o
cruzamento de sensações distintas. Hipérbole
Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (grito = au-
ditivo; áspero = tátil) É a expressão intencionalmente exagerada com o intui-
No silêncio escuro do seu quarto, aguardava os aconte- to de realçar uma ideia.
cimentos. (silêncio = auditivo; escuro = visual) Faria isso milhões de vezes se fosse preciso.
Tosse gorda. (sensação auditiva X sensação tátil) “Rios te correrão dos olhos, se chorares.” (Olavo Bilac)
O concurseiro quase morre de tanto estudar!

79
LÍNGUA PORTUGUESA

Prosopopeia ou Personificação Elipse

É a atribuição de ações ou qualidades de seres anima- Consiste na omissão de um ou mais termos numa ora-
dos a seres inanimados, ou características humanas a seres ção e que podem ser facilmente identificados, tanto por
não humanos. Observe os exemplos: elementos gramaticais presentes na própria oração, quanto
As pedras andam vagarosamente. pelo contexto.
O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um A catedral da Sé. (a igreja catedral)
cego que guia. Domingo irei ao estádio. (no domingo eu irei ao está-
A floresta gesticulava nervosamente diante da serra. dio)
Chora, violão.
Zeugma
Apóstrofe
Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita
Consiste na “invocação” de alguém ou de alguma coisa a omissão de um termo já mencionado anteriormente.
personificada, de acordo com o objetivo do discurso, que Ele gosta de geografia; eu, de português. (eu gosto de
pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza-se pelo português)
chamamento do receptor da mensagem, seja ele imaginá- Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só mo-
rio ou não. A introdução da apóstrofe interrompe a linha de dernos. (só havia móveis)
pensamento do discurso, destacando-se assim a entidade Ela gosta de natação; eu, de vôlei. (gosto de)
a que se dirige e a ideia que se pretende pôr em evidên-
cia com tal invocação. Realiza-se por meio do vocativo. Silepse
Exemplos:
Moça, que fazes aí parada? A silepse é a concordância que se faz com o termo que
“Pai Nosso, que estais no céu” não está expresso no texto, mas, sim, subentendido. É uma
Deus, ó Deus! Onde estás? concordância anormal, psicológica, porque se faz com um
termo oculto, facilmente identificado. Há três tipos de si-
Gradação lepse: de gênero, número e pessoa.

Silepse de Gênero - Os gêneros são masculino e femi-


Apresentação de ideias por meio de palavras, sinôni-
nino. Ocorre a silepse de gênero quando a concordância se
mas ou não, em ordem ascendente (clímax) ou descenden-
faz com a ideia que o termo comporta. Exemplos:
te (anticlímax). Observe este exemplo:
Havia o céu, havia a terra, muita gente e mais Joana
1) A bonita Porto Velho sofreu mais uma vez com o calor
com seus olhos claros e brincalhões...
intenso.
Neste caso, o adjetivo bonita não está concordando
O objetivo do narrador é mostrar a expressividade dos
com o termo Porto Velho, que gramaticalmente pertence
olhos de Joana. Para chegar a este detalhe, ele se refere ao
ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo (a
céu, à terra, às pessoas e, finalmente, a Joana e seus olhos. cidade de Porto Velho).
Nota-se que o pensamento foi expresso em ordem decres-
cente de intensidade. Outros exemplos: 2) Vossa Excelência está preocupado.
“Vive só para mim, só para a minha vida, só para meu O adjetivo preocupado concorda com o sexo da pes-
amor”. (Olavo Bilac) soa, que nesse caso é masculino, e não com o termo Vossa
“O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu- Excelência.
se.” (Padre Antônio Vieira)
Silepse de Número - Os números são singular e plural.
Fontes de pesquisa: A silepse de número ocorre quando o verbo da oração não
http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil5. concorda gramaticalmente com o sujeito da oração, mas
php com a ideia que nele está contida. Exemplos:
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- A procissão saiu. Andaram por todas as ruas da cidade
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. de Salvador.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto.
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010. Note que nos exemplos acima, os verbos andaram e
gritavam não concordam gramaticalmente com os sujei-
As figuras de construção (ou sintática, de sintaxe) tos das orações (que se encontram no singular, procissão
ocorrem quando desejamos atribuir maior expressividade e povo, respectivamente), mas com a ideia que neles está
ao significado. Assim, a lógica da frase é substituída pela contida. Procissão e povo dão a ideia de muita gente, por
maior expressividade que se dá ao sentido. isso que os verbos estão no plural.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Silepse de Pessoa - Três são as pessoas gramaticais: Observação: o pleonasmo só tem razão de ser quan-
eu, tu e ele (as três pessoas do singular); nós, vós, eles (as do confere mais vigor à frase; caso contrário, torna-se um
três do plural). A silepse de pessoa ocorre quando há um pleonasmo vicioso:
desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não con- Vi aquela cena com meus próprios olhos.
corda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa que Vamos subir para cima.
está inscrita no sujeito. Exemplos: Ele desceu pra baixo.
O que não compreendo é como os brasileiros persista-
mos em aceitar essa situação. Anáfora
Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho.
“Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jardins É a repetição de uma ou mais palavras no início de vá-
públicos.” (Machado de Assis) rias frases, criando, assim, um efeito de reforço e de coe-
rência. Pela repetição, a palavra ou expressão em causa é
Observe que os verbos persistamos, temos e somos não posta em destaque, permitindo ao escritor valorizar de-
concordam gramaticalmente com os seus sujeitos (brasilei- terminado elemento textual. Os termos anafóricos podem
ros, agricultores e cariocas, que estão na terceira pessoa), muitas vezes ser substituídos por pronomes.
mas com a ideia que neles está contida (nós, os brasileiros, Encontrei um amigo ontem. Ele me disse que te conhe-
os agricultores e os cariocas). cia.
“Tudo cura o tempo, tudo gasta, tudo digere, tudo aca-
Polissíndeto / Assíndeto ba.” (Padre Vieira)
Para estudarmos as duas figuras de construção é ne- Anacoluto
cessário recordar um conceito estudado em sintaxe sobre
período composto. No período composto por coordena- Consiste na mudança da construção sintática no meio
ção, podemos ter orações sindéticas ou assindéticas. A da frase, ficando alguns termos desligados do resto do pe-
oração coordenada ligada por uma conjunção (conectivo)
ríodo. É a quebra da estrutura normal da frase para a intro-
é sindética; a oração que não apresenta conectivo é assin-
dução de uma palavra ou expressão sem nenhuma ligação
dética. Recordado esse conceito, podemos definir as duas
sintática com as demais.
figuras de construção:
Esses alunos da escola, não se pode duvidar deles.
Morrer, todo haveremos de morrer.
1) Polissíndeto - É uma figura caracterizada pela repe-
Aquele garoto, você não disse que ele chegaria logo?
tição enfática dos conectivos. Observe o exemplo: O meni-
no resmunga, e chora, e grita, e ninguém faz nada.
A expressão “esses alunos da escola”, por exemplo,
2) Assíndeto - É uma figura caracterizada pela ausên- deveria exercer a função de sujeito. No entanto, há uma
cia, pela omissão das conjunções coordenativas, resultando interrupção da frase e esta expressão fica à parte, não exer-
no uso de orações coordenadas assindéticas. Exemplos: cendo nenhuma função sintática. O anacoluto também é
Tens casa, tens roupa, tens amor, tens família. chamado de “frase quebrada”, pois corresponde a uma in-
“Vim, vi, venci.” (Júlio César) terrupção na sequência lógica do pensamento.

Pleonasmo Observação: o anacoluto deve ser usado com finalida-


de expressiva em casos muito especiais. Em geral, evite-o.
Consiste na repetição de um termo ou ideia, com as
mesmas palavras ou não. A finalidade do pleonasmo é real- Hipérbato / Inversão
çar a ideia, torná-la mais expressiva.
O problema da violência, é necessário resolvê-lo logo. É a inversão da estrutura frásica, isto é, a inversão da
ordem direta dos termos da oração, fazendo com que o
Nesta oração, os termos “o problema da violência” e sujeito venha depois do predicado:
“lo” exercem a mesma função sintática: objeto direto. As- Ao ódio venceu o amor. (Na ordem direta seria: O amor
sim, temos um pleonasmo do objeto direto, sendo o pro- venceu ao ódio)
nome “lo” classificado como objeto direto pleonástico. Ou- Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria:
tro exemplo: Eu cuido dos meus problemas)
Aos funcionários, não lhes interessam tais medidas.
Aos funcionários, lhes = Objeto Indireto * Observação da Zê!
O nosso Hino Nacional é um exemplo de hipérbato, já
que, na ordem direta, teríamos:
Neste caso, há um pleonasmo do objeto indireto, e o “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado re-
pronome “lhes” exerce a função de objeto indireto pleo- tumbante de um povo heroico”.
nástico.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Figuras de Som

Aliteração - Consiste na repetição de consoantes como recurso para intensificação do ritmo ou como efeito sonoro
significativo.
Três pratos de trigo para três tigres tristes.
Vozes veladas, veludosas vozes... (Cruz e Sousa)
Quem com ferro fere com ferro será ferido.

Assonância - Consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos:


“Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral.”

Onomatopéia - Ocorre quando se tentam reproduzir na forma de palavras os sons da realidade:


Os sinos faziam blem, blem, blem, blem.

Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil8.php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.

Questões
1-) (DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – TÉCNICO SUPERIOR ESPECIALIZADO EM BIBLIOTECO-
NOMIA – FGV/2014 - adaptada) Ao dizer que os shoppings são “cidades”, o autor do texto faz uso de um tipo de linguagem
figurada denominada
(A) metonímia.
(B) eufemismo.
(C) hipérbole.
(D) metáfora.
(E) catacrese.

1-) A metáfora consiste em retirar uma palavra de seu contexto convencional (denotativo) e transportá-la para um novo
campo de significação (conotativa), por meio de uma comparação implícita, de uma similaridade existente entre as duas.
(Fonte:http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/metafora-figura-de-palavra-variacoes-e-exemplos.htm)
RESPOSTA: “D”.

2-) (PREFEITURA DE ARCOVERDE/PE - ADMINISTRADOR DE RECURSOS HUMANOS – CONPASS/2014) Identifique a


figura de linguagem presente na tira seguinte:

A) metonímia
B) prosopopeia
C) hipérbole
D) eufemismo
E) onomatopeia

82
LÍNGUA PORTUGUESA

2-) “Eufemismo = é o emprego de uma expressão mais Normalmente, numa prova, o candidato deve:
suave, mais nobre ou menos agressiva, para comunicar al-
guma coisa áspera, desagradável ou chocante”. No caso da 1- Identificar os elementos fundamentais de uma ar-
tirinha, é utilizada a expressão “deram suas vidas por nós” gumentação, de um processo, de uma época (neste caso,
no lugar de “que morreram por nós”. procuram-se os verbos e os advérbios, os quais definem o
RESPOSTA: “D”. tempo).
2- Comparar as relações de semelhança ou de diferen-
3-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/ ças entre as situações do texto.
UFAL/2014) 3- Comentar/relacionar o conteúdo apresentado com
Está tão quente que dá para fritar um ovo no asfalto. uma realidade.
O dito popular é, na maioria das vezes, uma figura de 4- Resumir as ideias centrais e/ou secundárias.
linguagem. Entre as 14h30min e às 15h desta terça-feira, 5- Parafrasear = reescrever o texto com outras pala-
horário do dia em que o calor é mais intenso, a tempera- vras.
tura do asfalto, medida com um termômetro de contato,
chegou a 65ºC. Para fritar um ovo, seria preciso que o local Condições básicas para interpretar
alcançasse aproximadamente 90ºC.
Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br. Acesso Fazem-se necessários:
em: 22 jan. 2014. - Conhecimento histórico-literário (escolas e gêneros
literários, estrutura do texto), leitura e prática;
O texto cita que o dito popular “está tão quente que - Conhecimento gramatical, estilístico (qualidades do
dá para fritar um ovo no asfalto” expressa uma figura de texto) e semântico;
linguagem. O autor do texto refere-se a qual figura de lin-
guagem? Observação – na semântica (significado das palavras)
A) Eufemismo. incluem-se: homônimos e parônimos, denotação e conota-
B) Hipérbole. ção, sinonímia e antonímia, polissemia, figuras de lingua-
C) Paradoxo. gem, entre outros.
D) Metonímia.
E) Hipérbato. - Capacidade de observação e de síntese;
- Capacidade de raciocínio.
3-) A expressão é um exagero! Ela serve apenas para
representar o calor excessivo que está fazendo. A figura
Interpretar / Compreender
que é utilizada “mil vezes” (!) para atingir tal objetivo é a
hipérbole.
Interpretar significa:
RESPOSTA: “B”.
- Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir.
- Através do texto, infere-se que...
- É possível deduzir que...
- O autor permite concluir que...
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL - Qual é a intenção do autor ao afirmar que...

Compreender significa
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relacio- - entendimento, atenção ao que realmente está escrito.
nadas entre si, formando um todo significativo capaz de - o texto diz que...
produzir interação comunicativa (capacidade de codificar - é sugerido pelo autor que...
e decodificar). - de acordo com o texto, é correta ou errada a afirma-
Contexto – um texto é constituído por diversas frases. ção...
Em cada uma delas, há uma informação que se liga com - o narrador afirma...
a anterior e/ou com a posterior, criando condições para a
estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa interli- Erros de interpretação
gação dá-se o nome de contexto. O relacionamento entre
as frases é tão grande que, se uma frase for retirada de seu - Extrapolação (“viagem”) = ocorre quando se sai do
contexto original e analisada separadamente, poderá ter contexto, acrescentando ideias que não estão no texto,
um significado diferente daquele inicial. quer por conhecimento prévio do tema quer pela imagi-
Intertexto - comumente, os textos apresentam refe- nação.
rências diretas ou indiretas a outros autores através de cita- - Redução = é o oposto da extrapolação. Dá-se aten-
ções. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. ção apenas a um aspecto (esquecendo que um texto é um
Interpretação de texto - o objetivo da interpretação conjunto de ideias), o que pode ser insuficiente para o en-
de um texto é a identificação de sua ideia principal. A partir tendimento do tema desenvolvido.
daí, localizam-se as ideias secundárias - ou fundamenta- - Contradição = às vezes o texto apresenta ideias con-
ções -, as argumentações - ou explicações -, que levam ao trárias às do candidato, fazendo-o tirar conclusões equivo-
esclarecimento das questões apresentadas na prova. cadas e, consequentemente, errar a questão.

83
LÍNGUA PORTUGUESA

Observação - Muitos pensam que existem a ótica do - Observe as relações interparágrafos. Um parágrafo
escritor e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas numa geralmente mantém com outro uma relação de continua-
prova de concurso, o que deve ser levado em consideração ção, conclusão ou falsa oposição. Identifique muito bem
é o que o autor diz e nada mais. essas relações.
- Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou seja,
Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que a ideia mais importante.
relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre si. - Nos enunciados, grife palavras como “correto” ou
Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de um “incorreto”, evitando, assim, uma confusão na hora da
pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um prono- resposta – o que vale não somente para Interpretação de
me oblíquo átono, há uma relação correta entre o que se Texto, mas para todas as demais questões!
vai dizer e o que já foi dito. - Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia princi-
pal, leia com atenção a introdução e/ou a conclusão.
Observação – São muitos os erros de coesão no dia - Olhe com especial atenção os pronomes relativos,
a dia e, entre eles, está o mau uso do pronome relativo e pronomes pessoais, pronomes demonstrativos, etc., cha-
do pronome oblíquo átono. Este depende da regência do mados vocábulos relatores, porque remetem a outros vo-
verbo; aquele, do seu antecedente. Não se pode esquecer cábulos do texto.
também de que os pronomes relativos têm, cada um, valor
semântico, por isso a necessidade de adequação ao ante- Fontes de pesquisa:
cedente. http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/portu-
Os pronomes relativos são muito importantes na in- gues/como-interpretar-textos
terpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de http://portuguesemfoco.com/pf/09-dicas-para-me-
coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração que lhorar-a-interpretacao-de-textos-em-provas
existe um pronome relativo adequado a cada circunstância, http://www.portuguesnarede.com/2014/03/dicas-pa-
a saber: ra-voce-interpretar-melhor-um.html
- que (neutro) - relaciona-se com qualquer anteceden- http://vestibular.uol.com.br/cursinho/questoes/ques-
te, mas depende das condições da frase. tao-117-portugues.htm
- qual (neutro) idem ao anterior.
- quem (pessoa) Questões
- cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois
o objeto possuído. 1-) (SECRETARIA DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO PÚ-
- como (modo) BLICA DO DISTRITO FEDERAL/DF – TÉCNICO EM ELETRÔ-
- onde (lugar) NICA – IADES/2014)
- quando (tempo)
- quanto (montante) Gratuidades
Exemplo: Crianças com até cinco anos de idade e adultos com
Falou tudo QUANTO queria (correto) mais de 65 anos de idade têm acesso livre ao Metrô-DF.
Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria Para os menores, é exigida a certidão de nascimento e, para
aparecer o demonstrativo O). os idosos, a carteira de identidade. Basta apresentar um
documento de identificação aos funcionários posicionados
Dicas para melhorar a interpretação de textos no bloqueio de acesso.
Disponível em: <http://www.metro.df.gov.br/estacoes/
- Leia todo o texto, procurando ter uma visão geral do gratuidades.html> Acesso em: 3/3/2014, com adaptações.
assunto. Se ele for longo, não desista! Há muitos candidatos
na disputa, portanto, quanto mais informação você absorver Conforme a mensagem do primeiro período do texto,
com a leitura, mais chances terá de resolver as questões. assinale a alternativa correta.
- Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa (A) Apenas as crianças com até cinco anos de idade
a leitura. e os adultos com 65 anos em diante têm acesso livre ao
- Leia, leia bem, leia profundamente, ou seja, leia o tex- Metrô-DF.
to, pelo menos, duas vezes – ou quantas forem necessárias. (B) Apenas as crianças de cinco anos de idade e os
- Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma adultos com mais de 65 anos têm acesso livre ao Metrô-DF.
conclusão). (C) Somente crianças com, no máximo, cinco anos de
- Volte ao texto quantas vezes precisar. idade e adultos com, no mínimo, 66 anos têm acesso livre
- Não permita que prevaleçam suas ideias sobre as ao Metrô-DF.
do autor. (D) Somente crianças e adultos, respectivamente, com
- Fragmente o texto (parágrafos, partes) para melhor cinco anos de idade e com 66 anos em diante, têm acesso
compreensão. livre ao Metrô-DF.
- Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado de (E) Apenas crianças e adultos, respectivamente, com
cada questão. até cinco anos de idade e com 65 anos em diante, têm
- O autor defende ideias e você deve percebê-las. acesso livre ao Metrô-DF.

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LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Dentre as alternativas apresentadas, a única que 3-) Recorramos ao texto: “Localizada às margens do
condiz com as informações expostas no texto é “Somente Lago Paranoá, no Setor de Clubes Esportivos Norte (ao
crianças com, no máximo, cinco anos de idade e adultos lado do Museu de Arte de Brasília – MAB), está a Concha
com, no mínimo, 66 anos têm acesso livre ao Metrô-DF”. Acústica do DF. Projetada por Oscar Niemeyer”. As infor-
RESPOSTA: “C”. mações contidas nas demais alternativas são incoerentes
com o texto.
2-) (SUSAM/AM – TÉCNICO (DIREITO) – FGV/2014 - RESPOSTA: “A”.
adaptada) “Se alguém que é gay procura Deus e tem boa
vontade, quem sou eu para julgá‐lo?” a declaração do
Papa Francisco, pronunciada durante uma entrevista à im-
prensa no final de sua visita ao Brasil, ecoou como um TIPOLOGIA TEXTUAL
trovão mundo afora. Nela existe mais forma que substância
– mas a forma conta”. (...)
(Axé Silva, O Mundo, setembro 2013)
A todo o momento nos deparamos com vários textos,
O texto nos diz que a declaração do Papa ecoou como sejam eles verbais ou não verbais. Em todos há a presença
um trovão mundo afora. Essa comparação traz em si mes- do discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência daquilo
ma dois sentidos, que são que está sendo transmitido entre os interlocutores. Estes
(A) o barulho e a propagação. interlocutores são as peças principais em um diálogo ou
(B) a propagação e o perigo. em um texto escrito.
(C) o perigo e o poder. É de fundamental importância sabermos classificar os
(D) o poder e a energia.  textos com os quais travamos convivência no nosso dia a
(E)  a energia e o barulho.   dia. Para isso, precisamos saber que existem tipos textuais
e gêneros textuais.
Comumente relatamos sobre um acontecimento, um
2-) Ao comparar a declaração do Papa Francisco a um
fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa opi-
trovão, provavelmente a intenção do autor foi a de mostrar
nião sobre determinado assunto, descrevemos algum lugar
o “barulho” que ela causou e sua propagação mundo afora.
que visitamos, fazemos um retrato verbal sobre alguém
Você pode responder à questão por eliminação: a segun-
que acabamos de conhecer ou ver. É exatamente nessas
da opção das alternativas relaciona-se a “mundo afora”, ou
situações corriqueiras que classificamos os nossos textos
seja, que se propaga, espalha. Assim, sobraria apenas a al- naquela tradicional tipologia: Narração, Descrição e Dis-
ternativa A! sertação.
RESPOSTA: “A”.
As tipologias textuais caracterizam-se pelos aspec-
3-) (SECRETARIA DE ESTADO DE ADMINISTRAÇÃO PÚ- tos de ordem linguística
BLICA DO DISTRITO FEDERAL/DF – TÉCNICO EM CONTABI-
LIDADE – IADES/2014 - adaptada) Os tipos textuais designam uma sequência definida
Concha Acústica pela natureza linguística de sua composição. São observa-
Localizada às margens do Lago Paranoá, no Setor de dos aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações
Clubes Esportivos Norte (ao lado do Museu de Arte de lógicas. Os tipos textuais são o narrativo, descritivo, argu-
Brasília – MAB), está a Concha Acústica do DF. Projetada mentativo/dissertativo, injuntivo e expositivo.
por Oscar Niemeyer, foi inaugurada oficialmente em 1969
e doada pela Terracap à Fundação Cultural de Brasília (hoje - Textos narrativos – constituem-se de verbos de ação
Secretaria de Cultura), destinada a espetáculos ao ar livre. demarcados no tempo do universo narrado, como também
Foi o primeiro grande palco da cidade. de advérbios, como é o caso de antes, agora, depois, entre
Disponível em: <http://www.cultura.df.gov.br/nossa- outros: Ela entrava em seu carro quando ele apareceu. De-
cultura/concha- acustica.html>. Acesso em: 21/3/2014, pois de muita conversa, resolveram...
com adaptações.
- Textos descritivos – como o próprio nome indica,
Assinale a alternativa que apresenta uma mensagem descrevem características tanto físicas quanto psicológicas
compatível com o texto. acerca de um determinado indivíduo ou objeto. Os tempos
(A) A Concha Acústica do DF, que foi projetada por Os- verbais aparecem demarcados no presente ou no pretérito
car Niemeyer, está localizada às margens do Lago Paranoá, imperfeito: “Tinha os cabelos mais negros como a asa da
no Setor de Clubes Esportivos Norte. graúna...”
(B) Oscar Niemeyer projetou a Concha Acústica do DF
em 1969. - Textos expositivos – Têm por finalidade explicar um
(C) Oscar Niemeyer doou a Concha Acústica ao que assunto ou uma determinada situação que se almeje de-
hoje é a Secretaria de Cultura do DF. senvolvê-la, enfatizando acerca das razões de ela aconte-
(D) A Terracap transformou-se na Secretaria de Cultura cer, como em: O cadastramento irá se prorrogar até o dia 02
do DF. de dezembro, portanto, não se esqueça de fazê-lo, sob pena
(E) A Concha Acústica foi o primeiro palco de Brasília. de perder o benefício.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Textos injuntivos (instrucional) – Trata-se de uma


modalidade na qual as ações são prescritas de forma se- COESÃO E COERÊNCIA
quencial, utilizando-se de verbos expressos no imperativo,
infinitivo ou futuro do presente: Misture todos os ingredien-
te e bata no liquidificador até criar uma massa homogênea.
Na construção de um texto, assim como na fala, usamos
- Textos argumentativos (dissertativo) – Demarcam- mecanismos para garantir ao interlocutor a compreensão
se pelo predomínio de operadores argumentativos, revela- do que é dito, ou lido. Estes mecanismos linguísticos que
dos por uma carga ideológica constituída de argumentos estabelecem a coesão e retomada do que foi escrito - ou
e contra-argumentos que justificam a posição assumida falado - são os referentes textuais, que buscam garantir
acerca de um determinado assunto: A mulher do mundo a coesão textual para que haja coerência, não só entre os
contemporâneo luta cada vez mais para conquistar seu es- elementos que compõem a oração, como também entre a
paço no mercado de trabalho, o que significa que os gêneros sequência de orações dentro do texto. Essa coesão tam-
estão em complementação, não em disputa. bém pode muitas vezes se dar de modo implícito, baseado
em conhecimentos anteriores que os participantes do pro-
cesso têm com o tema.
Numa linguagem figurada, a coesão é uma linha ima-
ginária - composta de termos e expressões - que une os
diversos elementos do texto e busca estabelecer relações
GÊNEROS TEXTUAIS de sentido entre eles. Dessa forma, com o emprego de di-
ferentes procedimentos, sejam lexicais (repetição, substi-
tuição, associação), sejam gramaticais (emprego de prono-
mes, conjunções, numerais, elipses), constroem-se frases,
São os textos materializados que encontramos em orações, períodos, que irão apresentar o contexto – decor-
nosso cotidiano; tais textos apresentam características só- re daí a coerência textual.
cio-comunicativas definidas por seu estilo, função, com- Um texto incoerente é o que carece de sentido ou o
posição, conteúdo e canal. Como exemplos, temos: receita apresenta de forma contraditória. Muitas vezes essa incoe-
culinária, e-mail, reportagem, monografia, poema, editorial, rência é resultado do mau uso dos elementos de coesão
piada, debate, agenda, inquérito policial, fórum, blog, etc. textual. Na organização de períodos e de parágrafos, um
erro no emprego dos mecanismos gramaticais e lexicais
A escolha de um determinado gênero discursivo de- prejudica o entendimento do texto. Construído com os ele-
pende, em grande parte, da situação de produção, ou seja, mentos corretos, confere-se a ele uma unidade formal.
a finalidade do texto a ser produzido, quem são os locu- Nas palavras do mestre Evanildo Bechara, “o enunciado
tores e os interlocutores, o meio disponível para veicular o não se constrói com um amontoado de palavras e orações.
texto, etc. Elas se organizam segundo princípios gerais de dependência
e independência sintática e semântica, recobertos por unida-
Os gêneros discursivos geralmente estão ligados a es- des melódicas e rítmicas que sedimentam estes princípios”.
feras de circulação. Assim, na esfera jornalística, por exem- Não se deve escrever frases ou textos desconexos – é
plo, são comuns gêneros como notícias, reportagens, edito- imprescindível que haja uma unidade, ou seja, que as frases
riais, entrevistas e outros; na esfera de divulgação científica estejam coesas e coerentes formando o texto. Relembre-se
são comuns gêneros como verbete de dicionário ou de enci- de que, por coesão, entende-se ligação, relação, nexo entre
clopédia, artigo ou ensaio científico, seminário, conferência. os elementos que compõem a estrutura textual.

Fontes de pesquisa: Formas de se garantir a coesão entre os elementos


de uma frase ou de um texto:
http://www.brasilescola.com/redacao/tipologia-tex-
tual.htm
1. Substituição de palavras com o emprego de sinôni-
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
mos - palavras ou expressões do mesmo campo associa-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: tivo.
Saraiva, 2010. 2. Nominalização – emprego alternativo entre um ver-
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática bo, o substantivo ou o adjetivo correspondente (desgastar
– volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa / desgaste / desgastante).
Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. 3. Emprego adequado de tempos e modos verbais:
Embora não gostassem de estudar, participaram da aula.
4. Emprego adequado de pronomes, conjunções, pre-
posições, artigos:
O papa Francisco visitou o Brasil. Na capital brasileira,
Sua Santidade participou de uma reunião com a Presiden-
te Dilma. Ao passar pelas ruas, o papa cumprimentava as
pessoas. Estas tiveram a certeza de que ele guarda respeito
por elas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

5. Uso de hipônimos – relação que se estabelece com Questões


base na maior especificidade do significado de um deles.
Por exemplo, mesa (mais específico) e móvel (mais gené- * As questões abaixo também envolvem o conteúdo
rico). “Conjunção”. Eu as coloquei neste tópico porque abordam
6. Emprego de hiperônimos - relações de um termo de - inclusive - coesão e coerência.
sentido mais amplo com outros de sentido mais específico.
Por exemplo, felino está numa relação de hiperonímia com 1-) (SEDUC/AM – ASSISTENTE SOCIAL – FGV/2014) As-
gato. sinale a opção que indica o segmento em que a conjunção
7. Substitutos universais, como os verbos vicários.
e tem valor adversativo e não aditivo.
* Ajuda da Zê: verbo vicário é aquele que substitui (A) “Em termos de escala, assiduidade e participação
outro já utilizado no período, evitando repetições. Geral- da população na escolha dos governantes,...”.
mente é o verbo fazer e ser. Exemplo: Não gosto de estudar. (B) “... o Brasil de 1985 a 2014 parece outro país, mo-
Faço porque preciso. O “faço” foi empregado no lugar de derno e dinâmico, no cotejo com a restrita experiência elei-
“estudo”, evitando repetição desnecessária. toral anterior”.
(C) “A hipótese de ruptura com o passado se fortalece
A coesão apoiada na gramática se dá no uso de conec- quando avaliamos a extensão dos mecanismos de distri-
tivos, como pronomes, advérbios e expressões adverbiais, buição de oportunidades e de mitigação de desigualdades
conjunções, elipses, entre outros. A elipse justifica-se quan- de hoje”.
do, ao remeter a um enunciado anterior, a palavra elidida (D) “A democracia brasileira contemporânea, e apenas
é facilmente identificável (Exemplo.: O jovem recolheu-se ela na história nacional, inventou o que mais perto se pode
cedo. Sabia que ia necessitar de todas as suas forças. O ter- chegar de um Estado de Bem-Estar num país de renda mé-
mo o jovem deixa de ser repetido e, assim, estabelece a
dia”.
relação entre as duas orações).
(E) “A baixa qualidade dos serviços governamentais
Dêiticos são elementos linguísticos que têm a pro- está ligada sobretudo à limitação do PIB, e não à falta de
priedade de fazer referência ao contexto situacional ou ao políticas públicas social-democratas”.
próprio discurso. Exercem, por excelência, essa função de
progressão textual, dada sua característica: são elementos 1-)
que não significam, apenas indicam, remetem aos compo- (A) “Em termos de escala, assiduidade e participação
nentes da situação comunicativa. = adição
Já os componentes concentram em si a significação. (B) “... o Brasil de 1985 a 2014 parece outro país, mo-
Elisa Guimarães ensina-nos a esse respeito: derno e dinâmico”. = adição
“Os pronomes pessoais e as desinências verbais indi- (C) “A hipótese de ruptura com o passado se fortalece
cam os participantes do ato do discurso. Os pronomes de- quando avaliamos a extensão dos mecanismos de distri-
monstrativos, certas locuções prepositivas e adverbiais, bem buição de oportunidades e de mitigação de desigualdades
como os advérbios de tempo, referenciam o momento da de hoje”. = adição
enunciação, podendo indicar simultaneidade, anterioridade
(D) “A democracia brasileira contemporânea, e apenas
ou posterioridade. Assim: este, agora, hoje, neste momento
(presente); ultimamente, recentemente, ontem, há alguns ela na história nacional”. = adição
dias, antes de (pretérito); de agora em diante, no próximo (E) “A baixa qualidade dos serviços governamentais
ano, depois de (futuro).” está ligada sobretudo à limitação do PIB, e não à falta =
adversativa (dá para substituirmos por “mas”)
A coerência de um texto está ligada: RESPOSTA: “E”.
- à sua organização como um todo, em que devem es-
tar assegurados o início, o meio e o fim;
- à adequação da linguagem ao tipo de texto. Um texto 2-) (DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL/
técnico, por exemplo, tem a sua coerência fundamentada DF – ANALISTA DE APOIO À ASSISTÊNCIA JURÍDICA –
em comprovações, apresentação de estatísticas, relato de FGV/2014) A alternativa em que os elementos unidos pela
experiências; um texto informativo apresenta coerência se conjunção E não estão em adição, mas sim em oposição, é:
trabalhar com linguagem objetiva, denotativa; textos poé- (A) “...a disposição do povo de agir por conta própria e
ticos, por outro lado, trabalham com a linguagem figurada,
fazer justiça com as próprias mãos...”
livre associação de ideias, palavras conotativas.
(B) “...como sintoma de descrença nos políticos e nas
Fontes de pesquisa: instituições:...”
http://www.mundovestibular.com.br/articles/2586/1/ (C) “...os nossos mascarados se inspiram menos nos
COESAO-E-COERENCIA-TEXTUAL/Paacutegina1.html anarquistas e mais nos fascistas italianos...”
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática (D) “...desprezando o passado e a tradição...”
– volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa (E) “...capaz de exprimir a experiência da violência, da
Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. velocidade e do progresso...”

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LÍNGUA PORTUGUESA

2-) A Ordem dos Termos na Frase


(A) “...a disposição do povo de agir por conta própria e
fazer justiça com as próprias mãos”. = adição Leia novamente a frase contida no item 2. Note que
(B) “...como sintoma de descrença nos políticos e nas ela é organizada de maneira clara para produzir sentido.
instituições”. = adição Todavia, há diferentes maneiras de se organizar gramatical-
(C) “...os nossos mascarados se inspiram menos nos mente tal frase, tudo depende da necessidade ou da von-
anarquistas e mais nos fascistas italianos”. = ideia de opo- tade do redator em manter o sentido, ou mantê-lo, porém,
sição acrescentado ênfase a algum dos seus termos. Significa di-
(D) “...desprezando o passado e a tradição”. = adição zer que, ao escrever, podemos fazer uma série de inversões
(E) “...capaz de exprimir a experiência da violência, da e intercalações em nossas frases, conforme a nossa von-
velocidade e do progresso”. = adição tade e estilo. Tudo depende da maneira como queremos
RESPOSTA: “C”. transmitir uma ideia, do nosso estilo. Por exemplo, pode-
mos expressar a mensagem da frase 2 da seguinte maneira:

No Brasil e na América Latina, a globalização está cau-


sando desemprego.
REESCRITA DE TEXTOS/EQUIVALÊNCIA DE
ESTRUTURAS Neste caso, a mensagem é praticamente a mesma,
apenas mudamos a ordem das palavras para dar ênfase a
alguns termos (neste caso: No Brasil e na A. L.). Repare que,
para obter a clareza tivemos que fazer o uso de vírgulas.
“Ideias confusas geram redações confusas”. Esta frase Entre os sinais de pontuação, a vírgula é o mais usado e
leva-nos a refletir sobre a organização das ideias em um o que mais nos auxilia na organização de um período, pois
texto. Significa dizer que, antes da redação, naturalmen- facilita as boas “sintaxes”, boas misturas, ou seja, a vírgula
te devemos dominar o assunto sobre o qual iremos tratar ajuda-nos a não “embolar” o sentido quando produzimos
e, posteriormente, planejar o modo como iremos expô-lo, frases complexas. Com isto, “entregamos” frases bem orga-
do contrário haverá dificuldade em transmitir ideias bem nizadas aos nossos leitores.
acabadas. Portanto, a leitura, a interpretação de textos e a
experiência de vida antecedem o ato de escrever. O básico para a organização sintática das frases é a or-
Obtido um razoável conhecimento sobre o que iremos dem direta dos termos da oração. Os gramáticos estrutu-
escrever, feito o esquema de exposição da matéria, é ne- ram tal ordem da seguinte maneira:
cessário saber ordenar as ideias em frases bem estrutura-
das. Logo, não basta conhecer bem um determinado as- SUJEITO + VERBO + COMPLEMENTO VERBAL + CIR-
sunto, temos que o transmitir de maneira clara aos leitores. CUNSTÂNCIAS
O estudo da pontuação pode se tornar um valioso alia- A globalização + está causando + desemprego + no
do para organizarmos as ideias de maneira clara em frases. Brasil nos dias de hoje.
Para tanto, é necessário ter alguma noção de sintaxe. “Sin-
taxe”, conforme o dicionário Aurélio, é a “parte da gramá- Nem todas as orações mantêm esta ordem e nem to-
tica que estuda a disposição das palavras na frase e a das das contêm todos estes elementos, portanto cabem algu-
frases no discurso, bem como a relação lógica das frases mas observações:
entre si”; ou em outras palavras, sintaxe quer dizer “mistu-
ra”, isto é, saber misturar as palavras de maneira a produ- 1) As circunstâncias (de tempo, espaço, modo, etc.)
zirem um sentido evidente para os receptores das nossas normalmente são representadas por adjuntos adverbiais
mensagens. Observe: de tempo, lugar, etc. Note que, no mais das vezes, quan-
do queremos recordar algo ou narrar uma história, existe
1)A desemprego globalização no Brasil e no na está La- a tendência a colocar os adjuntos nos começos das frases:
tina América causando.
2) A globalização está causando desemprego no Brasil e “No Brasil e na América…” “Nos dias de hoje…” “Nas mi-
na América Latina. nhas férias…”, “No Brasil…”. e logo depois os verbos e ou-
tros elementos: “Nas minhas férias fui…”; “No Brasil existe…”
Ora, no item 1 não temos uma ideia, pois não há uma
frase, as palavras estão amontoadas sem a realização de Observações:
“uma sintaxe”, não há um contexto linguístico nem relação a) tais construções não estão erradas, mas rompem
inteligível com a realidade; no caso 2, a sintaxe ocorreu de com a ordem direta;
maneira perfeita e o sentido está claro para receptores de b) é preciso notar que em Língua Portuguesa, há mui-
língua portuguesa inteirados da situação econômica e cul- tas frases que não têm sujeito, somente predicado. Por
tural do mundo atual. exemplo: Está chovendo em Porto Alegre. Faz frio em Fri-
burgo. São quatro horas agora;

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LÍNGUA PORTUGUESA

c) Outras frases são construídas com verbos intransiti- Neste caso, há uma oração adjetiva intercalada.
vos, que não têm complemento: As orações adjetivas explicativas desempenham fre-
O menino morreu na Alemanha. (sujeito + verbo + ad- quentemente um papel semelhante ao do aposto explicati-
junto adverbial) vo, por isto são também isoladas por vírgula.
A globalização nasceu no século XX. (idem)
d) Há ainda frases nominais que não possuem verbos: A globalização causa, caro leitor, desemprego no Brasil…
cada macaco no seu galho. Nestes tipos de frase, a ordem Neste outro caso, há um vocativo entre o verbo e o seu
direta faz-se naturalmente. Usam-se apenas os termos complemento.
existentes nelas.
A globalização causa desemprego, e isto é lamentável,
Levando em consideração a ordem direta, podemos no Brasil…
estabelecer três regras básicas para o uso da vírgula: Aqui, há uma oração intercalada (note que ela não per-
1)Se os termos estão colocados na ordem direta não tence ao assunto: globalização, da frase principal, tal ora-
haverá a necessidade de vírgulas. A frase (2) é um exemplo ção é apenas um comentário à parte entre o complemento
disto: verbal e os adjuntos).
A globalização está causando desemprego no Brasil e na
América Latina. Observação: a simples negação em uma frase não exi-
ge vírgula: A globalização não causou desemprego no Brasil
Todavia, ao repetir qualquer um dos termos da oração e na América Latina.
por três vezes ou mais, então é necessário usar a vírgula,
mesmo que estejamos usando a ordem direta. Esta é a re- 3)Quando “quebramos” a ordem direta, invertendo-a,
gra básica nº1 para a colocação da vírgula. Veja: tal quebra torna a vírgula necessária. Esta é a regra nº3 da
A globalização, a tecnologia e a “ciranda financeira” colocação da vírgula.
causam desemprego…
(três núcleos do sujeito) No Brasil e na América Latina, a globalização está cau-
sando desemprego…
A globalização causa desemprego no Brasil, na América No fim do século XX, a globalização causou desemprego
Latina e na África. no Brasil…
(três adjuntos adverbiais)
Nota-se que a quebra da ordem direta frequentemente
A globalização está causando desemprego, insatisfação se dá com a colocação das circunstâncias antes do sujeito.
e sucateamento industrial no Brasil e na América Latina. Trata-se da ordem inversa. Estas circunstâncias, em gramá-
(três complementos verbais) tica, são representadas pelos adjuntos adverbiais. Muitas
vezes, elas são colocadas em orações chamadas adverbiais
2)Em princípio, não devemos, na ordem direta, sepa- que têm uma função semelhante a dos adjuntos adverbiais,
rar com vírgula o sujeito e o verbo, nem o verbo e o seu isto é, denotam tempo, lugar, etc. Exemplos:
complemento, nem o complemento e as circunstâncias, ou
seja, não devemos separar com vírgula os termos da ora- Quando o século XX estava terminando, a globalização
ção. Veja exemplos de tal incorreção: começou a causar desemprego.
Enquanto os países portadores de alta tecnologia de-
O Brasil, será feliz. A globalização causa, o desemprego. senvolvem-se, a globalização causa desemprego nos países
pobres.
Ao intercalarmos alguma palavra ou expressão entre Durante o século XX, a Globalização causou desempre-
os termos da oração, cabe isolar tal termo entre vírgulas, go no Brasil.
assim o sentido da ideia principal não se perderá. Esta é
a regra básica nº 2 para a colocação da vírgula. Dito em Observação: quanto à equivalência e transformação de
outras palavras: quando intercalamos expressões e frases estruturas, um exemplo muito comum cobrado em provas
entre os termos da oração, devemos isolar os mesmos com é o enunciado trazer uma frase no singular e pedir a passa-
vírgulas. Vejamos: gem para o plural, mantendo o sentido. Outro exemplo é a
A globalização, fenômeno econômico deste fim de sécu- mudança de tempos verbais.
lo XX, causa desemprego no Brasil.
Fonte de pesquisa:
Aqui um aposto à globalização foi intercalado entre o http://ricardovigna.wordpress.com/2009/02/02/estu-
sujeito e o verbo. dos-de-linguagem-1-estrutura-frasal-e-pontuacao/

Outros exemplos:
A globalização, que é um fenômeno econômico e cultu-
ral, está causando desemprego no Brasil e na América Lati-
na.

89
LÍNGUA PORTUGUESA

Questões
ESTRUTURA TEXTUAL
1-) (TRF/3ª REGIÃO - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2014
- adaptada)
Reunir-se para ouvir alguém ler tornou-se uma prática
necessária e comum no mundo laico da Idade Média. Até Primeiramente, o que nos faz produzir um texto é a ca-
a invenção da imprensa, a alfabetização era rara e os livros, pacidade que temos de pensar. Por meio do pensamento,
propriedade dos ricos, privilégio de um pequeno punhado elaboramos todas as informações que recebemos e orien-
de leitores. tamos as ações que interferem na realidade e organização
Embora alguns desses senhores afortunados ocasional- de nossos escritos. O que lemos é produto de um pensa-
mente emprestassem seus livros, eles o faziam para um nú- mento transformado em texto.
mero limitado de pessoas da própria classe ou família. Logo, como cada um de nós tem seu modo de pen-
(Adaptado de: MANGUEL, Alberto, op.cit.) sar, quando escrevemos sempre procuramos uma maneira
organizada do leitor compreender as nossas ideias. A fina-
Mantêm-se a correção e as relações de sentido estabe- lidade da escrita é direcionar totalmente o que você quer
lecidas no texto, substituindo-se Embora (2.º parágrafo) por dizer, por meio da comunicação.
(A) Contudo. Para isso, os elementos que compõem o texto se sub-
(B) Desde que. dividem em: introdução, desenvolvimento e conclusão. To-
(C) Porquanto. dos eles devem ser organizados de maneira equilibrada.
(D) Uma vez que.
(E) Conquanto. Introdução

1-) “Embora” é uma conjunção concessiva (apresenta Caracterizada pela entrada no assunto e a argumenta-
uma exceção à regra). A outra conjunção concessiva é “con- ção inicial. A ideia central do texto é apresentada nessa eta-
quanto”. pa. Essa apresentação deve ser direta, sem rodeios. O seu
RESPOSTA: “E”. tamanho raramente excede a 1/5 de todo o texto. Porém,
em textos mais curtos, essa proporção não é equivalente.
2-) (PRODEST/ES – ASSISTENTE ORGANIZACIONAL – Neles, a introdução pode ser o próprio título. Já nos textos
VUNESP/2014 - adaptada) Considere o trecho: “Se o senhor mais longos, em que o assunto é exposto em várias pági-
não se importa, vou levar minha sobrinha ao dentista, mas nas, ela pode ter o tamanho de um capítulo ou de uma par-
posso quebrar o galho e fazer sua corrida”. Esse trecho está te precedida por subtítulo. Nessa situação, pode ter vários
corretamente reescrito e mantém o sentido em: parágrafos. Em redações mais comuns, que em média têm
(A) Uma vez que o senhor não se importe, vou levar mi- de 25 a 80 linhas, a introdução será o primeiro parágrafo.
nha sobrinha ao dentista, assim que possa quebrar o galho
e fazer sua corrida. Desenvolvimento
(B) Já que o senhor não se importa, vou levar minha so-
brinha ao dentista, porque posso quebrar o galho e fazer A maior parte do texto está inserida no desenvol-
sua corrida. vimento, que é responsável por estabelecer uma ligação
(C) À medida que o senhor não se importe, vou levar entre a introdução e a conclusão. É nessa etapa que são
minha sobrinha ao dentista, logo que possa quebrar o galho elaboradas as ideias, os dados e os argumentos que sus-
e fazer sua corrida. tentam e dão base às explicações e posições do autor. É ca-
(D) Caso o senhor não se importe, vou levar minha so- racterizado por uma “ponte” formada pela organização das
brinha ao dentista, no entanto posso quebrar o galho e fazer ideias em uma sequência que permite formar uma relação
sua corrida. equilibrada entre os dois lados.
(E) Para que o senhor não se importe, vou levar minha O autor do texto revela sua capacidade de discutir um
sobrinha ao dentista, todavia posso quebrar o galho e fazer determinado tema no desenvolvimento, e é através desse
sua corrida. que o autor mostra sua capacidade de defender seus pon-
tos de vista, além de dirigir a atenção do leitor para a con-
2-) “Se o senhor não se importa, vou levar minha so- clusão. As conclusões são fundamentadas a partir daqui.
brinha ao dentista, mas posso quebrar o galho e fazer sua Para que o desenvolvimento cumpra seu objetivo, o es-
corrida” critor já deve ter uma ideia clara de como será a conclusão.
O primeiro período é introduzido por uma conjunção Daí a importância em planejar o texto.
condicional (“se”); o segundo, conjunção adversativa. As Em média, o desenvolvimento ocupa 3/5 do texto, no
conjunções apresentadas que têm a mesma classificação, mínimo. Já nos textos mais longos, pode estar inserido em
respectivamente, e que, por isso, poderiam substituir ade- capítulos ou trechos destacados por subtítulos. Apresentar-
quadamente as destacadas no enunciado são “caso” e “no se-á no formato de parágrafos medianos e curtos.
entanto”. Acredito que, mesmo que você não saiba a clas- Os principais erros cometidos no desenvolvimento são
sificação das conjunções, conseguiria responder à questão o desvio e a desconexão da argumentação. O primeiro está
apenas utilizando a coerência: as demais alternativas não relacionado ao autor tomar um argumento secundário que
a têm. se distancia da discussão inicial, ou quando se concentra
RESPOSTA: “D”. em apenas um aspecto do tema e esquece o seu todo. O

90
LÍNGUA PORTUGUESA

segundo caso acontece quando quem redige tem muitas


ideias ou informações sobre o que está sendo discutido, REDAÇÃO OFICIAL
não conseguindo estruturá-las. Surge também a dificul-
dade de organizar seus pensamentos e definir uma linha
lógica de raciocínio.
Pronomes de tratamento na redação oficial
Conclusão
A redação oficial é a maneira utilizada pelo poder públi-
Considerada como a parte mais importante do texto, co para redigir atos normativos. Para redigi-los, muitas regras
é o ponto de chegada de todas as argumentações elabo- fazem-se necessárias. Entre elas, escrever de forma clara, con-
radas. As ideias e os dados utilizados convergem para essa cisa, sem muito comprometimento, bem como um uso ade-
parte, em que a exposição ou discussão se fecha. quado das formas de tratamento. Tais regras, acompanhadas
Em uma estrutura normal, ela não deve deixar uma de uma boa redação, com um bom uso da linguagem, asse-
brecha para uma possível continuidade do assunto; ou seja, guram que os atos normativos sejam bem executados.
possui atributos de síntese. A discussão não deve ser en- No Poder Público, nós nos deparamos com situações em
cerrada com argumentos repetitivos, como por exemplo: que precisamos escrever – ou falar – com pessoas com as
“Portanto, como já dissemos antes...”, “Concluindo...”, “Em quais não temos familiaridade. Nestes casos, os pronomes de
conclusão...”. tratamento assumem uma condição e precisam estar adequa-
Sua proporção em relação à totalidade do texto deve dos à categoria hierárquica da pessoa a quem nos dirigimos.
ser equivalente ao da introdução: de 1/5. Essa é uma das E mais, exige-se, em discurso falado ou escrito, uma homoge-
características de textos bem redigidos. neidade na forma de tratamento, não só nos pronomes como
Os seguintes erros aparecem quando as conclusões fi- também nos verbos. No entanto, as formas de tratamento
cam muito longas: não são do conhecimento de todos.
Abaixo, seguem as discriminações de usos dos pronomes
- O problema aparece quando não ocorre uma explo- de tratamento, com base no Manual da Presidência da Repú-
ração devida do desenvolvimento, o que gera uma invasão blica.
das ideias de desenvolvimento na conclusão.
- Outro fator consequente da insuficiência de funda- São de uso consagrado:
mentação do desenvolvimento está na conclusão precisar
de maiores explicações, ficando bastante vazia. Vossa Excelência, para as seguintes autoridades:
- Enrolar e “encher linguiça” são muito comuns no tex- a) do Poder Executivo
to em que o autor fica girando em torno de ideias redun- Presidente da República, Vice-Presidente da República, Mi-
dantes ou paralelas. nistro de Estado, Secretário-Geral da Presidência da República,
- Uso de frases vazias que, por vezes, são perfeitamen- Consultor-Geral da República, Chefe do Estado-Maior das For-
te dispensáveis. ças Armadas, Chefe do Gabinete Militar da Presidência da Re-
- Quando não tem clareza de qual é a melhor conclu- pública, Chefe do Gabinete Pessoal do Presidente da República,
são, o autor acaba se perdendo na argumentação final. Secretários da Presidência da República, Procurador – Geral da
República, Governadores e Vice-Governadores de Estado e do
Em relação à abertura para novas discussões, a con- Distrito Federal, Chefes de Estado – Maior das Três Armas, Ofi-
clusão não pode ter esse formato, exceto pelos seguintes ciais Generais das Forças Armadas, Embaixadores, Secretário
fatores: Executivo e Secretário Nacional de Ministérios, Secretários de
- Para não influenciar a conclusão do leitor sobre temas Estado dos Governos Estaduais, Prefeitos Municipais.
polêmicos, o autor deixa a conclusão em aberto.
- Para estimular o leitor a ler uma possível continuidade b) do Poder Legislativo:
do texto, o autor não fecha a discussão de propósito. Presidente, Vice–Presidente e Membros da Câmara dos
- Por apenas apresentar dados e informações sobre o Deputados e do Senado Federal, Presidente e Membros do Tri-
tema a ser desenvolvido, o autor não deseja concluir o as- bunal de Contas da União, Presidente e Membros dos Tribunais
sunto. de Contas Estaduais, Presidente e Membros das Assembleias
- Para que o leitor tire suas próprias conclusões, o autor Legislativas Estaduais, Presidente das Câmaras Municipais.
enumera algumas perguntas no final do texto.
c) do Poder Judiciário:
A maioria dessas falhas pode ser evitada se antes o au- Presidente e Membros do Supremo Tribunal Federal, Presi-
tor fizer um esboço de todas as suas ideias. Essa técnica dente e Membros do Superior Tribunal de Justiça, Presidente e
é um roteiro, em que estão presentes os planejamentos. Membros do Superior Tribunal Militar, Presidente e Membros do
Naquele devem estar indicadas as melhores sequências a Tribunal Superior Eleitoral, Presidente e Membros do Tribunal
serem utilizadas na redação; ele deve ser o mais enxuto Superior do Trabalho, Presidente e Membros dos Tribunais de
possível. Justiça, Presidente e Membros dos Tribunais Regionais Fede-
rais, Presidente e Membros dos Tribunais Regionais Eleitorais,
Fonte de pesquisa: Presidente e Membros dos Tribunais Regionais do Trabalho,
http://producao-de-textos.info/mos/view/Caracter%- Juízes e Desembargadores, Auditores da Justiça Militar.
C3%ADsticas_e_Estruturas_do_Texto/

91
LÍNGUA PORTUGUESA

O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas A Impessoalidade


aos Chefes do Poder é Excelentíssimo Senhor, seguido do car- A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer
go respectivo: Excelentíssimo Senhor Presidente da República; pela escrita. Para que haja comunicação, são necessários: a)
Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional; Ex- alguém que comunique; b) algo a ser comunicado; c) alguém
celentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal. que receba essa comunicação. No caso da redação oficial,
E mais: As demais autoridades serão tratadas com o vo- quem comunica é sempre o Serviço Público (este ou aquele
cativo Senhor, seguido do cargo respectivo: Senhor Senador, Ministério, Secretaria, Departamento, Divisão, Serviço, Seção);
Senhor Juiz, Senhor Ministro, Senhor Governador. o que se comunica é sempre algum assunto relativo às atri-
O Manual ainda preceitua que a forma de tratamento buições do órgão que comunica; o destinatário dessa comu-
“Digníssimo” fica abolida para as autoridades descritas acima, nicação ou é o público, o conjunto dos cidadãos, ou outro
afinal, a dignidade é condição primordial para que tais cargos órgão público, do Executivo ou dos outros Poderes da União.
públicos sejam ocupados. Percebe-se, assim, que o tratamento impessoal que deve
Fica ainda dito que doutor não é forma de tratamento, ser dado aos assuntos que constam das comunicações oficiais
mas titulação acadêmica de quem defende tese de douto- decorre:
rado. Portanto, é aconselhável que não se use discriminada- a) da ausência de impressões individuais de quem comu-
mente tal termo. nica: embora se trate, por exemplo, de um expediente assina-
do por Chefe de determinada Seção, é sempre em nome do
As Comunicações Oficiais Serviço Público que é feita a comunicação. Obtém-se, assim,
uma desejável padronização, que permite que comunicações
1. Aspectos Gerais da Redação Oficial elaboradas em diferentes setores da Administração guardem
entre si certa uniformidade;
O que é Redação Oficial b) da impessoalidade de quem recebe a comunicação,
com duas possibilidades: ela pode ser dirigida a um cidadão,
Em uma frase, pode-se dizer que redação oficial é a ma- sempre concebido como público, ou a outro órgão público.
neira pela qual o Poder Público redige atos normativos Nos dois casos, temos um destinatário concebido de forma
e comunicações. Interessa-nos tratá-la do ponto de vista do homogênea e impessoal;
Poder Executivo. c) do caráter impessoal do próprio assunto tratado: se o
A redação oficial deve caracterizar-se pela impessoalida- universo temático das comunicações oficiais restringe-se a
de, uso do padrão culto de linguagem, clareza, concisão, for- questões que dizem respeito ao interesse público, é natural
malidade e uniformidade. Fundamentalmente esses atributos que não caiba qualquer tom particular ou pessoal.
decorrem da Constituição, que dispõe, no artigo 37: “A admi- Desta forma, não há lugar na redação oficial para impres-
nistração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer sões pessoais, como as que, por exemplo, constam de uma
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos carta a um amigo, ou de um artigo assinado de jornal, ou
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoali- mesmo de um texto literário. A redação oficial deve ser isenta
dade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”. Sendo a publi- da interferência da individualidade que a elabora.
cidade e a impessoalidade princípios fundamentais de toda A concisão, a clareza, a objetividade e a formalidade de
administração pública, claro que devem igualmente nortear a que nos valemos para elaborar os expedientes oficiais con-
elaboração dos atos e comunicações oficiais. tribuem, ainda, para que seja alcançada a necessária impes-
Não se concebe que um ato normativo de qualquer na- soalidade.
tureza seja redigido de forma obscura, que dificulte ou im-
possibilite sua compreensão. A transparência do sentido dos A Linguagem dos Atos e Comunicações Oficiais
atos normativos, bem como sua inteligibilidade, são requisitos A necessidade de empregar determinado nível de lingua-
do próprio Estado de Direito: é inaceitável que um texto le- gem nos atos e expedientes oficiais decorre, de um lado, do
gal não seja entendido pelos cidadãos. A publicidade implica, próprio caráter público desses atos e comunicações; de outro,
pois, necessariamente, clareza e concisão. de sua finalidade. Os atos oficiais, aqui entendidos como atos
Fica claro também que as comunicações oficiais são ne- de caráter normativo, ou estabelecem regras para a conduta
cessariamente uniformes, pois há sempre um único comuni- dos cidadãos, ou regulam o funcionamento dos órgãos públi-
cador (o Serviço Público) e o receptor dessas comunicações cos, o que só é alcançado se em sua elaboração for empre-
ou é o próprio Serviço Público (no caso de expedientes dirigi- gada a linguagem adequada. O mesmo se dá com os expe-
dos por um órgão a outro) – ou o conjunto dos cidadãos ou dientes oficiais, cuja finalidade precípua é a de informar com
instituições tratados de forma homogênea (o público). clareza e objetividade.
A redação oficial não é necessariamente árida e infensa à As comunicações que partem dos órgãos públicos fede-
evolução da língua. É que sua finalidade básica – comunicar rais devem ser compreendidas por todo e qualquer cidadão
com impessoalidade e máxima clareza – impõe certos parâ- brasileiro. Para atingir esse objetivo, há que evitar o uso de
metros ao uso que se faz da língua, de maneira diversa da- uma linguagem restrita a determinados grupos. Não há dú-
quele da literatura, do texto jornalístico, da correspondência vida de que um texto marcado por expressões de circulação
particular, etc. restrita, como a gíria, os regionalismos vocabulares ou o jar-
Apresentadas essas características fundamentais da re- gão técnico, tem sua compreensão dificultada.
dação oficial, passemos à análise pormenorizada de cada Ressalte-se que há necessariamente uma distância en-
uma delas. tre a língua falada e a escrita. Aquela é extremamente dinâ-
mica, reflete de forma imediata qualquer alteração de cos-

92
LÍNGUA PORTUGUESA

tumes, e pode eventualmente contar com outros elementos Concisão e Clareza


que auxiliem a sua compreensão, como os gestos, a entoação, A concisão é antes uma qualidade do que uma caracte-
etc., para mencionar apenas alguns dos fatores responsáveis rística do texto oficial. Conciso é o texto que consegue trans-
por essa distância. Já a língua escrita incorpora mais lenta- mitir o máximo de informações com um mínimo de palavras.
mente as transformações, tem maior vocação para a perma- Para que se redija com essa qualidade, é fundamental que se
nência e vale-se apenas de si mesma para comunicar. tenha, além de conhecimento do assunto sobre o qual se es-
Os textos oficiais, devido ao seu caráter impessoal e sua creve, o necessário tempo para revisar o texto depois de pron-
finalidade de informar com o máximo de clareza e concisão, to. É nessa releitura que muitas vezes se percebem eventuais
requerem o uso do padrão culto da língua. Há consenso de redundâncias ou repetições desnecessárias de ideias.
que o padrão culto é aquele em que se observam as regras O esforço de sermos concisos atende, basicamente, ao
da gramática formal e se emprega um vocabulário comum princípio de economia linguística, à mencionada fórmula de
ao conjunto dos usuários do idioma. É importante ressaltar empregar o mínimo de palavras para informar o máximo. Não
que a obrigatoriedade do uso do padrão culto na redação se deve, de forma alguma, entendê-la como economia de
oficial decorre do fato de que ele está acima das diferenças pensamento, isto é, não se devem eliminar passagens subs-
lexicais, morfológicas ou sintáticas regionais, dos modismos tanciais do texto no afã de reduzi-lo em tamanho. Trata-se
vocabulares, das idiossincrasias linguísticas, permitindo, por exclusivamente de cortar palavras inúteis, redundâncias, pas-
essa razão, que se atinja a pretendida compreensão por todos sagens que nada acrescentem ao que já foi dito.
os cidadãos. A clareza deve ser a qualidade básica de todo texto ofi-
Lembre-se de que o padrão culto nada tem contra a sim- cial. Pode-se definir como claro aquele texto que possibilita
plicidade de expressão, desde que não seja confundida com imediata compreensão pelo leitor. No entanto, a clareza não
pobreza de expressão. De nenhuma forma o uso do padrão é algo que se atinja por si só: ela depende estritamente das
culto implica emprego de linguagem rebuscada, nem dos demais características da redação oficial. Para ela concorrem:
contorcionismos sintáticos e figuras de linguagem próprios - a impessoalidade, que evita a duplicidade de interpre-
da língua literária. tações que poderia decorrer de um tratamento personalista
Pode-se concluir, então, que não existe propriamente um dado ao texto;
“padrão oficial de linguagem”; o que há é o uso do padrão - o uso do padrão culto de linguagem, em princípio, de
culto nos atos e comunicações oficiais. É claro que haverá pre- entendimento geral e por definição avesso a vocábulos de
ferência pelo uso de determinadas expressões, ou será obe- circulação restrita, como a gíria e o jargão;
decida certa tradição no emprego das formas sintáticas, mas - a formalidade e a padronização, que possibilitam a im-
isso não implica, necessariamente, que se consagre a utiliza- prescindível uniformidade dos textos;
ção de uma forma de linguagem burocrática. O jargão buro- - a concisão, que faz desaparecer do texto os excessos
crático, como todo jargão, deve ser evitado, pois terá sempre linguísticos que nada lhe acrescentam.
sua compreensão limitada. É pela correta observação dessas características que se
A linguagem técnica deve ser empregada apenas em redige com clareza. Contribuirá, ainda, a indispensável relei-
situações que a exijam, evitando o seu uso indiscriminado. tura de todo texto redigido. A ocorrência, em textos oficiais,
Certos rebuscamentos acadêmicos, e mesmo o vocabulário de trechos obscuros e de erros gramaticais provém, principal-
próprio à determinada área, são de difícil entendimento por mente, da falta da releitura que torna possível sua correção.
quem não esteja com eles familiarizado. Deve-se ter o cui- A revisão atenta exige, necessariamente, tempo. A pressa
dado, portanto, de explicitá-los em comunicações encami- com que são elaboradas certas comunicações quase sempre
nhadas a outros órgãos da administração e em expedientes compromete sua clareza. Não se deve proceder à redação de
dirigidos aos cidadãos. um texto que não seja seguida por sua revisão. “Não há as-
suntos urgentes, há assuntos atrasados”, diz a máxima. Evite-se,
Formalidade e Padronização pois, o atraso, com sua indesejável repercussão no redigir.
As comunicações oficiais devem ser sempre formais, isto
é, obedecem a certas regras de forma: além das já mencio- Pronomes de Tratamento
nadas exigências de impessoalidade e uso do padrão culto Concordância com os Pronomes de Tratamento
de linguagem, é imperativo, ainda, certa formalidade de tra- Os pronomes de tratamento (ou de segunda pessoa indi-
tamento. Não se trata somente da eterna dúvida quanto ao reta) apresentam certas peculiaridades quanto à concordân-
correto emprego deste ou daquele pronome de tratamento cia verbal, nominal e pronominal. Embora se refiram à segun-
para uma autoridade de certo nível; mais do que isso, a for- da pessoa gramatical (à pessoa com quem se fala, ou a quem
malidade diz respeito à polidez, à civilidade no próprio enfo- se dirige a comunicação), levam a concordância para a terceira
que dado ao assunto do qual cuida a comunicação. pessoa. É que o verbo concorda com o substantivo que in-
A formalidade de tratamento vincula-se, também, à ne- tegra a locução como seu núcleo sintático: “Vossa Senhoria
cessária uniformidade das comunicações. Ora, se a administra- nomeará o substituto”; “Vossa Excelência conhece o assunto”.
ção federal é una, é natural que as comunicações que expede Da mesma forma, os pronomes possessivos referidos a
sigam um mesmo padrão. O estabelecimento desse padrão pronomes de tratamento são sempre os da terceira pessoa:
exige que se atente para todas as características da redação “Vossa Senhoria nomeará seu substituto” (e não “Vossa... vos-
oficial e que se cuide, ainda, da apresentação dos textos. so...”).
A clareza datilográfica, o uso de papéis uniformes para Já quanto aos adjetivos referidos a esses pronomes, o
o texto definitivo e a correta diagramação do texto são in- gênero gramatical deve coincidir com o sexo da pessoa a que
dispensáveis para a padronização. se refere, e não com o substantivo que compõe a locução.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Assim, se nosso interlocutor for homem, o correto é “Vossa - deve ser utilizada fonte do tipo Times New Roman de
Excelência está atarefado”, “Vossa Senhoria deve estar satis- corpo 12 no texto em geral, 11 nas citações, e 10 nas notas
feito”; se for mulher, “Vossa Excelência está atarefada”, “Vossa de rodapé;
Senhoria deve estar satisfeita”. - para símbolos não existentes na fonte Times New Ro-
No envelope, o endereçamento das comunicações diri- man poder-se-á utilizar as fontes Symbol e Wingdings;
gidas às autoridades tratadas por Vossa Excelência, terá a se- - é obrigatório constar a partir da segunda página o
guinte forma: número da página;
- os ofícios, memorandos e anexos destes poderão ser
A Sua Excelência o Senhor impressos em ambas as faces do papel. Neste caso, as mar-
Fulano de Tal gens esquerda e direita terão as distâncias invertidas nas
Ministro de Estado da Justiça páginas pares (“margem espelho”);
70.064-900 – Brasília. DF - o campo destinado à margem lateral esquerda terá,
no mínimo, 3,0 cm de largura;
A Sua Excelência o Senhor
- o início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5 cm de
Senador Fulano de Tal
distância da margem esquerda;
Senado Federal
70.165-900 – Brasília. DF - o campo destinado à margem lateral direita terá 1,5
cm;
Senhor Ministro, - deve ser utilizado espaçamento simples entre as li-
Submeto a Vossa Excelência projeto (...) nhas e de 6 pontos após cada parágrafo, ou, se o editor
de texto utilizado não comportar tal recurso, de uma linha
Fechos para Comunicações em branco;
O fecho das comunicações oficiais possui, além da fina- - não deve haver abuso no uso de negrito, itálico, sub-
lidade de arrematar o texto, a de saudar o destinatário. Os linhado, letras maiúsculas, sombreado, sombra, relevo, bor-
modelos para fecho que vinham sendo utilizados foram re- das ou qualquer outra forma de formatação que afete a
gulados pela Portaria nº1 do Ministério da Justiça, de 1937, elegância e a sobriedade do documento;
que estabelecia quinze padrões. Com o fito de simplificá-los - a impressão dos textos deve ser feita na cor preta em
e uniformiza-los, este Manual estabelece o emprego de so- papel branco. A impressão colorida deve ser usada apenas
mente dois fechos diferentes para todas as modalidades de para gráficos e ilustrações;
comunicação oficial: - todos os tipos de documentos do Padrão Ofício de-
a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente vem ser impressos em papel de tamanho A-4, ou seja, 29,7
da República: Respeitosamente, x 21,0 cm;
b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hie- - deve ser utilizado, preferencialmente, o formato de
rarquia inferior: Atenciosamente, arquivo Rich Text nos documentos de texto;
- dentro do possível, todos os documentos elabora-
Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas dos devem ter o arquivo de texto preservado para consulta
a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e tradição pró- posterior ou aproveitamento de trechos para casos análo-
prios, devidamente disciplinados no Manual de Redação do gos;
Ministério das Relações Exteriores. - para facilitar a localização, os nomes dos arquivos de-
vem ser formados da seguinte maneira:
Identificação do Signatário
tipo do documento + número do documento + pala-
Excluídas as comunicações assinadas pelo Presidente da
vras-chaves do conteúdo
República, todas as demais comunicações oficiais devem trazer
Ex.: “Of. 123 - relatório produtividade ano 2002”
o nome e o cargo da autoridade que as expede, abaixo do local
de sua assinatura. A forma da identificação deve ser a seguinte:
Aviso e Ofício
(espaço para assinatura)
Nome Definição e Finalidade
Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República Aviso e ofício são modalidades de comunicação oficial
praticamente idênticas. A única diferença entre eles é que
(espaço para assinatura) o aviso é expedido exclusivamente por Ministros de Estado,
Nome para autoridades de mesma hierarquia, ao passo que o ofí-
Ministro de Estado da Justiça cio é expedido para e pelas demais autoridades. Ambos têm
como finalidade o tratamento de assuntos oficiais pelos ór-
Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a assi- gãos da Administração Pública entre si e, no caso do ofício,
natura em página isolada do expediente. Transfira para essa também com particulares.
página ao menos a última frase anterior ao fecho.
Forma e Estrutura
Forma de diagramação Quanto a sua forma, aviso e ofício seguem o modelo
Os documentos do Padrão Ofício devem obedecer à do padrão ofício, com acréscimo do vocativo, que invoca o
seguinte forma de apresentação: destinatário, seguido de vírgula.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Exemplos: Em regra, a exposição de motivos é dirigida ao Presidente


Excelentíssimo Senhor Presidente da República da República por um Ministro de Estado.
Senhora Ministra Nos casos em que o assunto tratado envolva mais de um
Senhor Chefe de Gabinete Ministério, a exposição de motivos deverá ser assinada por to-
dos os Ministros envolvidos, sendo, por essa razão, chamada
Devem constar do cabeçalho ou do rodapé do ofício as de interministerial.
seguintes informações do remetente:
– nome do órgão ou setor; Forma e Estrutura - Formalmente, a exposição de mo-
– endereço postal; tivos tem a apresentação do padrão ofício. A exposição de
– telefone e e-mail. motivos, de acordo com sua finalidade, apresenta duas for-
mas básicas de estrutura: uma para aquela que tenha caráter
Observação: Estas informações estão ausentes no exclusivamente informativo e outra para a que proponha al-
guma medida ou submeta projeto de ato normativo.
memorando, pois se trata de comunicação interna - des-
No primeiro caso, o da exposição de motivos que sim-
tinatário e remetente possuem o mesmo endereço. Se o
plesmente leva algum assunto ao conhecimento do Presiden-
Aviso é de um Ministério para outro Ministério, também
te da República, sua estrutura segue o modelo antes referido
não precisa especificar o endereço. O Ofício é enviado para para o padrão ofício.
outras instituições, logo, são necessárias as informações do
remetente e o endereço do destinatário para que o ofício Mensagem
possa ser entregue e o remetente possa receber resposta.
Definição e Finalidade - É o instrumento de comunica-
Memorando ção oficial entre os Chefes dos Poderes Públicos, notadamente
as mensagens enviadas pelo Chefe do Poder Executivo ao Poder
Definição e Finalidade Legislativo para informar sobre fato da Administração Pública,
O memorando é a modalidade de comunicação entre expor o plano de governo por ocasião da abertura de sessão
unidades administrativas de um mesmo órgão, que podem legislativa, submeter ao Congresso Nacional matérias que de-
estar hierarquicamente em mesmo nível ou em nível dife- pendem de deliberação de suas Casas, apresentar veto, enfim,
rente. Trata-se, portanto, de uma forma de comunicação fazer e agradecer comunicações de tudo quanto seja de inte-
eminentemente interna. resse dos poderes públicos e da Nação.
Pode ter caráter meramente administrativo, ou ser em- Minuta de mensagem pode ser encaminhada pelos Mi-
pregado para a exposição de projetos, ideias, diretrizes, nistérios à Presidência da República, a cujas assessorias caberá
etc. a serem adotados por determinado setor do serviço a redação final.
público. As mensagens mais usuais do Poder Executivo ao Con-
Sua característica principal é a agilidade. A tramitação gresso Nacional têm as seguintes finalidades:
do memorando em qualquer órgão deve pautar-se pela ra- - encaminhamento de projeto de lei ordinária, comple-
pidez e pela simplicidade de procedimentos burocráticos. mentar ou financeira;
Para evitar desnecessário aumento do número de comu- - encaminhamento de medida provisória;
nicações, os despachos ao memorando devem ser dados - indicação de autoridades;
no próprio documento e, no caso de falta de espaço, em - pedido de autorização para o Presidente ou o Vice-Pre-
folha de continuação. Este procedimento permite formar sidente da República ausentarem-se do País por mais de 15
dias;
uma espécie de processo simplificado, assegurando maior
- encaminhamento de atos de concessão e renovação de
transparência à tomada de decisões e permitindo que se
concessão de emissoras de rádio e TV;
historie o andamento da matéria tratada no memorando.
- encaminhamento das contas referentes ao exercício an-
terior;
Forma e Estrutura - mensagem de abertura da sessão legislativa;
Quanto a sua forma, o memorando segue o modelo do - comunicação de sanção (com restituição de autógrafos);
padrão ofício, com a diferença de que o seu destinatário - comunicação de veto;
deve ser mencionado pelo cargo que ocupa. Ex: - outras mensagens.

Ao Sr. Chefe do Departamento de Administração Forma e Estrutura - As mensagens contêm:


Ao Sr. Subchefe para Assuntos Jurídicos a) a indicação do tipo de expediente e de seu número,
horizontalmente, no início da margem esquerda;
Exposição de Motivos b) vocativo, de acordo com o pronome de tratamento e o
cargo do destinatário, horizontalmente, no início da margem
Definição e Finalidade - Exposição de motivos é o ex- esquerda (Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Fede-
pediente dirigido ao Presidente da República ou ao Vice-Pre- ral);
sidente para: c) o texto, iniciando a 2,0 cm do vocativo;
a) informá-lo de determinado assunto; b) propor algu- d) o local e a data, verticalmente a 2,0 cm do final do
ma medida; ou c) submeter a sua consideração projeto de texto, e horizontalmente fazendo coincidir seu final com a
ato normativo. margem direita.

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LÍNGUA PORTUGUESA

A mensagem, como os demais atos assinados pelo Pre- Forma e Estrutura - Um dos atrativos de comunica-
sidente da República, não traz identificação de seu signa- ção por correio eletrônico é sua flexibilidade. Assim, não
tário. interessa definir forma rígida para sua estrutura. Entretanto,
deve-se evitar o uso de linguagem incompatível com uma
Telegrama comunicação oficial.
O campo “assunto” do formulário de correio eletrôni-
Definição e Finalidade - Com o fito de uniformizar a co mensagem deve ser preenchido de modo a facilitar a
terminologia e simplificar os procedimentos burocráticos, organização documental tanto do destinatário quanto do
passa a receber o título de telegrama toda comunicação remetente.
oficial expedida por meio de telegrafia, telex, etc. Para os arquivos anexados à mensagem, deve ser utili-
Por tratar-se de forma de comunicação dispendiosa aos zado, preferencialmente, o formato Rich Text. A mensagem
cofres públicos e tecnologicamente superada, deve restringir- que encaminha algum arquivo deve trazer informações mí-
se o uso do telegrama apenas àquelas situações que não seja nimas sobre seu conteúdo.
possível o uso de correio eletrônico ou fax e que a urgência Sempre que disponível, deve-se utilizar recurso de con-
justifique sua utilização. Em razão de seu custo elevado, esta firmação de leitura. Caso não seja disponível, deve constar
forma de comunicação deve pautar-se pela concisão. na mensagem o pedido de confirmação de recebimento.
Forma e Estrutura - Não há padrão rígido, devendo- Valor documental - Nos termos da legislação em vi-
se seguir a forma e a estrutura dos formulários disponíveis gor, para que a mensagem de correio eletrônico tenha valor
nas agências dos Correios e em seu sítio na Internet. documental, e para que possa ser aceito como documento
original, é necessário existir certificação digital que ateste
Fax a identidade do remetente, na forma estabelecida em lei.

Definição e Finalidade - O fax (forma abreviada já Elementos de Ortografia e Gramática


consagrada de fac-símile) é uma forma de comunicação
que está sendo menos usada devido ao desenvolvimento Problemas de Construção de Frases
da Internet. É utilizado para a transmissão de mensagens
urgentes e para o envio antecipado de documentos, de A clareza e a concisão na forma escrita são alcançadas,
cujo conhecimento há premência, quando não há condi- principalmente, pela construção adequada da frase, “a me-
ções de envio do documento por meio eletrônico. Quando nor unidade autônoma da comunicação”, na definição de
necessário o original, ele segue posteriormente pela via e Celso Pedro Luft.
na forma de praxe. A função essencial da frase é desempenhada pelo pre-
Se necessário o arquivamento, deve-se fazê-lo com có-
dicado, que, para Adriano da Gama Kury, pode ser entendi-
pia do fax e não com o próprio fax, cujo papel, em certos
do como “a enunciação pura de um fato qualquer”. Sempre
modelos, deteriora-se rapidamente.
que a frase possuir pelo menos um verbo, recebe o nome
de período, que terá tantas orações quantos forem os ver-
Forma e Estrutura - Os documentos enviados por fax
bos não auxiliares que o constituem.
mantêm a forma e a estrutura que lhes são inerentes.
Outra função relevante é a do sujeito – mas não indis-
É conveniente o envio, juntamente com o documento
pensável, pois há orações sem sujeito, ditas impessoais –,
principal, de folha de rosto e de pequeno formulário com
os dados de identificação da mensagem a ser enviada, con- de quem se diz algo, cujo núcleo é sempre um substantivo.
forme exemplo a seguir: Sempre que o verbo o exigir, teremos nas orações substan-
tivos (nomes ou pronomes) que desempenham a função
[Órgão Expedidor] de complementos (objetos direto e indireto, predicativo e
[setor do órgão expedidor] complemento adverbial). Função acessória desempenham
[endereço do órgão expedidor] os adjuntos adverbiais, que vêm geralmente ao final da
Destinatário:____________________________________ oração, mas que podem ser ou intercalados aos elementos
No do fax de destino:_______________ Data:___/___/___ que desempenham as outras funções, ou deslocados para
Remetente: ____________________________________ o início da oração.
Tel. p/ contato:____________ Fax/correio eletrônico:____ Temos, assim, a seguinte ordem de colocação dos ele-
No de páginas: ________ No do documento:____________ mentos que compõem uma oração (Observação: os parên-
teses indicam os elementos que podem não ocorrer):
Observações:___________________________________
(sujeito) - verbo - (complementos) - (adjunto adverbial).
Correio Eletrônico
Podem ser identificados seis padrões básicos para as
Definição e finalidade - O correio eletrônico (“e-mail”), orações pessoais (isto é, com sujeito) na língua portuguesa
por seu baixo custo e celeridade, transformou-se na princi- (a função que vem entre parênteses é facultativa e pode
pal forma de comunicação para transmissão de documen- ocorrer em ordem diversa):
tos.
1. Sujeito - verbo intransitivo - (Adjunto Adverbial)

96
LÍNGUA PORTUGUESA

O Presidente - regressou - (ontem). Certo: Não vejo mal em o Governo proceder assim.

2. Sujeito - verbo transitivo direto - objeto direto - (ad- Errado: Antes destes requisitos serem cumpridos, (...).
junto adverbial) Certo: Antes de estes requisitos serem cumpridos, (...).
O Chefe da Divisão - assinou - o termo de posse - (na
manhã de terça-feira). Errado: Apesar da Assessoria ter informado em tempo, (...).
Certo: Apesar de a Assessoria ter informado em tempo, (...).
3. Sujeito - verbo transitivo indireto - objeto indireto -
(adjunto adverbial). Frases Fragmentadas
O Brasil - precisa - de gente honesta - (em todos os se- A fragmentação de frases “consiste em pontuar uma
tores). oração subordinada ou uma simples locução como se fosse
uma frase completa”. Decorre da pontuação errada de uma
frase simples. Embora seja usada como recurso estilístico na
4. Sujeito - verbo transitivo direto e indireto - obj. dire-
literatura, a fragmentação de frases deve ser evitada nos
to - obj. indireto - (adj. Adv.)
textos oficiais, pois muitas vezes dificulta a compreensão.
Os desempregados - entregaram - suas reivindicações -
Exemplo:
ao Deputado - (no Congresso). Errado: O programa recebeu a aprovação do Congresso
5. Sujeito - verbo transitivo indireto - complemento ad- Nacional. Depois de ser longamente debatido.
verbial - (adjunto adverbial) Certo: O programa recebeu a aprovação do Congresso
A reunião do Grupo de Trabalho - ocorrerá - em Buenos Nacional, depois de ser longamente debatido.
Aires - (na próxima semana). Certo: Depois de ser longamente debatido, o programa re-
O Presidente - voltou - da Europa - (na sexta-feira) cebeu a aprovação do Congresso Nacional.

6. Sujeito - verbo de ligação - predicativo - (adjunto ad- Errado: O projeto de Convenção foi oportunamente sub-
verbial) metido ao Presidente da República, que o aprovou. Consultadas
O problema - será - resolvido - prontamente. as áreas envolvidas na elaboração do texto legal.
Certo: O projeto de Convenção foi oportunamente subme-
Estes seriam os padrões básicos para as orações, ou seja, tido ao Presidente da República, que o aprovou, consultadas as
as frases que possuem apenas um verbo conjugado. Na cons- áreas envolvidas na elaboração do texto legal.
trução de períodos, as várias funções podem ocorrer em or-
dem inversa à mencionada, misturando-se e confundindo-se. Erros de Paralelismo
Não interessa aqui análise exaustiva de todos os padrões exis- Uma das convenções estabelecidas na linguagem escrita
tentes na língua portuguesa. O que importa é fixar a ordem “consiste em apresentar ideias similares numa forma gramati-
normal dos elementos nesses seis padrões básicos. Acrescen- cal idêntica”, o que se chama de paralelismo. Assim, incorre-se
te-se que períodos mais complexos, compostos por duas ou em erro ao conferir forma não paralela a elementos paralelos.
mais orações, em geral podem ser reduzidos aos padrões bá- Vejamos alguns exemplos:
sicos (de que derivam).
Os problemas mais frequentemente encontrados na Errado: Pelo aviso circular recomendou-se aos Ministérios eco-
construção de frases dizem respeito à má pontuação, à am- nomizar energia e que elaborassem planos de redução de despesas.
biguidade da ideia expressa, à elaboração de falsos paralelis-
Na frase temos, nas duas orações subordinadas que com-
mos, erros de comparação, etc. Decorrem, em geral, do des-
pletam o sentido da principal, duas estruturas diferentes para
conhecimento da ordem das palavras na frase. Indicam-se, a
ideias equivalentes: a primeira oração (economizar energia) é
seguir, alguns desses defeitos mais comuns e recorrentes na
reduzida de infinitivo, enquanto a segunda (que elaborassem
construção de frases, registrados em documentos oficiais. planos de redução de despesas) é uma oração desenvolvida
introduzida pela conjunção integrante que. Há mais de uma
Sujeito possibilidade de escrevê-la com clareza e correção; uma seria
Como dito, o sujeito é o ser de quem se fala ou que exe- a de apresentar as duas orações subordinadas como desen-
cuta a ação enunciada na oração. Ele pode ter complemen- volvidas, introduzidas pela conjunção integrante que:
to, mas não ser complemento. Devem ser evitadas, portanto,
construções como: Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministérios
que economizassem energia e (que) elaborassem planos para
Errado: É tempo do Congresso votar a emenda. redução de despesas.
Certo: É tempo de o Congresso votar a emenda.
Outra possibilidade: as duas orações são apresentadas
Errado: Apesar das relações entre os países estarem cor- como reduzidas de infinitivo:
tadas, (...). Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministérios
Certo: Apesar de as relações entre os países estarem cor- economizar energia e elaborar planos para redução de despesas.
tadas, (...).
Nas duas correções respeita-se a estrutura paralela na
Errado: Não vejo mal no Governo proceder assim. coordenação de orações subordinadas.

97
LÍNGUA PORTUGUESA

Mais um exemplo de frase inaceitável na língua escrita culta: Certo: O salário de um professor é mais baixo do que o de
Errado: No discurso de posse, mostrou determinação, não um médico.
ser inseguro, inteligência e ter ambição.
Errado: O alcance do Decreto é diferente da Portaria.
O problema aqui decorre de coordenar palavras (subs- Novamente, a não repetição dos termos comparados
tantivos) com orações (reduzidas de infinitivo). confunde. Alternativas para correção:
Para tornar a frase clara e correta, pode-se optar ou por Certo: O alcance do Decreto é diferente do alcance da Por-
transformá-la em frase simples, substituindo as orações redu- taria.
zidas por substantivos: Certo: O alcance do Decreto é diferente do da Portaria.
Certo: No discurso de posse, mostrou determinação, segu- Errado: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas
rança, inteligência e ambição. do que os Ministérios do Governo.
No exemplo acima, a omissão da palavra “outros” (ou
Atentemos, ainda, para o problema inverso, o falso pa- “demais”) acarretou imprecisão:
ralelismo, que ocorre ao se dar forma paralela (equivalente) Certo: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas do
a ideias de hierarquia diferente ou, ainda, ao se apresentar, que os outros Ministérios do Governo.
de forma paralela, estruturas sintáticas distintas: Certo: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas do
Errado: O Presidente visitou Paris, Bonn, Roma e o Papa. que os demais Ministérios do Governo.
Ambiguidade
Nesta frase, colocou-se em um mesmo nível cidades (Pa-
ris, Bonn, Roma) e uma pessoa (o Papa). Uma possibilidade Ambígua é a frase ou oração que pode ser tomada em
de correção é transformá-la em duas frases simples, com o mais de um sentido. Como a clareza é requisito básico de
cuidado de não repetir o verbo da primeira (visitar): todo texto oficial, deve-se atentar para as construções que
Certo: O Presidente visitou Paris, Bonn e Roma. Nesta últi- possam gerar equívocos de compreensão.
ma capital, encontrou-se com o Papa. A ambiguidade decorre, em geral, da dificuldade de
identificar a qual palavra se refere um pronome que possui
Mencionemos, por fim, o falso paralelismo provocado mais de um antecedente na terceira pessoa. Pode ocorrer
pelo uso inadequado da expressão “e que” num período que com:
não contém nenhum “que” anterior.
Errado: O novo procurador é jurista renomado, e que tem - pronomes pessoais:
sólida formação acadêmica. Ambíguo: O Ministro comunicou a seu secretariado que
ele seria exonerado.
Para corrigir a frase, suprimimos o pronome relativo: Claro: O Ministro comunicou exoneração dele a seu se-
Certo: O novo procurador é jurista renomado e tem sólida cretariado.
formação acadêmica. Ou então, caso o entendimento seja outro:
Claro: O Ministro comunicou a seu secretariado a exo-
Outro exemplo de falso paralelismo com “e que”: neração deste.
Errado: Neste momento, não se devem adotar medidas
precipitadas, e que comprometam o andamento de todo o pro- - pronomes possessivos e pronomes oblíquos:
grama. Ambíguo: O Deputado saudou o Presidente da Repúbli-
Da mesma forma com que corrigimos o exemplo anterior, ca, em seu discurso, e solicitou sua intervenção no seu Esta-
aqui podemos suprimir a conjunção: do, mas isso não o surpreendeu.
Certo: Neste momento, não se devem adotar medidas pre- Observe a multiplicidade de ambiguidade no exemplo
cipitadas, que comprometam o andamento de todo o progra- acima, a qual torna incompreensível o sentido da frase.
ma. Claro: Em seu discurso o Deputado saudou o Presidente
da República. No pronunciamento, solicitou a intervenção
Erros de Comparação
federal em seu Estado, o que não surpreendeu o Presidente
da República.
A omissão de certos termos ao fazermos uma compara-
ção, omissão própria da língua falada, deve ser evitada na lín-
- pronome relativo:
gua escrita, pois compromete a clareza do texto: nem sempre
Ambíguo: Roubaram a mesa do gabinete em que eu
é possível identificar, pelo contexto, qual o termo omitido. A
costumava trabalhar.
ausência indevida de um termo pode impossibilitar o enten-
dimento do sentido que se quer dar a uma frase: Não fica claro se o pronome relativo da segunda ora-
ção faz referência “à mesa” ou “a gabinete”. Esta ambigui-
Errado: O salário de um professor é mais baixo do que um dade se deve ao pronome relativo “que”, sem marca de gê-
médico. nero. A solução é recorrer às formas o qual, a qual, os quais,
A omissão de termos provocou uma comparação indevi- as quais, que marcam gênero e número.
da: “o salário de um professor” com “um médico”. Claro: Roubaram a mesa do gabinete no qual eu costu-
Certo: O salário de um professor é mais baixo do que o mava trabalhar.
salário de um médico. Se o entendimento é outro, então:

98
LÍNGUA PORTUGUESA

Claro: Roubaram a mesa do gabinete na qual eu costu- dos pronomes de tratamento apresentados nas alternati-
mava trabalhar. vas, o pronome demonstrativo será “sua”. Descartamos, en-
tão, os itens A, C e E. Agora recorramos ao pronome ade-
Há, ainda, outro tipo de ambiguidade, que decorre da quado a ser utilizado para deputados. Segundo o Manual
dúvida sobre a que se refere a oração reduzida: de Redação Oficial, temos:
Ambíguo: Sendo indisciplinado, o Chefe admoestou o Vossa Excelência, para as seguintes autoridades:
funcionário. b) do Poder Legislativo: Presidente, Vice–Presidente e
Para evitar o tipo de ambiguidade do exemplo acima, Membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal
deve-se deixar claro qual o sujeito da oração reduzida. (...).
Claro: O Chefe admoestou o funcionário por ser este RESPOSTA: “D”.
indisciplinado.
2-) (ANTAQ – ESPECIALISTA EM REGULAÇÃO DE SER-
Ambíguo: Depois de examinar o paciente, uma senhora VIÇOS DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS – CESPE/2014)
chamou o médico. Considerando aspectos estruturais e linguísticos das cor-
Claro: Depois que o médico examinou o paciente, foi respondências oficiais, julgue os itens que se seguem, de
chamado por uma senhora. acordo com o Manual de Redação da Presidência da Re-
pública.
O tratamento Digníssimo deve ser empregado para to-
Fontes de pesquisa:
das as autoridades do poder público, uma vez que a dig-
http://www.redacaooficial.com.br/redacao_oficial_pu-
nidade é tida como qualidade inerente aos ocupantes de
blicacoes_ver.php?id=2
cargos públicos.
http://portuguesxconcursos.blogspot.com.br/p/reda-
( ) CERTO ( ) ERRADO
cao-oficial-para-concursos.html
2-) Vamos ao Manual: O Manual ainda preceitua que a
Questões forma de tratamento “Digníssimo” fica abolida (...) afinal, a
dignidade é condição primordial para que tais cargos públi-
1-) (TJ-PA - MÉDICO PSIQUIATRA - VUNESP - 2014) cos sejam ocupados.
Leia o seguinte fragmento de um ofício, citado do Manual Fonte: http://www.redacaooficial.com.br/redacao_ofi-
de Redação da Presidência da República, no qual expres- cial_publicacoes_ver.php?id=2
sões foram substituídas por lacunas. RESPOSTA: “ERRADO”.

Senhor Deputado 3-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA/SE – TÉCNICO JUDICIÁRIO


Em complemento às informações transmitidas pelo te- – CESPE/2014) Em toda comunicação oficial, exceto nas di-
legrama n.º 154, de 24 de abril último, informo _____ de que recionadas a autoridades estrangeiras, deve-se fazer uso
as medidas mencionadas em ______ carta n.º 6708, dirigida dos fechos Respeitosamente ou Atenciosamente, de acor-
ao Senhor Presidente da República, estão amparadas pelo do com as hierarquias do destinatário e do remetente.
procedimento administrativo de demarcação de terras in- ( ) CERTO (
dígenas instituído pelo Decreto n.º 22, de 4 de fevereiro de ) ERRADO
1991 (cópia anexa).
(http://www.planalto.gov.br. Adaptado) 3-) Segundo o Manual de Redação Oficial: (...) Manual
estabelece o emprego de somente dois fechos diferentes
A alternativa que completa, correta e respectivamen- para todas as modalidades de comunicação oficial:
te, as lacunas do texto, de acordo com a norma-padrão a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente
da língua portuguesa e atendendo às orientações oficiais da República: Respeitosamente,
a respeito do uso de formas de tratamento em correspon- b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hierar-
quia inferior: Atenciosamente,
dências públicas, é:
Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigi-
A) Vossa Senhoria … tua.
das a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e tra-
B) Vossa Magnificência … sua.
dição próprios, devidamente disciplinados no Manual de
C) Vossa Eminência … vossa.
Redação do Ministério das Relações Exteriores.
D) Vossa Excelência … sua. RESPOSTA: “CERTO”.
E) Sua Senhoria … vossa.

1-) Podemos começar pelo pronome demonstrativo.


Mesmo utilizando pronomes de tratamento “Vossa” (mui-
tas vezes confundido com “vós” e seu respectivo “vosso”),
os pronomes que os acompanham deverão ficar sempre na
terceira pessoa (do plural ou do singular, de acordo com o
número do pronome de tratamento). Então, em quaisquer

99
LÍNGUA PORTUGUESA

Não encontramos as pessoas que saíram.


FUNÇÕES DO “QUE” E DO “SE” • pronome indefinido: nesse caso, pode funcionar
como pronome substantivo ou pronome adjetivo.
• pronome substantivo: equivale a que coisa. Quando
for pronome substantivo, a palavra que exercerá as fun-
A palavra que em português pode ser: ções próprias do substantivo (sujeito, objeto direto, objeto
Interjeição: exprime espanto, admiração, surpresa. indireto, etc.)
Nesse caso, será acentuada e seguida de ponto de Que aconteceu com você?
exclamação. Usa-se também a variação  o quê! A pala-
vra que não exerce função sintática quando funciona como • pronome adjetivo: determina um substantivo. Nesse
interjeição. caso, exerce a função sintática de adjunto adnominal.

Quê! Você ainda não está pronto? Que vida é essa?


O quê! Quem sumiu?
Conjunção: relaciona entre si duas orações. Nesse
Substantivo: equivale a alguma coisa. caso, não exerce função sintática. Como conjunção, a pala-
Nesse caso, virá sempre antecedida de artigo ou outro vra que pode relacionar tanto orações coordenadas quan-
determinante, e receberá acento por ser monossílabo tô- to subordinadas, daí classificar-se como conjunção coorde-
nativa ou conjunção subordinativa. Quando funciona como
nico terminado em e. Como substantivo, designa também
conjunção coordenativa ou subordinativa, a palavra que
a 16ª letra de nosso alfabeto. Quando a palavra que for
recebe o nome da oração que introduz. Por exemplo:
substantivo, exercerá as funções sintáticas próprias dessa
Venha logo, que é tarde. (conjunção coordenativa ex-
classe de palavra (sujeito, objeto direto, objeto indireto,
plicativa)
predicativo, etc.) Falou tanto que ficou rouco. (conjunção subordinativa
consecutiva)
Ele tem certo quê misterioso. (substantivo na função
de núcleo do objeto direto) Quando inicia uma oração subordinada substantiva, a
palavra que recebe o nome de conjunção subordinativa
Preposição: liga dois verbos de uma locução verbal integrante.
em que o auxiliar é o verboter.
Equivale a de. Quando é preposição, a palavra que não Desejo que você venha logo.
exerce função sintática.

Tenho que sair agora. A palavra se 


Ele tem que dar o dinheiro hoje.
A palavra se, em português, pode ser:
Partícula expletiva ou de realce: pode ser retirada da
frase, sem prejuízo algum para o sentido. Conjunção: relaciona entre si duas orações. Nesse
Nesse caso, a palavra que  não exerce função sintáti- caso, não exerce função sintática. Como conjunção, a pala-
ca; como o próprio nome indica, é usada apenas para dar vra se pode ser:
realce. Como partícula expletiva, aparece também na ex- * conjunção subordinativa integrante: inicia uma ora-
pressão é que. ção subordinada substantiva.
Perguntei se ele estava feliz.
Quase que não consigo chegar a tempo. * conjunção subordinativa condicional: inicia uma ora-
Elas é que conseguiram chegar. ção adverbial condicional (equivale a caso).
Advérbio:  modifica um adjetivo ou um advérbio. Se todos tivessem estudado, as notas seriam boas.
Equivale a quão. Quando funciona como advérbio, a pala-
Partícula expletiva ou de realce: pode ser retirada da
vra que exerce a função sintática de adjunto adverbial; no
frase sem prejuízo algum para o sentido. Nesse caso, a pa-
caso, de intensidade.
lavra se não exerce função sintática. Como o próprio nome
indica, é usada apenas para dar realce.
Que lindas flores!
Passavam-se os dias e nada acontecia.
Que barato!
Parte integrante do verbo: faz parte integrante dos
Pronome: como pronome, a palavra que pode ser: verbos pronominais. Nesse caso, o se não exerce função
• pronome relativo: retoma um termo da oração an- sintática.
tecedente, projetando-o na oração consequente. Equivale Ele arrependeu-se do que fez.
a o qual e flexões.

100
LÍNGUA PORTUGUESA

Partícula apassivadora: ligada a verbo que pede ob- Quanto ao nível informal, por sua vez, representa o es-
jeto direto, caracteriza as orações que estão na voz passi- tilo considerado “de menor prestígio”, e isto tem gerado
va sintética. É também chamada de pronome apassivador. controvérsias entre os estudos da língua, uma vez que, para
Nesse caso, não exerce função sintática, seu papel é apenas a sociedade, aquela pessoa que fala ou escreve de maneira
apassivar o verbo. errônea é considerada “inculta”, tornando-se desta forma
um estigma.
Vendem-se casas. Compondo o quadro do padrão informal da lingua-
Aluga-se carro. gem, estão as chamadas variedades linguísticas, as quais
Compram-se joias. representam as variações de acordo com as condições so-
Índice de indeterminação do sujeito: vem ligando a ciais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada.
um verbo que não é transitivo direto, tornando o sujeito Dentre elas destacam-se:
indeterminado. Não exerce propriamente uma função sin-
tática, seu papel é o de indeterminar o sujeito. Lembre-se Variações históricas: Dado o dinamismo que a lín-
de que, nesse caso, o verbo deverá estar na terceira pessoa gua apresenta, a mesma sofre transformações ao longo do
do singular. tempo. Um exemplo bastante representativo é a questão
da ortografia, se levarmos em consideração a palavra far-
Trabalha-se de dia. mácia, uma vez que a mesma era grafada com “ph”, con-
Precisa-se de vendedores. trapondo-se à linguagem dos internautas, a qual se fun-
damenta pela supressão do vocábulos. Analisemos, pois, o
Pronome reflexivo: quando a palavra se é pronome fragmento exposto:
pessoal, ela deverá estar sempre na mesma pessoa do su-
jeito da oração de que faz parte. Por isso o pronome oblí-
quo se sempre será reflexivo (equivalendo a a si mesmo), Antigamente
podendo assumir as seguintes funções sintáticas:
“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e
eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos:
* objeto direto
completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas,
Ele cortou-se com o facão.
mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arras-
* objeto indireto
tando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio.”
Ele se atribui muito valor.
Carlos Drummond de Andrade
* sujeito de um infinitivo
Comparando-o à modernidade, percebemos um voca-
“Sofia deixou-se estar à janela.”
bulário antiquado.
* Texto adaptado por Por Marina Cabral Variações regionais: São os chamados dialetos, que
são as marcas determinantes referentes a diferentes re-
Fonte: http://brasilescola.uol.com.br/gramatica/classi- giões. Como exemplo, citamos a palavra mandioca que,
ficacao-das-palavras-que-e-se.htm em certos lugares, recebe outras nomenclaturas, tais como:
macaxeira e aipim. Figurando também esta modalidade es-
tão os sotaques, ligados às características orais da lingua-
gem.

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA. Variações sociais ou culturais: Estão diretamente li-


gadas aos grupos sociais de uma maneira geral e também
ao grau de instrução de uma determinada pessoa. Como
exemplo, citamos as gírias, os jargões e o linguajar caipira.
A linguagem é a característica que nos difere dos de- As gírias pertencem ao vocabulário específico de cer-
mais seres, permitindo-nos a oportunidade de expressar tos grupos, como os surfistas, cantores de rap, tatuadores,
sentimentos, revelar conhecimentos, expor nossa opinião entre outros. Os jargões estão relacionados ao profissiona-
frente aos assuntos relacionados ao nosso cotidiano e, so- lismo, caracterizando um linguajar técnico. Representando
bretudo, promovendo nossa inserção ao convívio social. a classe, podemos citar os médicos, advogados, profissio-
Dentre os fatores que a ela se relacionam destacam-se os nais da área de informática, dentre outros.
níveis da fala, que são basicamente dois: o nível de formali-
dade e o de informalidade. Vejamos um poema sobre o assunto:
O padrão formal está diretamente ligado à linguagem
escrita, restringindo-se às normas gramaticais de um modo Vício na fala
geral. Razão pela qual nunca escrevemos da mesma ma- Para dizerem milho dizem mio
neira que falamos. Este fator foi determinante para a que Para melhor dizem mió
a mesma pudesse exercer total soberania sobre as demais. Para pior pió

101
LÍNGUA PORTUGUESA

Para telha dizem teia Releva considerar, assim, o momento do discurso, que
Para telhado dizem teiado pode ser íntimo, neutro ou solene. O momento íntimo é o
E vão fazendo telhados. das liberdades da fala. No recesso do lar, na fala entre ami-
Oswald de Andrade gos, parentes, namorados, etc., portanto, são consideradas
perfeitamente normais construções do tipo:
Fonte: http://www.brasilescola.com/gramatica/varia- Eu não vi ela hoje.
coes-linguisticas.htm Ninguém deixou ele falar.
Deixe eu ver isso!
Eu te amo, sim, mas não abuse!
Níveis de linguagem Não assisti o filme nem vou assisti-lo.
Sou teu pai, por isso vou perdoá-lo.
A língua é um código de que se serve o homem para
elaborar mensagens, para se comunicar. Existem basica- Nesse momento, a informalidade prevalece sobre a
mente duas modalidades de língua, ou seja, duas línguas norma culta, deixando mais livres os interlocutores.
funcionais: O momento neutro é o do uso da língua-padrão, que
1) a língua funcional de modalidade culta, língua culta é a língua da Nação. Como forma de respeito, tomam-se
ou língua-padrão, que compreende a língua literária, tem por base aqui as normas estabelecidas na gramática, ou
por base a norma culta, forma linguística utilizada pelo seja, a norma culta. Assim, aquelas mesmas construções se
segmento mais culto e influente de uma sociedade. Cons- alteram:
titui, em suma, a língua utilizada pelos veículos de comu- Eu não a vi hoje.
nicação de massa (emissoras de rádio e televisão, jornais, Ninguém o deixou falar.
revistas, painéis, anúncios, etc.), cuja função é a de serem Deixe-me ver isso!
aliados da escola, prestando serviço à sociedade, colabo- Eu te amo, sim, mas não abuses!
rando na educação; Não assisti ao filme nem vou assistir a ele.
2) a língua funcional de modalidade popular; língua po-
Sou seu pai, por isso vou perdoar-lhe.
pular ou língua cotidiana, que apresenta gradações as mais
diversas, tem o seu limite na gíria e no calão.
Considera-se momento neutro o utilizado nos veículos
Norma culta:
de comunicação de massa (rádio, televisão, jornal, revista,
etc.). Daí o fato de não se admitirem deslizes ou transgres-
A norma culta, forma linguística que todo povo civiliza-
sões da norma culta na pena ou na boca de jornalistas,
do possui, é a que assegura a unidade da língua nacional.
quando no exercício do trabalho, que deve refletir serviço
E justamente em nome dessa unidade, tão importante do
à causa do ensino.
ponto de vista político--cultural, que é ensinada nas esco-
las e difundida nas gramáticas. Sendo mais espontânea e O momento solene, acessível a poucos, é o da arte
criativa, a língua popular afigura-se mais expressiva e dinâ- poética, caracterizado por construções de rara beleza.
mica. Temos, assim, à guisa de exemplificação: Vale lembrar, finalmente, que a língua é um costume.
Estou preocupado. (norma culta) Como tal, qualquer transgressão, ou chamado erro, deixa
Tô preocupado. (língua popular) de sê-lo no exato instante em que a maioria absoluta o co-
Tô grilado. (gíria, limite da língua popular) mete, passando, assim, a constituir fato linguístico registro
de linguagem definitivamente consagrado pelo uso, ainda
Não basta conhecer apenas uma modalidade de lín- que não tenha amparo gramatical. Exemplos:
gua; urge conhecer a língua popular, captando-lhe a es- Olha eu aqui! (Substituiu: Olha-me aqui!)
pontaneidade, expressividade e enorme criatividade, para Vamos nos reunir. (Substituiu: Vamo-nos reunir.)
viver; urge conhecer a língua culta para conviver. Não vamos nos dispersar. (Substituiu: Não nos vamos
Podemos, agora, definir gramática: é o estudo das nor- dispersar e Não vamos dispersar-nos.)
mas da língua culta. Tenho que sair daqui depressinha. (Substituiu: Tenho de
sair daqui bem depressa.)
O conceito de erro em língua: O soldado está a postos. (Substituiu: O soldado está no
seu posto.)
Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto nos
casos de ortografia. O que normalmente se comete são As formas impeço, despeço e desimpeço, dos verbos im-
transgressões da norma culta. De fato, aquele que, num pedir, despedir e desimpedir, respectivamente, são exemplos
momento íntimo do discurso, diz: “Ninguém deixou ele fa- também de transgressões ou “erros” que se tornaram fatos
lar”, não comete propriamente erro; na verdade, transgride linguísticos, já que só correm hoje porque a maioria viu
a norma culta. tais verbos como derivados de pedir, que tem início, na sua
Um repórter, ao cometer uma transgressão em sua fala, conjugação, com peço. Tanto bastou para se arcaizarem as
transgride tanto quanto um indivíduo que comparece a um formas então legítimas impido, despido e desimpido, que
banquete trajando xortes ou quanto um banhista, numa hoje nenhuma pessoa bem-escolarizada tem coragem de
praia, vestido de fraque e cartola. usar.

102
LÍNGUA PORTUGUESA

Em vista do exposto, será útil eliminar do vocabulário


escolar palavras como corrigir e correto, quando nos refe- O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO E AS
rimos a frases. “Corrija estas frases” é uma expressão que FUNÇÕES DA LINGUAGEM.
deve dar lugar a esta, por exemplo: “Converta estas frases
da língua popular para a língua culta”.
Uma frase correta não é aquela que se contrapõe a
uma frase “errada”; é, na verdade, uma frase elaborada con- Comunicação
forme as normas gramaticais; em suma, conforme a norma
culta. A comunicação constitui uma das ferramentas mais im-
portantes que os líderes têm à sua disposição para desem-
Língua escrita e língua falada. Nível de linguagem: penhar as suas funções de influência. A sua importância é
tal que alguns autores a consideram mesmo como o “san-
A língua escrita, estática, mais elaborada e menos eco- gue” que dá vida à organização. Esta importância deve-se
nômica, não dispõe dos recursos próprios da língua falada. essencialmente ao fato de apenas através de uma comuni-
A acentuação (relevo de sílaba ou sílabas), a entoação cação efetiva ser possível:
(melodia da frase), as pausas (intervalos significativos no
decorrer do discurso), além da possibilidade de gestos, - Estabelecer e dar a conhecer, com a participação de
olhares, piscadas, etc., fazem da língua falada a modalidade membros de todos os níveis hierárquicos da organização,
mais expressiva, mais criativa, mais espontânea e natural, os objetivos organizacionais por forma a que contemplem,
estando, por isso mesmo, mais sujeita a transformações e não apenas os interesses da organização, mas também os
a evoluções. interesses de todos os seus membros.
Nenhuma, porém, sobrepõe-se a outra em importân-
cia. Nas escolas, principalmente, costuma se ensinar a lín- - Definir e dar a conhecer, com a participação de mem-
gua falada com base na língua escrita, considerada supe- bros de todos os níveis hierárquicos da organização, a es-
rior. Decorrem daí as correções, as retificações, as emendas, trutura organizacional, quer ao nível do desenho organiza-
a que os professores sempre estão atentos. cional, quer ao nível da distribuição de autoridade, respon-
Ao professor cabe ensinar as duas modalidades, mos- sabilidade e tarefas.
trando as características e as vantagens de uma e outra,
sem deixar transparecer nenhum caráter de superioridade - Definir e dar a conhecer, com a participação de mem-
ou inferioridade, que em verdade inexiste. bros de todos os níveis hierárquicos da organização, de-
Isso não implica dizer que se deve admitir tudo na lín- cisões, planos, políticas, procedimentos e regras aceites e
gua falada. A nenhum povo interessa a multiplicação de respeitadas por todos os membros da organização.
línguas. A nenhuma nação convém o surgimento de diale-
tos, consequência natural do enorme distanciamento entre - Coordenar, dar apoio e controlar as atividades de to-
uma modalidade e outra. dos os membros da organização.
A língua escrita é, foi e sempre será mais bem-ela-
borada que a língua falada, porque é a modalidade que - Efetuar a integração dos diferentes departamentos e
mantém a unidade linguística de um povo, além de ser a permitir a ajuda e cooperação interdepartamental.
que faz o pensamento atravessar o espaço e o tempo. Ne-
nhuma reflexão, nenhuma análise mais detida será possível - Desempenhar eficazmente o papel de influência atra-
sem a língua escrita, cujas transformações, por isso mesmo, vés da compreensão e atuação em conformidade satisfa-
processam-se lentamente e em número consideravelmente ção das necessidades e sentimentos das pessoas por forma
menor, quando cotejada com a modalidade falada. a aumentar a sua motivação.
Importante é fazer o educando perceber que o nível da
linguagem, a norma linguística, deve variar de acordo com Elementos do Processo de Comunicação
a situação em que se desenvolve o discurso.
O ambiente sociocultural determina o nível da lingua- Para perceber desenvolver políticas de comunicação
gem a ser empregado. O vocabulário, a sintaxe, a pronúncia eficazes é necessário analisar antes cada um dos elemen-
e até a entoação variam segundo esse nível. Um padre não tos que fazem parte do processo de comunicação. Assim,
fala com uma criança como se estivesse em uma missa, as- fazem parte do processo de comunicação o emissor, um
sim como uma criança não fala como um adulto. Um enge- canal de transmissão, geralmente influenciado por ruídos,
nheiro não usará um mesmo discurso, ou um mesmo nível um receptor e ainda o feedback do receptor.
de fala, para colegas e para pedreiros, assim como nenhum
professor utiliza o mesmo nível de fala no recesso do lar e - Emissor (ou fonte da mensagem da comunicação):
na sala de aula. representa quem pensa, codifica e envia a mensagem, ou
Existem, portanto, vários níveis de linguagem e, entre seja, quem inicia o processo de comunicação. A codificação
esses níveis, destacam-se em importância o culto e o coti- da mensagem pode ser feita transformando o pensamento
diano, a que já fizemos referência. que se pretende transmitir em palavras, gestos ou símbolos
que sejam compreensíveis por quem recebe a mensagem.

103
LÍNGUA PORTUGUESA

- Canal de transmissão da mensagem: faz a ligação parte do emissor, nomeadamente com o fato de se tor-
entre o emissor e o receptor e representa o meio através narem impossíveis ou pelo menos difíceis as retificações e
do qual é transmitida a mensagem. Existe uma grande as novas explicações para melhor compreensão após a sua
variedade de canais de transmissão, cada um deles com transmissão. Assim, os principais cuidados a ter para que
vantagens e inconvenientes: destacam-se o ar (no caso do a mensagem seja perfeitamente recebida e compreendida
emissor e receptor estarem frente a frente), o telefone, os pelo(s) receptor(es) são o uso de caligrafia legível e unifor-
meios eletrônicos e informáticos, os memorandos, a rádio, me (se manuscrita), a apresentação cuidada, a pontuação
a televisão, entre outros. e ortografia corretas, a organização lógica das ideias, a ri-
queza vocabular e a correção frásica. O emissor deve ainda
- Receptor da mensagem: representa quem recebe e possuir um perfeito conhecimento dos temas e deve tentar
descodifica a mensagem. Aqui é necessário ter em atenção prever as reações/feedback à sua mensagem.
que a descodificação da mensagem resulta naquilo que Como principais vantagens da comunicação escrita,
efetivamente o emissor pretendia enviar (por exemplo, em podemos destacar o fato de ser duradoura e permitir um
diferentes culturas, um mesmo gesto pode ter significados registro e de permitir uma maior atenção à organização
diferentes). Podem existir apenas um ou numerosos recep- da mensagem sendo, por isso, adequada para a transmitir
tores para a mesma mensagem. políticas, procedimentos, normas e regras. Adequa-se tam-
bém a mensagens longas e que requeiram uma maior aten-
- Ruídos: representam obstruções mais ou menos in- ção e tempo por parte do receptor tais como relatórios e
tensas ao processo de comunicação e podem ocorrer em análises diversas. Como principais desvantagens destacam-
qualquer uma das suas fases. Denominam-se ruídos inter- se a já referida ausência do receptor o que impossibilita o
nos se ocorrem durante as fases de codificação ou desco- feedback imediato, não permite correções ou explicações
dificação e externos se ocorrerem no canal de transmissão. adicionais e obriga ao uso exclusivo da linguagem verbal.
Obviamente estes ruídos variam consoante o tipo de canal
de transmissão utilizado e consoante as características do Comunicação Oral
emissor e do(s) receptor(es), sendo, por isso, um dos crité-
rios utilizados na escolha do canal de transmissão quer do No caso da comunicação oral, a sua principal caracte-
tipo de codificação. rística é a presença do receptor (exclui-se, obviamente, a
comunicação oral que utilize a televisão, a rádio, ou as gra-
- Retro-informação (feedback): representa a resposta vações). Esta característica explica diversas das suas prin-
do(s) receptor(es) ao emissor da mensagem e pode ser cipais vantagens, nomeadamente o fato de permitir o fee-
utilizada como uma medida do resultado da comunicação. dback imediato, permitir a passagem imediata do receptor
Pode ou não ser transmitida pelo mesmo canal de trans- a emissor e vice-versa, permitir a utilização de comunica-
missão. ção não verbal como os gestos a mímica e a entoação, por
  exemplo, facilitar as retificações e explicações adicionais,
Embora os tipos de comunicação sejam inúmeros, po- permitir observar as reações do receptor, e ainda a grande
dem ser agrupados em comunicação verbal e comunica- rapidez de transmissão. Contudo, e para que estas vanta-
ção não verbal. Como comunicação não verbal podemos gens sejam aproveitadas é necessário o conhecimento dos
considerar os gestos, os sons, a mímica, a expressão facial, temas, a clareza, a presença e naturalidade, a voz agradável
as imagens, entre outros. É frequentemente utilizada em e a boa dicção, a linguagem adaptada, a segurança e auto-
locais onde o ruído ou a situação impede a comunicação domínio, e ainda a disponibilidade para ouvir.
oral ou escrita como por exemplo as comunicações entre Como principais desvantagens da comunicação oral
“dealers” nas bolsas de valores. É também muito utilizada destacam-se o fato de ser efêmera, não permitindo qual-
como suporte e apoio à comunicação oral. quer registro e, consequentemente, não se adequando a
Quanto à comunicação verbal, que inclui a comunica- mensagens longas e que exijam análise cuidada por parte
ção escrita e a comunicação oral, por ser a mais utilizada na do receptor.
sociedade em geral e nas organizações em particular, por
ser a única que permite a transmissão de ideias complexas Gêneros Escritos e Orais
e por ser um exclusivo da espécie humana, é aquela que
mais atenção tem merecido dos investigadores, caracteri- Gêneros textuais são tipos específicos de textos de
zando-a e estudando quando e como deve ser utilizada. qualquer natureza, literários ou não. Modalidades discur-
sivas constituem as estruturas e as funções sociais (narra-
Comunicação Escrita tivas, discursivas, argumentativas) utilizadas como formas
de organizar a linguagem. Dessa forma, podem ser consi-
A comunicação escrita teve o seu auge, e ainda hoje derados exemplos de gêneros textuais: anúncios, convites,
predomina, nas organizações burocráticas que seguem atas, avisos, programas de auditórios, bulas, cartas, comé-
os princípios da Teoria da Burocracia enunciados por Max dias, contos de fadas, crônicas, editoriais, ensaios, entrevis-
Weber. A principal característica é o fato do receptor estar tas, contratos, decretos, discursos políticos, histórias, ins-
ausente tornando-a, por isso, num monólogo permanente truções de uso, letras de música, leis, mensagens, notícias.
do emissor. Esta característica obriga a alguns cuidados por São textos que circulam no mundo, que têm uma função

104
LÍNGUA PORTUGUESA

específica, para um público específico e com características Exemplo de gêneros orais e escritos: Texto expositivo,
próprias. Aliás, essas características peculiares de um gêne- exposição oral, seminário, conferência, comunicação oral,
ro discursivo nos permitem abordar aspectos da textualida- palestra, entrevista de especialista, verbete, artigo enciclo-
de, tais como coerência e coesão textuais, impessoalidade, pédico, texto explicativo, tomada de notas, resumo de tex-
técnicas de argumentação e outros aspectos pertinentes tos expositivos e explicativos, resenha, relatório científico,
ao gênero em questão. relatório oral de experiência.
Gênero de texto então, refere-se às diferentes formas
de expressão textual. Nos estudos da Literatura, temos, por Domínios sociais de comunicação: Instruções e prescri-
exemplo, poesia, crônicas, contos, prosa, etc. ções.
Para a linguística, os gêneros textuais englobam estes Aspectos tipológicos: Descrever ações.
e todos os textos produzidos por usuários de uma língua. Capacidade de linguagem dominante: Regulação mú-
Assim, ao lado da crônica, do conto, vamos também iden- tua de comportamentos.
tificar a carta pessoal, a conversa telefônica, o email, e tan- Exemplo de gêneros orais e escritos: Instruções de mon-
tos outros exemplares de gêneros que circulam em nossa tagem, receita, regulamento, regras de jogo, instruções de
sociedade. uso, comandos diversos, textos prescritivos.
Quanto à forma ou estrutura das sequências linguís-
ticas encontradas em cada texto, podemos classificá-los
dentro dos tipos textuais a partir de suas estruturas e esti-
los composicionais. Funções da Linguagem
Domínios sociais de comunicação: Cultura Literária Fic-
cional. Quando se pergunta a alguém para que serve a lingua-
Aspectos tipológicos: Narrar. gem, a resposta mais comum é que ela serve para comuni-
Capacidade de linguagem dominante: Mimeses de ação car. Isso está correto. No entanto, comunicar não é apenas
através da criação da intriga no domínio do verossímil. transmitir informações. É também exprimir emoções, dar
Exemplo de gêneros orais e escritos: Conto de Fadas, fá- ordens, falar apenas para não haver silêncio. Para que serve
bula, lenda,narrativa de aventura, narrativa de ficção cien- a linguagem?
tífica, narrativa de enigma, narrativa mítica, sketch ou his- - A linguagem serve para informar: Função Referencial.
tória engraçada, biografia romanceada, romance, romance
histórico, novela fantástica, conto, crônica literária, adivi- “Estados Unidos invadem o Iraque”
nha, piada.
Domínios sociais de comunicação: Documentação e Essa frase, numa manchete de jornal, informa-nos so-
memorização das ações humana. bre um acontecimento do mundo.
Aspectos tipológicos: Relatar. Com a linguagem, armazenamos conhecimentos na
Capacidade de linguagem dominante: Representação memória, transmitimos esses conhecimentos a outras pes-
pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo. soas, ficamos sabendo de experiências bem-sucedidas, so-
Exemplo de gêneros orais e escritos: Relato de expe- mos prevenidos contra as tentativas mal sucedidas de fazer
riência vivida, relato de viagem, diário íntimo, testemunho, alguma coisa. Graças à linguagem, um ser humano recebe
anedota ou caso, autobiografia, curriculum vitae, notícia, de outro conhecimentos, aperfeiçoa-os e transmite-os.
reportagem, crônica social, crônica esportiva, histórico, re- Condillac, um pensador francês, diz: “Quereis aprender
lato histórico, ensaio ou perfil biográfico, biografia. ciências com facilidade? Começai a aprender vossa própria
língua!” Com efeito, a linguagem é a maneira como apren-
Domínios sociais de comunicação: Discussão de proble- demos desde as mais banais informações do dia a dia até
mas sociais controversos. as teorias científicas, as expressões artísticas e os sistemas
Aspectos tipológicos: Argumentar. filosóficos mais avançados.
Capacidade de linguagem dominante: Sustentação, re- A função informativa da linguagem tem importância
futação e negociação de tomadas de posição. central na vida das pessoas, consideradas individualmente
Exemplo de gêneros orais e escritos: Textos de opinião, ou como grupo social. Para cada indivíduo, ela permite co-
diálogo argumentativo, carta de leitor, carta de solicitação, nhecer o mundo; para o grupo social, possibilita o acúmulo
deliberação informal, debate regrado, assembleia, discurso de conhecimentos e a transferência de experiências. Por
de defesa (advocacia), discurso de acusação (advocacia), meio dessa função, a linguagem modela o intelecto.
resenha crítica, artigos de opinião ou assinados, editorial, É a função informativa que permite a realização do
ensaio. trabalho coletivo. Operar bem essa função da linguagem
possibilita que cada indivíduo continue sempre a aprender.
Domínios sociais de comunicação: Transmissão e cons- A função informativa costuma ser chamada também de
trução de saberes. função referencial, pois seu principal propósito é fazer com
Aspectos tipológicos: Expor. que as palavras revelem da maneira mais clara possível as
Capacidade de linguagem dominante: Apresentação coisas ou os eventos a que fazem referência.
textual de diferentes formas dos saberes.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- A linguagem serve para influenciar e ser influenciado: insinuarem intimidade com ele e, portanto, de exprimirem
Função Conativa. a importância que lhes seria atribuída pela proximidade
com o poder. Inúmeras vezes, contamos coisas que fizemos
“Vem pra Caixa você também.” para afirmarmo-nos perante o grupo, para mostrar nossa
valentia ou nossa erudição, nossa capacidade intelectual ou
Essa frase fazia parte de uma campanha destinada a nossa competência na conquista amorosa.
aumentar o número de correntistas da Caixa Econômica Por meio do tipo de linguagem que usamos, do tom
Federal. Para persuadir o público alvo da propaganda a de voz que empregamos, etc., transmitimos uma imagem
adotar esse comportamento, formulou-se um convite com nossa, não raro inconscientemente.
uma linguagem bastante coloquial, usando, por exemplo, a Emprega-se a expressão função emotiva para designar
forma vem, de segunda pessoa do imperativo, em lugar de a utilização da linguagem para a manifestação do enuncia-
venha, forma de terceira pessoa prescrita pela norma culta dor, isto é, daquele que fala.
quando se usa você.
Pela linguagem, as pessoas são induzidas a fazer de- - A linguagem serve para criar e manter laços sociais:
terminadas coisas, a crer em determinadas ideias, a sen- Função Fática.
tir determinadas emoções, a ter determinados estados de
alma (amor, desprezo, desdém, raiva, etc.). Por isso, pode- __Que calorão, hein?
se dizer que ela modela atitudes, convicções, sentimentos, __Também, tem chovido tão pouco.
emoções, paixões. Quem ouve desavisada e reiteradamente __Acho que este ano tem feito mais calor do que nos
a palavra negro pronunciada em tom desdenhoso aprende outros.
a ter sentimentos racistas; se a todo momento nos dizem, __Eu não me lembro de já ter sentido tanto calor.
num tom pejorativo, “Isso é coisa de mulher”, aprendemos
os preconceitos contra a mulher. Esse é um típico diálogo de pessoas que se encontram
Não se interfere no comportamento das pessoas ape- num elevador e devem manter uma conversa nos poucos
nas com a ordem, o pedido, a súplica. Há textos que nos instantes em que estão juntas. Falam para nada dizer, ape-
influenciam de maneira bastante sutil, com tentações e nas porque o silêncio poderia ser constrangedor ou pare-
seduções, como os anúncios publicitários que nos dizem cer hostil.
como seremos bem sucedidos, atraentes e charmosos se Quando estamos num grupo, numa festa, não pode-
usarmos determinadas marcas, se consumirmos certos mos manter-nos em silêncio, olhando uns para os outros.
produtos. Por outro lado, a provocação e a ameaça expres- Nessas ocasiões, a conversação é obrigatória. Por isso,
sas pela linguagem também servem para fazer fazer. quando não se tem assunto, fala-se do tempo, repetem-se
Com essa função, a linguagem modela tanto bons ci- histórias que todos conhecem, contam-se anedotas velhas.
dadãos, que colocam o respeito ao outro acima de tudo, A linguagem, nesse caso, não tem nenhuma função que
quanto espertalhões, que só pensam em levar vantagem, não seja manter os laços sociais. Quando encontramos al-
e indivíduos atemorizados, que se deixam conduzir sem guém e lhe perguntamos “Tudo bem?”, em geral não que-
questionar. remos, de fato, saber se nosso interlocutor está bem, se
Emprega-se a expressão função conativa da linguagem está doente, se está com problemas.
quando esta é usada para interferir no comportamento A fórmula é uma maneira de estabelecer um vínculo
das pessoas por meio de uma ordem, um pedido ou uma social.
sugestão. A palavra conativo é proveniente de um verbo Também os hinos têm a função de criar vínculos, seja
latino (conari) que significa “esforçar-se” (para obter algo). entre alunos de uma escola, entre torcedores de um time
de futebol ou entre os habitantes de um país. Não importa
- A linguagem serve para expressar a subjetividade: que as pessoas não entendam bem o significado da letra
Função Emotiva. do Hino Nacional, pois ele não tem função informativa: o
importante é que, ao cantá-lo, sentimo-nos participantes
“Eu fico possesso com isso!” da comunidade de brasileiros.
Na nomenclatura da linguística, usa-se a expressão
Nessa frase, quem fala está exprimindo sua indignação função fática para indicar a utilização da linguagem para
com alguma coisa que aconteceu. Com palavras, objetiva- estabelecer ou manter aberta a comunicação entre um fa-
mos e expressamos nossos sentimentos e nossas emoções. lante e seu interlocutor.
Exprimimos a revolta e a alegria, sussurramos palavras de
amor e explodimos de raiva, manifestamos desespero, - A linguagem serve para falar sobre a própria lingua-
desdém, desprezo, admiração, dor, tristeza. Muitas ve- gem: Função Metalinguística.
zes, falamos para exprimir poder ou para afirmarmo-nos
socialmente. Durante o governo do presidente Fernando Quando dizemos frases como “A palavra ‘cão’ é um
Henrique Cardoso, ouvíamos certos políticos dizerem “A substantivo”; “É errado dizer ‘a gente viemos’”; “Estou usan-
intenção do Fernando é levar o país à prosperidade” ou “O do o termo ‘direção’ em dois sentidos”; “Não é muito elegan-
Fernando tem mudado o país”. Essa maneira informal de se te usar palavrões”, não estamos falando de acontecimen-
referirem ao presidente era, na verdade, uma maneira de tos do mundo, mas estamos tecendo comentários sobre a

106
LÍNGUA PORTUGUESA

própria linguagem. É o que chama função metalinguística. Verifica-se que a linguagem pode ser usada utilitaria-
A atividade metalinguística é inseparável da fala. Falamos mente ou esteticamente. No primeiro caso, ela é utilizada
sobre o mundo exterior e o mundo interior e ao mesmo para informar, para influenciar, para manter os laços sociais,
tempo, fazemos comentários sobre a nossa fala e a dos etc. No segundo, para produzir um efeito prazeroso de des-
outros. Quando afirmamos como diz o outro, estamos co- coberta de sentidos. Em função estética, o mais importante
mentando o que declaramos: é um modo de esclarecer que é como se diz, pois o sentido também é criado pelo ritmo,
não temos o hábito de dizer uma coisa tão trivial como a pelo arranjo dos sons, pela disposição das palavras, etc.
que estamos enunciando; inversamente, podemos usar a Na estrofe abaixo, retirada do poema “A Cavalgada”, de
metalinguagem como recurso para valorizar nosso modo Raimundo Correia, a sucessão dos sons oclusivos /p/, /t/,
de dizer. É o que se dá quando dizemos, por exemplo, Paro-
/k/, /b/, /d/, /g/ sugere o patear dos cavalos:
diando o padre Vieira ou Para usar uma expressão clássica,
vou dizer que “peixes se pescam, homens é que se não
E o bosque estala, move-se, estremece...
podem pescar”.
Da cavalgada o estrépito que aumenta
- A linguagem serve para criar outros universos. Perde-se após no centro da montanha...

A linguagem não fala apenas daquilo que existe, fala Apud: Lêdo Ivo. Raimundo Correia: Poesia. 4ª ed.
também do que nunca existiu. Com ela, imaginamos novos Rio de Janeiro, Agir, p. 29. Coleção Nossos Clássi-
mundos, outras realidades. Essa é a grande função da arte: cos.
mostrar que outros modos de ser são possíveis, que outros
universos podem existir. O filme de Woody Allen “A rosa Observe-se que a maior concentração de sons oclu-
púrpura do Cairo” (1985) mostra isso de maneira bem ex- sivos ocorre no segundo verso, quando se afirma que o
pressiva. Nele, conta-se a história de uma mulher que, para barulho dos cavalos aumenta.
consolar-se do cotidiano sofrido e dos maus-tratos infligi- Quando se usam recursos da própria língua para acres-
dos pelo marido, refugia-se no cinema, assistindo inúmeras centar sentidos ao conteúdo transmitido por ela, diz-se
vezes a um filme de amor em que a vida é glamorosa, e o que estamos usando a linguagem em sua função poética.
galã é carinhoso e romântico. Um dia, ele sai da tela e am-
bos vão viver juntos uma série de aventuras. Nessa outra Para melhor compreensão das funções de linguagem,
realidade, os homens são gentis, a vida não é monótona, o torna-se necessário o estudo dos elementos da comuni-
amor nunca diminui e assim por diante.
cação.
Antigamente, tinha-se a ideia que o diálogo era de-
- A linguagem serve como fonte de prazer: Função
Poética. senvolvido de maneira “sistematizada” (alguém pergunta
- alguém espera ouvir a pergunta, daí responde, enquanto
Brincamos com as palavras. Os jogos com o sentido outro escuta em silêncio, etc).
e os sons são formas de tornar a linguagem um lugar de Exemplo:
prazer. Divertimo-nos com eles. Manipulamos as palavras
para delas extrairmos satisfação. Elementos da comunicação
Oswald de Andrade, em seu “Manifesto antropófago”,
diz “Tupi or not tupi”; trata-se de um jogo com a frase sha- - Emissor - emite, codifica a mensagem;
kespeariana “To be or not to be”. Conta-se que o poeta Emí- - Receptor - recebe, decodifica a mensagem;
lio de Menezes, quando soube que uma mulher muito gor- - Mensagem - conteúdo transmitido pelo emissor;
da se sentara no banco de um ônibus e este quebrara, fez - Código - conjunto de signos usado na transmissão e
o seguinte trocadilho: “É a primeira vez que vejo um banco recepção da mensagem;
quebrar por excesso de fundos”. - Referente - contexto relacionado a emissor e recep-
A palavra banco está usada em dois sentidos: “móvel tor;
comprido para sentar-se” e “casa bancária”. Também está - Canal - meio pelo qual circula a mensagem.
empregado em dois sentidos o termo fundos: “nádegas” e Porém, com os estudos recentes dos linguistas, essa
“capital”, “dinheiro”.
teoria sofreu uma modificação, pois, chegou-se a conclu-
são que quando se trata da parole, entende-se que é um
Observe-se o uso do verbo bater, em expressões diver-
veículo democrático (observe a função fática), assim, admi-
sas, com significados diferentes, nesta frase do deputado
Virgílio Guimarães: te-se um novo formato de locução, ou, interlocução (diá-
logo interativo):
“ACM bate boca porque está acostumado a bater: bateu
continência para os militares, bateu palmas para o Collor e - locutor - quem fala (e responde);
quer bater chapa em 2002. Mas o que falta é que lhe bata - locutário - quem ouve e responde;
uma dor de consciência e bata em retirada.” - interlocução - diálogo
(Folha de S. Paulo)

107
LÍNGUA PORTUGUESA

As respostas, dos “interlocutores” podem ser gestuais, EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES


faciais etc. por isso a mudança (aprimoração) na teoria. SOBRE: LÍNGUA PORTUGUESA
As atitudes e reações dos comunicantes são também
referentes e exercem influência sobre a comunicação 1-) (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC/
SP – ADMINISTRADOR - VUNESP/2013) Assinale a al-
Lembramo-nos: ternativa correta quanto à concordância, de acordo
com a norma-padrão da língua portuguesa.
- Emotiva (ou expressiva): a mensagem centra-se no (A) A má distribuição de riquezas e a desigualdade
“eu” do emissor, é carregada de subjetividade. Ligada a esta social está no centro dos debates atuais.
função está, por norma, a poesia lírica. (B) Políticos, economistas e teóricos diverge em re-
- Função apelativa (imperativa): com este tipo de men- lação aos efeitos da desigualdade social.
sagem, o emissor atua sobre o receptor, afim de que este (C) A diferença entre a renda dos mais ricos e a dos
assuma determinado comportamento; há frequente uso mais pobres é um fenômeno crescente.
do vocativo e do imperativo. Esta função da linguagem é (D) A má distribuição de riquezas tem sido muito
frequentemente usada por oradores e agentes de publici- criticado por alguns teóricos.
dade. (E) Os debates relacionado à distribuição de rique-
- Função metalinguística: função usada quando a lín- zas não são de exclusividade dos economistas.
gua explica a própria linguagem (exemplo: quando, na aná-
Realizei a correção nos itens:
lise de um texto, investigamos os seus aspectos morfossin-
(A) A má distribuição de riquezas e a desigualdade so-
táticos e/ou semânticos).
cial está = estão
- Função informativa (ou referencial): função usada
(B) Políticos, economistas e teóricos diverge = diver-
quando o emissor informa objetivamente o receptor de
gem
uma realidade, ou acontecimento.
(C) A diferença entre a renda dos mais ricos e a dos
- Função fática: pretende conseguir e manter a atenção
mais pobres é um fenômeno crescente.
dos interlocutores, muito usada em discursos políticos e
(D) A má distribuição de riquezas tem sido muito criti-
textos publicitários (centra-se no canal de comunicação). cado = criticada
- Função poética: embeleza, enriquecendo a mensa- (E) Os debates relacionado = relacionados
gem com figuras de estilo, palavras belas, expressivas, rit-
mos agradáveis, etc. RESPOSTA: “C”.
Também podemos pensar que as primeiras falas cons- 2-) (COREN/SP – ADVOGADO – VUNESP/2013) Se-
cientes da raça humana ocorreu quando os sons emitidos guindo a norma-padrão da língua portuguesa, a frase
evoluíram para o que podemos reconhecer como “interjei- – Um levantamento mostrou que os adolescentes ame-
ções”. As primeiras ferramentas da fala humana. ricanos consomem em média 357 calorias diárias dessa
fonte. – recebe o acréscimo correto das vírgulas em:
A função biológica e cerebral da linguagem é aquilo (A) Um levantamento mostrou, que os adolescentes
que mais profundamente distingue o homem dos outros americanos consomem em média 357 calorias, diárias
animais. dessa fonte.
(B) Um levantamento mostrou que, os adolescentes
Podemos considerar que o desenvolvimento desta fun- americanos consomem, em média 357 calorias diárias
ção cerebral ocorre em estreita ligação com a bipedia e a dessa fonte.
libertação da mão, que permitiram o aumento do volume (C) Um levantamento mostrou que os adolescentes
do cérebro, a par do desenvolvimento de órgãos fonadores americanos consomem, em média, 357 calorias diárias
e da mímica facial dessa fonte.
(D) Um levantamento, mostrou que os adolescentes
Devido a estas capacidades, para além da linguagem americanos, consomem em média 357 calorias diárias
falada e escrita, o homem, aprendendo pela observação de dessa fonte.
animais, desenvolveu a língua de sinais adaptada pelos sur- (E) Um levantamento mostrou que os adolescentes
dos em diferentes países, não só para melhorar a comuni- americanos, consomem em média 357 calorias diárias,
cação entre surdos, mas também para utilizar em situações dessa fonte.
especiais, como no teatro e entre navios ou pessoas e não
animais que se encontram fora do alcance do ouvido, mas Assinalei com um “X” onde há pontuação inadequada
que se podem observar entre si. ou faltante:
(A) Um levantamento mostrou, (X) que os adolescentes
americanos consomem (X) em média (X) 357 calorias, (X)
diárias dessa fonte.
(B) Um levantamento mostrou que, (X) os adolescentes
americanos consomem, em média (X) 357 calorias diárias
dessa fonte.

108
LÍNGUA PORTUGUESA

(C) Um levantamento mostrou que os adolescentes Distribuímos = regra do hiato


americanos consomem, em média, 357 calorias diárias des- (A) sócio = paroxítona terminada em ditongo
sa fonte. (B) sofrê-lo = oxítona (não se considera o pronome
(D) Um levantamento, (X) mostrou que os adolescentes oblíquo. Nunca!)
americanos, (X) consomem (X) em média (X) 357 calorias (C) lúcidos = proparoxítona
diárias dessa fonte. (D) constituí = regra do hiato (diferente de “constitui”
(E) Um levantamento mostrou que os adolescentes – oxítona: cons-ti-tui)
americanos, (X) consomem (X) em média (X) 357 calorias (E) órfãos = paroxítona terminada em “ão”
diárias, (X) dessa fonte.
RESPOSTA: “D”.
RESPOSTA: “C”.
5-) (TRT/PE – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2012)
3-) (TRT/RO E AC – ANALISTA JUDICIÁRIO – A concordância verbal está plenamente observada na
FCC/2011) Estão plenamente observadas as normas de frase:
concordância verbal na frase: (A) Provocam muitas polêmicas, entre crentes e
a) Destinam-se aos homens-placa um lugar visível materialistas, o posicionamento de alguns religiosos e
nas ruas e nas praças, ao passo que lhes é suprimida a parlamentares acerca da educação religiosa nas escolas
visibilidade social. públicas.
b) As duas tábuas em que se comprimem o famige- (B) Sempre deverão haver bons motivos, junto
rado homem-placa carregam ditos que soam irônicos, àqueles que são contra a obrigatoriedade do ensino
como “compro ouro”. religioso, para se reservar essa prática a setores da ini-
c) Não se compara aos vexames dos homens-placa ciativa privada.
a exposição pública a que se submetem os guardadores (C) Um dos argumentos trazidos pelo autor do tex-
de carros. to, contra os que votam a favor do ensino religioso na
d) Ao se revogarem o emprego de carros-placa na escola pública, consistem nos altos custos econômicos
propaganda imobiliária, poupou-se a todos uma de- que acarretarão tal medida.
monstração de mau gosto. (D) O número de templos em atividade na cidade
e) Não sensibilizavam aos possíveis interessados de São Paulo vêm gradativamente aumentando, em
em apartamentos de luxo a visão grotesca daqueles ve- proporção maior do que ocorrem com o número de es-
lhos carros-placa. colas públicas.
(E) Tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Fiz as correções entre parênteses: como a regulação natural do mercado sinalizam para
a) Destinam-se (destina-se) aos homens-placa um lu- as inconveniências que adviriam da adoção do ensino
gar visível nas ruas e nas praças, ao passo que lhes é supri- religioso nas escolas públicas.
mida a visibilidade social.
b) As duas tábuas em que se comprimem (comprime) (A) Provocam = provoca (o posicionamento)
o famigerado homem-placa carregam ditos que soam irô- (B) Sempre deverão haver bons motivos = deverá haver
nicos, como “compro ouro”. (C) Um dos argumentos trazidos pelo autor do texto,
c) Não se compara aos vexames dos homens-placa a contra os que votam a favor do ensino religioso na escola
exposição pública a que se submetem os guardadores de pública, consistem = consiste.
carros. (D) O número de templos em atividade na cidade de
d) Ao se revogarem (revogar) o emprego de carros- São Paulo vêm gradativamente aumentando, em propor-
-placa na propaganda imobiliária, poupou-se a todos uma ção maior do que ocorrem = ocorre
demonstração de mau gosto. (E) Tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação como
e) Não sensibilizavam (sensibilizava) aos possíveis in- a regulação natural do mercado sinalizam para as inconve-
teressados em apartamentos de luxo a visão grotesca da- niências que adviriam da adoção do ensino religioso nas
queles velhos carros-placa. escolas públicas.

RESPOSTA: “C”. RESPOSTA: “E”.

4-) (TRE/PA- ANALISTA JUDICIÁRIO – FGV/2011) 6-) (TRE/PA- ANALISTA JUDICIÁRIO – FGV/2011)
Assinale a palavra que tenha sido acentuada seguindo a Segundo o Manual de Redação da Presidência da Repú-
mesma regra que distribuídos. blica, NÃO se deve usar Vossa Excelência para
(A) sócio (A) embaixadores.
(B) sofrê-lo (B) conselheiros dos Tribunais de Contas estaduais.
(C) lúcidos (C) prefeitos municipais.
(D) constituí (D) presidentes das Câmaras de Vereadores.
(E) órfãos (E) vereadores.

109
LÍNGUA PORTUGUESA

(...) O uso do pronome de tratamento Vossa Senhoria (D) As instituições fundamentais de um regime demo-
(abreviado V. Sa.) para vereadores está correto, sim. Numa crático não pode (podem) estar subordinado (subordina-
Câmara de Vereadores só se usa Vossa Excelência para o seu das) às ordens indiscriminadas de um único poder central.
presidente, de acordo com o Manual de Redação da Presi- (E) O interesse de todos os cidadãos estão (está) vol-
dência da República (1991). tados (voltado) para o momento eleitoral, que expõem (ex-
(Fonte: http://www.linguabrasil.com.br/nao-tropece- põe) as diferentes opiniões existentes na sociedade.
-detail.php?id=393)
RESPOSTA: “A”.
RESPOSTA: “E”.
9-) (TRE/AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2010)
A frase que admite transposição para a voz passiva é:
7-) (TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010)
(A) O cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sa-
... valores e princípios que sejam percebidos pela so-
grado.
ciedade como tais. (B) O conceito de espetáculo unifica e explica uma
Transpondo para a voz ativa a frase acima, o verbo grande diversidade de fenômenos.
passará a ser, corretamente, (C) O espetáculo é ao mesmo tempo parte da so-
(A) perceba. ciedade, a própria sociedade e seu instrumento de uni-
(B) foi percebido. ficação.
(C) tenham percebido. (D) As imagens fluem desligadas de cada aspecto
(D) devam perceber. da vida (...).
(E) estava percebendo. (E) Por ser algo separado, ele é o foco do olhar ilu-
dido e da falsa consciência.
... valores e princípios que sejam percebidos pela so-
ciedade como tais = dois verbos na voz passiva, então te- (A) O cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagra-
remos um na ativa: que a sociedade perceba os valores e do.
princípios... (B) O conceito de espetáculo unifica e explica uma
grande diversidade de fenômenos.
RESPOSTA: “A” - Uma grande diversidade de fenômenos é unificada e
explicada pelo conceito...
(C) O espetáculo é ao mesmo tempo parte da socieda-
8-) (TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010) A
de, a própria sociedade e seu instrumento de unificação.
concordância verbal e nominal está inteiramente corre-
(D) As imagens fluem desligadas de cada aspecto da
ta na frase: vida (...).
(A) A sociedade deve reconhecer os princípios e (E) Por ser algo separado, ele é o foco do olhar iludido
valores que determinam as escolhas dos governantes, e da falsa consciência.
para conferir legitimidade a suas decisões.
(B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes RESPOSTA: “B”.
devem ser embasados na percepção dos valores e prin-
cípios que regem a prática política. 10-) (MPE/AM - AGENTE DE APOIO ADMINISTRA-
(C) Eleições livres e diretas é garantia de um verda- TIVO - FCC/2013) “Quando a gente entra nas serrarias,
deiro regime democrático, em que se respeita tanto as vê dezenas de caminhões parados”, revelou o analista
liberdades individuais quanto as coletivas. ambiental Geraldo Motta.
(D) As instituições fundamentais de um regime de- Substituindo-se Quando por Se, os verbos subli-
mocrático não pode estar subordinado às ordens indis- nhados devem sofrer as seguintes alterações:
criminadas de um único poder central. (A) entrar − vira
(E) O interesse de todos os cidadãos estão voltados (B) entrava − tinha visto
para o momento eleitoral, que expõem as diferentes (C) entrasse − veria
opiniões existentes na sociedade. (D) entraria − veria
(E) entrava − teria visto
Fiz os acertos entre parênteses:
(A) A sociedade deve reconhecer os princípios e valores
Se a gente entrasse (verbo no singular) na serraria, ve-
que determinam as escolhas dos governantes, para confe-
ria = entrasse / veria.
rir legitimidade a suas decisões.
(B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes de- RESPOSTA: “C”.
vem (deve) ser embasados (embasada) na percepção dos
valores e princípios que regem a prática política.
(C) Eleições livres e diretas é (são) garantia de um ver-
dadeiro regime democrático, em que se respeita (respei-
tam) tanto as liberdades individuais quanto as coletivas.

110
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Fundamentos da Educação;.................................................................................................................................................................................. 01
Concepções e tendências pedagógicas contemporâneas;...................................................................................................................... 10
Relações socioeconômicas e político-culturais da educação;................................................................................................................. 11
Processo ensino-aprendizagem: papel do educador, do educando, da sociedade....................................................................... 12
Avaliação. Educação inclusiva.............................................................................................................................................................................. 13
Educação e Direitos Humanos,............................................................................................................................................................................ 17
Democracia e Cidadania;....................................................................................................................................................................................... 21
A função social da escola; Inclusão educacional e respeito à diversidade;....................................................................................... 23
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica;....................................................................................................................... 24
Didática e organização do ensino;..................................................................................................................................................................... 61
Saberes Escolares, processos metodológicos e avaliação da aprendizagem;.................................................................................. 66
Novas tecnologias da informação e comunicação e sua contribuição com a prática pedagógica;........................................ 66
Currículo: planejamento, seleção e organização dos conteúdos.......................................................................................................... 76
Planejamento: a realidade escolar; o planejamento e o projeto pedagógico da escola;............................................................. 77
Lei nº 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional;........................................................................................................ 78
Lei nº 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente;......................................................................................................................... 95
Lei nº 10.639/03 – História e Cultura Afro Brasileira e Africana;..........................................................................................................146
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos - 2007..................................................................................................................147
Compreensão das tendências metodológicas para a ciência, levando-se em consideração o atual momento histó-
rico. ......................................................................................................................................................................................................183
Fundamentos técnicos e científicos da abordagem científica para a solução de problemas na área da educação. ......... 189
Análise das relações entre pesquisa em educação e as práticas educativas e enfoques da pesquisa em educação. ...........194
Características e delimitações do conhecimento científico. O conhecimento científico e a questão da verdade. ........197
Fatos, descrição, leis, teorias, classificação da ciência e modelos de estudo. ...............................................................................200
Processos indutivos e dedutivos na produção de conhecimento. .....................................................................................................202
Pesquisa básica e aplicada. ................................................................................................................................................................................204
Aspectos fundamentais da investigação científica: referencial teórico como ponto de partida; delimitação do pro-
blema e objetivos; papel das hipóteses; variáveis, indicadores de variáveis e qualidade dos indicadores; população
e amostras. ................................................................................................................................................................................................ 204
Base Nacional Comum Curricular. ..................................................................................................................................................................209
Lei no 13.415, de 16 de fevereiro de 2017...................................................................................................................................................222
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

3. A HISTORIA DA HUMANIDADE RELACIONADA A


FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO; HISTORIA DA EDUCAÇÃO

A historia da humanidade está interligada a historia da


educação. Ao falarmos da historia da educação escolar, en-
No atual estagio do desenvolvimento da educação tende-se que a escola surgiu a partir de uma necessidade
brasileira muito foi acrescentado nos quesitos legisla- social. No surgimento da escola a partir dessa necessida-
ção, fundamentação e procedimento da educação bá- de social, alguns conteúdos, alguns currículos em algumas
sica posto que o controle educacional seja feito pelas áreas dos conhecimentos foram sendo pensados para
instituições publicas instituídas. serem trabalhadas dentro desse universo escolar. Dessa
maneira podemos afirmar que a historia da educação não
E como é o proceder no que diz respeito à legislação esta desvinculada da historia do mundo, ou seja, da historia
e organização da educação básica? desses seres humanos que construíram varias tecnologias,
Como se desenvolve a educação na prática em rela- vários abtates e também vários valores. Esse estudo é im-
ção à lei e as diretrizes vigentes? prescindível para que possamos conhecer todo o processo
em que se desenvolveu a educação e a própria sociedade.
É com intuito de desvelar e, é buscando acrescentar Para o futuro educador é necessário que se tenha em-
um ponto a discussão sobre a educação básica, no que basamento, ferramentas a que recorrer para incrementar-
concerne a lei e ao proceder pela lei que o tema da fun- mos a prática pedagógica em sala de aula.
damentação legal deu azo a o trabalho ora apresentado. A história da educação subsidia, mostrando o que foi
Levando em consideração questionamentos pertinentes feito, o que está sendo produzido, e possibilita pensar no
a educação e considerando a evolução do sentido da que se fará no campo educacional a partir do momento
própria educação, escolheu-se como tema para o traba- presente.
lho: Princípios, fundamentos legais e procedimentos da Nesse contexto é importantíssimo identificar quais os
educação básica. princípios que fluência o pensar sobre o processo educa-
No desenvolvimento da educação muitos são os ele- cional. O ser humano sempre ira construir algo para suprir
mentos, atores e situações envolvidas. Desde a elabora- suas necessidades, no decorrer da historia da humanidade
ção de uma proposta nacional, passando pelos pensado- a qual sempre foi construída através de uma determinada
res de educação e finalizando no fazer do profissional na pessoa (mulher ou homem) em relação ao seu cotidiano.
sala de aula, onde se materializa toda a teoria.
Com o passar dos períodos ditos sócio históricos, 3.1 Educação Primitiva
muito se tem produzido em educação, um amalgama No período primitivo não havia escolas formais e tão
de teorias e ideias permeia este ramo do conhecimento. poucos métodos de educação. Nessa época o conheci-
Assim compreender e conhecer estas teorias são funda- mento era passado de geração para geração, mais não
mentais. Tanto para o cidadão enquanto membro de um através da escrita e sim através da oralidade e também pela
determinado grupo, ainda mais para profissionais ou fu- imitação.
turos profissionais. Professores no período primitivo eram os chefes de
O objetivo geral é analisar a teórica aplicação e fun- família e em seguidas os sacerdotes, ou seja, eram profes-
cionalidades nas instituições. E tendo como objetivos sores leigos, ao qual não existia formação alguma para o
específicos, comprovar se as ações propostas nos do- cargo.
cumentos legais se fazem cumprir, verificando o grau Para o filósofo Aristóteles, ele sustenta que para o ser
de conhecimento por parte dos professores e demais humano saber alguma coisa, ele teria que imitar, por essa
agente educacionais relativo à documentação estudada, razão sua característica é a imitação.
através de uma pesquisa de campo. No percurso do de- [...] “A educação tem raízes amargas, mas os frutos são
senvolvimento da educação brasileira, houve e ainda há doces”. (Aristóteles).
percalços e barreiras para que efetive de forma aceitável No período primitivo a educação dos jovens, torna-se
uma educação que contribua de maneira justa na cons- a ferramenta principal para a sobrevivência do grupo e ali-
trução de um novo modelo social, onde todos são iguais. cerce para pôr em ação a comunicação e prolongamento
E isto só se conseguirá quando todos os benefícios da cultura. Através da imitação, aprende-se ou ensina o
que estiverem assentados no papel fizerem parte do co- manejo com as armas, caças, colheita, a fala, cerimônia aos
tidiano escolar. mortos, às técnicas de mudança e conhecimento do meio
A lei e a Educação, no Brasil devem caminhar juntas ambiente.
objetivando sempre uma melhoria, tanto da qualidade
do ensino, como dos benefícios e ganho real dos edu- 3.2 Educação Oriental
cadores. A educação oriental foi trabalhada pela transição entre
Não há que se construir algo sólido e duradouro a sociedade primitiva, ou seja, iniciou-se a civilização.
apenas com leis instituídas, mas sim com trabalho e es- Nesse período surgiu à escrita com o domínio da lin-
tudo. guagem na literatura, surgiram também cidades, estado e
organização politica.

1
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Na região comumente chamada de Oriente, a educa- A educação grega tinha como objetivo principal guiar
ção se iniciava em casa com os entes mais velhos. O co- os educandos, os jovens de modo que lês pudessem assumir
nhecimento, as ideias e principalmente os conceitos que o controle da sociedade vigente. Ela não se ocupava apenas
eram a base destas sociedades eram transmitidos oralmen- de um conceito particular do homem, mas do desenvolvimen-
te. Na Índia, na China, ao se fazer uma comparação com to de todas as suas capacidades- físicas morais e intelectuais.
pensamento ocidental chega-se a conclusão que a educa- Em seus ideais, a educação grega dava ênfase à moderação e
ção oriental permite mais variedade e tolerância quando se a uma concepção equilibrada do homem e de seus poderes
trata de conclusões filosóficas. intelectuais. Valoriza a arte como corporificação concreta de
Dessa forma, os pensadores indianos não aceitam a alguma verdade, proporciona para o sujeito homem ou mu-
conclusão das ciências como verdade absoluta, pois nestas lher a refletir sobre suas atitudes e sua também constituição
nações o misticismo e a ciências se alternavam e isto era de ser humano no contexto onde se está inserido.
plangente na educação. As crianças eram ensinadas não só Na Grécia não havia uma teologia infalível. Não havia
apenas tópicos práticos, conhecimentos úteis para realizar um padrão de moral e de religião. Os gregos acreditavam
determinada tarefa ou determinada função (oleiro, carpin- na livre indagação, dessa forma, lançaram as sementes de
teiro, cervejeiro...), mas também, e mais importante à filo- nosso próprio desenvolvimento intelectual. Na educação
sofia e a concepção de mundo, vida, espírito e alma conce- grega eles defendiam o individual do ser humano como
bidos pelos mestres e pensadores, como Buda e Krishina. principio, e preparava a educação para a cidadania. Mais só
Na concepção educacional destes povos, havia um alto era considerados cidadãos (homens livres) quem fosse gre-
grau de severidade. Um aluno tinha que obedecer e seguir go de verdade (apenas 10%) no mais não era considerado
a seu mestre em todos os sentidos. Não eram incomuns os cidadão (com 90%), com isso sem direto de se posicionar.
castigos físicos a que se submetiam os alunos, nesta con- Aqui surgiram grandes filósofos como Sócrates, Platão
cepção educacional. Um número variado de escolas se de- e Aristóteles. Sócrates e Platão defendiam o saber o pen-
senvolveu nesta época, havia escolas particulares fundadas sar. Ou seja, a partir do entendimento que tenho em me
por gurus. Neste contexto também se desenvolveu um mo- relacionar com outra pessoa eu aprendo, eu questiono, eu
vivencio, nunca sabemos tudo, porque o conhecimento é
delo de ensino superior, que atraía aqueles que buscavam
algo que precisa aprimorar reconstruir ao longo do tempo
a elevação espiritual.
histórico. Já Aristóteles traz a razão como elemento funda-
mental para organização da sociedade.
3.3 Educação Grega
Na Grécia Clássica, a educação era permitida somente
3.4 Educação Romana
aos indivíduos das classes ditas superiores. Do nascimento
No que tange a educação romana, sua melhor repre-
aos cincos anos a criança era criada de maneira que pudes-
sentatividade temos na era de Quitiliano. Na época deste
se desenvolver um crescimento sadio, tanto físico, como
imperador a educação era dividida em três campos. Em
espiritual. Dava-se atenção especial ao desenvolvimento primeiro lugar vinha a Dialética (as leis do raciocínio), em
do corpo, para que a criança estivesse pronta para tolerar segundo, a Ética (as leis da justiça) e em terceiro a Física.
os embates e as adversidades de ordem física. Na época de Quitiliano já havia uma pequena mudança na
[..] “O período seguinte dura até a idade de cinco anos; concepção de educação:
durante esse período não se deve fazer qualquer exigência [...] “Quanto ao menino que já adquiriu a facilidade na
de estudo ou trabalho a criança, para que seu crescimento leitura e na escrita, o objetivo seguinte é a instrução minis-
não seja impedido; e deve haver movimentação para impe- trada pelos gramáticos”...
dir que os membros se tornem inativa. Isso só pode ser ga- Pois se trata não apenas da arte de escrever combinada
rantido, entre outras formas, através da diversão, mas não com a de falar, mas também a leitura correta precede a
deve ser vulgar, cansativa ou descomedida. Os Diretores ilustração e a essas estão ligado o exercícios do julgamen-
de Educação, como são chamados, devem ter cuidado aos to... “Também não basta haver lido apenas os poetas; todas
contos ou histórias que as crianças ouvem, pois as brinca- as classes de escritores têm de ser estudadas, não apenas
deiras das crianças destinam a preparar o caminho para as pelo assunto, mas pelas palavras que, frequentemente, re-
ocupações posteriores da vida e devem ser, em sua maio- cebem sua autoridade de escritores.” 
ria, imitações das ocupações que as crianças terão mais tar- O estudo da educação é imprescindível para que pos-
de, seriamente. Estão errados aqueles que (como Platão), samos conhecer todo o processo em que se desenvolveu
nas Leis, tentem impedir o choro e gritos altos das crianças, no atual estágio a educação e a própria sociedade brasilei-
pois eles contribuem para seu crescimento e, e de certa ra. (Mayer1976)
forma, exercitam-lhes os corpos. Forçar a voz tem efeito Aqui também a que se ressaltar que ao contrário dos
semelhante ao produzido pela retenção do fôlego em es- gregos os romanos eram condicionados mais para assumir
forços violentos. Entre outros deveres, o Diretor deve dar sua posição da máquina do estado, deixando em segundo
atenção à criação das crianças e cuidar para que elas sejam plano o trabalho com a preparação do corpo, como faziam,
deixadas o mínimo possível com escravos. Pois até os sete por exemplo, os espartanos.
anos de idade as crianças têm de viver em casa; e, por isso, A grande preocupação dos romanos era a formação
mesmo nessa tenra idade, tudo o que mesquinho e vil deve de guerreiros, forma para a prática. A intenção dos roma-
ser banido de suas vistas e de seus ouvidos.” (Mayer1976). nos era a conquista e para isso acontecer eles teriam que

2
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

se preparar e essa preparação começava muito sedo, a é pautada no momento de exclusão, na Grécia acesso era
criança (menino) ao completar os sete aos nove anos já somente aos gregos, em Roma só se pensava em formação
começavam a ser preparado para ser guerreiro, afastando- de guerreiros, no período medieval o acesso aos conheci-
-o da mãe. Para eles eram através das lutas que eles con- mentos intelectuais era exclusividade dos monges. A edu-
quistariam mais e mais coisas. Portando o período romano cação nesse período do renascimento era para a nobreza e
começa a trabalhar a questão de politica e de poder de também para pessoas com ligação a igreja.
estado. Surgindo então o curso de direito, justamente para
se pensar o direito e o dever do cidadão. 3.7 Educação Burguesa
O conteúdo deste tipo de situação educacional era
3.5 Educação Medieval baseado principalmente nas línguas e literaturas clássicas
No caminho da evolução da educação chegasse a Ida- dos gregos e romanos, veio a ser designada educação bur-
de Média, neste período a educação ficou exclusivamente guesa. O termo humanidades veio a significar as línguas e
nas mãos da igreja católica. Esta geria as escolas, organiza literatura dos antigos. Como consequência, a finalidade da
o que pode se chamar de currículo e ministrava tanto os educação passou a ser considerada em termos de língua e
conhecimentos científicos, mas principalmente os concei- literatura e não da vida.
tos morais retirados e interpretados da doutrina cristã. Outro aspecto muito importante da Educação Burgue-
Um grande acontecimento nessa época foi à criação da sa foi inclusão no ideal de educação, dos elementos co-
companhia de Jesus, com isso começou-se a se preocupar muns ao período clássico, excluídos da educação medieval,
a criar um currículo voltado a trazer informações a um de- com exceção da cavalaria. O primeiro destes elementos é
terminado grupo de pessoas e também outro na formação o físico, e a par dele a formação do caráter. Por este lado
de intelectuais. Sendo os monges (os intelectuais) os que a educação burguesa representou a fusão da educação da
teriam o acesso a esse conhecimento. cavalaria e da educação literária, e teve um resultado muito
A educação era uma serva da igreja, sua meta principal era superior ao das épocas anteriores e posteriores.
inspirar os alunos, de maneira que estes aprendessem a levar Outro elemento que foi trazido de volta à educação
uma vida moral e obedecessem ao que pregavam os líderes re- foi o elemento estético. Este elemento tornou-se, na nova
ligiosos. Era uma educação autoritária, tudo em nome de Deus. educação, uma grande inspiração. Esta acentuação de im-
O aprendiz ideal, o modelo de estudante ideal era o portância da expressão referia-se não só à perfeição da lín-
que se dedicava a uma vida de sacrifício e autonegação. gua como também a perfeição do caráter de conduta. Con-
Esse período medieval traz consigo a educação espiritual, solidou-se nesse período capitalismo industrial finalizando
seu objetivo seria também com o poder, em outras pala- o absolutismo. O absolutismo, o qual foi criado pelo pen-
vras era catequizar mais também dominar. sador Jean Jacques Rousseau, que propunha a liberdade e
Nesse período a educação tradicional fica no poder, a autonomia como o principio de vida, sendo a educação
por não aceitar outras culturas, outros conhecimentos, ela vista como alegria e prazer.
mesma é quem produz e de maneira alguma aceita a re- A educação burguesa provoca uma separação entre
construção de uma determinada historia. estado e igreja. Com isso possibilitando um desenvolvi-
mento dos sistemas públicos de educação.
3.6 Educação no Renascimento
Neste período da história humana, o novo método da 3.8 A Educação no Brasil
ciência buscava confirmação nos fatos da natureza, não Após o descobrimento da terra nua, a qual se deu o
havia mais ilusão ou alegoria, e sim a experiência. Enfatiza- nome de Terra de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz e final-
vam-se os aspectos particulares em lugar das generalida- mente Brasil, começou-se a pensar em como se efetivar
des. Encontra-se aqui o começo do método hipotético da a posse dos europeus sobre a terra e os povos aqui exis-
ciência moderna. tentes. Com sutileza, os representantes da companhia de
A ciência começou a avançar de forma nunca antes vis- Jesus, planejaram incutir e difundir a filosofia cristã entre os
ta (desde a Grécia e Oriente), pois a fé começou a ser dei- chamados gentios (nativos).
xada de lado, sendo que esta já não respondia ás questões Esses (índios) tinham a natureza como lar e como esco-
nascentes e pertinentes. la. Na mata, no campo, nos vales e na correnteza dos rios,
Nesta época se popularizou os novos ideais de educa- os mais novos eram instruídos pelos mais velhos. Ciências
ção. Ao aprendiz devia ser ensinada a virtude moral, bem naturais, cosmologia, história e principalmente a língua,
como Humanidades e as Ciências. As capacidades inatas eram transmitidos o tempo todo. Educar entre os índios
tinham de ser estimulada, neste aspecto, a natureza devia era uma constante.
ser o guia. A direção do aluno tinha de ser consciente e o Os portugueses, que cruzaram o oceano em busca de
seu conhecimento tinha de ser posto em prática. A educa- novos mercados, trouxeram com eles os Jesuítas. Esses reli-
ção no renascimento foi o período de repensar tudo que giosos eram os acólitos fiéis da igreja católica. Não respon-
não foi pensado, ficando conhecido como século das luzes diam se não a Roma. Ao se fixarem nas novas terras, pro-
por propor uma nova educação. vavelmente compreenderam que a tarefa não era de todo
A educação no renascimento não foi diferente das de fácil. Haviam de converter e “educar” um povo que vivia nu
mais, em relação a quem pertencia o direito de adquirir e falava uma língua totalmente desconhecida. O primeiro
conhecimento. No período primitivo ela é fragmentada, ela ato dos representantes da companhia de Jesus foi funda-

3
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

rem uma escola elementar. Neste estabelecimento eram Nesta época educadores como Paulo Freire pensavam
educados juntamente os índios e os filhos dos colonos e colaboravam métodos bastante discutidos de educação.
que aqui nasceram. A estes aprendizes, eram transmiti- Com um golpe politico-militar em 1964 é instituído no Bra-
das as noções básicas da língua portuguesa, história da sil, o famigerado regime militar. O governo controlava a
civilização europeia, história cristã e a própria catequiza- todos e a tudo.
ção. Havia também o intuito de aumentar o contingente Nesta fase da nossa história foi instituída a Lei 5692/71
sacerdotal da igreja romana. Há que salientar que neste (LDBEN) que tinha como característica principal a educação
período os educadores eram exclusivamente homens. profissionalizante. Esta lei era fundamentada em uma con-
As mulheres eram destinadas ao serviço doméstico. cepção tecnicista, ou seja, era necessária forma, técnicos,
E estas só podiam ser instruídas nos conventos. Cami- para as diversas áreas da economia. Com o fim de o gover-
nhado um pouco mais no tempo à época da Marques do no militar os fatos políticos e sociais se sucedem de manei-
Pombal, figura de grande destaque no que diz respeito à ra abrupta. Das lutas pelas eleições diretas a promulgação
politica educacional em nosso país. da nova constituição foi um salto. “Há um novo impulso,
Com o Marques o ensino passa a ser responsabili- uma nova esperança surge, no povo e nas instituições”. Na
dade da coroa Portuguesa sua ideia de educação con- educação o estado passa a ter mais responsabilidade, um
sistia, não apenas catequizar, mas forma os grupos de poder (seja executivo, legislativo ou judiciário) tem o poder
indivíduos que não deixasse o poder fugirem das mãos de averiguar se o que se é destinado à educação está sen-
da elite. do empregado de forma correta.
Com a vinda e permanência da família imperial no No momento a educação está se reformulando. A so-
Brasil, inicia o conhecimento período imperial, a educa- ciedade nos seus mais diferentes âmbitos verifica, examina-
ção, assim com outros setores da sociedade se viu sob -se o processo educativo (desde a liberação de verbas até
um novo conceito, uma nova maneira de conceber o pro- a prática pedagógica) está sendo feita de forma aceitável.
cesso educacional. Com o “mover” LDB (leis de diretrizes e bases), o pro-
Nesta fase destaca-se o art. 179 da primeira consti- cesso educacional é parte de algo maior e menos propen-
tuição brasileira, que pregava a “instrução primária e gra- so a ideologias ocas e fragmentadas. Cada Estado, cada
tuita para todos os cidadãos.”. município e principalmente cada escola trabalha visando
Outro ato do governo de D. Pedro I foi o decreto que atingir o meio sociocultural de que faz parte. Relevantes,
instituía quatro graus de instrução: Pedagogias (escolas também, são as propostas de educação especial, a chama-
primárias), Liceus, Ginásios e academias. da “Educação inclusiva” e a tão nova, mas já aceita e incor-
Mas, no que diz respeito à prática educacional, ela porada Educação à distância (EAD). Neste inicio do século
se diferia pouco da época Jesuítica e Pombalina. Assim a cabe fazer uma reflexão. Como foi o processo educacional
educação continuava a ser um bem para poucos. Mudan- brasileiro desde a descoberta aos nossos dias. O que ficou
ças lentas e quase imperceptíveis começam a acontecer de útil? O que foi descartado neste período de 509 da so-
com a chegada da República (1889 em diante). ciedade brasileira?
Aqui se destaca a Reforma Benjamim Constant, que O que se pode afirmar é que a educação apresenta hoje
tinha como princípios, a liberdade à laicidade do ensino múltiplas facetas, e múltiplas maneiras de ser feita. Educar
e a gratuidade da escola primária. No inicio da década de hoje é preparar o individuo para que tenha ferramentas (in-
30, do século xx, uma revolução sócio-política colocara o telectuais, morais e espirituais) para se colocar no mundo,
Brasil em cheque e em choque. Era o momento de os pais e neste construir a sua história e participar da construção,
penetrarem de vez no modo capitalista de se produzir e sócio – histórico - política de seu grupo. Ensinar a ler é o
de se viver. Nesta fase destaca-se o ministro Francisco primordial assim como aprender a aprender, aprender a ser
Campos, homem que foi o primeiro a assumir o nascente e aprender a conviver.
ministério da educação e tomando posse iniciou-se uma
reforma em que até hoje se faz sentir na maneira de ver a 4. O SUPORTE LEGAL DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
educação brasileira. Dois anos após sua posse um grupo A partir do momento que o homem condicionou-se a
de educadores ladeado por Fernando de Azevedo lançou viver em sociedade ele percebeu que era necessário que se
o conhecido manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. estabelecesse regras, conceito a serem seguidos, ideais a
Neste documento propunham-se soluções para os serem levados para todos os cantos do mundo social exis-
problemas que atravancaram o fazer educacional brasi- tente. Mas o que usar para que estes conceitos e ideais
leiro. Com termino da segunda guerra, inicia-se um pro- fossem propalados e dispersos ao maior número possível
cesso político-social denominado populismo, com ele de indivíduos e grupos sociais?
a esperança no progresso e no desenvolvimento se faz Que ferramenta escolher para que efetivamente o suces-
presente em todas as camadas e em todos os setores. Na so desta empreitada fosse ao menos em parte alcançado?
educação, havia uma forte tendência à industrialização. A resposta é; a educação. Com a educação a propaga-
A educação entra neste contexto como formadora de ção de ideias que contribuíssem para a formação ética e
mão-de-obra para a indústria nascente. Em 1961 foi cria- política do sujeito educando. No decorrer do desenvolvi-
da a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- mento sociohistórico do homem; como ser convivente com
cional, a Lei nº 4024/61. Está foi a primeira a arregimentar o outro; percebeu-se que a educação era forte fio condutor
todos os níveis de ensino. de filosofias e ideologias.

4
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Institucionalização da educação, o nascer da escola Art. 206. O ensino será ministrado com base nos se-
como a conhecemos, veio ao encontro dos conceitos guintes princípios:
ético-políticos dos dirigentes que conduziam a socie- I - igualdade de condições para o acesso e permanên-
dade em que estão inseridos. cia na escola;
A educação condiciona e tem como meta efetivar o II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
que se produziu antes daquele momento em que está o pensamento, a arte e o saber;
sendo trabalhada. Os ideais éticos de determinada III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas,
época e circunstância são colocados pela escola, (seus e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
condutores, idealizadores e regentes), com predefini- IV - gratuidade do ensino público em estabelecimen-
ções, com algo pronto. O “ethos” escolar está imiscuí- tos oficiais;
do com a “ethos” social vigente. V - valorização dos profissionais da educação escolar,
Para que a sociedade não se desmorone, e que garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingres-
seus alicerces não se desestabilizem o homem cons- so exclusivamente por concurso público de provas e títulos,
tituiu a escola para que está afirmasse e reafirmasse o aos das redes públicas.
pensamento vigente. VI - gestão democrática do ensino público, na forma
Os documentos principais ora em exame para este da lei;
trabalho são a lei de Diretrizes da Educação Básica e os VII - garantia de padrão de qualidade.
Parâmetros Curriculares Nacionais. O que se segue é VIII - piso salarial profissional nacional para os profis-
um exame resistivo dos mesmos. sionais da educação escolar pública, nos termos de lei fe-
A educação básica se compõe da educação infantil, deral. .
ensino fundamental e ensino médio. O que a lei de di- Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de
retrizes da educação prega no seu corpo, significa que trabalhadores considerados profissionais da educação bá-
o cidadão tem o direito de concluir seu processo edu- sica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou ade-
cacional básico e consequentemente prosseguir para quação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos
estudos em nível superior. Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. .
[..] “A história possibilidade significa nossa recu- Art. 207. As universidades gozam de autonomia didá-
sa em aceitar os dogmas, bem como, nossa recusa em tico-científica, administrativa e de gestão financeira e pa-
aceitar a domesticação do tempo. Os homens e as mu- trimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade
lheres fazem a história que é possivel, não a historia entre ensino, pesquisa e extensão.
que gostariam de fazer ou a história que, as vezes di- § 1º É facultado às universidades admitir professores,
zem que deveria ser feita.” (Paulo Freire). técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei.  (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 11, de 1996)
4.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERATIVA DO BRASIL § 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de
A constituição Federativa do Brasil passou a vigorar pesquisa científica e tecnológica. .
em 05 outubro 1988. E o que venha a ser essa consti- Art. 208. O dever do Estado com a educação será efeti-
tuição? vado mediante a garantia de:
“Constituição é a suprema Lei de um país. Fixa-lhe I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro)
normas de governo, discrimina os direitos e os deve- aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua
res, distribui as competências, limita a ação da autori- oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso
dade e assegura ao povo o ambiente de ordem, indis- na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucio-
pensável ao processo e à paz na sociedade.” Também nal nº 59, de 2009).
conhecida como “carta Magna”, “Lei maior”. II - progressiva universalização do ensino médio gra-
Não dá para falar em formação de professores e tuito.
em formação de pedagogos sem falar nos documentos III - atendimento educacional especializado aos por-
da educação, sendo eles: Constituição brasileira e na tadores de deficiência, preferencialmente na rede regular
LDB (lei de diretrizes e bases da educação nacional). de ensino;
A constituição como a lei maior e a LDB é quem regu- IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crian-
lamenta os grandes princípios da nossa constituição ças até 5 (cinco) anos de idade.
brasileira. V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes-
A luta da constituição é todos na escola, mais que quisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada
ao chegar à escola, esses alunos encontrem condições um;
físicas, material e também profissionais competentes. VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
 Artigos da Constituição educacional Brasileira: condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do educação básica, por meio de programas suplementares
Estado e da família, será promovida e incentivada com de material didático escolar, transporte, alimentação e as-
a colaboração da sociedade, visando ao pleno desen- sistência à saúde. .
volvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da § 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direi-
cidadania e sua qualificação para o trabalho. to público subjetivo.

5
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 2º - O não - oferecimento do ensino obrigatório § 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará


pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa res- prioridade ao atendimento das necessidades do ensino
ponsabilidade da autoridade competente. obrigatório, no que se refere à universalização, garantia de
§ 3º - Compete ao Poder Público recensear os edu- padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano na-
candos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e cional de educação. .
zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à § 4º - Os programas suplementares de alimentação e
escola. assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão financia-
Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendi- dos com recursos provenientes de contribuições sociais e
das as seguintes condições: outros recursos orçamentários.
I - cumprimento das normas gerais da educação na- § 5º A educação básica pública terá como fonte adicio-
cional; nal de financiamento a contribuição social do salário-edu-
II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder cação, recolhida pelas empresas na forma da lei. (Redação
Público. dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o en- § 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da
sino fundamental, de maneira a assegurar formação bá- contribuição social do salário-educação serão distribuídas
sica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, proporcionalmente ao número de alunos matriculados na
nacionais e regionais. educação básica nas respectivas redes públicas de ensino. .
§ 1º - O ensino religioso, de matrícula facultativa, Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às es-
constituirá disciplina dos horários normais das escolas colas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitá-
públicas de ensino fundamental. rias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
§ 2º - O ensino fundamental regular será ministrado I - comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus
em língua portuguesa, assegurada às comunidades indí- excedentes financeiros em educação;
genas também a utilização de suas línguas maternas e II - assegure a destinação de seu patrimônio a outra
processos próprios de aprendizagem. escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Po-
der Público, no caso de encerramento de suas atividades.
Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
§ 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão ser
Municípios organizarão em regime de colaboração seus
destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamental
sistemas de ensino.
e médio, na forma da lei, para os que demonstrarem insu-
§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e
ficiência de recursos, quando houver falta de vagas e cur-
o dos Territórios, financiará as instituições de ensino pú-
sos regulares da rede pública na localidade da residência
blicas federais e exercerá, em matéria educacional, função
do educando, ficando o Poder Público obrigado a investir
redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização
prioritariamente na expansão de sua rede na localidade.
de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qua-
§ 2º - As atividades universitárias de pesquisa e exten-
lidade do ensino mediante assistência técnica e financeira são poderão receber apoio financeiro do Poder Público.
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de edu-
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino cação, de duração decenal, com o objetivo de articular o
fundamental e na educação infantil. . sistema nacional de educação em regime de colaboração
§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão priorita- e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de imple-
riamente no ensino fundamental e médio. . mentação para assegurar a manutenção e desenvolvimen-
§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a to do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios defi- por meio de ações integradas dos poderes públicos das
nirão formas de colaboração, de modo a assegurar a uni- diferentes esferas federativas que conduzam a.
versalização do ensino obrigatório. . I - erradicação do analfabetismo;
§ 5º A educação básica pública atenderá prioritaria- II - universalização do atendimento escolar;
mente ao ensino regular. . III - melhoria da qualidade do ensino;
Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos IV - formação para o trabalho;
de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municí- V - promoção humanística, científica e tecnológica do
pios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resul- País.
tante de impostos, compreendida a proveniente de trans- VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos
ferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. públicos em educação como proporção do produto inter-
§ 1º - A parcela da arrecadação de impostos trans- no bruto.
ferida pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, 4.2 A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO
não é considerada, para efeito do cálculo previsto neste A lei de diretrizes e bases é quem organiza o processo,
artigo, receita do governo que a transferir. obtendo mudanças significativas na LDB 9394/96 aos níveis
§ 2º - Para efeito do cumprimento do disposto no de ensino. Hoje a educação é pautada em educação infan-
«caput» deste artigo, serão considerados os sistemas de til, ensino fundamental e ensino médio. Mudanças também
ensino federal, estadual e municipal e os recursos aplica- na composição dos níveis escolares; a educação básica, que
dos na forma do art. 213. se compõe da educação infantil e o ensino superior. Outra

6
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

mudança foi o aumento dos dias letivos de 180 para 200 se não resolver passa para união. Isso é o chamado de re-
dias letivos de aula. E também se tornou obrigatório o pro- gime de colaboração, para que o direito a educação seja
cesso de recuperação. garantido. A etapa chamada de educação básica, e este di-
A idade de matricula nos anos iniciais do ensino fun- reito são asseguradas pela constituição nacional. O trecho
damental passou para seis anos, onde passaram o ensino examinado, visto na pratica, significa que os conhecimen-
fundamental de oito para nove anos. Isso ocorreu através tos que o educando traz conseguem do meio em que vive
de um decreto presidencial em 2005. das situações sociais que participa devem ser valorizados
Outra questão foi à exigência de formação superior e colocados lado a lado com os conhecimentos escolares.
para os professores da educação básica (sendo elas edu- As diretrizes não são regras a seguir, são sugestões
cação infantil, educação fundamental aos anos iniciais). para desenvolver o trabalho. Já os programas, trazem o es-
Tratando-se também como importante a educação física e tigma de serem prontos onde nada pode ser modificado.
artes para o currículo da educação básica. Ao descentralizar e dar maleabilidade ao fazer educacio-
[...]”Aos que nada vêem de bom na LDB, gostaríamos nal, distribui-se entre os atores envolvidos no processo as
de dizer que o esforço do senador Darcy Ribeiro não foi responsabilidades e as consequências resultantes do que
em vão, de um congresso vetusto como o nosso, só pode foi feito neste contexto, não há um só proposito e não há
sair uma lei antiquada. Mesmo assim, a Lei contém avan- uma só proposta, há uma variância de conceitos e possi-
ços ponderáveis, que permitem, sobretudo em seu senso bilidades. Por exemplos os PCNs (parâmetros curriculares
pela flexibilidade legal, rumar para inovações importantes” nacionais), os DCNEF e também os RCN (referencial curri-
(DEMO, 1997, p.95). cular nacional) onde são documentos que parametrizam as
A legislação traz um alto teor de autonomia, proporcio- decisões, eles vão articular em função normativa.
nando avanços, mais também precisando de uma revisão Na republica federativa do Brasil, na união dos estados
para ver o que está sendo contemplados e concretizados brasileiros, temos a responsabilidade do estado, e da união
nos termos da lei. A legislação em educação ela caracteriza de manter técnicas financeiras e estabelecer níveis nacio-
o que é o nosso espaço, espaço esse o da escola constituí- nais às diretrizes.
do e instituído, por isso ser professor não basta somente A educação possui seu sistema de avaliação, possui
dar aula, fazer o cotidiano da sala de aula, mais sim enten- parâmetros que organiza e também controla sendo elas a
der todo o sistema no qual trabalhamos. Conhecendo os Provinha Brasil (é uma avaliação diagnóstica aplicada aos
atos legais que organizam e determinam as responsabili- alunos matriculados no segundo ano do ensino fundamen-
dades dentro da escola. tal). Enem (provas do Exame Nacional do Ensino Médio) e
O principio da flexibilidade tem como proposta, que os o Enade (“Exame Nacional de Desempenho de Estudantes
dirigentes escolares, em qualquer nível, devem fazer adap- avalia o rendimento dos alunos dos cursos de graduação,
tações no proceder da escola para que esta possa receber ingressantes e concluintes, em relação aos conteúdos pro-
e trabalhar com todos os educandos que fazem parte do gramáticos dos cursos em que estão matriculados. O exa-
meio onde esta se insere. No campo, nas aldeias indíge- me é obrigatório para os alunos selecionados e condição
nas, em época de colheita, no período chuvoso tudo de ser indispensável para a emissão do histórico escolar. A pri-
colocado no calendário escolar. Também deve se levar em meira aplicação ocorreu em 2004 e a periodicidade máxima
conta o período de trabalho dos educandos, tornando os com que cada área do conhecimento é avaliada é trienal”).
horários de aula menores (como acontece com a EJA) ten- Além disso, cada escola possui o seu processo de avaliação.
do em vista a dura rotina do educando que exerce algum [..] “Temos ai uma novidade pertinente, que deixa o
tipo de trabalho. O Brasil por se extenso possui uma diver- linguajar aéreo de uma função que esta apenas no papel,
sidade cultural muito grande, por isso a importância da fle- para assumir o tom de principio fundamental da organi-
xibilidade, para que aja democracia. Mais isso não significa zação dos sistemas [...] não quer dizer que se cumpra, até
fazer o que quiser, e sim atender as peculiaridades onde as porque as resistências são fantásticas”. (DEMO, 1997).
decisões serão tomadas de uma forma rápida. Entre as DCNEF´, os PCNs e as propostas das unidades
Ao elaborar Diretrizes os gestores da educação abrem de ensino há uma consonância de ideias, onde não se ex-
as mais diversas possibilidades para que todos possam fa- clui o que prega os documentos oficiais, mas faz-se uma
zer uma educação que preencha as necessidades do gru- adaptação ao contexto e ao momento em que se executa
po onde ela se desenvolve. Com a LDB os professores e o fazer pedagógico. O MEC vai instituir formas de regu-
instituições de ensino passaram a ser avaliados, onde os lação para que o currículo não seja alvo de deformações
problemas detectados não culpem apenas uma dimensão, e inconstitucionalidades. Este setor do governo verificara
mais todos sejam avaliados e os procedimentos cabíveis constantemente o desenvolvimento do trabalho desenvol-
sejam tomados, para que os problemas possam desapa- vido através de pesquisas e consultas. São as seguintes as
recer. Diretrizes Curriculares Nacionais:
O ponto forte da lei é a qualidade de ensino. Com isso As escolas deverão estabelecer como norteadores de
ficam em evidencia alguns pontos da lei. Art.8º “A União, os suas ações pedagógicas:
Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em • Os princípios éticos da autonomia, da responsa-
regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino”. bilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum.
Quer dizer quando o município não consegue resolver suas • Os princípios dos direitos e deveres da cidadania, do
reivindicações ela deve se submeter ao estado, e o estado exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática;

7
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

• Os princípios estéticos da sensibilidade, da cria- 4. O acesso a todos aos conhecimentos da Base Nacio-
tividade da diversidade de manifestações artísticas e cul- nal comum é obrigatório.
turais. 5. É dever de a escola estabelecer uma relação profí-
Ao definir suas propositas pedagógicas, as escolas de- cua entre o conhecimento estabelecido curricular mente a
verão explicitar o reconhecimento da identidade pessoal comunidade local e o sujeito com sua maneira de ver e ser
de alunos, professores e outros profissionais e a identida- no mundo.
de de cada unidade escolar e de seus respectivos sistemas 6. A RCN (Referencial Curricular Nacional) deve ser en-
de ensino. riquecida com conhecimentos locais para uma efetiva assi-
As escolas deverão reconhecer que as aprendizagens milação dos sujeitos e da comunidade.
são constituídas pela interação dos processos de conhe- 7. Há que se rever sempre o trabalho escolar. Necessi-
cimento com as de linguagens e os afetivos, em conse- tando assim de um processo permanente de avaliação dos
quência das relações entre as distintas identidades dos caminhos seguidos.
vários participantes do contexto escolarizado; as diversas Nisto tudo temos que o fazer da educação ate o que
experiências de vida dos alunos, professores e demais par- prega os documentos oficiais pressupõe um trabalho de
ticipantes do ambiente escolar, expressas através de múl- compreensão dos conceitos legais. Assim se extrai o que é
tiplas formas de dialogo, devem contribuir para a consti- necessário para a pratica pedagógica na história corrente
tuição de identidade afirmativas, persistentes e capazes de da formação docente, onde várias ciências têm, a sua con-
protagonizar ações autônomas e solidarias em relação a tribuição. De forma direta, como por exemplo, a história da
conhecimentos e valores indispensáveis a vida cidadã. Em educação, a sociologia e a própria história social em si, ou
todas as escolas publicas devera ser garantida a igualdade de forma indireta como a matemática, a estatística e a eco-
de acesso para alunos a uma base nacional comum, de nomia, vem, à medida que estas mesmas se desenvolvem
maneira a legitimar a unidade e a qualidade da ação pe- e evoluem, aclarando e consubstanciando a formação do-
dagógica na diversidade nacional. Mas será que isto está cente ontem e hoje. Neste âmbito surgiu com uma gama
se efetivando, visto que a todo o momento a mídia traz variada de artifícios, o direto. Com o auxilio do direito os
relatos de descasos em relação à oferta de vagas. A base professores embasam suas descobertas e suas pesquisas
comum nacional e sua diversidade deverão integrar-se em junto aos educandos. Através desta ciência conhece-se o
torno do paradigma curricular, que vise a estabelecer a proceder do comportamento humano, que com outras
relação entre a educação fundamental e: ciências não seria possível visualizar e examinar.
• A vida cidadã através da articulação entre vários  Os referenciais legais são fontes permanentes de pes-
dos seus aspectos como: quisas e estudos por parte dos professores, em todos os
• A saúde seus níveis de integração. Então temos que, o direito edu-
• A sexualidade cacional é de importância valiosa, e contribui de forma efe-
• A vida familiar e social tiva para a construção de uma educação real.
• O meio ambiente O profissional docente, bombardeado pelos mais di-
• O trabalho ferentes tipos de informação, precisa evidentemente, sele-
• A ciência e a tecnologia cionar, peneirar toda essa mixórdia de conceitos. A legis-
• A cultura lação educacional vem também ajudar nesta tarefa. Com
• As linguagens sensatez e estudo, o plano legislativo serve de base para
• As áreas de conhecimentos: que se arregimente e organize o insumo necessário para o
• Língua portuguesa trabalho do professor.
• Língua materna, para populações indígenas e mi- Durante anos buscou se explicar conceitos educacionais
grantes. baseados apenas em suposições primeiros religiosos, depois
• Matemática filosóficas descambando em seguida para os planos sociais e
• Ciências econômicos. Mas algo faltava algo que pudesse consubstanciar
• Geografia a prática docente de forma mais especifica, mas orientada.
• Historia Neste contexto, um tanto o quanto conturbado, nas-
• Língua estrangeira ceu ou desvinculou-se das outras áreas, como acreditam
• Educação artística alguns, o direito. Ele sozinho não vem responder a todas as
• Educação física questões que atormentam o educador. Mas com ele pode-
• Educação religiosa na forma do art.33 da lei 9.394, -se pisar em um terreno mais firme, menos carregado de
de 20 de dezembro de 1996. suposições, e o que é muito perigoso, de ideologias com
Síntese das Diretrizes: bases duvidosas.
1. A escola deve pautar seu trabalho em princípios éti- Sendo a sociedade regida e condicionada por leis que
cos, de cidadania e estéticos. os seus membros estabeleceram, houve a premente ne-
2. Na elaboração do plano pedagógico levar em conta cessidade de se transmitir estes códigos e normas para as
o contexto onde se insere a escola. Situar a pratica para gerações futuras.
sujeitos reais. O meio, a forma de atingir uma parcela maior de indiví-
3. A pratica deve elevar a percepção dos sujeitos en- duos foi encontrada na educação. Este pensamento é uma
volvidos e de sua contribuição para o grupo. constante na obra de Durkheim;

8
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

[...] “A construção do ser social, feita em boa parte pela tada no curso de pedagogia. Nesta concepção o currículo
educação, é a assimilação pelo individuo de uma série de é o arcabouço onde se aglomeram as outras nuances da
normas e princípios – sejam morais, religiosas, éticas ou de educação.
comportamento...” (Durkheim, 1978). Partindo de pressupostos já anteriormente estabelecidos,
Neste sentido, temos que a educação é algo condi- os que controlam gerenciam o processo educacional (fala-se
cionadora da sociedade e de seus preceitos. Quando este aqui das esferas superior, secretários, coordenadores, minis-
pensador elaborou sua teoria sociológica, a sociedade es- tros, especialistas) estabelecem que, quando e como ensi-
tava passando por grandes transformações, tanto no que nar. Nesta, concepção distanciada da realidade, do contexto
diz respeito à religião, a moral e a economia entre outros. social em que está inserido o educando, o currículo é algo
Na escola encontramos normas e procedimentos que de- fragmentado, fragmentário e deturpador do conhecimento.
vemos seguir. Assim o currículo tradicional não leva em consideração fato-
Estas normas configuram o sistema em que a escola res diverso (como a pré-prepararão ou pré conhecimento do
está inserida, sendo que ela é um reflexo da sociedade. aluno) para que se faça o trabalho de ensinar.
Hoje, na escola atual ainda a muito do pensamento Esta maneira de conceber “o que ensinar” é resultado
de Durkheim, pois mesmo com as constantes mudanças e da visão europeia medieval trazida pelos portugueses, que
evoluções da sociedade a escola continua a mesma. se afirmou na escola brasileira.
A atual prática pedagógica possui vários pontos que Com o desenvolvimento dos meios de comunicação da
ligam ao pensamento durkheiniano, pois no momento pre- tecnologia de transmissão de informações começou-se a
sente a escola ainda é reprodutora do sistema social - po- perceber que o currículo instituído não mais satisfazia as
lítico em que está inserida. necessidades vigentes. “E, em se tratando de currículo es-
O trabalho didático formatizado, a avaliação classifi- colar, temos mesmo uma grande margem de autonomia
catória são apenas dois pontos que o educador usa para para incluir saberes e práticas mais convenientes aos pro-
estabelecer a sua prática, que nos remetem ao pensamento jetos que formulamos ou elegemos. Se isso é possível, a
de Durkheim, ou seja, a presença das ideias deste pensador escola não pode ser vista como instância reprodutora”
ainda é muito corrente e enraizada na escola atual. Este currículo desfragmentado traz implícitos conhe-
Não há uma abertura para novas ideias e as conseguem cimentos que não poderiam ou não teriam como serem
se sair no pensamento pedagógico são logo recicladas. expostos. É o chamado currículo oculto. Neste currículo os
O novo na escola moderna, ainda é uma utopia. Mas conhecimentos devem ser inferidos a partir de outros co-
uma insistência por parte dos educadores. Eles querem que nhecimentos apresentados em sala de aula.
a escola seja mais que espelho, seja uma fonte de renova- Avançando um bom período no tempo e situando no
ção. momento atual da educação brasileira, observa-se uma
mudança significativa na maneira de conceber o currículo
4.3 CURRÍCULO e suas diferentes nuances. Os estudos sociológicos e filo-
Quando o homem se organizou em sociedades, gru- sóficos apontam que o currículo deve ser condizente com
pos, tribos, aldeias, começou a se produzir ciências, histó- a prática social do individuo. Portanto “aprender a conhe-
ria, filosofias entre outros conhecimentos. Na medida em cer... Fundamenta-se no prazer de compreender, de conhe-
que estes conhecimentos foram se acumulando e se des- cer, de descobrir” (PROCAP).
dobrando, aumentou também o número de interessados Isto sendo posto para apreciação descobre-se que
em usufruir destas ciências e destas filosofias. Nisto a esco- quando o currículo caminha concernente dos anseios e
la já estava (pelo menos no seu arcabouço) já constituída. questionamentos do educando e da sociedade em que
(deste contexto temporal e histórico o do nascimento da este está inserido ele se torna mais que uma ferramenta,
escola veio à tona a dúvida que persegue até hoje as que se torna um subsidio indispensável. Currículo não é apenas
lidam diretamente (e até indiretamente) com a educação: um documento que contemplam as disciplinas e sim toda
O que ensinar?). Qual o valor de determinada informação a ação, todo o percurso percorrido por todos os envolvidos
em relação à outra? Como estipular o nível de aprofunda- no sistema educacional, família, comunidade, professores,
mento de determinado saber? O que preconiza a lei edu- alunos, governo federal, governo estadual e também os re-
cacional? presentantes municipais, todas as pessoas envolvidas no
No momento atual da educação (tanto brasileira quan- processo educacional, de certa forma elabora, organiza e
to mundial), entende-se currículo com sistematização, or- legitima. Todos os saberes e conhecimentos estão ligados
ganização e seleção dos conhecimentos e ciências vigentes a politica e a cultura, trabalhando o currículo, trabalha-se o
que devem ser transmitidas pela escola na busca, de uma saber do cotidiano onde se transforma em saber cientifico.
formação geral mínima do educando, o currículo é novo Hoje o currículo ele é discutido em reuniões e amplos
na própria academia educacional, nas décadas de 50 e 60 escolares. E a partir dessa discursão aprendem-se os an-
essa área era ligada aos alunos que faziam pedagogia e seios as subjetividades, as vontades, os medos que per-
optavam por uma habilitação chamada supervisão escolar. meiam o cotidiano escolar com isso ele se torna vivo den-
Atualmente percebeu a necessidade do pedagogo, onde tro do processo ensino aprendizagem.
ele não poderia mais ter uma formação fragmentada sem Ele hoje possui a opção de flexibilidade sendo ele de
conhecer a dimensão mais ampla do currículo. A partir da adaptação grande porte, e a adaptação de pequeno porte.
lei 9394/96 a disciplina do currículo passou a ser implan- Grande porte seria, quando a escola precisa fazer alguma

9
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

manutenção, construir alguma coisa, reformar algo, enfim Fonte:http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/


algo que não depende do professor em sala de aula, mais glossario/verb_c_concepcao_pedagogica.htm
sim de uma estrutura ampla. Adaptação de pequeno porte
significa, quando o professor poderá fazer suas próprias As tendências pedagógicas são divididas em liberais
adaptações curriculares no contexto e no cotidiano de sala e progressistas. A pedagogia liberal acredita que a escola
de aula. tem a função de preparar os indivíduos para desempe-
A composição do currículo “traz uma base nacional co- nhar papéis sociais, baseadas nas aptidões individuais.
mum, onde garante uma unidade nacional, para que todos Dessa forma, o indivíduo deve adaptar-se aos valores e
os alunos possam ter acesso aos conhecimentos mínimos”. normas da sociedade de classe, desenvolvendo sua cul-
Quer dizer, todos os alunos independentemente de qual tura individual. Com isso as diferenças entre as classes
cidade, venham a ter os mínimos conhecimentos. E a parte sociais não são consideradas, já que, a escola não leva
diversificada é a opção a qual possa ser implantada a reali- em consideração as desigualdades sociais. Existem quatro
dade regional e local. tendências pedagógicas liberais:
Tradicional: tem como objetivo a transmissão dos
Fonte:https://monografias.brasilescola.uol.com.br/pe- padrões, normas e modelos dominantes. Os conteúdos
dagogia/principios-fundamentos-procedimentos-educa- escolares são separados da realidade social e da capaci-
cao-basica-uma-relacao.htm dade cognitiva dos alunos, sendo impostos como verda-
de absoluta em que apenas o professor tem razão. Sua
metodologia é baseada na memorização, o que contribui
para uma aprendizagem mecânica, passiva e repetitiva.
CONCEPÇÕES E TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
CONTEMPORÂNEAS; Renovada: a educação escolar assume o propósito de
levar o aluno a aprender e construir conhecimento, consi-
derando as fases do seu desenvolvimento. Os conteúdos
escolares passam a adequar-se aos interesses, ritmos e
A expressão “concepções pedagógicas” é correlata de fases de raciocínio do aluno. Sua proposta metodológica
“idéias pedagógicas”. A palavra pedagogia e, mais particu- tem como característica os experimentos e as pesquisas.
larmente, o adjetivo pedagógico têm marcadamente res- O professor deixa de ser um mero expositor e assume o
sonância metodológica denotando o modo de operar, de papel de elaborar situações desafiadoras da aprendiza-
realizar o ato educativo. Assim, as idéias pedagógicas são gem. A aprendizagem é construinda através de planeja-
as idéias educacionais entendidas, porém, não em si mes- mentos e testes. O professor passa a respeitar e a atender
mas, mas na forma como se encarnam no movimento real as necessidades individuais dos alunos.
da educação orientando e, mais do que isso, constituindo
a própria substância da prática educativa. As concepções Renovada não-diretiva: há uma maior preocupação
educacionais, de modo geral, envolvem três níveis: o nível com o desenvolvimento da personalidade do aluno, com
da filosofia da educação que, sobre a base de uma reflexão o autoconhecimento e com a realização pessoal. Os con-
radical, rigorosa e de conjunto sobre a problemática educa- teúdos escolares passam a ter significação pessoal, indo
tiva, busca explicitar as finalidades, os valores que expres- ao encontro dos interesses e motivação do aluno. São
sam uma visão geral de homem, mundo e sociedade, com incluídas atividades de sensibilidade, expressão e comu-
vistas a orientar a compreensão do fenômeno educativo; nicação interpessoal, acentuando-se a importância dos
o nível da teoria da educação, que procura sistematizar os trabalhos em grupos. Aprender torna-se um ato interno e
conhecimentos disponíveis sobre os vários aspectos envol- intransferível. A relação professor-aluno passa a ser mar-
vidos na questão educacional que permitam compreender cada pela afetividade.
o lugar e o papel da educação na sociedade. Quando a
teoria da educação é identificada com a pedagogia, além Tecnicista:  enfatiza a profissionalização e modela o
de compreender o lugar e o papel da educação na socie- individuo para integrá-lo ao modelo social vigente, tec-
dade, a teoria da educação se empenha em sistematizar, nicista. Os conteúdos que ganham destaque são os ob-
também, os métodos, processos e procedimentos, visando jetivos e neutros. O professor administra os procedimen-
a dar intencionalidade ao ato educativo de modo a garantir tos didáticos, enquanto o aluno recebe as informações.
sua eficácia; finalmente, o terceiro nível é o da prática pe- O educador tem uma relação profissional e interpessoal
dagógica, isto é, o modo como é organizado e realizado o com o aluno.
ato educativo. Portanto, em termos concisos, podemos en-
tender a expressão “concepções pedagógicas” como as di- Já as tendências pedagógicas progressistas anali-
ferentes maneiras pelas quais a educação é compreendida, sam de forma critica as realidades sociais, cuja educação
teorizada e praticada. Na história da educação, de modo possibilita a compreensão da realidade histórico-social,
geral, e na história da educação brasileira, em particular, explicando o papel do sujeito como um ser que constrói
produziram-se diferentes concepções pedagógicas, cujas sua realidade. Ela assume um caráter pedagógico e políti-
características são apresentadas nos verbetes seguintes. co ao mesmo tempo. É divida em três tendências:

10
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Libertadora: o papel da educação é conscientizar para Até ontem, a repercussão e as conseqüências dessa
transformar a realidade e os conteúdos são extraídos da defasagem tinham seu reflexo voltado, quase que exclusi-
pratica social e cotidiana dos alunos. Os conteúdos pré-se- vamente, para o interior do País. Hoje, com a globalização,
lecionados são vistos como uma invasão cultural. A meto- com o País plugado ao mundo, lidando com novos referen-
dologia é caracterizada pela problematizarão da experiên- ciais, o baixo nível de escolaridade de sua população afeta
cia social em grupos de discussão. A relação do professor a sua imagem externa e a sua credibilidade. A qualidade de
com o aluno é tida como horizontal em que ambos passam mão-de-obra se tornou essencial para assegurar condições
a fazer parte do ato de educar. mínimas de competitividade à economia da nação. Os cen-
tros internacionais, com sua economia forte de mercado,
Libertaria:  a escola propicia praticas democráticas, regem, em massificação, destinos dos demais países, sendo
pois acredita que a consciência política resulta em con- mais prejudicados os que menos aparelhados estão.
quistas sócias. Os conteúdos dão ênfase nas lutas sociais, Em tempos em que o conhecimento não tem frontei-
cuja metodologia é está relacionada com a vivência grupal. ras, não há como conviver com padrões de escolaridade
O professor torna-se um orientador do grupo sem impor baixos; são incompatíveis com essa realidade. No impacto
suas idéias e convicções. da competitividade, o mercado já exige fluência em dois
ou mais idiomas, conhecimentos aprimorados da informá-
Crítico-social dos conteúdos: a escola tem a tarefa tica e uma cultura geral ampla. O consultor francês Olivier
de garantir a apropriação critica do conhecimento cientifi- Bertrand reforça esta análise, dizendo: “A competitividade
co e universal, tornando-se uma arma de luta importante. das nações depende cada vez mais da qualidade de seus
A classe trabalhadora deve apropriar-se do saber. Adota recursos humanos e não da quantidade de seus recursos
o método dialético, esse que é visto como o responsável naturais”.
pelo confronto entre as experiências pessoais e o conteúdo No Brasil, as deficiências do sistema educacional per-
transmitido na escola. O educando participa com suas ex- passam os três níveis de ensino, atingindo o quarto grau,
periências e o professor com sua visão da realidade. que é o da pós-graduação.
A educação passa, no presente, por amplas reformas.
Fonte: https://www.infoescola.com/pedagogia/ten- Mexem-se nos currículos do ensino fundamental e médio,
dencias-pedagogicas/ em seus amplos aspectos informativos e formativos. O
MEC formulou as “Diretrizes Curriculares Nacionais” (DCN),
que fixam o currículo mínimo obrigatório e a carga horária
a ser seguida por todas as escolas do território nacional.
RELAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E POLÍTICO- Elaborou os “Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para
CULTURAIS DA EDUCAÇÃO; a educação básica, que são de grande ajuda ao professor,
em sala de aula. São uma referência do que seria uma boa
escola. Os “Parâmetros Curriculares Nacionais” não têm
caráter obrigatório e abordam sugestões de currículos
O momento presente vem demonstrando, através dos com conteúdos renovados que levam o aluno a “aprender
mais diferentes meios de comunicação, dos vários setores a aprender”, onde informação e formação caminham em
da economia brasileira, significativas manifestações em movimento circular.
prol da educação. Parece estar havendo a grande conscien- Questionam-se, também, o currículo do 3º grau – a
tização do peso da educação na nova realidade que vem desatualização da Universidade diante do mercado glo-
remodelando o mundo. balizado dos nossos dias – e a formação do professor.
Por décadas, o País descuidou-se da educação de seu Na relevante questão da repetência e da evasão escola-
povo. Os alertas de educadores, de intelectuais, passavam res, desloca-se do aluno o foco do problema e passa-se
como que despercebidos pelos governantes. Os ilustrados a corrigir as falhas do sistema. Através de uma avaliação
discursos políticos  ficavam, grandemente, no papel, não processual contínua do sistema: “Avaliação da Educação
se transmutavam em ações efetivas. A educação, relegada Básica” (Saeb), procura-se situar o nível de aprendizagem
a um plano inferior, foi deteriorando-se, caindo na grave e dos alunos e ajustar o sistema nos aspectos necessários.
significativa defasagem dos dias atuais. A escola, que deve- Ao avaliar o 2º grau, deu-se início ao projeto de Exame
ria representar portas abertas à ascensão social, tornara-se Nacional do Ensino Médio (Enem), exame nacional de final
obsoleta pelo desajuste entre sua fraca atuação e a alta do ensino médio, criado em 1998, pelo MEC, com a finali-
competitividade do mercado de trabalho, que exige quali- dade de avaliar as habilidades e as competências adquiri-
ficação profissional. Na verdade, encontramos, em termos das pelos estudantes no fim da educação básica e também
de ensino fundamental e médio, boas escolas privadas com o propósito de oferecer às universidades um outro
para os ricos e, infelizmente, más escolas públicas para os critério de seleção do aluno. Ele é, ao lado do vestibular,
pobres, com exceções. uma outra modalidade, de ingresso à universidade, uma
A professora Luciana Velo, ganhadora do concurso “O vez que pela última Lei de Diretrizes e Bases da Educação
professor escreve sua história”, desabafou, dizendo: “O (Lei n.º 9.394/96), sancionada em 20/12/1996, o vestibular
professor é discriminado e tratado com descaso pelo go- – a tradicional prova de ingresso ao ensino superior, que
verno e pela sociedade e não tem chance de evoluir”. no Brasil remonta a 1911 – deixou de ser obrigatório. Hoje,

11
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

as universidades têm liberdade de escolher seu próprio sis- superstições e a uma postura mais adequada em relação a
tema de avaliação, de decidir qual a melhor opção para sua sua participação como indivíduo na sociedade em que vive
estrutura educacional. e do ambiente que ocupa. 
Instituiu-se o Exame Nacional de Cursos (ENC), o pro- O desafio de contribuir com a educação do jovem e do
vão, em que, através do desempenho dos alunos, se ava- cidadão, num momento de mudanças e incertezas e a ne-
lia a qualidade do ensino superior, o 3º grau. Esse exame cessidade de resgatar valores tão importantes condizentes
servirá de base para a concessão do recadastramento dos com a sociedade contemporânea leva o professor a enten-
cursos superiores, a cada cinco anos. O Exame Nacional de der que deverá exercer um novo papel, de acordo com os
Cursos (ENC) conseguiu colocar na pauta da discussão o princípios de ensino-aprendizagem adotados, como saber
problema da qualidade dos cursos de graduação. lidar com os erros, estimular a aprendizagem, ajudar os
O aperfeiçoamento educacional e cultural nunca foi alunos a se organizarem, educar através do ensino, entre
tão necessário. Não basta a criança ser educada, precisa outros.
ser  bem educada. Estamos vivendo um processo de re- O aluno precisa adquirir habilidades como fazer con-
volução tecnológica e industrial que introduz mudanças sultas em livros, entender o que lê, tomar notas, fazer sínte-
rápidas e importantes nos métodos e na organização da se, redigir conclusões, interpretar gráficos e dados, realizar
produção. A escola precisa criar no aluno a mentalidade experiências e discutir os resultados obtidos e, ainda, usar
tecnológica e científica, a fim de ajustá-lo aos novos tipos instrumentos de medida quando necessário, bem como
de competitividade. compreender as relações que existem entre os problemas
A estagnação, a domesticação da escola, levam ao in- atuais e o desenvolvimento científico. Isso só será possí-
sucesso, ao desemprego. O professor Anísio Teixeira, em vel, a partir do momento que o professor assumir o seu
sua famosa palestra na Associação Brasileira de Educação papel de mediador do processo ensino-aprendizagem,
(1952), já dizia: “O que importa na cultura de um povo é o favorecendo a postura reflexiva e investigativa. Desta ma-
atrito, a oposição, pois esses são os elementos que promo- neira ele irá colaborar para a construção da autonomia de
vem o revigoramento e a vida de suas instituições e ma- pensamento e de ação, ampliando a possibilidade de par-
neiras de ser”. ticipação social e desenvolvimento mental, capacitando os
alunos a exercerem o seu papel de cidadão do mundo.
Fonte:http://www.izabelsadallagrispino.com.br/index. O modo de entender e agir que nos possibilita não nos
php?option=com_content&view=article&id=1156 deixarmos abater pela adversidade e, até mesmo, de utili-
zá-la para crescer. Uma das causas do fracasso do ensino
é que tradicionalmente, a prática mais comum era aquela
em que o professor apresentava o conteúdo partindo de
PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM: definições, exemplos, demonstração de propriedades, se-
PAPEL DO EDUCADOR, DO EDUCANDO, DA guidos de exercícios de aprendizagem, fixação e aplicação,
SOCIEDADE. pressupondo-se que o aluno aprendia pela reprodução.
Considerava-se que uma reprodução correta era evidência
de que ocorrera a aprendizagem. Essa prática mostrou-se
ineficaz, pois a reprodução correta poderia ser apenas uma
O mundo está mudando e isso está ocorrendo a uma simples indicação de que o aluno aprendeu a reproduzir,
velocidade sem precedentes na evolução histórica da hu- mas não aprendeu o conteúdo. É necessário saber para
manidade. A globalização, o surgimento de novas tecnolo- ensinar. O professor deve se mostrar competente na sua
gias, como o avanço das telecomunicações e da informá- área de atuação, demonstrando domínio na ciência que se
tica, contribuem para que ocorra mudanças, também, na propõe a lecionar, pois do contrário, irá apenas “despejar”
Educação. A interação professor - aluno vem se tornando os conteúdos “decorados” sobre os alunos, sem lhes dar
muito mais dinâmica nos últimos anos. oportunidade de questionamentos e criticidade.
O professor tem deixado de ser um mero transmissor Adequar a metodologia e os recursos audiovisuais de
de conhecimentos para ser mais um orientador, um es- forma que haja a comunicação com os alunos, é também,
timulador de todos os processos que levam os alunos a uma forma de fazer da aula um momento propício à apren-
construírem seus conceitos, valores, atitudes e habilidades dizagem. 
que lhes permitam crescer como pessoas, como cidadãos É importantíssimo que o professor tenha, também,
e futuros trabalhadores, desempenhando uma influência competência humana, para que possa valorizar e estimular
verdadeiramente construtiva. os alunos, a cada momento do processo ensino-aprendiza-
A Educação deve não apenas formar trabalhadores gem. A motivação é imprescindível para o desenvolvimen-
para as exigências do mercado de trabalho, mas cidadãos to do indivíduo, pois bons resultados de aprendizagem só
críticos capazes de transformar um mercado de explora- serão possíveis à medida que o professor proporcionar um
ção em um mercado que valorize uma mercadoria cada ambiente de trabalho que estimule o aluno a criar, compa-
vez mais importante: o conhecimento. Dentro deste con- rar, discutir, rever, perguntar e ampliar idéias.
texto, é imprescindível proporcionar aos educandos uma Dentro das competências: científica, técnica, humana
compreensão racional do mundo que o cerca, levando-os e política desenvolvidas pelo professor, é essencial propi-
a um posicionamento de vida isento de preconceitos ou ciar aos alunos condições para o desenvolvimento da ca-

12
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

pacidade de pensar crítica e logicamente, fornecendo-lhes Bom, vou te contar uma coisa antes de prosseguir.
meios para a resolução dos problemas inerentes aos con- Essa concepção de Educação Inclusiva é baseada no
teúdos trabalhados interligados ao seu cotidiano, fazendo livro “Inclusão Escolar – O que é? Porque? Como fazer?” de
com que ele compreenda que o estudo é mais do que mera Maria Teresa Eglér Mantoan (uma das maiores especialistas
memorização de conceitos e termos científicos transmiti- do Brasil em educação inclusiva).
dos pelo professor ou encontrados em livros. 
É um trabalho em que raciocínio e criatividade são re- Qual é a diferença entre Educação Especial e Educação
compensados. Inclusiva?
É indispensável dar mais ênfase à aprendizagem do A diferença está no termo INCLUSIVA.
que aos programas e provas como é prática comum em Segundo a psicóloga Marina Almeida, no “Manual In-
nossas escolas, pois no processo de ensino e aprendiza- formativo sobre inclusão: informativo para educadores”,
gem, conceitos, idéias e métodos devem ser abordados podemos definir educação especial e educação inclusiva
mediante a exploração de problemas, desenvolvendo com- da seguinte forma:
petências para a interpretação e resolução dos mesmos. E
esta resolução não é um exercício em que o aluno aplica, Conceito de Educação Especial:
de forma quase mecânica, uma fórmula ou um processo Educação especial é uma modalidade de ensino que
operatório, mas uma orientação para a aprendizagem, pois visa promover o desenvolvimento das potencialidades de
proporciona o contexto em que se pode aprender con- pessoas portadoras de necessidades especiais, condutas
ceitos, procedimentos e atitudes. Para que ocorram essas típicas ou altas habilidades, e que abrange os diferentes
transformações, tão necessárias, é preciso que o professor níveis e graus do sistema de ensino.
demonstre profissionalismo, ética e, acima de tudo, com- Ou seja, uma modalidade de ensino para pessoas com
promisso com o sucesso dos alunos. O compromisso de deficiência ou altas habilidades.
conduzi-los ao aprendizado. É o desafio para todos os que
estão envolvidos em Educação.  Conceito de Educação Inclusiva:
Na escola inclusiva o processo educativo deve ser en-
Fonte: http://www.udemo.org.br/RevistaPP_02_05Pro- tendido como um processo social, onde todas as crianças
fessor.htm portadoras de necessidades especiais e de distúrbios de
aprendizagem têm o direito à escolarização o mais próxi-
mo possível do normal.
Ou seja, uma modalidade de ensino para todos.
AVALIAÇÃO. EDUCAÇÃO INCLUSIVA. Percebeu a diferença?

