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CÓD: OP-034MR-23

7908403534111

JABOATÃO DOS
GUARARAPES-PE
PREFEITURA DE JABOATÃO DOS GUARARAPES
PERNAMBUCO - PE

Comum para Professor I


EDITAL DE ABERTURA DE INSCRIÇÕES
• A Opção não está vinculada às organizadoras de Concurso Público. A aquisição do material não garante sua inscrição ou ingresso na
carreira pública,

• Sua apostila aborda os tópicos do Edital de forma prática e esquematizada,

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no prazo de até 05 dias úteis.,

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Apostilas Opção, a Opção certa para a sua realização.


ÍNDICE

Conhecimentos Básicos:
Referencial Curricular Municipal
1. Concepção de Educação; ...................................................................................................................................................... 7
2. Concepção de Prática Pedagógica, Ensino e Aprendizagem; ................................................................................................ 7
3. Sujeitos de Direitos de Aprendizagem; ................................................................................................................................. 8
4. Concepção de Alfabetização; ................................................................................................................................................ 9
5. Concepção de Currículo: por um currículo crítico-emancipatório e multicultural; ............................................................... 11
6. As Competências Gerais da BNCC Como Premissa Básica para Construção do RCMJG; ....................................................... 11
7. Concepção de avaliação da aprendizagem; .......................................................................................................................... 12
8. Concepção de Formação de Professores; ............................................................................................................................. 13
9. Concepção de Leitores; ......................................................................................................................................................... 14
10. Concepção de Educação Infantil: teoria sociointeracionista; ................................................................................................ 17
11. Legais: o direito de ser criança; ............................................................................................................................................. 17
12. As 10 (dez) Competências Gerais na Educação Infantil; ........................................................................................................ 18
13. Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento; .................................................................................................................... 19
14. Campos de Experiência; ........................................................................................................................................................ 19
15. Aproximação da Cultura Escrita; ........................................................................................................................................... 20
16. Ambiente de Aprendizagem; ................................................................................................................................................ 21
Estrutura Curricular; ..................................................................................................................................................................... 22
17. Direito à Infância: as Continuidades na Educação Infantil; ................................................................................................... 22
18. Ensino Fundamental; ............................................................................................................................................................ 23
19. Quadro Alfanumérico do Ensino Fundamental no Município do Jaboatão dos Guararapes; ............................................... 24
20. Educação em Tempo Integral; ............................................................................................................................................... 24
21. Educação de Jovens e Adultos ; Marco Histórico e Concepção da Educação de Jovens e Adultos; ...................................... 26
22. Educação Especial; ................................................................................................................................................................ 29
23. Temas integradores; .............................................................................................................................................................. 31
24. Educação das Relações Étnico-raciais e Ensino da História e Cultura Afrobrasileira, Africana e Indígena (Leis nº
10.639/2003.......................................................................................................................................................................... 32
25. 11.645/2008.......................................................................................................................................................................... 32
26. Parecer CNE/CP nº 03/2004.................................................................................................................................................. 33
27. Resolução CNE/CP nº 01/2004.............................................................................................................................................. 41
28. Parecer CNE/CEB nº 14/2015................................................................................................................................................ 42
29. Educação em Direitos Humanos – EDH (Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, 2006..................................... 47
30. Decreto nº 7.037/2009.......................................................................................................................................................... 47
31. Parecer CNE/CP nº 8/2012..................................................................................................................................................... 87
32. Resolução CNE/CP nº 1/2012)............................................................................................................................................... 95
33. Direitos da Criança e Adolescente (Lei nº 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente........................................... 97
34. Lei nº 12.852/2013 – Estatuto da Juventude......................................................................................................................... 136
35. Lei nº 13.257/2016 – Marco Legal da Primeira Infância, de 08 de março de 2016); ............................................................ 142
36. Processo de Envelhecimento, Respeito e Valorização do Idoso (Lei nº 10.741/2003); ......................................................... 147
Educação Ambiental (Lei nº 9.795/1999....................................................................................................................................... 158
ÍNDICE

37. Parecer CNE/CP nº14/2012................................................................................................................................................... 161


38. Resolução CNE/CP nº 2/2012 ............................................................................................................................................... 171
39. Programa de Educação Ambiental de Pernambuco - PEA/PE 2015)...................................................................................... 175
40. Educação para o Consumo e Educação Financeira e Fiscal (Parecer CNE/CEB nº 11/2010 .................................................. 179
41. Resolução CNE/CEB nº 07/2010) .......................................................................................................................................... 195
42. Diversidade Cultural .............................................................................................................................................................. 202
43. Parecer CNE/CEB nº 11/2010................................................................................................................................................ 202
44. Resolução CNE/CEB nº 07/2010............................................................................................................................................ 202
45. Relações de Gênero (Parecer CNE/CEB nº 07/2010.............................................................................................................. 202
46. Resolução CNE/CEB nº 02/2012............................................................................................................................................ 231
47. Lei no 11.340/2006 – Lei Maria da Penha............................................................................................................................. 236
48. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, 2006.................................................................................................... 242
49. Portaria MEC nº 33/2018....................................................................................................................................................... 242
50. Educação Alimentar e Nutricional (Lei nº 11.947/2009)....................................................................................................... 242
51. Educação para o Trânsito – (Lei nº 9.503/1997).................................................................................................................... 247
52. Trabalho, Ciência e Tecnologia .............................................................................................................................................. 295
53. Parecer CNE/CEB nº 11/2010................................................................................................................................................ 296
54. Resolução CNE/CEB nº 07/2010............................................................................................................................................ 296
55. Saúde, Vida Familiar e Social................................................................................................................................................. 296
56. Parecer CNE/CEB nº 11/2010................................................................................................................................................ 296
57. Resolução CNE/CEB nº 07/2010 296
58. Decreto nº 7.037/2009 296
59. Parecer CNE/CP nº 08/2012.................................................................................................................................................. 296
60. Resolução CNE/CP nº 01/2012)............................................................................................................................................. 296
61. AS ÁREAS DO CONHECIMENTO E SUAS ORGANIZAÇÕES CURRICULARES: Linguagens; ........................................................ 296
62. Componente Curricular da Língua Portuguesa; Práticas de Oralidade; Práticas de Leitura de Textos; Práticas de Produção
de Textos; Práticas de Análise Linguística; ............................................................................................................................ 297
63. Componente Curricular de Arte;............................................................................................................................................ 298
64. Componente Curricular de Educação Física; ......................................................................................................................... 300
65. A Educação Física no Ensino Fundamental - Anos Iniciais; ................................................................................................... 302
66. Componente Curricular de Matemática; .............................................................................................................................. 303
67. Componente Curricular de Ciências; .................................................................................................................................... 305
68. Componente Curricular de Geografia; .................................................................................................................................. 307
69. Componente Curricular de História; ..................................................................................................................................... 309
70. Componente Curricular de Ensino Religioso; ........................................................................................................................ 310
71. Organizador Curricular da Educação Infantil; Organizadores Curriculares do Ensino Fundamental; Organizadores
Curriculares da Educação de Jovens e Adultos...................................................................................................................... 312
ÍNDICE

Conhecimentos Pedagógicos:
Fundamentos Teóricos e Metodológicos de Ensino da Língua Portuguesa
1. Avaliações do ensino em larga escala (Sistema de Avaliação da Educação Básica - Matrizes de referência SAEB Prova Brasil
(5º ano) e SAEB - 2º ano, em Língua Portuguesa; .................................................................................................................... 319
2. Política Nacional de Alfabetização – MEC; ............................................................................................................................... 322
3. Psicogênese da linguagem escrita no processo de Alfabetização; ........................................................................................... 323
4. Práticas de ensino de leitura do 1º ao 5º ano, níveis de fluência leitora; ................................................................................ 325
5. O ensino da Língua Portuguesa na abordagem discursiva, por meio de gêneros textuais....................................................... 325

Fundamentos Teóricos E Metodológicos Do Ensino Da Matemática


1. Avaliações do ensino em larga escala (Sistema de Avaliação da Educação Básica - Matrizes de referência SAEB Prova Brasil
(5º ano) e SAEB (2º ano), em Matemática.................................................................................................................................. 331
2. Tendências em Educação Matemática: Resolução de problemas, Modelagem Matemática, Investigação Matemática, Etno-
matemática e Matemática Crítica............................................................................................................................................... 335
3. Recursos didáticos para o ensino de Matemática - manipuláveis e digitais............................................................................... 341
4. Interdisciplinaridade e aprendizagem da Matemática................................................................................................................ 347
5. Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as especificações no currículo de Matemática....................................................... 350
6. A Teoria histórico - cultural e suas implicações na Educação Matemática................................................................................. 372

Fundamentos Da Educação
1. Planejamento e organização do trabalho pedagógico: processo de planejamento, concepção, importância, dimensões e
níveis; planejamento participativo: concepção, construção, acompanhamento e avaliação; planejamento escolar: planos
da escola, do ensino e da aula; ............................................................................................................................................. 379
2. Currículo do proposto à prática; ........................................................................................................................................... 385
3. Tecnologia da informação e comunicação na educação; ...................................................................................................... 389
4. Educação para diversidade, cidadania e educação para direitos humanos; ......................................................................... 394
5. Educação ambiental; ............................................................................................................................................................. 399
6. Fundamentos legais da Educação especial/ inclusiva e o papel do professor; ..................................................................... 400
7. Educação/ sociedade e prática escolar; ................................................................................................................................ 413
8. Didática e prática histórico- cultural, a didática na formação do professor; ......................................................................... 417
9. Processo de ensino e de aprendizagem; ............................................................................................................................... 429
10. Relação professor/aluno; ...................................................................................................................................................... 431
11. Os componentes do processo de ensino: objetivos, conteúdos, métodos; estratégias pedagógicas e os meios; ................ 432
12. Interdisciplinaridade e transdisciplinaridade do conhecimento; .......................................................................................... 433
13. Avaliação escolar................................................................................................................................................................... 435
14. Avaliação em Larga Escala e suas implicações pedagógicas; ................................................................................................ 437
15. O papel político do ensinar e do aprender; projeto político pedagógico da escola: concepção, princípios e eixos
norteadores;.......................................................................................................................................................................... 437
16. Políticas públicas para Educação Básica................................................................................................................................. 450
ÍNDICE

Conteúdo Digital
Legislação
1. Constituição Federal de 1988 ( Artigos n° 205 a n° 214); ......................................................................................................... 5
2. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei Federal 9.394/1996 e suas alterações, atentando para os artigos 2º, 3º,
4º, 11º, 12º , 13º, 14º, 18º, 21º, 22º, 58º, 59º e 61º; .............................................................................................................. 8
3. Lei Brasileira de Inclusão- Lei Federal n° 13.146/2015 e suas alterações; ............................................................................... 24
4. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 anos- Resolução CNE-CEB nº 07/2010; ........................... 41
5. Diretrizes Curriculares Nacionais para educação Infantil; Resolução CNE/CEB nº 5 de 17 de dezembro de 2009- fixa as
diretrizes Curriculares nacionais para Educação Infantil; ......................................................................................................... 48
6. Referencial curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação
Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998; ............................................................................................................................... 51
7. Indicadores da Qualidade na Educação Infantil / Ministério da Educação/Secretaria da Educação Básica – Brasília: MEC/SEB,
2009; ........................................................................................................................................................................................ 146
8. Avaliação Diretrizes operacionais para a Educação de Jovens e Adultos nos aspectos relativos ao seu alinhamento à Política
Nacional de Alfabetização (PNA) e à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a ser respeitada obrigatoriamente ao longo
das etapas e respectivas modalidades no âmbito da Educação Básica; .................................................................................. 147
9. Resolução nº 04/2010 CNE/CEB que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para Educação Básica. ................... 150
10. Estatuto do Magistério da Rede Pública do Município do Jaboatão dos Guararapes............................................................... 157
11. Lei Orgânica do Município do Jaboatão dos Guararapes.......................................................................................................... 162

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REFERENCIAL CURRICULAR
MUNICIPAL

CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO CONCEPÇÃO DE PRÁTICA PEDAGÓGICA, ENSINO E


APRENDIZAGEM
Refletir sobre educação nos leva a considerar as contradições
político-pedagógicas e ideológicas presentes na sociedade brasi- Compreender o ensino nos convida a olhar sobre as diversas
leira. Essas contradições nos apontam a necessidade de construir variáveis que compõem o processo educativo e os sujeitos envol-
uma educação que não se limite a interpretar o mundo, mas que vidos nesse contexto. Todos esses processos se configuram pela
contribua para desenvolver uma ação transformadora, pautada prática educativa que, segundo Zabala (2010, p.16), “[...] obedece
na percepção crítica da sociedade, com seus problemas, valores, a múltiplos determinantes, tem sua justificação em parâmetros
objetivos e ideais. É baseada nessa concepção que a escola pode institucionais, organizativos, tradições metodológicas, possibilida-
contribuir para um projeto de transformação social. des reais dos professores, dos meios e condições físicas existentes
Assim, essa concepção de educação permite estabelecer uma etc.”.
relação dialógica, no intuito de efetivar diretrizes educacionais Dessa forma, consideramos que a ação educativa é uma prá-
pela socialização de suas convicções políticas, pelo compartilhar tica social, está relacionada a objetivos e finalidades muitas vezes
das tradições culturais e pela expressão de suas múltiplas formas explícitos e está envolvida numa intencionalidade. Como nos afir-
de sentir, pensar e agir no mundo, contribuindo com a formação ma Souza (2012):
de um espaço educativo no qual se respeite o direito de falar, opi- Encara-se a prática pedagógica como uma ação coletiva, por
nar, ser solidário e participativo. isso argumentada e realizada propositadamente com objetivos
claros que possam vir a garantir a realização da finalidade da
Diante da concepção emancipatória de educação, Freire afir- educação e de certos objetivos de acordo com os problemas em
ma que: estudo, explicitamente assumidos por uma instituição (SOUZA,
A construção de relações dialógicas sob os fundamentos da 2012, p. 179)
ética universal dos seres humanos, enquanto prática específica A prática pedagógica docente é constituída a partir das expe-
humana, implica a conscientização dos seres humanos, para que riências, das crenças e das visões de mundo, adquiridas no decor-
possam de fato inserir-se no processo histórico como sujeitos rer da vida e que, em sua grande maioria, refletem a organização
fazedores de sua própria história”. (FREIRE, 1996, p. 10.) social vigente. Numa perspectiva histórica, o pensamento da mo-
dernidade, que concebia uma visão de mundo fragmentada e dis-
Os princípios de uma relação dialógica que compreendem o ciplinarizada, pautou a história da educação no Brasil. Esse pen-
ser humano como sujeito histórico, corroboram com as premissas samento compreendia a relação de ensino-aprendizagem como
que pautam uma educação emancipatória, que segundo Menezes uma mera transmissão do conhecimento, no qual o estudante se
e Santiago (2014) “visa ao desenvolvimento da consciência crítica transformava num passivo receptor. Essa prática foi denomina-
para a formação de sujeitos competentes, capazes de exercer sua da por Paulo Freire em seu livro Pedagogia do Oprimido (1975)
participação cidadã – educação comprometida com a humaniza- Educação Bancária. “Na visão ‘bancária’ da educação, o ‘saber’ é
ção que possibilita romper com a relação verticalizada entre pro- uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber”
fessor(a) e estudante”. Desta forma, compreendemos a educação (FREIRE, 1975, p. 33).
emancipatória, acreditando numa escola que se oponha aos valo- A visão moderna das relações de ensino-aprendizagem, não
res de uma formação tecnicista (lógica individualista, competitiva conseguia responder as questões que emergiam no seio da es-
e desigual), buscando uma formação intensiva, dialógica, dinâmi- cola, dada a complexidade dos sujeitos que compõem esse con-
ca, voltada para o interesse de todos e que considera o sujeito texto. Sendo assim, a centralidade do conhecimento se desloca
como um ser integral. do docente e vai para o estudante, considerando suas dimensões
Desse modo, a escola se torna um lugar onde a autonomia cognitivas, sociais, culturais e afetivas. Essa nova forma de olhar
se configura como a liberdade substantiva dos sujeitos em exer- para o conhecimento se traduz numa prática profissional que dia-
cer as mediações educativas necessárias que se articulam com as loga com o que nos diz Sacristãn (1998):
práticas cotidianas, reforçando a necessidade de posicionamentos
frente aos assuntos polêmicos, e a percorrer caminhos nos quais É um processo de ação e de reflexão cooperativa, de indaga-
precisa negociar suas perspectivas, fazer concessões e viabilizar ção e experimentação, no qual o professor/a aprende a ensinar e
consensos. ensina porque aprende, intervém para facilitar, e não para impor
nem substituir a compreensão dos estudantes/as, a reconstrução
de seu conhecimento experiencial; e ao refletir sobre sua inter-
venção exerce e desenvolve sua própria compreensão (SACRIS-
TAN, 1998, p. 379).
Compreender o ensino considerando o sujeito em sua com-

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

plexidade nos dá possibilidade de ampliar o olhar para as relações fância subdivide essa etapa e agrupa as crianças de zero a seis anos,
de ensino aprendizagem e suas múltiplas referências que emer- na Primeira Infância, tendo esse grupo necessidades e desenvolvi-
gem do processo educativo. mento específicos, que devem ter assegurados seus direitos nos
âmbitos da assistência, saúde e especialmente, educação.
O direito à educação está legitimado pela Constituição Federal
SUJEITOS DE DIREITOS DE APRENDIZAGEM de 1988, como um direito social (Art. 6º da CF/88). Assim, o Estado
tem por obrigação a garantia de uma educação de qualidade a to-
dos os brasileiros. É importante ressaltar, porém, que o Poder Públi-
Crianças co não é o único responsável pela garantia desse direito. Conforme
Antes de iniciarmos a abordagem das diversas concepções de previsto no Art. 205 da Constituição Federal, a educação também é
infância e criança é preciso que se expliquem algumas questões. dever da família e cabe à sociedade promover, incentivar e colabo-
Qual é o nosso referencial de infância? De que crianças falamos ou rar para a realização desse direito. Especificamente em relação às
em que crianças pensamos quando planejamos as aulas? Afinal, crianças e aos adolescentes, tanto a Constituição Federal (Art. 227,
quem é esta criança real? É importante que se tenha cuidado para CF/88) quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente (Art. 4º da
não romantizar e idealizar a criança e, assim, interferir diretamente Lei 8.069/90) preveem que a família, a sociedade e o Estado devem
nas vivências necessárias na infância. A criança ganhou visibilidade assegurar os direitos fundamentais desses sujeitos, e aí se inclui a
mundial. A Organização das Nações Unidas - ONU proclamou a De- educação, com absoluta prioridade.
claração Universal dos Direitos da Criança (1959), fez a Convenção A infância permite a criança experienciar a vida e compreender
dos Direitos da Criança (1989), realizou uma Conferência Mundial o mundo, protagonizando-o. Compreender a infância em sua real
sobre a Criança (1990), e assinou o documento Um Mundo para a dimensão requer perceber nas crianças a sua singularidade e con-
Criança (2002). Seus organismos especializados – UNESCO, UNICEF, ceber as diferentes culturas e saberes que produzem.
OMS – realizaram e continuam realizando conferências mundiais - Dessa forma, é necessário trilhar novos caminhos, nos tempos
apoiando iniciativas nacionais, estaduais e municipais - e elaboran- e espaços da escola e da gestão da sala de aula, que promovam a
do documentos com o objetivo de impulsionar políticas públicas de inserção da cultura infantil, valorizando as trocas entre os pares e
atenção aos direitos da criança. Nas Américas também houve várias que possam recriar as relações da sociedade contemporânea, ex-
reuniões de ministros, declarações e compromissos dos governos pressando emoções e formas de significar o mundo, construindo a
em dar maior atenção às crianças por meio de políticas públicas. autonomia.
As formulações relacionadas a uma educação de boa qualidade A função social da escola vai além do direito efetivo dos as-
adotam, como base, o conceito de criança como sujeito de direitos, pectos legais. As propostas pedagógicas viabilizam práticas que pro-
situado social e historicamente, que vivência e produz bens de cul- movem a verdadeira acolhida da criança. Além disso, o desenvolvi-
tura, ao compartilhar contextos de vida distintos com seus pares mento da criança remete a reflexão de como a infância ou infâncias
e com os adultos, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais de
acontecem dentro e fora da escola.
Educação Infantil (2009).
Para entender como se deu o processo do desenvolvimento
Adolescentes e Jovens
dessa concepção de infância, é importante analisar as diferentes
Juventude e adolescência muitas vezes são vistas como sinôni-
mudanças e destacar que tais concepções que se tem de criança
mos, porém têm conceitos distintos, ainda que sobrepostos. Ado-
atualmente é resultante do que foi historicamente construído ao
lescência seria um processo biológico segundo a Organização Mun-
longo dos anos.
dial de Saúde (OMS) englobando a adolescência e a préadolescên-
As mudanças no conceito de criança se fizeram necessárias
cia, enquanto a juventude considera-se uma categoria sociológica,
em virtude das novas exigências da sociedade em termos econô-
micos e sociais, que foram responsáveis pela ruptura de concep- agrupando os que compartilham a mesma fase da vida, preparando
ções das infâncias, com a abordagem meramente assistencialista, o indivíduo para a vida adulta e abrangendo uma multiplicidade de
transformando-se em uma proposta pedagógica, a qual reconhece experiências. Essas categorias não se limitam apenas à idade, mas
a criança de forma integral nas suas particularidades. Para Áries ao processo de naturezas distintas pelas quais cada sujeito perpassa
(1981) “O sentimento de infância não significa o mesmo que afei- (CORTI et SOUZA, 2005).
ção pelas crianças, corresponde à consciência da particularidade A Adolescência é o período de transição entre a infância e a
que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem” vida adulta, caracterizado pelos impulsos do desenvolvimento físi-
(ÁRIES,1981, p. 99). co, mental, emocional, sexual e social e pelos esforços do indivíduo
Neste sentido, o sentimento de infância caracteriza a criança em alcançar os objetivos relacionados às expectativas culturais da
com o seu jeito próprio, modo de pensar e agir, diferenciando-se sociedade em que vive. Os limites cronológicos da adolescência são
do adulto. A infância, portanto, é uma construção sócio-histórica definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) entre 10 e 19
produzida pelo conjunto da sociedade a partir de ideias, práticas anos (adolescents) e pela Organizaçao das Naçoes Unidas (ONU)
e valores que se referem, sobretudo, às crianças, num contexto de entre 15 e 24 anos (youth), critério este usado principalmente para
vivências coletivas que estabelecem forma e sentido, reproduzidos fins estatísticos e políticos.
social e culturalmente. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei
Acerca do conceito de criança, é importante que se perceba 8.069, de 1990, considera criança a pessoa até 12 anos de idade
que segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei Nº incompletos e define a adolescência como a faixa etária de 12 a 18
8.069/2013, no Art. 2º: “Considera-se criança, para os efeitos desta anos de idade (artigo 2), e, em casos excepcionais e quando dispos-
a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescentes entre to na lei, o estatuto é aplicável até os 21 anos de idade (artigos 121
doze e dezoito anos de idade”. O Plano Nacional pela Primeira In- e 142).

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Nessa perspectiva, o referido Estatuto destaca o papel dos Dessa forma, não obstante a visão que se tem do adulto como
responsáveis, pais e mães perante o direito de apropriação dos um ser dotado de plena responsabilidade, ele enfrenta tantos desa-
processos pedagógicos que rege a instituição de ensino e ainda da fios quanto os outros seres que estão nas outras fases da vida. As-
participação efetiva nas definições de propostas educacionais, for- sim, faz-se necessário que consideremos o adulto como ser huma-
talecendo a concepção de escola enquanto comunidade de apren- no instável e em construção com suas fragilidades, suas angústias,
dizes. (BRASIL, 2005). seus anseios e suas dificuldades.
Conforme, a lei Federal Nº 12.852/13 que aprovou o Estatu-
to da Juventude estabelece, em seu § 1º, que “são consideradas
jovens as pessoas com idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) CONCEPÇÃO DE ALFABETIZAÇÃO
anos de idade”. Essa adequação se dá por considerar o período es-
colar e a vulnerabilidade psicossocial da população que se enquadra
nessa fase da vida no país. No entanto, no âmbito deste currículo, a As concepções que sustentam nossa prática dão conta de uma
questão meramente etária é formal, tendo em vista que os sujeitos educação cujos princípios possam ser aplicados no cotidiano, pelos
classificados como adolescentes e jovens em nosso Município apre- estudantes, quaisquer que seja a sua realidade, de maneira que, a
sentam incontáveis especificidades e anseios que perpassam desde partir do que aprendeu na escola, possa intervir sobre seu meio so-
a maturidade a sua condição social, onde a desigualdade social na cial e mudar a sua realidade. Nesse processo, na escola os estudan-
sua forma mais complexa atinge a maioria de nossos adolescentes tes passam por situações cotidianas que podem prepará-los para
e nos remetem ao compromisso efetivo das políticas públicas edu- agir frente às mais diversas situações. Portanto, a fase da aprendi-
cacionais, haja vista que a segunda etapa da Educação Básica, o En- zagem da leitura e da escrita é um período essencial à construção
sino Fundamental, de acordo com o Art. 11 da LDBEN 9.394/1996 de habilidades para essa vivência em sociedade, o que se traduz
é oferta prioritária do município, daí a importância de atender ao numa perspectiva de educação emancipatória, por meio da qual o
que preceituam os Art. 53 e 54 do ECA, assegurando-lhes os direitos sujeito se utiliza de suas construções para intervir e modificar a sua
fundamentais e o cumprimento de princípios básicos expressos nas realidade.
Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica – DCN- Em nossa cultura, na qual se valoriza a leitura e a escrita, a es-
GEB (2010) como: o “cuidar e educar”, o “acesso e permanência” e cola tem o papel de sistematizar os conhecimentos necessários à
“igualdade e equidade” no atendimento a esta faixa etária, que é vivência de práticas reais e com significado. Para Freire (1989), “a
majoritariamente predominante no município. leitura do mundo precede a leitura da palavra” (p.9), o que significa
Cada sociedade, de acordo com o seu momento histórico e com que, antes mesmo de entrar na escola, as pessoas já experimentam
sua cultura, define o conceito de jovem como pessoa pertencente diversas formas de ler o mundo, o que é fundamental para ser al-
a um grupo, que determina a duração e as características dessa fabetizado.
fase da vida. O certo é que a duração da juventude é uma questão A concepção de alfabetização tratada neste documento pau-
complexa de especificar, pois depende de vários fatores, como a ca- ta-se nos estudos de Ferreiro e Teberosky (2005), Soares (2006) e
pacidade física, biológica, psicológica, laboral, entre outras. Tendo Morais (2012), dentre outros, que filiados à perspectiva sociointe-
em vista essa concepção de juventude, ressalta-se que jovens de racionista, tomam a alfabetização como um processo no qual o su-
diferentes culturas, etnias, classes sociais, orientações religiosas, jeito aprende os princípios do Sistema de Escrita Alfabética–SEA, a
diversidade de gênero, moradores da zona urbana ou rural terão partir da inserção em práticas de letramento.
experiências distintas dessa fase transitória entre a adolescência e Nossa interação com a cultura escrita atingiu níveis tão com-
a vida adulta, (CORTI et SOUZA, 2005). plexos que já não nos vemos longe da imensa gama de informações
Portanto, é dever do Estado, da família e da sociedade assegu- escritas que circulam ao nosso redor, portanto, em nosso municí-
rar e efetivar, com absoluta prioridade, o processo de escolarização pio, compreendemos que não se pode alfabetizar sem ter como
do adolescente e jovem na educação básica e nas suas respectivas premissa o processo de letramento. A priori, deixemos claro que
modalidades. alfabetização e letramento são concepções distintas, com habilida-
des específicas a serem desenvolvidas para se adquirir cada uma.
Adultos No entanto, essas habilidades caminham juntas, se interligam, não
Considera-se a fase adulta pessoas com faixa etária dos 30 aos podendo se trabalhar um deixando o outro de fora. Assim, “é bom
60 anos de acordo com o Estatuto da Juventude (BRASIL, 2013). lembrar que viver em um mundo letrado, mediado por situações de
Essa fase é formada por inúmeras situações que conduzem a pessoa leitura e escrita, não é o mesmo que dominar esses processos com
a agir, a pensar e decidir de diferentes maneiras. A fase adulta se autonomia (SILVA, 2005, p.136) Por isso, é necessário que as crian-
caracteriza por estabilidade emocional, sem grandes mudanças. Por ças participem de atividades de letramento, situações reais de leitu-
vezes, vemos em diversas literaturas a ideia de adulto como sujei- ra e de escrita e, aos poucos, quando se apropriem das especificida-
to já maduro, sem conflito, portanto, sem problemas. Sabemos, no des do sistema de escrita alfabética, elas se tornem alfabetizadas.
entanto, que somos sujeitos inacabados como já dizia Paulo Freire Alguns autores não tratam mais do termo letramento sepa-
(1996). É na certeza dessa incompletude que há, nessa fase da vida, radamente de alfabetização porque, para eles, o letramento já é
dúvidas e conflitos, incertezas e imaturidades. Bourtinet cita que inerente ao processo. Em linhas gerais, letramento é “o estado ou
a vida adulta é deixada, aparentemente, nas suas antigas certezas condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como con-
como a idade sem problemas, uma vez definida como idade de re- sequência de ter-se apropriado da escrita” (SOARES, 2006, p.18).
ferência (SOUSA, 2007, apud BOURTINET, 2000). Neste documento, destacamos a prevalência da expressão alfabeti-
zação em vez de alfabetização e letramento por compreendermos,
à luz de Ferreiro (2013), que o processo de alfabetização se consoli-
da atrelado às práticas reais de uso da leitura e da escrita.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Dadas essas relações, sabemos que as pessoas chegam às es- Nesse processo, a alfabetização numa perspectiva emancipató-
colas com muitas situações de uso da leitura e da escrita que irão ria se efetiva e ampliamos as condições de inserção na sociedade,
fomentar suas aprendizagens no campo dessas práticas. Assim, a por meio da leitura e da escrita, na idade certa (ALBUQUERQUE,
construção da alfabetização acontece por etapas, considerando os 2012) e no tempo construído por cada sujeito, dentro do seu pro-
estudantes como protagonistas nesse processo, de modo que suas cesso de aprendizagem.
descobertas se estabelecem na relação entre o que eles já sabem
sobre esse objeto de estudo e o que precisam saber. Alfabetização de Jovens e Adultos: desafios a serem conside-
Um exemplo dessa compreensão do processo de aprendiza- rados
gem de cada sujeito é a realização permanente de protocolos de O processo de alfabetização na EJA deve ser progressivo e con-
escrita2 , cujo objetivo é avaliar e analisar o percurso individual dos tínuo, uma vez que nossos estudantes têm suas especificidades,
estudantes para poder intervir e ajudar-lhes a prosseguir. Sem essa pois já carregam um grande conhecimento do mundo letrado, tra-
perspectiva de avaliação permanente da aprendizagem, não é pos- zem arraigadas algumas habilidades construídas, que serão utiliza-
sível contribuir com o caminho construído, mas apenas nos limitar- das nesse processo tão amplo. Ao alfabetizar jovens e adultos, o
mos a classificar e descrever as turmas ou grupos de estudantes. professor deve se despir das práticas que vivenciam com crianças
Considerando essa premissa, nos deparamos com a necessida- e vestir-se de práticas diferenciadas levando-se em consideração os
de de organizar o processo de apropriação dos princípios que cons- acontecimentos do cotidiano. Assim, o professor deve utilizar te-
tituem o SEA para que o sujeito aprenda a ler e escrever inserido máticas e estratégias que interessem ao jovem e ao adulto, para
em situações reais de produção de texto, leitura e oralidade. A con- fomentar suas práticas, de modo que se faz necessário repensar
solidação da alfabetização, portanto, é um direito a ser assegurado, novas metodologias.
prioritariamente, no ciclo da infância, o que vai permitir que nossos Desse modo, dizer que um estudante está alfabetizado vai além
estudantes leiam e produzam textos, com autonomia, podendo in- de vê-lo se apropriar da leitura e escrita, mas envolve outras habili-
serir-se nas práticas de letramento, atuando em seus espaços para dades, em sentido amplo da palavra. A alfabetização está interrela-
qualificar e/ou modificar sua realidade. cionada com o letramento, sendo assim, formamos não só leitores
como também cidadãos críticos, que se veem como protagonistas
Alfabetização de Crianças: ler e escrever para além da Escola de sua própria história.
Conforme a teoria da Psicogênese da Escrita, elaborada por Reiteramos que, na perspectiva adotada neste documento,
Ferreiro e Teberosky (2005), as crianças passam três períodos prin- alfabetizar implica inserir o estudante nas práticas de leitura e da
cipais, nos quais desenvolvem diferentes hipóteses ou explicações escrita na escola, ao mesmo tempo em que esse conhecimento é
à construção e funcionamento da escrita alfabética: pré-silábico, usado em práticas sociais em seu dia a dia, uma vez que “[...] é,
silábico e alfabético. Com a continuidade de seus estudos, Ferreiro pois, o letramento, em seus eventos e práticas, também responsá-
(2013) incluiu subníveis em cada um deles, por compreender que vel pela alfabetização, inclusive na educação de Jovens e Adultos,
há também um movimento interno em que os sujeitos vão se des- na qual os estudantes já chegam à escola dotados de seus valores e
locando, conforme as mediações. saberes” (XAVIER, 2011, p.124).
Nesse sentido, quando acompanhamos, cuidadosamente, a Nesse sentido, não é simplesmente se apropriar da leitura e da
evolução da escrita espontânea, vemos que os sujeitos elaboram escrita, mas saber fazer o uso desse novo conhecimento no dia a
hipóteses semelhantes, apontadas por Ferreiro e Teberosky (2005) dia, como enviar uma mensagem via “WhatsApp”, seguir uma ins-
e que estas vão sendo testadas e superadas. Então se faz necessário trução na tela do caixa eletrônico para receber seu salário, ler uma
trabalhar nesta perspectiva da escrita, considerando o erro como bula de receita médica, tomando a quantidade adequada de medi-
parte do processo de ensino-aprendizagem, para ajudar as crian- camentos de acordo com o que foi prescrito pelo médico, utilizar
ças a superar suas concepções. A partir de atividades significativas, as redes sociais para ler mensagens, notícias, propagandas e postar
pautadas nas práticas reais de uso da leitura e da escrita, como pre- opiniões. Ou seja: saber utilizar esses e outros conhecimentos em
vê a Psicogênese da Língua Escrita, experimentada no cotidiano das seu cotidiano melhora sua qualidade de vida, tornando-o um sujei-
práticas de letramento (ALBUQUERQUE, 2012), os professores vão to independente e integrado à sociedade.
ajudando as crianças a reelaborar suas hipóteses, de modo que elas Alfabetizar em EJA requer que o professor tenha ciência do seu
são protagonistas do processo de aprendizagem. Ou seja, “alfabe- papel, assim como do que é preciso para que esse estudante se
tizar, sim, mas sabendo que a criança, sujeito da aprendizagem, é alfabetize, quais etapas devem ser percorridas e quais habilidades
um ser pensante; que a ação educativa pode apelar para sua inteli- devem ser construídas, até que se possa afirmar que este estudante
gência, exatamente para não inibir a reflexão nascente” (FERREIRO está alfabetizado. Para Soares e Batista (2005):
e TEBEROSKY, 2005, p.33). Evidentemente, cada sujeito se coloca O termo alfabetização designa o ensino e o aprendizado de
nesse movimento de aprendizagem em torno da linguagem escri- uma tecnologia de representação da linguagem humana, a escrita
ta e vai organizando, com a ajuda dos professores, os seus conhe- alfabético-ortográfica. O domínio dessa tecnologia envolve um
cimentos e superando essas fases. Tal reflexão consciente sobre a conjunto de conhecimentos e procedimentos relacionados tanto
linguagem pode envolver palavras, partes das palavras, sentenças, ao funcionamento desse sistema de representação quanto às ca-
características e finalidades dos textos, bem como as intenções dos pacidades motoras e cognitivas para manipular os instrumentos e
que estão se comunicando oralmente ou por escrito. equipamentos de escrita (SOARES; BATISTA, 2005, p. 24).
Assim, o processo de alfabetização precisa incluir professores Nesse sentido, ser alfabetizado significa apropriar-se de uma
experientes, que possam utilizar-se dos gêneros discursivos como tecnologia escrita fazer uso dela. Para o jovem e o adulto, cada co-
base para a alfabetização, que acompanhem o processo evolutivo nhecimento adquirido torna-se uma possibilidade de empodera-
das crianças e que sejam capazes de intervir sobre o erro cotidia- mento e emancipação. Esses estudantes, por sua vez, devem ter
namente. ciência de que a educação e os conhecimentos adquiridos através

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

dela serão a maior riqueza que podem ter. Esse pensamento e prá- Assim, viu-se a necessidade de uma educação voltada para
tica tornam-se emancipadores à medida que o conhecimento ad- todos, na qual estudantes e educadores fossem protagonistas da
quirido ninguém pode tomar, é individual e intrínseco. É uma fonte sua aprendizagem, desenvolvendo competências gerais e habilida-
de independência que, usada de maneira correta, pode libertá-lo des baseadas nos “Direitos de Aprendizagem e no Cuidar e Educar”
da opressão que decorre da ausência ou mau uso daquilo que se das diretrizes curriculares para a Educação Básica, que os fizessem
aprende na escola, dando-lhe esperança de um futuro promissor. seres plenos, inseridos verdadeiramente na sociedade e emancipa-
dos para o mundo. Com a visão de corroborar para a libertação do
estudante, na perspectiva crítico-emancipatória, desenvolvendo-o
CONCEPÇÃO DE CURRÍCULO: POR UM CURRÍCULO como um ser em sua totalidade, deve estar baseada a reestrutura-
CRÍTICO-EMANCIPATÓRIO E MULTICULTURAL ção curricular.
Compreender o conhecimento organizado numa visão de mun-
Para avançar nos preceitos trabalhados ao longo da construção do críticoemancipatória, permite a construção de “[...] um currículo
deste documento e dos aspectos filosóficos e históricos sociais des- que possibilite a conscientização pelos sujeitos dos condicionantes
tacados na apresentação, precisamos compreender em que ponto das estruturas sociais que alienam e oprimem – currículo pautado
na compreensão de mundo, de ser humano e de sociedade como
o currículo influencia o trabalho dos professores3 em sala de aula e
unidade dialética, os quais se movem na inter-relação de comple-
a rotina da escola.
mentaridade” (Menezes e Santiago, 2014, p.60).
Nesse sentido, a BNCC se constitui como referência que orien-
Assim, professores e estudantes estarão sempre em busca de
tará as escolas, de nosso Sistema Municipal de Ensino, com vistas à
conhecimento, atuando como sujeitos pesquisadores, num proces-
promoção de uma educação emancipatória e embasado nos prin- so dinâmico, numa pedagogia ativa, contemplando nos espaços
cípios éticos, políticos, estéticos e inclusivos, que assegurem a for- educativos temáticas com questões discutidas em sociedade, que
mação humana integral, os direitos de aprendizagem e desenvolvi- possibilitem aos indivíduos refletir sobre sua condição no mundo,
mento de todos os estudantes ao longo de todos os níveis, etapas galgando conhecimentos suficientes para querer se libertar, pro-
e modalidades da Educação Básica. A BNCC é um documento de curando melhores condições para viver e, assim, usufruir de seus
caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de direitos como cidadãos. De acordo com Freire:
aprendizagens essenciais que todos os estudantes devem desen- [...] a reorientação curricular proposta pelos projetos curri-
volver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de culares interdisciplinares implica uma reorganização de tempo e
modo a que tenha assegurados seus direitos de aprendizagem e espaços escolares, exigindo trabalho coletivo dos educadores em
desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano pesquisas constantes da realidade local junto à comunidade e em
Nacional de Educação – PNE. (BRASIL, 2017). A Base foi conduzida órgãos públicos, na busca de informações sobre os objetos anali-
a partir dos preceitos legais que a instituíram – dentre os quais, o sados. Além dessas fontes, é necessário [...] buscar um aprofun-
Art. 210 da Constituição Federal, o Art. 26 da LDBEN, as Diretrizes damento dos conhecimentos específicos nas diferentes áreas que
Curriculares Nacionais Gerais – DCNG (2012) e o Plano Nacional de não constam dos livros didáticos tradicionais – demanda um “leque
Educação – PNE/2014. Portanto, configura-se como um documen- temático” (Freire, [1968] 1988, p. 109).
to de caráter normativo que define os saberes essenciais de cada A escola deve estar aberta e alerta para entender o estudante
Componente Curricular, a serem promovidos pelas propostas curri- como um todo, considerando como ele foi culturalmente constru-
culares mediadas pelas práticas pedagógicas dos professores. ído. Sendo assim, a compreensão que todos saem ganhando com
Tendo em vista a adoção de uma Educação Emancipatória essa pluralidade cultural deve estar contemplada no currículo. Des-
como concepção para o nosso Município, compreendemos o Currí- sa forma:
culo a partir desta lente, aqui visto também numa perspectiva críti- Insistimos, inicialmente, na necessidade de uma nova postura,
co-emancipatória e multicultural. De acordo com SAUL et GOUVÊA por parte do professorado e dos gestores, no esforço por construir
(2009, p.225), “conceber o currículo sob a ótica da racionalidade currículos culturalmente orientados. [...] que se reescrevam os co-
emancipatória implica compreendê-lo como um processo depen- nhecimentos escolares, que se evidencie a ancoragem social desses
conhecimentos, bem como que se transforme a escola e o currículo
dente da participação dos sujeitos envolvidos na ação educativa. ”
em espaços de crítica cultural, de diálogo e de desenvolvimento de
Esse tipo de currículo dá à população a liberdade de se tornar
pesquisas. (MOREIRA e CANDAU, 2007, p.31)
partícipe da construção do saber culturalmente entregue à elite,
Para tanto, a escola precisa oportunizar a interação entre os
pois se tinha o mito que só cabia a esta decidir sobre as necessida-
indivíduos, tendo em vista serem nelas que as competências se for-
des de todos. mam, se desenvolvem e tomam sentido por implicar um domínio
Muitos foram os desafios encontrados e rompidos até que essa conceitual e prático que vai além das ciências. As competências são
cultura fosse desmistificada, para que as classes menos favorecidas amplas, múltiplas e não se excluem
tivessem acesso ao que a classe dominante monopolizava. O termo
“Currículo Emancipatório” apesar de ser muito difundido no Brasil
a partir dos nos anos 1990 por Paulo Freire não emergiu em nosso AS COMPETÊNCIAS GERAIS DA BNCC COMO PREMIS-
país, porque “as ideias que fundamentam o currículo crítico-eman- SA BÁSICA PARA CONSTRUÇÃO DO RCMJG
cipatório tiveram início nos anos de 1970, nos Estados Unidos, com
o movimento de “reconceitualização do currículo”, originado na Este currículo está pautado nas 10 (dez) competências gerais
rejeição do caráter prescritivo e no reconhecimento do caráter po- propostas pela BNCC, que dizem respeito ao desenvolvimento inte-
lítico do pensamento e da prática curricular. ” (Menezes e Santiago, gral do estudante e às competências específicas, que se referem aos
2014, p.47) produtos dos objetos do conhecimento.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Portanto, de acordo com a BNCC (2017), o trabalho do profes- senvolvimento articulado de conhecimentos, emoções e atitudes,
sor deverá ser orientado a partir da seleção de saberes que possibi- na perspectiva do desenvolvimento humano em sua integralidade,
litem aos estudantes: ou seja, holisticamente.
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente cons-
truídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para enten-
der e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para CONCEPÇÃO DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. (CO-
NHECIMENTO) A avaliação no contexto escolar é uma prática organizada e sis-
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem tematizada que dá suporte ao processo de ensino-aprendizagem.
própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análi- Tal prática, não ocorre de forma neutra e está fortemente funda-
se crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, mentada na concepção de educação que norteia suas intenções e
elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar usos. Assim, ao optar por uma Educação Emancipatória, que valori-
soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das za o diálogo estabelecido entre os sujeitos envolvidos em todo pro-
diferentes áreas.(PENSAMENTO CIENTÍFICO, CRÍTICO E CRIATIVO) cesso de aprendizagem, legitima-se a necessidade de uma concep-
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e cultu- ção qualitativa de avaliação, que avance em sua perspectiva e que
rais, das locais às mundiais, e participar de práticas diversificadas da tenha como objetivo mais que a mensuração da realidade, como
produção artístico-cultural. (REPERTÓRIO CULTURAL) nos indica Demo (2004):
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, A avaliação qualitativa pretende ultrapassar a avaliação quan-
como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital, bem como titativa, sem dispensar esta. Entende que no espaço educativo os
conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, processos são mais relevantes que os produtos, não fazendo jus
para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e à realidade, se reduzida apenas às manifestações empiricamente
sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem mensuráveis. (p.156).
ao entendimento mútuo.(COMUNICAÇÃO) Sob essa perspectiva, a avaliação distancia-se do enaltecimen-
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informa- to aos procedimentos de comparação e classificação com base no
ção e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética certo/errado, bem como da atribuição de apenas “um número a
nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comu- um acontecimento ou a um objeto, de acordo com uma regra logi-
nicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, camente aceitável” (Hadji 2001, p.27).
resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pes- Há, desde a implantação da Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
soal e coletiva. (CULTURA DIGITAL) ção Nacional (LDBEN Nº9.394/96, Art.24), um movimento favorável
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e e um compromisso com uma avaliação contínua e processual. As-
apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem sim sendo, emerge a necessidade de se obter informações sobre
entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer esco- os conhecimentos prévios e singularidades de cada estudante, uma
lhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, vez que cada um deles chega com “uma bagagem determinada e
com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. diferente em relação às experiências vividas, conforme o ambiente
(TRABALHO E PROJETO DE VIDA) sociocultural e familiar em que vive, e condicionado por suas carac-
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confi- terísticas pessoais” (ZABALA,1998, p.199). Além disso, entende-se
áveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e que tais informações são indicadores importantes que possibilitam
decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a definição e organização de intervenções durante o processo de
a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito aprendizagem. Trata-se, portanto, da avaliação da apropriação dos
local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao saberes construídos pelos sujeitos, do conhecimento dos diferentes
cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. (ARGUMENTAÇÃO) caminhos percorridos nessa construção e da mediação na aquisição
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emo- de novos conhecimentos.
cional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo Na Educação Infantil, a avaliação tem suas especificidades, vis-
suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para to que é nesta etapa da Educação Básica que o processo avaliati-
lidar com elas. (AUTOCONHECIMENTO E CUIDADO) vo cumpre o importante papel de oferecer elementos para que o
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e professor possa conhecer melhor as crianças, suas características
a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao pessoais, suas emoções, seus comportamentos, seus interesses e o
outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da modo pelo qual se apropriam do mundo, para que, assim, possam
diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, iden- compreender o processo educativo como contínuo e diferenciado
tidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer para cada criança.
natureza. (EMPATIA E COOPERAÇÃO) De acordo com o disposto no Art.31 da LDBEN 9.394/96, altera-
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabi- do pela Lei 12.796/2013, a Educação Infantil precisa ser organizada
lidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com regras comuns, “mediante o acompanhamento e o registro do
com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentá- desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mes-
veis e solidários. (RESPONSABILIDADE E CIDADANIA) mo para o acesso ao Ensino Fundamental”. As Diretrizes Curricula-
Nessa perspectiva, as práticas educativas vivenciadas, em par- res Nacionais em consonância com a LDBEN, Art.10, nos Incisos I, II,
ticular na sala de aula, “lócus privilegiado do saber e de aprendiza- III, IV, V apontam orientações para a prática avaliativa e o acompa-
gem”, devem viabilizar as necessárias mediações para os estudantes nhamento contínuo do desenvolvimento das crianças, que neces-
desenvolverem competências que lhes permitam atuar no mundo sitam ser dinâmicos e considerar as diferentes situações em que
em que vivem. Trata-se de um novo projeto, que trabalhará o de- ocorrem as aprendizagens.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Dessa forma, podemos considerar que a Avaliação na Educa-


ção Infantil significa observar, refletir, analisar e redirecionar, sem CONCEPÇÃO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
o peso do julgamento dos resultados, criando um clima acolhedor
de escuta, confiança e diálogo entre os envolvidos, conforme nos Ensinar é uma tarefa complexa. Esta envolve uma diversidade
aponta Hoffmann (2012): de pessoas com pensamentos, ideologias, crenças, condições so-
“[...]a avaliação na Educação Infantil tem por base a obser- ciais e pessoais diferentes, que interferem no processo de ensino.
vação permanente das crianças no cotidiano e a aproximação dos Atender as necessidades e exigências de cada indivíduo tem se tor-
professores com sua diversidade sociocultural, à luz de suas pró- nado um desafio para o professor e para a escola, passando, priori-
prias representações, teorias, experiências profissionais e de vida” tariamente, pela formação docente.
(p.30). Essa formação depende tanto da escola quanto dos professo-
Nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental de 9 anos, con- res, uma vez que estes estão inseridos em uma sociedade em cons-
siderado período de alfabetização (conforme disposto no Parecer tante transformação. De acordo com pensamento de Nóvoa (1997,
CNE/CP Nº15/2017), é vedada a avaliação como mera verificação p. 28):
de conhecimentos, visando ao caráter classificatório, assim como [...] da mesma maneira que a formação não se pode dissociar
a retenção do estudante sem a conclusão do referido período. Tal da produção de saber, também não se pode alhear de uma inter-
posicionamento não se apoia na concepção de aprovação automá- venção no terreno profissional. As escolas não podem mudar sem
tica, uma vez que essa “é caracterizada, geralmente, pela ausência o empenho dos professores; e estes não podem mudar sem uma
da avaliação, estimulando que a criança avance de um ano ao ou- transformação das instituições em que trabalham. O desenvolvi-
tro sem se preocupar com o monitoramento”, conforme apontam mento profissional dos professores tem de estar articulado com as
Albuquerque e Cruz (2012b, p.08). A opção de não retenção aqui escolas e os seus projetos.
tratada, está intimamente ligada ao conceito de progressão conti- Dessa forma, fica visível que para que ocorra uma transforma-
nuada, proposta nos ciclos de alfabetização, assentada no princípio ção no processo de aprendizagem é imprescindível que escola e
do respeito ao desenvolvimento das crianças e no compromisso professores se transformem coletivamente. De nada servirá a for-
com as aprendizagens ao longo do ano escolar e do ciclo, de modo mação, a reflexão, o reconhecimento e a valorização dos saberes
a garantir que os estudantes progridam em três dimensões: docentes se a escola continuar com práticas pedagógicas que não
[...]progressão escolar, relacionada ao direito que a criança permitam a continuidade do processo de formação.
tem de avançar na escolaridade; progressão do ensino, que re- Com a democratização da escola, a possibilidade de acesso de
quer a organização e elaboração de direitos de aprendizagem em todos às instituições de ensino ampliou - mas não as propiciou con-
todas as áreas de conhecimento e anos escolares de cada ciclo; e dições necessárias para atender a todos os envolvidos no processo
progressão das aprendizagens, que está diretamente ligada à qua- de maneira igualitária ou ao menos equivalente. Alguns aspectos
lidade crescente das aprendizagens construídas ao longo do ano e devem ser pensados no processo de ensino-aprendizagem para que
entre os anos do ciclo de alfabetização pelas crianças.(ALBUQUER- este produza resultados significativos para a sociedade. Entre eles,
QUE;CRUZ,2012a,p.09). destaca-se a formação dos professores. É importante salientar que
Nas demais turmas dos anos iniciais dessa etapa de ensino, essa formação não se encerra com as aulas da graduação, mas deve
a avaliação das aprendizagens do estudante deverá ser realizada ser contínua, visto que a sociedade está sempre em transformação,
através de instrumentos diversificados e registrada sob a forma de exigindo dos professores atualização constante para lidar com os
parecer avaliativo e de notas, sem desconsiderar o caráter diagnós- processos educativos. Fortalecendo essa ideia, revisitamos as pala-
tico, cumulativo, participativo e formativo da aprendizagem. Nos vras de Freire (2001, p.20):
anos finais, a avaliação e seus registros devem continuar se efeti- A educação é permanente não porque certa linha ideológica
vando, na prática dos professores, de forma diversificada, mesmo ou certa posição política ou certo interesse econômico o exijam. A
que esses sejam oficialmente traduzidos através de notas, que, por educação é permanente na razão, de um lado, da finitude do ser
sua vez, não devem ser consideradas como a única forma de regis- humano, de outro, da consciência que ele tem de finitude. Mais
trar todo processo de avaliação. ainda, pelo fato de, ao longo da história, ter incorporado à sua na-
Na Educação de Jovens e Adultos vale salientar que a avaliação tureza não apenas saber que vivia, mas saber que sabia e, assim,
dos estudantes com deficiência, Transtorno do Espectro Autista-TEA saber que podia saber mais. A educação e a formação permanente
e superdotação/altas habilidades, em quaisquer que sejam os anos se fundamentam aí.
da Educação Básica, sob a perspectiva inclusiva, deverá estar pau- Trata-se, apenas, de uma etapa do processo formativo, que
tada nas características, interesses, capacidades/potencialidades e tem início desde o nascimento do sujeito, seja ele professor ou ou-
necessidades específicas de aprendizagem de cada um deles. Faz-se tro profissional.
necessário, portanto, o acompanhamento da evolução de todo pro- Tardif (2010) afirma que a transformação da formação do pro-
cesso educativo e observação do progresso em suas competências fessor no decorrer do tempo é procedente de sua experiência pro-
com relação às atividades da vida cotidiana. fissional. Dessa forma, as mudanças sociais e temporais interferem
Assim, podemos afirmar que a avaliação necessita estar pre- em seus saberes, desafiando-o a evoluir profissionalmente para
sente em todas as atitudes e estratégias adotadas pelos profes- atender as exigências do processo de ensino.
sores, através do uso de instrumentos e registros avaliativos4 que Além dos saberes curriculares da formação profissional, é per-
sirvam de baliza para o planejamento e para o desenvolvimento de tinente reconhecer e valorizar os saberes experienciais do professor
ações no cotidiano educativo. em seu processo formativo: as memórias e as histórias de vida do
professor devem ser valorizadas. Ele precisa ser visto e ouvido para
que se reconheça como sujeito pensante, no contexto de formação
e ensino.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

No espaço escolar, o professor utiliza sua experiência para re- Formação Continuada dos Professores
solver os conflitos diários que ocorrem no ambiente. Os docentes No decorrer das últimas décadas o cenário político-social do
não podem contar apenas com os saberes adquiridos na formação país vem passando por consideráveis mudanças. Dentro desse con-
acadêmica, uma vez que seu objeto de trabalho está em constante texto, encontramos os programas de políticas públicas voltados
transformação. para o desenvolvimento de uma educação de qualidade. A partir
Destarte, em termos de qualificação profissional, é essencial dos anos 90, com a profissionalização docente estabelecida pela Lei
proporcionar uma formação contínua, levando em conta seu co- de Diretrizes e Base da Educação Nacional - LDBEN, Lei Nº 9394/96,
nhecimento. O professor precisa ser respeitado como ser humano a formação inicial e a continuada dos professores ganhou destaque
que detém uma ampla experiência educacional, antes e depois de como elemento primordial que necessita ser revisitado e aperfei-
tornar-se professor. Assim, é pertinente perceber e utilizar seus sa- çoado.
beres experienciais na formação continuada dos mesmos. A formação continuada dos professores, ressaltada na LDBEN
Nóvoa (1997, p. 25) diz que “a formação não se constrói por 9394/96, deve estar articulada às políticas que visam à melhoria
acumulação (de cursos, de conhecimentos ou técnicas), mas sim do ensino-aprendizagem e a busca por uma valorização profissional
através de um trabalho de reflexão crítica sobre as práticas e de (re) que refletirá em uma educação escolar de qualidade, voltada para
construção permanente de uma identidade pessoal o desenvolvimento da sociedade.
[...]”. O exercício de refletir sobre a prática possibilita, associada No que se refere ao Programa de Formação Continuada da
à escrita de si, a autoformação, utilizando a (auto)biografia como Rede Municipal de Jaboatão dos Guararapes, apresenta-se uma
processo de formação que influencia o processo de ensino. proposta formativa que valoriza os saberes que os professores já
Ainda no tocante à formação, Nóvoa (1997) reforça a necessi- construíram no exercício de suas atividades pedagógicas, favore-
dade de incluir a rotina profissional docente nos cursos de forma- cendo a reflexão e a reconstrução de seu próprio fazer, associando,
ção. Em seu planejamento, o docente deve valorizar as experiências sempre, teoria à prática profissional. Dessa forma, os momentos
exitosas, seus hábitos, seu saber, aglutinando-os com os saberes de formação possibilitam construir conhecimentos coletivamente
científicos e filosóficos numa abordagem interdisciplinar e episte- e, assim, contribuir para que a escola seja formadora de cidadãos
mológica. participativos e críticos, favorecendo o desenvolvimento de um pro-
Dessa forma, o professor, na realização de seu trabalho, vai jeto reflexivo sobre as práticas e de construção de uma identidade
ver-se como sujeito pensante, construtor de seu próprio conheci- profissional.
mento e capaz de relacionar teoria e prática, como pontua Tardif A reflexão sobre a prática (dupla conceitualização e teorização
(2010, p. 234): da prática) se destaca como fundamental no contexto de forma-
Noutras palavras, o trabalho dos professores de profissão deve ção continuada, sendo considerada uma oportunidade de pesquisa,
ser considerado como espaço prático específico de produção, de de mudança de comportamento, de inovação e emancipação, que
transformação e de mobilização de saberes e, portanto, de teorias, se baseia na valorização do saber profissional e na construção do
de conhecimento e de saber-fazer específicos ao ofício de professor. conhecimento por meio da reflexão da prática. Dessa maneira, a
Essa perspectiva equivale a fazer do professor – tal como o profes- aprendizagem se torna significativa para todos envolvidos no pro-
sor universitário ou pesquisador da educação- sujeito do conheci- cesso, como afirma Freire (1996):
mento, um ator que desenvolve e possui sempre teorias, conheci- Na formação permanente dos professores, o momento fun-
mentos e saberes de sua própria ação. damental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criti-
Professores e estudantes devem ser valorizados e reconheci- camente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a
dos no desenvolvimento do processo de ensino como seres pen- próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão
santes e ativos, que estão na escola com o propósito de aprender e crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda
construir conhecimentos; contrariando, de vez, a ideia de que pro- com a prática. (1996, p.44)
fessor e estudante são meros transmissores e receptores de saber Nessa perspectiva, é necessário romper com a ausência de arti-
produzido pelos pesquisadores. É relevante reconhecer, portanto, culação entre o que se propõe para a formação continuada e a real
a pluralidade de saberes docente, bem como suas influências na necessidade da busca por soluções para as problemáticas encontra-
formação do professor. das pelos professores no cotidiano escolar, valorizando as práticas
O Sistema Municipal de Ensino através do Programa de For- pedagógicas e construindo novos saberes.
mação Continuada, no item 4, p. 16, das Ações, contempla a qua- Para dinamizar esse processo formativo, a Rede definiu o Pro-
lificação profissional dos docentes. Este programa foi elaborado e grama de Formação Continuada como o momento de planejamen-
documentado. Cabe a oportunidade de um debate a este respeito to, de execução e de avaliação das práticas pedagógicas, garantindo
sobre as políticas públicas educacionais para os docentes da Rede a articulação entre o que se conceitua e o que se executa, em um
Municipal de Ensino quanto ao processo da formação continuada, processo dinâmico e que se retroalimenta.
dialogando-se constantemente em fóruns, sobre as Metas 12 e 13
e suas Estratégias do Plano Municipal de Educação – Lei Municipal
nº 1.203/2015, percorrendo um caminho de participação coletiva e CONCEPÇÃO DE LEITORES
intersetorial, sabendo-se que a responsabilidade da formação con-
tinuada não se limita somente na responsabilidade do poder públi- Antes mesmo de nascer, o ser humano já é capaz de ouvir e
co municipal, mas de um acordo chamado Regime de colaboração reconhecer a voz da mãe e de outras pessoas e é essa a premissa
entre os entes federados e, portanto cabe-nos também, a elabora- que sustenta a necessidade de ler para as crianças desde a mais
ção de ações de forma conjunta, que atendam aos anseios dos/das tenra idade.
professores/as na valorização do magistério.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

O encantamento pela leitura pode ser despertado desde os pri- bendo-se que jamais na escola, se pode intensificar o trabalho
meiros meses de vida. O bebê já é capaz de ler imagens e na medida pedagógico somente com a escrita, para não se transformar mera-
em que vai crescendo, enxerga o mundo a sua volta e começa a in- mente em transcrições/cópias. Só escreve quem lê. E a escrita é o
teragir com a leitura, quando vê placas, rótulos, outdoors, embala- resultado do estudante leitor que imagina e conversa com quem vai
gens, jornais, revistas e através deste contato ele vai identificando a ler sua produção. Portanto a Rede Municipal de Ensino preocupa-se
presença da escrita em seu meio. Assim, a criança entra em contato com as duas dimensões da produção cultural do estudante: leitura
com as imagens antes mesmo da interação. e escrita.
Esse contexto da formação de leitores é ampliado com as letras Assim, neste currículo, trazemos reflexões sobre a formação de
e é por isso que as ilustrações exercem um papel tão importante no leitores/escritores tendo como foco o Programa de Leitura ofereci-
processo de formação de leitores, uma vez que enriquecem o texto. do pela Rede Municipal, cujo objetivo é incentivar o prazer e o inte-
Mediante essas relações que se estabelecem entre a criança e resse pela leitura e pela escrita, por meio da distribuição de livros li-
os textos, é atribuído à escola o papel de sistematizar as atividades terários para a constituição da biblioteca particular dos estudantes.
que fomentam o processo de leitura e escrita. Nesse contexto, tam- Além da garantia do acesso ao livro, o programa de leitura é
bém se estabelecem as relações com o texto literário, de modo que responsável pelo fomento às práticas leitoras que incluem o livro,
as pessoas vão se constituindo leitoras a partir da convivência com numa perspectiva lúdica e literária, para ampliar as possibilidades
bons textos e com atividades realizadas em torno do texto literário. de formação de leitores. Além disso, são estimuladas atividades
Sobre o fato de vivermos em um país no qual a leitura faz parte do com os livros literários lidos nas escolas, bem como a consultoria e
cotidiano de uma pequena parcela da população, Azevedo (2004) assessoramento das unidades escolares para a organização de suas
observou: bibliotecas escolares e/ou espaços de leitura.
Fala-se muito em formação de leitores. Nosso país realmente Também destacamos como produto desse trabalho com o tex-
vai ser outro quando sua população for formada por leitores, gente to literário a formação dos comportamentos leitor e escritor pro-
que saiba diferenciar uma obra literária de um texto informativo, ficientes, promovendo interações entre os estudantes e as obras
gente que leia jornais, mas também leia poesia; gente, enfim, que literárias.
saiba utilizar textos em benefício próprio, seja para receber infor- Para tanto é fornecido aos estudantes, anualmente, um acer-
mações, seja por motivação estética, seja como instrumento para vo literário individual, selecionado pelos Coordenadores Educacio-
ampliar sua visão de mundo, seja por puro entretenimento. Consi- nais do Município, juntamente com a Coordenação do Programa
derando nosso desequilíbrio social, formar leitores evidentemente de Leitura, de forma a garantir a diversidade de gêneros literários
é um imenso desafio. A maioria de nossas crianças é filha de pais e contribuir com o desenvolvimento socioafetivo e cognitivo dos
analfabetos ou semianalfabetos, ou seja, voltando para casa elas estudantes nas áreas e modalidades de ensino. Os critérios para
não têm com quem discutir suas lições. E nem mesmo espaço, uma escolha das obras passam pela literariedade, ou seja, a forte ligação
vez que suas casas, muitas vezes um único cômodo, não costumam do texto com os aspectos do literário, que vão desde o texto, pro-
possibilitar isolamento mínimo que a leitura requer (AZEVEDO, priamente dito, aos aspectos estéticos e de gráficos.
2004, p.21). Desse modo, faz-se necessário dedicar-se a escolher obras que
Ainda conforme o autor, grande parte dos brasileiros não tem fomentem a leitura e a produção de textos, mas que, sobretudo,
acesso à leitura e, por isso, não é fácil incentivar as crianças em levem o leitor a se familiarizar com os textos, bem como apreciá-lo
idade escolar a se tornarem leitoras. Cabe, pois, à escola, incenti- e, a partir de então, tornar-se um leitor proficiente.
var o hábito de leitura, como afirma Guedes (1998): Ler e escrever Guilherme (2013) destaca que “não basta colocarmos os livros
são tarefas da escola, questões para todas as áreas, uma vez que à disposição de crianças e jovens para que eles compreendam a
são habilidades indispensáveis para a formação de um estudante, importância desse capital cultural e sejam seduzidos pela leitura”
que é responsabilidade da escola. Ensinar é dar condições ao es- (GUILHERME, 2013, p.2). Do mesmo modo, os adultos precisam ser
tudante para que ele se aproprie do conhecimento historicamente capturados pela leitura, para que as ações em torno do livro deixem
construído e se insira nessa construção como produtor de conheci- de ser tomadas como luxo e passem a ser colocadas como algo co-
mento. Ensinar é ensinar a ler para que o estudante se torne capaz tidiano, ao qual todos têm acesso.
dessa apropriação, pois o conhecimento acumulado está escrito Por isso, se faz importante também investir na formação de
em livros, revistas, jornais, relatórios, arquivos. Ensinar é ensinar a professores para que sejam mediadores de leitura capazes de esti-
escrever porque a reflexão sobre a produção de conhecimento se mular, mas também de vivenciar ações em torno do literário, pre-
expressa por escrito(GUEDES,1998,p.13). ferencialmente com foco no deleite e na formação de hábitos de
É na escola que grande parte dos estudantes têm seu primei- leitura, não apenas no referencial didático metodológico a que se
ro contato e, em muitos casos, o único, com a literatura. Daí a im- refere a obra literária.
portância de garantir que essa aproximação seja feita por meio de Outro aspecto relevante são as metas para a formação de lei-
livros de qualidade. tores que, por meio das práticas dos professores e profissionais
Por serem a leitura e a escrita elementos indispensáveis para que trabalham com mediação de leitura e contação de histórias
a inserção social do indivíduo e para a formação da cidadania, es- na Rede Municipal, vão sendo revistas e ampliadas. Desse modo,
tamos cientes de que a habilidade leitora e de produção de textos é importante destacar algumas questões, para o exercício efetivo
possibilitam a construção de novas relações com as palavras e com para aquisição da leitura e produção textual, tais como a promoção
as informações que circulam no mundo, de modo dinâmico, crítico e incentivo do gosto pela leitura e escrita, facilitando o acesso ao
e autônomo. acervo literário. Importante possibilidade de trabalho que precisa
A leitura precede a escrita em todos os momentos de cons- ser observada é o desenvolvimento de estratégias e procedimentos
trução da alfabetização e da identidade cultural do indivíduo não de leitura, levando-os a refletir, criticamente, sobre o que leem e
somente na escola, mas em qualquer ambiente alfabetizador. Sa- escrevem, de modo que se tornem leitores e escritores proficien-

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

tes. Para tanto, propor situações didáticas que garantam vivências devemos atentar que a leitura, quando desprovida de crítica, pode
com os mais diversos gêneros literários e não literários, elencados levar à simples aceitação mecânica, se transformar em rotina me-
em função das leituras realizadas, é muito importante, assim como cânica, perder seu prazer e, consequentemente, não ter nenhum
oportunizar situações reais e significativas de leitura e escrita, me- sentido para quem lê (ROSA, 2010).
diadas por discussões sobre obras literárias. A fase seguinte, dos anos finais do Ensino Fundamental, inclui o
A partir do trabalho com a leitura literária também contribuí- desafio de manter as crianças e jovens lendo iniciando-se, portanto,
mos para a humanização, uma vez que a literatura tem o poder de na fase de leituras sobre aventuras. Caso contrário, se as crianças e
oferecer ferramentas para esse processo, quando mediada de for- os jovens não se manifestem para ler com prazer, “inicia-se o perío-
ma adequada, por profissionais experientes, capazes de articular as do de resgate de um leitor” (ROSA, 2010, p.41) e esse desafio pode
questões que decorrem da leitura de um texto literário, conforme estender-se por toda a fase de escolaridade e mesmo perdurar pela
defendido por Candido (2018). vida adulta.
Também é relevante pensar que, por meio da leitura literária, Assim, destacamos aqui a importância de todos os professo-
o estudante pode se apropriar das questões relativas à língua pro- res, neste processo de alimentação da leitura literária como fonte
priamente dita e que, assim, poderá, entre outras competências, de prazer e de encontro com as questões relativas à adolescência.
identificar as características dos gêneros estudados, reconhecendo Sobre isso, destacamos a relevância do trabalho da escola para “aju-
os recursos linguísticos, estilísticos e estratégias discursivas, a fim dar a criança a tornar-se leitor de textos que circulam no social e
de utilizá-los adequadamente. não a limitar a leitura de um texto pedagógico, destinando apenas a
Na era da informação, ser um leitor proficiente torna-se rele- ensiná-lo a ler” (FOUCAMBERT, 1989, p.10).
vante porque é necessário que o estudante aprenda a lidar com Essa questão do envolvimento de todas as áreas do conheci-
uma imensa gama de informações, selecionando-as, organizando- mento na formação de leitores foi discutida por Guedes (1998):
-as e interpretando-as, utilizando-se delas para inserir-se em sua Nós professores de todas as áreas, em vez de nos limitarmos
comunidade e atuar no mercado de trabalho. a choramingar que nossos estudantes não têm o hábito da leitura,
Todas as etapas/anos da Educação Básica possuem marcos com devemos nos dedicar a propiciar prazer, diversão, conhecimento,
aprofundamentos específicos a serem alcançados pelos estudan- liberdade, uma vida melhor, enfim. E essas oportunidades terão de
tes e, por essa razão, este currículo destaca que a leitura literária ser tantas quantas forem necessárias para que o estudante passe
deve pautar-se na formação do leitor e não apenas na didatização a gostar de ler e, por isso, contraria a necessidade da leitura e que
do texto literário. Nesse sentido, é importante que os professores esta vire hábito (GUEDES, 1998, p.15).
apresentem a maior diversidade de gêneros (textos semióticos), Assim compreendemos, neste processo de reestruturação cur-
mas também que conheçam os gêneros preferidos pela turma, pro- ricular, que a leitura é um aspecto relevante o suficiente para que se
movendo atividades nas quais os estudantes sejam protagonistas. torne compromisso de toda a comunidade escolar. Desse modo, a
Destarte, é imprescindível a imersão dos professores no universo de criação e manutenção de espaços de leitura na cidade torna-se um
leitura da turma, para que possa conhecer e mediar as leituras dos compromisso do município do Jaboatão dos Guararapes, de modo
estudantes ao mesmo tempo em que lhes apresenta outros gêne- que compreendemos a importância das bibliotecas nesse processo.
ros e outras formas de ler. Segundo Bamberger (1977), E partindo desta premissa, destacamos que a escola precisa,
As preferências literárias se estabelecem de acordo com a faixa enquanto força primordial na formação de leitores, instrumentali-
etária do leitor e, de fato, esse é um aspecto que facilita o trabalho zar-se para atuar nessa frente, organizando sua biblioteca escolar,
com a literatura na escola. Uma vez conhecendo os tipos de inte- cantinhos da leitura e bibliotecas de classe, mantendo um compro-
resses mais comuns nas etapas escolares/idades das crianças, será misso com a formação do leitor.
mais fácil planejar vivências de letramento literário e estimular a Todos devem trabalhar com a leitura a partir da realidade dos
leitura em sala de aula (ROSA,2010). estudantes e, então, desafiá-los a participarem da construção de
Nos primeiros anos, a leitura precisa ser bastante estimulada, uma sociedade letrada, na qual estejam inseridos como leitores,
de modo que as crianças possam compreender a importância do partícipes da comunidade que compreende a literatura como fun-
hábito e descubram, ao mesmo tempo, o prazer de ler. Na Educação dante da formação humana e, portanto, indispensável a qualquer
Infantil, especialmente, isso será relevante para que, ao adentrar na pessoa.
próxima etapa, a criança tenha se utilizado da literatura para iniciar A formação de leitores também deve priorizar os processos de
a construção das competências para tornar-se leitora proficiente. estímulo à autoria, partindo da concepção de que é na escola que
Corroboramos com os estudos de Rosa (2010), no que se refere as práticas sociais de leitura e escrita de gêneros literários podem
ao trabalho com leitura na primeira etapa do Ensino Fundamental. ser fortalecidas. Não obstante, é importante lembrar que a leitura
Para esta autora, “a ajuda do professor no desenvolvimento de in- literária não deve ser usada como princípio para a escolarização dos
teresses e do prazer em ler é extremamente necessária, tendo o textos de ficção e não ficção. Ainda assim, é importante considerar
cuidado para não romper o interesse da criança por brincadeiras” que a leitura literária também impulsiona a escrita, caso sejam da-
(ROSA, 2010, p.40). Portanto, o exemplo do professor torna-se fun- das as devidas orientações com base na perspectiva da autoria e da
damental para a formação desse comportamento leitor. escrita criativa.
Esta prerrogativa se perpetua nesta fase do Ensino Fundamen- Desse modo, a formação de leitores e, por conseguinte, escri-
tal, quando são inseridos outros gêneros literários e vivenciadas tores, deve ser uma prioridade dentro dos programas de leitura,
experiências de leitura mais intensas e mais sistematizadas, consi- desde que sejam considerados os aspectos relacionados à literarie-
derando, no entanto, que a leitura nessa fase ainda está profunda- dade e fabulação como pontos de partida. Ou seja, à escola caberá
mente ligada à construção do imaginário e à busca pelo prazer de a organização de processos de mediação de leitura e contação de
ler. Nessa fase é importante lembrar que a leitura deve ser prazero- histórias, feiras literárias, eventos de natureza cultural relaciona-
sa e não feita por obrigação ou para ganhar uma nota. No entanto, dos à literatura propiciando aos estudantes a oportunidade de se

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

tornarem leitores e escritores proficientes. Nesse sentido, a escola um mediador de aprendizagem e, aos poucos, fortalece seu grupo,
cumprirá seu papel de agência de letramento literário (MONTENE- levando as crianças ao desenvolvimento potencial a partir do mo-
GRO DE MÉLO, 2019), para garantir que as crianças tenham acesso mento que o grupo avança. Segundo Pimentel, (2007)
a bons textos, condição sine qua non para que possam viver em so- A ZDP transforma-se em um parâmetro para a atuação pedagó-
ciedade fazendo as leituras que lhes são indispensáveis à atuação, gica. Funcionando como princípio educativo, implica a relação entre
cumprimento de papeis e criação de novas oportunidades. o nível de desenvolvimento real-determinado pela capacidade de
solução de problemas de modo independente-e o nível de desen-
volvimento potencial em que se encontram as funções psicológicas
em processo de amadurecimento, potencialmente emergentes,
CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL: TEORIA SO- mas suficientemente potencializadas. (p.224)
CIOINTERACIONISTA

O Referencial Curricular da Educação Infantil da Rede de Jabo- LEGAIS: O DIREITO DE SER CRIANÇA
atão dos Guararapes está ancorado nas Diretrizes Curriculares Na-
cionais da Educação Infantil - DCNEI que trazem como eixos cen- A partir do marco legal a ser apresentado neste Referencial
trais do trabalho pedagógico, as Interações e as Brincadeiras. Desta Curricular, podem-se perceber os avanços constitucionais da crian-
maneira, a interação requer a realização de atividades nas quais as ça, ao longo dos anos. Desse modo, o surgimento da Constituição
crianças troquem saberes entre elas, com o professor e com o co- Federal de 1988, contribuiu para a ampliação de políticas públicas
nhecimento. O brincar, por sua vez, é tomado como primordial para voltadas para a criança, as quais asseguram os seus direitos e entre
o desenvolvimento da criança e se apresenta de formas variadas esses, destaca-se aquele voltado à educação, concebido como um
no contexto educativo-dirigido, livre, fantasiando e representando direito de todos e dever do Estado e da família. O documento tam-
papéis sociais. bém determina que é dever dos Municípios atuarem de maneira
Assim, dialogamos com a concepção Vygotskyana, a qual apon- prioritária no Ensino Fundamental e na Educação Infantil (Art.211,
ta que o ser humano se forma em contato com a sociedade. Dessa §2º, CF). Sendo assim, o direito constitucional à educação é iniciado
forma, a aprendizagem ocorre por meio de uma relação dialética na etapa da Educação Infantil, devendo ser ofertado em Creches e
entre o sujeito e a sociedade. A teoria sociointeracionista valoriza a Pré-Escolas, às crianças até 5 (cinco) anos de idade, nos termos do
interação que cada pessoa estabelece com determinado ambiente, inciso IV do Art.208 da Constituição.
a partir de uma experiência pessoalmente significativa. Vygotsky A Lei Federal Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 - Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN, em seu Art.29,
formulou o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal - ZDP.
define a Educação Infantil como “primeira etapa da Educação Bási-
Para ele o bom ensino é aquele que estimula a criança a atingir um
ca, que tem como finalidade promover o desenvolvimento integral
nível de compreensão e habilidade que ainda não domina comple-
da criança de Zero a Cinco anos de idade em seus aspectos físico,
tamente.
afetivo, intelectual, linguístico e social, complementando a ação da
Assim a intervenção pedagógica provoca avanços que não
família e da comunidade”. O Art.2º da referida Lei, dispõe sobre os
ocorreriam espontaneamente.
princípios e fins da educação nacional, destacando o papel da fa-
A referida teoria ressalta, dentre outros aspectos, que somos
mília e do Estado, leia-se, do Poder Público, em promover o pleno
sujeitos históricos, culturais e sociointerativos e, dessa forma, olha-
desenvolvimento do educando, preparando-o para o exercício da
mos as crianças em seu modo ativo e interativo de ser e habitar o cidadania e qualificação para o trabalho.
mundo, atuando na criação de relações sociais, nos processos de Como ampliação da legislação introduzida pela Constituição
aprendizagem e de produção de conhecimento desde muito peque- Federal de 1988, foi constituído o Estatuto da Criança e do Adoles-
nas e a Educação Infantil, constitui-se como espaço relevante no cente – ECA (Lei Nº8.069/90, Art.53), documento que contempla
seu processo de aprendizagem e desenvolvimento, lócus potencia- todos os direitos da população infanto-juvenil pontuados pela De-
lizados da socialização das crianças. claração Universal dos Direitos das Crianças e que reitera a criança
Alinhamo-nos à teoria Vygotskyana e à importância dada à me- como sujeito de direitos. Dessa forma, a infância - que era com-
diação para a promoção da autonomia, pois, segundo esta concep- preendida como responsabilidade única da família -, após amparos
ção, quando há interação entre um parceiro mais experiente (que legais, passou a ter as atenções e os cuidados compartilhados com
pode ser um adulto ou outra criança) atua-se na zona de desen- o Estado e com os diversos segmentos da sociedade. Nesse senti-
volvimento proximal. Ainda de acordo com o autor “[...]aquilo que do, respaldado pelo valor da igualdade entre as pessoas, o direito
uma criança pode fazer com assistência hoje, ela será capaz de fazer à educação foi consagrado pela primeira vez em nossa Constituição
sozinha amanhã” (VYGOTSKY, 2007, p.98). Dessa forma, reportamos Federal de 1988 como um direito social (Art. 6º da CF/88). Com isso,
ao conceito que o psicólogo apresenta sobre as zonas de desenvol- o Estado passou formalmente a ter a obrigação de garantir educa-
vimento real, proximal e potencial. ção de qualidade a todos os brasileiros.
Na abordagem sociointeracionista a zona de desenvolvimen- É importante destacar, que o Poder Público não é o único res-
to real está relacionada com os conhecimentos que as crianças já ponsável pela garantia desse direito. Conforme previsto no Art. 205,
possuem, a zona de desenvolvimento proximal (ZDP), por sua vez, da Constituição Federal, a educação também é dever da família e
trata do lugar da intervenção pedagógica onde o professor propõe cabe à sociedade promover, incentivar e colaborar para a realização
desafios às crianças, nesse caso, mais especificamente a Educação desse direito.
Infantil, na qual vemos que o professor, como o mais experiente, Destaca-se também o Parecer CNE/CEB Nº 20/2009, no qual a
planeja para as crianças situações de aprendizagem atuando den- Educação Infantil é representada com um caráter não assistencialis-
tro da ZDP. Assim, o professor ou outra criança mais experiente é ta, com foco no papel social de Cuidar e Educar crianças de zero a

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

cinco anos, considerando os dois termos indissociáveis. Nessa pers- Na concepção italiana, a escola é vista como espaço de “construção
pectiva, a relação entre educar e cuidar é importante princípio para de valores, tais como amizade, solidariedade, respeito às diferen-
definição de práticas educativas significativas em que a criança seja ças, diálogos, emoções, afeição” (Rinalddi, 2012, p.41). O ambiente
o sujeito dos seus processos de desenvolvimento e aprendizagem. de aprendizagem é organizado por ateliês, onde as crianças viven-
Refletir acerca da concepção de criança preconizada nas DC- ciam experiências sendo protagonistas da sua aprendizagem. Asso-
NEIs (2010), remete ao estabelecimento de uma relação entre a ciando à realidade jaboatonense, esses ateliês são materializados
Educação Infantil e os direitos assegurados ao longo do tempo na nos diversos “cantinhos” da sala de referência da Educação Infantil,
legislação brasileira. Segundo Kramer (2003, p.56) “o direito deve como ferramentas com poder desafiador e que despertam a curio-
ser garantido porque é nossa responsabilidade social, enquanto sidade das crianças.
professores, mulheres e homens, cidadãos, tratarmos as crianças Este currículo emerge do meio cultural no qual as crianças es-
como cidadãos de pequena idade”. tão inseridas, buscando uma relação de pertencimento, envolven-
Nesse sentido, os direitos legitimados, para o atendimento às do-se em experiências, a partir do seu interesse, fazendo uso da
crianças não devem acontecer apenas porque está na lei, mas efeti- imaginação, da ludicidade, da alegria, da beleza, do raciocínio, do
vados pela compreensão de responsabilidade social. cuidado consigo e com o mundo. Barbosa e Richter (2015) baseadas
Outro documento de amparo legal de extrema importância é em Malaguzzi, ressaltam que
o Plano Nacional de Educação (PNE–Lei Nº 13.005/14) para o de- [...]precisamos seguir as crianças e não os planos. São as crian-
cênio 2014-2024, que tem como meta 1 “universalizar, até 2016, o ças, em suas brincadeiras e investigações, que nos apontam os
atendimento escolar da população de quatro e cinco anos e ampliar caminhos, as questões, os temas e os conhecimentos de distintas
a oferta da Educação Infantil de modo a atender, até 2016, a trinta ordens que podem ser por elas compreendidos e compartilhados
por cento e, até 2020, a cinquenta por cento da população de até no coletivo. O professor, com seu olhar de quem está com a criança,
três anos”. mas também com os saberes e conhecimentos, realiza a comple-
Soma-se a esses avanços a aprovação do Marco Legal da Pri- xa tarefa educacional de possibilitar encontros, de favorecer inte-
meira Infância (Lei Nº13.257/2016), em 08 de março de 2016, que rações lúdicas, constituir tempos e espaçospara a experiência das
promove programas de incentivos voltados ao desenvolvimento da crianças, sem nenhuma garantia de que essa possa acontecer.(BAR-
criança de forma integral (de 0 a 6 anos). Esses programas abran- BOSA;RICHTER,2015,p.195)
gem áreas essenciais, tais como: a saúde, a alimentação e nutrição, Assim, é de suma relevância valorizar a cultura das crianças
a Educação Infantil, a convivência familiar e comunitária, a assistên- e compreender que o currículo parte da escuta das experiências
cia social, a cultura, o brincar e o lazer, o espaço e o meio ambiente, que elas trazem em consonância com os conhecimentos propostos
a proteção frente a toda forma de violência, bem como a prevenção pelo professor, que é um mediador da aprendizagem. Rinaldi (2012)
de acidentes. Em continuidade ao processo de garantias de dire- apresenta a reflexão sobre “a pedagogia relacional da escuta”, que é
tos da infância, é homologada a Base Nacional Comum Curricular– enaltecida por Reggio Emilia. Nesta concepção, as crianças desde a
BNCC (Resolução CNE/CP Nº2, de 22 de dezembro de 2017), docu- mais tenra idade são vistas como seres ativos que tem muito a dizer
mento normativo para as redes de ensino públicas e privadas, que acerca de seus desejos e percepção do mundo e por isto a escuta se
vem cumprir a exigência legal já sinalizada na LDBEN 9.394/96(Art. torna imprescindível para se conceber a sua educação.
26), nas DCNEB/2010 (p.31) e no PNE/2014 (Estr. 7.1). Reafirmando [...]escutar é dar a si próprio e aos outros um tempo para ouvir.
as interações e as brincadeiras como eixos estruturantes das prá- Por trás de cada ato de escuta, há um desejo, uma emoção, uma
ticas pedagógicas numa estrutura curricular inovadora, com foco abertura às diferenças, a valores e pontos de vistas distintos. Por
nos cinco campos de experiências e seis direitos de aprendizagens conseguinte, devemos escutar e dar valor às diferenças, aos pontos
de acordo com objetivos de aprendizagens e desenvolvimento por de vista dos outros, sejam homens, mulheres ou crianças, especial-
faixa etária. mente para lembrar que, por trás de cada ato de escuta, restam a
Outro dispositivo legal, o PME (Plano Municipal de Educação) criatividade e a interpretação de ambas as partes. (RINALDI,2012,
Lei Municipal Nº 1.387/2018, realizado no município do Jaboatão p.2009). Nesse sentido, a escuta é um requisito para a integração
dos Guararapes–PE, de forma democrática e deliberativa, assegura das e entre as crianças, uma vez que a ela acontece na multiplici-
para a Educação Infantil a META 1: Universalizar, até 2020, o aten- dade, pois não se vive em um mundo harmônico e sim no mundo
dimento escolar da população de 4 e 5 anos, e ampliar, até 2024, a com diversas visões, cada ser é diferente e, através da “Pedagogia
oferta de Educação Infantil em creche, atendendo a 75% da popula- da Escuta”, é possível entrar no universo de cada um, renunciando
ção de até 3 anos e onze meses (Alterada na COMUDE 2018). a verdades absolutas e negociando na medida do possível. Ouvir
Assim, a homologação deste Referencial Curricular Municipal a criança implica em reconhece-la como produtora de cultura, em
é instrumento de legitimação na efetivação e materialização dos qualquer situação e aspectos ligados aos seus direitos. Na educa-
direitos da criança, no que concerne o acesso à etapa da Educação ção, não é diferente, temos que ouvi-las, pois é um dos critérios de
Infantil na perspectiva de uma educação de qualidade. elaboração para um currículo vivo e dinâmico, e portanto, pede a
participação delas.
“Os países presentes à Conferência Mundial sobre a Criança,
realizada pela ONU em 2002, assumiram dez compromissos, sendo
AS 10 (DEZ) COMPETÊNCIAS GERAIS NA EDUCAÇÃO o nono: ouvir as crianças e assegurar sua participação. As crianças e
INFANTIL os adolescentes são cidadãos valiosos que podem ajudar a criar um
futuro melhor para todos.
O Currículo foi inspirado, na perspectiva de Campo de Experi- Devemos respeitar seus direitos de se expressar e de participar
ência, nos indicadores italianos em Reggio Emilia, não podendo ser em todos os assuntos que lhes dizem respeito, de acordo com sua
concebido sob a ótica de uma organização disciplinar conteúdista. idade e maturidade.(GUIA DO PMPI -2020)

18
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

O Referencial Curricular de Jaboatão dos Guararapes tem como Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do
uma de suas inspirações o currículo de Reggio Emilia, pois valoriza planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo
a curiosidade das crianças concebendo-as como sujeitos comuni- educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais
cantes. Dessa forma, o planejamento deve partir do interesse das como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes,
crianças e valorizando seus conhecimentos prévios. É necessário, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos,
assim, que a escola ofereça situações que favoreçam a essa apren- decidindo e se posicionando.
dizagem e desenvolvimento da criança. Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores,
Assim, as aprendizagens deverão assegurar às crianças o de- emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, ele-
senvolvimento das dez competências gerais, que se consolidam por mentos da palavra natureza, na escola e fora dela, ampliando seus
meio dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento. saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a
Em consonância com as dez competências gerais e consideran- escrita, a ciência e a tecnologia.
do que as práticas pedagógicas na Educação Infantil têm como eixos Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas ne-
estruturantes as interações e as brincadeiras, a BNCC propõe ainda cessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas
seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento, que asseguram opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens.
condições de aprendizagens nas quais as crianças sejam protagonis- Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cul-
tas, vivenciando e resolvendo situações desafiadoras. tural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de
pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações,
brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em
seu contexto familiar e comunitário.
DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO Esses direitos são materializados por meio dos Campos de Ex-
periência que são apresentados a seguir.
Os direitos de aprendizagem e desenvolvimento estão funda-
mentados nos princípios éticos, políticos e estéticos citados pelas
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – DCNEI
(2009). CAMPOS DE EXPERIÊNCIA
Os princípios éticos equivalem aos conceitos relacionados à au-
tonomia, à responsabilidade, à solidariedade e ao respeito ao bem A BNCC propõe 05 (cinco) Campos de Experiência que orientam
comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e e norteiam os currículos das instituições educacionais. Os campos
singularidades, por meio de vivências que possibilitem às crianças de experiência, apontados pela BNCC são:
a expressão de seus desejos e opiniões, promovendo atitudes de • O eu, outro e o nós;
respeito e solidariedade. •Corpo, gestos e movimentos;
Os princípios políticos estabelecem os direitos de cidadania, do •Traços, sons, cores e formas;
exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática. Esses •Escuta, fala, pensamento e imaginação;
valores se materializam quando as crianças são oportunizadas a ex- •Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.
pressar seus sentimentos, ideias e respeitar as opiniões dos outros Para a BNCC, esses campos “constituem um arranjo curricular
diante de conflitos. que acolhe as situações e as experiências concretas da vida cotidia-
Os princípios estéticos estão relacionados aos valores da sen- na das crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos
sibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expres- que fazem parte do patrimônio cultural. (BRASIL, 2017 p.38).
são nas diferentes manifestações artísticas e culturais. Eles são de- Nesse contexto, é primordial que exista um diálogo entre as ex-
monstrados por meio das manifestações e práticas educativas que periências pessoais trazidas pelas crianças e os direitos de aprendi-
valorizam a construção das crianças e ampliação das expressões e zagem e desenvolvimento propostos pela BNCC, tendo como ponto
organização do pensamento. de partida os conhecimentos prévios das crianças para a arrumação
Esses princípios estão materializados em seis direitos de apren- das experiências. Segundo Pinazza:
dizagem e desenvolvimento que asseguram condições para que as A experiência não é simples sensação, fruto do contato com os
crianças aprendam em situações significativas. A BNCC estabelece objetos, com seus atributos isoladamente, uma vez que não recebe-
os seguintes Direitos5 de Aprendizagem e Desenvolvimento: mos passivamente as impressões dos objetos. Pelo contrário, as ex-
Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e gran- periências efetivam-se pelas relações que as pessoas estabelecem
des grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conheci- com os objetos e seus atributos em um processo de discriminação
mento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferen- e identificações por meio da experimentação. (Pinazza, 2007.p.72)
ças entre as pessoas. Assim, as experiências precisam ser compreendidas como uma
Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes experimentação oferecida no ambiente escolar e que valorize o
espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), protagonismo infantil. Constitui-se como um desafio para o profes-
ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus sor da Educação Infantil compreender esta nova organização curri-
conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências cular por Campos de experiência, pois concebe uma nova forma de
emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e aprendizagem, que valoriza as experiências vividas pelas crianças.
relacionais. O Campo de Experiência “O eu, o outro e o nós” propõe vi-
vências com outros grupos culturais e sociais de forma a ampliar
os conhecimentos das crianças sobre si mesma e sobre o mundo,
valorizando sua identidade e respeitando os outros.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Assim, as crianças constroem sua autonomia e senso de auto- muito cedo. E essas interações provavelmente estão relacionadas
cuidado, de reciprocidade e de interdependência com o meio por e influenciam nas aprendizagens posteriores”. Assim, a forma como
intermédio das interações e das brincadeiras. as crianças são estimuladas irá repercutir em aprendizagens poste-
O Campo de Experiência “Corpo, gestos e movimentos” opor- riores.
tuniza a organização de vivências que possibilitam às crianças a ex- Diante das desigualdades sociais encontradas no Brasil, ques-
ploração de músicas, danças, teatro e brincadeiras de faz de conta tiona-se se as crianças da escola pública têm as mesmas oportu-
por meio do corpo, de gestos e de movimentos. A ludicidade precisa nidades de acesso aos bens culturais da leitura e da escrita que as
permear as vivências que serão proporcionadas, assim como a ex- crianças da escola privada. A polêmica em torno dessa dicotomia
pressão livre das crianças imbuídas de suas emoções e linguagem. se torna ainda maior quando se trata da discussão sobre ensinar ou
O Campo de Experiência “Traços, sons, cores e formas” aponta não a língua escrita na Educação Infantil, nas instituições públicas
as experiências das crianças com as diversas manifestações cultu- de ensino. A esse respeito, reportamo-nos a Kramer (2008, p.66),
rais, artísticas e científicas, inserindo o contato com as diferentes “Por que se começou a questionar o trabalho com a leitura e a es-
linguagens com o olhar no crítico e no estético. No cotidiano das crita exatamente no momento em que a população, antes excluída
instituições, as crianças precisam ser oportunizadas, a ampliar seu da Educação Infantil, começou a frequentá-la?”. Esta é uma questão
repertório musical, de diferentes objetos sonoros ou instrumentos que merece ser pensada, pois as crianças têm os mesmos direitos,
musicais, o respeito as suas preferências, festas populares, entre independente da classe social na qual estão inseridas. Nessa pers-
outros. Como também instigar a sensibilidade no campo visual, que pectiva, afirma Morais (2013, p.116):
envolvam apreciação de obras de arte, pinturas, colagem, escultu- [...]para enfrentar o “apartheid educacional” do nosso país,
ra, fotografia e gravuras, valorizando as experiências estéticas das a escola pública precisa iniciar, no final da Educação Infantil, um
crianças. ensino que permita às crianças não só conviver e desfrutar, diaria-
No Campo de Experiência “Espaços, tempos, quantidades, re- mente, de práticas de leitura e produção de textos escritos, mas
lações e transformações”, salienta-se a importância da valorização também refletir sobre as palavras ,brincando, curiosamente, com
da curiosidade das crianças a respeito do seu corpo, do espaço, do sua dimensão sonora e gráfica.
tempo, das relações familiares dos fenômenos naturais e sociocul- Assim, faz-se necessário um professor que seja um bom mode-
turais. Além de aspectos a respeito dos conhecimentos matemá- lo de leitor, que leia para as crianças, que planeje situações de lei-
ticos (contagem, ordenação, classificação, relações entre quanti- tura e escrita com significado e, além disso, que propicie reflexões
dades, medidas, formas geométricas, noções sobre gráficos, entre sobre essa escrita, considerando os aspectos sonoros da língua.
outros). É importante que sejam vivenciadas experiências nas quais É oportuno ressaltar que, entre os especialistas da Educação
as crianças possam manipular objetos, fazer observações, investi- Infantil, não há um consenso com relação ao trabalho com a língua
gar, explorar o espaço ao seu redor, levantar hipóteses e consultar escrita nessa etapa da Educação Básica.
diferentes fontes de informação para encontrar respostas as suas De acordo com Brandão e Leal (2010), há três caminhos distin-
curiosidades e questionamentos. tos, no que tange a aquisição do Sistema de Escrita Alfabético: o da
“obrigação da alfabetização”, o do “letramento sem letra” e o do
O Campo de Experiência “Escuta, fala, pensamento e imagina-
“ler e escrever com significado na Educação Infantil”.
ção” concebe que desde o nascimento as crianças estão em cons-
Oportunamente, explica-se: no primeiro caminho, o da “obriga-
tante interação com o meio que as cerca, sendo seres ativos que a
ção da alfabetização”, o ensino se limita à cópia de vogais e famílias
cada dia manifesta curiosidades sobre o mundo. Neste campo de
silábicas, com ênfase em habilidades perceptuais e de coordenação
experiência, valoriza-se a comunicação entre as crianças e com os
motora. Nessa visão, a escrita é vista como um código e o ensino
adultos, ou seja, as interações que ocorrem nos diferentes espa-
é pautado apenas nos aspectos da repetição. O segundo caminho,
ços educativos devem ser potencializadas. É importante promover
denominado pelas autoras de “letramento sem letra”, parte da pre-
experiências com a cultura oral, numa perspectiva de ampliação o
missa que na Educação Infantil não se deve ensinar a linguagem
repertório linguístico das crianças, assim como a escuta de histó- escrita, pois este seria um conteúdo escolar que caberia ao Ensino
rias desde a creche, através da realização de rodas de conversas, Fundamental e, assim, na Educação Infantil não haveria espaço para
reconto de histórias, entre outros. Com relação |à linguagem escri- o ensino de letras. Nesta concepção há uma visão preconceituosa
ta, é relevante a vivência de experiências de leituras de diferentes na qual o ensino da língua escrita é concebido como algo negativo.
gêneros, convívio com diferentes textos, aproximando as crianças Vale aqui ressaltar que esses dois caminhos ora apresentados
com a cultura escrita. Assim, as crianças, ao escrever, refletirão es- são extremistas: nos quais se propõe um trabalho com a escrita de
pontaneamente, conhecendo letras, construindo hipóteses sobre a forma mecânica e repetitiva ou se nega a presença dela.
escrita e percebendo que esta é uma representação da língua. Brandão e Leal (2005) apresentam como alternativa um tercei-
É imprescindível que as experiências garantam que os direitos ro caminho, o “ler e escrever com significado na Educação Infan-
de aprendizagem e desenvolvimento sejam efetivados. til”, inspirado na concepção de Ferreiro e Teberosky. Nessa visão,
as crianças pensam sobre a escrita antes de serem alfabetizadas,
formulando hipóteses. Diante dessas considerações, esta Rede de
APROXIMAÇÃO DA CULTURA ESCRITA Ensino adotará o trabalho com a escrita pautada nessa última al-
ternativa, pois
Concebemos que, na atualidade, as crianças já nascem no [...]aponta-se a possibilidade de ensinar a escrita na Educação
universo letrado, no entanto, o acesso delas ao mundo da leitura Infantil de forma sistemática, incluindo aspectos relativos à apro-
e da escrita acontece de maneira desigual, de acordo com Tebe- priação do sistema alfabético de escrita, sem desconsiderar os obje-
rosky e Colomer (2003,p.17) “em determinadas famílias, as crianças tivos e as atividades do letramento, bem como outras necessidades
interagem com materiais e com tarefas de leitura e escrita desde relativas ao desenvolvimento e vivências da infância. [...] (p.21).

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Nessa perspectiva, a Rede Municipal do Jaboatão dos Guara- a partir das relações que vão sendo estabelecidas com ela, reagin-
rapes no Campo de Experiência “Escuta, fala, pensamento e ima- do aos estímulos. Entretanto, ela precisa de uma resposta a qual
ginação”, deverá ampliar os Objetivos de Aprendizagem e Desen- permitirá dar forma as suas atitudes, adquirindo significado. Nesse
volvimento propostos na BNCC no que concerne à aproximação sentido, Horn (2004) coloca que
da cultura escrita, tendo em vista que os objetivos de letramento [...]assim se estabelece uma reciprocidade que o acompanhará
apresentados no referido documento nacional foram inseridos nes- pelo resto da vida e nesse aspecto, a união do sujeito com ambien-
ta proposta curricular, entretanto, apresentam lacunas quanto aos te desempenha um papel fundamental. Por isso um ambiente sem
objetivos relacionados aos aspectos da língua escrita. estímulos, no qual as crianças não possam interagir desde a tenra
Acredita-se que estas lacunas do documento norteador se idade umas com as outras, com os adultos e com os objetos e mate-
deram pela falta de consenso com relação ao acesso e desenvol- riais diversos, esse processo de desenvolvimento não ocorrerá em
vimento do Sistema de Escrita Alfabético na Educação Infantil. Isso sua plenitude. (HORN,2004, p.17)
aponta para a permanência nos espaços educativos de práticas nos Para a efetivação de um ambiente criador de referências e de
quais são priorizadas atividades de consistem em cópias de letras vínculos saudáveis, estáveis e produtivos, faz-se necessária a cons-
e exercícios repetitivos ou a ausência do trabalho com a língua es- trução e o fortalecimento dos vínculos entre o professor e a crian-
crita, tendo em vista que os professores permanecem sem ter uma ça. Essas interações podem ser através das relações entre pares,
clareza do que se deve ensinar com relação à escrita nesta etapa da da organização do espaço e do tempo, bem como, a partir de ele-
Educação Básica. A este respeito, concordamos com Brandão e Leal mentos diversos, como atividades permanentes e com a utilização
(2010) e Morais (2013), que defendem que as crianças da Educação de materiais, as quais favorecem uma aprendizagem significativa e
Infantil podem aprender alguns princípios do sistema alfabético, desafiadora.
dentro de uma perspectiva lúdica, respeitando a infância e suas pe- Vale ressaltar que as referidas interações ocorrem desde que
culiaridades. a criança entra na creche/escola, ao relacionar-se e interagir com
Assim, no Referencial Curricular Municipal do Jaboatão dos seus pares, visto que é um momento no qual a criança se encontra
Guararapes há o posicionamento que haja investimentos em ativi- em um espaço distinto do ambiente familiar. Essa mudança de ce-
dades que contribuam para o processo de apropriação do Sistema nário comum ao início da vida escolar pode causar estranhamento
de Escrita Alfabética, envolvendo a dimensão lúdica. Nas interações e favorecer a insegurança, choro, mordidas e resistências. Para tal,
e nas brincadeiras, voltadas à aprendizagem das crianças, a apro- além da organização do ambiente, faz-se necessário acolher a crian-
priação da cultura escrita deverá permear as práticas dos professo-
ça, de maneira cuidadosa, atenciosa e respeitosa.
res, de maneira lúdica. Sendo assim, as crianças poderão, por exem-
Nesse sentido, as interações sociais apontadas por Vygotsky si-
plo, comparar palavras quanto ao tamanho, descobrir palavras que
nalizam para a construção de aprendizagens a partir dessa relação
rimam nas parlendas, brincar com palavras que tenham o mesmo
com o meio. Para ele, o indivíduo se desenvolve sempre em relação
som inicial, entre outras vivências que sejam significativas envol-
com o meio, e sua aprendizagem é mediada por sistemas simbólicos
vendo o letramento e a reflexão sobre a escrita
e pelo outro. As crianças interagem com o outro e com o meio de
acordo com a fase do desenvolvimento em que se encontram, ou
seja, respondem conforme as possibilidades daquele momento. Por
AMBIENTE DE APRENDIZAGEM isso, é importante desenvolver vínculos que fortaleçam a afetivida-
de nas relações estabelecidas entre a família, comunidade escolar
Segundo Rinaldi (2006), há uma clara relação entre a qualidade e equipe pedagógica, reunindo-os, sempre que possível, e especial-
do espaço e a qualidade do aprendizado, definida pela autora como mente no início do ano letivo, para que as relações e as transições
“terceiro educador”. Assim, a criança possui o direito a um ambien- entre o ambiente familiar e o escolar sejam menos danosos.
te de qualidade, e de inclusive contribuir com a construção desse Horn (2004) coloca que o professor pode ser o parceiro mais
ambiente. Considerando que a criança é um ser ativo, e que, desde experiente e provocar avanços ao interferir na zona de desenvolvi-
o nascimento, possui o material biológico que lhe permite dar sig- mento potencial das crianças. No âmbito da Educação Infantil, tal
nificado ao mundo, por meio da interação com o outro, pensar no interferência pode ocorrer na organização de cenários desafiadores
ambiente que favoreça seu desenvolvimento é tão essencial quanto que possibilitem a troca de experiências entre as crianças. Oliveira,
o próprio brincar. Z.R. (2013) compreende o professor como um “cenógrafo”, pois ele
Nessa perspectiva, interagir é um princípio básico da escola pode criar os cenários para as atividades das crianças, planejando
infantil, pois é na interação com o outro e com o meio que a crian- situações e espaços nos quais elas interajam entre si e com o meio,
ça poderá se desenvolver e aprender. A ideia de desenvolvimento de modo que essas situações permitam que “as crianças imitem-
humano por meio da interação vem sendo discutida por diferentes se, criem diálogos, disputem objetos, briguem e se consolem são
teóricos e áreas do conhecimento. Corroborando com a teoria so- preciosos momentos de desenvolvimento. ” (OLIVEIRA, Z.R., 2013,
ciointeracionista, proposta por Vygotsky, adotada por este Referen- p.89).
cial Curricular, a qual favorece as discussões acerca da importância Desse modo, é de fundamental importância a organização do
das interações sociais e do meio. ambiente acolhedor dos espaços de referência das crianças, e que
Considerando ainda que, interação e brincadeira são eixos nor- os materiais estejam afixados nas paredes respeitando a altura da
teadores do currículo, cabe à escola infantil considerar o significado criança.
da interação e do brincar para o desenvolvimento da criança. De Sempre que o docente for planejar as suas aulas, é necessário
acordo com Horn (2004), dialogando com Wallon, o conceito de pensar o que será proposto para as crianças, antes de selecionar
meio é fundamental, pois, ele influencia no desenvolvimento infan- quais as atividades permanentes serão vivenciadas, com o objetivo
til. A criança pequena irá reagir ao ambiente no qual está inserida de serem realizadas de forma interligada, sem fragmentá-las.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

É fundamental considerar as necessidades de quem vivencia


essa rotina em sala de aula, pois serão eles que definirão como DIREITO À INFÂNCIA: AS CONTINUIDADES NA
será exposta essa sequência. No entanto, organizar a rotina com EDUCAÇÃO INFANTIL
as crianças proporciona noção e compreensão de tempo, além de
desenvolver o papel ativo na construção deste contexto. A Educação Básica no Brasil desde 2006 passou a ter nove
Assim, os ambientes devem possibilitar expressões e lingua- anos de duração, direcionando as crianças com seis anos de idade
gens das crianças, convívio e diversidade, valores, construção da para os anos iniciais. Desde então, vem-se demandando discussões
identidade, cooperação e autonomia. A rotina necessita de uma acerca dos diferentes momentos de transição vividos pela criança,
consciência crítica do professor em compreender que esta é res- momentos esses apontados pela DCNEI como: transição casa/insti-
ponsável pela organização e cumprimento das metas do dia a dia tuição de Educação Infantil, transição no interior da instituição de
escolar, visando ao desenvolvimento integral da criança. Educação Infantil, transição creche/pré-escola e transição Pré-Esco-
la/Ensino Fundamental. (BRASIL, 2009).
O primeiro par de letras indica a etapa de Educação Infantil.
ESTRUTURA CURRICULAR O primeiro par de números indica o grupo por faixa etária:
01 = Bebês (zero a 1 Ano e 6 meses)
De acordo com a orientação oriunda da BNCC (2017), o orga- 02 = Crianças bem pequenas
nizador curricular é constituído por três quadros: correspondendo (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses)
aos subgrupos etários: bebês de 0 -1 ano e 6 meses, crianças bem 03 = Crianças pequenas
pequenas de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses, crianças peque- (4 anos e 5 anos e 11 meses)
nas de 4 anos a 6 anos e 2 meses. O segundo par de letras indica o campo de experiências:
Considerando a Instrução Normativa da Secretaria Municipal EO = O eu, o outro e o nós;
de Educação do Jaboatão dos Guararapes Nº01/2018, a Educação CG = Corpo, gestos e movimentos;
Infantil deverá ser organizada de acordo com o que preceituam as TS = Traços, sons, cores e formas;
Diretrizes Curriculares Nacionais, considerando-se os seguintes cri- EF = Escuta, fala, pensamento e imaginação;
térios para a formação das turmas, das seguintes modalidades de ET = Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.
ensino: O último par de números indica a posição da habilidade na nu-
meração sequencial do objetivo de aprendizagem de cada Campo
de experiência.
DIVISÃO POR FAIXA ETÁRIA
Na transição casa/instituição de Educação Infantil, o envolvi-
Bebês (zero a 1 Crianças bem Crianças pe- mento com as famílias propicia a instituição apropriar-se das roti-
ano e 6 meses) pequenas (1 quenas (4 anos nas, hábitos, especificidades da criança, cuidados com a saúde e
ano e 7 meses e 5 anos e 11 alimentação, elementos que são relevantes para promover o equi-
a 3 anos e 11 m meses) líbrio desse momento, sendo essencial essa parceria. A criação de
ses) uma rotina para a família participar desses momentos de transição
INFANTIL 1 INFANTIL 2 E INFANTIL 4 E minimiza insegurança e angústia da separação, tornando esses mo-
INFANTIL 3 INFANTIL 5 mentos mais confortáveis.
Na transição que ocorre no interior da instituição de Educação
Os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento foram identi- Infantil, faz-se necessária a observação atenta e registros de dife-
ficados por um Código Alfanumérico, como explicado abaixo: rentes momentos vivenciados durante o período de permanência
das crianças, para planejar ações e dar continuidade ao seu proces-
so de aprendizagem, no qual a equipe docente deve observar os
documentos e relatórios descritivos das crianças.
Na transição creche/pré-escola devem ser propostas ações que
deem prazer e segurança à criança, respeitando as especificidades
de cada uma em relação a choro, objetos de apego, os espaços pre-
feridos, alimentação, controle dos esfíncteres, hora do banho, entre
outros, favorecendo, assim, a adaptação mais tranquila das crianças
bem pequenas.
Na busca pela garantia da infância, em sua integralidade, este
município propõe um diálogo entre os segmentos da Educação In-
fantil e o Ensino Fundamental que possa promover um olhar con-
tínuo sobre os processos vivenciados pela criança no cotidiano das
instituições de ensino. Conforme reflexões de diferentes autores,
percebe-se que a discussão está pautada em “uma visão não di-
cotômica”, referente às etapas da Educação Básica, corroborando
assim, com Kramer (2006), que afirma a Educação Infantil e Ensino
Fundamental são indissociáveis.

22
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Assim, na transição pré-escola/Ensino Fundamental, destacam- A legitimidade do direito à educação, primando à concepção da
-se os princípios da continuidade e da ampliação, respeitando as educação inclusiva, deve ser contemplada na formulação e refor-
necessidades e interesses das crianças e as especificidades próprias mulação das ações pedagógicas. Tais legislações buscam garantir a
dessas duas etapas. É necessário o estabelecimento de estratégias oferta de escolarização básica pública, gratuita e de qualidade para
de acolhimento e adaptação, de modo que essa nova etapa observe todos os brasileiros.
o que a criança já sabe e é capaz de fazer, evitando descontinuidade A partir da Emenda Constitucional Nº59/2009, cabe à Federa-
e fragmentação do trabalho pedagógico. ção a responsabilidade de ofertar escolarização aos estudantes en-
Segundo a BNCC, o Ensino Fundamental deve considerar e tre quatro a dezessete anos de idade, garantindo, inclusive, o aces-
conhecer os direitos e os objetivos de aprendizagens e desenvol- so àqueles que não cursaram a Educação Básica na idade indicada.
vimento para ampliação e aprofundamento. Promover articulação Nesta perspectiva, o Ensino Fundamental se insere na Educação Bá-
entre docentes da Educação Infantil e Ensino Fundamental, para sica não como a etapa final obrigatória, mas como uma longa etapa
análise dos instrumentos de registros (relatórios, portfólios, foto- intermediária em que se trabalha com um público amplo, trazendo
grafias, frequência, entre outros). consigo características únicas desses estudantes, as quais perpas-
Ressaltamos ainda, a importância de preservar o direito de sam da infância à adolescência nesse período.
brincar, nessa nova etapa do ensino, como balizador do desenvol- O Ensino Fundamental - anos iniciais - é organizado em cinco
vimento social e cognitivo da criança. Borba (2006) afirma que, no anos de escolarização, e em consonância à Resolução do CNE/CP
caderno de orientações para o Ensino Fundamental de nove anos, Nº2 de 22 de dezembro de 2017, o período de alfabetização deve
“brincar é uma experiência de cultura importante não apenas nos acontecer nos dois primeiros anos desta etapa, o que pressupõe
primeiros anos da infância, mas durante todo o percurso de vida de um trabalho organizado e sistematizado para esse fim. Entretanto,
qualquer ser humano (...), portanto, o Ensino Fundamental tem um esse tempo de dois anos deve considerar as peculiaridades do pú-
grande desafio na promoção do brincar que, muitas vezes, fica para blico alvo da Educação Especial, bem como o que diz a Resolução
segundo plano. ”. Nº 07/2010 do CNE/CEB do Ensino Fundamental, no Art. 30 sobre a
Desse modo, o município corrobora com as orientações que as não retenção do estudante no primeiro para o segundo ano e deste
Diretrizes Curriculares da Educação Infantil instituem para a transi- para o terceiro ano do Ensino Fundamental também chamado de
ção da Educação Infantil/Ensino Fundamental, no qual as institui- Ciclo Sequencial da Alfabetização.
ções de ensino devem ter previstas em suas propostas pedagógicas No que concerne aos anos finais do Ensino Fundamental, este
formas de garantir a continuidade do processo de aprendizagem e se organiza em continuidade aos anos iniciais. Nesta fase de esco-
desenvolvimento das crianças, respeitando as especificidades etá- larização, os estudantes enfrentarão desafios de maior complexi-
rias, sem antecipação de conteúdos que serão trabalhados no Ensi- dade, os quais envolvem conhecimentos sistematizados, próprios
no Fundamental. de cada componente curricular. Nos anos finais é imprescindível o
fortalecimento da autonomia dos estudantes por meio do acesso e
interação crítica com os diferentes conhecimentos e informações.
ENSINO FUNDAMENTAL No Ensino Fundamental - anos iniciais e finais, conforme a
LDBEN n.º 9.394/96, os estudantes deverão desenvolver a capaci-
No Ensino Fundamental, o estudante passa a vivenciar uma dade de aprender por meio do pleno domínio da leitura, da escri-
nova estrutura em sua vida escolar a partir do trabalho desenvol- ta, do cálculo, da compreensão do ambiente natural e social, do
vido com os componentes curriculares. Constituída de nove anos, sistema político, das tecnologias, das artes, dos valores em que se
esta etapa é dividida em duas fases: anos iniciais (1ºano ao 5ºano) fundamenta a sociedade e resolver problemas, tornando-se, assim,
e anos finais (6ºano ao 9ºano). autônomos e protagonistas de sua aprendizagem.
Em seu texto original, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Vale destacar que um dos aspectos importantes que necessi-
Nacional - LDBEN Nº 9.394/1996 apontou o Ensino Fundamental tam de especial atenção na etapa do Ensino Fundamental é a tran-
como etapa obrigatória e gratuita, inicialmente com a duração mí- sição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental e dos anos
nima de oito anos. Com a discussão acerca de sua ampliação, em iniciais para os anos finais. O processo de transição deverá ser de-
2005, foi alterado o Art. 6º pela lei Nº 11.114/05, a qual torna obri- senvolvido de maneira que possa favorecer um acolhimento afetivo
gatória a matrícula das crianças a partir dos seis anos de idade e, que garanta segurança e pertencimento a nova organização escolar
em seguida, com a Lei 11.274/2006, em que a duração do Ensino (diversidade de horários e tempo escolar, encaminhamentos meto-
Fundamental foi ampliada para nove anos. dológicos, número de professores, entre outras), tarefa a ser desen-
Para que essas novas mudanças introduzidas no Ensino Funda- volvida por toda a equipe. Outro aspecto importante a ser conside-
mental possibilitem a melhoria na escolarização dos estudantes, se rado na transição é a continuidade do trabalho pedagógico, pois os
faz necessário um olhar atento ao desenvolvimento humano, com o estudantes precisam compreender que os conhecimentos adquiri-
objetivo de favorecer a aprendizagem considerando as particulari- dos em etapas anteriores são a base para os novos conhecimentos.
dades da idade e os direitos das crianças, jovens e adultos, assegu- Esse processo de continuidade favorece o interesse do estudante e
rados pela Constituição Federal e pela LDBEN 9.394/96. sinaliza um ponto de partida para o trabalho do professor.
Considera-se, ainda, as especificidades dos estudantes matri- Considerando tais aspectos do processo de ensino-aprendi-
culados no Sistema de Ensino do Município, assegurados na LDBEN zagem no Ensino Fundamental, a BNCC, apresenta os direitos de
(1996) descrito no Capítulo V que amplia o lócus e o público alvo aprendizagem comuns a todos os estudantes, como forma de bus-
da Educação Especial, bem como, as demais modalidades educa- car garantir a equidade no processo de escolarização e permitir me-
cionais. lhores condições para o desenvolvimento de capacidades estéticas,
sensíveis, criativas, artísticas, culturais e outras, para o ser humano
compreender e agir no mundo.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

O conjunto progressivo de aprendizagens definidas neste Re- Nos quadros que apresentam as unidades temáticas, os obje-
ferencial Curricular, procura ir além da transmissão de conheci- tos de conhecimento e as habilidades estabelecidas para cada ano,
mentos. Propõe que a questão fundamental seja a relação dos co- cada habilidade é identificada por um código alfanumérico confor-
nhecimentos escolares com a prática social dos sujeitos. Em cada me descrição abaixo:
componente curricular, este documento traz uma parte introdu-
tória na qual são apresentados aspectos que norteiam sua cons-
tituição como conhecimento científico organizado didaticamente.
Ressalta-se que os direitos, os princípios e as orientações afirmadas
na introdução geral do Currículo do Município de Jaboatão dos Gua-
rarapes perpassam todas as produções.
Quanto ao quadro Organizador Curricular, procurou-se ampliar
o proposto na BNCC, atendendo às especificidades de cada com-
ponente curricular. Dessa forma, apresenta-se a organização pro-
gressiva dos conhecimentos por componente e habilidade especí-
fica por ano do Ensino Fundamental a fim de auxiliar professores e
equipes pedagógicas em suas práticas educativas.
O Ensino Fundamental está estruturado em cinco áreas do co-
nhecimento.
Segundo o Parecer CNE/CEB Nº11/2010 e da Resolução Nº
07/2010 CNE/CEB, essas áreas “favorecem a comunicação entre os
conhecimentos curriculares” (BRASIL, 2010) e se convergem na for-
mação dos estudantes, sem perder as particularidades e os saberes
próprios construídos e sistematizados em todos os componentes.
Cabe destacar que cada área de conhecimento expressa, no QUADRO ALFANUMÉRICO DO ENSINO FUNDAMENTAL
texto de apresentação, seu papel na formação integral dos estu- NO MUNICÍPIO DO JABOATÃO DOS GUARARAPES
dantes do Ensino Fundamental, ressaltando as especificidades tan-
to dos anos iniciais quanto dos anos finais, levando em conta as
características dos estudantes quanto às necessidades pedagógicas
desses níveis de escolarização.
Nesse contexto, cada área de conhecimento indica competên-
cias específicas que necessitam ser garantidas ao longo dos nove
anos. Vale salientar que as áreas que agregam mais de um com-
ponente curricular (Linguagens e Ciências Humanas) terão compe-
tências específicas do componente curricular (Língua Portuguesa,
Arte, Educação Física, Língua Inglesa, Geografia e História) a serem
desenvolvidas pelos estudantes do 1º ao 9ºano.
É importante ressaltar, ainda, que as competências específicas
favorecerão a articulação horizontal entre as áreas - percorrendo
todos os componentes curriculares – e a articulação vertical, ou
seja, a progressão entre anos iniciais e anos finais bem como, a con-
tinuidade das experiências dos estudantes - levando em conta suas
especificidades.
Nessa perspectiva, o desenvolvimento das competências espe-
cíficas, de cada componente curricular está atrelado a um conjunto
de habilidades. Essas, por sua vez, estão relacionadas a diferentes
objetos de conhecimento compreendidos como conteúdo, concei-
tos e processos e organizados em unidades temáticas.
As unidades temáticas determinam objetos de conhecimento
para todo o Ensino Fundamental, ajustando as especificidades dos EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL
diferentes componentes curriculares. Os objetos de conhecimentos
estão atrelados às habilidades que, por sua vez, expressam apren-
dizagens que precisam ser garantidas aos estudantes nos variados As muitas propostas educacionais postas em prática, desde o
contextos escolares. século XX, trazem como conceito pleno da educação a formação e
É importante explicar que as habilidades não determinam desenvolvimento integral do ser humano. Os princípios políticos e
ações ou condutas esperadas do professor, nem influenciam a op- filosóficos do conceito de Educação Integral inscrevemse no espírito
ção por abordagens ou metodologias. humanista do século XIX, que concebem o ser humano como um
Essas escolhas devem ser pensadas no âmbito do currículo e “ser total”, preconizando uma educação que integre suas múltiplas
dos projetos pedagógicos, surgidos no chão da escola, consideran- dimensões – intelectual, afetiva, física e moral.
do a realidade de cada instituição escolar, o contexto e as caracte-
rísticas dos seus estudantes.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

É sob esse novo olhar que surge a Pedagogia da Escola Nova, lação, mais recente do Programa (2010), destaca como princípios
compreendendo o indivíduo com um ser único, que vive e interage da educação integral: “a articulação dos componentes curriculares
em um mundo dinâmico. com diferentes campos de conhecimento e práticas socioculturais;
No Brasil, essa tendência é implementada a partir da década “a constituição de territórios educativos para o desenvolvimento da
de 20, através do Manifesto dos Pioneiros da Educação (1932), que educação integral”; “a integração entre as políticas educacionais e
acreditava fortemente no poder da educação para moldar, uni- sociais, em interlocução com as comunidades escolares”; “a afir-
ficar e civilizar a sociedade brasileira tendo em vista o progresso mação da cultura dos direitos humanos” (Caderno Bairro-Escola,
e o desenvolvimento econômico. As experiências da Escola Nova, 2007).
propostas por Anísio Teixeira (1969), foram pontuais no país, mas A experiência da Educação Integral própria no município do
emergiram em todo o mundo para chamar a atenção da sociedade Jaboatão dos Guararapes foi influenciada pelo Programa Mais Edu-
sobre o papel e as possibilidades da educação, sem reduzi-la a mera cação (Novo Mais Educação), que em 2013 alcançava quase a tota-
instrução escolar. lidade de escolas do Ensino Fundamental. Na época, era difundido
Entretanto, com a Política do Estado Novo e o período ditatorial que os recursos financeiros e as orientações do Programa poten-
no Brasil, esses ideais ficaram adormecidos. A partir da Constitui- cializavam estrutural e pedagogicamente as escolas, promovendo
ção Federal (1988), em que se estabelece a redemocratização do novos olhares sobre o processo educativo.
país, é fortalecida a percepção da educação como um direito social Frente a esse cenário, colocou-se em pauta na Secretaria Mu-
fundamental, imprescindível para a conquista das mudanças sociais nicipal de Educação a criação de um programa de escolas de tempo
e políticas rumo à construção de um país democrático e justo. Es- integral próprio do município.
tabeleceu-se, ainda, uma ampla rede de proteção à criança e ao Uma equipe da Secretaria de Educação construiu a primeira
adolescente, regulamentada pelo Estatuto da Criança e do Adoles- minuta do Programa de Escolas de Tempo Integral do Jaboatão dos
cente-ECA (1990). Guararapes e, depois de vários encontros - contando com a par-
A educação integral ganha outra dimensão e caráter, refletidos ticipação de vários atores políticos - chegou-se à versão final do
na LDBEN (1996) e no Plano Nacional de Educação (2001-2010), que programa, com o perfil de educação integral para além do tempo
fazem o indicativo do aumento progressivo da jornada escolar para integral, tendo como direcionamento a ampliação e a diversifica-
07 (sete) horas diárias como horizonte da política pública educacio- ção curricular como estratégia de melhor qualificação da aprendi-
nal, um avanço significativo para diminuir as desigualdades sociais zagem. O Programa foi oficializado pela Lei Municipal n°849/2013,
e ampliar democraticamente as oportunidades de aprendizagem. o que demonstrou a preocupação em garantir a institucionalidade
Além dos marcos legais, destacam-se avanços educacionais como a enquanto política de Estado. A pesquisa documental preliminar
quase universalização do acesso ao Ensino Fundamental para pra- sobre os textos da educação em tempo integral do Jaboatão dos
ticamente toda a população de 7 a 14 anos e obrigatoriedade da Guararapes, no período de 2013 até o momento atual, nos leva a
educação para a faixa etária de 4 a 17 anos. Segundo a Pesquisa perceber, de maneira evidente, o seu caráter híbrido , contendo in-
Nacional de Amostragem Domiciliar (PNAD), realizada, em 2009, fluência de diferentes debates e de diferentes agentes que atuam
apenas 63,4% dos jovens concluem o ensino fundamental, o que no campo educacional. Nessa perspectiva, o Programa Escolas de
significa que a dita universalização tem se revelado apenas no aces- Tempo Integral apresenta-se como produto de embates, articula-
so e não na permanência nem num aprendizado de qualidade. Es- ções e conflitos entre sujeitos da política e como o resultado da
sas conquistas foram significativas e se revelaram como condições absorção de influências de políticas contemporâneas nos âmbitos
favoráveis ao movimento pela educação integral no Brasil. Porém, nacional (o Programa Novo Mais Educação) e estadual (o Programa
à medida que a educação se tornou uma política de Estado, o de- de Educação Integral), como de concepções e experiências históri-
senvolvimento dessa forma integral restringiu-se à universalização cas de formação integral humana segundo a vertente liberal, que no
e à preparação para o mundo do trabalho. Com isso, esvaziou-se Brasil teve como expoente o Manifesto dos Pioneiros da Educação
a noção de formação integral, tomada, então, como um privilégio Nova (1932) - um marco no país para o debate da educação como
destinado a poucos. direito e as práticas de educação integral propostas por Anísio Tei-
Em 2004, o Brasil passa a viver um contexto político e social xeira (1969). De acordo com a experiência de educação adquirida,
favorável ao debate da Educação Integral com demonstrações ex- o município de Jaboatão dos Guararapes, no ano de 2013, organi-
plícitas a favor da agenda e da implementação de políticas de edu- zou-se e implantou, de forma gradativa, as Escolas de Tempo Inte-
cação integral em tempo integral ou educação integral em jornada gral - ETI. No ano de 2016, após um período de descontinuidade na
ampliada: Conferência Nacional de Educação, Conselho Nacional de liberação de recursos financeiros da União para o Programa Mais
Secretários Estaduais de Educação, a União Nacional dos Dirigentes Educação, já existiam 10 (dez) Escolas de Tempo Integral implanta-
Municipais de Educação, a União Nacional dos Conselhos Munici- das no município, com sua proposta de trabalho diferenciada.
pais de Educação, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Foi instituída nessas escolas uma nova Matriz de Referência
Educação, as universidades públicas, além da Emenda Constitucio- Curricular (SME/2016), que contempla, em sua carga horária, os
nal 134/07, que trazia como proposição a universalização da jorna- saberes da base legal (áreas de conhecimento dos componentes
da diária de 7 (sete) horas na escola fundamental, em um período curriculares), como também outros saberes instituídos na parte
de dez anos (Caderno: BairroEscola, 2007). diversificada dessa Matriz (distribuídos por eixos temáticos viven-
Em 2007, o Ministério da Educação - MEC no âmbito do Plano ciados nas atividades complementares). Essa construção busca
de Desenvolvimento da Educação (PDE) cria o Programa Mais Edu- uma educação integral baseada nos 04 (quatro) pilares propostos
cação – PME (atualmente, Novo Mais Educação - PNME) realizado no Relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a
por meio de parcerias entre a esfera federal, governos estaduais Ciência e a Cultura (UNESCO, 2010), na qual garante ao estudante
e municipais para propiciar o aumento da jornada escolar para 07 o direito de desenvolver suas competências e habilidades para co-
horas diárias a um número cada vez maior de estudantes. A legis- nhecer, conviver, ser e produzir no mundo atual.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Tendo o estudante como a razão do processo educativo e acre- beres a partir de projetos integradores, ampliando o processo para
ditando que é preciso cuidar de sua formação, auxiliá-lo no seu a rede de espaços de aprendizagens. O foco está em organizar as vi-
desenvolvimento integral, as ETIs buscam garantir não apenas a vências e a ação pedagógica em projetos, integrando conhecimento
permanência do estudante na instituição de ensino, durante todo acadêmico com saberes da vida social, aproximando o currículo ao
o dia, mas, também, a realização de atividades que possam reforçar contexto da vida.
e complementar o processo de ensino-aprendizagem. No intuito A participação na vida pública, hoje, mais que nunca, envolve
de pensar as práticas educativas de forma planejada e coletiva, a o cuidado com o meio ambiente, o cuidado com a vida em todas as
Instrução Normativa Nº01/2019, gestores, supervisores escolares suas formas e a responsabilidade de cada um na construção de um
e professores realizam no espaço escolar a formação em serviço, mundo melhor. Considerar as vivências com a natureza em salas de
havendo, assim, uma readequação da jornada escolar ampliada e a aula ou espaços ao ar livre no processo de desenvolvimento cog-
vivência cotidiana das atividades complementares dos Eixos Temá- nitivo, social e emocional das crianças e jovens, faz-se presente no
ticos da Matriz de Referência Curricular. cotidiano da educação integral.
A partir da Instrução Normativa Nº02/2019, foi criado o Eixo Adotar práticas socioambientais e princípios educativos do
Temático Pesquisa Orientada, concebida como aula presencial e fazer coletivo (Mutirão Agroecológico) nas escolas de tempo inte-
demais atividades desenvolvidas extraclasse, concomitante à for- gral do município tem sido uma prática sistemática desde março
mação em serviço dos profissionais, favorecendo o estímulo ao de 2017.
aprendizado através do hábito à pesquisa, com participação ativa A concepção pedagógica das práticas teve como inspiração o
dos estudantes nos projetos integrados da escola: PEADs - Programa Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sus-
[...]a opção por um projeto educativo integrado, em sintonia tentável (1989), SERTA–Serviço de Tecnologia Alternativa, com o
com a vida, as necessidades, possibilidades e interesses dos estu- propósito de desenvolver, juntamente com os estudantes, profes-
dantes. Um projeto em que crianças, adolescentes e jovens são vis- sores e comunidades, atividades que priorizem práticas democrá-
tos como cidadãos de direitos em todas as suas dimensões. Não se ticas, troca de saberes, formação de rede agroecológica e ação de
trata apenas de seu desenvolvimento intelectual, mas também do planejamento participativo para transformação de realidades, em
físico, do cuidado com sua saúde, além do oferecimento de opor- consonância com a Matriz de Referência Curricular, o Currículo Es-
tunidades para que desfrute e produza arte, conheça e valorize sua colar e Projeto Político Pedagógico (PPP) das ETIs.
história e seu patrimônio cultural, tenha uma atitude responsável Assim, pensar qualquer concepção pedagógica supõe diri-
diante da natureza, aprenda a respeitar os direitos humanos e os gir o olhar para questões mais amplas que apontam demandas e
das crianças e adolescentes, seja um cidadão criativo, empreende- oportunidades presentes, inovações que se instalam como exigên-
dor e participante, consciente de suas responsabilidades e direitos, cias, interesses e expectativas peculiares às atuais gerações. Essas
capaz de ajudar o país e a humanidade a se tornarem cada vez mais questões impõem que se construa uma nova compreensão sobre
justos e solidários, a respeitar as diferenças e a promover a convi- os papéis do professor, estudante e do conhecimento, tripé sobre
vência pacífica e fraterna entre todos.(MEC,2015). o qual se constitui a relação ensino-aprendizagem, base de toda a
Trata-se, pois, de uma concepção de Educação Integral que atividade educativa.
compreende o espaço social no qual se insere a escola como cons-
titutivo do processo educativo, articulando os diferentes atores
institucionais da escola, da comunidade e do governo, garantindo, EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS. MARCO HISTÓRI-
assim, o cumprimento do dever do Estado, da responsabilidade dos CO E CONCEPÇÃO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADUL-
educadores e da família e fortalecendo as políticas públicas educa- TOS
cionais.
Esse entendimento de educação integral reconhece, além de A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é vista como uma forma
compreender o ser humano como um todo, a diversidade de espa- de alfabetizar quem não teve oportunidade de estudar na infância
ços e agentes educativos que devem fazer parte desse processo. A ou aqueles que, por algum motivo, tiveram de deixar a escola em
educação não ocorre apenas dentro da escola, de forma sistemáti- tempo regular.
ca, mas o aprendizado está em todos os espaços, ampliando, dessa Para se ter uma noção de como a EJA aconteceu no Brasil, se
forma, a capacidade de intervir de forma crítica e autônoma. faz necessário um retrospecto da história das últimas décadas da
Essa nova visão de educação, como recomendam alguns docu- ação do Estado no campo da EJA:
mentos de referências: Trajetórias Criativas: Propostas – Identidade “Fundação Mobral (1967–1985), da Fundação Nacional para
(Ministério da Educação, 2014);Bairro-Escola (educação comunitá- Educação de Jovens e Adultos – Fundação Educar (1986–1990) e do
ria) - Associação Cidade Escola Aprendiz; MEC - UNICEF e Trilhas Programa Brasil Alfabetizado” (SUZUKI, 2009, p.16).
Educativas: diálogo entre o território e escola-Associação Cidade Es- A Alfabetização de Jovens e Adultos passa a fazer parte do sis-
cola Aprendiz, 2011, pressupõe o envolvimento de todos, profissio- tema público educacional elementar do país somente a partir da
nais da Educação, das escolas e do seu entorno, buscando parcerias década de 1930, período que teve como fatores marcantes do pro-
e potenciais da comunidade, do bairro, da cidade, oportunidades cesso de industrialização e a concentração populacional em centros
educativas em que todos se sintam responsáveis, criando, assim, as urbanos. Nascia, então, a preocupação do Governo Federal em ofe-
cidades educadoras. recer ensino básico gratuito a diversos setores sociais em todo país,
Segundo Isa Guará (Cadernos CENPEC, 2006) a ideia de forma- inclusive aos adultos. Em 1945, o país começa a viver um momento
ção integral do ser humano está fundamentada, principalmente, de redemocratização com o fim da ditadura de Vargas, o mundo
em princípios éticos e humanistas, desenvolvidos nos projetos de vivia uma nova realidade com o fim da Segunda Guerra Mundial e
educação para a paz, dos direitos humanos e da educação para va- a criação da Organização das Nações Unidas (ONU). Tudo isso con-
lores. Nessa perspectiva, a educação integral propõe articular os sa- tribuiu para que a educação de adultos ganhasse destaque dentro

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

da educação elementar comum. Havia a necessidade do governo ses da Educação Nacional - LDBEN - Lei Federal 9.394/96. A LDBEN
de integrar as massas populacionais de imigrações recentes e incre- incorpora os postulados da Conferência da Educação Mundial para
mentar a produção. todos, que aconteceu na Tailândia em 1990. Sendo que, naquele
Em 1947 foi instituída a Campanha da Educação de Adolescen- mesmo ano, o Governo Federal extinguiu a Fundação Educar e criou
tes e Adultos (CEAA), idealizada pelo educador Lourenço Filho e di- o Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania (PNAC). O pro-
rigida para pessoas maiores de 15 anos, com o currículo focado no grama foi inspirado nos ideais da referida Conferência. Em 1991, o
aprendizado da leitura e da escrita. A CEAA se configurou como um MEC transfere as obrigações com a educação supletiva que eram do
movimento de massa para educação de adolescentes e adultos que Governo Federal para os Governos dos Estados e dos Municípios.
pretendia, numa primeira etapa, a alfabetização em três meses e a A Lei Nº 9.394/96 - LDBEN reservou o Art. 37, para regulamen-
condensação do curso primário em dois períodos de sete meses. Na tar a Educação de Jovens e Adultos (EJA) como Modalidade de En-
sequência viria a segunda etapa, visando a capacitação profissional sino e, em seguida, no Art. 38 trata dos cursos e exames supletivos.
e o desenvolvimento comunitário. Ancorada na nova LDBEN, são aprovadas as Diretrizes Curriculares
Apesar do sucesso inicial, na década de 1950, a campanha Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos (Resolução CNE/CEB
começou a fracassar, sendo extinta sob a acusação de conceber o Nº1, de 5 de julho de 2000), dando ênfase às parcerias com socieda-
analfabetismo como causa e não como efeito da situação econômi- de civil mediante convênios e estímulo ao voluntariado.
ca, social e cultural do País. Partindo-se dessa visão, o adulto anal- Em 2007, dois importantes marcos contribuíram para o de-
fabeto era concebido como uma pessoa incapaz e marginal. No final senvolvimento da modalidade: a reorganização do Programa Brasil
da década, surgem críticas à CEAA não somente em relação às de- Alfabetizado, através do Decreto Nº 6.093 de 24 de abril de 2007,
ficiências administrativas e financeiras, como também a sua orien- cujo objetivo era a universalização da alfabetização de Jovens e
tação pedagógica, ou seja, o caráter superficial do aprendizado face Adultos, a partir dos 15 anos ou mais de acordo com as políticas
ao curto período de duração, utilização de método inadequado à públicas da época, e a inclusão da modalidade no Fundo de Ma-
população adulta e a falta de programa de educação (metodologia) nutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
de acordo com a regionalidade, pois, o programa era único para dos Profissionais da Educação (FUNDEB - Emenda constitucional
todo o País. Nº 53/2006), regulamentado pela Lei Nº 11.494/2007 e pelo De-
Surge assim um novo paradigma pedagógico para a educação creto Nº 6.253/2007 em substituição ao Fundo de Manutenção e
de adultos tendo como principal expoente o Professor Paulo Frei- Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magis-
re. O educador pernambucano desenvolveu uma proposta de al- tério (FUNDEF), que incluiu a EJA no contexto de financiamento da
fabetização de adultos inspirada na Educação Popular, que passou Educação Básica.
a ser empreendida por grupos e organizações não governamentais Ainda com o escopo de fortalecer e proteger a Educação de
destacando, entre esses, o Movimento de Educação de Base (MEB), Jovens e Adultos como Modalidade de Ensino, se insurge os Planos
ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); Centro Nacionais de Educação aprovados, respectivamente, pelas Leis Fe-
de Cultura Popular (CPC), organizado pela União Nacional dos Estu- derais Nº 10.172/2001 e Lei n° 13.005/2014.
dantes (UNE), que contava com o apoio de artistas e intelectuais. Na modalidade de Educação de Jovens e Adultos - EJA, a or-
O Governo Federal, em 1964, aprovou o Plano Nacional de Al- ganização curricular do Município do Jaboatão dos Guararapes –
fabetização, que foi banido pelo golpe militar, no mesmo ano. Após PE obedecerá a Resolução que institui as Diretrizes Curriculares
o golpe militar, o único programa que sobreviveu foi o Movimento Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, Parecer CNE/CEB
de Educação de Base (MEB), com uma rede de Escolas Radiofônicas, Nº 11/2000, e Resolução Nº 03/2010 do CNE/CEB, considerando as
vinculadas à Igreja Católica. Para tanto, teve os seus métodos de situações, os perfis dos estudantes, as faixas etárias; e se pautará
ensino reestruturados. pelos princípios da igualdade, enquanto condição de acesso, respei-
Com a ditadura militar, o Governo Federal institui o Movimento tando-se as diferenças e as diversidades como direito, como percur-
Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), em 1967. Passando a atuar a so necessário à equidade, bem como a proposição de um modelo
partir da década de 1970, o MOBRAL apresentava três característi- pedagógico próprio da modalidade.
cas básicas: independência institucional e financeira face ao siste- Nessa perspectiva, o modelo pedagógico aqui proposto, opor-
ma regular de ensino e demais programas de adulto; articulação tuniza o protagonismo dos professores e estudantes, o qual se pau-
operacional descentralizada apoiada em comissões municipais e a ta na concepção da escolarização como direito social, que viabiliza
centralização das orientações do processo educativo. Com a apro- e desencadeia a prática de outros direitos que garantam aos huma-
vação da Lei Federal Nº 5.692/72, Lei de Reforma do Ensino de 1º e nos sua condição de humanidade, sua humanização, que é, essen-
2º Graus, incorpora-se ao Sistema Nacional de Educacional o Ensino cialmente, a consciência crítica, o discernimento, compreendidos
Supletivo como alternativa para pessoas adultas, mediados pelo en- como capacidades cognitivas complexas, as quais os diferenciam
sino à distância, através de provas de conhecimento, adquirirem a dos demais seres, na busca da autonomia como ponto de referência
certificação nos níveis primário e secundário. Em 1985, no interior para a empatia e cooperação, para o exercício do diálogo, resolução
do processo de redemocratização, o MOBRAL deu lugar à Fundação de conflitos, objetivando a promoção do respeito ao outro e aos
Educar. direitos humanos, além de acolher e valorizar a diversidade, sem
A Fundação Educar, vinculada ao MEC, atuava com o apoio fi- preconceito de qualquer natureza. Este se constitui o maior desafio
nanceiro às prefeituras municipais e às organizações da sociedade para o Sistema de Ensino: oferecer uma educação de qualidade so-
civil na execução de programas destinados àqueles que não tive- cial também para os sujeitos jovens e adultos que não puderam ter
ram acesso à escola na idade própria ou que dela foram excluídos. acesso à escola ou nela permanecer no tempo considerado regular,
Com a promulgação da Constituição Federal em 1988, que confere reconhecendo e valorizando o conhecimento empírico acumulado
à Educação de Jovens e Adultos “status” de modalidade ensino, re- por estes sujeitos, o que implica competências desenvolvidas à pro-
gulamentada em 1996 com a aprovação da Lei de Diretrizes e Ba- porção que se organize a modalidade em menor número de anos,

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

sem perder de vista a BNCC, adequando-as às especificidades, vi- No ano de 2009, houve 37.985 matrículas de estudantes com
sando atender às necessidades, aos ritmos e aos objetivos dos es- deficiência (INEP/MEC) na EJA, sendo 34.730 na EJA nível funda-
tudantes. mental, e 3.255 no nível médio. Tal alunado corresponde a 0,81%do
Nesse processo, a BNCC desempenha papel fundamental, pois número de matrículas totais da Educação de Jovens e Adultos, com
explicita as aprendizagens essenciais que todos os estudantes de- prevalência de matrículas no nível Ensino Fundamental (DI PIERRO,
vem desenvolver e expressa, portanto, a igualdade educacional so- 2015, p.1122)
bre a qual as singularidades devem ser consideradas e atendidas. A educação é compreendida como prática social ampla, que
Essa igualdade deve valer também para as oportunidades de ingres- se especializa nas instituições de ensino, tendo por finalidade a
so e permanência em uma escola de Educação Básica, sem o que o humanização das pessoas, devendo, nesse processo, também cui-
direito de aprender não se concretiza (BNCC,2018). dar da profissionalização e da empregabilidade. Os estudantes da
Nessa organização, é imprescindível a clareza de alguns aspec- Educação de Jovens e Adultos demandam por processos educativos
tos: o papel da escola, espaço concreto de vivência e aprendizado que vinculem a formação humana à formação e qualificação para o
dos direitos humanos e dos saberes socialmente reconhecidos ne- mundo do trabalho.
cessários à construção dos saberes científicos; o papel do conheci- Nesse cenário, os processos de juvenilização, a inclusão de pes-
mento, bem cultural que proporciona a superação das condições de soas com deficiência, a necessária formação profissional e a qualifi-
subordinação; o papel do estudante, sujeito construtor de seu pró- cação para o trabalho tencionam o currículo e a prática pedagógica.
prio conhecimento, que cria e recria o mundo; o papel do professor, Contudo, a ressignificação da prática pedagógica na Educação de
intermediador e articulador do conhecimento. Jovens e Adultos–EJA demanda por formação continuada, toman-
Faz-se necessário, ainda, situar este Currículo em alguns aspec- do-se como referência os conteúdos curriculares e os pedagógicos,
tos fundamentais, como: a dimensão humanizadora da educação; objetivando, assim, construir a identidade do profissional da educa-
a realidade local; situação de exclusão social/educacional da popu- ção com exercício na modalidade. A formação continuada também
lação igual ou maior de 15 anos; os aspectos legais da Educação de poderá contribuir para a construção da representação social de pro-
Jovens e Adultos; a formação do professor; e com relação ao cur- fessores da Educação de Jovens e Adultos - EJA como um direito que
rículo, tratamento dos conteúdos e sua distribuição no programa; acompanha o ser humano por toda sua existência.
as competências gerais e específicas e por área de conhecimento. Segundo postulado da UNESCO (2010, p.6), a [...]aprendizagem
Estudos realizados por Machado (2007); Rodrigues (2007); Gar- ao longo da vida, “do berço ao túmulo”, é uma filosofia, um marco
cia (2007); Michels (2007); Carvalho (2009) destacam elementos so- conceitual e um princípio organizador de todas as formas de edu-
bre o perfil dos estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) cação, baseada em valores inclusivos, emancipatórios, humanistas
que devem ser considerados na organização do currículo, atenden- e democráticos, sendo abrangente e parte integrante da visão de
do a novas demandas decorrentes da restruturação do perfil dos uma sociedade do conhecimento.
sujeitos da referida Modalidade de Ensino, quais sejam: a juvenili- A Educação de Jovens e Adultos – EJA também deverá atender
zação, os estudantes com deficiência e a educação profissional ou às necessidades de aprendizagem das pessoas idosas, respeitando-
qualificação para o trabalho. -as como sujeitos de direitos, com estatuto jurídico próprio6 , com
Os sujeitos da EJA, principalmente os afetos ao 2º Segmento, seu arcabouço de conhecimentos e saberes, cujo tempo humano
com relação à faixa etária, enquadram-se no perfil definido como não mais se coaduna com a pressa própria dos tempos escolares.
adolescente jovem, com idade compreendida entre 15 e 18 anos. A presença da pessoa idosa na escola não a descaracteriza como
A Lei Nº 12.852 2013 (Estatuto da Juventude) define que são consi- espaço de exercício de direito e de construção de conhecimentos
deradas jovens as pessoas com idade entre 15 e 29 anos de idade. e saberes, mas demanda outras lógicas nas relações estabelecidas
Portanto, são denominados adolescentes jovens as pessoas entre quem ensina e quem aprende. As referidas lógicas são ressig-
com idade entre 15 e 18 anos de idade, aos quais se aplica a Lei Nº nificadas pelos conhecimentos e saberes próprios da ancestralida-
8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) e, excepcional- de. Assim, as pessoas idosas, ávidas por conhecimentos e saberes,
mente, Estatuto o Estatuto da Juventude, quando não conflitar com reconhecem na escola espaços de convivência e lazer, onde saberes
as normas de proteção integral do adolescente. Essa assertiva nos e conhecimentos se misturam na tessitura do novo.
permite questionar a modalidade de ensino definida como aquela Conforme afirma Cora Coralina, no seu Vintém de Cobre (1976):
destinada às pessoas que não tiveram acesso à escola na idade pró- “Saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se
pria (6 -14 anos), sendo constituída atualmente por adolescentes aprende é com a vida e com os humanos”
jovens que tiveram acesso à escola na idade indicada e que, por A formação inicial de professores para atuar no 1º Segmento
diversos fatores, apresentam uma trajetória de insucesso, por vezes da Educação de Jovens e Adultos é ofertada, prioritariamente, em
condensada no fracasso escolar. Os fenômenos destacados consoli- cursos de licenciaturas em pedagogia em contextos acadêmicos; a
dam o que vem sendo definido como juvenilização da Educação de formação para o 2º Segmento ocorre nas diversas licenciaturas, que
Jovens e Adultos - EJA. devem considerar a natureza dos processos educativos vinculados
A juvenilização, intensificada na contemporaneidade, decorre às pessoas jovens, adultas e idosas, considerando as suas diferentes
das deficiências do sistema escolar como a evasão e a repetência, formas de ser e estar no mundo.
que ocasionam a defasagem entre a idade e série; da busca pela Partindo da premissa que o processo de envelhecimento não
certificação escolar oriunda da necessidade de trabalhar; da de subtrai do sujeito a capacidade de aprendizagem, a EJA, descrita
acesso; da ausência de motivação para o retorno a escola, entre como os processos educativos destinados a jovens, adultos e ido-
outras. (Carvalho, 2009, p.1) sos, com necessidades e interesses específicos, que desafiam a
Na caracterização desses sujeitos, verifica-se a inserção signifi- prática pedagógica. A partir desses desafios ocorre a demanda por
cativa de pessoas com deficiência, que, por diversos fatores, foram formação continuada, entendida como processo formativo pautado
tangenciados para a modalidade da Educação de Jovens e Adultos. em evidências definidas pela escola.

28
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

A Secretaria Municipal de Educação do Jaboatão dos Guarara-


pes - PE desenvolve uma política permanente de formação continu- EDUCAÇÃO ESPECIAL
ada, respaldando o professor como um ser em processo de forma-
ção, tanto no ambiente escolar com a presença dos Supervisores Coordenação de Educação Especial, objetiva recuperar, atua-
Escolares; quanto nos encontros formativos com os Coordenadores lizar e reafirmar os pressupostos legais e teóricos, anunciados na
Educacionais. Para tanto se faz necessário refletir sobre suas ações versão da Proposta Curricular do Município do Jaboatão dos Guara-
tomando-se a prática pedagógica como objeto de estudo apoiando- rapes-PE de 2011, referentes à modalidade da Educação Especial na
-se no currículo e na relação professor, estudante e aprendizagem. Perspectiva da Educação Inclusiva.
A escolha dos temas, surgem das necessidades citadas pelos Convém considerar que, ao longo desses oito anos da publici-
professores e daquelas observadas pelos Coordenadores Educacio- zação do documento supracitado, muitos projetos foram efetivados
nais no acompanhamento às escolas. Abordam, portanto, os conhe- nas escolas públicas municipais, mas ainda existem inúmeros de-
cimentos científico e pedagógico, que contribuem para o desenvol- safios relativos à educação de qualidade para todos os estudantes
vimento da identidade profissional e para a melhoria do ensino e com e sem deficiência. Tais desafios perpassam o enfrentamento
aprendizagem, com foco no currículo e no desenvolvimento integral das barreiras atitudinais, da efetivação da aprendizagem, do finan-
do sujeito. ciamento da educação, da avaliação processual e da acessibilidade
Estas formações continuadas tem o objetivo de contribuir para em seu sentido macro.
a melhoria da prática docente, assim como da aprendizagem dos Apesar das constatações das dificuldades, que são enfrentadas
estudantes. Sugere-se ainda ao professor que busque, além dessas nas unidades de ensino, muitos obstáculos foram superados como,
formações oferecidas pela rede, cursos de extensão, especialização, por exemplo, a ampliação das Salas de Recursos Multifuncionais-
mestrados, doutorados e afins em outras instituições, como possi- -SRM e o Atendimento Educacional Especializado-AEE para edu-
bilidade para a inovação e qualificação da prática pedagógica e ao candos, que constituem o público da Educação Especial, ou seja,
seu enriquecimento como sujeito. estudantes com Deficiência, Transtorno do Espectro Autista - TEA e
O processo formativo desse profissional requer um pensar crí- Altas Habilidades/Superdotação.
tico e superador de perspectiva clássica de formação continuada, Outras situações, que compõem o contexto da educação inclu-
tendo em vista atender a construção de uma formação continuada siva, dizem respeito à contratação de intérpretes de Libras, braillista,
que possibilite a constituição de uma postura docente crítica, trans- aos apoios pedagógicos, aos estagiários, ao atendimento domiciliar,
formadora e reflexiva, que considere as demandas da sociedade e às tecnologias assistivas: “hands free, Livox”, à aquisição de mate-
do contexto escolar (SILVA, 2010, p.14). riais para as SRM e, também, à implantação dos seguintes projetos:
Assim, faremos das salas de aula campos de experimento e ce- Quebrando Barreiras Comunicacionais, Quebrando Barreiras
nário para reflexão sobre a prática, com o intuito de promover uma da Alfabetização; e Estimulação Essencial e Precoce. Além disso,
aprendizagem significativa dos estudantes, corroborando na cons- são desenvolvidas ações voltadas para a formação de professores
trução de uma sociedade com justiça social. do AEE com base na metodologia de Estudo de Caso e Plano de
Em consonância com a BNCC, nos quadros que apresentam as Desenvolvimento Individual Escolar - PDIE.
unidades temáticas, os objetos de conhecimento e as habilidades Com a perspectiva de um novo instrumento legal para o Siste-
estabelecidas para cada módulo, a habilidade é identificada por um ma de Ensino, ou seja, o Currículo de Educação Especial do Jaboa-
código alfanumérico conforme descrição abaixo: tão dos Guararapes/PE, 2019, eleva-se a oportunidade de fortale-
cer o desenvolvimento do que já está garantido nos marcos legais
da Constituição Federal de 1988, da Lei de Diretrizes e Base da Edu-
cação Nacional de 1996 e a Política da Educação Especial na Pers-
pectiva Inclusiva (2008).
Além disso, os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs
(1999) destacam a necessidade das adaptações curriculares e das
estratégias para a educação de estudantes com necessidades es-
peciais (termo utilizado no próprio texto). O referido documento
reafirma a educação como direito de todos, dever do Estado e da
família, tendo em vista o pleno desenvolvimento da pessoa em sua
integralidade.
Nesse sentido, nos últimos dezesseis anos, as políticas educa-
cionais implementadas no contexto brasileiro, apresentam a mo-
dalidade Educação Especial sob o viés da perspectiva inclusiva. Tais
políticas preconizam que todos os estudantes da Educação Especial
em idade escolar obrigatória frequentem escolas regulares. O De-
creto Nº 7.611/2011 prega a inclusão total e tem sua centralida-
de no Atendimento Educacional Especializado (AEE), assim como a
Resolução Nº 04 de 02/10/2009, que institui as Diretrizes Opera-
cionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação
Básica, modalidade Educação Especial.

29
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Esse decreto reafirma que a Educação Especial, já referendada A educação inclusiva caracteriza-se como um novo princípio
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN/1996, educacional, cujo conceito fundamental defende a heterogeneida-
em seu Capítulo V, Art. 58, é compreendida como modalidade de de na classe escolar, como situação provocadora de interações en-
Educação Escolar, oferecida, preferencialmente, na Rede Regular de tre crianças com situações pessoais as mais diversas.
Ensino. Tal compreensão também está presente, na Proposta Cur- Nesse sentido, no processo de elaboração do Referencial Curri-
ricular da Secretaria de Educação e Esportes do Estado de Pernam- cular para o Município do Jaboatão dos Guararapes, em 2019, com
buco – Ensino Fundamental, que em texto introdutório, (2019, p. os fundamentos da BNCC (2017), para fortalecer a modalidade da
22) declara: Educação Especial na perspectiva inclusiva, é pertinente acatar um
[...] a Educação Especial é uma modalidade de ensino que posicionamento de Beyer (2006), que ressalta o seguinte aspecto:
transversaliza todas as etapas e modalidades, identifica e dispo- as necessidades diferenciadas de cada estudante, que se manifes-
nibiliza recursos e serviços, orientando quanto a sua utilização no tam desde a mais tenra idade ou, na condição de jovens e de adul-
processo de ensino e aprendizagem e realiza o Atendimento Edu- tos, irão demandar metodologias e estratégias pedagógicas, que
cacional Especializado/AEE junto aos estudantes matriculados nas sejam apropriadas à promoção de sua aprendizagem e, também,
turmas comuns do ensino regular, garantindo ações pedagógicas a que evitem prejuízos ao seu processo de escolarização. Nessa mes-
fim de proporcionar a plena participação dos estudantes com ne- ma ótica, tem-se:
cessidades educacionais específicas. As aprendizagens essenciais compõem o processo formativo de
Considerando o desenho da política pública educacional deste todos os educandos ao longo das etapas e modalidades de ensino
município, em relação à Educação Especial, a normatização contida no nível da Educação Básica, com direito de pleno desenvolvimento
na Resolução CNE/CP Nº 2, de 2017 que, institui e orienta a implan- da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania (BRASIL, 2017,
tação da Base Nacional Comum Curricular – BNCC, o Plano Muni- p. 4).
cipal de Educação (2015-2024), a Resolução Nº 04 de 02/10/2009 Certamente, a Educação Especial sozinha não será a panaceia
que, Institui as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educa- para as dificuldades apresentadas pelos estudantes com e sem
cional Especializado na Educação Básica e a Lei Nº 13.146/2015, deficiência. Mas, na interlocução com a Educação Infantil, cuja
que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência legislação vigente estabelece direitos de aprendizagem e de de-
(Estatuto da Pessoa com Deficiência), impõe-se ressaltar a necessi-
senvolvimento e com o Ensino Fundamental, considerando suas
dade de um olhar direcionado às práticas pedagógicas inclusivas e
competências gerais e específicas, áreas de conhecimento e habi-
ao processo de inclusão escolar nas diferentes, etapas, níveis e mo-
lidades, existem possibilidades de diálogo e de construção de uma
dalidades de ensino, na rede pública do Jaboatão dos Guararapes,
proposta pedagógica articulada com o Atendimento Educacional
em relação aos estudantes com deficiência, transtorno do espectro
autista e altas habilidades /superdotação. Especializado - AEE. No contexto escolar, tal proposta irá consolidar
No presente documento, a prática pedagógica inclusiva é com- ações pedagógicas que promovam aprendizagens essenciais para a
preendida como o conjunto de decisões e fazeres que, no cotidia- vida de cada estudante.
no escolar, poderão concretizar o desenvolvimento da diferença e A pluralidade e a singularidade de todas as pessoas, que com-
da diversidade individual e coletiva, com a finalidade de garantir o põem o ambiente escolar, são desafios que se impõem à educa-
processo de ensino e da aprendizagem dos atores sociais. A práti- ção inclusiva. A Educação Infantil concebe a criança como sujeito
ca pedagógica é indissolúvel das relações interativas, resilientes e histórico e de direitos, que brinca, interage, deseja e aprende, por
afetivas, uma vez que é um elemento constituinte das intervenções conseguinte, deverá atender às especificidades da criança peque-
didáticas, do currículo, do conteúdo de ensino, da avaliação educa- na com deficiência. O conhecimento de si e do outro é ampliado
cional, do ensino colaborativo, da comunicação e da interrelação na convivência com outras crianças e adultos, por isso a deficiência
entre o atendimento educacional especializado e o ensino regular. precisa ser identificada logo nas primeiras fases do desenvolvimen-
Por conseguinte, o currículo representa o reconhecimento das to infantil.
diferenças e a potencialidade dos sujeitos como construtores de Conforme Mendes (2010), a Educação Infantil deve ser a opção
conhecimento. Suas necessidades passam a ser compreendidas de preferencial de projetos políticos de implantação da inclusão, ou
forma individual para que os instrumentos pedagógicos possam es- seja, precisa se tornar o foco prioritário das diretrizes políticas, o
tar atrelados ao seu desenvolvimento escolar. No âmbito da escola, que poderá desencadear um avanço sistemático, gradual e contí-
o currículo vai se constituindo e sua eficácia vai se materializando, nuo da inclusão escolar.
quando a aprendizagem se torna evidente para todos. Assim, a in- No Ensino Fundamental, a transversalidade da Educação Es-
clusão escolar é compreendida como a ruptura do paradigma da pecial estará presente no currículo, que atende às legislações e às
normalidade, da patologia e responde à complexidade da institui- normas específicas. Logo, referendar temas como acessibilidade,
ção escolar, pois atende às necessidades basilares de cada estu- pessoa com deficiência, diversidade humana tem a perspectiva de
dante, que é compreendido como sujeito de sua própria história. enriquecimento e de conhecimento do histórico de como as pesso-
Portanto, não pode ser categorizado com ou sem deficiência. O for- as com deficiência foram compreendidas no contexto social.
talecimento e a participação da família fomentam a promoção do Por exemplo, o Município do Jaboatão dos Guararapes - PE, em
sentimento de pertença à escola e à sala de aula.
seu marco legal, consta a Lei Municipal Nº 722/2012, que estabele-
Logo, a educação inclusiva, considerada como um princípio
ce a realização da Semana Municipal da Pessoa com Deficiência, no
educativo, se torna uma necessidade intrínseca de todos. Nesta
período compreendido entre os dias 25 (vinte e cinco) a 31 (trinta
perspectiva, a Educação Especial se contrapõe aos modelos clíni-
e um) de agosto de cada ano. Este evento deve permanecer e con-
co-terapêuticos, assistencialistas, filantrópicos e segregacionistas e,
sobretudo, com a ideia de ser um substitutivo do ensino regular, tinuar mobilizando a todos os profissionais da educação, famílias e
conforme Beyer (2006, p.73): comunidade para a efetivação da inclusão.

30
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Há, ainda, mais um elemento, que colabora com o planejamen- As instituições ou redes de ensino devem intensificar o proces-
to das atividades voltadas ao desenvolvimento das habilidades dos so de inclusão escolar dos estudantes com deficiência, transtornos
estudantes da modalidade da educação especial: as descrições das globais do desenvolvimento e altas habilidades nas classes comuns
Competências Gerais da BNCC. Tais referências se tornam funda- do ensino regular, garantindo condições de acesso e de permanên-
mentais para a incrementação do currículo, de forma a conduzir os cia com aprendizagem, buscando prover atendimento de qualidade
sujeitos às novas formas de aprender e de adquirir conhecimentos. (BRASIL, 2017, p. 7).
Estas ações de caráter educacional, elencadas no Projeto Políti- Nessa linha de argumentação e corroborando com afirmação
co Pedagógico e sinalizadas no Plano de Trabalho do AEE, fomentam acima, a Lei Nº 13.146/2015, no Capítulo IV, que trata do direito
inúmeras atividades inclusivas, que poderão facilitar o desdobra- à educação, prevê a incumbência do poder público de assegurar,
mento de um currículo na perspectiva inclusiva, sustentada no con- criar, desenvolver, incentivar, acompanhar e avaliar um sistema
ceito de acessibilidade, trazido no dispositivo legal de Nº 10.098, de educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades de ensino.
19 de dezembro de 2000, em seu Capítulo I, das Disposições Gerais, Assim, diante dos princípios da educação inclusiva, os Sistemas
Art. 2º, como: de Ensino, no âmbito dos Governos Federal, Estadual e Municipal
[...] possibilidade e condição de alcance para utilização, com se- devem garantir o direito à educação a todos, a partir da ressigni-
gurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urba- ficação dos modelos classificatórios e discriminatórios. Por conse-
nos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive guinte, cabe à escola a obrigatoriedade de planejar sua organização
seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instala- física e curricular, tendo em vista a pessoa com deficiência na sua
ções abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, integralidade. O planejamento escolar irá interferir nas ações cons-
tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou tituintes do Projeto Político Pedagógico, na prática pedagógica, no
com mobilidade reduzida (BRASIL, 2000, p. 1). trabalho docente e na participação da família.
A partir do conceito supracitado e de suas dimensões arquite- As ações terão como finalidade minimizar a superação de bar-
tônica, comunicacional, metodológica, instrumental, programática reiras atitudinais no cotidiano da escola, através de práticas aces-
e atitudinal, é indispensável procurar conhecer cada estudante para síveis, que promovam a aprendizagem e a autonomia das pessoas
identificar suas potencialidades/necessidades, tendo em vista seu com e sem deficiência.
crescimento global. Assim, o currículo, deve contemplar os princípios da educação
De que forma tais dimensões podem ser incluídas no currículo? inclusiva, estando articulados com a flexibilização de objetivos e
A acessibilidade atitudinal, fundante na relação da prática pedagó- de planejamentos mais individualizados, exigindo que a educação
gica inclusiva, consiste no exercício da quebra de barreiras, exis- assuma um sentido mais amplo. Portanto, impõe-se refletir sobre
tentes no âmbito escolar e na sociedade. Portanto, é indispensável aqueles que ainda estão excluídos do interior da escola e, ao mes-
promover discussões que enfoquem os seguintes aspectos: discri- mo tempo, tentar superar as dificuldades de diálogo com os estu-
minação, preconceito e representações, que persistem em excluir dantes e suas famílias. Logo, é indispensável manter um ambiente
sujeito por suas características físicas e classes sociais. acolhedor e analisar a função da escola no que se refere às apren-
A acessibilidade arquitetônica ocorre quando a instituição es- dizagens essenciais.
colar começa a discutir os seguintes aspectos: localização territo- Desse modo, o conjunto de esforços voltados para a forma-
rial, infraestrutura, trajeto utilizado pelos estudantes, lugar onde ção de professores, a adaptação curricular e a formação de redes
ele se senta na sala de aula e faz suas atividades. A acessibilidade de apoio à educação inclusiva configuramse como respostas para
comunicacional ocorre pela utilização do código Braille, da Língua práticas pedagógicas inclusivas que se destinam aos estudantes fre-
Brasileira de Sinais – Libras, de softwares e de outros instrumentos. quentadores da escola atual.
A acessibilidade metodológica se concretiza a partir da definição Com a implementação do novo currículo para a Educação Espe-
das intervenções didáticas e de seus pressupostos teóricos. cial na Perspectiva da Educação Inclusiva, gerenciada pelo Governo
A acessibilidade instrumental diz respeito aos seguintes fato- Municipal, novas perspectivas estão por vir em relação ao processo
res: disposição e uso de materiais concretos, adaptadores de lápis, de inclusão de estudantes com deficiência, transtorno do espectro
organização do estojo, objetos calmantes, plano inclinado, prote- autista e altas habilidades/superdotação. Assim, em consonância
tores e acesso aos recursos pedagógicos. Por fim, a acessibilidade com a BNCC, o presente currículo é um documento, que redireciona
programática está relacionada ao planejamento do professor, por os fazeres das práxis e fortalece as políticas públicas para o Sistema
conseguinte, depende de projetos e de programas disponibilizados de Ensino do Município do Jaboatão dos Guararapes, mediante o
pela rede de ensino e, também, das adaptações curriculares, que macro projeto: “unir para incluir”, instituído a partir de 2017, com a
são necessárias ao ensino e à aprendizagem. finalidade precípua promover a melhoria e a ampliação do processo
Reafirmamos, também, que o Plano de Desenvolvimento Indi- de inclusão escolar, mediante o Atendimento Educacional Especiali-
vidual Escolar na Rede Municipal de Ensino do Jaboatão dos Guara- zado - AEE para a Educação Básica na Rede Pública de Ensino.
rapes, na atual gestão governamental, passa a ser entendido como
uma proposta fundamental para responder às necessidades dos
estudantes matriculados na SRM, bem como de outros estudantes TEMAS INTEGRADORES
que são estigmatizados, no contexto escolar, por suas diferenças.
Ao longo da vigência desta proposta curricular, a Educação Es- As Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos
pecial, concebida como uma modalidade de ensino terá o desafio (Resolução CNE/CP nº 01/2012) prescrevem que, na Educação Bá-
de discutir e implantar, na Rede Municipal de Ensino, um currículo sica, o currículo poderá ser estruturado tomando por base a pers-
que seja adaptado às condições dos que mais necessitam aprender. pectiva disciplinar, transversal ou mista, fundindo disciplinaridade e
Portanto, a escola precisa levar em consideração o perfil dos seus transversalidade. O currículo escolar é o grande norteador de todo
estudantes. Nessa perspectiva, a BNCC, afirma: o processo pedagógico de uma instituição educacional. A aprendi-

31
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

zagem escolar está intrinsecamente vinculada ao currículo, sendo O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
que este é organizado com o objetivo de orientar as ações dos pro- cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
fessores e os diferentes níveis de ensino. Para que os estudantes de Art. 1º A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a
todo o país tenham acesso a uma formação integral, o Ministério vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:
da Educação (MEC) definiu que as instituições de ensino devem in- “Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e mé-
corporar em seus planos pedagógicos os temas transversais/inte- dio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre His-
gradores, como saúde, meio ambiente, as relações étnico-raciais, tória e Cultura Afro-Brasileira.
orientação sexual, trabalho, consumo, diversidade etc. § 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste
A transversalidade diz respeito à possibilidade de se instituir, artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta
na prática educativa, uma analogia entre aprender conhecimen- dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na for-
tos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as mação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo
questões da vida real (aprender na realidade e da realidade). Os negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História
temas transversais/integradores dizem respeito a questões que do Brasil.
atravessam as experiências dos sujeitos em seus contextos de vida § 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasi-
e atuação e que, portanto, intervêm em seus processos de constru- leira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em
ção de identidade e no modo como interagem com outros sujeitos, especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História
posicionando-se ética e criticamente sobre e no mundo nessas in- Brasileiras.
terações. Os temas integradores perpassam objetivos de aprendi- § 3º (VETADO)»
zagem de diversos componentes curriculares, nas diferentes etapas “Art. 79-A. (VETADO)”
da Educação Básica. Portanto, as temáticas devem ser sociais e con- “Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro
temporâneas. Ao manterem a orientação de sua abordagem trans- como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.”
versal, por se referirem a assuntos que atravessam as experiências Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
dos estudantes em seus contextos, contemplam aspectos que con-
tribuem para uma formação cidadã, política, social e ética. O Refe-
rencial Curricular Municipal do Jaboatão dos Guararapes por sua 11.645/2008
vez, apresenta doze temáticas e bases legais, para que as unidades
educacionais da Rede Municipal de Ensino os apreciem e escolham LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008
um ou mais os temas integradores definidos conforme proposições
dos Projetos Políticos Pedagógicos. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela
Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes
e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da
EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E ENSINO rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura
DA HISTÓRIA E CULTURA AFROBRASILEIRA, AFRICANA Afro-Brasileira e Indígena”.
E INDÍGENA (LEIS Nº 10.639/2003)
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
Essa temática deve ser trabalhada articulada a diferentes com- cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
ponentes curriculares, mas também no âmbito do currículo como
um todo. Deve assegurar o conhecimento e o reconhecimento Art. 1 O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
desses povos na formação cultural, social, econômica e histórica passa a vigorar com a seguinte redação:
da sociedade brasileira, ampliando as referências socioculturais da “Art. 26-A.Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de
comunidade escolar na perspectiva da valorização da diversidade ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da
étnico-racial, contribuindo para a construção e afirmação de dife- história e cultura afro-brasileira e indígena.
rentes identidades. § 1 O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá
É necessário que as práticas escolares contemplem nos seus diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a for-
currículos o ensino da história e cultura afro-brasileira, africanas e mação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos,
indígenas como forma de reconhecimento da contribuição que di- tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos
versos povos deram para a história e cultura nacional e a diversas negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena
culturas mundiais. Desta maneira, será alcançada uma educação brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional,
das relações étnico-raciais que respeite a diversidade brasileira e resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e po-
que busque a erradicação da desigualdade, discriminação e comba- lítica, pertinentes à história do Brasil.
te ao racismo, ensejando a construção de uma sociedade baseada § 2 Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira
no reconhecimento das diferenças. Possibilitando a ampliação das e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de
práticas escolares para além da legislação. todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística
e de literatura e história brasileiras.” (NR)
LEI Nº 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003 Art. 2 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que esta- Brasília,10 de março de 2008; 187 da Independência e 120o da
belece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no República.
currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática
“História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências.