Educação Especial e Inclusiva


Não existem alunos sem deficiência na educação espe-
Educação Inclusiva pode ser compreendida como uma cial. Já na educação inclusiva todos os alunos com e sem
reviravolta institucional que consiste no fim do iguais x di- deficiência tem a oportunidade de conviverem e aprende-
ferentes, normais x deficientes. rem juntos. É o que Mantoan chamou de cidadania global,
Espere. Vamos definir com outras palavras. plena, livre de preconceitos e que reconhece e valoriza as
Educação Inclusiva é uma educação voltada para a ci- diferenças.
dadania global, plena, livre de preconceitos e que reconhe- A inclusão promove a diversidade.
ce e valoriza as diferenças. A ideia da inclusão é mais do que somente garantir o
Sim. Valorizar as diferenças é a chave. acesso à entrada de alunos e alunas nas instituições de en-
As diferenças sempre existiram. Na educação inclusiva elas sino. O objetivo é eliminar obstáculos que limitam a apren-
precisam ser reconhecidas e valorizadas, sem preconceito. dizagem e participação discente no processo educativo.
A inclusão prevê a inserção escolar de forma radical, Agora, um ponto importante.
completa e sistemática. Todos os alunos, sem exceção, de- Você deve ter notado que a Marina Almeida usou o
vem frequentar as salas de aula do ensino regular. termo “pessoas portadoras de necessidades especiais”. Isso
Isso mesmo, na educação inclusiva todos os alunos de- porque o artigo dela foi escrito em 2002. De alguns anos
vem fazer parte da escola comum. para cá a comunidade acadêmica (o governo brasileiro
também) tem se posicionado em relação à terminologia.
O radicalismo da inclusão vem do fato de exigir uma Seria “pessoa portadora de necessidade especial” ou
mudança de paradigma educacional. É o fim da subdivisão “pessoa com deficiência”? Qual o correto? Para você não
Ensino Especial x Ensino Regular. As escolas inclusivas aten- errar, vamos explicar isso no próximo tópico.
dem às diferenças sem discriminar, sem trabalhar à parte
com alguns alunos, sem estabelecer regras específicas para Qual o termo correto para deficientes?
se planejar, para aprender, para avaliar. Desde 2006 o termo correto é PESSOA COM DEFICIÊNCIA.
Para uma melhor definição de escola inclusiva precisa- Não use pessoa portadora de necessidades especiais,
mos deixar bem claro a diferença entre educação especial pessoa com necessidades especiais, ou qualquer outro ter-
e educação inclusiva, que é o assunto do próximo tópico. mo.

13
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

O termo “pessoas portadoras de necessidades especiais” está em desuso.


No texto aprovado pela Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidades das Pessoas
com Deficiência, em 2006, estabeleceu a terminologia mais apropriada: pessoas com deficiência.
Vamos entender o motivo.
Há uma associação negativa com a palavra “deficiente”, pois denota incapacidade ou inadequação à sociedade.
A pessoa não é deficiente, ela tem uma deficiência.

Não usar o termo necessidades especiais.


É importante combatermos expressões que tentem atenuar as diferenças, tais como: “pessoas como capacidades es-
peciais”, “pessoas especiais “e as mais famosas de todas: pessoas com necessidades especiais”. As diferenças têm de ser
valorizadas, respeitando-se as necessidades de cada pessoa.

Não usar o termo portador.


A condição de ter deficiência faz parte da pessoa. A pessoa não porta uma deficiência ela “tem uma deficiência”.

As Escolas Especiais vão acabar?


Você já sabe a diferença entre uma Escola Especial e uma Escola Inclusiva. Mas deve estar se perguntando: ainda exis-
tem escolas especiais? Elas vão acabar?
Na Itália, desde 1977, todas as escolas especiais foram abolidas, o que obrigou o encaminhamento de todos os estu-
dantes com deficiência para o sistema regular de ensino.
As escolas especiais não foram abolidas no Brasil. Vamos ver o motivo no próximo tópico.
O que é uma Escola Inclusiva no Brasil?
No Brasil uma escola inclusiva é a uma escola comum que recebe a todos, independente das diferenças.
Mas isso não significa o fim das escolas especiais.
A explicação é simples.
A maioria das escolas regulares no Brasil não estão preparadas para receberem e ensinarem aos alunos com deficiência,
devido a problema de infraestrutura e formação profissional da equipe.
Mas então, quem está preparado para receber esses alunos? As escolas especiais.
Hoje o modelo é que essas escolas especiais, que teoricamente têm o conhecimento da educação especial, se transfor-
mem em centros de recursos para apoiar o ensino inclusivo em todas as escolas que estão na sua região, com professores
itinerantes e materiais pedagógicos.

A realidade da Educação Inclusiva no Brasil


No Brasil o aluno com deficiência está matriculado na escola regular, mas dependendo da sua necessidade pode pre-
cisar frequentar também uma escola especial para ter atendimento educacional especializado.
Isso mesmo, o famoso AEE – Atendimento Educacional Especializado pode acontecer fora da escola regular.
Por isso, as escolas especiais ainda existem e são mantidas.
“O quadro a seguir ilustra como se deve entender e ofertar os serviços de educação especial, como parte integrante do
sistema educacional brasileiro, em todos os níveis de educação e ensino”. (Parecer CNE/CEB Nº 17/2001)

O atendimento educacional especializado da escola especial não substitui a escola comum.


Segundo Mantoan, a educação especial não substitui mais o ensino comum para pessoas com deficiência e com su-
perdotação. Essa mudança foi substancial, pois antes existia um sistema paralelo de ensino para o qual iam as crianças, até
mesmo sem deficiência, para ter uma educação substitutiva.

14
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

A escola especial passa a complementar e apoiar o Deficiência Física: adaptações do material e do am-


ensino regular na formação de alunos com necessidades biente físico (ex: cadeiras, tecnologia assistiva);
especiais.
Essa parceria entre a Escola Comum e as Escolas Es- Transtorno Global do Desenvolvimento (autis-
peciais ou Centros de Atendimento Educacional Especiali- mo): estratégias diferenciadas para adaptação e regulação
zado não acontece por acaso. Isso está previsto pelo MEC do comportamento (ex: ABA, TEACCH, comunicação alter-
na Política Nacional de Educação Especial. nativa);
No tópico a seguir vamos nos aprofundar um pouco
mais nessa política. Altas Habilidades: ampliação dos recursos educacio-
nais e/ou aceleração de conteúdos.
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Ou seja, a escola regular embora tenha a obrigação
da Educação Inclusiva de receber todos os alunos, ela fica isenta de ensinar por
No Brasil, a regulamentação mais recente que norteia exemplo o Braille para um aluno cego, por exemplo. A tare-
a organização do sistema educacional é o Plano Nacional fa de ensinar linguagens e códigos específicos fica a cargo
de Educação (PNE 2011-2020). do AEE.
Esse documento, entre outras metas e propostas in- No exemplo acima, é claro que se o professor regente
clusivas, estabelece a nova função da Educação especial da escola regular souber Braille, o aluno cego terá uma ex-
como modalidade de ensino que perpassa todos os seg- periência de aprendizado muito mais satisfatória.
mentos da escolarização (da Educação Infantil ao Ensino Mas e se o professor não souber Braille?
Superior); realiza o atendimento educacional especializa- O aluno terá direito a um profissional especializado
do (AEE); disponibiliza os serviços e recursos próprios do para acompanhá-lo durante as aulas.
AEE e orienta os alunos e seus professores quanto à sua É a vez do professor de apoio.
utilização nas turmas comuns do ensino regular.
Ou seja, o aluno com deficiência está matriculado na O que faz um professor de apoio?
escola regular, mas tem a sua disposição o Atendimento Esse profissional acompanha o aluno com deficiência
Educacional Especializado para qualquer necessidade es- na sala de aula comum, ajudando a fazer uma ponte entre
pecífica que a escola regular não consiga suprir durante o AEE e a escola.
sua jornada escolar, da educação infantil ao ensino supe- No caso de um aluno cego, por exemplo, o professor
rior. de apoio irá ajudar o aluno com o braille dentro da sala de
aula comum.
Quem é o Público Alvo da Educação Especial? Isso é previsto em lei.
O PNE considera público alvo da Educação especial De acordo com a Lei nº 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e
na perspectiva da Educação inclusiva, educandos com Bases da Educação Nacional) já havia previsto a figura dos
deficiência (intelectual, física, auditiva, visual e múltipla), profissionais especializados nos seguintes termos:
transtorno global do desenvolvimento (TGD) e altas ha- Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos edu-
bilidades. candos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi-
Repare que citei o termo “TGD”. A partir de 2013, com mento e altas habilidades ou superdotação:
o DSM-V, o termo TGD está sendo substituído por Trans- I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos
torno do Espectro Autista (TEA) ou apenas Autismo. e organização específicos, para atender às suas necessida-
Saiba mais sobre DSM, TGD e Autismo em nosso curso des;
online rápido sobre Autismo. (…)
III – professores com especialização adequada em nível
Necessidades Educacionais Especiais médio ou superior, para atendimento especializado, bem
Se o aluno apresentar necessidade específica, decor- como professores do ensino regular capacitados para a in-
rente de suas características ou condições, poderá reque- tegração desses educandos nas classes comuns;
rer, além dos princípios comuns da Educação na diversida- Por isso é importante que o professor de apoio tenha
de, recursos diferenciados identificados como necessida- uma formação profissional específica para as necessidades
des educacionais especiais (NEE). do aluno que irá atender.
O estudante poderá beneficiar-se dos apoios de ca- Se o aluno é autista, esse professor de apoio deve en-
ráter especializado, de acordo com suas necessidades. No tender de autismo e métodos de intervenção como o ABA,
caso de: por exemplo.
Se o aluno é surdo, o professor de apoio deve ser um
Deficiência Visual e Auditiva: o ensino de linguagens intérprete de LIBRAS. Isso é o ideal.
e códigos específicos de comunicação e sinalização (ex: Importante entender que, no caso do aluno surdo, não
LIBRAS, Braille); é o professor de apoio que vai ensinar LIBRAS. A responsa-
bilidade por ensinar LIBRAS é do Atendimento Educacional
Deficiência Intelectual: mediação para o desenvol- Especializado, mas o professor de apoio vai ajudar o aluno
vimento de estratégias de pensamento (Ex: comunicação surdo usando LIBRAS para aprender o currículo proposto
alternativa); pela escola.

15
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Ou seja, a educação inclusiva não é a escola comum Existe a necessidade de formação continuada de pro-
sozinha, mas uma parceria entre a escola comum, o profes- fessores para atuar no atendimento a alunos com neces-
sor de apoio e o atendimento educacional especializado. sidades educacionais especiais na rede regular de ensino.
Bom, até aqui já vimos as respostas para as seguintes Os professores do ensino regular consideram-se in-
questões: competentes para lidar com as diferenças nas salas de aula,
O que é Educação Especial? especialmente atender os alunos com deficiência, pois seus
Qual a Diferença entre Educação Especial e Educação colegas especializados sempre se distinguiram por realizar
Inclusiva? unicamente esse atendimento e exageraram essa capaci-
O que é o Atendimento Educacional Especializado? dade de fazê-lo aos olhos de todos (Mittler, 2000).
O que faz o Professor de Apoio? Professor, você não deve se sentir assim.
Agora vamos nos aprofundar um pouco mais no que a Um professor não ter formação específica nessa ou
escola inclusiva pode fazer para melhorar a experiência de naquela deficiência não quer dizer que seja incompetente.
aprendizagem dos seus alunos. O professor, na educação inclusiva, precisa ser prepa-
Vamos falar do Projeto Pedagógico Inclusivo. rado para lidar com as diferenças, com a singularidade e a
Projeto Político Pedagógico na Perspectiva da Inclusão diversidade de todas as crianças e não com um modelo de
O projeto político pedagógico – PPP – de uma escola é pensamento comum a todas elas.
o instrumento orientador, que define as relações da escola Entendeu? O professor da escola regular que tem um
com a comunidade na qual está inserida e vai atender. aluno autista não precisa ser um especialista em autismo,
É o projeto pedagógico que orienta as atividades es- mas precisa ser um especialista em lidar com as diferenças
colares revelando a concepção da escola e as intenções da e a diversidade.
equipe de educadores. Pois é, lidar com a diversidade tem mais haver com o
Com base no projeto pedagógico a escola organiza amor e do que com conhecimentos acadêmicos.
seu trabalho; garante apoio administrativo, técnico e cien- Por falar em amor, os acadêmicos há tempos já fize-
tífico às necessidades da Educação inclusiva; planeja suas ram um paralelo entre a afetividade e o aprendizado. Quer
ações; possibilita a existência de propostas curriculares di- saber mais sobre esse tema super interessante? Confira
versificadas e abertas; flexibiliza seu funcionamento; aten- nosso curso online rápido de Desenvolvimento, Cognição
de à diversidade do alunado; estabelece redes de apoio, e Afetividade.
que proporcionam a ação de profissionais especializados, Mas como lidar com essa diversidade?
para favorecer o processo educacional. Vamos falar de adaptações curriculares.
Não basta que a escola receba a matrícula de alunos Quando se aborda a necessidade da diferenciação cur-
com necessidades educacionais especiais, é preciso que ricular é comum atribuir essa responsabilidade ao profes-
ofereça condições para a operacionalização desse projeto sor, mas esse pensamento está errado.
pedagógico inclusivo. No próximo tópico, vou te mostrar porque o professor
A inclusão deve garantir a todas as crianças e jovens o não deve ser o único responsável pelo currículo adaptado.
acesso à aprendizagem por meio de todas as possibilida-
des de desenvolvimento que a escolarização oferece. Adaptações curriculares na educação inclusiva
As mudanças são imprescindíveis, dentre elas a aces- De acordo com o MEC, podemos definir adaptações
sibilidade da infraestrutura; a introdução de recursos e de curriculares como: estratégias e critérios de atuação docen-
tecnologias assistivas; a oferta de profissionais de apoio, te, admitindo decisões que oportunizam adequar a ação
formas de avaliação, currículo adaptado entre outras coi- educativa escolar às maneiras peculiares de aprendizagem
sas. dos alunos, considerando que o processo de ensino-apren-
É na sala de aula que acontece a concretização do pro- dizagem pressupõe atender à diversificação de necessida-
jeto pedagógico – elaborado nos diversos níveis do siste- des dos alunos na escola (MEC, 2003).
ma educacional. Ou seja, dar liberdade ao professor para flexibilizar o
Vários fatores podem influenciar a dinâmica da sala de currículo de acordo com as necessidades do seu aluno.
aula e a eficácia do processo de ensino e aprendizagem. Não um novo currículo, mas um currículo dinâmico, al-
Planejamentos que contemplem regulações organizativas terável, passível de ampliação, para que atenda realmente
diversas, com possibilidades de adequações ou flexibiliza- a todos os educandos.
ções têm sido uma das alternativas mais discutidas como A diferenciação do currículo é uma tarefa da escola no
opção para o rompimento com estratégias e práticas limi- seu todo, não apenas do professor.
tadas e limitantes. De acordo com o INES (Instituto Nacional de. Educa-
Dentre todos os fatores, parece unânime entre os es- ção de Surdos) as adaptações de currículo constituem criar
pecialistas, que a formação de professores para a inclusão condições físicas, ambientais e materiais para o aluno, na
é primordial. sua unidade escolar de atendimento; propiciar os melho-
Vamos falar dessa formação no próximo tópico. res níveis de comunicação e interação com as pessoas com
as quais convive na comunidade escolar, favorecer a par-
Formação de Professores para a Inclusão ticipação nas atividades escolares; propiciar o mobiliário,
Todos concordam: os professores precisam se atualizar equipamentos específicos necessários e salas adaptadas;
continuamente. fornecer ou atuar para a aquisição dos equipamentos e

16
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

recursos materiais específicos necessários: próteses


auditivas, treinadores da fala, software educativo, EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS,
entre outros; adaptar materiais de uso comum em
sala de aula: slides, cartazes, entre outros; adotar
a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS (no processo
ensino-aprendizagem e avaliativo), além de material A Educação e Direitos Humanos parte de três pontos
escrito e computador. essenciais: primeiro, é uma educação de natureza perma-
Nossa! Bastante coisa né? nente, continuada e global. Segundo, é uma educação ne-
Ou seja, não tem como o professor sozinho dar cessariamente voltada para a mudança, e terceiro, é uma
conta disso tudo. inculcação de valores, para atingir corações e mentes e
É necessário uma colaboração de toda a equipe não apenas instrução, meramente transmissora de conhe-
da escola, do atendimento educacional especializado cimentos. Acrescente-se, ainda, e não menos importante,
e do Estado para fornecer os materiais adequados. que ou esta educação é compartilhada por aqueles que es-
Os 3 maiores desafios da Educação Inclusiva tão envolvidos no processo educacional – os educadores e
1º) Fortalecer a formação dos professores: os educandos - ou ela não será educação e muito menos
para entender a inclusão, os direitos do aluno e os educação em direitos humanos. Tais pontos são premissas:
deveres da escola e do Estado, estabelecendo assim a educação continuada, a educação para a mudança e a
alvo, uma meta a ser alcançada, tanto para o profes- educação compreensiva, no sentido de ser compartilhada
sor quanto para a escola. Todos precisam entender e de atingir tanto a razão quanto a emoção.
porque a diversidade é importante, que é sim pos- O que significa dizer que queremos trabalhar com
sível incluir e onde, quando, como, com que e com Educação em Direitos Humanos? A Educação em Direitos
quem devemos ajudar nossos alunos. Humanos é essencialmente a formação de uma cultura de
2º) Criar uma rede de apoio: entre alunos, do- respeito à dignidade humana através da promoção e da
centes, gestores escolares, famílias e profissionais vivência dos valores da liberdade, da justiça, da igualdade,
especializados (fisioterapeutas, psicopedagogos, da solidariedade, da cooperação, da tolerância e da paz.
psicólogos, fonoaudiólogos, médicos etc). Todos Portanto, a formação desta cultura significa criar, influen-
devem estar envolvidos no processo, trabalhando ciar, compartilhar e consolidar mentalidades, costumes,
como uma equipe para proporcionar ao aluno a me- atitudes, hábitos e comportamentos que decorrem, todos,
lhor experiência escolar (e de vida) que ele possa ter. daqueles valores essenciais citados – os quais devem se
3º) Reestruturação: eliminação das barreiras ar- transformar em práticas.
quitetônicas (físicas) e barreiras no currículo (peda- Quando falamos em cultura, é importante deixar claro
gógicas), como propostas curriculares diversificadas, que não estamos nos limitando a uma visão tradicional de
flexíveis e abertas. Para isso é preciso entender tam- cultura como conservação: dos costumes, das tradições, das
bém as possibilidades das tecnologias assistivas. crenças e dos valores. Pelo contrário, quando falamos em
A Educação inclusiva no Brasil está em fase de formação de uma cultura de respeito aos direitos humanos,
implementação. à dignidade humana, estamos enfatizando, sobretudo no
São muitos os desafios da educação inclusiva caso brasileiro, uma necessidade radical de mudança. As-
que precisam ser enfrentados, mas as iniciativas e as sim, falamos em cultura nos termos da mudança cultural,
alternativas realizadas pelos educadores são funda- uma mudança que possa realmente mexer com o que está
mentais. mais enraizado nas mentalidades, muitas vezes marcadas
Por isso, não desista! Aguente firme! Você não por preconceitos, por discriminação, pela não aceitação
está sozinho. dos direitos de todos, pela não aceitação da diferença. Tra-
Bom, estamos chegando ao fim dessa página ta-se, portanto, de uma mudança cultural especialmente
com a certeza de que existe muito mais a ser visto! importante no Brasil, pois implica a derrocada de valores
Em nossa próxima postagem vamos falar sobre e costumes arraigados entre nós, decorrentes de vários
o Atendimento Educacional Especializado, ou seja: fatores historicamente definidos: nosso longo período de
Tecnologias Assistivas, Comunicação Alternativa, escravidão, que significou exatamente a violação de todos
Salas de Recursos Multifuncionais, Braille, LIBRAS, os princípios de respeito à dignidade da pessoa humana,
TEACCH, ABA, entre outras coisas. a começar pelo direito à vida; nossa política oligárquica e
Conforme prometido no início da página, seguem patrimonial; nosso sistema de ensino autoritário, elitista, e
alguns materiais para você que está interessado em com uma preocupação muito mais voltada para a moral
educação inclusiva. privada do que para a ética pública; nossa complacência
com a corrupção, dos governantes e das elites, assim como
Fonte: http://institutoitard.com.br/o-que-e-edu- em relação aos privilégios concedidos aos cidadãos ditos
cacao-inclusiva/ de primeira classe ou acima de qualquer suspeita; nosso
descaso com a violência, quando ela é exercida exclusiva-
mente contra os pobres e os socialmente discriminados;
nossas práticas religiosas essencialmente ligadas ao valor

17
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

da caridade em detrimento do valor da justiça; nosso sis- que significa a formação de uma cultura de respeito à dig-
tema familiar patriarcal e machista; nossa sociedade racista nidade da pessoa humana, significa querer uma mudança
e preconceituosa contra todos os considerados diferentes; cultural, que se dará através de um processo educativo.
nosso desinteresse pela participação cidadã e pelo associa- Significa essencialmente que queremos outra sociedade,
tivismo solidário; nosso individualismo consumista, decor- que não estamos satisfeitos com os valores que embasam
rente de uma falsa idéia de “modernidade”. esta sociedade e queremos outros.
A mudança cultural necessária deve levar ao enfrenta- Como a minha fala é introdutória a este Seminário,
mento de tal herança e ainda ser instrumento de reação a cumpre lembrar o que são direitos humanos. São aqueles
duas grandes deturpações que fermentam em nosso meio direitos considerados fundamentais a todos os seres hu-
social - como parte de uma certa “cultura política”- em re- manos, sem quaisquer distinções de sexo, nacionalidade,
lação ao entendimento do que sejam direitos humanos. A etnia, cor da pele, faixa etária, classe social, profissão, con-
primeira delas, muito comentada atualmente e bastante dição de saúde física e mental, opinião política, religião,
difundida na sociedade, inclusive entre as classes popula- nível de instrução e julgamento moral.
res, refere-se à identificação entre direitos humanos e di- Uma compreensão histórica de direitos humanos traz
reitos da marginalidade, ou seja, são vistos como “direitos como eixo principal e óbvio o reconhecimento do direito à
dos bandidos contra os direitos das pessoas de bem”. Essa vida, sem o qual todos os demais direitos perdem o sen-
deturpação decorre certamente da ignorância e da desin- tido. Costuma-se falar, apenas por uma questão didática,
formação mas também de uma perversa e eficiente mani- em gerações de direitos humanos; não se trata de gera-
pulação, sobretudo nos meios de comunicação de massa, ções no sentido biológico, do que nasce, cresce e morre,
como ocorre com certos programas de rádio e televisão, mas no sentido histórico, de uma superação com com-
voltados para a exploração sensacionalista da violência e plementaridade, e que pode também ser entendida como
da miséria humana. A segunda deturpação, evidente nos uma dimensão. A primeira geração, contemporânea das
meios de maior nível de instrução (meio acadêmico, mas revoluções burguesas do final do século 18 e de todo o
também de políticos e empresários), refere-se à crença século 19, é a dos direitos civis e das liberdades individuais,
de que direitos humanos se reduzem essencialmente às liberdades consagradas pelo liberalismo, quando o direi-
liberdades individuais do liberalismo clássico e, portanto, to do cidadão dirige-se contra a opressão do Estado ou
não se consideram como direitos fundamentais os direitos de poderes arbitrários, contra as perseguições políticas e
sociais, os direitos de solidariedade universal. Nesse senti- religiosas, a liberdade de viver sem medo. Dessa impor-
do, os liberais adeptos dessa crença aceitam a defesa dos tantíssima primeira geração, ou dimensão, são os direitos
direitos humanos como direitos civis e políticos, direitos de locomoção, de propriedade, de segurança e integridade
individuais à segurança e à propriedade; mas não aceitam a física, de justiça, expressão e opinião. Tais liberdades sur-
legitimidade da reivindicação, em nome dos direitos huma- gem oficialmente nas Declarações de Direitos, documentos
nos, dos direitos econômicos e sociais, a serem usufruídos das revoluções burguesas do final do século 18 ( na França
individual ou coletivamente, ou seja, aqueles vinculados ao e nos Estados Unidos) e foram acolhidas em diversas Cons-
mundo do trabalho, à educação, à saúde, à previdência e tituições do século 19. A segunda geração, que não abrange
seguridade social etc. apenas os indivíduos, mas os grupos sociais, surge no início
Com tal quadro histórico e com tais deturpações - mui- do século 20 na esteira das lutas operárias e do pensamen-
tas vezes conscientes e deliberadas, de grupos ou pessoas to socialista na Europa Ocidental, explicitando-se, na prática,
interessadas em desmoralizar a luta pelos direitos huma- nas experiências da social-democracia, para consolidar-se,
nos, porque querem manter seus privilégios ou porque ao longo do século, nas formas do Estado do Bem Estar So-
querem controlar e usar a violência, sobretudo a institu- cial. Refere-se ao conjunto dos direitos sociais, econômicos e
cional, apenas contra os pobres, contra aqueles conside- culturais: os de caráter trabalhista, como salário justo, férias,
rados “classes perigosas”- reafirmamos que uma educação previdência e seguridade social e os de caráter social mais
em direitos humanos só pode ser uma educação para a geral, independentemente de vínculo empregatício, como
mudança, e não para a conservação. Embora insistamos na saúde, educação, habitação, acesso aos bens culturais etc. Em
idéia de cultura, trata-se da criação de uma nova cultura de complemento às duas gerações, a terceira dimensão inclui os
respeito à dignidade humana; portanto, o termo cultura só direitos coletivos da humanidade, como direito à paz, ao de-
tem sentido como mudança cultural. senvolvimento, à autodeterminação dos povos, ao patrimô-
Esse quadro bastante negativo sobre a realidade histó- nio científico, tecnológico e cultural da humanidade, ao meio
rica e contemporânea do Brasil não deve ser um empecilho ambiente ecologicamente preservado; são os direitos ditos
para o nosso trabalho; pelo contrário, deve ser incentivo de solidariedade planetária. Tais gerações mostram como
para procurar mudar. Podemos ser razoavelmente otimis- continua viva a bandeira da revolução francesa: a liberdade, a
tas, pois já existem várias iniciativas de grupos de defesa de igualdade e a solidariedade. A liberdade nos primeiros direi-
direitos humanos, no sistema de ensino público e privado, tos civis e individuais, a igualdade nos direitos sociais, a soli-
nos movimentos sociais e nas ONGs em geral – inclusive a dariedade como responsabilidade social pelos mais fracos e
Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos que pa- em relação aos direitos da humanidade.
trocina este encontro – além dos órgãos oficiais, como no Direitos humanos são fundamentais porque são indis-
caso da Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania no Es- pensáveis para a vida com dignidade. Quando insistimos
tado de São Paulo. Portanto, ser a favor de uma educação nessa questão da dignidade, muitas vezes esbarramos

18
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

numa certa incompreensão, como se o termo fosse indefi- dotado de vontade, de preferências valorativas, de auto-
nível e tratasse de algo extremamente abstrato em relação nomia, de auto-consciência como o oposto da alienação.
à concretude do ser humano. Portanto, é importante tentar Só o ser humano tem a memória e a consciência de sua
esclarecer o que entendemos por dignidade da pessoa hu- própria subjetividade, de sua própria história no tempo e
mana. Sabemos, sem dúvida, identificar um comportamen- no espaço e se enxerga como um sujeito no mundo, viven-
to indigno; por exemplo, omissão de socorro nos hospitais, te e mortal. Só o ser humano tem sociabilidade, somente
abandono dos idosos na fila do INPS, desprezo pelos direi- ele pode desenvolver suas virtualidades no sentido da cul-
tos dos mendigos, das crianças de rua, dos desemprega- tura e do auto-aperfeiçoamento vivendo em sociedade e
dos, dos excluídos de toda sorte, são indignidades. expressando-se através daquelas qualidades eminentes do
Mas de onde vem esta idéia de dignidade? Porque ela ser humano como o amor, a razão e a criação estética, que
é central no nosso processo educativo? são essencialmente comunicativas. É o único ser histórico,
Durante muito tempo o fundamento da concepção de pois é o único que vive em perpétua transformação pela
dignidade podia ser buscado na esfera sobrenatural da re- memória do passado e pelo projeto do futuro. Sua unidade
velação religiosa, da criação divina – o ser humano criado à existencial significa que o ser humano é único e insubsti-
imagem e semelhança do Criador. Ou, então, numa abstra- tuível. Como dizia Kant, é o único ser cuja existência é um
ção metafísica sobre aquilo que seria próprio da natureza valor absoluto, é um fim em si e não um meio para outras
humana, o que sempre levou a discussões filosóficas sobre coisas.
a essência da natureza humana. Independentemente des- Os direitos humanos são  naturais  e  universais, pois
sas polêmicas, aqueles que são religiosos ou espiritualistas estão profundamente ligados à essência do ser humano,
têm um motivo a mais para se preocupar com a dignidade independentemente de qualquer ato normativo, e valem
da pessoa humana, se acreditam na criação divina, na afir- para todos ; são interdependentes e indivisíveis, pois não
mação de que todos somos irmãos, nessa fraternidade que podemos separá-los, aceitando apenas os direitos indivi-
vem da religião, como no caso, dentre outros, do cristianis- duais, ou só os sociais, ou só os de defesa ambiental.
mo. Hoje, numa visão mais contemporânea, percebemos Essa indivisibilidade é importante porque temos exem-
como todos os textos nacionais e internacionais de defesa plos históricos, também no século XX, de regimes políticos
dos direitos humanos explicam a dignidade pela própria que valorizaram exclusivamente os direitos sociais, como o
transcendência do ser humano, ou seja, foi o homem que regime soviético, em detrimento da liberdade; assim como
criou ele mesmo o Direito. Ele mesmo criou as formas da temos vários regimes liberais que pregam a liberdade mas
idéia de dignidade em grandes textos normativos que po- descartam a obrigatoriedade dos direitos sociais.
dem ser sintetizados no artigo 1º da Declaração Internacio- Direitos humanos são históricos, pois foram sendo
nal de Direitos Humanos de 1948: “todos os seres humanos reconhecidos e consagrados em determinados momen-
nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”. Esta tos históricos, e é possível pensarmos que novos direitos
formulação decorre da própria reflexão do ser humano que ainda podem ser identificados e consolidados. A história
à ela chegou de uma maneira que é historicamente dada. da humanidade comprova a evolução da consciência dos
Foi uma grande revolução no pensamento e na história direitos; na Bíblia, por exemplo, lemos casos de aceita-
da humanidade chegar à reflexão conclusiva de que todos ção de sacrifícios humanos e de escravidão. Os liberais da
os seres humanos detêm a mesma dignidade. É evidente América, do Norte e dos Sul, conviviam com a posse de
que nos regimes que praticam a escravidão, ou qualquer escravos, embora defendessem a liberdade e a igualdade
tipo de discriminação por motivos sociais, políticos, reli- de todos diante da lei. Direitos humanos são históricos na
giosos e étnicos não vigora tal compreensão da dignida- medida em que vão crescendo em abrangência e em pro-
de universal, pois neles a dignidade é entendida como um fundidade, até que se consolidem na consciência universal.
atributo de apenas alguns, aqueles que pertençam a um Hoje, por exemplo, reconhecemos que existe consciência
determinado grupo. universal de que a escravidão, seja por que motivo for, é
A dignidade do ser humano não repousa apenas na uma violação radical dos direitos humanos, assim como a
racionalidade; no processo educativo procuramos atingir a exploração do trabalho infantil, a dominação sobre as mu-
razão, mas também a emoção, isto é, corações e mentes – lheres, as formas variadas de racismo e de discriminação
pois o homem não é apenas um ser que pensa e raciocina, por motivos religiosos, políticos, étnicos, sexuais etc. Os ca-
mas que chora e que ri, que é capaz de amar e de odiar, sos ainda existentes de escravidão, racismo e discriminação
que é capaz de sentir indignação e enternecimento, que é são veementemente condenados pelas entidades mundiais
capaz da criação estética. Unamuno dizia que o que mais de defesa dos direitos humanos.
nos diferencia dos outros animais é o sentimento, e não a Quando falamos em educação em direitos humanos
racionalidade. O homem é um ser essencialmente moral, falamos também em educação para a cidadania. É preciso
ou seja, o seu comportamento racional estará sempre su- entender aqui que as duas propostas andam muito jun-
jeito a juízos sobre o bem e o mal. Nenhum outro ser no tas, mas não são sinônimos. Basta lembrar, por exemplo,
mundo pode ser assim apreciado em termos de dever ser, que todos os projetos oficiais, do Ministério da Educação
da sua bondade ou da sua maldade. Portanto, o ser huma- às Secretarias Municipais e Estaduais afirmam que seu ob-
no tem a sua dignidade explicitada através de caracterís- jetivo principal é a educação para a cidadania. No entan-
ticas que são únicas e exclusivas da pessoa humana; além to, a concepção e as experiências são tão diferentes, em
da liberdade como fonte da vida ética, só o ser humano é função de prefeituras e de governos, que o conceito de

19
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

cidadania foi se esgarçando, não se tem certeza de que sar à formação do cidadão participante, crítico, responsá-
se fala sobre o mesmo tema. É bastante comum a idéia vel e comprometido com a mudança daquelas práticas e
de educação para cidadania ser entendida como se fosse condições da sociedade que violam ou negam os direitos
meramente uma educação moral e cívica. Ou seja, como se humanos. Mais ainda, deve visar à formação de personali-
fosse necessário e suficiente pregar o culto à pátria, seus dades autônomas, intelectual e afetivamente, sujeitos de
símbolos, heróis e datas históricas, assim como fomentar deveres e de direitos, capazes de julgar, escolher, tomar
um nacionalismo ora ingênuo ora agressivo, sem a percep- decisões, serem responsáveis e prontos para exigir que não
ção de que a nação não é um todo homogêneo, mas um apenas seus direitos, mas também os direitos dos outros
todo heterogêneo, com conflitos, classes sociais, grupos e sejam respeitados e cumpridos.
interesses diferenciados. Uma questão que surge com muita freqüência quando
Portanto, a idéia de educação para a cidadania não debatemos o tema da educação em direitos humanos é :
pode partir de uma visão da sociedade homogênea, como será realisticamente possível educar em direitos humanos?
uma grande comunidade, nem permanecer no nível do ci- A questão tem pertinência, pois se trata, sem dúvida, de um
vismo nacionalista. Torna-se necessário entender educação processo extremamente complexo, difícil e a longo prazo.
para a cidadania como formação do cidadão participativo O educador em direitos humanos na escola, por exemplo,
e solidário, consciente de seus deveres e direitos – e, então, sabe que não terá resultados no final do ano, como ao en-
associá-la à educação em direitos humanos. Só assim tere- sinar uma matéria que será completada a medida que o
mos uma base para uma visão mais global do que seja uma conjunto daquele programa for bem entendido e avaliado
educação democrática, que é, afinal, o que desejamos com pelos alunos. Trata-se de uma educação permanente e glo-
a educação em direitos humanos, entendendo “democra- bal, complexa e difícil, mas não impossível. É certamente
cia” no sentido mais radical – radical no sentido de raízes uma utopia, mas que se realiza na própria tentativa de rea-
– ou seja, como o regime da soberania popular com pleno lizá-la, como afirma o educador Perez Aguirre, enfatizan-
respeito aos direitos humanos. Não existe democracia sem do que os direitos humanos terão sempre, nas sociedades
direitos humanos, assim como não existe direitos humanos contemporâneas, a dupla função de ser, ao mesmo tempo,
sem a prática da democracia. Em decorrência, podemos crítica e utopia frente à realidade social.
afirmar o que já vem sendo discutido em certos meios ju- O que será indispensável para este processo educati-
rídicos como a quarta geração, ou dimensão, dos direitos vo, partindo-se da constatação de que, apesar das dificul-
humanos: o direito da humanidade à democracia. dades, é possível desenvolver um processo educativo em
É nesse sentido que nos referimos sempre à cidadania direitos humanos?
democrática. Existem casos de regimes políticos que leva- Em primeiro lugar, o conhecimento dos direitos hu-
ram ao extremo a educação para a cidadania, em termos manos, das suas garantias, das suas instituições de defesa
de mobilização cívica, mas não em termos de cidadania e promoção, das declarações oficiais, de âmbito nacional
democrática. Regimes totalitários levaram ao extremo a e internacional, com a consciência de que os direitos hu-
formação do cidadão ligado à pátria, à nação, ao seu pas- manos não são neutros, não são meramente declamações
sado histórico, ao projeto do futuro. Aliás, regimes totali- retóricas. Eles exigem certas atitudes e repelem outras.
tários são aqueles que mais mobilizam os cidadãos para Portanto, exigem também uma vivência compartilhada. A
um tipo de educação cívica que não tem nada a ver com palavra deverá sempre estar ligada a práticas, embasadas
educação em direitos humanos, com educação democráti- nos valores dos direitos humanos e na realidade social. Na
ca. Em meados do século XX regimes totalitários formaram escola, por exemplo, deverá estar vinculada à realidade
cidadãos participantes, conscientes de uma missão cívica, concreta dos alunos, dos professores, dos diretores, dos
porém cidadãos fascistas, nazistas, ou seja, cidadãos de um funcionários, da comunidade que a cerca.
determinado regime que não era democrático. Portanto, Onde podemos educar em direitos humanos? Temos
nossa idéia de cidadania insere-se exclusivamente no qua- várias opções, com diferentes veículos e estruturas edu-
dro da democracia. cacionais. Podemos fazer uma escolha, dependendo dos
Em relação especificamente à educação em direitos recursos e das condições objetivas, sociais, locais e institu-
humanos, o que desejamos? Que efeitos queremos com cionais, de cada grupo, de cada entidade. Há que distinguir
esse processo educativo? Queremos uma formação que entre as possibilidades da educação formal e da educação
leve em conta algumas premissas. Em primeiro lugar, o informal. Na educação formal, a formação em direitos hu-
aprendizado deve estar ligado à vivência do valor da igual- manos será feita no sistema de ensino, desde a escola pri-
dade em dignidade e direitos para todos e deve propiciar mária até a universidade. Na educação informal, será feita
o desenvolvimento de sentimentos e atitudes de coopera- através dos movimentos sociais e populares, das diversas
ção e solidariedade. Ao mesmo tempo, a educação para a organizações não-governamentais – ONGs – , dos sindica-
tolerância se impõe como um valor ativo vinculado à soli- tos, dos partidos, das associações, das igrejas, dos meios
dariedade e não apenas como tolerância passiva da mera artísticos, e, muito especialmente, através dos meios de co-
aceitação do outro, com o qual pode-se não estar solidário. municação de massa, sobretudo a televisão.
Em seguida, o aprendizado deve levar ao desenvolvimento Cumpre lembrar que esta educação formal na escola,
da capacidade de se perceber as conseqüências pessoais desde a primária até a universidade e principalmente no
e sociais de cada escolha. Ou seja, deve levar ao senso de sistema público do ensino, resultará mais viável se contar
responsabilidade. Esse processo educativo deve, ainda, vi- com o apoio dos órgãos oficiais, tanto ligados diretamen-

20
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

te à educação como ligados à cultura, à justiça e defesa


da cidadania. É por isso que valorizamos os planos oficiais, DEMOCRACIA E CIDADANIA;
de educação em direitos humanos na escola, tanto no ní-
vel federal como nos níveis estadual e municipal – embora
nem sempre vejamos seus resultados ou mesmo sua apli-
cação no quotidiano escolar. Se escolhemos a educação Democracia é o termo que caracteriza o regime políti-
formal, constatamos como a escola pública é um locus pri- co contemporâneo da maioria dos países ocidentais. Trata-
vilegiado pois, por sua própria natureza, tende a promover -se de um conceito tão importante quanto complexo, cujo
um espírito mais igualitário, na medida em que os alunos, significado atual se originou de várias fontes históricas e se
normalmente separados por barreiras de origem social, aí desenvolveu ao longo de milhares de anos. O termo pode
convivem. Na escola pública o diferente tende a ser mais ser utilizado para designar tanto um ideal quanto regimes
visível e a vivência da igualdade, da tolerância e da solida- políticos reais que estão consideravelmente aquém daque-
riedade impõe-se com maior vigor. O objetivo maior desta le ideal. Uma das formas para compreender o seu significa-
educação na escola é fundamentar o espaço escolar como do é olhar para a maneira com que o conceito de democra-
uma verdadeira esfera pública democrática. cia se transformou e se desenvolveu historicamente.
Finalmente, quais seriam os pontos principais do con-
teúdo da educação em direitos humanos? Há um conteúdo A democracia na Grécia Antiga
óbvio, que decorre da própria definição de direitos huma- A democracia surgiu nas cidades-estados da Grécia an-
nos e do conhecimento sobre as gerações ou dimensões tiga, durante o primeiro milênio antes de Cristo, e tomou
históricas, sobre as possibilidades de reivindicação e de ga- sua forma clássica no auge político da cidade de Atenas.
rantias etc. Este conteúdo deve estar efetivamente vincula- Sua etimologia provém dos termos “demo” (povo) e “cracia”
do a uma noção de direitos mas também de deveres, estes (governo), significando literalmente “o governo do povo”.
decorrentes das obrigações do cidadão e de seu compro- De acordo com a classificação das três formas de governo
misso com a solidariedade. É importante, ainda, que sejam feita por Aristóteles na sua obra “Política”, a democracia
mostradas as razões e as conseqüências da obediência a (governo de muitos) se distingue da monarquia (governo
normas e regras de convivência. Em seguida, este conteúdo de um só) e da aristocracia(governo dos nobres).
deve conter a discussão – para a vivência – dos grandes A clássica democracia das cidades antigas gregas es-
valores da ética republicana e da ética democrática. Os va- tava fundada na participação de todos os cidadãos em as-
lores da ética republicana incluem o respeito às leis legiti- sembleia com o objetivo de tomar conjuntamente as de-
mamente elaboradas, a prioridade do bem público acima cisões governamentais. Apesar de ter existido em um pe-
dos interesses pessoais ou grupais, e a noção da respon- queno território e entre um número reduzido de pessoas
sabilidade, ou seja, de prestação de contas de nossos atos (apenas os homens livres eram considerados cidadãos, ex-
como cidadãos. Por sua vez, os valores democráticos estão cluindo mulheres e escravos), a experiência da democracia
profundamente vinculados ao conjunto dos direitos huma- grega adquiriu grande importância ao tornar possível um
nos, os quais se resumem no valor da igualdade, no valor sistema político no qual o povo é soberano e tem o direito
da liberdade e no valor da solidariedade. a se governar, contando com recursos e instituições para
Nas palestras seguintes está previsto um detalhamento fazê-lo. Essa ideia permaneceu como o núcleo do ideal de-
sobre o encaminhamento metodológico desses fundamen- mocrático moderno e continua a moldar as instituições e
tos; mas é preciso deixar claro que o componente essencial práticas democráticas atuais. A prática política democrá-
ao escolhermos trabalhar na escola com um programa de tica gestada na Grécia se refletiu nas instituições políticas
direitos humanos é que ele será impossível se não estiver da República Romana, que se expandiu para grande parte
associado a práticas democráticas. Um grande educador da Europa e do Mediterrâneo.
como o Prof. José Mario Pires Azanha enfatiza, com o ri-
gor de sempre, que de nada adiantará levar programas de A democracia contemporânea
direitos humanos para a escola, se a própria escola não é Na era moderna, a prática da democracia foi transfe-
democrática na sua relação de respeito com os alunos, com rida da pequena cidade-estado para a escala muito maior
os pais, com os professores, com os funcionários e com a do  Estado nacional, o que implicou o surgimento de um
comunidade que a cerca. conjunto novo de instituições políticas. Os limites e as pos-
É nesse sentido que um programa de direitos huma- sibilidades das instituições democráticas passaram a ser
nos introduzido na escola serve, também, para questionar pensados no nível do funcionamento de sociedades com-
e enfrentar as suas próprias contradições e os conflitos no plexas, dotadas de grandes governos, impessoais e indire-
seu cotidiano. tos. Tornou-se impossível o exercício direto da democracia
pelos cidadãos como era realizado nas pequenas cidades-
Fonte: http://www.hottopos.com/convenit6/victoria. -estados gregas.
htm Foi-se afirmando no pensamento político moderno a
ideia de que a única forma de democracia possível era um
governo representativo. Na concepção moderna de demo-
cracia, o ato de governar e legislar é delegado a um grupo

21
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

restrito de representantes eleitos por períodos limitados, e legislativo. Outro exemplo de tipologia é a que leva em
direta ou indiretamente, pelos cidadãos. Ou seja, a sobe- consideração os partidos políticos, diferenciando sistemas
rania do povo se dá por meio dos representantes que pelo bipartidários (onde dominam apenas dois partidos, como
povo são eleitos. As eleições e decisões legislativas geral- nos Estados Unidos) e pluripartidários (onde três ou mais
mente são tomadas por maioria de votos, de forma que as partidos disputam o poder, como no Brasil).
políticas reflitam, pelo menos até certo ponto, a vontade e No mundo ocidental em geral considera-se a demo-
os interesses dos cidadãos. Para evitar a concentração e o cracia representativa como o regime político mais eficaz
abuso do poder, as principais funções legislativas, executi- para promover maior liberdade e direitos para os cida-
vas e judiciais do governo estão separadas, de modo a se dãos com o mínimo de abuso do poder político. Entretan-
equilibrarem. to, existe uma série de críticas à democracia representati-
Nesse sentido, a liberdade individual e a igualdade de va, formal e indireta tal qual ela se desenvolveu nos paí-
condições são consideradas os principais valores democrá- ses ocidentais, acusando-a principalmente de favorecer
ticos e os princípios que sustentam essa forma de governo. uma minoria detentora do poder econômico. Os críticos
No pensamento político moderno, a democracia é vista em à democracia representativa consideram que houve um
oposição às formas absolutistas e ditatoriais de governo. O abandono real dos ideais democráticos, nas mãos de re-
estado democrático é concebido com o objetivo de garan- presentantes que não se preocupam de fato com a coisa
tir certos direitos fundamentais à cidadania, geralmente di- pública; argumentam ainda a impossibilidade de manter
vididos em direitos civis, políticos e sociais. Entre os direitos um sistema autenticamente democrático frente à influên-
civis estão a liberdade de expressão, de imprensa, de asso- cia crescente da riqueza, à enorme desigualdade social, à
ciação e de reunião e proteção contra a prisão arbitrária. Os irrefreada corrupção, à escalada da violência e à dissemi-
direitos de votar e de ser eleito para um cargo no governo nação de ódio, preconceito e guerras.
são exemplos de direitos políticos. Já os direitos sociais são
aqueles relacionados à educação, saúde, alimentação, mo- Fonte: https://www.infoescola.com/politica/democra-
radia, transporte, segurança, lazer, etc. Nos últimos séculos, cia/
a luta por democracia nas nações modernas tem se dado
no âmbito da conquista, garantia, universalização e amplia- Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis,
ção dos direitos civis, políticos e sociais. políticos e sociais estabelecidos na Constituição de um
No pensamento político e nos regimes contemporâ- país.
neos, pensa-se a democracia menos em termos ideológi- A cidadania também pode ser definida como a con-
cos e mais no seu sentido formal, ou seja, como um con- dição do cidadão, indivíduo que vive de acordo com um
junto de instituições, direitos e práticas que garantem um conjunto de estatutos pertencentes a uma comunidade
determinado processo para a tomada de decisões coleti- politicamente e socialmente articulada.
vas. Assim, quando hoje nós falamos em democracia, em Uma boa cidadania implica que os direitos e deveres
geral nos referimos a algumas “regras do jogo político”. estão interligados, e o respeito e cumprimento de ambos
Listamos a seguir alguns desses procedimentos que contribuem para uma sociedade mais equilibrada e justa.
caracterizam um sistema democrático atual: Exercer a cidadania é ter consciência de seus direitos
• as instituições políticas responsáveis pelas fun- e obrigações, garantindo que estes sejam colocados em
ções legislativas e executivas devem ser compostas em sua prática. Exercer a cidadania é estar em pleno gozo das
maioria por membros direta ou indiretamente eleitos pelo disposições constitucionais. Preparar o cidadão para o
conjunto dos cidadãos e alternados periodicamente; exercício da cidadania é um dos objetivos da educação
• o voto deve ser universal, ou seja, têm direito ao de um país.
voto todos os cidadãos maiores de idade, sem distinção de O conceito de cidadania também está relacionado
sexo, de raça ou de religião; com o país onde a pessoa exerce os seus direitos e deve-
• todos os votos têm o mesmo peso e os eleitores res. Assim, a cidadania brasileira está relacionada com o
são livres para exercer o seu direito segundo a sua própria indivíduo que está ligado aos direitos e deveres que estão
opinião, frente a uma disputa livre, honesta e pacífica entre definidos na Constituição do Brasil.
partidos políticos que pleiteiam os cargos representativos; Para ter cidadania brasileira, a pessoa deve ter nascido
• vencem as eleições os partidos e/ou candidatos em território brasileiro ou solicitar a sua naturalização, em
que atingirem a maioria numérica dos votos (ainda que caso de estrangeiros. No entanto, os cidadãos de outros
possam ser estabelecidos diferentes critérios para se de- países que desejam adquirir a cidadania brasileira devem
terminar a maioria); obedecer todas as etapas requeridas para este processo.
• as decisões tomadas pela maioria não podem Uma pessoa pode ter direito a dupla cidadania, isso
ameaçar os direitos básicos da minoria. significa de deve obedecer os diretos e deveres dos países
No âmbito dessa noção formal de democracia, foram em que foi naturalizada.
cunhadas diversas tipologias para caracterizar as diferentes A Constituição da República Federativa do Brasil,
formas de procedimentos democráticos desenvolvidos pe- promulgada em 5 de outubro de 1988, pela Assembleia
los países ocidentais. Por exemplo, podemos discernir entre Nacional Constituinte, composta por 559 congressistas
sistemas presidencialistas e parlamentaristas, dependendo (deputados e senadores), consolidou a democracia, após
da relação que é estabelecida entre os poderes executivo longos anos da ditadura militar no Brasil.

22
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Deveres do cidadão Apesar das modificações conferidas na estrutura do


- Votar para escolher os governantes; ensino brasileiro no decorrer dos anos, nenhuma delas
- Cumprir as leis; instituiu um sistema educacional onde todos tivessem os
- Educar e proteger seus semelhantes; mesmos direitos, onde a intenção principal seria a concep-
- Proteger a natureza; ção do homem com plena autoridade dos próprios meios
- Proteger o patrimônio público e social do País. de libertação; um homem erudito, livre, inteligente e críti-
co, que não se deixa manipular e que pode influenciar o
Direitos do cidadão estilo de vida e o futuro do país.
- Direito à saúde, educação, moradia, trabalho, previ- Sabe-se que só existem três maneiras de se transfor-
dência social, lazer, entre outros; mar uma sociedade: guerra, revolução e educação. Dentre
- O cidadão é livre para escrever e dizer o que pensa, as três, a Educação é a mais viável, a mais passiva, porém a
mas precisa assinar o que disse e escreveu; que os efeitos só se tornam visíveis em longo prazo. 
- Todos são respeitados na sua fé, no seu pensamento “Se teus projetos têm prazo de um ano, semeia tri-
e na sua ação na sociedade; go; se teus projetos têm prazo de dez anos, planta árvores
- O cidadão é livre para praticar qualquer trabalho, ofí- frutíferas; se teus projetos têm prazo de cem anos, então
cio ou profissão, mas a lei pode pedir estudo e diploma educa o povo.” (Provérbio chinês).
para isso; O sistema educacional brasileiro fundamenta-se numa
- Só o autor de uma obra tem o direito de usá-la, publi- filosofia de racionalização e democratização do ensino,
cá-la e tirar cópia, e esse direito passa para os seus herdeiros; mas na realidade atesta a existência de mecanismos rígidos
- Os bens de uma pessoa, quando ela morrer, passam de seleção e burocratização, que o configura como elitista.
para seus herdeiros; A educação deveria servir como mecanismo de libertação
- Em tempo de paz, qualquer pessoa pode ir de uma do homem. Esse, por meio da educação formal, deveria colaborar
cidade para outra, ficar ou sair do país, obedecendo a lei para o desenvolvimento do país e, acima de tudo, usufruir dos
feita para isso. resultados. Porém, tem-se uma educação que serve como veículo
de transmissão das ideias da classe dominante, cujo papel é mui-
Fonte: http://www.significados.com.br/cidadania/ to importante na perpetuação das condições sociais já existentes.
Existe uma tendência em considerar-se instrução so-
mente aquela que ocorre em escolas, ou seja, o ensino for-
mal. Mas como diz Brandão: “Não há uma forma única nem
A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA; INCLUSÃO um único modelo de educação; a escola não é o único lu-
EDUCACIONAL E RESPEITO À DIVERSIDADE; gar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino
escolar não é a sua única prática e o professor profissional
não é o seu único praticante.” Assim, considera-se ensino
e educação todo procedimento que tem por intento in-
Prezado candidato ,o tema acima supracitado, já foi tervir na conduta humana. Atualmente, quiçá pela falta de
abordado em tópicos anteriores. tempo da maioria dos pais, é imposta à escola toda a res-
ponsabilidade em relação à educação dos alunos. Mas não
Função social da escola pode ser desse modo. Por mais que a escola se encoraje e
Apesar das transformações sofridas no decorrer da his- tenha consciência da sua função, ela jamais poderá suprir
tória, a escola representa a Instituição que a humanidade a família. O papel dos pais na educação é de extraordinária
elegeu para socializar o saber sistematizado. Isso denota importância para a formação integral do educando, pois os
afirmar que é o lugar onde, por princípio, é difundido o co- filhos espelham-se nos atos dos genitores para construir
nhecimento que a sociedade estima necessário transmitir modelos de personalidade e caráter para a própria vida. 
às novas gerações. Nenhuma outra forma de aparelhamen- A escola não pode continuar a ser uma clínica de abortos.
to foi capaz de substituí-la. Os que fracassam na escola tendem a ser excluídos da socie-
 “Da maneira como existe entre nós, a educação surge dade. Detrás do insucesso escolar encobrem-se aflições, frus-
na Grécia e vai para Roma, ao longo de muitos séculos da trações, amarguras, enfim, sofrimentos. A impulsiva fabricação
história de espartanos, atenienses e romanos. Deles deri- do malogro escolar não se restringe a um problema educacio-
va todo o nosso sistema de ensino e, sobre a educação nal. Trata-se de um problema social, cultural e até econômico.
que havia em Atenas, até mesmo as sociedades capitalistas Com o fracasso escolar justificam-se, posteriormente, mais tu-
mais tecnologicamente avançadas têm feito poucas inova- multos sociais, mais cadeias, mais clínicas psiquiátricas.
ções” (Brandão, 2005). A educação não pode ser meramente um processo de
Dentro de cada organização existem classes sociais em influência e reflexão do passado sobre o presente. Deve
posições elevadas, as quais criam e impõem um tipo de ser uma ciência que permita ao educando se automedicar,
educação que visa a atender interesses particulares e refor- acordar a consciência e a responsabilidade mediante valo-
çar, cada vez mais, o poder dos privilegiados. E as escolas res essenciais à vida. Uma das finalidades da educação é
transformaram-se nas instituições que mais têm colabo- autorizar que os jovens se concretizem por meio da ação e
rado para a efetivação desses objetivos, visto que sempre do esforço pessoal para procurar e transformar os valores
estiveram sobre o controle do estado. culturais do passado, adaptando-os à realidade.

23
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Os pais, os mestres e a própria instituição educacio- para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensi-
nal têm como objetivo imprimir a cultura, mas não apenas. no Médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos
Também têm como desígnio ajudar o jovem a desenvolver mínimos, de modo a assegurar formação básica comum.
a capacidade de criar suas próprias formas de cultura; pro- A formulação de Diretrizes Curriculares Nacionais
mover ao jovem o desenvolvimento das habilidades pes- constitui, portanto, atribuição federal, que é exercida
soais para que ele mesmo seja capaz de cogitar sobre o pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), nos termos
que lhe é transmitido, de aceitar, mas acatar com espírito da LDB e da
crítico, independência, liberdade e consciência. Lei nº 9.131/95, que o instituiu. Esta lei define, na
Para John Dewey, “a educação não é algo que deva alínea “c” do seu artigo 9º, entre as atribuições de sua
ser inculcado de fora, mas consiste no desenvolvimento de Câmara de Educação Básica (CEB), deliberar sobre as Di-
dons que todo o ser humano traz consigo ao nascer.” Des- retrizes Curriculares propostas pelo Ministério da Edu-
tarte, a educação não seria um processo de difusão ou de cação. Esta competência para definir as Diretrizes Cur-
imposição dos valores culturais assimilados pelas gerações riculares Nacionais torna-as mandatórias para todos os
mais velhas; não seria algo estruturado deliberadamente sistemas. Ademais, atribui-lhe, entre outras, a respon-
pelas instituições, mas germinaria da alma do ser humano. sabilidade de assegurar a participação da sociedade no
Toda vez que se reflete sobre a educação, precisa-se, aperfeiçoamento da educação nacional (artigo 7º da Lei
em princípio, ponderar-se no ser em que vai processar-se a nº 4.024/61, com redação dada pela Lei 8.131/95), razão
educação: o homem. Esse, não apenas como elemento do pela qual as diretrizes constitutivas deste Parecer con-
educativo, mas como atuante do processo educacional. É o sideram o exame das avaliações por elas apresentadas,
homem que individualiza e estabelece a estrutura, os fins durante o processo de implementação da LDB.
e os objetivos da educação que pretende. Uma educação O sentido adotado neste Parecer para diretrizes está
para o homem que convive, e não para o indivíduo absorto; formulado na Resolução CNE/CEB nº 2/98, que as de-
para o homem que encara a vida, que busca situar-se, que limita como conjunto de definições doutrinárias sobre
aspira ser. princípios, fundamentos e procedimentos na Educação
Básica (...) que orientarão as escolas brasileiras dos sis-
Fonte:https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/ temas de ensino, na organização, na articulação, no de-
artigos/educacao/a-funcao-social-da-escola/14360 senvolvimento e na avaliação de suas propostas peda-
gógicas.
Por outro lado, a necessidade de definição de Di-
retrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação
Básica está posta pela emergência da atualização das
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS políticas educacionais que consubstanciem o direito de
PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA; todo brasileiro à formação humana e cidadã e à forma-
ção profissional, na vivência e convivência em ambiente
educativo. Têm estas Diretrizes por objetivos:
I – sistematizar os princípios e diretrizes gerais da
1. Histórico Educação Básica contidos na Constituição, na LDB e de-
Na organização do Estado brasileiro, a matéria edu- mais dispositivos legais, traduzindo-os em orientações
cacional é conferida pela Lei nº 9.394/96, de Diretrizes e que contribuam para assegurar a formação básica co-
Bases da Educação Nacional (LDB), aos diversos entes fe- mum nacional, tendo como foco os sujeitos que dão vida
derativos: ao currículo e à escola;
União, Distrito Federal, Estados e Municípios, sendo II – estimular a reflexão crítica e propositiva que deve
que a cada um deles compete organizar seu sistema de subsidiar a formulação, execução e avaliação do projeto
ensino, cabendo, ainda, à União a coordenação da políti- político-pedagógico da escola de Educação Básica;
ca nacional de educação, articulando os diferentes níveis III – orientar os cursos de formação inicial e conti-
e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e nuada de profissionais – docentes, técnicos, funcionários
supletiva (artigos 8º, 9º, 10 e 11). -da Educação Básica, os sistemas educativos dos diferen-
tes entes federados e as escolas que os integram, indis-
No tocante à Educação Básica, é relevante destacar tintamente da rede a que pertençam.
que, entre as incumbências prescritas pela LDB aos Estados Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais
e ao Distrito Federal, está assegurar o Ensino Fundamental Gerais para a Educação Básica visam estabelecer bases
e oferecer, com prioridade, o Ensino Médio a todos que o comuns nacionais para a Educação Infantil, o Ensino Fun-
demandarem. E ao Distrito Federal e aos Municípios cabe damental e o Ensino Médio, bem como para as modali-
oferecer a Educação Infantil em Creches e Pré-Escolas, e, dades com que podem se apresentar, a partir das quais
com prioridade, o Ensino Fundamental. os sistemas federal, estaduais, distrital e municipais, por
Em que pese, entretanto, a autonomia dada aos vá- suas competências próprias e complementares, formula-
rios sistemas, a LDB, no inciso IV do seu artigo 9º, atribui rão as suas orientações assegurando a integração curri-
à União estabelecer, em colaboração com os Estados, o cular das três etapas sequentes desse nível da escolari-
Distrito Federal e os municípios, competências e diretrizes zação, essencialmente para compor um todo orgânico.

24
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Além das avaliações que já ocorriam assistematica- Ainda em novembro de 2006, em Brasília, foi realizado
mente, marcou o início da elaboração deste Parecer, parti- o Seminário Nacional Currículo em Debate, promovido pela
cularmente, a Indicação CNE/CEB nº 3/2005, assinada pelo Secretaria de Educação Básica/MEC, com a participação de
então conselheiro da CEB, Francisco Aparecido Cordão, na representantes dos Estados e Municípios. Durante esse Se-
qual constava a proposta de revisão das Diretrizes Curri- minário, a CEB realizou a sua trigésima sessão ordinária na
culares Nacionais para a Educação Infantil e para o Ensino qual promoveu Debate Nacional sobre as Diretrizes Cur-
Fundamental. Nessa Indicação, justificava-se que tais riculares para a Educação Básica, por etapas. Esse deba-
Diretrizes encontravam-se defasadas, segundo avaliação te foi denominado Colóquio Nacional sobre as Diretrizes
nacional sobre a matéria nos últimos anos, e superadas em Curriculares Nacionais. A partir desse evento e dos demais
decorrência dos últimos atos legais e normativos, particu- que o sucederam, em 2007, e considerando a alteração
larmente ao tratar da matrícula no Ensino Fundamental de do quadro de conselheiros do CNE e da CEB, criou-se, em
crianças de 6 (seis) anos e consequente ampliação do Ensi- 2009, nova comissão responsável pela elaboração dessas
no Fundamental para 9 (nove) anos de duração. Imprescin- Diretrizes, constituída por Adeum Hilário Sauer (presiden-
dível acrescentar que a nova redação do inciso I do artigo te), Clélia Brandão Alvarenga Craveiro (relatora), Raimundo
208 da nossa Carta Magna, dada pela Emenda Constitucio- Moacir Mendes Feitosa e José Fernandes de Lima (Portaria
nal nº 59/2009, assegura CNE/CEB nº 2/2009). Essa comissão reiniciou os trabalhos
Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 já organizados pela comissão anterior e, a partir de então,
anos de idade, inclusive a sua oferta gratuita para todos os vem acompanhando os estudos promovidos pelo MEC so-
que a ela não tiveram acesso na idade própria. bre currículo em movimento, no sentido de atuar articulada
Nesta perspectiva, o processo de formulação destas e integradamente com essa instância educacional.
Diretrizes foi acordado, em 2006, pela Câmara de Educação Durante essa trajetória, os temas considerados perti-
Básica com as entidades: Fórum Nacional dos Conselhos nentes à matéria objeto deste
Estaduais de Educação, União Nacional dos Conselhos Mu- Parecer passaram a se constituir nas seguintes ideias-
nicipais de Educação, Conselho dos Secretários Estaduais -força:
de Educação, União Nacional dos Dirigentes Municipais de I–as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a
Educação, e entidades representativas dos profissionais da Educação Básica devem presidir as demais diretrizes curri-
educação, das instituições de formação de professores, das culares específicas para as etapas e modalidades, contem-
mantenedoras do ensino privado e de pesquisadores em plando o conceito de Educação Básica, princípios de or-
educação. ganicidade, sequencialidade e articulação, relação entre as
Para a definição e o desenvolvimento da metodolo- etapas e modalidades: articulação, integração e transição;
gia destinada à elaboração deste Parecer, inicialmente, foi II – o papel do Estado na garantia do direito à educa-
constituída uma comissão que selecionou interrogações ção de qualidade, considerando que a educação, enquanto
e temas estimuladores dos debates, a fim de subsidiar a direito inalienável de todos os cidadãos, é condição pri-
elaboração do documento preliminar visando às Diretrizes meira para o exercício pleno dos direitos: humanos, tanto
Curriculares Nacionais para a Educação Básica, sob a coor- dos direitos sociais e econômicos quanto dos direitos civis
denação da então relatora, conselheira Maria Beatriz Luce. e políticos;
(Portaria CNE/CEB nº 1/2006) III – a Educação Básica como direito e considerada,
A comissão promoveu uma mobilização nacional das contextualizadamente, em um projeto de Nação, em con-
diferentes entidades e instituições que atuam na Educação sonância com os acontecimentos e suas determinações
Básica no País, mediante: histórico-sociais e políticas no mundo;
I – encontros descentralizados com a participação de IV – a dimensão articuladora da integração das diretri-
Municípios e Estados, que reuniram escolas públicas e par- zes curriculares compondo as três etapas e as modalidades
ticulares, mediante audiências públicas regionais, viabili- da Educação Básica, fundamentadas na indissociabilidade
zando ampla efetivação de manifestações; dos conceitos referenciais de cuidar e educar;
II – revisões de documentos relacionados com a Edu- V – a promoção e a ampliação do debate sobre a políti-
cação Básica, pelo CNE/CEB, com o objetivo de promover a ca curricular que orienta a organização da Educação Básica
atualização motivadora do trabalho das entidades, efetiva- como sistema educacional articulado e integrado;
das, simultaneamente, com a discussão do regime de cola- VI – a democratização do acesso, permanência e suces-
boração entre os sistemas educacionais, contando, portanto, so escolar com qualidade social, científica, cultural;
com a participação dos conselhos estaduais e municipais. VII – a articulação da educação escolar com o mundo
do trabalho e a prática social;
Inicialmente, partiu-se da avaliação das diretrizes des- VIII – a gestão democrática e a avaliação;
tinadas à Educação Básica que, até então, haviam sido es- IX – a formação e a valorização dos profissionais da
tabelecidas por etapa e modalidade, ou seja, expressando- educação;
-se nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação X – o financiamento da educação e o controle social.
Infantil; para o Ensino Fundamental; para o Ensino Médio; Ressalte-se que o momento em que estas Diretrizes
para a Educação de Jovens e Adultos; para a Educação do Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica estão
Campo; para a Educação Especial; e para a Educação Esco- sendo elaboradas é muito singular, pois, simultaneamente,
lar Indígena. as diretrizes das etapas da Educação Básica, também elas,

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

passam por avaliação, por meio de contínua mobilização mentares de material didático-escolar, transporte, alimen-
dosrepresentantes dossistemaseducativosdenível nacional, tação e assistência à saúde, bem como reduz, anualmente,
estadual e municipal. A articulação entre os diferentes sis- a partir do exercício de 2009,
temas flui num contexto em que se vivem: O percentual da Desvinculação das Receitas da União
I – os resultados da Conferência Nacional da Educação incidente sobre os recursos destinados à manutenção e ao
Básica (2008); desenvolvimento do ensino. 1
II – os 13 anos transcorridos de vigência da LDB e as 1 São as seguintes as alterações na Constituição Fe-
inúmeras alterações nela introduzidas por várias leis, bem deral, promovidas pela Emenda Constitucional nº 59/2009:
como a edição de outras leis que repercutem nos currículos -Art. 208. (...)
da Educação Básica; I -Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro)
aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua
III – o penúltimo ano de vigência do Plano Nacional de oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso
Educação (PNE), que passa por avaliação, bem como a mo- na idade própria;
bilização nacional em torno de subsídios para a elaboração (O disposto neste inciso I deverá ser implementado
do PNE para o período 2011-2020; progressivamente, até 2016, nos termos do Plano Nacional
IV – a aprovação do Fundo de Manutenção e De- de Educação, com apoio técnico e financeiro da União).
senvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos VII -atendimento ao educando, em todas as etapas da
Professores da Educação (FUNDEB), regulado pela Lei nº Educação Básica, por meio de programas suplementares
11.494/2007, que fixa percentual de recursos a todas as de material didático-escolar, transporte, alimentação e as-
etapas e modalidades da Educação Básica; sistência à saúde.
V – a criação do Conselho Técnico Científico (CTC) da -Art. 211. (...)
Educação Básica, da Coordenação de Aperfeiçoamento de § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a
Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Ca- União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios defini-
pes/MEC); rão formas de colaboração, de modo a assegurar a univer-
VI – a formulação, aprovação e implantação das me- salização do ensino obrigatório.
didas expressas na Lei nº 11.738/2008, que regulamenta o -Art. 212. (...)
piso salarial profissional nacional para os profissionais do § 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará
magistério público da Educação Básica; prioridade ao atendimento das necessidades do ensino
VII – a criação do Fórum Nacional dos Conselhos de obrigatório, no que se refere a universalização, garantia de
Educação, objetivando prática de Regime de colaboração padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano na-
entre o CNE, o Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais cional de educação.
de Educação e a União Nacional dos Conselhos Municipais Para a comissão, o desafio consistia em interpretar essa
de Educação; realidade e apresentar orientações sobre a concepção e or-
VIII – a instituição da política nacional de formação de ganização da Educação Básica como sistema educacional,
profissionais do magistério da Educação Básica (Decreto nº segundo três dimensões básicas: organicidade, sequencia-
6.755, de 29 de janeiro de 2009); lidade e articulação. Dispor sobre a formação básica na-
IX – a aprovação do Parecer CNE/CEB nº 9/2009 e da cional relacionando-a com aparte diversificada, e com a
Resolução CNE/CEB nº 2/2009, que institui as Diretrizes preparação para o trabalho e as práticas sociais, consiste,
Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos portanto, na formulação de princípios para outra lógica de
Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública, diretriz curricular, que considere a formação humana de
que devem ter sido implantados até dezembro de 2009; sujeitos concretos, que vivem em determinado meio am-
X–as recentes avaliações do PNE, sistematizadas pelo biente, contexto histórico e sociocultural, com suas condi-
CNE, expressas no documento Subsídios para Elaboração ções físicas, emocionais e intelectuais.
do PNE Considerações Iniciais. Desafios para a Construção Este Parecer deve contribuir, sobretudo, para o pro-
do PNE (Portaria CNE/CP nº 10/2009); cesso de implementação pelos sistemas de ensino das
XI – a realização da Conferência Nacional de Educação Diretrizes Curriculares Nacionais específicas, para que
(CONAE), com o tema central se concretizem efetivamente nas escolas, minimizando o
“Construindo um Sistema Nacional Articulado de Edu- atual distanciamento existente entre as diretrizes e a sala
cação: Plano Nacional de Educação – de aula. Para a organização das orientações contidas neste
Suas Diretrizes e Estratégias de Ação”, tencionando texto, optou-se por renunciá-las seguindo a disposição que
propor diretrizes e estratégias para a construção do PNE ocupam-na estrutura estabelecida na LDB, nas partes em
2011-2020; que ficam previstos os princípios e fins da educação nacio-
XII – a relevante alteração na Constituição, pela pro- nal; as orientações curriculares; a formação e valorização
mulgação da Emenda Constitucional nº 59/2009, que, en- de profissionais da educação; direitos à educação e deve-
tre suas medidas, assegura Educação Básica obrigatória e res de educar: Estado e família, incluindo-se o Estatuto da
gratuita dos4 aos 17anos de idade, inclusive a sua oferta Criança e do Adolescente (ECA) Lei nº 8.069/90 e a
gratuita para todos os que ela não tiveram acesso na idade Declaração Universal dos Direitos Humanos. Essas re-
própria; assegura o atendimento ao estudante, em todas ferências levaram em conta, igualmente, os dispositivos
as etapas da Educação Básica, mediante programas suple- sobre a Educação Básica constantes da Carta Magna que

26
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

orienta a Nação brasileira, relatórios de pesquisas sobre Lei nº 11.645/2008: alterou a redação do art. 26-A,
educação e produções teóricas versando sobre sociedade para incluir no currículo a obrigatoriedade da temática
e educação. “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
Com treze anos de vigência já completados, a LDB Lei nº 11.525/2007: acrescentou § 5º ao art. 32, incluin-
recebeu várias alterações, particularmente no referente à do conteúdo que trate dos direitos das crianças e dos ado-
Educação Básica, em suas diferentes etapas e modalidades. lescentes no currículo do Ensino Fundamental.
Após a edição da Lei nº 9.475/1997, que alterou o arti- Lei nº 11.330/2006: deu nova redação ao § 3º do art.
go 33 da LDB, prevendo a 87, referente ao recenseamento de estudantes no Ensino
Obrigatoriedade do respeito à diversidade cultural re- Fundamental, com especial atenção para o grupo de 6 a 14
ligiosa do Brasil, outras leis modificaram-na quanto à Edu- anos e de 15 a 16 anos de idade.
cação Básica.2 Lei nº 11.301/2006: alterou o art. 67, incluindo, para
-Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de edu- os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no § 8º do art.
cação, de duração decenal, com o objetivo de articular o 201 da Constituição Federal, definição de funções de ma-
sistema nacional de educação em regime de colaboração gistério.
e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de imple- Lei nº11.274/2006: alterou a redação dos arts. 29,
mentação para assegurar a manutenção e desenvolvimen- 30,32 e 87,dispondo sobre aduração de 9 (nove) anos para
to do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades o Ensino Fundamental, com matrícula obrigatória a partir
por meio de ações integradas dos poderes públicos das dos 6 (seis) anos de idade.
diferentes esferas federativas que conduzam a: Lei nº 11.114/2005: alterou os arts. 6º, 30, 32 e 87, com
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos o objetivo de tornar obrigatório o início do Ensino Funda-
públicos em educação como proporção do produto inter- mental aos seis anos de idade.
no bruto. Lei nº 10.793/2003: alterou a redação do art. 26, § 3º,
-Art. 76 do Ato das Disposições Constitucionais Tran- e do art. 92 , com referência à Educação Física nos ensinos
sitórias fundamental e médio.
§ 3º Para efeito do cálculo dos recursos para manuten-
A maior parte dessas modificações tem relevância so-
ção e desenvolvimento do ensino de que trata o art. 212 da
cial, porque, além de reorganizarem aspectos da Educação
Constituição, o percentual referido no caput deste artigo
Básica, ampliam o acesso das crianças ao mundo letrado,
será de 12,5 % (doze inteiros e cinco décimos por cento)
asseguram-lhes outros benefícios concretos que contri-
no exercício de 2009, 5% (cinco por cento) no exercício de
buem para o seu desenvolvimento pleno, orientado por
2010, e nulo no exercício de 2011.
profissionais da educação especializados. Nesse sentido,
2 Leis que alteraram a LDB, no que se relaciona com a
destaca-se que a LDB foi alterada pela Lei nº 10.287/2001
Educação Básica, e cujas alterações estão em vigor atual-
para responsabilizar a escola, o Conselho Tutelar do Muni-
mente:
Lei nº12.061/2009:alterou o inciso II do art. 4º e o inci- cípio, o juiz competente da Comarca e o representante do
so VI do art. 10daLDB,para assegurar o acesso de todos os Ministério Público pelo acompanhamento sistemáti-
interessados ao Ensino Médio público. co do percurso escolar das crianças e dos jovens. Este é,
Lei nº 12.020/2009: alterou a redação do inciso II do sem dúvida ,um dos mecanismos que, se for efetivado de
art. 20, que define instituições de ensino comunitárias. modo contínuo, pode contribuir significativamente para a
Lei nº 12.014/2009: alterou o art. 61 para discriminar permanência do estudante na escola. Destaca-se, também,
as categorias de trabalhadores que se devem considerar que foi incluído, pela Lei nº 11.700/2008, o inciso X no arti-
profissionais da Educação Básica. go 4º, fixando como dever do Estado efetivar a garantia de
Lei nº 12.013/2009: alterou o art. 12, determinando às ins- vaga na escola pública de Educação Infantil ou de Ensino
tituições de ensino obrigatoriedade no envio de informações Fundamental mais próxima de sua residência a toda
escolares aos pais, conviventes ou não com seus filhos. criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos
Lei nº 11.788/2008: alterou o art. 82, sobre o estágio de idade.
de estudantes.
Lei nº 11.741/2008: redimensionou, institucionalizou e Há leis, por outro lado, que não alteram a redação da
integrou as ações da Educação Profissional Técnica de nível LDB, porém agregam-lhe complementações, como a Lei
médio, da Educação de Jovens e Adultos e da Educação nº 9.795/99, que dispõe sobre a Educação Ambiental e ins-
Profissional e Tecnológica. titui a Política Nacional de Educação Ambiental; a Lei nº
Lei nº 11.769/2008: incluiu parágrafo no art. 26, sobre 10.436/2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Si-
a música como conteúdo obrigatório, mas não exclusivo. nais (LIBRAS); a Lei nº 10.741/2003, que dispõe sobre o Es-
Leinº11.700/2008:incluiu o inciso X no artigo4º,fixando tatuto do Idoso; a Lei nº9.503/97, que institui o Código de
como deverdo Estado efetivara garantia de vaga na esco- Trânsito Brasileiro; a Lei nº 11.161/2005, que dispõe sobre
la pública de Educação Infantil ou de Ensino Fundamental o ensino da Língua Espanhola; e o Decreto nº 6.949/2009,
mais próxima de sua residência a toda criança a partir do que promulga a Convenção Internacional sobre os Direi-
dia em que completar 4 (quatro) anos de idade. tos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Faculta-
Lei nº 11.684/2008: incluiu Filosofia e Sociologia como tivo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007.
obrigatórias no Ensino Médio.

27
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

É relevante lembrar que a Constituição Federal, acima capacitação docente e infraestrutura. Em contrapartida,
de todas as leis, no seu inciso XXV do artigo 7º, determi- nesse mesmo documento, é assinalado que a permanên-
na que um dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais cia e o sucesso do estudante na escola têm sido objeto
e, portanto, obrigação das empresas, é a assistência gra- de pouca atenção. Em outros documentos acadêmicos e
tuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 oficiais, são também aspectos que têm sido avaliados de
(cinco) anos de idade em Creches e Pré-Escolas.3 Embora modo descontínuo e escasso, embora a permanência se
redundante, registre-se que todas as Creches e Pré-Esco- constitua em exigência fixada no inciso I do artigo 3º da
las devem estar integradas ao respectivo sistema de ensino LDB.
(artigo 89 da LDB). Salienta-se que, além das condições para acesso à es-
cola, há de se garantir a permanência nela, e com sucesso.
A LDB, com suas alterações, edemais atos legais de- Esta exigência se constitui em um desafio de difícil concre-
sempenham papel necessário, por sua função referencial tização, mas não impossível. O artigo 6º, da LDB, alterado
obrigatória para os diferentes sistemas e redes educativos. pela Lei nº 11.114/2005,
Pode-se afirmar, sem sombra de dúvida, que ainda está Prevê que é dever dos pais ou responsáveis efetuar a
em curso o processo de implementação dos princípios e matrícula dos menores, a partir dos seis anos de idade, no
das finalidades definidos constitucional e legalmente para Ensino Fundamental.
orientar o projeto educativo do País, cujos resultados ainda
não são satisfatórios, até porque o texto da Lei, por si só, Reforça-se, assim, a garantia de acesso a essas etapas
não se traduz em elemento indutor de mudança. Ele requer da Educação Básica. Para o Ensino Médio, a oferta não era,
esforço conjugado por parte dos órgãos responsáveis pelo originalmente, obrigatória, mas indicada como de extensão
cumprimento do que os atos regulatórios preveem. progressiva, porém, a Lei nº 12.061/2009 alterou o inciso II
No desempenho de suas competências, o CNE iniciou, do artigo 4º e o inciso VI do artigo 10 da LDB, para garantir
em 1997, a produção de orientações normativas nacionais, a universalização do Ensino Médio gratuito e para assegu-
visando à implantação da Educação Básica, sendo a Primei- rar o atendimento de todos os interessados ao Ensino Mé-
ra o Parecer CNE/CEBnº5/97,delavrado conselheiro Ulysses dio público. De todo modo, o inciso VII do mesmo artigo
de Oliveira Panisset. A partir de então, foram editados pelo já estabelecia que se deve garantir a oferta de educação
Conselho Nacional de Educação pareceres e resoluções, escolar regular para jovens e adultos, com características
em separado, para cada uma das etapas e modalidades. e modalidades adequadas às suas necessidades e dispo-
No período de vigência do Plano Nacional de Educação nibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as
(PNE), desde o seu início até 2008, constata-se que, em- condições de acesso e permanência na escola.
bora em ritmo distinto, menos de um terço das unidades O acesso ganhou força constitucional, agora para qua-
federadas (26 Estados e o Distrito Federal) apresentaram se todo o conjunto da Educação Básica(excetuada a fase
resposta positiva, uma vez que, dentre eles, apenas 8 for- inicial da Educação Infantil, da Creche), com a nova reda-
mularam e aprovaramos seus planos de educação. Relen- ção dada ao inciso I do artigo 208 da nossa Carta Magna,
do a avaliação técnica do Lei nº 10.709/2003: acrescentou que assegura a Educação Básica obrigatória e gratuita dos
incisos aos arts. 10 e 11, referentes ao transporte escolar. 4 aos 17 anos de idade, inclusive a gratuita para todos os
Leinº10.287/2001: incluiu inciso no art. 12,referente que a ela não tiveram acesso na idade própria, sendo sua
a notificação ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz implementação progressiva, até2016, nos termos do Plano
competente da Comarca e ao respectivo representante do Nacional de Educação, com apoio técnico e financeiro da
Ministério Público a relação dos estudantes que apresente União.
em quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do Além do PNE, outros subsídios têm orientado as políti-
percentual permitido em lei. cas públicas para a educação no Brasil, entre eles as avalia-
Lei nº 9.475/1997: deu nova redação ao art. 33, refe- ções do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB),
rente ao ensino religioso. da Prova Brasil e do Exame Nacional do Ensino Médio
3 Anterior à Constituição, o Decreto-Lei nº 5.452/1943 (ENEM), definidas como constitutivas do Sistema de Avalia-
(Consolidação das Leis do Trabalho – CLT), no § 1º do artigo ção da Qualidade da Oferta de Cursos no País. Destaca-se
389, dispõe que “os estabelecimentos em que trabalharem que tais programas têm suscitado interrogações também
pelo menos 30 (trinta) mulheres com mais de 16 (dezes- na Câmara de Educação Básica do CNE, entre outras instân-
seis) anos de idade terão local apropriado, onde seja per- cias acadêmicas: teriam eles consonância com a realidade
mitido às empregadas guardar sob vigilância e assistência das escolas?
os seus filhos no período de amamentação” (considerado Esses programas levam em consideração a identidade
de 6 meses). Por iniciativa do Ministério do Trabalho veio de cada sistema, de cada unidade escolar? O fracasso do
a admitir-se convênio entre empresa e Creche ou, ainda, o escolar, averiguado por esses programas de avaliação, não
reembolso da importância despendida em Creche de esco- estaria expressando o resultado da forma como se proces-
lha da empregada mãe. sa a avaliação ,não estando de acordo com a maneira como
PNE, promovida pela Comissão de Educação e Cultura a escola e os professores planejam e operam o currículo?
da Câmara dos Deputados (2004), pode-se constatar que, O sistema de avaliação aplicado guardaria relação com o
em todas as etapas e modalidades educativas contempla- que efetivamente acontece na concretude das escolas bra-
das no PNE, três aspectos figuram reiteradamente: acesso, sileiras?

28
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Como consequência desse método de avaliação ex- profissionais de Educação Básica onde mais abundam as leis
terna, os estudantes crianças não estariam sendo punidos e os pareceres dos conselhos, os palpites fáceis de cada novo
com resultados péssimos e reportagens terríveis? E mais, governante, das equipes técnicas, e até das agências de finan-
os estudantes das escolas indígenas, entre outros de situa- ciamento, nacionais e internacionais (Arroyo, 1999, p. 151).
ções específicas, não estariam sendo afetados negativa- Outro limite que tem sido apontado pela comunidade
mente por essas formas de avaliação? educativa, a ser considerado na formulação e implemen-
Lamentavelmente, esses questionamentos não têm in- tação das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a
dicado alternativas para o aperfeiçoamento das avaliações Educação Básica, é a desproporção existente entre as uni-
nacionais. Como se sabe, as avaliações ENEM eProva Brasil dades federadas do Brasil, sob diferentes pontos de vista:
vêm-se constituindo em políticas de Estado que subsidiam recursos financeiros, presença política, dimensão geográfi-
os sistemas na formulação de políticas públicas de equida- ca, demografia, recursos naturais e, acima de tudo, traços
de, bem como proporcionam elementos aos municípios e socioculturais.
escolas para localizarem as suas fragilidades e promove- Entre múltiplos fatores que podem ser destacados,
rem ações, na tentativa de superá-las, por meio de metas acentua-se que, para alguns educadores que se manifes-
integradas. Além disso, é proposta do CNE o estabeleci- taram durante os debates havidos em nível nacional, tendo
mento de uma Base Nacional Comum que terá como um como foco o cotidiano da escola e as diretrizes curriculares
dos objetivos nortear as avaliações e a elaboração de livros vigentes, há um entendimento de que tanto as diretrizes
didáticos e de outros documentos pedagógicos. curriculares, quanto os Parâmetros Curriculares Nacionais
O processo de implantação e implementação do dis- (PCN), implementados pelo MEC de 1997 a 2002, transfor-
posto na alteração da LDB pela Lei nº 11.274/2006, que maram-se em meros papéis. Preencheram um alacuna de
estabeleceu o ingresso da criança a partir dos seis anos de modo equivocado e pouco dialógico, definindo as concep-
idade no Ensino Fundamental, tem como perspectivas me- ções metodológicas a serem seguidas e o conhecimento
lhorar as condições de equidade e qualidade da Educação a ser trabalhado no Ensino Fundamental e no Médio. Os
Básica, estruturar um novo Ensino Fundamental e assegu- PCNs teriam sido editados como obrigação de conteúdos a
rar um alargamento do tempo para as aprendizagens da serem contemplados no Brasil inteiro, como se fossem um
alfabetização e do letramento. roteiro, sugerindo entender que essa medida poderia ser
Se forem observados os dados estatísticos a partir da orientação suficiente para assegurar a qualidade da edu-
relação entre duas datas referenciais – 2000 e 2008 –, tem- cação para todos. Entretanto, a educação para todos não
-se surpresa quanto ao quantitativo total de matriculados é viabilizadapor decreto, resolução, portaria ou similar, ou
na Educação Básica, já que se constata redução de matrícu- seja, não se efetiva tão somente por meio de prescrição de
la (-0,7%), em vez de elevação. atividades de ensino ou de estabelecimento de parâmetros
Contudo, embora se perceba uma redução de 20,6% ou diretrizes curriculares: a educação de qualidade social é
no total da Educação Infantil, na Creche o crescimento foi conquista e, como conquista da sociedade brasileira, é ma-
expressivo, de 47,7%. Os números indicam que, no Ensino nifestada pelos movimentos sociais, pois é direito de todos.
Fundamental e no Ensino Médio, há decréscimo de ma- Essa conquista, simultaneamente, tão solitária e solidá-
trícula, o que trai a intenção nacional projetada em metas ria quanto singular e coletiva,
constitutivas do Plano Nacional de Educação, pois, no pri- Supõe aprender a articular o local e o universal em
meiro, constata-se uma queda de -7,3% e, no segundo, de diferentes tempos, espaços e grupos sociais desde a pri-
-8,4%. Uma pergunta inevitável é: em que medida as po- meira infância. A qualidade da educação para todos exige
líticas educacionais estimularia a superação desse quadro compromisso e responsabilidade de todos os envolvidos
e em quais aspectos essas Diretrizes poderiam contribuir no processo político, que o Projeto de Nação traçou, por
como indutoras de mudanças favoráveis à reversão do que meio da Constituição Federal e da LDB, cujos princípios e
se coloca? finalidades educacionais são desafiadores: em síntese, as-
Há necessidade de aproximação da lógica dos discur- segurando o direito inalienável de cada brasileiro conquis-
sos normativos com a lógica social, ou seja, a dos papéis e tar uma formação sustentada na continuidade de estudos,
das funções sociais em seu dinamismo. Um dos desafios, ou seja, como temporalização de aprendizagens que com-
entretanto, está no que Miguel G. Arroyo (1999) aponta, plexifiquem a experiência de comungar sentidos que dão
por exemplo, em seu artigo, “Ciclos de desenvolvimento significado à convivência.
humano e formação de educadores”, em que assinala que Há de se reconhecer, no entanto, que o desafio maior
as diretrizes para a educação nacional, quando normatiza- está na necessidade de repensar as perspectivas de um co-
das, não chegam ao cerne do problema, porque não levam nhecimento digno da humanidade na era planetária, pois
em conta a lógica social. Com base no entendimento do um dos princípios que orientam as sociedades contempo-
autor, as diretrizes não preveem a preparação antecipa- râneas é a imprevisibilidade. As sociedades abertas não
da daqueles que deverão implantá-las e implementá-las. têm os caminhos traçados para um percurso inflexível e
O comentário do autor é ilustrativo por essa compreen- estável. Trata-se de enfrentar o acaso, a volatilidade e a im-
são: não se implantarão propostas inovadoras listando o previsibilidade, e não programas sustentados em certezas.
que teremos de inovar, listando as competências que os Há entendimento geral de que, durante a Década da
educadores devem aprender e montando cursos de trei- Educação (encerrada em 2007), entre as maiores conquis-
namento para formá-los. É (...) no campo da formação de tas destaca-se a criação do FUNDEF, posteriormente trans-

29
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

formado em FUNDEB. Este ampliou as condições efetivas permanência para a conquista da qualidade social; 4) Orga-
de apoio financeiro e de gestão às três etapas da Educação nização curricular: conceito, limites, possibilidades; 5) Or-
Básica e suas modalidades, desde 2007. Do ponto de vista ganização da Educação Básica; 6) Elementos constitutivos
do apoio à Educação Básica, como totalidade, o FUNDEB para organização e implantação das Diretrizes Curriculares
apresenta sinais de que a gestão educacional e de políticas Nacionais Gerais para a Educação Básica.
públicas poderá contribuir para a conquista da elevação da A sociedade, na sua história, constitui-se no locus da
qualidade da educação brasileira, se for assumida por to- vida, das tramas sociais, dos encontros e desencontros
dos os que nela atuam, segundo os critérios da efetividade, nas suas mais diferentes dimensões. É nesse espaço que
relevância e pertinência, tendo como foco as finalidades se inscreve a instituição escolar. O desenvolvimento da
da educação nacional, conforme definem a Constituição sociedade engendra movimentos bastante complexos. Ao
Federal e a LDB, bem como o Plano Nacional de Educação. traduzir-se, ao mesmo tempo, em território, em cultura, em
Os recursos para a educação serão ainda ampliados política, em economia, em modo de vida, em educação, em
com a desvinculação de recursos da União (DRU) aprovada religião e outras manifestações humanas, a sociedade, es-
pela já destacada Emenda Constitucional nº 59/2009. Sem pecialmente a contemporânea, insere-se dialeticamente e
dúvida, essa conquista, resultado das lutas sociais, pode movimenta-se na continuidade e descontinuidade, na uni-
contribuir para a melhoria da qualidade social da ação edu- versalização e na fragmentação, no entrelaçamento e na
cativa, em todo o País. ruptura que conformam a sua face. Por isso, vive-se, hoje,
a problemática da dispersão e ruptura, portanto, da super-
No que diz respeito às fontes de financiamento da ficialidade. Nessa dinâmica, inscreve-se a compreensão do
Educação Básica, em suas diferentes etapas e modalida- projeto de Nação, o da educação nacional e, neste, o da
des, no entanto, verifica-se que há dispersão, o que tem instituição escolar, com sua organização, seu projeto e seu
repercutido desfavoravelmente na unidade da gestão das processo educativo em suas diferentes dimensões, etapas
prioridades educacionais voltadas para a conquista da qua- e modalidades.
lidade social da educação escolar, inclusive em relação às
metasprevistasnoPNE2001-2010.Apesardarelevânciado- O desafio posto pela contemporaneidade à educação
FUNDEF,eagora como FUNDEB em fase inicial de implan- é o de garantir, contextualizadamente, o direito humano
tação, ainda não se tem política financeira compatível com universal e social inalienável à educação. O direito universal
as exigências da Educação Básica em sua pluridimensiona- não é passível de ser analisado isoladamente, mas deve sê-
lidade e totalidade. -lo em estreita relação com outros direitos, especialmente,
dos direitos civis e políticos e dos direitos de caráter subje-
As políticas de formação dos profissionais da educa- tivo, sobre os quais incide decisivamente. Compreender e
ção, as Diretrizes Curriculares Nacionais, os parâmetros de realizar a educação, entendida como um direito individual
qualidade definidos pelo Ministério da Educação, associados humano e coletivo, implica considerar o seu poder de ha-
às normas dos sistemas educativos dos Estados, Distrito Fe- bilitar para o exercício de outros direitos, isto é, para po-
deral e Municípios, são orientações cujo objetivo central é o tencializar o ser humano como cidadão pleno ,de tal modo
de criar condições para que seja possível melhorar o desem- que este se torne apto para viver e conviver em determi-
penho das escolas, mediante ação de todos os seus sujeitos. nado ambiente, em sua dimensão planetária. A educação
Assume-se, portanto, que as Diretrizes Curriculares Na- é, pois, processo e prática que se concretizam nas relações
cionais Gerais para a Educação Básica terão como funda- sociais que transcendem o espaço e o tempo escolares,
mento essencial a responsabilidade que o Estado brasileiro, tendo em vista os diferentes
a família e a sociedade têm de garantir a democratização Sujeitos que a demandam. Educação consiste, portan-
do acesso, inclusão, permanência e sucesso das crianças, to, no processo de socializaçãoda cultura da vida, no qual
jovens e adultos na instituição educacional, sobretudo em se constroem, se mantêm e se transformam saberes, co-
idade própria a cada etapa e modalidade; a aprendizagem nhecimentos e valores.
para continuidade dos estudos; e a extensão da obrigato- Exige-se, pois, problematizar o desenho organizacional
riedade e da gratuidade da Educação Básica. da instituição escolar, que não tem conseguido responder
às singularidades dos sujeitos que a compõem. Torna-se
2. Mérito inadiável trazer para o debate os princípios eas práticas
Inicialmente, apresenta-se uma sintética reflexão sobre de um processo de inclusão social, que garanta o acesso e
sociedade e a educação, a que se seguem orientações para considere a diversidade humana, social, cultural, econômi-
a Educação Básica, a partir dos princípios definidos cons- ca dos grupos historicamente excluídos. Trata-se das ques-
titucionalmente e da contextualização apresentada no his- tões de classe, gênero, raça, etnia, geração, constituídas
tórico, tendo compromisso com a organicidade, a sequen- por categorias que se entrelaçam na vida social . pobres,
cialidade e a articulação do conjunto total da Educação mulheres, afrodescentendes, indígenas, pessoas com defi-
Básica, sua inserção na sociedade e seu papel na constru- ciência, as populações do campo, os de diferentes orienta-
ção do Projeto Nacional. Visa-se à formulação das Diretri- ções sexuais, os sujeitos albergados, aqueles em situação
zes Curriculares específicas para suas etapas e modalida- de rua, em privação de liberdade . todos que compõem a
des, organizando-se com os seguintes itens: 1) Referências diversidade que é a sociedade brasileira e que começam a
conceituais; 2) Sistema Nacional de Educação; 3) Acesso e ser contemplados pelas políticas públicas.

30
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Para que se conquiste a inclusão social, a educação es- II–liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulga-
colar deve fundamentar-se na ética e nos valores da liber- ra cultura, o pensamento ,a arte e o saber;
dade, na justiça social, na pluralidade, na solidariedade e na
sustentabilidade, cuja finalidade é o pleno desenvolvimen- III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
to de seus sujeitos, nas dimensões individual e social de ci- IV – respeito à liberdade e aos direitos;
dadãos conscientes de seus direitos e deveres, compromis- V – coexistência de instituições públicas e privadas de
sados com a transformação social. Diante dessa concepção ensino;
de educação, a escola é uma organização temporal, que VI – gratuidade do ensino público em estabelecimen-
deve ser menos rígida, segmentada e uniforme, a fim de tos oficiais;
que os estudantes, indistintamente, possam adequar seus VII – valorização do profissional da educação escolar;
tempos de aprendizagens de modo menos homogêneo e VIII – gestão democrática do ensino público, na forma
idealizado. da legislação e normas dos sistemas de ensino;
A escola, face às exigências da Educação Básica, precisa IX – garantia de padrão de qualidade;
ser reinventada: priorizar processos capazes de gerar su- X – valorização da experiência extraescolar;
jeitos inventivos, participativos, cooperativos, preparados XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e
para diversificadas inserções sociais, políticas, culturais, la- as práticas sociais.
borais e, ao mesmo tempo, capazes de intervir e problema- Além das finalidades da educação nacional enunciadas
tizaras formas de produção e devida. A escola tem, diante na Constituição Federal(artigo 205) e na LDB (artigo 2º), que
desse desafio de sua própria recriação, pois tudo que a ela têm como foco o pleno desenvolvimento da pessoa, a prepa-
se refere constitui-se como invenção: os rituais escolares ração para o exercício da cidadania e a qualificação para o tra-
são invenções de um determinado contexto sociocultural balho, deve-se considerar integradamente o previsto no ECA
em movimento. (Lei nº 8.069/90), o qual assegura, à criança e ao adolescente
A elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais Ge- de até 18 anos, todos os direitos fundamentais inerentes à
rais para a Educação Básica pressupõe clareza em relação pessoa, as oportunidades oferecidas para o desenvolvimento
ao seu papel de indicador de opções políticas, sociais, cul- físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liber-
turais, educacionais, e a função da educação, na sua rela- dade e de dignidade. São direitos referentes à vida, à saúde, à
ção com os objetivos constitucionais de projeto de Nação, alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionali-
fundamentando-se na cidadania e na dignidade da pessoa, zação, à cultura, à dignidade, ao respeito mútuo, à liberdade,
o que implica igualdade, liberdade, pluralidade, diversida- à convivência familiar e comunitária (artigos 2º, 3º e 4º).
de, respeito, justiça social, solidariedade e sustentabilidade. A Educação Básica é direito universal e alicerce indis-
pensável para a capacidade de exercer em plenitude o dire-
2.1 Referências conceituais to à cidadania. É o tempo, o espaço e o contexto em que o
Os fundamentos que orientam a Nação brasileira estão sujeito aprende a constituir e reconstituir a sua identidade,
definidos constitucionalmente no artigo 1º da Constituição em meio a transformações corporais, afetivo-emocionais,
Federal, que trata dos princípios fundamentais da cidada- socioemocionais, cognitivas e socioculturais, respeitando e
nia e da dignidade da pessoa humana, do pluralismo po- valorizando as diferenças. Liberdade e pluralidade tornam-
lítico, dos valores sociais do trabalho e dal ivre iniciativa. -se, portanto, exigências do projeto educacional.
Nessas bases, assentam-se os objetivos nacionais e, por Da aquisição plena desse direito depende a possibi-
consequência, o projeto lidade de exercitar todos os demais direitos, definidos na
educacional brasileiro: construir uma sociedade livre, Constituição, no ECA, na legislação ordinária e nas inúmeras
justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; er- disposições legais que consagram as prerrogativas do cida-
radicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigual- dão brasileiro. Somente um ser educado terá condição efeti-
dades sociais e regionais; promover o bem de todos sem va de participação social, ciente e consciente de seus direitos
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer e deveres civis, sociais, políticos, econômicos e éticos.
outras formas de discriminação. Nessa perspectiva, é oportuno e necessário considerar
Esse conjunto de compromissos prevê também a de- as dimensões do educar e do cuidar, em sua inseparabili-
fesa da paz; a autodeterminação dos povos; a prevalência dade, buscando recuperar, para a função social da Educa-
dos direitos humanos; o repúdio ao preconceito, à violên- ção Básica, a sua centralidade, que é o estudante. Cuidar e
cia e ao terrorismo; e o equilíbrio do meio ambiente, bem educar iniciam-se na Educação Infantil, ações destinadas a
de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, crianças a partir de zero ano, que devem ser estendidas ao
impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de Ensino Fundamental, Médio e posteriores.
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e as futuras ge- Cuidar e educar significa compreender que o direito à
rações. educação parte do princípio da formação da pessoa em sua
As bases que dão sustentação ao projeto nacional de essência humana. Trata-se de considerar o cuidado no sen-
educação responsabilizam o poder público, a família, a so- tido profundo do que seja acolhimento de todos – crian-
ciedade e a escola pela garantia a todos os estudantes de ças, adolescentes, jovens e adultos – com respeito e, com
um ensino ministrado com base nos seguintes princípios: atenção adequada, de estudantes com deficiência, jovens
I – igualdade de condições para o acesso, inclusão, per- e adultos defasados na relação idade-escolaridade, indíge-
manência e sucesso na escola; nas, afrodescendentes, quilombolas e povos do campo.

31
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Educar exige cuidado; cuidar é educar, envolvendo cepção de educação integral que deve orientar a organi-
acolher, ouvir, encorajar, apoiar, zação da escola, o conjunto de atividades nela realizadas,
No sentido de desenvolver o aprendizado de pensa bem como as políticas sociais que se relacionam com as
reagir, cuidar de si, do outro, da escola, da natureza, da práticas educacionais. Em cada criança, adolescente, jovem
água, do Planeta. Educar é, enfim, enfrentar o desafio de ou adulto, há uma criatura humana em formação e, nesse
lidar com gente, isto é, com criaturas tão imprevisíveis e sentido, cuidar e educar são, ao mesmo tempo, princípios e
diferentes quanto semelhantes, ao longo de uma existência atos que orientam e dão sentido aos processos de ensino,
inscrita na teia das relações humanas, neste mundo com- de aprendizagem e de construção da pessoa humana em
plexo. Educar com cuidado significa aprendera amar sem suas múltiplas dimensões.
dependência, desenvolvera sensibilidade humana na rela- Cabe, aqui, uma reflexão sobre o conceito de cidada-
ção década um consigo, como outro e com tudo o que nia, a forma como a ideia de cidadania foi tratada no Brasil
existe, com zelo, ante uma situação que requer cautela em e, em muitos casos, ainda o é. Reveste-se de uma caracte-
busca da formação humana plena. rística
A responsabilidade por sua efetivação exige corres- – para usar os termos de Hannah Arendt – essencial-
ponsabilidade: de um lado, a responsabilidade estatal na mente “social”. Quer dizer: algo ainda derivado e circuns-
realização de procedimentos que assegurem o disposto crito ao âmbito da pura necessidade. É comum ouvir ou ler
nos incisos VIIe VIII,doartigo12e VIdo artigo13,daLDB;- algo que sugere uma noção de cidadania como “acesso
deoutro,aarticulaçãocoma família, com o Conselho Tutelar, dos indivíduos aos bens e serviços de uma sociedade mo-
com o juiz competente da Comarca, com o representante derna”, discurso contemporâneo de uma época em que os
do Ministério Público e com os demais segmentos da so- inúmeros movimentos sociais brasileiros lutavam, essen-
ciedade. Para que isso se efetive, torna-se exigência, tam- cialmente, para obter do Estado condições de existência
bém, a corresponsabilidade exercida pelos profissionais da mais digna, do ponto de vista dominantemente material.
educação, necessariamente articulando a escola com as Mesmo quando esse discurso se modificou num sentido
famílias e a comunidade. mais “político” e menos “social”, quer dizer, uma cidadania
Nota-se que apenas pelo cuidado não se constrói a agora compreendida como a participação ativa dos indi-
educação e as dimensões que a envolvem como projeto víduos nas decisões pertinentes à sua vida cotidiana, esta
transformador e libertador. A relação entre cuidar e edu- não deixou de ser uma reivindicação que situava o político
car se concebe mediante internalização consciente de ei- na precedência do social: participar de decisões públicas
xos norteadores, que remetem à experiência fundamental significa obter direitos e assumir deveres, solicitar ou as-
do valor, que influencia significativamente a definição da segurar certas condições de vida minimamente civilizadas.
conduta, no percurso cotidiano escolar. Não de um valor Em um contexto marcado pelo desenvolvimento de
pragmático e utilitário de educação, mas do valor intrín- formas de exclusão cada vez mais sutis e humilhantes, a ci-
seco àquilo que deve caracterizar o comportamento de dadania aparece hoje como uma promessa de sociabilida-
seres humanos, que respeitam a si mesmos, aos outros, à de, em que a escola precisa ampliar parte de suas funções,
circunstâncias o cialeao ecossistema. Valor este fundamen- solicitando de seus agentes a função de mantenedores da
tado na ética e na estética, que rege a convivência do indi- paz nas relações sociais, diante das formas cada vez mais
víduo no coletivo, que pressupõe relações de cooperação e amplas e destrutivas de violência. Nessa perspectiva e no
solidariedade, de respeito à alteridade e à liberdade. cenário em que a escola de Educação Básica se insere e
Cuidado, por sua própria natureza, inclui duas signi- em que o professor e o estudante atuam, há que se per-
ficações básicas, intimamente ligadas entre si. A primeira guntar: de que tipo de educação os homens e as mulheres
consiste na atitude de solicitude e de atenção para com o dos próximos 20 anos necessitam, para participarem da
outro. A segunda é de inquietação, sentido de responsabi- construção desse mundo tão diverso? A que trabalho e a
lidade, isto é, de cogitar, pensar, manter atenção, mostrar que cidadania se refere? Em outras palavras, que socieda-
interesse, revelar atitude de desvelo, sem perder a ternura de florescerá? Por isso mesmo, a educação brasileira deve
(Boff, 1999, p. 91), compromisso com a formação do sujeito assumir o desafio de propor uma escola emancipadora e
livre e independente daqueles que o estão gerando como libertadora.
ser humano capaz de conduzir o seu processo formativo,
com autonomia e ética. 2.2. Sistema Nacional de Educação
Cuidado é, pois, um princípio que norteia a atitude, o O Sistema Nacional de Educação é tema que vem sus-
modo prático de realizar-se, de viver e conviver no mun- citando o aprofundamento da compreensão sobre sistema,
do. Por isso, na escola, o processo educativo não comporta no contexto da história da educação, nesta Nação tão di-
uma atitude parcial, fragmentada, recortada da ação huma- versa geográfica, econômica, social e culturalmente. O que
na, baseada somente numa racionalidade estratégico-pro- a proposta de organização do Sistema
cedimental. Inclui ampliação das dimensões constitutivas Nacional de Educação enfrenta é, fundamentalmente,
do trabalhopedagógico,medianteverificaçãodascondições- o desafio de superara fragmentação das políticas públicas e
deaprendizagemapresentadaspeloestudante e busca de a desarticulação institucional dos sistemas de ensino entre
soluções junto à família, aos órgãos do poder público, a si, diante do impacto na estrutura do financiamento, com-
diferentes segmentos da sociedade. Seu horizonte de ação prometendo a conquista da qualidade social das aprendi-
abrange a vida humana em sua globalidade. É essa con- zagens, mediante conquista de uma articulação orgânica.

32
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Os debates sobre o Sistema Nacional de Educação, de colaboração entre os entes federados, cujos sistemas
em vários momentos, abordaram o tema das diretrizes de ensino gozam de autonomia constitucionalmente reco-
para a Educação Básica. Ambas as questões foram objeto nhecida. Isso pressupõe o estabelecimento de regras de
de análise em interface, durante as diferentes etapas pre- equivalência entre as funções distributiva, supletiva, de re-
paratórias da Conferência Nacional de Educação (CONAE) gulação normativa, de supervisão e avaliação da educação
de2009,uma vez que são temas que se vinculam a um ob- nacional, respeitada a autonomia dos sistemas e valoriza-
jetivo comum: articular e fortalecer o sistema nacional de das as diferenças regionais. Sem essa articulação, o projeto
educação em regime de colaboração. educacional – e, por conseguinte, o projeto nacional – cor-
Para Saviani, o sistema é a unidade de vários elementos re o perigo de comprometer a unidade e a qualidade pre-
intencionalmente reunidos de modo a formar um conjunto tendida, inclusive quanto ao disposto no artigo 22 da LDB:
coerente e operante (2009, p. 38). Caracterizam, portanto, desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum
a noção de sistema: a intencionalidade humana; a unidade indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe
e variedade dos múltiplos elementos que se articulam; a meios para progredir no trabalho e em estudos posterio-
coerência interna articulada com a externa. res, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de
Alinhado com essa conceituação, este Parecer adota o solidariedade humana.
entendimento de que sistema resulta da atividade inten- Mais concretamente, há de se prever que a transição
cional e organicamente concebida, que se justifica pela entre Pré-Escola e Ensino Fundamental pode se dar no
realização de atividades voltadas para as mesmas finalida- interior de uma mesma instituição, requerendo formas
des ou para a concretização dos mesmos objetivos. de articulação das dimensões orgânica e sequencial entre
Nessa perspectiva, e no contexto da estrutura fede- os docentes de ambos os segmentos que assegurem às
rativa brasileira, em que convivem sistemas educacionais crianças a continuidade de seus processos peculiares de
autônomos, faz-se necessária a institucionalização de um aprendizagem e desenvolvimento. Quando a transição se
regime de colaboração que dê efetividade ao projeto de dá entre instituições diferentes, essa articulação deve ser
educação nacional. União, Estados, Distrito Federal e Mu- especialmente cuidadosa, garantida por instrumentos de
nicípios, cada qual com suas peculiares competências, são registro – portfólios, relatórios que permitam, aos docentes
chamados a colaborar para transformar a Educação Bási- do Ensino Fundamental de uma outra escola, conhecer os
ca em um conjunto orgânico, sequencial, articulado, assim processos de desenvolvimento e aprendizagem vivencia-
como planejado sistemicamente, que responda às exigên- dos pela criança na Educação Infantil da escola anterior.
cias dos estudantes, de suas aprendizagens nas diversas Mesmo no interior do Ensino Fundamental, há de se cuidar
fases do desenvolvimento físico, intelectual, emocional e da fluência da transição da fase dos anos iniciais para a fase
social. dos anos finais, quando a criança passa a ter diversos do-
Atende-se à dimensão orgânica quando são observa- centes, que conduzem diferentes componentes e ativida-
das as especificidades e as diferenças de cada uma das três des, tornando-se mais complexas a sistemática de estudos
etapas de escolarização da Educação Básica e das fases que e a relação com os professores.
as compõem, sem perda do que lhes é comum: as seme- A transição para o Ensino Médio apresenta contornos
lhanças, as identidades inerentes à condição humana em bastante diferentes dos anteriormente referidos, uma vez
suas determinações históricas e não apenas do ponto de que, ao ingressarem no Ensino Médio, os jovens já trazem
vista da qualidade da sua estrutura e organização. Cada maior experiência com o ambiente escolar e suas rotinas;
etapa do processo de escolarização constitui-se em unida- além disso, a dependência dos adolescentes em relação às
de, que se articula organicamente com as demais de ma- suas famílias é quantitativamente menor e qualitativamen-
neira complexa e intrincada, permanecendo todas elas, em te diferente. Mas, certamente, isso não significa que não
suas diferentes modalidades, individualizadas, ao logo do se criem tensões, que derivam, principalmente, das novas
percurso do escolar, apesar das mudanças por que passam expectativas familiares e sociais que envolvem o jovem. Tais
por força da singularidade de cada uma, bem assim a dos expectativas giram em torno de três variáveis principais
sujeitos que lhes dão vida. conforme o estrato sociocultural em que se produzem: a)
Atende-se à dimensão sequencial quando os proces- os “conflitos da adolescência”; b) a maior ou menor aproxi-
sos educativos acompanham as exigências de aprendi- mação ao mundo do trabalho; c) a crescente aproximação
zagem definidas em cada etapa da trajetória escolar da aos rituais da passagem da Educação Básica para a Educa-
Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e ção Superior.
Médio), até a Educação Superior. São processos educativos Em resumo, o conjunto da Educação Básica deve se
que, embora se constituam em diferentes e insubstituíveis constituir em um processo orgânico, sequencial e articula-
momentos da vida dos estudantes, inscritos em tempos e do, que assegure à criança, ao adolescente, ao jovem e ao
espaços educativos próprios a cada etapa do desenvolvi- adulto de qualquer condição e região do País a formação
mento humano, inscrevem-se em trajetória que deve ser comum para o pleno exercício da cidadania, oferecendo
contínua e progressiva. as condições necessárias para o seu desenvolvimento inte-
A articulação das dimensões orgânica e sequencial gral. Estas são finalidades de todas as etapas constitutivas
das etapas e modalidades da Educação Básica ,e destas da Educação Básica, acrescentando-se os meios para que
com a Educação Superior, implica a ação coordenada e in- possa progredir no mundo do trabalho e acessar a Edu-
tegradora do seu conjunto; o exercício efetivo do regime cação Superior. São referências conceituais e legais, bem

33
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

como desafio para as diferentes instâncias responsáveis No Ensino Fundamental e, nas demais etapas da Edu-
pela concepção, aprovação e execução das políticas cação Básica, a qualidade não tem sido tão estimulada
educacionais. quanto à quantidade. Depositar atenção central sobre a
2.3. Acesso e permanência para a conquista da qua- quantidade,
lidade social Visando à universalização do acesso à escola, é uma
A qualidade social da educação brasileira é uma con- medida necessária, mas que não assegura a permanência,
quista a ser construída de forma negociada ,pois signifi- essencial para compor a qualidade. Em outras palavras, a
ca algo que se concretizaa partir da qualidade da relação oportunidade de acesso, por si só, é destituída de condi-
entre todos os sujeitos que nela atuam direta e indire- ções suficientes para inserção no mundo do conhecimento.
tamente.4 Significa compreender que a educação é um O conceito de qualidade na escola, numa perspectiva
processo de socialização da cultura da vida, no qual se ampla e basilar, remete a uma determinada ideia de quali-
constroem, se mantêm e se transformam conhecimentos dade de vida na sociedade e no planeta Terra. Inclui tanto
e valores. Socializar a cultura inclui garantir a presença a qualidade pedagógica quanto a qualidade política, uma
dos sujeitos das aprendizagens na escola. Assim, a quali- vez que requer compromisso com a permanência do es-
dade social da educação escolar supõe a sua permanên- tudante na escola, com sucesso e valorização dos profis-
cia, não só com a redução da evasão, mas também da sionais da educação. Trata-se da exigência de se conceber
repetência e da distorção idade/ano/série. a qualidade na escola como qualidade social, que se con-
Para assegurar o acesso ao Ensino Fundamental, quista por meio de acordo coletivo. Ambas as qualidades
como direito público subjetivo, no Seu artigo5º,a LDB – pedagógica e política – abrangem diversos modos avalia-
instituiu medidas que se interpenetram ou complemen- tivos comprometidos com a aprendizagem do estudante,
tam, estabelecendo que, para exigir o cumprimento pelo interpretados como indicações que se interpenetram ao
Estado desse ensino obrigatório, qualquer cidadão, gru- longo do processo didático-pedagógico, o qual tem como
po de cidadãos, associação comunitária, organização alvo o desenvolvimento do conhecimento e dos saberes
sindical, entidade de classe ou outra legalmente cons- construídos histórica e socialmente.
tituída e, ainda, o Ministério Público, podem acionar o O compromisso com a permanência do estudante na
poder público. escola é, portanto, um desafio a ser assumido por todos,
Esta medida se complementa com a obrigatoriedade porque, além das determinações sociopolíticas e culturais,
atribuída aos Estados e aos Municípios, em regime de das diferenças individuais e da organização escolar vigente,
colaboração, e com a assistência da União, de recensear há algo que supera a política Regulador a dos processos
a educacionais: há os fluxos migratórios, além de outras va-
4 A garantia de padrão de qualidade é um dos prin- riáveis que se refletem no processo educativo. Essa é uma
cípios da LDB (inciso IX do artigo 3º). população em variável externa que compromete a gestão macro da edu-
idade escolar para o Ensino Fundamental, e os jovens e cação, em todas as esferas, e, portanto, reforça a premên-
adultos que a ele não tiveram acesso, para que seja efe- cia de se criarem processos gerenciais que proporcionem a
tuada a chamada pública correspondente. efetivação do disposto no artigo 5º e no inciso VIII do arti-
Quanto à família, os pais ou responsáveis são obri- go 12 da LDB, quanto ao direito ao acesso e à permanência
gados a matricular a criança no Ensino Fundamental, a na escola de qualidade.
partir dos6anosdeidade,sendoqueéprevista sanção a es- Assim entendida, a qualidade na escola exige de todos
ses e/ou ao poder público, caso descumpram essa obri- os sujeitos do processo educativo:
gação de garantia dessa etapa escolar. I – a instituição da Política Nacional de Formação de
Quanto à obrigatoriedade de permanência do estu- Profissionais do Magistério da Educação Básica, com a fi-
dante na escola, principalmente no Ensino Fundamental, nalidade de organizar, em regime de colaboração entre a
há, na mesma Lei, exigências que se centram nas rela- União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, a for-
ções entre a escola, os pais ou responsáveis, e a comuni- mação inicial e continuada dos profissionais do magistério
dade, de tal modo que a escola e os sistemas de ensino para as redes públicas da educação (Decreto nº 6.755, de
tornam-se responsáveis por: 29 de janeiro de 2009);
- zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequên- II – ampliação da visão política expressa por meio de
cia à escola; habilidades inovadoras, fundamentadas na capacidade
-articular-se com as famílias e a comunidade, crian- para aplicar técnicas e tecnologias orientadas pela ética e
do processos de integração da sociedade com a escola; pela estética;
-informar os pais e responsáveis sobre a frequência III – responsabilidade social, princípio educacional que
e o rendimento dos estudantes, bem como sobre a exe- norteia o conjunto de sujeitos comprometidos com o pro-
cução de sua proposta pedagógica; jeto que definem e assumem como expressão e busca da
-notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz qualidade da escola, fruto do empenho de todos.
competente da Comarca e ao respectivo representan- Construir a qualidade social pressupõe conhecimen-
te do Ministério Público a relação dos estudantes que to dos interesses sociais da comunidade escolar para que
apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta seja possível educar e cuidar mediante interação efetivada
por cento do percentual permitido em lei. entre Princípios e finalidadeseducacionais,objetivos,conhe-
cimentoeconcepçõescurriculares. Isso abarca mais que o

34
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

exercício político-pedagógico que se viabiliza mediante da no projeto político-pedagógico, para além do que fica
atuação de todos os sujeitos da comunidade educativa. Ou dispostonoincisoIXdoartigo4ºdaLDB: definição de padrões
seja, efetiva-se não apenas mediante participação de to- mínimos de qualidade de ensino, como a variedade e quan-
dos os sujeitos da escola – estudante, professor, técnico, tidade mínimas, por estudante, de insumos indispensáveis
funcionário, coordenador – mas também mediante aqui- ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.
sição e utilização adequada dos objetos e espaços (labo- Essa exigência legal traduz a necessidade de se reco-
ratórios, equipamentos, mobiliário, salas-ambiente, biblio- nhecer que a avaliação da Qualidade associa-se à ação pla-
teca, videoteca etc.) requeridos para responder ao projeto nejada, coletivamente, pelos sujeitos da escola e supõe que
político-pedagógico pactuado, vinculados às condições/ tais sujeitos tenham clareza quanto:
disponibilidades mínimas para se instaurar a primazia da I – aos princípios e às finalidades da educação, além do
aquisição e do desenvolvimento de hábitos investigatórios reconhecimento e análise dos dados indicados pelo IDEB
para construção do conhecimento. e/ou outros indicadores, que complementem ou substi-
A escola de qualidade social adota como centralidade tuam estes;
o diálogo, a colaboração, os sujeitos e as aprendizagens, o II – à relevância de um projeto político-pedagógico
que pressupõe, sem dúvida, atendimento a requisitos tais concebido e assumido coletivamente pela comunidade
como: educacional, respeitadas as múltiplas diversidades e a plu-
I – revisão das referências conceituais quanto aos dife- ralidade cultural;
rentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços III – à riqueza da valorização das diferenças manifesta-
sociais na escola e fora dela; das pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos
II – consideração sobre a inclusão, a valorização das segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultural;
diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversida- IV – aos padrões mínimos de qualidade6 (Custo Aluno
de cultural, resgatando e respeitando os direitos humanos, Qualidade inicial – CAQi7), que apontam para quanto deve
individuais e coletivos e as várias manifestações de cada ser investido por estudante de cada etapa e modalidade da
comunidade; Educação Básica, para que o País ofereça uma educação de
III – foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela qualidade a todos os estudantes.
aprendizagem, e na avaliação das aprendizagens como ins- Para se estabelecer uma educação com um padrão mí-
trumento de contínua progressão dos estudantes; nimo de qualidade, é necessário investimento com valor
IV – inter-relação entre organização do currículo, do calculado a partir das despesas essenciais ao desenvolvi-
trabalho pedagógico e da jornada de trabalho do profes- mento dos processos e procedimentos formativos, que le-
sor, tendo como foco a aprendizagem do estudante; vem, gradualmente, a uma educação integral, dotada de
V – preparação dos profissionais da educação, gesto- qualidade social: creches e escolas possuindo condições de
res, professores, especialistas, técnicos, monitores e outros; infraestrutura e de adequados equipamentos e de acessibi-
VI – compatibilidade entre a proposta curricular e a in- lidade; professores qualificados com remuneração
fraestrutura entendida como espaço formativo dotado de Adequada e compatível com a de outros profissionais
efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e com igual nível de formação, em regime de trabalho de 40
acessibilidade; horas em tempo integral em uma mesma escola; definição
VII – integração dos profissionais da educação, os estu- de uma relação adequada entre o número de estudantes
dantes, as famílias, os agentes da comunidade interessados por turma e por professor, que assegure aprendizagens
na educação; relevantes; pessoal de apoio técnico e administrativo que
VIII – valorização dos profissionais da educação, com garanta o bom funcionamento da escola.
programa de formação continuada, critérios de acesso,
permanência, remuneração compatível com a jornada de 2.4. Organização curricular: conceito, limites, possibi-
trabalho definida no projeto político-pedagógico; lidades
No texto “Currículo, conhecimento e cultura”, Moreira
IX – realização de parceria com órgãos, tais como os e Candau (2006) apresentam diversas definições atribuídas
de assistência social, desenvolvimento e direitos humanos, a currículo, a partir da concepção de cultura como práti-
cidadania, ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e ca social, ou seja, como algo que, em vez de apresentar
arte, saúde, meio ambiente. significados intrínsecos, como ocorre, por exemplo, com
No documento “Indicadores de Qualidade na Educa- as manifestações artísticas, a cultura expressa significados
ção” (Ação Educativa, 2004), a qualidade é vista com um atribuídos a partir da linguagem. Em poucas palavras, essa
caráter dinâmico, porque cada escola tem autonomia para concepção é definida como “experiências escolares que se
refletir, propor e agir na busca da qualidade do seu tra- desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas
balho, de acordo com os contextos socioculturais locais. relações sociais, buscando articular vivências e saberes dos
Segundo o autor, os indicadores de qualidade são sinais alunos com os conhecimentos historicamente acumulados
adotados para que se possa qualificar algo, a partir dos cri- e contribuindo para construir as identidades dos estudan-
térios e das prioridades institucionais. Destaque-se que os tes” (idem, p. 22). Uma vez delimitada a ideia sobre cultura,
referenciais e indicadores de avaliação são componentes os autores definem currículo como: conjunto de práticas
curriculares, porque tê-los em mira facilita a aproximação que proporcionam a produção, a circulação e o consumo
entre a escola que se tem e aquela que se quer, traduzi- de significados no espaço social e que contribuem, inten-

35
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

samente, para a construção de identidades sociais e cul- As fronteiras são demarcadas quando se admite tão
turais. O currículo é, por consequência, um dispositivo de somente a ideia de currículo formal. Mas as reflexões teó-
grande efeito no processo de construção da identidade ricas sobre currículo têm como referência os princípios
do (a) estudante (p. 27). Currículo refere-se, portanto, a educacionais garantidos à educação formal. Estes estão
criação, recriação, contestação e transgressão (Moreira e orientados pela liberdade de aprender, ensinar,pesquisa-
Silva, 1994). redivulgaracultura,opensamento,aarteeoconhecimento-
5 Atualmente, são referências nacionais para o plane- científico,além do pluralismo de ideias e de concepções
jamento, em todas as instâncias responsáveis pela Educa- pedagógicas, assim como a valorização da experiência ex-
ção Básica, o IDEB, o FUNDEB e o ENEM. traescolar, e a vinculação entre a educação escolar, o traba-
6 Parecer CNE/CEB nº 8/2010 (Aprecia a Indicação lho e as práticas sociais.
CNE/CEB nº 4/2008, que propõe a constituição de uma co- Assim, e tendo como base o teor do artigo 27 da LDB,
missão visando analisar a proposta do Custo Aluno Quali- pode-se entender que o processo didático em que se reali-
dade inicial (CAQi) como política de melhoria da qualidade zam as aprendizagens fundamenta-se na diretriz que assim
do ensino no Brasil). delimita o conhecimento para o conjunto de atividades:
7 O CAQi é resultado de estudo desenvolvido pela Os conteúdos curriculares da Educação Básica obser-
Campanha Nacional pelo Direito à Educação, com a parti- varão, ainda, as seguintes diretrizes:
cipação de pesquisadores, especialistas, gestores e ativis- I -a difusão de valores fundamentais ao interesse so-
tas de educação. Sua concepção representa uma mudança cial, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao
na lógica de financiamento educacional, pois se baseia no bem comum e à ordem democrática;
investimento necessário para uma educação de qualidade, II -consideração das condições de escolaridade dos es-
e não nos recursos disponíveis. tudantes em cada estabelecimento;
Nesse sentido, a fonte em que residem os conheci- III - orientação para o trabalho;
mentos escolares são as práticas socialmente construídas. IV -promoção do desporto educacional e apoio às prá-
Segundo os autores, essas práticas se constituem em “âm- ticas desportivas não-formais.
bitos de referência dos currículos” que correspondem: Desse modo, os valores sociais, bem como os direitos e
a) às instituições produtoras do conhecimento científi- deveres dos cidadãos, relacionam-se com o bem comum e
co (universidades e centros de pesquisa); com a ordem democrática. Estes são conceitos que reque-
b) ao mundo do trabalho; rem a atenção da comunidade escolar para efeito de organi-
c) aos desenvolvimentos tecnológicos; zação curricular, cuja discussão tem como alvo e motivação
d) às atividades desportivas e corporais; a temática da construção de identidades sociais e culturais.
e) à produção artística; A problematização sobre essa temática contribui para que
f) ao campo da saúde; se possa compreender, coletivamente, que educação cidadã
g) às formas diversas de exercício da cidadania; consiste na interação entre os sujeitos, preparando-os por
h) aos movimentos sociais. meio das atividades desenvolvidas na escola, individualmen-
Daí entenderem que toda política curricular é uma po- te e em equipe, para se tornarem aptos a contribuir para
lítica cultural, pois o currículo é fruto de uma seleção e a construção de uma sociedade mais solidária, em que se
produção de saberes: campo conflituoso de produção de exerça a liberdade, a autonomia e a responsabilidade. Nessa
cultura, de embate entre pessoas concretas, concepções perspectiva, cabe à instituição escolar compreender como o
de conhecimento e aprendizagem, formas de imaginar e conhecimento é produzido e socialmente valorizado e como
perceber o mundo. Assim, as políticas curriculares não se deve ela responder a isso. É nesse sentido que as instâncias
resumem apenas a propostas e práticas enquanto docu- gestoras devem se fortalecer instaurando um processo par-
mentos escritos, mas incluem os processos de planeja- ticipativo organizado formalmente, por meio de colegiados,
mento, vivenciados e reconstruídos em múltiplos espaços da organização estudantil e dos movimentos sociais.
e por múltiplas singularidades no corpo social da educa- A escola de Educação Básica é espaço coletivo de con-
ção. Para Lopes (2004, p. 112), mesmo sendo produções vívio, onde são privilegiadas trocas, acolhimento e acon-
para além das instâncias governamentais, não significa chego para garantir o bem-estar de crianças, adolescentes,
desconsiderar o poder privilegiado que a esfera governa- jovens e adultos, no relacionamento entre si e com as de-
mental possui na produção de sentidos nas políticas, pois mais pessoas. É uma instância em que se aprende a valo-
as práticas e propostas desenvolvidas nas escolas também rizar a riqueza das raízes culturais próprias das diferentes
são produtoras de sentidos para as políticas curriculares. regiões do País que, juntas, formam a Nação. Nela se res-
Os efeitos das políticas curriculares, no contexto da significa e recria a cultura herdada, reconstruindo as iden-
prática, são condicionados por questões institucionais e tidades culturais, em que se aprende a valorizar as raízes
disciplinares que, por sua vez, têm diferentes histórias, próprias das diferentes regiões do País.
concepções pedagógicas e formas de organização, ex- Essa concepção de escola exige a superação do rito esco-
pressas em diferentes publicações. As políticas estão sem- lar, desde a construção do currículo até os critérios que orien-
pre em processo devir-a-ser, sendo múltiplas as leituras tam a organização do trabalho escolar em sua multidimen-
possíveis de serem realizadas por múltiplos leitores, em sionalidade, privilegia trocas, acolhimento e aconchego, para
um constante processo de interpretação das interpreta- garantir o bem-estar de crianças, adolescentes, jovens e adul-
ções. tos, no relacionamento interpessoal entre todas as pessoas.

36
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Cabe, pois, à escola, diante dessa sua natureza, assumir do domínio do conhecimento científico: uma das condi-
diferentes papéis, no exercício da sua missão essencial, que ções para o exercício da cidadania. O conhecimento cien-
é a de construir uma cultura de direitos humanos para pre- tífico e as novas tecnologias constituem-se, cada vez mais,
parar cidadãos plenos. A educação destina-se a múltiplos condição para que a pessoa saiba se posicionar frente a
sujeitos e tem como objetivo a troca de saberes8, a sociali- processos e inovações que a afetam.
zação e o confronto do conhecimento, segundo diferentes Não se pode, pois, ignorar que se vive: o avanço do
abordagens, exercidas por pessoas de diferentes condições uso da energia nuclear; da nanotecnologia;9 a conquista da
físicas, sensoriais, intelectuais e emocionais, classes sociais, produção de alimentos geneticamente modificados; a clo-
crenças, etnias, gêneros, origens, contextos socioculturais, nagem biológica. Nesse contexto, tanto o docente quanto
e da cidade, do campo e de aldeias. Porisso, é preciso fa- o estudante e o gestor requerem uma escola em que a cul-
zer da escola a instituição acolhedora, inclusiva, pois essa é tura, a arte, a ciência e a tecnologia estejam presentes no
uma opção “transgressora”, porque rompe com a ilusão da cotidiano escolar, desde o início da Educação Básica.
homogeneidade e provoca, quase sempre, uma espécie de Tendo em vista a amplitude do papel sócio educativo
crise de identidade institucional. atribuído ao conjunto orgânico da Educação Básica, cabe
A escola é, ainda, espaço em que se abrigam desen- aos sistemas educacionais, em geral, definir o programa
contros de expectativas, mas também acordos solidários, de escolas de tempo parcial diurno (matutino e/ou ves-
norteados por princípios e valores educativos pactuados pertino), tempo parcial noturno e tempo integral (turno
por meio do projeto político-pedagógico concebido se- e contra-turno ou turno único com jornada escolar de 7
gundo as demandas sociais e aprovado pela comunidade horas, no mínimo10, durante todo o período letivo), o que
educativa. requer outra e diversa organização e gestão do trabalho
Por outro lado, enquanto a escola se prende às ca- pedagógico, contemplando as diferentes redes de ensino,
racterísticas de metodologias tradicionais, com relação a partir do pressuposto de que compete a todas elas o de-
ao ensino e à aprendizagem como ações concebidas se- senvolvimento integral de suas demandas, numa tentativa
paradamente, as características de seus estudantes reque- de superação das desigualdades de natureza sociocultural,
rem outros processos e procedimentos, em que aprender, socioeconômica e outras.
ensinar, pesquisar, investigar, avaliar ocorrem de modo Há alguns anos, se tem constatado a necessidade de
indissociável. Os estudantes, entre outras características, a criança, o adolescente e o jovem, particularmente aque-
aprendem a receber informação com rapidez, gostam do les das classes sociais trabalhadoras, permanecerem mais
processo paralelo, de realizar várias tarefas ao mesmo tem- tempo na escola11. Tem-se defendido que o estudante
po, preferem fazer seus gráficos poderia beneficiar-se da ampliação da jornada escolar, no
Antes de ler o texto, enquanto os docentes cre em que espaço único da escola ou diferentes espaços educativos,
acompanham a era digital apenas porque digitam e impri- nosquais a permanência do estudantes e liga tanto à quan-
mem textos, têm e-mail, não percebendo que os estudan- tidade equalidadedotempodiário deescolarização,quantoà
tes nasceram na era digital. diversidade de atividades de aprendizagens.
O conceito de saber é adotado aqui se referindo ao Assim, a qualidade da permanência em tempo integral
conjunto de experiências culturais, senso comum, com- do estudante nesses espaços implica a necessidade da in-
portamentos, valores, atitudes, em outras palavras, todo o corporação efetiva e orgânica no currículo de atividades e
conhecimento adquirido pelo estudante nas suas relações estudos pedagogicamente planejados e acompanhados ao
com a família e com a sociedade em movimento. longo de toda a jornada.
As tecnologias da informação e comunicação consti- No projeto nacional de educação, tanto a escola de
tuem uma parte de um contínuo desenvolvimento de tec- tempo integral quanto a de tempo parcial, diante da sua
nologias, a começar pelo giz e os livros, todos podendo responsabilidade educativa, social e legal, assumem a
apoiar e enriquecer as aprendizagens. Como qualquer fer- aprendizagem.
ramenta, devem ser usadas e adaptadas para servir a fins 9 A nanotecnologia é o ramo da ciência que trata de
educacionais e como tecnologia assistiva; desenvolvidas de equipamentos minúsculos para aumentar a capacidade de
forma a possibilitar que a interatividade virtual se desen- armazenamento e processamento de dados dos computa-
volva de modo mais intenso, inclusive na produção de lin- dores, medicamentos mais seguros aos pacientes, mate-
guagens. Assim, a infraestrutura tecnológica, como apoio riais mais leves e mais resistentes do que metais e plásticos,
pedagógico às atividades escolares, deve também garantir economia de energia, proteção ao meio ambiente, menor
acesso dos estudantes à biblioteca, ao rádio, à televisão, à uso de matérias primas escassas e várias inovações que
internet aberta às possibilidades da convergência digital. ainda não foram sequer imaginadas.
Essa distância necessita ser superada, mediante apro- 10 Baseia-se esse número de 7 horas no Programa
ximação dos recursos tecnológicos de informação e co- Mais Educação, instituído pelo Decreto nº 7.083/2010, que
municação,estimulandoacriaçãodenovosmétodosdidáti- tem por finalidade contribuir para a melhoria da aprendi-
co-pedagógicos, para que tais recursos e métodos sejam zagem por meio da ampliação do tempo de permanência
inseridos no cotidiano escolar. Isto porque o conhecimento de crianças, adolescentes e jovens matriculados em escola
científico, nos tempos atuais, exige da escola o exercício da pública, mediante oferta de Educação Básica em tempo in-
compreensão, valorização da ciência e da tecnologia desde tegral. É considerada Educação Básica em tempo integral “a
a infância e ao longo de toda a vida, embuscada ampliação jornada escolar com duração igual ou superior a sete horas

37
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

diárias, durante todo o período letivo, compreendendo o Quanto à concepção e à organização do espaço cur-
tempo total em que o estudante permanece na escola ou ricular e físico, se imbricam e se alargam, por incluir no
em atividades escolares em outros espaços educacionais”. desenvolvimento curricular ambientes físicos, didático-pe-
11 O § 5º do artigo 87 da LDB, que instituiu a já finda dagógicos e equipamentos que não se reduzem às salas
Década da Educação, prescrevia que seriam “conjugados de aula, incluindo outros espaços da escola e de outras
todos os esforços objetivando a progressão das redes es- instituições escolares, bem como os socioculturais e espor-
colares públicas urbanas de Ensino Fundamental para o tivo-recreativos do entorno, da cidade e mesmo da região.
regime de escolas de tempo integral”. compreendendo-a Essa ampliação e diversificação dos tempos e espaços
como ação coletiva conectada com a vida, com as necessi- curriculares pressupõe profissionais da educação dispos-
dades, possibilidades e interesses das crianças, dos jovens e tos a reinventar e construir essa escola, numa responsa-
dos adultos. O direito de aprender é, portanto, intrínseco ao bilidadecompartilhadacomasdemaisautoridadesencarre-
direito à dignidade humana, à liberdade, à inserção social, gadasdagestãodosórgãos do poder público, na busca de
ao acesso aos bens sociais, artísticos e culturais, significando parcerias possíveis e necessárias, até porque educar é res-
direito à saúde em todas as suas implicações, ao lazer, ao ponsabilidade da família, do Estado e da sociedade.
esporte, ao respeito, à integração familiar e comunitária. A escola precisa acolher diferentes saberes, diferen-
Conforme o artigo 34 da LDB, o Ensino Fundamental tes manifestações culturais e diferentes óticas, empenhar-
incluirá, pelo menos, quatro horas de trabalho efetivo em -se para se constituir, ao mesmo tempo, em um espaço
sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de heterogeneidade e pluralidade, situada na diversidade
de permanência na escola, até que venha a ser ministrado em movimento, no processo tornado possível por meio de
em tempo integral (§ 2º). Essa disposição, obviamente, só relações intersubjetivas, fundamentada no princípio eman-
é factível para os cursos do período diurno, tanto é que o § cipador. Cabe, nesse sentido, às escolas desempenhar o
1º ressalva os casos do ensino noturno. papel socioeducativo, artístico, cultural, ambiental, funda-
Os cursos em tempo parcial noturno, na sua maioria, mentadas no pressuposto do respeito e da valorização das
são de Educação de Jovens e Adultos (EJA) destinados, mor- diferenças, entre outras, de condição física, sensorial e so-
mente, a estudantes trabalhadores, com maior maturidade cioemocional, origem, etnia, gênero, classe social, contexto
e experiência de vida. São poucos, porém, os cursos regu- sociocultural, que dão sentido às ações educativas, enri-
lares noturnos destinados a adolescentes e jovens de 15 a quecendo-as, visando à superação das desigualdades de
18 anos ou pouco mais, os quais são compelidos ao estudo natureza sociocultural e socioeconômica. Contemplar essas
nesse turno por motivos de defasagem escolar e/ou de ina- dimensões significa a revisão dos ritos escolares e o alar-
daptação aos métodos adotados e ao convívio com colegas gamento do papel da instituição escolar e dos educadores,
de idades menores. A regra tem sido induzi-los a cursos de adotando medidas proativas e ações preventivas.
EJA, quando o necessário são cursos regulares, com progra- Na organização e gestão do currículo, as abordagens
mas adequados à sua faixaetária, como, aliás, é claramente disciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar
prescrito no inciso VI do artigo 4º da LDB: oferta de ensino requerem a atenção criteriosa da instituição escolar, porque
noturno regular, adequado às condições do educando. revelam a visão de mundo que orienta as práticas pedagó-
gicas dos educadores e organizam o trabalho do estudante.
2.4.1. Formas para a organização curricular Perpassam todos os aspectos da organização escolar, desde
Retoma-se aqui o entendimento de que currículo é o o planejamento do trabalho pedagógico, a gestão adminis-
conjunto de valores e práticas que proporcionam a pro- trativo-acadêmica, até a organização do tempo e do espaço
dução e a socialização de significados no espaço social e físico e a seleção, disposição e utilização dos equipamentos
que contribuem, intensamente, para a construção de iden- e mobiliário da instituição, ou seja, todo o conjunto das ati-
tidades sociais e culturais dos estudantes. E reitera-se que vidades que se realizam no espaço escolar, em seus diferen-
deve difundir os valores fundamentais do interesse social, tes âmbitos. As abordagens multidisciplinar, pluridisciplinar
dos direitos e deveres dos cidadãos, do respeito ao bem e interdisciplinar fundamentam-se nas mesmas bases, que
comum e à ordem democrática, bem como considerar as são as disciplinas, ou seja, o recorte do conhecimento.
condições de escolaridade dos estudantes em cada esta- Para Basarab Nicolescu (2000, p. 17), em seu artigo
belecimento, a orientação para o trabalho, a promoção de “Um novo tipo de conhecimento:
práticas educativas formais e não-formais. transdisciplinaridade”, a disciplinaridade, a pluridisci-
Na Educação Básica, a organização do tempo curricular plinaridade, a transdisciplinaridade e a interdisciplinarida-
deve ser construída em função das peculiaridades de seu de são as quatro flechas de um único e mesmo arco: o do
meio e das características próprias dos seus estudantes, não conhecimento.
se restringindo às aulas das várias disciplinas. O percurso Enquanto a multidisciplinaridade expressa frações do
formativo deve, nesse sentido, ser aberto e contextualizado, conhecimento e o hierarquiza, a pluridisciplinaridade es-
incluindo não só os componentes curriculares centrais obri- tuda um objeto de uma disciplina pelo ângulo de várias
gatórios, previstos na legislação e nas normas educacionais, outras ao mesmo tempo. Segundo Nicolescu, a pesquisa
mas, também, conforme cada projeto escolar estabelecer, pluridisciplinar traz algo a mais a uma disciplina, mas res-
outros componentes flexíveis e variáveis que possibilitem tringe-se a ela, está a serviço dela.
percursos formativos que atendam aos inúmeros interesses,
necessidades e características dos educandos.

38
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

A transdisciplinaridade refere-se ao conhecimento (Nogueira, 2001, p. 27). Essa orientação deve ser enri-
próprio da disciplina, mas está para além dela. O conhe- quecida, por meio de proposta temática trabalhada trans-
cimento situa-se na disciplina, nas diferentes disciplinas e versalmente ou em redes de conhecimento e de aprendiza-
além delas, gem, e se expressa por meio de uma atitude que pressupõe
Tanto no espaço quanto no tempo. Busca a unidade planejamento sistemático e integrado e disposição para o
do conhecimento na relação entre a parte e o todo, en- diálogo.
tre o todo e a parte. Adota atitude de abertura sobre as A transversalidade é entendida como uma forma de
culturas do presente e do passado, uma assimilação da organizar o trabalho didático-pedagógico em que temas,
cultura e da arte. O desenvolvimento da capacidade de ar- eixos temáticos são integrados às disciplinas, às áreas di-
ticular diferentes referências de dimensões da pessoa hu- tas convencionais de forma a estarem presentes em todas
mana, de seus direitos, e do mundo é fundamento básico elas. A transversalidade difere-se da interdisciplinaridade e
da transdisciplinaridade. De acordo com Nicolescu (p. 15), complementam-se; ambas rejeitam a concepção de conhe-
para os adeptos da transdisciplinaridade, o pensamento cimento que toma a realidade como algo estável, pronto
clássico é o seu campo de aplicação, por isso é comple- e acabado. A primeira se refere à dimensão didático-pe-
mentar à pesquisa pluri e interdisciplinar. dagógica e a segunda, à abordagem epistemológica dos
A interdisciplinaridade pressupõe a transferência de objetos de conhecimento.
métodos de uma disciplina para outra. Ultrapassa-as, A transversalidade orienta para a necessidade de se
mas sua finalidade inscreve-se no estudo disciplinar. Pela instituir, na prática educativa, uma analogia entre apren-
abordagem interdisciplinar ocorre a transversalidade do der conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender
conhecimento constitutivo de diferentes disciplinas, por sobre a realidade) e as questões da vida real (aprender na
meio da ação didático-pedagógica mediada pela pedago- realidade e da realidade). Dentro de uma Compreensão
gia dos projetos temáticos. Estes facilitam a organização interdisciplinar do conhecimento, a transversalidade tem
coletiva e cooperativa do trabalho pedagógico, embora significado, sendo uma proposta didática que possibilita
sejam ainda recursos que vêm sendo utilizados de modo o tratamento dos conhecimentos escolares de forma inte-
restrito e, às vezes, equivocados. A interdisciplinaridade é, grada. Assim, nessa abordagem, a gestão do conhecimento
portanto, entendida aqui como abordagem teórico parte do pressuposto de que os sujeitos são agentes da
12 Conforme nota constante do Parecer CNE/CP nº arte de problematizar e interrogar, e buscam procedimen-
11/2009, que apreciou proposta do MEC de experiência tos interdisciplinares capazes de acender a chama do diálo-
curricular inovadora do Ensino Médio, “Quanto ao enten- go entre diferentes sujeitos, ciências, saberes e temas.
dimento do termo ‘disciplina’, este Conselho, pelo Parecer A prática interdisciplinar é, portanto, uma abordagem
CNE/CEB nº 38/2006, que tratou da inclusão obrigatória que facilita o exercício da transversalidade, constituindo-se
da Filosofia e da Sociologia no currículo do Ensino Mé- em caminhos facilitadores da integração do processo for-
dio, já havia assinalado a diversidade de termos correlatos mativo dos estudantes, pois ainda permite a sua participa-
utilizados pela LDB. São empregados, concorrentemente ção na escolha dos temas prioritários. Desse ponto de vis-
e sem rigor conceitual, os termos disciplina, estudo, co- ta, a interdisciplinaridade e o exercício da transversalidade
nhecimento, ensino, matéria, conteúdo curricular, compo- ou do trabalho pedagógico centrado em eixos temáticos,
nente curricular. O referido Parecer havia retomado outro, organizados em redes de conhecimento, contribuem para
o CNE/CEB nº 5/97 (que tratou de Proposta de Regula- que a escola dê conta de tornar os seus sujeitos conscientes
mentação da Lei nº 9.394/96), que, indiretamente, unifi- de seus direitos e deveres e da possibilidade de se torna-
cou aqueles termos, adotando a expressão componente rem aptos a aprender a criar novos direitos, coletivamente.
curricular. De qualquer forma, esse percurso é promovido a partir da
Considerando outros (Pareceres CNE/CEB nº 16/2001 seleção de temas entre eles o tema dos direitos humanos,
e CNE/CEB nº 22/2003), o Parecer CNE/CEB nº 38/2006 recomendados para serem abordados ao longo do de-
assinalou que não há, na LDB, relação direta entre obriga- senvolvimento de componentes curriculares com os quais
toriedade e formato ou modalidade do componente cur- guardam intensa ou relativa relação temática, em função
ricular (seja chamado de estudo, conhecimento, ensino, de prescrição definida pelos órgãos do sistema educativo
matéria, conteúdo, componente ou disciplina). Ademais, ou pela comunidade educacional, respeitadas as caracterís-
indicou que, quanto ao formato de disciplina, não há sua ticas próprias da etapa da Educação Básica que a justifica.
obrigatoriedade para nenhum componente curricular, seja Conceber a gestão do conhecimento escolar enrique-
da Base Nacional Comum, seja da Parte Diversificada. As cida pela adoção de temas a serem tratados sob a pers-
escolas têm garantida a autonomia quanto à sua concep- pectiva transversal exige da comunidade educativa clareza
ção pedagógica e para a formulação de sua correspon- quanto aos princípios e às finalidades da educação, além
dente proposta curricular, sempre que o interesse do pro- de conhecimento da realidade contextual, em que as esco-
cesso de aprendizagem assim o recomendar, dando-lhe o las, representadas por todos os seus sujeitos e a sociedade,
formato que julgarem compatível com a sua proposta de se acham inseridas.
trabalho”. metodológica em que a ênfase incide sobre o Para isso, o planejamento das ações pedagógicas pac-
trabalho de integração das diferentes áreas do conheci- tuadas de modo sistemático e integrado é pré-requisito
mento, um real trabalho de cooperação e troca, aberto ao indispensável à organicidade, sequencialidade e articula-
diálogo e ao planejamento ção do conjunto das aprendizagens perspectivadas, o que

39
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

requer a participação de todos. Parte-se, pois, do pressu- gem, ou ainda, segundo o mesmo autor, a casa pater-
posto de que, para ser tratada transversalmente, a temática na ou materna, espaço de referência dos filhos, mesmo
atravessa, estabelece elos, enriquece, complementa temas após casados. Admitindo a acepção de matriz como lu-
e/ou atividades tratadas por disciplinas, eixos ou áreas do gar onde algo é concebido, gerado ou criado ou como
conhecimento.14 aquilo que é fonte ou origem, não se admite equivalên-
13 As vigentes Diretrizes Curriculares Nacionais para cia de sentido, menos ainda como desenho simbólico ou
o Ensino Médio (Resolução CNE/CEBnº3/98, fundamenta- instrumental da matriz curricular com o mesmo formato
da no Parecer CNE/CEBnº 15/98), destacam em especial a e emprego atribuído historicamente à grade curricular.
interdisciplinaridade, assumindo o princípio de que “todo A matriz curricular deve, portanto, ser entendida como
conhecimento mantém um diálogo permanente com ou- algo que funciona assegurando movimento, dinamis-
tros conhecimentos”, e que “o ensino deve ir além da des- mo, vida curricular e educacional na sua multidimen-
crição e constituir nos estudantes a capacidade de analisar, sionalidade, de tal modo que os diferentes campos do
explicar, prever e intervir, objetivos que são mais facilmente conhecimento possam se coadunar com o conjunto de
alcançáveis se as disciplinas, integradas em áreas de co- atividades educativas e instigar, estimular o despertar de
nhecimento, puderem contribuir, cada uma com sua espe- necessidades e desejos nos sujeitos que dão vida à es-
cificidade, para o estudo comum de problemas concretos, cola como um todo. A matriz curricular constitui-se no
ou para o desenvolvimento de projetos de investigação e/ espaço em que se delimita o conhecimento e representa,
ou de ação”. Enfatizam que o currículo deve ter tratamen- além de alternativa operacional que subsidia a gestão de
to metodológico que evidencie a interdisciplinaridade e a determinado currículo escolar, subsídio para a gestão da
contextualização. escola (organização do tempo e espaço curricular; dis-
tribuição e controle da carga horária docente) e primei-
14 Para concretização da interdisciplinaridade, as ro passo para a conquista de outra forma de gestão do
atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Mé- conhecimento pelos sujeitos que dão vida ao cotidiano
dio (Resolução CNE/CEB nº 3/98, e Parecer CNE/CEB nº escolar, traduzida como gestão centrada na abordagem
15/98) prescrevem a organização do currículo em áreas de interdisciplinar. Neste sentido, a matriz curricular deve
conhecimento e o uso das várias possibilidades se organizar por “eixos temáticos”, definidos pela unida-
Nessa perspectiva, cada sistema pode conferir à co- de escolar ou pelo sistema educativo.
munidade escolar autonomia para seleção dos temas e del
imitação dos espaços curriculares a eles destinados, bem Para a definição de eixos temáticos norteadores da
como a forma de tratamento que será conferido à transver- organização e desenvolvimento curricular, parte-se do
salidade. Para que seja mim plantadas com sucesso, é fun- entendimento de que o programa de estudo aglutina
damental que as ações interdisciplinares sejam previstas no investigações e pesquisas sob diferentes enfoques. O
projeto político-pedagógico, mediante pacto estabelecido eixo temático organiza a estrutura do trabalho pedagó-
entre os profissionais da educação, responsabilizando-se gico,limitaadispersãotemáticaeforneceocenárionoqual-
pela concepção e implantação do projeto interdisciplinar sãoconstruídososobjetos de estudo. O trabalho com ei-
na escola, planejando, avaliando as etapas programadas e xos temáticos permite a concretização da proposta de
replanejando-as, ou seja, reorientando o trabalho de todos, trabalho pedagógico centrada na visão interdisciplinar,
em estreito laço com as famílias, a comunidade, os órgãos pois facilita a organização dos assuntos, de forma am-
responsáveis pela observância do disposto em lei, princi- pla e abrangente, a problematização e o encadeamento
palmente, no ECA. lógico dos conteúdos e a abordagem selecionada para
Com a implantação e implementação da LDB, a ex- a análise e/ou descrição dos temas. O recurso dos eixos
pressão “matriz” foi adotada formalmente pelos diferentes temáticos pedagógicas de organização, inclusive espa-
sistemas educativos, mas ainda não conseguiu provocar ciais e temporais, e diversificação de programas ou tipos
ampla e aprofundada discussão pela comunidade educa- de estudo disponíveis, estimulando alternativas, de acor-
cional. O que se pode constatar é que a matriz foi enten- do com as características do alunado e as demandas do
dida e assumida carregando as mesmas características da meio social, admitidas as opções feitas pelos próprios
“grade” burocraticamente estabelecida. Em sua história, estudantes.
esta recebeu conceitos a partir dos quais não se pode con- As áreas indicadas são: Linguagens, Códigos e suas
siderar que matriz e grade sejam sinônimas. Mas o que é Tecnologias; Ciências da Natureza, Matemática e suas
matriz? E como deve ser entendida a expressão “curricu- Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias.
lar”, se forem consideradas as orientações para a educação Vale lembrar que, diferentemente da maioria das es-
nacional, pelos atos legais e normas vigentes? Se o termo colas e das redes de ensino, o ENEM e o ENCCEJA con-
matriz for concebido tendo como referência o discurso das sideram tais áreas, pois suas provas são concebidas e
ciências econômicas, pode ser apreendida como correlata organizadas de forma interdisciplinar e contextualizada,
de grade. Se for considerada a partir de sua origem etimo- percorrendo transversalmente as áreas de conhecimento
lógica, será entendida como útero (lugar onde o feto se consagradas nas Diretrizes, apenas alterando-as de três
desenvolve), ou seja, lugar onde algo é concebido, gerado para quatro, com o desdobramento da Matemática e das
e/ou criado (como apepitavinda da matriz) ou, segundo Ciências da Natureza.
Antônio Houaiss (2001, p. 1870), aquilo que é fonte ou ori-

40
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Propicia o trabalho em equipe, além de contribuir para I – duração: anos, dias letivos e carga horária mínimos;
a superação do isolamento das pessoas e de conteúdos II – uma base nacional comum;
fixos. Os professores com os estudantes têm liberdade de III – uma parte diversificada.
escolher temas, assuntos que desejam estudar, contextua- Entende-se por base nacional comum, na Educação
lizando-os em interface com outros. Básica, os conhecimentos, saberes e valores produzidos
Por rede de aprendizagem entende-se um conjunto culturalmente, expressos nas políticas públicas e que são
de ações didático-pedagógicas, cujo foco incide sobre a gerados nas instituições produtoras do conhecimento
aprendizagem, subsidiada pela consciência de que o pro- científico e tecnológico; no mundo do trabalho; no desen-
cesso de comunicação entre estudantes e professores é volvimento das linguagens; nas atividades desportivas e
efetivado por meio de práticas e recursos tradicionais e por corporais; na produção artística;
práticas de aprendizagem desenvolvidas em ambiente vir- nas formas diversas de exercício da cidadania; nos mo-
tual. Pressupõe compreender que se trata de aprender em vimentos sociais, definidos no texto dessa Lei, artigos 26 e
rede e não de ensinar na rede, exigindo que o ambiente de 3315, que assim se traduzem:
aprendizagem seja dinamizado e compartilha do porto dos I – na Língua Portuguesa;
os sujeitos do processo educativo. Esses são procedimen- II – na Matemática;
tos que não se confundem. III – no conhecimento do mundo físico, natural, da reali-
Por isso, as redes de aprendizagem constituem-se em dade social e política, especialmente do Brasil, incluindo-se
ferramenta didático-pedagógica relevante também nos o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena,
programas de formação inicial e continuada de profissio- IV – na Arte em suas diferentes formas de expressão,
nais da educação. Esta opção requer planejamento siste- incluindo-se a música;
mático integrado, estabelecido entre sistemas educativos V – na Educação Física;
ou conjunto de unidades escolares. Envolve elementos VI – no Ensino Religioso.
constitutivos da gestão e das práticas docentes como in- Tais componentes curriculares são organizados pelos
fraestrutura favorável, prática por projetos, respeito ao sistemas educativos, em forma de áreas de conhecimento,
tempo escolar, avaliação planejada, perfil do professor, disciplinas, eixos temáticos, preservando-se a especifici-
perfil e papel da direção escolar, formação do corpo do- dade dos diferentes campos do conhecimento, por meio
cente, valorização da leitura, atenção individual ao estu- dos quais se desenvolvem as habilidades indispensáveis ao
dante, atividades complementares e parcerias. Mas inclui exercício da cidadania, em ritmo compatível com as etapas
outros aspectos como interação com as famílias e a co- do desenvolvimento integral do cidadão.
munidade, valorização docente e outras medidas, entre as A parte diversificada enriquece e complementa a base
quais a instituição de plano de carreira, cargos e salários. nacional comum, prevendo o estudo das características re-
As experiências em andamento têm revelado êxitos e gionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da
desafios vividos pelas redes na busca da qualidade da edu- comunidade escolar. Perpassa todos os tempos e espaços
cação. Os desafios centram-se, predominantemente, nos curriculares constituintes do Ensino
obstáculos para a gestão participativa, a qualificação dos Fundamental e do Médio, independentemente do ciclo
funcionários, a integração entre instituições escolares de da vida no qual os sujeitos tenham acesso à escola. É or-
diferentes sistemas educativos (estadual e municipal, por ganizada em temas gerais, em forma de áreas do conheci-
exemplo) e a inclusão de estudantes com deficiência. São mento, disciplinas, eixos temáticos, selecionados pelos sis-
ressaltados, como pontos positivos, o intercâmbio de infor- temas educativos e pela unidade escolar, colegiadamente,
mações; a agilidade dos fluxos; os recursos que alimentam para serem desenvolvidos de forma transversal. A base na-
relações e aprendizagens coletivas, orientadas por um pro- cional comum e a parte diversificada não podem se cons-
pósito comum: a garantia do direito de aprender. tituir em dois blocos distintos, com disciplinas específicas
Entre as vantagens, podem ser destacadas aquelas para cada uma dessas partes.
que se referem à multiplicação de aulas de transmissão em A compreensão sobre base nacional comum, nas suas
tempo real por meio de teleaulas, com elevado grau de relações com a parte diversificada, foi objeto de vários pa-
qualidade e amplas possibilidades de acesso, em telessala receres emitidos pelo CNE, cuja síntese se encontra no
ou em qualquer outro lugar, previamente preparado, para Parecer CNE/CEB nº 14/2000, da lavra da conselheira
acesso pelos sujeitos da aprendizagem; aulas simultâneas Edla de Araújo Lira Soares. Após retomar o texto dos arti-
para várias salas (e várias unidades escolares) com um pro- gos 26 e 27 da LDB, a conselheira assim se pronuncia:
fessor principal e professores assistentes locais, combina- (...) a base nacional comum interage com a parte diver-
das com atividades on-line em plataformas digitais; aulas sificada, no âmago do processo de constituição de conheci-
gravadas e acessadas a qualquer tempo e de qualquer mentos e valores das crianças, jovens e adultos, evidencian-
lugar por meio da internet ou da TV digital, tratando de do a importância da participação de todos os segmentos da
conteúdo, compreensão e avaliação dessa compreensão; escola no processo de elaboração da proposta da instituição
e oferta de esclarecimentos de dúvidas em determinados que deve nos termos da lei, utilizar a parte diversificada para
momentos do processo didático-pedagógico. enriquecer e complementar a base nacional comum.
2.4.2. Formação básica comum e parte diversificada 15 Art. 26. Os currículos do Ensino Fundamental e Mé-
A LDB definiu princípios e objetivos curriculares gerais dio devem ter uma base nacional comum, a ser comple-
para o Ensino Fundamental e Médio, sob os aspectos: mentada, em cada sistema de ensino e estabelecimento

41
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas carac- da parte diversificada, sem determinar qual deva ser, ca-
terísticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da bendo sua escolha à comunidade escolar, dentro das pos-
economia e da clientela. § 1º Os currículos a que se re- sibilidades da escola, que deve considerar o atendimento
fere o caput devem abranger, obrigatoriamente, o estudo das características locais, regionais, nacionais e transnacio-
da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento nais, tendo em vista as demandas do mundo do trabalho e
do mundo físico e natural e da realidade social e política, da internacionalização de toda ordem de relações. A língua
especialmente do Brasil. § 2º O ensino da arte constituirá espanhola, no entanto, por força de lei específica (Lei nº
componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da 11.161/2005) passou a ser obrigatoriamente ofertada no
educação básica, de forma a promover o desenvolvimen- Ensino Médio, embora facultativa para o estudante, bem
to cultural dos alunos. § 3º A educação física, integrada à como possibilitada no Ensino Fundamental, do 6º ao 9º
proposta pedagógica da escola, é componente curricular ano. Outras leis específicas, a latere da LDB, determinam
obrigatório da educação básica, sendo sua prática faculta- que sejam incluídos componentes não disciplinares, como
tiva ao aluno: I – que cumpra jornada de trabalho igual ou as questões relativas ao meio ambiente, à condição e direi-
superior a seis horas; ; II – maior de trinta anos de idade; to do idoso e ao trânsito.16
III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em Correspondendo à base nacional comum, ao longo do
situação similar, estiver obrigado à prática da educação fí- processo básico de escolarização, a criança, o adolescente,
sica; IV – amparado pelo Decreto-Lei nº 1.044, de 21 de o jovem e o adulto devem ter oportunidade de desenvol-
outubro de 1969; (...) VI – que tenha prole. § 4º O ensino da ver, no mínimo, habilidades segundo as especificidades de
História do Brasil levará em conta as contribuições das dife- cada etapa do desenvolvimento humano, privilegiando-se
rentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, os aspectos intelectuais, afetivos, sociais e políticos que se
especialmente das matrizes indígena, africana e européia.§ desenvolvem de forma entrelaçada, na unidade do proces-
5ºNa parte diversificada do currículo será incluído, obriga- so didático.
toriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo me- Organicamente articuladas, a base comum nacional e a
nos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a parte diversificada são organizadas e geridas de tal modo
cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da que também as tecnologias de informação e comunicação
instituição.§ 6º A música deverá ser conteúdo obrigatório, perpassem transversalmente a proposta curricular desde a
mas não exclusivo, do componente curricular de que trata Educação Infantil até o Ensino Médio, imprimindo direção
o § 2º deste artigo. Art. 26-A. Nos estabelecimentos de en- aos projetos político-pedagógicos. Ambas possuem como
sino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, referência geral o compromisso com saberes de dimensão
torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro- planetária para que, ao cuidar e educar, seja possível à es-
-brasileira e indígena. § 1º O conteúdo programático a que cola conseguir:
se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e I – ampliar a compreensão sobre as relações entre o
da cultura que caracterizam a formação da população bra- indivíduo, o trabalho, a sociedade e a espécie humana,
sileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o es- seus limites e suas potencialidades, em outras palavras, sua
tudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros identidade terrena;
e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena II – adotar estratégias para que seja possível, ao longo
brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade da Educação Básica, desenvolver o letramento emocional,
nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, social e ecológico; o conhecimento científico pertinente
econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2º aos diferentes tempos, espaços e sentidos; a compreensão
Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasilei- do significado das ciências, das letras, das artes, do esporte
ra e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no e do lazer;
âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas III – ensinar a compreender o que é ciência, qual a sua
de educação artística e de literatura e história brasileiras. história e a quem ela se destina;
(...) Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é IV – viver situações práticas a partir das quais seja
parte integrante da formação básica do cidadão e consti- possível perceber que não há uma única visão de mundo,
tui disciplina dos horários normais das escolas públicas de portanto, um fenômeno, um problema, uma experiência
ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade podem ser descritos e analisados segundo diferentes pers-
cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de pectivas e correntes de pensamento, que variam no tempo,
proselitismo. no espaço, na intencionalidade;
(...) tanto a base nacional comum quanto a parte diver- V – compreender os efeitos da “infoera”, sabendo que
sificada são fundamentais para que o currículo faça sentido estes atuam, cada vez mais, na vida das crianças, dos ado-
como um todo. lescentes e adultos, para que se reconheçam, de um lado, os
16 -A Lei nº 9.795/99, dispõe sobre a Educação Am-
Cabe aos órgãos normativos dos sistemas de ensino biental, instituindo a política nacional de educação am-
expedir orientações quanto aos estudos e às atividades cor- biental, determinando que a educação ambiental é um
respondentes à parte diversificada do Ensino Fundamental componente essencial e permanente da educação nacio-
e do Médio, de acordo com a legislação vigente. A LDB, nal, devendo estar presente, de forma articulada, em todos
porém, inclui expressamente o estudo de, pelo menos, uma os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter
língua estrangeira moderna como componente necessário formal e não-formal (artigo 2º). Dispõe ainda que a educa-

42
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

ção ambiental seja desenvolvida como uma prática educa- gens, na maioria trabalhadores, e, se necessário, sendo al-
tiva integrada, contínua e permanente em todos os níveis e terada a duração do curso, tendo como referência o míni-
modalidades do ensino formal, não devendo ser implanta- mo correspondente à base nacional comum, de modo que
da como disciplina específica (artigo 10). tais cursos não fiquem prejudicados;
-A Lei nº 10.741/2003, que dispõe sobre o Estatuto do VII – do entendimento de que, na proposta curricular,
Idoso, no seu artigo 22 determina que nos currículos míni- as características dos jovens e adultos trabalhadores das
mos dos diversos Níveis de ensino formal serão inseridos turmas do período noturno devem ser consideradas como
conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao subsídios importantes para garantir o acesso ao Ensino
respeito e à valorização do idoso, de forma a eliminar o Fundamental e ao Ensino Médio, a permanência e o suces-
preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria. so nas últimas séries, seja em curso de tempo regular, seja
-A Lei nº 9.503/1997, que institui o Código de Trânsi- em curso na modalidade de Educação de Jovens e Adultos,
to Brasileiro, dispõe que a educação para o trânsito será tendo em vista o direito à frequência a uma escola que lhes
promovida na pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus dê uma formação adequada ao desenvolvimento de sua
(sic), por meio de planejamento e ações coordenadas entre cidadania;
os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de VIII – da oferta de atendimento educacional especia-
Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos lizado, complementar ou suplementar à formação dos es-
Municípios, nas respectivas áreas de atuação (artigo 76). tudantes público-alvo da Educação Especial, previsto no
estudantes, de outro, os profissionais da educação e a fa- projeto político-pedagógico da escola.
mília, mas reconhecendo que os recursos midiáticos devem A organização curricular assim concebida supõe ou-
permear todas as atividades de aprendizagem. tra forma de trabalho na escola, que consiste na seleção
Na organização da matriz curricular, serão observados adequada de conteúdos e atividades de aprendizagem, de
os critérios: métodos, procedimentos, técnicas e recursos didático-pe-
I – de organização e programação de todos os tempos dagógicos. A perspectiva da articulação interdisciplinar é
(carga horária) e espaços curriculares (componentes), em voltada para o desenvolvimento não apenas de conheci-
forma de eixos, módulos ou projetos, tanto no que se refe- mentos, mas também de habilidades, valores e práticas.
re à base nacional comum, quanto à parte diversificada17, Considera, ainda, que o avanço da qualidade na edu-
sendo que a definição de tais eixos, módulos ou projetos cação brasileira depende, fundamentalmente, do compro-
deve resultar de amplo e verticalizado debate entre os ato- misso político, dos gestores educacionais das diferentes
res sociais atuantes nas diferentes instâncias educativas; 17 Segundo o artigo 23 da LDB, a Educação Básica po-
II – de duração mínima anual de 200 (duzentos) dias derá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais,
letivos, com o total de, no mínimo, 800 (oitocentas) horas, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos
recomendada a sua ampliação, na perspectiva do tempo não-seriados, com base na idade, na competência e em ou-
integral, sabendo-se que as atividades escolares devem ser tros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre
programadas articulada e integradamente, a partir da base que o interesse do processo de aprendizagem assim o re-
nacional comum enriquecida e complementada pela parte comendar. instâncias da educação18, do respeito às diver-
diversificada, ambas formando um todo; sidades dos estudantes, da competência dos professores e
III –da interdisciplinaridade e da contextualização ,que demais profissionais da educação, da garantia da autono-
devem ser constantes em todo o currículo, propiciando a in- mia responsável das instituições escolares na formulação
terlocução entre os diferentes campos do conhecimento e a de seu projeto político-pedagógico que contemple uma
transversalidade do conhecimento de diferentes disciplinas, proposta consistente da organização do trabalho.
bem como o estudo e o desenvolvimento de projetos referi-
dos a temas concretos da realidade dos estudantes; 2.5. Organização da Educação Básica
IV–da destinação de, pelo menos,20%dototaldacar- Em suas singularidades, os sujeitos da Educação Básica,
gahorária anual ao conjunto de programas e projetos in- em seus diferentes ciclos de desenvolvimento, são ativos,
terdisciplinares eletivos criados pela escola, previstos no social e culturalmente, porque aprendem e interagem; são
projeto pedagógico, de modo que os sujeitos do Ensino Cidadãos de direito e deveres em construção; copartí-
Fundamental e Médio possam escolher aqueles com que cipes do processo de produção de cultura, ciência, esporte
se identifiquem e que lhes permitam melhor lidar com o e arte, compartilhando saberes, ao longo de seu desenvol-
conhecimento e a experiência. Tais programas e projetos vimento físico, cognitivo,socioafetivo,emocional,tantodo-
devem ser desenvolvidos de modo dinâmico, criativo e fle- pontodevistaético,quantopolíticoeestético, na sua relação
xível, em articulação com a comunidade em que a escola com a escola, com a família e com a sociedade em mo-
esteja inserida; vimento. Ao se identificarem esses sujeitos, é importante
V – da abordagem interdisciplinar na organização e considerar os dizeres de Narodowski (1998). Ele entende,
gestão do currículo, viabilizada pelo trabalho desenvolvido apropriadamente, que a escola convive hoje com estudan-
coletivamente, planejado previamente, de modo integrado tes de uma infância, de uma juventude (des) realizada, que
e pactuado com a comunidade educativa; estão nas ruas, em situação de risco e exploração, e aqueles
VI – de adoção, nos cursos noturnos do Ensino Funda- de uma infância e juventude (hiper) realizada com pleno
mental e do Médio, da metodologia didático-pedagógica domínio tecnológico da internet, do orkut, dos chats. Não
pertinente às características dos sujeitos das aprendiza- há mais como tratar: os estudantes como se fossem homo-

43
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

gêneos, submissos, sem voz; os pais e a comunidade esco- perspectiva da inclusão social exercitada em compromisso
lar como objetos. Eles são sujeitos plenos de possibilida- com a equidade e a qualidade. É nesse sentido que se deve
des de diálogo, de interlocução e de intervenção. Exige-se, pensar e conceber o projeto político-pedagógico, a relação
portanto, da escola, a busca de um efetivo pacto em torno com a família, o Estado, a escola e tudo o que é nela reali-
do projeto educativo escolar, que considere os sujeitos-es- zado. Sem isso, é difícil consolidar políticas que efetivem o
tudantes jovens, crianças, adultos como parte ativa de seus processo de integração entre as etapas e modalidades da
processos de formação, sem minimizar a importância da Educação Básica e garanta ao estudante o acesso, a inclu-
autoridade adulta. são, a permanência, o sucesso e a conclusão de etapa, e a
Na organização curricular da Educação Básica, devem- continuidade de seus estudos. Diante desse entendimen-
-se observar as diretrizes comuns a todas as suas etapas, to, a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais Ge-
modalidades e orientações temáticas, respeitadas suas rais para a Educação Básica e a revisão e a atualização das
especificidades e as dos sujeitos a que se destinam. Cada diretrizes específicas de cada etapa e modalidade devem
etapa é delimitada por sua finalidade, princípio e/ou por ocorrer mediante diálogo vertical e horizontal, de modo
seus objetivos ou por suas diretrizes educacionais, clara- simultâneo e indissociável, para que se possa assegurar a
mente dispostos no texto da Lei nº 9.394/96, fundamen- necessária coesão dos fundamentos que as norteiam.
tando-se na inseparabilidade dos conceitos referenciais:
cuidar e educar, pois esta é uma concepção norteadora do 2.5.1. Etapas da Educação Básica
projeto político-pedagógico concebido e executado pela Quanto às etapas correspondentes aos diferentes mo-
comunidade educacional. Mas vão além disso quando, no mentos constitutivos do desenvolvimento educacional, a
processo educativo, educadores e estudantes se defronta- Educação Básica compreende:
rem com a complexidade e a tensão em que se circunscre- I–a Educação Infantil, que compreende: a Creche, en-
ve o processo no qual se dá a formação do humano em sua globando as diferentes etapas do desenvolvimento da
multidimensionalidade. criança até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola,
Na Educação Básica, o respeito aos estudantes e a seus com duração de 2 (dois) anos.
tempos mentais, socioemocionais, culturais, identitários, é II – o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com
um princípio orientador de toda a ação educativa. É res- duração de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas
ponsabilidade dos sistemas educativos responderem pela fases: a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos
criação de condições para que crianças, adolescentes, jo- finais;
vens e adultos, com sua diversidade (diferentes condições III – o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três)
físicas, sensoriais e socioemocionais, origens, etnias, gêne- anos. 19
ro, crenças, classes sociais, contexto sociocultural), tenham Estas etapas e fases têm previsão deidades próprias,
a oportunidade de receber a formação que corresponda à as quais, no entanto, são diversas quando se atenta para
idade própria do percurso escolar, da Educação Infantil, ao alguns pontos como atraso na matrícula e/ou no percurso
Ensino Fundamental e ao Médio. escolar, repetência, retenção, retorno de quem havia aban-
donado os estudos, estudantes com deficiência, jovens e
Adicionalmente, na oferta de cada etapa pode corres- adultos sem escolarização ou com esta incompleta, habi-
ponder uma ou mais das modalidades de ensino: Educa- tantes de zonas rurais, indígenas e quilombolas, adoles-
ção Especial, Educação de Jovens e Adultos, Educação do centes em regime de acolhimento ou internação, jovens e
Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Profissional e adultos em situação de privação de liberdade nos estabe-
Tecnológica, Educação a Distância, a educação nos estabe- lecimentos penais.
lecimentos penais e a educação quilombola.
Assim referenciadas, estas Diretrizes compreendem 2.5.1.1. Educação Infantil
orientações para a elaboração das diretrizes específicas A Educação Infantil tem por objetivo o desenvolvimen-
para cada etapa e modalidade da Educação Básica, tendo to integral da criança até 5
como centro e 18 Projeto de Lei de Responsabilidade Edu- (cinco) anos de idade, em seus aspectos físico, afetivo,
cacional – uma proposta aprovada pelos participantes da psicológico, intelectual e social, complementando a ação
Conferência Nacional de Educação (CONAE) – quer criar da família e da comunidade.20
mecanismos para aplicar sanções a governantes – nas três Seus sujeitos situam-se na faixa etária que compreen-
esferas – que não aplicarem corretamente os recursos da de o ciclo de desenvolvimento e de aprendizagem dotada
educação. A chamada Lei de Responsabilidade Educacional de condições específicas, que são singulares a cada tipo de
seguiria os moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal, mas atendimento, com exigências próprias. Tais atendimentos
não se restringiria aos investimentos, incluindo também carregam marcas singulares
metas de acesso e qualidade do ensino. motivação os que antropoculturais, porque as crianças provêm de dife-
justificam a existência da instituição escolar: os estudan- rentes e singulares contextos socioculturais, socioeconômi-
tes em desenvolvimento. Reconhecidos como sujeitos do cos e étnicos. Por isso, os sujeitos do processo educativo
processo de aprendizagens, têm sua identidade cultural e dessa
humana respeitada, desenvolvida nas suas relações com os 19 Do ponto de vista do financiamento, essa categoriza-
demais que compõem o coletivo da unidade escolar, em ção é subdividida conforme artigo 10, daLeinº11.494/2007
elo com outras unidades escolares e com a sociedade, na (FUNDEB), para atender ao critério de distribuição propor-

44
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

cional de recursos dos fundos de manutenção da Educação valorizando a aprendizagem para a conquista da cultura
Básica, estabelecendo as seguintes diferenças entre etapas, da vida, por meio de atividades lúdicas em situações de
modalidades e tipos de estabelecimento de ensino: I. Cre- aprendizagem (jogos e brinquedos), formulando proposta
che; II. Pré-Escola; III. Séries iniciais do Ensino Fundamental pedagógica que considere o currículo como conjunto de
urbano; experiências em que se articulam saberes da experiência e
IV. séries iniciais do Ensino Fundamental rural; V. séries socialização do conhecimento em seu dinamismo, deposi-
finais do Ensino Fundamental urbano; tando ênfase:
VI. séries finais do Ensino Fundamental I – na gestão das emoções;
rural; II – no desenvolvimento de hábitos higiênicos e ali-
VII. Ensino Fundamental em tempo integral; mentares;
VIII. Ensino Médio urbano; III – na vivência de situações destinadas à organização
IX. Ensino Médio rural; dos objetos pessoais e escolares;
X. Ensino Médio em tempo integral; IV – na vivência de situações de preservação dos recur-
XI. Ensino Médio integrado à educação profissional; sos da natureza;
XII. Educação especial; V – no contato com diferentes linguagens representa-
XIII. Educação indígena e quilombola; das, predominantemente, por ícones – e não apenas pelo
XIV. Educação de Jovens e Adultos com avaliação no desenvolvimento da prontidão para a leitura e escrita –,
processo; e como potencialidades indispensáveis à formação do inter-
XV. Educação de Jovens e Adultos integrada à educa- locutor cultural.
ção profissional de nível médio, com avaliação no processo.
20 As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação 2.5.1.2 Ensino Fundamental
Infantil foram revistas e estão atualizadas pela Resolução Na etapa da vida que corresponde ao Ensino Funda-
CNE/CEB nº 5/2009, fundamentada no Parecer CNE/CEB nº mental21, o estatuto de cidadão vai se definindo gradativa-
20/2009. etapa da Educação Básica devem ter a oportuni- mente conforme o educando vai se assumindo a condição
dade de se sentirem acolhidos, amparados e respeitados de umsujeito de direitos. As crianças, quase sempre, per-
pela escola e pelos profissionais da educação, com base cebem o sentido das transformações corporais e culturais,
nos princípios da individualidade, igualdade, liberdade, di- afetivo-emocionais, sociais, pelas quais passam. Tais trans-
versidade e pluralidade. Deve-se entender, portanto, que, formações requerem-lhes reformulação da autoimagem, a
para as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos, independente- que se associa o desenvolvimento cognitivo. Junto a isso,
mente das diferentes condições físicas, sensoriais, mentais, buscam referências para a formação de valores próprios,
linguísticas, étnico-raciais, socioeconômicas, de origem, re- novas estratégias para lidar com as diferentes exigências
ligiosas, entre outras, no espaço escolar, as relações sociais que lhes são impostas.
e intersubjetivas requerem a atenção intensiva dos profis- 21 As atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para
sionais da educação, durante o tempo e o momento de de- o Ensino Fundamental são as constantes da Resolução
senvolvimento das atividades que lhes são peculiares: este CNE/CEB nº 2/1998, Fundamentada no Parecer CNE/CE-
é o tempo em que a curiosidade deve ser estimulada, a Bnº4/1998,queestão em processo de revisão e atualização,
partir da brincadeira orientada pelos profissionais da edu- face à experiência acumulada e às alterações na legislação
cação. Os vínculos de família, dos laços de solidariedade que incidiram sobre essa etapa da Educação Básica.
humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida De acordo com a Resolução CNE/CEB nº 3/2005, o En-
social, devem iniciar-se na Pré-Escola e sua intensificação sino Fundamental de 9 (nove) anos tem duas fases com
deve ocorrer ao longo do Ensino Fundamental, etapa em características próprias, chamadas de: anos iniciais, com 5
que se prolonga a infância e se inicia a adolescência. (cinco) anos de duração, em regra para estudantes de 6
Às unidades de Educação Infantil cabe definir, no seu (seis) a 10 (dez) anos de idade; e anos finais, com 4 (quatro)
projeto político-pedagógico, com base no que dispõem anos de duração, para os de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos.
os artigos 12 e 13 da LDB e no ECA, os conceitos orien- O Parecer CNE/CEB nº 7/2007 admitiu coexistência do
tadores do processo de desenvolvimento da criança, com Ensino Fundamental de 8
a consciência de que as crianças, em geral, adquirem as (oito) anos, em extinção gradual, com o de 9 (nove),
mesmas formas de comportamento que as pessoas usam que se encontra em processo de implantação e implemen-
e demonstram nas suas relações com elas, para além do tação. Há, nesse caso, que se respeitar o disposto nos Pa-
desenvolvimento da linguagem e do pensamento. receres CNE/CEB nº 6/2005 e nº 18/2005, bem como na
Assim, a gestão da convivência e as situações em que Resolução CNE/CEB nº 3/2005, que formula uma tabela de
se torna necessária a solução de problemas individuais e equivalência da organização e dos planos curriculares do
coletivos pelas crianças devem ser previamente progra- Ensino Fundamental de 8 (oito) e de 9 (nove) anos, a qual
madas, com foco nas motivações estimuladas e orientadas deve ser adotada por todas as escolas.
pelos professores e demais profissionais da educação e ou- O Ensino Fundamental é de matrícula obrigatória para
tros de áreas pertinentes, respeitados os limites e as poten- as crianças a partir dos 6 (seis) anos completos até o dia
cialidades de cada criança e os vínculos desta com a família 31 de março do ano em que ocorrer matrícula, conforme
ou com o seu responsável direto. Dizendo de outro modo, estabelecido pelo CNE no Parecer CNE/CEB nº 22/2009 e
nessa etapa deve-se assumir o cuidado e a educação, Resolução CNE/CEB nº 1/2010.

45
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Segundo o Parecer CNE/CEB nº 4/2008, o antigo ter- V – o fortalecimento dos vínculos de família, dos la-
ceiro período da Pré-Escola, agora primeiro ano do Ensino ços de solidariedade humana e de respeito recíproco em
Fundamental, não pode se confundir com o anterior pri- que se assenta a vida social.
meiro ano, pois se tornou parte integrante de um ciclo de Como medidas de caráter operacional, impõe-se a
3 (três) anos, que pode ser denominado “ciclo da infância”. adoção:
Conforme o Parecer CNE/CEB nº 6/2005, a ampliação do I – de programa de preparação dos profissionais da
Ensino Fundamental obrigatório a partir dos 6 (seis) anos educação, particularmente dos gestores, técnicos e pro-
de idade requer de todas as escolas e de todos os educa- fessores;
dores compromisso com a elaboração de um novo projeto II – de trabalho pedagógico desenvolvido por equi-
político-pedagógico, bem como para o consequente redi- pes interdisciplinares e multiprofissionais;
mensionamento da Educação Infantil. III–deprogramasdeincentivoaocompromissodos-
Por outro lado, conforme destaca o Parecer CNE/CEB profissionaisdaeducaçãocomos estudantes e com sua
nº 7/2007: é perfeitamente possível que os sistemas de aprendizagem, de tal modo que se tornem sujeitos nesse
ensino estabeleçam normas para que essas crianças que processo;
só vão completar seis anos depois de iniciar o ano letivo IV – de projetos desenvolvidos em aliança com a co-
possam continuar frequentando a Pré-Escola para que não munidade, cujas atividades colaborem para a superação
ocorra uma indesejável descontinuidade de atendimento e de conflitos nas escolas, orientados por objetivos claros
desenvolvimento. e tangíveis, além de diferentes estratégias de interven-
O intenso processo de descentralização ocorrido na ção;
última década acentuou, na oferta pública, a cisão en- V–de abertura de escolas além do horário regular
tre anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, levando de aulas, oferecendo aos estudantes local seguro para a
à concentração dos anos iniciais, majoritariamente, nas prática de atividades esportivo-recreativas e sociocultu-
redes municipais, e dos anos finais, nas redes estaduais, rais, além de reforço escolar;
embora haja escolas com oferta completa (anos iniciais e VI – de espaços físicos da escola adequados aos di-
anos finais do ensino fundamental) em escolas mantidas versos ambientes destinados às várias atividades, entre
por redes públicas e privadas. Essa realidade requer es- elas a de experimentação e práticas botânicas;22
pecial atenção dos sistemas estaduais e municipais, que VII – de acessibilidade arquitetônica, nos mobiliários,
devem estabelecer forma de colaboração, visando à oferta nos recursos didático-pedagógicos, nas comunicações e
do Ensino Fundamental e à articulação entre a primeira informações.
fase e a segunda, para evitar obstáculos ao acesso de estu- Nessa perspectiva, no geral, é tarefa da escola, pal-
dantes que mudem de uma rede para outra para comple- co de interações, e, no particular, é responsabilidade do
tarem escolaridade obrigatória, garantindo a organicidade professor, apoiado pelos demais profissionais da edu-
e totalidade do processo formativo do escolar. cação, criar situações que provoquem nos estudantes
Respeitadas as marcas singulares antropoculturais a necessidade e o desejo de pesquisar e experimentar
que as crianças de diferentes contextos adquirem, os ob- situações de aprendizagem como conquista individual e
jetivos da formação básica, definidos para a Educação coletiva, a partir do contexto particular e local, em elo
Infantil, prolongam-se durante os anos iniciais do Ensino com o geral e transnacional.
Fundamental, de tal modo que os aspectos físico, afetivo,
psicológico, intelectual e social sejam priorizados na sua 2.5.1.3. Ensino Médio
formação, complementando a ação da família e da comu- Os princípios e as finalidades que orientam o Ensino
nidade e, ao mesmo tempo, ampliando e intensificando, Médio23, para adolescentes em idade de 15 (quinze) a
gradativamente, o processo educativo com qualidade so- 17 (dezessete), preveem, como preparação para a con-
cial, mediante: clusão do processo formativo da Educação Básica (artigo
I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, 35 da LDB):
tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da I – a consolidação e o aprofundamento dos conheci-
escrita e do cálculo; mentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitan-
II – foco central na alfabetização, ao longo dos três do o prosseguimento de estudos;
primeiros anos, conforme estabelece o Parecer CNE/CEB II – a preparação básica para o trabalho, tomado este
nº4/2008,de20defevereiro de2008, da lavra do conselheiro como princípio educativo, e para a cidadania do educan-
Murílio de Avellar Hingel, que apresenta orientação do, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de
sobre os três anos iniciais do Ensino Fundamental de nove enfrentar novas condições de ocupação ou aperfeiçoa-
anos; mento posteriores;
III –a compreensão do ambiente natural e social, do III – o aprimoramento do estudante como um ser de
sistema político, da economia, da tecnologia, das artes e direitos, pessoa humana, incluindo a formação ética e o
da cultura dos direitos humanos e dos valores em que se desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensa-
fundamenta a sociedade; mento crítico;
IV – o desenvolvimento da capacidade de aprendiza- IV – a compreensão dos fundamentos científicos e
gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e ha- tecnológicos presentes na sociedade contemporânea,
bilidades e a formação de atitudes e valores; relacionando a teoria com a prática.

46
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

A formação ética, a autonomia intelectual, o pensa- Na perspectiva de reduzir a distância entre as ativida-
mento crítico que construa sujeitos de direitos devem se des escolares e as práticas sociais, o Ensino Médio deve
iniciar desde o ingresso do estudante no mundo escolar. ter uma base unitária sobre a qual podem se assentar pos-
Como se sabe,estessão,aumsótempo,princípiosevalore- sibilidades diversas: no trabalho, como preparação geral
sadquiridosduranteaformaçãodapersonalidade ou, facultativamente, para profissões técnicas; na ciência e
22 Experiências com cultivo de hortaliças, jardinagem na tecnologia, como iniciação científica e tecnológica; nas
e outras, sob a orientação dos profissionais da educação artes e na cultura, como ampliação da formação cultural.
e apoio de outros, cujo resultado se transforme em be- Assim, o currículo doEnsino Médio deve organizar-se de
nefício da mudança de hábitos dos estudantes que, além modo a assegurar a integração entre os seus sujeitos, o
da constituição de atividades alternativas para a oferta de trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura, tendo o traba-
diferentes opções, possam ser prazerosas. lho como princípio educativo, processualmente conduzido
23 As atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para o desde a Educação Infantil.
Ensino Médio estão expressas na Resolução CNE/CEB nº
3/98, fundamentada no Parecer CNE/CEBnº15/98,atual- 2.5.2. Modalidades da Educação Básica
menteem processo de revisão e atualização, face à expe- Como já referido, na oferta de cada etapa pode corres-
riência acumulada e às alterações na legislação que incidi- ponder uma ou mais modalidades de ensino: Educação de
ram sobre esta etapa da Educação Básica. do indivíduo. É, Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Profissional
entretanto, por meio da convivência familiar, social e esco- e Tecnológica, Educação Básica do Campo, Educação Es-
lar que tais valores são internalizados. Quando o estudante colar Indígena, Educação Escolar Quilombola e Educação
chega ao Ensino Médio, os seus hábitos e as suas atitudes a Distância.
crítico-reflexivas e éticas já se acham em fase de confor-
mação. Mesmo assim, a preparação básica para o trabalho 2.5.2.1. Educação de Jovens e Adultos
e a cidadania, e a prontidão para o exercício da autono- 24
mia intelectual são uma conquista paulatina e requerem Art. 208. (...) I – Educação Básica obrigatória e gratuita
a atenção de todas as etapas do processo de formação dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegura-
do indivíduo. Nesse sentido, o Ensino Médio, como etapa da inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não
responsável pela terminalidade do processo formativo da tiveram acesso na idade própria;
Educação Básica, deve se organizar para proporcionar ao (O disposto neste inciso I deverá ser implementado
estudante uma formação com base unitária, no sentido de progressivamente, até 2016, nos termos do Plano Nacional
um método de pensar e compreender as determinações de Educação, com apoio técnico e financeiro da União).
da vida social e produtiva; que articule trabalho, ciência, A instituição da Educação de Jovens e Adultos (EJA) 25
tecnologia e cultura na perspectiva da emancipação hu- tem sido considerada como instância em que o Brasil pro-
mana. cura saldar uma dívida social que tem para com o cidadão
Na definição e na gestão do currículo, sem dúvida, que não estudou na idade própria. Destina-se, portanto,
inscrevem-se fronteiras de ordem legal e teórico-metodo- aos que se situam na faixa etária superior à considerada
lógica. Sua lógica dirige-se aos jovens não como catego- própria, no nível de conclusão do Ensino Fundamental e do
rização genérica e abstrata, mas consideradas suas singu- Ensino Médio.
laridades, que se situam num tempo determinado, que, ao
mesmo tempo, é recorte da existência humana e herdeiro A carência escolar de adultos e jovens que ultrapassa-
de arquétipos conformadores da sua singularidade inscrita ram essa idade tem graus variáveis, desde a total falta de
em determinações históricas. Compreensível que é difícil alfabetização, passando pelo analfabetismo funcional, até
que todos os jovens consigam carregar a necessidade e a incompleta escolarização nas etapas do Ensino Funda-
o desejo de assumir todo o programa de Ensino Médio mental e do Médio. Essa defasagem educacional mantém
por inteiro, como se acha organizado. Dessa forma, com- e reforça a exclusão social, privando largas parcelas da po-
preende-se que o conjunto de funções atribuídas ao Ensi- pulação ao direito de participar dos bens culturais, de inte-
no Médio não corresponde à pretensão e às necessidades grar-se na vida produtiva e de exercer sua cidadania. Esse
dos jovens dos dias atuais e às dos próximos anos. Portan- resgate não pode ser tratado emergencialmente, mas, sim,
to, para que se assegure a permanência dos jovens na es- de forma sistemática e continuada, uma vez que jovens e
cola, com proveito, até a conclusão da Educação Básica, os adultos continuam alimentando o contingente com defa-
sistemas educativos devem prever currículos flexíveis, com sagem escolar, seja por não ingressarem na escola, seja por
diferentes alternativas, paraqueosjovenstenhamaopor- dela se evadirem por múltiplas razões.
tunidadedeescolheropercursoformativoquemaisatendaa O inciso I do artigo208daConstituiçãoFederaldetermi-
seus interesses, suas necessidades e suas aspirações. naque o dever do Estado para com a educação será efe-
Deste modo, essa etapa do processo de escolarização tivado mediante a garantia de Ensino Fundamental obri-
se constitui em responsável pela terminalidade do proces- gatório e gratuito, assegurada inclusive sua oferta gratuita
so formativo do estudante da Educação Básica24, e, con- para todos os que a ele não tiverem acesso na idade pró-
juntamente, pela preparação básica para o trabalho e para pria. Este mandamento constitucional é reiterado pela LDB,
a cidadania, e pela prontidão para o exercício da autono- no inciso I do seu artigo 4º, sendo que, o artigo 37traduz os
mia intelectual. fundamentos da EJA ao atribuir ao poder público a respon-

47
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

sabilidade de estimular e viabilizar o acesso e a permanên- Diretrizes Curriculares Nacionais, a identidade dessa mo-
cia do trabalhador na escola, mediante ações integradas e dalidade de educação e o regime de colaboração entre os
complementares entre si, mediante oferta de cursos gratui- entes federativos.
tos aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os
estudos na idade regular, proporcionando-lhes oportuni- Quanto aos exames supletivos, a idade mínima para
dades educacionais apropriadas, consideradas as caracte- a inscrição e realização de exames De conclusão doEnsi-
rísticas do alunado, seus interesses, condições de vida e de noFundamentaléde15(quinze)anos completos, e para os
trabalho, mediante cursos e exames. Esta responsabilidade de conclusão do Ensino Médio éade18(dezoito)anos com-
deve ser prevista pelos sistemas educativos e por eles deve pletos. Para a aplicação desses exames, o órgão normativo
ser assumida, no âmbito da atuação de cada sistema, ob- dos sistemas de educação deve manifestar-se previamente,
servado o regime de colaboração e da ação redistributiva, além de acompanhar os seus resultados. A certificação do
definidos legalmente. conhecimento e das experiências avaliados por meio de
Os cursos de EJA devem pautar-se pela flexibilidade, exames para verificação de competências e habilidades é
tanto de currículo quanto de tempo e espaço, para que objeto de diretrizes específicas a serem emitidas pelo ór-
seja: gão normativo competente, tendo em vista a complexida-
I – rompida a simetria com o ensino regular para crian- de, a singularidade e a diversidade contextual dos sujeitos
ças e adolescentes, de modo a permitir percursos indivi- a que se destinam tais exames.27
dualizados e conteúdos significativos para os jovens e
adultos; 2.5.2.2. Educação Especial
II – provido suporte e atenção individual às diferentes A Educação Especial é uma modalidade de ensino
necessidades dos estudantes no processo de aprendiza- transversal a todas etapas e outras modalidades, como
gem, mediante atividades diversificadas; parte integrante da educação regular, devendo ser prevista
III – valorizada a realização de atividades e vivências no projeto político-pedagógico da unidade escolar.28
socializadoras, culturais, recreativas e esportivas, geradoras Os sistemas de ensino devem matricular todos os es-
de enriquecimento do percurso formativo dos estudantes; tudantes com deficiência, transtornos globais do desen-
IV – desenvolvida a agregação de competências para volvimento e altas habilidades/superdotação, cabendo às
o trabalho; escolas organizar-se para seu atendimento, garantindo as
V – promovida a motivação e orientação permanente condições para uma educação de qualidade para todos,
dos estudantes, visando à maior participação nas aulas e devendo considerar suas necessidades educacionais espe-
seu melhor aproveitamento e desempenho; cíficas, pautando-se em princípios éticos, políticos e estéti-
VI – realizada sistematicamente a formação continua- cos, para assegurar:
da destinada especificamente aos educadores de jovens e I – a dignidade humana e a observância do direito de
adultos. cada estudante de realizar seus projetos e estudo, de tra-
Na organização curricular dessa modalidade da Edu- balho e de inserção na vida social, com autonomia e inde-
cação Básica, a mesma lei prevê que os sistemas de ensino pendência;
devem oferecer cursos e exames supletivos, que compreen- II–a busca da identidade própria de cada estudante,
derão a base nacional comum do currículo, habilitando ao o reconhecimento e a valorização das diferenças e poten-
prosseguimento de estudos em caráter regular. Entretanto, cialidades, o atendimento às necessidades educacionais
prescreve que, preferencialmente, os jovens e adultos te- no processo de ensino e aprendizagem, como base para a
nham a oportunidade de desenvolver a Educação Profissio- constituição e ampliação de valores, atitudes, conhecimen-
nal articulada com a Educação Básica (§3º do artigo 37 da tos, habilidades e competências;
LDB, incluído pela Lei nº 11.741/2008).26 III – o desenvolvimento para o exercício da cidadania,
25 As atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a da capacidade de participação social, política e econômica
Educação e Jovens e Adultos estão expressas na Resolução e sua ampliação, mediante o cumprimento de seus deveres
CNE/CEB nº 1/2000, fundamentada no Parecer CNE/CEB nº e o usufruto de seus direitos.
11/2000, sendoque o Parecer CNE/CEB nº 6/2010 (ainda
não homologado), visa instituir Diretrizes O atendimento educacional especializado(AEE),previs-
Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos to pelo Decreto nº6.571/2008,
(EJA) nos aspectos relativos à duração dos cursos e idade É parte integrante do processo educacional, sendo que
mínima para ingresso nos cursos de EJA; idade mínima e o sistemas de ensino devem matricular os estudantes com
certificação nos exames de EJA; e Educação de Jovens e deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
Adultos desenvolvida por meio da Educação a Distância. habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino
26 São exemplos desta articulação o Programa Nacio- regular e no atendimento educacional especializado (AEE).
nal de Integração da Educação Profissional com a Educa- O objetivo deste atendimento é identificar habilidades e
ção Básica na Modalidade de Educação Jovens e Adultos necessidades dos estudantes, organizar recursos de aces-
– PROEJA (que articula educação profissional com o En- sibilidade e realizar atividades pedagógicas específicas que
sino Fundamental e o médio da EJA) e o Programa Cabe promovam seu acesso ao currículo. Este atendimento não
a cada sistema de ensino definir a estrutura e a duração substitui a escolarização em classe comum e é ofertado no
dos cursos da Educação de Jovens e Adultos, respeitadas as contra-turno da escolarização em salas de recursos multi-

48
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

funcionais da própria escola, de outra escola pública ou em II–formação de professores para o atendimento edu-
centros de AEE da Nacional de Inclusão de Jovens Educa- cacional especializado, bem como para o desenvolvimento
ção, Qualificação e Participação Cidadã – PROJOVEM, para de práticas educacionais inclusivas nas classes comuns de
jovens de 18 a 29 anos (que articula Ensino Fundamental, ensino regular;
qualificação profissional e ações comunitárias). III – acesso igualitário aosbenefíciosdosprogramasso-
27 A União, pelo MEC eINEP, supletivamente e em ciaissuplementaresdisponíveis para o respectivo nível do
regime de colaboração com os Estados, Distrito Fede- ensino regular.
ral e Municípios, vem oferecendo exames supletivos na- A LDB, no artigo 60, prevê que os órgãos normativos
cionais, mediante o Exame Nacional para Certificação de dos sistemas de ensino estabelecerão critérios de caracte-
Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA), autorizado rização das instituições privadas sem fins lucrativos, espe-
pelo Parecer CNE/CEBnº19/2005.Observa-se que, a partir cializadas e com atuação exclusiva em Educação Especial,
da aplicação do ENEM em2009, este passou a substituir para fins de apoio técnico e financeiro pelo poder público
o ENCCEJA referente ao Ensino Médio, passando, pois, a e, no seu parágrafo único, estabelece que o poder público
ser aplicado apenas o referente ao fundamental. Tais pro- ampliará o atendimento aos estudantes com necessidades
vas são interdisciplinares e contextualizadas, percorrendo especiais na própria rede pública regular de ensino, inde-
transversalmente quatro áreas de conhecimento – Lingua- pendentemente do apoio às instituições previstas nesse
gens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências da Natureza, e artigo.
suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias e O Decreto nº 6.571/2008 dispõe sobre o atendimento
Matemática e suas Tecnologias. educacional especializado, regulamenta o parágrafo único
do artigo 60 da LDB e acrescenta dispositivo ao Decreto nº
28 As atuais Diretrizes Nacionais para a Educação Es- 6.253/2007, prevendo, no âmbito do FUNDEB, a dupla ma-
pecial na Educação Básica são as instituídas pela Resolução trícula dos alunos público-alvo da educação especial, uma
CNE/CEBnº 2/2001, com fundamento no Parecer CNE/CEB no ensino regular da rede pública eoutra no atendimento
17/2001, complementadas pelas Diretrizes Operacionais educacional especializado.
para o Atendimento Educacional Especializado na Educa-
ção Básica, modalidade Educação Especial (Resolução CNE/ 2.5.2.3. Educação Profissional e Tecnológica
CEB nº 4/2009, com fundamento no Parecer CNE/CEB nº A Educação Profissional e Tecnológica (EPT)29, em con-
13/2009), para implementação do Decreto nº 6.571/2008, formidade com o disposto na LDB, com as alterações in-
que dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializa- troduzidas pela Lei nº 11.741/2008, no cumprimento dos
do (AEE). rede pública ou de instituições comunitárias, con- objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes
fessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos conveniadas níveis e modalidades de educação e às dimensões do tra-
com a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos balho, da ciência e da tecnologia. Dessa forma, pode ser
Estados, Distrito Federal ou dos Municípios. compreendida como uma modalidade na medida em que
Os sistemas e as escolas devem proporcionar condi- possui um modo próprio de fazer educação nos níveis da
ções para que o professor da classe comum possa explo- 29 As atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a
rar e estimular as potencialidades de todos os estudantes, Educação Profissional de Nível Técnico estão instituídas
adotando uma pedagogia dialógica, interativa, interdisci- pela Resolução CNE/CEB nº 4/99, fundamentada no Pare-
plinar e inclusiva e, na interface, o professor do AEE identi- cer CNE/CEB nº 16/99, atualmente em processo de revisão
fique habilidades e necessidades dos estudantes, organize e atualização, face à experiência acumulada e às alterações
e oriente sobre os serviços e recursos pedagógicos e de na legislação que incidiram sobre esta modalidade.
acessibilidade para a participação e aprendizagem dos es- Educação Básica e Superior e em sua articulação com
tudantes. outras modalidades educacionais:
Na organização desta modalidade, os sistemas de ensi- Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial e
no devem observar as seguintes orientações fundamentais: Educação a Distância.
I – o pleno acesso e efetiva participação dos estudantes A EPT na Educação Básica ocorre na oferta de cursos de
no ensino regular; formação inicial e continuada ou qualificação profissional,
II – a oferta do atendimento educacional especializado e nos de Educação Profissional Técnica de nível médio ou,
(AEE); ainda, na Educação Superior, conforme o § 2º do artigo 39
III – a formação de professores para o AEE e para o de- da LDB:
senvolvimento de práticas educacionais inclusivas; A Educação Profissional e Tecnológica abrangerá os se-
IV – a participação da comunidade escolar; guintes cursos:
V – a acessibilidade arquitetônica, nas comunicações e I – de formação inicial e continuada ou qualificação
informações, nos mobiliários e equipamentos e nos trans- profissional;
portes; II – de Educação Profissional Técnica de nível médio;
VI – a articulação das políticas públicas intersetoriais. III – de Educação Profissional Tecnológica de gradua-
Nesse sentido, os sistemas de ensino assegurarão a ção e pós-graduação.
observância das seguintes orientações fundamentais: A Educação Profissional Técnica de nível médio, nos
I – métodos, técnicas, recursos educativos e organiza- termos do artigo 36-B da mesma Lei, é desenvolvida nas
ção específicos, para atender às suas necessidades; seguintes formas:

49
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

I – articulada com o Ensino Médio, sob duas formas: cos pertinentes a cada proposta de formação profissional,
II – integrada, na mesma instituição, os eixos tecnológicos facilitam a organização de itinerários
III – concomitante, na mesma ou em distintas institui- formativos, apontando possibilidades de percursos tanto
ções; dentro de um mesmo nível educacional quanto na passa-
IV – subsequente, em cursos destinados a quem já te- gem do nível básico para o superior.
nha concluído o Ensino Médio. Os conhecimentos e habilidades adquiridos tanto nos
As instituições podem oferecer cursos especiais, aber- cursos de educação profissional e tecnológica, como os
tos à comunidade, com matrícula adquiridos na prática laboral pelos trabalhadores, podem
condicionadaàcapacidadedeaproveitamentoenãone- ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para
cessariamenteaoníveldeescolaridade. prosseguimento ou conclusão de estudos.
São formulados para o atendimento de demandas Assegura-se, assim, ao trabalhador jovem e adulto, a
pontuais, específicas de um determinado segmento da po- possibilidade de ter reconhecidos os saberes construídos
pulação ou dos setores produtivos, com período determi- em sua trajetória de vida. Para Moacir Alves Carneiro, a cer-
nado para início e encerramento da oferta, sendo, como tificação pretende valorizar a experiência extraescolar e a
cursos de formação inicial e continuada ou de qualificação abertura que a Lei dá à Educação
profissional, livres de regulamentação curricular. Profissionalvaidesdeoreconhecimentodovalorigual-
No tocante aos cursos articulados com o Ensino Mé- menteeducativodoqueseaprendeuna escola e no próprio
dio, organizados na forma integrada, o que está propos- ambiente de trabalho, até a possibilidade de saídas e en-
to é um curso único (matrícula única), no qual os diversos tradas intermediárias.
componentes curriculares são abordados de forma que se
explicitem os nexos existentes entre eles, conduzindo os 2.5.2.4. Educação Básica do campo
estudantes à habilitação profissional técnica de nível mé- Nesta modalidade30, a identidade da escola do campo
dio ao mesmo tempo em que concluem a última etapa da é definida pela sua vinculação com as questões inerentes
Educação Básica. à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes
próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza
Os cursos técnicos articulados como Ensino Médio, futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na so-
ofertados na forma concomitante, com dupla matrícula e ciedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos
dupla certificação, podem ocorrer na mesma instituição de que associem as soluções exigidas por essas questões à
ensino, aproveitando-se as oportunidades educacionais qualidade social da vida coletiva no País.
disponíveis; em instituições de ensino distintas, aprovei-
tando-se as oportunidades educacionais disponíveis; ou A educação para a população rural está prevista no ar-
em instituições de ensino distintas, mediante convênios de tigo 28 da LDB, em que ficam definidas, para atendimento à
intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao população rural, adaptações necessárias às peculiaridades
desenvolvimento de projeto pedagógico unificado. da vida rural e de cada região, definindo orientações para
São admitidas, nos cursos de Educação Profissional três aspectos essenciais à organização da ação pedagógica:
Técnica de nível médio, a organização e a estruturação em I – conteúdos curriculares e metodologias apropriadas
etapas que possibilitem uma qualificação profissional in- às reais necessidades e interesses dos estudantes da zona
termediária. rural;
Abrange, também, os cursos conjugados com outras II – organização escolar própria, incluindo adequação
modalidades de ensino, como a do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condi-
Educação de Jovens e Adultos, a Educação Especial e ções climáticas;
a Educação a Distância, e pode ser desenvolvida por dife- III – adequação à natureza do trabalho na zona rural.
rentes estratégias de educação continuada, em instituições As propostas pedagógicas das escolas do campo de-
especializadas ou no ambiente de trabalho. Essa previsão vem contemplar a diversidade do campo em todos os seus
coloca, no escopo dessa modalidade educacional, as pro- aspectos: sociais, culturais, políticos, econômicos, de gêne-
postas de qualificação, capacitação, atualização e especia- ro, geração e etnia. Formas de organização em etodologias
lização profissional, entre outras livres de regulamentação pertinentes à realidade do campo devem, nesse sentido,
curricular, reconhecendo que a EPT pode ocorrer em diver- ter acolhida. Assim, a pedagogia da terra busca um traba-
sos formatos e no próprio local de trabalho. Inclui, nesse lho pedagógico fundamentado no princípio da sustentabi-
sentido, os programas e cursos de Aprendizagem ,previs- lidade, para que se possa assegurar a preservação da vida
tos na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) aprovada das futuras gerações.
pelo Decreto-Lei nº 5.452/43, desenvolvidos por entidades Particularmente propícia para esta modalidade, des-
qualificadas e no ambiente de trabalho, através de contrato taca-se a pedagogia da alternância (sistema dual), criada
especial de trabalho. na Alemanha há cerca de 140 anos e, hoje, difundida em
A organização curricular da educação profissional e inúmeros países, inclusive no Brasil, com aplicação, sobre-
tecnológica por eixo tecnológico fundamenta-se na identi- tudo, no ensino voltado para a formação profissional e
ficação das tecnologias que se encontram na base de uma tecnológica para o meio rural. Nesta metodologia, o estu-
dada formação profissional e dos arranjos lógicos por elas dante, durante o curso e como parte integrante dele, par-
constituídos. Por considerar os conhecimentos tecnológi- ticipa, concomitante e alternadamente, de dois ambientes/

50
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

situações de aprendizagem: o escolar e o laboral, não se Respectivos projetos pedagógicos e regimentos esco-
configurando o último como estágio, mas, sim, como parte lares com as prerrogativa de: organização das atividades
do currículo do curso. Essa alternância pode ser de dias na escolares, independentes do ano civil, respeitado o fluxo
mesma semana ou de blocos semanais ou, mesmo, men- das atividades econômicas, sociais, culturais e religiosas; e
sais ao longo do curso. Supõe uma duração diversificada dos períodos escolares, ajustando-a
30 As Diretrizes Operacionais para a Educação Básica às condições e especificidades próprias de cada comuni-
nas Escolas do Campo estão orientadas pelo Parecer CNE/ dade.
CEB nº 36/2001 e Resolução CNE/CEB nº 1/2002, e pelo Pa-
recer CNE/CEB nº 3/2008 e Resolução CNE/CEB nº 2/2008. Por sua vez, tem projeto pedagógico próprio, por es-
parceria educativa, em que ambas as partes são correspon- cola ou por povo indígena, tendo por base as Diretrizes
sáveis pelo aprendizado e formação do estudante. É bas- Curriculares Nacionais referentes a cada etapa da Educação
tante claro que podem predominar, um ou no outro, opor- Básica; as características próprias das escolas indígenas, em
tunidades diversas de desenvolvimento de competências, respeito à especificidade étnico-cultural de cada povo ou
com ênfases ora em conhecimentos, ora em habilidades comunidade; as realidades sociolínguísticas, em cada situa-
profissionais, ora em atitudes, emoções e valores necessá- ção; os conteúdos curriculares especificamente indígenas
rios ao adequado desempenho do estudante. Nesse senti- e os modos próprios de constituição do saber e da cultu-
do, os dois ambientes/situações são intercomplementares. ra indígena; e a participação da respectiva comunidade ou
povo indígena.
2.5.2.5. Educação escolar indígena 31 Esta modalidade tem diretrizes próprias instituídas
A escola desta modalidade tem uma realidade singular, pela Resolução CNE/CEBnº3/99,combase no Parecer CNE/
inscrita em terras e cultura indígenas31 . Requer, portanto, CEBnº14/99,quefixou Diretrizes Nacionais para o Funciona-
pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cul- mento das Escolas Indígenas.
tural de cada povo ou comunidade e formação específica A formação dos professores é específica, desenvolvida
de seu quadro docente, observados os princípios constitu- no âmbito das instituições formadoras de professores, ga-
cionais, a base nacional comum e os princípios que orien- rantido-se aos professores indígenas a sua formação em
tam a Educação Básica brasileira (artigos 5º, 9º, 10, 11 e serviço e, quando for o caso, concomitantemente com a
inciso VIII do artigo 4º da LDB). sua própria escolarização.
Na estruturação e no funcionamento das escolas indí-
genas é reconhecida sua condição de escolas com normas 2.5.2.6. Educação a Distância
e ordenamento jurídico próprios, com ensino intercultural A modalidade Educação a Distância32 caracteriza-se
e bilíngue, visando à valorização plena das culturas dos po- pela mediação didático-pedagógica nos processos de en-
vos indígenas e à afirmação e manutenção de sua diversi- sino e aprendizagem que ocorre com a utilização de meios
dade étnica. e tecnologias de informação e comunicação, com estudan-
São elementos básicos para a organização, a estrutura tes e professores desenvolvendo atividades educativas em
e o funcionamento da escola indígena: lugares ou tempos diversos.
I –localização em terras habitadas por comunidades in- O credenciamento para a oferta de cursos e programas
dígenas, ainda que se estendam por territórios de diversos de Educação de Jovens e Adultos, de Educação Especial e
Estados ou Municípios contíguos; de Educação Profissional e Tecnológica de nível médio, na
II – exclusividade de atendimento a comunidades in- modalidade a distância, compete aos sistemas estaduais de
dígenas; ensino, atendidas a regulamentação federal e as normas
III – ensino ministrado nas línguas maternas das comu- complementares desses sistemas.
nidades atendidas, como uma das formas de preservação
da realidade sociolinguística de cada povo; 2.5.2.6. Educação Escolar Quilombola
IV– organização escolar própria. A Educação Escolar Quilombola33 é desenvolvida em
Na organização de escola indígena deve ser considera- unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura,
da a participação da comunidade, na definição do modelo requerendo pedagogia própria em respeito à especifici-
de organização e gestão, bem como: dade étnico-cultural de cada comunidade e formação es-
I – suas estruturas sociais; pecífica de seu quadro docente, observados os princípios
II – suas práticas socioculturais e religiosas; constitucionais, a base nacional comum e os princípios que
III – suas formas de produção de conhecimento, pro- orientam a Educação Básica brasileira.
cessos próprios e métodos de ensino-aprendizagem; Na estruturação e no funcionamento das escolas qui-
IV– suas atividades econômicas; lombolas, deve ser reconhecida e valorizada sua diversida-
V – a necessidade de edificação de escolas que aten- de cultural.
dam aos interesses das comunidades indígenas; 2.6. Elementos constitutivos para a organização das
VI – o uso de materiais didático-pedagógicos produzi- Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação
dos de acordo com o contexto sociocultural de cada povo Básica
indígena. Estas Diretrizes inspiram-se nos princípios constitucio-
As escolas indígenas desenvolvem suas atividades de nais e na LDB e se operacionalizam sobretudo por meio
acordo com o proposto nos do projeto político-pedagógico e do regimento escolar, do

51
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

sistema de avaliação, da gestão democrática e da orga- O ponto de partida para a conquista da autonomia
nização da escola – na formação inicial e continuada do pela instituição educacional tem por base a construção da
professor, tendo como base os princípios afirmados nos identidade de cada escola, cuja manifestação se expressa
itens anteriores, entre os quais o cuidado e o compromis- no seu projeto pedagógico e no regimento escolar próprio,
so com a educação integral de todos, atendendo-se às enquanto manifestação de seu ideal de educaçãoe que per-
dimensões orgânica, sequencial e articulada da Educação mite uma nova e democrática ordenação pedagógica das
Básica. relações escolares. O projeto político-pedagógico deve,
ALDBestabelececondiçõesparaqueaunidadeescolar- pois, ser assumido pela comunidade educativa, ao mesmo
respondaàobrigatoriedadede garantir acesso à escola e tempo, como sua força indutora do processo participativo
permanência com sucesso. Ela aponta ainda alternativas na instituição e como um dos instrumentos de conciliação
para flexibilizar as condições para que a passagem dos das diferenças, de busca da construção de responsabilida-
estudantes pela escola seja concebida como momento de de compartilhada por todos os membros integrantes da
crescimento, mesmo frente a percursos de aprendizagem comunidade escolar, sujeitos históricos concretos, situados
não lineares. num cenário geopolítico preenchido por situações cotidia-
A isso se associa o entendimento de que a instituição nas desafiantes.
escolar, hoje, dispõe de instrumentos legais e normativos Assim concebido, o processo de formulação do proje-
que lhe permitam exercitar sua autonomia, instituindo as to político-pedagógico tem como referência a democrática
suas próprias regras para mudar, reinventar, no seu pro- ordenação pedagógica das relações escolares, cujo hori-
jeto político-pedagógico e no seu regimento, o currículo, zonte de ação procura abranger a vida humana em sua
a avaliação da aprendizagem, seus procedimentos, para globalidade. Por outro lado, o projeto político-pedagógico
que o grande objetivo seja alcançado: educação para to- é também um documento em que se registra o resultado
dos em todas as etapas e modalidades da Educação Bási- do processo negocial estabelecido por aqueles atores que
ca, com qualidade social. estudam a escola e por ela respondem em parceria (gesto-
32 Esta modalidade está regida pelo Decreto nº res, professores, técnicos e demais funcionários, represen-
5.622/2005, regulamentador do artigo 80 da LDB, que tação estudantil, representação da família e da comunida-
trata da Educação a Distância. No Conselho Nacional de de local). É, portanto, instrumento de previsão e suporte
Educação, a modalidade foi, anteriormente, objeto do para a avaliação das ações educativas programadas para
Parecer CNE/CEB nº 41/2002, de Diretrizes Curriculares a instituição como um todo; referencia e transcende o pla-
Nacionais para a Educação a Distância na Educação de nejamento da gestão e do desenvolvimento escolar, por-
Jovens e Adultos e para a Educação Básica na etapa do que suscita e registra decisões colegiadas que envolvem
Ensino Médio, sendo de notar, porém, que não foi editada a comunidade escolar como um todo, projetando-as para
a Resolução então proposta. 33Não há, ainda, Diretrizes além do período do mandato de cada gestor. Assim, cabe
Curriculares específicas para esta modalidade. à escola, considerada a sua identidade e a de seus sujei-
2.6.1. O projeto político-pedagógico e o regimento tos, articular a formulação do projeto político-pedagógico
escolar com os planos de educação nacional, estadual, municipal,
O projeto político-pedagógico, nomeado na LDB o plano da gestão, o contexto em que a escola se situa e
como proposta ou projeto pedagógico, representa mais as necessidades locais e as de seus estudantes. A organiza-
do que um documento. É um dos meios de viabilizar a ção e a gestão das pessoas, do espaço, dos processos e os
escola democrática e autônoma para todos, com qualida- procedimentos que viabilizam o trabalho de todos aqueles
de social. Autonomia pressupõe liberdade e capacidade que se inscrevem no currículo em movimento expresso no
de decidir a partir de regras relacionais. O exercício da projeto político-pedagógico representam o conjunto de
autonomia administrativa e pedagógica da escola pode elementos que integram o trabalho pedagógico e a gestão
ser traduzido como a capacidade de governar a si mesmo, da escola tendo como fundamento o que dispõem os arti-
por meio de normas próprias. gos 14, 12 e 13, da LDB, respectivamente34 .
A autonomia da escola numa sociedade democráti-
ca é, sobretudo, a possibilidade de ter uma compreen- 34 Art. 14 Os sistemas de ensino definirão as normas
são particular das metas da tarefa de educar e cuidar, das da gestão democrática do ensino público na Educação Bá-
relações de interdependência, da possibilidade de fazer sica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os
escolhas visando a um trabalho educativo eticamente seguintes princípios: I – participação dos profissionais da
responsável, que devem ser postas em prática nas insti- educação na elaboração do projeto pedagógico da
tuições educacionais, no cumprimento doartigo3ºdaLDB, Na elaboração do projeto político-pedagógico, a con-
em que vários princípios derivam da Constituição Federal. cepção de currículo e de conhecimento escolar deve ser
Essa autonomia tem como suporte a Constituição Fe- enriquecida pela compreensão de como lidar com temas
deral e o disposto no artigo 15 da LDB: significativos que se relacionem com problemas e fatos
Os sistemas de ensino assegurarão às unidades esco- culturais relevantes da realidade em que a escola se ins-
lares públicas de Educação Básica que os integram pro- creve. O conhecimento prévio sobre como funciona o fi-
gressivos graus de autonomia pedagógica e administrati- nanciamento da educação pública, tanto em nível federal
va e de gestão financeira, observadas as normas gerais de quanto em estadual e municipal, pela comunidade educa-
direito financeiro público. tiva, contribui, significativamente, no momento em que se

52
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

estabelecem as prioridades institucionais. A natureza e a co capaz de solucionar todos os problemas da escola, mas
finalidade da unidade escolar, o papel socioeducativo, ar- como instância de construção coletiva, que escola; II – par-
tístico, cultural, ambiental, as questões de gênero, etnia, ticipação das comunidades escolar e local em conselhos
classe social e diversidade cultural que compõem as ações escolares ou equivalentes.
educativas, particularmente a organização e a gestão curri- Art. 12 Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as
cular, são os componentes que subsidiam as demais partes normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a in-
integrantes do projeto político-pedagógico. cumbência de: I – elaborar e executar sua proposta peda-
Nele, devem ser previstas as prioridades institucionais gógica;
que a identificam. Além de se observar tais critérios e com- Art. 13 Os docentes incumbir-se-ão de: I – participar da
promisso, deve-se definir o conjunto das ações educativas elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento
próprias das etapas da Educação Básica assumidas pela de ensino; II – elaborar e cumprir plano de trabalho, segun-
unidade escolar, de acordo com as especificidades que lhes do a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino.
correspondam, preservando a articulação orgânica daque- respeita os sujeitos das aprendizagens, entendidos como
las etapas. cidadãos de direitos à proteção e à participação social, de
Reconhecendo o currículo como coração que faz pul- tal modo que:
sar o trabalho pedagógico na sua multidimensionalidade e I –estimule a leitura atenta da realidade local, regional
dinamicidade, o projeto político-pedagógico deve consti- e mundial, por meio da qual se podem perceber horizon-
tuir-se: tes, tendências e possibilidades de desenvolvimento;
I – do diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos II – preserve a clareza sobre o fazer pedagógico, em
do processo educativo, sua multidimensionalidade, prevendo-se a diversidade de
contextualizado no espaço e no tempo; II – da concep- ritmo de desenvolvimento dos sujeitos das aprendizagens
ção sobre educação, conhecimento, avaliação da aprendi- e caminhos por eles escolhidos;
zagem e mobilidade escolar; III – institua a compreensão dos conflitos, das diver-
III – da definição de qualidade das aprendizagens e, gências e diferenças que demarcam as relações humanas
por consequência, da escola, no contexto das desigualda- e sociais;
des que nela se refletem; IV – esclareça o papel dos gestores da instituição, da
IV – de acompanhamento sistemático dos resultados organização estudantil e dos conselhos: comunitário, de
do processo de avaliação interna e externa (SAEB, Prova classe, de pais e outros;
Brasil, dados estatísticos resultantes das avaliações em V – perceba e interprete o perfil real dos sujeitos –
rede nacional e outras; pesquisas sobre os sujeitos daEdu- crianças, jovens e adultos – que justificam e instituem a
cação Básica),incluindo resultadosque compõemo Índice vidada e na escola, do ponto de vista intelectual, cultural,
de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou que emocional, afetivo, sócio econômico, como base da refle-
complementem ou substituam os desenvolvidos pelas uni- xão sobre as relações vida-conhecimento-cultura- profes-
dades da federação e outros; sor-estudante e instituição escolar;
V – da implantação dos programas de acompanha- VI – considere como núcleo central das aprendizagens
mento do acesso, de permanência dos estudantes e de su- pelos sujeitos do processo educativo (gestores, professo-
peração da retenção escolar; VI – da explicitação das bases res, técnicos e funcionários, estudantes e famílias) a curio-
que norteiam a organização do trabalho pedagógico tendo sidade e a pesquisa, incluindo, de modo cuidadoso e siste-
como foco os fundamentos da gestão democrática, com- mático, as chamadas referências virtuais de aprendizagem
partilhada e participativa (órgãos colegiados, de represen- que se dão em contextos digitais;
tação estudantil e dos pais). VII – preveja a formação continuada dos gestores e pro-
No projeto político-pedagógico, deve-se conceber a fessores para que estes tenham a oportunidade de se man-
organização do espaço físico da instituição escolar de tal ter atualizados quanto ao campo do conhecimento que lhes
modo que este seja compatível com as características de cabe manejar, trabalhar e quanto à adoção, à opção da me-
seus sujeitos, além da natureza e das finalidades da edu- todologia didático-pedagógica mais própria às aprendiza-
cação, deliberadas e assumidas pela comunidade educa- gens que devem vivenciar e estimular, incluindo aquelas per-
cional. Assim, a despadronização curricular pressupõe a tinentes às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC);
despadronização do espaço físico e dos critérios de orga-
nização da carga horária do professor. A exigência –o rigor VIII – realize encontros pedagógicos periódicos, com
no educar e cuidar – é a chave para a conquista e recupe- tempo e espaço destinados a estudos, debate se troca de
ração dos níveis de qualidade educativa de que as crianças experiências de aprendizagem dos sujeitos do processo
e os jovens necessitam para continuar a estudar em etapas coletivo de gestão e pedagógico pelos gestores, profes-
e níveis superiores, para integrar-se no mundo do trabalho sores e estudantes, para a reorientação de caminhos e es-
em seu direito inalienável de alcançar o lugar de cidadãos tratégias;
responsáveis, formados nos valores democráticos e na cul- IX – defina e justifique, claramente, a opção por um ou
tura do esforço e da solidariedade. outro método de trabalho docente e a compreensão so-
Nessa perspectiva, a comunidade escolar assume o bre a qualidade das aprendizagens como direito social dos
projeto político-pedagógico não como peça constitutiva sujeitos e da escola: qualidade formal e qualidade política
da lógica burocrática, menos ainda como elemento mági- (saber usar a qualidade formal);

53
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

X – traduza, claramente, os critérios orientadores da XII – a organização dos tempos e dos espaços com
distribuição e organização do calendário escolar e da carga ações efetivas de interdisciplinaridade e contextualização
horária destinada à gestão e à docência, de tal modo que dos conhecimentos;
se viabilize a concretização do currículo escolar e, ao mes- XIII – a garantia do acompanhamento da vida escolar
mo tempo, que os profissionais da educação sejam valori- dos estudantes, desde o diagnóstico preliminar, acompa-
zados e estimulados a trabalharem prazerosamente; nhamento do desempenho e integração com a família;
XI – contemple programas e projetos com os quais XIV – a promoção da aprendizagem criativa como pro-
a escola desenvolverá ações inovadoras, cujo foco incida cesso de sistematização dos conhecimentos elaborados,
na prevenção das consequências da incivilidade que vem como caminho pedagógico de superação à mera memo-
ameaçando a saúde e o bem estar, particularmente das ju- rização;
ventudes, assim como na reeducação dos sujeitos vitima- XV – o estímulo da capacidade de aprender do estu-
dos por esse fenômeno psicossocial; dante, desenvolvendo o autodidatismo e autonomia dos
XII – avalie as causas da distorção de idade/ano/série, estudantes;
projetando a sua superação, por intermédio da implanta- XVI – a indicação de exames otorrino, laringo, oftálmi-
ção de programas didático-pedagógicos fundamentados co e outros sempre que o estudante manifestar dificuldade
por metodologia específica. de concentração e/ou mudança de comportamento;
Daí a necessidade de se estimularem novas formas de XVII – a oferta contínua de atividades complementares
organização dos componentes curriculares dispondo-os e de reforço da aprendizagem, proporcionando condições
em eixos temáticos, que são considerados eixos fundan- para que o estudante tenha sucesso em seus estudos;
tes, pois conferem relevância ao currículo. Desse modo, no XVIII – a oferta de atividades de estudo com utilização
projeto político-pedagógico, a comunidade educacional de novas tecnologias de comunicação.
deve engendrar o entrelaçamento entre trabalho, ciência, Nesse sentido, o projeto político-pedagógico, conce-
tecnologia, cultura e arte, por meio de atividades próprias bido pela escola e que passa a orientá-la, deve identificar
às características da etapa de desenvolvimento humano do a Educação Básica, simultaneamente, como o conjunto e
escolar a que se destinarem, prevendo: pluralidade de espaços e tempos que favorecem processos
I – as atividades integradoras de iniciação científica e em que a infância e a adolescência se humanizam ou se
no campo artístico-cultural, desde a Educação Infantil; desumanizam, porque se inscrevem numa teia de relações
II – os princípios norteadores da educação nacional, culturais mais amplas e complexas, histórica e socialmente
a metodologia da problematização como instrumento de tecidas. Daí a relevância de se ter, como fundamento desse
incentivo à pesquisa, à curiosidade pelo inusitado e ao de- nível da educação, os dois pressupostos: cuidar e educar.
senvolvimento do espírito inventivo, nas práticas didáticas; Este é o foco a ser considerado pelos sistemas educativos,
III – o desenvolvimento de esforços pedagógicos com pelas unidades escolares, pela comunidade educacional,
intenções educativas, comprometidas com a educação ci- em geral, e pelos sujeitos educadores, em particular, na
dadã; elaboração e execução de determinado projeto institucio-
IV – a avaliação do desenvolvimento das aprendiza- nal e regimento escolar.
gens como processo formativo e permanente de reconhe- O regimento escolar trata da natureza e da finalidade
cimento de conhecimentos, habilidades, atitudes, valores da instituição; da relação da gestão democrática com os
e emoções; órgãos colegiados; das atribuições de seus órgãos e sujei-
V – a valorização da leitura em todos os campos do tos; das suas normas pedagógicas, incluindo os critérios de
conhecimento, desenvolvendo a capacidade de letramento acesso, promoção, e a mobilidade do escolar; e dos direitos
dos estudantes; e deveres dos seus sujeitos: estudantes, professores, técni-
VI –o comportamento ético e solidário, como ponto de cos, funcionários, gestores, famílias, representação estu-
partida para o reconhecimento dos deveres e direitos da dantil e função das suas instâncias colegiadas.
cidadania, para a prática do humanismo contemporâneo, Nessa perspectiva, o regimento, discutido e aprovado
pelo reconhecimento, respeito e acolhimento da identida- pela comunidade escolar e conhecido por todos, constitui-
de do outro; -se em um dos instrumentos de execução, com transparên-
VII – a articulação entre teoria e prática, vinculando o cia e responsabilidade, do seu projeto político-pedagógi-
trabalho intelectual com atividades práticas experimentais; co. As normas nele definidas servem, portanto, para reger
VIII – a promoção da integração das atividades edu- o trabalho pedagógico e a vida da instituição escolar, em
cativas com o mundo do trabalho, por meio de atividades consonância com o projeto político-pedagógico e com a
práticas e de estágios, estes para os estudantes do Ensino legislação e as normas educacionais.
Médio e da Educação Profissional e Tecnológica;
IX – a utilização de novas mídias e tecnologias educa- 2.6.2. Avaliação
cionais, como processo de dinamização dos ambientes de Do ponto de vista teórico, muitas são as formulações
aprendizagem; que tratam da avaliação. No ambiente educacional, ela
X – a oferta de atividades de estudo com utilização de compreende três dimensões básicas:
novas tecnologias de comunicação. I – avaliação da aprendizagem;
XI – a promoção de atividades sociais que estimulem o II – avaliação institucional interna e externa;
convívio humano e interativo do mundo dos jovens; III – avaliação de redes de Educação Básica.

54
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Nestas Diretrizes, é a concepção de educação que fun- este respeito, é preciso adotar uma estratégia de progres-
damenta as dimensões da avaliação e das estratégias didá- so individual e contínuo que favoreça o crescimento do
tico-pedagógicas a serem utilizadas. Essas três dimensões estudante, preservando a qualidade necessária para a sua
devem estar previstas no projeto político-pedagógico para formação escolar.
nortearem a relação pertinente que estabelece o elo entre
a gestão escolar, o professor, o estudante, o conhecimento 2.6.2.2. Promoção, aceleração de estudos e classifica-
e a sociedade em que a escola se situa. ção
No nível operacional, a avaliação das aprendizagens No Ensino Fundamental e no Médio, a figura da pro-
tem como referência o conjunto de habilidades, conheci- moção e da classificação pode ser adotada em qualquer
mentos, princípios e valores que os sujeitos do processo ano, série ou outra unidade de percurso escolhida, exceto
educativo projetam para si de modo integrado e articulado no primeiro ano do Ensino Fundamental. Essas duas figu-
com aqueles princípios e valores definidos para a Educação ras fundamentam-se na orientação de que a verificação do
Básica, redimensionados para cada uma de suas etapas. rendimento escolar observará os seguintes critérios:
A avaliação institucional interna, também denominada I–avaliação contínua e cumulativa do desempenho do
autoavaliação institucional, realiza-se anualmente, conside- estudante,c om prevalência dos aspectos qualitativos sobre
rando as orientações contidas na regulamentação vigente, os quantitativos e dos resultados ao longo do período so-
para revisão do conjunto de objetivos e metas, mediante bre os de eventuais provas finais;
ação dos diversos segmentos da comunidade educativa, II – possibilidade de aceleração de estudos para estu-
o que pressupõe delimitação de indicadores compatíveis dantes com atraso escolar;
com a natureza e a finalidade institucionais, além de clareza III – possibilidade de avanço nos cursos e nas séries
quanto à qualidade social das aprendizagens e da escola. mediante verificação do aprendizado;
A avaliação institucional externa, promovida pelos ór- IV– aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
gãos superiores dos sistemas educacionais, inclui, entre V – obrigatoriedade de apoio pedagógico destinado
outros instrumentos, pesquisas, provas, tais como as do à recuperação contínua e Concomitante de aprendizagem
SAEB, Prova Brasil, ENEM e outras promovidas por siste- de estudantes com déficit de rendimento escolar, a ser pre-
mas de ensino de diferentes entes federativos, dados es- visto no regimento escolar.
tatísticos, incluindo os resultados que compõem o Índice A classificação pode resultar da promoção ou da adap-
de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou que tação, numa perspectiva que respeita e valoriza as diferen-
o complementem ou o substituem, e os decorrentes da ças individuais, ou seja, pressupõe uma outra ideia de tem-
supervisão e verificações in loco. A avaliação de redes de poralização e espacialização, entendida como sequência do
Educação Básica é periódica, feita por órgãos externos às percurso do escolar, já que cada criatura é singular. Tradicio-
escolas e engloba os resultados da avaliação institucional, nalmente, a escola tem tratado o estudante como se todos
que sinalizam para a sociedade se a escola apresenta qua- se desenvolvessem padronizadamente nos mesmos ritmos e
lidade suficiente para continuar funcionando. contextos educativos, semelhantemente ao processo indus-
trial. É como se lhe coubesse produzir cidadãos em série, em
2.6.2.1. Avaliação da aprendizagem linha de montagem. Há de se admitir que a sociedade mu-
No texto da LDB, a avaliação da aprendizagem, na dou significativamente. A classificação, nos termos regidos
Educação Básica, é norteada pelos artigos 24 e 31, que se pela LDB (inciso II do artigo24),é, pois, uma figura que se dá
complementam. De um lado, o artigo 24, orienta o Ensino em qualquer momento do percurso escolar, exceto no pri-
Fundamental e Médio, definindo que a avaliação será or- meiro ano do Ensino Fundamental, e realiza-se:
ganizada de acordo com regras comuns a essas duas eta-
pas. De outro lado, o artigo 31 trata da Educação Infantil, I – por promoção, para estudantes que cursaram, com
estabelecendo que, nessa etapa, a avaliação será realizada aproveitamento, a unidade de percurso anterior, na própria
mediante acompanhamento e registro do desenvolvimen- escola;
to da criança, sem o objetivo de promoção, mesmo em se II – por transferência, para candidatos procedentes de
tratando de acesso ao Ensino Fundamental. Essa determi- outras escolas;
nação pode ser acolhida para o ciclo da Infância de acordo III – independentemente de escolarização anterior,
com o Parecer CNE/CEBnº4/2008, anterior mentecitado, mediante avaliação feita pela escola, que defina o grau de
que orienta para não retenção nesse ciclo. desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua
O direito à educação constitui grande desafio para a inscrição na série ou etapa adequada, conforme regula-
escola: requer mais do que o acesso à educação escolar, mentação do respectivo sistema de ensino.
pois determina gratuidade na escola pública, obrigatorie- A organização de turmas seguia o pressuposto de clas-
dade da Pré-Escola ao Ensino Médio, permanência e suces- ses organizadas por série anual.
so, com superação da evasão e retenção, para a conquista Com a implantação da Lei, a concepção ampliou-se,
da qualidade social. O Conselho Nacional de Educação, em uma vez que poderão ser organizadas classes ou turmas,
mais de um parecer em que a avaliação da aprendizagem com estudantes de séries distintas, com níveis equivalentes
escolar é analisada, recomenda, aos sistemas de ensino e de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas es-
às escolas públicas e particulares, que o caráter formativo trangeiras, artes, ou outros componentes curriculares (inci-
deve predominar sobre o quantitativo e classificatório. A so IV do artigo 24 da LDB).

55
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

A consciência de que a escola se situa em um determi- de relativa estabilidade. Isso significa que já vem lidando,
nado tempo e espaço impõe-lhe a necessidade de apreen- razoavelmente, com a progressão regular. O desafio que se
der o máximo o estudante: suas circunstâncias, seu perfil, enfrenta incide sobre a progressão parcial, que, se aplica-
suas necessidades. Uma situação cada vez mais presente da a crianças e jovens, requer o redesenho da organização
em nossas escolas é a mobilidade dos estudantes. Quantas das ações pedagógicas. Em outras palavras, a escola deverá
vezes a escola pergunta sobre o que fazer com os estudan- prever para professor e estudante o horário de trabalho e
tes que ela recebe, provenientes de outras instituições, de espaço de atuação que se harmonizeentreestes,respeitada-
outros sistemas de ensino, dentro ou fora do Município ou sascondiçõesdelocomoçãodeambos,lembrando-sedeque
Estado. As análises apresentadas em diferentes fóruns de outro conjunto de recursos didático-pedagógicos precisa
discussão sobre essa matéria vêm mencionando dificulda- ser elaborado e desenvolvido.
des para incluir esse estudante no novo contexto escolar. A LDB, no artigo 24, inciso III, prevê a possibilidade de
A mobilidade escolar ou a conhecida transferência progressão parcial nos estabelecimentos que adotam a
também tem sido objeto de regulamento para o que a LDB progressão regular por série, lembrando que o regimento
dispõe, por meio de instrumentos normativos emitidos pe- escolar pode admiti-la “desde que preservada a sequência
los Conselhos de Educação. Inúmeras vezes, os estudantes do currículo, observadas as normas do respectivo sistema
transferidos têm a sensação de abandono ou descaso, se- de ensino”. A Lei, entretanto, não é impositiva quanto à
melhante ao que costuma ocorrer com estudantes que não adoção de progressão parcial. Caso a instituição escolar
acompanham o ritmo de seus colegas. A LDB estabeleceu, a adote, é pré-requisito que a sequência do currículo seja
no § 1º do artigo 23, que a escola poderá reclassificar os preservada, observadas as normas do respectivo sistema
estudantes, inclusive quando se tratar de transferências en- de ensino, (inciso III do artigo 24), previstas no projeto po-
tre estabelecimentos situados no País e no exterior, tendo lítico-pedagógico e no regimento, cuja aprovação se dá
como base as normas curriculares gerais. mediante participação da comunidade escolar (artigo 13).
De acordo com essas normas, a mobilidade entre tur- Também, no artigo 32, inciso IV, § 2º, quando trata es-
mas, séries, ciclos, módulos ou outra forma de organização, pecificamente do Ensino Fundamental, a LDB refere que os
e escolas ou sistemas, deve ser pensada, prioritariamente, estabelecimentos que utilizam progressão regular por sé-
na dimensão pedagógica: o estudante transferido de um rie podem adotar o regime de progressão continuada, sem
para outro regime diferente deve ser incluído onde houver prejuízo da avaliação do processo ensino-aprendizagem,
compatibilidade com o seu desenvolvimento e com as suas observadas as normas do respectivo sistema de ensino. A
aprendizagens, o que se intitula reclassificação. Nenhum forma de progressão continuada jamais deve ser entendida
estabelecimento de Educação como “promoção automática”, o que supõe tratar o conhe-
Básica, sob nenhum pretexto, pode recusar a matrí- cimento como processo e vivência que não se harmoniza
cula do estudante que a procura. Essa atitude, de caráter com a ideia de interrupção, mas sim de construção, em que
aparentemente apenas administrativo, deve ser entendida o estudante, enquanto sujeito da ação, está em processo
pedagogicamente como a continuidade dos estudos inicia- contínuo de formação, construindo significados.
dos em outra turma, série, ciclo, módulo ou outra forma, e Uma escola que inclui todos supõe tratar o conheci-
escola ou sistema. mento como processo e, portanto, como uma vivência que
Em seu novo percurso, o estudante transferido deve re- não se harmoniza com a ideia de interrupção, mas sim de
ceber cuidadoso acompanhamento sobre a sua adaptação construção, em que o estudante, enquanto sujeito da ação,
na instituição que o acolhe, em termos de relacionamento está continuamente sendo formado, ou melhor, forman-
com colegas e professores, de preferências, de respostas do-se, construindo significados, a partir das relações dos
aos desafios escolares, indo além de uma simples análise homens entre si e destes com a natureza.
do seu currículo escolar. Nesse sentido, os sistemas educa- Nessa perspectiva, a avaliação requer outra forma de
tivos devem ousar propor a inversão da lógica escolar: ao gestão da escola, de organização curricular, dos materiais
invés de conteúdos disciplinados estanques (substantiva- didáticos, na relação professor-estudante-conhecimen-
dos),devem investirem ações pedagógicas que priorizem to-escola, pois, na medida em que o percurso escolar é
aprendizagens através da operacionalidade de linguagens marcado por diferentes etapas de aprendizagem, a escola
visando à transformação dos conteúdos em modos de precisará, também, organizar espaços e formas diferencia-
pensar, em que o que interessa, fundamentalmente, é o das de atendimento, a fim de evitar que uma defasagem
vivido com outros, aproximando mundo, escola, sociedade, de conhecimentos se transforme numa lacuna permanen-
ciência, tecnologia, trabalho, cultura e vida. te. Esse avanço materializa-se quando a concepção de co-
A possibilidade de aceleração de estudos destina-se a nhecimento e a proposta curricular estão fundamentadas
estudantes com algum atraso escolar, aqueles que, por al- numa epistemologia que considera o conhecimento uma
guma razão, encontram-se em descompasso de idade. As construção sociointerativa que ocorre na escola e em ou-
razões mais indicadas têm sido: ingresso tardio, retenção, tras instituições e espaços sociais. Nesse caso, percebe-se
dificuldades no processo de ensino-aprendizagem ou ou- já existirem múltiplas iniciativas entre professores no senti-
tras. do de articularem os diferentes campos de saber entre si e,
A progressão pode ocorrer segundo dois critérios: re- também, com temas contemporâneos, baseados no princí-
gular ou parcial. A escola brasileira sempre esteve organi- pio da interdisciplinaridade, o que normalmente resulta em
zada para uma ação pedagógica inscrita num panorama mudanças nas práticas avaliativas.

56
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

2.6.3. Gestão democrática e organização da escola Acrescente-se que a obrigatoriedade da gestão de-
Pensar a organização do trabalho pedagógico e a ges- mocrática determinada, em particular, no ensino público
tão da escola, na perspectiva exposta e tendo como fun- (inciso VIII do artigo 3º da LDB), e prevista, em geral, para
damento o que dispõem os artigos 12 e 13 da LDB, pres- todas as instituições de ensino nos artigos 12 e 13, que
supõe conceber a organização e gestão das pessoas, do preveem decisões coletivas, é medida desafiadora, porque
espaço, dos processos, procedimentos que viabilizamos pressupõe a aproximação entre o que o texto da lei esta-
trabalho de todos aqueles que se inscrevem no currículo belece e o que se sabe fazer, no exercício do poder, em
em movimento expresso no projeto político-pedagógico e todos os aspectos. Essa mudança concebida e definida por
nos planos da escola, em que se conformam as condições poucos atinge a todos: desde a família do estudante até
de trabalho definidas pelos órgãos gestores em nível ma- os gestores da escola, chegando aos gestores da educa-
cro. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas ção em nível macro. Assim, este é um aspecto instituidor
comuns e as do seu sistema de ensino, terão, segundo o do desafiante jogo entre teoria e prática, ideal e realidade,
artigo 12, a incumbência de: concepção de currículo e ação didático-pedagógica, ava-
I – elaborar e executar sua proposta pedagógica; liação institucional e avaliação da aprendizagem e todas
II – administrar seu pessoal e seus recursos materiais e as exigências que caracterizam esses componentes da vida
financeiros; educacional escolar.
III – assegurar o cumprimento dos anos, dias e horas As decisões colegiadas pressupõem, sobretudo, que
mínimos letivos estabelecidos; todos tenham ideia clara sobre o que seja coletivo e como
IV – velar pelo cumprimento do plano de trabalho de se move a liberdade de cada sujeito, pois é nesse movi-
cada docente; mento que o profissional pode passar a se perceber como
V – prover meios para a recuperação dos estudantes de um educador que tenta dar conta das temporalidades do
menor rendimento; desenvolvimento humano com suas especificidades e exi-
VI – articular-se com as famílias e a comunidade, crian- gências. A valorização das diferenças e da pluralidade re-
do processos de integração da sociedade com a escola; presenta a valorização das pessoas. Supõe compreender
VII – informar os pais e responsáveis sobre a frequência que a padronização e a homogeneização que, tradicional-
e o rendimento dos estudantes, bem como sobre a execu- mente, impregnou a organização e a gestão dos processos
ção de sua proposta pedagógica; e procedimentos da escola têm comprometido a conquista
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao das mudanças que os textos legais em referência definem.
juiz competente da Comarca e ao respectivo representante A participação da comunidade escolar na gestão da es-
do Ministério Público a relação dos estudantes menores cola e a observância dos princípios e finalidades da educa-
que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta ção, particularmente o respeito à diversidade e à diferença,
por cento do percentual permitido em lei (inciso incluído são desafios para todos os sujeitos do processo educativo.
pela Lei nº 10.287/2001). Para Moreira e Candau, a escola sempre teve dificuldade
Conscientes da complexidade e da abrangência dessas em lidar com a pluralidade e a diferença. Tende a silen-
tarefas atribuídas às escolas, os responsáveis pela gestão do ciá-las e neutralizá-las. Sente-se mais confortável com a
ato educativo sentem-se, por um lado, pouco amparados, face uniformidade e a padronização. No entanto, abrir espaços
à desarticulação de programas e projetos destinados à quali- para a diversidade, para a diferença e para o cruzamento
ficação da Educação Básica; por outro, sentem-se desafiados, de culturas constitui o grande desafio que está chamada a
à medida que se tornam conscientes de que também eles se enfrentar (2006,p.103).A escola precisa, assim, “acolher, cri-
inscrevem num espaço em que necessitam preparar-se, con- ticarecolocaremcontatodiferentessaberes,diferentesmani-
tinuadamente, para atuar no mundo escolar e na sociedade. festaçõesculturaisediferentes óticas. A contemporaneidade
Como agentes educacionais, esses sujeitos sabem que o seu requer culturas que se misturem e ressoem mutuamente.
compromisso e o seu sucesso profissional requerem não ape- Requer que a instituição escolar compreenda como o co-
nas condições de trabalho. Exige-lhes formação continuada e nhecimento é socialmente valorizado, como tem sido es-
clareza quanto à concepção de organização da escola: distri- crito de uma dada forma e como pode, então, ser reescrito.
buição da carga horária, remuneração, estratégias claramente Que se modifiquem modificando outras culturas pela con-
definidas para a ação didático-pedagógica coletiva que inclua vivência ressonante, em um processo contínuo, que não
a pesquisa, a criação de novas abordagens e práticas metodo- pare nunca, por não se limitar a um dar ou receber, mas por
lógicas incluindo a produção de recursos didáticos adequa- ser contaminação, ressonância”
dos às condições da escola e da comunidade em que esteja (Pretto, apud Moreira e Candau, 2005, p. 103).
ela inserida, promover os processos de avaliação institucional Na escola, o exercício do pluralismo d ideias e de con-
interna e participar e cooperar com os de avaliação externa e cepções pedagógicas (inciso III do artigo 206 da Consti-
os de redes de Educação Básica. tuição Federal, e inciso III do artigo 3º da LDB), assumi-
Pensar, portanto, a organização, a gestão da escola é do como princípio da educação nacional, deve viabilizar a
entender que esta, enquanto instituição dotada de função constituição de relações que estimulem diferentes mani-
social, é palco de interações em que os seus atores colocam festações culturais e diferentes óticas. Em outras palavras,
o projeto político-pedagógico em ação compartilhada. Nes- a escola deve empenhar-se para se constituir, ao mesmo
se palco está a fonte de diferentes ideias, formuladas pelos tempo, em um espaço da diversidade e da pluralidade, ins-
vários sujeitos que dão vida aos programas educacionais. crita na diversidade em movimento, no processo tornado

57
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

possível por meio de relações intersubjetivas, cuja meta manente. Na instituição escolar, a gestão democrática é
seja a de se fundamentar num outro princípio educativo e aquela que tem, nas instâncias colegiadas, o espaço em
emancipador, assim expresso: liberdade de aprender, ensi- que são tomadas as decisões que orientam o conjunto das
nar, pesquisar e divulgar acultura, o pensamento, a arte e o atividades escolares: aprovam o projeto político-pedagó-
saber (LDB, artigo 3º, inciso II). gico, o regimento escolar, os planos da escola (pedagó-
gicos e administrativos), as regras de convivência. Como
Para Paulo Freire (1984, p. 23), é necessário entender tal, a gestão democrática é entendida como princípio que
a educação não apenas como ensino, não no sentido de orienta os processos e procedimentos
habilitar, de “dar” competência, mas no sentido de humani- Administrativos e pedagógicos, no âmbito da escola e
zar. A pedagogia que trata dos processos de humanização, nas suas relações com os demais órgãos do sistema edu-
a escola, a teoria pedagógica e a pesquisa, nas instâncias cativo de que faz parte.
educativas, devem assumir a educação enquanto proces-
sos temporal, dinâmico e libertador, aqueles em que to- Assim referenciada, a gestão democrática constitui-se
dos desejam se tornar cada vez mais humanos. A escola em instrumento de luta em defesa da horizontalização das
demonstra ter se esquecido disso, tanto nas relações que relações, de vivência e convivência colegiada, superando
exerce com a criança, quanto com a pessoa adolescente, o autoritarismo no planejamento e na organização curri-
jovem e adulta. cular. Pela gestão democrática, educa-se para a conquista
A escola que adota a abordagem interdisciplinar não da cidadania plena, mediante a compreensão do signifi-
está isenta de sublinhar a Importância da relação entre cui- cado social das relações de poder que se reproduzem no
dado e educação, que é a de propor a inversão da preocu- cotidiano da escola, nas relações entre os profissionais
pação com a qualidade do ensino pela preocupação com da educação, o conhecimento, as famílias e os estudan-
a qualidade social das aprendizagens como diretriz articu- tes,bem assim,entre estes e o projeto político-pedagógico,
ladora para as três etapas que compõem a Educação Bási- na sua concepção coletiva que dignifica as pessoas, por
ca. Essa escola deve organizar o trabalho pedagógico, os meio da utilização de um método de trabalho centrado
equipamentos, o mobiliário e as suas instalações de acordo
nos estudos, nas discussões, no diálogo que não apenas
com as condições requeridas pela abordagem que adota.
problematiza, mas, também, propõe, fortalecendo a ação
Desse modo, tanto a organização das equipes de profissio-
conjunta que busca, nos movimentos sociais, elementos
nais da educação quanto a arquitetura física e curricular da
para criar e recriar o trabalho da e na escola, mediante:
escola destinada as crianças da educação infantil deve cor-
responder às suas características físicas e psicossociais. O
I – compreensão da globalidade da pessoa, enquanto
mesmo se aplica aos estudantes das demais etapas da Edu-
ser que aprende, que sonha e ousa, em busca da conquista
cação Básica. Estes cuidados guardam relação de coexis-
de uma convivência social libertadora fundamentada na
tência dos sujeitos entre si, facilitam a gestão das normas
que orientam as práticas docentes instrucionais, atitudinais ética cidadã;
e disciplinares, mas correspondendo à abordagem inter- II – superação dos processos e procedimentos buro-
disciplinar comprometida com a formação cidadã para a cráticos, assumindo com flexibilidade: os planos pedagó-
cultura da vida Compreender e realizar a Educação Básica, gicos, os objetivos institucionais e educacionais, as ativida-
no seu compromisso social de habilitar o estudante para o des de avaliação;
exercício dos diversos direitos significa, portanto, potencia- III – prática em que os sujeitos constitutivos da comu-
lizá-lo para a prática cidadã com plenitude, cujas habilida- nidade educacional discutam a própria prática pedagógica
des se desenvolvem na escola e se realizam na comunida- impregnando-a de entusiasmo e compromisso com a sua
de em que os sujeitos atuam. Essa perspectiva pressupõe própria comunidade, valorizando-a, situando-a no contex-
cumprir e transpor o disposto não apenas nos artigos 12 a to das relações sociais e buscando soluções conjuntas;
15, da LDB, mas significa cumpri-los como política pública IV – construção de relações interpessoais solidárias,
e transpô-los como fundamento político-pedagógico, uma geridas de tal modo que os professores se sintam estimu-
vez que o texto destes artigos deve harmonizar-se com o lados a conhecer melhor os seus pares (colegas de traba-
dos demais textos que regulamentam e orientam a Educa- lho, estudantes, famílias), a expor as suas ideias, a traduzir
ção Básica. O ponto central da Lei, naqueles artigos, incide as suas dificuldades e expectativas pessoais e profissionais;
sobre a obrigatoriedade da participação da comunidade V – instauração de relações entre os estudantes, pro-
escolar e dos profissionais da educação na tomada de de- porcionando-lhes espaços de convivência e situações de
cisões, quanto à elaboração e ao cumprimento do projeto aprendizagem, por meio dos quais aprendam a se com-
político-pedagógico, com destaque para a gestão demo- preender e se organizar em equipes de estudos e de prá-
crática e para a integração da sociedade com a escola, bem ticas esportivas, artísticas e políticas;
como pelo cuidado com as aprendizagens dos estudantes. VI – presença articuladora e mobilizadora do gestor
A gestão escolar deve promover o “encontro pedago- no cotidiano da instituição e nos espaços com os quais a
gicamente pensado e organizado de gerações, de idades instituição escolar interage, em busca da qualidade social
diferentes” (Arroyo, p. 158), inscritos num contexto diverso das aprendizagens que lhe caiba desenvolver, com trans-
e plural, mas que se pretende uno, em sua singularidade parência e responsabilidade.
própria e inacabada, porque em construção dialética per-

58
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

De todas as mudanças formalizadas com fundamen- saberes específicos de suas áreas de conhecimento e das
to na LDB, uma das exigências, para o exercício da gestão relações entre essas áreas, na perspectiva da complexida-
escolar, consiste na obrigatoriedade de que os candidatos de; conhecer e compreender as etapas de desenvolvimento
a essa função sejam dotados de experiência docente. Isto dos estudantes com os quais está lidando. O professor da
é pré-requisito para o exercício profissional de quaisquer Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamen-
outras funções de magistério, nos termos das normas de tal é, ou deveria ser, um especialista em infância; os profes-
cada sistema de ensino (§ 1º do artigo 67 da LDB). sores dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino
Para que a gestão escolar cumpra o papel que cabe à Médio, conforme vem defendendo Miguel Arroyo (2000)
escola, os gestores devem proceder a uma revisão de sua devem ser especialistas em adolescência e juventude, isto é,
organização administrativo-pedagógica, a partir do tipo de condutores e educadores 35 Art. 67. Os sistemas de ensino
cidadão que se propõe formar, o que exige compromisso promoverão a valorização dos profissionais da educação, asse-
social com a redução das desigualdades entre o ponto de gurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos
partida do estudante e o ponto de chegada a uma socie- de carreira do magistério público: I -ingresso exclusivamente
dade de classes. por concurso público de provas e títulos; II aperfeiçoamento
profissional continuado, inclusive com licenciamento periódi-
2.6.4. O professor e a formação inicial e continuada co remunerado para esse fim; III -piso salarial profissional;
O artigo3ºdaLDB, ao definir os princípios da educação IV -progressão funcional baseada na titulação ou habi-
nacional, prevê a valorização do profissional da educação es- litação, e na avaliação do desempenho; V -período reserva-
colar. Essa expressão estabelece um amálgama entre o edu- do a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga
cador e a educação e os adjetiva, depositando foco na edu- de trabalho; VI -condições adequadas de trabalho. § 1º A
cação. Reafirma a ideia de que não há educação escolar sem experiência docente é pré-requisito para o exercício pro-
escola e nem esta sem aquele. O significado de escola aqui fissional de quaisquer outras funções de magistério, nos
Traduza noção de que valorizar o profissional da edu- termos das normas de cada sistema de ensino. § 2º Para
cação é valorizar a escola, com qualidade gestorial, educa- os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no § 8º do art.
tiva, social, cultural, ética, estética, ambiental. 201 da Constituição Federal, são consideradas funções de
A leitura dos artigos 6735 e 1336 da mesma Lei permite magistério as exercidas por professores e especialistas em
identificar a necessidade de elo entre o papel do professor, educação no desempenho de atividades educativas, quan-
as exigências indicadas para a sua formação, e o seu fazer do exercidas em estabelecimento de educação básica em
na escola, onde se vê que a valorização profissional e da seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exer-
educação escolar vincula-se à obrigatoriedade da garantia cício da docência, as de direção de unidade escolar e as de
de padrão de qualidade (artigo 4º, inciso IX). Além disso, o coordenação e assessoramento pedagógico.
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Bá- 36 Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: I -partici-
sica e de Valorização dos Professores da Educação (FUNDEB) par da elaboração da proposta pedagógica do estabeleci-
define critérios para proporcionar aos sistemas educativos e mento de ensino; II -elaborar e cumprir plano de trabalho,
às escolas apoio à valorização dos profissionais da educação. segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de
A Resolução CNE/CEB nº 2/2009, baseada no Parecer CNE/ ensino; III -zelar pela aprendizagem dos estudantes;
CEB nº 9/2009, que trata da carreira docente, é também uma IV -estabelecer estratégias de recuperação para os es-
norma que participa do conjunto de referências focadas na tudantes de menor rendimento; V ministrar os dias letivos
valorização dos profissionais da educação, como medida in- e horas-aula estabelecidos, além de participar integral-
dutora da qualidade do processo educativo. Tanto a valoriza- mente dos períodos dedicados ao planejamento, à avalia-
ção profissional do professor quanto a da educação escolar ção e ao desenvolvimento profissional; VI -colaborar com
são, portanto, exigências de programas de formação inicial as atividades de articulação da escola com as famílias e a
e continuada, no contexto do conjunto de múltiplas atribui- comunidade; VII –valorização do profissional da educação
ções definidas para os sistemas educativos. escolar; VIII -gestão democrática do ensino público, na for-
Para a formação inicial e continuadados docentes, por- ma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX -ga-
tanto, é central levar em conta a relevância dos domínios rantia de padrão de qualidade. (grifo nosso) responsáveis,
indispensáveis ao exercício da docência, conforme dispos- emsentido maisamplo, por essessujeitosepelaqualidadede-
to na Resolução CNE/CP nº 1/2006, que assim se expressa: suarelação como mundo. Tal proposição implica um redi-
I – o conhecimento da escola como organização com- mensionamento dos cursos de licenciaturas e da formação
plexa que tem a função de promover a educação para e na continuada desses profissionais.
cidadania; Sabe-se, no entanto, que a formação inicial e continua-
II – a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de da do professor tem de ser assumida como compromisso
investigações de interesse da área educacional; integrante do projeto social, político e ético, local e nacio-
III – a participação na gestão de processos educativos e nal, que contribui para a consolidação de uma nação sobe-
na organização e funcionamento de sistemas e instituições rana, democrática, justa, inclusiva e capaz de promover a
de ensino. emancipação dos indivíduos e grupos sociais. Nesse sen-
Além desses domínios, o professor precisa, particular- tido, os sistemas educativos devem instituir orientações a
mente, saber orientar, avaliar e elaborar propostas, isto é, partir das quais se introduza, obrigatoriamente, no projeto
interpretar e reconstruir o conhecimento. Deve transpor os político-pedagógico, previsão:

59
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

I – de consolidação da identidade dos profissionais mento da personalidade do escolar, mas pressupõe che-
da educação, nas suas relações com a instituição escolar e gar aos elementos essenciais do objeto de conhecimento e
com o estudante; suas relações gerais e singulares.
II–de criação de incentivos ao resgate da imagem so- Para atender às orientações contidas neste Parecer, o
cial do professor, assim como da autonomia docente, tanto professor da Educação Básica deverá estar apto para gerir
individual quanto coletiva; as atividades didático-pedagógicas de sua competência se
III–de definição de indicadores de qualidade social da os cursos de formação inicial e continuada de docentes le-
educação escolar, afim de que as agências formadoras de varem em conta que, no exercício da docência, a ação do
profissionais da educação revejam os projetos dos cursos professor é permeada por dimensões não apenas técnicas,
de formação inicial e continuada de docentes, de modo mas também políticas, éticas e estéticas, pois terão de de-
que correspondam às exigências de um projeto de Nação. senvolver habilidades propedêuticas, com fundamento na
Na política de formação de docentes para o Ensino ética da inovação, e de manejar conteúdos e metodologias
Fundamental, as ciências devem, necessária e obrigatoria- que ampliem a visão política para a politicida de das téc-
mente, estar associadas, antes de qualquer tentativa, à dis- nicas e tecnologias, no âmbito de sua atuação cotidiana.
cussão de técnicas, de materiais, de métodos para uma aula Ao selecionar e organizar o conhecimento específico
dinâmica; é preciso, indispensável mesmo, que o professor que o habilite para atuar em uma ou mais etapas da Educa-
se ache repousado no saber de que a pedra fundamental é ção Básica, é fundamental que se considere que o egresso
a curiosidade do ser humano. É ela que faz perguntar, co- dos cursos de formação de professores deverá ter a opor-
nhecer, atuar, mais perguntar, reconhecer (Freire, 1996:96). tunidade de reconhecer o conhecimento
Por outro lado, no conjunto de elementos que contri- (conceitos, teorias, habilidades, procedimentos, valo-
buem para a concepção, elaboração e execução do pro- res) como base para a formação integral do estudante, uma
jeto político-pedagógico pela escola, em que se inscreve vez que esta exige a capacidade para análise, síntese, com-
o desenvolvimento curricular, a capacitação docente é o provação, comparação, valoração, explicação, resolução de
aspecto mais complexo, porque a formação profissional problemas, formulação de hipóteses, elaboração, execução
em educação insere-se no âmbito do desenvolvimento de e avaliação de projetos, entre outras, destinadas à organi-
aprendizagens de ordem pessoal, cultural, social, ambien- zação e realização das atividades de aprendizagens.
tal, política, ética, estética. É na perspectiva exposta que se concebe o trabalho
Assim, hoje, exige-se do professor mais do que um docente na tarefa de cuidar e educar as crianças e jovens
conjunto de habilidades cognitivas, sobretudo se ainda for que, juntos, encontram-se na idade de 0 (zero) a 17 (de-
considerada a lógica própria do mundo digital e das mídias zessete) anos. Assim pensada, a fundamentação da ação
em geral, o que pressupõe aprender a lidar com os nati- docente e dos programas de formação inicial e continua-
vos digitais. Além disso, lhe é exigida, como pré-requisito da dos profissionais da educação instauram-se em meio
para o exercício da docência, a capacidade de trabalhar a processos tensionais de caráter político, social e cultu-
cooperativamente em equipe, e de compreender, interpre- ral que se refletem na eleição de um ou outro método de
tar e aplicar a linguagem e os instrumentos produzidos ao aprendizagem, a partir do qual é justificado determinado
longo da evolução tecnológica, econômica e organizativa. perfil de docente para a Educação Básica.
Isso, sem dúvida, lhe exige utilizar conhecimentos científi-
cos e tecnológicos, em detrimento da sua experiência em Se o projeto político-pedagógico, construído coletiva-
regência, isto é, exige habilidades que o curso que o titu- mente, está assegurado por lei, resultante da mobilização
lou, na sua maioria, não desenvolveu. Desse ponto de vista, de muitos educadores, torna-se necessário dar continui-
o conjunto de atividades docentes vem ampliando o seu dade a essa mobilização no intuito de promover a sua via-
raio de atuação, pois, além do domínio do conhecimento bilização prática pelos docentes. Para tanto, as escolas de
específico, são solicitadas atividades pluridisciplinares que formação dos profissionais da educação, sejam gestores,
antecedem a regência e a sucedem ou a permeiam. As ati- professores ou especialistas, têm um papel importantíssi-
vidades de integração com a comunidade são as que mais mo no sentido de incluir, em seus currículos e programas,
o desafiam. a temática da gestão democrática, dando ênfase à cons-
Historicamente, o docente responsabiliza-se pela esco- trução do projeto pedagógico, mediante trabalho coletivo
lha de determinada lógica didático-pedagógica, ameaçado de que todos os que compõem a comunidade escolar são
pela incerteza quanto àquilo que, no exercício de seu papel responsáveis.
de professor, deve ou não deve saber, pensar e enfrentar,
ou evitar as dificuldades mais frequentes que ocorrem nas Nesse sentido, o professor da Educação Básica é o
suas relações com os seus pares, com os estudantes e com profissional que conhece as Especificidades dos processos
os gestores. Atualmente, mais que antes, ao escolher a me- de desenvolvimento e de aprendizagens, respeita os direi-
todologia que consiste em buscar a compreensão sobre tos dos estudantes e de suas famílias. Para isso, domina o
alógica mental, a partir da qual se identifica a lógica de conhecimento teórico-metodológico e teórico-prático in-
determinada área do conhecimento, o docente haverá de dispensável ao desempenho de suas funções definidas no
definir aquela capaz de desinstalar os sujeitos aprendizes, artigo 13 da LDB, no plano de carreira a que se vincula, no
provocar-lhes curiosidade, despertar-lhes motivos, desejos. regimento da escola, no projeto político-pedagógico em
Esse é um procedimento que contribui para o desenvolvi- sua processualidade.

60
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

II – VOTO DA COMISSÃO b. Aprendizagem organizada: É aquela que tem por


À vista do exposto, propõe-se à Câmara de Educação finalidade específica aprender determinados conhecimen-
Básica a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais tos, habilidades e normas de convivência social. Este tipo
Gerais paraa Educação Básica ,na forma deste Parecer e de aprendizagem é transmitido pela escola, que é uma or-
do Projeto de Resolução em anexo, do qual é parte inte- ganização intencional, planejada e sistemática, as finalida-
grante. des e condições da aprendizagem escolar é tarefa específi-
Brasília, (DF), 7 de abril de 2010. ca do ensino (LIBÂNEO, 1994. Pág. 82).
Esses tipos de aprendizagem tem grande relevância na
assimilação ativa dos indivíduos, favorecendo um conheci-
mento a partir das circunstâncias vivenciadas pelo mesmo.
DIDÁTICA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO; O processo de assimilação de determinados conheci-
mentos, habilidades, percepção e reflexão é desenvolvido por
meios atitudinais, motivacionais e intelectuais do aluno, sendo
o professor o principal orientador desse processo de assimi-
Didática é considerada como arte e ciência do ensi- lação ativa, é através disso que se pode adquirir um melhor
no, o objetivo deste artigo é analisar o processo didático entendimento, favorecendo um desenvolvimento cognitivo.
educativo e suas contribuições positivas para um melhor Através do ensino podemos compreender o ato de
desempenho no processo de ensino-aprendizagem. Como aprender que é o ato no qual assimilamos mentalmente os
arte a didática não objetiva apenas o conhecimento por fatos e as relações da natureza e da sociedade. Esse proces-
conhecimento, mas procura aplicar os seus próprios prin- so de assimilação de conhecimentos é resultado da reflexão
cípios com a finalidade de desenvolver no individuo as ha- proporcionada pela percepção prático-sensorial e pelas ações
bilidades cognoscitivas, tornando-os críticos e reflexivos, mentais que caracterizam o pensamento (Libâneo, 1994). En-
desenvolvendo assim um pensamento independente. tendida como fundamental no processo de ensino a assimi-
Nesse Artigo abordamos esse assunto acerca das vi- lação ativa desenvolve no individuo a capacidade de lógica e
sões de Libâneo (1994), destacando as relações e os pro- raciocínio, facilitando o processo de aprendizagem do aluno.
cessos didáticos de ensino e aprendizagem, o caráter Sempre estamos aprendendo, seja de maneira siste-
educativo e crítico desse processo de ensino, levando em mática ou de forma espontânea, teoricamente podemos
consideração o trabalho docente além da organização da dizer que há dois níveis de aprendizagem humana: o refle-
aula e seus componentes didáticos do processo educacio- xo e o cognitivo. O nível reflexo refere-se às nossas sensa-
nal tais como objetivos, conteúdos, métodos, meios de en- ções pelas quais desenvolvemos processos de observação
sino e avaliação. Concluímos o nosso trabalho ressaltando e percepção das coisas e nossas ações físicas no ambiente.
a importância da didática no processo educativo de ensino Este tipo de aprendizagem é responsável pela formação de
e aprendizagem. hábitos sensório motor (Libâneo, 1994).
O nível cognitivo refere-se à aprendizagem de deter-
1.0 PROCESSOS DIDÁTICOS BÁSICOS, ENSINO E minados conhecimentos e operações mentais, caracteriza-
APRENDIZAGEM. da pela apreensão consciente, compreensão e generaliza-
A Didática é o principal ramo de estudo da pedagogia, ção das propriedades e relações essenciais da realidade,
pois ela situa-se num conjunto de conhecimentos pedagó- bem como pela aquisição de modos de ação e aplicação
gicos, investiga os fundamentos, as condições e os modos referentes a essas propriedades e relações (Libâneo, 1994).
de realização da instrução e do ensino, portanto é consi- De acordo com esse contexto podemos despertar uma
derada a ciência de ensinar. Nesse contexto, o professor aprendizagem autônoma, seja no meio escolar ou no am-
tem como papel principal garantir uma relação didática biente em que estamos.
entre ensino e aprendizagem através da arte de ensinar, Pelo meio cognitivo, os indivíduos aprendem tanto
pois ambos fazem parte de um mesmo processo. Segundo pelo contato com as coisas no ambiente, como pelas pa-
Libâneo (1994), o professor tem o dever de planejar, dirigir lavras que designam das coisas e dos fenômenos do am-
e controlar esse processo de ensino, bem como estimular biente. Portanto as palavras são importantes condições de
as atividades e competências próprias do aluno para a sua aprendizagem, pois através delas são formados conceitos
aprendizagem. pelos quais podemos pensar.
A condição do processo de ensino requer uma clara O ensino é o principal meio de progresso intelectual
e segura compreensão do processo de aprendizagem, ou dos alunos, através dele é possível adquirir conhecimentos
seja, deseja entender como as pessoas aprendem e quais e habilidades individuais e coletivas. Por meio do ensino, o
as condições que influenciam para esse aprendizado. Sen- professor transmite os conteúdos de forma que os alunos
do assim Libâneo (1994) ressalta que podemos distinguir assimilem esse conhecimento, auxiliando no desenvolvi-
a aprendizagem em dois tipos: aprendizagem casual e a mento intelectual, reflexivo e crítico.
aprendizagem organizada. Por meio do processo de ensino o professor pode al-
a. Aprendizagem casual: É quase sempre espontâ- cançar seu objetivo de aprendizagem, essa atividade de
nea, surge naturalmente da interação entre as pessoas ensino está ligada à vida social mais ampla, chamada de
com o ambiente em que vivem, ou seja, através da con- prática social, portanto o papel fundamental do ensino é
vivência social, observação de objetos e acontecimentos. mediar à relação entre indivíduos, escola e sociedade.

61
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

1.1 O CARÁTER EDUCATIVO DO PROCESSO DE • Criar as condições e os meios para que os alu-
ENSINO E O ENSINO CRÍTICO. nos desenvolvam capacidades e habilidades intelectuais
De acordo com Libâneo (1994), o processo de ensi- de modo que dominem métodos de estudo e de traba-
no, ao mesmo tempo em que realiza as tarefas da ins- lho intelectual visando a sua autonomia no processo de
trução de crianças e jovens, também é um processo edu- aprendizagem e independência de pensamento;
cacional. • Orientar as tarefas de ensino para objetivo edu-
No desempenho de sua profissão, o professor deve cativo de formação da personalidade, isto é, ajudar os alu-
ter em mente a formação da personalidade dos alunos, nos a escolherem um caminho na vida, a terem atitudes
não apenas no aspecto intelectual, como também nos e convicções que norteiem suas opções diante dos pro-
aspectos morais, afetivos e físicos. Como resultado do blemas e situações da vida real (LIBÂNEO, 1994, Pág. 71).
trabalho escolar, os alunos vão formando o senso de ob- Além dos objetivos da disciplina e dos conteúdos, é
servação, a capacidade de exame objetivo e crítico de fundamental que o professor tenha clareza das finalida-
fatos e fenômenos da natureza e das relações sociais, des que ele tem em mente, a atividade docente tem a ver
habilidades de expressão verbal e escrita. A unidade ins- diretamente com “para que educar”, pois a educação se
trução-educação se reflete, assim, na formação de ati- realiza numa sociedade que é formada por grupos sociais
tudes e convicções frente à realidade, no transcorrer do que tem uma visão diferente das finalidades educativas.
processo de ensino. Para Libâneo (1994), a didática trata dos objetivos,
O processo de ensino deve estimular o desejo e o condições e meios de realização do processo de ensino, li-
gosto pelo estudo, mostrando assim a importância do gando meios pedagógico-didáticos a objetivos sócio-po-
conhecimento para a vida e o trabalho, (LIBÂNEO, 1994). líticos. Não há técnica pedagógica sem uma concepção
Nesse processo o professor deve criar situações que de homem e de sociedade, sem uma competência técnica
estimule o indivíduo a pensar, analisar e relacionar os para realiza-la educacionalmente, portanto o ensino deve
aspectos estudados com a realidade que vive. Essa reali- ser planejado e ter propósitos claros sobre suas finalida-
zação consciente das tarefas de ensino e aprendizagem des, preparando os alunos para viverem em sociedade.
é uma fonte de convicções, princípios e ações que irão
É papel de o professor planejar a aula, selecionar, or-
relacionar as práticas educativas dos alunos, propondo
ganizar os conteúdos de ensino, programar atividades,
situações reais que faça com que os individuo reflita e
criar condições favoráveis de estudo dentro da sala de
analise de acordo com sua realidade (TAVARES, 2011).
aula, estimular a curiosidade e criatividade dos alunos,
Entretanto o caráter educativo está relacionado aos
ou seja, o professor dirige as atividades de aprendizagem
objetivos do ensino crítico e é realizado dentro do pro-
dos alunos a fim de que estes se tornem sujeitos ativos da
cesso de ensino. È através desse processo que acontece a
própria aprendizagem.
formação da consciência crítica dos indivíduos, fazendo-
Entretanto é necessário que haja uma interação mú-
-os pensar independentemente, por isso o ensino crítico,
chamado assim por implicar diretamente nos objetivos tua entre docentes e discentes, pois não há ensino se os
sócio-políticos e pedagógicos, também os conteúdos, alunos não desenvolverem suas capacidades e habilida-
métodos escolhidos e organizados mediante determina- des mentais.
da postura frente ao contexto das relações sociais vigen- Podemos dizer que o processo didático se baseia no
tes da prática social, (LIBÂNEO, 1994). conjunto de atividades do professor e dos alunos, sob a
È através desse ensino crítico que os processos men- direção do professor, para que haja uma assimilação ati-
tais são desenvolvidos, formando assim uma atitude in- va de conhecimentos e desenvolvimento das habilidades
telectual. Nesse contexto os conteúdos deixam de serem dos alunos. Como diz Libâneo (1994), é necessário para o
apenas matérias, e passam então a ser transmitidos pelo planejamento de ensino que o professor compreenda as
professor aos seus alunos formando assim um pensa- relações entre educação escolar, os objetivos pedagógi-
mento independente, para que esses indivíduos bus- cos e tenha um domínio seguro dos conteúdos ao qual
quem resolver os problemas postos pela sociedade de ele leciona, sendo assim capaz de conhecer os programas
uma maneira criativa e reflexiva. oficiais e adequá-los ás necessidades reais da escola e de
seus alunos.
1.2 A DIDÁTICA E O TRABALHO DOCENTE Um professor que aspira ter uma boa didática neces-
Como vimos anteriormente à didática estuda o pro- sita aprender a cada dia como lidar com a subjetividade
cesso de ensino no seu conjunto, no qual os objetivos, do aluno, sua linguagem, suas percepções e sua prática
conteúdos fazem parte, de modo a criar condições que de ensino. Sem essas condições o professor será incapaz
garantam uma aprendizagem significativa dos alunos. de elaborar problemas, desafios, perguntas relacionadas
Ela ajuda o professor na direção, orientação das tarefas com os conteúdos, pois essas são as condições para que
do ensino e da aprendizagem, dando a ele uma segu- haja uma aprendizagem significativa. No entanto para
rança profissional. Segundo Libâneo (1994), o trabalho que o professor atinja efetivamente seus objetivos, é pre-
docente também chamado de atividade pedagógica tem ciso que ele saiba realizar vários processos didáticos coor-
como objetivos primordiais: denados entre si, tais como o planejamento, a direção do
• Assegurar aos alunos o domínio mais seguro e ensino da aprendizagem e da avaliação (LIBÂNEO, 1994).
duradouro possível dos conhecimentos científicos;

62
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

1.3 A ORGANIZAÇÃO DA AULA E SEUS COMPO- Dentro da organização da aula destacaremos agora
NENTES DIDÁTICOS DO PROCESSO EDUCACIONAL seus Componentes Didáticos, que são também abordados
A aula é a forma predominante pela qual é organizado em alguns trabalhos como elementos estruturantes do en-
o processo de ensino e aprendizagem. É o meio pelo qual sino didático. São eles: os objetivos (gerais e específicos),
o professor transmite aos seus alunos conhecimentos ad- os conteúdos, os métodos, os meios e as avaliações.
quirido no seu processo de formação, experiências de vida,
conteúdos específicos para a superação de dificuldades 1.3.1 OBJETIVOS
e meios para a construção de seu próprio conhecimento, São metas que se deseja alcançar, para isso usa-se de
nesse sentido sendo protagonista de sua formação huma- diversos meios para se chegar ao esperado. Os objetivos
na e escolar. educacionais expressam propósitos definidos, pois o pro-
É ainda o espaço de interação entre o professor e o fessor quando vai ministrar a aula já vai com os objetivos
indivíduo em formação constituindo um espaço de troca definidos. Eles têm por finalidade, preparar o docente para
mútua. A aula é o ambiente propício para se pensar, criar, determinar o que se requer com o processo de ensino,
desenvolver e aprimorar conhecimentos, habilidades, ati- isto é prepará-lo para estabelecer quais as metas a serem
tudes e conceitos, é também onde surgem os questiona- alcançadas, eles constituem uma ação intencional e siste-
mentos, indagações e respostas, em uma busca ativa pelo mática.
esclarecimento e entendimento acerca desses questiona- Os objetivos são exigências que requerem do profes-
mentos e investigações. sor um posicionamento reflexivo, que o leve a questiona-
Por intermédio de um conjunto de métodos, o educa- mentos sobre a sua própria prática, sobre os conteúdos os
dor busca melhor transmitir os conteúdos, ensinamentos e materiais e os métodos pelos quais as práticas educativas
conhecimentos de uma disciplina, utilizando-se dos recur- se concretizam. Ao elaborar um plano de aula, por exem-
sos disponíveis e das habilidades que possui para infundir plo, o professor deve levar em conta muitos questiona-
no aluno o desejo pelo saber. mentos acerca dos objetivos que aspira, como O que? Para
Deve-se ainda compreender a aula como um conjunto que? Como? E Para quem ensinar?, e isso só irá melhorar
de meios e condições por meio das quais o professor orienta, didaticamente as suas ações no planejamento da aula. 
guia e fornece estímulos ao processo de ensino em função Não há prática educativa sem objetivos; uma vez que
da atividade própria dos alunos, ou seja, da assimilação e estes integram o ponto de partida, as premissas gerais
desenvolvimento de habilidades naturais do aluno na apren- para o processo pedagógico (LIBÂNEO, 1994- pág.122).
dizagem educacional. Sendo a aula um lugar privilegiado da Os objetivos são um guia para orientar a prática educativa
vida pedagógica refere-se às dimensões do processo didáti- sem os quais não haveria uma lógica para orientar o pro-
co preparado pelo professor e por seus alunos. cesso educativo.
Aula é toda situação didática na qual se põem objeti- Para que o processo de ensino-aprendizagem aconte-
vos, conhecimentos, problemas, desafios com fins instruti- ça de modo mais organizado faz-se necessário, classificar
vos e formativos, que incitam as crianças e jovens a apren- os objetivos de acordo com os seus propósitos e abran-
der (LIBÂNEO, 1994- Pág.178). Cada aula é única, pois ela gência, se são mais amplos, denominados objetivos gerais
possui seus próprios objetivos e métodos que devem ir de e se são destinados a determinados fins com relação aos
acordo com a necessidade observada no educando. alunos, chamados de objetivos específicos.
A aula é norteada por uma série de componentes, que a. Objetivos Gerais: exprimem propósitos mais am-
vão conduzir o processo didático facilitando tanto o de- plos acerca do papel da escola e do ensino diante das
senvolvimento das atividades educacionais pelo educador exigências postas pela realidade social e diante do desen-
como a compreensão e entendimento pelos indivíduos em volvimento da personalidade dos alunos (LIBANÊO, 1994-
formação; ela deve, pois, ter uma estruturação e organiza- pág. 121). Por isso ele também afirma que os objetivos
ção, afim de que sejam alcançados os objetivos do ensino. educacionais transcendem o espaço da sala de aula atuan-
Ao preparar uma aula o professor deve estar atento às do na capacitação do indivíduo para as lutas sociais de
quais interesses e necessidades almeja atender, o que pre- transformação da sociedade, e isso fica claro, uma vez que
tende com a aula, quais seus objetivos e o que é de caráter os objetivos têm por fim formar cidadãos que venham a
urgente naquele momento. A organização e estruturação atender os anseios da coletividade.
didática da aula têm por finalidade proporcionar um traba- b. Objetivos Específicos: compreendem as intencio-
lho mais significativo e bem elaborado para a transmissão nalidades específicas para a disciplina, os caminhos tra-
dos conteúdos. O estabelecimento desses caminhos pro- çados para que se possa alcançar o maior entendimento,
porciona ao professor um maior controle do processo e desenvolvimento de habilidades por parte dos alunos que
aos alunos uma orientação mais eficaz, que vá de acordo só se concretizam no decorrer do processo de transmis-
com previsto. são e assimilação dos estudos propostos pelas disciplinas
As indicações das etapas para o desenvolvimento da de ensino e aprendizagem. Expressam as expectativas do
aula, não significa que todas elas devam seguir um crono- professor sobre o que deseja obter dos alunos no decor-
grama rígido (LIBÂNEO, 1994-Pág. 179), pois isso depende rer do processo de ensino. Têm sempre um caráter peda-
dos objetivos, conteúdos da disciplina, recursos disponíveis gógico, porque explicitam a direção a ser estabelecida ao
e das características dos alunos e de cada aluno e situações trabalho escolar, em torno de um programa de formação.
didáticas especificas. (TAVARES, 2001- Pág. 66).

63
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

1.3.2 CONTEÚDOS dos conteúdos, visando à assimilação constante pelos alu-


Os conteúdos de ensino são constituídos por um con- nos e o desenvolvimento de suas capacidades e habilida-
junto de conhecimentos. É a forma pela qual, o professor des. É uma ação conjunta em que o educador é o promo-
expõem os saberes de uma disciplina para ser trabalhado tor, que faz questionamentos, propõem problemas, instiga,
por ele e pelos seus alunos. Esses saberes são advindos faz desafios nas atividades e o educando é o receptor ativo
do conjunto social formado pela cultura, a ciência, a téc- e atuante, que através de suas ações responde ao proposto
nica e a arte. Constituem ainda o elemento de mediação produzindo assim conhecimentos. O papel do professor é
no processo de ensino, pois permitem ao discente através levar o aluno a desenvolver sua autonomia de pensamento.
da assimilação o conhecimento histórico, cientifico, cultu-
ral acerca do mundo e possibilitam ainda a construção de 1.3.3 MÉTODOS DE ENSINO
convicções e conceitos. Métodos de ensino são as formas que o professor or-
O professor, na sala de aula, utiliza-se dos conteúdos ganiza as suas atividades de ensino e de seus alunos com
da matéria para ajudar os alunos a desenvolverem com- a finalidade de atingir objetivos do trabalho docente em
petências e habilidades de observar a realidade, perceber relação aos conteúdos específicos que serão aplicados. Os
as propriedades e características do objeto de estudo, métodos de ensino regulam as formas de interação entre
estabelecer relações entre um conhecimento e outro, ad- ensino e aprendizagem, professor e os alunos, na qual os
quirir métodos de raciocínio, capacidade de pensar por si resultados obtidos é assimilação consciente de conheci-
próprios, fazer comparações entre fatos e acontecimentos, mentos e desenvolvimento das capacidades cognoscitivas
formar conceitos para lidar com eles no dia-a-dia de modo e operativas dos alunos.
que sejam instrumentos mentais para aplicá-los em situa- Segundo Libâneo (1994) a escolha e organização os
ções da vida prática (LIBÂNEO 2001, pág. 09). Neste con- métodos de ensino devem corresponder à necessária uni-
texto pretende-se que os conteúdos aplicados pelo pro- dade objetivos-conteúdos-métodos e formas de organi-
fessor tenham como fundamento não só a transmissão das zação do ensino e as condições concretas das situações
informações de uma disciplina, mas que esses conteúdos didáticas. Os métodos de ensino dependem das ações
apresentem relação com a realidade dos discentes e que imediatas em sala de aula, dos conteúdos específicos, de
sirvam para que os mesmos possam enfrentar os desafios métodos peculiares de cada disciplina e assimilação, além
impostos pela vida cotidiana. Estes devem também pro- disso, esses métodos implica o conhecimento das caracte-
porcionar o desenvolvimento das capacidades intelectuais rísticas dos alunos quanto à capacidade de assimilação de
e cognitivas do aluno, que o levem ao desenvolvimento conteúdos conforme a idade e o nível de desenvolvimento
critico e reflexivo acerca da sociedade que integram. mental e físico e suas características socioculturais e indi-
Os conteúdos de ensino devem ser vistos como uma viduais.
relação entre os seus componentes, matéria, ensino e o co- A relação objetivo-conteúdo-método procuram mos-
nhecimento que cada aluno já traz consigo. Pois não basta trar que essas unidades constituem a linhagem funda-
apenas a seleção e organização lógica dos conteúdos para mental de compreensão do processo didático: os objeti-
transmiti-los. Antes os conteúdos devem incluir elementos vos, explicitando os propósitos pedagógicos intencionais
da vivência prática dos alunos para torná-los mais signifi- e planejados de instrução e educação dos alunos, para a
cativos, mais vivos, mais vitais, de modo que eles possam participação na vida social; os conteúdos, constituindo a
assimilá-los de forma ativa e consciente (LIBÂNEO, 1994 base informativa concreta para alcançar os objetivos e de-
pág. 128). Ao proferir estas palavras, o autor aponta para terminar os métodos; os métodos, formando a totalidade
um elemento de fundamental importância na preparação dos passos, formas didáticas e meios organizativos do en-
da aula, a contextualização dos conteúdos. sino que viabilizam a assimilação dos conteúdos, e assim, o
atingimento dos objetivos.
a. Contextualização dos conteúdos No trabalho docente, os professores selecionam e or-
A contextualização consiste em trazer para dentro da ganizam seus métodos e procedimentos didáticos de acor-
sala de aula questões presentes no dia a dia do aluno e do com cada matéria. Dessa forma destacamos os princi-
que vão contribuir para melhorar o processo de ensino e pais métodos de ensino utilizado pelo professor em sala
aprendizagem do mesmo. Valorizando desta forma o con- de aula: método de exposição pelo professor, método de
texto social em que ele está inserido e proporcionando a trabalho independente, método de elaboração conjunta,
reflexão sobre o meio em que se encontra, levando-o a método de trabalho em grupo. Nestes métodos, os conhe-
agir como construtor e transformador deste. Então, pois, cimentos, habilidades e tarefas são apresentados, expli-
ao selecionar e organizar os conteúdos de ensino de uma cadas e demonstradas pelo professor, além dos trabalhos
aula o professor deve levar em consideração a realidade planejados individuais, a elaboração conjunta de atividades
vivenciada pelos alunos. entre professores e alunos visando à obtenção de novos
conhecimentos e os trabalhos em grupo. Dessa maneira
b. A relação professor-aluno no processo de ensino designamos todos os meios e recursos matérias utilizados
e aprendizagem: pelo professor e pelos alunos para organização e condu-
O professor no processo de ensino é o mediador entre ção metódica do processo de ensino e aprendizagem (LI-
o indivíduo em formação e os conhecimentos prévios de BÂNEO, 1994 Pág. 173).
uma matéria. Tem como função planejar, orientar a direção

64
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

1.3.4 AVALIAÇÃO ESCOLAR minada socialmente, a de introduzir as crianças, jovens e


A avaliação escolar é uma tarefa didática necessá- adultos no mundo da cultura e do trabalho, tal objetivo
ria para o trabalho docente, que deve ser acompanhado não surge espontaneamente na experiência das crian-
passo a passo no processo de ensino e aprendizagem. ças, jovens e adultos, mas supõe as perspectivas traça-
Através da mesma, os resultados vão sendo obtidos no das pela sociedade e controle por parte do professor.
decorrer do trabalho em conjunto entre professores e Por outro lado, a relação pedagógica requer a indepen-
alunos, a fim de constatar progressos, dificuldades e dência entre influências externas e condições internas do
orientá-los em seus trabalhos para as correções neces- aluno, pois nesse contexto o professor deve organizar o
sárias. Libâneo (1994). ensino objetivando o desenvolvimento autônomo e in-
A avaliação escolar é uma tarefa complexa que não dependente do aluno (LIBÂNEO, 1994).
se resume à realização de provas e atribuição de notas,
ela cumpre funções pedagógico-didáticas, de diagnósti- 1.4 A PROFISSÃO DOCENTE E SUA REPERCUSSÃO
co e de controle em relação ao rendimento escolar. SOCIAL
A função pedagógico-didática refere-se ao papel da Segundo Libâneo (1994) o trabalho docente é a par-
avaliação no cumprimento dos objetivos gerais e espe- te integrante do processo educativo mais global pelo
cíficos da educação escolar. Ao comprovar os resultados qual os membros da sociedade são preparados para a
do processo de ensino, evidencia ou não o atendimen- participação da vida social. Com essas palavras Libâneo
to das finalidades sociais do ensino, de preparação dos deixa bem claro o importante e essencial papel do pro-
alunos para enfrentar as exigências da sociedade e in- fessor na inserção e construção social de cada individuo
seri-los ao meio social. Ao mesmo tempo, favorece uma em formação. O educador deve ter como principal e fun-
atitude mais responsável do aluno em relação ao estudo, damental compromisso com a sociedade formar alunos
assumindo-o como um dever social. Já a função de diag- que se tornem cidadãos ativos, críticos, reflexivos e par-
nóstico permite identificar progressos e dificuldades dos ticipativos na vida social.
alunos e a atuação do professor que, por sua vez, deter- O docente no processo de ensino e aprendizagem
minam modificações do processo de ensino para melhor é a ponte de mediação entre o aluno em formação e o
cumprir as exigências dos objetivos. A função do contro- meio social no qual está inserido; uma vez que ele vai
le se refere aos meios e a frequência das verificações e através de instruções, conteúdos e métodos orientar aos
de qualificação dos resultados escolares, possibilitando seus alunos a viver socialmente. Sendo a educação um
o diagnóstico das situações didáticas (LIBÂNEO, 1994). fenômeno social necessário à existência e funcionamen-
No entanto a avaliação na pratica escolar nas escolas to de toda a sociedade, exige-se a todo instante do pro-
tem sido bastante criticada sobre tudo por reduzir-se à fessor as competências técnicas e teóricas para a trans-
sua função de controle, mediante a qual se faz uma clas- missão desses conhecimentos que são essenciais para a
sificação quantitativa dos alunos relativa às notas que manutenção e progresso social.
obtiveram nas provas. Os professores não tem consegui- O processo educacional, notadamente os objetivos,
do usar os procedimentos de avaliação que sem dúvida, conteúdos do ensino e o trabalho do professor são regi-
implicam o levantamento de dados por meio de testes, dos por uma série de exigências da sociedade, ao passo
trabalhos escritos etc. Em relação aos objetivos, funções que a sociedade reclama da educação a adequação de
e papel da avaliação na melhoria das atividades esco- todos os componentes do ensino aos seus anseios e ne-
lares e educativas, tem-se verificado na pratica escolar cessidades. Porém a prática educativa não se restringe as
alguns equívocos. (LIBÂNEO, Pág. 198- 1994). exigências da vida em sociedade, mas também ao pro-
O mais comum é tomar a avaliação unicamente cesso de promover aos indivíduos os saberes e experiên-
como o ato de aplicar provas, atribuir notas e classifi- cias culturais que o tornem aptos a atuar no meio social
car os alunos. O professor reduz a avaliação à cobrança e transformá-lo em função das necessidades econômi-
daquilo que o aluno memorizou e usa a nota somen- cas, sociais e políticas da coletividade (LIBÂNEO, 1994
te como instrumento de controle. Tal ideia é descabi- pág.17). O professor deve formar para a emancipação,
da, primeiro porque a atribuição de notas visa apenas o reflexão, criticidade e atuação social do indivíduo e não
controle formal, com objetivo classificatório e não edu- para a submissão ou o comodismo.
cativo; segundo porque o que importa é o veredito do
professor sobre o grau de adequação e conformidade Fonte:https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/pe-
do aluno ao conteúdo que transmite. Outro equívoco é dagogia/processo-didatico-educativo-analise-reflexiva-
utilizar a avaliação como recompensa aos bons alunos -sobre-processo-ensino-aprendizagem.htm
e punição para os desinteressados, além disso, os pro-
fessores confiam demais em seu olho clínico, dispensam
verificações parciais no decorrer das aulas e aqueles que
rejeitam as medidas quantitativas de aprendizagem em
favor de dados qualitativos (LIBÂNEO, 1994).
O entendimento correto da avaliação consiste em
considerar a relação mútua entre os aspectos quantita-
tivos e qualitativos. A escola cumpre uma função deter-

65
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

nóstica constitui-se num processo de avançar no desen-


SABERES ESCOLARES, PROCESSOS volvimento e no crescimento da autonomia do educando,
METODOLÓGICOS E AVALIAÇÃO DA sendo capaz de descobrir seu nível de aprendizagem, ad-
APRENDIZAGEM; quirindo consciência das suas limitações e necessidades a
serem avançadas.
Ela tem que ter como finalidade fornecer informações
sobre o processo pedagógico que permitam aos docentes
definir sobre as interferências e as mudanças necessárias
Processos metodológicos serve como referência dos
na face do projeto educativo. Esse que precisa ser definido
segmentos compostos pela metodologia. Ordena assim in-
coletivamente para que possa garantir a aprendizagem do
formações, classifica-os, e também sistematiza-os.
aluno de forma democrática. É essencial perceber o aluno
Quando uma pessoa diz que utilizará determinada me-
como ser social e político que possui a capacidade de pen-
todologia, quer dizer que usará de normas, técnicas e co-
sar criticamente sobre seus atos e dotado de experiências,
nhecimentos definidos, que já foram elaborados e que é de
sujeito de seu próprio desenvolvimento.
conhecimento extensivo.
Também envolve processos determinados, disciplina
Fonte: https://www.infoescola.com/pedagogia/avalia-
específica, maneira e forma de se fazer algo. Também abor-
cao-da-aprendizagem/
da hipóteses.

Fonte; https://www.significadosbr.com.br/metodologia
NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E
Atualmente a avaliação da aprendizagem está sendo COMUNICAÇÃO E SUA CONTRIBUIÇÃO COM
voltada para a preparação de exames. Isso acontece por- A PRÁTICA PEDAGÓGICA;
que os sistemas de ensino estão interessados nos percen-
tuais de aprovação e reprovação dos alunos. Com isso, os
procedimentos de avaliação se tornam elementos motiva-
dores em busca de resultados.
Este trabalho foi desenvolvido no sentido de que as no-
A forma como a avaliação da aprendizagem está sen-
vas tecnologias sejam vistas como mais uma ferramenta de
do empregada faz com que os alunos tenham uma atenção
auxilio ao processo de educação, como dinamizadora do
centrada no processo de promoção ao final do ano letivo
processo de ensino e como instigadoras para a melhoria da
e não na aquisição de conhecimentos. Já os professores
aprendizagem. Para tanto, adota-se como objetivo geral:
utilizam as provas como forma de pressionar os alunos a
Refletir sobre o uso das novas tecnologias para a melhoria
alcançar os resultados esperados pela escola.
dos processos de ensino e de aprendizagem. Visto que a
De acordo com Luckesi (1998), a avaliação da aprendi-
simples utilização de um ou outro equipamento tecnológi-
zagem está sendo praticada independente do processo en-
co não pressupõe um trabalho educativo pedagógico.
sino-aprendizagem, pois mais importante do que ser uma
Hoje na chamada sociedade da informação, novas de
oportunidade de aprendizagem significativa, a avaliação
formas de pensar, de agir e de comunicar-se são introduzi-
vem se tornando um instrumento de ameaça.
das como hábitos corriqueiros, são inúmeras as formas de
Na medida em que a avaliação se centra em provas e
adquirir conhecimento, bem como também são diversas as
exames, não há uma melhoria na qualidade da aprendiza-
ferramentas que propiciam essa aquisição, as escolas são
gem. Caso seja necessária a utilização de provas, é preciso
em geral apontadas como uma das principais alternativas
deixar claro que ela é apenas uma formalidade do sistema
para formação e desenvolvimento de cidadãos garnidos
escolar.
de um perfil que conduza com as exigências da sociedade
Uma avaliação que busca a transformação social deve
moderna.
ter como objetivo o avanço e o crescimento do seu edu-
Atualmente são outras as maneiras de compreender,
cando e não estagnar o conhecimento através de práticas
de perceber, de sentir e de aprender, em que a afetividade,
disciplinadoras. Ela consiste em verificar o que o aluno
as relações, a imaginação e os valores não podem deixar de
aprendeu e se os objetivos propostos foram atingidos e
ser considerados. Na sociedade da informação aprende-se
se o programa foi conduzido de forma adequada. Deve re-
a reaprender, a conhecer, a comunicar-nos, a ensinar, a in-
presentar um instrumento indispensável na verificação do
teragir, a integrar o humano e o tecnológico, a integrar o
aprendizado continuo dos alunos, destacando as dificulda-
individual, o grupal e o social.
des em determina disciplina e direcionando os professores
Enfim, as tecnologias de informação e/ou comunicação
na busca de abordagens que contemplem métodos didáti-
possibilitam ao individuo ter acesso a milhares de informa-
cos adequados para as disciplinas.
ções e complexidades de contextos tanto próximos como
A prática avaliativa tem que centrar-se no diagnóstico
distantes de sua realidade que, num processo educativo,
e não na classificação. A função classificatória é analisar o
pode servir como elemento de aprendizagem, como es-
desempenho do aluno através de notas obtidas, geralmen-
paço de socialização, gerando saberes e conhecimentos
te registrada através de números. Ela retira da prática da
científicos. Portanto, a internet deve ser utilizada como
avaliação tudo o que é construtivo. Por sua vez, a diag-
uma ferramenta de auxilio na aquisição da leitura e da es-

66
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

crita, ferramenta esta que a escola e o professor devem A partir da descoberta da técnica de imprimir, passa-
introduzir na vida escolar do aluno, visto que faz parte do mos por grandes invenções, como os jornais que desde
cotidiano dos mesmos, cabe então a escola e ao professor seu surgimento tem o intuito de levar ao conhecimento
democratizar e orientar os alunos no uso da internet de do público acontecimentos importantes tanto sociais como
modo a conduzi-los ao processo de construção do conhe- políticos. O primeiro jornal publicado no Brasil foi “Gazeta
cimento, possibilitando ao professor ser mediador, isto é, do Rio de Janeiro” e data se de 10 de Setembro de 1808.
acompanhar e sugerir atividades, ajudar a solucionar dúvi- Por volta de 1860 surge um aparelho de comunica-
das e estimular a busca de um novo saber. ção de grande importância também para os dias atuais, o
telefone, que foi inventado  pelo italiano Antonio Meucci,
3. I CAPÍTULO este o inventou com o objetivo de comunicar se com sua
3.1 ELEMENTOS HISTÓRICOS SOBRE A COMUNICA- esposa doente que ficava no andar superior da casa em
ÇÃO HUMANA uma cama, no mesmo ano o italiano tornou pública sua
Desde o primeiro momento em que o homem passou invenção. No Brasil o telefone foi instalado no ano de 1883
a viver em sociedade surgiu à necessidade de se comuni- no Rio de Janeiro.
car uns com os outros, para expressarem seus sentimen- Após o surgimento do jornal e do telefone o homem
tos e até mesmo sua cultura, por muitas vezes também se conseguiu evoluir ainda mais com a invenção do rádio, a pri-
comunicavam no intuito de alertarem para algum perigo meira transmissão é datada de 1900, a partir deste momento
próximo. marca se o inicio de uma forma de transmitir informações numa
Acredita-se que a escrita originou a partir dos dese- velocidade maior, pois as ondas do rádio tinham um alcance
nhos de ideogramas, em que o desenho de uma laranja às pessoas muito superior ao do jornal, essa evolução marca
a representaria, ou o desenhos de duas pernas, poderiam o momento em que as informações passam a cruzar grandes
representar tanto o ato de andar como o de ficar de pé, distâncias geográficas, culturais e até mesmo cronológicas.
com o processo de evolução os símbolos acabaram por se Outro passo importante na evolução dos meios de
tornarem abstratos e evoluiram de forma a não terem ne- informação ocorreu em 1924, com o surgimento da te-
nhuma relação com os caracteres originais. levisão, o que tornou possível unir as técnicas do jornal,
A escrita é um processo simbólico que possibilitou ao como imagens e figuras com a técnica do rádio, a fala, essa
homem expandir suas mensagens para muito além do seu nova invenção possibilitou ver imagens em movimento
próprio tempo e espaço, criando mensagens que se man- juntamente com o áudio, tornando ainda mais atrativo as
teriam inalteradas por séculos e que poderiam ser proferi- informações e notícias antes transmitidas por jornais e rá-
das a quilômetros de distância. O surgimento da escrita é dio, conquistando não só o público adulto, mas também
de grande importância para a história, pois a partir desse as crianças, que agora associavam o som a imagem. A esse
momento que se encontram os primeiros registros de co- respeito o autor Sacristan afirma:
municação, no qual datam acontecimentos considerados Desta maneira, os meios de comunicação de massa, e
importantes para a época vivida, e que seriam passados em especial a televisão, que penetra nos mais recônditos
não só de um individuo para outro, mas de geração em cantos da geografia, oferecem de modo atrativo e ao al-
geração. cance da maioria dos cidadãos uma abundante bagagem
de informações nos mais variados âmbitos da realidade.
3.1.1 AS TECNOLOGIAS DE INFORMÇÃO E COMU- Os fragmentos aparentemente sem conexão e assépticos
NICAÇÃO (TICs) de informação variada, que a criança recebe por meio dos
Com o passar do tempo o homem evoluiu, e procurou poderosos e atrativos meios de comunicação, vão criando,
desenvolver técnicas que facilitasse sua vida em sociedade, de modo sutil e imperceptível para ela, incipientes, mas ar-
e um dos pontos principais para a melhoria da vida em raigadas concepções ideológicas, que utiliza para explicar
grupo é a comunicação, pois é através desta que nos torna- e interpretar a realidade cotidiana e para tomar decisões
mos sujeitos ativos e capazes, nesse processo de evolução quanto a seu modo de intervir e reagir. (1996, p. 25)
muito se inventou e desenvolveu o que nos levou a chegar Após passarmos por toda essa evolução, chegamos
à era da comunicação tecnológica, mas todo esse processo então ao que chamamos de Era da Tecnologia e da Infor-
passou por várias fases e invenções que acabaram se tor- mação, pois é no ano de 1943 que inicia se a era do com-
nando de grande importância para toda sociedade. putador, a princípio era uma máquina gigantesca em que o
Ao longo do século XX, mais precisamente entre os seu principal papel era o de realizar cálculos.
anos de 1940 e 1970, é que se dá o inicio de uma era de Ainda na década de 1940 temos outra importante evo-
desenvolvimento da última geração de avanços tecnoló- lução tecnológica foi à invenção do telefone celular que
gicos. Em que através da técnica de imprimir ilustrações, ocorreu em 1947, embora no Brasil só tenha sido difundida
como desenhos e símbolos se tornam possível transmitir no ano de 1990, a princípio no Rio de janeiro, seguido de-
informações a um determinado grupo de indivíduos, que pois pela cidade de Salvador. Sua principal função desde a
por sua enorme expansão se torna cada vez mais acessível invenção foi tornar fácil à comunicação entre pessoas que
a um maior número de pessoas. Esse novo método de co- se encontravam em lugares diferentes e distantes, tornan-
municação, a escrita em papel, passa a alterar o modo de do assim possível a comunicação com familiares à longa
vida das pessoas, pois tem maior influência sobre o modo distancia e também solucionar alguns problemas sem que
de viver e de pensar de uma sociedade. houvesse a necessidade de ir até o local naquele momento.

67
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Em se tratando de desenvolvimento, ainda em 1971 É importante frisar uma interessante observação feita
o computador passa por uma importante transformação, por Lévy (1999), “a maior parte dos programas computa-
na qual surge o primeiro micro computador, desde então, o cionais desempenham um papel de tecnologia intelectual,
homem não teve mais limites em sua evolução, e a cada dia ou seja, eles reorganizam, de uma forma ou de outra, a
busca inovar, atualmente além de computadores portáteis há visão de mundo de seus usuários e modificam seus reflexos
também computadores de mão, ambos não tem mais somen- mentais”.
te a função de calcular, e sim inúmeras e variadas funções. Desde que nos deparamos com a internet uma série
Junto à evolução dos computadores temos a internet, de funções inauguradas por este advento veio facilitar a
que nem sempre foi como conhecemos hoje, ela foi de- vida das pessoas, não só a comunicação se tornou mais
senvolvida no ano de 1969, com o objetivo de auxiliar os ágil e fácil, como se tornou um meio facilitador das ati-
militares durante o período da Guerra Fria na comunicação vidades realizadas no nosso dia a dia, pois por intermé-
entre as bases militares dos Estados Unidos da América, dio desta tecnologia e possível fazer praticamente tudo
com o fim da guerra o sistema de comunicação tornou se sem que tenhamos a necessidade de sair de casa, como
desnecessário aos militares que decidiram tornar acessível por exemplo, a efetuação de compras, tanto de alimentos,
ao público à invenção. como medicamentos, roupas, calçados, etc. Também po-
Foi a partir do ano de 1971 professores universitários e demos realizar transações bancárias sem ter que ir até o
acadêmicos dos Estados Unidos passaram a fazer uso des- banco, o que é um ato muito importante visto que perante
sa tecnologia para trocar mensagens e pensamentos. E por os perigos de assalto conseguimos realizar funções dentro
fim em 1990 dá se a disseminação e popularização da rede de casa sem que coloquemos nossa própria vida em risco,
de internet, que gradativamente vem evoluindo até os dias e mais interessante ainda é podermos realizar cursos à dis-
atuais, se tornando cada vez mais indispensável para nossa tância, atualmente podemos nos qualificar para o mercado
vida, pois estar conectado à rede mundial de computado- de trabalho, sem que aja a necessidade de termos que nos
res é uma fonte de conhecimento, interatividade e princi- deslocar até um determinado local. Tudo isso que citamos
palmente de informação e comunicação. até agora são apenas algumas das facilidades que a inter-
As tecnologias da informação ou como conhecemos net proporcionou a vida humana, se formos pensarmos na
atualmente as novas tecnologias da informação e comuni- realidade e impossível numerar todos os dispositivos que
cação são o resultado da fusão de três vertentes técnicas: a temos ao nosso alcance graças a este advento tecnológico.
informática, as telecomunicações e as mídias eletrônicas. Elas Atualmente a tecnologia está tão evoluída que o te-
criaram no meio educacional um encantamento em relação lefone celular que antes era usado somente para a comu-
aos conceitos de espaço e distância, como as redes eletrôni- nicação oral, já é usado para enviar mensagens eletrônicas,
cas e o telefone celular, que nos proporcionam ter em nossas tirar fotos, filmar, gravar lembretes, jogar, ouvir músicas e até
mãos o que antes estava a quilômetros de distância. mesmo como despertador, mas não para por aí, nos últimos
O computador interligado a internet extrapolou todos anos, tem ganhado recursos surpreendentes até então não
os limites da evolução tecnológica ocorrida até então, pois disponíveis para aparelhos portáteis, como GPS, videoconfe-
rompeu com as características tradicionais dos meios de rências e instalação de programas variados, que vão desde
comunicação em massa inventados até o presente mo- ler e-book (livro eletrônico) a usar remotamente um compu-
mento, enquanto o rádio, o cinema, a imprensa e a tele- tador qualquer, quando devidamente configurado.
visão são elementos considerados unidirecionais, ou seja, As ferramentas digitais apresentam uma extensa lista
são meios de comunicação em que a mensagem faz um de oportunidades, a sociedade em geral vislumbra um pe-
único percurso, do emissor ao receptor, os sistemas de ríodo onde todos tem acesso por meio da internet à cursos
comunicação que estão interligados à internet propiciam não presenciais, materiais pedagógicos virtuais, acesso a
aos usuários que ambos, emissor e receptor interfiram na boblioteca online, banco de dados compartilhados, intera-
mensagem. ção por teleconferência, blos e grupos de discussão, fato-
Além disso, a rapidez com que a internet foi dissemi- res esse que tornam possível a universalização do ensino
nada pelo mundo é enorme diante das outras tecnologias, superior, que impressíndivelmente um fator de grande im-
pois, o rádio levou 38 (trinta e oito) anos para atingir um portância para o desenvolvimento de qualquer nação.
público de 50 (cinquenta) milhões nos Estados Unidos, o As tecnologias de informação e comunicação tem de-
computador levou 16 (dezesseis) anos, a televisão levou 13 sempenhado um papel importante na comunicação coleti-
(treze) anos e a internet levou apenas 04 (quatro) anos para va, pois através dessa ferramenta a comunicação flui sem
alcançar 50 (cinquenta) milhões de internautas. Essas novas que aja barreira. Segundo Levy (1999), novas maneiras de
tecnologias transformaram a vida e o cotidiano das pes- pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo da
soas, tanto em seu meio de comunicação, como em todos informática.
os campos da sociedade. Como podemos observar o avanço tecnológico se co-
A partir de 1980 o computador passou a funcionar locou presente em todos os campos da vida social, invadin-
como extensão das atividades cognitivas humanas que ati- do a vida do homem no interior de sua casa, na rua onde
vam o pensar, o criar e o memorizar. Segundo Pretto e Cos- mora, e como na educação não poderia ser diferente, inva-
ta Pinto (2006), essas a máquinas não estão mais apenas a diu também as salas de aulas com os alunos, possibilitando
serviço do homem, mas interagindo com ele, formando um que condicionassem o pensar, o agir, o sentir e até mesmo
conjunto pleno de significado. o raciocínio com relação as pessoas.

68
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Em se tratando de comunicação e informação, há uma dizer que a palavra escrita nunca foi tão utilizada. O fato
variedade de informações que o tratamento digital pro- de a internet estar levando as pessoas a lerem e a usarem
porciona, como, imagem, som, movimento, representa- mais a escrita tem desenvolvido nos internautas uma habi-
ções manipuláveis de dados e sistemas (simulações), que lidade no manuseio e na criação de formas específicas de
por sua vez oferecem um quadro de conteúdos que podem lidar com a língua. Comparado com as gerações passadas,
ser objeto de estudos. Todo esse aparato de informação o advento da internet tem possibilitado aos adolescen-
contido na rede estão a serviço da cultura segundo Kalinke: tes o contato com os mais variados gêneros discursivos e
Os avanços tecnológicos estão sendo utilizados pra- manifestações de linguagem, visto que são mais de cinco
ticamente por todos os ramos do conhecimento. As des- milhões de usuários brasileiros navegando, em alta veloci-
cobertas são extremamente rápidas e estão a nossa dis- dade, durante vinte quatro horas por dia. A esse respeito
posição com uma velocidade nunca antes imaginada. A Lévy (1993) ressalta:
internet, os canais de televisão à cabo e aberta, os recursos As ‘chamadas tecnologias da inteligência’, construções
de multimídia estão presentes e disponíveis na sociedade. internalizadas nos espaços da memória das pessoas e que
Em contrapartida, a realidade mundial faz com que nossos foram criadas pelos homens para avançar no conhecimen-
alunos estejam cada vez mais informados, atualizados, e to e aprender mais, vem ressaltando a linguagem oral, a
participantes deste mundo globalizado. (1999, p. 15) escrita e a linguagem digital (dos computadores são exem-
Com toda agilidade que a internet proporciona a co- plos paradigmáticos desse tipo de tecnologia. ( CAMPOS,
municação, esse se tornou o meio mais utilizado e eficaz 2006, p.35)
na transmissão de mensagens. Atraindo pincipalmente os Além disso, a internet oferece livros na rede, downloads
jovens que tem uma enorme necessidade de interagir en- de músicas, permite baixar obras clássicas de literatura e a
tre si, e tudo para eles tem que ser e acontecer de forma troca ‘de experiências entre as pessoas, independente da
rápida, em casa ou em outro local, crianças, jovens e adul- distância em que se encontram. Essa interação proporciona
tos tem utilizado a internet diariamente para se comunicar o aprendizado e o desenvolvimento cultural, social e cogni-
com amigos e familiares, além de realizarem muitas outras tivo. É a comunicação entre os homens que lhes permitem
ações. tornar cidadãos, pois através das várias formas de lingua-
Esse crescente acesso de pessoas à rede mundial de gem o homem consegue se organizar na sociedade.
computadores e o surgimento de vários gêneros digitais Pierre Lévy (1999), em sua obra Cibercultura, afirma
tem possibilitado a criação de uma maneira diferente de que a rede de computadores é um universo que permite as
lidar até mesmo com a escrita e suas normas gráficas. Visto pessoas conectadas construir e partilhar inteligência cole-
que as novas gerações tem pleno acesso á internet não só tiva sem submeter-se a qualquer tipo de restrição político-
em casa ou na escola, mas também devido às Lans houses -ideológico, ou seja, a internet é um agente humanizador
(rede locais onde há vários computadores conectados) que porque democratiza a informação e humanitário porque
permitem a interação de dezenas de pessoas pelo baixo permite a valorização das competências individuais e a de-
custo do serviço e uso dos equipamentos. Tal fato possibi- fesa dos interesses das minorias.
lita que todas as classes possam ter acesso a este meio de Navegar na internet como ferramenta de ensino pode
informação e comunicação. ser um processo de busca de informações que dependen-
A internet veio inaugurar uma forma de comunicação do da situação pode transformar-se em conhecimento, ge-
e de uso da linguagem através do surgimento dos gêne- rando um ambiente interativo de aprendizagem ou pode
ros digitais, nome dado às novas modalidades de gêneros ser um inútil coletor de dados sem a menor relevância que
discursivos surgidos com o advento da internet, os quais não proporciona nenhuma contribuição ao aluno.
possibilitam a comunicação entre duas ou mais pessoas Diante dessa realidade, surgem os desafios da escola,
mediadas pelo computador. As línguas estão em constante na tentativa de responder como ela poderá contribuir para
transformação e, principalmente pelo fato de o homem es- que crianças, jovens e adultos tornem se usuários criati-
tar exposto a inúmeros meios eletrônicos, é que seu modo vos e críticos dessas ferramentas, evitando que se tornem
de viver vem sofrendo diversas transformações, entre elas meros consumidores compulsivos ou até mesmos deposi-
citamos o uso do internetês, que é uma nova modalidade tórios de dados, que não fazem sentido algum. Para tanto
de expressão e linguagem que faz uso de abreviaturas, es- seria preciso estudar, aprender e depois ensinar a história,
trangeirismos, neologismos, siglas, desenhos, ícones, gírias, a criação, a utilização e a avaliação dos equipamentos tec-
símbolos, tudo com o objetivo de transmitir as emoções de nológicos, analisando de forma minuciosa como estas es-
quem fala. Deparamos-nos com uma nova forma de comu- tão presentes na sociedade e qual o impacto e implicações
nicação: a rede ou internet, que associou o desenvolvimen- causados pelas mesmas na sociedade.
to e o conhecimento tecnológico ás diferentes linguagens. Como podemos observar a inserção das TICs na escola
O frequente contato com as diversas formas de textos implica em muitos desafios, primeiro porque temos aque-
em múltiplas semioses tem possibilitado que os próprios les que acreditam que basta utilizarem as tecnologias que
usuários inovem no uso da linguagem, testando novas já temos para efetuar um bom papel na educação, segun-
formas de transcrever e apresentar a língua oral no meio do desafio e muito mais árduo é o fato de que temos que
virtual, dissolvendo as fronteiras que há entre a linguagem aprender a lidar com as novas tecnologias e esse processo
escrita e a oral. Embora para muitas pessoas a linguagem não se detém de nenhuma receita, até mesmo porque in-
esteja sofrendo “deformações” nestes campos, podemos terfere diretamente na política de gestão escolar e em seus

69
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

currículos, o que desafia a escola a pensar e discutir o uso e que possivelmente ocorrerá no decorrer dos próximos
das TICs de forma coletiva, visto que seu principal objetivo anos. Uma mudança acompanhada de ações inovadoras
é o de melhorar, promover e dinamizar a qualidade de en- rompe as barreiras impostas pelo conhecimento já estabe-
sino para que ocorra sempre de forma democrática. lecido e fragmentado, a esse respeito Leite ressalta:
Ao contrário do que grande parte da sociedade pensa, Em muitas inovações que vemos hoje implantadas pe-
os recursos tecnológicos não foram implantados nas esco- los gestores do sistema de educação, as lógicas privilegia-
las para facilitar o trabalho dos educadores, mas para que das envolvem o curto prazo e a massificação, a classificação,
o educando aprendesse a partir da realidade do mundo e a comparação e até mesmo a competição, o individualismo
principalmente para que esse indivíduo consiga então agir e o disciplinamento. Essas lógicas são reguladoras e se sus-
sobre essa realidade, transformando-a e assim transfor- tentam em um sistema regulador. Como dizem Forrestier e
mando a si próprio. Todo e qualquer conhecimento implica Lipovetzki, são lógicas do momento do capitalismo desor-
uma série de ações, e todo indivíduo deve agir sobre o ob- denado, de final de século, que contribuem para construir
jeto do conhecimento para que se torne possível recons- as subjetividades consumistas e midiáticas da “cultura do
truí-lo e até mesmo ressignificá-lo. efêmero” e do “horror econômico”. A educação acrescenta,
É importante frisarmos que desde a década de 1950, então, sua parcela de regulação social aos sistemas. Parcela
teóricos já chamavam atenção para o fato de que os meios essa reproduzida dos paradigmas da regulação econômica,
de informação e comunicação constituíam uma escola onde que, em última análise, serve a exclusão social e, portanto,
seus indivíduos estariam encantados e atraídos em conhe- não serve a educação (2000, p.56).
cer conteúdos diferentes da escola convencional, inicia-se As verdadeiras inovações devem possuir características
nesse momento a análise do efeito da tecnologia sobre a importantes que levem os gestores dos sistemas educacio-
sociedade e a educação, pensando nesses impactos Fried- nais a pensarem e planejarem estratégias que dure um lon-
mann e Pocher (1977) aponta que as tecnologias são mais go prazo, a fuga da rotina e da massificação de respostas
do que meras ferramentas a serviço do ser humano, elas prontas, fazer com que alunos não sejam mais passivos de
modificam o próprio ser, interferindo seu modo de perce- seguir modelos, que se tornem indivíduos atuantes, parti-
ber o mundo, de se expressar sobre ele e de transformá-lo. cipativos e interativos, sobretudo críticos, somente assim
O que se prima é que o uso das TICs em sala de aula faça será capaz de formar cidadãos capazes de agir em uma
desse local um ambiente articulador de inovações e total- sociedade de forma a mudar e transformar aquilo que está
mente democrático, onde professor e aluno promovam imposto ao ser humano. E para que a escola se torne um
ações políticas participativas e inclusivas, transformando o lugar capaz de formar cidadãos com estas características
ensino-aprendizagem de forma a suprir a necessidades de atuantes, é preciso antes de tudo que o professor se tor-
todos os envolvidos a partir da interatividade. ne um educador intelectual, curioso, entusiasmado com as
A passagem de uma sociedade fechada para uma so- possibilidades do ensinar e do aprender, aberto a ouvir e
ciedade aberta impõe aos profissionais da educação desa- aceitar a opinião do outro e também capaz de motivar e
fios, uma tomada de atitude e de coragem, pois trata de dialogar. De acordo com Valente (1999, p. 41):
um tempo em que a sociedade exige dos cidadãos atitudes [...] A implantação de novas ideias depende, funda-
criticas, tomadas de decisões, reflexões sobre o seu próprio mentalmente, das ações do professor e dos alunos. Porém
fazer. As mudanças acontecem a todo o momento e não essas ações, para serem efetivas, devem ser acompanhadas
nenhum tipo de preocupação se os profissionais da educa- de uma maior autonomia para tomar decisões, alterar o
ção querem ou não essas mudanças, ninguém vai questio- currículo, desenvolver propostas de trabalho em equipe e
nar qual é a vontade desses profissionais. A opção é mudar usar novas tecnologias de informação [...].
ou ficar parado no tempo vendo o “bonde” passar. Assim Mudar não é uma tarefa fácil, pois envolve decisão,
Freire (1979) enfatiza: ousadia e, sobretudo coragem, não ter medo de construir
[...] a transição se torna então um tempo de opções. novas metodologias de ensino e fazer uso assim das TICs.
Nutrindo-se de mudanças, a transição é mais que mudan- Trabalhar de forma que o fio condutor da educação seja a
ças. Implica realmente na marcha que faz a sociedade na aprendizagem do aluno, e que este possa ser o protagonis-
procura de novos temas, de novas tarefas ou, mais preci- ta de sua construção, em que o professor se torne seu guia
samente, de sua objetivação. As mudanças se reproduzem e mediador no processo do conhecimento, ensinar não im-
numa mesma unidade de tempo, sem afetá-la profunda- plica em repassar conhecimento, mas um ato que deve ser
mente. É que se verificam dentro do jogo normal, resultan- regido pela curiosidade e vontade de aprender.
te da própria busca de plenitude que fazem esses temas.
(p. 65) 4. II CAPÍTULO
Afinal é extremamente importante à interação do su- 4.1 A ESCOLA E AS TECNOLOGIAS DE INFORMA-
jeito com as pessoas e com o meio, desde o momento de ÇÃO E COMUNICAÇÃO (TICS)
nosso nascimento passamos a interagir com o meio e com As reflexões em torno do assunto tecnologia e edu-
as pessoas, sendo esta uma relação de aprendizado. A par- cação tomou conta da sociedade há várias décadas, na
tir do conhecimento compartilhado e interativo temos a realidade desde que se notou sua influência na formação
promoção do novo, isto é, precisamos transformar concep- do sujeito contemporâneo, e da necessidade de explorar o
ções teóricas e metodológicas de modo que estas acompa- assunto diante do rápido desenvolvimento nos meios de
nhem toda a evolução tecnológica e cientifica que ocorre informação e comunicação. O mundo atual esta passan-

70
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

do por inúmeras e cada vez mais aceleradas transforma- sociedades com desigualdades sociais como a brasileira,
ções em torno de todos os campos da sociedade, desde o a escola deve passar a ter, também, a função de facilitar o
princípio da civilização o homem esta sempre em busca de acesso das comunidades carentes às novas tecnologias”.
adaptações, mudanças, novos conhecimentos, aliás, fato O uso da informática na educação implica em novas
este implícito em sua constante busca do saber e aprender. formas de comunicar, de pensar, ensinar/aprender, ajuda
A preocupação com o impacto que as mudanças tec- aqueles que estão com a aprendizagem muito aquém da
nológicas podem causar no processo de ensino-aprendi- esperada. A informática na escola não deve ser concebi-
zagem impõe a área da educação a tomada de posição da ou se resumir a disciplina do currículo, e sim deve ser
entre tentar compreender as transformações do mundo, vista e utilizada como um recurso para auxiliar o profes-
produzir o conhecimento pedagógico sobre ele auxiliar o sor na integração dos conteúdos curriculares, sua finali-
homem a ser sujeito da tecnologia, ou simplesmente dar as dade não se encerra nas técnicas de digitações e em con-
costas para a atual realidade da nossa sociedade baseada ceitos básico de funcionamento do computador, a tudo
na informação. (SAMPAIO e LEITE, 2000, op cit SANTOS, um leque de oportunidades que deve ser explorado por
2012, p. 9) aluno e professores. Valente (1999) ressalta duas possi-
Desde a década de 1940, quando se deu inicio as gran- bilidades para se fazer uso do computador, a primeira é
des transformações tecnológicas a sociedade atribuiu a de que o professor deve fazer uso deste para instruir os
escola e as instituições de ensino a responsabilidade de alunos e a segunda possibilidade é que o professor deve
formação da personalidade do individuo, tendo em vista criar condições para que os alunos descreva seus pensa-
a transmissão cultural do conhecimento acumulado his- mentos, reconstrua-os e materialize-os por meio de no-
toricamente. No que se referem à escola as tecnologias vas linguagens, nesse processo o educando é desafiado
sempre estiveram presentes na educação formal, o que faz a transformar as informações em conhecimentos práticos
necessário é o fato de que as instituições de ensino tem o para a vida. Pois como diz Valente:
papel de formar cidadãos críticos e criativos em relação ao [...] a implantação da informática como auxiliar do
uso dessas tecnologias. Para tanto é preciso que as mes- processo de construção do conhecimento implica mu-
mas abandonem a prática instrumental das tecnologias, e danças na escola que vão além da formação do pro-
faça avaliações sobre o trabalho com a inserção das novas fessor. É necessário que todos os segmentos da escola
tecnologias educativas, visto que: – alunos, professores, administradores e comunidades
Dessa forma, temos de avaliar o papel das novas tec- de pais – estejam preparados e suportem as mudanças
nologias aplicadas à educação e pensar que educar utili- educacionais necessárias para a formação de um novo
zando as TICs (e principalmente a internet) é um grande profissional. Nesse sentido, a informática é um dos ele-
desafio que, até o momento, ainda tem sido encarado de mentos que deverão fazer parte da mudança, porém essa
forma superficial, apenas com adaptações e mudanças não mudança é mais profunda do que simplesmente montar
muito significativas. laboratórios de computadores na escola e formar profes-
Sociedade da informação, era da informação, socie- sores para utilização dos mesmos. (1999, p. 4)
dade do conhecimento, era do conhecimento, era digital, Implantar laboratórios de informática nas escolas
sociedade da comunicação e muitos outros termos são não é suficiente para a educação no Brasil de um sal-
utilizados para designar a sociedade atual. Percebe-se que to na qualidade, é necessário que todos os membros do
todos esses termos estão querendo traduzir as caracterís- ambiente escolar inclusive os pais tenham seu papel re-
ticas mais representativas e de comunicação nas relações desenhado.
sociais, culturais e econômicas de nossa época (SANTOS, Atualmente o mundo dispõe de muitas inovações
2012, p. 2). tecnológicas para se utilizar em sala de aula, o que con-
A internet atinge cada vez mais o sistema educacional, diz com uma sociedade pautada na informação e no
a escola, enquanto instituição social é convocada a atender conhecimento, pois através desses meios temos a pos-
de modo satisfatório as exigências da modernidade, seu sibilidade virtual de ter acesso a todo tipo de informa-
papel é propiciar esses conhecimentos e habilidades ne- ção independente do lugar em que nos encontramos e
cessários ao educando para que ele exerça integralmente a do momento, esse desenvolvimento tecnológico trouxe
sua cidadania, construindo assim uma relação do homem enormes benefícios em termos de avanço científico, edu-
com a natureza, é o esforço humano em criar instrumentos cacional, comunicação, lazer, processamento de dados e
que superem as dificuldades das barreiras naturais. As re- conhecimento. Usar tecnologia implica no aumento da
des são utilizadas para romper as barreiras impostas pelas atividade humana em todas as esferas, principalmente na
paredes das escolas, tornando possível ao professor e ao produtiva, pois, “a tecnologia revela o modo de proceder
aluno conhecer e lidar com um mundo diferente a partir do homem para com a natureza, o processo imediato de
de culturas e realidades ainda desconhecidas, a partir de produção de sua vida social e as concepções mentais que
trocas de experiências e de trabalhos colaborativos. delas decorrem” (Marx, 1988, 425).
Em uma sociedade com desigualdade social como a Com toda essa disponibilidades é preciso formar ci-
que vivemos, a escola pública em alguns casos torna-se a dadãos capazes de selecionar o que há de essencial nos
única fonte de acesso às informações e aos recursos tecno- milhões de informações contidas na rede, de forma a en-
lógicos, das crianças de famílias da classe trabalhadora bai- riquecer o conhecimento e as habilidades humanas. Pois
xa. A esse respeito Pretto (1999, 104) vem afirmar que “em segundo Marchessou (1997):

71
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

[...] excesso nas mídias, onde as performances tecno- Podemos considerar que a educação ao longo da vida
lógicas e o consumo de informação submergem, “aneste- será o único meio de evitar a desqualificação profissional
siam” a capacidade de análise dessa informação e de re- e de atender às exigências do mercado de trabalho da
flexão tanto individual quanto social. Saturação e supera- sociedade tecnológica. Assim segundo BELLONI (1999)
bundância ameaçam o navegador da internet que, como op cit CAPELLO (2011), faz-se necessário uma flexibiliza-
certas pesquisas mostram, não tira partido das riquezas de ção forte de recursos, tempos, espaços e tecnologias, que
informação pertinente, não estando formado para ir dire- abrigam à inovação constante, por meio de questiona-
tamente ao essencial. (1997, p. 15) mentos e novas experiências.
Antes de introduzir as novas mídias interativas nas au- Nesse processo colaborativo de interatividade, o edu-
las expositivas é preciso entender suas funcionalidades e cador deve assumir um novo papel no processo educacio-
as consequências de seu uso nas relações sociais, pois so- nal, deixar de lado a postura de provedor de conhecimen-
mente a partir desse momento é possível utilizá-las de for- to e atuar como mediador, até mesmo porque diante dos
ma a transformar as aulas em eventos de discussão onde rápidos avanços em sua área, somente um profissional
ocorra de maneira efetiva à participação de todos os in- pleno e capaz de se ajustar aos avanços tecnológicos so-
divíduos, bem como professores, alunos e pesquisadores, breviverá nesse mercado. É fundamental que o professor
propiciando assim a comunicação que só é possível a partir se torne mediador e principalmente orientador na apren-
do momento que todas as partes se envolvem. dizagem mediada pelas novas tecnologias, pois é seu pa-
Para que os recursos tecnológicos façam parte da vida pel criar novas possibilidades para ensinar e aprender. Se-
escolar é preciso que alunos e professores o utilizem de gundo Moran (2000) o papel do professor é dividido em:
forma correta, e um componente fundamental é a forma- Orientador/mediador intelectual –  informa, ajuda a
ção e atualização de professores, de forma que a tecno- escolher as informações mais importantes, trabalha para
logia seja de fato incorporada no currículo escolar, e não que elas sejam significativas para os alunos, permitindo
vista apenas como um acessório ou aparato marginal. É que eles a compreendam, avaliem – conceitual e etica-
preciso pensar como incorporá-la no dia a dia da educa- mente -, reelaborem-nas e adaptem-nas aos seus contex-
ção de maneira definitiva. Depois, é preciso levar em conta tos pessoais. Ajuda a ampliar o grau de o grau de com-
a construção de conteúdos inovadores, que usem todo o preensão de tudo, a integrá-lo em novas sínteses provi-
potencial dessas tecnologias. sórias.
A incorporação das TICs deve ajudar gestores, profes- Orientador/mediador emocional –  motiva, incentiva,
sores, alunos, pais e funcionários a transformar a escola em incentiva, estimula, organiza os limites, com equilíbrio,
um lugar democrático e promotor de ações educativas que credibilidade, autenticidade e empatia.
ultrapassem os limites da sala de aula, instigando o edu- Orientador/mediador gerencial e comunicacional –or-
cando a enxergar o mundo muito além dos muros da esco- ganiza grupos, atividades de pesquisa, ritmos, interações.
la, respeitando sempre os pensamentos e ideais do outro. Organiza o processo de avaliação. É a ponte principal en-
O professor deve ser capaz de reconhecer os diferentes tre a instituição, os alunos e os demais grupos envolvidos
modos de pensar e as curiosidades do aluno sem que aja (comunidade). Organiza o equilíbrio entre o planejamen-
a imposição do seu ponto de vista, pois com lembra Freire: to e a criatividade. O professor atual como orientador co-
Não haveria exercício ético-democrático, nem sequer municacional e tecnológico; ajuda a desenvolver todas as
se poderia falar em respeito do educador ao pensamento formas de expressão, interação, de sinergia, de troca de
diferente do educando se a educação fosse neutra – vale linguagens, conteúdos e tecnologias.
dizer, se não houvesse ideologias, política, classes sociais. Orientador ético – ensina a assumir e vivenciar valores
Falaríamos apenas de equívocos, de erros, de inadequa- construtivos, individual e socialmente, cada um dos pro-
ções, de “obstáculos epistemológicos” no processo de co- fessores colabora com um pequeno espaço, uma pedra na
nhecimento, que envolve ensinar e aprender. A dimensão construção dinâmica do “mosaico” sensorial-intelectual-
ética se restringiria apenas à competência do educador ou -emocional-ético de cada aluno. Esse vai valorizando con-
da educadora, à sua formação, ao cumprimento de seus tinuamente seu quadro referencial de valores, ideias, ati-
deveres docentes, que se estenderia ao respeito à pessoa tudes, tendo por base alguns eixos fundamentais comuns
humana dos educandos. (2001, p. 38-39) como a liberdade, a cooperação, a integração pessoal. Um
As escolas são locais onde ocorre a emancipação do bom educador faz a diferença. [grifos do autor] (p. 30-31)
estudante, desde cedo já se molda cidadãos conscientes de A educação não pode mais viver sob o modelo antigo,
suas responsabilidades socioambientais, formar-se indiví- sob o risco de virar virtual e invisível para a sociedade, às
duos empreendedores do conhecimento e lapidam-se vo- novas tecnologias devem ser exploradas para servir como
cações. Portanto a necessidade de que os ambientes edu- meios de construção do conhecimento, e não somente
cativos se tornem lugares onde crianças e jovens tenham para a sua difusão. Nos últimos anos a presença dos alu-
habilidades de interferir no conhecimento estabelecido, nos em sala de aula diminuiu consideravelmente, sem fa-
desenvolver novas soluções e aplicá-las de forma respon- lar nas universidades onde alunos viraram atores virtuais,
sável para o bem estar da sociedade. Como Piaget (2002) invisíveis para a estrutura acadêmica, eles tem buscado na
enunciou: “A principal meta da educação é criar homens internet as fontes de conteúdos programáticos das disci-
que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmen- plinas, ignoram a oportunidade de debates e reflexões em
te repetir o que outras gerações já fizeram”. sala de aula.

72
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Diferente de anos atrás, hoje os alunos tem acesso naquele momento eles não faziam sentido a nós, pareciam
muito mais rápido e fácil às informações, esse fator tornou apenas regras a serem decoradas para resolução de exercí-
as aulas expositivas desinteressantes e assim sua presença cios e de avaliações.
se tornou limitada, aos eventos protocolares como: exames Com grande frequência temos ouvido professores re-
e atividades extraclasses. O horizonte de uma criança, de clamarem que seus alunos não sabem escrever, e da parte
um jovem, hoje em dia, ultrapassa claramente o limite físico dos alunos ouvimos, que a escola os leva a escrever sobre
da sua escola, da sua cidade ou de seu país, quer se trate coisas que não tem significado algum para a sua realidade.
do horizonte cultural, social, pessoal ou profissional. Dian- Notemos que atualmente não se trata mais apenas de
te disso é importante lembrarmos que os professores não fazer redações escolares com começo, meio e fim. Com a
nasceram digitalizados, enquanto seus alunos, sim. era digital, as crianças estão se tornando especialistas em
Segundo Xavier (2005), as novas gerações tem adqui- lidar com o hipertexto, o sistema informação que inclui tex-
rido o letramento digital antes mesmo de ter se apropria- tos, fotos, áudio e vídeo, com infinitas possibilidades de
do completamente do letramento alfabético ensinado na navegação. No que se refere o hipertexto é preciso que o
escola. Esta intensa utilização do computador para a in- internauta desenvolva habilidades de avaliar criticamente
teração entre pessoas a distancia, tem possibilitado que as informações encontradas e saiba identificar quais são as
crianças e jovens se aperfeiçoem em práticas de leitura e fontes mais confiáveis entre as inúmeras apresentadas. Por
escrita diferentes das formas tradicionais de letramentos e essa razão é importante que o professor tenha conheci-
alfabetizações. Essas inúmeras modificações nas formas e mento sobre o hipertexto e a linguagem utilizada na inter-
possibilidades de utilização da linguagem em geral são re- net, para poder assim melhor orientar seus alunos.
flexos incontestáveis das mudanças tecnológicas que vem Ferreiro (2000) afirma que o laboratório de computa-
ocorrendo no mundo desde que os equipamentos infor- ção na escola possibilita aos jovens o ato de escrever e pu-
máticos e as novas tecnologias de comunicação começa- blicar. Muitas vezes a escrita na escola pode se tornar algo
ram a fazer parte intensamente do cotidiano das pessoas. maçante, visto que na maioria das vezes o único a ler e ter
A aprendizagem intermediada pelo o computador contato com os textos escritos pelos alunos é o professor. O
gera profundas mudanças no processo de produção do fato de se escrever apenas por encomenda na escola, onde
conhecimento, se antes as únicas vias eram de sala de aula, o professor solicita aos alunos a produção de uma redação,
o professor e os livros didáticos, hoje é permitido ao aluno este a faz e aquele corrige isto é algo que se torna para o
navegar por diferentes espaços de informação, que tam- aluno muito sofrido, afinal escrever para quê? Ou melhor,
bém nos possibilita enviar, receber e armazenar informa- para quem? Notemos que falta ao aluno motivação para
ções virtualmente. fazer um bom texto, fazer só porque o professor solicitou
O trabalho educacional a partir da informática tem pa- torna a atividade desagradável e descontextualizada.
pel fundamental na prática pedagógica das escolas, pois A integração da tecnologia de informação e comu-
possibilita a transição de um sistema de ensino fragmenta- nicação na escola favorece em muito a aprendizagem do
do para uma abordagem de conteúdos integrados. Sendo aluno e a aproximação de professores e alunos, pois atra-
possível também o processo de criação, busca, interesse vés deste meio tecnológico ambos tem a possibilidade de
e motivação, através de atividades que exigem planeja- construírem conhecimento através da escrita, reescrita, tro-
mento, tentativas, hipóteses, classificações e motivações, ca de ideias e experiências, o computador se tornou um
impulsionando a aprendizagem por meio da exploração grande aliado na busca do conhecimento, pois se trata de
que estimula a experiência. Segundo Oliveira (2000), os tra- uma ferramenta que auxilia na resolução de problemas e
balhos pedagógicos podem ser coerentes com a visão de até mesmo no desenvolvimento de projetos. As TICs têm
conhecimento que integre o sujeito e objetivo, assim como como característica o fazer e o refazer, transformando o
aprendizagem e ensino. Nessa perspectiva, as tecnologias erro em algo que pode ser refeito e reformulado instan-
tornam-se ferramentas poderosas, capazes de ampliar as taneamente para produzir novos saberes, cada individuo
chances de aprendizagem do aluno. que explora as tecnologias de informação e comunicação
O computador e os demais aparatos tecnológicos são se torna um emissor e receptor de informações, mais es-
vistos como bens necessários dentro dos lares e saber pecificamente leitor, escritor e comunicador, esse emara-
operá-los constitui-se em condição de empregabilidade e nhado de possibilidade ocorre graças ao poder persuasivo
domínio da cultura, é impossível fechar-se a esses aconte- das informações contidas nas TICs que envolve o sujeito
cimentos. incitando-o à leitura e à expressão através da escrita textual
Quem de nós não se lembra dos ditados de palavras e hipertextual.
e das regras gramaticais decoradas sem que soubéssemos A internet proporciona ao professor compreender a
qual seria a situação em que um dia poderíamos usa-las? importância de ser parceiro de seus alunos, navegar jun-
Sem esquecermos também, das variadas datas comemo- to com os alunos apontando possibilidades de percorrer
rativas, fórmulas de matemáticas, química e física, ossos e novos caminhos sem a preocupação de ter experimentado
órgãos do corpo humano e acidentes geográficos, todas as passar por eles algum dia, provocando assim a descoberta
atividades decorativas que fazíamos sem entender qual se- de novos significados, permitindo aos alunos resolverem
ria o significado aquilo poderia ter para nossa vida, muitas problemas ou desenvolverem projetos que tenham sentido
vezes ouvíamos de nossos professores que um dia precisa- para a sua aprendizagem, é nesse processo que a educação
ríamos daquele conhecimento. Mas como incorporá-los se resultaria em um exercício ético-democrático:

73
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Não haveria exercício ético-democrático, nem sequer reflexões, aprimorar e transformar ideias e experiências,
se poderia falar em respeito do educador ao pensamento não é preciso que professores se tornem donos da ver-
diferente do educando se a educação fosse neutra – vale dade e do conhecimento, mas sim parceiros de seus
dizer, se não houvesse ideologias, política, classe sociais. alunos, andando juntos em busca de um mesmo pro-
Falaríamos apenas de equívocos, de erros, de inadequa- pósito o conhecimento e a aprendizagem. Essa atuação
ções, de “obstáculos epistemológicos” no processo de co- leva os profissionais da educação a se desprender do
nhecimento, que envolve ensinar e aprender. A dimensão livro didático, que deixa de ser o guia da prática do
ética se restringiria apenas à competência do educador ou professor e passa a ser mais uma, entre outras, fontes
da educadora, á sua formação, ao cumprimento de seus de informação e de desenvolvimento do trabalho.
deveres docentes, que se estenderia ao respeito à pessoa No momento atual em que a sociedade vive é im-
humana dos educandos. (FREIRE, 2001ª, p. 38-39) prescindível que a educação caminhe no sentido do
O processo de incorporação das tecnologias nas ações conhecimento compartilhado, com liberdade para se
docentes guia professores e alunos para uma educação liber- expressar e se comunicar.
tadora e humanista, na qual homens e mulheres imergem na O professor que caminha de forma a tentar conhe-
construção do conhecimento, se tornando sujeitos da condu- cer o aluno e entendê-lo em sua realidade, é um profis-
ção de sua própria aprendizagem, ou seja, um sujeito partici- sional que podemos considerar ativo, crítico empenha-
pativo e responsável pela sua própria construção, deixando de do no seu papel de ensinar, pois a partir do momento
lado o sujeito passivo para se tornar autônomos e cidadãos que se sente desafiado pelo aluno, este vive uma busca
democráticos do saber, a esse respeito Freire enfatiza que: constante do aprendizado ao ensino.
A educação é uma resposta da finitude da infinitude. A Atualmente o professor não é um mero propagador
educação é possível para o homem, portanto esse é inaca- de conhecimento, mas sim ambos (aluno e professor)
bado. Isso leva a sua perfeição. A educação, portanto, im- são parceiros do ensino-aprendizagem, o professor
plica uma busca realizada por um sujeito que é o homem. tem o papel de planejar a aula de acordo com a ne-
O homem deve ser sujeito de sua própria educação. não cessidade de seus alunos e estes também tem seu pa-
pode ser objeto dela. Por isso, ninguém educa ninguém. pel que é contribuir com aquilo que deseja aprender,
(FREIRE, 1979, p. 27-28) como por exemplo, o tema a ser abordado, no qual se
Uma educação comprometida é aquela que propicia leva em conta dúvidas, curiosidades, indagações, co-
aos seus indivíduos o desenvolvimento e autoformação, nhecimentos prévios, valores, descobertas, interesses.
disponibiliza e oportuniza aos seus indivíduos o papel de O professor é desafiado a conhecer seu aluno, não é
construção de sua própria história, de sua autonomia de mais apenas aprendiz de conteúdo, mas de individuo,
negociar e tomar decisões em defesa de seus direitos e de para que possa respeitar os diferentes estilos e ritmos
sua coletividade, pois é a partir da autonomia que o indivi- de aprendizagem, temos uma situação que não é mais
duo conquista e exerce sua plena cidadania. É importante o professor o único a planejar as aulas para os alunos
frisarmos aqui que a autonomia não é algo que se transmi- executar, e sim ambos trabalham em busca de apren-
te ao aluno, mas que se constrói e conquista conforme sua dizagem, cada atuando segundo o seu papel e nível de
vivencia, cada homem constrói sua autonomia de acordo desenvolvimento.
com as varias decisões tomadas ao decorrer de seu dia e Notemos que é a partir do respeito e da confian-
de sua vida. Freire defende que: “o respeito à autonomia ça que aluno e professor caminharão para uma escola
e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não nova e avançada, onde há preocupação com aquilo que
um favor que podemos ou não conceder uns aos outros” se é proposto para o aluno ler, pois é através de uma
(1996, p. 66). A autonomia ajuda o homem a se tornar um leitura prazerosa que acontece o despertar para outras
cidadão crítico, libertar-se do comodismo, da passividade, leituras e para uma escrita criativa. Assuntos interessan-
da omissão e da indecisão. tes levam a questionamentos, a participações efetivas,
As TICs também tem papel fundamental no desenvol- espírito cooperativo e solidário em ambiente escolar.
vimento de projetos, pois permite o registro desse proces- A mudança na escola começa a partir de uma mu-
so construtivo, funciona como um recurso que irá diagnos- dança pessoal e profissional, capaz de levantar uma
ticar o nível de desenvolvimento dos alunos, suas dificulda- escola que incentive a imaginação, a leitura prazerosa,
des e capacidades, favorecendo também a identificação e a a escrita criativa, favoreça a iniciativa, a espontaneida-
correção dos erros e a constante reelaboração, sem perder de, o questionamento, que se torne um ambiente onde
aquilo que já foi criado. promova e vivencie a cooperação, o dialogo, a partilha
Uma inovação é como ver algo novo nas coisas às ve- e a solidariedade.
zes conhecidas, deve-se pensar em ações que promovam Enfim para que todo esse leque de oportunidades
novos papéis para a escola, ações em que a utilização das aconteça, seja vivenciado é preciso que professor e alu-
TICs no contexto educacional estabeleça uma rede dialó- no andem juntos, trabalhem num mesmo ritmo de coo-
gica de interação com o intuito de promover a ruptura do peratividade, principalmente falem a mesma língua que
distanciamento entre sujeito-sociedade. é a da era da informação, pois somente trabalhando os
O computador ligado à internet propicia ao professor interesses da juventude será possível um aprendizado
atuar de forma diferente em sala de aula, é possível instigar de forma gratificante e com resultados positivos para
os alunos a desenvolver pesquisas, investigações, críticas, ambos os envolvidos no ensino-aprendizagem.

74
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

4.2 O USO DA INTERNET: UMA METODOLOGIA DI- adaptação a ritmos diferentes, desenvolvimento de novas
NÂMICA DE ENSINO formas de comunicação, aumento do interesse pelo estudo
Segundo o autor José Manuel Mouran (1997), a inter- de línguas, ampliação das conexões linguísticas, geográfi-
net é entre tantos mais um rico recurso para uma meto- cas e interpessoais. Podemos observar que o simples ato
dologia dinâmica de ensino, quando bem explorada nos de introduzir a internet a sua prática cotidiana, permitiu ao
proporciona uma vasta quantidade de ferramentas que po- educando lidar com novos desafios e estimular a prática de
dem enriquecer o processo de ensino aprendizagem, entre trabalho cooperativo.
tantos artifícios, selecionamos os seguintes recursos: o alto Um processo de ensino também muito interessante se
poder de divulgação, pesquisa, comunicação, exploração, quando realizado de forma satisfatória e compromissado é
informação, educativos. o ato de ensinar, aprender e desenvolver a prática pedagó-
O ato de divulgar pode ser ou não institucional, obje- gica por meio da integração das TICs e em especial quando
tivos de trabalho que a escola possui, ou divulgação espe- realizada a integração de conteúdos escolares por meio de
cífica da biblioteca, dos educadores e educandos ou até projetos interdisciplinares, torna o aluno muito mais ativo,
mesmo por grupos que podem divulgar seus trabalhos, aprendendo a fazer, testar e levantar ideias e hipóteses, o
ideias e projetos. Cabe aqui ressaltar que os alunos tem que o torna investigativo e selecionador daquilo que lhe
muito mais prazer em escrever quando sabe que outras é proposto como estudo. Cabe ao professor gerar situa-
pessoas terão acesso ao seu texto, assim é preciso em con- ções instigantes que levem os alunos interagir, trabalhar
versar selecionar assuntos que são de interesse dos edu- em grupo, e consequentemente produzir novos saberes.
candos para que esses possam produzir texto de opinião O ato de associar a utilização das tecnologias à Meto-
que por fim serão publicados na rede social. dologia de Projetos no ambiente escolar favorece o apren-
As pesquisas podem ser realizadas durante as aulas ou dizado, pois a aprendizagem é facilitada quando o aluno
na biblioteca, salas de laboratórios, como sendo atividade participa responsavelmente do seu processo, quando o
livre ou opcional, individual ou em grupo. Vale lembrar que aluno envolve sua inteligência e seus sentimentos, o apren-
o professor nesse momento deve estar atento para orientar der se torna impregnante e durável.
os alunos nas escolhas das informações, ambos trabalhan- A aprendizagem por meio de projetos propõe uma for-
do em conjunto para a escolha de conteúdos significativos, mação de indivíduos com uma visão global da realidade,
que ampliem o grau de compreensão e conhecimento do o que o prepara para a aprendizagem ao longo da vida,
educando, e que estes se tornem capazes de avaliar e ree- visto que, quanto maior o envolvimento do aprendiz com
laborar suas próprias escolhas. o seu processo de aprendizagem, com os objetivos de seu
A comunicação, bem como o correio eletrônico, Web, conhecimento, maiores serão as possibilidades de uma
lista de grupos de discussão são outras formas metodo- aprendizagem significativa, é preciso que o aluno entre
lógicas que podem ser utilizadas pelos educadores. Estas em contato com o meio, isto é, com seu objeto de estudo
novas práticas beneficiam a facilidade para trocas de in- para que faça sentido para sua realidade vivida, não basta
formação por grupos a fins, o professor deve ser capaz de apenas realizar pesquisas bibliográficas, é preciso envolvi-
ajudar seus alunos a criarem seu próprio endereço eletrô- mento. Os projetos constituem uma forma de incentivar
nico e fazer uso deste para armazenar informações e tro- e desenvolver os recursos da inteligência e da sensibilida-
ca-las com outros grupos, o que torna possível também as de, envolvendo o aluno e criando condições para a busca
trocas de experiências, culturas, informações e ideias, este de novos conhecimentos, soluções para problemas e fatos
é um meio bastante eficaz na integração do individuo a que tem algum significado para ele, o que faz desta meto-
sociedade, pois proporciona que este interage em grupo, dologia uma aliada importante no esforço de incorporar as
tornando-o um individuo cooperativo, criativo, critico e TICs. Assim Valente lembra:
responsável, pois ele de forma consciente faz suas próprias No trabalho com projetos há de se ir além da supera-
escolhas e toma suas decisões. ção de desafios, buscando desvelar e formalizar os concei-
A internet é uma excelente fonte Informativa  como tos implícitos no desenvolvimento do trabalho para que se
instrumento para a vida escolar e acadêmica é a maior po- estabeleça o ciclo da produção do conhecimento científico
tencialidade das tecnologias. Porém não se pode limitar que vai tecendo o currículo na ação. (VALENTE, s/d, p.30)
apenas como receptor de informações, mas sim, como um Podemos nesse momento fazer uma breve exposição
distribuidor através da lista de discussão, WWW. sobre os elementos que compõe as tecnologias e que po-
Mouran (1997) contribui em muito com nosso trabalho dem ajudar no ensino aprendizagem quando bem explo-
ao relatar algumas metodologias que desenvolveu em ins- radas pelos protagonistas do sistema educacional. Esses
tituições públicas de ensino. O primeiro passo foi introduzir elementos são: rapidez, recepção individualizada, interati-
a internet para que os educandos conhecessem e aprendes- vidade e participação, hipertextualidade e realidade virtual.
sem a lidar com esta, logo após cadastrou os alunos para Rapidez – a rapidez com que a informação chega até
que tivessem um email pessoal, assim poderiam pesquisar nós é uma das grandes características das TICs, temos
e guardar suas pesquisas, endereços e artigos. Essa ativi- acesso a todos os tipos de informação em tempo quase
dade de integração do individuo com o meio tecnológico que real. Hoje com o uso da internet os jovens são captu-
para que esse fizesse uso dessa ferramenta em benefício a rados pelas múltiplas linguagens e sentido, adquirem habi-
sua aprendizagem, motivou os alunos nas aulas, contribuiu lidades sem o menor auxilio da escola, pois na maioria das
no desenvolvimento da instituição, na flexibilidade mental, vezes a escola ainda esta naquela de preparar seus alunos

75
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

para ler símbolos (palavras e frases) em textos escritos, Como podemos ver o frequente uso das tecnologias
sem considerar imagens e as linguagens dos diferentes desperta a imaginação, investe na afetividade e nas rela-
suportes tecnológicos presentes na atualidade. O que ções como mediação primordial no mundo, sua incorpo-
temos presenciado no ensino são as tecnologias e seus ração no ambiente escolar pode ensinar seus indivíduos
aparatos chegando aos alunos de forma direta sem haja a a respeitar o diferente, a vencer obstáculos, a trabalhar
intervenção de um mediador para prepará-lo a lidar com coletivamente, entre outros aspectos, o que pretendemos
aquele meio e suas abundantes informações. com esse trabalho não é propor uma nova didática, mas
Recepção individualizada - a grande maioria dos do- uma postura que se apoia na inter-relação entre profes-
centes trabalha de forma única, sem consideração aos sor e aluno como sujeitos que se organizam, decidem e
anseios e necessidades individuais dos estudantes, mui- buscam superar obstáculos, tendo em vista conteúdos
tas vezes devido a sala de aula estar cheia o professor curriculares que podem ser intermediados com as tecnolo-
tem dificuldade de aproximar de seus alunos e assim gias, é interessante elencar a utilização destas como molas
realizar um trabalho de acordo com os anseios, possibi- propulsoras na sala de aula, elemento de percepção sobre
lidades e realidades destes. Assim jovens acabam se en- as complexidades do mundo atual e como mediadoras de
volvendo com a tecnologia segundo seu modo de viver processos comunicacionais.
e ver a realidade, utilizando-se das representações pes-
soais e sociais para compor e (re)criar seu próprio valores Fonte:https://monografias.brasilescola.uol.com.br/
e conceitos. educacao/as-tecnologias-informacao-comunicacao-tics-
Interatividade e participação – através das múltiplas -no-contexto-escolar.htm
funcionalidades da internet, sendo os jogos um de seus
componentes, os jovens desenvolvem capacidades como,
construir e intervir na história, escolher os caminhos, crir
e experimentar possibilidades, discutir e compartilhar as CURRÍCULO: PLANEJAMENTO, SELEÇÃO E
descobertas com os amigos, essa estimulação acaba por ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS.
acontecer com uma máquina que estimula seu usuário a
querer participar, a discutir e compartilhar as descobertas
com os amigos. Enquanto a escola por muitas vezes esta
distante do universo de seus alunos, na busca de aten- Essa organização do currículo se tornou necessária por-
der às exigências curriculares, acaba por não incentivar a que, com o surgimento da escolarização em massa, precisou-
autonomia e participação entre os jovens, possibilitando -se de uma padronização do conhecimento a ser ensinado,
ensinamentos e experiências descontextualizadas do uni- ou seja, que as exigências do conteúdo fossem as mesmas. 
verso adolescente. No entanto, o currículo não diz respeito apenas a uma
Hipertextualidade – através de textos virtuais, alunos relação de conteúdos, mas envolve também:
tem que descobrir alternativas que o tornem mais com- “questões de poder, tanto nas relações professor/alu-
petente em suas escolhas e decisões, mesmo que estas no e administrador/professor, quanto em todas as relações
aconteçam por ensaios e erros. O texto virtual permite que permeiam o cotidiano da escola e fora dela, ou seja,
associações, mixagens, e faz com que o usuário tenha envolve relações de classes sociais (classe dominante/clas-
diferentes opções de escolha, seja sujeito em busca da se dominada) e questões raciais, étnicas e de gênero, não
complexidade de informações/caminhos que, na maioria se restringindo a uma questão de conteúdos”. (HORNBURG
dos processo escolares, não é usual, pois os currículos es- e SILVA, 2007, p.1)
colares não dão conta, por exemplo, de situações vividas Veiga (2002) complementa
pelos jovens em contato com outros jovens em situações “Currículo é uma construção social do conhecimento,
do dia a dia de incertezas, acertos, erros, medos, entre pressupondo a sistematização dos meios para que esta
outros aspectos. A educação por hipertextos possibilita construção se efetive; a transmissão dos conhecimentos
ao estudante ações de decisão, visto que este é respon- historicamente produzidos e as formas de assimilá-los,
sável pela seleção e produção de caminhos e informa- portanto, produção, transmissão e assimilação são proces-
ções. sos que compõem uma metodologia de construção cole-
Realidade virtual – o individuo interage com a rea- tiva do conhecimento escolar, ou seja, o currículo propria-
lidade das imagens, criando elementos próprios para mente dito.” (VEIGA, 2002, p.7)
entender a situação virtual. A realidade virtual prazerosa Assim, isso implica que essa organização – feita prin-
tem um pequeno lugar pedagógico, principalmente nos cipalmente no projeto-político-pedagógico de cada esco-
primeiros anos escolares, com a fantasia das histórias la – deve levar em conta alguns princípios básicos da sua
contadas, no entanto, na continuidade da vida escolar construção. Entre eles o fato de, como já dito, o processo
trabalha-se mais textos formais, distantes das emoções, de desenvolvimento do currículo ter sido cultural e, portan-
dos desejos e do conhecimento informal do cotidiano to, não neutro. Sempre visa privilegiar determinada cultura
dos alunos. Entendemos que o prazer da aprendizagem e, por isso, há a necessidade de uma criteriosa análise e
pode ser obtido através de componentes que respondam reflexão, por parte dos sujeitos em interação, no caso as
aos anseios imaginários dos estudantes e propiciem a autoridades escolares e os docentes com o mesmo objeti-
eles vivências significativas e criativas. vo, baseando-se em referenciais teóricos.

76
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

O currículo  não é estático, pelo contrário, ele foi e


continua sendo construído. A reflexão sobre isso é impor- PLANEJAMENTO: A REALIDADE ESCOLAR; O
tante, porque, conforme Veiga (2002, p. 7) afirma, “a análise PLANEJAMENTO E O PROJETO PEDAGÓGICO
e a compreensão do processo de produção do conheci- DA ESCOLA;
mento escolar ampliam a compreensão sobre as questões
curriculares”.
Hoje em dia, a organização do currículo escolar se dá
de forma fragmentada e hierárquica, ou seja, cada disci- O planejamento escolar é feito para o ano inteiro e
plina é ensinada separadamente e as que são consideradas acontece antes do início das aulas. Nesse período, as es-
de maior importância em detrimento de outras recebem colas agendam uma semana pedagógica(que pode durar
mais tempo para serem explanadas no contexto escolar. de 3 a 5 dias), durante a qual se discute o que acontecerá
Vários autores apontam para a possibilidade de o nos próximos 200 dias letivos, e revisam o Projeto Político-
currículo não ser organizado baseando-se em conteúdos -Pedagógico (PPP), o documento que define a identidade
isolados, pois vivemos em um mundo complexo, que não da escola e indica os caminhos para o ensino de qualidade.
pode ser completamente explicado por um único ângulo, “O planejamento nasce a partir do estabelecimento de
mas a partir de uma visão multifacetada, construída pelas metas e de objetivos que a escola deseja alcançar. Ele é um
visões das diversas áreas do conhecimento. A organização momento importantíssimo para a construção de conhecimen-
do currículo deve procurar viabilizar uma maior interdisci- to sobre gestão e didática, articulação com a comunidade,
plinaridade, contextualização e transdisciplinaridade; asse- constituição de uma equipe colaborativa e qualificação das
gurando a livre comunicação entre todas as áreas. ações”, diz Maura Barbosa, consultora de GESTÃO ESCOLAR.
A organização do currículo escolar de forma hierárqui- Essa atividade é assegurada pela Lei de Diretrizes e Ba-
ca e fragmentada precisa ser revista, pois vivemos em um ses da Educação (LDB), de 1996, que garante que todos
mundo complexo que não pode ser completamente expli- os profissionais que trabalham em uma escola tenham um
cado por uma única área do conhecimento. tempo reservado para planejar a rotina.
Visto que o currículo é uma questão tão importante no No entanto, não é só porque está na lei que ele deve
aspecto escolar, este passou então a ser visto “como um ser cumprido. O planejamento é indispensável para a ges-
campo profissional de estudos e pesquisas” (HORNBURG tão do tempo, de materiais, de pessoas e de espaço, por-
e SILVA, 2007, p.1). Por isso, surgiram muitas teorias curri- que, ao colocar tudo o que a escola realizará ao longo do
culares. ano na ponta do lápis, é possível ter uma ideia do cenário
Correia e Dias (1998, p. 115) mostram que apesar de e alocar os recursos de acordo com as necessidades dos
essas teorias não serem perspectivas acabadas, “elas con- períodos do ano.
vertem-se em marcos orientadores das concepções sobre O que acontece na reunião de planejamento?
a realidade que abarcam, e passam a ser formas, ainda que Abaixo, fizemos uma lista do que deve ser considerado
indiretas, de abordar os problemas práticos da educação.” durante a elaboração do planejamento anual da escola.
Citando diversos autores com teorias curriculares dis- • Recepção dos professores novatos
tintas, Correia e Dias nos fornecem uma visão mais ampla • Troca de experiências entre os professores e ges-
dos papéis que o currículo ou curriculum pode abarcar: tores
“a teoria técnica do curriculum expressa o curricu- • Apresentação e análise dos resultados do ano an-
lum como um plano estruturado de aprendizagem cen- terior
trado nos conteúdos ou nos alunos ou ainda nos objetivos • Estabelecimento de metas e objetivos
previamente formulados, com vista a um dado resultado • Apresentação do calendário escolar, de acordo
ou produto (Pacheco, 1996). De acordo com a primeira com o disponibilizado pela Secretaria de Educação
perspectiva, o curriculum centra-se nos conteúdos como • Revisão do Projeto Político-Pedagógico e criação
produtos do saber culto e elaborado sob a formalização de planos de ação
de diferentes disciplinas. Mas o curriculum pode também • Definição da grade horária das disciplinas
expressar-se, de acordo com as concepções de curricu- • Divisão das turmas
lum propostas por Gimeno Sacristán (1991), através das • Organização das salas e dos materiais
experiências e dos interesses dos alunos, sendo entendido • Recepção dos alunos
como um meio de promoção da sua autorrealização. E, por • Planejamento pedagógico, levando em considera-
último, o curriculum pode ser entendido como um plano ção a avaliação do ano anterior e a distribuição dos conteú-
de orientação tecnológica que se prende com aquilo que dos de ensino e aprendizagem
deve ser ensinado e como deve ser, em ordem a um má- Como é possível ver, o planejamento do ano não co-
ximo de eficiência. Neste sentido, o professor é um mero meça da estaca zero. O trabalho já se inicia no ano ante-
“operário curricular” que tem a tarefa de executar um pla- rior, quando a equipe escolar realiza a avaliação do último
no.” (CORREIA e DIAS, 1998, p. 115). plano. Na semana pedagógica, trabalha-se em cima dos
resultados obtidos e com a troca de experiência sobre as
Fonte:https://educador.brasilescola.uol.com.br/orien- turmas entre os docentes, visando sempre melhorar o que
tacao-escolar/curriculo-no-contexto-escolar.htm tem sido feito.