32
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Encaminharam-se em torno de mil questionários e o respon-


PARECER CNE/CP Nº 03/2004 deram individualmente ou em grupo 250 mulheres e homens, en-
tre crianças e adultos, com diferentes níveis de escolarização. Suas
PARECER N.º: CNE/CP 003/2004 respostas mostraram a importância de se tratarem problemas, di-
ficuldades, dúvidas, antes mesmo de o parecer traçar orientações,
I – RELATÓRIO indicações, normas.
Este parecer visa a atender os propósitos expressos na Indica-
ção CNE/CP 6/2002, bem como regulamentar a alteração trazida Questões introdutórias
à Lei 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, pela Lei O parecer procura oferecer uma resposta, entre outras, na área
10.639/200, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de Histó- da educação, à demanda da população afrodescendente, no senti-
ria e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica. Desta do de políticas de ações afirmativas, isto é, de políticas de repara-
forma, busca cumprir o estabelecido na Constituição Federal nos ções, e de reconhecimento e valorização de sua história, cultura,
seus Art. 5º, I, Art. 210, Art. 206, I, § 1° do Art. 242, Art. 215 e Art. identidade. Trata, ele, de política curricular, fundada em dimensões
216, bem como nos Art. 26, 26 A e 79 B na Lei 9.394/96 de Diretri- históricas, sociais, antropológicas oriundas da realidade brasileira,
zes e Bases da Educação Nacional, que asseguram o direito à igual- e busca combater o racismo e as discriminações que atingem par-
dade de condições de vida e de cidadania, assim como garantem ticularmente os negros. Nesta perspectiva, propõe à divulgação e
igual direito às histórias e culturas que compõem a nação brasileira, produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas e
além do direito de acesso às diferentes fontes da cultura nacional valores que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento
a todos brasileiros. étnico-racial - descendentes de africanos, povos indígenas, descen-
Juntam-se a preceitos analógicos os Art. 26 e 26 A da LDB, dentes de europeus, de asiáticos – para interagirem na construção
como os das Constituições Estaduais da Bahia (Art. 275, IV e 288), de uma nação democrática, em que todos, igualmente, tenham
do Rio de Janeiro (Art. 306), de Alagoas (Art. 253), assim como de seus direitos garantidos e sua identidade valorizada.
Leis Orgânicas, tais como a de Recife (Art. 138), de Belo Horizonte É importante salientar que tais políticas têm como meta o di-
(Art. 182, VI), a do Rio de Janeiro (Art. 321, VIII), além de leis ordi- reito dos negros se reconhecerem na cultura nacional, expressarem
nárias, como lei Municipal nº 7.685, de 17 de janeiro de 1994, de visões de mundo próprias, manifestarem com autonomia, individu-
Belém, a Lei Municipal nº 2.251, de 30 de novembro de 1994, de al e coletiva, seus pensamentos. É necessário sublinhar que tais po-
Aracaju e a Lei Municipal nº 11.973, de 4 de janeiro de 1996, de líticas têm, também, como meta o direito dos negros, assim como
São Paulo.
de todos cidadãos brasileiros, cursarem cada um dos níveis de en-
Junta-se, também, ao disposto no Estatuto da Criança e do
sino, em escolas devidamente instaladas e equipadas, orientados
Adolescente (Lei 8.096, de 13 de junho de 1990), bem como no Pla-
por professores qualificados para o ensino das diferentes áreas de
no Nacional de Educação (Lei 10.172, de 9 de janeiro de 2001).
conhecimentos; com formação para lidar com as tensas relações
Todos estes dispositivos legais, bem como reivindicações e
produzidas pelo racismo e discriminações, sensíveis e capazes de
propostas do Movimento Negro ao longo do século XX, apontam
conduzir a reeducação das relações entre diferentes grupos étnico-
para a necessidade de diretrizes que orientem a formulação de
raciais, ou seja, entre descendentes de africanos, de europeus, de
projetos empenhados na valorização da história e cultura dos afro-
asiáticos, e povos indígenas.
-brasileiros e dos africanos, assim como comprometidos com a de
educação de relações étnico-raciais positivas, a que tais conteúdos Estas condições materiais das escolas e de formação de pro-
devem conduzir. fessores são indispensáveis para uma educação de qualidade, para
Destina-se, o parecer, aos administradores dos sistemas de todos, assim como o é o reconhecimento e valorização da história,
ensino, de mantenedoras de estabelecimentos de ensino, aos esta- cultura e identidade dos descendentes de africanos.
belecimentos de ensino, seus professores e a todos implicados na
elaboração, execução, avaliação de programas de interesse educa- Políticas de Reparações, de Reconhecimento e Valorização,
cional, de planos institucionais, pedagógicos e de ensino. Destina- de Ações Afirmativas
-se, também, às famílias dos estudantes, a eles próprios e a todos A demanda por reparações visa a que o Estado e a sociedade
os cidadãos comprometidos com a educação dos brasileiros, para tomem medidas para ressarcir os descendentes de africanos ne-
nele buscarem orientações, quando pretenderem dialogar com os gros, dos danos psicológicos, materiais, sociais, políticos e educa-
sistemas de ensino, escolas e educadores, no que diz respeito às re- cionais sofridos sob o regime escravista, bem como em virtude das
lações étnico-raciais, ao reconhecimento e valorização da história políticas explícitas ou tácitas de branqueamento da população, de
e cultura dos afro-brasileiros, à diversidade da nação brasileira, ao manutenção de privilégios exclusivos para grupos com poder de
igual direito à educação de qualidade, isto é, não apenas direito ao governar e de influir na formulação de políticas, no pós-abolição.
estudo, mas também à formação para a cidadania responsável pela Visa também a que tais medidas se concretizem em iniciativas de
construção de uma sociedade justa e democrática. combate ao racismo e a toda sorte de discriminações.
Em vista disso, foi feita consulta sobre as questões objeto des- Cabe ao Estado promover e incentivar políticas de reparações,
te parecer, por meio de questionário encaminhado a grupos do no que cumpre ao disposto na Constituição Federal, Art. 205, que
Movimento Negro, a militantes individualmente, aos Conselhos assinala o dever do Estado de garantir indistintamente, por meio
Estaduais e Municipais de Educação, a professores que vêm desen- da educação, iguais direitos para o pleno desenvolvimento de to-
volvendo trabalhos que abordam a questão racial, a pais de alunos, dos e de cada um, enquanto pessoa, cidadão ou profissional. Sem a
enfim a cidadãos empenhados com a construção de uma sociedade intervenção do Estado, os postos à margem, entre eles os afro-bra-
justa, independentemente de seu pertencimento racial. sileiros, dificilmente, e as estatísticas o mostram sem deixar dúvi-
das, romperão o sistema meritocrático que agrava desigualdades e

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

gera injustiça, ao reger-se por critérios de exclusão, fundados em tentes no domínio dos conteúdos de ensino, comprometidos com a
preconceitos e manutenção de privilégios para os sempre privile- educação de negros e brancos, no sentido de que venham a relacio-
giados. nar-se com respeito, sendo capazes de corrigir posturas, atitudes e
Políticas de reparações voltadas para a educação dos negros palavras que impliquem desrespeito e discriminação.
devem oferecer garantias a essa população de ingresso, permanên- Políticas de reparações e de reconhecimento formarão pro-
cia e sucesso na educação escolar, de valorização do patrimônio gramas de ações afirmativas, isto é, conjuntos de ações políticas
histórico-cultural afro-brasileiro, de aquisição das competências e dirigidas à correção de desigualdades raciais e sociais, orientadas
dos conhecimentos tidos como indispensáveis para continuidade para oferta de tratamento diferenciado com vistas a corrigir des-
nos estudos, de condições para alcançar todos os requisitos tendo vantagens e marginalização criadas e mantidas por estrutura social
em vista a conclusão de cada um dos níveis de ensino, bem como excludente e discriminatória. Ações afirmativas atendem ao deter-
para atuar como cidadãos responsáveis e participantes, além de minado pelo Programa Nacional de Direitos Humanos, bem como a
desempenharem com qualificação uma profissão. compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, com o objetivo
A demanda da comunidade afro-brasileira por reconhecimen- de combate ao racismo e a discriminações, tais como: a Convenção
to, valorização e afirmação de direitos, no que diz respeito à edu- da UNESCO de 1960, direcionada ao combate ao racismo em todas
cação, passou a ser particularmente apoiada com a promulgação as formas de ensino, bem como a Conferência Mundial de Combate
da Lei 10639/2003, que alterou a Lei 9394/1996, estabelecendo a ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Discriminações Cor-
obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileiras e relatas de 2001.
africanas.
Reconhecimento implica justiça e iguais direitos sociais, civis, Assim sendo, sistemas de ensino e estabelecimentos de dife-
culturais e econômicos, bem como valorização da diversidade da- rentes níveis converterão as demandas dos afro-brasileiros em po-
líticas públicas de Estado ou institucionais, ao tomarem decisões e
quilo que distingue os negros dos outros grupos que compõem a
iniciativas com vistas a reparações, reconhecimento e valorização
população brasileira. E isto requer mudança nos discursos, racio-
da história e cultura dos afro-brasileiros, à constituição de progra-
cínios, lógicas, gestos, posturas, modo de tratar as pessoas negras.
mas de ações afirmativas, medidas estas coerentes com um proje-
Requer também que se conheça a sua história e cultura apresenta-
to de escola, de educação, de formação de cidadãos que explicita-
das, explicadas, buscando-se especificamente desconstruir o mito mente se esbocem nas relações pedagógicas cotidianas. Medidas
da democracia racial na sociedade brasileira; mito este que difunde que, convém, sejam compartilhadas pelos sistemas de ensino, esta-
a crença de que, se os negros não atingem os mesmos patamares belecimentos, processos de formação de professores, comunidade,
que os não negros, é por falta de competência ou de interesse, des- professores, alunos e seus pais.
considerando as desigualdades seculares que a estrutura social hie- Medidas que repudiam, como prevê a Constituição Federal em
rárquica cria com prejuízos para os negros. seu Art.3º, IV, o “preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e
Reconhecimento requer a adoção de políticas educacionais e quaisquer outras formas de discriminação” e reconhecem que to-
de estratégias pedagógicas de valorização da diversidade, a fim de dos são portadores de singularidade irredutível e que a formação
superar a desigualdade étnico-racial presente na educação escolar escolar tem de estar atenta para o desenvolvimento de suas perso-
brasileira, nos diferentes níveis de ensino. Reconhecer exige que se nalidades (Art.208, IV).
questionem relações étnico-raciais baseadas em preconceitos que
desqualificam os negros e salientam estereótipos depreciativos, pa- Educação das relações étnico-raciais
lavras e atitudes que, velada ou explicitamente violentas, expres- O sucesso das políticas públicas de Estado, institucionais e pe-
sam sentimentos de superioridade em relação aos negros, próprios dagógicas, visando a reparações, reconhecimento e valorização da
de uma sociedade hierárquica e desigual. identidade, da cultura e da história dos negros brasileiros depen-
Reconhecer é também valorizar, divulgar e respeitar os proces- de necessariamente de condições físicas, materiais, intelectuais e
sos históricos de resistência negra desencadeados pelos africanos afetivas favoráveis para o ensino e para aprendizagens; em outras
escravizados no Brasil e por seus descendentes na contemporanei- palavras, todos os alunos negros e não negros, bem como seus pro-
dade, desde as formas individuais até as coletivas. fessores, precisam sentir-se valorizados e apoiados. Depende tam-
Reconhecer exige a valorização e respeito às pessoas negras, bém, de maneira decisiva, da reeducação das relações entre negros
à sua descendência africana, sua cultura e história. Significa bus- e brancos, o que aqui estamos designando como relações étnico-
car, compreender seus valores e lutas, ser sensível ao sofrimento -raciais. Depende, ainda, de trabalho conjunto, de articulação entre
causado por tantas formas de desqualificação: apelidos deprecia- processos educativos escolares, políticas públicas, movimentos so-
ciais, visto que as mudanças éticas, culturais, pedagógicas e políti-
tivos, brincadeiras, piadas de mau gosto sugerindo incapacidade,
cas nas relações étnico-raciais não se limitam à escola.
ridicularizando seus traços físicos, a textura de seus cabelos, fa-
É importante destacar que se entende por raça a construção
zendo pouco das religiões de raiz africana. Implica criar condições
social forjada nas tensas relações entre brancos e negros, muitas
para que os estudantes negros não sejam rejeitados em virtude da
vezes simuladas como harmoniosas, nada tendo a ver com o con-
cor da sua pele, menosprezados em virtude de seus antepassados ceito biológico de raça cunhado no século XVIII e hoje sobejamente
terem sido explorados como escravos, não sejam desencorajados superado.
de prosseguir estudos, de estudar questões que dizem respeito à Cabe esclarecer que o termo raça é utilizado com freqüência
comunidade negra. nas relações sociais brasileiras, para informar como determinadas
Reconhecer exige que os estabelecimentos de ensino, freqüen- características físicas, como cor de pele, tipo de cabelo, entre ou-
tados em sua maioria por população negra, contem com instala- tras, influenciam, interferem e até mesmo determinam o destino e
ções e equipamentos sólidos, atualizados, com professores compe- o lugar social dos sujeitos no interior da sociedade brasileira.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Contudo, o termo foi ressignificado pelo Movimento Negro papel preponderante para eliminação das discriminações e para
que, em várias situações, o utiliza com um sentido político e de emancipação dos grupos discriminados, ao proporcionar acesso
valorização do legado deixado pelos africanos. É importante, tam- aos conhecimentos científicos, a registros culturais diferenciados, à
bém, explicar que o emprego do termo étnico, na expressão ét- conquista de racionalidade que rege as relações sociais e raciais, a
nico-racial, serve para marcar que essas relações tensas devidas a conhecimentos avançados, indispensáveis para consolidação e con-
diferenças na cor da pele e traços fisionômicos o são também de- certo das nações como espaços democráticos e igualitários.
vido à raiz cultural plantada na ancestralidade africana, que difere Para obter êxito, a escola e seus professores não podem impro-
em visão de mundo, valores e princípios das de origem indígena, visar. Têm que desfazer mentalidade racista e discriminadora secu-
européia e asiática. lar, superando o etnocentrismo europeu, reestruturando relações
Convivem, no Brasil, de maneira tensa, a cultura e o padrão étnico-raciais e sociais, desalienando processos pedagógicos. Isto
estético negro e africano e um padrão estético e cultural branco não pode ficar reduzido a palavras e a raciocínios desvinculados da
europeu. Porém, a presença da cultura negra e o fato de 45% da experiência de ser inferiorizados vivida pelos negros, tampouco das
população brasileira ser composta de negros (de acordo com o cen- baixas classificações que lhe são atribuídas nas escalas de desigual-
so do IBGE) não têm sido suficientes para eliminar ideologias, desi- dades sociais, econômicas, educativas e políticas.
gualdades e estereótipos racistas. Ainda persiste em nosso país um Diálogo com estudiosos que analisam, criticam estas realidades
imaginário étnico-racial que privilegia a brancura e valoriza princi- e fazem propostas, bem como com grupos do Movimento Negro,
palmente as raízes européias da sua cultura, ignorando ou pouco presentes nas diferentes regiões e estados, assim como em inúme-
valorizando as outras, que são a indígena, a africana, a asiática. ras cidades, são imprescindíveis para que se vençam discrepâncias
Os diferentes grupos, em sua diversidade, que constituem o entre o que se sabe e a realidade, se compreendam concepções e
Movimento Negro brasileiro, têm comprovado o quanto é dura a ações, uns dos outros, se elabore projeto comum de combate ao
experiência dos negros de ter julgados negativamente seu com- racismo e a discriminações.
portamento, idéias e intenções antes mesmo de abrirem a boca ou Temos, pois, pedagogias de combate ao racismo e a discrimi-
tomarem qualquer iniciativa. Têm, eles, insistido no quanto é alie- nações por criar. É claro que há experiências de professores e de
nante a experiência de fingir ser o que não é para ser reconhecido, algumas escolas, ainda isoladas, que muito vão ajudar.
de quão dolorosa pode ser a experiência de deixar-se assimilar por Para empreender a construção dessas pedagogias, é funda-
uma visão de mundo que pretende impor-se como superior e, por mental que se desfaçam alguns equívocos. Um deles diz respeito
isso, universal e que os obriga a negarem a tradição do seu povo. à preocupação de professores no sentido de designar ou não seus
Se não é fácil ser descendente de seres humanos escravizados alunos negros como negros ou como pretos, sem ofensas.
e forçados à condição de objetos utilitários ou a semoventes, tam- Em primeiro lugar, é importante esclarecer que ser negro no
bém é difícil descobrir-se descendente dos escravizadores, temer, Brasil não se limita às características físicas. Trata-se, também, de
embora veladamente, revanche dos que, por cinco séculos, têm uma escolha política. Por isso, o é quem assim se define. Em segun-
sido desprezados e massacrados. do lugar, cabe lembrar que preto é um dos quesitos utilizados pelo
Para reeducar as relações étnico-raciais, no Brasil, é necessário IBGE para classificar, ao lado dos outros – branco, pardo, indígena
fazer emergir as dores e medos que têm sido gerados. É preciso - a cor da população brasileira.
entender que o sucesso de uns tem o preço da marginalização e Pesquisadores de diferentes áreas, inclusive da educação, para
da desigualdade impostas a outros. E então decidir que sociedade fins de seus estudos, agregam dados relativos a pretos e pardos sob
queremos construir daqui para frente. a categoria negros, já que ambos reúnem, conforme alerta o Movi-
Como bem salientou Frantz Fanon, os descendentes dos mer- mento Negro, aqueles que reconhecem sua ascendência africana.
cadores de escravos, dos senhores de ontem, não têm, hoje, de É importante tomar conhecimento da complexidade que en-
assumir culpa pelas desumanidades provocadas por seus antepas- volve o processo de construção da identidade negra em nosso país.
sados. No entanto, têm eles a responsabilidade moral e política de Processo esse, marcado por uma sociedade que, para discriminar
combater o racismo, as discriminações e, juntamente com os que os negros, utiliza-se tanto da desvalorização da cultura de matriz
vêm sendo mantidos à margem, os negros, construir relações ra- africana como dos aspectos físicos herdados pelos descendentes de
ciais e sociais sadias, em que todos cresçam e se realizem enquanto africanos. Nesse processo complexo, é possível, no Brasil, que algu-
seres humanos e cidadãos. Não fossem por estas razões, eles a te- mas pessoas de tez clara e traços físicos europeus, em virtude de o
riam de assumir, pelo fato de usufruírem do muito que o trabalho pai ou a mãe ser negro(a), se designarem negros; que outros, com
escravo possibilitou ao país. traços físicos africanos, se digam brancos. É preciso lembrar que o
Assim sendo, a educação das relações étnico-raciais impõe termo negro começou a ser usado pelos senhores para designar pe-
aprendizagens entre brancos e negros, trocas de conhecimentos, jorativamente os escravizados e este sentido negativo da palavra se
quebra de desconfianças, projeto conjunto para construção de uma estende até hoje. Contudo, o Movimento Negro ressignificou esse
sociedade justa, igual, equânime. termo dando-lhe um sentido político e positivo. Lembremos os mo-
Combater o racismo, trabalhar pelo fim da desigualdade so- tes muito utilizados no final dos anos 1970 e no decorrer dos anos
cial e racial, empreender reeducação das relações étnico-raciais 1980, 1990: Negro é lindo! Negra, cor da raça brasileira! Negro que
não são tarefas exclusivas da escola. As formas de discriminação te quero negro! 100% Negro! Não deixe sua cor passar em branco!
de qualquer natureza não têm o seu nascedouro na escola, porém Este último utilizado na campanha do censo de 1990.
o racismo, as desigualdades e discriminações correntes na socieda- Outro equívoco a enfrentar é a afirmação de que os negros se
de perpassam por ali. Para que as instituições de ensino desempe- discriminam entre si e que são racistas também. Esta constatação
nhem a contento o papel de educar, é necessário que se constituam tem de ser analisada no quadro da ideologia do branqueamento
em espaço democrático de produção e divulgação de conhecimen- que divulga a idéia e o sentimento de que as pessoas brancas se-
tos e de posturas que visam a uma sociedade justa. A escola tem riam mais humanas, teriam inteligência superior e, por isso, teriam

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

o direito de comandar e de dizer o que é bom para todos. Cabe nadas à diversidade étnico-racial, mas a lidar positivamente com
lembrar que, no pós-abolição, foram formuladas políticas que visa- elas e, sobretudo criar estratégias pedagógicas que possam auxiliar
vam ao branqueamento da população pela eliminação simbólica e a reeducá-las.
material da presença dos negros. Nesse sentido, é possível que pes- Até aqui apresentaram-se orientações que justificam e funda-
soas negras sejam influenciadas pela ideologia do branqueamento mentam as determinações de caráter normativo que seguem.
e, assim, tendam a reproduzir o preconceito do qual são vítimas. O
racismo imprime marcas negativas na subjetividade dos negros e História e Cultura Afro-Brasileira e Africana – Determinações
também na dos que os discriminam. A obrigatoriedade de inclusão de História e Cultura Afro-Bra-
Mais um equívoco a superar é a crença de que a discussão so- sileira e Africana nos currículos da Educação Básica trata-se de
bre a questão racial se limita ao Movimento Negro e a estudiosos decisão política, com fortes repercussões pedagógicas, inclusive
do tema e não à escola. A escola, enquanto instituição social res- na formação de professores. Com esta medida, reconhece-se que,
ponsável por assegurar o direito da educação a todo e qualquer além de garantir vagas para negros nos bancos escolares, é preciso
cidadão, deverá se posicionar politicamente, como já vimos, contra valorizar devidamente a história e cultura de seu povo, buscando
toda e qualquer forma de discriminação. A luta pela superação do reparar danos, que se repetem há cinco séculos, à sua identidade
racismo e da discriminação racial é, pois, tarefa de todo e qualquer e a seus direitos. A relevância do estudo de temas decorrentes da
educador, independentemente do seu pertencimento étnico-ra- história e cultura afro-brasileira e africana não se restringe à po-
cial, crença religiosa ou posição política. O racismo, segundo o Arti- pulação negra, ao contrário, dizem respeito a todos os brasileiros,
go 5º da Constituição Brasileira, é crime inafiançável e isso se aplica uma vez que devem educar-se enquanto cidadãos atuantes no seio
a todos os cidadãos e instituições, inclusive, à escola. de uma sociedade multicultural e pluriétnica, capazes de construir
Outro equívoco a esclarecer é de que o racismo, o mito da uma nação democrática.
democracia racial e a ideologia do branqueamento só atingem os É importante destacar que não se trata de mudar um foco et-
nocêntrico marcadamente de raiz européia por um africano, mas
negros. Enquanto processos estruturantes e constituintes da for-
de ampliar o foco dos currículos escolares para a diversidade cul-
mação histórica e social brasileira, estes estão arraigados no ima-
tural, racial, social e econômica brasileira. Nesta perspectiva, cabe
ginário social e atingem negros, brancos e outros grupos étnico-ra-
às escolas incluir no contexto dos estudos e atividades, que pro-
ciais. As formas, os níveis e os resultados desses processos incidem
porciona diariamente, também as contribuições histórico-culturais
de maneira diferente sobre os diversos sujeitos e interpõem dife- dos povos indígenas e dos descendentes de asiáticos, além das de
rentes dificuldades nas suas trajetórias de vida escolar e social. Por raiz africana e européia. É preciso ter clareza que o Art. 26A acres-
isso, a construção de estratégias educacionais que visem ao comba- cido à Lei 9.394/1996 provoca bem mais do que inclusão de novos
te do racismo é uma tarefa de todos os educadores, independente- conteúdos, exige que se repensem relações étnico-raciais, sociais,
mente do seu pertencimento étnico-racial. pedagógicas, procedimentos de ensino, condições oferecidas para
Pedagogias de combate ao racismo e a discriminações elabora- aprendizagem, objetivos tácitos e explícitos da educação oferecida
das com o objetivo de educação das relações étnico/raciais positi- pelas escolas.
vas têm como objetivo fortalecer entre os negros e despertar entre A autonomia dos estabelecimentos de ensino para compor os
os brancos a consciência negra. Entre os negros, poderão oferecer projetos pedagógicos, no cumprimento do exigido pelo Art. 26A da
conhecimentos e segurança para orgulharem-se da sua origem afri- Lei 9394/1996, permite que se valham da colaboração das comuni-
cana; para os brancos, poderão permitir que identifiquem as influ- dades a que a escola serve, do apoio direto ou indireto de estudio-
ências, a contribuição, a participação e a importância da história sos e do Movimento Negro, com os quais estabelecerão canais de
e da cultura dos negros no seu jeito de ser, viver, de se relacionar comunicação, encontrarão formas próprias de incluir nas vivências
com as outras pessoas, notadamente as negras. Também farão promovidas pela escola, inclusive em conteúdos de disciplinas, as
parte de um processo de reconhecimento, por parte do Estado, da temáticas em questão. Caberá, aos sistemas de ensino, às mantene-
sociedade e da escola, da dívida social que têm em relação ao seg- doras, à coordenação pedagógica dos estabelecimentos de ensino
mento negro da população, possibilitando uma tomada de posição e aos professores, com base neste parecer, estabelecer conteúdos
explícita contra o racismo e a discriminação racial e a construção de ensino, unidades de estudos, projetos e programas, abrangendo
de ações afirmativas nos diferentes níveis de ensino da educação os diferentes componentes curriculares. Caberá, aos administrado-
brasileira. res dos sistemas de ensino e das mantenedoras prover as escolas,
Tais pedagogias precisam estar atentas para que todos, negros seus professores e alunos de material bibliográfico e de outros ma-
e não negros, além de ter acesso a conhecimentos básicos tidos teriais didáticos, além de acompanhar os trabalhos desenvolvidos,
como fundamentais para a vida integrada à sociedade, exercício a fim de evitar que questões tão complexas, muito pouco tratadas,
profissional competente, recebam formação que os capacite para tanto na formação inicial como continuada de professores, sejam
abordadas de maneira resumida, incompleta, com erros.
forjar novas relações étnico-raciais. Para tanto, há necessidade,
Em outras palavras, aos estabelecimentos de ensino está sen-
como já vimos, de professores qualificados para o ensino das dife-
do atribuída responsabilidade de acabar com o modo falso e redu-
rentes áreas de conhecimentos e, além disso, sensíveis e capazes
zido de tratar a contribuição dos africanos escravizados e de seus
de direcionar positivamente as relações entre pessoas de diferen-
descendentes para a construção da nação brasileira; de fiscalizar
tes pertencimento étnico-racial, no sentido do respeito e da corre- para que, no seu interior, os alunos negros deixem de sofrer os
ção de posturas, atitudes, palavras preconceituosas. Daí a necessi- primeiros e continuados atos de racismo de que são vítimas. Sem
dade de se insistir e investir para que os professores, além de sólida dúvida, assumir estas responsabilidades implica compromisso com
formação na área específica de atuação, recebam formação que os o entorno sociocultural da escola, da comunidade onde esta se en-
capacite não só a compreender a importância das questões relacio- contra e a que serve, compromisso com a formação de cidadãos

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

atuantes e democráticos, capazes de compreender as relações so- - as excelentes condições de formação e de instrução que pre-
ciais e étnico-raciais de que participam e ajudam a manter e/ou cisam ser oferecidas, nos diferentes níveis e modalidades de en-
a reelaborar, capazes de decodificar palavras, fatos e situações a sino, em todos os estabelecimentos, inclusive os localizados nas
partir de diferentes perspectivas, de desempenhar-se em áreas de chamadas periferias urbanas e nas zonas rurais.
competências que lhes permitam continuar e aprofundar estudos
em diferentes níveis de formação. AÇÕES EDUCATIVAS DE COMBATE AO RACISMO E A DISCRI-
MINAÇÕES
Precisa, o Brasil, país multi-étnico e pluricultural, de organiza- O princípio encaminha para:
ções escolares em que todos se vejam incluídos, em que lhes seja - a conexão dos objetivos, estratégias de ensino e atividades
garantido o direito de aprender e de ampliar conhecimentos, sem com a experiência de vida dos alunos e professores, valorizando
ser obrigados a negar a si mesmos, ao grupo étnico/racial a que aprendizagens vinculadas às suas relações com pessoas negras,
pertencem e a adotar costumes, idéias e comportamentos que lhes brancas, mestiças, assim como as vinculadas às relações entre ne-
são adversos. E estes, certamente, serão indicadores da qualidade gros, indígenas e brancos no conjunto da sociedade;
da educação que estará sendo oferecida pelos estabelecimentos de - a crítica pelos coordenadores pedagógicos, orientadores edu-
ensino de diferentes níveis. cacionais, professores, das representações dos negros e de outras
minorias nos textos, materiais didáticos, bem como providências
Para conduzir suas ações, os sistemas de ensino, os estabe- para corrigi-las;
lecimentos e os professores terão como referência, entre outros - condições para professores e alunos pensarem, decidirem,
pertinentes às bases filosóficas e pedagógicas que assumem, os agirem, assumindo responsabilidade por relações étnico-raciais po-
princípios a seguir explicitados. sitivas, enfrentando e superando discordâncias, conflitos, contesta-
ções, valorizando os contrastes das diferenças;
CONSCIÊNCIA POLÍTICA E HISTÓRICA DA DIVERSIDADE - valorização da oralidade, da corporeidade e da arte, por
Este princípio deve conduzir: exemplo, como a dança, marcas da cultura de raiz africana, ao lado
- à igualdade básica de pessoa humana como sujeito de direi- da escrita e da leitura;
tos; - educação patrimonial, aprendizado a partir do patrimônio
- à compreensão de que a sociedade é formada por pessoas cultural afro-brasileiro, visando a preservá-lo e a difundi-lo;
que pertencem a grupos étnico-raciais distintos, que possuem cul- - o cuidado para que se dê um sentido construtivo à partici-
tura e história próprias, igualmente valiosas e que em conjunto pação dos diferentes grupos sociais, étnico-raciais na construção
constroem, na nação brasileira, sua história; da nação brasileira, aos elos culturais e históricos entre diferentes
- ao conhecimento e à valorização da história dos povos afri- grupos étnico-raciais, às alianças sociais;
canos e da cultura afrobrasileira na construção histórica e cultural - participação de grupos do Movimento Negro, e de grupos cul-
brasileira; turais negros, bem como da comunidade em que se insere a escola,
- à superação da indiferença, injustiça e desqualificação com sob a coordenação dos professores, na elaboração de projetos polí-
que os negros, os povos indígenas e também as classes populares tico-pedagógicos que contemplem a diversidade étnicoracial.
às quais os negros, no geral, pertencem, são comumente tratados;
- à desconstrução, por meio de questionamentos e análises Estes princípios e seus desdobramentos mostram exigências de
críticas, objetivando eliminar conceitos, idéias, comportamentos mudança de mentalidade, de maneiras de pensar e agir dos indiví-
veiculados pela ideologia do branqueamento, pelo mito da demo- duos em particular, assim como das instituições e de suas tradições
cracia racial, que tanto mal fazem a negros e brancos; culturais. É neste sentido que se fazem as seguintes determinações:
- à busca, da parte de pessoas, em particular de professores - O ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, evi-
não familiarizados com a análise das relações étnico-raciais e so- tando-se distorções, envolverá articulação entre passado, presente
ciais com o estudo de história e cultura afrobrasileira e africana, de e futuro no âmbito de experiências, construções e pensamentos
informações e subsídios que lhes permitam formular concepções produzidos em diferentes circunstâncias e realidades do povo ne-
não baseadas em preconceitos e construir ações respeitosas; gro. É um meio privilegiado para a educação das relações étnico-ra-
- ao diálogo, via fundamental para entendimento entre dife- ciais e tem por objetivos o reconhecimento e valorização da identi-
rentes, com a finalidade de negociações, tendo em vista objetivos dade, história e cultura dos afrobrasileiros, garantia de seus direitos
comuns; visando a uma sociedade justa. de cidadãos, reconhecimento e igual valorização das raízes africa-
nas da nação brasileira, ao lado das indígenas, européias, asiáticas.
FORTALECIMENTO DE IDENTIDADES E DE DIREITOS - O ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana se
O princípio deve orientar para: fará por diferentes meios, em atividades curriculares ou não, em
- o desencadeamento de processo de afirmação de identida- que: - se explicitem, busquem compreender e interpretar, na pers-
des, de historicidade negada ou distorcida; pectiva de quem o formule, diferentes formas de expressão e de
- o rompimento com imagens negativas forjadas por diferentes organização de raciocínios e pensamentos de raiz da cultura africa-
meios de comunicação, contra os negros e os povos indígenas; na; - promovam-se oportunidades de diálogo em que se conheçam,
- o esclarecimentos a respeito de equívocos quanto a uma se ponham em comunicação diferentes sistemas simbólicos e es-
identidade humana universal; truturas conceituais, bem como se busquem formas de convivência
- o combate à privação e violação de direitos; respeitosa, além da construção de projeto de sociedade em que
- a ampliação do acesso a informações sobre a diversidade da todos se sintam encorajados a expor, defender sua especificidade
nação brasileira e sobre a recriação das identidades, provocada por étnico-racial e a buscar garantias para que todos o façam; - sejam
relações étnico-raciais; incentivadas atividades em que pessoas – estudantes, professores,

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

servidores, integrantes da comunidade externa aos estabelecimen- - O ensino de Cultura Africana abrangerá: - as contribuições do
tos de ensino – de diferentes culturas interatuem e se interpretem Egito para a ciência e filosofia ocidentais; - as universidades africa-
reciprocamente, respeitando os valores, visões de mundo, raciocí- nas Timbuktu, Gao, Djene que floresciam no século XVI; - as tecno-
nios e pensamentos de cada um. logias de agricultura, de beneficiamento de cultivos, de mineração
- O ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, a e de edificações trazidas pelos escravizados, bem como a produção
educação das relações étnico-raciais, tal como explicita o presente científica, artística (artes plásticas, literatura, música, dança, teatro)
parecer, se desenvolverão no cotidiano das escolas, nos diferentes política, na atualidade .
níveis e modalidades de ensino, como conteúdo de disciplinas,3 - O ensino de História e de Cultura Afro-Brasileira, se fará por
particularmente, Educação Artística, Literatura e História do Brasil, diferentes meios, inclusive, a realização de projetos de diferentes
sem prejuízo das demais, em atividades curriculares ou não, traba- naturezas, no decorrer do ano letivo, com vistas à divulgação e
lhos em salas de aula, nos laboratórios de ciências e de informática, estudo da participação dos africanos e de seus descendentes em
na utilização de sala de leitura, biblioteca, brinquedoteca, áreas de episódios da história do Brasil, na construção econômica, social e
recreação, quadra de esportes e outros ambientes escolares. cultural da nação, destacando-se a atuação de negros em diferen-
- O ensino de História Afro-Brasileira abrangerá, entre outros tes áreas do conhecimento, de atuação profissional, de criação tec-
conteúdos, iniciativas e organizações negras, incluindo a história nológica e artística, de luta social (tais como: Zumbi, Luiza Nahim,
dos quilombos, a começar pelo de Palmares, e de remanescentes Aleijadinho, Padre Maurício, Luiz Gama, Cruz e Souza, João Cândi-
de quilombos, que têm contribuído para o desenvolvimento de do, André Rebouças, Teodoro Sampaio, José Correia Leite, Solano
comunidades, bairros, localidades, municípios, regiões (exemplos: Trindade, Antonieta de Barros, Edison Carneiro, Lélia Gonzáles, Be-
associações negras recreativas, culturais, educativas, artísticas, de atriz Nascimento, Milton Santos, Guerreiro Ramos, Clóvis Moura,
assistência, de pesquisa, irmandades religiosas, grupos do Movi- Abdias do Nascimento, Henrique Antunes Cunha, Tereza Santos,
mento Negro). Será dado destaque a acontecimentos e realizações Emmanuel Araújo, Cuti, Alzira Rufino, Inaicyra Falcão dos Santos,
próprios de cada região e localidade. entre outros).
- Datas significativas para cada região e localidade serão de- - O ensino de História e Cultura Africana se fará por diferentes
vidamente assinaladas. O 13 de maio, Dia Nacional de Denúncia meios, inclusive a realização de projetos de diferente natureza, no
contra o Racismo, será tratado como o dia de denúncia das reper- decorrer do ano letivo, com vistas à divulgação e estudo da partici-
cussões das políticas de eliminação física e simbólica da população pação dos africanos e de seus descendentes na diáspora, em episó-
afro-brasileira no pós-abolição, e de divulgação dos significados da dios da história mundial, na construção econômica, social e cultural
Lei áurea para os negros. No 20 de novembro será celebrado o Dia das nações do continente africano e da diáspora, destacando-se a
atuação de negros em diferentes áreas do conhecimento, de atu-
Nacional da Consciência Negra, entendendo-se consciência negra
ação profissional, de criação tecnológica e artística, de luta social
nos termos explicitados anteriormente neste parecer. Entre outras
(entre outros: rainha Nzinga, Toussaint-L’Ouverture, Martin Luther
datas de significado histórico e político deverá ser assinalado o 21
King, Malcom X, Marcus Garvey, Aimé Cesaire, Léopold Senghor,
de março, Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discrimina-
Mariama Bâ, Amílcar Cabral, Cheik Anta Diop, Steve Biko, Nelson
ção Racial.
Mandela, Aminata Traoré, Christiane Taubira).
- Em História da África, tratada em perspectiva positiva, não só
de denúncia da miséria e discriminações que atingem o continen-
Para tanto, os sistemas de ensino e os estabelecimentos de
te, nos tópicos pertinentes se fará articuladamente com a história
Educação Básica, nos níveis de Educação Infantil, Educação Funda-
dos afrodescendentes no Brasil e serão abordados temas relativos:
mental, Educação Média, Educação de Jovens e Adultos, Educação
- ao papel dos anciãos e dos griots como guardiãos da memória his- Superior, precisarão providenciar:
tórica; - à história da ancestralidade e religiosidade africana; - aos - Registro da história não contada dos negros brasileiros, tais
núbios e aos egípcios, como civilizações que contribuíram decisi- como em remanescentes de quilombos, comunidades e territórios
vamente para o desenvolvimento da humanidade; - às civilizações negros urbanos e rurais.
e organizações políticas pré-coloniais, como os reinos do Mali, do - Apoio sistemático aos professores para elaboração de planos,
Congo e do Zimbabwe; - ao tráfico e à escravidão do ponto de vista projetos, seleção de conteúdos e métodos de ensino, cujo foco seja
dos escravizados; - ao papel de europeus, de asiáticos e também de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e a Educação das Rela-
africanos no tráfico; - à ocupação colonial na perspectiva dos africa- ções Étnico-Raciais.
nos; - às lutas pela independência política dos países africanos; - às - Mapeamento e divulgação de experiências pedagógicas de
ações em prol da união africana em nossos dias, bem como o papel escolas, estabelecimentos de ensino superior, secretarias de edu-
da União Africana, para tanto; - às relações entre as culturas e as cação, assim como levantamento das principais dúvidas e dificul-
histórias dos povos do continente africano e os da diáspora; - à for- dades dos professores em relação ao trabalho com a questão racial
mação compulsória da diáspora, vida e existência cultural e históri- na escola e encaminhamento de medidas para resolvê-las, feitos
ca dos africanos e seus descendentes fora da África; - à diversidade pela administração dos sistemas de ensino e por Núcleos de Estu-
da diáspora, hoje, nas Américas, Caribe, Europa, Ásia; - aos acordos dos Afro-Brasileiros.
políticos, econômicos, educacionais e culturais entre África, Brasil e - Articulação entre os sistemas de ensino, estabelecimentos
outros países da diáspora. de ensino superior, centros de pesquisa, Núcleos de Estudos Afro-
- O ensino de Cultura Afro-Brasileira destacará o jeito próprio -Brasileiros, escolas, comunidade e movimentos sociais, visando à
de ser, viver e pensar manifestado tanto no dia a dia, quanto em formação de professores para a diversidade étnico-racial. - Instala-
celebrações como congadas, moçambiques, ensaios, maracatus, ção, nos diferentes sistemas de ensino, de grupo de trabalho para
rodas de samba, entre outras. discutir e coordenar planejamento e execução da formação de pro-

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

fessores para atender ao disposto neste parecer quanto à Educação - Identificação, com o apoio dos Núcleos de Estudos Afro-Bra-
das Relações Étnico-Raciais e ao determinado nos Art. 26 e 26A da sileiros, de fontes de conhecimentos de origem africana, a fim de
Lei 9394/1996, com o apoio do Sistema Nacional de Formação Con- selecionarem-se conteúdos e procedimentos de ensino e de apren-
tinuada e Certificação de Professores do MEC. dizagens;
- Introdução, nos cursos de formação de professores e de ou- - Incentivo, pelos sistemas de ensino, a pesquisas sobre proces-
tros profissionais da educação: de análises das relações sociais e sos educativos orientados por valores, visões de mundo, conheci-
raciais no Brasil; de conceitos e de suas bases teóricas, tais como mentos afro-brasileiros e indígenas, com o objetivo de ampliação e
racismo, discriminações, intolerância, preconceito, estereótipo, fortalecimento de bases teóricas para a educação brasileira. - Iden-
raça, etnia, cultura, classe social, diversidade, diferença, multicul- tificação, coleta, compilação de informações sobre a população ne-
turalismo; de práticas pedagógicas, de materiais e de textos didáti- gra, com vistas à formulação de políticas públicas de Estado, comu-
cos, na perspectiva da reeducação das relações étnico-raciais e do nitárias e institucionais.
ensino e aprendizagem da História e cultura dos Afro-brasileiros e - Edição de livros e de materiais didáticos, para diferentes ní-
dos Africanos. veis e modalidades de ensino, que atendam ao disposto neste pa-
- Inclusão de discussão da questão racial como parte integran- recer, em cumprimento ao disposto no Art. 26A da LDB, e, para
te da matriz curricular, tanto dos cursos de licenciatura para Edu- tanto, abordem a pluralidade cultural e a diversidade étnico-racial
cação Infantil, os anos iniciais e finais da Educação Fundamental, da nação brasileira, corrijam distorções e equívocos em obras já
Educação Média, Educação de Jovens e Adultos, como de processos publicadas sobre a história, a cultura, a identidade dos afrodescen-
de formação continuada de professores, inclusive de docentes no dentes, sob o incentivo e supervisão dos programas de difusão de
Ensino Superior. livros educacionais do MEC – Programa Nacional do Livro Didático
- Inclusão, respeitada a autonomia dos estabelecimentos do e Programa Nacional de Bibliotecas Escolares (PNBE).
Ensino Superior, nos conteúdos de disciplinas e em atividades cur- - Divulgação, pelos sistemas de ensino e mantenedoras, com o
riculares dos cursos que ministra, de Educação das Relações Étnico- apoio dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, de uma bibliografia
-Raciais, de conhecimentos de matriz africana e/ou que dizem res- afro-brasileira e de outros materiais como mapas da diáspora, da
peito à população negra. Por exemplo: em Medicina, entre outras África, de quilombos brasileiros, fotografias de territórios negros
questões, estudo da anemia falciforme, da problemática da pressão urbanos e rurais, reprodução de obras de arte afro-brasileira e afri-
alta; em Matemática, contribuições de raiz africana, identificadas e cana a serem distribuídos nas escolas da rede, com vistas à forma-
descritas pela Etno-Matemática; em Filosofia, estudo da filosofia ção de professores e alunos para o combate à discriminação e ao
racismo.
tradicional africana e de contribuições de filósofos africanos e afro-
- Oferta de Educação Fundamental em áreas de remanescentes
descendentes da atualidade.
de quilombos, contando as escolas com professores e pessoal ad-
- Inclusão de bibliografia relativa à história e cultura afro-bra-
ministrativo que se disponham a conhecer física e culturalmente, a
sileira e africana às relações étnico-raciais, aos problemas desen-
comunidade e a formar-se para trabalhar com suas especificidades.
cadeados pelo racismo e por outras discriminações, à pedagogia - Garantia, pelos sistemas de ensino e entidades mantenedo-
anti-racista nos programas de concursos públicos para admissão de ras, de condições humanas, materiais e financeiras para execução
professores. de projetos com o objetivo de Educação das Relações Étnico-ra-
- Inclusão, em documentos normativos e de planejamento dos ciais e estudo de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, assim
estabelecimentos de ensino de todos os níveis - estatutos, regimen- como organização de serviços e atividades que controlem, avaliem
tos, planos pedagógicos, planos de ensino e redimensionem sua consecução, que exerçam fiscalização das po-
- de objetivos explícitos, assim como de procedimentos para líticas adotadas e providenciem correção de distorções.
sua consecução, visando ao combate do racismo, das discrimina- - Realização, pelos sistemas de ensino federal, estadual e mu-
ções, e ao reconhecimento, valorização e ao respeito das histórias nicipal, de atividades periódicas, com a participação das redes das
e culturas afro-brasileira e africana. escolas públicas e privadas, de exposição, avaliação e divulgação
- Previsão, nos fins, responsabilidades e tarefas dos conselhos dos êxitos e dificuldades do ensino e aprendizagem de História e
escolares e de outros órgãos colegiados, do exame e encaminha- Cultura Afro-Brasileira e Africana e da Educação das Relações Étni-
mento de solução para situações de racismo e de discriminações, co-Raciais; assim como comunicação detalhada dos resultados ob-
buscando-se criar situações educativas em que as vítimas rece- tidos ao Ministério da Educação, à Secretaria Especial de Promoção
bam apoio requerido para superar o sofrimento e os agressores, da Igualdade Racial, ao Conselho Nacional de Educação, e aos res-
orientação para que compreendam a dimensão do que praticaram pectivos conselhos Estaduais e Municipais de Educação, para que
e ambos, educação para o reconhecimento, valorização e respeito encaminhem providências, quando for o caso.
mútuos. - Adequação dos mecanismos de avaliação das condições de
- Inclusão de personagens negros, assim como de outros gru- funcionamento dos estabelecimentos de ensino, tanto da educa-
pos étnico-raciais, em cartazes e outras ilustrações sobre qualquer ção básica quanto superior, ao disposto neste Parecer; inclusive
tema abordado na escola, a não ser quando tratar de manifesta- com a inclusão nos formulários, preenchidos pelas comissões Pe-
ções culturais próprias, ainda que não exclusivas, de um determi- tronilha 0215/SOS 15 de avaliação, nos itens relativos a currículo,
nado grupo étnico-racial. atendimento aos alunos, projeto pedagógico, plano institucional,
de quesitos que contemplem as orientações e exigências aqui for-
- Organização de centros de documentação, bibliotecas, mi-
muladas.
diotecas, museus, exposições em que se divulguem valores, pen-
samentos, jeitos de ser e viver dos diferentes grupos étnico-raciais
brasileiros, particularmentedos afrodescendentes.

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- Disponibilização deste parecer, na sua íntegra, para os pro- - diante da necessidade de crianças, jovens e adultos estudan-
fessores de todos os níveis de ensino, responsáveis pelo ensino de tes sentirem-se contemplados e respeitados, em suas peculiarida-
diferentes disciplinas e atividades educacionais, assim como para des, inclusive as étnico-raciais, nos programas e projetos educacio-
outros profissionais interessados a fim de que possam estudar, in- nais;
terpretar as orientações, enriquecer, executar as determinações - diante da importância de reeducação das relações étnico/ra-
aqui feitas e avaliar seu próprio trabalho e resultados obtidos por ciais no Brasil;
seus alunos, considerando princípios e critérios apontados. - diante da ignorância que diferentes grupos étnico-raciais têm
uns dos outros, bem como da necessidade de superar esta ignorân-
Obrigatoriedade do Ensino de História e Cultura Afro-Brasilei- cia para que se construa uma sociedade democrática;
ras, Educação das Relações Étnico-Raciais e os Conselhos de Edu- - diante, também, da violência explícita ou simbólica, gerada
cação Diretrizes são dimensões normativas, reguladoras de cami- por toda sorte de racismos e discriminações, que sofrem os negros
nhos, embora não fechadas a que historicamente possam, a partir descendentes de africanos;
das determinações iniciais, tomar novos rumos. Diretrizes não vi- - diante de humilhações e ultrajes sofridos por estudantes ne-
sam a desencadear ações uniformes, todavia, objetivam oferecer gros, em todos os níveis de ensino, em conseqüência de posturas,
referências e critérios para que se implantem ações, as avaliem e atitudes, textos e materiais de ensino com conteúdos racistas;
reformulem no que e quando necessário. - diante de compromissos internacionais assumidos pelo Brasil
Estas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das em convenções, entre outro os da Convenção da UNESCO, de 1960,
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro- relativo ao combate ao racismo em todas as formas de ensino, bem
-Brasileira e Africana, na medida em que procedem de ditames como os da Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discrimi-
constitucionais e de marcos legais nacionais, na medida em que se nação Racial, Xenofobia e Discriminações Correlatas, 2001;
referem ao resgate de uma comunidade que povoou e construiu - diante da Constituição Federal de 1988, em seu Art. 3º, inciso
a nação brasileira, atingem o âmago do pacto federativo. Nessa IV, que garante a promoção do bem de todos, sem preconceitos de
medida, cabe aos conselhos de Educação dos Estados, do Distrito origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discri-
Federal e dos Municípios aclimatar tais diretrizes, dentro do regime minação; do inciso 42 do Artigo 5º que trata da prática do racismo
de colaboração e da autonomia de entes federativos, a seus respec- como crime inafiançável e imprescritível; do § 1º do Art. 215 que
tivos sistemas, dando ênfase à importância de os planejamentos trata da proteção das manifestações culturais;
valorizarem, sem omitir outras regiões, a participação dos afrodes- - diante do Decreto 1.904/1996, relativo ao Programa Nacional
cendentes, do período escravista aos nossos dias, na sociedade, de Direitos Humanas que assegura a presença histórica das lutas
economia, política, cultura da região e da localidade; definindo me- dos negros na constituição do país;
didas urgentes para formação de professores; incentivando o de- - diante do Decreto 4.228, de 13 de maio de 2002, que institui,
senvolvimento de pesquisas bem como envolvimento comunitário. no âmbito da Administração Pública Federal, o Programa Nacional
A esses órgãos normativos cabe, pois, a tarefa de adequar o de Ações Afirmativas;
proposto neste parecer à realidade de cada sistema de ensino. E, a - diante das Leis 7.716/1999, 8.081/1990 e 9.459/1997 que re-
partir daí, deverá ser competência dos órgãos executores - adminis- gulam os crimes resultantes de preconceito de raça e de cor e es-
trações de cada sistema de ensino, das escolas - definir estratégias tabelecem as penas aplicáveis aos atos discriminatórios e precon-
que, quando postas em ação, viabilizarão o cumprimento efetivo da ceituosos, entre outros, de raça, cor, religião, etnia ou procedência
Lei de Diretrizes e Bases que estabelece a formação básica comum, nacional;
o respeito aos valores culturais, como princípios constitucionais da - diante do inciso I da Lei 9.394/1996, relativo ao respeito à
educação tanto quanto da dignidade da pessoa humana (inciso III igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
diante dos Arts 26, 26 A e 79 B da Lei 9.394/1996, estes últimos
do art. 1), garantindo-se a promoção do bem de todos, sem pre-
introduzidos por força da Lei 10.639/2003, proponho ao Conselho
conceitos (inciso IV do Art. 3) a prevalência dos direitos humanos
Pleno:
(inciso II do art. 4°) e repúdio ao racismo (inciso VIII do art. 4°).
a) instituir as Diretrizes explicitadas neste parecer e no proje-
Cumprir a Lei é, pois, responsabilidade de todos e não apenas
to de Resolução em anexo, para serem executadas pelos estabele-
do professor em sala de aula. Exige-se, assim, um comprometimen-
cimentos de ensino de diferentes níveis e modalidades, cabendo
to solidário dos vários elos do sistema de ensino brasileiro, tendo-
aos sistemas de ensino, no âmbito de sua jurisdição, orientá-los,
-se como ponto de partida o presente parecer, que junto com ou-
promover a formação dos professores para o ensino de História e
tras diretrizes e pareceres e resoluções, têm o papel articulador e
Cultura Afro-Brasileira e Africana, e para Educação das Relações Éti-
coordenador da organização da educação nacional. co-Raciais, assim como supervisionar o cumprimento das diretrizes;
b) recomendar que este Parecer seja amplamente divulgado,
II – VOTO DA COMISSÃO ficando disponível no site do Conselho Nacional de Educação, para
Face ao exposto e diante de direitos desrespeitados, tais como: consulta dos professores e de outros interessados.
- o de não sofrer discriminações por ser descendente de africa-
nos; Petronilha 0215/SOS 16
- o de ter reconhecida a decisiva participação de seus antepas-
sados e da sua própria na construção da nação brasileira;
- o de ter reconhecida sua cultura nas diferentes matrizes de
raiz africana;
- diante da exclusão secular da população negra dos bancos
escolares, notadamente em nossos dias, no ensino superior;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

dades mantenedoras e coordenações pedagógicas, atendidas as in-


RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 01/2004 dicações, recomendações e diretrizes explicitadas no Parecer CNE/
CP 003/2004.
RESOLUÇÃO Nº 1, DE 17 DE JUNHO DE 2004. (*) § 1° Os sistemas de ensino e as entidades mantenedoras in-
centivarão e criarão condições materiais e financeiras, assim como
Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das proverão as escolas, professores e alunos, de material bibliográfico
Relações ÉtnicoRaciais e para o Ensino de História e Cultura Afro- e de outros materiais didáticos necessários para a educação tratada
-Brasileira e Africana. no “caput” deste artigo.
§ 2° As coordenações pedagógicas promoverão o aprofunda-
O Presidente do Conselho Nacional de Educação, tendo em vis- mento de estudos, para que os professores concebam e desenvol-
ta o disposto no art. 9º, § 2º, alínea “c”, da Lei nº 9.131, publicada vam unidades de estudos, projetos e programas, abrangendo os
em 25 de novembro de 1995, e com fundamentação no Parecer diferentes componentes curriculares.
CNE/CP 3/2004, de 10 de março de 2004, homologado pelo Minis- § 3° O ensino sistemático de História e Cultura Afro-Brasilei-
tro da Educação em 19 de maio de 2004, e que a este se integra, ra e Africana na Educação Básica, nos termos da Lei 10639/2003,
resolve: refere-se, em especial, aos componentes curriculares de Educação
Art. 1° A presente Resolução institui Diretrizes Curriculares Na- Artística, Literatura e História do Brasil.
cionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino § 4° Os sistemas de ensino incentivarão pesquisas sobre pro-
de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, a serem observadas cessos educativos orientados por valores, visões de mundo, conhe-
pelas Instituições de ensino, que atuam nos níveis e modalidades cimentos afro-brasileiros, ao lado de pesquisas de mesma natureza
da Educação Brasileira e, em especial, por Instituições que desen- junto aos povos indígenas, com o objetivo de ampliação e fortaleci-
volvem programas de formação inicial e continuada de professores. mento de bases teóricas para a educação brasileira.
§ 1° As Instituições de Ensino Superior incluirão nos conteúdos Art. 4° Os sistemas e os estabelecimentos de ensino poderão
de disciplinas e atividades curriculares dos cursos que ministram, estabelecer canais de comunicação com grupos do Movimento Ne-
a Educação das Relações Étnico-Raciais, bem como o tratamento gro, grupos culturais negros, instituições formadoras de professo-
de questões e temáticas que dizem respeito aos afrodescendentes, res, núcleos de estudos e pesquisas, como os Núcleos de Estudos
nos termos explicitados no Parecer CNE/CP 3/2004. Afro-Brasileiros, com a finalidade de buscar subsídios e trocar expe-
§ 2° O cumprimento das referidas Diretrizes Curriculares, por riências para planos institucionais, planos pedagógicos e projetos
de ensino.
parte das instituições de ensino, será considerado na avaliação das
Art. 5º Os sistemas de ensino tomarão providências no sentido
condições de funcionamento do estabelecimento.
de garantir o direito de alunos afrodescendentes de freqüentarem
Art. 2° As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações ÉtnicoRaciais e para o Ensino de História e Cultura Afro- estabelecimentos de ensino de qualidade, que contenham instala-
-Brasileira e Africanas constituem-se de orientações, princípios e ções e equipamentos sólidos e atualizados, em cursos ministrados
fundamentos para o planejamento, execução e avaliação da Edu- por professores competentes no domínio de conteúdos de ensino
cação, e têm por meta, promover a educação de cidadãos atuantes e comprometidos com a educação de negros e não negros, sendo
e conscientes no seio da sociedade multicultural e pluriétnica do capazes de corrigir posturas, atitudes, palavras que impliquem des-
Brasil, buscando relações étnico-sociais positivas, rumo à constru- respeito e discriminação.
ção de nação democrática. Art. 6° Os órgãos colegiados dos estabelecimentos de ensino,
§ 1° A Educação das Relações Étnico-Raciais tem por objetivo a em suas finalidades, responsabilidades e tarefas, incluirão o previs-
divulgação e produção de conhecimentos, bem como de atitudes, to o exame e encaminhamento de solução para situações de discri-
posturas e valores que eduquem cidadãos quanto à pluralidade ét- minação, buscando-se criar situações educativas para o reconheci-
nico-racial, tornando-os capazes de interagir e de negociar objeti- mento, valorização e respeito da diversidade.
vos comuns que garantam, a todos, respeito aos direitos legais e § Único: Os casos que caracterizem racismo serão tratados
valorização de identidade, na busca da consolidação da democracia como crimes imprescritíveis e inafiançáveis, conforme prevê o Art.
brasileira. 5º, XLII da Constituição Federal de 1988.
§ 2º O Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana Art. 7º Os sistemas de ensino orientarão e supervisionarão a
tem por objetivo o reconhecimento e valorização da identidade, elaboração e edição de livros e outros materiais didáticos, em aten-
história e cultura dos afro-brasileiros, bem como a garantia de reco- dimento ao disposto no Parecer CNE/CP 003/2004.
nhecimento e igualdade de valorização das raízes africanas da na- Art. 8º Os sistemas de ensino promoverão ampla divulgação do
ção brasileira, ao lado das indígenas, européias, asiáticas. Parecer CNE/CP 003/2004 e dessa Resolução, em atividades perió-
§ 3º Caberá aos conselhos de Educação dos Estados, do Distri- dicas, com a participação das redes das escolas públicas e privadas,
to Federal e dos Municípios desenvolver as Diretrizes Curriculares de exposição, avaliação e divulgação dos êxitos e dificuldades do
Nacionais instituídas por esta Resolução, dentro do regime de co- ensino e aprendizagens de História e Cultura Afro-Brasileira e Afri-
laboração e da autonomia de entes federativos e seus respectivos cana e da Educação das Relações Étnico-Raciais.
sistemas. § 1° Os resultados obtidos com as atividades mencionadas no
Art. 3° A Educação das Relações Étnico-Raciais e o estudo de caput deste artigo serão comunicados de forma detalhada ao Minis-
História e Cultura AfroBrasileira, e História e Cultura Africana será tério da Educação, à Secretaria Especial de Promoção da Igualdade
desenvolvida por meio de conteúdos, competências, atitudes e Racial, ao Conselho Nacional de Educação e aos respectivos Con-
valores, a serem estabelecidos pelas Instituições de ensino e seus selhos Estaduais e Municipais de Educação, para que encaminhem
professores, com o apoio e supervisão dos sistemas de ensino, enti- providências, que forem requeridas.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 9º Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação, Desde a aprovação da Lei nº 11.645/2008, os sistemas de en-
revogadas as disposições em contrário. sino e suas instituições educacionais têm sido desafiados a trazer
a temática da história e da cultura dos povos indígenas para den-
tro dos estabelecimentos de ensino, o que não tem ocorrido sem
PARECER CNE/CEB Nº 14/2015 tensões e contradições entre os povos indígenas e os sistemas de
ensino e suas instituições formadoras.
PARECER CNE/CEB Nº 14/2015 Isto se dá, principalmente, pelos modos equivocados de imple-
mentação dos dispositivos dessa Lei, incorporados na redação da
Diretrizes Operacionais para a implementação da história e das Lei nº 9.394/96 (LDB) mas, em muitos casos, não sendo cumpridos
culturas dos povos indígena na Educação Básica, em decorrência da da maneira estabelecida pelo referido diploma legal.
Lei nº 11.645/2008. Desse modo, a Lei nº 11.645/2008 tem provocado inúmeros
debates sobre a necessidade de se repensar os processos relativos
I – RELATÓRIO à formação de estudantes e de professores dessa temática diante
Histórico de uma concepção mais alargada de cidadania, dada pelo reconhe-
A temática da história e das culturas dos povos indígenas cimento da participação dos povos indígenas na formação da socie-
na Educação Básica, em decorrência do que preceitua a Lei nº dade brasileira, bem como de suas culturas e patrimônios.
11.645/2008, que altera a redação do art. 26-A da Lei de Diretrizes Neste sentido, a Lei tem favorecido a compreensão de que é
e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96), recebeu particular preciso construir representações sociais positivas que valorizem as
tratamento neste Conselho Nacional de Educação (CNE), por meio diferentes origens culturais da população brasileira como um valor
da Indicação CNE/CEB nº 1/2011, proposta em 7 de julho de 2011, e, ao mesmo tempo, crie um ambiente escolar que permita a ma-
em reunião ordinária da Câmara de Educação Básica (CEB). nifestação criativa e transformadora da diversidade como forma de
Para desenvolver esses estudos, a presidência da CEB, por meio superar situações de preconceito e discriminações étnico-raciais.
do Ofício Circular CEB/CNE/MEC nº 2/2012, solicitou informações A correta inclusão da temática da história e da cultura dos po-
sobre o desenvolvimento de ações referentes à implementação da vos indígenas na Educação Básica tem, assim, importantes reper-
referida Lei por parte das Secretarias Estaduais de Educação, bem cussões pedagógicas na formação de professores e na produção
como dos Conselhos Estaduais e Distrital de Educação. de materiais didáticos e pedagógicos, os quais devem atribuir os
Concomitante a essa ação, a CEB contratou duas consultorias devidos valores à história e culturas dos povos indígenas para o efe-
para realizar estudo analítico sobre a temática da história e da cul- tivo reconhecimento da diversidade cultural e étnica da sociedade
tura dos povos indígenas na Educação Básica e na Educação Supe- brasileira.
rior, com o objetivo de subsidiar o CNE em sua função orientadora Isso se faz necessário tendo em vista que, embora haja avan-
aos sistemas de ensino e suas instituições, zelando pela aplicação ços inegáveis na quantidade e na qualidade das informações atual-
da legislação educacional, com vistas à garantia da qualidade social- mente disponíveis sobre os povos indígenas, ainda existe, seja em
mente referenciada da educação brasileira. termos de conhecimento acadêmico, seja em termos de sua difusão
O tema também recebeu atenção no Conselho Pleno (CP/CNE), pelos meios de comunicação social, tanto em esferas de governo
por meio de ação especifica da Comissão de Acompanhamento e quanto das diferentes mídias, o desconhecimento e o preconceito
Avaliação da Execução do Parecer CNE/CP nº 3/2004 e da Resolu- em relação aos povos indígenas. Esse mesmo preconceito ainda se
ção CNE/CP nº 1/2004, que instituíram as Diretrizes Curriculares faz presente com amplas ramificações em toda a sociedade brasilei-
Afro-brasileira e Africana. Esta Comissão foi criada em 2005 e vem ra, o que exige grande esforço interinstitucional para superar essa
sendo recomposta ao longo dos anos, tendo como membros per- desinformação.
manentes as representações dos movimentos negro e indigena É importante lembrar que a referida Lei representa uma grande
que, desde 2003, passaram a compor este colegiado na qualidade conquista para o movimento indígena brasileiro no plano legal e
de conselheiros (as). também reflete um contexto internacional de afirmação dos direi-
A última recomposição da comissão, realizada por meio da Por- tos sociais e individuais das minorias e dos grupos historicamen-
taria CNE/CP nº 5, de 2 de dezembro de 2014, apresenta os seguin- te marginalizados. Nas últimas décadas, tem se estabelecido uma
tes membros: Rita Gomes do Nascimento (presidente), Nilma Lino política de reconhecimento dos direitos das diversidades étnicas e
Gomes (relatora); Arthur Roquete, Luiz Dourado, Luiz Roberto Alves culturais no âmbito do direito internacional, fazendo surgir acordos,
e Malvina Tuttman (membros). Cabe assinalar, ainda, a participação decretos e convenções de natureza multilateral.
do CNE nos diversos fóruns de educação nos quais foi convidado Neste contexto histórico, as diferenças e diversidades étnicas,
para debater e apresentar proposições sobre o tratamento da te- culturais e linguísticas vêm deixando de ser vistas, pelo menos no
mática no âmbito da Educação Básica e da Educação Superior, ao plano formal ou legal, como algo negativo e empecilhos ao desen-
longo desses sete anos de existência da Lei nº 11.645/2008. volvimento de muitos países, passando a ser oficialmente reconhe-
Finalmente, merece destaque o interesse de diferentes atores cidas como patrimônios da humanidade, “riquezas” e valores éticos
sociais, tais como professores, gestores educacionais e operado- universais que devem ser valorizados, promovidos e afirmados nos
res do direito que, por meio de consultas e outras iniciativas, têm planos internacional, nacional e local. Dentre esses documentos,
provocado o CNE a se manifestar sobre a matéria. Nesse sentido, o merece destaque especial a Convenção nº 169/89 da Organiza-
presente Parecer dá encaminhamento aos resultados dos estudos ção Internacional do Trabalho sobre os Povos Indígenas e Tribais, a
já realizados até então, com a intenção de responder a essas cons- qual foi ratificada e promulgada no Brasil por meio dos Decretos nº
tantes solicitações. 143/2002 e nº 5.051/2004 que, em seu art. 31, prevê:
A temática da história e da cultura dos povos indígenas na Edu-
cação Básica: o contexto legal e a promoção de políticas públicas

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Deverão ser adotadas medidas de caráter educativo em todos Importa destacar, ainda, que a inserção dos conteúdos referen-
os setores da comunidade nacional e especialmente naqueles que tes a essa temática nos currículos das instituições de Educação Bási-
estejam em contato mais direto com os povos interessados, com o ca tem rebatimentos diretos na Educação Superior, principalmente
objetivo de se eliminar os preconceitos que poderiam ter com re- nos cursos destinados à formação de professores, bem como na
lação a esses povos. Para esse fim, deverão ser realizados esforços formação de outros profissionais ligados ao desenvolvimento edu-
para assegurar que os livros de História e demais materiais didáticos cacional e cultural.
ofereçam uma descrição equitativa, exata e instrutiva das socieda- Ainda com relação aos fundamentos legais para o tratamento
des e culturas dos povos interessados. da temática da história e da cultura dos povos indígenas, destaca-se
Já a Declaração sobre os Direitos das Pessoas Pertencentes o papel do Conselho Nacional de Educação que, por meio do Pare-
a Minorias Nacionais ou Étnicas, Religiosas e Linguísticas, adota- cer CNE/CP nº 3/2004 e da Resolução CNE/CP nº 1/2004, definiu
da pela Assembleia Geral das Nações Unidas na sua Resolução nº as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
47/135, de 18 de dezembro de 1992, em seu art. 4º, estabelece Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
que: Africana, chamando a atenção para a importância de se considerar
Os Estados deverão, sempre que necessário, adotar medidas a pluralidade étnico-racial da população brasileira, nela incluindo os
no domínio da educação, a fim de estimular o conhecimento da his- povos indígenas, na promoção de uma educação antirracista.
tória, das tradições, da língua e da cultura das minorias existentes Com as mudanças trazidas à LDB pela inclusão do art. 26-A,
no seu território. Às pessoas pertencentes a minorias deverão ser esta Câmara de Educação Básica, em cumprimento ao que deter-
dadas oportunidades adequadas para adquirir conhecimentos rela- mina a legislação educacional brasileira, incluiu em suas Diretrizes
tivos à sociedade em seu conjunto. Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, bem como
A Declaração e o Programa de Ação adotados em 2011, na III nas Diretrizes Curriculares e Operacionais Nacionais relativas à suas
Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xeno-
diferentes etapas e modalidades, a obrigatoriedade do ensino desta
fobia e Intolerância Conexa, por sua vez, no art. 97 ressalta:
temática.
Sublinhamos a ligação existente entre o direito à educação e a
Assim, a título de exemplo, nas Diretrizes Curriculares Nacio-
luta contra o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e a into-
nais Gerais para a Educação Básica, o estudo da história e da cultura
lerância conexa e o papel fundamental da educação que respeite a
diversidade cultural e seja sensível, em especial entre as crianças e afro-brasileira e indígena integra a base nacional comum, constitu-
os jovens, na prevenção e erradicação de todas as formas de intole- ída por:
rância e discriminação. ... conhecimentos, saberes e valores produzidos culturalmente,
Finalmente, do conjunto de documentos internacionais dos expressos nas políticas públicas e gerados nas instituições produto-
quais o Brasil é signatário e que exercem influência direta na de- ras do conhecimento científico e tecnológico; no mundo do traba-
finição da Lei nº 11.645/2008, merece destaque a Declaração da lho; no desenvolvimento das linguagens; nas atividades desportivas
Organização das Nações Unidas (ONU) de 2007 sobre os Direitos e corporais; na produção artística; nas formas diversas de exercício
dos Povos Indígenas, cujo art. 15 afirma com clareza: da cidadania; e nos movimentos sociais. (art. 14 da Resolução CNE/
Os povos indígenas têm direito a que a dignidade e a diversi- CEB nº 4/2010).
dade de suas culturas, tradições, histórias e aspirações sejam devi- A mesma orientação é observada nas Diretrizes Curriculares
damente refletidas na educação pública e nos meios de informação Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, definidas
públicos. Os estados adotarão medidas eficazes, em consulta e coo- pela Resolução CNE/CEB nº 7/2010, que em seu art. 15, § 3º, reco-
peração com os povos indígenas interessados, para combater o pre- nhece que esta... inclusão possibilita ampliar o leque de referências
conceito e eliminar a discriminação, e para promover a tolerância, culturais de toda a população escolar e contribui para a mudança
a compreensão e as boas relações entre os povos indígenas e todos das suas concepções de mundo, transformando os conhecimentos
os demais setores da sociedade. comuns veiculados pelo currículo e contribuindo para a construção
Esse conjunto de documentos internacionais, ao lado da Cons- de identidades mais plurais e solidárias.
tituição Federal de 1988, que reconhece o Brasil como um país plu- O art.26-A da LDB encontra ressonância nas Diretrizes Na-
riétnico e multicultural, fundamenta e ajuda a garantir o direito dos cionais para Educação em Direitos Humanos, estabelecidas pela
povos indígenas de serem representados, nos currículos escolares, Resolução CNE/CP nº 1/2012, que apresenta como um dos seus
em suas diversidades históricas, econômicas, políticas, culturais e princípios o reconhecimento e a valorização das diferenças e das
linguísticas. diversidades como forma de se promover uma educação para a mu-
Nessa direção, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional dança e a transformação social.
(LDB), alterada por força da Lei nº 10.639/2003, que incluiu a temá- A partir do estabelecimento destes marcos normativos, os sis-
tica da história e da cultura afro-brasileira nos currículos das escolas
temas de ensino e suas instituições têm buscado desenvolver ações
de Educação Básica, tem seu escopo ampliado a partir da publica-
voltadas para a implementação da Lei nº 11.645/2008.
ção da Lei nº 11.645/2008, que deu nova redação ao art. 26-A da
No âmbito nacional, o Ministério da Educação (MEC) formulou,
LDB, para contemplar a história e a cultura dos povos indígenas.
em 2008, o Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Cur-
Diferente do que pode ser visto em algumas práticas pedagó-
gicas e de gestão da Educação Básica que restringem o tratamento riculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e
da temática indígena às áreas de educação artística, literatura e his- para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
tória brasileira, a Lei em questão determina que a sua inserção se Embora nesse momento histórico, logo após a publicação da
dê em todo o currículo escolar, devendo estar presente em todas as Lei nº 11.645/2008, ainda não estivessem claramente definidas no
disciplinas, áreas do conhecimento ou outra forma de organização âmbito do CNE as Diretrizes relacionadas à temática dos povos indí-
curricular de cada escola. genas, o seu tratamento já foi antevisto em diversas oportunidades,

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tanto do referido Plano, quanto nas Diretrizes que motivaram a sua teriais didáticos e pedagógicos e da formação de professores, por
formulação. Nesse sentido, esta Câmara de Educação Básica reafir- meio de seus diferentes núcleos, laboratórios e grupos de estudos e
ma a atualidade e a necessidade de cumprimento do referido Plano de pesquisas ou outras instâncias. Algumas IES, inclusive, tiveram a
por todos os atores sociais nele citados. iniciativa de criar disciplinas obrigatórias e optativas, projetos mul-
De fato, o Plano supracitado foi concebido com o objetivo de tidisciplinares entre diferentes programas, cursos de extensão, den-
orientar os sistemas de ensino e suas instituições educacionais a tre outras importantes ações. Assim, vale reafirmar, mais uma vez,
adotarem os procedimentos exigidos para a implementação da Lei ser imprescindível a inserção de conhecimentos, valores, atitudes
nº 10.639/2003 e, no que couber, da Lei nº 11.645/2008, tendo em e práticas relacionados a esta temática, convergentes com as Dire-
vista que esta conjuga da mesma preocupação de combater o ra- trizes Nacionais definidas para a Educação em Direitos Humanos e
cismo, desta feita contra os indígenas, e afirmar os valores inesti- Educação para as Relações Étnico-Raciais, tanto nos currículos de
máveis de sua contribuição, passada e presente, para a criação da cada etapa e modalidade da Educação Básica, bem como nos cursos
nação brasileira. de graduação e pós-graduação, por meio dos seus Projetos Político-
Dentre seus objetivos específicos, destacam-se: -Pedagógicos (PPP), Planos de Desenvolvimento Institucionais (PDI)
• Colaborar e construir, com os sistemas de ensino, institui- e Projetos Pedagógicos de Curso (PPC).
ções, conselhos de educação, coordenações pedagógicas, gestores De modo geral avalia-se, com base nos resultados dos estudos
educacionais, professores e demais segmentos afins, políticas pú- realizados no âmbito deste CNE, que tanto as instituições escolares
blicas e processos pedagógicos para a implementação das Leis nº quanto as Secretarias e Conselhos de Educação têm desenvolvido
10.639/2003 e nº 11.645/2008. ações relevantes em relação a esta importante temática. Algumas
• Criar e consolidar agendas propositivas junto aos diversos destas ações, pelo seu caráter inovador, devem ser mais visibiliza-
atores do Plano Nacional para disseminar as Leis nº 10.639/2003 das e difundidas por meio do aporte dos sistemas de ensino que,
e nº 11.645/2008, junto a gestores e técnicos, no âmbito federal e de modo colaborativo e intersetorial, devem criar ações específicas
nas gestões educacionais estaduais e municipais, garantindo con-
para esse fim. Tais ações podem ser realizadas por meio da criação
dições adequadas para seu pleno desenvolvimento como política
de observatórios, portais e boletins que permitam a todos os inte-
de Estado.
ressados acompanhar a implementação da Lei nº 11.645/2008.
No tocante a ações implementadas pelos sistemas de ensino e
Todavia, percebe-se que ainda persistem muitas incompreen-
suas instituições, é importante citar que, de modo geral, duas ações
do MEC se destacam no âmbito do que propõe a Lei em questão: sões em torno do que determina a Lei nº 11.645/2008 em seu com-
a promoção da formação continuada de professores, realizada por ponente curricular referente à história e culturas indígenas, quan-
Instituições de Educação Superior (IES) em cursos de aperfeiço- do, por exemplo, são desenvolvidas somente ações isoladas para a
amento e de especialização; e a aquisição e distribuição de livros criação e manutenção das escolas indígenas ou para a formação de
didáticos para as escolas de Educação Básica. Estas são duas ações seus professores. Pode-se afirmar que, em determinados sistemas
estruturantes para a implementação do referido dispositivo legal de ensino, por exemplo, há programas e iniciativas que, baseados
inserido na atual LDB. na ideia geral de diversidade ou de respeito a ela, não apresentam
Com a formação continuada, o MEC busca suprir uma lacuna ações específicas para o tratamento da temática indígena nas es-
na formação inicial dos docentes e atualizá-los sobre a contempo- colas. Em alguns casos, as ações realizadas nesse campo são feitas
raneidade dos povos indígenas. Já as orientações para a aquisição sem a devida orientação antropológica, linguística ou histórica, pro-
de livros didáticos estão voltadas para o enfrentamento das dife- vocando a reprodução de estereótipos e preconceitos tradicional-
rentes formas de discriminação e preconceito. De modo resumido, mente utilizados contra os povos indígenas.
pode-se dizer que o MEC orienta para que os livros didáticos não Sinteticamente, observa-se que ainda persistem nestas ações
veiculem preconceitos, estereótipos ou qualquer outra forma de problemas relacionados à representação dos povos indígenas no
discriminação; que abordem temas relacionados às questões da imaginário social brasileiro, tais como:
identidade e das diferenças, bem como reconheçam a contempo- • reificação da imagem do indígena como um ser do passado e
raneidade dos povos indígenas, tornando esses livros ferramentas em função do colonizador;
importantes na formação contínua dos professores, desenvolvendo • apresentação dos povos indígenas pela negação de traços
também nos estudantes uma consciência reflexiva crítica a respeito culturais (sem escrita, sem governo, sem tecnologias);
de sua própria sociedade e história, bem como dos grupos que as • omissão, redução e simplificação do papel indígena na histó-
constituem. ria brasileira;
Também é digno de nota, no âmbito do MEC, a criação, já em • adoção de uma visão e noção de índio genérico, ignorando a
2004, da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Di- diversidade que sempre existiu entre esses povos;
versidade (SECAD), renomeada, em 2012, como Secretaria de Edu- • generalização de traços culturais de um povo para todos os
cação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI),
povos indígenas;
que nacionalmente coordena as políticas educacionais para a diver-
• simplificação, pelo uso da dicotomia entre índios puros, vi-
sidade, com o intuito de superar as diferentes situações de exclusão
vendo na Amazônia versus índios já contaminados pela civilização,
educacional, promovendo um conjunto de ações que constituem
onde a aculturação é um caminho sem volta;
uma agenda positiva do Estado junto aos diferentes atores sociais
histórica, social e culturalmente marginalizados. • prática recorrente em evidenciar apenas características pito-
Nessa seara, também merece destaque o papel das Instituições rescas e folclóricas no trato da imagem dos povos indígenas;
de Educação Superior que têm demonstrado especial preocupação • ocultação da existência real e concreta de povos indígenas
quanto à implementação da Lei em questão, desenvolvendo diver- particulares, na referência “ ” g ;
sas ações relevantes no campo da pesquisa, da produção de ma- • ênfase “ b ” indígenas.

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Para que seja efetivo o tratamento correto da temática indíge- Assim, as instituições de Educação Básica públicas e privadas
na, os sistemas de ensino, em especial seus professores e todos os devem incluir em suas propostas curriculares e em suas atividades
responsáveis pela elaboração, aquisição e distribuição de materiais acadêmico-científicas e culturais o tratamento da temática história
didáticos, paradidáticos e pedagógicos devem conhecer e superar e culturas indígenas, tanto quanto o da história e cultura afro-bra-
os principais problemas retro evidenciados, os quais somente re- sileira, em cumprimento ao que determina a Lei nº 11.645/2008,
forçam preconceitos e produzem desinformações sobre os povos que deu nova redação ao art. 26-A da Lei 9.394/96 (LDB). O objetivo
indígenas. claro dessa inclusão do ensino da história e da cultura dos povos
Consciente desses problemas, o movimento indígena, reconhe- indígenas é o da promoção do reconhecimento e da valorização da
cendo também a importância da Lei em questão para a pauta de identidade, da história e da cultura dos povos indígenas, bem como
uma educação intercultural, assumida como bandeira de luta para a busca da garantia de reconhecimento e igualdade de valorização
uma sociedade plural, democrática e com relações interétnicas me- de todos os grupos étnicos e raciais constituidores da sociedade
nos desiguais, tem assumido como ação estratégica em suas reivin- brasileira.
dicações a efetiva implementação da Lei nº 11.645/2008. Uma de Como já foi enfatizado neste Parecer, é oportuno reafirmar que
suas demandas é a de que os próprios indígenas assumam o prota- a correta inclusão da temática dos povos indígenas na Educação
gonismo de falar sobre suas histórias e culturas. Nesse sentido, os Básica tem fortes repercussões pedagógicas, tanto na formação de
sistemas de ensino devem fomentar a publicação de materiais di- professores quanto na produção de materiais didáticos que, por sua
dáticos e pedagógicos sobre a temática de autores indígenas, bem vez, devem valorizar devidamente a história e a cultura dos povos
como criar possiblidades, como a que prevê a Resolução CNE/CEB indígenas, tanto quanto dos demais grupos étnicos e raciais cons-
nº 5/2012, que define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu- tituidores da sociedade brasileira, repercutindo na construção da
cação Escolar Indígena na Educação Básica, de contar com a presen- imagem do povo brasileiro e no reconhecimento da diversidade cul-
ça das lideranças indígenas (pajés, xamãs, sábios, intelectuais em tural e étnica que caracteriza nossa sociedade como multicultural,
geral) nas instituições de Educação Básica como formadores, pales- pluriétnica e multilíngue. Esta ênfase é essencial, uma vez que a
trantes e conferencistas, dentre outras formas de reconhecimento inclusão da temática da história e da cultura indígena nos currículos
de saberes e conhecimentos indígenas. da Educação Básica brasileira, ampliando a compreensão das rela-
É importante relembrar que a redação do art. 26-A da LDB, ções étnico-raciais no país, exige novos procedimentos de ensino e
inicialmente reconhecendo a necessidade de inclusão da história pesquisa, o estabelecimento de novos objetivos e metas, a reflexão
e da cultura afro-brasileira nos currículos da Educação Básica, por sobre conceitos, teorias e práticas que historicamente marcaram
meio da Lei nº 10.639/2003, foi alterada posteriormente pela Lei a compreensão sobre esses povos e de seus relacionamentos com
nº 11.645/2008. Essa alteração, de fato, representa um importante segmentos da sociedade brasileira e com o Estado brasileiro.
avanço na construção de uma educação mais respeitosa em relação
A inclusão da temática da história e da cultura indígenas nos
às diferenças e diversidades raciais, étnicas, culturais e linguísticas
currículos objetiva promover a formação de cidadãos atuantes e
formadoras da sociedade brasileira.
conscientes do caráter pluriétnico da sociedade brasileira, contri-
Nessa direção, a compreensão da dinâmica sociocultural da
buindo para o fortalecimento de relações interétnicas positivas en-
sociedade brasileira visa à construção de representações sociais po-
tre os diferentes grupos étnicos e raciais e a convivência democrá-
sitivas que valorizem as diferentes origens culturais da população
tica, marcada por conhecimento mútuo, aceitação de diferenças e
brasileira como um valor e, ao mesmo tempo, crie um ambiente
diálogo entre as culturas. Efetivamente, o acolhimento da diferença
escolar que permita a manifestação da diversidade de forma criati-
cultural pela escola contribui decisivamente para a construção de
va e transformadora na superação de preconceitos e discriminações
um pacto social mais democrático, igualitário e fraterno, promoven-
étnico-raciais.
É neste contexto que deve ser entendida a nova redação dada do a tolerância como sinônimo de respeito, aceitação e apreço pela
ao art. 26-A da Lei nº 9.394/96 pela Lei nº 11.645/2008, alterando riqueza e diversidade das culturas humanas.
redação anteriormente inserida pela Lei nº 10.639/2003, no senti- O reconhecimento do direito à diversidade étnica e cultural
do de que nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e de En- como princípio constitucional exige, por sua vez, o conhecimento,
sino Médio, públicos e privados, tornar-se obrigatório o estudo da por meio de informações corretas e atualizadas, sobre os povos in-
história e cultura afrobrasileira e indígena. O § 1º do referido art. dígenas, seus modos de vida, suas visões de mundo, seus saberes
26-A enfatiza que o conteúdo programático a que se refere este ar- e práticas, suas línguas, suas histórias e suas lutas políticas. Assim,
tigo incluirá aspectos da história e da cultura que caracterizam a for- esse reconhecimento também exige a compreensão da diversidade
mação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, étnica e cultural existente no Brasil, desde os tempos da coloniza-
tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos ção até os dias atuais, bem como da viabilidade de outras ordens
negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena sociais e arranjos societários.
brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, Esta orientação determinada pela nova redação dada ao art.
resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e po- 26-A da atual LDB implica em compreender os fenômenos de orga-
lítica, pertinentes à história do Brasil. O § 2º do mesmo artigo, por nização social e modos de vida como produtos históricos de longa
sua vez, buscando evitar uma interpretação reducionista do disposi- duração e sujeitos às dinâmicas de interação social contemporâ-
tivo definido no parágrafo anterior, definiu com clareza que os con- neas. É uma orientação que exige o entendimento dos processos
teúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos in- de construção social de desigualdade e assimetrias como produtos
dígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo históricos de dinâmicas de interação sociais contemporâneas que
escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura transformam diferenças em desigualdades. Por outro lado, orienta
e história brasileiras. para a percepção de que os conceitos de Estado-Nação e de iden-

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tidade nacional foram construídos a partir de uma etnia, raça, cul- Assim, a título de exemplo, propõe-se às unidades de ensino
tura, língua e religião, invisibilizando diversos povos e culturas, o como enfoque metodológico a comparação, seja entre povos in-
que requer uma compreensão de que o ensino da história brasileira dígenas distintos (nomeando, caracterizando, contextualizando os
tem sido historicamente eurocêntrico, ignorando processos, perso- aspectos abordados), seja entre os povos indígenas e outros seg-
nagens e histórias indígenas e afro-brasileiras. Esse entendimento, mentos da sociedade brasileira, para evidenciar diferenças e pro-
conduz à compreensão do preconceito como produto de comporta- ximidades. Os conceitos antropológicos de diversidade, diferença,
mento apreendido no grupo social do qual se faz parte e a partir de cultura, interculturalidade, identidade, etnocentrismo terão que ser
ideias e de valores que o dominam, exigindo o combate ao precon- trabalhados sob diferentes perspectivas teóricas e metodológicas,
ceito, à discriminação, à intolerância, ao racismo e ao sectarismo constituindo-se em conceitos chave para a abordagem da temática
que impedem uma atitude de compreensão e de respeito ao outro, indígena. Para tanto, os sistemas de ensino deverão promover a de-
ontologicamente concebido. vida articulação para a consecução dos objetivos previstos pela Lei
Tudo isto é essencial para a compreensão do processo histórico n° 11.645/2008, com fundamento no regime de colaboração previs-
que originou a sociedade brasileira e para o qual o reconhecimento to na Constituição Federal e na LDB e na forma integrada de enfren-
atual da diversidade como valor maior dessa sociedade pluricultural tamento do desafio de construir um lugar mais digno para os povos
e pluriétnica, estimulando um convívio mais fraternal na diferença, indígenas, suas histórias e modos de vida, na escola brasileira.
marcado por respeito e por solidariedade.
É essencial, para tanto, que toda a sociedade brasileira se cons-
Assim, o estudo da temática da história e da cultura indígena
cientize da importância da promoção deste salto qualitativo da
na Educação Básica, nos termos deste Parecer, deverá ser desen-
educação nacional a exigir que os sistemas de ensino estimulem
volvido por meio de conteúdos, saberes, competências, atitudes e
e orientem os estabelecimentos de ensino sob sua jurisdição para:
valores que permitam aos estudantes:
1. Reconhecer que os povos indígenas no Brasil são muitos e 1. Elaborar ou reformular, com a participação de toda a comu-
variados, possuem organizações sociais próprias, falam diversas lín- nidade escolar, o seu projeto pedagógico e cultural, incorporando
guas, têm diferentes cosmologias e visões de mundo, bem como em seu currículo o ensino da história e da cultura dos povos indíge-
modos de fazer, de pensar e de representar diferenciados. nas, bem como dos demais grupos étnicos e raciais constituidores
2. Reconhecer que os povos indígenas têm direitos originários da sociedade brasileira, em uma abordagem multidisciplinar, inter-
sobre suas terras, porque estavam aqui antes mesmo da constitui- disciplinar e transdisciplinar ao longo do ano letivo.
ção do Estado brasileiro e que desenvolvem uma relação coletiva 2. Estimular a realização de estudos sobre a história e culturas
com seus territórios e os recursos neles existentes. dos povos indígenas e dos demais grupos étnicos e raciais consti-
3. Reconhecer as principais características desses povos de tuidores da sociedade brasileira, proporcionando condições para
modo positivo, focando na oralidade, divisão sexual do trabalho, que os professores, gestores e demais funcionários participem de
subsistência, relações com a natureza, contextualizando especifici- atividades de formação continuada promovidas na própria escola.
dades culturais, ao invés do clássico modelo de pensar esses povos 3. Estimular o trabalho colaborativo dos docentes, numa pers-
sempre pela negativa de traços culturais. pectiva interdisciplinar, para disseminação do tratamento adequa-
4. Reconhecer a contribuição indígena para a história, cultura, do da temática dos povos indígenas no âmbito escolar.
onomástica, objetos, literatura, artes, culinária brasileira, permitin- 4. Possibilitar encontros entre estudantes e representantes de
do a compreensão do quanto a cultura brasileira deve aos povos povos indígenas que vivam no Município ou no Estado em que a
originários e o quanto eles estão presentes no modo de vida dos escola se situa, com a finalidade de realizar atividades científico-cul-
brasileiros. turais que promovam o tema da diversidade étnico-racial e cultural.
5. Reconhecer que os índios têm direito a manterem suas lín- 5. Criar espaços específicos nas bibliotecas e salas de leitura
guas, culturas, modos de ser e visões de mundo, de acordo com com material de referência sobre a temática dos povos indígenas,
o disposto na Constituição Federal de 1988 e que cabe ao Estado bem como dos demais grupos étnicos e raciais constituidores da
brasileiro, protegê-los e respeitá-los. sociedade brasileira, que sejam adequados à faixa etária e à região
6. Reconhecer a mudança de paradigma com a Constituição de geográfica das crianças, incorporando tanto materiais escritos por
1988, que estabeleceu o respeito à diferença cultural porque com- especialistas quanto a produção de autoria indígena.
preendeu o país como pluriétnico, composto por diferentes tradi-
6. Diagnosticar e enfrentar, por meio de diferentes ações e
ções e origens.
procedimentos, os casos de racismo, preconceito, discriminação e
7. Reconhecer o caráter dinâmico dos processos culturais e his-
intolerância existentes em suas dependências, procurando dar-lhes
tóricos que respondem pelas transformações por que passam os
o devido encaminhamento na perspectiva do desenvolvimento de
povos indígenas em contato com segmentos da sociedade nacional.
8. Reconhecer que os índios não estão se extinguindo, têm fu- uma sociedade brasileira mais justa, solidária e igualitária.
turo como cidadãos deste país e que, portanto, precisam ser respei- Os Conselhos de Educação de todas as instâncias do sistema
tados e terem o direito de continuarem sendo povos com tradições nacional de educação, para tanto, devem orientar, por meio de seus
próprias. atos normativos, os diferentes órgãos executivos do respectivo sis-
A inclusão da temática da história e da cultura dos povos in- tema de ensino e instituições formadoras de professores e seus es-
dígenas implica em produzir um novo olhar sobre a pluralidade de tabelecimentos de ensino para o esforço de organizar e reorganizar
experiências socioculturais presentes no Brasil, o que exige, em ter- de seus projetos, programas, propostas curriculares e pedagógicas,
mos de metodologia de ensino, que essa temática seja trabalhada de modo a se adequarem ao proposto na LDB, na redação dada
durante todo o período formativo do estudante, em diferentes dis- pela Lei nº 11.645/2008, acompanhando sua implementação e ar-
ciplinas e com diferentes abordagens, sempre atualizadas e plurais, ticulando ações e instrumentos que permitam o correto tratamen-
evitando que o tema fique restrito a datas comemorativas. to da temática da história e da cultura dos povos indígenas pelos

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sistemas e estabelecimentos de ensino, bem como promovendo


ampla divulgação deste Parecer em atividades periódicas, com a DECRETO Nº 7.037/2009
participação das redes das escolas públicas e privadas, em termos
de exposição, avaliação e divulgação dos êxitos e dificuldades do DECRETO Nº 7.037, DE 21 DE DEZEMBRO DE 2009.
ensino e da aprendizagem da temática da história e da cultura dos
povos indígenas. Aprova o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH-3 e
dá outras providências.
II — VOTO DA RELATORA
À vista do exposto, nos termos deste Parecer e à luz das Dire- O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe
trizes Curriculares Nacionais e das Diretrizes Operacionais definidas confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição,
pelo Conselho Nacional de Educação, no âmbito da Educação Bá-
sica, para todos seus cursos e modalidades de ensino, os sistemas DECRETA:
de ensino e instituições educacionais deverão dar cumprimento ao Art. 1oFica aprovado o Programa Nacional de Direitos Huma-
disposto no art. 26-A da Lei nº 9.394/96, na redação dada pela Lei nos - PNDH-3, em consonância com as diretrizes, objetivos estra-
nº 11.645/2008, contemplando as temáticas da história e da cultura tégicos e ações programáticas estabelecidos, na forma do Anexo
deste Decreto.
dos povos indígenas, bem como, no que couber, dos demais grupos
Art. 2oO PNDH-3 será implementado de acordo com os seguin-
étnicos constituintes da sociedade brasileira, promovendo o efeti-
tes eixos orientadores e suas respectivas diretrizes:
vo reconhecimento da diversidade cultural e étnica da sociedade
I - Eixo Orientador I: Interação democrática entre Estado e so-
brasileira.
ciedade civil:
Brasília (DF), 11 de novembro de 2015. a) Diretriz 1: Interação democrática entre Estado e sociedade
civil como instrumento de fortalecimento da democracia participa-
II – DECISÃO DA CÂMARA tiva;
A Câmara de Educação Básica aprova por unanimidade o voto b) Diretriz 2: Fortalecimento dos Direitos Humanos como ins-
da Relatora. trumento transversal das políticas públicas e de interação demo-
crática; e
c) Diretriz 3: Integração e ampliação dos sistemas de informa-
EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – EDH (PLANO ções em Direitos Humanos e construção de mecanismos de avalia-
NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS, ção e monitoramento de sua efetivação;
2006) II - Eixo Orientador II: Desenvolvimento e Direitos Humanos:
a) Diretriz 4: Efetivação de modelo de desenvolvimento sus-
tentável, com inclusão social e econômica, ambientalmente equi-
A Educação em Direitos Humanos - EDH, alicerçada no respeito librado e tecnologicamente responsável, cultural e regionalmente
e proteção à dignidade da pessoa humana, compreende o conjunto diverso, participativo e não discriminatório;
de práticas educativas fundamentadas nos direitos humanos, tendo b) Diretriz 5: Valorização da pessoa humana como sujeito cen-
como objetivo formar o sujeito de direito. tral do processo de desenvolvimento; e
Nesse contexto, o RCMJG pautou-a no compromisso pela cons- c) Diretriz 6: Promover e proteger os direitos ambientais como
trução de uma escola que se que reconheça como espaço pleno de Direitos Humanos, incluindo as gerações futuras como sujeitos de
vivências de direitos, premissa fundamental para embasar as rela- direitos;
ções humanas que acontecem na escola em todos os seus âmbitos. III - Eixo Orientador III: Universalizar direitos em um contexto
Ao fazer a opção por tratar a EDH na perspectiva transversal, o de desigualdades:
RCMJG filiase ao entendimento de que a cultura dos direitos huma- a) Diretriz 7: Garantia dos Direitos Humanos de forma univer-
nos, conteúdo da EDH, não cabe apenas em um componente curri- sal, indivisível e interdependente, assegurando a cidadania plena;
cular, devendo, assim, ganhar espaço no conjunto dos componentes b) Diretriz 8: Promoção dos direitos de crianças e adolescentes
para o seu desenvolvimento integral, de forma não discriminatória,
que compõem o currículo. Materializada na perspectiva transversal,
assegurando seu direito de opinião e participação;
a EDH fortalece os paradigmas da educação integral, considerando
c) Diretriz 9: Combate às desigualdades estruturais; e
os estudantes em todas as suas dimensões. Além disso, sedimenta
d) Diretriz 10: Garantia da igualdade na diversidade;
uma cultura de paz na escola, fundamentada na defesa e reconhe-
IV - Eixo Orientador IV: Segurança Pública, Acesso à Justiça e
cimento da igualdade de direitos, valorização das diferenças e das Combate à Violência:
diversidades, laicidade do Estado e democracia na educação. a) Diretriz 11: Democratização e modernização do sistema de
A escola, na perspectiva da EDH, deve desenvolver uma edu- segurança pública;
cação pautada em várias dimensões necessárias à formação cida- b) Diretriz 12: Transparência e participação popular no sistema
dã: ciências, artes, cultura, história, ética, afetividade, entre outras. de segurança pública e justiça criminal;
Assim, a escola é concebida como espaço sociocultural, lugar de c) Diretriz 13: Prevenção da violência e da criminalidade e pro-
convivência inclusiva, respeitosa e afetiva. O ambiente escolar deve fissionalização da investigação de atos criminosos;
proporcionar, também, uma convivência acolhedora, de autorres- d) Diretriz 14: Combate à violência institucional, com ênfase na
ponsabilidade com o desempenho de cada estudante, de cada pro- erradicação da tortura e na redução da letalidade policial e carce-
fessor, consigo mesmo, bem como de cuidado com o outro, consi- rária;
derando a dignidade de todo ser humano

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e) Diretriz 15: Garantia dos direitos das vítimas de crimes e de Com o avanço da democratização do País, os movimentos so-
proteção das pessoas ameaçadas; ciais multiplicaram-se. Alguns deles institucionalizaram-se e passa-
f) Diretriz 16: Modernização da política de execução penal, ram a ter expressão política. Os movimentos populares e sindicatos
priorizando a aplicação de penas e medidas alternativas à privação foram, no caso brasileiro, os principais promotores da mudança e
de liberdade e melhoria do sistema penitenciário; e da ruptura política em diversas épocas e contextos históricos. Com
g) Diretriz 17: Promoção de sistema de justiça mais acessível, efeito, durante a etapa de elaboração da Constituição Cidadã de
ágil e efetivo, para o conhecimento, a garantia e a defesa de direi- 1988, esses segmentos atuaram de forma especialmente articula-
tos; da, afirmando-se como um dos pilares da democracia e influencian-
V - Eixo Orientador V: Educação e Cultura em Direitos Huma- do diretamente os rumos do País.
nos: Nos anos que se seguiram, os movimentos passaram a se con-
a) Diretriz 18: Efetivação das diretrizes e dos princípios da po- solidar por meio de redes com abrangência regional ou nacional,
lítica nacional de educação em Direitos Humanos para fortalecer firmando-se como sujeitos na formulação e monitoramento das
uma cultura de direitos; políticas públicas. Nos anos 1990, desempenharam papel funda-
b) Diretriz 19: Fortalecimento dos princípios da democracia e mental na resistência a todas as orientações do neoliberalismo de
dos Direitos Humanos nos sistemas de educação básica, nas insti- flexibilização dos direitos sociais, privatizações, dogmatismo do
tuições de ensino superior e nas instituições formadoras; mercado e enfraquecimento do Estado. Nesse mesmo período,
c) Diretriz 20: Reconhecimento da educação não formal como multiplicaram-se pelo País experiências de gestão estadual e muni-
espaço de defesa e promoção dos Direitos Humanos; cipal em que lideranças desses movimentos, em larga escala, passa-
d) Diretriz 21: Promoção da Educação em Direitos Humanos no ram a desempenhar funções de gestores públicos.
serviço público; e Com as eleições de 2002, alguns dos setores mais organizados
e) Diretriz 22: Garantia do direito à comunicação democrática da sociedade trouxeram reivindicações históricas acumuladas, pas-
e ao acesso à informação para consolidação de uma cultura em Di- sando a influenciar diretamente a atuação do governo e vivendo de
reitos Humanos; e perto suas contradições internas.
VI - Eixo Orientador VI: Direito à Memória e à Verdade: Nesse novo cenário, o diálogo entre Estado e sociedade civil
a) Diretriz 23: Reconhecimento da memória e da verdade como assumiu especial relevo, com a compreensão e a preservação do
Direito Humano da cidadania e dever do Estado; distinto papel de cada um dos segmentos no processo de gestão. A
b) Diretriz 24: Preservação da memória histórica e construção interação é desenhada por acordos e dissensos, debates de idéias
pública da verdade; e e pela deliberação em torno de propostas. Esses requisitos são im-
c) Diretriz 25: Modernização da legislação relacionada com pro- prescindíveis ao pleno exercício da democracia, cabendo à socieda-
moção do direito à memória e à verdade, fortalecendo a democra- de civil exigir, pressionar, cobrar, criticar, propor e fiscalizar as ações
cia. do Estado.
Parágrafo único.A implementação do PNDH-3, além dos res- Essa concepção de interação democrática construída entre os
ponsáveis nele indicados, envolve parcerias com outros órgãos fe- diversos órgãos do Estado e a sociedade civil trouxe consigo resul-
derais relacionados com os temas tratados nos eixos orientadores tados práticos em termos de políticas públicas e avanços na inter-
e suas diretrizes. locução de setores do poder público com toda a diversidade social,
Art. 3oAs metas, prazos e recursos necessários para a imple- cultural, étnica e regional que caracteriza os movimentos sociais em
mentação do PNDH-3 serão definidos e aprovados em Planos de nosso País. Avançou-se fundamentalmente na compreensão de que
Ação de Direitos Humanos bianuais. os Direitos Humanos constituem condição para a prevalência da
Art. 4o(Revogado pelo Decreto nº 10.087, de 2019)(Vigência) dignidade humana, e que devem ser promovidos e protegidos por
Art. 5oOs Estados, o Distrito Federal, os Municípios e os órgãos meio do esforço conjunto do Estado e da sociedade civil.
do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e do Ministério Público, Uma das finalidades do PNDH-3 é dar continuidade à integra-
serão convidados a aderir ao PNDH-3. ção e ao aprimoramento dos mecanismos de participação existen-
Art. 6oEste Decreto entra em vigor na data de sua publicação. tes, bem como criar novos meios de construção e monitoramento
Art. 7oFica revogado o Decreto no 4.229, de 13 de maio de das políticas públicas sobre Direitos Humanos no Brasil.
2002. No âmbito institucional o PNDH-3, amplia as conquistas na área
dos direitos e garantias fundamentais, pois internaliza a diretriz se-
ANEXO gundo a qual a primazia dos Direitos Humanos constitui princípio
transversal a ser considerado em todas as políticas públicas.
Eixo Orientador I: Interação democrática entre Estado e so- As diretrizes deste capítulo discorrem sobre a importância de
ciedade civil fortalecer a garantia e os instrumentos de participação social, o ca-
A partir da metade dos anos 1970, começam a ressurgir no Bra- ráter transversal dos Direitos Humanos e a construção de mecanis-
sil iniciativas de rearticulação dos movimentos sociais, a despeito mos de avaliação e monitoramento de sua efetivação. Isso inclui a
da repressão política e da ausência de canais democráticos de par- construção de sistema de indicadores de Direitos Humanos e a arti-
ticipação. Fortes protestos e a luta pela democracia marcaram esse culação das políticas e instrumentos de monitoramento existentes.
período. Paralelamente, surgiram iniciativas populares nos bairros O Poder Executivo tem papel protagonista na coordenação e
reivindicando direitos básicos como saúde, transporte, moradia e implementação do PNDH-3, mas faz-se necessária a definição de
controle do custo de vida. Em um primeiro momento, eram inicia- responsabilidades compartilhadas entre a União, Estados, Municí-
tivas atomizadas, buscando conquistas parciais, mas que ao longo pios e do Distrito Federal na execução de políticas públicas, tanto
dos anos foram se caracterizando como movimentos sociais orga- quanto a criação de espaços de participação e controle social nos
nizados. Poderes Judiciário e Legislativo, no Ministério Público e nas Defen-

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sorias, em ambiente de respeito, proteção e efetivação dos Direitos d)Criar base de dados dos conselhos nacionais, estaduais, dis-
Humanos. O conjunto dos órgãos do Estado – não apenas no âm- trital e municipais, garantindo seu acesso ao público em geral.
bito do Executivo Federal – deve estar comprometido com a imple- Responsáveis: Secretaria-Geral da Presidência da República;
mentação e monitoramento do PNDH-3. Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da Repú-
Aperfeiçoar a interlocução entre Estado e sociedade civil de- blica
pende da implementação de medidas que garantam à sociedade
maior participação no acompanhamento e monitoramento das po- e)Apoiar fóruns, redes e ações da sociedade civil que fazem
líticas públicas em Direitos Humanos, num diálogo plural e trans- acompanhamento, controle social e monitoramento das políticas
versal entre os vários atores sociais e deles com o Estado. Ampliar o públicas de Direitos Humanos.
controle externo dos órgãos públicos por meio de ouvidorias, moni- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
torar os compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasi- Presidência da República; Secretaria-Geral da Presidência da Repú-
leiro, realizar conferências periódicas sobre a temática, fortalecer e blica
apoiar a criação de conselhos nacional, distrital, estaduais e muni-
cipais de Direitos Humanos, garantindo-lhes eficiência, autonomia f)Estimular o debate sobre a regulamentação e efetividade dos
e independência são algumas das formas de assegurar o aperfeiço- instrumentos de participação social e consulta popular, tais como
amento das políticas públicas por meio de diálogo, de mecanismos lei de iniciativa popular, referendo, veto popular e plebiscito.
de controle e das ações contínuas da sociedade civil. Fortalecer as Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
informações em Direitos Humanos com produção e seleção de in- Presidência da República; Secretaria-Geral da Presidência da Repú-
dicadores para mensurar demandas, monitorar, avaliar, reformular blica
e propor ações efetivas, garante e consolida o controle social e a
transparência das ações governamentais. g)Assegurar a realização periódica de conferências de Direitos
A adoção de tais medidas fortalecerá a democracia participati- Humanos, fortalecendo a interação entre a sociedade civil e o po-
va, na qual o Estado atua como instância republicana da promoção der público.
e defesa dos Direitos Humanos e a sociedade civil como agente ati- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
vo – propositivo e reativo – de sua implementação. sidência da República

Diretriz 1: Interação democrática entre Estado e sociedade Objetivo estratégico II:


civil como instrumento de fortalecimento da democracia partici- Ampliação do controle externo dos órgãos públicos.
pativa.
Ações programáticas:
Objetivo estratégico I: a)Ampliar a divulgação dos serviços públicos voltados para a
Garantia da participação e do controle social das políticas pú- efetivação dos Direitos Humanos, em especial nos canais de trans-
blicas em Direitos Humanos, em diálogo plural e transversal entre parência.
os vários atores sociais. Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
sidência da República
Ações programáticas:
a)Apoiar, junto ao Poder Legislativo, a instituição do Conselho b)Propor a instituição da Ouvidoria Nacional dos Direitos Hu-
Nacional dos Direitos Humanos, dotado de recursos humanos, ma- manos, em substituição à Ouvidoria-Geral da Cidadania, com in-
teriais e orçamentários para o seu pleno funcionamento, e efetuar dependência e autonomia política, com mandato e indicação pelo
seu credenciamento junto ao Escritório do Alto Comissariado das Conselho Nacional dos Direitos Humanos, assegurando recursos
Nações Unidas para os Direitos Humanos como “Instituição Nacio- humanos, materiais e financeiros para seu pleno funcionamento.
nal Brasileira”, como primeiro passo rumo à adoção plena dos “Prin- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
cípios de Paris”. sidência da República
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República; Ministério das Relações Exteriores c)Fortalecer a estrutura da Ouvidoria Agrária Nacional.
Responsável: Ministério do Desenvolvimento Agrário
b)Fomentar a criação e o fortalecimento dos conselhos de
Direitos Humanos em todos os Estados e Municípios e no Distrito Diretriz 2: Fortalecimento dos Direitos Humanos como instru-
Federal, bem como a criação de programas estaduais de Direitos mento transversal das políticas públicas e de interação democrá-
Humanos. tica.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- Objetivo estratégico I:
sidência da República Promoção dos Direitos Humanos como princípios orientadores
das políticas públicas e das relações internacionais.
c)Criar mecanismos que permitam ação coordenada entre os
diversos conselhos de direitos, nas três esferas da Federação, visan- Ações programáticas:
do a criação de agenda comum para a implementação de políticas a)Considerar as diretrizes e objetivos estratégicos do PNDH-3
públicas de Direitos Humanos. nos instrumentos de planejamento do Estado, em especial no Plano
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Plurianual, na Lei de Diretrizes Orçamentárias e na Lei Orçamentária
Presidência da República, Secretaria-Geral da Presidência da Repú- Anual.
blica

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Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Ações programáticas:


Presidência da República; Secretaria-Geral da Presidência da Repú- a)Instituir e manter sistema nacional de indicadores em Direi-
blica; Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão tos Humanos, de forma articulada com os órgãos públicos e a so-
ciedade civil.
b)Propor e articular o reconhecimento do status constitucional Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
de instrumentos internacionais de Direitos Humanos novos ou já sidência da República
existentes ainda não ratificados.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da b)Integrar os sistemas nacionais de informações para elabora-
Presidência da República; Ministério da Justiça; Secretaria de Rela- ção de quadro geral sobre a implementação de políticas públicas e
ções Institucionais da Presidência da República violações aos Direitos Humanos.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
c)Construir e aprofundar agenda de cooperação multilateral sidência da República
em Direitos Humanos que contemple prioritariamente o Haiti, os
países lusófonos do continente africano e o Timor-Leste. c)Articular a criação de base de dados com temas relaciona-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da dos aos Direitos Humanos.
Presidência da República; Ministério das Relações Exteriores Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
sidência da República
d)Aprofundar a agenda Sul-Sul de cooperação bilateral em Di-
reitos Humanos que contemple prioritariamente os países lusófo- d)Utilizar indicadores em Direitos Humanos para mensurar
nos do continente africano, o Timor-Leste, Caribe e a América La- demandas, monitorar, avaliar, reformular e propor ações efetivas.
tina. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas para as
Presidência da República; Ministério das Relações Exteriores Mulheres da Presidência da República; Secretaria Especial de Políti-
cas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República;
Objetivo estratégico II: Ministério da Saúde; Ministério do Desenvolvimento Social e Com-
Fortalecimento dos instrumentos de interação democrática bate à Fome; Ministério da Justiça; Ministério das Cidades; Minis-
para a promoção dos Direitos Humanos. tério do Meio Ambiente; Ministério da Cultura; Ministério do Turis-
mo; Ministério do Esporte; Ministério do Desenvolvimento Agrário
Ações programáticas: e)Propor estudos visando a criação de linha de financiamento
a)Criar o Observatório Nacional dos Direitos Humanos para para a implementação de institutos de pesquisa e produção de
subsidiar, com dados e informações, o trabalho de monitoramento estatísticas em Direitos Humanos nos Estados.
das políticas públicas e de gestão governamental e sistematizar a Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
documentação e legislação, nacionais e internacionais, sobre Direi- sidência da República
tos Humanos.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- Objetivo estratégico II:
sidência da República Monitoramento dos compromissos internacionais assumidos
pelo Estado brasileiro em matéria de Direitos Humanos.
b)Estimular e reconhecer pessoas e entidades com destaque na
luta pelos Direitos Humanos na sociedade brasileira e internacional, Ações programáticas:
com a concessão de premiação, bolsas e outros incentivos, na for- a)Elaborar relatório anual sobre a situação dos Direitos Huma-
ma da legislação aplicável. nos no Brasil, em diálogo participativo com a sociedade civil.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República; Ministério das Relações Exteriores Presidência da República; Ministério das Relações Exteriores

c)Criar selo nacional “Direitos Humanos”, a ser concedido às b)Elaborar relatórios periódicos para os órgãos de tratados
entidades públicas e privadas que comprovem atuação destacada da ONU, no prazo por eles estabelecidos, com base em fluxo de
na defesa e promoção dos direitos fundamentais. informações com órgãos do governo federal e com unidades da
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Federação.
Presidência da República; Ministério da Justiça Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República; Ministério das Relações Exteriores
Diretriz 3: Integração e ampliação dos sistemas de informação
em Direitos Humanos e construção de mecanismos de avaliação e c)Elaborar relatório de acompanhamento das relações entre
monitoramento de sua efetivação. o Brasil e o sistema ONU que contenha, entre outras, as seguintes
Objetivo estratégico I: informações:
Desenvolvimento de mecanismos de controle social das políti-  Recomendações advindas de relatores especiais do Conse-
cas públicas de Direitos Humanos, garantindo o monitoramento e a lho de Direitos Humanos da ONU;
transparência das ações governamentais.  Recomendações advindas dos comitês de tratados do Meca-
nismo de Revisão Periódica;
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República; Ministério das Relações Exteriores

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d)Definir e institucionalizar fluxo de informações, com res- políticas sociais e os direitos coletivos de acesso e uso dos recursos.
ponsáveis em cada órgão do governo federal e unidades da Fede- A partir daí, a medição de um índice de desenvolvimento humano
ração, referentes aos relatórios internacionais de Direitos Huma- veio substituir a medição de aumento do PIB, uma vez que o Índice
nos e às recomendações dos relatores especiais do Conselho de de Desenvolvimento Humano (IDH) combina a riqueza per capita
Direitos Humanos da ONU e dos comitês de tratados. indicada pelo PIB aos aspectos de educação e expectativa de vida,
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da permitindo, pela primeira vez, uma avaliação de aspectos sociais
Presidência da República; Ministério das Relações Exteriores não mensurados pelos padrões econométricos.
No caso do Brasil, por muitos anos o crescimento econômico
e)Definir e institucionalizar fluxo de informações, com respon- não levou à distribuição justa de renda e riqueza, mantendo-se ele-
sáveis em cada órgão do governo federal, referentes aos relatórios vados índices de desigualdade. As ações de Estado voltadas para a
da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e às decisões da conquista da igualdade socioeconômica requerem ainda políticas
Corte Interamericana de Direitos Humanos. permanentes, de longa duração, para que se verifique a plena pro-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da teção e promoção dos Direitos Humanos. É necessário que o mode-
Presidência da República; Ministério das Relações Exteriores lo de desenvolvimento econômico tenha a preocupação de aperfei-
çoar os mecanismos de distribuição de renda e de oportunidades
f)Criar banco de dados público sobre todas as recomendações para todos os brasileiros, bem como incorpore os valores de pre-
dos sistemas ONU e OEA feitas ao Brasil, contendo as medidas servação ambiental. Os debates sobre as mudanças climáticas e o
adotadas pelos diversos órgãos públicos para seu cumprimento. aquecimento global, gerados pela preocupação com a maneira com
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da que os países vêm explorando os recursos naturais e direcionan-
Presidência da República; Ministério das Relações Exteriores do o progresso civilizatório, está na agenda do dia. Esta discussão
coloca em questão os investimentos em infraestrutura e modelos
Eixo Orientador II: Desenvolvimento e Direitos Humanos de desenvolvimento econômico na área rural, baseados, em grande
O tema “desenvolvimento” tem sido amplamente debatido por parte, no agronegócio, sem a preocupação com a potencial violação
ser um conceito complexo e multidisciplinar. Não existe modelo dos direitos de pequenos e médios agricultores e das populações
único e preestabelecido de desenvolvimento, porém, pressupõe- tradicionais.
-se que ele deva garantir a livre determinação dos povos, o reco- O desenvolvimento pode ser garantido se as pessoas forem
nhecimento de soberania sobre seus recursos e riquezas naturais, protagonistas do processo, pressupondo a garantia de acesso de
respeito pleno à sua identidade cultural e a busca de equidade na todos os indivíduos aos direitos econômicos, sociais, culturais e am-
distribuição das riquezas. bientais, e incorporando a preocupação com a preservação e a sus-
tentabilidade como eixos estruturantes de proposta renovada de
Durante muitos anos, o crescimento econômico, medido pela progresso. Esses direitos têm como foco a distribuição da riqueza,
variação anual do Produto Interno Bruto (PIB), foi usado como indi- dos bens e serviços.
cador relevante para medir o avanço de um país. Acreditava-se que, Todo esse debate traz desafios para a conceituação sobre os
uma vez garantido o aumento de bens e serviços, sua distribuição Direitos Humanos no sentido de incorporar o desenvolvimento
ocorreria de forma a satisfazer as necessidades de todas as pesso- como exigência fundamental. A perspectiva dos Direitos Humanos
as. Constatou-se, porém, que, embora importante, o crescimento contribui para redimensionar o desenvolvimento. Motiva a passar
do PIB não é suficiente para causar, automaticamente, melhoria do da consideração de problemas individuais a questões de interesse
bem estar para todas as camadas sociais. Por isso, o conceito de comum, de bem-estar coletivo, o que alude novamente o Estado e
desenvolvimento foi adotado por ser mais abrangente e refletir, de o chama à corresponsabilidade social e à solidariedade.
fato, melhorias nas condições de vida dos indivíduos. Ressaltamos que a noção de desenvolvimento está sendo ama-
A teoria predominante de desenvolvimento econômico o defi- durecida como parte de um debate em curso na sociedade e no go-
ne como um processo que faz aumentar as possibilidades de acesso verno, incorporando a relação entre os direitos econômicos, sociais,
das pessoas a bens e serviços, propiciadas pela expansão da capa- culturais e ambientais, buscando a garantia do acesso ao trabalho,
cidade e do âmbito das atividades econômicas. O desenvolvimento à saúde, à educação, à alimentação, à vida cultural, à moradia ade-
seria a medida qualitativa do progresso da economia de um país, quada, à previdência, à assistência social e a um meio ambiente sus-
refletindo transições de estágios mais baixos para estágios mais al- tentável. A inclusão do tema Desenvolvimento e Direitos Humanos
tos, por meio da adoção de novas tecnologias que permitem e fa- na 11a Conferência Nacional reforçou as estratégias governamen-
vorecem essa transição. Cresce nos últimos anos a assimilação das tais em sua proposta de desenvolvimento.
idéias desenvolvidas por Amartya Sem, que abordam o desenvol- Assim, este capítulo do PNDH-3 propõe instrumentos de avan-
vimento como liberdade e seus resultados centrados no bem estar ço e reforça propostas para políticas públicas de redução das desi-
social e, por conseguinte, nos direitos do ser humano. gualdades sociais concretizadas por meio de ações de transferência
São essenciais para o desenvolvimento as liberdades e os direi- de renda, incentivo à economia solidária e ao cooperativismo, à ex-
tos básicos como alimentação, saúde e educação. As privações das pansão da reforma agrária, ao fomento da aquicultura, da pesca e
liberdades não são apenas resultantes da escassez de recursos, mas do extrativismo e da promoção do turismo sustentável.
sim das desigualdades inerentes aos mecanismos de distribuição, O PNDH-3 inova ao incorporar o meio ambiente saudável e as
da ausência de serviços públicos e de assistência do Estado para a cidades sustentáveis como Direitos Humanos, propõe a inclusão do
expansão das escolhas individuais. Este conceito de desenvolvimen- item “direitos ambientais” nos relatórios de monitoramento sobre
to reconhece seu caráter pluralista e a tese de que a expansão das Direitos Humanos e do item “Direitos Humanos” nos relatórios am-
liberdades não representa somente um fim, mas também o meio bientais, assim como fomenta pesquisas de tecnologias socialmen-
para seu alcance. Em consequência, a sociedade deve pactuar as te inclusivas.

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Nos projetos e empreendimentos com grande impacto socio- Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério
ambiental, o PNDH-3 garante a participação efetiva das populações do Desenvolvimento Agrário; Ministério das Cidades; Ministério do
atingidas, assim como prevê ações mitigatórias e compensatórias. Desenvolvimento Social e Combate à Fome
Considera fundamental fiscalizar o respeito aos Direitos Humanos
nos projetos implementados pelas empresas transnacionais, bem f)Fortalecer políticas públicas de apoio ao extrativismo e ao
como seus impactos na manipulação das políticas de desenvolvi- manejo florestal comunitário ambientalmente sustentáveis.
mento. Nesse sentido, avalia como importante mensurar o impacto Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministério do De-
da biotecnologia aplicada aos alimentos, da nanotecnologia, dos senvolvimento Agrário; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
poluentes orgânicos persistentes, metais pesados e outros poluen- Comércio Exterior
tes inorgânicos em relação aos Direitos Humanos.
Alcançar o desenvolvimento com Direitos Humanos é capa- g)Fomentar o debate sobre a expansão de plantios de mono-
citar as pessoas e as comunidades a exercerem a cidadania, com culturas que geram impacto no meio ambiente e na cultura dos
direitos e responsabilidades. É incorporar, nos projetos, a própria povos e comunidades tradicionais, tais como eucalipto, cana-de-
população brasileira, por meio de participação ativa nas decisões -açúcar, soja, e sobre o manejo florestal, a grande pecuária, mine-
que afetam diretamente suas vidas. É assegurar a transparência dos ração, turismo e pesca.
grandes projetos de desenvolvimento econômico e mecanismos de Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
compensação para a garantia dos Direitos Humanos das populações sidência da República
diretamente atingidas.
Por fim, este PNDH-3 reforça o papel da equidade no Plano Plu- h)Erradicar o trabalho infantil, bem como todas as formas de
rianual, como instrumento de garantia de priorização orçamentária violência e exploração sexual de crianças e adolescentes nas ca-
de programas sociais. deias produtivas, com base em códigos de conduta e no Estatuto
da Criança e do Adolescente.
Diretriz 4: Efetivação de modelo de desenvolvimento susten- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
tável, com inclusão social e econômica, ambientalmente equili- Presidência da República; Ministério do Turismo
brado e tecnologicamente responsável, cultural e regionalmente
diverso, participativo e não discriminatório. i)Garantir que os grandes empreendimentos e projetos de
infraestrutura resguardem os direitos dos povos indígenas e de
Objetivo estratégico I: comunidades quilombolas e tradicionais, conforme previsto na
Implementação de políticas públicas de desenvolvimento com Constituição e nos tratados e convenções internacionais.
inclusão social. Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério dos Trans-
portes; Ministério da Integração Nacional; Ministério de Minas e
Ações programáticas: Energia; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
a)Ampliar e fortalecer as políticas de desenvolvimento social Racial da Presidência da República; Ministério do Meio Ambiente;
e de combate à fome, visando a inclusão e a promoção da cidada- Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministé-
nia, garantindo a segurança alimentar e nutricional, renda mínima rio da Pesca e Aquicultura; Secretaria Especial de Portos da Presi-
e assistência integral às famílias. dência da República
Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
à Fome j)Integrar políticas de geração de emprego e renda e políticas
sociais para o combate à pobreza rural dos agricultores familiares,
b)Expandir políticas públicas de geração e transferência de assentados da reforma agrária, quilombolas, indígenas, famílias
renda para erradicação da extrema pobreza e redução da pobreza. de pescadores e comunidades tradicionais.
Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e Comba-
à Fome te à Fome; Ministério da Integração Nacional; Ministério do Desen-
volvimento Agrário; Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério
c)Apoiar projetos de desenvolvimento sustentável local para da Justiça; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualda-
redução das desigualdades inter e intrarregionais e o aumento da de Racial da Presidência da República; Ministério da Cultura; Minis-
autonomia e sustentabilidade de espaços sub-regionais. tério da Pesca e Aquicultura
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento Agrário k)Integrar políticas sociais e de geração de emprego e renda
para o combate à pobreza urbana, em especial de catadores de
d)Avançar na implantação da reforma agrária, como forma de materiais recicláveis e população em situação de rua.
inclusão social e acesso aos direitos básicos, de forma articulada Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério
com as políticas de saúde, educação, meio ambiente e fomento à do Meio Ambiente; Ministério do Desenvolvimento Social e Comba-
produção alimentar. te à Fome; Ministério das Cidades; Secretaria dos Direitos Humanos
Responsável: Ministério do Desenvolvimento Agrário da Presidência da República

e)Incentivar as políticas públicas de economia solidária, de


cooperativismo e associativismo e de fomento a pequenas e mi-
cro empresas.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

l)Fortalecer políticas públicas de fomento à aquicultura e à Ações programáticas:


pesca sustentáveis, com foco nos povos e comunidades tradicio- a)Adotar tecnologias sociais de baixo custo e fácil aplicabilida-
nais de baixa renda, contribuindo para a segurança alimentar e a de nas políticas e ações públicas para a geração de renda e para a
inclusão social, mediante a criação e geração de trabalho e renda solução de problemas socioambientais e de saúde pública.
alternativos e inserção no mercado de trabalho. Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério
Responsáveis: Ministério da Pesca e Aquicultura; Ministério do do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério do Meio
Trabalho e Emprego; Ministério do Desenvolvimento Social e Com- Ambiente; Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério da
bate à Fome Saúde

m)Promover o turismo sustentável com geração de trabalho e b)Garantir a aplicação do princípio da precaução na proteção
renda, respeito à cultura local, participação e inclusão dos povos da agrobiodiversidade e da saúde, realizando pesquisas que ava-
e das comunidades nos benefícios advindos da atividade turística. liem os impactos dos transgênicos no meio ambiente e na saúde.
Responsáveis: Ministério do Turismo; Ministério do Desenvol- Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério do Meio Am-
vimento, Indústria e Comércio Exterior biente; Ministério de Ciência e Tecnologia

Objetivo estratégico II: c)Fomentar tecnologias alternativas para substituir o uso de


Fortalecimento de modelos de agricultura familiar e agroeco- substâncias danosas à saúde e ao meio ambiente, como poluentes
lógica. orgânicos persistentes, metais pesados e outros poluentes inor-
gânicos.
Ações programáticas: Responsáveis: Ministério de Ciência e Tecnologia; Ministério
a)Garantir que nos projetos de reforma agrária e agricultura do Meio Ambiente; Ministério da Saúde; Ministério da Agricultura,
familiar sejam incentivados os modelos de produção agroecológi- Pecuária e Abastecimento; Ministério do Desenvolvimento, Indús-
ca e a inserção produtiva nos mercados formais. tria e Comércio Exterior
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Minis-
tério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior d)Fomentar tecnologias de gerenciamento de resíduos sóli-
dos e emissões atmosféricas para minimizar impactos à saúde e
b)Fortalecer a agricultura familiar camponesa e a pesca arte- ao meio ambiente.
sanal, com ampliação do crédito, do seguro, da assistência técnica, Responsáveis: Ministério de Ciência e Tecnologia; Ministério
extensão rural e da infraestrutura para comercialização. do Meio Ambiente; Ministério da Saúde; Ministério das Cidades
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Minis-
tério da Pesca e Aquicultura e)Desenvolver e divulgar pesquisas públicas para diagnosticar
os impactos da biotecnologia e da nanotecnologia em temas de
c)Garantir pesquisa e programas voltados à agricultura fami- Direitos Humanos.
liar e pesca artesanal, com base nos princípios da agroecologia. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Mi- Presidência da República; Ministério da Saúde; Ministério do Meio
nistério do Meio Ambiente; Ministério da Agricultura, Pecuária e Ambiente; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Mi-
Abastecimento; Ministério da Pesca e Aquicultura; Ministério do nistério de Ciência e Tecnologia
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
f)Produzir, sistematizar e divulgar pesquisas econômicas e
d)Fortalecer a legislação e a fiscalização para evitar a contami- metodologias de cálculo de custos socioambientais de projetos de
nação dos alimentos e danos à saúde e ao meio ambiente causa- infraestrutura, de energia e de mineração que sirvam como parâ-
dos pelos agrotóxicos. metro para o controle dos impactos de grandes projetos.
Responsáveis: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci- Responsáveis: Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério
mento; Ministério do Meio Ambiente; Ministério da Saúde; Minis- de Minas e Energia; Ministério do Meio Ambiente; Secretaria de
tério do Desenvolvimento Agrário Assuntos Estratégicos da Presidência da República; Ministério da
Integração Nacional
e)Promover o debate com as instituições de ensino superior e
a sociedade civil para a implementação de cursos e realização de Objetivo estratégico IV:
pesquisas tecnológicas voltados à temática socioambiental, agro- Garantia do direito a cidades inclusivas e sustentáveis.
ecologia e produção orgânica, respeitando as especificidades de
cada região. Ações programáticas:
a)Apoiar ações que tenham como princípio o direito a cidades
Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério do Desen- inclusivas e acessíveis como elemento fundamental da implemen-
volvimento Agrário tação de políticas urbanas.
Responsáveis: Ministério das Cidades; Secretaria Especial dos
Objetivo estratégico III: Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do De-
Fomento à pesquisa e à implementação de políticas para o de- senvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
senvolvimento de tecnologias socialmente inclusivas, emancipató-
rias e ambientalmente sustentáveis.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

b)Fortalecer espaços institucionais democráticos, participati- Diretriz 5: Valorização da pessoa humana como sujeito central
vos e de apoio aos Municípios para a implementação de planos do processo de desenvolvimento.
diretores que atendam aos preceitos da política urbana estabele- Objetivo estratégico I:
cidos no Estatuto da Cidade. Garantia da participação e do controle social nas políticas pú-
Responsável: Ministério das Cidades blicas de desenvolvimento com grande impacto socioambiental.

c)Fomentar políticas públicas de apoio aos Estados, Distrito Ações programáticas:


Federal e Municípios em ações sustentáveis de urbanização e re- a)Fortalecer ações que valorizem a pessoa humana como su-
gularização fundiária dos assentamentos de população de baixa jeito central do desenvolvimento, enfrentando o quadro atual de
renda, comunidades pesqueiras e de provisão habitacional de in- injustiça ambiental que atinge principalmente as populações mais
teresse social, materializando a função social da propriedade. pobres.
Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Meio Am- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
biente; Ministério da Pesca e Aquicultura Presidência da República; Ministério do Meio Ambiente

d)Fortalecer a articulação entre os órgãos de governo e os b)Assegurar participação efetiva da população na elaboração
consórcios municipais para atuar na política de saneamento am- dos instrumentos de gestão territorial e na análise e controle dos
biental, com participação da sociedade civil. processos de licenciamento urbanístico e ambiental de empreen-
Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Meio Am- dimentos de impacto, especialmente na definição das ações miti-
biente; Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da Re- gadoras e compensatórias por impactos sociais e ambientais.
pública Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministério das
Cidades
e)Fortalecer a política de coleta, reaproveitamento, triagem,
reciclagem e a destinação seletiva de resíduos sólidos e líquidos, c)Fomentar a elaboração do Zoneamento Ecológico Econômi-
com a organização de cooperativas de reciclagem, que beneficiem co (ZEE), incorporando o sócio e etnozoneamento.
as famílias dos catadores. Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Meio Am-
Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Trabalho e biente
Emprego; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;
Ministério do Meio Ambiente d)Assegurar a transparência dos projetos realizados, em to-
das as suas etapas, e dos recursos utilizados nos grandes projetos
f)Fomentar políticas e ações públicas voltadas à mobilidade econômicos, para viabilizar o controle social.
urbana sustentável. Responsáveis: Ministério dos Transportes; Ministério da Inte-
Responsável: Ministério das Cidades gração Nacional; Ministério de Minas e Energia; Secretaria Especial
dos Direitos Humanos da Presidência da República
g)Considerar na elaboração de políticas públicas de desenvol-
vimento urbano os impactos na saúde pública. e)Garantir a exigência de capacitação qualificada e participa-
Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério das Cidades tiva das comunidades afetadas nos projetos básicos de obras e
empreendimentos com impactos sociais e ambientais.
h)Fomentar políticas públicas de apoio às organizações de Responsáveis: Ministério da Integração Nacional; Ministério de
catadores de materiais recicláveis, visando à disponibilização de Minas e Energia; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
áreas e prédios desocupados pertencentes à União, a fim de se- sidência da República
rem transformados em infraestrutura produtiva para essas orga-
nizações. f)Definir mecanismos para a garantia dos Direitos Humanos
Responsáveis: Ministério do Planejamento, Orçamento e Ges- das populações diretamente atingidas e vizinhas aos empreendi-
tão; Ministério das Cidades; Ministério do Trabalho e Emprego; Mi- mentos de impactos sociais e ambientais.
nistério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
sidência da República
i)Estimular a produção de alimentos de forma comunitária,
com uso de tecnologias de bases agroecológicas, em espaços ur- g)Apoiar a incorporação dos sindicatos de trabalhadores e
banos e periurbanos ociosos e fomentar a mobilização comunitá- centrais sindicais nos processos de licenciamento ambiental de
ria para a implementação de hortas, viveiros, pomares, canteiros empresas, de forma a garantir o direito à saúde do trabalhador.
de ervas medicinais, criação de pequenos animais, unidades de Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministério do
processamento e beneficiamento agroalimentar, feiras e merca- Trabalho e Emprego; Ministério da Saúde
dos públicos populares.
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e Comba- h)Promover e fortalecer ações de proteção às populações
te à Fome; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento mais pobres da convivência com áreas contaminadas, resguardan-
do-as contra essa ameaça e assegurando-lhes seus direitos funda-
mentais.
Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministério das
Cidades; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;
Ministério da Saúde

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Objetivo estratégico II: Diretriz 6: Promover e proteger os direitos ambientais como


Afirmação dos princípios da dignidade humana e da equidade Direitos Humanos, incluindo as gerações futuras como sujeitos de
como fundamentos do processo de desenvolvimento nacional. direitos.
Objetivo estratégico I:
Ações programáticas: Afirmação dos direitos ambientais como Direitos Humanos.
a)Reforçar o papel do Plano Plurianual como instrumento de Ações programáticas:
consolidação dos Direitos Humanos e de enfrentamento da con- a)Incluir o item Direito Ambiental nos relatórios de monitora-
centração de renda e riqueza e de promoção da inclusão da popu- mento dos Direitos Humanos.
lação de baixa renda. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Responsável: Ministério do Planejamento, Orçamento e Ges- Presidência da República; Ministério do Meio Ambiente
tão
b)Incluir o tema dos Direitos Humanos nos instrumentos e re-
b)Reforçar os critérios da equidade e da prevalência dos Di- latórios dos órgãos ambientais.
reitos Humanos como prioritários na avaliação da programação Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
orçamentária de ação ou autorização de gastos. Presidência da República; Ministério do Meio Ambiente
Responsável: Ministério do Planejamento, Orçamento e Ges-
tão c)Assegurar a proteção dos direitos ambientais e dos Direitos
c)Instituir código de conduta em Direitos Humanos para ser Humanos no Código Florestal.
considerado no âmbito do poder público como critério para a con- Responsável: Ministério do Meio Ambiente
tratação e financiamento de empresas.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- d)Implementar e ampliar políticas públicas voltadas para a
sidência da República recuperação de áreas degradadas e áreas de desmatamento nas
zonas urbanas e rurais.
d)Regulamentar a taxação do imposto sobre grandes fortunas Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministério das
previsto na Constituição. Cidades
Responsáveis: Ministério da Fazenda; Secretaria Especial dos
Direitos Humanos da Presidência da República e)Fortalecer ações que estabilizem a concentração de gases
de efeito estufa em nível que permita a adaptação natural dos
e)Ampliar a adesão de empresas ao compromisso de respon- ecossistemas à mudança do clima, controlando a interferência das
sabilidade social e Direitos Humanos. atividades humanas (antrópicas) no sistema climático.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Responsável: Ministério do Meio Ambiente
Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior f)Garantir o efetivo acesso a informação sobre a degradação
e os riscos ambientais, e ampliar e articular as bases de informa-
Objetivo estratégico III: ções dos entes federados e produzir informativos em linguagem
Fortalecimento dos direitos econômicos por meio de políticas acessível.
públicas de defesa da concorrência e de proteção do consumidor. Responsável: Ministério do Meio Ambiente

Ações programáticas: g)Integrar os atores envolvidos no combate ao trabalho escra-


a)Garantir o acesso universal a serviços públicos essenciais de vo nas operações correntes de fiscalização ao desmatamento e ao
qualidade. corte ilegal de madeira.
Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério da Educação; Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Ministério de Minas e Energia; Ministério do Desenvolvimento So- Presidência da República; Ministério do Trabalho e Emprego; Minis-
cial e Combate à Fome; Ministério das Cidades tério do Meio Ambiente

b)Fortalecer o sistema brasileiro de defesa da concorrência Eixo Orientador III:


para coibir condutas anticompetitivas e concentradoras de renda. Universalizar direitos em um contexto de desigualdades
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Fazenda A Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma em seu
preâmbulo que o “reconhecimento da dignidade inerente a todos
c)Garantir o direito à informação do consumidor, fortalecen- os membros da família humana e de seus direitos iguais e inaliená-
do as ações de acompanhamento de mercado, inclusive a rotula- veis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”.
gem dos transgênicos. No entanto, nas vicissitudes ocorridas no cumprimento da Declara-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do Desenvol- ção pelos Estados signatários, identificou-se a necessidade de reco-
vimento, Indústria e Comércio Exterior; Ministério da Agricultura, nhecer as diversidades e diferenças para concretização do princípio
Pecuária e Abastecimento da igualdade.
No Brasil, ao longo das últimas décadas, os Direitos Humanos
d)Fortalecer o combate à fraude e a avaliação da conformida- passaram a ocupar uma posição de destaque no ordenamento ju-
de dos produtos e serviços no mercado. rídico. O País avançou decisivamente na proteção e promoção do
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do Desenvolvi- direito às diferenças. Porém, o peso negativo do passado continua
mento, Indústria e Comércio Exterior a projetar no presente uma situação de profunda iniquidade social.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

O acesso aos direitos fundamentais continua enfrentando bar- turas. Como sujeitos de direitos, as crianças, os adolescentes e os
reiras estruturais, resquícios de um processo histórico, até secular, jovens são frequentemente subestimadas em sua participação polí-
marcado pelo genocídio indígena, pela escravidão e por períodos tica e em sua capacidade decisória. Preconiza-se o dever de assegu-
ditatoriais, práticas que continuam a ecoar em comportamentos, rar-lhes, desde cedo, o direito de opinião e participação.
leis e na realidade social. Marcadas pelas diferenças e por sua fragilidade temporal, as
O PNDH-3 assimila os grandes avanços conquistados ao longo crianças, os adolescentes e os jovens estão sujeitos a discrimina-
destes últimos anos, tanto nas políticas de erradicação da miséria e ções e violências. As ações programáticas promovem a garantia de
da fome, quanto na preocupação com a moradia e saúde, e aponta espaços e investimentos que assegurem proteção contra qualquer
para a continuidade e ampliação do acesso a tais políticas, funda- forma de violência e discriminação, bem como a promoção da ar-
mentais para garantir o respeito à dignidade humana. ticulação entre família, sociedade e Estado para fortalecer a rede
Os objetivos estratégicos direcionados à promoção da cidada- social de proteção que garante a efetividade de seus direitos.
nia plena preconizam a universalidade, indivisibilidade e interde-
pendência dos Direitos Humanos, condições para sua efetivação Diretriz 7: Garantia dos Direitos Humanos de forma universal,
integral e igualitária. O acesso aos direitos de registro civil, alimen- indivisível e interdependente, assegurando a cidadania plena.
tação adequada, terra e moradia, trabalho decente, educação, par- Objetivo estratégico I:
ticipação política, cultura, lazer, esporte e saúde, deve considerar a Universalização do registro civil de nascimento e ampliação do
pessoa humana em suas múltiplas dimensões de ator social e sujei- acesso à documentação básica.
to de cidadania.
À luz da história dos movimentos sociais e de programas de Ações programáticas:
governo, o PNDH-3 orienta-se pela transversalidade, para que a im- a)Ampliar e reestruturar a rede de atendimento para a emis-
plementação dos direitos civis e políticos transitem pelas diversas são do registro civil de nascimento visando a sua universalização.
dimensões dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais.  Interligar maternidades e unidades de saúde aos cartórios,
Caso contrário, grupos sociais afetados pela pobreza, pelo racismo por meio de sistema manual ou informatizado, para emissão de re-
estrutural e pela discriminação dificilmente terão acesso a tais di- gistro civil de nascimento logo após o parto, garantindo ao recém
reitos. nascido a certidão de nascimento antes da alta médica.
As ações programáticas formuladas visam enfrentar o desafio  Fortalecer a Declaração de Nascido Vivo (DNV), emitida pelo
de eliminar as desigualdades, levando em conta as dimensões de Sistema Único de Saúde , como mecanismo de acesso ao registro
gênero e raça nas políticas públicas, desde o planejamento até a sua civil de nascimento, contemplando a diversidade na emissão pelos
concretização e avaliação. Há, neste sentido, propostas de criação estabelecimentos de saúde e pelas parteiras.
de indicadores que possam mensurar a efetivação progressiva dos  Realizar orientação sobre a importância do registro civil de
direitos. nascimento para a cidadania por meio da rede de atendimento
Às desigualdades soma-se a persistência da discriminação, que (saúde, educação e assistência social) e pelo sistema de Justiça e de
muitas vezes se manifesta sob a forma de violência contra sujeitos segurança pública.
que são histórica e estruturalmente vulnerabilizados.  Aperfeiçoar as normas e o serviço público notarial e de re-
O combate à discriminação mostra-se necessário, mas insufi- gistro, em articulação com o Conselho Nacional de Justiça, para ga-
ciente enquanto medida isolada. Os pactos e convenções que in- rantia da gratuidade e da cobertura do serviço de registro civil em
tegram o sistema regional e internacional de proteção dos Direitos âmbito nacional.
Humanos apontam para a necessidade de combinar estas medidas
com políticas compensatórias que acelerem a construção da igual- Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério do Desenvol-
dade, como forma capaz de estimular a inclusão de grupos social- vimento Social e Combate à Fome; Ministério da Previdência So-
mente vulneráveis. Além disso, as ações afirmativas constituem cial; Ministério da Justiça; Ministério do Planejamento, Orçamento
medidas especiais e temporárias que buscam remediar um passado e Gestão; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência
discriminatório. No rol de movimentos e grupos sociais que deman- da República
dam políticas de inclusão social encontram-se crianças, adolescen-
tes, mulheres, pessoas idosas, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, b)Promover a mobilização nacional com intuito de reduzir o
transexuais, pessoas com deficiência, pessoas moradoras de rua, número de pessoas sem registro civil de nascimento e documen-
povos indígenas, populações negras e quilombolas, ciganos, ribei- tação básica.
rinhos, varzanteiros e pescadores, entre outros.  Instituir comitês gestores estaduais, distrital e municipais
Definem-se, neste capítulo, medidas e políticas que devem ser com o objetivo de articular as instituições públicas e as entidades da
efetivadas para reconhecer e proteger os indivíduos como iguais sociedade civil para a implantação de ações que visem à ampliação
na diferença, ou seja, para valorizar a diversidade presente na po- do acesso à documentação básica.
pulação brasileira para estabelecer acesso igualitário aos direitos  Realizar campanhas para orientação e conscientização da
fundamentais. Trata-se de reforçar os programas de governo e as população e dos agentes responsáveis pela articulação e pela ga-
resoluções pactuadas nas diversas conferências nacionais temáti- rantia do acesso aos serviços de emissão de registro civil de nasci-
cas, sempre sob o foco dos Direitos Humanos, com a preocupação mento e de documentação básica.
de assegurar o respeito às diferenças e o combate às desigualdades,  Realizar mutirões para emissão de registro civil de nas-
para o efetivo acesso aos direitos. cimento e documentação básica, com foco nas regiões de difícil
Por fim, em respeito à primazia constitucional de proteção e acesso e no atendimento às populações específicas como os povos
promoção da infância, do adolescente e da juventude, o capítulo indígenas, quilombolas, ciganos, pessoas em situação de rua, insti-
aponta suas diretrizes para o respeito e a garantia das gerações fu- tucionalizadas e às trabalhadoras rurais.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério do Desenvolvi- c)Fortalecer a agricultura familiar e camponesa no desenvol-
mento Social e Combate à Fome; Ministério da Defesa; Ministério vimento de ações específicas que promovam a geração de renda
da Fazenda; Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério da Jus- no campo e o aumento da produção de alimentos agroecológicos
tiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da para o autoconsumo e para o mercado local.
República Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Minis-
tério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
c)Criar bases normativas e gerenciais para garantia da univer-
salização do acesso ao registro civil de nascimento e à documen- d)Ampliar o abastecimento alimentar, com maior autonomia
tação básica. e fortalecimento da economia local, associado a programas de
 Implantar sistema nacional de registro civil para interligação informação, de educação alimentar, de capacitação, de geração
das informações de estimativas de nascimentos, de nascidos vivos de ocupações produtivas, de agricultura familiar camponesa e de
e do registro civil, a fim de viabilizar a busca ativa dos nascidos não agricultura urbana.
registrados e aperfeiçoar os indicadores para subsidiar políticas pú- Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e Com-
blicas. bate à Fome; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;
 Desenvolver estudo e revisão da legislação para garantir o Ministério do Desenvolvimento Agrário
acesso do cidadão ao registro civil de nascimento em todo o terri-
tório nacional. e)Promover a implantação de equipamentos públicos de se-
 Realizar estudo de sustentabilidade do serviço notarial e de gurança alimentar e nutricional, com vistas a ampliar o acesso à
registro no País. alimentação saudável de baixo custo, valorizar as culturas alimen-
 Desenvolver a padronização do registro civil (certidão de tares regionais, estimular o aproveitamento integral dos alimen-
nascimento, de casamento e de óbito) em território nacional. tos, evitar o desperdício e contribuir para a recuperação social e
de saúde da sociedade.
 Garantir a emissão gratuita de Registro Geral e Cadastro de Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
Pessoa Física aos reconhecidamente pobres. à Fome
 Desenvolver estudo sobre a política nacional de documen-
tação civil básica. f)Garantir que os hábitos e contextos regionais sejam incor-
porados nos modelos de segurança alimentar como fatores da
Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério do Desenvol- produção sustentável de alimentos.
vimento Social e Combate à Fome; Ministério do Planejamento, Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
Orçamento e Gestão; Ministério da Fazenda; Ministério da Justiça; à Fome
Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério da Previdência Social;
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da Repú- g)Realizar pesquisas científicas que promovam ganhos de pro-
blica dutividade na agricultura familiar e assegurar estoques regulado-
res.
d)Incluir no questionário do censo demográfico perguntas Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e Comba-
para identificar a ausência de documentos civis na população. te à Fome; Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério da
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- Agricultura, Pecuária e Abastecimento
sidência da República
Objetivo estratégico III:
Objetivo estratégico II: Garantia do acesso à terra e à moradia para a população de
Acesso à alimentação adequada por meio de políticas estrutu- baixa renda e grupos sociais vulnerabilizados.
rantes.
Ações programáticas:
Ações programáticas: a)Fortalecer a reforma agrária com prioridade à implementa-
a)Ampliar o acesso aos alimentos por meio de programas e ção e recuperação de assentamentos, à regularização do crédito
ações de geração e transferência de renda, com ênfase na partici- fundiário e à assistência técnica aos assentados, atualização dos
pação das mulheres como potenciais beneficiárias. índices Grau de Utilização da Terra (GUT) e Grau de Eficiência na
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e Com- Exploração (GEE), conforme padrões atuais e regulamentação da
bate à Fome; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da desapropriação de áreas pelo descumprimento da função social
Presidência da República plena.
Responsável: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministé-
b)Vincular programas de transferência de renda à garantia da rio da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
segurança alimentar da criança, por meio do acompanhamento da
saúde e nutrição e do estímulo de hábitos alimentares saudáveis, b)Integrar as ações de mapeamento das terras públicas da
com o objetivo de erradicar a desnutrição infantil. União.
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e Comba- Responsável: Ministério do Planejamento, Orçamento e Ges-
te à Fome; Ministério da Educação; Ministério da Saúde tão

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

c)Estimular o saneamento dos serviços notariais de registros Objetivo estratégico IV:


imobiliários, possibilitando o bloqueio ou o cancelamento admi- Ampliação do acesso universal a sistema de saúde de quali-
nistrativo dos títulos das terras e registros irregulares. dade.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do Desenvolvi- Ações programáticas:
mento Agrário a)Expandir e consolidar programas de serviços básicos de saú-
de e de atendimento domiciliar para a população de baixa renda,
d)Garantir demarcação, homologação, regularização e desin- com enfoque na prevenção e diagnóstico prévio de doenças e de-
trusão das terras indígenas, em harmonia com os projetos de futu- ficiências, com apoio diferenciado às pessoas idosas, indígenas,
ro de cada povo indígena, assegurando seu etnodesenvolvimento negros e comunidades quilombolas, pessoas com deficiência, pes-
e sua autonomia produtiva. soas em situação de rua, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, tran-
Responsável: Ministério da Justiça sexuais, crianças e adolescentes, mulheres, pescadores artesanais
e população de baixa renda.
e)Assegurar às comunidades quilombolas a posse dos seus Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Polí-
territórios, acelerando a identificação, o reconhecimento, a de- ticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República;
marcação e a titulação desses territórios, respeitando e preser- Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da
vando os sítios de valor simbólico e histórico. República; Ministério da Pesca e Aquicultura
Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial da Presidência da República; Ministério da Cultura; b)Criar programas de pesquisa e divulgação sobre tratamen-
Ministério do Desenvolvimento Agrário tos alternativos à medicina tradicional no sistema de saúde.
Responsável: Ministério da Saúde
f)Garantir o acesso a terra às populações ribeirinhas, varzan-
teiras e pescadoras, assegurando acesso aos recursos naturais que c)Reformular o marco regulatório dos planos de saúde, de
tradicionalmente utilizam para sua reprodução física, cultural e modo a diminuir os custos para a pessoa idosa e fortalecer o pacto
econômica. intergeracional, estimulando a adoção de medidas de capitaliza-
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Minis- ção para gastos futuros pelos planos de saúde.
tério do Meio Ambiente Responsável: Ministério da Saúde

g)Garantir que nos programas habitacionais do governo se- d)Reconhecer as parteiras como agentes comunitárias de saú-
jam priorizadas as populações de baixa renda, a população em de.
situação de rua e grupos sociais em situação de vulnerabilidade Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Polí-
no espaço urbano e rural, considerando os princípios da moradia ticas para as Mulheres da Presidência da República
digna, do desenho universal e os critérios de acessibilidade nos
projetos. e)Aperfeiçoar o programa de saúde para adolescentes, espe-
Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Desenvol- cificamente quanto à saúde de gênero, à educação sexual e repro-
vimento Social e Combate à Fome dutiva e à saúde mental.
h)Promover a destinação das glebas e edifícios vazios ou su- Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Po-
butilizados pertencentes à União, para a população de baixa ren- líticas para as Mulheres da Presidência da República; Secretaria Es-
da, reduzindo o déficit habitacional. pecial dos Direitos Humanos da Presidência da República
Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Planeja- f)Criar campanhas e material técnico, instrucional e educativo
mento, Orçamento e Gestão sobre planejamento reprodutivo que respeite os direitos sexuais
e reprodutivos, contemplando a elaboração de materiais especí-
i)Estabelecer que a garantia da qualidade de abrigos e alber- ficos para a população jovem e adolescente e para pessoas com
gues, bem como seu caráter inclusivo e de resgate da cidadania deficiência.
à população em situação de rua, estejam entre os critérios de Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Po-
concessão de recursos para novas construções e manutenção dos líticas para as Mulheres da Presidência da República; Secretaria Es-
existentes. pecial dos Direitos Humanos da Presidência da República
Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Desenvol-
vimento Social e Combate à Fome g)Estimular programas de atenção integral à saúde das mu-
lheres, considerando suas especificidades étnico-raciais, geracio-
j)Apoiar o monitoramento de políticas de habitação de inte- nais, regionais, de orientação sexual, de pessoa com deficiência,
resse social pelos conselhos municipais de habitação, garantindo priorizando as moradoras do campo, da floresta e em situação de
às cooperativas e associações habitacionais acesso às informa- rua.
ções. Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Po-
Responsável: Ministério das Cidades líticas para as Mulheres da Presidência da República; Secretaria Es-
pecial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência
k)Garantir as condições para a realização de acampamentos da República; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
ciganos em todo o território nacional, visando a preservação de Fome
suas tradições, práticas e patrimônio cultural.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República; Ministério das Cidades

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

h)Ampliar e disseminar políticas de saúde pré e neonatal, com Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
inclusão de campanhas educacionais de esclarecimento, visando Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento Social e
à prevenção do surgimento ou do agravamento de deficiências. Combate à Fome
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Po-
líticas para as Mulheres da Presidência da República; Secretaria Es- s)Investir na política de reforma psiquiátrica fomentando pro-
pecial dos Direitos Humanos da Presidência da República gramas de tratamentos substitutivos à internação, que garantam
às pessoas com transtorno mental a possibilidade de escolha au-
i)Expandir a assistência pré-natal e pós-natal por meio de pro- tônoma de tratamento, com convivência familiar e acesso aos re-
gramas de visitas domiciliares para acompanhamento das crianças cursos psiquiátricos e farmacológicos.
na primeira infância. Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial dos Di-
Responsável: Ministério da Saúde reitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Cultura

j)Apoiar e financiar a realização de pesquisas e intervenções t)Implementar medidas destinadas a desburocratizar os ser-
sobre a mortalidade materna, contemplando o recorte étnico-ra- viços do Instituto Nacional de Seguro Social para a concessão de
cial e regional. aposentadorias e benefícios.
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Polí- Responsável: Ministério da Previdência Social
ticas para as Mulheres da Presidência da República
u)Estimular a incorporação do trabalhador urbano e rural ao
k)Assegurar o acesso a laqueaduras e vasectomias ou rever- regime geral da previdência social.
são desses procedimentos no sistema público de saúde, com ga- Responsável: Ministério da Previdência Social
rantia de acesso a informações sobre as escolhas individuais.
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Polí- v)Assegurar a inserção social das pessoas atingidas pela han-
ticas para as Mulheres da Presidência da República seníase isoladas e internadas em hospitais-colônias.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
l)Ampliar a oferta de medicamentos de uso contínuo, espe- Presidência da República; Ministério da Saúde
ciais e excepcionais, para a pessoa idosa.
Responsável: Ministério da Saúde w)Reconhecer, pelo Estado brasileiro, as violações de direitos
às pessoas atingidas pela hanseníase no período da internação e
m)Realizar campanhas de diagnóstico precoce e tratamento do isolamento compulsórios, apoiando iniciativas para agilizar as
adequado às pessoas que vivem com HIV/AIDS para evitar o es- reparações com a concessão de pensão especial prevista na Lei no
tágio grave da doença e prevenir sua expansão e disseminação. 11.520/2007.
Responsável: Ministério da Saúde Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
sidência da República
n)Proporcionar às pessoas que vivem com HIV/AIDS progra-
mas de atenção no âmbito da saúde sexual e reprodutiva. x)Proporcionar as condições necessárias para conclusão do
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Polí- trabalho da Comissão Interministerial de Avaliação para análise
ticas para as Mulheres da Presidência da República dos requerimentos de pensão especial das pessoas atingidas pela
hanseníase, que foram internadas e isoladas compulsoriamente
o)Capacitar os agentes comunitários de saúde que realizam a em hospitais-colônia até 31 de dezembro de 1986.
triagem e a captação nas hemorredes para praticarem abordagens Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
sem preconceito e sem discriminação. sidência da República
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial dos Di-
reitos Humanos da Presidência da República Objetivo estratégico V:
Acesso à educação de qualidade e garantia de permanência na
p)Garantir o acompanhamento multiprofissional a pessoas escola.
transexuais que fazem parte do processo transexualizador no Sis- Ações programáticas:
tema Único de Saúde e de suas famílias. a)Ampliar o acesso a educação básica, a permanência na es-
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial dos Di- cola e a universalização do ensino no atendimento à educação in-
reitos Humanos da Presidência da República fantil.
Responsável: Ministério da Educação
q)Apoiar o acesso a programas de saúde preventiva e de pro- b)Assegurar a qualidade do ensino formal público com seu
teção à saúde para profissionais do sexo. monitoramento contínuo e atualização curricular.
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Polí- Responsáveis: Ministério da Educação; Secretaria Especial dos
ticas para as Mulheres da Presidência da República Direitos Humanos da Presidência da República

r)Apoiar a implementação de espaços essenciais para higiene c)Desenvolver programas para a reestruturação das escolas
pessoal e centros de referência para a população em situação de como pólos de integração de políticas educacionais, culturais e de
rua. esporte e lazer.
Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério da Cultura;
Ministério do Esporte

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

d)Apoiar projetos e experiências de integração da escola com Ações programáticas:


a comunidade que utilizem sistema de alternância. a)Apoiar a agenda nacional de trabalho decente por meio do
Responsável: Ministério da Educação fortalecimento do seu comitê executivo e da efetivação de suas
ações.
e)Adequar o currículo escolar, inserindo conteúdos que va- Responsável: Ministério do Trabalho e Emprego
lorizem as diversidades, as práticas artísticas, a necessidade de
alimentação adequada e saudável e as atividades físicas e espor- b)Fortalecer programas de geração de emprego, ampliando
tivas. progressivamente o nível de ocupação e priorizando a população
Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério da Cultura; de baixa renda e os Estados com elevados índices de emigração.
Ministério do Esporte; Ministério da Saúde Responsável: Ministério do Trabalho e Emprego

f)Integrar os programas de alfabetização de jovens e adultos c)Ampliar programas de economia solidária, mediante políti-
aos programas de qualificação profissional e educação cidadã, cas integradas, como alternativa de geração de trabalho e renda, e
apoiando e incentivando a utilização de metodologias adequadas de inclusão social, priorizando os jovens das famílias beneficiárias
às realidades dos povos e comunidades tradicionais. do Programa Bolsa Família.
Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério do Desen- Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério
volvimento Social e Combate à Fome; Ministério do Trabalho e Em- do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
prego; Ministério da Pesca e Aquicultura
d)Criar programas de formação, qualificação e inserção pro-
g)Estimular e financiar programas de extensão universitária fissional e de geração de emprego e renda para jovens, população
como forma de integrar o estudante à realidade social. em situação de rua e população de baixa renda.
Responsável: Ministério da Educação Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Educação
h)Fomentar as ações afirmativas para o ingresso das popula-
ções negra, indígena e de baixa renda no ensino superior. e)Integrar as ações de qualificação profissional às atividades
Responsáveis: Ministério da Educação; Secretaria Especial de produtivas executadas com recursos públicos, como forma de ga-
Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da Repú- rantir a inserção no mercado de trabalho.
blica; Ministério da Justiça Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
i)Ampliar o ensino superior público de qualidade por meio
da criação permanente de universidades federais, cursos e vagas f)Criar programas de formação e qualificação profissional
para docentes e discentes. para pescadores artesanais, industriais e aquicultores familiares.
Responsável: Ministério da Educação Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério
da Pesca e Aquicultura
j)Fortalecer as iniciativas de educação popular por meio da
valorização da arte e da cultura, apoiando a realização de festivais g)Combater as desigualdades salariais baseadas em diferen-
nas comunidades tradicionais e valorizando as diversas expres- ças de gênero, raça, etnia e das pessoas com deficiência.
sões artísticas nas escolas e nas comunidades. Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria
Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério da Cultura; Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da Repú-
blica h)Acompanhar a implementação do Programa Nacional de
Ações Afirmativas, instituído pelo Decreto no 4.228/2002, no
k)Ampliar o acesso a programas de inclusão digital para popu- âmbito da administração pública federal, direta e indireta, com
lações de baixa renda em espaços públicos, especialmente esco- vistas à realização de metas percentuais da ocupação de cargos
las, bibliotecas e centros comunitários. comissionados pelas mulheres, população negra e pessoas com
Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério da Cultura; deficiência.
Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério da Pesca e Aquicul- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
tura sidência da República

l)Fortalecer programas de educação no campo e nas comuni- i)Realizar campanhas envolvendo a sociedade civil organizada
dades pesqueiras que estimulem a permanência dos estudantes sobre paternidade responsável, bem como ampliar a licença-pa-
na comunidade e que sejam adequados às respectivas culturas e ternidade, como forma de contribuir para a corresponsabilidade
identidades. e para o combate ao preconceito quanto à inserção das mulheres
Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério do Desen- no mercado de trabalho.
volvimento Agrário; Ministério da Pesca e Aquicultura Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
da Presidência da República; Ministério do Trabalho e Emprego
Objetivo estratégico VI:
Garantia do trabalho decente, adequadamente remunerado,
exercido em condições de equidade e segurança.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

j)Elaborar diagnósticos com base em ações judiciais que en- f)Propor marco legal e ações repressivas para erradicar a in-
volvam atos de assédio moral, sexual e psicológico, com apuração termediação ilegal de mão de obra.
de denúncias de desrespeito aos direitos das trabalhadoras e tra- Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria
balhadores, visando orientar ações de combate à discriminação e Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secre-
abuso nas relações de trabalho. taria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidên- g)Promover a destinação de recursos do Fundo de Amparo
cia da República; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres ao Trabalhador (FAT) para capacitação técnica e profissionalizante
da Presidência da República; Secretaria Especial dos Direitos Huma- de trabalhadores rurais e de povos e comunidades tradicionais,
nos da Presidência da República como medida preventiva ao trabalho escravo, assim como para
implementação de política de reinserção social dos libertados da
k)Garantir a igualdade de direitos das trabalhadoras e traba- condição de trabalho escravo.
lhadores domésticos com os dos demais trabalhadores. Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República;
Ministério da Previdência Social h)Atualizar e divulgar semestralmente o cadastro de empre-
gadores que utilizaram mão-de-obra escrava.
l)Promover incentivos a empresas para que empreguem os Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria
egressos do sistema penitenciário. Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
Responsáveis: Ministério da Fazenda; Ministério do Trabalho e
Emprego; Ministério da Justiça Objetivo estratégico VIII:
Promoção do direito à cultura, lazer e esporte como elementos
m)Criar cadastro nacional e relatório periódico de empregabi- formadores de cidadania.
lidade de egressos do sistema penitenciário.
Responsável: Ministério da Justiça Ações programáticas:
a)Ampliar programas de cultura que tenham por finalidade
n)Garantir os direitos trabalhistas e previdenciários de pro- planejar e implementar políticas públicas para a proteção e pro-
fissionais do sexo por meio da regulamentação de sua profissão. moção da diversidade cultural brasileira, em formatos acessíveis.
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria Responsáveis: Ministério da Cultura; Ministério do Esporte
Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República.
 Objetivo estratégico VII: b)Elaborar programas e ações de cultura que considerem os
 Combate e prevenção ao trabalho escravo. formatos acessíveis, as demandas e as características específicas
das diferentes faixas etárias e dos grupos sociais.
Ações programáticas: Responsável: Ministério da Cultura
a)Promover a efetivação do Plano Nacional para Erradicação
do Trabalho Escravo. c)Fomentar políticas públicas de esporte e lazer, considerando
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria as diversidades locais, de forma a atender a todas as faixas etárias
Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República e aos grupos sociais.
Responsável: Ministério do Esporte
b)Apoiar a coordenação e implementação de planos estadu-
ais, distrital e municipais para erradicação do trabalho escravo. d)Elaborar inventário das línguas faladas no Brasil.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- Responsável: Ministério da Cultura
sidência da República
e)Ampliar e desconcentrar os pólos culturais e pontos de cul-
c)Monitorar e articular o trabalho das comissões estaduais, tura para garantir o acesso das populações de regiões periféricas
distrital e municipais para a erradicação do trabalho escravo. e de baixa renda.
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria Responsável: Ministério da Cultura
Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
f)Fomentar políticas públicas de formação em esporte e lazer,
d)Apoiar a alteração da Constituição para prever a expropria- com foco na intersetorialidade, na ação comunitária na intergera-
ção dos imóveis rurais e urbanos nos quais forem encontrados tra- cionalidade e na diversidade cultural.
balhadores reduzidos à condição análoga a de escravos. Responsável: Ministério do Esporte
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria de
Relações Institucionais da Presidência da República; Secretaria Es- g)Ampliar o desenvolvimento de programas de produção au-
pecial dos Direitos Humanos da Presidência da República diovisual, musical e artesanal dos povos indígenas.
Responsáveis: Ministério da Cultura; Ministério da Justiça
e)Identificar periodicamente as atividades produtivas em que
há ocorrência de trabalho escravo adulto e infantil.
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria
Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