77
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

É claro que as pautas das reuniões de planejamento nirão as normas da gestão democrática do ensino público
podem mudar, a depender de seu objetivo. Em um encon- na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades
tro sobre diagnóstico, por exemplo, não se discutirá ques- e conforme os seguintes princípios: 
tões como a organização da sala de aula, mas sim sobre a I - participação dos profissionais da educação na ela-
forma de descobrir os saberes das crianças. «A pauta do boração do projeto pedagógico da escola; 
planejamento depende sempre de quem está participando II - participação das comunidades escolar e local em
da reunião», diz Maura. conselhos escolares ou equivalentes. 
Ao longo dos meses, é importante acompanhar se as A revisão do projeto pedagógico da escola deve ser rea-
ações previstas no planejamento têm sido implantadas e se lizada anualmente, se a comunidade escolar assim definir. 
as estratégias estão dando certo. Essa avaliação pode ocor-
rer a cada bimestre ou trimestre ou, ainda, semestralmente. Fonte; https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/
Nessa altura, algumas perguntas são essenciais: tudo o que artigos/idiomas/projeto-pedagogico-da-escola/10505
estava programado deu certo? Por que tal atividade deu
errado? Como podemos melhorar para os próximos me-
ses? Com as respostas dessas perguntas em mãos, inicia-se
o replanejamento. LEI Nº 9.394/96 – LEI DE DIRETRIZES E BASE
DA EDUCAÇÃO NACIONAL;
Quem participa?
Todo mundo participa da elaboração do planejamen-
to porque ele influencia a escola inteira. Portanto, devem
comparecer aos encontros os gestores, os professores e os LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996.
funcionários. Os membros da equipe discutirão o funcio-
namento da instituição como um todo e também as fun- Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
ções pelas quais são responsáveis. Isso significa que todos
devem pensar juntos sobre qual é a missão e os objetivos O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
da escola, por exemplo. Mas, quando a pauta for planeja- gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
mento de uma disciplina específica, apenas os professores
e o coordenador pedagógico se ocuparão da tarefa. Essa TÍTULO I
prática garante a construção de uma gestão democrática e Da Educação
participativa.
Art. 1º A educação abrange os processos formativos
Fonte: https://gestaoescolar.org.br/conteudo/161/o- que se desenvolvem na vida familiar, na convivência huma-
-que-e-planejamento na, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
O projeto pedagógico da escola é capaz de auxiliar na manifestações culturais.
definição de suas metas e gerenciamento de suas ações § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se de-
para todo o ano letivo. Segundo Vasconcellos (1995), o senvolve, predominantemente, por meio do ensino, em
projeto pedagógico é um instrumento teórico-metodoló- instituições próprias.
gico que visa ajudar a enfrentar os desafios do cotidiano § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo
da escola, só que de uma forma refletida, consciente, siste- do trabalho e à prática social.
matizada, orgânica e, o que é essencial, participativa.
E uma metodologia de trabalho que possibilita resig- TÍTULO II
nificar a ação de todos os agentes da instituição (p. 143). Dos Princípios e Fins da Educação Nacional
O projeto torna-se pedagógico quando compreende
as concepções de educação e de mundo que a escola vai Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspi-
elaborar, sistematizar e socializar. Faz parte do “ser”, da rada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidarie-
“identidade” das escolas. Para a elaboração de um projeto dade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento
pedagógico na escola é necessário que ele contenha al- do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
guns dados como: sua qualificação para o trabalho.
- Missão; Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguin-
- Clientela;  tes princípios:
- Dados sobre a aprendizagem;  I - igualdade de condições para o acesso e permanên-
- Relação com as famílias;  cia na escola;
- Recursos; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
- Diretrizes pedagógicas;  a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
- Plano de ação.  III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
E mais que haja a participação de todos os membros IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
da escola incluindo a comunidade ao seu redor. O artigo 14 V - coexistência de instituições públicas e privadas de
da LDBEN 9394/96 diz: Art. 14; os sistemas de ensino defi- ensino;

78
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

VI - gratuidade do ensino público em estabelecimen- Art. 5o O acesso à educação básica obrigatória é direi-
tos oficiais; to público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de
VII - valorização do profissional da educação escolar; cidadãos, associação comunitária, organização sindical, en-
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma tidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda,
desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo.
IX - garantia de padrão de qualidade; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
X - valorização da experiência extra-escolar; § 1o O poder público, na esfera de sua competência fe-
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e derativa, deverá: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
as práticas sociais. I - recensear anualmente as crianças e adolescentes
XII - consideração com a diversidade étnico-racial. (In- em idade escolar, bem como os jovens e adultos que não
cluído pela Lei nº 12.796, de 2013) concluíram a educação básica; (Redação dada pela Lei nº
XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem 12.796, de 2013)
ao longo da vida. (Incluído pela Lei nº 13.632, de 2018) II - fazer-lhes a chamada pública;
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüên-
TÍTULO III cia à escola.
Do Direito à Educação e do Dever de Educar § 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Públi-
co assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obri-
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar públi- gatório, nos termos deste artigo, contemplando em segui-
ca será efetivado mediante a garantia de: da os demais níveis e modalidades de ensino, conforme as
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua- prioridades constitucionais e legais.
tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da se- § 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste
guinte forma: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário,
a) pré-escola; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) na hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal,
b) ensino fundamental; (Incluído pela Lei nº 12.796, de sendo gratuita e de rito sumário a ação judicial correspon-
2013) dente.
c) ensino médio; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) § 4º Comprovada a negligência da autoridade compe-
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cin- tente para garantir o oferecimento do ensino obrigatório,
co) anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de poderá ela ser imputada por crime de responsabilidade.
2013) § 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade
III - atendimento educacional especializado gratuito de ensino, o Poder Público criará formas alternativas de
aos educandos com deficiência, transtornos globais do de- acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemen-
senvolvimento e altas habilidades ou superdotação, trans- te da escolarização anterior.
versal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferen- Art. 6o É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrí-
cialmente na rede regular de ensino; (Redação dada pela cula das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro)
Lei nº 12.796, de 2013) anos de idade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as
e médio para todos os que não os concluíram na idade seguintes condições:
própria; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) I - cumprimento das normas gerais da educação nacio-
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesqui- nal e do respectivo sistema de ensino;
sa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; II - autorização de funcionamento e avaliação de quali-
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às dade pelo Poder Público;
condições do educando; III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e previsto no art. 213 da Constituição Federal.
adultos, com características e modalidades adequadas às
suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos TÍTULO IV
que forem trabalhadores as condições de acesso e perma- Da Organização da Educação Nacional
nência na escola;
VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
educação básica, por meio de programas suplementares de nicípios organizarão, em regime de colaboração, os respec-
material didático-escolar, transporte, alimentação e assis- tivos sistemas de ensino.
tência à saúde; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) § 1º Caberá à União a coordenação da política nacional
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, defini- de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e
dos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em
insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo relação às demais instâncias educacionais.
de ensino-aprendizagem. § 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organi-
X – vaga na escola pública de educação infantil ou de zação nos termos desta Lei.
ensino fundamental mais próxima de sua residência a toda Art. 9º A União incumbir-se-á de: (Regulamento)
criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colabo-
idade. (Incluído pela Lei nº 11.700, de 2008). ração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

79
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti- IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e


tuições oficiais do sistema federal de ensino e o dos Terri- avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educa-
tórios; ção superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino;
III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, V - baixar normas complementares para o seu sistema
ao Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimen- de ensino;
to de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com
à escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistri- prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem,
butiva e supletiva; respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; (Redação dada
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o pela Lei nº 12.061, de 2009)
Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino estadual. (Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003)
médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos míni- Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as
mos, de modo a assegurar formação básica comum; competências referentes aos Estados e aos Municípios.
IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti-
para identificação, cadastramento e atendimento, na edu- tuições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os
cação básica e na educação superior, de alunos com altas às políticas e planos educacionais da União e dos Estados;
habilidades ou superdotação; (Incluído pela Lei nº 13.234, II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas;
de 2015) III - baixar normas complementares para o seu sistema
V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a de ensino;
educação; IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabeleci-
 VI - assegurar processo nacional de avaliação do ren- mentos do seu sistema de ensino;
dimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, V - oferecer a educação infantil em creches e pré-es-
em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando colas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida
a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do a atuação em outros níveis de ensino somente quando es-
ensino; tiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área
VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação de competência e com recursos acima dos percentuais mí-
e pós-graduação; nimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção
 VIII - assegurar processo nacional de avaliação das e desenvolvimento do ensino.
instituições de educação superior, com a cooperação dos VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de municipal. (Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003)
ensino; Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda,
IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de edu- com ele um sistema único de educação básica.
cação superior e os estabelecimentos do seu sistema de Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as
ensino. (Vide Lei nº 10.870, de 2004) normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a in-
§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Na- cumbência de:
cional de Educação, com funções normativas e de supervi- I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
são e atividade permanente, criado por lei. II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e
§ 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a financeiros;
IX, a União terá acesso a todos os dados e informações III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-
necessários de todos os estabelecimentos e órgãos edu- -aula estabelecidas;
cacionais. IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de
§ 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão cada docente;
ser delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que V - prover meios para a recuperação dos alunos de me-
mantenham instituições de educação superior. nor rendimento;
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de: VI - articular-se com as famílias e a comunidade, crian-
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e institui- do processos de integração da sociedade com a escola;
ções oficiais dos seus sistemas de ensino; VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a fre-
na oferta do ensino fundamental, as quais devem assegu- quência e rendimento dos alunos, bem como sobre a exe-
rar a distribuição proporcional das responsabilidades, de cução da proposta pedagógica da escola; (Redação dada
acordo com a população a ser atendida e os recursos finan- pela Lei nº 12.013, de 2009)
ceiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao
Público; juiz competente da Comarca e ao respectivo representante
III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, do Ministério Público a relação dos alunos que apresen-
em consonância com as diretrizes e planos nacionais de tem quantidade de faltas acima de cinqüenta por cento do
educação, integrando e coordenando as suas ações e as percentual permitido em lei. (Incluído pela Lei nº 10.287,
dos seus Municípios; de 2001)

80
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadra-
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do rão nas seguintes categorias: (Regulamento) (Regulamento)
estabelecimento de ensino; I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a que são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; físicas ou jurídicas de direito privado que não apresentem
III - zelar pela aprendizagem dos alunos; as características dos incisos abaixo;
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os II - comunitárias, assim entendidas as que são insti-
alunos de menor rendimento; tuídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, pessoas jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, sem
além de participar integralmente dos períodos dedicados fins lucrativos, que incluam na sua entidade mantenedora
ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento pro- representantes da comunidade; (Redação dada pela Lei nº
fissional; 12.020, de 2009)
VI - colaborar com as atividades de articulação da es- III - confessionais, assim entendidas as que são insti-
cola com as famílias e a comunidade. tuídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e
gestão democrática do ensino público na educação básica, ideologia específicas e ao disposto no inciso anterior;
de acordo com as suas peculiaridades e conforme os se- IV - filantrópicas, na forma da lei.
guintes princípios:
I - participação dos profissionais da educação na ela- TÍTULO V
boração do projeto pedagógico da escola; Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino
II - participação das comunidades escolar e local em CAPÍTULO I
conselhos escolares ou equivalentes. Da Composição dos Níveis Escolares
Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unida-
des escolares públicas de educação básica que os integram Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
progressivos graus de autonomia pedagógica e adminis- I - educação básica, formada pela educação infantil,
trativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais ensino fundamental e ensino médio;
de direito financeiro público. II - educação superior.
Art. 16. O sistema federal de ensino compreende: (Re-
gulamento) CAPÍTULO II
I - as instituições de ensino mantidas pela União; DA EDUCAÇÃO BÁSICA
II - as instituições de educação superior criadas e man- Seção I
tidas pela iniciativa privada; Das Disposições Gerais
III - os órgãos federais de educação.
Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Art. 22. A educação básica tem por finalidades desen-
Federal compreendem: volver o educando, assegurar-lhe a formação comum in-
I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente, dispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe
pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal; meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.
II - as instituições de educação superior mantidas pelo Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em sé-
Poder Público municipal; ries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular
III - as instituições de ensino fundamental e médio cria- de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na
das e mantidas pela iniciativa privada; idade, na competência e em outros critérios, ou por forma
IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Fe- diversa de organização, sempre que o interesse do proces-
deral, respectivamente. so de aprendizagem assim o recomendar.
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de § 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive
educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada, quando se tratar de transferências entre estabelecimentos
integram seu sistema de ensino. situados no País e no exterior, tendo como base as normas
Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem: curriculares gerais.
I - as instituições do ensino fundamental, médio e de § 2º O calendário escolar deverá adequar-se às peculia-
educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal; ridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério
II - as instituições de educação infantil criadas e manti- do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o
das pela iniciativa privada; número de horas letivas previsto nesta Lei.
III – os órgãos municipais de educação. Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio,
Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:
classificam-se nas seguintes categorias administrativas: I - a carga horária mínima anual será de oitocentas
(Regulamento) (Regulamento) horas para o ensino fundamental e para o ensino médio,
I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorpora- distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo
das, mantidas e administradas pelo Poder Público; trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames
II - privadas, assim entendidas as mantidas e adminis- finais, quando houver; (Redação dada pela Lei nº 13.415,
tradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado. de 2017)

81
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino,
primeira do ensino fundamental, pode ser feita: à vista das condições disponíveis e das características re-
a) por promoção, para alunos que cursaram, com apro- gionais e locais, estabelecer parâmetro para atendimento
veitamento, a série ou fase anterior, na própria escola; do disposto neste artigo.
b) por transferência, para candidatos procedentes de Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino
outras escolas; fundamental e do ensino médio devem ter base nacional
c) independentemente de escolarização anterior, me- comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino
diante avaliação feita pela escola, que defina o grau de de- e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diver-
senvolvimento e experiência do candidato e permita sua sificada, exigida pelas características regionais e locais da
inscrição na série ou etapa adequada, conforme regula- sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. (Re-
mentação do respectivo sistema de ensino; dação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão § 1º Os currículos a que se refere o caput devem abran-
regular por série, o regimento escolar pode admitir formas ger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da
de progressão parcial, desde que preservada a seqüência matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e
do currículo, observadas as normas do respectivo sistema da realidade social e política, especialmente do Brasil.
de ensino; § 2o O ensino da arte, especialmente em suas expres-
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alu- sões regionais, constituirá componente curricular obrigató-
nos de séries distintas, com níveis equivalentes de adian- rio da educação básica. (Redação dada pela Lei nº 13.415,
tamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, de 2017)
artes, ou outros componentes curriculares; § 3o A educação física, integrada à proposta pedagógi-
V - a verificação do rendimento escolar observará os ca da escola, é componente curricular obrigatório da edu-
seguintes critérios: cação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: (Reda-
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do ção dada pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)
aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre seis horas; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)
os de eventuais provas finais; II – maior de trinta anos de idade; (Incluído pela Lei nº
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos 10.793, de 1º.12.2003)
com atraso escolar; III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que,
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me- em situação similar, estiver obrigado à prática da educação
diante verificação do aprendizado; física; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de ou-
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de pre- tubro de 1969; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)
ferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo V – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)
rendimento escolar, a serem disciplinados pelas institui- VI – que tenha prole. (Incluído pela Lei nº 10.793, de
ções de ensino em seus regimentos; 1º.12.2003)
VI - o controle de freqüência fica a cargo da escola, § 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as
conforme o disposto no seu regimento e nas normas do contribuições das diferentes culturas e etnias para a forma-
respectivo sistema de ensino, exigida a freqüência mínima ção do povo brasileiro, especialmente das matrizes indíge-
de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para na, africana e européia.
aprovação; § 5o No currículo do ensino fundamental, a partir do
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históri- sexto ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação dada
cos escolares, declarações de conclusão de série e diplo- pela Lei nº 13.415, de 2017)
mas ou certificados de conclusão de cursos, com as espe- § 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são
cificações cabíveis. as linguagens que constituirão o componente curricular de
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o inci- que trata o § 2o deste artigo. (Redação dada pela Lei nº
so I do caput deverá ser ampliada de forma progressiva, 13.278, de 2016)
no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, devendo § 7o A integralização curricular poderá incluir, a critério
os sistemas de ensino oferecer, no prazo máximo de cin- dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo
co anos, pelo menos mil horas anuais de carga horária, a os temas transversais de que trata o caput. (Redação dada
partir de 2 de março de 2017. (Incluído pela Lei nº 13.415, pela Lei nº 13.415, de 2017)
de 2017) § 8º A exibição de filmes de produção nacional cons-
§ 2o Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de tituirá componente curricular complementar integrado à
educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular, proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obri-
adequado às condições do educando, conforme o inciso VI gatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais. (Incluído
do art. 4o. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) pela Lei nº 13.006, de 2014)
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades res- § 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à pre-
ponsáveis alcançar relação adequada entre o número de venção de todas as formas de violência contra a criança
alunos e o professor, a carga horária e as condições mate- e o adolescente serão incluídos, como temas transversais,
riais do estabelecimento. nos currículos escolares de que trata o caput deste artigo,

82
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de Seção II


1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), observada Da Educação Infantil
a produção e distribuição de material didático adequa-
do. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educa-
§ 10. A inclusão de novos componentes curriculares ção básica, tem como finalidade o desenvolvimento in-
de caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curri- tegral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos
cular dependerá de aprovação do Conselho Nacional físico, psicológico, intelectual e social, complementando a
de Educação e de homologação pelo Ministro de Esta- ação da família e da comunidade. (Redação dada pela Lei
do da Educação. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) nº 12.796, de 2013)
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino funda- Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
mental e de ensino médio, públicos e privados, torna- I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças
-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-bra- de até três anos de idade;
sileira e indígena. (Redação dada pela Lei nº 11.645, de II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cin-
2008). co) anos de idade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este 2013)
artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo
que caracterizam a formação da população brasileira, a com as seguintes regras comuns: (Redação dada pela Lei
partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo nº 12.796, de 2013)
da história da África e dos africanos, a luta dos negros I - avaliação mediante acompanhamento e registro do
e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indí- desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promo-
gena brasileira e o negro e o índio na formação da so- ção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental; (Incluí-
ciedade nacional, resgatando as suas contribuições nas do pela Lei nº 12.796, de 2013)
áreas social, econômica e política, pertinentes à história II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas)
do Brasil. (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008). horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias
§ 2 o Os conteúdos referentes à história e cultura de trabalho educacional; (Incluído pela Lei nº 12.796, de
afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão 2013)
ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro)
especial nas áreas de educação artística e de literatura horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para
e história brasileiras. (Redação dada pela Lei nº 11.645, a jornada integral; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
de 2008). IV - controle de frequência pela instituição de edu-
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação bá- cação pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60%
sica observarão, ainda, as seguintes diretrizes: (sessenta por cento) do total de horas; (Incluído pela Lei
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse nº 12.796, de 2013)
social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito V - expedição de documentação que permita ates-
ao bem comum e à ordem democrática; tar os processos de desenvolvimento e aprendizagem da
II - consideração das condições de escolaridade dos criança. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
alunos em cada estabelecimento;
III - orientação para o trabalho; Seção III
IV - promoção do desporto educacional e apoio às Do Ensino Fundamental
práticas desportivas não-formais.
Art. 28. Na oferta de educação básica para a popu- Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com dura-
lação rural, os sistemas de ensino promoverão as adap- ção de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, inician-
tações necessárias à sua adequação às peculiaridades do-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a for-
da vida rural e de cada região, especialmente: mação básica do cidadão, mediante: (Redação dada pela
I - conteúdos curriculares e metodologias apropria- Lei nº 11.274, de 2006)
das às reais necessidades e interesses dos alunos da I - o desenvolvimento da capacidade de aprender,
zona rural; tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da
II - organização escolar própria, incluindo adequa- escrita e do cálculo;
ção do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às II - a compreensão do ambiente natural e social, do
condições climáticas; sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em
III - adequação à natureza do trabalho na zona ru- que se fundamenta a sociedade;
ral. III - o desenvolvimento da capacidade de aprendiza-
Parágrafo único. O fechamento de escolas do cam- gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e ha-
po, indígenas e quilombolas será precedido de mani- bilidades e a formação de atitudes e valores;
festação do órgão normativo do respectivo sistema de IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos la-
ensino, que considerará a justificativa apresentada pela ços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em
Secretaria de Educação, a análise do diagnóstico do im- que se assenta a vida social.
pacto da ação e a manifestação da comunidade escolar. § 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o
(Incluído pela Lei nº 12.960, de 2014) ensino fundamental em ciclos.

83
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão re- IV - a compreensão dos fundamentos científico-tec-


gular por série podem adotar no ensino fundamental o re- nológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria
gime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação com a prática, no ensino de cada disciplina.
do processo de ensino-aprendizagem, observadas as nor- Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular defini-
mas do respectivo sistema de ensino. rá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio,
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação,
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas nas seguintes áreas do conhecimento: (Incluído pela Lei nº
a utilização de suas línguas maternas e processos próprios 13.415, de 2017)
de aprendizagem. I - linguagens e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o en- 13.415, de 2017)
sino a distância utilizado como complementação da apren- II - matemática e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
dizagem ou em situações emergenciais. 13.415, de 2017)
§ 5o O currículo do ensino fundamental incluirá, obriga- III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Incluído
toriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças e pela Lei nº 13.415, de 2017)
dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de IV - ciências humanas e sociais aplicadas. (Incluído pela
julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adoles- Lei nº 13.415, de 2017)
cente, observada a produção e distribuição de material didá- § 1o A parte diversificada dos currículos de que trata
tico adequado. (Incluído pela Lei nº 11.525, de 2007). o caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, de-
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído verá estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular e
como tema transversal nos currículos do ensino fundamen- ser articulada a partir do contexto histórico, econômico, social,
tal. (Incluído pela Lei nº 12.472, de 2011). ambiental e cultural. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é § 2o A Base Nacional Comum Curricular referente ao
parte integrante da formação básica do cidadão e constitui ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas
disciplina dos horários normais das escolas públicas de en- de educação física, arte, sociologia e filosofia. (Incluído pela
sino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cul- Lei nº 13.415, de 2017)
tural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de pro- § 3o O ensino da língua portuguesa e da matemática
selitismo. (Redação dada pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997) será obrigatório nos três anos do ensino médio, assegu-
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedi- rada às comunidades indígenas, também, a utilização das
mentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso respectivas línguas maternas. (Incluído pela Lei nº 13.415,
e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão de 2017)
dos professores. (Incluído pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997) § 4o Os currículos do ensino médio incluirão, obriga-
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, cons- toriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar
tituída pelas diferentes denominações religiosas, para a outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferen-
definição dos conteúdos do ensino religioso. (Incluído pela cialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade de
Lei nº 9.475, de 22.7.1997) oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino.
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental in- (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
cluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala § 5o A carga horária destinada ao cumprimento da Base
de aula, sendo progressivamente ampliado o período de Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil
permanência na escola. e oitocentas horas do total da carga horária do ensino mé-
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das dio, de acordo com a definição dos sistemas de ensino. (In-
formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei. cluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 2º O ensino fundamental será ministrado progressiva- § 6o A União estabelecerá os padrões de desempenho
mente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino. esperados para o ensino médio, que serão referência nos
processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional
Seção IV Comum Curricular. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
Do Ensino Médio § 7o Os currículos do ensino médio deverão conside-
rar a formação integral do aluno, de maneira a adotar um
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida
com duração mínima de três anos, terá como finalidades: e para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e so-
I - a consolidação e o aprofundamento dos conheci- cioemocionais. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
mentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando § 8o Os conteúdos, as metodologias e as formas de ava-
o prosseguimento de estudos; liação processual e formativa serão organizados nas redes
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania de ensino por meio de atividades teóricas e práticas, provas
do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser orais e escritas, seminários, projetos e atividades on-line,
capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de de tal forma que ao final do ensino médio o educando de-
ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; monstre: (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
III - o aprimoramento do educando como pessoa hu- I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos
mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da que presidem a produção moderna; (Incluído pela Lei nº
autonomia intelectual e do pensamento crítico; 13.415, de 2017)

84
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

II - conhecimento das formas contemporâneas de lin- § 8o A oferta de formação técnica e profissional a que
guagem. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) se refere o inciso V do caput, realizada na própria insti-
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto tuição ou em parceria com outras instituições, deverá ser
pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários for- aprovada previamente pelo Conselho Estadual de Educa-
mativos, que deverão ser organizados por meio da oferta ção, homologada pelo Secretário Estadual de Educação e
de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância certificada pelos sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº
para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de en- 13.415, de 2017) 
sino, a saber: (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) § 9o As instituições de ensino emitirão certificado com
I - linguagens e suas tecnologias; (Redação dada pela validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino
Lei nº 13.415, de 2017) médio ao prosseguimento dos estudos em nível superior
II - matemática e suas tecnologias; (Redação dada pela ou em outros cursos ou formações para os quais a conclu-
Lei nº 13.415, de 2017) são do ensino médio seja etapa obrigatória. (Incluído pela
III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Redação Lei nº 13.415, de 2017)
dada pela Lei nº 13.415, de 2017) § 10. Além das formas de organização previstas no art.
IV - ciências humanas e sociais aplicadas; (Redação 23, o ensino médio poderá ser organizado em módulos e
dada pela Lei nº 13.415, de 2017) adotar o sistema de créditos com terminalidade específica.
V - formação técnica e profissional. (Incluído pela Lei (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) 
nº 13.415, de 2017) § 11. Para efeito de cumprimento das exigências cur-
§ 1o A organização das áreas de que trata o caput e das riculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão
respectivas competências e habilidades será feita de acor- reconhecer competências e firmar convênios com institui-
do com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino. ções de educação a distância com notório reconhecimento,
(Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)  mediante as seguintes formas de comprovação: (Incluído
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de pela Lei nº 13.415, de 2017)
2017)  I - demonstração prática; (Incluído pela Lei nº 13.415,
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de de 2017)
2017) II - experiência de trabalho supervisionado ou outra
III – (revogado). (Redação dada pela Lei nº 11.684, de experiência adquirida fora do ambiente escolar; (Incluído
2008) pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 2º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008) III - atividades de educação técnica oferecidas em ou-
§ 3o A critério dos sistemas de ensino, poderá ser composto tras instituições de ensino credenciadas; (Incluído pela Lei
itinerário formativo integrado, que se traduz na composição de nº 13.415, de 2017) 
componentes curriculares da Base Nacional Comum Curricular - IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocu-
BNCC e dos itinerários formativos, considerando os incisos I a V pacionais; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) 
do caput. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) V - estudos realizados em instituições de ensino nacio-
§ 4º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008) nais ou estrangeiras; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) 
§ 5o Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade VI - cursos realizados por meio de educação a distância
de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do en- ou ucação presencial mediada por tecnologias. (Incluído
sino médio cursar mais um itinerário formativo de que trata pela Lei nº 13.415, de 2017)
o caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) § 12. As escolas deverão orientar os alunos no proces-
§ 6o A critério dos sistemas de ensino, a oferta de for- so de escolha das áreas de conhecimento ou de atuação
mação com ênfase técnica e profissional considerará: (In- profissional previstas no caput. (Incluído pela Lei nº 13.415,
cluído pela Lei nº 13.415, de 2017) de 2017)
I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor
produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo Seção IV-A
parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio
estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem profis- (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
sional; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) 
II - a possibilidade de concessão de certificados inter- Art. 36-A. Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste
mediários de qualificação para o trabalho, quando a forma- Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral do
ção for estruturada e organizada em etapas com terminali- educando, poderá prepará-lo para o exercício de profis-
dade. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)  sões técnicas. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
§ 7o A oferta de formações experimentais relacionadas Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho e,
ao inciso V do caput, em áreas que não constem do Catá- facultativamente, a habilitação profissional poderão ser de-
logo Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua senvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio
continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conse- ou em cooperação com instituições especializadas em edu-
lho Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inser- cação profissional. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
ção no Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível mé-
cinco anos, contados da data de oferta inicial da formação. dio será desenvolvida nas seguintes formas: (Incluído pela
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) Lei nº 11.741, de 2008)

85
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

I - articulada com o ensino médio; (Incluído pela Lei nº § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente
11.741, de 2008) aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os es-
II - subseqüente, em cursos destinados a quem já tenha tudos na idade regular, oportunidades educacionais apro-
concluído o ensino médio. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) priadas, consideradas as características do alunado, seus
Parágrafo único. A educação profissional técnica de nível interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cur-
médio deverá observar: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) sos e exames.
I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes cur- § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso
riculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações
de Educação; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) integradas e complementares entre si.
II - as normas complementares dos respectivos siste- § 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se,
mas de ensino; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) preferencialmente, com a educação profissional, na forma
III - as exigências de cada instituição de ensino, nos do regulamento. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
termos de seu projeto pedagógico. (Incluído pela Lei nº Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exa-
11.741, de 2008) mes supletivos, que compreenderão a base nacional co-
Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível mé- mum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estu-
dio articulada, prevista no inciso I do caput  do art. 36-B dos em caráter regular.
desta Lei, será desenvolvida de forma: (Incluído pela Lei nº § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:
11.741, de 2008) I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para
I - integrada, oferecida somente a quem já tenha con- os maiores de quinze anos;
cluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de II - no nível de conclusão do ensino médio, para os
modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica maiores de dezoito anos.
de nível médio, na mesma instituição de ensino, efetuan- § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos
do-se matrícula única para cada aluno; (Incluído pela Lei nº educandos por meios informais serão aferidos e reconhe-
11.741, de 2008) cidos mediante exames.
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensi-
no médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrículas CAPÍTULO III
distintas para cada curso, e podendo ocorrer: (Incluído pela DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Lei nº 11.741, de 2008) Da Educação Profissional e Tecnológica
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as (Redação dada pela Lei nº 11.741, de 2008)
oportunidades educacionais disponíveis; (Incluído pela Lei
nº 11.741, de 2008) Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no cum-
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se primento dos objetivos da educação nacional, integra-se
as oportunidades educacionais disponíveis; (Incluído pela aos diferentes níveis e modalidades de educação e às di-
Lei nº 11.741, de 2008) mensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. (Redação
c) em instituições de ensino distintas, mediante convê- dada pela Lei nº 11.741, de 2008)
nios de intercomplementaridade, visando ao planejamento § 1o Os cursos de educação profissional e tecnológica
e ao desenvolvimento de projeto pedagógico unificado. poderão ser organizados por eixos tecnológicos, possibi-
(Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) litando a construção de diferentes itinerários formativos,
Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação profissio- observadas as normas do respectivo sistema e nível de en-
nal técnica de nível médio, quando registrados, terão valida- sino. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
de nacional e habilitarão ao prosseguimento de estudos na § 2o A educação profissional e tecnológica abrangerá
educação superior. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) os seguintes cursos: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
Parágrafo único. Os cursos de educação profissional téc- I – de formação inicial e continuada ou qualificação
nica de nível médio, nas formas articulada concomitante e profissional; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
subseqüente, quando estruturados e organizados em etapas II – de educação profissional técnica de nível médio;
com terminalidade, possibilitarão a obtenção de certificados (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
de qualificação para o trabalho após a conclusão, com apro- III – de educação profissional tecnológica de gradua-
veitamento, de cada etapa que caracterize uma qualificação ção e pós-graduação. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
para o trabalho. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) § 3o Os cursos de educação profissional tecnológica de
graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que con-
Seção V cerne a objetivos, características e duração, de acordo com
Da Educação de Jovens e Adultos as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Con-
selho Nacional de Educação. (Incluído pela Lei nº 11.741,
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada de 2008)
àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de es- Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em
tudos nos ensinos fundamental e médio na idade própria articulação com o ensino regular ou por diferentes estraté-
e constituirá instrumento para a educação e a aprendiza- gias de educação continuada, em instituições especializa-
gem ao longo da vida. (Redação dada pela Lei nº 13.632, das ou no ambiente de trabalho. (Regulamento) (Regula-
de 2018) mento) (Regulamento)

86
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Art. 41. O conhecimento adquirido na educação pro- III - de pós-graduação, compreendendo programas de
fissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser mestrado e doutorado, cursos de especialização, aperfei-
objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para çoamento e outros, abertos a candidatos diplomados em
prosseguimento ou conclusão de estudos. (Redação dada cursos de graduação e que atendam às exigências das ins-
pela Lei nº 11.741, de 2008) tituições de ensino;
Art. 42. As instituições de educação profissional e tec- IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam
nológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas institui-
especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula ções de ensino.
à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao § 1º. Os resultados do processo seletivo referido no
nível de escolaridade. (Redação dada pela Lei nº 11.741, de inciso II do caput deste artigo serão tornados públicos
2008) pelas instituições de ensino superior, sendo obrigatória a
divulgação da relação nominal dos classificados, a respec-
CAPÍTULO IV tiva ordem de classificação, bem como do cronograma das
DA EDUCAÇÃO SUPERIOR chamadas para matrícula, de acordo com os critérios para
preenchimento das vagas constantes do respectivo edital.
Art. 43. A educação superior tem por finalidade: (Incluído pela Lei nº 11.331, de 2006) (Renumerado do pa-
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do rágrafo único para § 1º pela Lei nº 13.184, de 2015)
espírito científico e do pensamento reflexivo; § 2º No caso de empate no processo seletivo, as ins-
II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhe- tituições públicas de ensino superior darão prioridade de
cimento, aptos para a inserção em setores profissionais e matrícula ao candidato que comprove ter renda familiar
para a participação no desenvolvimento da sociedade bra- inferior a dez salários mínimos, ou ao de menor renda fa-
sileira, e colaborar na sua formação contínua; miliar, quando mais de um candidato preencher o critério
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação cien- inicial. (Incluído pela Lei nº 13.184, de 2015)
tífica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia § 3o O processo seletivo referido no inciso II conside-
e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver rará as competências e as habilidades definidas na Base
o entendimento do homem e do meio em que vive; Nacional Comum Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de
IV - promover a divulgação de conhecimentos cultu- 2017)
rais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da Art. 45. A educação superior será ministrada em ins-
humanidade e comunicar o saber através do ensino, de pu- tituições de ensino superior, públicas ou privadas, com
blicações ou de outras formas de comunicação; variados graus de abrangência ou especialização. (Regula-
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento mento) (Regulamento)
cultural e profissional e possibilitar a correspondente con- Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos,
cretização, integrando os conhecimentos que vão sendo bem como o credenciamento de instituições de educação
adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do superior, terão prazos limitados, sendo renovados, periodi-
conhecimento de cada geração; camente, após processo regular de avaliação. (Regulamen-
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mun- to) (Regulamento) (Vide Lei nº 10.870, de 2004)
do presente, em particular os nacionais e regionais, prestar § 1º Após um prazo para saneamento de deficiências
serviços especializados à comunidade e estabelecer com eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere
esta uma relação de reciprocidade; este artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, con-
VII - promover a extensão, aberta à participação da forme o caso, em desativação de cursos e habilitações, em
população, visando à difusão das conquistas e benefícios intervenção na instituição, em suspensão temporária de
resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e prerrogativas da autonomia, ou em descredenciamento.
tecnológica geradas na instituição. (Regulamento) (Regulamento) (Vide Lei nº 10.870, de 2004)
VIII - atuar em favor da universalização e do aprimora- § 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo
mento da educação básica, mediante a formação e a capa- responsável por sua manutenção acompanhará o processo
citação de profissionais, a realização de pesquisas pedagó- de saneamento e fornecerá recursos adicionais, se neces-
gicas e o desenvolvimento de atividades de extensão que sários, para a superação das deficiências.
aproximem os dois níveis escolares. (Incluído pela Lei nº § 3o No caso de instituição privada, além das sanções
13.174, de 2015) previstas no § 1o deste artigo, o processo de reavaliação
Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes poderá resultar em redução de vagas autorizadas e em
cursos e programas: (Regulamento) suspensão temporária de novos ingressos e de oferta de
I - cursos seqüenciais por campo de saber, de dife- cursos. (Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017)
rentes níveis de abrangência, abertos a candidatos que § 4o É facultado ao Ministério da Educação, mediante
atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituições de procedimento específico e com aquiescência da institui-
ensino, desde que tenham concluído o ensino médio ou ção de ensino, com vistas a resguardar os interesses dos
equivalente; (Redação dada pela Lei nº 11.632, de 2007). estudantes, comutar as penalidades previstas nos §§ 1oe
II - de graduação, abertos a candidatos que tenham 3o deste artigo por outras medidas, desde que adequadas
concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido para superação das deficiências e irregularidades constata-
classificados em processo seletivo; das. (Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017)

87
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 5o Para fins de regulação, os Estados e o Distrito Fe- c) a identificação dos docentes que ministrarão as au-
deral deverão adotar os critérios definidos pela União para las em cada curso, as disciplinas que efetivamente minis-
autorização de funcionamento de curso de graduação em trará naquele curso ou cursos, sua titulação, abrangendo
Medicina. (Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017) a qualificação profissional do docente e o tempo de casa
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, in- do docente, de forma total, contínua ou intermitente. (In-
dependente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias cluída pela lei nº 13.168, de 2015)
de trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado § 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveita-
aos exames finais, quando houver. mento nos estudos, demonstrado por meio de provas e
§ 1o As instituições informarão aos interessados, antes outros instrumentos de avaliação específicos, aplicados
de cada período letivo, os programas dos cursos e demais por banca examinadora especial, poderão ter abreviada
componentes curriculares, sua duração, requisitos, qualifi- a duração dos seus cursos, de acordo com as normas dos
cação dos professores, recursos disponíveis e critérios de sistemas de ensino.
avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condi- § 3º É obrigatória a freqüência de alunos e professo-
ções, e a publicação deve ser feita, sendo as 3 (três) primei- res, salvo nos programas de educação a distância.
ras formas concomitantemente: (Redação dada pela lei nº § 4º As instituições de educação superior oferecerão,
13.168, de 2015) no período noturno, cursos de graduação nos mesmos
I - em página específica na internet no sítio eletrônico padrões de qualidade mantidos no período diurno, sendo
oficial da instituição de ensino superior, obedecido o se- obrigatória a oferta noturna nas instituições públicas, ga-
guinte: (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) rantida a necessária previsão orçamentária.
a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhe-
como título “Grade e Corpo Docente”; (Incluída pela lei nº cidos, quando registrados, terão validade nacional como
13.168, de 2015) prova da formação recebida por seu titular.
b) a página principal da instituição de ensino superior, § 1º Os diplomas expedidos pelas universidades se-
bem como a página da oferta de seus cursos aos ingres- rão por elas próprias registrados, e aqueles conferidos
santes sob a forma de vestibulares, processo seletivo e ou- por instituições não-universitárias serão registrados em
tras com a mesma finalidade, deve conter a ligação desta universidades indicadas pelo Conselho Nacional de Edu-
com a página específica prevista neste inciso; (Incluída pela cação.
lei nº 13.168, de 2015) § 2º Os diplomas de graduação expedidos por uni-
c) caso a instituição de ensino superior não possua sí- versidades estrangeiras serão revalidados por universida-
tio eletrônico, deve criar página específica para divulgação des públicas que tenham curso do mesmo nível e área ou
das informações de que trata esta Lei; (Incluída pela lei nº equivalente, respeitando-se os acordos internacionais de
13.168, de 2015) reciprocidade ou equiparação.
d) a página específica deve conter a data completa de § 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado ex-
sua última atualização; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) pedidos por universidades estrangeiras só poderão ser
II - em toda propaganda eletrônica da instituição de reconhecidos por universidades que possuam cursos de
ensino superior, por meio de ligação para a página referida pós-graduação reconhecidos e avaliados, na mesma área
no inciso I; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) de conhecimento e em nível equivalente ou superior.
III - em local visível da instituição de ensino superior e Art. 49. As instituições de educação superior aceita-
de fácil acesso ao público; (Incluído pela lei nº 13.168, de rão a transferência de alunos regulares, para cursos afins,
2015) na hipótese de existência de vagas, e mediante processo
IV - deve ser atualizada semestralmente ou anualmen- seletivo.
te, de acordo com a duração das disciplinas de cada cur- Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão
so oferecido, observando o seguinte: (Incluído pela lei nº na forma da lei. (Regulamento)
13.168, de 2015) Art. 50. As instituições de educação superior, quando
a) caso o curso mantenha disciplinas com duração di- da ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas
ferenciada, a publicação deve ser semestral; (Incluída pela de seus cursos a alunos não regulares que demonstrarem
lei nº 13.168, de 2015) capacidade de cursá-las com proveito, mediante processo
b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do seletivo prévio.
início das aulas; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) Art. 51. As instituições de educação superior creden-
c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo do- ciadas como universidades, ao deliberar sobre critérios e
cente até o início das aulas, os alunos devem ser comunica- normas de seleção e admissão de estudantes, levarão em
dos sobre as alterações; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) conta os efeitos desses critérios sobre a orientação do en-
V - deve conter as seguintes informações: (Incluído sino médio, articulando-se com os órgãos normativos dos
pela lei nº 13.168, de 2015) sistemas de ensino.
a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição Art. 52. As universidades são instituições pluridisci-
de ensino superior; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) plinares de formação dos quadros profissionais de nível
b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricu- superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo
lar de cada curso e as respectivas cargas horárias; (Incluída do saber humano, que se caracterizam por: (Regulamen-
pela lei nº 13.168, de 2015) to) (Regulamento)

88
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

I - produção intelectual institucionalizada mediante o § 3 o No caso das universidades públicas, os recur-


estudo sistemático dos temas e problemas mais relevan- sos das doações devem ser dirigidos ao caixa único
tes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto da instituição, com destinação garantida às unidades
regional e nacional; a serem beneficiadas. (Incluído pela Lei nº 13.490, de
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titu- 2017)
lação acadêmica de mestrado ou doutorado; Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Pú-
III - um terço do corpo docente em regime de tempo blico gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico
integral. especial para atender às peculiaridades de sua es-
Parágrafo único. É facultada a criação de universidades trutura, organização e financiamento pelo Poder Pú-
especializadas por campo do saber. (Regulamento) (Regu- blico, assim como dos seus planos de carreira e do
lamento) regime jurídico do seu pessoal. (Regulamento) (Re-
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são assegura- gulamento)
das às universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes § 1º No exercício da sua autonomia, além das atri-
atribuições: buições asseguradas pelo artigo anterior, as universi-
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e dades públicas poderão:
programas de educação superior previstos nesta Lei, obe- I - propor o seu quadro de pessoal docente, técni-
decendo às normas gerais da União e, quando for o caso, co e administrativo, assim como um plano de cargos
do respectivo sistema de ensino; (Regulamento) e salários, atendidas as normas gerais pertinentes e
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, os recursos disponíveis;
observadas as diretrizes gerais pertinentes; II - elaborar o regulamento de seu pessoal em
III - estabelecer planos, programas e projetos de pes- conformidade com as normas gerais concernentes;
quisa científica, produção artística e atividades de exten- III - aprovar e executar planos, programas e pro-
são; jetos de investimentos referentes a obras, serviços e
IV - fixar o número de vagas de acordo com a capaci- aquisições em geral, de acordo com os recursos alo-
dade institucional e as exigências do seu meio; cados pelo respectivo Poder mantenedor;
V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos IV - elaborar seus orçamentos anuais e pluria-
em consonância com as normas gerais atinentes; nuais;
VI - conferir graus, diplomas e outros títulos; V - adotar regime financeiro e contábil que aten-
VII - firmar contratos, acordos e convênios; da às suas peculiaridades de organização e funcio-
VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos namento;
de investimentos referentes a obras, serviços e aquisições VI - realizar operações de crédito ou de financia-
em geral, bem como administrar rendimentos conforme mento, com aprovação do Poder competente, para
dispositivos institucionais; aquisição de bens imóveis, instalações e equipamen-
IX - administrar os rendimentos e deles dispor na for- tos;
ma prevista no ato de constituição, nas leis e nos respec- VII - efetuar transferências, quitações e tomar ou-
tivos estatutos; tras providências de ordem orçamentária, financeira
X - receber subvenções, doações, heranças, legados e e patrimonial necessárias ao seu bom desempenho.
cooperação financeira resultante de convênios com enti- § 2º Atribuições de autonomia universitária pode-
dades públicas e privadas. rão ser estendidas a instituições que comprovem alta
§ 1º Para garantir a autonomia didático-científica das qualificação para o ensino ou para a pesquisa, com
universidades, caberá aos seus colegiados de ensino e base em avaliação realizada pelo Poder Público.
pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários dis- Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente,
poníveis, sobre: (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017) em seu Orçamento Geral, recursos suficientes para
I - criação, expansão, modificação e extinção de cur- manutenção e desenvolvimento das instituições de
sos; (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017) educação superior por ela mantidas.
II - ampliação e diminuição de vagas; (Redação dada Art. 56. As instituições públicas de educação su-
pela Lei nº 13.490, de 2017) perior obedecerão ao princípio da gestão democrá-
III - elaboração da programação dos cursos; (Redação tica, assegurada a existência de órgãos colegiados
dada pela Lei nº 13.490, de 2017) deliberativos, de que participarão os segmentos da
IV - programação das pesquisas e das atividades de comunidade institucional, local e regional.
extensão; (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017) Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes
V - contratação e dispensa de professores; (Redação ocuparão setenta por cento dos assentos em cada ór-
dada pela Lei nº 13.490, de 2017) gão colegiado e comissão, inclusive nos que tratarem
VI - planos de carreira docente. (Redação dada pela Lei da elaboração e modificações estatutárias e regimen-
nº 13.490, de 2017) tais, bem como da escolha de dirigentes.
§ 2o As doações, inclusive monetárias, podem ser di- Art. 57. Nas instituições públicas de educação su-
rigidas a setores ou projetos específicos, conforme acor- perior, o professor ficará obrigado ao mínimo de oito
do entre doadores e universidades. (Incluído pela Lei nº horas semanais de aulas. (Regulamento)
13.490, de 2017)

89
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

CAPÍTULO V Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino


DA EDUCAÇÃO ESPECIAL estabelecerão critérios de caracterização das instituições
privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os exclusiva em educação especial, para fins de apoio técni-
efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar ofe- co e financeiro pelo Poder Público.
recida preferencialmente na rede regular de ensino, para Parágrafo único. O poder público adotará, como al-
educandos com deficiência, transtornos globais do desen- ternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos
volvimento e altas habilidades ou superdotação. (Redação educandos com deficiência, transtornos globais do de-
dada pela Lei nº 12.796, de 2013) senvolvimento e altas habilidades ou superdotação na
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio es- própria rede pública regular de ensino, independente-
pecializado, na escola regular, para atender às peculiarida- mente do apoio às instituições previstas neste artigo. (Re-
des da clientela de educação especial. dação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes,
escolas ou serviços especializados, sempre que, em função TÍTULO VI
das condições específicas dos alunos, não for possível a sua Dos Profissionais da Educação
integração nas classes comuns de ensino regular.
§ 3º A oferta de educação especial, nos termos Art. 61. Consideram-se profissionais da educação es-
do  caput deste artigo, tem início na educação infantil e colar básica os que, nela estando em efetivo exercício e
estende-se ao longo da vida, observados o inciso III do art. tendo sido formados em cursos reconhecidos, são: (Reda-
4º e o parágrafo único do art. 60 desta Lei. (Redação dada ção dada pela Lei nº 12.014, de 2009)
pela Lei nº 13.632, de 2018) I – professores habilitados em nível médio ou supe-
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos edu- rior para a docência na educação infantil e nos ensinos
candos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- fundamental e médio; (Redação dada pela Lei nº 12.014,
mento e altas habilidades ou superdotação: (Redação dada de 2009)
pela Lei nº 12.796, de 2013) II – trabalhadores em educação portadores de diplo-
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e ma de pedagogia, com habilitação em administração, pla-
organização específicos, para atender às suas necessidades; nejamento, supervisão, inspeção e orientação educacio-
II - terminalidade específica para aqueles que não pu- nal, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas
derem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino mesmas áreas; (Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009)
fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração III – trabalhadores em educação, portadores de diplo-
para concluir em menor tempo o programa escolar para os ma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou
superdotados; afim. (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009)
III - professores com especialização adequada em nível IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos
médio ou superior, para atendimento especializado, bem respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos
como professores do ensino regular capacitados para a in- de áreas afins à sua formação ou experiência profissional,
tegração desses educandos nas classes comuns; atestados por titulação específica ou prática de ensino em
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua unidades educacionais da rede pública ou privada ou das
efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condi- corporações privadas em que tenham atuado, exclusiva-
ções adequadas para os que não revelarem capacidade mente para atender ao inciso V do caput do art. 36; (In-
de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação cluído pela lei nº 13.415, de 2017)
com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que V - profissionais graduados que tenham feito com-
apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, in- plementação pedagógica, conforme disposto pelo Con-
telectual ou psicomotora; selho Nacional de Educação. (Incluído pela lei nº 13.415,
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas so- de 2017)
ciais suplementares disponíveis para o respectivo nível do Parágrafo único. A formação dos profissionais da edu-
ensino regular. cação, de modo a atender às especificidades do exercício
Art. 59-A.   O poder público deverá instituir cadastro de suas atividades, bem como aos objetivos das diferen-
nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação tes etapas e modalidades da educação básica, terá como
matriculados na educação básica e na educação superior, a fundamentos: (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009)
fim de fomentar a execução de políticas públicas destina- I – a presença de sólida formação básica, que propi-
das ao desenvolvimento pleno das potencialidades desse cie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais
alunado. (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015) de suas competências de trabalho; (Incluído pela Lei nº
Parágrafo único. A identificação precoce de alunos com 12.014, de 2009)
altas habilidades ou superdotação, os critérios e procedi- II – a associação entre teorias e práticas, mediante es-
mentos para inclusão no cadastro referido no caput deste tágios supervisionados e capacitação em serviço; (Incluí-
artigo, as entidades responsáveis pelo cadastramento, os do pela Lei nº 12.014, de 2009)
mecanismos de acesso aos dados do cadastro e as políti- III – o aproveitamento da formação e experiências an-
cas de desenvolvimento das potencialidades do alunado teriores, em instituições de ensino e em outras atividades.
de que trata o caput serão definidos em regulamento. (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009)

90
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Art. 62. A formação de docentes para atuar na edu- § 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto
cação básica far-se-á em nível superior, em curso de li- no caput deste artigo os professores das redes públicas
cenciatura plena, admitida, como formação mínima para municipais, estaduais e federal que ingressaram por con-
o exercício do magistério na educação infantil e nos cin- curso público, tenham pelo menos três anos de exercício
co primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida da profissão e não sejam portadores de diploma de gra-
em nível médio, na modalidade normal. (Redação dada duação. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017)
pela lei nº 13.415, de 2017) § 2o As instituições de ensino responsáveis pela ofer-
§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu- ta de cursos de pedagogia e outras licenciaturas defini-
nicípios, em regime de colaboração, deverão promover rão critérios adicionais de seleção sempre que acorrerem
a formação inicial, a continuada e a capacitação dos aos certames interessados em número superior ao de
profissionais de magistério. (Incluído pela Lei nº 12.056, vagas disponíveis para os respectivos cursos. (Incluído
de 2009). pela Lei nº 13.478, de 2017)
§ 2º A formação continuada e a capacitação dos § 3o Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem
profissionais de magistério poderão utilizar recursos e definidos em regulamento pelas universidades, terão
tecnologias de educação a distância. (Incluído pela Lei prioridade de ingresso os professores que optarem por
nº 12.056, de 2009). cursos de licenciatura em matemática, física, quími-
§ 3º A formação inicial de profissionais de magisté- ca, biologia e língua portuguesa. (Incluído pela Lei nº
rio dará preferência ao ensino presencial, subsidiaria- 13.478, de 2017)
mente fazendo uso de recursos e tecnologias de edu- Art. 63. Os institutos superiores de educação mante-
cação a distância. (Incluído pela Lei nº 12.056, de 2009). rão: (Regulamento)
§ 4o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu- I - cursos formadores de profissionais para a educa-
nicípios adotarão mecanismos facilitadores de acesso e ção básica, inclusive o curso normal superior, destinado
permanência em cursos de formação de docentes em à formação de docentes para a educação infantil e para
nível superior para atuar na educação básica pública. as primeiras séries do ensino fundamental;
(Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) II - programas de formação pedagógica para porta-
§ 5o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu- dores de diplomas de educação superior que queiram se
nicípios incentivarão a formação de profissionais do ma- dedicar à educação básica;
gistério para atuar na educação básica pública mediante III - programas de educação continuada para os pro-
programa institucional de bolsa de iniciação à docência fissionais de educação dos diversos níveis.
a estudantes matriculados em cursos de licenciatura, de Art. 64. A formação de profissionais de educação
graduação plena, nas instituições de educação superior. para administração, planejamento, inspeção, supervisão
(Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) e orientação educacional para a educação básica, será
§ 6o O Ministério da Educação poderá estabelecer feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível
nota mínima em exame nacional aplicado aos concluin- de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, ga-
tes do ensino médio como pré-requisito para o ingresso rantida, nesta formação, a base comum nacional.
em cursos de graduação para formação de docentes, Art. 65. A formação docente, exceto para a educação
ouvido o Conselho Nacional de Educação - CNE. (Incluí- superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, tre-
do pela Lei nº 12.796, de 2013) zentas horas.
§ 7o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) Art. 66. A preparação para o exercício do magistério
§ 8o Os currículos dos cursos de formação de docen- superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritaria-
tes terão por referência a Base Nacional Comum Curri- mente em programas de mestrado e doutorado.
cular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) (Vide Lei nº Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por
13.415, de 2017) universidade com curso de doutorado em área afim, po-
Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se re- derá suprir a exigência de título acadêmico.
fere o inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valori-
conteúdo técnico-pedagógico, em nível médio ou supe- zação dos profissionais da educação, assegurando-lhes,
rior, incluindo habilitações tecnológicas. (Incluído pela inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de car-
Lei nº 12.796, de 2013) reira do magistério público:
Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada I - ingresso exclusivamente por concurso público de
para os profissionais a que se refere o caput, no local de provas e títulos;
trabalho ou em instituições de educação básica e supe- II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclu-
rior, incluindo cursos de educação profissional, cursos sive com licenciamento periódico remunerado para esse
superiores de graduação plena ou tecnológicos e de fim;
pós-graduação. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) III - piso salarial profissional;
Art. 62-B. O acesso de professores das redes públi- IV - progressão funcional baseada na titulação ou
cas de educação básica a cursos superiores de pedago- habilitação, e na avaliação do desempenho;
gia e licenciatura será efetivado por meio de processo V - período reservado a estudos, planejamento e
seletivo diferenciado. (Incluído pela Lei nº 13.478, de avaliação, incluído na carga de trabalho;
2017) VI - condições adequadas de trabalho.

91
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 1o A experiência docente é pré-requisito para o exer- I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de
cício profissional de quaisquer outras funções de magis- cada mês, até o vigésimo dia;
tério, nos termos das normas de cada sistema de ensino. II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigé-
(Renumerado pela Lei nº 11.301, de 2006) simo dia de cada mês, até o trigésimo dia;
§ 2o Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao
no  § 8o do art. 201 da Constituição Federal, são conside- final de cada mês, até o décimo dia do mês subseqüente.
radas funções de magistério as exercidas por professores § 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a cor-
e especialistas em educação no desempenho de ativida- reção monetária e à responsabilização civil e criminal das
des educativas, quando exercidas em estabelecimento de autoridades competentes.
educação básica em seus diversos níveis e modalidades, Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e de-
incluídas, além do exercício da docência, as de direção de senvolvimento do ensino as despesas realizadas com vis-
unidade escolar e as de coordenação e assessoramento pe- tas à consecução dos objetivos básicos das instituições
dagógico. (Incluído pela Lei nº 11.301, de 2006) educacionais de todos os níveis, compreendendo as que
§ 3o A União prestará assistência técnica aos Estados, se destinam a:
ao Distrito Federal e aos Municípios na elaboração de con- I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docen-
cursos públicos para provimento de cargos dos profissio- te e demais profissionais da educação;
nais da educação. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) II - aquisição, manutenção, construção e conservação
de instalações e equipamentos necessários ao ensino;
TÍTULO VII III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados
Dos Recursos financeiros ao ensino;
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas
Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e
os originários de: à expansão do ensino;
I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, V - realização de atividades-meio necessárias ao fun-
do Distrito Federal e dos Municípios; cionamento dos sistemas de ensino;
II - receita de transferências constitucionais e outras VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas
transferências; públicas e privadas;
III - receita do salário-educação e de outras contribui- VII - amortização e custeio de operações de crédito
ções sociais; destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo;
IV - receita de incentivos fiscais; VIII - aquisição de material didático-escolar e manu-
V - outros recursos previstos em lei. tenção de programas de transporte escolar.
Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e
dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vin- desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com:
te e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas Consti- I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de
tuições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de impostos, ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino,
compreendidas as transferências constitucionais, na manu- que não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua
tenção e desenvolvimento do ensino público. (Vide Medida qualidade ou à sua expansão;
Provisória nº 773, de 2017) (Vigência encerrada) II - subvenção a instituições públicas ou privadas de
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida caráter assistencial, desportivo ou cultural;
pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municí- III - formação de quadros especiais para a administra-
pios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não será ção pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáti-
considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, cos;
receita do governo que a transferir. IV - programas suplementares de alimentação, assis-
§ 2º Serão consideradas excluídas das receitas de im- tência médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e
postos mencionadas neste artigo as operações de crédito outras formas de assistência social;
por antecipação de receita orçamentária de impostos. V - obras de infra-estrutura, ainda que realizadas para
§ 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;
aos mínimos estatuídos neste artigo, será considerada a re- VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educa-
ceita estimada na lei do orçamento anual, ajustada, quan- ção, quando em desvio de função ou em atividade alheia à
do for o caso, por lei que autorizar a abertura de créditos manutenção e desenvolvimento do ensino.
adicionais, com base no eventual excesso de arrecadação. Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e de-
§ 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas senvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos
e as efetivamente realizadas, que resultem no não atendi- balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a
mento dos percentuais mínimos obrigatórios, serão apu- que se refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal.
radas e corrigidas a cada trimestre do exercício financeiro. Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, priori-
§ 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do tariamente, na prestação de contas de recursos públicos,
caixa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu- o cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição
nicípios ocorrerá imediatamente ao órgão responsável pela Federal, no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais
educação, observados os seguintes prazos: Transitórias e na legislação concernente.

92
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o TÍTULO VIII


Distrito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mí- Das Disposições Gerais
nimo de oportunidades educacionais para o ensino fun-
damental, baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a co-
capaz de assegurar ensino de qualidade. laboração das agências federais de fomento à cultura
Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este artigo e de assistência aos índios, desenvolverá programas
será calculado pela União ao final de cada ano, com validade integrados de ensino e pesquisa, para oferta de edu-
para o ano subseqüente, considerando variações regionais cação escolar bilingüe e intercultural aos povos indí-
no custo dos insumos e as diversas modalidades de ensino. genas, com os seguintes objetivos:
Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos I - proporcionar aos índios, suas comunidades e
Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamen- povos, a recuperação de suas memórias históricas; a
te, as disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo reafirmação de suas identidades étnicas; a valorização
de qualidade de ensino. de suas línguas e ciências;
§ 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a II - garantir aos índios, suas comunidades e povos,
fórmula de domínio público que inclua a capacidade de o acesso às informações, conhecimentos técnicos e
atendimento e a medida do esforço fiscal do respectivo científicos da sociedade nacional e demais sociedades
Estado, do Distrito Federal ou do Município em favor da indígenas e não-índias.
manutenção e do desenvolvimento do ensino. Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente
§ 2º A capacidade de atendimento de cada governo os sistemas de ensino no provimento da educação in-
será definida pela razão entre os recursos de uso constitu- tercultural às comunidades indígenas, desenvolvendo
cionalmente obrigatório na manutenção e desenvolvimen- programas integrados de ensino e pesquisa.
to do ensino e o custo anual do aluno, relativo ao padrão § 1º Os programas serão planejados com audiência
mínimo de qualidade. das comunidades indígenas.
§ 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e § 2º Os programas a que se refere este artigo, in-
2º, a União poderá fazer a transferência direta de recursos cluídos nos Planos Nacionais de Educação, terão os
a cada estabelecimento de ensino, considerado o número seguintes objetivos:
de alunos que efetivamente freqüentam a escola. I - fortalecer as práticas sócio-culturais e a língua
§ 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser materna de cada comunidade indígena;
exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos II - manter programas de formação de pessoal es-
Municípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino pecializado, destinado à educação escolar nas comu-
de sua responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10 nidades indígenas;
e o inciso V do art. 11 desta Lei, em número inferior à sua III - desenvolver currículos e programas específi-
capacidade de atendimento. cos, neles incluindo os conteúdos culturais correspon-
Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no ar- dentes às respectivas comunidades;
tigo anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento IV - elaborar e publicar sistematicamente material
pelos Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto didático específico e diferenciado.
nesta Lei, sem prejuízo de outras prescrições legais. § 3 o No que se refere à educação superior, sem
Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às esco- prejuízo de outras ações, o atendimento aos povos
las públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, indígenas efetivar-se-á, nas universidades públicas e
confessionais ou filantrópicas que: privadas, mediante a oferta de ensino e de assistência
I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribuam estudantil, assim como de estímulo à pesquisa e de-
resultados, dividendos, bonificações, participações ou par- senvolvimento de programas especiais. (Incluído pela
cela de seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto; Lei nº 12.416, de 2011)
II - apliquem seus excedentes financeiros em educação; Art. 79-A. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.639,
III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra de 9.1.2003)
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Po- Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de
der Público, no caso de encerramento de suas atividades; novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.
IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos re- (Incluído pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003)
cebidos. Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvi-
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser mento e a veiculação de programas de ensino a dis-
destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na tância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e
forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de de educação continuada. (Regulamento) (Regulamen-
recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares to)
da rede pública de domicílio do educando, ficando o Poder § 1º A educação a distância, organizada com aber-
Público obrigado a investir prioritariamente na expansão tura e regime especiais, será oferecida por instituições
da sua rede local. especificamente credenciadas pela União.
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão § 2º A União regulamentará os requisitos para a
poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclu- realização de exames e registro de diploma relativos a
sive mediante bolsas de estudo. cursos de educação a distância.

93
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 3º As normas para produção, controle e avaliação de I - (revogado); (Redação dada pela lei nº 12.796, de
programas de educação a distância e a autorização para 2013)
sua implementação, caberão aos respectivos sistemas de a) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de
ensino, podendo haver cooperação e integração entre os 2006)
diferentes sistemas. (Regulamento) b) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de
§ 4º A educação a distância gozará de tratamento dife- 2006)
renciado, que incluirá: c) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de
I - custos de transmissão reduzidos em canais comer- 2006)
ciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em ou- II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens
tros meios de comunicação que sejam explorados median- e adultos insuficientemente escolarizados;
te autorização, concessão ou permissão do poder público; III - realizar programas de capacitação para todos os
(Redação dada pela Lei nº 12.603, de 2012) professores em exercício, utilizando também, para isto, os
II - concessão de canais com finalidades exclusivamen- recursos da educação a distância;
te educativas; IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino fun-
III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder damental do seu território ao sistema nacional de avaliação
Público, pelos concessionários de canais comerciais. do rendimento escolar.
Art. 81. É permitida a organização de cursos ou insti- § 4º (Revogado). (Redação dada pela lei nº 12.796, de
tuições de ensino experimentais, desde que obedecidas as 2013)
disposições desta Lei. § 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando a
Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino
de realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei fundamental para o regime de escolas de tempo integral.
federal sobre a matéria. (Redação dada pela Lei nº 11.788, § 6º A assistência financeira da União aos Estados, ao
de 2008) Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos Estados
 Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei aos seus Municípios, ficam condicionadas ao cumprimen-
nº 11.788, de 2008) to do art. 212 da Constituição Federal e dispositivos legais
Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica, pertinentes pelos governos beneficiados.
admitida a equivalência de estudos, de acordo com as nor- Art. 87-A. (VETADO). (Incluído pela lei nº 12.796, de
mas fixadas pelos sistemas de ensino. 2013)
Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas res- nicípios adaptarão sua legislação educacional e de ensino
pectivas instituições, exercendo funções de monitoria, de às disposições desta Lei no prazo máximo de um ano, a
acordo com seu rendimento e seu plano de estudos. partir da data de sua publicação. (Regulamento) (Regula-
Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação mento)
própria poderá exigir a abertura de concurso público de § 1º As instituições educacionais adaptarão seus esta-
provas e títulos para cargo de docente de instituição públi- tutos e regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas
ca de ensino que estiver sendo ocupado por professor não dos respectivos sistemas de ensino, nos prazos por estes
concursado, por mais de seis anos, ressalvados os direitos estabelecidos.
assegurados pelos arts. 41 da Constituição Federal e 19 do § 2º O prazo para que as universidades cumpram o dis-
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. posto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos.
Art. 86. As instituições de educação superior constituídas Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que ve-
como universidades integrar-se-ão, também, na sua condi- nham a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar
ção de instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional de Ciên- da publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema
cia e Tecnologia, nos termos da legislação específica. de ensino.
Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o
TÍTULO IX regime anterior e o que se institui nesta Lei serão resol-
Das Disposições Transitórias vidas pelo Conselho Nacional de Educação ou, mediante
delegação deste, pelos órgãos normativos dos sistemas de
 Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se ensino, preservada a autonomia universitária.
um ano a partir da publicação desta Lei. Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publi-
§ 1º A União, no prazo de um ano a partir da publica- cação.
ção desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Pla- Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024,
no Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os de 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro
dez anos seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial de 1968, não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de no-
sobre Educação para Todos. vembro de 1995 e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e,
§ 2º (Revogado). (Redação dada pela lei nº 12.796, de ainda, as Leis nºs 5.692, de 11 de agosto de 1971 e 7.044,
2013) de 18 de outubro de 1982, e as demais leis e decretos-
§ 3o O Distrito Federal, cada Estado e Município, e, su- -lei que as modificaram e quaisquer outras disposições em
pletivamente, a União, devem: (Redação dada pela Lei nº contrário.
11.330, de 2006)

94
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Brasília, 20 de dezembro de 1996; 175º da Indepen- VI - estímulo do Poder Público, através de assistên-
dência e 108º da República. cia jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou
Paulo Renato Souza adolescente órfão ou abandonado;
Este texto não substitui o publicado no DOU de VII - programas de prevenção e atendimento espe-
23.12.1996 cializado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente
de entorpecentes e drogas afins.
§ 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a
exploração sexual da criança e do adolescente.
LEI Nº 8.069/90 - ESTATUTO DA CRIANÇA E § 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na
DO ADOLESCENTE; forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua
efetivação por parte de estrangeiros.
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casa-
mento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e quali-
Noções introdutórias e disciplina constitucional ficações, proibidas quaisquer designações discriminatórias
relativas à filiação.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Es- § 7º No atendimento dos direitos da criança e do ado-
tado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com lescente levar-se-á em consideração o disposto no art. 204
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimenta- .
ção, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à § 8º A lei estabelecerá:
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar I - o estatuto da juventude, destinado a regular os
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma direitos dos jovens;
de negligência, discriminação, exploração, violência, II - o plano nacional de juventude, de duração dece-
crueldade e opressão. nal, visando à articulação das várias esferas do poder públi-
§ 1º O Estado promoverá programas de assistência co para a execução de políticas públicas. 
integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem,
admitida a participação de entidades não governamen- No caput do artigo 227, CF se encontra uma das prin-
tais, mediante políticas específicas e obedecendo aos se- cipais diretrizes do direito da criança e do adolescente que
guintes preceitos: é o princípio da prioridade absoluta. Significa que cada
I - aplicação de percentual dos recursos públicos des- criança e adolescente deve receber tratamento especial do
tinados à saúde na assistência materno-infantil; Estado e ser priorizado em suas políticas públicas, pois são
II - criação de programas de prevenção e atendimen- o futuro do país e as bases de construção da sociedade.
to especializado para as pessoas portadoras de deficiência A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 dispõe sobre o
física, sensorial ou mental, bem como de integração social Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providên-
do adolescente e do jovem portador de deficiência, me- cias, seguindo em seus dispositivos a ideologia do princí-
diante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a pio da absoluta prioridade.
facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a No §1º do artigo 227 aborda-se a questão da assistência à
eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as for- saúde da criança e do adolescente. Do inciso I se depreende a
mas de discriminação. intrínseca relação entre a proteção da criança e do adolescente
§ 2º A lei disporá sobre normas de construção dos com a proteção da maternidade e da infância, mencionada no
logradouros e dos edifícios de uso público e de fabrica- artigo 6º, CF. Já do inciso II se depreende a proteção de ou-
ção de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir tro grupo vulnerável, que é a pessoa portadora de deficiência,
acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. valendo lembrar que o Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de
§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os se- 2009, que promulga a Convenção Internacional sobre os Di-
guintes aspectos: reitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo,
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao assinados em Nova York, em 30 de março de 2007, foi pro-
trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII; mulgado após aprovação no Congresso Nacional nos moldes
II - garantia de direitos previdenciários e trabalhis- da Emenda Constitucional nº 45/2004, tendo força de norma
tas; constitucional e não de lei ordinária. A preocupação com o di-
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e reito da pessoa portadora de deficiência se estende ao §2º do
jovem à escola; artigo 227, CF: “a lei disporá sobre normas de construção dos
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação
atribuição de ato infracional, igualdade na relação pro- de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso
cessual e defesa técnica por profissional habilitado, se- adequado às pessoas portadoras de deficiência”.
gundo dispuser a legislação tutelar específica; A proteção especial que decorre do princípio da prio-
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcio- ridade absoluta está prevista no §3º do artigo 227. Liga-se,
nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em ainda, à proteção especial, a previsão do §4º do artigo 227:
desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medi- “A lei punirá severamente o abuso, a violência e a explora-
da privativa da liberdade; ção sexual da criança e do adolescente”.

95
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Tendo em vista o direito de toda criança e adolescente em vista que só se costuma colocar o Estado como obser-
de ser criado no seio de uma família, o §5º do artigo 227 da vador da “Doutrina da Proteção Integral”, sendo que isso
Constituição prevê que “a adoção será assistida pelo Poder também compete à família e à sociedade.
Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condi- Nesta frequência, o direito à proteção especial abran-
ções de sua efetivação por parte de estrangeiros”. Neste gerá os seguintes aspectos (art. 227, §3º, CF):
sentido, a Lei nº 12.010, de 3 de agosto de 2009, dispõe - A idade mínima de dezesseis anos para admissão ao
sobre a adoção. trabalho, salvo a partir dos quatorze anos, na condição de
A igualdade entre os filhos, quebrando o paradigma da aprendiz (inciso I de acordo com o art. 7º, XXXIII, CF, pós-al-
Constituição anterior e do até então vigente Código Civil teração promovida pela Emenda Constitucional nº 20/98);
de 1916 consta no artigo 227, § 6º, CF: “os filhos, havidos - A garantia de direitos previdenciários e trabalhistas
ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os (inciso II);
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer de- - A garantia de acesso ao trabalhador adolescente e
signações discriminatórias relativas à filiação”. jovem à escola (inciso III);
Quando o artigo 227 dispõe no § 7º que “no atendi- - A garantia de pleno e formal conhecimento da atri-
mento dos direitos da criança e do adolescente levar-se-á buição do ato infracional, igualdade na relação processual
em consideração o disposto no art. 204” tem em vista a e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dis-
adoção de práticas de assistência social, com recursos da puser a legislação tutelar específica (inciso IV);
seguridade social, em prol da criança e do adolescente. - A obediência aos princípios de brevidade, excepcio-
Por seu turno, o artigo 227, § 8º, CF, preconiza: “A lei es- nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em de-
tabelecerá: I - o estatuto da juventude, destinado a regular senvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida
os direitos dos jovens; II - o plano nacional de juventude, privativa de liberdade (inciso V);
de duração decenal, visando à articulação das várias esferas - O estímulo do Poder Público, através de assistência
do poder público para a execução de políticas públicas”. A jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao
Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013, institui o Estatu- acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adoles-
to da Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os cente órfão ou abandonado (inciso VI);
princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e - Programas de prevenção e atendimento especializa-
o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE. Mais infor- do à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de
mações sobre a Política mencionada no inciso II e sobre a entorpecentes e drogas afins (inciso VII).
Secretaria e o Conselho Nacional de Juventude que dire- Prosseguindo, o parágrafo sexto, do art. 227, da Constitui-
cionam a implementação dela podem ser obtidas na rede ção, garante o “Princípio da Igualdade entre os Filhos”, ao dis-
. por que os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou
Aprofundando o tema, a cabeça do art. 227, da Lei Fun- por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas
damental, preconiza ser dever da família, da sociedade e quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, Assim, com a Constituição Federal, os filhos não têm
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à ali- mais “valor” para efeito de direitos alimentícios e suces-
mentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cul- sórios. Não se pode falar em um filho receber metade da
tura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência parte que originalmente lhe cabia por ser “bastardo”, en-
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda quanto aquele fruto da sociedade conjugal receber a quan-
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, tia integral. Aliás, nem mesmo a expressão “filho bastardo”
crueldade e opressão. pode mais ser utilizada, por representar uma forma de dis-
A leitura do art. 227, caput, da Constituição Federal criminação designatória.
permite concluir que se adotou, neste país, a chamada Também, o art. 229 traz uma “via de mão dupla” entre
“Doutrina da Proteção Integral da Criança”, ao lhe asse- pais e filhos, isto é, os pais têm o dever de assistir, criar e
gurar a absoluta prioridade em políticas públicas, medidas educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de
sociais, decisões judiciais, respeito aos direitos humanos, e ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
observância da dignidade da pessoa humana. Neste sen- Tal dispositivo, inclusive, permite que os filhos peçam alimen-
tido, o parágrafo único, do art. 5º, do “Estatuto da Crian- tos aos pais, e que os pais peçam alimentos aos filhos.
ça e do Adolescente”, prevê que a garantia de priorida- Por fim, há se mencionar o acrescentado parágrafo oi-
de compreende a primazia de receber proteção e socorro tavo (pela Emenda Constitucional nº 65/2010), ao art. 227,
em quaisquer circunstâncias (alínea “a”), a precedência de da Constituição Federal, segundo o qual a lei estabelecerá
atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos
(alínea “b”), a preferência na formulação e na execução das jovens (inciso I), e o plano nacional de juventude, de du-
políticas sociais públicas (alínea “c”), e a destinação privi- ração decenal, visando à articulação das várias esferas do
legiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a poder público para a execução de políticas públicas (inciso
proteção à infância e à juventude (alínea “d”). II). Nada obstante a exigência constitucional desde 2010,
Ademais, a proteção à criança, ao adolescente e ao jo- somente bem recentemente o Estatuto da Juventude foi
vem representa incumbência atribuída não só ao Estado, aprovado (Lei nº 12.852/2013), como visto acima, carecen-
mas também à família e à sociedade. Sendo assim, há se do, ainda, o Plano Nacional de Juventude de maior regula-
prestar bastante atenção nas provas de concurso, tendo mentação infraconstitucional.

96
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Evolução histórica No Brasil, no final do século XIX e início do século XX,


foi instituído no Rio de Janeiro o Instituto de Proteção e
Na Grécia antiga, a criança era colocada numa po- Assistência à Infância, primeiro estabelecimento público
sição de inferioridade, tida como um ser irracional, sem nacional de atendimento a crianças e adolescentes. Em se-
capacidade de tomar qualquer tipo de decisão. Trata-se guida, veio a Lei nº 4.242/1921, que autorizou o governo
de marco da cultura grega, que enxergava apenas pou- a organizar o Serviço de Assistência e Proteção à Infância
cos homens de posses como cidadãos. Estes homens con- Abandonada e Dellinquente. Em 1927 foi aprovado o pri-
centravam para si o pátrio poder, isto é, o poder do pai. meiro Código de Menores. Em 1941, durante o governo
Devido ao pátrio poder, o pai de família concentrava em Vargas, foi criado o Serviço de Assistência ao Menor, cujo
suas mãos plena possibilidade de gerir a vida das crianças fim era dar tratamento penal teoricamente diferenciado
e adolescentes e estes não tinham nenhuma possibilidade aos menores (na prática, eram tratados como criminosos
de participar destas decisões. Na Idade Média se manteve comuns). Em 1964 surge a Política Nacional do Bem-estar
o sistema do “pátrio poder”. As crianças eram submetidas do Menor (Lei nº 4.513/1964), que criou a FUNABEM. Surge
ao absoluto poder do pai e seus destinos seguiam a mes- novo Código de Menores em 1979 (Lei nº 6.697), cujo obje-
ma sorte. to era a proteção e vigilância de crianças e adolescentes em
A partir da Idade Moderna, com o Renascimento e o situação irregular. Na década de 80 começa um movimen-
Iluminismo, as crianças e os adolescentes saíram ligeira- to de reelaboração da concepção de infância e juventude.
mente da margem social. A moral da época passa a im- O destaque repercute na Constituição Federal de 1988 e no
por aos pais o dever de educar seus filhos. Entretanto, a Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, que revo-
educação costumava ser oferecida apenas aos homens. gou o Código de Menores e substituiu a doutrina da situa-
Aqueles que possuíam melhores condições enviavam seus ção irregular pela doutrina da proteção integral
filhos para estudarem nas universidades que começavam
a despontar na Europa, aqueles que possuíam condições Relações jurídicas no direito da criança e do ado-
piores ao menos passavam a ensinar seus ofícios a estes lescente
jovens. Já as meninas permaneciam marginalizadas das
atividades educacionais e profissionalizantes, apenas lhes “As relações jurídicas são formas qualificadas de re-
era ensinado como desempenhar atividades domésticas. lações interpessoais, indicando, assim, a ligação entre
Desde o final da Revolução Francesa e, com destaque, pessoas, em razão de algum objeto, devidamente regu-
a partir da Revolução Industrial, que alterou substancial- lada pelo direito. Desta forma, o Direito da Criança e do
mente os modos e métodos de produção, a criança e o Adolescente, sob o aspecto objetivo e formal, representa
adolescente passam a ocupar papel central na sociedade, a disciplina das relações jurídicas entre Crianças e Adoles-
desempenhando atividades trabalhistas de caráter equiva- centes, de um lado, e de outro, a família, a comunidade,
lente a dos adultos. Foram vítimas de inúmeros acidentes a sociedade e o próprio Estado. [...] Percebemos que a in-
de trabalho, morriam em meio à insalubridade das fábri- tenção dos doutrinadores e do próprio legislador foi, sem-
cas, então movidas predominantemente a carvão. Foi ape- pre, criar uma doutrina da proteção integral não somente
nas com a emergência da Organização Internacional do para a Criança, como, ainda, para o Adolescente, ambos
Trabalho – OIT, em 1919, que aos poucos se consolidou ainda em desenvolvimento, posto que, somente com o tér-
uma consciência a respeito da necessidade de se limitar mino da adolescência é que o menor completará o pro-
a participação das crianças e adolescentes no espaço de cesso de aquisição de mecanismos mentais relacionados
trabalho. Este foi o estopim para o reconhecimento da ao pensamento, percepção, reconhecimento, classificação
condição especial da criança e do adolescente. etc. [...] Com isso, o Estatuto da Criança e do Adolescen-
Internacionalmente, a proteção efetiva da criança e te, sabiamente, se preocupou em envolver não somente a
do adolescente começa a tomar corpo com o reconheci- família, mas, ainda, a comunidade, a sociedade e o próprio
mento internacional dos direitos humanos e a fundação Estado, para que todos, em conjunto, exerçam seus direitos
da UNICEF. A UNICEF, inicialmente conhecida como Fundo e deveres sem oprimir aqueles que, em condição inferior, vi-
Internacional de Emergência das Nações Unidas para as viam a mercê da sociedade. Mas, qual a razão dessa inclusão
Crianças, foi criada em dezembro de 1946 para ajudar as tão abrangente? Pois bem, a intenção do Estatuto da Criança
crianças da Europa vítimas da II Guerra Mundial. No início e do Adolescente foi conferir ao menor, de forma integral,
da década de 50 o seu mandato foi alargado para respon- todas as condições para que o mesmo possa desenvolver-
der às necessidades das crianças e das mães nos países em -se plenamente, evitando-se, com isso, que haja alguma de-
desenvolvimento. Em 1953, torna-se uma agência perma- ficiência em sua formação. Desta forma, a melhor solução
nente das Nações Unidas, e passa a ocupar-se especial- apresentada pelo legislador foi incluir todos os segmentos
mente das crianças dos países mais pobres da África, Ásia, da sociedade, para que ninguém ficasse isento de qualquer
América Latina e Médio Oriente. Passa então a designar-se responsabilidade, uma vez que a doutrina da proteção inte-
Fundo das Nações Unidas para a Infância, mas mantém a gral apresentada pelo Estatuto da Criança e do Adolescen-
sigla que a tornara conhecida em todo o mundo – UNICEF. te exige a participação de todos, sem qualquer exceção”
Desde então, sobrevieram no âmbito das Nações Unidas . Com efeito, o objeto formal do direito da criança e do ado-
documentos bastante relevantes sobre a condição jurídica lescente é a proteção jurídica especial da criança e do adoles-
peculiar da criança, já estudados neste material. cente. Já o objeto material é a própria criança ou adolescente.

97
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Princípios sequência, jurídico que pretende colocar a pessoa humana


como um sujeito pleno de direitos e obrigações na or-
Não se pode olvidar que os princípios sempre desem- dem internacional e nacional, cujo desrespeito acarreta a
penharam um importante papel social, mas foi somente própria exclusão de sua personalidade.
na atual dogmática jurídica que eles adquiriram normati- Aponta Barroso
vidade. Hoje em dia, os princípios servem para condensar : “o princípio da dignidade da pessoa humana iden-
valores, dar unidade ao sistema e condicionar a atividade tifica um espaço de integridade moral a ser assegurado a
do intérprete. Os princípios são normas jurídicas, não me- todas as pessoas por sua só existência no mundo. É um
ros conteúdos axiológicos, aceitando aplicação autônoma respeito à criação, independente da crença que se professe
. quanto à sua origem. A dignidade relaciona-se tanto com
Em resumo, a teoria dos princípios chega à presente a liberdade e valores do espírito como com as condições
fase do Pós-positivismo com os seguintes resultados já materiais de subsistência”.
consolidados: a passagem dos princípios da especulação O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Perei-
metafísica e abstrata para o campo concreto e positivo ra, do Tribunal Superior do Trabalho, trouxe interessante
do Direito, com baixíssimo teor de densidade normativa; conceito numa das decisões que relatou: “a dignidade
a transição crucial da ordem jusprivatista (sua antiga in- consiste na percepção intrínseca de cada ser humano a
serção nos Códigos) para a órbita juspublicística (seu in- respeito dos direitos e obrigações, de modo a assegurar,
gresso nas Constituições); a suspensão da distinção clás- sob o foco de condições existenciais mínimas, a participa-
sica entre princípios e normas; o deslocamento dos prin- ção saudável e ativa nos destinos escolhidos, sem que isso
cípios da esfera da jusfilosofia para o domínio da Ciência importe destilação dos valores soberanos da democracia
Jurídica; a proclamação de sua normatividade; a perda de e das liberdades individuais. O processo de valorização
seu caráter de normas programáticas; o reconhecimen- do indivíduo articula a promoção de escolhas, posturas e
to definitivo de sua positividade e concretude por obra sonhos, sem olvidar que o espectro de abrangência das
sobretudo das Constituições; a distinção entre regras e liberdades individuais encontra limitação em outros di-
princípios, como espécies diversificadas do gênero nor- reitos fundamentais, tais como a honra, a vida privada, a
ma, e, finalmente, por expressão máxima de todo esse intimidade, a imagem. Sobreleva registrar que essas ga-
desdobramento doutrinário, o mais significativo de seus rantias, associadas ao princípio da dignidade da pessoa
efeitos: a total hegemonia e preeminência dos princípios humana, subsistem como conquista da humanidade, ra-
. zão pela qual auferiram proteção especial consistente em
No campo do direito da criança e do adolescente, al- indenização por dano moral decorrente de sua violação”
guns princípios assumem destaque, entre eles: .
a) Princípio da prioridade absoluta: previsto nos ar- Para Reale
tigos 227, CF e 4º, ECA preconiza que é dever de todos – , a evolução histórica demonstra o domínio de um
Estado, sociedade, comunidade e família – assegurar com valor sobre o outro, ou seja, a existência de uma ordem
absoluta prioridade direitos fundamentais às crianças e gradativa entre os valores; mas existem os valores funda-
adolescentes. Por isso, estabelece-se com primazia a ado- mentais e os secundários, sendo que o valor fonte é o da
ção de políticas públicas, a destinação de recursos e a pres- pessoa humana. Nesse sentido, são os dizeres de Reale
tação de serviços essenciais àqueles que se encontram na : “partimos dessa ideia, a nosso ver básica, de que a pessoa
faixa etária inferior a 18 anos. humana é o valor-fonte de todos os valores. O homem, como
b) Princípio da proteção integral: previsto no artigo ser natural biopsíquico, é apenas um indivíduo entre outros
1º, ECA estabelece que a proteção da criança e do adoles- indivíduos, um ente animal entre os demais da mesma es-
cente não pode se restringir às situações de irregularidade, pécie. O homem, considerado na sua objetividade espiritual,
o que teria um caráter estigmatizante, mas deve abranger enquanto ser que só realiza no sentido de seu dever ser, é o
todas as situações de vida pelas quais passa a criança e o que chamamos de pessoa. Só o homem possui a dignidade
adolescente, mesmo as regulares. Neste sentido, ao se as- originária de ser enquanto deve ser, pondo-se essencialmen-
segurar direitos na regularidade, evita-se que a criança e o te como razão determinante do processo histórico”.
adolescente caiam em irregularidade. Quando a Constituição Federal assegura a dignidade da
c) Princípio da dignidade da pessoa humana: A dig- pessoa humana como um dos fundamentos da República, faz
nidade da pessoa humana é o valor-base de interpretação emergir uma nova concepção de proteção de cada membro
de qualquer sistema jurídico, internacional ou nacional, do seu povo. Tal ideologia de forte fulcro humanista guia a
que possa se considerar compatível com os valores éticos, afirmação de todos os direitos fundamentais e confere a eles
notadamente da moral, da justiça e da democracia. Pensar posição hierárquica superior às normas organizacionais do Es-
em dignidade da pessoa humana significa, acima de tudo, tado, de modo que é o Estado que está para o povo, devendo
colocar a pessoa humana como centro e norte para qual- garantir a dignidade de seus membros, e não o inverso.
quer processo de interpretação jurídico, seja na elaboração d) Princípio da participação popular: previsto no ar-
da norma, seja na sua aplicação. tigo 227, §§ 3º e 7º e no artigo 204, II, CF, assegura a par-
Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou ticipação popular, através de organizações representativas,
plena, é possível conceituar dignidade da pessoa humana na elaboração de políticas públicas direcionadas à infância
como o principal valor do ordenamento ético e, por con- e à juventude.

98
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

e) Princípio da excepcionalidade: previsto no artigo ignorados, como se não existissem, chega-se ao terceiro e
227, §3º, V, CF assegura que quando da imposição de me- mais importante: a interpretação do conceito de autono-
dida privativa de liberdade esta não será imposta a não mia à luz do momento de desenvolvimento em que uma
ser que se trate de um caso excepcional, em que nenhuma determinada criança ou adolescente se encontra.
outra medida sócio-educativa possa ser utilizada. Nesse sentido, diversas características do desenvolvi-
f) Princípio da brevidade: previsto no artigo 227, §3º, mento devem ser levadas em consideração:
V, CF assegura que quando da aplicação de medida privati- 1. Trata-se de um processo que evolui continuamente à
va de liberdade esta não se estenderá no tempo, devendo medida que habilidades se aperfeiçoam, novas capacidades
ser a mais breve possível, perdurando apenas pelo prazo são adquiridas, novas vivências são acumuladas e integradas e,
necessário para a ressocialização do adolescente. No caso, portanto, passível de rápidas e extremas mudanças no tempo;
o ECA limita a aplicação de medidas desta natureza ao pra- 2. A aquisição das competências é progressiva, não se
zo máximo de 3 anos. dá saltos, como se se tratasse de compartimentos estan-
g) Princípio da condição peculiar da pessoa em de- ques, e segue sempre uma ordem preestabelecida, sendo,
senvolvimento: a criança e o adolescente estão em pro- portanto, razoavelmente previsível;
cesso de formação e de transformação física e psíquica, 3. Os tempos e o ritmo em que o desenvolvimento se
logo, possuem uma condição peculiar que deve ser respei- processa são muito individualizados, fazendo com que dois
tada quando da aplicação da lei. indivíduos de uma mesma idade possam estar em momen-
tos diferentes de desenvolvimento;
Autonomia da criança e do adolescente 4. No caso específico da inteligência, o desenvolvimen-
to é extremamente influenciável por fatores extrínsecos ao
Coloca-se o trecho do trabalho de Cláudio Leone indivíduo: as experiências, os estímulos, o ambiente, a edu-
em que reflete sobre a construção da autonomia do in- cação, a cultura, etc., o que também acaba por reforçar sua
fante: evolução extremamente individualizada.
“Conceitualmente, a análise do respeito à autonomia Segundo Piaget, a capacidade de operar o pensamen-
de uma criança ou de um adolescente só tem sentido se for to concreto estendendo-o à compreensão do outro e às
conduzida a partir do conhecimento da evolução de suas possíveis consequências de boa parte dos seus atos se
competências nas diferentes idades. É de conhecimento aperfeiçoa na idade escolar, entre os 6 e os 11 anos de vida.
de todos que a criança nasce totalmente dependente de Este amadurecimento se completa na adolescência, com a
cuidados alheios e que passa por um processo de desen- capacidade crescente de abstração que a criança desenvol-
volvimento progressivo que a leva a alcançar a completa ve nesta fase da existência. Como consequência, é possível
independência na maturidade, o que, nas sociedades mo- admitir que é na segunda fase da adolescência, em geral a
dernas, se situa por volta dos vinte anos de idade. partir dos 15 anos, que o indivíduo atingiria as competên-
Entretanto, para que este processo de análise de sua cias necessárias para o exercício de sua autonomia, com-
autonomia transcorra de maneira isenta, fundamentalmen- petências estas que necessitariam apenas serem lapidadas
te centrado nas peculiaridades do desenvolvimento do ser ao longo das vivências e de uma maior experiência de vida.
humano, o primeiro ponto a ser considerado é a necessida- Entretanto, isto não significa que a autonomia da crian-
de de abdicar de alguns conceitos preestabelecidos, como ça e do adolescente só possa (ou deva) ser respeitada a
é o caso da atitude paternalista. [...] partir desta fase.
O segundo ponto a considerar neste percurso, em ge- Compete ao pediatra e aos demais profissionais de saúde,
ral decorrente do primeiro, é a própria legislação que, mes- utilizando suas competências profissionais, definir já desde os
mo tendo o melhor dos intuitos, praticamente nivela todos primeiros anos de vida em que etapa a criança se encontra
os menores a uma mesma condição: a de incapacidade, ao longo do seu processo evolutivo, tentando diferenciar se
criando a necessidade de se ter figuras aptas a decidir e se está diante de uma tomada de decisão ditada apenas pelo
responder por eles, como se estas figuras fossem sempre e receio do desconhecido, por um capricho ou vontade decor-
inevitavelmente imbuídas das melhores intenções em rela- rente apenas de sua visão egocêntrica, natural em determina-
ção à criança e ao adolescente. das idades, ou se a mesma já é o resultado de uma reflexão
No entender de Kopelman, para que toda esta legisla- mais amadurecida. São estes extremos que dão a entender
ção fosse realmente válida seria necessário definir melhor, a ampla gama de estágios de desenvolvimento, portanto de
de maneira bem precisa, o que se entende por um padrão autonomia, que entre eles podem se apresentar. [...]
mínimo de benefício ou o que é ‘o melhor’ para os interes- Novamente, cabe enfatizar que o risco que se corre ao se
ses da criança ou do adolescente, de modo que a definição utilizar definições bastante precisas como estas é o de acabar
não fique em aberto para a interpretação de quem detém classificando um indivíduo de maneira dicotômica, no caso
o poder de decidir em nome deles. Além disso, estas defi- específico da autonomia, como sendo capaz ou incapaz, de-
nições deveriam estar em constante revisão, para que não sistindo assim de uma possível análise de sua real capacidade.
acabem sendo ultrapassadas, frente à evolução histórico- Consequentemente, a ausência de uma ou de mais das
-social dos fatos que geraram a necessidade de sua criação. características anteriormente citadas não deve ser utilizada
Superados estes dois pontos, que apesar de potencial- para qualificar a criança ou o adolescente como incapaz.
mente limitantes do processo de discussão da autonomia Deve, isto sim, servir de embasamento para que se possa
da criança e do adolescente não podem ser simplesmente tentar entender como suas decisões se originaram.

99
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Em face de situações específicas, individualizadas, tem-se também a positivação da proteção integral, que se
como ocorre no dia-a-dia da prática pediátrica, esta é a opõe à antiga e superada doutrina da situação irregular,
única forma que o profissional tem de realmente respeitar que era prevista no antigo Código de Menores e espe-
a autonomia da criança ou do adolescente. cificava que sua incidência se restringia aos menores em
A interpretação adequada da legislação e o dimensio- situação irregular, apresentando um conjunto de normas
namento correto da decisão dos pais ou responsáveis depen- destinadas ao tratamento e prevenção dessas situações”
derão fundamentalmente deste tipo de análise da autonomia .
da criança ou adolescente. Deste modo, mesmo que resulte Basicamente, tinha-se na doutrina da situação irregu-
em situações de conflito entre as posições, servirá de emba- lar que era necessário disciplinar um estatuto jurídico da
samento para um trabalho, muitas vezes exaustivo, de apre- criança e do adolescente que apenas abordasse situações
sentação, de reflexão e de discussão de argumentos e fatos, em que ele estivesse irregular, seja por uma desproteção,
capaz de conduzir a uma decisão amadurecida e o mais isenta como no caso de abandono, ou pela violação da lei, como
possível, que, respeitando a posição da criança ou do adoles- nos casos de atos infracionais.
cente, poderá efetivamente redundar em seu benefício. Entretanto, o direito evoluiu e passou a contemplar
No leque das diferentes situações da prática pediátrica, uma noção de proteção mais ampla da criança e do ado-
que se estende desde o recém-nascido no limite de viabilidade lescente, que não apenas abordasse situações de irregula-
ao qual se quer prestar cuidados intensivos de validade ques- ridade (embora ainda o fizesse), mas que abrangesse todo
tionável naquelas circunstâncias, passando pelas pesquisas o arcabouço jurídico protetivo da criança e do adolescente.
científicas que envolvem crianças e adolescentes, até a criança Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei,
cujo pátrio poder pertence a pais adolescentes, portanto autô- a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adoles-
nomos nas decisões que lhes dizem respeito, todas estas situa- cente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
ções, onde nem sempre o real interesse que está em jogo é o Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se
da criança, mas sim o dos responsáveis por ela, clarificam que excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e
não há uma única resposta ou solução mágica, perfeita, para a vinte e um anos de idade.
questão da autonomia da criança e do adolescente. O Estatuto da Criança e do Adolescente opta por cate-
Na realidade, o que deve existir é a construção conjun- gorizar separadamente estas duas categorias de menores.
ta de uma verdade para aquele momento, amadurecida no Criança é aquele que tem até 12 anos de idade (na data
crescimento e evolução de todos: juízes e legisladores, pais de aniversário de 12 anos, passa a ser adolescente), ado-
ou responsáveis, médicos e profissionais de saúde e, prin- lescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos (na data de
cipalmente, a criança ou o adolescente, como parte de um aniversário de 18 anos, passa a ser maior). Em situações
processo de interação franco, sincero, isento e realmente excepcionais o ECA se aplica ao maior de 18 anos, até os
participativo que de fato respeite a autonomia, qualquer 21 anos de idade, por exemplo, no caso do menor infrator
que seja o nível de competência que a criança ou o adoles- sujeito a internação em fundação CASA que tenha 17 anos
cente estejam apresentando para tal”. e 11 meses na data do ato infracional poderá ficar detido
até o limite de seus 20 anos e 11 meses (eis que 3 anos é o
Imputabilidade penal tempo máximo de internação).
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os
Art. 228, CF. São penalmente inimputáveis os me- direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
nores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegu-
especial. rando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as opor-
tunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desen-
O artigo 228, CF dispõe: “são penalmente inimputáveis volvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legis- condições de liberdade e de dignidade.
lação especial”. Percebe-se que a normativa não está no Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-
rol de cláusulas pétreas, razão pela qual seria possível uma -se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de
emenda constitucional que alterasse a menoridade penal. nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor,
Inclusive, há projetos de lei neste sentido. religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desen-
volvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente
Comentários à lei social, região e local de moradia ou outra condição que dife-
rencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem.
Parte geral O artigo 3º volta-se à concretização dos direitos da
Título I criança e do adolescente. Concretização significa viabiliza-
Das Disposições Preliminares ção prática, consecução real dos fins que a lei descreve.
Como se percebe pela leitura até o momento, o legislador
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à brasileiro preocupou-se em elaborar uma legislação cujo
criança e ao adolescente. objetivo é concretizar estes direitos da criança e do adoles-
O princípio da proteção integral se associa ao princípio cente. Entretanto, a lei é apenas uma carta de intenções. É
da prioridade absoluta, colacionado no artigo 4º do ECA necessário colocar seu conteúdo em prática, porque sozi-
e no artigo 227, CF. “Com a positivação desse princípio nha ela nada faz.

100
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

A implementação na prática dos direitos da criança e c) preferência na formulação e na execução das po-
do adolescente depende da adoção de posturas por parte líticas sociais públicas;
de todos aqueles colocados como responsáveis para tanto: d) destinação privilegiada de recursos públicos nas
Estado, sociedade, comunidade e família. Especificamente áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
no que se refere ao Estado, mostra-se essencial que ele O artigo 4º do ECA colaciona em seu caput teor idên-
desenvolve políticas públicas adequadas em respeito à pe- tico ao do caput do artigo 227, CF, onde se encontra uma
culiar condição do infante. das principais diretrizes do direito da criança e do adoles-
“O Direito da Criança e do Adolescente deve ter con- cente que é o princípio da prioridade absoluta. Significa
dições suficientemente próprias de promoção e concre- que cada criança e adolescente deve receber tratamento
tização de direitos. Para isso deve-se desvencilhar do especial do Estado e ser priorizado em suas políticas pú-
dogmatismo e do mero positivismo jurídico acrítico. O blicas, pois são o futuro do país e as bases de construção
Direito da Criança e do Adolescente enquanto ramo au- da sociedade.
tônomo do direito é responsável por ressignificar a atua- Explica Liberati
ção estatal, principalmente no campo das políticas pú- : “Por absoluta prioridade, devemos entender que a
blicas e impõe corresponsabilidades compartilhadas” criança e o adolescente deverão estar em primeiro lugar na
. escala de preocupação dos governantes; devemos enten-
Vale ressaltar que às crianças e aos adolescentes são der que, primeiro, devem ser atendidas todas as necessida-
garantidos os mesmos direitos fundamentais que aos des das crianças e adolescentes [...]. Por absoluta priorida-
adultos, entretanto, o ECA aprofunda alguns direitos fun- de, entende-se que, na área administrativa, enquanto não
damentais em espécie, abordando-os na vertente da con- existirem creches, escolas, postos de saúde, atendimento
dição especial dos que pertencem a este grupo. preventivo e emergencial às gestantes dignas moradias
As crianças e adolescentes gozam de igualdade de di- e trabalho, não se deveria asfaltar ruas, construir praças,
reitos em relação às demais pessoas, podendo usufruir de sambódromos monumentos artísticos etc., porque a vida, a
todos eles. O próprio estatuto contempla em seu título II saúde, o lar, a prevenção de doenças são importantes que
os direitos fundamentais da criança e do adolescente, entre as obras de concreto que ficam par a demonstrar o poder
eles incluindo-se: vida, saúde, liberdade, respeito, dignida- do governante”.
de, convivência familiar e comunitária, educação, cultura, O parágrafo único do artigo 4º especifica a abrangência
esporte, lazer, profissionalização e proteção no trabalho. da absoluta prioridade, esclarecendo que é necessário con-
Não se trata de rol taxativo de direitos fundamentais ga- ferir atendimento prioritário às crianças e aos adolescentes
rantidos à criança e ao adolescente, eis que ele possui to- diante de situações de perigo e risco (como no salvamento
dos os direitos humanos e fundamentais que as demais em incêndios e enchentes, etc.), bem como nos serviços
pessoas. O título II do ECA tem por objetivo aprofundar públicos em geral (chegada aos hospitais, por exemplo).
especificidades acerca de algumas das categorias de direi- Além disso, devem ser priorizadas políticas públicas que
tos fundamentais assegurados à criança e ao adolescente. favoreçam a criança e o adolescente e também devem ser
Deste artigo 3º do ECA é possível, ainda, extrair o des- reservados recursos próprios prioritariamente a eles.
taque ao princípio da igualdade, no sentido de que há ple- Art. 87. São linhas de ação da política de atendimen-
na igualdade na garantia de direitos entre todas as crian- to:
ças e adolescentes, não sendo permitido qualquer tipo de I - políticas sociais básicas;
discriminação. II - serviços, programas, projetos e benefícios de as-
A leitura dos artigos 4º e 5º, em conjunto com outros sistência social de garantia de proteção social e de preven-
dispositivos do ECA, por sua vez, permite detectar a pre- ção e redução de violações de direitos, seus agravamentos
sença de um tríplice sistema de garantias. ou reincidências;
Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente adota III - serviços especiais de prevenção e atendimento
uma estrutura que contempla três sistemas de garantia – médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tra-
primário, secundário e terciário. tos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
a) Sistema primário – artigos 4º e 87, ECA – aborda po- IV - serviço de identificação e localização de pais,
líticas públicas de atendimento de crianças e adolescentes. responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da socieda- V - proteção jurídico-social por entidades de defesa
de em geral e do poder público assegurar, com absoluta dos direitos da criança e do adolescente.
prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à abreviar o período de afastamento do convívio familiar
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à li- e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência
berdade e à convivência familiar e comunitária. familiar de crianças e adolescentes;
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreen- VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob
de: forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do
a) primazia de receber proteção e socorro em quais- convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial,
quer circunstâncias; de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades
b) precedência de atendimento nos serviços públicos específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de
ou de relevância pública; irmãos. 

101
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

O artigo 87 descreve linhas de ação na política de sos concretos. Sobre a interpretação, explica Gonçalves
atendimento, que compõem a delimitação do princípio da : “Quando o fato é típico e se enquadra perfeitamente no
prioridade absoluta na vertente da priorização na adoção conceito abstrato da norma, dá-se o fenômeno da subsun-
de políticas públicas e na delimitação de recursos financei- ção. Há casos, no entanto, em que tal enquadramento não
ros para execução de tais políticas. ocorre, não encontrando o juiz nenhuma norma aplicável
b) Sistema secundário – artigos 98 e 101, ECA – abor- à hipótese sub judice. Deve, então, proceder à integração
da as medidas de proteção destinadas à criança e ao ado- normativa, mediante o emprego da analogia, dos costu-
lescente em situação de risco pessoal ou social. mes e dos princípios gerais do direito. [...] Para verificar se
Obs.: as medidas de proteção são estudadas adiante a norma é aplicável ao caso em julgamento (subsunção)
neste material. ou se deve proceder à integração normativa, o juiz procura
c) Sistema terciário – artigo 112, ECA – aborda as descobrir o sentido da norma, interpretando-a. Interpretar
medidas socioeducativas, destinadas à responsabilização é descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica”.
penal do adolescente infrator, isto é, àquele entre 12 e 18 A hermenêutica possui 3 categorias de métodos. Quan-
anos que comete atos infracionais. to às fontes ou origem, a interpretação pode ser autênti-
Obs.: as medidas socioeducativas são estudadas adian- ca ou legislativa, jurisprudencial ou judicial e doutrinária.
te neste material. Quanto aos meios, pode ser gramatical ou literal, exami-
O sistema tríplice deve operar de forma harmônica, nando o texto normativo linguísticamente; lógica ou racio-
com o acionamento gradual de cada um deles. Nas situa- nal, apurando o sentido e a finalidade da norma; sistemáti-
ções em que a criança ou adolescente escape ao sistema ca, analisando a lei de maneira comparativa com outras leis
primário de prevenção, ou seja, nos casos de ineficácia das pertencentes à mesma província do Direito (livro, título, ca-
políticas públicas específicas, deve ser acionado o sistema pítulo, seção, parágrafo); histórica, baseando-se na verifica-
secundário, operado predominantemente pelo Conselho ção dos antecedentes do processo legislativo; sociológica,
Tutelas. Por sua vez, em casos extremos, é necessário partir adaptando o sentido ou finalidade da norma às novas
para a adoção de medidas socioeducativas, operadas pre- exigências sociais (artigo 5°, LINDB). Quanto aos resulta-
dominantemente pelo Ministério Público e pelo Judiciário. dos pode ser declarativa, quando o texto legal correspon-
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de ao pensamento do legislador; extensiva ou ampliativa,
de qualquer forma de negligência, discriminação, ex- quando o alcance da lei é mais amplo que o indicado pelo
ploração, violência, crueldade e opressão, punido na seu texto; e restritiva, na qual se limita o campo de aplica-
forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos ção da lei. Nenhum destes métodos se opera isoladamente
seus direitos fundamentais. .
O artigo 5º ressalta o verdadeiro objetivo geral do ECA: O artigo 6º do ECA, tal como o artigo 5º da LINDB, ex-
proteger a criança de qualquer forma de negligência, dis- pressa o método de interpretação sociológico, chamando
criminação, exploração, violência, crueldade e opressão. atenção à interpretação da lei levando em conta os seus
Neste sentido, coloca-se a possibilidade de responsabiliza- fins sociais, as exigências do bem comum, os direitos e de-
ção de todos que atentarem contra esse propósito. A res- veres individuais e coletivos, e vai além: exige que se leve
ponsabilização poderá se dar em qualquer uma das três es- em conta a condição peculiar da criança e do adolescente.
feras, isolada ou cumulativamente: penal, respondendo por Logo, ao se interpretar o ECA não se pode nunca perder de
crimes e contravenções penais todo aquele que praticá-lo vista que o seu objeto material, a criança e o adolescente, é
contra criança e adolescente, bem como respondendo por extremamente peculiar, dotado de especificidades as quais
atos infracionais as crianças e adolescentes que atentarem sempre se deve atentar.
um contra o outro; civil, estabelecendo-se o dever de inde-
nizar por danos causados a crianças e a adolescentes, que Título II
se estende a toda e qualquer pessoa física ou jurídica que Dos Direitos Fundamentais
o faça, inclusive o próprio Estado; e administrativa, impon- Capítulo I
do-se penas disciplinares a funcionários sujeitos a regime Do Direito à Vida e à Saúde
jurídico administrativo em trabalhos privados ou em car-
gos, empregos e funções públicos. Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a prote-
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta ção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas
os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem sociais públicas que permitam o nascimento e o desen-
comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a volvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de
condição peculiar da criança e do adolescente como pes- existência.
soas em desenvolvimento. Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos
É pacífico que o processo de interpretação hoje faz programas e às políticas de saúde da mulher e de plane-
parte do Direito, principalmente se considerada a cons- jamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada,
tante evolução da sociedade, demandando diariamen- atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério
te por novos modos de aplicação das normas. Como e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no
a sociedade é dinâmica e o Direito existe para servi-la, âmbito do Sistema Único de Saúde.
cabe a ele adequar-se às novas exigências sociais, apli- § 1º O atendimento pré-natal será realizado por profis-
cando-se da maneira mais justa à vasta gama de ca- sionais da atenção primária.

102
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 2º Os profissionais de saúde de referência da ges- I - manter registro das atividades desenvolvidas, atra-
tante garantirão sua vinculação, no último trimestre da vés de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
gestação, ao estabelecimento em que será realizado o II - identificar o recém-nascido mediante o registro
parto, garantido o direito de opção da mulher. de sua impressão plantar e digital e da impressão digital
§ 3º Os serviços de saúde onde o parto for realizado da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela
assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nasci- autoridade administrativa competente;
dos alta hospitalar responsável e contrarreferência na III - proceder a exames visando ao diagnóstico e tera-
atenção primária, bem como o acesso a outros serviços pêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nas-
e a grupos de apoio à amamentação. cido, bem como prestar orientação aos pais;
§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar assis- IV - fornecer declaração de nascimento onde cons-
tência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e tem necessariamente as intercorrências do parto e do de-
pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar senvolvimento do neonato;
as consequências do estado puerperal. V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao
§ 5º A assistência referida no § 4º deste artigo de- neonato a permanência junto à mãe.
verá ser prestada também a gestantes e mães que ma- VI - acompanhar a prática do processo de amamen-
nifestem interesse em entregar seus filhos para adoção, tação, prestando orientações quanto à técnica adequada,
bem como a gestantes e mães que se encontrem em enquanto a mãe permanecer na unidade hospitalar, utili-
situação de privação de liberdade. zando o corpo técnico já existente.
§ 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de
acompanhante de sua preferência durante o período do cuidado voltadas à saúde da criança e do adolescente,
pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato. por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado o
§ 7º A gestante deverá receber orientação sobre princípio da equidade no acesso a ações e serviços para
aleitamento materno, alimentação complementar sau- promoção, proteção e recuperação da saúde.
dável e crescimento e desenvolvimento infantil, bem § 1º A criança e o adolescente com deficiência serão
como sobre formas de favorecer a criação de vínculos atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas
afetivos e de estimular o desenvolvimento integral da necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação
criança. e reabilitação.
§ 8º A gestante tem direito a acompanhamento sau- § 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente,
dável durante toda a gestação e a parto natural cuida- àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, pró-
doso, estabelecendo-se a aplicação de cesariana e ou- teses e outras tecnologias assistivas relativas ao trata-
tras intervenções cirúrgicas por motivos médicos. mento, habilitação ou reabilitação para crianças e adoles-
§ 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa da centes, de acordo com as linhas de cuidado voltadas às
gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas suas necessidades específicas.
de pré-natal, bem como da puérpera que não compare- § 3º Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
cer às consultas pós-parto. frequente de crianças na primeira infância receberão for-
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante mação específica e permanente para a detecção de sinais
e à mulher com filho na primeira infância que se encon- de risco para o desenvolvimento psíquico, bem como para
trem sob custódia em unidade de privação de liberdade, o acompanhamento que se fizer necessário.
ambiência que atenda às normas sanitárias e assisten- Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde,
ciais do Sistema Único de Saúde para o acolhimento do inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de
filho, em articulação com o sistema de ensino compe- cuidados intermediários, deverão proporcionar condições
tente, visando ao desenvolvimento integral da criança. para a permanência em tempo integral de um dos pais
ou responsável, nos casos de internação de criança ou
Art. 9º O poder público, as instituições e os empre- adolescente.
gadores propiciarão condições adequadas ao aleita- Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de cas-
mento materno, inclusive aos filhos de mães subme- tigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de
tidas a medida privativa de liberdade. maus-tratos contra criança ou adolescente serão obriga-
§ 1º Os profissionais das unidades primárias de toriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respec-
saúde desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou tiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais.
coletivas, visando ao planejamento, à implementação e § 1º As gestantes ou mães que manifestem interesse
à avaliação de ações de promoção, proteção e apoio em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamen-
ao aleitamento materno e à alimentação complementar te encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da In-
saudável, de forma contínua. fância e da Juventude.
§ 2º Os serviços de unidades de terapia intensiva § 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas de
neonatal deverão dispor de banco de leite humano ou entrada, os serviços de assistência social em seu compo-
unidade de coleta de leite humano. nente especializado, o Centro de Referência Especializado
Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de de Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Siste-
atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, ma de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente
são obrigados a: deverão conferir máxima prioridade ao atendimento das

103
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

crianças na faixa etária da primeira infância com suspeita Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabili-
ou confirmação de violência de qualquer natureza, formu- dade da integridade física, psíquica e moral da criança
lando projeto terapêutico singular que inclua intervenção e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem,
em rede e, se necessário, acompanhamento domiciliar. da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças,
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá pro- dos espaços e objetos pessoais.
gramas de assistência médica e odontológica para a Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da
prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer
a população infantil, e campanhas de educação sanitária tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexató-
para pais, educadores e alunos. rio ou constrangedor.
§ 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos Os direitos ao respeito e à dignidade abrangem a pro-
recomendados pelas autoridades sanitárias. teção da criança e do adolescente em todas facetas de sua
§ 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a aten- integridade: física, psíquica e moral.
ção à saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser
transversal, integral e intersetorial com as demais linhas educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de
de cuidado direcionadas à mulher e à criança. tratamento cruel ou degradante, como formas de corre-
§ 3º A atenção odontológica à criança terá função ção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto,
educativa protetiva e será prestada, inicialmente, antes pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos res-
de o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, ponsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas
e, posteriormente, no sexto e no décimo segundo anos de socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de
vida, com orientações sobre saúde bucal. cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
§ 4º A criança com necessidade de cuidados odon- Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:
tológicos especiais será atendida pelo Sistema Único de I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou pu-
Saúde. nitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança
§ 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos ou o adolescente que resulte em:
a) sofrimento físico; ou
seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou
b) lesão;
outro instrumento construído com a finalidade de facilitar
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou for-
a detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento
ma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adoles-
da criança, de risco para o seu desenvolvimento psíquico.
cente que:
a) humilhe; ou
Capítulo II
b) ameace gravemente; ou
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
c) ridicularize.
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada,
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liber- os responsáveis, os agentes públicos executores de medi-
dade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas das socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de
em processo de desenvolvimento e como sujeitos de di- cuidar de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los
reitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição ou protegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento
e nas leis. cruel ou degradante como formas de correção, disciplina,
Entre os direitos fundamentais garantidos à criança educação ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem
e ao adolescente que são especificados e aprofundados prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas,
no ECA estão os direitos à liberdade, ao respeito e à dig- que serão aplicadas de acordo com a gravidade do caso:
nidade. I - encaminhamento a programa oficial ou comunitá-
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguin- rio de proteção à família;
tes aspectos: II - encaminhamento a tratamento psicológico ou
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços psiquiátrico;
comunitários, ressalvadas as restrições legais; III - encaminhamento a cursos ou programas de
II - opinião e expressão; orientação;
III - crença e culto religioso; IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; especializado;
V - participar da vida familiar e comunitária, sem V - advertência.
discriminação; Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo se-
VI - participar da vida política, na forma da lei; rão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de ou-
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. tras providências legais.
O artigo 16 aborda diversas facetas do direito de li- Os artigos 18-A e 18-B foram incluídos no ECA pela Lei
berdade: locomoção, opinião e expressão, religiosa e po- nº 13.010, de 26 de junho de 2014, que estabelece o direito
lítica. Cria, ainda, duas facetes específicas deste direito: li- da criança e do adolescente de serem educados e cuidados
berdade para brincar e divertir-se e liberdade para buscar sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou de-
refúgio, auxílio e orientação, processos estes essenciais gradante. Também ficou conhecida como “Lei do Menino
para o desenvolvimento do infante. Bernardo” e “Lei da Palmada”.

104
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Em que pesem as aparentes boas intenções da lei no § 5o Será garantida a convivência integral da crian-
sentido de evitar situações extremas como a do menino ça com a mãe adolescente que estiver em acolhimento
Bernardo, assassinado após incontáveis ameaças e agres- institucional.
sões físicas por parte de seus responsáveis, seu conteúdo § 6o A mãe adolescente será assistida por equipe es-
é bastante criticado. Afinal, é claro que a lei coloca todo e pecializada multidisciplinar.
qualquer tipo de agressão física no mesmo patamar. Con- Como se depreende do artigo 19, a família natural é
siderado o teor da lei, mesmo uma palmada numa criança a regra e a família substituta é a exceção. A criança e o
é proibida. adolescente podem ser inseridos em programa de aco-
Os críticos da “Lei da Palmada” apontam que ela adota lhimento familiar ou institucional, pelo limite temporal de
uma posição extrema e impõe uma indevida intervenção 18 meses, cujo caráter é o de permitir a sua retirada de
do Estado nos ambientes familiares, retirando o poder dis- potencial ou efetiva situação de risco. Durante este pro-
ciplinar garantido aos pais na educação de seus filhos. grama, reavaliado a cada 3 meses, se verificará se é pos-
Os defensores da “Lei da Palmada” utilizam estudos de sível a reinserção no ambiente da família natural (o que
psicólogos e educadores para argumentar que não é ne- é preferencial) ou se é o caso de colocação definitiva em
cessário utilizar qualquer tipo de agressão física, mesmo a família substituta.
mais leve, para educar uma criança. Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste inte-
resse em entregar seu filho para adoção, antes ou logo
Capítulo III após o nascimento, será encaminhada à Justiça da In-
Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária fância e da Juventude.
Seção I § 1o A gestante ou mãe será ouvida pela equipe in-
Disposições Gerais terprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, que
apresentará relatório à autoridade judiciária, conside-
Quando se aborda o direito à convivência familiar e rando inclusive os eventuais efeitos do estado gestacional
comunitária no ECA confere-se destaque à distinção entre e puerperal.
família natural e substituta e aos procedimentos que carac- § 2o De posse do relatório, a autoridade judiciária
terizam a inserção e a retirada da criança e do adolescente poderá determinar o encaminhamento da gestante ou
destes ambientes. mãe, mediante sua expressa concordância, à rede pública
Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser de saúde e assistência social para atendimento especiali-
criado e educado no seio de sua família e, excepcional- zado.
mente, em família substituta, assegurada a convivência § 3o A busca à família extensa, conforme definida nos
familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu de- termos do parágrafo único do art. 25 desta Lei, respeitará
senvolvimento integral. o prazo máximo de 90 (noventa) dias, prorrogável por
§ 1o Toda criança ou adolescente que estiver inserido igual período.
em programa de acolhimento familiar ou institucional § 4o Na hipótese de não haver a indicação do ge-
terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 3 (três) nitor e de não existir outro representante da família
meses, devendo a autoridade judiciária competente, com extensa apto a receber a guarda, a autoridade judiciária
base em relatório elaborado por equipe interprofissio- competente deverá decretar a extinção do poder fami-
nal ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada liar e determinar a colocação da criança sob a guarda
pela possibilidade de reintegração familiar ou pela colo- provisória de quem estiver habilitado a adotá-la ou de
cação em família substituta, em quaisquer das modalida- entidade que desenvolva programa de acolhimento fami-
des previstas no art. 28 desta Lei. liar ou institucional.
§ 2o A permanência da criança e do adolescente em § 5o Após o nascimento da criança, a vontade da mãe
programa de acolhimento institucional não se prolongará ou de ambos os genitores, se houver pai registral ou pai
por mais de 18 (dezoito meses), salvo comprovada ne- indicado, deve ser manifestada na audiência a que se re-
cessidade que atenda ao seu superior interesse, devida- fere o § 1o do art. 166 desta Lei, garantido o sigilo sobre
mente fundamentada pela autoridade judiciária. a entrega.
§ 3º A manutenção ou a reintegração de criança ou § 6o (VETADO).
adolescente à sua família terá preferência em relação § 7o Os detentores da guarda possuem o prazo de
a qualquer outra providência, caso em que será esta in- 15 (quinze) dias para propor a ação de adoção, contado
cluída em serviços e programas de proteção, apoio e pro- do dia seguinte à data do término do estágio de convi-
moção, nos termos do § 1o do art. 23, dos incisos I e IV do vência.
caput do art. 101 e dos incisos I a IV do caput do art. 129 § 8o Na hipótese de desistência pelos genitores - ma-
desta Lei.  nifestada em audiência ou perante a equipe interprofissio-
§ 4º Será garantida a convivência da criança e do nal - da entrega da criança após o nascimento, a criança
adolescente com a mãe ou o pai privado de liberdade, será mantida com os genitores, e será determinado pela
por meio de visitas periódicas promovidas pelo respon- Justiça da Infância e da Juventude o acompanhamento
sável ou, nas hipóteses de acolhimento institucional, pela familiar pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias.
entidade responsável, independentemente de autorização § 9o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o
judicial. nascimento, respeitado o disposto no art. 48 desta Lei.

105
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 10. (VETADO). Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm


O artigo 19-A trata do procedimento aplicável nos direitos iguais e deveres e responsabilidades compar-
casos em que a família biológica pretenda entregar re- tilhados no cuidado e na educação da criança, devendo
cém-nascido para adoção, assegurando-se o acompa- ser resguardado o direito de transmissão familiar de suas
nhamento por equipe multidisciplinar e também a toma- crenças e culturas, assegurados os direitos da criança esta-
da de providências de busca de pessoa da família extensa belecidos nesta Lei.
apta a assumir o encargo. Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais
Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de não constitui motivo suficiente para a perda ou a sus-
acolhimento institucional ou familiar poderão participar pensão do poder familiar.
de programa de apadrinhamento. § 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize
§ 1o O apadrinhamento consiste em estabelecer e a decretação da medida, a criança ou o adolescente será
proporcionar à criança e ao adolescente vínculos exter- mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigato-
nos à instituição para fins de convivência familiar e riamente ser incluída em serviços e programas oficiais de
comunitária e colaboração com o seu desenvolvimen- proteção, apoio e promoção.
to nos aspectos social, moral, físico, cognitivo, educacio- §2º A condenação criminal do pai ou da mãe não im-
nal e financeiro. plicará a destituição do poder familiar, exceto na hipótese
§ 2o (VETADO). de condenação por crime doloso, sujeito à pena de re-
§ 3o Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou clusão, contra o próprio filho ou filha.
adolescente a fim de colaborar para o seu desenvolvi- Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão
mento. decretadas judicialmente, em procedimento contraditó-
§ 4o O perfil da criança ou do adolescente a ser apa- rio, nos casos previstos na legislação civil, bem como na
drinhado será definido no âmbito de cada programa hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e
de apadrinhamento, com prioridade para crianças ou obrigações a que alude o art. 22. 
adolescentes com remota possibilidade de reinserção O instituto do poder familiar surgiu no direito romano
familiar ou colocação em família adotiva. e era conhecido naquela época como pátrio poder, pois o
§ 5o Os programas ou serviços de apadrinhamento pai exercia mais poderes sobre os filhos do que a mãe, o
apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude poderão que vinha a representar um poder absoluto por parte do
ser executados por órgãos públicos ou por organiza- genitor, inclusive sobre a vida e a morte dos próprios filhos
ções da sociedade civil. .
§ 6o Se ocorrer violação das regras de apadrinha- O Código Civil de 1916 atribuiu o poder familiar ao pai,
mento, os responsáveis pelo programa e pelos serviços que era considerado o chefe da sociedade conjugal, e a
de acolhimento deverão imediatamente notificar a au- mãe possuía um papel secundário, conforme apontava o
toridade judiciária competente. artigo 380 do Código Civil de 1916 que dizia que “durante
Os programas de apadrinhamento visam permitir a o casamento compete o pátrio poder aos pais, exercendo-
convivência comunitária da criança e do adolescente que -o o marido com a colaboração da mulher [...]”.
estão no sistema de adoção, especialmente com relação De acordo com Santos Neto
àqueles que dificilmente sairão dele. : “[...] o exercício da autoridade parental pela mãe era
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do admitido apenas em caráter excepcional. Ao homem era
casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos dada, em condições normais, a titularidade exclusiva do
e qualificações, proibidas quaisquer designações dis- direito em pauta. Sua vontade prevalecia e contra ela não
criminatórias relativas à filiação. havia remédio previsto, salvo, é claro, no caso de compor-
O artigo 20 destaca a igualdade entre todos os filhos, tamento abusivo e contrário aos interesses dos menores”.
sejam eles havidos dentro ou fora do casamento, sejam O Código Civil de 2002, por seu turno, seguindo a toa-
eles inseridos em família natural ou substituta. da da Constituição Federal de 1988, trouxe significativas
A disciplina sobre a perda e suspensão do poder de modificações ao instituto em análise, surgindo então o
família no ECA se encontra em dois blocos, o primeiro chamado poder familiar, onde ambos os pais exercem de
do artigo 21 ao 24, que aborda questões materiais, e o forma igualitária o poder sobre os filhos menores, equili-
segundo do artigo 155 a 163, que foca em questões pro- brando dessa forma a relação familiar.
cedimentais: O artigo 1.630 do atual Código Civil, sem definir o po-
Art. 21. O poder familiar será exercido, em igual- der familiar, dispõe que “os filhos estão sujeitos ao poder
dade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do familiar enquanto menores”, ou seja, enquanto não com-
que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer pletarem dezoito anos ou não alcançarem a maioridade
deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à civil por meio de uma das formas previstas no artigo 5º,
autoridade judiciária competente para a solução da di- parágrafo único e seus incisos, do mesmo diploma legal.
vergência.  No mesmo sentido, o citado artigo 21, ECA.
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guar- O poder familiar, conhecido também como autoridade
da e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, parental, é um conjunto de direitos e deveres que são atri-
no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cum- buídos aos pais para que esses administrem de forma legal
prir as determinações judiciais. a pessoa dos filhos e também de seus bens.

106
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

“O poder familiar pode ser definido como um con- Artigo 1.637, CC. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua
junto de direitos e obrigações, quanto às pessoas e bens autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arrui-
do filho menor não emancipado, exercido, em igualda- nando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum
de de condições, por ambos os pais, para que possam parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe
desempenhar os encargos que a norma jurídica lhes im- pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres,
põe, tendo em vista o interesse e a proteção do filho” até suspendendo o poder familiar, quando convenha.
. Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício
Artigo 1.634, CC. Compete aos pais, quanto à pessoa do poder familiar ao pai ou à mãe condenados por senten-
dos filhos menores: ça irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois
I – dirigir-lhes a criação e educação; anos de prisão.
II – tê-los em sua companhia e guarda; Nestes casos, a suspensão não será definitiva, é apenas
III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para uma sanção imposta pelo Poder Judiciário visando preser-
casarem; var os interesses dos filhos, assim, diante da comprovação
IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento de que os problemas que levaram à suspensão desapare-
autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o so- ceram, o poder familiar poderá retornar aos genitores.
brevivo não puder exercer o poder familiar; Assim sendo, os pais podem ser suspensos de exercer
V – representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da os direitos e deveres decorrentes do poder familiar quando
vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que ficar evidenciado perante a autoridade competente o abuso.
forem partes, suprindo-lhes o consentimento; Como visto, existe, também, a probabilidade de se decretar a
VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; suspensão do poder familiar, caso um dos pais seja condena-
VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os do por crime cuja pena exceda a dois anos de prisão.
serviços próprios de sua idade e condição. Há, ainda, as hipóteses de perda ou destituição do po-
Em relação às suas características, o poder familiar é der familiar, que é a sanção mais grave imposta aos pais
indisponível e decorre da paternidade natural ou legal, por que faltarem com os deveres em relação aos filhos:
isso, não há a possibilidade de seu titular o transferir a ter- Artigo 1.638, CC. Perderá por ato judicial o poder fami-
ceiros por iniciativa própria, tampouco existindo a viabilidade liar o pai ou a mãe que:
de ocorrer a sua prescrição pelo desuso. O poder familiar é I – castigar imoderadamente o filho;
indelegável, sendo, em regra, irrenunciável e sempre intrans- II – deixar o filho em abandono;
ferível. Logo, não sendo possível ao titular do poder familiar III – praticar atos contrários à moral e aos bons costu-
abrir mão de seu dever, a renúncia é inviável, existindo ape- mes;
nas uma exceção, qual seja, a decorrente da adoção. IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no ar-
Existe apenas uma exceção, que é o caso do pedido de tigo antecedente.
colocação do menor em família substituta, disponibilizan- Nessa linha de pensamento, os artigos 24 e 22 do Estatu-
do o filho para a adoção, caso em que os direitos e deveres to da Criança e do Adolescente, citados anteriormente, além
decorrentes do poder familiar serão exercidos por novos de preverem a suspensão e destituição do poder familiar, tra-
titulares, ou seja, pelos pais adotivos. zem também os motivos que poderão acarretá-las.
A esse respeito, os direitos e deveres dos pais dispos- São bastante frequentes nos casos de pais que perdem
tos nos artigos 1.630 a 1.638 do Código Civil regulam, den- o poder familiar os atos de violência e espancamento; as-
tre os deveres e poderes decorrentes do poder familiar, sim como o de abandono, no qual os menores, ao se ve-
também os de ordem pessoal, ou seja, o cuidado existen- rem abandonados, começam a relacionar-se com pessoas
cial do menor, a educação, a correição, e os de ordem ma- delinquentes e usuárias de drogas, que não vão colaborar
terial, que envolvem a administração dos bens dos filhos. em nada com seu desenvolvimento e crescimento. Nessas
Os principais atributos do poder familiar são a guarda, a situações, os detentores do poder familiar podem sofrer a
criação e a educação, que se refletem nos deveres dos pais perda do poder familiar.
para com os filhos; tanto que, não cumprindo algum des- Cabe aqui consignar que, no caso da perda do poder
ses atributos, o detentor do poder poderá sofrer sanções familiar, se no decorrer do tempo o menor não vier a ser
cíveis e até criminais. adotado por outra família e as causas que levaram a perda
O poder familiar, conforme disposição do próprio orde- do poder desaparecerem, os genitores poderão requerer
namento civil, não é um instituto irrevogável e pode ser extin- judicialmente a reintegração do poder familiar, desde que
to, suspenso ou destituído a qualquer tempo. Basicamente, as comprovem realmente que o motivo que os levou a perder
formas de extinção se aplicam quando o exercício do poder esse poder já não existe mais.
familiar não é mais necessário; ao passo que as regras de per- Por seu turno, pelo que se verifica na análise da legis-
da e suspensão constituem casos de privação do exercício do lação, quando o legislador estabeleceu as hipóteses de ex-
poder familiar pelo descumprimento de seus deveres. tinção do poder familiar, em regra, o fez por perceber que a
Sendo assim, o Estado poderá interferir na relação fa- pessoa que a ele se encontrava sujeita adquiriu maturidade
miliar, com o objetivo de resguardar os interesses do me- o suficiente para guiar a sua vida, não havendo razão para
nor, sendo que a lei disciplina os casos em que o titular do que permaneça tal vínculo. Há casos, entretanto, que a vio-
poder familiar ficará privado de exercê-lo, seja de forma lação aos direitos inerentes ao poder familiar tornou irre-
temporária ou até mesmo definitiva. versível o seu restabelecimento, como ocorre na adoção.

107
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Artigo 1.635, CC. Extingue-se o poder familiar: I – pela Seção III


morte dos pais ou do filho; II – pela emancipação, nos ter- Da Família Substituta
mos do artigo 5º, parágrafo único; III – pela maioridade; IV Subseção I
– pela adoção; V – por decisão judicial, na forma do artigo Disposições Gerais
1.638.
A extinção do poder familiar é mais complexa, pois Dos artigos 28 a 32 aborda-se a família substituta, nos
nesta situação os pais, extintos do poder, não poderão seguintes termos:
requerer a reintegração do poder familiar se houve inter- Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á
ferência deles para sua extinção. Na maioria dos casos, é mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente
possível identificar facilmente a existência da extinção do da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos
poder familiar, por se tratarem de hipóteses objetivas. desta Lei.
§ 1o Sempre que possível, a criança ou o adolescen-
Seção II te será previamente ouvido por equipe interprofissio-
Da Família Natural nal, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de
compreensão sobre as implicações da medida, e terá sua
Dos artigos 25 a 27 o ECA aborda a família natural, nos opinião devidamente considerada.
seguintes termos: § 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade,
Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade será necessário seu consentimento, colhido em audiência.
formada pelos pais ou qualquer deles e seus descen- § 3o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o
dentes. grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afe-
Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou tividade, a fim de evitar ou minorar as consequências de-
ampliada aquela que se estende para além da unidade correntes da medida.
pais e filhos ou da unidade do casal, formada por pa- § 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob ado-
rentes próximos com os quais a criança ou adolescente ção, tutela ou guarda da mesma família substituta, res-
convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade.  salvada a comprovada existência de risco de abuso ou ou-
A família natural é composta por pais e filhos que formam tra situação que justifique plenamente a excepcionalidade
vínculo entre si desde o nascimento, por questão biológica. de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evi-
O conceito de família pode ser visto de uma manei- tar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais.
ra mais ampla, o que se denomina família extensa ou am- § 5o A colocação da criança ou adolescente em família
pliada. Por exemplo, avós e tios que sejam muito próximos substituta será precedida de sua preparação gradativa e
e participem diretamente do convívio familiar, formando acompanhamento posterior, realizados pela equipe inter-
para com a criança e o adolescente vínculos de afinidade profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,
e afetividade. preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis
Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão pela execução da política municipal de garantia do direito
ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, à convivência familiar.
no próprio termo de nascimento, por testamento, me- § 6o Em se tratando de criança ou adolescente indíge-
diante escritura ou outro documento público, qualquer na ou proveniente de comunidade remanescente de qui-
que seja a origem da filiação. lombo, é ainda obrigatório:
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o I - que sejam consideradas e respeitadas sua identida-
nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se de social e cultural, os seus costumes e tradições, bem
deixar descendentes. como suas instituições, desde que não sejam incompatíveis
Como o artigo 20 estabelece a igualdade entre os filhos com os direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e
havidos dentro ou fora do casamento, sentido em que se pela Constituição Federal;
compreende que tanto os filhos inseridos no matrimônio II - que a colocação familiar ocorra prioritariamen-
quanto os que não o estão fazem parte da família natural, o te no seio de sua comunidade ou junto a membros da
artigo 26 tece detalhes sobre a possibilidade de reconheci- mesma etnia;
mento do vínculo de filiação, que pode se dar antes mesmo III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão
do nascimento do filho ou extrapolar a sua vida, devendo federal responsável pela política indigenista, no caso de
ser feito em documento público. crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, pe-
Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é rante a equipe interprofissional ou multidisciplinar que irá
direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, acompanhar o caso. 
podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta
sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilida-
O direito à filiação é personalíssimo, indisponível e im- de com a natureza da medida ou não ofereça ambiente
prescritível. Mesmo que um filho passe a vida toda ou boa familiar adequado
parte de sua vida sem buscar o seu reconhecimento, ele Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá
não se perde. Logo, a ação de investigação de paternidade transferência da criança ou adolescente a terceiros ou
é imprescritível, pois também o é o vínculo que ela reco- a entidades governamentais ou não-governamentais,
nhece em caso de procedência. sem autorização judicial.

108
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Art. 31. A colocação em família substituta estrangei- § 2o Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal
ra constitui medida excepcional, somente admissível na cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá
modalidade de adoção. receber a criança ou adolescente mediante guarda, obser-
Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável vado o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei. 
prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar § 3º A União apoiará a implementação de serviços de
o encargo, mediante termo nos autos. acolhimento em família acolhedora como política pú-
Existem três formas de colocação em família substituta: blica, os quais deverão dispor de equipe que organize o
guarda, tutela e adoção. Neste sentido, a criança é retirada acolhimento temporário de crianças e de adolescentes em
da esfera do poder familiar de ambos os pais (o que pode residências de famílias selecionadas, capacitadas e acom-
acontecer na tutela e na adoção), ou então permanece panhadas que não estejam no cadastro de adoção.
vinculado ao poder familiar de ambos genitores enquanto § 4º Poderão ser utilizados recursos federais, esta-
apenas um ou um terceiro exerce a guarda (o que ocorre duais, distritais e municipais para a manutenção dos ser-
apenas na guarda). Trata-se de situação excepcional, eis viços de acolhimento em família acolhedora, facultando-se
que em regra a criança deve permanecer na família natural, o repasse de recursos para a própria família acolhedora.
vinculada ao poder familiar atribuído a ambos os pais. Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo,
Neste tipo de circunstância, deve-se buscar sempre mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério Público.
ouvir a criança ou o adolescente. Caso já possua 12 anos Na definição de Santos Neto
completos, a oitiva é obrigatória. Trata-se de respeito à au- a guarda trata-se de um “direito consistente na posse
tonomia da criança e do adolescente. de menor oponível a terceiros e que acarreta deveres de
Os irmãos devem permanecer unidos em qualquer cir- vigilância em relação a este”.
cunstância, sendo a separação de irmãos medida excep- No entender de Ishida
cional. Por exemplo, se um casal estiver disposto a adotar , a guarda é vinculada ao poder familiar, “todavia, pode
4 filhos e existirem 4 irmãos, será dada prioridade a ele, ocorrer a separação dos dois institutos, por exemplo, com
passando na frente dos demais candidatos à adoção. a separação judicial do marido e da mulher, onde o poder
familiar continua pertencendo aos dois, no entanto um só
Subseção II poderá ficar com a guarda da prole”. ou seja, tanto o pai
Da Guarda como a mãe são detentores do poder familiar mesmo após
a separação, mas nos tipos de guarda comum, apenas um
Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência terá a guarda do filho.
material, moral e educacional à criança ou adolescente, Logo, a dissolução do vínculo conjugal não exclui o
conferindo a seu detentor o direito de opor-se a tercei- poder familiar, mas pode excluir a guarda de um dos pais,
ros, inclusive aos pais. reservando-o apenas o direito de visitas, dependendo da
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, po- modalidade de guarda adotada. Com a dissolução da união
dendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos procedimen- conjugal, hoje se estabeleceu que a prole poderá ficar com
tos de tutela e adoção, exceto no de adoção por estrangeiros. o genitor que tiver melhor condições de assistir o filho.
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos “Mesmo que a mãe seja considerada culpada pela se-
casos de tutela e adoção, para atender a situações pecu- paração, pode o juiz deferir-lhe a guarda dos filhos me-
liares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável, nores, se estiver comprovado que o pai, por exemplo, é
podendo ser deferido o direito de representação para a alcoólatra e não tem condições de cuidar bem deles. Não
prática de atos determinados. se indaga, portanto, quem deu causa à separação e quem
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a con- é o cônjuge inocente, mas qual deles revela melhores con-
dição de dependente, para todos os fins e efeitos de direi- dições para exercer a guarda dos filhos menores, cujos
to, inclusive previdenciários. interesses foram colocados em primeiro plano. A solução
§ 4o Salvo expressa e fundamentada determinação em será, portanto, a mesma se ambos os pais forem culpados
contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando pela separação e se a hipótese for de ruptura da vida em
a medida for aplicada em preparação para adoção, o de- comum ou de separação por motivo de doença mental. A
ferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros regra amolda-se ao princípio do melhor interesse da crian-
não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, ça, identificado como direito fundamental na Constituição
assim como o dever de prestar alimentos, que serão objeto Federal (art. 5º, §2º), em razão da ratificação pela Conven-
de regulamentação específica, a pedido do interessado ou ção Internacional sobre os Direitos da Criança – ONU/89”
do Ministério Público.  .
Art. 34. O poder público estimulará, por meio de as- O juiz antes de decidir o mérito de uma ação de guar-
sistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhi- da, separação ou divórcio, tem que determinar a guarda
mento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente provisória do menor a um dos pais, o qual não se trata de
afastado do convívio familiar. um modelo de guarda, mas de definir uma situação mo-
§ 1o A inclusão da criança ou adolescente em programas mentânea em que a prole se encontra. Somente com o jul-
de acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento gamento do mérito será estabelecida a guarda definitiva,
institucional, observado, em qualquer caso, o caráter tem- que deverá adotar um dos modelos de guarda permitida
porário e excepcional da medida, nos termos desta Lei. no ordenamento jurídico brasileiro.

109
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

A guarda definitiva expressa o modelo de guarda c) Guarda Alternada ou Guarda Partilhada


adotado pelos pais. Porém, mesmo tratando-se de guar- Nesse modelo de guarda, cada um dos genitores terá
da definitiva, tal modelo poderá ser alterado a qualquer a possibilidade de ter sobre sua guarda o menor ou ado-
tempo, pois o que regula o instituto da guarda é o melhor lescente de forma alternada e exclusiva, ou seja, o casal
interesse do menor e, não sendo isso possível, a guarda é determinará o período em que o menor ficará com o pai
passível de modificação. ou com a mãe, existindo dessa forma sempre uma alter-
nância na guarda jurídica do menor. O período em que a
a) Guarda Comum ou Guarda Originária guarda ficará com o pai ou com a mãe na guarda alternada,
A guarda comum ou guarda originária não é uma poderá ser de um dia, uma semana, uma parte da sema-
guarda judicial, existindo quando os genitores possuem na, um mês, um ano, ou até mais, dependendo do acordo
vínculo matrimonial ou vivem em união estável e moram dos genitores, sendo que, ao término desse período, os
juntos com seus filhos, situação na qual exercem plena- papéis se invertem. Os direitos e deveres deste modelo de
mente e simultaneamente todos os poderes inerentes do guarda ficarão sempre com o cônjuge que estiver com a
poder familiar e, consequentemente, a guarda. Não existe guarda do menor, cabendo ao outro os direitos inerentes
a figura do guardião e nem arbitramento judicial sobre a do não guardião, ou seja, o de visita e o de fiscalização
questão. Ambos pais exercem juntos a guarda em pleni- .
tude. d) Guarda Dividida
Na guarda dividida, são os próprios pais que contes-
b) Guarda Unilateral ou Guarda Única tam e procuram novos meios de garantir uma maior parti-
Observando-se sempre o princípio do melhor interes- cipação na vida da prole, pois neste modelo o menor vive
se do menor, a guarda excepcionalmente poderá ser atri- em um lar fixo e determinado e recebe periodicamente a
buída de forma unilateral a uma terceira pessoa quando os visita do pai ou da mãe que não tem a guarda.
genitores não estiverem em condições de exercê-la, pois, Na guarda dividida o filho tem um lar fixo e recebe
conforme determina o artigo 1.583, §1º, do Código Civil, nele a visita de ambos os genitores em tempos diferentes,
“compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só sendo que a guarda é exercida por aquele que estiver com
dos genitores ou a alguém que o substitua”. Neste viés, a criança, o que é diferente da guarda unilateral, pois nela
dispõe o artigo 1.584, §5º, do mesmo diploma legal: “Se o a guarda é de um dos genitores e o infante vai, em dias
juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda determinados, receber a visita do outro não guardião.
do pai ou da mãe, deferirá a guarda à pessoa que revele
compatibilidade com a natureza da medida, considerados, e) Guarda por Aninhamento ou Nidação
de preferência, o grau de parentesco e as relações de afi- A guarda por aninhamento, conhecida também como
nidade e afetividade”. Vale ressaltar que a guarda unilateral guarda por nidação, ocorre quando a prole possui um lar
também é possível quando nenhum dos pais tem condições fixo e os pais se revezam, mudando-se para a casa do(s)
de exercê-la, por exemplo, atribuindo a guarda aos avós ou filho(s) em períodos alternados de tempo, para conviver e
aos tios. atender as suas necessidades. Basicamente, os pais se reve-
Usualmente, nesse contexto, podemos constatar a zam na residência do filho.
existência da guarda unilateral, que é atribuída somente
a um dos genitores, e da guarda compartilhada, que é f) Guarda Compartilhada
atribuída a ambos, sendo que a previsão das duas moda- Considerando a evolução da família, especialmente a da
lidades de guarda encontra-se no artigo 1.583, da Lei n. mulher na sociedade, bem como o grande número de separa-
11.698/2008, que constitui que “a guarda será unilateral ções ocorridas nos últimos anos, o ordenamento jurídico bus-
ou compartilhada”. ca com o instituto da guarda compartilhada evitar prejuízos
A Lei alterou a redação do artigo 1.583 e passou a ainda maiores aos filhos de casal separado, que, além de não
estabelecer nos incisos do §2º do dispositivo algumas das terem o convívio diário com um dos genitores, têm que viven-
situações que deverão ser consideradas pelo magistrado ciar os problemas conjugais de seus pais e ainda se tornarem,
ao atribuir a guarda a um dos genitores: afeto nas rela- em muitos casos, vítimas da Síndrome da Alienação Parental.
ções com o genitor e com o grupo familiar; saúde e segu- Segundo Akel
rança; e educação. , “a guarda compartilhada surgiu da necessidade de se
Na guarda unilateral atribuída a apenas um dos pais, encontrar uma maneira que fosse capaz de fazer com que
apesar de um dos genitores não ser o guardião, conti- os pais, que não mais convivem, e seus filhos mantivessem
nuam ambos a exercerem a guarda jurídica. A diferença os vínculos afetivos latentes, mesmo após o rompimento”.
é que, em virtude da guarda, o genitor guardião tem o Com esse propósito, a recente Lei nº 11.698/2008 insti-
poder de decisão, enquanto o genitor não guardião tem tuiu expressamente no ordenamento jurídico o instituto da
o poder de fiscalização, podendo contestar a decisão do guarda compartilhada. Embora tenha sido sancionada em
genitor guardião e até mesmo recorrer à justiça, caso en- 13 de junho de 2008 e publicada no Diário Oficial da União
tenda que a decisão tomada não seja a melhor para a em 16 de junho do mesmo ano, por força da vacatio legis
prole, conforme prevê o artigo 1.583, §3º, do Código Civil: instituída no artigo 2º, a lei somente entrou em vigor no
“a guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a de- país 60 (sessenta) dias após a sua publicação, ou seja, em
tenha a supervisionar os interesses dos filhos”. 16 de agosto de 2008 (vide anexo).

110
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

A nova lei trás em seu bojo o conceito de guarda com- § 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à
partilhada nos seguintes termos: “compreende-se por [...] qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recur-
guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o sos de manutenção da criança ou adolescente na família
exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não natural ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25
vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar desta Lei.
dos filhos comuns”. § 2o É vedada a adoção por procuração. 
Assim, de acordo com o novo diploma legal, pode- § 3o Em caso de conflito entre direitos e interesses do
-se verificar que na guarda compartilhada os pais terão os adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais biológi-
mesmos direitos e deveres com relação ao filho, ou seja, as cos, devem prevalecer os direitos e os interesses do ado-
tarefas serão divididas de forma igualitária, não sobrecar- tando.
regando somente um dos genitores. Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo,
dezoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a
Subseção III guarda ou tutela dos adotantes.
Da Tutela Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adota-
do, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessó-
Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a rios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e paren-
pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos. tes, salvo os impedimentos matrimoniais.
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe § 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do
a prévia decretação da perda ou suspensão do poder outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o
familiar e implica necessariamente o dever de guarda. cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos parentes.
Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qual- § 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado,
quer documento autêntico, conforme previsto no pará- seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descen-
grafo único do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro dentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de
de 2002 - Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias vocação hereditária.
após a abertura da sucessão, ingressar com pedido desti- Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito)
nado ao controle judicial do ato, observando o procedi- anos, independentemente do estado civil.
mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei. § 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do
Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão ob- adotando.
servados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta § 2o Para adoção conjunta, é indispensável que os ado-
Lei, somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na tantes sejam casados civilmente ou mantenham união es-
disposição de última vontade, se restar comprovado que tável, comprovada a estabilidade da família.
a medida é vantajosa ao tutelando e que não existe outra § 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos
pessoa em melhores condições de assumi-la. mais velho do que o adotando.
Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no § 4o Os divorciados, os judicialmente separados e os
art. 24. ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contanto
A tutela é forma de colocação de criança e adolescente que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde
em família substituta. Pressupõe, ao contrário da guarda, que o estágio de convivência tenha sido iniciado na cons-
a prévia destituição ou suspensão do poder familiar dos tância do período de convivência e que seja comprovada a
pais (família natural). Visa essencialmente a suprir carência existência de vínculos de afinidade e afetividade com aque-
de representação legal, assumindo o tutor tal munus na le não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionali-
ausência dos genitores. Na hipótese de os pais serem fale- dade da concessão.
cidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder fa- § 5o Nos casos do § 4o deste artigo, desde que de-
miliar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de monstrado efetivo benefício ao adotando, será assegurada
colocação em família substituta, este poderá ser formulado a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da
diretamente em cartório, em petição assinada pelos pró- Lei no10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil.
prios requerentes, dispensada a assistência por advogado § 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que,
(art. 166, ECA). Em outras circunstâncias, deve passar pelo após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no
crivo do Judiciário. curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar
Subseção IV reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos
Da Adoção legítimos.
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administra-
A disciplina do ECA a respeito da adoção também se ção e saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador
divide em dois blocos, um voltado a aspectos materiais, adotar o pupilo ou o curatelado.
do artigo 39 ao 52-D, e outro voltado a aspectos procedi- Art. 45. A adoção depende do consentimento dos
mentais, notadamente no que se refere à habilitação para a pais ou do representante legal do adotando.
adoção, do artigo 197-A a 197-D. § 1º O consentimento será dispensado em relação à
Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se- criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou
-á segundo o disposto nesta Lei. tenham sido destituídos do poder familiar.

111
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 2º Em se tratando de adotando maior de doze anos § 8o O processo relativo à adoção assim como outros a
de idade, será também necessário o seu consentimento. ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convi- seu armazenamento em microfilme ou por outros meios,
vência com a criança ou adolescente, pelo prazo máxi- garantida a sua conservação para consulta a qualquer tem-
mo de 90 (noventa) dias, observadas a idade da criança po.
ou adolescente e as peculiaridades do caso. § 9º Terão prioridade de tramitação os processos de
§ 1o O estágio de convivência poderá ser dispensado adoção em que o adotando for criança ou adolescente
se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do com deficiência ou com doença crônica.
adotante durante tempo suficiente para que seja possível § 10. O prazo máximo para conclusão da ação de ado-
avaliar a conveniência da constituição do vínculo. ção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única
§ 2o A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a vez por igual período, mediante decisão fundamentada da
dispensa da realização do estágio de convivência. autoridade judiciária.
§ 2o-A. O prazo máximo estabelecido no caput deste Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem
artigo pode ser prorrogado por até igual período, median- biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao proces-
te decisão fundamentada da autoridade judiciária. so no qual a medida foi aplicada e seus eventuais inciden-
§ 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente tes, após completar 18 (dezoito) anos.
ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência será Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção po-
de, no mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta derá ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoi-
e cinco) dias, prorrogável por até igual período, uma única to) anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência
vez, mediante decisão fundamentada da autoridade judi- jurídica e psicológica. 
ciária. Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o po-
§ 3o-A. Ao final do prazo previsto no § 3o deste artigo, der familiar dos pais naturais. 
deverá ser apresentado laudo fundamentado pela equipe Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada co-
mencionada no § 4o deste artigo, que recomendará ou não marca ou foro regional, um registro de crianças e ado-
o deferimento da adoção à autoridade judiciária. lescentes em condições de serem adotados e outro de
§ 4o O estágio de convivência será acompanhado pela pessoas interessadas na adoção.
equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e § 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia
da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Minis-
responsáveis pela execução da política de garantia do tério Público.
direito à convivência familiar, que apresentarão relatório § 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não
minucioso acerca da conveniência do deferimento da me- satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das
dida. hipóteses previstas no art. 29.
§ 5o O estágio de convivência será cumprido no territó- § 3o A inscrição de postulantes à adoção será prece-
rio nacional, preferencialmente na comarca de residência dida de um período de preparação psicossocial e jurídica,
da criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da
limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos res-
do juízo da comarca de residência da criança. ponsáveis pela execução da política municipal de garantia
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sen- do direito à convivência familiar.
tença judicial, que será inscrita no registro civil mediante § 4o Sempre que possível e recomendável, a prepara-
mandado do qual não se fornecerá certidão. ção referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com
§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou insti-
como pais, bem como o nome de seus ascendentes. tucional em condições de serem adotados, a ser realizado
§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica
o registro original do adotado. da Justiça da Infância e da Juventude, com apoio dos téc-
§ 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser nicos responsáveis pelo programa de acolhimento e pela
lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua execução da política municipal de garantia do direito à
residência. convivência familiar.
§ 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato po- § 5o Serão criados e implementados cadastros esta-
derá constar nas certidões do registro. duais e nacional de crianças e adolescentes em condições
§ 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do ado- de serem adotados e de pessoas ou casais habilitados à
tante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a adoção.
modificação do prenome. § 6o Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais
§ 6o Caso a modificação de prenome seja requerida residentes fora do País, que somente serão consultados na
pelo adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, obser- inexistência de postulantes nacionais habilitados nos ca-
vado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. dastros mencionados no § 5o deste artigo.
§ 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito § 7o As autoridades estaduais e federais em matéria de
em julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-
prevista no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força -lhes a troca de informações e a cooperação mútua, para
retroativa à data do óbito. melhoria do sistema.

112
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 8o A autoridade judiciária providenciará, no prazo inexistência de adotantes habilitados residentes no Brasil


de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e com perfil compatível com a criança ou adolescente, após
adolescentes em condições de serem adotados que não consulta aos cadastros mencionados nesta Lei;
tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das III - que, em se tratando de adoção de adolescente,
pessoas ou casais que tiveram deferida sua habilitação à este foi consultado, por meios adequados ao seu estágio
adoção nos cadastros estadual e nacional referidos no § de desenvolvimento, e que se encontra preparado para a
5o deste artigo, sob pena de responsabilidade. medida, mediante parecer elaborado por equipe interpro-
§ 9o Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela fissional, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28
manutenção e correta alimentação dos cadastros, com desta Lei.
posterior comunicação à Autoridade Central Federal Bra- § 2o Os brasileiros residentes no exterior terão prefe-
sileira. rência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional
§ 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência de criança ou adolescente brasileiro.
de pretendentes habilitados residentes no País com perfil § 3o A adoção internacional pressupõe a intervenção
compatível e interesse manifesto pela adoção de criança das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria
ou adolescente inscrito nos cadastros existentes, será reali- de adoção internacional. 
zado o encaminhamento da criança ou adolescente à ado- Art. 52. A adoção internacional observará o procedi-
ção internacional. mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as se-
§ 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interes- guintes adaptações:
sado em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar
que possível e recomendável, será colocado sob guarda de criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de
família cadastrada em programa de acolhimento familiar. habilitação à adoção perante a Autoridade Central em maté-
§ 12. A alimentação do cadastro e a convocação cri- ria de adoção internacional no país de acolhida, assim enten-
teriosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo dido aquele onde está situada sua residência habitual;
Ministério Público. II - se a Autoridade Central do país de acolhida con-
§ 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor siderar que os solicitantes estão habilitados e aptos para
de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previa- adotar, emitirá um relatório que contenha informações so-
mente nos termos desta Lei quando: bre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos
I - se tratar de pedido de adoção unilateral; solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e
II - for formulada por parente com o qual a criança ou médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua
adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade; aptidão para assumir uma adoção internacional;
III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guar- III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o
da legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a
desde que o lapso de tempo de convivência comprove a Autoridade Central Federal Brasileira;
fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja cons- IV - o relatório será instruído com toda a documen-
tatada a ocorrência de má-fé ou qualquer das situações tação necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado
previstas nos arts. 237 ou 238 desta Lei. por equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada
§ 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o da legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova
candidato deverá comprovar, no curso do procedimento, de vigência;
que preenche os requisitos necessários à adoção, confor- V - os documentos em língua estrangeira serão devida-
me previsto nesta Lei.  mente autenticados pela autoridade consular, observados
§ 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pessoas os tratados e convenções internacionais, e acompanhados
interessadas em adotar criança ou adolescente com defi- da respectiva tradução, por tradutor público juramentado;
ciência, com doença crônica ou com necessidades específi- VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exi-
cas de saúde, além de grupo de irmãos. gências e solicitar complementação sobre o estudo psicos-
Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na social do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no
qual o pretendente possui residência habitual em país-par- país de acolhida;
te da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade
Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Ado- Central Estadual, a compatibilidade da legislação estran-
ção Internacional, promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 geira com a nacional, além do preenchimento por parte
junho de 1999, e deseja adotar criança em outro país-parte dos postulantes à medida dos requisitos objetivos e sub-
da Convenção. jetivos necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que
§ 1o A adoção internacional de criança ou adolescen- dispõe esta Lei como da legislação do país de acolhida,
te brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar será expedido laudo de habilitação à adoção internacional,
quando restar comprovado: que terá validade por, no máximo, 1 (um) ano;
I - que a colocação em família adotiva é a solução ade- VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado
quada ao caso concreto; será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o
II - que foram esgotadas todas as possibilidades de Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encon-
colocação da criança ou adolescente em família adotiva tra a criança ou adolescente, conforme indicação efetuada
brasileira, com a comprovação, certificada nos autos, da pela Autoridade Central Estadual.

113
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 1o Se a legislação do país de acolhida assim o auto- § 5o A não apresentação dos relatórios referidos no §
rizar, admite-se que os pedidos de habilitação à adoção 4o deste artigo pelo organismo credenciado poderá acarre-
internacional sejam intermediados por organismos creden- tar a suspensão de seu credenciamento.
ciados. § 6o O credenciamento de organismo nacional ou es-
§ 2o Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira trangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção
o credenciamento de organismos nacionais e estrangei- internacional terá validade de 2 (dois) anos.
ros encarregados de intermediar pedidos de habilitação à § 7o A renovação do credenciamento poderá ser con-
adoção internacional, com posterior comunicação às Auto- cedida mediante requerimento protocolado na Autoridade
ridades Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais Central Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores
de imprensa e em sítio próprio da internet. ao término do respectivo prazo de validade.
§ 3o Somente será admissível o credenciamento de or- § 8o Antes de transitada em julgado a decisão que con-
ganismos que: cedeu a adoção internacional, não será permitida a
I - sejam oriundos de países que ratificaram a Con- § 9o Transitada em julgado a decisão, a autoridade ju-
venção de Haia e estejam devidamente credenciados pela diciária determinará a expedição de alvará com autoriza-
Autoridade Central do país onde estiverem sediados e no ção de viagem, bem como para obtenção de passaporte,
país de acolhida do adotando para atuar em adoção inter- constando, obrigatoriamente, as características da criança
nacional no Brasil; ou adolescente adotado, como idade, cor, sexo, eventuais
II - satisfizerem as condições de integridade moral, sinais ou traços peculiares, assim como foto recente e a
competência profissional, experiência e responsabilidade aposição da impressão digital do seu polegar direito, ins-
exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Central truindo o documento com cópia autenticada da decisão e
Federal Brasileira; certidão de trânsito em julgado.
III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua § 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a
formação e experiência para atuar na área de adoção in- qualquer momento, solicitar informações sobre a situação
ternacional; das crianças e adolescentes adotados.
IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamen- § 11. A cobrança de valores por parte dos organismos
to jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Au- credenciados, que sejam considerados abusivos pela Auto-
toridade Central Federal Brasileira. ridade Central Federal Brasileira e que não estejam devida-
§ 4o Os organismos credenciados deverão ainda: mente comprovados, é causa de seu descredenciamento.
I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condi- § 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem
ções e dentro dos limites fixados pelas autoridades compe- ser representados por mais de uma entidade credenciada
tentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhi- para atuar na cooperação em adoção internacional.
da e pela Autoridade Central Federal Brasileira; § 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou domi-
II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualifi- ciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano,
cadas e de reconhecida idoneidade moral, com comprova- podendo ser renovada.
da formação ou experiência para atuar na área de adoção § 14. É vedado o contato direto de representantes de
internacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com di-
Federal e aprovadas pela Autoridade Central Federal Bra- rigentes de programas de acolhimento institucional ou fa-
sileira, mediante publicação de portaria do órgão federal miliar, assim como com crianças e adolescentes em condi-
competente; ções de serem adotados, sem a devida autorização judicial.
III - estar submetidos à supervisão das autoridades § 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá
competentes do país onde estiverem sediados e no país limitar ou suspender a concessão de novos credenciamen-
de acolhida, inclusive quanto à sua composição, funciona- tos sempre que julgar necessário, mediante ato administra-
mento e situação financeira; tivo fundamentado.
IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, Art. 52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e
a cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, descredenciamento, o repasse de recursos provenientes
bem como relatório de acompanhamento das adoções in- de organismos estrangeiros encarregados de intermediar
ternacionais efetuadas no período, cuja cópia será encami- pedidos de adoção internacional a organismos nacio-
nhada ao Departamento de Polícia Federal; nais ou a pessoas físicas.
V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Au- Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão
toridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade ser efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Ado-
Central Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) lescente e estarão sujeitos às deliberações do respectivo
anos. O envio do relatório será mantido até a juntada de Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente. 
cópia autenticada do registro civil, estabelecendo a cida- Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no ex-
dania do país de acolhida para o adotado; terior em país ratificante da Convenção de Haia, cujo pro-
VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os cesso de adoção tenha sido processado em conformidade
adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Bra- com a legislação vigente no país de residência e atendido o
sileira cópia da certidão de registro de nascimento estran- disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da referida Convenção,
geira e do certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam será automaticamente recepcionada com o reingresso
concedidos. no Brasil.

114
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 1o Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea Para ser candidato a adoção deve ter cumprido uma
“c” do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença série de requisitos para se tornar hábil, estes requisitos são
ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. elencados na lei. O primeiro deles é a qualificação comple-
§ 2o O pretendente brasileiro residente no exterior em ta: da pessoa que deseja adotar ou das pessoas que dese-
país não ratificante da Convenção de Haia, uma vez rein- jam no caso de casais juntamente com os dados familiares,
gressado no Brasil, deverá requerer a homologação da sen- dados que vão completar não só a ficha do casal ou pes-
tença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça.  soa que deseja adotar, mais da família onde o menor vai
Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Bra- residir e ter sua formação os documentos pessoais como
sil for o país de acolhida, a decisão da autoridade compe- cópias de certidão de nascimento (quando solteiros), de
tente do país de origem da criança ou do adolescente será certidão de casamento (quando casados), cópias de de-
conhecida pela Autoridade Central Estadual que tiver claração de período de união estável, Cópias de Certidão
processado o pedido de habilitação dos pais adotivos, de identidade (RG), Comprovante da renda da pessoa ou
que comunicará o fato à Autoridade Central Federal e casal, comprovante que demostre que as condições vão
determinará as providências necessárias à expedição do suprir a necessidade de se incluir mais um membro naque-
Certificado de Naturalização Provisório. le lar, comprovante de moradia em que prove a pessoa ter
§ 1o A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério sua residência que acolherá o novo integrante.
Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela O interessado em adotar deve juntar atestados de
decisão se restar demonstrado que a adoção é manifesta- saúde física onde a pessoa vai demonstrar ser capaz de
mente contrária à ordem pública ou não atende ao interes- cuidar e garantir uma boa vida para o adotando e atesta-
se superior da criança ou do adolescente. do de saúde mental, comprovando que a pessoa é capaz
§ 2o Na hipótese de não reconhecimento da adoção, prevista legalmente.
no § 1o deste artigo, o Ministério Público deverá imediatamente Nos aspectos judiciais inerentes ao caso devem ser
requerer o que for de direito para resguardar os interesses da juntados Certidão de antecedentes criminais, que demos-
criança ou do adolescente, comunicando-se as providências à Au- tra conduta legal do indivíduo perante a sociedade, Cer-
toridade Central Estadual, que fará a comunicação à Autoridade
tidão negativa de distribuição civil, além da manifestação
Central Federal Brasileira e à Autoridade Central do país de origem. 
do M.P (Ministério Público) apresentando quesitos a se-
Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil
rem respondidos pela equipe interdisciplinar, designação
for o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida
de audiência para oitiva de testemunhas e requerentes,
no país de origem porque a sua legislação a delega ao país
solicitar juntada de documentos complementares que se-
de acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo com deci-
jam necessários. Deve ser obrigatório o estudo psicosso-
são, a criança ou o adolescente ser oriundo de país que
cial onde se testa a capacidade dos indivíduos para se tor-
não tenha aderido à Convenção referida, o processo de
narem pai ou mãe, o de incluir mais um membro junto aos
adoção seguirá as regras da adoção nacional.
A adoção no Código Civil de 1916 era tratada em seu filhos já existente. Os programas de capacitação também
capítulo V. A adoção seguia um critério de ter um filho devem ser aderido a este sistema, levando esclarecimen-
para que a família tivesse sucessão e para configurar a fa- tos aos pretendentes a adoção além, de manter contato
mília da época que só tinha uma configuração costumeira com a criança em regime de acolhimento familiar.
se houvesse pai, mãe e filhos. A idade de 30 (trinta) anos Sendo os adotantes inscritos são chamados por ordem
para que as pessoas pudessem não se arrepender do feito. cronológica de acordo com a habilitação, e que só poderá
Quando se falava do casamento criava-se o critério de que ser dispensada se for pelo melhor interesse do adotando.
tenha se passado 05 (cinco) anos de matrimônio para que Os seguintes princípios e diretrizes devem guiar a de-
o casal possa adotar, pois o ideal era que os filhos fossem cisão pela adoção:
consanguíneos. A adoção poderia se dissolver por vontade - Condição da criança e do adolescente como ser de
das partes. Caso houvessem filhos naturais reconhecidos direitos: As crianças são detentoras de direitos previstos
ou legitimados os filhos adotivos não participavam da su- na lei 8.069/90 e na Constituição Federal de 1988;
cessão além de não se desfazer o vínculo com os parentes - Proteção integral e prioritária: Toda e qualquer nor-
naturais, somente no que dizia respeito ao pátrio poder. ma contida dentro da lei 8.069/90 deve ser voltada a pro-
Houve um grande salto no que concerne a adoção que teção integral dos interesses do menor;
foi a letra trazida pela Constituição Federal de 1988 em seu - Responsabilidade primária e solidaria do poder pú-
artigo 227 e com o ECA, que versa sobre todas as garantias blico: tanto nos casos ressalvados pelo E.C.A (Estatuto da
constitucionais e no que tange a adoção vem dos artigos Criança e do Adolescente) quanto nos casos que a CF/88
39 ao 52-D falando sobre a regularização da adoção e traz (Constituição Federal de 1988) e demais objetos legais es-
como princípio basilar o melhor interesse da criança, além pecíficos, é, dever dos três poderes atuarem no que for
de ter como fundamento o afeto de pai para filho sem que necessário para a proteção do menor;
haja qualquer diferenciação para com os filhos biológicos. - Interesse superior da criança e do adolescente: me-
Ainda no que concerne a adoção, foi criada para dar diante a necessidade da intervenção estatal é necessário
efetividade ao ECA a Lei nº 12.010 de 03 de agosto de 2009, que se dê privilégio ao interesse do que for melhor para a
que tem o intuito de alterar o direito à convivência familiar criança e/ou adolescente. O primeiro interesse a ser obser-
mostrando com clareza como deve ocorrer a adoção. vado é o que trouxer melhor benefício a estes;

115
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

- Privacidade: A promoção dos direitos deve ser sem- Capítulo IV


pre feita respeitando a privação e o direito da imagem, a Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao
sua vida privada e a intimidade; Lazer
- Intervenção precoce: Ao primeiro sinal de perigo e
risco ao menor, o Estado deve intervir para reverter a si- Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à edu-
tuação presente; cação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa,
- Intervenção mínima; preparo para o exercício da cidadania e qualificação para
- Proporcionalidade e atualidade: Ser a atitude toma- o trabalho, assegurando-se-lhes:
da de acordo com a proporção de perigo existente no mo- I - igualdade de condições para o acesso e perma-
mento, evitando e revertendo o risco de morte; nência na escola;
- Responsabilidade parental: a intervenção deve ser a II - direito de ser respeitado por seus educadores;
princípio para que os pais tomem responsabilidade sobre III - direito de contestar critérios avaliativos, po-
seus filhos; dendo recorrer às instâncias escolares superiores;
- Prevalência da família: Primeiro se dará a preferência IV - direito de organização e participação em enti-
a família natural para que a criança continue com seus pais dades estudantis;
depois a preferência vai ser da família contínua (família V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
natural a primeira e extensa a segunda), em último caso residência.
a criança/adolescente vai ser direcionada a família subs- Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis
tituta. ter ciência do processo pedagógico, bem como participar
- Obrigatoriedade da informação: respeitando o es- da definição das propostas educacionais.
tágio de desenvolvimento e compreensão da criança ou Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, além de seus pais e responsáveis devem ser adolescente:
informados o motivo em que se dá a intervenção e como I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, in-
esta se processou; clusive para os que a ele não tiveram acesso na idade
- Oitiva obrigatória e participação: a criança ou ado- própria;
lescente separados ou na companhia de seus pais, respon- II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gra-
sáveis ou pessoas por ela indicados; bem como seus pais e tuidade ao ensino médio;
responsáveis, tem o direito de serem ouvidas e sua opinião III - atendimento educacional especializado aos por-
deve ser considerada pelas autoridades do judiciário. tadores de deficiência, preferencialmente na rede regu-
- Afastamento da criança e do adolescente do conví- lar de ensino;
vio familiar: É um processo contencioso que importara aos IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças
pais o direito do contraditório e da ampla defesa, este pro- de zero a cinco anos de idade;
cedimento é de competência do judiciário (procedimento V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da
judicial) artigo 28 §§ 1° e 2° do E.C.A; pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade
- Acolhimento familiar: medida de proteção criada de cada um;
para o amparo da criança até que seja resolvida a situação; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
- Guia de acolhimento: será elaborado pelo poder Ju- condições do adolescente trabalhador;
diciário um guia para encaminhar à criança a entidade de VII - atendimento no ensino fundamental, através de
acolhimento (guia deve conter a causa da retirada e per- programas suplementares de material didático-escolar,
manência do menor fora da sua família natural além de transporte, alimentação e assistência à saúde.
todos os dados) § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é
- Plano individual de atendimento: cada criança vai direito público subjetivo.
ter um plano a ser desenvolvido visando sua adaptação a § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo
nova família; poder público ou sua oferta irregular importa responsa-
- Destituição do poder familiar: Promovida pelo M.P bilidade da autoridade competente.
(Ministério público) sendo para isto necessário prévio avi- § 3º Compete ao poder público recensear os edu-
so a entidade de acolhimento familiar, ou, responsáveis candos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e
pela execução da política municipal de garantia do direito zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência à
a convivência familiar. escola.
- Cadastro de crianças a adolescentes à regime institu- Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de
cional e familiar: é um cadastro para crianças e adolescen- matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de en-
tes que necessitem de acolhimento familiar ou institucio- sino.
nal devido a algum registro de maus tratos. Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino
A Lei no 13.509 de 22 de novembro de 2017 surgiu fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos
com o propósito de maximizar a efetividade das disposi- de:
ções do ECA, inclusive no âmbito da adoção, possuindo a I - maus-tratos envolvendo seus alunos;
peculiaridade de ser mais rigorosa no que tange ao cum- II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão
primento de prazos para maior celeridade do processo. escolar, esgotados os recursos escolares;
III - elevados níveis de repetência.

116
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, expe- Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é
riências e novas propostas relativas a calendário, seriação, assegurada bolsa de aprendizagem.
currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas Toda criança e adolescente que necessitar receberá fo-
à inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino mento para que não se desvincule das atividades de ensi-
fundamental obrigatório. no. Trata-se de incentivo àquele que sem auxílio acabaria
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os va- entrando em situação irregular e trabalhando.
lores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze
social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes anos, são assegurados os direitos trabalhistas e previ-
a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura. denciários.
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da Uma vez que o adolescente está autorizado a trabalhar,
União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos mesmo que na condição de menor aprendiz, possui direi-
e espaços para programações culturais, esportivas e de tos trabalhistas e previdenciários.
lazer voltadas para a infância e a juventude. Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é as-
segurado trabalho protegido.
Capítulo V O adolescente que possui deficiência não pode ser expos-
Do Direito à Profissionalização e à Proteção no to a uma situação de risco em decorrência da atividade laboral.
Trabalho Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em re-
gime familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de em entidade governamental ou não-governamental, é ve-
quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz.  dado trabalho:
Preconiza o artigo 7º, XXXIII, CF a “proibição de traba- I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de
lho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoi- um dia e as cinco horas do dia seguinte;
to e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, II - perigoso, insalubre ou penoso;
salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”. III - realizado em locais prejudiciais à sua formação
Portanto, em decorrência da própria norma constitu- e ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;
cional, nenhuma criança ou adolescente pode trabalhar an- IV - realizado em horários e locais que não permitam a
tes dos 14 anos de idade. Evidentemente que há algumas frequência à escola.
exceções a esta regra, devidamente fiscalizadas pelo Con- O menor aprendiz está proibido de trabalhar no perío-
selho Tutelar, como é o caso dos artistas mirins. do noturno, em trabalho que o coloque exposto a pericu-
Entre 14 anos e 16 anos de idade somente será possí- losidade (ex.: em andaimes, em áreas com risco de incêndio
vel o trabalho na condição de menor aprendiz, cuja natu- ou choques), insalubridade (ex.: em freezers de frigoríficos,
reza é de ensino técnico-profissional, viabilizando a futura expostos a radiação) ou penosidade (ex.: excesso de força
inserção do adolescente no mercado de trabalho. física exigida).
A partir dos 16 anos, o menor pode trabalhar, mas não Art. 68. O programa social que tenha por base o tra-
no período noturno ou em condições de periculosidade e balho educativo, sob responsabilidade de entidade gover-
insalubridade. namental ou não-governamental sem fins lucrativos, deve-
Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é re- rá assegurar ao adolescente que dele participe condições
gulada por legislação especial, sem prejuízo do disposto de capacitação para o exercício de atividade regular
nesta Lei. remunerada.
Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação téc- § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade
nico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases laboral em que as exigências pedagógicas relativas ao de-
da legislação de educação em vigor. senvolvimento pessoal e social do educando prevalecem
Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos sobre o aspecto produtivo.
seguintes princípios: § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao en- trabalho efetuado ou a participação na venda dos produtos
sino regular; de seu trabalho não desfigura o caráter educativo.
II - atividade compatível com o desenvolvimento do Os programas sociais voltados à capacitação dos ado-
adolescente; lescentes devem sempre ter por objetivo educá-lo para
III - horário especial para o exercício das atividades. que ele adquira condições de inserir-se no mercado de
Aquele que trabalha na condição de menor aprendiz trabalho. Deve ser ensinado, logo, dele não se deve cobrar
é obrigado a frequentar a escola, devendo ser facilitadas tanta produtividade, mas sim deve ser avaliado pelo seu
as condições para que o faça, notadamente pelo estabe- aprendizado. O fato do trabalho ser remunerado não des-
lecimento de horário especial de trabalho. Além disso, a virtua este propósito.
atividade laboral deve ser compatível com as atividades de
ensino, até mesmo por se tratar de ensino técnico-profis- Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização
sionalizante. e à proteção no trabalho, observados os seguintes aspec-
Ex.: um jovem pode trabalhar no período matutino, fre- tos, entre outros:
quentar o SENAI na parte da tarde e ir ao colégio no ensino I - respeito à condição peculiar de pessoa em desen-
médio noturno. volvimento;

117
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

II - capacitação profissional adequada ao mercado de Parágrafo único. As famílias com crianças e adolescen-
trabalho. tes com deficiência terão prioridade de atendimento nas
Com efeito, profissionalização e proteção no traba- ações e políticas públicas de prevenção e proteção.
lho são direitos fundamentais garantidos ao adolescente, Art. 70-B. As entidades, públicas e privadas, que atuem nas
exigindo-se neste campo que sua condição peculiar ine- áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem contar,
rente ao processo de aprendizado seja respeitada e que o em seus quadros, com pessoas capacitadas a reconhecer
trabalho sirva para permitir a sua inserção no mercado de e comunicar ao Conselho Tutelar suspeitas ou casos de
trabalho. maus-tratos praticados contra crianças e adolescentes.
Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela co-
Título III municação de que trata este artigo, as pessoas encarrega-
Da Prevenção das, por razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão
Capítulo I ou ocupação, do cuidado, assistência ou guarda de crian-
Disposições Gerais ças e adolescentes, punível, na forma deste Estatuto, o in-
justificado retardamento ou omissão, culposos ou dolosos. 
Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a infor-
ameaça ou violação dos direitos da criança e do ado- mação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e
lescente. produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar
Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os de pessoa em desenvolvimento.
Municípios deverão atuar de forma articulada na elabo- Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem
ração de políticas públicas e na execução de ações des- da prevenção especial outras decorrentes dos princípios
tinadas a coibir o uso de castigo físico ou de tratamen- por ela adotados.
to cruel ou degradante e difundir formas não violentas Art. 73. A inobservância das normas de prevenção im-
de educação de crianças e de adolescentes, tendo como portará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica,
principais ações: nos termos desta Lei.
I - a promoção de campanhas educativas permanentes
para a divulgação do direito da criança e do adolescente de Capítulo II
serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou Da Prevenção Especial
de tratamento cruel ou degradante e dos instrumentos de Seção I
proteção aos direitos humanos; Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões
II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, e Espetáculos
do Ministério Público e da Defensoria Pública, com o Con-
selho Tutelar, com os Conselhos de Direitos da Criança e Art. 74. O poder público, através do órgão competente,
do Adolescente e com as entidades não governamentais regulará as diversões e espetáculos públicos, informan-
que atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da do sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se
criança e do adolescente; recomendem, locais e horários em que sua apresentação
III - a formação continuada e a capacitação dos profis- se mostre inadequada.
sionais de saúde, educação e assistência social e dos de- Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e es-
mais agentes que atuam na promoção, proteção e defesa petáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil
dos direitos da criança e do adolescente para o desenvolvi- acesso, à entrada do local de exibição, informação destaca-
mento das competências necessárias à prevenção, à iden- da sobre a natureza do espetáculo e a faixa etária especifi-
tificação de evidências, ao diagnóstico e ao enfrentamento cada no certificado de classificação.
de todas as formas de violência contra a criança e o ado- Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às di-
lescente; versões e espetáculos públicos classificados como ade-
IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pa- quados à sua faixa etária.
cífica de conflitos que envolvam violência contra a criança Parágrafo único. As crianças menores de dez anos somente
e o adolescente; poderão ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou
V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que exibição quando acompanhadas dos pais ou responsável.
visem a garantir os direitos da criança e do adolescente, Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exi-
desde a atenção pré-natal, e de atividades junto aos pais e birão, no horário recomendado para o público infanto ju-
responsáveis com o objetivo de promover a informação, a venil, programas com finalidades educativas, artísticas,
reflexão, o debate e a orientação sobre alternativas ao uso culturais e informativas.
de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante no Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado
processo educativo; ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua
VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para transmissão, apresentação ou exibição.
a articulação de ações e a elaboração de planos de atua- Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcio-
ção conjunta focados nas famílias em situação de violência, nários de empresas que explorem a venda ou aluguel de
com participação de profissionais de saúde, de assistência fitas de programação em vídeo cuidarão para que não
social e de educação e de órgãos de promoção, proteção e haja venda ou locação em desacordo com a classifica-
defesa dos direitos da criança e do adolescente. ção atribuída pelo órgão competente.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deve- § 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais
rão exibir, no invólucro, informação sobre a natureza da ou responsável, conceder autorização válida por dois
obra e a faixa etária a que se destinam. anos.
Art. 78. As revistas e publicações contendo material Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a
impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes de- autorização é dispensável, se a criança ou adolescen-
verão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a te:
advertência de seu conteúdo. I - estiver acompanhado de ambos os pais ou res-
Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as ca- ponsável;
pas que contenham mensagens pornográficas ou obsce- II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado
nas sejam protegidas com embalagem opaca. expressamente pelo outro através de documento com
Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao pú- firma reconhecida.
blico infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fo- Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial,
tografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas al- nenhuma criança ou adolescente nascido em territó-
coólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respeitar rio nacional poderá sair do País em companhia de es-
os valores éticos e sociais da pessoa e da família. trangeiro residente ou domiciliado no exterior.
Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que
explorem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere Parte Especial
ou por casas de jogos, assim entendidas as que realizem Título I
apostas, ainda que eventualmente, cuidarão para que não Da Política de Atendimento
seja permitida a entrada e a permanência de crianças Capítulo I
e adolescentes no local, afixando aviso para orientação Disposições Gerais
do público.
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da
Seção II criança e do adolescente far-se-á através de um conjun-
Dos Produtos e Serviços to articulado de ações governamentais e não-gover-
namentais, da União, dos estados, do Distrito Federal e
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adoles- dos municípios.
cente de: Art. 87. São linhas de ação da política de atendi-
I - armas, munições e explosivos; mento:
II - bebidas alcoólicas; I - políticas sociais básicas;
III - produtos cujos componentes possam causar de- II - serviços, programas, projetos e benefícios de
pendência física ou psíquica ainda que por utilização in- assistência social de garantia de proteção social e de
devida; prevenção e redução de violações de direitos, seus agra-
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aque- vamentos ou reincidências;
les que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de III - serviços especiais de prevenção e atendimento
provocar qualquer dano físico em caso de utilização in- médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-
devida; -tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
V - revistas e publicações a que alude o art. 78; IV - serviço de identificação e localização de pais,
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes. responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou ado- V - proteção jurídico-social por entidades de defe-
lescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento sa dos direitos da criança e do adolescente;
congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
pais ou responsável. abreviar o período de afastamento do convívio fami-
liar e a garantir o efetivo exercício do direito à convi-
Seção III vência familiar de crianças e adolescentes;
Da Autorização para Viajar VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob
forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do
Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial,
da comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou de crianças maiores ou de adolescentes, com necessida-
responsável, sem expressa autorização judicial. des específicas de saúde ou com deficiências e de grupos
§ 1º A autorização não será exigida quando: de irmãos.
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:
criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída I - municipalização do atendimento;
na mesma região metropolitana; II - criação de conselhos municipais, estaduais e
b) a criança estiver acompanhada: nacional dos direitos da criança e do adolescente, ór-
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro gãos deliberativos e controladores das ações em todos
grau, comprovado documentalmente o parentesco; os níveis, assegurada a participação popular paritária por
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo meio de organizações representativas, segundo leis fede-
pai, mãe ou responsável. ral, estaduais e municipais;

119
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

III - criação e manutenção de programas específicos, ça e do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições
observada a descentralização político-administrativa; e de suas alterações, do que fará comunicação ao Conselho
IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e mu- Tutelar e à autoridade judiciária.
nicipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos § 2o Os recursos destinados à implementação e ma-
da criança e do adolescente; nutenção dos programas relacionados neste artigo serão
V - integração operacional de órgãos do Judiciário, previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos públicos
Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e As- encarregados das áreas de Educação, Saúde e Assistência
sistência Social, preferencialmente em um mesmo local, Social, dentre outros, observando-se o princípio da priori-
para efeito de agilização do atendimento inicial a adoles- dade absoluta à criança e ao adolescente preconizado pelo
cente a quem se atribua autoria de ato infracional; caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput e
VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, parágrafo único do art. 4o desta Lei.
Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e en- § 3o Os programas em execução serão reavaliados pelo
carregados da execução das políticas sociais básicas e de Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adoles-
assistência social, para efeito de agilização do atendimen- cente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se
to de crianças e de adolescentes inseridos em programas critérios para renovação da autorização de funcionamento:
de acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei,
rápida reintegração à família de origem ou, se tal solução bem como às resoluções relativas à modalidade de atendi-
se mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em mento prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da
família substituta, em quaisquer das modalidades previstas Criança e do Adolescente, em todos os níveis; 
no art. 28 desta Lei; II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido,
VII - mobilização da opinião pública para a indispen- atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e
sável participação dos diversos segmentos da sociedade; pela Justiça da Infância e da Juventude; 
VIII - especialização e formação continuada dos pro- III - em se tratando de programas de acolhimento ins-
fissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção à titucional ou familiar, serão considerados os índices de su-
primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre direi- cesso na reintegração familiar ou de adaptação à família
tos da criança e sobre desenvolvimento infantil; substituta, conforme o caso.
IX - formação profissional com abrangência dos di- Art. 91. As entidades não-governamentais somente
versos direitos da criança e do adolescente que favoreça poderão funcionar depois de registradas no Conselho
a intersetorialidade no atendimento da criança e do ado- Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o
lescente e seu desenvolvimento integral; qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autori-
X - realização e divulgação de pesquisas sobre de- dade judiciária da respectiva localidade.
senvolvimento infantil e sobre prevenção da violência. § 1o Será negado o registro à entidade que: 
Art. 89. A função de membro do conselho nacional e a) não ofereça instalações físicas em condições ade-
dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da crian- quadas de habitabilidade, higiene, salubridade e seguran-
ça e do adolescente é considerada de interesse público ça;
relevante e não será remunerada. b) não apresente plano de trabalho compatível com os
princípios desta Lei;
Capítulo II c) esteja irregularmente constituída;
Das Entidades de Atendimento d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas.
Seção I e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e
Disposições Gerais deliberações relativas à modalidade de atendimento pres-
tado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e
Art. 90. As entidades de atendimento são respon- do Adolescente, em todos os níveis.
sáveis pela manutenção das próprias unidades, assim § 2o O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos,
como pelo planejamento e execução de programas de cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e
proteção e socioeducativos destinados a crianças e adoles- do Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de
centes, em regime de: sua renovação, observado o disposto no § 1o deste artigo.
I - orientação e apoio sociofamiliar; Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de
II - apoio socioeducativo em meio aberto; acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os se-
III - colocação familiar; guintes princípios:
IV - acolhimento institucional; I - preservação dos vínculos familiares e promoção
V - prestação de serviços à comunidade; da reintegração familiar;
VI - liberdade assistida; II - integração em família substituta, quando esgo-
VII - semiliberdade; e tados os recursos de manutenção na família natural ou ex-
VIII - internação. tensa;
§ 1o As entidades governamentais e não governamen- III - atendimento personalizado e em pequenos gru-
tais deverão proceder à inscrição de seus programas, es- pos;
pecificando os regimes de atendimento, na forma definida IV - desenvolvimento de atividades em regime de
neste artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da Crian- coeducação;

120
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

V - não desmembramento de grupos de irmãos; Art. 94. As entidades que desenvolvem programas
VI - evitar, sempre que possível, a transferência para de internação têm as seguintes obrigações, entre outras:
outras entidades de crianças e adolescentes abrigados; I - observar os direitos e garantias de que são titula-
VII - participação na vida da comunidade local; res os adolescentes;
VIII - preparação gradativa para o desligamento; II - não restringir nenhum direito que não tenha sido
IX - participação de pessoas da comunidade no pro- objeto de restrição na decisão de internação;
cesso educativo. III - oferecer atendimento personalizado, em peque-
§ 1o O dirigente de entidade que desenvolve progra- nas unidades e grupos reduzidos;
ma de acolhimento institucional é equiparado ao guardião, IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de
para todos os efeitos de direito.  respeito e dignidade ao adolescente;
§ 2o Os dirigentes de entidades que desenvolvem pro- V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da
gramas de acolhimento familiar ou institucional remeterão preservação dos vínculos familiares;
à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, VI - comunicar à autoridade judiciária, periodica-
relatório circunstanciado acerca da situação de cada crian- mente, os casos em que se mostre inviável ou impossível
ça ou adolescente acolhido e sua família, para fins da rea- o reatamento dos vínculos familiares;
valiação prevista no § 1o do art. 19 desta Lei.  VII - oferecer instalações físicas em condições ade-
§ 3o Os entes federados, por intermédio dos Poderes quadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segu-
Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a per- rança e os objetos necessários à higiene pessoal;
manente qualificação dos profissionais que atuam direta VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e
ou indiretamente em programas de acolhimento institucio- adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos;
nal e destinados à colocação familiar de crianças e adoles- IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odon-
centes, incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério tológicos e farmacêuticos;
Público e Conselho Tutelar.  X - propiciar escolarização e profissionalização;
§ 4o Salvo determinação em contrário da autorida- XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de
de judiciária competente, as entidades que desenvolvem lazer;
programas de acolhimento familiar ou institucional, se ne- XII - propiciar assistência religiosa àqueles que dese-
cessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos jarem, de acordo com suas crenças;
de assistência social, estimularão o contato da criança ou XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
adolescente com seus pais e parentes, em cumprimento ao XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com inter-
disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.  valo máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à
§ 5o As entidades que desenvolvem programas de aco- autoridade competente;
lhimento familiar ou institucional somente poderão rece- XV - informar, periodicamente, o adolescente inter-
ber recursos públicos se comprovado o atendimento dos nado sobre sua situação processual;
princípios, exigências e finalidades desta Lei.  XVI - comunicar às autoridades competentes todos os
§ 6o O descumprimento das disposições desta Lei pelo casos de adolescentes portadores de moléstias infecto-
dirigente de entidade que desenvolva programas de aco- contagiosas;
lhimento familiar ou institucional é causa de sua destitui- XVII - fornecer comprovante de depósito dos per-
ção, sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade tences dos adolescentes;
administrativa, civil e criminal.  XVIII - manter programas destinados ao apoio e
§ 7o Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos acompanhamento de egressos;
em acolhimento institucional, dar-se-á especial atenção à atua- XIX - providenciar os documentos necessários ao
ção de educadores de referência estáveis e qualitativamente exercício da cidadania àqueles que não os tiverem;
significativos, às rotinas específicas e ao atendimento das ne- XX - manter arquivo de anotações onde constem data
cessidades básicas, incluindo as de afeto como prioritárias.  e circunstâncias do atendimento, nome do adolescente,
Art. 93. As entidades que mantenham programa de seus pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade,
acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional acompanhamento da sua formação, relação de seus per-
e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia tences e demais dados que possibilitem sua identifica-
determinação da autoridade competente, fazendo comu- ção e a individualização do atendimento.
nicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz § 1o Aplicam-se, no que couber, as obrigações constan-
da Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade.  tes deste artigo às entidades que mantêm programas de
Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autorida- acolhimento institucional e familiar. 
de judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário § 2º No cumprimento das obrigações a que alude este
com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas artigo as entidades utilizarão preferencialmente os recur-
necessárias para promover a imediata reintegração familiar sos da comunidade.
da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão Art. 94-A. As entidades, públicas ou privadas, que abri-
não for isso possível ou recomendável, para seu encami- guem ou recepcionem crianças e adolescentes, ainda que
nhamento a programa de acolhimento familiar, institucio- em caráter temporário, devem ter, em seus quadros, pro-
nal ou a família substituta, observado o disposto no § 2o do fissionais capacitados a reconhecer e reportar ao Con-
art. 101 desta Lei.  selho Tutelar suspeitas ou ocorrências de maus-tratos.

121
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Seção II Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em


Da Fiscalização das Entidades conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aque-
las que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e
Art. 95. As entidades governamentais e não-gover- comunitários.
namentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo Parágrafo único. São também princípios que regem a
Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos aplicação das medidas:
Tutelares. I - condição da criança e do adolescente como sujeitos
Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos di-
contas serão apresentados ao estado ou ao município, reitos previstos nesta e em outras Leis, bem como na Cons-
conforme a origem das dotações orçamentárias. tituição Federal;
Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de aten- II - proteção integral e prioritária: a interpretação e
dimento que descumprirem obrigação constante do art. aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve
94, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal ser voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de
de seus dirigentes ou prepostos: que crianças e adolescentes são titulares;
I - às entidades governamentais: III - responsabilidade primária e solidária do poder pú-
a) advertência; blico: a plena efetivação dos direitos assegurados a crian-
b) afastamento provisório de seus dirigentes; ças e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Fede-
c) afastamento definitivo de seus dirigentes; ral, salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é
d) fechamento de unidade ou interdição de pro- de responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas
grama. de governo, sem prejuízo da municipalização do atendi-
II - às entidades não-governamentais: mento e da possibilidade da execução de programas por
a) advertência; entidades não governamentais;
b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas IV - interesse superior da criança e do adolescente: a
públicas; intervenção deve atender prioritariamente aos interesses
c) interdição de unidades ou suspensão de progra- e direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da
ma; consideração que for devida a outros interesses legítimos
d) cassação do registro. no âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso
§ 1o Em caso de reiteradas infrações cometidas por concreto;
entidades de atendimento, que coloquem em risco os V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da
direitos assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comu- criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela
nicado ao Ministério Público ou representado perante intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada;
autoridade judiciária competente para as providências VI - intervenção precoce: a intervenção das autorida-
cabíveis, inclusive suspensão das atividades ou dissolução des competentes deve ser efetuada logo que a situação de
da entidade.  perigo seja conhecida;
§ 2o As pessoas jurídicas de direito público e as orga- VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exer-
nizações não governamentais responderão pelos danos cida exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja
que seus agentes causarem às crianças e aos adolescen- ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à
tes, caracterizado o descumprimento dos princípios nor- proteção da criança e do adolescente;
teadores das atividades de proteção específica.  VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção
deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em
Título II que a criança ou o adolescente se encontram no momento
Das Medidas de Proteção em que a decisão é tomada;
Capítulo I IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser
Disposições Gerais efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres
para com a criança e o adolescente;
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adoles- X - prevalência da família: na promoção de direitos e na
cente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos proteção da criança e do adolescente deve ser dada preva-
nesta Lei forem ameaçados ou violados: lência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; família natural ou extensa ou, se isso não for possível, que
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou respon- promovam a sua integração em família adotiva;
sável; XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o adoles-
III - em razão de sua conduta. cente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e capaci-
dade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser
Capítulo II informados dos seus direitos, dos motivos que determinaram
Das Medidas Específicas de Proteção a intervenção e da forma como esta se processa;
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o ado-
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão lescente, em separado ou na companhia dos pais, de res-
ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como ponsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus
substituídas a qualquer tempo. pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar

122
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

nos atos e na definição da medida de promoção dos direi- § 5o O plano individual será elaborado sob a respon-
tos e de proteção, sendo sua opinião devidamente consi- sabilidade da equipe técnica do respectivo programa de
derada pela autoridade judiciária competente, observado o atendimento e levará em consideração a opinião da criança
disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável.
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no § 6o Constarão do plano individual, dentre outros:
art. 98, a autoridade competente poderá determinar, den- I - os resultados da avaliação interdisciplinar;
tre outras, as seguintes medidas: II - os compromissos assumidos pelos pais ou respon-
I - encaminhamento aos pais ou responsável, me- sável; e
diante termo de responsabilidade; III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas
II - orientação, apoio e acompanhamento tempo- com a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais
rários; ou responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabele- seja esta vedada por expressa e fundamentada determi-
cimento oficial de ensino fundamental; nação judicial, as providências a serem tomadas para sua
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou co- colocação em família substituta, sob direta supervisão da
munitários de proteção, apoio e promoção da família, da autoridade judiciária.
criança e do adolescente; § 7o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá
V - requisição de tratamento médico, psicológico no local mais próximo à residência dos pais ou do respon-
ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; sável e, como parte do processo de reintegração familiar,
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário sempre que identificada a necessidade, a família de origem
de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxi- será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio
cômanos; e de promoção social, sendo facilitado e estimulado o con-
VII - acolhimento institucional; tato com a criança ou com o adolescente acolhido.
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; § 8o Verificada a possibilidade de reintegração familiar,
IX - colocação em família substituta. o responsável pelo programa de acolhimento familiar ou
§ 1o  O acolhimento institucional e o acolhimento fa- institucional fará imediata comunicação à autoridade judi-
miliar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis ciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de 5
como forma de transição para reintegração familiar ou, não (cinco) dias, decidindo em igual prazo.
sendo esta possível, para colocação em família substituta, § 9o Em sendo constatada a impossibilidade de reinte-
não implicando privação de liberdade. gração da criança ou do adolescente à família de origem,
§ 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais após seu encaminhamento a programas oficiais ou comu-
para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e nitários de orientação, apoio e promoção social, será envia-
das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afasta- do relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual
mento da criança ou adolescente do convívio familiar é de conste a descrição pormenorizada das providências toma-
competência exclusiva da autoridade judiciária e importará das e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos
na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem da entidade ou responsáveis pela execução da política mu-
tenha legítimo interesse, de procedimento judicial conten- nicipal de garantia do direito à convivência familiar, para a
cioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou
o exercício do contraditório e da ampla defesa. guarda.
§ 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser enca- § 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o
minhados às instituições que executam programas de aco- prazo de 15 (quinze) dias para o ingresso com a ação de
lhimento institucional, governamentais ou não, por meio de destituição do poder familiar, salvo se entender necessária
uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciá- a realização de estudos complementares ou de outras pro-
ria, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros: vidências indispensáveis ao ajuizamento da demanda.
I - sua identificação e a qualificação completa de seus § 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca
pais ou de seu responsável, se conhecidos; ou foro regional, um cadastro contendo informações atua-
II - o endereço de residência dos pais ou do responsá- lizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de aco-
vel, com pontos de referência; lhimento familiar e institucional sob sua responsabilidade,
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados com informações pormenorizadas sobre a situação jurídica
em tê-los sob sua guarda; de cada um, bem como as providências tomadas para sua
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao reintegração familiar ou colocação em família substituta, em
convívio familiar. qualquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei.
§ 4o Imediatamente após o acolhimento da criança ou § 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o
do adolescente, a entidade responsável pelo programa de Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os
acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adoles-
individual de atendimento, visando à reintegração familiar, cente e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar
ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada sobre a implementação de políticas públicas que permitam
em contrário de autoridade judiciária competente, caso em reduzir o número de crianças e adolescentes afastados do
que também deverá contemplar sua colocação em família convívio familiar e abreviar o período de permanência em
substituta, observadas as regras e princípios desta Lei. programa de acolhimento.

123
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Art. 102. As medidas de proteção de que trata este O Juiz pode aplicar essas medidas isolada ou cumulati-
Capítulo serão acompanhadas da regularização do regis- vamente. Pode, também, substituir uma medida pela outra
tro civil. a qualquer tempo (art. 99 do ECA). Antes de aplicar qual-
§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o as- quer uma dessas medidas, o Juiz deverá ouvir os pais ou
sento de nascimento da criança ou adolescente será feito responsáveis, realizar estudo social do caso e ouvir o MP.
à vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da Essa oitiva do MP é obrigatória, sob pena de nulidade (art.
autoridade judiciária. 204 do ECA). Esse rol do art. 101 é taxativo.
§ 2º Os registros e certidões necessários à regulariza-
ção de que trata este artigo são isentos de multas, custas e Título III
emolumentos, gozando de absoluta prioridade. Da Prática de Ato Infracional
§ 3o Caso ainda não definida a paternidade, será defla- Capítulo I
grado procedimento específico destinado à sua averigua- Disposições Gerais
ção, conforme previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezem-
bro de 1992. Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta des-
§ 4o Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é dis- crita como crime ou contravenção penal.
pensável o ajuizamento de ação de investigação de pater- Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores
nidade pelo Ministério Público se, após o não compareci- de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.
mento ou a recusa do suposto pai em assumir a paternida- Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser con-
de a ele atribuída, a criança for encaminhada para adoção.  siderada a idade do adolescente à data do fato.
§ 5º Os registros e certidões necessários à inclusão, a Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança
qualquer tempo, do nome do pai no assento de nascimen- corresponderão as medidas previstas no art. 101.
to são isentos de multas, custas e emolumentos, gozando
de absoluta prioridade. Capítulo II
§ 6º São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação re- Dos Direitos Individuais
querida do reconhecimento de paternidade no assento de
nascimento e a certidão correspondente. Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua
As normas de prevenção do ECA são destinadas a liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por
crianças e adolescentes em situação de risco. Existirá situa- ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
ção de risco quando a criança ou o adolescente estiverem competente.
privados de assistência. Essa assistência pode ser material Parágrafo único. O adolescente tem direito à identifi-
(quando não se tem onde dormir, o que comer, vestir etc.), cação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser
moral (quando a criança ou o adolescente permanece em informado acerca de seus direitos.
local inadequado, como locais de prática de jogo, prostitui- Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o lo-
ção etc.) ou jurídica (quando não tem quem o represente). cal onde se encontra recolhido serão incontinenti comu-
O menor que pratica ato infracional está em situação nicados à autoridade judiciária competente e à família do
de risco por estar privado de assistência moral. A situação apreendido ou à pessoa por ele indicada.
de risco pode decorrer de ação ou omissão do Poder Pú- Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena
blico; ação ou omissão dos pais ou dos responsáveis; por de responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata.
conduta própria. Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser de-
O art. 101 do ECA traz um rol das medidas protetivas terminada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
diante da situação de risco. Essas medidas poderão ser aplica- Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e
das tanto para a criança quanto para o adolescente. São elas: basear-se em indícios suficientes de autoria e materia-
- encaminhamento da criança e do adolescente aos lidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.
pais ou responsáveis, mediante termo ou responsabilidade; Art. 109. O adolescente civilmente identificado não
- orientação, apoio e acompanhamentos temporários será submetido a identificação compulsória pelos ór-
por pessoa nomeada pelo Juiz; gãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito
- matrícula e frequência obrigatória em estabelecimen- de confrontação, havendo dúvida fundada.
to oficial de ensino fundamental (o Juiz determina aos pais O adolescente não é preso, é apreendido.
a obrigação); A internação é a medida mais gravosa para o adoles-
- inclusão em programa comunitário ou oficial de auxí- cente. O ECA permite a internação provisória durante o
lio à família, à criança e ao adolescente; processo. É fixado o prazo máximo de 45 dias. Os funda-
- requisição de tratamento médico, psicológico ou psi- mentos para que o Juiz decrete essa internação provisória
quiátrico em regime hospitalar (internação) ou ambulato- são: indícios suficientes de autoria e materialidade e neces-
rial (consultas periódicas); sidade da medida.
- abrigo em entidade (não se fala em orfanato). A dou- Esse prazo de internação provisória será descontado
trina chama de “Tutela de Estado” quando a criança está na internação definitiva. Em nenhuma hipótese a criança
em abrigo sob a proteção do Estado; poderá ser internada. Criança, que é todo aquele menor
- colocação em família substituta (é utilizada somente de 12 anos, não se sujeita a medida sócio-educativa, mas
em situações muito graves). apenas a medida de proteção.

124
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Capítulo III A internação é uma exceção, existindo hipóteses


Das Garantias Processuais legais para sua aplicação.
A medida de segurança não poderá ser aplica-
Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua da ao adolescente, tendo em vista ser medida para
liberdade sem o devido processo legal. maior de idade que apresenta periculosidade. No
Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre ou- caso de adolescente doente mental, será aplicada
tras, as seguintes garantias: medida de proteção, podendo ser requisitado trata-
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de mento médico.
ato infracional, mediante citação ou meio equivalente; O Juiz poderá cumular medidas socioeducati-
II - igualdade na relação processual, podendo con- vas, desde que sejam compatíveis (ex.: prestação de
frontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as serviço à comunidade cumulada com reparação de
provas necessárias à sua defesa; danos). Com exceção da internação, o Juiz poderá
III - defesa técnica por advogado; substituir as medidas socioeducativas de acordo com
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos o caso concreto, visto não haver taxatividade.
necessitados, na forma da lei; Se o Promotor discordar com a medida socioedu-
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autori- cativa aplicada, deverá entrar com recurso de apela-
dade competente; ção. Essa apelação do ECA possui juízo de retratação,
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou ou seja, o Juiz pode voltar atrás na decisão. O Tribu-
responsável em qualquer fase do procedimento. nal competente para julgar essa apelação é o TJ.