61
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

h)Assegurar o direito das pessoas com deficiência e em sofri- Diretriz 8: Promoção dos direitos de crianças e adolescentes
mento mental de participarem da vida cultural em igualdade de para o seu desenvolvimento integral, de forma não discriminató-
oportunidade com as demais, e de desenvolver e utilizar o seu po- ria, assegurando seu direito de opinião e participação.
tencial criativo, artístico e intelectual.
Responsáveis: Ministério do Esporte; Ministério da Cultura; Se- Objetivo estratégico I:
cretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República Proteger e garantir os direitos de crianças e adolescentes por
meio da consolidação das diretrizes nacionais do ECA, da Política
i)Fortalecer e ampliar programas que contemplem participa- Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos da Criança
ção dos idosos nas atividades de esporte e lazer. e do Adolescente e da Convenção sobre os Direitos da Criança da
Responsáveis: Ministério do Esporte; Secretaria Especial dos ONU.
Direitos Humanos da Presidência da República
Ações programáticas:
j)Potencializar ações de incentivo ao turismo para pessoas a)Formular plano de médio prazo e decenal para a política na-
idosas. cional de promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e
Responsáveis: Ministério do Turismo; Secretaria Especial dos do adolescente.
Direitos Humanos da Presidência da República Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
sidência da República
Objetivo estratégico IX:
Garantia da participação igualitária e acessível na vida política. b)Desenvolver e implementar metodologias de acompanha-
mento e avaliação das políticas e planos nacionais referentes aos
Ações programáticas: direitos de crianças e adolescentes.
a)Apoiar campanhas para promover a ampla divulgação do Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
direito ao voto e participação política de homens e mulheres, por sidência da República
meio de campanhas informativas que garantam a escolha livre e
consciente. c)Elaborar e implantar sistema de coordenação da política dos
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial de Po- direitos da criança e do adolescente em todos os níveis de gover-
líticas para as Mulheres da Presidência da República no, para atender às recomendações do Comitê sobre Direitos da
Criança, dos relatores especiais e do Comitê sobre Direitos Econô-
b)Apoiar o combate ao crime de captação ilícita de sufrágio, micos, Sociais e Culturais da ONU.
inclusive com campanhas de esclarecimento e conscientização dos Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
eleitores. Presidência da República; Ministério das Relações Exteriores
Responsável: Ministério da Justiça
d)Criar sistema nacional de coleta de dados e monitoramento
c)Apoiar os projetos legislativos para o financiamento público junto aos Municípios, Estados e Distrito Federal acerca do cumpri-
de campanhas eleitorais. mento das obrigações da Convenção dos Direitos da Criança da
Responsável: Ministério da Justiça ONU.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
d)Garantir acesso irrestrito às zonas eleitorais por meio de sidência da República
transporte público e acessível e apoiar a criação de zonas eleito-
rais em áreas de difícil acesso. e)Assegurar a opinião das crianças e dos adolescentes que es-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério das Cidades tiverem capacitados a formular seus próprios juízos, conforme o
disposto no artigo 12 da Convenção sobre os Direitos da Criança,
e)Promover junto aos povos indígenas ações de educação e na formulação das políticas públicas voltadas para estes segmen-
capacitação sobre o sistema político brasileiro. tos, garantindo sua participação nas conferências dos direitos das
Responsável: Ministério da Justiça crianças e dos adolescentes.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
f)Apoiar ações de formação política das mulheres em sua di- sidência da República
versidade étnico-racial, estimulando candidaturas e votos de mu-
lheres em todos os níveis. Objetivo estratégico II:
Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres Consolidar o Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Ado-
da Presidência da República lescentes, com o fortalecimento do papel dos Conselhos Tutelares
e de Direitos.
g)Garantir e estimular a plena participação das pessoas com
deficiência no ato do sufrágio, seja como eleitor ou candidato, as- Ações programáticas:
segurando os mecanismos de acessibilidade necessários, inclusive a)Apoiar a universalização dos Conselhos Tutelares e de Direi-
a modalidade do voto assistido. tos em todos os Municípios e no Distrito Federal, e instituir parâ-
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- metros nacionais que orientem o seu funcionamento.
sidência da República Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
sidência da República

62
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

b)Implantar escolas de conselhos nos Estados e no Distrito )Implantar sistema nacional de registro de ocorrência de vio-
Federal, com vistas a apoiar a estruturação e qualificação da ação lência escolar, incluindo as práticas de violência gratuita e reitera-
dos Conselhos Tutelares e de Direitos. da entre estudantes (bullying), adotando formulário unificado de
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- registro a ser utilizado por todas as escolas.
sidência da República Responsável: Ministério da Educação

c)Apoiar a capacitação dos operadores do sistema de garantia e)Apoiar iniciativas comunitárias de mobilização de crianças
dos direitos para a proteção dos direitos e promoção do modo de e adolescentes em estratégias preventivas, com vistas a minimizar
vida das crianças e adolescentes indígenas, afrodescendentes e sua vulnerabilidade em contextos de violência.
comunidades tradicionais, contemplando ainda as especificidades Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
da população infanto-juvenil com deficiência. Presidência da República; Ministério da Justiça; Ministério do Es-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da porte; Ministério do Turismo
Presidência da República; Ministério da Justiça
f)Extinguir os grandes abrigos e eliminar a longa permanência
d)Fomentar a criação de instâncias especializadas e regionali- de crianças e adolescentes em abrigamento, adequando os servi-
zadas do sistema de justiça, de segurança e defensorias públicas, ços de acolhimento aos parâmetros aprovados pelo CONANDA e
para atendimento de crianças e adolescentes vítimas e autores de CNAS.
violência. Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da à Fome
Presidência da República; Ministério da Justiça
g)Fortalecer as políticas de apoio às famílias para a redução
e)Desenvolver mecanismos que viabilizem a participação de dos índices de abandono e institucionalização, com prioridade aos
crianças e adolescentes no processo das conferências dos direitos, grupos familiares de crianças com deficiências.
nos conselhos de direitos, bem como nas escolas, nos tribunais e Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
nos procedimentos judiciais e administrativos que os afetem. Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento Social e
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- Combate à Fome
sidência da República
h)Ampliar a oferta de programas de famílias acolhedoras para
f)Estimular a informação às crianças e aos adolescentes sobre crianças e adolescentes em situação de violência, com o objetivo
seus direitos, por meio de esforços conjuntos na escola, na mídia de garantir que esta seja a única opção para crianças retiradas do
impressa, na televisão, no rádio e na Internet. convívio com sua família de origem na primeira infância.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
Presidência da República; Ministério da Educação à Fome

Objetivo estratégico III: i)Estruturar programas de moradia coletivas para adolescen-


Proteger e defender os direitos de crianças e adolescentes com tes e jovens egressos de abrigos institucionais.
maior vulnerabilidade. Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
à Fome
Ações programáticas:
a)Promover ações educativas para erradicação da violência na j)Fomentar a adoção legal, por meio de campanhas educati-
família, na escola, nas instituições e na comunidade em geral, im- vas, em consonância com o ECA e com acordos internacionais.
plementando as recomendações expressas no Relatório Mundial Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
de Violência contra a Criança da ONU. Presidência da República; Ministério das Relações Exteriores
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
sidência da República k)Criar serviços e aprimorar metodologias para identificação e
localização de crianças e adolescentes desaparecidos.
b)Desenvolver programas nas redes de assistência social, de Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
educação e de saúde para o fortalecimento do papel das famílias sidência da República
em relação ao desenvolvimento infantil e à disciplina não violenta.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da l)Exigir em todos os projetos financiados pelo Governo Fe-
Presidência da República; Ministério da Educação; Ministério do deral a adoção de estratégias de não discriminação de crianças
Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Saúde e adolescentes em razão de classe, raça, etnia, crença, gênero,
orientação sexual, identidade de gênero, deficiência, prática de
c)Propor marco legal para a abolição das práticas de castigos ato infracional e origem.
físicos e corporais contra crianças e adolescentes. Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da sidência da República
Presidência da República; Ministério da Justiça

63
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

m)Reforçar e centralizar os mecanismos de coleta e análise f)Combater a pornografia infanto-juvenil na Internet, por
sistemática de dados desagregados da infância e adolescência, es- meio do fortalecimento do Hot Line Federal e da difusão de pro-
pecialmente sobre os grupos em situação de vulnerabilidade, his- cedimentos de navegação segura para crianças, adolescentes, fa-
toricamente vulnerabilizados, vítimas de discriminação, de abuso mílias e educadores.
e de negligência. Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Edu-
sidência da República cação

n)Estruturar rede de canais de denúncias (Disques) de violên- Objetivo estratégico V:


cia contra crianças e adolescentes, integrada aos Conselhos Tute- Garantir o atendimento especializado a crianças e adolescentes
lares. em sofrimento psíquico e dependência química.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
sidência da República Ações programáticas:
a)Universalizar o acesso a serviços de saúde mental para
o)Estabelecer instrumentos para combater a discriminação crianças e adolescentes em cidades de grande e médio porte, in-
religiosa sofrida por crianças e adolescentes. cluindo a garantia de retaguarda para as unidades de internação
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da socioeducativa.
Presidência da República Responsável: Ministério da Saúde

Objetivo estratégico IV: b)Fortalecer políticas de saúde que contemplem programas


Enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescen- de desintoxicação e redução de danos em casos de dependência
tes. química.
Ações programáticas: Responsável: Ministério da Saúde
a)Revisar o Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Se-
xual contra Crianças e Adolescentes, em consonância com as reco- Objetivo estratégico VI:
mendações do III Congresso Mundial sobre o tema. Erradicação do trabalho infantil em todo o território nacional.
Ações programáticas:
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- a)Erradicar o trabalho infantil, por meio das ações interseto-
sidência da República riais no Governo Federal, com ênfase no apoio às famílias e edu-
cação em tempo integral.
b)Ampliar o acesso e qualificar os programas especializados Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério
em saúde, educação e assistência social, no atendimento a crian- da Educação; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presi-
ças e adolescentes vítimas de violência sexual e de suas famílias dência da República
Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério da Educação;
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Secreta- b)Fomentar a implantação da Lei de Aprendizagem (Lei no
ria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República 10.097/2000), mobilizando empregadores, organizações de traba-
lhadores, inspetores de trabalho, Judiciário, organismos interna-
c)Desenvolver protocolos unificados de atendimento psicos- cionais e organizações não governamentais.
social e jurídico a vítimas de violência sexual. Responsável: Ministério do Trabalho e Emprego
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República; Ministério da Saúde; Ministério do De- c)Desenvolver pesquisas, campanhas e relatórios periódicos
senvolvimento Social e Combate à Fome; Secretaria Especial de Po- sobre o trabalho infantil, com foco em temas e públicos que re-
líticas para as Mulheres da Presidência da República querem abordagens específicas, tais como agricultura familiar,
trabalho doméstico, trabalho de rua.
d)Desenvolver ações específicas para combate à violência e à Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria
exploração sexual de crianças e adolescentes em situação de rua. Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República;
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Ministério do Desenvolvimento Agrário; Secretaria Especial dos Di-
Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento Social e reitos Humanos da Presidência da República; Ministério do Desen-
Combate à Fome. volvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Justiça

e)Estimular a responsabilidade social das empresas para Objetivo estratégico VII:


ações de enfrentamento da exploração sexual e de combate ao Implementação do Sistema Nacional de Atendimento Socioe-
trabalho infantil em suas organizações e cadeias produtivas. ducativo (SINASE).
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Ações programáticas:
Presidência da República; Ministério do Trabalho e Emprego; Mi- a)Elaborar e implementar um plano nacional socioeducativo
nistério do Turismo; e sistema de avaliação da execução das medidas daquele sistema,
com divulgação anual de seus resultados e estabelecimento de
metas, de acordo com o estabelecido no ECA.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
sidência da República

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

b)Implantar módulo específico de informações para o sistema j)Desenvolver campanhas de informação sobre o adolescente
nacional de atendimento educativo junto ao Sistema de Informa- em conflito com a lei, defendendo a não redução da maioridade
ção para a Infância e Adolescência, criando base de dados unifi- penal.
cada que inclua as varas da infância e juventude, as unidades de Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
internação e os programas municipais em meio aberto. sidência da República
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
sidência da República k)Estabelecer parâmetros nacionais para a apuração adminis-
trativa de possíveis violações dos direitos e casos de tortura em
c)Implantar centros de formação continuada para os opera- adolescentes privados de liberdade, por meio de sistema indepen-
dores do sistema socioeducativo em todos os Estados e no Distrito dente e de tramitação ágil.
Federal. Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da sidência da República
Presidência da República; Ministério da Educação; Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome Diretriz 9: Combate às desigualdades estruturais.
Objetivo estratégico I:
d)Desenvolver estratégias conjuntas com o sistema de justiça, Igualdade e proteção dos direitos das populações negras, his-
com vistas ao estabelecimento de regras específicas para a aplica- toricamente afetadas pela discriminação e outras formas de into-
ção da medida de privação de liberdade em caráter excepcional e lerância.
de pouca duração. Ações programáticas:
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- a)Apoiar, junto ao Poder Legislativo, a aprovação do Estatuto
sidência da República da Igualdade Racial.
Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
e)Apoiar a expansão de programas municipais de atendimen- Igualdade Racial da Presidência da República; Secretaria Especial
to socioeducativo em meio aberto. dos Direitos Humanos da Presidência da República
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e Comba-
te à Fome; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência b)Promover ações articuladas entre as políticas de educação,
da República cultura, saúde e de geração de emprego e renda, visando incidir di-
retamente na qualidade de vida da população negra e no combate
f)Apoiar os Estados e o Distrito Federal na implementação de à violência racial.
programas de atendimento ao adolescente em privação de liber- Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
dade, com garantia de escolarização, atendimento em saúde, es- Igualdade Racial da Presidência da República; Ministério da Educa-
porte, cultura e educação para o trabalho, condicionando a trans- ção; Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério do Desenvolvi-
ferência voluntária de verbas federais à observância das diretrizes mento Social e Combate à Fome; Ministério da Saúde
do plano nacional.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da c)Elaborar programas de combate ao racismo institucional e
Presidência da República; Ministério da Educação; Ministério da estrutural, implementando normas administrativas e legislação na-
Saúde; Ministério do Esporte; Ministério da Cultura; Ministério do cional e internacional.
Trabalho e Emprego Responsável: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
g)Garantir aos adolescentes privados de liberdade e suas fa- Igualdade Racial da Presidência da República
mílias informação sobre sua situação legal, bem como acesso à
defesa técnica durante todo o período de cumprimento da medida d)Realizar levantamento de informações para produção de
socioeducativa. relatórios periódicos de acompanhamento das políticas contra a
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da discriminação racial, contendo, entre outras, informações sobre in-
Presidência da República; Ministério da Justiça clusão no sistema de ensino (básico e superior), inclusão no merca-
do de trabalho, assistência integrada à saúde, número de violações
h)Promover a transparência das unidades de internação de registradas e apuradas, recorrências de violações, e dados popula-
adolescentes em conflito com a lei, garantindo o contato com a cionais e de renda.
família e a criação de comissões mistas de inspeção e supervisão. Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- Igualdade Racial da Presidência da República; Secretaria Especial
sidência da República dos Direitos Humanos da Presidência da República

i)Fomentar a desativação dos grandes complexos de unidades e)Analisar periodicamente os indicadores que apontam desi-
de internação, por meio do apoio à reforma e construção de novas gualdades visando à formulação e implementação de políticas pú-
unidades alinhadas aos parâmetros estabelecidos no SINASE e no blicas afirmativas que valorizem a promoção da igualdade racial.
ECA, em especial na observância da separação por sexo, faixa etá- Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
ria e compleição física. Igualdade Racial da Presidência da República; Secretaria Especial
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da
sidência da República Educação; Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério do Desen-
volvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Saúde

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

f)Fortalecer a integração das políticas públicas em todas as co- g)Implementar políticas de proteção do patrimônio dos povos
munidades remanescentes de quilombos localizadas no território indígenas, por meio dos registros material e imaterial, mapeando os
brasileiro. sítios históricos e arqueológicos, a cultura, as línguas e a arte.
Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Responsáveis: Ministério da Cultura; Ministério da Justiça
Igualdade Racial da Presidência da República; Ministério da Cultura
h)Promover projetos e pesquisas para resgatar a história dos
g)Fortalecer os mecanismos existentes de reconhecimento das povos indígenas.
comunidades quilombolas como garantia dos seus direitos especí- Responsável: Ministério da Justiça
ficos .
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Minis- i)Promover ações culturais para o fortalecimento da educação
tério da Cultura; Secretaria Especial de Política de Promoção da escolar dos povos indígenas, estimulando a valorização de suas pró-
Igualdade Racial da Presidência da República prias formas de produção do conhecimento.
Responsáveis: Ministério da Cultura; Ministério da Justiça
h)Fomentar programas de valorização do patrimônio cultural
das populações negras. j)Garantir o acesso à educação formal pelos povos indígenas,
Responsável: Ministério da Cultura; Secretaria Especial de Pro- bilíngues e com adequação curricular formulada com a participação
moção da Igualdade Racial da Presidência da República de representantes das etnias indigenistas e especialistas em edu-
cação.
i)Assegurar o resgate da memória das populações negras, me- Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Educação
diante a publicação da história de resistência e resgate de tradições
das populações das diásporas. k)Assegurar o acesso e permanência da população indígena no
Responsável: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da ensino superior, por meio de ações afirmativas e respeito à diversi-
Igualdade Racial da Presidência da República dade étnica e cultural.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Educação
Objetivo estratégico II:
Garantia aos povos indígenas da manutenção e resgate das l)Adotar medidas de proteção dos direitos das crianças indíge-
condições de reprodução, assegurando seus modos de vida. nas nas redes de ensino, saúde e assistência social, em consonância
Ações programáticas: com a promoção dos seus modos de vida.
a)Assegurar a integridade das terras indígenas para proteger e Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério da Saúde;
promover o modo de vida dos povos indígenas. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Secreta-
Responsável: Ministério da Justiça ria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

b)Proteger os povos indígenas isolados e de recente contato Objetivo estratégico III:


para garantir sua reprodução cultural e etnoambiental. Garantia dos direitos das mulheres para o estabelecimento das
Responsável: Ministério da Justiça condições necessárias para sua plena cidadania.
Ações programáticas:
c)Aplicar os saberes dos povos indígenas e das comunidades a)Desenvolver ações afirmativas que permitam incluir plena-
tradicionais na elaboração de políticas públicas, respeitando a Con- mente as mulheres no processo de desenvolvimento do País, por
venção no 169 da OIT. meio da promoção da sua autonomia econômica e de iniciativas
Responsável: Ministério da Justiça produtivas que garantam sua independência.
Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
d)Apoiar projetos de lei com objetivo de revisar o Estatuto do da Presidência da República
Índio com base no texto constitucional de 1988 e na Convenção no
169 da OIT. b)Incentivar políticas públicas e ações afirmativas para a parti-
Responsável: Ministério da Justiça cipação igualitária, plural e multirracial das mulheres nos espaços
de poder e decisão.
Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
e)Elaborar relatório periódico de acompanhamento das políti- da Presidência da República
cas indigenistas que contemple dados sobre os processos de de-
marcações das terras indígenas, dados sobre intrusões e conflitos c)Elaborar relatório periódico de acompanhamento das políti-
territoriais, inclusão no sistema de ensino (básico e superior), assis- cas para mulheres com recorte étnico-racial, que contenha dados
tência integrada à saúde, número de violações registradas e apura- sobre renda, jornada e ambiente de trabalho, ocorrências de assé-
das, recorrências de violações e dados populacionais. dio moral, sexual e psicológico, ocorrências de violências contra a
Responsável: Ministério da Justiça mulher, assistência à saúde integral, dados reprodutivos, mortalida-
de materna e escolarização.
f)Proteger e promover os conhecimentos tradicionais e medici- Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
nais dos povos indígenas. da Presidência da República
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

d)Divulgar os instrumentos legais de proteção às mulheres, Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
nacionais e internacionais, incluindo sua publicação em formatos Igualdade Racial da Presidência da República; Ministério da Justiça;
acessíveis, como braile, CD de áudio e demais tecnologias assistivas. Ministério da Cultura
Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
da Presidência da República d)Apoiar políticas de acesso a direitos para a população cigana,
valorizando seus conhecimentos e cultura.
e)Ampliar o financiamento de abrigos para mulheres em situa- Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
ção de vulnerabilidade, garantindo plena acessibilidade. à Fome
Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
da Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento Social e)Apoiar e valorizar a associação das mulheres quebradeiras
e Combate à Fome de coco, protegendo e promovendo a continuidade de seu trabalho
extrativista.
f)Propor tratamento preferencial de atendimento às mulheres Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
em situação de violência doméstica e familiar nos Conselhos Gesto- à Fome
res do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social e junto ao
Fundo de Desenvolvimento Social. f)Elaborar relatórios periódicos de acompanhamento das polí-
Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres ticas direcionadas às populações e comunidades tradicionais, que
da Presidência da República; Ministério das Cidades; Ministério do contenham, entre outras, informações sobre população estimada,
Desenvolvimento Social e Combate à Fome assistência integrada à saúde, número de violações registradas e
apuradas, recorrência de violações, lideranças ameaçadas, dados
g) Considerar o aborto como tema de saúde pública, com a ga- sobre acesso à moradia, terra e território e conflitos existentes.
rantia do acesso aos serviços de saúde. (Redação dada pelo Decreto Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde; Se-
nº 7.177, de 2010) cretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Po- Presidência da República; Secretaria Especial dos Direitos Humanos
líticas para as Mulheres da Presidência da República; Ministério da da Presidência da República
Justiça
Objetivo estratégico II:
h)Realizar campanhas e ações educativas para desconstruir os Proteção e promoção da diversidade das expressões culturais
estereótipos relativos às profissionais do sexo. como Direito Humano.
Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres Ações programáticas:
da Presidência da República
a)Promover ações de afirmação do direito à diversidade das ex-
Diretriz 10: Garantia da igualdade na diversidade. pressões culturais, garantindo igual dignidade e respeito para todas
Objetivo estratégico I: as culturas.
Afirmação da diversidade para construção de uma sociedade Responsável: Ministério da Cultura
igualitária.
Ações programáticas: b)Incluir nos instrumentos e relatórios de políticas culturais a
a)Realizar campanhas e ações educativas para desconstrução temática dos Direitos Humanos.
de estereótipos relacionados com diferenças étnico-raciais, etárias, Responsável: Ministério da Cultura
de identidade e orientação sexual, de pessoas com deficiência, ou
segmentos profissionais socialmente discriminados. Objetivo estratégico III:
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Valorização da pessoa idosa e promoção de sua participação
Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas de Pro- na sociedade.
moção da Igualdade Racial da Presidência da República; Secretaria Ações programáticas:
Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República; a)Promover a inserção, a qualidade de vida e a prevenção de
Ministério da Cultura agravos aos idosos, por meio de programas que fortaleçam o conví-
vio familiar e comunitário, garantindo o acesso a serviços, ao lazer,
b)Incentivar e promover a realização de atividades de valori- à cultura e à atividade física, de acordo com sua capacidade fun-
zação da cultura das comunidades tradicionais, entre elas ribeiri- cional.
nhos, extrativistas, quebradeiras de coco, pescadores artesanais, Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
seringueiros, geraizeiros, varzanteiros, pantaneiros, comunidades sidência da República; Ministério da Cultura; Ministério do Esporte
de fundo de pasto, caiçaras e faxinalenses.
Responsáveis: Ministério da Cultura; Ministério do Desenvolvi- b)Apoiar a criação de centros de convivência e desenvolver
mento Social e Combate à Fome; Ministério do Esporte ações de valorização e socialização da pessoa idosa nas zonas ur-
banas e rurais.
c)Fomentar a formação e capacitação em Direitos Humanos, Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
como meio de resgatar a autoestima e a dignidade das comunida- Presidência da República; Ministério da Cultura
des tradicionais, rurais e urbanas.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

c)Fomentar programas de voluntariado de pessoas idosas, vi- c)Assegurar o cumprimento do Decreto de Acessibilidade (De-
sando valorizar e reconhecer sua contribuição para o desenvolvi- creto no 5.296/2004), que garante a acessibilidade pela adequação
mento e bem-estar da comunidade. das vias e passeios públicos, semáforos, mobiliários, habitações, es-
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- paços de lazer, transportes, prédios públicos, inclusive instituições
sidência da República de ensino, e outros itens de uso individual e coletivo.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
d)Desenvolver ações que contribuam para o protagonismo da Presidência da República; Ministério do Trabalho e Emprego; Mi-
pessoa idosa na escola, possibilitando sua participação ativa na nistério das Cidades
construção de uma nova percepção intergeracional.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- d)Garantir recursos didáticos e pedagógicos para atender às
sidência da República necessidades educativas especiais.
Responsável: Ministério da Educação
e)Potencializar ações com ênfase no diálogo intergeracional,
valorizando o conhecimento acumulado das pessoas idosas. e)Disseminar a utilização dos sistemas braile, tadoma, escrita
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- de sinais e libras tátil para inclusão das pessoas com deficiência em
sidência da República todo o sistema de ensino.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
f)Desenvolver ações intersetoriais para capacitação continuada Presidência da República; Ministério da Educação
de cuidadores de pessoas idosas.
Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério da Cultura f)Instituir e implementar o ensino da Língua Brasileira de Sinais
como disciplina curricular facultativa.
g)Desenvolver política de humanização do atendimento ao ido- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
so, principalmente em instituições de longa permanência. Presidência da República; Ministério da Educação
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República; Ministério da Cultura g)Propor a regulamentação das profissões relativas à imple-
mentação da acessibilidade, tais como: instrutor de Libras, guia-in-
h)Elaborar programas de capacitação para os operadores dos térprete, tradutor-intérprete, transcritor, revisor e ledor da escrita
direitos da pessoa idosa. braile e treinadores de cães-guia.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- Responsável: Ministério do Trabalho e Emprego
sidência da República.
h)Elaborar relatórios sobre os Municípios que possuam frota
i)Elaborar relatório periódico de acompanhamento das políti- adaptada para subsidiar o processo de monitoramento do cumpri-
cas para pessoas idosas que contenha informações sobre os Cen- mento e implementação da legislação de acessibilidade.
tros Integrados de Atenção a Prevenção à Violência, tais como: Responsáveis: Ministério das Cidades; Secretaria Especial dos
quantidade existente; sua participação no financiamento público; Direitos Humanos da Presidência da República
sua inclusão nos sistemas de atendimento; número de profissionais
capacitados; pessoas idosas atendidas; proporção dos casos com Objetivo estratégico V:
resoluções; taxa de reincidência; pessoas idosas seguradas e apo- Garantia do respeito à livre orientação sexual e identidade de
sentadas; famílias providas por pessoas idosas; pessoas idosas em gênero.
abrigos; pessoas idosas em situação de rua; principal fonte de ren- Ações programáticas:
da dos idosos; pessoas idosas atendidas, internadas e mortas por a)Desenvolver políticas afirmativas e de promoção de cultura
violência ou maus-tratos. de respeito à livre orientação sexual e identidade de gênero, favo-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da recendo a visibilidade e o reconhecimento social.
Presidência da República; Ministério da Saúde; Ministério da Previ- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
dência Social; Ministério da Justiça; Ministério do Desenvolvimento sidência da República
Social e Combate à Fome
b)Apoiar projeto de lei que disponha sobre a união civil entre
Objetivo estratégico IV: pessoas do mesmo sexo.
Promoção e proteção dos direitos das pessoas com deficiência Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
e garantia da acessibilidade igualitária. Presidência da República; Ministério da Justiça
Ações programáticas:
a)Garantir às pessoas com deficiência igual e efetiva proteção c)Promover ações voltadas à garantia do direito de adoção por
legal contra a discriminação. casais homoafetivos.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
Presidência da República; Ministério da Justiça reitos Humanos da Presidência da República; Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres da Presidência da República
b)Garantir salvaguardas apropriadas e efetivas para prevenir
abusos a pessoas com deficiência e pessoas idosas.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
sidência da República

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

d)Reconhecer e incluir nos sistemas de informação do serviço e)Realizar relatório sobre pesquisas populacionais relativas a
público todas as configurações familiares constituídas por lésbicas, práticas religiosas, que contenha, entre outras, informações sobre
gays, bissexuais, travestis e transexuais, com base na desconstrução número de religiões praticadas, proporção de pessoas distribuídas
da heteronormatividade. entre as religiões, proporção de pessoas que já trocaram de religião,
Responsável: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão número de pessoas religiosas não praticantes e número de pessoas
sem religião.
e)Desenvolver meios para garantir o uso do nome social de tra- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
vestis e transexuais. sidência da República
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
sidência da República Eixo Orientador IV:
Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência
f)Acrescentar campo para informações sobre a identidade de Por muito tempo, alguns segmentos da militância em Direitos
gênero dos pacientes nos prontuários do sistema de saúde. Humanos mantiveram-se distantes do debate sobre as políticas
Responsável: Ministério da Saúde públicas de segurança no Brasil. No processo de consolidação da
democracia, por diferentes razões, movimentos sociais e entidades
g)Fomentar a criação de redes de proteção dos Direitos Huma- manifestaram dificuldade no tratamento do tema. Na base dessa
nos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), dificuldade, estavam a memória dos enfrentamentos com o aparato
principalmente a partir do apoio à implementação de Centros de repressivo ao longo de duas décadas de regime ditatorial, a postu-
Referência em Direitos Humanos de Prevenção e Combate à Homo- ra violenta vigente, muitas vezes, em órgãos de segurança pública,
fobia e de núcleos de pesquisa e promoção da cidadania daquele a percepção do crime e da violência como meros subprodutos de
segmento em universidades públicas. uma ordem social injusta a ser transformada em seus próprios fun-
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- damentos.
sidência da República Distanciamento análogo ocorreu nas universidades, que, com
poucas exceções, não se debruçaram sobre o modelo de polícia
h)Realizar relatório periódico de acompanhamento das polí- legado ou sobre os desafios da segurança pública. As polícias bra-
ticas contra discriminação à população LGBT, que contenha, entre sileiras, nos termos de sua tradição institucional, pouco aproveita-
outras, informações sobre inclusão no mercado de trabalho, as- ram da reflexão teórica e dos aportes oferecidos pela criminologia
sistência à saúde integral, número de violações registradas e apu- moderna e demais ciências sociais, já disponíveis há algumas dé-
radas, recorrências de violações, dados populacionais, de renda e cadas às polícias e aos gestores de países desenvolvidos. A cultura
conjugais. arraigada de rejeitar as evidências acumuladas pela pesquisa e pela
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- experiência de reforma das polícias no mundo era a mesma que
sidência da República expressava nostalgia de um passado de ausência de garantias indi-
viduais, e que identificava na idéia dos Direitos Humanos não a mais
Objetivo estratégico VI: generosa entre as promessas construídas pela modernidade, mas
Respeito às diferentes crenças, liberdade de culto e garantia da uma verdadeira ameaça.
laicidade do Estado. Estavam postas as condições históricas, políticas e culturais
Ações programáticas: para que houvesse um fosso aparentemente intransponível entre
a)Instituir mecanismos que assegurem o livre exercício das di- os temas da segurança pública e os Direitos Humanos.
versas práticas religiosas, assegurando a proteção do seu espaço Nos últimos anos, contudo, esse processo de estranhamento
físico e coibindo manifestações de intolerância religiosa. mútuo passou a ser questionado. De um lado, articulações na so-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Cultura; Se- ciedade civil assumiram o desafio de repensar a segurança pública
cretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República a partir de diálogos com especialistas na área, policiais e gestores.
De outro, começaram a ser implantadas as primeiras políticas públi-
b)Promover campanhas de divulgação sobre a diversidade re- cas buscando caminhos alternativos de redução do crime e da vio-
ligiosa para disseminar cultura da paz e de respeito às diferentes lência, a partir de projetos centrados na prevenção e influenciados
crenças. pela cultura de paz.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da A proposição do Sistema Único de Segurança Pública, a moder-
Presidência da República; Ministério da Cultura; Secretaria Especial nização de parte das nossas estruturas policiais e a aprovação de
de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da Re- novos regimentos e leis orgânicas das polícias, a consciência cres-
pública cente de que políticas de segurança pública são realidades mais
amplas e complexas do que as iniciativas possíveis às chamadas
c) (Revogado pelo Decreto nº 7.177, de 2010) “forças da segurança”, o surgimento de nova geração de policiais,
d)Estabelecer o ensino da diversidade e história das religiões, disposta a repensar práticas e dogmas e, sobretudo, a cobrança da
inclusive as derivadas de matriz africana, na rede pública de ensino, opinião pública e a maior fiscalização sobre o Estado, resultante do
com ênfase no reconhecimento das diferenças culturais, promoção processo de democratização, têm tornado possível a construção de
da tolerância e na afirmação da laicidade do Estado. agenda de reformas na área.
Responsáveis: Ministério da Educação; Secretaria Especial dos
Direitos Humanos da Presidência da República

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

O Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania Reafirma-se a centralidade do direito universal de acesso à Jus-
(Pronasci) e os investimentos já realizados pelo Governo Federal na tiça, com a possibilidade de acesso aos tribunais por toda a popula-
montagem de rede nacional de altos estudos em segurança pública, ção, com o fortalecimento das defensorias públicas e a moderniza-
que têm beneficiado milhares de policiais em cada Estado, simboli- ção da gestão judicial, de modo a garantir respostas judiciais mais
zam, ao lado do processo de debates da 1ª Conferência Nacional de céleres e eficazes. Destacam-se, ainda, o direito de acesso à Justiça
Segurança Pública, acúmulos históricos significativos, que apontam em matéria de conflitos agrários e urbanos e o necessário estímulo
para novas e mais importantes mudanças. aos meios de soluções pacíficas de controvérsias.
As propostas elencadas neste eixo orientador do PNDH-3 ar- O PNDH-3 apresenta neste eixo, fundamentalmente, propos-
ticulam-se com tal processo histórico de transformação e exigem tas para que o Poder Público se aperfeiçoe no desenvolvimento de
muito mais do que já foi alcançado. Para tanto, parte-se do pressu- políticas públicas de prevenção ao crime e à violência, reforçando
posto de que a realidade brasileira segue sendo gravemente mar- a noção de acesso universal à Justiça como direito fundamental,
cada pela violência e por severos impasses estruturais na área da e sustentando que a democracia, os processos de participação e
segurança pública. transparência, aliados ao uso de ferramentas científicas e à profis-
Problemas antigos, como a ausência de diagnósticos, de pla- sionalização das instituições e trabalhadores da segurança, assina-
nejamento e de definição formal de metas, a desvalorização pro- lam os roteiros mais promissores para que o Brasil possa avançar no
fissional dos policiais e dos agentes penitenciários, o desperdício caminho da paz pública.
de recursos e a consagração de privilégios dentro das instituições,
as práticas de abuso de autoridade e de violência policial contra Diretriz 11: Democratização e modernização do sistema de se-
grupos vulneráveis e a corrupção dos agentes de segurança pública, gurança pública
demandam reformas tão urgentes quanto profundas. Objetivo estratégico I:
As propostas sistematizadas no PNDH-3 agregam, nesse con- Modernização do marco normativo do sistema de segurança
texto, as contribuições oferecidas pelo processo da 11ª Conferência pública.
Nacional dos Direitos Humanos e avançam também sobre temas Ações programáticas:
que não foram objeto de debate, trazendo para o PNDH-3 parte do a)Propor alteração do texto constitucional, de modo a conside-
acúmulo crítico que tem sido proposto ao País pelos especialistas e rar as polícias militares não mais como forças auxiliares do Exército,
pesquisadores da área. mantendo-as apenas como força reserva.
Responsável: Ministério da Justiça
Em linhas gerais, o PNDH-3 aponta para a necessidade de am-
pla reforma no modelo de polícia e propõe o aprofundamento do b)Propor a revisão da estrutura, treinamento, controle, empre-
debate sobre a implantação do ciclo completo de policiamento às go e regimentos disciplinares dos órgãos de segurança pública, de
corporações estaduais. Prioriza transparência e participação popu- forma a potencializar as suas funções de combate ao crime e prote-
lar, instando ao aperfeiçoamento das estatísticas e à publicação de ção dos direitos de cidadania, bem como garantir que seus órgãos
dados, assim como à reformulação do Conselho Nacional de Segu- corregedores disponham de carreira própria, sem subordinação à
rança Pública. Contempla a prevenção da violência e da criminalida- direção das instituições policiais.
de como diretriz, ampliando o controle sobre armas de fogo e indi- Responsável: Ministério da Justiça
cando a necessidade de profissionalização da investigação criminal.
Com ênfase na erradicação da tortura e na redução da letalida- c)Propor a criação obrigatória de ouvidorias de polícias inde-
de policial e carcerária, confere atenção especial ao estabelecimen- pendentes nos Estados e no Distrito Federal, com ouvidores pro-
to de procedimentos operacionais padronizados, que previnam as tegidos por mandato e escolhidos com participação da sociedade.
ocorrências de abuso de autoridade e de violência institucional, e Responsável: Ministério da Justiça
confiram maior segurança a policiais e agentes penitenciários. Re-
afirma a necessidade de criação de ouvidorias independentes em d)Assegurar a autonomia funcional dos peritos e a moderni-
âmbito federal e, inspirado em tendências mais modernas de po- zação dos órgãos periciais oficiais, como forma de incrementar sua
liciamento, estimula as iniciativas orientadas por resultados, o de- estruturação, assegurando a produção isenta e qualificada da prova
senvolvimento do policiamento comunitário e voltado para a solu- material, bem como o princípio da ampla defesa e do contraditório
ção de problemas, elencando medidas que promovam a valorização e o respeito aos Direitos Humanos.
dos trabalhadores em segurança pública. Contempla, ainda, a cria- Responsável: Ministério da Justiça
ção de sistema federal que integre os atuais sistemas de proteção a
vítimas e testemunhas, defensores de Direitos Humanos e crianças e)Promover o aprofundamento do debate sobre a instituição
e adolescentes ameaçados de morte. do ciclo completo da atividade policial, com competências reparti-
Também como diretriz, o PNDH-3 propõe profunda reforma da das pelas polícias, a partir da natureza e da gravidade dos delitos.
Lei de Execução Penal que introduza garantias fundamentais e no- Responsável: Ministério da Justiça
vos regramentos para superar as práticas abusivas, hoje comuns. E
trata as penas privativas de liberdade como última alternativa, pro- f)Apoiar a aprovação do Projeto de Lei no 1.937/2007, que dis-
pondo a redução da demanda por encarceramento e estimulando põe sobre o Sistema Único de Segurança Pública.
novas formas de tratamento dos conflitos, como as sugeridas pelo Responsável: Ministério da Justiça
mecanismo da Justiça Restaurativa.
Objetivo estratégico II:
Modernização da gestão do sistema de segurança pública.
Ações programáticas:

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

a)Condicionar o repasse de verbas federais à elaboração e revi-  Presos provisórios e condenados sob custódia do sistema
são periódica de planos estaduais, distrital e municipais de seguran- penitenciário federal e quantidade de presos trabalhando e estu-
ça pública que se pautem pela integração e pela responsabilização dando por sexo, idade e raça ou etnia;
territorial da gestão dos programas e ações.  Vitimização de policiais federais, policiais rodoviários fede-
Responsável: Ministério da Justiça rais, membros da Força Nacional de Segurança Pública e agentes
penitenciários federais;
b)Criar base de dados unificada que permita o fluxo de infor-  Quantidade e tipos de laudos produzidos pelos órgãos fede-
mações entre os diversos componentes do sistema de segurança rais de perícia oficial.
pública e a Justiça criminal. Responsável: Ministério da Justiça
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
reitos Humanos da Presidência da República Objetivo estratégico II:
Consolidação de mecanismos de participação popular na ela-
c)Redefinir as competências e o funcionamento da Inspetoria- boração das políticas públicas de segurança.
-Geral das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares. Ações programáticas:
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Defesa a)Reformular o Conselho Nacional de Segurança Pública, asse-
gurando a participação da sociedade civil organizada em sua com-
Objetivo estratégico III: posição e garantindo sua articulação com o Conselho Nacional de
Promoção dos Direitos Humanos dos profissionais do sistema Política Criminal e Penitenciária.
de segurança pública, assegurando sua formação continuada e Responsável: Ministério da Justiça
compatível com as atividades que exercem.
Ações programáticas: b)Fomentar mecanismos de gestão participativa das políticas
a)Proporcionar equipamentos para proteção individual efetiva públicas de segurança, como conselhos e conferências, ampliando
para os profissionais do sistema federal de segurança pública. a Conferência Nacional de Segurança Pública.
Responsável: Ministério da Justiça Responsável: Ministério da Justiça

b)Condicionar o repasse de verbas federais aos Estados, ao Dis- Diretriz 13: Prevenção da violência e da criminalidade e profis-
trito Federal e aos Municípios, à garantia da efetiva disponibilização sionalização da investigação de atos criminosos.
Objetivo estratégico I:
de equipamentos de proteção individual aos profissionais do siste-
Ampliação do controle de armas de fogo em circulação no País.
ma nacional de segurança pública.
Ações programáticas:
Responsável: Ministério da Justiça
a)Realizar ações permanentes de estímulo ao desarmamento
da população.
c)Fomentar o acompanhamento permanente da saúde mental
Responsável: Ministério da Justiça
dos profissionais do sistema de segurança pública, mediante servi-
ços especializados do sistema de saúde pública.
b)Propor reforma da legislação para ampliar as restrições e os
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde
requisitos para aquisição de armas de fogo por particulares e em-
presas de segurança privada.
d)Propor projeto de lei instituindo seguro para casos de aci- Responsável: Ministério da Justiça
dentes incapacitantes ou morte em serviço para os profissionais do
sistema de segurança pública. c)Propor alteração da legislação para garantir que as armas
Responsável: Ministério da Justiça; apreendidas em crimes que não envolvam disparo sejam inutiliza-
das imediatamente após a perícia.
e)Garantir a reabilitação e reintegração ao trabalho dos profis- Responsável: Ministério da Justiça
sionais do sistema de segurança pública federal, nos casos de defi-
ciência adquirida no exercício da função. d)Registrar no Sistema Nacional de Armas todas as armas de
Responsável: Ministério da Justiça; fogo destruídas.
Responsável: Ministério da Defesa
Diretriz 12: Transparência e participação popular no sistema de
segurança pública e justiça criminal. Objetivo estratégico II:
Objetivo estratégico I: Qualificação da investigação criminal.
Publicação de dados do sistema federal de segurança pública. Ações programáticas:
Ação programática a)Propor projeto de lei para alterar o procedimento do inquéri-
a)Publicar trimestralmente estatísticas sobre: to policial, de modo a admitir procedimentos orais gravados e trans-
 Crimes registrados, inquéritos instaurados e concluídos, pri- formar em peça ágil e eficiente de investigação criminal voltada à
sões efetuadas, flagrantes registrados, operações realizadas, armas coleta de evidências.
e entorpecentes apreendidos pela Polícia Federal em cada Estado Responsável: Ministério da Justiça
da Federação;
 Veículos abordados, armas e entorpecentes apreendidos e b)Fomentar o debate com o objetivo de unificar os meios de
prisões efetuadas pela Polícia Rodoviária Federal em cada Estado investigação e obtenção de provas e padronizar procedimentos de
da Federação; investigação criminal.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Responsável: Ministério da Justiça c)Fortalecer mecanismos que possibilitem a efetiva fiscalização


de empresas de segurança privada e a investigação e responsabili-
c)Promover a capacitação técnica em investigação criminal zação de policiais que delas participem de forma direta ou indireta.
para os profissionais dos sistemas estaduais de segurança pública. Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
Responsável: Ministério da Justiça reitos Humanos da Presidência da República

d)Realizar pesquisas para qualificação dos estudos sobre técni- d)Desenvolver normas de conduta e fiscalização dos serviços
cas de investigação criminal. de segurança privados que atuam na área rural.
Responsável: Ministério da Justiça Responsável: Ministério da Justiça

Objetivo estratégico III: e)Elaborar diretrizes para atividades de policiamento comuni-


Produção de prova pericial com celeridade e procedimento pa- tário e policiamento orientado para a solução de problemas, bem
dronizado. como catalogar e divulgar boas práticas dessas atividades.
Ações programáticas: Responsável: Ministério da Justiça
a)Propor regulamentação da perícia oficial.
Responsável: Ministério da Justiça f)Elaborar diretrizes para atuação conjunta entre os órgãos de
trânsito e os de segurança pública para reduzir a violência no trân-
b)Propor projeto de lei para proporcionar autonomia adminis- sito.
trativa e funcional dos órgãos periciais federais. Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério das Cidades
Responsável: Ministério da Justiça
g)Realizar debate sobre o atual modelo de repressão e estimu-
c)Propor padronização de procedimentos e equipamentos a se- lar a discussão sobre modelos alternativos de tratamento do uso e
rem utilizados pelas unidades periciais oficiais em todos os exames tráfico de drogas, considerando o paradigma da redução de danos.
periciais criminalísticos e médico-legais. Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di- reitos Humanos da Presidência da República; Gabinete de Seguran-
reitos Humanos da Presidência da República ça Institucional; Ministério da Saúde
d)Desenvolver sistema de dados nacional informatizado para Objetivo estratégico V:
monitoramento da produção e da qualidade dos laudos produzidos Redução da violência motivada por diferenças de gênero, raça
nos órgãos periciais. ou etnia, idade, orientação sexual e situação de vulnerabilidade.
Responsável: Ministério da Justiça
Ações programáticas:
a)Fortalecer a atuação da Polícia Federal no combate e na apu-
e)Fomentar parcerias com universidades para pesquisa e de-
ração de crimes contra os Direitos Humanos.
senvolvimento de novas metodologias a serem implantadas nas
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
unidades periciais.
reitos Humanos da Presidência da República
Responsável: Ministério da Justiça
b)Garantir aos grupos em situação de vulnerabilidade o conhe-
f)Promover e apoiar a educação continuada dos profissionais
cimento sobre serviços de atendimento, atividades desenvolvidas
da perícia oficial, em todas as áreas, para a formação técnica e em
Direitos Humanos. pelos órgãos e instituições de segurança e mecanismos de denún-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di- cia, bem como a forma de acioná-los.
reitos Humanos da Presidência da República Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
reitos Humanos da Presidência da República; Secretaria Especial de
Objetivo estratégico IV: Políticas para as Mulheres da Presidência da República; Secretaria
Fortalecimento dos instrumentos de prevenção à violência. Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidên-
Ações programáticas: cia da República
a)Elaborar diretrizes para as políticas de prevenção à violência
com o objetivo de assegurar o reconhecimento das diferenças gera- c)Desenvolver e implantar sistema nacional integrado das re-
cionais, de gênero, étnico-racial e de orientação sexual. des de saúde, de assistência social e educação para a notificação
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial de Po- de violência.
líticas para as Mulheres da Presidência da República; Secretaria Es- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
pecial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência Presidência da República; Ministério da Saúde; Ministério do De-
da República senvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Educação;
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da
b)Realizar anualmente pesquisas nacionais de vitimização. Presidência da República
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
reitos Humanos da Presidência da República d)Promover campanhas educativas e pesquisas voltadas à pre-
venção da violência contra pessoas com deficiência, idosos, mulhe-
res, indígenas, negros, crianças, adolescentes, lésbicas, gays, bisse-
xuais, transexuais, travestis e pessoas em situação de rua.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da m)Fomentar a implantação do serviço de recebimento e enca-
Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento Social e minhamento de denúncias de violência contra a pessoa idosa em
Combate à Fome; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da todas as unidades da Federação.
Igualdade Racial da Presidência da República; Secretaria Especial de Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
Políticas para as Mulheres da Presidência da República; Ministério sidência da República
da Justiça; Ministério do Turismo; Ministério do Esporte
n)Capacitar profissionais de educação e saúde para identificar
e)Fortalecer unidade especializada em conflitos indígenas na e notificar crimes e casos de violência contra a pessoa idosa e con-
Polícia Federal e garantir sua atuação conjunta com a FUNAI, em tra a pessoa com deficiência.
especial nos processos conflituosos de demarcação. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
Responsável: Ministério da Justiça sidência da República; Ministério da Saúde; Ministério da Educação

f)Fomentar cursos de qualificação e capacitação sobre aspec- o)Implementar ações de promoção da cidadania e Direitos Hu-
tos da cultura tradicional dos povos indígenas e sobre legislação manos das lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis, com
indigenista para todas as corporações policiais, principalmente para foco na prevenção à violência, garantindo redes integradas de aten-
as polícias militares e civis especialmente nos Estados e Municípios ção.
em que as aldeias indígenas estejam localizadas nas proximidades Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
dos centros urbanos. reitos Humanos da Presidência da República
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
reitos Humanos da Presidência da República Objetivo estratégico VI:
Enfrentamento ao tráfico de pessoas.
g)Fortalecer mecanismos para combater a violência contra a Ações programáticas:
população indígena, em especial para as mulheres indígenas víti- a)Desenvolver metodologia de monitoramento, disseminação
mas de casos de violência psicológica, sexual e de assédio moral. e avaliação das metas do Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfi-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde; Se- co de Pessoas, bem como construir e implementar o II Plano Nacio-
cretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da nal de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.
República Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do Turismo; Se-
cretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da
h)Apoiar a implementação do pacto nacional de enfrentamen- República; Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria Especial
to à violência contra as mulheres de forma articulada com os planos dos Direitos Humanos da Presidência da República
estaduais de segurança pública e em conformidade com a Lei Maria
da Penha (Lei no 11.340/2006). b)Estruturar, a partir de serviços existentes, sistema nacional
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial de Po- de atendimento às vítimas do tráfico de pessoas, de reintegração e
líticas para as Mulheres da Presidência da República; Ministério da diminuição da vulnerabilidade, especialmente de crianças, adoles-
Saúde; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da centes, mulheres, transexuais e travestis.
República Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas para as
i)Avaliar o cumprimento da Lei Maria da Penha com base nos Mulheres da Presidência da República; Ministério da Justiça
dados sobre tipos de violência, agressor e vítima.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial de Polí- c)Implementar as ações referentes a crianças e adolescentes
ticas para as Mulheres da Presidência da República previstas na Política e no Plano Nacional de Enfrentamento ao Trá-
j)Fortalecer ações estratégicas de prevenção à violência contra fico de Pessoas.
jovens negros. Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da reitos Humanos da Presidência da República
Igualdade Racial da Presidência da República; Ministério da Justiça
d)Consolidar fluxos de encaminhamento e monitoramento de
k)Estabelecer política de prevenção de violência contra a popu- denúncias de casos de tráfico de crianças e adolescentes.
lação em situação de rua, incluindo ações de capacitação de poli- Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
ciais em Direitos Humanos. reitos Humanos da Presidência da República; Secretaria Especial de
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di- Políticas para as Mulheres da Presidência da República
reitos Humanos da Presidência da República
e)Revisar e disseminar metodologia para atendimento de
l)Promover a articulação institucional, em conjunto com a so- crianças e adolescentes vítimas de tráfico.
ciedade civil, para implementar o Plano de Ação para o Enfrenta- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
mento da Violência contra a Pessoa Idosa. sidência da República
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República; Ministério da Justiça; Ministério do De- f)Fomentar a capacitação de técnicos da gestão pública, orga-
senvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Saúde nizações não governamentais e representantes das cadeias produ-
tivas para o enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Responsável: Ministério do Turismo

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

g)Desenvolver metodologia e material didático para capacitar g)Publicar trimestralmente estatísticas sobre procedimentos
agentes públicos no enfrentamento ao tráfico de pessoas. instaurados e concluídos pelas Corregedorias da Polícia Federal e
da Polícia Rodoviária Federal, e sobre a quantidade de policiais in-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da fratores e condenados, por cargo e tipo de punição aplicada.
Presidência da República; Ministério do Turismo; Ministério da Jus- Responsável: Ministério da Justiça
tiça; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidên-
cia da República h)Publicar trimestralmente informações sobre pessoas mortas
e feridas em ações da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal
h)Realizar estudos e pesquisas sobre o tráfico de pessoas, in- e da Força Nacional de Segurança Pública.
clusive sobre exploração sexual de crianças e adolescentes. Responsável: Ministério da Justiça
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República; Ministério do Turismo; Ministério da Jus- i)Criar sistema de rastreamento de armas e de veículos usados
tiça; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidên- pela Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Força Nacional de
cia da República Segurança Pública, e fomentar a criação de sistema semelhante nos
Estados e no Distrito Federal.
Diretriz 14: Combate à violência institucional, com ênfase na Responsável: Ministério da Justiça
erradicação da tortura e na redução da letalidade policial e carce-
rária. Objetivo estratégico II:
Objetivo estratégico I: Padronização de procedimentos e equipamentos do sistema de
Fortalecimento dos mecanismos de controle do sistema de se- segurança pública.
gurança pública. Ações programáticas:
Ações programáticas: a)Elaborar procedimentos operacionais padronizados para as
a)Criar ouvidoria de polícia com independência para exercer forças policiais federais, com respeito aos Direitos Humanos.
controle externo das atividades das Polícias Federais e da Força Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
Nacional de Segurança Pública, coordenada por um ouvidor com reitos Humanos da Presidência da República
mandato.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di- b)Elaborar procedimentos operacionais padronizados sobre re-
reitos Humanos da Presidência da República vistas aos visitantes de estabelecimentos prisionais, respeitando os
preceitos dos Direitos Humanos.
b)Fortalecer a Ouvidoria do Departamento Penitenciário Na- Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
cional, dotando-a de recursos humanos e materiais necessários ao reitos Humanos da Presidência da República; Secretaria Especial de
desempenho de suas atividades, propondo sua autonomia funcio- Políticas para as Mulheres da Presidência da República
nal.
Responsável: Ministério da Justiça c)Elaborar diretrizes nacionais sobre uso da força e de armas de
fogo pelas instituições policiais e agentes do sistema penitenciário.
c)Condicionar a transferência voluntária de recursos federais Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
aos Estados e ao Distrito Federal ao plano de implementação ou à reitos Humanos da Presidência da República
existência de ouvidorias de polícia e do sistema penitenciário, que
atendam aos requisitos de coordenação por ouvidor com mandato, d)Padronizar equipamentos, armas, munições e veículos apro-
escolhidos com participação da sociedade civil e com independên- priados à atividade policial a serem utilizados pelas forças policiais
cia para sua atuação. da União, bem como aqueles financiados com recursos federais nos
Responsável: Ministério da Justiça Estados, no Distrito Federal e nos Municípios.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
d)Elaborar projeto de lei para aperfeiçoamento da legislação reitos Humanos da Presidência da República
processual penal, visando padronizar os procedimentos da investi-
gação de ações policiais com resultado letal. e)Disponibilizar para a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Fe-
Responsável: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di- deral e para a Força Nacional de Segurança Pública munição, tecno-
reitos Humanos da Presidência da República logias e armas de menor potencial ofensivo.
Responsável: Ministério da Justiça
e)Dotar as Corregedorias da Polícia Federal, da Polícia Rodovi-
ária Federal e do Departamento Penitenciário Nacional de recursos Objetivo estratégico III:
humanos e materiais suficientes para o desempenho de suas ativi- Consolidação de política nacional visando à erradicação da tor-
dades, ampliando sua autonomia funcional. tura e de outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou de-
Responsável: Ministério da Justiça gradantes.

f)Fortalecer a inspetoria da Força Nacional de Segurança Públi-


ca e tornar obrigatória a publicação trimestral de estatísticas sobre
procedimentos instaurados e concluídos e sobre o número de poli-
ciais desmobilizados.
Responsável: Ministério da Justiça

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Ações programáticas: Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-


a)Elaborar projeto de lei visando a instituir o Mecanismo Pre- sidência da República
ventivo Nacional, sistema de inspeção aos locais de detenção para
o monitoramento regular e periódico dos centros de privação de j)Estabelecer procedimento para a produção de relatórios anu-
liberdade, nos termos do protocolo facultativo à convenção da ONU ais, contendo informações sobre o número de casos de torturas e
contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos de tratamentos desumanos ou degradantes levados às autoridades,
ou degradantes. número de perpetradores e de sentenças judiciais.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
reitos Humanos da Presidência da República; Ministério das Rela- sidência da República
ções Exteriores;  Objetivo estratégico IV:
 Combate às execuções extrajudiciais realizadas por agentes
b)Instituir grupo de trabalho para discutir e propor atualização do Estado.
e aperfeiçoamento da Lei no 9.455/1997, que define os crimes de
tortura, de forma a atualizar os tipos penais, instituir sistema na- Ações programáticas:
cional de combate à tortura, estipular marco legal para a definição a)Fortalecer ações de combate às execuções extrajudiciais re-
de regras unificadas de exame médico-legal, bem como estipular alizadas por agentes do Estado, assegurando a investigação dessas
ações preventivas obrigatórias como formação específica das forças violações.
policiais e capacitação de agentes para a identificação da tortura. Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- reitos Humanos da Presidência da República
sidência da República b)Desenvolver e apoiar ações específicas para investigação e
combate à atuação de milícias e grupos de extermínio.
c)Promover o fortalecimento, a criação e a reativação dos co- Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
mitês estaduais de combate à tortura. reitos Humanos da Presidência da República
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
sidência da República Diretriz 15: Garantia dos direitos das vítimas de crimes e de
proteção das pessoas ameaçadas.
d)Propor projeto de lei para tornar obrigatória a filmagem dos Objetivo estratégico I:
interrogatórios ou audiogravações realizadas durante as investiga- Instituição de sistema federal que integre os programas de pro-
ções policiais. teção.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di- Ações programáticas:
reitos Humanos da Presidência da República a)Propor projeto de lei para integração, de forma sistêmica, dos
programas de proteção a vítimas e testemunhas ameaçadas, defen-
e)Estabelecer protocolo para a padronização de procedimen- sores de Direitos Humanos e crianças e adolescentes ameaçados
tos a serem realizados nas perícias destinadas a averiguar alegações de morte.
de tortura. Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di- sidência da República
reitos Humanos da Presidência da República
b)Desenvolver sistema nacional que integre as informações das
f)Elaborar matriz curricular e capacitar os operadores do siste- ações de proteção às pessoas ameaçadas.
ma de segurança pública e justiça criminal para o combate à tortura. Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di- sidência da República
reitos Humanos da Presidência da República
c)Ampliar os programas de proteção a vítimas e testemunhas
g)Capacitar e apoiar a qualificação dos agentes da perícia ofi- ameaçadas, defensores dos Direitos Humanos e crianças e adoles-
cial, bem como de agentes públicos de saúde, para a identificação centes ameaçados de morte para os Estados em que o índice de
de tortura. violência aponte a criação de programas locais.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
reitos Humanos da Presidência da República sidência da República

h)Incluir na formação de agentes penitenciários federais curso d)Garantir a formação de agentes da Polícia Federal para a pro-
com conteúdos relativos ao combate à tortura e sobre a importân- teção das pessoas incluídas nos programas de proteção de pessoas
cia dos Direitos Humanos. ameaçadas, observadas suas diretrizes.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di- Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
reitos Humanos da Presidência da República reitos Humanos da Presidência da República

i)Realizar campanhas de prevenção e combate à tortura nos e)Propor ampliação os recursos orçamentários para a realiza-
meios de comunicação para a população em geral, além de cam- ção das ações dos programas de proteção a vítimas e testemunhas
panhas específicas voltadas às forças de segurança pública, bem ameaçadas, defensores dos Direitos Humanos e crianças e adoles-
como divulgar os parâmetros internacionais de combate às práticas centes ameaçados de morte.
de tortura.

75
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- c)Desenvolver e aperfeiçoar os indicadores de morte violenta
sidência da República de crianças e adolescentes, assegurando publicação anual dos da-
dos.
Objetivo estratégico II: Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Consolidação da política de assistência a vítimas e a testemu- Presidência da República; Ministério da Saúde
nhas ameaçadas.
Ações programáticas: d)Desenvolver programas de enfrentamento da violência letal
a)Propor projeto de lei para aperfeiçoar o marco legal do Pro- contra crianças e adolescentes e divulgar as experiências bem su-
grama Federal de Assistência a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas, cedidas.
ampliando a proteção de escolta policial para as equipes técnicas Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
do programa, e criar sistema de apoio à reinserção social dos usuá- Presidência da República; Ministério da Justiça
rios do programa.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di- Objetivo estratégico IV:
reitos Humanos da Presidência da República Garantia de proteção dos defensores dos Direitos Humanos e
de suas atividades.
b)Regulamentar procedimentos e competências para a execu- Ações programáticas:
ção do Programa Federal de Assistência a Vítimas e Testemunhas a)Fortalecer a execução do Programa Nacional de Proteção aos
Ameaçadas, em especial para a realização de escolta de seus usu- Defensores dos Direitos Humanos, garantindo segurança nos casos
ários. de violência, ameaça, retaliação, pressão ou ação arbitrária, e a de-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di- fesa em ações judiciais de má-fé, em decorrência de suas ativida-
reitos Humanos da Presidência da República des.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
c)Fomentar a criação de centros de atendimento a vítimas de sidência da República
crimes e a seus familiares, com estrutura adequada e capaz de ga-
rantir o acompanhamento psicossocial e jurídico dos usuários, com b)Articular com os órgãos de segurança pública de Direitos Hu-
especial atenção a grupos sociais mais vulneráveis, assegurando o manos nos Estados para garantir a segurança dos defensores dos
exercício de seus direitos. Direitos Humanos.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas para as reitos Humanos da Presidência da República
Mulheres da Presidência da República
c)Capacitar os operadores do sistema de segurança pública e
d)Incentivar a criação de unidades especializadas do Serviço de de justiça sobre o trabalho dos defensores dos Direitos Humanos.
Proteção ao Depoente Especial da Polícia Federal nos Estados e no Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
Distrito Federal. sidência da República
Responsável: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
reitos Humanos da Presidência da República d)Fomentar parcerias com as Defensorias Públicas dos Estados
e da União para a defesa judicial dos defensores dos Direitos Huma-
e)Garantir recursos orçamentários e de infraestrutura ao Servi- nos nos processos abertos contra eles.
ço de Proteção ao Depoente Especial da Polícia Federal, necessários Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
ao atendimento pleno, imediato e de qualidade aos depoentes es- sidência da República
peciais e a seus familiares, bem como o atendimento às demandas
de inclusão provisória no programa federal. e)Divulgar em âmbito nacional a atuação dos defensores e mi-
Responsável: Ministério da Justiça litantes dos Direitos Humanos, fomentando cultura de respeito e
valorização de seus papéis na sociedade.
Objetivo estratégico III: Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
Garantia da proteção de crianças e adolescentes ameaçados de sidência da República
morte.
Ações programáticas: Diretriz 16: Modernização da política de execução penal, prio-
a)Ampliar a atuação federal no âmbito do Programa de Prote- rizando a aplicação de penas e medidas alternativas à privação de
ção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte nas unidades liberdade e melhoria do sistema penitenciário.
da Federação com maiores taxas de homicídio nessa faixa etária. Objetivo estratégico I:
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- Reestruturação do sistema penitenciário.
sidência da República Ações programáticas:
a)Elaborar projeto de reforma da Lei de Execução Penal (Lei no
b)Formular política nacional de enfrentamento da violência le- 7.210/1984), com o propósito de:
tal contra crianças e adolescentes.  Adotar mecanismos tecnológicos para coibir a entrada de
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- substâncias e materiais proibidos, eliminando a prática de revista
sidência da República íntima nos familiares de presos;
 Aplicar a Lei de Execução Penal também a presas e presos
provisórios e aos sentenciados pela Justiça Especial;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

 Vedar a divulgação pública de informações sobre perfil psi- i)Avançar na implementação do Sistema de Informações Peni-
cológico do preso e eventuais diagnósticos psiquiátricos feitos nos tenciárias (InfoPen), financiando a inclusão dos estabelecimentos
estabelecimentos prisionais; prisionais dos Estados e do Distrito Federal e condicionando os re-
 Instituir a obrigatoriedade da oferta de ensino pelos estabe- passes de recursos federais à sua efetiva integração ao sistema.
lecimentos penais e a remição de pena por estudo; Responsável: Ministério da Justiça
 Estabelecer que a perda de direitos ou a redução de acesso
a qualquer direito ocorrerá apenas como consequência de faltas de j)Ampliar campanhas de sensibilização para inclusão social de
natureza grave; egressos do sistema prisional.
 Estabelecer critérios objetivos para isolamento de presos e Responsável: Ministério da Justiça
presas no regime disciplinar diferenciado;
 Configurar nulidade absoluta dos procedimentos disciplina- k)Estabelecer diretrizes na política penitenciária nacional que
res quando não houver intimação do defensor do preso; fortaleçam o processo de reintegração social dos presos, internados
 Estabelecer o regime de condenação como limite para casos e egressos, com sua efetiva inclusão nas políticas públicas sociais.
de regressão de regime; Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do Desenvolvi-
 Assegurar e regulamentar as visitas íntimas para a popula- mento Social e Combate à Fome; Ministério da Saúde; Ministério da
ção carcerária LGBT. Educação; Ministério do Esporte
Responsável: Ministério da Justiça
l)Debater, por meio de grupo de trabalho interministerial,
b)Elaborar decretos extraordinários de indulto a condenados ações e estratégias que visem assegurar o encaminhamento para o
por crimes sem violência real, que reduzam substancialmente a po- presídio feminino de mulheres transexuais e travestis que estejam
pulação carcerária brasileira. em regime de reclusão.
Responsável: Ministério da Justiça Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
reitos Humanos da Presidência da República; Secretaria Especial de
c)Fomentar a realização de revisões periódicas processuais dos Políticas para as Mulheres da Presidência da República
processos de execução penal da população carcerária.
Responsável: Ministério da Justiça Objetivo estratégico II:
Limitação do uso dos institutos de prisão cautelar.
d)Vincular o repasse de recursos federais para construção de Ações programáticas:
estabelecimentos prisionais nos Estados e no Distrito Federal ao a)Propor projeto de lei para alterar o Código de Processo Penal,
atendimento das diretrizes arquitetônicas que contemplem a exis- com o objetivo de:
tência de alas específicas para presas grávidas e requisitos de aces-  Estabelecer requisitos objetivos para decretação de prisões
sibilidade. preventivas que consagrem sua excepcionalidade;
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial de Polí-  Vedar a decretação de prisão preventiva em casos que en-
ticas para as Mulheres da Presidência da República volvam crimes com pena máxima inferior a quatro anos, excetuan-
e)Aplicar a Política Nacional de Saúde Mental e a Política para do crimes graves como formação de quadrilha e peculato;
a Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas no sistema  Estabelecer o prazo máximo de oitenta e um dias para pri-
penitenciário. são provisória.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde Responsável: Ministério da Justiça
b)Alterar a legislação sobre abuso de autoridade, tipificando de
f)Aplicar a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mu- modo específico as condutas puníveis.
lher no contexto prisional, regulamentando a assistência pré-natal, Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
a existência de celas específicas e período de permanência com reitos Humanos da Presidência da República
seus filhos para aleitamento.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde; Se- Objetivo estratégico III:
cretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da Tratamento adequado de pessoas com transtornos mentais.
República Ações programáticas:
a)Estabelecer diretrizes que garantam tratamento adequado às
g)Implantar e implementar as ações de atenção integral aos pessoas com transtornos mentais, em consonância com o princípio
presos previstas no Plano Nacional de Saúde no Sistema Peniten- de desinstitucionalização.
ciário. Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde
Responsável: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde
b)Propor projeto de lei para alterar o Código Penal, prevendo
h)Promover estudo sobre a viabilidade de criação, em âmbi- que o período de cumprimento de medidas de segurança não deve
to federal, da carreira de oficial de condicional, trabalho externo e ultrapassar o da pena prevista para o crime praticado, e estabele-
penas alternativas, para acompanhar os condenados em liberdade cendo a continuidade do tratamento fora do sistema penitenciário
condicional, os presos em trabalho externo, em qualquer regime de quando necessário.
execução, e os condenados a penas alternativas à prisão. Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do Planejamen-
to, Orçamento e Gestão

77
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

c)Estabelecer mecanismos para a reintegração social dos inter- a)Implementar o Observatório da Justiça Brasileira, em parce-
nados em medida de segurança quando da extinção desta, median- ria com a sociedade civil.
te aplicação dos benefícios sociais correspondentes. Responsável: Ministério da Justiça
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde; Mi-
nistério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome b)Aperfeiçoar o sistema de fiscalização de violações aos Direi-
tos Humanos, por meio do aprimoramento do arcabouço de san-
Objetivo estratégico IV: ções administrativas.
Ampliação da aplicação de penas e medidas alternativas. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Ações programáticas: Presidência da República; Ministério da Saúde; Ministério da Justi-
a)Desenvolver instrumentos de gestão que assegurem a sus- ça; Ministério do Trabalho e Emprego
tentabilidade das políticas públicas de aplicação de penas e medi-
das alternativas. c)Ampliar equipes de fiscalização sobre violações dos Direitos
Responsáveis: Ministério da Justiça Humanos, em parceria com a sociedade civil.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
b)Incentivar a criação de varas especializadas e de centrais de reitos Humanos da Presidência da República
monitoramento do cumprimento de penas e medidas alternativas.
Responsável: Ministério da Justiça d)Propor projeto de lei buscando ampliar a utilização das ações
coletivas para proteção dos interesses difusos, coletivos e individu-
c)Desenvolver modelos de penas e medidas alternativas que ais homogêneos, garantindo a consolidação de instrumentos coleti-
associem seu cumprimento ao ilícito praticado, com projetos temá- vos de resolução de conflitos.
ticos que estimulem a capacitação do cumpridor, bem como penas Responsável: Ministério da Justiça
de restrição de direitos com controle de frequência.
Responsável: Ministério da Justiça e)Propor projetos de lei para simplificar o processamento e jul-
gamento das ações judiciais; coibir os atos protelatórios; restringir
d)Desenvolver programas-piloto com foco na educação, para as hipóteses de recurso ex officio e reduzir recursos e desjudicializar
aplicação da pena de limitação de final de semana. conflitos.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Educação Responsável: Ministério da Justiça

Diretriz 17: Promoção de sistema de justiça mais acessível, ágil f)Aperfeiçoar a legislação trabalhista, visando ampliar novas
e efetivo, para o conhecimento, a garantia e a defesa dos direitos. tutelas de proteção das relações do trabalho e as medidas de com-
Objetivo estratégico I: bate à discriminação e ao abuso moral no trabalho.
Acesso da população à informação sobre seus direitos e sobre Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério da
como garanti-los. Justiça; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presi-
Ações programáticas: dência da República
a)Difundir o conhecimento sobre os Direitos Humanos e sobre
a legislação pertinente com publicações em linguagem e formatos g)Implementar mecanismos de monitoramento dos serviços
acessíveis. de atendimento ao aborto legalmente autorizado, garantindo seu
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di- cumprimento e facilidade de acesso.
reitos Humanos da Presidência da República
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Polí-
ticas para as Mulheres da Presidência da República
b)Fortalecer as redes de canais de denúncia (disque-denúncia)
e sua articulação com instituições de Direitos Humanos.
Objetivo estratégico III:
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
Utilização de modelos alternativos de solução de conflitos.
sidência da República
Ações programáticas:
c)Incentivar a criação de centros integrados de serviços públi-
a)Fomentar iniciativas de mediação e conciliação, estimulando
cos para prestação de atendimento ágil à população, inclusive com
a resolução de conflitos por meios autocompositivos, voltados à
unidades itinerantes para obtenção de documentação básica.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da maior pacificação social e menor judicialização.
Presidência da República; Ministério da Justiça
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do Desenvolvi-
d)Fortalecer o governo eletrônico com a ampliação da disponi- mento Agrário; Ministério das Cidades
bilização de informações e serviços para a população via Internet,
em formato acessível. b)Fortalecer a criação de núcleos de justiça comunitária, em
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da articulação com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e
Presidência da República apoiar o financiamento de infraestrutura e de capacitação.
Responsável: Ministério da Justiça
Objetivo estratégico II:
Garantia do aperfeiçoamento e monitoramento das normas ju- c)Capacitar lideranças comunitárias sobre instrumentos e téc-
rídicas para proteção dos Direitos Humanos. nicas de mediação comunitária, incentivando a resolução de confli-
Ações programáticas: tos nas próprias comunidades.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di- Objetivo estratégico VI:
reitos Humanos da Presidência da República Acesso à Justiça no campo e na cidade.
Ações programáticas:
d)Incentivar projetos pilotos de Justiça Restaurativa, como for- a)Assegurar a criação de marco legal para a prevenção e media-
ma de analisar seu impacto e sua aplicabilidade no sistema jurídico ção de conflitos fundiários urbanos, garantindo o devido processo
brasileiro. legal e a função social da propriedade.
Responsável: Ministério da Justiça Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério das Cidades

e)Estimular e ampliar experiências voltadas para a solução de b)Propor projeto de lei voltado a regulamentar o cumprimento
conflitos por meio da mediação comunitária e dos Centros de Re- de mandados de reintegração de posse ou correlatos, garantindo a
ferência em Direitos Humanos, especialmente em áreas de baixo observância do respeito aos Direitos Humanos.
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e com dificuldades de Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério das Cidades;
acesso a serviços públicos. Ministério do Desenvolvimento Agrário
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República; Ministério da Justiça c)Promover o diálogo com o Poder Judiciário para a elaboração
de procedimento para o enfrentamento de casos de conflitos fundi-
Objetivo estratégico IV: ários coletivos urbanos e rurais.
Garantia de acesso universal ao sistema judiciário. Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério da Justiça;
Ações programáticas: Ministério do Desenvolvimento Agrário
a)Propor a ampliação da atuação da Defensoria Pública da
União. d) Propor projeto de lei para institucionalizar a utilização da
Responsável: Ministério da Justiça mediação nas demandas de conflitos coletivos agrários e urbanos,
b)Fomentar parcerias entre Municípios e entidades de prote- priorizando a oitiva do INCRA, institutos de terras estaduais, Minis-
ção dos Direitos Humanos para atendimento da população com difi- tério Público e outros órgãos públicos especializados, sem prejuízo
culdade de acesso ao sistema de justiça, com base no mapeamento de outros meios institucionais para solução de conflitos.(Redação
das principais demandas da população local e no estabelecimento dada pelo Decreto nº 7.177, de 2010)
de estratégias para atendimento e ações educativas e informativas. Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Minis-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
tério da Justiça
reitos Humanos da Presidência da República
Eixo Orientador V: Educação e cultura em Direitos Humanos
c)Apoiar a capacitação periódica e constante dos operadores
A educação e a cultura em Direitos Humanos visam à formação
do Direito e servidores da Justiça na aplicação dos Direitos Huma-
de nova mentalidade coletiva para o exercício da solidariedade, do
nos voltada para a composição de conflitos.
respeito às diversidades e da tolerância. Como processo sistemático
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
e multidimensional que orienta a formação do sujeito de direitos,
reitos Humanos da Presidência da República
seu objetivo é combater o preconceito, a discriminação e a violên-
d)Dialogar com o Poder Judiciário para assegurar o efetivo cia, promovendo a adoção de novos valores de liberdade, justiça e
acesso das pessoas com deficiência à justiça, em igualdade de con- igualdade.
dições com as demais pessoas. A educação em Direitos Humanos, como canal estratégico
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di- capaz de produzir uma sociedade igualitária, extrapola o direito à
reitos Humanos da Presidência da República educação permanente e de qualidade. Trata-se de mecanismo que
articula, entre outros elementos: a) a apreensão de conhecimentos
e)Apoiar os movimentos sociais e a Defensoria Pública na ob- historicamente construídos sobre Direitos Humanos e a sua rela-
tenção da gratuidade das perícias para as demandas judiciais, indi- ção com os contextos internacional, regional, nacional e local; b)
viduais e coletivas, e relacionadas a violações de Direitos Humanos. a afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expressem
a cultura dos Direitos Humanos em todos os espaços da socieda-
Responsável: Ministério da Justiça de; c) a formação de consciência cidadã capaz de se fazer presente
Objetivo estratégico V: nos níveis cognitivo, social, ético e político; d) o desenvolvimento
Modernização da gestão e agilização do funcionamento do sis- de processos metodológicos participativos e de construção coleti-
tema de justiça. va, utilizando linguagens e materiais didáticos contextualizados; e)
o fortalecimento de políticas que gerem ações e instrumentos em
Ações programáticas: favor da promoção, da proteção e da defesa dos Direitos Humanos,
a)Propor legislação de revisão e modernização dos serviços no- bem como da reparação das violações.
tariais e de registro. O PNDH-3 dialoga com o Plano Nacional de Educação em Di-
Responsável: Ministério da Justiça reitos Humanos (PNEDH) como referência para a política nacional
de Educação e Cultura em Direitos Humanos, estabelecendo os ali-
b)Desenvolver sistema integrado de informações do Poder Exe- cerces a serem adotados nos âmbitos nacional, estadual, distrital e
cutivo e Judiciário e disponibilizar seu acesso à sociedade. municipal.
Responsável: Ministério da Justiça O PNEDH, refletido neste programa, se desdobra em cinco
grandes áreas:

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Na educação básica, a ênfase do PNDH-3 é possibilitar, desde Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
a infância, a formação de sujeitos de direito, priorizando as popula- sidência da República; Ministério da Educação; Ministério da Justiça
ções historicamente vulnerabilizadas. A troca de experiências entre b)Implantar mecanismos e instrumentos de monitoramento,
crianças de diferentes raças e etnias, imigrantes, com deficiência avaliação e atualização do PNEDH, em processos articulados de mo-
física ou mental, fortalece, desde cedo, sentimento de convivência bilização nacional.
pacífica. Conhecer o diferente, desde a mais tenra idade, é perder Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
o medo do desconhecido, formar opinião respeitosa e combater o sidência da República; Ministério da Educação; Ministério da Justiça
preconceito, às vezes arraigado na própria família.
No PNDH-3, essa concepção se traduz em propostas de mu- c)Fomentar e apoiar a elaboração de planos estaduais e muni-
danças curriculares, incluindo a educação transversal e permanente cipais de educação em Direitos Humanos.
nos temas ligados aos Direitos Humanos e, mais especificamente, o Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
estudo da temática de gênero e orientação sexual, das culturas in- sidência da República; Ministério da Educação; Ministério da Justiça
dígena e afro-brasileira entre as disciplinas do ensino fundamental
e médio. d)Apoiar técnica e financeiramente iniciativas em educação em
No ensino superior, as metas previstas visam a incluir os Direi- Direitos Humanos, que estejam em consonância com o PNEDH.
tos Humanos, por meio de diferentes modalidades como discipli- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
nas, linhas de pesquisa, áreas de concentração, transversalização sidência da República; Ministério da Educação; Ministério da Justiça
incluída nos projetos acadêmicos dos diferentes cursos de gradu-
ação e pós-graduação, bem como em programas e projetos de ex- e)Incentivar a criação e investir no fortalecimento dos comitês
tensão. de educação em Direitos Humanos em todos os Estados e no Dis-
A educação não formal em Direitos Humanos é orientada pe- trito Federal, como órgãos consultivos e propositivos da política de
los princípios da emancipação e da autonomia, configurando-se educação em Direitos Humanos.
como processo de sensibilização e formação da consciência crítica. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Desta forma, o PNDH-3 propõe inclusão da temática de Educação Presidência da República; Ministério da Justiça
em Direitos Humanos nos programas de capacitação de lideranças
comunitárias e nos programas de qualificação profissional, alfabe- Objetivo Estratégico II:
tização de jovens e adultos, entre outros. Volta-se, especialmente, Ampliação de mecanismos e produção de materiais pedagógi-
para o estabelecimento de diálogo e parcerias permanentes como o cos e didáticos para Educação em Direitos Humanos.
vasto leque brasileiro de movimentos populares, sindicatos, igrejas,
ONGs, clubes, entidades empresariais e toda sorte de agrupamen- Ações programáticas:
tos da sociedade civil que desenvolvem atividades formativas em a)Incentivar a criação de programa nacional de formação em
seu cotidiano. educação em Direitos Humanos.
A formação e a educação continuada em Direitos Humanos, Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
com recortes de gênero, relações étnico-raciais e de orientação Presidência da República; Ministério da Educação; Ministério da
sexual, em todo o serviço público, especialmente entre os agentes Justiça; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presi-
do sistema de Justiça de segurança pública, são fundamentais para dência da República
consolidar o Estado Democrático e a proteção do direito à vida e
à dignidade, garantindo tratamento igual a todas as pessoas e o b)Estimular a temática dos Direitos Humanos nos editais de
funcionamento de sistemas de Justiça que promovam os Direitos avaliação e seleção de obras didáticas do sistema de ensino.
Humanos. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Por fim, aborda-se o papel estratégico dos meios de comuni- Presidência da República; Ministério da Educação;
cação de massa, no sentido de construir ou desconstruir ambiente
nacional e cultura social de respeito e proteção aos Direitos Huma- c)Estabelecer critérios e indicadores de avaliação de publica-
nos. Daí a importância primordial de introduzir mudanças que as- ções na temática de Direitos Humanos para o monitoramento da
segurem ampla democratização desses meios, bem como de atuar escolha de livros didáticos no sistema de ensino.
permanentemente junto a todos os profissionais e empresas do Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
setor (seminários, debates, reportagens, pesquisas e conferências), Presidência da República; Ministério da Educação
buscando sensibilizar e conquistar seu compromisso ético com a
afirmação histórica dos Direitos Humanos. d)Atribuir premiação anual de educação em Direitos Humanos,
como forma de incentivar a prática de ações e projetos de educação
Diretriz 18: Efetivação das diretrizes e dos princípios da política e cultura em Direitos Humanos.
nacional de educação em Direitos Humanos para fortalecer cultura Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
de direitos. Presidência da República; Ministério da Educação
Objetivo estratégico I:
Implementação do Plano Nacional de Educação em Direitos e)Garantir a continuidade da “Mostra Cinema e Direitos Huma-
Humanos - PNEDH nos na América do Sul” e o “Festival dos Direitos Humanos” como
atividades culturais para difusão dos Direitos Humanos.
Ações programáticas: Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
a)Desenvolver ações programáticas e promover articulação sidência da República
que viabilizem a implantação e a implementação do PNEDH.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

f)Consolidar a revista “Direitos Humanos” como instrumento Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
de educação e cultura em Direitos Humanos, garantindo o caráter Presidência da República; Ministério da Educação
representativo e plural em seu conselho editorial.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- e)Desenvolver ações nacionais de elaboração de estratégias de
sidência da República mediação de conflitos e de Justiça Restaurativa nas escolas, e outras
instituições formadoras e instituições de ensino superior, inclusive
g)Produzir recursos pedagógicos e didáticos especializados promovendo a capacitação de docentes para a identificação de vio-
e adquirir materiais e equipamentos em formato acessível para a lência e abusos contra crianças e adolescentes, seu encaminhamen-
educação em Direitos Humanos, para todos os níveis de ensino. to adequado e a reconstrução das relações no âmbito escolar.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
Presidência da República; Ministério da Educação sidência da República; Ministério da Educação; Ministério da Justiça
f)Publicar relatório periódico de acompanhamento da inclusão
h)Publicar materiais pedagógicos e didáticos para a educação da temática dos Direitos Humanos na educação formal que conte-
em Direitos Humanos em formato acessível para as pessoas com nha, pelo menos, as seguintes informações:
deficiência, bem como promover o uso da Língua Brasileira de Si-  Número de Estados e Municípios que possuem planos de
nais (Libras) em eventos ou divulgação em mídia. educação em Direitos Humanos;
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da  Existência de normas que incorporam a temática de Direitos
Presidência da República; Ministério da Educação. Humanos nos currículos escolares;
 Documentos que atestem a existência de comitês de educa-
i)Fomentar o acesso de estudantes, professores e demais pro- ção em Direitos Humanos;
fissionais da educação às tecnologias da informação e comunicação.  Documentos que atestem a existência de órgãos governa-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da mentais especializados em educação em Direitos Humanos.
Presidência da República; Ministério da Educação Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
sidência da República
Diretriz 19: Fortalecimento dos princípios da democracia e dos
Direitos Humanos nos sistemas de educação básica, nas instituições g)Desenvolver e estimular ações de enfrentamento ao bullying
de ensino superior e outras instituições formadoras. e ao cyberbulling.
Objetivo Estratégico I: Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Inclusão da temática de Educação e Cultura em Direitos Huma- Presidência da República; Ministério da Educação
nos nas escolas de educação básica e em outras instituições forma-
doras. h)Implementar e acompanhar a aplicação das leis que dispõem
sobre a inclusão da história e cultura afro-brasileira e dos povos in-
Ações Programáticas: dígenas em todos os níveis e modalidades da educação básica.
a)Estabelecer diretrizes curriculares para todos os níveis e mo- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
dalidades de ensino da educação básica para a inclusão da temática Presidência da República; Ministério da Educação
de educação e cultura em Direitos Humanos, promovendo o reco-
nhecimento e o respeito das diversidades de gênero, orientação se- Objetivo Estratégico II:
xual, identidade de gênero, geracional, étnico-racial, religiosa, com Inclusão da temática da Educação em Direitos Humanos nos
educação igualitária, não discriminatória e democrática. cursos das Instituições de Ensino Superior .
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República; Ministério da Educação; Secretaria Espe- Ações Programáticas:
cial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República a)Propor a inclusão da temática da educação em Direitos Hu-
manos nas diretrizes curriculares nacionais dos cursos de gradua-
b)Promover a inserção da educação em Direitos Humanos nos ção.
processos de formação inicial e continuada de todos os profissio- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
nais da educação, que atuam nas redes de ensino e nas unidades Presidência da República; Ministério da Educação
responsáveis por execução de medidas socioeducativas.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da b)Incentivar a elaboração de metodologias pedagógicas de ca-
Presidência da República; Ministério da Educação ráter transdisciplinar e interdisciplinar para a educação em Direitos
Humanos nas Instituições de Ensino Superior.
c)Incluir, nos programas educativos, o direito ao meio ambien- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
te como Direito Humano. Presidência da República; Ministério da Educação
Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Secretaria Espe-
cial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério c)Elaborar relatórios sobre a inclusão da temática dos Direitos
da Educação Humanos no ensino superior, contendo informações sobre a exis-
tência de ouvidorias e sobre o número de:
d)Incluir conteúdos, recursos, metodologias e formas de avalia-  cursos de pós-graduação com áreas de concentração em Di-
ção da educação em Direitos Humanos nos sistemas de ensino da reitos Humanos;
educação básica.  grupos de pesquisa em Direitos Humanos;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

 cursos com a transversalização dos Direitos Humanos nos d)Implementar programas e ações de fomento à extensão uni-
projetos políticos pedagógicos; versitária em direitos humanos, para promoção e defesa dos Direi-
 disciplinas em Direitos Humanos; tos Humanos e o desenvolvimento da cultura e educação em Direi-
 teses e dissertações defendidas; tos Humanos.
 associações e instituições dedicadas ao tema e com as quais Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
os docentes e pesquisadores tenham vínculo; Presidência da República; Ministério da Educação
 núcleos e comissões que atuam em Direitos Humanos;
 educadores com ações no tema Direitos Humanos; Diretriz 20: Reconhecimento da educação não formal como es-
 projetos de extensão em Direitos Humanos; paço de defesa e promoção dos Direitos Humanos.
Responsáveis: Ministério da Educação; Secretaria Especial dos Objetivo Estratégico I:
Direitos Humanos da Presidência da República Inclusão da temática da educação em Direitos Humanos na
educação não formal.
d)Fomentar a realização de estudos, pesquisas e a implementa-
ção de projetos de extensão sobre o período do regime 1964-1985,
Ações programáticas:
bem como apoiar a produção de material didático, a organização de
a)Fomentar a inclusão da temática de Direitos Humanos na
acervos históricos e a criação de centros de referências.
educação não formal, nos programas de qualificação profissional,
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
alfabetização de jovens e adultos, extensão rural, educação social
sidência da República; Ministério da Educação; Ministério da Justiça
comunitária e de cultura popular.
e)Incentivar a realização de estudos, pesquisas e produção bi- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
bliográfica sobre a história e a presença das populações tradicio- Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento Agrário;
nais. Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Cultura; Secretaria Especial
Presidência da República; Ministério da Educação; Secretaria Espe- de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
cial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da b)Apoiar iniciativas de educação popular em Direitos Humanos
República; Ministério da Justiça desenvolvidas por organizações comunitárias, movimentos sociais,
organizações não governamentais e outros agentes organizados da
Objetivo Estratégico III: sociedade civil.
Incentivo à transdisciplinariedade e transversalidade nas ativi- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
dades acadêmicas em Direitos Humanos. Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas de Pro-
moção da Igualdade Racial da Presidência da República; Secretaria
Ações Programáticas: Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República;
a)Incentivar o desenvolvimento de cursos de graduação, de Ministério da Cultura; Ministério da Justiça
formação continuada e programas de pós-graduação em Direitos
Humanos. c)Apoiar e promover a capacitação de agentes multiplicadores
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da para atuarem em projetos de educação em Direitos Humanos.
Presidência da República; Ministério da Educação; Secretaria Espe- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
cial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da sidência da República
República; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Pre-
sidência da República d)Apoiar e desenvolver programas de formação em comunica-
ção e Direitos Humanos para comunicadores comunitários.
b)Fomentar núcleos de pesquisa de educação em Direitos Hu-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
manos em instituições de ensino superior e escolas públicas e priva-
Presidência da República; Ministério das Comunicações; Ministério
das, estruturando-as com equipamentos e materiais didáticos.
da Cultura
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República; Ministério da Educação; Ministério da Ci-
ência e Tecnologia e)Desenvolver iniciativas que levem a incorporar a temática da
educação em Direitos Humanos nos programas de inclusão digital e
c)Fomentar e apoiar, no Conselho Nacional de Desenvolvimen- de educação à distância.
to Científico e Tecnológico (CNPq) e na Coordenação de Aperfei- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
çoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a criação da área Presidência da República; Ministério da Educação; Ministério das
“Direitos Humanos” como campo de conhecimento transdisciplinar Comunicações; Ministério de Ciência e Tecnologia
e recomendar às agências de fomento que abram linhas de finan-
ciamento para atividades de ensino, pesquisa e extensão em Direi- f)Apoiar a incorporação da temática da educação em Direi-
tos Humanos. tos Humanos nos programas e projetos de esporte, lazer e cultura
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da como instrumentos de inclusão social.
Presidência da República; Ministério da Educação; Ministério da Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Fazenda Presidência da República; Ministério da Educação; Ministério da
Cultura; Ministério do Esporte

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

g)Fortalecer experiências alternativas de educação para os Ações programáticas:


adolescentes, bem como para monitores e profissionais do sistema a)Oferecer, continuamente e permanentemente, cursos em Di-
de execução de medidas socioeducativas. reitos Humanos para os profissionais do sistema de segurança pú-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- blica e justiça criminal.
sidência da República; Ministério da Educação; Ministério da Justiça Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
reitos Humanos da Presidência da República; Secretaria Especial de
Objetivo estratégico II: Políticas para as Mulheres da Presidência da República; Secretaria
Resgate da memória por meio da reconstrução da história dos Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidên-
movimentos sociais. cia da República

Ações programáticas: b)Oferecer permanentemente cursos de especialização aos


a)Promover campanhas e pesquisas sobre a história dos mo- gestores, policiais e demais profissionais do sistema de segurança
vimentos de grupos historicamente vulnerabilizados, tais como o pública.
segmento LGBT, movimentos de mulheres, quebradeiras de coco, Responsável: Ministério da Justiça
castanheiras, ciganos, entre outros.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da c)Publicar materiais didático-pedagógicos sobre segurança pú-
Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas para as blica e Direitos Humanos.
Mulheres da Presidência da República Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
reitos Humanos da Presidência da República
b)Apoiar iniciativas para a criação de museus voltados ao resga-
te da cultura e da história dos movimentos sociais. d)Incentivar a inserção da temática dos Direitos Humanos nos
Responsáveis: Ministério da Cultura; Secretaria Especial dos Di- programas das escolas de formação inicial e continuada dos mem-
reitos Humanos da Presidência da República bros das Forças Armadas.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Diretriz 21: Promoção da Educação em Direitos Humanos no Presidência da República; Ministério da Defesa
serviço público.
Objetivo Estratégico I: e)Criar escola nacional de polícia para educação continuada
Formação e capacitação continuada dos servidores públicos dos profissionais do sistema de segurança pública, com enfoque
em Direitos Humanos, em todas as esferas de governo. prático.
Ações programáticas: Responsável: Ministério da Justiça
a) Apoiar e desenvolver atividades de formação e capacitação
continuadas interdisciplinares em Direitos Humanos para servido-
f)Apoiar a capacitação de policiais em direitos das crianças, em
res públicos.
aspectos básicos do desenvolvimento infantil e em maneiras de li-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
dar com grupos em situação de vulnerabilidade, como crianças e
Presidência da República; Ministério da Educação; Ministério da
adolescentes em situação de rua, vítimas de exploração sexual e
Justiça; Ministério da Saúde; Ministério do Planejamento, Orça-
em conflito com a lei.
mento e Gestão; Ministério das Relações Exteriores
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di-
reitos Humanos da Presidência da República
b)Incentivar a inserção da temática dos Direitos Humanos nos
programas das escolas de formação de servidores vinculados aos
órgãos públicos federais. Diretriz 22: Garantia do direito à comunicação democrática e
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da ao acesso à informação para consolidação de uma cultura em Di-
Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas para as reitos Humanos.
Mulheres da Presidência da República; Secretaria Especial de Polí- Objetivo Estratégico I:
ticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República Promover o respeito aos Direitos Humanos nos meios de co-
municação e o cumprimento de seu papel na promoção da cultura
c)Publicar materiais didático-pedagógicos sobre Direitos Hu- em Direitos Humanos.
manos e função pública, desdobrando temas e aspectos adequados
ao diálogo com as várias áreas de atuação dos servidores públicos. Ações Programáticas:
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da a) Propor a criação de marco legal, nos termos do art. 221 da
Presidência da República; Ministério do Planejamento, Orçamento Constituição, estabelecendo o respeito aos Direitos Humanos nos
e Gestão serviços de radiodifusão (rádio e televisão) concedidos, permitidos
ou autorizados. (Redação dada pelo decreto nº 7.177, de 2010)
Objetivo Estratégico II: Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Espe-
Formação adequada e qualificada dos profissionais do sistema cial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério
de segurança pública. da Justiça; Ministério da Cultura

b)Promover diálogo com o Ministério Público para proposição


de ações objetivando a suspensão de programação e publicidade
atentatórias aos Direitos Humanos.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Di- Eixo Orientador VI: Direito à Memória e à Verdade
reitos Humanos da Presidência da República A investigação do passado é fundamental para a construção da
cidadania. Estudar o passado, resgatar sua verdade e trazer à tona
c)Suspender patrocínio e publicidade oficial em meios que vei- seus acontecimentos caracterizam forma de transmissão de expe-
culam programações atentatórias aos Direitos Humanos. riência histórica, que é essencial para a constituição da memória
Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Espe- individual e coletiva.
cial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério O Brasil ainda processa com dificuldades o resgate da memória
da Justiça e da verdade sobre o que ocorreu com as vítimas atingidas pela
repressão política durante o regime de 1964. A impossibilidade de
d) (Revogado pelo decreto nº 7.177, de 2010) acesso a todas as informações oficiais impede que familiares de
e)Desenvolver programas de formação nos meios de comuni- mortos e desaparecidos possam conhecer os fatos relacionados aos
cação públicos como instrumento de informação e transparência crimes praticados e não permite à sociedade elaborar seus próprios
das políticas públicas, de inclusão digital e de acessibilidade. conceitos sobre aquele período.
Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Espe- A história que não é transmitida de geração a geração torna-se
cial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério esquecida e silenciada. O silêncio e o esquecimento das barbáries
da Cultura; Ministério da Justiça geram graves lacunas na experiência coletiva de construção da iden-
tidade nacional. Resgatando a memória e a verdade, o País adquire
f)Avançar na regularização das rádios comunitárias e promover consciência superior sobre sua própria identidade, a democracia se
incentivos para que se afirmem como instrumentos permanentes fortalece. As tentações totalitárias são neutralizadas e crescem as
de diálogo com as comunidades locais. possibilidades de erradicação definitiva de alguns resquícios daque-
Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Espe- le período sombrio, como a tortura, por exemplo, ainda persistente
cial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério no cotidiano brasileiro.
da Cultura; Ministério da Justiça O trabalho de reconstituir a memória exige revisitar o passado
e compartilhar experiências de dor, violência e mortes. Somente
g)Promover a eliminação das barreiras que impedem o aces- depois de lembrá-las e fazer seu luto, será possível superar o trau-
so de pessoas com deficiência sensorial à programação em todos ma histórico e seguir adiante. A vivência do sofrimento e das perdas
não pode ser reduzida a conflito privado e subjetivo, uma vez que se
os meios de comunicação e informação, em conformidade com o
inscreveu num contexto social, e não individual.
Decreto no 5.296/2004, bem como acesso a novos sistemas e tec-
A compreensão do passado por intermédio da narrativa da he-
nologias, incluindo Internet.
rança histórica e pelo reconhecimento oficial dos acontecimentos
Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Espe-
possibilita aos cidadãos construírem os valores que indicarão sua
cial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério
atuação no presente. O acesso a todos os arquivos e documentos
da Justiça
produzidos durante o regime militar é fundamental no âmbito das
políticas de proteção dos Direitos Humanos.
Objetivo Estratégico II:
Desde os anos 1990, a persistência de familiares de mortos e
Garantia do direito à comunicação democrática e ao acesso à desaparecidos vem obtendo vitórias significativas nessa luta, com
informação. abertura de importantes arquivos estaduais sobre a repressão po-
lítica do regime ditatorial. Em dezembro de 1995, coroando difícil
Ações Programáticas: e delicado processo de discussão entre esses familiares, o Minis-
a)Promover parcerias com entidades associativas de mídia, tério da Justiça e o Poder Legislativo Federal, foi aprovada a Lei no
profissionais de comunicação, entidades sindicais e populares para 9.140/95, que reconheceu a responsabilidade do Estado brasileiro
a produção e divulgação de materiais sobre Direitos Humanos. pela morte de opositores ao regime de 1964.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Essa Lei instituiu Comissão Especial com poderes para deferir
Presidência da República; Ministério da Cultura; Ministério das Co- pedidos de indenização das famílias de uma lista inicial de 136 pes-
municações soas e julgar outros casos apresentados para seu exame. No art. 4o,
inciso II, a Lei conferiu à Comissão Especial também a incumbência
b)Incentivar pesquisas regulares que possam identificar for- de envidar esforços para a localização dos corpos de pessoas desa-
mas, circunstâncias e características de violações dos Direitos Hu- parecidas no caso de existência de indícios quanto ao local em que
manos na mídia. possam estar depositados.
Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Espe- Em 24 de agosto de 2001, foi criada, pela Medida Provisória no
cial dos Direitos Humanos da Presidência da República 2151-3, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Esse marco
legal foi reeditado pela Medida Provisória no 65, de 28 de agosto de
c)Incentivar a produção de filmes, vídeos, áudios e similares, 2002, e finalmente convertido na Lei no 10.559, de 13 de novembro
voltada para a educação em Direitos Humanos e que reconstrua a de 2002. Essa norma regulamentou o art. 8o do Ato das Disposições
história recente do autoritarismo no Brasil, bem como as iniciativas Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição de 1988, que
populares de organização e de resistência. previa a concessão de anistia aos que foram perseguidos em decor-
Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Espe- rência de sua oposição política. Em dezembro de 2005, o Governo
cial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério Federal determinou que os três arquivos da Agência Brasileira de
da Cultura; Ministério da Justiça Inteligência (ABIN) fossem entregues ao Arquivo Nacional, subordi-
nado à Casa Civil, onde passaram a ser organizados e digitalizados.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Em agosto de 2007, em ato oficial coordenado pelo Presidente de Direitos Humanos, requerendo declaração de responsabilidade
da República, foi lançado, pela Secretaria Especial dos Direitos Hu- do Estado brasileiro sobre violações de direitos humanos ocorridas
manos da Presidência da República e pela Comissão Especial sobre durante as operações de repressão àquele movimento.
Mortos e Desaparecidos Políticos, o livro-relatório “Direito à Me- Em 2005 e 2008, duas famílias iniciaram, na Justiça Civil, ações
mória e à Verdade”, registrando os onze anos de trabalho daquela declaratórias para o reconhecimento das torturas sofridas por seus
Comissão e resumindo a história das vítimas da ditadura no Brasil. membros, indicando o responsável pelas sevícias. Ainda em 2008,
A trajetória de estudantes, profissionais liberais, trabalhadores o Ministério Público Federal em São Paulo propôs Ação Civil Pública
e camponeses que se engajaram no combate ao regime militar apa- contra dois oficiais do exército acusados de determinarem prisão
rece como documento oficial do Estado brasileiro. O Ministério da ilegal, tortura, homicídio e desaparecimento forçado de dezenas de
Educação e a Secretaria Especial dos Direitos Humanos formularam cidadãos.
parceria para criar portal que incluirá o livro-relatório, ampliado Tramita também, no âmbito do Supremo Tribunal Federal,
com abordagem que apresenta o ambiente político, econômico, Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, proposta
social e principalmente os aspectos culturais do período. Serão dis- pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, que so-
tribuídas milhares de cópias desse material em mídia digital para licita a mais alta corte brasileira posicionamento formal para saber
estudantes de todo o País. se, em 1979, houve ou não anistia dos agentes públicos responsá-
Em julho de 2008, o Ministério da Justiça e a Comissão de Anis- veis pela prática de tortura, homicídio, desaparecimento forçado,
tia promoveram audiência pública sobre “Limites e Possibilidades abuso de autoridade, lesões corporais e estupro contra opositores
para a Responsabilização Jurídica dos Agentes Violadores de Direi- políticos, considerando, sobretudo, os compromissos internacio-
tos Humanos durante o Estado de Exceção no Brasil”, que discutiu nais assumidos pelo Brasil e a insuscetibilidade de graça ou anistia
a interpretação da Lei de Anistia de 1979 no que se refere à contro- do crime de tortura.
vérsia jurídica e política, envolvendo a prescrição ou imprescritibili- Em abril de 2009, o Ministério da Defesa, no contexto da deci-
dade dos crimes de tortura. são transitada em julgado da referida ação judicial de 1982, criou
Grupo de Trabalho para realizar buscas de restos mortais na região
A Comissão de Anistia já realizou setecentas sessões de julga-
do Araguaia, sendo que, por ordem expressa do Presidente da Re-
mento e promoveu, desde 2008, trinta caravanas, possibilitando
pública, foi instituído Comitê Interinstitucional de Supervisão, com
a participação da sociedade nas discussões, e contribuindo para a
representação dos familiares de mortos e desaparecidos políticos,
divulgação do tema no País. Até 1o de novembro de 2009, já ha-
para o acompanhamento e orientação dos trabalhos. Após três me-
viam sido apreciados por essa Comissão mais de cinquenta e dois ses de buscas intensas, sem que tenham sido encontrados restos
mil pedidos de concessão de anistia, dos quais quase trinta e cinco mortais, os trabalhos foram temporariamente suspensos devido às
mil foram deferidos e cerca de dezessete mil, indeferidos. Outros chuvas na região, prevendo-se sua retomada ao final do primeiro
doze mil pedidos aguardavam julgamento, sendo possível, ainda, trimestre de 2010.
a apresentação de novas solicitações. Em julho de 2009, em Belo Em maio de 2009, o Presidente da República coordenou o ato
Horizonte, o Ministro de Estado da Justiça realizou audiência pú- de lançamento do projeto Memórias Reveladas, sob responsabili-
blica de apresentação do projeto Memorial da Anistia Política do dade da Casa Civil, que interliga digitalmente o acervo recolhido ao
Brasil, envolvendo a remodelação e construção de novo edifício Arquivo Nacional após dezembro de 2005, com vários outros arqui-
junto ao antigo “Coleginho” da Universidade Federal de Minas Ge- vos federais sobre a repressão política e com arquivos estaduais de
rais (UFMG), onde estará disponível para pesquisas todo o acervo quinze unidades da federação, superando cinco milhões de páginas
da Comissão de Anistia. de documentos (www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br).
No âmbito da sociedade civil, foram levadas ao Poder Judiciário Cabe, agora, completar esse processo mediante recolhimento
importantes ações que provocaram debate sobre a interpretação ao Arquivo Nacional de todo e qualquer documento indevidamente
das leis e a apuração de responsabilidades. Em 1982, um grupo de retido ou ocultado, nos termos da Portaria Interministerial assinada
familiares entrou com ação na Justiça Federal para a abertura de na mesma data daquele lançamento. Cabe também sensibilizar o
arquivos e localização dos restos mortais dos mortos e desapareci- Legislativo pela aprovação do Projeto de Lei no 5.228/2009, assina-
dos políticos no episódio conhecido como “Guerrilha do Araguaia”. do pelo Presidente da República, que introduz avanços democrati-
Em 2003, foi proferida sentença condenando a União, que recorreu zantes nas normas reguladoras do direito de acesso à informação.
e, posteriormente, criou Comissão Interministerial pelo Decreto no Iimportância superior nesse resgate da história nacional está
4.850, de 2 de outubro de 2003, com a finalidade de obter informa- no imperativo de localizar os restos mortais de pelo menos cento
ções que levassem à localização dos restos mortais de participantes e quarenta brasileiros e brasileiras que foram mortos pelo apare-
da “Guerrilha do Araguaia”. Os trabalhos da Comissão Interminis- lho de repressão do regime ditatorial. A partir de junho de 2009,
terial encerraram-se em março de 2007, com a divulgação de seu a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República
relatório final. planejou, concebeu e veiculou abrangente campanha publicitária
de televisão, internet, rádio, jornais e revistas de todo o Brasil bus-
Em agosto de 1995, o Centro de Estudos para a Justiça e o Direi-
cando sensibilizar os cidadãos sobre essa questão. As mensagens
to Internacional (CEJIL) e a Human Rights Watch/América (HRWA),
solicitavam que informações sobre a localização de restos mortais
em nome de um grupo de familiares, apresentaram petição à Co-
ou sobre qualquer documento e arquivos envolvendo assuntos da
missão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), denunciando
repressão política entre 1964 e 1985 sejam encaminhados ao Me-
o desaparecimento de integrantes da “Guerrilha do Araguaia”. Em mórias Reveladas. Seu propósito é assegurar às famílias o exercício
31 de outubro de 2008, a CIDH expediu o Relatório de Mérito no do direito sagrado de prantear seus entes queridos e promover os
91/08, onde fez recomendações ao Estado brasileiro. Em 26 de ritos funerais, sem os quais desaparece a certeza da morte e se per-
março de 2009, a CIDH submeteu o caso à Corte Interamericana petua angústia que equivale a nova forma de tortura.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

As violações sistemáticas dos Direitos Humanos pelo Estado  requisitar documentos públicos, com a colaboração das res-
durante o regime ditatorial são desconhecidas pela maioria da po- pectivas autoridades, bem como requerer ao Judiciário o acesso a
pulação, em especial pelos jovens. A radiografia dos atingidos pela documentos privados;
repressão política ainda está longe de ser concluída, mas calcula-se  colaborar com todas as instâncias do Poder Público para a
que pelo menos cinquenta mil pessoas foram presas somente nos apuração de violações de Direitos Humanos, observadas as disposi-
primeiros meses de 1964; cerca de vinte mil brasileiros foram sub- ções da Lei no 6.683, de 28 de agosto de 1979;
metidos a torturas e cerca de quatrocentos cidadãos foram mortos  promover, com base em seus informes, a reconstrução da
ou estão desaparecidos. Ocorreram milhares de prisões políticas história dos casos de violação de Direitos Humanos, bem como a
não registradas, cento e trinta banimentos, quatro mil, oitocentos e assistência às vítimas de tais violações;
sessenta e duas cassações de mandatos políticos, uma cifra incalcu-  promover, com base no acesso às informações, os meios e
lável de exílios e refugiados políticos. recursos necessários para a localização e identificação de corpos e
As ações programáticas deste eixo orientador têm como fina- restos mortais de desaparecidos políticos;
lidade assegurar o processamento democrático e republicano de  identificar e tornar públicas as estruturas utilizadas para a
todo esse período da história brasileira, para que se viabilize o dese- prática de violações de Direitos Humanos, suas ramificações nos
jável sentimento de reconciliação nacional. E para se construir con- diversos aparelhos do Estado e em outras instâncias da sociedade;
senso amplo no sentido de que as violações sistemáticas de Direitos  registrar e divulgar seus procedimentos oficiais, a fim de
Humanos registradas entre 1964 e 1985, bem como no período do garantir o esclarecimento circunstanciado de torturas, mortes e
Estado Novo, não voltem a ocorrer em nosso País, nunca mais. desaparecimentos, devendo-se discriminá-los e encaminhá-los aos
órgãos competentes;
Diretriz 23: Reconhecimento da memória e da verdade como  apresentar recomendações para promover a efetiva recon-
Direito Humano da cidadania e dever do Estado. ciliação nacional e prevenir no sentido da não repetição de viola-
Objetivo Estratégico I: ções de Direitos Humanos.
Promover a apuração e o esclarecimento público das violações  A Comissão Nacional da Verdade deverá apresentar, anual-
de Direitos Humanos praticadas no contexto da repressão política mente, relatório circunstanciado que exponha as atividades realiza-
ocorrida no Brasil no período fixado pelo art. 8o do ADCT da Consti- das e as respectivas conclusões, com base em informações colhidas
tuição, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e ou recebidas em decorrência do exercício de suas atribuições.
promover a reconciliação nacional.
Diretriz 24: Preservação da memória histórica e construção pú-
Ação Programática: blica da verdade.
a)Designar grupo de trabalho composto por representantes da Objetivo Estratégico I:
Casa Civil, do Ministério da Justiça, do Ministério da Defesa e da Se- Incentivar iniciativas de preservação da memória histórica e de
cretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, construção pública da verdade sobre períodos autoritários.
para elaborar, até abril de 2010, projeto de lei que institua Comis-
são Nacional da Verdade, composta de forma plural e suprapartidá- Ações programáticas:
ria, com mandato e prazo definidos, para examinar as violações de a)Disponibilizar linhas de financiamento para a criação de cen-
Direitos Humanos praticadas no contexto da repressão política no tros de memória sobre a repressão política, em todos os Estados,
período mencionado, observado o seguinte: com projetos de valorização da história cultural e de socialização do
 O grupo de trabalho será formado por representantes da conhecimento por diversos meios de difusão.
Casa Civil da Presidência da República, que o presidirá, do Ministé- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
rio da Justiça, do Ministério da Defesa, da Secretaria Especial dos Presidência da República; Ministério da Justiça; Ministério da Cul-
Direitos Humanos da Presidência da República, do presidente da tura; Ministério da Educação
Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, criada
pela Lei no 9.140/95 e de representante da sociedade civil, indicado b)Criar comissão específica, em conjunto com departamen-
por esta Comissão Especial; tos de História e centros de pesquisa, para reconstituir a história
 Com o objetivo de promover o maior intercâmbio de infor- da repressão ilegal relacionada ao Estado Novo (1937-1945). Essa
mações e a proteção mais eficiente dos Direitos Humanos, a Comis- comissão deverá publicar relatório contendo os documentos que
são Nacional da Verdade estabelecerá coordenação com as ativida- fundamentaram essa repressão, a descrição do funcionamento da
des desenvolvidas pelos seguintes órgãos: justiça de exceção, os responsáveis diretos no governo ditatorial,
 Arquivo Nacional, vinculado à Casa Civil da Presidência da registros das violações, bem como dos autores e das vítimas.
República; Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
 Comissão de Anistia, vinculada ao Ministério da Justiça; Presidência da República; Ministério da Educação; Ministério da
 Comissão Especial criada pela Lei no 9.140/95, vinculada à Justiça; Ministério da Cultura
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da Repú-
blica; c) Identificar e tornar públicos as estruturas, os locais, as insti-
 Comitê Interinstitucional de Supervisão instituído pelo De- tuições e as circunstâncias relacionados à prática de violações de di-
creto Presidencial de 17 de julho de 2009; reitos humanos, suas eventuais ramificações nos diversos aparelhos
 Grupo de Trabalho instituído pela Portaria no 567/MD, de estatais e na sociedade, bem como promover, com base no acesso
29 de abril de 2009, do Ministro de Estado da Defesa; às informações, os meios e recursos necessários para a localização e
 No exercício de suas atribuições, a Comissão Nacional da identificação de corpos e restos mortais de desaparecidos políticos.
Verdade poderá realizar as seguintes atividades: (Redação dada pelo Decreto nº 7.177, de 2010)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos
Presidência da República; Casa Civil da Presidência da República; Direitos Humanos da Presidência da República; Casa Civil da Presi-
Ministério da Justiça; Secretaria de Relações Institucionais da Presi- dência da República; Secretaria de Relações Institucionais da Presi-
dência da República dência da República
d)Criar e manter museus, memoriais e centros de documenta-
ção sobre a resistência à ditadura. d)Acompanhar e monitorar a tramitação judicial dos processos
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- de responsabilização civil sobre casos que envolvam graves viola-
sidência da República; Ministério da Justiça; Ministério da Cultura; ções de direitos humanos praticadas no período fixado no art. 8º do
Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição de
1988. (Redação dada pelo Decreto nº 7.177, de 2010)
e)Apoiar técnica e financeiramente a criação de observatórios Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
do Direito à Memória e à Verdade nas universidades e em organiza- Presidência da República; Ministério da Justiça
ções da sociedade civil.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República; Ministério da Educação PARECER CNE/CP Nº 8/2012

f) Desenvolver programas e ações educativas, inclusive a pro-


dução de material didático-pedagógico para ser utilizado pelos PARECER CNE/CP Nº: 8/2012
sistemas de educação básica e superior sobre graves violações de
direitos humanos ocorridas no período fixado no art. 8º do Ato das Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos.
Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição de 1988.
(Redação dada pelo Decreto nº 7.177, de 2010) I – RELATÓRIO
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Apresentação
Presidência da República; Ministério da Educação; Ministério da Este parecer foi construído no âmbito dos trabalhos de uma
Justiça; Ministério da Cultura; Ministério de Ciência e Tecnologia comissão interinstitucional, coordenada pelo Conselho Nacional de
Educação (CNE) que trata do assunto em uma de suas comissões
Diretriz 25: Modernização da legislação relacionada com pro- bicamerais. Participaram da comissão interinstitucional a Secretaria
moção do direito à memória e à verdade, fortalecendo a democra- de Direitos Humanos da Presidência da República (SDHPR), Secreta-
cia. ria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão
Objetivo Estratégico I: (SECADI), Secretaria de Educação Superior (SESU), Secretaria de Ar-
Suprimir do ordenamento jurídico brasileiro eventuais normas ticulação com os Sistemas de Ensino (SASE), Secretaria de Educação
remanescentes de períodos de exceção que afrontem os compro- Básica (SEB) e o Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos
missos internacionais e os preceitos constitucionais sobre Direitos (CNEDH).
Humanos. Durante o processo de elaboração das diretrizes foram re-
alizadas, além das reuniões de trabalho da comissão bicameral
Ações Programáticas: do Conselho Pleno do CNE e da comissão interinstitucional, duas
a)Criar grupo de trabalho para acompanhar, discutir e articular, reuniões técnicas com especialistas no assunto, ligados a diversas
com o Congresso Nacional, iniciativas de legislação propondo: instituições. No intuito de construir diretrizes que expressassem os
 revogação de leis remanescentes do período 1964-1985 que interesses e desejos de todos/as os/as envolvidos/as com a edu-
sejam contrárias à garantia dos Direitos Humanos ou tenham dado cação nacional, ocorreram consultas por meio de duas audiências
sustentação a graves violações; públicas e da disponibilização do texto, com espaço para envio de
 revisão de propostas legislativas envolvendo retrocessos na sugestões, nos sites do CNE, MEC e SDH.
garantia dos Direitos Humanos em geral e no direito à memória e Neste processo foram de grande importância as sugestões da
à verdade. Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas; Centro
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmem Bascarán de
Presidência da República; Ministério da Justiça; Secretaria de Rela- Açailândia, Maranhão; Diretoria de Cidadania e Direitos Humanos
ções Institucionais da Presidência da República (DCDH) da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Associação
de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de São Paulo, Grupo de
b)Propor e articular o reconhecimento do status constitucional Estudos e Pesquisas em Sexualidades, Educação e Gênero (GEPSEX)
de instrumentos internacionais de Direitos Humanos novos ou já da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e do Ob-
existentes ainda não ratificados. servatório de Educação em Direitos Humanos dos campi da Univer-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da sidade Estadual de São Paulo (UNESP) de Bauru e de Araraquara.
Presidência da República; Ministério da Justiça; Secretaria de Re-
lações Institucionais da Presidência da República; Ministério das Introdução
Relações Exteriores Os Direitos Humanos são frutos da luta pelo reconhecimento,
realização e universalização da dignidade humana. Histórica e so-
c) Fomentar debates e divulgar informações no sentido de que cialmente construídos, dizem respeito a um processo em constante
logradouros, atos e próprios nacionais ou prédios públicos não re- elaboração, ampliando o reconhecimento de direitos face às trans-
cebam nomes de pessoas identificadas reconhecidamente como formações ocorridas nos diferentes contextos sociais, históricos e
torturadores. (Redação dada pelo Decreto nº 7.177, de 2010) políticos.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Nesse processo, a educação vem sendo entendida como uma ção voltada para a democracia e a cidadania. Uma educação que se
das mediações fundamentais tanto para o acesso ao legado históri- comprometa com a superação do racismo, sexismo, homofobia e
co dos Direitos Humanos, quanto para a compreensão de que a cul- outras formas de discriminação correlatas e que promova a cultura
tura dos Direitos Humanos é um dos alicerces para a mudança so- da paz e se posicione contra toda e qualquer forma de violência.
cial. Assim sendo, a educação é reconhecida como um dos Direitos
Humanos e a Educação em Direitos Humanos é parte fundamental 1 Contexto histórico dos Direitos Humanos e da Educação em
do conjunto desses direitos, inclusive do próprio direito à educação. Direitos Humanos
As profundas contradições que marcam a sociedade brasi- A ideia de Direitos Humanos diz respeito a um conjunto de
leira indicam a existência de graves violações destes direitos em direitos internacionalmente reconhecidos, como os direitos civis,
consequência da exclusão social, econômica, política e cultural políticos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sejam eles
que promovem a pobreza, as desigualdades, as discriminações, os individuais, coletivos, transindividuais ou difusos, que se referem à
autoritarismos, enfim, as múltiplas formas de violências contra a necessidade de igualdade e de defesa da dignidade humana. Atu-
pessoa humana. Estas contradições também se fazem presentes no ando como linguagem internacional que estabelece a sua conexão
ambiente educacional (escolas, instituições de educação superior e com os estados democráticos de direito, a política dos direitos hu-
outros espaços educativos). Cabe aos sistemas de ensino, gestores/ manos pretende fazer cumprir: a) os direitos humanos que estão
as, professores/as e demais profissionais da educação, em todos os preconizados e trabalhar pela sua universalização e b) os princípios
da contemporaneidade: da solidariedade, da singularidade, da co-
níveis e modalidades, envidar esforços para reverter essa situação
letividade, da igualdade e da liberdade.
construída historicamente. Em suma, estas contradições precisam
Constituindo os princípios fundadores de uma sociedade mo-
ser reconhecidas, exigindo o compromisso dos vários agentes públi-
derna, os Direitos Humanos têm se convertido em formas de luta
cos e da sociedade com a realização dos Direitos Humanos.
contra as situações de desigualdades de acesso aos bens materiais
Neste contexto, a Educação em Direitos Humanos emerge e imateriais, as discriminações praticadas sobre as diversidades so-
como uma forte necessidade capaz de reposicionar os compromis- cioculturais, de identidade de gênero, de etnia, de raça, de orien-
sos nacionais com a formação de sujeitos de direitos e de respon- tação sexual, de deficiências, dentre outras e, de modo geral, as
sabilidades. Ela poderá influenciar na construção e na consolidação opressões vinculadas ao controle do poder por minorias sociais.
da democracia como um processo para o fortalecimento de comu- A conversão dessas lutas e de suas conquistas em normas re-
nidades e grupos tradicionalmente excluídos dos seus direitos. gulatórias mais sistematizadas, expressas numa Cultura de Direitos,
Como a Educação em Direitos Humanos requer a construção de inicia-se ainda no bojo dos movimentos contrários ao Antigo Regi-
concepções e práticas que compõem os Direitos Humanos e seus me.
processos de promoção, proteção, defesa e aplicação na vida coti- Desses movimentos surgiram marcos históricos que assinalam
diana, ela se destina a formar crianças, jovens e adultos para parti- a institucionalização de direitos: o Bill of Rights das Revoluções In-
cipar ativamente da vida democrática e exercitar seus direitos e res- glesas (1640 e 1688-89); a Declaração de Virgínia (1776) no proces-
ponsabilidades na sociedade, também respeitando e promovendo so da independência das 13 colônias frente à sua metrópole ingle-
os direitos das demais pessoas. É uma educação integral que visa o sa, do qual surgiram os Estados Unidos como nação; a Declaração
respeito mútuo, pelo outro e pelas diferentes culturas e tradições. do Homem e do Cidadão (1791), no âmbito da Revolução Francesa.
Para a sua consolidação, a Educação em Direitos Humanos pre- Nesses três documentos foram afirmados direitos civis e políticos,
cisa da cooperação de uma ampla variedade de sujeitos e institui- sintetizados nos princípios da liberdade, igualdade e fraternidade.
ções que atuem na proposição de ações que a sustentam. Para isso Do século XIX até a primeira metade do século XX, a eclosão
todos os atores do ambiente educacional devem fazer parte do pro- de novos conflitos no âmbito internacional favoreceu a expansão
cesso de implementação da Educação em Direitos Humanos. Isso da Cultura de Direitos para vários países tanto europeus quanto la-
significa que todas as pessoas, independente do seu sexo; origem tino-americanos, bem como para outros grupos sociais. A chamada
nacional, étnico-racial, de suas condições econômicas, sociais ou Cultura de Direitos incorporou dimensões econômicas e sociais por
culturais; de suas escolhas de credo; orientação sexual; identidade meio das quais se passou a combater as desigualdades e as opres-
de gênero, faixa etária, pessoas com deficiência, altas habilidades/ sões, pondo em evidência as diversidades biopsicossociais e cultu-
superdotação, transtornos globais e do desenvolvimento, têm a rais da humanidade.
No século XX, com as atrocidades da 1ª Guerra Mundial e, pos-
possibilidade de usufruírem de uma educação não discriminatória
teriormente, do Holocausto e das bombas atômicas de Hiroshima e
e democrática.
Nagasaki, na 2ª grande guerra, os impactos e a grandiosa dimensão
Reconhecer e realizar a educação como direito humano e a
do genocídio humano abalaram a consciência crítica internacional.
Educação em Direitos Humanos como um dos eixos fundamentais
Logo também entram em curso vários processos descolonizadores
do direito à educação, exige posicionamentos claros quanto à pro- de países asiáticos e africanos (anos 1940-1970), que geraram guer-
moção de uma cultura de direitos. Essa concepção de Educação em ras localizadas. Além das guerras e demais conflitos, este momento
Direitos Humanos é refletida na própria noção de educação expres- trouxe para a agenda internacional a questão do desenvolvimento
sa na Constituição Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da dos países do chamado Terceiro Mundo.
Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996). O impacto desses conflitos impulsionou a criação, em 1945,
Apesar da existência de normativas que determinam o caráter da Organização das Nações Unidas (ONU) como um organismo
geral dessa educação, expressas em documentos nacionais e inter- regulador da ordem internacional, bem como a elaboração, em
nacionais dos quais o País é signatário, é imprescindível, para a sua 1948, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que firmou
efetivação, a adoção de Diretrizes Nacionais para a Educação em a concepção contemporânea de Direitos Humanos, ancorada no
Direitos Humanos, contribuindo para a promoção de uma educa- tripé universalidade, indivisibilidade e interdependência. Naquele

88
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

momento, a Cultura de Direitos se ampliava para uma Cultura de Em resposta a estas violações, as organizações em defesa
Direitos Humanos. Afirmava-se a universalidade dos direitos, apli- dos Direitos Humanos constituíram-se em movimentos organiza-
cável a todas as nações, povos e seres humanos; integravam-se as dos contra a carestia, em defesa do meio-ambiente, na luta pela
várias dimensões de direitos (civis, políticos, econômicos, sociais, moradia, por terra, pela união dos/das estudantes, pela educação
culturais e ambientais) e tematizavam-se novos objetos de direitos, popular, em prol da democratização do sistema educacional, entre
tais como: as problemáticas do desenvolvimento e da autodetermi- outros. Nessa nova conjuntura os discursos e práticas em torno dos
nação dos povos, relacionadas ao contexto pós-guerra, bem como, Direitos Humanos buscavam instaurar uma contra-hegemonia por
à educação e à cultura. meio de suas lutas por emancipação.
Não obstante tal orientação universalizante de direitos, novos A ampliação do escopo de suas ações levou as organizações em
processos históricos apontaram para outras situações de violações defesa dos Direitos Humanos a empreenderem incursões mais inci-
dos Direitos Humanos. Nos anos de 1960-1970, por exemplo, o sivas no campo da Educação em Direitos Humanos. Assim, tal como
amplo processo de implantação de ditaduras militares na América ocorrido em outros países da América Latina, essa proposta de edu-
Latina, mediante fortíssima repressão, censura, prisões, desapareci- cação no Brasil se apresenta como prática recente, desenvolvendo-
mento e assassinatos de milhares de opositores/opositoras aos re- -se, ainda no contexto da repressão ditatorial, a partir do encontro
gimes ditatoriais, representou um retrocesso nas lutas por direitos entre educadores/as, populares e militantes dos Direitos Humanos.
civis, sociais e políticos. Sendo assim, com a retomada da democracia e a promulgação
Neste período, o Brasil, embora também vivenciando a expe- da Constituição Federal de 1988, cria-se um marco jurídico para a
riência da ditadura militar, torna-se signatário, em 1966, do pacto elaboração de propostas educacionais pautadas nos Direitos Hu-
internacional dos direitos civis e políticos e do pacto internacional manos, surgidas a partir da década de 1990. É nesse contexto que
dos direitos econômicos e sociais. Apesar da assinatura de tais do- surgem as primeiras versões do Programa Nacional de Direitos Hu-
cumentos o tema dos Direitos Humanos no Brasil ganhará maior manos (PNDH), produzidos entre os anos de 1996 e 2002. Dentre os
evidência em agendas públicas ou ações populares a partir das lutas documentos produzidos a respeito desse programa, no que diz res-
e movimentos de oposição ao regime ditatorial. peito ao tema da Educação em Direitos Humanos, merece destaque
Nos anos de 1980, as lutas da sociedade civil dos vários países o PNDH-3, de 2010, que apresenta um eixo orientador destinado
latino-americanos pela redemocratização reverberaram na temati- especificamente para a promoção e garantia da Educação e Cultura
zação de novos direitos e embates para sua institucionalização. Sen- em Direitos Humanos.
do assim, tomando o exemplo da América Latina, pode-se observar É a partir de 2003 que a Educação em Direitos Humanos ga-
que as transformações e as reivindicações advindas de processos nhará um Plano Nacional (PNEDH), revisto em 2006, aprofundando
sociais, históricos, culturais e políticos de resistência aos regimes questões do Programa Nacional de Direitos Humanos e incorporan-
ditatoriais desempenharam importante papel no movimento de de- do aspectos dos principais documentos internacionais de Direitos
fesa e promoção dos Direitos Humanos. Humanos dos quais o Brasil é signatário. Esse plano se configura
Na contemporaneidade novos desafios e lutas continuam sen- como uma política educacional do estado voltada para cinco áreas:
do postos na agenda de debates e ações dos grupos envolvidos com educação básica, educação superior, educação não-formal, mídia e
a defesa e promoção dos Direitos Humanos. É importante lembrar, formação de profissionais dos sistemas de segurança e justiça. Em
linhas gerais, pode-se dizer que o PNEDH ressalta os valores de tole-
a este respeito, as implicações do fenômeno da globalização, tanto
rância, respeito, solidariedade, fraternidade, justiça social, inclusão,
no estabelecimento de um idioma universal de direitos humanos,
pluralidade e sustentabilidade.
buscando a sua promoção nos diversos países ou contextos nacio-
Assim, o PNEDH define a Educação em Direitos Humanos como
nais, quanto, paradoxalmente, nas violações de tais direitos.
um processo sistemático e multidimensional que orienta a forma-
Neste processo, as reações que os grupos e países em situação
ção do sujeito de direitos, articulando as seguintes dimensões:
de maior desigualdade e pobreza no contexto capitalista apontam
a) apreensão de conhecimentos historicamente construídos
para as possibilidades de uma política emancipatória dos Direitos
sobre direitos humanos e a sua relação com os contextos interna-
Humanos, quando o caráter global dos direitos é legitimado em pro-
cional, nacional e local;
cessos culturais de tradução e negociação locais (SANTOS, 1997). b) afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expres-
Em decorrência desse contexto vários organismos internacio- sem a cultura dos direitos humanos em todos os espaços da socie-
nais vêm, sistematicamente, alargando a pauta dos Direitos Huma- dade;
nos bem como a sua regulamentação. c) formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer pre-
É diante de tal contexto internacional que a Educação em Direi- sente em níveis cognitivo, social, cultural e político;
tos Humanos emerge como um dos direitos básicos da Cultura de d) desenvolvimento de processos metodológicos participativos
Direitos que se pretende universalizar. e de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didáticos
contextualizados;
1.1 Direitos Humanos e Educação em Direitos Humanos no e) fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem
Brasil ações e instrumentos em favor da promoção, da proteção e da de-
No Brasil, conforme anunciado, o tema dos Direitos Humanos fesa dos direitos humanos, bem como da reparação das violações
ganha força a partir do processo de redemocratização ocorrido nos Nas últimas décadas tem-se assistido a um crescente processo de
anos de 1980, com a organização política dos movimentos sociais e fortalecimento da construção da Educação em Direitos Humanos
de setores da sociedade civil. Estes se opuseram a um regime dita- no País, por meio do reconhecimento da relação indissociável entre
torial (1964-1985), de tipo militar, que, por suas deliberadas práti- educação e Direitos Humanos. Desde então, foi adotada uma série
cas repressivas, se configurou como um dos períodos mais violado- de dispositivos que visam a proteção e a promoção de direitos de
res dos Direitos Humanos. crianças e adolescentes; a educação das relações étnico-raciais; a

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

educação escolar quilombola; a educação escolar indígena; a edu- conhecimento dos direitos fundamentais, o reconhecimento e a va-
cação ambiental10; a educação do campo; a educação para jovens lorização da diversidade étnica e cultural, de identidade de gênero,
e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimen- de orientação sexual, religiosa, dentre outras, enquanto formas de
tos penais, as temáticas de identidade de gênero e orientação sexu- combate ao preconceito e à discriminação.
al na educação; a inclusão educacional das pessoas com deficiência Além dessas diretrizes, o CNE ainda aborda a temática dos Di-
e a implementação dos direitos humanos de forma geral no sistema reitos Humanos na Educação por meio de normativas específicas
de ensino brasileiro. voltadas para as modalidades da Educação Escolar Indígena, Edu-
Evidenciando a importância que vem ocupando no cenário cação Para Jovens e Adultos em Situação de Privação de Liberdade
educacional brasileiro, a Educação em Direitos Humanos foi tema- nos Estabelecimentos Penais, Educação Especial, Educação Escolar
tizada na Conferência Nacional de Educação (CONAE) em 2010, no Quilombola (em elaboração), Educação Ambiental (em elaboração),
eixo VI - Justiça Social, Educação e Trabalho: Inclusão, Diversidade Educação de Jovens e Adultos, dentre outras.
e Igualdade. As escolas, nessa orientação, assumem importante papel na
Justiça social, igualdade e diversidade “não são antagônicas. garantia dos Direitos Humanos, sendo imprescindível, nos diver-
[...] Em uma perspectiva democrática e, sobretudo, em sociedades sos níveis, etapas e modalidades de ensino, a criação de espaços e
pluriétnicas, pluriculturais e multirraciais, [...] deverão ser eixos da tempos promotores da cultura dos Direitos Humanos. No ambiente
democracia e das políticas educacionais, desde a educação básica escolar, portanto, as práticas que promovem os Direitos Humanos
e educação superior que visem a superação das desigualdades em deverão estar presentes tanto na elaboração do projeto político-
uma perspectiva que articula a educação e os Direitos Humanos” -pedagógico, na organização curricular, no modelo de gestão e ava-
(BRASIL, 2010). O documento final resultante dessa conferência liação, na produção de materiais didático-pedagógicos, quanto na
apresenta importantes orientações para seu tratamento nos siste- formação inicial e continuada dos/as profissionais da educação.
mas de ensino. Destaque-se que tais orientações serão ratificadas Pelo exposto, pode-se afirmar que a relevância da Educação em
ao longo deste documento. Direitos Humanos aparece explícita ou implicitamente nos princi-
O Conselho Nacional de Educação também tem se posicionado
pais documentos que norteiam as políticas e práticas educacionais.
a respeito da relação entre Educação e Direitos Humanos por meio
No entanto, a efetivação da Educação em Direitos Humanos no sis-
de seus atos normativos. Como exemplo podem ser citadas as Dire-
tema educacional brasileiro implica na adoção de um conjunto de
trizes Gerais para a Educação Básica, as Diretrizes Curriculares Na-
diretrizes norteadoras para que esse processo ocorra de forma inte-
cionais para a Educação Infantil, do Ensino Fundamental de 9 (nove)
anos e para o Ensino Médio. grada, com a participação de todos/as e, sobretudo, de maneira sis-
Nas Diretrizes Gerais para a Educação Básica o direito à edu- tematizada a fim de que as garantias exigidas para sua construção e
cação é concebido como direito inalienável de todos/as os/as cida- consolidação sejam observadas.
dãos/ãs e condição primeira para o exercício pleno dos Direitos Hu- Embora avanços possam ser verificados em relação ao reco-
manos. Neste sentido, afirma que uma escola de qualidade social nhecimento de direitos nos marcos legais, ainda se está distante de
deve considerar as diversidades, o respeito aos Direitos Humanos, assegurar na prática os fundamentos clássicos dos Direitos Huma-
individuais e coletivos, na sua tarefa de construir uma cultura de nos - a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Ainda hoje se pode
Direitos Humanos formando cidadãos/ãs plenos/as. O parecer do constatar a dificuldade de consolidação de uma cultura social de Di-
CNE/CEB nº 7/2010, recomenda que o tema dos Direitos Humanos reitos Humanos, em parte devido aos preconceitos presentes numa
deverá ser abordado ao longo do desenvolvimento de componen- sociedade marcada por privilégios e pouco afeita aos compromissos
tes curriculares com os quais guardam intensa ou relativa relação assumidos nacional e internacionalmente.
temática, em função de prescrição definida pelos órgãos do sistema Não se pode ignorar a persistência de uma cultura, construída
educativo ou pela comunidade educacional, respeitadas as caracte- historicamente no Brasil, marcada por privilégios, desigualdades,
rísticas próprias da etapa da Educação Básica que a justifica (BRA- discriminações, preconceitos e desrespeitos.
SIL, 2010, p. 24) Sobretudo em uma sociedade multifacetada como a brasileira,
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil esta herança cultural é um obstáculo à efetivação do Estado Demo-
(Parecer CNE/CEB nº 20/2009 e Resolução CNE/CEB nº 5/2009), por crático de Direito. Assim, considera-se que a mudança dessa situ-
sua vez, reconhece a criança como sujeito de direito, inserindo-a no ação não se opera sem a contribuição da educação realizada nas
mundo dos Direitos Humanos, no que diz respeito aos direitos fun- instituições educativas, particularmente por meio da Educação em
damentais à saúde, alimentação, lazer, educação, proteção contra a Direitos Humanos.
violência, discriminação e negligência, bem como o direito à parti-
cipação na vida social e cultural. Já as Diretrizes Curriculares Nacio- 2 Fundamentos da Educação em Direitos Humanos
nais para o Ensino Médio (Parecer CNE/CEB nº 5/2011 e Resolução A busca pela universalização da Educação Básica e democrati-
CNE/CEB nº 2/2012), ao levarem em consideração as deliberações zação do acesso a Educação Superior trouxe novos desafios para o
do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3) no que diz
campo das políticas educacionais. Novos contingentes de estudan-
respeito à implementação do Plano Nacional de Educação em Direi-
tes, por exemplo, trouxeram à tona, para os ambientes educacio-
tos Humanos (PNEDH), colocam como pressupostos e fundamentos
nais, a questão das diversidades de grupos e sujeitos historicamen-
para o Ensino Médio de qualidade social o tema dos Direitos Huma-
te excluídos do direito à educação e, de um modo geral, dos demais
nos como um dos seus princípios norteadores.
O Parecer CNE/CEB nº 5/2011 que fundamenta essas diretrizes direitos. Tal situação colocou como necessidade a adoção de novas
reconhece a educação como parte fundamental dos Direitos Hu- formas de organização educacional, de novas metodologias de en-
manos. Nesse sentido, chama a atenção para a necessidade de se sino-aprendizagem, de atuação institucional, buscando superar pa-
implementar processos educacionais que promovam a cidadania, o radigmas homogeneizantes.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

A Educação em Direitos Humanos, como um paradigma cons- ampliação de direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais
truído com base nas diversidades e na inclusão de todos/as os/as e ambientais a todos os cidadãos e cidadãs, com vistas a sua uni-
estudantes, deve perpassar, de modo transversal, currículos, rela- versalidade, sem distinção de cor, credo, nacionalidade, orientação
ções cotidianas, gestos, “rituais pedagógicos”, modelos de gestão. sexual, biopsicossocial e local de moradia.
Sendo assim, um dos meios de sua efetivação no ambiente educa- • Reconhecimento e valorização das diferenças e das diversida-
cional também poderá ocorrer por meio da (re)produção de conhe- des: Esse princípio se refere ao enfrentamento dos preconceitos e
cimentos voltados para a defesa e promoção dos Direitos Humanos. das discriminações, garantindo que diferenças não sejam transfor-
A Educação em Direitos Humanos envolve também valores e madas em desigualdades. O princípio jurídico-liberal de igualdade
práticas considerados como campos de atuação que dão sentido de direitos do indivíduo deve ser complementado, então, com os
e materialidade aos conhecimentos e informações. Para o estabe- princípios dos direitos humanos da garantia da alteridade entre as
lecimento de uma cultura dos Direitos Humanos é necessário que pessoas, grupos e coletivos.
os sujeitos os signifiquem, construam-nos como valores e atuem na Dessa forma, igualdade e diferença são valores indissociáveis
sua defesa e promoção. que podem impulsionar a equidade social.
A Educação em Direitos Humanos tem por escopo principal • Laicidade do Estado: Esse princípio se constitui em pré-condi-
ção para a liberdade de crença garantida pela Declaração Universal
uma formação ética, crítica e política. A primeira se refere à for-
dos Direitos Humanos, de 1948, e pela Constituição Federal Brasilei-
mação de atitudes orientadas por valores humanizadores, como a
ra de 1988. Respeitando todas as crenças religiosas, assim como as
dignidade da pessoa, a liberdade, a igualdade, a justiça, a paz, a
não crenças, o Estado deve manter-se imparcial diante dos conflitos
reciprocidade entre povos e culturas, servindo de parâmetro ético-
e disputas do campo religioso, desde que não atentem contra os
-político para a reflexão dos modos de ser e agir individual, coletivo direitos fundamentais da pessoa humana, fazendo valer a sobera-
e institucional. nia popular em matéria de política e de cultura O Estado, portanto,
A formação crítica diz respeito ao exercício de juízos reflexivos deve assegurar o respeito à diversidade cultural religiosa do País,
sobre as relações entre os contextos sociais, culturais, econômicos sem praticar qualquer forma de proselitismo.
e políticos, promovendo práticas institucionais coerentes com os • Democracia na educação: Direitos Humanos e democracia ali-
Direitos Humanos. cerçam-se sobre a mesma base - liberdade, igualdade e solidarieda-
A formação política deve estar pautada numa perspectiva de - expressando-se no reconhecimento e na promoção dos direitos
emancipatória e transformadora dos sujeitos de direitos. Sob esta civis, políticos, sociais, econômicos, culturais e ambientais. Não há
perspectiva promover-se-á o empoderamento de grupos e indivídu- democracia sem respeito aos Direitos Humanos, da mesma forma
os, situados à margem de processos decisórios e de construção de que a democracia é a garantia de tais direitos. Ambos são processos
direitos, favorecendo a sua organização e participação na sociedade que se desenvolvem continuamente por meio da participação. No
civil. Vale lembrar que estes aspectos tornam-se possíveis por meio ambiente educacional, a democracia implica na participação de to-
do diálogo e aproximações entre sujeitos biopsicossociais, históri- dos/as os/as envolvidos/as no processo educativo.
cos e culturais diferentes, bem como destes em suas relações com • Transversalidade, vivência e globalidade: Os Direitos Huma-
o Estado. nos se caracterizam pelo seu caráter transversal e, por isso, devem
Uma formação ética, critica e política (in)forma os sentidos da ser trabalhados a partir do diálogo interdisciplinar. Como se trata
EDH na sua aspiração de ser parte fundamental da formação de su- da construção de valores éticos, a Educação em Direitos Huma-
jeitos e grupos de direitos, requisito básico para a construção de nos é também fundamentalmente vivencial, sendo-lhe necessária
uma sociedade que articule dialeticamente igualdade e diferença. a adoção de estratégias metodológicas que privilegiem a constru-
Como afirma Candau (2010:400): “Hoje não se pode mais pensar ção prática destes valores. Tendo uma perspectiva de globalidade,
na afirmação dos Direitos Humanos a partir de uma concepção de deve envolver toda a comunidade escolar: alunos/as, professores/
igualdade que não incorpore o tema do reconhecimento da s dife- as, funcionários/as, direção, pais/mães e comunidade local. Além
renças, o que supõe lutar contra todas as formas de preconceito e disso, no mundo de circulações e comunicações globais, a EDH deve
discriminação”. estimular e fortalecer os diálogos entre as perspectivas locais, re-
gionais, nacionais e mundiais das experiências dos/as estudantes.
• Sustentabilidade socioambiental: A EDH deve estimular o res-
2.1 Princípios da Educação em Direitos Humanos
peito ao espaço público como bem coletivo e de utilização demo-
A Educação em Direitos Humanos, com finalidade de promover
crática de todos/as. Nesse sentido, colabora para o entendimento
a educação para a mudança e a transformação social, fundamenta-
de que a convivência na esfera pública se constitui numa forma de
-se nos seguintes princípios: educação para a cidadania, estendendo a dimensão política da edu-
• Dignidade humana: Relacionada a uma concepção de exis- cação ao cuidado com o meio ambiente local, regional e global. A
tência humana fundada em direitos. A ideia de dignidade huma- EDH, então, deve estar comprometida com o incentivo e promoção
na assume diferentes conotações em contextos históricos, sociais, de um desenvolvimento sustentável que preserve a diversidade da
políticos e culturais diversos. É, portanto, um princípio em que se vida e das culturas, condição para a sobrevivência da humanidade
devem levar em consideração os diálogos interculturais na efetiva de hoje e das futuras gerações.
promoção de direitos que garantam às pessoas e grupos viverem de Ainda que as instituições de educação básica e superior não
acordo com os seus pressupostos de dignidade. sejam as únicas instâncias a educar os indivíduos em Direitos Hu-
• Igualdade de direitos: O respeito à dignidade humana, de- manos, elas têm como responsabilidade a promoção e legitimação
vendo existir em qualquer tempo e lugar, diz respeito à necessária dos seus princípios como norteadores dos laços sociais, éticos e
condição de igualdade na orientação das relações entre os seres hu- políticos. Isso se faz mediante a formação de sujeitos de direitos,
manos. O princípio da igualdade de direitos está ligado, portanto, à capazes de defender, promover e reivindicar novos direitos.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

2.2 Objetivos da Educação em Direitos Humanos formas de violação à dignidade humana. Sob o ponto de vista da
Um dos principais objetivos da defesa dos Direitos Humanos gestão, isso significa que todos os espaços e relações que têm lugar
é a construção de sociedades que valorizem e desenvolvam condi- no ambiente educacional devem se guiar pelos princípios da EDH e
ções para a garantia da dignidade humana. se desenvolverem por meio de processos democráticos, participa-
Nesse marco, o objetivo da Educação em Direitos Humanos é tivos e transparentes.
que a pessoa e/ou grupo social se reconheça como sujeito de direi- Então, quando se fala em ambiente educacional promotor da
tos, assim como seja capaz de exercê-los e promovê-los ao mesmo Educação em Direitos Humanos deve-se considerar que esse tipo
tempo em que reconheça e respeite os direitos do outro. A EDH de educação se realiza na interação da experiência pessoal e coleti-
busca também desenvolver a sensibilidade ética nas relações inter- va. Sendo assim, não é estática ou circunscrita a textos, declarações
pessoais, em que cada indivíduo seja capaz de perceber o outro em e códigos.
sua condição humana. Trata-se de um processo que se recria e se reelabora na inter-
Nesse horizonte, a finalidade da Educação em Direitos Huma- subjetividade, nas vivências e relações dos sujeitos, na relação com
nos é a formação para a vida e para a convivência, no exercício co- o meio ambiente, nas práticas pedagógicas e sociais do cotidiano e
tidiano dos Direitos Humanos como forma de vida e de organização nos conflitos sociais, constituindo-se, assim, num modo de orienta-
social, política, econômica e cultural (MALDONADO, 2004, p. 24). ção e condução da vida.
Esses objetivos orientam o planejamento e o desenvolvimento de A esse respeito é importante lembrar que, inerentes à convi-
diversas ações da Educação em Direitos Humanos, adequando-os vência humana, os conflitos também se fazem presentes nas ins-
às necessidades, às características de seus sujeitos e ao contexto tituições de educação. Estas são microcosmos sociais onde as di-
nos quais são efetivados. versidades se encontram. Nelas estão presentes valores, visões de
mundo, necessidades, culturas, crenças, preferências das mais dife-
3 O ambiente educacional como espaço e tempo dos DH e da rentes ordens. O convívio com tal diversidade, como se sabe, pode
EDH suscitar conflitos.
Sabe-se que os processos formativos envolvem diferentes tem- Assim sendo, tais instituições devem analisar a realidade criti-
pos, lugares, ações e vivências em diversos contextos de socializa- camente, permitindo que as diferentes visões de mundo se encon-
ção, como a comunidade, a família, grupos culturais, os meios de trem e se confrontem por meio de processos democráticos e pro-
comunicação, as instituições escolares, dentre outros. Os vários cedimentos éticos e dialógicos, visando sempre o enfrentamento
ambientes de aprendizagem ou formação, nesse sentido, se relacio- das injustiças e das desigualdades. É dessa forma que o ambiente
nam em determinados momentos ou situações, caso dos ambien- educativo favorecerá o surgimento de indivíduos críticos capazes
tes escolares em que se encontram diversos indivíduos oriundos de analisar e avaliar a realidade a partir do parâmetro dos Direitos
de variados contextos sociais e culturais, com histórias e visões de Humanos.
mundo particulares. É chamando a atenção para estes aspectos que Nesse sentido, o conflito no ambiente educacional é pedagó-
a ideia de ambiente educacional pode ser entendida como tempo gico uma vez que por meio dele podem ser discutidos diferentes
e espaço potenciais para a vivência e promoção dos Direitos Huma- interesses, sendo possível, com isso, firmar acordos pautados pelo
nos e da prática da Educação em Direitos Humanos. respeito e promoção aos Direitos Humanos. Além disso, a função
pedagógica da mediação permite que os sujeitos em conflito pos-
Sendo assim, é importante ressaltar que o ambiente educacio-
sam lidar com suas divergências de forma autônoma, pacífica e soli-
nal diz respeito não apenas ao meio físico, envolvendo também as
dária, por intermédio de um diálogo capaz de empoderá-los para a
diferentes interações que se realizam no interior e exterior de uma
participação ativa na vida em comum, orientada por valores basea-
instituição de educação. Compreende, então, os espaços e tempos
dos na solidariedade, justiça e igualdade.
dos processos educativos que se desenvolvem intra e extramuros
escolares e acadêmicos, exemplificados pelas aulas; pelas relações
4. A Educação em Direitos Humanos nas instituições de edu-
interpessoais estabelecidas entre as diferentes pessoas e os seus
cação básica e educação superior
papéis sociais, bem como pelas formas de interação entre institui-
A Educação em Direitos Humanos também ocorre mediante a
ções de educação, ambiente natural, comunidade local e sociedade aproximação entre instituições educacionais e comunidade, a in-
de um modo geral. serção de conhecimentos, valores e práticas convergentes com os
Segundo Duarte (2003) o ambiente educacional está relaciona- Direitos Humanos nos currículos de cada etapa e modalidade da
do a todos os processos educativos que têm lugar nas instituições, educação básica, nos cursos de graduação e pós-graduação, nos
abrangendo: Projetos Políticos Pedagógicos das escolas (PPP), nos Planos de De-
• ações, experiências, vivências de cada um dos/as participan- senvolvimento Institucionais (PDI) e nos Programas Pedagógicos de
tes; Curso (PPC) das instituições de educação superior. Em suma, nos
• múltiplas relações com o entorno; diferentes espaços e tempos que instituem a vida escolar e acadê-
• condições sócio-afetivas; mica.
• condições materiais; A inserção dos conhecimentos concernentes à Educação em Di-
• infraestrutura para a realização de propostas culturais edu- reitos Humanos na organização dos currículos da Educação Básica
cativas. e Educação Superior poderá se dar de diferentes formas, como por
Tendo esses aspectos em mente, a ideia de um ambiente edu- exemplo:
cacional promotor dos Direitos Humanos liga-se ao reconhecimen- • pela transversalidade, por meio de temas relacionados aos
to da necessidade de respeito às diferenças, garantindo a realização Direitos Humanos e tratados interdisciplinarmente;
de práticas democráticas e inclusivas, livres de preconceitos, dis- • como um conteúdo específico de uma das disciplinas já exis-
criminações, violências, assédios e abusos sexuais, dentre outras tentes no currículo escolar;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

• de maneira mista, ou seja, combinando transversalidade e Essa escola, Alain Touraine (1998) denomina de escola demo-
disciplinaridade; cratizante, entendendo-a como aquela que assume o compromisso
Não é demasiado lembrar que os sistemas de ensino e suas de formar os indivíduos para serem atores sociais, ensina a respei-
instituições têm autonomia para articular e adaptar essas possibi- tar a liberdade do outro, os direitos individuais, a defesa dos inte-
lidades de implementação da EDH em suas orientações teóricas e resses sociais e os valores culturais, objetivando o combate a todos
práticas no processo educativo, observando os princípios e objeti- os tipos de preconceitos e discriminações com qualquer segmento
vos gerais da Educação em Direitos Humanos. Há, todavia, especi- da sociedade.
ficidades da Educação Básica e da Educação Superior que precisam Nessa concepção, a Educação em Direitos Humanos não se li-
ser explicitadas. mita à contextualização e à explicação das variáveis sociais, econô-
micas, políticas e culturais que interferem e orientam os processos
4.1 Na Educação Básica educativos, embora ela seja imprescindível para a compreensão da
A escola de educação básica é um espaço privilegiado de for- sua construção. Faz parte dessa educação a apreensão dos conte-
mação pelas contribuições que possibilitam o desenvolvimento do údos que dão corpo a essa área, como a história, os processos de
ser humano. A socialização e a apreensão de determinados conhe- evolução das conquistas e das violações dos direitos, as legislações,
cimentos acumulados ao longo da história da humanidade podem os pactos e acordos que dão sustentabilidade e garantia aos direi-
ser efetivados na ambiência da educação básica por meio de suas tos.
diferentes modalidades e múltiplas dimensionalidades, tais como Além disso, os conteúdos devem estar associados ao desenvol-
a educação de jovens e adultos, educação no campo, educação vimento de valores e de comportamentos éticos na perspectiva de
indígena, educação quilombola, educação étnico-racial, educação que o ser humano é parte da natureza e sempre incompleto em
em sexualidade, educação ambiental, educação especial, dentre termos da sua formação. O ser humano por ter essa incompletude
outras. tem necessidade permanente de conhecer, construir e reconstruir
A vivência da Educação em Direitos Humanos, nesse nível de regras de convivência em sociedade.
ensino, deve ter o cotidiano como referência para analisá-lo, com- É importante destacar alguns princípios que norteiam a Educa-
preendê-lo e modificá-lo. Isso requer o exercício da cidadania ativa ção em Direitos Humanos na Educação Básica, definidos no PNEDH
de todos/as os/as envolvidos/as com a educação básica. Sendo a (BRASIL, 2006) e referendados no Programa Nacional de Direitos
cidadania ativa entendida como o exercício que possibilita a prática Humanos - PNDH-3 (BRASIL, 2010), no sentido de contribuir com os
sistemática dos direitos conquistados, bem como a ampliação de sistemas de ensino e suas instituições de educação na elaboração
novos direitos. Nesse sentido, contribui para a defesa da garantia das suas respectivas propostas pedagógicas:
do direito à educação básica pública, gratuita e laica para todas as • a Educação em Direitos Humanos além de ser um dos eixos
fundamentais da educação básica, deve orientar a formação inicial
pessoas, inclusive para os que a ela não tiveram acesso na idade
e continuada dos/as profissionais da educação, a elaboração do
própria. É possível afirmar que essa garantia é condição para pensar
projeto político pedagógico, os materiais didáticopedagógicos, o
e estruturar a Educação em Direitos Humanos, considerando que a
modelo de gestão e a avaliação das aprendizagens.
efetividade do acesso às informações possibilita a busca e a amplia-
• A prática escolar deve ser orientada para a Educação em Di-
ção dos direitos.
reitos Humanos, assegurando o seu caráter transversal e a relação
Conforme estabelece o PNEDH (BRASIL, 2006, p. 23), “a uni-
dialógica entre os diversos atores sociais.
versalização da educação básica, com indicadores precisos de qua-
• Os/as estudantes devem ser estimulados/as para que sejam
lidade e de equidade, é condição essencial para a disseminação do
protagonistas da construção de sua educação, com o incentivo, por
conhecimento socialmente produzido e acumulado e para a demo- exemplo, do fortalecimento de sua organização estudantil em grê-
cratização da sociedade”. Essa é a principal função social da escola mios escolares e em outros espaços de participação coletiva.
de educação básica. • Participação da comunidade educativa na construção e efeti-
A democratização da sociedade exige, necessariamente, infor- vação das ações da Educação em Direitos Humanos.
mação e conhecimento para que a pessoa possa situar-se no mun- Cabe chamar a atenção para a importância de alicerçar o Pro-
do, argumentar, reivindicar e ampliar novos direitos. jeto Político Pedagógico nos princípios, valores e objetivos da Edu-
A informação toma uma relevância maior quando se lida com cação em Direitos Humanos que deverão transversalizar o conjunto
os vários tipos de conhecimentos e saberes, sejam eles caracteriza- das ações em que o currículo se materializa. Propõe-se assim que,
dos como tecnológicos, instrumentais, populares, filosóficos, socio- no currículo escolar, sejam incluídos conteúdos sobre a realidade
lógicos, científicos, pedagógicos, entre outros (SILVA,2010). social, ambiental, política e cultural, dialogando com as problemáti-
Mesmo sabendo que a escola não é o único lugar onde esses cas que estão próximas da realidade desses estudantes.
conhecimentos são construídos, reconhece-se que é nela onde eles Com isso pretende-se possibilitar a incorporação de conheci-
são apresentados de modo mais sistemático. Ao desempenhar essa mentos e de vivências democráticas, incluindo o estímulo a parti-
importante função social, a escola pode ser compreendida, de acor- cipação dos/as estudantes na vida escolar, inclusive na organização
do com o PNEDH como: estudantil, para a busca e defesa dos direitos e responsabilidades
Um espaço social privilegiado onde se definem a ação institu- coletivas.
cional pedagógica e a prática e vivência dos direitos humanos. [...] Para que a instituição educativa se constitua em um ambien-
local de estruturação de concepções de mundo e de consciência te educativo democrático, local de diferentes aprendizagens, é ne-
social, de circulação e de consolidação de valores, de promoção da cessário considerar também as diversas fases de desenvolvimento
diversidade cultural, da formação para a cidadania, de constituição da criança, jovens e adultos respeitando as suas individualidades
de sujeitos sociais e de desenvolvimento de práticas pedagógicas enquanto sujeitos de direitos. Assim, os jogos e as brincadeiras de-
(BRASIL, 2006, p. 23). vem ter por princípios o respeito integral aos direitos do outro, a

93
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

convivência democrática, a sociabilidade socioambiental e a solida- promoção dos Direitos Humanos, aspectos ratificados pelo PNEDH
riedade. como forma de firmar o compromisso brasileiro com as orientações
Sob a perspectiva da EDH as metodologias de ensino na educa- internacionais. Com base nessas, toda e qualquer ação de Educação
ção básica devem privilegiar a participação ativa dos /as estudantes em Direitos Humanos deve contribuir para a construção de valores
como construtores/as dos seus conhecimentos, de forma proble- que visam a práxis transformadora da sociedade, perpassando os
matizadora, interativa, participativa e dialógica. São exemplos das espaços e tempos da educação superior.
possibilidades que a vivência destas metodologias pode possibilitar: Vê-se, com isso, que a inserção da Educação em Direitos Hu-
• construir normas de disciplinas e de organização da escola, manos na Educação Superior deve ser transversalizada em todas
com a participação direta dos/as estudantes; as esferas institucionais, abrangendo o ensino, a pesquisa, a exten-
• discutir questões relacionadas à vida da comunidade, tais são e a gestão. No ensino, por exemplo, os Direitos Humanos, nos
como problemas de saúde, saneamento básico, educação, mora- projetos pedagógicos dos cursos e suas atividades curriculares, po-
dia, poluição dos rios e defesa do meio ambiente, transporte, entre dem ser incluídos como conteúdos complementares e flexíveis, por
outros; meio de seminários e atividades interdisciplinares, como disciplinas
• trazer para a sala de aula exemplos de discriminações e pre- obrigatórias e/ou optativas ou ainda de maneira mista, combinando
conceitos comuns na sociedade, a partir de situação-problema e mais de um modo de inserção por meio do diálogo com várias áreas
discutir formas de resolvê-las; de conhecimento. Como ação transversal e interdisciplinar, numa
• tratar as datas comemorativas que permeiam o calendário perspectiva crítica de currículo, a EDH propõe a relação entre teoria
escolar de forma articulada com os conteúdos dos Direitos Huma- e prática, entre as garantias formais e a efetivação dos direitos.
nos de forma transversal, interdisciplinar e disciplinar; No que se refere à pesquisa, vale lembrar que, semelhante a
• trabalhar os conteúdos curriculares integrando-os aos con- qualquer área de conhecimento, o desenvolvimento de saberes e
teúdos da área de DH, através das diferentes linguagens; musical, ações no campo da Educação em Direitos Humanos se dá princi-
corporal, teatral, literária, plástica, poética, entre outras, com me- palmente com o apoio de investigações especializadas. “A pesqui-
todologias ativa, participativa e problematizadora. sa científica nos mais variados campos do conhecimento e da vida
Para a efetivação da educação com esses fundamentos teóri- associativa produz resultados passíveis de serem incorporados a
co-metodológicos será necessário o enfrentamento de muitos de- programas e políticas de promoção da paz, do desenvolvimento, da
safios nos âmbitos legais e práticos das políticas educacionais bra- justiça, da igualdade e das liberdades” (ADORNO; CARDIA, 2008,
sileiras. Um dos maiores desafios que obstaculizam a concretização p.196), assim como da fraternidade.
da EDH nos sistemas de ensino é a inexistência, na formação dos/as As demandas por conhecimentos na área dos direitos huma-
profissionais nas diferentes áreas de conhecimento, de conteúdos e nos requerem uma política de incentivo que institua a realização de
metodologias fundados nos DH e na EDH. estudos e pesquisas. Faz-se necessário, nesse sentido, a criação de
Com relação a essa preocupação há uma recomendação explí- núcleos de estudos e pesquisas com atuação em temáticas como
cita no Documento Final da Conferência Nacional de Educação 2010 violência, direitos humanos, segurança pública, criança e adoles-
(CONAE), na área específica da Educação em Direitos Humanos, que cente, relações de gênero, identidade de gênero, diversidade de
se refere à ampliação da [...] formação continuada dos/as profissio- orientação sexual, diversidade cultural, dentre outros.
nais da educação em todos os níveis e modalidades de ensino, de O Programa Nacional de Direitos Humanos III (2009) e o Plano
acordo com o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos e Nacional de educação em Direitos Humanos (2006) reiteram a ne-
dos planos estaduais de Direitos Humanos, visando à difusão, em cessidade destes estudos e pesquisas, bem como a criação, a lon-
toda a comunidade escolar, de práticas pedagógicas que reconhe- go prazo, dos Direitos Humanos como área de conhecimento nos
çam e valorizem a diversidade e a democracia participativa. (BRA- órgãos de fomento a pesquisa. Enfatizam ainda a importância da
SIL, 2010, p. 162) organização de acervos e da memória institucional como valor de-
Ao lado do reconhecimento da existência de muitos desafios, mocrático e pedagógico.
há o entendimento de que eles precisam ser enfrentados coletiva- Nas atividades de extensão, a inclusão dos Direitos Humanos
mente para a garantia de uma educação de qualidade social que no Plano Nacional de Extensão Universitária enfatiza o compro-
possibilita a inclusão e permanência dos/as estudantes com resul- misso das universidades com a promoção e a defesa dos Direitos
tados positivos no ambiente educacional e na sociedade quando Humanos. É oportuno lembrar, a este respeito, a necessidade das
assentada na perspectiva da EDH. Instituições de Ensino Superior atenderem demandas não só forma-
Alguns desses desafios serão explicitados mais adiante. tivas, mas também de intervenção por meio da aproximação com
os segmentos sociais em situação de exclusão social e violação de
4.2 Na Educação Superior direitos, assim como os movimentos sociais e a gestão pública. À IES
O Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos (PME- cabe, portanto, o papel de assessorar governos, organizações so-
DH- 2, 2010) tratando da sua implementação na educação superior, ciais e a sociedade na implementação dos Direitos Humanos como
destaca a responsabilidade das IES com a formação de cidadãos/ãs forma de contribuição para a consolidação da democracia.
éticos/as comprometidos/as com a construção da paz, da defesa Na gestão, os direitos humanos devem ser incorporados na cul-
dos direitos humanos e dos valores da democracia, além da respon- tura e gestão organizacional, no modo de mediação de conflitos,
sabilidade de gerar conhecimento mundial visando atender os atu- na forma de lidar e reparar processos de violações através de ouvi-
ais desafios dos direitos humanos, como a erradicação da pobreza, dorias e comissões de direitos humanos, na representação institu-
do preconceito e da discriminação. cional e intervenção social junto às esferas públicas de cidadania, a
Sendo assim, as responsabilidades das IES com a Educação em exemplo da participação das IES em conselhos, comitês e fóruns de
Direitos Humanos no ensino superior estão ligadas aos processos direitos e políticas públicas. As Instituições de Ensino Superior não
de construção de uma sociedade mais justa, pautada no respeito e estão isentas de graves violações de direitos.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Muitas delas (re)produzem privilégios de classe e discrimina- luta de vários movimentos sociais, ainda se apresenta como neces-
ções étnicas, raciais, de orientação sexual, dentre outras. Mesmo sidade urgente no ambiente educacional, dadas as recorrentes situ-
com tantas conquistas no campo jurídico-político, ainda persiste a ações de preconceitos e discriminações que nele ocorrem.
falta de igualdade de oportunidades de acesso e permanência na O quinto desafio se refere à compreensão ampla da participa-
Educação Superior, sendo ainda necessária a implementação de po- ção democrática requerida pela Educação em Direitos Humanos.
líticas públicas que, efetivamente, revertam as situações de exclu- Nesse sentido, é preciso lembrar da necessidade de representação
são a que estão sujeitos muitos/as estudantes brasileiros/as. de todos os segmentos que integram a comunidade escolar e aca-
Espera-se de uma IES que contemple os Direitos Humanos dêmica em seus diferentes tempos e espaços. É dessa forma que
como seus princípios orientadores e a Educação em Direitos Huma- se construirá o sentido de participação política entre os diferen-
nos como parte do processo educativo. Sem o respeito aos Direitos tes atores que compõem o ambiente escolar. No que diz respeito
Humanos não será possível consolidar uma democracia substancial, à participação na construção do conhecimento, é imprescindível
nem garantir uma vida de qualidade para todos/as. Será preciso o considerar o protagonismo discente e docente, favorecendo as suas
compromisso com a construção de uma cultura de direitos, contri- participações ativas.
buindo para o bem estar de todos/as e afirmação das suas condi- O sexto desafio refere-se à necessidade de criação de políticas
ções de sujeitos de direitos. de produção de materiais didáticos e paradidáticos, tendo como
princípios orientadores o respeito à dignidade humana e a diver-
5 Desafios sidade cultural e socioambiental, na perspectiva de educar para a
Ter leis que garantam direitos não significa que estes sejam (re) consolidação de uma cultura de Direitos Humanos nos sistemas de
conhecidos e vivenciados no ambiente educacional, bem como nas ensino.
demais instituições sociais. Diante disso, torna-se premente a efe- O sétimo desafio está ligado ao reconhecimento da importân-
tivação de uma cultura dos Direitos Humanos, reafirmando a im- cia da Educação em Direitos Humanos e sua relação com a mídia e
portância do papel da Educação em Direitos Humanos. No entanto, as tecnologias da informação e comunicação.
para se alcançar tal objetivo é necessário enfrentar alguns desafios. O caráter crítico da informação e da comunicação deverá se
O primeiro deles é a formação, pautada nas questões perti- pautar nos direitos humanos, favorecendo a democratização do
nentes aos Direitos Humanos, de todos/as os/as profissionais da acesso e a reflexão dos conteúdos veiculados. A garantia do direito
educação nas diferentes áreas do conhecimento, uma vez que es- humano deve considerar também a livre expressão de pensamento,
ses conteúdos não fizeram e, em geral, não fazem parte dos cursos como forma de combate a toda forma de censura ou exclusão.
de graduação e pós-graduação, nem mesmo da Educação Básica Por fim, posto que direitos humanos e educação em direitos
(SILVA, FERREIRA, 2010, p. 89). Sendo assim, compreende-se que humanos são indissociáveis, o oitavo desafio se refere à efetivação
a formação destes/as profissionais deverá contemplar o conheci- dos marcos teórico-práticos do diálogo intercultural ao nível local e
mento e o reconhecimento dos temas e questões dos Direitos Hu- global, de modo a garantir o reconhecimento e valorização das di-
manos com o intuito de desenvolver a capacidade de análise critica versidades socioculturais, o combate às múltiplas opressões, o exer-
a respeito do papel desses direitos na sociedade, na comunidade, cício da tolerância e da solidariedade, tendo em vista a construção
na instituição, fazendo com que tais profissionais se identifiquem e de uma cultura em direitos humanos capaz de constituir cidadãos/
identifiquem sua instituição como protetores e promotores destes ãs comprometidos/as com a democracia, a justiça e a paz.
direitos. II – VOTO DA COMISSÃO
O segundo desafio diz respeito à valorização desses/as profis- Ao aprovar este Parecer e o Projeto de Resolução anexo, a co-
sionais que deverão ser compreendidos/as e tratados/as como su- missão bicameral de Educação em Direitos Humanos submete-os
jeitos de direitos, o que implica, por parte dos entes federados res- ao Conselho Pleno para decisão.
ponsáveis pelas políticas educacionais, garantir condições dignas de
trabalho que atendam as necessidades básicas e do exercício pro- III – DECISÃO DO CONSELHO PLENO
fissional. Tal situação requer o efetivo cumprimento das políticas de O Conselho Pleno aprova, por unanimidade, o voto da Comis-
profissionalização, assegurando garantias instituídas nos diversos são. Plenário, 6 de março de 2012.
planos de carreira de todos/as os/as trabalhadores/as da educação.
O terceiro diz respeito à socialização dos estudos e experiên-
cias bem sucedidas desenvolvidos na área dos Direitos Humanos, RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 1/2012
realizados em instituições de ensino e centros independentes,
como institutos e organizações não governamentais. Torna-se ne- RESOLUÇÃO Nº 1, DE 30 DE MAIO DE 2012
cessário, então, o fomento às pesquisas em Educação em Direitos
Humanos e nas temáticas que a integram no âmbito das instituições Estabelece Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos
de educação superior que, por sua vez, poderão promover encon- Humanos.
tros, seminários, colóquios e publicações de caráter interdisciplinar
a fim de divulgar os novos conhecimentos produzidos na área. O Presidente do Conselho Nacional de Educação, no uso de
O quarto desafio a ser enfrentado pelas instituições de educa- suas atribuições legais e tendo em vista o disposto nas Leis nos
ção e de ensino está ligado à perspectiva do respeito às diversida- 9.131, de 24 de novembro de 1995, e 9.394, de 20 de dezembro de
des como aspecto fundamental na reflexão sobre as diversas for- 1996, com fundamento no Parecer CNE/CP nº 8/2012, homologado
mas de violência que ocasionam a negação dos Direitos Humanos. por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, publica-
Nesse sentido, o reconhecimento político das diversidades, fruto da do no DOU de 30 de maio de 2012,

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CONSIDERANDO o que dispõe a Declaração Universal dos Art. 5º A Educação em Direitos Humanos tem como objetivo
Direitos Humanos de 1948; a Declaração das Nações Unidas so- central a formação para a vida e para a convivência, no exercício co-
bre a Educação e Formação em Direitos Humanos (Resolução tidiano dos Direitos Humanos como forma de vida e de organização
A/66/137/2011); a Constituição Federal de 1988; a Lei de Diretri- social, política, econômica e cultural nos níveis regionais, nacionais
zes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996); o Programa e planetário.
Mundial de Educação em Direitos Humanos (PMEDH 2005/2014), § 1º Este objetivo deverá orientar os sistemas de ensino e suas
o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3/Decreto nº instituições no que se refere ao planejamento e ao desenvolvimen-
7.037/2009); o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos to de ações de Educação em Direitos Humanos adequadas às neces-
(PNEDH/2006); e as diretrizes nacionais emanadas pelo Conselho sidades, às características biopsicossociais e culturais dos diferentes
Nacional de Educação, bem como outros documentos nacionais e sujeitos e seus contextos.
internacionais que visem assegurar o direito à educação a todos(as), § 2º Os Conselhos de Educação definirão estratégias de acom-
RESOLVE: panhamento das ações de Educação em Direitos Humanos.
Art. 1º A presente Resolução estabelece as Diretrizes Nacionais Art. 6º A Educação em Direitos Humanos, de modo transversal,
para a Educação em Direitos Humanos (EDH) a serem observadas deverá ser considerada na construção dos Projetos Político-Peda-
pelos sistemas de ensino e suas instituições. gógicos (PPP); dos Regimentos Escolares; dos Planos de Desenvol-
Art. 2º A Educação em Direitos Humanos, um dos eixos funda- vimento Institucionais (PDI); dos Programas Pedagógicos de Curso
mentais do direito à educação, refere-se ao uso de concepções e (PPC) das Instituições de Educação Superior; dos materiais didáticos
práticas educativas fundadas nos Direitos Humanos e em seus pro- e pedagógicos; do modelo de ensino, pesquisa e extensão; de ges-
cessos de promoção, proteção, defesa e aplicação na vida cotidiana tão, bem como dos diferentes processos de avaliação.
e cidadã de sujeitos de direitos e de responsabilidades individuais Art. 7º A inserção dos conhecimentos concernentes à Educação
e coletivas. em Direitos Humanos na organização dos currículos da Educação
§ 1º Os Direitos Humanos, internacionalmente reconhecidos Básica e da Educação Superior poderá ocorrer das seguintes formas:
como um conjunto de direitos civis, políticos, sociais, econômicos, I - pela transversalidade, por meio de temas relacionados aos
culturais e ambientais, sejam eles individuais, coletivos, transindivi- Direitos Humanos e tratados interdisciplinarmente;
duais ou difusos, referem-se à necessidade de igualdade e de defe- II - como um conteúdo específico de uma das disciplinas já exis-
sa da dignidade humana. tentes no currículo escolar;
§ 2º Aos sistemas de ensino e suas instituições cabe a efetiva- III - de maneira mista, ou seja, combinando transversalidade e
ção da Educação em Direitos Humanos, implicando a adoção sis- disciplinaridade.
temática dessas diretrizes por todos(as) os(as) envolvidos(as) nos Parágrafo único. Outras formas de inserção da Educação em
Direitos Humanos poderão ainda ser admitidas na organização cur-
processos educacionais.
ricular das instituições educativas desde que observadas as especi-
Art. 3º A Educação em Direitos Humanos, com a finalidade de
ficidades dos níveis e modalidades da Educação Nacional.
promover a educação para a mudança e a transformação social,
Art. 8º A Educação em Direitos Humanos deverá orientar a
fundamenta-se nos seguintes princípios:
formação inicial e continuada de todos(as) os(as) profissionais da
I - dignidade humana;
educação, sendo componente curricular obrigatório nos cursos des-
II - igualdade de direitos;
tinados a esses profissionais.
III - reconhecimento e valorização das diferenças e das diver-
Art. 9º A Educação em Direitos Humanos deverá estar presente
sidades;
na formação inicial e continuada de todos(as) os(as) profissionais
IV - laicidade do Estado; das diferentes áreas do conhecimento.
V - democracia na educação; Art. 10. Os sistemas de ensino e as instituições de pesquisa de-
VI - transversalidade, vivência e globalidade; e verão fomentar e divulgar estudos e experiências bem sucedidas
VII - sustentabilidade socioambiental. realizados na área dos Direitos Humanos e da Educação em Direitos
Art. 4º A Educação em Direitos Humanos como processo sis- Humanos.
temático e multidimensional, orientador da formação integral dos Art. 11. Os sistemas de ensino deverão criar políticas de produ-
sujeitos de direitos, articula-se às seguintes dimensões: ção de materiais didáticos e paradidáticos, tendo como princípios
I - apreensão de conhecimentos historicamente construídos orientadores os Direitos Humanos e, por extensão, a Educação em
sobre direitos humanos e a sua relação com os contextos interna- Direitos Humanos.
cional, nacional e local; Art. 12. As Instituições de Educação Superior estimularão ações
II - afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expres- de extensão voltadas para a promoção de Direitos Humanos, em
sem a cultura dos direitos humanos em todos os espaços da socie- diálogo com os segmentos sociais em situação de exclusão social
dade; e violação de direitos, assim como com os movimentos sociais e a
III - formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer pre- gestão pública.
sente em níveis cognitivo, social, cultural e político; Art. 13. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publi-
IV - desenvolvimento de processos metodológicos participati- cação.
vos e de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didá-
ticos contextualizados; e
V - fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem
ações e instrumentos em favor da promoção, da proteção e da de-
fesa dos direitos humanos, bem como da reparação das diferentes
formas de violação de direitos.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

dimento, medidas protetivas ou medidas socioeducativas, entre


DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE (LEI Nº outras providências. Trata-se de direitos diretamente relacionados
8.069/1990 – ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLES- à Constituição da República de 1988.
CENTE Para o Estatuto, considera-se criança a pessoa de até doze anos
de idade incompletos, e adolescente aquela compreendida entre
No campo da discussão dos Direitos da Criança e do Adoles- doze e dezoito anos. Entretanto, aplica-se o estatuto, excepcional-
cente, o direito de brincar da criança e o direito de ser cuidada por mente, às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade, em
profissionais qualificados, na primeira infância, devem ser priorida- situações que serão aqui demonstradas.
de nas políticas públicas. A criança tem, sobretudo, o direito a ter Dispõe, ainda, que nenhuma criança ou adolescente será ob-
a presença da mãe, pai e/ou cuidador em casa nos primeiros me- jeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
ses por meio da licença-maternidade e paternidade concedida para violência, crueldade e opressão, por qualquer pessoa que seja, de-
cumprimento dos cuidados. vendo ser punido qualquer ação ou omissão que atente aos seus
Por sua vez, o direito à educação deve ser garantido a todas as direitos fundamentais. Ainda, no seu artigo 7º, disciplina que a
crianças e adolescentes, observando o pleno desenvolvimento de criança e o adolescente têm direito à proteção à vida e à saúde,
suas potencialidades por meio de uma preparação cultural quali- mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam
ficada, uma base científica e humana na perspectiva de contribuir
o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condi-
para a superação das desvantagens decorrentes das condições so-
ções dignas de existência.
cioeconômicas e culturais adversas. Nessa direção, situamos tam-
As medidas protetivas adotadas pelo ECA são para salvaguar-
bém o Estatuto da Juventude, que vem corroborar a inserção social
qualificada do jovem como lei complementar ao Estatuto da Criança dar a família natural ou a família substituta, sendo está ultima pela
e do Adolescente, visando garantir direitos de quem tem entre 15 guarda, tutela ou adoção. A guarda obriga a prestação de assistên-
e 29 anos de idade. O Estatuto da Juventude propõe expansão das cia material, moral e educacional, a tutela pressupõe todos os deve-
garantias dadas à infância e à adolescência, além da compreensão res da guarda e pode ser conferida a pessoa de até 21 anos incom-
de que o jovem deve ser visto nas suas necessidades no momento pletos, já a adoção atribui condição de filho, com mesmos direito e
presente e não a posteriori. deveres, inclusive sucessórios.
Desse modo, as aprendizagens essenciais devem ser contem- A instituição familiar é a base da sociedade, sendo indispensá-
pladas, proporcionando o desenvolvimento das competências e vel à organização social, conforme preceitua o art. 226 da CR/88.
habilidades necessárias, e possibilitando às crianças, adolescentes Não sendo regra, mas os adolescentes correm maior risco quando
e jovens o direito a uma educação de qualidade para que possam fazem parte de famílias desestruturadas ou violentas.
atuar socialmente na construção de um mundo mais justo, equitati- Cabe aos pais o dever de sustento, guarda e educação dos fi-
vo, democrático e humano. lhos, não constituindo motivo de escusa a falta ou a carência de
O contexto escolar deve ser preparado visando a uma forma- recursos materiais, sob pena da perda ou a suspensão do pátrio
ção cidadã em que todas as crianças e adolescentes devem ser poder.
protegidos contra práticas que fomentem a exploração do trabalho Caso a família natural, comunidade formada pelos pais ou
infantil e discriminação étnico-racial, religiosa, sexual, de gênero, qualquer deles e seus descendentes, descumpra qualquer de suas
pessoa com deficiência ou de qualquer outra ordem. obrigações, a criança ou adolescente serão colocados em família
substituta mediante guarda, tutela ou adoção.
LEI FEDERAL Nº 8.069/90 – DISPÕE SOBRE O ESTATUTO DA Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE; no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta,
assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é uma lei federal da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecen-
(8.069 promulgada em julho de 1990), que trata sobre os direitos tes.
das crianças e adolescentes em todo o Brasil. Por tal razão que a responsabilidade dos pais é enorme no de-
Trata-se de um ramo do direito especializado, dividido em par-
senvolvimento familiar e dos filhos, cujo objetivo é manter ao máxi-
tes geral e especial, onde a primeira traça, como as demais codifica-
mo a estabilidade emocional, econômica e social.
ções existentes, os princípios norteadores do Estatuto. Já a segunda
A perda de valores sociais, ao longo do tempo, também são fa-
parte estrutura a política de atendimento, medidas, conselho tute-
tores que interferem diretamente no desenvolvimento das crianças
lar, acesso jurisdicional e apuração de atos infracionais.
A partir do Estatuto, crianças e adolescentes brasileiros, sem e adolescentes, visto que não permanecem exclusivamente inseri-
distinção de raça, cor ou classe social, passaram a ser reconhecidos dos na entidade familiar.
como sujeitos de direitos e deveres, considerados como pessoas em Por isso é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou
desenvolvimento a quem se deve prioridade absoluta do Estado. violação dos direitos das crianças e dos adolescentes. Tanto que
O objetivo estatutário é a proteção dos menores de 18 anos, cabe a sociedade, família e ao poder público proibir a venda e co-
proporcionando a eles um desenvolvimento físico, mental, moral e mercialização à criança e ao adolescente de armas, munições e
social condizentes com os princípios constitucionais da liberdade e explosivos, bebida alcoólicas, drogas, fotos de artifício, revistas de
da dignidade, preparando para a vida adulta em sociedade. conteúdo adulto e bilhetes lotéricos ou equivalentes.
O ECA estabelece direitos à vida, à saúde, à alimentação, à Cada município deverá haver, no mínimo, um Conselho Tutelar
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao composto de cinco membros, escolhidos pela comunidade local, re-
respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária para me- gularmente eleitos e empossados, encarregado pela sociedade de
ninos e meninas, e também aborda questões de políticas de aten- zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

O Conselho Tutelar é uma das entidades públicas competen- quência em estabelecimento de ensino, inclusão em programa de
tes a salvaguardar os direitos das crianças e dos adolescentes nas auxílio à família, encaminhamento a tratamento médico, psicológi-
hipóteses em que haja desrespeito, inclusive com relação a seus co ou psiquiátrico, abrigo, tratamento toxicológico e, até, colocação
pais e responsáveis, bem como aos direitos e deveres previstos na em família substituta.
legislação do ECA e na Constituição. São deveres dos Conselheiros Já o adolescente entre 12 e 18 anos incompletos (inimputáveis)
Tutelares: que pratica algum ato infracional, além das medidas protetivas já
1. Atender crianças e adolescentes e aplicar medidas de pro- descritas, a autoridade competente poderá aplicar medida socioe-
teção. ducativa de acordo com a capacidade do ofensor, circunstâncias do
2. Atender e aconselhar os pais ou responsável e aplicar medi- fato e a gravidade da infração, são elas:
das pertinentes previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente. 1) Advertências – admoestação verbal, reduzida a termo e assi-
3. Promover a execução de suas decisões, podendo requisitar nada pelos adolescentes e genitores sob os riscos do envolvimento
serviços públicos e entrar na Justiça quando alguém, injustificada- em atos infracionais e sua reiteração,
mente, descumprir suas decisões. 2) Obrigação de reparar o dano – caso o ato infracional seja
4. Levar ao conhecimento do Ministério Público fatos que o Es- passível de reparação patrimonial, compensando o prejuízo da ví-
tatuto tenha como infração administrativa ou penal. tima,
5. Encaminhar à Justiça os casos que a ela são pertinentes. 3) Prestação de serviços à comunidade – tem por objetivo
6. Tomar providências para que sejam cumpridas as medidas conscientizar o menor infrator sobre valores e solidariedade social,
sócio-educativas aplicadas pela Justiça a adolescentes infratores. 4) Liberdade assistida – medida de grande eficácia para o en-
7. Expedir notificações em casos de sua competência. fretamento da prática de atos infracionais, na medida em que atua
8. Requisitar certidões de nascimento e de óbito de crianças e juntamente com a família e o controle por profissionais (psicólogos
adolescentes, quando necessário. e assistentes sociais) do Juizado da Infância e Juventude,
9. Assessorar o Poder Executivo local na elaboração da propos- 5) Semiliberdade – medida de média extremidade, uma vez
ta orçamentaria para planos e programas de atendimento dos direi- que exigem dos adolescentes infratores o trabalho e estudo duran-
tos da criança e do adolescente. te o dia, mas restringe sua liberdade no período noturno, mediante
10. Entrar na Justiça, em nome das pessoas e das famílias, para recolhimento em entidade especializada
que estas se defendam de programas de rádio e televisão que con- 6) Internação por tempo indeterminado – medida mais extre-
trariem princípios constitucionais bem como de propaganda de ma do Estatuto da Criança e do Adolescente devido à privação total
produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao da liberdade. Aplicada em casos mais graves e em caráter excep-
meio ambiente. cional.
11. Levar ao Ministério Público casos que demandam ações ju-
diciais de perda ou suspensão do pátrio poder. Antes da sentença, a internação somente pode ser determina-
12. Fiscalizar as entidades governamentais e não-governamen- da pelo prazo máximo de 45 dias, mediante decisão fundamentada
tais que executem programas de proteção e socioeducativos. baseada em fortes indícios de autoria e materialidade do ato infra-
cional.
Considerando que todos têm o dever de zelar pela dignidade Nessa vertente, as entidades que desenvolvem programas de
da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer trata- internação têm a obrigação de:
mento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrange- 1) Observar os direitos e garantias de que são titulares os ado-
dor, havendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra algu- lescentes;
ma criança ou adolescente, serão obrigatoriamente comunicados 2) Não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de
ao Conselho Tutelar para providências cabíveis. restrição na decisão de internação,
Ainda com toda proteção às crianças e aos adolescentes, a de- 3) Preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e
linquência é uma realidade social, principalmente nas grandes cida- dignidade ao adolescente,
des, sem previsão de término, fazendo com que tenha tratamento 4) Diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação
diferenciado dos crimes praticados por agentes imputáveis. dos vínculos familiares,
Os crimes praticados por adolescentes entre 12 e 18 anos 5) Oferecer instalações físicas em condições adequadas, e toda
incompletos são denominados atos infracionais passíveis de apli- infraestrutura e cuidados médicos e educacionais, inclusive na área
cação de medidas socioeducativas. Os dispositivos do Estatuto da de lazer e atividades culturais e desportivas.
Criança e do Adolescente disciplinam situações nas quais tanto o 6) Reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo
responsável, quanto o menor devem ser instados a modificarem de seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade compe-
atitudes, definindo sanções para os casos mais graves. tente.
Nas hipóteses do menor cometer ato infracional, cuja conduta
sempre estará descrita como crime ou contravenção penal para os Uma vez aplicada as medidas socioeducativas podem ser im-
imputáveis, poderão sofrer sanções específicas aquelas descritas no plementadas até que sejam completados 18 anos de idade. Contu-
estatuto como medidas socioeducativas. do, o cumprimento pode chegar aos 21 anos de idade nos casos de
Os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, mas res- internação, nos termos do art. 121, §5º do ECA.
pondem pela prática de ato infracional cuja sanção será desde a Assim como no sistema penal tradicional, as sanções previstas
adoção de medida protetiva de encaminhamento aos pais ou res- no Estatuto da Criança e do Adolescente apresentam preocupação
ponsável, orientação, apoio e acompanhamento, matricula e fre- com a reeducação e a ressocialização dos menores infratores.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Antes de iniciado o procedimento de apuração do ato infracio- Lei Federal nº 13.431/2017 – Lei da Escuta Protegida
nal, o representante do Ministério Público poderá conceder o per- Esta lei estabelece novas diretrizes para o atendimento de
dão (remissão), como forma de exclusão do processo, se atendido crianças ou adolescentes vítimas ou testemunhas de violências,
às circunstâncias e consequências do fato, contexto social, perso- e que frequentemente são expostos a condutas profissionais não
nalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no ato qualificadas, sendo obrigados a relatar por várias vezes, ou para
infracional. pessoas diferentes, violências sofridas, revivendo desnecessaria-
Por fim, o Estatuto da Criança e do Adolescente institui medi- mente seu drama.
das aplicáveis aos pais ou responsáveis de encaminhamento a pro- Denominada “Lei da Escuta Protegida”, essa lei tem como ob-
grama de proteção a família, inclusão em programa de orientação jetivo a proteção de crianças e adolescentes após a revelação da
a alcoólatras e toxicômanos, encaminhamento a tratamento psico- violência sofrida, promovendo uma escuta única nos serviços de
lógico ou psiquiátrico, encaminhamento a cursos ou programas de atendimento e criando um protocolo de atendimento a ser adota-
orientação, obrigação de matricular e acompanhar o aproveitamen- do por todos os órgãos do Sistema de Garantia de Direitos.
to escolar do menor, advertência, perda da guarda, destituição da
tutela e até suspensão ou destituição do pátrio poder. Lei 13.436, de 12 de abril de 2017 - Garantia do direito a acom-
O importante é observar que as crianças e os adolescentes não panhamento e orientação à mãe com relação à amamentação
podem ser considerados autênticas propriedades de seus genito- Esta lei introduziu no artigo 10 do ECA uma responsabilidade
res, visto que são titulas de direitos humanos como quaisquer pes- adicional para os hospitais e demais estabelecimentos de atenção
soas, dotados de direitos e deveres como demonstrado. à saúde de gestantes, públicos e particulares: daqui em diante eles
A implantação integral do ECA sofre grande resistência de parte estão obrigados a acompanhar a prática do processo de amamen-
da sociedade brasileira, que o considera excessivamente paternalis- tação, prestando orientações quanto à técnica adequada, enquan-
ta em relação aos atos infracionais cometidos por crianças e ado- to a mãe permanecer na unidade hospitalar.
lescentes, uma vez que os atos infracionais estão ficando cada vez
mais violentos e reiterados. Lei 13.438, de 26 de abril de 2017 – Protocolo de Avaliação de
Consideram, ainda, que o estatuto, que deveria proteger e edu- riscos para o desenvolvimento psíquico das crianças
car a criança e o adolescente, na prática, acaba deixando-os sem Esta lei determina que o Sistema Único de Saúde (SUS) será
nenhum tipo de punição ou mesmo ressocialização, bem como é obrigado a adotar protocolo com padrões para a avaliação de riscos
utilizado por grupos criminosos para livrar-se de responsabilidades ao desenvolvimento psíquico de crianças de até 18 meses de ida-
criminais fazendo com que adolescentes assumam a culpa. de. A lei estabelece que crianças de até 18 meses de idade façam
Cabe ao Estado zelas para que as crianças e adolescentes se acompanhamento através de protocolo ou outro instrumento de
desenvolvam em condições sociais que favoreçam a integridade detecção de risco. Esse acompanhamento se dará em consulta pe-
física, liberdade e dignidade. Contudo, não se pode atribuir tal res- diátrica. Por meio de exames poderá ser detectado precocemente,
ponsabilidade apenas a uma suposta inaplicabilidade do estatuto por exemplo, o transtorno do espectro autista, o que permitirá um
da criança e do adolescente, uma vez que estes nada mais são do melhor acompanhamento no desenvolvimento futuro da criança.
que o produto da entidade familiar e da sociedade, as quais têm
importância fundamental no comportamento dos mesmos.1 Lei nº 13.440, de 8 de maio de 2017 – Aumento na penali-
Últimas alterações no ECA zação de crimes de exploração sexual de crianças e adolescentes
Esta lei promoveu a inclusão de mais uma penalidade no artigo
As mais recentes: 244-A do ECA. A pena previa reclusão de quatro a dez anos e multa
São quatro os pontos modificados no ECA durante a atual ad- nos crimes de exploração sexual de crianças e adolescentes. Agora
ministração: o texto está acrescido de perda de bens e que os valores advindos
- A instituição da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez dessas práticas serão revertidos em favor do Fundo dos Direitos
na Adolescência, na lei nº 13.798, de 3 de janeiro de 2019; da Criança e do Adolescente da unidade da Federação (Estado ou
- A criação do Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas - na
Distrito Federal) em que foi cometido o crime.
lei nº 13.812, de 16 de março 2019;
Lei nº 13.441, de 8 de maio de 2017 - Prevê a infiltração de
- A mudança na idade mínima para que uma criança ou adoles-
agentes de polícia na internet com o fim de investigar crimes con-
cente possa viajar sem os pais ou responsáveis e sem autorização
tra a dignidade sexual de criança e de adolescente
judicial, passando de 12 para 16 anos - na mesma lei nº 13.812;
Esta lei prevê a infiltração policial virtual no combate aos crimes
- A mudança na lei sobre a reeleição dos conselheiros tutelares,
contra a dignidade sexual de vulneráveis. A nova lei acrescentou ao
que agora podem ser reeleitos por vários mandatos consecutivos,
ECA os artigos 190-A a 190-E e normatizou a investigação em meio
em vez de apenas uma vez - lei 13.824, de 9 de maio 2019.
cibernético.
Lei nº 13.509/17, publicada em 22 de novembro de 2017 al-
tera o ECA ao estabelecer novos prazos e procedimentos para o Revogação do artigo 248 que versava sobre trabalho domés-
trâmite dos processos de adoção, além de prever novas hipóteses tico de adolescentes
de destituição do poder familiar, de apadrinhamento afetivo e dis- Foi revogado o artigo 248 do ECA que possibilitava a regu-
ciplinar a entrega voluntária de crianças e adolescentes à adoção. larização da guarda de adolescentes para o serviço doméstico. A
Constituição Brasileira proíbe o trabalho infantil, mas este artigo
1 Fonte: www.ambito-juridico.com.br – Texto adaptado de Cláudia Mara de Al- estabelecia prazo de cinco dias para que o responsável, ou novo
meida Rabelo Viegas / Cesar Leandro de Almeida Rabelo guardião, apresentasse à Vara de Justiça de sua cidade ou comarca

99
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

o adolescente trazido de outra localidade para prestação de serviço Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos
doméstico, o que, segundo os autores do projeto de lei que resul- fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da prote-
tou na revogação do artigo, abria espaço para a regularização do ção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou
trabalho infantil ilegal. por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de
lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e
Lei 13.306 de 2016 publicada no dia 04 de julho, alterou o Es- social, em condições de liberdade e de dignidade.
tatuto da Criança e do Adolescente fixando em cinco anos a idade Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se
máxima para o atendimento na educação infantil.2 a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nasci-
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é uma lei federal mento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou
(8.069 promulgada em julho de 1990), que trata sobre os direitos crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e apren-
das crianças e adolescentes em todo o Brasil. dizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de
Trata-se de um ramo do direito especializado, dividido em par- moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou
tes geral e especial, onde a primeira traça, como as demais codifica- a comunidade em que vivem.(incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
ções existentes, os princípios norteadores do Estatuto. Já a segunda Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em
parte estrutura a política de atendimento, medidas, conselho tute- geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a
lar, acesso jurisdicional e apuração de atos infracionais. efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação,
Na presente Lei estão dispostos os procedimentos de adoção à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
(Livro I, capítulo V), a aplicação de medidas socioeducativas (Livro dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e co-
II, capítulo II), do Conselho Tutelar (Livro II, capítulo V), e também munitária.
dos crimes cometidos contra crianças e adolescentes. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
O objetivo estatutário é a proteção dos menores de 18 anos, a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer cir-
cunstâncias;
proporcionando a eles um desenvolvimento físico, mental, moral e
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de re-
social condizentes com os princípios constitucionais da liberdade e
levância pública;
da dignidade, preparando para a vida adulta em sociedade.
c) preferência na formulação e na execução das políticas so-
O ECA estabelece direitos à vida, à saúde, à alimentação, à
ciais públicas;
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas rela-
respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária para me- cionadas com a proteção à infância e à juventude.
ninos e meninas, e também aborda questões de políticas de aten- Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qual-
dimento, medidas protetivas ou medidas socioeducativas, entre quer forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
outras providências. Trata-se de direitos diretamente relacionados crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado,
à Constituição da República de 1988. por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins
Dispõe a Lei 8.069/1990 que nenhuma criança ou adolescente sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos
será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, ex- e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e
ploração, violência, crueldade e opressão, por qualquer pessoa que do adolescente como pessoas em desenvolvimento.
seja, devendo ser punido qualquer ação ou omissão que atente aos
seus direitos fundamentais. TÍTULO II
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990
CAPÍTULO I
Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá ou- DO DIREITO À VIDA E À SAÚDE
tras providências.
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Na- e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso,
em condições dignas de existência.
TÍTULO I Art. 8o É assegurado a todas as mulheres o acesso aos progra-
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES mas e às políticas de saúde da mulher e de planejamento reprodu-
tivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gra-
videz, ao parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao
pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde. (Redação
adolescente.
dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa
§ 1o O atendimento pré-natal será realizado por profissionais
até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre
da atenção primária. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
doze e dezoito anos de idade. § 2o Os profissionais de saúde de referência da gestante ga-
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excep- rantirão sua vinculação, no último trimestre da gestação, ao esta-
cionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um belecimento em que será realizado o parto, garantido o direito de
anos de idade. opção da mulher. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
2 Fonte: www.equipeagoraeupasso.com.br/www.g1.globo.com

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 3o Os serviços de saúde onde o parto for realizado assegu- § 2o Os serviços de unidades de terapia intensiva neonatal de-
rarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos alta hospitalar verão dispor de banco de leite humano ou unidade de coleta de
responsável e contrarreferência na atenção primária, bem como o leite humano. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
acesso a outros serviços e a grupos de apoio à amamentação. (Re- Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à
dação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a:
§ 4o Incumbe ao poder público proporcionar assistência psi- I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de
cológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, inclusive prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua im-
puerperal. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência pressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem preju-
§ 5o A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser pres- ízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa
tada também a gestantes e mães que manifestem interesse em en- competente;
tregar seus filhos para adoção, bem como a gestantes e mães que III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica
se encontrem em situação de privação de liberdade. (Redação dada de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como
pela Lei nº 13.257, de 2016) prestar orientação aos pais;
§ 6o A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) acom- IV - fornecer declaração de nascimento onde constem neces-
panhante de sua preferência durante o período do pré-natal, do sariamente as intercorrências do parto e do desenvolvimento do
trabalho de parto e do pós-parto imediato. (Incluído pela Lei nº neonato;
13.257, de 2016) V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a
§ 7o A gestante deverá receber orientação sobre aleitamento permanência junto à mãe.
materno, alimentação complementar saudável e crescimento e de- VI - acompanhar a prática do processo de amamentação, pres-
senvolvimento infantil, bem como sobre formas de favorecer a cria- tando orientações quanto à técnica adequada, enquanto a mãe
ção de vínculos afetivos e de estimular o desenvolvimento integral permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo técnico já
da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) existente. (Incluído pela Lei nº 13.436, de 2017) (Vigência)
§ 8o A gestante tem direito a acompanhamento saudável du- Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado vol-
rante toda a gestação e a parto natural cuidadoso, estabelecendo- tadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Siste-
-se a aplicação de cesariana e outras intervenções cirúrgicas por ma Único de Saúde, observado o princípio da equidade no acesso a
motivos médicos. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde.
§ 9o A atenção primária à saúde fará a busca ativa da gestante (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
que não iniciar ou que abandonar as consultas de pré-natal, bem § 1o A criança e o adolescente com deficiência serão atendi-
como da puérpera que não comparecer às consultas pós-parto. (In- dos, sem discriminação ou segregação, em suas necessidades ge-
cluído pela Lei nº 13.257, de 2016) rais de saúde e específicas de habilitação e reabilitação. (Redação
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à mulher dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
com filho na primeira infância que se encontrem sob custódia em § 2o Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente, àque-
unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às normas les que necessitarem, medicamentos, órteses, próteses e outras
sanitárias e assistenciais do Sistema Único de Saúde para o acolhi- tecnologias assistivas relativas ao tratamento, habilitação ou rea-
mento do filho, em articulação com o sistema de ensino competen- bilitação para crianças e adolescentes, de acordo com as linhas de
te, visando ao desenvolvimento integral da criança. (Incluído pela cuidado voltadas às suas necessidades específicas. (Redação dada
Lei nº 13.257, de 2016) pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 8º-A. Fica instituída a Semana Nacional de Prevenção da § 3o Os profissionais que atuam no cuidado diário ou frequen-
Gravidez na Adolescência, a ser realizada anualmente na semana te de crianças na primeira infância receberão formação específica
que incluir o dia 1º de fevereiro, com o objetivo de disseminar in- e permanente para a detecção de sinais de risco para o desenvol-
formações sobre medidas preventivas e educativas que contribuam vimento psíquico, bem como para o acompanhamento que se fizer
para a redução da incidência da gravidez na adolescência. (Incluído necessário. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
pela Lei nº 13.798, de 2019) Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde, inclu-
Parágrafo único. As ações destinadas a efetivar o disposto no sive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de cuidados in-
caput deste artigo ficarão a cargo do poder público, em conjunto termediários, deverão proporcionar condições para a permanência
com organizações da sociedade civil, e serão dirigidas prioritaria- em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de
mente ao público adolescente.(Incluído pela Lei nº 13.798, de 2019) internação de criança ou adolescente. (Redação dada pela Lei nº
Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores pro- 13.257, de 2016)
piciarão condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico,
aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade. de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra criança
§ 1o Os profissionais das unidades primárias de saúde desen- ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho
volverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas, visando ao Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providên-
planejamento, à implementação e à avaliação de ações de pro- cias legais. (Redação dada pela Lei nº 13.010, de 2014)
moção, proteção e apoio ao aleitamento materno e à alimentação § 1o As gestantes ou mães que manifestem interesse em en-
complementar saudável, de forma contínua. (Incluído pela Lei nº tregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente encaminha-
13.257, de 2016) das, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da Juventude.
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 2o Os serviços de saúde em suas diferentes portas de entra- Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do
da, os serviços de assistência social em seu componente especia- adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano,
lizado, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
(Creas) e os demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educa-
Criança e do Adolescente deverão conferir máxima prioridade ao dos e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel
atendimento das crianças na faixa etária da primeira infância com ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou
suspeita ou confirmação de violência de qualquer natureza, formu- qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família
lando projeto terapêutico singular que inclua intervenção em rede ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores
e, se necessário, acompanhamento domiciliar. (Incluído pela Lei nº de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada
13.257, de 2016) de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los. (Incluído pela
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de Lei nº 13.010, de 2014)
assistência médica e odontológica para a prevenção das enfermida- Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se: (Incluído
des que ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas pela Lei nº 13.010, de 2014)
de educação sanitária para pais, educadores e alunos. I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva apli-
§ 1o É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomen- cada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que
dados pelas autoridades sanitárias. (Renumerado do parágrafo úni- resulte em: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
co pela Lei nº 13.257, de 2016) a) sofrimento físico; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
§ 2o O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à saúde b) lesão; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
bucal das crianças e das gestantes, de forma transversal, integral e II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de
intersetorial com as demais linhas de cuidado direcionadas à mu- tratamento em relação à criança ou ao adolescente que: (Incluído
lher e à criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) pela Lei nº 13.010, de 2014)
§ 3o A atenção odontológica à criança terá função educativa a) humilhe; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
protetiva e será prestada, inicialmente, antes de o bebê nascer, por b) ameace gravemente; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de
meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no sexto e 2014)
no décimo segundo anos de vida, com orientações sobre saúde bu- c) ridicularize. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
cal. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os res-
§ 4o A criança com necessidade de cuidados odontológicos es- ponsáveis, os agentes públicos executores de medidas socioedu-
peciais será atendida pelo Sistema Único de Saúde.(Incluído pela cativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de crianças e de
Lei nº 13.257, de 2016) adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los que utilizarem
§ 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus pri- castigo físico ou tratamento cruel ou degradante como formas de
meiros dezoito meses de vida, de protocolo ou outro instrumento correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto estarão
construído com a finalidade de facilitar a detecção, em consulta sujeitos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes me-
pediátrica de acompanhamento da criança, de risco para o seu didas, que serão aplicadas de acordo com a gravidade do caso: (In-
desenvolvimento psíquico. (Incluído pela Lei nº 13.438, de 2017) cluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
(Vigência) I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de pro-
teção à família; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
CAPÍTULO II II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
DO DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
III - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de de- IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento especiali-
senvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais zado; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
garantidos na Constituição e nas leis. V - advertência. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspec- Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão apli-
tos: cadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras providências
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitá- legais. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
rios, ressalvadas as restrições legais;
II - opinião e expressão; CAPÍTULO III
III - crença e culto religioso; DO DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discrimina- SEÇÃO I
ção; DISPOSIÇÕES GERAIS
VI - participar da vida política, na forma da lei;
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e edu-
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da cado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substi-
integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, tuta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autono- que garanta seu desenvolvimento integral. (Redação dada pela Lei
mia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. nº 13.257, de 2016)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 1o Toda criança ou adolescente que estiver inserido em pro- § 6º Na hipótese de não comparecerem à audiência nem o ge-
grama de acolhimento familiar ou institucional terá sua situação re- nitor nem representante da família extensa para confirmar a inten-
avaliada, no máximo, a cada 3 (três) meses, devendo a autoridade ção de exercer o poder familiar ou a guarda, a autoridade judiciária
judiciária competente, com base em relatório elaborado por equipe suspenderá o poder familiar da mãe, e a criança será colocada sob
interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma fundamenta- a guarda provisória de quem esteja habilitado a adotá-la. (Incluído
da pela possibilidade de reintegração familiar ou pela colocação em pela Lei nº 13.509, de 2017)
família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. § 7o Os detentores da guarda possuem o prazo de 15 (quinze)
28 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) dias para propor a ação de adoção, contado do dia seguinte à data
§ 2o A permanência da criança e do adolescente em progra- do término do estágio de convivência. (Incluído pela Lei nº 13.509,
ma de acolhimento institucional não se prolongará por mais de 18 de 2017)
(dezoito meses), salvo comprovada necessidade que atenda ao seu § 8o Na hipótese de desistência pelos genitores - manifestada
superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade ju- em audiência ou perante a equipe interprofissional - da entrega da
diciária. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) criança após o nascimento, a criança será mantida com os genito-
§ 3o A manutenção ou a reintegração de criança ou adolescen- res, e será determinado pela Justiça da Infância e da Juventude o
te à sua família terá preferência em relação a qualquer outra pro- acompanhamento familiar pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias.
vidência, caso em que será esta incluída em serviços e programas (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
de proteção, apoio e promoção, nos termos do § 1o do art. 23, dos § 9o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nascimen-
incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do caput do art. to, respeitado o disposto no art. 48 desta Lei. (Incluído pela Lei nº
129 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) 13.509, de 2017)
§ 4o Será garantida a convivência da criança e do adolescente § 10. Serão cadastrados para adoção recém-nascidos e crian-
com a mãe ou o pai privado de liberdade, por meio de visitas perió- ças acolhidas não procuradas por suas famílias no prazo de 30 (trin-
dicas promovidas pelo responsável ou, nas hipóteses de acolhimen- ta) dias, contado a partir do dia do acolhimento. (Incluído pela Lei
to institucional, pela entidade responsável, independentemente de nº 13.509, de 2017)
autorização judicial. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014) Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de acolhi-
§ 5o Será garantida a convivência integral da criança com a mento institucional ou familiar poderão participar de programa de
mãe adolescente que estiver em acolhimento institucional. (Incluí- apadrinhamento. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
do pela Lei nº 13.509, de 2017) § 1o O apadrinhamento consiste em estabelecer e proporcio-
§ 6o A mãe adolescente será assistida por equipe especializada nar à criança e ao adolescente vínculos externos à instituição para
multidisciplinar. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) fins de convivência familiar e comunitária e colaboração com o seu
Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse em en- desenvolvimento nos aspectos social, moral, físico, cognitivo, edu-
tregar seu filho para adoção, antes ou logo após o nascimento, será cacional e financeiro. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude. (Incluído pela Lei § 2º Podem ser padrinhos ou madrinhas pessoas maiores de
nº 13.509, de 2017) 18 (dezoito) anos não inscritas nos cadastros de adoção, desde que
§ 1o A gestante ou mãe será ouvida pela equipe interprofissio- cumpram os requisitos exigidos pelo programa de apadrinhamento
nal da Justiça da Infância e da Juventude, que apresentará relatório de que fazem parte. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
à autoridade judiciária, considerando inclusive os eventuais efeitos § 3o Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou adolescen-
do estado gestacional e puerperal. (Incluído pela Lei nº 13.509, de te a fim de colaborar para o seu desenvolvimento. (Incluído pela Lei
2017) nº 13.509, de 2017)
§ 2o De posse do relatório, a autoridade judiciária poderá de- § 4o O perfil da criança ou do adolescente a ser apadrinha-
terminar o encaminhamento da gestante ou mãe, mediante sua do será definido no âmbito de cada programa de apadrinhamento,
expressa concordância, à rede pública de saúde e assistência so- com prioridade para crianças ou adolescentes com remota possibi-
cial para atendimento especializado. (Incluído pela Lei nº 13.509, lidade de reinserção familiar ou colocação em família adotiva. (In-
de 2017) cluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 3o A busca à família extensa, conforme definida nos termos § 5o Os programas ou serviços de apadrinhamento apoiados
do parágrafo único do art. 25 desta Lei, respeitará o prazo máximo pela Justiça da Infância e da Juventude poderão ser executados por
de 90 (noventa) dias, prorrogável por igual período. (Incluído pela órgãos públicos ou por organizações da sociedade civil. (Incluído
Lei nº 13.509, de 2017) pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 4o Na hipótese de não haver a indicação do genitor e de não § 6o Se ocorrer violação das regras de apadrinhamento, os res-
existir outro representante da família extensa apto a receber a ponsáveis pelo programa e pelos serviços de acolhimento deverão
guarda, a autoridade judiciária competente deverá decretar a ex- imediatamente notificar a autoridade judiciária competente. (Inclu-
tinção do poder familiar e determinar a colocação da criança sob a ído pela Lei nº 13.509, de 2017)
guarda provisória de quem estiver habilitado a adotá-la ou de enti- Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento,
dade que desenvolva programa de acolhimento familiar ou institu- ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas
cional. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
§ 5o Após o nascimento da criança, a vontade da mãe ou de Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de con-
ambos os genitores, se houver pai registral ou pai indicado, deve dições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação
ser manifestada na audiência a que se refere o § 1o do art. 166 civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discor-
desta Lei, garantido o sigilo sobre a entrega. (Incluído pela Lei nº dância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução
13.509, de 2017) da divergência. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência

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Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e edu- § 1o Sempre que possível, a criança ou o adolescente será
cação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado seu
a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as im-
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direi- plicações da medida, e terá sua opinião devidamente considerada.
tos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados no cuida- (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
do e na educação da criança, devendo ser resguardado o direito § 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será ne-
de transmissão familiar de suas crenças e culturas, assegurados cessário seu consentimento, colhido em audiência. (Redação dada
os direitos da criança estabelecidos nesta Lei. (Incluído pela Lei nº pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
13.257, de 2016) § 3o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de
Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não consti- parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evi-
tui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder fami- tar ou minorar as consequências decorrentes da medida. (Incluído
liar. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 1o Não existindo outro motivo que por si só autorize a de- § 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela
cretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada
sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plena-
em serviços e programas oficiais de proteção, apoio e promoção. mente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos frater-
§ 2º A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará a nais. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
destituição do poder familiar, exceto na hipótese de condenação § 5o A colocação da criança ou adolescente em família subs-
por crime doloso sujeito à pena de reclusão contra outrem igual- tituta será precedida de sua preparação gradativa e acompanha-
mente titular do mesmo poder familiar ou contra filho, filha ou ou- mento posterior, realizados pela equipe interprofissional a serviço
tro descendente. (Redação dada pela Lei nº 13.715, de 2018) da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com o
Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão decre- apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política munici-
tadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos pal de garantia do direito à convivência familiar. (Incluído pela Lei
previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumpri- nº 12.010, de 2009) Vigência
mento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22. § 6o Em se tratando de criança ou adolescente indígena ou
(Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência proveniente de comunidade remanescente de quilombo, é ainda
obrigatório: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
SEÇÃO II I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social
DA FAMÍLIA NATURAL e cultural, os seus costumes e tradições, bem como suas institui-
ções, desde que não sejam incompatíveis com os direitos funda-
Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade forma- mentais reconhecidos por esta Lei e pela Constituição Federal; (In-
da pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. (Vide Lei nº cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
12.010, de 2009) Vigência II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio de
Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia; (Incluído
aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão federal
criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e responsável pela política indigenista, no caso de crianças e adoles-
afetividade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência centes indígenas, e de antropólogos, perante a equipe interprofis-
Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reco- sional ou multidisciplinar que irá acompanhar o caso. (Incluído pela
nhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
de nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro docu- Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a pes-
mento público, qualquer que seja a origem da filiação. soa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a natu-
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nasci- reza da medida ou não ofereça ambiente familiar adequado.
mento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar descen- Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá transfe-
dentes. rência da criança ou adolescente a terceiros ou a entidades gover-
Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito per- namentais ou não-governamentais, sem autorização judicial.
sonalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira constitui
contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observa- medida excepcional, somente admissível na modalidade de adoção.
do o segredo de Justiça. Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável presta-
rá compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo, me-
SEÇÃO III diante termo nos autos.
DA FAMÍLIA SUBSTITUTA
SUBSEÇÃO II
SUBSEÇÃO I DA GUARDA
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material,
Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu de-
guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica tentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais. (Vide Lei
da criança ou adolescente, nos termos desta Lei. nº 12.010, de 2009) Vigência

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§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer docu-
ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos procedimentos de tu- mento autêntico, conforme previsto no parágrafo único do art.
tela e adoção, exceto no de adoção por estrangeiros. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil,
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a abertura da sucessão,
de tutela e adoção, para atender a situações peculiares ou suprir ingressar com pedido destinado ao controle judicial do ato, obser-
a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o vando o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei. (Re-
direito de representação para a prática de atos determinados. dação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão observados
dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previ- os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei, somente sendo
denciários. deferida a tutela à pessoa indicada na disposição de última vonta-
§ 4o Salvo expressa e fundamentada determinação em con- de, se restar comprovado que a medida é vantajosa ao tutelando e
trário, da autoridade judiciária competente, ou quando a medida que não existe outra pessoa em melhores condições de assumi-la.
for aplicada em preparação para adoção, o deferimento da guarda (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
de criança ou adolescente a terceiros não impede o exercício do Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no art. 24.
direito de visitas pelos pais, assim como o dever de prestar alimen-
tos, que serão objeto de regulamentação específica, a pedido do SUBSEÇÃO IV
interessado ou do Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 12.010, DA ADOÇÃO
de 2009) Vigência
Art. 34. O poder público estimulará, por meio de assistência Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á se-
jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, sob a forma gundo o disposto nesta Lei.
de guarda, de criança ou adolescente afastado do convívio familiar. § 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se
(Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de manuten-
§ 1o A inclusão da criança ou adolescente em programas de ção da criança ou adolescente na família natural ou extensa, na
acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento institucio- forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei. (Incluído pela Lei nº
nal, observado, em qualquer caso, o caráter temporário e excepcio- 12.010, de 2009)Vigência
nal da medida, nos termos desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, § 2o É vedada a adoção por procuração. (Incluído pela Lei nº
de 2009) Vigência 12.010, de 2009) Vigência
§ 2o Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal cadas- § 3o Em caso de conflito entre direitos e interesses do ado-
trado no programa de acolhimento familiar poderá receber a crian- tando e de outras pessoas, inclusive seus pais biológicos, devem
ça ou adolescente mediante guarda, observado o disposto nos arts. prevalecer os direitos e os interesses do adotando. (Incluído pela
28 a 33 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Lei nº 13.509, de 2017)
§ 3o A União apoiará a implementação de serviços de acolhi- Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos
mento em família acolhedora como política pública, os quais de- à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos
verão dispor de equipe que organize o acolhimento temporário de adotantes.
crianças e de adolescentes em residências de famílias selecionadas, Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com
capacitadas e acompanhadas que não estejam no cadastro de ado- os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o
ção. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos
§ 4o Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais, distri- matrimoniais.
tais e municipais para a manutenção dos serviços de acolhimento § 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro,
em família acolhedora, facultando-se o repasse de recursos para a mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge ou
própria família acolhedora. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) concubino do adotante e os respectivos parentes.
Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, me- § 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus des-
diante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério Público. cendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e colate-
rais até o 4º grau, observada a ordem de vocação hereditária.
SUBSEÇÃO III Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, inde-
DA TUTELA pendentemente do estado civil. (Redação dada pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência
Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa § 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do ado-
de até 18 (dezoito) anos incompletos. (Redação dada pela Lei nº tando.
12.010, de 2009) Vigência § 2o Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a prévia sejam casados civilmente ou mantenham união estável, comprova-
decretação da perda ou suspensão do poder familiar e implica ne- da a estabilidade da família. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de
cessariamente o dever de guarda. (Expressão substituída pela Lei 2009) Vigência
nº 12.010, de 2009) Vigência § 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais
velho do que o adotando.

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§ 4o Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-com- cução da política de garantia do direito à convivência familiar, que
panheiros podem adotar conjuntamente, contanto que acordem apresentarão relatório minucioso acerca da conveniência do defe-
sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de con- rimento da medida. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
vivência tenha sido iniciado na constância do período de convivên- § 5o O estágio de convivência será cumprido no território na-
cia e que seja comprovada a existência de vínculos de afinidade e cional, preferencialmente na comarca de residência da criança ou
afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade limítrofe, respeitada,
excepcionalidade da concessão. (Redação dada pela Lei nº 12.010, em qualquer hipótese, a competência do juízo da comarca de resi-
de 2009) Vigência dência da criança. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 5o Nos casos do § 4o deste artigo, desde que demonstrado Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial,
efetivo benefício ao adotando, será assegurada a guarda compar- que será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se
tilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei no 10.406, de 10 de fornecerá certidão.
janeiro de 2002 - Código Civil. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de § 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais,
2009) Vigência bem como o nome de seus ascendentes.
§ 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após ine- § 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o regis-
quívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do pro- tro original do adotado.
cedimento, antes de prolatada a sentença.(Incluído pela Lei nº § 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser lavrado
12.010, de 2009) Vigência no Cartório do Registro Civil do Município de sua residência. (Reda-
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vanta- ção dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
gens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos. § 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá cons-
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e saldar tar nas certidões do registro. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de
o seu alcance, não pode o tutor ou o curador adotar o pupilo ou o 2009) Vigência
curatelado. § 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e,
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificação do
representante legal do adotando. prenome. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 1º. O consentimento será dispensado em relação à criança ou § 6o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo ado-
adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido desti- tante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o disposto nos
tuídos do poder familiar. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência de 2009) Vigência
§ 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos de idade, § 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em julga-
será também necessário o seu consentimento. do da sentença constitutiva, exceto na hipótese prevista no § 6o do
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa à data do óbito.
com a criança ou adolescente, pelo prazo máximo de 90 (noventa) (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
dias, observadas a idade da criança ou adolescente e as peculiarida- § 8o O processo relativo à adoção assim como outros a ele rela-
des do caso. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) cionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se seu armazena-
§ 1o O estágio de convivência poderá ser dispensado se o ado- mento em microfilme ou por outros meios, garantida a sua conser-
tando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante vação para consulta a qualquer tempo. (Incluído pela Lei nº 12.010,
tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da de 2009) Vigência
constituição do vínculo. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) § 9º Terão prioridade de tramitação os processos de adoção
Vigência em que o adotando for criança ou adolescente com deficiência ou
§ 2o A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa com doença crônica. (Incluído pela Lei nº 12.955, de 2014)
da realização do estágio de convivência. (Redação dada pela Lei nº § 10. O prazo máximo para conclusão da ação de adoção será
12.010, de 2009) Vigência de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única vez por igual
§ 2o-A. O prazo máximo estabelecido no caput deste artigo período, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária.
pode ser prorrogado por até igual período, mediante decisão fun- (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
damentada da autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509, Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem bioló-
de 2017) gica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual a
§ 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou domi- medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18
ciliado fora do País, o estágio de convivência será de, no mínimo, 30 (dezoito) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
(trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta e cinco) dias, prorrogável Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá ser
por até igual período, uma única vez, mediante decisão fundamen- também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos, a seu
tada da autoridade judiciária. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica.
2017) (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 3o-A. Ao final do prazo previsto no § 3o deste artigo, deverá Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder fami-
ser apresentado laudo fundamentado pela equipe mencionada no liar dos pais naturais. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de
§ 4o deste artigo, que recomendará ou não o deferimento da ado- 2009) Vigência
ção à autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou
§ 4o O estágio de convivência será acompanhado pela equi- foro regional, um registro de crianças e adolescentes em condições
pe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, de serem adotados e outro de pessoas interessadas na adoção.
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela exe- (Vide Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

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§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia consulta I - se tratar de pedido de adoção unilateral; (Incluído pela Lei nº
aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Ministério Público. 12.010, de 2009) Vigência
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não satis- II - for formulada por parente com o qual a criança ou adoles-
fizer os requisitos legais, ou verificada qualquer das hipóteses pre- cente mantenha vínculos de afinidade e afetividade; (Incluído pela
vistas no art. 29. Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 3o A inscrição de postulantes à adoção será precedida de um III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal
período de preparação psicossocial e jurídica, orientado pela equi- de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o lapso
pe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente de tempo de convivência comprove a fixação de laços de afinidade
com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política mu- e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-fé ou qual-
nicipal de garantia do direito à convivência familiar. (Incluído pela quer das situações previstas nos arts. 237 ou 238 desta Lei. (Incluí-
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência do pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 4o Sempre que possível e recomendável, a preparação re- § 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o candidato
ferida no § 3o deste artigo incluirá o contato com crianças e ado- deverá comprovar, no curso do procedimento, que preenche os re-
lescentes em acolhimento familiar ou institucional em condições quisitos necessários à adoção, conforme previsto nesta Lei. (Incluí-
de serem adotados, a ser realizado sob a orientação, supervisão e do pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, § 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pessoas inte-
com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de acolhimen- ressadas em adotar criança ou adolescente com deficiência, com
to e pela execução da política municipal de garantia do direito à doença crônica ou com necessidades específicas de saúde, além de
convivência familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência grupo de irmãos. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 5o Serão criados e implementados cadastros estaduais e na- Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual o
cional de crianças e adolescentes em condições de serem adotados pretendente possui residência habitual em país-parte da Conven-
e de pessoas ou casais habilitados à adoção. (Incluído pela Lei nº ção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção das Crian-
12.010, de 2009) Vigência ças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, promul-
§ 6o Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais residen- gada pelo Decreto no 3.087, de 21 junho de 1999, e deseja adotar
tes fora do País, que somente serão consultados na inexistência de criança em outro país-parte da Convenção. (Redação dada pela Lei
postulantes nacionais habilitados nos cadastros mencionados no § nº 13.509, de 2017)
5o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 1o A adoção internacional de criança ou adolescente bra-
§ 7o As autoridades estaduais e federais em matéria de ado- sileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quando restar
ção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-lhes a troca comprovado: (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
de informações e a cooperação mútua, para melhoria do sistema. I - que a colocação em família adotiva é a solução adequada ao
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência caso concreto; (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 8o A autoridade judiciária providenciará, no prazo de 48 II - que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação
(quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e adolescentes em da criança ou adolescente em família adotiva brasileira, com a com-
condições de serem adotados que não tiveram colocação familiar provação, certificada nos autos, da inexistência de adotantes habi-
na comarca de origem, e das pessoas ou casais que tiveram deferi- litados residentes no Brasil com perfil compatível com a criança ou
da sua habilitação à adoção nos cadastros estadual e nacional refe- adolescente, após consulta aos cadastros mencionados nesta Lei;
ridos no § 5o deste artigo, sob pena de responsabilidade. (Incluído (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi
§ 9o Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela manu- consultado, por meios adequados ao seu estágio de desenvolvi-
tenção e correta alimentação dos cadastros, com posterior comu- mento, e que se encontra preparado para a medida, mediante pa-
nicação à Autoridade Central Federal Brasileira. (Incluído pela Lei nº recer elaborado por equipe interprofissional, observado o disposto
12.010, de 2009) Vigência nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
§ 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência de pre- 2009) Vigência
tendentes habilitados residentes no País com perfil compatível e § 2o Os brasileiros residentes no exterior terão preferência
interesse manifesto pela adoção de criança ou adolescente inscri- aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de criança ou
to nos cadastros existentes, será realizado o encaminhamento da adolescente brasileiro. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
criança ou adolescente à adoção internacional. (Redação dada pela Vigência
Lei nº 13.509, de 2017) § 3o A adoção internacional pressupõe a intervenção das Auto-
§ 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado em ridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de adoção interna-
sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre que possível e re- cional. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
comendável, será colocado sob guarda de família cadastrada em Art. 52. A adoção internacional observará o procedimento pre-
programa de acolhimento familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de visto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguintes adaptações:
2009) Vigência (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 12. A alimentação do cadastro e a convocação criteriosa dos I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar criança
postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo Ministério Público. (In- ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de habilitação à
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção inter-
§ 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor de candi- nacional no país de acolhida, assim entendido aquele onde está si-
dato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente nos termos tuada sua residência habitual; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
desta Lei quando: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Vigência

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II - se a Autoridade Central do país de acolhida considerar que III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua formação
os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, emitirá um re- e experiência para atuar na área de adoção internacional; (Incluído
latório que contenha informações sobre a identidade, a capacidade pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
jurídica e adequação dos solicitantes para adotar, sua situação pes- IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento jurídi-
soal, familiar e médica, seu meio social, os motivos que os animam co brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autoridade Central
e sua aptidão para assumir uma adoção internacional; (Incluído Federal Brasileira. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 4o Os organismos credenciados deverão ainda: (Incluído pela
III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o relatório Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
à Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e
Federal Brasileira; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do país
IV - o relatório será instruído com toda a documentação ne- onde estiverem sediados, do país de acolhida e pela Autoridade
cessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por equipe inter- Central Federal Brasileira; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
profissional habilitada e cópia autenticada da legislação pertinente, Vigência
acompanhada da respectiva prova de vigência; (Incluído pela Lei nº II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas e de
12.010, de 2009) Vigência reconhecida idoneidade moral, com comprovada formação ou ex-
V - os documentos em língua estrangeira serão devidamente periência para atuar na área de adoção internacional, cadastradas
autenticados pela autoridade consular, observados os tratados e pelo Departamento de Polícia Federal e aprovadas pela Autorida-
convenções internacionais, e acompanhados da respectiva tradu- de Central Federal Brasileira, mediante publicação de portaria do
ção, por tradutor público juramentado; (Incluído pela Lei nº 12.010, órgão federal competente; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009)
de 2009) Vigência Vigência
VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigências e III - estar submetidos à supervisão das autoridades competen-
solicitar complementação sobre o estudo psicossocial do postulan- tes do país onde estiverem sediados e no país de acolhida, inclusive
te estrangeiro à adoção, já realizado no país de acolhida; (Incluído quanto à sua composição, funcionamento e situação financeira; (In-
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade Central IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a cada
Estadual, a compatibilidade da legislação estrangeira com a nacio- ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem como relató-
nal, além do preenchimento por parte dos postulantes à medida rio de acompanhamento das adoções internacionais efetuadas no
dos requisitos objetivos e subjetivos necessários ao seu deferimen- período, cuja cópia será encaminhada ao Departamento de Polícia
to, tanto à luz do que dispõe esta Lei como da legislação do país de Federal; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
acolhida, será expedido laudo de habilitação à adoção internacio- V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autoridade
nal, que terá validade por, no máximo, 1 (um) ano; (Incluído pela Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal Bra-
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência sileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O envio do relatório
VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado será auto- será mantido até a juntada de cópia autenticada do registro civil,
rizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da Infância e estabelecendo a cidadania do país de acolhida para o adotado; (In-
da Juventude do local em que se encontra a criança ou adolescente, cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
conforme indicação efetuada pela Autoridade Central Estadual. (In- VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os adotan-
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência tes encaminhem à Autoridade Central Federal Brasileira cópia da
§ 1o Se a legislação do país de acolhida assim o autorizar, ad- certidão de registro de nascimento estrangeira e do certificado de
mite-se que os pedidos de habilitação à adoção internacional sejam nacionalidade tão logo lhes sejam concedidos. (Incluído pela Lei nº
intermediados por organismos credenciados. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
12.010, de 2009) Vigência § 5o A não apresentação dos relatórios referidos no § 4o deste
§ 2o Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira o creden- artigo pelo organismo credenciado poderá acarretar a suspensão
ciamento de organismos nacionais e estrangeiros encarregados de de seu credenciamento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi-
intermediar pedidos de habilitação à adoção internacional, com gência
posterior comunicação às Autoridades Centrais Estaduais e publica- § 6o O credenciamento de organismo nacional ou estrangeiro
ção nos órgãos oficiais de imprensa e em sítio próprio da internet. encarregado de intermediar pedidos de adoção internacional terá
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência validade de 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi-
§ 3o Somente será admissível o credenciamento de organis- gência
mos que: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 7o A renovação do credenciamento poderá ser concedida
I - sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção de mediante requerimento protocolado na Autoridade Central Fede-
Haia e estejam devidamente credenciados pela Autoridade Central ral Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores ao término do res-
do país onde estiverem sediados e no país de acolhida do adotando pectivo prazo de validade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
para atuar em adoção internacional no Brasil; (Incluído pela Lei nº Vigência
12.010, de 2009) Vigência § 8o Antes de transitada em julgado a decisão que concedeu a
II - satisfizerem as condições de integridade moral, competên- adoção internacional, não será permitida a saída do adotando do
cia profissional, experiência e responsabilidade exigidas pelos paí- território nacional. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
ses respectivos e pela Autoridade Central Federal Brasileira; (Inclu- § 9o Transitada em julgado a decisão, a autoridade judiciária
ído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência determinará a expedição de alvará com autorização de viagem,
bem como para obtenção de passaporte, constando, obrigatoria-
mente, as características da criança ou adolescente adotado, como

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idade, cor, sexo, eventuais sinais ou traços peculiares, assim como adotivos, que comunicará o fato à Autoridade Central Federal e de-
foto recente e a aposição da impressão digital do seu polegar di- terminará as providências necessárias à expedição do Certificado
reito, instruindo o documento com cópia autenticada da decisão de Naturalização Provisório. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
e certidão de trânsito em julgado. (Incluído pela Lei nº 12.010, de Vigência
2009) Vigência § 1o A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério Pú-
§ 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a qual- blico, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela decisão
quer momento, solicitar informações sobre a situação das crianças se restar demonstrado que a adoção é manifestamente contrária
e adolescentes adotados. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi- à ordem pública ou não atende ao interesse superior da criança
gência ou do adolescente. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 11. A cobrança de valores por parte dos organismos creden- § 2o Na hipótese de não reconhecimento da adoção, prevista
ciados, que sejam considerados abusivos pela Autoridade Central no § 1o deste artigo, o Ministério Público deverá imediatamente re-
Federal Brasileira e que não estejam devidamente comprovados, é querer o que for de direito para resguardar os interesses da criança
causa de seu descredenciamento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de ou do adolescente, comunicando-se as providências à Autoridade
2009) Vigência Central Estadual, que fará a comunicação à Autoridade Central Fe-
§ 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem ser re- deral Brasileira e à Autoridade Central do país de origem. (Incluído
presentados por mais de uma entidade credenciada para atuar na pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
cooperação em adoção internacional. (Incluído pela Lei nº 12.010, Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o
de 2009) Vigência país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no país de ori-
§ 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou domiciliado gem porque a sua legislação a delega ao país de acolhida, ou, ainda,
fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano, podendo ser na hipótese de, mesmo com decisão, a criança ou o adolescente
renovada. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência ser oriundo de país que não tenha aderido à Convenção referida, o
§ 14. É vedado o contato direto de representantes de organis- processo de adoção seguirá as regras da adoção nacional. (Incluído
mos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com dirigentes de pro- pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
gramas de acolhimento institucional ou familiar, assim como com
crianças e adolescentes em condições de serem adotados, sem a CAPÍTULO IV
devida autorização judicial. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA,
Vigência AO ESPORTE E AO LAZER
§ 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá limitar ou
suspender a concessão de novos credenciamentos sempre que jul- Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, vi-
gar necessário, mediante ato administrativo fundamentado. (Inclu- sando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o
ído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, asseguran-
Art. 52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e descre- do-se-lhes:
denciamento, o repasse de recursos provenientes de organismos I - igualdade de condições para o acesso e permanência na es-
estrangeiros encarregados de intermediar pedidos de adoção inter- cola;
nacional a organismos nacionais ou a pessoas físicas. (Incluído pela II - direito de ser respeitado por seus educadores;
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer
Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão ser efe- às instâncias escolares superiores;
tuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente e esta-
IV - direito de organização e participação em entidades estu-
rão sujeitos às deliberações do respectivo Conselho de Direitos da
dantis;
Criança e do Adolescente. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
V - acesso à escola pública e gratuita, próxima de sua residên-
Vigência
cia, garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que
Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no exterior em país
frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica.
ratificante da Convenção de Haia, cujo processo de adoção tenha
(Redação dada pela Lei nº 13.845, de 2019)
sido processado em conformidade com a legislação vigente no país
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência
de residência e atendido o disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da
do processo pedagógico, bem como participar da definição das pro-
referida Convenção, será automaticamente recepcionada com o
reingresso no Brasil. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência postas educacionais.
§ 1o Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea “c” do Art. 53-A.É dever da instituição de ensino, clubes e agremia-
Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença ser homologa- ções recreativas e de estabelecimentos congêneres assegurar me-
da pelo Superior Tribunal de Justiça. (Incluído pela Lei nº 12.010, de didas de conscientização, prevenção e enfrentamento ao uso ou
2009) Vigência dependência de drogas ilícitas.(Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
§ 2o O pretendente brasileiro residente no exterior em país Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:
não ratificante da Convenção de Haia, uma vez reingressado no I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os
Brasil, deverá requerer a homologação da sentença estrangeira que a ele não tiveram acesso na idade própria;
pelo Superior Tribunal de Justiça. (Incluído pela Lei nº 12.010, de II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao
2009) Vigência ensino médio;
Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país III - atendimento educacional especializado aos portadores de
de acolhida, a decisão da autoridade competente do país de origem deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
da criança ou do adolescente será conhecida pela Autoridade Cen- IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero
tral Estadual que tiver processado o pedido de habilitação dos pais a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)

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V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é assegurado
criação artística, segundo a capacidade de cada um; trabalho protegido.
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime fa-
do adolescente trabalhador; miliar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade
VII - atendimento no ensino fundamental, através de progra- governamental ou não-governamental, é vedado trabalho:
mas suplementares de material didático-escolar, transporte, ali- I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as
mentação e assistência à saúde. cinco horas do dia seguinte;
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público II - perigoso, insalubre ou penoso;
subjetivo. III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder pú- desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;
blico ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autorida- IV - realizado em horários e locais que não permitam a frequ-
de competente. ência à escola.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no en- Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho edu-
sino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou cativo, sob responsabilidade de entidade governamental ou não-
responsável, pela frequência à escola. -governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar ao adoles-
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular cente que dele participe condições de capacitação para o exercício
seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino. de atividade regular remunerada.
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino funda- § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral em
mental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: que as exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento pes-
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; soal e social do educando prevalecem sobre o aspecto produtivo.
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgo- § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho
tados os recursos escolares; efetuado ou a participação na venda dos produtos de seu trabalho
III - elevados níveis de repetência. não desfigura o caráter educativo.
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências e Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à pro-
novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo, meto- teção no trabalho, observados os seguintes aspectos, entre outros:
dologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças e I - respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;
adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório. II - capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores
culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da crian- TÍTULO III
ça e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e DA PREVENÇÃO
o acesso às fontes de cultura.
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, esti- CAPÍTULO I
mularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para pro- DISPOSIÇÕES GERAIS
gramações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância
e a juventude. Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou
violação dos direitos da criança e do adolescente.
CAPÍTULO V Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
DO DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO pios deverão atuar de forma articulada na elaboração de políticas
E À PROTEÇÃO NO TRABALHO públicas e na execução de ações destinadas a coibir o uso de castigo
físico ou de tratamento cruel ou degradante e difundir formas não
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze violentas de educação de crianças e de adolescentes, tendo como
anos de idade, salvo na condição de aprendiz. (Vide Constituição principais ações: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
Federal) I - a promoção de campanhas educativas permanentes para a
Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada divulgação do direito da criança e do adolescente de serem educa-
por legislação especial, sem prejuízo do disposto nesta Lei. dos e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel
Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-pro- ou degradante e dos instrumentos de proteção aos direitos huma-
fissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação de nos; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
educação em vigor. II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do Minis-
Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos seguin- tério Público e da Defensoria Pública, com o Conselho Tutelar, com
tes princípios: os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e com as en-
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regu- tidades não governamentais que atuam na promoção, proteção e
lar; defesa dos direitos da criança e do adolescente; (Incluído pela Lei
II - atividade compatível com o desenvolvimento do adolescen- nº 13.010, de 2014)
te; III - a formação continuada e a capacitação dos profissionais
III - horário especial para o exercício das atividades. de saúde, educação e assistência social e dos demais agentes que
Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é assegura- atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do
da bolsa de aprendizagem. adolescente para o desenvolvimento das competências necessárias
Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, são à prevenção, à identificação de evidências, ao diagnóstico e ao en-
assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários. frentamento de todas as formas de violência contra a criança e o
adolescente; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pacífica de Parágrafo único. As crianças menores de dez anos somente po-
conflitos que envolvam violência contra a criança e o adolescente; derão ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou exibi-
(Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) ção quando acompanhadas dos pais ou responsável.
V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem a Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão,
garantir os direitos da criança e do adolescente, desde a atenção no horário recomendado para o público infanto juvenil, programas
pré-natal, e de atividades junto aos pais e responsáveis com o obje- com finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas.
tivo de promover a informação, a reflexão, o debate e a orientação Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou
sobre alternativas ao uso de castigo físico ou de tratamento cruel anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua transmissão,
ou degradante no processo educativo; (Incluído pela Lei nº 13.010, apresentação ou exibição.
de 2014) Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários de
VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para a articula- empresas que explorem a venda ou aluguel de fitas de programa-
ção de ações e a elaboração de planos de atuação conjunta focados ção em vídeo cuidarão para que não haja venda ou locação em de-
nas famílias em situação de violência, com participação de profis- sacordo com a classificação atribuída pelo órgão competente.
sionais de saúde, de assistência social e de educação e de órgãos de Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão exibir,
promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adoles- no invólucro, informação sobre a natureza da obra e a faixa etária
cente. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) a que se destinam.
Parágrafo único. As famílias com crianças e adolescentes com Art. 78. As revistas e publicações contendo material impróprio
deficiência terão prioridade de atendimento nas ações e políticas ou inadequado a crianças e adolescentes deverão ser comercializa-
públicas de prevenção e proteção. (Incluído pela Lei nº 13.010, de das em embalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo.
2014) Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas que
Art. 70-B. As entidades, públicas e privadas, que atuem nas contenham mensagens pornográficas ou obscenas sejam protegi-
áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem contar, em das com embalagem opaca.
seus quadros, com pessoas capacitadas a reconhecer e comunicar Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público infan-
ao Conselho Tutelar suspeitas ou casos de maus-tratos praticados to-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, legendas,
contra crianças e adolescentes. (Incluído pela Lei nº 13.046, de crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e mu-
2014) nições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e
Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela comunica- da família.
ção de que trata este artigo, as pessoas encarregadas, por razão de Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que explorem
cargo, função, ofício, ministério, profissão ou ocupação, do cuida- comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por casas de jogos,
do, assistência ou guarda de crianças e adolescentes, punível, na assim entendidas as que realizem apostas, ainda que eventualmen-
forma deste Estatuto, o injustificado retardamento ou omissão, cul- te, cuidarão para que não seja permitida a entrada e a permanência
posos ou dolosos. (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014) de crianças e adolescentes no local, afixando aviso para orientação
Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a informação, do público.
cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e servi-
ços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvol- SEÇÃO II
vimento. DOS PRODUTOS E SERVIÇOS
Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem da pre-
venção especial outras decorrentes dos princípios por ela adotados. Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de:
Art. 73. A inobservância das normas de prevenção importará I - armas, munições e explosivos;
em responsabilidade da pessoa física ou jurídica, nos termos desta II - bebidas alcoólicas;
Lei. III - produtos cujos componentes possam causar dependência
CAPÍTULO II física ou psíquica ainda que por utilização indevida;
DA PREVENÇÃO ESPECIAL IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo
seu reduzido potencial sejam incapazes de provocar qualquer dano
SEÇÃO I físico em caso de utilização indevida;
DA INFORMAÇÃO, CULTURA, LAZER, ESPORTES, DIVERSÕES E V - revistas e publicações a que alude o art. 78;
ESPETÁCULOS VI - bilhetes lotéricos e equivalentes.
Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou adolescente
Art. 74. O poder público, através do órgão competente, regu- em hotel, motel, pensão ou estabelecimento congênere, salvo se
lará as diversões e espetáculos públicos, informando sobre a na- autorizado ou acompanhado pelos pais ou responsável.
tureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e
horários em que sua apresentação se mostre inadequada. SEÇÃO III
Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e espetáculos DA AUTORIZAÇÃO PARA VIAJAR
públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada
do local de exibição, informação destacada sobre a natureza do es- Art. 83. Nenhuma criança ou adolescente menor de 16 (dezes-
petáculo e a faixa etária especificada no certificado de classificação. seis) anos poderá viajar para fora da comarca onde reside desa-
Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às diversões companhado dos pais ou dos responsáveis sem expressa autoriza-
e espetáculos públicos classificados como adequados à sua faixa ção judicial. (Redação dada pela Lei nº 13.812, de 2019)
etária. § 1º A autorização não será exigida quando:

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a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança ou II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos
do adolescente menor de 16 (dezesseis) anos, se na mesma uni- direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e contro-
dade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana; ladores das ações em todos os níveis, assegurada a participação po-
(Redação dada pela Lei nº 13.812, de 2019) pular paritária por meio de organizações representativas, segundo
b) a criança ou o adolescente menor de 16 (dezesseis) anos leis federal, estaduais e municipais;
estiver acompanhado: (Redação dada pela Lei nº 13.812, de 2019) III - criação e manutenção de programas específicos, observada
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, com- a descentralização político-administrativa;
provado documentalmente o parentesco; IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da criança e do
ou responsável. adolescente;
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou res- V - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério
ponsável, conceder autorização válida por dois anos. Público, Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social, pre-
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização ferencialmente em um mesmo local, para efeito de agilização do
é dispensável, se a criança ou adolescente: atendimento inicial a adolescente a quem se atribua autoria de ato
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável; infracional;
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressa- VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério
mente pelo outro através de documento com firma reconhecida. Público, Defensoria, Conselho Tutelar e encarregados da execução
Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma das políticas sociais básicas e de assistência social, para efeito de
criança ou adolescente nascido em território nacional poderá sair agilização do atendimento de crianças e de adolescentes inseridos
do País em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no em programas de acolhimento familiar ou institucional, com vista
exterior. na sua rápida reintegração à família de origem ou, se tal solução
se mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em família
PARTE ESPECIAL substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 des-
ta Lei; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
TÍTULO I VII - mobilização da opinião pública para a indispensável parti-
DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO cipação dos diversos segmentos da sociedade. (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009)Vigência
CAPÍTULO I VIII - especialização e formação continuada dos profissionais
DISPOSIÇÕES GERAIS que trabalham nas diferentes áreas da atenção à primeira infância,
incluindo os conhecimentos sobre direitos da criança e sobre de-
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do senvolvimento infantil;(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações IX - formação profissional com abrangência dos diversos direi-
governamentais e não-governamentais, da União, dos estados, do tos da criança e do adolescente que favoreça a intersetorialidade
Distrito Federal e dos municípios. no atendimento da criança e do adolescente e seu desenvolvimen-
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento: (Vide Lei to integral;(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
nº 12.010, de 2009) Vigência X - realização e divulgação de pesquisas sobre desenvolvi-
I - políticas sociais básicas; mento infantil e sobre prevenção da violência.(Incluído pela Lei nº
II - serviços, programas, projetos e benefícios de assistência 13.257, de 2016)
social de garantia de proteção social e de prevenção e redução de Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dos con-
violações de direitos, seus agravamentos ou reincidências; (Reda- selhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do adoles-
ção dada pela Lei nº 13.257, de 2016) cente é considerada de interesse público relevante e não será re-
III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico munerada.
e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração,
abuso, crueldade e opressão; CAPÍTULO II
IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável, DAS ENTIDADES DE ATENDIMENTO
crianças e adolescentes desaparecidos; SEÇÃO I
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direi- DISPOSIÇÕES GERAIS
tos da criança e do adolescente.
VI - políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela
período de afastamento do convívio familiar e a garantir o efetivo manutenção das próprias unidades, assim como pelo planejamento
exercício do direito à convivência familiar de crianças e adolescen- e execução de programas de proteção e sócio-educativos destina-
tes; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência dos a crianças e adolescentes, em regime de:
VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de I - orientação e apoio sócio-familiar;
guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar e II - apoio sócio-educativo em meio aberto;
à adoção, especificamente inter-racial, de crianças maiores ou de III - colocação familiar;
adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com de- IV - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº
ficiências e de grupos de irmãos. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 12.010, de 2009) Vigência
2009) Vigência V - prestação de serviços à comunidade; (Redação dada pela
Art. 88. São diretrizes da política de atendimento: Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
I - municipalização do atendimento;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

VI - liberdade assistida; (Redação dada pela Lei nº 12.594, de Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de acolhi-
2012) (Vide) mento familiar ou institucional deverão adotar os seguintes princí-
VII - semiliberdade; e (Redação dada pela Lei nº 12.594, de pios: (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
2012) (Vide) I - preservação dos vínculos familiares e promoção da reinte-
VIII - internação. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) gração familiar;(Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
§ 1o As entidades governamentais e não governamentais de- II - integração em família substituta, quando esgotados os
verão proceder à inscrição de seus programas, especificando os re- recursos de manutenção na família natural ou extensa; (Redação
gimes de atendimento, na forma definida neste artigo, no Conselho dada pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual manterá III - atendimento personalizado e em pequenos grupos;
registro das inscrições e de suas alterações, do que fará comunica- IV - desenvolvimento de atividades em regime de co-educação;
ção ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária. (Incluído pela Lei V - não desmembramento de grupos de irmãos;
nº 12.010, de 2009) Vigência VI - evitar, sempre que possível, a transferência para outras
§ 2o Os recursos destinados à implementação e manutenção entidades de crianças e adolescentes abrigados;
dos programas relacionados neste artigo serão previstos nas dota- VII - participação na vida da comunidade local;
ções orçamentárias dos órgãos públicos encarregados das áreas de VIII - preparação gradativa para o desligamento;
Educação, Saúde e Assistência Social, dentre outros, observando-se IX - participação de pessoas da comunidade no processo edu-
o princípio da prioridade absoluta à criança e ao adolescente preco- cativo.
nizado pelo caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput § 1o O dirigente de entidade que desenvolve programa de
e parágrafo único do art. 4o desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, acolhimento institucional é equiparado ao guardião, para todos os
de 2009) Vigência efeitos de direito. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 3o Os programas em execução serão reavaliados pelo Con- § 2o Os dirigentes de entidades que desenvolvem programas
selho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, no máxi- de acolhimento familiar ou institucional remeterão à autoridade ju-
mo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se critérios para renovação diciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, relatório circunstanciado
da autorização de funcionamento: (Incluído pela Lei nº 12.010, de acerca da situação de cada criança ou adolescente acolhido e sua
2009) Vigência família, para fins da reavaliação prevista no § 1o do art. 19 desta
I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem como Lei.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
às resoluções relativas à modalidade de atendimento prestado ex- § 3o Os entes federados, por intermédio dos Poderes Execu-
pedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, tivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a permanente qua-
em todos os níveis; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência lificação dos profissionais que atuam direta ou indiretamente em
II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido, atesta- programas de acolhimento institucional e destinados à colocação
das pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e pela Justiça familiar de crianças e adolescentes, incluindo membros do Poder
da Infância e da Juventude; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Judiciário, Ministério Público e Conselho Tutelar. (Incluído pela Lei
Vigência nº 12.010, de 2009)Vigência
III - em se tratando de programas de acolhimento institucional § 4o Salvo determinação em contrário da autoridade judiciá-
ou familiar, serão considerados os índices de sucesso na reintegra- ria competente, as entidades que desenvolvem programas de aco-
ção familiar ou de adaptação à família substituta, conforme o caso. lhimento familiar ou institucional, se necessário com o auxílio do
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência Conselho Tutelar e dos órgãos de assistência social, estimularão o
Art. 91. As entidades não-governamentais somente poderão contato da criança ou adolescente com seus pais e parentes, em
funcionar depois de registradas no Conselho Municipal dos Direi- cumprimento ao disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.
tos da Criança e do Adolescente, o qual comunicará o registro ao (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
Conselho Tutelar e à autoridade judiciária da respectiva localidade. § 5o As entidades que desenvolvem programas de acolhimen-
§ 1o Será negado o registro à entidade que: (Incluído pela Lei to familiar ou institucional somente poderão receber recursos pú-
nº 12.010, de 2009) Vigência blicos se comprovado o atendimento dos princípios, exigências e
a) não ofereça instalações físicas em condições adequadas de finalidades desta Lei.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
habitabilidade, higiene, salubridade e segurança; § 6o O descumprimento das disposições desta Lei pelo dirigen-
b) não apresente plano de trabalho compatível com os princí- te de entidade que desenvolva programas de acolhimento familiar
pios desta Lei; ou institucional é causa de sua destituição, sem prejuízo da apura-
c) esteja irregularmente constituída; ção de sua responsabilidade administrativa, civil e criminal. (Incluí-
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas. do pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e delibe- § 7o Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos
rações relativas à modalidade de atendimento prestado expedidas em acolhimento institucional, dar-se-á especial atenção à atuação
pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, em todos de educadores de referência estáveis e qualitativamente significa-
os níveis. (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência tivos, às rotinas específicas e ao atendimento das necessidades bá-
§ 2o O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos, ca- sicas, incluindo as de afeto como prioritárias. (Incluído pela Lei nº
bendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adoles- 13.257, de 2016)
cente, periodicamente, reavaliar o cabimento de sua renovação,
observado o disposto no § 1o deste artigo.(Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009)Vigência

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimen- § 1o Aplicam-se, no que couber, as obrigações constantes des-
to institucional poderão, em caráter excepcional e de urgência, te artigo às entidades que mantêm programas de acolhimento ins-
acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da auto- titucional e familiar. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
ridade competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte Vigência
e quatro) horas ao Juiz da Infância e da Juventude, sob pena de res- § 2º No cumprimento das obrigações a que alude este artigo as
ponsabilidade. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência entidades utilizarão preferencialmente os recursos da comunidade.
Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade judi- Art. 94-A. As entidades, públicas ou privadas, que abriguem ou
ciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com o apoio do recepcionem crianças e adolescentes, ainda que em caráter tempo-
Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias para promo- rário, devem ter, em seus quadros, profissionais capacitados a re-
ver a imediata reintegração familiar da criança ou do adolescente conhecer e reportar ao Conselho Tutelar suspeitas ou ocorrências
ou, se por qualquer razão não for isso possível ou recomendável, de maus-tratos. (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014)
para seu encaminhamento a programa de acolhimento familiar,
institucional ou a família substituta, observado o disposto no § 2o SEÇÃO II
do art. 101 desta Lei.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência DA FISCALIZAÇÃO DAS ENTIDADES
Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de interna-
ção têm as seguintes obrigações, entre outras: Art. 95. As entidades governamentais e não-governamentais
I - observar os direitos e garantias de que são titulares os ado- referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo Judiciário, pelo Ministé-
lescentes; rio Público e pelos Conselhos Tutelares.
II - não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de
restrição na decisão de internação; Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de contas serão
III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas unida- apresentados ao estado ou ao município, conforme a origem das
des e grupos reduzidos; dotações orçamentárias.
IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de atendimento
dignidade ao adolescente; que descumprirem obrigação constante do art. 94, sem prejuízo da
V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da preserva- responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou prepostos:
ção dos vínculos familiares; (Vide Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os ca- I - às entidades governamentais:
sos em que se mostre inviável ou impossível o reatamento dos vín- a) advertência;
culos familiares; b) afastamento provisório de seus dirigentes;
VII - oferecer instalações físicas em condições adequadas de c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os objetos ne- d) fechamento de unidade ou interdição de programa.
cessários à higiene pessoal; II - às entidades não-governamentais:
VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e adequados a) advertência;
à faixa etária dos adolescentes atendidos; b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas;
IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e c) interdição de unidades ou suspensão de programa;
farmacêuticos; d) cassação do registro.
X - propiciar escolarização e profissionalização; § 1o Em caso de reiteradas infrações cometidas por entidades
XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer; de atendimento, que coloquem em risco os direitos assegurados
XII - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de nesta Lei, deverá ser o fato comunicado ao Ministério Público ou
acordo com suas crenças; representado perante autoridade judiciária competente para as
XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso; providências cabíveis, inclusive suspensão das atividades ou dis-
XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máxi- solução da entidade. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
mo de seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade com- Vigência
petente; § 2o As pessoas jurídicas de direito público e as organizações
XV - informar, periodicamente, o adolescente internado sobre não governamentais responderão pelos danos que seus agentes
sua situação processual; causarem às crianças e aos adolescentes, caracterizado o descum-
XVI - comunicar às autoridades competentes todos os casos de primento dos princípios norteadores das atividades de proteção es-
adolescentes portadores de moléstias infecto-contagiosas; pecífica. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos
adolescentes; TÍTULO II
XVIII - manter programas destinados ao apoio e acompanha- DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO
mento de egressos; CAPÍTULO I
XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício da DISPOSIÇÕES GERAIS
cidadania àqueles que não os tiverem;
XX - manter arquivo de anotações onde constem data e cir- Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente
cunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus pais ou são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
responsável, parentes, endereços, sexo, idade, acompanhamento ameaçados ou violados:
da sua formação, relação de seus pertences e demais dados que I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
possibilitem sua identificação e a individualização do atendimento. II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
III - em razão de sua conduta.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

CAPÍTULO II XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o adolescente,


DAS MEDIDAS ESPECÍFICAS DE PROTEÇÃO respeitado seu estágio de desenvolvimento e capacidade de com-
preensão, seus pais ou responsável devem ser informados dos seus
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser apli- direitos, dos motivos que determinaram a intervenção e da forma
cadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qual- como esta se processa; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi-
quer tempo. gência
Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as ne- XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescen-
cessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao forta- te, em separado ou na companhia dos pais, de responsável ou de
lecimento dos vínculos familiares e comunitários. pessoa por si indicada, bem como os seus pais ou responsável, têm
Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação direito a ser ouvidos e a participar nos atos e na definição da me-
das medidas:(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência dida de promoção dos direitos e de proteção, sendo sua opinião
I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de direi- devidamente considerada pela autoridade judiciária competente,
tos: crianças e adolescentes são os titulares dos direitos previstos observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.(Incluído
nesta e em outras Leis, bem como na Constituição Federal; (Incluí- pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
do pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art.
II - proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as
de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser voltada à pro- seguintes medidas:
teção integral e prioritária dos direitos de que crianças e adoles- I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo
centes são titulares; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência de responsabilidade;
III - responsabilidade primária e solidária do poder público: a II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
plena efetivação dos direitos assegurados a crianças e a adolescen- III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento
tes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo nos casos por esta
oficial de ensino fundamental;
expressamente ressalvados, é de responsabilidade primária e soli-
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários
dária das 3 (três) esferas de governo, sem prejuízo da municipaliza-
de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do adoles-
ção do atendimento e da possibilidade da execução de programas
cente; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
por entidades não governamentais; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátri-
IV - interesse superior da criança e do adolescente: a inter- co, em regime hospitalar ou ambulatorial;
venção deve atender prioritariamente aos interesses e direitos da VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
criança e do adolescente, sem prejuízo da consideração que for orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
devida a outros interesses legítimos no âmbito da pluralidade dos VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº
interesses presentes no caso concreto; (Incluído pela Lei nº 12.010, 12.010, de 2009) Vigência
de 2009) Vigência VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; (Redação
V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela intimidade, IX - colocação em família substituta. (Incluído pela Lei nº
direito à imagem e reserva da sua vida privada;(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
12.010, de 2009) Vigência § 1o O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são
VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades com- medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de tran-
petentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja co- sição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para
nhecida; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência colocação em família substituta, não implicando privação de liber-
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida ex- dade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
clusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja indis- § 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para
pensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da criança proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das providên-
e do adolescente; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência cias a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve ser a adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva da au-
necessária e adequada à situação de perigo em que a criança ou o toridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministé-
adolescente se encontram no momento em que a decisão é toma- rio Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento
da; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável
IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser efetuada legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.(Incluído pela
de modo que os pais assumam os seus deveres para com a criança e Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
o adolescente; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser encami-
X - prevalência da família: na promoção de direitos e na prote-
nhados às instituições que executam programas de acolhimento
ção da criança e do adolescente deve ser dada prevalência às me-
institucional, governamentais ou não, por meio de uma Guia de
didas que os mantenham ou reintegrem na sua família natural ou
Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária, na qual obriga-
extensa ou, se isso não for possível, que promovam a sua integra-
ção em família adotiva; (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) toriamente constará, dentre outros: (Incluído pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência
I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou
de seu responsável, se conhecidos;(Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com § 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou
pontos de referência;(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência foro regional, um cadastro contendo informações atualizadas so-
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê- bre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar
-los sob sua guarda;(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência e institucional sob sua responsabilidade, com informações porme-
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio norizadas sobre a situação jurídica de cada um, bem como as pro-
familiar.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência vidências tomadas para sua reintegração familiar ou colocação em
§ 4o Imediatamente após o acolhimento da criança ou do ado- família substituta, em qualquer das modalidades previstas no art.
lescente, a entidade responsável pelo programa de acolhimento 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
institucional ou familiar elaborará um plano individual de atendi- § 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o Con-
mento, visando à reintegração familiar, ressalvada a existência de selho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os Conselhos
ordem escrita e fundamentada em contrário de autoridade judi- Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Assistên-
ciária competente, caso em que também deverá contemplar sua cia Social, aos quais incumbe deliberar sobre a implementação de
colocação em família substituta, observadas as regras e princípios políticas públicas que permitam reduzir o número de crianças e
desta Lei.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência adolescentes afastados do convívio familiar e abreviar o período
§ 5o O plano individual será elaborado sob a responsabilidade de permanência em programa de acolhimento. (Incluído pela Lei nº
da equipe técnica do respectivo programa de atendimento e levará 12.010, de 2009) Vigência
em consideração a opinião da criança ou do adolescente e a oitiva Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capítulo
dos pais ou do responsável.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) serão acompanhadas da regularização do registro civil. (Vide Lei nº
Vigência 12.010, de 2009) Vigência
§ 6o Constarão do plano individual, dentre outros: (Incluído § 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o assento
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência de nascimento da criança ou adolescente será feito à vista dos ele-
I - os resultados da avaliação interdisciplinar; (Incluído pela Lei mentos disponíveis, mediante requisição da autoridade judiciária.
nº 12.010, de 2009) Vigência § 2º Os registros e certidões necessários à regularização de que
II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; e trata este artigo são isentos de multas, custas e emolumentos, go-
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência zando de absoluta prioridade.
III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a § 3o Caso ainda não definida a paternidade, será deflagrado
criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou responsável, procedimento específico destinado à sua averiguação, conforme
com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezembro de 1992. (Incluído
expressa e fundamentada determinação judicial, as providências a pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
serem tomadas para sua colocação em família substituta, sob dire- § 4o Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é dispen-
ta supervisão da autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.010, sável o ajuizamento de ação de investigação de paternidade pelo
de 2009) Vigência Ministério Público se, após o não comparecimento ou a recusa do
§ 7o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no local suposto pai em assumir a paternidade a ele atribuída, a criança for
mais próximo à residência dos pais ou do responsável e, como parte encaminhada para adoção. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a ne- Vigência
cessidade, a família de origem será incluída em programas oficiais § 5o Os registros e certidões necessários à inclusão, a qualquer
de orientação, de apoio e de promoção social, sendo facilitado e tempo, do nome do pai no assento de nascimento são isentos de
estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido. multas, custas e emolumentos, gozando de absoluta prioridade.
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 8o Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o res-
ponsável pelo programa de acolhimento familiar ou institucional § 6o São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação requerida
fará imediata comunicação à autoridade judiciária, que dará vista do reconhecimento de paternidade no assento de nascimento e
ao Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, decidindo em a certidão correspondente. (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de
igual prazo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência 2016)
§ 9o Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração
da criança ou do adolescente à família de origem, após seu enca- TÍTULO III
minhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação, DA PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL
apoio e promoção social, será enviado relatório fundamentado ao CAPÍTULO I
Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das DISPOSIÇÕES GERAIS
providências tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos
técnicos da entidade ou responsáveis pela execução da política mu- Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como
nicipal de garantia do direito à convivência familiar, para a destitui- crime ou contravenção penal.
ção do poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda.(Incluído Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.
§ 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo de Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considera-
15 (quinze) dias para o ingresso com a ação de destituição do po- da a idade do adolescente à data do fato.
der familiar, salvo se entender necessária a realização de estudos Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponde-
complementares ou de outras providências indispensáveis ao ajui- rão as medidas previstas no art. 101.
zamento da demanda. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

CAPÍTULO II § 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua


DOS DIREITOS INDIVIDUAIS capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infra-
ção.
Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade § 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a
senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fun- prestação de trabalho forçado.
damentada da autoridade judiciária competente. § 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência
Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos mental receberão tratamento individual e especializado, em local
responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado acerca de adequado às suas condições.
seus direitos. Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. 99 e 100.
Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local onde Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II a VI
se encontra recolhido serão incontinenti comunicados à autoridade do art. 112 pressupõe a existência de provas suficientes da autoria
judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por e da materialidade da infração, ressalvada a hipótese de remissão,
ele indicada. nos termos do art. 127.
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de res- Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre
ponsabilidade, a possibilidade de liberação imediata. que houver prova da materialidade e indícios suficientes da autoria.
Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determina-
da pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias. SEÇÃO II
Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear- DA ADVERTÊNCIA
-se em indícios suficientes de autoria e materialidade, demonstrada
a necessidade imperiosa da medida. Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal, que
Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será sub- será reduzida a termo e assinada.
metido a identificação compulsória pelos órgãos policiais, de prote-
ção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, havendo dúvida SEÇÃO III
fundada. DA OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO

CAPÍTULO III Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos pa-
DAS GARANTIAS PROCESSUAIS trimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o
adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou,
Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade por outra forma, compense o prejuízo da vítima.
sem o devido processo legal. Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida
Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as se- poderá ser substituída por outra adequada.
guintes garantias:
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracio- SEÇÃO IV
nal, mediante citação ou meio equivalente; DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE
II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se
com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na re-
à sua defesa; alização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não
III - defesa técnica por advogado; excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais,
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em pro-
na forma da lei; gramas comunitários ou governamentais.
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade com- Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as apti-
petente; dões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada má-
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável xima de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou
em qualquer fase do procedimento. em dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à escola ou à
jornada normal de trabalho.
CAPÍTULO IV
DAS MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS SEÇÃO V
SEÇÃO I DA LIBERDADE ASSISTIDA
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afi-
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade gurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar
competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: e orientar o adolescente.
I - advertência; § 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompa-
II - obrigação de reparar o dano; nhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou pro-
III - prestação de serviços à comunidade; grama de atendimento.
IV - liberdade assistida; § 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de
V - inserção em regime de semi-liberdade; seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada
VI - internação em estabelecimento educacional; ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. Público e o defensor.

117
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da § 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, haven-
autoridade competente, a realização dos seguintes encargos, entre do outra medida adequada.
outros: Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade ex-
I - promover socialmente o adolescente e sua família, forne- clusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao
cendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em programa abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, com-
oficial ou comunitário de auxílio e assistência social; pleição física e gravidade da infração.
II - supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar do Parágrafo único. Durante o período de internação, inclusive
adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula; provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas.
III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, en-
e de sua inserção no mercado de trabalho; tre outros, os seguintes:
IV - apresentar relatório do caso. I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do Minis-
tério Público;
SEÇÃO VI II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
DO REGIME DE SEMI-LIBERDADE III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
IV - ser informado de sua situação processual, sempre que so-
Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser determinado licitada;
desde o início, ou como forma de transição para o meio aberto, V - ser tratado com respeito e dignidade;
possibilitada a realização de atividades externas, independente- VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela
mente de autorização judicial. mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável;
§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, de- VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;
vendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos existentes VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;
na comunidade. IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pes-
§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, soal;
no que couber, as disposições relativas à internação. X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e
salubridade;
SEÇÃO VII XI - receber escolarização e profissionalização;
DA INTERNAÇÃO XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;
Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e des-
sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à de que assim o deseje;
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a cri- seguro para guardá-los, recebendo comprovante daqueles porven-
tério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação tura depositados em poder da entidade;
judicial em contrário. XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua pessoais indispensáveis à vida em sociedade.
manutenção ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no § 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade.
máximo a cada seis meses. § 2º A autoridade judiciária poderá suspender temporariamen-
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação te a visita, inclusive de pais ou responsável, se existirem motivos
excederá a três anos. sérios e fundados de sua prejudicialidade aos interesses do ado-
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o lescente.
adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semi-li- Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e men-
berdade ou de liberdade assistida. tal dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de con-
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade. tenção e segurança.
§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de
autorização judicial, ouvido o Ministério Público. CAPÍTULO V
§ 7o A determinação judicial mencionada no § 1o poderá ser DA REMISSÃO
revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária. (Incluído pela
Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apu-
Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quan- ração de ato infracional, o representante do Ministério Público po-
do: derá conceder a remissão, como forma de exclusão do processo,
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave amea- atendendo às circunstâncias e consequências do fato, ao contexto
ça ou violência a pessoa; social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou
II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves; menor participação no ato infracional.
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da re-
anteriormente imposta. missão pela autoridade judiciária importará na suspensão ou extin-
§ 1o O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo ção do processo.
não poderá ser superior a 3 (três) meses, devendo ser decretada
judicialmente após o devido processo legal. (Redação dada pela Lei
nº 12.594, de 2012) (Vide)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 127. A remissão não implica necessariamente o reconhe- Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o local, dia e
cimento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece para horário de funcionamento do Conselho Tutelar, inclusive quanto à
efeito de antecedentes, podendo incluir eventualmente a aplicação remuneração dos respectivos membros, aos quais é assegurado o
de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação em direito a: (Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012)
regime de semi-liberdade e a internação. I - cobertura previdenciária; (Incluído pela Lei nº 12.696, de
Art. 128. A medida aplicada por força da remissão poderá ser 2012)
revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante pedido expres- II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3
so do adolescente ou de seu representante legal, ou do Ministério (um terço) do valor da remuneração mensal; (Incluído pela Lei nº
Público. 12.696, de 2012)
III - licença-maternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
TÍTULO IV IV - licença-paternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
DAS MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU RESPONSÁVEL V - gratificação natalina. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária municipal e da
Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável: do Distrito Federal previsão dos recursos necessários ao funciona-
I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comu- mento do Conselho Tutelar e à remuneração e formação continu-
nitários de proteção, apoio e promoção da família; (Redação dada ada dos conselheiros tutelares. (Redação dada pela Lei nº 12.696,
pela Lei nº 13.257, de 2016) de 2012)
II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro consti-
orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; tuirá serviço público relevante e estabelecerá presunção de idonei-
III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; dade moral. (Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012)
IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua CAPÍTULO II
frequência e aproveitamento escolar; DAS ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO
VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a trata-
mento especializado; Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:
VII - advertência; I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas
VIII - perda da guarda; nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a
IX - destituição da tutela; VII;
X - suspensão ou destituição do poder familiar. (Expressão II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as
substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência medidas previstas no art. 129, I a VII;
Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos inci- III - promover a execução de suas decisões, podendo para tan-
sos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24. to:
Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação,
abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade ju- serviço social, previdência, trabalho e segurança;
diciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de des-
do agressor da moradia comum. cumprimento injustificado de suas deliberações.
Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a fixação IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que cons-
provisória dos alimentos de que necessitem a criança ou o adoles- titua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança
cente dependentes do agressor. (Incluído pela Lei nº 12.415, de ou adolescente;
2011) V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua compe-
tência;
TÍTULO V VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judi-
DO CONSELHO TUTELAR ciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente
CAPÍTULO I autor de ato infracional;
DISPOSIÇÕES GERAIS VII - expedir notificações;
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança
Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, ou adolescente quando necessário;
não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumpri- IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da pro-
mento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei. posta orçamentária para planos e programas de atendimento dos
Art. 132. Em cada Município e em cada Região Administrati- direitos da criança e do adolescente;
va do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a viola-
como órgão integrante da administração pública local, composto ção dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição
de 5 (cinco) membros, escolhidos pela população local para manda- Federal;
to de 4 (quatro) anos, permitida recondução por novos processos XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de
de escolha.(Redação dada pela Lei nº 13.824, de 2019) perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibili-
Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar, dades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família
serão exigidos os seguintes requisitos: natural. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
I - reconhecida idoneidade moral;
II - idade superior a vinte e um anos;
III - residir no município.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos profis- TÍTULO VI


sionais, ações de divulgação e treinamento para o reconhecimento DO ACESSO À JUSTIÇA
de sintomas de maus-tratos em crianças e adolescentes. (Incluído CAPÍTULO I
pela Lei nº 13.046, de 2014) DISPOSIÇÕES GERAIS
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conse-
lho Tutelar entender necessário o afastamento do convívio familiar, Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou adolescente à
comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando- Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por
-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as provi- qualquer de seus órgãos.
dências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social da § 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos que dela
família. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência necessitarem, através de defensor público ou advogado nomeado.
Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente poderão ser § 2º As ações judiciais da competência da Justiça da Infância
revistas pela autoridade judiciária a pedido de quem tenha legítimo e da Juventude são isentas de custas e emolumentos, ressalvada a
interesse. hipótese de litigância de má-fé.
Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão representados
CAPÍTULO III e os maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos assistidos
DA COMPETÊNCIA por seus pais, tutores ou curadores, na forma da legislação civil ou
processual.
Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de competência Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador especial
constante do art. 147. à criança ou adolescente, sempre que os interesses destes colidi-
rem com os de seus pais ou responsável, ou quando carecer de re-
CAPÍTULO IV presentação ou assistência legal ainda que eventual.
DA ESCOLHA DOS CONSELHEIROS Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e ad-
ministrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que se
Art. 139. O processo para a escolha dos membros do Conselho atribua autoria de ato infracional.
Tutelar será estabelecido em lei municipal e realizado sob a res- Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não pode-
ponsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do rá identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, refe-
Adolescente, e a fiscalização do Ministério Público. (Redação dada rência a nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive,
pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991) iniciais do nome e sobrenome. (Redação dada pela Lei nº 10.764,
§ 1o O processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar de 12.11.2003)
ocorrerá em data unificada em todo o território nacional a cada 4 Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a que se
(quatro) anos, no primeiro domingo do mês de outubro do ano sub- refere o artigo anterior somente será deferida pela autoridade
sequente ao da eleição presidencial. (Incluído pela Lei nº 12.696, judiciária competente, se demonstrado o interesse e justificada a
de 2012) finalidade.
§ 2o A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia 10 de CAPÍTULO II
janeiro do ano subsequente ao processo de escolha. (Incluído pela DA JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE
Lei nº 12.696, de 2012) SEÇÃO I
§ 3o No processo de escolha dos membros do Conselho Tute- DISPOSIÇÕES GERAIS
lar, é vedado ao candidato doar, oferecer, prometer ou entregar ao
eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar varas
brindes de pequeno valor. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012) especializadas e exclusivas da infância e da juventude, cabendo ao
Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por número de
CAPÍTULO V habitantes, dotá-las de infraestrutura e dispor sobre o atendimen-
DOS IMPEDIMENTOS to, inclusive em plantões.

Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho marido SEÇÃO II


e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora, ir- DO JUIZ
mãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou
madrasta e enteado. Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da Infân-
Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conselheiro, na cia e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na forma da
forma deste artigo, em relação à autoridade judiciária e ao repre- lei de organização judiciária local.
sentante do Ministério Público com atuação na Justiça da Infância Art. 147. A competência será determinada:
e da Juventude, em exercício na comarca, foro regional ou distrital. I - pelo domicílio dos pais ou responsável;
II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à fal-
ta dos pais ou responsável.
§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a autorida-
de do lugar da ação ou omissão, observadas as regras de conexão,
continência e prevenção.
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à autorida-
de competente da residência dos pais ou responsável, ou do local
onde sediar-se a entidade que abrigar a criança ou adolescente.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 3º Em caso de infração cometida através de transmissão si- e) a adequação do ambiente a eventual participação ou frequ-
multânea de rádio ou televisão, que atinja mais de uma comarca, ência de crianças e adolescentes;
será competente, para aplicação da penalidade, a autoridade judi- f) a natureza do espetáculo.
ciária do local da sede estadual da emissora ou rede, tendo a sen- § 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo deve-
tença eficácia para todas as transmissoras ou retransmissoras do rão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as determinações de
respectivo estado. caráter geral.
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente
para: SEÇÃO III
I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério DOS SERVIÇOS AUXILIARES
Público, para apuração de ato infracional atribuído a adolescente,
aplicando as medidas cabíveis; Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua pro-
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção posta orçamentária, prever recursos para manutenção de equipe
do processo; interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da Infância e da
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; Juventude.
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras
difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente, observado o atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer
disposto no art. 209; subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audiên-
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em enti- cia, e bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, orien-
dades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis; tação, encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a imediata
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre manifesta-
contra norma de proteção à criança ou adolescente; ção do ponto de vista técnico.
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de servidores pú-
aplicando as medidas cabíveis. blicos integrantes do Poder Judiciário responsáveis pela realização
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente dos estudos psicossociais ou de quaisquer outras espécies de ava-
nas hipóteses do art. 98, é também competente a Justiça da Infân- liações técnicas exigidas por esta Lei ou por determinação judicial,
cia e da Juventude para o fim de: a autoridade judiciária poderá proceder à nomeação de perito, nos
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela; termos do art. 156 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Códi-
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, perda go de Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
ou modificação da tutela ou guarda; (Expressão substituída pela Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência CAPÍTULO III
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento; DOS PROCEDIMENTOS
d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou SEÇÃO I
materna, em relação ao exercício do poder familiar; (Expressão DISPOSIÇÕES GERAIS
substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando fal- Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam-se
tarem os pais; subsidiariamente as normas gerais previstas na legislação proces-
f) designar curador especial em casos de apresentação de quei- sual pertinente.
xa ou representação, ou de outros procedimentos judiciais ou ex- § 1º É assegurada, sob pena de responsabilidade, prioridade
trajudiciais em que haja interesses de criança ou adolescente; absoluta na tramitação dos processos e procedimentos previstos
g) conhecer de ações de alimentos; nesta Lei, assim como na execução dos atos e diligências judiciais
h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento a eles referentes. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
dos registros de nascimento e óbito. § 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos seus
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através procedimentos são contados em dias corridos, excluído o dia do
de portaria, ou autorizar, mediante alvará: começo e incluído o dia do vencimento, vedado o prazo em dobro
I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, desa- para a Fazenda Pública e o Ministério Público. (Incluído pela Lei nº
companhado dos pais ou responsável, em: 13.509, de 2017)
a) estádio, ginásio e campo desportivo; Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não corresponder
b) bailes ou promoções dançantes; a procedimento previsto nesta ou em outra lei, a autoridade judici-
c) boate ou congêneres; ária poderá investigar os fatos e ordenar de ofício as providências
d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas; necessárias, ouvido o Ministério Público.
e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica para o
II - a participação de criança e adolescente em: fim de afastamento da criança ou do adolescente de sua família de
a) espetáculos públicos e seus ensaios; origem e em outros procedimentos necessariamente contenciosos.
b) certames de beleza. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade judiciá- Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214.
ria levará em conta, dentre outros fatores:
a) os princípios desta Lei;
b) as peculiaridades locais;
c) a existência de instalações adequadas;
d) o tipo de frequência habitual ao local;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

SEÇÃO II § 4o Na hipótese de os genitores encontrarem-se em local in-


DA PERDA E DA SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR certo ou não sabido, serão citados por edital no prazo de 10 (dez)
(EXPRESSÃO SUBSTITUÍDA PELA LEI Nº 12.010, DE 2009) dias, em publicação única, dispensado o envio de ofícios para a lo-
VIGÊNCIA calização. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de constituir
Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão do po- advogado, sem prejuízo do próprio sustento e de sua família, po-
der familiar terá início por provocação do Ministério Público ou de derá requerer, em cartório, que lhe seja nomeado dativo, ao qual
quem tenha legítimo interesse. (Expressão substituída pela Lei nº incumbirá a apresentação de resposta, contando-se o prazo a partir
12.010, de 2009) Vigência da intimação do despacho de nomeação.
Art. 156. A petição inicial indicará: Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de liberda-
I - a autoridade judiciária a que for dirigida; de, o oficial de justiça deverá perguntar, no momento da citação
II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do reque- pessoal, se deseja que lhe seja nomeado defensor. (Incluído pela
rente e do requerido, dispensada a qualificação em se tratando de Lei nº 12.962, de 2014)
pedido formulado por representante do Ministério Público; Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária requisitará
III - a exposição sumária do fato e o pedido; de qualquer repartição ou órgão público a apresentação de docu-
IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde logo, o mento que interesse à causa, de ofício ou a requerimento das par-
rol de testemunhas e documentos. tes ou do Ministério Público.
Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judici- Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido concluí-
ária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão do poder do o estudo social ou a perícia realizada por equipe interprofissio-
familiar, liminar ou incidentalmente, até o julgamento definitivo da nal ou multidisciplinar, a autoridade judiciária dará vista dos autos
causa, ficando a criança ou adolescente confiado a pessoa idônea, ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, salvo quando este for o
mediante termo de responsabilidade. (Expressão substituída pela requerente, e decidirá em igual prazo. (Redação dada pela Lei nº
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência 13.509, de 2017)
§ 1o Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária determi- § 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das
nará, concomitantemente ao despacho de citação e independen- partes ou do Ministério Público, determinará a oitiva de testemu-
temente de requerimento do interessado, a realização de estudo nhas que comprovem a presença de uma das causas de suspensão
social ou perícia por equipe interprofissional ou multidisciplinar ou destituição do poder familiar previstas nos arts. 1.637 e 1.638 da
para comprovar a presença de uma das causas de suspensão ou Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), ou no art. 24
destituição do poder familiar, ressalvado o disposto no § 10 do art. desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
101 desta Lei, e observada a Lei no 13.431, de 4 de abril de 2017. § 2o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) § 3o Se o pedido importar em modificação de guarda, será
§ 2o Em sendo os pais oriundos de comunidades indígenas, é obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da criança ou
ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe interprofissional ou adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de
multidisciplinar referida no § 1o deste artigo, de representantes compreensão sobre as implicações da medida. (Incluído pela Lei nº
do órgão federal responsável pela política indigenista, observado 12.010, de 2009) Vigência
o disposto no § 6o do art. 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.509, § 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles forem iden-
de 2017) tificados e estiverem em local conhecido, ressalvados os casos de
§ 3º A concessão da liminar será, preferencialmente, precedida não comparecimento perante a Justiça quando devidamente cita-
de entrevista da criança ou do adolescente perante equipe multidis- dos. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
ciplinar e de oitiva da outra parte, nos termos da Lei nº 13.431, de 4 § 5o Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberdade, a auto-
de abril de 2017. (Incluído pela Lei nº 14.340, de 2022) ridade judicial requisitará sua apresentação para a oitiva. (Incluído
§ 4º Se houver indícios de ato de violação de direitos de criança pela Lei nº 12.962, de 2014)
ou de adolescente, o juiz comunicará o fato ao Ministério Público Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judiciária dará
e encaminhará os documentos pertinentes. (Incluído pela Lei nº vista dos autos ao Ministério Público, por cinco dias, salvo quando
14.340, de 2022) este for o requerente, designando, desde logo, audiência de instru-
Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez dias, ção e julgamento.
oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem produzidas e § 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
oferecendo desde logo o rol de testemunhas e documentos. § 2o Na audiência, presentes as partes e o Ministério Público,
§ 1o A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os meios serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oralmente o parecer
para sua realização. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014) técnico, salvo quando apresentado por escrito, manifestando-se
§ 2o O requerido privado de liberdade deverá ser citado pesso- sucessivamente o requerente, o requerido e o Ministério Público,
almente. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014) pelo tempo de 20 (vinte) minutos cada um, prorrogável por mais 10
§ 3o Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver pro- (dez) minutos. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
curado o citando em seu domicílio ou residência sem o encontrar, § 3o A decisão será proferida na audiência, podendo a autori-
deverá, havendo suspeita de ocultação, informar qualquer pessoa dade judiciária, excepcionalmente, designar data para sua leitura
da família ou, em sua falta, qualquer vizinho do dia útil em que vol- no prazo máximo de 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº 13.509, de
tará a fim de efetuar a citação, na hora que designar, nos termos 2017)
do art. 252 e seguintes da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015
(Código de Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

122
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 4o Quando o procedimento de destituição de poder familiar § 2o O consentimento dos titulares do poder familiar será
for iniciado pelo Ministério Público, não haverá necessidade de no- precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela equipe
meação de curador especial em favor da criança ou adolescente. interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, em especial,
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade da medida. (Incluído
Art. 163. O prazo máximo para conclusão do procedimento pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao juiz, no caso de notó- § 3o São garantidos a livre manifestação de vontade dos de-
ria inviabilidade de manutenção do poder familiar, dirigir esforços tentores do poder familiar e o direito ao sigilo das informações.
para preparar a criança ou o adolescente com vistas à colocação (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
em família substituta. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) § 4o O consentimento prestado por escrito não terá validade
Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou a suspen- se não for ratificado na audiência a que se refere o § 1o deste arti-
são do poder familiar será averbada à margem do registro de nas- go. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
cimento da criança ou do adolescente. (Incluído pela Lei nº 12.010, § 5o O consentimento é retratável até a data da realização da
de 2009) Vigência audiência especificada no § 1o deste artigo, e os pais podem exer-
cer o arrependimento no prazo de 10 (dez) dias, contado da data de
SEÇÃO III prolação da sentença de extinção do poder familiar. (Redação dada
DA DESTITUIÇÃO DA TUTELA pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 6o O consentimento somente terá valor se for dado após o
Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o procedimen- nascimento da criança. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi-
to para a remoção de tutor previsto na lei processual civil e, no que gência
couber, o disposto na seção anterior. § 7o A família natural e a família substituta receberão a devi-
da orientação por intermédio de equipe técnica interprofissional
SEÇÃO IV a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente
DA COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política mu-
nicipal de garantia do direito à convivência familiar. (Redação dada
Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de coloca- pela Lei nº 13.509, de 2017)
ção em família substituta: Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento
I - qualificação completa do requerente e de seu eventual côn- das partes ou do Ministério Público, determinará a realização de
juge, ou companheiro, com expressa anuência deste; estudo social ou, se possível, perícia por equipe interprofissional,
II - indicação de eventual parentesco do requerente e de seu decidindo sobre a concessão de guarda provisória, bem como, no
cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adolescente, especifi- caso de adoção, sobre o estágio de convivência.
cando se tem ou não parente vivo; Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda provisória ou
III - qualificação completa da criança ou adolescente e de seus do estágio de convivência, a criança ou o adolescente será entregue
pais, se conhecidos; ao interessado, mediante termo de responsabilidade. (Incluído pela
IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, anexan- Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
do, se possível, uma cópia da respectiva certidão; Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pericial, e
V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou rendi- ouvida, sempre que possível, a criança ou o adolescente, dar-se-á
mentos relativos à criança ou ao adolescente. vista dos autos ao Ministério Público, pelo prazo de cinco dias, de-
Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se-ão cidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
também os requisitos específicos. Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a per-
Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou da ou a suspensão do poder familiar constituir pressuposto lógico
suspensos do poder familiar, ou houverem aderido expressamente da medida principal de colocação em família substituta, será ob-
ao pedido de colocação em família substituta, este poderá ser for- servado o procedimento contraditório previsto nas Seções II e III
mulado diretamente em cartório, em petição assinada pelos pró- deste Capítulo. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)
prios requerentes, dispensada a assistência de advogado. (Redação Vigência
dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda poderá
§ 1o Na hipótese de concordância dos pais, o juiz: (Redação ser decretada nos mesmos autos do procedimento, observado o
dada pela Lei nº 13.509, de 2017) disposto no art. 35.
I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes, devi- Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á o dis-
damente assistidas por advogado ou por defensor público, para posto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art. 47.
verificar sua concordância com a adoção, no prazo máximo de 10 Parágrafo único. A colocação de criança ou adolescente sob
(dez) dias, contado da data do protocolo da petição ou da entrega a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhimento familiar
da criança em juízo, tomando por termo as declarações; e (Incluído será comunicada pela autoridade judiciária à entidade por este res-
pela Lei nº 13.509, de 2017) ponsável no prazo máximo de 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº
II - declarará a extinção do poder familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
13.509, de 2017) SEÇÃO V
DA APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL
ATRIBUÍDO A ADOLESCENTE

Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem judicial


será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato infra- Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do Mi-
cional será, desde logo, encaminhado à autoridade policial compe- nistério Público, no mesmo dia e à vista do auto de apreensão,
tente. boletim de ocorrência ou relatório policial, devidamente autuados
Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada pelo cartório judicial e com informação sobre os antecedentes do
para atendimento de adolescente e em se tratando de ato infra- adolescente, procederá imediata e informalmente à sua oitiva e,
cional praticado em coautoria com maior, prevalecerá a atribuição em sendo possível, de seus pais ou responsável, vítima e testemu-
da repartição especializada, que, após as providências necessárias nhas.
e conforme o caso, encaminhará o adulto à repartição policial pró- Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o represen-
pria. tante do Ministério Público notificará os pais ou responsável para
Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido me- apresentação do adolescente, podendo requisitar o concurso das
diante violência ou grave ameaça a pessoa, a autoridade policial, polícias civil e militar.
sem prejuízo do disposto nos arts. 106, parágrafo único, e 107, de- Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo ante-
verá: rior, o representante do Ministério Público poderá:
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o ado- I - promover o arquivamento dos autos;
lescente; II - conceder a remissão;
II - apreender o produto e os instrumentos da infração; III - representar à autoridade judiciária para aplicação de me-
III - requisitar os exames ou perícias necessários à comprova- dida sócio-educativa.
ção da materialidade e autoria da infração. Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou concedida a
Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a lavratura remissão pelo representante do Ministério Público, mediante ter-
do auto poderá ser substituída por boletim de ocorrência circuns- mo fundamentado, que conterá o resumo dos fatos, os autos serão
tanciada. conclusos à autoridade judiciária para homologação.
Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o § 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a autoridade
adolescente será prontamente liberado pela autoridade policial, judiciária determinará, conforme o caso, o cumprimento da medi-
sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresen- da.
tação ao representante do Ministério Público, no mesmo dia ou, § 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa dos au-
sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quando, tos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despacho fundamen-
pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o tado, e este oferecerá representação, designará outro membro do
adolescente permanecer sob internação para garantia de sua segu- Ministério Público para apresentá-la, ou ratificará o arquivamento
rança pessoal ou manutenção da ordem pública. ou a remissão, que só então estará a autoridade judiciária obrigada
Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial enca- a homologar.
minhará, desde logo, o adolescente ao representante do Ministério Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do Ministé-
Público, juntamente com cópia do auto de apreensão ou boletim rio Público não promover o arquivamento ou conceder a remissão,
de ocorrência. oferecerá representação à autoridade judiciária, propondo a ins-
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade tauração de procedimento para aplicação da medida sócio-educati-
policial encaminhará o adolescente à entidade de atendimento, va que se afigurar a mais adequada.
que fará a apresentação ao representante do Ministério Público no § 1º A representação será oferecida por petição, que conte-
prazo de vinte e quatro horas. rá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato infracional e,
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de atendi- quando necessário, o rol de testemunhas, podendo ser deduzida
mento, a apresentação far-se-á pela autoridade policial. À falta de oralmente, em sessão diária instalada pela autoridade judiciária.
repartição policial especializada, o adolescente aguardará a apre- § 2º A representação independe de prova pré-constituída da
sentação em dependência separada da destinada a maiores, não autoria e materialidade.
podendo, em qualquer hipótese, exceder o prazo referido no pa- Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a conclusão do
rágrafo anterior. procedimento, estando o adolescente internado provisoriamente,
Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade policial será de quarenta e cinco dias.
encaminhará imediatamente ao representante do Ministério Públi- Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judiciária
co cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência. designará audiência de apresentação do adolescente, decidindo,
Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios desde logo, sobre a decretação ou manutenção da internação, ob-
de participação de adolescente na prática de ato infracional, a au- servado o disposto no art. 108 e parágrafo.
toridade policial encaminhará ao representante do Ministério Pú- § 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão cientifica-
blico relatório das investigações e demais documentos. dos do teor da representação, e notificados a comparecer à audiên-
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato in- cia, acompanhados de advogado.
fracional não poderá ser conduzido ou transportado em compar- § 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a autori-
timento fechado de veículo policial, em condições atentatórias à dade judiciária dará curador especial ao adolescente.
sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou § 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade judici-
mental, sob pena de responsabilidade. ária expedirá mandado de busca e apreensão, determinando o so-
brestamento do feito, até a efetiva apresentação.
§ 4º Estando o adolescente internado, será requisitada a sua
apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais ou responsável.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela autoridade SEÇÃO V-A


judiciária, não poderá ser cumprida em estabelecimento prisional. (INCLUÍDO PELA LEI Nº 13.441, DE 2017)
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as características de- DA INFILTRAÇÃO DE AGENTES DE POLÍCIA PARA A INVESTI-
finidas no art. 123, o adolescente deverá ser imediatamente trans- GAÇÃO DE CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL DE CRIAN-
ferido para a localidade mais próxima. ÇA E DE ADOLESCENTE”
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adolescente
aguardará sua remoção em repartição policial, desde que em seção Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na internet com
isolada dos adultos e com instalações apropriadas, não podendo o fim de investigar os crimes previstos nos arts. 240, 241, 241-A,
ultrapassar o prazo máximo de cinco dias, sob pena de responsa- 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A
bilidade. e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou responsá- Penal), obedecerá às seguintes regras: (Incluído pela Lei nº 13.441,
vel, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mesmos, poden- de 2017)
do solicitar opinião de profissional qualificado. I – será precedida de autorização judicial devidamente circuns-
§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a remissão, tanciada e fundamentada, que estabelecerá os limites da infiltra-
ouvirá o representante do Ministério Público, proferindo decisão. ção para obtenção de prova, ouvido o Ministério Público; (Incluído
§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de pela Lei nº 13.441, de 2017)
internação ou colocação em regime de semi-liberdade, a autorida- II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Público ou
de judiciária, verificando que o adolescente não possui advogado representação de delegado de polícia e conterá a demonstração de
constituído, nomeará defensor, designando, desde logo, audiência sua necessidade, o alcance das tarefas dos policiais, os nomes ou
em continuação, podendo determinar a realização de diligências e apelidos das pessoas investigadas e, quando possível, os dados de
estudo do caso. conexão ou cadastrais que permitam a identificação dessas pesso-
§ 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, no prazo as; (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
de três dias contado da audiência de apresentação, oferecerá defe- III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, sem pre-
sa prévia e rol de testemunhas. juízo de eventuais renovações, desde que o total não exceda a 720
§ 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas (setecentos e vinte) dias e seja demonstrada sua efetiva necessi-
arroladas na representação e na defesa prévia, cumpridas as dili- dade, a critério da autoridade judicial. (Incluído pela Lei nº 13.441,
gências e juntado o relatório da equipe interprofissional, será dada de 2017)
a palavra ao representante do Ministério Público e ao defensor, § 1º A autoridade judicial e o Ministério Público poderão requi-
sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos para cada um, pror- sitar relatórios parciais da operação de infiltração antes do término
rogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, que em do prazo de que trata o inciso II do § 1º deste artigo. (Incluído pela
seguida proferirá decisão. Lei nº 13.441, de 2017)
Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não com- § 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste artigo,
parecer, injustificadamente à audiência de apresentação, a autori- consideram-se: (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
dade judiciária designará nova data, determinando sua condução I – dados de conexão: informações referentes a hora, data, iní-
coercitiva. cio, término, duração, endereço de Protocolo de Internet (IP) utili-
Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão do zado e terminal de origem da conexão; (Incluído pela Lei nº 13.441,
processo, poderá ser aplicada em qualquer fase do procedimento, de 2017)
antes da sentença. II – dados cadastrais: informações referentes a nome e ende-
Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer medida, reço de assinante ou de usuário registrado ou autenticado para a
desde que reconheça na sentença: conexão a quem endereço de IP, identificação de usuário ou código
I - estar provada a inexistência do fato; de acesso tenha sido atribuído no momento da conexão.
II - não haver prova da existência do fato; § 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não será
III - não constituir o fato ato infracional; admitida se a prova puder ser obtida por outros meios. (Incluído
IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido para o pela Lei nº 13.441, de 2017)
ato infracional. Art. 190-B. As informações da operação de infiltração serão
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o adoles- encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela autorização da
cente internado, será imediatamente colocado em liberdade. medida, que zelará por seu sigilo. (Incluído pela Lei nº 13.441, de
Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de inter- 2017)
nação ou regime de semi-liberdade será feita: Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o acesso aos
I - ao adolescente e ao seu defensor; autos será reservado ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais ou de polícia responsável pela operação, com o objetivo de garantir o
responsável, sem prejuízo do defensor. sigilo das investigações. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-á unica- Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a sua iden-
mente na pessoa do defensor. tidade para, por meio da internet, colher indícios de autoria e ma-
§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, deverá terialidade dos crimes previstos nos arts. 240, 241, 241-A, 241-B,
este manifestar se deseja ou não recorrer da sentença. 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A e218-B
do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal).
(Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar de ob- SEÇÃO VII
servar a estrita finalidade da investigação responderá pelos exces- DA APURAÇÃO DE INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA ÀS
sos praticados. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) NORMAS DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE
Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público poderão
incluir nos bancos de dados próprios, mediante procedimento si- Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade admi-
giloso e requisição da autoridade judicial, as informações necessá- nistrativa por infração às normas de proteção à criança e ao ado-
rias à efetividade da identidade fictícia criada. (Incluído pela Lei nº lescente terá início por representação do Ministério Público, ou do
13.441, de 2017) Conselho Tutelar, ou auto de infração elaborado por servidor efe-
Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata esta Se- tivo ou voluntário credenciado, e assinado por duas testemunhas,
ção será numerado e tombado em livro específico. (Incluído pela se possível.
Lei nº 13.441, de 2017) § 1º No procedimento iniciado com o auto de infração, pode-
Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos eletrôni- rão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a natureza e as
cos praticados durante a operação deverão ser registrados, grava- circunstâncias da infração.
dos, armazenados e encaminhados ao juiz e ao Ministério Público, § 2º Sempre que possível, à verificação da infração seguir-se-á
juntamente com relatório circunstanciado. (Incluído pela Lei nº a lavratura do auto, certificando-se, em caso contrário, dos motivos
13.441, de 2017) do retardamento.
Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados no Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apresentação
caput deste artigo serão reunidos em autos apartados e apensados de defesa, contado da data da intimação, que será feita:
ao processo criminal juntamente com o inquérito policial, assegu- I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavrado na
rando-se a preservação da identidade do agente policial infiltrado e presença do requerido;
a intimidade das crianças e dos adolescentes envolvidos. (Incluído II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente habilitado,
pela Lei nº 13.441, de 2017) que entregará cópia do auto ou da representação ao requerido, ou
a seu representante legal, lavrando certidão;
SEÇÃO VI III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for encon-
DA APURAÇÃO DE IRREGULARIDADES trado o requerido ou seu representante legal;
EM ENTIDADE DE ATENDIMENTO IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou não sabi-
do o paradeiro do requerido ou de seu representante legal.
Art. 191. O procedimento de apuração de irregularidades em Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo legal, a au-
entidade governamental e não-governamental terá início mediante toridade judiciária dará vista dos autos do Ministério Público, por
portaria da autoridade judiciária ou representação do Ministério cinco dias, decidindo em igual prazo.
Público ou do Conselho Tutelar, onde conste, necessariamente, re- Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária pro-
sumo dos fatos. cederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo necessário,
designará audiência de instrução e julgamento. (Vide Lei nº 12.010,
Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a autoridade de 2009) Vigência
judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar liminarmente o Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão suces-
afastamento provisório do dirigente da entidade, mediante decisão sivamente o Ministério Público e o procurador do requerido, pelo
fundamentada. tempo de vinte minutos para cada um, prorrogável por mais dez,
Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no prazo de a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá sen-
dez dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar documentos e tença.
indicar as provas a produzir.
Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo necessário, a SEÇÃO VIII
autoridade judiciária designará audiência de instrução e julgamen- (INCLUÍDA PELA LEI Nº 12.010, DE 2009) VIGÊNCIA
to, intimando as partes. DA HABILITAÇÃO DE PRETENDENTES À ADOÇÃO
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o Ministério
Público terão cinco dias para oferecer alegações finais, decidindo a Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no Brasil,
autoridade judiciária em igual prazo. apresentarão petição inicial na qual conste: (Incluído pela Lei nº
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo de 12.010, de 2009) Vigência
dirigente de entidade governamental, a autoridade judiciária ofi- I - qualificação completa; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
ciará à autoridade administrativa imediatamente superior ao afas- Vigência
tado, marcando prazo para a substituição. II - dados familiares; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi-
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade judi- gência
ciária poderá fixar prazo para a remoção das irregularidades verifi- III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou casa-
cadas. Satisfeitas as exigências, o processo será extinto, sem julga- mento, ou declaração relativa ao período de união estável; (Incluí-
mento de mérito. do pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro de
entidade ou programa de atendimento. Pessoas Físicas; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
V - comprovante de renda e domicílio; (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência
VI - atestados de sanidade física e mental; (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

VII - certidão de antecedentes criminais; (Incluído pela Lei nº Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será inscrito
12.010, de 2009) Vigência nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a sua convoca-
VIII - certidão negativa de distribuição cível. (Incluído pela Lei ção para a adoção feita de acordo com ordem cronológica de ha-
nº 12.010, de 2009) Vigência bilitação e conforme a disponibilidade de crianças ou adolescentes
Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e adotáveis. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério Público, que no pra- § 1o A ordem cronológica das habilitações somente poderá
zo de 5 (cinco) dias poderá: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas hipóteses
Vigência previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando comprovado ser essa
I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe in- a melhor solução no interesse do adotando. (Incluído pela Lei nº
terprofissional encarregada de elaborar o estudo técnico a que se 12.010, de 2009) Vigência
refere o art. 197-C desta Lei; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) § 2o A habilitação à adoção deverá ser renovada no mínimo
Vigência trienalmente mediante avaliação por equipe interprofissional. (Re-
II - requerer a designação de audiência para oitiva dos pos- dação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
tulantes em juízo e testemunhas; (Incluído pela Lei nº 12.010, de § 3o Quando o adotante candidatar-se a uma nova adoção,
2009) Vigência será dispensável a renovação da habilitação, bastando a avaliação
III - requerer a juntada de documentos complementares e a por equipe interprofissional. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
realização de outras diligências que entender necessárias. (Incluído § 4o Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilitado, à ado-
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência ção de crianças ou adolescentes indicados dentro do perfil escolhi-
Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe inter- do, haverá reavaliação da habilitação concedida. (Incluído pela Lei
profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, que nº 13.509, de 2017)
deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios que § 5o A desistência do pretendente em relação à guarda para
permitam aferir a capacidade e o preparo dos postulantes para o fins de adoção ou a devolução da criança ou do adolescente depois
exercício de uma paternidade ou maternidade responsável, à luz do trânsito em julgado da sentença de adoção importará na sua
dos requisitos e princípios desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, exclusão dos cadastros de adoção (Incluído pela Lei nº 13.509, de
de 2009) Vigência 2017)
§ 1o É obrigatória a participação dos postulantes em programa Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da habilitação à
oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmen- adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável por igual pe-
te com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política ríodo, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária.
municipal de garantia do direito à convivência familiar e dos grupos (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
de apoio à adoção devidamente habilitados perante a Justiça da CAPÍTULO IV
Infância e da Juventude, que inclua preparação psicológica, orien- DOS RECURSOS
tação e estímulo à adoção inter-racial, de crianças ou de adoles-
centes com deficiência, com doenças crônicas ou com necessidades Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e da
específicas de saúde, e de grupos de irmãos. (Redação dada pela Lei Juventude, inclusive os relativos à execução das medidas socioe-
nº 13.509, de 2017) ducativas, adotar-se-á o sistema recursal da Lei no 5.869, de 11 de
§ 2o Sempre que possível e recomendável, a etapa obrigató- janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), com as seguintes adap-
ria da preparação referida no § 1o deste artigo incluirá o contato tações: (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
com crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar ou I - os recursos serão interpostos independentemente de pre-
institucional, a ser realizado sob orientação, supervisão e avaliação paro;
da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude e dos gru- II - em todos os recursos, salvo nos embargos de declaração, o
pos de apoio à adoção, com apoio dos técnicos responsáveis pelo prazo para o Ministério Público e para a defesa será sempre de 10
programa de acolhimento familiar e institucional e pela execução (dez) dias; (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
da política municipal de garantia do direito à convivência familiar. III - os recursos terão preferência de julgamento e dispensarão
(Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) revisor;
§ 3o É recomendável que as crianças e os adolescentes acolhi- IV - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
dos institucionalmente ou por família acolhedora sejam prepara- V - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
dos por equipe interprofissional antes da inclusão em família adoti- VI - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
va. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior ins-
Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da participação tância, no caso de apelação, ou do instrumento, no caso de agravo,
no programa referido no art. 197-C desta Lei, a autoridade judiciá- a autoridade judiciária proferirá despacho fundamentado, manten-
ria, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, decidirá acerca das dili- do ou reformando a decisão, no prazo de cinco dias;
gências requeridas pelo Ministério Público e determinará a juntada VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão reme-
do estudo psicossocial, designando, conforme o caso, audiência de terá os autos ou o instrumento à superior instância dentro de vinte
instrução e julgamento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi- e quatro horas, independentemente de novo pedido do recorrente;
gência se a reformar, a remessa dos autos dependerá de pedido expresso
Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligências, ou sen- da parte interessada ou do Ministério Público, no prazo de cinco
do essas indeferidas, a autoridade judiciária determinará a juntada dias, contados da intimação.
do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista dos autos ao Ministé- Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art. 149
rio Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo. (Incluído caberá recurso de apelação.
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

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Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz efeito des- c) requisitar informações e documentos a particulares e insti-
de logo, embora sujeita a apelação, que será recebida exclusiva- tuições privadas;
mente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de adoção internacio- VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias
nal ou se houver perigo de dano irreparável ou de difícil reparação e determinar a instauração de inquérito policial, para apuração de
ao adotando. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência ilícitos ou infrações às normas de proteção à infância e à juventude;
Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qualquer dos VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais
genitores do poder familiar fica sujeita a apelação, que deverá ser assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as medidas
recebida apenas no efeito devolutivo. (Incluído pela Lei nº 12.010, judiciais e extrajudiciais cabíveis;
de 2009) Vigência IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas
Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção e de corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na defesa dos
destituição de poder familiar, em face da relevância das questões, interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à criança e ao
serão processados com prioridade absoluta, devendo ser imedia- adolescente;
tamente distribuídos, ficando vedado que aguardem, em qualquer X - representar ao juízo visando à aplicação de penalidade por
situação, oportuna distribuição, e serão colocados em mesa para infrações cometidas contra as normas de proteção à infância e à
julgamento sem revisão e com parecer urgente do Ministério Públi- juventude, sem prejuízo da promoção da responsabilidade civil e
co. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência penal do infrator, quando cabível;
Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em mesa para XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de atendi-
julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, contado da sua mento e os programas de que trata esta Lei, adotando de pronto
conclusão. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência as medidas administrativas ou judiciais necessárias à remoção de
Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da data do irregularidades porventura verificadas;
julgamento e poderá na sessão, se entender necessário, apresen- XII - requisitar força policial, bem como a colaboração dos ser-
tar oralmente seu parecer. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) viços médicos, hospitalares, educacionais e de assistência social,
Vigência públicos ou privados, para o desempenho de suas atribuições.
Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a instauração § 1º A legitimação do Ministério Público para as ações cíveis
de procedimento para apuração de responsabilidades se constatar previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipó-
o descumprimento das providências e do prazo previstos nos arti- teses, segundo dispuserem a Constituição e esta Lei.
gos anteriores. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 2º As atribuições constantes deste artigo não excluem ou-
tras, desde que compatíveis com a finalidade do Ministério Público.
CAPÍTULO V § 3º O representante do Ministério Público, no exercício de
DO MINISTÉRIO PÚBLICO suas funções, terá livre acesso a todo local onde se encontre crian-
ça ou adolescente.
Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta Lei § 4º O representante do Ministério Público será responsável
serão exercidas nos termos da respectiva lei orgânica. pelo uso indevido das informações e documentos que requisitar,
Art. 201. Compete ao Ministério Público: nas hipóteses legais de sigilo.
I - conceder a remissão como forma de exclusão do processo; § 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inciso VIII
II - promover e acompanhar os procedimentos relativos às in- deste artigo, poderá o representante do Ministério Público:
frações atribuídas a adolescentes; a) reduzir a termo as declarações do reclamante, instaurando o
III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os proce- competente procedimento, sob sua presidência;
dimentos de suspensão e destituição do poder familiar, nomeação b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade re-
e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem como oficiar em clamada, em dia, local e horário previamente notificados ou acer-
todos os demais procedimentos da competência da Justiça da In- tados;
fância e da Juventude; (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, c) efetuar recomendações visando à melhoria dos serviços pú-
de 2009) Vigência blicos e de relevância pública afetos à criança e ao adolescente,
IV - promover, de ofício ou por solicitação dos interessados, a fixando prazo razoável para sua perfeita adequação.
especialização e a inscrição de hipoteca legal e a prestação de con- Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for parte,
tas dos tutores, curadores e quaisquer administradores de bens de atuará obrigatoriamente o Ministério Público na defesa dos direitos
crianças e adolescentes nas hipóteses do art. 98; e interesses de que cuida esta Lei, hipótese em que terá vista dos
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a prote- autos depois das partes, podendo juntar documentos e requerer
ção dos interesses individuais, difusos ou coletivos relativos à infân- diligências, usando os recursos cabíveis.
cia e à adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § 3º inciso II, Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer caso,
da Constituição Federal; será feita pessoalmente.
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta
VI - instaurar procedimentos administrativos e, para instruí-los: a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo juiz ou a re-
a) expedir notificações para colher depoimentos ou esclareci- querimento de qualquer interessado.
mentos e, em caso de não comparecimento injustificado, requisitar Art. 205. As manifestações processuais do representante do
condução coercitiva, inclusive pela polícia civil ou militar; Ministério Público deverão ser fundamentadas.
b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de
autoridades municipais, estaduais e federais, da administração di-
reta ou indireta, bem como promover inspeções e diligências in-
vestigatórias;

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CAPÍTULO VI § 1o As hipóteses previstas neste artigo não excluem da prote-


DO ADVOGADO ção judicial outros interesses individuais, difusos ou coletivos, pró-
prios da infância e da adolescência, protegidos pela Constituição e
Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou responsável, pela Lei. (Renumerado do Parágrafo único pela Lei nº 11.259, de
e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse na solução da lide 2005)
poderão intervir nos procedimentos de que trata esta Lei, através § 2o A investigação do desaparecimento de crianças ou adoles-
de advogado, o qual será intimado para todos os atos, pessoalmen- centes será realizada imediatamente após notificação aos órgãos
te ou por publicação oficial, respeitado o segredo de justiça. competentes, que deverão comunicar o fato aos portos, aeropor-
Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária integral e tos, Polícia Rodoviária e companhias de transporte interestaduais e
gratuita àqueles que dela necessitarem. internacionais, fornecendo-lhes todos os dados necessários à iden-
Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática de tificação do desaparecido. (Incluído pela Lei nº 11.259, de 2005)
ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será processado Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no
sem defensor. foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo
§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á nomeado juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalva-
pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, constituir outro de das a competência da Justiça Federal e a competência originária
sua preferência. dos tribunais superiores.
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adiamento de Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses coletivos
nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear substituto, ainda ou difusos, consideram-se legitimados concorrentemente:
que provisoriamente, ou para o só efeito do ato. I - o Ministério Público;
§ 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se tratar II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e os
de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver sido indicado por territórios;
ocasião de ato formal com a presença da autoridade judiciária. III - as associações legalmente constituídas há pelo menos um
ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos inte-
CAPÍTULO VII resses e direitos protegidos por esta Lei, dispensada a autorização
DA PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES da assembleia, se houver prévia autorização estatutária.
INDIVIDUAIS, DIFUSOS E COLETIVOS § 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Ministérios
Públicos da União e dos estados na defesa dos interesses e direitos
Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de res- de que cuida esta Lei.
ponsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e ao § 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por asso-
adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta irregular: ciação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado poderá
(Vide Lei nº 12.010, de 2009) Vigência assumir a titularidade ativa.
I - do ensino obrigatório; Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos
II - de atendimento educacional especializado aos portadores interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exi-
de deficiência; gências legais, o qual terá eficácia de título executivo extrajudicial.
III – de atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos por
a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016) esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações pertinentes.
IV - de ensino noturno regular, adequado às condições do edu- § 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as normas do
cando; Código de Processo Civil.
V - de programas suplementares de oferta de material didáti- § 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública ou
co-escolar, transporte e assistência à saúde do educando do ensino agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder pú-
fundamental; blico, que lesem direito líquido e certo previsto nesta Lei, caberá
VI - de serviço de assistência social visando à proteção à famí- ação mandamental, que se regerá pelas normas da lei do mandado
lia, à maternidade, à infância e à adolescência, bem como ao ampa- de segurança.
ro às crianças e adolescentes que dele necessitem; Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obri-
VII - de acesso às ações e serviços de saúde; gação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da
VIII - de escolarização e profissionalização dos adolescentes obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado
privados de liberdade. prático equivalente ao do adimplemento.
IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio e pro- § 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo
moção social de famílias e destinados ao pleno exercício do direito justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz
à convivência familiar por crianças e adolescentes. (Incluído pela conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citando
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência o réu.
X - de programas de atendimento para a execução das medidas § 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na
socioeducativas e aplicação de medidas de proteção. (Incluído pela sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedi-
Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) do do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixan-
XI - de políticas e programas integrados de atendimento à do prazo razoável para o cumprimento do preceito.
criança e ao adolescente vítima ou testemunha de violência.(Inclu- § 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado
ído pela Lei nº 13.431, de 2017) (Vigência) da sentença favorável ao autor, mas será devida desde o dia em
que se houver configurado o descumprimento.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido pelo § 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção de ar-
Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo quivamento, em sessão do Conselho Superior do Ministério públi-
município. co, poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas
§ 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o trânsito em ou documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou ane-
julgado da decisão serão exigidas através de execução promovida xados às peças de informação.
pelo Ministério Público, nos mesmos autos, facultada igual iniciati- § 4º A promoção de arquivamento será submetida a exame e
va aos demais legitimados. deliberação do Conselho Superior do Ministério Público, conforme
§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro fica- dispuser o seu regimento.
rá depositado em estabelecimento oficial de crédito, em conta com § 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção
correção monetária. de arquivamento, designará, desde logo, outro órgão do Ministério
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, Público para o ajuizamento da ação.
para evitar dano irreparável à parte. Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as dis-
Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser con- posições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985.
denação ao poder público, o juiz determinará a remessa de peças à
autoridade competente, para apuração da responsabilidade civil e TÍTULO VII
administrativa do agente a que se atribua a ação ou omissão. DOS CRIMES E DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da CAPÍTULO I
sentença condenatória sem que a associação autora lhe promova a DOS CRIMES
execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual inicia- SEÇÃO I
tiva aos demais legitimados. DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar ao réu
os honorários advocatícios arbitrados na conformidade do § 4º do Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra
art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Pro- a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem prejuízo do
cesso Civil), quando reconhecer que a pretensão é manifestamente disposto na legislação penal.
infundada. Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as normas
Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a associação da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao processo, as pertinen-
autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão tes ao Código de Processo Penal.
solidariamente condenados ao décuplo das custas, sem prejuízo de Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública in-
responsabilidade por perdas e danos. condicionada
Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá Art. 227-AOs efeitos da condenação prevista no inciso I do
adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e caput do art. 92 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
quaisquer outras despesas. (Código Penal), para os crimes previstos nesta Lei, praticados por
Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá servidores públicos com abuso de autoridade, são condicionados
provocar a iniciativa do Ministério Público, prestando-lhe informa- à ocorrência de reincidência.(Incluído pela Lei nº 13.869. de 2019)
ções sobre fatos que constituam objeto de ação civil, e indicando- Parágrafo único.A perda do cargo, do mandato ou da função,
-lhe os elementos de convicção. nesse caso, independerá da pena aplicada na reincidência.(Incluído
Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e tribunais pela Lei nº 13.869. de 2019)
tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura
de ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as provi- SEÇÃO II
dências cabíveis. DOS CRIMES EM ESPÉCIE
Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado poderá re-
querer às autoridades competentes as certidões e informações que Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de es-
julgar necessárias, que serão fornecidas no prazo de quinze dias. tabelecimento de atenção à saúde de gestante de manter registro
Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presi- das atividades desenvolvidas, na forma e prazo referidos no art. 10
dência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pessoa, organis- desta Lei, bem como de fornecer à parturiente ou a seu responsá-
mo público ou particular, certidões, informações, exames ou pe- vel, por ocasião da alta médica, declaração de nascimento, onde
rícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a dez constem as intercorrências do parto e do desenvolvimento do ne-
dias úteis. onato:
§ 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as dili- Pena - detenção de seis meses a dois anos.
gências, se convencer da inexistência de fundamento para a pro- Parágrafo único. Se o crime é culposo:
positura da ação cível, promoverá o arquivamento dos autos do Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamenta- Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabe-
damente. lecimento de atenção à saúde de gestante de identificar correta-
§ 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informação ar- mente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, bem como
quivados serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 desta Lei:
no prazo de três dias, ao Conselho Superior do Ministério Público. Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou
procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infra- de hospitalidade; ou (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
cional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária com- III – prevalecendo-se de relações de parentesco consanguíneo
petente: ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador, pre-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. ceptor, empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro título,
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à tenha autoridade sobre ela, ou com seu consentimento. (Incluído
apreensão sem observância das formalidades legais. pela Lei nº 11.829, de 2008)
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apre- Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou ou-
ensão de criança ou adolescente de fazer imediata comunicação tro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº
pessoa por ele indicada: 11.829, de 2008)
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Reda-
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, ção dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento: Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distri-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. buir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de
Art. 233. (Revogado pela Lei nº 9.455, de 7.4.1997: sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica en-
ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão logo volvendo criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de
tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão: 2008)
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído
Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta pela Lei nº 11.829, de 2008)
Lei em benefício de adolescente privado de liberdade: § 1o Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº
Pena - detenção de seis meses a dois anos. 11.829, de 2008)
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciá- I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das
ria, membro do Conselho Tutelar ou representante do Ministério fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo;
Público no exercício de função prevista nesta Lei: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena - detenção de seis meses a dois anos. II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de compu-
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste
tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
de colocação em lar substituto: § 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o deste
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa. artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação do
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso ao
terceiro, mediante paga ou recompensa: conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo. (Incluído pela Lei
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa. nº 11.829, de 2008)
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio,
efetiva a paga ou recompensa. fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
envio de criança ou adolescente para o exterior com inobservância (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
das formalidades legais ou com o fito de obter lucro: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa. pela Lei nº 11.829, de 2008)
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou § 1o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de pe-
fraude: (Incluído pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003) quena quantidade o material a que se refere o caput deste artigo.
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena corres- (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
pondente à violência. § 2o Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a fi-
Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou re- nalidade de comunicar às autoridades competentes a ocorrência
gistrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfi- das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei,
ca, envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº quando a comunicação for feita por: (Incluído pela Lei nº 11.829,
11.829, de 2008) de 2008)
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Reda- I – agente público no exercício de suas funções; (Incluído pela
ção dada pela Lei nº 11.829, de 2008) Lei nº 11.829, de 2008)
§ 1o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, II – membro de entidade, legalmente constituída, que inclua,
coage, ou de qualquer modo intermedeia a participação de criança entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o processa-
ou adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda mento e o encaminhamento de notícia dos crimes referidos neste
quem com esses contracena. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de parágrafo;(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
2008) III – representante legal e funcionários responsáveis de prove-
§ 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete dor de acesso ou serviço prestado por meio de rede de computado-
o crime: (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008) res, até o recebimento do material relativo à notícia feita à autori-
I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de dade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário. (Incluído
exercê-la; (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008) pela Lei nº 11.829, de 2008)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 3o As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão manter Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da per-
sob sigilo o material ilícito referido. (Incluído pela Lei nº 11.829, de da de bens e valores utilizados na prática criminosa em favor do
2008) Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da unidade da Fe-
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente deração (Estado ou Distrito Federal) em que foi cometido o crime,
em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adultera- ressalvado o direito de terceiro de boa-fé. (Redação dada pela Lei
ção, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer nº 13.440, de 2017)
outra forma de representação visual: (Incluído pela Lei nº 11.829, § 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou
de 2008) o responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Incluído ou adolescente às práticas referidas no caput deste artigo. (Incluído
pela Lei nº 11.829, de 2008) pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000)
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, ex- § 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da
põe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qual- licença de localização e de funcionamento do estabelecimento. (In-
quer meio, adquire, possui ou armazena o material produzido na cluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000)
forma do caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qual- (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a
quer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar praticá-la:(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
ato libidinoso:(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.(Incluído pela Lei
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Incluído nº 12.015, de 2009)
pela Lei nº 11.829, de 2008) § 1o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer meios
pela Lei nº 11.829, de 2008) eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet. (Incluído pela
I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo Lei nº 12.015, de 2009)
cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela prati- § 2o As penas previstas no caput deste artigo são aumenta-
car ato libidinoso;(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) das de um terço no caso de a infração cometida ou induzida estar
II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990.
fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou sexual- (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
mente explícita.(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expres- CAPÍTULO II
são “cena de sexo explícito ou pornográfica” compreende qualquer DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais
explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por esta-
uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais(In- belecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-es-
cluído pela Lei nº 11.829, de 2008) cola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entre- que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de
gar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma, munição maus-tratos contra criança ou adolescente:
ou explosivo: Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. (Redação dada pela o dobro em caso de reincidência.
Lei nº 10.764, de 12.11.2003) Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de entidade de
Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda atendimento o exercício dos direitos constantes nos incisos II, III,
que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a adolescente, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:
bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos com- Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se
ponentes possam causar dependência física ou psíquica: (Redação o dobro em caso de reincidência.
dada pela Lei nº 13.106, de 2015) Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização de-
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato vida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou documento
não constitui crime mais grave. (Redação dada pela Lei nº 13.106, de procedimento policial, administrativo ou judicial relativo a crian-
de 2015) ça ou adolescente a que se atribua ato infracional:
Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entre- Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se
gar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos de estampi- o dobro em caso de reincidência.
do ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu reduzido potencial, § 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcialmen-
sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de uti- te, fotografia de criança ou adolescente envolvido em ato infracio-
lização indevida: nal, ou qualquer ilustração que lhe diga respeito ou se refira a atos
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa. que lhe sejam atribuídos, de forma a permitir sua identificação, di-
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais defi- reta ou indiretamente.
nidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à exploração § 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou emissora
sexual: (Incluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000) de rádio ou televisão, além da pena prevista neste artigo, a auto-
ridade judiciária poderá determinar a apreensão da publicação ou
a suspensão da programação da emissora até por dois dias, bem
como da publicação do periódico até por dois números. (Expressão
declara inconstitucional pela ADIN 869-2).
Art. 248. (Revogado pela Lei nº 13.431, de 2017) (Vigência)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres ine- Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o em-
rentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda, bem presário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso de crian-
assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar: ça ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre sua participação
(Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência no espetáculo: (Vide Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso
o dobro em caso de reincidência. de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o fecha-
Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacompanhado mento do estabelecimento por até quinze dias.
dos pais ou responsável, ou sem autorização escrita desses ou da Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de providenciar a
autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou congênere:(Re- instalação e operacionalização dos cadastros previstos no art. 50 e
dação dada pela Lei nº 12.038, de 2009). no § 11 do art. 101 desta Lei: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Pena – multa. (Redação dada pela Lei nº 12.038, de 2009). Vigência
§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de multa, Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil
a autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do esta- reais). (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
belecimento por até 15 (quinze) dias. (Incluído pela Lei nº 12.038, Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autoridade que
de 2009). deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de adolescentes
§ 2º Se comprovada a reincidência em período inferior a 30 em condições de serem adotadas, de pessoas ou casais habilitados
(trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente fechado e terá à adoção e de crianças e adolescentes em regime de acolhimento
sua licença cassada. (Incluído pela Lei nº 12.038, de 2009). institucional ou familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi-
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer gência
meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 e 85 desta Lei: Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de esta-
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se belecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar imediato
o dobro em caso de reincidência. encaminhamento à autoridade judiciária de caso de que tenha co-
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo pú- nhecimento de mãe ou gestante interessada em entregar seu filho
blico de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada do local para adoção: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
de exibição, informação destacada sobre a natureza da diversão ou Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil
espetáculo e a faixa etária especificada no certificado de classifica- reais). (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
ção: Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário de pro-
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se grama oficial ou comunitário destinado à garantia do direito à con-
o dobro em caso de reincidência. vivência familiar que deixa de efetuar a comunicação referida no
Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer repre- caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
sentações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade a que não Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no inciso II do
se recomendem: art. 81: (Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015)
Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicada Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ 10.000,00 (dez
em caso de reincidência, aplicável, separadamente, à casa de espe- mil reais);(Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015)
táculo e aos órgãos de divulgação ou publicidade. Medida Administrativa - interdição do estabelecimento comer-
Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo cial até o recolhimento da multa aplicada. (Redação dada pela Lei
em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sua classificação: nº 13.106, de 2015)
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada
em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá determinar DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
a suspensão da programação da emissora por até dois dias.
Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere clas- Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da pu-
sificado pelo órgão competente como inadequado às crianças ou blicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dispondo sobre
adolescentes admitidos ao espetáculo: a criação ou adaptação de seus órgãos às diretrizes da política de
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na reinci- atendimento fixadas no art. 88 e ao que estabelece o Título V do
dência, a autoridade poderá determinar a suspensão do espetáculo Livro II.
ou o fechamento do estabelecimento por até quinze dias. Parágrafo único. Compete aos estados e municípios promove-
Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de pro- rem a adaptação de seus órgãos e programas às diretrizes e princí-
gramação em vídeo, em desacordo com a classificação atribuída pios estabelecidos nesta Lei.
pelo órgão competente: Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos Fun-
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso dos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital,
de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o fecha- estaduais ou municipais, devidamente comprovadas, sendo essas
mento do estabelecimento por até quinze dias. integralmente deduzidas do imposto de renda, obedecidos os se-
Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e 79 des- guintes limites:(Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
ta Lei: I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido apurado
Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicando- pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real; e(Reda-
-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de apreensão da ção dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
revista ou publicação. II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apurado pelas
pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, observado o dispos-
to no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de dezembro de 1997.(Redação
dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 1º - (Revogado pela Lei nº 9.532, de 10.12.1997) § 3o O pagamento da doação deve ser efetuado até a data de
§ 1o-A. Na definição das prioridades a serem atendidas com vencimento da primeira quota ou quota única do imposto, obser-
os recursos captados pelos fundos nacional, estaduais e municipais vadas instruções específicas da Secretaria da Receita Federal do
dos direitos da criança e do adolescente, serão consideradas as Brasil. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
disposições do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do § 4o O não pagamento da doação no prazo estabelecido no
Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comu- § 3o implica a glosa definitiva desta parcela de dedução, ficando
nitária e as do Plano Nacional pela Primeira Infância. (Redação dada a pessoa física obrigada ao recolhimento da diferença de imposto
dada pela Lei nº 13.257, de 2016) devido apurado na Declaração de Ajuste Anual com os acréscimos
§ 2o Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos direi- legais previstos na legislação. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)
tos da criança e do adolescente fixarão critérios de utilização, por (Vide)
meio de planos de aplicação, das dotações subsidiadas e demais § 5o A pessoa física poderá deduzir do imposto apurado na De-
receitas, aplicando necessariamente percentual para incentivo ao claração de Ajuste Anual as doações feitas, no respectivo ano-ca-
acolhimento, sob a forma de guarda, de crianças e adolescentes e lendário, aos fundos controlados pelos Conselhos dos Direitos da
para programas de atenção integral à primeira infância em áreas Criança e do Adolescente municipais, distrital, estaduais e nacional
de maior carência socioeconômica e em situações de calamidade. concomitantemente com a opção de que trata o caput, respeitado
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) o limite previsto no inciso II do art. 260. (Incluído pela Lei nº 12.594,
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministério da de 2012) (Vide)
Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará a comprovação Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art. 260 poderá
das doações feitas aos fundos, nos termos deste artigo. (Incluído ser deduzida: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991) I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas jurídicas
§ 4º O Ministério Público determinará em cada comarca a for- que apuram o imposto trimestralmente; e (Incluído pela Lei nº
ma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo Municipal dos Direitos 12.594, de 2012) (Vide)
da Criança e do Adolescente, dos incentivos fiscais referidos neste II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual, para as
artigo. (Incluído pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991) pessoas jurídicas que apuram o imposto anualmente. (Incluído pela
§ 5o Observado o disposto no § 4o do art. 3o da Lei no 9.249, Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que trata o inciso I do Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada dentro do pe-
caput: (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) ríodo a que se refere a apuração do imposto. (Incluído pela Lei nº
I - será considerada isoladamente, não se submetendo a limite 12.594, de 2012) (Vide)
em conjunto com outras deduções do imposto; e (Incluído pela Lei Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta Lei podem
nº 12.594, de 2012) (Vide) ser efetuadas em espécie ou em bens. (Incluído pela Lei nº 12.594,
II - não poderá ser computada como despesa operacional na de 2012) (Vide)
apuração do lucro real. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie devem ser
Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calendário de depositadas em conta específica, em instituição financeira pública,
2009, a pessoa física poderá optar pela doação de que trata o inciso vinculadas aos respectivos fundos de que trata o art. 260. (Incluído
II do caput do art. 260 diretamente em sua Declaração de Ajuste pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Anual. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração das
§ 1o A doação de que trata o caput poderá ser deduzida até os contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente na-
seguintes percentuais aplicados sobre o imposto apurado na decla- cional, estaduais, distrital e municipais devem emitir recibo em fa-
ração: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) vor do doador, assinado por pessoa competente e pelo presidente
I - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) do Conselho correspondente, especificando: (Incluído pela Lei nº
II - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) 12.594, de 2012) (Vide)
III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012. (Incluído I - número de ordem; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)
pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) (Vide)
§ 2o A dedução de que trata o caput: (Incluído pela Lei nº II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e ende-
12.594, de 2012) (Vide) reço do emitente; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do imposto so- III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) do doa-
bre a renda apurado na declaração de que trata o inciso II do caput dor; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
do art. 260; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e (Incluído
II - não se aplica à pessoa física que: (Incluído pela Lei nº 12.594, pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
de 2012) (Vide) V - ano-calendário a que se refere a doação. (Incluído pela Lei
a) utilizar o desconto simplificado; (Incluído pela Lei nº 12.594, nº 12.594, de 2012) (Vide)
de 2012) (Vide) § 1o O comprovante de que trata o caput deste artigo pode ser
b) apresentar declaração em formulário; ou (Incluído pela Lei emitido anualmente, desde que discrimine os valores doados mês
nº 12.594, de 2012) (Vide) a mês. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
c) entregar a declaração fora do prazo; (Incluído pela Lei nº § 2o No caso de doação em bens, o comprovante deve conter
12.594, de 2012) (Vide) a identificação dos bens, mediante descrição em campo próprio ou
III - só se aplica às doações em espécie; e (Incluído pela Lei nº em relação anexa ao comprovante, informando também se houve
12.594, de 2012) (Vide) avaliação, o nome, CPF ou CNPJ e endereço dos avaliadores. (Inclu-
IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções em vi- ído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
gor. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

134
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador deverá: V - o total dos recursos recebidos e a respectiva destinação, por
(Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) projeto atendido, inclusive com cadastramento na base de dados
I - comprovar a propriedade dos bens, mediante documenta- do Sistema de Informações sobre a Infância e a Adolescência; e (In-
ção hábil; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) cluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
II - baixar os bens doados na declaração de bens e direitos, VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficiados com
quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, no caso de pes- recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente na-
soa jurídica; e (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) cional, estaduais, distrital e municipais. (Incluído pela Lei nº 12.594,
III - considerar como valor dos bens doados: (Incluído pela Lei de 2012) (Vide)
nº 12.594, de 2012) (Vide) Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada Comar-
a) para as pessoas físicas, o valor constante da última declara- ca, a forma de fiscalização da aplicação dos incentivos fiscais refe-
ção do imposto de renda, desde que não exceda o valor de merca- ridos no art. 260 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)
do; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) (Vide)
b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens. (Incluído Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos arts. 260-
pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) G e 260-I sujeitará os infratores a responder por ação judicial pro-
posta pelo Ministério Público, que poderá atuar de ofício, a reque-
Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não será rimento ou representação de qualquer cidadão. (Incluído pela Lei
considerado na determinação do valor dos bens doados, exceto se nº 12.594, de 2012) (Vide)
o leilão for determinado por autoridade judiciária. (Incluído pela Lei Art. 260-K. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
nº 12.594, de 2012) (Vide) República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria da Receita Federal
Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts. 260-D e do Brasil, até 31 de outubro de cada ano, arquivo eletrônico con-
260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por um prazo de 5 tendo a relação atualizada dos Fundos dos Direitos da Criança e do
(cinco) anos para fins de comprovação da dedução perante a Re- Adolescente nacional, distrital, estaduais e municipais, com a indi-
ceita Federal do Brasil. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) cação dos respectivos números de inscrição no CNPJ e das contas
Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração das bancárias específicas mantidas em instituições financeiras públicas,
contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente na- destinadas exclusivamente a gerir os recursos dos Fundos. (Incluído
cional, estaduais, distrital e municipais devem: (Incluído pela Lei nº pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
12.594, de 2012) (Vide) Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil expedirá as
I - manter conta bancária específica destinada exclusivamente instruções necessárias à aplicação do disposto nos arts. 260 a 260-
a gerir os recursos do Fundo; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) K. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
(Vide) Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos da crian-
II - manter controle das doações recebidas; e (Incluído pela Lei ça e do adolescente, os registros, inscrições e alterações a que se
nº 12.594, de 2012) (Vide) referem os arts. 90, parágrafo único, e 91 desta Lei serão efetuados
III - informar anualmente à Secretaria da Receita Federal do perante a autoridade judiciária da comarca a que pertencer a en-
Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando os seguintes tidade.
dados por doador: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar aos estados
a) nome, CNPJ ou CPF; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) e municípios, e os estados aos municípios, os recursos referentes
(Vide) aos programas e atividades previstos nesta Lei, tão logo estejam
b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie ou em criados os conselhos dos direitos da criança e do adolescente nos
bens. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) seus respectivos níveis.
Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obrigações pre- Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tutelares, as
vistas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal do Brasil dará atribuições a eles conferidas serão exercidas pela autoridade judi-
conhecimento do fato ao Ministério Público. (Incluído pela Lei nº ciária.
12.594, de 2012) (Vide) Art. 263. O Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940
Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adoles- (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes alterações:
cente nacional, estaduais, distrital e municipais divulgarão ampla- 1) Art. 121 ............................................................
mente à comunidade: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço,
I - o calendário de suas reuniões; (Incluído pela Lei nº 12.594, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão,
de 2012) (Vide) arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à
II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de atendi- vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge
mento à criança e ao adolescente; (Incluído pela Lei nº 12.594, de para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena
2012) (Vide) é aumentada de um terço, se o crime é praticado contra pessoa
III - os requisitos para a apresentação de projetos a serem be- menor de catorze anos.
neficiados com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do 2) Art. 129 ...............................................................
Adolescente nacional, estaduais, distrital ou municipais; (Incluído § 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das
pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) hipóteses do art. 121, § 4º.
IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-calendário § 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
e o valor dos recursos previstos para implementação das ações, por 3) Art. 136.................................................................
projeto; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) § 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado
contra pessoa menor de catorze anos.