Capítulo IV Seção II
Das Medidas Socioeducativas Da Advertência
Seção I
Disposições Gerais Art. 115. A advertência consistirá em admoesta-
ção verbal, que será reduzida a termo e assinada.
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a au- Disposta no art. 115 do ECA, é uma medida só-
toridade competente poderá aplicar ao adolescente as cio-educativa que consiste em uma admoestação
seguintes medidas: verbal que é aplicada pelo Juiz ao adolescente e que
I - advertência; é reduzida a termo. É destinada a atos de menor gra-
II - obrigação de reparar o dano; vidade.
III - prestação de serviços à comunidade; Para a aplicação da advertência, o Juiz deve levar
IV - liberdade assistida; em consideração a prova da materialidade e indícios
V - inserção em regime de semi-liberdade; suficientes de autoria. É a única medida que o Juiz
VI - internação em estabelecimento educacional; poderá aplicar fundamentando-se somente em indí-
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. cios de autoria.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em
conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias Seção III
e a gravidade da infração. Da Obrigação de Reparar o Dano
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será
admitida a prestação de trabalho forçado. Art. 116. Em se tratando de ato infracional com
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou defi- reflexos patrimoniais, a autoridade poderá deter-
ciência mental receberão tratamento individual e es- minar, se for o caso, que o adolescente restitua a coi-
pecializado, em local adequado às suas condições. sa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra
Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. forma, compense o prejuízo da vítima.
99 e 100. Parágrafo único. Havendo manifesta impossibi-
Art. 114. A imposição das medidas previstas nos in- lidade, a medida poderá ser substituída por outra
cisos II a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas adequada.
suficientes da autoria e da materialidade da infração, Obrigação de reparar o dano (art. 116 do ECA).
ressalvada a hipótese de remissão, nos termos do art. Há um pressuposto: o ato infracional deve ter cau-
127. sado um dano à vítima. Essa reparação é para a víti-
Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada ma que sofreu o dano. É uma medida voltada para o
sempre que houver prova da materialidade e indícios su- adolescente, então deve ser estabelecida de acordo
ficientes da autoria. com a possibilidade de cumprimento pelo adoles-
As medidas socioeducativas dependem de um pro- cente (ex.: devolução da coisa furtada, pequenos ser-
cedimento judicial, só podendo ser aplicadas pelo Juiz. O viços a título de reparação etc.).
ECA apresenta dois critérios genéricos para a aplicação A jurisprudência admite que essa reparação de
de medida socioeducativa: dano pode ser aplicada à criança (ex.: devolução da
- capacidade do adolescente para cumprir a medida; coisa furtada).
- circunstâncias e gravidade da infração.

125
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Seção IV - promover socialmente o adolescente, bem como a


Da Prestação de Serviços à Comunidade sua família, inserindo-os em programas sociais. Promover
socialmente é fazer com que o adolescente realize ativida-
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste des valorizadas socialmente (teatro, música etc.);
na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por - supervisionar a frequência e o aproveitamento esco-
período não excedente a seis meses, junto a entidades lar do adolescente;
assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos - profissionalizar o adolescente (nos termos da EC n.
congêneres, bem como em programas comunitários ou 20);
governamentais. - apresentar relatório do caso ao Juiz.
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme
as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas du- Seção VI
rante jornada máxima de oito horas semanais, aos sába- Do Regime de Semiliberdade
dos, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não
prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determi-
trabalho. nado desde o início, ou como forma de transição para o
Disposta no art. 117 do ECA, o adolescente será obri- meio aberto, possibilitada a realização de atividades exter-
gado a prestar serviços em benefício da coletividade. São nas, independentemente de autorização judicial.
tarefas gratuitas de interesse geral junto a entidades as- § 1º São obrigatórias a escolarização e a profissio-
sistenciais, hospitais, escolas ou estabelecimentos congê- nalização, devendo, sempre que possível, ser utilizados os
neres. recursos existentes na comunidade.
Como a medida é mais gravosa, a lei fixa um prazo § 2º A medida não comporta prazo determinado
máximo de 6 meses para essa prestação e um máximo de aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à in-
8 horas semanais. Essas 8 horas poderão ser estabeleci- ternação.
das discricionariamente, desde que não prejudiquem a fre- Disposta no art. 120 do ECA, é uma medida que impor-
ta em privação de liberdade ao adolescente que pratica um
quência ao trabalho e à escola. Deverá ser levada em conta
ato infracional mais grave. O adolescente é retirado de sua
a aptidão do adolescente para a aplicação da medida.
família e colocado em um estabelecimento apropriado de
semiliberdade, podendo realizar atividades externas (estu-
Seção V
dar, trabalhar etc.) somente com autorização do diretor do
Da Liberdade Assistida
estabelecimento, não havendo necessidade de autorização
judicial. Pode ser usada tanto como medida principal quan-
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre
to como medida progressiva ou regressiva.
que se afigurar a medida mais adequada para o fim de
A semiliberdade não tem prazo fixado em lei, nem
acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. mínimo nem máximo. A doutrina e a jurisprudência deter-
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para minam a aplicação da medida por analogia dos prazos da
acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por internação, tendo como prazo máximo 3 anos. Há a obri-
entidade ou programa de atendimento. gatoriedade de escolarização e profissionalização na semi-
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo míni- liberdade.
mo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorro-
gada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o Seção VII
orientador, o Ministério Público e o defensor. Da Internação
Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a su-
pervisão da autoridade competente, a realização dos se- Art. 121. A internação constitui medida privativa da
guintes encargos, entre outros: liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcio-
I - promover socialmente o adolescente e sua família, nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, desenvolvimento.
em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência § 1º Será permitida a realização de atividades externas,
social; a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa de-
II - supervisionar a frequência e o aproveitamento es- terminação judicial em contrário.
colar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula; § 2º A medida não comporta prazo determinado, de-
III - diligenciar no sentido da profissionalização do vendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão
adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho; fundamentada, no máximo a cada seis meses.
IV - apresentar relatório do caso. § 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de inter-
É a última medida em que o adolescente permanece nação excederá a três anos.
com sua família. O Juiz irá determinar um acompanhamen- § 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo ante-
to permanente ao adolescente, designando, para isso, um rior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regi-
orientador, que poderá ser substituído a qualquer tempo. A me de semiliberdade ou de liberdade assistida.
lei fixa um prazo mínimo de 6 meses para a duração dessa § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos
medida. O orientador terá as seguintes obrigações legais: de idade.

126
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será prece- Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade físi-
dida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público. ca e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas
§ 7o A determinação judicial mencionada no § 1o pode- adequadas de contenção e segurança.
rá ser revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária. Disposta no art. 121 e seguintes do ECA, é a medida re-
Art. 122. A medida de internação só poderá ser apli- servada para os atos infracionais de natureza grave. O ECA
cada quando: estabelece princípios específicos para a internação, pois é
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante gra- medida de privação de liberdade sempre excepcional.
ve ameaça ou violência a pessoa; A internação deve durar o menor tempo possível (prin-
II - por reiteração no cometimento de outras infra- cípio da brevidade), é uma medida de exceção que só de-
ções graves; verá ser utilizada em último caso (princípio da excepcio-
III - por descumprimento reiterado e injustificável nalidade) e deve seguir o princípio do respeito à condição
da medida anteriormente imposta. peculiar do adolescente como pessoa em desenvolvimen-
§ 1o O prazo de internação na hipótese do inciso III to. Em nenhuma hipótese pode ser aplicada à criança.
deste artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, de- O ECA estabelece hipóteses de internação para:
vendo ser decretada judicialmente após o devido processo - prática de ato infracional mediante grave ameaça ou
legal. violência à pessoa;
§ 2º Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, - reiteração de infrações graves;
havendo outra medida adequada. - descumprimento reiterado e injustificado da medi-
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em enti- da anteriormente imposta (é uma hipótese de regressão).
dade exclusiva para adolescentes, em local distinto da- Neste caso, a internação não pode ultrapassar o prazo de
quele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação 3 meses.
por critérios de idade, compleição física e gravidade da Nas duas primeiras hipóteses, o prazo máximo para in-
infração. ternação é de 3 anos. Por força desse prazo, o ECA poderá
Parágrafo único. Durante o período de internação, in- atingir o maior de 18 anos. Em rigor, todas as medidas só-
clusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagó-
cio-educativas poderão atingir o maior de 18 anos.
gicas.
A medida só poderá ser aplicada com o devido pro-
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liber-
cesso legal e em nenhuma hipótese poderá ser aplicada à
dade, entre outros, os seguintes:
criança. Quando o adolescente completar 21 anos, a libe-
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante
ração será obrigatória. Caso o adolescente tenha passado
do Ministério Público;
por internação provisória, esses dias serão computados na
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
internação (detração). A diferença entre semi-liberdade e
III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
internação é que, nesta, o adolescente depende de auto-
IV - ser informado de sua situação processual, sempre
que solicitada; rização expressa do juiz para praticar atividades externas,
V - ser tratado com respeito e dignidade; ou seja, o adolescente internado somente se ausentará do
VI - permanecer internado na mesma localidade ou estabelecimento em que se achar se autorizado pelo juiz.
naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou res- O art. 123 dispõe que o local para a internação deve
ponsável; ser distinto do abrigo, devendo-se obedecer a separação
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente; por idade, composição física (tamanho), sexo e gravidade
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos; do ato infracional. Há, também, a obrigatoriedade de reali-
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e as- zação de atividades pedagógicas.
seio pessoal; O art. 124 dispõe sobre direitos específicos dos ado-
X - habitar alojamento em condições adequadas de lescentes:
higiene e salubridade; - entrevista pessoal com o representante do MP;
XI - receber escolarização e profissionalização; - entrevista reservada com seu defensor, dentre outros.
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer: As visitas podem ser suspensas pelo juiz, sob o funda-
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social; mento de segurança e proteção do menor, entretanto, em
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua cren- nenhuma hipótese o menor poderá ficar incomunicável.
ça, e desde que assim o deseje;
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor Capítulo V
de local seguro para guardá-los, recebendo comprovante Da Remissão
daqueles porventura depositados em poder da entidade;
XVI - receber, quando de sua desinternação, os docu- Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial
mentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade. para apuração de ato infracional, o representante do
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade. Ministério Público poderá conceder a remissão, como
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender tem- forma de exclusão do processo, atendendo às circuns-
porariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se tâncias e consequências do fato, ao contexto social, bem
existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialida- como à personalidade do adolescente e sua maior ou me-
de aos interesses do adolescente. nor participação no ato infracional.

127
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão um acordo, tendo em vista a lei falar em concessão e, ain-
da remissão pela autoridade judiciária importará na sus- da, pelo fato de não haver nenhum prejuízo para o adoles-
pensão ou extinção do processo. cente, não possuindo a remissão nenhum efeito, podendo
Art. 127. A remissão não implica necessariamente o ser concedida quantas vezes forem necessárias.
reconhecimento ou comprovação da responsabilidade,
nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo in- Título IV
cluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável
previstas em lei, exceto a colocação em regime de semi-li-
berdade e a internação. Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou respon-
Art. 128. A medida aplicada por força da remissão po- sável:
derá ser revista judicialmente, a qualquer tempo, median- I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou
te pedido expresso do adolescente ou de seu representan- comunitários de proteção, apoio e promoção da família;
te legal, ou do Ministério Público. II - inclusão em programa oficial ou comunitário de au-
Tem por conceito o perdão, a indulgência ao menor. xílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
Podem conceder remissão tanto o MP quanto o Juiz. São III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
hipóteses de natureza jurídica diferentes. A remissão ju- IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
dicial é forma de extinção ou de suspensão do processo V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acom-
(portanto, pressupõe o processo em curso). Já a remissão panhar sua frequência e aproveitamento escolar;
ministerial é forma de exclusão do processo (logo, deve VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente
ser concedida antes do processo - administrativamente). a tratamento especializado;
Quando a remissão é concedida pelo MP, segue-se o se- VII - advertência;
guinte procedimento: VIII - perda da guarda;
- o menor é ouvido pelo Promotor que concederá a IX - destituição da tutela;
remissão; X - suspensão ou destituição do poder familiar.
- o Promotor encaminha a remissão para homologação Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas
pelo Juiz; nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto
- se o Juiz não aceitar a remissão, deverá remeter para nos arts. 23 e 24.
o Procurador de Justiça, que poderá insistir na remissão Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opres-
ou designar outro representante do MP para apresentar são ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável,
representação contra o menor. Essa remissão concedida a autoridade judiciária poderá determinar, como medida
pelo MP é causa de exclusão do processo, visto que, ao cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum.
conceder a remissão, inexiste o processo. Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a
Quando a remissão é concedida pelo Juiz, segue-se o fixação provisória dos alimentos de que necessitem a crian-
seguinte procedimento: ça ou o adolescente dependentes do agressor.
- o Promotor oferece a representação;
- na audiência de apresentação, o menor será ouvido Capítulo I
pelo Juiz, que poderá decidir pela remissão; Disposições Gerais
- o representante do MP deverá, obrigatoriamente, ser
ouvido sobre a possibilidade da remissão antes de ela ser Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e au-
aplicada. A remissão concedida pelo Juiz causa extinção do tônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de
processo. Havendo discordância por parte do MP, este de- zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do ado-
verá ingressar com uma apelação para reformar a decisão lescente, definidos nesta Lei.
do Juiz. Art. 132. Em cada Município e em cada Região Admi-
Tanto a doutrina quanto a jurisprudência admitem a nistrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um)
cumulação da remissão com uma medida sócio-educativa Conselho Tutelar como órgão integrante da administração
que seja compatível (ex.: reparação do dano, advertência pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos
etc.). Neste caso, a remissão é causa de suspensão do pro- pela população local para mandato de 4 (quatro) anos,
cesso. permitida 1 (uma) recondução, mediante novo processo
O ECA traz quatro requisitos genéricos para a aplicação de escolha. 
da remissão, devendo ficar a critério do membro do MP ou Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho
do Juiz a sua concessão. São eles: Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos:
- circunstâncias e conseqüências do fato; I - reconhecida idoneidade moral;
- contexto social em que o fato foi praticado; II - idade superior a vinte e um anos;
- personalidade do agente; III - residir no município.
- maior ou menor participação no ato infracional.
A remissão, quer concedida pelo MP quer pelo Juiz, Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre
não implica confissão de culpa. Existe uma divergência na o local, dia e horário de funcionamento do Conselho
doutrina em considerar a remissão como um acordo ou Tutelar, inclusive quanto à remuneração dos respectivos
não. A posição majoritária entende que a remissão não é membros, aos quais é assegurado o direito a:

128
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

I - cobertura previdenciária;  Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente po-


II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de derão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de
1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal; quem tenha legítimo interesse.
III - licença-maternidade;
IV - licença-paternidade;  Capítulo III
V - gratificação natalina.  Da Competência
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária munici-
pal e da do Distrito Federal previsão dos recursos necessá- Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de com-
rios ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remunera- petência constante do art. 147.
ção e formação continuada dos conselheiros tutelares.
Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro Capítulo IV
constituirá serviço público relevante e estabelecerá presun- Da Escolha dos Conselheiros
ção de idoneidade moral. 
Art. 139. O processo para a escolha dos membros do
Capítulo II Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal e rea-
Das Atribuições do Conselho lizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal
dos Direitos da Criança e do Adolescente, e a fiscaliza-
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: ção do Ministério Público.
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses § 1o O processo de escolha dos membros do Conse-
previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas lho Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o território
no art. 101, I a VII; nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, apli- mês de outubro do ano subsequente ao da eleição pre-
cando as medidas previstas no art. 129, I a VII; sidencial. 
III - promover a execução de suas decisões, podendo § 2o A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia
para tanto: 10 de janeiro do ano subsequente ao processo de escolha. 
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, edu- § 3o No processo de escolha dos membros do Conselho
cação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, prometer ou
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer
de descumprimento injustificado de suas deliberações. natureza, inclusive brindes de pequeno valor. 
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato
que constitua infração administrativa ou penal contra os Capítulo V
direitos da criança ou adolescente; Dos Impedimentos
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua
competência; Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Con-
VI - providenciar a medida estabelecida pela autorida- selho marido e mulher, ascendentes e descendentes,
de judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o
o adolescente autor de ato infracional; cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e en-
VII - expedir notificações; teado.
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de Parágrafo único. Estende-se o impedimento do con-
criança ou adolescente quando necessário; selheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração judiciária e ao representante do Ministério Público com
da proposta orçamentária para planos e programas de atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício
atendimento dos direitos da criança e do adolescente; na comarca, foro regional ou distrital.
X - representar, em nome da pessoa e da família, con-
tra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso Título VI
II, da Constituição Federal; Do Acesso à Justiça
XI - representar ao Ministério Público para efeito das Capítulo I
ações de perda ou suspensão do poder familiar, após es- Disposições Gerais
gotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do
adolescente junto à família natural; Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público
profissionais, ações de divulgação e treinamento para o reconhe- e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
cimento de sintomas de maus-tratos em crianças e adolescentes. § 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, que dela necessitarem, através de defensor público ou ad-
o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do vogado nomeado.
convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Minis- § 2º As ações judiciais da competência da Justiça da
tério Público, prestando-lhe informações sobre os moti- Infância e da Juventude são isentas de custas e emolu-
vos de tal entendimento e as providências tomadas para a mentos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.
orientação, o apoio e a promoção social da família. 

129
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão repre- Tradicionalmente, são enumerados pela doutrina os
sentados e os maiores de dezesseis e menores de vinte seguintes princípios inerentes à jurisdição: investidura,
e um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, porque somente exerce jurisdição quem ocupa o cargo de
na forma da legislação civil ou processual. juiz; aderência ao território, posto que juízes somente têm
Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador autoridade no território nacional e nos limites de sua com-
especial à criança ou adolescente, sempre que os interes- petência; indelegabilidade, não podendo o Poder Judiciário
ses destes colidirem com os de seus pais ou responsável, delegar sua competência; inafastabilidade, pois a lei não
ou quando carecer de representação ou assistência legal pode excluir da apreciação do Poder Judiciário nenhuma
ainda que eventual. lesão ou ameaça a direito.
Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, po- Embora a jurisdição seja una, em termos doutrinários
liciais e administrativos que digam respeito a crianças e é possível classificá-la: a) quanto ao objeto – penal, traba-
adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional. lhista e civil (a civil é subsidiária, envolvendo todo direito
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato material que não seja penal ou trabalhista, não somente
não poderá identificar a criança ou adolescente, vedan- questões inerentes ao direito civil); b) quanto ao organismo
do-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação, pa- que a exerce – comum (estadual ou federal) ou especial
rentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobre- (trabalhista, militar, eleitoral); c) quanto à hierarquia – su-
nome.  perior e inferior.
Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a Neste sentido, com vistas a instrumentalizar a jurisdi-
que se refere o artigo anterior somente será deferida pela ção, impedindo que ela seja exercida de maneira caótica,
autoridade judiciária competente, se demonstrado o inte- ela é distribuída entre juízos e foros (órgãos competentes
resse e justificada a finalidade. em localidades determinadas). A esta distribuição das par-
O homem necessita do convívio social, não é um ser celas de jurisdição dá-se o nome de competência.
capaz de viver de maneira autônoma e totalmente des- As tutelas jurisdicionais diferenciadas, por sua vez, são
vinculada dos demais. Neste sentido, a imposição de re- aquelas que apresentam procedimentos diversos do comum.
gramentos e normas permitiu que a sociedade atingisse o Possuem procedimentos ditos especiais, os quais buscam
atual grau de evolução. garantir um processo mais rápido e compatível com as ne-
Obviamente, no ambiente social surgem conflitos de cessidades específicas do direito em discussão. No âmbito
interesses. Afinal, nem sempre os bens e valores existem do direito da criança e do adolescente, tem-se o estabeleci-
em quantidade suficiente para atender a todas as pessoas. mento de uma tutela jurisdicional diferenciada, eis que exis-
Inicialmente, estes conflitos eram solucionados pelos pró- tem inúmeras regras específicas aplicáveis aos processos que
prios envolvidos, na denominada fase da autotutela. envolvem de algum modo criança ou adolescente.
Contudo, a solução possibilidade pela autotutela era A noção de jurisdição inclusiva também se aplica à tu-
bastante insatisfatória e fazia com que prevalecesse a lei tela jurisdicional da criança e do adolescente. Basicamente,
do mais forte. Então, surgiu o Estado apresentando um refere-se à propiciação de uma jurisdição que esteja atenta
melhor sistema para a solução dos conflitos. às peculiaridades das minorias e dos grupos vulneráveis.
O Estado assumiu para si o poder-dever de dizer o No caso, as crianças e adolescentes são considerados um
Direito, de solucionar os conflitos, conhecido como juris- grupo vulnerável devido à condição especial que ocupam.
dição. Assim, o Estado irá elaborar as leis (direito material)
e prever como elas serão aplicadas (direito processual). A Capítulo II
autotutela para a ser punida como regra geral e o Estado Da Justiça da Infância e da Juventude
exerce a heterotutela por meio da atividade jurisdicional. Seção I
Jurisdição é o poder-dever do Estado de dizer o Direi- Disposições Gerais
to. Sendo assim, trata-se de atividade estatal exercida por
intermédio de um agente constituído com competência Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar
para exercê-la, o juiz. varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude,
Nos primórdios da humanidade não existia o Direito e cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionali-
nem existiam as leis, de modo que a justiça era feita pelas dade por número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura
próprias mãos, na denominada autotutela. Com a evolu- e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões.
ção das instituições, o Estado avocou para si o poder-de-
ver de solucionar os litígios, o que é feito pela jurisdição. Seção II
O poder-dever de dizer o direito é uno, apenas existin- Do Juiz
do uma separação de funções: o Legislativo regulamenta
normas gerais e abstratas (função legislativa) e o Judiciário Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz
as aplica no caso concreto (função jurisdicional). da Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa fun-
Entretanto, vale destacar que na sociedade contempo- ção, na forma da lei de organização judiciária local.
rânea, devido às inúmeras mazelas que se apresentaram Art. 147. A competência será determinada:
envolvendo o abarrotamento de processos pelo Judiciário, I - pelo domicílio dos pais ou responsável;
passou-se a incentivar a adoção de métodos de autocom- II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adoles-
posição, como conciliação, mediação e arbitragem. cente, à falta dos pais ou responsável.

130
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a d) casa que explore comercialmente diversões eletrô-
autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as re- nicas;
gras de conexão, continência e prevenção. e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e tele-
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à visão.
autoridade competente da residência dos pais ou respon- II - a participação de criança e adolescente em:
sável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a a) espetáculos públicos e seus ensaios;
criança ou adolescente. b) certames de beleza.
§ 3º Em caso de infração cometida através de trans- § 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade
missão simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais judiciária levará em conta, dentre outros fatores:
de uma comarca, será competente, para aplicação da pe- a) os princípios desta Lei;
nalidade, a autoridade judiciária do local da sede estadual b) as peculiaridades locais;
da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas c) a existência de instalações adequadas;
as transmissoras ou retransmissoras do respectivo estado. d) o tipo de freqüência habitual ao local;
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é com- e) a adequação do ambiente a eventual participação
petente para: ou freqüência de crianças e adolescentes;
I - conhecer de representações promovidas pelo Minis- f) a natureza do espetáculo.
tério Público, para apuração de ato infracional atribuído a § 2º As medidas adotadas na conformidade deste ar-
adolescente, aplicando as medidas cabíveis; tigo deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou determinações de caráter geral.
extinção do processo;
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; Seção III
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses Dos Serviços Auxiliares
individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao ado-
lescente, observado o disposto no art. 209; Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades sua proposta orçamentária, prever recursos para manuten-
em entidades de atendimento, aplicando as medidas ca- ção de equipe interprofissional, destinada a assessorar a
bíveis; Justiça da Infância e da Juventude.
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras
infrações contra norma de proteção à criança ou adoles- atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, for-
cente; necer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente,
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconse-
Tutelar, aplicando as medidas cabíveis. lhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros,
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou ado- tudo sob a imediata subordinação à autoridade judiciária, as-
lescente nas hipóteses do art. 98, é também competente a segurada a livre manifestação do ponto de vista técnico.
Justiça da Infância e da Juventude para o fim de: Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de servi-
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela; dores públicos integrantes do Poder Judiciário responsáveis
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, pela realização dos estudos psicossociais ou de quaisquer
perda ou modificação da tutela ou guarda; outras espécies de avaliações técnicas exigidas por esta Lei
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o ca- ou por determinação judicial, a autoridade judiciária poderá
samento; proceder à nomeação de perito, nos termos do art. 156 da Lei
d) conhecer de pedidos baseados em discordância pa- no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
terna ou materna, em relação ao exercício do poder fami-
liar; Capítulo III
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, Dos Procedimentos
quando faltarem os pais; Seção I
f) designar curador especial em casos de apresentação Disposições Gerais
de queixa ou representação, ou de outros procedimentos
judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei apli-
ou adolescente; cam-se subsidiariamente as normas gerais previstas na
g) conhecer de ações de alimentos; legislação processual pertinente.
h) determinar o cancelamento, a retificação e o supri- § 1o É assegurada, sob pena de responsabilidade, prio-
mento dos registros de nascimento e óbito. ridade absoluta na tramitação dos processos e procedi-
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, mentos previstos nesta Lei, assim como na execução dos
através de portaria, ou autorizar, mediante alvará: atos e diligências judiciais a eles referentes. 
I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, § 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos
desacompanhado dos pais ou responsável, em: seus procedimentos são contados em dias corridos, ex-
a) estádio, ginásio e campo desportivo; cluído o dia do começo e incluído o dia do vencimento,
b) bailes ou promoções dançantes; vedado o prazo em dobro para a Fazenda Pública e o Mi-
c) boate ou congêneres; nistério Público.

131
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não cor- Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade ju-
responder a procedimento previsto nesta ou em outra lei, diciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão do
a autoridade judiciária poderá investigar os fatos e or- poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o julgamen-
denar de ofício as providências necessárias, ouvido o to definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente con-
Ministério Público. fiado a pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade. 
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica § 1o Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária
para o fim de afastamento da criança ou do adolescente de determinará, concomitantemente ao despacho de citação
sua família de origem e em outros procedimentos necessa- e independentemente de requerimento do interessado, a
riamente contenciosos.  realização de estudo social ou perícia por equipe interpro-
Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214. fissional ou multidisciplinar para comprovar a presença de
A tutela sócio-individual abrange aspectos do direito uma das causas de suspensão ou destituição do poder fa-
da criança e do adolescente voltado à criança e ao adoles- miliar, ressalvado o disposto no § 10 do art. 101 desta Lei, e
cente individualmente concebidos, isto é, pensados como observada a Lei no 13.431, de 4 de abril de 2017.
sujeitos de direitos individuais que possam ser por eles § 2o Em sendo os pais oriundos de comunidades in-
exercidos. dígenas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe
A tutela sócio-educativa abrange aspectos do direito interprofissional ou multidisciplinar referida no § 1o des-
da criança e do adolescente voltados às atividades de en- te artigo, de representantes do órgão federal responsável
sino e aprendizagem, tanto no que se refere à educação pela política indigenista, observado o disposto no § 6o do
formal quanto em relação à educação informal. art. 28 desta Lei.
A tutela coletiva volta-se à proteção de direitos difu- Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez
sos e coletivos da criança e do adolescente. Aos direitos dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem
difusos e coletivos são conferidos mecanismos de tutela produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas
específicos para sua proteção, bem como atribuída com- e documentos.
petência para tanto a órgãos determinados que exercerão § 1º A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os
um papel representativo. No Brasil, destacam-se institui- meios para sua realização.
ções como o Ministério Público e a Defensoria Pública. Sem § 2º O requerido privado de liberdade deverá ser cita-
prejuízo, como visto, há remédios constitucionais que se do pessoalmente.
voltam à proteção de interesses desta categoria, como o § 3o Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça
mandado de segurança coletivo e a própria ação popu- houver procurado o citando em seu domicílio ou residência
lar, sem falar na ação civil pública, também mencionada no sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação,
texto constitucional. informar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qual-
Considerados os diferentes tipos de tutelas inseridas quer vizinho do dia útil em que voltará a fim de efetuar a
no direito da criança e do adolescente, justifica-se a tutela citação, na hora que designar, nos termos do art. 252 e se-
jurisdicional diferenciada, adaptada à condição em desen- guintes da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código
volvimento da criança e do adolescente, que deve ser ágil, de Processo Civil).
efetiva, atenta às peculiaridades do caso concreto. § 4o Na hipótese de os genitores encontrarem-se em
Os procedimentos especiais do ECA se referem a: per- local incerto ou não sabido, serão citados por edital no
da e suspensão de poder familiar, destituição de tutela, co- prazo de 10 (dez) dias, em publicação única, dispensado o
locação em família substituta, apuração de ato infracional envio de ofícios para a localização.
atribuído a adolescente, apuração de irregularidades em Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de
atendimento, apuração de infração administrativa às nor- constituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento e
mas de proteção da criança e do adolescente e habilitação de sua família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja
em adoção. nomeado dativo, ao qual incumbirá a apresentação de res-
posta, contando-se o prazo a partir da intimação do despa-
Seção II cho de nomeação.
Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de
liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no momen-
Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão to da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado de-
do poder familiar terá início por provocação do Ministé- fensor.
rio Público ou de quem tenha legítimo interesse. Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária re-
Art. 156. A petição inicial indicará: quisitará de qualquer repartição ou órgão público a apre-
I - a autoridade judiciária a que for dirigida; sentação de documento que interesse à causa, de ofício
II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência ou a requerimento das partes ou do Ministério Público.
do requerente e do requerido, dispensada a qualificação Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido
em se tratando de pedido formulado por representante do concluído o estudo social ou a perícia realizada por equi-
Ministério Público; pe interprofissional ou multidisciplinar, a autoridade judi-
III - a exposição sumária do fato e o pedido; ciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por 5
IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde (cinco) dias, salvo quando este for o requerente, e decidirá
logo, o rol de testemunhas e documentos. em igual prazo.

132
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requeri- Seção IV


mento das partes ou do Ministério Público, determinará Da Colocação em Família Substituta
a oitiva de testemunhas que comprovem a presença de
uma das causas de suspensão ou destituição do poder Dos artigos 165 a 170 estão descritos procedimentos
familiar previstas nos arts. 1.637 e 1.638 da Lei no 10.406, adotados na colocação em família substituta:
de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), ou no art. 24 des- Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos
ta Lei. de colocação em família substituta:
§ 2o (Revogado). I - qualificação completa do requerente e de seu even-
§ 3o Se o pedido importar em modificação de guarda, tual cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência des-
será obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da te;
criança ou adolescente, respeitado seu estágio de desen- II - indicação de eventual parentesco do requerente e
volvimento e grau de compreensão sobre as implicações de seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adoles-
da medida. cente, especificando se tem ou não parente vivo;
§ 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles fo- III - qualificação completa da criança ou adolescente e
rem identificados e estiverem em local conhecido, ressal- de seus pais, se conhecidos;
vados os casos de não comparecimento perante a Justiça IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento,
quando devidamente citados. anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão;
§ 5o Se o pai ou a mãe estiverem privados de liber- V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou
dade, a autoridade judicial requisitará sua apresentação rendimentos relativos à criança ou ao adolescente.
para a oitiva. Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-
Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judi- -se-ão também os requisitos específicos.
ciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido
cinco dias, salvo quando este for o requerente, designan- destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houve-
do, desde logo, audiência de instrução e julgamento. rem aderido expressamente ao pedido de colocação em
§ 1º (Revogado). família substituta, este poderá ser formulado diretamente
§ 2o Na audiência, presentes as partes e o Ministério em cartório, em petição assinada pelos próprios requeren-
Público, serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oral- tes, dispensada a assistência de advogado.
mente o parecer técnico, salvo quando apresentado por § 1o Na hipótese de concordância dos pais, o juiz:
escrito, manifestando-se sucessivamente o requerente, o I - na presença do Ministério Público, ouvirá as par-
requerido e o Ministério Público, pelo tempo de 20 (vinte) tes, devidamente assistidas por advogado ou por defensor
minutos cada um, prorrogável por mais 10 (dez) minutos. público, para verificar sua concordância com a adoção, no
§ 3o A decisão será proferida na audiência, podendo prazo máximo de 10 (dez) dias, contado da data do proto-
a autoridade judiciária, excepcionalmente, designar data colo da petição ou da entrega da criança em juízo, toman-
para sua leitura no prazo máximo de 5 (cinco) dias. do por termo as declarações; e
§ 4o Quando o procedimento de destituição de poder II - declarará a extinção do poder familiar.
familiar for iniciado pelo Ministério Público, não haverá § 2o O consentimento dos titulares do poder familiar
necessidade de nomeação de curador especial em favor será precedido de orientações e esclarecimentos prestados
da criança ou adolescente. pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Ju-
Art. 163. O prazo máximo para conclusão do pro- ventude, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevoga-
cedimento será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao bilidade da medida.
juiz, no caso de notória inviabilidade de manutenção do § 3o São garantidos a livre manifestação de vontade
poder familiar, dirigir esforços para preparar a criança ou dos detentores do poder familiar e o direito ao sigilo das
o adolescente com vistas à colocação em família substi- informações.
tuta. § 4o O consentimento prestado por escrito não terá va-
Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou lidade se não for ratificado na audiência a que se refere o
a suspensão do poder familiar será averbada à margem § 1o deste artigo.
do registro de nascimento da criança ou do adolescente. § 5o O consentimento é retratável até a data da reali-
zação da audiência especificada no § 1o deste artigo, e os
Seção III pais podem exercer o arrependimento no prazo de 10 (dez)
Da Destituição da Tutela dias, contado da data de prolação da sentença de extinção
do poder familiar.
Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o § 6o O consentimento somente terá valor se for dado
procedimento para a remoção de tutor previsto na lei após o nascimento da criança.
processual civil e, no que couber, o disposto na seção an- § 7o A família natural e a família substituta receberão a
terior. devida orientação por intermédio de equipe técnica inter-
A destituição da tutela pode, assim, ser decretada ju- profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,
dicialmente, em procedimento contraditório, nos casos preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis
previstos na legislação civil, bem como na hipótese de pela execução da política municipal de garantia do direito
descumprimento injustificado dos deveres e obrigações. à convivência familiar.

133
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a reque- Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou respon-
rimento das partes ou do Ministério Público, determinará sável, o adolescente será prontamente liberado pela auto-
a realização de estudo social ou, se possível, perícia por ridade policial, sob termo de compromisso e responsabili-
equipe interprofissional, decidindo sobre a concessão de dade de sua apresentação ao representante do Ministério
guarda provisória, bem como, no caso de adoção, sobre o Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro
estágio de convivência. dia útil imediato, exceto quando, pela gravidade do ato
Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda pro- infracional e sua repercussão social, deva o adolescente
visória ou do estágio de convivência, a criança ou o ado- permanecer sob internação para garantia de sua segurança
lescente será entregue ao interessado, mediante termo de pessoal ou manutenção da ordem pública.
responsabilidade. Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade poli-
Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pe- cial encaminhará, desde logo, o adolescente ao represen-
ricial, e ouvida, sempre que possível, a criança ou o ado- tante do Ministério Público, juntamente com cópia do auto
lescente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Público, de apreensão ou boletim de ocorrência.
pelo prazo de cinco dias, decidindo a autoridade judiciária § 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a au-
em igual prazo. toridade policial encaminhará o adolescente à entidade de
Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, atendimento, que fará a apresentação ao representante do
a perda ou a suspensão do poder familiar constituir pressu- Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas.
posto lógico da medida principal de colocação em família § 2º Nas localidades onde não houver entidade de
substituta, será observado o procedimento contraditório atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade po-
previsto nas Seções II e III deste Capítulo. licial. À falta de repartição policial especializada, o adoles-
Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda cente aguardará a apresentação em dependência separada
poderá ser decretada nos mesmos autos do procedimento, da destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipó-
observado o disposto no art. 35. tese, exceder o prazo referido no parágrafo anterior.
Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á o Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade
disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art. 47. policial encaminhará imediatamente ao representante do
Parágrafo único. A colocação de criança ou adolescen- Ministério Público cópia do auto de apreensão ou boletim
te sob a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhi- de ocorrência.
mento familiar será comunicada pela autoridade judiciária Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver
à entidade por este responsável no prazo máximo de 5 indícios de participação de adolescente na prática de ato
(cinco) dias. infracional, a autoridade policial encaminhará ao represen-
tante do Ministério Público relatório das investigações e
Seção V demais documentos.
Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Ado- Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato
lescente infracional não poderá ser conduzido ou transportado em
compartimento fechado de veículo policial, em condições
Art. 171. O adolescente apreendido por força de or- atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua
dem judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.
judiciária. Art. 179. Apresentado o adolescente, o representan-
Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de te do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto
ato infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade de apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial,
policial competente. devidamente autuados pelo cartório judicial e com infor-
Parágrafo único. Havendo repartição policial especiali- mação sobre os antecedentes do adolescente, procederá
zada para atendimento de adolescente e em se tratando de imediata e informalmente à sua oitiva e, em sendo possível,
ato infracional praticado em co-autoria com maior, preva- de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas.
lecerá a atribuição da repartição especializada, que, após as Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o re-
providências necessárias e conforme o caso, encaminhará presentante do Ministério Público notificará os pais ou
o adulto à repartição policial própria. responsável para apresentação do adolescente, podendo
Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional co- requisitar o concurso das polícias civil e militar.
metido mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo
autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, anterior, o representante do Ministério Público poderá:
parágrafo único, e 107, deverá: I - promover o arquivamento dos autos;
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e II - conceder a remissão;
o adolescente; III - representar à autoridade judiciária para aplicação
II - apreender o produto e os instrumentos da infração; de medida sócio-educativa.
III - requisitar os exames ou perícias necessários à com- Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou con-
provação da materialidade e autoria da infração. cedida a remissão pelo representante do Ministério Públi-
Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, co, mediante termo fundamentado, que conterá o resumo
a lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de dos fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária
ocorrência circunstanciada. para homologação.

134
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a au- § 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medi-
toridade judiciária determinará, conforme o caso, o cum- da de internação ou colocação em regime de semi-liberda-
primento da medida. de, a autoridade judiciária, verificando que o adolescente
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa não possui advogado constituído, nomeará defensor, de-
dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante des- signando, desde logo, audiência em continuação, podendo
pacho fundamentado, e este oferecerá representação, de- determinar a realização de diligências e estudo do caso.
signará outro membro do Ministério Público para apresen- § 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado,
tá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só no prazo de três dias contado da audiência de apresenta-
então estará a autoridade judiciária obrigada a homologar. ção, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.
Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do § 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemu-
Ministério Público não promover o arquivamento ou con- nhas arroladas na representação e na defesa prévia, cum-
ceder a remissão, oferecerá representação à autoridade pridas as diligências e juntado o relatório da equipe inter-
judiciária, propondo a instauração de procedimento para profissional, será dada a palavra ao representante do Mi-
aplicação da medida sócio-educativa que se afigurar a mais nistério Público e ao defensor, sucessivamente, pelo tempo
adequada. de vinte minutos para cada um, prorrogável por mais dez,
§ 1º A representação será oferecida por petição, que a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá
conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato decisão.
infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, po- Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado,
dendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada não comparecer, injustificadamente à audiência de apre-
pela autoridade judiciária. sentação, a autoridade judiciária designará nova data, de-
§ 2º A representação independe de prova pré-consti- terminando sua condução coercitiva.
tuída da autoria e materialidade. Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou sus-
Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a con- pensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase
clusão do procedimento, estando o adolescente internado do procedimento, antes da sentença.
provisoriamente, será de quarenta e cinco dias. Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer
Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judi- medida, desde que reconheça na sentença:
ciária designará audiência de apresentação do adolescente, I - estar provada a inexistência do fato;
decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção II - não haver prova da existência do fato;
da internação, observado o disposto no art. 108 e pará- III - não constituir o fato ato infracional;
grafo. IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido
§ 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão para o ato infracional.
cientificados do teor da representação, e notificados a Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o
comparecer à audiência, acompanhados de advogado. adolescente internado, será imediatamente colocado em
§ 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a liberdade.
autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente. Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida
§ 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade de internação ou regime de semi-liberdade será feita:
judiciária expedirá mandado de busca e apreensão, deter- I - ao adolescente e ao seu defensor;
minando o sobrestamento do feito, até a efetiva apresen- II - quando não for encontrado o adolescente, a seus
tação. pais ou responsável, sem prejuízo do defensor.
§ 4º Estando o adolescente internado, será requisitada § 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-
a sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais -á unicamente na pessoa do defensor.
ou responsável. § 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente,
Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela au- deverá este manifestar se deseja ou não recorrer da sen-
toridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabele- tença.
cimento prisional.
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as carac- Seção V-A
terísticas definidas no art. 123, o adolescente deverá ser Da Infiltração de Agentes de Polícia para a Investi-
imediatamente transferido para a localidade mais próxima. gação de Crimes contra a Dignidade Sexual de Criança
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adoles- e de Adolescente
cente aguardará sua remoção em repartição policial, desde
que em seção isolada dos adultos e com instalações apro- Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na internet
priadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco com o fim de investigar os crimes previstos nos arts. 240, 241,
dias, sob pena de responsabilidade. 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A,
Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou res- 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
ponsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mes- de 1940 (Código Penal), obedecerá às seguintes regras:
mos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado. I – será precedida de autorização judicial devidamente
§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os limi-
remissão, ouvirá o representante do Ministério Público, tes da infiltração para obtenção de prova, ouvido o Minis-
proferindo decisão. tério Público;

135
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Pú- Seção VI


blico ou representação de delegado de polícia e conterá a Da Apuração de Irregularidades em Entidade de
demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas Atendimento
dos policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investiga-
das e, quando possível, os dados de conexão ou cadastrais Art. 191. O procedimento de apuração de irregulari-
que permitam a identificação dessas pessoas; dades em entidade governamental e não-governamental
III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, terá início mediante portaria da autoridade judiciária ou re-
sem prejuízo de eventuais renovações, desde que o total presentação do Ministério Público ou do Conselho Tutelar,
não exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demons- onde conste, necessariamente, resumo dos fatos.
trada sua efetiva necessidade, a critério da autoridade ju- Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a au-
dicial. toridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar
§ 1º A autoridade judicial e o Ministério Público pode- liminarmente o afastamento provisório do dirigente da en-
rão requisitar relatórios parciais da operação de infiltração tidade, mediante decisão fundamentada.
antes do término do prazo de que trata o inciso II do § 1º Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no
deste artigo. prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo jun-
§ 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste tar documentos e indicar as provas a produzir.
artigo, consideram-se: Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo ne-
I – dados de conexão: informações referentes a hora, cessário, a autoridade judiciária designará audiência de ins-
data, início, término, duração, endereço de Protocolo de trução e julgamento, intimando as partes.
Internet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão; § 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o
II – dados cadastrais: informações referentes a nome e Ministério Público terão cinco dias para oferecer alegações
endereço de assinante ou de usuário registrado ou auten- finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
ticado para a conexão a quem endereço de IP, identificação § 2º Em se tratando de afastamento provisório ou de-
de usuário ou código de acesso tenha sido atribuído no finitivo de dirigente de entidade governamental, a auto-
momento da conexão. ridade judiciária oficiará à autoridade administrativa ime-
§ 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não diatamente superior ao afastado, marcando prazo para a
será admitida se a prova puder ser obtida por outros meios. substituição.
Art. 190-B. As informações da operação de infiltração § 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autorida-
serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela de judiciária poderá fixar prazo para a remoção das irregu-
autorização da medida, que zelará por seu sigilo. laridades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo
Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o será extinto, sem julgamento de mérito.
acesso aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Pú- § 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigen-
blico e ao delegado de polícia responsável pela operação, te da entidade ou programa de atendimento.
com o objetivo de garantir o sigilo das investigações.
Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a Seção VII
sua identidade para, por meio da internet, colher indícios Da Apuração de Infração Administrativa às Nor-
de autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts. mas de Proteção à Criança e ao Adolescente
240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts.
154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, Art. 194. O procedimento para imposição de penali-
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal). dade administrativa por infração às normas de proteção
Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar à criança e ao adolescente terá início por representação
de observar a estrita finalidade da investigação responderá do Ministério Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de
pelos excessos praticados. infração elaborado por servidor efetivo ou voluntário cre-
Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público po- denciado, e assinado por duas testemunhas, se possível.
derão incluir nos bancos de dados próprios, mediante proce- § 1º No procedimento iniciado com o auto de infração,
dimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as infor- poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a
mações necessárias à efetividade da identidade fictícia criada. natureza e as circunstâncias da infração.
Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata § 2º Sempre que possível, à verificação da infração se-
esta Seção será numerado e tombado em livro específico. guir-se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso con-
Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos ele- trário, dos motivos do retardamento.
trônicos praticados durante a operação deverão ser registra- Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apre-
dos, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e ao Mi- sentação de defesa, contado da data da intimação, que
nistério Público, juntamente com relatório circunstanciado. será feita:
Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados cita- I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for la-
dos no caput deste artigo serão reunidos em autos apar- vrado na presença do requerido;
tados e apensados ao processo criminal juntamente com o II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente ha-
inquérito policial, assegurando-se a preservação da identi- bilitado, que entregará cópia do auto ou da representação
dade do agente policial infiltrado e a intimidade das crian- ao requerido, ou a seu representante legal, lavrando certi-
ças e dos adolescentes envolvidos. dão;

136
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

III - por via postal, com aviso de recebimento, se não § 2 o Sempre que possível e recomendável, a eta-
for encontrado o requerido ou seu representante legal; pa obrigatória da preparação referida no § 1o deste
IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou não artigo incluirá o contato com crianças e adolescen-
sabido o paradeiro do requerido ou de seu representante legal. tes em regime de acolhimento familiar ou institu-
Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo le- cional, a ser realizado sob orientação, supervisão e
gal, a autoridade judiciária dará vista dos autos do Ministé- avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e
rio Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo. da Juventude e dos grupos de apoio à adoção, com
Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de
procederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo acolhimento familiar e institucional e pela execução
necessário, designará audiência de instrução e julgamento. da política municipal de garantia do direito à convi-
Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se- vência familiar.
-ão sucessivamente o Ministério Público e o procurador § 3 o É recomendável que as crianças e os adoles-
do requerido, pelo tempo de vinte minutos para cada um, centes acolhidos institucionalmente ou por família
prorrogável por mais dez, a critério da autoridade judiciá- acolhedora sejam preparados por equipe interpro-
ria, que em seguida proferirá sentença. fissional antes da inclusão em família adotiva.
Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da
Seção VIII participação no programa referido no art. 197-C des-
Da Habilitação de Pretendentes à Adoção ta Lei, a autoridade judiciária, no prazo de 48 (qua-
renta e oito) horas, decidirá acerca das diligências
Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no requeridas pelo Ministério Público e determinará a
Brasil, apresentarão petição inicial na qual conste:  juntada do estudo psicossocial, designando, confor-
I - qualificação completa;  me o caso, audiência de instrução e julgamento.
II - dados familiares; Parágrafo único. Caso não sejam requeridas di-
III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou ligências, ou sendo essas indeferidas, a autoridade
casamento, ou declaração relativa ao período de união es- judiciária determinará a juntada do estudo psicosso-
tável; cial, abrindo a seguir vista dos autos ao Ministério
IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Ca- Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo. 
dastro de Pessoas Físicas; Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante
V - comprovante de renda e domicílio; será inscrito nos cadastros referidos no art. 50 des-
VI - atestados de sanidade física e mental; ta Lei, sendo a sua convocação para a adoção feita
VII - certidão de antecedentes criminais; de acordo com ordem cronológica de habilitação e
VIII - certidão negativa de distribuição cível.  conforme a disponibilidade de crianças ou adoles-
Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48 centes adotáveis.
(quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério § 1 o A ordem cronológica das habilitações so-
Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá: mente poderá deixar de ser observada pela autori-
I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equi- dade judiciária nas hipóteses previstas no § 13 do
pe interprofissional encarregada de elaborar o estudo téc- art. 50 desta Lei, quando comprovado ser essa a me-
nico a que se refere o art. 197-C desta Lei; lhor solução no interesse do adotando.
II - requerer a designação de audiência para oitiva dos § 2 o A habilitação à adoção deverá ser renova-
postulantes em juízo e testemunhas; da no mínimo trienalmente mediante avaliação por
III - requerer a juntada de documentos complementares equipe interprofissional.
e a realização de outras diligências que entender necessárias.  § 3 o Quando o adotante candidatar-se a uma
Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equi- nova adoção, será dispensável a renovação da ha-
pe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da bilitação, bastando a avaliação por equipe interpro-
Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que fissional.
conterá subsídios que permitam aferir a capacidade e o § 4 o Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo ha-
preparo dos postulantes para o exercício de uma pater- bilitado, à adoção de crianças ou adolescentes indi-
nidade ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e cados dentro do perfil escolhido, haverá reavaliação
princípios desta Lei. da habilitação concedida.
§ 1o É obrigatória a participação dos postulantes em § 5 o A desistência do pretendente em relação à
programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventu- guarda para fins de adoção ou a devolução da crian-
de, preferencialmente com apoio dos técnicos responsá- ça ou do adolescente depois do trânsito em julgado
veis pela execução da política municipal de garantia do di- da sentença de adoção importará na sua exclusão
reito à convivência familiar e dos grupos de apoio à adoção dos cadastros de adoção.
devidamente habilitados perante a Justiça da Infância e da Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da
Juventude, que inclua preparação psicológica, orientação habilitação à adoção será de 120 (cento e vinte)
e estímulo à adoção inter-racial, de crianças ou de ado- dias, prorrogável por igual período, mediante deci-
lescentes com deficiência, com doenças crônicas ou com são fundamentada da autoridade judiciária.
necessidades específicas de saúde, e de grupos de irmãos.

137
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Capítulo IV Capítulo V
Dos Recursos Do Ministério Público

Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da In- Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta
fância e da Juventude, inclusive os relativos à execução Lei serão exercidas nos termos da respectiva lei orgânica.
das medidas socioeducativas, adotar-se-á o sistema re- Art. 201. Compete ao Ministério Público:
cursal da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código I - conceder a remissão como forma de exclusão do
de Processo Civil), com as seguintes adaptações: (Reda- processo;
ção dada pela Lei nº 12.594, de 2012) II - promover e acompanhar os procedimentos relati-
I - os recursos serão interpostos independentemen- vos às infrações atribuídas a adolescentes;
te de preparo; III - promover e acompanhar as ações de alimentos e
II - em todos os recursos, salvo nos embargos de os procedimentos de suspensão e destituição do poder fa-
declaração, o prazo para o Ministério Público e para miliar, nomeação e remoção de tutores, curadores e guar-
a defesa será sempre de 10 (dez) dias; (Redação dada diães, bem como oficiar em todos os demais procedimen-
pela Lei nº 12.594, de 2012) tos da competência da Justiça da Infância e da Juventude;
III - os recursos terão preferência de julgamento e IV - promover, de ofício ou por solicitação dos inte-
dispensarão revisor; ressados, a especialização e a inscrição de hipoteca legal e
VII - antes de determinar a remessa dos autos à su- a prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer
perior instância, no caso de apelação, ou do instrumen- administradores de bens de crianças e adolescentes nas hi-
to, no caso de agravo, a autoridade judiciária proferirá póteses do art. 98;
despacho fundamentado, mantendo ou reformando a V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para
decisão, no prazo de cinco dias; a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos
VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o es- relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos
crivão remeterá os autos ou o instrumento à superior no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal;
instância dentro de vinte e quatro horas, independen- VI - instaurar procedimentos administrativos e, para
temente de novo pedido do recorrente; se a reformar, instruí-los:
a remessa dos autos dependerá de pedido expresso da a) expedir notificações para colher depoimentos ou es-
parte interessada ou do Ministério Público, no prazo de clarecimentos e, em caso de não comparecimento injusti-
cinco dias, contados da intimação. ficado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia
Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no civil ou militar;
art. 149 caberá recurso de apelação. b) requisitar informações, exames, perícias e documen-
Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz tos de autoridades municipais, estaduais e federais, da ad-
efeito desde logo, embora sujeita a apelação, que será ministração direta ou indireta, bem como promover inspe-
recebida exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se ções e diligências investigatórias;
se tratar de adoção internacional ou se houver perigo c) requisitar informações e documentos a particulares
de dano irreparável ou de difícil reparação ao adotan- e instituições privadas;
do.  VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências inves-
Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qual- tigatórias e determinar a instauração de inquérito policial,
quer dos genitores do poder familiar fica sujeita a ape- para apuração de ilícitos ou infrações às normas de prote-
lação, que deverá ser recebida apenas no efeito devo- ção à infância e à juventude;
lutivo.  VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias
Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de ado- legais assegurados às crianças e adolescentes, promoven-
ção e de destituição de poder familiar, em face da rele- do as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
vância das questões, serão processados com priorida- IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e
de absoluta, devendo ser imediatamente distribuídos, habeas corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal,
ficando vedado que aguardem, em qualquer situação, na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis
oportuna distribuição, e serão colocados em mesa para afetos à criança e ao adolescente;
julgamento sem revisão e com parecer urgente do Mi- X - representar ao juízo visando à aplicação de penali-
nistério Público. dade por infrações cometidas contra as normas de prote-
Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em ção à infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da
mesa para julgamento no prazo máximo de 60 (sessen- responsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível;
ta) dias, contado da sua conclusão. XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de
Parágrafo único. O Ministério Público será intimado atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando
da data do julgamento e poderá na sessão, se entender de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias
necessário, apresentar oralmente seu parecer.  à remoção de irregularidades porventura verificadas;
Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a XII - requisitar força policial, bem como a colaboração
instauração de procedimento para apuração de respon- dos serviços médicos, hospitalares, educacionais e de as-
sabilidades se constatar o descumprimento das provi- sistência social, públicos ou privados, para o desempenho
dências e do prazo previstos nos artigos anteriores. de suas atribuições.

138
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações § 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando
cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas se tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver
mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e sido indicado por ocasião de ato formal com a presença da
esta Lei. autoridade judiciária.
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não ex-
cluem outras, desde que compatíveis com a finalidade do Capítulo VII
Ministério Público. Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais,
§ 3º O representante do Ministério Público, no exercí- Difusos e Coletivos
cio de suas funções, terá livre acesso a todo local onde se
encontre criança ou adolescente. Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações
§ 4º O representante do Ministério Público será res- de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à
ponsável pelo uso indevido das informações e documentos criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento
que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo. ou oferta irregular:
§ 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inci- I - do ensino obrigatório;
so VIII deste artigo, poderá o representante do Ministério II - de atendimento educacional especializado aos por-
Público: tadores de deficiência;
a) reduzir a termo as declarações do reclamante, instau- III - de atendimento em creche e pré-escola às crianças
rando o competente procedimento, sob sua presidência; de zero a cinco anos de idade;
b) entender-se diretamente com a pessoa ou autorida- IV - de ensino noturno regular, adequado às condições
de reclamada, em dia, local e horário previamente notifica- do educando;
dos ou acertados; V - de programas suplementares de oferta de material
c) efetuar recomendações visando à melhoria dos ser- didático-escolar, transporte e assistência à saúde do edu-
viços públicos e de relevância pública afetos à criança e cando do ensino fundamental;
ao adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita VI - de serviço de assistência social visando à proteção
adequação. à família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem
Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não como ao amparo às crianças e adolescentes que dele ne-
for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na cessitem;
defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hi- VII - de acesso às ações e serviços de saúde;
pótese em que terá vista dos autos depois das partes, po- VIII - de escolarização e profissionalização dos adoles-
dendo juntar documentos e requerer diligências, usando centes privados de liberdade.
os recursos cabíveis. IX - de ações, serviços e programas de orientação,
Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qual- apoio e promoção social de famílias e destinados ao pleno
quer caso, será feita pessoalmente. exercício do direito à convivência familiar por crianças e
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público adolescentes.
acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício X - de programas de atendimento para a execução das
pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado. medidas socioeducativas e aplicação de medidas de prote-
Art. 205. As manifestações processuais do representan- ção. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)
te do Ministério Público deverão ser fundamentadas. § 1o As hipóteses previstas neste artigo não excluem da
proteção judicial outros interesses individuais, difusos ou
Capítulo VI coletivos, próprios da infância e da adolescência, protegi-
Do Advogado dos pela Constituição e pela Lei.
§ 2o A investigação do desaparecimento de crianças
Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou res- ou adolescentes será realizada imediatamente após noti-
ponsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse ficação aos órgãos competentes, que deverão comunicar
na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de o fato aos portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e compa-
que trata esta Lei, através de advogado, o qual será inti- nhias de transporte interestaduais e internacionais, forne-
mado para todos os atos, pessoalmente ou por publicação cendo-lhes todos os dados necessários à identificação do
oficial, respeitado o segredo de justiça. desaparecido.
Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária in- Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão pro-
tegral e gratuita àqueles que dela necessitarem. postas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a
Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prá- ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para
tica de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será processar a causa, ressalvadas a competência da Justiça Fe-
processado sem defensor. deral e a competência originária dos tribunais superiores.
§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á no- Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses
meado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, coletivos ou difusos, consideram-se legitimados concor-
constituir outro de sua preferência. rentemente:
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adiamen- I - o Ministério Público;
to de nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear subs- II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Fede-
tituto, ainda que provisoriamente, ou para o só efeito do ato. ral e os territórios;

139
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

III - as associações legalmente constituídas há pelo Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em jul-
menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais gado da sentença condenatória sem que a associação au-
a defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, tora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério
dispensada a autorização da assembleia, se houver prévia Público, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
autorização estatutária. Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar
§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Mi- ao réu os honorários advocatícios arbitrados na conformi-
nistérios Públicos da União e dos estados na defesa dos dade do § 4º do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro
interesses e direitos de que cuida esta Lei. de 1973 (Código de Processo Civil), quando reconhecer
§ 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por que a pretensão é manifestamente infundada.
associação legitimada, o Ministério Público ou outro legiti- Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a as-
mado poderá assumir a titularidade ativa. sociação autora e os diretores responsáveis pela propo-
Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão to- situra da ação serão solidariamente condenados ao dé-
mar dos interessados compromisso de ajustamento de sua cuplo das custas, sem prejuízo de responsabilidade por
conduta às exigências legais, o qual terá eficácia de título perdas e danos.
executivo extrajudicial. Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não
Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegi- haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários
dos por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações periciais e quaisquer outras despesas.
pertinentes. Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público
§ 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, pres-
normas do Código de Processo Civil. tando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto
§ 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pú- de ação civil, e indicando-lhe os elementos de convicção.
blica ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribui- Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos
ções do poder público, que lesem direito líquido e certo e tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam
previsto nesta Lei, caberá ação mandamental, que se rege- ensejar a propositura de ação civil, remeterão peças ao
rá pelas normas da lei do mandado de segurança. Ministério Público para as providências cabíveis.
Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimen- Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado
to de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá poderá requerer às autoridades competentes as certidões
a tutela específica da obrigação ou determinará providên- e informações que julgar necessárias, que serão forneci-
cias que assegurem o resultado prático equivalente ao do das no prazo de quinze dias.
adimplemento. Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e ha- sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer
vendo justificado receio de ineficácia do provimento final, pessoa, organismo público ou particular, certidões, in-
é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após jus- formações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o
tificação prévia, citando o réu. qual não poderá ser inferior a dez dias úteis.
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior § 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas to-
ou na sentença, impor multa diária ao réu, independente- das as diligências, se convencer da inexistência de fun-
mente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível damento para a propositura da ação cível, promoverá o
com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumpri- arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças
mento do preceito. informativas, fazendo-o fundamentadamente.
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em § 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de infor-
julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida des- mação arquivados serão remetidos, sob pena de se in-
de o dia em que se houver configurado o descumprimento. correr em falta grave, no prazo de três dias, ao Conselho
Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo ge- Superior do Ministério Público.
rido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescen- § 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promo-
te do respectivo município. ção de arquivamento, em sessão do Conselho Superior
§ 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o do Ministério público, poderão as associações legitima-
trânsito em julgado da decisão serão exigidas através de das apresentar razões escritas ou documentos, que serão
execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos juntados aos autos do inquérito ou anexados às peças de
autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados. informação.
§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o di- § 4º A promoção de arquivamento será submetida a
nheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de cré- exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério
dito, em conta com correção monetária. Público, conforme dispuser o seu regimento.
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos § 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a
recursos, para evitar dano irreparável à parte. promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro
Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
condenação ao poder público, o juiz determinará a remes- Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber,
sa de peças à autoridade competente, para apuração da as disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985.
responsabilidade civil e administrativa do agente a que se
atribua a ação ou omissão.

140
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Título VII Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado


Dos Crimes e Das Infrações Administrativas nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberda-
Capítulo I de:
Dos Crimes Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Seção I Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade ju-
Disposições Gerais diciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do
Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei:
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados Pena - detenção de seis meses a dois anos.
contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de
prejuízo do disposto na legislação penal. quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem
Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as judicial, com o fim de colocação em lar substituto:
normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao pro- Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
cesso, as pertinentes ao Código de Processo Penal. Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pu-
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pú- pilo a terceiro, mediante paga ou recompensa:
blica incondicionada. Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem ofere-
Seção II ce ou efetiva a paga ou recompensa.
Dos Crimes em Espécie Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato des-
tinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigen- com inobservância das formalidades legais ou com o fito
te de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de de obter lucro:
manter registro das atividades desenvolvidas, na forma e Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
prazo referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave
à parturiente ou a seu responsável, por ocasião da alta mé- ameaça ou fraude: 
dica, declaração de nascimento, onde constem as intercor- Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena
rências do parto e do desenvolvimento do neonato: correspondente à violência.
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar
Parágrafo único. Se o crime é culposo: ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de iden- § 1o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita,
tificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a par-
do parto, bem como deixar de proceder aos exames referi- ticipação de criança ou adolescente nas cenas referidas
dos no art. 10 desta Lei: no caputdeste artigo, ou ainda quem com esses contracena.
Pena - detenção de seis meses a dois anos. § 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente
Parágrafo único. Se o crime é culposo: comete o crime:
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. I – no exercício de cargo ou função pública ou a pre-
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liber- texto de exercê-la;
dade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabi-
de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autorida- tação ou de hospitalidade; ou
de judiciária competente: III – prevalecendo-se de relações de parentesco con-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. sangüíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de
procede à apreensão sem observância das formalidades quem, a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela,
legais. ou com seu consentimento.
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou
apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata co- outro registro que contenha cena de sexo explícito ou por-
municação à autoridade judiciária competente e à família nográfica envolvendo criança ou adolescente:
do apreendido ou à pessoa por ele indicada: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua au- distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive
toridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangi- por meio de sistema de informática ou telemático, fotogra-
mento: fia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo ex-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. plícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou ado- § 1o Nas mesmas penas incorre quem:
lescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da I – assegura os meios ou serviços para o armazena-
apreensão: mento das fotografias, cenas ou imagens de que trata
Pena - detenção de seis meses a dois anos. o caput deste artigo;

141
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente
computadores às fotografias, cenas ou imagens de que tra- ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente
ta o caput deste artigo. arma, munição ou explosivo:
 § 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. 
1  deste artigo são puníveis quando o responsável legal
o Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar,
pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou
de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros
o caput deste artigo.  produtos cujos componentes possam causar dependência
 Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qual- física ou psíquica:
quer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa,
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolven- se o fato não constitui crime mais grave.
do criança ou adolescente: Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fo-
 § 1o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois ter- gos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo
ços) se de pequena quantidade o material a que se refere seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qual-
o caput deste artigo. quer dano físico em caso de utilização indevida:
 § 2o Não há crime se a posse ou o armazenamento tem Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
a finalidade de comunicar às autoridades competentes a Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais
ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à
e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por: exploração sexual:
 I – agente público no exercício de suas funções; Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da
 II – membro de entidade, legalmente constituída, que perda de bens e valores utilizados na prática criminosa em
inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da
o processamento e o encaminhamento de notícia dos cri- unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi
cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.
mes referidos neste parágrafo;
§ 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o ge-
 III – representante legal e funcionários responsáveis de
rente ou o responsável pelo local em que se verifique a
provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede
submissão de criança ou adolescente às práticas referidas
de computadores, até o recebimento do material relativo à
no caputdeste artigo.
notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou
§ 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cas-
ao Poder Judiciário.
sação da licença de localização e de funcionamento do es-
 § 3o As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão
tabelecimento. 
manter sob sigilo o material ilícito referido.
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de me-
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adoles- nor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal
cente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio ou induzindo-o a praticá-la:
de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: § 1o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem ven- quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo
de, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou di- da internet.
vulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o § 2o As penas previstas no caput deste artigo são au-
material produzido na forma do caput deste artigo.  mentadas de um terço no caso de a infração cometida ou
 Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de
por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de 25 de julho de 1990. 
com ela praticar ato libidinoso:
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Capítulo II
 Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: Das Infrações Administrativas
 I – facilita ou induz o acesso à criança de material con-
tendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
com ela praticar ato libidinoso; estabelecimento de atenção à saúde e de ensino funda-
 II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo mental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade
com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográ- competente os casos de que tenha conhecimento, en-
fica ou sexualmente explícita.  volvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra
 Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, criança ou adolescente:
a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” com- Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
preende qualquer situação que envolva criança ou adoles- cando-se o dobro em caso de reincidência.
cente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de en-
ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adoles- tidade de atendimento o exercício dos direitos constantes
cente para fins primordialmente sexuais.  nos incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:

142
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Pena - multa de três a vinte salários de referência, Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. representações ou espetáculos, sem indicar os limites de
Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autori- idade a que não se recomendem:
zação devida, por qualquer meio de comunicação, nome, Pena - multa de três a vinte salários de referência, du-
ato ou documento de procedimento policial, administra- plicada em caso de reincidência, aplicável, separadamen-
tivo ou judicial relativo a criança ou adolescente a que se te, à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou
atribua ato infracional: publicidade.
Pena - multa de três a vinte salários de referência, Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, es-
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. petáculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou de sua classificação:
parcialmente, fotografia de criança ou adolescente en- Pena - multa de vinte a cem salários de referência;
volvido em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária
diga respeito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, poderá determinar a suspensão da programação da emis-
de forma a permitir sua identificação, direta ou indireta- sora por até dois dias.
mente. Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congê-
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa nere classificado pelo órgão competente como inadequa-
ou emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista do às crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
neste artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na
apreensão da publicação  reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão
. (Expressão declarada inconstitucional pela ADIN do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por
869-2). até quinze dias.
Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita
de seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de re- de programação em vídeo, em desacordo com a classifi-
gularizar a guarda, adolescente trazido de outra comarca cação atribuída pelo órgão competente:
para a prestação de serviço doméstico, mesmo que auto- Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
rizado pelos pais ou responsável: caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
Pena - multa de três a vinte salários de referência, minar o fechamento do estabelecimento por até quinze
aplicando-se o dobro em caso de reincidência, indepen- dias.
dentemente das despesas de retorno do adolescente, se Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78
for o caso. e 79 desta Lei:
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os de- Pena - multa de três a vinte salários de referência, du-
veres inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela plicando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo
ou guarda, bem assim determinação da autoridade judi- de apreensão da revista ou publicação.
ciária ou Conselho Tutelar: Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento
Pena - multa de três a vinte salários de referência, ou o empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. o acesso de criança ou adolescente aos locais de diversão,
Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacom- ou sobre sua participação no espetáculo:
panhado dos pais ou responsável, ou sem autorização Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pen- caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
são, motel ou congênere: minar o fechamento do estabelecimento por até quinze
Pena – multa. dias.
§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de pro-
de multa, a autoridade judiciária poderá determinar o fe- videnciar a instalação e operacionalização dos cadastros
chamento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias. previstos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei:
§ 2º Se comprovada a reincidência em período infe- Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
rior a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitiva- (três mil reais).
mente fechado e terá sua licença cassada.  Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autori-
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por dade que deixa de efetuar o cadastramento de crianças
qualquer meio, com inobservância do disposto nos arts. e de adolescentes em condições de serem adotadas, de
83, 84 e 85 desta Lei: pessoas ou casais habilitados à adoção e de crianças e
Pena - multa de três a vinte salários de referência, adolescentes em regime de acolhimento institucional ou
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. familiar.
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espe- Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente
táculo público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de
à entrada do local de exibição, informação destacada so- efetuar imediato encaminhamento à autoridade judiciária
bre a natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária de caso de que tenha conhecimento de mãe ou gestante
especificada no certificado de classificação: interessada em entregar seu filho para adoção:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. (três mil reais).

143
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário I - será considerada isoladamente, não se subme-
de programa oficial ou comunitário destinado à garantia tendo a limite em conjunto com outras deduções do
do direito à convivência familiar que deixa de efetuar a co- imposto; e
municação referida no caput deste artigo.  II - não poderá ser computada como despesa ope-
Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no in- racional na apuração do lucro real.
ciso II do art. 81: Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calen-
Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ dário de 2009, a pessoa física poderá optar pela doação
10.000,00 (dez mil reais); de que trata o inciso II do caput do art. 260 diretamente
Medida Administrativa - interdição do estabelecimento em sua Declaração de Ajuste Anual. 
comercial até o recolhimento da multa aplicada. § 1o A doação de que trata o caput poderá ser de-
duzida até os seguintes percentuais aplicados sobre o
Disposições Finais e Transitórias imposto apurado na declaração:
I - (VETADO);
Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados II - (VETADO); 
da publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dis- III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012.
pondo sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às di- § 2 o A dedução de que trata o caput:
retrizes da política de atendimento fixadas no art. 88 e ao I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do
que estabelece o Título V do Livro II. imposto sobre a renda apurado na declaração de que
Parágrafo único. Compete aos estados e municípios trata o inciso II do caput do art. 260;
promoverem a adaptação de seus órgãos e programas às II - não se aplica à pessoa física que: 
diretrizes e princípios estabelecidos nesta Lei. a) utilizar o desconto simplificado;
Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos b) apresentar declaração em formulário; ou 
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, c) entregar a declaração fora do prazo;
distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprova- III - só se aplica às doações em espécie; e 
das, sendo essas integralmente deduzidas do imposto de
IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou dedu-
renda, obedecidos os seguintes limites: 
ções em vigor.
I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devi-
§ 3 o O pagamento da doação deve ser efetuado até
do apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base no
a data de vencimento da primeira quota ou quota única
lucro real; e
do imposto, observadas instruções específicas da Se-
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apu-
cretaria da Receita Federal do Brasil.
rado pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual,
§ 4 o O não pagamento da doação no prazo estabe-
observado o disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de
lecido no § 3o implica a glosa definitiva desta parcela
dezembro de 1997.
§ 1º - (Revogado) de dedução, ficando a pessoa física obrigada ao reco-
§ 1o-A. Na definição das prioridades a serem atendidas lhimento da diferença de imposto devido apurado na
com os recursos captados pelos fundos nacional, estaduais Declaração de Ajuste Anual com os acréscimos legais
e municipais dos direitos da criança e do adolescente, se- previstos na legislação. 
rão consideradas as disposições do Plano Nacional de Pro- § 5o A pessoa física poderá deduzir do imposto apu-
moção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adoles- rado na Declaração de Ajuste Anual as doações feitas,
centes à Convivência Familiar e Comunitária e as do Plano no respectivo ano-calendário, aos fundos controlados
Nacional pela Primeira Infância. pelos Conselhos dos Direitos da Criança e do Adoles-
§ 2o Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos cente municipais, distrital, estaduais e nacional conco-
direitos da criança e do adolescente fixarão critérios de mitantemente com a opção de que trata o caput, res-
utilização, por meio de planos de aplicação, das dotações peitado o limite previsto no inciso II do art. 260.
subsidiadas e demais receitas, aplicando necessariamente Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art.
percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma de 260 poderá ser deduzida:
guarda, de crianças e adolescentes e para programas de I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas
atenção integral à primeira infância em áreas de maior ca- jurídicas que apuram o imposto trimestralmente; e
rência socioeconômica e em situações de calamidade. II - do imposto devido mensalmente e no ajuste
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministério da anual, para as pessoas jurídicas que apuram o imposto
Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará a compro- anualmente. 
vação das doações feitas aos fundos, nos termos deste artigo. Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada den-
§ 4º O Ministério Público determinará em cada comar- tro do período a que se refere a apuração do imposto.
ca a forma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo Muni- Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta
cipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, dos incen- Lei podem ser efetuadas em espécie ou em bens. 
tivos fiscais referidos neste artigo. Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie
§ 5o Observado o disposto no § 4o do art. 3o da Lei no devem ser depositadas em conta específica, em institui-
9.249, de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que trata ção financeira pública, vinculadas aos respectivos fun-
o inciso I do caput:  dos de que trata o art. 260.

144
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração I - o calendário de suas reuniões;


das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Ado- II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de
lescente nacional, estaduais, distrital e municipais devem atendimento à criança e ao adolescente;
emitir recibo em favor do doador, assinado por pessoa III - os requisitos para a apresentação de projetos a
competente e pelo presidente do Conselho corresponden- serem beneficiados com recursos dos Fundos dos Direitos
te, especificando: da Criança e do Adolescente nacional, estaduais, distrital
I - número de ordem;  ou municipais;
II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-ca-
e endereço do emitente;  lendário e o valor dos recursos previstos para implementa-
III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) ção das ações, por projeto;
do doador; V - o total dos recursos recebidos e a respectiva desti-
IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e nação, por projeto atendido, inclusive com cadastramento
V - ano-calendário a que se refere a doação. na base de dados do Sistema de Informações sobre a In-
§ 1o O comprovante de que trata o caput deste artigo fância e a Adolescência; e
pode ser emitido anualmente, desde que discrimine os va- VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficia-
lores doados mês a mês.  dos com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do
§ 2o No caso de doação em bens, o comprovante deve Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais.
conter a identificação dos bens, mediante descrição em Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada
campo próprio ou em relação anexa ao comprovante, in- Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos incenti-
formando também se houve avaliação, o nome, CPF ou vos fiscais referidos no art. 260 desta Lei.
CNPJ e endereço dos avaliadores. Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos
Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador arts. 260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder por
deverá: ação judicial proposta pelo Ministério Público, que poderá
I - comprovar a propriedade dos bens, mediante docu- atuar de ofício, a requerimento ou representação de qual-
mentação hábil; quer cidadão.
II - baixar os bens doados na declaração de bens e di- Art. 260-K. A Secretaria de Direitos Humanos da Presi-
reitos, quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, dência da República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria da
no caso de pessoa jurídica; e Receita Federal do Brasil, até 31 de outubro de cada ano,
III - considerar como valor dos bens doados: arquivo eletrônico contendo a relação atualizada dos Fun-
a) para as pessoas físicas, o valor constante da última dos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, dis-
declaração do imposto de renda, desde que não exceda o trital, estaduais e municipais, com a indicação dos respec-
valor de mercado; tivos números de inscrição no CNPJ e das contas bancárias
b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens. específicas mantidas em instituições financeiras públicas,
Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não destinadas exclusivamente a gerir os recursos dos Fundos.
será considerado na determinação do valor dos bens doa- Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil
dos, exceto se o leilão for determinado por autoridade ju- expedirá as instruções necessárias à aplicação do disposto
diciária. nos arts. 260 a 260-K.
Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts. Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos
260-D e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por da criança e do adolescente, os registros, inscrições e alte-
um prazo de 5 (cinco) anos para fins de comprovação da rações a que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91
dedução perante a Receita Federal do Brasil. desta Lei serão efetuados perante a autoridade judiciária
Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração da comarca a que pertencer a entidade.
das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Ado- Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar
lescente nacional, estaduais, distrital e municipais devem: aos estados e municípios, e os estados aos municípios, os
I - manter conta bancária específica destinada exclusi- recursos referentes aos programas e atividades previstos
vamente a gerir os recursos do Fundo;  nesta Lei, tão logo estejam criados os conselhos dos direi-
II - manter controle das doações recebidas; e  tos da criança e do adolescente nos seus respectivos níveis.
III - informar anualmente à Secretaria da Receita Fede- Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tute-
ral do Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando lares, as atribuições a eles conferidas serão exercidas pela
os seguintes dados por doador: autoridade judiciária.
a) nome, CNPJ ou CPF; Art. 263. O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
b) valor doado, especificando se a doação foi em espé- 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes al-
cie ou em bens. terações:
Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obriga- 1) Art. 121 (...)
ções previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de
do Brasil dará conhecimento do fato ao Ministério Público. um terço, se o crime resulta de inobservância de regra téc-
Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do nica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de
Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais di- prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
vulgarão amplamente à comunidade: consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em

145
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é au-


mentada de um terço, se o crime é praticado contra LEI Nº 10.639/03 – HISTÓRIA E CULTURA
pessoa menor de catorze anos.
AFRO BRASILEIRA E AFRICANA;
2) Art. 129 (...)
§ 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer
qualquer das hipóteses do art. 121, § 4º.
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º
do art. 121. LEI No 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003.
3) Art. 136 (...)
§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que
praticado contra pessoa menor de catorze anos. estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para
4) Art. 213 (...) incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatorie-
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de cator- dade da temática «História e Cultura Afro-Brasileira», e dá
ze anos: outras providências.
Pena - reclusão de quatro a dez anos.
5) Art. 214 (...) O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
Parágrafo único. Se o ofendido é menor de cator- gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
ze anos: Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, pas-
Pena - reclusão de três a nove anos.” sa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:
Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de de- «Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino funda-
zembro de 1973, fica acrescido do seguinte item: mental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório
“Art. 102 (...) o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
6º) a perda e a suspensão do pátrio poder.” § 1o  O conteúdo programático a que se refere
Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África
da União, da administração direta ou indireta, inclu- e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra
sive fundações instituídas e mantidas pelo poder pú- brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,
blico federal promoverão edição popular do texto in- resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social,
tegral deste Estatuto, que será posto à disposição das econômica e política pertinentes à História do Brasil.
escolas e das entidades de atendimento e de defesa § 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-
dos direitos da criança e do adolescente. -Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo
Art. 265-A. O poder público fará periodicamente escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de
ampla divulgação dos direitos da criança e do ado- Literatura e História Brasileiras.
lescente nos meios de comunicação social. § 3o (VETADO)»
Parágrafo único. A divulgação a que se refere o «Art. 79-A. (VETADO)»
caput será veiculada em linguagem clara, compreen- “Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de no-
sível e adequada a crianças e adolescentes, especial- vembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.”
mente às crianças com idade inferior a 6 (seis) anos. Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publi-
Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias cação.
após sua publicação.
Parágrafo único. Durante o período de vacância Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182o da Independência
deverão ser promovidas atividades e campanhas de e 115o da República.
divulgação e esclarecimentos acerca do disposto Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de
nesta Lei. 10.1.2003
Art. 267. Revogam-se as Leis nº 4.513, de 1964, e
6.697, de 10 de outubro de 1979 (Código de Meno-
res), e as demais disposições em contrário.

Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Indepen-


dência e 102º da República.

146
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Organização das Nações Unidas para a Educação, a


PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM Ciência e a Cultura – UNESCO/Brasil
DIREITOS HUMANOS - 2007. Vicente Defourny – Representante da UNESCO no
Brasil a.i
Marilza Machado Gomes Regattieri – Coordenadora
Interina de Educação Carlos Alberto dos Santos Vieira –
Plano Nacional de Educação Oficial de Programas
em Direitos Humanos
Plano Nacional de Educação
Secretaria Especial dos Direitos Humanos / Presidência em Direitos Humanos
da República Ministério da Educação
Ministério da Justiça UNESCO Brasil. Comitê Nacional de Educação em Direitos Hu-
manos. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos:
© 2007 Presidência da República 2007. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos,
Luiz Inácio Lula da Silva - Presidente da República 2007. 76 p.
José Alencar Gomes da Silva - Vice-Presidente da Re- 1. Direitos Humanos. 2. Educação em Direitos Huma-
pública nos 3. Políticas Públicas

Secretaria Especial dos Direitos Humanos – SEDH/PR 2ª Tiragem, atualizada


Paulo de Tarso Vannuchi – Secretário Especial Rogério Sot- Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca do Mi-
tili – Secretário-Adjunto nistério da Justiça
Paulo Brasileiro do Valle Filho – Chefe de Gabinete
Perly Cipriano – Subsecretário de Promoção e Defesa INTRODUÇÃO
dos Direitos Humanos Carmen Silveira de Oliveira – Sub-
secretária de Promoção e Defesa da Criança e do Adoles- A Declaração Universal dos Direitos Humanos da Or-
cente ganização das Nações Unidas (ONU), de 1948, desenca-
Fauze Martins Chequer – Subsecretário de Gestão deou um processo de mudança no comportamento so-
das Políticas de Direitos Humanos Maria de Nazaré Ta- cial e a produção de instrumentos e mecanismos inter-
vares Zenaide – Coordenadora-Geral de Educação em nacionais de direitos humanos que foram incorporados
Direitos Humanos ao ordenamento jurídico dos países signatários2. Esse
Carmelina dos Santos Rosa – Gerente de Projetos processo resultou na base dos atuais sistemas global e
de Cooperação com Organismos Internacionais regionais de proteção dos direitos humanos.
Aida Maria Monteiro Silva e Ricardo Manuel dos Em contraposição, o quadro contemporâneo
Santos Henriques – Coordenação do Comitê Nacional apresenta uma série de aspectos inquietantes no que
de Educação em Direitos Humanos se refere às violações de direitos humanos, tanto no
campo dos direitos civis e políticos, quanto na esfera
Ministério da Educação - MEC dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais.
Fernando Haddad – Ministro da Educação Além do recrudescimento da violência, tem-se obser-
Ricardo Manuel dos Santos Henriques – Secretaria de vado o agravamento na degradação da biosfera, a
Educação Continuada, Alfa- betização e Diversidade – SE- generalização dos conflitos, o crescimento da into-
CAD lerância étnico-racial, religiosa, cultural, geracional,
Nelson Maculan Filho – Secretaria de Ensino Superior territorial, físico-individual, de gênero, de orientação
Francisco das Chagas Fernandes – Secretaria de Edu- sexual, de nacionalidade, de opção política, dentre
cação Básica Cláudia Pereira Dutra – Secretaria de Educa- outras, mesmo em sociedades consideradas historica-
ção Especial mente mais tolerantes, como revelam as barreiras e dis-
Eliezer Moreira Pacheco – Secretaria de Educação Pro- criminações a imigrantes, refugiados e asilados em todo
fissional e Tecnológica o mundo. Há, portanto, um claro descompasso entre
os indiscutí- veis avanços no plano jurídico-institucio-
Ministério da Justiça – MJ nal e a realidade concreta da efetivação dos direitos.
Márcio Thomaz Bastos – Ministro da Justiça O processo de globalização, entendido como novo
Cláudia Maria de Freitas Chagas – Secretaria Nacional e complexo mo- mento das relações entre nações e po-
de Justiça Luiz Fernando Corrêa – Secretaria Nacional de vos, tem resultado na concentração da riqueza, benefi-
Segurança Pública Daniel Krepel Goldberg – Secretaria de ciando apenas um terço da humanidade, em prejuízo,
Direito Econômico espe- cialmente, dos habitantes dos países do Sul, onde
Luiz Armando Badin – Secretaria de Assuntos Legislati- se aprofundam a desigual- dade e a exclusão social, o
vos Pierpaolo Bottini – Secretaria de Reforma do Judiciário que compromete a justiça distributiva e a paz3.
Eduardo Flores Vieira – Defensoria Pública-Geral da União Paradoxalmente, abriram-se novas oportunidades
para o reconheci- mento dos direitos humanos pelos
diversos atores políticos. Esse processo inclui os Estados

147
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Nacionais, nas suas várias instâncias governamentais, as entre seus fundamentos, a dignidade da pessoa huma-
organizações internacionais e as agências transnacio- na e os direitos ampliados da cidadania (civis, políticos,
nais privadas. econômicos, sociais, cultu- rais e ambientais)6.O Brasil
Esse traço conjuntural resulta da conjugação de uma passou a ratificar os mais importantes tratados
série de fato- res, entre os quais cabe destacar: a) o in- internacionais (globais e regionais) de proteção dos
cremento da sensibilidade e da consciência sobre os as- direitos humanos, além de reconhecer a jurisdição da
suntos globais por parte de cidadãos(ãs) comuns; Corte Interamericana de Direitos Humanos e do Estatuto
b) a institucionalização de um padrão mínimo de do Tribunal Penal Internacional.
comportamento nacio- nal e internacional dos Estados, Novos mecanismos surgiram no cenário nacio-
com mecanismos de monitoramento, pressão e sanção; nal como resultante da mobilização da sociedade civil,
c) a adoção do princípio de empoderamento em bene- impulsionando agendas, programas e pro- jetos que
fício de categorias historicamente vulneráveis (mulhe- buscam materializar a defesa e a promoção dos direi-
res, negros(as), po-vos indígenas, idosos(as), pessoas tos huma- nos, conformando, desse modo, um sistema
com deficiência, grupos raciais e étni- cos, gays, lés- nacional de direitos huma- nos7. As instituições de Es-
bicas, bissexuais, travestis e transexuais, entre outros); tado têm incorporado esse avanço ao criar e for- talecer
d) a reorganização da sociedade civil transnacional, a órgãos específicos em todos os poderes8.
partir da qual redes de ativistas lançam ações coletivas O Estado brasileiro consolidou espaços de partici-
de defesa dos direitos humanos (campa- nhas, informa- pação da sociedade civil organizada na formulação de
ções, alianças, pressões etc.), visando acionar Estados, propostas e diretrizes de políticas públi- cas, por meio
or- ganizações internacionais, corporações econômicas de inúmeras conferências temáticas. Um aspecto rele-
globais e diferentes grupos responsáveis pelas violações vante foi a institucionalização de mecanismos de con-
de direitos. trole social da política pú- blica, pela implementação de
Enquanto esse contexto é marcado pelo colapso das diversos conselhos e outras instâncias.
experiências do socialismo real, pelo fim da Guerra Fria e Entretanto, apesar desses avanços no plano norma-
pela ofensiva do processo da retórica da globalização, os tivo, o contexto nacional tem-se caracterizado por desi-
direitos humanos e a educação em direitos humanos con- gualdades e pela exclusão econômi- ca, social, étnico-
sagraram-se como tema global, reforçado a partir da Con- -racial, cultural e ambiental, decorrente de um modelo
fe- rência Mundial de Viena4. de Estado em que muitas políticas públicas deixam em
Em tempos difíceis e conturbados por inúmeros segundo plano os di- reitos econômicos, sociais, cultu-
conflitos, nada mais urgente e necessário que educar em rais e ambientais.
direitos humanos, tafera indispensá- vel para a defesa, Ainda há muito para ser conquistado em termos de
o respeito, a promoção e a valorização desses direitos. respeito à dignida- de da pessoa humana, sem distinção
Esse é um desafio central da humanidade, que tem de raça, nacionalidade, etnia, gênero, classe social, região,
importância redo- brada em países da América Latina, cultura, religião, orientação sexual, identidade de gê-
caracterizados historicamente pelas violações dos direi- nero, geração e deficiência. Da mesma forma, há muito
tos humanos, expressas pela precariedade e fragilidade a ser feito para efetivar o direito à qualidade de vida, à
do Estado de Direito e por graves e sistemáticas vio- saúde, à educação, à moradia, ao lazer, ao meio ambiente
lações dos direitos bá- sicos de segurança, sobrevivên- saudável, ao saneamento básico, à segurança pú- blica, ao
cia, identidade cultural e bem-estar mínimo de grandes trabalho e às diversidades cultural e religiosa, entre outras.
contingentes populacionais. Uma concepção contemporânea de direitos huma-
No Brasil, como na maioria dos países latino-ameri- nos incorpora os conceitos de cidadania democrática,
canos, a temática dos direitos humanos adquiriu eleva- cidadania ativa e cidadania planetá- ria, por sua vez ins-
da significação histórica, como respos- ta à extensão das piradas em valores humanistas e embasadas nos princí-
formas de violência social e política vivenciadas nas dé- pios da liberdade, da igualdade, da eqüidade e da diver-
cadas de 1960 e 1970. No entanto, persiste no contexto sidade, afirmando sua universalidade, indivisibilidade e
de redemocratização a grave herança das violações roti- interdependência.
neiras nas questões sociais, impondo-se, como impera- O processo de construção da concepção de uma cida-
tivo, romper com a cultura oligárquica que preserva os dania planetária e do exercício da cidadania ativa requer,
pa- drões de reprodução da desigualdade e da violência necessariamente, a formação de cidadãos(ãs) conscientes
institucionalizada. de seus direitos e deveres, protagonistas da materialidade
O debate sobre os direitos humanos e a formação das normas e pactos que os(as) protegem, reconhecendo
para a cidadania vem alcançando mais espaço e rele- o princípio normativo da dignidade humana, englobando
vância no Brasil, a partir dos anos 1980 e 1990, por meio a solidariedade internacional e o compromisso com outros
de proposições da sociedade civil organizada e de ações povos e nações. Além disso, propõe a formação de cada
governamentais no campo das políticas públicas, visan- cidadão(ã) como sujeito de direitos, capaz de exercitar o
do ao fortalecimen- to da democracia5. controle democrático das ações do Estado.
Esse movimento teve como marco expressivo a A democracia, entendida como regime alicerçado na
Constituição Federal de 1988, que formalmente con- soberania popular, na justiça social e no respeito inte-
sagrou o Estado Democrático de Direito e reconheceu, gral aos direitos humanos, é fundamental para o reco-

148
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

nhecimento, a ampliação e a concretização dos direitos. b)-afirmação de valores, atitudes e práticas sociais
Para o exercício da cidadania democrática, a educação, que expressem a cultura dos direitos humanos em todos
como direito de todos e dever do Estado e da família, os espaços da sociedade;
requer a formação dos(as) cidadãos(ãs). c)--formação de uma consciência cidadã capaz de se
A Constituição Federal Brasileira e a Lei de Diretri- fazer presente em níveis cognitivo, social, ético e político;
zes e Bases da Educa- ção Nacional - LDB (Lei Federal d)-desenvolvimento de processos metodológicos
n° 9.394/1996) afirmam o exercício da cida- dania como participativos e de cons- trução coletiva, utilizando lin-
uma das finalidades da educação, ao estabelecer uma guagens e materiais didáticos contextualizados;
prática educativa “inspirada nos princípios de liberdade e)-fortalecimento de práticas individuais e sociais
e nos ideais de solidarieda- de humana, com a finalidade que gerem ações e instrumentos em favor da promo-
do pleno desenvolvimento do educando, seu preparo ção, da proteção e da defesa dos direitos humanos,
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o bem como da reparação das violações.
trabalho”9.
O Plano Nacional de Educação em Direitos Huma- Sendo a educação um meio privilegiado na pro-
nos (PNEDH), lança- do em 2003, está apoiado em do- moção dos direitos hu- manos, cabe priorizar a forma-
cumentos internacionais e nacionais, de- marcando a ção de agentes públicos e sociais para atuar no campo
inserção do Estado brasileiro na história da afirmação formal e não-formal, abrangendo os sistemas de edu-
dos di- reitos humanos e na Década da Educação em cação, saú- de, comunicação e informação, justiça e
Direitos Humanos, prevista no Programa Mundial de segurança, mídia, entre outros.
Educação em Direitos Humanos (PMEDH) e seu Plano
de Ação10. São objetivos balizadores do PMEDH con- Desse modo, a educação é compreendida como
forme estabele- cido no artigo 2°: a) fortalecer o respei- um direito em si mesmo e um meio indispensável para
to aos direitos humanos e liberda- des fundamentais; b) o acesso a outros direitos. A educação ganha, por-
promover o pleno desenvolvimento da personalida- de tanto, mais importância quando direcionada ao pleno
e dignidade humana; c) fomentar o entendimento, a to- desenvolvimento humano e às suas potencialidades,
lerância, a igual- dade de gênero e a amizade entre as valorizando o respeito aos grupos social- mente ex-
nações, os povos indígenas e grupos raciais, nacionais, cluídos. Essa concepção de educação busca efetivar a
étnicos, religiosos e lingüísticos; d) estimular a participa- cidadania ple- na para a construção de conhecimen-
ção efetiva das pessoas em uma sociedade livre e demo- tos, o desenvolvimento de valores, atitu- des e com-
crática governada pelo Estado de Direito; e) construir, portamentos, além da defesa socioambiental12 e da
promover e manter a paz. justiça social.
Assim, a mobilização global para a educação em di-
reitos humanos está imbricada no conceito de educação Nos termos já firmados no Programa Mundial de
para uma cultura democrática, na compre- ensão dos Educação em Direi- tos Humanos13, a educação con-
contextos nacional e internacional, nos valores da tole- tribui também para:
rância, da soli- dariedade, da justiça social e na susten-
tabilidade, na inclusão e na pluralidade. a) criar uma cultura universal dos direitos
A elaboração e implementação de planos e progra- humanos;
mas nacionais e a criação de comitês estaduais de edu-
cação em direitos humanos se consti- tuem, portanto, b) exercitar o respeito, a tolerância, a pro-
em uma ação global e estratégica do governo brasileiro moção e a valorização das diversidades (étnico-racial,
para efetivar a Década da Educação em Direitos Huma- religiosa, cultural, geracional, territorial, físi- co-indivi-
nos 1995-2004. Da mesma forma, no âmbito regional do dual, de gênero, de orientação sexual, de nacionalida-
MERCOSUL, Países Associados e Chan- celarias, foi criado de, de op- ção política, dentre outras) e a solidarieda-
um Grupo de Trabalho para implementar ações de di- de entre povos e nações;
reitos humanos na esfera da educação e da cultura11.
Os Planos Nacionais e os Comitês Estaduais de Educa- c) assegurar a todas as pessoas o acesso à
ção em Direitos Humanos são dois impor- tantes meca- participação efetiva em uma sociedade livre.
nismos apontados para o processo de implementação A educação em direitos humanos, ao longo de
e monitoramento, de modo a efetivar a centralidade da todo o processo de redemocratização e de fortaleci-
educação em direi- tos humanos enquanto política pú- mento do regime democrático, tem busca- do contri-
blica. buir para dar sustentação às ações de promoção, pro-
A educação em direitos humanos é compreendida teção e defe- sa dos direitos humanos, e de reparação
como um processo sistemático e multidimensional que das violações. A consciência sobre os direitos indivi-
orienta a formação do sujeito de direi- tos, articulando duais, coletivos e difusos tem sido possível devido ao
as seguintes dimensões: con- junto de ações de educação desenvolvidas, nessa
a)-apreensão de conhecimentos historicamente perspectiva, pelos atores sociais e pelos(as) agentes
construídos sobre direi- tos humanos e a sua relação institucionais que incorporaram a promoção dos direi-
com os contextos internacional, nacional e local; tos humanos como princípio e diretriz.

149
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

A implementação do Plano Nacional de Educação l) balizar a elaboração, implementação, moni-


em Direitos Humanos visa, sobretudo, difundir a cultura toramento, avaliação e atuali- zação dos Planos de Edu-
de direitos humanos no país. Essa ação prevê a dissemi- cação em Direitos Humanos dos estados e municípios;
nação de valores solidários, cooperativos e de justiça so-
cial, uma vez que o processo de democratização requer m) incentivar formas de acesso às ações de edu-
o fortalecimento da socie- dade civil, a fim de que seja cação em direitos hu- manos a pessoas com deficiência.
capaz de identificar anseios e demandas, transfor- man-
do-as em conquistas que só serão efetivadas, de fato, na Linhas gerais de ação
medida em que forem incorporadas pelo Estado brasi- Desenvolvimento normativo e institucional
leiro como políticas públicas universais.
a) Consolidar o aperfeiçoamento da legisla-
Objetivos gerais ção aplicável à educação em direitos humanos;
São objetivos gerais do PNEDH:
a) destacar o papel estratégico da educação em b) propor diretrizes normativas para a educa-
direitos humanos para o fortalecimento do Estado De- ção em direitos humanos;
mocrático de Direito;
c) apresentar aos órgãos de fomento à pes-
b) enfatizar o papel dos direitos humanos na quisa e pós-graduação pro- posta de reconhecimento
construção de uma soci- edade justa, eqüitativa e de-
mocrática; dos direitos humanos como área de conhecimento
interdisciplinar, tendo, entre outras, a educação em di-
c) encorajar o desenvolvimento de ações de edu- reitos humanos como sub-área;
cação em direitos hu- manos pelo poder público e a so-
ciedade civil por meio de ações conjuntas; d) propor a criação de unidades específicas
e programas interinstitucionais para coordenar e desen-
d) contribuir para a efetivação dos compromissos volver ações de educação em direitos humanos nos di-
internacionais e nacionais com a educação em direitos versos órgãos da administração pública;
humanos;
e) institucionalizar a categoria educação em
e) estimular a cooperação nacional e internacio- direitos humanos no Prê- mio Direitos Humanos do
nal na implementação de ações de educação em direitos governo federal;
humanos;
f) sugerir a inclusão da temática dos direitos
f) propor a transversalidade da educação em di- humanos nos concursos para todos os cargos públicos
reitos humanos nas polí- ticas públicas, estimulando o em âmbito federal, distrital, estadual e municipal;
desenvolvimento institucional e interinstitucional das g) incluir a temática da educação em direitos hu-
ações previstas no PNEDH nos mais diversos setores manos nas conferên- cias nacionais, estaduais e munici-
(educação, saúde, comunicação, cultura, segurança e pais de direitos humanos e das demais políticas públicas;
justiça, esporte e lazer, dentre outros); h) fortalecer o Comitê Nacional de Educação em
Direitos Humanos;
g) avançar nas ações e propostas do Programa i) propor e/ou apoiar a criação e a estruturação dos
Nacional de Direitos Huma- nos (PNDH) no que se refe- Comitês Estadu- ais, Municipais e do Distrito Federal de
re às questões da educação em direitos humanos; Educação em Direitos Humanos.
h) orientar políticas educacionais direciona-
das para a constituição de uma cultura de direitos hu- Produção de informação e conhecimento
manos;
a) Promover a produção e disseminação de dados
i) estabelecer objetivos, diretrizes e linhas de e informações so- bre educação em direitos humanos
ações para a elaboração de programas e projetos na por diversos meios, de modo a sensibi- lizar a sociedade
área da educação em direitos humanos; e garantir acessibilidade às pessoas com deficiências14;

j) estimular a reflexão, o estudo e a pesquisa b) publicizar os mecanismos de proteção nacio-


voltados para a educa- ção em direitos humanos; nais e internacionais;

k) incentivar a criação e o fortalecimento de c) estimular a realização de estudos e pesquisas


instituições e organiza- ções nacionais, estaduais e mu- para subsidiar a edu- cação em direitos humanos;
nicipais na perspectiva da educação em di- reitos hu-
manos; d) incentivar a sistematização e divulgação de
práticas de educação em direitos humanos.

150
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Realização de parcerias e intercâmbios internacio- c) estabelecer diretrizes curriculares para a


nais formação inicial e conti- nuada de profissionais em edu-
cação em direitos humanos, nos vários ní- veis e moda-
a) Incentivar a realização de eventos e debates lidades de ensino;
sobre educação em direitos humanos;
d) incentivar a interdisciplinaridade e a trans-
b) apoiar e fortalecer ações internacionais de disciplinaridade na edu- cação em direitos humanos;
cooperação em educa- ção em direitos humanos;
e) inserir o tema dos direitos humanos como
c) promover e fortalecer a cooperação e o inter- conteúdo curricular na formação de agentes sociais pú-
câmbio internacional de experiências sobre a elabo- blicos e privados.
ração, implementação e implantação de Planos Naci-
onais de Educação em Direitos Humanos, especialmente Gestão de programas e projetos
em âmbito regional; a) Sugerir a criação de programas e projetos de
educação em direitos humanos em parceria com diferentes ór-
d) apoiar e fortalecer o Grupo de Trabalho em Edu- gãos do Executivo, Legislativo e Judiciário, de modo a fortalecer
cação e Cultura em Direitos Humanos criado pela V Reu- o processo de implementação dos eixos temáticos do PNEDH;
nião de Altas Autoridades Competen- tes em Direitos Hu- b) prever a inclusão, no orçamento da União, do Distri-
manos e Chancelarias do MERCOSUL; to Federal, dos esta- dos e municípios, de dotação orçamen-
tária e financeira específica para a implementação das ações
e) promover o intercâmbio entre redes nacio- de educação em direitos humanos previstas no PNEDH;
nais e internacionais de direitos humanos e educação, c) captar recursos financeiros junto ao setor pri-
a exemplo do Fórum Internacional de Edu- cação em Di- vado e agências de fomento, com vistas à implementa-
reitos Humanos, do Fórum Educacional do MERCOSUL, da ção do PNEDH.
Rede Latino-Americana de Educação em Direitos Huma-
nos, dos Comitês Nacio- nal e Estaduais de Educação em Avaliação e monitoramento
Direitos Humanos, entre outras.
Produção e divulgação de materiais a) Definir estratégias e mecanismos de avaliação
a) Fomentar a produção de publicações sobre e monitoramento da execução física e financeira dos
educação em direitos humanos, subsidiando as áreas do programas, projetos e ações do PNEDH;
PNEDH; b) acompanhar, monitorar e avaliar os progra-
mas, projetos e ações de educação em direitos huma-
b) promover e apoiar a produção de recursos nos, incluindo a execução orçamentária dos mesmos;
pedagógicos especializados e a aquisição de materiais e
equipamentos para a educação em direitos humanos, em c) elaborar anualmente o relatório de implemen-
todos os níveis e modalidades da educação, aces- síveis tação do PNEDH.
para pessoas com deficiência;
I- EDUCAÇÃO BÁSICA
c) incluir a educação em direitos humanos no
Programa Nacional do Livro Didático e outros pro-gra- Concepção e princípios
mas de livro e leitura; A educação em direitos humanos vai além de uma
aprendiza- gem cognitiva, incluindo o desenvolvimento
d) disponibilizar materiais de educação em di- social e emocional de quem se envolve no processo en-
reitos humanos em con- dições de acessibilidade e for- sino- aprendizagem (Programa Mun- dial de Educação
matos adequados para as pessoas com defici- ência, bem em Direitos Humanos – PMEDH/2005). A educação, nes-
como promover o uso da Língua Brasileira de Sinais (LI- se entendimento, deve ocorrer na comunidade escolar
BRAS) em eventos ou divulgação em mídia. em interação com a comunidade local.
Assim, a educação em direitos humanos deve abar-
Formação e capacitação de profissionais car questões concernentes aos campos da educação
a) Promover a formação inicial e continuada dos formal, à escola, aos procedimen- tos pedagógicos, às
profissionais, especi- almente aqueles da área de educação agendas e instrumentos que possibilitem uma ação pe-
e de educadores(as) sociais em direi- tos humanos, con- dagógica conscientizadora e libertadora, voltada para o
templando as áreas do PNEDH; respeito e valo- rização da diversidade, aos conceitos de
sustentabilidade e de formação da cidadania ativa.
b) oportunizar ações de ensino, pesquisa e A universalização da educação básica, com indica-
extensão com foco na edu- cação em direitos humanos, dores precisos de qualidade e de eqüidade, é condição
na formação inicial dos profissionais de edu- cação e de essencial para a disseminação do conhecimento social-
outras áreas; mente produzido e acumulado e para a democratiza-
ção da sociedade.

151
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Não é apenas na escola que se produz e reproduz o e) a educação em direitos humanos deve ser um
conhecimen- to, mas é nela que esse saber aparece sis- dos eixos fundamen- tais da educação básica e per-
tematizado e codificado. Ela é um espaço social privile- mear o currículo, a formação inicial e conti- nuada dos
giado onde se definem a ação institucional pedagógica profissionais da educação, o projeto políticopedagó-
e a prática e vivência dos direitos humanos. Nas socie- gico da es- cola, os materiais didático-pedagógicos, o
da- des contemporâneas, a escola é local de estrutura- modelo de gestão e a avaliação;
ção de concepções de mundo e de consciência social, de f) a prática escolar deve ser orientada para a edu-
circulação e de consolidação de valores, de promoção cação em direitos humanos, assegurando o seu caráter
da diversidade cultural, da formação para a ci- dadania, transversal e a relação dialógica entre os diversos atores
de constituição de sujeitos sociais e de desenvolvimento sociais.
de práticas pedagógicas.
O processo formativo pressupõe o reconhecimen- Ações programáticas
to da pluralidade e da alteridade, condições básicas da 1. Propor a inserção da educação em direitos
liberdade para o exercício da crítica, da criatividade, do humanos nas diretrizes curriculares da educação bási-
debate de idéias e para o reconhecimento, respeito, ca;
promoção e valorização da diversidade.
Para que esse processo ocorra e a escola possa con- 2. integrar os objetivos da educação em di-
tribuir para a edu- cação em direitos humanos, é impor- reitos humanos aos conteú- dos, recursos, metodolo-
tante garantir dignidade, igualdade de oportunidades, gias e formas de avaliação dos sistemas de ensino;
exercício da participação e da autonomia aos membros
da comunidade escolar. 3. estimular junto aos profissionais da edu-
Democratizar as condições de acesso, permanência cação básica, suas entida- des de classe e associações,
e conclusão de todos(as) na educação infantil, ensino a reflexão teórico-metodológica acerca da edu- cação
fundamental e médio, e fomentar a consciência social em direitos humanos;
crítica devem ser princípios norteadores da Educação
Básica. É necessário concentrar esforços, desde a infân- 4. desenvolver uma pedagogia participativa
cia, na formação de cidadãos(ãs), com atenção especial que inclua conhecimen- tos, análises críticas e habili-
às pessoas e segmentos sociais histori- camente excluí- dades para promover os direitos humanos;
dos e discriminados.
A educação em direitos humanos deve ser promo- 5. incentivar a utilização de mecanismos que
vida em três di- mensões: a) conhecimentos e habilida- assegurem o respeito aos direitos humanos e sua prática
des: compreender os direitos humanos e os mecanismos nos sistemas de ensino;
existentes para a sua proteção, assim como incentivar
o exercício de habilidades na vida cotidiana; b) valo- 6. construir parcerias com os diversos mem-
res, ati- tudes e comportamentos: desenvolver valores bros da comunidade esco- lar na implementação da
e fortalecer atitudes e comportamentos que respeitem educação em direitos humanos;
os direitos humanos; c) ações: desen- cadear atividades
para a promoção, defesa e reparação das violações aos 7. tornar a educação em direitos humanos
direitos humanos. um elemento relevante para a vida dos(as) alunos(as)
São princípios norteadores da educação em direitos e dos(as) trabalhadores(as) da educação, envolvendo-
humanos na edu- cação básica: -os(as) em um diálogo sobre maneiras de aplicar os
a) a educação deve ter a função de desenvolver uma direitos humanos em sua prática cotidiana;
cultura de direi- tos humanos em todos os espaços sociais;
b) a escola, como espaço privilegiado para a 8. promover a inserção da educação em di-
construção e consolida- ção da cultura de direitos hu- reitos humanos nos proces- sos de formação inicial e
manos, deve assegurar que os objetivos e as práticas a continuada dos(as) trabalhadores(as) em educa- ção,
serem adotados sejam coerentes com os valores e prin- nas redes de ensino e nas unidades de internação e
cípios da educação em direitos humanos; atendimento de adolescentes em cumprimento de me-
c) a educação em direitos humanos, por seu cará- didas socioeducativas, incluindo, den- tre outros(as),
ter coletivo, demo- crático e participativo, deve ocorrer docentes, não-docentes, gestores (as) e leigos(as);
em espaços marcados pelo entendi- mento mútuo, res-
peito e responsabilidade; 9. fomentar a inclusão, no currículo escolar,
d) a educação em direitos humanos deve estru- das temáticas relativas a gênero, identidade de gênero,
turar-se na diversi- dade cultural e ambiental, garan- raça e etnia, religião, orientação sexual, pes- soas com
tindo a cidadania, o acesso ao ensi- no, permanência e deficiências, entre outros, bem como todas as formas
conclusão, a eqüidade (étnico-racial, religiosa, cul- tural, de discrimi- nação e violações de direitos, asseguran-
territorial, físico-individual, geracional, de gênero, de do a formação continuada dos(as) trabalhadores(as) da
orienta- ção sexual, de opção política, de nacionalidade, educação para lidar criticamente com esses temas;
dentre outras) e a qualidade da educação;

152
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

10. apoiar a implementação de projetos cultu- 25. propor ações fundamentadas em princí-
rais e educativos de enfrentamento a todas as formas de pios de convivência, para que se construa uma escola
discriminação e violações de direitos no ambiente escolar; livre de preconceitos, violência, abuso sexual, intimida-
ção e punição corporal, incluindo procedimentos para a
11. favorecer a inclusão da educação em di- resolução de conflitos e modos de lidar com a violência
reitos humanos nos proje- tos político- pedagógicos e perseguições ou intimida- ções, por meio de proces-
das escolas, adotando as práticas pedagógicas demo- sos participativos e democráticos;
cráticas presentes no cotidiano; 26. apoiar ações de educação em direitos hu-
12. apoiar a implementação de experiências de manos relacionadas ao esporte e lazer, com o objeti-
interação da escola com a comunidade, que contribuam vo de elevar os índices de participação da população,
para a formação da cidadania em uma perspectiva críti- o compromisso com a qualidade e a universalização do
ca dos direitos humanos; acesso às práticas do acervo popular e erudito da cultu-
13. incentivar a elaboração de programas e proje- ra corporal;
tos pedagógicos, em articulação com a rede de assistên- 27. promover pesquisas, em âmbito nacio-
cia e proteção social, tendo em vista prevenir e enfrentar nal, envolvendo as secreta- rias estaduais e municipais de
as diversas formas de violência; educação, os conselhos estaduais, a UNDIME e o CONSED
14. apoiar expressões culturais cidadãs presentes sobre experiências de educação em direitos humanos na
nas artes e nos es- portes, originadas nas diversas forma- edu- cação básica.
ções étnicas de nossa sociedade;
15. favorecer a valorização das expressões cultu- II-EDUCAÇÃO SUPERIOR
rais regionais e locais pelos projetos político-pedagógi- Concepção e princípios
cos das escolas;
16. dar apoio ao desenvolvimento de políticas A Constituição Federal de 1988 definiu a autonomia
públicas destinadas a promover e garantir a educação universitária (didática, científica, administrativa, financei-
em direitos humanos às comunidades quilombolas
ra e patrimonial) como mar- co fundamental pautado no
e aos povos indígenas, bem como às populações das
princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
áreas rurais e ribeirinhas, assegurando condições de en-
extensão.
sino e aprendizagem ade- quadas e específicas aos edu-
O artigo terceiro da Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
cadores e educandos;
cação Nacional propõe, como finalidade para a educa-
17. incentivar a organização estudantil por meio
ção superior, a participação no pro- cesso de desenvol-
de grêmios, associa- ções, observatórios, grupos de tra-
vimento a partir da criação e difusão cultural, incentivo
balhos entre outros, como forma de apren- dizagem dos
princípios dos direitos humanos, da ética, da convivência à pesquisa, colaboração na formação contínua de pro-
e da participação democrática na escola e na sociedade; fissionais e divulga- ção dos conhecimentos culturais,
18. estimular o fortalecimento dos Conselhos Es- científicos e técnicos produzidos por meio do ensino e
colares como potenciais agentes promotores da edu- das publicações, mantendo uma relação de serviço e re-
cação em direitos humanos no âmbito da escola; ciprocidade com a sociedade.
19. apoiar a elaboração de programas e projetos de A partir desses marcos legais, as universidades bra-
educação em direitos humanos nas unidades de atendi- sileiras, especial- mente as públicas, em seu papel de
mento e internação de adoles- centes que cumprem medi- instituições sociais irradiadoras de co- nhecimentos e
das socioeducativas, para estes e suas famílias; práticas novas, assumiram o compromisso com a for-
20. promover e garantir a elaboração e a imple- mação crítica, a criação de um pensamento autônomo,
mentação de programas educativos que assegurem, no a descoberta do novo e a mudança histórica.
sistema penitenciário, processos de formação na pers- A conquista do Estado Democrático delineou, para
pectiva crítica dos direitos humanos, com a inclusão de as Instituições de Ensino Superior (IES), a urgência em
atividades profissionalizantes, artísticas, esportivas e de participar da construção de uma cultura de promoção,
lazer para a população prisional; proteção, defesa e reparação dos direitos huma- nos,
21. dar apoio técnico e financeiro às experiências por meio de ações interdisciplinares, com formas dife-
de formação de estudantes como agentes promotores de rentes de re- lacionar as múltiplas áreas do conhecimen-
direitos humanos em uma pers- pectiva crítica; to humano com seus saberes e práticas. Nesse contexto,
22. fomentar a criação de uma área específica de inúmeras iniciativas foram realizadas no Bra- sil, intro-
direitos humanos, com funcionamento integrado, nas duzindo a temática dos direitos humanos nas atividades
bibliotecas públicas; do ensino de graduação e pós-graduação, pesquisa e
23. propor a edição de textos de referência e bi- extensão, além de iniciativas de caráter cultural.
bliografia comenta- da, revistas, gibis, filmes e outros Tal dimensão torna-se ainda mais necessária se con-
materiais multimídia em educação em direitos humanos; siderarmos o atual contexto de desigualdade e exclusão
24. incentivar estudos e pesquisas sobre as social, mudanças ambientais e agra- vamento da vio-
violações dos direitos hu- manos no sistema de ensino lência, que coloca em risco permanente a vigência dos
e outros temas relevantes para desenvolver uma cultura di- reitos humanos. As instituições de ensino superior
de paz e cidadania; precisam responder a esse cenário, contribuindo não só

153
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

com a sua capacidade crítica, mas tam- bém com uma sociedade, com vistas à difusão de valores democráti-
postura democratizante e emancipadora que sirva de cos e republica- nos, ao fortalecimento da esfera pú-
parâmetro para toda a sociedade. blica e à construção de projetos coletivos;
As atribuições constitucionais da universidade nas j) a educação em direitos humanos deve se
áreas de ensino,pesquisa e extensão delineiam sua constituir em princípio ético-político orientador da formu-
missão de ordem educacional, social e lação e crítica da prática das instituições de ensino superior;
institucional. A produção do conhecimento é o k) as atividades acadêmicas devem se voltar
motor do desenvolvimento científico e tecnológico e para a formação de uma cultura baseada na universa-
de um compromisso com o futuro da sociedade brasi- lidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos
leira, tendo em vista a promoção do desenvolvimento, humanos, como tema transversal e transdisciplinar, de
da justiça soci- al, da democracia, da cidadania e da modo a inspirar a elaboração de programas específicos
paz. e metodologias adequadas nos cursos de graduação e
O Programa Mundial de Educação em Direitos Hu- pós-graduação, entre outros;
manos (ONU, 2005), ao propor a construção de uma l) a construção da indissociabilidade entre
cultura universal de direitos humanos por meio do ensino, pesquisa e ex- tensão deve ser feita articulando
conhecimento, de habilidades e atitudes, aponta para as diferentes áreas do conhecimento, os setores de pes-
as insti- tuições de ensino superior a nobre tarefa de quisa e extensão, os programas de graduação, de pós-
formação de cidadãos(ãs) hábeis para participar de graduação e outros;
uma sociedade livre, democrática e tolerante com as m) o compromisso com a construção de uma
diferenças étnico-racial, religiosa, cultural, territorial, cultura de respeito aos direitos humanos na relação com
físico-indi- vidual, geracional, de gênero, de orienta- os movimentos e entidades sociais, além de grupos em
ção sexual, de opção política, de nacionalidade, dentre situação de exclusão ou discriminação;
outras. n) a participação das IES na formação de
No ensino, a educação em direitos humanos pode agentes sociais de educa- ção em direitos humanos e
ser incluída por meio de diferentes modalidades, tais na avaliação do processo de implementação do PNEDH.
como, disciplinas obrigatórias e optativas, linhas de
Ações programáticas
pesquisa e áreas de concentração, transversalização
1. Propor a temática da educação em direitos
no projeto político-pedagógico, entre outros.
humanos para subsidiar as diretrizes curriculares das áreas
Na pesquisa, as demandas de estudos na área dos
de conhecimento das IES;
direitos humanos requerem uma política de incentivo
que institua esse tema como área de conhecimento de
2. divulgar o PNEDH junto à sociedade brasi-
caráter interdisciplinar e transdisciplinar.
leira, envolvendo a par- ticipação efetiva das IES;
Na extensão universitária, a inclusão dos direitos
humanos no Plano Nacional de Extensão Universitária
3. fomentar e apoiar, por meio de editais pú-
enfatizou o compromisso das universi- dades públi- blicos, programas, proje- tos e ações das IES voltados
cas com a promoção dos direitos humanos15. A inser- para a educação em direitos humanos;
ção desse tema em programas e projetos de extensão
pode envolver atividades de capacitação, assessoria e 4. solicitar às agências de fomento a criação
realização de eventos, entre outras, articuladas com as de linhas de apoio à pes- quisa, ao ensino e à extensão
áreas de ensino e pesquisa, contemplando temas di- na área de educação em direitos humanos;
versos.
A contribuição da educação superior na área da 5. promover pesquisas em nível nacional e
educação em direitos humanos implica a consideração estadual com o envolvimento de universidades públicas,
dos seguintes princípios: comunitárias e privadas, levan- tando as ações de ensi-
g) a universidade, como criadora e disseminado- no, pesquisa e extensão em direitos humanos, de modo
ra de conhecimento, é instituição social com vocação a estruturar um cadastro atualizado e interativo.
republicana, diferenciada e autônoma, com- prometi- 6. incentivar a elaboração de metodologias pe-
da com a democracia e a cidadania; dagógicas de caráter transdisciplinar e interdisciplinar
h) os preceitos da igualdade, da liberdade e da para a educação em direitos humanos nas IES;
justiça devem guiar as ações universitárias, de modo 7. estabelecer políticas e parâmetros para a forma-
a garantir a democratização da informação, o acesso ção continuada de professores em educação em direitos
por parte de grupos sociais vulneráveis ou excluídos e humanos, nos vários níveis e modali- dades de ensino;
o compro- misso cívico-ético com a implementação de 8. contribuir para a difusão de uma cultura de di-
políticas públicas voltadas para as necessidades básicas reitos humanos, com atenção para a educação básica e a
desses segmentos; educação não-formal nas suas diferen- tes modalidades,
i) o princípio básico norteador da educação em bem como formar agentes públicos nessa perspectiva,
direitos humanos como prática permanente, contínua envolvendo discentes e docentes da graduação e da
e global, deve estar voltado para a transforma-ção da pós-graduação;

154
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

9. apoiar a criação e o fortalecimento de fó- III-EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL


runs, núcleos, comissões e centros de pesquisa e
extensão destinados à promoção, defesa, proteção Concepção e princípios
e ao estudo dos direitos humanos nas IES; A humanidade vive em permanente processo de re-
10. promover o intercâmbio entre as IES no flexão e aprendi- zado. Esse processo ocorre em todas
plano regional, nacional e internacional para a rea- as dimensões da vida, pois a aquisi- ção e produção de
lização de programas e projetos na área da educa- conhecimento não acontecem somente nas escolas e
ção em direitos humanos; instituições de ensino superior, mas nas moradias e lo-
11. fomentar a articulação entre as IES, as redes cais de trabalho, nas cidades e no campo, nas famílias,
de educação básica e seus órgãos gestores (secreta- nos movimentos sociais, nas associ- ações civis, nas or-
rias estaduais e municipais de educação e se- creta- ganizações não-governamentais e em todas as áreas da
rias municipais de cultura e esporte), para a realização convivência humana.
de programas e projetos de educação em direitos hu-
manos voltados para a formação de educadores e de A educação não-formal em direitos humanos orien-
agentes sociais das áreas de esporte, lazer e cultura; ta-se pelos princí- pios da emancipação e da autonomia.
12. propor a criação de um setor específi- Sua implementação configura um permanente proces-
co de livros e periódicos em direitos humanos no so de sensibilização e formação de consciência crítica,
acervo das bibliotecas das IES; direcionada para o encaminhamento de reivindicações
13. apoiar a criação de linhas editoriais em e a formulação de propostas para as políticas públicas,
direitos humanos junto às IES, que possam contri- podendo ser compreendida como: a) qualificação para
buir para o processo de implementação do PNEDH; o trabalho; b) adoção e exercício de práticas voltadas
14. estimular a inserção da educação em di- para a comunidade; c) aprendizagem política de direitos
reitos humanos nas conferên- cias, congressos, por meio da par- ticipação em grupos sociais; d) edu-
seminários, fóruns e demais eventos no campo da cação realizada nos meios de comunica- ção social; e)
educação superior, especialmente nos debates so- aprendizagem de conteúdos da escolarização formal
bre políticas de ação afirmativa; em mo- dalidades diversificadas; e f) educação para a
15. sugerir a criação de prêmio em educa- vida no sentido de garantir o respeito à dignidade do
ção em direitos humanos no âmbito do MEC, com ser humano.
apoio da SEDH, para estimular as IES a investir em Os espaços das atividades de educação não-formal
programas e projetos sobre esse tema; distribuem-se em inúmeras dimensões, incluindo desde
16. implementar programas e projetos de for- as ações das comunidades, dos movi- mentos e orga-
mação e capacitação sobre educação em direitos nizações sociais, políticas e nãogovernamentais até as
humanos para gestores(as), professores(as), servido- do setor da educação e da cultura. Essas atividades se
res(as), corpo discente das IES e membros da comu- desenvolvem em duas vertentes principais: a construção
nidade local; do conhecimento em educação popular e o processo
17. fomentar e apoiar programas e projetos ar- de participação em ações coletivas, tendo a cidadania
tísticos e culturais na área da educação em direitos demo- crática como foco central.
humanos nas IES; Nesse sentido, movimentos sociais, entidades civis
18. desenvolver políticas estratégicas de e partidos políticos praticam educação nãoformal quan-
ação afirmativa nas IES que possibilitem a inclusão, do estimulam os grupos sociais a refle- tirem sobre as
o acesso e a permanência de pessoas com deficiên- suas próprias condições de vida, os processos históricos
cia e aquelas alvo de discriminação por motivo de em que estão inseridos e o papel que desempenham
gênero, de orientação sexual e religiosa, entre ou- na sociedade contempo- rânea. Muitas práticas educati-
tros e seguimentos geracionais e étnico-raciais; vas não-formais enfatizam a reflexão e o conhecimento
19. estimular nas IES a realização de pro- das pessoas e grupos sobre os direitos civis, políticos,
jetos de educação em direitos humanos sobre a econô- micos, sociais e culturais. Também estimulam os
memória do autoritarismo no Brasil, fomentando a grupos e as comunidades a se organizarem e proporem
pes- quisa, a produção de material didático, a iden- interlocução com as autoridades públicas, principalmen-
tificação e organização de acervos históricos e cen- te no que se refere ao encaminhamento das suas princi-
tros de referências; pais reivindicações e à formulação de propostas para as
20. inserir a temática da história recente políticas públicas.
do autoritarismo no Brasil em editais de incentivo a A sensibilização e conscientização das pessoas contri-
projetos de pesquisa e extensão universitária; buem para que os conflitos interpessoais e cotidianos não
21. propor a criação de um Fundo Nacio- se agravem. Além disso, eleva- se a capacidade de as pes-
nal de Ensino, Pesquisa e Ex- tensão para dar su- soas identificarem as violações dos direitos e exi- girem sua
porte aos projetos na área temática da educação apuração e reparação.
em direitos humanos a serem implementados pelas As experiências educativas não-formais estão sendo
IES. aperfeiçoa- das conforme o contexto histórico e a reali-
dade em que estão inseridas. Resultados mais recentes

155
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

têm sido as alternativas para o avanço da democracia, 6. estabelecer intercâmbio e troca de expe-
a ampliação da participação política e popular e o pro- riências entre agentes gover- namentais e da socieda-
cesso de qualificação dos grupos sociais e comunida- de civil organizada vinculados a programas e projetos
des para intervir na definição de políticas democráticas de educação não-formal, para avaliação de resultados,
e cidadãs. O empoderamento dos grupos sociais exige análise de metodologias e definição de parcerias na
conhecimento experimentado sobre os meca- nismos e área de educação em direitos humanos;
instrumentos de promoção, proteção, defesa e repara- 7. apoiar técnica e financeiramente ativida-
ção dos direitos humanos. des nacionais e internacio- nais de intercâmbio entre
Cabe assinalar um conjunto de princípios que de- as organizações da sociedade civil e do poder público,
vem orientar as li- nhas de ação nessa área temática. A que envolvam a elaboração e execução de projetos e
educação não-formal, nessa perspec- tiva, deve ser vista pesquisas de educação em direitos humanos;
como: 8. incluir a temática da educação em direitos
o) mobilização e organização de processos parti- humanos nos programas de qualificação profissional,
cipativos em defesa dos direitos humanos de grupos em alfabetização de jovens e adultos, extensão rural, edu-
situação de risco e vulnerabilidade social, denúncia das cação social comunitária e de cultura popular, entre
violações e construção de propostas para sua promo- outros;
ção, proteção e reparação; 9. incentivar a promoção de ações de educa-
p) instrumento fundamental para a ação forma- ção em direitos humanos volta- das para comunidades
tiva das organizações populares em direitos humanos; urbanas e rurais, tais como quilombolas, indígenas e
q) processo formativo de lideranças sociais para o ciga- nos, acampados e assentados, migrantes, refugia-
exercício ativo da cidadania; dos, estrangeiros em situação irregular e coletividades
r) promoção do conhecimento sobre direitos hu- atingidas pela construção de barragens, entre outras;
manos; 10. incorporar a temática da educação em
s) instrumento de leitura crítica da realidade local direitos humanos nos pro- gramas de inclusão digital e
e contextual, da vivência pessoal e social, identificando
de educação a distância;
e analisando aspectos e modos de ação para a transfor-
11. fomentar o tratamento dos temas de edu-
mação da sociedade;
cação em direitos huma- nos nas produções artísticas,
t) diálogo entre o saber formal e informal acerca
publicitárias e culturais: artes plásticas e cêni- cas, mú-
dos direitos huma- nos, integrando agentes institucio-
sica, multimídia, vídeo, cinema, literatura, escultura e
nais e sociais;
outros meios artísticos, além dos meios de comunica-
u) articulação de formas educativas diferencia-
ção de massa, com temas locais, regionais e nacionais;
das, envolvendo o con- tato e a participação direta dos
agentes sociais e de grupos populares.
12. apoiar técnica e financeiramente programas
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos e projetos da socie- dade civil voltados para a educa-
ção em direitos humanos;
Ações programáticas 13. estimular projetos de educação em direitos
1. Identificar e avaliar as iniciativas de educa- humanos para agentes de esporte, lazer e cultura, in-
ção não-formal em direi- tos humanos, de forma a pro- cluindo projetos de capacitação à distância;
mover sua divulgação e socialização; 14. propor a incorporação da temática da edu-
2. investir na promoção de programas e ini- cação em direitos humanos nos programas e projetos
ciativas de formação e capacitação permanente da po- de esporte, lazer e cultura como instrumentos de in-
pulação sobre a compreensão dos direitos humanos e clusão social, especialmente os esportes vinculados à
suas formas de proteção e efetivação; identidade cultural brasileira e incorporados aos prin-
3. estimular o desenvolvimento de programas cípios e fins da educação nacional.
de formação e capacitação continuada da sociedade ci-
vil, para qualificar sua intervenção de monitoramento e IV-EDUCAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DOS
controle social junto aos órgãos colegiados de promo- SISTEMAS DE JUSTIÇA E SEGURANÇA
ção, defesa e garantia dos direitos humanos em todos
os poderes e esferas administrativas; Concepção e princípios
4. apoiar e promover a capacitação de agen- Os direitos humanos são condições indispensáveis
tes multiplicadores para atuarem em projetos de edu- para a implementação da justiça e da segurança pública
cação em direitos humanos nos processos de alfabeti- em uma sociedade de- mocrática.
zação, educação de jovens e adultos, educação popular, A construção de políticas públicas nas áreas de
orienta- ção de acesso à justiça, atendimento educacio- justiça, segurança e administração penitenciária sob a
nal especializado às pessoas com necessidades educa- ótica dos direitos humanos exige uma abordagem inte-
cionais especiais, entre outros; gradora, intersetorial e transversal com todas as demais
5. promover cursos de educação em direitos hu- políticas públicas voltadas para a melhoria da qualida-
manos para qualificar ser- vidores (as), gestores (as) públi- de de vida e de promoção da igualdade, na perspectiva
cos (as) e defensores (as) de direitos humanos; do fortalecimento do Estado Democrático de Direito.

156
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Para a consolidação desse modelo de Estado é fun- com os valores e princípios dos direitos humanos. A
damental a existên- cia e o funcionamento de sistemas formulação de políticas públicas de segurança e de
de justiça e segurança que promovam os direitos hu- administração da justiça, em uma sociedade demo-
manos e ampliem os espaços da cidadania. No direito crática, requer a formação de agentes policiais, guar-
consti- tucional, a segurança pública, enquanto direito das municipais, bombeiros(as) e de profissionais da
de todos os cidadãos bra- sileiros, somente será efetiva- justiça com base nos princí- pios e valores dos direi-
mente assegurada com a proteção e a promo- ção dos tos humanos, previstos na legislação nacional e nos
direitos humanos. A persistente e alarmante violência dispositivos normativos internacionais firmados pelo
institucional, a exemplo da tortura e do abuso de auto- Brasil.
ridade, corroem a integralidade do sistema de justiça e A educação em direitos humanos constitui um
segurança pública16. instrumento estratégi- co no interior das políticas de
A democratização dos processos de planejamento, segurança e justiça para respaldar a conso- nância
fiscalização e con- trole social das políticas públicas de entre uma cultura de promoção e defesa dos direitos
segurança e justiça exige a participa- ção protagonista humanos e os princípios democráticos.
dos(as) cidadãos(ãs). A consolidação da democracia demanda conhe-
No que se refere à função específica da segurança, cimentos, habilidades e práticas profissionais coe-
a Constituição de 1988 afirma que a segurança pública rentes com os princípios democráticos. O ensino dos
como “dever do Estado, direito e responsabilidade de direitos humanos deve ser operacionalizado nas práti-
todos, é exercida para a preservação da ordem públi- ca cas desses(as) pro- fissionais, que se manifestam nas
e da incolumidade das pessoas e do patrimônio” (Art. mensagens, atitudes e valores presentes na cultura
144). Define como princípios para o exercício do direito das escolas e academias, nas instituições de seguran-
à justiça, o respeito da lei acima das vontades indivi- ça e justiça e nas relações sociais.
duais, o respeito à dignidade contra todas as formas de O fomento e o subsídio ao processo de formação
tratamento desumano e degradante, a liberdade de cul- dos(as) profissionais da segurança pública na pers-
to, a inviolabilidade da intimidade das pessoas, o asilo, o pectiva dos princípios democráticos, devem garan-
sigilo da correspondência e comunica- ções, a liberdade tir a transversalização de eixos e áreas temáticas
de reunião e associação e o acesso à justiça (Art. 5). dos direitos humanos, con- forme o modelo da Ma-
Para que a democracia seja efetivada, é necessário triz Curricular Nacional de Segurança Pública17.
assegurar a proteção do Estado ao direito à vida e à Essa orientação nacional tem sido de fundamen-
dignidade, sem distinção étnico-racial, religio- sa, cul- tal importância, se considerarmos que os sistemas de
tural, territorial, físico-individual, geracional, de gênero, justiça e segurança congregam um con- junto diver-
de orientaçãosexual, de opção política, de nacionalida- sificado de categorias profissionais com atribuições,
de, dentre outras, garantindo trata- mento igual para formações e experiências bastante diferenciadas.
todos(as). É o que se espera, portanto, da atuação de Portanto, torna-se necessário desta- car e respeitar
um sistema integrado de justiça e segurança em uma o papel essencial que cada uma dessas categorias
democracia. exerce junto à sociedade, orientando as ações educa-
A aplicação da lei é critério para a efetivação do di- cionais a incluir valores e procedimentos que possi-
reito à justiça e à segurança. O processo de elaboração bilitem tornar seus(suas) agentes em verdadeiros(as)
e aplicação da lei exige coerência com os princípios da promotores(as) de direitos humanos, o que significa
igualdade, da dignidade, do respeito à diversidade, da ir além do papel de defensores(as) desses direitos.
solidariedade e da afirmação da democracia. Para esses(as) profissionais, a educação em direi-
A capacitação de profissionais dos sistemas de justiça tos humanos deve considerar os seguintes princípios:
e segurança é, portanto, estratégica para a consolidação da v) respeito e obediência à lei e aos valores
democracia. Esses sistemas, orientados pela perspectiva da morais que a antecedem e fundamentam, promoven-
promoção e defesa dos direitos humanos, requerem qua- do a dignidade inerente à pessoa humana e res- pei-
lificações diferenciadas, considerando as especificidades tando os direitos humanos;
das categorias profissionais envolvidas. Ademais, devem w) liberdade de exercício de expressão e opi-
ter por base uma le- gislação processual moderna, ágil e nião;
cidadã. x) leitura crítica dos conteúdos e da prática
Assim como a segurança e a justiça, a administração social e institucional dos órgãos do sistema de justiça
penitenciária deve estar fundada nos mecanismos de e segurança;
proteção internacional e nacional de direitos humanos. y) reconhecimento de embates entre para-
No tocante às práticas das instituições dos sistemas digmas, modelos de socieda- de, necessidades indivi-
de justiça e segu- rança, a realidade demonstra o quan- duais e coletivas e diferenças políticas e ideológicas;
to é necessário avançar para que seus(suas) profissio- z) vivência de cooperação e respeito às di-
nais atuem como promotores(as) e defensores(as) dos ferenças sociais e culturais, atendendo com dignida-
direitos humanos e da cidadania. Não é admissível, no de a todos os segmentos sem privilégios;
contexto democrá- tico, tratar dos sistemas de justiça aa) conhecimento acerca da proteção e dos
e segurança sem que os mesmos estejam integrados mecanismos de defesa dos direitos humanos;

157
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

ab) relação de correspondência dos eixos éti- 7. apoiar, incentivar e aprimorar as condições
co, técnico e legal no cur- rículo, coerente com os prin- básicas de infraestrutura e superestrutura para a educa-
cípios dos direitos humanos e do Estado Demo- crático ção em direitos humanos nas áreas de justi- ça, segu-
de Direito; rança pública, defesa, promoção social e administração
ac) uso legal, legítimo, proporcional e pro- penitenci- ária como prioridades governamentais;
gressivo da força, protegen- do e respeitando todos(as) 8. fomentar nos centros de formação, escolas
os(as) cidadãos(ãs); e academias, a criação de centros de referência para a
ad) respeito no trato com as pessoas, movi- produção, difusão e aplicação dos conheci- mentos téc-
mentos e entidades sociais, defendendo e promovendo nicos e científicos que contemplem a promoção e defe-
o direito de todos(as); sa dos direitos humanos;
ae) consolidação de valores baseados em uma 9. construir bancos de dados com informa-
ética solidária e em prin- cípios dos direitos humanos, ções sobre policiais militares e civis, membros do Minis-
que contribuam para uma prática emancipatória dos su- tério Público, da Defensoria Pública, magistrados, agen-
jeitos que atuam nas áreas de justiça e segurança; tes e servidores(as) penitenciários(as), dentre outros,
af) explicitação das contradições e conflitos exis- que passaram por processo de formação em direitos
tentes nos discursos e práticas das categorias profissio- humanos, nas instâncias federal, estadual e municipal,
nais do sistema de segurança e justiça; garantindo o compartilhamento das informações entre
ag) estímulo à configuração de habilidades e atitu- os órgãos;
des coerentes com os princípios dos direitos humanos; 10. fomentar ações educativas que estimu-
ah) promoção da interdisciplinaridade e transdis- lem e incentivem o envolvimento de profissionais dos
ciplinaridade nas ações de formação e capacitação dos sistemas com questões de diversidade e exclusão social,
profissionais da área e de disciplinas espe- cíficas de tais como: luta antimanicomial, combate ao trabalho
educação em direitos humanos; escra- vo e ao trabalho infantil, defesa de direitos de
ai) leitura crítica dos modelos de formação e ação grupos sociais discriminados, como mulheres, povos indí-
genas, gays, lésbicas, transgêneros, transexuais e bissexuais
policial que utili- zam práticas violadoras da dignidade
(GLTTB), negros(as), pessoas com deficiência, idosos(as),
da pessoa humana.
adoles- centes em conflito com a lei, ciganos, refugiados,
asilados, entre outros;
Ações programáticas
11. propor e acompanhar a criação de comis-
1. Apoiar técnica e financeiramente programas e
sões ou núcleos de direi- tos humanos nos sistemas de
projetos de capacitação da sociedade civil em educação
justiça e segurança, que abarquem, entre outras tarefas,
em direitos humanos na área da justiça e segurança;
a educação em direitos humanos;
12. promover a formação em direitos humanos
2. sensibilizar as autoridades, gestores(as) e respon- para profissionais e técnicos(as) envolvidos(as) nas ques-
sáveis pela segu- rança pública para a importância da for- tões relacionadas com refugiados(as), migrantes nacionais,
mação em direitos humanos por parte dos operadores(as) estrangeiros(as) e clandestinos(as), considerando a atenção
e servidores(as) dos sistemas das áreas de justiça, seguran- às diferenças e o respeito aos direitos humanos, indepen-
ça, defesa e promoção social; dente- mente de origem ou nacionalidade;
3. criar e promover programas básicos e conteú- 13. incentivar o desenvolvimento de progra-
dos curriculares obrigatórios, disciplinas e atividades mas e projetos de educa- ção em direitos humanos nas
complementares em direitos hu- manos, nos progra- penitenciárias e demais órgãos do sistema prisional, in-
mas para formação e educação continuada dos pro- clusive nas delegacias e manicômios judiciários;
fissionais de cada sistema, considerando os princípios 14. apoiar e financiar cursos de especialização
da transdisciplinaridade e da interdisciplinaridade, que e pós-graduação stricto sensu para as áreas de justiça,
contemplem, en- tre outros itens, a acessibilidade co- segurança pública, administração penitenciá- ria, pro-
municacional e o conhecimento da Língua Brasileira de moção e defesa social, com transversalidade em direitos
Sinais (LIBRAS); humanos;
4. fortalecer programas e projetos de cursos de 15. sugerir a criação de um fórum permanen-
especialização, atuali- zação e aperfeiçoamento em di- te de avaliação das aca- demias de polícia, escolas do
reitos humanos, dirigidos aos(às) profissio- nais da área; Ministério Público, da Defensoria Pública e Magistratu-
5. estimular as instituições federais dos entes fede- ra e centros de formação de profissionais da execução
rativos para a utiliza- ção das certificações como requisito penal;
para ascensão profissional, a exemplo da Rede Nacional de 16. promover e incentivar a implementação do
Cursos de Especialização em Segurança Pública – RENAESP; Plano de Ações Inte- gradas para Prevenção e Contro-
6. proporcionar condições adequadas para que le da Tortura no Brasil18, por meio de pro- gramas e
as ouvidorias, corregedorias e outros órgãos de controle projetos de capacitação para profissionais do sistema de
social dos sistemas e dos entes federados, transformem- justiça e segurança pública, entidades da sociedade civil
-se em atores pró-ativos na prevenção das viola- ções e membros do comitê na- cional e estaduais de enfren-
de direitos e na função educativa em direitos humanos; tamento à tortura;

158
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

17. produzir e difundir material didático e peda- São espaços de intensos embates políticos e ideo-
gógico sobre a pre- venção e combate à tortura para os lógicos, pela sua alta capacidade de atingir corações e
profissionais e gestores do sistema de justiça e seguran- mentes, construindo e reproduzindo vi- sões de mundo
ça pública e órgãos de controle social; ou podendo consolidar um senso comum que freqüen-
18. incentivar a estruturação e o fortalecimento temente moldam posturas acríticas. Mas pode consti-
de academias peni- tenciárias e programas de formação tuir-se tam- bém, em um espaço estratégico para a
dos profissionais do sistema peniten- ciário, inserindo os construção de uma sociedade fun- dada em uma cultura
direitos humanos como conteúdo curricular; democrática, solidária, baseada nos direitos huma- nos
19. implementar programas e projetos de forma- e na justiça social.
ção continuada na área da educação em direitos huma- A mídia pode tanto cumprir um papel de reprodu-
nos para os profissionais das delegacias especializadas ção ideológica que reforça o modelo de uma sociedade
com a participação da sociedade civil; individualista, não-solidária e não-de- mocrática, quan-
20. estimular a criação e/ou apoiar programas e to exercer um papel fundamental na educação crítica
projetos de educação em direitos humanos para os pro- em direitos humanos, em razão do seu enorme po-
fissionais que atuam com refugiados e asilados; tencial para atingir todos os setores da sociedade com
21. capacitar os profissionais do sistema de segu- linguagens diferentes na divulgação de informa- ções,
rança e justiça em relação à questão social das comuni- na reprodução de valores e na propagação de idéias e
dades rurais e urbanas, especialmente as populações in- saberes.
dígenas, os acampamentos e assentamentos rurais e as A contemporaneidade é caracterizada pela socie-
coletividades sem teto; dade do conhecimento e da comunicação, tornando a
22. incentivar a proposta de programas, projetos mídia um instrumento indispensável para o processo
e ações de capacitação para guardas municipais, garan- educativo. Por meio da mídia são difundidos conteúdos
tindo a inserção dos direitos humanos como conteúdo éticos e valores solidários, que contribuem para pro-
teórico e prático; cessos pedagógicos libertado- res, complementando a
23. sugerir programas, projetos e ações de capaci- educação formal e não-formal.
tação em mediação de conflitos e educação em direitos Especial ênfase deve ser dada ao desenvolvimento
humanos, envolvendo conselhos de segurança pública, de mídias comuni- tárias, que possibilitam a democra-
conselhos de direitos humanos, ouvidorias de polícia, co- tização da informação e do acesso às tecnologias para
missões de gerenciamento de crises, dentre outros; a sua produção, criando instrumentos para serem apro-
24. estimular a produção de material didático em priados pelos setores populares e servir de base a ações
direitos humanos para as áreas da justiça e da segurança educativas capazes de penetrar nas regiões mais longín-
pública; quas dos estados e do país, fortalecen- do a cidadania e
25. promover pesquisas sobre as experiências de os direitos humanos.
educação em direi- tos humanos nas áreas de segurança Pelas características de integração e capacidade de
e justiça; chegar a grandes contingentes de pessoas, a mídia é re-
26. apoiar a valorização dos profissionais de se- conhecida como um patrimônio soci- al, vital para que
gurança e justiça, ga- rantindo condições de trabalho o direito à livre expressão e o acesso à informação se-
adequadas e formação continuada, de modo a contri- jam exercidos. É por isso que as emissoras de televisão
buir para a redução de transtornos psíquicos, prevenin- e de rádio atuam por meio de concessões públicas. A
do violações aos direitos humanos. legislação que orienta a prestação desses serviços res-
salta a necessidade de os instrumentos de comunica-
V-EDUCAÇÃO E MÍDIA ção afirma- rem compromissos previstos na Constitui-
Concepção e princípios] ção Federal, em tratados e con- venções internacionais,
como a cultura de paz, a proteção ao meio ambi- ente, a
Os meios de comunicação são constituídos por um tolerância e o respeito às diferenças de etnia, raça, pes-
conjunto de insti- tuições, aparatos, meios, organismos soas com deficiência, cultura, gênero, orientação sexual,
e mecanismos voltados para a produ- ção, a difusão e política e religiosa, dentre outras. Assim, a mídia deve
a avaliação de informações destinadas a diversos públi- adotar uma postura favorável à não-violência e ao res-
cos. peito aos direitos humanos, não só pela força da lei, mas
Diferentes mídias são por eles empregadas: revistas, também pelo seu engajamento na melhoria da qualida-
jornais, boletins e outras publicações impressas, meios de de vida da população.
audiovisuais, tais como televisão, cine- ma, vídeo, rádio, Para fundamentar a ação dos meios de comunicação
outdoors, mídia computadorizada on-line, mídia intera- na perspectiva da educação em direitos humanos, devem
tiva, dentre outras. Todo esse aparato de comunicação ser considerados como princípios:
tem como objetivo a trans- missão de informação, opi- aj) a liberdade de exercício de expressão e opinião;
nião, publicidade, propaganda e entretenimento. É um ak) o compromisso com a divulgação de conteú-
espaço político, com capacidade de construir opinião dos que valorizem a cidadania, reconheçam as dife-
pública, formar consciências, influir nos comportamen- renças e promovam a diversidade cultural, base para a
tos, valores, crenças e atitudes. construção de uma cultura de paz;

159
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

al) a responsabilidade social das empresas de mí- sobre políticas públicas em desenvolvimento nos âm-
dia pode se expressar, entre outras formas, na promo- bitos municipal, estadual e federal, dentre outros temas;
ção e divulgação da educação em direitos humanos; 9. realizar campanhas para orientar cidadãos(ãs)
am) a apropriação e incorporação crescentes de e entidades a denun- ciar eventuais abusos e violações dos
temas de educação em direitos humanos pelas novas direitos humanos cometidos pela mídia, para que os(as)
tecnologias utilizadas na área da comunica- ção e infor- autores(as) sejam responsabilizados(as) na forma da lei;
mação; 10. incentivar a regulamentação das disposi-
an) a importância da adoção pelos meios de co- ções constitucionais rela- tivas à missão educativa dos
municação, de lingua- gens e posturas que reforcem os veículos de comunicação que operam median- te con-
valores da não-violência e do respeito aos direitos hu- cessão pública;
manos, em uma perspectiva emancipatória. 11. propor às comissões legislativas de direi-
tos humanos a instituição de prêmios de mérito a pes-
Ações programáticas soas e entidades ligadas à comunicação social, que te-
1. Criar mecanismos de incentivo às agências de nham se destacado na área dos direitos humanos;
publicidade para a produção de peças de propaganda 12. apoiar a criação de programas de forma-
adequadas a todos os meios de comuni- cação, que di- ção de profissionais da educação e áreas afins, tendo
fundam valores e princípios relacionados aos direitos como objetivo desenvolver a capacidade de leitura críti-
huma- nos e à construção de uma cultura transforma- ca da mídia na perspectiva dos direitos humanos;
dora nessa área; 13. propor concursos no âmbito nacional e regio-
2. sensibilizar proprietários(as) de agências de nal de ensino, nos níveis fundamental, médio e superior,
publicidade para a pro- dução voluntária de peças de sobre meios de comunicação e di- reitos humanos;
propaganda que visem à realização de campa- nhas de 14. estabelecer parcerias entre a Secretaria Espe-
difusão dos valores e princípios relacionados aos direi- cial dos Direitos Hu- manos e organizações comunitárias e
tos humanos; empresariais, tais como rádios, ca- nais de televisão, bem
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos como organizações da sociedade civil, para a produ- ção e
3. propor às associações de classe e dirigentes difusão de programas, campanhas e projetos de comunica-
de meios de comunica- ção a veiculação gratuita das peças ção na área de direitos humanos, levando em consideração
de propaganda dessas campanhas; o parágrafo 2°. do artigo 53 do Decreto 5.296/2004;
4. garantir mecanismos que assegurem a im- 15. fomentar a criação e a acessibilidade de Ob-
plementação de ações do PNEDH, tais como premiação servatórios Sociais des- tinados a acompanhar a cober-
das melhores campanhas e promoção de in- centivos tura da mídia em direitos humanos;
fiscais, para que órgãos da mídia empresarial possam 16. incentivar pesquisas regulares que possam iden-
aderir às medidas propostas; tificar formas, cir- cunstâncias e características de violações
5. definir parcerias com entidades associativas dos direitos humanos pela mídia;
de empresas da área de mídia, profissionais de comuni- 17. apoiar iniciativas que facilitem a regularização
cação, entidades sindicais e populares para a produção dos meios de co- municação de caráter comunitário,
e divulgação de materiais relacionados aos direitos hu- como estratégia de democratização da informação;
manos; 18. acompanhar a implementação da Portaria n°.
6. propor e estimular, nos meios de comunica- 310, de 28 de junho de 2006, do Ministério das Comuni-
ção, a realização de pro- gramas de entrevistas e debates cações, sobre emprego de legenda ocul- ta, janela com
sobre direitos humanos, que envolvam entidades comuni- intérprete de LIBRAS, dublagem e áudio, descrição de
tárias e populares, levando em consideração as especifici- cenas e imagens na programação regular da televisão,
dades e as linguagens adequadas aos diferentes segmen- de modo a garantir o acesso das pessoas com deficiên-
tos do público de cada região do país; cia auditiva e visual à informação e à co- municação;
7. firmar convênios com gráficas públicas e 19. incentivar professores(as), estudantes de comu-
privadas, além de outras empresas, para produzir edi- nicação social e es- pecialistas em mídia a desenvolver pes-
ções populares de códigos, estatutos e da legis- lação quisas na área de direitos humanos;
em geral, relacionados a direitos, bem como informati- 20. propor ao Conselho Nacional de Educação a
vos (manuais, guias, cartilhas etc.), orientando a popula- inclusão da disciplina “Direitos Humanos e Mídia” nas
ção sobre seus direitos e deveres, com ampla distribui- diretrizes curriculares dos cursos de Co- municação So-
ção gratuita em todo o território nacional, contemplan- cial;
do também nos materiais as necessidades das pessoas 21. sensibilizar diretores(as) de órgãos da mídia
com deficiência; para a inclusão dos princípios fundamentais de direitos
8. propor a criação de bancos de dados sobre humanos em seus manuais de redação e orientações
direitos humanos, com interface no sítio da Secretaria editoriais;
Especial dos Direitos Humanos, com as se- guintes ca- 22. inserir a temática da história recente do au-
racterísticas: a) disponibilização de textos didáticos e le- toritarismo no Brasil em editais de incentivo à produção
gislação pertinente ao tema; b) relação de profissionais de filmes, vídeos, áudios e similares, voltada para a edu-
e defensores(as) de direitos humanos; c) informações cação em direitos humanos;

160
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

23. incentivar e apoiar a produção de filmes e Nacio- nal de Justiça. O Ministério Público, por meio da
material audiovisual sobre a temática dos direitos hu- Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, com re-
manos. presentantes regionais em todos os estados, pas- sou
a desempenhar papel institucional relevante na defesa
NOTAS dos direitos hu- manos, ação que vem sendo incorpo-
1. BRASIL, Plano Nacional de Educação em Di- rada por promotorias em vários esta- dos. A Defensoria
reitos Humanos. Brasília: Comitê Nacional de Educação em Pública, que só recentemente vem conquistando auto-
Direitos Humanos - Secretaria Especial de Direitos Huma- no- mia funcional, é um instrumento capaz de garantir
nos, 2003. o acesso gratuito à justi- ça, embora ainda com quadro
2. São exemplos relevantes as Convenções de restrito de servidores(as).
Genebra; a Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados; 9. BRASIL, Lei Federal nº 9.394/1996 - Lei de Di-
o Pacto dos Direitos Civis e Políticos; o Pacto dos Direi- retrizes e Bases da Educação Nacional - LDB. Brasília,
tos Econômicos, Sociais e Culturais; a Convenção contra http://portal.mec.gov.br.
a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desu- 10. ONU. Diretrizes para a formulação de planos
manas e Degradantes; a Convenção Internacional sobre nacionais de ação para a educação em direitos huma-
a Eliminação de Todas as Formas de Dis- criminação Ra- nos. Qüinquagésima Segunda Sessão da Assembléia
cial; a Convenção sobre a Eliminação de Todas as For- Geral, 20 de outubro de 1997.
mas de Discriminação contra a Mulher; a Convenção dos 11. Como resposta às recomendações do PMEDH,
Direitos da Criança; a Declaração e Programa de Ação ressalta-se a atua- ção das Altas Autoridades de Direitos
de Viena; a Convenção Interamericana para a Eliminação Humanos do MERCOSUL, Países As- sociados e Chance-
de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas larias, que, atendendo às Diretrizes para a Formulação de
Portadoras de Deficiência; Conferência das Nações Uni- Planos Nacionais de Ação em Educação em Direitos Hu-
das sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Eco92; manos, criaram o Grupo de Trabalho Educação e Cultura
Conferência Mundial sobre Desen- volvimento Susten- em Direitos Humanos, com o obje- tivo de “identificar e
tável – Rio+10; entre outras. monitorar as ações implementadas em educação em di-
3. ONU, The Inequality Predicament. Report reitos humanos nos países do MERCOSUL e Associados”.
on the World Social Situation, 2005. 12. Entre várias outras questões significativas, o
4. Declaração e Programa de Ação da Confe- documento final -Plano Internacional de Implemen-
rência Mundial sobre os Direitos Humanos, Viena, 1993. tação das Diretrizes da Década das Nações Unidas da
http://www.planalto.gov.br/sedh, 2006. Educação para o Desenvolvimento Sustentável 1996-
5. Cabe citar como exemplo o Programa Na- 2014, indica que “... o respeito aos direitos humanos
cional de Direitos Huma- nos de 1996 e sua versão re- é condição sine qua non do desenvolvimento susten-
visada e ampliada de 2002, além de diversos programas tável” (publicação em português UNESCO / OREALC,
estaduais e municipais correspondentes. 2005, página 49).
6. Constituição Federal, Código Civil, Código 13. ONU. Revised draft plan of action for the first
de Processo Civil, Código Penal, Código de Processo Pe- phase (2005-2007), 2 March 2005.
nal e legislação complementar. Barueri/SP: Editora Ma- 14. As linhas gerais de ação do PNEDH, deverão
nole, 2003. levar em considera- ção as condições de acessibilidade,
7. O parlamento brasileiro e a sociedade civil conforme o Decreto 5.296/04, Capítulo 3º. Artigo 8º e 9º.
organizada desempe- nharam um papel fundamental 15. Fórum dos Pró-Reitores de Extensão das Uni-
na conquista de mecanismos nacionais de proteção dos versidades Públicas Brasileiras. Plano Nacional de Extensão
direitos humanos, como a legislação contra a discrimi- Universitária. Rio de Janeiro: NAPE/ UERJ, 2001.
nação racial (Lei Federal n°. 7.716/1989 e Lei Federal n°.
9.459/1997), a lei que criminaliza a tortura (Lei Federal Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos
n°. 9.455/1997), o Estatuto da Criança e do Adolescen-
te (Lei Federal n°. 8.069/1990), o Estatuto do Idoso (Lei 16. O Comitê Nacional para Prevenção à Tor-
Fede- ral n°. 10.741/2003), a Lei de Acessibilidade (Lei tura no Brasil foi criado por meio do Decreto de 26 de
Federal n°. 10.048/2000 e Lei Federal n° 10.098/2000, junho de 2006, com atribuições específicas para garan-
regulamentadas pelo Decreto n° 5.296/2004), a lei que tir o respeito ao Estado Democrático de Direito.
criou a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos 17. A Matriz Curricular Nacional elaborada
(Lei Federal n° 9140/1995), entre muitos outros. pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, no âm-
8. No final da década de 1990, foram instituídas bito do Sistema Único de Segurança Pública - SUSP, em
pelo Poder Executivo secretarias e subsecretarias, ouvido- 2003, é um marco institucional na formação de pro-
rias e comissões nas esferas federal, esta- dual e muni- fissionais de segurança pública. Esta matriz serviu de
cipal. No Legislativo, foram constituídas comissões de base para a elaboração da Matriz Curricular Nacional
direitos humanos nas duas Casas do Congresso Nacional e para Formação das Guardas Municipais em 2004 pela
em todas as Assembléias Legislativas, estando presentes, SENASP, com apoio do PNUD/Brasil. Essas duas ações es-
ainda, em inúmeras Câmaras Municipais. No Judiciário, tavam previstas no sentido de fortalecer o Sistema Único
destaca-se a criação de varas especializadas e do Conselho de Segurança Pública.

161
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

18. A Comissão Permanente de Combate Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos


à Tortura foi criada em 2004 para elaborar o Plano de Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP
Ações Integradas para Prevenção e Controle da Tortura Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo
no Brasil. Integra a Comissão, a Coordenação de Com- – CONATRAE Comissão Especial de Mortos e Desapareci-
bate à Tortu- ra (2005) e a Ouvidoria, ambas da SEDH. dos Políticos
No momento atual, o plano foi colocado para consulta Comitê de Ajudas Técnicas para Pessoas com Deficiên-
pública na internet (www.planalto.gov.br/sedh) e está cias Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educa-
em fase de implementação por meio de experiências- ção – CNTE Congresso Nacional
-pilotos nos se- guintes estados: Paraíba, Rio Grande do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana
Sul, Espírito Santo, Pernambuco, Alagoas, Acre, Minas – CDDPH Conselhos estaduais e municipais de direitos hu-
Gerais e Distrito Federal. manos
Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa dos Di-
I- Parcerias para implementação e monitoramento reitos Difusos – CFDD Conselho Nacional de Combate à
do PNEDH Discriminação – CNCD
Conselho Nacional de Educação – CNE
Academia Nacional de Polícia Conselho Nacional de Política Científica e Tecnoló-
Academias e centros de formação de profissionais gica – CNPq
das áreas de justiça e segurança pública Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Agências de fomento, avaliação e pesquisa Adolescente – CONANDA Conselho Nacional dos Direi-
Agências de fomento internacionais e nacionais (fe- tos da Mulher - CNDM
derais e estaduais) Agências de formação de educadores Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora
Agências de notícias de Deficiência – CONADE Conselho Nacional dos Secretá-
Altas Autoridades em Direitos Humanos, Chancelarias rios Estaduais de Educação – CONSED
do MERCOSUL e Países Associados Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos
Associação dos juízes federais e outras associações contra a Propriedade Intelectual
de profissionais e servi- dores das áreas de justiça e se- Conselho Nacional dos Direitos do Idoso – CNDI
gurança pública Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciá-
Arquivos públicos e privados ria – CNPCP
Associação Nacional de Direitos Humanos, Ensino e Conselho Nacional de Segurança Pública – CONASP
Pesquisa - ANDHEP Conselho Nacional de População e Desenvolvimento –
Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Fe- CNPD Conselhos profissionais
derais de Ensino Su- perior - ANDIFES Corregedorias e ouvidorias
Associações e conselhos profissionais Associações civis Defensorias públicas da União e estados
Associações nacionais de pós-graduação Associações Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher
comunitárias – DEAMs Delegacias Especializadas de Proteção à Criança
Associações de ONGs e ao Adolescente Departamento Penitenciário Nacional –
Associação Internacional das Cidades Educadoras - DEPEN/MJ
AICE Centros de ensino e academias de polícia Departamento de Polícia Federal – DPF/MJ Departa-
Centros e academias de formação de agentes peni- mento de Polícia Rodoviária Federal – DPRF/MJ
tenciários Centros de referências e apoio a vítimas Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qua-
Centros e institutos de pesquisa lificação – DJTCQ/MJ
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Departamento de Pesquisa, Análise de Informação
Superior – CAPES e Desenvolvimento de Pessoal em Segurança Pública –
Coordenadoria Nacional para a Integração da Pes- SENASP/MJ
soa Portadora de Defici- ência – CORDE Departamento de Políticas, Programas e Projetos – SE-
Coordenação-Geral de Proteção a Testemunhas Co- NASP/MJ Departamento de Educação de Jovens e Adultos
missão de Anistia – SECAD/MEC Departamento de Educação para Diversida-
Comissão de Direitos Humanos e Legislação Partici- de e Cidadania – SECAD/MEC Departamento de Desenvol-
pativa – Senado Federal vimento e Articulação Institucional – SECAD/MEC Departa-
Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câma- mento de Desenvolvimento da Educação Superior – SESU/
ra dos Deputados – CDHM MEC Departamento de Direitos Humanos e Temas Sociais
Comissões de direitos humanos das assembléias legis- – DHS/MRE Departamento de Modernização e Programas
lativas e câmaras municipais da Educação Superior – SESU/MEC Departamento de Polí-
Comissões de direitos humanos dos conselhos federal tica da Educação Superior – SESU/MEC
e regionais de psicologia Comissões de direitos humanos Defensoria Pública da União – DPGU Delegacias re-
das IES gionais do trabalho Empresas de comunicação
Comissão Intersetorial de Enfrentamento ao Abuso e Entidades patronais
Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes Entidades de direitos humanos e de educação para a
paz Escolas de ensino fundamental e médio

162
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Escolas de formação de promotores e magistrados Es- Organismos internacionais de cooperação (OIT, UNES-
cola Nacional de Administração Pública – ENAP Escola de CO,UNICEF, PNUD, ACNUR, entre outros)
Administração Fazendária – ESAF Escolas de formação de Organismos internacionais de proteção e defesa dos
professores direitos humanos Organizações empresariais
Estudantes das áreas de Educação Básica e Educação Organizações públicas em direitos humanos Órgãos
Superior Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP de segurança pública
Fórum dos Pró-Reitores de Extensão das Universidades Órgãos de cumprimento da pena privativa de liber-
Públicas Brasileiras dade Órgãos de fomento à pesquisa
– FORPROEX Órgãos federais e estaduais dos sistemas de justiça e
Fórum de Extensão das Instituições de Ensino Superior segurança pública Ouvidorias nacionais, estaduais e mu-
Brasileiras – FUNADESP nicipais
Fórum de Pós-Graduação e Pesquisa – FORPROP Fó- Presidência da República – PR
runs de entidades de direitos humanos Programas de pós-graduação com áreas de concen-
Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão e Ação tração, linhas e grupos de pesquisa em direitos humanos
Comunitária das Uni- versidades e Instituições de Ensino Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão -
Superior Comunitárias – FOREXT PFDC Procuradorias regionais dos direitos do cidadão
Fórum Educacional do MERCOSUL Fórum Mundial de Professores e pesquisadores das academias de polícias,
Educação escolas de forma- ção de promotores e magistrados
Fórum Nacional de Graduação – FORGRAD Professores universitários, pesquisadores e alunos
Fórum Nacional pela Democratização dos Meios de de mestrado e doutorado Profissionais da educação
Comunicação – FNDC Fórum Nacional de Educação Pro- Profissionais da educação e comunidade Programas
fissional e Tecnológica estaduais de proteção a testemunhas
Fórum Nacional de Ouvidores de Polícia Rede Nacional de Formação Continuada de Professo-
Fóruns nacionais e internacionais de educação e de res da Educação Básica Redes de formação e pesquisa em
educação em direitos humanos direitos humanos
Fórum Social Mundial - FSM Redes de ONGs Redes sociais
Fórum Intergovernamental de Promoção da Igual- Redes nacionais e internacionais de educação em
dade Racial Fundação Nacional do Índio – FUNAI direitos humanos Redes de entidades de comunicação
Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para Rede Nacional de Identificação e Localização de Crian-
a Mulher – UNIFEM Governos estaduais e municipais ças e Adolescentes Desaparecidos
Instituições de ensino superior públicas e privadas – IES Secretaria-Geral da Presidência da República – PR Se-
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA Instituto cretarias estaduais de segurança pública Secretarias esta-
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE duais e municipais de educação
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária Secretarias, sub-secretarias e coordenações de direitos
– INCRA Lideranças comunitárias humanos dos esta- dos e municípios
Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT Ministério Secretarias estaduais responsáveis pela administração
Público Federal penitenciária Secretaria de Educação Profissional e Tecno-
Ministérios Públicos Estaduais lógica – SETEC/MEC Secretaria Nacional de Justiça – SNJ/
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à MJ
Fome – MDS Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP/
Ministério do Esporte – ME MJ Secretaria de Reforma do Judiciário – SRJ/MJ
Ministério do Trabalho e Emprego – MTE Ministério Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial –
da Saúde – MS SEPPIR/PR Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
Ministério da Cultura – MinC Ministério das Cidades – – SPM/PR Secretaria Nacional de Economia Solidária – SE-
MCid Ministério da Comunicação – MC NAES/MTE
Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT Ministério Subsecretaria de Promoção e Defesa dos Direitos Hu-
das Relações Exteriores – MRE Ministério do Desenvolvi- manos – SPDDH
mento Agrário – MDA Ministério da Defesa – MD Subsecretaria de Promoção e Defesa dos Direitos da
Ministério do Meio Ambiente – MMA Ministério de Criança e do Adoles- cente – SPDCA
Minas e Energia – MME Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SI-
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – NASE Sistema Nacional de Emprego – SINE
MPOG Ministério da Previdência Social – MPS Sistema de Informação para a Infância e a Adolescência
Ministério Público da União – MPU – SIPIA Secretaria de Políticas Públicas de Emprego – SPPE/
Movimentos de direitos humanos nacionais e inter- MTE
nacionais Movimentos sociais Serviço Federal de Processamento de Dados – SERPRO
Núcleos de estudos e pesquisas em direitos huma- Serviço de Proteção ao Depoente Especial - SPDE Sindica-
nos Ordem dos Advogados do Brasil – OAB tos e centrais sindicais
Organizações não-governamentais – ONGs (inter- Sistemas de ensino públicos e privados Sociedade
nacionais, nacionais, re- gionais, estaduais e municipais) civil organizada Universidade para a Paz – UPAZ/ONU

163
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

II- Documentos para subsidiar programas, pro- Protocolo Facultativo para a Convenção sobre os
jetos e ações na área da educação em direitos hu- Direitos da Criança (2000) Objetivos de Desenvolvimen-
manos to do Milênio (2000)
Plano de Ação de Dakar da Educação para Todos: rea-
a) Âmbito internacional lizando nossos com- promissos coletivos (2000)
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão Década Internacional para uma Cultura da Paz e da
(1789) Carta das Nações Unidas (1945) Não-Violência para as Crianças do Mundo (2001–2010)
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) Declaração Mundial da Diversidade Cultural (2001)
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Declaração do México sobre Educação em Direitos
Homem (1948) Humanos (2001)
Convenção Interamericana sobre a Concessão Declaração e Programa de Ação da Conferência
dos Direitos Políticos da Mulher (1948) Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xe-
Convenção Internacional contra a Tortura e Ou- nofobia e Outras Formas de Intolerância (Durban, 2001)
tros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos e De- Regras Mínimas das Nações Unidas para a Adminis-
gradantes (1948) tração da Justiça, da Infância e da Juventude
Convenção Relativa à Luta contra a Discriminação Conferência das Nações Unidas sobre Meio Am-
no Campo do Ensino (1960) Pacto Internacional so- biente e Desenvolvimento – Eco92 Conferência Mundial
bre os Direitos Civis e Políticos (1966) sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+10 (2002)
Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, So- b) Âmbito nacional
ciais e Culturais (1966) Constituição Federal (1988)
Convenção Internacional sobre a Eliminação de To- Lei Federal n° 7.716/1989 – Define os crimes resul-
das as Formas de Discri- minação Racial (1968) tantes de preconceito de raça ou de cor
Convenção Americana sobre Direitos Humanos Lei Federal n° 8.069/1990 – Estatuto da Criança e
(Pacto de San José, 1969) do Adolescente (ECA) Lei Federal n° 9.394/1996 – Lei de
Congresso Internacional sobre Ensino de Direitos
Diretrizes e Base da Educação Nacional Programa Na-
Humanos (1978)
cional de Direitos Humanos (PNDH) – SEDH/PR (1996 e
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas
2002) Lei Federal n° 9.455/1997 – Tipificação do crime
de Discriminação contra as Mulheres (1979)
de tortura
Convenção contra a Tortura e Outros Tratamen-
Lei Federal n° 9.459/1997 – Tipificação dos crimes
tos Cruéis, Desumanos e Degradantes (1984)
de discriminação com base em etnia, religião e proce-
Regras Mínimas das Nações Unidas para a Ad-
dência nacional
ministração da Justiça da In- fância e da Juventude
Lei Federal n° 9.474/1997 – Estatuto dos refugiados
(Regras de Beijing ,1985)
Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Lei Federal n° 9.534/1997 – Gratuidade do registro
Direitos Humanos em maté- ria de Direitos Econômicos, civil de nascimento e da certidão de óbito
Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador, 1988) Plano Nacional de Extensão – FORPROEX (1999)
Campanha Mundial para a Publicização da Informa- Decreto nº 3.298/1999 – Regulamenta a Lei Fede-
ção sobre Direitos (1988) Convenção sobre os Direitos ral nº 7.853/1989 – Política Nacional para Integração da
da Criança (1989) Pessoa Portadora de Deficiência e consolida as normas
Declaração Mundial e Programa Educação para To- de proteção
dos (1990) Portaria Ministerial MEC nº 319 de 26/2/1999 – Po-
Princípios das Nações Unidas para a Prevenção da lítica de Diretrizes e Nor- mas para o Uso, o Ensino, a
Delinqüência Juvenil. Diretrizes de Riad (1990) Produção e a Difusão do Sistema Braille em todas as
Declaração de Barcelona (1990) modalidades de aplicação, compreendendo especial-
Fórum Internacional da Instrução para a Demo- mente a lín- gua portuguesa, a matemática e outras
cracia (1992) ciências, a música e a informática
Declaração e Programa de Ação da Conferência Programa de Assistência a Vítimas e a Testemunhas
Mundial sobre os Direitos Humanos (1993) Ameaçadas – SEDH/PR (1999) Sistema Nacional de Assis-
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e tência a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (2000) Progra-
Erradicar a Violência con- tra a Mulher (l994) ma Direitos Humanos, Direitos de Todos – SEDH/PR (2000)
Quarta Conferência Mundial das Nações Unidas Lei Federal nº 10.098/2000 – Estabelece normas gerais
sobre a Mulher (Beijing, 1995) e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das
Década das Nações Unidas para a Educação em Di- pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade re-
reitos Humanos (1995–2004) duzida, e dá outras providências
Declaração Mundial sobre a Educação Superior no Programa Nacional de Acessibilidade – SEDH/PR
Século XXI: visão e ação (1998) (2000) Serviço de Proteção ao Depoente Especial (2000)
Convenção Interamericana para a Eliminação de Decreto nº 3956/2001 – promulga a Convenção Inte-
Todas as Formas de Dis- criminação contra as Pessoas ramericana para Eliminação de Todas as Formas de Discri-
Portadoras de Deficiência (1999) minação contra Pessoas Portadoras de Deficiência

164
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Lei Federal nº 10.172/2001 – Plano Nacional de Edu- Programa Atendimento Socioeducativo ao Adolescen-
cação – MEC Programa Nacional de Direitos Humanos - te em Conflito com a Lei – SPDDCA/SEDH/PR
SEDH/PR (2002) Programa Nacional de Ações Afirmativas Programa Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de
– SEDH/PR (2002) Crianças e Adoles- centes – SPDDCA/SEDH/PR
Matriz Curricular Nacional para Formação de Profissio- Programas estaduais e municipais de direitos huma-
nais de Segurança Pública - SENASP/MJ (2003) nos Programa Diversidade na Universidade – SESU/MEC
Estatuto do Idoso (2003) Programa Educação Inclusiva - Direito à Diversidade
Mobilização Nacional para o Registro Civil – SPDDH/ – SEPPIR/PR Programa Estratégico de Ações Afirmativas –
SEDH/PR (2003) Programa de Segurança Pública para o SEPPIR/PR
Brasil – SENASP/MJ (2003) Sistema Único de Segurança Programa Proteção da Adoção e Combate ao Se-
Pública – SUSP/MJ (2003) questro Internacional – MJ
Polícia Comunitária – SENASP/MJ (2003) Programa de Apoio para Ouvidorias de Polícia e Po-
Programa Educacional de Resistência às Drogas e à liciamento Comunitá- rio – SEDH/PR/MJ
Violência – SENASP/MJ (2003) Projetos Municipais de Pre- Rede Nacional de Educação à Distância – SENASP/MJ
venção à Violência – SENASP/MJ (2003) Escolas Itinerantes de Altos Estudos em Segurança Pú-
Programa de Promoção e Defesa dos Direitos da blica – SENASP/MJ (2005) Programa Brasil Alfabetizado –
Criança e do Adolescente MEC
– SPDCA/SEDH/PR Programa Escola que Protege – SESU/MEC
Portaria Ministerial MEC nº 3284 de 7/11/2003 – Re- Programa de Formação Superior e Licenciaturas Indí-
quisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de de- genas – SESU/MEC
ficiências, para instruir os processos de autoriza- ção e Programa Conexões de Saberes: diálogos entre a
de reconhecimento de cursos e de credenciamento de universidade e as comu- nidades populares – SECAD/
instituições MEC
Portaria nº 98/1993 – Institui o Comitê Nacional de Programa Pró-Eqüidade de Gênero: oportunidades
Educação em Direitos Humanos iguais. Respeito às Di- ferenças – SPM/PR
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos – Programa de Ações Integradas e Referenciais de En-
SEDH/PR/MEC (2003) Plano Nacional para a Erradicação do frentamento à Violên- cia Sexual Infanto-Juvenil no Territó-
Trabalho Escravo – SPDDH/SEDH/PR (2003) rio Brasileiro – PAIR – SEDH/PR
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Jornadas Formativas de Direitos Humanos – SENASP/
Relações Étnico-Ra- ciais e para o Ensino de História e Cul- MJ (2004)
tura Afro-Brasileira e Africana (2004) Plano de Ação para o Enfrentamento da Violência con-
Decreto sobre Acessibilidade nº 5.296/2004 tra a Pessoa Idosa – SPDDH/SEDH/PR (2005)
Lei Federal nº 10.098/2004 – Programa Promoção e Plano de Ações Integradas para Prevenção e Con-
Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência – SEDH/PR trole da Tortura no Brasil
Brasil sem Homofobia – Programa de Combate à Vio- – SPDDH/SEDH/PR (2005)
lência e à Discrimina- ção contra GLTB e de Promoção da Plano Nacional de Políticas para as Mulheres – SPM/PR
Cidadania Homossexual – SEDH/PR (2004) (2005) Política Nacional do Esporte – ME (2005)
Plano Nacional para o Registro Civil de Nascimento Sistema Nacional de Cultura – MinC (2005)
– SEDH/PR (2004) Rede Nacional de Cursos de Especialização em Segu-
Plano Presidente Amigo da Criança e do Adolescen- rança Pública – SENASP/ MJ (2005)
te – SEDH/PR (2004) Matriz Curricular em Movimento – SENASP/MJ
Matriz Curricular Nacional para Formação de Guardas (2006) Programa Afroatitude (2005/2006)
Municipais – SENASP/ MJ (2004) Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo –
Programa Mulher e Ciência – SPM/PR (2004) Programa SPDDCA/SEDH/PR (2006)
Brasil Quilombola – SEPPIR/PR (2004) NBR 9050 – Acessibilidade de Edificações, Mobiliário,
Lei Federal nº 10.536/2004 – estabelece a respon- Espaços e Equipa- mentos Urbanos
sabilidade do Estado por mortes e Desaparecimentos NBR 15290 – Acessibilidade em comunicação na tele-
de pessoas que tenham participado, ou te- nham sido visão
acusadas de participação em atividades políticas, no pe- Lei Federal nº 9.140/95 – Comissão Especial de Mor-
ríodo compreendido entre 2 de setembro de 1961 e 5 tos e Desaparecidos Políticos durante a ditadura militar
de outubro de 1988 (e não mais 1979, como previa a Programa Gênero e Diversidade na Escola – SPM/PR
anterior) Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos
Decreto nº 5.626/2005 – Regulamenta a Lei Federal nº Escolares – SEB/MEC Programa Nacional do Livro Didático
10.436/2002 – Lín- gua Brasileira de Sinais – LIBRAS para o Ensino Médio – SEB/MEC Programa Nacional do Li-
Programa Nacional de Proteção aos Defensores dos vro Didático – PNLD/SEB/MEC
Direitos Humanos (2004) Programa Nacional Biblioteca – SEB/MEC Programa Es-
– SPDDH/SEDH/PR cola Ativa – SEB/MEC
Programa Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e Programa de Gestão de Aprendizagem Escolar – SEB/
do Adolescente – SPDDCA/SEDH/PR MEC Programa do Ensino Médio – SEB/MEC

165
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Programa Ética e Cidadania – SEB/MEC 5ª Conferência Nacional de Assistência Social (2005) 2ª


Programa de Gestão de Aprendizagem Escolar – SEB/ Conferência Nacional das Cidades (2005)
MEC 3ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador
Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de (2005)
Educação – SEB/MEC Programa de Apoio à Extensão 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e
Universitária – SESU/MEC Inovação em Saúde (2005) 2ª Conferência Brasileira so-
ProUni - Programa Universidade para Todos – SESU/ bre Arranjos Produtivos Locais (2005)
MEC 1ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade
Programa de Ações Afirmativas para a População Racial (2005) 2ª Conferência Nacional de Aqüicultura e
Negra nas Instituições Públicas de Educação Superior – Pesca (2006)
SESU/MEC 3ª Conferência Nacional de Gestão do Trabalho e da
Programa Incluir – SESU/MEC Educação na Saúde (2006) 4ª Conferência Nacional de
Programa Reconhecer – SECAD/SESU/MEC e DEPEN/MJ Saúde Indígena (2006)
Programa de Educação Tutorial – SESU/MEC 1ª Conferência Nacional dos Povos Indígenas (2006)
Programa Jovens Artistas – SESU/MEC Programa Cul- 2ª Conferência Nacional Infanto-Juvenil do Meio
tura e Cidadania – MinC Ambiente (2006)
Programa Identidade e Diversidade Cultural – MinC 1ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com
Programa Cultura Viva – MinC Deficiência (2006)
Política Nacional do Esporte – ME 2ª Conferência Nacional do Esporte (2006)
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI 1ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Ido-
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD Pro- sa (2006) 1ª Conferência Nacional de Economia Solidária
grama Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego – PNPE (2006)
Plano Nacional de Políticas para as Mulheres – PNPM 1ª Conferência Nacional de Educação Profissional e
Plano Nacional de Qualificação – PNQ Plano Pluria- Tecnológica (2006)
nual – PPA Conferência Regional das Américas sobre o Plano de
Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Teste- Ação contra Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e
munhas Ameaçadas – PROVITA Intolerâncias Correlatas – Durban +5 (2006)

III- Conferências nacionais de promoção e defesa IV– Principais comissões, comitês e conselhos gestores
dos direitos humanos e de direitos

Conferências Nacionais dos Direitos da Criança e do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana
Adolescente (1997, 1999, 2001, 2003, 2005) – CDDPH (1964) Conselhos Estaduais e Municipais de Di-
Conferências Nacionais de Direitos Humanos – Câma- reitos e Defesa
ra dos Deputados/ CDHM (1996, 1997, 1998, 1999, 2000, Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária
2001, 2002, 2003, 2005, 2006) – CNPCP (1980) Conselho Nacional dos Direitos da Mulher
1ª Conferência Nacional de Meio Ambiente (2003) – CNDM (1985)
4ª Conferência Nacional de Assistência Social (2003) Conselho da República – (1990) Conselho de Defesa
12ª Conferência Nacional de Saúde (2003) Nacional – (1991)
1ª Conferência Nacional Infanto-Juvenil do Meio Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Ambiente (2003) 1ª Conferência Nacional de Aqüicultu- Adolescente – CONANDA (1991) Conselho Nacional de
ra e Pesca (2003) Imigração – (1992)
1ª Conferência Nacional das Cidades (2003) Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos
1ª Conferência Nacional de Medicamentos e Assistên- – (1995) Comissão Nacional de População e Desenvolvi-
cia Farmacêutica (2003) mento – CNPD (1995) Conselho Nacional de Política Ener-
1ª Conferência da Terra e da Água: reforma agrária, gética – CNPE (1997)
democracia e desen- volvimento sustentável (2004) Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora
1ª Conferência Brasileira sobre Arranjos Produtivos Lo- de Deficiência – CONADE (1999)
cais (2004) 3ª Conferência Nacional de Saúde Bucal (2004) Conselho Nacional de Combate à Discriminação –
2ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e CNCD (2001) Conselho de Governo – (2001)
Inovação em Saúde (2004) 1ª Conferência de Políticas Conselho Nacional de Integração de Políticas de
para as Mulheres (2004) Transporte – CONIT (2001) Conselho Nacional de Pro-
1ª Conferência Nacional do Esporte (2004) moção da Igualdade Racial – CNPIR (2003) Comitê
1ª Conferência Nacional de Juventude (2004) Nacional de Educação em Direitos Humanos – CNEDH
2ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar (2003) Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Es-
(2004) 1ª Conferência Nacional de Cultura (2005) cravo – CONATRAE (2003) Conselho Nacional de Segu-
6ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e rança Alimentar e Nutricional – CONSEA (2003) Con-
do Adolescente (2005) 2ª Conferência Nacional de Meio selho de Desenvolvimento Econômico e Social – CDES
Ambiente (2005) (2003) Conselho Nacional de Esporte – CNE (2004)

166
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Conselho Nacional das Cidades – ConCidades (2004) EXERCÍCIOS


Conselho Nacional dos Direitos do Idoso – CNDI (2004)
Comitê de Ajudas Técnicas para Pessoas com Deficiên- 1. (FCC/2014 - Prefeitura de Recife/PE - Pro-
cias – CORDE (2006) curador) Nos termos do art. 226 da Constituição
Conselho da Autoridade Central Administração Fe- Federal, “a família, base da sociedade, tem especial
deral contra o Seqüestro Internacional de Crianças proteção do Estado”. Entre os aspectos abrangidos
Conselho Nacional dos Refugiados pelo direito à proteção especial, segundo o texto
Conselho Nacional de Segurança Pública – CONASP constitucional, encontram-se os seguintes:
Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa dos Di- a) garantia de direitos previdenciários e traba-
reitos Difusos – CFDD lhistas; e obediência aos princípios de brevidade,
Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos excepcionalidade e respeito à condição peculiar de
Contra a Propriedade Intelectual – CNCP pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação
Conselho Nacional Antidrogas – CONAD Conselho Na- de qualquer medida privativa da liberdade.
cional de Defesa Civil – CONDEC Conselho Nacional de Ju- b) garantia de direitos previdenciários e traba-
ventude – CONJUVE Conselho Nacional de Educação – CNE lhistas; e acesso universal à educação infantil, em
Conselho Nacional de Saúde – CNS creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos
Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS Con- de idade.
selho Nacional de Previdência Social – CNPS Conselho Na- c) erradicação do analfabetismo; e estímulo do
cional de Política Cultural – CNPC Conselho Nacional de Poder Público, através de assistência jurídica, in-
Política Agrícola – CNPA Conselho Nacional de Economia centivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao
Solidária – CNES acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou
Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Susten- adolescente órfão ou abandonado.
tável – CONDRAF Conselho Nacional de Transparência Pú- d) punição severa ao abuso, à violência e à ex-
blica e Combate à Corrupção – CGU Conselho Nacional de ploração sexual da criança e do adolescente; e ga-
Aqüicultura e Pesca – CONAPE rantia às presidiárias de condições para que possam
Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA permanecer com seus filhos durante o período de
Conselho Nacional da Amazônia Legal – CONAMAZ Con- amamentação.
selho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH Conselho Na- e) punição severa ao abuso, à violência e à ex-
cional de Ciência e Tecnologia – CCT ploração sexual da criança e do adolescente; e estí-
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e mulo do Poder Público, através de assistência jurídi-
Tecnológico – CNPq Conselho Nacional de Informática e ca, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei,
Automação – CONIN ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança
Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN Conselho ou adolescente órfão ou abandonado.
Nacional de Turismo – CNT
R: A. O artigo 227, §3º, CF fixa os aspectos que
Fonte: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=- abrangem a proteção especial da criança e do ado-
com_docman&view=download&alias=2191-plano-na- lescente: “I - idade mínima de quatorze anos para
cional-pdf&category_slug=dezembro-2009-pdf&Ite- admissão ao trabalho, observado o disposto no art.
mid=30192 7º, XXXIII; II - garantia de direitos previdenciários e
trabalhistas; III - garantia de acesso do trabalhador
adolescente e jovem à escola; IV - garantia de pleno
e formal conhecimento da atribuição de ato infra-
cional, igualdade na relação processual e defesa téc-
nica por profissional habilitado, segundo dispuser
a legislação tutelar específica; V - obediência aos
princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito
à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento,
quando da aplicação de qualquer medida privativa
da liberdade; VI - estímulo do Poder Público, através
de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios,
nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de
guarda, de criança ou adolescente órfão ou abando-
nado; VII - programas de prevenção e atendimento
especializado à criança, ao adolescente e ao jovem
dependente de entorpecentes e drogas afins”.

167
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

2. (Alternative Concursos/2017 - Prefeitura de Sul 4. (FCC/2016 - AL-MS - Agente de Polícia Legislati-


Brasil/SC - Agente Educativo) De acordo com o Estatu- vo) Sobre a prática de ato infracional à luz do Estatuto da
to da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 60, é Criança e do Adolescente, é INCORRETO afirmar que a
proibido qualquer trabalho a menores: a) medida socioeducativa de internação pode ser de-
a) De quatorze anos de idade, inclusive na condição de terminada por descumprimento reiterado e injustificável
aprendiz. da medida anteriormente imposta.
b) De quatorze anos de idade, salvo na condição de b) internação, antes da sentença, poderá ser determi-
aprendiz. nada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
c) De dezesseis anos de idade, salvo na condição de c) medida socioeducativa de internação não pode-
aprendiz. rá exceder em nenhuma hipótese três anos, liberando-se
d) De dezesseis anos de idade, inclusive na condição compulsoriamente o menor infrator aos vinte e um anos
de aprendiz. de idade.
e) De dezessete anos de idade, inclusive na condição d) medida socioeducativa de liberdade assistida será
de aprendiz. fixada pelo prazo mínimo de trinta dias, podendo a qual-
quer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por
R: B. Em que pese o teor do art. 64 do ECA, que pode- outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e
ria dar a entender que um menor de 14 anos pode traba- o defensor.
lhar, prevalece o que diz o texto da Constituição Federal: e) remissão não implica necessariamente o reconhe-
“Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, cimento ou comprovação da responsabilidade, nem pre-
além de outros que visem à melhoria de sua condição so- valece para efeito de antecedentes, podendo incluir even-
cial: [...] XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou tualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas
insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e
menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a internação.
a partir de quatorze anos”. Logo, o menor pode trabalhar
em qualquer serviço, desde que não seja noturno, perigoso R: D. A lei exige como prazo mínimo de medida so-
e insalubre, dos 16 aos 18 anos; e entre 14 e 16 anos ape- cioeducativa o período de 6 meses, conforme art. 118, § 2º,
nas pode trabalhar como aprendiz. ECA, não 30 dias conforme a alternativa “d”, razão pela qual
está incorreta. A alternativa “a” está prevista no art. 122, §
3. (FCC/2016 - AL-MS - Agente de Polícia Legislati- 1º, ECA; a alternativa “b” está prevista no art. 108 do ECA;
vo) Sobre a adoção, nos termos preconizados pelo Estatu- a alternativa “c” está prevista no art. 121, §§ 3º e 5º, ECA; a
to da Criança e do Adolescente, alternativa “e” está prevista no art. 127 ECA.
a) o adotante deve ser, no mínimo, 18 anos mais velho
que o adotando. 5. (COMPERVE/2016 - Câmara de Natal/RN - Guar-
b) é permitida a adoção por procuração. da Legislativo) As crianças e os adolescentes, qualificados
c) se um dos cônjuges adota o filho do outro, mantêm- pelo direito hoje vigente como pessoas em desenvolvimen-
-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge do to, receberam do direito positivo brasileiro, tutela especial
adotante e os respectivos parentes. através da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, mais conhe-
d) é vedada a adoção conjunta pelos divorciados, se- cida como Estatuto da Criança e do Adolescente. Seguindo
parados judicialmente e pelos ex-companheiros. as diretrizes traçadas pela Constituição de 1988, o Estatuto
e) o estágio de convivência que precede a adoção não da Criança e do Adolescente trouxe a previsão normativa
poderá, em nenhuma hipótese, ser dispensado pela auto- da absoluta prioridade e de variados direitos fundamentais.
ridade judiciária. Em tal seara, foi determinado que as crianças e os adoles-
centes têm direito,
R: C. Neste sentido, disciplina o art. 41, § 1º, ECA: “Se a) à liberdade, de forma a compreender a liberdade de
um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitá-
mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o côn- rios, ressalvadas as restrições legais; a liberdade de opinião
juge ou concubino do adotante e os respectivos parentes”. e de expressão; a liberdade de brincar e de praticar espor-
A alternativa “a” está errada porque o adotante deve ser, tes, a liberdade de participar da vida familiar e comunitária;
pelo menos, 16 anos mais velho que o adotado e possuir a liberdade de buscar refúgio, auxílio e orientação, exce-
pelo menos 18 anos (art. 42, § 3º, ECA); a alternativa “b” tuadas dessa tutela a liberdade de crença e culto religioso
está incorreta porque é vedada a adoção por procuração, e de participar da vida política.
pois a adoção é ato personalíssimo (art. 39, § 2º, ECA); a b) ao respeito, consistente na inviolabilidade da sua
alternativa “d” está incorreta porque é possível a adoção integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preser-
conjunta desde que preencha os requisitos de serem casa- vação da imagem, da identidade, da autonomia, de seus
dos civilmente ou mantenham união estável, comprovada valores, ideias e crenças, excluída a tutela dos seus espaços
a estabilidade da família (art. 42, § 1º, ECA); e a alternativa e objetos pessoais.
“e” está incorreta porque pode ser dispensado o estágio de c) de serem educados e cuidados sem o uso de cas-
convivência quando o adotando já estiver sob a tutela ou tigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como
guarda do adotante (art. 46, § 1º, ECA). formas de correção, disciplina, educação ou a qualquer

168
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

outro pretexto, por parte dos pais, de integrantes da fa- 7. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos) A
mília ampliada, dos responsáveis, dos agentes públicos intenção principal do Estatuto da Criança e do Adolescente
executores de medidas socioeducativas ou por qualquer (Lei nº 8.069/90) é
pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los a) prover uma boa escola para que crianças e adoles-
ou protegê-los. centes possam trabalhar o mais cedo possível.
d) de serem criados e educados no seio de sua famí- b) questionar políticas sociais que venham a proteger
lia biológica, não se admitindo a sua inserção em família quem não merece.
substituta, assegurada a convivência familiar e comuni- c) distribuir renda entre os mais empobrecidos da po-
tária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento pulação.
integral. d) proteger integralmente crianças e adolescentes, ga-
rantindo políticas públicas neste sentido.
R: C. Nestes termos, preconiza o artigo 18-A do ECA: e) proteger crianças e adolescentes da prisão.
“A criança e o adolescente têm o direito de ser educados
e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento R: D. Conforme o artigo 1º do ECA, “esta Lei dispõe
cruel ou degradante, como formas de correção, discipli- sobre a proteção integral à criança e ao adolescente”. O
na, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pe- princípio da proteção integral se associa ao princípio da
los integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, prioridade absoluta, colacionado no artigo 4º do ECA e no
pelos agentes públicos executores de medidas socioe- artigo 227, CF. De uma doutrina da situação irregular, o
ducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar direito evoluiu e passou a contemplar uma noção de prote-
deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los”. A alternativa ção mais ampla da criança e do adolescente, que não ape-
“a” está errada porque o artigo 16 do ECA fixa que o nas abordasse situações de irregularidade (embora ainda
direito à liberdade envolve os seguintes aspectos: “I - ir, o fizesse), mas que abrangesse todo o arcabouço jurídico
vir e estar nos logradouros públicos e espaços comuni- protetivo da criança e do adolescente, que é a doutrina da
tários, ressalvadas as restrições legais; II - opinião e ex- proteção integral.
pressão; III - crença e culto religioso; IV - brincar, prati-
car esportes e divertir-se; V - participar da vida familiar e 8. (Prefeitura de Cruzeiro - SP - Auxiliar de Desen-
comunitária, sem discriminação; VI - participar da vida volvimento Infantil - Instituto Excelência/2016) O Esta-
política, na forma da lei; VII - buscar refúgio, auxílio e tuto da Criança e do Adolescente em seu art. 4º, parágrafo
orientação”. A alternativa “b” está errada porque o arti- único fixa a garantia de prioridade. Assinale a alternativa
go 17 do ECA prevê que “o direito ao respeito consiste CORRETA que compreende uma dessas prioridades:
na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral a) Nenhuma criança ou adolescente será objeto de
da criança e do adolescente, abrangendo a preservação qualquer forma de negligência, descriminação e explora-
da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ção.
ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais”. A b) É assegurado atendimento integral á saúde da crian-
alternativa “d” está errada porque o artigo 18 do ECA ça e do adolescente por intermédio do sistema único de
assegura que “é direito da criança e do adolescente ser saúde.
criado e educado no seio de sua família e, excepcional- c) Precedência de atendimento, nos serviços públicos
mente, em família substituta, assegurada a convivência ou de relevância pública.
familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu de- d) Manter alojamento conjunto, possibilitando ao neo-
senvolvimento integral”. nato a permanência junto á mãe.

6. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos) R: C. Conforme o artigo 4º, parágrafo único, ECA, “a
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei garantia de prioridade compreende: [...] b) precedência de
8.069/90), é considerado criança atendimento nos serviços públicos ou de relevância públi-
a) a pessoa até seis anos incompletos de idade. ca”.
b) a pessoa até oito anos incompletos de idade.
c) a pessoa até 12 anos incompletos de idade. 9. (FUNDAÇÃO CASA - Agente Administrativo - VU-
d) a pessoa até 18 anos incompletos de idade. NESP/2010) Relativamente às Disposições Preliminares do
e) a pessoa até 14 anos incompletos, desde que não Estatuto da Criança e do Adolescente, assinale a alternativa
tenha cometido nenhum crime. correta.
a) Considera-se criança a pessoa com até doze anos
R: C. O Estatuto da Criança e do Adolescente opta completos, e adolescente aquela entre treze e dezoito anos
por categorizar separadamente estas duas categorias de de idade incompletos.
menores. Criança é aquele que tem até 12 anos de idade b) Nos casos em que a lei determinar, deverá ser cons-
(na data de aniversário de 12 anos, passa a ser adoles- tantemente aplicado o Estatuto da Criança e do Adolescen-
cente), adolescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos te às pessoas entre dezenove e vinte anos de idade.
(na data de aniversário de 18 anos, passa a ser maior), c) A garantia de prioridade para o adolescente com-
conforme o artigo 2º do ECA. preende a primazia na formulação das políticas sociais pú-
blicas para o lazer.

169
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

d) Na aplicação dessa Lei, deverão ser levados em con- 12. (TRT - 1ª REGIÃO - Juiz do Trabalho Substituto -
ta os fins políticos a que ela se destina. FCC/2016) A formação técnico-profissional do adolescen-
e) Destinação privilegiada de recursos públicos nas te NÃO deverá obedecer a
áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. a) horário especial, estabelecido em lei.
b) horário especial, de acordo com a atividade.
R: E. Conforme o artigo 4º, parágrafo único, ECA, “a c) peculiaridades do seu desenvolvimento pessoal.
garantia de prioridade compreende: [...] d) destinação pri- d) adequação ao mercado de trabalho.
vilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com e) prevalência das atividades educativas sobre as pro-
a proteção à infância e à juventude”. dutivas.