135
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

4) Art. 213 .................................................................. § 2º Aos adolescentes com idade entre 15 (quinze) e 18 (de-
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos: zoito) anos aplica-se a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Esta-
Pena - reclusão de quatro a dez anos. tuto da Criança e do Adolescente, e, excepcionalmente, este Es-
5) Art. 214................................................................... tatuto, quando não conflitar com as normas de proteção integral
Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze anos: do adolescente.
Pena - reclusão de três a nove anos.»
Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de dezembro de SEÇÃO I
1973, fica acrescido do seguinte item: DOS PRINCÍPIOS
“Art. 102 ....................................................................
6º) a perda e a suspensão do pátrio poder. “ Art. 2º O disposto nesta Lei e as políticas públicas de juventu-
Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da União, da de são regidos pelos seguintes princípios:
administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e I - promoção da autonomia e emancipação dos jovens;
mantidas pelo poder público federal promoverão edição popular II - valorização e promoção da participação social e política,
do texto integral deste Estatuto, que será posto à disposição das de forma direta e por meio de suas representações;
escolas e das entidades de atendimento e de defesa dos direitos da III - promoção da criatividade e da participação no desenvol-
criança e do adolescente. vimento do País;
Art. 265-A. O poder público fará periodicamente ampla divul- IV - reconhecimento do jovem como sujeito de direitos uni-
gação dos direitos da criança e do adolescente nos meios de comu- versais, geracionais e singulares;
nicação social. (Redação dada dada pela Lei nº 13.257, de 2016) V - promoção do bem-estar, da experimentação e do desen-
Parágrafo único. A divulgação a que se refere o caput será vei- volvimento integral do jovem;
culada em linguagem clara, compreensível e adequada a crianças VI - respeito à identidade e à diversidade individual e coletiva
e adolescentes, especialmente às crianças com idade inferior a 6 da juventude;
(seis) anos. (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de 2016) VII - promoção da vida segura, da cultura da paz, da solidarie-
Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua publi- dade e da não discriminação; e
cação. VIII - valorização do diálogo e convívio do jovem com as de-
Parágrafo único. Durante o período de vacância deverão ser mais gerações.
promovidas atividades e campanhas de divulgação e esclarecimen- Parágrafo único. A emancipação dos jovens a que se refere
tos acerca do disposto nesta Lei. o inciso I do caput refere-se à trajetória de inclusão, liberdade e
Art. 267. Revogam-se as Leis n.º 4.513, de 1964, e 6.697, de 10 participação do jovem na vida em sociedade, e não ao instituto da
de outubro de 1979 (Código de Menores), e as demais disposições emancipação disciplinado pela Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de
em contrário. 2002 - Código Civil.

SEÇÃO II
LEI Nº 12.852/2013 – ESTATUTO DA JUVENTUDE DIRETRIZES GERAIS

LEI Nº 12.852, DE 5 DE AGOSTO DE 2013. Art. 3º Os agentes públicos ou privados envolvidos com políti-
cas públicas de juventude devem observar as seguintes diretrizes:
Institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos I - desenvolver a intersetorialidade das políticas estruturais,
dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de ju- programas e ações;
ventude e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE. II - incentivar a ampla participação juvenil em sua formulação,
implementação e avaliação;
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na- III - ampliar as alternativas de inserção social do jovem, pro-
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: movendo programas que priorizem o seu desenvolvimento inte-
gral e participação ativa nos espaços decisórios;
TÍTULO I IV - proporcionar atendimento de acordo com suas especifi-
DOS DIREITOS E DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE cidades perante os órgãos públicos e privados prestadores de ser-
viços à população, visando ao gozo de direitos simultaneamente
CAPÍTULO I nos campos da saúde, educacional, político, econômico, social,
DOS PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE cultural e ambiental;
JUVENTUDE V - garantir meios e equipamentos públicos que promovam o
acesso à produção cultural, à prática esportiva, à mobilidade terri-
Art. 1º Esta Lei institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre torial e à fruição do tempo livre;
os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públi- VI - promover o território como espaço de integração;
cas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE. VII - fortalecer as relações institucionais com os entes fede-
§ 1º Para os efeitos desta Lei, são consideradas jovens as pes- rados e as redes de órgãos, gestores e conselhos de juventude;
soas com idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos de ida- VIII - estabelecer mecanismos que ampliem a gestão de infor-
de. mação e produção de conhecimento sobre juventude;
IX - promover a integração internacional entre os jovens, pre-
ferencialmente no âmbito da América Latina e da África, e a coo-
peração internacional;

136
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

X - garantir a integração das políticas de juventude com os § 1º A educação básica será ministrada em língua portugue-
Poderes Legislativo e Judiciário, com o Ministério Público e com a sa, assegurada aos jovens indígenas e de povos e comunidades
Defensoria Pública; e tradicionais a utilização de suas línguas maternas e de processos
XI - zelar pelos direitos dos jovens com idade entre 18 (dezoi- próprios de aprendizagem.
to) e 29 (vinte e nove) anos privados de liberdade e egressos do § 2º É dever do Estado oferecer aos jovens que não concluí-
sistema prisional, formulando políticas de educação e trabalho, ram a educação básica programas na modalidade da educação de
incluindo estímulos à sua reinserção social e laboral, bem como jovens e adultos, adaptados às necessidades e especificidades da
criando e estimulando oportunidades de estudo e trabalho que juventude, inclusive no período noturno, ressalvada a legislação
favoreçam o cumprimento do regime semiaberto. educacional específica.
§ 3º São assegurados aos jovens com surdez o uso e o ensino
CAPÍTULO II da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, em todas as etapas e mo-
DOS DIREITOS DOS JOVENS dalidades educacionais.
§ 4º É assegurada aos jovens com deficiência a inclusão no
SEÇÃO I ensino regular em todos os níveis e modalidades educacionais,
DO DIREITO À CIDADANIA, À PARTICIPAÇÃO SOCIAL E POLÍ- incluindo o atendimento educacional especializado, observada
TICA E À REPRESENTAÇÃO JUVENIL a acessibilidade a edificações, transportes, espaços, mobiliários,
equipamentos, sistemas e meios de comunicação e assegurados
Art. 4º O jovem tem direito à participação social e política e os recursos de tecnologia assistiva e adaptações necessárias a
na formulação, execução e avaliação das políticas públicas de ju- cada pessoa.
ventude. § 5º A Política Nacional de Educação no Campo contemplará
Parágrafo único. Entende-se por participação juvenil: a ampliação da oferta de educação para os jovens do campo, em
I - a inclusão do jovem nos espaços públicos e comunitários todos os níveis e modalidades educacionais.
a partir da sua concepção como pessoa ativa, livre, responsável Art. 8º O jovem tem direito à educação superior, em institui-
e digna de ocupar uma posição central nos processos políticos e ções públicas ou privadas, com variados graus de abrangência do
sociais; saber ou especialização do conhecimento, observadas as regras
II - o envolvimento ativo dos jovens em ações de políticas de acesso de cada instituição.
públicas que tenham por objetivo o próprio benefício, o de suas § 1º É assegurado aos jovens negros, indígenas e alunos oriun-
comunidades, cidades e regiões e o do País; dos da escola pública o acesso ao ensino superior nas instituições
III - a participação individual e coletiva do jovem em ações públicas por meio de políticas afirmativas, nos termos da lei.
que contemplem a defesa dos direitos da juventude ou de temas § 2º O poder público promoverá programas de expansão da
afetos aos jovens; e oferta de educação superior nas instituições públicas, de financia-
IV - a efetiva inclusão dos jovens nos espaços públicos de de- mento estudantil e de bolsas de estudos nas instituições privadas,
cisão com direito a voz e voto. em especial para jovens com deficiência, negros, indígenas e alu-
Art. 5º A interlocução da juventude com o poder público pode nos oriundos da escola pública.
realizar-se por intermédio de associações, redes, movimentos e Art. 9º O jovem tem direito à educação profissional e tecnoló-
organizações juvenis. gica, articulada com os diferentes níveis e modalidades de educa-
Parágrafo único. É dever do poder público incentivar a livre ção, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, observada a legislação
associação dos jovens. vigente.
Art. 6º São diretrizes da interlocução institucional juvenil: Art. 10. É dever do Estado assegurar ao jovem com deficiência
I - a definição de órgão governamental específico para a ges- o atendimento educacional especializado gratuito, preferencial-
tão das políticas públicas de juventude; mente, na rede regular de ensino.
II - o incentivo à criação de conselhos de juventude em todos Art. 11. O direito ao programa suplementar de transporte es-
os entes da Federação. colar de que trata o art. 4º da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro
Parágrafo único. Sem prejuízo das atribuições do órgão go- de 1996, será progressivamente estendido ao jovem estudante do
vernamental específico para a gestão das políticas públicas de ju- ensino fundamental, do ensino médio e da educação superior, no
ventude e dos conselhos de juventude com relação aos direitos campo e na cidade.
previstos neste Estatuto, cabe ao órgão governamental de gestão § 1º (VETADO).
e aos conselhos dos direitos da criança e do adolescente a inter- § 2º (VETADO).
locução institucional com adolescentes de idade entre 15 (quinze) Art. 12. É garantida a participação efetiva do segmento ju-
e 18 (dezoito) anos. venil, respeitada sua liberdade de organização, nos conselhos e
instâncias deliberativas de gestão democrática das escolas e uni-
SEÇÃO II versidades.
DO DIREITO À EDUCAÇÃO Art. 13. As escolas e as universidades deverão formular e im-
plantar medidas de democratização do acesso e permanência,
Art. 7º O jovem tem direito à educação de qualidade, com a inclusive programas de assistência estudantil, ação afirmativa e
garantia de educação básica, obrigatória e gratuita, inclusive para inclusão social para os jovens estudantes.
os que a ela não tiveram acesso na idade adequada.

137
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

SEÇÃO III I - etnia, raça, cor da pele, cultura, origem, idade e sexo;
DO DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO, AO TRABALHO E À II - orientação sexual, idioma ou religião;
RENDA III - opinião, deficiência e condição social ou econômica.
Art. 18. A ação do poder público na efetivação do direito do
Art. 14. O jovem tem direito à profissionalização, ao trabalho jovem à diversidade e à igualdade contempla a adoção das seguin-
e à renda, exercido em condições de liberdade, equidade e segu- tes medidas:
rança, adequadamente remunerado e com proteção social. I - adoção, nos âmbitos federal, estadual, municipal e do Dis-
Art. 15. A ação do poder público na efetivação do direito do trito Federal, de programas governamentais destinados a assegu-
jovem à profissionalização, ao trabalho e à renda contempla a rar a igualdade de direitos aos jovens de todas as raças e etnias,
adoção das seguintes medidas: independentemente de sua origem, relativamente à educação, à
I - promoção de formas coletivas de organização para o traba- profissionalização, ao trabalho e renda, à cultura, à saúde, à segu-
lho, de redes de economia solidária e da livre associação; rança, à cidadania e ao acesso à justiça;
II - oferta de condições especiais de jornada de trabalho por II - capacitação dos professores dos ensinos fundamental e
meio de: médio para a aplicação das diretrizes curriculares nacionais no
a) compatibilização entre os horários de trabalho e de estudo; que se refere ao enfrentamento de todas as formas de discrimi-
b) oferta dos níveis, formas e modalidades de ensino em nação;
horários que permitam a compatibilização da frequência escolar III - inclusão de temas sobre questões étnicas, raciais, de defi-
com o trabalho regular; ciência, de orientação sexual, de gênero e de violência doméstica
III - criação de linha de crédito especial destinada aos jovens e sexual praticada contra a mulher na formação dos profissionais
empreendedores; de educação, de saúde e de segurança pública e dos operadores
IV - atuação estatal preventiva e repressiva quanto à explora- do direito;
ção e precarização do trabalho juvenil; IV - observância das diretrizes curriculares para a educação
V - adoção de políticas públicas voltadas para a promoção do indígena como forma de preservação dessa cultura;
estágio, aprendizagem e trabalho para a juventude; V - inclusão, nos conteúdos curriculares, de informações so-
VI - apoio ao jovem trabalhador rural na organização da pro- bre a discriminação na sociedade brasileira e sobre o direito de to-
dução da agricultura familiar e dos empreendimentos familiares dos os grupos e indivíduos a tratamento igualitário perante a lei; e
rurais, por meio das seguintes ações: VI - inclusão, nos conteúdos curriculares, de temas relaciona-
a) estímulo à produção e à diversificação de produtos; dos à sexualidade, respeitando a diversidade de valores e crenças.
b) fomento à produção sustentável baseada na agroecologia,
nas agroindústrias familiares, na integração entre lavoura, pecuá- SEÇÃO V
ria e floresta e no extrativismo sustentável; DO DIREITO À SAÚDE
c) investimento em pesquisa de tecnologias apropriadas à
agricultura familiar e aos empreendimentos familiares rurais; Art. 19. O jovem tem direito à saúde e à qualidade de vida,
d) estímulo à comercialização direta da produção da agricul- considerando suas especificidades na dimensão da prevenção,
tura familiar, aos empreendimentos familiares rurais e à formação promoção, proteção e recuperação da saúde de forma integral.
de cooperativas; Art. 20. A política pública de atenção à saúde do jovem será
e) garantia de projetos de infraestrutura básica de acesso e desenvolvida em consonância com as seguintes diretrizes:
escoamento de produção, priorizando a melhoria das estradas e I - acesso universal e gratuito ao Sistema Único de Saúde - SUS
do transporte; e a serviços de saúde humanizados e de qualidade, que respeitem
f) promoção de programas que favoreçam o acesso ao crédi- as especificidades do jovem;
to, à terra e à assistência técnica rural; II - atenção integral à saúde, com especial ênfase ao atendi-
VII - apoio ao jovem trabalhador com deficiência, por meio mento e à prevenção dos agravos mais prevalentes nos jovens;
das seguintes ações: III - desenvolvimento de ações articuladas entre os serviços
a) estímulo à formação e à qualificação profissional em am- de saúde e os estabelecimentos de ensino, a sociedade e a família,
biente inclusivo; com vistas à prevenção de agravos;
b) oferta de condições especiais de jornada de trabalho; IV - garantia da inclusão de temas relativos ao consumo de
c) estímulo à inserção no mercado de trabalho por meio da álcool, tabaco e outras drogas, à saúde sexual e reprodutiva, com
condição de aprendiz. enfoque de gênero e dos direitos sexuais e reprodutivos nos pro-
Art. 16. O direito à profissionalização e à proteção no trabalho jetos pedagógicos dos diversos níveis de ensino;
dos adolescentes com idade entre 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos V - reconhecimento do impacto da gravidez planejada ou não,
de idade será regido pelo disposto na Lei nº 8.069, de 13 de julho sob os aspectos médico, psicológico, social e econômico;
de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, e em leis especí- VI - capacitação dos profissionais de saúde, em uma perspec-
ficas, não se aplicando o previsto nesta Seção. tiva multiprofissional, para lidar com temas relativos à saúde sexu-
al e reprodutiva dos jovens, inclusive com deficiência, e ao abuso
SEÇÃO IV de álcool, tabaco e outras drogas pelos jovens;
DO DIREITO À DIVERSIDADE E À IGUALDADE VII - habilitação dos professores e profissionais de saúde e de
assistência social para a identificação dos problemas relacionados
Art. 17. O jovem tem direito à diversidade e à igualdade de di- ao uso abusivo e à dependência de álcool, tabaco e outras drogas
reitos e de oportunidades e não será discriminado por motivo de: e o devido encaminhamento aos serviços assistenciais e de saúde;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

VIII - valorização das parcerias com instituições da socieda- § 1º Terão direito ao benefício previsto no caput os estudantes
de civil na abordagem das questões de prevenção, tratamento e regularmente matriculados nos níveis e modalidades de educação
reinserção social dos usuários e dependentes de álcool, tabaco e e ensino previstos no Título V da Lei nº 9.394, de 20 de dezem-
outras drogas; bro de 1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que
IX - proibição de propagandas de bebidas contendo qualquer comprovem sua condição de discente, mediante apresentação,
teor alcoólico com a participação de pessoa com menos de 18 (de- no momento da aquisição do ingresso e na portaria do local de
zoito) anos de idade; realização do evento, da Carteira de Identificação Estudantil - CIE.
X - veiculação de campanhas educativas relativas ao álcool, § 2º A CIE será expedida preferencialmente pela Associação
ao tabaco e a outras drogas como causadores de dependência; e Nacional de Pós-Graduandos, pela União Nacional dos Estudan-
XI - articulação das instâncias de saúde e justiça na preven- tes, pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas e por enti-
ção do uso e abuso de álcool, tabaco e outras drogas, inclusive dades estudantis estaduais e municipais a elas filiadas.
esteróides anabolizantes e, especialmente, crack . § 3º É garantida a gratuidade na expedição da CIE para es-
tudantes pertencentes a famílias de baixa renda, nos termos do
SEÇÃO VI regulamento.
D O DIREITO À CULTURA § 4º As entidades mencionadas no § 2º deste artigo deverão
tornar disponível, para eventuais consultas pelo poder público e
Art. 21. O jovem tem direito à cultura, incluindo a livre cria- pelos estabelecimentos referidos no caput , banco de dados com
ção, o acesso aos bens e serviços culturais e a participação nas o nome e o número de registro dos estudantes portadores da
decisões de política cultural, à identidade e diversidade cultural e Carteira de Identificação Estudantil, expedida nos termos do § 3º
à memória social. deste artigo.
Art. 22. Na consecução dos direitos culturais da juventude, § 5º A CIE terá validade até o dia 31 de março do ano subse-
compete ao poder público: quente à data de sua expedição.
I - garantir ao jovem a participação no processo de produção, § 6º As entidades mencionadas no § 2º deste artigo são obri-
reelaboração e fruição dos bens culturais; gadas a manter o documento comprobatório do vínculo do aluno
II - propiciar ao jovem o acesso aos locais e eventos culturais, com o estabelecimento escolar, pelo mesmo prazo de validade da
mediante preços reduzidos, em âmbito nacional; respectiva Carteira de Identificação Estudantil.
III - incentivar os movimentos de jovens a desenvolver ativi- § 7º Caberá aos órgãos públicos competentes federais, esta-
dades artístico-culturais e ações voltadas à preservação do patri- duais, municipais e do Distrito Federal a fiscalização do cumpri-
mônio histórico; mento do disposto neste artigo e a aplicação das sanções cabíveis,
IV - valorizar a capacidade criativa do jovem, mediante o de- nos termos do regulamento.
senvolvimento de programas e projetos culturais; § 8º Os benefícios previstos neste artigo não incidirão sobre
V - propiciar ao jovem o conhecimento da diversidade cultu- os eventos esportivos de que tratam as Leis nºs 12.663, de 5 de
ral, regional e étnica do País; junho de 2012, e 12.780, de 9 de janeiro de 201 3.
VI - promover programas educativos e culturais voltados para § 9º Considera-se de baixa renda, para os fins do disposto no
a problemática do jovem nas emissoras de rádio e televisão e nos caput , a família inscrita no Cadastro Único para Programas Sociais
demais meios de comunicação de massa; do Governo Federal - CadÚnico cuja renda mensal seja de até 2
VII - promover a inclusão digital dos jovens, por meio do aces- (dois) salários mínimos.
so às novas tecnologias da informação e comunicação; § 10. A concessão do benefício da meia-entrada de que trata
VIII - assegurar ao jovem do campo o direito à produção e o caput é limitada a 40% (quarenta por cento) do total de ingres-
à fruição cultural e aos equipamentos públicos que valorizem a sos disponíveis para cada evento.
cultura camponesa; e Art. 24. O poder público destinará, no âmbito dos respecti-
IX - garantir ao jovem com deficiência acessibilidade e adap- vos orçamentos, recursos financeiros para o fomento dos projetos
tações razoáveis. culturais destinados aos jovens e por eles produzidos.
Parágrafo único. A aplicação dos incisos I, III e VIII do caput Art. 25. Na destinação dos recursos do Fundo Nacional da
deve observar a legislação específica sobre o direito à profissiona- Cultura - FNC, de que trata a Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de
lização e à proteção no trabalho dos adolescentes. 1991, serão consideradas as necessidades específicas dos jovens
Art. 23. É assegurado aos jovens de até 29 (vinte e nove) anos em relação à ampliação do acesso à cultura e à melhoria das con-
pertencentes a famílias de baixa renda e aos estudantes, na forma dições para o exercício do protagonismo no campo da produção
do regulamento, o acesso a salas de cinema, cineclubes, teatros, cultural.
espetáculos musicais e circenses, eventos educativos, esportivos, Parágrafo único. As pessoas físicas ou jurídicas poderão optar
de lazer e entretenimento, em todo o território nacional, promo- pela aplicação de parcelas do imposto sobre a renda a título de
vidos por quaisquer entidades e realizados em estabelecimentos doações ou patrocínios, de que trata a Lei nº 8.313, de 23 de de-
públicos ou particulares, mediante pagamento da metade do zembro de 1991, no apoio a projetos culturais apresentados por
preço do ingresso cobrado do público em geral. (Regulamento) entidades juvenis legalmente constituídas há, pelo menos, 1 (um)
(Vigência) ano.

139
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

SEÇÃO VII II - a reserva de 2 (duas) vagas por veículo com desconto de


D O DIREITO À COMUNICAÇÃO E À LIBERDADE DE EXPRES- 50% (cinquenta por cento), no mínimo, no valor das passagens,
SÃO para os jovens de baixa renda, a serem utilizadas após esgotadas
as vagas previstas no inciso I.
Art. 26. O jovem tem direito à comunicação e à livre expres- Parágrafo único. Os procedimentos e os critérios para o exer-
são, à produção de conteúdo, individual e colaborativo, e ao aces- cício dos direitos previstos nos incisos I e II serão definidos em
so às tecnologias de informação e comunicação. regulamento.
Art. 27. A ação do poder público na efetivação do direito do Art. 33. A União envidará esforços, em articulação com os Es-
jovem à comunicação e à liberdade de expressão contempla a tados, o Distrito Federal e os Municípios, para promover a oferta
adoção das seguintes medidas: de transporte público subsidiado para os jovens, com prioridade
I - incentivar programas educativos e culturais voltados para para os jovens em situação de pobreza e vulnerabilidade, na for-
os jovens nas emissoras de rádio e televisão e nos demais meios ma do regulamento.
de comunicação de massa;
II - promover a inclusão digital dos jovens, por meio do acesso SEÇÃO X
às novas tecnologias de informação e comunicação; D O DIREITO À SUSTENTABILIDADE E AO MEIO AMBIENTE
III - promover as redes e plataformas de comunicação dos
jovens, considerando a acessibilidade para os jovens com defici- Art. 34. O jovem tem direito à sustentabilidade e ao meio am-
ência; biente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo,
IV - incentivar a criação e manutenção de equipamentos pú- essencial à sadia qualidade de vida, e o dever de defendê-lo e pre-
blicos voltados para a promoção do direito do jovem à comunica- servá-lo para a presente e as futuras gerações.
ção; e Art. 35. O Estado promoverá, em todos os níveis de ensino, a
V - garantir a acessibilidade à comunicação por meio de tec- educação ambiental voltada para a preservação do meio ambien-
nologias assistivas e adaptações razoáveis para os jovens com de- te e a sustentabilidade, de acordo com a Política Nacional do Meio
ficiência. Ambiente .
Art. 36. Na elaboração, na execução e na avaliação de políti-
SEÇÃO VIII cas públicas que incorporem a dimensão ambiental, o poder pú-
D O DIREITO AO DESPORTO E AO LAZER blico deverá considerar:
I - o estímulo e o fortalecimento de organizações, movimen-
Art. 28. O jovem tem direito à prática desportiva destinada a tos, redes e outros coletivos de juventude que atuem no âmbito
seu pleno desenvolvimento, com prioridade para o desporto de das questões ambientais e em prol do desenvolvimento susten-
participação. tável;
Parágrafo único. O direito à prática desportiva dos adolescen- II - o incentivo à participação dos jovens na elaboração das
tes deverá considerar sua condição peculiar de pessoa em desen- políticas públicas de meio ambiente;
volvimento. III - a criação de programas de educação ambiental destina-
Art. 29. A política pública de desporto e lazer destinada ao dos aos jovens; e
jovem deverá considerar: IV - o incentivo à participação dos jovens em projetos de ge-
I - a realização de diagnóstico e estudos estatísticos oficiais ração de trabalho e renda que visem ao desenvolvimento susten-
acerca da educação física e dos desportos e dos equipamentos de tável nos âmbitos rural e urbano.
lazer no Brasil; Parágrafo único. A aplicação do disposto no inciso IV do caput
II - a adoção de lei de incentivo fiscal para o esporte, com cri- deve observar a legislação específica sobre o direito à profissiona-
térios que priorizem a juventude e promovam a equidade; lização e à proteção no trabalho dos adolescentes.
III - a valorização do desporto e do paradesporto educacional;
IV - a oferta de equipamentos comunitários que permitam a SEÇÃO XI
prática desportiva, cultural e de lazer. DO DIREITO À SEGURANÇA PÚBLICA E AO ACESSO À JUSTI-
Art. 30. Todas as escolas deverão buscar pelo menos um local ÇA
apropriado para a prática de atividades poliesportivas.
Art. 37. Todos os jovens têm direito de viver em um ambiente
SEÇÃO IX seguro, sem violência, com garantia da sua incolumidade física e
DO DIREITO AO TERRITÓRIO E À MOBILIDADE mental, sendo-lhes asseguradas a igualdade de oportunidades e
facilidades para seu aperfeiçoamento intelectual, cultural e social.
Art. 31. O jovem tem direito ao território e à mobilidade, in- Art. 38. As políticas de segurança pública voltadas para os jo-
cluindo a promoção de políticas públicas de moradia, circulação e vens deverão articular ações da União, dos Estados, do Distrito
equipamentos públicos, no campo e na cidade. Federal e dos Municípios e ações não governamentais, tendo por
Parágrafo único. Ao jovem com deficiência devem ser garanti- diretrizes:
das a acessibilidade e as adaptações necessárias. I - a integração com as demais políticas voltadas à juventude;
Art. 32. No sistema de transporte coletivo interestadual, ob- II - a prevenção e enfrentamento da violência;
servar-se-á, nos termos da legislação específica: (Regulamento)
(Vigência)
I - a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para jo-
vens de baixa renda;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

III - a promoção de estudos e pesquisas e a obtenção de es- II - elaborar os respectivos planos estaduais de juventude, em
tatísticas e informações relevantes para subsidiar as ações de se- conformidade com o Plano Nacional, com a participação da socie-
gurança pública e permitir a avaliação periódica dos impactos das dade, em especial da juventude;
políticas públicas quanto às causas, às consequências e à frequên- III - criar, desenvolver e manter programas, ações e projetos
cia da violência contra os jovens; para a execução das políticas públicas de juventude;
IV - a priorização de ações voltadas para os jovens em situa- IV - convocar e realizar, em conjunto com o Conselho Estadual
ção de risco, vulnerabilidade social e egressos do sistema peniten- de Juventude, as Conferências Estaduais de Juventude, com inter-
ciário nacional; valo máximo de 4 (quatro) anos;
V - a promoção do acesso efetivo dos jovens à Defensoria Pú- V - editar normas complementares para a organização e o
blica, considerando as especificidades da condição juvenil; e funcionamento do Sinajuve, em âmbito estadual e municipal;
VI - a promoção do efetivo acesso dos jovens com deficiência VI - estabelecer com a União e os Municípios formas de co-
à justiça em igualdade de condições com as demais pessoas, inclu- laboração para a execução das políticas públicas de juventude; e
sive mediante a provisão de adaptações processuais adequadas a VII - cofinanciar, com os demais entes federados, a execução
sua idade. de programas, ações e projetos das políticas públicas de juventu-
de.
TÍTULO II Parágrafo único. Serão incluídos nos censos demográficos da-
DO SISTEMA NACIONAL DE JUVENTUDE dos relativos à população jovem do País.
Art. 43. Compete aos Municípios:
CAPÍTULO I I - coordenar, em âmbito municipal, o Sinajuve;
DO SISTEMA NACIONAL DE JUVENTUDE - SINAJUVE II - elaborar os respectivos planos municipais de juventude,
em conformidade com os respectivos Planos Nacional e Estadual,
Art. 39. É instituído o Sistema Nacional de Juventude - SINA- com a participação da sociedade, em especial da juventude;
JUVE, cujos composição, organização, competência e funciona- III - criar, desenvolver e manter programas, ações e projetos
mento serão definidos em regulamento. para a execução das políticas públicas de juventude;
Art. 40. O financiamento das ações e atividades realizadas no IV - convocar e realizar, em conjunto com o Conselho Munici-
âmbito do Sinajuve será definido em regulamento. pal de Juventude, as Conferências Municipais de Juventude, com
intervalo máximo de 4 (quatro) anos;
CAPÍTULO II V - editar normas complementares para a organização e fun-
DAS COMPETÊNCIAS cionamento do Sinajuve, em âmbito municipal;
VI - cofinanciar, com os demais entes federados, a execução
Art. 41. Compete à União: de programas, ações e projetos das políticas públicas de juventu-
I - formular e coordenar a execução da Política Nacional de de; e
Juventude; VII - estabelecer mecanismos de cooperação com os Estados
II - coordenar e manter o Sinajuve; e a União para a execução das políticas públicas de juventude.
III - estabelecer diretrizes sobre a organização e o funciona- Parágrafo único. Para garantir a articulação federativa com
mento do Sinajuve; vistas ao efetivo cumprimento das políticas públicas de juventude,
IV - elaborar o Plano Nacional de Políticas de Juventude, em os Municípios podem instituir os consórcios de que trata a Lei nº
parceria com os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e a so- 11.107, de 6 de abril de 2005, ou qualquer outro instrumento ju-
ciedade, em especial a juventude; rídico adequado, como forma de compartilhar responsabilidades.
V - convocar e realizar, em conjunto com o Conselho Nacional Art. 44. As competências dos Estados e Municípios são atribu-
de Juventude, as Conferências Nacionais de Juventude, com inter- ídas, cumulativamente, ao Distrito Federal.
valo máximo de 4 (quatro) anos;
VI - prestar assistência técnica e suplementação financeira CAPÍTULO III
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desenvol- DOS CONSELHOS DE JUVENTUDE
vimento de seus sistemas de juventude;
VII - contribuir para a qualificação e ação em rede do Sinajuve Art. 45. Os conselhos de juventude são órgãos permanentes
em todos os entes da Federação; e autônomos, não jurisdicionais, encarregados de tratar das polí-
VIII - financiar, com os demais entes federados, a execução ticas públicas de juventude e da garantia do exercício dos direitos
das políticas públicas de juventude; do jovem, com os seguintes objetivos:
IX - estabelecer formas de colaboração com os Estados, o Dis- I - auxiliar na elaboração de políticas públicas de juventude
trito Federal e os Municípios para a execução das políticas públi- que promovam o amplo exercício dos direitos dos jovens estabe-
cas de juventude; e lecidos nesta Lei;
X - garantir a publicidade de informações sobre repasses de II - utilizar instrumentos de forma a buscar que o Estado ga-
recursos para financiamento das políticas públicas de juventude ranta aos jovens o exercício dos seus direitos;
aos conselhos e gestores estaduais, do Distrito Federal e munici- III - colaborar com os órgãos da administração no planeja-
pais. mento e na implementação das políticas de juventude;
Art. 42. Compete aos Estados: IV - estudar, analisar, elaborar, discutir e propor a celebração
I - coordenar, em âmbito estadual, o Sinajuve; de instrumentos de cooperação, visando à elaboração de progra-
mas, projetos e ações voltados para a juventude;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

V - promover a realização de estudos relativos à juventude, do ser humano, em consonância com os princípios e diretrizes da
objetivando subsidiar o planejamento das políticas públicas de Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
juventude; Adolescente) ; altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Esta-
VI - estudar, analisar, elaborar, discutir e propor políticas pú- tuto da Criança e do Adolescente); altera os arts. 6º, 185, 304 e
blicas que permitam e garantam a integração e a participação do 318 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de
jovem nos processos social, econômico, político e cultural no res- Processo Penal) ; acrescenta incisos ao art. 473 da Consolidação
pectivo ente federado; das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de
VII - propor a criação de formas de participação da juventude 1º de maio de 1943 ; altera os arts. 1º, 3º, 4º e 5º da Lei nº 11.770,
nos órgãos da administração pública; de 9 de setembro de 2008 ; e acrescenta parágrafos ao art. 5º da
VIII - promover e participar de seminários, cursos, congressos Lei nº 12.662, de 5 de junho de 2012 .
e eventos correlatos para o debate de temas relativos à juventu- Art. 2º Para os efeitos desta Lei, considera-se primeira infân-
de; cia o período que abrange os primeiros 6 (seis) anos completos ou
IX - desenvolver outras atividades relacionadas às políticas 72 (setenta e dois) meses de vida da criança.
públicas de juventude. Art. 3º A prioridade absoluta em assegurar os direitos da
§ 1º A lei, em âmbito federal, estadual, do Distrito Federal criança, do adolescente e do jovem, nos termos do art. 227 da
e municipal, disporá sobre a organização, o funcionamento e a Constituição Federal e do art. 4º da Lei nº 8.069, de 13 de julho
composição dos conselhos de juventude, observada a participa- de 1990 , implica o dever do Estado de estabelecer políticas, pla-
ção da sociedade civil mediante critério, no mínimo, paritário com nos, programas e serviços para a primeira infância que atendam
os representantes do poder público. às especificidades dessa faixa etária, visando a garantir seu desen-
§ 2º (VETADO) . volvimento integral.
Art. 46. São atribuições dos conselhos de juventude: Art. 4º As políticas públicas voltadas ao atendimento dos di-
I - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que cons- reitos da criança na primeira infância serão elaboradas e executa-
titua infração administrativa ou penal contra os direitos do jovem das de forma a:
garantidos na legislação; I - atender ao interesse superior da criança e à sua condição
II - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua com- de sujeito de direitos e de cidadã;
petência; II - incluir a participação da criança na definição das ações que
III - expedir notificações; lhe digam respeito, em conformidade com suas características
IV - solicitar informações das autoridades públicas; etárias e de desenvolvimento;
V - assessorar o Poder Executivo local na elaboração dos pla- III - respeitar a individualidade e os ritmos de desenvolvimen-
nos, programas, projetos, ações e proposta orçamentária das po-
to das crianças e valorizar a diversidade da infância brasileira, as-
líticas públicas de juventude.
sim como as diferenças entre as crianças em seus contextos so-
Art. 47. Sem prejuízo das atribuições dos conselhos de juven-
ciais e culturais;
tude com relação aos direitos previstos neste Estatuto, cabe aos
IV - reduzir as desigualdades no acesso aos bens e serviços
conselhos de direitos da criança e do adolescente deliberar e con-
que atendam aos direitos da criança na primeira infância, priori-
trolar as ações em todos os níveis relativas aos adolescentes com
zando o investimento público na promoção da justiça social, da
idade entre 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos.
equidade e da inclusão sem discriminação da criança;
Art. 48. Esta Lei entra em vigor após decorridos 180 (cento e
V - articular as dimensões ética, humanista e política da crian-
oitenta) dias de sua publicação oficial.
ça cidadã com as evidências científicas e a prática profissional no
atendimento da primeira infância;
LEI Nº 13.257/2016 – MARCO LEGAL DA PRIMEIRA IN- VI - adotar abordagem participativa, envolvendo a sociedade,
FÂNCIA, DE 08 DE MARÇO DE 2016) por meio de suas organizações representativas, os profissionais,
os pais e as crianças, no aprimoramento da qualidade das ações e
LEI Nº 13.257, DE 8 DE MARÇO DE 2016. na garantia da oferta dos serviços;
VII - articular as ações setoriais com vistas ao atendimento
Dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infância e integral e integrado;
altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e VIII - descentralizar as ações entre os entes da Federação;
do Adolescente), o Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 IX - promover a formação da cultura de proteção e promoção
(Código de Processo Penal), a Consolidação das Leis do Trabalho da criança, com apoio dos meios de comunicação social.
(CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, Parágrafo único. A participação da criança na formulação das
a Lei nº 11.770, de 9 de setembro de 2008, e a Lei nº 12.662, de 5 políticas e das ações que lhe dizem respeito tem o objetivo de pro-
de junho de 2012. mover sua inclusão social como cidadã e dar-se-á de acordo com
a especificidade de sua idade, devendo ser realizada por profissio-
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na- nais qualificados em processos de escuta adequados às diferentes
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: formas de expressão infantil.
Art. 5º Constituem áreas prioritárias para as políticas públicas
Art. 1º Esta Lei estabelece princípios e diretrizes para a for- para a primeira infância a saúde, a alimentação e a nutrição, a
mulação e a implementação de políticas públicas para a primeira educação infantil, a convivência familiar e comunitária, a assistên-
infância em atenção à especificidade e à relevância dos primeiros cia social à família da criança, a cultura, o brincar e o lazer, o es-
anos de vida no desenvolvimento infantil e no desenvolvimento paço e o meio ambiente, bem como a proteção contra toda forma

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

de violência e de pressão consumista, a prevenção de acidentes e relação ao respectivo orçamento realizado, bem como colherá in-
a adoção de medidas que evitem a exposição precoce à comuni- formações sobre os valores aplicados pelos demais entes da Fe-
cação mercadológica. deração.
Art. 6º A Política Nacional Integrada para a primeira infância Art. 12. A sociedade participa solidariamente com a família e
será formulada e implementada mediante abordagem e coorde- o Estado da proteção e da promoção da criança na primeira infân-
nação intersetorial que articule as diversas políticas setoriais a cia, nos termos do caput e do § 7º do art. 227 , combinado com o
partir de uma visão abrangente de todos os direitos da criança na inciso II do art. 204 da Constituição Federal , entre outras formas:
primeira infância. I - formulando políticas e controlando ações, por meio de or-
Art. 7º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios ganizações representativas;
poderão instituir, nos respectivos âmbitos, comitê intersetorial de II - integrando conselhos, de forma paritária com represen-
políticas públicas para a primeira infância com a finalidade de as- tantes governamentais, com funções de planejamento, acompa-
segurar a articulação das ações voltadas à proteção e à promoção nhamento, controle social e avaliação;
dos direitos da criança, garantida a participação social por meio III - executando ações diretamente ou em parceria com o po-
dos conselhos de direitos. der público;
§ 1º Caberá ao Poder Executivo no âmbito da União, dos Esta- IV - desenvolvendo programas, projetos e ações compreen-
dos, do Distrito Federal e dos Municípios indicar o órgão respon- didos no conceito de responsabilidade social e de investimento
sável pela coordenação do comitê intersetorial previsto no caput social privado;
deste artigo. V - criando, apoiando e participando de redes de proteção e
§ 2º O órgão indicado pela União nos termos do § 1º deste cuidado à criança nas comunidades;
artigo manterá permanente articulação com as instâncias de co- VI - promovendo ou participando de campanhas e ações que
ordenação das ações estaduais, distrital e municipais de atenção visem a aprofundar a consciência social sobre o significado da pri-
à criança na primeira infância, visando à complementaridade das meira infância no desenvolvimento do ser humano.
ações e ao cumprimento do dever do Estado na garantia dos di- Art. 13. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
reitos da criança. apoiarão a participação das famílias em redes de proteção e cui-
Art. 8º O pleno atendimento dos direitos da criança na pri- dado da criança em seus contextos sociofamiliar e comunitário vi-
meira infância constitui objetivo comum de todos os entes da Fe- sando, entre outros objetivos, à formação e ao fortalecimento dos
deração, segundo as respectivas competências constitucionais e vínculos familiares e comunitários, com prioridade aos contextos
legais, a ser alcançado em regime de colaboração entre a União, que apresentem riscos ao desenvolvimento da criança.
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Art. 14. As políticas e programas governamentais de apoio às
Parágrafo único. A União buscará a adesão dos Estados, do famílias, incluindo as visitas domiciliares e os programas de pro-
Distrito Federal e dos Municípios à abordagem multi e interseto- moção da paternidade e maternidade responsáveis, buscarão a
articulação das áreas de saúde, nutrição, educação, assistência
rial no atendimento dos direitos da criança na primeira infância e
social, cultura, trabalho, habitação, meio ambiente e direitos hu-
oferecerá assistência técnica na elaboração de planos estaduais,
manos, entre outras, com vistas ao desenvolvimento integral da
distrital e municipais para a primeira infância que articulem os di-
criança.
ferentes setores.
§ 1º Os programas que se destinam ao fortalecimento da fa-
Art. 9º As políticas para a primeira infância serão articuladas
mília no exercício de sua função de cuidado e educação de seus
com as instituições de formação profissional, visando à adequa-
filhos na primeira infância promoverão atividades centradas na
ção dos cursos às características e necessidades das crianças e à
criança, focadas na família e baseadas na comunidade.
formação de profissionais qualificados, para possibilitar a expan-
§ 2º As famílias identificadas nas redes de saúde, educação e
são com qualidade dos diversos serviços. assistência social e nos órgãos do Sistema de Garantia dos Direitos
Art. 10. Os profissionais que atuam nos diferentes ambientes da Criança e do Adolescente que se encontrem em situação de
de execução das políticas e programas destinados à criança na pri- vulnerabilidade e de risco ou com direitos violados para exercer
meira infância terão acesso garantido e prioritário à qualificação, seu papel protetivo de cuidado e educação da criança na primeira
sob a forma de especialização e atualização, em programas que infância, bem como as que têm crianças com indicadores de risco
contemplem, entre outros temas, a especificidade da primeira in- ou deficiência, terão prioridade nas políticas sociais públicas.
fância, a estratégia da intersetorialidade na promoção do desen- § 3º As gestantes e as famílias com crianças na primeira in-
volvimento integral e a prevenção e a proteção contra toda forma fância deverão receber orientação e formação sobre maternidade
de violência contra a criança. e paternidade responsáveis, aleitamento materno, alimentação
Art. 11. As políticas públicas terão, necessariamente, compo- complementar saudável, crescimento e desenvolvimento infantil
nentes de monitoramento e coleta sistemática de dados, avalia- integral, prevenção de acidentes e educação sem uso de castigos
ção periódica dos elementos que constituem a oferta dos serviços físicos, nos termos da Lei nº 13.010, de 26 de junho de 2014 ,
à criança e divulgação dos seus resultados. com o intuito de favorecer a formação e a consolidação de vín-
§ 1º A União manterá instrumento individual de registro uni- culos afetivos e estimular o desenvolvimento integral na primeira
ficado de dados do crescimento e desenvolvimento da criança, infância.
assim como sistema informatizado, que inclua as redes pública e § 4º A oferta de programas e de ações de visita domiciliar e
privada de saúde, para atendimento ao disposto neste artigo. de outras modalidades que estimulem o desenvolvimento integral
§ 2º A União informará à sociedade a soma dos recursos apli- na primeira infância será considerada estratégia de atuação sem-
cados anualmente no conjunto dos programas e serviços para a pre que respaldada pelas políticas públicas sociais e avaliada pela
primeira infância e o percentual que os valores representam em equipe profissional responsável.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 5º Os programas de visita domiciliar voltados ao cuidado e § 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) acom-
educação na primeira infância deverão contar com profissionais panhante de sua preferência durante o período do pré-natal, do
qualificados, apoiados por medidas que assegurem sua perma- trabalho de parto e do pós-parto imediato.
nência e formação continuada. § 7º A gestante deverá receber orientação sobre aleitamento
Art. 15. As políticas públicas criarão condições e meios para materno, alimentação complementar saudável e crescimento e
que, desde a primeira infância, a criança tenha acesso à produção desenvolvimento infantil, bem como sobre formas de favorecer
cultural e seja reconhecida como produtora de cultura. a criação de vínculos afetivos e de estimular o desenvolvimento
Art. 16. A expansão da educação infantil deverá ser feita de integral da criança.
maneira a assegurar a qualidade da oferta, com instalações e § 8º A gestante tem direito a acompanhamento saudável du-
equipamentos que obedeçam a padrões de infraestrutura estabe- rante toda a gestação e a parto natural cuidadoso, estabelecendo-
lecidos pelo Ministério da Educação, com profissionais qualifica- -se a aplicação de cesariana e outras intervenções cirúrgicas por
dos conforme dispõe a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 motivos médicos.
(Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) , e com currículo § 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa da gestante
e materiais pedagógicos adequados à proposta pedagógica. que não iniciar ou que abandonar as consultas de pré-natal, bem
Parágrafo único. A expansão da educação infantil das crianças como da puérpera que não comparecer às consultas pós-parto.
de 0 (zero) a 3 (três) anos de idade, no cumprimento da meta do § 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à mu-
Plano Nacional de Educação, atenderá aos critérios definidos no lher com filho na primeira infância que se encontrem sob custódia
território nacional pelo competente sistema de ensino, em articu- em unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às
lação com as demais políticas sociais. normas sanitárias e assistenciais do Sistema Único de Saúde para
Art. 17. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios o acolhimento do filho, em articulação com o sistema de ensino
deverão organizar e estimular a criação de espaços lúdicos que competente, visando ao desenvolvimento integral da criança.”
propiciem o bem-estar, o brincar e o exercício da criatividade em (NR)
locais públicos e privados onde haja circulação de crianças, bem Art. 20. O art. 9º da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 ,
como a fruição de ambientes livres e seguros em suas comunida- passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 1º e 2º :
des. “Art. 9º ........................................................................
Art. 18. O art. 3º da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Es- § 1º Os profissionais das unidades primárias de saúde desen-
tatuto da Criança e do Adolescente) , passa a vigorar acrescido do volverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas, visando ao
seguinte parágrafo único: planejamento, à implementação e à avaliação de ações de pro-
“Art. 3º .......................................................................... moção, proteção e apoio ao aleitamento materno e à alimentação
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se complementar saudável, de forma contínua.
a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nasci- § 2º Os serviços de unidades de terapia intensiva neonatal
mento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião deverão dispor de banco de leite humano ou unidade de coleta
ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e de leite humano.” (NR)
aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e lo- Art. 21. O art. 11 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 ,
cal de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as passa a vigorar com a seguinte redação:
famílias ou a comunidade em que vivem.” (NR) “ Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado
Art. 19. O art. 8º da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do
passa a vigorar com a seguinte redação: Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade no
“ Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos pro- acesso a ações e serviços para promoção, proteção e recuperação
gramas e às políticas de saúde da mulher e de planejamento re- da saúde.
produtivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humaniza- § 1º A criança e o adolescente com deficiência serão aten-
da à gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, didos, sem discriminação ou segregação, em suas necessidades
perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saú- gerais de saúde e específicas de habilitação e reabilitação.
de. § 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente, àque-
§ 1º O atendimento pré-natal será realizado por profissionais les que necessitarem, medicamentos, órteses, próteses e outras
da atenção primária. tecnologias assistivas relativas ao tratamento, habilitação ou rea-
§ 2º Os profissionais de saúde de referência da gestante ga- bilitação para crianças e adolescentes, de acordo com as linhas de
rantirão sua vinculação, no último trimestre da gestação, ao esta- cuidado voltadas às suas necessidades específicas.
belecimento em que será realizado o parto, garantido o direito de § 3º Os profissionais que atuam no cuidado diário ou frequen-
opção da mulher. te de crianças na primeira infância receberão formação específica
§ 3º Os serviços de saúde onde o parto for realizado assegu- e permanente para a detecção de sinais de risco para o desen-
rarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos alta hospitalar volvimento psíquico, bem como para o acompanhamento que se
responsável e contrarreferência na atenção primária, bem como fizer necessário.” (NR)
o acesso a outros serviços e a grupos de apoio à amamentação. Art. 22. O art. 12 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 ,
............................................................................................. passa a vigorar com a seguinte redação:
§ 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deverá ser “ Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde, inclu-
prestada também a gestantes e mães que manifestem interesse sive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de cuidados in-
em entregar seus filhos para adoção, bem como a gestantes e termediários, deverão proporcionar condições para a permanên-
mães que se encontrem em situação de privação de liberdade. cia em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos
de internação de criança ou adolescente.” (NR)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 23. O art. 13 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , § 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize a de-
passa a vigorar acrescido do seguinte § 2º, numerando-se o atual cretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em
parágrafo único como § 1º : sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída
“Art. 13. ....................................................................... em serviços e programas oficiais de proteção, apoio e promoção.
§ 1º As gestantes ou mães que manifestem interesse em en- ...................................................................................” (NR)
tregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente encaminha- Art. 28. O art. 34 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 ,
das, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da Juventude. passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 3º e 4º :
§ 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas de entra- “Art. 34. ......................................................................
da, os serviços de assistência social em seu componente especia- ............................................................................................
lizado, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social § 3º A União apoiará a implementação de serviços de aco-
(Creas) e os demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da lhimento em família acolhedora como política pública, os quais
Criança e do Adolescente deverão conferir máxima prioridade ao deverão dispor de equipe que organize o acolhimento temporário
atendimento das crianças na faixa etária da primeira infância com de crianças e de adolescentes em residências de famílias selecio-
suspeita ou confirmação de violência de qualquer natureza, for- nadas, capacitadas e acompanhadas que não estejam no cadastro
mulando projeto terapêutico singular que inclua intervenção em de adoção.
rede e, se necessário, acompanhamento domiciliar.” (NR) § 4º Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais, distri-
Art. 24. O art. 14 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , pas- tais e municipais para a manutenção dos serviços de acolhimento
sa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 2º, 3º e 4º, numerando-se em família acolhedora, facultando-se o repasse de recursos para a
o atual parágrafo único como § 1º : própria família acolhedora.” (NR)
“Art. 14. ....................................................................... Art. 29. O inciso II do art. 87 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de
§ 1º ............................................................................. 1990 , passa a vigorar com a seguinte redação:
§ 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à saúde “Art. 87. .......................................................................
bucal das crianças e das gestantes, de forma transversal, integral .............................................................................................
e intersetorial com as demais linhas de cuidado direcionadas à II - serviços, programas, projetos e benefícios de assistência
mulher e à criança. social de garantia de proteção social e de prevenção e redução de
§ 3º A atenção odontológica à criança terá função educativa violações de direitos, seus agravamentos ou reincidências;
protetiva e será prestada, inicialmente, antes de o bebê nascer, ...................................................................................” (NR)
por meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no Art. 30. O art. 88 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 ,
sexto e no décimo segundo anos de vida, com orientações sobre passa a vigorar acrescido dos seguintes incisos VIII, IX e X:
saúde bucal. “Art. 88. ......................................................................
§ 4º A criança com necessidade de cuidados odontológicos ............................................................................................
especiais será atendida pelo Sistema Único de Saúde.” (NR) VIII - especialização e formação continuada dos profissionais
Art. 25. O art. 19 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , que trabalham nas diferentes áreas da atenção à primeira infân-
passa a vigorar com a seguinte redação: cia, incluindo os conhecimentos sobre direitos da criança e sobre
“ Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e desenvolvimento infantil;
educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família IX - formação profissional com abrangência dos diversos direi-
substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em tos da criança e do adolescente que favoreça a intersetorialidade
ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. no atendimento da criança e do adolescente e seu desenvolvi-
............................................................................................. mento integral;
§ 3º A manutenção ou a reintegração de criança ou adoles- X - realização e divulgação de pesquisas sobre desenvolvi-
cente à sua família terá preferência em relação a qualquer outra mento infantil e sobre prevenção da violência.” (NR)
providência, caso em que será esta incluída em serviços e progra- Art. 31. O art. 92 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 ,
mas de proteção, apoio e promoção, nos termos do § 1º do art. passa a vigorar acrescido do seguinte § 7º :
23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do “Art. 92. .....................................................................
caput do art. 129 desta Lei. .............................................................................................
....................................................................................” (NR) § 7º Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos
Art. 26. O art. 22 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , em acolhimento institucional, dar-se-á especial atenção à atuação
passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo único: de educadores de referência estáveis e qualitativamente signifi-
“Art. 22. ....................................................................... cativos, às rotinas específicas e ao atendimento das necessidades
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direi- básicas, incluindo as de afeto como prioritárias.” (NR)
tos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados no cuida- Art. 32. O inciso IV do caput do art. 101 da Lei nº 8.069, de 13
do e na educação da criança, devendo ser resguardado o direito de julho de 1990 , passa a vigorar com a seguinte redação:
de transmissão familiar de suas crenças e culturas, assegurados os “Art. 101. ....................................................................
direitos da criança estabelecidos nesta Lei.” (NR) ............................................................................................
Art. 27. O § 1º do art. 23 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitá-
1990 , passa a vigorar com a seguinte redação: rios de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do
“Art. 23. ...................................................................... adolescente;
...................................................................................” (NR)
Art. 33. O art. 102 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 ,
passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 5º e 6º :

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

“Art. 102. .................................................................... II - por 15 (quinze) dias a duração da licença-paternidade, nos


........................................................................................... termos desta Lei, além dos 5 (cinco) dias estabelecidos no § 1º do
§ 5º Os registros e certidões necessários à inclusão, a qualquer art. 10 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias .
tempo, do nome do pai no assento de nascimento são isentos de § 1º A prorrogação de que trata este artigo:
multas, custas e emolumentos, gozando de absoluta prioridade. I - será garantida à empregada da pessoa jurídica que aderir
§ 6º São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação requerida ao Programa, desde que a empregada a requeira até o final do
do reconhecimento de paternidade no assento de nascimento e a primeiro mês após o parto, e será concedida imediatamente após
certidão correspondente.” (NR) a fruição da licença-maternidade de que trata o inciso XVIII do
Art. 34. O inciso I do art. 129 da Lei nº 8.069, de 13 de julho caput do art. 7º da Constituição Federal ;
de 1990 , passa a vigorar com a seguinte redação: II - será garantida ao empregado da pessoa jurídica que aderir
“Art. 129. .................................................................... ao Programa, desde que o empregado a requeira no prazo de 2
I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comu- (dois) dias úteis após o parto e comprove participação em pro-
nitários de proteção, apoio e promoção da família; grama ou atividade de orientação sobre paternidade responsável.
..................................................................................” (NR) § 2º A prorrogação será garantida, na mesma proporção, à
Art. 35. Os §§ 1º -A e 2º do art. 260 da Lei nº 8.069, de 13 de empregada e ao empregado que adotar ou obtiver guarda judicial
julho de 1990 , passam a vigorar com a seguinte redação: para fins de adoção de criança.” (NR)
“Art. 260. .................................................................... “ Art. 3º Durante o período de prorrogação da licença-mater-
............................................................................................ nidade e da licença-paternidade:
§ 1º -A. Na definição das prioridades a serem atendidas com I - a empregada terá direito à remuneração integral, nos mes-
os recursos captados pelos fundos nacional, estaduais e munici- mos moldes devidos no período de percepção do salário-materni-
pais dos direitos da criança e do adolescente, serão consideradas dade pago pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS);
as disposições do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa II - o empregado terá direito à remuneração integral.” (NR)
do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Co- “ Art. 4º No período de prorrogação da licença-maternidade e
munitária e as do Plano Nacional pela Primeira Infância. da licença-paternidade de que trata esta Lei, a empregada e o em-
§ 2º Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos direi- pregado não poderão exercer nenhuma atividade remunerada, e
tos da criança e do adolescente fixarão critérios de utilização, por a criança deverá ser mantida sob seus cuidados.
meio de planos de aplicação, das dotações subsidiadas e demais Parágrafo único. Em caso de descumprimento do disposto no
receitas, aplicando necessariamente percentual para incentivo ao caput deste artigo, a empregada e o empregado perderão o direi-
acolhimento, sob a forma de guarda, de crianças e adolescentes e to à prorrogação.” (NR)
para programas de atenção integral à primeira infância em áreas “ Art. 5º A pessoa jurídica tributada com base no lucro real
de maior carência socioeconômica e em situações de calamidade. poderá deduzir do imposto devido, em cada período de apuração,
.................................................................................” (NR) o total da remuneração integral da empregada e do empregado
Art. 36. A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar pago nos dias de prorrogação de sua licença-maternidade e de
acrescida do seguinte art. 265-A: sua licença-paternidade, vedada a dedução como despesa ope-
“ Art. 265-A. O poder público fará periodicamente ampla di- racional.
vulgação dos direitos da criança e do adolescente nos meios de ..................................................................................” (NR)
comunicação social. Art. 39. O Poder Executivo, com vistas ao cumprimento do
Parágrafo único. A divulgação a que se refere o caput será vei- disposto no inciso II do caput do art. 5º e nos arts. 12 e 14 da Lei
culada em linguagem clara, compreensível e adequada a crianças Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 , estimará o montan-
e adolescentes, especialmente às crianças com idade inferior a 6 te da renúncia fiscal decorrente do disposto no art. 38 desta Lei e
(seis) anos.” o incluirá no demonstrativo a que se refere o § 6º do art. 165 da
Art. 37. O art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), Constituição Federal , que acompanhará o projeto de lei orçamen-
aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 , passa tária cuja apresentação se der após decorridos 60 (sessenta) dias
a vigorar acrescido dos seguintes incisos X e XI: da publicação desta Lei. (Produção de efeito)
“Art. 473. .................................................................... Art. 40. Os arts. 38 e 39 desta Lei produzem efeitos a partir do
............................................................................................. primeiro dia do exercício subsequente àquele em que for imple-
X - até 2 (dois) dias para acompanhar consultas médicas e mentado o disposto no art. 39.
exames complementares durante o período de gravidez de sua es- Art. 41. Os arts. 6º, 185, 304 e 318 do Decreto-Lei nº 3.689,
posa ou companheira; (Vide Medida Provisória nº 1.116, de 2022) de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal) , passam a
XI - por 1 (um) dia por ano para acompanhar filho de até 6 vigorar com as seguintes alterações:
(seis) anos em consulta médica.” (NR) “Art. 6º .........................................................................
Art. 38. Os arts. 1º, 3º, 4º e 5º da Lei nº 11.770, de 9 de se- .............................................................................................
tembro de 2008 , passam a vigorar com as seguintes alterações: X - colher informações sobre a existência de filhos, respecti-
(Produção de efeito) vas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato
“ Art. 1º É instituído o Programa Empresa Cidadã, destinado de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela
a prorrogar: pessoa presa.” (NR)
I - por 60 (sessenta) dias a duração da licença-maternidade “Art. 185. ....................................................................
prevista no inciso XVIII do caput do art. 7º da Constituição Federal ............................................................................................
;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 10. Do interrogatório deverá constar a informação sobre a A referida lei trouxe ao ordenamento jurídico pátrio a garantia
existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma defi- dos direitos das pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta)
ciência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuida- anos. Entre os direitos, estão a atenção integral à saúde por meio do
dos dos filhos, indicado pela pessoa presa.” (NR) Sistema único de Saúde - SUS; recursos públicos destinados à pro-
“Art. 304. .................................................................... teção ao idoso; atendimento familiar em detrimento do asilar; além
............................................................................................ de outros direitos que estão elencados na referida Lei.
§ 4º Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá cons- A Lei 10.741/2003 estimula a criação de varas especializadas
tar a informação sobre a existência de filhos, respectivas idades e e exclusivas do idoso. Quanto a esse último direito, o Estatuto do
se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual Idoso ao instituir tal dispositivo possibilitou mais uma garantia aos
responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa pre- idosos. Foram criadas delegacias e setores do Ministério Público
sa.” (NR) especializados na defesa dos direitos dos idosos. Ilustre-se ainda a
“Art. 318. ..................................................................... obrigatoriedade da prioridade de tramitação processual em todas
............................................................................................. as varas, visando a celeridade ao idoso.
IV - gestante;
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incom- LEI N° 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003.
pletos;
VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do Dispõe sobre o Estatuto da Pessoa Idosa e dá outras provi-
filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos. dências. (Redação dada pela Lei nº 13.423, de 2022)
...................................................................................” (NR)
Art. 42. O art. 5º da Lei nº 12.662, de 5 de junho de 2012 , O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso
passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 3º e 4º : Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
“Art. 5º .........................................................................
............................................................................................. TÍTULO I
§ 3º O sistema previsto no caput deverá assegurar a intero- DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
perabilidade com o Sistema Nacional de Informações de Registro
Civil (Sirc). Art. 1º É instituído o Estatuto da Pessoa Idosa, destinado a
§ 4º Os estabelecimentos de saúde públicos e privados que regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou su-
realizam partos terão prazo de 1 (um) ano para se interligarem, perior a 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de
mediante sistema informatizado, às serventias de registro civil 2022)
existentes nas unidades federativas que aderirem ao sistema in- Art. 2º A pessoa idosa goza de todos os direitos fundamen-
terligado previsto em regramento do Conselho Nacional de Justiça tais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral
(CNJ).” (NR) de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros
Art. 43. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de
Brasília, 8 de março de 2016; 195º da Independência e 128º sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelec-
da República. tual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
(Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
Art. 3º É obrigação da família, da comunidade, da sociedade
PROCESSO DE ENVELHECIMENTO, RESPEITO E VALORI- e do poder público assegurar à pessoa idosa, com absoluta prio-
ZAÇÃO DO IDOSO (LEI Nº 10.741/2003) ridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania,
O envelhecimento é um fenômeno natural da condição hu- à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e
mana. Para além da cronologia, há um conjunto amplo de as- comunitária. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
pectos que também configuram essa etapa do desenvolvimento § 1º A garantia de prioridade compreende: (Redação dada
humano: biológicos, culturais, históricos, psicológicos e sociais. pela Lei nº 13.466, de 2017)
Embora o envelhecimento humano seja uma condição natural, as I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto
representações e sentimentos são construídos socialmente. Des- aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à popula-
sa forma, faz-se necessário que as escolas incluam, em suas prá- ção;
ticas curriculares, ações que visem ao desenvolvimento de com- II – preferência na formulação e na execução de políticas so-
portamentos e atitudes que aproximem as gerações, estimulem ciais públicas específicas;
os estudantes para o convívio, destituído de preconceitos, com III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas
pessoas idosas e sejam educadas para o envelhecimento humano. relacionadas com a proteção à pessoa idosa; (Redação dada pela
O objetivo é garantir o respeito, a dignidade e a educação ao Lei nº 14.423, de 2022)
longo da vida. IV – viabilização de formas alternativas de participação, ocu-
Assim, no âmbito escolar, deve-se também reconhecer o pro- pação e convívio da pessoa idosa com as demais gerações; (Reda-
tagonismo da pessoa idosa enquanto estudante e como sujeito ção dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
que, munido de experiências e saberes, aprende mais sobre si V – priorização do atendimento da pessoa idosa por sua pró-
mesmo e sobre o mundo pria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que
não a possuam ou careçam de condições de manutenção da pró-
pria sobrevivência; (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)

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VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áre- III – crença e culto religioso;
as de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços às pesso- IV – prática de esportes e de diversões;
as idosas; (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) V – participação na vida familiar e comunitária;
VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a di- VI – participação na vida política, na forma da lei;
vulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos VII – faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.
biopsicossociais de envelhecimento; § 2o O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da in-
VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de tegridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da
assistência social locais. imagem, da identidade, da autonomia, de valores, idéias e cren-
IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto de ças, dos espaços e dos objetos pessoais.
Renda. (Incluído pela Lei nº 11.765, de 2008). § 3º É dever de todos zelar pela dignidade da pessoa idosa,
§ 2º Entre as pessoas idosas, é assegurada prioridade espe- colocando-a a salvo de qualquer tratamento desumano, violento,
cial aos maiores de 80 (oitenta) anos, atendendo-se suas necessi- aterrorizante, vexatório ou constrangedor. (Redação dada pela Lei
dades sempre preferencialmente em relação às demais pessoas nº 14.423, de 2022)
idosas. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
Art. 4º Nenhuma pessoa idosa será objeto de qualquer tipo CAPÍTULO III
de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e DOS ALIMENTOS
todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido
na forma da lei. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) Art. 11. Os alimentos serão prestados à pessoa idosa na for-
§ 1º É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos di- ma da lei civil. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
reitos da pessoa idosa. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo a pes-
§ 2o As obrigações previstas nesta Lei não excluem da pre- soa idosa optar entre os prestadores. (Redação dada pela Lei nº
venção outras decorrentes dos princípios por ela adotados. 14.423, de 2022)
Art. 5o A inobservância das normas de prevenção importará Art. 13. As transações relativas a alimentos poderão ser ce-
em responsabilidade à pessoa física ou jurídica nos termos da lei. lebradas perante o Promotor de Justiça ou Defensor Público, que
Art. 6o Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade as referendará, e passarão a ter efeito de título executivo extraju-
competente qualquer forma de violação a esta Lei que tenha tes- dicial nos termos da lei processual civil. (Redação dada pela Lei nº
temunhado ou de que tenha conhecimento. 11.737, de 2008)
Art. 7º Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito Federal Art. 14. Se a pessoa idosa ou seus familiares não possuírem
e Municipais da Pessoa Idosa, previstos na Lei nº 8.842, de 4 de condições econômicas de prover o seu sustento, impõe-se ao po-
janeiro de 1994, zelarão pelo cumprimento dos direitos da pessoa der público esse provimento, no âmbito da assistência social. (Re-
idosa, definidos nesta Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de dação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
2022)
CAPÍTULO IV
TÍTULO II DO DIREITO À SAÚDE
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde da pessoa
CAPÍTULO I idosa, por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), garantin-
DO DIREITO À VIDA do-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e
contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, pro-
Art. 8o O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua teção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às do-
proteção um direito social, nos termos desta Lei e da legislação enças que afetam preferencialmente as pessoas idosas. (Redação
vigente. dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
Art. 9o É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a pro- § 1º A prevenção e a manutenção da saúde da pessoa idosa
teção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais serão efetivadas por meio de: (Redação dada pela Lei nº 14.423,
públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condi- de 2022)
ções de dignidade. I – cadastramento da população idosa em base territorial;
II – atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios;
CAPÍTULO II III – unidades geriátricas de referência, com pessoal especia-
DO DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE lizado nas áreas de geriatria e gerontologia social;
IV – atendimento domiciliar, incluindo a internação, para a
Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade assegurar à população que dele necessitar e esteja impossibilitada de se loco-
pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa mover, inclusive para as pessoas idosas abrigadas e acolhidas por
humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, instituições públicas, filantrópicas ou sem fins lucrativos e even-
garantidos na Constituição e nas leis. (Redação dada pela Lei nº tualmente conveniadas com o poder público, nos meios urbano e
14.423, de 2022) rural; (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
§ 1o O direito à liberdade compreende, entre outros, os se- V – reabilitação orientada pela geriatria e gerontologia, para
guintes aspectos: redução das seqüelas decorrentes do agravo da saúde.
I – faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos e es-
paços comunitários, ressalvadas as restrições legais;
II – opinião e expressão;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 2º Incumbe ao poder público fornecer às pessoas idosas, Art. 18. As instituições de saúde devem atender aos critérios
gratuitamente, medicamentos, especialmente os de uso continu- mínimos para o atendimento às necessidades da pessoa idosa,
ado, assim como próteses, órteses e outros recursos relativos ao promovendo o treinamento e a capacitação dos profissionais, as-
tratamento, habilitação ou reabilitação. (Redação dada pela Lei nº sim como orientação a cuidadores familiares e grupos de autoaju-
14.423, de 2022) da. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
§ 3º É vedada a discriminação da pessoa idosa nos planos de Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de violência
saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade. praticada contra pessoas idosas serão objeto de notificação com-
(Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) pulsória pelos serviços de saúde públicos e privados à autoridade
§ 4º As pessoas idosas com deficiência ou com limitação in- sanitária, bem como serão obrigatoriamente comunicados por
capacitante terão atendimento especializado, nos termos da lei. eles a quaisquer dos seguintes órgãos: (Redação dada pela Lei nº
(Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) 14.423, de 2022)
§ 5º É vedado exigir o comparecimento da pessoa idosa en- I – autoridade policial;
ferma perante os órgãos públicos, hipótese na qual será admitido II – Ministério Público;
o seguinte procedimento: (Redação dada pela Lei nº 14.423, de III – Conselho Municipal da Pessoa Idosa; (Redação dada pela
2022) Lei nº 14.423, de 2022)
I - quando de interesse do poder público, o agente promove- IV – Conselho Estadual da Pessoa Idosa; (Redação dada pela
rá o contato necessário com a pessoa idosa em sua residência; ou Lei nº 14.423, de 2022)
(Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) V – Conselho Nacional da Pessoa Idosa. (Redação dada pela
II - quando de interesse da própria pessoa idosa, esta se fará Lei nº 14.423, de 2022)
representar por procurador legalmente constituído. (Redação § 1º Para os efeitos desta Lei, considera-se violência contra a
dada pela Lei nº 14.423, de 2022) pessoa idosa qualquer ação ou omissão praticada em local público
§ 6º É assegurado à pessoa idosa enferma o atendimento do- ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico ou psi-
miciliar pela perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social cológico. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
(INSS), pelo serviço público de saúde ou pelo serviço privado de § 2o Aplica-se, no que couber, à notificação compulsória pre-
saúde, contratado ou conveniado, que integre o SUS, para expe- vista no caput deste artigo, o disposto na Lei no 6.259, de 30 de
dição do laudo de saúde necessário ao exercício de seus direitos outubro de 1975. (Incluído pela Lei nº 12.461, de 2011)
sociais e de isenção tributária. (Redação dada pela Lei nº 14.423,
de 2022) CAPÍTULO V
§ 7º Em todo atendimento de saúde, os maiores de 80 (oi- DA EDUCAÇÃO, CULTURA, ESPORTE E LAZER
tenta) anos terão preferência especial sobre as demais pessoas
idosas, exceto em caso de emergência. (Redação dada pela Lei nº Art. 20. A pessoa idosa tem direito a educação, cultura, es-
14.423, de 2022) porte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que res-
Art. 16. À pessoa idosa internada ou em observação é as- peitem sua peculiar condição de idade. (Redação dada pela Lei nº
segurado o direito a acompanhante, devendo o órgão de saúde 14.423, de 2022)
proporcionar as condições adequadas para a sua permanência em Art. 21. O poder público criará oportunidades de acesso da
tempo integral, segundo o critério médico. (Redação dada pela Lei pessoa idosa à educação, adequando currículos, metodologias e
nº 14.423, de 2022) material didático aos programas educacionais a ela destinados.
Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde responsável (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
pelo tratamento conceder autorização para o acompanhamento § 1º Os cursos especiais para pessoas idosas incluirão conte-
da pessoa idosa ou, no caso de impossibilidade, justificá-la por údo relativo às técnicas de comunicação, computação e demais
escrito. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) avanços tecnológicos, para sua integração à vida moderna. (Reda-
Art. 17. À pessoa idosa que esteja no domínio de suas facul- ção dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
dades mentais é assegurado o direito de optar pelo tratamento de § 2º As pessoas idosas participarão das comemorações de
saúde que lhe for reputado mais favorável. (Redação dada pela Lei caráter cívico ou cultural, para transmissão de conhecimentos e
nº 14.423, de 2022) vivências às demais gerações, no sentido da preservação da me-
Parágrafo único. Não estando a pessoa idosa em condições mória e da identidade culturais. (Redação dada pela Lei nº 14.423,
de proceder à opção, esta será feita: (Redação dada pela Lei nº de 2022)
14.423, de 2022) Art. 22. Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino
I – pelo curador, quando a pessoa idosa for interditada; (Re- formal serão inseridos conteúdos voltados ao processo de enve-
dação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) lhecimento, ao respeito e à valorização da pessoa idosa, de forma
II – pelos familiares, quando a pessoa idosa não tiver curador a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a ma-
ou este não puder ser contactado em tempo hábil; (Redação dada téria. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
pela Lei nº 14.423, de 2022) Art. 23. A participação das pessoas idosas em atividades cul-
III – pelo médico, quando ocorrer iminente risco de vida e turais e de lazer será proporcionada mediante descontos de pelo
não houver tempo hábil para consulta a curador ou familiar; menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para eventos ar-
IV – pelo próprio médico, quando não houver curador ou fa- tísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como o acesso prefe-
miliar conhecido, caso em que deverá comunicar o fato ao Minis- rencial aos respectivos locais. (Redação dada pela Lei nº 14.423,
tério Público. de 2022)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 24. Os meios de comunicação manterão espaços ou horá- Parágrafo único. O cálculo do valor do benefício previsto no
rios especiais voltados às pessoas idosas, com finalidade informa- caput observará o disposto no caput e § 2o do art. 3o da Lei no
tiva, educativa, artística e cultural, e ao público sobre o processo 9.876, de 26 de novembro de 1999, ou, não havendo salários-
de envelhecimento. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) -de-contribuição recolhidos a partir da competência de julho de
Art. 25. As instituições de educação superior ofertarão às 1994, o disposto no art. 35 da Lei no 8.213, de 1991.
pessoas idosas, na perspectiva da educação ao longo da vida, cur- Art. 31. O pagamento de parcelas relativas a benefícios, efe-
sos e programas de extensão, presenciais ou a distância, constitu- tuado com atraso por responsabilidade da Previdência Social, será
ídos por atividades formais e não formais. (Redação dada pela lei atualizado pelo mesmo índice utilizado para os reajustamentos
nº 13.535, de 2017) dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, verificado
Parágrafo único. O poder público apoiará a criação de univer- no período compreendido entre o mês que deveria ter sido pago
sidade aberta para as pessoas idosas e incentivará a publicação e o mês do efetivo pagamento.
de livros e periódicos, de conteúdo e padrão editorial adequados Art. 32. O Dia Mundial do Trabalho, 1o de Maio, é a data-base
à pessoa idosa, que facilitem a leitura, considerada a natural re- dos aposentados e pensionistas.
dução da capacidade visual. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de
2022) CAPÍTULO VIII
DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
CAPÍTULO VI
DA PROFISSIONALIZAÇÃO E DO TRABALHO Art. 33. A assistência social às pessoas idosas será prestada,
de forma articulada, conforme os princípios e diretrizes previstos
Art. 26. A pessoa idosa tem direito ao exercício de atividade na Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), na Política Nacional
profissional, respeitadas suas condições físicas, intelectuais e psí- da Pessoa Idosa, no SUS e nas demais normas pertinentes (Reda-
quicas. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) ção dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
Art. 27. Na admissão da pessoa idosa em qualquer trabalho Art. 34. Às pessoas idosas, a partir de 65 (sessenta e cinco)
ou emprego, são vedadas a discriminação e a fixação de limite anos, que não possuam meios para prover sua subsistência, nem
máximo de idade, inclusive para concursos, ressalvados os casos de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal
em que a natureza do cargo o exigir. (Redação dada pela Lei nº de 1 (um) salário mínimo, nos termos da Loas. (Vide Decreto nº
14.423, de 2022) 6.214, de 2007) (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em con- Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer mem-
curso público será a idade, dando-se preferência ao de idade mais bro da família nos termos do caput não será computado para os
elevada. fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas.
Art. 28. O Poder Público criará e estimulará programas de: Art. 35. Todas as entidades de longa permanência, ou casa-
I – profissionalização especializada para as pessoas idosas, -lar, são obrigadas a firmar contrato de prestação de serviços com
aproveitando seus potenciais e habilidades para atividades regu- a pessoa idosa abrigada.
lares e remuneradas; (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) § 1º No caso de entidade filantrópica, ou casa-lar, é facultada
II – preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, com a cobrança de participação da pessoa idosa no custeio da entida-
antecedência mínima de 1 (um) ano, por meio de estímulo a no- de. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
vos projetos sociais, conforme seus interesses, e de esclarecimen- § 2º O Conselho Municipal da Pessoa Idosa ou o Conselho
to sobre os direitos sociais e de cidadania; Municipal da Assistência Social estabelecerá a forma de partici-
III – estímulo às empresas privadas para admissão de pessoas pação prevista no § 1º deste artigo, que não poderá exceder a
idosas ao trabalho. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) 70% (setenta por cento) de qualquer benefício previdenciário ou
de assistência social percebido pela pessoa idosa. (Redação dada
CAPÍTULO VII pela Lei nº 14.423, de 2022)
DA PREVIDÊNCIA SOCIAL § 3o Se a pessoa idosa for incapaz, caberá a seu represen-
tante legal firmar o contrato a que se refere o caput deste artigo.
Art. 29. Os benefícios de aposentadoria e pensão do Regime Art. 36. O acolhimento de pessoas idosas em situação de ris-
Geral da Previdência Social observarão, na sua concessão, crité- co social, por adulto ou núcleo familiar, caracteriza a dependência
rios de cálculo que preservem o valor real dos salários sobre os econômica, para os efeitos legais. (Vigência) (Redação dada pela
quais incidiram contribuição, nos termos da legislação vigente. Lei nº 14.423, de 2022)
Parágrafo único. Os valores dos benefícios em manutenção
serão reajustados na mesma data de reajuste do salário-mínimo, CAPÍTULO IX
pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do seu DA HABITAÇÃO
último reajustamento, com base em percentual definido em regu-
lamento, observados os critérios estabelecidos pela Lei no 8.213, Art. 37. A pessoa idosa tem direito a moradia digna, no seio
de 24 de julho de 1991. da família natural ou substituta, ou desacompanhada de seus fa-
Art. 30. A perda da condição de segurado não será conside- miliares, quando assim o desejar, ou, ainda, em instituição pública
rada para a concessão da aposentadoria por idade, desde que a ou privada. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
pessoa conte com, no mínimo, o tempo de contribuição corres- § 1o A assistência integral na modalidade de entidade de lon-
pondente ao exigido para efeito de carência na data de requeri- ga permanência será prestada quando verificada inexistência de
mento do benefício. grupo familiar, casa-lar, abandono ou carência de recursos finan-
ceiros próprios ou da família.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 2º Toda instituição dedicada ao atendimento à pessoa idosa Art. 41. É assegurada a reserva para as pessoas idosas, nos
fica obrigada a manter identificação externa visível, sob pena de termos da lei local, de 5% (cinco por cento) das vagas nos estacio-
interdição, além de atender toda a legislação pertinente. (Reda- namentos públicos e privados, as quais deverão ser posicionadas
ção dada pela Lei nº 14.423, de 2022) de forma a garantir a melhor comodidade à pessoa idosa. (Reda-
§ 3º As instituições que abrigarem pessoas idosas são obriga- ção dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
das a manter padrões de habitação compatíveis com as necessida- Art. 42. São asseguradas a prioridade e a segurança da pes-
des delas, bem como provê-las com alimentação regular e higiene soa idosa nos procedimentos de embarque e desembarque nos
indispensáveis às normas sanitárias e com estas condizentes, sob veículos do sistema de transporte coletivo. (Redação dada pela
as penas da lei. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) Lei nº 14.423, de 2022)
Art. 38. Nos programas habitacionais, públicos ou subsidia-
dos com recursos públicos, a pessoa idosa goza de prioridade na TÍTULO III
aquisição de imóvel para moradia própria, observado o seguinte: DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO
(Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
I - reserva de pelo menos 3% (três por cento) das unidades CAPÍTULO I
habitacionais residenciais para atendimento às pessoas idosas; DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
(Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
II – implantação de equipamentos urbanos comunitários vol- Art. 43. As medidas de proteção à pessoa idosa são aplicáveis
tados à pessoa idosa; (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados
III – eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísticas, ou violados: (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
para garantia de acessibilidade à pessoa idosa; (Redação dada I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
pela Lei nº 14.423, de 2022) II – por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entida-
IV – critérios de financiamento compatíveis com os rendi- de de atendimento;
mentos de aposentadoria e pensão. III – em razão de sua condição pessoal.
Parágrafo único. As unidades residenciais reservadas para
atendimento a pessoas idosas devem situar-se, preferencialmen- CAPÍTULO II
te, no pavimento térreo. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de DAS MEDIDAS ESPECÍFICAS DE PROTEÇÃO
2022)
Art. 44. As medidas de proteção à pessoa idosa previstas nes-
CAPÍTULO X ta Lei poderão ser aplicadas, isolada ou cumulativamente, e leva-
DO TRANSPORTE rão em conta os fins sociais a que se destinam e o fortalecimento
dos vínculos familiares e comunitários. (Redação dada pela Lei nº
Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica asse- 14.423, de 2022)
gurada a gratuidade dos transportes coletivos públicos urbanos e Art. 45. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art.
semi-urbanos, exceto nos serviços seletivos e especiais, quando 43, o Ministério Público ou o Poder Judiciário, a requerimento da-
prestados paralelamente aos serviços regulares. quele, poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
§ 1º Para ter acesso à gratuidade, basta que a pessoa ido- I – encaminhamento à família ou curador, mediante termo de
sa apresente qualquer documento pessoal que faça prova de sua responsabilidade;
idade. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) II – orientação, apoio e acompanhamento temporários;
§ 2º Nos veículos de transporte coletivo de que trata este III – requisição para tratamento de sua saúde, em regime am-
artigo, serão reservados 10% (dez por cento) dos assentos para as bulatorial, hospitalar ou domiciliar;
pessoas idosas, devidamente identificados com a placa de reser- IV – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
vado preferencialmente para pessoas idosas. (Redação dada pela orientação e tratamento a usuários dependentes de drogas lícitas
Lei nº 14.423, de 2022) ou ilícitas, à própria pessoa idosa ou à pessoa de sua convivência
§ 3o No caso das pessoas compreendidas na faixa etária en- que lhe cause perturbação; (Redação dada pela Lei nº 14.423, de
tre 60 (sessenta) e 65 (sessenta e cinco) anos, ficará a critério da 2022)
legislação local dispor sobre as condições para exercício da gra- V – abrigo em entidade;
tuidade nos meios de transporte previstos no caput deste artigo. V – abrigo em entidade;
Art. 40. No sistema de transporte coletivo interestadual ob- VI – abrigo temporário.
servar-se-á, nos termos da legislação específica: (Regulamento)
(Vide Decreto nº 5.934, de 2006) TÍTULO IV
I – a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para pes- DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO AO IDOSO
soas idosas com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários míni-
mos; (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) CAPÍTULO I
II – desconto de 50% (cinquenta por cento), no mínimo, no DISPOSIÇÕES GERAIS
valor das passagens, para as pessoas idosas que excederem as va-
gas gratuitas, com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários míni- Art. 46. A política de atendimento à pessoa idosa far-se-á
mos. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) por meio do conjunto articulado de ações governamentais e não
Parágrafo único. Caberá aos órgãos competentes definir os governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
mecanismos e os critérios para o exercício dos direitos previstos Municípios. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
nos incisos I e II. Art. 47. São linhas de ação da política de atendimento:

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

I – políticas sociais básicas, previstas na Lei no 8.842, de 4 de Art. 50. Constituem obrigações das entidades de atendimen-
janeiro de 1994; to:
II – políticas e programas de assistência social, em caráter I – celebrar contrato escrito de prestação de serviço com a
supletivo, para aqueles que necessitarem; pessoa idosa, especificando o tipo de atendimento, as obrigações
III – serviços especiais de prevenção e atendimento às víti- da entidade e prestações decorrentes do contrato, com os respec-
mas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e tivos preços, se for o caso; (Redação dada pela Lei nº 14.423, de
opressão; 2022)
IV – serviço de identificação e localização de parentes ou res- II – observar os direitos e as garantias de que são titulares as
ponsáveis por pessoas idosas abandonados em hospitais e insti- pessoas idosas; (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
tuições de longa permanência; (Redação dada pela Lei nº 14.423, III – fornecer vestuário adequado, se for pública, e alimenta-
de 2022) ção suficiente;
V – proteção jurídico-social por entidades de defesa dos di- IV – oferecer instalações físicas em condições adequadas de
reitos das pessoas idosas; (Redação dada pela Lei nº 14.423, de habitabilidade;
2022) V – oferecer atendimento personalizado;
VI – mobilização da opinião pública no sentido da participa- VI – diligenciar no sentido da preservação dos vínculos fami-
ção dos diversos segmentos da sociedade no atendimento da pes- liares;
soa idosa. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) VII – oferecer acomodações apropriadas para recebimento
de visitas;
CAPÍTULO II VIII – proporcionar cuidados à saúde, conforme a necessida-
DAS ENTIDADES DE ATENDIMENTO AO IDOSO de da pessoa idosa; (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
IX – promover atividades educacionais, esportivas, culturais
Art. 48. As entidades de atendimento são responsáveis pela e de lazer;
manutenção das próprias unidades, observadas as normas de pla- X – propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de
nejamento e execução emanadas do órgão competente da Polí- acordo com suas crenças;
tica Nacional da Pessoa Idosa, conforme a Lei nº 8.842, de 4 de XI – proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
janeiro de 1994. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) XII – comunicar à autoridade competente de saúde toda
Parágrafo único. As entidades governamentais e não gover- ocorrência de pessoa idosa com doenças infectocontagiosas; (Re-
namentais de assistência à pessoa idosa ficam sujeitas à inscrição dação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
de seus programas perante o órgão competente da Vigilância Sa- XIII – providenciar ou solicitar que o Ministério Público requi-
nitária e o Conselho Municipal da Pessoa Idosa e, em sua falta, site os documentos necessários ao exercício da cidadania àqueles
perante o Conselho Estadual ou Nacional da Pessoa Idosa, especi- que não os tiverem, na forma da lei;
ficando os regimes de atendimento, observados os seguintes re- XIV – fornecer comprovante de depósito dos bens móveis
quisitos: (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) que receberem das pessoas idosas; (Redação dada pela Lei nº
I – oferecer instalações físicas em condições adequadas de 14.423, de 2022)
habitabilidade, higiene, salubridade e segurança; XV – manter arquivo de anotações no qual constem data e
II – apresentar objetivos estatutários e plano de trabalho circunstâncias do atendimento, nome da pessoa idosa, responsá-
compatíveis com os princípios desta Lei; vel, parentes, endereços, cidade, relação de seus pertences, bem
III – estar regularmente constituída; como o valor de contribuições, e suas alterações, se houver, e de-
IV – demonstrar a idoneidade de seus dirigentes. mais dados que possibilitem sua identificação e a individualização
Art. 49. As entidades que desenvolvam programas de insti- do atendimento; (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
tucionalização de longa permanência adotarão os seguintes prin- XVI – comunicar ao Ministério Público, para as providências
cípios: cabíveis, a situação de abandono moral ou material por parte dos
I – preservação dos vínculos familiares; familiares;
II – atendimento personalizado e em pequenos grupos; XVII – manter no quadro de pessoal profissionais com forma-
III – manutenção da pessoa idosa na mesma instituição, sal- ção específica.
vo em caso de força maior; (Redação dada pela Lei nº 14.423, de Art. 51. As instituições filantrópicas ou sem fins lucrativos
2022) prestadoras de serviço às pessoas idosas terão direito à assistên-
IV – participação da pessoa idosa nas atividades comuni- cia judiciária gratuita. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
tárias, de caráter interno e externo; (Redação dada pela Lei nº
14.423, de 2022) CAPÍTULO III
V – observância dos direitos e garantias das pessoas idosas; DA FISCALIZAÇÃO DAS ENTIDADES DE ATENDIMENTO
(Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
VI – preservação da identidade da pessoa idosa e ofereci- Art. 52. As entidades governamentais e não governamentais
mento de ambiente de respeito e dignidade. (Redação dada pela de atendimento à pessoa idosa serão fiscalizadas pelos Conselhos
Lei nº 14.423, de 2022) da Pessoa Idosa, Ministério Público, Vigilância Sanitária e outros
Parágrafo único. O dirigente de instituição prestadora de previstos em lei. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
atendimento à pessoa idosa responderá civil e criminalmente pe- Art. 53. O art. 7o da Lei no 8.842, de 1994, passa a vigorar
los atos que praticar em detrimento da pessoa idosa, sem prejuízo com a seguinte redação:
das sanções administrativas. (Redação dada pela Lei nº 14.423,
de 2022)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

“Art. 7o Compete aos Conselhos de que trata o art. 6o desta Art. 57. Deixar o profissional de saúde ou o responsável por
Lei a supervisão, o acompanhamento, a fiscalização e a avaliação estabelecimento de saúde ou instituição de longa permanência
da política nacional do idoso, no âmbito das respectivas instâncias de comunicar à autoridade competente os casos de crimes contra
político-administrativas.” (NR) pessoa idosa de que tiver conhecimento: (Redação dada pela Lei
Art. 54. Será dada publicidade das prestações de contas dos nº 14.423, de 2022)
recursos públicos e privados recebidos pelas entidades de aten- Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00
dimento. (três mil reais), aplicada em dobro no caso de reincidência.
Art. 55. As entidades de atendimento que descumprirem as Art. 58. Deixar de cumprir as determinações desta Lei sobre
determinações desta Lei ficarão sujeitas, sem prejuízo da respon- a prioridade no atendimento à pessoa idosa: (Redação dada pela
sabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou prepostos, às se- Lei nº 14.423, de 2022)
guintes penalidades, observado o devido processo legal: Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 1.000,00
I – as entidades governamentais: (mil reais) e multa civil a ser estipulada pelo juiz, conforme o dano
a) advertência; sofrido pela pessoa idosa. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de
b) afastamento provisório de seus dirigentes; 2022)
c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
d) fechamento de unidade ou interdição de programa; CAPÍTULO V
II – as entidades não-governamentais: DA APURAÇÃO ADMINISTRATIVA DE INFRAÇÃO ÀS NOR-
a) advertência; MAS DE PROTEÇÃO À PESSOA IDOSA
b) multa; (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
c) suspensão parcial ou total do repasse de verbas públicas;
d) interdição de unidade ou suspensão de programa; Art. 59. Os valores monetários expressos no Capítulo IV serão
e) proibição de atendimento a pessoas idosas a bem do inte- atualizados anualmente, na forma da lei.
resse público. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) Art. 60. O procedimento para a imposição de penalidade ad-
§ 1º Havendo danos às pessoas idosas abrigadas ou qualquer ministrativa por infração às normas de proteção à pessoa idosa
tipo de fraude em relação ao programa, caberá o afastamento terá início com requisição do Ministério Público ou auto de infra-
provisório dos dirigentes ou a interdição da unidade e a suspen- ção elaborado por servidor efetivo e assinado, se possível, por 2
são do programa. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) (duas) testemunhas. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
§ 2o A suspensão parcial ou total do repasse de verbas públi- § 1o No procedimento iniciado com o auto de infração pode-
cas ocorrerá quando verificada a má aplicação ou desvio de fina- rão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a natureza e
lidade dos recursos. as circunstâncias da infração.
§ 3º Na ocorrência de infração por entidade de atendimento § 2o Sempre que possível, à verificação da infração seguir-se-
que coloque em risco os direitos assegurados nesta Lei, será o fato -á a lavratura do auto, ou este será lavrado dentro de 24 (vinte e
comunicado ao Ministério Público, para as providências cabíveis, quatro) horas, por motivo justificado.
inclusive para promover a suspensão das atividades ou dissolução Art. 61. O autuado terá prazo de 10 (dez) dias para a apre-
da entidade, com a proibição de atendimento a pessoas idosas sentação da defesa, contado da data da intimação, que será feita:
a bem do interesse público, sem prejuízo das providências a se- I – pelo autuante, no instrumento de autuação, quando for
rem tomadas pela Vigilância Sanitária. (Redação dada pela Lei nº lavrado na presença do infrator;
14.423, de 2022) II – por via postal, com aviso de recebimento.
§ 4º Na aplicação das penalidades, serão consideradas a Art. 62. Havendo risco para a vida ou à saúde da pessoa ido-
natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela sa, a autoridade competente aplicará à entidade de atendimento
provierem para a pessoa idosa, as circunstâncias agravantes ou as sanções regulamentares, sem prejuízo da iniciativa e das pro-
atenuantes e os antecedentes da entidade. (Redação dada pela vidências que vierem a ser adotadas pelo Ministério Público ou
Lei nº 14.423, de 2022) pelas demais instituições legitimadas para a fiscalização. (Redação
CAPÍTULO IV dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS Art. 63. Nos casos em que não houver risco para a vida ou a
saúde da pessoa idosa abrigada, a autoridade competente apli-
Art. 56. Deixar a entidade de atendimento de cumprir as de- cará à entidade de atendimento as sanções regulamentares, sem
terminações do art. 50 desta Lei: prejuízo da iniciativa e das providências que vierem a ser adotadas
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 pelo Ministério Público ou pelas demais instituições legitimadas
(três mil reais), se o fato não for caracterizado como crime, poden- para a fiscalização.
do haver a interdição do estabelecimento até que sejam cumpri- CAPÍTULO VI
das as exigências legais. DA APURAÇÃO JUDICIAL DE IRREGULARIDADES EM ENTIDA-
Parágrafo único. No caso de interdição do estabelecimento DE DE ATENDIMENTO
de longa permanência, as pessoas idosas abrigadas serão trans-
feridas para outra instituição, a expensas do estabelecimento in- Art. 64. Aplicam-se, subsidiariamente, ao procedimento ad-
terditado, enquanto durar a interdição. (Redação dada pela Lei nº ministrativo de que trata este Capítulo as disposições das Leis nos
14.423, de 2022) 6.437, de 20 de agosto de 1977, e 9.784, de 29 de janeiro de 1999.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 65. O procedimento de apuração de irregularidade em § 3o A prioridade se estende aos processos e procedimentos
entidade governamental e não governamental de atendimento à na Administração Pública, empresas prestadoras de serviços pú-
pessoa idosa terá início mediante petição fundamentada de pes- blicos e instituições financeiras, ao atendimento preferencial jun-
soa interessada ou iniciativa do Ministério Público. (Redação dada to à Defensoria Publica da União, dos Estados e do Distrito Federal
pela Lei nº 14.423, de 2022) em relação aos Serviços de Assistência Judiciária.
Art. 66. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judici- § 4º Para o atendimento prioritário, será garantido à pessoa
ária, ouvido o Ministério Público, decretar liminarmente o afas- idosa o fácil acesso aos assentos e caixas, identificados com a des-
tamento provisório do dirigente da entidade ou outras medidas tinação a pessoas idosas em local visível e caracteres legíveis. (Re-
que julgar adequadas, para evitar lesão aos direitos da pessoa dação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
idosa, mediante decisão fundamentada. (Redação dada pela Lei § 5º Dentre os processos de pessoas idosas, dar-se-á prio-
nº 14.423, de 2022) ridade especial aos das maiores de 80 (oitenta) anos. (Redação
Art. 67. O dirigente da entidade será citado para, no prazo de dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
10 (dez) dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar documen-
tos e indicar as provas a produzir. CAPÍTULO II
Art. 68. Apresentada a defesa, o juiz procederá na conformi- DO MINISTÉRIO PÚBLICO
dade do art. 69 ou, se necessário, designará audiência de instru-
ção e julgamento, deliberando sobre a necessidade de produção Art. 72. (VETADO)
de outras provas. Art. 73. As funções do Ministério Público, previstas nesta Lei,
§ 1o Salvo manifestação em audiência, as partes e o Minis- serão exercidas nos termos da respectiva Lei Orgânica.
tério Público terão 5 (cinco) dias para oferecer alegações finais, Art. 74. Compete ao Ministério Público:
decidindo a autoridade judiciária em igual prazo. I – instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a pro-
§ 2o Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo teção dos direitos e interesses difusos ou coletivos, individuais in-
de dirigente de entidade governamental, a autoridade judiciária disponíveis e individuais homogêneos da pessoa idosa; (Redação
oficiará a autoridade administrativa imediatamente superior ao dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
afastado, fixando-lhe prazo de 24 (vinte e quatro) horas para pro- II – promover e acompanhar as ações de alimentos, de inter-
ceder à substituição. dição total ou parcial, de designação de curador especial, em cir-
§ 3o Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade cunstâncias que justifiquem a medida e oficiar em todos os feitos
judiciária poderá fixar prazo para a remoção das irregularidades em que se discutam os direitos das pessoas idosas em condições
verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo será extinto, sem de risco; (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
julgamento do mérito. III – atuar como substituto processual da pessoa idosa em
§ 4o A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da situação de risco, conforme o disposto no art. 43 desta Lei; (Reda-
entidade ou ao responsável pelo programa de atendimento. ção dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
IV – promover a revogação de instrumento procuratório da
TÍTULO V pessoa idosa, nas hipóteses previstas no art. 43 desta Lei, quando
DO ACESSO À JUSTIÇA necessário ou o interesse público justificar; (Redação dada pela
Lei nº 14.423, de 2022)
CAPÍTULO I V – instaurar procedimento administrativo e, para instruí-lo:
DISPOSIÇÕES GERAIS a) expedir notificações, colher depoimentos ou esclareci-
mentos e, em caso de não comparecimento injustificado da pes-
Art. 69. Aplica-se, subsidiariamente, às disposições deste Ca- soa notificada, requisitar condução coercitiva, inclusive pela Polí-
pítulo, o procedimento sumário previsto no Código de Processo cia Civil ou Militar;
Civil, naquilo que não contrarie os prazos previstos nesta Lei. b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de
Art. 70. O poder público poderá criar varas especializadas e autoridades municipais, estaduais e federais, da administração
exclusivas da pessoa idosa. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de direta e indireta, bem como promover inspeções e diligências in-
2022) vestigatórias;
Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos c) requisitar informações e documentos particulares de ins-
e procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em tituições privadas;
que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou VI – instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigató-
superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância. rias e a instauração de inquérito policial, para a apuração de ilíci-
§ 1o O interessado na obtenção da prioridade a que alude tos ou infrações às normas de proteção à pessoa idosa; (Redação
este artigo, fazendo prova de sua idade, requererá o benefício à dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
autoridade judiciária competente para decidir o feito, que deter- VII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais
minará as providências a serem cumpridas, anotando-se essa cir- assegurados à pessoa idosa, promovendo as medidas judiciais e
cunstância em local visível nos autos do processo. extrajudiciais cabíveis; (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
§ 2o A prioridade não cessará com a morte do beneficiado, VIII – inspecionar as entidades públicas e particulares de
estendendo-se em favor do cônjuge supérstite, companheiro ou atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando de
companheira, com união estável, maior de 60 (sessenta) anos. pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à re-
moção de irregularidades porventura verificadas;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

IX – requisitar força policial, bem como a colaboração dos IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos 1
serviços de saúde, educacionais e de assistência social, públicos, (um) ano e que incluam entre os fins institucionais a defesa dos
para o desempenho de suas atribuições; interesses e direitos da pessoa idosa, dispensada a autorização da
X – referendar transações envolvendo interesses e direitos assembléia, se houver prévia autorização estatutária.
das pessoas idosas previstos nesta Lei. (Redação dada pela Lei nº § 1o Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Ministé-
14.423, de 2022) rios Públicos da União e dos Estados na defesa dos interesses e
§ 1o A legitimação do Ministério Público para as ações cíveis direitos de que cuida esta Lei.
previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hi- § 2o Em caso de desistência ou abandono da ação por asso-
póteses, segundo dispuser a lei. ciação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado deve-
§ 2o As atribuições constantes deste artigo não excluem ou- rá assumir a titularidade ativa.
tras, desde que compatíveis com a finalidade e atribuições do Mi- Art. 82. Para defesa dos interesses e direitos protegidos por
nistério Público. esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ação pertinentes.
§ 3º O representante do Ministério Público, no exercício de Parágrafo único. Contra atos ilegais ou abusivos de autorida-
suas funções, terá livre acesso a toda entidade de atendimento à de pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribui-
pessoa idosa. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) ções de Poder Público, que lesem direito líquido e certo previsto
Art. 75. Nos processos e procedimentos em que não for par- nesta Lei, caberá ação mandamental, que se regerá pelas normas
te, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na defesa dos da lei do mandado de segurança.
direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipóteses em que terá Art. 83. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de
vista dos autos depois das partes, podendo juntar documentos, obrigação de fazer ou não-fazer, o juiz concederá a tutela especí-
requerer diligências e produção de outras provas, usando os re- fica da obrigação ou determinará providências que assegurem o
cursos cabíveis. resultado prático equivalente ao adimplemento.
Art. 76. A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, § 1o Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo
será feita pessoalmente. justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz
Art. 77. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, na for-
a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo juiz ou a ma do art. 273 do Código de Processo Civil.
requerimento de qualquer interessado. § 2o O juiz poderá, na hipótese do § 1o ou na sentença, impor
multa diária ao réu, independentemente do pedido do autor, se
CAPÍTULO III for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razo-
DA PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES DIFUSOS, COLETI- ável para o cumprimento do preceito.
VOS E INDIVIDUAIS INDISPONÍVEIS OU HOMOGÊNEOS § 3o A multa só será exigível do réu após o trânsito em jul-
gado da sentença favorável ao autor, mas será devida desde o dia
Art. 78. As manifestações processuais do representante do em que se houver configurado.
Ministério Público deverão ser fundamentadas. Art. 84. Os valores das multas previstas nesta Lei reverterão
Art. 79. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de res- ao Fundo da Pessoa Idosa, onde houver, ou na falta deste, ao Fun-
ponsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à pessoa idosa, do Municipal de Assistência Social, ficando vinculados ao atendi-
referentes à omissão ou ao oferecimento insatisfatório de: (Reda- mento à pessoa idosa. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
ção dada pela Lei nº 14.423, de 2022) Parágrafo único. As multas não recolhidas até 30 (trinta) dias
I – acesso às ações e serviços de saúde; após o trânsito em julgado da decisão serão exigidas por meio de
II – atendimento especializado à pessoa idosa com defici- execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos autos,
ência ou com limitação incapacitante; (Redação dada pela Lei nº facultada igual iniciativa aos demais legitimados em caso de inér-
14.423, de 2022) cia daquele.
III – atendimento especializado à pessoa idosa com doença Art. 85. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos,
infectocontagiosa; (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) para evitar dano irreparável à parte.
IV – serviço de assistência social visando ao amparo da pes- Art. 86. Transitada em julgado a sentença que impuser con-
soa idosa. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) denação ao Poder Público, o juiz determinará a remessa de peças
Parágrafo único. As hipóteses previstas neste artigo não ex- à autoridade competente, para apuração da responsabilidade civil
cluem da proteção judicial outros interesses difusos, coletivos, in- e administrativa do agente a que se atribua a ação ou omissão.
dividuais indisponíveis ou homogêneos, próprios da pessoa idosa, Art. 87. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado
protegidos em lei. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) da sentença condenatória favorável à pessoa idosa sem que o au-
Art. 80. As ações previstas neste Capítulo serão propostas tor lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público,
no foro do domicílio da pessoa idosa, cujo juízo terá competência facultada igual iniciativa aos demais legitimados, como assisten-
absoluta para processar a causa, ressalvadas as competências da tes ou assumindo o polo ativo, em caso de inércia desse órgão.
Justiça Federal e a competência originária dos Tribunais Superio- (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
res. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) Art. 88. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá
Art. 81. Para as ações cíveis fundadas em interesses difusos, adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos, consideram- quaisquer outras despesas.
-se legitimados, concorrentemente: Parágrafo único. Não se imporá sucumbência ao Ministério
I – o Ministério Público; Público.
II – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
III – a Ordem dos Advogados do Brasil;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 89. Qualquer pessoa poderá, e o servidor deverá, provo- Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando
car a iniciativa do Ministério Público, prestando-lhe informações seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao
sobre os fatos que constituam objeto de ação civil e indicando-lhe direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento
os elementos de convicção. necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade:
Art. 90. Os agentes públicos em geral, os juízes e tribunais, no Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
exercício de suas funções, quando tiverem conhecimento de fa- § 1o Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, me-
tos que possam configurar crime de ação pública contra a pessoa nosprezar ou discriminar pessoa idosa, por qualquer motivo.
idosa ou ensejar a propositura de ação para sua defesa, devem § 2o A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se
encaminhar as peças pertinentes ao Ministério Público, para as encontrar sob os cuidados ou responsabilidade do agente.
providências cabíveis. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) § 3º Não constitui crime a negativa de crédito motivada por
Art. 91. Para instruir a petição inicial, o interessado poderá superendividamento da pessoa idosa. (Redação dada pela Lei nº
requerer às autoridades competentes as certidões e informações 14.423, de 2022)
que julgar necessárias, que serão fornecidas no prazo de 10 (dez) Art. 97. Deixar de prestar assistência à pessoa idosa, quando
dias. possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente peri-
Art. 92. O Ministério Público poderá instaurar sob sua pre- go, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem
sidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pessoa, orga- justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade
nismo público ou particular, certidões, informações, exames ou pública: (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
10 (dez) dias. Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omis-
§ 1o Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as são resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resul-
diligências, se convencer da inexistência de fundamento para a ta a morte.
propositura da ação civil ou de peças informativas, determinará o Art. 98. Abandonar a pessoa idosa em hospitais, casas de saú-
seu arquivamento, fazendo-o fundamentadamente. de, entidades de longa permanência, ou congêneres, ou não pro-
§ 2o Os autos do inquérito civil ou as peças de informação ver suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou manda-
arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta gra- do: (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
ve, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa.
Público ou à Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Pú- Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psí-
blico. quica, da pessoa idosa, submetendo-a a condições desumanas ou
§ 3o Até que seja homologado ou rejeitado o arquivamento, degradantes ou privando-a de alimentos e cuidados indispensá-
pelo Conselho Superior do Ministério Público ou por Câmara de veis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-a a trabalho exces-
Coordenação e Revisão do Ministério Público, as associações legi- sivo ou inadequado: (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
timadas poderão apresentar razões escritas ou documentos, que Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.
serão juntados ou anexados às peças de informação. § 1o Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
§ 4o Deixando o Conselho Superior ou a Câmara de Coorde- Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
nação e Revisão do Ministério Público de homologar a promoção § 2o Se resulta a morte:
de arquivamento, será designado outro membro do Ministério Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
Público para o ajuizamento da ação. Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) me-
ses a 1 (um) ano e multa:
TÍTULO VI I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por
DOS CRIMES motivo de idade;
II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou tra-
CAPÍTULO I balho;
DISPOSIÇÕES GERAIS III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de
prestar assistência à saúde, sem justa causa, a pessoa idosa;
Art. 93. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as dis- IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo,
posições da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985. a execução de ordem judicial expedida na ação civil a que alude
Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima esta Lei;
privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis
o procedimento previsto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de à propositura da ação civil objeto desta Lei, quando requisitados
1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Códi- pelo Ministério Público.
go Penal e do Código de Processo Penal. (Vide ADIN 3.096-5 - STF) Art. 101. Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo
motivo, a execução de ordem judicial expedida nas ações em que
CAPÍTULO II for parte ou interveniente a pessoa idosa: (Redação dada pela Lei
DOS CRIMES EM ESPÉCIE nº 14.423, de 2022)
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pú- Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pen-
blica incondicionada, não se lhes aplicando os arts. 181 e 182 do são ou qualquer outro rendimento da pessoa idosa, dando-lhes
Código Penal. aplicação diversa da de sua finalidade: (Redação dada pela Lei nº
14.423, de 2022)
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 103. Negar o acolhimento ou a permanência da pessoa § 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referen-
idosa, como abrigada, por recusa desta em outorgar procuração à tes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa
entidade de atendimento: (Redação dada pela Lei nº 14.423, de idosa ou portadora de deficiência:
2022) ............................................................................ (NR)
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. “Art. 141. ............................................................................
Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancária relativa ............................................................................
a benefícios, proventos ou pensão da pessoa idosa, bem como IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora
qualquer outro documento com objetivo de assegurar recebimen- de deficiência, exceto no caso de injúria.
to ou ressarcimento de dívida: (Redação dada pela Lei nº 14.423, .............................................................................” (NR)
de 2022) “Art. 148. ............................................................................
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa. ............................................................................
Art. 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunica- § 1o............................................................................
ção, informações ou imagens depreciativas ou injuriosas à pessoa I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge do agente
idosa: (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) ou maior de 60 (sessenta) anos.
Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. ............................................................................” (NR)
Art. 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus “Art. 159............................................................................
atos a outorgar procuração para fins de administração de bens ou ............................................................................
deles dispor livremente: § 1o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. o seqüestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta)
Art. 107. Coagir, de qualquer modo, a pessoa idosa a doar, anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
contratar, testar ou outorgar procuração: (Redação dada pela Lei ............................................................................” (NR)
nº 14.423, de 2022) “Art. 183............................................................................
Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. ............................................................................
Art. 108. Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou
discernimento de seus atos, sem a devida representação legal: superior a 60 (sessenta) anos.” (NR)
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. “Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do
cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para
TÍTULO VII o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta)
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltan-
do ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada,
Art. 109. Impedir ou embaraçar ato do representante do Mi- fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descen-
nistério Público ou de qualquer outro agente fiscalizador: dente ou ascendente, gravemente enfermo:
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. ............................................................................” (NR)
Art. 110. O Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Art. 111. O O art. 21 do Decreto-Lei no 3.688, de 3 de outubro
Código Penal, passa a vigorar com as seguintes alterações: de 1941, Lei das Contravenções Penais, passa a vigorar acrescido
“Art. 61. ............................................................................ do seguinte parágrafo único:
............................................................................ “Art. 21............................................................................
II - ............................................................................ ............................................................................
............................................................................ Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou metade se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.” (NR)
mulher grávida; Art. 112. O inciso II do § 4o do art. 1o da Lei no 9.455, de 7 de
.............................................................................” (NR) abril de 1997, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 121. ............................................................................ “Art. 1o ............................................................................
............................................................................ ............................................................................
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um § 4o ............................................................................
terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador
profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imedia- de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos;
to socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do ............................................................................” (NR)
seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o Art. 113. O inciso III do art. 18 da Lei no 6.368, de 21 de outu-
homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é bro de 1976, passa a vigorar com a seguinte redação:
praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 “Art. 18............................................................................
(sessenta) anos. ............................................................................
.............................................................................” (NR) III – se qualquer deles decorrer de associação ou visar a me-
“Art. 133. ............................................................................ nores de 21 (vinte e um) anos ou a pessoa com idade igual ou
............................................................................ superior a 60 (sessenta) anos ou a quem tenha, por qualquer cau-
§ 3o ............................................................................ sa, diminuída ou suprimida a capacidade de discernimento ou de
............................................................................ autodeterminação:
III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.” (NR) ............................................................................” (NR)
“Art. 140. ............................................................................ Art. 114. O art 1º da Lei no 10.048, de 8 de novembro de
............................................................................ 2000, passa a vigorar com a seguinte redação:

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

“Art. 1o As pessoas portadoras de deficiência, os idosos com Art. 3o Como parte do processo educativo mais amplo, todos
idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as lac- têm direito à educação ambiental, incumbindo:
tantes e as pessoas acompanhadas por crianças de colo terão I - ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Consti-
atendimento prioritário, nos termos desta Lei.” (NR) tuição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimen-
Art. 115. O Orçamento da Seguridade Social destinará ao Fun- são ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis
do Nacional de Assistência Social, até que o Fundo Nacional da de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recupera-
Pessoa Idosa seja criado, os recursos necessários, em cada exer- ção e melhoria do meio ambiente;
cício financeiro, para aplicação em programas e ações relativos à II - às instituições educativas, promover a educação ambiental
pessoa idosa. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022) de maneira integrada aos programas educacionais que desenvol-
Art. 116. Serão incluídos nos censos demográficos dados rela- vem;
tivos à população idosa do País. III - aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Am-
Art. 117. O Poder Executivo encaminhará ao Congresso Nacio- biente - Sisnama, promover ações de educação ambiental inte-
nal projeto de lei revendo os critérios de concessão do Benefício gradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do
de Prestação Continuada previsto na Lei Orgânica da Assistência meio ambiente;
Social, de forma a garantir que o acesso ao direito seja condizen- IV - aos meios de comunicação de massa, colaborar de manei-
te com o estágio de desenvolvimento sócio-econômico alcançado ra ativa e permanente na disseminação de informações e práticas
pelo País. educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambien-
Art. 118. Esta Lei entra em vigor decorridos 90 (noventa) dias tal em sua programação;
da sua publicação, ressalvado o disposto no caput do art. 36, que V - às empresas, entidades de classe, instituições públicas e pri-
vigorará a partir de 1o de janeiro de 2004. vadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalha-
dores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de
trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo
no meio ambiente;
EDUCAÇÃO AMBIENTAL (LEI Nº 9.795/1999 VI - à sociedade como um todo, manter atenção permanente à
formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atua-
Educação Ambiental é um processo contínuo, dinâmico, par- ção individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e
ticipativo e interativo de aprendizagem das questões socioam- a solução de problemas ambientais.
bientais. Dessa forma, a Educação Ambiental constitui uma das Art. 4o São princípios básicos da educação ambiental:
dimensões do direito ao meio ambiente equilibrado e sustentá- I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;
vel, prioridade na garantia da qualidade de vida das pessoas por II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, conside-
meio de concepções e práticas inter/transdisciplinares, contínuas rando a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico
e permanentes, realizadas no contexto educativo. Priorizando as e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade;
questões ambientais, devemos despertar no estudante a impor- III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na pers-
tância de manter relações harmoniosas entre a sociedade e a na- pectiva da inter, multi e transdisciplinaridade;
tureza, preservando a biodiversidade e as culturas. É nessa pers- IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as prá-
pectiva que as atividades educativas devem envolver a escola e a ticas sociais;
comunidade em seu entorno, refletir sobre atitudes de proteção V - a garantia de continuidade e permanência do processo edu-
e preservação da natureza, dialogando por meio dos diferentes cativo;
componentes curriculares. VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo;
VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais,
LEI NO 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999. regionais, nacionais e globais;
VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversida-
Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de individual e cultural.
de Educação Ambiental e dá outras providências. Art. 5o São objetivos fundamentais da educação ambiental:
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na- I - o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo as-
pectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômi-
CAPÍTULO I cos, científicos, culturais e éticos;
DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL II - a garantia de democratização das informações ambientais;
III - o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica
Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por sobre a problemática ambiental e social;
meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores so- IV - o incentivo à participação individual e coletiva, permanen-
ciais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências volta- te e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente,
das para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor in-
povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. separável do exercício da cidadania;
Art. 2o A educação ambiental é um componente essencial e V - o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País,
permanente da educação nacional, devendo estar presente, de for- em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma
ma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo edu- sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da
cativo, em caráter formal e não-formal. liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, res-
ponsabilidade e sustentabilidade;

158
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

VI - o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência SEÇÃO II


e a tecnologia; DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FORMAL
VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos po-
vos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humani- Art. 9o Entende-se por educação ambiental na educação esco-
dade. lar a desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensi-
CAPÍTULO II no públicas e privadas, englobando:
DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL I - educação básica:
a) educação infantil;
SEÇÃO I b) ensino fundamental e
DISPOSIÇÕES GERAIS c) ensino médio;
II - educação superior;
Art. 6o É instituída a Política Nacional de Educação Ambiental. III - educação especial;
Art. 7o A Política Nacional de Educação Ambiental envolve em IV - educação profissional;
sua esfera de ação, além dos órgãos e entidades integrantes do Sis- V - educação de jovens e adultos.
tema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, instituições educacio- Art. 10. A educação ambiental será desenvolvida como uma
nais públicas e privadas dos sistemas de ensino, os órgãos públicos prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e orga- níveis e modalidades do ensino formal.
nizações não-governamentais com atuação em educação ambien- § 1o A educação ambiental não deve ser implantada como dis-
tal. ciplina específica no currículo de ensino.
Art. 8o As atividades vinculadas à Política Nacional de Educa- § 2o Nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas volta-
ção Ambiental devem ser desenvolvidas na educação em geral e na das ao aspecto metodológico da educação ambiental, quando se
educação escolar, por meio das seguintes linhas de atuação inter- fizer necessário, é facultada a criação de disciplina específica.
-relacionadas: § 3o Nos cursos de formação e especialização técnico-profissio-
I - capacitação de recursos humanos; nal, em todos os níveis, deve ser incorporado conteúdo que trate da
II - desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações; ética ambiental das atividades profissionais a serem desenvolvidas.
III - produção e divulgação de material educativo; Art. 11. A dimensão ambiental deve constar dos currículos de
IV - acompanhamento e avaliação. formação de professores, em todos os níveis e em todas as disci-
§ 1o Nas atividades vinculadas à Política Nacional de Educação plinas.
Ambiental serão respeitados os princípios e objetivos fixados por Parágrafo único. Os professores em atividade devem receber
esta Lei. formação complementar em suas áreas de atuação, com o propó-
§ 2o A capacitação de recursos humanos voltar-se-á para: sito de atender adequadamente ao cumprimento dos princípios e
I - a incorporação da dimensão ambiental na formação, espe- objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental.
cialização e atualização dos educadores de todos os níveis e moda- Art. 12. A autorização e supervisão do funcionamento de ins-
lidades de ensino; tituições de ensino e de seus cursos, nas redes pública e privada,
II - a incorporação da dimensão ambiental na formação, espe- observarão o cumprimento do disposto nos arts. 10 e 11 desta Lei.
cialização e atualização dos profissionais de todas as áreas;
III - a preparação de profissionais orientados para as atividades SEÇÃO III
de gestão ambiental; DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NÃO-FORMAL
IV - a formação, especialização e atualização de profissionais na
área de meio ambiente; Art. 13. Entendem-se por educação ambiental não-formal as
V - o atendimento da demanda dos diversos segmentos da so- ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade
ciedade no que diz respeito à problemática ambiental. sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na
§ 3o As ações de estudos, pesquisas e experimentações voltar- defesa da qualidade do meio ambiente.
-se-ão para: Parágrafo único. O Poder Público, em níveis federal, estadual e
I - o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visando municipal, incentivará:
à incorporação da dimensão ambiental, de forma interdisciplinar, I - a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de
nos diferentes níveis e modalidades de ensino; massa, em espaços nobres, de programas e campanhas educativas,
II - a difusão de conhecimentos, tecnologias e informações so- e de informações acerca de temas relacionados ao meio ambiente;
bre a questão ambiental; II - a ampla participação da escola, da universidade e de orga-
III - o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visan- nizações não-governamentais na formulação e execução de progra-
do à participação dos interessados na formulação e execução de mas e atividades vinculadas à educação ambiental não-formal;
pesquisas relacionadas à problemática ambiental; III - a participação de empresas públicas e privadas no desen-
IV - a busca de alternativas curriculares e metodológicas de ca- volvimento de programas de educação ambiental em parceria com
pacitação na área ambiental; a escola, a universidade e as organizações não-governamentais;
V - o apoio a iniciativas e experiências locais e regionais, in- IV - a sensibilização da sociedade para a importância das unida-
cluindo a produção de material educativo; des de conservação;
VI - a montagem de uma rede de banco de dados e imagens, V - a sensibilização ambiental das populações tradicionais liga-
para apoio às ações enumeradas nos incisos I a V. das às unidades de conservação;
VI - a sensibilização ambiental dos agricultores;
VII - o ecoturismo.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 13-A. Fica instituída a Campanha Junho Verde, a ser cele- XV - debate, divulgação, sensibilização e práticas educativas
brada anualmente como parte das atividades da educação ambien- atinentes às relações entre a degradação ambiental e o surgimento
tal não formal. (Incluído pela Lei nº 14.393, de 2022) de endemias, epidemias e pandemias, bem como à necessidade de
§ 1º O objetivo da Campanha Junho Verde é desenvolver o en- conservação adequada do meio ambiente para a prevenção delas;
tendimento da população acerca da importância da conservação e (Incluído pela Lei nº 14.393, de 2022)
dos ecossistemas naturais e de todos os seres vivos e do controle da XVI - conscientização relativa a uso racional da água, escassez
poluição e da degradação dos recursos naturais, para as presentes e hídrica, acesso a água potável e tecnologias disponíveis para melho-
futuras gerações. (Incluído pela Lei nº 14.393, de 2022) ria da eficiência hídrica. (Incluído pela Lei nº 14.393, de 2022)
§ 2º A Campanha Junho Verde será promovida pelo poder pú- § 3º Na Campanha Junho Verde, será observado o conceito de
blico federal, estadual, distrital e municipal em parceria com esco- Ecologia Integral, que inclui dimensões humanas e sociais dos desa-
las, universidades, empresas públicas e privadas, igrejas, comércio, fios ambientais. (Incluído pela Lei nº 14.393, de 2022)
entidades da sociedade civil, comunidades tradicionais e popula-
ções indígenas, e incluirá ações direcionadas para: (Incluído pela Lei CAPÍTULO III
nº 14.393, de 2022) DA EXECUÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AM-
I - divulgação de informações acerca do estado de conservação BIENTAL
das florestas e biomas brasileiros e dos meios de participação ativa
da sociedade para a sua salvaguarda; (Incluído pela Lei nº 14.393, Art. 14. A coordenação da Política Nacional de Educação Am-
de 2022) biental ficará a cargo de um órgão gestor, na forma definida pela
II - fomento à conservação e ao uso de espaços públicos ur- regulamentação desta Lei.
banos por meio de atividades culturais e de educação ambiental; Art. 15. São atribuições do órgão gestor:
(Incluído pela Lei nº 14.393, de 2022) I - definição de diretrizes para implementação em âmbito na-
III - conservação da biodiversidade brasileira e plantio e uso de cional;
espécies vegetais nativas em áreas urbanas e rurais; (Incluído pela II - articulação, coordenação e supervisão de planos, programas
Lei nº 14.393, de 2022) e projetos na área de educação ambiental, em âmbito nacional;
IV - sensibilização acerca da redução de padrões de consumo, III - participação na negociação de financiamentos a planos,
da reutilização de materiais, da separação de resíduos sólidos na programas e projetos na área de educação ambiental.
origem e da reciclagem; (Incluído pela Lei nº 14.393, de 2022) Art. 16. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, na esfera
V - divulgação da legislação ambiental brasileira e dos princí- de sua competência e nas áreas de sua jurisdição, definirão diretri-
pios ecológicos que a regem; (Incluído pela Lei nº 14.393, de 2022) zes, normas e critérios para a educação ambiental, respeitados os
VI - debate sobre transição ecológica das cadeias produtivas, princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental.
economia de baixo carbono e carbono neutro; (Incluído pela Lei nº Art. 17. A eleição de planos e programas, para fins de aloca-
14.393, de 2022) ção de recursos públicos vinculados à Política Nacional de Educação
VII - inovação ambiental por meio de projetos educacionais re- Ambiental, deve ser realizada levando-se em conta os seguintes cri-
lacionados ao potencial da biodiversidade do País; (Incluído pela Lei térios:
nº 14.393, de 2022) I - conformidade com os princípios, objetivos e diretrizes da Po-
VIII - preservação da cultura dos povos tradicionais e indígenas lítica Nacional de Educação Ambiental;
que habitam biomas brasileiros, inseridos no contexto da proteção II - prioridade dos órgãos integrantes do Sisnama e do Sistema
da biodiversidade do País; (Incluído pela Lei nº 14.393, de 2022) Nacional de Educação;
IX - debate sobre as mudanças climáticas e seus impactos nas III - economicidade, medida pela relação entre a magnitude
cidades e no meio rural, com a participação dos Poderes Legislati- dos recursos a alocar e o retorno social propiciado pelo plano ou
vos estaduais, distrital e municipais; (Incluído pela Lei nº 14.393, programa proposto.
de 2022) Parágrafo único. Na eleição a que se refere o caput deste artigo,
X - estímulo à formação da consciência ecológica cidadã a res- devem ser contemplados, de forma eqüitativa, os planos, progra-
peito de temas ambientais candentes, em uma perspectiva trans- mas e projetos das diferentes regiões do País.
disciplinar e social transformadora, pautada pela ética intergeracio- Art. 18. (VETADO)
nal; (Incluído pela Lei nº 14.393, de 2022) Art. 19. Os programas de assistência técnica e financeira rela-
XI - debate, em todos os níveis e modalidades do processo edu- tivos a meio ambiente e educação, em níveis federal, estadual e
cativo, sobre ecologia, conservação ambiental e cadeias produtivas; municipal, devem alocar recursos às ações de educação ambiental.
(Incluído pela Lei nº 14.393, de 2022)
XII - fomento à conscientização ambiental em áreas turísticas, CAPÍTULO IV
com estímulo ao turismo sustentável; (Incluído pela Lei nº 14.393, DISPOSIÇÕES FINAIS
de 2022)
XIII - divulgação e disponibilização de estudos científicos e de Art. 20. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de
soluções tecnológicas adequadas às políticas públicas de proteção noventa dias de sua publicação, ouvidos o Conselho Nacional de
do meio ambiente; (Incluído pela Lei nº 14.393, de 2022) Meio Ambiente e o Conselho Nacional de Educação.
XIV - promoção de ações socioeducativas destinadas a diferen- Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
tes públicos nas unidades de conservação da natureza em que a
visitação pública é permitida; (Incluído pela Lei nº 14.393, de 2022) Brasília, 27 de abril de 1999; 178o da Independência e 111o da
República.

160
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Destaca-se, ainda, o momento singular da realização da Rio+20,


PARECER CNE/CP Nº14/2012 “Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentá-
vel”, contexto em que essas Diretrizes Curriculares para a Educação
PARECER CNE/CP Nº 14/2012 Ambiental estão sendo elaboradas.

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. 2. Mérito


Este Parecer, inicialmente, situa a Educação Ambiental em seus
I – RELATÓRIO marcos referenciais: legal, internacionais e conceitual, caracterizan-
1. Introdução do o seu papel, sua natureza, seus objetivos, bem como o compro-
O Ministério da Educação, pela Secretaria de Educação Conti- misso do Brasil com as questões socioambientais. Evidencia, ainda,
nuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI/MEC), enca- o importante papel dos movimentos sociais em provocar a aproxi-
minhou ao Conselho Nacional de Educação (CNE) documento com mação da comunidade com as questões socioambientais. Estabe-
proposta para o estabelecimento de Diretrizes Curriculares Nacio- lece para a implantação das Diretrizes um quadro com o contexto
nais para a Educação Ambiental (DCNEA). A proposta foi elaborada atual da Educação Ambiental, seguido de abordagem da Educação
pela Coordenação-Geral de Educação Ambiental da SECADI/MEC, Ambiental na Educação Básica e na Superior e na organização curri-
tendo resultado de contribuições colhidas, desde 2005, dos siste- cular, enfatizando-se o papel dos sistemas de ensino e o regime de
mas de ensino, da sociedade civil, de diferentes instâncias do MEC colaboração na implantação dessas Diretrizes.
e de vários eventos. Dentre estes destacam-se o Encontro Nacional A formulação de Diretrizes Nacionais constitui atribuição fede-
de Gestores das Políticas Estaduais de Educação Ambiental, ocorri- ral, exercida pelo Conselho Nacional de Educação, nos termos da
do em 2007, e o VII Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, reali- Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – Lei de Diretrizes e Bases
zado em 30/3/2012, ambos em Salvador/BA. da Educação Nacional (LDB) – e da Lei nº 9.131, de 24 de novembro
Nos termos da proposta, a “Educação Ambiental envolve o en- de 1995, que o instituiu. Esta Lei define, entre as atribuições de sua
tendimento de uma educação cidadã, responsável, crítica, partici- Câmara de Educação Básica (CEB) e de sua Câmara de Educação
pativa, em que cada sujeito aprende com conhecimentos científicos Superior (CES), deliberar sobre as Diretrizes Curriculares propostas
e com o reconhecimento dos saberes tradicionais, possibilitando a pelo Ministério da Educação (alínea “c” do § 1º e alínea “c” do § 2º
tomada de decisões transformadoras, a partir do meio ambiente do artigo 9º, respectivamente, da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro
natural ou construído no qual as pessoas se integram. A Educação de 1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131/1995). Essa com-
Ambiental avança na construção de uma cidadania responsável vol- petência para definir as Diretrizes Curriculares Nacionais torna-as
tada para culturas de sustentabilidade socioambiental”. mandatórias para todos os sistemas de ensino e instituições educa-
Segundo, ainda, a referida proposta, o atributo “ambiental” na cionais, assegurando-se a participação da sociedade no aperfeiçoa-
tradição da Educação Ambiental brasileira e latino-americana não é mento da educação nacional.
empregado para especificar um tipo de educação, mas constitui-se Constitui objeto deste Parecer estabelecer as Diretrizes Curri-
em elemento estruturante que demarca um campo político de va- culares Nacionais para a Educação Ambiental a serem observadas
lores e práticas, mobilizando atores sociais comprometidos com a pelos sistemas de ensino e suas instituições de Educação Básica e
prática políticopedagógica transformadora e emancipatória capaz de Educação Superior, orientando a implementação da Educação
de promover a ética e a cidadania ambiental. Ambiental (EA), tendo como referência as Diretrizes Curriculares
A partir da apresentação da proposta, a Comissão Especial Bi- Nacionais Gerais para a Educação Básica e as Diretrizes Curricula-
cameral, que já havia sido designada pelo Conselho Nacional de res Nacionais para as Graduações, em especial as de Formação de
Educação (CNE), integrada pelos Conselheiros Antonio de Araujo Professores.
Freitas Junior (CES), Clélia Brandão Alvarenga Craveiro (CEB) e José Objetiva, ainda:
Fernandes de Lima (CEB), retoma os estudos e propõe encaminha- a) sistematizar os preceitos definidos na Lei nº 9.795, de 27 de
mentos para que o Parecer das Diretrizes Curriculares Nacionais abril de 1999, bem como os avanços que ocorreram na área para
para a Educação Ambiental seja apresentado na reunião do Conse- que contribuam para assegurar a formação humana de sujeitos
lho Pleno no mês de junho de 2012. concretos que vivem em determinado meio ambiente, contexto
Essa Comissão, após análise dos documentos, elaborou indi- histórico e sociocultural, com suas condições físicas, emocionais,
cações para subsidiar a elaboração do Parecer com o objetivo de culturais, intelectuais;
retomar o diálogo com a Coordenação-Geral de Educação Ambien- b) estimular a reflexão crítica e propositiva da inserção da Edu-
tal da SECADI/MEC e estabelecer um cronograma de trabalho. Das cação Ambiental na formulação, execução e avaliação dos projetos
atividades estabelecidas, destaca-se a reunião com especialistas de institucionais e pedagógicos das instituições de ensino, para que a
diferentes instituições e Unidades da Federação, no dia 22/5/2012, concepção de Educação Ambiental como integrante do currículo su-
no Memorial Darcy Ribeiro, da Universidade de Brasília. pere a mera distribuição do tema pelos demais componentes;
Em seguida, no dia 25 do mesmo mês, foi promovida a Audi- c) orientar os cursos de formação de docentes para a Educação
ência Pública pelo CNE e pela Coordenação-Geral de Educação Am- Básica;
biental do MEC, na sede do CNE. Essa Audiência foi transmitida pela d) orientar os sistemas educativos dos diferentes entes federa-
Internet, ampliando significativamente as possibilidades de partici- dos e as instituições de ensino que os integram, indistintamente da
pação. Houve, ainda, a possibilidade de recebimento posterior de rede a que pertençam.
novas contribuições, a partir dessa transmissão.

161
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

2.1. Marcos Referenciais Essa Lei, além de outras providências, define a EA, dá atribui-
2.1.1. Marco Legal ções, enuncia princípios básicos e indica objetivos fundamentais da
O sistema legislativo brasileiro comporta diferentes diplomas educação ambiental, conceituando-a na educação escolar como
legais com foco específico na Educação Ambiental, os quais, neces- incluída nos currículos de todas as etapas da Educação Básica e
sariamente, balizam as Diretrizes aqui formuladas. na Educação Superior, inclusive em suas modalidades, abrangen-
Primordialmente, considera-se a Constituição Federal de 1988 do todas as instituições de ensino públicas e privadas. Além disso,
(CF/88), em especial, seus artigos 23, 24 e 225. valoriza “a abordagem articulada das questões ambientais locais,
Art. 23 É competência comum da União, dos Estados, do Distri- regionais e nacionais”, e o meio ambiente como emergência das
to Federal e dos Municípios: relações dos aspectos sociais, ecológicos, culturais, econômicos,
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições dentre outros. Ademais, incentiva “a busca de alternativas curricu-
democráticas e conservar o patrimônio público; lares e metodológicas de capacitação na área ambiental, incluindo
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia a produção de material educativo”.
das pessoas portadoras de deficiência; Ainda segundo essa Lei, a Educação Ambiental será desenvolvi-
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor da como uma prática educativa integrada, contínua e permanente,
histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais não devendo se constituir disciplina específica no currículo de en-
notáveis e os sítios arqueológicos; sino, exceto nos cursos de pós-graduação e extensão e nas áreas
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de voltadas ao aspecto metodológico da Educação Ambiental, quando
obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cul- necessário (artigo 10).
tural; Sobre a formação inicial de professores, a Lei nº 9.795/1999
(...) preceitua, em seu artigo 11, que “a dimensão ambiental deve cons-
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qual- tar dos currículos de formação de professores, em todos os níveis
quer de suas formas; e em todas as disciplinas”. Ao trazer essa determinação, a Lei evi-
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora. dência o caráter transversal da educação ambiental nos diferentes
Art. 24 Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal le- espaços e tempos das instituições educativas.
gislar concorrentemente sobre: Diferentemente de outras leis que determinam conteúdos para
(...) a educação escolar, sem indicar aspectos relativos à sua implemen-
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, de- tação, esta já avança com ditames diretivos que não podem deixar
fesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e de ser a base das diretrizes ora formuladas neste Parecer.
controle da poluição; O Plano Nacional sobre Mudança do Clima, instituído pelo De-
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turís- creto nº 6.263, de 21 de novembro de 2007, propõe que, entre as
tico e paisagístico; principais ações da Educação Ambiental, esteja a “implementação
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consu- de programas de espaços educadores sustentáveis, com readequa-
midor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turís- ção de prédios (escolares e universitários) e da gestão, além da for-
tico e paisagístico. mação de professores e da inserção da temática mudança do clima
No que diz respeito diretamente à Educação Ambiental, a Cons- nos currículos e materiais didáticos”.
tituição Federal determina explicitamente que o Poder Público tem A Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, que Institui a Políti-
a incumbência de promover a Educação Ambiental em todos os ní- ca Nacional de Resíduos Sólidos, articulada com a Política Nacional
veis de ensino (inciso VI do § 1º do artigo 225 do Capítulo VI, dedi- de Educação Ambiental e com a Política Nacional de Saneamento
cado ao Meio Ambiente), como um dos fatores asseguradores do Básico, reconhece a Educação Ambiental como um instrumento in-
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. dispensável para a gestão integrada, a redução, a reutilização e a
Esse mandamento constitucional, no entanto, fora precedido reciclagem de resíduos sólidos.
pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que instituiu a Política Quanto à Lei nº 9.394/1996, de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional do Meio Ambiente, a qual já enunciava o princípio para Nacional (LDB), anterior à Lei nº 9.795/1999, não é explícita em re-
a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental: a lação à Educação Ambiental, nem a questões ambientais. Os princí-
“educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educa- pios e os objetivos da Educação Ambiental, entretanto coadunam-
ção da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa -se com os princípios gerais da educação contidos na LDB, a qual,
na defesa do meio ambiente” (inciso X do artigo 2º). Essa Lei foi no artigo 32, assevera que o ensino fundamental terá por objetivo a
responsável pela inclusão do componente ambiental na gestão das “formação básica do cidadão mediante: (...) II – a compreensão do
políticas públicas nacionais e, certamente, inspiradora do Capítulo ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das ar-
do Meio Ambiente na Constituição Federal. tes e dos valores em que se fundamenta a sociedade”. Ainda, o arti-
Da incumbência constitucional, de todo modo, decorrem e su- go 26, prevê, em seu § 1º, que os currículos a que se refere devem
bordinam-se todas as demais normas legais que se sucederam. abranger, “obrigatoriamente, (...) o conhecimento do mundo físico
Após a Constituição, destaca-se, em especial, a Lei nº e natural e da realidade social e política, especialmente no Brasil”. O
9.795/1999, regulamentada pelo Decreto nº 4.281, de 25 de junho artigo 43, inciso III, que versa sobre a Educação Superior, estabelece
de 2002, que dispõe especificamente sobre a Educação Ambiental como finalidade dessa etapa “incentivar o trabalho de pesquisa e
(EA) e institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da
Afirma que essa educação é componente essencial e permanente tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desen-
da educação nacional, devendo estar presente, de forma articula- volver o entendimento do homem e do meio em que vive”.
da, em todos os níveis e modalidades de todo processo educativo,
escolar ou não.

162
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Além da legislação, do incentivo de políticas públicas na área da UNESCO com o Programa de Meio Ambiente da ONU (PNUMA).
ambiental e educacional, a própria força da realidade, com a emer- Fortemente inspirada pela Carta de Belgrado, foi responsável pela
gência das questões relativas ao meio ambiente, nas esferas local, elaboração de objetivos, definições, princípios, estratégias e ações
nacional e internacional, vem encarregando-se de tornar a Educa- orientadoras da Educação Ambiental que são adotados mundial-
ção Ambiental presente nos currículos escolares, mesmo que não mente até os dias atuais.
formalmente incluída neles, em razão da necessidade de compre- − De 1979 a 1980, vários eventos regionais contribuíram para
ensão e de respostas aos desafios ambientais contemporâneos. a discussão da importância e das políticas de Educação Ambiental:
• “Encontro Regional de Educação Ambiental para América La-
2.1.2. Marcos Internacionais tina” em San José, Costa Rica (1979);
A legislação brasileira referente à Educação Ambiental é resul- • “Seminário Regional Europeu sobre Educação Ambiental para
tado, também, da preocupação mundial de proteção ambiental e Europa e América do Norte”, onde se destacou a importância de
desenvolvimento sustentável. Internacionalmente, podem ser as- intercâmbio de informações e experiências (1980);
sinalados os seguintes sucessivos eventos que se constituem em • “Seminário Regional sobre Educação Ambiental nos Estados
marcos históricos da Educação Ambiental: Árabes”, em Manama, Bahrein (1980); e
− Em 1951, foi publicado o “Estudo da Proteção da Natureza no • “Primeira Conferência Asiática sobre Educação Ambiental”,
Mundo”, organizado pela União Internacional para a Conservação Nova Delhi, Índia (1980).
da Natureza (UICN), que havia sido criada em decorrência da Con- − Em 1980, a UNESCO e o PNUMA iniciam juntos a estruturação
ferência Internacional de Fontainebleau, na França, em 1948, com do Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), desen-
apoio da UNESCO (a UICN transformou-se, em 1972, no Programa volvendo uma série de atividades em várias nações.
das Nações Unidas para o Meio Ambiente [PNUMA]). − Em 1987, ocorreu a divulgação do Relatório “Nosso Futuro
− Em 1965, na “Conferência de Educação da Universidade de Comum”, conhecido como “Relatório Brundtland”, no qual se inau-
Keele”, pela primeira vez, utilizou-se a expressão “Educação Am- gurou a terminologia “desenvolvimento sustentável”.
biental” (Environmental Education). Recomendou-se que a Educa- − No mesmo ano, realizou-se o “Congresso Internacional da
ção Ambiental deve ser parte essencial da educação de todos os UNESCO-PNUMA sobre Educação e Formação Ambiental”, em Mos-
cidadãos. cou, que teve por objetivo avaliar os avanços obtidos em Educação
− Em 1968, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ambiental desde Tbilisi, além de reafirmar os princípios de Educa-
a Ciência e a Cultura (UNESCO) realizou estudo sobre Educação Am- ção Ambiental e assinalar a importância e necessidade da pesquisa
biental, compreendendo-a como tema complexo e interdisciplinar, e da formação em Educação Ambiental.
não limitada a uma disciplina específica no currículo escolar. − Depois disso, houve os seguintes eventos internacionais rele-
− Em 1972, a Conferência de Estocolmo, após as ideias divul- vantes para a Educação Ambiental:
gadas pelo Clube de Roma, principalmente pelo relatório intitulado • “Declaração de Caracas sobre Gestão Ambiental na América”,
“Os limites do crescimento”, trouxe dois importantes marcos para o que denunciou a necessidade de mudança no modelo de desenvol-
desenvolvimento de uma política mundial de proteção ambiental: vimento (1988);
a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente • “Primeiro Seminário sobre materiais para a Educação Am-
(PNUMA), com sede em Nairóbi, Quênia, e a recomendação de que biental”, em Santiago, Chile (1989);
se criasse o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), • “Declaração de Haia” (1989), preparatória da Eco-92, que de-
conhecida como “Recomendação 96”. monstrou a importância da cooperação internacional nas questões
− Em 1974, no Seminário de Educação Ambiental realizado em ambientais.
Jammi (Comissão Nacional Finlandesa para a UNESCO), foram fi- − Em 1990, a “Conferência Mundial sobre Educação para To-
xados os Princípios de Educação Ambiental, considerando-a como dos: Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem”, reali-
a que permite atingir o escopo de proteção ambiental, e que não zada em Jomtien, Tailândia (1990), aprovou a “Declaração Mundial
deve ser encarada com um ramo científico ou uma disciplina de es- sobre Educação para Todos”, cujo texto chamou a atenção do mun-
tudos em separado, e sim como educação integral e permanente. do para o analfabetismo ambiental.
− Em 1975, foi lançada a “Carta de Belgrado”, buscando-se uma − O ano de 1990 foi declarado pela ONU como o “Ano Interna-
estrutura global para a Educação Ambiental, a qual entendeu como cional do Meio Ambiente”, com isso gerando discussões ambientais
absolutamente vital que os cidadãos de todo o mundo insistissem em todo o mundo.
a favor de medidas que dessem suporte ao tipo de crescimento − Em 1992, realizou-se, no Rio de Janeiro, Brasil, a “Conferên-
econômico que não traga repercussões prejudiciais às pessoas e cia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento”,
que não diminuam de nenhuma maneira as condições de vida e de conhecida como Eco-92, na qual foi produzido o documento inter-
qualidade do meio ambiente, propondo uma nova ética global de nacional “Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Susten-
desenvolvimento, mediante, entre outros mecanismos, a reforma táveis e Responsabilidade Global”, expressando-se o caráter crítico
dos processos e sistemas educacionais. e emancipatório da Educação Ambiental, entendendo-a como ins-
− No mesmo ano de 1975, a UNESCO, em colaboração com trumento de transformação social, política, comprometido com a
o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), mudança social, rompendo-se o modelo desenvolvimentista e inau-
criou o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), em gurando-se o paradigma de sociedades sustentáveis.
atenção à Recomendação 96 da Conferência de Estocolmo de 1972. − Em 1997, a “Conferência Internacional sobre Meio Ambiente
− Em 1977, na cidade de Tbilisi, na Geórgia, ocorreu o mais im- e Sociedade: Educação e Conscientização Pública para a Sustentabi-
portante evento internacional em favor da Educação Ambiental até lidade” foi realizado em Thessaloniki, Grécia, organizada pela UNES-
então já realizado. Foi a chamada “Primeira Conferência Intergo- CO e pelo Governo da Grécia, reunindo aproximadamente 1.200 es-
vernamental sobre Educação Ambiental”, organizada em parceria pecialistas de 83 países. A Declaração de Thessaloniki recomendou

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que, após dez anos, fosse realizada conferência internacional para a educação para o desenvolvimento sustentável, inclusive educação
verificação da implementação e progresso dos processos educacio- secundária e vocacional, e a capacitação para ajudar a assegurar
nais então sugeridos, o que ocorreu em Ahmedabad, na Índia. que toda a sociedade possa contribuir com soluções para os desa-
− Após a Eco-92, merecem menção: fios atuais e aproveitar as oportunidades. O documento apresenta
• “Congresso Mundial para Educação e Comunicação sobre uma parte dedicada à educação e à qualificação para o desenvolvi-
Meio Ambiente e Desenvolvimento”, Toronto, Canadá (1992); mento sustentável, bem como outra de recomendações para capa-
• “I Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental: uma citar as pessoas a fazerem escolhas sustentáveis.
estratégia para o futuro”, Guadalajara, México (1992); Essa série de eventos, que ocorreram a partir de 1951, demons-
• “Congresso Sul-americano continuidade Eco/92”, Argentina tra a prevalência das questões ambientais no mundo contemporâ-
(1993); neo, no qual o Brasil tem se colocado, em diversas situações, na
• “Conferência dos Direitos Humanos”, Viena, Áustria (1993); vanguarda, como, por exemplo, em sua legislação e suas políticas
• “Conferência Mundial da População”, Cairo, Egito (1994); públicas, embora a realidade, muitas vezes, ainda se contraponha
• “Conferência para o Desenvolvimento Social”, Copenhague, a elas.
Dinamarca (1995); Há de se destacar a importância, para o Brasil, da Eco-92, que
• “Conferência Mundial da Mulher”, Pequim, China (1995); frutificou a expressão da Carta da Terra; três convenções aprovadas
• “Conferência Mundial do Clima”, Berlim, Alemanha (1995); pelo Brasil: a da Diversidade Biológica3, a de Combate à Desertifica-
• “Conferência Habitat II”, Istambul, Turquia (1996); ção e Mitigação dos Efeitos da Seca4 e a Convenção-Quadro sobre
• “II Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental: em Mudança do Clima; a Declaração de Princípios sobre Florestas; a
busca das marcas de Tbilisi”, Guadalajara, México (1997); Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento; a Agenda
• “II Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental”, Gua- 21, que foi incluída nas atividades e debates escolares.
dalajara, México (1997); Atualmente, vive-se a expectativa com a realização, no Rio de
• “Conferência sobre Educação Ambiental”, em Nova Delhi Janeiro, Brasil, da “Conferência das Nações Unidas sobre Desenvol-
(1997); vimento Sustentável”, a Rio+20, que deve contribuir para definir a
• “III Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental: po- agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas.
vos e caminhos para o desenvolvimento sustentável”, Caracas, Ve- Seu objetivo é a renovação do compromisso político com o de-
nezuela (2000); senvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e
• “IV Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental: um das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas prin-
mundo melhor é possível”, Havana, Cuba (2003); cipais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e
• “V Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental”, Join- emergentes.
ville, Brasil (2006).
− O Brasil, com outros países da América Latina e do Caribe, 2.1.3. Marco Conceitual
assumiu compromissos com a implementação do Programa Latino- A Educação Ambiental é um processo em construção, não
-Americano e Caribenho de Educação Ambiental (Placea) e do Plano havendo conceituação consensual. Decorrem, em consequência,
Andino-Amazônico de Comunicação e Educação Ambiental (Pana- práticas educacionais muitas vezes reducionistas, fragmentadas e
cea), no âmbito da Década da Educação para o Desenvolvimento unilaterais da problemática ambiental, e abordagem despolitizada
Sustentável (2005-2014). e ingênua dessa temática.
− Em 2000, na Cúpula do Milênio, promovida pela ONU em sua Contemporaneamente, com base em estudos, pesquisas e
sede, com a participação de 189 países, o Brasil comprometeu-se experiências, busca-se compreender e ressignificar a relação dos
com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), metas a seres humanos com a natureza. Nesse sentido, vem se afirmando
serem colocadas em prática, mediante ações políticas, sociais, pe- como valor ético-político orientador de um projeto de sociedade
dagógicas para serem alcançadas até 2015. Um dos objetivos é o ambientalmente sustentável, em que se possa construir uma re-
de melhorar a Qualidade de Vida e o Respeito ao Meio Ambiente, lação simétrica entre os interesses das sociedades e os processos
visando inserir os princípios do desenvolvimento sustentável nas naturais.
políticas e nos programas nacionais e reverter a perda de recursos A articulação da ética ambiental com a educação vem consti-
ambientais. tuindo laços identitários de uma cultura ambiental, de um campo
− Em 2007, em Ahmedabad, na Índia, de 26 a 28 de novem- conceitual-ambiental. No entanto, essa situação não dirime a natu-
bro, ocorreu a “Quarta Conferência Internacional sobre Educação reza conflituosa das disputas internas da área, falando-se, pois, em
Ambiental”, desenvolvendo-se a temática “Educação Ambiental “educações ambientais”.
para um Futuro Sustentável – Parceiros para a Década da Educação Cabe, pois, explicitar que neste Parecer se concebe a Educação
para o Desenvolvimento Sustentável”. Reforçou-se a identidade da Ambiental na perspectiva socioambiental, da justiça ambiental, das
Educação Ambiental como condição indispensável para a sustenta- relações comerciais equilibradas e das concepções de sustentabili-
bilidade, promovendo o cuidado com a comunidade de vida, a inte- dade.
gridade dos ecossistemas, a justiça econômica, a equidade social e Se a Educação Ambiental é marcada, no seu surgimento, por
de gênero, o diálogo para a convivência e a paz.2 uma tradição naturalista, que fragmenta a análise da realidade,
− De 2005 a 2014, por iniciativa da UNESCO, vive-se a “Década que estabelece a dicotomia entre natureza e sociedade, torna-se
da Educação para o Desenvolvimento Sustentável”. fundamental ao pensar as Diretrizes Curriculares para a Educação
− Em 2012, destaca-se a publicação do Relatório do Painel de Ambiental que se busque superar essa marca. Nesse sentido, acre-
Alto Nível do Secretário-Geral das Nações Unidas sobre Sustentabi- dita-se que tal marca pode ser superarada na afirmação da visão so-
lidade Global, denominado “Planeta Resiliente – Um Futuro Digno cioambiental, construindo relações de interação permanente entre
de Escolha”, no qual uma das áreas prioritárias de ação é promover a vida humana social e a vida da natureza – comunidades de vida.

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A visão socioambiental complexa e interdisciplinar analisa, Para que os estudantes constituam uma visão da globalidade e
pensa, organiza o meio ambiente como um campo de interações compreendam o meio ambiente em todas suas dimensões, a prá-
entre a cultura, a sociedade e a base física e biológica dos processos tica pedagógica da Educação Ambiental deve ter uma abordagem
vitais, no qual todos os elementos constitutivos dessa relação modi- complexa e interdisciplinar. Daí decorre a tarefa não habitual, mas
ficam-se dinâmica e mutuamente. Tal perspectiva considera o meio a ser perseguida, de estruturação institucional da escola e de orga-
ambiente como espaço relacional, em que a presença humana, lon- nização curricular que, mediante a transversalidade, supere a visão
ge de ser percebida como extemporânea, intrusa ou desagregado- fragmentada do conhecimento e amplie os horizontes de cada área
ra, aparece como um agente que pertence à teia de relações da vida do saber.
social, natural, cultural, e interage com ela. Cabe também aos sistemas de ensino e às instituições educa-
Nessa perspectiva, as modificações resultantes da interação cionais desenvolverem reflexões, debates, programas de formação
entre os seres humanos e a natureza nem sempre são nefastas; para os docentes e os técnicos no sentido de se efetivar a inserção
podem ser sustentáveis, promovendo, muitas vezes, aumento da da Educação Ambiental na formação acadêmica e na organização
biodiversidade pelo tipo de ação humana ali exercida. Pode-se dos espaços físicos em geral.
pensar essa relação como sociobiodiversidade, uma interação que
enriquece o meio ambiente, como, por exemplo, os vários grupos 2.2. Movimentos Sociais
extrativistas, quilombolas, ribeirinhos e dos povos indígenas. A Educação Ambiental, consagrada na Constituição Federal e
Com esses fundamentos, a Educação Ambiental deve avançar em forte legislação específica, legitimou-se como uma prática edu-
na construção de uma cidadania responsável voltada para culturas cativa primordial para construção de uma sociedade igualitária e
de sustentabilidade socioambiental, envolvendo o entendimento um meio ambiente ecologicamente equilibrado, alcançando essa
de uma educação cidadã, responsável, crítica, participativa, em que legitimação, no entanto, somente pelas lutas empreendidas por
cada sujeito aprende com conhecimentos científicos e com o reco- movimentos sociais que questionavam os modelos dominantes.
nhecimento dos saberes tradicionais, possibilitando, assim, a toma- Devem-se, portanto, registrar os avanços provocados por mo-
da de decisões transformadoras a partir do meio ambiente natural vimentos sociais, que certamente conduziram ao atual marco legal
ou construído no qual as pessoas se integram. e que continuam a influir na organização das políticas públicas para
O reconhecimento do papel transformador e emancipatório da a área.
Educação Ambiental torna-se cada vez mais visível diante do atual No período de 1968 a 1988, havia se formado uma nova consci-
contexto nacional e mundial em que se evidencia, na prática social, ência sobre as questões relativas ao meio ambiente, a par de outras
a preocupação com as mudanças climáticas, a degradação da natu- questões como o pacifismo, direitos das mulheres, dos negros, dos
reza, a redução da biodiversidade, os riscos socioambientais locais índios, dos homossexuais e outros.
e globais, as necessidades planetárias. Apesar de o período ser caracterizado pelo autoritarismo do
Assim, a Educação Ambiental: regime então imposto ao País, iniciativas foram surgindo, destacan-
- visa à construção de conhecimentos, ao desenvolvimento de do-se a liderada por José Lutzenberger, com a criação, em 1971,
habilidades, atitudes e valores sociais, ao cuidado com a comunida- da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN),
de de vida, a justiça e a equidade socioambiental, e com a proteção Organização Não Governamental pioneira do movimento ambien-
do meio ambiente natural e construído; talista brasileiro.
- não é atividade neutra, pois envolve valores, interesses, vi- No âmbito governamental, pelas pressões dos movimentos
sões de mundo; desse modo, deve assumir, na prática educativa, ambientalistas e, até por pressões internacionais, o Governo Fede-
de forma articulada e interdependente, as suas dimensões política ral criou, em 1973, a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA),
e pedagógica; na qual passaram a ser tratadas questões ambientais de âmbito na-
- deve adotar uma abordagem que considere a interface entre cional.
a natureza, a sociocultura, a produção, o trabalho, o consumo, su- Ainda nessa década de 70, projetos governamentais visavam
perando a visão despolitizada, acrítica, ingênua e naturalista ainda à expansão das fronteiras, tanto para o seu pretendido “desenvol-
muito presente na prática pedagógica das instituições de ensino; vimento”, quanto por chamadas razões de segurança nacional. As
- deve ser integradora, em suas múltiplas e complexas relações, políticas voltadas para a Amazônia tiveram efeitos perversos de
como um processo contínuo de aprendizagem das questões refe- grilagens, invasões e processos de colonização, tornando-a região
rentes ao espaço de interações multidimensionais, seja biológica, de conflitos entre índios, colonos, madeireiros, mineradores, em-
física, social, econômica, política e cultural. Ela propicia mudança de presários, posseiros e extrativistas. Nesse contexto de luta pela
visão e de comportamento mediante conhecimentos, valores e ha- terra, Chico Mendes fundou e liderou, em 1977, o Sindicato dos
bilidades que são necessários para a sustentabilidade, protegendo Trabalhadores Rurais de Xapuri, cuja luta pelos seringueiros deu-lhe
o meio ambiente para as gerações presentes e futuras. reconhecimento internacional.
A educação escolar, em todos os níveis, é espaço em que se Nos grandes centros urbanos crescia um ideário ambientalista
ressignifica e se recria a cultura herdada, reconstruindo-se as iden- menos naturalista, sendo marco importante, em 1978, o 1º Simpó-
tidades culturais, em que se aprende a valorizar as raízes próprias sio Nacional de Ecologia em Curitiba, no qual se criticou o “desen-
das diferentes regiões do País. volvimentismo”, apontando os problemas ambientais como sendo,
Essa concepção exige a superação do rito escolar, desde a cons- também, socioculturais.
trução do currículo até os critérios que orientam a organização do Com o processo de redemocratização, na década de 1980, am-
trabalho escolar em sua multidimensionalidade, privilegia trocas, pliaram-se os movimentos sociais, bem como a criação de ONGs
acolhimento e aconchego, para garantir o bem-estar de crianças, que vieram a ocupar espaços e a realizar parcerias com governos,
adolescentes, jovens e adultos, no relacionamento entre todas as empresas e outras instituições.
pessoas.

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Os diferentes encontros, como o Fórum Social Mundial, as Con- É igualmente significativo que a proposição ocorra em período
ferências Nacionais de Meio Ambiente e as Conferências Nacionais próximo da realização, em nosso País, da “Conferência das Nações
de Educação, tiveram sempre a participação de representantes de Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável”, a Rio+20.
ONGs e de movimentos sociais engajados nas questões ambientais, Para a formulação das Diretrizes, é fundamental considerar a
reforçando e mantendo viva a relevância da Educação Ambiental Lei nº 9.795/1999, que estabelece que a Educação Ambiental deve
como fator fundamental para a cidadania e para a perspectiva de estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalida-
criação de um mundo melhor. des do processo educativo. Como um processo, uma vez iniciado,
Nesse contexto libertário é que se consumou, no plano le- prossegue indefinidamente por toda a vida, aprimorando-se e in-
gal, por pressão da sociedade, a conquista da abordagem dada à corporando novos significados sociais e científicos. Devido ao pró-
questão ambiental em nossa Constituição Federal, inclusive com a prio dinamismo da sociedade, o despertar para a questão ambiental
determinação para que o Poder Público promova a Educação Am- no processo educativo deve começar desde a infância. A determi-
biental em todos os níveis de ensino (inciso VI do § 1º do artigo 225 nação para que a Educação Ambiental seja integrada, contínua e
do Capítulo VI, dedicado ao Meio Ambiente), como um dos fatores permanente implica, portanto, o início do seu desenvolvimento na
asseguradores do direito ao meio ambiente ecologicamente equi- Educação Infantil, prosseguindo sem futura interrupção.
librado. Cabe considerar, por oportuno, os chamados “espaços educa-
A esta determinação seguiu-se a edição da Lei nº 9.795/1999, dores sustentáveis”, assumidos como um princípio da educação in-
específica para a Educação Ambiental (EA) e a Política Nacional de tegral (Decreto nº 7.083, de 27 de janeiro de 2010 – artigo 2º, inciso
Educação Ambiental (PNEA), da qual decorrem estas Diretrizes. V). A proposta de criação desses espaços educadores está presente
também no Plano Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC, parte
2.3. Contexto Atual IV.4, item 12, 2008).
A degradação ambiental e o aprofundamento das desigualda- Espaço educador sustentável é aquele que tem a intenciona-
des sociais engendram uma das maiores crises da modernidade, e, lidade de educar para a sustentabilidade, tornando-se referência
também, a urgente necessidade de sua superação. para o seu território, a partir das ações coerentes entre o currículo,
Ao contrário do que ideologicamente pretendem o conheci- a gestão e as edificações. Nesse sentido, os sistemas de ensino da
mento científico, pretensamente neutro, e as teorias sociais con- Educação Básica, juntamente com as instituições de Educação Su-
ciliatórias, a ciência, a tecnologia e o capitalismo não são formas perior, devem incentivar a criação desses espaços, que enfoquem
naturais – a-históricas – de desenvolvimento social, mas formas a sustentabilidade ambiental e a formação integral dos sujeitos,
concretas, históricas e, por isso, com possibilidades de superação como também fontes de financiamento para que os estabelecimen-
pelas ações humanas. tos de ensino se tornem sustentáveis nas edificações, na gestão e
A atualidade é marcada por maior preocupação com as ques- na organização curricular.
tões referentes à defesa e proteção do meio ambiente natural e De fato, contemporaneamente, uma práxis pedagógica desafia-
do construído (especialmente o de valor histórico e artístico), às dora, significativa e contextualizada é imprescindível para reorgani-
mudanças climáticas e aos riscos socioambientais globais. Reforça- zar os tempos, espaços e oportunidades de aprendizagem e promo-
-se o reconhecimento do papel transformador e emancipatório da ver a adequação da matriz curricular na perspectiva da formação
Educação Ambiental, exigindo referenciais educacionais atualizados integral e de construção de espaços educadores como referenciais
que levem em conta os dados da realidade e, igualmente, seu mar- de sustentabilidade socioambiental – espaços que mantêm, com
co legal, contribuindo para que os sistemas e as instituições de en- intencionalidade pedagógica, uma relação equilibrada com o meio
sino realizem a adequação dos seus tempos, espaços e currículos. ambiente. A Conferência Nacional de Educação – Conae/2010 apro-
Em decorrência, há necessidade de, na forma de Diretrizes vou moção em favor da construção de espaços educadores susten-
Nacionais, fortalecer as orientações para o seu trato transversal e táveis para enfrentamento das mudanças socioambientais globais.
integrado nas diferentes fases, etapas, níveis e modalidades da Edu- A moção apoia também o contido em relatório sobre Sustentabili-
cação, tanto a Básica quanto a Superior, uma vez que a Lei é clara ao dade e Eficiência Energética do Grupo de Trabalho Matriz Energé-
determinar que a Educação Ambiental esteja presente em todas. É tica para o Desenvolvimento com Equidade e Responsabilidade So-
essencial que estas Diretrizes estabeleçam as orientações nacionais cioambiental do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social
do dever atribuído constitucionalmente ao Estado de promover a (CDES), que afirma: “para que a Educação Ambiental seja efetiva e
Educação Ambiental na Educação Básica e na Superior, e no de- contribua para a mitigação dos efeitos das mudanças do clima e a
ver legal de contribuir para a Política Nacional do Meio Ambiente, formação de uma nova cidadania, foi consenso nas discussões en-
bem como, especificamente, para implementar a Política Nacional tre os conselheiros que as instituições de ensino sejam incubadoras
de Educação Ambiental, para que a formação cidadã incorpore o de mudanças concretas na realidade social articulando três eixos:
conhecimento e a participação ativa na defesa da sustentabilidade edificações, gestão e currículo” (Relatório nº 1, Sustentabilidade e
socioambiental. Eficiência Energética, aprovado em novembro de 2009).
É significativo constatar que a proposição destas Diretrizes Há de se destacar a atuação interministerial, pois a Educação
ocorra no período histórico atual, da “Década da Educação para o Ambiental é por natureza interdependente, devendo-se, pois, con-
Desenvolvimento Sustentável” (2005-14), iniciativa da UNESCO que siderar as políticas públicas expressas pelas iniciativas dos vários
visa potencializar nos sistemas de ensino as ações de EA. Ressalta- órgãos, dentre os quais estão iniciativas do Ministério da Educação
-se que sua instituição indica uma identidade para a Educação, ou voltadas para as questões ambientais, como:
seja, que ela é “condição indispensável para a sustentabilidade, pro- a) elaboração dos Parâmetros em Ação-Meio Ambiente na Es-
movendo o cuidado com a comunidade de vida, a integridade dos cola;
ecossistemas, a justiça econômica, a equidade social e de gênero, o b) implantação do Programa de Formação Continuada de Pro-
diálogo para a convivência e a paz”. fessores;

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c) desenvolvimento no âmbito do programa Vamos Cuidar do lógicos. Há, porém, Diretriz que indica, como proposição curricular,
Brasil com as Escolas de programa de Formação continuada de pro- “a sustentabilidade socioambiental como meta universal, desenvol-
fessores em Educação Ambiental; vida como prática educativa integrada, contínua e permanente, e
d) inclusão da Educação Ambiental no Censo Escolar, em 2001; baseada na compreensão do necessário equilíbrio e respeito nas
e) realização de cursos de Formação Continuada de Professores relações do ser humano com seu ambiente”.8
em EA, presencial desde 2004 e a distância a partir 2008; No âmbito da Educação Superior, a Educação Ambiental está
f) realização de Conferências Nacionais Infanto-Juvenis pelo pouco presente nas Diretrizes Curriculares para as Graduações,
Meio Ambiente; merecendo que as normas e diretrizes da Câmara de Educação
g) realização da Conferência Internacional Vamos Cuidar do Superior, orientadoras das diversas ofertas de formação em nível
Planeta – CONFINT; superior, venham a incorporar indicações sobre a sua inclusão nos
h) promoção de atividades com vistas à criação e fortalecimen- seus diferentes tipos de cursos e programas. A Lei nº 9.795/1999,
to da Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida (Com-Vida) regulamentada pelo Decreto nº 4.281/2002, que dispõe especifica-
nas escolas; mente sobre a Educação Ambiental (EA), aponta para o cumprimen-
i) realização de Encontros Nacionais de Juventude e Meio Am- to de preceitos referentes à pós-graduação, à extensão e à gradua-
biente; ção, quando se refere aos cursos e programas de formação inicial e
j) desenvolvimento de Pesquisas e publicações na área; continuada de professores, e aos de formação inicial e de especia-
k) incentivo à formação e ao fortalecimento das Comissões In- lização técnico-profissional, que, afinal, acabam por incluir os que
terinstitucionais de Educação Ambiental; conduzem ao exercício de profissões. Registra-se, portanto, a ne-
l) promoção de ações articuladas com fóruns e redes de edu- cessidade de as diretrizes e as normas para os cursos e programas
cação ambiental; da Educação Superior serem atualizadas, prescrevendo-se o ade-
m)apoio à elaboração de programas e políticas estaduais de quado para a formação com a dimensão da Educação Ambiental,
educação ambiental. valorizando-a tanto no ensino, quanto na pesquisa e na extensão.
Destaca-se o papel fundamental que o Ministério do Meio Am- Os sistemas de ensino estaduais, distrital e municipais certa-
biente (MMA) e sua Diretoria de Educação Ambiental e o intermi- mente também dispõem sobre a matéria, não havendo, contudo,
nisterial Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental
levantamento que indique sua ocorrência e frequência.
vêm desempenhando, bem como a relevância das Conferências Na-
É relevante, ainda, destacar que o Projeto de Lei nº 8.035/2010,
cionais do Meio Ambiente.
que trata da instituição do novo Plano Nacional de Educação, ora em
O MMA promove as Conferências Nacionais com a finalidade
apreciação pelo Congresso Nacional, estabelece entre suas diretri-
de construir espaço de convergência social no qual todos os seg-
zes a promoção da sustentabilidade socioambiental, consagrando,
mentos da sociedade podem deliberar de forma participativa sobre
mais uma vez, a questão no âmbito de nosso sistema educacional.
a construção de políticas públicas de meio ambiente, com vista ao
Em resumo, o contexto contemporâneo é marcado por gran-
estabelecimento de uma política de desenvolvimento sustentável
des desafios educacionais e ambientais. Assim, estas Diretrizes
para o País. Tem sido instrumento de democracia participativa e de
Nacionais para a Educação Ambiental contribuirão para incluir no
educação ambiental orientado pelas diretrizes básicas do Ministé-
rio: desenvolvimento sustentável; transversalidade; fortalecimento currículo o estudo e as propostas para enfrentamento dos desafios
do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama); e controle e par- socioambientais, bem como para pensar e agir na perspectiva de
ticipação social. criação de espaços educadores sustentáveis e fortalecimento da
Realizaram-se quatro Conferências Nacionais de Meio Ambien- educação integral, ampliando os tempos, territórios e oportunida-
te, em 2003, 2005, 2008 e 2011, nas quais a questão educacional des de aprendizagem.
mostrou-se presente. A última edição teve o desafio de debater Comprometer-se com a qualidade da educação no século XXI,
uma das principais preocupações ambientais do planeta: as mudan- num momento histórico marcado pela ocorrência de diversos de-
ças climáticas. O tema, antes restrito à comunidade científica e go- sastres ambientais, amplia a necessidade dos educadores e educa-
vernos, tomou amplitude, sobretudo após a divulgação dos últimos doras em compreender a complexa multicausalidade da crise am-
relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas biental contemporânea, prevenir seus efeitos e contribuir para o
(IPCC). Atualmente, o mundo todo debruça-se na busca de soluções enfrentamento das mudanças socioambientais globais.
para enfrentar os impactos causados pelo aquecimento global. Uma educação cidadã, responsável, crítica, participativa e
Registra-se que, em março de 2012, realizou-se em Salvador, emancipatória, em que cada sujeito aprende com conhecimentos
Bahia, o “VII Fórum Brasileiro de Educação Ambiental” (VII FBEA), científicos e com o reconhecimento dos diferentes saberes, possibi-
cujo tema central foi “Educação Ambiental: Rumo às Sociedades lita a tomada de decisões transformadoras a partir do meio ambien-
Sustentáveis”. A concepção pedagógica do evento integra a abor- te natural ou construído no qual as pessoas se inserem. Tal visão
dagem dos oito níveis de sustentabilidade7 e três eixos: tratado de de processo educacional supera a dissociação sociedade/natureza
educação para sociedades sustentáveis, educadores ambientais em e mantém uma relação dialógica e transformadora com o mundo.
rede e os objetivos permanentes do Fórum, e enfatiza, ainda, a ma- A Educação Ambiental envolve uma proposta capaz de ressigni-
triz conceitual que se norteia pela visão integradora das sociedades ficar o papel social da educação a partir do pensamento complexo
humanas. e com base numa visão sistêmica e integrada. Ela avança na cons-
No âmbito do Conselho Nacional de Educação, as Resoluções trução de uma cidadania responsável, estimulando interações mais
da Câmara de Educação Básica que versam sobre Diretrizes Curricu- justas entre os seres humanos e os outros seres que habitam o Pla-
lares fazem referência à temática ambiental abordando-a com dife- neta, para a construção de um presente e um futuro sustentáveis,
rentes enfoques, alguns associados a aspectos biológicos e/ou eco- sadios e socialmente justos.

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2.4. A Educação Ambiental na Educação Básica e na Superior demandas na elaboração de diretrizes para implementação da Po-
Documento da Coordenação-Geral de Educação Ambiental lítica Nacional de Educação Ambiental (PNEA) e de estratégias para
(CGEA/SECADI/MEC) informa que grande parte dos Estados da consolidação da Educação Ambiental (EA) no ensino superior.
Federação já possui ou está elaborando sua Política Estadual de Treze entre 18 IES afirmaram oferecer cursos de especialização,
Educação Ambiental, seus Programas Estaduais de Educação Am- ou seja, cursos de pós-graduação lato sensu. O mapeamento iden-
biental, e alguns criaram, por meio de legislação, Comissões Inte- tificou 15 cursos de extensão. Assim, foram mapeados 29 cursos de
rinstitucionais de Educação Ambiental e vêm debatendo estratégias EA, 14 de especialização e 15 de extensão, indicando uma propor-
para a implantação da Educação Ambiental no ensino formal, na ção equilibrada entre os dois tipos de cursos. Das 22 IES respon-
formação dos professores e no processo de institucionalização da dentes, 18 propuseram cursos de um ou outro tipo, representando,
Educação Ambiental pelas áreas gestoras. portanto, um tipo de atividade comum à maioria das IES participan-
O rápido crescimento da Educação Ambiental nos estabeleci- tes. Foram indicados 118 projetos propostos por 23 representantes
mentos de ensino aparece na análise dos dados do Censo Escolar de 19 IES.
desenvolvida pela SECADI e o Instituto Nacional de Estudos e Pes- Foram descritas 56 disciplinas de Educação Ambiental que não
quisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), de 2001 a 2004. Os da- foram inseridas em cursos específicos de EA, tendo em vista que es-
dos obtidos apontam para a universalização da Educação Ambien- sas foram solicitadas na questão específica sobre os cursos na área
tal nos sistemas de ensino. Segundo dados disponíveis do Censo de especialização e extensão. As disciplinas de Educação Ambiental
da Educação Básica, existiam, em 2001, cerca de 25,3 milhões de aparecem distribuídas nos níveis de ensino de graduação e pós-gra-
crianças matriculadas com acesso à Educação Ambiental. Em 2004, duação (mestrado, doutorado e especialização). A graduação des-
este total subiu para 32,3 milhões. Nesse período, a taxa de cres- taca-se por maior inserção de disciplinas de EA, com 38 disciplinas,
cimento do número de escolas que oferecem Educação Ambiental das quais 23 são obrigatórias, 12, optativas, e apenas 3 eletivas. No
no Ensino Fundamental foi de 28%. Em 2001, havia 177.808 escolas mestrado e doutorado, diferentemente da graduação, as disciplinas
de Ensino Fundamental, contra 115.130 que ofereciam, de alguma de Educação Ambiental são, predominantemente, eletivas (10) ou
forma, Educação Ambiental. Em 2004, de 166.503 escolas, 151.929 optativas (5) e apenas duas são oferecidas no modo obrigatório.
a ofereciam. O documento apresenta, ainda, recomendações e prioridades
A maioria dos Estados tem a Educação Ambiental presente em para as IES, concernentes ao desenvolvimento da Educação Am-
mais de 90% de suas escolas, de acordo com o Censo da Educação biental. As prioridades levantadas foram agrupadas em três catego-
Básica de 2004. Apenas no Acre e Maranhão (85%), e em Rondônia rias principais, apresentadas em síntese:
e Roraima (89%), a oferta fica abaixo da média nacional. Mesmo - institucionalização da EA na educação superior: compreende
assim, os números são bastante significativos se comparados com medidas e instrumentos de ambientalização das IES, em todas as
os de 2001, quando apenas três Estados brasileiros possuíam Edu- suas esferas de atividade (ensino, pesquisa, extensão e gestão), que
cação Ambiental em mais de 90% das escolas: Ceará, Espírito Santo deveriam ser previstos pela política pública (entre os quais a im-
e Goiás. Naquele período, por exemplo, o Acre oferecia Educação plantação de programas de EA e de “núcleos para a aplicação da
Ambiental em apenas 15% de suas escolas. Como se vê, a Educa- EA”);
ção Ambiental entrou nos temas sociais contemporâneos e o Censo - efeitos sobre a dinâmica institucional: contempla as modali-
aponta que, entre 2001 e 2004, 94,95% das escolas informaram que dades de inserção da EA nas IES (transversalidade, interdisciplina-
trabalham com EA. ridade, complexidade, multiculturalismo, colaboração intra e inte-
A preocupação em mapear o panorama da Educação Ambien- rinstitucional etc.) que a política pública deveria promover;
tal nas escolas nasceu em 2001, com a sua inserção no Censo Es- - produção de conhecimentos em EA e formação de pessoal
colar, que investigou o tratamento desta temática transversal pelas especializado: diz respeito à instituição de espaços de capacitação
escolas públicas de 1º a 8º anos. Tal questão referia-se à presença de gestores universitários e de formação de educadores ambientais
de algum trabalho com Educação Ambiental nas escolas e, em caso e especialistas em EA que atendam tanto à demanda interna das IES
positivo, oferecia três alternativas não excludentes: a) por meio de como à externa.
disciplina específica; b) projetos; c) inserção temática no currículo.
Assim, a Educação Ambiental cada vez mais consolida-se como 2.5. Princípios e Objetivos da Educação Ambiental
política pública na Educação Básica, pelo menos, como demonstra- Os sistemas e instituições de ensino devem assumir princípios
do, no Ensino Fundamental, decorrente de exigências legais e de e objetivos da Educação Ambiental na construção dos Projetos Polí-
mobilização da sociedade. tico-Pedagógicos (PPP) e Planos de Cursos (PC), no caso das institui-
Quanto à Educação Superior, proposição da Conae/2010 afirma ções de Educação Básica, e na elaboração dos Planos de Desenvol-
que é preciso “assegurar a inserção de conteúdos e saberes da EA vimento Institucional (PDI) e Projetos Pedagógicos de Curso (PPC),
nos cursos de licenciatura e bacharelado das instituições de Ensi- nas instituições de Educação Superior; nos materiais didáticos e
no Superior, como atividade curricular obrigatória”. Nesse sentido, pedagógicos, na gestão, bem como nos sistemas de avaliação insti-
as Diretrizes Nacionais para a Educação Ambiental devem apontar tucional e de desempenho escolar.
para a inserção da dimensão socioambiental nos diferentes cursos A Lei nº 9.795/1999, que dispõe sobre a Educação Ambiental
de educação superior. (EA) e institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) é
Há um mapeamento constante de pesquisa com grupo de insti- bastante explícita e indicativa, não se restringindo a determinar a
tuições coordenado pela RUPEA – Rede Universitária de Programas inclusão da Educação Ambiental na Educação Nacional10. Ela vai
de EA para Sociedades Sustentáveis, com apoio da CGEA/SECADI. além, já definindo diretrizes que, portanto, este CNE não pode dei-
Foi realizada entre dezembro de 2004 e junho de 2005 para atender xar de acompanhar.

168
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

A Educação Ambiental é conceituada como os processos pelos I. abordagem curricular que enfatize a natureza como fonte de
quais o indivíduo e a coletividade constroem conhecimentos, ha- vida e relacione a dimensão ambiental à justiça social, aos direitos
bilidades, atitudes e valores sociais, voltados para a conservação humanos, à saúde, ao trabalho, ao consumo, à pluralidade étnica,
do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia racial, de gênero, e ao enfrentamento do racismo e de todas as for-
qualidade de vida e sua sustentabilidade. mas de discriminação e injustiça social;
A partir do que dispõe a Lei nº 9.795/1999, e com base em II. abordagem curricular integrada e transversal, inter, multi e
práticas comprometidas com a construção de sociedades justas e transdisciplinar, contínua e permanente em todas as áreas de co-
sustentáveis, fundadas nos valores da liberdade, igualdade, solida- nhecimento, componentes curriculares e atividades escolares e
riedade, democracia, justiça social, responsabilidade, sustentabili- acadêmicas;
dade e educação como direito de todos e todas, são princípios da III. aprofundamento do pensamento crítico-reflexivo mediante
Educação Ambiental: estudos científicos, socioeconômicos, políticos e históricos a partir
I. totalidade como categoria de análise fundamental em forma- da dimensão socioambiental, valorizando a participação, a coope-
ção, análises, estudos e produção de conhecimento sobre o meio ração, o senso de justiça e a responsabilidade da comunidade edu-
ambiente; cacional;
II. interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e IV. incentivo à pesquisa e à apropriação de instrumentos pe-
o cultural, sob o enfoque humanista, democrático e participativo; dagógicos e metodológicos que aprimorem a prática discente e do-
III. pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspec- cente e a cidadania ambiental;
tiva da inter, multi e transdisciplinaridade; V. estímulo à constituição de instituições de ensino como espa-
IV. vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práti- ços educadores sustentáveis, integrando proposta curricular, gestão
cas sociais na garantia de continuidade dos estudos e da qualidade democrática, edificações, tornando-as referências de sustentabili-
social da educação; dade socioambiental.
V. articulação na abordagem de uma perspectiva crítica e trans- VI. Como já referido, no Brasil, a afirmação da Educação Am-
formadora dos desafios ambientais a serem enfrentados pelas atu- biental nas diversas áreas situa-se no bojo da produção e participa-
ais e futuras gerações, nas dimensões locais, regionais, nacionais e ção nacional decorrente de acordos multilaterais e de legislações
globais; nacionais11 e internacionais.
VI. respeito à pluralidade e à diversidade, seja individual, seja Em sintonia com o movimento internacional, o Brasil vai forma-
coletiva, étnica, social e cultural, disseminando os direitos de exis- tando o contexto nacional da EA, amparada por diferentes diplomas
tência e permanência e o valor da multiculturalidade e plurietnici- legais, a começar pela Constituição Federal, que estabelece a obri-
dade do país e do desenvolvimento da cidadania planetária. gatoriedade do poder público de promover a Educação Ambiental
Com base no que dispõe a citada Lei, são objetivos da Educação para todos os cidadãos, seguida pela legislação posterior, já referida
Ambiental a serem concretizados conforme cada fase, etapa, moda- anteriormente.
lidade e nível de ensino:
I. desenvolver a compreensão integrada do meio ambiente em 2.6. Organização Curricular
suas múltiplas e complexas relações, para fomentar novas práticas Partindo-se do entendimento de que o currículo institui e é ins-
sociais e de produção e consumo; tituído na prática social, que representa um conjunto de práticas
II. garantir a democratização e acesso às informações referen- que proporcionam a produção, a circulação e o consumo de sig-
tes à área socioambiental; nificados no espaço social, que contribuem, intensamente, para a
III. estimular a mobilização social e política e o fortalecimento construção de identidades sociais, culturais, ambientais. Currículo
da consciência crítica sobre a dimensão socioambiental; refere-se, portanto, a criação, recriação, contestação e transgres-
IV. incentivar a participação individual e coletiva, permanente são.
e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, en- O compromisso da instituição educacional, o papel socioedu-
tendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inse- cativo, ambiental, artístico, cultural e as questões de gênero, etnia,
parável do exercício da cidadania; raça e diversidade que compõem as ações educativas, a organiza-
V. estimular a cooperação entre as diversas regiões do País, em ção e a gestão curricular são componentes integrantes dos proje-
diferentes formas de arranjos territoriais, visando à construção de tos institucionais e pedagógicos da Educação Básica e da Educação
uma sociedade ambientalmente justa e sustentável; Superior.
VI. fomentar e fortalecer a integração entre ciência e tecnolo- Nos termos da Lei nº 9.795/1999, a Educação Ambiental é com-
gia, visando à sustentabilidade socioambiental; ponente essencial e permanente da Educação Nacional, devendo
VII. fortalecer a cidadania, a autodeterminação dos povos e a estar presente, de forma articulada, nos níveis da Educação Supe-
solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos humanos, valen- rior e da Educação Básica e em suas modalidades, para isso deven-
do-se de estratégias democráticas e da interação entre as culturas, do as instituições de ensino promovê-la integradamente nos seus
como fundamentos para o futuro da humanidade; projetos institucionais e pedagógicos.
VIII. promover o cuidado com a comunidade de vida, a inte- Deve, nesse sentido, ser desenvolvida como uma prática edu-
gridade dos ecossistemas, a justiça econômica, a equidade social, cativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e mo-
étnica, racial e de gênero, e o diálogo para a convivência e a paz; dalidades, não devendo, como regra, ser implantada como discipli-
IX. promover os conhecimentos dos diversos grupos sociais for- na ou componente curricular específico.
mativos do País que utilizam e preservam a biodiversidade. A mesma Lei preceitua que:
Em resposta aos desafios educacionais contemporâneos, pro- - nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas
põe-se, ainda, que a Educação Ambiental, com base nos referen- para o aspecto metodológico da Educação Ambiental, é facultada a
ciais apresentados, contemple: criação de disciplina ou componente curricular específico;

169
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

- nos cursos de formação e especialização técnico-profissional, f. uso das diferentes linguagens para a produção e a socializa-
em todos os níveis, deve ser incorporado conteúdo que trate da ção de ações e experiências coletivas de educomunicação, a qual
ética ambiental das atividades profissionais; propõe a integração da comunicação com o uso de recursos tecno-
- as instituições de Educação Superior devem estimular ações lógicos na aprendizagem.
de extensão voltadas para a Educação Ambiental e a defesa e pre- II. contribuir para:
servação do meio ambiente; a. o reconhecimento da importância dos aspectos constituintes
- a dimensão socioambiental deve constar dos currículos de for- e determinantes da dinâmica da natureza, contextualizando os co-
mação inicial e continuada dos profissionais da educação, em todos nhecimentos a partir da paisagem, da bacia hidrográfica, do bioma,
os níveis e em todas as disciplinas ou componentes curriculares; do clima, dos processos geológicos, das ações antrópicas e suas in-
- os professores em atividade devem receber formação com- terações sociais e políticas, analisando os diferentes recortes terri-
plementar em suas áreas de atuação, para atendimento adequado toriais, cujas riquezas e potencialidades, usos e problemas devem
dos princípios e objetivos da Educação Ambiental. ser identificados e compreendidos segundo a gênese e a dinâmica
O planejamento dos currículos deve, obviamente, considerar as da natureza e das alterações provocadas pela sociedade;
fases, as etapas, as modalidades e os níveis dos cursos, e as idades e b. a revisão de práticas escolares fragmentadas buscando cons-
a diversidade sociocultural dos estudantes, bem como suas comu- truir outras práticas que considerem a interferência do ambiente na
nidades de vida, dos biomas e dos territórios em que se situam as qualidade de vida das sociedades humanas nas diversas dimensões
instituições educacionais. Além disso, o tratamento pedagógico da local, regional e planetária;
Educação Ambiental deve ser diversificado, permitindo reconhecer c. o estabelecimento das relações entre as mudanças do clima
e valorizar a pluralidade e as diferenças individuais, sociais, étnicas e o atual modelo de produção, consumo, organização social, visan-
e culturais dos estudantes e promovendo valores de cooperação e do à prevenção de desastres ambientais e à proteção das comuni-
respeito e de relações solidárias. dades;
A inserção dos conhecimentos concernentes à Educação Am- d. a promoção do cuidado e responsabilidade com as diversas
biental nos currículos da Educação Básica e da Educação Superior formas de vida, do respeito às pessoas, culturas e comunidades;
pode ocorrer: e. a valorização dos conhecimentos referentes à saúde ambien-
- pela transversalidade, mediante temas relacionados com o tal, inclusive no meio ambiente de trabalho, com ênfase na promo-
meio ambiente e a sustentabilidade socioambiental, tratados inter- ção da saúde para melhoria da qualidade de vida;
disciplinarmente; f. construção da cidadania planetária, a partir da perspectiva
- como conteúdo de disciplina ou componente já constante do crítica e transformadora dos desafios ambientais a serem enfrenta-
currículo; dos pela atuais e futuras gerações.
- pela combinação de transversalidade e de tratamento em dis- III. promover a realização de:
ciplina ou componente curricular. a. observação e estudo da natureza e de seus sistemas de fun-
Outras formas de inserção podem ser admitidas na organização cionamento para possibilitar a descoberta de como as formas de
curricular, desde que observadas as especificidades de cada fase, vida relacionam-se entre si e os ciclos naturais interligam-se e inte-
etapa, modalidade e nível da educação nacional, especialmente na gram-se uns aos outros;
Educação Superior e na Educação Profissional Técnica de Nível Mé- b. ações pedagógicas que permitam aos sujeitos a compreen-
dio. são crítica da dimensão ética e política das questões socioambien-
Aliado à gestão da instituição de ensino, o planejamento curri- tais, situadas tanto na esfera individual como na esfera pública;
cular deve considerar os saberes e os valores da sustentabilidade, a c. projetos e atividades, inclusive artísticas e lúdicas, que valo-
diversidade de manifestações da vida e os princípios e os objetivos rizem o sentido de pertencimento dos seres humanos à natureza, a
estabelecidos, assim como devem: diversidade dos seres vivos, as diferentes culturas locais, a tradição
I. estimular: oral, entre outras, inclusive desenvolvidas em espaços nos quais
a. visão integrada, multidimensional da área ambiental, con- os estudantes se identifiquem como integrantes da natureza, esti-
siderando o estudo da diversidade biogeográfica e seus processos mulando a percepção do meio ambiente como fundamental para o
ecológicos vitais, as influências políticas, sociais, econômicas, psico- exercício da cidadania;
lógicas, dentre outras, na relação entre sociedade, meio ambiente, d. experiências que contemplem a produção de conhecimentos
natureza, cultura, ciência e tecnologia; científicos, socioambientalmente responsáveis, a interação, o cui-
b. pensamento crítico por meio de estudos filosóficos, cientí- dado, a preservação e o conhecimento da sociobiodiversidade e da
ficos, socioeconômicos, políticos e históricos, na ótica da sustenta- sustentabilidade da vida na Terra;
bilidade socioambiental, valorizando a participação, a cooperação e. trabalho de comissões, grupos ou outras formas de atuação
e a ética; coletiva favoráveis à promoção de educação entre pares, para par-
c. reconhecimento e valorização da diversidade dos múltiplos ticipação no planejamento, execução, avaliação e gestão de proje-
saberes e olhares científicos e populares sobre o meio ambiente, tos de intervenção e ações de sustentabilidade socioambiental na
em especial de povos originários e de comunidades tradicionais1 instituição educacional e na comunidade, com foco na prevenção
d. vivências que promovam o reconhecimento, o respeito, a de riscos, na proteção e preservação do meio ambiente e da saúde
responsabilidade e o convívio cuidadoso com os seres vivos e seu humana e na construção de sociedades sustentáveis.
habitat;
e. reflexão sobre as desigualdades socioeconômicas e seus im-
pactos ambientais, que recaem, principalmente, sobre os grupos
vulneráveis, visando à conquista da justiça ambiental;

170
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

2.7. Os Sistemas de Ensino e o Regime de Colaboração II – VOTO DA COMISSÃO


A estas Diretrizes, os Conselhos de Educação dos Estados, do À vista do exposto, propõe-se ao Conselho Pleno a aprovação
Distrito Federal e dos Municípios devem estabelecer as normas das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, na
complementares para seus sistemas, para que se torne efetiva a forma deste Parecer e do Projeto de Resolução em anexo, do qual
Educação Ambiental em todas as fases, etapas, modalidades e ní- é parte integrante.
veis de ensino sob sua jurisdição.
Esses órgãos normativos, assim como os executivos dos siste-
mas de ensino, devem se articular entre si e com as universidades e RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 2/2012
demais instituições formadoras de profissionais da educação, para
que os cursos e programas de formação inicial e continuada de pro- MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
fessores, gestores, coordenadores, especialistas e outros profissio- CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
nais que atuam na Educação Básica e na Superior capacitem para CONSELHO PLENO
o desenvolvimento didático-pedagógico da dimensão da Educação
Ambiental na sua atuação escolar e acadêmica. RESOLUÇÃO Nº 2, DE 15 DE JUNHO DE 2012
Especialmente os cursos de licenciatura, que qualificam para a
docência na Educação Básica, e os cursos e programas de pós-gra- Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa-
duação, qualificadores para a docência na Educação Superior, de- ção Ambiental.
vem incluir formação com essa dimensão, com foco na metodologia
integrada e interdisciplinar. O Presidente do Conselho Nacional de Educação, de conformi-
A formação inicial, contudo, não é suficiente, devendo os sis- dade com o disposto na alínea “c” do § 1º e na alínea “c” do § 2º
temas de ensino, em colaboração com outras instituições, instituir
do artigo 9º da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a
políticas permanentes que incentivem e dêem condições concretas
redação dada pela Lei nº 9.131, de 24 de novembro de 1995, e nos
de formação continuada, para que se efetivem os princípios e se
artigos 22 ao 57 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e
atinjam os objetivos da Educação Ambiental.
com fundamento no Parecer CNE/CP nº 14/2012, homologado por
Por outro lado, no âmbito da Educação Superior, as Diretrizes
e as normas para os seus cursos e programas devem, necessaria- Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no
mente, ser atualizados, para que seja prescrito o adequado para a DOU de XX de XXXXXX de XXXX, CONSIDERANDO que:
formação com a dimensão da Educação Ambiental. A Constituição Federal (CF), de 1988, no inciso VI do § 1º do ar-
Os sistemas devem, ainda, promover as condições para que as tigo 225 determina que o Poder Público deve promover a Educação
instituições educacionais constituam-se em espaços educadores Ambiental em todos os níveis de ensino, pois “todos têm direito ao
sustentáveis, com a intencionalidade de educar para a sustentabi- meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
lidade socioambiental de suas comunidades, integrando currículos, povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
gestão e edificações em relação equilibrada com o meio ambiente, público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
tornando-se referência para seu território. presentes e futuras gerações”;
Os órgãos dos sistemas de ensino e as instituições de pesquisa, A Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a
em regime de colaboração, devem fomentar e divulgar estudos e Política Nacional do Meio Ambiente, no inciso X do artigo 2º, já es-
experiências realizados na área da Educação Ambiental, recomen- tabelecia que a educação ambiental deve ser ministrada a todos os
dando-se que os órgãos públicos de fomento e financiamento à níveis de ensino, objetivando capacitá-la para a participação ativa
pesquisa incrementem o apoio a projetos de investigação na área na defesa do meio ambiente;
da Educação Ambiental, sobretudo visando ao desenvolvimento de A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, de Diretrizes e
tecnologias mitigadoras de impactos negativos ao meio ambiente Bases da Educação Nacional (LDB), prevê que na formação básica
e à saúde. do cidadão seja assegurada a compreensão do ambiente natural e
Os sistemas de ensino devem, ainda, propiciar às instituições social; que os currículos do Ensino Fundamental e do Médio devem
educacionais meios para o estabelecimento de diálogo e parcerias abranger o conhecimento do mundo físico e natural; que a Educa-
com a comunidade, inclusive com movimentos sociais e Organiza- ção Superior deve desenvolver o entendimento do ser humano e do
ções Não Governamentais, visando à produção de conhecimentos meio em que vive; que a Educação tem, como uma de suas finalida-
sobre condições e alternativas socioambientais locais e regionais e des, a preparação para o exercício da cidadania;
à intervenção para a qualificação da vida e da convivência saudável. A Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, regulamentada pelo De-
Em regime de colaboração, esses sistemas devem criar políticas creto nº 4.281, de 25 de junho de 2002, dispõe especificamente
de produção e de aquisição de materiais didáticos e paradidáticos,
sobre a Educação Ambiental (EA) e institui a Política Nacional de
com engajamento da comunidade educativa, orientados pela di-
Educação Ambiental (PNEA), como componente essencial e perma-
mensão socioambiental.
nente da educação nacional, devendo estar presente, de forma ar-
Nas avaliações para fins de credenciamento e recredenciamen-
ticulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo;
to, de autorização e renovação de autorização, e de reconhecimen-
to de instituições educacionais e de cursos, tanto o Ministério da As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica em
Educação quanto os correspondentes órgãos estaduais, distrital e todas as suas etapas e modalidades reconhecem a relevância e a
municipais devem incluir o atendimento destas Diretrizes. obrigatoriedade da Educação Ambiental; O Conselho Nacional de
Educação aprovou o Parecer CNE/CP nº 8, de 6 de março de 2012,
homologado por Despacho do Senhor Ministro da Educação, publi-
cado no DOU de 30 de maio de 2012, que estabelece as Diretrizes

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Nacionais para a Educação em Direitos Humanos incluindo os direi- Art. 5º A Educação Ambiental não é atividade neutra, pois en-
tos ambientais no conjunto dos internacionalmente reconhecidos, volve valores, interesses, visões de mundo e, desse modo, deve as-
e define que a educação para a cidadania compreende a dimensão sumir na prática educativa, de forma articulada e interdependente,
política do cuidado com o meio ambiente local, regional e global; as suas dimensões política e pedagógica.
O atributo “ambiental” na tradição da Educação Ambiental bra- Art. 6º A Educação Ambiental deve adotar uma abordagem que
sileira e latinoamericana não é empregado para especificar um tipo considere a interface entre a natureza, a sociocultura, a produção,
de educação, mas se constitui em elemento estruturante que de- o trabalho, o consumo, superando a visão despolitizada, acrítica,
marca um campo político de valores e práticas, mobilizando atores ingênua e naturalista ainda muito presente na prática pedagógica
sociais comprometidos com a prática político-pedagógica transfor- das instituições de ensino.
madora e emancipatória capaz de promover a ética e a cidadania
ambiental; CAPÍTULO II
O reconhecimento do papel transformador e emancipatório da MARCO LEGAL
Educação Ambiental torna-se cada vez mais visível diante do atual
contexto nacional e mundial em que a preocupação com as mudan- Art. 7º Em conformidade com a Lei nº 9.795, de 1999, reafirma-
ças climáticas, a degradação da natureza, a redução da biodiver- -se que a Educação Ambiental é componente integrante, essencial
sidade, os riscos socioambientais locais e globais, as necessidades e permanente da Educação Nacional, devendo estar presente, de
planetárias evidencia-se na prática social, forma articulada, nos níveis e modalidades da Educação Básica e
da Educação Superior, para isso devendo as instituições de ensino
RESOLVE: promovê-la integradamente nos seus projetos institucionais e pe-
dagógicos.
TÍTULO I Art. 8º A Educação Ambiental, respeitando a autonomia da
dinâmica escolar e acadêmica, deve ser desenvolvida como uma
OBJETO E MARCO LEGAL
prática educativa integrada e interdisciplinar, contínua e permanen-
CAPÍTULO I
te em todas as fases, etapas, níveis e modalidades, não devendo,
OBJETO
como regra, ser implantada como disciplina ou componente curri-
cular específico.
Art. 1º A presente Resolução estabelece as Diretrizes Curricu-
Parágrafo único. Nos cursos, programas e projetos de gradua-
lares Nacionais para a Educação Ambiental a serem observadas pe-
ção, pósgraduação e de extensão, e nas áreas e atividades voltadas
los sistemas de ensino e suas instituições de Educação Básica e de
para o aspecto metodológico da Educação Ambiental, é facultada a
Educação Superior, orientando a implementação do determinado
criação de componente curricular específico.
pela Constituição Federal e pela Lei nº 9.795, de 1999, a qual dispõe Art. 9º Nos cursos de formação inicial e de especialização técni-
sobre a Educação Ambiental (EA) e institui a Política Nacional de ca e profissional, em todos os níveis e modalidades, deve ser incor-
Educação Ambiental (PNEA), com os seguintes objetivos: porado conteúdo que trate da ética socioambiental das atividades
I - Sistematizar os preceitos definidos na citada Lei, bem como profissionais.
os avanços que ocorreram na área para que contribuam com a for- Art. 10. As Instituições de Ensino Superior devem promover sua
mação humana de sujeitos concretos que vivem em determinado gestão e suas ações de ensino, pesquisa e extensão orientadas pe-
meio ambiente, contexto histórico e sociocultural, com suas condi- los princípios e objetivos da Educação Ambiental.
ções físicas, emocionais, intelectuais, culturais. Art. 11. A dimensão socioambiental deve constar dos currícu-
II - Estimular a reflexão crítica e propositiva da inserção da Edu- los de formação inicial e continuada dos profissionais da educação,
cação Ambiental na formulação, execução e avaliação dos projetos considerando a consciência e o respeito à diversidade multiétnica e
institucionais e pedagógicos das instituições de ensino, para que a multicultural do País.
concepção de Educação Ambiental como integrante do currículo su- Parágrafo único. Os professores em atividade devem receber
pere a mera distribuição do tema pelos demais componentes. formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósi-
III - Orientar os cursos de formação de docentes para a Educa- to de atender de forma pertinente ao cumprimento dos princípios
ção Básica. e objetivos da Educação Ambiental.
IV - Orientar os sistemas educativos dos diferentes entes fede-
rados. TÍTULO II
Art. 2º A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é PRINCÍPIOS E OBJETIVOS
atividade intencional da prática social, que deve imprimir ao desen- CAPÍTULO I
volvimento individual um caráter social em sua relação com a natu- PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
reza e com os outros seres humanos, visando potencializar essa ati-
vidade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social Art. 12. A partir do que dispõe a Lei nº 9.795, de 1999, e com
e de ética ambiental. base em práticas comprometidas com a construção de sociedades
Art. 3º A Educação Ambiental visa à construção de conhecimen- justas e sustentáveis, fundadas nos valores da liberdade, igualdade,
tos, ao desenvolvimento de habilidades, atitudes e valores sociais, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade, susten-
ao cuidado com a comunidade de vida, a justiça e a equidade so- tabilidade e educação como direito de todos e todas, são princípios
cioambiental, e a proteção do meio ambiente natural e construído. da Educação Ambiental:
Art. 4º A Educação Ambiental é construída com responsabilida- I - totalidade como categoria de análise fundamental em for-
de cidadã, na reciprocidade das relações dos seres humanos entre mação, análises, estudos e produção de conhecimento sobre o
si e com a natureza. meio ambiente;

172
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

II - interdependência entre o meio natural, o socioeconômico ração, o senso de justiça e a responsabilidade da comunidade edu-
e o cultural, sob o enfoque humanista, democrático e participativo; cacional em contraposição às relações de dominação e exploração
III - pluralismo de ideias e concepções pedagógicas; presentes na realidade atual;
IV - vinculação entre ética, educação, trabalho e práticas sociais IV - incentivo à pesquisa e à apropriação de instrumentos pe-
na garantia de continuidade dos estudos e da qualidade social da dagógicos e metodológicos que aprimorem a prática discente e do-
educação; cente e a cidadania ambiental;
V - articulação na abordagem de uma perspectiva crítica e V - estímulo à constituição de instituições de ensino como es-
transformadora dos desafios ambientais a serem enfrentados pelas paços educadores sustentáveis, integrando proposta curricular, ges-
atuais e futuras gerações, nas dimensões locais, regionais, nacio- tão democrática, edificações, tornando-as referências de sustenta-
nais e globais; bilidade socioambiental.
VI - respeito à pluralidade e à diversidade, seja individual, seja
coletiva, étnica, racial, social e cultural, disseminando os direitos de TÍTULO III
existência e permanência e o valor da multiculturalidade e pluriet- ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
nicidade do país e do desenvolvimento da cidadania planetária.
Art. 15. O compromisso da instituição educacional, o papel
CAPÍTULO II socioeducativo, ambiental, artístico, cultural e as questões de gê-
OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL nero, etnia, raça e diversidade que compõem as ações educativas,
a organização e a gestão curricular são componentes integrantes
Art. 13. Com base no que dispõe a Lei nº 9.795, de 1999, são dos projetos institucionais e pedagógicos da Educação Básica e da
objetivos da Educação Ambiental a serem concretizados conforme Educação Superior.
cada fase, etapa, modalidade e nível de ensino: § 1º A proposta curricular é constitutiva do Projeto Político-
I - desenvolver a compreensão integrada do meio ambiente em -Pedagógico (PPP) e dos Projetos e Planos de Cursos (PC) das ins-
suas múltiplas e complexas relações para fomentar novas práticas tituições de Educação Básica, e dos Projetos Pedagógicos de Curso
sociais e de produção e consumo; (PPC) e do Projeto Pedagógico (PP) constante do Plano de Desenvol-
II - garantir a democratização e o acesso às informações refe- vimento Institucional (PDI) das instituições de Educação Superior.
rentes à área socioambiental; § 2º O planejamento dos currículos deve considerar os níveis
III - estimular a mobilização social e política e o fortalecimento dos cursos, as idades e especificidades das fases, etapas, modali-
da consciência crítica sobre a dimensão socioambiental;
dades e da diversidade sociocultural dos estudantes, bem como de
IV - incentivar a participação individual e coletiva, permanente
suas comunidades de vida, dos biomas e dos territórios em que se
e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, en-
situam as instituições educacionais.
tendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inse-
§ 3º O tratamento pedagógico do currículo deve ser diversifica-
parável do exercício da cidadania;
do, permitindo reconhecer e valorizar a pluralidade e as diferenças
V - estimular a cooperação entre as diversas regiões do País, em
individuais, sociais, étnicas e culturais dos estudantes, promovendo
diferentes formas de arranjos territoriais, visando à construção de
valores de cooperação, de relações solidárias e de respeito ao meio
uma sociedade ambientalmente justa e sustentável;
ambiente.
VI - fomentar e fortalecer a integração entre ciência e tecnolo-
Art. 16. A inserção dos conhecimentos concernentes à Educa-
gia, visando à sustentabilidade socioambiental;
VII - fortalecer a cidadania, a autodeterminação dos povos e a ção Ambiental nos currículos da Educação Básica e da Educação Su-
solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos humanos, valen- perior pode ocorrer:
do-se de estratégias democráticas e da interação entre as culturas, I - pela transversalidade, mediante temas relacionados com o
como fundamentos para o futuro da humanidade; meio ambiente e a sustentabilidade socioambiental;
VIII - promover o cuidado com a comunidade de vida, a inte- II - como conteúdo dos componentes já constantes do currí-
gridade dos ecossistemas, a justiça econômica, a equidade social, culo;
étnica, racial e de gênero, e o diálogo para a convivência e a paz; III - pela combinação de transversalidade e de tratamento nos
IX - promover os conhecimentos dos diversos grupos sociais componentes curriculares.
formativos do País que utilizam e preservam a biodiversidade. Parágrafo único. Outras formas de inserção podem ser admiti-
Art. 14. A Educação Ambiental nas instituições de ensino, com das na organização curricular da Educação Superior e na Educação
base nos referenciais apresentados, deve contemplar: Profissional Técnica de Nível Médio, considerando a natureza dos
I - abordagem curricular que enfatize a natureza como fonte de cursos.
vida e relacione a dimensão ambiental à justiça social, aos direitos Art. 17. Considerando os saberes e os valores da sustentabi-
humanos, à saúde, ao trabalho, ao consumo, à pluralidade étnica, lidade, a diversidade de manifestações da vida, os princípios e os
racial, de gênero, de diversidade sexual, e à superação do racismo e objetivos estabelecidos, o planejamento curricular e a gestão da
de todas as formas de discriminação e injustiça social; instituição de ensino devem:
II - abordagem curricular integrada e transversal, contínua e I - estimular:
permanente em todas as áreas de conhecimento, componentes a) visão integrada, multidimensional da área ambiental, con-
curriculares e atividades escolares e acadêmicas; siderando o estudo da diversidade biogeográfica e seus processos
III - aprofundamento do pensamento crítico-reflexivo mediante ecológicos vitais, as influências políticas, sociais, econômicas, psico-
estudos científicos, socioeconômicos, políticos e históricos a partir lógicas, dentre outras, na relação entre sociedade, meio ambiente,
da dimensão socioambiental, valorizando a participação, a coope- natureza, cultura, ciência e tecnologia;

173
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

b) pensamento crítico por meio de estudos filosóficos, cientí- d) experiências que contemplem a produção de conhecimen-
ficos, socioeconômicos, políticos e históricos, na ótica da sustenta- tos científicos, socioambientalmente responsáveis, a interação, o
bilidade socioambiental, valorizando a participação, a cooperação cuidado, a preservação e o conhecimento da sociobiodiversidade e
e a ética; da sustentabilidade da vida na Terra;
c) reconhecimento e valorização da diversidade dos múltiplos e) trabalho de comissões, grupos ou outras formas de atuação
saberes e olhares científicos e populares sobre o meio ambiente, coletiva favoráveis à promoção de educação entre pares, para par-
em especial de povos originários e de comunidades tradicionais; ticipação no planejamento, execução, avaliação e gestão de proje-
d) vivências que promovam o reconhecimento, o respeito, a tos de intervenção e ações de sustentabilidade socioambiental na
responsabilidade e o convívio cuidadoso com os seres vivos e seu instituição educacional e na comunidade, com foco na prevenção
habitat; de riscos, na proteção e preservação do meio ambiente e da saúde
e) reflexão sobre as desigualdades socioeconômicas e seus humana e na construção de sociedades sustentáveis.
impactos ambientais, que recaem principalmente sobre os grupos
vulneráveis, visando à conquista da justiça ambiental; TÍTULO IV
f) uso das diferentes linguagens para a produção e a socializa- SISTEMAS DE ENSINO E REGIME DE COLABORAÇÃO
ção de ações e experiências coletivas de educomunicação, a qual
propõe a integração da comunicação com o uso de recursos tecno- Art. 18. Os Conselhos de Educação dos Estados, do Distrito Fe-
lógicos na aprendizagem. deral e dos Municípios devem estabelecer as normas complemen-
II - contribuir para: tares que tornem efetiva a Educação Ambiental em todas as fases,
a) o reconhecimento da importância dos aspectos constituin- etapas, modalidades e níveis de ensino sob sua jurisdição.
tes e determinantes da dinâmica da natureza, contextualizando os Art. 19. Os órgãos normativos e executivos dos sistemas de en-
conhecimentos a partir da paisagem, da bacia hidrográfica, do bio- sino devem articular-se entre si e com as universidades e demais
ma, do clima, dos processos geológicos, das ações antrópicas e suas instituições formadoras de profissionais da educação, para que os
interações sociais e políticas, analisando os diferentes recortes ter- cursos e programas de formação inicial e continuada de professo-
ritoriais, cujas riquezas e potencialidades, usos e problemas devem res, gestores, coordenadores, especialistas e outros profissionais
ser identificados e compreendidos segundo a gênese e a dinâmica que atuam na Educação Básica e na Superior capacitem para o de-
da natureza e das alterações provocadas pela sociedade; senvolvimento didático-pedagógico da dimensão da Educação Am-
b) a revisão de práticas escolares fragmentadas buscando cons- biental na sua atuação escolar e acadêmica.
truir outras práticas que considerem a interferência do ambiente na § 1º Os cursos de licenciatura, que qualificam para a docên-
qualidade de vida das sociedades humanas nas diversas dimensões cia na Educação Básica, e os cursos e programas de pós-graduação,
local, regional e planetária; qualificadores para a docência na Educação Superior, devem incluir
c) o estabelecimento das relações entre as mudanças do clima formação com essa dimensão, com foco na metodologia integrada
e o atual modelo de produção, consumo, organização social, visan- e interdisciplinar.
do à prevenção de desastres ambientais e à proteção das comuni- § 2º Os sistemas de ensino, em colaboração com outras institui-
dades; ções, devem instituir políticas permanentes que incentivem e dêem
d) a promoção do cuidado e responsabilidade com as diversas condições concretas de formação continuada, para que se efetivem
formas de vida, do respeito às pessoas, culturas e comunidades; os princípios e se atinjam os objetivos da Educação Ambiental.
e) a valorização dos conhecimentos referentes à saúde ambien- Art. 20. As Diretrizes Curriculares Nacionais e as normas para
tal, inclusive no meio ambiente de trabalho, com ênfase na promo- os cursos e programas da Educação Superior devem, na sua neces-
ção da saúde para melhoria da qualidade de vida; sária atualização, prescrever o adequado para essa formação.
f) a construção da cidadania planetária a partir da perspectiva Art. 21. Os sistemas de ensino devem promover as condições
crítica e transformadora dos desafios ambientais a serem enfrenta- para que as instituições educacionais se constituam em espaços
dos pelas atuais e futuras gerações. educadores sustentáveis, com a intencionalidade de educar para a
III - promover: sustentabilidade socioambiental de suas comunidades, integrando
a) observação e estudo da natureza e de seus sistemas de fun- currículos, gestão e edificações em relação equilibrada com o meio
cionamento para possibilitar a descoberta de como as formas de ambiente, e tornando-se referência para seu território.
vida relacionam-se entre si e os ciclos naturais interligam-se e inte- Art. 22. Os sistemas de ensino e as instituições de pesquisa,
gram-se uns aos outros; em regime de colaboração, devem fomentar e divulgar estudos e
b) ações pedagógicas que permitam aos sujeitos a compreen- experiências realizados na área da Educação Ambiental.
são crítica da dimensão ética e política das questões socioambien- § 1º Os sistemas de ensino devem propiciar às instituições edu-
tais, situadas tanto na esfera individual, como na esfera pública; cacionais meios para o estabelecimento de diálogo e parceria com
c) projetos e atividades, inclusive artísticas e lúdicas, que valo- a comunidade, visando à produção de conhecimentos sobre condi-
rizem o sentido de pertencimento dos seres humanos à natureza, a ções e alternativas socioambientais locais e regionais e à interven-
diversidade dos seres vivos, as diferentes culturas locais, a tradição ção para a qualificação da vida e da convivência saudável.
oral, entre outras, inclusive desenvolvidas em espaços nos quais § 2º Recomenda-se que os órgãos públicos de fomento e finan-
os estudantes se identifiquem como integrantes da natureza, esti- ciamento à pesquisa incrementem o apoio a projetos de pesquisa e
mulando a percepção do meio ambiente como fundamental para o investigação na área da Educação Ambiental, sobretudo visando ao
exercício da cidadania; desenvolvimento de tecnologias mitigadoras de impactos negativos
ao meio ambiente e à saúde.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 23. Os sistemas de ensino, em regime de colaboração, de- instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA, as
vem criar políticas de produção e de aquisição de materiais didáti- ações do PEA/PE serão realizadas considerando estratégias de pla-
cos e paradidáticos, com engajamento da comunidade educativa, nejamento articuladas com os parceiros sociais envolvidos, buscan-
orientados pela dimensão socioambiental. do aprimorar suas proposições à luz das novas experiências, dos co-
Art. 24. O Ministério da Educação (MEC) e os correspondentes nhecimentos já sistematizados e dos encaminhamentos acordados,
órgãos estaduais, distrital e municipais devem incluir o atendimen- ou a serem acordados nas ações pretendidas.
to destas Diretrizes nas avaliações para fins de credenciamento e A partir desta decisão política de relançar o PEA/PE, para dar
recredenciamento, de autorização e renovação de autorização, e de materialidade às ações educativas ambientais, convocamos a todos
reconhecimento de instituições educacionais e de cursos. os pernambucanos para participarem desse processo. O objetivo é
Art. 25. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publica- o de consolidar parcerias para juntos pensarmos, sentirmos e con-
ção. tinuarmos fazendo Educação Ambiental, acreditando que é possível
mudar as relações sociedade/natureza, em termos da responsabili-
dade e do compromisso exigidos à construção de um Pernambuco
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE PERNAM- sustentável.
BUCO - PEA/PE 2015)
INTRODUÇÃO
APRESENTAÇÃO Comprometido com os movimentos sociais e com ações que
O Estado de Pernambuco apresenta, através da Secretaria de buscam configurar novas relações da sociedade com a natureza
Meio Ambiente e Sustentabilidade – Semas –, o seu Programa de para um ambiente com boa qualidade de vida, o Governo do Esta-
Educação Ambiental, delineando as diretrizes, os princípios e as do articulou os segmentos envolvidos na abordagem das questões
linhas de ação que se constituem como referências para o seu de- ambientais, com planejamento estratégico, participativo e integra-
senvolvimento. Trata-se da reedição atualizada de proposições que do para a construção do Programa de Educação Ambiental de Per-
foram construídas de maneira participativa. Uma postura justifica-
nambuco (PEA/PE).
da pelo respeito aos diferentes atores sociais que vêm fazendo Edu-
Na construção do PEA/PE foram consideradas as orientações
cação Ambiental em Pernambuco, projetando o estado no cenário
e os princípios indicados no Programa Nacional de Educação Am-
regional e nacional.
biental – ProNEA – e na Lei Federal 9795/1999 que instituiu a Po-
As proposições deste programa estão ancoradas nos marcos
conceituais da Conferência Intergovernamental sobre Educação lítica Nacional de Educação Ambiental, regulamentada através do
Ambiental, realizada no ano 1977 em Tbilisi. No evento foram es- Decreto Federal 4281/2002. O Programa foi construído buscando
tabelecidos os objetivos, os princípios orientadores e as estratégias consolidar a história da Educação Ambiental no Estado, no sentido
para a promoção da Educação Ambiental que depois foram contex- de fortalecer e estimular:
tualizados pelos países latino-americanos, considerando as condi- · A capacidade de organização social das populações em nível
ções sociais e os conhecimentos de seus povos. A construção do local e regional;
PEA/PE tomou ainda como referência o Tratado de Educação Am- · Os mecanismos locais de gestão ambiental;
biental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, · A participação e a articulação dos diferentes setores sociais na
estabelecido no Fórum Global ocorrido na Rio 92. O documento é tomada de decisões sobre as questões ambientais;
uma das principais referências para a Educação Ambiental no Bra- · Os valores, as culturas e as tradições das populações;
sil e outros países da América Latina. É considerado pelos que fa- · A capacitação dos diferentes atores e grupos sociais;
zem a Educação Ambiental, como um caminho sintonizado com a · A introdução de conceitos e práticas sustentáveis para dirimir
participação social, a organização dos povos e a sustentabilidade os processos de degradação ambiental;
em termos da justiça social e da proteção dos ecossistemas locais · As diferentes cadeias produtivas sustentáveis e solidárias;
e planetários. · As parcerias institucionais e a corresponsabilidade.
A partir destas referências, o lançamento deste programa ace- As diretrizes e os princípios da Educação Ambiental preconi-
na para o avanço no tratamento dado à Educação Ambiental, pro- zam a relação sociedade-natureza e dos grupos sociais entre si,
pondo-a como política pública, com o objetivo de que, enquanto bem como a forma de apropriação dos recursos naturais por estes
processo educativo, se constitua como instrumento da gestão am- grupos, como sendo os fatores determinantes do estado atual dos
biental em Pernambuco. A intenção é gradativamente inseri-la nos recursos naturais e da qualidade da relação da sociedade humana
projetos e programas governamentais como espaço de mediação e com os outros elementos do ambiente.
de diálogo acerca dos interesses e conflitos socioambientais. Diante deste quadro e da necessidade do encontro de novos
Busca-se por este caminho, fortalecer a cidadania ambiental na paradigmas de desenvolvimento, da mudança de valores e atitudes
esfera individual e da organização social, com vista à reconfiguração individuais e coletivas, de novas relações de poder, e de novas prá-
das forças sociais para a construção de um modelo de sociedade
ticas, surge a Educação Ambiental como um dos principais instru-
sustentável.
mentos para uma gestão ambiental compartilhada e participativa.
Coerente com as orientações expostas acima e com as diretivas
O processo participativo trata dos atores envolvidos não ape-
pedagógicas da participação e da organização social preconizadas
nas como fornecedores de informações e receptores passivos de
pela Educação Ambiental, este programa constitui-se como espaço
de permanente construção, aberto a sugestões e a contribuições realizações. A qualidade da participação é tão importante quanto
dos educadores e de outros atores sociais de Pernambuco. Neste as metas pretendidas. Aprender a participar exige um processo de
sentido e em consonância também com o Programa Nacional de capacitação, onde ser sujeito de sua própria história traz em si uma
Educação – ProNEA e com a Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que análise crítica, conscientização e, consequentemente mudanças.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

A elaboração do PEA/PE buscou a reflexão e análise de impac- Em 1992, foi criado o Núcleo de Educação Ambiental do lbama/
tos, fatores e variáveis, potencialidades/oportunidades e restrições, PE. Em 1994 foi instituída a Comissão Estadual de Educação Am-
identificando problemas, causas e efeitos, até as etapas propositi- biental (CEEA), composta por instituições governamentais e não
vas de definição de linhas de ação e atividades com olhares regio- governamentais, sob a coordenação da Secretaria de Educação e
nais e locais. As proposições foram construídas com a participação Cultura.
de atores locais que puderam trabalhar alternativas com base em Em 1997, a CPRH elaborou o “Programa Fazendo Educação Am-
decisões coletivas na direção dos resultados desejados. biental” com o objetivo de fortalecer a gestão ambiental por meio
de capacitação, eventos temáticos e produção de material educati-
CAMINHOS E PROCESSOS vo. O programa atendia a demandas de escolas públicas e privadas
A preocupação com a Educação Ambiental passou a integrar e de organizações da sociedade civil e empresas.
o contexto internacional a partir da Conferência Intergovernamen- Em 2000, no âmbito do Conselho Estadual de Meio Ambien-
tal sobre o Ambiente Humano, promovida pela ONU, em 1972, na te foi criada através da Resolução nº 03/2000, a Câmara Técnica
Suécia. Esta Conferência teve como um de seus resultados a “De- Permanente de Educação Ambiental com o objetivo de embasar a
claração sobre o Ambiente Humano’’ que referendou a Educação tomada de decisão daquele colegiado no tocante ao processo edu-
Ambiental como um importante instrumento de sensibilização para
cativo voltado para a área socioambiental. Na prática essa instância
desencadear o processo de conscientização sobre as questões am-
colegiada não prosperou.
bientais.
Em 2011 o Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema),
Outros eventos internacionais foram consolidando as orienta-
criou sete Câmaras Técnicas, entre estas a Câmara Técnica de Edu-
ções e as estratégias de ação da Educação Ambiental no mundo,
como a I Conferência Intergovernamental realizada em Tbillisi, na cação Ambiental e Agenda 21.
Geórgia, em 1977, que se destacou por ter criado diretrizes para a A partir de uma iniciativa conjunta da Sectma e da CPRH foi
adoção da dimensão ambiental no processo educativo. criada, em 2001, a Agenda Comum da Educação Ambiental em Per-
A II Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental nambuco (Publicações CPRH, 2001). Vale salientar que esta Agenda,
ocorreu em Moscou, em 1987, enfatizando a formação de recursos produzida por um grupo interinstitucional formado por represen-
humanos, a pesquisa, a informação e a divulgação de experiências. tantes do poder público federal, estadual e municipal, de organiza-
Constituía- se, então, um marco na multiplicação de esforços para ções não governamentais, da iniciativa privada e de universidades
efetivar a Educação Ambiental no âmbito local, regional e nacional. e instituições de pesquisa, mapeou programas, projetos e ações
Antecipando suas ações no processo de formação ambiental, desenvolvidas no âmbito da Educação Ambiental e os meios neces-
o Brasil apresentou nesse evento os resultados do l Curso de Espe- sários para implementá-los de forma integrada. Representou uma
cialização em Educação Ambiental, realizado pela Universidade de iniciativa pioneira para garantir ações interdisciplinares, multiseto-
Brasília em 1986. riais e transversais de Educação Ambiental em todas as regiões do
Entender a Educação Ambiental no cenário brasileiro requer o Estado.
reconhecimento dos conteúdos e abordagens registradas em docu- Em 2005, a Secretaria da Educação e Cultura do Estado criou a
mentos produzidos ao longo da história que delinearam o arcabou- Rede de Educação Ambiental de Pernambuco (Reape), para socia-
ço teórico–metodológico orientador de programas, projetos e ações lizar informações, experiências e ações desenvolvidas na área de
construídos por organizações do poder público e da sociedade civil. Educação Ambiental.
Os desafios encontrados para o desenvolvimento da Educação Am- A Comissão Estadual de Educação Ambiental (CEEA) foi rees-
biental se revelam em um cenário inicial característico das décadas truturada para dar lugar à Comissão Interinstitucional de Educação
de 1970 e 1980, onde os temas ambientais e a proteção ambiental Ambiental (CIEA), sendo esta instituída pelo Decreto 23.736, de 26
eram vistos e tratados como entraves ao crescimento econômico. de outubro de 2001, com o objetivo de coordenar e fomentar pro-
Em Pernambuco, a institucionalização da Educação Ambiental cessos integrados de Educação Ambiental em todas as Regiões de
deu-se a partir do 1986, quando a CPRH (Agência Estadual de Meio Desenvolvimento do Estado.
Ambiente) criou o Grupo de Educação Ambiental (GEA) incluindo
a temática em suas linhas de ação. Na mesma época surgiram na
Vale ressaltar que esta nova Comissão teve uma atuação re-
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e foram criados
levante no processo de enriquecimento do Programa de Educa-
a Sociedade Nordestina de Ecologia (SNE) e o Grupo de Ecologia
ção Ambiental do Estado de Pernambuco, não apenas porque era
Humana (GEH), este último precursor do Instituto de Ecologia Hu-
constituída por representantes de instituições que participaram da
mana (IEH).
Na década de 90, várias instituições de Pernambuco passaram elaboração da Agenda Comum, mas, principalmente, por conta da
a discutir de forma sistêmica a evolução da Educação Ambiental experiência dos seus membros na evolução do processo da Educa-
destacando-se, entre outros, o Centro Josué de Castro, a Fundação ção Ambiental no Estado. Durante um longo período a CIEAesteve
Joaquim Nabuco (Fundaj), o Instituto Sabiá, a Universidade Católica desativada. No ano de 2011, com a criação da Secretaria de Meio
de Pernambuco (Unicap) e a Universidade Federal do Pernambuco Ambiente e Sustentabilidade (Semas), foram retomadas as ações
(UFPE), tendo estas duas últimas instituições introduzido a temática da CIEA.
ambiental em seus currículos. A Fundaj e a UFPE, juntas, oferece- Pernambuco é um dos estados pioneiros nos processos de
ram o primeiro curso de Especialização em Educação Ambiental do construção das Políticas Públicas de Educação Ambiental.
Estado de Pernambuco. Algumas das experiências exitosas realizadas por organizações
do poder público e da sociedade civil estão registradas em docu-
mentos que ilustram a história da Educação Ambiental no Brasil.
Neste contexto, o estado apresenta um sólido processo de cons-

176
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

trução de programas, projetos e ações que refletem a pluralidade Sob esta ótica, a Educação Ambiental na perspectiva do PEA/PE
dos envolvidos e o compromisso constante da convergência para baseia-se nos seguintes princípios:
estruturar a Educação Ambiental nas diversas esferas da sociedade. · Ser fator relevante na busca da sustentabilidade, contribuindo
para o aperfeiçoamento contínuo e coerente na direção da utiliza-
CONSTRUÇÃO COLETIVADO PEA/PE ção racional dos recursos naturais nos processos produtivos;
Os princípios norteadores do PEA/PE, as estratégias de inter- · Contribuir para a promoção da melhoria da qualidade de vida
venção adotadas, a metodologia e as abordagens pedagógicas fo- dos pernambucanos;
ram concebidos em processo integrado durante a construção da · Promover a participação dos diversos atores sociais nas dife-
Agenda Comum de Educação Ambiental. A metodologia para in- rentes estratégias das políticas ambientais;
tegrar Educação e Meio Ambiente apoia-se em princípios voltados · Estimular o respeito às raízes culturais sem impedir a interna-
para a dimensão ambiental no processo educativo. Exige, pois, uma lização de novos hábitos e valores necessários à inserção dos per-
reflexão sobre os problemas ambientais e a necessidade de uma nambucanos no movimento que visa à transformação da sociedade;
revisão dos valores adotados pela sociedade, na medida em que · Viabilizar a Educação Ambiental nos níveis formal, não formal
identifica e compreende as relações históricas entre a sociedade e e informal para facilitar a implementação de ações;
a natureza. · Integrar a Educação Ambiental à Política de Educação do Es-
A partir desta concepção o processo de elaboração do PEA/PE tado, reforçando o fortalecimento da articulação interinstitucional
foi alicerçado, principalmente, em dois aspectos: indispensável ao êxito das políticas públicas;
1. A necessidade de se conhecer a realidade socioambiental · Instrumentalizar a sociedade civil e o poder público com in-
com o objetivo de identificar os processos responsáveis pelos pro- formações capazes de promover a percepção do ambiente como
blemas ambientais e suas soluções; parte integrante do seu cotidiano tendo, assim, coresponsabilidade
2. A preocupação em assegurar a ampla participação dos dife- na sua qualidade ecológica e condição social.
rentes atores da sociedade, com o objetivo de se obter diferentes · Integrar a Educação Ambiental do Estado de Pernambuco à
perspectivas da realidade socioambiental. Política Nacional de Educação Ambiental.
Como estratégia para assegurar estes dois aspectos, a missão
de construir o PEA/PE ficou a cargo de um grupo interinstitucional OBJETIVOS E DIRETRIZES
que, além de contribuir com a pluralidade da experiência interse- O Programa de Educação Ambiental de Pernambuco tem como
torial desde a fase da Agenda Comum, teve a responsabilidade de objetivos promover a reflexão sobre a inserção da dimensão am-
discutir e criar as bases conceituais para nortear todo o processo. biental em todos os setores sociais, no processo educativo, bem
Neste sentido, foram realizadas oficinas de trabalho e seminários como estimular hábitos, valores e atitudes que contribuam para a
regionais. As oficinas de trabalho, além de nivelar o entendimento sustentabilidade dos processos responsáveis por uma boa qualida-
e fortalecer a coesão do grupo, construíram a concepção do PEA/ de de vida.
PE, identificando princípios, conceitos, objetivos e diretrizes. Os se- · As ações do Programa de Educação Ambiental do Estado de
minários regionais, por sua vez, identificaram informações que per- Pernambuco têm como eixo integrador a promoção da sustentabili-
mitiram uma reflexão sobre as condições ambientais das diferentes dade para o equilibrio entre a sociedade e a natureza.
regiões de Pernambuco e as principais intervenções nos diferentes · Os projetos, estudos e ações em Educação Ambiental devem
ambientes. contemplar a multi, a inter e a transdisciplinaridade, onde as dife-
Nesse processo, na intenção de oferecer soluções adequadas e rentes formas de conhecimento apontem para o entendimento da
propiciar aos atores uma reflexão conjunta sobre as peculiaridades totalidade a partir da interdependência das partes.
ambientais dos diferentes municípios do Estado foram selecionadas · As ações devem promover a compreensão dos processos eco-
as ações estratégicas de Educação Ambiental relacionadas às inter- lógicos necessários à integridade ambiental.
venções identificadas. · Os projetos, estudos e ações em Educação Ambiental devem
Durante um ano e meio foram realizadas seis oficinas para dar incentivar e apoiar as diversas formas de organização da Sociedade
suporte aos trabalhos do grupo interinstitucional e seis seminários Civil, fortalecendo-as como um dos caminhos importantes para a
na Região Metropolitana do Recite (RMR), Zona da Mata, Agreste e conquista da cidadania.
Sertão, particularmente nos municípios do Recife, Bonito, Nazaré · Os projetos, estudos e ações devem privilegiar a interinstitu-
da Mata, Garanhuns e Petrolina. Nesses seminários foram geradas cionalidade como meio de fortalecer a articulação entre os setores
as contribuições regionais dos diversos setores envolvidos na cons- governamentais e não governamentais e a sociedade civil.
trução do PEA/PE. · As ações deste programa devem privilegiar o processo de ges-
tão ambiental participativa, além de estimular outros mecanismos
CONCEPÇÃO E PRINCÍPIOS de participação.
As ações e práticas educativas devem respaldar a necessidade
da conservação dos recursos ambientais, elo indispensável à cons- LINHAS DE AÇÃO
trução de uma sociedade justa e ecologicamente equilibrada. Nesse As linhas de ação são norteadas pelas Diretrizes e coordenadas
sentido, a Educação Ambiental é vista como: pelos Princípios da Educação Ambiental e devem ser viabilizadas
Processo contínuo de educação, dinâmico, crítico e participa- sob a forma de diferentes atividades e atuações.
tivo, visando à formação e transformação de hábitos, atitudes e
valores para promover o exercício da cidadania em busca da sus-
tentabilidade das relações sociedade-natureza (Conceito construí-
do coletivamente na oficina de integração realizada em Aldeia, em
agosto 2001).

177
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

1. EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO Ações


Objetivo · Promover seminários, oficinas, encontros e palestras sobre a
Criar mecanismos para instrumentalizar a população a parti- evolução da Educação Ambiental como Política Pública;
cipar dos diferentes processos de gestão em nível local e regional, · Capacitar diferentes segmentos da sociedade em temas am-
visando à sustentabilidade. bientais para formação de multiplicadores;
· Incentivar a formação ou a consolidação de redes de agentes
Ações ambientais e de reeditores;
· Estimular nas instituições públicas a adoção de práticas em · Estimular a regularidade da Educação Ambiental nos projetos
Educação Ambiental, a exemplo da A3P (Agenda Ambiental na Ad- de implantação de agroecossistemas;
ministração Pública)
· Propor a alocação de recursos para Educação Ambiental do 4. EDUCAÇÃO AMBIENTAL, COMUNICAÇÃO E ARTE
Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro) segundo a alocação Objetivo
prevista no Fundo Estadual de Meio Ambiente (FEMA); Promover, estimular e apoiar a produção artística e cultural
· Incentivar ações interinstitucionais capazes de promover a im- da Educação Ambiental no processo de formação de opinião e de
plementação de soluções ambientalmente sustentáveis; modo particular na produção de material educativo.
· Incentivar os gestores públicos e técnicos da administração
estadual e municipal a identificarem estratégias, mecanismos e ins- Ações
trumentos para introdução da temática na abordagem integrada · Promover e incentivar a articulação de grupos culturais e
dos problemas ambientais; arte–educadores para atuarem como multiplicadores em progra-
· Introduzir a Educação Ambiental nos cursos oferecidos pela mas, projetos e ações voltados para a Educação Ambiental;
Escola de Governo; · Capacitar ou incentivar os diversos segmentos sociais para uti-
· Aumentar a oferta de cursos de Educação e Gestão Ambiental lizar a arte na Educação Ambiental;
para funcionários e gestores públicos estaduais e municipais; · Mapear nos municípios as instituições artísticas e culturais e
· Estimular a adoção da Política Nacional da Educação Ambien- produtores culturais independentes que trabalhem com temáticas
tal, instituída pela Lei Federal nº 9.795/99, pelos diversos setores ambientais;
sociais e econômicos;
· Estimular parcerias e captar recursos para projetos e ações de · Utilizar os meios de comunicação para divulgar experiências
Educação Ambiental exitosas de Educação Ambiental, preferencialmente, através de fer-
ramentas de Tecnologia da Informação e Internet, como mídias e
2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FORMAL redes sociais digitais, softwares e aplicativos para divulgar e promo-
Objetivo ver a formação em Educação Ambiental;
Contribuir para a inserção da dimensão ambiental de maneira · Incentivar os movimentos artísticos (populares e culturais) a
interdisciplinar e transdisciplinar em todos os níveis de ensino. inserirem a temática ambiental em sua arte.

Ações 5. EDUCAÇÃO AMBIENTAL, SANEAMENTO E SAÚDE


· Estimular cursos de pós-graduação e de extensão em Educa- Objetivo
ção Ambiental; Contribuir para a compreensão da população sobre a impor-
· Incentivar o cumprimento da Política Nacional de Educação tância do saneamento ambiental para a saúde e o bem estar dos
Ambiental no Ensino Superior com ênfase para as faculdades de for- indivíduos e da coletividade tanto em áreas urbanas como em áreas
mação de professores. rurais.
· Estimular a prática da Educação Ambiental nas instituições de
ensino; Ações
· Sensibilizar a comunidade escolar para vivenciar a prática da · Promover eventos educativos visando à tomada de consciên-
Educação Ambiental de maneira contínua; cia das comunidades locais sobre a importância da proteção am-
· Capacitar professores para a inserção da Educação Ambiental biental para a saúde;
em todo o processo de construção do conhecimento; · Capacitar agentes de saúde sobre a importância da boa quali-
· Promover fóruns de debates sobre as práticas de Educação dade ambiental para melhoria das condições de vida;
Ambiental; · Sensibilizar as comunidades quanto à importância do sanea-
· Incentivar a inclusão do tema transversal Meio Ambiente nos mento ambiental para a salubridade do ambiente;
projetos pedagógicos de acordo com o que recomenda a legislação · Promover formação continuada para técnicos envolvidos nos
do MEC e do MMA neste âmbito; processos de limpeza urbana e de implantação de sistemas integra-
· Estimular a articulação entre as instituições de ensino e as dos de gerenciamento dos resíduos sólidos;
comunidades para a promoção de programas e projetos; · Incentivar projetos de coleta seletiva e de destinação adequa-
· Proporcionar a formação em Educação Ambiental para profis- da dos resíduos sólidos nos diferentes setores da sociedade;
sionais das áreas do setor produtivo. · Estimular os municípios a inserirem as temáticas de meio am-
biente e saúde em suas formações continuadas nos diferentes ní-
3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL E FORMAÇÃO CONTINUADA veis do planejamento e da gestão.
Objetivo · Estimular a criação de cursos para a formação de agentes em
Promover e/ou apoiar iniciativas de formação para atuação em saúde ambiental.
Educação Ambiental.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

6. ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARECER CNE/CEB Nº 11/10

Objetivo I – RELATÓRIO
Apoiar e incentivar as iniciativas voltadas para o desenvolvi- 1. Histórico
mento de estudos e pesquisas sobre aspectos teóricos e metodoló-
gicos da Educação Ambiental. Pedra angular da Educação Básica, o Ensino Fundamental
tem constituído foco central da luta pelo direito à educação. Em
Ações consequência, no Brasil, nos últimos anos, sua organização e seu
· Realizar levantamento de estudos e pesquisas sobre a Educa- funcionamento têm sido objeto de mudanças que se refletem nas
ção Ambiental e divulgar os resultados para os diferentes setores expectativas de melhoria de sua qualidade e de ampliação de sua
da sociedade; abrangência, consubstanciadas em novas leis, normas, sistemas de
· Estimular o meio acadêmico, através da formação de Educa- financiamento, sistemas de avaliação e monitoramento, programas
dores em atividades extensionistas, apoiando à criação de linhas de de formação e aperfeiçoamento de professores e, o mais importan-
pesquisa em Educação Ambiental; te, em preocupações cada vez mais acentuadas quanto à necessi-
· Fomentar parcerias entre órgãos governamentais e não gover- dade de um currículo e de novos projetos político-pedagógicos que
namentais para o desenvolvimento de propostas, projetos e novas sejam capazes de dar conta dos grandes desafios educacionais da
tecnologias voltadas para a questão ambiental. contemporaneidade.
Entre as mudanças recentes mais significativas, atenção espe-
7. EDUCAÇÃO AMBIENTAL, PARTICIPAÇÃO E ORGANIZAÇÃO cial passou a ser dada à ampliação do Ensino Fundamental para 9
COMUNITÁRIA (nove) anos de duração, mediante a matrícula obrigatória de crian-
ças com 6 (seis) anos de idade, objeto da Lei nº 11.274/2006. So-
Objetivo bre isso, o Conselho Nacional de Educação (CNE), pelos esforços da
Incentivar os diferentes atores sociais a atuarem na mobiliza- Câmara de Educação Básica (CEB), vem produzindo um conjunto
ção e na articulação em escala local, promovendo a conservação e de normas orientadoras para as escolas, seus professores, alunos
a preservação ambiental. e suas famílias, bem como para os órgãos executivos e normativos
das redes e sistemas de ensino. Em todas essas orientações, o CNE
Ações tem insistido que a implantação do Ensino Fundamental de 9 (nove)
anos de duração implica na elaboração de um novo currículo e de
· Apoiar os Conselhos Municipais de Meio Ambiente; um novo projeto político-pedagógico.
· Promover Formação Continuada para líderes comunitários so- Além das urgências provocadas por essas mudanças, as atuais
bre temas e práticas em Educação Ambiental; Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (Pare-
· Sensibilizar e incentivar os grupos organizados das comunida- cer CNE/CEB nº 4/98 e Resolução CNE/CEB nº 2/98), vigentes des-
des quanto à importância do envolvimento com as questões am- de 1998, já vinham exigindo uma acurada revisão com vistas à sua
bientais e as práticas da Educação Ambiental; atualização.
· Reconhecer e divulgar práticas ambientais relevantes desen- No primeiro semestre de 2009, o Sr Ministro da Educação,
volvidas nas comunidades e destacar estas atuações para o âmbito Fernando Haddad, solicitou ao CNE que o Colegiado desse priori-
municipal e estadual; dade a esse esforço revisor e atualizador, incumbindo a Secretaria
· Estabelecer estratégias de parcerias com diversos setores da de Educação Básica do MEC de preparar um documento inicial de
sociedade civil para que estes contribuam com a implementação de referência sobre Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
ações e projetos de Educação Ambiental. Fundamental, destinado a subsidiar os estudos e debates que se
seguiriam.
Desde então, uma intensa jornada de trabalho foi organizada
e implementada. Ao receber o documento ministerial, a Câmara
EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO E EDUCAÇÃO FINAN- de Educação Básica do CNE constituiu uma comissão formada pe-
CEIRA E FISCAL (PARECER CNE/CEB Nº 11/2010 las conselheiras Clélia Brandão Alvarenga Craveiro, Regina Vinhaes
Gracindo e por este Relator (Portaria CNE/CEB nº 5, de 8 de dezem-
Esses temas apontam para abordagens na escola que propor- bro de 2009). E,
cionem ao estudante ter uma compreensão sobre finanças e eco-
nomia, consumo responsável, processo de arrecadação financeira e consoante o padrão de trabalho que vem sendo adotado por
a aplicação dos recursos recolhidos como também sua importância este Colegiado no trato de todos os temas relevantes sob a sua res-
para o valor social dos tributos, procedência e destinação. De modo ponsabilidade normativa, foi organizada uma série de audiências
geral, essas abordagens devem possibilitar ao estudante analisar, públicas e reuniões técnicas de modo a proporcionar a necessária
fazer considerações fundamentadas, tomar decisões e ter posições participação de todos os segmentos e instituições educacionais das
críticas sobre questões financeiras que envolvam a sua vida pessoal, diferentes regiões do Brasil. Propostas foram intensamente deba-
familiar e da realidade social e, por conseguinte, compreender a tidas, críticas foram acolhidas e idéias incorporadas. Nos últimos
cidadania, a participação social, a importância sobre as questões meses, o CNE realizou três audiências públicas nacionais (Salvador:
tributárias, o orçamento público, seu controle, sua execução e sua 12/3/2010, Brasília: 5/4/2010, e São Paulo: 16/4/2010), com a par-
transparência, bem como a preservação do patrimônio público. ticipação ativa da Secretaria de Educação Básica do MEC (SEB/MEC),
Secretaria de Educação Especial do MEC (SEESP/MEC), do Conselho
Nacional de Secretários Estaduais de Educação (CONSED), da União

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), da Fundamental. Portanto, em complementação, um novo Parecer e
União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação (UNCME), um novo Projeto de Resolução com essas expectativas de apren-
do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação (FNCEE), dizagem serão objeto de elaboração do CNE nos próximos meses.
da Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educa-
ção (ANFOPE), da Associação Nacional de Política e Administração 2. Fundamentos
da Educação (ANPAE), da Associação Nacional de Pós-Graduação
e Pesquisa em Educação ( ANPEd), da Confederação Nacional de O direito à educação como fundamento maior destas Diretrizes
Trabalhadores em Educação (CNTE), do Fórum de Diretores de Cen-
tros, Faculdades e Departamentos de Educação das Universidades O Ensino Fundamental, de frequência compulsória, é uma con-
Públicas Brasileiras (FORUMDIR), da Sociedade Brasileira pelo Pro- quista resultante da luta pelo direito à educação travada nos países
gresso da Ciência (SBPC), da Comissão de Educação e Cultura da Câ- do ocidente ao longo dos dois últimos séculos por diferentes grupos
mara dos Deputados, da Comissão de Educação do Senado Federal, sociais, entre os quais avultam os setores populares. Esse direito
de coordenadores estaduais do Ensino Fundamental, entre outros, está fortemente associado ao exercício da cidadania, uma vez que
além de professores, pesquisadores, dirigentes municipais e esta- a educação como processo de desenvolvimento do potencial hu-
duais de ensino, bem como de representantes de escolas privadas. mano garante o exercício dos direitos civis, políticos e sociais. De
Para a discussão dessas Diretrizes, foram também realizadas duas acordo com Cury (2002), seja por razões políticas, seja por razões
reuniões com coordenadores de Ensino Fundamental das Secreta- ligadas ao indivíduo, a educação foi tida historicamente como um
rias Estaduais de Educação, em Brasília e Florianópolis, e inúmeras canal de acesso aos bens sociais e à luta política e, como tal, tam-
reuniões de trabalho com técnicos e dirigentes do MEC, contando bém um caminho de emancipação do indivíduo. Pelo leque de cam-
com as contribuições diretas da Secretária de Educação Básica do pos atingidos pela educação, ela tem sido considerada, segundo o
MEC, Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva, do Diretor de Con- ponto de vista dos diferentes grupos sociais, ora como síntese dos
cepções e Orientações Curriculares para a Educação Básica, Carlos direitos civis, políticos e sociais, ora como fazendo parte de cada um
Artexes Simões, da Coordenadora de Ensino Fundamental, Edna desses direitos.
Martins Borges, bem como de outros integrantes de suas equipes. Resumidamente, pode-se dizer que os direitos civis dizem res-
Os subsídios referentes ao currículo do Ensino Fundamental peito aos direitos do indivíduo garantidos pela legislação de cada
enviados pelo MEC a este Colegiado contaram com a colaboração país, como por exemplo, o direito à privacidade, à liberdade de
das professoras Lucíola Licínio Santos, da Universidade Federal de opinião e de crenças e o direito à defesa diante de qualquer acu-
Minas Gerais, e Elba Siqueira de Sá Barretto, da Universidade de sação. A luta pelos direitos civis baseou-se, historicamente, na luta
São Paulo e da Fundação Carlos Chagas. Esta última também asses- pela igualdade, perante a Lei, de todas as camadas da população,
sorou a Câmara de Educação Básica do CNE e, especialmente, este independente de origem social, credo religioso, cor, etnia, gênero
Relator, na redação das diferentes minutas de Parecer e Projeto de e orientação sexual. Assim, a educação é um direito civil por ser
Resolução destas Diretrizes. garantida pela legislação brasileira como direito do indivíduo, inde-
Um documento produzido dessa forma, portanto, não é obra pendente de sua situação econômica, social e cultural.
de um autor, mas obra coletiva. Do mesmo modo, o currículo, o O direito político, indo muito além do direito de votar e ser
projeto projeto político- pedagógico, os programas e projetos edu- votado, está relacionado com a inserção plena do conjunto de in-
cacionais, matéria prima do trabalho criativo dos professores e das divíduos nos processos decisórios que ocorrem nas diferentes es-
escolas, devem ter por base a abordagem democrática e participa- feras da vida pública. Implica, ainda, o reconhecimento de que os
tiva na sua concepção e implementação. cidadãos, mais do que portadores de direitos, são criadores de no-
Diretrizes Curriculares definidas em norma nacional pelo Con- vos direitos e de novos espaços para expressá-los. A educação é,
selho Nacional de Educação são orientações que devem ser neces- portanto, também um direito político porque a real participação na
sariamente observadas na elaboração dos currículos e dos projetos vida pública exige que os indivíduos, dentre outras coisas, estejam
político-pedagógicos das escolas. Essa elaboração é, contudo, de informados, saibam analisar posições divergentes, saibam elabo-
responsabilidade das escolas, seus professores, dirigentes e funcio- rar críticas e se posicionar, tenham condições de fazer valer suas
nários, com a indispensável participação das famílias e dos estudan- reivindicações por meio do diálogo e de assumir responsabilidades
tes. É, também, responsabilidade dos gestores e órgãos normativos e obrigações, habilidades que cabe também à escola desenvolver.
das redes e dos sistemas de ensino, consideradas a autonomia e a Outrossim, importância é dada também à educação por razões polí-
responsabilidade conferidas pela legislação brasileira a cada instân- ticas associadas à necessidade de preservar o regime democrático.
cia. O que se espera é que esse documento contribua efetivamente Já os direitos sociais se referem aos direitos que dependem da
para o êxito desse trabalho e, assim, para a melhoria da qualidade ação do Estado para serem concretizados e estão associados, fun-
do Ensino Fundamental brasileiro, um direito de todos. damentalmente, à melhoria das condições de vida do conjunto da
Por fim, cumpre esclarecer que o presente Parecer e seu Proje- população, relacionando-se com a questão da igualdade social. São
to de Resolução não completam o trabalho concebido pela Câmara exemplos de direito social, o próprio direito à educação, à moradia,
de Educação Básica do CNE para a elaboração das novas Diretri- à saúde, ao trabalho etc.
zes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Etapa com- Nas últimas décadas, tem se firmado, ainda, como resultado
plementar e importante será iniciada nos próximos meses a partir de movimentos sociais, o direito à diferença, como também tem
de nova contribuição proveniente do Ministério da Educação. De sido chamado o direito de grupos específicos verem atendidas suas
comum acordo quando da redação dos termos dessas Diretrizes, demandas, não apenas de natureza social, mas também individual.
o MEC se compromete a enviar a este Colegiado propostas de ex- Ele tem como fundamento a idéia de que devem ser consideradas e
pectativas de aprendizagem dos conhecimentos escolares que de- respeitadas as diferenças que fazem parte do tecido social e assegu-
vem ser atingidas pelos alunos em diferentes estágios do Ensino rado lugar à sua expressão. O direito à diferença, assegurado no es-

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

paço público, significa não apenas a tolerância ao outro, aquele que A oferta de uma educação com qualidade social
é diferente de nós, mas implica a revisão do conjunto dos padrões
sociais de relações da sociedade, exigindo uma mudança que afeta O Ensino Fundamental foi, durante a maior parte do século XX,
a todos, o que significa que a questão da identidade e da diferença o único grau de ensino a que teve acesso a grande maioria da po-
tem caráter político. O direito à diferença se manifesta por meio da pulação. Em 1989, já na virada da última década, portanto, a pro-
afirmação dos direitos das crianças, das mulheres, dos jovens, dos porção de suas matrículas ainda representava mais de ¾ do total de
homossexuais, dos negros, dos indígenas, das pessoas com defici- alunos atendidos pelos sistemas escolares brasileiros em todas as
ência, entre outros, que para de fato se efetivarem, necessitam ser etapas de ensino. Em 2009, o perfil seletivo da nossa escola havia se
socialmente reconhecidos. atenuado um pouco, com a expansão do acesso às diferentes eta-
Trata-se, portanto, de compreender como as identidades e as pas da escolaridade. Contudo, entre os 52,6 milhões de alunos da
diferenças são construídas e que mecanismos e instituições estão Educação Básica, cerca de 66,4% estavam no Ensino Fundamental,
implicados na construção das identidades, determinando a valori- o que correspondia a 35 milhões de estudantes, incluídos entre eles
zação de uns e o desprestígio de outros. É nesse contexto que emer- os da Educação Especial e os da Educação de Jovens e Adultos (con-
ge a defesa de uma educação multicultural. forme a Sinopse Estatística da Educação Básica, MEC/INEP 2009).
Os direitos civis, políticos e sociais focalizam, pois, direta ou in- Se praticamente conseguimos universalizar o acesso à escola
diretamente, o tratamento igualitário, e estão em consonância com para crianças e jovens na faixa etária de 7 (sete) a 14 (quatorze)
a temática da igualdade social. Já o direito à diferença busca garan- anos, e estamos próximos de assegurá-la a todas as crianças de 6
tir que, em nome da igualdade, não se desconsiderem as diferenças (seis) anos, não conseguimos sequer que todos os alunos incluídos
culturais, de cor/raça/etnia, gênero, idade, orientação sexual, entre nessa faixa de idade cheguem a concluir o Ensino Fundamental. Isso
outras. Em decorrência, espera-se que a escola esteja atenta a essas é um indicativo de quão insuficiente tem sido o processo de inclu-
diferenças, a fim de que em torno delas não se construam meca- são escolar para o conjunto da população, a despeito dos avanços
nismos de exclusão que impossibilitem a concretização do direito à obtidos no que se refere ao acesso à escola, e de quão inadequada
educação, que é um direito de todos. permanece sendo a nossa estrutura educacional.
Todos esses direitos estão englobados nos direitos humanos, Mas, de que qualidade está-se falando?
cuja característica é a de serem universais e sem distinção de es- O conceito de qualidade da educação é uma construção histó-
pécie alguma, uma vez que decorrem da dignidade intrínseca a rica que assume diferentes significados em tempos e espaços diver-
todo o ser humano. Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, sos e tem a ver com os lugares de onde falam os sujeitos, os grupos
promulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1948, sociais a que pertencem, os interesses e os valores envolvidos, os
a educação tem por objetivo o pleno desenvolvimento da pessoa projetos de sociedade em jogo.
humana e o fortalecimento do respeito aos direitos humanos e às Conforme argumenta Campos (2008), para os movimentos
liberdades fundamentais, aos quais, posteriormente, se agrega a sociais que reivindicavam a qualidade da educação entre os anos
necessidade de capacitar a todos para participarem efetivamente 70 e 80, ela estava muito presa às condições básicas de funciona-
de uma sociedade livre. Na Convenção sobre os Direitos da Criança, mento das escolas, porque seus participantes, pouco escolarizados,
celebrada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), tinham dificuldade de perceber as nuanças dos projetos educativos
em 1989, acrescenta-se, ainda, a finalidade de incutir no educando que as instituições de ensino desenvolviam. Na década de 90, sob
o respeito ao meio ambiente natural, à sua identidade cultural e aos o argumento de que o Brasil investia muito na educação, porém
valores nacionais e de outras civilizações. gastava mal, prevaleceram preocupações com a eficácia e a efici-
A Constituição Federal de 1988, ao reconhecer esses direitos, ência das escolas e a atenção voltou-se, predominantemente, para
traduz a adesão da Nação a princípios e valores amplamente com- os resultados por elas obtidos quanto ao rendimento dos alunos. A
partilhados no concerto internacional. O inciso I do art. nº 208 da qualidade priorizada somente nesses termos pode, contudo, deixar
Carta Magna, Seção da Educação, declara que o dever do Estado se em segundo plano a superação das desigualdades educacionais.
efetiva com a garantia do “Ensino Fundamental obrigatório e gra- Outro conceito de qualidade passa, entretanto, a ser gestado
tuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a por movimentos de renovação pedagógica, movimentos sociais, de
ele não tiveram acesso na idade própria”. Por sua vez, o § 1º desse profissionais e por grupos políticos: o da qualidade social da edu-
mesmo artigo afirma que “o acesso ao ensino obrigatório e gratuito cação. Ela está associada às mobilizações pelo direito à educação,
é direito público subjetivo”. à exigência de participação e de democratização e comprometida
Por ser direito público subjetivo, o Ensino Fundamental exige com a superação das desigualdades e injustiças.
que o Estado determine a sua obrigatoriedade, que só pode ser ga- Em documento de 2007, a Organização das Nações Unidas para
rantida por meio da gratuidade de ensino, o que irá permitir o usu- a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), ao entender que a qua-
fruto desse direito por parte daqueles que se virem privados dele. lidade da educação é também uma questão de direitos humanos,
Se essa etapa de ensino, sendo um direito fundamental, é di- defende conceito semelhante. Para além da eficácia e da eficiência,
reito do cidadão, uma vez que constitui uma garantia mínima de advoga que a educação de qualidade, como um direito fundamen-
formação para a vida pessoal, social e política. É dever do Estado, tal, deve ser antes de tudo relevante, pertinente e equitativa. A re-
dos sistemas de ensino e das escolas assegurarem que todos a ela levância reporta-se à promoção de aprendizagens significativas do
tenham acesso e que a cursem integralmente, chegando até à con- ponto de vista das exigências sociais e de desenvolvimento pessoal.
clusão do processo de escolarização que lhe corresponde. Além A pertinência refere-se à possibilidade de atender às necessidades
disso, todos têm o direito de obter o domínio dos conhecimentos e às características dos estudantes de diversos contextos sociais e
escolares previstos para essa etapa e de adquirir os valores, atitu- culturais e com diferentes capacidades e interesses.
des e habilidades derivados desses conteúdos e das interações que
ocorrem no processo educativo.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

E a equidade, à necessidade de tratar de forma diferenciada o Estéticos: de cultivo da sensibilidade juntamente com o da ra-
que se apresenta como desigual no ponto de partida, com vistas a cionalidade; de enriquecimento das formas de expressão e do exer-
obter aprendizagens e desenvolvimento equiparáveis, assegurando cício da criatividade; de valorização das diferentes manifestações
a todos a igualdade de direito à educação. culturais, especialmente as da cultura brasileira; de construção de
Na perspectiva de contribuir para a erradicação das desigual- identidades plurais e solidárias.
dades e da pobreza, a busca da equidade requer que se ofereçam Os objetivos que a Educação Básica busca alcançar, quais se-
mais recursos e melhores condições às escolas menos providas e jam, propiciar o desenvolvimento do educando, assegurar-lhe a
aos alunos que deles mais necessitem. Ao lado das políticas univer- formação comum indispensável para o exercício da cidadania e for-
sais, dirigidas a todos sem requisito de seleção, é preciso também necer-lhe os meios para que ele possa progredir no trabalho e em
sustentar políticas reparadoras que assegurem maior apoio aos di- estudos posteriores, segundo o artigo 22 da Lei nº 9.394/96 (LDB),
ferentes grupos sociais em desvantagem. bem como os objetivos específicos dessa etapa da escolarização
Para muitos, a educação é considerada a mola propulsora das (artigo 32 da LDB), devem convergir para os princípios mais amplos
transformações do país. No entanto, o que se constata é que pro- que norteiam a Nação brasileira.
blemas econômicos e sociais repercutem na escola e dificultam o Assim sendo, eles devem estar em conformidade com o que de-
alcance de seus objetivos. A garantia do Ensino Fundamental de fine a Constituição Federal, no seu artigo 3º, a saber: a construção
qualidade para todos está intimamente relacionada ao caráter in- de uma sociedade livre, justa e solidária, que garanta o desenvolvi-
clusivo da escola e à redução da pobreza, ao mesmo tempo em que mento nacional; que busque “erradicar a pobreza e a marginaliza-
tem um papel importante nesse processo. As políticas educacionais ção e reduzir as desigualdades sociais e regionais”; e que promova
só surtirão efeito se articuladas a outras políticas públicas no campo “o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade
da saúde, habitação, emprego, dentre outros, porque essas políti- e quaisquer outras formas de discriminação”.
cas dependem umas das outras, pelo estreito relacionamento que
mantêm entre si. Assim, se para ingressar e transitar no mundo do 3. Trajetória do Ensino Fundamental obrigatório no país
trabalho a educação se torna cada vez mais necessária, ela depen-
de, por sua vez, das disponibilidades de emprego, tanto para que No Brasil, foi a Constituição de 1934 a primeira a determinar a
os pais consigam criar seus filhos com dignidade, como, também, obrigatoriedade do ensino primário ou fundamental, com a dura-
para que os estudantes vislumbrem na educação escolar o aumento ção de 4 (quatro) anos. A Carta Constitucional promulgada em 1967
das possibilidades de inserção nesse mundo. Se os cuidados com a amplia para 8 (oito) anos essa obrigatoriedade e, em decorrência, a
saúde dependem da educação, a educação também requer que os Lei nº 5.692/71 modifica a estrutura do ensino, unificando o curso
alunos tenham a assistência para os problemas de seu bem- estar primário e o ginásio em um único curso, o chamado 1º grau, com
físico, os quais se refletem nas suas condições de aprendizagem. duração de 8 (oito) anos. O ensino de 2º grau – atual Ensino Médio
A educação escolar, comprometida com a igualdade de acesso – torna-se profissionalizante.
ao conhecimento a todos e especialmente empenhada em garantir De acordo com a tradição federativa brasileira, os Estados, a
esse acesso aos grupos da população em desvantagem na socie- partir de princípios e orientações gerais da esfera federal, se en-
dade, será uma educação com qualidade social e contribuirá para carregaram de elaborar as propostas curriculares para as escolas
dirimir as desigualdades historicamente produzidas, assegurando, de 1º grau pertencentes ao seu sistema de ensino, quais sejam, as
assim, o ingresso, a permanência e o sucesso de todos na escola, estaduais, as municipais e as privadas, localizadas no seu território.
com a consequente redução da evasão, da retenção e das distor- Anos antes da promulgação da atual Lei de Diretrizes e Bases
ções de idade/ano/série (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96), algumas redes escolares
CNE/CEB n° 4/2010, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais passaram a adotar medidas de expansão do Ensino Fundamental
Gerais para a Educação Básica). para 9 (nove) anos, mediante a incorporação das crianças de 6 (seis)
anos de idade, por vezes procedentes das numerosas classes de al-
Princípios norteadores fabetização que existiam em vários Estados e Municípios. Na sua
redação original, a LDB se mostra bastante flexível quanto à dura-
Os sistemas de ensino e as escolas adotarão como norteado- ção do Ensino Fundamental, estabelecendo como mínima a sua du-
res das políticas educativas e das ações pedagógicas os seguintes ração de 8 (oito) anos e sinalizando, assim, para a ampliação dessa
princípios: etapa da Educação Básica.
Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e autonomia; de O Plano Nacional de Educação (Lei nº 10.172/2001) estabelece
respeito à dignidade da pessoa humana e de compromisso com a como Meta 1 a universalização do Ensino Fundamental no prazo de
promoção do bem de todos, contribuindo para combater e eliminar 5 (cinco) anos, garantindo o acesso e a permanência de todas as
quaisquer manifestações de preconceito e discriminação. crianças na escola, e a sua ampliação para 9 (nove) anos, com início
Políticos: de reconhecimento dos direitos e deveres de cidada- aos 6 (seis) anos de idade, à medida que for sendo universalizado
nia, de respeito ao bem comum e à preservação do regime demo- o atendimento de 7 (sete) a 14 (quatorze) anos. A Meta 2, definida
crático e dos recursos ambientais; de busca da equidade no acesso com base no diagnóstico de que 87% das crianças de 6 (seis) anos
à educação, à saúde, ao trabalho, aos bens culturais e outros bene- já estavam matriculadas em Pré-Escolas, classes de alfabetização ou
fícios; de exigência de diversidade de tratamento para assegurar a mesmo no Ensino Fundamental, determina a sua ampliação para
igualdade de direitos entre os alunos que apresentam diferentes 9 (nove) anos, com início aos 6 (seis) anos de idade, à medida que
necessidades; de redução da pobreza e das desigualdades sociais for sendo universalizado o atendimento de 7 (sete) a 14 (quatorze)
e regionais. anos. A idéia central das propostas contidas no Plano é que a inclu-
são definitiva das crianças nessa etapa educacional pode oferecer
maiores oportunidades de aprendizagem no período da escolariza-

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

ção obrigatória e assegurar que, ingressando mais cedo no sistema 4. A população escolar
de ensino, elas prossigam nos estudos alcançando maior nível de
escolaridade. Como toda a população na faixa do ensino obrigatório deve
Em 2005, a Lei nº 11.114 altera a LDB, tornando obrigatória a frequentar o Ensino Fundamental, nele também estão representa-
matrícula das crianças de 6 (seis) anos de idade no Ensino Funda- das a grande diversidade sociocultural da população brasileira e as
mental, entretanto, dá margem para que se antecipe a escolaridade grandes disparidades socioeconômicas que contribuem para deter-
de 8 (oito) anos para esses alunos, o que reduziria a idade de con- minar oportunidades muito diferenciadas de acesso dos alunos aos
clusão do Ensino Fundamental em 1 (um) ano. bens culturais. Numerosos estudos têm mostrado que as maiores
Finalmente, a Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, altera a desigualdades em relação às possibilidades de progressão escolar e
redação da LDB, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o de realização de aprendizagens significativas na escola, embora es-
Ensino Fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) tejam fortemente associadas a fatores sociais e econômicos, mos-
anos de idade, e concedendo aos sistemas de ensino o prazo até tram-se também profundamente entrelaçadas com as característi-
2009 para que procedam às devidas adequações de modo que a cas culturais da população. As maiores desigualdades educacionais
partir de 2010 esse Ensino Fundamental de 9 (nove) anos seja as- são encontradas entre ricos e pobres, mas elas também são gran-
segurado a todos. des entre brancos, negros e outros grupos raciais e estão, por sua
Assim determinando, a Lei reflete a tendência de expansão da vez, particularmente relacionadas à oferta educativa mais precária
escolaridade obrigatória na maior parte dos países desenvolvidos que restringe as oportunidades de aprendizagem das populações
do ocidente e da própria América Latina, mediante a incorporação mestiças e negras, ribeirinhas, indígenas, dos moradores das áre-
das crianças menores de 7 (sete) anos ao Ensino Fundamental. Em as rurais, das crianças e jovens que vivem nas periferias urbanas,
vários países do continente, em que a faixa de escolarização com- daqueles em situações de risco, das pessoas com deficiência, e dos
pulsória se inicia aos 6 (seis) anos de idade, verifica-se, ainda, que adolescentes, jovens e adultos que não puderam estudar quando
a obrigatoriedade também se estende às crianças do último ano da crianças.
Pré-Escola. Essa diversidade econômica, social e cultural exige da escola
o conhecimento da realidade em que vivem os alunos, pois a com-
O acesso ao Ensino Fundamental aos 6 (seis) anos permite que preensão do seu universo cultural é imprescindível para que a ação
todas as crianças brasileiras possam usufruir do direito à educação, pedagógica seja pertinente. Inserida em contextos diferentes, a
beneficiando-se de um ambiente educativo mais voltado à alfabeti- proposta político-pedagógica das escolas deve estar articulada à re-
zação e ao letramento, à aquisição de conhecimentos de outras áre- alidade do seu alunado para que a comunidade escolar venha a co-
as e ao desenvolvimento de diversas formas de expressão, ambien- nhecer melhor e valorizar a cultura local. Trata-se de uma condição
te a que já estavam expostas as crianças dos segmentos de rendas importante para que os alunos possam se reconhecer como parte
média e alta e que pode aumentar a probabilidade de seu sucesso dessa cultura e construir identidades afirmativas o que, também,
no processo de escolarização. pode levá-los a atuar sobre a sua realidade e transformá-la com
O Conselho Nacional de Educação (CNE), cumprindo as suas base na maior compreensão que adquirem sobre ela. Ao mesmo
funções normativas, tem elaborado Diretrizes e orientações que de- tempo, a escola deverá propiciar aos alunos condições para transi-
vem ser observadas pelos sistemas de ensino para a reorganização tarem em outras culturas, para que transcendam seu universo local
do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. Os sistemas de ensino e as e se tornem aptos a participar de diferentes esferas da vida social,
escolas não poderão apenas adaptar seu currículo à nova realidade, econômica e política.
pois não se trata de incorporar, no primeiro ano de escolaridade, o
currículo da Pré-Escola, nem de trabalhar com as crianças de 6 (seis) As múltiplas infâncias e adolescências
anos os conteúdos que eram desenvolvidos com as crianças de 7
(sete) anos. Trata-se, portanto, de criar um novo currículo e de um Os alunos do Ensino Fundamental regular são crianças e ado-
novo projeto político-pedagógico para o Ensino Fundamental que lescentes de faixas etárias cujo desenvolvimento está marcado por
abranja os 9 anos de escolarização, incluindo as crianças de 6 anos. interesses próprios, relacionado aos seus aspectos físico, emocio-
nal, social e cognitivo, em constante interação. Como sujeitos his-
Matrícula no Ensino Fundamental de 9 (nove) anos e carga ho- tóricos que são, as características de desenvolvimento dos alunos
rária estão muito relacionadas com seus modos próprios de vida e suas
múltiplas experiências culturais e sociais, de sorte que mais ade-
O Ensino Fundamental com duração de 9 (nove) anos abrange quado seria falar de infâncias e adolescências no plural.
a população na faixa etária dos 6 (seis) aos 14 (quatorze) anos de Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a criança desenvolve
idade e se estende, também, a todos os que, na idade própria, não a capacidade de representação, indispensável para a aprendizagem
tiveram condições de frequentá-lo. da leitura, dos conceitos matemáticos básicos e para a compreen-
É obrigatória a matrícula no Ensino Fundamental de crianças são da realidade que a cerca, conhecimentos que se postulam para
com 6 (seis) anos completos ou a completar até o dia 31 de março esse período da escolarização. O desenvolvimento da linguagem
do ano em que ocorrer a matrícula, nos termos da Lei e das normas permite a ela reconstruir pela memória as suas ações e descre-
nacionais vigentes. As crianças que completarem 6 (seis) anos após vê-las, bem como planejá-las, habilidades também necessárias às
essa data deverão ser matriculadas na Educação Infantil (Pré-Esco- aprendizagens previstas para esse estágio. A aquisição da leitura e
la). da escrita na escola, fortemente relacionada aos usos sociais da es-
A carga horária mínima anual do Ensino Fundamental regular crita nos ambientes familiares de onde veem as crianças, pode de-
será de 800 (oitocentas) horas relógio, distribuídas em, pelo menos, mandar tempos e esforços diferenciados entre os alunos da mesma
200 (duzentos) dias de efetivo trabalho escolar. faixa etária. A criança nessa fase tem maior interação nos espaços

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públicos, entre os quais se destaca a escola. Esse é, pois, um pe- Novos desafios se colocam também para a função docente
ríodo em que se deve intensificar a aprendizagem das normas da diante do aumento das informações nas sociedades contemporâ-
conduta social, com ênfase no desenvolvimento de habilidades que neas e da mudança da sua natureza. Mesmo quando experiente, o
facilitem os processos de ensino e de aprendizagem. professor muitas vezes terá que se colocar na situação de aprendiz
Mas é também durante a etapa da escolarização obrigatória e buscar junto com os alunos as respostas para as questões sus-
que os alunos entram na puberdade e se tornam adolescentes. Eles citadas. Seu papel de orientador da pesquisa e da aprendizagem
passam por grandes transformações biológicas, psicológicas, sociais sobreleva, assim, o de mero transmissor de conteúdos.
e emocionais. Os adolescentes, nesse período da vida, modificam
as relações sociais e os laços afetivos, intensificando suas relações A ampliação dos objetivos da escola em face do seu alunado
com os pares de idade e as aprendizagens referentes à sexualida-
de e às relações de gênero, acelerando o processo de ruptura com Crianças e adolescentes brasileiros também estão sujeitos à
a infância na tentativa de construir valores próprios. Ampliam-se violência doméstica, ao abuso e à exploração sexual, a formas de
as suas possibilidades intelectuais, o que resulta na capacidade trabalho não condizentes com a idade, à falta de cuidados essen-
de realização de raciocínios mais abstratos. Os alunos se tornam ciais com a saúde, aspectos em relação aos quais a escola, como ins-
crescentemente capazes de ver as coisas a partir do ponto de vista tituição responsável pelos alunos durante o seu período de forma-
dos outros, superando, dessa maneira, o egocentrismo próprio da ção – e muitas vezes o único canal institucional com quem a família
infância. Essa capacidade de descentração é importante na constru- mantém contato – precisa estar atenta. Essas questões repercutem
ção da autonomia e na aquisição de valores morais e éticos. na aprendizagem e no desenvolvimento do aluno e, não raro, colo-
Os professores, atentos a esse processo de desenvolvimento, cam o professor diante de situações para as quais as práticas que
buscarão formas de trabalho pedagógico e de diálogo com os alu- ele conhece não surtem resultados. O trabalho coletivo na esco-
nos, compatíveis com suas idades, lembrando sempre que esse pro- la poderá respaldá-lo de algum modo. No entanto, ao se tratar de
cesso não é uniforme e nem contínuo. questões que extrapolam o âmbito das atividades escolares, cabe à
Entre os adolescentes de muitas escolas, é frequente observar escola manter-se articulada com o Conselho Tutelar, com os servi-
forte adesão aos padrões de comportamento dos jovens da mesma ços de apoio aos sistemas educacionais e com instituições de outras
idade, o que é evidenciado pela forma de se vestir e também pela áreas capazes de ministrar os cuidados e os serviços de proteção
linguagem utilizada por eles. Isso requer dos educadores maior dis- social a que esses alunos têm direito.
posição para entender e dialogar com as formas próprias de expres- Deve-se considerar, ainda, que o crescimento da violência e
são das culturas juvenis, cujos traços são mais visíveis, sobretudo, da indisciplina, sobretudo nas escolas das grandes cidades, tem
nas áreas urbanas mais densamente povoadas. dificultado sobremaneira a aprendizagem dos alunos e o trabalho
A exposição das crianças e adolescentes de praticamente to- dos professores, provocando entre estes uma atitude de desânimo
das as classes sociais no Brasil à mídia e, em particular, à televisão diante do magistério, revelada pelo alto índice de absenteísmo dos
durante várias horas diárias tem, por sua vez, contribuído para o
docentes e pelas reiteradas licenças para tratamento de saúde.
desenvolvimento de formas de expressão entre os alunos que são
Eles são reflexos não só da violência das sociedades contem-
menos precisas e mais atreladas ao universo das imagens, o que
porâneas, mas também da violência simbólica da cultura da escola
torna mais difícil o trabalho com a linguagem escrita, de caráter
que impõe normas, valores e conhecimentos tidos como universais
mais argumentativo, no qual se baseia a cultura da escola. O tempo
e que não estabelece diálogo com a cultura dos alunos, frequen-
antes dedicado à leitura perde o lugar para as novelas, os progra-
temente conduzindo um número considerável deles ao fracasso
mas de auditório, os jogos irradiados pela TV, a internet, sendo que
escolar. Não só o fracasso no rendimento escolar, mas também a
a linguagem mais universal que a maioria deles compartilha é a da
possibilidade de fracassar que paira na escola, criam um efeito de
música, ainda que, geralmente, a partir de poucos gêneros musi-
cais. halo que leva os alunos a se insurgirem contra as regras escolares.
Novos desafios se colocam, pois, para a escola, que também O questionamento da escola que está por traz desses compor-
cumpre um papel importante de inclusão digital dos alunos. Ela pre- tamentos deriva também da rápida obsolescência dos conhecimen-
cisa valer-se desses recursos e, na medida de suas possibilidades, tos provocada pela multiplicação dos meios de comunicação e do
submetê-los aos seus propósitos educativos. Há que se considerar fato de, ao ter-se popularizado, o certificado que ela oferece já não
que a multiplicação dos meios de comunicação e informação nas é mais garantia de ascensão e mobilidade social como já foi nos pe-
sociedades de mercado em que vivemos contribui fortemente para ríodos em que a escola pública era altamente seletiva. Daí decorre
disseminar entre as crianças, jovens e população em geral o exces- que o professor, para assegurar a disciplina em sala de aula, condi-
sivo apelo ao consumo e uma visão de mundo fragmentada, que ção necessária para o trabalho pedagógico, precisa agora legitimar
induz à banalização dos acontecimentos e à indiferença quanto aos a sua autoridade pedagógica junto aos alunos, o que requer um es-
problemas humanos e sociais. É importante que a escola contribua forço deliberado para manter o diálogo e a comunicação com eles.
para transformar os alunos em consumidores críticos dos produtos Diante desse contexto, se torna imperativo um trabalho entre
oferecidos por esses meios, ao mesmo tempo em que se vale dos as instituições, as famílias e toda a sociedade no sentido de valori-
recursos midiáticos como instrumentos relevantes no processo de zar a escola e o professor. Além disso, é necessária forte articulação
aprendizagem, o que também pode favorecer o diálogo e a comuni- da unidade escolar com a família e os alunos no estabelecimento
cação entre professores e alunos. das normas de convívio social na escola, construídas com a partici-
Para tanto, é preciso que se ofereça aos professores formação pação ativa da comunidade e dos alunos e registradas em um regi-
adequada para o uso das tecnologias da informação e comunicação mento escolar pautado na legislação educacional e no Estatuto da
e que seja assegurada a provisão de recursos midiáticos atualizados Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90).
e em número suficiente para os alunos.

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5. O currículo É preciso, pois, que a escola expresse com clareza o que espera
dos alunos, buscando coerência entre o que proclama e o que re-
Cabe primordialmente à instituição escolar a socialização do aliza, ou seja, o que realmente ensina em termos de conhecimen-
conhecimento e a recriação da cultura. De acordo com as Diretrizes to. Os alunos provenientes de grupos sociais cuja cultura é muito
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/ diferente daquela da escola, encontram na diferença entre o que
CEB nº7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010), uma das maneiras é cobrado e o que é ensinado por ela um obstáculo para o seu apro-
de se conceber o currículo é entendê-lo como constituído pelas ex- veitamento. Eles precisam fazer um esforço muito maior do que os
periências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, outros para entender a linguagem da escola, seus códigos ocultos,
permeadas pelas relações sociais, buscando articular vivências e uma vez que a instituição pressupõe que certos conhecimentos que
saberes dos alunos com os conhecimentos historicamente acumu- ela não ensina são do domínio de todos, quando na verdade não
lados e contribuindo para construir as identidades dos estudantes. são.
O foco nas experiências escolares significa que as orientações e A escola constitui a principal e, muitas vezes, a única forma de
propostas curriculares que provêm das diversas instâncias só terão acesso ao conhecimento sistematizado para a grande maioria da
concretude por meio das ações educativas que envolvem os alunos. população. Esse dado aumenta a responsabilidade do Ensino Fun-
Os conhecimentos escolares podem ser compreendidos como damental na sua função de assegurar a todos a aprendizagem dos
o conjunto de conhecimentos que a escola seleciona e transforma, conteúdos curriculares capazes de fornecer os instrumentos bási-
no sentido de torná-los passíveis de serem ensinados, ao mesmo cos para a plena inserção na vida social, econômica e cultural do
tempo em que servem de elementos para a formação ética, estética país. Michael Young (2007) denomina “poderoso” o conhecimento
e política do aluno. As instâncias que mantêm, organizam, orientam que, entre as crianças, adolescentes, jovens e adultos não pode ser
e oferecem recursos à escola, como o próprio Ministério da Educa- adquirido apenas em casa e na comunidade, ou ainda nos locais de
ção, as Secretarias de Educação, os Conselhos de Educação, assim trabalho. Nas sociedades contemporâneas esse conhecimento é o
como os autores de materiais e livros didáticos, transformam o co- que permite estabelecer relações mais abrangentes entre os fenô-
nhecimento acadêmico, segmentando-o de acordo com os anos de menos, e é principalmente na escola que ele tem condições de ser
escolaridade, ordenando- o em unidades e tópicos e buscam ain- adquirido.
da ilustrá-lo e formulá-lo em questões para muitas das quais já se Para isso, a escola, no desempenho das suas funções de educar
têm respostas. Esse processo em que o conhecimento de diferentes e cuidar, deve acolher os alunos dos diferentes grupos sociais, bus-
áreas sofre mudanças, transformando-se em conhecimento escolar, cando construir e utilizar métodos, estratégias e recursos de ensino
tem sido chamado de transposição didática. que melhor atendam às suas características cognitivas e culturais.
Também se diz que os conhecimentos produzidos nos diversos Acolher significa, pois, propiciar aos alunos meios para conhecerem
componentes curriculares, para adentrarem a escola são recontex- a gramática da escola, oferecendo àqueles com maiores dificulda-
tualizados de acordo com a lógica que preside as instituições esco- des e menores oportunidades, mais incentivos e renovadas oportu-
lares. Uma vez que as escolas são instituições destinadas à forma- nidades de se familiarizarem com o modo de entender a realidade
ção das crianças, jovens e adultos, os conhecimentos escolares dos que é valorizado pela cultura escolar.
diferentes componentes, além do processo de didatização que so- Acolher significa, também, garantir as aprendizagens propostas
frem, passam a trazer embutido um sentido moral e político. Assim, no currículo para que o aluno desenvolva interesses e sensibilida-
a história da escola está indissoluvelmente ligada ao exercício da des que lhe permitam usufruir dos bens culturais disponíveis na co-
cidadania; a ciência que a escola ensina está impregnada de valores munidade, na sua cidade ou na sociedade em geral, e que lhe pos-
que buscam promover determinadas condutas, atitudes e determi- sibilitem, ainda, sentir-se como produtor valorizado desses bens.
nados interesses, como por exemplo, a valorização e preservação Ao lado disso, a escola é, por excelência, o lugar em que é possível
do meio ambiente, os cuidados com a saúde, entre outros. Esse ensinar e cultivar as regras do espaço público que conduzem ao
mesmo processo ocorre com os demais componentes curriculares e convívio democrático com as diferenças, orientado pelo respeito
áreas de conhecimento, porque devem se submeter às abordagens mútuo e pelo diálogo. É nesse espaço que os alunos têm condições
próprias aos estágios de desenvolvimento dos alunos, ao período de exercitar a crítica e de aprender a assumir responsabilidades em
de duração dos cursos, aos horários e condições em que se desen- relação ao que é de todos.
volve o trabalho escolar e, sobretudo, aos propósitos mais gerais de
formação dos educandos. O acesso ao conhecimento escolar tem, A base nacional comum e a parte diversificada: complementa-
portanto, dupla função: desenvolver habilidades intelectuais e criar ridade
atitudes e comportamentos necessários para a vida em sociedade.
O aluno precisa aprender não apenas os conteúdos escolares, O currículo do Ensino Fundamental tem uma base nacional co-
mas também saber se movimentar na instituição pelo conhecimen- mum, complementada em cada sistema de ensino e em cada esta-
to que adquire de seus valores, rituais e normas, ou seja, pela fa- belecimento escolar por uma parte diversificada. A base nacional
miliaridade com a cultura da escola. Ele costuma ir bem na escola comum e a parte diversificada do currículo do Ensino Fundamental
quando compreende não somente o que fica explícito, como o que constituem um todo integrado e não podem ser consideradas como
está implícito no cotidiano escolar, ou seja, tudo aquilo que não é dois blocos distintos.
dito mas que é valorizado ou desvalorizado pela escola em termos A articulação entre a base nacional comum e a parte diversifi-
de comportamento, atitudes e valores que fazem parte de seu cur- cada do currículo do Ensino Fundamental possibilita a sintonia dos
rículo oculto. interesses mais amplos de formação básica do cidadão com a reali-
dade local, as necessidades dos alunos, as características regionais
da sociedade, da cultura e da economia e perpassa todo o currículo.

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Voltados à divulgação de valores fundamentais ao interesse O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições
social e à preservação da ordem democrática, os conhecimentos das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasilei-
que fazem parte da base nacional comum a que todos devem ter ro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia (art.
acesso, independentemente da região e do lugar em que vivem, 26, §4º da LDB). Ainda conforme o artigo 26 A, alterado pela Lei
asseguram a característica unitária das orientações curriculares na- nº 11.645/2008 (que inclui no currículo oficial da rede de ensino
cionais, das propostas curriculares dos Estados, Distrito Federal e a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e
Municípios e dos projetos político-pedagógicos das escolas. Indígena”), a História e a Cultura Afro-Brasileira, bem como a dos
Os conteúdos curriculares que compõem a parte diversificada povos indígenas, presentes obrigatoriamente nos conteúdos de-
do currículo serão definidos pelos sistemas de ensino e pelas esco- senvolvidos no âmbito de todo o currículo escolar, em especial na
las, de modo a complementar e enriquecer o currículo, asseguran- Arte, Literatura e História do Brasil, assim como a História da África,
do a contextualização dos conhecimentos escolares diante das dife- contribuirão para assegurar o conhecimento e o reconhecimento
rentes realidades. É assim que, a partir das Diretrizes Curriculares desses povos para a constituição da nação. Sua inclusão possibilita
Nacionais e dos conteúdos obrigatórios fixados em âmbito nacio- ampliar o leque de referências culturais de toda a população es-
nal, conforme determina a Constituição Federal em seu artigo 210, colar e contribui para a mudança das suas concepções de mundo,
multiplicam-se as propostas e orientações curriculares de Estados transformando os conhecimentos comuns veiculados pelo currículo
e Municípios e, no seu bojo, os projetos político-pedagógicos das e contribuindo para a construção de identidades mais plurais e so-
escolas, revelando a autonomia dos entes federados e das escolas lidárias.
nas suas respectivas jurisdições e traduzindo a pluralidade de pos- A Música constitui conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do
sibilidades na implementação dos currículos escolares diante das
componente curricular Arte, o qual compreende, também, as artes
exigências do regime federativo.
visuais, o teatro e a dança.
Os conteúdos que compõem a base nacional comum e a parte
A Educação Física, componente obrigatório do currículo do En-
diversificada têm origem nas disciplinas científicas, no desenvolvi-
sino Fundamental, integra a proposta político-pedagógica da escola
mento das linguagens, no mundo do trabalho e na tecnologia, na
produção artística, nas atividades desportivas e corporais, na área e será facultativa ao aluno apenas nas circunstâncias previstas na
da saúde, nos movimentos sociais, e ainda incorporam saberes LDB.
como os que advêm das formas diversas de exercício da cidadania, O Ensino Religioso, de matrícula facultativa ao aluno, é parte
da experiência docente, do cotidiano e dos alunos. integrante da formação básica do cidadão e constitui componente
Os conteúdos sistematizados que fazem parte do currículo são curricular dos horários normais das escolas públicas de Ensino Fun-
denominados componentes curriculares, os quais, por sua vez, se damental, assegurado o respeito à diversidade cultural e religiosa
articulam às áreas de conhecimento, a saber: Linguagens, Mate- do Brasil e vedadas quaisquer formas de proselitismo.
mática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas. As áreas de co- Na parte diversificada do currículo do Ensino Fundamental,
nhecimento favorecem a comunicação entre os conhecimentos e será incluído, obrigatoriamente, a partir do 6º ano, o ensino de,
saberes dos diferentes componentes curriculares, mas permitem pelo menos, uma Língua Estrangeira moderna, cuja escolha ficará
que os referenciais próprios de cada componente curricular sejam a cargo da comunidade escolar que poderá optar, entre elas, pela
preservados. Língua Espanhola, nos termos da Lei nº 11.161/2005. É necessário
O currículo da base nacional comum do Ensino Fundamental esclarecer que língua indígena ou outras formas usuais de expres-
deve abranger obrigatoriamente, conforme o artigo 26 da LDB, o são verbal de certas comunidades não podem ocupar o lugar do
estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, o conhecimento do ensino de Língua Estrangeira moderna.
mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmen- Os componentes curriculares e as áreas de conhecimento de-
te a do Brasil, bem como o ensino da Arte, a Educação Física e o vem articular a seus conteúdos, a partir das possibilidades aber-
Ensino Religioso. tas pelos seus referenciais, a abordagem de temas abrangentes e
Os componentes curriculares obrigatórios do Ensino Funda- contemporâneos, que afetam a vida humana em escala global, re-
mental serão assim organizados em relação às áreas de conheci- gional e local, bem como na esfera individual. Temas como saúde,
mento: sexualidade e gênero, vida familiar e social, assim como os direitos
I – Linguagens: das crianças e adolescentes, de acordo com o Estatuto da Criança
a) Língua Portuguesa e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), preservação do meio ambien-
b) Língua materna, para populações indígenas te, nos termos da política nacional de educação ambiental (Lei nº
c) Língua Estrangeira moderna
9.795/99), educação para o consumo, educação fiscal, trabalho,
d) Arte
ciência e tecnologia, diversidade cultural, devem permear o de-
e) Educação Física II – Matemática
senvolvimento dos conteúdos da base nacional comum e da parte
III – Ciências da Natureza IV – Ciências Humanas:
diversificada do currículo. Outras leis específicas, que complemen-
a) História
b) Geografia tam a LDB, determinam ainda que sejam incluídos temas relativos
V - Ensino Religioso à educação para o trânsito (Lei nº 9.503/97) e à condição e direitos
O Ensino Fundamental deve ser ministrado em língua portu- dos idosos, conforme a Lei nº 10.741/2003.
guesa, mas às comunidades indígenas é assegurada também “a A transversalidade constitui uma das maneiras de trabalhar os
utilização de suas línguas maternas e processos próprios de apren- componentes curriculares, as áreas de conhecimento e os temas
dizagem” (Constituição Federal, art. 210, §2º, e art. 32, §3º da LDB). contemporâneos em uma perspectiva integrada, tal como indicam
as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Bási-
ca. Essa abordagem deve ser apoiada por meios adequados. Aos

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órgãos executivos dos sistemas de ensino compete a produção e dade possibilitam outras interpretações, a escola também oferece
disseminação de materiais subsidiários ao trabalho docente, com lugar para que os próprios educandos reinventem o conhecimento
o objetivo de contribuir para a eliminação de discriminações, racis- e criem e recriem cultura.
mos e preconceitos, e conduzir à adoção de comportamentos res- O currículo não se esgota, contudo, nos componentes curricu-
ponsáveis e solidários em relação aos outros e ao meio ambiente. lares e nas áreas de conhecimento. Valores, atitudes, sensibilidades
e orientações de conduta são veiculados não só pelos conhecimen-
Na perspectiva de construção de uma sociedade mais demo- tos, mas por meio de rotinas, rituais, normas de convívio social, fes-
crática e solidária, novas demandas provenientes de movimen- tividades, visitas e excursões, pela distribuição do tempo e organi-
tos sociais e de compromissos internacionais firmados pelo país, zação do espaço, pelos materiais utilizados na aprendizagem, pelo
passam, portanto, a ser contempladas entre os elementos que recreio, enfim, pelas vivências proporcionadas pela escola.
integram o currículo, como as referentes à promoção dos direitos
humanos. Muitas delas tendem a ser incluídas nas propostas curri- Ao se debruçar sobre uma área de conhecimento ou um tema
culares pela adoção da perspectiva multicultural. Entende-se, que de estudo, o aluno aprende, também, diferentes maneiras de racio-
os conhecimentos comuns do currículo criam a possibilidade de dar cinar; é sensibilizado por algum aspecto do tema tratado, constrói
voz a diferentes grupos como os negros, indígenas, mulheres, crian- valores, torna-se interessado ou se desinteressa pelo ensino. Assim,
ças e adolescentes, homossexuais, pessoas com deficiência. a aprendizagem de um componente curricular ou de um problema
Mais ainda: o conhecimento de valores, crenças, modos de a ser investigado, bem como as vivências dos alunos no ambiente
vida de grupos sobre os quais os currículos se calaram durante uma escolar, contribuem para formar e conformar as subjetividades dos
centena de anos sob o manto da igualdade formal, propicia desen- alunos, porque criam disposições para entender a realidade a partir
volver empatia e respeito pelo outro, pelo que é diferente de nós, de certas referências, desenvolvem gostos e preferências, levam os
pelos alunos na sua diversidade étnica, regional, social, individual e alunos a se identificarem com determinadas perspectivas e com as
grupal, e leva a conhecer as razões dos conflitos que se escondem pessoas que as adotam, ou a se afastarem de outras. Desse modo, a
por trás dos preconceitos e discriminações que alimentam as de- escola pode contribuir para que eles construam identidades plurais,
sigualdades sociais, étnico-raciais, de gênero e diversidade sexual, menos fechadas em círculos restritos de referência e para a forma-
das pessoas com deficiência e outras, assim como os processos de ção de sujeitos mais compreensivos e solidários.
dominação que têm, historicamente, reservado a poucos o direto Do ponto de vista da abordagem, reafirma-se a importância do
de aprender, que é de todos. lúdico na vida escolar, não se restringindo sua presença apenas à
A perspectiva multicultural no currículo leva, ainda, ao reco- Arte e à Educação Física. Hoje se sabe que no processo de apren-
nhecimento da riqueza das produções culturais e à valorização das dizagem a área cognitiva está inseparavelmente ligada à afetiva e
realizações de indivíduos e grupos sociais e possibilita a construção à emocional. Pode-se dizer que tanto o prazer como a fantasia e o
de uma autoimagem positiva a muitos alunos que vêm se defron- desejo estão imbricados em tudo o que fazemos. Os estudos sobre
tando constantemente com as condições de fracasso escolar, agra- a vida diária, sobre o homem comum e suas práticas, desenvolvidos
vadas pela discriminação manifesta ou escamoteada no interior da em vários campos do conhecimento e, mais recentemente, pelos
escola. Além de evidenciar as relações de interdependência e de estudos culturais, introduziram no campo do currículo a preocupa-
poder na sociedade e entre as sociedades e culturas, a perspectiva ção de estabelecer conexões entre a realidade cotidiana dos alunos
multicultural tem o potencial de conduzir a uma profunda transfor- e os conteúdos curriculares. Há, sem dúvida, em muitas escolas,
mação do currículo comum. uma preocupação com o prazer que as atividades escolares possam
Quando os conhecimentos escolares se nutrem de temas da proporcionar aos alunos. Não obstante, frequentemente parece
vida social, também é preciso que as escolas se aproximem mais que se tem confundido o prazer que decorre de uma descoberta,
dos movimentos que os alimentam, das suas demandas e enca- de uma experiência estética, da comunhão de idéias, da solução de
minhamentos. Ao lado disso, a interação na escola entre os co- um problema, com o prazer hedonista que tudo reduz à satisfação
nhecimentos de referência disciplinar e aqueles provenientes das do prazer pessoal, alimentado pela sociedade de consumo.
culturas populares pode possibilitar o questionamento de valores
A escola tem tido dificuldades para tornar os conteúdos esco-
subjacentes em cada um deles e a necessidade de revê-los, ao mes-
lares interessantes pelo seu significado intrínseco. É necessário que
mo tempo em que permite deixar clara a lógica que preside cada
o currículo seja planejado e desenvolvido de modo que os alunos
uma dessas formas de conhecimento e que os torna diferentes uns
possam sentir prazer na leitura de um livro, na identificação do jogo
dos outros, mas não menos importantes.
de sombra e luz de uma pintura, na beleza da paisagem, na prepara-
A reinvenção do conhecimento e a apropriação da cultura pe-
ção de um trabalho sobre a descoberta da luz elétrica, na pesquisa
los alunos
sobre os vestígios dos homens primitivos na América e de sentirem
o estranhamento ante as expressões de injustiça social e de agres-
Ao procurar aliviar o peso do individualismo que alimenta as
sociedades contemporâneas, movidas predominantemente pelas são ao meio ambiente.
forças do mercado, a possibilidade de uma cultura comum no en- As escolas devem propiciar ao aluno condições de desenvolver
sino obrigatório tem de traduzir a tensão permanente entre a uni- a capacidade de aprender, como quer a Lei nº 9.394/96, em seu
versalização e a individualização dos conhecimentos (Dussel, 2009). artigo 32, mas com prazer e gosto, tornando suas atividades desa-
A leitura e a escrita, a História, as Ciências, a Arte, propiciam fiadoras, atraentes e divertidas. Isso vale tanto para a base nacio-
aos alunos o encontro com um mundo que é diferente, mais amplo nal comum como para a parte diversificada. Esta última, por estar
e diverso que o seu. Ao não se restringir à transmissão de conheci- voltada para aspectos e interesses regionais e locais, pode incluir
mentos apresentados como verdades acabadas e levar os alunos a a abordagem de temas que proporcionem aos estudantes maior
perceberem que essas formas de entender e de expressar a reali- compreensão e interesse pela realidade em que vivem.

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6. O projeto político-pedagógico que conseguem reverter o jogo e obter melhorias significativas na


qualidade do ensino seguem por caminhos bem variados, mas to-
O currículo do Ensino Fundamental com 9 (nove) anos de dura- das têm em comum um fato: é por meio de um projeto educativo
ção exige a estruturação de um projeto educativo coerente, articula- democrático e compartilhado, em que os professores, a direção, os
do e integrado, de acordo com os modos de ser e de se desenvolver funcionários e a comunidade unem seus esforços e chegam mais
das crianças e dos adolescentes nos diferentes contextos sociais. perto da escola que desejam. Isso não quer dizer que deve recair
O projeto educativo pode ser entendido como uma das formas de sobre as escolas e seus educadores toda a responsabilidade pela
expressão dos propósitos educacionais que pode ser compartilhada mudança da qualidade do ensino. Ao contrário, o esforço comparti-
por diferentes escolas e redes. lhado necessita de forte apoio dos órgãos gestores, dos sistemas de
Ciclos, séries e outras formas de organização a que se refere a ensino e da comunidade; mas ele é realmente insubstituível quan-
Lei nº 9.394/96 serão compreendidos como tempos e espaços in- do projeta o desejo de mudar a escola para melhor.
terdependentes e articulados entre si, ao longo dos 9 (nove) anos. O regimento escolar e o projeto político-pedagógico, em con-
Ao empenhar-se em garantir aos alunos uma educação de qua- formidade com a legislação e as normas vigentes, devem conferir
lidade, todas as atividades da escola e a sua gestão deverão estar espaço e tempo para que os profissionais da escola e, em especial,
articuladas com esse propósito. O processo de enturmação dos os professores, possam participar de reuniões de trabalho coletivo,
alunos, a distribuição de turmas por professor, as decisões sobre planejar e executar as ações educativas de modo articulado, avaliar
o currículo, a escolha dos livros didáticos, a ocupação do espaço, a os trabalhos dos alunos, tomar parte em ações de formação conti-
definição dos horários e outras tarefas administrativas e/ou peda- nuada e estabelecer contatos com a comunidade.
gógicas precisam priorizar o atendimento aos interesses e necessi- No projeto político-pedagógico e no regimento escolar, o alu-
dades dos alunos. no, centro do planejamento curricular, deve ser considerado como
sujeito que atribui sentidos à natureza e à sociedade nas práticas
A gestão democrática e participativa como garantia do direito sociais que vivencia, produzindo cultura, recriando conhecimentos
à educação e construindo sua identidade pessoal e social. Como sujeito de di-
reitos, ele deve tomar parte ativa na discussão e implementação
O projeto político-pedagógico da escola e o seu regimento es- das normas que regem as formas de relacionamento na escola, for-
colar devem ser elaborados por meio de processos participativos necendo indicações relevantes a respeito do que deve ser traba-
próprios da gestão democrática. lhado no currículo ao tempo em que precisa ser incentivado a par-
O projeto político-pedagógico traduz o projeto educativo cons- ticipar das organizações estudantis. Dentro das condições próprias
truído pela comunidade escolar no exercício de sua autonomia com da idade, mesmo as crianças menores poderão manifestar-se, por
base nas características dos alunos, nos profissionais e recursos dis- exemplo, sobre o que gostam e não gostam na escola e também a
poníveis, tendo como referência as orientações curriculares nacio- respeito da escola com que sonham.
nais e dos respectivos sistemas de ensino. Na implementação do projeto político-pedagógico, o cuidar
Deve ser assegurada ampla participação dos profissionais da e o educar, indissociáveis funções da escola, resultarão em ações
escola, da família, dos alunos e da comunidade local na definição integradas que buscam articular-se pedagogicamente no interior
das orientações imprimidas aos processos educativos e nas formas da própria instituição e, também, externamente, com serviços de
de implementá-las. Estas devem ser apoiadas por um processo con- apoio aos sistemas educacionais e com as políticas de outras áreas,
tínuo de avaliação das ações de modo a assegurar a distribuição para assegurar a aprendizagem, o bem-estar e o desenvolvimento
social do conhecimento e contribuir para a construção de uma so- do aluno em todas as suas dimensões.
ciedade democrática e igualitária. As escolas necessitam se articular também com as instituições
O regimento escolar deve assegurar as condições institucionais formadoras, com vistas a assegurar a atualização de seus profissio-
adequadas para a execução do projeto político-pedagógico e a ofer- nais tendo em conta as suas demandas específicas.
ta de uma educação inclusiva e com qualidade social, igualmente
garantida a ampla participação da comunidade escolar na sua ela- Relevância dos conteúdos, integração e abordagens do currí-
boração. culo
É a participação da comunidade que pode dar voz e vez às Quanto ao planejamento curricular, há que se pensar na im-
crianças, aos adolescentes e às suas famílias, e também aos que portância da seleção dos conteúdos e na sua forma de organização.
frequentam a Educação de Jovens e Adultos (EJA), criando oportu- No primeiro caso, é preciso considerar a relevância dos conteúdos
nidades institucionais para que todos os segmentos envolvidos no selecionados para a vida dos alunos e para a continuidade de sua
processo educativo, particularmente aqueles pertencentes aos seg- trajetória escolar, bem como a pertinência do que é abordado em
mentos majoritários da população que encontram grande dificulda- face da diversidade dos estudantes, buscando a contextualização
de de se fazerem ouvir e de fazerem valer os seus direitos, possam dos conteúdos e o seu tratamento flexível. Além do que, será pre-
manifestar os seus anseios e expectativas e possam ser levados em ciso oferecer maior atenção, incentivo e apoio aos que deles de-
conta, tendo como referência a oferta de um ensino de qualidade monstrarem mais necessidade, com vistas a assegurar a igualdade
para todos. de acesso ao conhecimento.
O fato de o projeto político-pedagógico de muitas escolas figu- Em relação à organização dos conteúdos, há necessidade de
rar apenas como um texto formal que cumpre uma exigência bu- superar o caráter fragmentário das áreas, buscando uma integra-
rocrática, não significa que a escola não tenha um projeto próprio. ção no currículo que possibilite tornar os conhecimentos aborda-
Significa que ele é, na verdade, um projeto pedagógico fragmenta- dos mais significativos para os educandos e favorecer a participação
do, em que cada professor se encerra no seu trabalho solitário para ativa de alunos com habilidades, experiências de vida e interesses
desenvolver o currículo à sua maneira. As experiências das escolas muito diferentes.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Os estudiosos do tema têm insistido na crítica aos currículos temporâneas, é frequente que a escola termine alijando os alunos
em que as disciplinas apresentam fronteiras fortemente demar- pertencentes às camadas populares do contato e do aprendizado
cadas, sem conexões e diálogos entre elas. Criticam, também, os de conhecimentos essenciais à sua formação, porque desconhece o
currículos que se caracterizam pela distância que mantêm com a universo material e simbólico das crianças, adolescentes, jovens e
vida cotidiana, pelo caráter abstrato do conhecimento trabalhado adultos e não faz a ponte de que necessitam os alunos para domi-
e pelas formas de avaliação que servem apenas para selecionar e nar os conhecimentos veiculados.
classificar os alunos, estigmatizando os que não se enquadram nas Por sua vez, alguns currículos muito centrados nas culturas dos
suas expectativas. A literatura sobre currículo avança ao propor que alunos, ao proporem às camadas populares uma educação escolar
o conhecimento seja contextualizado, permitindo que os alunos es- calcada sobretudo na espontaneidade e na criatividade, terminam
tabeleçam relações com suas experiências. Evita- se, assim, a trans- por reservar apenas para as elites uma educação que trabalha com
missão mecânica de um conhecimento que termina por obscurecer abstrações e estimula a capacidade de raciocínio lógico. Assim sen-
o seu caráter provisório e que não leva ao envolvimento ativo do do, vale repetir que os segmentos populares, ao lutarem pelo direi-
estudante no processo de aprendizagem (Moreira e Candau, 2008). to à escola e à educação, aspiram apossar-se dos conhecimentos
Os componentes curriculares e as áreas de conhecimento, re- que, transcendendo as suas próprias experiências, lhes forneçam
lacionados a um projeto educativo de longo prazo, como deve ser instrumentos mais complexos de análise da realidade e permitam
o da Educação Básica, concorrem de maneira decisiva para assegu- atingir níveis mais universais de explicação dos fenômenos. São
rar uma sistematização de conhecimentos imprescindível no Ensino esses conhecimentos que os mecanismos internos de exclusão na
Fundamental de 9 (nove) anos, garantindo-lhe continuidade e con- escola têm reservado somente às minorias, mas que é preciso as-
sistência. Mas eles certamente devem ser trabalhados por diversas segurar a toda a população. Ainda quanto à abordagem do currí-
abordagens integradoras. Continuidade e consistência não querem culo, os professores levarão em conta a diversidade sociocultural
dizer uniformidade e padronização de sequências e conteúdos. da população escolar, as desigualdades de acesso ao consumo de
Têm sido numerosas e variadas as experiências das escolas bra- bens culturais e a multiplicidade de interesses e necessidades apre-
sileiras quanto ao esforço de integração do currículo. Há propostas sentados pelos estudantes no desenvolvimento de metodologias e
curriculares ordenadas em torno de grandes eixos articuladores; ex- estratégias variadas que melhor respondam às diferença de apren-
periências de redes que trabalham projetos de interdisciplinaridade dizagem entre os alunos e às suas demandas.
com base em temas geradores formulados a partir de problemas A criação de um ambiente propício à aprendizagem na esco-
detectados na comunidade; as que procuram enredar esses temas la terá como base o trabalho compartilhado e o compromisso dos
às áreas de conhecimento; os chamados currículos em rede; as que professores e dos demais profissionais com a aprendizagem dos
propõem a integração do currículo por meio de conceitos-chave ou alunos; o atendimento às necessidades específicas de aprendiza-
ainda de conceitos-nucleares que permitem trabalhar as questões gem de cada um mediante formas de abordagem apropriadas; a
cognitivas e as questões culturais numa perspectiva transversal. utilização dos recursos disponíveis na escola e nos espaços sociais e
culturais do entorno; a contextualização dos conteúdos, asseguran-
Atualmente, estão muito disseminadas nas escolas concepções
do que a aprendizagem seja relevante e socialmente significativa; e
diversas de projetos de trabalho, que se espera, devem enriquecer
o cultivo do diálogo e de relações de parceria com as famílias.
o currículo tornando os conhecimentos escolares mais vivos e de-
Para tanto, é fundamental contar com o apoio solidário dos
safiadores para os alunos. Entretanto, é importante que os vários
sistemas de ensino e das próprias escolas no provimento de ade-
projetos em andamento em muitas escolas estejam articulados ao
quadas condições de trabalho e de outros recursos, de acordo com
tratamento dos conteúdos curriculares e às áreas de conhecimen-
os padrões mínimos de qualidade referidos no inciso IX, do art. 4º
to, evitando a fragmentação e a dispersão provocadas por iniciati-
da LDB, e objeto de manifestação deste colegiado no Parecer CNE/
vas com propósitos diferentes e que não se comunicam entre si. É
CEB nº 8/2010.
nesse sentido que deve ser operacionalizada a orientação contida
Os sistemas de ensino, as escolas e os professores, com o apoio
nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, das famílias e da comunidade, devem envidar esforços para asse-
quando preconizam o tratamento dos conteúdos curriculares por gurar o progresso contínuo dos alunos no que se refere ao seu de-
meio de projetos e que orientam que, para eles, sejam destinados senvolvimento pleno e à aquisição de aprendizagens significativas,
pelo menos 20% da carga horária de trabalho anual. lançando mão de todos os recursos disponíveis e criando renovadas
O fundamental no esforço de integração parece ser justamente oportunidades para evitar que a trajetória escolar discente seja re-
a necessária disposição, por parte dos professores, de trabalhar jun- tardada ou indevidamente interrompida. Devem, portanto, adotar
tos, de compartilhar com os colegas os acertos e as indagações que as providências necessárias para que a operacionalização do princí-
decorrem de posturas e práticas ainda minoritárias no país. pio da continuidade não seja traduzida como “promoção automáti-
Os esforços de integração têm buscado maior conexão com os ca” de alunos de um ano, série ou ciclo para o seguinte, e para que o
problemas que os alunos e sua comunidade enfrentam, ou ainda combate à repetência não se transforme em descompromisso com
com as demandas sociais e institucionais mais amplas que a escola o ensino e a aprendizagem.
deve responder. Nesse processo, é preciso que os conteúdos cur- A organização do trabalho pedagógico deve levar em conta a
riculares não sejam banalizados. Algumas escolas, por vezes, têm mobilidade e a flexibilização dos tempos e espaços escolares, a di-
caído em extremos: a valorização apenas dos conteúdos escolares versidade nos agrupamentos de alunos, as diversas linguagens ar-
de referência disciplinar ou certa rejeição a esses conteúdos, sob o tísticas, a diversidade de materiais, os variados suportes literários,
pretexto de que é preciso evitar o “conteudismo”. A literatura edu- as atividades que mobilizem o raciocínio, as atitudes investigativas,
cacional tem mostrado que, em nome de um ensino que melhor a articulação entre a escola e a comunidade e o acesso aos espaços
responda às exigências de competitividade das sociedades con- de expressão cultural.

189
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

As articulações do Ensino Fundamental e a continuidade da tra- Evidenciaram, também, que muito do que se aprende na escola é
jetória escolar dos alunos aprendido nas interações dos próprios alunos e advogam, há algu-
mas décadas, que a heterogeneidade das turmas pode se converter
Um desafio com que se depara o Ensino Fundamental diz res- em uma vantagem, tanto do ponto de vista cognitivo, quanto do
peito à sua articulação com as demais etapas da educação, espe- afetivo e do cultural, pois favorece a ajuda entre os educandos, esti-
cialmente com a Educação Infantil e com o Ensino Médio. A falta mula-os mutuamente e enriquecendo o seu convívio.
de articulação entre as diferentes etapas da Educação Básica tem
criado barreiras que dificultam o percurso escolar dos alunos. Para A entrada de crianças de 6 (seis) anos no Ensino Fundamental
a sua superação é preciso que o Ensino Fundamental passe a incor-
porar tanto algumas práticas que integram historicamente a Edu- A entrada de crianças de 6 (seis) anos no Ensino Fundamen-
cação Infantil, assim como traga para o seu interior preocupações tal implica assegurar-lhes garantia de aprendizagem e desenvolvi-
compartilhadas por grande parte dos professores do Ensino Médio, mento pleno, atentando para a grande diversidade social, cultural
como a necessidade de sistematizar conhecimentos, de proporcio- e individual dos alunos, o que demanda espaços e tempos diver-
nar oportunidades para a formação de conceitos e a preocupação sos de aprendizagem. Na perspectiva da continuidade do processo
com o desenvolvimento do raciocínio abstrato, dentre outras. educativo proporcionada pelo alargamento da Educação Básica, o
Não menos necessária é uma integração maior entre os anos Ensino Fundamental terá muito a ganhar se absorver da Educação
iniciais e os anos finais do Ensino Fundamental. Há que superar os Infantil a necessidade de recuperar o caráter lúdico da aprendiza-
problemas localizados na passagem das séries iniciais e a das séries gem, particularmente entre as crianças de 6 (seis) a 10 (dez) anos
finais dessa etapa, decorrentes de duas diferentes tradições de en- que frequentam as suas classes, tornando as aulas menos repetiti-
sino. Os alunos, ao mudarem do professor generalista dos anos ini- vas, mais prazerosas e desafiadoras e levando à participação ativa
ciais para os professores especialistas dos diferentes componentes dos alunos. A escola deve adotar formas de trabalho que propor-
curriculares, costumam se ressentir diante das muitas exigências cionem maior mobilidade às crianças na sala de aula, explorar com
que têm de atender, feitas pelo grande número de docentes dos elas mais intensamente as diversas linguagens artísticas, a começar
anos finais. Essa transição acentua a necessidade de um planeja- pela literatura, utilizar mais materiais que proporcionem aos alu-
mento curricular integrado e sequencial e abre a possibilidade de nos oportunidade de racionar manuseando-os, explorando as suas
adoção de formas inovadoras a partir do 6º ano, a exemplo do que características e propriedades, ao mesmo tempo em que passa a
já o fazem algumas escolas e redes de ensino. sistematizar mais os conhecimentos escolares.
A passagem dos anos iniciais para os anos finais do Ensino Fun- Além disso, é preciso garantir que a passagem da Pré-Escola
damental apresenta ainda mais uma dificuldade: o intenso proces- para o Ensino Fundamental não leve a ignorar os conhecimentos
so de descentralização ocorrido na última década acentuou a cisão que a criança já adquiriu. Igualmente, o processo de alfabetização e
dessa etapa da escolaridade, levando à concentração da oferta dos letramento, com o qual ela passa a estar mais sistematicamente en-
anos iniciais, majoritariamente nas redes municipais, e dos anos volvida, não pode sofrer interrupção ao final do primeiro ano dessa
finais, nas redes mantidas pelos Estados. O fato requer especial nova etapa da escolaridade.
atenção de Estados e Municípios ao planejarem conjuntamente o Assim como há crianças que depois de alguns meses estão alfa-
atendimento à demanda, a fim de evitar obstáculos ao acesso dos betizadas, outras requerem de dois a três anos para consolidar suas
alunos que devem mudar de uma rede para outra para completar o aprendizagens básicas, o que tem a ver, muito frequentemente,
Ensino Fundamental com seu convívio em ambientes em que os usos sociais da leitura e
As articulações no interior do Ensino Fundamental, e deste com escrita são intensos ou escassos, assim como com o próprio envol-
as etapas que o antecedem e o sucedem na Educação Básica, são, vimento da criança com esses usos sociais na família e em outros
pois, elementos fundamentais para o bom desempenho dos estu- locais fora da escola. Entretanto, mesmo entre as crianças das fa-
dantes e a continuidade dos seus estudos. mílias de classe média, em que a utilização da leitura e da escrita é
Um dos sérios entraves ao percurso escolar dos alunos tem mais corrente, verifica-se, também, grande variação no tempo de
sido a cultura da repetência que impregna as práticas escolares. Há aprendizagem dessas habilidades pelos alunos.
muitos anos, diferentes estudos têm mostrado que a repetência Para as crianças que entram pela primeira vez na escola aos 6
não é o melhor caminho para assegurar que os alunos aprendam. (seis) anos, o período requerido para esse aprendizado pode ser
Ao contrário, a repetência, além de desconsiderar o que o aluno mais prolongado, mas o esperado é que, com a ampliação da obri-
já aprendeu, geralmente não lhe oferece oportunidade de superar gatoriedade escolar para a faixa etária dos 4 (quatro) aos 17 (dezes-
as dificuldades que apresentava e termina por desinteressá-lo dos sete) anos de idade, todas as crianças se beneficiem. Entretanto,
estudos ainda mais, aumentando a probabilidade de que repita os anos iniciais do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos não se
novamente aquela série e contribuindo para baixar a sua autoes- reduzem apenas à alfabetização e ao letramento. Desde os 6 (seis)
tima. Mas aqui é preciso enfatizar, mais uma vez, que o combate à anos de idade, os conteúdos dos demais componentes curriculares
repetência não pode significar descompromisso com o ensino e a devem também ser trabalhados. São eles que, ao descortinarem
aprendizagem. às crianças o conhecimento do mundo por meio de novos olhares,
A enturmação dos alunos por idade e não por nível de conhe- lhes oferecem oportunidades de exercitar a leitura e a escrita de um
cimento passou a ser uma alternativa ao que costumava ser feito modo mais significativo.
quando as escolas dividiam as turmas de alunos em fracas, médias Há que lembrar, porém, que os anos iniciais do Ensino Fun-
e fortes, as quais terminavam prejudicando especialmente os con- damental têm se constituído, historicamente, em um dos maiores
siderados mais fracos e aumentando a defasagem entre eles e os obstáculos interpostos aos alunos para prosseguirem aprendendo.
demais. Pesquisas mostraram a impossibilidade de formar turmas Há não muito tempo atrás, por décadas e décadas, cerca de metade
homogêneas, em vista das diferenças existentes entre os alunos. dos alunos repetiam a primeira série, sendo barrados logo no início

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

da escolarização por não estarem completamente alfabetizados. Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola, no uso de sua
Além disso, a maioria dos alunos matriculados no ensino obriga- autonomia, fizerem opção pelo regime seriado, é necessário consi-
tório não conseguia chegar ao seu final por causa da repetência. derar os três anos iniciais do Ensino Fundamental como um bloco
Os poucos que o concluíam levavam, em média, perto de 12 (doze) pedagógico ou um ciclo sequencial não passível de interrupção, vol-
anos, ou seja, o tempo previsto para cursar o Ensino Fundamental e tado para ampliar a todos os alunos as oportunidades de sistema-
o Ensino Médio. Mesmo nos dias atuais, em que baixaram conside- tização e aprofundamento das aprendizagens básicas, imprescindí-
ravelmente os índices de repetência escolar no país, esses índices veis para o prosseguimento dos estudos.
ainda figuram entre os maiores do mundo. E a repetência, como se Os três anos iniciais do Ensino Fundamental devem assegurar:
sabe, não gera qualidade! a) a alfabetização e o letramento;
As maiores vítimas da repetência têm sido as crianças e ado- b) o desenvolvimento das diversas formas de expressão, in-
lescentes pobres, mestiços e negros, e, mais recentemente, tem-se cluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, a Literatura, a Música
observado, ainda, que são os alunos do sexo masculino, pobres e e demais artes, a Educação Física, assim como o aprendizado da
negros, os que mais ficam em recuperação e apresentam atraso Matemática, de Ciências, de História e de Geografia;
escolar. Esse dado remete às implicações do currículo com as de- c) a continuidade da aprendizagem, tendo em conta a comple-
sigualdades sociais, étnico-raciais e de gênero. A despeito do gran- xidade do processo de alfabetização e os prejuízos que a repetência
de esforço feito pelas famílias de baixa renda para manter os filhos pode causar no Ensino Fundamental como um todo, e, particular-
na escola, depois de muito repetirem, um grande número deles se mente, na passagem do primeiro para o segundo ano de escolarida-
evade. de e deste para o terceiro.
A proposta de organização dos três primeiros anos do Ensino Ainda que já dito em termos mais gerais, vale enfatizar que no
Fundamental em um único ciclo exige mudanças no currículo para início do Ensino Fundamental, atendendo às especificidades do de-
melhor trabalhar com a diversidade dos alunos e permitir que eles senvolvimento infantil, a avaliação deverá basear-se, sobretudo, em
progridam na aprendizagem. Ela também questiona a concepção procedimentos de observação e registro das atividades dos alunos
linear de aprendizagem que tem levado à fragmentação do currí- e portfólios de seus trabalhos, seguidos de acompanhamento contí-
culo e ao estabelecimento de sequências rígidas de conhecimen- nuo e de revisão das abordagens adotadas, sempre que necessário.
tos, as quais, durante muito tempo, foram evocadas para justificar A avaliação
a reprovação nas diferentes séries. A promoção dos alunos deve
vincular-se às suas aprendizagens; não se trata, portanto, de pro- Quanto aos processos avaliativos, parte integrante do currícu-
moção automática. Para garantir a aprendizagem, as escolas de- lo, há que partir do que determina a LDB em seus artigos 12, 13 e
verão construir estratégias pedagógicas para recuperar os alunos 24, cujos comandos genéricos prescrevem o zelo pela aprendiza-
que apresentarem dificuldades no seu processo de construção do gem dos alunos, a necessidade de prover os meios e as estratégias
conhecimento. para a recuperação daqueles com menor rendimento e consideram
Entre as iniciativas de redes que adotaram ciclos, muitas pro- a prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos, bem
postas terminaram por incorporar algumas das formulações mais como os resultados ao longo do período sobre os de eventuais pro-
avançadas do ideário contemporâneo da educação, com vistas a ga- vas finais.
rantir o sucesso dos alunos na aprendizagem, combater a exclusão A avaliação do aluno, a ser realizada pelo professor e pela es-
e assegurar que todos tenham, efetivamente, direito a uma edu- cola, é redimensionadora da ação pedagógica e deve assumir um
cação de qualidade. Movimentos de renovação pedagógica têm-se caráter processual, formativo e participativo, ser contínua, cumula-
esforçado por trabalhar com concepções que buscam a integração tiva e diagnóstica.
das abordagens do currículo e uma relação mais dialógica entre as A avaliação formativa, que ocorre durante todo o processo edu-
vivências dos alunos e o conhecimento sistematizado. cacional, busca diagnosticar as potencialidades do aluno e detectar
Os ciclos assim concebidos concorrem, juntamente com ou- problemas de aprendizagem e de ensino. A intervenção imediata
tros dispositivos da escola calcados na sua gestão democrática, no sentido de sanar dificuldades que alguns estudantes evidenciem
para superar a concepção de docência solitária do professor que é uma garantia para o seu progresso nos estudos. Quanto mais se
se relaciona exclusivamente com a sua turma, substituindo-a pela atrasa essa intervenção, mais complexo se torna o problema de
docência solidária, que considera o conjunto de professores de um aprendizagem e, consequentemente, mais difícil se torna saná-lo.
ciclo responsável pelos alunos daquele ciclo, embora não eliminem A avaliação contínua pode assumir várias formas, tais como a
o professor de referência que mantém um contato mais prolongado observação e o registro das atividades dos alunos, sobretudo nos
com a classe. Aposta-se, assim, que o esforço conjunto dos profes- anos iniciais do Ensino Fundamental, trabalhos individuais, orga-
sores, apoiado por outras instâncias dos sistemas escolares, contri- nizados ou não em portfólios, trabalhos coletivos, exercícios em
bua para criar uma escola menos seletiva e capaz de proporcionar a classe e provas, dentre outros. Essa avaliação constitui um instru-
cada um e a todos o atendimento mais adequado a que têm direito. mento indispensável do professor na busca do sucesso escolar de
Para evitar que as crianças de 6 (seis) anos se tornem reféns seus alunos e pode indicar, ainda, a necessidade de atendimento
prematuros da cultura da repetência e que não seja indevidamente complementar para enfrentar dificuldades específicas, a ser ofere-
interrompida a continuidade dos processos educativos levando à cido no mesmo período de aula ou no contraturno, o que requer
baixa autoestima do aluno e, sobretudo, para assegurar a todas as flexibilidade dos tempos e espaços para aprender na escola e tam-
crianças uma educação de qualidade, recomenda-se enfaticamente bém flexibilidade na atribuição de funções entre o corpo docente.
que os sistemas de ensino adotem nas suas redes de escolas a or- Os projetos político-pedagógicos das escolas e os regimentos
ganização em ciclo dos três primeiros anos do Ensino Fundamental, escolares deverão, pois, obrigatoriamente, disciplinar os tempos e
abrangendo crianças de 6 (seis), 7 (sete) e 8 (oito) anos de idade e espaços de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo,
instituindo um bloco destinado à alfabetização. tal como determina a LDB, e prever a possibilidade de aceleração de

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

estudos para os alunos com atraso escolar. Há ainda que assegurar cidadania, além do próprio ensino de História e de Geografia e o de-
tempos e espaços de reposição dos conteúdos curriculares ao lon- senvolvimento das diversas áreas de expressão. É importante ainda
go do ano letivo aos alunos com frequência insuficiente, evitando, considerar que os resultados da educação demoram, às vezes, lon-
sempre que possível, a retenção por faltas. gos períodos de tempo para se manifestar ou se manifestam em
Considerando que a avaliação implica sempre um julgamento outros campos da vida humana. Assim sendo, as referências para o
de valor sobre o aproveitamento do aluno, cabe, contudo alertar currículo devem continuar sendo as contidas nas propostas políti-
que ela envolve frequentemente juízos prévios e não explicitados co-pedagógicas das escolas, articuladas às orientações e propostas
pelo professor acerca do que o aluno é capaz de aprender. Esses curriculares dos sistemas, sem reduzir os seus propósitos ao que é
pré- julgamentos, muitas vezes baseados em características que avaliado pelos testes de larga escala.
não são de ordem cognitiva e sim social, conduzem o professor a Os resultados de aprendizagem dos alunos devem ser aliados,
não estimular devidamente certos alunos que, de antemão, ele por sua vez, à avaliação das escolas e de seus professores, tendo
acredita que não irão corresponder às expectativas de aprendiza- em conta os insumos básicos necessários à educação de qualida-
gem. O resultado é que, por falta de incentivo e atenção docente, de para todos nesta etapa da educação, consideradas, inclusive, as
tais alunos terminam por confirmar as previsões negativas sobre o suas modalidades e as formas diferenciadas de atendimento como
seu desempenho. a Educação do Campo, a Educação Escolar Indígena, a Educação Es-
Mas a avaliação não é apenas uma forma de julgamento sobre colar Quilombola e as escolas de tempo integral.
o processo de aprendizagem do aluno, pois também sinaliza proble- A melhoria dos resultados de aprendizagem dos alunos e da
mas com os métodos, as estratégias e abordagens utilizados pelo
qualidade da educação obriga os sistemas de ensino a incrementa-
professor. Diante de um grande número de problemas na apren-
rem os dispositivos da carreira e de condições de exercício e valo-
dizagem de determinado assunto, o professor deve ser levado a
rização do magistério e dos demais profissionais da educação, e a
pensar que houve falhas no processo de ensino que precisam ser
oferecerem os recursos e apoios que demandam as escolas e seus
reparadas.
A avaliação proporciona ainda oportunidade aos alunos de profissionais para melhorar a sua atuação. Obriga, também, as es-
melhor se situarem em vista de seus progressos e dificuldades, e colas a uma apreciação mais ampla das oportunidades educativas
aos pais, de serem informados sobre o desenvolvimento escolar por elas oferecidas aos alunos, reforçando a sua responsabilidade
de seus filhos, representando também uma prestação de contas de propiciar renovadas oportunidades e incentivos aos que deles
que a escola faz à comunidade que atende. Esse espaço de diálogo necessitem.
com os próprios alunos – e com as suas famílias, no caso do Ensi-
no Fundamental regular – sobre o processo de aprendizagem e o 7. Educação em tempo integral
rendimento escolar que tem consequência importante na trajetória
de estudos de cada um, precisa ser cultivado pelos educadores e é A escola brasileira é uma das que possui menor número de
muito importante na criação de um ambiente propício à aprendiza- horas diárias de efetivo trabalho escolar. Não obstante, há reitera-
gem. Além disso, a transparência dos processos avaliativos assegura das manifestações da legislação apontando para o seu aumento na
a possibilidade de discussão dos referidos resultados por parte de perspectiva de uma educação integral (Constituição Federal, arti-
pais e alunos, inclusive junto a instâncias superiores à escola, no gos 205, 206 e 227; Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº
sentido de preservar os direitos destes, tal como determina o Esta- 9.089/90; Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96,
tuto da Criança e do Adolescente. art. 34; Plano Nacional de Educação, Lei nº 10.172/2001; e Fundo
Os procedimentos de avaliação adotados pelos professores e de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valori-
pela escola serão articulados às avaliações realizadas em nível na- zação dos Profissionais da Educação, Lei nº 11.494/2007). Além do
cional e às congêneres nos diferentes Estados e Municípios, criadas mais, já existem variadas experiências de escola em período inte-
com o objetivo de subsidiar os sistemas de ensino e as escolas nos gral em diferentes redes e sistemas de ensino no país. Diante desse
esforços de melhoria da qualidade da educação e da aprendizagem quadro, considera-se que a proposta educativa da escola de tempo
dos alunos. A análise do rendimento dos alunos com base nos indi- integral poderá contribuir significativamente para a melhoria da
cadores produzidos por essas avaliações deve auxiliar os sistemas qualidade da educação e do rendimento escolar, ao passo em que
de ensino e a comunidade escolar a redimensionarem as práticas se exorta os sistemas de ensino a ampliarem a sua oferta. Esse tipo
educativas com vistas ao alcance de melhores resultados. de escola, quando voltada prioritariamente para o atendimento das
Entretanto, a ênfase excessiva nos resultados das avaliações
populações com alto índice de vulnerabilidade social que, não por
externas – que oferecem indicações de uma parcela restrita do que
acaso, encontram-se concentradas em instituições com baixo ren-
é trabalhado na escola – pode produzir a inversão das referências
dimento dos alunos, situadas em capitais e regiões metropolitanas
para o trabalho pedagógico, o qual tende a abandonar as propos-
densamente povoadas, poderá dirimir as desigualdades de acesso à
tas curriculares e orientar-se apenas pelo que é avaliado por esses
sistemas. Desse modo, a avaliação deixa de ser parte do desenvol- educação, ao conhecimento e à cultura e melhorar o convívio social.
vimento do currículo, passando a ocupar um lugar indevido no pro- O currículo da escola de tempo integral, concebido como um
cesso educacional. Isso ocasiona outras consequências, como a re- projeto educativo integrado, deve prever uma jornada escolar de,
dução do ensino à aprendizagem daquilo que é exigido nos testes. A no mínimo, 7 (sete) horas diárias. A ampliação da jornada pode-
excessiva preocupação com os resultados desses testes sem maior rá ser feita mediante o desenvolvimento de atividades como as de
atenção aos processos pelos quais as aprendizagens ocorrem, tam- acompanhamento e apoio pedagógico, reforço e aprofundamento
bém termina obscurecendo aspectos altamente valorizados nas da aprendizagem, experimentação e pesquisa científica, cultura e
propostas da educação escolar que não são mensuráveis, como, por artes, esporte e lazer, tecnologias da comunicação e informação,
exemplo, a autonomia, a solidariedade, o compromisso político e a afirmação da cultura dos direitos humanos, preservação do meio

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

ambiente, promoção da saúde, entre outras, articuladas aos com- As escolas das populações do campo, dos povos indígenas e
ponentes curriculares e áreas de conhecimento, bem como as vi- dos quilombolas, ao contar com a participação ativa das comunida-
vências e práticas socioculturais. des locais nas decisões referentes ao currículo, estarão ampliando
As atividades serão desenvolvidas dentro do espaço escolar, as oportunidades de:
conforme a disponibilidade da escola, ou fora dele, em espaços I – reconhecimento de seus modos próprios de vida, suas cul-
distintos da cidade ou do território em que está situada a unidade turas, tradições e memórias coletivas, como fundamentais para a
escolar, mediante a utilização de equipamentos sociais e culturais constituição da identidade das crianças, adolescentes e adultos;
aí existentes e o estabelecimento de parcerias com órgãos ou enti- II – valorização dos saberes e do papel dessas populações na
dades locais, sempre de acordo com o projeto político-pedagógico produção de conhecimentos sobre o mundo, seu ambiente natural
de cada escola. e cultural, assim como as práticas ambientalmente sustentáveis que
Ao restituir a condição de ambiente de aprendizagem à comu- utilizam;
nidade e à cidade, a escola estará contribuindo para a construção III – reafirmação do pertencimento étnico, no caso das comu-
de redes sociais na perspectiva das cidades educadoras. nidades quilombolas e dos povos indígenas, e do cultivo da língua
materna na escola para estes últimos, como elementos importantes
Os órgãos executivos e normativos dos sistemas de ensino da de construção da identidade;
IV – flexibilização, se necessário, do calendário escolar, das ro-
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios assegu-
tinas e atividades, tendo em conta as diferenças relativas às ativida-
rarão que o atendimento dos alunos na escola de tempo integral
des econômicas e culturais, mantido o total de horas anuais obriga-
das redes públicas possua infraestrutura adequada e pessoal qua-
tórias no currículo;
lificado. E para que a oferta de educação nesse tipo de escola não
V – superação das desigualdades sociais e escolares que afetam
se resuma a uma simples justaposição de tempos e espaços dispo- essas populações, tendo por garantia o direito à educação;
nibilizados em outros equipamentos de uso social, como quadras
esportivas e espaços para práticas culturais, é imprescindível que Os projetos político-pedagógicos das escolas do campo, indíge-
atividades programadas no projeto político-pedagógico da escola nas e quilombolas devem contemplar a diversidade nos seus aspec-
de tempo integral sejam de presença obrigatória e, em face delas, o tos sociais, culturais, políticos, econômicos, estéticos, de gênero,
desempenho dos alunos seja passível de avaliação. geração e etnia.
As escolas que atendem essas populações deverão ser devi-
8. Educação do Campo, Educação Escolar Indígena e Educação damente providas pelos sistemas de ensino de materiais didáticos
Escolar Quilombola e educacionais que subsidiem o trabalho com a diversidade, bem
como de recursos que assegurem aos alunos o acesso a outros bens
A Educação do Campo, tratada como educação rural na legisla- culturais e lhes permitam estreitar o contato com outros modos de
ção brasileira, incorpora os espaços da floresta, da pecuária, das mi- vida e outras formas de conhecimento.
nas e da agricultura e se estende também aos espaços pesqueiros, A participação das populações locais é importante também
caiçaras, ribeirinhos e extrativistas, conforme as Diretrizes para a para subsidiar as redes escolares e os sistemas de ensino quanto à
Educação Básica do Campo (Parecer CNE/CEB nº 36/2001 e Resolu- produção e oferta de materiais escolares e no que diz respeito ao
ção CNE/CEB nº 1/2002, e Parecer CNE/CEB nº 3/2008 e Resolução transporte e a equipamentos que atendam as características am-
CNE/CEB nº 2/2008). bientais e socioculturais das comunidades e as necessidades locais
A Educação Escolar Indígena e a Educação Escolar Quilom- e regionais.
bola são, respectivamente, oferecidas em unidades educacionais
inscritas em suas terras e culturas e para essas populações estão 9. Educação Especial
assegurados direitos específicos na Constituição Federal que lhes
permitem valorizar e preservar suas culturas e reafirmar o seu per- Intensificando o processo de inclusão e buscando a universa-
tencimento étnico. lização do atendimento, as escolas públicas e privadas deverão,
As escolas indígenas, atendendo a normas e ordenamentos também, contemplar a melhoria das condições de acesso e de
permanência dos alunos com deficiência, transtornos globais do
jurídicos próprios e a Diretrizes Nacionais específicas, terão ensi-
desenvolvimento e altas habilidades nas classes comuns do ensi-
no intercultural e bilíngue, com vistas à afirmação e manutenção
no regular. Os recursos de acessibilidade, como o nome já indica,
da diversidade étnica e linguística; assegurarão a participação da
asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos com defi-
comunidade no seu modelo de edificação, organização e gestão; e
ciência e mobilidade reduzida, por meio da utilização de materiais
deverão contar com materiais didáticos produzidos de acordo com didáticos, dos espaços, mobiliários e equipamentos, dos sistemas
o contexto cultural de cada povo (Resolução CNE/ CEB nº 3/99). de comunicação e informação, dos transportes e outros serviços.
O detalhamento da Educação Escolar Quilombola deverá ser Além disso, com o objetivo de ampliar o acesso ao currículo,
definido pelo CNE por meio de Diretrizes Curriculares Nacionais es- proporcionando independência aos educandos para a realização de
pecíficas. tarefas e favorecendo a sua autonomia, foi criado, pelo Decreto nº
O atendimento escolar às populações do campo, povos indí- 6.571/2008, o atendimento educacional especializado aos alunos
genas e quilombolas requer respeito às suas peculiares condições da Educação Especial, posteriormente regulamentado pelo Parecer
de vida e pedagogias condizentes com as suas formas próprias de CNE/CEB nº 13/2009 e pela Resolução CNE/CEB nº 4/2009. Esse
produzir conhecimentos, observadas as Diretrizes Curriculares Na- atendimento, a ser expandido gradativamente com o apoio dos
cionais Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 órgãos competentes, não substitui a escolarização regular, sendo
e Resolução CNE/ CEB nº 4/2010). complementar à ela. Ele será oferecido no contraturno, em salas

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

de recursos multifuncionais na própria escola, em outra escola ou um patamar igualitário de formação, bem como a sua disposição
em centros especializados e será implementado por professores e adequada nos tempos e espaços educativos em face das necessida-
profissionais com formação especializada, de acordo com plano de des específicas dos estudantes.
atendimento aos alunos que identifique suas necessidades educa- Estima-se que a inserção de EJA no Sistema Nacional de Ava-
cionais específicas, defina os recursos necessários e as atividades a liação da Educação Básica, incluindo, além da avaliação do rendi-
serem desenvolvidas. mento dos alunos, a aferição de indicadores institucionais das redes
públicas e privadas, concorrerá para a universalização e a melhoria
10. Educação de Jovens e Adultos da qualidade do processo educativo.