10. (Prefeitura de Cruzeiro - SP - Auxiliar de Desen- R: A. Dispõe o ECA: “Art. 63. A formação técnico-pro-
volvimento Infantil - Instituto Excelência/2016) Assinale fissional obedecerá aos seguintes princípios: [...] III - horário
a alternativa CORRETA conforme o artigo 15 do ECA: especial para o exercício das atividades”. Especificamente,
a) na dignidade da criança e do adolescente, pondo-os o horário deve ser fixado sem prejudicar a frequência à es-
a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, ater- cola (artigo 67, IV, ECA) e é proibido o trabalho noturno.
rorizante, vexatório ou constrangedor. Entretanto, a lei não fixa com precisão o horário de traba-
b) no direito de ser educados e cuidados sem o uso de lho permitido ao adolescente.
castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como
formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro 13. (IDECAN/2016 - UFPB - Auxiliar em Assuntos
pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, Educacionais) Considerando a prática de ato infracional
pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de por adolescentes e os direitos individuais assegurados,
medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarre- nessa situação, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
gada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los. (ECA), assinale a alternativa correta.
c) no direito à liberdade, ao respeito e à dignidade a) Considera-se ato infracional a conduta descrita como
como pessoas humanas em processo de desenvolvimento crime e não a estabelecida como contravenção penal.
e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garan- b) O adolescente não pode ser privado de sua liberda-
tidos na Constituição e nas leis. de senão em flagrante de ato infracional ou por ordem es-
d) na inviolabilidade da integridade física, psíquica e crita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
moral da criança e do adolescente, abrangendo a preserva- c) O adolescente que comete ato infracional perde o
ção da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, direito à identificação dos responsáveis pela sua apreen-
ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. são, devendo, contudo, ser informado acerca de seus di-
R: D. Dispõe o ECA em seu artigo 15: “A criança e o reitos.
adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à digni- d) O adolescente civilmente identificado será subme-
dade como pessoas humanas em processo de desenvolvi- tido à identificação compulsória pelos órgãos policiais, de
mento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais proteção e judiciais, independente se para efeito de con-
garantidos na Constituição e nas leis”. frontação em caso de dúvida fundada.

11. (TRT - 1ª REGIÃO - Juiz do Trabalho Substituto R: B. Conforme preconiza o art. 106, “nenhum adoles-
- FCC/2016) Sobre o trabalho da criança e do adolescente, cente será privado de sua liberdade senão em flagrante de
é correto afirmar: ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da
a) É proibido o trabalho de adolescentes em atividades autoridade judiciária competente”.
lúdicas.
b) É proibido para os menores de 16, salvo na condição
de aprendizes.
c) É proibido o trabalho noturno de menores de 16
anos, salvo na condição de aprendizes.
d) É proibido o trabalho de adolescentes em hospitais,
salvo na condição de aprendizes de enfermagem.
e) É proibido o trabalho de crianças em peças teatrais e
atividades cinematográficas.

R: B. Nos termos do artigo 60, ECA, “é proibido qual-


quer trabalho a menores de quatorze anos de idade, sal-
vo na condição de aprendiz”. Aceita-se o trabalho como
aprendiz entre 14 e 16 anos. A partir dos 16 anos, o adoles-
cente pode trabalhar, não necessariamente como aprendiz,
embora a lei fixe outras restrições.

170
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES tamento; preocupa-se em explicar os comportamen-


tos observáveis do educando, desprezando a análise
1. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Leia de outros aspectos da conduta humana tais como: o
atentamente o texto a seguir. Os processos de ensino raciocínio, o desejo, a imaginação, os sentimentos e a
só podem se realizar a medida que o educando esti- fantasia, entre outros; defende a necessidade de medir,
ver maduro para efetivar determinada aprendizagem; comparar, testar, experimentar e controlar o compor-
a prática escolar não desafia, não amplia, nem instru- tamento e desenvolvimento do educando e sua apren-
mentiza o desenvolvimento do educando, uma vez que dizagem, objetivando com isso, controlar o comporta-
esta se restringe naquilo que o educando já conquistou; mento do educando.
a educação pode apenas aprimorar um pouco aquilo
que o educando é. O texto trata-se de uma: * Disponível em: http://penta2.ufrgs.br/edu/intera/
A) Maturação. cap1-afet-interat-aprend.htm.
B) Experiência ativa.
C) Teoria inativa. RESPOSTA: “D”.
D) Comunicação humana
3. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Na
A teoria inativa considera que o meio ou ambiente teoria ambientalista, atribui-se, exclusivamente, ao
pouco pode fazer pelo indivíduo, quando acredita que o ambiente a construção das características humanas,
sujeito nasce pronto, pode-se dizer que a subjetividade privilegiando a experiência como fonte de conheci-
não é inata devido ao fato de que cada pessoa adquire ao mento. Esta teoria preocupa-se em explicar:
longo do seu desenvolvimento, características próprias que A) Práticas pedagógicas espontâneas.
não seria possível nascer com elas. Segundo Torres (2003), B) Os comportamentos observáveis do educan-
a respeito de como as identidades se constroem, precisa- do.
mos levar em conta as condições históricas, sociais e eco- C) A pedagogia do dom.
nômicas em que o indivíduo está inserido, a compreensão D) Processo de construção.
de que a identidade não é preexistente ao homem e que
a analise do “mundo interno” exige o conhecimento do O Ambientalismo, como o próprio nome dá a en-
“mundo externo” que estão em movimento contínuo de tender, valoriza o ambiente no aprendizado humano.
construção e desconstrução. Ou seja, a criança desenvolve suas características em
*Texto adaptado de Marcos P. Silva. Disponível em: função das condições do meio em que vive. Esta vi-
http://marcospsilva7.blogspot.com.br/2008/06/partindo- são considera as estimulações que o meio proporciona
-do-ponto-de-que-teoria-inativa.html como fonte de aprendizado. Para os ambientalistas, o
mais importante são os fatores exógenos, aquilo que
RESPOSTA: “C”. está fora do indivíduo. A criança nasce sem caracte-
rísticas psicológicas, seria como uma massa a ser mo-
2. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Leia, delada, estimulada e corrigida pelo meio em que vive.
atentamente, o texto a seguir. “Desprezar a análise de O papel da escola seria o de estimular a criança com
outros aspectos da conduta humana tais como: o ra- novas aprendizagens. Para os ambientalistas, a criança
ciocínio, o desejo, a imaginação, os sentimentos e a não sabe, é uma folha em branco. O saber está com
fantasia; defende a necessidade de medir, comparar, o(a) professor(a) e, portanto, ele(a) precisa transmitir
testar, experimentar e controlar o comportamento e o conhecimento para a criança, que o recebe de for-
desenvolvimento do educando e sua aprendizagem, ma passiva. De acordo com essa concepção, educar
objetivando com isso, controlar o comportamento do alguém seria moldar o seu comporta- mento, seu ca-
educando”. O texto trata da: ráter, seu conhecimento, dando à criança tudo aquilo
A) Relação homem/mundo. que ela não tem. Dentro da concepção ambientalista,
B) Afetividade e cognição a educação é centrada no(a) professor(a) que, como
C) Interatividade adulto, é visto como o(a) dono(a) da verdade, devendo
D) Teoria ambientalista do desenvolvimento ensinar e estimular as crianças.

A teoria ambientalista busca sua inspiração na filosofia * Referências:


empirista (a experiência como fonte de conhecimento) e LOPES, K. R; MENDES, R. P; FARIA, V. L. B. de. Edu-
positivista (objetividade e neutralidade no conhecimento cação de crianças: Programa de formação de pro-
da realidade humana; o ser humano é entendido como ob- fessores de educação infantil. Coleção PROINFANTIL;
jeto e os fatos sociais como coisas, ou seja, objeto de um (Unidade 1). Brasília: MEC. Secretaria de Educação Bá-
interesse meramente prático). A teoria ambientalista, tam- sica. Secretaria de Educação a Distância, 2005.
bém chamada behaviorista ou comportamentalista, atribui Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arqui-
exclusivamente ao ambiente a constituição das caracte- vos/pdf/Educinf/mod_ii_vol2unid1.pdf
rísticas humanas, privilegiando a experiência como fonte
de conhecimento e de formação de hábitos de compor- RESPOSTA: “B”.

171
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

4. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A Edu- O currículo tem que ser entendido como a cultura real
cação, neste método, é tecida em conjunto por alunos e que surge de uma série de processos, mais que como um ob-
professores, frente aos exercícios da leitura e da escrita jeto delimitado e estático que se pode planejar e depois im-
praticadas exaustivamente nas aulas. Assim, mestres e plantar; aquilo que é, na realidade, a cultura nas salas de aula,
aprendizes atuam juntos na construção do conhecimen- fica configurado em uma série de processos: as decisões pré-
to, assessorados pela incidência da problemática social vias acerca do que se vai fazer no ensino, as tarefas acadêmi-
mais atual e pelo arsenal de saberes já edificados, patri- cas reais que são desenvolvidas, a forma como a vida interna
mônio intransferível do ser humano. O texto se refere a: das salas de aula e os conteúdos de ensino se vinculam com o
A) Teoria do saber. mundo exterior, as relações grupais, o uso e o aproveitamento
B) Teoria do Ler e Saber. de materiais, as práticas de avaliação, etc (Sacristán, J.G., 1995).
C) Teoria da Paradidática.
D) Teoria do Construtivismo. RESPOSTA: “C”.

Para Piaget, a pessoa, a todo o momento interage com 6. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Para ser
a realidade, operando ativamente objetos e pessoas. O considerada como possuidora de certa habilidade, a
conhecimento é construído por informações advindas da criança tem que demonstrar que pode cumprir a tarefa
interação com o ambiente, na medida em que o conheci- sem nenhum tipo de ajuda. Denomina- se essa capaci-
mento não é concebido apenas como sendo descoberto dade de realizar tarefas de forma independentes:
espontaneamente, nem transmitido de forma mecânica A) NDP - Nível de Desenvolvimento Potencial.
pelo meio exterior, mas como resultado de uma interação B) ZDP - Zona de Desenvolvimento Proximal.
na qual o sujeito é sempre um elemento ativo na busca ati- C) PDH - Processo de Desenvolvimento de habilidade.
va de compreender o mundo que o cerca (MOREIRA, 1999). D) NDR - Nível de Desenvolvimento Real.
Entende-se, então, de acordo com essa teoria, que o de-
senvolvimento cognitivo é resultado de situações e expe- Para Vygotsky, a aprendizagem e o desenvolvimento es-
riências desconhecidas advinda da interação com o meio, tão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida do indiví-
duo. Nível de desenvolvimento real: Referente as conquistas
onde o sujeito procura compreender e resolver as interro-
que já estão consolidadas na criança, ela já aprendeu e domi-
gações. Com isso, o aluno exerce um papel ativo e constrói
na. Indica os processos mentais da criança que já se estabe-
seu conhecimento, sob orientação do professor, buscando
leceram. Representa as funções já amadurecidas. Exemplos:
informações, propondo soluções, confrontando-as com as
andar de bicicleta, cortar com tesoura, dominar o teclado.
de seus colegas, defendendo-as e discutindo. Essa teoria
permite utilizar todo o potencial de interação da internet
*Texto adaptado de Raquel D`Ely. Disponível em: https://
para criar um ambiente que gere conhecimento teórico repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/116361/
e prático através da construção gradual do conhecimen- TEORIA%20SOCIO%20INTERACIONISTA.pdf?sequence=1
to por meio de participação ativa. Oferece oportunidade
para reflexão. A construção do conhecimento pelos alunos RESPOSTA: “D”.
é fruto de sua ação, o que faz com que eles se tornem cada
vez mais autônomos intelectualmente. 7. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) É um
tipo de avaliação que tem por função básica a classifi-
*Referências: cação dos alunos, sendo realizada no final de um curso
MOREIRA, Marco Antonio. Teorias de Aprendizagem. ou unidade de ensino, classificando os alunos de acor-
São Paulo: Epu, 1999. do com os níveis de aproveitamento previamente esta-
belecidos. O texto acima descreve uma:
RESPOSTA: “D”. A) Avaliação formativa.
B) Avaliação somativa.
5. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A con- C) Avaliação diagnostica.
cepção de organização curricular expressa formas de D) Avaliação personalizada.
concretização das intenções pedagógicas. Com base
nesta temática é FALSO afirmar: Avaliação Somativa: É uma modalidade avaliativa pon-
A) O currículo real acontece dentro da sala de aula com tual que ocorre ao fim de um processo educacional (ano,
professores e alunos a cada dia em decorrência de um pro- semestre, bimestre, ciclo, curso etc.). Atém-se à determina-
jeto pedagógico e dos planos de ensino. ção do grau de domínio de alguns objetivos pré-estabe-
B) Currículo é o conjunto de todas as experiências de co- lecidos propondo-se a realizar um balanço somatório de
nhecimento, proporcionada pela instituição aos educandos. uma ou várias sequencias de um trabalho de formação. É
C) A organização é um currículo a partir da lógica seria- também chamada de avaliação das aprendizagens.
da a analise do progresso dos educandos.
D) O currículo é a ligação entre a cultura e a sociedade *Disponível em: http://www.portalavaliacao.caedufjf.net/
exterior à escola e à educação; entre o conhecimento e a pagina-exemplo/tipos-de-avaliacao/avaliacao-somativa/
cultura herdada e a aprendizagem dos alunos; entre a teo-
ria e a pratica possível, dadas determinadas condições RESPOSTA: “B”.

172
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

8. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A res- 10. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Na


peito da Avaliação Formativa, é INCORRETO afirmar: relação profesor-aluno envolve interesses e intenções,
A) A avaliação formativa não tem como objetivo sendo esta interação o expoente das consequências,
classificar ou selecionar. pois a educação é uma das fontes mais importantes do
B) Fundamenta-se nos processos de aprendizagem desenvolvimento comportamental e agregação de va-
em seus aspectos cognitivos, afetivos e relacionais. lores nos membros da espécie humana.
C) Uma avaliação não precisa conformar-se a ne- Logo, a relação entre professor e aluno depende,
nhum padrão metodológico para ser formativa. fundamentalmente:
D) O sentido e a finalidade da avaliação formativa I. Do clima estabelecido pelo aluno.
deve ser o de conhecer melhor o professor, suas com- II. Da relação empática com seus alunos.
petências e suas técnicas de trabalho. III. Da sua capacidade de ouvir, refletir e discutir.
IV. Da criação das pontes entre seu conhecimento e
Também chamada de avaliação para as aprendiza- os deles.
gens, a avaliação formativa tem seu foco no proces- Assinale a alternativa correta.
so ensino-aprendizagem. Alguns teóricos chegam a A) Somente I, II e III estão corretas.
nomear essa modalidade com o nome de avaliação B) Somente I, II e IV estão corretas
formativa diagnóstica. A avaliação formativa não tem C) Somente II, III e IV estão corretas
finalidade probatória e está incorporada no ato de en- D) Somente I, III e IV estão corretas
sinar, integrada na ação de formação. Alguns autores
consideram que a avaliação formativa englobe as ou- Becker (1997), afirma que na transferência, constituir uma
tras modalidades de avaliação já que ela se dá durante identificação simbólica é uma forma de desenvolver ao adoles-
o processo educacional. Seu caráter é especificamente cente sua posição discursiva. Verificar-se, que o aluno precisa
pedagógico. admitir estar numa relação transferencial com o professor que
não estar ali só para transferir informações, mais para considerar
*Disponível em: http://www.portalavaliacao.caedu- cada aluno singularmente. O sujeito do qual ocupa a psicanálise
fjf.net/pagina-exemplo/tipos-de-avaliacao/avaliacao- é o sujeito do inconsciente enquanto manifestação única e sin-
-formativa/ gular. Para o aluno ser tomado como sujeito é necessário que
o educador também o seja, que envolva sua prática com aquilo
RESPOSTA: “D”. que lhe é peculiar, o estilo. Logo a relação professor-aluno de-
pende fundamentalmente do clima estabelecido pelo profes-
9.(SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A ava- sor, da relação empática com seus alunos, de sua capacidade de
liação ______________________ é realizada no início do ouvir, refletir e discutir o nível de compreensão dos alunos e da
processo ensino-aprendizagem, com a finalidade de criação das pontes entre o seu conhecimento e o deles.
detectar eventuais dificuldades de aprendizagem
auxiliando o ______________ no planejamento de suas *Referências:
ações. Texto adaptado de Andréia Freitas;
Assinale a alternativa que completa correta e BECKER, F. Da ação à operação: o caminho da apren-
respectivamente as lacunas. dizagem em J.piaget e Paulo Freire. Rio de Janeiro: DPIA
A) Diagnostica / Professor. Editora Palmarinca, 1997
B) Formativa / Gestor
C) Formativa / Coordenador pedagógico. RESPOSTA: “C”.
D) Somativa / Professor.
11. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGOGIA
O conceito de avaliação diagnóstica não recebe - BIORIO/2011) Por gestão participativa entende-se:
uma definição uniforme de todos os especialistas. No I - envolvimento de todos que fazem parte direta
entanto pode-se, de maneira geral, entendê-la como ou indiretamente no processo educacional;
uma ação avaliativa realizada no início de um processo II - compartilhamento na solução de problemas e
de aprendizagem, que tem a função de obter informa- nas tomadas de decisão do diretor escolar;
ções sobre os conhecimentos, aptidões e competências III - implementação, monitoramento e avaliação
dos estudantes com vista à organização dos processos dos resultados;
de ensino e aprendizagem de acordo com as situações IV - estabelecimento de objetivos claros e demo-
identificadas. cráticos;
V - visão de conjunto associada a uma posição hie-
*Disponível em: http://www.portalavaliacao.caedu- rárquica.
fjf.net/pagina-exemplo/tipos-de-avaliacao/avaliacao- Estão corretas as afirmativas:
-diagnostica/ A) I, II e III;
B) I, III e IV;
RESPOSTA: “A”. C) II, III e V;
D) I, IV e V;

173
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

O trabalho escolar é uma ação de caráter coletivo, 13. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO-
realizado a partir da participação conjunta e integrada GIA - BIORIO/2011) A interação professor-aluno é um
dos membros de todos os segmentos da comunidade es- aspecto fundamental da organização da situação didá-
colar. Portanto, afirmar que sua gestão pressupõe a atua- tica. Segundo Libâneo, podem-se ressaltar dois aspec-
ção participativa representa um pleonasmo de reforço a tos para a realização do trabalho docente:
essa importante dimensão da gestão escolar. Assim, o A) o aspecto social, que se refere à integração de cada
envolvimento de todos os que fazem parte, direta ou in- aluno ao seu meio social e o aspecto atitudinal, que se re-
diretamente, do processo educacional no estabelecimen- fere à aquisição de conhecimentos acadêmicos a serem
to de objetivos, na solução de problemas, na tomada de utilizados na vida pessoal de cada aluno;
decisões, na proposição, implementação, monitoramento B) o aspecto técnico e emocional, que se refere ao de-
e avaliação de planos de ação, visando os melhores re- senvolvimento da autonomia e das qualidades morais e
sultados do processo educacional, é imprescindível para o aspecto intelectual, que se refere a aprendizagem com
o sucesso da gestão escolar participativa (Luck, Freitas, vistas a orientação de trabalhos independente dos alunos;
Girling, Keith, 2002). C) o aspecto psicopedagógico clínico, que diz respeito
ao sujeito aprendente e ao aspecto acadêmico, que diz res-
RESPOSTA: “B”. peito aos objetivos do processo de ensino, a transmissão
de conhecimentos, hábitos e atitudes;
12. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO- D) o aspecto cognoscitivo, que diz respeito a formas de
GIA - BIORIO/2011) O FUNDEB – Fundo de Manuten- comunicação dos conteúdos escolares e o aspecto sócio-
ção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valo- emocional, que diz respeito às relações pessoais entre pro-
rização dos Profissionais da Educação é formado: fessor e alunos e às normas disciplinares indispensáveis ao
A) por vínculos financeiros com a esfera Federal, Es- trabalho educativo;
tadual e Municipal de acordo com o censo demográfico;
B) com apoio do Banco do Brasil para a criação de um Podemos ressaltar dois aspectos da interação profes-
fundo de créditos em favor dos Estados e Municípios; sor-aluno no trabalho docente: O aspecto cognoscitivo
C) pelos recursos do Governo Federal, Estadual e Mu- (que diz respeito a formas de comunicação dos conteúdos
nicipal para definir um orçamento exclusivamente para a escolares e às tarefas escolares indicadas pelos alunos) e o
educação; aspecto sócio-emocional (que diz respeito as relações pes-
D) com recursos provenientes das três esferas do go- soais entre o professor e o aluno e as normas disciplinares
verno (Federal, Estadual e Municipal), sendo um fundo indispensáveis ao trabalho docente) afirma Libâneo (1998).
contábil;
*Referências:
O FUNDEB não é considerado Federal, Estadual, nem SOUZA, Verônica Alves de M. A relação professor-alu-
Municipal, por se tratar de um Fundo de natureza contá- no na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Ar-
bil, formado com recursos provenientes das três esferas lindo Ramalho nas séries iniciais do Ensino Médio Noturno
de governo (Federal, Estadual e Municipal); pelo fato da no município de Solânea-PB. 2007. 60 f. Monografia (Espe-
arrecadação e distribuição dos recursos que o formam cialização) CFT/UFPB.
serem realizadas pela União e pelos Estados, com a par-
ticipação do Banco do Brasil, como agente financeiro do RESPOSTA: “D”.
Fundo e, por fim, em decorrência dos créditos dos seus
recursos serem realizados automaticamente em favor dos 14. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO-
Estados e Municípios de forma igualitária, com base no GIA - BIORIO/2011) A escola, por ser uma instituição
nº de alunos. Esses aspectos do FUNDEB o revestem de social com propósito explicitamente educativo, tem o
peculiaridades que transcendem sua simples caracteriza- compromisso de intervir efetivamente para promover o
ção como Federal, Estadual ou Municipal. Assim, depen- desenvolvimento e a socialização de seus alunos. Essa
dendo da ótica que se observa, o Fundo tem seu vínculo função socializadora remete a dois aspectos:
com a esfera Federal (a União participa da composição e A) a intersocialização entre diferentes grupos e a aqui-
distribuição dos recursos), a Estadual (os Estados partici- sição de conhecimentos científicos;
pam da composição, da distribuição, do recebimento e da B) a compreensão do mundo acadêmico e integração
aplicação final dos recursos) e a Municipal (os Municípios entre os sujeitos aprendentes;
participam da composição, do recebimento e da aplica- C) a capacidade de crítica e o desenvolvimento de téc-
ção final dos recursos). nicas;
D) o desenvolvimento individual e o contexto social e
*Disponível em: http://www.londrina.pr.gov.br/index. cultural;
php?option=com_content&view=article&id=734&Itemi-
d=373&fontstyle=f-smaller&limitstart=2 Essa função socializadora remete a dois aspectos: o de-
senvolvimento individual e o contexto social e cultural. É
RESPOSTA: “D”. nessa dupla determinação que os indivíduos se constroem
como pessoas iguais, mas, ao mesmo tempo, diferentes de

174
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

todas as outras. Iguais por compartilhar com outras pes- reproduz as relações sociais e de trabalho de forma lúdica
soas um conjunto de saberes e formas de conhecimento e se apropria do mundo em seu processo de construção
que, por sua vez, só é possível graças ao que individual- como sujeito histórico-social. Para a pesquisadora Wajskop
mente se puder incorporar. Não há desenvolvimento in- (2001), a criança que brinca pode adentrar o mundo do
dividual possível à margem da sociedade, da cultura. Os trabalho pela via da representação.
processos de diferenciação na construção de uma identi-
dade pessoa e os processos de socialização que conduzem *Referências:
a padrões de identidade coletiva constituem, na verdade, Texto adaptado de Aline Fernandes Guimarães;
as duas faces de um mesmo processo (PARÂMETROS CUR- WAJSKOP, G. Brincar na pré-escola. 5.ed. São Paulo:
RICULARES NACIONAIS, 1997). Cortez, 2001.

RESPOSTA: “D”. RESPOSTA: “C”.

15. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO- 17. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGOGIA


GIA - BIORIO/2011) Uma criança de cinco anos apre- - BIORIO/2011) A concepção sócio-interacionista do de-
senta as seguintes características psicossociais, EXCETO: senvolvimento se apoia na ideia de interação indivíduo-
A) maior estabilidade nas aulas e na escola; -meio e vê a aquisição de conhecimento como um proces-
B) grande capacidade observadora começando a imitar so construído pelo indivíduo durante toda sua vida. Essa
o que foi observado; concepção se diferencia da inatista porque a inatista:
C) interesse por experiências sensórias – motoras, em- A) parte do pressuposto de que os eventos que ocor-
preendendo aquilo que está dentro das suas possibilida- rem após o nascimento não são essenciais para o desen-
des; volvimento, pois o indivíduo já nasce com padrões inatos
D) quando lhe dão os meios necessários, sabe traba- de comportamento;
lhar individualmente; B) assemelha-se à interacionista quando considera que
os dois elementos – o biológico e o social – não podem ser
Segundo Erikson citado por Rocha (2002), a terceira dissociados;
crise do desenvolvimento psicossocial ocorre entre 3 e os C) defende a visão ambientalista da reciprocidade de
6 anos. As crianças aprendem a desenvolver as suas pró- influências entre indivíduo e meio ambiente;
prias atividades, têm prazer quando são bem sucedidas e D) assemelha-se à ambientalista porque a ambienta-
tornam-se determinadas. Se não lhes é permitido desen- lista chama a atenção para a plasticidade do ser humano,
volver as suas próprias iniciativas, podem desenvolver sen- embora ele seja um sujeito passivo;
timentos de culpa por querer ser independentes. Montei-
ro (2005) cita também Santrok que diz: À medida que as A aplicação da concepção inatista na educação gera
crianças em idade pré-escolar enfrentam um mundo social imobilismo e resignação, pois se considera que as diferen-
cada vez mais alargada, aumentam os desafios e neces- ças não são superadas, uma vez que o meio não interfere
sitam de desenvolver comportamentos mais significativos no desenvolvimento da criança. Considera-se também que
para responder a esses desafios. o resultado da aprendizagem é exclusivamente do aluno,
isentando de responsabilidade o professor e a escola.
*Referências:
Texto adaptado de Ângela Maria Semedo Pereira Ta- *Texto adaptado de Alberto Abreu. Disponível em:
vares; http://albertoabreu.wordpress.com/2006/07/18/inatismo/
Rocha, Ana; Fidalgo, Zilda. Psicologia. 12º ano. Lisboa:
Texto editora, 2002. RESPOSTA: “A”.

RESPOSTA: “C”. 18. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO-


GIA - BIORIO/2011) A avaliação mediadora exige que
16. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO- o professor observe atentamente o movimento de cada
GIA - BIORIO/2011) O brincar fornece à criança a possi- aluno no processo de construção do conhecimento. Tal
bilidade de construir uma identidade autônoma e cria- atitude NÃO exige do professor:
tiva. A criança que brinca entra no mundo do trabalho, A) uma ação direta com o aluno a partir de muitas ta-
da cultura e do afeto pela via da: refas orais e escritas;
A) família; B) interpretar, refletir e investigar teoricamente as so-
B) imaturidade; luções apresentadas pelo aluno, segundo seu estágio de
C) representação e da experimentação; desenvolvimento do pensamento;
D) coerção; C) respeito à subjetividade diante das soluções apre-
sentadas, bem como em razão dos estágios evolutivos;
A importância do brincar para a criança é uma cons- D) atenção às experiências de vida do aluno, no senti-
trução histórica, quando brinca a criança experimenta sen- do de fazê-lo reproduzir a forma correta, repetidas vezes,
sações antes desconhecidas, entra no mundo do adulto, diante do erro;

175
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

A avaliação mediadora propõe um modelo baseado no O princípio democrático da educação para todos só se
dialogo e aproximação do professor com o seu aluno de evidencia nos sistemas educacionais que se especializam em
forma que as práticas de ensino sejam repensadas e mo- todos os alunos, não apenas em alguns deles, os alunos com
dificadas de acordo com a realidade sociocultural de seus deficiência. A inclusão, como consequência de um ensino de
alunos, nesta perspectiva de avaliação o erro é considerado qualidade para todos os alunos provoca e exige da escola
como parte do processo na construção do conhecimento brasileira novos posicionamentos e é um motivo a mais para
e não como algo passível de punição, na visão mediado- que o ensino se modernize e para que os professores aper-
ra o professor é capaz de criar situações desafiadoras que feiçoem as suas práticas. É uma inovação que implica num
tornem capaz a reflexão e ação tornando a aprendizagem esforço de atualização e reestruturação das condições atuais
mais significativa. da maioria de nossas escolas de nível básico. O motivo que
sustenta a luta pela inclusão como uma nova perspectiva para
*Texto adaptado do Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos. as pessoas com deficiência é, sem dúvida, a qualidade de en-
sino nas escolas públicas e privadas, de modo que se tornem
RESPOSTA: “D”. aptas para responder às necessidades de cada um de seus
alunos, de acordo com suas especificidades, sem cair nas teias
19. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO- da educação especial e suas modalidades de exclusão.
GIA - BIORIO/2011) Considera-se que o professor adota
uma postura de avaliação mediadora quando: *Texto adaptado de Maria Teresa Eglér Mantoan. Dis-
A) corrige tarefas e provas do aluno para verificar res- ponível em: http://www.pro-inclusao.org.br/textos.html
postas certas e erradas e, a partir daí, tomar decisões;
B) analisa teoricamente as várias manifestações dos RESPOSTA: “C”.
alunos em situações de aprendizagem para acompanhar as
hipóteses que ele vem formulando; 21. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO-
C) enaltece procedimentos competitivos e classificató- GIA - BIORIO/2011) Para elaborar seu plano anual, a
rios com base em certo / errado; professora do 1º ano do ensino fundamental solicita
D) faz manifestações periódicas quanto ao aproveita- todo o material que registra o desenvolvimento das
mento do aluno, segundo modelo predeterminado; crianças. Esse pedido indica que ela entende os instru-
mentos de observação e registros como fundamentais
O processo de aprendizagem torna-se continuo atra- no ensino infantil e séries iniciais por que:
vés da avaliação mediadora, uma vez que o professor pos- A) contêm as formas de expressão, da capacidade de
sui ferramentas de intervenção adequadas para que os alu- concentração, do envolvimento nas atividades, de satisfa-
nos se apropriem de conhecimentos significativos, sem o ção com a própria produção e com pequenas conquistas
sentimento de obrigação, ou seja, o aprendizado ocorre de de cada criança;
maneira natural com mais facilidade de internalização do B) registram as dificuldades e impedimentos físicos,
conteúdo aplicado em sala de aula. cognitivos e emocionais no processo de aquisição de no-
vos conhecimentos como forma de rotular cada criança;
*Disponível em: http://www.trabalhosfeitos.com/en- C) expressam quem são as crianças com mais facilidade
saios/Avalia%C3%A7%C3%A3º-Mediadora/549901.html e com mais capacidade de entendimento do mundo formal
e informal;
RESPOSTA: “B”. D) representam o cotidiano escolar do trabalho do pro-
fessor e da vida das crianças auxiliando a visão do coletivo
20. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO- como forma de realimentação do planejamento, somente,
GIA - BIORIO/2011) Inserida nos programas dos últi- dos objetivos atitudinais;
mos governos, a educação inclusiva tem sido motivo de
controvérsias e procedimentos por vezes radicais das Para que o professor possa propiciar situações de
escolas. aprendizagem, é necessária a observação, pois é muito
Em relação à inclusão, o seguinte compromisso importante o professor observar sempre o seu aluno, pois
deve ser assumido pela escola brasileira: diante dessas observações, pode proporcionar um novo
A) oferecer escola para todos, exceto nos estados que aprendizado. Esse processo avaliativo destina-se ao pro-
não têm competência para assumir o atendimento aos por- fessor ser criativo, e desempenhar papéis onde forneça o
tadores de necessidades especiais; progresso dos alunos, seja por meio de experiências edu-
B) promover somente espaços de inclusão em escolas cativas, que expressem a construção do conhecimento, e
de periferia; avançar no seu desenvolvimento.
C) formar, qualificar profissionais, conscientes de sua
responsabilidade ética frente à inclusão; *Texto adaptado de Maeli Sorato Manarin.
D) abrir vagas em classes regulares nas escolas, mesmo Disponível em: http://www.bib.unesc.net/biblioteca/
que não haja profissional qualificado / especializado; sumario/000041/000041FD.pdf

RESPOSTA: “A”.

176
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

22. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO- que avaliar é medir a quantidade de mudanças do com-
GIA - BIORIO/2011) A avaliação escolar tem três tipos portamento e isso se estabelece na chamada “avaliação
de função. A avaliação somativa tem como caracterís- por objetivos”.
ticas, EXCETO:
A) visar a subjetividade face a complexidade das di- *Texto adaptado de Sandra Zákia Lian Souza.
mensões em que ela se realiza;
B) ser realizada ao final do ano ou curso; RESPOSTA: “B”.
C) ter resultados mais gerais como objetivos;
D) visar os resultados pré-estabelecidos; 24. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO-
GIA - BIORIO/2011) Na educação infantil, o atendi-
Avaliação Somativa: Exteriorizada como avaliação final, mento pelos profissionais deve incorporar, de forma
porque acontece no fim de um processo de educação e integrada, o educar e o cuidar, pois tem como carac-
aprendizagem, tem uma função classificatória, em razão de terística geral:
que vão convir a uma classificação do estudante conforme A) salientar a dualidade das intenções do ensino sis-
os níveis de aplicação no fim de uma unidade, de um mó- temático e assistemático como pressuposto de desenvol-
dulo, de uma disciplina, de um semestre, de um ano, de um vimento cognitivo, emocional e afetivo;
curso. A avaliação somativa promove a definição de esco- B) promover situações de interação em que o cuidar
pos, frequentemente se baseia nos conteúdos e procedi- tem uma função básica e única de alicerce para o desen-
mentos de medida, como provas, teste objetivo, disserta- volvimento das capacidades infantis;
ções-argumentativas. Colabora para a avaliação somativa, C) entender o educar como atividade diversa do cui-
tanto a avaliação diagnóstica quanto a avaliação formativa, dar que envolve situações de aprendizagem com inten-
que a avaliação da aprendizagem é um ciclo de interven- cionalidade de espaço e tempo orientada pelos adultos;
ções pedagógicas de um mesmo processo. D) propiciar o desenvolvimento da identidade das
crianças por meio de aprendizagens diversificadas, rea-
*Texto adaptado de Marcondes de Sousa. lizadas com elementos da cultura em situações de inte-
ração.
RESPOSTA: “A”.
Cuidar e educar é impregnar a ação pedagógica de
23. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO- consciência, estabelecendo uma visão integrada do de-
GIA - BIORIO/2011) A professora Irene pensa que ava- senvolvimento da criança com base em concepções que
liar significa não só medir mudanças comportamentais, respeitem a diversidade, o momento e a realidade, pecu-
mas também a aprendizagem. Para quantificar os resul- liares à infância. Desta forma, o educador deve estar em
tados, ela está apoiada na racionalidade instrumental permanente estado de observação e vigilância para que
preconizada pela seguinte concepção de avaliação: não transforme as ações em rotinas mecanizadas, guia-
A) interacionista; das por regras. Consciência é a ferramenta de sua prática,
B) positivista; que embasa teoricamente, inova tanto a ação quanto à
C) cognitivista; própria teoria. Cuidar e educar implica reconhecer que o
D) construtivista; desenvolvimento, a construção dos saberes, a constitui-
ção do ser não ocorre em momentos e de maneira com-
Na ótica da teoria Positivista, sob as lentes do empiris- partimentada.
mo, o conhecimento surge a partir das experiências que o
sujeito acumula através dos tempos utilizando-se da ob- *Texto adaptado de Nilza Aparecida Forest e Sílvio
servação seguindo até a obtenção das ideias sistemáticas. Luiz Indrusiak Weiss.
O ambiente torna-se, portanto, o fator determinante da
aprendizagem e não apenas um fator condicionante como, RESPOSTA: “D”.
no máximo, deveria ser.
O sujeito não exerce ação sobre o objeto do conheci- 25. (PREFEITURA DE PATROCÍNIO/MG – PEDAGO-
mento. Ele é considerado como uma “tabula rasa”, todas GIA – FUNDEP/2012) A criança é um sujeito sociocul-
as informações do mundo exterior vão sendo impressas tural e aprende a partir das múltiplas interações que
através dos sentidos. Assim, o conhecimento é o registro estabelece com o meio.
dos fatos, a simples cópia do real. O Positivismo prima pela Analise as seguintes afirmativas sobre o desenvol-
objetividade e concebe a aprendizagem como mudança de vimento infantil.
comportamento, como resultado do treino e da experiên- I. É a partir das relações com o outro que a criança
cia. Segundo Tyler (1949) “a avaliação é um processo desti- vai se apropriando das significações socialmente cons-
nado a verificar o grau em que mudanças comportamentais truídas e assim pode perceber e estruturar a realidade.
estão ocorrendo, a avaliação deve julgar o comportamento II. O adulto tem papel fundamental no desenvolvi-
dos alunos, pois o que se pretende em educação é justa- mento infantil. É ele quem determina o que a criança
mente modificar tais comportamentos”. Nessa perspectiva, deve ou não aprender, limitando seu universo social e
aprender é mudar de comportamento. Subtende-se então protegendo-a inclusive de si mesma.

177
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

III. Estimular a criança a desenvolver a lingua- 27. (PREFEITURA DE GRAMADO/RS – PEDAGOGIA –


gem corporal, musical, plástica, dramaturgia, bem FUNDATEC/2013) Segundo Silva (2010), analise as sen-
como a linguagem escrita e falada nos primeiros tenças abaixo: Os que praticam o bullying mostram-se
anos de vida pode acarretar excesso de estímulo e bastante hábeis em manipular, mentem sem qualquer
inibir a criança. constrangimento e não respeitam hierarquias (1ª par-
A partir dessa análise, pode-se concluir que: te). No recreio, as vítimas de bullying encontram- se
A) apenas a afirmativa I está correta. isoladas do grupo ou perto de algum adulto e mos-
B) apenas a afirmativa II está correta. tram-se tristes, deprimidas ou aflitas (2ª parte). As ví-
C) apenas a afirmativa III está correta. timas provocadoras são aquelas capazes de insuflar em
D) todas as afirmativas estão erradas. seus colegas reações agressivas contra si mesmas (3ª
parte). Quais estão corretas?
A criança aprende a partir das múltiplas intera- A) Apenas a 2ª parte.
ções que estabelecem com o meio sócio cultural. E é B) Apenas a 3ª parte.
participando, ativamente de uma comunidade educa- C) Apenas a 1ª e a 3ª partes.
tiva, que a criança tem oportunidade de estabelecer D) A 1ª, 2ª e a 3ª partes.
inúmeras trocas com as outras crianças, com adultos e
com instrumentos culturais (livros, brinquedos, jogos, Martins (2005) classifica três grandes formas de
objetos) Podemos dizer desta forma que, a criança é bullying. A primeira envolve comportamentos “diretos e
um sujeito sociocultural. físicos”, o que inclui atos como agredir fisicamente, rou-
bar ou estragar objetos alheios, extorquir dinheiro, forçar
*Disponível em: http://www.aquarelakidsjoinville. comportamentos sexuais, obrigar a realização de ativida-
com.br/a-escola des servis, ou a ameaça desses itens. A segunda forma
inclui comportamentos “diretos e verbais”, como insultar,
RESPOSTA: “A”. apelidar, “tirar sarro”, fazer comentários racistas, homofó-
bicos ou que digam respeito a qualquer diferença no outro.
26. (PREFEITURA DE PATROCÍNIO/MG – PE- Por último, há os comportamentos “indiretos” de bullying,
DAGOGIA – FUNDEP/2012) Segundo Piaget, o de- como excluir sistematicamente uma pessoa, fazer fofocas
senvolvimento da criança se processa por meio ou espalhar boatos, ameaçar excluir alguém de um grupo
de uma sequência de estágios. Sobre os estágios para obter algum favorecimento ou, de maneira geral, ma-
do desenvolvimento infantil, assinale a afirmativa nipular a vida social de outrem.
CORRETA.
A) A criança só é promovida de um estágio a outro *Texto adaptado de Priscilla Linhares Albino e Marlos
depois de uma avaliação criteriosa do adulto. Gonçalves Terêncio.
B) Desde o primeiro estágio, a criança já é capaz
de interiorizar suas ações diferenciando objetos de RESPOSTA: “D”.
seus representantes.
C) Os esquemas de ações iniciais, originários dos 28. (PREFEITURA DE GRAMADO/RS – PEDAGOGIA
reflexos e instintos, formam a base para outros mais – FUNDATEC/2013) Conforme Wadsworth, no estágio
complexos. pré-operatório, vários são os tipos de representações
D) No segundo estágio, a capacidade de repre- que têm relevância no desenvolvimento, EXCETO:
sentações é ilimitada, pois a criança já entende o pon- A) a imitação diferida.
to de vista da outra pessoa. B) o jogo simbólico.
C) a abstração reflexiva.
Progressivamente, a criança vai aperfeiçoando tais D) a imagem mental.
movimentos reflexos e adquirindo habilidades e chega
ao final do período sensório-motor já se concebendo Pré-operatório: É nesta fase que surge, na criança, a
dentro de um cosmo “com objetos, tempo, espaço, capacidade de substituir um objeto ou acontecimento
causalidade objetivados e solidários, entre os quais por uma representação (PIAGET e INHELDER, 1982), e esta
situa a si mesma como um objeto específico, agente substituição é possível, conforme PIAGET, graças à função
e paciente dos eventos que nele ocorrem” (Piaget). simbólica. Assim este estágio é também muito conhecido
como o estágio da Inteligência Simbólica. Macedo (1991)
*Disponível em: fundelta.com.br/webroot/doc/ lembra que a atividade sensório-motor não está esquecida
d067829bf9.docx ou abandonada, mas refinada e mais sofisticada, pois ve-
rifica-se que ocorre uma crescente melhoria na sua apren-
RESPOSTA: “C”. dizagem, permitindo que a mesma explore melhor o am-
biente, fazendo uso de mais e mais sofisticados movimen-
tos e percepções intuitivas. A criança deste estágio:
• É egocêntrica, centrada em si mesma, e não con-
segue se colocar, abstratamente, no lugar do outro.

178
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

• Não aceita a ideia do acaso e tudo deve ter uma 31. (ALVORADA DO SUL/PR – PEDAGOGIA –
explicação (é fase dos “por quês”). AMEAS/PROSPERITY/2014) Para Libâneo (1994) O
• Já pode agir por simulação, “como se”. planejamento escolar é uma tarefa docente que
• Possui percepção global sem discriminar detalhes. inclui tanto a previsão das atividades em termos
• Deixa se levar pela aparência sem relacionar fatos. de organização e coordenação em face dos objeti-
vos propostos, quanto a sua revisão e adequação
*Texto adaptado de Malcon Tafner. Disponível em: no decorrer do processo de ensino. O Planejamen-
http://www.cerebromente.org.br/n08/mente/construtivis- to é:
mo/construtivismo.htm A) A utilização dos conhecimentos acumulados
dos professores pelo seu caráter inovador.
RESPOSTA: “C”. B) É um documento que formula metas, pre-
vê ações, institui procedimentos e instrumentos de
29. (PREFEITURA DE GRAMADO/RS – PEDAGOGIA – ação e propõe esforço coletivo.
FUNDATEC/2013) Segundo Aranha, há um método cuja C) Um processo de racionalização, organização e
ênfase está no reconhecimento de que os sentidos são coordenação da ação docente, articulando a ativida-
a porta para todo conhecimento. Esse método é deno- de escolar e a problemática do contexto social.
minado: D) É uma atividade que não depende de reflexão
A) Intuitivo. acerca das nossas opções e ações, com relação ao
B) Construtivista. rumo que queremos dar ao nosso trabalho.
C) Sintético.
D) Cinestésico. O planejamento escolar é uma tarefa docente
que inclui tanto a previsão das atividades em termos
A ênfase no método estava: [...] no reconhecimento de de organização e coordenação em face dos objeti-
que os sentidos são a porta para todo o conhecimento. Ao vos propostos, quanto a sua revisão e adequação no
contrário da tradição, que valoriza o ensino discursivo, que decorrer do processo de ensino. O planejamento é
atua por raciocínio lógico e, portanto, é abstrato, busca-se um meio para programar as ações docentes, mas é
começar a instrução primária educando a sensibilidade, pela também um momento de pesquisa e reflexão intima-
qual percebemos cores, formas, sons, luz etc. É esta que pre- mente ligado à avaliação.
para e antecipa a intuição intelectual, quando então percebe-
mos as relações (de igualdade, causalidade etc.) entre as coi- *Referência:
sas. Ou seja, rejeitando a educação livresca, a criança deveria LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cor-
aprender a ler o mundo visível, pela observação e percepção tez, 1994 (Coleção magistério 2° grau. Série forma-
das relações entre os fenômenos (ARANHA, 2006). ção do professor).

RESPOSTA: “A”. RESPOSTA: “C”.

30. (PREFEITURA DE GRAMADO/RS – PEDAGOGIA – 32. (PREFEITURA DE BOM DESPACHO/MG


FUNDATEC/2013) _________________________ é um sintoma – PEB I - REIS & REIS/2013) Segundo Barbosa e
frequente em crianças disléxicas e pode ser detectada Horn, no livro “Projetos Pedagógicos na Educação
desde a idade pré-escolar. Infantil, o que tem sido denominada como Crise
Conforme Rotta (2006), a lacuna do trecho acima fica na Escola”:
corretamente preenchida por: A) O fato de grande parte de a população ter tido
A) A disgnosia espacial acesso a escolaridade ao longo do século, porem
B) A hiperatividade essa frequência não ter garantido a aprendizagem;
C) A fobia B) O fato de que apenas 76% da população ter
D) O transtorno hipercinético tido acesso a escolaridade;
C) O fato de que apenas 11% da população ter
Denominam-se disgnosias as alterações das gnosias na tido acesso ao ensino superior;
criança, evitando o uso do termo agnosia, que se refere à per- D) Nenhuma das anteriores.
da da função. A disgnosia decorre do atraso ou da alteração
na integração das percepções – é importante ressaltar que não Podemos pensar no que tem sido denominado
existe perda das funções sensoriais, cognitivas e/ou motoras. como “crise na escola”, o fato de grande parte da po-
pulação ter tido acesso à escolaridade ao longo do
*Referências: século, porém esta frequência não garantiu a apren-
ROTTA, Newra Tellecha, et al. Transtornos da Aprendi- dizagem. Houve ausência de sentido em frequentar
zagem: Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. Por- uma instituição com características do início da mo-
to Alegre: Artmed, 2006. dernidade em tempos pós-modernos.

RESPOSTA: “A”. RESPOSTA: “A”.

179
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

33. (PREFEITURA DE BOM DESPACHO/MG – PEB I 35. (PREFEITURA DE BOM DESPACHO/MG – PEB I -
- REIS & REIS/2013) Com base no Livro “10 Novas Com- REIS & REIS/2013) No tocante a apreciação em artes
petências para ensinar”, de Perrenoud, assinale a alter- visuais, qual das alternativas abaixo se aplicam as
nativa que não faz parte dessas competências: crianças de zero a três anos:
A) Organizar e dirigir situações de aprendizagem; A) Conhecimento da diversidade de produções ar-
B) Trabalhar individualmente com foco na execução laborativa; tísticas, como desenhos, pinturas, esculturas, constru-
C) Participar da administração da escola; ções, fotografias, colagens, ilustrações, cinema etc.;
D) Envolver os alunos em suas aprendizagens e em B) Apreciação das suas produções e das dos outros,
seus trabalhos. por meio da observação e leitura de alguns dos ele-
mentos da linguagem plástica;
As 10 competências são: C) Observação e identificação de imagens diversas;
1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem; D) Observação dos elementos constituintes da lin-
2. Administrar a progressão das aprendizagens; guagem visual: ponto, linha, forma, cor, volume, con-
3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de dife- trastes, luz, texturas.
renciação;
4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em A instituição deve organizar sua prática em torno
seu trabalho; da aprendizagem em arte, garantindo oportunidades
5. Trabalhar em Equipe; para que as crianças sejam capazes de: ampliar o co-
6. Participar da administração da escola; nhecimento de mundo que possuem, manipulando
7. Informar e envolver os pais; diferentes objetos e materiais, explorando suas carac-
8. Utilizar novas tecnologias; terísticas, propriedades e possibilidades de manuseio
9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; e entrando em contato com formas diversas de expres-
10. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. sões artísticas; utilizar diversos materiais gráficos e
plásticos sobre diferentes superfícies para ampliar suas
RESPOSTA: “B”.
possibilidades de expressão e comunicação.
34. (PREFEITURA DE BOM DESPACHO/MG – PEB I -
*Disponível em: unipvirtual.com.br/material/UNIP/
REIS & REIS/2013) Em crianças de 4 a 6 anos o trabalho
LICENCIATURA/.../mod_15.doc
com a apreciação musical deverá apresentar obras que
despertem o desejo de ouvir e interagir, pois para es-
RESPOSTA: “C”.
sas crianças ouvir é, também, movimentar-se, já que as
crianças percebem e expressam-se globalmente. Nesse
contexto, essas crianças deverão, exceto: 36. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB
A) Escutar obras musicais de diversos gêneros, estilos, I – UNIMONTES/2010) Hoffmann (2002) diferencia
épocas e culturas, da produção musical brasileira e de ou- pesquisar e avaliar ao dizer “enquanto a pesquisa
tros povos e países; tem por objetivo a coleta de informações e a análise
B) Participar em situações que integrem músicas, can- e a compreensão dos dados obtidos, a avaliação está
ções e movimentos corporais; predominantemente a serviço da ação, colocando o
C) Reconhecer elementos musicais básicos: frases, par- conhecimento obtido, pela observação ou investi-
tes, elementos que se repetem etc.; gação, a serviço da melhoria da situação avaliada”.
D) Saber informações sobre as obras ouvidas e sobre Nessa perspectiva, analise as afirmativas abaixo.
seus compositores para iniciar seus conhecimentos sobre a 1. As ações de observar, compreender, explicar
produção musical. não são de avaliá-las.
2. A avaliação está além da investigação e inter-
Considerando a idade das crianças nesta etapa, o de- pretação.
senvolvimento da percepção rítmico-melódica, poderá 3. As mudanças fundamentais na avaliação di-
ser feito de modo indireto, através das canções folclóricas zem respeito à finalidade dos procedimentos ava-
como ponto de partida e posteriormente canções para se- liativos.
rem mimadas, ritmadas que levem a movimentos regulares 4. A maioria das escolas iniciam processos de
corporais e poderão ser criadas também canções simples mudanças delineando, com os professores, princí-
para principiantes. O objetivo principal deve ser de desper- pios norteadores de suas práticas.
tar a sensorialidade musical da criança realizando ativida- São CORRETAS as afirmativas
des que despertem reações afetivas, devendo o professor A) 1 e 2, apenas.
Ter preocupação constante com a formação de hábitos B) 3 e 4, apenas.
auditivos, desenvolvimento da memória musical e da aten- C) 1, 2 e 3, apenas.
ção, condição essa necessária para o desenvolvimento mu- D) 2, 3 e 4, apenas.
sical, mas de suma importância para a educação em geral.
*Texto adaptado de Jane de Oliveira Faria. Alertam os estudos contemporâneos sobre a diferen-
ça entre pesquisar e avaliar em educação. “Pesquisa Ava-
RESPOSTA: “B”. liação” está a serviço da ação, colocando o conhecimento

180
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

obtido, pela observação ou investigação, a serviço da me- 39. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I
lhoria da situação avaliada. Coleta de informações, análise – UNIMONTES/2010) De acordo com Luckesi (1999), é
e compreensão dos dados obtidos. importante estar atento à função ontológica (constitu-
tiva) da avaliação da aprendizagem, que é de diagnós-
*Texto adaptado de Vânia P. Oliveira. tico. Dessa forma, a avaliação cria a base para a tomada
de decisão. Articuladas com essa função básica estão,
RESPOSTA: “C”. EXCETO:
A) a função de motivar o crescimento.
37. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I – B) a função de propiciar a autocompreensão, tanto do
UNIMONTES/2010) Para Perrenoud (1999), a avaliação educando quanto da família.
na lógica formativa NÃO deve: C) a função de aprofundamento da aprendizagem.
A) considerar uma pedagogia diferenciada. D) a função de auxiliar a aprendizagem.
B) ser ativa e transmissiva.
C) ser aberta e cooperativa. Segundo Luckesi, a avaliação da aprendizagem deverá ter
D) ser eficiente. como premissa a função ontológica (constitutiva), pois busca
resoluções para as decisões e não um julgamento definitivo.
Avaliação formativa é uma avaliação que apresenta as O ato de avaliar, por sua constituição mesma, não se destina
seguintes características: é um instrumento que permite a a um julgamento “definitivo” sobre alguma coisa, pessoa ou
análise das aprendizagens dos alunos; ele dá condições ao situação, pois não é um ato seletivo. A avaliação se destina ao
avaliador de perceber quais os saberes que realmente os diagnóstico e, por isso mesmo, à inclusão; destina-se a melho-
alunos dominam; os instrumentos utilizados são construídos ria do ciclo da vida. Deste modo, por si, é um ato amoroso. In-
para atender às características citadas anteriores; esses instru- felizmente, por nossas experiências histórico-sóciais e pessoais,
mentos permitem a realização da análise das aprendizagens. temos dificuldades em assim compreendê-la e praticá-la.

*Texto adaptado de Edlene do Socorro Teixeira Rodri- *Referências:


gues. LUCKESI, C. Avaliação da aprendizagem escolar. 8 ed.
São Paulo: Cortez, 1998.
RESPOSTA: “B”.
RESPOSTA: “B”.
38. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I
– UNIMONTES/2010) O ato de planejar é uma atividade 40. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I
intencional pela qual se projetam fins e se estabelecem – UNIMONTES/2010) Para Freire (1996), saber ensinar
meios para atingi- los. (LUCKESI, 1999) Ao fazer essa não é transferir conhecimento e, sim:
afirmativa, o autor: A) criar as possibilidades para a própria produção ou
A) enfatiza a neutralidade do planejamento. sua construção.
B) reitera que o planejamento tem fim em si mesmo. B) entender que o ensino exige a consciência do fim.
C) lembra a burocratização do planejamento. C) respeitar a autonomia do ser professor.
D) acredita que o planejamento é ideologicamente D) compreender que o ensinar exige o distanciamento
comprometido. da realidade.

O ato de planejar não é um ato simplesmente técnico. Freire considera que: “Ensinar não é transferir conhe-
Assim como também não é um ato exclusivamente políti- cimento, mas criar as possibilidades para a sua produção
co-filosófico. Segundo o autor, esse ato será, sim, ao mes- ou a sua construção” (FREIRE, 1996). Dito de outra forma,
mo tempo político-social, científico e técnico. Não basta o docente deve transmitir o conhecimento buscando pro-
pensar nos meios, nas técnicas e na sofisticação dos recur- porcionar ao discente a compreensão do que foi exposto
sos tecnológicos, afirma o autor. Eles são necessários, mas e, a partir daí, permitir que o mesmo dê um novo sentido,
como meios. Importa que a prática de planejar em todos quer dizer, a ideia é não dar respostas prontas, mas criar
os níveis – educacional, curricular e de ensino -- ultrapasse possibilidades, abrir oportunidades de indagações e suges-
a dimensão técnica, integrando-a numa dimensão político- tões, de raciocínio, de opiniões diversas etc. Jamais impedir
-social. O ato de planejar, assim assumido, deixará de ser as interações, as opiniões, os erros e os acertos, isto é, to-
um simples estruturar de meios e recursos, para tornar-se dos esses elementos permitirão que o aluno alcance o real
o momento de decidir sobre a construção de um futuro. conhecimento e continue a buscá-lo incessantemente de
“O ato de planejar é a atividade intencional pela qual se forma autônoma e prazerosa.
projetam fins e se estabelecem meios para atingi-los. Por
isso, não é neutro, mas ideologicamente comprometido.” *Referências:
* Texto adaptado de Cipriano Carlos Luckesi. Disponível FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes ne-
em http://www.crmariocovas.sp.gov.br/int_a.php?t=014 cessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

RESPOSTA: “D”. RESPOSTA: “A”.

181
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

41. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I *Referências:


– UNIMONTES/2010) Transformar a experiência educa- LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para
tiva em puro treinamento técnico é amesquinhar o que que? 12. ed. São Paulo : Cortez, 2010.
há de fundamentalmente humano no exercício educati-
vo: o seu caráter formador. (FREIRE, 1996) Consideran- RESPOSTA: “B”.
do o pensamento do autor, marque V para verdadeiro e
F para falso, nas seguintes afirmativas: 43. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I –
( ) Educar é exercitar o bom senso. UNIMONTES/2010) Para gerir a progressão das apren-
( ) Educar é essencialmente formar. dizagens, não se pode deixar de fazer balanços perió-
( ) Educar relaciona-se à alegria e à esperança. dicos das aquisições dos alunos. (PERRENOUD, 1999)
( ) Educar é estimular a pergunta e sua reflexão crítica. Analisando a citação acima, é CORRETO afirmar que o
A sequência CORRETA é: autor:
A) V, V, V, V. I - considera esses balanços essenciais para funda-
B) F, F, F, F. mentar as decisões do professor quanto à aprendiza-
C) V, F, V, V. gem do aluno.
D) F, V, F, V. II - enfatiza que tais balanços deveriam confirmar e
aprimorar o que o professor já sabe.
Transformar a experiência educativa em puro treina- III - adverte que os balanços dispensam a observa-
mento técnico é amesquinhar o que há de fundamental- ção contínua.
mente humano no exercício educativo: o seu caráter for- IV - pondera que os balanços devem também con-
mador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino tribuir para estratégias de ensino-aprendizagem.
dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral Estão CORRETA(S) a(s) afirmativa(s):
do educando (FREIRE, 1996). A) I e III, apenas.
B) II, apenas.
*Referências: C) I, II e IV, apenas.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes ne- D) II, III e IV, apenas.
cessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
Em princípio, a escola é inteiramente organizada para
RESPOSTA: “A”. favorecer a progressão das aprendizagens dos alunos para
os domínios visados ao final de cada ciclo de estudos. Os
42. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB programas são concebidos nessa perspectiva, assim como
I – UNIMONTES/2010) Para Libâneo (1994), as práti- os métodos e os meios de ensino propostos ou impostos
cas educativas podem verdadeiramente determinar as aos professores. Portanto, poder-se-ia dizer que, assumida
ações da escola e seu comprometimento social com a pelo sistema, a progressão não exige nenhuma compe-
transformação. Daí a importância da relação entre en- tência particular dos professores. Em uma cadeia de mon-
sino e aprendizagem no espaço educativo. Com base tagem, se os engenheiros conceberam bem a sucessão
nas ideias do autor, é INCORRETO afirmar que: das tarefas, cada operário contribui para fazer com que o
A) a aprendizagem é uma relação cognitiva entre os produto progrida para seu estado final sem que seja ne-
aprendizes e os objetos de conhecimento. cessária a tomada de decisões estratégicas. A estratégia é
B) a aprendizagem no ambiente escolar é natural e casual. inteiramente incorporada ao dispositivo de produção, e os
C) a assimilação de conhecimentos deriva da reflexão trabalhadores podem limitar-se às suas tarefas, sem tomar
proporcionada pela percepção prático-sensorial e pelas iniciativas intempestivas. Deles se espera uma forma de ha-
ações mentais. bilidade e ajustes marginais dados às operações previstas
D) o ato de aprender é um ato de conhecimento. em razão de pequenas variações dos materiais e das con-
dições de trabalho. Não cabe a eles pensar a totalidade do
O autor coloca que as práticas educativas é que ver- processo. O processo é diferente na escola porque não se
dadeiramente podem determinar as ações da escola e seu podem programar as aprendizagens humanas como a pro-
comprometimento social com a transformação. Afirma que dução de objetos industriais. Não é somente uma questão
a pedagogia investiga estas finalidades da educação na so- de ética. E simplesmente impossível, devido à diversidade
ciedade e a sua inserção na mesma, diz que a Didática é o dos aprendizes e à sua autonomia de sujeitos. Desse modo
principal ramo de estudo da pedagogia para poder estudar todo ensino digno desse nome deveria ser estratégico, ou
melhor os modos e condições de realizarmos o ensino e seja, concebido em uma perspectiva em longo prazo, cada
instrução. A escolarização é o processo principal para ofe- ação sendo decidida em função de sua contribuição alme-
recer a um povo sua real possibilidade de ser livre e buscar jada à progressão ótima das aprendizagens de cada um.
nesta mesma medida participar das lutas democráticas, o
autor endente democracia como um conjunto de conquis- *Disponível em: http://cappf.org.br/tiki-download_
tas de condições sociais, políticas e culturais, pela maioria wiki_attachment.php?attId=231
da população para participar da condução de decisões po-
líticas e sociais (Libâneo, 1994). RESPOSTA: “C”.

182
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

uma análise crítica, evidenciando limites e desafios que


COMPREENSÃO DAS TENDÊNCIAS a prática pedagógica impõe as inovações propostas pe-
METODOLÓGICAS PARA A CIÊNCIA, las pesquisas.
LEVANDO-SE EM CONSIDERAÇÃO O ATUAL Torna-se assim fundamental o desenvolvimento de es-
MOMENTO HISTÓRICO. paços de reflexão sobre as questões referentes à produção
de conhecimento no Ensino de Ciências na formação inicial
de professores, bem como, para a reflexão de como es-
ses conhecimentos podem ser utilizados na prática peda-
O Ensino de Ciências na Escola Hoje gógica. As Licenciaturas nas diferentes áreas das Ciências
Naturais são, sem dúvida, o local privilegiado e com a res-
Como o ensino de ciências é realizado hoje nas escolas ponsabilidade de promover o aprofundamento sobre essas
de ensino fundamental? Que inovações vêm sendo pro- questões e, além disso, tem o compromisso de conhecer
postas para essa área nos últimos anos? Os avanços advin- e socializar a produção que vem se consolidando na área.
dos da pesquisa em Ensino de Ciências vêm impactando
a forma de ensinar e aprender nessa área? Que desafios
existem para que a prática pedagógica na área de ciências Os contextos históricos e as tendências no ensino
incorpore os resultados das investigações realizadas? de ciências
O que hoje identificamos como a área de Ensino de
Ciências tanto em nível internacional como nacional vem Os anos 1960 sem dúvida deixaram profundas marcas
sendo constituída a partir de uma série de programas de no Ensino de Ciências no Brasil, em especial com a divul-
pós-graduação, de publicações científicas, mas também gação dos projetos curriculares internacionais e com a for-
da prática pedagógica na escola e dos inúmeros materiais mulação de projetos brasileiros para melhoria do ensino
produzidos para auxiliar e promover esta área. Em especial desta área pela comunidade científica (KRASILCHIK, 1987).
no Brasil, a partir dos anos de 1970 houve a crescente cria- Os anos posteriores foram marcados pelo surgimento de
ção de cursos de pós-graduação nessa área e aumentou novas abordagens no Ensino de Ciências e pela consolida-
muito a produção acadêmica, com quantidades relevantes ção de temáticas de pesquisas, influenciadas não só pelas
de dissertações de mestrado e teses de doutorado, além de novas concepções de ciência que se estabelecem, como
revistas científicas. São também cada vez mais tradicionais pelas tendências pedagógicas que se configuram no cam-
os diversos encontros e simpósios direcionados a pesqui- po da educação de forma mais ampla.
sadores e a professores, nas áreas de ensino de Física, de Myriam Krasilchik, professora da Faculdade de Educa-
Biologia e de Química. Em 1997 se criou a Associação Bra- ção da USP e uma das mais importantes pesquisadoras do
sileira de Pesquisadores em Ensino de Ciências – ABRAPEC ensino de ciências, buscou sintetizar, em diversas publica-
com a finalidade promover, divulgar e socializar a pesquisa ções, o desenvolvimento dessa área.
em Educação em Ciências. As informações contidas no quadro a seguir, elaborado
Diante deste quadro é possível afirmar que já se acu- por essa autora, nos ajudam a perceber as mudanças ao
mulam uma série de relevantes resultados sobre a efetivi- longo dos últimos anos nos contextos sociais, políticos e
dade e os desafios dos processos de ensino e aprendiza- econômicos e a relação dessas com as modificações nas
gem de ciências. Alguns deles inclusive fundamentam as concepções de ciência, de educação e de ensino. Nesse
propostas oficiais expressas por meio de parâmetros e di- movimento, algumas perspectivas relativas aos processos
retrizes curriculares e inspiram experiências desenvolvidas de ensino e aprendizagem começam a se delinear, cons-
pelos professores que ministram ciências para as séries do tituindo objetos de estudos e investigações e norteando a
ensino fundamental. produção de materiais e a formação de professores na área
Se por um lado o panorama apontado revela a pujan- de ensino de ciências.
ça na produção de conhecimento da área de Ensino de
Ciências, nem sempre esses resultados estão presentes
na prática concreta dos professores na área. A realidade
nas escolas brasileiras ainda é marcada, muitas vezes, por
perspectivas tradicionais de ensino-aprendizagem, seja
por motivos políticos e econômicos, seja por problemas na
própria formação inicial do professor de ciências. Na ver-
dade, a apropriação pelo professor das novas tendências
e perspectivas no ensino de ciências vem sendo feita de
formas diferenciadas, algumas vezes por meio da simples
aplicação dos resultados das pesquisas, e em outras com

183
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Fig. 1 – Quadro da Evolução Histórica do Ensino de Ciências (KRASILCHIK e MARANDINO, 2002)

Vários autores ao longo das últimas décadas vêm tentando organizar a produção científica no Brasil na área do Ensino
de Ciências, através da elaboração de catálogos de teses e dissertações (NETO, 1990; IFUSP, 1992 e 1996, NETO, 1998), pro-
curando sintetizar tendências e abordagens na área, indicando evolução de linhas de pesquisa e referenciais teóricos mais
relevantes (KRASILCHIK, 1987; PERNAMBUCO, 1985; MARANDINO, 1994; KRASILCHICK, BIZZO e TRIVELATTO, 1994; CAR-
VALHO, 1995; LEMGRUBER, 2000) ou fazendo referência a temáticas educacionais presentes na pesquisa na área (Fazenda
et al., 1998). Lemgruber (2000), ao indicar os referenciais teóricos presentes nas teses e dissertações no campo da educação
em ciências, conclui que é possível identificar, ao analisar a produção científica na área de 1981 a 1995:
“(...) um movimento de superação do paradigma epistemológico empírico indutivista característico dos projetos inova-
dores dos anos 60, com sua ênfase na vivência do método científico. Inicialmente, essa busca de superação se dá através
de referenciais teóricos com base na psicologia cognitiva. Posteriormente, este movimento de superação se alarga, a partir
de concepções epistemológicas históricas e culturais”.

184
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

É possível assim perceber que as tendências que foram linha, a aprendizagem deve ser encarada como uma “reor-
sendo propostas para o ensino da área têm origem tanto no ganização e desenvolvimento das concepções dos alunos”
campo científico como no educacional, a partir de deman- (MOREIRA, 1997). Consequentemente, o ensino é um pro-
das que surgem da própria escola, muitas vezes influencia- cesso que visa à promoção de tal mudança, assim, a partir
das por contextos sociais mais amplos. Na medida em que de estratégias instrucionais adequadas, deve-se fazer com
concepções de sociedade e de ciência mudam, perspectivas que os alunos mudem suas ideias prévias em favor das
de ensinar e aprender ciências também se alteram tendo concepções científicas.
como finalidade a formação de novos cidadãos. Entretanto, segundo Mortimer (1996; 2000), mesmo
Iremos a seguir apontar algumas dessas tendências com a produção significativa realizada pelo Movimento
com a finalidade de identificar aspectos que hoje se espera das Concepções Alternativas - MCA, esse programa de
do ensino de ciências. Convidamos a todos a refletir sobre pesquisa, ao longo do tempo, demonstrou sinais de esgo-
se e como essas tendências apareceram na sua formação tamento. Apesar do certo êxito na modificação de algumas
como estudante, buscando identificar como foram viven- dessas ideias dos alunos, parece que passado um certo
ciadas por vocês ao longo de sua vida escolar. tempo muitas delas reaparecem, inclusive depois de várias
Ao longo da apresentação das características sobre al- situações de aprendizagem sobre o mesmo aspecto. Desse
gumas das tendências no ensino de ciências procure regis- modo, as ideias tanto espontâneas ou do senso comum
trar exemplos de ações e atividades que você vivenciou ou quanto as científicas podem conviver em uma mesma pes-
conhece nas aulas de ciências, buscando identificar a que soa sendo usadas em contextos independentes e não rela-
tendência eles pertencem. cionados. Por exemplo, os alunos respondem corretamen-
te, do ponto de vista científico, em situações de avaliação
Identificando tendências no Ensino de Ciências escolar, mas continuam dando explicações espontâneas – e
erradas cientificamente – nas suas experiências cotidianas.
As tendências apontadas foram mapeadas por nós a As pesquisas em concepções espontâneas e em mudança
partir de publicações na área de ensino de ciências, tanto conceitual contribuíram de forma contundente nos estu-
dos sobre do processo de aprendizagem em ciências, con-
nacionais quanto internacionais. Serão apresentadas em
tudo as limitações percebidas fomentaram novas linhas de
tópicos, mas é importante ressaltar que as tendências não
investigação.
são estanques pois podem se articular na prática pedagó-
Mais recentemente, as compreensões dos processos
gica concreta. No entanto, algumas delas se apoiam em
de aprendizagem em ciências começam a ser investigados
pressupostos muitas vezes antagônicos, sendo necessário
a partir dos estudos de linguagem (MARTINS, 2001). Para
uma análise crítica sobre sua utilização em conjunto. É im-
Mortimer e Machado (2001), a ênfase nos estudos sobre
portante assim manter o olhar crítico e apurado sobre os
os processos individuais de construção de conhecimen-
pressupostos que fundamentam cada uma delas, analisan-
to ainda domina grande parte da literatura no Ensino de
do sua pertinência, potencialidades e desafios para o uso Ciências. Entretanto, “alguns pesquisadores começaram
em situações reais de ensino. a perceber que essa abordagem era insuficiente para dar
conta da complexidade de relações envolvidas”. Segundo
Abordagens Cognitivas esses autores, cada vez mais as investigações têm procu-
rado incorporar as dimensões sociointeracionista à análi-
Essa abordagem ou tendência se apoia nas teorias se do processo de ensino. Tais trabalhos “destacam que a
cognitivistas que influenciaram a pesquisa e a prática de construção do conhecimento em sala de aula é mediada
ensino e aprendizagem de ciências especialmente a par- pela linguagem e que o discurso produzido na interpreta-
tir dos anos de 1970. As teorias cognitivas de Jean Piaget ção das atividades é no mínimo tão importante quanto às
e Lev Vygotsky são a base que sustenta os pressupostos próprias atividades realizadas pelos alunos”.
desta abordagem que, em linhas gerais, propõe que o co- Assim sendo, cada vez mais as pesquisas relacionadas
nhecimento é construído individualmente e socialmente aos processos de ensino e aprendizagem têm enfatizado a
na relação dos sujeitos com o mundo e com os demais importância de se considerar tanto as interações discursi-
sujeitos e dentro de contextos sociais e culturais determi- vas como a linguagem dos alunos para promover a com-
nados. No ensino de ciências, essas perspectivas ganharam preensão sobre a ciência em suas dimensões conceituais e
força a partir das pesquisas sobre as ideias espontâneas procedimentais. Entender a ciência como parte da cultura
ou alternativas dos alunos sobre conceitos científicos e nos e, ainda, compreender o significado da cultura científica
estudos sobre mudança conceitual e se expandiram a par- implica necessariamente a levar os alunos a conhecer e
tir das investigações sobre a linguagem e os processos de usar a linguagem da ciência (CAPECHI, 2004).
argumentação. Para que essa perspectiva possa ser desenvolvida nas
De acordo com Alves (2001), numerosos trabalhos fo- aulas de ciência é importante estimular o diálogo e a dis-
ram realizados com o objetivo de identificação das “ideias cussão em torno dos temas de forma a garantir não so-
dos alunos”. Correspondente a essa visão de aprendizagem mente que os alunos revelem suas ideias e concepções
desenvolveu-se um modelo de ensino centrado na trans- acerca dos conceitos envolvidos, mas especialmente para
formação das concepções alternativas dos alunos em con- que possam empregar a linguagem da ciência. Capechi
ceitos científicos: a teoria da Mudança Conceitual. Nesta (2004) nos informa sobre as diferenças entre a linguagem

185
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

científica e a linguagem da ciência escolar, já que no pro- duas perspectivas: “de um lado, dizia-se que a única histó-
cesso de transformação de uma em outra, elementos da ria possível nos cursos de ciências era a pseudo-história;
cultura científica se perdem para que possa ser compreen- de outro lado, afirmava-se que a exposição à história da
dida. Assim, não se trata de estimular o simples uso de ciência enfraquecia as convicções científicas necessárias
palavras oriundas da ciência, mas que essas sejam usadas à conclusão bem-sucedida da aprendizagem em ciência”
pelos alunos em processos de argumentação onde simpli- (Ibid., p.172).
ficações e adaptações são necessárias e não comprometem A primeira crítica apresentada tem como base a ideia
a aprendizagem. Desse modo, se propõe que o ensino de de que a história desenvolvida no ensino de ciências não
ciências estimule o desenvolvimento, nos alunos, de argu- é apenas uma “pseudo-história”, simplificada e com erros
mentos que se apoiem em explicações, confronto de opi- e omissões, mas uma verdadeira falsificação da história
niões, comparações de pontos de vista, enfrentamento de com aspecto de história genuína – uma quase-história -,
conflitos, utilização de dados, entre outros. onde esta é escrita para sustentar uma determinada ver-
são da metodologia científica. A segunda crítica, por sua
Algumas críticas são propostas a essa abordagem cog-
vez, defende que o uso da história genuína poderia “so-
nitivista. Por exemplo, se tratada de forma isolada de ou-
lapar o espírito científico neófito”, podendo se constituir
tras tendências, o favorecimento de atividades centradas
uma influência negativa sobre os estudantes já que “ceifa
na aprendizagem de conceitos científicos acaba por não
as certezas do dogma científico”. Contudo, para Matthews
promover a contextualização social e política da ciência. (1995:177), tais pontos de vista podem ser acomodados
Outra crítica refere-se aos desafios no cotidiano da escola sem que seja necessário excluir a história dos cursos de
– relativos a disciplina, organização da sala de aula, ao tem- ciência pois, uma das tarefas da pedagogia é a de produzir
po e ao espaço - para o desenvolvimento de sequências uma “história simplificada que lance uma luz sobre a ma-
didáticas que promovam a construção de conhecimento, o téria, mas que não seja mera caricatura do processo histó-
diálogo, a interação entre sujeitos mediadas pelos objetos rico”.
de conhecimento. Nessa perspectiva, defende-se que a contextualização
histórica e social dos fatos científicos possa auxiliar na pro-
História e Filosofia da Ciência moção de uma visão crítica da ciência, de seus impactos na
sociedade, auxiliando no posicionamento dos indivíduos
Esta tendência aposta que o ensino de ciências deve sobre seus efeitos.
expressar uma ideia de produção de conhecimento fun- Alguns dos desafios para o desenvolvimento desta
damentada mais nos processos do que nos produtos da tendência refere-se exatamente ao fato de que a discussão
ciência. Sustenta que o conhecimento científico não é algo histórica, filosófica e epistemológica da ciência está au-
acabado pois, durante a produção da ciência os fatos se sente na formação de professores nessa área, sendo assim
encontram em processo de elaboração e, muitas vezes, difícil esperar que as aulas de ciência possam prever essa
há questionamentos, posições contrárias, hipóteses ina- abordagem. Além disso, seu uso na prática pedagógica é
cabadas, além de implicações éticas, econômicas, legais e prejudicado pela falta de materiais didáticos que auxiliem
sociais. Dessa forma, preconiza a necessidade da contex- a sua aplicação.
tualização histórica e social da ciência e tem por base as
discussões advindas especialmente dos campos da histó- Experimentação
ria, da filosofia e da epistemologia da ciência, se apoiando
assim em teóricos como Thomas S. Kuhn, Gaston Bachelar, Esta abordagem foi especialmente enfatizada no ensi-
Karl Popper, Bruno Latour, entre outros. no de ciências nos anos de 1960 sob influência dos proje-
tos curriculares americanos e ingleses que sublinhavam a
Sua presença se deu principalmente a partir de traba-
necessidade de que os programas de ensino de ciências se
lhos que destacaram a forte presença de uma visão a-his-
desenvolvessem por meio de experimentos, representado
tórica e centrada nos produtos da ciência nos materiais e
a ideia de ciência moderna e atual.
nas aulas de ciências, em detrimento de uma abordagem Desde então, o tema da experimentação no Ensino de
social e cultural, que considera a ciência como processo Ciências vem sendo discutido e diferentes posições têm
e que leva em conta os embates e controvérsias da cons- sido assumidas na literatura, ora defendendo o papel cru-
trução do conhecimento científico. Desse modo, a im- cial da experiência na aprendizagem de ciências, ora criti-
portância de se considerar a história da ciência no ensino cando, a partir da perspectiva histórica, a ênfase empírica
desta área vem sendo destacada por vários educadores e que dominou as concepções de ciência e do seu ensino.
historiadores, que apesar de defenderem essa abordagem Os argumentos que costumam ser levantados em de-
como fundamental para apresentar a produção da ciência fesa do ensino experimental nas escolas dizem respeito a
de forma contextualizada, destacam também seus desafios sua contribuição para uma melhor qualidade do ensino,
(CACHAPUZ e PAIXÃO, 2002; MATTHEWS, 1995; GIL PÉREZ, principalmente através de situações de confronto entre as
1993; SOLOMON et al., 1992). hipóteses dos alunos e as evidências experimentais. Assim,
Matthews (1995) em seu artigo sobre a reaproxima- a experimentação pode contribuir para aproximar o Ensino
ção entre história, filosofia e ensino de ciências discute, de Ciências das características do trabalho científico, para
entre vários aspectos, os ataques feitos ao uso da história aquisição de conhecimentos e para o desenvolvimento
no ensino de ciências. Tais críticas se fundamentavam em mental dos alunos (AXT, 1991).

186
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Numa perspectiva crítica sobre a experimentação no como solução dos problemas de aprendizagem, relativi-
Ensino de Ciências, Jenkins (1999), indica que na Inglaterra zando o uso dos experimentos e discutindo seu papel e
o ensino prático de ciências se estabeleceu na educação uso no ensino, dando a ela o caráter de mais uma entre as
no último quarto do século XIX, mas que somente a partir diferentes estratégias de ensinar ciências na escola.
da segunda metade do século XX que grande parte das Além disso, consideramos fundamental um maior
escolas começam a ensinar ciência de forma prática numa aprofundamento nas especificidades, inclusive metodoló-
escala significante. Para Jenkins, muito tem sido debatido gicas, das áreas das ciências – Biologia, Física e Química,
sobre os propósitos do ensino de laboratório, no entanto procurando entender como cada uma delas penetra, ao
ao seu ver, trata-se de um debate estéril. Questiona então longo de sua existência, nos currículos das ciências esco-
o que deve ser modificado para que o ensino experimental lares e que particularidades cada uma dessas áreas levanta
se adapte as profundas mudanças científicas, sociais, e po- para o desenvolvimento de atividades práticas no ensino.
líticas ocorridas desde o século XIX.
Este autor indica também os argumentos que têm sido Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente
usados na defesa da experimentação, os quais enfatizam
dimensões cognitivas, afetivas, de motivação e atitudes, No campo do ensino o enfoque CTS ou CTSA surge a
além do fato desta promover aquisição de procedimen- partir da preocupação em formar cidadãos que se colo-
tos técnicos e manuais. Contudo, ao seu ver, a filosofia da quem criticamente diante das questões de ciência e tecno-
ciência que vem sustentando o ensino na área é antiquada, logia, envolvendo seus aspectos políticos e sociais de C&T
permanecendo ainda o discurso de que para ensinar ciên- (AIKENHEAD, 1994; AULER, 2002). Tal preocupação surge
cia é necessário reproduzir o método da ciência, acredi- com ênfase durante as décadas de 1960 e 1970, quando
tando que este é o parâmetro para explicar o seu sucesso, os movimentos ambientalistas e aqueles contra as armas
demarcar consensos e demonstrar progresso. A crítica de nucleares tiveram início como uma reação a alguns acon-
Jenkins a esta perspectiva, está centrada nas diversas difi- tecimentos marcantes como acidentes nucleares, envene-
culdades da aproximação entre a experimentação na esco- namentos farmacêuticos, derramamento de petróleo, entre
la e o método científico, já que fazer ciência não é somente outros (CEREZO, 1999).
levantar hipóteses e observar, pois, o cientista deve lidar Os chamados estudos CTS envolvem, desse modo, fa-
com vários esquemas que tornam a prática da ciência algo tores de natureza social, política ou econômica relaciona-
complexo, descritivo, racional, mas também um processo dos a ciência e tecnologia, mas também a reflexão sobre as
pré-determinado ou indeterminado, independente ou im- suas consequências éticas, ambientais e culturais(CONTIER
plicado, social e intelectual. O fazer científico, para este au- E MARANDINO, 2010).Quando aplicados ao contexto es-
tor, não é algo mecânico nem individual e por isso mesmo colar, alguns pressupostos podem ser considerados bases
não é passível de ser replicado. Torna-se assim necessário das propostas de ensino na perspectiva CTS: relacionar a
repensar o papel das aulas práticas se a justificativa para ciência com as aplicações tecnológicas e os fenômenos na
desenvolvê-la é a introdução no fazer científico (JENKINS, vida cotidiana; abordar o estudo daqueles fatos e aplica-
1999:23). ções científicas que tenham uma maior relevância social;
Para Oliveira (1992), a experimentação tem sido enca- abordar as implicações sociais e éticas relacionadas ao uso
rada como uma forma metodológica para enfrentar o pro- da ciência e do trabalho científico; e adquirir uma com-
blema da baixa aprendizagem em ciências. Nesta linha, os preensão da natureza da ciência e do trabalho científico.
métodos são o centro da problemática pedagógica, pois (AULER, 2002),
“se um conteúdo não é compreendido é porque os meios Além disso, os currículos CTS no contexto brasileiro,
pelos quais foi veiculado são falhos” (Ibid., p.86). Para este vêm cada vez mais enfatizando a necessidade de estimular
autor, o professor deve pensar sempre sobre o saber en- a tomada de decisão sobre temas científicos e tecnológicos
sinado, evitando que no espírito aprendiz se consolide a pela população, relacionada com processos de letramento
imagem do fazer ciência como processo de descoberta científico e associada à formação de alunos/cidadãos ca-
(ou redescoberta) de verdades estabelecidas, uma vez que pazes de exercer uma ação social responsável. Para tal é
“não é invocando o estatuto da ciência empírica, ultrapas- fundamental, em uma sociedade democrática, a promoção
sada historicamente, que haveremos de provar ou garantir do debate político e da busca de soluções que atendam
qualquer coisa ao aluno”. Assim, para Oliveira, é preciso amplos setores da sociedade (SANTOS E MORTIMER, 2001)
“discutir que a atividade científica pressupõe pluralidade No ensino de ciências as atividades inspiradas nesta
de métodos de investigação, sendo cada abordagem a re- abordagem enfatizam o trabalho com problemas de inte-
tificação de antigos erros e a construção de novas verda- resse e impacto local e com a discussão dos limites e pos-
des, pois o saber humano é uma empresa nunca acabada” sibilidades do desenvolvimento científico. Neste sentido,
(Ibid., p.87) esta tendência se articula com as discussões relacionadas
A partir dos elementos discutidos, é fundamental anali- com a Educação Ambiental e, em alguns casos, se adiciona
sar de forma crítica os pressupostos, as possibilidades e os a letra A a sigla CTS: C&T&S&A. Nesses casos, o foco se
limites da experimentação nas aulas de ciências. Deve-se dá na análise dos impactos ambientais promovidos pelo
provocar uma reflexão sobre as visões ingênuas e extrema- desenvolvimento científico e tecnológico e na promoção
mente crédulas na experimentação no Ensino de Ciências do desenvolvimento de ações de conservação.

187
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Uma das críticas feita a essa abordagem, refere-se a Em especial, os museus de ciências vêm sendo lócus
ênfase na contextualização da ciência em detrimento da importante das investigações no campo do Ensino de Ciên-
dimensão conceitual. Além disso, por ser necessária, muitas cias e vários trabalhos vêm procurando discutir os aspec-
vezes, uma abordagem interdisciplinar dos temas científi- tos educativos desenvolvidos nestes espaços, propondo
cos para que possam ser analisadas as implicações sociais, abordagens para a práxis educativa nos museus em geral e
políticas e éticas, os desafios para o desenvolvimento da nos de ciências em particular. Além disso, nota-se por um
tendência CTSA estão relacionados também ao pouco ma- lado, a ampliação do trabalho de formação de educadores
terial didático de apoio para o professor, assim como a ne- e monitores de museus, algumas vezes desenvolvidos em
cessidade de atualização dos mesmos. articulação com as licenciaturas. Por outro lado, as possibi-
lidades de atuação dos futuros educadores do ensino for-
Espaços Não Formais de Educação e Divulgação mal nesses locais, torna essencial à presença desse tema na
Científica formação desses profissionais.
Algumas das críticas que são feitas a essa abordagem
Há muito tempo as escolas realizam atividades de vi- refere-se à desvalorização da escola como local de apren-
sita a diferentes locais com finalidade de ampliar as expe- dizagem e, ao mesmo tempo, uma certa supervalorização
riências educativas dos alunos e complementar aspectos do potencial motivador que as visitas a esses locais pode
dos conteúdos trabalhados em aula. Essas iniciativas vêm proporcionar. Também se identificam desafios relativos a
sendo ampliadas nos últimos anos a partir da constatação falta de planejamento pelos professores para a realização
de que hoje existem diferentes locais ou “ecossistemas dessas atividades e a tensão entre a valorização da expe-
educativos”, ou seja, novos espaços de “produção da infor- riência de lazer em detrimento daquela relativa a aprendi-
mação e do conhecimento, de criação e reconhecimento zagem por meio de visitas a museus e outros espaços de
de identidades e de práticas culturais e sociais” (CANDAU, educação não formal.
2000:13).
Assim sendo, considera-se cada vez mais que para Tecnologias de informação e comunicação
além da escola, são muitos e diversos os espaços e tem-
pos sociais onde é possível acessar conhecimentos e efeti-
A ampliação do uso de tecnologias no ensino de ciên-
vamente aprender. Especialmente com relação as ciências
cias vem se dando intensamente nos últimos anos. As tec-
naturais, são inúmeros os locais que disponibilizam infor-
nologias e métodos para comunicar surgidas no contexto
mações sobre temáticas científicas e convidam o público a
da chamada Revolução Informacional, desenvolvidas gra-
interagir, conhecer e aprender.
dativamente desde a segunda metade da década de 1970
De uma forma geral, tais espaços vêm sendo designa-
dos como locais de educação não formal, em oposição a e, principalmente, nos anos 1990, invadiram as salas de
escola onde ocorreria a educação formal. No entanto, essas aula e se tornaram umas das mais importantes estratégias
denominações e diferenciações entre esses locais não são de ensino nos dias atuais. Tais tecnologias associadas ao
fáceis de serem feitas e nem sempre há consenso na lite- campo da educação englobam desde computadores pes-
ratura sobre o tema. A própria caracterização do que são soais e os diversos equipamentos a ele associados, como
os espaços de educação não formal não se constitui em câmeras digitais, suportes (CD, DVD, etc.), tablets, telefones
tarefa simples: o que é considerado por alguns como edu- móveis, mas também a TV nas suas várias modalidades de
cação não-formal, outros denominam de informal, o que acesso, as tecnologias digitais de captação e tratamento de
faz com que essas definições estejam ainda longe de serem imagens e acesso remoto, a produção de softwares, de ani-
consensuais. Iremos aprofundar esses aspectos durante as mações, de objetos de aprendizagem, o uso da rede inter-
próximas aulas do curso. nacional de computadores, os hipertextos, as plataformas
Do ponto de vista do ensino de ciências, enfatiza-se de ensino a distância, entre outros.
cada vez mais a necessidade de promover o acesso aos O uso desses recursos para ensinar ciências é cada vez
meios de divulgação científica, como revistas científicas e mais comum no contexto escolar. A implementação de sis-
de divulgação, jornais, audiovisuais, vídeos, além dos mu- temas de aprendizagem a distância baseados em uso de
seus e centros de ciências. Para Fayard (1999) no mundo redes eletrônicas de telecomunicações, como o que viven-
todo a generalização das práticas de comunicação pública ciamos nesse curso, de acervos digitais multimídias e tra-
da ciência rompeu com o isolamento da ciência e da vida balhos com redes sociais vem sendo amplamente usado.
científica e atenuou o desconhecimento público a respeito Essas diversas tecnologias e mídias associadas en-
desta questão. Novos espaços de intercâmbio contribuíram contram-se muitas vezes presentes nos diversos espaços
para a popularização da investigação e da tecnologia e se educativos e penetram nesses locais não só por meio das
instaurou o início de um diálogo entre ciência e sociedade. iniciativas pedagógicas do professor, mas também pela
No Brasil, o incentivo a essa abordagem se intensificou experiência dos alunos. Veiculam uma série de conteúdos
entre outras razões, pela ampliação do número de museus científicos, muitas vezes trazendo informações mais atuali-
de ciência em todo país. Este movimento, por sua vez, en- zadas, se comparadas com os livros didáticos por exemplo,
contra-se atrelado a um movimento social mais amplo, de e são utilizados pelos professores e pelas instituições edu-
alfabetização científica do cidadão, que pelo menos desde a cativas com a função de motivar, promover debates, apro-
década de 1960 vem tomando corpo tanto nas propostas de fundar conteúdos e apresentar diferentes visões sobre um
educação formais, como nas não formais, surgidas no país. assunto. Oferecem a possibilidade de visualizar aspectos

188
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

impossíveis de serem reproduzidos em aula – como o uso e distâncias entre os saberes produzidos pelos cientistas e
de equipamentos sofisticados, a observação de processos expressos em artigos e trabalhos acadêmicos e aqueles en-
lentos ou rápidos demais –, além de promoverem a visua- sinados e divulgados nos espaços formais e não formais de
lização de dimensões muito grandes ou muito pequenas ensino. Essa análise tem a finalidade de perceber como as
(KRASILCHIK, 2004; FERRÉS, 1996; SILVA, 2007). ideias e conceitos científicos necessitam ser simplificados
Um dos desafios apontados para esta abordagem no para que possam ser compreendidos pelos não cientistas e,
ensino refere-se ao fato de que seu uso nem sempre se desse modo, entender melhor o papel educativo dos mu-
dá de forma articulada com o planejamento didático, mas seus e das diversas mídias que realizam esse trabalho de
muitas vezes se presta mais a uma ilustração esporádica transposição didática. Nossa intenção é que essa reflexão
dos conteúdos de Ciências (GIANNERINI et al, 2005). Além auxilie a compreensão sobre como os espaços e materiais
disso, a entrada desses materiais na escola é algumas ve- de ensino e de divulgação da ciência são importantes alia-
zes vista como algo nocivo, quando se aponta a falta de dos e contribuem para o processo de ensino e aprendiza-
senso crítico do público para fazer uma leitura mais pro- gem de ciência.
blematizadora das imagens e textos veiculados pelas di-
versas mídias. Há também críticas a uma supervalorização Fonte
do uso das tecnologias como salvação contra a mesmice e MARANDINO, M. Tendências teóricas e metodológicas
a falta de motivação dos alunos. Nessa linha, vários autores no Ensino de Ciências
têm defendido o papel da escola no aprendizado da inter-
pretação dos símbolos da cultura como parte da formação
do cidadão. O caminho é explorar as múltiplas linguagens
oferecidas por esse meio, considerando tanto os aspectos
da emoção – muitas vezes descartados pela escola e va- FUNDAMENTOS TÉCNICOS E CIENTÍFICOS
lorizados nesses contextos – como aqueles mais racionais DA ABORDAGEM CIENTÍFICA PARA A
(FERRÉS, 1996; SILVA, 2007). SOLUÇÃO DE PROBLEMAS NA ÁREA DA
EDUCAÇÃO.
Concluindo este tópico

Como foi apontado inicialmente, as tendências ou


abordagens de ensino de ciências indicadas não esgotam Ao tentar elaborar respostas e soluções às dúvidas e
as possibilidades teóricas e metodológicas que vem sendo problemas que levem a compreensão de si e do mundo, a
desenvolvidas nas práticas cotidianas das escolas. Também ciência não se resume ao controle prático do homem sobre
não se referem a totalidade das temáticas que vêm sen- a natureza. Fazer do mundo uma provocação é tornar a
do investigadas nesse campo. Reúnem assim, algumas das prática científica inerente ao cotidiano, uma vez que opor-
possibilidades que devem ser analisadas e experimentadas tuniza a observação, o questionamento e a compreensão
pelos professores ao desenvolver suas ações concretas de da realidade social. E integrá-la ao cotidiano da escola é,
ensinar ciências. É no enfrentamento dos desafios de de- antes de tudo, transformar o conhecimento em algo não
senvolvê-las e no reconhecimento das potencialidades de reprodutivo, mas criativo, bem como melhorar as condi-
ensinar e aprender ciências que apostamos na sua análi- ções de permanente aprendizagem, estimulando a aplica-
se e discussão nesse curso de formação. Neste sentido, os ção prática de reflexões teóricas por meio de intervenções
alunos serão convidados a sistematizar as principais carac- efetivas na sala de aula. Para tanto, a curiosidade natural e
terísticas das tendências apresentadas e exercitar o plane- a criatividade do(a) aluno(a) devem ser estimuladas. É im-
jamento de atividades de ensino de ciências que possam portante que este compreenda os fenômenos que ocorrem
explorá-las. ao seu redor, possibilitando assim a produção de novos co-
Ao longo do curso iremos aprofundar em especial a nhecimentos sob condições de permanente aprendizagem.
questão do uso dos espaços de educação não formal e da O interesse do aluno em trabalhar com a pesquisa
divulgação científica no ensino de ciências. A ideia é que científica implica novas formas de pensar e de aprender
os alunos reconheçam as especificidades educacionais dos sobre o conhecimento; visto que ter acesso à ciência e de
museus e possam refletir sobre as possibilidades e desafios como o método científico é aprendido e construído no
das visitas escolares a esses locais. espaço escolar lhe proporciona saberes importantes para
Esse aprofundamento, contudo, terá como eixo a ideia sua formação. Sendo assim, é fundamental que a prática
de que existem diferenças significantes entre o conheci- da pesquisa se torne uma atividade que esteja integrada
mento que aparece nos museus, nos materiais de divul- ao currículo escolar como princípio educativo e enquan-
gação e mesmo na escola – por meio dos livros didáticos to um processo em formação tanto para os professores
e das atividades e explicações do professor – e aquele co- orientadores como também para os alunos. Entendemos
nhecimento produzido pelos grupos de pesquisa nos cen- com isso que o método científico se materializa não só
tros de investigação científica. Com base no conceito de pelo saber, mas pelo fazer ciência. Mais do que um campo,
transposição didática (CHEVALLARD, 1991) que será abor- puramente disciplinar para constar no currículo do aluno,
dado de forma mais profunda na próxima aula – teremos a ciência deve ser a base para a tomada de decisões de
uma ferramenta importante para analisar as proximidades forma crítica e criadora.

189
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Sem experiências com o uso do método científico na que temos no cotidiano, são provenientes da indústria mi-
escola, tradicionalmente, as aulas têm se transformado litar, para combates de guerras. Então, podemos perceber
num exercício enfadonho de transmissão de conceitos e que essas descobertas que a ciência fez nem sempre foram
procedimentos de pesquisa longe de serem abstraídos da realizadas com a finalidade do bem comum, mas com in-
prática. A dificuldade ainda é maior quando o ensino é dis- teresses de certa sociedade ou um grupo com propósitos
sociado da pesquisa, não envolvendo professores e alunos individuais.
no desejo de conhecer, criar, refletir, compartilhar, produzir A ciência cresce, evolui e transforma conhecimentos
e avaliar resultados numa efetiva interação com o mundo em verdades provisórias e suscetíveis a novas descobertas
que os cerca. e revoluções que vão surgindo, tais modificações fazem o
Muito se tem dito que a pesquisa tem por objetivo progresso científico. Contudo, os pesquisadores não po-
melhorar o ensino. Mas como ignorar a falta de atenção dem negligenciar os achados revolucionários que muda-
dos atores envolvidos no processo educativo sobre ciên- ram a história da humanidade. O homem contemporâneo
cia e pesquisa científica? Ou como os educadores podem
perdeu de vista a noção do todo, vivemos numa sociedade
orientar seus alunos quando em seu currículo nada lhe foi
fragmentada. Essa fragmentação também está presente
oferecido como atividade de pesquisa, quando muito, uma
nas escolas quando os saberes são tratados em caixinhas
disciplina, muitas vezes, apenas para constar no currículo?
separadas e uniformizadas, e são classificados por discipli-
O desafio então está posto: ensinar a aprender, base para a
tomada de decisões de forma crítica e criadora. nas. Cada professor/especialista deve ensinar o que con-
Sendo o método científico inerente à prática peda- vém a sua disciplina e o aluno compreender as especifici-
gógica, a construção dessa perspectiva deve ser pautada dades como se fosse possível entender tanta separação e
desde a educação básica. Nesse contexto, há um fluxo especificidade tratadas isoladamente.
de conhecimentos que garante uma formação cidadã fa- Abordar os conhecimentos de forma interdisciplinar é
vorecendo o viés coletivo e transdisciplinar nas áreas do uma possibilidade de ultrapassar os limites que as discipli-
desenvolvimento humano. Desse modo, o professor, cuja nas apresentam isoladamente e tornar possível o entendi-
formação inicial não oferece espaço para a prática e o de- mento entre as áreas do conhecimento, onde os conteúdos
senvolvimento científico, tende a ficar alheio aos processos se complementam e se integram criando sentido.
do cotidiano da ciência em suas diferentes abordagens e A prática da iniciação científica possibilita a integração
práticas. disciplinar, pois uma única disciplina dificilmente dará con-
A pesquisa científica associada ao ensino na educação ta de responder a um objeto de pesquisa na sua totalidade.
básica é essencial para que o professor se aproprie de no- O movimento interativo entre os conhecimentos fortalece
vos conhecimentos, a fim de melhorar o seu exercício do- a pesquisa e fundamenta teoricamente a investigação. Por
cente. O professor ao mediar o saber científico na educação essa razão, é de suma importância que os professores dia-
básica, necessita de novas competências e habilidades pro- loguem entre si quando estão orientando os projetos de
fissionais. Espera-se que este desenvolva habilidades cria- iniciação científica dos alunos.
tivas e sistematize suas ideias de forma inovadora, numa Trabalhar com a ciência na educação básica precisa
efetiva interação e articulação com as diferentes áreas do passar necessariamente por essas reflexões, em que pro-
conhecimento. Portanto, é objetivo desse texto apresentar, fessores e alunos devem compreender todas as etapas de
de forma introdutória, uma breve discussão sobre a relação consolidação de como a ciência se fez e se faz na atuali-
entre ensino e iniciação científica na educação básica. dade. É importante para os alunos compreenderem quais
foram as finalidades dos artefatos da ciência ao longo da
Ciência e Escola sua história, e como podemos usá-la na escola para trazer
É fato que a ciência evolui com o tempo. Sua evolução
benefícios para a vida humana, seja ela local ou global. É
integra-se ao arsenal da compreensão do homem sobre o
relevante, pois, aguçar a curiosidade do aluno, promoven-
universo. Em certas situações transcende os limites da vida
do uma educação científica mediante o acesso e a produ-
humana, afetando cada vez mais os padrões do pensamen-
ção de significados sobre os conhecimentos científicos e
to humano e seus interesses culturais, políticos e sociais.
Neste sentido, a ciência tem fins e é um campo de disputa dos processos referentes à aprendizagem e à prática social
da própria sociedade. Como afirma Bernal (1965), a ciên- da ciência. Assim, em comum acordo com Furman (2009,
cia é um micro sociedade que está dentro do macrossocial, p. 7), quando falo de estabelecer as bases do pensamento
processo dialético homem/sociedade. E a sociedade inter- científico estou falando de ‘educar’ a curiosidade natural
fere na ciência, por isso não existe ciência totalmente neu- dos alunos para hábitos do pensamento mais sistemáticos
tra. Bernal (1965, p. 31) defende que a “ciência é muito mais e mais autônomos. Por exemplo, orientando-os a encontrar
que a simples soma dos factos, leis e teorias, criticando e regularidades (ou raridades) na natureza que os estimulem
muitas vezes destruindo tanto como constrói. No entanto, a se fazer perguntas ajudando-os a elaborar explicações
o edifício geral da ciência jamais cessa de crescer: está, por possíveis para o que observam e a imaginar maneiras de
assim dizerem reparações permanentes, as sempre em uso”. colocar em prova sua hipótese; e ensinando-lhes a trocar
Tomando como parâmetro os avanços da ciência, cons- ideias com outros, fomentando que sustentem o que di-
tatamos também que suas grandes evoluções bem como zem com evidências e que as busquem por trás das afirma-
as descobertas científicas, que deram origem aos artefatos ções que escutam.

190
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

O surgimento das novas propostas para guiar o pro- A formação científica deve ser um componente central
cesso de ensino e aprendizagem com diferentes possibili- da educação escolar em todas as áreas do conhecimento.
dades de mediá-lo pode trazer para a escola novos rumos, Tradicionalmente, o ensino de ciências na escola sempre
baseados na apropriação e reflexão do saber. Valorizar os esteve vinculado às áreas de exatas e naturais, ficando de
conhecimentos dos alunos, constituídos fora da escola, é fora o campo das linguagens e humanidades, como se es-
fazer destes o alicerce de sistematização do saber escolar. É tas não produzissem ciência. O fato é que a ciência está em
uma tarefa importante que deve ser conduzida com muita todas as áreas enquanto prática e método. Ela está na his-
eficiência. tória, na sociologia, na geografia, dentre outras, ao desen-
volver a capacidade criativa dos estudantes para analisar os
Ensino e iniciação científica na escola problemas sociais, buscar soluções, entender o funciona-
A escola é um espaço de interpretação e produção de mento do mundo na sua complexidade. Portanto, a escola
saberes, bem como de sistematização do conhecimento tem o dever de educar em e para ciência. Reiteradamente,
pela mediação e orientação do trabalho docente. A educa- educar em ciências é vivenciar no aluno o processo de Fazer
ção básica constitui apenas uma etapa da formação esco- Ciências, de Viver Ciências, é manter-se alerta para o dife-
lar, porém fundamental para definir as condições de acesso rente, o não explicado ainda para o sujeito, é ter habilidade
ao ensino superior. Nesse processo de formação os alunos de formular a pergunta, é se autorresponsabilizar pela pro-
precisam adquirir capacidade de analisar e refletir sobre os cura da resposta, é se extasiar no momento do encontro
conhecimentos e, a partir destes, reformular seus conceitos da resposta criativa e é também saber e ter necessidade de
através das suas interpretações. Nesse contexto, o ensino comunicar o descoberto (ARGÜELLO, 2002, p. 205).
baseado no uso do método científico na educação básica As escolas não educam em ciências e pouco divulgam
ultrapassa o ensino fundamentado em certezas e na aqui- os resultados da ciência. O exercício da prática científica na
sição de informações e acumulações de conteúdos, para se educação básica deve ser fundamentado na pesquisa, nas
tornar conhecimento reformulado que avança em verda- descobertas, nos experimentos e nas análises dos conheci-
des sempre provisórias. mentos produzidos em diferentes áreas com a finalidade de
A ciência não é um sistema de enunciados certo ou
entender como esses princípios têm funcionalidade na for-
bem estabelecido, nem um sistema que avance continua-
mação humana. Faz-se necessário proporcionar aos alunos
mente em direção a um estado de finalidade. Nossa ciência
o desejo de dialogar com o conhecimento, para que estes
não é conhecimento (epsiteme): ela jamais pode procla-
sintam-se capazes de refazer algo já existente e constituído
mar haver atingido a verdade ou um substituto da verdade,
ou produzir algo novo, pois o conhecimento pode ser ques-
como a probabilidade (POPPER, 1972, p. 305).
O crescimento da ciência possibilita a formação de no- tionado, modificado e transformado pela ação humana.
vas teorias, amplia a visão dos seres humanos sobre a vida A ciência na escola pode e deve ser desenvolvida com
e ultrapassa as certezas epistemes do conhecimento abso- rigidez, seriedade e fundamentada nos princípios científi-
luto. No caso da escola o método científico é, muitas ve- cos. A escola deve ir além da oferta de informação, pois o
zes, desconhecido por muitos atores escolares que nunca professor às vezes pensa que está inovando e proporcio-
participaram efetivamente de uma pesquisa científica. Os nando aprendizagem para o aluno, quando segue as orien-
Parâmetros Curriculares Nacionais nos fazem refletir sobre tações contidas nos livros didáticos e pede para os discen-
a necessidade da consolidação de novas práticas educa- tes fazerem “experimentos”. Sem questionar a validade, re-
tivas frente ao desafio do […] ensino descontextualizado, fletir, pensar, ter suas próprias ideias, os alunos exercitam e
compartimentalizado e baseado no acúmulo de informa- demonstram os conhecimentos científicos já descobertos,
ções. Ao contrário disso, buscamos dar significado ao co- sem de fato haver produção científica. Muitos alunos são
nhecimento escolar, mediante a contextualização; evitar a alheios aos descobrimentos, análises e experimentos que
compartimentalização, mediante a interdisciplinaridade; e fundamentam uma pesquisa científica.
incentivar a capacidade de aprender (BRASIL, 1999, p.13).
Fica evidente que as reflexões propostas nos Parâme- Faz-se necessário que a escola considere os conheci-
tros Curriculares Nacionais sobre a necessidade de refor- mentos do senso comum, que os sujeitos adquirem de sua
mas no ensino não podem mais passar despercebidas pelos cultura local e, a partir deste parâmetro, estes devem ser
atores da escola, uma vez que estas se apresentam como tratados e vistos como importantes na construção dos co-
alternativas para romper com as concepções e paradig- nhecimentos científicos, principalmente se considerarmos
mas educacionais que inibem o desenvolvimento integral que hoje, e cada vez mais, as crianças, desde muito peque-
do aluno. Um exemplo do ensino compartimentalizado é nas, têm contato e interagem com informações relaciona-
o caso dos livros didáticos. Na sua maioria, trazem a dis- das às Ciências, conhecem os problemas mundiais e locais,
tribuição e organização dos conteúdos desenvolvidos se- assim como o avanço da tecnologia e suas funções na vida
guindo a lógica da linearidade tradicional, na qual os con- humana. Não podemos mais desconsiderar o fato que os
teúdos gerais obedecem ao padrão do que é determinado alunos, ao entrarem na escola, já trazem um conhecimen-
para que o aluno aprenda em cada série. Esses conteúdos/ to substancial do mundo, sobre o qual se pode construir
informações são, geralmente, trabalhados pelos professo- para desenvolver a compreensão de conceitos científicos e
res em sala de aula na forma de repetição, sem considerar que estes conhecimentos estão presentes na sua forma de
a importância da evolução dos saberes e da reflexão dos entender e compreender esses novos saberes construídos,
conceitos já desenvolvidos, nem tampouco a interdiscipli- no desenvolvimento da pesquisa com seus métodos e ex-
naridade, princípio que o saber necessita para evoluir. perimentos. Sobre isso nos faz refletir Japiassu (1984, p.19):

191
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Não sendo estudada e ensinada historicamente, a ciên- ao vivenciarem a pesquisa de iniciação científica na escola,
cia se converte em objeto de estudo e de ensino dogmá- estão refletindo sobre os problemas sociais, pensando e
tico. No entanto creio termos o direito de duvidar desses criando possibilidades de fazer descobertas para sua loca-
postulados. Exprimem uma ideia que, apesar de justa, na lidade, seu município e, quem sabe, para o país, uma vez
medida em que postula que os cientistas precisam elaborar que a ciência, ao longo dos anos, buscou melhorar a vida
conhecimentos racionais rigorosos e objetivos, de forma em sociedade.
alguma cola com a realidade histórica. O mínimo que po-
demos é que a ausência e a recusa da história das ciências Fonte:
correspondem a uma concepção idealista do saber. Ade- SANTIAGO, M. F. C.; SANTOS, I.; SANTOS, S. C. M. dos.
mais, correspondem a uma concepção cientificista e tecno- A iniciação científica na educação básica
crata da atividade dos pesquisadores. Disponível em: https://livrepensamento.
Na prática da iniciação científica o pensar livremente com/2016/04/24/a-iniciacao-cientifica-na-educacao-basica/
é condição necessária no processo de identificação dos
problemas, pois o desenvolvimento de habilidades experi- A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA NA
mentais e de resolução de problemas, também vai requerer EDUCAÇÃO
que os professores orientadores compreendam o método
científico para além da transmissão de saberes científicos, Quando paramos para analisar o cenário da educação,
permitindo que os alunos se tornem autores dos próprios vemos que muitos jovens estão em busca do nível supe-
processos de construção e apropriação desse tipo de co- rior ou até mesmo dentro de uma instituição, porém o que
nhecimento através da problemática e das hipóteses que se observa é que eles não estão tendo à mínima ideia do
são levantadas neste processo inicial. Diante dessa realida- seja uma pesquisa científica, não demonstra interesse pela
de, o professor sabe que aprender é também apoderar-se mesma, são incapazes de solucionar problemas práticos
de um novo gênero discursivo, o gênero científico esco- por meio de observações e experimentações, ou até mes-
lar: para isso, ele precisa saber fazer com que seus alunos mo impossibilitados de defender seu ponto de vista.
aprendam a argumentar, isto é, que eles sejam capazes de Essa realidade acerca da educação, mostra claramente
reconhecer as afirmações contraditórias, as evidências que a necessidade de uma avaliação muito mais profunda que
dão ou não suporte as afirmações, além da capacidade de deve dar importância ao desenvolvimento de projetos e
integração dos méritos de uma afirmação. Este ambiente pesquisas científicas no processo de ensino-aprendizagem
é próprio para que os alunos passem a refletir sobre seus para alunos do ensino médio.
pensamentos, aprendendo a reformulá-los através da con- É essencial preparar o aluno para ter consciência ao
tribuição dos colegas, mediando conflitos através do diálo- tomar decisões na vida, pois assim possibilita que ele es-
go e tomando decisões coletivas (CARVALHO; PEREZ, 2001, tará tendo a participação direta nas ações da sociedade,
p. 114-115). portando, conhecer e usufruir deste processo, os direciona
Portanto, essa troca de experiências entre professores a uma inserção e participação ativa no sistema social o qual
orientadores e alunos pesquisadores, torna a formação está inserido, tornando-o um agente transformador da sua
de ambos um processo que se constrói e se reconstrói na realidade.
dialética da descoberta e da produção dos conhecimentos, Quando se analisa o crescimento de um aluno com
pois o processo de investigação e a comprovação de um base no que ele constituiu, pesquisou e principalmente,
determinado objeto pesquisado requer algo a mais do que desenvolveu sendo capaz de defender seu ponto de vista
já está posto e construído. Adotando esse procedimento, isso faz com que ele aprimore seus conhecimentos e de-
professores e alunos aprendem juntos e compreendem senvolva seu interesse por pesquisar, pois esse é um dos
que o processo de ensino e de aprendizagem se efetiva de pontos chaves para o aluno, ter interesse.
forma autônoma e dialógica, e que neste, ambos podem Deve se levar em conta que o conhecimento é inevitá-
ensinar e aprender na construção ativa e participativa do vel para ação humana. Além da diferenciação dos sujeitos
conhecimento. de outras espécies, pela condição de compreender o meio
social através do pensamento, pois o conhecimento ba-
Considerações finais seia-se em ações sobre o mundo.
A produção do saber não requer apenas o domínio de Quando o aluno pesquisa ele está favorecendo a so-
regras, mas de criatividade e imaginação, pois a pesqui- lução de problemas em vários meios principalmente na
sa, como um princípio educativo, é um dos caminhos mais educação. Pois há toda uma estratégia para resolução do
profícuos para se chegar a aprender (DEMO, 2010). A busca mesmo e assim o educando passa a desenvolver o hábito
de informações favorece a autonomia dos alunos. Sendo da pesquisa. Podemos considerar que:
assim, o papel do professor, neste ponto, é estabelecer re- Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.
lações e comparações que os ajudem a tornar significativa Esses que - fazeres se encontram um no corpo do outro.
a aprendizagem. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensi-
O processo de construção do conhecimento científico no porque busco, porque indaguei, porque indago e me
desenvolvido hoje, em vários espaços de aprendizagem, é indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho,
também proveniente da realização das feiras de ciências. intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o
As feiras de ciências vêm criando momentos de compar- que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novida-
tilhamento de saberes para os jovens pesquisadores que, de. (Freire, 1996, p.29).

192
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Ir à busca de respostas para questões levantadas faz A CONTRIBUIÇÃO DA PESQUISA CIENTÍFICA NA


com que o indivíduo aumente suas possibilidades de po- EDUCAÇÃO
der conhecer, ir adiante e reinventar. Por meio disto que o
pesquisador tem condição de defender algo que ele acre- A produção acadêmica e científica está sempre dan-
dite que seja correto e significante. Durante a experiência do importância ao conjunto das atividades produzidas nas
acadêmica e, especialmente, durante a prática profissional universidades, isso porque é por meio dela que a produção
se faz necessário uma atualização na inovação do saber. E de conhecimento passa a crescer de modo democratizado.
para esta atualização é necessário que o indivíduo pesquise. Com isso, leva a comunidade e/ou sociedade conhecimen-
Na comparação entre pesquisa e conhecimento, é ne- to, soluções para os seus problemas e principalmente para
cessário que ela esteja embasada nas ideias sistemática, o desenvolvimento sustentável e integrado.
metodológica e ligada ao saber, pois, a mesma é o vínculo A produção acadêmica científica é um instrumento que
existente em uma investigação que deve ser muito bem disponibiliza a universidade a prestar contas à sociedade,
planejada, desenvolvida e escrita através de metodologias para assim mostrar os resultados obtidos e suas ações. Se-
pressupostas, com o intuito de atingir um objetivo final. verino (2007) nos diz que o pesquisador necessita estabe-
A pesquisa no campo educacional deve vir abordan- lecer prioridades e principalmente organizar suas metodo-
do todos os processos da investigação, rigor científico e logias, para ele o trabalho da pesquisa necessita ser bem
compromisso com a sociedade. Ainda sobre pesquisa, uma planejado, pois o pesquisador:
produção científica de conhecimentos quando é rigorosa (...) precisa ser bem claro o seu objeto de pesquisa,
ela passa a contribuir, pois está tendo compromisso com como ele se coloca, como ele está problematizado, quais
o processo da educação. Ela em si, abre um caminho com as hipóteses que está levantando para resolver o problema,
muitas possibilidades, mas é necessário que as escolas e com que elementos teóricos podem contar de quais os re-
instituição de nível superior ofereçam um sistema científico cursos instrumentais dispõe para levar adiante a pesquisa e
sólido. O pesquisador em educação deve se preocupar na quais etapas pretende percorrer. (SEVERINO, 2007, p. 129).
organização da sua pesquisa e também na sua qualidade Através deste pensamento, fica claro que o pesquisa-
científica social. dor deve seguir as orientações citadas à cima, passando a
Mas o que se percebe, é que muitos acadêmicos não estabelecer as buscas que necessariamente irá desenvolver
estão buscando respostas para suas dúvidas nos variados por ordem e preferencialmente por organização, colocan-
assuntos, quando estão desenvolvendo alguns de seus do-se até mesmo uma obediência de regras de estudos.
exercícios que exigem e necessita de uma pesquisa dentro
de um contexto, eles ficam desencorajados e acaba desis- O ato de pesquisar basicamente significa:
tindo de ir além, pois é exatamente isso que a pesquisa Refletir e investigar as formas diferenciadas de conhe-
possibilita um avanço para além da objetividade. cimento e seus modos de produção e construção por meio
É importante que o pesquisador não veja a pesqui- de alternativas de pesquisa em Educação é de fundamental
sa como uma atividade desenvolvida por pressão, ou até importância no momento em que a liberdade perde espa-
mesmo por obrigação, mas sim, como uma oportunidade ço para o desconhecimento, a ignorância, o fundamenta-
favorável de pesquisar e principalmente de aprender um lismo e a corrupção. (...) a pesquisa há de se propor como
determinado assunto relevante, tanto para si, quanto para instrumento fomentador de consciências e ações críticas,
toda a sociedade. que não só compreendam a existência e o mundo de modo
Sabemos que a pesquisa é uma grande ferramenta que diferente, mas que procurem produzir uma existência e um
deve ser usada, ela atua na construção de novos contextos mundo qualitativamente melhor.
através de todo material pesquisado, e esse material não A pesquisa científica tem sua qualidade relevante no
deve ser guardado apenas para si, ele deve ser compar- meio acadêmico através do momento que incentiva o alu-
tilhado estabelecendo uma conexão. Lembrando que, ela no a se tornar um pesquisador, contribuindo para o com-
não deve ser usada como meio de ocupar o pesquisador, partilhamento de trabalhos universitários juntamente com
pelo contrário, esta deve proporcionar satisfação, curiosi- a comunidade de modo geral, para que se possam com-
dade, indagação busca entre outros. preender as questões impostas pelos problemas sociais,
Pois, é através dessas buscas de conhecimento que políticos e ambientais. Na educação ela possibilita a toma-
proporciona ao educando a capacidade de governar mui- da de decisões de forma crítica, em meio ao mundo.
tos meios, além ampliar sua área do saber com contribui- A pesquisa acaba se tornando uma peça chave na for-
ções enriquecedoras sobre vários tipos de assuntos. Mas, mação do indivíduo, pois os prepara para um olhar cien-
há uma necessidade enorme da mesma ser mais valorizada tífico e consequentemente indagador. A experiência com
nos ambientes educacionais, para assim proporcionar mais a pesquisa científica possibilita o surgimento do potencial
qualidade nas descobertas. Ou seja, os educados precisam humano, pois é esse processo de ensino e aprendizagem
ser mais conscientizados em relação a está temática tão que se torna completo.
essencial a sua formação profissional e pessoal e a cabe as Para Fonte (2004) a pesquisa científica pode ser classi-
instituições de ensino criar meios convidativos e atrativos ficada como tudo que põe em prática de um objetivo de
para seu público em formação. indagação muito planejada, desenvolvida e principalmente
muito bem escrita de acordo com as metodologias consa-
gradas pela ciência. Portanto, a contribuição da pesquisa

193
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

cientifica no campo educacional é singular, uma vez que O que faz com que sua capacidade de aprendizagem es-
por meio dessa uma vasta área de conhecimento é forma- teja sempre ativada. Neste sentido, a ciência da educação,
do o que torna possível solucionar problemas existentes na como mais uma das áreas das ciências humanas, tendo
sociedade. como objeto a aprendizagem, sempre terá novas desco-
Quando se observa a importância da pesquisa em sala bertas e desafios a serem desvendados.
de aula é evidente a sua contribuição para o investimento [...] Neste sentido, para a pedagogia, a ciência que per-
de um processo de formação de qualidade, pois há por mitiria determinar a efetividade do fazer educativo seria
parte do estudante toda uma reflexão sobre o meio edu- a psicologia, que desvendaria os processos cognitivos e
cacional desejável, tanto na sua formação quanto na sua afetivos, em presença, naquele fazer. A pedagogia, assim,
prática educacional, além claro, da sua análise crítica nas aparece como uma psicologia aplicada em determinadas
concepções de aprendizagem e ensino. condições sociais que foram expostas pelas demais ciên-
Ter um olhar investigador para o mundo e trazer co- cias do homem ou sobre o homem.
nhecimentos proveitoso para a sociedade é de fundamental Existe, ainda, uma outra forma de encarar a ciência da
importância, mas antes de tudo é preciso valorização, não educação, compreendendo-a como uma filosofia aplicada.
basta apenas aplaudir uma nova descoberta é preciso in- Este é um trabalho pelo qual o espírito se autoconhece,
vestir e incentivar, para que assim os futuros pesquisadores tomando consciência de suas necessidades. Compreendida
sintam-se motivados a ir à busca de uma nova descoberta. assim, a ciência da educação se assume como uma varieda-
de da política, na qual o indivíduo percebe que ser livre é
Fonte tomar consciência de suas necessidades. Outra vertente da
MACHADO, J.A.; SANTOS, P. de A.; SANTOS, S. K. N. filosofia na educação seria a de assumir o papel de episte-
dos; CERQUEIRA, T. de O.; SANTOS, E. S. V. Pesquisa e Edu- mologia da pedagogia, tornando-se assim, uma filosofia da
cação: Refletindo a Importância da Pesquisa Científica no educação que se sustenta por meio do fenômeno educati-
Campo Educacional. vo “objeto-projeto”, como afirma Dias de Carvalho (1988).
De acordo com o autor, a epistemologia da educação in-
vestiga o processo educativo que é impulsionado pelos
programas de investigações científicas, pelos movimentos
pedagógicos e pelas instituições e agentes educativos.
ANÁLISE DAS RELAÇÕES ENTRE PESQUISA Mas, independentemente da forma que encaramos a
EM EDUCAÇÃO E AS PRÁTICAS EDUCATIVAS ciência da educação, não podemos negar que exista nela
E ENFOQUES DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO. uma lógica intrínseca, uma lógica das significações para
a compreensão dos enunciados inferenciais. Também se
deve levar em conta uma lógica das ações que necessaria-
mente permite a fundamentação das teorias, possibilitan-
Educação como ciência do que se possam estatuir critérios de validação das teorias
pedagógicas. Esta concepção requer uma linguagem pró-
Ao pensarmos as relações existentes entre educação pria, necessitando de um aporte linguístico, como qualquer
e ciência nos deparamos com algumas dificuldades, como outra ciência ou teoria que a embasa.
afirma Mazzotti (2001). Podemos pensar a ciência da edu- Como exemplo, podemos citar as teorias inatistas, o ra-
cação como técnica e aí nos confrontamos com o campo cionalismo contemporâneo ou o racionalismo historicista.
específico da didática que é a área da educação respon- Diante da complexidade com que se apresenta a ciên-
sável pela difusão e estudos dos métodos educacionais e cia da educação, pensamos ser a concepção dialética aque-
suas aplicações. Temos ainda, a psicopedagogia como uma la que melhor propicia a compreensão da mesma, pois esta
subárea da didática, que se volta para a compreensão das admite mais de uma lógica como possível forma de investi-
relações ensino e aprendizagem. Nela se estudam as téc- gação. Cabe nela a contradição tornando, assim, possível o
nicas de identificação dos problemas de aprendizagem, trabalho com polos extremos. O fato de a ciência da educa-
assim como os meios de intervenção possíveis de sanar ção ser um conhecimento dinâmico que se faz na história,
tais dificuldades. Nesta dimensão, a educação pode ser sua construção se dá como um conhecimento racional na
concebida como ciência prática, voltada para o estudo e práxis educativa, formada por uma rede de significações
difusão de técnicas que nos auxiliam na compreensão do que estabelece os limites formais e empíricos de análise.
fazer educativo. Mas, esta não é a única concepção de edu- Compreender a educação como uma ciência do fazer
cação como ciência, podemos ainda concebê-la como uma educativo, sem confundi-la com o próprio fazer é um desa-
ciência social. fio a todo pesquisador da área. A ciência da educação está
A educação como ciência social pode ser compreendi- na busca da verdade sobre as inferências para a superação
da como mais uma área de conhecimento que, juntamente de determinadas práticas ou técnicas. Este processo se dá
com outras, auxiliariam no estudo do ser humano e de to- por meio de uma reflexão sistemática sobre uma técnica
das as relações complexas que o envolvem. O fato de ser em particular: a educação.
compreendido como ser de cultura faz do ser humano, por Pode-se, então, sustentar que a pedagogia, ao ser o
excelência, um ser de aprendizagem, que está em constan- exame das práticas educativas, desenvolver-se-ia por meio
te mudança e necessita adaptar-se às novas descobertas. da formalização de teorias sobre aquelas práticas – por

194
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

meio da crítica que tenha por base o exame das lógicas da ação, assim a pesquisa em educação não pode ter cará-
subjacentes aos enunciados presentes nas teorias; desen- ter de exatidão como em outras áreas, ela precisa ser ma-
volver-se-ia pela investigação do caráter dos fatos postos leável a ponto de se adequar às novas configurações que
como reais em cada teoria, verificando a qualidade das in- surgem na dinâmica do processo.
duções – metodologia da investigação científica; procuran- É neste sentido que se faz necessária a ampliação do
do estabelecer um corpus de enunciados corretos, embora sentido de ciência para abranger o fenômeno educativo,
não validados – aqueles de que não se conseguiu por al- pois a ciência clássica não consegue lidar com um objeto
guma razão demonstrar a validade lógica – e enunciados tão dinâmico quanto esse. Somente a partir de uma análise
indutivos verdadeiros – que tenham validade demonstrada. dialética do real, que possa reconfigurar e ampliar a rede
Na epistemologia clássica não seria possível uma ciên- de significados, é que se pode elevar a pesquisa em edu-
cia prática, mas hoje, ao utilizarmos as lógicas não clás- cação de uma pesquisa passiva a uma ação emancipatória.
sicas para compreensão dos fenômenos, conseguimos Portanto, para produzir ciência em educação se faz ne-
abrir novas perspectivas, o que nos permite compreender cessário partir de uma nova dimensão do sentido científico
a educação como ciência. Ao superar-se o impasse entre que contemple a dialeticidade e a complexidade, conside-
lógica e razão nos servimos das lógicas que garantem in- rando a relatividade da abrangência desta ciência. Se levar-
terconexões entre razão e experiência. Assim a educação mos em conta que o pensamento pedagógico e os saberes
como ciência desenvolve-se por meio da formalização das pedagógicos são indissociáveis, a pesquisa será fecunda-
práticas educativas. dora das próprias práticas, na perspectiva de emancipação
As teorias educacionais sociológicas, antropológicas e das ações educativas.
psicológicas não conseguiram ser instrumentos fomenta- Não podemos deixar de ressaltar que a intencionali-
dores das práticas educativas. O que redundou na instru- dade das práticas educativas deve ser elaborada no cole-
mentação acrítica destas práticas, proporcionando o dis- tivo, o que torna o trabalho do pesquisador um trabalho
tanciamento entre elas e a teoria. A Educação como ciência de grupo, no qual todos os agentes do processo educativo
organiza as ações estruturais e produz as novas condições devem contribuir e se beneficiar dele.
para o exercício pedagógico, resgatando a práxis educa- A práxis educativa, objeto da ciência pedagógica, ca-
tiva, relacionando a parte e o todo sem perder de vista a racteriza-se pela ação intencional e reflexiva de sua prática.
complexidade de seu objeto. A ciência da educação tem Diferentemente de outras práticas sociais, que até podem
como objeto de estudo a educação, objeto complexo que funcionar, em certos momentos, como práticas educativas,
se manifesta na prática educativa vista como prática social mas que precisam dessas condições e que, por não serem
intencionada. Assim ela é uma ciência da práxis educativa, organizadas intencionalmente, não foram, até então, obje-
entendida como realidade pedagógica. to de estudo da pedagogia, apesar de estarem incluídas no
amplo contexto da educação. (FRANCO, 2003, p. 82).
Especificidades do objeto de estudo da educação Só entram na esfera das ciências da educação aquelas
Inspiramo-nos em Maria Amélia Santoro Franco (2003) práticas educativas que forem “pedagogizadas”, ou seja,
para compreender a educação como ciência e suas espe- aquelas que têm um exercício comprometido, intencional
cificidades. A autora parte do princípio de que a educação e ético. Assim, a atividade docente é práxis por envolver
é uma prática social humana que se apresenta como pro- a intencionalidade, conhecimento do objeto que se quer
cesso histórico, por isso não pode ser estudada sem le- transformar, intervenção planejada e científica com vistas
var em conta o contexto e suas implicações. A educação é à transformação social da realidade. Entendemos que as
transformada por aqueles que dela participam, ao mesmo ações escolares estão permeadas por estes pressupostos e
tempo em que os transforma. Assim, os sujeitos envolvidos por isso podem ser classificadas como práticas educativas.
precisam tomar consciência dos significados e das mudan- A práxis é ativa, dá movimento à realidade, transforma-
ças introjetadas por eles. A educação é um objeto de estu- -a e por ela é transformada. Entender o sentido da práxis
do que se modifica parcialmente quando se tenta conhe- como transformação e criação é compreender um novo
cê-la, tem um caráter dialético que se constrói no processo. sentido de homem, uma nova concepção de mundo. Isto
Isto quer dizer que, ao estudar tal objeto o pesquisador já requer que a práxis educativa caracterize-se pela ação in-
está causando modificações no mesmo, o que afirma a não tencional e reflexiva. Por isso ela é exercida onde a prática
neutralidade de nenhuma das partes, pois o objeto é vivo e educativa acontece.
o sujeito pesquisador interfere nele. De acordo com Franco (2003), há a necessidade de um
Para Franco (2003), a ciência da educação precisa cami- olhar fenomenológico para a identificação da práxis educa-
nhar na exploração das representações abstratas, ou seja, tiva com o objetivo de adentrar na sua dinâmica e nos sig-
não existe uma objetividade concreta naquilo que se pro- nificados que compõem esta realidade. Tendo como base
duz enquanto ciência educativa, pois a educação carrega o fazer crítico, dialético e uma postura denominada, pela
sempre a esfera da intencionalidade. Esta se faz presente autora, de metodologia formativo-emancipatória.
tanto naqueles que participam dos processos educativos A Ciência da educação deve se responsabilizar em ofe-
quanto no pesquisador. Os atos educativos estão sempre recer as condições para que o educador em processo de
sujeitos a imprevistos, o que permite uma reconfiguração prática educativa saiba perceber os condicionantes da sua

195
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

situação, refletir criticamente sobre eles e agir com autono- Para o conhecimento da prática educativa, nesta con-
mia e ética. Neste sentido o engessamento do processo de cepção da metodologia formativo-emancipatória, é preci-
formação de professores deve ser descartado, proporcio- so que os sujeitos do grupo pesquisado participem do pla-
nando uma formação para a autonomia. nejamento da pesquisa, que os sujeitos sejam convidados
a participar das observações de sua própria atividade edu-
Metodologia formativo-emancipatória cativa e passem a ser instigados para a observação, leitura
Franco (2003) propõe uma metodologia de pesquisa e reflexão de suas próprias práticas.
em educação denominada formativo-emancipatória, apon- Este processo de observação deverá ser seguido da
tando-a como alternativa possível para uma pesquisa em reflexão dialógica, interativa e orientado pelo pesquisador
ciência da educação. Nesta metodologia são entendidos que deverá se colocar como membro do grupo, fazendo
como sujeitos tanto os pesquisadores (cientistas da educa- com que a reflexão, do geral para o particular e vice e ver-
ção) quanto os pesquisados (aqueles que atuam na prática sa, aconteça na tabulação de seus resultados. Os relatórios
educativa). Todos devem estar envolvidos na busca de so- deverão ser elaborados pelo grupo, as produções que vão
luções para os problemas que vivenciam no cotidiano. De
surgindo deverão interferir e modificar a cultura do grupo.
acordo com a autora, a metodologia deve se transformar
Os sujeitos da práxis devem ser, assim, sucessivamente ins-
em instrumento de formação, na medida em que insere o
tigados à pesquisa e aos processos de aprendizagem que
sujeito numa nova dinâmica compreensiva, incorporando
os novos sentidos à ação educativa e produzindo movi- seriam desencadeados numa troca constante.
mentos de reflexão. A pesquisa científica pressupõe que o pesquisador
A pesquisa em ciência da educação deve passar por adentre na realidade a ser estudada, integre-se nos modos
uma compreensão crítico-reflexiva dos contextos e das de produção da existência dessa realidade que foi criada
configurações da prática. “Como já me referi, a mediação pelos sujeitos que serão investigados. Portanto, é no míni-
entre pesquisa educacional e ação reflexiva docente é a mo justo que esses sujeitos participem das observações do
base da nova epistemologia da prática”. pesquisador, interfiram em suas conclusões, apropriem-se
É uma postura política epistemológica e existencial que de seu olhar, partilhando e contribuindo com a qualida-
caminha para um movimento de emancipação. Por isso, o de do conhecimento produzido nesse processo. (FRANCO,
pesquisador deve trabalhar em parceria com os mestres. A 2003, p. 108).
base epistemológica da pesquisa com a práxis, na práxis e A ciência da educação se qualificará à medida em que
para a práxis, exige uma práxis reflexiva que deve ser en- se souber desenvolver a prática de investigação como ine-
carada como uma proposta político-pedagógica, na qual rência à prática de formação de educadores e, portanto,
os espaços institucionais não podem ser excessivamente como poderoso processo de qualificar o fazer educativo.
burocratizados, assim, esta prática não pode aceitar ver-
dades prontas, nem soluções definitivas, necessitando de Ética na pesquisa educacional
parceiros com diferentes olhares e pensamentos diversos Entendemos o compromisso do pesquisador com a
que interferirão nos resultados da pesquisa. educação como um compromisso ético, pois os resulta-
A prática da pesquisa emancipatória requer uma for- dos não estão preestabelecidos e por isso incorporam as
mação continuada na capacitação de professores, para se incertezas. Hoje, coloca-se a necessidade do princípio da
tornarem pesquisadores de sua própria ação cotidiana. incerteza, afirmando que o objetivo da árvore do conheci-
Para que isso se torne possível é preciso que o profes- mento é implodir a certeza. Como há muito tempo já vem
sor seja instigado a estranhar o que é familiar, elaboran- afirmando Maturana e Varella, é preciso lutar contra a arro-
do novas hipóteses sobre o fazer docente, aprendendo a gância da ciência, contra a diminuição da distância intelec-
conviver criativamente na divergência, encontrando novas
tual entre nós e os animais.
respostas para novos desafios. Isso só se tornará possí-
Para compreender a complexidade se faz necessário
vel se este profissional passar a reconhecer e a utilizar as
teorias implícitas de sua prática, interpretando hipóteses conceber o pensamento de forma sistêmica. Essa é a ideia
iniciais, discutindo-as e reconstruindo-as. O que passará a que deve permear a educação na perspectiva da comple-
fazer parte da tomada de consciência de seus compromis- xidade:
sos com a realidade na qual atua, percebendo-se capaz de [...] Um sistema não é somente constituído de partes.
retirar do coletivo as fontes de aperfeiçoamento pessoal, Ele tem qualidades, propriedades ditas emergentes, que
envolvendo-se com a possibilidade de familiarização com não existem nas partes isoladas: em outras palavras, o todo
o que é estranho à primeira vista, identificando que nada é mais do que a soma das partes. Porém, algumas qua-
é linear na relação aprender e ensinar, estabelecendo rela- lidades ou propriedades das partes são, com frequência,
ções entre o fato e a totalidade e começando a descobrir o também inibidas pelo todo: portanto, vale também menos
significado concreto nas situações conflitivas e complexas. que a soma das partes. (MORIN, 2003, p. 150).
De acordo com Franco (2003), esta metodologia passa A mudança na forma de apropriação do saber possibi-
por duas abordagens imprescindíveis. Em primeiro lugar o lita uma nova forma de conhecimento. Isto implica numa
reconhecimento, que passa por um processo de recons- mudança de metodologia, porque, nessa compreensão,
trução das compreensões sobre a realidade educativa. Na o método não se separa do conteúdo, como nos explica
segunda abordagem, temos a intervenção, que na linha da Franco (2003), ao explanar sua metodologia formativo-
pesquisa-ação tem a finalidade de planejar e acompanhar -emancipatória: o método possibilita ao pesquisado um
as transformações no ambiente educativo. olhar crítico sobre sua prática.

196
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Esse modo de pensar necessita da integração do ob- tempo, meio e fim dos outros. Por isso, ele propõe uma éti-
servador em sua observação, ou seja, o exame de si, a au- ca do gênero humano, concebida como “antropoética”. Tal
toanálise, a autocrítica. O autoexame deveria ser ensinado ética supõe a decisão de assumir a complexidade da condi-
desde e durante o primário: seria especialmente estudado ção humana, buscando a compreensão da humanidade na
como os erros e deformações podem sobreviver nos teste- consciência de cada ser, assumindo o destino humano em
munhos mais sinceros ou convictos; a maneira como o es- suas antinomias:
pírito oculta os fatos que atrapalham sua visão do mundo; A antropoética compreende, assim, a esperança na
como a visão das coisas depende menos das informações completude da humanidade, como consciência e cidadania
recebidas do que da forma como é estruturado o modo de planetária. Compreende, por conseguinte, como toda ética,
pensar. (MORIN, 2003, p. 153). aspiração e vontade, mas também aposta no incerto. Ela é
Morin apresenta o diálogo como o método mais efi- consciência individual além da individualidade.
caz na construção da autocrítica, afirmando que ele pode A responsabilidade dos sujeitos éticos deixa de se
contribuir na formação de pessoas abertas a compreender pautar no plano individual para ser instaurada no plano
os outros e as outras formas de conceber a realidade. A da humanidade, que se torna, assim, uma comunidade
pesquisa educacional que priorizar o diálogo oportunizará de destino e somente a consciência dessa comunidade
aos sujeitos, envolvidos nela, a estruturação das informa- pode nos conduzir a uma comunidade de vida. Assim, a
ções de forma diversificada, favorecendo, assim, a apren- humanidade passa a ser encarada como uma nação éti-
dizagem complexa por meio do incentivo à imaginação e ca: “é o que deve ser realizado por todos em cada um”.
à criatividade. Esta dimensão deve ser encarada como uma Essa responsabilidade está diretamente ligada ao papel
postura ética, pois se revela comprometida com a realida- do pesquisador em educação.
de e favorece o repensar do fazer educativo, possibilitando
aos sujeitos envolvidos o saber lidar com as incertezas: Fonte
Hoje, o verdadeiro problema é que nós devemos estar CASTRO, E.A. Pesquisa em Educação e as Implicações
conscientes de que o imperativo ético existe em nós, mas Éticas Específicas desse Conhecimento
que ele vai encontrar um outro que é não menos forte: será
preciso escolher, quer dizer, assumir um risco. Isto constitui
o problema das contradições éticas. (MORIN, 2003, p. 43).
A formação do cidadão passa pela educação e exi-
ge a construção de uma autoética. Conceito que, segundo CARACTERÍSTICAS E DELIMITAÇÕES DO
Morin, implica a construção de uma autocrítica. Como o CONHECIMENTO CIENTÍFICO.
educador poderá proporcionar esta formação se ele não O CONHECIMENTO CIENTÍFICO E A QUESTÃO
for educado para tal postura? Se a ciência da educação DA VERDADE.
proporcionar ao pesquisado a condição de cidadão, estará
favorecendo, também, a autoética:
Isto significa que é absolutamente necessário à autoé-
tica um trabalho constante de autoconhecimento, de au- O conhecimento científico vai além do empírico: por
toelucidação e, eu diria mesmo, de autocrítica. [...] Eis aí o meio dele, além do fenômeno, conhecem-se suas causas e
longo caminho, o difícil caminho que nós devemos per- leis que o regem. É metódico.
correr. A autoética não nos é dada. Precisamos construí-la, “Conhecer verdadeiramente, é conhecer pelas causas”,
e eu penso que este problema de construção implica um diz Bacon. Assim, saber que um corpo abandonado a si cai,
problema de educação fundamental, talvez desde o início que a água sobe num tubo em que se fez vácuo, etc., não
da escolaridade. (MORIN, 2003, p. 44). constitui conhecimento científico; só o será se explicar estes
A construção da autoética implica em todo o processo fenômenos, relacionando-os com a sua causa e com sua lei.
de ensino e aprendizagem e inclusive na pesquisa sobre Conhecemos uma coisa de maneira absoluta, diz Aris-
ele. É uma ação que envolve política educacional, opção tóteles, quando sabemos qual é a causa que a produz e o
pela democracia e um outro olhar sobre os indivíduos que motivo porque não pode ser de outro modo; isto é saber por
compõem a sociedade em que nos situamos. demonstração; por isso a ciência reduz-se à demonstração.
O autoconhecimento só se dará a partir do momen- Daí as características do conhecimento científico:
to em que o sujeito tiver confiança no grupo em que ele 1) é certo, porque sabe explicar os motivos de sua
convive para se colocar sem máscaras num diálogo aberto certeza, o que não ocorre com o empírico;
e respeitoso. É nesta perspectiva que a autoelucidação e a 2) é geral, isto é, conhece no real o que há de mais
autocrítica se construirão, de forma que a ciência da edu- universal, válido para todos os casos da mesma espécie.
cação, por meio da metodologia emancipatória, terá um A ciência, partido do indivíduo procura o que nele há de
importantíssimo papel na construção da ética voltada para comum com os demais da mesma espécie;
valores universais, sem perder a singularidade dos sujeitos 3) é metódico, sistemático. O sábio não ignora que
envolvidos. os seres e os fatos estão ligados entre si por certas rela-
Morin não concebe o indivíduo, a sociedade e a espé- ções. O seu objetivo é encontrar e reproduzir este enca-
cie como entidades distintas, elas são inseparáveis e copro- deamento. Alcança-o por meio do conhecimento das leis e
dutoras uma das outras, cada um dos termos é, ao mesmo princípios. Por isso, toda a ciência constitui um sistema.

197
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Além disso, são ainda propriedades da ciência a objeti- O objeto, porém, nunca se manifesta totalmente, nun-
vidade, o desinteresse e o espírito crítico. ca é inteiramente transparente. Por outro lado, o homem
Pode-se dizer que a ciência é um sistema de proposi- não é capaz de perceber tudo aquilo que se manifesta e
ções rigorosamente demonstradas, constantes, gerais, liga- nem lhe é possível estar de posse plena do objeto de co-
das entre si pelas relações de subordinação relativas a se- nhecimento; quando muito, pode conhecer os objetos por
res, fatos e fenômenos da experiência. É um conhecimento suas representações e imagens.
apoiado na demonstração e na experimentação. A ciência Muitas vezes ocorre, ainda, que o homem, levado por
só aceita o que foi provado. certas aparências e sem o auxílio de instrumentos adequa-
dos, emite juízos precipitados que não correspondem aos
O Trinômio: Verdade – Evidência – Certeza fatos e à realidade: temos então o erro. Tais erros são fre-
quentes através da História; temos, por exemplo, as afirma-
Já foi visto que o problema do conhecimento é, em ções do geocentrismo, da geração espontânea...
grande parte, enigmático. O Homem é cheio de limitações
A Evidência
e a realidade que pretende conhecer e dominar é múltipla

e complexa. Diante disto surge a questão: o homem pode
Tais afirmações erradas decorrem muito mais da ati-
conhecer a verdade? O que é verdade?
tude precipitada e ignorância do homem, com relação à
natureza do ser que se oculta e se desvela fragmentaria-
A Verdade mente, do que da própria realidade.
A verdade só resulta quando houver evidência.
Todos falam, discutem e querem estar com a verdade. Evidência é manifestação clara, é transparência, é desocul-
Nenhum mortal, porém, é o dono da verdade. Isto por- tamento e desvelamento do ser. A respeito daquilo que se
que o problema da verdade radica na finitude do homem manifesta do ser, pode-se dizer uma verdade. Mas como
de um lado, e na complexidade e ocultamento do ser da nem tudo se desvela de um ente, não se pode falar arbi-
realidade, de outro lado. O ser das coisas e objetos que o trariamente sobre o que não se desvelou. A evidência, o
homem pretende conhecer oculta-se e manifesta-se sob desvelamento, a manifestação do ser é, pois, o critério da
múltiplas formas. Aquilo que se manifesta, que parece em verdade.
dado momento, não é, certamente a totalidade do objeto,
da realidade investigada. O homem pode apoderar-se e A Certeza
conhecer aquele aspecto do objeto que se manifesta, que
se impõe, que se desvela e isto ainda de modo humano, - Finalmente, a certeza é o estado de espírito que con-
isto é, imperfeito, pois não entra em contato direto com siste na adesão firme a uma verdade, sem temor de enga-
objetos, mas apenas com sua representação e impressões no. Este estado de espírito se fundamenta na evidência, no
que causa. desvelamento do ser.
Isto, porém, não invalida o esforço humano na busca - Relacionando o trinômio, poder-se-ia concluir dizen-
da verdade, na procura incansável de decifrar os enigmas do: havendo evidência, isto é, se o objeto se desvela ou
do universo. O ser se desvela aqui e acolá, numa e noutra se manifesta com suficiente clareza, pode-se afirmar com
área, com mais ou menos intensidade, mais para uns que certeza, isto é, sem temor de engano, uma verdade.
para outros... Pode-se dizer que, em certas áreas, o homem - Quando houver evidência ou suficiente manifestação
já entendeu bastante daquilo que o ser é e manifesta: a do objeto, o sujeito encontrar-se-á em outros estados de
conquista tecnológica, as viagens espaciais mostram quan- espírito, o que deve transparecer também na expressão ou
na linguagem. São os casos da ignorância, da dúvida e da
to já foi aprendido e isto graças, certamente, aos instru-
opinião.
mentos científicos de que o homem se serviu para perce-
- Ignorância é um estado puramente negativo, que
ber e ver o que os sentidos jamais teriam visto. Mas esta é
consiste na ausência de todo conhecimento relativo a qual-
apenas uma faceta da realidade, do ser. quer objeto por falta total de desvelamento. A ignorância
O desvelamento do ser das coisas supõe, e isto é ine- pode ser:
gável, a capacidade do homem em receber as mensagens, 1) vencível: quando pode ser superada;
isto implica em atenção, bons sentidos, bons instrumentos. 2) invencível: quando não pode ser superada;
Inútil lembrar que o método e os instrumentos são a alma 3) culpável: quando há obrigação de fazê-la desapa-
de toda a pesquisa científica, rumo à abertura do ser, à ma- recer;
nifestação do ser, ao conhecimento da verdade. 4) desculpável: quando não há obrigação de fazê-la
O que é, pois, a verdade? É o encontro do homem com desaparecer.
o desvelamento, com o desocultamento e com a manifes-
tação do ser. O ser das coisas se manifesta, torna-se trans- A dúvida é um estado de equilíbrio entre a afirmação
lúcido, visível ao olhar, à inteligência e à compreensão do e a negação. A dúvida é espontânea, quando o equilíbrio
homem. Pode-se dizer que há verdade, quando o homem entre afirmação e a negação resulta da falta do exame do
(inteligência) percebe e diz o ser que se desvela, que se pró e do contra.
manifesta. Há uma certa conformidade entre o que o ho- - A dúvida refletida é o estado de equilíbrio que per-
mem julga e diz, e aquilo que do objeto se manifesta. manece após o exame das razões pró e contra.

198
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

- A dúvida metódica consiste na suspensão fictícia ou de toda a visão subjetiva do mundo, arraigada na própria
real, mas sempre provisória, do assentimento a uma asser- organização biológica e psicológica do sujeito e ainda pelo
ção tida até então por certa, para lhe controlar o valor. meio social.
- A dúvida universal consiste em considerar toda asser- A objetividade é a condição básica da ciência. O que
ção como incerta. É a dúvida dos céticos. vale não é o que algum cientista imagina ou pensa, mas
- A opinião se caracteriza pelo estado de espírito que aquilo que realmente é. Isto porque a ciência não é litera-
afirma com temor de se enganar. Já se afirma, mas de tal tura.
maneira, que as razões em contrário não dão uma certeza. A objetividade torna o trabalho científico impessoal a
O valor da opinião depende da maior ou menor probabili- ponto de desaparecer, por completo, a pessoa do pesqui-
dade das razões que fundamentam a afirmação. A opinião sador. Só interessa o problema e a solução. Qualquer um
pode, às vezes, assumir as características da probabilidade pode repetir a mesma experiência, em qualquer tempo, e
matemática. Esta pode ser expressa sob a forma de uma o resultado será sempre o mesmo, porque independe das
fração, cujo denominador exprime o número de casos pos- disposições subjetivas.
síveis e cujo numerador expressa o de casos favoráveis. Por A objetividade do espírito científico não aceita meias
exemplo, havendo numa caixa 6 “tampinhas” amarelas e 4 soluções ou soluções apenas pessoais. O “eu acho”, o
brancas, a probabilidade de extrair uma “ tampinha” branca “creio ser assim” não satisfazem a objetividade do saber.
será, matematicamente, 4/10. Finalmente, o espírito científico age racionalmente. As
- Só haverá certeza quando o numerador se igualar ao únicas razões explicativas de uma questão só podem ser
denominador. intelectuais ou racionais.
A preocupação do cientista é chegar a verdades que As “razões” que a razão desconhece, as “razões” da ar-
possam ser afirmadas com certeza. bitrariedade, do sentimento e do coração nada explicam
nem justificam no campo da ciência.
Formação do Espírito Cientifico
Qualidades do Espírito Científico
Feita a distinção entre os níveis de conhecimento, es-
clarecidas as condições da verdade e do erro, e aprendidas - Além das propriedades fundamentais, já referidas,
as técnicas da investigação cientifica, ainda não será pos- poder-se-iam acrescentar outras tantas qualidades de or-
sível realizar um trabalho científico. É necessário, além dis- dem intelectual e moral que o espírito científico implica.
so, ter uma reserva de outras qualidades que são decisivas - Como virtude intelectual ele se traduz no senso de
para desencadear a verdadeira pesquisa. observação, no gosto pela precisão e pelas ideias claras, na
Esta atmosfera de seriedade que envolve e perpassa imaginação ousada, mas regida pela necessidade da prova,
todo o trabalho, só aparece e transparece se o autor estiver na curiosidade que leva a aprofundar os problemas, na sa-
imbuído de espírito científico. gacidade e poder de discernimento.
- Moralmente, o espírito científico assume a atitude
Natureza do Espírito Científico de humildade e de reconhecimento de suas limitações, da
possibilidade de certos erros e enganos.
O espírito científico é, antes de mais nada, uma atitu- - É imparcial. Não torce os fatos. Respeita escrupulosa-
de ou disposição subjetiva do pesquisador que busca so- mente a verdade.
luções sérias, com métodos adequados, para o problema - O possuidor do verdadeiro espírito científico cultiva
que enfrenta. Essa atitude não é inata na pessoa. É con- a honestidade. Evita o plágio. Não colhe como seu o que
quistada ao longo do tempo da vida, à custa de muitos outros plantaram.
esforços e exercícios. Pode e deve ser aprendida, nunca, - Tem horror às acomodações. É corajoso para enfren-
porém, transmitida. tar os obstáculos e os perigos que uma pesquisa possa
O espírito científico, na prática, se traduz por uma oferecer.
mente crítica, objetiva e racional. - Finalmente, o espírito científico não reconhece fron-
A consciência crítica levará o pesquisador a aperfeiçoar teiras. Não admite nenhuma intromissão de autoridades
seu julgamento e a desenvolver o discernimento, capaci- estranhas; ou limitações em seu campo de investigação.
tando-o a distinguir e separar o essencial do acidental, o Defende o livre exame dos problemas.
importante do secundário. A honestidade do cientista está relacionada, unica-
Criticar é julgar, distinguir, discernir, analisar para me- mente, com a verdade dos fatos que investiga.
lhor poder avaliar os elementos componentes da questão.
A crítica, assim entendida, não tem nada de negativo. Importância do Espírito Científico
É antes uma tomada de posição, no sentido de impedir a
aceitação do que é fácil e superficial. O crítico só admite o Diante do exposto, é desnecessário encarecer a impor-
que é suscetível de prova. tância do espírito científico. O universitário, por exemplo,
A consciência objetiva, por sua vez, implica no rom- consciente de sua função na Universidade irá procurar
pimento corajoso com todas as posições subjetivas, pes- imbuir-se desse espírito científico, aperfeiçoando-se nos
soais e mal fundamentadas do conhecimento vulgar. Para métodos de investigação e aprimorando suas técnicas de
conquistar a objetividade científica, é necessário libertar-se trabalho. Os conhecimentos científicos que vai adquirir, os

199
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

bons ou maus mestres que vai enfrentar não constituirão As leis têm duas funções específicas:
o essencial da vida acadêmica. O essencial é, todos con-
cordam nisto, aprender como trabalhar, como enfrentar e - Resumir grande quantidade de fatos.
solucionar os problemas que se apresentam não só na Uni- - Permitir e prever novos fatos, pois, se fenômeno ou
versidade, mas principalmente na vida profissional. E isto fato se enquadrar em uma lei, ele se comportará conforme
não é adquirir conhecimentos científicos feitos, fórmulas o estabelecido por ela.
mágicas para todos os males, mas sim hábitos, consciên- Uma lei científica que descreve uma regularidade de
cia e espírito preparado no emprego dos instrumentos que coexistência, isto é, um padrão de coisas, geralmente é for-
levarão a soluções de problemas. Estas sempre se apre- mulada da seguinte forma: sempre que tiver a propriedade
sentarão, na carreira profissional, com novos matizes, de x, então terá a propriedade y.
tal forma que as soluções feitas, porventura aprendidas na
Universidade, serão inadequadas. Urge então apelar para o Uma lei que descreve uma regularidade de sucessão,
espírito de criatividade e de iniciativa que, aliadas ao espíri- ou seja, um padrão nos eventos, afirma que sempre que
to científico, adquirido ao longo dos estudos universitários, uma coisa, tendo x, se encontra em determinada relação
irão achar a solução mais indicada que as circunstâncias com outra coisa de certa espécie, esta última tem y.
exigem. A partir de certo estágio no desenvolvimento de uma
Aqui vale o ditado: ao pobre que bater à porta não se ciência, as leis deixam de estar isoladas e passam a fazer
dá o peixe, mas a linha e o anzol. O peixe resolve a situação parte de teorias. Uma teoria é formada por uma reunião de
presente, mas a linha e o anzol poderão resolver o proble- leis, hipóteses, conceitos e definições interligadas e coe-
ma, em definitivo. rentes. As teorias têm um caráter explicativo ainda mais
Por outro lado, a ciência, hoje em dia, não se resume na geral que as leis.
criatividade de um gênio isolado que faz descobertas deci- Portanto, uma teoria é um meio para interpretar, cri-
sivas. A pesquisa científica se apresenta como um edifício, ticar e unificar leis estabelecidas, modificando-as para se
da dimensão dos arranha-céus, que supõe a mobilização adequarem a dados não previstos quando de sua formu-
de um exército de técnicos e inventores, trabalhando em lação e para orientar a tarefa de descobrir generalizações
novas e mais amplas.
equipes disciplinadas e
As teorias caracterizam-se pela possibilidade de estru-
turar as uniformidades e regularidades, explicadas e con-
Fonte
firmadas pelas leis, em um sistema cada vez mais amplo e
LÜDKE, Menga e ANDRE, Marly E. D. A. Pesquisa em
coerente, relacionando-as, concentrando-as e sistematizan-
Educação: Abordagens Qualitativas. 1. ed. São Paulo: Pe-
do-as, com a vantagem de corrigi-las e de aperfeiçoá-las.
dagógica e Universitária, 1986.
Por outro lado, à medida que as teorias se ampliam,
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Traba-
passam a explicar, no universo dos fenômenos, cada vez
lho Científico. 21. ed. São Paulo: Cortez, 2000. mais uniformidades e regularidades, mostrando a interde-
SOUZA, Maria Cecília et alli. Pesquisa Social. 4. ed. Pe- pendência existente entre elas.
trópolis: Vozes, 1994. Uma teoria nos fornece dois aspectos relacionados com
os fenômenos: de um lado, um sistema de descrição e, de
outro, um sistema de explicações gerais. Portanto, a teoria
não é mera descrição da realidade, mas uma abstração que
FATOS, DESCRIÇÃO, LEIS, TEORIAS, fornece significado aos fatos, dando direção à sua busca.
CLASSIFICAÇÃO DA CIÊNCIA E MODELOS DE
Tanto as leis como as teorias devem cumprir os seguin-
ESTUDO. tes requisitos:
- Ser gerais, ou seja, não devem explicar apenas casos
particulares de um fenômeno.
- Ser comprovadas, isto é, estar avalizadas (corrobora-
A partir de certo estágio no desenvolvimento de uma das ou assentadas) pela experimentação.
ciência, as leis passam a fazer parte de teorias, que permi- Quando possível, estar “matematizadas”, ou seja, po-
tem estruturar as uniformidades explicadas pelas leis. der expressar-se mediante funções matemáticas.
De uma maneira simplificada, pode-se dizer que as leis As teorias científicas têm validade até que sejam in-
são hipóteses gerais que foram testadas, receberam apoio capazes de explicar determinados fatos ou fenômenos, ou
experimental e pretendem descrever relações ou regulari- até que alguma nova descoberta comprovada se oponha
dades encontradas em certos grupos de fenômenos. a elas. A partir daí, os cientistas começam a elaborar outra
As leis surgem da necessidade de se encontrar expli- teoria que possa explicar essas novas descobertas.
cações para fenômenos ou fatos da realidade. Os fatos ou
fenômenos são apreendidos por meio de suas manifes- CLASSIFICAÇÃO E DIVISÃO DA CIÊNCIA
tações, e o seu estudo visa conduzir à descoberta de as-
pectos invariáveis, comuns aos diferentes fenômenos, por - Formais: que contêm apenas enunciados analíticos,
meio da classificação e da generalização. isto é, cuja verdade depende unicamente do significado de
seus termos ou de sua estrutura lógica;

200
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

- Factuais: que, além dos enunciados analíticos contêm, sobretudo, os sintéticos, aqueles cuja verdade depende não só
do significado de seus termos, mas igualmente dos fatos a que se referem.

MODELOS DE ESTUDOS

201
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

A Ciência é conhecimento evolutivo e não estacionário.

Fonte
http://www2.anhembi.br/html/ead01/metodologia_pesq_cientifica_80/lu06/lo1/index.htm

PROCESSOS INDUTIVOS E DEDUTIVOS NA


PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO.

Indução

A indução e a dedução são, antes de mais nada, formas de raciocínio ou de argumentação e, como tais, são formas de
reflexão e não de simples pensamentos.
O pensamento alimenta-se da realidade externa e é produto direto da experiência. O ato de pensar caracteriza-se por
ser dispersivo, natural e espontâneo. A reflexão, porém, requer esforço e concentração voluntária. É dirigida e planificada. A
conclusão de raciocínio constitui o último elo de uma cadeia, o período final de um ciclo de operações que se condicionam
necessariamente.
Frequentemente, prefere-se pensar os problemas em vez de raciocinar sobre eles, confundindo a divagação irrespon-
sável com a reflexão sistemática.
O raciocínio é algo ordenado, coerente e lógico, podendo ser dedutivo ou indutivo.
Na indução, a conclusão está para as premissas, como o todo está para as partes. De verdades particulares, concluímos
verdades gerais. Exemplos: Terra, Marte, Vênus, Saturno, são todos planetas. Ora, a Terra, Marte, Vênus, Saturno, etc. não
brilham com luz própria. Logo os planetas não brilham com luz própria.
O argumento indutivo baseia-se na generalização de propriedades comuns a certo número de casos, até agora obser-
vados, a todas as ocorrências de fatos similares que se verificam no futuro. O grau de confirmação dos enunciados induzi-
dos depende das evidências ocorrentes.
A indução e a dedução são processos que se complementam. Por isso, a indução reforça-se bastante pelos argumentos
dedutivos extraídos de outras disciplinas que lhe são correlatas ou afins. Na prática, recorre-se a ambos estes instrumentos
para demostrar a verdade das proposições submetidas à análise.
Para que as conclusões da indução sejam verdadeiras o mais frequentemente possível e tenham um maior grau de sus-
tentação, podem-se acrescentar ao argumento evidências adicionais, sob a forma de premissas novas que figuram ao lado
das premissas inicialmente consideradas. Já que a conclusão de um argumento indutivo pode ser falsa, mesmo quando são
verdadeiras as premissas, a evidência adicional pode favorecer a percepção, com mais precisão, se a conclusão é, de fato,
verdadeira.
Não é, entretanto, a repetição da experiência ou o grande número de observações que conduz à conclusão. Basta uma
experiência para autorizar a concluir do fenômeno para lei. Se for repetida a experiência, não é por desconfiar da expe-
riência. Basicamente, a repetição é uma simples verificação da primeira prova e não uma condição necessária da indução.

202
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Espécies de indução: seres ou coisas. Assim, sendo uma relação de dependência


necessária a que une o calor à dilatação., tem-se o direito
1) Indução formal (de Aristóteles). Equivale ao inverso de generalizar a lei segundo a qual o calor sempre dilata
da dedução e é submetida unicamente às leis do pensa- os corpos.
mento, e tem como ponto de partida todos os casos de 2) É necessário que os fatos, a que se estende a rela-
uma espécie ou de um gênero e não apenas alguns. Por ção, sejam verdadeiramente similares aos fatos observados
exemplo: e, principalmente, que a causa se tome no sentido total e
Os corpos A, B, C, D, atraem o ferro; completo.
Ora, os corpos A, B,C, D são todos ímãs;
DEDUÇÃO
Logo, os ímãs atraem o ferro.
Neste tipo de indução, não há propriamente uma in- A dedução é a argumentação que torna explícitas as
ferência, mas uma simples substituição de uma coleção verdades particulares contidas em verdades universais. O
de termos particulares por um termo equivalente. Este ponto de partida é o antecedente que afirma uma verdade
processo é indutivo apenas na forma, visto que realmente universal, e o ponto de chegada é o consequente, que afir-
passa do mesmo ao mesmo, por ser a soma das partes ma uma verdade menos geral ou particular, contida impli-
igual ao todo. Esse o motivo pelo qual a indução formal é citamente no primeiro.
de pouco uso. A técnica desta argumentação consiste em construir
2) Indução científica (de Bacon). É o raciocínio pelo qual estruturas lógicas, através do relacionamento entre antece-
conclui-se de alguns casos observados pela espécie que os dente e consequente, entre hipótese e tese, entre premissa
compreende e a lei geral que os rege. Ou, é o processo que e conclusão. O cerne da dedução é a relação lógica que se
generaliza a relação de causalidade descoberta entre dois estabelece entre proposições, dependendo o seu vigor do
fenômenos e da relação causal conclui a lei. Verifica-se, por fato de a conclusão ser sempre verdadeira, desde que as
exemplo, certo número de vezes que o óxido de carbono premissas também o sejam. Assim, admitindo as premissas,
paralisa os glóbulos sanguíneos; desta observação infere- deve-se admitir também a conclusão, isto porque toda a
-se que sempre, dadas as mesmas condições, o óxido de afirmação ou conteúdo fatual da conclusão já estava, pelo
carbono paralisará os glóbulos sanguíneos. menos implicitamente, nas premissas.
Esta indução é a alma das ciências experimentais. Sem O processo dedutivo, por um lado, leva o pesquisa-
ela a ciência não seria outra coisa senão um repositório de dor do conhecido ao desconhecido com pouca margem de
observação sem alcance. erro, mas, por outro lado, é de alcance limitado, pois a con-
clusão não pode assumir conteúdos que excedam o das
Valor e legitimidade da indução científica: premissas. Concluir daí que a dedução é infrutífera e estéril,
é não perceber a seu verdadeiro significado. Para desfazer
Deve-se recorrer a algum princípio que dê às verdades tal impressão basta ver, por exemplo, o procedimento do
induzidas o caráter de necessidade e generalidade que as matemático. Seus argumentos são, na maior parte, dedu-
torne independentes do tempo e do espaço. Este princí- tivos. Exemplos familiares podem ser recolhidos da Geo-
pio é o princípio das leis. Formula-se de várias maneiras: metria Euclidiana do plano. Na geometria os teoremas são
a natureza rege-se por leis – as causas atuam de maneira demonstrados a partir de axiomas e postulados. O método
uniforme - as mesmas causas produzem os mesmos efei- de demonstração é deduzir os teoremas (conclusão) dos
tos – toda relação de causalidade é constante. axiomas e postulados (premissas). O método da dedução
O raciocínio indutivo pode-se exprimir sob a forma garante que os teoremas devem ser verdadeiros se são ver-
de um silogismo em que o princípio das leis é a premissa dadeiros os axiomas e os postulados. Embora o conteúdo
maior. Exemplo: as relações de causalidade são constantes; dos teoremas já esteja fixado nos axiomas e postulados,
ora, verificou-se uma relação causal entre calor e dilatação; esse conteúdo está longe de ser óbvio. É verdadeiramen-
logo, é constante esta relação: sempre e em toda parte, o te iluminadora a tarefa de tomar explícito o conteúdo de
calor dilata os corpos. axiomas e postulados.
Não é do número necessariamente restrito dos fatos E isto é válido para os demais casos de dedução. Como
observados que se infere a generalidade e a constância da regras gerais, quanto à validade das conclusões do proces-
relação, como algumas vezes se objeta, mas do princípio so dedutivo, são apontados duas:
formulado na premissa maior que assegura que, sendo to- 1) Da verdade do antecedente segue-se a verdade do
das as relações da causalidade constantes, também o será consequente. Por exemplo: todos os animais respiram. Ora,
a que foi descoberta. o mosquito é animal. Logo, o mosquito respira.
2) Da falsidade do antecedente pode seguir-se falsi-
Regras da Indução: dade ou a veracidade do consequente. Por exemplo: todos
os animais são quadrúpedes. Ora, o cisne é animal. Logo,
1) Deve-se estar seguro de que a relação que se pre- o cisne é quadrúpede (consequente falso). Ou então: toda
tende generalizar seja verdadeiramente essencial, isto árvore é racional. Ora, Gilberto é árvore. Logo, Gilberto é
é, relação causal quando se trata de fatos, ou relação da racional (consequente verdadeiro).
coexistência necessária de duas formas, quando se trata de

203
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

O raciocínio dedutivo pode ser expresso pelo silogis- do conhecimento científico, e que não têm objetivos co-
mo, que poderá ter forma: merciais específicos.” Ele refere ainda que foi somente a
a) Categórica: todas as crianças têm pais. Ora, Gilberto partir do Século XIX, na Alemanha, que os pesquisadores
é criança. Logo, Gilberto tem pais. puderam contar com investimentos em laboratórios e con-
b) Hipotética: se Henrique estuda, passará nos exames. dições para o aprofundamento de seus estudos e testes.
Ora, Henrique estuda. Logo, passará nos exames. Este autor relaciona a pesquisa Básica ou Científica aos mé-
No Raciocínio dedutivo a conclusão ou consequente todos quantitativos, a partir da Física moderna.
está contido nas premissas ou antecedentes, como a parte Lopes (2005) refere que a pesquisa básica, a pesquisa
no todo. aplicada e ainda a pesquisa tecnológica, todas elas, depen-
dem não somente dos pesquisadores, mas principalmente
Fonte dos governos locais onde as mesmas devem ser realizadas.
LÜDKE, Menga e ANDRE, Marly E. D. A. Pesquisa em Ele reporta que a utilidade da Pesquisa Básica ou Aplicada
Educação: Abordagens Qualitativas. 1. ed. São Paulo: Pe- implica em avanços significativos para a sociedade, no que
dagógica e Universitária, 1986. concerne aos avanços nas Ciências, como por exemplo a
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Traba- conquista do espaço, de máquinas, da tecnologia de ele-
lho Científico. 21. ed. São Paulo: Cortez, 2000. trônicos e dos meios virtuais, enquanto na área da Saúde,
SOUZA, Maria Cecília et alli. Pesquisa Social. 4. ed. Pe- podem ser mencionados os avanços quanto à descoberta
trópolis: Vozes, 1994. e produção de vacinas, aperfeiçoamento de novas técnicas
para tratamentos médicos, exames e cirurgias, assim como
para os medicamentos, entre outros.

Fonte
PESQUISA BÁSICA E APLICADA. DEL-BUONO, Regina C. O que é Pesquisa Básica ou
Científica? Tipos de Pesquisa. Artigo publicado em 03 de
maio de 2015. Disponível em: [http://www.abntouvancou-
ver.com.br/2015/05/o-que-e-pesquisa-basica-ou-aplica-
da.html].
PESQUISA BÁSICA OU CIENTÍFICA.

Ela consiste na descoberta de novos avanços e tecno-


logias, que podem ser aplicadas pela indústria, ocasionan-
ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA
do melhorias para a vida das pessoas.
Segundo o Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), da INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA: REFERENCIAL
universidade de Campinas (UNICAMP), as pesquisas cientí- TEÓRICO COMO PONTO DE PARTIDA;
ficas devem ser subdivididas em pesquisa básica e aplica- DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA E OBJETIVOS;
da, sendo que: PAPEL DAS HIPÓTESES; VARIÁVEIS,
Pesquisa Básica destina-se à investigação de fenôme- INDICADORES DE VARIÁVEIS E QUALIDADE
nos físicos e seus fundamentos; DOS INDICADORES; POPULAÇÃO E
Pesquisa Aplicada utiliza-se dos conhecimentos obti- AMOSTRAS.
dos pela pesquisa básica para solucionar ações concretas e
solucionar os problemas existentes.

Por sua vez, a UNISANTA (sem data, p.2), defende que: Paradigmas de Pesquisa

- Pesquisa Básica: objetiva gerar conhecimentos no- A pesquisa investiga o mundo em que o homem vive
vos úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática e o próprio homem. Para esta atividade, o investigador re-
prevista. Envolve verdades e interesses universais; corre à observação e à reflexão que faz sobre os problemas
que enfrenta, e à experiência passada e atual dos homens
- Pesquisa Aplicada: objetiva gerar conhecimentos na solução destes problemas, a fim de munir-se dos instru-
para aplicação prática dirigidos à solução de problemas mentos mais adequados à sua ação e intervir no seu mun-
específicos. Envolve verdades e interesses locais. do para construí-lo adequado à sua vida.
Nessa tarefa, confronta-se com todas as forças da na-
A UNISANTA (sem data) esclarece ainda que, no pre- tureza e de si próprio, arregimenta todas as energias da sua
sente, 10% dos pesquisadores brasileiros estão nas empre- capacidade criadora, organiza todas as possibilidades da
sas privadas; 15% deles estão nos centros de pesquisas e sua ação e seleciona as melhores técnicas e instrumentos
75% encontram-se nas universidades. para descobrir objetos que transformem os horizontes da
Paim (2010) menciona a definição da “National Scien- sua vida. Transformar o mundo, criar objetos e concepções,
ce Foundation” para explicar que a Pesquisa Básica ou encontrar explicações e avançar previsões, trabalhar a na-
Científica consiste nos “projetos de pesquisa que repre- tureza e elaborar as suas ações e ideias, são fins subjacen-
sentam uma investigação original, com vistas ao avanço tes a todo esforço de pesquisa.

204
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Considera-se que, ao longo do tempo, a ciência estru- Assim, para delimitar o assunto, pode-se ainda fixar
tura um conjunto de preceitos, noções e processos que ca- circunstâncias, sobretudo de tempo e espaço: trata-se de
racterizam os procedimentos dominantes em uma comu- indicar o quadro histórico e geográfico, em cujos limites se
nidade científica nacional ou internacional, em um aspecto localiza o assunto.
particular da ciência durante um período de tempo, que Além disso, o pesquisador pode indicar sob que ponto
é revolucionado quando um ou vários pesquisadores de- de vista vai focalizar o assunto. Um mesmo assunto pode
monstram as anomalias de uma ciência normal e põem em receber diversos tratamentos, tais como psicológico, socio-
crise o universo de certezas, obrigando a comunidade toda lógico, histórico, filosófico, estatístico etc. Estes tratamentos
a repensar os fatos e teorias explicativas, como se pode correspondem à luz sob a qual o assunto será focalizado.
atestar na astronomia, com Ptolomeu, Copérnico, Galileu
ou, na física, com Aristóteles, Newton, Einstein. O paradig- Explicação dos Objetivos
ma da pesquisa dominante envolve uma concepção e esta
estabelece os critérios de definição e de formulação de um Os objetivos que se têm em vista definem, muitas ve-
problema a ser pesquisado, implicando uma abordagem e zes, a natureza do trabalho, o tipo de problemas a ser sele-
os processos de seleção do problema. cionado, o material a coletar, etc.

REFERENCIAL TEÓRICO Formulação de Problemas

Este item consiste em realizar uma revisão dos trabalhos Escolhido o assunto e delimitado o seu campo, a fase
já existentes sobre o tema abordado, que pode ser em livros, seguinte é a transformação do tema em problemas
artigos, enciclopédias, monografias, teses, filmes, mídias ele- Problemas é uma questão que envolve intrinsecamen-
trônicas e outros materiais cientificamente confiáveis. te uma dificuldade teórica ou prática, para a qual deve-se
O referencial teórico permite verificar o estado do pro- encontrar uma solução.
blema a ser pesquisado, sob o aspecto teórico e de outros es- A primeira etapa da pesquisa é a formulação do pro-
tudos e pesquisas já realizados (LAKATOS; MARCONI, 2003). blema ou formulação de perguntas.
Segundo Marion, Dias e Traldi (2002, p.38), “O referen- Enquanto o assunto permanecer assunto, não se ini-
cial teórico deve conter um apanhado do que existe, de ciou a investigação propriamente dita. O assunto esco-
mais atual na abordagem do tema escolhido, mesmo que lhido, submeter-se-á, portanto, ao questionamento. Será
as teorias atuais não façam parte de suas escolhas.” questionado pela mente do pesquisador, que o transfor-
O referencial teórico é que possibilita fundamentar, dar mará, mediante seu esforço de reflexão, sua curiosidade
consistência a todo o estudo. Tem a função de nortear a ou talvez seu gênio, em problema. Descobrir os problemas
pesquisa, apresentando um embasamento da literatura já que o assunto envolve, identificar as dificuldades que ele
publicada sobre o mesmo tema, demonstrando que o(a) sugere, formular perguntas ou levantar hipóteses significa
pesquisador(a) tem conhecimento suficiente em relação a abrir a porta, através da qual o pesquisador penetrará no
pesquisas relacionadas e a tradições teóricas que apoiam e terreno do conhecimento científico.
cercam o estudo. As perguntas variam. Partindo-se da observação de um
Faz-se muito importante tomar cuidado, ao realizar fato ou de uma série de fatos, pode-se perguntar se es-
as citações, para que não se torne apenas uma cópia de tes seguem sempre o mesmo padrão ou se, por vezes, os
ideias, mas, sim compreendam uma análise sobre o tema, resultados são diferentes, se há possibilidades de explicar
incluindo frases ou palavras próprias do autor da pesquisa. este processo.

DELIMITAÇÃO As perguntas devem ser de tal sorte que haja possibili-


dades de respostas através da pesquisa.
Convém superar a tendência muito comum de escolher Nunca se passa diretamente da escolha do assunto à
temas que, por sua extensão e complexidade, não permi- coleta de dados, pois as vantagens da formulação do pro-
tam a profundidade. Feita, portanto, a escolha do assunto, blema são inegáveis:
passa-se a fixar a extensão do mesmo. 1) Ao formular uma pergunta, sabe-se com exatidão o
Delimitar o assunto é selecionar um tópico ou parte a tipo de resposta que deve ser procurado.
ser focalizada. 2) O pesquisador é levado a uma reflexão benéfica e
Para facilitar esta operação, pode-se recorrer, por um proveitosa sobre o assunto.
lado, à divisão do assunto em partes constitutivas e, por 3) Um problema ou uma pergunta fixa frequentemente
outro, à definição da compreensão dos termos. roteiros para o início do levantamento bibliográfico e da
A decomposição do assunto equivale ao desdobra- coleta de dados.
mento do mesmo em partes, enquanto a definição dos ter- 4) Auxilia, na prática, a escolha de cabeçalhos para o
mos implica na enumeração dos elementos constitutivos sistema de tomada de apontamentos.
ou explicativos que os conceitos envolvem. Nem todos os 5) Discrimina com precisão os apontamentos que se-
assuntos poderão ser delimitados com auxílio destas técni- rão tomados, isto é, todos e tão-somente aqueles que res-
cas especiais. De acordo com a natureza do assunto sele- pondem às perguntas formuladas.
cionado, recorrer-se-á a uma outra técnica de delimitação.

205
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Para bem se formular o problema, supõem-se conhecimentos prévios do assunto, além de uma imaginação criadora
que, em grande parte, é responsável pelo progresso das ciências.
Os passos que o pesquisador terá que percorrer a seguir, até o término da pesquisa, dependerão deste passo inicial: a
formulação do problema. Esta será interessante ou não, contribuirá para o progresso da ciência ou não, terá valor ou não
terá, se o problema formulado tiver sido interessante ou banal. Embora o pesquisador não chegue a uma solução – fre-
quentemente não são encontradas soluções imediatas para os problemas – cabe-lhes o mérito de ter aberto o caminho.
Outros virão secundá-lo em sua marcha através do emaranhado terreno do conhecimento científico. “É precisamente este
sentido do problema – afirma Bachelard – que dá a marca do verdadeiro espírito científico”.
Desde Einstein, acredita-se que é mais importante para o desenvolvimento da ciência saber formular problemas do que
encontrar soluções.
Uma vez formulado o problema, as etapas seguintes, nas fases da pesquisa, devem ser previstas, a fim de que se tenha
certeza da viabilidade da mesma, através das técnicas existentes. Elabora-se, pois um plano provisório do assunto. Este
servirá de guia, embora venha a adaptar-se posteriormente, à marcha da pesquisa, modificando-se ou transformando-se
em razão dos resultados parciais ou definitivos.

HIPÓTESES

Uma hipótese é uma questão proposta de tal maneira que uma resposta de algum tipo pode estar próxima a aparecer.
Uma hipótese expõe o que procuramos em uma pesquisa. Os vários fatos em uma teoria podem ser logicamente ana-
lisados, e outras relações podem ser deduzidas, além daquelas estabelecidas na teoria. Neste ponto, não se sabe se essas
deduções são corretas; a formulação da dedução, contudo, constitui uma hipótese, que, se verificada, torna-se parte de
uma construção teórica futura.
Assim, uma teoria expõe uma relação entre fatos; se essa relação existe, outras proposições que deveriam ser verdadei-
ras podem ser deduzidas da teoria. Tais proposições deduzidas são as hipóteses.
A hipótese é uma proposição que pode ser colocada à prova para determinar sua validade; pode parecer contrária, ou
de acordo com o senso comum, pode ainda ser correta ou errada. Em qualquer caso, uma hipótese conduz a uma verifi-
cação empírica, independendo do resultado; ela é uma questão proposta de tal maneira que uma resposta de algum tipo
pode estar próxima a aparecer.
Portanto, obedecendo a um raciocínio lógico, a hipótese consiste na passagem dos fatos particulares para um esquema
geral, ou seja, são supostas respostas para o problema em questão.
Como outras formas de conhecimento, a hipótese é o reflexo do mundo material na consciência do homem, isto é, uma
imagem subjetiva do mundo objetivo.
Na pesquisa, a hipótese passa por dois processos importantes: a sua correta formulação e o seu teste.
Com o intuito de encontrar soluções para o estudo em questão, as hipóteses poderão ser comprovadas ou refutadas.
Contudo, mesmo refutada é uma fonte de conhecimentos sobre o problema estudado.

Uma hipótese não é enunciada em forma interrogativa nem em forma condicional, mas é uma afirmação, provisória,
que se faz, em forma de sentença declarativa.

206
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

A formulação da hipótese está relacionada com o problema da pesquisa e correlacionada com as variáveis, estabele-
cendo uma união entre teoria e realidade, com o sistema referencial e a investigação. Tal condição exige que seja elaborada
com evidências e sem ambiguidades.

VARIÁVEIS

Na pesquisa científica, as variáveis correlacionam-se em dois níveis: o conceitual e o empírico. Elas são os fatores ob-
serváveis ou mensuráveis de um fenômeno.
As variáveis são aspectos, propriedades, características individuais ou fatores observáveis ou mensuráveis de um fenômeno.
Podemos encontrar exemplos de variáveis em todas as áreas do conhecimento:
• na física: massa, peso, velocidade, energia, força, impulso, atrito, etc.
• nas ciências sociais: inteligência, classe social, sexo, salário, idade, ansiedade, preconceito, motivação, agressão, frus-
tração e muitas outras.
• na economia: custo, tempo, qualidade, produtividade, eficiência, desempenho, etc.
As variáveis podem ser classificadas de diversas maneiras. Uma dessas classificações é feita segundo a relação que
expressam, como mostra o quadro a seguir.

Como as variáveis se referem a aspectos observáveis ou mensuráveis, podem ser classificadas também segundo seu
tipo, como mostra o quadro abaixo.

207
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

As variáveis são propriedades que podem variar entre TIPOS DE AMOSTRAGEM


indivíduos, objetos ou coisas e outros.
Na pesquisa científica, a variável correlaciona-se em A busca de informações documentadas acompanha o
dois níveis: o conceitual e o empírico. No primeiro caso, desenvolvimento de toda a pesquisa, atendendo às neces-
enumeram-se as propriedades de interesse imediato para sidades objetivas da investigação.
o estudo e estabelecem-se as relações entre elas. No se- A Teoria das Amostragens constitui hoje um campo
gundo, a análise estabelece as associações existentes entre bastante desenvolvido e amplo da Estatística, com vários
as variáveis, tal como ocorreu nos dados ou fatos obser- elos, como a Teoria das Probabilidades e a Inferência Es-
vados, e deve-se verificar se essas relações se ajustam ao tatística.
modelo conceitual. Em nosso estudo, vamos nos restringir a uma visão
mais ampla e simplificada da Teoria das Amostragens.
POPULAÇÃO, AMOSTRA E AMOSTRAGEM Segundo essa visão, podemos distinguir dois tipos de
amostragem: a probabilística e a não-probabilística.
Quando se consideram todos os elementos de uma
população na pesquisa, realiza-se um censo. Quando se Amostragem probabilística
analisa uma parte desta população (amostra), realiza-se É aquela em que todos os elementos da população
uma pesquisa por amostragem. têm probabilidade conhecida, diferente de zero, de ser in-
cluídos na amostra, o que garante a representatividade da
População amostra em relação à população. Pode ser: aleatória, siste-
Na linguagem popular, o termo população refere-se ao mática, estratificada e por conglomerado.
número de habitantes de uma determinada região. A po- Amostragem Aleatória: também chamada de aleató-
pulação da cidade de Campinas, por exemplo. ria simples, é aquela na qual todos os elementos da popu-
Na Estatística, define-se população, ou universo, como lação têm a mesma probabilidade de ser escolhido como
o conjunto dos elementos que têm características comuns, elemento da amostra; os elementos da amostra são, por
que podem ser contadas, pesadas, medidas, ordenadas de isso, escolhidos por sorteio. Para que o sorteio possa ser
alguma forma e que sirvam de base para as propriedades
realizado, é necessário que os elementos da população es-
que se quer investigar.
tejam identificados.
Amostragem Sistemática: os elementos que cons-
Podemos, então, falar na população:
tituirão a amostra são escolhidos segundo um fator de
- formada pelos alunos matriculados na Universidade
repetição (um intervalo fixo). Sua aplicação requer que a
Anhembi Morumbi, no 1º semestre de 2004,
população esteja ordenada segundo um critério qualquer,
- constituída dos pregos fabricados por uma indústria
de modo que cada um de seus elementos possa ser unica-
no mês de agosto/2003,
mente identificado pela sua posição (uma lista que englo-
- composta pelos leitores da revista Veja,
- constituída pelos usuários do transporte público na be todos os seus elementos, uma fila de pessoas, etc.).
cidade de São Paulo. O fator de repetição é determinado dividindo-se o ta-
manho da população (N) pelo tamanho da amostra (n). O
Amostra primeiro elemento é escolhido por sorteio, dentre os ele-
É um subconjunto representativo da população, isto é, mentos da população que ocupam a posição igual ou infe-
a parte do todo que servirá de base para seu estudo. Apre- rior a N/n (fator de repetição); em seguida, selecionam-se
senta, portanto, as mesmas características da população da os elementos a cada intervalo N/n.
qual foi extraída. Amostragem Estratificada: quando a população está
dividida em estratos, a amostra também será estratificada,
Quando todos os elementos de uma população são de tal modo que o tamanho dos estratos na amostra seja
considerados na pesquisa, diz-se que foi realizado um cen- proporcional ao tamanho dos estratos correspondentes na
so; quando a análise é realizada com uma parte desta po- população.
pulação (amostra), diz-se que a pesquisa foi realizada por Amostragem por Conglomerado: consiste em sub-
amostragem (ou por amostras). dividir a população que se vai investigar em grupos fisi-
camente próximos, independentemente de eles serem ho-
Amostragem mogêneos ou não. Em tais conglomerados, são agregados
Refere-se aos procedimentos utilizados para a escolha os elementos populacionais com estreito contato físico
ou seleção de amostras em uma população. (como casas, quarteirões, bairros, cidades, regiões, etc.).
Tal procedimento pode considerar a probabilidade de
um elemento qualquer da população ser incluído na amos- Amostragem não-probabilística
tra ou privilegiar a inclusão de apenas alguns elementos. A escolha dos elementos da amostra é feita de forma
A escolha do tipo de amostragem a ser utilizado não-aleatória, justificadamente ou não. A escolha é inten-
vai depender muito do problema de pesquisa e de cional ou por conveniência, considerando as características
seus objetivos. particulares do grupo em estudo ou ainda o conhecimento
que o pesquisador tem daquilo que está investigando.

208
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Na amostragem não-probabilística também se podem Na BNCC, competência é definida como a mobilização


utilizar quotas, iguais ou diferentes. de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilida-
des (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e va-
Fonte lores para resolver demandas complexas da vida cotidiana,
http://www2.anhembi.br/html/ead01/metodologia_ do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.
pesq_cientifica_80/lu06/lo1/index.htm Ao definir essas competências, a BNCC reconhece que a
“educação deve afirmar valores e estimular ações que con-
tribuam para a transformação da sociedade, tornando-a
mais humana, socialmente justa e, também, voltada para
a preservação da natureza” (BRASIL, 2013), mostrando-se
BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR. também alinhada à Agenda 2030 da Organização das Na-
ções Unidas (ONU).
É imprescindível destacar que as competências gerais
da BNCC, apresentadas a seguir, inter-relacionam-se e des-
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi ho- dobram-se no tratamento didático proposto para as três
mologada pelo ministro da Educação, Mendonça Filho, etapas da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fun-
quarta-feira, 20 de dezembro de 20171. damental e Ensino Médio), articulando-se na construção de
conhecimentos, no desenvolvimento de habilidades e na
A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR formação de atitudes e valores, nos termos da LDB.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um docu- COMPETÊNCIAS GERAIS DA BASE NACIONAL CO-
mento de caráter normativo que define o conjunto orgâni- MUM CURRICULAR
co e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os
alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modali- 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente
dades da Educação Básica, de modo a que tenham assegu-
construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital
rados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento,
para entender e explicar a realidade, continuar aprenden-
em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional
do e colaborar para a construção de uma sociedade justa,
de Educação (PNE). Este documento normativo aplica-se
democrática e inclusiva.
exclusivamente à educação escolar, tal como a define o §
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abor-
1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
dagem própria das ciências, incluindo a investigação, a re-
Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), e está orientado pelos
flexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para
princípios éticos, políticos e estéticos que visam à formação
humana integral e à construção de uma sociedade justa, investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e
democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretri- resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas)
zes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN). com base nos conhecimentos das diferentes áreas.
Referência nacional para a formulação dos currículos 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas
dos sistemas e das redes escolares dos Estados, do Distrito e culturais, das locais às mundiais, e também participar de
Federal e dos Municípios e das propostas pedagógicas das práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
instituições escolares, a BNCC integra a política nacional 4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-
da Educação Básica e vai contribuir para o alinhamento de -motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e
outras políticas e ações, em âmbito federal, estadual e mu- digital –, bem como conhecimentos das linguagens artís-
nicipal, referentes à formação de professores, à avaliação, à tica, matemática e científica, para se expressar e partilhar
elaboração de conteúdos educacionais e aos critérios para informações, experiências, ideias e sentimentos em dife-
a oferta de infraestrutura adequada para o pleno desenvol- rentes contextos e produzir sentidos que levem ao enten-
vimento da educação. dimento mútuo.
Nesse sentido, espera-se que a BNCC ajude a superar a 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de
fragmentação das políticas educacionais, enseje o fortale- informação e comunicação de forma crítica, significativa,
cimento do regime de colaboração entre as três esferas de reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as
governo e seja balizadora da qualidade da educação. As- escolares) para se comunicar, acessar e disseminar infor-
sim, para além da garantia de acesso e permanência na es- mações, produzir conhecimentos, resolver problemas e
cola, é necessário que sistemas, redes e escolas garantam exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
um patamar comum de aprendizagens a todos os estudan- 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências cultu-
tes, tarefa para a qual a BNCC é instrumento fundamental. rais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que
Ao longo da Educação Básica, as aprendizagens essenciais lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo
definidas na BNCC devem concorrer para assegurar aos es- do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cida-
tudantes o desenvolvimento de dez competências gerais, dania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia,
que consubstanciam, no âmbito pedagógico, os direitos de consciência crítica e responsabilidade.
aprendizagem e desenvolvimento. 7. Argumentar com base em fatos, dados e infor-
1 Confira o documento na íntegra no link: mações confiáveis, para formular, negociar e defender
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_20dez_site.pdf. ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem

209
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

e promovam os direitos humanos, a consciência socioam- pelas características regionais e locais da sociedade, da cul-
biental e o consumo responsável em âmbito local, regional tura, da economia e dos educandos (BRASIL, 1996; ênfase
e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado adicionada).
de si mesmo, dos outros e do planeta. Essa orientação induziu à concepção do conhecimen-
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física to curricular contextualizado pela realidade local, social e
e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e individual da escola e do seu alunado, que foi o norte das
reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrí- diretrizes curriculares traçadas pelo Conselho Nacional de
tica e capacidade para lidar com elas. Educação (CNE) ao longo da década de 1990, bem como
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de confli- de sua revisão nos anos 2000. Em 2010, o CNE promul-
tos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o gou novas DCN, ampliando e organizando o conceito de
respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimen- contextualização como “a inclusão, a valorização das dife-
to e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos renças e o atendimento à pluralidade e à diversidade cul-
sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialida- tural resgatando e respeitando as várias manifestações de
des, sem preconceitos de qualquer natureza. cada comunidade”, conforme destaca o Parecer CNE/CEB
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, res- nº 7/20106. Em 2014, a Lei nº 13.005/20147 promulgou o
ponsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, to- Plano Nacional de Educação (PNE), que reitera a necessida-
mando decisões com base em princípios éticos, democráti- de de estabelecer e implantar, mediante pactuação inter-
cos, inclusivos, sustentáveis e solidários. federativa [União, Estados, Distrito Federal e Municípios],
diretrizes pedagógicas para a educação básica e a base na-
Os marcos legais que embasam a BNCC cional comum dos currículos, com direitos e objetivos de
aprendizagem e desenvolvimento dos(as) alunos(as) para
A Constituição Federal de 19885, em seu Artigo 205, cada ano do Ensino Fundamental e Médio, respeitadas as
reconhece a educação como direito fundamental compar- diversidades regional, estadual e local (BRASIL, 2014).
tilhado entre Estado, família e sociedade ao determinar que Nesse sentido, consoante aos marcos legais anteriores,
a educação, direito de todos e dever do Estado e da família,
o PNE afirma a importância de uma base nacional comum
será promovida e incentivada com a colaboração da socie-
curricular para o Brasil, com o foco na aprendizagem como
dade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
estratégia para fomentar a qualidade da Educação Básica
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
em todas as etapas e modalidades (meta 7), referindo-se
para o trabalho (BRASIL, 1988). Para atender a tais finalida-
a direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimen-
des no âmbito da educação escolar, a Carta Constitucional,
to. Em 2017, com a alteração da LDB por força da Lei nº
no Artigo 210, já reconhece a necessidade de que sejam
13.415/2017, a legislação brasileira passa a utilizar, conco-
“fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental,
mitantemente, duas nomenclaturas para se referir às fina-
de maneira a assegurar formação básica comum e respei-
to aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais” lidades da educação: Art. 35-A. A Base Nacional Comum
(BRASIL, 1988). Com base nesses marcos constitucionais, a Curricular definirá direitos e objetivos de aprendizagem do
LDB, no Inciso IV de seu Artigo 9º, afirma que cabe à União ensino médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional
estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito de Educação, nas seguintes áreas do conhecimento [...]
Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a Art. 36. § 1º A organização das áreas de que trata o
Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, caput e das respectivas competências e habilidades será
que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de feita de acordo com critérios estabelecidos em cada sis-
modo a assegurar formação básica comum (BRASIL, 1996; tema de ensino (BRASIL, 20178; ênfases adicionadas). Tra-
ênfase adicionada). ta-se, portanto, de maneiras diferentes e intercambiáveis
Nesse artigo, a LDB deixa claros dois conceitos deci- para designar algo comum, ou seja, aquilo que os estu-
sivos para todo o desenvolvimento da questão curricular dantes devem aprender na Educação Básica, o que inclui
no Brasil. O primeiro, já antecipado pela Constituição, es- tanto os saberes quanto a capacidade de mobilizá-los e
tabelece a relação entre o que é básico-comum e o que é aplicá-los.
diverso em matéria curricular: as competências e diretrizes
são comuns, os currículos são diversos. O segundo se refe- Os fundamentos pedagógicos da BNCC
re ao foco do currículo. Ao dizer que os conteúdos curricu-
lares estão a serviço do desenvolvimento de competências, Foco no desenvolvimento de competências O concei-
a LDB orienta a definição das aprendizagens essenciais, e to de competência, adotado pela BNCC, marca a discussão
não apenas dos conteúdos mínimos a ser ensinados. Essas pedagógica e social das últimas décadas e pode ser inferi-
são duas noções fundantes da BNCC. do no texto da LDB, especialmente quando se estabelecem
A relação entre o que é básico-comum e o que é di- as finalidades gerais do Ensino Fundamental e do Ensino
verso é retomada no Artigo 26 da LDB, que determina que Médio (Artigos 32 e 35). Além disso, desde as décadas fi-
os currículos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental nais do século XX e ao longo deste início do século XXI, o
e do Ensino Médio devem ter base nacional comum, a ser foco no desenvolvimento de competências tem orientado
complementada, em cada sistema de ensino e em cada es- a maioria dos Estados e Municípios brasileiros e diferentes
tabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida países na construção de seus currículos. É esse também o

210
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

enfoque adotado nas avaliações internacionais da Organi- da sociedade contemporânea. Isso supõe considerar as di-
zação para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ferentes infâncias e juventudes, as diversas culturas juvenis
(OCDE), que coordena o Programa Internacional de Avalia- e seu potencial de criar novas formas de existir.
ção de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), e da Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura Assim, a BNCC propõe a superação da fragmentação
(Unesco, na sigla em inglês), que instituiu o Laboratório radicalmente disciplinar do conhecimento, o estímulo
Latino-americano de Avaliação da Qualidade da Educação à sua aplicação na vida real, a importância do contexto
para a América Latina (LLECE, na sigla em espanhol). Ao para dar sentido ao que se aprende e o protagonismo do
adotar esse enfoque, a BNCC indica que as decisões pe- estudante em sua aprendizagem e na construção de seu
dagógicas devem estar orientadas para o desenvolvimen- projeto de vida.
to de competências. Por meio da indicação clara do que
os alunos devem “saber” (considerando a constituição de O PACTO INTERFEDERATIVO E A IMPLEMENTAÇÃO
conhecimentos, habilidades, atitudes e valores) e, sobretu- DA BNCC
do, do que devem “saber fazer” (considerando a mobiliza-
ção desses conhecimentos, habilidades, atitudes e valores Base Nacional Comum Curricular: igualdade, diver-
para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do sidade e equidade
pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho), a
explicitação das competências oferece referências para o No Brasil, um país caracterizado pela autonomia dos
fortalecimento de ações que assegurem as aprendizagens entes federados, acentuada diversidade cultural e profun-
essenciais definidas na BNCC. das desigualdades sociais, os sistemas e redes de ensino
O compromisso com a educação integral A socieda- devem construir currículos, e as escolas precisam elabo-
de contemporânea impõe um olhar inovador e inclusivo a rar propostas pedagógicas que considerem as necessida-
questões centrais do processo educativo: o que aprender, des, as possibilidades e os interesses dos estudantes, as-
para que aprender, como ensinar, como promover redes sim como suas identidades linguísticas, étnicas e culturais.
de aprendizagem colaborativa e como avaliar o aprendiza- Nesse processo, a BNCC desempenha papel fundamental,
do. No novo cenário mundial, reconhecer-se em seu con- pois explicita as aprendizagens essenciais que todos os es-
texto histórico e cultural, comunicar-se, ser criativo, analí- tudantes devem desenvolver e expressa, portanto, a igual-
tico-crítico, participativo, aberto ao novo, colaborativo, re- dade educacional sobre a qual as singularidades devem ser
siliente, produtivo e responsável requer muito mais do que consideradas e atendidas. Essa igualdade deve valer tam-
o acúmulo de informações. Requer o desenvolvimento de bém para as oportunidades de ingresso e permanência em
competências para aprender a aprender, saber lidar com a uma escola de Educação Básica, sem o que o direito de
informação cada vez mais disponível, atuar com discerni- aprender não se concretiza.
mento e responsabilidade nos contextos das culturas di- O Brasil, ao longo de sua história, naturalizou desigual-
gitais, aplicar conhecimentos para resolver problemas, ter dades educacionais em relação ao acesso à escola, à per-
autonomia para tomar decisões, ser proativo para identifi- manência dos estudantes e ao seu aprendizado. São am-
car os dados de uma situação e buscar soluções, conviver e plamente conhecidas as enormes desigualdades entre os
aprender com as diferenças e as diversidades. grupos de estudantes definidos por raça, sexo e condição
Nesse contexto, a BNCC afirma, de maneira explícita, socioeconômica de suas famílias. Diante desse quadro, as
o seu compromisso com a educação integral. Reconhece, decisões curriculares e didático-pedagógicas das Secreta-
assim, que a Educação Básica deve visar à formação e ao rias de Educação, o planejamento do trabalho anual das
desenvolvimento humano global, o que implica compreen- instituições escolares e as rotinas e os eventos do cotidiano
der a complexidade e a não linearidade desse desenvol- escolar devem levar em consideração a necessidade de su-
vimento, rompendo com visões reducionistas que privile- peração dessas desigualdades. Para isso, os sistemas e re-
giam ou a dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão des de ensino e as instituições escolares devem se planejar
afetiva. Significa, ainda, assumir uma visão plural, singular com um claro foco na equidade, que pressupõe reconhecer
e integral da criança, do adolescente, do jovem e do adul- que as necessidades dos estudantes são diferentes.
to – considerando-os como sujeitos de aprendizagem – e De forma particular, um planejamento com foco na
promover uma educação voltada ao seu acolhimento, re- equidade também exige um claro compromisso de rever-
conhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas singula- ter a situação de exclusão histórica que marginaliza grupos
ridades e diversidades. – como os povos indígenas originários e as populações das
Além disso, a escola, como espaço de aprendizagem e comunidades remanescentes de quilombos e demais afro-
de democracia inclusiva, deve se fortalecer na prática coer- descendentes – e as pessoas que não puderam estudar ou
citiva de não discriminação, não preconceito e respeito às completar sua escolaridade na idade própria. Igualmente,
diferenças e diversidades. Independentemente da duração requer o compromisso com os alunos com deficiência, re-
da jornada escolar, o conceito de educação integral com o conhecendo a necessidade de práticas pedagógicas inclu-
qual a BNCC está comprometida se refere à construção in- sivas e de diferenciação curricular, conforme estabelecido
tencional de processos educativos que promovam aprendi- na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei
zagens sintonizadas com as necessidades, as possibilidades nº 13.146/2015).
e os interesses dos estudantes e, também, com os desafios

211
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Base Nacional Comum Curricular e currículos Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola, Educação
a Distância), atendendo-se às orientações das Diretrizes
A BNCC e os currículos se identificam na comunhão de Curriculares Nacionais.
princípios e valores que, como já mencionado, orientam a No caso da Educação Escolar Indígena, por exemplo,
LDB e as DCN. Dessa maneira, reconhecem que a educação isso significa assegurar competências específicas com base
tem um compromisso com a formação e o desenvolvimen- nos princípios da coletividade, reciprocidade, integralida-
to humano global, em suas dimensões intelectual, física, de, espiritualidade e alteridade indígena, a serem desen-
afetiva, social, ética, moral e simbólica. Além disso, BNCC volvidas a partir de suas culturas tradicionais reconhecidas
e currículos têm papéis complementares para assegurar nos currículos dos sistemas de ensino e propostas peda-
as aprendizagens essenciais definidas para cada etapa da gógicas das instituições escolares. Significa também, em
Educação Básica, uma vez que tais aprendizagens só se uma perspectiva intercultural, considerar seus projetos
materializam mediante o conjunto de decisões que carac- educativos, suas cosmologias, suas lógicas, seus valores e
terizam o currículo em ação. São essas decisões que vão princípios pedagógicos próprios (em consonância com a
adequar as proposições da BNCC à realidade local, consi- Constituição Federal, com as Diretrizes Internacionais da
derando a autonomia dos sistemas ou das redes de ensino OIT – Convenção 169 e com documentos da ONU e Unesco
e das instituições escolares, como também o contexto e as sobre os direitos indígenas) e suas referências específicas,
características dos alunos. tais como: construir currículos interculturais, diferenciados
Essas decisões, que resultam de um processo de en- e bilíngues, seus sistemas próprios de ensino e aprendiza-
volvimento e participação das famílias e da comunidade, gem, tanto dos conteúdos universais quanto dos conheci-
referem-se, entre outras ações, a: mentos indígenas, bem como o ensino da língua indígena
• contextualizar os conteúdos dos componentes curri- como primeira língua.
culares, identificando estratégias para apresentá-los, repre- É também da alçada dos entes federados responsá-
sentá-los, exemplificá-los, conectá-los e torná-los significa- veis pela implementação da BNCC o reconhecimento da
tivos, com base na realidade do lugar e do tempo nos quais experiência curricular existente em seu âmbito de atuação.
as aprendizagens estão situadas; Nas duas últimas décadas, mais da metade dos Estados e
• decidir sobre formas de organização interdisciplinar muitos Municípios vêm elaborando currículos para seus
dos componentes curriculares e fortalecer a competência respectivos sistemas de ensino, inclusive para atender às
pedagógica das equipes escolares para adotar estratégias especificidades das diferentes modalidades. Muitas escolas
mais dinâmicas, interativas e colaborativas em relação à públicas e particulares também acumularam experiências
gestão do ensino e da aprendizagem; de desenvolvimento curricular e de criação de materiais de
• selecionar e aplicar metodologias e estratégias didá- apoio ao currículo, assim como instituições de ensino su-
tico-pedagógicas diversificadas, recorrendo a ritmos dife- perior construíram experiências de consultoria e de apoio
renciados e a conteúdos complementares, se necessário, técnico ao desenvolvimento curricular. Inventariar e avaliar
para trabalhar com as necessidades de diferentes grupos toda essa experiência pode contribuir para aprender com
de alunos, suas famílias e cultura de origem, suas comuni- acertos e erros e incorporar práticas que propiciaram bons
dades, seus grupos de socialização etc.; resultados.
• conceber e pôr em prática situações e procedimentos Por fim, cabe aos sistemas e redes de ensino, assim
para motivar e engajar os alunos nas aprendizagens; como às escolas, em suas respectivas esferas de autono-
• construir e aplicar procedimentos de avaliação for- mia e competência, incorporar aos currículos e às propos-
mativa de processo ou de resultado que levem em conta os tas pedagógicas a abordagem de temas contemporâneos
contextos e as condições de aprendizagem, tomando tais que afetam a vida humana em escala local, regional e
registros como referência para melhorar o desempenho da global, preferencialmente de forma transversal e integra-
escola, dos professores e dos alunos; dora. Entre esses temas, destacam-se: direitos da criança
• selecionar, produzir, aplicar e avaliar recursos didá- e do adolescente (Lei nº 8.069/199016), educação para o
ticos e tecnológicos para apoiar o processo de ensinar e trânsito (Lei nº 9.503/199717), educação ambiental (Lei nº
aprender; 9.795/1999, Parecer CNE/CP nº 14/2012 e Resolução CNE/
• criar e disponibilizar materiais de orientação para os CP nº 2/201218), educação alimentar e nutricional (Lei nº
professores, bem como manter processos permanentes de 11.947/200919), processo de envelhecimento, respeito e
formação docente que possibilitem contínuo aperfeiçoa- valorização do idoso (Lei nº 10.741/200320), educação em
mento dos processos de ensino e aprendizagem; direitos humanos (Decreto nº 7.037/2009, Parecer CNE/
• manter processos contínuos de aprendizagem sobre CP nº 8/2012 e Resolução CNE/CP nº 1/201221), educação
gestão pedagógica e curricular para os demais educadores, das relações étnico-raciais e ensino de história e cultura
no âmbito das escolas e sistemas de ensino. afro-brasileira, africana e indígena (Leis nº 10.639/2003 e
11.645/2008, Parecer CNE/CP nº 3/2004 e Resolução CNE/
Essas decisões precisam, igualmente, ser consideradas CP nº 1/200422), bem como saúde, vida familiar e social,
na organização de currículos e propostas adequados às di- educação para o consumo, educação financeira e fiscal, tra-
ferentes modalidades de ensino (Educação Especial, Edu- balho, ciência e tecnologia e diversidade cultural (Parecer
cação de Jovens e Adultos, Educação do Campo, Educação CNE/CEB nº 11/2010 e Resolução CNE/CEB nº 7/201023).