A Educação de Jovens e Adultos (EJA), voltada para a garantia 11. O compromisso solidário das redes e sistemas de ensino
de formação integral, abrange da alfabetização às diferentes etapas com a implementação destas Diretrizes
da escolarização ao longo da vida, inclusive àqueles em situação
de privação de liberdade, sendo pautada pela inclusão e pela qua- Com base nos elementos contidos no presente Parecer, pro-
lidade social. Ela requer um processo de gestão e financiamento põe-se o Projeto de Resolução anexo, contendo Diretrizes destina-
que lhe assegure isonomia em relação ao Ensino Fundamental re- das a contribuir para:
gular, um modelo pedagógico próprio que permita a apropriação a) ampliar os debates sobre as concepções curriculares para
e contextualização das Diretrizes Curriculares Nacionais, a implan- o Ensino Fundamental e levar a questionamentos e mudanças no
tação de um sistema de monitoramento e avaliação, uma política interior de cada escola, visando assegurar o direito de todos a uma
de formação permanente de seus professores, formas apropriadas educação de qualidade;
para a destinação à EJA de profissionais experientes e qualificados b) subsidiar a análise e elaboração das propostas curriculares
nos processos de escolha e atribuição de aulas nas redes públicas e dos sistemas e redes de ensino, dos projetos político-pedagógicos
maior alocação de recursos para que seja ministrada por docentes das escolas e dos regimentos escolares, tendo em vista a implemen-
licenciados. tação do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos;
Conforme a Resolução CNE/CEB nº 3/2010, que institui Diretri- c) fortalecer a constituição de ambientes educativos na escola
zes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos, a idade mí- propícios à aprendizagem, reafirmando a instituição escolar como
nima para ingresso nos cursos de EJA e para a realização de exames espaço do conhecimento, do convívio e da sensibilidade, dimen-
de conclusão de EJA será de 15 (quinze) anos completos. sões imprescindíveis ao exercício da cidadania;
d) consolidar a instituição escolar como espaço democrático
Considerada a prioridade de atendimento à escolarização obri- que reconhece e respeita a diversidade;
gatória, para que haja oferta capaz de contemplar o pleno atendi- e) fortalecer o regime de colaboração entre as instâncias na
mento dos adolescentes, jovens e adultos na faixa dos 15 (quinze) oferta do ensino de qualidade para todos.
anos ou mais, com defasagem idade/série, tanto no ensino regular,
quanto em EJA, assim como nos cursos destinados à formação pro- E tendo em vista as responsabilidades compartilhadas pelos
fissional, torna-se necessário: entes federados na manutenção e desenvolvimento do ensino, tais
a) fazer a chamada ampliada dos estudantes em todas as mo- Diretrizes devem indicar que aos sistemas e redes de ensino cabe
dalidades do Ensino Fundamental; prover:
b) apoiar as redes e os sistemas de ensino no estabelecimen- a) os recursos necessários à ampliação dos tempos e espaços
to de política própria para o atendimento desses estudantes que dedicados ao trabalho educativo nas escolas e a distribuição de ma-
considere as suas potencialidades, necessidades, expectativas em teriais didáticos e escolares adequados;
relação à vida, às culturas juvenis e ao mundo do trabalho, inclusive b) a formação continuada dos professores e demais profissio-
com programas de aceleração da aprendizagem, quando necessá- nais da escola, em estreita articulação com as instituições responsá-
rio; veis pela formação inicial, dispensando especiais esforços quanto à
c) incentivar a oferta de EJA nos períodos diurno e noturno, formação dos docentes das modalidades específicas do Ensino Fun-
com avaliação em processo. damental e àqueles que trabalham nas escolas do campo, indígenas
Os cursos de EJA, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, se- e quilombolas;
rão presenciais e a sua duração ficará a critério de cada sistema de c) a coordenação do processo de implementação do currícu-
ensino, nos termos do Parecer CNE/CEB nº 29/2006, ao qual remete lo, evitando a fragmentação dos projetos educativos no interior de
a Resolução CNE/CEB nº 3./2010. Nos anos finais, ou seja, do 6º ao uma mesma realidade educacional;
9º ano, os cursos, poderão ser presenciais ou a distância, quando d) o acompanhamento e a avaliação dos programas e ações
devidamente credenciados, e terão 1600 (mil e seiscentas ) horas educativas nas respectivas redes e escolas e o suprimento das ne-
de duração. cessidades detectadas.
Tendo em conta as situações, os perfis e as faixas etárias dos O Ministério da Educação, em articulação com os Estados, os
adolescentes, jovens e adultos, o projeto político-pedagógico e Municípios e o Distrito Federal, precedida de consulta pública na-
o regimento escolar viabilizarão um modelo pedagógico próprio cional, deverá encaminhar para o Conselho Nacional de Educação
para essa modalidade de ensino assegurando a identificação e o propostas de expectativas de aprendizagem dos conhecimentos
reconhecimento das formas de aprender dos adolescentes, jovens escolares que devem ser atingidas pelos alunos em diferentes está-
e adultos e a valorização de seus conhecimentos e experiências; a gios do Ensino Fundamental e, ainda, elaborar orientações e ofere-
distribuição dos componentes curriculares de modo a proporcionar cer outros subsídios para a implementação destas Diretrizes.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

II – VOTO DO RELATOR Parágrafo único. As escolas que ministram esse ensino deverão
trabalhar considerando essa etapa da educação como aquela capaz
À vista do exposto, propõe-se à Câmara de Educação Básica a de assegurar a cada um e a todos o acesso ao conhecimento e aos
aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fun- elementos da cultura imprescindíveis para o seu desenvolvimento
damental de 9 (nove) anos, na forma deste Parecer e do Projeto de pessoal e para a vida em sociedade, assim como os benefícios de
Resolução em anexo, do qual é parte integrante. uma formação comum, independentemente da grande diversidade
Brasília, (DF), 7 de julho de 2010. Conselheiro Cesar Callegari– da população escolar e das demandas sociais.
Relator Art. 5º O direito à educação, entendido como um direito inalie-
nável do ser humano, constitui o fundamento maior destas Diretri-
III – DECISÃO DA CÂMARA zes. A educação, ao proporcionar o desenvolvimento do potencial
humano, permite o exercício dos direitos civis, políticos, sociais e
A Câmara de Educação Básica aprova, por unanimidade, o voto do direito à diferença, sendo ela mesma também um direito social,
do Relator. e possibilita a formação cidadã e o usufruto dos bens sociais e cul-
turais.
Sala das Sessões, em 7 de julho de 2010. § 1º O Ensino Fundamental deve comprometer-se com uma
Conselheiro Francisco Aparecido Cordão – Presidente Conse- educação com qualidade social, igualmente entendida como direito
lheiro Adeum Hilário Sauer – Vice-Presidente humano.
§ 2º A educação de qualidade, como um direito fundamental,
é, antes de tudo, relevante, pertinente e equitativa.
RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 07/2010) I – A relevância reporta-se à promoção de aprendizagens sig-
nificativas do ponto de vista das exigências sociais e de desenvolvi-
RESOLUÇÃO Nº 7, DE 14 DE DEZEMBRO DE 2010 (*) mento pessoal.
II – A pertinência refere-se à possibilidade de atender às neces-
Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Funda- sidades e às características dos estudantes de diversos contextos
mental de 9 (nove) anos. sociais e culturais e com diferentes capacidades e interesses.
III – A equidade alude à importância de tratar de forma dife-
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Na- renciada o que se apresenta como desigual no ponto de partida,
cional de Educação, de conformidade com o disposto na alínea “c” com vistas a obter desenvolvimento e aprendizagens equiparáveis,
do § 1º do art. 9º da Lei nº 4.024/61, com a redação dada pela Lei assegurando a todos a igualdade de direito à educação.
nº 9.131/95, no art. 32 da Lei nº 9.394/96, na Lei nº 11.274/2006, e § 3º Na perspectiva de contribuir para a erradicação da pobre-
com fundamento no Parecer CNE/CEB nº 11/2010, homologado por za e das desigualdades, a equidade requer que sejam oferecidos
Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no mais recursos e melhores condições às escolas menos providas e
DOU de 9 de dezembro de 2010, resolve: aos alunos que deles mais necessitem. Ao lado das políticas univer-
Art. 1º A presente Resolução fixa as Diretrizes Curriculares Na- sais, dirigidas a todos sem requisito de seleção, é preciso também
cionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos a serem obser- sustentar políticas reparadoras que assegurem maior apoio aos di-
vadas na organização curricular dos sistemas de ensino e de suas ferentes grupos sociais em desvantagem.
unidades escolares. § 4º A educação escolar, comprometida com a igualdade do
Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fun- acesso de todos ao conhecimento e especialmente empenhada em
damental de 9 (nove) anos articulam-se com as Diretrizes Curricu- garantir esse acesso aos grupos da população em desvantagem na
lares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB sociedade, será uma educação com qualidade social e contribuirá
nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010) e reúnem princípios, para dirimir as desigualdades historicamente produzidas, assegu-
fundamentos e procedimentos definidos pelo Conselho Nacional de rando, assim, o ingresso, a permanência e o sucesso na escola, com
Educação, para orientar as políticas públicas educacionais e a elabo- a consequente redução da evasão, da retenção e das distorções de
ração, implementação e avaliação das orientações curriculares na- idade/ano/série (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB
cionais, das propostas curriculares dos Estados, do Distrito Federal, nº 4/2010, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
dos Municípios, e dos projetos político-pedagógicos das escolas. para a Educação Básica).
Parágrafo único. Estas Diretrizes Curriculares Nacionais apli-
cam-se a todas as modalidades do Ensino Fundamental previstas na PRINCÍPIOS
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, bem como à Edu-
cação do Campo, à Educação Escolar Indígena e à Educação Escolar Art. 6º Os sistemas de ensino e as escolas adotarão, como nor-
Quilombola. teadores das políticas educativas e das ações pedagógicas, os se-
guintes princípios:
FUNDAMENTOS I – Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e autonomia; de
respeito à dignidade da pessoa humana e de compromisso com a
Art. 3º O Ensino Fundamental se traduz como um direito pú- promoção do bem de todos, contribuindo para combater e eliminar
blico subjetivo de cada um e como dever do Estado e da família na quaisquer manifestações de preconceito de origem, raça, sexo, cor,
sua oferta a todos. idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Art. 4º É dever do Estado garantir a oferta do Ensino Funda-
mental público, gratuito e de qualidade, sem requisito de seleção.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

II – Políticos: de reconhecimento dos direitos e deveres de ci- § 1º O foco nas experiências escolares significa que as orienta-
dadania, de respeito ao bem comum e à preservação do regime ções e as propostas curriculares que provêm das diversas instâncias
democrático e dos recursos ambientais; da busca da equidade no só terão concretude por meio das ações educativas que envolvem
acesso à educação, à saúde, ao trabalho, aos bens culturais e outros os alunos.
benefícios; da exigência de diversidade de tratamento para asse- § 2º As experiências escolares abrangem todos os aspectos do
gurar a igualdade de direitos entre os alunos que apresentam di- ambiente escolar:, aqueles que compõem a parte explícita do cur-
ferentes necessidades; da redução da pobreza e das desigualdades rículo, bem como os que também contribuem, de forma implícita,
sociais e regionais. para a aquisição de conhecimentos socialmente relevantes. Valo-
III – Estéticos: do cultivo da sensibilidade juntamente com o res, atitudes, sensibilidade e orientações de conduta são veicula-
da racionalidade; do enriquecimento das formas de expressão e do dos não só pelos conhecimentos, mas por meio de rotinas, rituais,
exercício da criatividade; da valorização das diferentes manifesta- normas de convívio social, festividades, pela distribuição do tempo
ções culturais, especialmente a da cultura brasileira; da construção e organização do espaço educativo, pelos materiais utilizados na
de identidades plurais e solidárias. aprendizagem e pelo recreio, enfim, pelas vivências proporciona-
Art. 7º De acordo com esses princípios, e em conformidade das pela escola.
com o art. 22 e o art. 32 da Lei nº 9.394/96 (LDB), as propostas cur- § 3º Os conhecimentos escolares são aqueles que as diferentes
riculares do Ensino Fundamental visarão desenvolver o educando, instâncias que produzem orientações sobre o currículo, as escolas
assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da e os professores selecionam e transformam a fim de que possam
cidadania e fornecer-lhe os meios para progredir no trabalho e em ser ensinados e aprendidos, ao mesmo tempo em que servem de
estudos posteriores, mediante os objetivos previstos para esta eta- elementos para a formação ética, estética e política do aluno.
pa da escolarização, a saber:
I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como BASE NACIONAL COMUM E PARTE DIVERSIFICADA: COMPLE-
meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; MENTARIDADE
II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema po-
lítico, das artes, da tecnologia e dos valores em que se fundamenta Art. 10 O currículo do Ensino Fundamental tem uma base na-
a sociedade; cional comum, complementada em cada sistema de ensino e em
III – a aquisição de conhecimentos e habilidades, e a formação cada estabelecimento escolar por uma parte diversificada.
de atitudes e valores como instrumentos para uma visão crítica do Art. 11 A base nacional comum e a parte diversificada do cur-
mundo; rículo do Ensino Fundamental constituem um todo integrado e não
IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de so- podem ser consideradas como dois blocos distintos.
lidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a
§ 1º A articulação entre a base nacional comum e a parte diver-
vida social.
sificada do currículo do Ensino Fundamental possibilita a sintonia
dos interesses mais amplos de formação básica do cidadão com a
MATRÍCULA NO ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 (NOVE) ANOS E
realidade local, as necessidades dos alunos, as características re-
CARGA HORÁRIA
gionais da sociedade, da cultura e da economia e perpassa todo o
currículo.
Art. 8º O Ensino Fundamental, com duração de 9 (nove) anos,
§ 2º Voltados à divulgação de valores fundamentais ao interes-
abrange a população na faixa etária dos 6 (seis) aos 14 (quatorze)
se social e à preservação da ordem democrática, os conhecimentos
anos de idade e se estende, também, a todos os que, na idade pró-
pria, não tiveram condições de frequentá-lo. que fazem parte da base nacional comum a que todos devem ter
§ 1º É obrigatória a matrícula no Ensino Fundamental de crian- acesso, independentemente da região e do lugar em que vivem,
ças com 6 (seis) anos completos ou a completar até o dia 31 de asseguram a característica unitária das orientações curriculares na-
março do ano em que ocorrer a matrícula, nos termos da Lei e das cionais, das propostas curriculares dos Estados, do Distrito Federal,
normas nacionais vigentes. dos Municípios, e dos projetos político-pedagógicos das escolas.
§ 2º As crianças que completarem 6 (seis) anos após essa data § 3º Os conteúdos curriculares que compõem a parte diversifi-
deverão ser matriculadas na Educação Infantil (Pré-Escola). cada do currículo serão definidos pelos sistemas de ensino e pelas
§ 3º A carga horária mínima anual do Ensino Fundamental re- escolas, de modo a complementar e enriquecer o currículo, assegu-
gular será de 800 (oitocentas) horas relógio, distribuídas em, pelo rando a contextualização dos conhecimentos escolares em face das
menos, 200 (duzentos) dias de efetivo trabalho escolar. diferentes realidades.
Art. 12 Os conteúdos que compõem a base nacional comum e
CURRÍCULO a parte diversificada têm origem nas disciplinas científicas, no de-
senvolvimento das linguagens, no mundo do trabalho, na cultura
Art. 9º O currículo do Ensino Fundamental é entendido, nesta e na tecnologia, na produção artística, nas atividades desportivas
Resolução, como constituído pelas experiências escolares que se e corporais, na área da saúde e ainda incorporam saberes como
desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações os que advêm das formas diversas de exercício da cidadania, dos
sociais, buscando articular vivências e saberes dos alunos com os movimentos sociais, da cultura escolar, da experiência docente, do
conhecimentos historicamente acumulados e contribuindo para cotidiano e dos alunos.
construir as identidades dos estudantes. Art. 13 Os conteúdos a que se refere o art. 12 são constituídos
por componentes curriculares que, por sua vez, se articulam com as
áreas de conhecimento, a saber: Linguagens, Matemática, Ciências
da Natureza e Ciências Humanas. As áreas de conhecimento favore-

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

cem a comunicação entre diferentes conhecimentos sistematizados e contemporâneos que afetam a vida humana em escala global, re-
e entre estes e outros saberes, mas permitem que os referenciais gional e local, bem como na esfera individual. Temas como saúde,
próprios de cada componente curricular sejam preservados. sexualidade e gênero, vida familiar e social, assim como os direitos
Art. 14 O currículo da base nacional comum do Ensino Fun- das crianças e adolescentes, de acordo com o Estatuto da Criança
damental deve abranger, obrigatoriamente, conforme o art. 26 da e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), preservação do meio ambien-
Lei nº 9.394/96, o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, te, nos termos da política nacional de educação ambiental (Lei nº
o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e 9.795/99), educação para o consumo, educação fiscal, trabalho,
política, especialmente a do Brasil, bem como o ensino da Arte, a ciência e tecnologia, e diversidade cultural devem permear o de-
Educação Física e o Ensino Religioso. senvolvimento dos conteúdos da base nacional comum e da parte
Art. 15 Os componentes curriculares obrigatórios do Ensino diversificada do currículo.
Fundamental serão assim organizados em relação às áreas de co- § 1º Outras leis específicas que complementam a Lei nº
nhecimento: 9.394/96 determinam que sejam ainda incluídos temas relativos à
I – Linguagens: condição e aos direitos dos idosos (Lei nº 10.741/2003) e à educa-
a) Língua Portuguesa; ção para o trânsito (Lei nº 9.503/97).
b) Língua Materna, para populações indígenas; § 2º A transversalidade constitui uma das maneiras de traba-
c) Língua Estrangeira moderna; lhar os componentes curriculares, as áreas de conhecimento e os
d) Arte; e temas sociais em uma perspectiva integrada, conforme a Diretrizes
e) Educação Física; Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/
II – Matemática; CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010).
III – Ciências da Natureza; § 3º Aos órgãos executivos dos sistemas de ensino compete a
IV – Ciências Humanas: produção e a disseminação de materiais subsidiários ao trabalho
a) História; docente, que contribuam para a eliminação de discriminações, ra-
b) Geografia; cismo, sexismo, homofobia e outros preconceitos e que conduzam
V – Ensino Religioso. à adoção de comportamentos responsáveis e solidários em relação
§ 1º O Ensino Fundamental deve ser ministrado em língua por- aos outros e ao meio ambiente.
tuguesa, assegurada também às comunidades indígenas a utiliza- Art. 17 Na parte diversificada do currículo do Ensino Funda-
ção de suas línguas maternas e processos próprios de aprendiza- mental será incluído, obrigatoriamente, a partir do 6º ano, o ensino
gem, conforme o art. 210, § 2º, da Constituição Federal. de, pelo menos, uma Língua Estrangeira moderna, cuja escolha fica-
§ 2º O ensino de História do Brasil levará em conta as contri- rá a cargo da comunidade escolar.
buições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo Parágrafo único. Entre as línguas estrangeiras modernas,
brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia a língua espanhola poderá ser a opção, nos termos da Lei nº
(art. 26, § 4º, da Lei nº 9.394/96). 11.161/2005.
§ 3º A história e as culturas indígena e afro-brasileira, presen-
tes, obrigatoriamente, nos conteúdos desenvolvidos no âmbito de PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
todo o currículo escolar e, em especial, no ensino de Arte, Litera-
tura e História do Brasil, assim como a História da África, deverão Art. 18 O currículo do Ensino Fundamental com 9 (nove) anos
assegurar o conhecimento e o reconhecimento desses povos para de duração exige a estruturação de um projeto educativo coeren-
a constituição da nação (conforme art. 26-A da Lei nº 9.394/96, al- te, articulado e integrado, de acordo com os modos de ser e de se
terado pela Lei nº 11.645/2008). Sua inclusão possibilita ampliar o desenvolver das crianças e adolescentes nos diferentes contextos
leque de referências culturais de toda a população escolar e contri- sociais.
bui para a mudança das suas concepções de mundo, transformando Art. 19 Ciclos, séries e outras formas de organização a que se
os conhecimentos comuns veiculados pelo currículo e contribuindo refere a Lei nº 9.394/96 serão compreendidos como tempos e espa-
para a construção de identidades mais plurais e solidárias. ços interdependentes e articulados entre si, ao longo dos 9 (nove)
§ 4º A Música constitui conteúdo obrigatório, mas não exclusi- anos de duração do Ensino Fundamental.
vo, do componente curricular Arte, o qual compreende também as
artes visuais, o teatro e a dança, conforme o § 6º do art. 26 da Lei GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA COMO GARANTIA
nº 9.394/96. DO DIREITO À EDUCAÇÃO
§ 5º A Educação Física, componente obrigatório do currículo do
Ensino Fundamental, integra a proposta político-pedagógica da es- Art. 20 As escolas deverão formular o projeto político-pedagó-
cola e será facultativa ao aluno apenas nas circunstâncias previstas gico e elaborar o regimento escolar de acordo com a proposta do
no § 3º do art. 26 da Lei nº 9.394/96. Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, por meio de processos parti-
§ 6º O Ensino Religioso, de matrícula facultativa ao aluno, é cipativos relacionados à gestão democrática.
parte integrante da formação básica do cidadão e constitui com- § 1º O projeto político-pedagógico da escola traduz a proposta
ponente curricular dos horários normais das escolas públicas de educativa construída pela comunidade escolar no exercício de sua
Ensino Fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural autonomia, com base nas características dos alunos, nos profissio-
e religiosa do Brasil e vedadas quaisquer formas de proselitismo, nais e recursos disponíveis, tendo como referência as orientações
conforme o art. 33 da Lei nº 9.394/96. curriculares nacionais e dos respectivos sistemas de ensino.
Art. 16 Os componentes curriculares e as áreas de conhecimen- § 2º Será assegurada ampla participação dos profissionais da
to devem articular em seus conteúdos, a partir das possibilidades escola, da família, dos alunos e da comunidade local na definição
abertas pelos seus referenciais, a abordagem de temas abrangentes das orientações imprimidas aos processos educativos e nas formas

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

de implementá-las, tendo como apoio um processo contínuo de de conceitos-chave ou conceitos nucleares que permitam trabalhar
avaliação das ações, a fim de garantir a distribuição social do conhe- as questões cognitivas e as questões culturais numa perspectiva
cimento e contribuir para a construção de uma sociedade democrá- transversal, e projetos de trabalho com diversas acepções.
tica e igualitária. § 3º Os projetos propostos pela escola, comunidade, redes e
§ 3º O regimento escolar deve assegurar as condições institu- sistemas de ensino serão articulados ao desenvolvimento dos com-
cionais adequadas para a execução do projeto político-pedagógico ponentes curriculares e às áreas de conhecimento, observadas as
e a oferta de uma educação inclusiva e com qualidade social, igual- disposições contidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
mente garantida a ampla participação da comunidade escolar na para a Educação Básica (Resolução CNE/CEB nº 4/2010, art. 17) e
sua elaboração. nos termos do Parecer que dá base à presente Resolução.
§ 4º O projeto político-pedagógico e o regimento escolar, em Art. 25 Os professores levarão em conta a diversidade sociocul-
conformidade com a legislação e as normas vigentes, conferirão es- tural da população escolar, as desigualdades de acesso ao consumo
paço e tempo para que os profissionais da escola e, em especial, de bens culturais e a multiplicidade de interesses e necessidades
os professores, possam participar de reuniões de trabalho coletivo, apresentadas pelos alunos no desenvolvimento de metodologias e
planejar e executar as ações educativas de modo articulado, avaliar estratégias variadas que melhor respondam às diferenças de apren-
os trabalhos dos alunos, tomar parte em ações de formação conti- dizagem entre os estudantes e às suas demandas.
nuada e estabelecer contatos com a comunidade. Art. 26 Os sistemas de ensino e as escolas assegurarão adequa-
§ 5º Na implementação de seu projeto político-pedagógico, as das condições de trabalho aos seus profissionais e o provimento de
escolas se articularão com as instituições formadoras com vistas a outros insumos, de acordo com os padrões mínimos de qualidade
assegurar a formação continuada de seus profissionais. referidos no inciso IX do art. 4º da Lei nº 9.394/96 e em normas
Art. 21 No projeto político-pedagógico do Ensino Fundamental específicas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação, com
e no regimento escolar, o aluno, centro do planejamento curricular, vistas à criação de um ambiente propício à aprendizagem, com
será considerado como sujeito que atribui sentidos à natureza e à base:
sociedade nas práticas sociais que vivencia, produzindo cultura e
I – no trabalho compartilhado e no compromisso individual
construindo sua identidade pessoal e social.
e coletivo dos professores e demais profissionais da escola com a
Parágrafo único. Como sujeito de direitos, o aluno tomará parte
aprendizagem dos alunos;
ativa na discussão e na implementação das normas que regem as
II – no atendimento às necessidades específicas de aprendiza-
formas de relacionamento na escola, fornecerá indicações relevan-
gem de cada um mediante abordagens apropriadas;
tes a respeito do que deve ser trabalhado no currículo e será incen-
III – na utilização dos recursos disponíveis na escola e nos espa-
tivado a participar das organizações estudantis.
ços sociais e culturais do entorno;
Art. 22 O trabalho educativo no Ensino Fundamental deve
IV – na contextualização dos conteúdos, assegurando que a
empenhar-se na promoção de uma cultura escolar acolhedora e
aprendizagem seja relevante e socialmente significativa;
respeitosa, que reconheça e valorize as experiências dos alunos
atendendo as suas diferenças e necessidades específicas, de modo V – no cultivo do diálogo e de relações de parceria com as fa-
a contribuir para efetivar a inclusão escolar e o direito de todos à mílias.
educação. Parágrafo único. Como protagonistas das ações pedagógicas,
Art. 23 Na implementação do projeto político-pedagógico, o caberá aos docentes equilibrar a ênfase no reconhecimento e valo-
cuidar e o educar, indissociáveis funções da escola, resultarão em rização da experiência do aluno e da cultura local que contribui para
ações integradas que buscam articular-se, pedagogicamente, no in- construir identidades afirmativas, e a necessidade de lhes fornecer
terior da própria instituição, e também externamente, com os servi- instrumentos mais complexos de análise da realidade que possi-
ços de apoio aos sistemas educacionais e com as políticas de outras bilitem o acesso a níveis universais de explicação dos fenômenos,
áreas, para assegurar a aprendizagem, o bem-estar e o desenvolvi- propiciando-lhes os meios para transitar entre a sua e outras rea-
mento do aluno em todas as suas dimensões. lidades e culturas e participar de diferentes esferas da vida social,
econômica e política.
RELEVÂNCIA DOS CONTEÚDOS, INTEGRAÇÃO E ABORDAGENS Art. 27 Os sistemas de ensino, as escolas e os professores, com
o apoio das famílias e da comunidade, envidarão esforços para as-
Art. 24 A necessária integração dos conhecimentos escolares segurar o progresso contínuo dos alunos no que se refere ao seu de-
no currículo favorece a sua contextualização e aproxima o processo senvolvimento pleno e à aquisição de aprendizagens significativas,
educativo das experiências dos alunos. lançando mão de todos os recursos disponíveis e criando renovadas
§ 1º A oportunidade de conhecer e analisar experiências assen- oportunidades para evitar que a trajetória escolar discente seja re-
tadas em diversas concepções de currículo integrado e interdiscipli- tardada ou indevidamente interrompida.
nar oferecerá aos docentes subsídios para desenvolver propostas § 1º Devem, portanto, adotar as providências necessárias para
pedagógicas que avancem na direção de um trabalho colaborativo, que a operacionalização do princípio da continuidade não seja tra-
capaz de superar a fragmentação dos componentes curriculares. duzida como “promoção automática” de alunos de um ano, série
§ 2º Constituem exemplos de possibilidades de integração do ou ciclo para o seguinte, e para que o combate à repetência não se
currículo, entre outros, as propostas curriculares ordenadas em tor- transforme em descompromisso com o ensino e a aprendizagem.
no de grandes eixos articuladores, projetos interdisciplinares com § 2º A organização do trabalho pedagógico incluirá a mobilida-
base em temas geradores formulados a partir de questões da co- de e a flexibilização dos tempos e espaços escolares, a diversidade
munidade e articulados aos componentes curriculares e às áreas de nos agrupamentos de alunos, as diversas linguagens artísticas, a
conhecimento, currículos em rede, propostas ordenadas em torno diversidade de materiais, os variados suportes literários, as ativida-

198
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

des que mobilizem o raciocínio, as atitudes investigativas, as abor- levem a explorar mais intensamente as diversas linguagens artís-
dagens complementares e as atividades de reforço, a articulação ticas, a começar pela literatura, a utilizar materiais que ofereçam
entre a escola e a comunidade, e o acesso aos espaços de expressão oportunidades de raciocinar, manuseando-os e explorando as suas
cultural. características e propriedades.
Art. 28 A utilização qualificada das tecnologias e conteúdos das Art. 31 Do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, os compo-
mídias como recurso aliado ao desenvolvimento do currículo con- nentes curriculares Educação Física e Arte poderão estar a cargo
tribui para o importante papel que tem a escola como ambiente de do professor de referência da turma, aquele com o qual os alunos
inclusão digital e de utilização crítica das tecnologias da informação permanecem a maior parte do período escolar, ou de professores
e comunicação, requerendo o aporte dos sistemas de ensino no que licenciados nos respectivos componentes.
se refere à: § 1º Nas escolas que optarem por incluir Língua Estrangeira nos
I – provisão de recursos midiáticos atualizados e em número anos iniciais do Ensino Fundamental, o professor deverá ter licen-
suficiente para o atendimento aos alunos; ciatura específica no componente curricular.
II – adequada formação do professor e demais profissionais da § 2º Nos casos em que esses componentes curriculares sejam
escola. desenvolvidos por professores com licenciatura específica (confor-
me Parecer CNE/CEB nº 2/2008), deve ser assegurada a integração
com os demais componentes trabalhados pelo professor de refe-
ARTICULAÇÕES E CONTINUIDADE DA TRAJETÓRIA ESCOLAR
rência da turma.
Art. 29 A necessidade de assegurar aos alunos um percurso AVALIAÇÃO: PARTE INTEGRANTE DO CURRÍCULO
contínuo de aprendizagens torna imperativa a articulação de todas
as etapas da educação, especialmente do Ensino Fundamental com Art. 32 A avaliação dos alunos, a ser realizada pelos professores
a Educação Infantil, dos anos iniciais e dos anos finais no interior e pela escola como parte integrante da proposta curricular e da im-
do Ensino Fundamental, bem como do Ensino Fundamental com o plementação do currículo, é redimensionadora da ação pedagógica
Ensino Médio, garantindo a qualidade da Educação Básica. e deve:
§ 1º O reconhecimento do que os alunos já aprenderam antes I – assumir um caráter processual, formativo e participativo, ser
da sua entrada no Ensino Fundamental e a recuperação do caráter contínua, cumulativa e diagnóstica, com vistas a:
lúdico do ensino contribuirão para melhor qualificar a ação peda- a) identificar potencialidades e dificuldades de aprendizagem e
gógica junto às crianças, sobretudo nos anos iniciais dessa etapa da detectar problemas de ensino;
escolarização. b) subsidiar decisões sobre a utilização de estratégias e aborda-
§ 2º Na passagem dos anos iniciais para os anos finais do Ensi- gens de acordo com as necessidades dos alunos, criar condições de
no Fundamental, especial atenção será dada: intervir de modo imediato e a mais longo prazo para sanar dificul-
I – pelos sistemas de ensino, ao planejamento da oferta educa- dades e redirecionar o trabalho docente;
tiva dos alunos transferidos das redes municipais para as estaduais; c) manter a família informada sobre o desempenho dos alunos;
d) reconhecer o direito do aluno e da família de discutir os re-
II – pelas escolas, à coordenação das demandas específicas
sultados de avaliação, inclusive em instâncias superiores à escola,
feitas pelos diferentes professores aos alunos, a fim de que os es-
revendo procedimentos sempre que as reivindicações forem pro-
tudantes possam melhor organizar as suas atividades diante das
cedentes.
solicitações muito diversas que recebem. II – utilizar vários instrumentos e procedimentos, tais como
Art. 30 Os três anos iniciais do Ensino Fundamental devem as- a observação, o registro descritivo e reflexivo, os trabalhos indivi-
segurar: I – a alfabetização e o letramento; duais e coletivos, os portfólios, exercícios, provas, questionários,
II – o desenvolvimento das diversas formas de expressão, in- dentre outros, tendo em conta a sua adequação à faixa etária e às
cluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, a Literatura, a Música características de desenvolvimento do educando;
e demais artes, a Educação Física, assim como o aprendizado da III – fazer prevalecer os aspectos qualitativos da aprendizagem
Matemática, da Ciência, da História e da Geografia; do aluno sobre os quantitativos, bem como os resultados ao longo
III – a continuidade da aprendizagem, tendo em conta a com- do período sobre os de eventuais provas finais, tal com determina a
plexidade do processo de alfabetização e os prejuízos que a re- alínea “a” do inciso V do art. 24 da Lei nº 9.394/96;
petência pode causar no Ensino Fundamental como um todo e, IV – assegurar tempos e espaços diversos para que os alunos
particularmente, na passagem do primeiro para o segundo ano de com menor rendimento tenham condições de ser devidamente
escolaridade e deste para o terceiro. atendidos ao longo do ano letivo;
§ 1º Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola, no uso de V – prover, obrigatoriamente, períodos de recuperação, de
sua autonomia, fizerem opção pelo regime seriado, será necessário preferência paralelos ao período letivo, como determina a Lei nº
considerar os três anos iniciais do Ensino Fundamental como um 9.394/96;
VI – assegurar tempos e espaços de reposição dos conteúdos
bloco pedagógico ou um ciclo sequencial não passível de interrup-
curriculares, ao longo do ano letivo, aos alunos com frequência in-
ção, voltado para ampliar a todos os alunos as oportunidades de
suficiente, evitando, sempre que possível, a retenção por faltas;
sistematização e aprofundamento das aprendizagens básicas, im-
VII – possibilitar a aceleração de estudos para os alunos com
prescindíveis para o prosseguimento dos estudos. defasagem idade-série.
§ 2º Considerando as características de desenvolvimento dos Art. 33 Os procedimentos de avaliação adotados pelos profes-
alunos, cabe aos professores adotar formas de trabalho que pro- sores e pela escola serão articulados às avaliações realizadas em
porcionem maior mobilidade das crianças nas salas de aula e as

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

nível nacional e às congêneres nos diferentes Estados e Municípios, escolar diária mediante o desenvolvimento de atividades como o
criadas com o objetivo de subsidiar os sistemas de ensino e as esco- acompanhamento pedagógico, o reforço e o aprofundamento da
las nos esforços de melhoria da qualidade da educação e da apren- aprendizagem, a experimentação e a pesquisa científica, a cultura e
dizagem dos alunos. as artes, o esporte e o lazer, as tecnologias da comunicação e infor-
§ 1º A análise do rendimento dos alunos com base nos indi- mação, a afirmação da cultura dos direitos humanos, a preservação
cadores produzidos por essas avaliações deve auxiliar os sistemas do meio ambiente, a promoção da saúde, entre outras, articuladas
de ensino e a comunidade escolar a redimensionarem as práticas aos componentes curriculares e às áreas de conhecimento, a vivên-
educativas com vistas ao alcance de melhores resultados. cias e práticas socioculturais.
§ 2º A avaliação externa do rendimento dos alunos refere-se § 2º As atividades serão desenvolvidas dentro do espaço esco-
apenas a uma parcela restrita do que é trabalhado nas escolas, de lar conforme a disponibilidade da escola, ou fora dele, em espaços
sorte que as referências para o currículo devem continuar sendo as distintos da cidade ou do território em que está situada a unidade
contidas nas propostas político-pedagógicas das escolas, articula- escolar, mediante a utilização de equipamentos sociais e culturais
das às orientações e propostas curriculares dos sistemas, sem redu- aí existentes e o estabelecimento de parcerias com órgãos ou enti-
zir os seus propósitos ao que é avaliado pelos testes de larga escala. dades locais, sempre de acordo com o respectivo projeto político-
Art. 34 Os sistemas, as redes de ensino e os projetos político- -pedagógico.
-pedagógicos das escolas devem expressar com clareza o que é es- § 3º Ao restituir a condição de ambiente de aprendizagem à
perado dos alunos em relação à sua aprendizagem. comunidade e à cidade, a escola estará contribuindo para a cons-
Art. 35 Os resultados de aprendizagem dos alunos devem ser trução de redes sociais e de cidades educadoras.
aliados à avaliação das escolas e de seus professores, tendo em con- § 4º Os órgãos executivos e normativos da União e dos sistemas
ta os parâmetros de referência dos insumos básicos necessários à estaduais e municipais de educação assegurarão que o atendimen-
educação de qualidade para todos nesta etapa da educação e res- to dos alunos na escola de tempo integral possua infraestrutura
pectivo custo aluno-qualidade inicial (CAQi), consideradas inclusi- adequada e pessoal qualificado, além do que, esse atendimento
ve as suas modalidades e as formas diferenciadas de atendimento terá caráter obrigatório e será passível de avaliação em cada escola.
como a Educação do Campo, a Educação Escolar Indígena, a Educa-
ção Escolar Quilombola e as escolas de tempo integral. EDUCAÇÃO DO CAMPO, EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA E
Parágrafo único. A melhoria dos resultados de aprendizagem EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA
dos alunos e da qualidade da educação obriga:
I – os sistemas de ensino a incrementarem os dispositivos da Art. 38 A Educação do Campo, tratada como educação rural na
carreira e de condições de exercício e valorização do magistério e legislação brasileira, incorpora os espaços da floresta, da pecuária,
dos demais profissionais da educação e a oferecerem os recursos e das minas e da agricultura e se estende, também, aos espaços pes-
apoios que demandam as escolas e seus profissionais para melho- queiros, caiçaras, ribeirinhos e extrativistas, conforme as Diretrizes
rar a sua atuação; para a Educação Básica do Campo (Parecer CNE/CEB nº 36/2001 e
II – as escolas a uma apreciação mais ampla das oportunidades Resolução CNE/CEB nº 1/2002; Parecer CNE/CEB nº 3/2008 e Reso-
educativas por elas oferecidas aos educandos, reforçando a sua res- lução CNE/CEB nº 2/2008).
ponsabilidade de propiciar renovadas oportunidades e incentivos Art. 39 A Educação Escolar Indígena e a Educação Escolar Qui-
aos que delas mais necessitem. lombola são, respectivamente, oferecidas em unidades educacio-
nais inscritas em suas terras e culturas e, para essas populações,
A EDUCAÇÃO EM ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL estão assegurados direitos específicos na Constituição Federal que
lhes permitem valorizar e preservar as suas culturas e reafirmar o
Art. 36 Considera-se como de período integral a jornada esco- seu pertencimento étnico.
lar que se organiza em 7 (sete) horas diárias, no mínimo, perfazen- § 1º As escolas indígenas, atendendo a normas e ordenamen-
do uma carga horária anual de, pelo menos, 1.400 (mil e quatro- tos jurídicos próprios e a Diretrizes Curriculares Nacionais específi-
centas) horas. cas, terão ensino intercultural e bilíngue, com vistas à afirmação e à
Parágrafo único. As escolas e, solidariamente, os sistemas de manutenção da diversidade étnica e linguística, assegurarão a par-
ensino, conjugarão esforços objetivando o progressivo aumento da ticipação da comunidade no seu modelo de edificação, organização
carga horária mínima diária e, consequentemente, da carga horá- e gestão, e deverão contar com materiais didáticos produzidos de
ria anual, com vistas à maior qualificação do processo de ensino- acordo com o contexto cultural de cada povo (Parecer CNE/CEB nº
-aprendizagem, tendo como horizonte o atendimento escolar em 14/99 e Resolução CNE/CEB nº 3/99).
período integral. § 2º O detalhamento da Educação Escolar Quilombola deverá
Art. 37 A proposta educacional da escola de tempo integral ser definido pelo Conselho Nacional de Educação por meio de Dire-
promoverá a ampliação de tempos, espaços e oportunidades edu- trizes Curriculares Nacionais específicas.
cativas e o compartilhamento da tarefa de educar e cuidar entre os Art. 40 O atendimento escolar às populações do campo, povos
profissionais da escola e de outras áreas, as famílias e outros atores indígenas e quilombolas requer respeito às suas peculiares condi-
sociais, sob a coordenação da escola e de seus professores, visando ções de vida e a utilização de pedagogias condizentes com as suas
alcançar a melhoria da qualidade da aprendizagem e da convivência formas próprias de produzir conhecimentos, observadas as Diretri-
social e diminuir as diferenças de acesso ao conhecimento e aos zes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer
bens culturais, em especial entre as populações socialmente mais CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010).
vulneráveis. § 1º As escolas das populações do campo, dos povos indígenas
§ 1º O currículo da escola de tempo integral, concebido como e dos quilombolas, ao contar com a participação ativa das comuni-
um projeto educativo integrado, implica a ampliação da jornada dades locais nas decisões referentes ao currículo, estarão amplian-

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

do as oportunidades de: lizados e será implementado por professores e profissionais com


I – reconhecimento de seus modos próprios de vida, suas cul- formação especializada, de acordo com plano de atendimento aos
turas, tradições e memórias coletivas, como fundamentais para a alunos que identifique suas necessidades educacionais específicas,
constituição da identidade das crianças, adolescentes e adultos; defina os recursos necessários e as atividades a serem desenvolvi-
II – valorização dos saberes e do papel dessas populações na das.
produção de conhecimentos sobre o mundo, seu ambiente natural
e cultural, assim como as práticas ambientalmente sustentáveis que EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
utilizam;
III – reafirmação do pertencimento étnico, no caso das comu- Art. 43 Os sistemas de ensino assegurarão, gratuitamente, aos
nidades quilombolas e dos povos indígenas, e do cultivo da língua jovens e adultos que não puderam efetuar os estudos na idade pró-
materna na escola para estes últimos, como elementos importantes pria, oportunidades educacionais adequadas às suas característi-
de construção da identidade; cas, interesses, condições de vida e de trabalho mediante cursos
IV – flexibilização, se necessário, do calendário escolar, das ro- e exames, conforme estabelece o art. 37, § 1º, da Lei nº 9.394/96.
tinas e atividades, tendo em conta as diferenças relativas às ativida- Art. 44 A Educação de Jovens e Adultos, voltada para a garan-
des econômicas e culturais, mantido o total de horas anuais obriga- tia de formação integral, da alfabetização às diferentes etapas da
tórias no currículo; escolarização ao longo da vida, inclusive àqueles em situação de
V – superação das desigualdades sociais e escolares que afetam privação de liberdade, é pautada pela inclusão e pela qualidade so-
essas populações, tendo por garantia o direito à educação; cial e requer:
§ 2º Os projetos político-pedagógicos das escolas do campo, I – um processo de gestão e financiamento que lhe assegure
indígenas e quilombolas devem contemplar a diversidade nos seus isonomia em relação ao Ensino Fundamental regular;
II – um modelo pedagógico próprio que permita a apropriação
aspectos sociais, culturais, políticos, econômicos, éticos e estéticos,
e a contextualização das Diretrizes Curriculares Nacionais;
de gênero, geração e etnia.
III – a implantação de um sistema de monitoramento e avalia-
§ 3º As escolas que atendem a essas populações deverão ser
ção; IV – uma política de formação permanente de seus professo-
devidamente providas pelos sistemas de ensino de materiais didá-
res;
ticos e educacionais que subsidiem o trabalho com a diversidade, V – maior alocação de recursos para que seja ministrada por
bem como de recursos que assegurem aos alunos o acesso a outros docentes licenciados.
bens culturais e lhes permitam estreitar o contato com outros mo- Art. 45 A idade mínima para o ingresso nos cursos de Educação
dos de vida e outras formas de conhecimento. de Jovens e Adultos e para a realização de exames de conclusão
§ 4º A participação das populações locais pode também subsi- de EJA será de 15 (quinze) anos completos (Parecer CNE/CEB nº
diar as redes escolares e os sistemas de ensino quanto à produção 6/2010 e Resolução CNE/CEB nº 3/2010).
e à oferta de materiais escolares e no que diz respeito a transporte Parágrafo único. Considerada a prioridade de atendimento à
e a equipamentos que atendam as características ambientais e so- escolarização obrigatória, para que haja oferta capaz de contemplar
cioculturais das comunidades e as necessidades locais e regionais. o pleno atendimento dos adolescentes, jovens e adultos na faixa
dos 15 (quinze) anos ou mais, com defasagem idade/série, tanto
EDUCAÇÃO ESPECIAL na sequência do ensino regular, quanto em Educação de Jovens e
Adultos, assim como nos cursos destinados à formação profissional,
Art. 41 O projeto político-pedagógico da escola e o regimen- torna-se necessário:
to escolar, amparados na legislação vigente, deverão contemplar I – fazer a chamada ampliada dos estudantes em todas as mo-
a melhoria das condições de acesso e de permanência dos alunos dalidades do Ensino Fundamental;
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas II – apoiar as redes e os sistemas de ensino a estabelecerem po-
habilidades nas classes comuns do ensino regular, intensificando o lítica própria para o atendimento desses estudantes, que considere
processo de inclusão nas escolas públicas e privadas e buscando a as suas potencialidades, necessidades, expectativas em relação à
universalização do atendimento. vida, às culturas juvenis e ao mundo do trabalho, inclusive com pro-
Parágrafo único. Os recursos de acessibilidade são aqueles que gramas de aceleração da aprendizagem, quando necessário;
asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos com defi- III – incentivar a oferta de Educação de Jovens e Adultos nos
ciência e mobilidade reduzida, por meio da utilização de materiais períodos diurno e noturno, com avaliação em processo.
didáticos, dos espaços, mobiliários e equipamentos, dos sistemas Art. 46 A oferta de cursos de Educação de Jovens e Adultos,
de comunicação e informação, dos transportes e outros serviços. nos anos iniciais do Ensino Fundamental, será presencial e a sua
duração ficará a critério de cada sistema de ensino, nos termos do
Art. 42 O atendimento educacional especializado aos alunos da
Parecer CNE/CEB nº 29/2006, tal como remete o Parecer CNE/CEB
Educação Especial será promovido e expandido com o apoio dos ór-
nº 6/2010 e a Resolução CNE/CEB nº 3/2010. Nos anos finais, ou
gãos competentes. Ele não substitui a escolarização, mas contribui
seja, do 6º ano ao 9º ano, os cursos poderão ser presenciais ou a
para ampliar o acesso ao currículo, ao proporcionar independên-
distância, devidamente credenciados, e terão 1.600 (mil e seiscen-
cia aos educandos para a realização de tarefas e favorecer a sua tas) horas de duração.
autonomia (conforme Decreto nº 6.571/2008, Parecer CNE/CEB nº Parágrafo único. Tendo em conta as situações, os perfis e as
13/2009 e Resolução CNE/CEB nº 4/2009). faixas etárias dos adolescentes, jovens e adultos, o projeto político-
Parágrafo único. O atendimento educacional especializado po- -pedagógico da escola e o regimento escolar viabilizarão um mode-
derá ser oferecido no contraturno, em salas de recursos multifun- lo pedagógico próprio para essa modalidade de ensino que permita
cionais na própria escola, em outra escola ou em centros especia- a apropriação e a contextualização das Diretrizes Curriculares Na-

201
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

cionais, assegurando: Este currículo propõe ações e práticas educativas que contem-
I – a identificação e o reconhecimento das formas de aprender plem essa temática na sala de aula e em toda comunidade escolar
dos adolescentes, jovens e adultos e a valorização de seus conheci- para que se promova o combate ao preconceito e à discriminação.
mentos e experiências; É importante, no contexto escolar, possibilitar a compreensão de
II – a distribuição dos componentes curriculares de modo a que a sociedade humana, sobretudo a brasileira, é composta por
proporcionar um patamar igualitário de formação, bem como a sua vários elementos que formam a diversidade cultural e a identidade
disposição adequada nos tempos e espaços educativos, em face das de cada povo e de cada comunidade. A partir dessa perspectiva,
necessidades específicas dos estudantes. devem ser desenvolvidas atitudes de respeito às diferenças, consi-
Art. 47 A inserção de Educação de Jovens e Adultos no Siste- derando que a completude humana é construída na interação entre
ma Nacional de Avaliação da Educação Básica, incluindo, além da as diferentes identidades.
avaliação do rendimento dos alunos, a aferição de indicadores insti-
tucionais das redes públicas e privadas, concorrerá para a universa-
lização e a melhoria da qualidade do processo educativo. PARECER CNE/CEB Nº 11/2010

A IMPLEMENTAÇÃO DESTAS DIRETRIZES: COMPROMISSO


SOLIDÁRIO DOS SISTEMAS E REDES DE ENSINO Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em
tópicos anteriores.
Art. 48 Tendo em vista a implementação destas Diretrizes, cabe
aos sistemas e às redes de ensino prover:
I – os recursos necessários à ampliação dos tempos e espaços RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 07/2010
dedicados ao trabalho educativo nas escolas e a distribuição de ma-
teriais didáticos e escolares adequados;
II – a formação continuada dos professores e demais profissio- Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em
nais da escola em estreita articulação com as instituições responsá- tópicos anteriores.
veis pela formação inicial, dispensando especiais esforços quanto à
formação dos docentes das modalidades específicas do Ensino Fun-
damental e àqueles que trabalham nas escolas do campo, indígenas RELAÇÕES DE GÊNERO (PARECER CNE/CEB Nº 07/2010
e quilombolas;
III – a coordenação do processo de implementação do currícu- A relação de gênero é entendida como uma categoria de análi-
lo, evitando a fragmentação dos projetos educativos no interior de se que ajuda a pensar a maneira como as ações e posturas dos ho-
uma mesma realidade educacional; mens e das mulheres são determinadas pela cultura em que estão
IV – o acompanhamento e a avaliação dos programas e ações inseridos (SCOTT, 1990). Deve ser também compreendida como um
educativas nas respectivas redes e escolas e o suprimento das ne- conceito baseado em parâmetros científicos de produção de sabe-
cessidades detectadas. res que transversaliza diversas áreas do conhecimento, sendo capaz
Art. 49 O Ministério da Educação, em articulação com os Esta- de identificar processos históricos e culturais que classificam e po-
dos, os Municípios e o Distrito Federal, deverá encaminhar ao Con- sicionam as pessoas a partir de uma relação sobre o que é entendi-
selho Nacional de Educação, precedida de consulta pública nacio- do como feminino e masculino, essencial para o desenvolvimento
nal, proposta de expectativas de aprendizagem dos conhecimentos de um olhar referente à reprodução de desigualdades no contexto
escolares que devem ser atingidas pelos alunos em diferentes está- escolar. A perspectiva da ‘igualdade de gênero’, no currículo, é pau-
gios do Ensino Fundamental (art. 9º, § 3º, desta Resolução). ta para um sistema escolar inclusivo que crie ações específicas de
Parágrafo único. Cabe, ainda, ao Ministério da Educação elabo- combate às discriminações e que não contribua para a reprodução
rar orientações e oferecer outros subsídios para a implementação das desigualdades que persistem em nossa sociedade. Não se trata,
destas Diretrizes. portanto, de anular as diferenças percebidas entre as pessoas, mas
Art. 50 A presente Resolução entrará em vigor na data de sua sim de fortalecer a democracia à medida que tais diferenças não se
publicação, revogando- se as disposições em contrário, especial- desdobrem em desigualdades. A garantia desse debate e a elabora-
mente a Resolução CNE/CEB nº 2, de 7 de abril de 1998. ção de estratégias de enfrentamento às diversas formas de violên-
cia são, portanto, direitos assegurados por lei. Esses são pautados
em demandas emergenciais e que reafirmam a necessidade de os
espaços escolares serem lócus de promoção da cidadania e respeito
DIVERSIDADE CULTURAL às diferenças. Para efetivar isso, é necessária a implementação de
ações com a perspectiva de eliminar atitudes ou comportamentos
Ao abordarmos a diversidade cultural, biológica, étnico-racial, preconceituosos ou discriminatórios relacionados à ideia de inferio-
devemos considerar a construção das identidades, o contexto das ridade ou superioridade de qualquer orientação sexual, identidade
desigualdades e dos conflitos sociais. Este tema aborda a constru- ou expressão de gênero, em atendimento ao que concerne nas al-
ção histórica, social, política e cultural das diferenças que estão li- terações da Lei Federal de Racismo nº 7.716/89 atualizada em 13 de
gadas às relações de poder, aos processos de colonização e domi- junho de 2019 pelo Supremo Tribunal Federal.
nação.

202
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

PARECER CNE/CEB Nº 7/2010 II – estimular a reflexão crítica e propositiva que deve subsidiar
a formulação, execução e avaliação do projeto político-pedagógico
Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação da escola de Educação Básica;
Básica III – orientar os cursos de formação inicial e continuada de pro-
fissionais – docentes, técnicos, funcionários - da Educação Básica,
I – RELATÓRIO os sistemas educativos dos diferentes entes federados e as escolas
1. Histórico que os integram, indistintamente da rede a que pertençam.
Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para
Na organização do Estado brasileiro, a matéria educacional é a Educação Básica visam estabelecer bases comuns nacionais para
conferida pela Lei nº 9.394/96, de Diretrizes e Bases da Educação a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, bem
Nacional (LDB), aos diversos entes federativos: União, Distrito Fede- como para as modalidades com que podem se apresentar, a partir
ral, Estados e Municípios, sendo que a cada um deles compete orga- das quais os sistemas federal, estaduais, distrital e municipais, por
nizar seu sistema de ensino, cabendo, ainda, à União a coordenação suas competências próprias e complementares, formularão as suas
da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e orientações assegurando a integração curricular das três etapas se-
sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva quentes desse nível da escolarização, essencialmente para compor
(artigos 8º, 9º, 10 e 11). um todo orgânico.
No tocante à Educação Básica, é relevante destacar que, entre Além das avaliações que já ocorriam assistematicamente, mar-
as incumbências prescritas pela LDB aos Estados e ao Distrito Fede- cou o início da elaboração deste Parecer, particularmente, a Indica-
ral, está assegurar o Ensino Fundamental e oferecer, com priorida- ção CNE/CEB nº 3/2005, assinada pelo então conselheiro da CEB,
de, o Ensino Médio a todos que o demandarem. E ao Distrito Fede- Francisco Aparecido Cordão, na qual constava a proposta de revi-
ral e aos Municípios cabe oferecer a Educação Infantil em Creches e são das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
Pré-Escolas, e, com prioridade, o Ensino Fundamental. e para o Ensino Fundamental. Nessa Indicação, justificava-se que
Em que pese, entretanto, a autonomia dada aos vários siste- tais Diretrizes encontravam-se defasadas, segundo avaliação nacio-
mas, a LDB, no inciso IV do seu artigo 9º, atribui à União estabele- nal sobre a matéria nos últimos anos, e superadas em decorrência
cer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os muni- dos últimos atos legais e normativos, particularmente ao tratar da
cípios, competências e diretrizes para a Educação Infantil, o Ensino matrícula no Ensino Fundamental de crianças de 6 (seis) anos e con-
Fundamental e o Ensino Médio, que nortearão os currículos e seus sequente ampliação do Ensino Fundamental para 9 (nove) anos de
conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum. duração. Imprescindível acrescentar que a nova redação do inciso
A formulação de Diretrizes Curriculares Nacionais constitui, I do artigo 208 da nossa Carta Magna, dada pela Emenda Constitu-
portanto, atribuição federal, que é exercida pelo Conselho Nacional cional nº 59/2009, assegura Educação Básica obrigatória e gratuita
de Educação (CNE), nos termos da LDB e da Lei nº 9.131/95, que o dos 4 aos 17 anos de idade, inclusive a sua oferta gratuita para to-
instituiu. Esta lei define, na alínea “c” do seu artigo 9º, entre as atri- dos os que a ela não tiveram acesso na idade própria.
buições de sua Câmara de Educação Básica (CEB), deliberar sobre Nesta perspectiva, o processo de formulação destas Diretri-
as Diretrizes Curriculares propostas pelo Ministério da Educação. zes foi acordado, em 2006, pela Câmara de Educação Básica com
Esta competência para definir as Diretrizes Curriculares Nacionais as entidades: Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educa-
torna-as mandatórias para todos os sistemas. Ademais, atribui-lhe, ção, União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação, Con-
entre outras, a responsabilidade de assegurar a participação da so- selho dos Secretários Estaduais de Educação, União Nacional dos
ciedade no aperfeiçoamento da educação nacional (artigo 7º da Lei Dirigentes Municipais de Educação, e entidades representativas dos
nº 4.024/61, com redação dada pela Lei 8.131/95), razão pela qual profissionais da educação, das instituições de formação de profes-
as diretrizes constitutivas deste Parecer consideram o exame das sores, das mantenedoras do ensino privado e de pesquisadores em
avaliações por elas apresentadas, durante o processo de implemen- educação.
tação da LDB. Para a definição e o desenvolvimento da metodologia desti-
O sentido adotado neste Parecer para diretrizes está formulado nada à elaboração deste Parecer, inicialmente, foi constituída uma
na Resolução CNE/CEB nº 2/98, que as delimita como conjunto de comissão que selecionou interrogações e temas estimuladores dos
definições doutrinárias sobre princípios, fundamentos e procedi- debates, a fim de subsidiar a elaboração do documento preliminar
mentos na Educação Básica (...) que orientarão as escolas brasileiras visando às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Bási-
dos sistemas de ensino, na organização, na articulação, no desen- ca, sob a coordenação da então relatora, conselheira Maria Beatriz
volvimento e na avaliação de suas propostas pedagógicas. Luce. (Portaria CNE/CEB nº 1/2006)
Por outro lado, a necessidade de definição de Diretrizes Cur- A comissão promoveu uma mobilização nacional das diferen-
riculares Nacionais Gerais para a Educação Básica está posta pela tes entidades e instituições que atuam na Educação Básica no País,
emergência da atualização das políticas educacionais que consubs- mediante:
tanciem o direito de todo brasileiro à formação humana e cidadã I – encontros descentralizados com a participação de Municí-
e à formação profissional, na vivência e convivência em ambiente pios e Estados, que reuniram escolas públicas e particulares, me-
educativo. Têm estas Diretrizes por objetivos: diante audiências públicas regionais, viabilizando ampla efetivação
I – sistematizar os princípios e diretrizes gerais da Educação Bá- de manifestações;
sica contidos na Constituição, na LDB e demais dispositivos legais, II – revisões de documentos relacionados com a Educação
traduzindo-os em orientações que contribuam para assegurar a for- Básica, pelo CNE/CEB, com o objetivo de promover a atualização
mação básica comum nacional, tendo como foco os sujeitos que motivadora do trabalho das entidades, efetivadas, simultaneamen-
dão vida ao currículo e à escola; te, com a discussão do regime de colaboração entre os sistemas

203
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

educacionais, contando, portanto, com a participação dos conse- Ressalte-se que o momento em que estas Diretrizes Curricula-
lhos estaduais e municipais. Inicialmente, partiu-se da avaliação res Nacionais Gerais para a Educação Básica estão sendo elaboradas
das diretrizes destinadas à Educação Básica que, até então, haviam é muito singular, pois, simultaneamente, as diretrizes das etapas da
sido estabelecidas por etapa e modalidade, ou seja, expressando- Educação Básica, também elas, passam por avaliação, por meio de
-se nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil; contínua mobilização dos representantes dos sistemas educativos
para o Ensino Fundamental; para o Ensino Médio; para a Educação de nível nacional, estadual e municipal. A articulação entre os dife-
de Jovens e Adultos; para a Educação do Campo; para a Educação rentes sistemas flui num contexto em que se vivem:
Especial; e para a Educação Escolar Indígena. I – os resultados da Conferência Nacional da Educação Básica
Ainda em novembro de 2006, em Brasília, foi realizado o Semi- (2008);
nário Nacional Currículo em Debate, promovido pela Secretaria de II – os 13 anos transcorridos de vigência da LDB e as inúmeras
Educação Básica/MEC, com a participação de representantes dos alterações nela introduzidas por várias leis, bem como a edição de
Estados e Municípios. Durante esse Seminário, a CEB realizou a sua outras leis que repercutem nos currículos da Educação Básica;
trigésima sessão ordinária na qual promoveu Debate Nacional so- III – o penúltimo ano de vigência do Plano Nacional de Educa-
bre as Diretrizes Curriculares para a Educação Básica, por etapas. ção (PNE), que passa por avaliação, bem como a mobilização nacio-
Esse debate foi denominado Colóquio Nacional sobre as Diretrizes nal em torno de subsídios para a elaboração do PNE para o período
Curriculares Nacionais. A partir desse evento e dos demais que o 2011-2020;
sucederam, em 2007, e considerando a alteração do quadro de con- IV – a aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
selheiros do CNE e da CEB, criou-se, em 2009, nova comissão res- da Educação Básica e de Valorização dos Professores da Educação
ponsável pela elaboração dessas Diretrizes, constituída por Adeum (FUNDEB), regulado pela Lei nº 11.494/2007, que fixa percentual
Hilário Sauer (presidente), Clélia Brandão Alvarenga Craveiro (rela- de recursos a todas as etapas e modalidades da Educação Básica;
tora), Raimundo Moacir Mendes Feitosa e José Fernandes de Lima V – a criação do Conselho Técnico Científico (CTC) da Educação
(Portaria CNE/CEB nº 2/2009). Essa comissão reiniciou os trabalhos Básica, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
já organizados pela comissão anterior e, a partir de então, vem Superior do Ministério da Educação (Capes/MEC);
acompanhando os estudos promovidos pelo MEC sobre currículo VI – a formulação, aprovação e implantação das medidas ex-
em movimento, no sentido de atuar articulada e integradamente pressas na Lei nº 11.738/2008, que regulamenta o piso salarial
com essa instância educacional. profissional nacional para os profissionais do magistério público da
Durante essa trajetória, os temas considerados pertinentes à Educação Básica;
matéria objeto deste Parecer passaram a se constituir nas seguintes VII – a criação do Fórum Nacional dos Conselhos de Educação,
ideias-força: objetivando prática de regime de colaboração entre o CNE, o Fórum
I – as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação e a União Nacional
Básica devem presidir as demais diretrizes curriculares específicas dos Conselhos Municipais de Educação;
para as etapas e modalidades, contemplando o conceito de Educa- VIII – a instituição da política nacional de formação de profis-
ção Básica, princípios de organicidade, sequencialidade e articula- sionais do magistério da Educação Básica (Decreto nº 6.755, de 29
ção, relação entre as etapas e modalidades: articulação, integração de janeiro de 2009);
IX – a aprovação do Parecer CNE/CEB nº 9/2009 e da Resolu-
e transição;
ção CNE/CEB nº 2/2009, que institui as Diretrizes Nacionais para os
II – o papel do Estado na garantia do direito à educação de qua-
Planos de Carreira e Remuneração dos Profissionais do Magistério
lidade, considerando que a educação, enquanto direito inalienável
da Educação Básica Pública, que devem ter sido implantados até
de todos os cidadãos, é condição primeira para o exercício pleno
dezembro de 2009;
dos direitos: humanos, tanto dos direitos sociais e econômicos
X – as recentes avaliações do PNE, sistematizadas pelo CNE,
quanto dos direitos civis e políticos;
expressas no documento Subsídios para Elaboração do PNE Consi-
III – a Educação Básica como direito e considerada, contextu-
derações Iniciais. Desafios para a Construção do PNE (Portaria CNE/
alizadamente, em um projeto de Nação, em consonância com os
CP nº 10/2009);
acontecimentos e suas determinações histórico-sociais e políticas
XI – a realização da Conferência Nacional de Educação (CO-
no mundo; NAE), com o tema central “Construindo um Sistema Nacional Arti-
IV – a dimensão articuladora da integração das diretrizes cur- culado de Educação: Plano Nacional de Educação – Suas Diretrizes
riculares compondo as três etapas e as modalidades da Educação e Estratégias de Ação”, tencionando propor diretrizes e estratégias
Básica, fundamentadas na indissociabilidade dos conceitos referen- para a construção do PNE 2011-2020;
ciais de cuidar e educar; XII – a relevante alteração na Constituição, pela promulga-
V – a promoção e a ampliação do debate sobre a política curri- ção da Emenda Constitucional nº 59/2009, que, entre suas medi-
cular que orienta a organização da Educação Básica como sistema das, assegura Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17
educacional articulado e integrado; anos de idade, inclusive a sua oferta gratuita para todos os que a
VI – a democratização do acesso, permanência e sucesso esco- ela não tiveram acesso na idade própria; assegura o atendimento
lar com qualidade social, científica, cultural; ao estudante, em todas as etapas da Educação Básica, mediante
VII – a articulação da educação escolar com o mundo do traba- programas suplementares de material didático-escolar, transporte,
lho e a prática social; alimentação e assistência à saúde, bem como reduz, anualmente,
VIII – a gestão democrática e a avaliação; a partir do exercício de 2009, o percentual da Desvinculação das
IX – a formação e a valorização dos profissionais da educação; Receitas da União incidente sobre os recursos destinados à manu-
X – o financiamento da educação e o controle social. tenção e ao desenvolvimento do ensino.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Para a comissão, o desafio consistia em interpretar essa reali- sino da Língua Espanhola; e o Decreto nº 6.949/2009, que promulga
dade e apresentar orientações sobre a concepção e organização da a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Defi-
Educação Básica como sistema educacional, segundo três dimen- ciência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30
sões básicas: organicidade, sequencialidade e articulação. Dispor de março de 2007.
sobre a formação básica nacional relacionando-a com a parte diver- É relevante lembrar que a Constituição Federal, acima de todas
sificada, e com a preparação para o trabalho e as práticas sociais, as leis, no seu inciso XXV do artigo 7º, determina que um dos direi-
consiste, portanto, na formulação de princípios para outra lógica tos dos trabalhadores urbanos e rurais e, portanto, obrigação das
de diretriz curricular, que considere a formação humana de sujeitos empresas, é a assistência gratuita aos filhos e dependentes desde
concretos, que vivem em determinado meio ambiente, contexto o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em Creches e Pré-Escolas.
histórico e sociocultural, com suas condições físicas, emocionais e Embora redundante, registre-se que todas as Creches e Pré-
intelectuais. -Escolas devem estar integradas ao respectivo sistema de ensino
Este Parecer deve contribuir, sobretudo, para o processo de (artigo 89 da LDB).
implementação pelos sistemas de ensino das Diretrizes Curricula- A LDB, com suas alterações, e demais atos legais desempe-
res Nacionais específicas, para que se concretizem efetivamente nham papel necessário, por sua função referencial obrigatória para
nas escolas, minimizando o atual distanciamento existente entre os diferentes sistemas e redes educativos. Pode-se afirmar, sem
as diretrizes e a sala de aula. Para a organização das orientações sombra de dúvida, que ainda está em curso o processo de imple-
contidas neste texto, optou-se por enunciá-las seguindo a disposi- mentação dos princípios e das finalidades definidos constitucional e
ção que ocupam na estrutura estabelecida na LDB, nas partes em legalmente para orientar o projeto educativo do País, cujos resulta-
que ficam previstos os princípios e fins da educação nacional; as dos ainda não são satisfatórios, até porque o texto da Lei, por si só,
orientações curriculares; a formação e valorização de profissionais não se traduz em elemento indutor de mudança. Ele requer esforço
da educação; direitos à educação e deveres de educar: Estado e fa- conjugado por parte dos órgãos responsáveis pelo cumprimento do
mília, incluindo-se o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Lei que os atos regulatórios preveem.
nº 8.069/90 e a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Essas No desempenho de suas competências, o CNE iniciou, em
referências levaram em conta, igualmente, os dispositivos sobre a 1997, a produção de orientações normativas nacionais, visando à
Educação Básica constantes da Carta Magna que orienta a Nação implantação da Educação Básica, sendo a primeira o Parecer CNE/
brasileira, relatórios de pesquisas sobre educação e produções teó- CEB nº 5/97, de lavra do conselheiro Ulysses de Oliveira Panisset.
ricas versando sobre sociedade e educação. A partir de então, foram editados pelo Conselho Nacional de Edu-
Com treze anos de vigência já completados, a LDB recebeu vá- cação pareceres e resoluções, em separado, para cada uma das
rias alterações, particularmente no referente à Educação Básica, em etapas e modalidades. No período de vigência do Plano Nacional
suas diferentes etapas e modalidades. de Educação (PNE), desde o seu início até 2008, constata-se que,
Após a edição da Lei nº 9.475/1997, que alterou o artigo 33 da embora em ritmo distinto, menos de um terço das unidades fede-
LDB, prevendo a obrigatoriedade do respeito à diversidade cultu- radas (26 Estados e o Distrito Federal) apresentaram resposta posi-
ral religiosa do Brasil, outras leis modificaramna quanto à Educação tiva, uma vez que, dentre eles, apenas 8 formularam e aprovaram
Básica os seus planos de educação. Relendo a avaliação técnica do PNE,
A maior parte dessas modificações tem relevância social, por- promovida pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos De-
que, além de reorganizarem aspectos da Educação Básica, ampliam putados (2004), pode-se constatar que, em todas as etapas e mo-
o acesso das crianças ao mundo letrado, asseguram-lhes outros be- dalidades educativas contempladas no PNE, três aspectos figuram
nefícios concretos que contribuem para o seu desenvolvimento ple- reiteradamente: acesso, capacitação docente e infraestrutura. Em
no, orientado por profissionais da educação especializados. Nesse contrapartida, nesse mesmo documento, é assinalado que a per-
sentido, destaca-se que a LDB foi alterada pela Lei nº 10.287/2001 manência e o sucesso do estudante na escola têm sido objeto de
para responsabilizar a escola, o Conselho Tutelar do Município, o pouca atenção. Em outros documentos acadêmicos e oficiais, são
juiz competente da Comarca e o representante do Ministério Pú- também aspectos que têm sido avaliados de modo descontínuo e
blico pelo acompanhamento sistemático do percurso escolar das escasso, embora a permanência se constitua em exigência fixada no
crianças e dos jovens. Este é, sem dúvida, um dos mecanismos inciso I do artigo 3º da LDB.
que, se for efetivado de modo contínuo, pode contribuir significa- Salienta-se que, além das condições para acesso à escola, há
tivamente para a permanência do estudante na escola. Destaca-se, de se garantir a permanência nela, e com sucesso. Esta exigência se
também, que foi incluído, pela Lei nº 11.700/2008, o inciso X no constitui em um desafio de difícil concretização, mas não impossí-
artigo 4º, fixando como dever do Estado efetivar a garantia de vaga vel. O artigo 6º, da LDB, alterado pela Lei nº 11.114/2005, prevê que
na escola pública de Educação Infantil ou de Ensino Fundamental é dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula dos menores, a
mais próxima de sua residência a toda criança a partir do dia em partir dos seis anos de idade, no Ensino Fundamental.
que completar 4 (quatro) anos de idade. Reforça-se, assim, a garantia de acesso a essas etapas da Edu-
Há leis, por outro lado, que não alteram a redação da LDB, po- cação Básica. Para o Ensino Médio, a oferta não era, originalmente,
rém agregam-lhe complementações, como a Lei nº 9.795/99, que obrigatória, mas indicada como de extensão progressiva, porém, a
dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Lei nº 12.061/2009 alterou o inciso II do artigo 4º e o inciso VI do
Educação Ambiental; a Lei nº 10.436/2002, que dispõe sobre a Lín- artigo 10 da LDB, para garantir a universalização do Ensino Médio
gua Brasileira de Sinais (LIBRAS); a Lei nº 10.741/2003, que dispõe gratuito e para assegurar o atendimento de todos os interessados
sobre o Estatuto do Idoso; a Lei nº 9.503/97, que institui o Código ao Ensino Médio público. De todo modo, o inciso VII do mesmo ar-
de Trânsito Brasileiro; a Lei nº 11.161/2005, que dispõe sobre o en- tigo já estabelecia que se deve garantir a oferta de educação esco-

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

lar regular para jovens e adultos, com características e modalidades nacional projetada em metas constitutivas do Plano Nacional de
adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se Educação, pois, no primeiro, constata-se uma queda de -7,3% e, no
aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanên- segundo, de -8,4%. Uma pergunta inevitável é: em que medida as
cia na escola. políticas educacionais estimularia a superação desse quadro e em
O acesso ganhou força constitucional, agora para quase todo o quais aspectos essas Diretrizes poderiam contribuir como indutoras
conjunto da Educação Básica (excetuada a fase inicial da Educação de mudanças favoráveis à reversão do que se coloca?
Infantil, da Creche), com a nova redação dada ao inciso I do artigo Há necessidade de aproximação da lógica dos discursos norma-
208 da nossa Carta Magna, que assegura a Educação Básica obriga- tivos com a lógica social, ou seja, a dos papéis e das funções sociais
tória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, inclusive a gratuita para em seu dinamismo. Um dos desafios, entretanto, está no que Mi-
todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria, sendo sua guel G. Arroyo (1999) aponta, por exemplo, em seu artigo, “Ciclos
implementação progressiva, até 2016, nos termos do Plano Nacio- de desenvolvimento humano e formação de educadores”, em que
nal de Educação, com apoio técnico e financeiro da União. assinala que as diretrizes para a educação nacional, quando norma-
Além do PNE, outros subsídios têm orientado as políticas públi- tizadas, não chegam ao cerne do problema, porque não levam em
cas para a educação no Brasil, entre eles as avaliações do Sistema conta a lógica social. Com base no entendimento do autor, as dire-
de Avaliação da Educação Básica (SAEB), da Prova Brasil e do Exame trizes não preveem a preparação antecipada daqueles que deverão
Nacional do Ensino Médio (ENEM), definidas como constitutivas implantá-las e implementá-las. O comentário do autor é ilustrativo
do Sistema de Avaliação da Qualidade da Oferta de Cursos no País. por essa compreensão: não se implantarão propostas inovadoras
Destaca-se que tais programas têm suscitado interrogações tam- listando o que teremos de inovar, listando as competências que os
bém na Câmara de Educação Básica do CNE, entre outras instâncias educadores devem aprender e montando cursos de treinamento
acadêmicas: teriam eles consonância com a realidade das escolas? para formá-los. É (...) no campo da formação de profissionais de
Educação Básica onde mais abundam as leis e os pareceres dos
Esses programas levam em consideração a identidade de cada
conselhos, os palpites fáceis de cada novo governante, das equipes
sistema, de cada unidade escolar? O fracasso do escolar, averiguado
técnicas, e até das agências de financiamento, nacionais e interna-
por esses programas de avaliação, não estaria expressando o resul-
cionais (Arroyo, 1999, p. 151).
tado da forma como se processa a avaliação, não estando de acordo
Outro limite que tem sido apontado pela comunidade edu-
com a maneira como a escola e os professores planejam e operam cativa, a ser considerado na formulação e implementação das Di-
o currículo? O sistema de avaliação aplicado guardaria relação com retrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, é a
o que efetivamente acontece na concretude das escolas brasileiras? desproporção existente entre as unidades federadas do Brasil, sob
Como consequência desse método de avaliação externa, os diferentes pontos de vista: recursos financeiros, presença política,
estudantes crianças não estariam sendo punidos com resultados dimensão geográfica, demografia, recursos naturais e, acima de
péssimos e reportagens terríveis? E mais, os estudantes das escolas tudo, traços socioculturais.
indígenas, entre outros de situações específicas, não estariam sen- Entre múltiplos fatores que podem ser destacados, acentua-se
do afetados negativamente por essas formas de avaliação? que, para alguns educadores que se manifestaram durante os de-
Lamentavelmente, esses questionamentos não têm indica- bates havidos em nível nacional, tendo como foco o cotidiano da
do alternativas para o aperfeiçoamento das avaliações nacionais. escola e as diretrizes curriculares vigentes, há um entendimento de
Como se sabe, as avaliações ENEM e Prova Brasil vêm-se consti- que tanto as diretrizes curriculares, quanto os Parâmetros Curricu-
tuindo em políticas de Estado que subsidiam os sistemas na formu- lares Nacionais (PCN), implementados pelo MEC de 1997 a 2002,
lação de políticas públicas de equidade, bem como proporcionam transformaram-se em meros papéis. Preencheram uma lacuna de
elementos aos municípios e escolas para localizarem as suas fragili- modo equivocado e pouco dialógico, definindo as concepções me-
dades e promoverem ações, na tentativa de superá-las, por meio de todológicas a serem seguidas e o conhecimento a ser trabalhado
metas integradas. Além disso, é proposta do CNE o estabelecimen- no Ensino Fundamental e no Médio. Os PCNs teriam sido editados
to de uma Base Nacional Comum que terá como um dos objetivos como obrigação de conteúdos a serem contemplados no Brasil in-
nortear as avaliações e a elaboração de livros didáticos e de outros teiro, como se fossem um roteiro, sugerindo entender que essa me-
documentos pedagógicos. dida poderia ser orientação suficiente para assegurar a qualidade
O processo de implantação e implementação do disposto na al- da educação para todos. Entretanto, a educação para todos não é
teração da LDB pela Lei nº 11.274/2006, que estabeleceu o ingresso viabilizada por decreto, resolução, portaria ou similar, ou seja, não
da criança a partir dos seis anos de idade no Ensino Fundamental, se efetiva tão somente por meio de prescrição de atividades de en-
tem como perspectivas melhorar as condições de equidade e quali- sino ou de estabelecimento de parâmetros ou diretrizes curricula-
dade da Educação Básica, estruturar um novo Ensino Fundamental res: a educação de qualidade social é conquista e, como conquista
da sociedade brasileira, é manifestada pelos movimentos sociais,
e assegurar um alargamento do tempo para as aprendizagens da
pois é direito de todos.
alfabetização e do letramento.
Essa conquista, simultaneamente, tão solitária e solidária
Se forem observados os dados estatísticos a partir da relação
quanto singular e coletiva, supõe aprender a articular o local e o
entre duas datas referenciais – 2000 e 2008 –, tem-se surpresa
universal em diferentes tempos, espaços e grupos sociais desde a
quanto ao quantitativo total de matriculados na Educação Básica, primeira infância. A qualidade da educação para todos exige com-
já que se constata redução de matrícula (-0,7%), em vez de eleva- promisso e responsabilidade de todos os envolvidos no processo
ção. Contudo, embora se perceba uma redução de 20,6% no to- político, que o Projeto de Nação traçou, por meio da Constituição
tal da Educação Infantil, na Creche o crescimento foi expressivo, Federal e da LDB, cujos princípios e finalidades educacionais são
de 47,7%. Os números indicam que, no Ensino Fundamental e no desafiadores: em síntese, assegurando o direito inalienável de cada
Ensino Médio, há decréscimo de matrícula, o que trai a intenção brasileiro conquistar uma formação sustentada na continuidade de

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

estudos, ou seja, como temporalização de aprendizagens que com- construção do Projeto Nacional. Visa-se à formulação das Diretrizes
plexifiquem a experiência de comungar sentidos que dão significa- Curriculares específicas para suas etapas e modalidades, organizan-
do à convivência. do-se com os seguintes itens: 1) Referências conceituais; 2) Sistema
Há de se reconhecer, no entanto, que o desafio maior está na Nacional de Educação; 3) Acesso e permanência para a conquista da
necessidade de repensar as perspectivas de um conhecimento dig- qualidade social; 4) Organização curricular: conceito, limites, possi-
no da humanidade na era planetária, pois um dos princípios que bilidades; 5) Organização da Educação Básica; 6) Elementos consti-
orientam as sociedades contemporâneas é a imprevisibilidade. As tutivos para organização e implantação das Diretrizes Curriculares
sociedades abertas não têm os caminhos traçados para um percur- Nacionais Gerais para a Educação Básica.
so inflexível e estável. Trata-se de enfrentar o acaso, a volatilidade A sociedade, na sua história, constitui-se no locus da vida, das
e a imprevisibilidade, e não programas sustentados em certezas. tramas sociais, dos encontros e desencontros nas suas mais diferen-
Há entendimento geral de que, durante a Década da Educa- tes dimensões. É nesse espaço que se inscreve a instituição escolar.
ção (encerrada em 2007), entre as maiores conquistas destaca-se O desenvolvimento da sociedade engendra movimentos bastante
a criação do FUNDEF, posteriormente transformado em FUNDEB. complexos. Ao traduzir-se, ao mesmo tempo, em território, em cul-
Este ampliou as condições efetivas de apoio financeiro e de gestão tura, em política, em economia, em modo de vida, em educação,
às três etapas da Educação Básica e suas modalidades, desde 2007. em religião e outras manifestações humanas, a sociedade, especial-
Do ponto de vista do apoio à Educação Básica, como totalidade, mente a contemporânea, insere-se dialeticamente e movimenta-se
o FUNDEB apresenta sinais de que a gestão educacional e de po- na continuidade e descontinuidade, na universalização e na frag-
líticas públicas poderá contribuir para a conquista da elevação da mentação, no entrelaçamento e na ruptura que conformam a sua
qualidade da educação brasileira, se for assumida por todos os que face. Por isso, vive-se, hoje, a problemática da dispersão e ruptura,
nela atuam, segundo os critérios da efetividade, relevância e perti- portanto, da superficialidade. Nessa dinâmica, inscreve-se a com-
nência, tendo como foco as finalidades da educação nacional, con- preensão do projeto de Nação, o da educação nacional e, neste, o
forme definem a Constituição Federal e a LDB, bem como o Plano da instituição escolar, com sua organização, seu projeto e seu pro-
Nacional de Educação. cesso educativo em suas diferentes dimensões, etapas e modali-
Os recursos para a educação serão ainda ampliados com a des- dades.
vinculação de recursos da União (DRU) aprovada pela já destacada O desafio posto pela contemporaneidade à educação é o de
Emenda Constitucional nº 59/2009. Sem dúvida, essa conquista,
garantir, contextualizadamente, o direito humano universal e social
resultado das lutas sociais, pode contribuir para a melhoria da qua-
inalienável à educação. O direito universal não é passível de ser ana-
lidade social da ação educativa, em todo o País.
lisado isoladamente, mas deve sê-lo em estreita relação com outros
No que diz respeito às fontes de financiamento da Educação
direitos, especialmente, dos direitos civis e políticos e dos direitos
Básica, em suas diferentes etapas e modalidades, no entanto, veri-
de caráter subjetivo, sobre os quais incide decisivamente. Compre-
fica-se que há dispersão, o que tem repercutido desfavoravelmente
ender e realizar a educação, entendida como um direito individu-
na unidade da gestão das prioridades educacionais voltadas para
al humano e coletivo, implica considerar o seu poder de habilitar
a conquista da qualidade social da educação escolar, inclusive em
para o exercício de outros direitos, isto é, para potencializar o ser
relação às metas previstas no PNE 2001-2010. Apesar da relevância
do FUNDEF, e agora com o FUNDEB em fase inicial de implantação, humano como cidadão pleno, de tal modo que este se torne apto
ainda não se tem política financeira compatível com as exigências para viver e conviver em determinado ambiente, em sua dimensão
da Educação Básica em sua pluridimensionalidade e totalidade. planetária. A educação é, pois, processo e prática que se concre-
As políticas de formação dos profissionais da educação, as Dire- tizam nas relações sociais que transcendem o espaço e o tempo
trizes Curriculares Nacionais, os parâmetros de qualidade definidos escolares, tendo em vista os diferentes sujeitos que a demandam.
pelo Ministério da Educação, associados às normas dos sistemas Educação consiste, portanto, no processo de socialização da cultura
educativos dos Estados, Distrito Federal e Municípios, são orienta- da vida, no qual se constroem, se mantêm e se transformam sabe-
ções cujo objetivo central é o de criar condições para que seja pos- res, conhecimentos e valores.
sível melhorar o desempenho das escolas, mediante ação de todos Exige-se, pois, problematizar o desenho organizacional da ins-
os seus sujeitos. Assume-se, portanto, que as Diretrizes Curriculares tituição escolar, que não tem conseguido responder às singularida-
Nacionais Gerais para a Educação Básica terão como fundamento des dos sujeitos que a compõem. Torna-se inadiável trazer para o
essencial a responsabilidade que o Estado brasileiro, a família e a debate os princípios e as práticas de um processo de inclusão so-
sociedade têm de garantir a democratização do acesso, inclusão, cial, que garanta o acesso e considere a diversidade humana, social,
permanência e sucesso das crianças, jovens e adultos na instituição cultural, econômica dos grupos historicamente excluídos. Trata-se
educacional, sobretudo em idade própria a cada etapa e modalida- das questões de classe, gênero, raça, etnia, geração, constituídas
de; a aprendizagem para continuidade dos estudos; e a extensão da por categorias que se entrelaçam na vida social - pobres, mulheres,
obrigatoriedade e da gratuidade da Educação Básica. afrodescentendes, indígenas, pessoas com deficiência, as popula-
ções do campo, os de diferentes orientações sexuais, os sujeitos
2. Mérito albergados, aqueles em situação de rua, em privação de liberdade
- todos que compõem a diversidade que é a sociedade brasileira e
Inicialmente, apresenta-se uma sintética reflexão sobre socie- que começam a ser contemplados pelas políticas públicas.
dade e a educação, a que se seguem orientações para a Educação Para que se conquiste a inclusão social, a educação escolar
Básica, a partir dos princípios definidos constitucionalmente e da deve fundamentar-se na ética e nos valores da liberdade, na justiça
contextualização apresentada no histórico, tendo compromisso social, na pluralidade, na solidariedade e na sustentabilidade, cuja
com a organicidade, a sequencialidade e a articulação do conjunto finalidade é o pleno desenvolvimento de seus sujeitos, nas dimen-
total da Educação Básica, sua inserção na sociedade e seu papel na sões individual e social de cidadãos conscientes de seus direitos e

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deveres, compromissados com a transformação social. Diante des- X – valorização da experiência extraescolar;
sa concepção de educação, a escola é uma organização temporal, XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práti-
que deve ser menos rígida, segmentada e uniforme, a fim de que cas sociais.
os estudantes, indistintamente, possam adequar seus tempos de Além das finalidades da educação nacional enunciadas na
aprendizagens de modo menos homogêneo e idealizado. Constituição Federal (artigo 205) e na LDB (artigo 2º), que têm
A escola, face às exigências da Educação Básica, precisa ser como foco o pleno desenvolvimento da pessoa, a preparação para o
reinventada: priorizar processos capazes de gerar sujeitos inven- exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho, deve-se con-
tivos, participativos, cooperativos, preparados para diversificadas siderar integradamente o previsto no ECA (Lei nº 8.069/90), o qual
inserções sociais, políticas, culturais, laborais e, ao mesmo tempo, assegura, à criança e ao adolescente de até 18 anos, todos os direi-
capazes de intervir e problematizar as formas de produção e de tos fundamentais inerentes à pessoa, as oportunidades oferecidas
vida. A escola tem, diante de si, o desafio de sua própria recriação, para o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social,
pois tudo que a ela se refere constitui-se como invenção: os rituais em condições de liberdade e de dignidade. São direitos referentes
escolares são invenções de um determinado contexto sociocultural à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
em movimento. à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito mútuo, à
A elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para liberdade, à convivência familiar e comunitária (artigos 2º, 3º e 4º).
a Educação Básica pressupõe clareza em relação ao seu papel de in- A Educação Básica é direito universal e alicerce indispensável
dicador de opções políticas, sociais, culturais, educacionais, e a fun- para a capacidade de exercer em plenitude o direto à cidadania. É o
ção da educação, na sua relação com os objetivos constitucionais de tempo, o espaço e o contexto em que o sujeito aprende a constituir
projeto de Nação, fundamentando-se na cidadania e na dignidade e reconstituir a sua identidade, em meio a transformações corpo-
da pessoa, o que implica igualdade, liberdade, pluralidade, diversi- rais, afetivo-emocionais, socioemocionais, cognitivas e sociocultu-
dade, respeito, justiça social, solidariedade e sustentabilidade. rais, respeitando e valorizando as diferenças. Liberdade e pluralida-
de tornam-se, portanto, exigências do projeto educacional.
2.1 Referências conceituais Da aquisição plena desse direito depende a possibilidade de
exercitar todos os demais direitos, definidos na Constituição, no
Os fundamentos que orientam a Nação brasileira estão defini- ECA, na legislação ordinária e nas inúmeras disposições legais que
dos constitucionalmente no artigo 1º da Constituição Federal, que consagram as prerrogativas do cidadão brasileiro. Somente um ser
trata dos princípios fundamentais da cidadania e da dignidade da educado terá condição efetiva de participação social, ciente e cons-
pessoa humana, do pluralismo político, dos valores sociais do tra- ciente de seus direitos e deveres civis, sociais, políticos, econômicos
balho e da livre iniciativa. Nessas bases, assentam-se os objetivos e éticos.
nacionais e, por consequência, o projeto educacional brasileiro: Nessa perspectiva, é oportuno e necessário considerar as di-
construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvol- mensões do educar e do cuidar, em sua inseparabilidade, buscando
vimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir recuperar, para a função social da Educação Básica, a sua centrali-
as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos sem dade, que é o estudante. Cuidar e educar iniciam-se na Educação
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras Infantil, ações destinadas a crianças a partir de zero ano, que devem
formas de discriminação. ser estendidas ao Ensino Fundamental, Médio e posteriores.
Esse conjunto de compromissos prevê também a defesa da Cuidar e educar significa compreender que o direito à educa-
paz; a autodeterminação dos povos; a prevalência dos direitos hu- ção parte do princípio da formação da pessoa em sua essência hu-
manos; o repúdio ao preconceito, à violência e ao terrorismo; e o mana. Trata-se de considerar o cuidado no sentido profundo do que
equilíbrio do meio ambiente, bem de uso comum do povo e essen- seja acolhimento de todos – crianças, adolescentes, jovens e adul-
cial à qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coleti- tos – com respeito e, com atenção adequada, de estudantes com
vidade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e as deficiência, jovens e adultos defasados na relação idade-escolari-
futuras gerações. dade, indígenas, afrodescendentes, quilombolas e povos do campo.
As bases que dão sustentação ao projeto nacional de educação Educar exige cuidado; cuidar é educar, envolvendo acolher,
responsabilizam o poder público, a família, a sociedade e a escola ouvir, encorajar, apoiar, no sentido de desenvolver o aprendizado
pela garantia a todos os estudantes de um ensino ministrado com de pensar e agir, cuidar de si, do outro, da escola, da natureza, da
base nos seguintes princípios: água, do Planeta. Educar é, enfim, enfrentar o desafio de lidar com
I – igualdade de condições para o acesso, inclusão, permanên- gente, isto é, com criaturas tão imprevisíveis e diferentes quanto
cia e sucesso na escola; semelhantes, ao longo de uma existência inscrita na teia das rela-
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultu- ções humanas, neste mundo complexo. Educar com cuidado signifi-
ra, o pensamento, a arte e o saber; ca aprender a amar sem dependência, desenvolver a sensibilidade
III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; humana na relação de cada um consigo, com o outro e com tudo
IV – respeito à liberdade e aos direitos; o que existe, com zelo, ante uma situação que requer cautela em
V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; busca da formação humana plena.
VI – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; A responsabilidade por sua efetivação exige corresponsabilida-
VII – valorização do profissional da educação escolar; de: de um lado, a responsabilidade estatal na realização de proce-
VIII – gestão democrática do ensino público, na forma da legis- dimentos que assegurem o disposto nos incisos VII e VIII, do artigo
lação e normas dos sistemas de ensino; 12 e VI do artigo 13, da LDB; de outro, a articulação com a família,
IX – garantia de padrão de qualidade; com o Conselho Tutelar, com o juiz competente da Comarca, com

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o representante do Ministério Público e com os demais segmentos deixou de ser uma reivindicação que situava o político na precedên-
da sociedade. Para que isso se efetive, torna-se exigência, também, cia do social: participar de decisões públicas significa obter direitos
a corresponsabilidade exercida pelos profissionais da educação, ne- e assumir deveres, solicitar ou assegurar certas condições de vida
cessariamente articulando a escola com as famílias e a comunidade. minimamente civilizadas.
Nota-se que apenas pelo cuidado não se constrói a educa- Em um contexto marcado pelo desenvolvimento de formas de
ção e as dimensões que a envolvem como projeto transformador exclusão cada vez mais sutis e humilhantes, a cidadania aparece
e libertador. A relação entre cuidar e educar se concebe mediante hoje como uma promessa de sociabilidade, em que a escola precisa
internalização consciente de eixos norteadores, que remetem à ex- ampliar parte de suas funções, solicitando de seus agentes a fun-
periência fundamental do valor, que influencia significativamente ção de mantenedores da paz nas relações sociais, diante das formas
a definição da conduta, no percurso cotidiano escolar. Não de um cada vez mais amplas e destrutivas de violência. Nessa perspectiva
valor pragmático e utilitário de educação, mas do valor intrínseco e no cenário em que a escola de Educação Básica se insere e em que
àquilo que deve caracterizar o comportamento de seres humanos, o professor e o estudante atuam, há que se perguntar: de que tipo
que respeitam a si mesmos, aos outros, à circunstância social e ao de educação os homens e as mulheres dos próximos 20 anos neces-
ecossistema. Valor este fundamentado na ética e na estética, que sitam, para participarem da construção desse mundo tão diverso?
rege a convivência do indivíduo no coletivo, que pressupõe rela- A que trabalho e a que cidadania se refere? Em outras palavras, que
ções de cooperação e solidariedade, de respeito à alteridade e à sociedade florescerá? Por isso mesmo, a educação brasileira deve
liberdade. assumir o desafio de propor uma escola emancipadora e liberta-
Cuidado, por sua própria natureza, inclui duas significações bá- dora.
sicas, intimamente ligadas entre si. A primeira consiste na atitude 2.2. Sistema Nacional de Educação
de solicitude e de atenção para com o outro. A segunda é de in-
quietação, sentido de responsabilidade, isto é, de cogitar, pensar, O Sistema Nacional de Educação é tema que vem suscitando
manter atenção, mostrar interesse, revelar atitude de desvelo, sem o aprofundamento da compreensão sobre sistema, no contexto da
perder a ternura (Boff, 1999, p. 91), compromisso com a formação história da educação, nesta Nação tão diversa geográfica, econô-
do sujeito livre e independente daqueles que o estão gerando como mica, social e culturalmente. O que a proposta de organização do
ser humano capaz de conduzir o seu processo formativo, com au- Sistema Nacional de Educação enfrenta é, fundamentalmente, o
tonomia e ética. desafio de superar a fragmentação das políticas públicas e a desar-
Cuidado é, pois, um princípio que norteia a atitude, o modo ticulação institucional dos sistemas de ensino entre si, diante do im-
prático de realizar-se, de viver e conviver no mundo. Por isso, na pacto na estrutura do financiamento, comprometendo a conquista
escola, o processo educativo não comporta uma atitude parcial, da qualidade social das aprendizagens, mediante conquista de uma
fragmentada, recortada da ação humana, baseada somente numa articulação orgânica.
racionalidade estratégico-procedimental. Inclui ampliação das di- Os debates sobre o Sistema Nacional de Educação, em vários
mensões constitutivas do trabalho pedagógico, mediante verifica- momentos, abordaram o tema das diretrizes para a Educação Bá-
ção das condições de aprendizagem apresentadas pelo estudante sica. Ambas as questões foram objeto de análise em interface, du-
e busca de soluções junto à família, aos órgãos do poder público, a rante as diferentes etapas preparatórias da Conferência Nacional de
diferentes segmentos da sociedade. Seu horizonte de ação abrange Educação (CONAE) de 2009, uma vez que são temas que se vincu-
a vida humana em sua globalidade. É essa concepção de educação lam a um objetivo comum: articular e fortalecer o sistema nacional
integral que deve orientar a organização da escola, o conjunto de de educação em regime de colaboração.
atividades nela realizadas, bem como as políticas sociais que se re- Para Saviani, o sistema é a unidade de vários elementos inten-
lacionam com as práticas educacionais. Em cada criança, adolescen- cionalmente reunidos de modo a formar um conjunto coerente e
te, jovem ou adulto, há uma criatura humana em formação e, nesse operante (2009, p. 38). Caracterizam, portanto, a noção de sistema:
sentido, cuidar e educar são, ao mesmo tempo, princípios e atos a intencionalidade humana; a unidade e variedade dos múltiplos
que orientam e dão sentido aos processos de ensino, de aprendi- elementos que se articulam; a coerência interna articulada com a
zagem e de construção da pessoa humana em suas múltiplas di- externa.
mensões. Alinhado com essa conceituação, este Parecer adota o enten-
Cabe, aqui, uma reflexão sobre o conceito de cidadania, a for- dimento de que sistema resulta da atividade intencional e organi-
ma como a ideia de cidadania foi tratada no Brasil e, em muitos camente concebida, que se justifica pela realização de atividades
casos, ainda o é. Reveste-se de uma característica – para usar os voltadas para as mesmas finalidades ou para a concretização dos
termos de Hannah Arendt – essencialmente “social”. Quer dizer: mesmos objetivos.
algo ainda derivado e circunscrito ao âmbito da pura necessidade. É Nessa perspectiva, e no contexto da estrutura federativa bra-
comum ouvir ou ler algo que sugere uma noção de cidadania como sileira, em que convivem sistemas educacionais autônomos, faz-se
“acesso dos indivíduos aos bens e serviços de uma sociedade mo- necessária a institucionalização de um regime de colaboração que
derna”, discurso contemporâneo de uma época em que os inúme- dê efetividade ao projeto de educação nacional. União, Estados,
ros movimentos sociais brasileiros lutavam, essencialmente, para Distrito Federal e Municípios, cada qual com suas peculiares com-
obter do Estado condições de existência mais digna, do ponto de petências, são chamados a colaborar para transformar a Educação
vista dominantemente material. Mesmo quando esse discurso se Básica em um conjunto orgânico, sequencial, articulado, assim
modificou num sentido mais “político” e menos “social”, quer dizer, como planejado sistemicamente, que responda às exigências dos
uma cidadania agora compreendida como a participação ativa dos estudantes, de suas aprendizagens nas diversas fases do desenvol-
indivíduos nas decisões pertinentes à sua vida cotidiana, esta não vimento físico, intelectual, emocional e social.

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Atende-se à dimensão orgânica quando são observadas as es- novas expectativas familiares e sociais que envolvem o jovem. Tais
pecificidades e as diferenças de cada uma das três etapas de escola- expectativas giram em torno de três variáveis principais conforme o
rização da Educação Básica e das fases que as compõem, sem perda estrato sociocultural em que se produzem: a) os “conflitos da ado-
do que lhes é comum: as semelhanças, as identidades inerentes à lescência”; b) a maior ou menor aproximação ao mundo do traba-
condição humana em suas determinações históricas e não apenas lho; c) a crescente aproximação aos rituais da passagem da Educa-
do ponto de vista da qualidade da sua estrutura e organização. Cada ção Básica para a Educação Superior.
etapa do processo de escolarização constitui-se em unidade, que Em resumo, o conjunto da Educação Básica deve se constituir
se articula organicamente com as demais de maneira complexa e em um processo orgânico, sequencial e articulado, que assegure à
intrincada, permanecendo todas elas, em suas diferentes modali- criança, ao adolescente, ao jovem e ao adulto de qualquer condição
dades, individualizadas, ao logo do percurso do escolar, apesar das e região do País a formação comum para o pleno exercício da cida-
mudanças por que passam por força da singularidade de cada uma, dania, oferecendo as condições necessárias para o seu desenvolvi-
bem assim a dos sujeitos que lhes dão vida. mento integral. Estas são finalidades de todas as etapas constituti-
Atende-se à dimensão sequencial quando os processos edu- vas da Educação Básica, acrescentando-se os meios para que possa
cativos acompanham as exigências de aprendizagem definidas em progredir no mundo do trabalho e acessar a Educação Superior. São
cada etapa da trajetória escolar da Educação Básica (Educação In- referências conceituais e legais, bem como desafio para as diferen-
fantil, Ensino Fundamental e Médio), até a Educação Superior. São tes instâncias responsáveis pela concepção, aprovação e execução
processos educativos que, embora se constituam em diferentes das políticas educacionais.
e insubstituíveis momentos da vida dos estudantes, inscritos em
tempos e espaços educativos próprios a cada etapa do desenvolvi- 2.3. Acesso e permanência para a conquista da qualidade
mento humano, inscrevem-se em trajetória que deve ser contínua social
e progressiva.
A articulação das dimensões orgânica e sequencial das etapas A qualidade social da educação brasileira é uma conquista a ser
e modalidades da Educação Básica, e destas com a Educação Supe- construída de forma negociada, pois significa algo que se concretiza
rior, implica a ação coordenada e integradora do seu conjunto; o a partir da qualidade da relação entre todos os sujeitos que nela
exercício efetivo do regime de colaboração entre os entes federa- atuam direta e indiretamente.
dos, cujos sistemas de ensino gozam de autonomia constitucional- Significa compreender que a educação é um processo de so-
mente reconhecida. Isso pressupõe o estabelecimento de regras de cialização da cultura da vida, no qual se constroem, se mantêm e se
equivalência entre as funções distributiva, supletiva, de regulação transformam conhecimentos e valores. Socializar a cultura inclui ga-
normativa, de supervisão e avaliação da educação nacional, respei- rantir a presença dos sujeitos das aprendizagens na escola. Assim,
tada a autonomia dos sistemas e valorizadas as diferenças regionais. a qualidade social da educação escolar supõe a sua permanência,
Sem essa articulação, o projeto educacional – e, por conseguinte, o não só com a redução da evasão, mas também da repetência e da
projeto nacional – corre o perigo de comprometer a unidade e a distorção idade/ano/série.
qualidade pretendida, inclusive quanto ao disposto no artigo 22 da Para assegurar o acesso ao Ensino Fundamental, como direito
LDB: desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum in- público subjetivo, no seu artigo 5º, a LDB instituiu medidas que se
dispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para interpenetram ou complementam, estabelecendo que, para exigir o
progredir no trabalho e em estudos posteriores, inspirada nos prin- cumprimento pelo Estado desse ensino obrigatório, qualquer cida-
cípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana. dão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindi-
Mais concretamente, há de se prever que a transição entre Pré- cal, entidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o
-Escola e Ensino Fundamental pode se dar no interior de uma mes- Ministério Público, podem acionar o poder público.
ma instituição, requerendo formas de articulação das dimensões Esta medida se complementa com a obrigatoriedade atribuída
orgânica e sequencial entre os docentes de ambos os segmentos aos Estados e aos Municípios, em regime de colaboração, e com a
que assegurem às crianças a continuidade de seus processos pecu- assistência da União, de recensear a população em idade escolar
liares de aprendizagem e desenvolvimento. Quando a transição se para o Ensino Fundamental, e os jovens e adultos que a ele não
dá entre instituições diferentes, essa articulação deve ser especial- tiveram acesso, para que seja efetuada a chamada pública corres-
mente cuidadosa, garantida por instrumentos de registro – portfó- pondente.
lios, relatórios que permitam, aos docentes do Ensino Fundamental Quanto à família, os pais ou responsáveis são obrigados a ma-
de uma outra escola, conhecer os processos de desenvolvimento e tricular a criança no Ensino Fundamental, a partir dos 6 anos de
aprendizagem vivenciados pela criança na Educação Infantil da es- idade, sendo que é prevista sanção a esses e/ou ao poder público,
cola anterior. Mesmo no interior do Ensino Fundamental, há de se caso descumpram essa obrigação de garantia dessa etapa escolar.
cuidar da fluência da transição da fase dos anos iniciais para a fase Quanto à obrigatoriedade de permanência do estudante na
dos anos finais, quando a criança passa a ter diversos docentes, que escola, principalmente no Ensino Fundamental, há, na mesma Lei,
conduzem diferentes componentes e atividades, tornando-se mais exigências que se centram nas relações entre a escola, os pais ou
complexas a sistemática de estudos e a relação com os professores. responsáveis, e a comunidade, de tal modo que a escola e os siste-
A transição para o Ensino Médio apresenta contornos bastante mas de ensino tornam-se responsáveis por:
diferentes dos anteriormente referidos, uma vez que, ao ingressa- - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola;
rem no Ensino Médio, os jovens já trazem maior experiência com - articular-se com as famílias e a comunidade, criando proces-
o ambiente escolar e suas rotinas; além disso, a dependência dos sos de integração da sociedade com a escola;
adolescentes em relação às suas famílias é quantitativamente me- - informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendi-
nor e qualitativamente diferente. Mas, certamente, isso não signi- mento dos estudantes, bem como sobre a execução de sua propos-
fica que não se criem tensões, que derivam, principalmente, das ta pedagógica;

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- notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competen- las-ambiente, biblioteca, videoteca etc.) requeridos para responder
te da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público ao projeto político-pedagógico pactuado, vinculados às condições/
a relação dos estudantes que apresentem quantidade de faltas aci- disponibilidades mínimas para se instaurar a primazia da aquisição
ma de cinquenta por cento do percentual permitido em lei. e do desenvolvimento de hábitos investigatórios para construção
No Ensino Fundamental e, nas demais etapas da Educação Bá- do conhecimento.
sica, a qualidade não tem sido tão estimulada quanto à quantidade. A escola de qualidade social adota como centralidade o diálo-
Depositar atenção central sobre a quantidade, visando à universa- go, a colaboração, os sujeitos e as aprendizagens, o que pressupõe,
lização do acesso à escola, é uma medida necessária, mas que não sem dúvida, atendimento a requisitos tais como:
assegura a permanência, essencial para compor a qualidade. Em I – revisão das referências conceituais quanto aos diferentes
outras palavras, a oportunidade de acesso, por si só, é destituída espaços e tempos educativos, abrangendo espaços sociais na escola
de condições suficientes para inserção no mundo do conhecimento. e fora dela;
O conceito de qualidade na escola, numa perspectiva ampla e II – consideração sobre a inclusão, a valorização das diferenças
basilar, remete a uma determinada ideia de qualidade de vida na e o atendimento à
sociedade e no planeta Terra. Inclui tanto a qualidade pedagógica pluralidade e à diversidade cultural, resgatando e respeitando
quanto a qualidade política, uma vez que requer compromisso com os direitos humanos, individuais e coletivos e as várias manifesta-
a permanência do estudante na escola, com sucesso e valorização ções de cada comunidade;
dos profissionais da educação. Trata-se da exigência de se conceber III – foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela apren-
a qualidade na escola como qualidade social, que se conquista por dizagem, e na avaliação das aprendizagens como instrumento de
meio de acordo coletivo. Ambas as qualidades – pedagógica e po- contínua progressão dos estudantes;
lítica – abrangem diversos modos avaliativos comprometidos com
IV – inter-relação entre organização do currículo, do trabalho
a aprendizagem do estudante, interpretados como indicações que
pedagógico e da jornada de trabalho do professor, tendo como foco
se interpenetram ao longo do processo didáticopedagógico, o qual
a aprendizagem do estudante;
tem como alvo o desenvolvimento do conhecimento e dos saberes
V – preparação dos profissionais da educação, gestores, profes-
construídos histórica e socialmente.
O compromisso com a permanência do estudante na escola é, sores, especialistas, técnicos, monitores e outros;
portanto, um desafio a ser assumido por todos, porque, além das VI – compatibilidade entre a proposta curricular e a infraestru-
determinações sociopolíticas e culturais, das diferenças individu- tura entendida como espaço formativo dotado de efetiva disponibi-
ais e da organização escolar vigente, há algo que supera a política lidade de tempos para a sua utilização e acessibilidade;
reguladora dos processos educacionais: há os fluxos migratórios, VII – integração dos profissionais da educação, os estudantes,
além de outras variáveis que se refletem no processo educativo. as famílias, os agentes da comunidade interessados na educação;
Essa é uma variável externa que compromete a gestão macro da VIII – valorização dos profissionais da educação, com programa
educação, em todas as esferas, e, portanto, reforça a premência de de formação continuada, critérios de acesso, permanência, remu-
se criarem processos gerenciais que proporcionem a efetivação do neração compatível com a jornada de trabalho definida no projeto
disposto no artigo 5º e no inciso VIII do artigo 12 da LDB, quanto ao político-pedagógico;
direito ao acesso e à permanência na escola de qualidade. IX – realização de parceria com órgãos, tais como os de assis-
Assim entendida, a qualidade na escola exige de todos os sujei- tência social, desenvolvimento e direitos humanos, cidadania, ci-
tos do processo educativo: ência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e arte, saúde, meio
I – a instituição da Política Nacional de Formação de Profissio- ambiente.
nais do Magistério da Educação Básica, com a finalidade de organi- No documento “Indicadores de Qualidade na Educação” (Ação
zar, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Educativa, 2004), a qualidade é vista com um caráter dinâmico, por-
Federal e os Municípios, a formação inicial e continuada dos profis- que cada escola tem autonomia para refletir, propor e agir na busca
sionais do magistério para as redes públicas da educação (Decreto da qualidade do seu trabalho, de acordo com os contextos sociocul-
nº 6.755, de 29 de janeiro de 2009); turais locais. Segundo o autor, os indicadores de qualidade são si-
II – ampliação da visão política expressa por meio de habilida- nais adotados para que se possa qualificar algo, a partir dos critérios
des inovadoras, fundamentadas na capacidade para aplicar técnicas e das prioridades institucionais. Destaque-se que os referenciais e
e tecnologias orientadas pela ética e pela estética; indicadores de avaliação são componentes curriculares, porque
III – responsabilidade social, princípio educacional que norteia tê-los em mira facilita a aproximação entre a escola que se tem e
o conjunto de sujeitos comprometidos com o projeto que definem aquela que se quer, traduzida no projeto político-pedagógico, para
e assumem como expressão e busca da qualidade da escola, fruto
além do que fica disposto no inciso IX do artigo 4º da LDB: definição
do empenho de todos.
de padrões mínimos de qualidade de ensino, como a variedade e
Construir a qualidade social pressupõe conhecimento dos inte-
quantidade mínimas, por estudante, de insumos indispensáveis ao
resses sociais da comunidade escolar para que seja possível educar
desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.
e cuidar mediante interação efetivada entre princípios e finalidades
educacionais, objetivos, conhecimento e concepções curriculares. Essa exigência legal traduz a necessidade de se reconhecer que
Isso abarca mais que o exercício político-pedagógico que se viabiliza a avaliação da qualidade associa-se à ação planejada, coletivamen-
mediante atuação de todos os sujeitos da comunidade educativa. te, pelos sujeitos da escola e supõe que tais sujeitos tenham clareza
Ou seja, efetiva-se não apenas mediante participação de todos os quanto:
sujeitos da escola – estudante, professor, técnico, funcionário, coor- I – aos princípios e às finalidades da educação, além do reco-
denador – mas também mediante aquisição e utilização adequada nhecimento e análise dos dados indicados pelo IDEB e/ou outros
dos objetos e espaços (laboratórios, equipamentos, mobiliário, sa- indicadores, que complementem ou substituam estes;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

II – à relevância de um projeto político-pedagógico concebido e Daí entenderem que toda política curricular é uma política cul-
assumido coletivamente pela comunidade educacional, respeitadas tural, pois o currículo é fruto de uma seleção e produção de sabe-
as múltiplas diversidades e a pluralidade cultural; res: campo conflituoso de produção de cultura, de embate entre
III – à riqueza da valorização das diferenças manifestadas pelos pessoas concretas, concepções de conhecimento e aprendizagem,
sujeitos do processo educativo, em seus diversos segmentos, res- formas de imaginar e perceber o mundo. Assim, as políticas curri-
peitados o tempo e o contexto sociocultural; culares não se resumem apenas a propostas e práticas enquanto
IV – aos padrões mínimos de qualidade(Custo Aluno Qualidade documentos escritos, mas incluem os processos de planejamento,
inicial – CAQi), que apontam para quanto deve ser investido por es- vivenciados e reconstruídos em múltiplos espaços e por múltiplas
tudante de cada etapa e modalidade da Educação Básica, para que singularidades no corpo social da educação. Para Lopes (2004, p.
o País ofereça uma educação de qualidade a todos os estudantes. 112), mesmo sendo produções para além das instâncias governa-
Para se estabelecer uma educação com um padrão mínimo de mentais, não significa desconsiderar o poder privilegiado que a es-
qualidade, é necessário investimento com valor calculado a partir fera governamental possui na produção de sentidos nas políticas,
das despesas essenciais ao desenvolvimento dos processos e pro- pois as práticas e propostas desenvolvidas nas escolas também são
cedimentos formativos, que levem, gradualmente, a uma educação produtoras de sentidos para as políticas curriculares.
integral, dotada de qualidade social: creches e escolas possuindo Os efeitos das políticas curriculares, no contexto da prática, são
condições de infraestrutura e de adequados equipamentos e de condicionados por questões institucionais e disciplinares que, por
acessibilidade; professores qualificados com remuneração adequa- sua vez, têm diferentes histórias, concepções pedagógicas e formas
da e compatível com a de outros profissionais com igual nível de de organização, expressas em diferentes publicações. As políticas
formação, em regime de trabalho de 40 horas em tempo integral estão sempre em processo de vir-a-ser, sendo múltiplas as leituras
em uma mesma escola; definição de uma relação adequada entre possíveis de serem realizadas por múltiplos leitores, em um cons-
o número de estudantes por turma e por professor, que assegure tante processo de interpretação das interpretações.
aprendizagens relevantes; pessoal de apoio técnico e administrati- As fronteiras são demarcadas quando se admite tão somente a
vo que garanta o bom funcionamento da escola. ideia de currículo formal. Mas as reflexões teóricas sobre currículo
têm como referência os princípios educacionais garantidos à edu-
2.4. Organização curricular: conceito, limites, possibilidades cação formal. Estes estão orientados pela liberdade de aprender,
ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o
No texto “Currículo, conhecimento e cultura”, Moreira e Can- conhecimento científico, além do pluralismo de ideias e de concep-
dau (2006) apresentam diversas definições atribuídas a currículo, a ções pedagógicas, assim como a valorização da experiência extra-
partir da concepção de cultura como prática social, ou seja, como escolar, e a vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as
algo que, em vez de apresentar significados intrínsecos, como ocor- práticas sociais.
re, por exemplo, com as manifestações artísticas, a cultura expressa Assim, e tendo como base o teor do artigo 27 da LDB, pode-se
significados atribuídos a partir da linguagem. Em poucas palavras, entender que o processo didático em que se realizam as aprendiza-
essa concepção é definida como “experiências escolares que se gens fundamenta-se na diretriz que assim delimita o conhecimento
desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações para o conjunto de atividades:
sociais, buscando articular vivências e saberes dos alunos com os Os conteúdos curriculares da Educação Básica observarão, ain-
conhecimentos historicamente acumulados e contribuindo para da, as seguintes diretrizes:
construir as identidades dos estudantes” (idem, p. 22). Uma vez de- I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos
limitada a ideia sobre cultura, os autores definem currículo como: direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à
conjunto de práticas que proporcionam a produção, a circulação e ordem democrática;
o consumo de significados no espaço social e que contribuem, in- II - consideração das condições de escolaridade dos estudantes
tensamente, para a construção de identidades sociais e culturais. em cada estabelecimento;
O currículo é, por consequência, um dispositivo de grande efeito III - orientação para o trabalho;
no processo de construção da identidade do (a) estudante (p. 27). IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas des-
Currículo refere-se, portanto, a criação, recriação, contestação e portivas não formais.
transgressão (Moreira e Silva, 1994). Desse modo, os valores sociais, bem como os direitos e deveres
Nesse sentido, a fonte em que residem os conhecimentos esco- dos cidadãos, relacionam-se com o bem comum e com a ordem
lares são as práticas socialmente construídas. Segundo os autores, democrática. Estes são conceitos que requerem a atenção da comu-
essas práticas se constituem em “âmbitos de referência dos currícu- nidade escolar para efeito de organização curricular, cuja discussão
los” que correspondem: tem como alvo e motivação a temática da construção de identida-
a) às instituições produtoras do conhecimento científico (uni- des sociais e culturais. A problematização sobre essa temática con-
versidades e centros de pesquisa); tribui para que se possa compreender, coletivamente, que educa-
b) ao mundo do trabalho; ção cidadã consiste na interação entre os sujeitos, preparando-os
c) aos desenvolvimentos tecnológicos; por meio das atividades desenvolvidas na escola, individualmente e
d) às atividades desportivas e corporais; em equipe, para se tornarem aptos a contribuir para a construção
e) à produção artística; de uma sociedade mais solidária, em que se exerça a liberdade, a
f) ao campo da saúde; autonomia e a responsabilidade. Nessa perspectiva, cabe à insti-
g) às formas diversas de exercício da cidadania; tuição escolar compreender como o conhecimento é produzido e
h) aos movimentos sociais. socialmente valorizado e como deve ela responder a isso. É nesse

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sentido que as instâncias gestoras devem se fortalecer instaurando Essa distância necessita ser superada, mediante aproximação
um processo participativo organizado formalmente, por meio de dos recursos tecnológicos de informação e comunicação, estimu-
colegiados, da organização estudantil e dos movimentos sociais. lando a criação de novos métodos didático-pedagógicos, para que
A escola de Educação Básica é espaço coletivo de convívio, tais recursos e métodos sejam inseridos no cotidiano escolar. Isto
onde são privilegiadas trocas, acolhimento e aconchego para ga- porque o conhecimento científico, nos tempos atuais, exige da es-
rantir o bem-estar de crianças, adolescentes, jovens e adultos, no cola o exercício da compreensão, valorização da ciência e da tec-
relacionamento entre si e com as demais pessoas. É uma instância nologia desde a infância e ao longo de toda a vida, em busca da
em que se aprende a valorizar a riqueza das raízes culturais próprias ampliação do domínio do conhecimento científico: uma das condi-
das diferentes regiões do País que, juntas, formam a Nação. Nela se ções para o exercício da cidadania. O conhecimento científico e as
ressignifica e recria a cultura herdada, reconstruindo as identidades novas tecnologias constituem-se, cada vez mais, condição para que
culturais, em que se aprende a valorizar as raízes próprias das dife- a pessoa saiba se posicionar frente a processos e inovações que a
rentes regiões do País. afetam.
Essa concepção de escola exige a superação do rito escolar, Não se pode, pois, ignorar que se vive: o avanço do uso da
desde a construção do currículo até os critérios que orientam a or- energia nuclear; da nanotecnologia; a conquista da produção de
ganização do trabalho escolar em sua multidimensionalidade, privi- alimentos geneticamente modificados; a clonagem biológica. Nesse
legia trocas, acolhimento e aconchego, para garantir o bem-estar de contexto, tanto o docente quanto o estudante e o gestor requerem
crianças, adolescentes, jovens e adultos, no relacionamento inter- uma escola em que a cultura, a arte, a ciência e a tecnologia estejam
pessoal entre todas as pessoas. presentes no cotidiano escolar, desde o início da Educação Básica.
Cabe, pois, à escola, diante dessa sua natureza, assumir di- Tendo em vista a amplitude do papel socioeducativo atribuído
ferentes papéis, no exercício da sua missão essencial, que é a de ao conjunto orgânico da Educação Básica, cabe aos sistemas edu-
construir uma cultura de direitos humanos para preparar cidadãos cacionais, em geral, definir o programa de escolas de tempo parcial
plenos. A educação destina-se a múltiplos sujeitos e tem como ob- diurno (matutino e/ou vespertino), tempo parcial noturno e tempo
jetivo a troca de saberes, a socialização e o confronto do conheci- integral (turno e contra-turno ou turno único com jornada escolar
mento, segundo diferentes abordagens, exercidas por pessoas de de 7 horas, no mínimo, durante todo o período letivo), o que requer
diferentes condições físicas, sensoriais, intelectuais e emocionais, outra e diversa organização e gestão do trabalho pedagógico, con-
classes sociais, crenças, etnias, gêneros, origens, contextos socio- templando as diferentes redes de ensino, a partir do pressuposto
culturais, e da cidade, do campo e de aldeias. Por isso, é preciso de que compete a todas elas o desenvolvimento integral de suas
demandas, numa tentativa de superação das desigualdades de na-
fazer da escola a instituição acolhedora, inclusiva, pois essa é uma
tureza sociocultural, socioeconômica e outras.
opção “transgressora”, porque rompe com a ilusão da homogenei-
Há alguns anos, se tem constatado a necessidade de a criança,
dade e provoca, quase sempre, uma espécie de crise de identidade
o adolescente e o jovem, particularmente aqueles das classes so-
institucional.
ciais trabalhadoras, permanecerem mais tempo na escola
A escola é, ainda, espaço em que se abrigam desencontros de
Tem-se defendido que o estudante poderia beneficiar-se da
expectativas, mas também acordos solidários, norteados por prin-
ampliação da jornada escolar, no espaço único da escola ou dife-
cípios e valores educativos pactuados por meio do projeto político-
rentes espaços educativos, nos quais a permanência do estudante
-pedagógico concebido segundo as demandas sociais e aprovado
se liga tanto à quantidade e qualidade do tempo diário de escolari-
pela comunidade educativa. zação, quanto à diversidade de atividades de aprendizagens.
Por outro lado, enquanto a escola se prende às características Assim, a qualidade da permanência em tempo integral do estu-
de metodologias tradicionais, com relação ao ensino e à aprendi- dante nesses espaços implica a necessidade da incorporação efetiva
zagem como ações concebidas separadamente, as características e orgânica no currículo de atividades e estudos pedagogicamente
de seus estudantes requerem outros processos e procedimentos, planejados e acompanhados ao longo de toda a jornada.
em que aprender, ensinar, pesquisar, investigar, avaliar ocorrem No projeto nacional de educação, tanto a escola de tempo inte-
de modo indissociável. Os estudantes, entre outras características, gral quanto a de tempo parcial, diante da sua responsabilidade edu-
aprendem a receber informação com rapidez, gostam do processo cativa, social e legal, assumem a aprendizagem compreendendo-a
paralelo, de realizar várias tarefas ao mesmo tempo, preferem fa- como ação coletiva conectada com a vida, com as necessidades,
zer seus gráficos antes de ler o texto, enquanto os docentes creem possibilidades e interesses das crianças, dos jovens e dos adultos.
que acompanham a era digital apenas porque digitam e imprimem O direito de aprender é, portanto, intrínseco ao direito à dignidade
textos, têm e-mail, não percebendo que os estudantes nasceram humana, à liberdade, à inserção social, ao acesso aos bens sociais,
na era digital artísticos e culturais, significando direito à saúde em todas as suas
As tecnologias da informação e comunicação constituem uma implicações, ao lazer, ao esporte, ao respeito, à integração familiar
parte de um contínuo desenvolvimento de tecnologias, a começar e comunitária. Conforme o artigo 34 da LDB, o Ensino Fundamental
pelo giz e os livros, todos podendo apoiar e enriquecer as apren- incluirá, pelo menos, quatro horas de trabalho efetivo em sala de
dizagens. Como qualquer ferramenta, devem ser usadas e adap- aula, sendo progressivamente ampliado o período de permanência
tadas para servir a fins educacionais e como tecnologia assistiva; na escola, até que venha a ser ministrado em tempo integral (§ 2º).
desenvolvidas de forma a possibilitar que a interatividade virtual se Essa disposição, obviamente, só é factível para os cursos do período
desenvolva de modo mais intenso, inclusive na produção de lingua- diurno, tanto é que o § 1º ressalva os casos do ensino noturno.
gens. Assim, a infraestrutura tecnológica, como apoio pedagógico Os cursos em tempo parcial noturno, na sua maioria, são de
às atividades escolares, deve também garantir acesso dos estudan- Educação de Jovens e Adultos (EJA) destinados, mormente, a es-
tes à biblioteca, ao rádio, à televisão, à internet aberta às possibili- tudantes trabalhadores, com maior maturidade e experiência de
dades da convergência digital. vida. São poucos, porém, os cursos regulares noturnos destinados a

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adolescentes e jovens de 15 a 18 anos ou pouco mais, os quais são terdisciplinar e transdisciplinar requerem a atenção criteriosa da
compelidos ao estudo nesse turno por motivos de defasagem esco- instituição escolar, porque revelam a visão de mundo que orienta
lar e/ou de inadaptação aos métodos adotados e ao convívio com as práticas pedagógicas dos educadores e organizam o trabalho do
colegas de idades menores. A regra tem sido induzi-los a cursos estudante. Perpassam todos os aspectos da organização escolar,
de EJA, quando o necessário são cursos regulares, com programas desde o planejamento do trabalho pedagógico, a gestão adminis-
adequados à sua faixa etária, como, aliás, é claramente prescrito trativo-acadêmica, até a organização do tempo e do espaço físico
no inciso VI do artigo 4º da LDB: oferta de ensino noturno regular, e a seleção, disposição e utilização dos equipamentos e mobiliário
adequado às condições do educando. da instituição, ou seja, todo o conjunto das atividades que se reali-
zam no espaço escolar, em seus diferentes âmbitos. As abordagens
2.4.1. Formas para a organização curricular multidisciplinar, pluridisciplinar e interdisciplinar fundamentam-se
nas mesmas bases, que são as disciplinas, ou seja, o recorte do co-
Retoma-se aqui o entendimento de que currículo é o conjunto nhecimento.
de valores e práticas que proporcionam a produção e a socialização Para Basarab Nicolescu (2000, p. 17), em seu artigo “Um novo
de significados no espaço social e que contribuem, intensamente, tipo de conhecimento: transdisciplinaridade”, a disciplinaridade, a
para a construção de identidades sociais e culturais dos estudantes. pluridisciplinaridade, a transdisciplinaridade e a interdisciplinari-
E reitera-se que deve difundir os valores fundamentais do interes- dade são as quatro flechas de um único e mesmo arco: o do co-
se social, dos direitos e deveres dos cidadãos, do respeito ao bem nhecimento. Enquanto a multidisciplinaridade expressa frações do
comum e à ordem democrática, bem como considerar as condições conhecimento e o hierarquiza, a pluridisciplinaridade estuda um
de escolaridade dos estudantes em cada estabelecimento, a orien- objeto de uma disciplina pelo ângulo de várias outras ao mesmo
tação para o trabalho, a promoção de práticas educativas formais e tempo. Segundo Nicolescu, a pesquisa pluridisciplinar traz algo a
não-formais. mais a uma disciplina, mas restringe-se a ela, está a serviço dela.
Na Educação Básica, a organização do tempo curricular deve A transdisciplinaridade refere-se ao conhecimento próprio da
ser construída em função das peculiaridades de seu meio e das ca- disciplina, mas está para além dela. O conhecimento situa-se na
racterísticas próprias dos seus estudantes, não se restringindo às disciplina, nas diferentes disciplinas e além delas, tanto no espaço
aulas das várias disciplinas. O percurso formativo deve, nesse sen- quanto no tempo. Busca a unidade do conhecimento na relação en-
tido, ser aberto e contextualizado, incluindo não só os componen- tre a parte e o todo, entre o todo e a parte. Adota atitude de aber-
tes curriculares centrais obrigatórios, previstos na legislação e nas tura sobre as culturas do presente e do passado, uma assimilação
normas educacionais, mas, também, conforme cada projeto escolar da cultura e da arte. O desenvolvimento da capacidade de articular
estabelecer, outros componentes flexíveis e variáveis que possibili- diferentes referências de dimensões da pessoa humana, de seus di-
tem percursos formativos que atendam aos inúmeros interesses, reitos, e do mundo é fundamento básico da transdisciplinaridade.
necessidades e características dos educandos. De acordo com Nicolescu (p. 15), para os adeptos da transdiscipli-
Quanto à concepção e à organização do espaço curricular e físi- naridade, o pensamento clássico é o seu campo de aplicação, por
co, se imbricam e se alargam, por incluir no desenvolvimento curri- isso é complementar à pesquisa pluri e interdisciplinar.
cular ambientes físicos, didático-pedagógicos e equipamentos que A interdisciplinaridade pressupõe a transferência de métodos
não se reduzem às salas de aula, incluindo outros espaços da escola de uma disciplina para outra. Ultrapassa-as, mas sua finalidade
e de outras instituições escolares, bem como os socioculturais e es- inscreve-se no estudo disciplinar. Pela abordagem interdisciplinar
portivo-recreativos do entorno, da cidade e mesmo da região. ocorre a transversalidade do conhecimento constitutivo de dife-
Essa ampliação e diversificação dos tempos e espaços curricu- rentes disciplinas, por meio da ação didático-pedagógica mediada
lares pressupõe profissionais da educação dispostos a reinventar e pela pedagogia dos projetos temáticos. Estes facilitam a organiza-
construir essa escola, numa responsabilidade compartilhada com ção coletiva e cooperativa do trabalho pedagógico, embora sejam
as demais autoridades encarregadas da gestão dos órgãos do poder ainda recursos que vêm sendo utilizados de modo restrito e, às
público, na busca de parcerias possíveis e necessárias, até porque vezes, equivocados. A interdisciplinaridade é, portanto, entendida
educar é responsabilidade da família, do Estado e da sociedade. aqui como abordagem teórico metodológica em que a ênfase inci-
A escola precisa acolher diferentes saberes, diferentes manifes- de sobre o trabalho de integração das diferentes áreas do conheci-
tações culturais e diferentes óticas, empenhar-se para se constituir, mento, um real trabalho de cooperação e troca, aberto ao diálogo
ao mesmo tempo, em um espaço de heterogeneidade e pluralida- e ao planejamento (Nogueira, 2001, p. 27). Essa orientação deve
de, situada na diversidade em movimento, no processo tornado ser enriquecida, por meio de proposta temática trabalhada trans-
possível por meio de relações intersubjetivas, fundamentada no versalmente ou em redes de conhecimento e de aprendizagem, e
princípio emancipador. Cabe, nesse sentido, às escolas desempe- se expressa por meio de uma atitude que pressupõe planejamento
nhar o papel socioeducativo, artístico, cultural, ambiental, funda- sistemático e integrado e disposição para o diálogo.
mentadas no pressuposto do respeito e da valorização das diferen- A transversalidade é entendida como uma forma de organizar
ças, entre outras, de condição física, sensorial e socioemocional, o trabalho didáticopedagógico em que temas, eixos temáticos são
origem, etnia, gênero, classe social, contexto sociocultural, que dão integrados às disciplinas, às áreas ditas convencionais de forma a
sentido às ações educativas, enriquecendo-as, visando à supera- estarem presentes em todas elas. A transversalidade difere-se da
ção das desigualdades de natureza sociocultural e socioeconômica. interdisciplinaridade e complementam-se; ambas rejeitam a con-
Contemplar essas dimensões significa a revisão dos ritos escolares cepção de conhecimento que toma a realidade como algo estável,
e o alargamento do papel da instituição escolar e dos educadores, pronto e acabado. A primeira se refere à dimensão didático-peda-
adotando medidas proativas e ações preventivas. Na organização e gógica e a segunda, à abordagem epistemológica dos objetos de
gestão do currículo, as abordagens disciplinar, pluridisciplinar, in- conhecimento.

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A transversalidade orienta para a necessidade de se instituir, na da “grade” burocraticamente estabelecida. Em sua história, esta
prática educativa, uma analogia entre aprender conhecimentos te- recebeu conceitos a partir dos quais não se pode considerar que
oricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as ques- matriz e grade sejam sinônimas. Mas o que é matriz? E como deve
tões da vida real (aprender na realidade e da realidade). Dentro de ser entendida a expressão “curricular”, se forem consideradas as
uma compreensão interdisciplinar do conhecimento, a transversa- orientações para a educação nacional, pelos atos legais e normas
lidade tem significado, sendo uma proposta didática que possibili- vigentes? Se o termo matriz for concebido tendo como referência o
ta o tratamento dos conhecimentos escolares de forma integrada. discurso das ciências econômicas, pode ser apreendida como cor-
Assim, nessa abordagem, a gestão do conhecimento parte do pres- relata de grade. Se for considerada a partir de sua origem etimoló-
suposto de que os sujeitos são agentes da arte de problematizar e gica, será entendida como útero (lugar onde o feto de desenvolve),
interrogar, e buscam procedimentos interdisciplinares capazes de ou seja, lugar onde algo é concebido, gerado e/ou criado (como
acender a chama do diálogo entre diferentes sujeitos, ciências, sa- a pepita vinda da matriz) ou, segundo Antônio Houaiss (2001, p.
beres e temas. 1870), aquilo que é fonte ou origem, ou ainda, segundo o mesmo
A prática interdisciplinar é, portanto, uma abordagem que fa- autor, a casa paterna ou materna, espaço de referência dos filhos,
cilita o exercício da transversalidade, constituindo-se em caminhos mesmo após casados. Admitindo a acepção de matriz como lugar
facilitadores da integração do processo formativo dos estudantes, onde algo é concebido, gerado ou criado ou como aquilo que é fon-
pois ainda permite a sua participação na escolha dos temas prio- te ou origem, não se admite equivalência de sentido, menos ainda
ritários. Desse ponto de vista, a interdisciplinaridade e o exercício como desenho simbólico ou instrumental da matriz curricular com
da transversalidade ou do trabalho pedagógico centrado em eixos o mesmo formato e emprego atribuído historicamente à grade cur-
temáticos, organizados em redes de conhecimento, contribuem ricular. A matriz curricular deve, portanto, ser entendida como algo
para que a escola dê conta de tornar os seus sujeitos conscientes que funciona assegurando movimento, dinamismo, vida curricular
de seus direitos e deveres e da possibilidade de se tornarem aptos a e educacional na sua multidimensionalidade, de tal modo que os di-
aprender a criar novos direitos, coletivamente. De qualquer forma, ferentes campos do conhecimento possam se coadunar com o con-
esse percurso é promovido a partir da seleção de temas entre eles o junto de atividades educativas e instigar, estimular o despertar de
tema dos direitos humanos, recomendados para serem abordados necessidades e desejos nos sujeitos que dão vida à escola como um
ao longo do desenvolvimento de componentes curriculares com todo. A matriz curricular constitui-se no espaço em que se delimita
os quais guardam intensa ou relativa relação temática, em função o conhecimento e representa, além de alternativa operacional que
de prescrição definida pelos órgãos do sistema educativo ou pela subsidia a gestão de determinado currículo escolar, subsídio para a
comunidade educacional, respeitadas as características próprias da gestão da escola (organização do tempo e espaço curricular; distri-
etapa da Educação Básica que a justifica. buição e controle da carga horária docente) e primeiro passo para a
Conceber a gestão do conhecimento escolar enriquecida pela conquista de outra forma de gestão do conhecimento pelos sujeitos
adoção de temas a serem tratados sob a perspectiva transversal que dão vida ao cotidiano escolar, traduzida como gestão centrada
exige da comunidade educativa clareza quanto aos princípios e às na abordagem interdisciplinar. Neste sentido, a matriz curricular
finalidades da educação, além de conhecimento da realidade con- deve se organizar por “eixos temáticos”, definidos pela unidade es-
textual, em que as escolas, representadas por todos os seus sujeitos colar ou pelo sistema educativo.
e a sociedade, se acham inseridas. Para a definição de eixos temáticos norteadores da organização
Para isso, o planejamento das ações pedagógicas pactuadas de
e desenvolvimento curricular, parte-se do entendimento de que o
modo sistemático e integrado é pré-requisito indispensável à orga-
programa de estudo aglutina investigações e pesquisas sob dife-
nicidade, sequencialidade e articulação do conjunto das aprendiza-
rentes enfoques. O eixo temático organiza a estrutura do trabalho
gens perspectivadas, o que requer a participação de todos. Parte-
pedagógico, limita a dispersão temática e fornece o cenário no qual
-se, pois, do pressuposto de que, para ser tratada transversalmente,
são construídos os objetos de estudo. O trabalho com eixos temá-
a temática atravessa, estabelece elos, enriquece, complementa
ticos permite a concretização da proposta de trabalho pedagógico
temas e/ou atividades tratadas por disciplinas, eixos ou áreas do
centrada na visão interdisciplinar, pois facilita a organização dos
conhecimento
assuntos, de forma ampla e abrangente, a problematização e o en-
Nessa perspectiva, cada sistema pode conferir à comunidade
escolar autonomia para seleção dos temas e delimitação dos espa- cadeamento lógico dos conteúdos e a abordagem selecionada para
ços curriculares a eles destinados, bem como a forma de tratamen- a análise e/ou descrição dos temas. O recurso dos eixos temáticos
to que será conferido à transversalidade. Para que sejam implan- propicia o trabalho em equipe, além de contribuir para a supera-
tadas com sucesso, é fundamental que as ações interdisciplinares ção do isolamento das pessoas e de conteúdos fixos. Os professores
sejam previstas no projeto político-pedagógico, mediante pacto es- com os estudantes têm liberdade de escolher temas, assuntos que
tabelecido entre os profissionais da educação, responsabilizando-se desejam estudar, contextualizando-os em interface com outros.
pela concepção e implantação do projeto interdisciplinar na escola, Por rede de aprendizagem entende-se um conjunto de ações
planejando, avaliando as etapas programadas e replanejando-as, didático-pedagógicas, cujo foco incide sobre a aprendizagem, sub-
ou seja, reorientando o trabalho de todos, em estreito laço com as sidiada pela consciência de que o processo de comunicação entre
famílias, a comunidade, os órgãos responsáveis pela observância do estudantes e professores é efetivado por meio de práticas e recur-
disposto em lei, principalmente, no ECA. sos tradicionais e por práticas de aprendizagem desenvolvidas em
Com a implantação e implementação da LDB, a expressão “ma- ambiente virtual. Pressupõe compreender que se trata de apren-
triz” foi adotada formalmente pelos diferentes sistemas educativos, der em rede e não de ensinar na rede, exigindo que o ambiente
mas ainda não conseguiu provocar ampla e aprofundada discussão de aprendizagem seja dinamizado e compartilhado por todos os
pela comunidade educacional. O que se pode constatar é que a ma- sujeitos do processo educativo. Esses são procedimentos que não
triz foi entendida e assumida carregando as mesmas características se confundem.

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Por isso, as redes de aprendizagem constituem-se em ferra- VI – no Ensino Religioso.


menta didático-pedagógica relevante também nos programas de Tais componentes curriculares são organizados pelos sistemas
formação inicial e continuada de profissionais da educação. Esta educativos, em forma de áreas de conhecimento, disciplinas, eixos
opção requer planejamento sistemático integrado, estabelecido en- temáticos, preservando-se a especificidade dos diferentes campos
tre sistemas educativos ou conjunto de unidades escolares. Envolve do conhecimento, por meio dos quais se desenvolvem as habilida-
elementos constitutivos da gestão e das práticas docentes como des indispensáveis ao exercício da cidadania, em ritmo compatível
infraestrutura favorável, prática por projetos, respeito ao tempo com as etapas do desenvolvimento integral do cidadão.
escolar, avaliação planejada, perfil do professor, perfil e papel da A parte diversificada enriquece e complementa a base nacional
direção escolar, formação do corpo docente, valorização da leitura, comum, prevendo o estudo das características regionais e locais da
atenção individual ao estudante, atividades complementares e par- sociedade, da cultura, da economia e da comunidade escolar. Per-
cerias. Mas inclui outros aspectos como interação com as famílias passa todos os tempos e espaços curriculares constituintes do Ensi-
e a comunidade, valorização docente e outras medidas, entre as no Fundamental e do Médio, independentemente do ciclo da vida
quais a instituição de plano de carreira, cargos e salários. no qual os sujeitos tenham acesso à escola. É organizada em te-
As experiências em andamento têm revelado êxitos e desafios mas gerais, em forma de áreas do conhecimento, disciplinas, eixos
vividos pelas redes na busca da qualidade da educação. Os desa- temáticos, selecionados pelos sistemas educativos e pela unidade
fios centram-se, predominantemente, nos obstáculos para a gestão escolar, colegiadamente, para serem desenvolvidos de forma trans-
participativa, a qualificação dos funcionários, a integração entre versal. A base nacional comum e a parte diversificada não podem se
instituições escolares de diferentes sistemas educativos (estadual constituir em dois blocos distintos, com disciplinas específicas para
e municipal, por exemplo) e a inclusão de estudantes com deficiên- cada uma dessas partes.
cia. São ressaltados, como pontos positivos, o intercâmbio de infor- A compreensão sobre base nacional comum, nas suas relações
mações; a agilidade dos fluxos; os recursos que alimentam relações com a parte diversificada, foi objeto de vários pareceres emitidos
e aprendizagens coletivas, orientadas por um propósito comum: a pelo CNE, cuja síntese se encontra no Parecer CNE/CEB nº 14/2000,
garantia do direito de aprender. da lavra da conselheira Edla de Araújo Lira Soares. Após retomar o
Entre as vantagens, podem ser destacadas aquelas que se re- texto dos artigos 26 e 27 da LDB, a conselheira assim se pronuncia:
ferem à multiplicação de aulas de transmissão em tempo real por
meio de teleaulas, com elevado grau de qualidade e amplas possi- (...) a base nacional comum interage com a parte diversifi-
bilidades de acesso, em telessala ou em qualquer outro lugar, pre- cada, no âmago do processo de constituição de conhecimentos e
viamente preparado, para acesso pelos sujeitos da aprendizagem; valores das crianças, jovens e adultos, evidenciando a importância
aulas simultâneas para várias salas (e várias unidades escolares) da participação de todos os segmentos da escola no processo de
com um professor principal e professores assistentes locais, com- elaboração da proposta da instituição que deve nos termos da lei,
binadas com atividades on-line em plataformas digitais; aulas gra- utilizar a parte diversificada para enriquecer e complementar a
vadas e acessadas a qualquer tempo e de qualquer lugar por meio base nacional comum
da internet ou da TV digital, tratando de conteúdo, compreensão e (...) tanto a base nacional comum quanto a parte diversificada
avaliação dessa compreensão; e oferta de esclarecimentos de dúvi- são fundamentais para que o currículo faça sentido como um todo.
das em determinados momentos do processo didático-pedagógico.
Cabe aos órgãos normativos dos sistemas de ensino expedir
2.4.2. Formação básica comum e parte diversificada orientações quanto aos estudos e às atividades correspondentes à
parte diversificada do Ensino Fundamental e do Médio, de acordo
A LDB definiu princípios e objetivos curriculares gerais para o com a legislação vigente. A LDB, porém, inclui expressamente o es-
Ensino Fundamental e Médio, sob os aspectos: tudo de, pelo menos, uma língua estrangeira moderna como com-
I – duração: anos, dias letivos e carga horária mínimos; ponente necessário da parte diversificada, sem determinar qual
II – uma base nacional comum; deva ser, cabendo sua escolha à comunidade escolar, dentro das
III – uma parte diversificada. possibilidades da escola, que deve considerar o atendimento das
Entende-se por base nacional comum, na Educação Básica, os características locais, regionais, nacionais e transnacionais, tendo
conhecimentos, saberes e valores produzidos culturalmente, ex- em vista as demandas do mundo do trabalho e da internacionaliza-
pressos nas políticas públicas e que são gerados nas instituições ção de toda ordem de relações. A língua espanhola, no entanto, por
produtoras do conhecimento científico e tecnológico; no mundo do força de lei específica (Lei nº 11.161/2005) passou a ser obrigato-
trabalho; no desenvolvimento das linguagens; nas atividades des- riamente ofertada no Ensino Médio, embora facultativa para o estu-
portivas e corporais; na produção artística; nas formas diversas de dante, bem como possibilitada no Ensino Fundamental, do 6º ao 9º
exercício da cidadania; nos movimentos sociais, definidos no texto ano. Outras leis específicas, a latere da LDB, determinam que sejam
dessa Lei, artigos 26 e 33, que assim se traduzem: incluídos componentes não disciplinares, como as questões relati-
I – na Língua Portuguesa; vas ao meio ambiente, à condição e direito do idoso e ao trânsito.16
II – na Matemática; Correspondendo à base nacional comum, ao longo do processo
III – no conhecimento do mundo físico, natural, da realidade básico de escolarização, a criança, o adolescente, o jovem e o adul-
social e política, especialmente do Brasil, incluindo-se o estudo da to devem ter oportunidade de desenvolver, no mínimo, habilidades
História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, segundo as especificidades de cada etapa do desenvolvimento hu-
IV – na Arte em suas diferentes formas de expressão, incluin- mano, privilegiando-se os aspectos intelectuais, afetivos, sociais e
do-se a música; políticos que se desenvolvem de forma entrelaçada, na unidade do
V – na Educação Física; processo didático.