212
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Na BNCC, essas temáticas são contempladas em habilidades dos componentes curriculares, cabendo aos sistemas de ensi-
no e escolas, de acordo com suas especificidades, tratá-las de forma contextualizada.

BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E REGIME DE COLABORAÇÃO

Legitimada pelo pacto interfederativo, nos termos da Lei nº 13.005/ 2014, que promulgou o PNE, a BNCC depende do
adequado funcionamento do regime de colaboração para alcançar seus objetivos. Sua formulação, sob coordenação do
MEC, contou com a participação dos Estados do Distrito Federal e dos Municípios, depois de ampla consulta à comunidade
educacional e à sociedade, conforme consta da apresentação do presente documento. Com a homologação da BNCC, as
redes de ensino e escolas particulares terão diante de si a tarefa de construir currículos, com base nas aprendizagens essen-
ciais estabelecidas na BNCC, passando, assim, do plano normativo propositivo para o plano da ação e da gestão curricular
que envolve todo o conjunto de decisões e ações definidoras do currículo e de sua dinâmica.
Embora a implementação seja prerrogativa dos sistemas e das redes de ensino, a dimensão e a complexidade da tarefa
vão exigir que União, Estados, Distrito Federal e Municípios somem esforços. Nesse regime de colaboração, as responsabi-
lidades dos entes federados serão diferentes e complementares, e a União continuará a exercer seu papel de coordenação
do processo e de correção das desigualdades. A primeira tarefa de responsabilidade direta da União será a revisão da for-
mação inicial e continuada dos professores para alinhá-las à BNCC.
A ação nacional será crucial nessa iniciativa, já que se trata da esfera que responde pela regulação do ensino superior,
nível no qual se prepara grande parte desses profissionais. Diante das evidências sobre a relevância dos professores e de-
mais membros da equipe escolar para o sucesso dos alunos, essa é uma ação fundamental para a implementação eficaz da
BNCC. Compete ainda à União, como anteriormente anunciado, promover e coordenar ações e políticas em âmbito federal,
estadual e municipal, referentes à avaliação, à elaboração de materiais pedagógicos e aos critérios para a oferta de infraes-
trutura adequada para o pleno desenvolvimento da educação. Por se constituir em uma política nacional, a implementação
da BNCC requer, ainda, o monitoramento pelo MEC em colaboração com os organismos nacionais da área – CNE, Consed
e Undime.
Em um país com a dimensão e a desigualdade do Brasil, a permanência e a sustentabilidade de um projeto como a
BNCC dependem da criação e do fortalecimento de instâncias técnico-pedagógicas nas redes de ensino, priorizando aque-
les com menores recursos, tanto técnicos quanto financeiros. Essa função deverá ser exercida pelo MEC, em parceria com
o Consed e a Undime, respeitada a autonomia dos entes federados. A atuação do MEC, além do apoio técnico e financeiro,
deve incluir também o fomento a inovações e a disseminação de casos de sucesso; o apoio a experiências curriculares
inovadoras; a criação de oportunidades de acesso a conhecimentos e experiências de outros países; e, ainda, o fomento de
estudos e pesquisas sobre currículos e temas afins.

ESTRUTURA
DA BNCC

Em conformidade com os fundamentos pedagógicos apresentados na Introdução deste documento, a BNCC está es-
truturada de modo a explicitar as competências que os alunos devem desenvolver ao longo de toda a Educação Básica e
em cada etapa da escolaridade, como expressão dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento de todos os estudantes.
Na próxima página, apresenta-se a estrutura geral da BNCC para as três etapas da Educação Básica (Educação Infantil,
Ensino Fundamental e Ensino Médio), já com o detalhamento referente às etapas da Educação Infantil e do Ensino Funda-
mental, cujos documentos são ora apresentados. O detalhamento relativo ao Ensino Médio comporá essa estrutura poste-
riormente, quando da aprovação do documento referente a essa etapa.
Também se esclarece como as aprendizagens estão organizadas em cada uma dessas etapas e se explica a composição
dos códigos alfanuméricos criados para identificar tais aprendizagens.

213
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

COMPETÊNCIAS GERAIS DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR

Ao longo da Educação Básica – na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio –, os alunos devem
desenvolver as dez competências gerais que pretendem assegurar, como resultado do seu processo de aprendizagem e
desenvolvimento, uma formação humana integral que visa à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

214
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Portanto, na Educação Infantil, o quadro de cada campo de experiências se organiza em três colunas – relativas aos
grupos por faixa etária –, nas quais estão detalhados os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Em cada linha da
coluna, os objetivos definidos para os diferentes grupos referem-se a um mesmo aspecto do campo de experiências, con-
forme ilustrado a seguir.

215
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS”

Como é possível observar no exemplo apresentado, cada objetivo de aprendizagem e desenvolvimento é identificado
por um código alfanumérico cuja composição é explicada a seguir:

Segundo esse critério, o código EI02TS01 refere-se ao primeiro objetivo de aprendizagem e desenvolvimento proposto
no campo de experiências “Traços, sons, cores e formas” para as crianças bem pequenas (de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11
meses).
Cumpre destacar que a numeração sequencial dos códigos alfanuméricos não sugere ordem ou hierarquia entre os
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento.

216
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

217
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Respeitando as muitas possibilidades de organização do conhecimento escolar, as unidades temáticas definem um


arranjo dos objetos de conhecimento ao longo do Ensino Fundamental adequado às especificidades dos diferentes com-
ponentes curriculares. Cada unidade temática contempla uma gama maior ou menor de objetos de conhecimento, assim
como cada objeto de conhecimento se relaciona a um número variável de habilidades, conforme ilustrado a seguir:

218
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

CIÊNCIAS – 1º ANO

As habilidades expressam as aprendizagens essenciais que devem ser asseguradas aos alunos nos diferentes contex-
tos escolares. Para tanto, elas são descritas de acordo com uma determinada estrutura, conforme ilustrado no exemplo a
seguir, de História (EF06HI14).

Os modificadores devem ser entendidos como a explicitação da situação ou condição em que a habilidade deve ser
desenvolvida, considerando a faixa etária dos alunos. Ainda assim, as habilidades não descrevem ações ou condutas espe-
radas do professor, nem induzem à opção por abordagens ou metodologias.
Essas escolhas estão no âmbito dos currículos e dos projetos pedagógicos, que, como já mencionado, devem ser ade-
quados à realidade de cada sistema ou rede de ensino e a cada instituição escolar, considerando o contexto e as caracte-
rísticas dos seus alunos.
Nos quadros que apresentam as unidades temáticas, os objetos de conhecimento e as habilidades definidas para cada
ano (ou bloco de anos), cada habilidade é identificada por um código alfanumérico cuja composição é a seguinte:

219
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Segundo esse critério, o código EF67EF01, por exemplo, refere-se à primeira habilidade proposta em Educação Física
no bloco relativo ao 6º e 7º anos, enquanto o código EF04MA10 indica a décima habilidade do 4º ano de Matemática.
Vale destacar que o uso de numeração sequencial para identificar as habilidades de cada ano ou bloco de anos não
representa uma ordem ou hierarquia esperada das aprendizagens. A progressão das aprendizagens, que se explicita na
comparação entre os quadros relativos a cada ano (ou bloco de anos), pode tanto estar relacionada aos processos cogni-
tivos em jogo – sendo expressa por verbos que indicam processos cada vez mais ativos ou exigentes – quanto aos objetos
de conhecimento – que podem apresentar crescente sofisticação ou complexidade –, ou, ainda, aos modificadores – que,
por exemplo, podem fazer referência a contextos mais familiares aos alunos e, aos poucos, expandir-se para contextos mais
amplos.
Também é preciso enfatizar que os critérios de organização das habilidades descritos na BNCC (com a explicitação dos
objetos de conhecimento aos quais se relacionam e do agrupamento desses objetos em unidades temáticas) expressam um
arranjo possível (dentre outros). Portanto, os agrupamentos propostos não devem ser tomados como modelo obrigatório
para o desenho dos currículos. A forma de apresentação adotada na BNCC tem por objetivo assegurar a clareza, a precisão
e a explicitação do que se espera que todos os alunos aprendam na Educação Básica, fornecendo orientações para a ela-
boração de currículos em todo o País, adequados aos diferentes contextos.

Base Nacional Comum Curricular como norteadora dos currículos e suas competências Gerais

A seguir apresentamos uma síntese das principais questões pertinentes a este campo de ação, lembrando da necessi-
dade de se aprofundarem os estudos sobre os temas abordados para o desempenho competente do Especialista na Escola.

Cadernos se Orientações para a Organização do Ciclo da Alfabetização-SEE, organizados pelo Centro de Alfa-
betização, Leitura e Escrita/ CEALE/UFMG. Esta síntese foi elaborada com o objetivo de antecipar o conteúdo destes seis
cadernos fundamentais para o processo de alfabetização e letramento dos alunos. Eles contêm as diretrizes teórico-meto-
dológicas deste processo e devem ser estudados na íntegra e utilizados nas práticas pedagógicas nos primeiros anos do
Ensino Fundamental.
Caderno 1 – “Ciclo Inicial de Alfabetização” (hoje Ciclo da Alfabetização): a reorganização do Ensino Fundamental no
Estado; a ênfase na alfabetização; por que e para que ciclos de alfabetização.

220
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Caderno 2 – “Alfabetização”: o que ensinar no Ciclo • Eixos Temáticos – São os conteúdos de ensino que es-
Inicial de Alfabetização; que habilidades ou capacidades truturam e identificam a área do conhecimento como com-
devem ser desenvolvidas; qual sua distribuição ao longo ponente curricular. São as unidades estruturadas e os tó-
do Ciclo. picos que irão constituir o Conteúdo Básico Comum (CBC)
Caderno 3 – “Preparando a Escola e a sala de aula”: para todas as propostas curriculares das Escolas Estaduais
a organização da Escola para o trabalho de alfabetização; de Minas Gerais.
critérios e instrumentos para seleção de alfabetizadores; o
planejamento da rotina e das atividades; a seleção de mé- Temas Complementares:
todos e livros didáticos. • Temas Complementares – Além dos Conteúdos Bá-
Destacamos, nesse caderno, itens de fundamental re- sicos Comuns (CBC), foram sugeridos também os Temas
levância, como: Complementares, com o objetivo de introduzir novos tó-
- Planejamento; picos, dentro do Projeto Pedagógico da Escola, de acordo
- O perfil dos professores; com as potencialidades e interesses das turmas. Esse pro-
- Quadro de atividades pedagógicas; jeto pode prever também atividades curriculares que bus-
- O ambiente alfabetizador; quem a supressão de possíveis deficiências de conteúdos
- Estabelecimento das rotinas semanais e diárias; específicos (por exemplo, aulas de revisão).
- Lugar da discussão metodológica nas decisões perti-
nentes à alfabetização (Métodos); Orientações Pedagógicas:
- O Construtivismo, Teoria Construtivista; • Orientações Pedagógicas – (O. P.) As Orientações Pe-
- A escolha e a utilização de livros didáticos de alfabe- dagógicas compreendem sugestões de recursos didáticos
tização; e estratégias adequadas de ensino. São parte integrante e
- Integração das famílias com o trabalho desenvolvido fundamental da proposta dos CBC. Sugerem que as meto-
pelas Escolas na alfabetização. dologias utilizadas nas salas de aula, pelos professores, de-
Caderno 4 – “Acompanhando e avaliando”: diagnós- vem priorizar papel ativo do aluno, estimulando-o à leitura,
tico e avaliação dos alunos; avaliação da escola; respostas
à análise crítica e à reflexão.
para os problemas de ensino e de aprendizagem detecta-
A implantação e a implementação dos CBC nas Escolas
dos; instrumentos para responder a essas perguntas.
incluem um sistema de apoio aos professores que, além do
- Revisão do núcleo conceitual da avaliação;
Curso de Formação Continuada, contam ainda com o Cen-
- Ênfase em procedimentos de diagnóstico e avaliação;
tro de Referência Virtual do Professor (CRV) o qual pode
- Ênfase na aprendizagem dos alunos;
ser acessado a partir do sítio da Secretaria de Estado de
- Ênfase no trabalho desenvolvido nas Escolas;
Educação (http:/www.educacao.mg.gov.br).
- Organização de reagrupamentos de alunos;
No CRV, encontram-se orientações didáticas, suges-
- Instrumentos relevantes;
- Observação e Registros; tões de planejamentos de aula, roteiros de atividades, fó-
- Provas operatórias; - Autoavaliação; rum de discussões, textos didáticos, experiências simula-
- Portifólio (Trajetória). das, vídeos educacionais, além de um banco de itens para
Caderno 5 - “Apresentação”: as avaliações da aprendizagem dos alunos. Acessando o sí-
- Matriz de referência para avaliação diagnóstica; tio do CRV, os professores das Escolas mineiras terão mais
- Instrumento de Avaliação Diagnóstica; recursos para sua prática docente, o que possibilita melhor
- Sugestão para uso do instrumento. ensino e mais aprendizagem aos alunos, contribuindo para
Caderno 6 - “Reafirmar a importância do planejamen- a redução das diferenças educacionais existentes entre as
to na organização do trabalho em sala de aula”: várias regiões de Minas Gerais.
- Articula as ações de planejamento às ações avaliati-
vas, tendo como ponto de partida o diagnóstico das capa- Projetos da Subsecretaria de Desenvolvimento da
cidades linguísticas dos alunos; Educação Básica
- Define propostas de intervenção.
Conhecer os projetos desenvolvidos pela Secretaria de
Os Conteúdos Básicos Comuns-CBC Estado de Educação, especialmente os da área pedagógica
e os que estão sendo implementados em sua Escola é de
Os CBC estão fundamentados nas Diretrizes Curricu- fundamental importância para o trabalho do Especialista.
lares Nacionais e nos Parâmetros Curriculares Nacionais e Você está acompanhando qual ou quais? Em que turmas?
se destinam aos Anos Finais do Ensino Fundamental e ao Como a execução destes projetos está ajudando a melho-
Ensino Médio das Escolas Estaduais de Minas Gerais. Estes rar o desempenho dos alunos? Estas e outras questões de-
cadernos, distribuídos em todas as Escolas, contêm as dire- vem ser sempre objeto de reflexão do Especialista que tem
trizes curriculares a serem desenvolvidas pelos professores como foco a aprendizagem dos alunos.
nas respectivas turmas a partir do planejamento anual de a) Programas e Projetos da Superintendência de Edu-
ensino. Os CBC estão assim organizados: cação Infantil e Fundamental
Eixos Temáticos (Temas e Subtemas, Tópicos e Subtó- - Programa de Intervenção Pedagógica – Alfabetização
picos de Estudo, Habilidades Básicas e seu detalhamento): no Tempo Certo;

221
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

- Aceleração da Aprendizagem no Norte de Minas, Je- I - a carga horária mínima anual será de oitocentas
quitinhonha, Mucuri, Rio Doce e Região Metropolitana de horas para o ensino fundamental e para o ensino médio,
Belo Horizonte – Projeto “Acelerar para Vencer” (PAV); distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo
- Projeto Escola de Tempo Integral; trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames
- Projeto Desempenho e Qualificação dos Professores finais, quando houver;
- Pró-Fundamental – Projeto “Mão na .................................................................................
Massa” – Ciências e Matemática – Anos Iniciais; - Pro- § 1º A carga horária mínima anual de que trata o inci-
jeto Escola Viva, Comunidade Ativa. so I do caput deverá ser ampliada de forma progressiva,
b) Programas e Projetos da Superintendência de Ensi- no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, devendo
no Médio e Profissional os sistemas de ensino oferecer, no prazo máximo de cinco
- Programa de Educação Profissional – PEP - Ampliação anos, pelo menos mil horas anuais de carga horária, a partir
de oferta de Educação Profissional; de 2 de março de 2017.
- Melhoria da Qualidade e Eficiência do Ensino Médio § 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de
- Universalização e Melhoria do Ensino educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular,
Médio – PROMÉDIO; adequado às condições do educando, conforme o inciso VI
- Desenvolvimento Profissional dos Professores – PDP do art. 4o.” (NR)
– Grupo de Desenvolvimento
Profissional; Art. 2º O art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
- Formação Inicial para o Trabalho – FIT; 1996, passa a vigorar com as seguintes alterações:
- Escolas-referência; - PEAS. “Art. 26. ...........................................................
c) Projetos da Superintendência de Modalidades e Te- .................................................................................
máticas Especiais de Ensino § 2º O ensino da arte, especialmente em suas expres-
- Incluir sões regionais, constituirá componente curricular obrigató-
- Manuelzão vai à Escola. rio da educação básica.
Compete ao Especialista assistir, orientar, articular, .................................................................................
coordenar, acompanhar e avaliar os projetos desenvolvidos § 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do
nas turmas sob sua responsabilidade. sexto ano, será ofertada a língua inglesa.
.................................................................................
Fonte § 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério
SECRETARIA NACIONAL DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Sub- dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo
secretaria de Desenvolvimento da Educação Básica. Supe- os temas transversais de que trata o caput.
rintendência de Educação Infantil e Fundamental Diretoria ..................................................................................
de Ensino Fundamental § 10. A inclusão de novos componentes curriculares de
caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular de-
penderá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e
de homologação pelo Ministro de Estado da Educação.” (NR)
LEI NO 13.415, DE 16 DE FEVEREIRO DE 2017.
Art. 3º A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
passa a vigorar acrescida do seguinte art. 35-A:
“Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular defini-
LEI Nº 13.415, DE 16 DE FEVEREIRO DE 2017. rá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio,
conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação,
Altera as Leis nos 9.394, de 20 de dezembro de 1996, nas seguintes áreas do conhecimento:
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, I - linguagens e suas tecnologias;
e 11.494, de 20 de junho 2007, que regulamenta o Fundo II - matemática e suas tecnologias;
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e III - ciências da natureza e suas tecnologias;
de Valorização dos Profissionais da Educação, a Consolida- IV - ciências humanas e sociais aplicadas.
ção das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei § 1º A parte diversificada dos currículos de que trata
no 5.452, de 1o de maio de 1943, e o Decreto-Lei no 236, o caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, de-
de 28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei no 11.161, de 5 de verá estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular
agosto de 2005; e institui a Política de Fomento à Imple- e ser articulada a partir do contexto histórico, econômico,
mentação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral. social, ambiental e cultural.
§ 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: de educação física, arte, sociologia e filosofia.
§ 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática
Art. 1º O art. 24 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de será obrigatório nos três anos do ensino médio, assegu-
1996, passa a vigorar com as seguintes alterações: rada às comunidades indígenas, também, a utilização das
“Art. 24. ........................................................... respectivas línguas maternas.

222
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 4º Os currículos do ensino médio incluirão, obriga- § 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de for-
toriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar mação com ênfase técnica e profissional considerará:
outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferen- I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor
cialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade de produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo
oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino. parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos
§ 5º A carga horária destinada ao cumprimento da Base estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem profis-
Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil sional;
e oitocentas horas do total da carga horária do ensino mé- II - a possibilidade de concessão de certificados inter-
dio, de acordo com a definição dos sistemas de ensino. mediários de qualificação para o trabalho, quando a for-
§ 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho mação for estruturada e organizada em etapas com termi-
esperados para o ensino médio, que serão referência nos nalidade.
processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional § 7º A oferta de formações experimentais relacionadas
Comum Curricular. ao inciso V do caput, em áreas que não constem do Catá-
§ 7º Os currículos do ensino médio deverão conside- logo Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua
rar a formação integral do aluno, de maneira a adotar um continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conse-
trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida lho Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inser-
e para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e so- ção no Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de
cioemocionais. cinco anos, contados da data de oferta inicial da formação.
§ 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de § 8º A oferta de formação técnica e profissional a que
avaliação processual e formativa serão organizados nas re- se refere o inciso V do caput, realizada na própria insti-
des de ensino por meio de atividades teóricas e práticas, tuição ou em parceria com outras instituições, deverá ser
provas orais e escritas, seminários, projetos e atividades aprovada previamente pelo Conselho Estadual de Educa-
on-line, de tal forma que ao final do ensino médio o edu- ção, homologada pelo Secretário Estadual de Educação e
cando demonstre: certificada pelos sistemas de ensino.
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos § 9º As instituições de ensino emitirão certificado com
que presidem a produção moderna; validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino
II - conhecimento das formas contemporâneas de lin- médio ao prosseguimento dos estudos em nível superior
guagem.” ou em outros cursos ou formações para os quais a conclu-
são do ensino médio seja etapa obrigatória.
Art. 4º O art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de § 10. Além das formas de organização previstas no art.
1996, passa a vigorar com as seguintes alterações: 23, o ensino médio poderá ser organizado em módulos e
adotar o sistema de créditos com terminalidade específica.
“Art. 36. O currículo do ensino médio será composto § 11. Para efeito de cumprimento das exigências cur-
pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários for- riculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão
mativos, que deverão ser organizados por meio da oferta reconhecer competências e firmar convênios com institui-
de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância ções de educação a distância com notório reconhecimento,
para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de en- mediante as seguintes formas de comprovação:
sino, a saber: I - demonstração prática;
I - linguagens e suas tecnologias; II - experiência de trabalho supervisionado ou outra
II - matemática e suas tecnologias; experiência adquirida fora do ambiente escolar;
III - ciências da natureza e suas tecnologias; III - atividades de educação técnica oferecidas em ou-
IV - ciências humanas e sociais aplicadas; tras instituições de ensino credenciadas;
V - formação técnica e profissional. IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocu-
§ 1º A organização das áreas de que trata o caput e das pacionais;
respectivas competências e habilidades será feita de acor- V - estudos realizados em instituições de ensino nacio-
do com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino. nais ou estrangeiras;
I - (revogado); VI - cursos realizados por meio de educação a distância
II - (revogado); ou educação presencial mediada por tecnologias.
................................................................................. § 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo
§ 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser de escolha das áreas de conhecimento ou de atuação pro-
composto itinerário formativo integrado, que se traduz na fissional previstas no caput.” (NR)
composição de componentes curriculares da Base Nacio-
nal Comum Curricular - BNCC e dos itinerários formativos, Art. 5º O art. 44 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
considerando os incisos I a V do caput. 1996, passa a vigorar acrescido do seguinte § 3o:
.................................................................................. “Art. 44. ...........................................................
§ 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade ..................................................................................
de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do en- § 3º O processo seletivo referido no inciso II conside-
sino médio cursar mais um itinerário formativo de que trata rará as competências e as habilidades definidas na Base
o caput. Nacional Comum Curricular.” (NR)

223
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

Art. 6º O art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de do Ministério da Educação, bem como à definição da forma
1996, passa a vigorar com as seguintes alterações: de distribuição dos programas relativos à educação básica,
“Art. 61. ........................................................... profissional, tecnológica e superior e a outras matérias de
................................................................................. interesse da educação.
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos § 4º As inserções previstas no caput destinam-se ex-
respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos clusivamente à veiculação de mensagens do Ministério da
de áreas afins à sua formação ou experiência profissional, Educação, com caráter de utilidade pública ou de divulga-
atestados por titulação específica ou prática de ensino em ção de programas e ações educacionais.” (NR)
unidades educacionais da rede pública ou privada ou das
corporações privadas em que tenham atuado, exclusiva- Art. 11. O disposto no § 8o do art. 62 da Lei no 9.394,
mente para atender ao inciso V do caput do art. 36; de 20 de dezembro de 1996, deverá ser implementado no
V - profissionais graduados que tenham feito comple- prazo de dois anos, contado da publicação da Base Nacio-
mentação pedagógica, conforme disposto pelo Conselho
nal Comum Curricular.
Nacional de Educação.
........................................................................” (NR)
Art. 12. Os sistemas de ensino deverão estabelecer cro-
nograma de implementação das alterações na Lei no 9.394,
Art. 7º O art. 62 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
1996, passa a vigorar com as seguintes alterações: de 20 de dezembro de 1996, conforme os arts. 2o, 3o e 4o
“Art. 62. A formação de docentes para atuar na edu- desta Lei, no primeiro ano letivo subsequente à data de
cação básica far-se-á em nível superior, em curso de licen- publicação da Base Nacional Comum Curricular, e iniciar o
ciatura plena, admitida, como formação mínima para o processo de implementação, conforme o referido crono-
exercício do magistério na educação infantil e nos cinco grama, a partir do segundo ano letivo subsequente à data
primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em ní- de homologação da Base Nacional Comum Curricular.
vel médio, na modalidade normal.
.................................................................................. Art. 13. Fica instituída, no âmbito do Ministério da Edu-
§ 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes cação, a Política de Fomento à Implementação de Escolas
terão por referência a Base Nacional Comum Curricular.” de Ensino Médio em Tempo Integral.
(NR) Parágrafo único. A Política de Fomento de que trata o
caput prevê o repasse de recursos do Ministério da Educa-
Art. 8º O art. 318 da Consolidação das Leis do Trabalho ção para os Estados e para o Distrito Federal pelo prazo de
- CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio dez anos por escola, contado da data de início da imple-
de 1943, passa a vigorar com a seguinte redação: mentação do ensino médio integral na respectiva escola,
“Art. 318. O professor poderá lecionar em um mes- de acordo com termo de compromisso a ser formalizado
mo estabelecimento por mais de um turno, desde que não entre as partes, que deverá conter, no mínimo:
ultrapasse a jornada de trabalho semanal estabelecida le- I - identificação e delimitação das ações a serem finan-
galmente, assegurado e não computado o intervalo para ciadas;
refeição.” (NR) II - metas quantitativas;
III - cronograma de execução físico-financeira;
Art. 9º O caput do art. 10 da Lei no 11.494, de 20 de IV - previsão de início e fim de execução das ações e da
junho de 2007, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso conclusão das etapas ou fases programadas.
XVIII:
“Art. 10. ...........................................................
Art. 14. São obrigatórias as transferências de recursos
.................................................................................
da União aos Estados e ao Distrito Federal, desde que cum-
XVIII - formação técnica e profissional prevista no inci-
pridos os critérios de elegibilidade estabelecidos nesta Lei
so V do caput do art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezem-
e no regulamento, com a finalidade de prestar apoio fi-
bro de 1996.
........................................................................” (NR) nanceiro para o atendimento de escolas públicas de ensino
médio em tempo integral cadastradas no Censo Escolar da
Art. 10. O art. 16 do Decreto-Lei no 236, de 28 de feve- Educação Básica, e que:
reiro de 1967, passa a vigorar com as seguintes alterações: I - tenham iniciado a oferta de atendimento em tem-
“Art. 16. ........................................................... po integral a partir da vigência desta Lei de acordo com
................................................................................. os critérios de elegibilidade no âmbito da Política de Fo-
§ 2º Os programas educacionais obrigatórios deverão mento, devendo ser dada prioridade às regiões com me-
ser transmitidos em horários compreendidos entre as sete nores índices de desenvolvimento humano e com resul-
e as vinte e uma horas. tados mais baixos nos processos nacionais de avaliação
§ 3º O Ministério da Educação poderá celebrar convê- do ensino médio; e
nios com entidades representativas do setor de radiodifu- II - tenham projeto político-pedagógico que obedeça
são, que visem ao cumprimento do disposto no caput, para ao disposto no art. 36 da Lei no 9.394, de 20 dezembro
a divulgação gratuita dos programas e ações educacionais de 1996.

224
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

§ 1º A transferência de recursos de que trata o caput Parágrafo único. Os conselhos a que se refere o caput
será realizada com base no número de matrículas cadastra- analisarão as prestações de contas dos recursos repassados
das pelos Estados e pelo Distrito Federal no Censo Escolar no âmbito desta Lei, formularão parecer conclusivo acerca
da Educação Básica, desde que tenham sido atendidos, de da aplicação desses recursos e o encaminharão ao FNDE.
forma cumulativa, os requisitos dos incisos I e II do caput.
§ 2º A transferência de recursos será realizada anual- Art. 20. Os recursos financeiros correspondentes ao
mente, a partir de valor único por aluno, respeitada a dis- apoio financeiro de que trata o parágrafo único do art. 13
ponibilidade orçamentária para atendimento, a ser definida correrão à conta de dotação consignada nos orçamentos
por ato do Ministro de Estado da Educação. do FNDE e do Ministério da Educação, observados os li-
§ 3º Os recursos transferidos nos termos do caput po- mites de movimentação, de empenho e de pagamento da
derão ser aplicados nas despesas de manutenção e desen- programação orçamentária e financeira anual.
volvimento previstas nos incisos I, II, III, V e VIII do caput
do art. 70 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, das Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publi-
escolas públicas participantes da Política de Fomento. cação.
§ 4º Na hipótese de o Distrito Federal ou de o Estado
ter, no momento do repasse do apoio financeiro suple- Art. 22. Fica revogada a Lei no 11.161, de 5 de agosto
mentar de que trata o caput, saldo em conta de recursos de 2005.
repassados anteriormente, esse montante, a ser verificado
no último dia do mês anterior ao do repasse, será subtraído Brasília, 16 de fevereiro de 2017; 196o da Independên-
do valor a ser repassado como apoio financeiro suplemen- cia e 129o da República.
tar do exercício corrente.
§ 5º Serão desconsiderados do desconto previsto no § MICHEL TEMER
4o os recursos referentes ao apoio financeiro suplementar, José Mendonça Bezerra Filho
de que trata o caput, transferidos nos últimos doze meses. Este texto não substitui o publicado no DOU de
17.2.2017
Art. 15. Os recursos de que trata o parágrafo único do
Questões
art. 13 serão transferidos pelo Ministério da Educação ao
Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação - FNDE,
01- (PROFNIT/2017) A metodologia científica está
independentemente da celebração de termo específico.
dentro de duas grandes áreas que se completam. São elas:
A) Antropologia e Epistemologia
Art. 16. Ato do Ministro de Estado da Educação dispo-
B) Metodologia Aplicada e Antropologia
rá sobre o acompanhamento da implementação do apoio
C) Metodologia Teórica e Metodologia Aplicada
financeiro suplementar de que trata o parágrafo único do D) Epistemologia e Metodologia Aplicada
art. 13. E) Antropologia e Metodologia Teórica
Art. 17. A transferência de recursos financeiros prevista 02 - (PROFNIT/2017) Dentre os tipos de conhecimen-
no parágrafo único do art. 13 será efetivada automatica- to estudados, indique aquele mais caracterizado pela in-
mente pelo FNDE, dispensada a celebração de convênio, formalidade
acordo, contrato ou instrumento congênere, mediante de- A) empírico
pósitos em conta-corrente específica. B) religioso
Parágrafo único. O Conselho Deliberativo do FNDE C) filosófico
disporá, em ato próprio, sobre condições, critérios opera- D) místico
cionais de distribuição, repasse, execução e prestação de E) científico
contas simplificada do apoio financeiro.
03- (PROFNIT/2017) A respeito da disciplina Metodo-
Art. 18. Os Estados e o Distrito Federal deverão for- logia Científica, marque a alternativa INCORRETA abaixo:
necer, sempre que solicitados, a documentação relativa à A) Em virtude de os procedimentos metodológicos
execução dos recursos recebidos com base no parágrafo variarem de uma área da ciência para outra, diferenciados
único do art. 13 ao Tribunal de Contas da União, ao FNDE, por seus diferentes objetos de estudo, torna-se inviável a
aos órgãos de controle interno do Poder Executivo federal adoção da ideia de que o Método da Ciência, em sua forma
e aos conselhos de acompanhamento e controle social. geral, pode ser considerado universal.
B) Refere-se ao estudo das características dos métodos
Art. 19. O acompanhamento e o controle social sobre empregados nas diferentes ciências. Assegura a existência
a transferência e a aplicação dos recursos repassados com de etapas comuns a todos esses métodos.
base no parágrafo único do art. 13 serão exercidos no âm- C) A Metodologia Científica teve sua origem nas di-
bito dos Estados e do Distrito Federal pelos respectivos ferentes formas de pensar sobre o mundo e a existên-
conselhos previstos no art. 24 da Lei no 11.494, de 20 de cia do homem apresentadas por filósofos renomados,
junho de 2007. como Descartes.

225
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E METODOLÓGICOS

D) Considera que o Método da Ciência , em sua forma comiam verduras, legumes, frutas, caminhavam diariamen-
geral, pode ser considerado universal. te, bebiam muito líquido. Portanto esta pesquisa apresenta
E) Assegura a existência de etapas comuns a todos os características:
métodos empregados nas diferentes ciências. A) Indutiva
B) Familiar
04- (PROFNIT/2017) Leia as afirmações a seguir: C) Dedutiva
I . Metodologia científica é o estudo dos métodos de D) Histórica
conhecer e de buscar o conhecimento; E) Documental
II. Metodologia científica é o estudo dos caminhos e
dos instrumentos usados para se fazer ciência. 09 - (PROFNIT/2017) Uma pesquisa só será conside-
III Metodologia significa, na origem do termo, estudo rada científica:
dos caminhos, dos instrumentos usados para se fazer ciência. A) se for objeto de investigação planejada, desenvolvi-
da e redigida conforme as normas metodológicas consa-
Das alternativas acima: gradas pela ciência.
A) Todas as alternativas são verdadeiras B) se for usado apenas o processo que envolva os fatos
B) Apenas a I é verdadeira e sua interpretação.
C) Apenas a III é verdadeira C) se gerar conhecimentos, para a aplicação prática, di-
D) Todas as alternativas são falsas rigidos à solução de problemas específicos.
E) Apenas a II é verdadeira D) se for motivada basicamente pela curiosidade.
E) se remeter para as contribuições de diferentes au-
05 - (PROFNIT/2017) Ao estudarmos os diferentes tores sobre o tema, atentando para as fontes secundárias.
tipos de conhecimento, foi possível reconhecer que o co-
nhecimento científico possui características marcantes, 10- (PROFNIT/2017) Existem várias formas de classi-
dentre as quais podemos citar como corretas: ficação da pesquisa científica. São duas formas clássicas de
A) Irracionalidade e sistemático. classificação do ponto de vista da sua natureza:
B) Metodológico e irracional. A) básica e circunstancial
C) Metodológico e não sistêmico. B) básica e exploratória
D) Sistêmico e sem método. C) aplicada e dialética
E) Racionalidade e sistemático. D) aplicada e conceitual
E) básica e aplicada
06 - (PROFNIT/2017) A afirmativa: “os sujeitos antigos
usavam um determinado chá para curar dor de cabeça”, é Gabarito
um exemplo de: 01 - D
A) Conhecimento Científico. 02 - A
B) Conhecimento Filosófico. 03 - A
C) Conhecimento Teológico. 04 - A
D) Conhecimento Empírico. 05 - E
E) Conhecimento Teológico-Filosófico. 06 – D
07 - C
07- (PROFNIT/2017) Assinale APENAS as afirmações 08 – C
que contêm características pertinentes ao conhecimento 09 – A
científico. 10 – E
I.- Lida com fatos
II. - Contingente, pois suas hipóteses têm a sua vera-
cidade ou falsidade conhecida através da experimentação
III.- Sistemático, pois o saber é ordenado logicamente
IV - Infalível em virtude de ser definitivo, absoluto ou final.

A) As afirmativas I e II estão corretas


B) As afirmativas II,III e IV estão corretas
C) As afirmativas I, II e III estão corretas
D) As afirmativas II e IV estão corretas
E) As afirmativas I, II e IV estão corretas

08- (PROFNIT/2017) Observe e depois responda:


qual o tipo de método utilizado neste contexto? Pesqui-
sas comprovam que a alimentação e os exercícios físicos
aumentam o número de vida das pessoas. Para chegar a
esta conclusão os pesquisadores observaram pessoas que

226
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
A produção artística em diversas épocas, diferentes povos, países e culturas. .............................................................................. 01
A identidade e a diversidade cultural brasileira. ......................................................................................................................................... 13
A Arte como Linguagem: as Linguagens das artes visuais, audiovisuais, música, teatro e dança. ......................................... 16
Diálogo da Arte brasileira com a Arte internacional. ................................................................................................................................ 35
Museus, teatros e espaços expositivos. .......................................................................................................................................................... 38
Pluralidade cultural: códigos estéticos e artísticos de diferentes culturas. ...................................................................................... 39
Interculturalidade: a questão da diversidade cultural no ensino de Arte. ........................................................................................ 48
Arte e Educação: o papel da arte na educação; o professor como mediador entre a arte e o educando. ......................... 53
O ensino e a aprendizagem em arte: o fazer artístico, a apreciação estética e o conhecimento histórico da produção
artística em sala de aula. ...................................................................................................................................................................................... 58
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). ................................................................................................................................................... 61
Base Nacional Comum Curricular. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017.................................................................................. 68
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
O que é cultura? Nada mais é do que um sistema de atitu-
A PRODUÇÃO ARTÍSTICA EM DIVERSAS des, valores e significados partilhados nas formas incorporadas,
expressas e simbólicas. A política, as construções, as festas, entre
ÉPOCAS, DIFERENTES POVOS, PAÍSES E
outros elementos, podem se vistos como exemplos de mani-
CULTURAS. festações culturais. Através dos intercâmbios socioculturais que
nos apropriamos do produto cultural. Mesmo assim, é comple-
xo classificarmos os tipos de cultura. A cultura popular começou
Todos os seres humanos possuem a capacidade de criar a ser avaliada e meditada no final do século XVIII, onde acabou
símbolos. Tais símbolos se expressam em práticas culturais por adquirir distintos significados teóricos e políticos.
diversas, como nos idiomas, costumes, culinária, modos de Atualmente com a globalização, a vida começou a ser me-
vestir, crenças, criações tecnológicas e arquitetônicas, e tam- diada pelo mercado global onde a massificação das identidades
bém nas linguagens artísticas (teatro, música, artes visuais, se tornou quase que inevitável. Os processos da comunicação
dança, literatura, circo, etc.). Dessa forma, as políticas cultu- se modificaram, assim como o tempo, graças à internet este
rais guiadas por um conceito amplo de cultura, devem man- processo de globalização criou identidades compartilhadas de
ter um olhar atento às linguagens artísticas, mas também consumidores que fazem uso dos mesmos bens e serviços.
reconhecer e valorizar igualmente outras possibilidades de Arte e cultura estão totalmente ligadas, pois é através da
criação simbólica, expressas em novas artísticas e em modos arte que conseguimos diferenciar, apreciar e adquirir conheci-
de vida, saberes e fazeres. mentos das diferenças entre uma cultura e outra, visto que na
A arte, como um processo de produção simbólica, é um arte são impressas sentimentos, formas e cores que dizem mui-
espaço rico para questionamentos acerca da comunicação to sobre a pessoa que a fez, que por sua vez possui uma história
e da cultura. Daí podermos pensar as manifestações con- enriquecida por sua cultura, apanhada por uma sociedade, e
temporâneas da arte como fenômeno cultural complexo, que o diferencia das demais, tornando a arte um produto único
na medida em que indicam a possibilidade de interessantes em cada canto do mundo, sendo uma força de expressão livre
experimentações nos processos comunicativos, como cam- para todos e por todos.
po de circulação de valores e signos. O uso que artistas vêm
fazendo de materiais pouco convencionais e de mídias como Arte e comunicação
fotografia, vídeo e as chamadas novas tecnologias chama a As pessoas comunicam-se com seus semelhantes de vá-
atenção por possibilitar arranjos singulares com a técnica e rias formas. Uma delas é a linguagem Artística, que é tão antiga
um diálogo inusitado com nossa contemporaneidade. Por quanto o homem.
meio dessas operações, é possível revisitar a relação que Na Pré-História, há mais ou menos quarenta mil anos,
mantemos com a própria técnica, promover uma releitura de quando o homem pintava cenas de caça e de guerra, símbolos
discursos e práticas sociais ligados à constituição de nossos de fecundidade, de vida e de morte, através dos traços ou man-
modos de vida, jogos de poder e criar novas condições de chas esquemáticas, já estava sugerindo o primeiro sistema de
Possibilidade para a produção de diferença na atualidade. comunicação. Você percebeu como a Arte é antiga?
As pinturas que os homens pré-históricos faziam nas pa-
A ligação entre arte e cultura. redes das cavernas chamavam-se Pintura Rupestre que quer
O que é arte? Arte nada mais é do que uma elocução dizer gravado ou traçado na rocha.
que o homem começou a utilizar desde o começo da civili-
zação, onde são manipulados sons, movimentos, cores, tex-
turas onde se utiliza um preceito de códigos para expressar
e comunicar significados, que pode ser envolvida por todos.
Este é um método que aproxima as pessoas, tornando pos-
sível o reconhecimento das semelhanças e das diferenças
vinculadas pelos produtos artísticos com as suas respectivas
visões estéticas.
Não é apenas por meio do vocábulo que as pessoas se
comunicam. Muito do que conhecemos pela maioria das
pessoas, épocas e povos, se dá pelo conhecimento por meio
de poesias, pinturas, danças, musicas, filmes, moda, teatro
entre outros. Estes componentes culturais despertam em
nós uma sensação agradável ou não, ajuda a edificar o nosso
senso crítico, a descobrir o que gostamos ou não, julgar e
apreciar as diversas culturas através de suas formas artísticas.
Arte é uma linguagem constituída por códigos, sinais e
representações ligadas a sentimentos, ideias e materiais com
significados, faz parte de qualquer cultura e possui uma fun-
ção estética e criativa muito importante, pois constrói e ofe-
rece novos rumos as formas de expressão através de seus
conteúdos portadores de diversas significações.

1
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Você observou como as duas imagens acima, o primei-
ro feito na Europa, há cerca de 40.000 anos, e o segundo
feito no Brasil há mais ou menos 10.000 anos, parecem tão
semelhante? Pelo seu traçado e estilo percebemos como
era a vida dos nossos antepassados. Os homens desse pe-
ríodo usavam técnicas rudimentares e até mesmo as pró-
prias mãos como pincel para executar o trabalho. Retira-
vam a tinta do barro ou das folhas e frutas da natureza. Veja
como o homem buscava soluções inteligentes, dentro de
suas condições, para tentar se comunicar. Percebeu com a
Arte é importante, como registro histórico, para conhecer-
mos a História da Humanidade?

Desde a Pré-História o homem mostrava sua necessi-


dade de comunicar-se através de outras linguagens. An-
tes mesmo de falar ou escrever, ele dançava e desenhava;
por isso, podemos afirmar que a primeira linguagem com
a qual o homem se comunicou foi a Linguagem Artística.

Você já observou, que a todo instante, nossa atenção é


atraída por alguma imagem?

2
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes

Buscando mostrar o que via, pensava, sentia, conhecia


e imaginava o artista, desde a Antiguidade, comunicava-se
através das suas obras, das mais variadas formas. E nos vá-
rios momentos históricos e nos fatos importantes ocorridos
no mundo, o artista inovava a comunicação visual, dando-
-lhe características, tendências e corpo de obra de arte.

3
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes

4
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
A arte pode ser compreendida como um dos subsiste-
mas simbólicos da cultura – o sistema estético – onde estão
refletidos os significados subjacentes à vida social, presen-
tes também em outros campos: na religião, no trabalho, nas
relações de parentesco e poder. Assim entendida, a arte é
uma das formas de conhecer e interpretar o mundo. A ampla
gama de expressões artísticas existentes no planeta resulta
da diversidade de concepções que os seres humanos têm
sobre como são e funcionam as coisas.
As instituições culturais, reconhecendo essa diversida-
de, lançam um novo olhar sobre o debate referente à valo-
ração simbólica da produção artística. Tanto as instituições
responsáveis pelo patrimônio cultural, como as que cuidam
das artes contemporâneas, começam a construir um modelo
menos rígido para classificar e tratar essa produção. As fron-
teiras que pareciam separar o tradicional do contemporâneo
se desfazem. O próprio conceito de contemporaneidade
passa a levar em consideração as manifestações populares.
Mesmo porque essas manifestações nunca foram estáticas,
Mas o importante é que você perceba que cada artista, na ao contrário, as tradições sempre evoluem e se modificam,
sua época e da sua maneira, criou imagens cheias de signifi- acompanhando o movimento da história. Os bens simbóli-
cado e simbolismo. Como diz Ernest Fischer: “O homem é por cos, tomados em conjunto, agora fazem parte de um projeto
princípio um mágico, e como mágico transforma o mundo”. de política cultural que considera a multiplicidade de expres-
sões como a referência institucional.
A pintura corporal dos índios brasileiros exemplifica
essa fusão de arte e patrimônio cultural. Ela é, ao mesmo
tempo, expressão estética, sinalização ritualística, identifica-
ção de grupo étnico, diferenciação sexual, representação de
poder, proteção corporal e mimetismo. É uma manifestação
cultural de entendimento simples para os que dela com-
partilham, integrada harmoniosamente à comunidade e ao
meio-ambiente. No entanto, é complexa para os estudiosos,
pois abrange um universo fabuloso de variações, conforme
a origem do grupo, refletindo um sistema de códigos que
remontam a tempos imemoriais.
Na história do mundo ocidental, contudo, o campo das
artes adquire autonomia e se fragmenta. Na atualidade, a
cada dia que passa as fronteiras que separam as artes se
tornam mais flexíveis, mas ainda cabe às instituições cultu-
rais compreender as especificidades de cada uma e iden-
tificar suas carências e potencialidades. E instituir políticas
de fomento, investimento e financiamento que garantam,
em parceria com a iniciativa privada e não-governamental,
a sustentação dos processos de criação, produção, distribui-
ção, difusão, consumo e preservação dos bens simbólicos.
Não cabe aos governos ou às empresas conduzir a pro-
dução da cultura, seja ela erudita ou popular, impondo-lhe
hierarquias e sistemas de valores. Para evitar que isso ocorra,
o Estado deve permanentemente reconhecer e apoiar práti-
cas, conhecimentos e tecnologias sociais, desenvolvidos em
todo o país, promovendo o direito à emancipação, à auto-
Usando a madeira, o osso, o barro, a pedra ou o metal, determinação e a liberdade de indivíduos e grupos. Cabe ao
o homem faz estátuas e esculturas, modela formas, cria ima- poder público estabelecer condições para que as popula-
gens, como num passe de mágica. Com o lápis e pincel, ele ções que compõem a sociedade brasileira possam criar e ex-
desenha e pinta imagens que sua mente criativa elabora e pressar livremente a partir de suas visões de mundo, modos
sua pessoa vive. Ele transforma em obras a comunicação do de vida, suas línguas, expressões simbólicas e manifestações
seu pensamento elaborado e reproduzido, não somente pela estéticas. O Estado deve garantir ainda o pleno acesso aos
palavra ou pela escrita, mas pela forma com a qual ele melhor meios, acervos e manifestações simbólicas de outras popu-
se identifica e o torna feliz, que é a obra de arte, ou seja, a sua lações que formam o repertório da humanidade.
Composição Visual. Educação e formação artística e cultural

5
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
A capacidade de criar é inerente a todos os seres hu- As TVs e rádios comerciais vendem sua audiência (o pú-
manos e se manifesta desde a tenra infância. No entanto, blico) para os anunciantes. Sua estratégia dirige-se à capta-
para que seja desenvolvida e potencializada, a criatividade ção de público e à manutenção da atenção desse público.
depende, além do esforço individual, de um contínuo pro- Elas vivem disso, que é o que tem valor em seu modelo de
cesso e formação, informação e aperfeiçoamento. negócio. Para tanto, sua programação visa, basicamente, o
O campo das linguagens desenvolve-se com base na entretenimento. As TVs e rádios públicas devem caminhar
experiência técnica, pesquisa e acesso aos meios de pro- em outra direção. Não podem ser caixas de ressonância
dução e difusão. O fato de alguns artistas populares terem das demandas do mercado e tampouco sujeitar-se a pro-
conseguido desenvolver suas habilidades sem qualquer mover os governantes. Precisam ser independentes dos
apoio não deve encorajar a crença na espontaneidade ou governos e do mercado. Sua programação deve basear-se
elogio à precariedade. O desenvolvimento das artes e da na experimentação de linguagens, na discussão de ideias
cultura requer apoio e instituições formadoras e media- e na busca da autonomia e da emancipação de ouvintes e
doras. Os artistas e técnicos da produção cultural neces- telespectadores. Em suma, o negócio da televisão e das rá-
sitam permanentemente de recursos para sua especializa- dios públicas não é o entretenimento, é cultura, educação,
ção e atualização. Dessa forma, é preciso avaliar, valorizar informação e liberdade.
e requalificar assiduamente as instituições de capacitação A TVs e rádios públicas são estratégicas para que a po-
existentes, bem como construir articulações eficazes com pulação tenha acesso aos bens culturais e ao patrimônio
o sistema educacional. simbólico do país em toda sua diversidade. Para tanto elas
Em 1985 ocorreu a separação entre os ministérios da precisam aprofundar a relação com a comunidade, que se
Educação e da Cultura, que até então era tratada como traduz no maior controle social sobre sua gestão, no esta-
apêndice da política educacional. Criar um ministério ex- belecimento de canais permanentes dedicados à expressão
clusivo, no momento da transição para a democracia, sig- das demandas dos diversos grupos sociais, na adoção de
nificou reconhecer a importância da cultura para a cons- um modelo aberto à participação de produtores indepen-
trução da cidadania e para a proteção, promoção e valori- dentes e na criação de um sistema de financiamento que
zação da diversidade cultural e da criatividade brasileiras. articule o compromisso de Municípios, Estados e União.
No entanto, esse ganho também trouxe perdas. Educação Organicamente ligadas à sociedade, podem ampliar seu
e Cultura praticamente deram-se as costas e a separação leque de prestação de serviços, conjugando programações
administrativa acabou gerando uma separação conceitual. para diferentes meios (como a telefonia celular e a internet)
Perdeu a Educação, com políticas dissociadas da dimensão e espaços educativo-culturais, como escolas, universidades,
da arte, da criatividade e da diversidade cultural; perdeu a centros culturais, sindicatos e associações comunitárias.
Cultura, com políticas baseadas numa visão exclusivamen- A cultura digital, disseminada pela rede mundial de
te comercial, voltadas para o entretenimento e esquecidas computadores e tecnologias afins, muda significativamente
de seu papel na promoção da cidadania. a forma como a gestão cultural deve encarar seus instru-
Cabe, agora, buscar o reencontro da Educação e da mentos e finalidades. De um lado, os novos meios criam a
Cultura, sem que para isso seja necessário retornar à si- possibilidade de conservar e facilitar o acesso a amplos e
tuação administrativa anterior. As políticas culturais e valiosos acervos culturais. De outro, são apropriados por
educacionais podem construir uma agenda comum e co- grupos e indivíduos como seu lugar de criação, de modo
laborativa que qualifique a educação artística, implante a que o mundo digital se torna ele mesmo um novo campo
educação patrimonial, contribua para o incentivo ao livro onde formas de expressão e articulação das identidades
e à leitura e recoloque a cultura na vida cotidiana de pro- são inventadas a todo o momento.
fessores e estudantes, abrindo espaço para que os mestres A chamada exclusão digital diminuiu significativamen-
da cultura popular possam transmitir a riqueza dos seus te nos últimos anos no país, embora permaneça significa-
saberes. tiva. No entanto, o principal desafio para a política pública
Democratização da comunicação e cultura digital voltada à cultura digital não se esgota nos programas de
As atividades relacionadas à informação estão adqui- inclusão. Diz respeito também à articulação institucional
rindo importância crescente no mundo atual. A produção, necessária à promoção do livre uso das ferramentas tecno-
difusão e acesso às informações são requisitos básicos lógicas na experiência cultural, por meio de programas de
para o exercício das liberdades civis, políticas, econômicas, capacitação, sem deixar de lado o apoio ao desenvolvimen-
sociais e culturais. O monopólio dos meios de comunica- to das linguagens de expressão e a oferta de conhecimen-
ção (mídias) representa uma ameaça à democracia e aos tos de domínio público por meio das plataformas digitais.
direitos humanos, principalmente no Brasil, onde a televi- A convergência digital representa o ambiente contem-
são e o rádio são os equipamentos de produção e distri- porâneo de circulação da cultura, que deve ser observado
buição de bens simbólicos mais disseminados, e por isso sob uma perspectiva atenta à distribuição das tecnologias
cumprem função relevante na vida cultural. e às suas formas de utilização, bem como ao desenvolvi-
mento de conteúdos, digitalização de acervos públicos e
incentivos aos projetos experimentais.

6
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Valorização do patrimônio cultural e proteção aos dos por um ou outro grupo humano. Todos concordam
conhecimentos dos povos e comunidades tradicionais que Jerusalém tem uma grande significação para a his-
tória da humanidade. Mas os valores ali contidos variam
A preservação do patrimônio material e imaterial re- conforme o olhar das diferentes religiões, podendo ser até
presenta um dos pontos centrais de atuação das políticas mesmo antagônicos se interpretados por católicos, muçul-
culturais. Na base dessa atuação está uma noção de patri- manos ou judeus.
mônio que busca contemplar, atualizar e valorizar a per- Todas essas complexas questões levam a concluir que
cepção histórica e artística da diversidade cultural, étnica e os espaços de memória, como os museus, arquivos e bi-
social do país, bem como seus documentos arqueológicos bliotecas, têm uma grande importância social e política.
e etnológicos. Porém, historicamente, as políticas de patri- A memória coletiva necessita de suportes para manter-se
mônio cultural vinculam-se às estratégias de legitimação disponível e em permanente ressignificação.
do poder, ou seja, à necessidade que tem o Estado de se Ao longo do tempo, percebemos que a existência do
apresentar como o representante do interesse geral da so- homem não se limita à simples obtenção dos meios que
ciedade, de todos os seus membros, independentemente garantem a sua sobrevivência material. Visitando uma ex-
de classe social, gênero, etnia, etc. Para cumprir a função pressiva gama de civilizações, percebemos que existem
legitimadora, as políticas de patrimônio costumam cons- importantes manifestações humanas que tentaram falar
truir uma identidade coletiva dos habitantes de determi- de coisas que visivelmente extrapolam a satisfação de ne-
nado território (nacional, subnacional, local) a fim de unir cessidades imediatas. Em geral, vemos por de trás desses
os indivíduos em torno de valores que, supostamente, são eventos uma clara tentativa de expressar um modo de se
comuns a todos. Para que essa identidade exerça eficaz- encarar a vida e o mundo.
mente o papel legitimador ela deve ser singular (referir-se Paulatinamente, essa miríade de expressões passou a
somente a um território), imutável (ou seja, anti-histórica) ser reconhecida como sendo “arte”. Para muitos, este con-
e unívoca (portadora de um mesmo significado para todos ceito abraça toda e qualquer manifestação que pretenda
os membros da sociedade). ou permita nos revelar a forma do homem encarar o mun-
do que o cerca. Contudo, o lugar ocupado pela arte pode
A pergunta que se coloca é a seguinte: como pode o ser bastante difuso e nem sempre cumpre as mesmas
poder público proteger e promover a diversidade cultural funções para diferentes culturas. Não por acaso, sabemos
existente no território sob sua jurisdição, se ele necessi- que, entre alguns povos, o campo da expressão artística
ta, para legitimar-se, de construir uma identidade única e esteve atrelado a questões políticas ou religiosas.
comum no âmbito desse mesmo território? Uma alterna- Na opinião de alguns estudiosos desse assunto, o
tiva que se apresenta é considerar como coletiva a soma campo artístico nos revela os valores, costumes, crenças
das diversas identidades grupais, mas, para isso, é preciso e modos de agir de um povo. Ao detectar um conjunto
abandonar o objetivo de construir uma identidade oficial de evidências perceptíveis na obra, o intérprete da arte se
e ser capaz de operar em um campo no qual podem ocor- esforça na tarefa de relacionar estes vestígios com algum
rer tensões e conflitos entre os diversos movimentos de traço do período em que foi concebida. A partir dessa
identidade. Além disso, o poder público tem de estar apa- ação, a arte passa a ser interpretada com um olhar históri-
relhado para processar as múltiplas demandas dos atores co, que se empenha em decifrar aquilo que o artista disse
sociais que lutam pelo reconhecimento de suas identida- através da obra.
des. Enfim, trata-se de reconhecer que existe unidade na Com isso, podemos concluir que a arte é um mero re-
diversidade, e diversidade na unidade. flexo do tempo em que o artista vive? Esse tipo de con-
clusão é possível, mas não podemos acabar vendo a arte
Uma outra questão, também complexa, refere-se à como uma manifestação presa aos valores de um tempo.
possibilidade de haver distintas interpretações sobre os Em outras palavras, é complicado simplesmente acreditar
significados do patrimônio cultural. A distinção entre pa- que a arte do século XVI tem somente a função de expri-
trimônio material e imaterial ajuda a compreender esse mir aquilo que a sociedade desse mesmo século pensava.
fenômeno. É fato que o patrimônio material – particular- Sem dúvida, o estudo histórico do campo artístico é bem
mente o constituído de “cal e pedra” – tende a ser dura- mais amplo e complexo do que essa mera relação.
douro, variando pouco através do tempo. O patrimônio Estudando a História da Arte, o pesquisador ou estu-
imaterial, por sua vez, constituído pelos saberes, celebra- dante irá perceber que uma manifestação de clara evidên-
ções e formas de expressão, tende a modificar-se mais ra- cia “artística” pode não ser encarada como tal pelo seu
pidamente e a adquirir novos formatos. Contudo, o que autor ou sociedade em que surge. Além disso, ao estabe-
importa mesmo são os valores e significados atribuídos lecermos um olhar atento à obra de um único artista, po-
pelas coletividades a esse patrimônio, seja ele material ou demos reconhecer que os seus trabalhos não só refletem
imaterial. Desse ponto de vista é possível dizer que todo o tempo em que viveu, mas também demonstram a sua
patrimônio cultural é, em última instância, imaterial, por- relação particular, o diálogo singular que estabeleceu com
que afinal significados e valores são coisas imateriais. No seu tempo.
entanto, os significados podem variar quando interpreta-

7
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
O conceito de Arte ao longo dos tempos
Exatamente como o respirar, o caminhar, o amar e o traba-
lhar, a criação artística é inerente ao ser humano e é tão velha
como a própria humanidade.
Os primeiros rabiscos que uma criança garatuja num pa-
pel ou numa parede do seu quarto, não são resultantes de ne-
nhuma educação específica, mas sim de uma necessidade de
expressão absolutamente natural à criança e que se materializa
através dos materiais que o seu meio ambiente lhe proporcio-
na: um lápis, um pedaço de giz ou uma rolha queimada.
Seja como for, as suas primeiras manifestações artísticas
hesitantes, parecem reproduzir a experiência percorrida pela
humanidade, que desde que o é, pintou, cantou, construiu. In-
clusivamente, os povos hoje em dia mais marginalizados do
mundo, carenciados dos recursos económicos e técnicos mais
elementares, continuam a dançar, a enfeitar-se, a entalhar, a
esculpir, ou seja, a manifestar o seu sentido muito próprio da
beleza.
À medida que o progresso social foi desenvolvendo no-
vas técnicas e materiais, foram-se criando novos métodos de
expressão.
A arquitetura, a pintura e a escultura são as três principais
formas de expressão da atividade artística. O seu conhecimen-
to, ainda que rudimentar, faz aumentar o prazer estético que
qualquer obra de arte proporciona.
As finalidades e os motivos da arte são infinitos; depen-
dem do homem e do seu tempo, da sua visão do mundo e da
sociedade, e da sua relação com os outros.
Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa
a Arte é a atividade que supõe a criação de sensações ou de
estados de espírito, de carácter estético, carregados de vivên-
cia pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo
de prolongamento ou renovação. A capacidade criadora do
artista de expressar ou transmitir tais sensações ou sentimen-
tos.
A Arte Antiga e a descoberta da escrita:
Evolução do conceito “Arte” Com o desenvolvimento da expressão escrita, os artis-
Em linhas gerais, a atividade artística sofreu e continua a tas passaram a criar com textos. Os desenhos, ilustrações,
sofrer grandes influências tecnológicas ao longo da história da explicações e doutrinas tornaram-se parte do universo
humanidade. A arte está tão ligada aos avanços tecnológicos de produção de arte. Podemos ver isso nos pergaminhos
quanto qualquer outra área do conhecimento humano. À me- egípcios, por exemplo.
dida que novas formas de trabalho surgem, a atividade artísti- Nas civilizações egípcias, na Grécia antiga e na civili-
ca sofre uma evolução considerável. zação romana, a evolução do pensamento humano, pas-
sa a tratar as artes com maior refinamento, mais técnicas
A Arte Pré-histórica: produtivas foram empregadas nas construções. Nesse
Os desenhadores e pintores do Neolítico não detinham momento era comum o uso de pinturas em porcelanas,
mais que barro, tonalidades diferentes de areia, musgo, ceras desenho em papiros, gravações em couro, tecelagem com
de plantas e uma ou outra tinta natural para produzir os seus
fibras tingidas, frescos nas paredes, relevos e frisos arqui-
desenhos em cavernas e rochas. Depois, na idade da pedra
tetônicos, além da escultura em mármore típica da arte
lascada (no período Paleolítico), junta-se a esse universo de
meios de produção a sabedoria de criar pequenas peças, fer- grega e romana. Na China, já se empregava o uso do papel
ramentas para raspar, cavar e esculpir objetos. e da tinta nanquim com pincéis de bambu.
Mais tarde, percebendo a diferenciação entre os materiais
naturais: “uns são duros e por isso devem ser usados para furar
e raspar os mais moles”, as madeiras passam a ser percebidas e
usadas segundo suas propriedades de rigidez, flexibilidade, to-
nalidade e resistência. O mesmo ocorre com o carvão, o barro
e as ligas de metal. A partir daí a produção artística passa a ser
feita em peças monumentais e também pequenas esculturas
que conseguiram chegar aos dias de hoje, para nosso deleite.

8
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes

A Arte da Idade Média:


A Igreja Católica assume neste período um papel de
extrema importância filtrando todas as produções cientí-
ficas e culturais, fazendo com que muitas obras artísticas
tenham temática religiosa.
A Arte na Idade Média caracterizando-se essencial-
mente na igreja, teve também ela a sua quota-parte da
evolução, seja na, Arquitetura, na Literatura ou na Música.
A nível Arquitetônico na Idade Média posso destacar
os edifícios Góticos que passaram a ser mais altos, mas me-
nos extensos. As paredes passaram a ser menos espessas
e mais altas, por isso, houve uma diminuição do número
de contrafortes utilizados. Devido a isto, as paredes eram
rasgadas por inúmeras e enormes janelas e vitrais que, ao
contrário do estilo Românico, deram uma maior luminosi-
dade e claridade ao interior dos edifícios.

9
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes

A Idade Moderna e os avanços do Renascimento:


O movimento artístico e científico dos sécs. XV e XVI, que valorizava os aspectos humanistas, considerava o homem como
medida para todas as coisas. Os avanços tecnológicos dessa fase contribuíram muito para o aperfeiçoamento da atividade
artística. São originários desse momento histórico a técnica de desenho de perspectiva linear, o uso da perspectiva aérea (que
estuda a interferência das massas de ar a longas distâncias), a pintura a óleo e o uso da tela como suporte para pintura.

10
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes

A Idade Contemporânea e a Pop-Art:


A Pop Art é um movimento artístico que floresceu nos finais dos anos 50 e 60, sobretudo nos Estados Unidos e no
Reino Unido. A “paternidade” do nome é atribuída ao crítico de arte Lawrece Alloway, que fazia assim alusão à utilização,
pelos artistas deste movimento, de objectos banais do quotidiano nas suas obras. Nos Estados Unidos, Claes Oldenburg,
Andy Warhol, Tom Wesselman e Roy Lichtenstein — e do outro lado do Atlântico David Hockney e Peter Blake — foram as
suas figuras de proa.
A Arte Pop é considerada como uma reacção ao Expressionismo Abstracto, um movimento artístico, liderado entre ou-
tros por Jackson Pollock. O Expressionismo Abstracto, que floresceu na Europa e nos Estados Unidos nos anos 50, reforçava
a individualidade e expressividade do artista rejeitando os elementos figurativos.
Pelo contrário, o universo da Arte Pop nada tem de abstracto ou de expressionista, porque transpõe e interpreta a
iconografia da cultura popular. A televisão, a banda desenhada, o cinema, os meios de comunicação de massas fornecem
os símbolos que alimentam os artistas Pop. O sentido e os símbolos da Arte Pop pretendiam ser universais e facilmente
reconhecidos por todos, numa tentativa de eliminar o fosso entre arte erudita e arte popular.

11
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes

A Pop Art também reflectia a sociedade de consumo e


de abundância na forma de representar. As garrafas de Co-
ca-cola de Warhol, os corpos estilizados das mulheres nuas
de Tom Wesselman — onde se evidencia o bronzeado pela
marca do bikini — ou ainda os objectos gigantes de plás-
tico, como o tubo de pasta de dentes de Claes Oldenburg,
são exemplos da forma como estes artistas interpretavam As peças dos artistas da Pop também iam buscar as
uma sociedade dominada pelo consumismo, o conforto suas referências à produção industrial. Veja-se, por exem-
material e os tempos livres. plo, a repetição de um mesmo motivo nas serigrafias de
Warhol ou as telas gigantes de Lichtenstein onde, ao am-
pliar as imagens de banda desenhada, o artista revela os
pontos de cor inerentes à reprodução tipográfica.

Nos Estados Unidos e no Reino Unido, a Arte Pop teve


expressões diferentes e alguns críticos consideram que a
corrente americana foi mais emblemática e agressiva que
a britânica. Na altura, a Pop Art foi acusada pelos críticos
de ser frívola e superficial, e mal compreendida pelo pú-
blico. Mas foi um marco decisivo.

12
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
As questões acerca do valor da arte, ou de determi-
nadas obras de arte, surgem quando procuramos funda-
A IDENTIDADE E A DIVERSIDADE
mentar o que dizemos aos outros ou a nós próprios sobre
CULTURAL BRASILEIRA.
as obras de arte. E a grande maioria das nossas conside-
rações sobre as obras de arte, são, de uma forma ou de
outra, juízos de valor. Quando afirmamos que vale a pena
ver um filme ou que o trabalho de um escritor específico A cultura faz parte da totalidade de uma determinada
deveria ser mais divulgado, estamos a mostrar aos outros sociedade, nação ou povo. Essa totalidade é tudo o que
que atribuímos valor às referidas obras. Supostamente, configura o viver coletivo.
como estas são obras de arte, estamos a atribuir-lhe valor São os costumes, os hábitos, a maneira de pensar, agir
estético, ainda que possamos acreditar que estas possuem e sentir, as tradições, as técnicas utilizadas que levam ao
também valor moral, religioso ou até económico. desenvolvimento e a interação do homem com a nature-
za. Ou seja, é tudo mesmo! Tudo que diz respeito a uma
De acordo com o Filósofo Alemão Kant, para se ter
sociedade. Muitos sociólogos e historiadores brasileiros, a
uma investigação crítica a respeito do belo, devemos estar
partir do século XIX, buscaram explicar a formação do povo
orientados pelo poder de julgar. E a indagação básica que
brasileiro, caracterizado pela diversidade cultural, enquan-
move essa investigação crítica a respeito do belo é: existe
to uma nação. E o olhar de alguns desses autores foi exclu-
algum valor universal que conceitue o belo e que reivindi- sivamente dedicado ao aspecto cultural. O legado cultural
que que outras pessoas, a partir da minha apreciação de que herdamos dos povos que se misturam deu origem aos
uma forma bela da natureza ou da arte, confirmem essa brasileiros.
posição? Ou então somos obrigados a admitir que todo Fomos colonizados primeiramente pelos europeus,
o objecto que julgamos como sendo belo é um valor sub- especificamente pelos portugueses e espanhóis. Temos
jectivo? também uma marcante presença dos africanos, que foram
Se fizermos uma experiência com vários indivíduos e trazidos para cá como escravos e os indígenas que aqui já
o defrontarmos com um objecto de arte, observaremos viviam… depois, por volta de 1870 em diante, é que imi-
que as impressões causadas serão as mais diversas. Então graram muitos outros povos, como os italianos, alemães e
chegaremos à conclusão de que a observação atenta e va- holandeses, em busca de trabalho e de uma vida melhor e
lorativa daquele objecto, soma as diferentes opiniões que promissora no Brasil! Somos um povo que surgiu de uma
foram apresentadas pelos indivíduos. grande confluência! Miscigenados! Ou seja, o povo brasi-
O juízo estético está relacionado ao prazer ou “des- leiro foi formado, a princípio, a partir de uma miscigenação,
prazer” que o objecto analisado nos imprime e, como se que foi a mistura de basicamente três “raças”, quais sejam:
refere Kant, o belo “é o que agrada universalmente, sem o índio, o branco e o negro. Vamos entender o que é raça,
relação com qualquer conceito”. Essa situação fica bem etnia e cultura.
evidente quando visitamos um museu. Digamos que essa O conceito de etnia distingue-se do conceito de raça e
experiência fosse realizada no Museu do Louvre, em Paris, cultura. Etnia é um conceito associado a uma referência e/
com o quadro Monalisa. Se nos colocarmos como obser- ou origem comum de um povo. Ou seja, são grupos que
vador, perceberemos que os mais diversos comentários compartilham os mesmos laços lingüísticos, intelectuais,
serão tecidos a cerca dessa obra tão famosa. morais e culturais.
Pois, dos vários indivíduos que vão apreciar a obra de Embora possuam uma mesma situação de dependên-
Leonardo da Vinci, encontraremos desde pessoas especia- cia de instituições e organização social, econômica e po-
lizadas em arte até leigos, que vão empregar cada qual um lítica, não constitui ainda em uma nação, mas apenas um
agrupamento étnico. Etnia é, portanto, um conceito dife-
conceito, de acordo com a percepção, após a contempla-
rente de raça e cultura.
ção da Monalisa. Então isso comprova que não existe uma
São exemplos de grupos étnicos, entre outros, os índios
definição exata acerca do belo, mas sim um sentimento
xavantes e javaés do interior de Goiás, que são reconhe-
que é universal e necessário.
cidos pelo etnômino de tapuios. Hoje habitam no Parque
Atualmente, o olhar histórico sobre a arte vem sen- Nacional do Xingu, em número extremamente reduzido.
do acrescido de outras questões bastante interessantes. A Já a cultura é tudo que as diferentes raças e as diferen-
apropriação da obra pelo público, os meios de difusão do tes etnias possuem em matéria de vida social, o conjunto
conteúdo artístico e o intercâmbio entre diferentes mani- de leis que regem o país, a moral, a educação-aprendiza-
festações integram os novos caminhos que hoje englobam gem, as crenças, as expressões artísticas e literárias, costu-
esse significativo campo de conhecimento. Sem dúvida, ao mes e hábitos, ou seja, é a totalidade que abrange o com-
perceber tantas perspectivas, temos a garantia de que as portamento individual e coletivo de cada grupo, sociedade,
possibilidades de se enxergar a arte ou uma única obra nação ou povo.
pode conceber variados sentidos. O termo raça significa dizer que há grupos de pessoas
que possuem características fisiológicas e biológicas co-
muns. No entanto, o uso do termo raça acaba classificando
um grupo étnico ou sociedade, levando também à hierar-
quização.

13
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Como se todos nós, seres humanos, fôssemos postos A situação de conflito, como já sabemos, decorre do
em uma grande escadaria, e em ordem de classificação e sentimento e da atitude etnocêntrica, que foi uma caracte-
hierarquização pelo grau de importância das características rística do pensamento evolucionista, apoiando o empreen-
físicas de cada grupo étnico; os mais importantes ficariam dimento colonialista pelo mundo.
no topo e assim iria descendo até chegar nos menos im-
portantes. Contudo, qual raça ou grupo étnico pode dizer Diversidade artístico-cultural.
que é melhor ou mais desenvolvido que outro? Muitas crí- O que é arte? Arte nada mais é do que uma elocução
ticas a esse pensamento foram levantadas, principalmente que o homem começou a utilizar desde o começo da ci-
no final do século XIX, pois tais concepções ajudaram a vilização, onde são manipulados sons, movimentos, cores,
reforçar a discriminação e o preconceito e, conseqüente- texturas onde se utiliza um preceito de códigos para ex-
mente a legitimação das desigualdades sociais. Apesar de pressar e comunicar significados, que pode ser envolvida
todas as críticas, ainda é possível observar que nos sécu- por todos. Este é um método que aproxima as pessoas, tor-
los XIX e XX houve um retorno de práticas racistas como,
nando possível o reconhecimento das semelhanças e das
por exemplo, a eugenia e estudos do genoma, que foram
diferenças vinculadas pelos produtos artísticos com as suas
muito defendidas por estudiosos adeptos às teorias evo-
respectivas visões estéticas.
lucionistas sobre o progresso físico e comportamental do
Não é apenas por meio do vocábulo que as pessoas
homem. Tais teorias concebiam que determinadas raças e
etnias deveriam ser conservadas, por serem modelos de se comunicam. Muito do que conhecemos pela maioria
pureza, de superioridade, etc. das pessoas, épocas e povos, se dá pelo conhecimento por
Contudo, outras que não se enquadrassem nos mode- meio de poesias, pinturas, danças, musicas, filmes, moda,
los estabelecidos, ou que fossem, pela situação social que teatro entre outros. Estes componentes culturais desper-
viviam, vítimas de doenças ou epidemias tornavam-se um tam em nós uma sensação agradável ou não, ajuda a edi-
perigo para o progresso da humanidade e não deveriam ficar o nosso senso crítico, a descobrir o que gostamos ou
existir. Podemos tomar como um exemplo claro deste pen- não, julgar e apreciar as diversas culturas através de suas
samento, o apartheid ocorrido na África do Sul nos anos de formas artísticas.
1948 a 1991, quando toda a população negra foi obrigada Arte é uma linguagem constituída por códigos, sinais
a seguir normas e regras rígidas com relação ao convívio e representações ligadas a sentimentos, ideias e materiais
social, trabalho, etc., além de toda a forma de violência e com significados, faz parte de qualquer cultura e possui
discriminação sofrida. Ou ainda, quem não se lembra do uma função estética e criativa muito importante, pois cons-
genocídio dos judeus ou mais conhecido como o Holo- trói e oferece novos rumos as formas de expressão através
causto dos Judeus, durante a II Guerra Mundial? de seus conteúdos portadores de diversas significações.
O pensamento ideológico que estava por trás daquele O que é cultura? Nada mais é do que um sistema de
terrível ato que exterminou cerca de 6 milhões de judeus, atitudes, valores e significados partilhados nas formas in-
que não eram reconhecidos como seres humanos, era a corporadas, expressas e simbólicas. A política, as constru-
ideia de superioridade da “raça ariana” alemã. A persegui- ções, as festas, entre outros elementos, podem se vistos
ção e o extermínio dos nazistas alemães contra os judeus como exemplos de manifestações culturais. Através dos
ficou conhecido na história por anti-semitismo, uma forma intercâmbios socioculturais que nos apropriamos do pro-
de repudiar tudo o que era contrário à ideologia nazista. duto cultural. Mesmo assim, é complexo classificarmos os
Quando olhamos os três grupos étnicos que se mis- tipos de cultura. A cultura popular começou a ser avaliada e
cigenaram no Brasil Colônia, séculos XVI e XVII, com suas meditada no final do século XVIII, onde acabou por adquirir
características biológicas específicas e também sócio-cul- distintos significados teóricos e políticos.
turais, suas tradições, vemos como fizeram toda a diferença
Atualmente com a globalização, a vida começou a ser
no processo de colonização e formação do povo brasileiro,
mediada pelo mercado global onde a massificação das
diferentemente de outras colonizações empreendidas pelo
identidades se tornou quase que inevitável. Os processos
mundo.
da comunicação se modificaram, assim como o tempo,
Nosso país é uma “aquarela” de grupos étnicos! Cons-
tituída por meio da colonização (século XVI) e depois, pelas graças à internet este processo de globalização criou iden-
imigrações por volta dos séculos XVIII e XIX. Temos então tidades compartilhadas de consumidores que fazem uso
uma pluralidade de identidades, caracterizada pelas dife- dos mesmos bens e serviços.
renças. Por conta dessa variedade de identidades, povos Arte e cultura estão totalmente ligadas, pois é através
e tradições, os diferentes grupos étnicos fizeram com que da arte que conseguimos diferenciar, apreciar e adquirir co-
ocorressem em nosso país, um processo chamado de et- nhecimentos das diferenças entre uma cultura e outra, vis-
nicidade. to que na arte são impressas sentimentos, formas e cores
É interessante saber que o contato interétnico é um que dizem muito sobre a pessoa que a fez, que por sua vez
fenômeno que não ocorreu somente no período das co- possui uma história enriquecida por sua cultura, apanha-
lonizações, ainda ocorre, a ocupação por parte de alguns da por uma sociedade, e que o diferencia das demais, tor-
grupos, como por exemplo, os madeireiros, garimpeiros, e nando a arte um produto único em cada canto do mundo,
etc., em territórios indígenas, assim como pela utilização do sendo uma força de expressão livre para todos e por todos.
trabalho manual dos índios.

14
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
A diversidade cultural representa as distintas culturas que Região Norte
existem no planeta. A quantidade de eventos culturais do Norte é imensa.
Dessa forma, como elementos culturais representativos de um As duas maiores festas populares do Norte são o Círio de
determinado povo destacam-se: língua, crença, comportamento, va- Nazaré, em Belém (PA); e o Festival de Parintins, a mais co-
lores, costumes, religião, folclore, dança, culinária, arte, dentre outros. nhecida festa do boi-bumbá do país, que ocorre em junho,
O que diferencia uma cultura das outras são os elementos cons- no Amazonas. Outros elementos culturais da região Norte
titutivos, que consequentemente compõem o conceito de identida- são: o carimbó, o congo ou congada, a folia de reis e a festa
de cultural. Isso significa que o individuo pertencente a determinado do divino.
grupo se identifica com os fatores que determinam sua cultura. A influência indígena é fortíssima na culinária do Norte,
A diversidade cultural engloba o conjunto de culturas que baseada na mandioca e em peixes. Outros alimentos típi-
existem. Esses fatores de identidade distinguem o conjunto dos cos do povo nortista são: carne de sol, tucupi (caldo da
elementos simbólicos presentes nas culturas e são eles que refor- mandioca cozida), tacacá (espécie de sopa quente feita
çam as diferenças culturais que existem entre os seres humanos.
com tucupi), jambu (um tipo de erva), camarão seco e pi-
Muitos pesquisadores afirmam que o processo de globa-
menta-de-cheiro.
lização interfere na diversidade cultural. Isso porque há um in-
tenso intercâmbio econômico e cultural entre os países. os quais
muitas vezes buscam a homogeneidade.
Apesar do processo de globalização, que busca a mundialização
do espaço geográfico – tentando, através dos meios de comunica-
ção, criar uma sociedade homogênea – aspectos locais continuam
fortemente presentes. A cultura e as artes são alguns desses aspectos:
várias comunidades continuam mantendo seus costumes e tradições.
O Brasil, por apresentar uma grande dimensão territorial,
possui uma vasta diversidade artístico-cultural. Os colonizadores
europeus, a população indígena e os escravos africanos foram
os primeiros responsáveis pela disseminação cultural no Brasil.
Em seguida, os imigrantes italianos, japoneses, alemães, árabes,
entre outros, contribuíram para a diversidade cultural do Brasil.
Aspectos como a culinária, danças, religião são elementos que
integram a cultura de um povo. Festival de Parintins (AM)

Nesse contexto, alguns aspectos culturais das regiões brasi-


leiras serão abordados. Região Centro-Oeste
A cultura do Centro-Oeste brasileiro é bem diversifica-
Região Nordeste da, recebendo contribuições principalmente dos indígenas,
Entre as manifestações culturais da região estão danças e paulistas, mineiros, gaúchos, bolivianos e paraguaios. São
festas como o bumba meu boi, maracatu, caboclinhos, carnaval, manifestações culturais típicas da região: a cavalhada e o
ciranda, coco, terno de zabumba, marujada, reisado, frevo, cava- fogaréu, no estado de Goiás; e o cururu, em Mato Gros-
lhada e capoeira. Algumas manifestações religiosas são a festa de so e Mato Grosso do Sul. A culinária regional é composta
Iemanjá e a lavagem das escadarias do Bonfim. A literatura de por arroz com pequi, sopa paraguaia, arroz carreteiro, arroz
Cordel é outro elemento forte da cultura nordestina. O artesanato
boliviano, maria-isabel, empadão goiano, pamonha, angu,
é representado pelos trabalhos de rendas. Os pratos típicos são:
cural, os peixes do Pantanal - como o pintado, pacu, dou-
carne de sol, peixes, frutos do mar, buchada de bode, sarapatel,
rado, entre outros.
acarajé, vatapá, cururu, feijão-verde, canjica, arroz-doce, bolo de
fubá cozido, bolo de massa de mandioca, broa de milho verde,
pamonha, cocada, tapioca, pé de moleque, entre tantos outros.

Procissão do Fogaréu

Festa do Nosso Senhor do Bonfim, Salvador, Bahia.


 

15
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Região Sudeste
Os principais elementos da cultura regional são: fes- A ARTE COMO LINGUAGEM: AS LINGUAGENS
ta do divino, festejos da páscoa e dos santos padroeiros,
DAS ARTES VISUAIS, AUDIOVISUAIS, MÚSICA,
congada, cavalhadas, bumba meu boi, carnaval, peão de
boiadeiro, dança de velhos, batuque, samba de lenço, festa
TEATRO E DANÇA.
de Iemanjá, folia de reis, caiapó.
A culinária do Sudeste é bem diversificada e apresenta
forte influência do índio, do escravo e dos diversos imi- A criação artística é um processo comunicativo que
grantes europeus e asiáticos. Entre os pratos típicos se des- valoriza os conceitos de criatividade e de arte. Enquan-
tacam a moqueca capixaba, pão de queijo, feijão-tropeiro, to a criatividade é um processo ordenador e configura-
carne de porco, feijoada, aipim frito, bolinho de bacalhau, dor do que assimilamos da realidade mas ultrapassa-a ao
picadinho, virado à paulista, cuscuz paulista, farofa, pizza, alargar-se ao mundo do imaginário, a arte, por seu turno,
etc. implica o belo, a beleza e a sedução. A criação artística
implica uma capacidade de transmutação de experiências
e alimenta-se das condições que dão acesso ao sentir da
beleza. Este sentir associa-se à sedução que o mesmo ob-
jeto cria.
Fernando Pessoa considera que a criação artística im-
plica a conceção de novas relações significativas, graças à
distanciação que faz do real. O poeta parte da realidade,
mas distancia-se, graças à interação entre a razão e a sen-
sibilidade, para elaborar mentalmente a obra de arte.
Desde sempre, o Homem recorreu à criação artística
como arma de comunicação e, por vezes, de protesto, de
Feijoada intervenção e defesa. Mas, enquanto uns a consideravam
uma necessidade de expressão e realização ou de toma-
da de consciência, outros censuravam-na ou receavam-na,
Região Sul precisamente por isso. Na criação da obra de arte, são fun-
O Sul apresenta aspectos culturais dos imigrantes por- damentais a liberdade do indivíduo e a vitalidade do povo.
tugueses, espanhóis e, principalmente, alemães e italianos. Esta vitalidade é apreendida pelo artista, que assume um
As festas típicas são: a Festa da Uva (italiana) e a Oktober- papel importante na consciência de um país ou de uma
fest (alemã). Também integram a cultura sulista: o fandan- cultura.
go de influência portuguesa, a tirana e o anuo de origem Na apreciação da criação artística há uma interação
espanhola, a festa de Nossa Senhora dos Navegantes, a entre a obra de arte e o artista e entre o espectador e o
congada, o boi-de-mamão, a dança de fitas, boi na vara. Na gozo do objeto. Para se apreciar a obra de arte é neces-
culinária estão presentes: churrasco, chimarrão, camarão, sário seduzir a obra e deixar-se seduzir por ela. Só depois
pirão de peixe, marreco assado, barreado (cozido de carne de entendermos a necessidade desta mútua sedução esta-
em uma panela de barro), vinho. mos aptos a entender qualquer obra de arte em qualquer
época da história.
O conceito de criação artística, abordado e desen-
volvido pela filosofia e por todas as correntes estéticas,
abrange não apenas as tradicionais artes da pintura, da
arquitetura, da escultura, do desenho, da literatura, da mú-
sica e da dança, como, posteriormente, da fotografia, do
cinema e, a partir da mudança do segundo para o terceiro
milénio, de experiências artísticas graças ao digital e ao
computacional, que permitem misturar sons, textos, ima-
gens ou movimentos.
Arte envolve a construção de linguagem, modo singu-
lar de reflexão humana, onde interagem o racional e o sen-
Oktoberfest
sível. O elemento racional existente no processo de produ-
ção artística afirma o seu valor cognitivo. Arte, portanto,
é conhecimento, pois no fazer artístico estão presentes
processos mentais de raciocínio, memória, imaginação,
abstração, comparação, dedução, generalização, dedução,
indução e esquematização (CASTANHO, 1982).

16
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Por sua vez, o processo criativo, enquanto materia- A arte está além da intuição, situa-se como reveladora
lização do fazer, constitui-se em pura intencionalidade. de “um sentido das coisas”, que faz com que “um parti-
Assim, insere-se num processo mais amplo que revela o cular fale de modo novo e inesperado, ensina uma nova
universo de cada ser, seu olhar, sua visão de mundo, num maneira de olhar e ver a realidade”. Olhares que são reve-
contexto de interação social, referindo-se a um registro ladores “sobretudo porque são construtivos, como o olho
geral de acontecimentos e envolve a interioridade e a con- do pintor, cujo ver já é um pintar e para quem contemplar
templação, desencadeando a atribuição de significados, se prolonga no fazer.” (Pareyson, 1984:31).
carregando consigo as potencialidades cognitivas. Na pro- No seu trabalho criador, o indivíduo utiliza e aperfei-
dução artística revela-se o esforço de explicitar a idéia, o çoa processos que desenvolvem a percepção, a imagina-
pensamento e a visão. É a representação simbólica da rea- ção, a observação, o raciocínio e o controle gestual.
lidade, do mundo interior e exterior. Sob esse olhar, a arte A capacidade psíquica prepondera na aprendizagem
se constitui num sistema de representações, construtora da arte, pois no processo de criação o aprendiz pesquisa
de símbolos, que envolvem processos psicológicos e inte- a própria emoção, liberta-se da tensão, ajusta-se, organiza
lectuais, que propiciam o desvelar da cultura e o acesso a pensamentos, sentimentos, sensações e forma hábitos de
ela, a um modo de saber e de construir conhecimento. São trabalho, enfim, educa-se.
esses fundamentos que sustentam a função da arte, diante Arte-educação ou ensino da Arte é a educação que
das necessidades educacionais contemporâneas. oportuniza ao indivíduo o acesso a Arte como linguagem
Conforme já assinalamos, o processo de produção ar- expressiva e forma de conhecimento.
tística é em si um processo de conhecimento, visto que A área da arte relaciona-se com as demais áreas do
compreende uma série de ações/operações conectadas conhecimento, permitindo o desenvolvimento de um tra-
ao sujeito, que compreende, relaciona, ordena, classifica, balho interdisciplinar.
transforma e cria. O sujeito participa ativamente desse
processo, percebe a realidade, sua capacidade de transfor- Artes Visuais
mar, inovar. A criação, portanto, implica em aprendizagem Linguagem visual é todo tipo de comunicação que
e a arte, como assinala Meira (2003:122), tem o desafio se dá através de imagens e símbolos. Os elementos vi-
de transformar e “a pretensão de capturar a vida onde ela suais constituem a substância básica daquilo que vemos,
se esconde ou se camufla para o olhar, mesmo nas coisas são a matéria-prima de toda informação visual. Entretanto,
banais e simples”. De tal forma, que as propostas de ensi- esses elementos isolados não representam nada, não tem
nar a arte, inseridas numa filosofia da criação, demandam significados preestabelecidos, nada definem antes de en-
relacionar arte e vida, onde o conhecer, o fazer, o expres- trarem num contexto formal.
sar, o comunicar e o interagir instauram práticas inventivas De acordo com o estudo de vários autores, podem-se
a partir das vivências de cada um. Enfim, compreende o identificar como principais elementos visuais: o ponto, a
sujeito como ser cultural, histórico e social dotado de per- linha, a forma, o plano, a textura, e a cor.
cepções estéticas.
Sob a perspectiva de linguagem que implica em leitu- 1. PONTO 
ra, a produção artística compreende várias categorias de
expressão, onde a construção de qualquer uma delas ne- DEFINIÇÕES
cessita do conhecimento de elementos que a compõem. O • O ponto é o elemento básico da geometria, atra-
conhecimento da linguagem visual, por exemplo, assume vés do qual se originam todas as   outras formas geomé-
fundamental importância quando se reconhece que vive- tricas. 
mos na “civilização da imagem”, conforme assinala Durand • Ponto é o lugar onde duas linhas se cruzam. 
(apud MEIRA, 2003:40), e partir daí, necessário para a for- • Ponto é um sinal sem dimensões, deixado na su-
mação integral das pessoas e sua socialização em forma perfície. 
de inclusão do cidadão. • Ponto é a unidade de comunicação visual mais
Ao produzir artisticamente, ao ler e compor, o sujei- simples e irredutivelmente mínima(DONDIS, 1997). 
to articula e estrutura o sentir e o pensar. Nesse processo • Considera-se como ponto qualquer elemento que
acontece a organização e a ordenação do pensamento, funcione como forte centro de atração visual dentro de
a significação (representação), a construção de imagem, um esquema estrutural, seja numa composição ou num
a expressão da história pessoal e social do sujeito, pois objeto(FORTES, 2001).  
compreendemos que o ensino de arte é resultado da ar-
ticulação entre o fazer, o conhecer, o exprimir e o criar.
(Bueno, 2002). Desse modo, tomando cada sujeito em sua
unicidade, inserido num pluralismo cultural, temos que as
histórias de vida são únicas e, portanto, são diversas as
possibilidades de construção das expressões.

17
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
FORMAS DE REPRESENTAÇÃO DO PONTO

O ponto pode ser representado graficamente de duas maneiras: pela interseção de duas linhas ou por um simples to-
que na superfície com um instrumento apropriado. É identificado através de uma letra maiúscula do nosso alfabeto.  

UTILIZAÇÃO DO PONTO NAS ARTES VISUAIS

Qualquer ponto tem grande poder de atração visual, quando juntos eles são capazes de dirigir o olhar do espectador.
Essa capacidade de conduzir o olhar é intensificada pela maior proximidade dos pontos, ou seja, quanto mais próximos uns
dos outros estiverem os pontos, mais rápido será o movimento visual.

Nas artes visuais um único ponto não é capaz de construir uma imagem. Porém com um conjunto de pontos podemos
obter imagens visuais casuais ou organizadas.

Em grande número e justapostos os pontos criam a ilusão de tom ou de cor.  

Observe: 

Georges Seurat.

18
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Quando se desenha ou se pinta uma obra usando muitos pontos, pode-se criar uma sensação de vibração.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
2. LINHA

DEFINIÇÕES
• Linha é a trajetória definida pelo movimento de um ponto no espaço;
• Linha é um conjunto de pontos que se sucedem uns aos outros, numa seqüência infinita; 
• Linha é o elemento visual que mostra direcionamentos, delimita e insinua formas, cria texturas, carrega em si a
idéia de movimento.

CLASSIFICAÇÃO

Alguns autores classificam as linhas simplesmente como físicas, geométricas e geométricas gráficas. 
• Físicas – são aquelas que podem ser enxergadas pelo homem no meio ambiente. Ex.: fios de lã, barbantes, racha-
duras de pisos, fios elétricos etc. 
• Geométricas – apresentam comprimento ilimitado não possuindo altura e espessura, sendo apresentadas através
da imaginação de cada um de nós quando observamos a natureza. 
• Geométricas gráficas – são linhas desenhadas numa superfície, sendo concretizadas quando colocamos a ponta de
qualquer material gráfico sobre uma superfície e o movemos seguindo uma direção.
Em artes Visuais, estudaremos as linhas geométricas gráficas que são classificadas quanto ao formato em SIMPLES e
COMPLEXAS. As linhas simples podem ser retas ou curvas. Observe:

20
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
UTILIZAÇÃO DAS LINHAS NAS ARTES VISUAIS

As linhas nascem do poder de abstração da mente humana, uma vez que não há linhas corpóreas no espaço natural.
Elas só se tornam fato físico quando são representadas pela mão humana.
Independente de onde seja utilizada, a linha é o instrumento fundamental da prévisualização, ou seja, ela é o meio de
apresentar em forma palpável, concreta, aquilo que só existe na imaginação.
Nas artes visuais, a linha é o elemento essencial do desenho, seja ele feito a mão livre ou por intermédio de instrumen-
tos.
Segundo ARNHEIM (1994) as linhas apresentam-se basicamente de 3 modos diferentes nas artes visuais: 

 Linhas objeto - visualizadas como objetos visuais independentes. A própria linha é uma imagem.
• Linhas de contorno - obtidas quando envolvem uma área qualquer criando um objeto visual.
• Linhas hachuradas – são formadas por grupo composto de linhas muito próximas criando um padrão global sim-
ples, os quais se combinam para formar uma superfície coerente. Hachurar é usar um grupo de linhas para sombrear ou
insinuar texturas. Quanto mais próximas as linhas, mais densa a hachura e mais escuras as sombras. Quanto mais distantes
as linhas, menos densa a hachura e menos escuras as sombras. As linhas da hachura podem ter comprimentos e formas
diferentes.

SIGNIFICADOS EXPRESSOS PELAS LINHAS

A linha pode assumir formas muito diversas para expressar uma grande variedade de estados de espírito, uma vez que
reflete a intenção do artista, seus sentimentos e emoções e principalmente sua visão de mundo.
Quando predomina uma direção, a linha possui uma tensão que pode ser associada a determinado sentimento ou
sensação. Exemplos: 

21
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
As figuras
 Quando desenhamos uma linha fechada em uma superfície, separamos um espaço do resto do papel. Isso é uma figura. Em
arte nem todas as figuras são delimitadas com uma linha. Também podem ser feitas com cores, texturas, papéis recortados, etc.
 Há simples como o círculo, o triângulo, o quadrado, e figuras mais complexas. Quando vemos uma figura simples, podemos
Recordá-la com facilidade e até reproduzi-la. No entanto, quando vemos uma figura complexa, precisamos olhar atentamente
para poder identificar os elementos visuais, a construção, etc.

Edvard Munch (O grito)

Tarcila do Amaral ( São Paulo)

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
3. A FORMA

Forma é o aspecto exterior dos objetos reais, imaginários ou representados. A linha descreve uma forma, ou seja, uma
linha que se fecha dá origem a uma forma. Na linguagem das artes visuais, a linha articula a complexidade da forma.

FORMAS BÁSICAS

Existem três formas básicas: o quadrado, o círculo e o triângulo equilátero. Cada uma das formas básicas tem suas
características específicas, e a cada uma se atribui uma grande quantidade de significados, alguns por associação, outros
por vinculação arbitrária, e outros, ainda, através de nossas próprias percepções psicológicas e fisiológicas. Ao quadrado se
associam enfado, honestidade, retidão e esmero; ao triângulo ação, conflito, tensão; ao círculo, infinitude, calidez, proteção.
Todas as formas básicas são figuras planas e simples, fundamentais, que podem ser descritas e construídas verbalmente
ou visualmente.

23
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
 4. PLANO E SUPERFÍCIE A textura visual ou ótica possui apenas qualidades óti-
cas. Ela simula as texturas táteis. Ex.: Uma pintura que crie
O plano é uma superfície sem ondulações, de extensão infi- o efeito da maciez de uma pétala de rosa, ou o pêlo do
nita, ou seja, uma superfície plana que se estende infinitamente cachorrinho. A textura tátil possui tanto qualidades visuais
em todas as direções possíveis. Temos a noção de um plano quanto táteis. Existe textura tátil em todas as superfícies e
quando imaginamos uma superfície plana ilimitada e sem es- esta nós podemos realmente sentir através do toque ou do
pessura. contato com nossa pele.
Quanto à forma de apresentação a textura pode ser
geométrica ou orgânica. Nas artes gráficas pode ser repro-
duzida através de desenhos, pinturas, impressões, fotogra-
fia, etc. Podemos representar as texturas em forma de trama
de sinais, pontos, traços, manchas com os quais se realizam
as mais variadas atividades gráficas e artísticas. Exemplos:

Pense numa folha de papel prolongada infinitamente em


todas as direções, desprezando a sua espessura.
A representação do plano será feita através de uma figu-
ra que sugere a idéia de uma parte dele. Também nesse caso, A textura é tão importante quanto a forma, tamanho,
fica por nossa conta imaginar que essa superfície se estende cor, etc. Existem várias técnicas para se criar texturas nas ar-
indefinidamente em todas as direções possíveis.  Os planos são tes plásticas. O pintor, por exemplo, utiliza uma infinidade de
denominados por letras minúsculas do alfabeto grego: alfa (α), técnicas para reproduzir ou criar a ilusão de textura tátil da
beta (β), gama (γ), delta (δ) etc. vida real em suas obras. 
Entre as técnicas mais conhecidas estão a tinta diluída e
o empasto (uso livre de grossas camadas de tinta para dar
efeito de relevo).  Outra técnica conhecida é a frotagem. A
palavra “Frottage” é de origem francesa - frotter, que signifi-
ca “esfregar”. Consiste em colocar uma folha de papel sobre
uma superfície áspera, que contém alguma textura, e esfre-
gá-la, pressionando-a com um bastão de giz de cera, por
exemplo, para que a textura apareça na folha. No campo da
arte, essa técnica foi usada pela a primeira vez pelo o pintor,
desenhista, escultor e escritor alemão Max Ernest (1891 –
 Superfície é a extensão que delimita no espaço um corpo 1976), um dos fundadores do movimento “Dada” e poste-
considerável, segundo a largura e a altura, sem levar em conta a riormente um dos grandes nomes do Surrealismo.
profundidade. É o suporte onde o artista criará sua composição. Os abstracionistas utilizam uma grande variedade de
técnicas como a colagem com pedaços de jornais e mate-
5. TEXTURA riais “expressivos” como madeira, papelão, barbante, areia,
Textura, nas artes plásticas, é o elemento visual que ex- pedaços de pano etc.
pressa a qualidade tátil das superfícies dos objetos (DONDIS,
1997). A palavra textura tem origem no ato de tecer. Existem Os artistas recorrem às texturas para:
várias classificações para a textura, segundo diferentes autores • Traduzir visivelmente o sentido de volume e os efei-
que tratam do assunto. Para começar, ela pode ser classificada tos de superfície;
como natural – quando encontrada na natureza – ou artificial - • Representar graficamente o claro e o escuro, a luz
quando produzida pelo ser humano (simula texturas naturais ou e a sombra.
cria novas texturas). A textura natural de alguns animais, como o Na escultura os artistas utilizam texturas diferentes con-
camaleão, pode ser modificada quando ele simula outra cor de forme os padrões estéticos do período ou movimento artís-
pele. O homem também simula texturas naturais em suas ves- tico a que pertencem. No Renascimento observamos tex-
timentas (como é o caso dos soldados camuflados). As texturas turas lisas e suaves, enquanto que no Impressionismo per-
podem também ser divididas em visuais (óticas) e táteis. cebemos superfícies inacabadas como nas obras de Rodin.

24
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Além das artes visuais a textura ocorre também em diferentes espaços da vida. No cotidiano nós a observamos nos
utensílios domésticos, nas roupas, nos calçados, nos papéis, nos vidros, na decoração de interiores, etc. A tecnologia favore-
ceu a criação de uma variedade muito grande de texturas. A tinta de parede, por exemplo, é encontrada em diversos tipos
e para as mais diversas aplicações. Essas por si só já permitem efeitos de texturização.

Tarcila do Amaral

Renoar

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
No caso da Cor-Pigmento a luz é que, refletida pelo
material, faz com que o olho humano perceba esse estímu-
lo como cor. Os pigmentos podem ser divididos em dois
grupos diferentes: os transparentes e os opacos.
As cores pigmento transparentes são mais utilizadas
nas artes gráficas, nas impressoras coloridas entre outros
meios de produção.
As cores pigmento opacas são geralmente utilizadas
nas artes plásticas, são mais populares, portanto, são mais
conhecidas pelos estudantes da escola básica.
Os dois extremos da classificação das cores são: o
branco, ausência total de cor, ou seja, luz pura; e o preto,
ausência total de luz, o que faz com que não se reflita ne-
nhuma cor.
Essas duas “cores” portanto não são exatamente cores,
mas características da luz, que convencionamos chamar de
cor.
 
NOMENCLATURA DAS CORES

Cores primárias e secundárias


 Para estudar as cores, o primeiro passo é sabermos
que existem cores primárias e secundárias. As cores pri-
márias são cores puras, sem mistura. É através das cores
primárias que se formam todas as outras cores.
 
As cores primárias são VERMELHO-AZUL-AMARELO.

As secundárias, ao contrário, são as que resultam da


mistura de duas cores primárias.

6. A COR

DEFINIÇÃO

A cor é o elemento visual caracterizado pela sensação


provocada pela luz sobre o órgão da visão, isto é, sobre
nossos olhos. O pigmento é o que dá cor a tudo o que é
material. 
Ao falarmos de cores, temos duas linhas de pensamen-
to distintas: a Cor-Luz e a Cor-Pigmento.
 A Cor-Luz pode ser observada através dos raios lumi-
nosos. Cor-luz é a própria luz que pode se decompor em
muitas cores. A luz branca contém todas as cores.  

26
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
As cores terciárias são obtidas misturando uma cor pri- Policromia
mária e uma secundária. É a harmonia conseguida através de várias cores.1

As cores terciárias são:  


• Vermelho-alaranjado=combinação do vermelho+laranja.
• Amarelo-alaranjado=combinação do amarelo+laranja.
• Amarelo-esverdeado=combinação do amarelo+verde.
• Azul-esverdeado=combinação do verde+azul.
• Azul-arroxeado=combinação do azul+roxo.
• Vermelho-arroxeado=combinação do roxo+vermelho.
 
Cores Neutras
 
São as cores que combinam com qualquer cor. As cores
neutras são o preto, o branco e o cinza.

Artes audiovisuais
Comunicação audiovisual é todo meio de comunica-
Cores Quentes e Cores Frias ção expresso com a utilização conjunta de componentes
As cores possuem seus valores de luminosidade. visuais (signos, imagens, desenhos, gráficos etc.) e sonoros
Algumas são mais alegres, mais vivas, que classifica- (voz, música, ruído, efeitos onomatopeicos etc.), ou seja,
mos de cores quentes. tudo que pode ser ao mesmo tempo visto e ouvido.)
As cores quentes nos lembram o fogo, o sol, e transmi- Então, os citados abaixo só podem ser peças audiovi-
tem o arrojo, a aventura, o estímulo, o calor. suais...
Outras são mais escuras e tristes, que classificamos de Animação refere-se ao processo segundo o qual cada
cores frias, que classificamos de cores frias, e transmitem a fotograma de um filme é produzido individualmente, po-
calma, o repouso, o frio, a sombra. dendo ser gerado quer por computação gráfica quer foto-
As cores quentes são derivadas do vermelho e as frias grafando uma imagem desenhada quer repetidamente fa-
derivam do azul. zendo-se pequenas mudanças a um modelo (ver clayma-
A cor amarela é equilibrada. Os tons de roxo podem ser tion e stop motion), fotografando o resultado. Quando os
classificados como quentes ou frios, pois apresentam tanto fotogramas são ligados entre si e o filme resultante é visto
azul como o vermelho. a uma velocidade de 16 ou mais imagens por segundo,
  há uma ilusão de movimento contínuo (por causa da per-
Harmonia das cores sistência de visão). A construção de um filme torna-se as-
Harmonia é a combinação entre duas ou mais cores. sim um trabalho muito intensivo e por vezes entediante.
São estas as principais maneiras de combinar cores:
O desenvolvimento da animação digital aumentou muito
 
a velocidade do processo, eliminando tarefas mecânicas e
Monocromia
repetitivas
É a harmonia conseguida quando utilizamos somente
O cinema, abreviação de cinematógrafo, é a técnica de
uma cor, com suas variações de tons, obtidas com o auxílio
da cor branca ou preta. projetar fotogramas (quadros) de forma rápida e sucessi-
  va para criar a impressão de movimento (“kino” em grego
Isocromia significa movimento e “grafos” escrever ou gravar), bem
È a harmonia conseguida através de uma cor e seus como a arte de se produzir obras estéticas, narrativas ou
matizes. não, com esta técnica.
Por exemplo: amarelo-alaranjado, amarelo-esverdea- A invenção da fotografia e sobretudo a da fotografia
do, amarelo-amarronzado. animada foram momentos cruciais para o desenvolvimen-
  to não só das artes como da ciência, em particular no cam-
po da antropologia visual.

1 Fonte: www.7dasartes.blogspot.com.br/ www.poin-


tdaarte.webnode.com.br

27
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
O cinema é possível graças à invenção do cinemató- O vídeo, do latim “eu vejo”, é uma tecnologia de pro-
grafo pelos Irmãos Lumière no final do século XIX. A 28 cessamento de sinais electrónicos analógicos ou digitais
de dezembro de 1895, no subterrâneo do Grand Café, em para representar imagens em movimento. A aplicação prin-
Paris, eles realizaram a primeira exibição pública e paga de cipal da tecnologia de vídeo é a televisão, mas ela também
cinema: uma série de dez filmes, com duração de 40 a 50 é muito aplicada em engenharia, ciência, manufatura, se-
segundos cada, já que os rolos de película tinham quinze gurança e artes plásticas (vídeo-arte). Outras utilizações do
metros de comprimento. Os filmes até hoje mais conheci- vídeo tendem a usar os formatos de vídeo desenvolvidos
dos desta primeira sessão chamavam-se “A saída dos ope- para a televisão.
rários da Fábrica Lumière” e “A chegada do trem à Estação Chama-se também de vídeo uma animação composta
Ciotat”, cujos títulos exprimem bem o conteúdo. Apesar de por sua grande maioria de fotos sequenciais, quadro-a-
também existirem registros de projeções um pouco ante- -quadro.
riores a outros inventores (como os irmãos Skladanowski
Dança
na Alemanha), a sessão dos Lumiére é aceita pela maciça
A dança é uma linguagem artística. Seus signos são os
maioria da literatura cinematográfica como o marco inicial
movimentos. É uma “escrita hieroglífica”, onde os elemen-
da nova arte. O cinema expandiu-se, a partir de então, por
tos possuem sua tradução significativa a partir das relações
toda a França, Europa e Estados Unidos, através de cinegra-
que estabelecem dentro do conjunto da cena. Na dança
fistas enviados pelos irmãos Lumière, para captar imagens temos o movimento do corpo como signo da linguagem.
de vários países. Os fundamentos essenciais da dança são:
Nesta mesma época, um mágico ilusionista chamado • Movimento: Os movimentos básicos das partes do
Meliès, quis comprar o aparelho produzido pelos irmãos corpo (translações e rotações) e as combinações entre
Lumiére mas foi barrado pelos próprios. Depois de muita eles. Podemos executá-los isoladamente, depois combiná-
insistência, Meliès obteve seu aparelho e começou produzir -los sucessivamente e ainda simultaneamente e podemos
filmes mais teatrais, com efeitos e narrativas e acabou se parar o movimento no instante de sua execução.
transformando no Pai do Cinema. • Movimento potencial: É como chamamos as
Logo depois veio Griffithi, gênio do Cinema, que no co- pausas do movimento, ou seja, quando as partes do corpo
meço do século XX, fez superproduções com vários planos não descrevem nenhuma trajetória no espaço.
de filmagens nunca dante vistos. Destaque para “Intolerân- • Movimento liberado: É quando ele se realiza no
cia”, admirado até hoje entre cineastas e cinéfilos. espaço. São os movimentos realizados com o corpo como
Como forma de registrar acontecimentos ou de narrar um todo no espaço.
histórias, o Cinema é uma arte que geralmente se denomi- • Famílias de movimentos: Os movimentos em
na a sétima arte, desde a publicação do Manifesto das Sete dança concentram-se em grupos denominados famílias da
Artes pelo teórico italiano Ricciotto Canudo em 1911. Den- dança que são: transferências, locomoções, saltos, vol-
tro do Cinema existem duas grandes correntes: o cinema tas, quedas e elevações.
de ficção e o cinema documental.
Como registro de imagens e som em comunicação, o •  Espaço-Forma: Todo movimento corporal acontece
Cinema também é uma mídia. A indústria cinematográfi- no espaço, produzindo diferentes configurações, portanto
ca se transformou em um negócio importante em países diferentes formas. Envolve a experiência de movimentos
como a Índia e os Estados Unidos, respectivamente o maior realizados em diferentes planos, direções, sentidos, ní-
produtor em número de filmes por ano e o que possui a veis, trajetórias e amplitudes, o que contribui para uma
boa definição, precisão e clareza do movimento.
maior economia cinematográfica, tanto em seu mercado
interno quanto no volume de exportações.
• Dinâmica: Refere-se ao estudo da força, do que im-
A projeção de imagens estáticas em seqüência para
pulsiona o movimento relacionando o indivíduo com seu
criar a ilusão de movimento deve ser de no minimo 16 fo-
próprio corpo, com o outro e com o seu entorno, amplian-
togramas (quadros) por segundo, para que o cérebro hu- do assim o leque de possibilidades expressivas e criativas
mano não detecte que são, na verdade, imagens isoladas. através do movimento. Quanto à força ou dinâmica um
Desde 1929, juntamente com a universalização do cinema movimento pode ser fraco, médio ouforte.
sonoro, as projeções cinematográficas no mundo inteiro
foram padronizadas em 24 quadros por segundo •  Tempo  : São os referenciais temporais que estabe-
Televisão (do grego tele - distante e do latim visione - lecem a ligação entre a dança e a música. Os referencias
visão) é um sistema eletrônico de transmissão de imagens principais deste fundamento são:
e som de forma instantânea. Funciona a partir da análise • O  ritmo, que se caracteriza pela distribuição de
e conversão da luz e do som em ondas eletromagnéticas elementos ao longo do tempo. Na música nós temos o som
e de sua reconversão em um aparelho - o televisor - que e o silêncio como elementos básicos, na dança omovimen-
recebe também o mesmo nome do sistema ou pode ainda to e a pausa.
ser chamado de aparelho de TV. O televisor ou aparelho • O andamento, que é como denominamos o re-
de TV capta as ondas eletromagnéticas e através de seus ferencial abordado quando queremos aplicar diferentes
componentes internos as converte novamente em imagem velocidades a esse ritmo. Este referencial está totalmente
e som. relacionado com o andamento da teoria musical.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Esses referenciais temporais são fundamentais no tra- -Timbre - através dele podemos identificar os instru-
balho corporal, pois podem influenciar nas variações da di- mentos que compõem a música;
nâmica a partir da aplicação de diferentes velocidades na -Duração - através dela podemos ter uma noção do
execução de movimentos e na distribuição rítmica variada tempo utilizado na música, podendo identificar compassos
na construção das combinações das partes do corpo. ou andamentos.
A música sempre esteve muito ligada à poesia, antes
Musica enquanto era executada, eram recitadas poesias, com o
A música surgiu quando o homem descobriu que, ba- tempo elas passaram a se unir, sendo a música a parte ins-
tendo um objeto no outro, ele produzia sons e que isso trumental/vocal e a poesia, a letra da música em si.
não era simplesmente, um tanto de barulhos. A música teve Agora, por que estudar música? Segundo SCHAFFER
várias funções no decorrer da história, como para louvar os (1991), o ensino da música ajuda a criança na coordenação
deuses, exaltar autoridades, lutar, etc. e foi sistematizada do ritmo do corpo, como o andar, caminhar, correr, saltitar,
como conhecemos hoje, na Grécia, porém, foi Guido D’Are- balançar, podendo sincronizar-se bolas que pulam com as
zzo, monge italiano, quem colocou os nomes das notas ondas do mar; galopes de cavalos e outros ritmos da na-
musicais como conhecemos hoje - já que os gregos utili- tureza.
zavam as letras do alfabeto, de A (lá) à G (sol), utilizando o O trabalho com o canto envolve a voz, que por sua
Hino a São João, em latim. vez cuida da respiração. Ao se produzir sons com objetos,
Posteriormente, o Ut foi substituído pelo Dó, pelo fato inventando uma linguagem própria, dirigindo a educação
do Ut ser considerado muito difícil para cantar. no rumo da experiência e da descoberta.
Atualmente, a música está presente no dia-a-dia de to- Para se ter uma boa noção de tudo isso é importante
das as pessoas que ouvem, mas nem todos que a ouvem, que o estudante seja treinado auditivamente, pois, treinan-
sabem o que é música. Para saber o que é música, é preci- do o seu ouvido, conseguirá identificar as propriedades do
so primeiro ter conhecimento do que é som, e, som, nada som, que segundo JEANDOT (1990) é chamada de escuta
mais é do que a vibração produzida nos corpos elásticos e crítica, ou seja, a pessoa não apenas ouvirá a música, mas
sim, identificará os elementos que a compõem.
essas vibrações podem ser:
Como aprender tudo isso? Assim, como em tudo na
- regalares: aquelas que possuem altura definida, ou
vida, para se aprender música e necessário muito treino,
seja, quando conseguimos ouvir que ali foi produzida uma
seja para entendê-la ou para se tocar ou cantar bem. Para
nota musical, como dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, bem como suas
que a pessoa aprenda música, existem várias formas e mé-
variações com sustenidos e bemóis;
todos, um deles, que é muito utilizado na educação básica,
- irregulares: as vibrações irregulares são todos aqueles
é o método da utilização de jogos e brincadeiras, que fun-
barulhos que ouvimos no dia-a-dia, que podem ditar o rit-
ciona muito bem, principalmente com as crianças, e que
mo para uma música, como a batida de um instrumento de
pode ser adaptado para jovens e adultos, através das asso-
percussão (menos marimba e xilofone, que produzem sons ciações, por exemplo, para se identificar um intervalo mu-
regulares) ou barulhos do dia-a-dia, que compõem a paisa- sical, podemos utilizar trechos de alguma música conheci-
gem sonora, como a sirene de uma ambulância, o som das da, preferencialmente o início de alguma música. Com as
britadeiras de operários, o som de marretas, o som da bu- crianças podemos utilizar cantigas de roda, criar com elas
zina dos carros, o som dos aviões e outros inúmeros sons, escritas musicais alternativas, etc., fazendo com que elas
na qual não podemos distinguir a altura. tenham uma noção rítmica, harmônica e melódica do que
Bom, agora que sabemos o que é som? O que vem a estão realizando.
ser Música? Segundo MED (1996, p. 11), “Música é a arte de Outra coisa importante para aprender música, é ouvir
combinar os sons simultânea e sucessivamente, com ordem, bastante e imitar os sons que são ouvidos, adquirindo in-
equilíbrio e proporção dentro do tempo.” Com isso, pode- fluências de alguns artistas, para com o tempo, poderem
mos ter uma boa idéia do que vem a ser música, falando criar a sua própria identidade musical. No canto, por exem-
sobre suas principais partes, sem, porém, citar os seus no- plo, para se adquirir afinação, é preciso treinar bastante a
mes: harmonia (sons simultâneos, ou seja, aqueles que são respiração (ela deve ser igual a de um bebê, diafragmática),
tocados ao mesmo tempo), melodia (sons sucessivos, ou além de se imitar as notas musicais, para afinar a voz e ter
seja, aqueles que são tocados um após o outro) e ritmo (o hábitos saudáveis de alimentação.
andamento, velocidade da música). Além disso, é importante se aprender música, para
O objetivo do ensino de música na educação básica, avaliar aquilo que se ouve, independentemente do gosto,
não é de se formar músicos, mas sim de formar bons ouvin- saber analisá-las sobre um ponto de vista técnico, mesmo
tes, que tenham noções daquilo que forma a música (har- que mínimo, podendo analisar criticamente uma obra mu-
monia, melodia e ritmo), bem como as suas propriedades sical, analisando todos os elementos nela presentes.
que são: Uma atividade que pode integrar música e artes plásti-
-Altura - através dela podemos identificar se um som cas é a criação de instrumentos musicais com objetos con-
é grave (grosso) ou agudo (fino); siderados como lixo, que vão trabalhar com a criatividade
-Intensidade através dela podemos perceber a força dos alunos, obtendo sonoridades diferenciadas e estilos di-
com que o som foi produzido, ou seja, o volume do som, versificados, além de desenvolver o consciente dos alunos
que muitos chamam erroneamente de altura; quanto à preservação do meio ambiente.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Teatro Os tragediógrafos gregos representavam os papéis
Linguagens Cênicas que escreviam, mais tarde Sófocles começou a desvincular
LINGUAGEM CÊNICA é uma linguagem específica, com este elo entre autor e ator. Desde o surgimento do teatro
signos, códigos necessários à sua constituição. Não é pos- as mulheres eram impedidas de encenar, e os papéis femi-
sível fazer teatro, dança, ou circo, sem o domínio desses ninos eram apresentados pelos homens. Só na “Commedia
elementos. dell’ Arte” que elas irão atuar no teatro de rua. A imposta-
Arte Cênica é uma forma de arte apresentada em um ção de voz do ator grego era de extrema importância, pelo
palco ou lugar destinado a espectadores. O palco é com- uso da máscara e pelo local aberto das apresentações.
preendido como qualquer local onde acontece uma repre- Quando o império romano se apropria da cultura grega,
sentação, sendo assim, estas podem acontecer tanto em assimila um teatro já decadente, com atores buscando um
praças como em ruas. profissionalismo de efeitos grosseiros e gratuitos. O públi-
A arte Cênica abrange o estudo e a prática de toda co romano opta por espetáculos circenses, jogos violentos
forma de expressão que necessita de uma representação, e competitivos, e diferentes formas de corridas, não valo-
como o teatro, a música ou a dança. rizando a arte dramática. Sendo assim o ator começa a se
A Arte Cênica ou Teatro divide-se em cinco gêneros: especializar na mímica, dança e acrobacia. Com as invasões
Trágico, Dramático, Cômico, Musical e Dança. bárbaras no início da Idade Média, surgem os atores tro-
O gênero Trágico imita a vida por meio de ações com- vadores e menestréis, pois os teatros haviam sido fecha-
pletas. O Drama descreve os conflitos humanos. A comédia dos e/ou destruídos, e esses atores ambulantes passam a
apresenta o lado irônico e contraditório. O Musical é de- se apresentar em feiras, aldeias e cidades. Neste período,
senvolvido através de músicas, não importa se a história é um cristão batizado era proibido de assistir ou participar
cômica, dramática ou trágica. E a dança utiliza-se da música de qualquer encenação teatral, exceto àquelas de caráter
e das expressões propiciadas pela “mímica”. litúrgico, como os autos e os mistérios. No início do Renas-
cimento as companhias ambulantes passam a profissiona-
Elementos Formais da Linguagem Cênica ou Teatral lizar os atores da “Commedia dell’ Arte”, que começam a
ser contratados por senhores e nobres, para apresentação
 Texto Teatral:
de suas “farsas” e participações nos “triunfos”. Na ence-
O texto teatral assemelha-se ao narrativo quanto às
nação oriental o ator é envolvido por rituais e cerimônias
características, uma vez que o mesmo se constitui de fatos,
religiosas. Na China o ator precisa dominar o gestual, o
personagens e história (o enredo representado), que sem-
canto e a palavra, pela simplicidade cenográfica e pela tra-
pre ocorre em um determinado lugar, dispostos em uma
dição da linguagem simbólica de sua cultura. No Japão,
sequência linear representada pela introdução (ou apre-
o “Nô” e o “Kabuki” são as duas formas de teatro mais
sentação), complicação, clímax e desfecho. A história em
conhecidas e tradicionais. Ainda no Renascimento, quando
si é retratada pelos atores por meio do diálogo, no qual
o Triunfo e o teatro de rua passam a ocupar os palcos de
o objetivo maior pauta-se por promover uma efetiva in-
teração com o público expectador, onde razão e emoção salas fechadas, o ator precisa reeducar sua forma de atuar,
se fundem a todo momento, proporcionando prazer e en- isto porque o gesto sutil do ator em cena pode mostrar
tretenimento. Pelo fato de o texto teatral ser representado a identidade da personagem, sem precisar dos recursos
e não contado, ele dispensa a presença do narrador, pois utilizados ao ar livre. As biografias são típicas deste perío-
como anteriormente mencionado, os atores assumem um do do antropocentrismo, e com elas surgem as “vedetes”
papel de destaque no trabalho realizado por meio de um do teatro. É na Commedia dell’ Arte que muitos atores e
discurso direto em consonância com outros recursos que atrizes vão fazer carreira com personagens fixos, alguns
tendem a valorizar ainda mais a modalidade em questão, vivendo esses personagens até a morte. No Iluminismo
como pausas, mímica, sonoplastia, gestos e outros ele- do século XVIII, muitas ideias e escritos filosóficos sobre a
mentos ligados à postura corporal. A questão do tempo preparação e o trabalho do ator foram surgindo, porém o
difere-se daquele constituído pelo narrativo, pois o tempo primeiro trabalho mais significativo foi o “Paradoxo sobre
da ficção, ligado à duração do espetáculo, coincide com o o comediante”, do francês Denis Diderot(1713-1784). No
tempo da representação. século XIX, surge a linguagem dos “Melodramas”, onde
 Ator: os atores e atrizes são o foco de atenção na encenação
O ator passa a existir juntamente com o teatro, pois teatral, e o público vai ao teatro apenas para vê-los. É o
o ato estético coletivo de origem grega, tem seu alicerce chamado “Academismo francês e italiano”. No final deste
no binômio Ator-Espectador. Sem o ator em cena diante século o “Naturalismo” começa a se firmar e o ator a se
de um público não há teatro. O título de primeiro ator da preocupar com a verdade cênica, ou melhor, a “fé cênica”.
história do teatro no ocidente é do poeta trágico Téspis, O russo Constantin Stanislavski (1863-1938) dedica-se a
que representava vários papéis, simultaneamente, em suas produzir fundamentos e métodos para o trabalho do ator,
peças. Era comum não reconhecer os atores em cena nas contribuindo com os livros “A preparação do ator”, “A com-
tragédias gregas, pois utilizavam grandes máscaras, figuri- posição do personagem”, e “A criação de um papel”. Sua
nos alongados e tamancos altos de madeira, denominados proposta era a que o ator lutasse contra a falsa teatralida-
“coturnos”. de e o convencionalismo, desta forma, utilizando as bases

30
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
do naturalismo psicológico, exigindo do ator, nos ensaios  Maquiagem
ou diante do público, a concentração e a fé cênica, cons- A maquiagem é parte da composição do espetáculo,
truindo assim uma “quarta parede” imaginária. Suas ideias é um instrumento fundamental que auxilia na criação do
foram divulgadas no Brasil por Eugênio Kusnet. Paralelo personagem e na transformação estética dos atores. O
ao naturalismo de Stanislavski, dentre outras, acontecia a maquiador atua junto com toda a produção do espetáculo
concepção da “biomecânica” de Meyerhold (1874-1942), acompanhando sempre a concepção do mesmo, com vis-
onde atores apareciam em forma de marionetes com múl- tas a ressaltar e/ou criar elementos que ressaltem aspectos
tiplas habilidades cênicas. O ícone do teatro do século XX importantes para a compreensão do personagem. O ma-
foi Bertolt Brecht (1898-1956), que resgatou a estética do quiador é o responsável pela pintura do rosto ou do corpo
“teatro épico” e criou um teatro dialético, onde o ator e dos atores e atrizes
espectador estariam em constante reflexão diante da ação
teatral.  Sonoplastia
A sonoplastia é um som ou conjunto de sons que au-
 Diretor: xilia a enfatizar as cenas e ou as emoções dos atores. O
O encenador, diretor teatral ou diretor de teatro é sonoplasta trabalha os elementos sonoros ajudando a en-
o responsável por supervisionar e dirigir a montagem de volver o público na construção de imagens e sensações. As
uma peça de teatro, trabalhando diretamente a represen- músicas e sons utilizados devem estar intimamente liga-
tação, decidindo a melhor forma de conjugar os diversos dos ao que acontece na cena, o sonoplasta deve estudar o
esforços da equipa de trabalho em todos os aspectos da texto e depois acompanhá-lo passo a passo. O sonoplasta
produção. A sua função é assegurar a qualidade e integri- é aquele que compõe e faz funcionar os ruídos e sons de
dade do produto teatral (a peça). Contatando os membros um espetáculo teatral.
chave da equipa de trabalho, coordena o andamento das Ø Iluminação
pesquisas necessárias, a cenografia, o guarda-roupa, os
adereços, iluminação cênica, sonoplastia, etc. O encena- A iluminação pode dar ênfase a certos aspectos do
dor pode ainda trabalhar com o dramaturgo em obras cuja cenário, pode estabelecer relações entre o ator e os ob-
concepção é paralela à produção (work in progress). No jetos, pode enfatizar as expressões do ator, pode limitar
teatro contemporâneo, é costume considerar o encenador o espaço de representação a um círculo de luz e muitos
como o principal autor da peça enquanto obra teatral (não outros efeitos. A iluminação é muito importante para o
retirando, a importância do dramaturgo, que é considera- teatro, pois através dela podemos ambientar a cena e am-
do um autor à parte - o texto é uma obra independente). pliar as emoções nela exploradas. É fundamental que o
É o encenador que concebe a obra e toma as decisões iluminador conheça bem o texto e as marcações cênicas
necessárias para a sua concretização. Existem encenadores determinadas pelo diretor do espetáculo. O iluminador
mais ou menos interventivos, democráticos ou autoritá- é aquele que concebe e planeja a colocação das luzes em
rios, dependendo da filosofia própria da companhia teatral uma peça teatral.
em questão.
Linguagens Cinematográficas
 Cenografia Ninguém mais contesta que o cinema é uma arte. Se
Muito mais do que decoração e ornamentação, a ce- alguns o desprezam é porque, na verdade, ignoram suas
nografia é técnica, técnica de organizar todo o espaço belezas, e que de toda forma é absolutamente irracional
onde as ações dramáticas são encenadas. A cenografia é negligenciar uma arte que, socialmente falando, é a mais
parte importante do espetáculo, pois ela ambienta e ilus- importante e influente de nossa época. Deve-se reconhe-
tra o espaço/tempo materializando o imaginário e apro- cer, no entanto, que a própria natureza do cinema oferece
ximando o público da representação. A cenografia cria e muitas armas contra ele. Ele é fragilidade, por estar preso
transforma o espaço cênico. O cenógrafo é aquele que a um suporte material delicado e suscetível a estragos; por
cria o cenário. ser objeto de registro legal somente há pouco tempo, e
porque o direito moral dos seus criadores é mal reconhe-
 Figurino cido; por ser, considerado, antes de tudo, uma mercadoria,
É um elemento importante da linguagem visual do es- e porque o proprietário tem o direito de destruir os filmes
petáculo formado por, além das vestimentas, pelos aces- como bem lhe aprouver; por submeter-se aos imperativos
sórios. O figurino auxilia na compreensão do personagem, dos capitalistas, e porque em nenhuma outra arte as con-
ele é carregado de simbologia e pode acentuar o perfil tingências materiais têm tanta influência sobre a liberdade
psicológico do personagem, objetivos e características da dos criadores. Ele é  futilidade, por ser a mais jovem de
história. Os figurinos e acessórios utilizados em cena de- todas as artes; por ser considerado pela maioria do públi-
vem ser sempre coerentes com a época em que acontece co como simples diversão que se frequenta sem cerimô-
a ação ou com o simbolismo que o diretor queira dar a ela. nia; porque a censura, os produtores, os distribuidores e
O figurinista é o responsável pelas roupas e acessórios os exploradores podem cortar os filmes à vontade; por-
utilizados na peça teatral. que as condições do espetáculo são tão lamentáveis que

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
a “sessão contínua” permite ver o fim antes do começo, Uma linguagem e um ser
e numa tela que não corresponde ao formato do filme; Que o cinema seja uma linguagem é o que este traba-
porque em nenhuma outra arte o consenso crítico é tão lho pretende demonstrar, analisando os inúmeros meios
difícil de alcançar, e porque todo mundo se julga autoriza- de expressão por ele utilizados como uma destreza e uma
do a arvorar-se em juiz. Ele é  facilidade, por apresentar-se eficácia comparáveis ás da linguagem verbal. Alexandre
geralmente sob a capa do melodrama, do erotismo ou da Arnoux, por exemplo, considera que “o cinema é uma lin-
violência; por consagrar, numa grande parte de sua pro- guagem de imagens, com seu vocabulário, sua sintaxe,
dução, o triunfo da estupidez; porque é, nas mãos dos po- suas flexões, suas elipses, suas convenções, sua gramáti-
derosos do dinheiro que o dominam, um instrumento de ca”. Mas pode-se realmente considerar que o cinema seja
imbecilização. Assim, taras profundas prejudicam o desa- uma linguagem dotada de destreza e do simbolismo que
brochar estético do cinema; além disso, um grave pecado essa noção implica? Segundo Gabriel Audisio, “quem con-
original pesa sobre seu destino. fundir linguagem com meio de expressão irá se expor a
graves enganos. A imprensa é um meio de expressão: ela
Uma Indústria e uma arte podia aguardar que a inventassem. Pois o homem sempre
“De qualquer forma, o cinema é uma indústria”. O que teve diversos meios dese exprimir, a começar pelos ges-
aparentemente, para André Malraux, não é senão a cons- tos... Porém, a música, a poesia, a pintura, são linguagens:
tatação de uma evidência torna-se, para alguns, a afirma- não concebo que as tenhamos inventado ontem, nem
ção de um vício condenável. De fato, o cinema é uma in- que possamos inventar outras jamais. Toda linguagem
dústria, mas há que convir que a construção de catedrais já nasceu com o homem.” Talvez. Mas então se admitirá
também foi, literal e materialmente falando, uma indús- que o cinema é a forma mais recente da linguagem defi-
tria, e isso não impediu a elevação desses prédios rumo à nida como “sistema de signos destinados à comunicação”.
beleza. Mais que seu caráter industrial, é o comercial que Não obstante, o semiólogo Christian Metz, que propõe
constitui uma grave desvantagem para o cinema, porque essa definição, precisa que ela não consegue dar conta da
a importância dos investimentos financeiros que necessita destreza da riqueza da linguagem cinematográfica: “Re-
o faz tributário dos poderosos, cuja única norma de ação produção ou criação, o filme estaria, sempre, aquém ou
é a da rentabilidade. Felizmente, isso não impede sua ins- além da linguagem”, em virtude do que há de “abundante
tauração estética, e as obras-primas já feitas comprovam nessa linguagem tão diferente de uma língua, subjugada
que o cinema é uma arte, liberta da influência de outras tão prontamente às inovações da arte quanto às aparên-
artes (em particular do teatro) para fazer desabrochar suas cias perceptivas dos objetos representados”. O que dis-
possibilidades próprias com toda autonomia. tingue o cinema de todos os outros meios de expressão
  culturais é o poder excepcional que vem do fato de sua
Uma arte e uma linguagem linguagem funcionar a partir da reprodução fotográfica
O cinema foi uma arte desde suas origens. Isso é evi- da realidade. Com ele, de fato, são os seres e as próprias
dente na obra de Méliès, para quem o cinema foi o meio, coisas que aparecem e falam, dirigem-se aos sentidos e à
com recursos prodigiosamente ilimitados, de prosseguir imaginação: à primeira vista, parece que toda representa-
suas experiências de ilusionismo: existe arte desde que ção (significante)coincide de maneira exata e unívoca com
haja criação original a partir de elementos primários não a informação conceitual que veicula (significado).
específicos, e Méliès, desta forma, merece o título de cria- Na realidade, a representação é sempre mediatizada
dor da sétima arte. No caso de Lumière, a evidência é me- pelo tratamento fílmico, como assinala Christian Metz: “Se
nos nítida, mas talvez mais demonstrativa. Filmando “A o cinema é linguagem, é porque opera com a imagem dos
chegada do trem na estação de Ciotat”, Lumière não tinha objetos, não com os próprios objetos, não com os próprios
consciência de fazer uma obra artística, mas simplesmente objetos. A duplicação fotográfica (...) arrancado mutismo
de reproduzir a realidade: no entanto, vistos em nossos do mundo um fragmento de quase-realidade para fazer
dias, seus pequenos filmes são surpreendentemente fo- dele o elemento de um discurso. Dispostas diferentemen-
togênicos. O caráter quase mágico da imagem cinema- te do que na vida, tramadas e reestruturadas pelo fio de
tográfica aparece então em toda a clareza: a câmera cria uma intenção narrativa, as efígies do mundo tornam-se os
algo mais que uma simples duplicação da realidade. Tendo elementos de um enunciado”. Vale dizer que a realidade
começado com espetáculo filmado ou reprodução do real, que aparece na tela não é jamais totalmente neutra, mas
o cinema tornou-se pouco a pouco uma linguagem, ou sempre signo de algo mais, num certo grau. Essa dialé-
seja, um meio de conduzir um relato e de veicular ideias: tica de significante-significado foi comentada assim por
os nomes de Griffith e Eisenstein são os marcos principais Bernard Pingaud: “Diferentemente de seus análogos reais,
dessa evolução, que se faz pela descoberta progressiva de vemos sempre o que (os objetos) querem dizer, e quan-
procedimentos de expressão fílmicos cada vez mais elabo- to mais evidente esse saber, tanto mais o objeto se di-
rados e, sobretudo, pelo aperfeiçoamento do mais especí- lui, perde seu valor particular. De modo que o filme parece
fico deles: a montagem. condenado, seja à opacidade de um sentido rico, seja à
clareza de um sentido pobre. Ou é símbolo, ou é enig-
ma”. Essa ambiguidade da relação entre o real objetivo e

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
sua imagem fílmica é uma das características fundamen- Plano
tais da expressão cinematográfica e determina em grande É a imagem-movimento. É uma perspectiva temporal,
parte a relação do espectador com o filme, relação que uma modelação espacial.
vai da crença ingênua na realidade do real representado Contra-plano
à percepção intuitiva ou intelectual dos signos implícitos Dialoga com o plano e pode ser definido como uma
como elementos de uma linguagem. Tal constatação faz tomada feita com a câmera orientada em direção oposta à
aproximar a linguagem fílmica da linguagem poética, onde posição da tomada anterior.
as palavras da linguagem prosaica se enriquecem de múl- Planos
tiplas significações potenciais. E podemos  pensar que a O tamanho de um plano é determinado pela distância
linguagem fílmica comum constitui uma espécie de doen- entre a câmera e o objeto filmado. Deve haver adequação
ça infantil do cinema, reduzido a apresentar um catálogo entre o tamanho do plano e seu conteúdo material (o pla-
de receitas, procedimentos e truques linguísticos preten- no é mais afastado quanto mais coisas há para ver) e seu
samente produtores de “significados estáveis e universais”. conteúdo dramático.
Pode-se contatar, então, que uma boa quantidade de fil- Existem numerosos planos e eles raramente são unívo-
mes perfeitamente eficazes no campo da linguagem mos- cos: o plano geral de uma paisagem pode perfeitamente
tra-se nula do ponto de vista estético, do ponto de vista enquadrar uma personagem entrando em primeiro plano,
do ser fílmico: não têm existência artística. Lucien Wahl: e é possível dispor atores em diversas distâncias.
“Há filmes cujo roteiro é razoável, cuja direção é impecável, Plano geral
cujos atores são talentosos, e não valem nada. Não vemos Enquadra a cena em sua totalidade. É aberto e pro-
o que lhes falta, mas sabemos que é o principal”. O que cura registrar o espaço onde as personagens estão. O
lhes falta é aquilo que alguns chamam de alma ou graça, corpo humano é enquadrado por inteiro e sempre temos
e que eu denomino ser. “Não são as imagens que fazem o ambiente (interno ou externo) ocupando grande parte
um filme”, escreveu Abel Gance, “mas a alma das imagens”. da tela. Reduzindo o homem a uma silhueta minúscula,
Essa revolução da linguagem, essa passagem do cinema este plano o reintegra no mundo, faz com que as coisas o
linguagem para o cinema ser, Griffith, Gance, Eisenstein, devorem, “objetivando-o”. Dá uma tonalidade psicológica
e depois, Ozu, Mizoguchi, Antonioni, Resnais e Godard, pessimista, uma ambiência moral um tanto negativa e, às
entre outros, contribuíram poderosamente para realizar. É vezes, também traz uma dominante dramática de exalta-
preciso afirmar desde o início a originalidade absoluta da ção , lírica ou mesmo épica.
linguagem cinematográfica. Ela advém essencialmente de  Plano americano
sua onipotência figurativa e evocadora, de sua capacida- É o plano que enquadra a figura humana do joelho
de única e infinita de mostrar o invisível tão bem quanto para cima. Geralmente não comporta mais do que três
o visível, de visualizar o pensamento juntamente com o personagens reunidas. Tem esse nome devido à sua gran-
vivido, de lograr a compenetração do sonho e do real, do de popularidade entre os diretores de Hollywood das dé-
impulso imaginativo e da prova documental, de ressuscitar cadas de 30 e 40.
o passado e atualizar o futuro, de conferir a uma imagem  Plano sequência
fugaz mais pregnância persuasiva do que o espetáculo do É a filmagem de toda uma ação contínua através de
cotidiano é capaz de oferecer. um único plano (sem cortes).
Close
Linguagem cinematográfica é o nome dado ao con- É o plano enquadrado de uma maneira muito próxima
junto de planos, ângulos, movimentos de câmera e recur- do assunto. A figura humana é enquadrada do ombro para
sos de montagem que compõem o universo de um filme. cima, mostrando apenas o rosto do/a ator/atriz. Com isso,
Para isso, é preciso ter em conta que cada plano, movi- o cenário é praticamente eliminado e as expressões tor-
mento de câmera, etc, tem um efeito psicológico, um valor nam-se mais nítidas para o/a espectador/a. Corresponde a
dramático específico e exerce seu papel dentro da totali- uma invasão no plano da consciência, a uma tensão men-
dade que é um filme. tal considerável, a um modo de pensamento obsessivo.
A seguir apresentaremos alguns dos principais aspec- Plano detalhe
tos da linguagem cinematográfica procurando propiciar Semelhante ao close, mas se refere a objetos. Enqua-
aos interessados uma pequena noção do que é essa lin- dra um objeto isolado ou parte dele ocupando todo o es-
guagem. paço da tela. Ressalta um aspecto visual, eliminando o que
Campo não é importante no momento.
Compreende tudo o que está presente na imagem: ce- Ponto de vista
nários, personagens, acessórios. Plano visto pelos olhos do personagem, à sua altura e
Extra-campo distância, no geral intensificando a dramaticidade do ro-
Remete ao que, embora perfeitamente presente, não teiro.
se vê. É o que não se encontra na tela, mas que comple- Ângulos
menta aquilo que vemos. Designa o que existe alhures, ao São determinados pela posição da câmera em relação
lado ou em volta do que está enquadrado. ao objeto filmado.

33
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Plongée Fade
A câmera filma o objeto de cima para baixo, ficando Quando a imagem vai surgindo aos poucos de uma
a objetiva acima do nível normal do olhar. Tende a ter um tela preta (ou de outra cor qualquer), temos o fade in.
efeito de diminuição da pessoa filmada, de rebaixamento. Quando ela vai desaparecendo até que a tela fique preta,
 Contra-plongée: temos o fade out. A velocidade com que a imagem dá lu-
A câmera filma o objeto de baixo para cima, ficando a gar à tela preta e vice-versa pode ser controlada de acordo
objetiva abaixo do nível normal do olhar. Geralmente, dá com o efeito desejado. O fade in é comumente usado no
uma impressão de superioridade, exaltação, triunfo, pois início de uma sequência e o fade out, como conclusão.
faz “crescer” o/a ator/atriz. Pode denotar a passagem de tempo ou um deslocamento
Inclinado espacial, assim como na fusão.
É uma tomada feita a partir de uma inclinação do eixo Cortina
vertical da câmera. Pode ser empregada subjetivamente, É uma forma de transição de planos que ocorre quan-
materializando aos olhos do/a espectador/a uma impres- do uma cena encobre outra (geralmente entrando no eixo
são sentida por uma personagem, como uma inquietação horizontal, mas pode ocorrer também no sentido vertical,
ou um desequilíbrio moral. diagonal, em íris e em uma infinidade de formas). Pode
Movimentos de câmera ocorrer também através de uma linha que corre o quadro,
Constituem a base técnica do plano em movimento. mudando as ações.
São definidos levando-se em conta se o movimento da Montagem Paralela
câmera é de rotação (em torno do seu eixo) ou de trans- É quando duas ou mais sequências são abordadas ao
lação (locomovendo-se em avanço ou recuo, subindo ou mesmo tempo, intercalando as cenas pertencentes a cada
descendo). uma, alternadamente, a fim de fazer surgir uma significa-
Panorâmica ção de seu confronto. Ocorre quando se quer fazer um
A câmera se move em torno do seu eixo, fazendo um paralelo, uma aproximação simbólica entre as cenas, como
movimento giratório, sem sair do lugar. Trata-se de um por exemplo a aproximação temporal.
movimento da câmera que pode ser horizontal (da esquer- Off
da para a direita ou da direita para a esquerda), vertical (de Vozes ou sons não produzidos na cena focada. Um
cima para baixo ou vice-versa) ou oblíquo. A panorâmica personagem que fale, sem estar em cena, fala em off.
vertical é também conhecida como tilt. Argumento
Travelling Resumo de uma história, para roteirização de um filme,
A câmera é movida sobre um carrinho (ou qualquer que pode ser original ou adaptado de uma obra literária.
suporte móvel) num eixo horizontal e paralelo ao movi- Enquadramento
mento do objeto filmado. Este acompanhamento pode ser Limites laterais, superior e inferior da cena filmada. É a
lateral ou frontal, neste último caso podendo ser de apro- imagem que aparece no visor da câmara.
ximação ou de afastamento. Ao lado temos um exemplo Sequência
de travelling lateral. Como se denomina cena, no cinema, embora muitos
Zoom prefiram chamar assim uma série de cenas ligadas pela
No zoom, a câmera se mantém fixa e é seu conjunto mesma continuidade.
de lentes que se move, fazendo com que o objeto se apre- Cena
sente mais afastado ou mais próximo na imagem. Todo o roteiro é dividido em cenas, unidades dramá-
Montagem ticas de ação contínua. Sequência dramática com unidade
Montar significa dispor, compor, construir. A monta- de lugar e tempo, que pode ser “coberta” de vários ângu-
gem no cinema é a organização dos planos de um filme los no momento da filmagem.
em certas condições de ordem e duração. Consiste na su-
cessão das tomadas ou planos dentro de uma sequência,
de forma a dar-lhes unidade interpretativa.
Corte seco
É quando há uma transição imediata, direta de uma
cena para outra. Foi um dos primeiros procedimentos da
montagem, usado na hora da transição de um filme para
outro. Usado quando se quer obter imagens que se suce-
dem dentro de um enredo.
Fusão
É quando uma cena desaparece simultaneamente ao
aparecimento da cena seguinte. As cenas se superpõem:
enquanto uma se apaga, a outra aparece. Mantém a flui-
dez e a suavidade de uma sequência. Seu uso pode signi-
ficar uma passagem de tempo. Também é usada quando
se quer suprimir ações que sejam dispensáveis na narração
(processo conhecido como elipse).

34
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
No início, faziam esculturas e obras em pequena escala,
DIÁLOGO DA ARTE BRASILEIRA COM A ARTE mas com os egípcios aprenderam a trabalhar com monu-
INTERNACIONAL mentos de grandes proporções. Eram exércitos de pessoas
construindo templos, estátuas. Essa soma de culturas foi
suficiente para uma verdadeira revolução artística. Comer-
A arte é a expressão da vida, que proporciona ao ser hu- ciavam como nunca, trocavam ideias e conhecimento. Foi
mano o pleno desenvolvimento do seu raciocínio e da sua nesse momento histórico e nessa atmosfera que as pessoas
personalidade por meio de suas emoções e capacidade de com maior poder aquisitivo começaram a colecionar obras
criar. Esta participa diretamente no processo de evolução da de arte, mandando fazer réplicas das mais famosas quando
sociedade, dando a ela formas e sentidos. não podiam comprar as verdadeiras ou pagavam preços
Frente a um mundo globalizado, os governos de vários estratosféricos pelas obras originais. A Cidade-Estado e os
países, como Estados Unidos e Inglaterra, passam a dar des- burgueses detinham o monopólio da demanda de obras
taque para o campo artístico e seus aspectos mercadológi- (GOMBRICH, 1999).
cos, considerando arte como uma forma de desenvolvimento Entre os séculos V e XV, durante a Idade Média, o triun-
econômico, cultural e de investimento. fo da mentalidade do Cristianismo estava perto de se con-
O desenvolvimento da economia mundial fez com que o sumar. O Cristianismo foi uma religião que sofreu influên-
poder de compra das pessoas aumentasse, possibilitando a cia de várias formas de pensamento. Foram criados os dez
aquisição de obras e o início de um novo mercado dedicado a mandamentos, o conceito de pecado e as doutrinas.
quem se interessa por arte e cultura, sendo bastante oportuna Milhares de pessoas se mobilizavam para construir
a elaboração de pesquisas nesta área. impérios, templos, faziam pinturas e obras complexas, um
grande esforço, levando em conta a escassez de recursos
Arte: contexto histórico no início dos tempos. Buscavam respostas para sua con-
O termo ‘arte’ desafia qualquer breve definição comu- dição de vida, filosofavam e questionavam sobre o futuro.
mente aceita como verdade absoluta. Sua interpretação fica a Crenças como judaísmo e budismo foram adotadas e valo-
critério de cada indivíduo e da maneira em como este absorve res foram sendo criados (BATTISTONI FILHO, 2005).
a arte para si, mediante suas emoções e capacidades de pen- A partir deste momento, a Igreja Católica passou a do-
sar e questionar. minar o cenário religioso. Influenciou as formas de com-
Para compreender a verdadeira importância do assunto portamento e de pensar e se autointitulava como a úni-
proposto, deve-se primeiramente levar em consideração a ca intermediária entre a humanidade e Deus, passando a
história da arte como parte da história das civilizações. In- deter também o monopólio do mercado de artes. Os que
dependente de sua época, seja primitiva ou contemporânea, questionavam suas doutrinas eram considerados inimigos
toda obra de arte visa ser uma síntese que reflete o artista e severamente punidos (POZENATO; GAUER, 2001).
em relação à sociedade e à psicologia do seu tempo, às suas Além de patrocinar artistas, a Igreja foi a maior com-
crenças e à sua natureza (CREEDY, 1975). pradora de obras de arte da Idade Média. Eram levantados
Embora os artistas que produziam objetos de arte no iní- palácios, torres, feitas pinturas sobre Deus, anjos, aconteci-
cio da história da humanidade fossem anônimos, praticamen- mentos bíblicos, tudo em grande escala, para poder instruir
te tudo o que se sabe sobre os povos primitivos vem da arte e moralizar os fiéis.
que estes produziram, como pinturas no interior de cavernas, Este contexto histórico refletiu um período muito con-
esculturas e ossos pintados. turbado em que se estabeleceram os feudos e ocorreram
Foram encontradas figuras de cervos, cavalos, mamutes guerras de conquista territorial. As igrejas eram implacá-
e outros animais. A figura humana também aparecia, mas em veis, ficavam cada vez mais amplas para sustentar o grande
menor quantidade e retratada de forma grotesca (GOMBRI- número de fiéis. Artes que não fossem religiosas eram con-
CH, 1999). sideradas profanas (POZENATO; GAUER, 2001).
Com o passar do tempo, o homem, que era nômade, Nesta ocasião, as atividades artísticas eram alavanca-
adotou um estilo de vida mais complexo, de viver em grupos, das pelo crescimento das cidades, pois muitos edifícios
se fixando em um só lugar, plantando sua comida, criando eram levantados e precisavam ser decorados para a cama-
animais, fazendo trocas e criando organizações sociais, das da social que se desenvolvia. Os lares dos nobres foram
quais viriam a surgir os primeiros Estados. decorados com pinturas e esculturas (JACQUES, 2012).
O primeiro período em que a história divide-se é o da Durante este período houve muitos acontecimentos
idade antiga, há cerca de 3200 anos a.C, que se inicia com históricos. Daí em diante, as ideias das pessoas se voltavam
o aparecimento da escrita e segue até a queda do Império para o real, o científico, o específico. Houve grande avanço
Romano no Ocidente. Este foi o tempo das grandes civiliza- tecnológico e o ritmo de vida se acelerou. Os artistas retra-
ções míticas como as da Mesopotâmia, Egito, Grécia e Roma taram a história de seu tempo, guerras; implementações de
(POZENATO; GAUER, 2001). sistemas políticos, como democracia; sentimentos de pes-
Em paralelo à civilização egípcia, a Grécia, outra sociedade simismo, medo, raiva, esperança, agonia.
importante, dava seus primeiros passos para o crescimento. Em meio a manifestos sociais e políticos a favor da de-
Sociedade esta que influencia o mundo ocidental até os dias mocracia para massas, a Europa mudava a visão de futuro
de hoje, seja em estudos, em arte, em modo de pensar ou em da humanidade, sentindo ainda os efeitos da Revolução In-
formas de cultura. Os gregos ancestrais estavam preocupados dustrial e da Revolução Francesa. A arte moderna refletiu as
com a filosofia, a arte do pensar, o teatro e a matemática. inquietações do período.

35
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Caracterizou-se pela quebra de laços com o passado No século XX, a arte contemporânea foi implantada de
e pelo intuito de chocar o público, pregando ideias radi- forma definitiva no mercado da arte. Os mecenas definem
calmente novas. Os movimentos de vanguarda europeia qual arte querem patrocinar. Além da dificuldade de apro-
refletiram de forma incontestável a perplexidade do ser ximar público e clientes, os artistas batalham para conse-
humano para o contexto histórico daquela época (GOM- guir patrocinadores.
BRICH, 1999). E nessa cadeia, age a aristocracia – que agora é o go-
Em paralelo, na Holanda, o comércio de artes se de- verno – e o empresariado mostra-se como prestigioso me-
senvolvia de forma a criar um padrão semelhante ao que se cenas, procurando visibilidade assim como benefícios fis-
tem hoje. A burguesia que tomava poder em várias partes cais (DONATO, 2010).
do mundo investia muito no setor imobiliário e as primei- O fato de a arte estar tão globalizada se deve tanto ao
ras feiras internacionais de obras de arte foram criadas para desenvolvimento da tecnologia e dos meios de comuni-
que os artistas vendessem seus produtos por meio dos cação, assim como do aumento do poder de compra das
marchands, profissionais que intermediam as negociações pessoas ao longo da história. Muitas galerias de artes fo-
entre o artista e o cliente (JACQUES, 2012). ram criadas para que os artistas vendessem suas obras para
Neste mesmo período, o setor industrial crescia; o o público. Vários leilões são feitos ao redor do mundo e
avião, o telefone, o automóvel, a fotografia e os grandes este mercado movimenta grande quantidade de dinheiro
edifícios em ferro foram inventados. Novos sistemas polí- (SMIERS, 2006).
ticos foram implantados e a arte girava em torno do am- Desta forma, foi se estabelecendo o mercado mundial
biente. Foram criados novos movimentos artísticos, como de obras de arte, em paralelo ao avanço da tecnologia e da
o realismo e o impressionismo, que se consolidaram no globalização. Partindo deste ponto, o cenário mercadológi-
século XIX. Era o início da idade e da arte moderna (POZE- co artístico, que até então era regional, passou a se ampliar,
NATO; GAUER, 2001). dando oportunidade para os mais variados mercados ao
Não mais a serviço da Igreja ou da nobreza, a arte mo- redor do globo.
derna referia-se a uma nova forma de arte em um momen- Sob este aspecto, o atual mercado artístico vem se de-
senvolvendo e interligando-se ao mercado empreendedor,
to em que representar a realidade fielmente não era mais
formado por pessoas que têm interesse em arte e negócios.
importante. Com o nascimento da fotografia, houve uma
Tanto as economias mais potentes como as emergen-
diminuição drástica na demanda por obras de arte tradi-
tes fazem parte deste mercado.
cionais. A arte se tornara universal. Vários países do mundo
As galerias de arte espalhadas pelo mundo facilitam a
produziam sua própria arte, de acordo com seus aspectos
exposição e a venda de obras de artistas dos mais diferen-
culturais.
tes lugares.
Considerando o método de visão capitalista e os or-
Algumas atividades destinadas a essas galerias de arte
ganismos de democratização da cultura, alterou-se a visão são exposições de pinturas, instalações, quadros e as mais
clássica da arte. Com o nascimento das primeiras galerias variadas formas de artes visuais. Os investidores destes es-
de arte, essa passa a ser notada como um item de consu- tabelecimentos, também conhecidos como marchands, po-
mo, o que reafirma o mecenato e o investimento privado dem realizar leilões, abrir espaço para novos artistas, fazer
dos burgueses (DONATO, 2010). feiras, workshops e outros eventos (SMIERS, 2006).
Grande parte de todo o acervo artístico produzido ao Tendo o espaço disponível para o negócio, o investidor
longo da história se encontra em museus, galerias de arte procura a melhor forma de atuar no mercado e quais ativi-
e sob a posse de colecionadores que investem grandes va- dades sua galeria exercerá. A busca pela internacionaliza-
lores em leilões e vendas de obras. Com o passar do tem- ção, além de depender do mercado e de inúmeros fatores,
po, este mercado foi ficando cada vez mais valorizado e vai depender também do investimento inicial e das formas
elitizado. de comercialização.
Atualmente, o artista é um indivíduo livre, que produz Estados Unidos, Europa e Reino Unido são as grandes
mercadoria e se sustenta por meio dela. Não depende mais potências do mercado artístico mundial, que além de se-
de instituições como antes, pode criar livremente, sem ter rem as regiões que mais exportam obras de arte, também
que registrar pinturas de cunho político ou religioso. Os são as que mais importam.
alicerces de compra e venda de obras foram estruturados Os produtos do complexo ‘entretenimento’, que reú-
com instâncias que intermediam vendedor e comprador nem, sobretudo, obras de arte e instrumentos musicais,
como os museus, os catálogos especializados em preços e significou em 2010 0,4% do total importado pelos Estados
cotações de obras, centros culturais, feiras internacionais, Unidos do mundo, num total de US$ 7,5 bilhões. Cabe des-
leilões e galerias (JACQUES, 2012). tacar a relevância do mercado de arte nas importações es-
tadunidenses deste complexo, uma vez que 83,3% são de
Mercado mundial de obras de arte: principais mer- obras de arte.
cados A Europa, berço da cultura ocidental, reúne inestimável
Com o passar do tempo, as nações foram ficando cada riqueza de valor histórico, cultural e artístico, tendo até os
vez mais interligadas por meio do comércio, expandindo dias atuais as maiores e mais importantes feiras internacio-
todos os mercados mundiais. O interesse por obras de nais de arte contemporâneas e bienais, que são de funda-
artistas conhecidos internacionalmente aumentou e a de- mental importância ao mercado global das artes plásticas
manda por novas obras de arte também. e visuais (BRASIL/FECAMP, 2011).

36
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
No que diz respeito a valores, estes variam de acordo com Diálogo entre as Artes
as ‘tendências’ e com o status do artista. Dentre as mais caras, A arte contemporânea brasileira e a sua particular cons-
encontra-se “Os Jogadores de Carta”, do Francês Paul Cézan- telação são reveladoras de um movimento de projeção in-
ne, que foi vendida para a família real do Qata em 2011 pelo ternacional sem precedentes. A visibilidade da produção
valor de US$ 250 milhões; a obra “La Rêve”, do espanhol Pablo artística do País cresceu muito e se reflete mundo afora em
Picasso foi vendida em março de 2013 por US$ 155 milhões eventos de grande, médio e pequeno porte. Exemplos hoje
para o famoso empresário de Wall Street Steven A. Cohen; não faltam. Vão desde exposições individuais organizadas
e o “Retrato de Adele Bloch-Bauer I”, pintado pelo austríaco pelo Museum of Modern Art de Nova York (MoMA) e pela
Gustav Klimt, foi vendido pelo valor de U$ 135 milhões para o Tate Modern de Londres, duas das maiores instâncias de
empresário americano Ronald Lauder (SOARES, 2013). Em termos da história recente da proeminência da arte
brasileira no cenário internacional, pareceria lógico des-
Participação do Brasil no mercado mundial de obras tacar a Bienal de São Paulo de 1998 como um divisor de
de arte águas, que aconteceu no momento em que a arte brasileira
A partir dos anos 2000, o Brasil começou a ser destaque contemporânea se tornava mais amplamente reconhecida.
na mídia internacional. Certamente, nos últimos anos houve uma mudança drástica
Com sua economia expansiva e estável, a arte contempo- no interesse, no conhecimento e na atenção dada à arte do
rânea brasileira se tornou de fato representativa em importan- Brasil. Hoje o país é realmente visto como um importante
tes instituições britânicas, categoricamente assumindo lugar centro artístico — mas que também tem uma longa e com-
de destaque em relação a outros mercados com obras artísti- plexa história ao longo do século 20 que precisa ser melhor
cas de credibilidade (BRASIL/FECAMP, 2012). conhecida.
Deste modo, o Brasil encontra-se ainda em fase de ama- Há muitas maneiras como o mercado e o prestígio di-
durecimento no que diz respeito à sua internacionalização no vergem. O mercado pode ser um guia que nos fala sobre
mercado mundial de obras de arte, uma vez que são recentes certos desenvolvimentos no valor dado à produção artísti-
os investimentos maciços em exportação e políticas culturais. ca, mas nunca pode ser a única medida do valor artístico.
Apesar da sua participação ser recente no plano internacio- Muitos artistas trabalham além do âmbito do mercado e fa-
nal, o país vem obtendo bons resultados com exportações de zem contribuições e realizações extraordinárias. O sucesso
obras de arte. comercial pode escapar dos artistas por muitos anos e ainda
Pode-se constatar que os principais países que importam assim eles podem estar fazendo trabalhos que têm impor-
obras de arte do Brasil estão entre os mais bem-sucedidos do tância histórica.
mercado artístico mundial. A construção de uma nação moderna e a busca de uma
Para vendedores e galerias que operam no exterior, feiras identidade nacional são temas centrais na história social bra-
internacionais, como a Art Basel em Miami ou a Arco Madrid, sileira. No campo artístico, essas questões foram manifesta-
são as principais plataformas de comércio: 95% das exporta- das por meio de nosso movimento modernista, que ocorreu
ções de obras de arte do Brasil são negociadas em eventos no Brasil somente 20 anos depois que a Europa questionou
como estes. Mesmo com grandes custos, a participação de e desconstruiu a estética de sua arte consagrada.
galerias brasileiras em feiras internacionais aumentou nos últi- Mas mesmo assim, quando falamos do dilema entre o
mos dois anos, provocando um crescimento de cerca de 40% local (nacionalismo) e o cosmopolita, temos que os artistas
no volume de exportações (PONTES, 2013 apud APEX-BRASIL sempre encontraram maneiras de ter diálogos que vão além
2013). das fronteiras nacionais — seja por contato real ou por re-
Os preços das obras negociadas variam de acordo com as presentação, por viagens ou através da mídia impressa, ou
galerias e com os artistas filiados a ela. Finkelstein, Braga e Es- mesmo circuitos de circulação como o correio ou a internet.
manhotto (2013, p. 28) apontam “[...] de R$ 2.000 para as obras Se examinarmos, veremos que o global ou transnacional não
mais baratas até R$ 700.000 para as obras mais caras, embora é um fenômeno tão recente. A partir dos anos 1920, houve
a variação seja grande, existindo peças à venda por cerca R$ um intercâmbio transatlântico entre a Europa e o Brasil que
250 e outras que são avaliadas em mais de R$ 8 milhões”. nunca foi uma conversa de mão única — Schendel fez uma
Tardáguila (2013) destaca que, vencidas ao menos três contribuição nesse sentido para uma história da arte experi-
barreiras – alta taxação, burocracia alfandegária e falta de pro- mental em Londres –, e é a complexidade desse diálogo que
fissionalização de galerias e artistas –, o crescimento pode ser enriquece as histórias que a arte tenta contar.
ainda maior do mercado brasileiro de obras de arte. Quando falamos sobre a internacionalização da arte
Entretanto, mesmo obtendo bons lucros com importa- brasileira, nos vem questionamentos como: A arte contem-
ções e exportações, o amadurecimento do mercado brasileiro porânea do Brasil é definida como “brasileira” ou “interna-
de arte depende também de outros fatores importantes. O cional”? Há na produção brasileira uma identidade nacional?
potencial de internacionalização deste mercado não deve ser Bem, é claro que há aspectos da arte brasileira que se
examinado apenas em relação ao valor do volume de vendas relacionam à uma história que ocorreu no país e que têm
para o exterior. Como apontam Finkelstein, Braga e Esmanhot- a ver com saltos radicais realizados por grupos de artistas
to (2013, p. 31), “[...] existem outros fatores, fundamentais, que que dialogavam entre si, e às vezes também com (círculos
falam da inserção e da visibilidade internacional conquistada de) críticos e curadores, mas muitos artistas brasileiros têm
pelas galerias brasileiras”.2 algumas contribuições únicas a oferecer a um público mais
amplo.
2

37
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Na Bahia, destaca-se o Teatro Castro Alves, que antes
mesmo de ser inaugurado, em 1967, sofreu um incêndio. A
MUSEUS, TEATROS E ESPAÇOS EXPOSITIVOS.
casa de espetáculos já realizou shows com grandes nomes
da música brasileira e hoje segue levando cultura à popu-
lação. Conheça outros teatros brasileiros no site do Centro
Centros culturais são espaços que conservam, difun- Técnico de Artes Cênicas (CTAC).
dem as artes e expõem testemunhos materiais produzidos
pelo homem. No Brasil, há 2.500 centros culturais, entre Casas de cultura e bibliotecas
museus, teatros e bibliotecas, que mantêm acervos e expo- As casas de cultura reúnem diversas atividades e ma-
sições. Com eles o cidadão entra em contato com diversas nifestações artístico-culturais em um só espaço, como mú-
manifestações artísticas e pode desenvolver um olhar mais sica, teatro e literatura, além de muitas vezes promover
crítico sobre a cultura e outros aspectos de seu cotidiano. oficinas e cursos ligados às artes e contar com bibliotecas.
Em São Luís, no Maranhão, por exemplo, a Casa de
Museus Cultura Josué Montello (CCJM) tem entre seus espaços um
Entre os principais museus do país estão o Museu de salão de exposição permanente, salas de leitura e de pe-
Arte de São Paulo (Masp) -- o mais importante da América riódicos, área de convivência para apresentações musicais
Latina -- e o Museu da República, no Rio de Janeiro, loca- e teatrais e um auditório para cursos, palestras e exibição
lizado no Palácio do Catete, sede do Estado brasileiro até de filmes.
1960. Em Porto Alegre, a Casa de Cultura Mario Quintana
Para estimular a criação e a manutenção de museus e tem espaços voltados para o cinema, a música, o teatro e a
centros culturais e ajudar a preservar o patrimônio cultu- dança. Como forma de homenagear personalidades que se
ral brasileiro, foi criado em 2009 o Instituto Brasileiro de destacaram na cultura do Rio Grande do Sul, alguns desses
Museus (Ibram). A entidade desenvolve ações educativas e ambientes são batizados com nomes de artistas renoma-
de inclusão social nesses espaços, utilizando o patrimônio dos. Entre eles estão o Espaço Elis Regina e a Biblioteca
cultural como ferramenta de interação. Érico Verissimo.
As bibliotecas, aliás, são um tipo de centro cultural bas-
Galerias tante acessível aos cidadãos. Com a internet e as novas tec-
As galerias são espaços amplos, normalmente com vá- nologias, muitas obras estão disponíveis na rede. É o caso
rias salas, que expõem e às vezes vendem obras de arte. A da Fundação Biblioteca Nacional, que em seu site oferece,
Caixa Cultural, por exemplo, entre outras atividades, pro- entre outros itens do acervo, obras raras, mapas antigos e
move exposições de artes plásticas nos diversos estados ilustrações, tudo ao alcance do internauta.
que contam com esse espaço, como Paraná, São Paulo e Estímulo a manifestações artísticas
Rio de Janeiro, além do Distrito Federal. As artes visuais, a música, o teatro, a dança e o circo
Em Brasília, destaca-se a Galeria Fayga Ostrower, que brasileiros contam com a ação da Funarte, órgão do Es-
faz parte do Complexo Cultural da Fundação Nacional de tado brasileiro que incentiva a produção e a capacitação
Artes (Funarte). Em São Paulo, a Galeria Olido é uma das de artistas, o desenvolvimento da pesquisa e a formação
mais conhecidas da cidade. Seu espaço expositivo se es- de público para essas áreas no Brasil. Informações sobre
pecializou em exibições fotográficas, e há também cinema projetos de incentivo podem ser encontradas na Funarte.
e sala de apresentações de dança. No Brasil, a Funarte se-
leciona anualmente projetos de artistas para incluí-los na Que papéis um centro cultural exerce para o desen-
programação de suas galerias. Trata-se do Projeto Galerias, volvimento do povo de uma cidade?
sobre o qual você pode se informar no site da Funarte. Sem dúvida, o primeiro papel exercido por um centro
O Banco do Brasil também disponibiliza ambientes ex- cultural para o desenvolvimento do povo de uma cidade é
clusivos direcionados para a cultura. Chamados de Centros a inclusão social desse povo na cadeia produtiva da cultu-
Culturais Banco do Brasil (CCBB),esses espaços são multi- ra, oferecendo condições para que todos - especialmente
disciplinares e oferecem programação regular com quali- aqueles excluídos do consumo das artes - tenham acesso à
dade e diversidade, a preços acessíveis. inventividade artística das diversas manifestações culturais.
Em segundo lugar, a função de ancorar, em determina-
Teatros da região da cidade, um elenco de atividades não-comer-
Entre os principais teatros do Brasil estão o Teatro Mu- ciais, lúdicas, de circulação de bens simbólicos e com poder
nicipal do Rio de Janeiro, inaugurado em 1909, e o Teatro aglutinador de pessoas.
Municipal de São Paulo, que abriu suas portas dois anos Esse aspecto materializa-se quando o centro cultural
depois. No Norte, o Teatro Maria Sylvia Nunes foi erguido captura pessoas para atividades outras de fruição estética
no antigo cais do porto da cidade de Belém, no Pará. Seu ou mesmo de mera diversão desopilante, inaugurando e
nome homenageia uma das principais personalidades do consolidando novos pólos de convivência nos intervalos de
teatro paraense. suas jornadas de trabalho ou estudo.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Outro papel importante é contribuir no processo de
maturação profissional da classe artística, abrindo opor-
PLURALIDADE CULTURAL: CÓDIGOS ESTÉTICOS
tunidades para o artista apresentar seu trabalho de forma
digna, em espaços adequados à construção do diálogo E ARTÍSTICOS DE DIFERENTES CULTURAS.
entre artista e público.
Para compartilhar arte de qualidade com os cidadãos,
artista e centro cultural empenham-se juntos nas fases  Pela arte, pensamentos tomam forma e ideais de culturas
de planejamento, realização e avaliação do trabalho, num e etnias têm a oportunidade de serem apreciados pela socie-
processo de aprimoramento constante, que foge ao ime- dade no seu todo. Assim, o conceito de arte está ligado à his-
diatismo comercial e só em longo prazo alcança resultados tória do homem e do mundo, porém não está preso necessa-
de excelência. riamente a determinado contexto, é essencialmente mutável.
Ambos passam a atentar para práticas básicas e in- Para exemplificar, voltemos algumas décadas no tempo
e analisemos como a arte era entendida antigamente. Como
dispensáveis: planejamento do trabalho, estratégias de
será que nossos bisavôs definiriam a arte?
captação de recursos, oferecimento de visibilidade aos in-
Possivelmente, na época, fosse difícil pensar em uma arte
vestidores, formas de acesso da comunidade ao produto
digital, ou no desenvolvimento de uma ciberarte (manipula-
ou evento cultural, mensuração do retorno das ações de
ção das novas tecnologias e mídias atuais para a construção
comunicação, prestação de contas dos recursos investidos, de objetos artísticos), mas hoje esse fator é determinante para
análise do impacto social e até medição do nível de me- compreendermos a arte num sentido mais amplo e completo.
lhoria da qualidade de vida da comunidade na qual estão Tudo passa pelas tecnologias e a humanidade está mar-
inseridos. cada pelos desafios políticos, econômicos e sociais decorren-
Essa madureza profissional resulta também no ama- tes de uma nova configuração da realidade, em que campos
durecimento artístico, e passa a influenciar na formação da atividade humana, estão utilizando intensamente as redes
de plateias para o usufruto duradouro de bens simbólicos, de comunicação e a informação computadorizada (SANTOS,
até mesmo em outros equipamentos culturais da cidade. 2006).
Habituadas a apreciar as mais variadas modalidades O conceito de obra de arte é uma construção social, não
de arte em centros culturais, principalmente naqueles com pode ser um trabalho isolado. A arte possibilita um diálogo
programação gratuita, pessoas de todas as faixas etárias com quem a observa, cria situações que podem se tornar de-
e sócio econômicas educam-se artisticamente, tornam-se safiantes para o apreciador e, algumas vezes, os materiais uti-
esteticamente mais exigentes e amplificam seu desejo de lizados na própria composição propõem uma reflexão sobre
apreender novos conhecimentos. o significado da arte.
Em consequência disso, passam a escarafunchar não Um novo tipo de sociedade condiciona um novo tipo de
apenas outros estabelecimentos sem fins lucrativos, mas arte. Porque a função da arte varia de acordo com as exigên-
também a visitar teatros, cinemas, museus e similares do cias colocadas pela nova sociedade; porque uma nova socie-
circuito comercial. dade é governada por um novo esquema de condições eco-
Cabe também aos centros culturais a identificação de nômicas; e porque mudanças na organização social e, por-
iniciativas potencialmente exitosas, geradas pela própria tanto, mudanças nas necessidades objetivas dessa sociedade,
comunidade, a fim de apoiá-las, estruturá-las e oferecê- resultam em uma função diferente de arte (KOELLREUTTER,
-las à coletividade, dando-lhes a visibilidade necessária e 1997).
merecida. Contudo, a arte está ligada aos fatores históricos e so-
São pessoas e grupos organizados da sociedade civil ciais, mas dialoga ativamente com nossa sociedade, criando
os estilos de época, e acompanhando a evolução do homem
que realizam atividades culturais e artísticas de forma livre
e da tecnologia.
e espontânea, buscando o encolhimento do fosso cultural
Quando se lida com as formas em artes visuais convive-se
entre as classes sociais, mas estão colocadas à margem do
habitualmente com as relações entre superfície, espaço, volu-
consumo pelas forças inexoráveis das perversas regras do
me, linhas, cores e a luz. Cada um desses elementos tem suas
mercado. próprias possibilidades expressivas e são ricos em significa-
Por fim, vale lembrar que as atividades oferecidas pe- dos, tanto em si mesmo como em relação aos demais. E todos
los centros culturais de reconhecida excelência são fun- eles são intermediados pelos autores e observadores ao se
damentais para a escolha de uma cidade como destino utilizarem de métodos e técnicas específicas para produzi-las
turístico por parte de visitantes de mentalidade salutar e e percebê-las (SANTOS, 2007).
com elevado poder aquisitivo. Ressalta-se ainda o valor de uma educação da práxis ar-
É justamente esse tipo de turista que interessa a uma tística, preocupada com o aprofundamento de conceitos, cri-
cidade saudável, pois atrai fortuna simbólica e material, térios e processos, considerando o universo de visualidade do
traduzida na injeção de disponibilidades cambiais e na vi- mundo contemporâneo e a complexidade do discurso visual,
vência coletiva de uma cultura de paz. e nesse contexto, promovendo a ampliação e enriquecimento
dos repertórios sensível-cognitivos, aprofundando os modos
de ver, observar, expressar e comunicar por meio de imagens,
sons ou movimentos corporais.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Muitas vezes, o primeiro contato que os indivíduos têm O desenvolvimento do pensamento estético.
com a arte é na escola, nas aulas de arte, obrigatórias no cur- Atualmente, o mundo vive transformações sociais, cul-
rículo do ensino fundamental. Espera-se que os estudantes, turais, políticas, tecnológica, estética, resultantes de um
nestas aulas, vivenciem intensamente o processo artístico, a longo processo de mudanças de comportamentos, hábi-
fim de contribuir significativamente em seus modos de fazer tos, formas de pensar e agir que estejam além de aspectos
técnico, de representação imaginativa e de expressividade. objetos e da lógica, mas que também contemple os aspec-
Ao mesmo tempo, espera-se também que aprendam sobre tos subjetivos e sensíveis de ver e compreender o mundo.
os artistas e obras de arte de diferentes períodos, comple- Essas mudanças afetam a articulação da educação com o
mentando assim seus conhecimentos na área. campo da arte, pois a educação é uma prática social que
Mas, será possível que o professor de artes trabalhe com visa a formação do ser humano, contribui e amplia possi-
as funções terapêuticas do fazer artístico? bilidades cognitivas, e também afetivas e expressivas, daí
O professor pode explorar, estudar e se especializar em a necessidade de um conhecimento que estabeleça cone-
arteterapia e, na medida do possível, conversar sobre as pro- xões entre o processo mental e a educação dos sentidos.
duções de seus alunos, se algum caso chamar sua atenção Uma das finalidades do ensino de arte é a formação
e ele não conseguir dar conta em sala, é aconselhável que estética, além do refinamento da percepção e da sensibi-
ele faça o encaminhamento do aluno para um atendimento lidade, por meio do fomento à criatividade, da autonomia
psicológico. na produção e fruição da arte. A questão neste texto é
A arte foi e é sinônimo de expressão de sentimentos, conseguir explicar como a estética está diretamente vincu-
emoções, revoltas, traumas... Nossa forma de ver a arte ou lada ao ensino de arte e vice-e-versa. É um exercício difícil
de fazer arte revela a compreensão que temos do mundo. e relevante para a educação, pois a estética esta presente
Podemos nos expressar de diversas maneiras: falando, em praticas sociais e culturais como forma de expressão e
rindo, cantando… Também nos expressamos através da arte representação do mundo, contudo, é essencialmente pre-
e de diversas formas. dominante na arte. Por meio da educação estética se pode
despertar a sensibilidade, perceber e organizar os estímu-
Linguagens Artísticas e Estética - conceitos e contex-
los do exterior e as funções globais do corpo.
tos
O desenvolvimento estético e artístico, são temas
Cada pessoa pode ter a sua ideia sobre o que é Arte,
e assuntos que estão no cotidiano da prática pedagógi-
e, muitas dessas ideias estão corretas, afinal, quem nunca
ca dos professores de arte, que utilizam-se de reflexões
realizou um desenho, nunca mexeu com tinta, nunca viu ou
sobre arte e teorias da arte, porém questões conceituais
ouviu um artista cantando, nunca assistiu uma peça ou um
sobre estética ou sobre os problemas da estética não são
filme? Creio que todos já tiveram contato com pelo menos
amplamente discutidos, ou as teorias sobre arte não são
uma dessas manifestações artísticas.
compreendidas como categorias da estética. Na verdade
Defino Arte como algo maravilhoso, que dá prazer às
pessoas, pois a Arte contribui para a felicidade do ser hu- existe uma separação entre o fazer arte e o pensar arte,
mano, seja em quaisquer das formas de linguagem artística, entre prática e teoria da arte.
porém, não se resume somente a isto, a Arte é mais, com Este texto apresenta algumas reflexões sobre estética
ela aprendemos um pouco do nosso passado, através das na prática pedagógica, por meio de um recorte feito a par-
obras de arte feitas nos períodos mais distintos, podendo tir de pesquisas sobre a prática pedagógica de professores
analisar o contexto histórico para verificar o que o artista de Artes do ensino fundamental, o objetivo é evidenciar o
quis expressar. conceito de estética apontando sua relação com a prática
Quando uma pessoa aprecia uma obra de arte, seja ela, pedagógica do professor de Artes numa perspectiva só-
um quadro, uma escultura, uma música, uma dança, uma cio-histórica. Para isso discutimos a conceituação e alguns
representação cênica, é importante que ela não seja apenas, dos principais problemas da Estética, para depois fazer-
uma apreciadora passiva, mas que ela, saiba analisar a obra mos a articulação com a prática pedagógica.
em vários contextos. Dessa maneira, é relevante desencadear reflexões e
Segundo BARBOSA (1994), o ensino da Arte deve seguir, interesses para novos conhecimentos. Refletir sobre uma
o que ela chama de Metodologia Triangular que é composta educação estética que busque suprir os limites de um en-
pela História da Arte, pela leitura da obra de arte e pelo fazer sino de arte fragmentado, tecnicista e padronizado. Uma
artístico, ou seja, a pessoa que aprende Arte, deve saber, não educação estética, que vá além, centrada na realidade em
apenas fazer algo, mas também saber de onde veio aquilo que se vive, que busque aprimorar e refinar os sentidos,
que ela está fazendo, o que levou aquelas pessoas a fazerem compreender os significados e sentidos estéticos da arte,
aquela obra, para assim, fazerem a leitura da obra, podendo para melhor compreender e fundamentar a função da ex-
perceber a mensagem o que o artista quis passar através da periência estética tanto na formação de nossos alunos,
sua obra. Além disso, ao criarem suas obras artísticas, pode- quanto na formação do professor.
rão criar algo que transmita uma mensagem, dando sentido O conceito de estética, ao longo da história, foi incor-
à Arte. Isso não significa que a técnica deva ser deixada de porando imposição de uma estética ocidental, universa-
lado, é importante que o aprendiz venha a conhecê-las para lista, produção artística elitizada, a influência da cultura
aprimorar cada dia mais o seu trabalho, mas, a técnica sozi- industrial; a supervalorização do novo; o imediatismo; de
nha, não dá sentido à obra. atividades mentais nas procura do prazer sem esforço e

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
imediato; por gosto e opiniões dirigido pela cultura de Segundo Bayer (1978), na antiguidade primeiramente
massa, rompimento da sensibilidade com a educação do pode-se destacar o pensamento de Platão sobre estética,
intelecto e a busca pelo belo idealizado, imposições que (427 a 348 a.C), porém não existe uma estética Platônica, por-
acarretou em um empobrecimento ou uma vulgarização que toda a sua filosofia é estética e as suas concepções estão
do real significado de estética. Outra questão a se conside- centradas no Mundo das Ideias. Platão, entendia a arte por
rar é que, conceito de estética ficou durante muito tempo meio de regras que poderiam dirigir a vida do ser humano
atrelado a beleza, atualmente, ocorreu um rompimento, e não separava arte da ciência, sua estética é centrada na
tornando-se supérfluo, pois a questão do belo depende da metafísica.
cultura em que o indivíduo está inserido. Platão, considerava impossível separar o belo do mundo
Portanto, a partir dessas concepções, surgem alguns das Ideias, pois, a beleza é a única ideia que verdadeiramente
questionamentos quanto educação estética na escola: os resplandece no mundo, o belo é o bem e a perfeição. Ele
professores de artes têm realmente construído ações que criou uma concepção de belo, que se afastava da interferên-
promovam a educação estética em todos os níveis e con- cia e da participação do juízo humano, ou seja, o homem tem
texto do ensino fundamental? uma atuação passiva ao conceito de belo.
Porque se fala tanto de estética e qual necessidade A estética deve aparentar os sentimentos, agradáveis ou
histórica que responde as inúmeras formulações dentro não, pois, vêm da natureza da alma, onde “A realidade não é
deste tema? mais do que uma cópia imperfeita, o que importa é conhecer
Essas questões sintetizam parte de inúmeros questio- as ideias, pois, só pela intuição se apreenderá” (BAYER, 1978,
namentos que podem ser formulados sobre a estética e a p.47). A aparência sensível, é constituída pela imitação de um
educação estética no ensino de arte no ensino undamen- ideal concebido no mundo das Ideias. A única arte aceita por
tal. Vamos no ater somente às questões citadas acima, por Platão é arte do raciocínio, a poesia é uma arte, tal qual como
um questão de tempo e espaço, embora tenhamos clareza a política, a guerra, a medicina, a justiça etc, principalmente
que as nossas reflexões não se extinguiram neste texto. pelo caráter virtuoso das narrativas.
De princípio, é importante afirmar que a estética é Já Aristóteles, diferentemente de Platão, afirmava que
eminentemente filosófica, os conceitos sobre estética con- não havia uma estética, fazia uma separação entre a arte da
fundem-se com o conceito de arte, mas se ocupa espe- ciência e restringindo assim, o conceito de arte. Por outro
cificamente do conhecimento sensível. Nesse sentido, a lado, ele diferenciava as coisas geradas por obra da natureza
estética estuda as qualidades de formas de representação e não define a arte como imitação dos objetos naturais, mas
artísticas perceptíveis pelos sentidos, busca a construção da própria natureza. Não uma imitação da imitação, como
de um discurso reflexivo sobre o fazer artístico e o proces- Platão concebia, porque a imitação direta vinda do racional,
so criativo. da inteligência, por meio da sensibilidade, é necessário, ab-
A reflexão sobre estética é uma vivência, afinal a obra soluto e ideal.
de arte não é percebida somente pelos órgãos do sentido, Para Aristóteles, o belo é visto como algo de bom, ao
mas é uma atividade interior que entra em contato com a lado do belo moral encontra-se o belo formal, assim, o belo e
vivência do outro indivíduo. Nesse sentido, a Estética se a moral é uma estética do bem. Ele foi influenciado pelas teo-
constitui por um discurso reflexivo e autônomo, de natu- rias matemáticas de Pitágoras, considerava a percepção da
reza filosófica acerca dos aspectos gerais da arte, do fazer beleza ocorre entre os sentidos e o intelecto e resulta de um
e produzir artístico, a estética evidencia particularidade da perfeito equilíbrio de uma série de elementos. Assim, con-
obra artística, configurando suas nuances entre a produ- siderava que só existe beleza se há simetria; que as formas
ção singular e universal. supremas do belo são está em conformidade com as leis, da
simetria e da determinação.
A estética ao longo da história Aristóteles, criou duas importantes concepções que in-
Cada época, cada movimento artístico, cada filosofia, fluenciou a reflexão sobre estética: a arte é uma imitação
logo que surgiam novas concepções era substituída, re- (mímesis) da natureza e a arte é um meio de purificação (ca-
vista ou rejeitada, por novos conceitos sobre forma e con- tharsis) dos sentimentos.
teúdo em arte, desse modo, falar de estética é demasiado Avançando para a estética alemã, do século XVIII, desta-
complexo. Na tentativa de analisar e compreender os con- ca-se os precursores de Kant. Esse período que foi marcado
ceitos estéticos convém retomar os conceitos de estética pela dissociação da estética da moral, porém Kant retoma es-
construídos historicamente de maneira a apresentar suas sas ideias e busca demarcar os limites desses dois domínios.
principais manifestações. Inicialmente, apresenta-se a concepção de Leibniz, se-
As teorias estéticas começaram a ser construídas des- gundo Bayer (1978), a filosofia europeia foi influenciada pelas
de a antiguidade clássica e até hoje são objetos de pes- concepções de Leibniz. Ele considerava que é na harmonia
quisa e têm merecido especial destaque, especialmente a que percebemos o belo e o universo é apenas o reflexo da
partir do desenvolvimento do modo de produção capita- própria harmonia interior do homem, sendo o universo, “um
lista, que impõe a necessidade de trabalhadores criativos e conjunto harmonicamente acabado, pois, todo o universo é
flexíveis para que possam se adaptar às constantes oscila- dominado por uma visão estética e reintegra o novamente o
ções do mercado de trabalho. sentido de Belo e que o domínio estético não é um domínio
original, mas, conhecimento do perfeito” (Idem, p.174) .

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Ele defendia a existência, de uma única realidade, mas Para Kant, o prazer estético, quanto à sua natureza, não
dividida em uma infinidade de seres, as Mónadas. Cada Mó- é igual a nenhum outro tipo de prazer, porém existe uma
nada representa uma alma e um corpo indissoluvelmente diferença, pois, as “duas das faculdades intelectuais, habi-
unidos num desenvolvimento contínuo. “As mónadas estão tualmente divergentes, estão de acordo aqui: imaginação e
em evolução contínua; a evolução da representação, que o entendimento. Esta coincidência inabitual causa-nos pra-
é a manifestação única da mónada, vai do conhecimento zer; e esse prazer, é prazer estético; e por isso ele é desin-
vago ao conhecimento inteiro, distinto, que é o conheci- teressado e na o precisa de posse material” (idem, p. 201).
mento divino”. (BAYER, 1978, p.176). Assim, o aspecto emocional, foi ligado à estética, por-
Na verdade, Leibniz criou suas teorias dentro de uma que relacionou com o prazer e desprazer, portanto, segun-
psicologia estética, para ele, o estado artístico surge das do Martindale (2000), o juízo estético se resume em pura
próprias pessoas e toda estética dá sempre à forma em lu- contemplação, não possui interesse ou desejo, não quer
gar importante e a substância formadora apela para uma atribuir um conceito fixo, é um juízo livre na sua essência;
estética, a criação .
são verdadeiros juízo individual.
Wolff, afirmava que era impossível uma separação en-
A beleza é a única maneira de satisfação e sensibili-
tre consciência e pensamento. Leibiniz, que por sua vez,
dade, e é livre de todo sentimento de egoísmo,daí livre de
afirmava que existe outro nível de conhecimento (cogni-
deste sentimento castrador, liberta o homem.
ção) e não havia divisões entre a extensão do pensamento,
e que eles não são parados, porque eles se unem e iden- Considera que o único ideal de belo é o homem, pois
tificam num determinado elemento. Assim, esses dois filó- este é o único ser livre e moral.
sofos utilizavam sistemas de conhecimento: inferiores os Quanto a filosofia moral Kant afirma que:
sentidos e superior o espírito. A base para toda razão moral é a capacidade do ho-
Baumgarten, foi influenciado pela as idéias de Christian mem de agir racionalmente. O fundamento para esta lei de
Wolff e de Leibinz. Kant é a crença de que uma pessoa deve comportar-se de
Baseando-se nas concepções de Leibniz, Baumgarten forma igual a que ela esperaria que outra pessoa se com-
viu a região da estética entre a sensibilidade e a inteligên- portasse na mesma situação, tornando assim seu próprio
cia pura. Afirmava que a estética é a ciência da cognição comportamento uma lei universal (HÖGE, 2000, p. 38).
sensorial e que a cognição sensorial deriva por meio do O século XIX, foi um período marcado por grandes
trabalho natural. Que o conhecimento origina da sensação transformações, entre eles o aparecimento do movimento
e também da lógica ou cognição. Considerava que a cogni- romântico, na arte romântica ocorre o recomeço de ativi-
ção sensorial se amplia com formação. A cognição senso- dade da Ideia. Na estética alemã deste período aparece
rial prazerosa conduz a um sentido de beleza. Schiller, que discute a objetividade e sua cultura, mostra
Com relação à beleza, Baumgarten, estava a frente muita consciência, sobre as possibilidades da arte e seus
dos demais filósofos da sua época, afirmou a relação entre recursos, porque, para ele o fim estético era o de tornar o
beleza e pensamento belo e que a beleza é o resultado “instinto em arte e o inconsciente em saber” (BAYER, 1978,
de uma cognição do sensível. Por volta de 1750, passou a p. 293).
determinar regras para beleza estética e o estudo do que Schiller escreveu a sua principal obra as Cartas sobre a
experimenta-se perante a arte percepção, sensação, con- Educação estética do Homem. Esta obra além de ser esté-
siderou que a estética é a “ciência do conhecimento sen- tica, é também sociológica, pois a estética aparece como
sível”. Para ele o artista, ao criar, altera intencionalmente a um suplemento da política e da nova moral. Na sua teoria,
natureza, adicionando elementos de sentimento a realida- a virtude educadora da arte é a junção do moralismo e
de percebida por estes. do romantismo, porém o seu moralismo salva-o do roman-
Nesse sentido para Baumgarten, iguala-se ao prévio
tismo. Schiller escreveu sobre estética e adaptou as suas
pensamento grego clássico que considerava a arte princi-
próprias concepções com as de Kant, não há duvidas que
palmente como mimesis da realidade. Dividiu em estética
a obra estética da maturidade de Schiller foi baseada nos
em duas partes: estética teórica e prática. (BAYER, 1978,
seus primeiros pensamentos, pois o belo á a manifestação
p.180).
Outro filósofo de relevância para a discussão sobre es- da humanidade ideal.
tética é Emmanuel Kant, um dos mais importantes e in- Schiller afirmava, que há uma manifestação em que
fluentes filósofos da modernidade. Em seus estudos, con- essa contradição é resolvida, “a reconciliação, a catharsis,
siderava que toda ação deve orientada pela razão, e que esta na contemplação, em que o homem verdadeiramente
a razão humana é a base da moralidade. Na crítica da ra- não deseja e em que, por isso, não tem de lutar em nome
zão pura apropria-se da palavra estética de Baumgarten, da moral” (idem, p.302). Com relação a transcendência da
como um estudo gnosiológico denominando de estética arte na criação artística, pela catharsis, pela habilidade de-
transcendental. As suas concepções no campo da estéti- legada ao homem pela técnica do fazer, pois, no momen-
ca e despertaram interesse em grandes pensadores que se to em que o artista cria ou realizar uma produção artística
surgiram depois dele. A sua Crítica da Faculdade de Julgar, (pintura, poesia, escultura, música, teatro), ele está eviden-
publicada em 1790, contribuiu para as bases teóricas para ciando uma representação sensível, por meio do fazer ar-
todo criticismo romântico alemão e as fundações de uma tístico mostra a força da estética.
nova Estética.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
A obra estética de Hegel é a primeira que combina a Nos Estados Unidos, no início da primeira metade do sé-
reflexão filosófica com uma história da arte. A base da filo- culo XX, destaca-se a estética do norte-americano John De-
sofia hegeliana é a noção de Ideia, onde a arte é a repre- wey, cuja principal característica é a utilização da técnica da
sentação particular da Ideia, é a manifestação ou a própria experiência que pode ser percebida diretamente dessa rela-
aparência sensível da Ideia. Hegel defendia o belo artístico ção. A estética experimental de observação e de descrição,
como o único com interesse estético. E que o belo artístico encontra-se na obra estética Arte é experiência, que escreveu
é um produto do espírito, por isso só o podemos encontrar sobre os seguintes valores: moral e educação, em 1934.
nos seres humanos e nas obras que eles produzem. Dewey se considerava empírico e pragmático. O prag-
Para Hegel, o que existe de profundo e verdadeiro na matismo permeou todo o seu estudo, pois, acreditava que
obra de arte escapa ao sentimento particular do belo e ao toda a ideia, valor e instituição social surge das circunstân-
do gosto como aos demais sentimentos, ele acrescenta “o cias práticas da vida do ser humano. Para ele essas ideias
que há de profundo na obra de arte apela não só para os não botavam de revelações divinas e nem refletiam um mo-
sentimentos e para a reflexão abstrata, mas para a plena delo ideal. Para ela a verdade não representava uma ideia na
razão e para a totalidade.” No processo estético, o sensível esperança de ser descoberta, afinal só poderia ser realizada
é espiritualizado e o espiritual aparece como sensibilização. na prática.
Ainda sobre a concepção de belo Hegel, considera que toda A teoria estética Dewey, nem sempre coloca uma se-
obra de arte tem um fim em si, ela é somente um instinto paração entre o estético e artístico, ele entendia o estético
natural de reproduzir e o prazer de ver a obra terminada , o como o gozo, e o artístico como atividade produtora.
fim das belas artes não é imitar, é despertar paixões e senti- Ele era veementemente contra a filosofia idealista, pois
mentos, e acordar acontecimentos humanos por meio “dos e compreendia, que a estética deveria servir para realizar a
espetáculos multiformes da natureza” (BAYER, 1978, p.309). vida de um povo, e jamais ser “a arte pela arte”. Em seus es-
Hegel sempre ocupou cargos ou desempenhou fun- critos considera a arte inspiradora, porque une o possível e
ções relacionadas à educação, para ele, uma sociedade não o real, gerando uma forma concreta, ele afirmou que, “uma
sobrevive sem a educação, pois ela é expressão da razão emoção estética, é um fato distinto, porém, não muito afas-
que busca estabelecer a liberdade e implantá-la enquanto tado de outras experiências naturais” (BAYER, 1978. p. 434).
prática corrente. Nesse sentido, Hegel atribui centralidade Dewey não concebia uma estética sem a influencia da
ao conteúdo e não aos métodos e técnicas. educação e da sociedade e o conhecimento da história é
O conteúdo deve ser ministrado enquanto direito e indispensável para julgar uma obra de arte. A estética ao
também necessidade, pois é por ele que o homem aprende mesmo tempo que é uma estética experimental, é também
a ser livre, isto é, racional. A liberdade como fim da educa- sociológica e cultural, talvez por isso, preocupava-se com
ção somente se realiza na totalidade da comunidade o que o desenvolvimento de uma sociedade democrática. Nesse
implica a superação de posicionamentos individualistas. sentido, participava ativamente na crítica social, mas, não
Avançado para o século XX, a estética ganha uma vas- como um mero expectador de exercícios abstratos de con-
ta dimensão, pois esse período foi marcado por grandes templação, dissociados da moralidade prática.
revoluções na estética. Na teoria da educação destaca-se A arte para Dewey é também expressão de um valor
o filósofo Herbert Read, que considerava a importância do particular e a expressão do sentimento do artista, essa ex-
conhecimento intelectual para o processo educativo e John pressão é revelado no momento da criação, na fusão dos
Dewey, a importância da interação dos elementos psicoló- meios e do fim, do útil e do belo, deve conservar sua univer-
gicos e sociais. salidade. Bayer (1978, p. 434) escreveu: “ O sentimento numa
Herbert Read, no final do século XIX, foi influenciado obra de arte não é uma experiência pessoal, antes deve ter
pelas teorias de Platão e Schiller, ele considerava que “o o caráter universal”
objetivo da educação pode ser apenas o de devolver, ao A partir do século XX, é interessante apresentar os pen-
mesmo tempo em a singularidade, a consciência social ou samentos do filósofo húngaro Lukács (1978), que em suas
reciprocidade do indivíduo”. concepções, sobre estética, apresenta a arte, como reflexo
No campo da educação artística, ele afirmava que a arte estético da realidade, tendo em vista os valores humanos e
deve ser a base para educação. a realidade objetiva.
Para Herbert Read a criação artística deve ser pensa- Faz uma reflexão sobre as categorias da particularidade
da por meio de métodos, pois, são fenômenos de auto-re- e de realismo crítico, baseando-se nos fundamentos teóricos
velação, “ideais para revelar ao homem sua personalidade marxistas, não deixando, contudo, de dialogar e fazer a críti-
(READ, 1956, p. 18). ca a estética de Hegel, Kant, Aristóteles, entre outros.
Para Herbert Read, a estética é uma ciência empírica Em suas concepções sobre a estética, Lukács acredi-
que prova cientificamente esses fenômenos, busca meios e ta que o prazer estético deve ser vivido mesmo diante do
apresenta ferramentas para a sua aplicação no sistema edu- comportamento da sociedade capitalista, afinal, a arte não
cativo. Assim a estética nas suas concepções, dividiu-se em deve cultivar uma visão estática, congelando a vida social. A
duas ordens de fatos evidentes: fatos subjetivos que poder arte tem o poder de realizar uma leitura correta do contexto
ser apreendidos introspectivamente, cuja importância é o social e ter uma apreciação exata do momento presente. Ela
capital e o mundo de fatos analisáveis, que tentava mos- deve estar centrada na busca incessante de estar ligado à
trara estética por meio das observações das proporções, vida cotidiana e buscar suas maiores conquistas e transfor-
ritmos, harmonia. mações, afinal, é para o cotidiano que se vive.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Desse modo, a vida social deste homem é constante- enfim “a arte implica em emoção dialética que reconstrói o
mente transformada, por meio das aquisições obtidas por comportamento e por isso ela sempre significa uma ativi-
intermédio da arte e da ciência, a forma pura de reflexo. dade sumamente complexa de luta interna que se conclui
A arte e a ciência se desenvolvem intensamente, segundo na catarse” (VIGOTSKI, 2001a, p. 345).
Lukács: A educação estética não é um recurso pedagógico que
A ciência descobre nas suas leis a realidade objetiva in- ajude a resolver problemas difíceis e complexos da educa-
dependente da consciência. A arte opera diretamente sobre ção ou que exista para a distração e execução prazerosa
o sujeito humano: o reflexo da realidade objetiva, o reflexo de atividades escolares, onde a arte é utilizada como meio
dos homens sociais em suas relações recíprocas, no seu in- para atingir resultados pedagógicos estranhos à própria
tercâmbio social com a natureza, é um elemento de media- estética.
ção – ainda que indispensável –, é simplesmenteum meio Também a arte não pode adquirir valor no processo
para provocar este crescimento do sujeito (1978, p. 295-6). educativo pelo sentido moral que, por vezes lhe é atribuído
Os pensamentos do autor, trouxeram uma enorme as impressões estéticas, os contos por exemplo, são utiliza-
contribuição para valorização da criação artística. Toda dos como forma de trabalhar a rotina, sermões ou regras
criação artística tem a capacidade de conquistar uma uni- sociais.
versalização que transcende o campo restrito da singula- A arte não deve ser trabalhada por si mesma, não pode
ridade, porém, isso poderá acontecer se criação artística estar restrita aos estudos da forma ou de aprendizado de
conquista a particularidade estética. Quando isto acontece, técnicas, mas deve estar voltada para a complexidade do
a obra criada, toma novas proporções, para elevar-se da observar, ouvir e sentir. Conforme Vigotski (2001a, p. 351),
imediata individualidade cotidiana. “só é útil aquele ensino da técnica que além dessa técnica
Na visão de Lukács, o julgamento de estética é deter- e ministra um aprendizado criador: ou de criar ou de per-
minada pela passagem do universal ao particular: é apenas ceber”.
reflexivo se o universal é buscado a partir do particular. Numa compreensão sócio-histórica a educação estéti-
Para o autor a obra de arte é o reflexo estético da rea- ca é o contato com a arte, que adequadamente vivido e as-
lidade, no processo criador e no comportamento estéti- similado, se insere no processo mais íntimo do desenvolvi-
co-receptivo em face da arte, ou seja, “universalidade da mento pessoal; promove a auto-realização e ajuda o aluno
forma artística”. a desenvolver melhor as suas potencialidades. O objetivo
da educação estética é ensinar a capacidade de perceber e
Educação estética entender arte e a beleza em geral (LEONTIEV, 2000).
Entender educação estética e a arte como conheci- A educação estética oportuniza uma experiência que
mento é romper com a ideia de que a ciência é puramen- não é uma simples manifestação da sensibilidade desco-
te racional e a arte puramente sensível, na verdade arte e nectada da sociedade, mas que sintetiza um conjunto de
ciência integram as diferentes formas de conhecer. O pri- relações significativas e universais; propicia a oportunida-
meiro a defender essa junção é Baumgarten que começa a de de interpretar os elementos das linguagens artísticas e
utilizar o termo Estética como ciência que estuda o belo, a preparar a criança para romper as fronteiras da sua vida
percepção e a teoria da arte. cotidiana. É fundamental para a formação da criança, busca
Autores como Schiller, Herbert Read, Dewey, citados a interação com a vasta gama de textos e imagens, sons e
acima desenvolveram estudos sobre educação estética, movimentos, tanto no espaço da escola como fora da esco-
cada um com uma concepção e em tempos históricos dis- la, de maneira a possibilitar a apreensão e compreensão da
tintos. De maneira geral a educação estética pressupõe a cultura na sua totalidade e a socialização do saber em arte.
formação integral do aluno, tanto em seus aspectos sen- Esse processo de revelar e construir nosso olhar, audição
síveis e cognitivos, que contemple a arte como forma de e movimentos, de apontar novos significados e sentidos.
propiciar um processo de ensino e aprendizagem mais sig- O educador precisa propiciar à criança um diálogo
nificativo e amplo, tendo a arte como base para a educação íntimo e profundo com produções culturais, para que ela
integral do homem. amplie horizontes particulares, quanto maior for o conta-
Outro autor que estuda e aponta para a necessidade to com os bens culturais, à medida que ela compreende e
de uma educação estética é Vigotski (2001a), que afirma dialoga com a cultura que a cerca, como estão configura-
que educar esteticamente significa criar um conduto per- das os elementos construtivos e qual é o contexto estético,
manente e de funcionamento constante, que canalize e social e histórico, maior será o desenvolvimento e aprendi-
desvie para necessidades úteis a pressão interior do sub- zado da criança.
consciente. A reação estética que se opera ante uma obra A experiência estética é uma vivência individual e co-
de arte, não serve apenas para repetir no espectador o letiva, pois a obra de arte não é percebida somente pelos
sentimento ou a percepção do autor, mas para superar e órgãos do sentido, mas é uma atividade interior que entra
vencer o efeito por ela causado, por exemplo a obra Crian- em contato com a vivência do outro indivíduo, segundo
ça Morta de Portinari, nos coloca diante de uma realidade FISCHER (1976, p. 13), “a arte é o meio indispensável para
triste, mas ao vê-la nos colocamos acima dela, superamos essa união do indivíduo como o todo; reflete a infinita ca-
e vencemos a impressão de tristeza. Essa vivencia estética pacidade humana para a associação, para a circulação de
contribui para a organização de nossos comportamentos, experiências e ideias”.

44
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Dentro desta perspectiva Vigotski, considera que Essa análise pode ter início em um dos principais do-
quanto mais a criança “veja, ouça e experimente, quanto cumentos que regem o ensino de Arte no Brasil: os Parâ-
mais aprenda e assimile, quando mais elementos da reali- metros Curriculares Nacionais de Arte. De início podemos
dade disponha em sua experiência, tanto mais considerá- apontar a presença da estética em dos objetivos gerais do
vel e produtiva será, como as outras circunstâncias, a ati- ensino fundamental: “desenvolver o conhecimento ajus-
vidade de sua imaginação” (2006, p. 18). Isto pode ocorrer tado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas
por meio do oferecimento de diferentes possibilidades de capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de
leitura de imagens, por meio do contato com fotografias inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com
(publicadas em jornais, revistas), literatura, pinturas, qua- perseverança na busca de conhecimento e no exercício da
drinhos, desenhos, esculturas, peças de teatro, dança, com- cidadania”. Já nos objetivos gerais de Arte para o ensino
putador, televisão, filmes, imagens publicitárias (cartazes, fundamental, consta - Edificar uma relação de autocon-
outdoors, anúncios, charges) entre outros. fiança com a produção artística pessoal e conhecimento
A escola e os professores são os mediadores que de-
estético, respeitando a própria produção e a dos colegas,
vem oferecer perspectivas teóricas e práticas, discussões
no percurso de criação que abriga uma multiplicidade de
e experiências com atividades que promovam o entendi-
procedimentos e soluções.
mento de formas de expressão, das tradicionais e novas
- Compreender e saber identificar a arte como fato his-
técnicas artísticas.
tórico contextualizado nas diversas culturas, conhecendo
A estética na prática pedagógica respeitando e podendo observar as produções presentes
A prática pedagógica do professor de arte tem sido no entorno, assim como as demais do patrimônio cultural
objeto de estudo por parte dos técnicos da Secretaria Mu- e do universo natural, identificando a existência de dife-
nicipal de Educação, responsáveis pelo componente curri- renças nos padrões artísticos e estéticos. (BRASIL, 1997, p.
cular Artes no ensino fundamental. Questões como meto- 53-4).
dologia de ensino, avaliação, currículo e função da arte na Em seqüência no bloco de conteúdo “as artes visuais
escola estão presentes em cursos de formação continuada como objeto de apreciação significativa” temos o conteú-
e atendem às necessidades que emanam da prática peda- do: convivência com produções visuais (originais e repro-
gógica do professor de Arte. Uma das discussões que rea- duzidas) e suas concepções estéticas nas diferentes cultu-
lizamos trata da educação estética, que se apresenta como ras (regional, nacional e internacional).
uma das propostas metodológicas específicas do ensino A questão é que se menciona a capacidade estética, o
das aulas de Artes em consonância com as teorias pedagó- conhecimento estético, padrões estéticos. Esses conceitos
gicas libertária, libertadora e histórico-crítica (PESSI, 1994). podem ser compreendidos quando se discute o conheci-
Essa temática gerou uma grande polêmica, pois a ten- mento artístico como produção e fruição, ou seja, como
tativa de conceituar, definir e caracterizar estética, eviden- experiência estética direta da obra de arte. Esse conheci-
ciou a grande confusão e imprecisão do conceito de esté- mento caracteriza-se: pela obra de arte situar-se entre o
tica e por consequência sobre o que é educação estética. particular e o universal da experiência humana, revela a
A partir dessa problemática iniciamos um estudo so- possibilidade da existência e comunicação para além da
bre a estética e a educação estética no ensino de arte, de realidade e relações habitualmente conhecidos; pela cria-
maneira a apreender a constituição histórica do conceito, ção artística que distingue-se das outras produções huma-
apontando as raízes que sustentam tal discurso. Para reali- nas pela qualidade da comunicação que ela propicia por
zar nossa análise recorremos ao levantamento bibliográfico meio das especificidades das linguagens artísticas, onde a
sobre a temática contrapondo os estudos teóricos com as forma artística fala por si mesma, indo além das intenções
informações empíricas colhidas por meio de questionários
do artista; a percepção estética é a chave da comunicação
aplicados a professores de Artes do ensino fundamental
artística, o processo de conhecimento artístico advém da
da Rede Municipal de Ensino, além observações e contatos
percepção das qualidades da linha, texturas, cores, sons,
com professores de arte em grupos de estudos e cursos
movimentos, etc., onde o receptor deixe-se tocar sensivel-
oferecidos no decorrer do ano de 2006 e no primeiro se-
mestre de 2007. mente para perceber os significados que emanam dessas
As nossas observações permitem afirmar que no en- qualidades; a personalidade do artista é ingrediente que se
sino de Artes tem na educação estética seus fundamentos transforma em gesto criador; a imaginação criadora trans-
e princípios, mas que na prática pedagógica do professor forma a existência humana.
existe um distanciamento desses fundamentos. Isto ocor- O conhecimento artístico engloba, ainda a reflexão,
re pela ausência de uma discussão mais aprofundada dos pois o universo da arte contém um outro tipo de conhe-
próprios fundamentos do ensino de arte. Como diz Saviani cimento que é gerado pela necessidade de investigar o
(2003), o óbvio, por ser muito evidente acaba por ser es- campo artístico como atividade humana, tal conhecimento
quecido e não é tomado como objeto de estudo. Assim, delimita o fenômeno artístico: “como produto das cultu-
ocorre com a questão da educação estética, que por ser ras; como parte da cultura; como estrutura formal na qual
fundante e inerente para compreender o processo de ensi- podem ser identificados os elementos que compõem os
nar e aprender Arte, deixa de ser discutida e estudada, até trabalhos artísticos e os princípios que regem sua combi-
mesmo de ser mencionada. nação” (BRASIL, 1997, p. 43).

45
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Segundo consta nos PCNs, apenas um ensino criador, A questão é que na prática pedagógica do professor a
que favoreça a integração entre a aprendizagem racional dimensão estética está distante do discurso do professor.
e estética dos alunos, poderá contribuir para o exercício Na prática pedagógica o professor de Artes evidencia toda
conjunto complementar da razão e do sonho, no qual co- uma discussão sobre leitura e releitura de imagens, de
nhecer é maravilhar-se, divertir-se, brincar com o desco- percepção dos elementos das linguagens artísticas, com
nhecido, arriscar hipóteses ousadas, trabalhar duro, esfor- maior ênfase nas artes visuais, pois a maioria tem forma-
çar-se e alegrar-se com descobertas (BRASIL, 1997, P. 35). ção em artes visuais, mas não discutem o que é educação
Os princípios presentes nos PCNs, apresentam princí- estética e, quando o fazem seguem os princípios defendi-
pios do ensino de Arte que começaram a ser discutidos na dos por Herbert Read.
década de 1980 com o movimento Arte-educação que de- Outra questão é que a experiência estética é com-
finiu linhas políticas e a defesa de ensino de arte de qua- preendida sob os mesmos pressupostos da experiência
lidade. Uma das principais questões é a necessidade da artística, ou seja, é uma experiência pautada no fazer arte.
leitura da imagem, essa discussão é levantada por Barbosa Mas, a estética deve ser compreendida como uma ca-
(1991) que, na proposta triangular propõe o fazer artístico, pacidade reflexiva sobre esse fazer, enquanto que arte é
a apreciação estética e a contextualização. a representação, expressão e materialização da percepção
Decorrem daí uma série de estudos sobre a imagem estética..
no ensino de artes, Meira (2006, p. 121) afirma que “Hoje Nesse sentido é interessante observar que a estética
o estético está na ordem do dia, já que dizem ser a nossa ocupa-se com o conhecimento sensível e com a qualidade
a civilização da imagem. Nada é tão representativo de ex- da percepção seja do belo como do feio que emanam das
periência estética como uma imagem, seja ela algo etéreo, qualidades dos elementos constitutivos das diferences lin-
fantástico, ou algo materializado numa forma natural ou guagens artísticas.
cultural”. Os nossos estudos evidenciaram que a educação es-
Essas discussões se desdobram em estudos sobre a tética tem suas raízes históricas na estética e se desdobra
educação do olhar (PILLAR, 2006) tendo em vista a neces- em diferentes nuances no ensino de Artes. De início pode-
sidade de discussões sobre a leitura estética e a compreen- mos considerar que documentos oficiais contribuem para
são estética. Martins (2005) aponta para provocações esté- a não explicitação sobre a proposta de educação estética,
ticas e mediações pedagógicas. Surgem estudos que abor- pois está diluída em termos como capacidade estética, em
dam a estética e o desenvolvimento estético (ROSSI, 2006; conhecimento estético, experiência estética, percepção
MEIRA, 2006), a estética do cotidiano e a interculturalidade estética, alguns destes inclusive não são conceituados ou
(RICHTER, 2003), os diferentes olhares sobre a educação definidos. Em outras publicações sobre o ensino de arte
estética e artística (FRÓIS, 2000) e os fundamentos esté- a educação estética aparece como inerente ao ensino de
ticos da educação propostos por (DUARTE Jr, 1981; 1983). Arte e à arte-educação, então sendo naturalizados não
A questão é que existe uma fragmentação da com- precisam ser explicados, pois se subentende que não pre-
preensão sobre a estética no ensino de Arte, pois em ou- cisam ser explicados.
tros estudos a educação estética ou a estética não é cla- Esse movimento provoca um distanciamento da teo-
ramente conceituada e o enfoque recai sobre experiência ria que explica o ensino de Artes e a prática pedagógica
estética, conhecimento estético, desenvolvimento estético do professor, pois cotidianamente a experiência estética é
que aparecem sobre a ótica da educação do olhar, para a propiciada aos alunos, mas sem que se conheça as teorias
leitura de obras, para a imagem esquece-se de anunciar os que fundamentam essa prática.
seus fundamentos. A educação estética e o estudo sobre estética repre-
Toda a discussão feita acima e que está presente em senta a possibilidade de aprofundar conceitos, de com-
livros e documentos oficiais encontra eco na prática do preender a complexidade que envolve ensinar e aprender
professor. Os questionários analisados evidenciam que os arte, pois o que a educação estética propõe é uma forma-
professores de Artes procuram desenvolver suas aulas de ção ampla e sensível aos alunos.
acordo com os pressupostos da proposta triangular, e que Propõe a reflexão e a continuo estudo sobre as formas,
enfocam os valores estéticos da cultura regional como for- conteúdos da arte, bem como dos mecanismos envolvi-
ma de tornar contextualizado ensino de Arte. dos nesse processo, como a criatividade, a expressão, a
Outra questão que merece ser mencionada é que o mímeses, o belo e a qualidade das percepções oriundas de
professor de Artes acredita ainda, em uma educação que obras de arte ou não.
favoreça a arte como princípio para a execução de ativida- No Brasil as concepções sobre educação estética ini-
des que desenvolvam habilidades motoras e a satisfação e ciaram-se centradas nas ideias do filósofo Herbert Read.
a ludicidade necessária para o aprendizado de conceitos, As concepções de Read, ancoradas no princípio de que a
regras e habilidades intrínsecas a outras áreas de conhe- arte é a base para a educação, foi amplamente difundida
cimento. nas Escolinhas de Arte no Brasil.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Segundo Ivone Richter (2000), a estética é vista como conceito essencial que reflete sobre a capacidade da obra
área do conhecimento, com ênfase na apreciação e com- em superar a todos os limites impostos (social, religiosos,
preensão da arte. Esta tendência foi proposta a partir do moral, etc).
DBAE - Discipline-based Art Education, nos Estados Uni- E que a forma estética presente um uma determina-
dos que defendia o ensino das artes visuais apoiado em da obra de arte é a objetivação estética da realidade no
quatro grandes eixos: a produção artística, a apreciação da processo criador e no comportamento estético-reflexivo
arte (estética), a crítica da arte e a história da arte. em face da arte. O ser humano por meio da experiência
A educação estética, a arte é vista como parte da vida estética, as limitações e as concretas possibilidades do ho-
cotidiana, abrangendo além da estética vinculada à produ- mem, sua dimensão histórica e classista; percebe, também,
ção artística, mas também a estética do cotidiano. o jogo de forças que atuam na vida cotidiana.
Este enfoque dá ênfase à sensibilidade, à relação com Assim diante dos pensamentos destes autores, perce-
o meio ambiente e ao multiculturalismo. A interdiscipli- be-se que o conceito de estética e de educação estéticas,
naridade aparece como uma possível proposta de ensino modifica-se a cada diferentes gerações, e isto podemos
(Feldman, Fichtner). perceber por meio dos variados conceitos sobre estética,
Duarte Jr (2004) afirma que atualmente experiência exposto pode-se afirmar que: “sem a nova arte não haverá
estética pede uma mudança na maneira pragmática de o novo homem”. (VIGOTSKI, 2001b, p.329).
perceber o mundo. Esta experiência (e também o traba- Após essa intensa reflexão proporcionada por estas
lho científico ou filosófico) foi transformando-se em um abordagens, fica-se talvez a sensação a necessidade de
obstáculo dentro da realidade cotidiana. A experiência do uma persistente caminhada em busca de saberes que não
belo é uma espécie de parêntese aberto na linearidade do são definitivos e que continuamente desafiam as rotinas
dia-a-dia. (Duarte Jr.,1991, p.33) sociais, adaptando-se a novos caminhos. Nas escolas, ain-
Diante do exposto, no processo de construção histó- da encontramos muitos professores que consideram que
rica, pode-se perceber que a estética ganhou novos, que só se pode ensinar por meio das imagens de pintores da
não pertence somente ao campo da arte e atualmente a história da arte, que são contempladas e reproduzidas pe-
estética é uma ciência independente da filosofia e foi fir- los alunos. Ainda cultivam a importância da criança de ex-
mando-se como uma ciência e se estabilizou na educação. pressar dentro de um conceito de beleza, afinal, acreditam
O conceito de estética deixa de estar centrado somente que criação artística deve seguir rígidos padrões ideais de
aos pensamentos platônicos que ligava a estética à noção beleza, esquecendo-se que belo para o professor pode
de Bem (Platão), a visão Kantiana que associava a arte ao não ser para o aluno, que o padrão de beleza modifica-se
belo. Atualmente, a noção belo pertence a uma das ca- dependendo do momento histórico, social e cultural.
tegorias estéticas e arte é mais do que prender-se a com Professores que não compreende a educação estética
conceitos pré estabelecidos. e continuam em suas práticas ensinado o uso de técnicas
A educação estética graças à importância que Herbet centradas nas suas funções utilitárias, a uma ciência redu-
Read atribuiu à arte, pois percebeu que o objetivo da edu- zida a relações causais, presa à lógica, à questão prática,
cação seria também o de encorajar o desenvolvimento da- de causa e efeito. Mas, embora a natureza seja o grande
quilo que é individual no ser humano, em equilíbrio com a modelo de beleza mimética e um mistério a ser constan-
unidade orgânica do grupo social a que cada um pertence. temente desvendado pela razão científica, ela não é capaz
Somando a essas concepções, destaca-se John Dewey, de significar, ela não tem a autonomia do signo, porque é
ao afirmar que: nenhuma experiência poderá constituir-se só do homem a tarefa de criar representações e a mais vis-
numa unidade, amenos que apresente qualidade estética. ceral de todas é a arte, feita de intelecção e sensibilidade,
(...) Os inimigos do estético são o monótono, a submissão matérias primas do ser.
à convenção nos procedimentos práticos e intelectuais. Talvez as reflexões aqui abordadas possa contribuir,
(DEWEY, 1974, p.251) para despertar a importância do entendimento de alguns
O contato com a arte é realmente viver uma experiên- conceitos que ainda continuam a fazer diferença, na busca
cia estética. Segundo Duarte Jr, (2004) afirma que a beleza de novas perspectivas e por um conhecimento estético,
apenas atrelada apenas às formas, somente às qualidades que contribua para o desenvolvimento integral do homem.
dos objetos, mas; a beleza diz respeito à maneira de como Talvez nossa inquietação e angustia passa contribuir
nos relacionamos com os objetos – e não necessariamente com os educadores possam sentir, movimentados e mo-
uma obra de arte –, mas, é a relação entre sujeito e obje- tivados para começar ou recomeçar uma reflexão mais
to. Se tal relação for determinada pela função das coisas aprofundada sobre suas atitudes teórico/práticas retirar
teremos simplesmente uma experiência, mas se for deter- destas contribuições as implicações para uma verdadeira
minada pela sua forma, vive-se uma experiência completa, Educação Estética e Artística.
ou seja, uma experiência estética.
Outra concepção importante para o momento é res-
saltar a contribuição da ideia de Lukács (1978) ao esta-
belecer relações entre a universalidade, a particularidade
e a singularidade. Para ele elas são categorias, ou um o

47
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
A perspectiva intercultural apresenta compatibilidade
com o ensino de Artes Visuais contemporâneo que afirma a
INTERCULTURALIDADE: A QUESTÃO DA arte como campo de conhecimento que comporta entre os
DIVERSIDADE CULTURAL NO ENSINO DE ARTE. seus princípios a preocupação com a diversidade cultural,
compreendendo o reconhecimento das referências culturais
dos/as estudantes e a ampliação de seus horizontes com a
A educação intercultural crítica é uma perspectiva em criação de acesso a outras culturas e manifestações artísti-
construção no campo educacional brasileiro e a sua con- cas. Nessa tendência educativa se propõe que os elementos
solidação no ensino de Artes Visuais passa pelo estabele- visuais/formais deixem de ser vistos como conteúdos em si
cimento de diálogos horizontais que articulem igualdade e mesmos e passem a ser abordados no contexto das obras
diferença entre concepções distintas de arte e cultura ne- como meios do acesso aos seus sentidos, relacionando-se as
cessitando-se superar qualquer relação de saberes/conhe- artes com outras experiências humanas em propostas educa-
cimentos que configurem hierarquias essencializadas para tivas orientadas para a dissolução das fronteiras entre a arte
a sua construção (complexa) na educação escolar. popular e arte erudita, assim como entre as artes legitimadas
Para tanto impõe-se a desestabilização da hegemonia e visualidades outras que muitas vezes passam ao largo do
da arte dita erudita de viés ocidentalocêntrico e androcên- campo das artes visuais. Os temas, as ideias, os aspectos so-
trico, assim como a desconstrução de processos de ine- ciais e políticos, antes preteridos pelo estudo formalista da
arte, passam a ser valorizados atentando-se para a produção
xistência dos saberes/conhecimentos em artes de povos
artística em diálogo com a diversidade, a multiplicidade e a
não-ocidentais, com a sua desnaturalização enquanto re-
heterogeneidade de perspectivas.
ferência exclusiva da cultura escolar. No entanto, isso não
significa advogar por sua exclusão, eliminação ou inferiori-
A conjugação das práticas de atelier com histórias de
zação de concepções e práticas interculturais do ensino de vida dos/as alunos/as
Artes Visuais. “Trabalhar com a multiculturalidade no ensino de Arte
Em outras palavras, trata-se do necessário processo supõe ampliar o conceito de arte, de um sentido mais restrito
de descolonização para a interculturalização dos conheci- e excludente, para um sentido mais amplo, de experiência es-
mentos e saberes escolares visando o estabelecimento da tética. Somente desta forma é possível combater os conceitos
ecologia de saberes na escola. O que implica no aprendi- de arte oriundos da visão das artes visuais como “belas-artes”,
zado do compartilhamento do poder, pois não se propõe “arte erudita” ou “arte maior”, em contraposição à ideia de
negar os conhecimentos hegemônicos para criar outra “artes menores” ou “artes populares”. A própria denominação
hegemonia, mas sim promover a diversidade de saberes e de folclore e artesanato já vem carregada de preconceito, pois
alternativas investindo em pesquisas sobre sinergias entre o termo “folklore” foi utilizado para representar a arte “do ou-
conhecimentos acadêmicos e (des)eurocentrados e outros tro”, daquele que não tinha acesso às camadas mais eruditas
conhecimentos/saberes (CANDAU, 2015). da sociedade, e o termo artesanato tem sido vinculado à ideia
Para essa perspectiva que busca na escola integrar da reprodução sem criação, ou sem maior perfeição técnica”
e criar acessos plurais para a promoção da “conversa do (RICHTER, 2002, p. 91) “Essa é a única matéria em que eu pos-
mundo” (SANTOS, 2009) de maneira mais ampla, rica e ho- so ser adolescente. É a única matéria que eu falo sobre mim”
rizontal do que a compreensão ocidental do mundo (SAN- (A reprodução da fala de um aluno da Professora Alice, de
TOS, 2007, p. 20), trazendo para esse diálogo formas de Artes Visuais)
conhecimento que foram ocultadas pelas Epistemologias Metodologicamente, a construção em foco se baseia
do Norte (o nortecentrismo), é imprescindível inquirir o le- principalmente em proporcionar práticas pedagógicas dialo-
gado civilizatório oficial via o questionamento dos conteú- gais. Para tanto busca conjugar a ênfase no fazer artístico (a
dos curricularizados para o repertório fixo dos bens sim- lida com cores, formas, texturas, elementos gráficos e compo-
bólicos de Artes Visuais e, consequentemente, transgredir sicionais de obras de arte que ensejam a alfabetização visual)
aos rituais escolares que o reproduzem . Para tal finalidade com o ensino a partir de trajetórias de vida e imaginários cul-
torna-se preciosa a concepção de currículo como turais – que Inês definiu como “repertório do/a aluno/a”.
Por meio dessa conjugação busca-se favorecer práticas
(...)uma construção específica do contexto educacional,
dialogais com o emprego de narrativas de histórias de vida
em que o cruzamento entre diferentes saberes, cotidianos
dos sujeitos a fim de estabelecer interlocuções entre a arte e
ou sociais e científicos, referenciados a universos plurais,
outras áreas de conhecimento e temas do mundo atual.
se dá no dia a dia das escolas em processos de diálogo
A concepção de fazer artístico com que se trabalha dife-
e confronto, permeados por relaçõesde poder. O conhe- re, por um lado, da tendência do ensino de artes denomina-
cimento escolar não é um ‘dado’ inquestionável e ‘neutro’, da modernista, centrada no fazer artístico sem articular com
a partir do qual nós, professores/as configuramos nosso processos cognitivos, que caracterizou a prática do laissez-
ensino. Trata-se de uma construção permeada por relações -faire13. Por outro lado, se distingue da tendência tradicional
sociais e culturais, processos complexos de transposição/ presidida pelo ideal da “arte pela arte” voltado ao aprimora-
recontextualização didática e dinâmicas que têm de ser re- mento técnico no ensino da arte na escola, ligada ao princípio
significadas continuamente (CANDAU, 2009, p. 94/95). de enclausuramento escolar em que o ensino ocorre fora das
temporalidades e espaços da vida social.

48
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Ao contrário, parte-se do entendimento de que a expe- A lei garantiu não somente que a disciplina de Arte
rimentação e a vivência artística propiciam a conceituação. fosse considerada componente curricular obrigatório, mas
Essa visão evita a dicotimização entre teoria e prática e ba- também assegurou a sua aplicabilidade a todo o território
seia-se no entendimento de que a aquisição de conceitos nacional, de forma a promover o desenvolvimento cultural
fundamentais pode ser feita por meio de práticas pedagó- de todos os alunos. Entretanto, em seu texto, a lei não ex-
gicas que envolvam vivências corporais que incluem não plicita qual ensino de Arte deve ocorrer: só demarca que
só as práticas com as linguagens artísticas em sala de aula, ele deve acontecer, agora, por força de lei.
mas também com deslocamentos físicos dentro e fora da Richter (2003) escreve que a educação, seguindo um
escola para visitações a espaços artísticos e/ou culturais. viés antropológico, é o processo por meio do qual se trans-
mite cultura aos indivíduos. Assim, a educação, de forma
O MULTICULTURALISMO NO ENSINO DE ARTE E geral, dá-se em dois níveis: na vida sócio-cultural e na es-
SEUS PORQUÊS: cola. A vida cultural e social sendo carregada de sentidos
educativos e de cultura é, portanto, lugar também privile-
O DIÁLOGO POSSÍVEL PELA ESTÉTICA
giado para a aprendizagem, por meio das tradições, dos
O ensino de Arte no Brasil há muito tempo tem sido
ritos, das brincadeiras, do folclore, da religiosidade, entre
institucionalizado no ambiente escolar, primeiramente por
tantas outras possibilidades. A escola é o lócus do conheci-
meio da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1971, que ga-
rantiu a sua obrigatoriedade, e depois na LDB de 1996. Em mento oficial, construído academicamente e cientificamen-
1997, tem-se a publicação dos Parâmetros Curriculares Na- te, lugar do saber sistematizado e metódico, onde a Arte
cionais – Arte (PCN – Arte) pelo Ministério da Educação passou a ser reconhecida como campo do conhecimento
(MEC), com a corroboração de diversos especialistas, que humano.
difundem o pensamento governamental para o ensino pú- Embora não possamos afirmar que só na escola é que
blico de Arte no país. Passado algum tempo, segue-se a as crianças têm o seu primeiro contato com a Arte, talvez
publicação do PCN em Ação, que formatou a formação dos possamos dizer que é na escola que a criança, o jovem, e
professores de Arte com base na descrição do PCN espe- o adulto, se dão conta do conceito de Arte, e saibam re-
cífico da área. Este trabalho discute o ensino de Arte, com conhecê-la, mesmo que já tenham entrado em, ou mante-
ênfase na diversidade cultural e no multiculturalismo, ana- nham, contato com a produção artística. Isso porque con-
lisando as diretrizes das publicações acima apresentadas. sideramos que somente a partir do desenvolvimento da
A partir de 1816, com a criação da Academia Imperial faculdade de reconhecer, pensar, produzir e refletir sobre
de Belas Artes no Rio de Janeiro, tivemos no Brasil “(...) a Arte é que o indivíduo pode valorizá-la como forma legíti-
instalação oficial do ensino artístico (...)” (FERRAZ & FU- ma de expressão do sensível, da sensibilidade, do humano
SARI, 1999, p. 29. Este ato instaurou o ensino de Arte no e da cultura.
país e inspirou sua transposição para o currículo escolar. O Parâmetro Curricular Nacional – Arte, também nos
Desde então, a Arte passou a ser vista como uma disciplina, remete a essa ideia: O aluno desenvolve sua cultura de
com conteúdos e metodologias próprias, podendo então arte fazendo, conhecendo e apreciando produções artís-
ser ‘escolarizada’, incluída no currículo oficial das escolas ticas, que são ações que integram o perceber, o pensar, o
brasileiras. Assim, começaram os movimentos de incorpo- aprender, o recordar, o imaginar, o sentir, o expressar, o co-
ração da Arte como um componente curricular obrigatório municar. A realização de trabalhos pessoais, assim como a
da educação básica. apreciação de seus trabalhos, os dos colegas e a produção
O ensino de Arte se tornou obrigatório no Brasil a par- de artistas, se dá mediante a elaboração de idéias, sensa-
tir de 1971, por meio da Lei de Diretrizes e Bases para a ções, hipóteses e esquemas pessoais que o aluno vai es-
Educação Nacional – Lei 5.692/71, vigorando a partir de en-
truturando e transformando, ao interagir com os diversos
tão no currículo escolar. Com a outorga da nova Constitui-
conteúdos de arte manifestados nesse processo dialógico.
ção Brasileira, em 1989, uma nova lei que gerisse a educa-
(BRASIL, 1997, p. 19).
ção se tornou necessária. Somente em 1996 essa legislação
Demarcada a importância de se trabalhar Arte nas
veio a se cumprir, pela redação de Darcy Ribeiro. A nova Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96 escolas de educação básica, compreendendo a formação
reestabeleceu, em seu artigo 26, que escolar que perpassa a educação infantil, o ensino funda-
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino mental e o ensino médio, se faz necessária a reflexão de
fundamental e do ensino médio devem ter base nacional como e o que ensinar na disciplina Arte.
comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino É certo que técnicas de desenho, pintura, escultura,
e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diver- passos de dança, encenações teatrais e arranjos musicais
sificada, exigida pelas características regionais e locais da são, e devem continuar a fazer, parte do currículo de Arte,
sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. (Re- mas é preciso que o ensino de Arte se constitua muito
dação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) (...) além das técnicas de produções artísticas e que inclua uma
§ 2º O ensino da arte constituirá componente curricu- formação mais integral com a história da Arte, e da sua
lar obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de valoração, as análises das obras e seus discursos mais fun-
forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. damentais, atingindo o nível da indagação crítica da obra
(BRASIL, 2010, p. 26) que se vê.

49
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Como expressão de uma cultura, ou de uma civilização, Muitas são as definições sobre o que é o multicultura-
a Arte tem a capacidade de desnudar os conceitos e a visão lismo, e o que ele representa no mundo contemporâneo.
de mundo de seu próprio tempo, espaço e sociedade onde Neste artigo, fizemos opção de trabalhar com o conceito
foi pensada e elaborada a partir de um ponto de referência, elaborado por Gonçalves e Silva (2000), por entender ser
seja ele espacial, temporal, social, econômico, cultural ou esta a melhor definição em termos de implicações concei-
religioso. tuais para a área da educação, uma vez que esses autores
Enquanto elemento de reflexão, a Arte é importante trabalham com a ideia de movimento e de consciência co-
para desnudar a concepção de mundo do artista e também letiva.
do espectador que a contempla, pois elas são diferentes. É O multiculturalismo enquanto movimento de ideias
através da obra que o espectador pode realizar a leitura de resulta de um tipo de consciência coletiva, para a qual as
um povo, uma sociedade, uma época, e de valores de uma orientações do agir humano se oporiam a toda forma de
determinada cultura e de uma concepção de mundo. Se a “centrismos” culturais, ou seja, de etnocentrismos. Em ou-
Arte tem o poder de ultrapassar a técnica e nos trazer todo
tros termos, seu ponto de partida é a pluralidade de ex-
um conjunto de signos e significados culturais, é preciso
periências culturais, que moldam as interações sociais por
que o professor de Arte fique atento a qual mensagem ele
inteiro. (GONÇALVES E SILVA, 2000, p. 14)
e a obra estão comunicando aos alunos, intencionalmente
Para que então, se trabalhar Arte a partir da perspec-
ou não.
Barbosa (2003) coloca em relevo a necessidade de se tiva do multiculturalismo? Para que se fazer multicultura-
revisitar o ensino da Arte no Brasil, especialmente no que lismo?
concerne à diversidade cultural. Para a autora, é fundamen- O principal objetivo da educação multicultural é des-
tal que se apresente aos alunos uma heterogeneidade de construir a ideia de que Arte “é feita por brancos, do sexo
obras que reflita a diversidade cultural existente no Brasil e masculino, europeus ou de origem europeia” e possibili-
no mundo. tar a apreciação de “todas as manifestações artísticas não
O cuidado a que a autora se refere é o de apresentar condizentes com esses padrões” (Richter, 2003, p. 91).
diferentes obras para apreciação e leitura em sala de aula. Produzindo trabalhos artísticos e conhecendo essa
Trazer diferentes elementos da cultura e da Arte se faz mis- produção nas outras culturas, o aluno poderá compreen-
ter para a construção da leitura de diferentes contextos, e der a diversidade de valores que orientam tanto seus mo-
portanto, do multiculturalismo. A apreensão se baseia no dos de pensar e agir como os da sociedade. Trata-se de
perigo de se construir uma ideia única do que seja Arte, do criar um campo de sentido para a valorização do que lhe
que seja válido, do que é valoroso, do que é legitimo, em é próprio e favorecer o entendimento da riqueza e diver-
contraposição a todas as outras formas de ver, de viver e de sidade da imaginação humana. (...) A dimensão social das
representar a vivência humana pela Arte. Não abrir espaço manifestações artísticas revela modos de perceber, sentir e
para o reconhecimento da diversidade expressa pela Arte é articular significados e valores que orientam os diferentes
não reconhecer a diversidade cultural que nos constitui e, tipos de relações entre os indivíduos na sociedade. A arte
portanto, construir um discurso único de vida e de valores. estimula o aluno a perceber, compreender e relacionar tais
Contudo nós, professores, também precisamos refle- significados sociais. Essa forma de compreensão da arte
tir sobre o que entendemos por diversidade cultural. Esse inclui modos de interação como a empatia e se concretiza
debate é mais profundo, e é o que tem maior potencial em múltiplas sínteses. (BRASIL, 1997, p. 19-20).
pedagógico, em se tratando de ensino de Arte. Barbosa Multiculturalidade também pressupõe contra hege-
(1998) aponta uma dificuldade nesse sentido: “Preconceito monia. Isso significa que apresentar as diferentes lingua-
de classe é ainda o grande inimigo do multiculturalismo no gens artísticas existentes auxilia na desconstrução do tipo
terceiro mundo. Tudo que é feito pelo pobre é artesanato e
ideal ou legítimo de Arte e, por conseguinte, de sociedade.
não arte; isso é o pensamento vigente” (p. 87). Entendesse
Ajudar o aluno a descontruir o discurso único requer apre-
assim que não só a produção, mas também a difusão e a
sentar as obras valorizadas pelo mercado e as que não o
leitura das obras perpassam por interesses que não os pu-
são; possibilitar a leitura dos grandes artistas mundiais e
ramente estéticos e artísticos.
Barbosa (1998) acrescenta ainda que o tema da diver- também os de sua cidade; proporcionar a reflexão dos dis-
sidade cultural não é uma preocupação antiga do primeiro cursos inseridos nas obras dos países desenvolvidos e das
mundo ou dos países colonizadores, mas, pelo contrário, se nações em desenvolvimento. De tal forma, contribuímos
transformou em discurso dos países do terceiro mundo e para a constituição da diversidade, do multiculturalismo e
das nações que foram colonizadas que se preocuparam em do assentimento do outro. Para Richter (2003) e Barbosa
reafirmar sua cultura própria frente a do colonizador. (1998; 2003) a escola ganha em processo pedagógico com
Assim, a diversidade de Arte se faz pela diversidade de a adoção da educação multicultural no ensino da Arte,
mundos. Europa, Ásia, África, Américas e Oceania, todos pois isso possibilita a educação do olhar para o outro, para
têm formas diferentes de ver e de interpretar (essa diver- o diferente, para a diversidade de culturas e de Artes exis-
sidade se manifesta também dentro dos continentes, pois tentes.
estes não são uniformes), que têm uma enorme possibili-
dade educativa, possibilitando a comparação e a reflexão a
partir da produção artística local, regional e nacional.

50
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Segundo Coli (1995) a Arte, e suas obras, vão se cons- O PCN – Arte propõe que se trabalhe por ano uma lingua-
tituindo enquanto verdadeira expressão de Arte a partir do gem artística escolhendo entre teatro, dança, música ou artes
discurso que vai sendo empregado sobre a produção cultural visuais, para que se tenha profundidade e continuidade. (p.50)
e artística ao longo do tempo. Logo, temos aí outra preocu- Tendo em consideração que todos nós conhecemos e te-
pação: a de demonstrar o papel da crítica sobre a produção mos praticamente memorizada a cena da Santa Ceia, pintada
artística, que eleva seu patamar enquanto obra de Arte, valo- por Leonardo da Vinci, que foi reproduzida de muitas manei-
rando-a e aumentando seu valor de mercado. Enquanto pro- ras, faça indicações para que o aluno realize as atividades que
fessores, temos também de nos atentar para desvelar o valor se seguem. (p. 51)
em Arte: pensar com nossos alunos o porquê de uma obra Em uma mesma aula, o documento propõe a separação
valer mais que outra e porque a produção de um artista é mais das linguagens artísticas e a apreciação apenas de obras de
cara que a de outro. Da Vinci e Picasso, grandes nomes da pintura mundial. A se-
Essas questões nos guiam em direção à análise do discur- paração das linguagens artísticas (artes visuais, dança, música,
so: desvelar o que a obra representa e a quais situações nos teatro), uma por ano, não possibilita o desenvolvimento da
remete. Esta é outra finalidade de se trabalhar com a diversi- percepção artística completa e da percepção dos múltiplos
dade e com a não hegemonia: provocar professores e alunos a fenômenos observáveis da Arte, remetendo o ensino a um ca-
descobrir os discursos contidos nas obras de Arte e até mesmo ráter técnico e não do sensível. O recorte não traz a reflexão
para o discurso do que seja Arte e do que não é. de que essas obras remetem a uma determinada constituição
Segundo Barbosa (1998), o ideal do ensino da Arte mul- populacional localizada no tempo e no espaço, e inserida em
ticultural é equilibrar identidade cultural e diversidade cultu- determinados contextos culturais. A proposta da aula também
ral, ou seja, o equilíbrio entre o que me define (eu) e o que não inseriu nenhuma obra e/ou análise que
define o(s) outro(s), em termos de cultura e de Arte. De tal promovesse a comparação de conteúdos e de discursos.
modo a criança é ascendida a uma atividade crítico-reflexiva A aula, descrita no PCN em Ação, propõe somente o tradicio-
do conjunto de conhecimento e valores que a torna um sujeito nal e recorrente em ensino de Arte, em contradição aos parâ-
circunstanciado por um tempo e uma localização geográfica, metros propostos no PCN-Arte. Essa não nos parece a melhor
por uma cultura e seus valores sociais, mas que também ad- forma de se trabalhar a interculturalidade, pois
mite a convivência, e a apreciação, de formas diversas de viver, a educação multicultural (...), envolve o desenvolvimento
de perceber e de interpretar o mundo, de produzir diferentes de competências em muitos sistemas culturais. (...) é, então,
tipos de Arte e de discursos. O exercício desse relativismo tam- definida como competência em múltiplas culturas e para to-
bém foi enunciado como objetivo geral do ensino fundamen- do(as) os(as) estudantes. (...) Os autores consideram como
tal quando da publicação dos PCNs: competências interculturais o conhecimento e a capacidade
conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio socio- de lidar com código culturais de outras culturas, bem como a
cultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros compreensão de como ocorrem certos processos culturais bá-
povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação sicos, e o reconhecimento de contextos macroculturais onde
baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, as culturas se inserem, como é o caso da arte (RICHTER, 2003b,
de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais. p. 26-27).
(BRASIL, 1997, p. 5). A proposta do PCN – Arte, da importância de se trabalhar
Ainda nesse sentido, Barbosa (1998) salienta a necessida- diversificadamente, fica assim vazia de sentido e significado se
de de se promover a cultura artística e estética local, enquan- no documento subsequente, PCN em Ação, sugere-se a apli-
to expressão legitima de Arte e enquanto discurso cultural de cação de quadros unicamente europeus em cursos de forma-
uma comunidade. Para a constituição desse processo, a visi- ção continuada de professores de Arte.
tação em museus e exposições diversas de Arte e também de De que forma então podemos fazer e ensinar Arte a partir
artesanato são fundamentais. O reconhecimento da Arte local da diversidade e da pluralidade? Richter (2003b) nos apresenta
pode aproximar as crianças do processo artístico, do planeja- algumas possibilidades: uma composta por Jacques Maquet;
mento e da construção de uma obra de Arte. Este processo outra delineada pela escola do DBAE , e uma terceira adaptada
facilita ainda a pesquisa em Arte, que “enfatiza a investigação por Ana Mae Barbosa.
do processo de produção da obra de arte” (MOREIRA, 2005, p. A primeira possibilidade, de Jacques Maquet, propõe o
12) e a constituição do fazer artístico. paradigma dos três componentes que pode ser aplicado tanto
Partindo, então, dos pressupostos acima, e tendo a diversi- aos fenômenos antropológicos quanto aos estéticos, e pressu-
dade cultural como primórdio da educação em Arte, resta-nos põe que existem três níveis de análise: o componente humano
ainda uma pergunta: como fazer educação em Arte a partir do (domínio do universal); o componente cultural (domínio da
multiculturalismo? A pergunta nos ajuda a compreender que o variedade e da multiplicidade) e o componente singular (do-
campo de ensino Arte também necessita de orientações e di- mínio do particular e único). O autor salienta que, assim, pode-
retrizes. É certo que grande parte das normatizações do ensino mos nos aproximar da leitura completa da obra, analisando os
em Arte têm no PCN – Arte sua maior expressão. Mas o ensino elementos universais, múltiplos e, por fim, os individuais.
multicultural que falamos neste artigo é o mesmo do PCN? A segunda alternativa é a da DBAE que adota o mul-
Para a análise do documento, utilizaremos como principal fon- ticulturalismo como perspectiva desde meados de 1992, a
te Barbosa (1998), que também discute esta temática. Temos “proposta americana que advoga o ensino da Arte como
no PCN em Ação, na parte de Artes Visuais, em uma das aulas disciplina, centrada no fazer artístico, crítica da Arte, estéti-
de formação de professores, os seguintes trechos: ca e história da Arte.” (RICHTER, 2003b, p. 43-44).

51
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Ana Mae adaptou a proposta da DBAE para a realidade Neste sentido, a “incapacidade para o diálogo” é sem-
do ensino brasileiro e propôs a sua abordagem triangular, pre, em última análise, o diagnóstico feito por alguém que
composta de três níveis que podem ser desenvolvidas aleato- ele mesmo não se põe no diálogo, ou seja, que não conse-
riamente, sem hierarquia entre as mesmas: ler obras de Arte; gue chegar ao diálogo com o outro (p. 138).
fazer Arte e contextualizar a obra de Arte. Assim, a sugestão Como nos esclarece o filósofo, a “incapacidade para o
percorre os caminhos do fazer Arte, ler e interpretar Arte e diálogo” é o verdadeiro cerne da reflexão sobre a diversida-
contextualizar a obra no tempo, no espaço, na cultura, na so- de cultural e sobre o multiculturalismo. Essas questões tra-
ciedade e também na história da Arte. zem, antes de tudo, a proposta para o debate, de pôr à pro-
Entendendo que o enfoque multicultural para o ensino
va os preconceitos e assumi-los a partir da experimentação
de arte é muito mais do que simplesmente adicionar algumas
deles mesmos. A capacidade de se colocar em diálogo, em
unidades sobre a arte em uma variedade de culturas.
experimentação, e se posicionar aberto para as diferenças
(...) devemos focalizar o ensino em temas mais amplos
como funções da arte, conceitos de qualidade e valores esté- e para o outro é a instância primeira do multiculturalismo.
ticos, que são interculturais e nos permitem abordar a diversi- Para Gadamer (2000), a compreensão, que parte do
dade, especialmente a local, com exemplos de arte relaciona- diálogo, é uma relação circular e dinâmica, nomeada como
dos com diferenças e semelhanças entre culturas. (RICHTER, “círculo da compreensão”, o círculo hermenêutico tem:
2003b, p. 44) A antecipação do sentido, que envolve o todo, se faz
Com base no exposto, acreditamos ser possível o ensino compreensão explícita, quando as partes, que se definem a
multicultural de Arte a partir de uma perspectiva não hege- partir do todo, definem por sua vez esse todo.
mônica, adepta da alteridade e do relativismo cultural face aos (...) O movimento da compreensão discorre, assim, do
discursos únicos e totais, como defende Paraskeva (2006): todo para a parte e novamente ao todo. A tarefa é ampliar,
O multiculturalismo crítico e [também] uma luta pela liber- em círculos concêntricos, a unidade do sentido compreen-
dade das culturas sistemática e secularmente oprimidas, uma dido. A confluência de todos os detalhes no todo é o cri-
luta que desafia ‘a pureza’ da cultura ou de determinada cultu- tério para a correta compreensão. A falta da confluência
ra, assumindo que as culturas se formam “através de complexos significa o fracasso da compreensão. (GADAMER, 2000, p.
diálogos com outras culturas” (Benhabib, 2002, p. ix). 141).
(...) A luta por um currículo multicultural crítico é uma luta A fruição e a reflexão das obras de Arte parecem seguir
entre culturas oprimidas e opressoras, é a assunção de que a
este caminho circular, do qual nos fala Gadamer, e o multi-
dita democracia liberal tem um problema com o multicultu-
cultural também. Só é possível decodificar e contextualizar
ralismo, e um luta contra o sistema capitalista. (PARASKEVA,
a obra e a cultura do outro a partir de seus contextos para
2006, p. 13-14).
Como Paraskeva (2006) explicita, o multiculturalismo é a sua singularidade e novamente para o cenário geral. As-
mais amplo que a simples inserção de tópicos de diferenças sim, nos é permitido mergulhar no cultural, no individual
culturais. O multiculturalismo é compreendido pelo autor e no social, compreendendo as contingências que estive-
como a luta contra a cultura única possível e legitima, mas en- ram presentes para a formatação da concepção de Arte e
globa as culturas oprimidas e esquecidas em constante diálo- de mundo a que temos acesso. A falta da confluência, das
go rumo a coexistência de matrizes de diferentes tonalidades. partículas do todo e do todo em si não nos permite avançar
É no constante diálogo com outras culturas que cada cul- ou compreender. Porém a abertura ao diálogo, a predis-
tura se constitui, se identifica e se distingue das demais. posição ao outro, o diálogo, e o desvendar dos contextos
Isso implica também intervir criticamente nas relações de nos permitem alcançar a compreensão, ainda que limitada
produção, difusão e consumo de bens culturais. A escola não e fugidia.
pode ser local passivo de consumo de cultura, ou mesmo de A Arte, assim como a hermenêutica, nos são peças fun-
sua produção. O território educativo é, antes de tudo, ativo e damentais para a prática do multiculturalismo. Para com-
crítico, e fomenta o debate e prima pelo diálogo em todas as preender, antes é preciso de percepção, e para perceber se
atividades, para todos que o desejam. O multiculturalismo é, requer disposição a olhar, a ler, a se questionar os porquês
por essência, dialógico e visa constatar, comparar, confrontar das diferenças. Negar a pergunta é negar a disposição ao
visões e discursos, telas e histórias, imagens e textos, porque
diálogo, e portanto, ao outro, pessoal ou cultural, é crista-
antes de tudo não há diálogo senão entre as diferenças.
lizar a concepção de mundo hegemônica e impossibilitar
Contudo para a constituição de uma educação para o diá-
uma fuga do etnocentrismo.
logo é necessário um professor formado, politizado, capacita-
do para navegar entre as diferenças e estabelecer conexões e O ensino de Arte e a dimensão da sensibilidade não
entendimentos na senda da diversidade. Sem a figura deste podem ficar sujeitos aos conteúdos técnicos e elementos
mediador e sem a abertura para o diálogo, a educação multi- genéricos, ou ainda a uma supremacia de pureza cultural.
cultural em Arte não se realiza. O perigo é a narrativa única, o É preciso que o espaço privilegiado para a educação do
narrador único, uma única história e o fundamentalismo, ou, olhar exista e que esta educação aconteça, mas de forma
como registra Gadamer (2000),[o] verdadeiro tema de nossas que garanta a diversidade, a pluralidade, a percepção cul-
reflexões é, ao contrário, uma incapacidade para o diálogo tural das diferenças e dos discursos envoltos nas obras de
que não se confessa a si mesma. Ao contrário, ela tem a forma Arte, principalmente, promovendo o diálogo, o respeito e
normal de não se ver, que não se vê esta incapacidade em si a alteridade.
mesma, mas no outro. (...)

52
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
A nossa compreensão é a de que por trás de cada ati-
ARTE E EDUCAÇÃO: O PAPEL DA ARTE NA vidade dessa existe, respectivamente, uma concepção de
ensino de arte, que teve sua origem ao longo da trajetória
EDUCAÇÃO; O PROFESSOR COMO MEDIADOR
histórica da Arte/Educação no Brasil; pois, essas são práti-
ENTRE A ARTE E O EDUCANDO. cas que historicamente vêm se afirmando e se cristalizando
na educação escolar.
Segundo Barbosa (2005), nos últimos anos a necessi-
Observa-se que o ensino de arte, desde a década de 1970, dade de compreendermos a área de Arte/Educação em re-
tomando de empréstimo uma expressão utilizada por Azevedo lação com a cultura que nos cerca tem gerado muitos estu-
(1997), vem se constituindo como uma “questão socialmente dos importantes. Dentre esses estudos, Barbosa (2005) vai
problematizada”; uma temática que tem sido tratada, até certo citar os trabalhos de Räsänem (1998), Agirre (2000) e Eisner
ponto, com abundância pela literatura educacional brasileira, (2002). De forma geral, esses teóricos buscaram estabele-
sob variados ângulos e critérios e que conta, inclusive, com um cer quais as concepções de ensino de arte estão presen-
amplo movimento de discussão e reflexão institucionalizada tes nas práticas pedagógicas na contemporaneidade. No
sobre o campo denominado “Arte/Educação”. entanto, o diagnóstico realizados por esses pesquisadores
Dessa forma, a Arte/Educação é epistemologia da arte. É a estão relacionados aos seus contextos sociais e históricos
ciência do ensino de arte (BARBOSA, 1998b, 2002b; RIZZI, 2002; imediatos, neste caso, estamos nos referindo ao ensino de
SAUNDERS, 2004). Nesse sentido, a Arte/Educação tem se ca- arte desenvolvido respectivamente na Finlândia, Espanha e
racterizado como um campo amplo de conhecimento que, Estados Unidos da América. No entanto, como este fenô-
durante a sua trajetória histórica e sócio-epistemológica, vem meno tem se caracterizado na realidade educacional bra-
agregando diferentes estudos, os quais são frutos de pesquisas sileira?
científicas na área da arte e seu ensino, pesquisas artísticas e da Entendendo que todo e qualquer processo situa-se
produção de conhecimento/saberes, através da prática de en- historicamente no contexto em que está inserido política e
sino experimental de arte, na educação escolar e não-escolar. culturalmente e que não são fenômenos que se constituí-
Assim, a Arte/Educação, como campo de conhecimento ram a priori, mas que vêm emergindo das diversas concep-
empírico-conceitual, tornou-se aberto a diferentes enfoques ções de educação e sociedade presentes em determinada
e vêm agregando em seu corpus uma diversificada linha de realidade, buscamos através desta pesquisa compreender
atuação, estudo e pesquisa, tais, como: a formação do pro- quais as tendências e concepções de ensino de arte estão
fessor para o ensino de arte; a história do ensino de arte no presentes na realidade educacional brasileira.
Brasil; Dança/Educação; Educação Musical; o ensino da arte na Para tanto, foi realizada uma pesquisa exploratória na
educação escolar; o ensino da arte na educação não-escolar;
literatura brasileira especializada sobre Arte/Educação. Do
o ensino das artes visuais; o ensino inclusivo de arte; os funda-
levantamento realizado, apenas os estudos sobre a história
mentos da Arte/Educação; os processos de aprendizagem da
e os fundamentos da Arte/Educação foram selecionados
arte; Teatro/Educação; entre outros.
para fazer parte do rolde documentos que seriam analisa-
Apesar dos diferentes olhares desse campo de conheci-
dos. Os estudos selecionados foram os de Azevedo (2000;
mento, o enfoque desta pesquisa está relacionado ao campo
2003; 2005), os de Barbosa (1984; 1975; 1998a; 2002a;
do ensino da arte na educação escolar.
2002b; 2002c; 2002d; 2005), o de Efland (2005), o do INEPE
Sobre o ensino da arte na educação escolar, diferentes es-
tudos vêm sendo realizados para diagnosticar essa prática edu- (1980), o de Jogodzinski (2005), os de Richter (2002; 2003),
cativa (SILVA, 2004; ALMEIDA, 2001; BARBOSA, 2002b, 2002d). o de Rizzi (2002) e o de Varela (1986).
A partir desses estudos e de uma simples observação analítica Utilizamos, como procedimento para a análise dos es-
sobre a prática de ensino da arte na escola vamos encontrar tudos, as técnicas da análise de conteúdo, sistematizadas
a presença de diferentes tratamentos conceituais, didáticos e por Bardin (1977). Diante da especificidade do nosso ob-
metodológicos, tais, como: jeto de investigação e da compreensão de que a análise
(1) produção de desenho, pintura e atividades artísticas li- de conteúdo não é um instrumento, mas, um conjunto de
vres; técnicas de análise das comunicações, adotamos para tra-
(2) realização de dramatizações didáticas; tamento e análise dos dados desta pesquisa os procedi-
(3) cantar músicas da rotina escolar e/ou o canto pelo can- mentos da análise temática.
to; Desta forma, A nossa análise foi operacionalizada a
(4) assistir a apresentações artísticas; partir de quatro operações básicas:
(5) realização de jogos teatrais e jogos dramáticos; (1) a pré-análise; (2) a exploração do material; (3) o tra-
(6) ensino do desenho, do desenho geométrico, dos ele- tamento dos resultados obtidos; (4) e a interpretação dos
mentos da linguagem visual e a aplicação desses conteúdos a resultados, a partir da inferência.
objetos; Na próxima seção, apresentaremos os dados encontra-
(7) pintura de desenhos e figuras mimeografadas; dos a partir da realização do percurso metodológico que
(8) preparação de apresentações artísticas e objeto para acabamos de explicitar. Esses resultados são frutos tanto
comemoração de datas comemorativas e festivas; da análise dos conteúdos manifestos, como da análise dos
(9) leitura e releitura de obras de grandes artistas; conteúdos latentes, encontrados nas unidades de contexto,
(10) pesquisa sobre a vida e obra de artistas famosos; entre conforme poderá ser verificado, a seguir.
outros.

53
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
O Ensino de Arte na Educação Escolar: as Diferentes Ten- Com a abolição do trabalho escravo (1888) e com a
dências e Concepções de Ensino Proclamação da República (1889), os liberais e positivistas
Conforme explicitado na seção anterior, a partir dos di- provocaram grandes reformas nas diferentes esferas da
ferentes estudos na área dos fundamentos e da história da sociedade, com a pretensão de consolidar o novo regime
Arte/Educação, foi possível caracterizar as tendências e as político do Brasil, através de uma mudança radical nas ins-
concepções de ensino de arte presentes na trajetória históri- tituições.
ca da educação brasileira. Nessa direção, a educação brasileira teve que acom-
Dessa forma, os resultados apontaram que o ensino de panhar esse novo momento político, pois os liberais e os
arte no Brasil possui três grandes tendências conceituais, positivistas encaravam a educação como um campo estra-
que, didaticamente, classificamos em: tégico para a efetivação dessas mudanças.
(1) Ensino de Arte Pré-Modernista; Dessa forma, o ensino de arte passou a desempenhar
(2) Ensino de Arte Modernista; e um importante papel, através do ensino do desenho como
(3) Ensino de Arte Pós-Modernista ou Pós-Moderno. linguagem da técnica e da ciência, sendo “valorizadas como
meio de redenção econômica do país e da classe obreira,
Assim, percebe-se que o Modernismo, através da utiliza- que engrossara suas fileiras com os recém-libertos” (BAR-
ção de prefixos gregolatinos (pré e/ou pós), nomeia as outras BOSA, 2002c, p. 30).
tendências da Arte/Educação no Brasil. A nossa compreensão A corrente liberal teve em Rui Barbosa o seu grande re-
é a de que o Modernismo, tanto na Arte como na Arte/Edu- presentante, o qual propôs, através de suas reformas edu-
cação, é considerado a grande ruptura no modo de conceber cacionais, a implantação do ensino de Desenho no currí-
a arte e o seu ensino, que tradicionalmente era centralizada culo escolar, com o objetivo primordial de preparar o povo
no ensino da técnica. “Na realidade, nossa primeira grande para o trabalho.
renovação metodológica no campo da Arte-Educação se Tomando como base os princípios filosóficos de Au-
deve ao movimento de Arte Moderna de 1922” (BARBOSA, gusto Comte, os positivistas brasileiros acreditavam que
1975, p. 44). a arte possuía importância na medida em que contribuía
Dentro dessas tendências, vamos encontrar, diferentes para o estudo da ciência. Acreditavam que a arte era um
concepções de ensino da arte. Na Tendência Pré-Modernista,
poderoso veículo para o desenvolvimento do raciocínio e
encontraremos a concepção de Ensino da Arte como Técnica;
da racionalização da emoção, desde que ensinada através
já na Tendência Modernista, vamos encontra a concepção de
do método positivo, que subordinava a imaginação à ob-
Ensino da Arte como Expressão e também como Atividade;
servação.
e finalmente na Tendência Pós- Modernista, a concepção de
Conforme apresentado neste breve histórico, aproxi-
ensino da Arte como Conhecimento.
madamente, quatro séculos do ensino de arte no Brasil fo-
No entanto, quais os princípios e finalidades do ensino
ram baseados, exclusivamente, na concepção de arte como
da arte nessas concepções? Quais os seus contextos sócio-
-históricos? Quais as matrizes teóricas que as fundamentam? técnica. No entanto, essa concepção de ensino não ficou
Quais os princípios metodológicos? Para responder a essas restrita apenas a esse período histórico, pois, ainda hoje
questões iremos, a seguir, caracterizar todas essas concep- encontramos nas práticas escolares essa concepção de en-
ções de ensino de arte, que acabamos de explicitar. sino de arte, que vem se manifestando através do ensino
do desenho, do ensino do desenho geométrico, do ensino
O Ensino de Arte como técnica dos elementos da linguagem visual, descontextualizada da
A idéia de ensino de arte como técnica está ligada à ori- obra de arte; na produção de artefatos, utilizando-se de
gem do ensino de arte no Brasil. elementos artísticos para a sua composição; na pintura de
Com a presença dos Jesuítas, em 1549, iniciou-se o en- desenhos e figuras mimeografadas.
sino de arte na Educação Brasileira através de processos in- Observa-se, então, que a orientação de ensino de arte
formais, caracterizados pelo ensino da arte em oficinas de como técnica parte basicamente de dois princípios: (1) a
artesões. O objetivo era catequizar os povos da terra nova, efetivação do processo de aprendizagem da arte através
utilizando-se, como um do ensino de técnicas artísticas, para uma formação me-
dos instrumentos, o ensino de técnicas artísticas. ramente propedêutica, que visa, como por exemplo, à
Na educação formal, o ensino de arte tem a sua gênese preparação para a vida no trabalho; (2) e na utilização da
marcada pela criação da Academia Imperial de Belas Artes, arte como ferramenta didático-pedagógica para o ensino
em 1816, com a chega da Missão Artística Francesa, formada das disciplinas mais importantes do currículo escolar, tais,
por grandes nomes da arte da Europa. como Matemática e Língua Portuguesa.
Todos os membros da Missão Francesa possuíam uma Nessa concepção, o ensino de arte na educação esco-
orientação neoclássica, que marcou o seu modo de ensinar lar não possui um fim em si mesmo, mas, serve como meio
arte. No ensino, nessa orientação predominava basicamente para se alcançar objetivos que não estão relacionados com
o exercício formal da produção de figuras, do desenho do o ensino de arte propriamente dito.
modelo vivo, do retrato, da cópia de estamparias, obedecen- Contrapondo-se à Tendência Pré-Modernista do Ensi-
do a um conjunto de regras rígidas. No texto legal, o ensino no de Arte, que foi caracterizada pela concepção de ensino
da arte nos moldes neoclássico era caracterizado como aces- de arte como técnica, a partir de 1914, começou a despon-
sório; um instrumento de modernização de outros setores, tar a Tendência Modernista, através da influência da pe-
e não como uma atividade com importância em si mesmo. dagogia experimental, conforme apresentaremos a seguir.

54
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
O Ensino de Arte como expressão Nesta direção, o MEN se contrapõe ao modelo peda-
A concepção de ensino de arte como o desenvolvi- gógico tradicional, defendendo no centro das discussões
mento da expressão e da criatividade tem as suas bases educacionais da época uma nova concepção de criança,
conceituais e metodológicas ligadas ao Movimento Escoli- conforme citação abaixo:
nhas de Arte (MEA). [...] nela a criança não era pensada como miniatura de
Apesar de o MEA ter se constituído na prática em um adulto, mas deveria ser valorizada e respeitada em seu pró-
movimento de ensino de arte extra-escolar, ele exerceu prio contexto, com sua forma peculiar de pensar/agir no
grande influência sobre o ensino de arte na escola. Essa mundo, possuindo uma capacidade expressiva original, co-
influência se deve ao fato de o MEA ter se constituído municando-se por meio de seu gesto-traço, seu gesto-tea-
como o primeiro importante movimento que possibilitou tral e seu gesto-sonoro (AZEVEDO, 2000, p. 37).
o processo de transformação filosófica e metodológica de Foi nesse campo fértil que, em 1948, foi fundada, no
nossa Arte/Educação (AZEVEDO, 2000). Um outro fator foi Rio de Janeiro, a Escolinha de Arte do Brasil (EAB), pelos
que o MEA, durante mais de duas décadas, foi responsável artistas plásticos Augusto Rodrigues, Margaret Spencer e
pela formação inicial e continuada dos arte/educadores de Lúcia Valentim.
diferentes regiões brasileiras, conforme apresentado nos A EAB foi o início do que seria mais tarde denominado
estudos de Varela (1986). MEA, formado por um conjunto de “140 escolinhas espa-
No entanto, a origem histórica da Tendência Modernis- lhadas ao longo do território nacional e mais uma em As-
ta do Ensino de Arte no Brasil antecede à criação do MEA. sunção, no Paraguai; uma em Lisboa, Portugal e duas na
Dessa forma, diferentes fatores contribuíram para o surgi- Argentina, sendo uma em Buenos Aires e a outra na cidade
mento da Tendência Modernista de Ensino da Arte que, ao de Rosário” (AZEVEDO, 2000, p. 25).
longo de mais de duas décadas, iriam produzir um campo Com o surgimento do MEA como um grande e im-
fértil para a criação do MEA. portante movimento, novas possibilidades surgiram para a
A partir de 1914, através da influência americana e eu- Arte/Educação brasileira, conforme explicitado por Barbosa:
ropeia, que implementou a pedagogia experimental nos Somente em 1948, com a criação da Escolinha de Arte
cursos de formação de professores no Estado de São Pau- do Brasil, novos horizontes se abrem para novas concep-
lo, observa-se que, pela primeira vez no Brasil o desenho ções, e o objetivo mais difundido da Arte-Educação passou
infantil foi tomado como livre expressão da criança, como a ser, entre nós, o desenvolvimento da capacidade criadora
uma representação de um processo mental, passível de in- em geral (BARBOSA, 1975, p. 46).
vestigação e interpretação. Apesar dessa nova concepção O MEA, ao longo de sua história, recebeu diferentes
psicopedagógica ter tido seu início em São Paulo, ela pas- influências e contribuições teóricas de educadores, psicó-
sou a influenciar o Brasil como um todo, a partir da atuação logos, artistas. No entanto, as bases conceituais que mar-
dos diferentes educadores paulistas nas reformas educa- caram profundamente o MEA devem-se aos estudos dos
cionais dos outros Estados da Federação. estrangeiros Herbert Read, especialmente da sua obra
Entretanto, apesar dessa nova visão sobre o desenho “Educação Através da Arte” (READ, 1982), e Viktor Lowen-
da criança, os valores estéticos da arte infantil só passaram feld, através de sua obra “Desenvolvimento da Capacidade
a ser reconhecidos e valorizados como produto estético Criadora” (LOWENFELD, 1977).
com a introdução das correntes artísticas expressionistas, Essas obras traduziam o ideário pedagógico do MEA
futuristas e dadaístas na cultura brasileira, através da reali- que, através da proposta de educar mediante a arte, bus-
zação da Semana de Arte Moderna de 1922. cou valorizar a arte da criança, a partir de uma concepção
Os modernistas Mário de Andrade e Anita Malfatti de- de ensino baseada no desenvolvimento da livre expressão
sempenharam um papel fundamental na introdução das e da liberdade criadora. A grande Arte/Educadora Noêmia
ideias da livre-expressão do ensino de arte para as crianças, Varela foi de fundamental importância na introdução desse
através da implementação de novos métodos baseados na ideário pedagógico no MEA.
valorização da expressão e da espontaneidade da criança, Ainda segundo Azevedo (2000), um outro valor ressal-
conforme citação abaixo: tado pela Arte/Educação Modernista era a democratização
A ideia da livre-expressão, originada no expressionis- da Arte através da dessacralização da obra de arte, baseada
mo, levou à ideia de que a Arte na educação tem como fi- na ideia de que todas as crianças, em potencial, eram ca-
nalidade principal permitir que a criança expresse seu sen- pazes de produzir e de expressar-se através da arte, inclu-
timento e à idia de que a Arte não é ensinada, mas expres- sive crianças com necessidades educacionais especiais. No
sada. Esses novos conceitos, mais do que aos educadores, entanto, para que a criança fosse capaz de produzir a sua
entusiasmaram artista e psicólogos, que foram os grandes própria arte era preciso preservá-la da arte instituída, que
divulgadores dessas correntes e, talvez por isso, promover era produzida pelo adulto, pois, a arte adulta não deveria
experiências terapêuticas passou a ser considerada a maior ser apresentada para a criança como um modelo.
missão da Arte na Educação (BARBOSA, 1975, p. 45). Na proposta do MEA, a aproximação com o universo da
Com a democratização política do Brasil na década arte adulta deveria acontecer naturalmente. Nesse sentido,
de 1930, surgiu um movimento de renovação educacional a função do Arte/Educador era interferir o mínimo possível
denominado “Escola Nova”. Inspirado no pensamento do na arte da criança. Essa maneira de proceder iria possibilitar
filósofo americano John Dewey, esse novo ideário pedagó- conservar um valor fundamental divulgado pela Arte/Edu-
gico foi trazido para o Brasil através dos educadores Nereu cação Modernista: a originalidade como um fator primor-
Sampaio e Anísio Teixeira. dial do fazer artístico.

55
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Conforme acabamos de apresentar, o ensino de arte No contexto político e social do Regime Militar, a Lei
modernista possui uma trajetória conceitual de, aproxima- 5.692/71 desempenhou, apenas, uma função meramente
damente, 57 anos (1914-1971). Se comparada à tendência ideológica, que tinha como objetivo dar um caráter huma-
pré-modernista (arte como técnica), ela possuiu uma trajetória nista ao currículo. “As artes eram aparentemente a única
relativamente curta. No entanto, apesar dessa curta trajetória, matéria que poderia mostrar abertura em relação às huma-
a concepção de ensino de arte como desenvolvimento da ex- nidades e ao trabalho criativo, porque mesmo Filosofia e
pressão e da criatividade deixou marcas profundas na maneira História foram eliminadas do currículo” (BARBOSA, 2002b,
de ensinar arte na escola. Dessa forma, encontramos, ainda, na p. 9).
escola práticas de ensino de arte, tais, como: (1) produção de Na realidade, a referida Lei, no campo do ensino da
desenho e pintura como forma de expressão do pensamen- arte, caracterizou-se como uma ação não planejada, pois,
to da criança; (2) levar as crianças para assistirem a diferentes as atividades eram desenvolvidas, apenas, para cumprir as
apresentações artísticas (dança, teatro, cinema, circo, entre ou- formalidades e ocupar os horários, sendo ministradas por
tras) e a exposições em museus de arte e em centros culturais. professores de outras áreas que não compreendiam o sig-
Atividades essas, realizadas, sem, contudo, terem sido planeja- nificado da Arte na Educação.
das as estratégias de compreensão do conhecimento artístico
É necessário destacar, que diferente das outras con-
antes, durante e após a excursão didática, caracterizando-a,
cepções de ensino de arte, não encontramos em nossos
apenas, como uma simples aula passeio. Essas atividades, em
estudos registros históricos ou conceituais de uma matriz
geral, são trabalhadas de forma “livre”, sem qualquer interven-
ção e/ou mediação do professor na percepção dos produtos teórica que a fundamentasse. Na realidade, essa concepção
artísticos e na realização da produção da criança, partindo é a maior expressão da presença do tecnicismo pedagógi-
da crença de que a aprendizagem do conhecimento artístico co no ensino de arte.
ocorre de forma espontânea, sem haver necessidade de qual- Apesar de uma trajetória conceitual curta, a concep-
quer trabalho de mediação do professor. ção de ensino da arte como atividade cristalizou no ensino
Dessa forma, a grande ênfase nessa concepção é sobre as de arte diferentes práticas pedagógicas, que encontramos,
ações mentais desenvolvidas durante a realização da atividade ainda hoje, nas escolas brasileiras, tais, como: (1) cantar mú-
artística, ou seja, sobre o processo, tendo pouca importância o sicas da rotina escolar e/ou o canto pelo canto; (2) preparar
produto resultante. apresentações artísticas e objetos para a comemoração de
É a partir dessa ideia que vai surgir à concepção de ensi- datas comemorativas; (3) fazer a decoração da escola para
no de arte como lazer, auto expressão e catarse, o que des- as festas cívicas e religiosas; entre outras.
caracteriza a arte como um conhecimento indispensável para Isenta de qualquer conteúdo de ensino, a concepção
a formação das novas gerações, passível de ser ensinado e de ensino da arte baseada exclusivamente no “fazer artísti-
aprendido. co” contribuiu muito para relegar a arte a um lugar inferior
Essa interpretação custou à área de arte ser configurada na educação escolar. Essa compreensão custou, inclusive,
apenas como uma mera atividade, sem conteúdos próprios, a retirada do ensino de arte das três primeiras versões da
conforme verificaremos na concepção de ensino de arte como nova LDBEN, nos meados da década de 1980.
atividade, que apresentaremos a seguir. Convictos da necessidade do ensino de arte no desen-
volvimento intelectual das novas gerações, os arte/educa-
O Ensino de Arte como atividade dores brasileiros se organizaram e lutaram politicamente
A concepção de ensino da arte baseada na simples reali- para garantir a presença da arte no currículo escolar, a
zação de atividades artísticas é resultado do esvaziamento dos partir da ideia de que arte é um campo de conhecimento
conteúdos específicos da área de arte na educação escolar. específico, com objetivos, conteúdos, métodos de ensino
Essa concepção de ensino foi legitimada através da Lei de e processos de avaliação da aprendizagem próprios, e não
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de n° 5.692,
apenas uma mera atividade, conforme poderemos verificar
promulgada em 11 de agosto de 1971, que instituiu a obriga-
na concepção de ensino de arte, a seguir.
toriedade do ensino de arte nos currículos das escolas de 1° e
2° graus.
A partir dessa Lei, o ensino de arte no Brasil passou a ser O Ensino de Arte como conhecimento
designado através da rubrica “Educação Artística”. Uma termi- A concepção de ensino de arte como conhecimento,
nologia ultrapassada para o período em que foi criada, diante ao contrário das teses liberais, positivistas e modernistas,
dos avanços possibilitados pelos diferentes estudos e discus- defende a ideia da arte na educação com ênfase na própria
sões da área da arte e seu ensino, desenvolvidas no Brasil, Es- arte, denominada por Eisner (2002) como o “essencialismo”
tados Unidos e Europa. no ensino de arte.
No entanto, apesar de instaurar a obrigatoriedade do en- Segundo Rizzi (2002), a corrente essencialista:
sino da arte na educação escolar, a Lei, ao designar os compo- …acredita ser a Arte importante por si mesma e não
nentes do currículo, classificou-os em duas modalidades: (1) por ser instrumento para fins de outra natureza. Por ser
Disciplinas (áreas do conhecimento com objetivos, conteúdos, uma experiência que permite a integração da experiência
metodologias e processo de avaliação específica); (2) e ativi- singular e isolada de cada ser humano com a experiência
dades (desenvolvimento de práticas e procedimentos). Dessa da humanidade (RIZZI, 2002, p. 64-65).
forma, coube à arte, dentro do currículo escolar, desempenhar,
apenas, o papel de mera atividade.

56
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Por tanto, compreender a arte como uma área de co- Foi nesse contexto de luta que, em 20 de dezembro de
nhecimento, como uma construção social, histórica e cul- 1996, os arte/educadores brasileiros conquistaram a obri-
tural é trazer a arte para o domínio da cognição. Nessa gatoriedade do ensino de arte para toda a Educação Bási-
direção, o conceito de arte também está ligado à cognição ca, através da promulgação da nova LDBEN, de n° 9.394,
como um dos elementos de manifestação da razão, pois que, depois de quase uma década, revogou as disposições
existe na arte um conhecimento estruturador, que permite anteriores e consagrou, oficialmente, a concepção de ensi-
a potencialização da cognição. no de arte como conhecimento, ao explicitar que o ensino
Atualmente, no Brasil, a abordagem mais contemporâ- de arte escolar deverá promover o desenvolvimento cultu-
nea da Arte/Educação está relacionada ao desenvolvimen- ral dos alunos.
to cognitivo, que, segundo Barbosa (2005), vem se impon- A partir dos estudos de Barbosa (1998a; 2002b; 2002d),
do cada vez mais entre os arte/educadores brasileiros. Essa Richter (2002; 2003), Efland (2005) e Jogodzinski (2005)
compreensão nos impõe a pensar de maneira diferente o foi possível compreender que, entre outros princípios, a
ensino de arte na educação escolar, provocando o desloca- concepção de ensino de arte como conhecimento está
mento das nossas preocupações relacionadas à questão de baseada no interculturalismo, na interdisciplinaridade e na
“como se ensina arte” para “como se aprende arte”. Ques- aprendizagem dos conhecimentos artísticos, a partir da in-
tão essa que vem gerando, ao longo de mais de duas dé- ter-relação entre o fazer, o ler e o contextualizar arte.
cadas, teorias e estudos, tais, como os trabalhos de Pillar Segundo Barbosa, “o compromisso com a diversidade
(2001), de Barbosa (2002b) e de Parsons (1992), entre ou- cultural é enfatizado pela Arte-Educação Pós-moderna”
tros, que buscam explicar o processo de ensino aprendiza- (2002d, p. 19), através da “idéia de reforçar a herança artís-
gem dos conhecimentos artísticos. É nessa ressignificação tica e estética dos alunos com base em seu meio ambien-
de paradigmas que nasce, no Brasil, a Tendência Pós-Mo- te” (BARBOSA, 2002b, p. 24). Nessa direção, tanto Richter
derna de ensino de arte. Para explicar essa terminologia, (2002; 2003) como Barbosa (1998a; 2002d) vêm, ao longo
Barbosa afirma: dos anos, produzindo diferentes estudos sobre a diversida-
Como diz Homi Bhadha, nossa existência hoje é marca- de cultural no ensino da arte. Segundo as referidas auto-
ras, definir diversidade cultural pressupõe evocar diferen-
da pela tenebrosa sensação de sobrevivência, vivendo um
tes termos, tais, como multiculturalismo, pluriculturalidade,
presente que não tem nome próprio, mas é designado por
interculturalidade, que, na atualidade, aparecem como si-
um prefixo acrescentado ao passado. Trata-se do prefixo
nônimos no ensino de arte. No entanto, Barbosa (2002d)
‘pós’ do pós-modernismo, do pós-colonialismo, do pós-fe-
e Richter (2002) nos alertam que o termo mais adequado
minismo etc.
para designar a diversidade cultural no ensino da arte é a
Queremos explicitamente ultrapassar o passado sem
“interculturalidade”.
deixá-lo de lado (BARBOSA, 1998a, p. 33).
No livro “Inquietações e Mudanças no Ensino da Arte”,
Dessa forma, a nossa compreensão é a de que o movi-
Barbosa nos explica que, “enquanto os termos ‘Multicultu-
mento de mudançaepistemológica na forma de conceber,
ral’ e ‘Pluricultural’ pressupõem a coexistência e mútuo en-
filosófica e metodologicamente, o ensino da arte na con- tendimento de diferentes culturas na mesma sociedade, o
temporaneidade, que não ocorria desde o modernismo, termo ‘Intercultural’ significa a interação entre as diferentes
não é fruto do poder legislativo, através da implantação culturas” (2002d, p. 19).
de leis e decretos, que determinaram a obrigatoriedade do Defendendo essa ideia, Richter afirma que “esse termo
ensino da arte na educação escolar; antes, foi fruto da luta seria, portanto, o mais adequado a um ensino-aprendiza-
política e conceitual dos arte/educadores brasileiros, que gem em artes que se proponha a estabelecer a interrelação
buscaram justificar a presença da arte na educação a partir entre os códigos culturais de diferentes grupos culturais”
do paradigma da cognição. (2002, p. 86).
Na década de 1980, com a redemocratização do país, No entanto, esse processo precisa estar apoiado em
eclodiram, no cenário nacional, as associações de arte/ uma perspectiva interdisciplinar, que vem sendo defendida
educadores e cursos de pós-graduação (lato sensu e stricto por Barbosa (1984), desde a década de 1980, ao afirmar
sensu), fazendo com que surgissem novas reflexões sobre que polivalência não é interdisciplinaridade. Nessa direção,
o ensino de arte e novas concepções para o processo de Richter explica que, diferente da “multidisciplinaridade” e
ensino-aprendizagem de arte no âmbito escolar. “transdisciplinaridade”, a “interdisciplinaridade”:
Em 1988, foi promulgada a Constituição Brasileira, …indica a inter-relação entre duas ou mais disciplinas,
iniciando-se, logo em seguida, discussões sobre a nova sem que nenhuma se sobressaia sobre as outras, mas que
LDBEN. Em três de suas versões, foi retirada a obrigatorie- se estabeleça uma relação de reciprocidade e colaboração,
dade do ensino de arte nas escolas. Organizados, os arte/ com o desaparecimento de fronteiras entre as áreas do co-
educadores protestaram, convictos da importância da arte nhecimento (RICHTER, 2002, p. 85).
para a formação do aluno. Iniciou-se, aí, uma longa luta Nessa compreensão, o ensino de arte deve interdisci-
política e conceitual dos arte/educadores brasileiros para plinar consigo mesmo, através de diferentes linguagens,
tornar a arte uma disciplina curricular obrigatória, com to- como, também, com outras áreas do conhecimento huma-
das as suas especificidades (objetivos de ensino, conteúdos no. Seria o que poderíamos chamar de uma “educação sem
de estudos, metodologia e sistema de avaliação). territórios e fronteiras”, conforme esclarece Barbosa:

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
O estudo da interdisciplinaridade como abordagem pe- Na contemporaneidade, a concepção de ensino de arte
dagógica é central para o ensino de arte. A arte contempo- como conhecimento vem sendo apontada pelos diferentes
rânea é caracterizada pelo rompimento de barreiras entre o estudos, como a orientação mais adequada para o desenvol-
visual, o gestual e o sonoro. O happening, a performance, a vimento do ensino de arte na educação escolar. A seguir, apre-
bodyart, a arte sociológica e ambiental, o conceitualismo e sentaremos as considerações finais do nosso trabalho e suas
a própria vídeo art são algumas das manifestações artísticas contribuições para o campo educacional.
que comprovam uma tendência atual para o inter-relaciona- Essa divisão que acabamos de apresentar tem um caráter
mento de diversas linguagens representativas e expressivas. mais didático e analítico do que prescritivo e normativo, pois,
Portanto, pelo isomorfismo organizacional, a interdisciplina- a partir de uma observação mais cuidadosa, é possível verificar
ridade dever ser o meio através do qual se elaborem os cur- que as diferentes concepções de ensino de arte que acabamos
rículos e a práxis pedagógica da arte (BARBOSA, 1984, p. 68). de apresentar não estão limitadas aos períodos históricos em
Um outro princípio defendido pela Arte/Educação Pós- que eles surgiram e tampouco estão circunscritos de forma
-Moderna está relacionado à aprendizagem dos conheci-
isolada na prática educativa dos professores, pois, podemos
mentos artísticos, a partir da inter-relação entre o fazer, o
encontrar em uma mesma prática a presença de concepções
ler e o contextualizar arte, designados por Barbosa (2002b)
de ensino de arte completamente antagônicas, conforme apre-
como ações necessárias para a compreensão da Arte como
sentada na pesquisa realizada por Silva (2004). Elaboramos essa
epistemologia.
Com o esvaziamento dos conteúdos do ensino de arte, classificação para que pudéssemos compreender cada concep-
que vinha ocorrendo desde o início do Século XX, através da ção dentro do contexto social e histórico em que elas surgiram.
Tendência Modernista da Arte/Educação, surgem, na déca- Ao confrontarmos a classificação que elaboramos com a
da de 1970, no cenário internacional, alguns pensadores que classificação elaborada nos estudos dos teóricos estrangeiros
propunham resgatar os conteúdos para as aulas de arte. Foi Räsänem (1998), Agirre (2000) e Eisner (2002), foi possível com-
desse movimento que apareceram, no cenário da Arte/Edu- preender que esse fenômeno possui características singulares
cação, diferentes abordagens de ensino da arte. na realidade educacional brasileira. No entanto, constatamos
Inspirada nesses teóricos e nessas abordagens, Ana Mae também, que apesar da singularidade, algumas concepções
e suas colaboradorassistematizam, na década 1980, a partir aparecem tanto no Brasil, como em outros países, constituin-
das atividades educativas desenvolvidas no Museu de Arte do-se como fenômeno “universal”. A explicação para este fato
Contemporânea (MAC), da Universidade de São Paulo (USP), está na origem e derivação epistemológica dessas concepções,
a abordagem pós-colonialista no ensino de arte do Brasil, de- o que deve se constituir em um novo objeto de estudo.
nominada Proposta Triangular de Ensino de Arte, conforme Esperamos que o presente estudo possibilite o desenvol-
afirmação abaixo: vimento de um olhar mais clínico e crítico sobre a prática pe-
A Proposta Triangular deriva de uma dupla triangula- dagógica de ensino de arte desenvolvida no âmbito da educa-
ção. A primeira é de natureza epistemológica, ao designar ção escolar brasileira e que possa subsidiar a re-configuração
aos componentes do ensino/aprendizagem por três ações do ensino de arte voltado e comprometido com o crescimento
mentalmente e sensorialmente básicas, quais sejam: criação integral dos alunos, que perpassam, também, pelo seu desen-
(fazer artístico), leitura da obra de arte e contextualização. A volvimento cultural.
segunda triangulação está na gênese da própria sistemati-
zação, originada em uma tríplice influência, na deglutinação
de três outras abordagens epistemológicas: as Escuelas al
Aire Libre mexicanas, o Critical Studies inglês e o Movimento O ENSINO E A APRENDIZAGEM EM ARTE: O
de Apreciação Estética aliado ao DBAE (Discipline Based Art
FAZER ARTÍSTICO, A APRECIAÇÃO ESTÉTICA E
Education) americano (BARBOSA, 1998a, p. 35).
Para uma maior compreensão sobre Abordagem Trian- O CONHECIMENTO HISTÓRICO DA PRODUÇÃO
gular de Ensino de Arte, do ponto de vista das teorias educa- ARTÍSTICA EM SALA DE AULA.
cionais e das teorias da aprendizagem, Barbosa afirma:
A educação cultural que se pretende com a Proposta
Triangular é uma educação crítica do conhecimento construí-
do pelo próprio aluno, com a mediação do professor, acerca Dá para imaginar uma vida desvestida de arte? Uma
do mundo visual e não uma “educação bancária” (BARBOSA, vida sem música, sem cinema, sem um bom quadro para
1998a, p. 40). apreciar Por que recebemos como a mais remota herança
Ao contrário da concepção de ensino como técnica – de nossa presença na Terra as inscrições nas cavernas de
que valoriza o produto artístico em detrimento do processo Lascaux? São os primeiros registros – e as primeiras mani-
– e da concepção de ensino de arte como expressão – que festações artísticas.
supervaloriza o processo, dando pouca importância ao pro- Para Bertold Brecht: “Da mesma forma como é verdade
duto estético –, a concepção de arte como conhecimento que em todo homem existe um artista, que o homem é o
vem buscando a valorização tanto do produto artístico como mais artista entre todos os animais, também é certo que
dos processos desencadeados no ensino de arte, trazendo esta inclinação pode ser desenvolvida ou perecer. Subjaz
para o contexto atual da Arte/Educação a ideia de arte como à arte um saber que é saber conquistado através do tra-
processo e produto, que vem sendo defendida por Barbosa balho”.
(1975), desde a década de 1970.

58
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Este trabalho que constrói os saberes da arte formaliza- Realizada em Chicago, a pesquisa “Arts Education Part-
dos é o que se convencionou chamar de arte-educação.Ele nership – Critical Links” mostra que o ensino de qualidade
ocorre na escola de maneira formal e seriada, ou não formal nas artes estimula e dá lastro ao aprendizado de outras ma-
nos museus e centros culturais. O certo é que a percepção térias, especialmente para alunos em situação de vulnerabi-
e a decodificação das linguagens artísticas – sobretudo as lidade social. Revela ainda que onde a Arte foi integrada a
contemporâneas – requerem um aprendizado contínuo e outras disciplinas, os níveis de leitura foram acelerados em
sistemático. no mínimo um semestre. Levando em conta que há outros
Embora haja divergências sobre as metodologias uti- fatores intervenientes (como família e meio-ambiente) os
lizadas para o ensino da Arte, no Brasil, um passo impor- Profs. James Caterrall e Richard J. Deasy concluem que a
tante na busca de um piso comum foi quando o MEC criou arte-educação é no mínimo um fator que contribui forte-
e divulgou, em 1997, os Parâmetros Curriculares Nacionais mente para o resultado acadêmico.
(PCNs) para todas as disciplinas escolares. Mais recente- “A essência da inovação está em que o caminho para
mente este esforço vem sendo apropriado por estados e chegar-se a ela não é conhecido de antemão: por conse-
municípios que desenvolvem seus próprios Referenciais guinte é impossível predizê-lo de modo lógico”, afirma W.
Curriculares.. Beveridge.
Se houve época no Brasil em que a Arte não encontrava A arte caminha por este meio-fio do que não é lógico
espaço no currículo escolar, hojeé disciplina obrigatória a nem predizível. Traz em si própria a capacidade de CRIAR,
partir da 5ª série do Ensino Fundamental, deve ser minis- cuja definição segundo Domenico de Masi é iluminar o que
trada por professor com formação universitária específica, antes estava escuro, de dar forma àquilo que era caótico,
informado pelos PCNs que se apóiam em três vértices: a criar o que nunca havia sido gerado, antecipar o futuro, pro-
leitura da obra de arte, sua contextualização no tempo e no duzir o porvir.
espaço e o fazer arte.
Entende-se contemporaneamente que é impossível en- Os benefícios de sensibilizar o jovem para a arte, o
sinar arte sem arte, sem a apreciação da boa arte – mesmo processo de criação e a valorização da atividade artís-
sabendo o quão elástico o conceito da “boa arte” pode ser.
tica.
O que já não se aceita é que a “arte adulta” possaconspur-
A arte é um dos caminhos para a sensibilização e o au-
car a ingenuidade e a criatividade da criança que deveria
mento da autoestima. Muitos alunos modificam muito seu
ser levada a criar livremente. Estaorientação, vigente a partir
jeito de agir passando a se sentirem mais confiantes à medi-
dos anos 60 no Brasil e que teve um impulso com a criação
da que se veem capazes de criar e dominar uma técnica de
das Escolinhas de Arte em muitas capitais a partir do mo-
desenho ou de pintura e isto possibilita também uma nova
delo de Augusto Rodrigues no Rio, levou a um movimento
perspectiva de vida para quem via a arte de uma forma tão
cuja denominação genérica era “laissez-faire”, enfatizando o
espontaneísmo que se deveria deixar aflorar na criança, este distante e, muitos nem sequer conheciam uma exposição
“bom selvagem”. de arte, seja de desenho, pintura, escultura ou fotografia.
O advento do Discipline Based Art Education nos Es- Sensibilizar o jovem para a arte é um processo necessá-
tados Unidos (amplamente difundido pelo Getty Institute) rio e eficaz no combate à violência e a marginalidade, pois
deu origem à Abordagem Triangular no Brasil, formulada direcionamos a energia do adolescente ou mesmo do adul-
pela profa. Ana Mae Barbosa e divulgada por ela e pelo Arte to para uma atividade que além de ser prazerosa propor-
na Escola da Fundação Iochpe. É nesta triangulação que se ciona uma ampliação da concentração, da atenção, ajuda a
abre espaço para além do fazer artístico, para a leitura ou relaxar e diminuir o nível do estresse diário.
apreciação da obra de arte e, igualmente, para a sua contex- O conceito do belo, a harmonia e a busca pelo equilí-
tualização. Não é possível estudar uma obra renascentista brio que realizamos na atividade artística ajudam a desen-
como se ela tivesse sido criada num contexto contempo- volver a emoção como a capacidade de imaginar, questio-
râneo, e vice-versa. É preciso entender que os fenômenos nar e criticar também.
artísticos são condicionados pelo momento e pelo lugar em O processo de criação inicia-se paralelamente a um
que surgem. processo de aprendizado e desenvolvimento de técnicas,
Ninguém se questiona sobre a importância do estu- habilidades e percepção da imagem, da luz e sombra e da
do de Português, Matemática e Ciências – mas Arte? Num proporção e harmonia do conjunto desenhado. A partir do
mundo onde os testes estandartizados de aprendizado são momento que se desenvolve a percepção e aprofunda-se
cada vez mais importantes, há espaço para as artes, tão um conhecimento do material e dos recursos utilizados na
pouco propícias a este tipo de aferição? atividade artística o aluno também começa a se sentir mais
Várias pesquisas realizadas, sobretudo nos Estados Uni- seguro para criar e imaginar soluções diferentes, possibi-
dos, apontam na mesma direção: se o objetivo é entender litando a execução de trabalhos cada vez mais criativos e
as artes no conjunto das disciplinas, os ganhos são imensos. com melhor qualidade.
A pesquisa conduzida por Randi Korn & Associates para o É muito importante a valorização da atividade artística
Guggenheim Museum, por exemplo, indica que a educação nas escolas e em outras instituições de ensino buscando o
artística melhora o desempenho dos estudantes em outras aprimoramento do ser humano e a sensibilização do edu-
áreas do conhecimento. O estudo cita melhoria na alfabe- cando em relação à história da arte e o seu envolvimento
tização e nas habilidades do pensamento crítico como des- com a política e as transformações ocorridas na sociedade
crição acurada, levantamento de hipóteses e raciocínio. atual.

59
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Despertar o aspecto crítico dos educandos também é Com relação à arte, existem teorias que podem contri-
uma forma de torná-los mais conscientes dos seus direitos buir para o desenvolvimento estético e crítico dos alunos,
e deveres, de seu papel na sociedade e, possibilita o exercí- principalmente no que se refere aos processos de aprecia-
cio da cidadania de uma forma mais plena e segura. ção artística. São teorias que incorporam o relacionamento
É necessário buscar a ampliação destes espaços onde a com as práticas e o acesso ao conhecimento da arte, mas
arte pode fluir sem limites e o jovem pode desenvolver seu sem a pretensão de atingir uma verdade única. O próprio
potencial, direcionando o aprendizado nas áreas de pintu- conceito de arte tem sido objeto de diferentes interpreta-
ra, música, dança e todas as manifestações artísticas que ções: arte como técnica, materiais artísticos, lazer, processo
possibilitam o seu crescimento e satisfação interior. intuitivo, liberação de impulsos reprimidos, expressão, lin-
Devemos lutar para que nossos políticos iniciem uma guagem, comunicação e outros.
transformação na sociedade valorizando cada vez mais a Para nós, a concepção de arte que pode auxiliar na fun-
educação e a cultura e buscando através de leis de incen- damentação de uma proposta de ensino e aprendizagem
tivo uma forma de viabilizarmos projetos culturais e cursos artísticos, estéticos, e atende a essa mobilidade conceitual,
de formação artística e profissional. é a que aponta para uma articulação do fazer, do conhecer
Nossa busca pela democratização do ensino e a am- e do exprimir.
pliação do acesso de nossos jovens ao ensino médio e su- A educação em arte propicia o desenvolvimento do
perior está se fortalecendo, mas sabemos que a luta deverá pensamento artístico, que caracteriza um modo particular
ser contínua e cada vez mais abrangente visando também de dar sentido à experiências das pessoas: por meio dele,
o desenvolvimento de cursos técnicos e profissionalizan- o aluno amplia a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a
tes que possam ampliar a capacitação dos jovens e adultos linguagem. Aprender arte envolve, basicamente, fazer tra-
que estão ingressando ou já estão no mercado de trabalho. balhos artísticos, apreciar e refletir sobre eles. Envolve, tam-
A arte é uma das portas abertas para o saber, que pre- bém, conhecer, refletir sobre as formas da natureza e sobre
cisa ser valorizada e incentivada como uma alternativa efi- as produções artísticas individuais e coletivas de distintas
ciente e prazerosa para o desenvolvimento do cidadão e épocas e culturas.
sua inserção na cadeia produtiva do nosso país.
A arte é um fazer, é um conjunto de atos pelos quais
se muda a forma, se transforma. A matéria oferecida pela
A arte no processo ensino – aprendizagem
natureza e pela cultura. Nesse sentido, qualquer atividade
A arte, ou expressão artística, é um dos maiores instru-
humana, desde que conduzida a um fim, pode chamar-se
mentos de avaliação que o educador pode contar. Através
artística.
dela, pode-se avaliar o grau de desenvolvimento mental
A arte é produção; logo supõe trabalho. Movimento
das crianças, suas predisposições, seus sentimentos, além
que arranca o ser do não ser, a forma do amorfo, o ato da
de estrutura a capacidade criadora, desenvolver o raciocí-
potência, o cosmo do caos.
nio, imaginação, percepção e domínio motor.
A criança, mesmo antes de aprender a ler e a escre- É difícil a tarefa de encontrar um a definição geral para
ver, reage positivamente aos estímulos artísticos, pois ela a arte. Todas essa definições de arte envolvendo beleza,
é criadora em potencial. Nesta fase, as atividades de artes verdade, forma, expressão são sempre históricas, uma vez
fornecerão ricas oportunidades para o desenvolvimento que estão ligadas a um universo de valores culturais. Cada
das crianças, uma vez que põem ao seu alcance os mais cultura acaba criando a sua concepção de arte.
diversos tipos de material para manipulação. Parece-nos impossível a uma definição geral e única da
(…) Antes de ser preparado para explicar a importância que dê conta da própria universalidade da arte e de toda
da arte na educação, o professor deverá estar preparado experiência artística em todos os tempos, porque a mesma
para entender a explicar a função da arte para o indivíduo exige uma situação no espaço e no tempo.
e a sociedade. Para tanto, é necessário conhecermos alguns conceitos
O papel da arte na educação e grandemente afetado de arte e o seu tempo histórico.
Pelo modo como o professor e ao aluno vêem o Papel da Na acepção estrita do termo, Arte vem da palavra Ars,
arte fora da escola. (Ana Mae Tavares Bastos 1991) artis, corresponde ao grego tekné, que significa apenas o
Nas escolas de Educação Infantil e de Ensino Funda- ato de fazer bem objetos utilitários, destinados a fins práti-
mental a organização do trabalho de professores e alunos cos, uma cadeira por exemplo.
com a arte implica necessariamente a explicação, do que Quanto ao conceito de póiesis (criação) é muito amplo,
se entende por arte e por sua importância no cotidiano “tudo aquilo que é causa de que (seja o que for) passe do
escolar. não ser é criação, de modo que todas as atividades que en-
Quando praticamos o ensino e aprendizagem da arte e tram na esfera de todas as artes são criações; e os artesãos
por sua presença na escola surgem também questões que destas são criadores ou poetas (poietés)” (Platão, 1972).
se referem ao seu processo educacional. O conceito de Belo teve na cultura e na filosofia gre-
A formulação de uma proposta de trabalhar a arte na ga, implicações morais e intelectuais que condicionaram
escola exige que se esclareça quais posicionamentos sobre o alcance do seu sentido estético. Foram três as acepções
arte e sobre educação escolar estão sendo assumidos. Por fundamentais do Belo que prevaleceram entre os gregos:
sua vez, tais posicionamentos implicam, também, na sele- estética, moral e espiritual.
ção de linhas teóricos-metodológicas.

60
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
No sentido estético, o Belo é a qualidade de certos
elementos em estado de pureza. Como sons e cores agra-
dáveis. A beleza dos elementos puros repousa na sua ade- PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
quação aos sentidos sobretudo à vista e ao ouvido. (PCNS).
No sentido moral, o Belo é justamente o patrimônio
das almas equilibradas, que conseguem manter em har-
monia, a igual distância da virtude e do vício, é o estado Os Parâmetros Currículares Nacionais de Arte são
da alma. meios de consulta que podem nortear o trabalho do pro-
No sentido espiritual ou intelectual o Belo a do conhe- fessor, servindo como um suporte para a reflexão, que
cimento teórico existe uma relação hierárquica. A estética pode possibilitar mudanças qualitativas na ação do profes-
provocando um prazer moderado, ajusta-se ao equilíbrio sor em sala de aula.
das faculdades superiores da alma e esse equilíbrio é a Kehrwald (2008), analisa a constituição dos PCNs e os
Beleza moral. Por sua vez a Beleza moral tende a comple- considera como um avanço na dimensão do ensino da dis-
tar-se na contemplação da verdade, estado que, para os ciplina, pois a partir do momento em que ele incorpora os
filósofos gregos do século V a.C., é aquele que condiz com três eixos norteadores, como produzir, apreciar e contex-
tualizar, o documento aponta perspectivas de trabalho e
a natureza racional e intelectual do ser humano. Essa união
de compreensão da arte para além de atividades descola-
efetivou-se no conceito de kalogathia (se belo e bom),
das do contexto dos estudantes e meramente tarefeiras. É
ideal pedagógico da sociedade grega do século V a.C., em
certo que todo cidadão culturalmente produz ou convive
razão do qual Platão determinou aos jovens de sua repú-
com manifestações artísticas inseridas em seu meio, e, no
blica que praticassem exercícios ginásticos, para terem o entanto nem sempre tais obras são apreciadas, valorizadas
corpo bem formado (beleza estética), e cultivassem, em ou caracterizadas como arte, mesmo fazendo parte de sua
contato com as artes musicais a harmoniosa conformação identidade.
do espírito (beleza moral). Esses três eixos norteadores fundamentam metodo-
O significado das acepções analisadas se ligam entre si logicamente tanto o Referencial Curricular Nacional para
e constituindo a excelência e o grau de perfeição desejá- Educação Infantil quanto os Parâmetros Curriculares Na-
veis nas coisas exteriores, na conduta e no conhecimento. cionais e, atualmente, está sendo questionado o fato dessa
Estética palavra derivada do grego “aisthesis” significa concepção considerada contemporânea já estar fazendo
o que é sensível ou o que se relaciona com a sensibilidade parte de documentos oficiais.
Estética palavra derivada do Grego “aisthesis”, significa o
que é sensível ou o que se relaciona com a sensibilidade. Refletindo sobre a arte
A arte fundamenta-se numa visão do ser humano Com a finalidade de garantir uma aula consistente e
como criador e na relação que este tem com a natureza. prazerosa, além do conhecimento metodológico, é neces-
O ato criador relaciona-se com a capacidade de inventar sário sensibilidade por parte do educador sobre o que vem
novas formas, buscando novas ordenações e novos signifi- a ser Arte e consciência sobre a importância do ensino no
cados presentes, até mesmo, na sociedade atual. desenvolvimento pessoal e social do aluno.
Desenvolver um projeto de arte proporciona aos edu- Atualmente mudou-se a ideia de que a criatividade é
candos ampliar suas habilidades artísticas: a sensibilida- importante somente no campo da Arte, pois muitas vezes
de, a reflexão, a percepção e a imaginação. Através de al- é no momento das aulas de Arte que o aluno terá a única
gumas dinâmicas e técnicas de pintura, os educandos se oportunidade de desenvolvê-la primeiramente.
expressam livremente, manifestando suas emoções, seu “Desenvolver o pensamento criativo passou a ser uma
ritmo interior e seus interesses, pois a expressão plástica é meta prioritária na preparação para o futuro, visto que os
a linguagem que constitui a comunicação com o mundo. conhecimentos adquiridos hoje podem não valer nada
amanhã.” (CUNHA, 2010, p.91)
Os alunos passam, então, a conhecer, apreciar e a refletir
Mas, afinal, será que todos tem a mesma concepção
sobre as formas da natureza e o que foi produzido artisti-
sobre a Arte?
camente em diferentes épocas.
Zagonel (2008) diz que a tarefa de tentar definir a arte
A arte é uma atividade íntegra de personalidade. Fa-
gera discussões intermináveis, motivo este de não haver
zendo arte a pessoa usa seu corpo, sua percepção, seus uma definição abrangente ou precisa o suficiente. Tal pala-
conceitos, sua emoção, sua intuição, tudo em uma ativida- vra costuma ser usada com diferentes significados: a arte
de que não divide em compartimentos, mas, ao contrário, de executar bem alguma tarefa, a arte de preparar algo ou
integra os vários aspectos da personalidade. de dominar alguma técnica, ou pode ser usada corriqueira-
mente e popularmente para definir quando a criança está
inventando algo diferente: “Essa criança esta fazendo arte”.
Segundo a autora, a arte é estruturada a partir de có-
digos particulares e sua compreensão vem do hábito das
pessoas em apreciá-la e dos conhecimentos adquiridos so-
bre ela, e as pessoas não familiarizadas com a arte têm uma
propensão à cegueira ou à surdez estética.

61
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
No contexto escolar, a Arte é definida como uma forma Alguns se acostumaram com um meio mais fácil de le-
de promover o desenvolvimento cultural dos alunos. cionar, fazendo uso de materiais pedagógicos compostos
É certo que todo cidadão culturalmente produz ou por desenhos e atividades prontas, prática comum nas for-
convive com manifestações artísticas inseridas em seu mações em magistério até há pouco tempo atrás.
meio, e, no entanto nem sempre tais obras são apreciadas, Encarar um modo diferente do aprendido para traba-
valorizadas ou caracterizadas como arte, mesmo fazendo lhar gera um pouco de insegurança, principalmente por
parte de sua identidade. Tal insegurança e a falta de expe- exigir um pouco mais de reflexão do professor sobre a prá-
riência teórico-prática refletem na postura dos mesmos, o tica pedagógica.
que acarreta em aulas que não ultrapassam os cadernos, e A falta de definições para trabalhar as diferentes mo-
pouco motivadoras. dalidades artísticas também está presente na queixa de
Vygotsky explicitava sobre o assunto, conforme men- muitos profissionais da área, que acabam explorando mais
ciona Japiassu em artigo: o campo das artes visuais e deixando de lado as modalida-
A representação cotidiana e habitual da criatividade não des: teatro, música e dança.
enquadra suficientemente o seu sentido científico. Quase Nesse contexto, o teatro, a música e a dança, mui-
sempre, a criatividade é concebida como propriedade priva- tas vezes acabam sendo trabalhados de forma repetida e
da de uns poucos eleitos (gênios, talentosos, artistas, inven- exaustiva com o único objetivo da criança se apresentar
tores e cientistas). (VYGOTSKY apud JAPIASSU) em datas festivas.
A falta dessa leitura artística presente no cotidiano se Sobre o assunto Lins (2009) conclui que:
deve principalmente à falta de um estímulo ou despertar Hoje é grande a preocupação dos professores de Arte em
artístico. fazer a integração das quatro áreas artísticas. De modo que,
Nesse aspecto, a função da escola é primordial, que não se deve colocar os conteúdos no currículo de forma iso-
por meio do conhecimento, da análise, da apreciação e do lada e esperar que o aluno possa integrá-los na sua cabeça.
fazer arte, promove essa alfabetização estética, que possi- Há grandes dificuldades em estabelecer uma relação mais
bilitará a leitura dos alunos a diferentes códigos culturais. aprofundada entre as linguagens artísticas, mas mesmo as-
Ana Mae Barbosa (2003) menciona que é por meio da sim, o professor pode compreender os elementos básicos de
Arte que a pessoa desenvolve a percepção e a imaginação, cada área da Arte e a partir de seu conhecimento e experiên-
aprende a realidade do meio ambiente, desenvolve a capa- cia, proporcionar aos alunos o contato com outras lingua-
cidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade gens, que não a de sua formação. Os alunos em suas vidas
percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar entram em contato com estas artes e tem suas preferências.
a realidade, que foi analisada. Além dessa problemática, há também a visão equivo-
De acordo com os PCNs de Artes, a área de Arte tem cada de irrelevância do referido ensino dentre as demais
uma função importante a cumprir. Ela situa o fazer artístico disciplinas que compõem o currículo escolar, disciplina esta
como fato e necessidade de humanizar o homem histórico, não exigida em vestibulares e processos seletivos.
brasileiro, que conhece suas características tanto particula- Os PCNs orientam para que a Arte faça parte de todas
res, tal como se mostram na criação de uma arte brasileira, as disciplinas, reconhecendo sua importância como qual-
quanto universais, tal como se revelam no ponto de encon- quer outra matéria, pois ela traz grandes benefícios aos
tro entre o fazer artístico dos alunos e o fazer dos artistas alunos, por exemplo, a compreensão em outras áreas do
de todos os tempos, que sempre inauguram formas de tor- conhecimento humano.
nar presente o inexplicável. A solução para a problemática dos professores de Artes
Diante das diversas definições e conceitos existentes, está no próprio profissional e sua postura. Primeiramente,
todas acordam basicamente que todo cidadão que de- ele deve romper a falsa ideia de que sua formação acaba
senvolve sua sensibilidade artística e estética lida melhor quando termina a faculdade.
com suas emoções e expressões, é autoconfiante e cada A formação do educador ocorre em suas experiências
vez mais preparado para fazer parte de uma sociedade que diárias e por meio de incessantes pesquisas, refletindo,
necessita de pessoas críticas, inovadoras e criativas. construindo e reconstruindo sua prática, buscando suporte
pedagógico necessário para sua atuação profissional.
Professor: o ensinar x aprender arte No contexto da educação escolar, a disciplina Arte
Atualmente, muitos professores sentem-se inseguros compõe o currículo compartilhado com as demais discipli-
ao planejar suas aulas de Artes, dentre os motivos estão: nas num projeto de envolvimento individual e coletivo. O
resquícios de uma formação escolar tradicionalista; as lacu- professor de Arte, junto com os demais docentes e através
nas no aprendizado de Artes durante o curso de graduação de um trabalho formativo e informativo, tem a possibilida-
e a falta de especialização. de de contribuir para a preparação de indivíduos que per-
Tal insegurança e a falta de experiência teórico-prática cebam melhor omundo em que vivem, saibam compreen-
refletem na postura dos mesmos, o que acarreta em aulas dê-lo e nele possam atuar. (FERRAZ, 2001, p.24)
que não ultrapassam os cadernos, e pouco motivadoras. Os PCNs de Arte não dão fórmulas prontas, mas forne-
O professor que atua de maneira tradicional acredita cem subsídios importantes em suas orientações didáticas.
que a cópia e a repetição são as únicas formas de fixar um Cabe ao professor desenvolver reflexão pedagógica espe-
modelo estabelecido e acaba se limitando a avaliar se o cífica para o ensino das diferentes modalidades artísticas.
aluno atingiu o máximo possível do modelo original.

62
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
Essa busca de aperfeiçoamento é essencial para garantir o direito dos alunos de experimentar tais modalidades de
forma coerente e democrática.
Atualmente, a internet é uma ótima ferramenta para troca de informações e experiências entre educadores e para que
professores e alunos superem a falta de acesso a obras artísticas.
Um bom exemplo de recurso tecnológico é o “Google Art Project” que disponibiliza o acesso às obras de arte e museus
mais visitados do mundo em que tanto os alunos podem utilizar o site e ter a sensação de andar pelos corredores de um
museu apreciando com detalhes e alta qualidade de zoom obras renomadas, quanto os professores podem aprofundar
seus conhecimentos artísticos, pois nesse site há vídeos explicativos que contam o significado e a história de cada peça.

Figura 1: Google art´s

O referido site serve apenas como um exemplo, pois existem diversos outros meios que servem de suporte metodoló-
gico para explorar a arte, mas para isso o professor deve buscar sempre pesquisar e manter-se atualizado.
De acordo com os PCNs Artes (1997 p.72), a prática de aula é resultante da combinação de papéis que o professor pode
desempenhar antes, durante e depois de cada aula:
Antes da aula, o professor desempenha os papéis de: pesquisador de fontes de informação, materiais e técnicas; apreciador
de arte, escolhendo artistas a serem estudados; criador na preparação e na organização da aula e seu espaço; estudioso da
arte, desenvolvendo seu conhecimento artístico; e um profissional que trabalha junto com a equipe escolar.
Durante a aula: incentivador da produção individual ou grupal; estimulador de um olhar crítico; propiciador de um
clima que tenha curiosidade, constante desafio perceptivo; qualidade lúdica e alegria; inventor de formas de apreciação da
arte; acolhedor de materiais, ideias e sugestões trazidos pelo aluno; formulador de destino para os trabalhos dos alunos;
descobridor de propostas de trabalho para desenvolver o processo de criação, reflexão e apreciação de obras de arte; re-
conhecedor do ritmo pessoal dos alunos; e analisar os trabalhos junto com os alunos.
E depois da aula ele assume os respectivos papéis: articulador das aulas, uma em relação com as outras; avaliador de
cada aula particular; e imaginador do que está por acontecer na continuidade do trabalho com base no conjunto de dados
adquiridos na experiência das aulas anteriores.
A motivação do educador é o eixo norteador para superar os desafios deste ensino, é a motivação e o compromisso
com a educação que servirão de alicerce para que este profissional desempenhe significativamente tantos papéis em sua
atuação, assim, ele poderá romper os mitos que cercam o ensino de Artes.
Segundo reportagem de Santomauro á revista Nova Escola, existem três mitos pedagógicos no ensino de Arte.
O primeiro mito é sobre “reprodução e releitura”. De acordo com a autora, mostrar uma obra de arte, discutir suas ca-
racterísticas e pedir ao aluno que faça o mesmo De acordo com a autora, qualidade não é quantidade, pois um trabalho que
garanta uma aprendizagem significativa para os alunos não depende da riqueza de material, mas do conteúdo, estratégia e
propostas que ofereçam oportunidades de participação. desenho no caderno não é propor releitura, e sim reprodução ou
cópia. Na releitura o aluno, partindo de uma obra, cria uma nova, transformando e interpretando.
O segundo mito que ronda o ensino de Arte é o descrito: “Sem material, não dá”. De acordo com a autora, qualidade
não é quantidade, pois um trabalho que garanta uma aprendizagem significativa para os alunos não depende da riqueza
de material, mas do conteúdo, estratégia e propostas que ofereçam oportunidades de participação.
O último mito é que “a Arte estimula a criatividade”. Na verdade, a arte desenvolve a criatividade e outras habilidades,
se os conteúdos são aprendidos.

63
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
O educador deve encarar as aulas de Arte como um    Na proposta geral dos Parâmetros Curriculares Na-
desafio e não como um problema, ele deve romper mitos e cionais, Arte tem uma função tão importante quanto a dos
paradigmas, assim podendo superar os obstáculos prove- outros conhecimentos no processo de ensino e aprendiza-
nientes do ensino. gem. A área de Arte está relacionada com as demais áreas e
Pensando dessa maneira, se faltar recursos materiais, tem suas especificidades. (BRASIL 1977, p.19). Tal proposta
o educador irá pesquisar alternativas de promover a arte é considerada uma vitoria diante das lutas em igualar no
com reciclagem ou outros materiais diferentes, e caso faltar mesmo patamar as disciplinas, contudo não esquecendo
espaço físico dentro da escola, é possível explorar locais de trazer a tona os questionamentos quanto ao tempo e
alternativos no entorno da escola ou promover visitas a es- espaço para aplicação da disciplina.
paços disponíveis, como uma brinquedoteca, por exemplo.
Os conteúdos do Ensino de Arte no Ensino funda-
A visão de um todo e não particionado sobre a Arte
mental
no contexto escolar, perpassando todas as disciplinas e o No Ensino Fundamental o aluno poderá desenvolver
compartilhamento de ideias entre os demais professores sua competência estética e artística nas diversas modalida-
devem fazer parte da rotina do fazer pedagógico. des da área de Arte (Artes Visuais, Dança, Música, Teatro),
Assim, para romper essa concepção e fazer a diferen- tanto para produzir trabalhos pessoais e grupais quanto
ça, é primordial que haja motivação e inovação por parte para que possa, progressivamente, apreciar, desfrutar, valo-
do educador, e que se estabeleça uma relação de entrega rizar e julgar os bens artísticos de distintos povos e culturas
e responsabilidade ao campo estudado com comprometi- produzidos ao longo da história e na contemporaneidade.
mento em relação à Educação. É necessário que esse pro-   Tais modalidades visam organizar sistematicamente
fissional tenha a consciência da sua responsabilidade social os conteúdos de arte estabelecendo critérios, como intuito
e da transformação que suas aulas poderão fazer na vida de promover a “formação artística e estética do aluno e a
de cada educando. sua participação na sociedade” (BRASIL, 1997, p.49)
Acredito positivamente que a Arte está cada vez mais   Para a elaboração dos conteúdos é importante que
extrapolando a disciplina em si e também o ambiente es- considerar a diversidade de saberes adquiridos pelo alu-
colar e isso se deve ao fato de existir boas referências so- no na informalidade, atentando para a contextualização do
bre o ensino contemporaneamente. Aos poucos, as novas mesmo, bem como da comunidade da qual a escola faz
concepções sobre a Arte estão demostrando que a arte vai parte e também introduzir os conteúdo “das diversas cul-
turas e épocas a partir de critérios de seleção adequados
além de ser apenas leitura e representação, e compete a
à participação do estudante na sociedade como cidadão
nós educadores buscarmos isso.
informado.” (BRASIL, 1997, p.49)
“Sem a curiosidade que me move, que me inquieta,   O objetivo dos conteúdos é atender os níveis de
que me insere na busca, não aprendo nem ensino”. ( FREI- aprendizagens do aluno no domínio do conhecimento
RE, 1996, p.52 ) artístico e estético, ou no processo de criação, pelo fazer,
seja no contato com obras de arte com outras manifesta-
Os Parâmetros Curriculares Nacionais e o ensino de ções presentes nas culturas ou na natureza. “O estudo, a
Arte análise e a apreciação da arte podem contribuir tanto para
o processo pessoal de criação dos alunos como também
Desde sua publicação e distribuição às escolas, os Pa- para sua experiência estética e conhecimento do signifi-
râmetros Curriculares Nacionais, constituem um referen- cado que ela desempenha nas culturas humanas.” (BRA-
cial de qualidade para a educação para o ensino básico SIL, 1997, p.49). Essa articulação dos conteúdos dentro do
em todo Brasil. Segundo o PCN (BRASIL, 1997, p. 13), sua processo de ensino e aprendizagem vem efetivar os eixos
função é orientar e garantir a coerência dos investimentos que norteiam esse processo com o tripé produzir, apreciar
no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e contextualizar, de suma importância na compreensão
e recomendações, subsidiando a participação de técnicos das atividades, movendo o aluno no desenvolvimento do
e professores brasileiros, principalmente daqueles que se pensamento individual e coletivo. “Isso traz consciência do
encontram mais isolados, com menor contato com a pro- desenvolvimento de seu papel de estudante em arte e do
valor e continuidade permanente dessas atitudes ao longo
dução pedagógica atual.
de sua vida.” (BRASIL, 1997, p.50).
   Até dezembro de 1996 o ensino fundamental esteve
  A partir dessa estrutura as escolas têm a liberdade
estruturado nos termos previstos pela Lei Federal n. 5.692, de elaborar seus próprios currículos, desde que articulados
de 11 de agosto de 1971. Segundo (BRASIL, 1997, p. 13): com conteúdos da área, de outras áreas e dos Temas Trans-
  Essa lei, ao definir as diretrizes e bases da educação versais, segundo as diretrizes preestabelecidas, atentando
nacional, estabeleceu como objetivo geral, tanto para o en- para o seu próprio contexto educacional.
sino fundamental (primeiro grau, com oito anos de escola-   “Os três eixos estão articulados na prática, ao mesmo
ridade obrigatória) quanto para o ensino médio (segundo tempo que mantêm seus espaços próprios. Os conteúdos
grau, não obrigatório), proporcionar aos educandos a for- poderão ser trabalhados em qualquer ordem, conforme
mação necessária ao desenvolvimento de suas potenciali- decisão do professor, em conformidade com o desenho
dades como elemento de autorrealização, preparação para curricular de sua equipe e segundo critérios de seleção e
o trabalho e para o exercício consciente da cidadania. ordenação adequados a cada ciclo.” (BRASIL, 1997, p.49).

64
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
  O ensino e aprendizagem de Arte não é mera propo- • a arte na sociedade, considerando os artistas, os pen-
sição de atividades sem fundamentos, ao aluno bem como sadores da arte, outros profissionais, as produções e suas
a instituição de ensino deve se fazer entender que a dis- formas de documentação, preservação e divulgação em di-
ciplina tem objetivos específicos e os conteúdos “sempre ferentes culturas e momentos históricos.
se ligam a determinado espaço cultural, tempo histórico   Além dos conteúdos específicos envolvendo a arte em
e a condições particulares que envolvem aspectos sociais, termos gerais as diretrizes atentam para a multiplicidade
ambientais, econômicos, culturais, etários.” (BRASIL, 1997, de informações visuais ao redor do aluno, instigando-o ao
p.49). O professor é o mediador entre as partes: instituição/ conhecimento, amplitude da visão e posicionamento criti-
aluno – disseminação do conhecimento. co, uma educação para “saber ver e perceber, distinguindo
  Os três eixos norteadores produzir, apreciar e con- sentimentos, sensações, ideias e qualidades contidas nas
textualizar, são definidos nesta articulação individualizados, formas e nos ambientes.” (BRASIL, 1997, p.64). Nos con-
porém interligados no contexto. teúdos também estão inclusos modalidades resultantes do
  O produzir refere-se ao fazer artístico, o produzir. São avanço tecnológico, visuais como: fotografia, moda, artes
as experiências que o aluno tem na prática nas atividades gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação, performan-
propostas (como expressão, construção, representação), ce, holografia, desenho industrial, arte em computador. O
observando a temática a que está relacionada. É o processo objetivo é contextualizar o aluno facilitando a comunica-
de criação que se realiza por intermédio de experimenta- ção e a expressão, integrando-o socialmente. “No mundo
ções (técnicas, materiais, substratos) e também do uso das contemporâneo as linguagens visuais ampliam-se, fazendo
diversidades de linguagens artísticas. novas combinações e criam novas modalidades. A multimí-
  Apreciar é a percepção, decodificação, interpretação, dia, a performance, o videoclipe e o museu virtual são al-
fruição de arte e do universo a ela relacionado. A ação de guns exemplos em que a imagem integra-se ao texto, som
apreciar refere-se a analise da produção artística individual e espaço.” (BRASIL, 1997, p.64). A proposta educacional visa
e do outro, interpretando segundo seus conhecimentos a transformação das informações, dos conhecimentos im-
preconcebidos, “a produção histórico-social em sua diver- pulsionando o desenvolvimento do aluno. “(...) a meta des-
sidade, a identificação de qualidades estéticas e significa- se ensino é desenvolver nos jovens a disposição de apreciar
dos artísticos no cotidiano, nas mídias, na indústria cultural, a excelência nas artes em função da experiência maior que
nas práticas populares, no meio ambiente.” (BRASIL, 1997, a arte é capaz de proporcionar” (BARBOSA, 2008, p. 99).
p.50)   No contexto educacional é de suma importância
  Contextualizar é situar o conhecimento do próprio considerar a relação empiria e o aprender, considerar que
trabalho artístico, do outro e da arte no contexto social, as experiências do cotidiano do aluno podem facilitar o
histórico e cultural. aprendizado e que esse universo cultural pode ser trazido
  A seleção dos conteúdos é baseada em critérios que para dentro da sala de aula contribuindo para a formação
visam despertar a curiosidade estimulando o conhecimen- do mesmo como cidadão participativo. “A escola deve in-
to da própria cultura, e a descoberta da cultura do outro corporar o universo jovem, trabalhando seus valores esté-
em diferentes épocas. Segundo os PCN’s (BRASIL, 1997, ticos, escolhas artísticas e padrões visuais.” (BRASIL, 1997,
p.51): p.64)
  (...) acredita-se que para a seleção e a organização dos   Os conteúdos são específicos por área e estão organi-
conteúdos gerais de Artes Visuais, Música, Teatro e Dança zados de maneira que possam ser trabalhados ao longo do
por ciclo é preciso considerar os seguintes critérios: ensino fundamental e seguem os critérios para seleção e
• conteúdos que favoreçam a compreensão da arte ordenação propostos nos PCN’s. Os conteúdos gerais têm
como cultura, do artista como ser social e dos alunos como por objetivo direcionar os conteúdos específicos por área
produtores e apreciadores; em cada serie. Aqui estão selecionados alguns dos conteú-
• conteúdos que valorizem as manifestações artísticas dos específicos por área, para que possa ser entendido a
de povos e culturas de diferentes épocas e locais, incluindo abrangência dos mesmos.
a contemporaneidade e a arte brasileira;
• conteúdos que possibilitem que os três eixos da Conteúdos de Artes Visuais
aprendizagem possam ser realizados com grau crescente Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, as dire-
de elaboração e aprofundamento. trizes para os conteúdos de arte são estabelecidos quanto
  Assim, de forma abrangente os conteúdos gerais do à produção, à apreciação e contextualização.
ensino de Arte segundo os PCN’s, (BRASIL, 1997, p.52) são: Quanto à produção:
• a arte como expressão e comunicação dos indivíduos; • A produção artística visual por meio do desenho, pin-
• elementos básicos das linguagens artísticas, modos tura, colagem, gravura, construção, escultura, instalação,
de articulação formal, técnicas, materiais e procedimentos fotografia, cinema, vídeo, meios eletroeletrônicos, design,
na criação em arte; artes gráficas e outros.
• produtores de arte: vidas, épocas e produtos em co- • Observação, análise, utilização dos elementos da lin-
nexões; guagem visual e suas articulações nas imagens produzidas.
• diversidade das formas de arte e concepções estéti- • Representação e comunicação das formas visuais,
cas da cultura regional, nacional e internacional: produções concretizando as próprias intenções e aprimorando o do-
e suas histórias; mínio dessas ações.

65
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
• Conhecimento e utilização dos materiais, suportes, A dança tem contribuição importante para o desen-
instrumentos, procedimentos e técnicas nos trabalhos pes- volvimento dos alunos, não se trata simplesmente de mo-
soais, explorando e pesquisando suas qualidades expressi- vimento, o corpo não é mero instrumento da dança. “O
vas e construtivas. corpo é conhecimento, emoção, comunicação, expressão.
   Quanto à apreciação: Ou seja, o corpo somos nós e nós somos o nosso corpo.
• Percepção e análise de formas visuais presentes nos Portanto, o corpo é a nossa dança e a dança é o nosso
próprios trabalhos, nos dos colegas. corpo.” (idem, p.72). O aluno é o inovador, se atentar para
• Observação da presença e transformação dos ele- a importância das inúmeras possibilidades de movimentos
mentos básicos da linguagem visual, em suas articulações proporcionados pela dança, fator diferencial nas atividades
nas imagens produzidas, apresentadas em diferentes cul- de danças no contexto educacional.
turas e épocas.   Os objetivos gerais da Dança para o ensino funda-
• Identificação, observação e análise das diferentes téc- mental esta interligada mais diretamente às experiências
nicas e procedimentos artísticos. dos movimentos corporais dos alunos que a vivência social,
• Percepção e análise de produções visuais (originais e possibilitando ao aluno capacidade de construir uma rela-
reproduções) e conhecimento sobre diversas concepções ção de cooperação, aperfeiçoar a capacidade de discrimi-
estéticas presentes nas culturas. nação verbal, visual e cinestésica, situar e compreender as
   Quanto à como produção cultural e histórica relações entre corpo, dança e sociedade, buscando orga-
• Observação, pesquisa e conhecimento de diferentes nizar, registrar e documentar informações sobre dança em
obras de artes visuais, produtores e movimentos artísticos contato com artistas, fontes documentais relacionando-os
de diversas culturas e em diferentes tempos da história. a suas próprias experiências pessoais como criadores, in-
• Compreensão sobre o valor das artes visuais na vida térpretes e apreciadores de dança.
dos indivíduos e suas possíveis articulações com a ética   Os conteúdos específicos da Dança estão agrupados
que permeia as relações de trabalho na sociedade contem- em três aspectos principais utilizados observando as ne-
porânea. cessidades dos alunos e o contexto sociopolítico e cultural
em que se encontram: dançar, apreciar e dançar e as di-
• Reflexão sobre a ação social que os produtores de
mensões sociopolíticas e culturais da dança.
arte concretizam em diferentes épocas e culturas, situando
  Quanto a dançar:
conexões entre vida, obra e contexto.
• Desenvolvimento das habilidades corporais adqui-
• Conhecimento e investigação sobre a arte do entorno
ridas nos ciclos anteriores, iniciando trabalho de memo-
próximo e distante a partir das obras, fontes vivas, textos e
rização e reprodução de sequências de movimentos quer
outras formas de registro.
criadas pelos alunos, pelo professor quer pela tradição da
dança.
Conteúdos de Dança
• Relacionamento das habilidades corporais adquiridas
As articulações do corpo humano simplesmente pela
com as necessidades contidas nos processos da dança tra-
necessidade de movimentar-se, o movimento faz parte do balhados em sala de aula.
corpo. O movimento é a expressão do corpo. O corpo fala • Reconhecimento das transformações ocorridas no
através da dança. Há movimentos inatos e natos e conse- corpo quanto à forma, sensações, percepções, relacionan-
quentemente objetivos nos movimentos apreendidos. “Se do-as às danças que cria e interpreta e às emoções, com-
por um lado a música estimula os movimentos, a dança, portamentos, relacionamentos em grupo e em sociedade.
por outro, pode também restringi-los, pois a sociedade já   Quanto a apreciar e dançar:
tem modelos de danças que se “encaixam” a certos estilos • Aperfeiçoamento e compreensão dos elementos do
de música.” (BRASIL, 1997, p. 73). A dança no âmbito es- movimento: partes do corpo, dinâmicas do movimento,
colar não está restrita somente as apresentações e festas uso do espaço e das ações.
comemorativas, nem tampouco limitada a ritmos estereoti- • Experimentação e diferenciação entre repertório, im-
pados. “(...) sempre se aprende, formal e/ou informalmente, provisação, composição coreográfica e apreciação, aten-
como, por que e quando se movimentar e transformar esse tando para as diferentes sensações e percepções indivi-
movimento em dança.” (BRASIL, 1997, p. 70). E ainda: duais e coletivas que ocorrem nos quatro processos.
  Propomos que o professor que trabalhe com a Dan- • Experimentação, investigação e utilização de dife-
ça em localidades diferentes das pesquisadas sempre ouça rentes estímulos para improvisação e para composição co-
atentamente o que seus alunos têm a dizer sobre seus cor- reográfica (notícias de jornal, poesia, quadros, esculturas,
pos, sobre o que dançam e/ou gostariam de dançar; que histórias, elementos de movimento, sons e silêncio, objetos
observe atentamente as escolhas de movimento e como cênicos).
eles são articulados em suas criações de dança, para que   Quanto às dimensões histórico-sociais e culturais da
possa escolher conteúdos e procedimentos não somente dança e seus aspectos estéticos:
adequados, mas também problematizadores das realida- • Conhecimento dos dançarinos/coreógrafos e grupos
des em que esses corpo/danças estão inseridos. (idem, de dança brasileiros e estrangeiros que contribuíram para
p.72) a história da dança nacional, reconhecendo e contextuali-
  zando épocas e regiões.

66
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
• Reflexão sobre os principais aspectos de escolha de   Quanto à apreciação significativa em Música: escuta,
movimento, estímulos coreográficos, gênero e estilo dos envolvimento e compreensão da linguagem musical:
coreógrafos estudados às danças que criam em sala de • Manifestações pessoais de ideias e sentimentos suge-
aula, contextualizando as diferentes opções. ridos pela escuta musical, levando em conta o imaginário
• Análise, registro e documentação dos próprios traba- em momentos de fruição.
lhos de dança e dos utilizados por diferentes dançarinos e • Percepção, identificação, comparação, análise de mú-
coreógrafos. sicas e experiências musicais diversas, quanto aos elemen-
tos da linguagem musical: estilo, forma, motivo, andamen-
   Conteúdos de Música to, textura, timbre, dinâmica, em momentos de apreciação
  No decorrer da historia tornam-se perceptíveis as musical, utilizando vocabulário musical adequado.
transformações nos estilos e gostos musicais. Na escola • Audição, comparação, apreciação e discussão de
como proporcionar aos alunos uma educação musical en- obras que apresentam concepções estéticas musicais di-
volvendo-os no contexto atual, valendo-se das experiên-
ferenciadas, em dois ou mais sistemas, tais como: modal,
cias trazidas do cotidiano individual? Segundo os PCN’s
tonal, serial e outros, bem como as de procedimento alea-
(BRASIL, 1997, p 79) essa relação pode ser realizada “Esta-
tório.
belecendo relações com grupos musicais da localidade e
• Apreciação de músicas do próprio meio sociocultu-
da região, procurando participar em eventos musicais da
cultura popular, shows, concertos, festivais, apresentações ral, nacionais e internacionais, que fazem parte do conhe-
musicais diversas, a escola pode oferecer possibilidades de cimento musical construído pela humanidade no decorrer
desenvolvimento estético e musical por meio de aprecia- dos tempos e nos diferentes espaços geográficos, estabe-
ções artísticas.” O conhecimento musical do professor é es- lecendo inter-relações com as outras modalidades artísti-
sencial no processo ensino e aprendizagem. cas e com as demais áreas do conhecimento.
   “A consciência estética de jovens e adultos é elabo-   Quanto à compreensão da Música como produto cul-
rada no cotidiano, nas suas vivências, daí a necessidade de tural e histórico:
propiciar, no contexto escolar, oportunidades de criação e • Identificação da transformação dos sistemas musi-
apreciação musicais significativas.” (BRASIL, 1997, p 80). cais, ao longo da história e em diferentes grupos e etnias, e
  A escola ao proporcionar nos conteúdos de arte a sua relação com a história da humanidade.
musica busca auxiliar o jovem a desenvolver capacidades, • Conhecimento de algumas transformações pelas
habilidades e competências em música envolvendo-o no quais passaram as grafias musicais ao longo da história e
aprender a sentir, expressar e pensar a realidade sonora ao respectivas modificações pelas quais passou a linguagem
seu redor. Assim os conteúdos de música estão elencados musical.
em três aspectos: expressão e comunicação em Música (im- • Identificação e caracterização de obras e estilos mu-
provisação, composição e interpretação); apreciação signi- sicais de distintas culturas, relacionando-os com as épocas
ficativa em Música (escuta, envolvimento e compreensão em que foram compostas.
da linguagem musical) e compreensão da Música como • Pesquisa, reflexões e discussões sobre a origem,
produto cultural e histórico. transformações e características de diferentes estilos da
  Quanto à Expressão e comunicação em Música: im- música brasileira.
provisação, composição e interpretação:
• Improvisações, composições e interpretações utili-      Conteúdos de Teatro
zando um ou mais sistemas musicais, desenvolvendo a per- O teatro busca, através das apresentações, dramatiza-
cepção auditiva, a imaginação, a sensibilidade e memória
ções e construções de cenas, promover oportunidades para
musicais e a dimensão estética e artística.
os alunos, vivenciando fatos, possam observar e confron-
• Percepção e utilização dos elementos da linguagem
tar diferentes culturas em diferentes momentos históricos,
musical (som, duração, timbre, textura, dinâmica, forma
operando com um modo coletivo de produção de arte. “Ao
etc.).
• Experimentação, improvisação e composição a partir buscar soluções criativas e imaginativas na construção de
de propostas da própria linguagem musical de propostas cenas, os alunos afinam a percepção sobre eles mesmos e
referentes a paisagens sonoras de distintos espaços geo- sobre situações do cotidiano.” (BRASIL, 1997, p 88). Os con-
gráficos, épocas; de propostas relativas à percepção visual, teúdos do teatro estão agrupados em três aspectos: teatro
tátil; de propostas relativas a ideias e sentimentos próprios como comunicação e produção coletiva, como apreciação
e ao meio sociocultural, como as festas populares. e como produto histórico-cultural.
• Audição, experimentação, escolha e exploração de   Quanto ao teatro como comunicação e produção co-
sons de inúmeras procedências, vocais e/ou instrumentais, letiva:
de timbres diversos, ruídos, produzidos por materiais e • Participação em improvisações, buscando ocupar es-
equipamentos diversos, empregando-os de modo indivi- paços diversificados, considerando-se o trabalho de cria-
dual e/ou coletivo em criações e interpretações. ção de papéis sociais e gêneros (masculino e feminino) e
• Construção de instrumentos musicais convencionais da ação dramática.
(dos mais simples) e não-convencionais a partir da pesqui- • Reconhecimento e utilização das capacidades de ex-
sa de diversos meios, materiais, e de conhecimentos ele- pressar e criar significados no plano sensório-corporal na
mentares de ciências físicas e biológicas aplicadas à música. atividade teatral.

67
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes

• Identificação e aprofundamento dos elementos es- percepção estética e mais acurada do mundo.
senciais para a construção de uma cena teatral. Ainda, segundo o referido autor, a razão é “um instru-
• Exercício constante da observação do universo cir- mento precário” (KONDER, 2002, p. 213). De acordo com
cundante, do mundo físico e da cultura. Konder (2002), a Arte apresenta desafios que exigem de
• Experimentação, pesquisa e criação com os elemen- nós uma profunda ampliação e revisão contínua da razão.
tos e recursos da linguagem teatral. Este autor, ainda alerta que não deve haver uma oposição
  Quanto ao Teatro como apreciação: ao racionalismo em detrimento da sensibilidade, pelo con-
• Reconhecimento e identificação da interdependência trário, essas duas instâncias se complementam e colabo-
dos diversos elementos que envolvem a produção de uma ram para a apreensão da realidade por diferentes meios.
cena. O contato com a Arte proporciona um pensamento flexí-
• Reconhecimento da relação teatral atuantes e público vel e fluido com relação às outras áreas do conhecimento,
(palcoplateia) como base nas atividades dos jogos teatrais bem como auxilia na percepção da dimensão social que
e da organização das cenas. as manifestações artísticas proporcionam. Dessa forma, é
• Observação e análise da necessidade de reformula- possível verificar a relevância da Arte na formação de crian-
ção constante dos produtos das cenas em função do cará- ças, jovens e adultos, pois ela propicia aos sujeitos um au-
ter inacabado da cena teatral. toconhecimento que não pode ser adquirido apenas pela
• Exercício constante de observação e análise diante Ciência.
das propostas e cenas de colegas, por meio de formulações Como já informado, na última versão da BNCC, am-
verbais e escritas. plamente divulgada nos veículos de comunicação, o com-
Quanto ao Teatro como produto histórico-cultural: ponente curricular Arte perde a sua dimensão de Área de
• Compreensão do teatro como atividade que favorece conhecimento específico, tornando-se subordinada à Área
a identificação com outras realidades socioculturais. de Linguagens. No texto da BNCC, verifica-se o foco em
• Compreensão e pesquisa dos diferentes momentos práticas expressivas individualizadas, com ênfase no fazer
da história do teatro, dos autores de teatro (dramaturgos), e no fruir, desconsiderando a dimensão crítica e conceitual
dos estilos, dos encenadores, cenógrafos. da Arte. A Arte possui conteúdo próprio que vai além da di-
• Interação e reconhecimento da diversidade cultural mensão sensível. Para Pedrosa (2011), a Arte como conhe-
presentes no teatro de diferentes culturas. cimento importa dados sobre a cultura em que as obras
• Compreensão e distinção das diferentes formas de de artes foram realizadas, a história da arte, os elementos
construção das narrativas e estilos: tragédia, drama, comé- e princípios formais que constituem a produção artística,
dia, farsa, melodrama, circo, teatro épico. 3 pois somente as sensações, os sentimentos e as paixões
não são suficientes para a promoção de um conhecimento
amplo. Segundo Konder (2002), a forma é o conteúdo da
BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR. Arte, tendo nesta um papel decisivo, tão importante quan-
LEI Nº 13.415, DE 16 DE FEVEREIRO DE 2017. to a razão para a Ciência, pois é na forma que se verifica
como cada artista constrói a sua poética.
A Arte como um componente dentro da Área de Lin-
guagem corre o risco de se tornar apenas uma disciplina
Em 23 de fevereiro de 2016, foi aprovada na Câmara acessória que ajudará a compreender determinado con-
do Senado o Substitutivo da Câmara dos Deputados que teúdo de Língua Portuguesa ou de Literatura, acarretando
altera o parágrafo sexto do artigo 26 da LDB 9.394/96, que na negligência de seus conteúdos próprios que ajudam na
fixa as diretrizes e bases da educação nacional, referente ao reflexão e na crítica de objetos artístico-culturais situados
ensino da Arte. Essa Ementa dispõe que as Artes Visuais, a em diversos tempos históricos e em diferentes contextos
Música, a Dança e o Teatro são as linguagens do compo- culturais. No texto da BNCC, as Linguagens Artísticas (Ar-
nente curricular do ensino da Arte obrigatório nos diversos tes Visuais, Dança, Música e Teatro) são consideradas como
níveis da educação básica que trata o parágrafo do artigo subcomponentes do componente Arte, dando margem
26 da referida Lei. Apesar dessa grande conquista da espe- para interpretações equivocadas e para o retorno da fami-
cificação das linguagens artísticas o componente curricular gerada polivalência, tendo como justificativa a necessidade
Arte não é posto como uma área de conhecimentos pró- da valorização do trabalho interdisciplinar.
prios na BNCC. Konder (2002) chama atenção para o fato de que a Arte
Não há na BNCC um espaço pleno para uma área do não está livre da ideologia, mas que ela possibilita uma
conhecimento que promova a compreensão do mundo superação parcial das distorções ideológicas por meio de
por meio da sensibilidade. Konder (2002) nos alerta que é “obras de arte bem-sucedida” (KONDER, 2002, p. 219). Essa
necessário, para apreendermos o mundo, a ampliação das superação ideológica só é possível por meio de um traba-
referências e do descobrimento da dimensão poética da lho artístico-pedagógico consistente, no qual o artista e/
vida, pois a nossa capacidade de racionalizar não é sufi- ou educador consiga enxergar as marcas da ideologia na
ciente para compreender o todo, e a Arte possibilita uma sua poética e na sua prática educativa. A leitura do texto
da BNCC, no qual é discorrido sobre o Componente Curri-
3 Fonte: www.arcos.org.br – Texto adaptado de Franci- cular Arte, permite observar que a concepção de Arte pre-
nely P Dinelly sente nesse documento é de uma área de conhecimento

68
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
comprometida com a ideologia dos grupos dominantes, (Redação dada pela Lei nº12.287, de 2010).
que reduz o ensino dessa disciplina à pura expressão livre, _ Na MP 746: O ensino da arte, especialmente em suas
sem a preocupação de proporcionar aos estudantes um expressões regionais, constituirá componente curricular
entendimento mais consistente da forma na Arte, ou seja, obrigatório da educação infantil e do ensino fundamen-
os conteúdos constitutivos do processo artístico. Assim, os tal, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos
estudantes terão uma formação limitada que não contri- alunos.
buirá para compreensões críticas da Arte e da sociedade. _ Como ficou: O ensino da arte, especialmente em
Compreende-se, assim, que a promoção de um ensino suas expressões regionais, constituirá componente curricu-
superficial de Arte pode abafar a força vital da imaginação lar obrigatório da educação básica. (Redação dada pela Lei
das crianças, jovens e adultos na escola. nº13415, de 2017).
A diluição da Área Arte com suas diferentes Lingua-
gens Artísticas (Artes Visuais, Música, Teatro e Dança) na Seção IV – Do Ensino Médio
Área de Linguagem compromete a conquista da formação _ Foi incluído um novo artigo 35-A que vincula a Base
de professores de Arte em licenciaturas específicas, como Nacional Comum Curricular aos direitos e objetivos de
ocorre na atualidade em diversas universidades, faculda- aprendizagem do Ensino Médio.
des e centros universitários no nosso país, pois dá abertura _ Este novo artigo está composto por 8 parágrafos nos
para que profissionais licenciados em outras áreas possam seguintes termos:
lecionar Arte, como acontecia no período da Ditadura Mi-
litar. Gatti e Barreto (2009, p. 68) afiançam que a oferta de Artigo 35-A
cursos de licenciatura, dá-se “na medida em que postos de A Base Nacional Comum Curricular definirá direitos e
trabalho no magistério são criados em consonância com o objetivos de aprendizagem do ensino médio, conforme
número de alunos a atender”. Se o espaço da Arte for limi- diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas seguin-
tado no currículo escolar, não haverá tanta necessidade de tes áreas do conhecimento. (Incluído pela Lei nº 13.415, de
contratação de professores formados em Arte, pois estes 2017)
poderão ser substituídos por profissionais de outras áreas, _ I - linguagens e suas tecnologias;
que, por sua vez, por não terem conhecimento específico, _ II - matemática e suas tecnologias;
poderão reduzir o ensino da disciplina em mera recreação, _ III - ciências da natureza e suas tecnologias;
para aliviar as tensões após as aulas das “disciplinas mais _ IV - ciências humanas e sociais aplicadas.
sérias”.
Para que haja um ensino de Arte efetivo, é inadmissível Artigo 35-A
que sejam traçadas metas de modo prescritivo, como um _ § 1o A parte diversificada dos currículos de que trata
receituário, tampouco que seja instalado um currículo que o caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, de-
ignora as condições mínimas necessárias para o funciona- verá estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular
mento da aprendizagem em Arte que valorize três dimen- e ser articulada a partir do contexto histórico, econômico,
sões importantes: a criação; a percepção e a contextualiza- social, ambiental e cultural.
ção histórica da Arte. _ O que diz o caput do art. 26: Os currículos da edu-
As Artes não terão espaço pleno em uma Base Nacio- cação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio
nal Curricular Comum, que reduz o docente a um eficiente devem ter base nacional comum, a ser complementada, em
disseminador de competências para obtenção de resulta- cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar,
dos “exitosos” nas avaliações. Não haverá espaço para as por uma parte diversificada, exigida pelas características
subjetividades, para a diversidade e para a criatividade tão regionais e locais da sociedade, da cultura, da econo-
necessária à ação docente. Como aponta Arroyo (2013, p. mia e dos educandos.
51), estamos caminhando para a construção de “um currí-
culo e uma docência sem liberdade, sem possibilidade de Artigo 35-A
ousadias criativas”. _ § 2o A Base Nacional Comum Curricular referente ao
De acordo com a Lei 13.415/2017 , alguma alterações ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas
foram produzidas. O ensino da arte faz parte do compo- de educação física, arte, sociologia e filosofia.
nente curricular obrigatório da educação básica. No ensino _ § 3o O ensino da língua portuguesa e da matemática
médio também com caráter obrigatório, temos estudos e será obrigatório nos três anos do ensino médio, assegu-
práticas de arte. rada às comunidades indígenas, também, a utilização das
respectivas línguas maternas. (Incluído pela Lei nº 13.415,
Vejamos as alterações: de 2017)

Capítulo II – Educação Básica Artigo 35-A


Art. 26 – § 2º trata do Ensino de Artes: _ § 4º Os currículos do ensino médio incluirão, obriga-
_ O que tinha: O ensino da arte, especialmente em toriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar
suas expressões regionais, constituirá componente curricu- outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferen-
lar obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de cialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade de
forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino.

69
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) EXERCÍCIOS
_ § 5º A carga horária destinada ao cumprimento da
Base Nacional Comum Curricular não poderá ser superior 01. (FCC/2012 - SEE/MG) Para responder as ques-
a mil e oitocentas horas do total da carga horária do en- tões de números 29 a 31, considere a Proposta Curri-
sino médio, de acordo com a definição dos sistemas de cular.
ensino. As linguagens artísticas a serem ensinadas são:
_ § 6º A União estabelecerá os padrões de desempe- a) escultura, pintura, performance e instalação.
nho esperados para o ensino médio, que serão referência b) artes visuais, dança, música e teatro.
nos processos nacionais de avaliação, a partir da Base Na- c) cenário, áudiovisual, cinema e artes plásticas.
cional Comum Curricular. (Incluído pela Lei nº 13.415, de d) artes plásticas, cinema, dança e teatro.
2017)
_ § 7º Os currículos do ensino médio deverão consi- 02. (CESPE/2014 - SEE/AL) A arte contribui para o
derar a formação integral do aluno, de maneira a adotar desenvolvimento do pensamento e da percepção artís-
um trabalho voltado para a construção de seu projeto de tica, elementos que caracterizam uma maneira indivi-
vida e para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos dual de dar sentido à experiência humana. A respeito
e socioemocionais. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) desse assunto, julgue os itens a seguir. O ensino das
_ § 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de artes não se relaciona à dimensão social das manifes-
avaliação processual e formativa serão organizados nas re- tações artísticas.
des de ensino por meio de atividades teóricas e práticas, ( ) Certo
provas orais e escritas, seminários, projetos e atividades ( ) Errado
on-line, de tal forma que ao final do ensino médio o edu-
cando demonstre: 03. (CESGRANRIO – 2010 - Prefeitura de Salvador
◦ I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos – BA - Professor - Artes Plásticas) A educação multicul-
que presidem a produção moderna; tural aproxima os alunos das culturas não dominantes
◦ II - conhecimento das formas contemporâneas de ampliando o conceito de Arte.
linguagem. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) PORQUE
Através do estudo, da valorização, do respeito e das
inter-relações possíveis entre os diversos padrões cul-
Fonte: www.portaleducacao.com.br/www.douglasdim.
turais e estéticos existentes, amplia-se também a expe-
blogspot.com.br/www.culturavivasantoandre.wordpress.
riência estética no espaço escolar.
com/www.brasilescola.uol.com.br/www.cafecomsociologia.
A esse respeito, conclui-se que
com/www.portaleducacao.com.br/ www.mundoeducacao.
a) as duas afirmações são verdadeiras e a segunda jus-
bol.uol.com.br/ www.infopedia.pt/apoio/artigos/$criacao-
tifica a primeira.
-artistica/www.ufrgs.br/www.univar.edu.br/www.audiovi-
b) as duas afirmações são verdadeiras e a segunda não
sualcontent.blogspot.com.br/www.profnelmar.arteblog.com.
justifica a primeira.
br/www.webartigos.com / www.cinemahistoriaeducacao.
c) a primeira afirmação é verdadeira e segunda é falsa.
wordpress.com/www.brasil.gov.br/ www.cartamaior.com.br/ d) a primeira afirmação é falsa e a segunda é verda-
www.portaleducacao.com.br/www.webartigos.com/www. deira.
histedbr.fe.unicamp.br/www.maxwell.vrac.puc-rio.br/ www. e) as duas afirmações são falsas
periodicos.sbu.unicamp.br/ www.30reuniao.anped.org.br/
www.artenaescola.org.br/ www.meuartigo.brasilescola.uol. 04. (FCC/2012 - SEE/MG) As manifestações culturais
com.br/www.ppd.net.br/www.fals.com.br/ www.arcos.org. brasileiras como Bumba Meu Boi, Carnaval e Folia de
br/ www.repositorio.ufsc.br Reis articulam em sua realização diferentes linguagens
artísticas, como
Por: a) artes plásticas, escultura e dança.
Rainer Sousa/Cláudio Fernandes/João Bezerra Da Sil- b) artes do corpo, artes da música e colagem.
va Júnior/ Patrícia Lopes/Jailson Carvalho/Marcel Martin/ c) pintura, iluminação e cenário.
Henilton Menezes/João Bezerra Da Silva Júnior/Ana Lúcia d) teatro de rua, música e dança.
Serrou Castilho/Vera Lúcia Penzo Fernandes/Tauã Carvalho
de Assis/Neuda Alves do Lago/SILVA, Everson Melquiades 05. (FCC/2012 - SEE/MG) As manifestações cultu-
Araújo Silva/Clarissa Martins Araújo/Evelyn Ioschpe/Júlia rais brasileiras como Bumba Meu Boi, Carnaval e Folia
Maria de Jesus Cunha/ Francinely P Dinelly de Reis articulam em sua realização diferentes lingua-
gens artísticas, como
a) artes plásticas, escultura e dança.
b) artes do corpo, artes da música e colagem.
c) pintura, iluminação e cenário.
d) teatro de rua, música e dança.

70
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Artes
06. (NUCEPE/2015 – SEDUC/PI) Desde o início da his- 08. (CESPE/2018 – SEDUC/AL) Por muitos anos, no ensino
tória da humanidade, a arte tem se mostrado como uma da arte no Brasil, os conteúdos de história da arte contempla-
práxis presente em todas as manifestações culturais. O ho- vam basicamente a história da arte ocidental, também denomi-
mem que desenhou um bisão em uma caverna pré- históri- nada história universal, de caráter eurocêntrico, em detrimento
ca teve de aprender e construir conhecimentos para difun- da arte pré-colombiana e da influência das culturas indígenas e
dir essa prática. E, da mesma maneira, compartilhar com as africanas nas linguagens artísticas nacionais. Do mesmo modo
outras pessoas o que aprendeu. A aprendizagem e o ensino que é importante que conheçamos a grande arte, incluindo-se
da arte sempre existiram e se transformaram, ao longo da a brasileira, aquela que é patrimônio cultural e que frequenta
história, de acordo com normas e valores estabelecidos, em os teatros, museus e galerias, devemos também mergulhar nas
diferentes ambientes culturais (PCN: Arte, 1998). Sobre o origens renegadas da arte e da cultura da nossa terra para res-
ensino da Arte no Brasil, marque a opção que contém so- gatar nossas identidades.
mente as assertivas CORRETAS.  A respeito desse assunto, julgue o item a seguir.
I) Ao ser introduzido na educação escolar brasileira, o ensi- O Parque Nacional Serra da Capivara é a unidade de con-
no de Arte incorpora-se aos processos pedagógicos e de políti- servação brasileira que contém a maior quantidade de pinturas
ca educacional que vão caracterizar e delimitar sua participação rupestres do mundo.
na estrutura curricular. ( ) Certo
II) Na primeira metade do século XX, as disciplinas Dese- ( ) Errado
nho, Trabalhos Manuais, Música e Canto Orfeônico faziam par-
te dos programas das escolas primárias e secundárias, concen- 09. (FUMARC/2018 – SEE/MG) Na etapa da Educação Básica,
trando o conhecimento na transmissão de padrões e modelos o ensino de Arte deve assegurar aos alunos a possibilidade de se
das classes sociais dominantes. expressar criativamente em seu fazer investigativo, por meio da
III) Na escola tradicional, não se valorizavam as habilida- ludicidade, propiciando uma experi-ência de continuidade em
des manuais, os “dons artísticos”, os hábitos de organização e relação à Educação Infantil. Tendo em vista o compromisso de as-
precisão, mostrando, ao mesmo tempo, uma visão utilitarista e segurar aos alunos o desenvolvimento das competências relaci-
-onadas à alfabetização e ao letramento, o componente Arte, ao
imediatista da arte.
possibilitar o acesso à leitura, à criação e à produção nas diversas
IV) Em fins dos anos 1960 e na década de 1970 nota-se
linguagens artísticas, contribui para o desenvolvimento de
a tentativa de aproximação entre as manifestações artísticas
a) relações entre as linguagens da Arte e suas práticas integradas.
ocorridas fora do espaço escolar e a que se ensina dentro dele:
b) relações entre arte, mídia, mercado e consumo, compreen-
é a época dos festivais da canção e das novas experiências tea-
dendo, de forma crítica o processo artístico.
trais, quando as escolas promovem festivais de música e teatro
c) recursos tecnológicos como formas de registro, pesquisa e
com grande mobilização dos estudantes. criação artística.
V) No início da década de 70, autores responsáveis pela d) habilidades relacionadas tanto à linguagem verbal quanto às
mudança de rumo do ensino de Arte nos Estados Unidos afir- linguagens não verbais.
mavam que o desenvolvimento artístico é resultado de formas e) analises do patrimônio artístico nacional e internacional, ma-
complexas de aprendizagem e que, portanto, não ocorre auto- terial e imaterial.
maticamente à medida que a criança cresce; é tarefa do profes-
sor propiciar essa aprendizagem por meio da instrução.  10. (CESPE/2017 - Prefeitura de São Luís/MA) A massifi-
a) I, II, IV, V. cação do conhecimento não educa nem oferece contribuições
b) I, II, III, IV, V. para a construção da cidadania. Em oposição a essa tendência
c) I, III, IV, V. massificadora do conhecimento, a educação por meio da arte
d) I, II. estabelece o processo dialógico entre
e) II, IV, V. a) o fazer artístico e a interação com a realidade.
b) a realidade social de classes abastadas e o discurso científico.
07. (CESPE/2018 – SEDUC/AL) A educação estética c) a realidade social de classes populares e o discurso científico.
compreende todos os modos de expressão artística e cons- d) a tradição da arte europeia e a valorização da técnica.
titui uma abordagem integral da realidade, onde coexistem e) o fazer artístico e o conhecimento erudito.
diferentes manifestações culturais. É a educação dos senti-
dos, nos quais a consciência, a inteligência e o julgamento GABARITO
das pessoas estão baseados. O ajustamento harmonioso
dos sentidos ao meio ambiente, ou ao mundo externo, tal- 01 B
vez seja a função mais importante da educação estética. A 02 Errado
percepção de um objeto ou fenômeno que instiga a sensa- 03 E
ção de prazer provoca a fruição ou gozo e a essas sensações
04 D
damos os nomes de belo, bonito e beleza.
05 D
A respeito desse assunto, julgue o item a seguir.
O objetivo principal da arte-educação é a formação de 06 A
artistas profissionais eficientes nos vários modos de ex- 07 Errado
pressão. 08 Certo
( ) Certo 09 D
( ) Errado 10 A

71
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES

Exercícios Complementares
Língua Portuguesa

72
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES

1-) (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC/ (D) Um levantamento, (X) mostrou que os adolescentes
SP – ADMINISTRADOR - VUNESP/2013) Assinale a al- americanos, (X) consomem (X) em média (X) 357 calorias
ternativa correta quanto à concordância, de acordo diárias dessa fonte.
com a norma-padrão da língua portuguesa. (E) Um levantamento mostrou que os adolescentes
(A) A má distribuição de riquezas e a desigualdade americanos, (X) consomem (X) em média (X) 357 calorias
social está no centro dos debates atuais. diárias, (X) dessa fonte.
(B) Políticos, economistas e teóricos diverge em re-
lação aos efeitos da desigualdade social. RESPOSTA: “C”.
(C) A diferença entre a renda dos mais ricos e a dos
mais pobres é um fenômeno crescente.
3-) (TRT/RO E AC – ANALISTA JUDICIÁRIO –
(D) A má distribuição de riquezas tem sido muito
FCC/2011) Estão plenamente observadas as normas de
criticado por alguns teóricos.
(E) Os debates relacionado à distribuição de rique- concordância verbal na frase:
zas não são de exclusividade dos economistas. a) Destinam-se aos homens-placa um lugar visível
nas ruas e nas praças, ao passo que lhes é suprimida a
Realizei a correção nos itens: visibilidade social.
(A) A má distribuição de riquezas e a desigualdade so- b) As duas tábuas em que se comprimem o famige-
cial está = estão rado homem-placa carregam ditos que soam irônicos,
(B) Políticos, economistas e teóricos diverge = diver- como “compro ouro”.
gem c) Não se compara aos vexames dos homens-placa
(C) A diferença entre a renda dos mais ricos e a dos a exposição pública a que se submetem os guardadores
mais pobres é um fenômeno crescente. de carros.
(D) A má distribuição de riquezas tem sido muito criti- d) Ao se revogarem o emprego de carros-placa na
cado = criticada propaganda imobiliária, poupou-se a todos uma de-
(E) Os debates relacionado = relacionados monstração de mau gosto.
e) Não sensibilizavam aos possíveis interessados
RESPOSTA: “C”. em apartamentos de luxo a visão grotesca daqueles ve-
lhos carros-placa.
2-) (COREN/SP – ADVOGADO – VUNESP/2013) Se-
guindo a norma-padrão da língua portuguesa, a frase
Fiz as correções entre parênteses:
– Um levantamento mostrou que os adolescentes ame-
ricanos consomem em média 357 calorias diárias dessa a) Destinam-se (destina-se) aos homens-placa um lu-
fonte. – recebe o acréscimo correto das vírgulas em: gar visível nas ruas e nas praças, ao passo que lhes é supri-
(A) Um levantamento mostrou, que os adolescentes mida a visibilidade social.
americanos consomem em média 357 calorias, diárias b) As duas tábuas em que se comprimem (comprime)
dessa fonte. o famigerado homem-placa carregam ditos que soam irô-
(B) Um levantamento mostrou que, os adolescentes nicos, como “compro ouro”.
americanos consomem, em média 357 calorias diárias c) Não se compara aos vexames dos homens-placa a
dessa fonte. exposição pública a que se submetem os guardadores de
(C) Um levantamento mostrou que os adolescentes carros.
americanos consomem, em média, 357 calorias diárias d) Ao se revogarem (revogar) o emprego de carros-
dessa fonte. -placa na propaganda imobiliária, poupou-se a todos uma
(D) Um levantamento, mostrou que os adolescentes demonstração de mau gosto.
americanos, consomem em média 357 calorias diárias e) Não sensibilizavam (sensibilizava) aos possíveis in-
dessa fonte. teressados em apartamentos de luxo a visão grotesca da-
(E) Um levantamento mostrou que os adolescentes queles velhos carros-placa.
americanos, consomem em média 357 calorias diárias,
dessa fonte.
RESPOSTA: “C”.
Assinalei com um “X” onde há pontuação inadequada
ou faltante: 4-) (TRE/PA- ANALISTA JUDICIÁRIO – FGV/2011)
(A) Um levantamento mostrou, (X) que os adolescentes Assinale a palavra que tenha sido acentuada seguindo a
americanos consomem (X) em média (X) 357 calorias, (X) mesma regra que distribuídos.
diárias dessa fonte. (A) sócio
(B) Um levantamento mostrou que, (X) os adolescentes (B) sofrê-lo
americanos consomem, em média (X) 357 calorias diárias (C) lúcidos
dessa fonte. (D) constituí
(C) Um levantamento mostrou que os adolescentes (E) órfãos
americanos consomem, em média, 357 calorias diárias des-
sa fonte.

73
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES

Distribuímos = regra do hiato (...) O uso do pronome de tratamento Vossa Senhoria


(A) sócio = paroxítona terminada em ditongo (abreviado V. Sa.) para vereadores está correto, sim. Numa
(B) sofrê-lo = oxítona (não se considera o pronome Câmara de Vereadores só se usa Vossa Excelência para o seu
oblíquo. Nunca!) presidente, de acordo com o Manual de Redação da Presi-
(C) lúcidos = proparoxítona dência da República (1991).
(D) constituí = regra do hiato (diferente de “constitui” (Fonte: http://www.linguabrasil.com.br/nao-tropece-de-
– oxítona: cons-ti-tui) tail.php?id=393)
(E) órfãos = paroxítona terminada em “ão”
RESPOSTA: “E”.
RESPOSTA: “D”.
7-) (TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010)
5-) (TRT/PE – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2012) ... valores e princípios que sejam percebidos pela so-
A concordância verbal está plenamente observada na
ciedade como tais.
frase:
Transpondo para a voz ativa a frase acima, o verbo
(A) Provocam muitas polêmicas, entre crentes e
passará a ser, corretamente,
materialistas, o posicionamento de alguns religiosos e
(A) perceba.
parlamentares acerca da educação religiosa nas escolas
públicas. (B) foi percebido.
(B) Sempre deverão haver bons motivos, junto (C) tenham percebido.
àqueles que são contra a obrigatoriedade do ensino (D) devam perceber.
religioso, para se reservar essa prática a setores da ini- (E) estava percebendo.
ciativa privada.
(C) Um dos argumentos trazidos pelo autor do tex- ... valores e princípios que sejam percebidos pela so-
to, contra os que votam a favor do ensino religioso na ciedade como tais = dois verbos na voz passiva, então te-
escola pública, consistem nos altos custos econômicos remos um na ativa: que a sociedade perceba os valores e
que acarretarão tal medida. princípios...
(D) O número de templos em atividade na cidade
de São Paulo vêm gradativamente aumentando, em RESPOSTA: “A”
proporção maior do que ocorrem com o número de es-
colas públicas. 8-) (TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010) A
(E) Tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação concordância verbal e nominal está inteiramente corre-
como a regulação natural do mercado sinalizam para ta na frase:
as inconveniências que adviriam da adoção do ensino (A) A sociedade deve reconhecer os princípios e
religioso nas escolas públicas. valores que determinam as escolhas dos governantes,
para conferir legitimidade a suas decisões.
(A) Provocam = provoca (o posicionamento) (B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes
(B) Sempre deverão haver bons motivos = deverá haver devem ser embasados na percepção dos valores e prin-
(C) Um dos argumentos trazidos pelo autor do texto, cípios que regem a prática política.
contra os que votam a favor do ensino religioso na escola (C) Eleições livres e diretas é garantia de um verda-
pública, consistem = consiste. deiro regime democrático, em que se respeita tanto as
(D) O número de templos em atividade na cidade de liberdades individuais quanto as coletivas.
São Paulo vêm gradativamente aumentando, em propor-
(D) As instituições fundamentais de um regime de-
ção maior do que ocorrem = ocorre
mocrático não pode estar subordinado às ordens indis-
(E) Tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação como
criminadas de um único poder central.
a regulação natural do mercado sinalizam para as inconve-
(E) O interesse de todos os cidadãos estão voltados
niências que adviriam da adoção do ensino religioso nas
escolas públicas. para o momento eleitoral, que expõem as diferentes
opiniões existentes na sociedade.
RESPOSTA: “E”.
Fiz os acertos entre parênteses:
6-) (TRE/PA- ANALISTA JUDICIÁRIO – FGV/2011) (A) A sociedade deve reconhecer os princípios e valores
Segundo o Manual de Redação da Presidência da Repú- que determinam as escolhas dos governantes, para confe-
blica, NÃO se deve usar Vossa Excelência para rir legitimidade a suas decisões.
(A) embaixadores. (B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes de-
(B) conselheiros dos Tribunais de Contas estaduais. vem (deve) ser embasados (embasada) na percepção dos
(C) prefeitos municipais. valores e princípios que regem a prática política.
(D) presidentes das Câmaras de Vereadores. (C) Eleições livres e diretas é (são) garantia de um ver-
(E) vereadores. dadeiro regime democrático, em que se respeita (respei-
tam) tanto as liberdades individuais quanto as coletivas.

74
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES

(D) As instituições fundamentais de um regime demo- 11-) (TRE/AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2010)
crático não pode (podem) estar subordinado (subordina- A pontuação está inteiramente adequada na frase:
das) às ordens indiscriminadas de um único poder central. a) Será preciso, talvez, redefinir a infância já que as
(E) O interesse de todos os cidadãos estão (está) vol- crianças de hoje, ao que tudo indica nada mais têm a
tados (voltado) para o momento eleitoral, que expõem (ex- ver com as de ontem.
põe) as diferentes opiniões existentes na sociedade. b) Será preciso, talvez redefinir a infância: já que
as crianças, de hoje, ao que tudo indica nada têm a ver,
RESPOSTA: “A”. com as de ontem.
c) Será preciso, talvez: redefinir a infância, já que
9-) (TRE/AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2010) as crianças de hoje ao que tudo indica, nada têm a ver
A frase que admite transposição para a voz passiva é: com as de ontem.
(A) O cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sa- d) Será preciso, talvez redefinir a infância? - já que
grado. as crianças de hoje ao que tudo indica, nada têm a ver
(B) O conceito de espetáculo unifica e explica uma com as de ontem.
grande diversidade de fenômenos. e) Será preciso, talvez, redefinir a infância, já que
(C) O espetáculo é ao mesmo tempo parte da so- as crianças de hoje, ao que tudo indica, nada têm a ver
ciedade, a própria sociedade e seu instrumento de uni- com as de ontem.
ficação.
(D) As imagens fluem desligadas de cada aspecto Devido à igualdade textual entre os itens, a apresenta-
da vida (...). ção da alternativa correta indica quais são as inadequações
(E) Por ser algo separado, ele é o foco do olhar ilu- nas demais.
dido e da falsa consciência.
RESPOSTA: “E”.
(A) O cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagra-
do. 12-) (POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO ACRE –
(B) O conceito de espetáculo unifica e explica uma ALUNO SOLDADO COMBATENTE – FUNCAB/2012)
grande diversidade de fenômenos. No trecho: “O crescimento econômico, se associado à
- Uma grande diversidade de fenômenos é unificada e ampliação do emprego, PODE melhorar o quadro aqui
explicada pelo conceito... sumariamente descrito.”, se passarmos o verbo desta-
(C) O espetáculo é ao mesmo tempo parte da socieda- cado para o futuro do pretérito do indicativo, teremos
de, a própria sociedade e seu instrumento de unificação. a forma:
(D) As imagens fluem desligadas de cada aspecto da A) puder.
vida (...). B) poderia.
(E) Por ser algo separado, ele é o foco do olhar iludido C) pôde.
e da falsa consciência. D) poderá.
E) pudesse.
RESPOSTA: “B”.
Conjugando o verbo “poder” no futuro do pretérito do
10-) (MPE/AM - AGENTE DE APOIO ADMINISTRA- Indicativo: eu poderia, tu poderias, ele poderia, nós pode-
TIVO - FCC/2013) “Quando a gente entra nas serrarias, ríamos, vós poderíeis, eles poderiam. O sujeito da oração é
vê dezenas de caminhões parados”, revelou o analista crescimento econômico (singular), portanto, terceira pes-
ambiental Geraldo Motta. soa do singular (ele) = poderia.
Substituindo-se Quando por Se, os verbos subli-
nhados devem sofrer as seguintes alterações: RESPOSTA: “B”.
(A) entrar − vira
(B) entrava − tinha visto 13-) (TRE/AP - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2011)
(C) entrasse − veria Entre as frases que seguem, a única correta é:
(D) entraria − veria a) Ele se esqueceu de que?
(E) entrava − teria visto b) Era tão ruím aquele texto, que não deu para dis-
tribui-lo entre os presentes.
Se a gente entrasse (verbo no singular) na serraria, ve- c) Embora devessemos, não fomos excessivos nas
ria = entrasse / veria. críticas.
d) O juíz nunca negou-se a atender às reivindica-
RESPOSTA: “C”. ções dos funcionários.
e) Não sei por que ele mereceria minha conside-
ração.

75
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES

(A) Ele se esqueceu de que? = quê? (C) … soubéssemos respeitar os mais velhos! / E
(B) Era tão ruím (ruim) aquele texto, que não deu para quando eles falassem nós calaríamos a boca!
distribui-lo (distribuí-lo) entre os presentes. (D) … saberemos respeitar os mais velhos! / E quan-
(C) Embora devêssemos (devêssemos) , não fomos ex- do eles falarem nós calaremos a boca!
cessivos nas críticas. (E) … sabemos respeitar os mais velhos! / E quando
(D) O juíz ( juiz) nunca (se) negou a atender às reivindi- eles falam nós calamos a boca!
cações dos funcionários.
(E) Não sei por que ele mereceria minha consideração. No presente: nós sabemos / eles falam.

RESPOSTA: “E”. RESPOSTA: “E”.


14-) (FUNDAÇÃO CASA/SP - AGENTE ADMINIS- 16-) (UNESP/SP - ASSISTENTE TÉCNICO ADMINIS-
TRATIVO - VUNESP/2011 - ADAPTADA) Observe as fra-
TRATIVO - VUNESP/2012) A correlação entre as formas
ses do texto:
verbais está correta em:
I, Cerca de 75 por cento dos países obtêm nota ne-
(A) Se o consumo desnecessário vier a crescer, o
gativa...
planeta não resistiu.
II,... à Venezuela, de Chávez, que obtém a pior clas-
sificação do continente americano (2,0)... (B) Se todas as partes do mundo estiverem com alto
Assim como ocorre com o verbo “obter” nas frases poder de consumo, o planeta em breve sofrerá um co-
I e II, a concordância segue as mesmas regras, na ordem lapso.
dos exemplos, em: (C) Caso todo prazer, como o da comida, o da bebi-
(A) Todas as pessoas têm boas perspectivas para o da, o do jogo, o do sexo e o do consumo não conheces-
próximo ano. Será que alguém tem opinião diferente se distorções patológicas, não haverá vícios.
da maioria? (D) Se os meios tecnológicos não tivessem se tor-
(B) Vem muita gente prestigiar as nossas festas ju- nado tão eficientes, talvez as coisas não ficaram tão
ninas. Vêm pessoas de muito longe para brincar de qua- baratas.
drilha. (E) Se as pessoas não se propuserem a consumir
(C) Pouca gente quis voltar mais cedo para casa. conscientemente, a oferta de produtos supérfluos cres-
Quase todos quiseram ficar até o nascer do sol na praia. cia.
(D) Existem pessoas bem intencionadas por aqui,
mas também existem umas que não merecem nossa Fiz as correções necessárias:
atenção. (A) Se o consumo desnecessário vier a crescer, o plane-
(E) Aqueles que não atrapalham muito ajudam. ta não resistiu = resistirá
(B) Se todas as partes do mundo estiverem com alto
Em I, obtêm está no plural; em II, no singular. Vamos poder de consumo, o planeta em breve sofrerá um colapso.
aos itens: (C) Caso todo prazer, como o da comida, o da bebida,
(A) Todas as pessoas têm (plural) ... Será que alguém o do jogo, o do sexo e o do consumo não conhecesse dis-
tem (singular) torções patológicas, não haverá = haveria
(B) Vem (singular) muita gente... Vêm pessoas (plural) (D) Se os meios tecnológicos não tivessem se tornado
(C) Pouca gente quis (singular)... Quase todos quise- tão eficientes, talvez as coisas não ficaram = ficariam (ou
ram (plural) teriam ficado)
(D) Existem (plural) pessoas ... mas também existem
(E) Se as pessoas não se propuserem a consumir cons-
umas (plural)
cientemente, a oferta de produtos supérfluos crescia =
(E) Aqueles que não atrapalham muito ajudam (ambas
crescerá
as formas estão no plural)

RESPOSTA: “A”. RESPOSTA: “B”.


15-) (CETESB/SP - ANALISTA ADMINISTRATIVO -
RECURSOS HUMANOS - VUNESP/2013 - ADAPTADA) 17-) (TJ/SP – AGENTE DE FISCALIZAÇÃO JUDICIÁ-
Considere as orações: … sabíamos respeitar os mais RIA – VUNESP/2010) Assinale a alternativa que preen-
velhos! / E quando eles falavam nós calávamos a boca! che adequadamente e de acordo com a norma culta a
Alterando apenas o tempo dos verbos destacados lacuna da frase: Quando um candidato trêmulo ______ eu
para o tempo presente, sem qualquer outro ajuste, lhe faria a pergunta mais deliciosa de todas.
tem-se, de acordo com a norma-padrão da língua por- (A) entrasse
tuguesa: (B) entraria
(A) … soubemos respeitar os mais velhos! / E quan- (C) entrava
do eles falaram nós calamos a boca! (D) entrar
(B) … saberíamos respeitar os mais velhos! / E quan- (E) entrou
do eles falassem nós calaríamos a boca!

76
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES

O verbo “faria” está no futuro do pretérito, ou seja, in- (B) inferência = paroxítona terminada em ditongo / pro-
dica que é uma ação que, para acontecer, depende de ou- vável = paroxítona terminada em “l” / saída = regra do hiato
tra. Exemplo: Quando um candidato entrasse, eu faria / Se (C) óbvio = paroxítona terminada em ditongo / após
ele entrar, eu farei / Caso ele entre, eu faço... = oxítona terminada em “o” + “s” / países = regra do hiato
(D) islâmico = proparoxítona / cenário = paroxítona ter-
RESPOSTA: “A”. minada em ditongo / propôs = oxítona terminada em “o” +
“s”
18-) (TJ/SP – AGENTE DE FISCALIZAÇÃO JUDICIÁ- (E) república = proparoxítona / empresária = paroxítona
RIA – VUNESP/2010 - ADAPTADA) terminada em ditongo / graúda = regra do hiato
Assinale a alternativa de concordância que pode ser
considerada correta como variante da frase do texto – RESPOSTA: “E”.
A maioria considera aceitável que um convidado che-
gue mais de duas horas ... 20-) (POLÍCIA CIVIL/SP – AGENTE POLICIAL - VU-
(A) A maioria dos cariocas consideram aceitável NESP/2013) De acordo com a norma- padrão da
que um convidado chegue mais de duas horas... língua portuguesa, o acento indicativo de crase está cor-
(B) A maioria dos cariocas considera aceitáveis que retamente empregado em:
um convidado chegue mais de duas horas... (A) A população, de um modo geral, está à espera
(C) As maiorias dos cariocas considera aceitáveis de que, com o novo texto, a lei seca possa coibir os aci-
que um convidado chegue mais de duas horas... dentes.
(D) As maiorias dos cariocas consideram aceitáveis (B) A nova lei chega para obrigar os motoristas à re-
que um convidado chegue mais de duas horas... pensarem a sua postura.
(E) As maiorias dos cariocas consideram aceitável (C) A partir de agora os motoristas estarão sujeitos à
que um convidado cheguem mais de duas horas... punições muito mais severas.
(D) À ninguém é dado o direito de colocar em risco a
vida dos demais motoristas e de pedestres.
Fiz as indicações:
(E) Cabe à todos na sociedade zelar pelo cumprimen-
(A) A maioria dos cariocas consideram (ou considera,
to da nova lei para que ela possa funcionar.
tanto faz) aceitável que um convidado chegue mais de
duas horas...
(A) A população, de um modo geral, está à espera (dá
(B) A maioria dos cariocas considera (ok) aceitáveis
para substituir por “esperando”) de que
(aceitável) que um convidado chegue mais de duas horas...
(B) A nova lei chega para obrigar os motoristas à repen-
(C) As (A) maiorias (maioria) dos cariocas considera (ok)
sarem (antes de verbo)
aceitáveis (aceitável) que um convidado chegue mais de
(C) A partir de agora os motoristas estarão sujeitos à pu-
duas horas... nições (generalizando, palavra no plural)
(D) As (A) maiorias (maioria) dos cariocas consideram (D) À ninguém (pronome indefinido)
(ok) aceitáveis (aceitável) que um convidado chegue mais (E) Cabe à todos (pronome indefinido)
de duas horas...
(E) As (A) maiorias (maioria) dos cariocas consideram RESPOSTA: “A”.
(ok) aceitável que um convidado cheguem (chegue) mais
de duas horas... (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
- ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2013 -
RESPOSTA: “A”. ADAPTADO) Leia o texto, para responder às questões de
números 21 e 22.
19-) (TJ/SP – AGENTE DE FISCALIZAÇÃO JUDICIÁ- Veja, aí estão eles, a bailar seu diabólico “pas de
RIA – VUNESP/2010) Assinale a alternativa em que as deux” (*): sentado, ao fundo do restaurante, o cliente
palavras são acentuadas graficamente pelos mesmos paulista acena, assovia, agita os braços num agônico po-
motivos que justificam, respectivamente, as acentua- lichinelo; encostado à parede, marmóreo e impassível,
ções de: década, relógios, suíços. o garçom carioca o ignora com redobrada atenção. O
(A) flexíveis, cartório, tênis. paulista estrebucha: “Amigô?!”, “Chefê?!”, “Parceirô?!”; o
(B) inferência, provável, saída. garçom boceja, tira um fiapo do ombro, olha pro lustre.
(C) óbvio, após, países. Eu disse “cliente paulista”, percebo a redundância: o
(D) islâmico, cenário, propôs. paulista é sempre cliente. Sem querer estereotipar, mas
(E) república, empresária, graúda. já estereotipando: trata-se de um ser cujas interações so-
ciais terminam, 99% das vezes, diante da pergunta “dé-
Década = proparoxítona / relógios = paroxítona termi- bito ou crédito?”.[...] Como pode ele entender que o fato
nada em ditongo / suíços = regra do hiato de estar pagando não garantirá a atenção do garçom ca-
(A) flexíveis e cartório = paroxítonas terminadas em rioca? Como pode o ignóbil paulista, nascido e criado na
ditongo / tênis = paroxítona terminada em “i” (seguida crua batalha entre burgueses e proletários, compreender
de “s”) o discreto charme da aristocracia?

77
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES

Sim, meu caro paulista: o garçom carioca é antes (A) príncipes e princesas constitui uma referência
de tudo um nobre. Um antigo membro da corte que em sentido não literal.
esconde, por trás da carapinha entediada, do descaso (B) reis e rainhas constitui uma referência em sen-
e da gravata borboleta, saudades do imperador. [...] tido não literal.
Se deixou de bajular os príncipes e princesas do século (C) príncipes, princesas, reis e rainhas constitui uma
19, passou a servir reis e rainhas do 20: levou gim tô- referência em sentido não literal.
nicas para Vinicius e caipirinhas para Sinatra, uísques (D) príncipes, princesas, reis e rainhas constitui uma
para Tom e leites para Nelson, recebeu gordas gorjetas referência em sentido literal.
de Orson Welles e autógrafos de Rockfeller; ainda hoje (E) reis e rainhas constitui uma referência em sen-
fala de futebol com Roberto Carlos e ouve conselhos de tido literal.
João Gilberto. Continua tão nobre quanto sempre foi,
seu orgulho permanece intacto. Pela leitura do texto infere-se que os “reis e rainhas”
do século 20 são as personalidades da mídia, os “famosos”
Até que chega esse paulista, esse homem bidimen-
e “famosas”. Quanto a príncipes e princesas do século 19,
sional e sem poesia, de camisa polo, meia soquete e
esses eram da corte, literalmente.
sapatênis, achando que o jacarezinho de sua Lacoste é
um crachá universal, capaz de abrir todas as portas. Ah,
RESPOSTA: “B”.
paulishhhhta otááário, nenhum emblema preencherá o
vazio que carregas no peito - pensa o garçom, antes de 23-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO
conduzi-lo à última mesa do restaurante, a caminho do PAULO - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VU-
banheiro, e ali esquecê-lo para todo o sempre. NESP/2013) O sentido de marmóreo (adjetivo) equiva-
Veja, veja como ele se debate, como se debaterá le ao da expressão de mármore. Assinale a alternativa
amanhã, depois de amanhã e até a Quarta-Feira de Cin- contendo as expressões com sentidos equivalentes, res-
zas, maldizendo a Guanabara, saudoso das várzeas do pectivamente, aos das palavras ígneo e pétreo.
Tietê, onde a desigualdade é tão mais organizada: “Ô, (A) De corda; de plástico.
companheirô, faz meia hora que eu cheguei, dava pra (B) De fogo; de madeira.
ver um cardápio?!”. Acalme-se, conterrâneo. (C) De madeira; de pedra.
Acostume-se com sua existência plebeia. O garçom (D) De fogo; de pedra.
carioca não está aí para servi-lo, você é que foi ao res- (E) De plástico; de cinza.
taurante para homenageá-lo.
(Antonio Prata, Cliente paulista, garçom carioca. Folha Questão que pode ser resolvida usando a lógica ou as-
de S.Paulo, 06.02.2013) sociação de palavras! Veja: a ignição do carro lembra-nos
fogo, combustão... Pedra, petrificado. Encontrou a respos-
(*) Um tipo de coreografia, de dança. ta?

21-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO RESPOSTA: “D”.


PAULO - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VU-
NESP/2013) Assinale a alternativa contendo passagem
em que o autor simula dialogar com o leitor.
(A) Acalme-se, conterrâneo. Acostume-se com sua
existência plebeia.
(B) Ô, companheiro, faz meia hora que eu cheguei...
(C) Veja, aí estão eles, a bailar seu diabólico “pas de
deux”.
(D) Sim, meu caro paulista...
(E) Ah, paulishhhhta otááário...

Em “meu caro paulista”, o autor está dirigindo-se a nós,


leitores.

RESPOSTA: “D”.

22-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO


PAULO - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VU-
NESP/2013) O contexto em que se encontra a passa-
gem – Se deixou de bajular os príncipes e princesas do
século 19, passou a servir reis e rainhas do 20 (2.º pará-
grafo) – leva a concluir, corretamente, que a menção a

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