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Organicamente articuladas, a base comum nacional e a parte V – da abordagem interdisciplinar na organização e gestão do
diversificada são organizadas e geridas de tal modo que também as currículo, viabilizada pelo trabalho desenvolvido coletivamente,
tecnologias de informação e comunicação perpassem transversal- planejado previamente, de modo integrado e pactuado com a co-
mente a proposta curricular desde a Educação Infantil até o Ensino munidade educativa;
Médio, imprimindo direção aos projetos político-pedagógicos. Am- VI – de adoção, nos cursos noturnos do Ensino Fundamental e
bas possuem como referência geral o compromisso com saberes de do Médio, da metodologia didático-pedagógica pertinente às carac-
dimensão planetária para que, ao cuidar e educar, seja possível à terísticas dos sujeitos das aprendizagens, na maioria trabalhadores,
escola conseguir: e, se necessário, sendo alterada a duração do curso, tendo como
I – ampliar a compreensão sobre as relações entre o indivíduo, referência o mínimo correspondente à base nacional comum, de
o trabalho, a sociedade e a espécie humana, seus limites e suas po- modo que tais cursos não fiquem prejudicados;
tencialidades, em outras palavras, sua identidade terrena; VII – do entendimento de que, na proposta curricular, as carac-
II – adotar estratégias para que seja possível, ao longo da Edu- terísticas dos jovens e adultos trabalhadores das turmas do perío-
cação Básica, desenvolver o letramento emocional, social e ecoló- do noturno devem ser consideradas como subsídios importantes
gico; o conhecimento científico pertinente aos diferentes tempos, para garantir o acesso ao Ensino Fundamental e ao Ensino Médio, a
espaços e sentidos; a compreensão do significado das ciências, das permanência e o sucesso nas últimas séries, seja em curso de tem-
letras, das artes, do esporte e do lazer; po regular, seja em curso na modalidade de Educação de Jovens e
III – ensinar a compreender o que é ciência, qual a sua história Adultos, tendo em vista o direito à frequência a uma escola que lhes
e a quem ela se destina; dê uma formação adequada ao desenvolvimento de sua cidadania;
IV – viver situações práticas a partir das quais seja possível per- VIII – da oferta de atendimento educacional especializado,
ceber que não há uma única visão de mundo, portanto, um fenô- complementar ou suplementar à formação dos estudantes público-
meno, um problema, uma experiência podem ser descritos e anali- -alvo da Educação Especial, previsto no projeto político-pedagógico
sados segundo diferentes perspectivas e correntes de pensamento, da escola.
que variam no tempo, no espaço, na intencionalidade; A organização curricular assim concebida supõe outra forma de
V – compreender os efeitos da “infoera”, sabendo que estes trabalho na escola, que consiste na seleção adequada de conteúdos
atuam, cada vez mais, na vida das crianças, dos adolescentes e adul- e atividades de aprendizagem, de métodos, procedimentos, técni-
tos, para que se reconheçam, de um lado, os estudantes, de outro, cas e recursos didático-pedagógicos. A perspectiva da articulação
os profissionais da educação e a família, mas reconhecendo que os interdisciplinar é voltada para o desenvolvimento não apenas de
recursos midiáticos devem permear todas as atividades de apren- conhecimentos, mas também de habilidades, valores e práticas.
dizagem. Considera, ainda, que o avanço da qualidade na educação bra-
Na organização da matriz curricular, serão observados os cri- sileira depende, fundamentalmente, do compromisso político, dos
térios: gestores educacionais das diferentes instâncias da educação, do
I – de organização e programação de todos os tempos (carga respeito às diversidades dos estudantes, da competência dos pro-
horária) e espaços curriculares (componentes), em forma de eixos, fessores e demais profissionais da educação, da garantia da auto-
módulos ou projetos, tanto no que se refere à base nacional co- nomia responsável das instituições escolares na formulação de seu
mum, quanto à parte diversificada, sendo que a definição de tais projeto político-pedagógico que contemple uma proposta consis-
eixos, módulos ou projetos deve resultar de amplo e verticalizado tente da organização do trabalho.
debate entre os atores sociais atuantes nas diferentes instâncias
educativas; 2.5. Organização da Educação Básica
II – de duração mínima anual de 200 (duzentos) dias letivos,
com o total de, no mínimo, 800 (oitocentas) horas, recomendada a Em suas singularidades, os sujeitos da Educação Básica, em
sua ampliação, na perspectiva do tempo integral, sabendo-se que seus diferentes ciclos de desenvolvimento, são ativos, social e cul-
as atividades escolares devem ser programadas articulada e inte- turalmente, porque aprendem e interagem; são cidadãos de direito
gradamente, a partir da base nacional comum enriquecida e com- e deveres em construção; copartícipes do processo de produção de
plementada pela parte diversificada, ambas formando um todo; cultura, ciência, esporte e arte, compartilhando saberes, ao longo
III – da interdisciplinaridade e da contextualização, que devem de seu desenvolvimento físico, cognitivo, socioafetivo, emocional,
ser constantes em todo o currículo, propiciando a interlocução en- tanto do ponto de vista ético, quanto político e estético, na sua re-
tre os diferentes campos do conhecimento e a transversalidade do lação com a escola, com a família e com a sociedade em movimen-
conhecimento de diferentes disciplinas, bem como o estudo e o de- to. Ao se identificarem esses sujeitos, é importante considerar os
senvolvimento de projetos referidos a temas concretos da realidade dizeres de Narodowski (1998). Ele entende, apropriadamente, que
dos estudantes; a escola convive hoje com estudantes de uma infância, de uma ju-
IV – da destinação de, pelo menos, 20% do total da carga horá- ventude (des) realizada, que estão nas ruas, em situação de risco e
ria anual ao conjunto de programas e projetos interdisciplinares ele- exploração, e aqueles de uma infância e juventude (hiper) realizada
tivos criados pela escola, previstos no projeto pedagógico, de modo com pleno domínio tecnológico da internet, do orkut, dos chats.
que os sujeitos do Ensino Fundamental e Médio possam escolher Não há mais como tratar: os estudantes como se fossem homogê-
aqueles com que se identifiquem e que lhes permitam melhor li- neos, submissos, sem voz; os pais e a comunidade escolar como
dar com o conhecimento e a experiência. Tais programas e projetos objetos. Eles são sujeitos plenos de possibilidades de diálogo, de
devem ser desenvolvidos de modo dinâmico, criativo e flexível, em interlocução e de intervenção. Exige-se, portanto, da escola, a bus-
articulação com a comunidade em que a escola esteja inserida; ca de um efetivo pacto em torno do projeto educativo escolar, que

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

considere os sujeitosestudantes jovens, crianças, adultos como par- I – a Educação Infantil, que compreende: a Creche, engloban-
te ativa de seus processos de formação, sem minimizar a importân- do as diferentes etapas do desenvolvimento da criança até 3 (três)
cia da autoridade adulta. anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola, com duração de 2 (dois)
Na organização curricular da Educação Básica, devem-se ob- anos.
servar as diretrizes comuns a todas as suas etapas, modalidades II – o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com duração
e orientações temáticas, respeitadas suas especificidades e as dos de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas fases: a dos 5
sujeitos a que se destinam. Cada etapa é delimitada por sua finali- (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos finais;
dade, princípio e/ou por seus objetivos ou por suas diretrizes edu- III – o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três) anos.
cacionais, claramente dispostos no texto da Lei nº 9.394/96, funda- Estas etapas e fases têm previsão de idades próprias, as quais,
mentando-se na inseparabilidade dos conceitos referenciais: cuidar no entanto, são diversas quando se atenta para alguns pontos como
e educar, pois esta é uma concepção norteadora do projeto político- atraso na matrícula e/ou no percurso escolar, repetência, retenção,
pedagógico concebido e executado pela comunidade educacional. retorno de quem havia abandonado os estudos, estudantes com
Mas vão além disso quando, no processo educativo, educadores e deficiência, jovens e adultos sem escolarização ou com esta incom-
estudantes se defrontarem com a complexidade e a tensão em que pleta, habitantes de zonas rurais, indígenas e quilombolas, adoles-
se circunscreve o processo no qual se dá a formação do humano em centes em regime de acolhimento ou internação, jovens e adultos
sua multidimensionalidade. em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais.
Na Educação Básica, o respeito aos estudantes e a seus tem-
pos mentais, socioemocionais, culturais, identitários, é um princí- 2.5.1.1. Educação Infantil
pio orientador de toda a ação educativa. É responsabilidade dos
sistemas educativos responderem pela criação de condições para A Educação Infantil tem por objetivo o desenvolvimento inte-
que crianças, adolescentes, jovens e adultos, com sua diversidade gral da criança até 5 (cinco) anos de idade, em seus aspectos físico,
afetivo, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da
(diferentes condições físicas, sensoriais e socioemocionais, origens,
família e da comunidade.
etnias, gênero, crenças, classes sociais, contexto sociocultural), te-
Seus sujeitos situam-se na faixa etária que compreende o ci-
nham a oportunidade de receber a formação que corresponda à
clo de desenvolvimento e de aprendizagem dotada de condições
idade própria do percurso escolar, da Educação Infantil, ao Ensino
específicas, que são singulares a cada tipo de atendimento, com
Fundamental e ao Médio.
exigências próprias. Tais atendimentos carregam marcas singulares
Adicionalmente, na oferta de cada etapa pode corresponder
antropoculturais, porque as crianças provêm de diferentes e singu-
uma ou mais das modalidades de ensino: Educação Especial, Educa-
lares contextos socioculturais, socioeconômicos e étnicos. Por isso,
ção de Jovens e Adultos, Educação do Campo, Educação Escolar In-
os sujeitos do processo educativo dessa etapa da Educação Básica
dígena, Educação Profissional e Tecnológica, Educação a Distância, devem ter a oportunidade de se sentirem acolhidos, amparados e
a educação nos estabelecimentos penais e a educação quilombola. respeitados pela escola e pelos profissionais da educação, com base
Assim referenciadas, estas Diretrizes compreendem orienta- nos princípios da individualidade, igualdade, liberdade, diversidade
ções para a elaboração das diretrizes específicas para cada etapa e pluralidade. Deve-se entender, portanto, que, para as crianças de
e modalidade da Educação Básica, tendo como centro e motivação 0 (zero) a 5 (cinco) anos, independentemente das diferentes condi-
os que justificam a existência da instituição escolar: os estudantes ções físicas, sensoriais, mentais, linguísticas, étnico-raciais, socioe-
em desenvolvimento. Reconhecidos como sujeitos do processo de conômicas, de origem, religiosas, entre outras, no espaço escolar,
aprendizagens, têm sua identidade cultural e humana respeitada, as relações sociais e intersubjetivas requerem a atenção intensiva
desenvolvida nas suas relações com os demais que compõem o co- dos profissionais da educação, durante o tempo e o momento de
letivo da unidade escolar, em elo com outras unidades escolares e desenvolvimento das atividades que lhes são peculiares: este é o
com a sociedade, na perspectiva da inclusão social exercitada em tempo em que a curiosidade deve ser estimulada, a partir da brin-
compromisso com a equidade e a qualidade. É nesse sentido que cadeira orientada pelos profissionais da educação. Os vínculos de
se deve pensar e conceber o projeto político-pedagógico, a relação família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recípro-
com a família, o Estado, a escola e tudo o que é nela realizado. Sem ca em que se assenta a vida social, devem iniciar-se na Pré-Escola
isso, é difícil consolidar políticas que efetivem o processo de inte- e sua intensificação deve ocorrer ao longo do Ensino Fundamental,
gração entre as etapas e modalidades da Educação Básica e garanta etapa em que se prolonga a infância e se inicia a adolescência.
ao estudante o acesso, a inclusão, a permanência, o sucesso e a Às unidades de Educação Infantil cabe definir, no seu projeto
conclusão de etapa, e a continuidade de seus estudos. Diante des- político-pedagógico, com base no que dispõem os artigos 12 e 13
se entendimento, a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais da LDB e no ECA, os conceitos orientadores do processo de desen-
Gerais para a Educação Básica e a revisão e a atualização das diretri- volvimento da criança, com a consciência de que as crianças, em
zes específicas de cada etapa e modalidade devem ocorrer median- geral, adquirem as mesmas formas de comportamento que as pes-
te diálogo vertical e horizontal, de modo simultâneo e indissociável, soas usam e demonstram nas suas relações com elas, para além do
para que se possa assegurar a necessária coesão dos fundamentos desenvolvimento da linguagem e do pensamento.
que as norteiam. Assim, a gestão da convivência e as situações em que se tor-
na necessária a solução de problemas individuais e coletivos pelas
2.5.1. Etapas da Educação Básica crianças devem ser previamente programadas, com foco nas moti-
vações estimuladas e orientadas pelos professores e demais pro-
Quanto às etapas correspondentes aos diferentes momentos fissionais da educação e outros de áreas pertinentes, respeitados
constitutivos do desenvolvimento educacional, a Educação Básica os limites e as potencialidades de cada criança e os vínculos desta
compreende: com a família ou com o seu responsável direto. Dizendo de outro

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

modo, nessa etapa deve-se assumir o cuidado e a educação, va- Por outro lado, conforme destaca o Parecer CNE/CEB nº
lorizando a aprendizagem para a conquista da cultura da vida, por 7/2007: é perfeitamente possível que os sistemas de ensino esta-
meio de atividades lúdicas em situações de aprendizagem (jogos e beleçam normas para que essas crianças que só vão completar seis
brinquedos), formulando proposta pedagógica que considere o cur- anos depois de iniciar o ano letivo possam continuar frequentando
rículo como conjunto de experiências em que se articulam saberes a PréEscola para que não ocorra uma indesejável descontinuidade
da experiência e socialização do conhecimento em seu dinamismo, de atendimento e desenvolvimento.
depositando ênfase: O intenso processo de descentralização ocorrido na última dé-
I – na gestão das emoções; cada acentuou, na oferta pública, a cisão entre anos iniciais e finais
II – no desenvolvimento de hábitos higiênicos e alimentares; do Ensino Fundamental, levando à concentração dos anos iniciais,
III – na vivência de situações destinadas à organização dos ob- majoritariamente, nas redes municipais, e dos anos finais, nas re-
jetos pessoais e escolares; des estaduais, embora haja escolas com oferta completa (anos ini-
IV – na vivência de situações de preservação dos recursos da ciais e anos finais do ensino fundamental) em escolas mantidas por
natureza; redes públicas e privadas. Essa realidade requer especial atenção
V – no contato com diferentes linguagens representadas, pre- dos sistemas estaduais e municipais, que devem estabelecer forma
dominantemente, por ícones – e não apenas pelo desenvolvimento de colaboração, visando à oferta do Ensino Fundamental e à arti-
da prontidão para a leitura e escrita –, como potencialidades indis- culação entre a primeira fase e a segunda, para evitar obstáculos
pensáveis à formação do interlocutor cultural. ao acesso de estudantes que mudem de uma rede para outra para
completarem escolaridade obrigatória, garantindo a organicidade e
2.5.1.2 Ensino Fundamental totalidade do processo formativo do escolar.
Respeitadas as marcas singulares antropoculturais que as crian-
Na etapa da vida que corresponde ao Ensino Fundamental, o ças de diferentes contextos adquirem, os objetivos da formação bá-
estatuto de cidadão vai se definindo gradativamente conforme o sica, definidos para a Educação Infantil, prolongam-se durante os
educando vai se assumindo a condição de um sujeito de direitos. anos iniciais do Ensino Fundamental, de tal modo que os aspectos
As crianças, quase sempre, percebem o sentido das transforma- físico, afetivo, psicológico, intelectual e social sejam priorizados na
ções corporais e culturais, afetivo-emocionais, sociais, pelas quais sua formação, complementando a ação da família e da comunidade
passam. Tais transformações requerem-lhes reformulação da au- e, ao mesmo tempo, ampliando e intensificando, gradativamente, o
toimagem, a que se associa o desenvolvimento cognitivo. Junto a processo educativo com qualidade social, mediante:
isso, buscam referências para a formação de valores próprios, no- I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como
vas estratégias para lidar com as diferentes exigências que lhes são meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
impostas. II – foco central na alfabetização, ao longo dos três primeiros
De acordo com a Resolução CNE/CEB nº 3/2005, o Ensino Fun- anos, conforme estabelece o Parecer CNE/CEB nº4/2008, de 20 de
damental de 9 (nove) anos tem duas fases com características pró- fevereiro de 2008, da lavra do conselheiro Murílio de Avellar Hingel,
prias, chamadas de: anos iniciais, com 5 (cinco) anos de duração, que apresenta orientação sobre os três anos iniciais do Ensino Fun-
em regra para estudantes de 6 (seis) a 10 (dez) anos de idade; e damental de nove anos;
anos finais, com 4 (quatro) anos de duração, para os de 11 (onze) a III – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema
14 (quatorze) anos. político, da economia, da tecnologia, das artes e da cultura dos di-
O Parecer CNE/CEB nº 7/2007 admitiu coexistência do Ensino reitos humanos e dos valores em que se fundamenta a sociedade;
Fundamental de 8 (oito) anos, em extinção gradual, com o de 9 IV – o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo
(nove), que se encontra em processo de implantação e implemen- em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação
tação. Há, nesse caso, que se respeitar o disposto nos Pareceres de atitudes e valores;
CNE/CEB nº 6/2005 e nº 18/2005, bem como na Resolução CNE/ V – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de so-
CEB nº 3/2005, que formula uma tabela de equivalência da organi- lidariedade humana e de respeito recíproco em que se assenta a
zação e dos planos curriculares do Ensino Fundamental de 8 (oito) vida social.
e de 9 (nove) anos, a qual deve ser adotada por todas as escolas. Como medidas de caráter operacional, impõe-se a adoção:
O Ensino Fundamental é de matrícula obrigatória para as crian- I – de programa de preparação dos profissionais da educação,
ças a partir dos 6 (seis) anos completos até o dia 31 de março do particularmente dos gestores, técnicos e professores;
ano em que ocorrer matrícula, conforme estabelecido pelo CNE no II – de trabalho pedagógico desenvolvido por equipes interdis-
Parecer CNE/CEB nº 22/2009 e Resolução CNE/CEB nº 1/2010. ciplinares e multiprofissionais;
Segundo o Parecer CNE/CEB nº 4/2008, o antigo terceiro pe- III – de programas de incentivo ao compromisso dos profissio-
ríodo da Pré-Escola, agora primeiro ano do Ensino Fundamental, nais da educação com os estudantes e com sua aprendizagem, de
não pode se confundir com o anterior primeiro ano, pois se tornou tal modo que se tornem sujeitos nesse processo;
parte integrante de um ciclo de 3 (três) anos, que pode ser denomi- IV – de projetos desenvolvidos em aliança com a comunidade,
nado “ciclo da infância”. Conforme o Parecer CNE/CEB nº 6/2005, a cujas atividades colaborem para a superação de conflitos nas esco-
ampliação do Ensino Fundamental obrigatório a partir dos 6 (seis) las, orientados por objetivos claros e tangíveis, além de diferentes
anos de idade requer de todas as escolas e de todos os educadores estratégias de intervenção;
compromisso com a elaboração de um novo projeto político-pe- V – de abertura de escolas além do horário regular de aulas,
dagógico, bem como para o consequente redimensionamento da oferecendo aos estudantes local seguro para a prática de atividades
Educação Infantil. esportivo-recreativas e socioculturais, além de reforço escolar;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

VI – de espaços físicos da escola adequados aos diversos am- funções atribuídas ao Ensino Médio não corresponde à pretensão e
bientes destinados às várias atividades, entre elas a de experimen- às necessidades dos jovens dos dias atuais e às dos próximos anos.
tação e práticas botânicas; Portanto, para que se assegure a permanência dos jovens na esco-
VII – de acessibilidade arquitetônica, nos mobiliários, nos re- la, com proveito, até a conclusão da Educação Básica, os sistemas
cursos didáticopedagógicos, nas comunicações e informações. educativos devem prever currículos flexíveis, com diferentes alter-
Nessa perspectiva, no geral, é tarefa da escola, palco de inte- nativas, para que os jovens tenham a oportunidade de escolher o
rações, e, no particular, é responsabilidade do professor, apoiado percurso formativo que mais atenda a seus interesses, suas neces-
pelos demais profissionais da educação, criar situações que provo- sidades e suas aspirações.
quem nos estudantes a necessidade e o desejo de pesquisar e ex- Deste modo, essa etapa do processo de escolarização se cons-
perimentar situações de aprendizagem como conquista individual e titui em responsável pela terminalidade do processo formativo do
coletiva, a partir do contexto particular e local, em elo com o geral estudante da Educação Básica e, conjuntamente, pela preparação
e transnacional. básica para o trabalho e para a cidadania, e pela prontidão para o
exercício da autonomia intelectual.
2.5.1.3. Ensino Médio Na perspectiva de reduzir a distância entre as atividades es-
colares e as práticas sociais, o Ensino Médio deve ter uma base
Os princípios e as finalidades que orientam o Ensino Médio, unitária sobre a qual podem se assentar possibilidades diversas: no
para adolescentes em idade de 15 (quinze) a 17 (dezessete), preve- trabalho, como preparação geral ou, facultativamente, para profis-
em, como preparação para a conclusão do processo formativo da sões técnicas; na ciência e na tecnologia, como iniciação científica
Educação Básica (artigo 35 da LDB): e tecnológica; nas artes e na cultura, como ampliação da formação
I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos ad- cultural. Assim, o currículo do Ensino Médio deve organizar-se de
quiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o prosseguimento modo a assegurar a integração entre os seus sujeitos, o trabalho,
de estudos; a ciência, a tecnologia e a cultura, tendo o trabalho como princípio
II – a preparação básica para o trabalho, tomado este como educativo, processualmente conduzido desde a Educação Infantil.
princípio educativo, e para a cidadania do educando, para continuar
aprendendo, de modo a ser capaz de enfrentar novas condições de 2.5.2. Modalidades da Educação Básica
ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
III – o aprimoramento do estudante como um ser de direitos, Como já referido, na oferta de cada etapa pode corresponder
pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da uma ou mais modalidades de ensino: Educação de Jovens e Adul-
autonomia intelectual e do pensamento crítico; tos, Educação Especial, Educação Profissional e Tecnológica, Educa-
IV – a compreensão dos fundamentos científicos e tecnológicos ção Básica do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Escolar
presentes na sociedade contemporânea, relacionando a teoria com Quilombola e Educação a Distância.
a prática.
A formação ética, a autonomia intelectual, o pensamento crí- 2.5.2.1. Educação de Jovens e Adultos
tico que construa sujeitos de direitos devem se iniciar desde o in-
gresso do estudante no mundo escolar. Como se sabe, estes são, a
A instituição da Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem sido
um só tempo, princípios e valores adquiridos durante a formação
considerada como instância em que o Brasil procura saldar uma dí-
da personalidade do indivíduo. É, entretanto, por meio da convi-
vida social que tem para com o cidadão que não estudou na idade
vência familiar, social e escolar que tais valores são internalizados.
própria. Destina-se, portanto, aos que se situam na faixa etária su-
Quando o estudante chega ao Ensino Médio, os seus hábitos e as
perior à considerada própria, no nível de conclusão do Ensino Fun-
suas atitudes crítico-reflexivas e éticas já se acham em fase de con-
damental e do Ensino Médio.
formação. Mesmo assim, a preparação básica para o trabalho e a
A carência escolar de adultos e jovens que ultrapassaram essa
cidadania, e a prontidão para o exercício da autonomia intelectual
são uma conquista paulatina e requerem a atenção de todas as eta- idade tem graus variáveis, desde a total falta de alfabetização, pas-
pas do processo de formação do indivíduo. Nesse sentido, o Ensino sando pelo analfabetismo funcional, até a incompleta escolarização
Médio, como etapa responsável pela terminalidade do processo nas etapas do Ensino Fundamental e do Médio. Essa defasagem
formativo da Educação Básica, deve se organizar para proporcionar educacional mantém e reforça a exclusão social, privando largas
ao estudante uma formação com base unitária, no sentido de um parcelas da população ao direito de participar dos bens culturais,
método de pensar e compreender as determinações da vida social de integrar-se na vida produtiva e de exercer sua cidadania. Esse
e produtiva; que articule trabalho, ciência, tecnologia e cultura na resgate não pode ser tratado emergencialmente, mas, sim, de for-
perspectiva da emancipação humana. ma sistemática e continuada, uma vez que jovens e adultos conti-
Na definição e na gestão do currículo, sem dúvida, inscrevem- nuam alimentando o contingente com defasagem escolar, seja por
-se fronteiras de ordem legal e teórico-metodológica. Sua lógica não ingressarem na escola, seja por dela se evadirem por múltiplas
dirige-se aos jovens não como categorização genérica e abstrata, razões.
mas consideradas suas singularidades, que se situam num tempo O inciso I do artigo 208 da Constituição Federal determina que
determinado, que, ao mesmo tempo, é recorte da existência huma- o dever do Estado para com a educação será efetivado mediante a
na e herdeiro de arquétipos conformadores da sua singularidade garantia de Ensino Fundamental obrigatório e gratuito, assegurada
inscrita em determinações históricas. Compreensível que é difícil inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiverem
que todos os jovens consigam carregar a necessidade e o desejo acesso na idade própria. Este mandamento constitucional é rei-
de assumir todo o programa de Ensino Médio por inteiro, como se terado pela LDB, no inciso I do seu artigo 4º, sendo que, o artigo
acha organizado. Dessa forma, compreende-se que o conjunto de 37 traduz os fundamentos da EJA ao atribuir ao poder público a

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

responsabilidade de estimular e viabilizar o acesso e a permanên- Os sistemas de ensino devem matricular todos os estudantes
cia do trabalhador na escola, mediante ações integradas e comple- com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
mentares entre si, mediante oferta de cursos gratuitos aos jovens e habilidades/superdotação, cabendo às escolas organizar-se para
aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, seu atendimento, garantindo as condições para uma educação de
proporcionandolhes oportunidades educacionais apropriadas, con- qualidade para todos, devendo considerar suas necessidades edu-
sideradas as características do alunado, seus interesses, condições cacionais específicas, pautando-se em princípios éticos, políticos e
de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. Esta responsabili- estéticos, para assegurar:
dade deve ser prevista pelos sistemas educativos e por eles deve ser I – a dignidade humana e a observância do direito de cada estu-
assumida, no âmbito da atuação de cada sistema, observado o re- dante de realizar seus projetos e estudo, de trabalho e de inserção
gime de colaboração e da ação redistributiva, definidos legalmente. na vida social, com autonomia e independência;
Os cursos de EJA devem pautar-se pela flexibilidade, tanto de II – a busca da identidade própria de cada estudante, o reco-
currículo quanto de tempo e espaço, para que seja: nhecimento e a valorização das diferenças e potencialidades, o
I – rompida a simetria com o ensino regular para crianças e atendimento às necessidades educacionais no processo de ensino e
adolescentes, de modo a permitir percursos individualizados e con- aprendizagem, como base para a constituição e ampliação de valo-
teúdos significativos para os jovens e adultos; res, atitudes, conhecimentos, habilidades e competências;
II – provido suporte e atenção individual às diferentes neces- III – o desenvolvimento para o exercício da cidadania, da capa-
sidades dos estudantes no processo de aprendizagem, mediante cidade de participação social, política e econômica e sua ampliação,
atividades diversificadas; mediante o cumprimento de seus deveres e o usufruto de seus di-
III – valorizada a realização de atividades e vivências socializa- reitos.
doras, culturais, recreativas e esportivas, geradoras de enriqueci- O atendimento educacional especializado (AEE), previsto pelo
mento do percurso formativo dos estudantes; Decreto nº 6.571/2008, é parte integrante do processo educacio-
IV – desenvolvida a agregação de competências para o traba- nal, sendo que os sistemas de ensino devem matricular os estudan-
lho; tes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
V – promovida a motivação e orientação permanente dos estu- habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e
dantes, visando à maior participação nas aulas e seu melhor apro- no atendimento educacional especializado (AEE). O objetivo des-
veitamento e desempenho; te atendimento é identificar habilidades e necessidades dos estu-
VI – realizada sistematicamente a formação continuada desti- dantes, organizar recursos de acessibilidade e realizar atividades
nada especificamente aos educadores de jovens e adultos. pedagógicas específicas que promovam seu acesso ao currículo.
Na organização curricular dessa modalidade da Educação Bá- Este atendimento não substitui a escolarização em classe comum
sica, a mesma lei prevê que os sistemas de ensino devem oferecer e é ofertado no contra-turno da escolarização em salas de recur-
cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional sos multifuncionais da própria escola, de outra escola pública ou
comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em em centros de AEE da rede pública ou de instituições comunitárias,
caráter regular. Entretanto, prescreve que, preferencialmente, os confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos conveniadas com
jovens e adultos tenham a oportunidade de desenvolver a Educa- a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos Estados, Distrito
ção Profissional articulada com a Educação Básica (§ 3º do artigo 37 Federal ou dos Municípios.
da LDB, incluído pela Lei nº 11.741/2008).2 Os sistemas e as escolas devem proporcionar condições para
Cabe a cada sistema de ensino definir a estrutura e a duração que o professor da classe comum possa explorar e estimular as
dos cursos da Educação de Jovens e Adultos, respeitadas as Diretri- potencialidades de todos os estudantes, adotando uma pedagogia
zes Curriculares Nacionais, a identidade dessa modalidade de edu- dialógica, interativa, interdisciplinar e inclusiva e, na interface, o
cação e o regime de colaboração entre os entes federativos. professor do AEE identifique habilidades e necessidades dos estu-
Quanto aos exames supletivos, a idade mínima para a inscri- dantes, organize e oriente sobre os serviços e recursos pedagógicos
ção e realização de exames de conclusão do Ensino Fundamental e de acessibilidade para a participação e aprendizagem dos estu-
é de 15 (quinze) anos completos, e para os de conclusão do Ensino dantes.
Médio é a de 18 (dezoito) anos completos. Para a aplicação desses Na organização desta modalidade, os sistemas de ensino de-
exames, o órgão normativo dos sistemas de educação deve mani- vem observar as seguintes orientações fundamentais:
festar-se previamente, além de acompanhar os seus resultados. A I – o pleno acesso e efetiva participação dos estudantes no en-
certificação do conhecimento e das experiências avaliados por meio sino regular;
de exames para verificação de competências e habilidades é obje- II – a oferta do atendimento educacional especializado (AEE);
to de diretrizes específicas a serem emitidas pelo órgão normativo III – a formação de professores para o AEE e para o desenvolvi-
competente, tendo em vista a complexidade, a singularidade e a mento de práticas educacionais inclusivas;
diversidade contextual dos sujeitos a que se destinam tais exames. IV – a participação da comunidade escolar;
V – a acessibilidade arquitetônica, nas comunicações e infor-
2.5.2.2. Educação Especial mações, nos mobiliários e equipamentos e nos transportes;
VI – a articulação das políticas públicas intersetoriais.
A Educação Especial é uma modalidade de ensino transversal a Nesse sentido, os sistemas de ensino assegurarão a observân-
todas etapas e outras modalidades, como parte integrante da edu- cia das seguintes orientações fundamentais:
cação regular, devendo ser prevista no projeto político-pedagógico I – métodos, técnicas, recursos educativos e organização espe-
da unidade escolar.28 cíficos, para atender às suas necessidades;

221
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

II – formação de professores para o atendimento educacional No tocante aos cursos articulados com o Ensino Médio, orga-
especializado, bem como para o desenvolvimento de práticas edu- nizados na forma integrada, o que está proposto é um curso único
cacionais inclusivas nas classes comuns de ensino regular; (matrícula única), no qual os diversos componentes curriculares são
III – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais su- abordados de forma que se explicitem os nexos existentes entre
plementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. eles, conduzindo os estudantes à habilitação profissional técnica de
A LDB, no artigo 60, prevê que os órgãos normativos dos sis- nível médio ao mesmo tempo em que concluem a última etapa da
temas de ensino estabelecerão critérios de caracterização das ins- Educação Básica.
tituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atua- Os cursos técnicos articulados com o Ensino Médio, ofertados
ção exclusiva em Educação Especial, para fins de apoio técnico e na forma concomitante, com dupla matrícula e dupla certificação,
financeiro pelo poder público e, no seu parágrafo único, estabelece podem ocorrer na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as
que o poder público ampliará o atendimento aos estudantes com oportunidades educacionais disponíveis; em instituições de ensino
necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino, distintas, aproveitando-se as oportunidades educacionais disponí-
independentemente do apoio às instituições previstas nesse artigo. veis; ou em instituições de ensino distintas, mediante convênios de
O Decreto nº 6.571/2008 dispõe sobre o atendimento educa- intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao desenvol-
cional especializado, regulamenta o parágrafo único do artigo 60 da vimento de projeto pedagógico unificado.
LDB e acrescenta dispositivo ao Decreto nº 6.253/2007, prevendo, São admitidas, nos cursos de Educação Profissional Técnica de
no âmbito do FUNDEB, a dupla matrícula dos alunos público-alvo da nível médio, a organização e a estruturação em etapas que possibi-
educação especial, uma no ensino regular da rede pública e outra litem uma qualificação profissional intermediária.
no atendimento educacional especializado. Abrange, também, os cursos conjugados com outras modalida-
des de ensino, como a Educação de Jovens e Adultos, a Educação
2.5.2.3. Educação Profissional e Tecnológica Especial e a Educação a Distância, e pode ser desenvolvida por di-
ferentes estratégias de educação continuada, em instituições espe-
A Educação Profissional e Tecnológica (EPT), em conformidade cializadas ou no ambiente de trabalho. Essa previsão coloca, no es-
com o disposto na LDB, com as alterações introduzidas pela Lei nº copo dessa modalidade educacional, as propostas de qualificação,
11.741/2008, no cumprimento dos objetivos da educação nacional, capacitação, atualização e especialização profissional, entre outras
integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às di- livres de regulamentação curricular, reconhecendo que a EPT pode
ocorrer em diversos formatos e no próprio local de trabalho. Inclui,
mensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. Dessa forma, pode
nesse sentido, os programas e cursos de Aprendizagem, previstos
ser compreendida como uma modalidade na medida em que possui
na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) aprovada pelo Decre-
um modo próprio de fazer educação nos níveis da Educação Básica
to-Lei nº 5.452/43, desenvolvidos por entidades qualificadas e no
e Superior e em sua articulação com outras modalidades educacio-
ambiente de trabalho, através de contrato especial de trabalho.
nais: Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial e Educação
A organização curricular da educação profissional e tecnológica
a Distância.
por eixo tecnológico fundamenta-se na identificação das tecnolo-
A EPT na Educação Básica ocorre na oferta de cursos de forma-
gias que se encontram na base de uma dada formação profissional
ção inicial e continuada ou qualificação profissional, e nos de Edu-
e dos arranjos lógicos por elas constituídos. Por considerar os co-
cação Profissional Técnica de nível médio ou, ainda, na Educação nhecimentos tecnológicos pertinentes a cada proposta de forma-
Superior, conforme o § 2º do artigo 39 da LDB: ção profissional, os eixos tecnológicos facilitam a organização de
A Educação Profissional e Tecnológica abrangerá os seguintes itinerários formativos, apontando possibilidades de percursos tanto
cursos: dentro de um mesmo nível educacional quanto na passagem do ní-
I – de formação inicial e continuada ou qualificação profissio- vel básico para o superior.
nal; Os conhecimentos e habilidades adquiridos tanto nos cursos
II – de Educação Profissional Técnica de nível médio; de educação profissional e tecnológica, como os adquiridos na prá-
III – de Educação Profissional Tecnológica de graduação e pós- tica laboral pelos trabalhadores, podem ser objeto de avaliação,
-graduação. reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão
A Educação Profissional Técnica de nível médio, nos termos do de estudos.
artigo 36-B da mesma Lei, é desenvolvida nas seguintes formas: Assegura-se, assim, ao trabalhador jovem e adulto, a possibili-
I – articulada com o Ensino Médio, sob duas formas: dade de ter reconhecidos os saberes construídos em sua trajetória
II – integrada, na mesma instituição, de vida. Para Moacir Alves Carneiro, a certificação pretende valo-
III – concomitante, na mesma ou em distintas instituições; rizar a experiência extraescolar e a abertura que a Lei dá à Educa-
IV – subsequente, em cursos destinados a quem já tenha con- ção Profissional vai desde o reconhecimento do valor igualmente
cluído o Ensino Médio. educativo do que se aprendeu na escola e no próprio ambiente de
As instituições podem oferecer cursos especiais, abertos à co- trabalho, até a possibilidade de saídas e entradas intermediárias.
munidade, com matrícula condicionada à capacidade de aproveita-
mento e não necessariamente ao nível de escolaridade. 2.5.2.4. Educação Básica do campo
São formulados para o atendimento de demandas pontuais,
específicas de um determinado segmento da população ou dos Nesta modalidade, a identidade da escola do campo é definida
setores produtivos, com período determinado para início e encer- pela sua vinculação com as questões inerentes à sua realidade, an-
ramento da oferta, sendo, como cursos de formação inicial e con- corando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na
tinuada ou de qualificação profissional, livres de regulamentação memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecno-
curricular. logia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à III – ensino ministrado nas línguas maternas das comunidades
qualidade social da vida coletiva no País. atendidas, como uma das formas de preservação da realidade so-
A educação para a população rural está prevista no artigo 28 da ciolinguística de cada povo;
LDB, em que ficam definidas, para atendimento à população rural, IV – organização escolar própria.
adaptações necessárias às peculiaridades da vida rural e de cada Na organização de escola indígena deve ser considerada a par-
região, definindo orientações para três aspectos essenciais à orga- ticipação da comunidade, na definição do modelo de organização e
nização da ação pedagógica: gestão, bem como:
I – conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais I – suas estruturas sociais;
necessidades e interesses dos estudantes da zona rural; II – suas práticas socioculturais e religiosas;
II – organização escolar própria, incluindo adequação do calen- III – suas formas de produção de conhecimento, processos pró-
dário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; prios e métodos de ensino-aprendizagem;
III – adequação à natureza do trabalho na zona rural. IV – suas atividades econômicas;
As propostas pedagógicas das escolas do campo devem con- V – a necessidade de edificação de escolas que atendam aos
templar a diversidade do campo em todos os seus aspectos: sociais, interesses das comunidades indígenas;
culturais, políticos, econômicos, de gênero, geração e etnia. Formas VI – o uso de materiais didático-pedagógicos produzidos de
de organização e metodologias pertinentes à realidade do campo acordo com o contexto sociocultural de cada povo indígena.
devem, nesse sentido, ter acolhida. Assim, a pedagogia da terra As escolas indígenas desenvolvem suas atividades de acordo
busca um trabalho pedagógico fundamentado no princípio da sus- com o proposto nos respectivos projetos pedagógicos e regimentos
tentabilidade, para que se possa assegurar a preservação da vida escolares com as prerrogativas de: organização das atividades esco-
das futuras gerações. lares, independentes do ano civil, respeitado o fluxo das atividades
Particularmente propícia para esta modalidade, destaca-se a econômicas, sociais, culturais e religiosas; e duração diversificada
pedagogia da alternância (sistema dual), criada na Alemanha há dos períodos escolares, ajustando-a às condições e especificidades
cerca de 140 anos e, hoje, difundida em inúmeros países, inclusive próprias de cada comunidade.
no Brasil, com aplicação, sobretudo, no ensino voltado para a for- Por sua vez, tem projeto pedagógico próprio, por escola ou por
mação profissional e tecnológica para o meio rural. Nesta metodo- povo indígena, tendo por base as Diretrizes Curriculares Nacionais
logia, o estudante, durante o curso e como parte integrante dele, referentes a cada etapa da Educação Básica; as características pró-
participa, concomitante e alternadamente, de dois ambientes/situ- prias das escolas indígenas, em respeito à especificidade étnico-cul-
ações de aprendizagem: o escolar e o laboral, não se configurando tural de cada povo ou comunidade; as realidades sociolínguísticas,
o último como estágio, mas, sim, como parte do currículo do curso. em cada situação; os conteúdos curriculares especificamente indí-
Essa alternância pode ser de dias na mesma semana ou de blocos genas e os modos próprios de constituição do saber e da cultura
semanais ou, mesmo, mensais ao longo do curso. Supõe uma par- indígena; e a participação da respectiva comunidade ou povo in-
ceria educativa, em que ambas as partes são corresponsáveis pelo dígena.
aprendizado e formação do estudante. É bastante claro que podem A formação dos professores é específica, desenvolvida no âm-
predominar, num ou noutro, oportunidades diversas de desenvol- bito das instituições formadoras de professores, garantido-se aos
vimento de competências, com ênfases ora em conhecimentos, ora professores indígenas a sua formação em serviço e, quando for o
em habilidades profissionais, ora em atitudes, emoções e valores caso, concomitantemente com a sua própria escolarização.
necessários ao adequado desempenho do estudante. Nesse senti-
do, os dois ambientes/situações são intercomplementares. 2.5.2.6. Educação a Distância

2.5.2.5. Educação escolar indígena A modalidade Educação a Distância caracteriza-se pela media-
ção didáticopedagógica nos processos de ensino e aprendizagem
A escola desta modalidade tem uma realidade singular, inscrita que ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação
e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo ativi-
em terras e cultura indígenas. Requer, portanto, pedagogia própria
dades educativas em lugares ou tempos diversos.
em respeito à especificidade étnico-cultural de cada povo ou comu-
O credenciamento para a oferta de cursos e programas de Edu-
nidade e formação específica de seu quadro docente, observados
cação de Jovens e Adultos, de Educação Especial e de Educação Pro-
os princípios constitucionais, a base nacional comum e os princípios
fissional e Tecnológica de nível médio, na modalidade a distância,
que orientam a Educação Básica brasileira (artigos 5º, 9º, 10, 11 e
compete aos sistemas estaduais de ensino, atendidas a regulamen-
inciso VIII do artigo 4º da LDB).
tação federal e as normas complementares desses sistemas.
Na estruturação e no funcionamento das escolas indígenas é
reconhecida sua condição de escolas com normas e ordenamen-
2.5.2.6. Educação Escolar Quilombola
to jurídico próprios, com ensino intercultural e bilíngue, visando à
valorização plena das culturas dos povos indígenas e à afirmação e A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida em unidades
manutenção de sua diversidade étnica. educacionais inscritas em suas terras e cultura, requerendo peda-
São elementos básicos para a organização, a estrutura e o fun- gogia própria em respeito à especificidade étnicocultural de cada
cionamento da escola indígena: comunidade e formação específica de seu quadro docente, obser-
I – localização em terras habitadas por comunidades indígenas, vados os princípios constitucionais, a base nacional comum e os
ainda que se estendam por territórios de diversos Estados ou Mu- princípios que orientam a Educação Básica brasileira.
nicípios contíguos; Na estruturação e no funcionamento das escolas quilombolas,
II – exclusividade de atendimento a comunidades indígenas; deve ser reconhecida e valorizada sua diversidade cultural.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

2.6. Elementos constitutivos para a organização das Diretri- renças, de busca da construção de responsabilidade compartilhada
zes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica por todos os membros integrantes da comunidade escolar, sujeitos
históricos concretos, situados num cenário geopolítico preenchido
Estas Diretrizes inspiram-se nos princípios constitucionais e na por situações cotidianas desafiantes.
LDB e se operacionalizam – sobretudo por meio do projeto políti- Assim concebido, o processo de formulação do projeto polí-
co-pedagógico e do regimento escolar, do sistema de avaliação, da tico-pedagógico tem como referência a democrática ordenação
gestão democrática e da organização da escola – na formação inicial pedagógica das relações escolares, cujo horizonte de ação procu-
e continuada do professor, tendo como base os princípios afirma- ra abranger a vida humana em sua globalidade. Por outro lado, o
dos nos itens anteriores, entre os quais o cuidado e o compromis- projeto políticopedagógico é também um documento em que se
so com a educação integral de todos, atendendo-se às dimensões registra o resultado do processo negocial estabelecido por aque-
orgânica, sequencial e articulada da Educação Básica. A LDB esta- les atores que estudam a escola e por ela respondem em parceria
belece condições para que a unidade escolar responda à obriga- (gestores, professores, técnicos e demais funcionários, representa-
toriedade de garantir acesso à escola e permanência com sucesso. ção estudantil, representação da família e da comunidade local). É,
Ela aponta ainda alternativas para flexibilizar as condições para que portanto, instrumento de previsão e suporte para a avaliação das
a passagem dos estudantes pela escola seja concebida como mo- ações educativas programadas para a instituição como um todo;
referencia e transcende o planejamento da gestão e do desenvol-
mento de crescimento, mesmo frente a percursos de aprendizagem
vimento escolar, porque suscita e registra decisões colegiadas que
não lineares.
envolvem a comunidade escolar como um todo, projetando-as para
A isso se associa o entendimento de que a instituição escolar,
além do período do mandato de cada gestor. Assim, cabe à escola,
hoje, dispõe de instrumentos legais e normativos que lhe permitam
considerada a sua identidade e a de seus sujeitos, articular a formu-
exercitar sua autonomia, instituindo as suas próprias regras para
lação do projeto político-pedagógico com os planos de educação
mudar, reinventar, no seu projeto político-pedagógico e no seu re-
nacional, estadual, municipal, o plano da gestão, o contexto em que
gimento, o currículo, a avaliação da aprendizagem, seus procedi-
a escola se situa e as necessidades locais e as de seus estudantes. A
mentos, para que o grande objetivo seja alcançado: educação para
organização e a gestão das pessoas, do espaço, dos processos e os
todos em todas as etapas e modalidades da Educação Básica, com
procedimentos que viabilizam o trabalho de todos aqueles que se
qualidade social. inscrevem no currículo em movimento expresso no projeto político-
pedagógico representam o conjunto de elementos que integram o
2.6.1. O projeto político-pedagógico e o regimento escolar trabalho pedagógico e a gestão da escola tendo como fundamento
o que dispõem os artigos 14, 12 e 13, da LDB, respectivamente
O projeto político-pedagógico, nomeado na LDB como propos- Na elaboração do projeto político-pedagógico, a concepção
ta ou projeto pedagógico, representa mais do que um documento. de currículo e de conhecimento escolar deve ser enriquecida pela
É um dos meios de viabilizar a escola democrática e autônoma para compreensão de como lidar com temas significativos que se rela-
todos, com qualidade social. Autonomia pressupõe liberdade e ca- cionem com problemas e fatos culturais relevantes da realidade
pacidade de decidir a partir de regras relacionais. O exercício da au- em que a escola se inscreve. O conhecimento prévio sobre como
tonomia administrativa e pedagógica da escola pode ser traduzido funciona o financiamento da educação pública, tanto em nível fe-
como a capacidade de governar a si mesmo, por meio de normas deral quanto em estadual e municipal, pela comunidade educativa,
próprias. contribui, significativamente, no momento em que se estabelecem
A autonomia da escola numa sociedade democrática é, sobre- as prioridades institucionais. A natureza e a finalidade da unidade
tudo, a possibilidade de ter uma compreensão particular das metas escolar, o papel socioeducativo, artístico, cultural, ambiental, as
da tarefa de educar e cuidar, das relações de interdependência, da questões de gênero, etnia, classe social e diversidade cultural que
possibilidade de fazer escolhas visando a um trabalho educativo compõem as ações educativas, particularmente a organização e a
eticamente responsável, que devem ser postas em prática nas insti- gestão curricular, são os componentes que subsidiam as demais
tuições educacionais, no cumprimento do artigo 3º da LDB, em que partes integrantes do projeto político-pedagógico.
vários princípios derivam da Constituição Federal. Nele, devem ser previstas as prioridades institucionais que a
Essa autonomia tem como suporte a Constituição Federal e o identificam. Além de se observar tais critérios e compromisso, de-
disposto no artigo 15 da LDB: ve-se definir o conjunto das ações educativas próprias das etapas
Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares pú- da Educação Básica assumidas pela unidade escolar, de acordo com
blicas de Educação Básica que os integram progressivos graus de as especificidades que lhes correspondam, preservando a articula-
autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, ob- ção orgânica daquelas etapas.
servadas as normas gerais de direito financeiro público. Reconhecendo o currículo como coração que faz pulsar o tra-
O ponto de partida para a conquista da autonomia pela ins- balho pedagógico na sua multidimensionalidade e dinamicidade, o
tituição educacional tem por base a construção da identidade de projeto político-pedagógico deve constituir-se:
cada escola, cuja manifestação se expressa no seu projeto peda- I – do diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do proces-
gógico e no regimento escolar próprio, enquanto manifestação de so educativo, contextualizado no espaço e no tempo;
seu ideal de educação e que permite uma nova e democrática or- II – da concepção sobre educação, conhecimento, avaliação da
denação pedagógica das relações escolares. O projeto político-pe- aprendizagem e mobilidade escolar;
dagógico deve, pois, ser assumido pela comunidade educativa, ao III – da definição de qualidade das aprendizagens e, por con-
mesmo tempo, como sua força indutora do processo participativo sequência, da escola, no contexto das desigualdades que nela se
na instituição e como um dos instrumentos de conciliação das dife- refletem;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

IV – de acompanhamento sistemático dos resultados do pro- lhar e quanto à adoção, à opção da metodologia didático-pedagógi-
cesso de avaliação interna e externa (SAEB, Prova Brasil, dados ca mais própria às aprendizagens que devem vivenciar e estimular,
estatísticos resultantes das avaliações em rede nacional e outras; incluindo aquelas pertinentes às Tecnologias de Informação e Co-
pesquisas sobre os sujeitos da Educação Básica), incluindo resulta- municação (TIC);
dos que compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica VIII – realize encontros pedagógicos periódicos, com tempo e
(IDEB) e/ou que complementem ou substituam os desenvolvidos espaço destinados a estudos, debates e troca de experiências de
pelas unidades da federação e outros; aprendizagem dos sujeitos do processo coletivo de gestão e peda-
V – da implantação dos programas de acompanhamento do gógico pelos gestores, professores e estudantes, para a reorienta-
acesso, de permanência dos estudantes e de superação da reten- ção de caminhos e estratégias;
ção escolar; IX – defina e justifique, claramente, a opção por um ou outro
VI – da explicitação das bases que norteiam a organização do método de trabalho docente e a compreensão sobre a qualidade
trabalho pedagógico tendo como foco os fundamentos da gestão das aprendizagens como direito social dos sujeitos e da escola: qua-
democrática, compartilhada e participativa (órgãos colegiados, de lidade formal e qualidade política (saber usar a qualidade formal);
representação estudantil e dos pais). X – traduza, claramente, os critérios orientadores da distribui-
No projeto político-pedagógico, deve-se conceber a organiza- ção e organização do calendário escolar e da carga horária destina-
ção do espaço físico da instituição escolar de tal modo que este seja da à gestão e à docência, de tal modo que se viabilize a concretiza-
compatível com as características de seus sujeitos, além da natu- ção do currículo escolar e, ao mesmo tempo, que os profissionais
reza e das finalidades da educação, deliberadas e assumidas pela da educação sejam valorizados e estimulados a trabalharem praze-
rosamente;
comunidade educacional. Assim, a despadronização curricular pres-
XI – contemple programas e projetos com os quais a escola
supõe a despadronização do espaço físico e dos critérios de organi-
desenvolverá ações inovadoras, cujo foco incida na prevenção das
zação da carga horária do professor. A exigência – o rigor no educar
consequências da incivilidade que vem ameaçando a saúde e o bem
e cuidar – é a chave para a conquista e recuperação dos níveis de
estar, particularmente das juventudes, assim como na reeducação
qualidade educativa de que as crianças e os jovens necessitam para dos sujeitos vitimados por esse fenômeno psicossocial;
continuar a estudar em etapas e níveis superiores, para integrar-se XII – avalie as causas da distorção de idade/ano/série, projetan-
no mundo do trabalho em seu direito inalienável de alcançar o lugar do a sua superação, por intermédio da implantação de programas
de cidadãos responsáveis, formados nos valores democráticos e na didático-pedagógicos fundamentados por metodologia específica.
cultura do esforço e da solidariedade. Daí a necessidade de se estimularem novas formas de organiza-
Nessa perspectiva, a comunidade escolar assume o projeto po- ção dos componentes curriculares dispondo-os em eixos temáticos,
lítico-pedagógico não como peça constitutiva da lógica burocrática, que são considerados eixos fundantes, pois conferem relevância ao
menos ainda como elemento mágico capaz de solucionar todos os currículo. Desse modo, no projeto político-pedagógico, a comuni-
problemas da escola, mas como instância de construção coletiva, dade educacional deve engendrar o entrelaçamento entre trabalho,
que respeita os sujeitos das aprendizagens, entendidos como cida- ciência, tecnologia, cultura e arte, por meio de atividades próprias
dãos de direitos à proteção e à participação social, de tal modo que: às características da etapa de desenvolvimento humano do escolar
I – estimule a leitura atenta da realidade local, regional e mun- a que se destinarem, prevendo:
dial, por meio da qual se podem perceber horizontes, tendências e I – as atividades integradoras de iniciação científica e no campo
possibilidades de desenvolvimento; artístico-cultural, desde a Educação Infantil;
II – preserve a clareza sobre o fazer pedagógico, em sua mul- II – os princípios norteadores da educação nacional, a metodo-
tidimensionalidade, prevendo-se a diversidade de ritmo de desen- logia da problematização como instrumento de incentivo à pesqui-
volvimento dos sujeitos das aprendizagens e caminhos por eles es- sa, à curiosidade pelo inusitado e ao desenvolvimento do espírito
colhidos; inventivo, nas práticas didáticas;
III – institua a compreensão dos conflitos, das divergências e III – o desenvolvimento de esforços pedagógicos com intenções
diferenças que demarcam as relações humanas e sociais; educativas, comprometidas com a educação cidadã;
IV – esclareça o papel dos gestores da instituição, da organi- IV – a avaliação do desenvolvimento das aprendizagens como
zação estudantil e dos conselhos: comunitário, de classe, de pais e processo formativo e permanente de reconhecimento de conheci-
outros; mentos, habilidades, atitudes, valores e emoções;
V – a valorização da leitura em todos os campos do conheci-
V – perceba e interprete o perfil real dos sujeitos – crianças,
mento, desenvolvendo a capacidade de letramento dos estudantes;
jovens e adultos – que justificam e instituem a vida da e na escola,
VI – o comportamento ético e solidário, como ponto de partida
do ponto de vista intelectual, cultural, emocional, afetivo, socioeco-
para o reconhecimento dos deveres e direitos da cidadania, para a
nômico, como base da reflexão sobre as relações vida-conhecimen-
prática do humanismo contemporâneo, pelo reconhecimento, res-
to-cultura-professor-estudante e instituição escolar; peito e acolhimento da identidade do outro;
VI – considere como núcleo central das aprendizagens pelos VII – a articulação entre teoria e prática, vinculando o trabalho
sujeitos do processo educativo (gestores, professores, técnicos e intelectual com atividades práticas experimentais;
funcionários, estudantes e famílias) a curiosidade e a pesquisa, in- VIII – a promoção da integração das atividades educativas com
cluindo, de modo cuidadoso e sistemático, as chamadas referências o mundo do trabalho, por meio de atividades práticas e de estágios,
virtuais de aprendizagem que se dão em contextos digitais; estes para os estudantes do Ensino Médio e da Educação Profissio-
VII – preveja a formação continuada dos gestores e professores nal e Tecnológica;
para que estes tenham a oportunidade de se manter atualizados IX – a utilização de novas mídias e tecnologias educacionais,
quanto ao campo do conhecimento que lhes cabe manejar, traba- como processo de dinamização dos ambientes de aprendizagem;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

X – a oferta de atividades de estudo com utilização de novas Nestas Diretrizes, é a concepção de educação que fundamenta
tecnologias de comunicação. as dimensões da avaliação e das estratégias didático-pedagógicas
XI – a promoção de atividades sociais que estimulem o convívio a serem utilizadas. Essas três dimensões devem estar previstas no
humano e interativo do mundo dos jovens; projeto político-pedagógico para nortearem a relação pertinente
XII – a organização dos tempos e dos espaços com ações efeti- que estabelece o elo entre a gestão escolar, o professor, o estudan-
vas de interdisciplinaridade e contextualização dos conhecimentos; te, o conhecimento e a sociedade em que a escola se situa.
XIII – a garantia do acompanhamento da vida escolar dos estu- No nível operacional, a avaliação das aprendizagens tem como
dantes, desde o diagnóstico preliminar, acompanhamento do de- referência o conjunto de habilidades, conhecimentos, princípios e
sempenho e integração com a família; valores que os sujeitos do processo educativo projetam para si de
XIV – a promoção da aprendizagem criativa como processo de modo integrado e articulado com aqueles princípios e valores defi-
sistematização dos conhecimentos elaborados, como caminho pe- nidos para a Educação Básica, redimensionados para cada uma de
dagógico de superação à mera memorização; suas etapas.
XV – o estímulo da capacidade de aprender do estudante, de- A avaliação institucional interna, também denominada au-
senvolvendo o autodidatismo e autonomia dos estudantes; toavaliação institucional, realiza-se anualmente, considerando as
XVI – a indicação de exames otorrino, laringo, oftálmico e ou- orientações contidas na regulamentação vigente, para revisão do
tros sempre que o estudante manifestar dificuldade de concentra- conjunto de objetivos e metas, mediante ação dos diversos seg-
ção e/ou mudança de comportamento; mentos da comunidade educativa, o que pressupõe delimitação de
XVII – a oferta contínua de atividades complementares e de re- indicadores compatíveis com a natureza e a finalidade institucio-
forço da aprendizagem, proporcionando condições para que o estu- nais, além de clareza quanto à qualidade social das aprendizagens
dante tenha sucesso em seus estudos; e da escola.
XVIII – a oferta de atividades de estudo com utilização de novas A avaliação institucional externa, promovida pelos órgãos su-
tecnologias de comunicação. periores dos sistemas educacionais, inclui, entre outros instrumen-
Nesse sentido, o projeto político-pedagógico, concebido pela tos, pesquisas, provas, tais como as do SAEB, Prova Brasil, ENEM e
escola e que passa a orientá-la, deve identificar a Educação Básica, outras promovidas por sistemas de ensino de diferentes entes fe-
simultaneamente, como o conjunto e pluralidade de espaços e tem- derativos, dados estatísticos, incluindo os resultados que compõem
pos que favorecem processos em que a infância e a adolescência se o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou que
humanizam ou se desumanizam, porque se inscrevem numa teia de o complementem ou o substituem, e os decorrentes da supervisão
e verificações in loco. A avaliação de redes de Educação Básica é
relações culturais mais amplas e complexas, histórica e socialmente
periódica, feita por órgãos externos às escolas e engloba os resulta-
tecidas. Daí a relevância de se ter, como fundamento desse nível da
dos da avaliação institucional, que sinalizam para a sociedade se a
educação, os dois pressupostos: cuidar e educar. Este é o foco a ser
escola apresenta qualidade suficiente para continuar funcionando.
considerado pelos sistemas educativos, pelas unidades escolares,
pela comunidade educacional, em geral, e pelos sujeitos educado-
2.6.2.1. Avaliação da aprendizagem
res, em particular, na elaboração e execução de determinado proje-
to institucional e regimento escolar.
No texto da LDB, a avaliação da aprendizagem, na Educação
O regimento escolar trata da natureza e da finalidade da insti-
Básica, é norteada pelos artigos 24 e 31, que se complementam.
tuição; da relação da gestão democrática com os órgãos colegiados;
De um lado, o artigo 24, orienta o Ensino Fundamental e Médio,
das atribuições de seus órgãos e sujeitos; das suas normas pedagó- definindo que a avaliação será organizada de acordo com regras
gicas, incluindo os critérios de acesso, promoção, e a mobilidade comuns a essas duas etapas. De outro lado, o artigo 31 trata da
do escolar; e dos direitos e deveres dos seus sujeitos: estudantes, Educação Infantil, estabelecendo que, nessa etapa, a avaliação será
professores, técnicos, funcionários, gestores, famílias, representa- realizada mediante acompanhamento e registro do desenvolvimen-
ção estudantil e função das suas instâncias colegiadas. to da criança, sem o objetivo de promoção, mesmo em se tratando
Nessa perspectiva, o regimento, discutido e aprovado pela co- de acesso ao Ensino Fundamental. Essa determinação pode ser aco-
munidade escolar e conhecido por todos, constitui-se em um dos lhida para o ciclo da infância de acordo com o Parecer CNE/CEB nº
instrumentos de execução, com transparência e responsabilidade, 4/2008, anteriormente citado, que orienta para não retenção nesse
do seu projeto político-pedagógico. As normas nele definidas ser- ciclo.
vem, portanto, para reger o trabalho pedagógico e a vida da insti- O direito à educação constitui grande desafio para a escola:
tuição escolar, em consonância com o projeto político-pedagógico requer mais do que o acesso à educação escolar, pois determina
e com a legislação e as normas educacionais. gratuidade na escola pública, obrigatoriedade da Pré-Escola ao En-
sino Médio, permanência e sucesso, com superação da evasão e re-
2.6.2. Avaliação tenção, para a conquista da qualidade social. O Conselho Nacional
de Educação, em mais de um Parecer em que a avaliação da apren-
Do ponto de vista teórico, muitas são as formulações que tra- dizagem escolar é analisada, recomenda, aos sistemas de ensino
tam da avaliação. No ambiente educacional, ela compreende três e às escolas públicas e particulares, que o caráter formativo deve
dimensões básicas: predominar sobre o quantitativo e classificatório. A este respeito,
I – avaliação da aprendizagem; é preciso adotar uma estratégia de progresso individual e contínuo
II – avaliação institucional interna e externa; que favoreça o crescimento do estudante, preservando a qualidade
III – avaliação de redes de Educação Básica. necessária para a sua formação escolar.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

2.6.2.2. Promoção, aceleração de estudos e classificação A mobilidade escolar ou a conhecida transferência também
tem sido objeto de regulamento para o que a LDB dispõe, por meio
No Ensino Fundamental e no Médio, a figura da promoção e de instrumentos normativos emitidos pelos Conselhos de Educa-
da classificação pode ser adotada em qualquer ano, série ou outra ção. Inúmeras vezes, os estudantes transferidos têm a sensação de
unidade de percurso escolhida, exceto no primeiro ano do Ensino abandono ou descaso, semelhante ao que costuma ocorrer com
Fundamental. Essas duas figuras fundamentam-se na orientação estudantes que não acompanham o ritmo de seus colegas. A LDB
de que a verificação do rendimento escolar observará os seguintes estabeleceu, no § 1º do artigo 23, que a escola poderá reclassificar
critérios: os estudantes, inclusive quando se tratar de transferências entre
I – avaliação contínua e cumulativa do desempenho do estu- estabelecimentos situados no País e no exterior, tendo como base
dante, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quanti- as normas curriculares gerais.
tativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais De acordo com essas normas, a mobilidade entre turmas, sé-
provas finais; ries, ciclos, módulos ou outra forma de organização, e escolas ou
II – possibilidade de aceleração de estudos para estudantes sistemas, deve ser pensada, prioritariamente, na dimensão peda-
com atraso escolar; gógica: o estudante transferido de um para outro regime diferente
III – possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante deve ser incluído onde houver compatibilidade com o seu desen-
verificação do aprendizado; volvimento e com as suas aprendizagens, o que se intitula reclassifi-
IV– aproveitamento de estudos concluídos com êxito; cação. Nenhum estabelecimento de Educação Básica, sob nenhum
V – obrigatoriedade de apoio pedagógico destinado à recupera- pretexto, pode recusar a matrícula do estudante que a procura. Essa
ção contínua e concomitante de aprendizagem de estudantes com atitude, de caráter aparentemente apenas administrativo, deve ser
déficit de rendimento escolar, a ser previsto no regimento escolar. entendida pedagogicamente como a continuidade dos estudos ini-
A classificação pode resultar da promoção ou da adaptação, ciados em outra turma, série, ciclo, módulo ou outra forma, e esco-
numa perspectiva que respeita e valoriza as diferenças individuais, la ou sistema.
ou seja, pressupõe uma outra ideia de temporalização e espacia- Em seu novo percurso, o estudante transferido deve receber
lização, entendida como sequência do percurso do escolar, já que cuidadoso acompanhamento sobre a sua adaptação na institui-
cada criatura é singular. Tradicionalmente, a escola tem tratado o ção que o acolhe, em termos de relacionamento com colegas e
estudante como se todos se desenvolvessem padronizadamente professores, de preferências, de respostas aos desafios escolares,
nos mesmos ritmos e contextos educativos, semelhantemente ao
indo além de uma simples análise do seu currículo escolar. Nesse
processo industrial. É como se lhe coubesse produzir cidadãos em
sentido, os sistemas educativos devem ousar propor a inversão da
série, em linha de montagem. Há de se admitir que a sociedade mu-
lógica escolar: ao invés de conteúdos disciplinados estanques (subs-
dou significativamente. A classificação, nos termos regidos pela LDB
tantivados), devem investir em ações pedagógicas que priorizem
(inciso II do artigo 24), é, pois, uma figura que se dá em qualquer
aprendizagens através da operacionalidade de linguagens visando
momento do percurso escolar, exceto no primeiro ano do Ensino
à transformação dos conteúdos em modos de pensar, em que o que
Fundamental, e realiza-se:
interessa, fundamentalmente, é o vivido com outros, aproximando
I – por promoção, para estudantes que cursaram, com aprovei-
mundo, escola, sociedade, ciência, tecnologia, trabalho, cultura e
tamento, a unidade de percurso anterior, na própria escola;
vida.
II – por transferência, para candidatos procedentes de outras
escolas; A possibilidade de aceleração de estudos destina-se a estu-
III – independentemente de escolarização anterior, mediante dantes com algum atraso escolar, aqueles que, por alguma razão,
avaliação feita pela escola, que defina o grau de desenvolvimento encontram-se em descompasso de idade. As razões mais indicadas
e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou eta- têm sido: ingresso tardio, retenção, dificuldades no processo de en-
pa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de sino-aprendizagem ou outras.
ensino. A progressão pode ocorrer segundo dois critérios: regular ou
A organização de turmas seguia o pressuposto de classes or- parcial. A escola brasileira sempre esteve organizada para uma ação
ganizadas por série anual. Com a implantação da Lei, a concepção pedagógica inscrita num panorama de relativa estabilidade. Isso
ampliou-se, uma vez que poderão ser organizadas classes ou tur- significa que já vem lidando, razoavelmente, com a progressão re-
mas, com estudantes de séries distintas, com níveis equivalentes gular. O desafio que se enfrenta incide sobre a progressão parcial,
de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, que, se aplicada a crianças e jovens, requer o redesenho da organi-
artes, ou outros componentes curriculares (inciso IV do artigo 24 zação das ações pedagógicas. Em outras palavras, a escola deverá
da LDB). prever para professor e estudante o horário de trabalho e espaço de
A consciência de que a escola se situa em um determinado atuação que se harmonize entre estes, respeitadas as condições de
tempo e espaço impõe-lhe a necessidade de apreender o máximo o locomoção de ambos, lembrando-se de que outro conjunto de re-
estudante: suas circunstâncias, seu perfil, suas necessidades. Uma cursos didático-pedagógicos precisa ser elaborado e desenvolvido.
situação cada vez mais presente em nossas escolas é a mobilidade A LDB, no artigo 24, inciso III, prevê a possibilidade de progres-
dos estudantes. Quantas vezes a escola pergunta sobre o que fazer são parcial nos estabelecimentos que adotam a progressão regular
com os estudantes que ela recebe, provenientes de outras institui- por série, lembrando que o regimento escolar pode admiti-la “des-
ções, de outros sistemas de ensino, dentro ou fora do Município ou de que preservada a sequência do currículo, observadas as normas
Estado. As análises apresentadas em diferentes fóruns de discussão do respectivo sistema de ensino”. A Lei, entretanto, não é impositi-
sobre essa matéria vêm mencionando dificuldades para incluir esse va quanto à adoção de progressão parcial. Caso a instituição escolar
estudante no novo contexto escolar. a adote, é pré-requisito que a sequência do currículo seja preserva-

227
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

da, observadas as normas do respectivo sistema de ensino, (inciso VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando pro-
III do artigo 24), previstas no projeto político-pedagógico e no regi- cessos de integração da sociedade com a escola;
mento, cuja aprovação se dá mediante participação da comunidade VII – informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o
escolar (artigo 13). rendimento dos estudantes, bem como sobre a execução de sua
Também, no artigo 32, inciso IV, § 2º, quando trata especifi- proposta pedagógica;
camente do Ensino Fundamental, a LDB refere que os estabeleci- VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz com-
mentos que utilizam progressão regular por série podem adotar petente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério
o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do Público a relação dos estudantes menores que apresentem quanti-
processo ensino-aprendizagem, observadas as normas do respec- dade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual permiti-
tivo sistema de ensino. A forma de progressão continuada jamais do em lei (inciso incluído pela Lei nº 10.287/2001).
deve ser entendida como “promoção automática”, o que supõe tra- Conscientes da complexidade e da abrangência dessas tarefas
tar o conhecimento como processo e vivência que não se harmo- atribuídas às escolas, os responsáveis pela gestão do ato educativo
niza com a ideia de interrupção, mas sim de construção, em que o sentem-se, por um lado, pouco amparados, face à desarticulação de
estudante, enquanto sujeito da ação, está em processo contínuo de programas e projetos destinados à qualificação da Educação Básica;
formação, construindo significados. por outro, sentem-se desafiados, à medida que se tornam conscien-
Uma escola que inclui todos supõe tratar o conhecimento tes de que também eles se inscrevem num espaço em que neces-
como processo e, portanto, como uma vivência que não se harmo- sitam preparar-se, continuadamente, para atuar no mundo escolar
niza com a ideia de interrupção, mas sim de construção, em que e na sociedade. Como agentes educacionais, esses sujeitos sabem
o estudante, enquanto sujeito da ação, está continuamente sendo que o seu compromisso e o seu sucesso profissional requerem não
formado, ou melhor, formando-se, construindo significados, a par- apenas condições de trabalho. Exigelhes formação continuada e
tir das relações dos homens entre si e destes com a natureza. clareza quanto à concepção de organização da escola: distribuição
Nessa perspectiva, a avaliação requer outra forma de gestão da carga horária, remuneração, estratégias claramente definidas
da escola, de organização curricular, dos materiais didáticos, na para a ação didáticopedagógica coletiva que inclua a pesquisa, a
relação professor-estudante-conhecimento-escola, pois, na me- criação de novas abordagens e práticas metodológicas incluindo a
dida em que o percurso escolar é marcado por diferentes etapas produção de recursos didáticos adequados às condições da escola e
de aprendizagem, a escola precisará, também, organizar espaços e da comunidade em que esteja ela inserida, promover os processos
formas diferenciadas de atendimento, a fim de evitar que uma defa- de avaliação institucional interna e participar e cooperar com os de
sagem de conhecimentos se transforme numa lacuna permanente. avaliação externa e os de redes de Educação Básica. Pensar, portan-
Esse avanço materializa-se quando a concepção de conhecimento to, a organização, a gestão da escola é entender que esta, enquanto
e a proposta curricular estão fundamentadas numa epistemologia instituição dotada de função social, é palco de interações em que
que considera o conhecimento uma construção sociointerativa que os seus atores colocam o projeto político-pedagógico em ação com-
ocorre na escola e em outras instituições e espaços sociais. Nesse partilhada. Nesse palco está a fonte de diferentes ideias, formula-
caso, percebe-se já existirem múltiplas iniciativas entre professores
das pelos vários sujeitos que dão vida aos programas educacionais.
no sentido de articularem os diferentes campos de saber entre si
Acrescente-se que a obrigatoriedade da gestão democrática
e, também, com temas contemporâneos, baseados no princípio da
determinada, em particular, no ensino público (inciso VIII do artigo
interdisciplinaridade, o que normalmente resulta em mudanças nas
3º da LDB), e prevista, em geral, para todas as instituições de ensino
práticas avaliativas.
nos artigos 12 e 13, que preveem decisões coletivas, é medida de-
safiadora, porque pressupõe a aproximação entre o que o texto da
2.6.3. Gestão democrática e organização da escola
lei estabelece e o que se sabe fazer, no exercício do poder, em todos
os aspectos. Essa mudança concebida e definida por poucos atinge
Pensar a organização do trabalho pedagógico e a gestão da es-
a todos: desde a família do estudante até os gestores da escola,
cola, na perspectiva exposta e tendo como fundamento o que dis-
põem os artigos 12 e 13 da LDB, pressupõe conceber a organização chegando aos gestores da educação em nível macro. Assim, este
e gestão das pessoas, do espaço, dos processos, procedimentos que é um aspecto instituidor do desafiante jogo entre teoria e prática,
viabilizam o trabalho de todos aqueles que se inscrevem no currí- ideal e realidade, concepção de currículo e ação didáticopedagógi-
culo em movimento expresso no projeto político-pedagógico e nos ca, avaliação institucional e avaliação da aprendizagem e todas as
planos da escola, em que se conformam as condições de trabalho exigências que caracterizam esses componentes da vida educacio-
definidas pelos órgãos gestores em nível macro. Os estabelecimen- nal escolar.
tos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de As decisões colegiadas pressupõem, sobretudo, que todos te-
ensino, terão, segundo o artigo 12, a incumbência de: nham ideia clara sobre o que seja coletivo e como se move a liber-
I – elaborar e executar sua proposta pedagógica; dade de cada sujeito, pois é nesse movimento que o profissional
II – administrar seu pessoal e seus recursos materiais e finan- pode passar a se perceber como um educador que tenta dar conta
ceiros; das temporalidades do desenvolvimento humano com suas especi-
III – assegurar o cumprimento dos anos, dias e horas mínimos ficidades e exigências. A valorização das diferenças e da pluralidade
letivos estabelecidos; representa a valorização das pessoas. Supõe compreender que a
IV – velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada do- padronização e a homogeneização que, tradicionalmente, impreg-
cente; nou a organização e a gestão dos processos e procedimentos da
V – prover meios para a recuperação dos estudantes de menor escola têm comprometido a conquista das mudanças que os textos
rendimento; legais em referência definem.

228
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

A participação da comunidade escolar na gestão da escola e Compreender e realizar a Educação Básica, no seu compromis-
a observância dos princípios e finalidades da educação, particu- so social de habilitar o estudante para o exercício dos diversos di-
larmente o respeito à diversidade e à diferença, são desafios para reitos significa, portanto, potencializá-lo para a prática cidadã com
todos os sujeitos do processo educativo. Para Moreira e Candau, plenitude, cujas habilidades se desenvolvem na escola e se realizam
a escola sempre teve dificuldade em lidar com a pluralidade e a na comunidade em que os sujeitos atuam. Essa perspectiva pressu-
diferença. Tende a silenciá-las e neutralizá-las. Sente-se mais con- põe cumprir e transpor o disposto não apenas nos artigos 12 a 15,
fortável com a uniformidade e a padronização. No entanto, abrir da LDB, mas significa cumpri-los como política pública e transpô-los
espaços para a diversidade, para a diferença e para o cruzamento como fundamento político-pedagógico, uma vez que o texto destes
de culturas constitui o grande desafio que está chamada a enfrentar artigos deve harmonizar-se com o dos demais textos que regula-
(2006, p. 103). A escola precisa, assim, “acolher, criticar e colocar mentam e orientam a Educação Básica. O ponto central da Lei, na-
em contato diferentes saberes, diferentes manifestações culturais queles artigos, incide sobre a obrigatoriedade da participação da
e diferentes óticas. A contemporaneidade requer culturas que se comunidade escolar e dos profissionais da educação na tomada de
misturem e ressoem mutuamente. Requer que a instituição escolar decisões, quanto à elaboração e ao cumprimento do projeto polí-
compreenda como o conhecimento é socialmente valorizado, como tico-pedagógico, com destaque para a gestão democrática e para a
tem sido escrito de uma dada forma e como pode, então, ser rees- integração da sociedade com a escola, bem como pelo cuidado com
crito. Que se modifiquem modificando outras culturas pela convi- as aprendizagens dos estudantes.
vência ressonante, em um processo contínuo, que não pare nunca, A gestão escolar deve promover o “encontro pedagogicamente
por não se limitar a um dar ou receber, mas por ser contaminação, pensado e organizado de gerações, de idades diferentes” (Arroyo,
ressonância” (Pretto, apud Moreira e Candau, 2005, p. 103). p. 158), inscritos num contexto diverso e plural, mas que se pre-
Na escola, o exercício do pluralismo de ideias e de concepções tende uno, em sua singularidade própria e inacabada, porque em
pedagógicas (inciso III do artigo 206 da Constituição Federal, e in- construção dialética permanente. Na instituição escolar, a gestão
ciso III do artigo 3º da LDB), assumido como princípio da educação democrática é aquela que tem, nas instâncias colegiadas, o espa-
nacional, deve viabilizar a constituição de relações que estimulem ço em que são tomadas as decisões que orientam o conjunto das
diferentes manifestações culturais e diferentes óticas. Em outras atividades escolares: aprovam o projeto político-pedagógico, o regi-
palavras, a escola deve empenhar-se para se constituir, ao mesmo mento escolar, os planos da escola (pedagógicos e administrativos),
tempo, em um espaço da diversidade e da pluralidade, inscrita na as regras de convivência. Como tal, a gestão democrática é entendi-
diversidade em movimento, no processo tornado possível por meio da como princípio que orienta os processos e procedimentos admi-
de relações intersubjetivas, cuja meta seja a de se fundamentar nistrativos e pedagógicos, no âmbito da escola e nas suas relações
num outro princípio educativo e emancipador, assim expresso: li- com os demais órgãos do sistema educativo de que faz parte.
berdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pen- Assim referenciada, a gestão democrática constitui-se em ins-
samento, a arte e o saber (LDB, artigo 3º, inciso II). trumento de luta em defesa da horizontalização das relações, de
Para Paulo Freire (1984, p. 23), é necessário entender a educa- vivência e convivência colegiada, superando o autoritarismo no
ção não apenas como ensino, não no sentido de habilitar, de “dar” planejamento e na organização curricular. Pela gestão democrática,
competência, mas no sentido de humanizar. A pedagogia que tra- educa-se para a conquista da cidadania plena, mediante a compre-
ta dos processos de humanização, a escola, a teoria pedagógica e ensão do significado social das relações de poder que se reprodu-
a pesquisa, nas instâncias educativas, devem assumir a educação zem no cotidiano da escola, nas relações entre os profissionais da
enquanto processos temporal, dinâmico e libertador, aqueles em educação, o conhecimento, as famílias e os estudantes, bem assim,
que todos desejam se tornar cada vez mais humanos. A escola de- entre estes e o projeto político-pedagógico, na sua concepção cole-
monstra ter se esquecido disso, tanto nas relações que exerce com tiva que dignifica as pessoas, por meio da utilização de um método
a criança, quanto com a pessoa adolescente, jovem e adulta. de trabalho centrado nos estudos, nas discussões, no diálogo que
A escola que adota a abordagem interdisciplinar não está isen- não apenas problematiza, mas, também, propõe, fortalecendo a
ta de sublinhar a importância da relação entre cuidado e educação, ação conjunta que busca, nos movimentos sociais, elementos para
que é a de propor a inversão da preocupação com a qualidade do criar e recriar o trabalho da e na escola, mediante:
ensino pela preocupação com a qualidade social das aprendizagens I – compreensão da globalidade da pessoa, enquanto ser que
como diretriz articuladora para as três etapas que compõem a Edu- aprende, que sonha e ousa, em busca da conquista de uma convi-
vência social libertadora fundamentada na ética cidadã;
cação Básica. Essa escola deve organizar o trabalho pedagógico, os
II – superação dos processos e procedimentos burocráticos,
equipamentos, o mobiliário e as suas instalações de acordo com as
assumindo com flexibilidade: os planos pedagógicos, os objetivos
condições requeridas pela abordagem que adota. Desse modo, tan-
institucionais e educacionais, as atividades de avaliação;
to a organização das equipes de profissionais da educação quanto
III – prática em que os sujeitos constitutivos da comunidade
a arquitetura física e curricular da escola destinada as crianças da
educacional discutam a própria prática pedagógica impregnando-a
educação infantil deve corresponder às suas características físicas e
de entusiasmo e compromisso com a sua própria comunidade, va-
psicossociais. O mesmo se aplica aos estudantes das demais etapas
lorizando-a, situando-a no contexto das relações sociais e buscando
da Educação Básica. Estes cuidados guardam relação de coexistên-
soluções conjuntas;
cia dos sujeitos entre si, facilitam a gestão das normas que orientam
IV – construção de relações interpessoais solidárias, geridas
as práticas docentes instrucionais, atitudinais e disciplinares, mas de tal modo que os professores se sintam estimulados a conhecer
correspondendo à abordagem interdisciplinar comprometida com melhor os seus pares (colegas de trabalho, estudantes, famílias), a
a formação cidadã para a cultura da vida expor as suas ideias, a traduzir as suas dificuldades e expectativas

229
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

pessoais e profissionais; ganização e funcionamento de sistemas e instituições de ensino.


V – instauração de relações entre os estudantes, proporcio- Além desses domínios, o professor precisa, particularmente,
nando-lhes espaços de convivência e situações de aprendizagem, saber orientar, avaliar e elaborar propostas, isto é, interpretar e re-
por meio dos quais aprendam a se compreender e se organizar em construir o conhecimento. Deve transpor os saberes específicos de
equipes de estudos e de práticas esportivas, artísticas e políticas; suas áreas de conhecimento e das relações entre essas áreas, na
VI – presença articuladora e mobilizadora do gestor no cotidia- perspectiva da complexidade; conhecer e compreender as etapas
no da instituição e nos espaços com os quais a instituição escolar de desenvolvimento dos estudantes com os quais está lidando. O
interage, em busca da qualidade social das aprendizagens que lhe professor da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fun-
caiba desenvolver, com transparência e responsabilidade. damental é, ou deveria ser, um especialista em infância; os profes-
De todas as mudanças formalizadas com fundamento na LDB, sores dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio,
uma das exigências, para o exercício da gestão escolar, consiste na conforme vem defendendo Miguel Arroyo (2000) devem ser espe-
obrigatoriedade de que os candidatos a essa função sejam dotados cialistas em adolescência e juventude, isto é, condutores e educa-
de experiência docente. Isto é pré-requisito para o exercício profis- dores responsáveis, em sentido mais amplo, por esses sujeitos e
sional de quaisquer outras funções de magistério, nos termos das pela qualidade de sua relação com o mundo. Tal proposição implica
normas de cada sistema de ensino (§ 1º do artigo 67 da LDB). um redimensionamento dos cursos de licenciaturas e da formação
Para que a gestão escolar cumpra o papel que cabe à escola, continuada desses profissionais.
os gestores devem proceder a uma revisão de sua organização ad- Sabe-se, no entanto, que a formação inicial e continuada do
ministrativo-pedagógica, a partir do tipo de cidadão que se propõe professor tem de ser assumida como compromisso integrante do
formar, o que exige compromisso social com a redução das desi- projeto social, político e ético, local e nacional, que contribui para
gualdades entre o ponto de partida do estudante e o ponto de che- a consolidação de uma nação soberana, democrática, justa, inclu-
gada a uma sociedade de classes. siva e capaz de promover a emancipação dos indivíduos e grupos
sociais. Nesse sentido, os sistemas educativos devem instituir orien-
tações a partir das quais se introduza, obrigatoriamente, no projeto
2.6.4. O professor e a formação inicial e continuada
político-pedagógico, previsão:
I – de consolidação da identidade dos profissionais da educa-
O artigo 3º da LDB, ao definir os princípios da educação nacio-
ção, nas suas relações com a instituição escolar e com o estudante;
nal, prevê a valorização do profissional da educação escolar. Essa
II – de criação de incentivos ao resgate da imagem social do
expressão estabelece um amálgama entre o educador e a educação professor, assim como da autonomia docente, tanto individual
e os adjetiva, depositando foco na educação. Reafirma a ideia de quanto coletiva;
que não há educação escolar sem escola e nem esta sem aquele. III – de definição de indicadores de qualidade social da educa-
O significado de escola aqui traduz a noção de que valorizar o pro- ção escolar, a fim de que as agências formadoras de profissionais
fissional da educação é valorizar a escola, com qualidade gestorial, da educação revejam os projetos dos cursos de formação inicial e
educativa, social, cultural, ética, estética, ambiental. continuada de docentes, de modo que correspondam às exigências
A leitura dos artigos 6735 e 1336 da mesma Lei permite identi- de um projeto de Nação.
ficar a necessidade de elo entre o papel do professor, as exigências Na política de formação de docentes para o Ensino Funda-
indicadas para a sua formação, e o seu fazer na escola, onde se vê mental, as ciências devem, necessária e obrigatoriamente, estar
que a valorização profissional e da educação escolar vincula-se à associadas, antes de qualquer tentativa, à discussão de técnicas,
obrigatoriedade da garantia de padrão de qualidade (artigo 4º, in- de materiais, de métodos para uma aula dinâmica; é preciso, indis-
ciso IX). Além disso, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento pensável mesmo, que o professor se ache repousado no saber de
da Educação Básica e de Valorização dos Professores da Educação que a pedra fundamental é a curiosidade do ser humano. É ela que
(FUNDEB) define critérios para proporcionar aos sistemas educati- faz perguntar, conhecer, atuar, mais perguntar, reconhecer (Freire,
vos e às escolas apoio à valorização dos profissionais da educação. 1996:96).
A Resolução CNE/CEB nº 2/2009, baseada no Parecer CNE/CEB nº Por outro lado, no conjunto de elementos que contribuem para
9/2009, que trata da carreira docente, é também uma norma que a concepção, elaboração e execução do projeto político-pedagógico
participa do conjunto de referências focadas na valorização dos pela escola, em que se inscreve o desenvolvimento curricular, a ca-
profissionais da educação, como medida indutora da qualidade do pacitação docente é o aspecto mais complexo, porque a formação
processo educativo. Tanto a valorização profissional do professor profissional em educação insere-se no âmbito do desenvolvimento
quanto a da educação escolar são, portanto, exigências de progra- de aprendizagens de ordem pessoal, cultural, social, ambiental, po-
mas de formação inicial e continuada, no contexto do conjunto de lítica, ética, estética.
múltiplas atribuições definidas para os sistemas educativos. Assim, hoje, exige-se do professor mais do que um conjunto de
habilidades cognitivas, sobretudo se ainda for considerada a lógica
Para a formação inicial e continuada dos docentes, portanto, é
própria do mundo digital e das mídias em geral, o que pressupõe
central levar em conta a relevância dos domínios indispensáveis ao
aprender a lidar com os nativos digitais. Além disso, lhe é exigida,
exercício da docência, conforme disposto na Resolução CNE/CP nº
como prérequisito para o exercício da docência, a capacidade de
1/2006, que assim se expressa:
trabalhar cooperativamente em equipe, e de compreender, inter-
I – o conhecimento da escola como organização complexa que pretar e aplicar a linguagem e os instrumentos produzidos ao longo
tem a função de promover a educação para e na cidadania; da evolução tecnológica, econômica e organizativa. Isso, sem dúvi-
II – a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de inves- da, lhe exige utilizar conhecimentos científicos e tecnológicos, em
tigações de interesse da área educacional; detrimento da sua experiência em regência, isto é, exige habilidades
III – a participação na gestão de processos educativos e na or- que o curso que o titulou, na sua maioria, não desenvolveu. Desse

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

ponto de vista, o conjunto de atividades docentes vem ampliando o compõem a comunidade escolar são responsáveis.
seu raio de atuação, pois, além do domínio do conhecimento espe- Nesse sentido, o professor da Educação Básica é o profissional
cífico, são solicitadas atividades pluridisciplinares que antecedem a que conhece as especificidades dos processos de desenvolvimento
regência e a sucedem ou a permeiam. As atividades de integração e de aprendizagens, respeita os direitos dos estudantes e de suas
com a comunidade são as que mais o desafiam. famílias. Para isso, domina o conhecimento teórico-metodológico
Historicamente, o docente responsabiliza-se pela escolha de e teórico-prático indispensável ao desempenho de suas funções
determinada lógica didático-pedagógica, ameaçado pela incerteza definidas no artigo 13 da LDB, no plano de carreira a que se vincu-
quanto àquilo que, no exercício de seu papel de professor, deve ou la, no regimento da escola, no projeto político-pedagógico em sua
não deve saber, pensar e enfrentar, ou evitar as dificuldades mais processualidade.
frequentes que ocorrem nas suas relações com os seus pares, com
os estudantes e com os gestores. Atualmente, mais que antes, ao II – VOTO DA COMISSÃO
escolher a metodologia que consiste em buscar a compreensão so-
bre a lógica mental, a partir da qual se identifica a lógica de deter- À vista do exposto, propõe-se à Câmara de Educação Básica a
minada área do conhecimento, o docente haverá de definir aquela aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Edu-
capaz de desinstalar os sujeitos aprendizes, provocar-lhes curiosi- cação Básica, na forma deste Parecer e do Projeto de Resolução em
dade, despertar-lhes motivos, desejos. Esse é um procedimento anexo, do qual é parte integrante.
que contribui para o desenvolvimento da personalidade do escolar,
mas pressupõe chegar aos elementos essenciais do objeto de co- III – DECISÃO DA CÂMARA
nhecimento e suas relações gerais e singulares.
Para atender às orientações contidas neste Parecer, o profes- A Câmara de Educação Básica aprova, por unanimidade, o voto
da Relatora
sor da Educação Básica deverá estar apto para gerir as atividades
didático-pedagógicas de sua competência se os cursos de formação
inicial e continuada de docentes levarem em conta que, no exercí- RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 02/2012
cio da docência, a ação do professor é permeada por dimensões
não apenas técnicas, mas também políticas, éticas e estéticas, pois RESOLUÇÃO Nº 2, DE 30 DE JANEIRO 2012 (*)
terão de desenvolver habilidades propedêuticas, com fundamento
na ética da inovação, e de manejar conteúdos e metodologias que Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.
ampliem a visão política para a politicidade das técnicas e tecnolo-
gias, no âmbito de sua atuação cotidiana. O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Na-
Ao selecionar e organizar o conhecimento específico que o ha- cional de Educação, em conformidade com o disposto no artigo 9º,
bilite para atuar em uma ou mais etapas da Educação Básica, é fun- § 1º, alínea “c” da Lei nº 4.024/61, de 20 de dezembro de 1961, com
damental que se considere que o egresso dos cursos de formação a redação dada pela Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, nos
de professores deverá ter a oportunidade de reconhecer o conhe- artigos 22, 23, 24, 25, 26, 26-A, 27, 35, 36,36-A, 36-B e 36-C da Lei
cimento (conceitos, teorias, habilidades, procedimentos, valores) nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e tendo em vista o Parecer
como base para a formação integral do estudante, uma vez que CEB/CNE nº 5/2011, homologado por Despacho do Senhor Ministro
esta exige a capacidade para análise, síntese, comprovação, compa- de Estado da Educação, publicado no DOU de 24 de janeiro de 2011,
ração, valoração, explicação, resolução de problemas, formulação resolve:
de hipóteses, elaboração, execução e avaliação de projetos, entre
outras, destinadas à organização e realização das atividades de TÍTULO I
aprendizagens. OBJETO E REFERENCIAL
É na perspectiva exposta que se concebe o trabalho docente na CAPÍTULO I
tarefa de cuidar e educar as crianças e jovens que, juntos, encon- OBJETO
tram-se na idade de 0 (zero) a 17 (dezessete) anos. Assim pensada, Art. 1º A presente Resolução define as Diretrizes Curriculares
a fundamentação da ação docente e dos programas de formação Nacionais para o Ensino Médio, a serem observadas na organização
inicial e continuada dos profissionais da educação instauram-se em curricular pelos sistemas de ensino e suas unidades escolares.
meio a processos tensionais de caráter político, social e cultural que Parágrafo único Estas Diretrizes aplicam-se a todas as formas e
se refletem na eleição de um ou outro método de aprendizagem, modalidades de Ensino Médio, complementadas, quando necessá-
a partir do qual é justificado determinado perfil de docente para a rio, por Diretrizes próprias.
Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
Educação Básica.
articulam-se com as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a
Se o projeto político-pedagógico, construído coletivamente,
Educação Básica e reúnem princípios, fundamentos e procedimen-
está assegurado por lei, resultante da mobilização de muitos edu-
tos, definidos pelo Conselho Nacional de Educação, para orientar as
cadores, torna-se necessário dar continuidade a essa mobilização
políticas públicas educacionais da União, dos Estados, do Distrito
no intuito de promover a sua viabilização prática pelos docentes. Federal e dos Municípios na elaboração, planejamento, implemen-
Para tanto, as escolas de formação dos profissionais da educação, tação e avaliação das propostas curriculares das unidades escolares
sejam gestores, professores ou especialistas, têm um papel impor- públicas e particulares que oferecem o Ensino Médio.
tantíssimo no sentido de incluir, em seus currículos e programas, a
temática da gestão democrática, dando ênfase à construção do pro-
jeto pedagógico, mediante trabalho coletivo de que todos os que

231
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

CAPÍTULO II Art. 6º O currículo é conceituado como a proposta de ação


REFERENCIAL LEGAL E CONCEITUAL educativa constituída pela seleção de conhecimentos construídos
pela sociedade, expressando-se por práticas escolares que se des-
Art. 3º O Ensino Médio é um direito social de cada pessoa, e dobram em torno de conhecimentos relevantes e pertinentes, per-
dever do Estado na sua oferta pública e gratuita a todos. meadas pelas relações sociais, articulando vivências e saberes dos
Art. 4º As unidades escolares que ministram esta etapa da Edu- estudantes e contribuindo para o desenvolvimento de suas identi-
cação Básica devem estruturar seus projetos político-pedagógicos dades e condições cognitivas e sócio-afetivas.
considerando as finalidades previstas na Lei nº 9.394/96 (Lei de Di-
retrizes e Bases da Educação Nacional): TÍTULO II
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos ad- ORGANIZAÇÃO CURRICULAR E FORMAS DE OFERTA
quiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o prosseguimento CAPÍTULO I
de estudos; ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educan-
do para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar Art. 7º A organização curricular do Ensino Médio tem uma base
a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; nacional comum e uma parte diversificada que não devem consti-
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, in- tuir blocos distintos, mas um todo integrado, de modo a garantir
cluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia inte- tanto conhecimentos e saberes comuns necessários a todos os es-
lectual e do pensamento crítico; tudantes, quanto uma formação que considere a diversidade e as
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos características locais e especificidades regionais.
dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática. Art. 8º O currículo é organizado em áreas de conhecimento, a
Art. 5 O Ensino Médio em todas as suas formas de oferta e or- saber:
ganização, baseia-se em: I - Linguagens;
I - formação integral do estudante; II - Matemática;
II - trabalho e pesquisa como princípios educativos e pedagógi- III - Ciências da Natureza;
cos, respectivamente; IV - Ciências Humanas.
III - educação em direitos humanos como princípio nacional § 1º O currículo deve contemplar as quatro áreas do conhe-
norteador; cimento, com tratamento metodológico que evidencie a contextu-
IV - sustentabilidade ambiental como meta universal; alização e a interdisciplinaridade ou outras formas de interação e
V - indissociabilidade entre educação e prática social, conside- articulação entre diferentes campos de saberes específicos.
rando-se a historicidade dos conhecimentos e dos sujeitos do pro- § 2º A organização por áreas de conhecimento não dilui nem
cesso educativo, bem como entre teoria e prática no processo de exclui componentes curriculares com especificidades e saberes pró-
ensino-aprendizagem; prios construídos e sistematizados, mas implica no fortalecimento
VI - integração de conhecimentos gerais e, quando for o caso, das relações entre eles e a sua contextualização para apreensão e
técnico-profissionais realizada na perspectiva da interdisciplinarida- intervenção na realidade, requerendo planejamento e execução
de e da contextualização; conjugados e cooperativos dos seus professores.
VII - reconhecimento e aceitação da diversidade e da realidade Art. 9º A legislação nacional determina componentes obrigató-
concreta dos sujeitos do processo educativo, das formas de produ- rios que devem ser tratados em uma ou mais das áreas de conheci-
ção, dos processos de trabalho e das culturas a eles subjacentes; mento para compor o currículo:
VIII - integração entre educação e as dimensões do trabalho, I - são definidos pela LDB:
da ciência, da tecnologia e da cultura como base da proposta e do a) o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, o conhe-
desenvolvimento curricular. cimento do mundo físico e natural e da realidade social e política,
§ 1º O trabalho é conceituado na sua perspectiva ontológica de especialmente do Brasil;
transformação da natureza, como realização inerente ao ser huma- a) o ensino da Arte, especialmente em suas expressões re-
no e como mediação no processo de produção da sua existência. gionais, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos es-
§ 2º A ciência é conceituada como o conjunto de conhecimen- tudantes, com a Música como seu conteúdo obrigatório, mas não
tos sistematizados, produzidos socialmente ao longo da história, na exclusivo;
busca da compreensão e transformação da natureza e da socieda- b) a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da ins-
de. tituição de ensino, sendo sua prática facultativa ao estudante nos
§ 3º A tecnologia é conceituada como a transformação da ciên- casos previstos em Lei;
cia em força produtiva ou mediação do conhecimento científico e a c) o ensino da História do Brasil, que leva em conta as contribui-
produção, marcada, desde sua origem, pelas relações sociais que a ções das diferentes culturas e etnias para a formação do povo bra-
levaram a ser produzida. sileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia;
§ 4º A cultura é conceituada como o processo de produção de d) o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, no
expressões materiais, símbolos, representações e significados que âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educa-
correspondem a valores éticos, políticos e estéticos que orientam ção Artística e de Literatura e História brasileiras;
as normas de conduta de uma sociedade. e) a Filosofia e a Sociologia em todos os anos do curso;
f) uma língua estrangeira moderna na parte diversificada, esco-
lhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optati-
vo, dentro das disponibilidades da instituição.

232
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Parágrafo único. Em termos operacionais, os componentes cur- Art. 13. As unidades escolares devem orientar a definição de
riculares obrigatórios decorrentes da LDB que integram as áreas de toda proposição curricular, fundamentada na seleção dos conhe-
conhecimento são os referentes a: cimentos, componentes, metodologias, tempos, espaços, arranjos
I - Linguagens: alternativos e formas de avaliação, tendo presente:
a) Língua Portuguesa; I - as dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da
b) Língua Materna, para populações indígenas; cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas
c) Língua Estrangeira moderna; naturezas, contextualizando-os em sua dimensão histórica e em re-
d) Arte, em suas diferentes linguagens: cênicas, plásticas e, lação ao contexto social contemporâneo;
obrigatoriamente, a musical; II - o trabalho como princípio educativo, para a compreensão
e) Educação Física. do processo histórico de produção científica e tecnológica, desen-
II - Matemática. volvida e apropriada socialmente para a transformação das condi-
III - Ciências da Natureza: ções naturais da vida e a ampliação das capacidades, das potencia-
a) Biologia; lidades e dos sentidos humanos;
b) Física; III - a pesquisa como princípio pedagógico, possibilitando que
c) Química. o estudante possa ser protagonista na investigação e na busca de
IV - Ciências Humanas: respostas em um processo autônomo de (re)construção de conhe-
a) História; cimentos.
b) Geografia; IV - os direitos humanos como princípio norteador, desenvol-
c) Filosofia; vendo-se sua educação de forma integrada, permeando todo o cur-
d) Sociologia. rículo, para promover o respeito a esses direitos e à convivência
Art. 10. Em decorrência de legislação específica, são obrigató- humana
rios V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal, de-
I - Língua Espanhola, de oferta obrigatória pelas unidades es- senvolvida como prática educativa integrada, contínua e permanen-
colares, embora facultativa para o estudante (Lei nº 11.161/2005); te, e baseada na compreensão do necessário equilíbrio e respeito
II - Com tratamento transversal e integradamente, permeando nas relações do ser humano com seu ambiente.
todo o currículo, no âmbito dos demais componentes curriculares:
educação alimentar e nutricional (Lei nº 11.947/2009, que dispõe CAPÍTULO II
sobre o atendimento da alimentação escolar e do Programa Dinhei- FORMAS DE OFERTA E ORGANIZAÇÃO
ro Direto na Escola aos alunos da Educação Básica); processo de
envelhecimento, respeito e valorização do idoso, de forma a elimi- Art. 14. O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, con-
nar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria (Lei cebida como conjunto orgânico, sequencial e articulado, deve asse-
nº 10.741/2003, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso); Educação gurar sua função formativa para todos os estudantes, sejam adoles-
Ambiental (Lei nº 9.795/99, que dispõe sobre a Política Nacional de centes, jovens ou adultos, atendendo, mediante diferentes formas
Educação Ambiental); Educação para o Trânsito (Lei nº 9.503/97, de oferta e organização:
que institui o Código de Trânsito Brasileiro); Educação em Direitos I - o Ensino Médio pode organizar-se em tempos escolares no
Humanos (Decreto nº 7.037/2009, que institui o Programa Nacional formato de séries anuais, períodos semestrais, ciclos, módulos,
de Direitos Humanos – PNDH 3). alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados,
Art. 11. Outros componentes curriculares, a critério dos siste- com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por
mas de ensino e das unidades escolares e definidos em seus proje- forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo
tos político-pedagógicos, podem ser incluídos no currículo, sendo de aprendizagem assim o recomendar;
tratados ou como disciplina ou com outro formato, preferencial- II - no Ensino Médio regular, a duração mínima é de 3 (três)
mente, de forma transversal e integradora. anos, com carga horária mínima total de 2.400 (duas mil e quatro-
Art. 12. O currículo do Ensino Médio deve: centas) horas, tendo como referência uma carga horária anual de
I - garantir ações que promovam: 800 (oitocentas) horas, distribuídas em pelo menos 200 (duzentos)
a) a educação tecnológica básica, a compreensão do significado dias de efetivo trabalho escolar;
da ciência, das letras e das artes; III - o Ensino Médio regular diurno, quando adequado aos seus
b) o processo histórico de transformação da sociedade e da estudantes, pode se organizar em regime de tempo integral com,
cultura; no mínimo, 7 (sete) horas diárias;
c) a língua portuguesa como instrumento de comunicação, IV - no Ensino Médio regular noturno, adequado às condições
acesso ao conhecimento e exercício da cidadania; de trabalhadores, respeitados os mínimos de duração e de carga
II - adotar metodologias de ensino e de avaliação de aprendiza- horária, o projeto político-pedagógico deve atender, com qualida-
gem que estimulem a iniciativa dos estudantes; de, a sua singularidade, especificando uma organização curricular e
III - organizar os conteúdos, as metodologias e as formas de metodológica diferenciada, e pode, para garantir a permanência e
avaliação de tal forma que ao final do Ensino Médio o estudante o sucesso destes estudantes:
demonstre: a) ampliar a duração do curso para mais de 3 (três) anos, com
a) domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presi- menor carga horária diária e anual, garantido o mínimo total de
dem a produção moderna; 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas;
b) conhecimento das formas contemporâneas de linguagem.

233
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

V - na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, observa- TÍTULO III


das suas Diretrizes específicas, com duração mínima de 1.200 (mil e DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E DOS SISTEMAS DE
duzentas) horas, deve ser especificada uma organização curricular ENSINO
e metodológica diferenciada para os estudantes trabalhadores, que CAPÍTULO I
pode: DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
a) ampliar seus tempos de organização escolar, com menor car-
ga horária diária e anual, garantida sua duração mínima; Art. 15. Com fundamento no princípio do pluralismo de ideias
VI - atendida a formação geral, incluindo a preparação básica e de concepções pedagógicas, no exercício de sua autonomia e na
para o trabalho, o Ensino Médio pode preparar para o exercício de gestão democrática, o projeto políticopedagógico das unidades es-
profissões técnicas, por integração com a Educação Profissional e colares, deve traduzir a proposta educativa construída coletivamen-
Tecnológica, observadas as Diretrizes específicas, com as cargas ho- te, garantida a participação efetiva da comunidade escolar e local,
rárias mínimas de: bem como a permanente construção da identidade entre a escola e
a) 3.200 (três mil e duzentas) horas, no Ensino Médio regular o território no qual está inserida.
integrado com a Educação Profissional Técnica de Nível Médio; § 1º Cabe a cada unidade de ensino a elaboração do seu proje-
b) 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas, na Educação de Jo- to político-pedagógico, com a proposição de alternativas para a for-
vens e Adultos integrada com a Educação Profissional Técnica de mação integral e acesso aos conhecimentos e saberes necessários,
Nível Médio, respeitado o mínimo de 1.200 (mil e duzentas) horas definido a partir de aprofundado processo de diagnóstico, análise e
de educação geral; estabelecimento de prioridades, delimitação de formas de imple-
c) 1.400 (mil e quatrocentas) horas, na Educação de Jovens e mentação e sistemática de seu acompanhamento e avaliação.
Adultos integrada com a formação inicial e continuada ou qualifi- § 2º O projeto político-pedagógico, na sua concepção e imple-
cação profissional, respeitado o mínimo de 1.200 (mil e duzentas) mentação, deve considerar os estudantes e os professores como
horas de educação geral; sujeitos históricos e de direitos, participantes ativos e protagonistas
VII - na Educação Especial, na Educação do Campo, na Educa- na sua diversidade e singularidade.
ção Escolar Indígena, na Educação Escolar Quilombola, de pessoas § 3º A instituição de ensino deve atualizar, periodicamente, seu
em regime de acolhimento ou internação e em regime de privação projeto políticopedagógico e dar-lhe publicidade à comunidade es-
de liberdade, e na Educação a Distância, devem ser observadas as colar e às famílias.
respectivas Diretrizes e normas nacionais; Art. 16. O projeto político-pedagógico das unidades escolares
VIII - os componentes curriculares que integram as áreas de que ofertam o Ensino Médio deve considerar:
conhecimento podem ser tratados ou como disciplinas, sempre de I - atividades integradoras artístico-culturais, tecnológicas e de
forma integrada, ou como unidades de estudos, módulos, ativida- iniciação científica, vinculadas ao trabalho, ao meio ambiente e à
des, práticas e projetos contextualizados e interdisciplinares ou di- prática social;
versamente articuladores de saberes, desenvolvimento transversal II - problematização como instrumento de incentivo à pesqui-
de temas ou outras formas de organização; sa, à curiosidade pelo inusitado e ao desenvolvimento do espírito
IX - os componentes curriculares devem propiciar a apropria- inventivo;
ção de conceitos e categorias básicas, e não o acúmulo de informa- III - a aprendizagem como processo de apropriação significativa
ções e conhecimentos, estabelecendo um conjunto necessário de dos conhecimentos, superando a aprendizagem limitada à memo-
saberes integrados e significativos; rização;
X - além de seleção criteriosa de saberes, em termos de quanti- IV - valorização da leitura e da produção escrita em todos os
dade, pertinência e relevância, deve ser equilibrada sua distribuição campos do saber;
ao longo do curso, para evitar fragmentação e congestionamento V - comportamento ético, como ponto de partida para o reco-
com número excessivo de componentes em cada tempo da orga- nhecimento dos direitos humanos e da cidadania, e para a prática
nização escolar; de um humanismo contemporâneo expresso pelo reconhecimento,
XI - a organização curricular do Ensino Médio deve oferecer respeito e acolhimento da identidade do outro e pela incorporação
tempos e espaços próprios para estudos e atividades que permi- da solidariedade;
tam itinerários formativos opcionais diversificados, a fim de melhor VI - articulação entre teoria e prática, vinculando o trabalho in-
responder à heterogeneidade e pluralidade de condições, múltiplos telectual às atividades práticas ou experimentais;
interesses e aspirações dos estudantes, com suas especificidades VII - integração com o mundo do trabalho por meio de estágios
etárias, sociais e culturais, bem como sua fase de desenvolvimento; de estudantes do Ensino Médio, conforme legislação específica;
XII - formas diversificadas de itinerários podem ser organizadas, VIII - utilização de diferentes mídias como processo de dina-
desde que garantida a simultaneidade entre as dimensões do traba- mização dos ambientes de aprendizagem e construção de novos
lho, da ciência, da tecnologia e da cultura, e definidas pelo projeto saberes;
político-pedagógico, atendendo necessidades, anseios e aspirações IX - capacidade de aprender permanente, desenvolvendo a au-
dos sujeitos e a realidade da escola e do seu meio; tonomia dos estudantes;
XIII - a interdisciplinaridade e a contextualização devem asse- X - atividades sociais que estimulem o convívio humano;
gurar a transversalidade do conhecimento de diferentes compo- XI - avaliação da aprendizagem, com diagnóstico preliminar,
nentes curriculares, propiciando a interlocução entre os saberes e e entendida como processo de caráter formativo, permanente e
os diferentes campos do conhecimento. cumulativo;
XII - acompanhamento da vida escolar dos estudantes, promo-
vendo o seguimento do desempenho, análise de resultados e co-
municação com a família;

234
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

XIII - atividades complementares e de superação das dificulda- b) várias alternativas pedagógicas, incluindo ações, situações
des de aprendizagem para que o estudante tenha sucesso em seus e tempos diversos, bem como diferentes espaços – intraescolares
estudos; ou de outras unidades escolares e da comunidade – para atividades
XIV - reconhecimento e atendimento da diversidade e diferen- educacionais e socioculturais favorecedoras de iniciativa, autono-
tes nuances da desigualdade e da exclusão na sociedade brasileira; mia e protagonismo social dos estudantes;
XV - valorização e promoção dos direitos humanos mediante c) articulações institucionais e comunitárias necessárias ao
temas relativos a gênero, identidade de gênero, raça e etnia, reli- cumprimento dos planos dos sistemas de ensino e dos projetos po-
gião, orientação sexual, pessoas com deficiência, entre outros, bem lítico-pedagógicos das unidades escolares;
como práticas que contribuam para a igualdade e para o enfrenta- d) realização, inclusive pelos colegiados escolares e órgãos de
mento de todas as formas de preconceito, discriminação e violência representação estudantil, de ações fundamentadas nos direitos hu-
sob todas as formas; manos e nos princípios éticos, de convivência e de participação de-
XVI - análise e reflexão crítica da realidade brasileira, de sua mocrática visando a construir unidades escolares e sociedade livres
organização social e produtiva na relação de complementaridade de preconceitos, discriminações e das diversas formas de violência.
entre espaços urbanos e do campo; III - fomentar alternativas de diversificação e flexibilização,
XVII - estudo e desenvolvimento de atividades socioambien- pelas unidades escolares, de formatos, componentes curriculares
tais, conduzindo a Educação Ambiental como uma prática educativa ou formas de estudo e de atividades, estimulando a construção de
integrada, contínua e permanente; itinerários formativos que atendam às características, interesses e
XVIII - práticas desportivas e de expressão corporal, que contri- necessidades dos estudantes e às demandas do meio social, privile-
buam para a saúde, a sociabilidade e a cooperação; giando propostas com opções pelos estudantes.
XIX - atividades intersetoriais, entre outras, de promoção da IV - orientar as unidades escolares para promoverem:
saúde física e mental, saúde sexual e saúde reprodutiva, e preven- a) classificação do estudante, mediante avaliação pela institui-
ção do uso de drogas; ção, para inserção em etapa adequada ao seu grau de desenvolvi-
XX - produção de mídias nas escolas a partir da promoção de mento e experiência;
atividades que favoreçam as habilidades de leitura e análise do pa- b) aproveitamento de estudos realizados e de conhecimentos
pel cultural, político e econômico dos meios de comunicação na constituídos tanto no ensino formal como no informal e na experi-
sociedade; ência extraescolar;
XXI - participação social e protagonismo dos estudantes, como
V - estabelecer normas complementares e políticas educacio-
agentes de transformação de suas unidades de ensino e de suas
nais para execução e cumprimento das disposições destas Diretri-
comunidades;
zes, considerando as peculiaridades regionais ou locais;
XXII - condições materiais, funcionais e didático-pedagógicas,
VI - instituir sistemas de avaliação e utilizar os sistemas de ava-
para que os profissionais da escola efetivem as proposições do pro-
liação operados pelo Ministério da Educação, a fim de acompanhar
jeto.
resultados, tendo como referência as expectativas de aprendizagem
Parágrafo único. O projeto político-pedagógico deve, ainda,
dos conhecimentos e saberes a serem alcançados, a legislação e as
orientar:
normas, estas Diretrizes, e os projetos político-pedagógicos das uni-
a) dispositivos, medidas e atos de organização do trabalho es-
colar; dades escolares.
b) mecanismos de promoção e fortalecimento da autonomia Art. 18. Para a implementação destas Diretrizes, cabe aos siste-
escolar, mediante a alocação de recursos financeiros, administrati- mas de ensino prover:
vos e de suporte técnico necessários à sua realização; I - os recursos financeiros e materiais necessários à ampliação
c) adequação dos recursos físicos, inclusive organização dos es- dos tempos e espaços dedicados ao trabalho educativo nas unida-
paços, equipamentos, biblioteca, laboratórios e outros ambientes des escolares;
educacionais. II - aquisição, produção e/ou distribuição de materiais didáticos
e escolares adequados;
CAPÍTULO II III - professores com jornada de trabalho e formação, inclusive
DOS SISTEMAS DE ENSINO continuada, adequadas para o desenvolvimento do currículo, bem
como dos gestores e demais profissionais das unidades escolares;
Art. 17. Os sistemas de ensino, de acordo com a legislação e a IV - instrumentos de incentivo e valorização dos profissionais
normatização nacional e estadual, e na busca da melhor adequação da educação, com base em planos de carreira e outros dispositivos
possível às necessidades dos estudantes e do meio social, devem: voltados para esse fim;
I - criar mecanismos que garantam liberdade, autonomia e res- V - acompanhamento e avaliação dos programas e ações edu-
ponsabilidade às unidades escolares, fortalecendo sua capacidade cativas nas respectivas redes e unidades escolares.
de concepção, formulação e execução de suas propostas político- Art. 19. Em regime de colaboração com os Estados, o Distrito
-pedagógicas; Federal e os Municípios, e na perspectiva de um sistema nacional
II - promover, mediante a institucionalização de mecanismos de de educação, cabe ao Ministério da Educação oferecer subsídios e
participação da comunidade, alternativas de organização institucio- apoio para a implementação destas Diretrizes.
nal que possibilitem: Art. 20. Visando a alcançar unidade nacional, respeitadas as di-
a) identidade própria das unidades escolares de adolescentes, versidades, o Ministério da Educação, em articulação e colaboração
jovens e adultos, respeitadas as suas condições e necessidades de com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, deve elaborar e
espaço e tempo para a aprendizagem; encaminhar ao Conselho Nacional de Educação, precedida de con-
sulta pública nacional, proposta de expectativas de aprendizagem

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

dos conhecimentos escolares e saberes que devem ser atingidos Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condições para o
pelos estudantes em diferentes tempos de organização do curso de exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimen-
Ensino Médio. tação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao es-
Art. 21. O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) deve, pro- porte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade,
gressivamente, compor o Sistema de Avaliação da Educação Básica ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
(SAEB), assumindo as funções de: § 1º O poder público desenvolverá políticas que visem garantir
I - avaliação sistêmica, que tem como objetivo subsidiar as po- os direitos humanos das mulheres no âmbito das relações domésti-
líticas públicas para a Educação Básica; cas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negli-
II - avaliação certificadora, que proporciona àqueles que estão gência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
fora da escola aferir seus conhecimentos construídos em processo § 2º Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as con-
de escolarização, assim como os conhecimentos tácitos adquiridos dições necessárias para o efetivo exercício dos direitos enunciados
ao longo da vida; no caput.
III - avaliação classificatória, que contribui para o acesso demo- Art. 4º Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins
crático à Educação Superior. sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições pecu-
Art. 22. Estas Diretrizes devem nortear a elaboração da propos- liares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
ta de expectativas de aprendizagem, a formação de professores, os
TÍTULO II
investimentos em materiais didáticos e os sistemas e exames nacio-
DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER
nais de avaliação.
Art. 23. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publica-
CAPÍTULO I
ção, revogando-se as disposições em contrário, em especial a Reso- DISPOSIÇÕES GERAIS
lução CNE/CEB nº 3, de 26 de junho de 1998.
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica
e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no
LEI NO 11.340/2006 – LEI MARIA DA PENHA
gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psi-
cológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº
LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006 150, de 2015)
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo
contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade
Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados,
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar con- III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor
tra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente
Lei de Execução Penal; e dá outras providências. de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na- independem de orientação sexual.
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a mulher consti-
tui uma das formas de violação dos direitos humanos.
TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
CAPÍTULO II
Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a vio- DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CON-
TRA A MULHER
lência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do
art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a
de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção
mulher, entre outras:
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que
a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela Re- ofenda sua integridade ou saúde corporal;
pública Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de II - a violência psicológica, entendida como qualquer condu-
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medi- ta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou
das de assistência e proteção às mulheres em situação de violência que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que
doméstica e familiar. vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças
Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, ma-
orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e reli- nipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz,
gião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, ex-
sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver ploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio
sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoa- que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
mento moral, intelectual e social. (Redação dada pela Lei nº 13.772, de 2018)

236
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem
a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexu- valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana
al não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia;
força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de
a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contra- ensino, para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à equida-
ceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à de de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência domés-
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipula- tica e familiar contra a mulher.
ção; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e
reprodutivos; CAPÍTULO II
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer condu- DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
ta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total DOMÉSTICA E FAMILIAR
de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais,
bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os desti- Art. 9º A assistência à mulher em situação de violência domés-
nados a satisfazer suas necessidades; tica e familiar será prestada de forma articulada e conforme os prin-
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que cípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social,
configure calúnia, difamação ou injúria. no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública,
entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emergen-
TÍTULO III cialmente quando for o caso.
DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA § 1º O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher
DOMÉSTICA E FAMILIAR em situação de violência doméstica e familiar no cadastro de pro-
gramas assistenciais do governo federal, estadual e municipal.
CAPÍTULO I § 2º O juiz assegurará à mulher em situação de violência do-
DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO méstica e familiar, para preservar sua integridade física e psicoló-
gica:
Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, inte-
e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto arti- grante da administração direta ou indireta;
culado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o
Municípios e de ações não-governamentais, tendo por diretrizes: afastamento do local de trabalho, por até seis meses.
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério III - encaminhamento à assistência judiciária, quando for o
Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, caso, inclusive para eventual ajuizamento da ação de separação
assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação; judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução
II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras de união estável perante o juízo competente.(Incluído pela Lei nº
informações relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou 13.894, de 2019)
etnia, concernentes às causas, às consequências e à frequência da § 3º A assistência à mulher em situação de violência domésti-
violência doméstica e familiar contra a mulher, para a sistematiza- ca e familiar compreenderá o acesso aos benefícios decorrentes do
ção de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação pe- desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de
riódica dos resultados das medidas adotadas; contracepção de emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente
III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a coibir os papéis (AIDS) e outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos
estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência doméstica casos de violência sexual.
e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III do art. 1º , no § 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência
inciso IV do art. 3º e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal física, sexual ou psicológica e dano moral ou patrimonial a mulher
; fica obrigado a ressarcir todos os danos causados, inclusive ressarcir
IV - a implementação de atendimento policial especializado ao Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com a tabela SUS, os
para as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à custos relativos aos serviços de saúde prestados para o total trata-
Mulher; mento das vítimas em situação de violência doméstica e familiar,
V - a promoção e a realização de campanhas educativas de pre- recolhidos os recursos assim arrecadados ao Fundo de Saúde do
venção da violência doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ente federado responsável pelas unidades de saúde que prestarem
ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e os serviços.(Vide Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência)
dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres; § 5º Os dispositivos de segurança destinados ao uso em caso
VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou de perigo iminente e disponibilizados para o monitoramento das
outros instrumentos de promoção de parceria entre órgãos gover- vítimas de violência doméstica ou familiar amparadas por medidas
namentais ou entre estes e entidades não-governamentais, tendo protetivas terão seus custos ressarcidos pelo agressor.(Vide Lei nº
por objetivo a implementação de programas de erradicação da vio- 13.871, de 2019) (Vigência)
lência doméstica e familiar contra a mulher; § 6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º deste arti-
VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da go não poderá importar ônus de qualquer natureza ao patrimônio
Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos profissionais per- da mulher e dos seus dependentes, nem configurar atenuante ou
tencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às ensejar possibilidade de substituição da pena aplicada.(Vide Lei nº
questões de gênero e de raça ou etnia; 13.871, de 2019) (Vigência)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 7º A mulher em situação de violência doméstica e familiar Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência do-
tem prioridade para matricular seus dependentes em instituição méstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre outras provi-
de educação básica mais próxima de seu domicílio, ou transferi-los dências:
para essa instituição, mediante a apresentação dos documentos I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando
comprobatórios do registro da ocorrência policial ou do processo de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário;
de violência doméstica e familiar em curso.(Incluído pela Lei nº II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao
13.882,de 2019) Instituto Médico Legal;
§ 8º Serão sigilosos os dados da ofendida e de seus dependen- III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes
tes matriculados ou transferidos conforme o disposto no § 7º deste para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida;
artigo, e o acesso às informações será reservado ao juiz, ao Minis- IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a
tério Público e aos órgãos competentes do poder público.(Incluído retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio
pela Lei nº 13.882,de 2019) familiar;
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e
CAPÍTULO III os serviços disponíveis, inclusive os de assistência judiciária para o
DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL eventual ajuizamento perante o juízo competente da ação de sepa-
ração judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de disso-
Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência do- lução de união estável.(Redação dada pela Lei nº 13.894, de 2019)
méstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial que tomar Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar
conhecimento da ocorrência adotará, de imediato, as providências contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade
legais cabíveis. policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem pre-
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao juízo daqueles previstos no Código de Processo Penal:
descumprimento de medida protetiva de urgência deferida. I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a
Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência do- representação a termo, se apresentada;
méstica e familiar o atendimento policial e pericial especializado, II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento
ininterrupto e prestado por servidores - preferencialmente do sexo do fato e de suas circunstâncias;
feminino - previamente capacitados. (Incluído pela Lei nº 13.505, III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente
de 2017) apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de
§ 1º A inquirição de mulher em situação de violência domésti- medidas protetivas de urgência;
ca e familiar ou de testemunha de violência doméstica, quando se IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da
tratar de crime contra a mulher, obedecerá às seguintes diretrizes: ofendida e requisitar outros exames periciais necessários;
(Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) V - ouvir o agressor e as testemunhas;
I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional da VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos
depoente, considerada a sua condição peculiar de pessoa em situ- sua folha de antecedentes criminais, indicando a existência de man-
ação de violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.505, dado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra
de 2017) ele;
II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em si- VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou pos-
tuação de violência doméstica e familiar, familiares e testemunhas se de arma de fogo e, na hipótese de existência, juntar aos autos
terão contato direto com investigados ou suspeitos e pessoas a eles essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição res-
relacionadas; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) ponsável pela concessão do registro ou da emissão do porte, nos
III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas inquiri- termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do
ções sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e administrati- Desarmamento);(Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019)
vo, bem como questionamentos sobre a vida privada. (Incluído pela VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao
Lei nº 13.505, de 2017) juiz e ao Ministério Público.
§ 2º Na inquirição de mulher em situação de violência domés- § 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autorida-
tica e familiar ou de testemunha de delitos de que trata esta Lei, de policial e deverá conter:
adotar-se-á, preferencialmente, o seguinte procedimento: (Incluído I - qualificação da ofendida e do agressor;
pela Lei nº 13.505, de 2017) II - nome e idade dos dependentes;
I - a inquirição será feita em recinto especialmente projetado III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicita-
para esse fim, o qual conterá os equipamentos próprios e adequa- das pela ofendida.
dos à idade da mulher em situação de violência doméstica e familiar IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com
ou testemunha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida; (Incluí- deficiência e se da violência sofrida resultou deficiência ou agrava-
do pela Lei nº 13.505, de 2017) mento de deficiência preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.836, de
II - quando for o caso, a inquirição será intermediada por pro- 2019)
fissional especializado em violência doméstica e familiar designado § 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referi-
pela autoridade judiciária ou policial; (Incluído pela Lei nº 13.505, do no § 1º o boletim de ocorrência e cópia de todos os documentos
de 2017) disponíveis em posse da ofendida.
III - o depoimento será registrado em meio eletrônico ou mag- § 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos ou pron-
nético, devendo a degravação e a mídia integrar o inquérito. (Inclu- tuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde.
ído pela Lei nº 13.505, de 2017)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 12-A. Os Estados e o Distrito Federal, na formulação de § 1º Exclui-se da competência dos Juizados de Violência Do-
suas políticas e planos de atendimento à mulher em situação de méstica e Familiar contra a Mulher a pretensão relacionada à parti-
violência doméstica e familiar, darão prioridade, no âmbito da Po- lha de bens. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)
lícia Civil, à criação de Delegacias Especializadas de Atendimento § 2º Iniciada a situação de violência doméstica e familiar após o
à Mulher (Deams), de Núcleos Investigativos de Feminicídio e de ajuizamento da ação de divórcio ou de dissolução de união estável,
equipes especializadas para o atendimento e a investigação das vio- a ação terá preferência no juízo onde estiver. (Incluído pela Lei nº
lências graves contra a mulher. 13.894, de 2019)
Art. 12-B. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os proces-
§ 1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) sos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado:
§ 2º (VETADO. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) I - do seu domicílio ou de sua residência;
§ 3º A autoridade policial poderá requisitar os serviços públicos II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;
necessários à defesa da mulher em situação de violência doméstica III - do domicílio do agressor.
e familiar e de seus dependentes. (Incluído pela Lei nº 13.505, de Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representa-
2017) ção da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à
Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à representação perante o juiz, em audiência especialmente designa-
vida ou à integridade física ou psicológica da mulher em situação de da com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido
violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor o Ministério Público.
será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivên- Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica
cia com a ofendida: (Redação dada pela Lei nº 14.188, de 2021) e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de
I - pela autoridade judicial; (Incluído pela Lei nº 13.827, de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que impli-
2019) que o pagamento isolado de multa.
II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede
de comarca; ou (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) CAPÍTULO II
III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
e não houver delegado disponível no momento da denúncia. (Inclu-
ído pela Lei nº 13.827, de 2019) SEÇÃO I
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o DISPOSIÇÕES GERAIS
juiz será comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas
e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, ca-
medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público conco- berá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas:
mitantemente. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as me-
§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à didas protetivas de urgência;
efetividade da medida protetiva de urgência, não será concedida II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de as-
liberdade provisória ao preso. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) sistência judiciária, quando for o caso, inclusive para o ajuizamento
da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamen-
TÍTULO IV to ou de dissolução de união estável perante o juízo competente;
DOS PROCEDIMENTOS (Redação dada pela Lei nº 13.894, de 2019)
III - comunicar ao Ministério Público para que adote as provi-
CAPÍTULO I dências cabíveis.
DISPOSIÇÕES GERAIS IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a
posse do agressor. (Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019)
Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser conce-
cíveis e criminais decorrentes da prática de violência doméstica e didas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido
familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas dos Códigos de da ofendida.
Processo Penal e Processo Civil e da legislação específica relativa § 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedi-
à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem com o das de imediato, independentemente de audiência das partes e de
estabelecido nesta Lei. manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente
Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a comunicado.
Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e crimi- § 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada
nal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Terri- ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo
tórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos
das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar nesta Lei forem ameaçados ou violados.
contra a mulher. § 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a
Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em pedido da ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgên-
horário noturno, conforme dispuserem as normas de organização cia ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à prote-
judiciária. ção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o
Art. 14-A. A ofendida tem a opção de propor ação de divórcio Ministério Público.
ou de dissolução de união estável no Juizado de Violência Domésti-
ca e Familiar contra a Mulher. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)

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Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução § 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que cou-
criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo ber, o disposto no caput e nos §§ 5º e 6º do art. 461 da Lei no 5.869,
juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).
representação da autoridade policial.
Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, SEÇÃO III
no curso do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA À OFENDIDA
bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifi-
quem. Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de ou-
Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais tras medidas:
relativos ao agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e à I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa ofi-
saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado constituído cial ou comunitário de proteção ou de atendimento;
ou do defensor público. II - determinar a recondução da ofendida e a de seus depen-
Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar intimação ou dentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor;
notificação ao agressor . III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo
dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;
SEÇÃO II IV - determinar a separação de corpos.
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA QUE OBRIGAM O V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em
AGRESSOR instituição de educação básica mais próxima do seu domicílio, ou
a transferência deles para essa instituição, independentemente da
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar existência de vaga. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019)
contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de ime- Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade
diato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz
medidas protetivas de urgência, entre outras: poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre ou-
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com tras:
comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor
de 22 de dezembro de 2003 ; à ofendida;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos
a ofendida; de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo ex-
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: pressa autorização judicial;
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemu- III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao
nhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial,
qualquer meio de comunicação; por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a doméstica e familiar contra a ofendida.
integridade física e psicológica da ofendida; Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes meno- para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo.
res, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço si-
milar; SEÇÃO IV
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios. (INCLUÍDO PELA LEI Nº 13.641, DE 2018)
VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação DO CRIME DE DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS PROTETIVAS
e reeducação; e(Incluído pela Lei nº 13.984, de 2020) DE URGÊNCIA
VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
atendimento individual e/ou em grupo de apoio.(Incluído pela Lei
nº 13.984, de 2020) Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas pro-
§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplica- tetivas de urgência previstas nesta Lei: (Incluído pela Lei nº 13.641,
ção de outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segu- de 2018)
rança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a provi- Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. (Incluído
dência ser comunicada ao Ministério Público. pela Lei nº 13.641, de 2018)
§ 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o § 1º A configuração do crime independe da competência ci-
agressor nas condições mencionadas no caput e incisos do art. 6º vil ou criminal do juiz que deferiu as medidas. (Incluído pela Lei nº
da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará 13.641, de 2018)
ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas proteti- § 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autorida-
vas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de de judicial poderá conceder fiança. (Incluído pela Lei nº 13.641, de
armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo 2018)
cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos § 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras
crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso. sanções cabíveis. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)
§ 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de ur-
gência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da
força policial.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

CAPÍTULO III Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas va-
DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ras criminais, para o processo e o julgamento das causas referidas
no caput.
Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não for parte,
nas causas cíveis e criminais decorrentes da violência doméstica e TÍTULO VII
familiar contra a mulher. DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de outras
atribuições, nos casos de violência doméstica e familiar contra a Art. 34. A instituição dos Juizados de Violência Doméstica e Fa-
mulher, quando necessário: miliar contra a Mulher poderá ser acompanhada pela implantação
I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, de edu- das curadorias necessárias e do serviço de assistência judiciária.
cação, de assistência social e de segurança, entre outros; Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios
II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de poderão criar e promover, no limite das respectivas competências:
atendimento à mulher em situação de violência doméstica e fami- (Vide Lei nº 14.316, de 2022)
liar, e adotar, de imediato, as medidas administrativas ou judiciais I - centros de atendimento integral e multidisciplinar para mu-
cabíveis no tocante a quaisquer irregularidades constatadas; lheres e respectivos dependentes em situação de violência domés-
III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar contra tica e familiar;
a mulher. II - casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes me-
CAPÍTULO IV nores em situação de violência doméstica e familiar;
DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de saú-
de e centros de perícia médico-legal especializados no atendimento
Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mu- à mulher em situação de violência doméstica e familiar;
lher em situação de violência doméstica e familiar deverá estar IV - programas e campanhas de enfrentamento da violência do-
acompanhada de advogado, ressalvado o previsto no art. 19 desta méstica e familiar;
Lei. V - centros de educação e de reabilitação para os agressores.
Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência do- Art. 36. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
méstica e familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de promoverão a adaptação de seus órgãos e de seus programas às
Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e diretrizes e aos princípios desta Lei.
judicial, mediante atendimento específico e humanizado. Art. 37. A defesa dos interesses e direitos transindividuais pre-
vistos nesta Lei poderá ser exercida, concorrentemente, pelo Mi-
TÍTULO V nistério Público e por associação de atuação na área, regularmente
DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR constituída há pelo menos um ano, nos termos da legislação civil.
Parágrafo único. O requisito da pré-constituição poderá ser
Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a dispensado pelo juiz quando entender que não há outra entidade
Mulher que vierem a ser criados poderão contar com uma equipe com representatividade adequada para o ajuizamento da demanda
de atendimento multidisciplinar, a ser integrada por profissionais coletiva.
especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde. Art. 38. As estatísticas sobre a violência doméstica e familiar
Art. 30. Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, contra a mulher serão incluídas nas bases de dados dos órgãos ofi-
entre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação ciais do Sistema de Justiça e Segurança a fim de subsidiar o sistema
local, fornecer subsídios por escrito ao juiz, ao Ministério Público nacional de dados e informações relativo às mulheres.
e à Defensoria Pública, mediante laudos ou verbalmente em audi- Parágrafo único. As Secretarias de Segurança Pública dos Esta-
ência, e desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento, dos e do Distrito Federal poderão remeter suas informações crimi-
prevenção e outras medidas, voltados para a ofendida, o agressor e nais para a base de dados do Ministério da Justiça.
os familiares, com especial atenção às crianças e aos adolescentes. Art. 38-A. O juiz competente providenciará o registro da me-
Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir avaliação mais dida protetiva de urgência. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
aprofundada, o juiz poderá determinar a manifestação de profissio- Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão, após
nal especializado, mediante a indicação da equipe de atendimento sua concessão, imediatamente registradas em banco de dados man-
multidisciplinar. tido e regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, garantido
Art. 32. O Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta or- o acesso instantâneo do Ministério Público, da Defensoria Pública e
çamentária, poderá prever recursos para a criação e manutenção dos órgãos de segurança pública e de assistência social, com vistas
da equipe de atendimento multidisciplinar, nos termos da Lei de à fiscalização e à efetividade das medidas protetivas. (Redação dada
Diretrizes Orçamentárias. Lei nº 14.310, de 2022) Vigência
TÍTULO VI Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS no limite de suas competências e nos termos das respectivas leis de
diretrizes orçamentárias, poderão estabelecer dotações orçamen-
Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência tárias específicas, em cada exercício financeiro, para a implementa-
Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumula- ção das medidas estabelecidas nesta Lei.
rão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as cau- Art. 40. As obrigações previstas nesta Lei não excluem outras
sas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra decorrentes dos princípios por ela adotados.
a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada
pela legislação processual pertinente.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e fami- Art. 1º Fica homologado o Parecer CNE/CP nº 14/2017, do Con-
liar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se selho Pleno do Conselho Nacional de Educação, aprovado na Ses-
aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. são Pública de 12 de setembro de 2017, que, junto ao Projeto de
Art. 42. O art. 313 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro Resolução a ele anexo, define o uso do nome social de travestis e
de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar acrescido do transexuais nos registros escolares da Educação Básica do País, para
seguinte inciso IV: alunos maiores de 18 anos.
“Art. 313. ................................................. Art. 2º Alunos menores de 18 anos podem solicitar o uso do
................................................................ nome social durante a matrícula ou a qualquer momento, por meio
IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a de seus pais ou representantes legais.
mulher, nos termos da lei específica, para garantir a execução das Art. 3º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
medidas protetivas de urgência.” (NR)
Art. 43. A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-Lei nº 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com a EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL (LEI Nº
seguinte redação: 11.947/2009)
“Art. 61. ..................................................
................................................................. Esse tema deve ser vivenciado por toda comunidade escolar de
II - ............................................................ forma contínua e permanente, visando desenvolver práticas edu-
................................................................. cativas, na perspectiva da segurança alimentar e nutricional, que
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações respeitem a cultura, as tradições, os hábitos alimentares saudáveis
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência e as singularidades dos estudantes. Perpassa pela valorização da
contra a mulher na forma da lei específica; alimentação escolar, o equilíbrio entre qualidade e quantidade de
........................................................... ” (NR) alimentos consumidos, além do estudo sobre macro e micronu-
Art. 44. O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro trientes necessários para a formação do indivíduo.
de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes alterações: Dessa forma, o currículo traz a educação alimentar e nutricio-
“Art. 129. .................................................. nal, inserindo conceitos de alimentação e nutrição nas diferentes
.................................................................. etapas de ensino, considerando o acesso à alimentação saudável
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, como algo fundamental para o crescimento e desenvolvimento dos
irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha indivíduos. Nessa dimensão, é necessário que o currículo desenvol-
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domés- va a percepção de que uma alimentação adequada e saudável é
ticas, de coabitação ou de hospitalidade: um direito humano, e que seja adquirida e consumida garantindo a
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. segurança alimentar e nutricional.
..................................................................
§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada LEI Nº 11.947, DE 16 DE JUNHO DE 2009.
de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de
deficiência.” (NR)
Art. 45. O art. 152 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do Pro-
de Execução Penal), passa a vigorar com a seguinte redação: grama Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação básica;
“Art. 152. ................................................... altera as Leis nos 10.880, de 9 de junho de 2004, 11.273, de 6 de
Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica contra a fevereiro de 2006, 11.507, de 20 de julho de 2007; revoga disposi-
mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento obrigatório do tivos da Medida Provisória no 2.178-36, de 24 de agosto de 2001,
agressor a programas de recuperação e reeducação.” (NR) e a Lei no 8.913, de 12 de julho de 1994; e dá outras providências.
Art. 46. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias após
sua publicação. O VICE–PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no exercício do cargo de
PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional
decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HU-
MANOS, 2006 Art. 1o Para os efeitos desta Lei, entende-se por alimentação
escolar todo alimento oferecido no ambiente escolar, independen-
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em temente de sua origem, durante o período letivo.
tópicos anteriores. Art. 2o São diretrizes da alimentação escolar:
I - o emprego da alimentação saudável e adequada, compreen-
dendo o uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cul-
PORTARIA MEC Nº 33/2018 tura, as tradições e os hábitos alimentares saudáveis, contribuindo
para o crescimento e o desenvolvimento dos alunos e para a melho-
PORTARIA Nº 33, DE 17 DE JANEIRO DE 2018 ria do rendimento escolar, em conformidade com a sua faixa etária
e seu estado de saúde, inclusive dos que necessitam de atenção
O MINISTRO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, no uso de suas atri- específica;
buições, tendo em vista o disposto no art. 2º da Lei nº 9.131,
de 24 de novembro de 1995, e conforme consta do Processo nº
23001.000054/2016-36, resolve:

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

II - a inclusão da educação alimentar e nutricional no proces- II - creches, pré-escolas e escolas comunitárias de ensino fun-
so de ensino e aprendizagem, que perpassa pelo currículo escolar, damental e médio conveniadas com os Estados, o Distrito Federal
abordando o tema alimentação e nutrição e o desenvolvimento de e os Municípios.
práticas saudáveis de vida, na perspectiva da segurança alimentar Art. 6o É facultado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Muni-
e nutricional; cípios repassar os recursos financeiros recebidos à conta do PNAE
III - a universalidade do atendimento aos alunos matriculados às unidades executoras das escolas de educação básica pertencen-
na rede pública de educação básica; tes à sua rede de ensino, observando o disposto nesta Lei, no que
IV - a participação da comunidade no controle social, no acom- couber.
panhamento das ações realizadas pelos Estados, pelo Distrito Fede- Parágrafo único. O Conselho Deliberativo do FNDE expedirá
ral e pelos Municípios para garantir a oferta da alimentação escolar normas relativas a critérios de alocação de recursos e valores per
saudável e adequada; capita, bem como para organização e funcionamento das unidades
V - o apoio ao desenvolvimento sustentável, com incentivos executoras e demais orientações e instruções necessárias à execu-
para a aquisição de gêneros alimentícios diversificados, produzidos ção do PNAE.
em âmbito local e preferencialmente pela agricultura familiar e pe- Art. 7o Os Estados poderão transferir a seus Municípios a res-
los empreendedores familiares rurais, priorizando as comunidades ponsabilidade pelo atendimento aos alunos matriculados nos esta-
tradicionais indígenas e de remanescentes de quilombos; belecimentos estaduais de ensino localizados nas respectivas áreas
VI - o direito à alimentação escolar, visando a garantir seguran- de jurisdição e, nesse caso, autorizar expressamente o repasse di-
ça alimentar e nutricional dos alunos, com acesso de forma iguali- reto ao Município por parte do FNDE da correspondente parcela de
tária, respeitando as diferenças biológicas entre idades e condições recursos calculados na forma do parágrafo único do art. 6o.
de saúde dos alunos que necessitem de atenção específica e aque- Art. 8o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios apresen-
les que se encontram em vulnerabilidade social. tarão ao FNDE a prestação de contas do total dos recursos recebi-
Art. 3o A alimentação escolar é direito dos alunos da educação dos.
básica pública e dever do Estado e será promovida e incentivada § 1o A autoridade responsável pela prestação de contas que
com vistas no atendimento das diretrizes estabelecidas nesta Lei. inserir ou fizer inserir documentos ou declaração falsa ou diversa da
Art. 4o O Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE que deveria ser inscrita, com o fim de alterar a verdade sobre o fato,
tem por objetivo contribuir para o crescimento e o desenvolvimen- será responsabilizada na forma da lei.
to biopsicossocial, a aprendizagem, o rendimento escolar e a forma- § 2o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios manterão
ção de hábitos alimentares saudáveis dos alunos, por meio de ações em seus arquivos, em boa guarda e organização, pelo prazo de 5
de educação alimentar e nutricional e da oferta de refeições que (cinco) anos, contados da data de aprovação da prestação de contas
cubram as suas necessidades nutricionais durante o período letivo. do concedente, os documentos a que se refere o caput, juntamen-
Art. 5o Os recursos financeiros consignados no orçamento da te com todos os comprovantes de pagamentos efetuados com os
União para execução do PNAE serão repassados em parcelas aos recursos financeiros transferidos na forma desta Lei, ainda que a
Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e às escolas federais execução esteja a cargo das respectivas escolas, e estarão obrigados
pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE, em a disponibilizá-los, sempre que solicitado, ao Tribunal de Contas da
conformidade com o disposto no art. 208 da Constituição Federal e União, ao FNDE, ao Sistema de Controle Interno do Poder Executivo
observadas as disposições desta Lei. Federal e ao Conselho de Alimentação Escolar - CAE.
§ 1o A transferência dos recursos financeiros, objetivando a § 3o O FNDE realizará auditagem da aplicação dos recursos nos
execução do PNAE, será efetivada automaticamente pelo FNDE, Estados, no Distrito Federal e nos Municípios, a cada exercício fi-
sem necessidade de convênio, ajuste, acordo ou contrato, mediante nanceiro, por sistema de amostragem, podendo requisitar o enca-
depósito em conta corrente específica. minhamento de documentos e demais elementos necessários para
§ 2o Os recursos financeiros de que trata o § 1o deverão ser tanto, ou, ainda, delegar competência a outro órgão ou entidade
incluídos nos orçamentos dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu- estatal para fazê-lo.
nicípios atendidos e serão utilizados exclusivamente na aquisição Art. 9o O FNDE, os entes responsáveis pelos sistemas de ensino
de gêneros alimentícios. e os órgãos de controle externo e interno federal, estadual e muni-
§ 3o Os saldos dos recursos financeiros recebidos à conta do cipal criarão, segundo suas competências próprias ou na forma de
PNAE existentes em 31 de dezembro deverão ser reprogramados rede integrada, mecanismos adequados à fiscalização e ao monito-
para o exercício subsequente, com estrita observância ao objeto de ramento da execução do PNAE.
sua transferência, nos termos disciplinados pelo Conselho Delibe- Parágrafo único. Os órgãos de que trata este artigo poderão
rativo do FNDE. celebrar convênios ou acordos, em regime de cooperação, para au-
§ 4o O montante dos recursos financeiros de que trata o § 1o xiliar e otimizar o controle do programa.
será calculado com base no número de alunos devidamente matri- Art. 10. Qualquer pessoa física ou jurídica poderá denunciar ao
culados na educação básica pública de cada um dos entes governa- FNDE, ao Tribunal de Contas da União, aos órgãos de controle inter-
mentais, conforme os dados oficiais de matrícula obtidos no censo no do Poder Executivo da União, ao Ministério Público e ao CAE as
escolar realizado pelo Ministério da Educação. irregularidades eventualmente identificadas na aplicação dos recur-
§ 5o Para os fins deste artigo, a critério do FNDE, serão conside- sos destinados à execução do PNAE.
rados como parte da rede estadual, municipal e distrital, ainda, os Art. 11. A responsabilidade técnica pela alimentação escolar
alunos matriculados em: nos Estados, no Distrito Federal, nos Municípios e nas escolas fe-
I - creches, pré-escolas e escolas do ensino fundamental e mé- derais caberá ao nutricionista responsável, que deverá respeitar as
dio qualificadas como entidades filantrópicas ou por elas mantidas, diretrizes previstas nesta Lei e na legislação pertinente, no que cou-
inclusive as de educação especial; ber, dentro das suas atribuições específicas.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 12. Os cardápios da alimentação escolar deverão ser ela- VI - cooperar no processo de capacitação dos recursos huma-
borados pelo nutricionista responsável com utilização de gêneros nos envolvidos na execução do PNAE e no controle social;
alimentícios básicos, respeitando-se as referências nutricionais, os VII - promover o desenvolvimento de estudos e pesquisas ob-
hábitos alimentares, a cultura e a tradição alimentar da localidade, jetivando a avaliação das ações do PNAE, podendo ser feitos em
pautando-se na sustentabilidade e diversificação agrícola da região, regime de cooperação com entes públicos e privados.
na alimentação saudável e adequada. Art. 17. Competem aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu-
§ 1º Para efeito desta Lei, gêneros alimentícios básicos são nicípios, no âmbito de suas respectivas jurisdições administrativas,
aqueles indispensáveis à promoção de uma alimentação saudável, as seguintes atribuições, conforme disposto no § 1o do art. 211 da
observada a regulamentação aplicável. (Renumerado do parágrafo Constituição Federal:
único Incluído pela Lei nº 12.982, de 2014) I - garantir que a oferta da alimentação escolar se dê em con-
§ 2o Para os alunos que necessitem de atenção nutricional indi- formidade com as necessidades nutricionais dos alunos, durante
vidualizada em virtude de estado ou de condição de saúde específi- o período letivo, observando as diretrizes estabelecidas nesta Lei,
ca, será elaborado cardápio especial com base em recomendações bem como o disposto no inciso VII do art. 208 da Constituição Fe-
médicas e nutricionais, avaliação nutricional e demandas nutricio- deral;
nais diferenciadas, conforme regulamento. (Incluído pela Lei nº II - promover estudos e pesquisas que permitam avaliar as
12.982, de 2014) ações voltadas para a alimentação escolar, desenvolvidas no âmbito
Art. 13. A aquisição dos gêneros alimentícios, no âmbito do das respectivas escolas;
PNAE, deverá obedecer ao cardápio planejado pelo nutricionista e III - promover a educação alimentar e nutricional, sanitária e
será realizada, sempre que possível, no mesmo ente federativo em ambiental nas escolas sob sua responsabilidade administrativa,
que se localizam as escolas, observando-se as diretrizes de que tra- com o intuito de formar hábitos alimentares saudáveis aos alunos
ta o art. 2o desta Lei. atendidos, mediante atuação conjunta dos profissionais de educa-
Art. 14. Do total dos recursos financeiros repassados pelo ção e do responsável técnico de que trata o art. 11 desta Lei;
FNDE, no âmbito do PNAE, no mínimo 30% (trinta por cento) deve- IV - realizar, em parceria com o FNDE, a capacitação dos recur-
rão ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente sos humanos envolvidos na execução do PNAE e no controle social;
da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas V - fornecer informações, sempre que solicitado, ao FNDE, ao
organizações, priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, CAE, aos órgãos de controle interno e externo do Poder Executivo, a
as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas. respeito da execução do PNAE, sob sua responsabilidade;
§ 1o A aquisição de que trata este artigo poderá ser realizada VI - fornecer instalações físicas e recursos humanos que pos-
dispensando-se o procedimento licitatório, desde que os preços se- sibilitem o pleno funcionamento do CAE, facilitando o acesso da
jam compatíveis com os vigentes no mercado local, observando-se população;
os princípios inscritos no art. 37 da Constituição Federal, e os ali- VII - promover e executar ações de saneamento básico nos es-
mentos atendam às exigências do controle de qualidade estabeleci- tabelecimentos escolares sob sua responsabilidade, na forma da
das pelas normas que regulamentam a matéria. legislação pertinente;
§ 2o A observância do percentual previsto no caput será disci- VIII - divulgar em locais públicos informações acerca do quan-
plinada pelo FNDE e poderá ser dispensada quando presente uma titativo de recursos financeiros recebidos para execução do PNAE;
das seguintes circunstâncias: IX - prestar contas dos recursos financeiros recebidos à con-
I - impossibilidade de emissão do documento fiscal correspon- ta do PNAE, na forma estabelecida pelo Conselho Deliberativo do
dente; FNDE;
II - inviabilidade de fornecimento regular e constante dos gê- X - apresentar ao CAE, na forma e no prazo estabelecidos pelo
neros alimentícios; Conselho Deliberativo do FNDE, o relatório anual de gestão do
III - condições higiênico-sanitárias inadequadas. PNAE.
Art. 15. Compete ao Ministério da Educação propor ações edu- Art. 18. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios institui-
cativas que perpassem pelo currículo escolar, abordando o tema ali- rão, no âmbito de suas respectivas jurisdições administrativas, Con-
mentação e nutrição e o desenvolvimento de práticas saudáveis de selhos de Alimentação Escolar - CAE, órgãos colegiados de caráter
vida, na perspectiva da segurança alimentar e nutricional. fiscalizador, permanente, deliberativo e de assessoramento, com-
Art. 16. Competem à União, por meio do FNDE, autarquia res- postos da seguinte forma:
ponsável pela coordenação do PNAE, as seguintes atribuições: I - 1 (um) representante indicado pelo Poder Executivo do res-
I - estabelecer as normas gerais de planejamento, execução, pectivo ente federado;
controle, monitoramento e avaliação do PNAE; II - 2 (dois) representantes das entidades de trabalhadores da
II - realizar a transferência de recursos financeiros visando a educação e de discentes, indicados pelo respectivo órgão de repre-
execução do PNAE nos Estados, Distrito Federal, Municípios e es- sentação, a serem escolhidos por meio de assembleia específica;
colas federais; III - 2 (dois) representantes de pais de alunos, indicados pelos
III - promover a articulação interinstitucional entre as entidades Conselhos Escolares, Associações de Pais e Mestres ou entidades
federais envolvidas direta ou indiretamente na execução do PNAE; similares, escolhidos por meio de assembleia específica;
IV - promover a adoção de diretrizes e metas estabelecidas nos IV - 2 (dois) representantes indicados por entidades civis orga-
pactos e acordos internacionais, com vistas na melhoria da qualida- nizadas, escolhidos em assembleia específica.
de de vida dos alunos da rede pública da educação básica; § 1o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão, a
V - prestar orientações técnicas gerais aos Estados, ao Distrito seu critério, ampliar a composição dos membros do CAE, desde que
Federal e aos Municípios para o bom desempenho do PNAE; obedecida a proporcionalidade definida nos incisos deste artigo.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 2o Cada membro titular do CAE terá 1 (um) suplente do mes- Art. 21-A. Durante o período de suspensão das aulas nas es-
mo segmento representado. colas públicas de educação básica em razão de situação de emer-
§ 3o Os membros terão mandato de 4 (quatro) anos, podendo gência ou calamidade pública, fica autorizada, em todo o território
ser reconduzidos de acordo com a indicação dos seus respectivos nacional, em caráter excepcional, a distribuição imediata aos pais
segmentos. ou responsáveis dos estudantes nelas matriculados, com acompa-
§ 4o A presidência e a vice-presidência do CAE somente pode- nhamento pelo CAE, dos gêneros alimentícios adquiridos com re-
rão ser exercidas pelos representantes indicados nos incisos II, III e cursos financeiros recebidos, nos termos desta Lei, à conta do Pnae.
IV deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.987, de 2020)
§ 5o O exercício do mandato de conselheiros do CAE é conside- Art. 22. O Programa Dinheiro Direto na Escola - PDDE, com o
rado serviço público relevante, não remunerado. objetivo de prestar assistência financeira, em caráter suplementar,
§ 6o Caberá aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios às escolas públicas da educação básica das redes estaduais, muni-
informar ao FNDE a composição do seu respectivo CAE, na forma cipais e do Distrito Federal e às escolas de educação especial quali-
estabelecida pelo Conselho Deliberativo do FNDE. ficadas como beneficentes de assistência social ou de atendimento
Art. 19. Compete ao CAE: direto e gratuito ao público, bem como às escolas mantidas por en-
I - acompanhar e fiscalizar o cumprimento das diretrizes esta- tidades de tais gêneros, observado o disposto no art. 25, passa a ser
belecidas na forma do art. 2o desta Lei; regido pelo disposto nesta Lei.
II - acompanhar e fiscalizar a aplicação dos recursos destinados Art. 22. O Programa Dinheiro Direto na Escola - PDDE, com o
à alimentação escolar; objetivo de prestar assistência financeira, em caráter suplementar,
III - zelar pela qualidade dos alimentos, em especial quanto às às escolas públicas da educação básica das redes estaduais, muni-
condições higiênicas, bem como a aceitabilidade dos cardápios ofe- cipais e do Distrito Federal, às escolas de educação especial quali-
recidos; ficadas como beneficentes de assistência social ou de atendimento
IV - receber o relatório anual de gestão do PNAE e emitir pare- direto e gratuito ao público, às escolas mantidas por entidades de
cer conclusivo a respeito, aprovando ou reprovando a execução do tais gêneros e aos polos presenciais do sistema Universidade Aberta
Programa. do Brasil - UAB, observado o disposto no art. 25, passa a ser regido
Parágrafo único. Os CAEs poderão desenvolver suas atribuições pelo disposto nesta Lei. (Redação dada pela Medida Provisória nº
em regime de cooperação com os Conselhos de Segurança Alimen- 562, de 2012)
tar e Nutricional estaduais e municipais e demais conselhos afins, e Art. 22. O Programa Dinheiro Direto na Escola - PDDE, com o
deverão observar as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Nacio- objetivo de prestar assistência financeira, em caráter suplementar,
nal de Segurança Alimentar e Nutricional - CONSEA. às escolas públicas da educação básica das redes estaduais, muni-
Art. 20. Fica o FNDE autorizado a suspender os repasses dos cipais e do Distrito Federal, às escolas de educação especial quali-
recursos do PNAE quando os Estados, o Distrito Federal ou os Mu- ficadas como beneficentes de assistência social ou de atendimento
nicípios: direto e gratuito ao público, às escolas mantidas por entidades de
I - não constituírem o respectivo CAE ou deixarem de efetuar os tais gêneros e aos polos presenciais do sistema Universidade Aberta
ajustes necessários, visando ao seu pleno funcionamento; do Brasil - UAB que ofertem programas de formação inicial ou conti-
II - não apresentarem a prestação de contas dos recursos ante- nuada a profissionais da educação básica, observado o disposto no
riormente recebidos para execução do PNAE, na forma e nos prazos art. 25, passa a ser regido pelo disposto nesta Lei. (Redação dada
estabelecidos pelo Conselho Deliberativo do FNDE; pela Lei nº 12.695, de 2012)
III - cometerem irregularidades na execução do PNAE, na forma § 1o A assistência financeira a ser concedida a cada estabeleci-
estabelecida pelo Conselho Deliberativo do FNDE. mento de ensino beneficiário será definida anualmente e terá como
§ 1o Sem prejuízo do previsto no caput, fica o FNDE autorizado base o número de alunos matriculados na educação básica, de acor-
a comunicar eventuais irregularidades na execução do PNAE ao Mi- do com dados extraídos do censo escolar realizado pelo Ministério
nistério Público e demais órgãos ou autoridades ligadas ao tema de da Educação, observado o disposto no art. 24.
que trata o Programa. § 1o A assistência financeira a ser concedida a cada estabeleci-
§ 2o O restabelecimento do repasse dos recursos financeiros à mento de ensino beneficiário e aos polos presenciais da UAB será
conta do PNAE ocorrerá na forma definida pelo Conselho Delibera- definida anualmente e terá como base o número de alunos matri-
tivo do FNDE. culados na educação básica e na UAB, de acordo, respectivamente,
Art. 21. Ocorrendo a suspensão prevista no art. 20, fica o FNDE com dados do censo escolar realizado pelo Ministério da Educação
autorizado a realizar, em conta específica, o repasse dos recursos e com dados coletados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
equivalentes, pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias, diretamen- Pessoal de Ensino Superior - CAPES, observado o disposto no art.
te às unidades executoras, conforme previsto no art. 6o desta Lei, 24. (Redação dada pela Medida Provisória nº 562, de 2012)
correspondentes às escolas atingidas, para fornecimento da ali- § 1o A assistência financeira a ser concedida a cada estabele-
mentação escolar, dispensando-se o procedimento licitatório para cimento de ensino beneficiário e aos polos presenciais da UAB que
aquisição emergencial dos gêneros alimentícios, mantidas as de- ofertem programas de formação inicial ou continuada a profissio-
mais regras estabelecidas para execução do PNAE, inclusive quanto nais da educação básica será definida anualmente e terá como base
à prestação de contas. o número de alunos matriculados na educação básica e na UAB,
Parágrafo único. A partir da publicação desta Lei, o FNDE terá de acordo, respectivamente, com dados do censo escolar realizado
até 180 (cento e oitenta) dias para regulamentar a matéria de que pelo Ministério da Educação e com dados coletados pela Coorde-
trata o caput deste artigo. nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior - CAPES,
observado o disposto no art. 24. (Redação dada pela Lei nº 12.695,
de 2012)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 2o A assistência financeira de que trata o § 1o será concedi- § 1o As prestações de contas dos recursos transferidos para
da sem a necessidade de celebração de convênio, acordo, contrato, atendimento das escolas e aos polos presenciais do sistema UAB
ajuste ou instrumento congênere, mediante crédito do valor devido que não possuem unidades executoras próprias deverão ser feitas
em conta bancária específica: ao FNDE, observadas as respectivas redes de ensino, pelos Municí-
I - diretamente à unidade executora própria, representativa da pios e pelas Secretarias de Educação dos Estados e do Distrito Fede-
comunidade escolar, ou àquela qualificada como beneficente de ral. (Redação dada pela Medida Provisória nº 562, de 2012)
assistência social ou de atendimento direto e gratuito ao público; § 1o As prestações de contas dos recursos transferidos para
II - ao Estado, ao Distrito Federal ou ao Município mantenedor atendimento das escolas e dos polos presenciais do sistema UAB
do estabelecimento de ensino, que não possui unidade executora que não possuem unidades executoras próprias deverão ser feitas
própria. ao FNDE, observadas as respectivas redes de ensino, pelos Municí-
Art. 23. Os recursos financeiros repassados para o PDDE serão pios e pelas Secretarias de Educação dos Estados e do Distrito Fede-
destinados à cobertura de despesas de custeio, manutenção e de ral. (Redação dada pela Lei nº 12.695, de 2012)
pequenos investimentos, que concorram para a garantia do funcio- § 2o Fica o FNDE autorizado a suspender o repasse dos recur-
namento e melhoria da infraestrutura física e pedagógica dos esta- sos do PDDE nas seguintes hipóteses:
belecimentos de ensino. I - omissão na prestação de contas, conforme definido pelo seu
Art. 24. O Conselho Deliberativo do FNDE expedirá normas re- Conselho Deliberativo;
lativas aos critérios de alocação, repasse, execução, prestação de II - rejeição da prestação de contas;
contas dos recursos e valores per capita, bem como sobre a organi- III - utilização dos recursos em desacordo com os critérios esta-
zação e funcionamento das unidades executoras próprias. belecidos para a execução do PDDE, conforme constatado por aná-
Parágrafo único. A fixação dos valores per capita contemplará, lise documental ou de auditoria.
diferenciadamente, as escolas que oferecem educação especial de § 3o Em caso de omissão no encaminhamento das prestações
forma inclusiva ou especializada, de modo a assegurar, de acordo de contas, na forma do inciso I do caput deste artigo, fica o FNDE
com os objetivos do PDDE, o adequado atendimento às necessida- autorizado a suspender o repasse dos recursos de todas as escolas
des dessa modalidade educacional. da rede de ensino do respectivo ente federado.
Art. 25. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão § 3o Em caso de omissão no encaminhamento das prestações
inscrever, quando couber, nos respectivos orçamentos os recursos de contas, na forma do inciso I do caput, fica o FNDE autorizado a
financeiros destinados aos estabelecimentos de ensino a eles vincu- suspender o repasse dos recursos a todas as escolas e polos presen-
lados, bem como prestar contas dos referidos recursos. ciais do sistema UAB da rede de ensino do respectivo ente federa-
Art. 26. As prestações de contas dos recursos recebidos à conta do. (Redação dada pela Medida Provisória nº 562, de 2012)
do PDDE, a serem apresentadas nos prazos e constituídas dos do- § 3o Em caso de omissão no encaminhamento das prestações
cumentos estabelecidos pelo Conselho Deliberativo do FNDE serão de contas, na forma do inciso I do caput, fica o FNDE autorizado a
feitas: suspender o repasse dos recursos a todas as escolas e polos presen-
I - pelas unidades executoras próprias das escolas públicas mu- ciais do sistema UAB da rede de ensino do respectivo ente federa-
nicipais, estaduais e do Distrito Federal aos Municípios e às Secre- do. (Redação dada pela Lei nº 12.695, de 2012)
tarias de Educação a que estejam vinculadas, que se encarregarão § 4o O gestor, responsável pela prestação de contas, que per-
da análise, julgamento, consolidação e encaminhamento ao FNDE, mitir, inserir ou fizer inserir documentos ou declaração falsa ou di-
conforme estabelecido pelo seu Conselho Deliberativo; versa da que deveria ser inscrita, com o fim de alterar a verdade
I - pelas unidades executoras próprias das escolas públicas mu- sobre os fatos, será responsabilizado na forma da lei.
nicipais, estaduais e do Distrito Federal e dos polos presenciais do Art. 27. Os entes federados, as unidades executoras próprias e
sistema UAB aos Municípios e às secretarias de educação a que es- as entidades qualificadas como beneficentes de assistência social
tejam vinculadas, que se encarregarão da análise, julgamento, con- ou de atendimento direto e gratuito ao público manterão arquiva-
solidação e encaminhamento ao FNDE, conforme estabelecido pelo dos, em sua sede, em boa guarda e organização, ainda que utilize
seu conselho deliberativo; (Redação dada pela Medida Provisória serviços de contabilidade de terceiros, pelo prazo de 5 (cinco) anos,
nº 562, de 2012) contado da data de julgamento da prestação de contas anual do
I - pelas unidades executoras próprias das escolas públicas FNDE pelo órgão de controle externo, os documentos fiscais, ori-
municipais, estaduais e do Distrito Federal e dos polos presenciais ginais ou equivalentes, das despesas realizadas na execução das
do sistema UAB aos Municípios e às Secretarias de Educação a que ações do PDDE.
estejam vinculadas, que se encarregarão da análise, julgamento, Art. 28. A fiscalização da aplicação dos recursos financeiros re-
consolidação e encaminhamento ao FNDE, conforme estabelecido lativos à execução do PDDE é de competência do FNDE e dos órgãos
pelo seu conselho deliberativo; (Redação dada pela Lei nº 12.695, de controle externo e interno do Poder Executivo da União e será
de 2012) feita mediante realização de auditorias, inspeções e análise dos pro-
II - pelos Municípios, Secretarias de Educação dos Estados e do cessos que originarem as respectivas prestações de contas.
Distrito Federal e pelas entidades qualificadas como beneficentes Parágrafo único. Os órgãos incumbidos da fiscalização dos re-
de assistência social ou de atendimento direto e gratuito ao público cursos destinados à execução do PDDE poderão celebrar convênios
àquele Fundo. ou acordos, em regime de mútua cooperação, para auxiliar e otimi-
§ 1o As prestações de contas dos recursos transferidos para zar o controle do Programa.
atendimento das escolas que não possuem unidades executoras
próprias deverão ser feitas ao FNDE, observadas as respectivas re-
des de ensino, pelos Municípios e pelas Secretarias de Educação
dos Estados e do Distrito Federal.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 29. Qualquer pessoa, física ou jurídica, poderá denunciar “Art. 4o As despesas com a execução das ações previstas nesta
ao FNDE, ao Tribunal de Contas da União, aos órgãos de controle Lei correrão à conta de dotações orçamentárias consignadas anual-
interno do Poder Executivo da União e ao Ministério Público irre- mente ao FNDE e à Capes, observados os limites de movimentação,
gularidades identificadas na aplicação dos recursos destinados à empenho e pagamento da programação orçamentária e financeira
execução do PDDE. anual.” (NR)
Art. 30. Os arts. 2o e 5o da Lei no 10.880, de 9 de junho de Art. 32. Os arts. 1o e 7o da Lei no 11.507, de 20 de julho de
2004, passam a vigorar com a seguinte redação: 2007, passam a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 2o Fica instituído o Programa Nacional de Apoio ao Trans- “Art. 1o Fica instituído o Auxílio de Avaliação Educacional - AAE,
porte do Escolar - PNATE, no âmbito do Ministério da Educação, a devido ao servidor que, em decorrência do exercício da docência
ser executado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educa- ou pesquisa no ensino superior público ou privado, participe, em
ção - FNDE, com o objetivo de oferecer transporte escolar aos alu- caráter eventual, de processo de avaliação educacional de institui-
nos da educação básica pública, residentes em área rural, por meio ções, cursos, projetos ou desempenho de estudantes realizado por
de assistência financeira, em caráter suplementar, aos Estados, ao iniciativa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Distrito Federal e aos Municípios, observadas as disposições desta Anísio Teixeira - Inep, da Fundação Coordenação de Aperfeiçoa-
Lei. mento de Pessoal de Nível Superior - Capes e do Fundo Nacional de
§ 1o O montante dos recursos financeiros será repassado em Desenvolvimento da Educação - FNDE.” (NR)
parcelas e calculado com base no número de alunos da educação “Art. 7o As despesas decorrentes do AAE correrão à conta de
básica pública residentes em área rural que utilizem transporte es- dotações e limites previstos no orçamento anual consignadas à
colar oferecido pelos entes referidos no caput deste artigo. Capes, ao Inep e ao FNDE no grupo de despesas ‘Outras Despesas
...................................................................................” (NR) Correntes’.” (NR)
“Art. 5o O acompanhamento e o controle social sobre a transfe- Art. 33. Fica o Poder Executivo autorizado a instituir o Pro-
rência e aplicação dos recursos repassados à conta do PNATE serão grama Nacional de Educação na Reforma Agrária - Pronera, a ser
exercidos nos respectivos Governos dos Estados, do Distrito Federal implantado no âmbito do Ministério do Desenvolvimento Agrário -
e dos Municípios pelos conselhos previstos no § 13 do art. 24 da Lei MDA e executado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma
no 11.494, de 20 de junho de 2007. Agrária - Incra.
§ 1o Fica o FNDE autorizado a suspender o repasse dos recur- Parágrafo único. Ato do Poder Executivo disporá sobre as nor-
sos do PNATE nas seguintes hipóteses: mas de funcionamento, execução e gestão do Programa.
I - omissão na prestação de contas, conforme definido pelo seu Art. 33-A. O Poder Executivo fica autorizado a conceder bolsas
Conselho Deliberativo; aos professores das redes públicas de educação e a estudantes be-
II - rejeição da prestação de contas; neficiários do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
III - utilização dos recursos em desacordo com os critérios esta- - PRONERA. (Incluído pela Lei nº 12.695, de 2012)
belecidos para a execução do Programa, conforme constatado por § 1o Os professores das redes públicas de educação poderão
análise documental ou de auditoria. perceber bolsas pela participação nas atividades do Pronera, desde
...................................................................................” (NR) que não haja prejuízo à sua carga horária regular e ao atendimento
Art. 31. A Lei no 11.273, de 6 de fevereiro de 2006, passa a do plano de metas de cada instituição com seu mantenedor, se for
vigorar com as seguintes alterações: o caso. (Incluído pela Lei nº 12.695, de 2012)
“Art. 1o Ficam o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Edu- § 2o Os valores e os critérios para concessão e manutenção
cação - FNDE e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de das bolsas serão fixados pelo Poder Executivo. (Incluído pela Lei nº
Nível Superior - Capes autorizados a conceder bolsas de estudo e 12.695, de 2012)
bolsas de pesquisa no âmbito dos programas de formação de pro- § 3o As atividades exercidas no âmbito do Pronera não caracte-
fessores para a educação básica desenvolvidos pelo Ministério da rizam vínculo empregatício e os valores recebidos a título de bolsa
Educação, inclusive na modalidade a distância, que visem: não se incorporam, para qualquer efeito, ao vencimento, salário,
............................................................................................. remuneração ou proventos recebidos. (Incluído pela Lei nº 12.695,
III - à participação de professores em projetos de pesquisa e de 2012)
de desenvolvimento de metodologias educacionais na área de for- Art. 34. Ficam revogados os arts. 1o a 14 da Medida Provisória
mação inicial e continuada de professores para a educação básica e no 2.178-36, de 24 de agosto de 2001, e a Lei no 8.913, de 12 de
para o sistema Universidade Aberta do Brasil - UAB. julho de 1994.
............................................................................................. Art. 35. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
§ 4o Adicionalmente, poderão ser concedidas bolsas a profes- Brasília, 16 de junho de 2009; 188o da Independência e 121o
sores que atuem em programas de formação inicial e continuada da República.
de funcionários de escola e de secretarias de educação dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, bem como em programas de
formação profissional inicial e continuada, na forma do art. 2o desta
Lei.” (NR) EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO – (LEI Nº 9.503/1997)
“Art. 3o As bolsas de que trata o art. 2o desta Lei serão concedi-
das diretamente ao beneficiário, por meio de crédito bancário, nos A alta incidência de violência no trânsito, inclusive com mor-
termos de normas expedidas pelas respectivas instituições conce- tes, remete à necessidade de incentivar a conscientização por meio
dentes, e mediante a celebração de termo de compromisso em que de um trabalho de Educação para o Trânsito, envolvendo valores e
constem os correspondentes direitos e obrigações.” (NR) princípios fundamentais para um convívio social saudável: respeito
ao próximo, solidariedade, prudência e cumprimento às leis. É pre-

247
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

ciso promover práticas educativas e intersetoriais que problemati- CAPÍTULO II


zem as condições da circulação e convivência nos espaços públicos DO SISTEMA NACIONAL DE TRÂNSITO
desde a própria escola, seja no campo ou na cidade, para que se
promova a convivência mais harmoniosa nos espaços compartilha- SEÇÃO I
dos, de modo a incentivar uma circulação mais segura de forma efi- DISPOSIÇÕES GERAIS
ciente e, sobretudo, mais humana.
A educação para o trânsito deve prever, no currículo da Educa- Art. 5º O Sistema Nacional de Trânsito é o conjunto de ór-
ção Básica, a construção de valores direcionados ao comportamen- gãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
to respeitoso, ao cuidado com as pessoas e com o meio ambiente, Municípios que tem por finalidade o exercício das atividades de
considerando o direito humano à vida, que se constitui no seu bem planejamento, administração, normatização, pesquisa, registro e
maior. licenciamento de veículos, formação, habilitação e reciclagem de
condutores, educação, engenharia, operação do sistema viário,
LEI Nº 9.503, DE 23 DE SETEMBRO DE 1997 policiamento, fiscalização, julgamento de infrações e de recursos e
aplicação de penalidades.
Institui o Código de Trânsito Brasileiro. Art. 6º São objetivos básicos do Sistema Nacional de Trânsito:
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na- I - estabelecer diretrizes da Política Nacional de Trânsito, com
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: vistas à segurança, à fluidez, ao conforto, à defesa ambiental e à
educação para o trânsito, e fiscalizar seu cumprimento;
II - fixar, mediante normas e procedimentos, a padronização de
CAPÍTULO I
critérios técnicos, financeiros e administrativos para a execução das
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
atividades de trânsito;
III - estabelecer a sistemática de fluxos permanentes de infor-
Art. 1º O trânsito de qualquer natureza nas vias terrestres do mações entre os seus diversos órgãos e entidades, a fim de facilitar
território nacional, abertas à circulação, rege-se por este Código. o processo decisório e a integração do Sistema.
§ 1º Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, ve-
ículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para SEÇÃO II
fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou DA COMPOSIÇÃO E DA COMPETÊNCIA DO SISTEMA NACIO-
descarga. NAL DE TRÂNSITO
§ 2º O trânsito, em condições seguras, é um direito de todos
e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional Art. 7º Compõem o Sistema Nacional de Trânsito os seguintes
de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das respectivas competên- órgãos e entidades:
cias, adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito. I - o Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, coordenador
§ 3º Os órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional do Sistema e órgão máximo normativo e consultivo;
de Trânsito respondem, no âmbito das respectivas competências, II - os Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e o Conselho
objetivamente, por danos causados aos cidadãos em virtude de de Trânsito do Distrito Federal - CONTRANDIFE, órgãos normativos,
ação, omissão ou erro na execução e manutenção de programas, consultivos e coordenadores;
projetos e serviços que garantam o exercício do direito do trânsito III - os órgãos e entidades executivos de trânsito da União, dos
seguro. Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
§ 4º (VETADO) IV - os órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos
§ 5º Os órgãos e entidades de trânsito pertencentes ao Siste- Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
ma Nacional de Trânsito darão prioridade em suas ações à defesa V - a Polícia Rodoviária Federal;
da vida, nela incluída a preservação da saúde e do meio-ambiente. VI - as Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal; e
Art. 2º São vias terrestres urbanas e rurais as ruas, as avenidas, VII - as Juntas Administrativas de Recursos de Infrações - JARI.
os logradouros, os caminhos, as passagens, as estradas e as rodo- Art. 7o-A. A autoridade portuária ou a entidade concessioná-
vias, que terão seu uso regulamentado pelo órgão ou entidade com ria de porto organizado poderá celebrar convênios com os órgãos
circunscrição sobre elas, de acordo com as peculiaridades locais e previstos no art. 7o, com a interveniência dos Municípios e Estados,
juridicamente interessados, para o fim específico de facilitar a autu-
as circunstâncias especiais.
ação por descumprimento da legislação de trânsito. (Incluído pela
Parágrafo único. Para os efeitos deste Código, são considera-
Lei nº 12.058, de 2009)
das vias terrestres as praias abertas à circulação pública, as vias
§ 1o O convênio valerá para toda a área física do porto organi-
internas pertencentes aos condomínios constituídos por unidades
zado, inclusive, nas áreas dos terminais alfandegados, nas estações
autônomas e as vias e áreas de estacionamento de estabelecimen- de transbordo, nas instalações portuárias públicas de pequeno por-
tos privados de uso coletivo. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de te e nos respectivos estacionamentos ou vias de trânsito internas.
2015) (Vigência) (Incluído pela Lei nº 12.058, de 2009)
Art. 3º As disposições deste Código são aplicáveis a qualquer § 2o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.058, de 2009)
veículo, bem como aos proprietários, condutores dos veículos na- § 3o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.058, de 2009)
cionais ou estrangeiros e às pessoas nele expressamente mencio- Art. 8º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organi-
nadas. zarão os respectivos órgãos e entidades executivos de trânsito e
Art. 4º Os conceitos e definições estabelecidos para os efeitos executivos rodoviários, estabelecendo os limites circunscricionais
deste Código são os constantes do Anexo I. de suas atuações.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 9º O Presidente da República designará o ministério ou § 4º Os Ministros de Estado poderão se fazer representar por
órgão da Presidência responsável pela coordenação máxima do Sis- servidores de nível hierárquico igual ou superior ao Cargo Comissio-
tema Nacional de Trânsito, ao qual estará vinculado o CONTRAN e nado Executivo - CCE, nível 17, ou, por oficial general, na hipótese
subordinado o órgão máximo executivo de trânsito da União. de se tratar de militar. (Redação dada pela Medida Provisória nº
Art.10. O CONTRAN, com sede no Distrito Federal, é compos- 1.153, de 2022)
to pelos Ministros de Estado responsáveis pelas seguintes áreas de § 5º Compete ao dirigente do órgão máximo executivo de trân-
competência: (Redação dada pela Medida Provisória nº 1.153, de sito da União atuar como Secretário-Executivo do Contran. (Reda-
2022) ção dada pela Lei nº 14.071, de 2020) (Vigência)
I - (VETADO) § 6º O quórum de votação e de aprovação no Contran é o de
II - (VETADO) maioria absoluta. (Redação dada pela Lei nº 14.071, de 2020) (Vi-
II-A - (Revogado pela Medida Provisória nº 1.153, de 2022) gência)
III - ciência, tecnologia e inovações; (Redação dada pela Medi- Art. 10-A. Poderão ser convidados a participar de reuniões do
da Provisória nº 1.153, de 2022) Contran, sem direito a voto, representantes de órgãos e entidades
IV - educação; (Redação dada pela Medida Provisória nº 1.153, setoriais responsáveis ou impactados pelas propostas ou matérias
de 2022) em exame.(Redação dada pela Lei nº 14.071, de 2020) (Vigência)
V - defesa; (Redação dada pela Medida Provisória nº 1.153, de Art. 11. (VETADO)
2022) Art. 12. Compete ao CONTRAN:
VI - meio ambiente; (Redação dada pela Medida Provisória nº I - estabelecer as normas regulamentares referidas neste Códi-
1.153, de 2022) go e as diretrizes da Política Nacional de Trânsito;
VII - (revogado);(Redação dada pela Lei nº 14.071, de 2020) II - coordenar os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito, obje-
(Vigência) tivando a integração de suas atividades;
VIII - (VETADO) III - (VETADO)
IX - (VETADO) IV - criar Câmaras Temáticas;
X - (VETADO) V - estabelecer seu regimento interno e as diretrizes para o
XI - (VETADO) funcionamento dos CETRAN e CONTRANDIFE;
XII - (VETADO) VI - estabelecer as diretrizes do regimento das JARI;
XIII - (VETADO) VII - zelar pela uniformidade e cumprimento das normas conti-
XIV - (VETADO) das neste Código e nas resoluções complementares;
XV - (VETADO) VIII - estabelecer e normatizar os procedimentos para o en-
XVI - (VETADO) quadramento das condutas expressamente referidas neste Código,
XVII - (VETADO) para a fiscalização e a aplicação das medidas administrativas e das
XVIII - (VETADO) penalidades por infrações e para a arrecadação das multas aplica-
XIX - (VETADO) das e o repasse dos valores arrecadados;
XX - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.071, de 2020) IX - responder às consultas que lhe forem formuladas, relativas
(Vigência) à aplicação da legislação de trânsito;
XXI - (VETADO) X - normatizar os procedimentos sobre a aprendizagem, habili-
XXII - saúde; (Redação dada pela Medida Provisória nº 1.153, tação, expedição de documentos de condutores, e registro e licen-
de 2022) ciamento de veículos;
XXIII - justiça; (Redação dada pela Medida Provisória nº 1.153, XI - aprovar, complementar ou alterar os dispositivos de sinali-
de 2022) zação e os dispositivos e equipamentos de trânsito;
XXIV - relações exteriores; (Redação dada pela Medida Provisó- XII - (revogado);
ria nº 1.153, de 2022) XIII - avocar, para análise e soluções, processos sobre conflitos
XXV - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.071, de 2020) de competência ou circunscrição, ou, quando necessário, unificar
(Vigência) as decisões administrativas; e
XXVI - indústria e comércio; (Redação dada pela Medida Provi- XIV - dirimir conflitos sobre circunscrição e competência de
sória nº 1.153, de 2022) trânsito no âmbito da União, dos Estados e do Distrito Federal.
XXVII - agropecuária; (Redação dada pela Medida Provisória nº XV - normatizar o processo de formação do candidato à obten-
1.153, de 2022) ção da Carteira Nacional de Habilitação, estabelecendo seu conte-
XXVIII - transportes terrestres; (Incluído pela Medida Provisória údo didático-pedagógico, carga horária, avaliações, exames, execu-
nº 1.153, de 2022) ção e fiscalização. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
XXIX - segurança pública; e (Incluído pela Medida Provisória nº § 1º As propostas de normas regulamentares de que trata o
1.153, de 2022) inciso I do caput deste artigo serão submetidas a prévia consulta
XXX - mobilidade urbana. (Incluído pela Medida Provisória nº pública, por meio da rede mundial de computadores, pelo período
1.153, de 2022) mínimo de 30 (trinta) dias, antes do exame da matéria pelo Con-
§ 1º (VETADO) tran.
§ 2º (VETADO) § 2º As contribuições recebidas na consulta pública de que tra-
§ 3º (VETADO) ta o § 1º deste artigo ficarão à disposição do público pelo prazo de 2
§ 3º-A O CONTRAN será presidido pelo Ministro de Estado ao (dois) anos, contado da data de encerramento da consulta pública.
qual estiver subordinado o órgão máximo executivo de trânsito da
União. (Incluído pela Medida Provisória nº 1.153, de 2022)

249
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 3º Em caso de urgência e de relevante interesse público, o VIII - acompanhar e coordenar as atividades de administração,
Presidente do CONTRAN poderá editar deliberação, ad referendum educação, engenharia, fiscalização, policiamento ostensivo de trân-
do Plenário, para fins do disposto no inciso I do caput. (Redação sito, formação de condutores, registro e licenciamento de veícu-
dada pela Medida Provisória nº 1.153, de 2022) los, articulando os órgãos do Sistema no Estado, reportando-se ao
§ 4º A deliberação de que trata o § 3º: (Redação dada pela Me- CONTRAN;
dida Provisória nº 1.153, de 2022) IX - dirimir conflitos sobre circunscrição e competência de trân-
I - na hipótese de não ser aprovada pelo Plenário do CONTRAN sito no âmbito dos Municípios; e
no prazo de cento e vinte dias, perderá sua eficácia, com manuten- X - informar o CONTRAN sobre o cumprimento das exigências
ção dos efeitos dela decorrentes; e (Incluído pela Medida Provisória definidas nos §§ 1º e 2º do art. 333.
nº 1.153, de 2022) XI - designar, em caso de recursos deferidos e na hipótese de
II - não está sujeita ao disposto nos § 1º e § 2º. (Incluído pela reavaliação dos exames, junta especial de saúde para examinar os
Medida Provisória nº 1.153, de 2022) candidatos à habilitação para conduzir veículos automotores. (In-
§ 5º Norma do Contran poderá dispor sobre o uso de sinaliza- cluído pela Lei nº 9.602, de 1998)
ção horizontal ou vertical que utilize técnicas de estímulos compor- Parágrafo único. Dos casos previstos no inciso V, julgados pelo
tamentais para a redução de acidentes de trânsito.” (NR) órgão, não cabe recurso na esfera administrativa.
Art. 13. As Câmaras Temáticas, órgãos técnicos vinculados ao Art. 15. Os presidentes dos CETRAN e do CONTRANDIFE são
CONTRAN, são integradas por especialistas e têm como objetivo es- nomeados pelos Governadores dos Estados e do Distrito Federal,
tudar e oferecer sugestões e embasamento técnico sobre assuntos respectivamente, e deverão ter reconhecida experiência em maté-
específicos para decisões daquele colegiado. ria de trânsito.
§ 1º Cada Câmara é constituída por especialistas representan- § 1º Os membros dos CETRAN e do CONTRANDIFE são nomea-
tes de órgãos e entidades executivos da União, dos Estados, ou do dos pelos Governadores dos Estados e do Distrito Federal, respec-
Distrito Federal e dos Municípios, em igual número, pertencentes tivamente.
ao Sistema Nacional de Trânsito, além de especialistas represen- § 2º Os membros do CETRAN e do CONTRANDIFE deverão ser
tantes dos diversos segmentos da sociedade relacionados com o pessoas de reconhecida experiência em trânsito.
trânsito, todos indicados segundo regimento específico definido § 3º O mandato dos membros do CETRAN e do CONTRANDIFE
pelo CONTRAN e designados pelo ministro ou dirigente coordena- é de dois anos, admitida a recondução.
dor máximo do Sistema Nacional de Trânsito. Art. 16. Junto a cada órgão ou entidade executivos de trânsito
§ 2º Os segmentos da sociedade, relacionados no parágrafo ou rodoviário funcionarão Juntas Administrativas de Recursos de
anterior, serão representados por pessoa jurídica e devem atender Infrações - JARI, órgãos colegiados responsáveis pelo julgamento
aos requisitos estabelecidos pelo CONTRAN. dos recursos interpostos contra penalidades por eles impostas.
§ 3º A coordenação das Câmaras Temáticas será exercida por Parágrafo único. As JARI têm regimento próprio, observado o
representantes do órgão máximo executivo de trânsito da União ou disposto no inciso VI do art. 12, e apoio administrativo e financeiro
dos Ministérios representados no Contran, conforme definido no do órgão ou entidade junto ao qual funcionem.
ato de criação de cada Câmara Temática. Art. 17. Compete às JARI:
§ 4º (VETADO) I - julgar os recursos interpostos pelos infratores;
I - (VETADO) II - solicitar aos órgãos e entidades executivos de trânsito e
II - (VETADO) executivos rodoviários informações complementares relativas aos
III - (VETADO) recursos, objetivando uma melhor análise da situação recorrida;
IV - (VETADO) III - encaminhar aos órgãos e entidades executivos de trânsito
Art. 14. Compete aos Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e executivos rodoviários informações sobre problemas observados
e ao Conselho de Trânsito do Distrito Federal - CONTRANDIFE: nas autuações e apontados em recursos, e que se repitam sistema-
I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, ticamente.
no âmbito das respectivas atribuições; Art. 18. (VETADO)
II - elaborar normas no âmbito das respectivas competências; Art. 19. Compete ao órgão máximo executivo de trânsito da
III - responder a consultas relativas à aplicação da legislação e União:
dos procedimentos normativos de trânsito; I - cumprir e fazer cumprir a legislação de trânsito e a execução
IV - estimular e orientar a execução de campanhas educativas das normas e diretrizes estabelecidas pelo CONTRAN, no âmbito de
de trânsito; suas atribuições;
V - julgar os recursos interpostos contra decisões: II - proceder à supervisão, à coordenação, à correição dos ór-
a) das JARI; gãos delegados, ao controle e à fiscalização da execução da Política
b) dos órgãos e entidades executivos estaduais, nos casos de Nacional de Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito;
inaptidão permanente constatados nos exames de aptidão física, III - articular-se com os órgãos dos Sistemas Nacionais de Trân-
mental ou psicológica; sito, de Transporte e de Segurança Pública, objetivando o combate
VI - indicar um representante para compor a comissão exami- à violência no trânsito, promovendo, coordenando e executando o
nadora de candidatos portadores de deficiência física à habilitação controle de ações para a preservação do ordenamento e da segu-
para conduzir veículos automotores; rança do trânsito;
VII - (VETADO) IV - apurar, prevenir e reprimir a prática de atos de improbida-
de contra a fé pública, o patrimônio, ou a administração pública ou
privada, referentes à segurança do trânsito;

250
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

V - supervisionar a implantação de projetos e programas rela- ção, operação e administração de trânsito, propondo medidas que
cionados com a engenharia, educação, administração, policiamen- estimulem a pesquisa científica e o ensino técnico-profissional de
to e fiscalização do trânsito e outros, visando à uniformidade de interesse do trânsito, e promovendo a sua realização;
procedimento; XXIV - opinar sobre assuntos relacionados ao trânsito interes-
VI - estabelecer procedimentos sobre a aprendizagem e habi- tadual e internacional;
litação de condutores de veículos, a expedição de documentos de XXV - elaborar e submeter à aprovação do CONTRAN as nor-
condutores, de registro e licenciamento de veículos; mas e requisitos de segurança veicular para fabricação e montagem
VII - expedir a Permissão para Dirigir, a Carteira Nacional de de veículos, consoante sua destinação;
Habilitação, os Certificados de Registro e o de Licenciamento Anual XXVI - estabelecer procedimentos para a concessão do código
mediante delegação aos órgãos executivos dos Estados e do Distri- marca-modelo dos veículos para efeito de registro, emplacamento
to Federal; e licenciamento;
VIII - organizar e manter o Registro Nacional de Carteiras de XXVII - instruir os recursos interpostos das decisões do CON-
Habilitação - RENACH; TRAN, ao ministro ou dirigente coordenador máximo do Sistema
IX - organizar e manter o Registro Nacional de Veículos Auto- Nacional de Trânsito;
motores - RENAVAM; XXVIII - estudar os casos omissos na legislação de trânsito e
X - organizar a estatística geral de trânsito no território nacio- submetê-los, com proposta de solução, ao Ministério ou órgão co-
nal, definindo os dados a serem fornecidos pelos demais órgãos e
ordenador máximo do Sistema Nacional de Trânsito;
promover sua divulgação;
XXIX - prestar suporte técnico, jurídico, administrativo e finan-
XI - estabelecer modelo padrão de coleta de informações sobre
ceiro ao CONTRAN.
as ocorrências de acidentes de trânsito e as estatísticas do trânsito;
XXX - organizar e manter o Registro Nacional de Infrações de
XII - administrar fundo de âmbito nacional destinado à segu-
rança e à educação de trânsito; Trânsito (Renainf). (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
XIII - coordenar a administração do registro das infrações de XXXI - organizar, manter e atualizar o Registro Nacional Positi-
trânsito, da pontuação e das penalidades aplicadas no prontuário vo de Condutores (RNPC).
do infrator, da arrecadação de multas e do repasse de que trata o § 1º Comprovada, por meio de sindicância, a deficiência técni-
§ 1º do art. 320; (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vi- ca ou administrativa ou a prática constante de atos de improbidade
gência) contra a fé pública, contra o patrimônio ou contra a administração
XIV - fornecer aos órgãos e entidades do Sistema Nacional de pública, o órgão executivo de trânsito da União, mediante aprova-
Trânsito informações sobre registros de veículos e de condutores, ção do CONTRAN, assumirá diretamente ou por delegação, a exe-
mantendo o fluxo permanente de informações com os demais ór- cução total ou parcial das atividades do órgão executivo de trânsito
gãos do Sistema; estadual que tenha motivado a investigação, até que as irregulari-
XV - promover, em conjunto com os órgãos competentes do dades sejam sanadas.
Ministério da Educação e do Desporto, de acordo com as diretrizes § 2º O regimento interno do órgão executivo de trânsito da
do CONTRAN, a elaboração e a implementação de programas de União disporá sobre sua estrutura organizacional e seu funciona-
educação de trânsito nos estabelecimentos de ensino; mento.
XVI - elaborar e distribuir conteúdos programáticos para a edu- § 3º Os órgãos e entidades executivos de trânsito e executivos
cação de trânsito; rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni-
XVII - promover a divulgação de trabalhos técnicos sobre o cípios fornecerão, obrigatoriamente, mês a mês, os dados estatísti-
trânsito; cos para os fins previstos no inciso X.
XVIII - elaborar, juntamente com os demais órgãos e entidades § 4º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
do Sistema Nacional de Trânsito, e submeter à aprovação do CON- Art. 20. Compete à Polícia Rodoviária Federal, no âmbito das
TRAN, a complementação ou alteração da sinalização e dos disposi- rodovias e estradas federais:
tivos e equipamentos de trânsito; I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito,
XIX - organizar, elaborar, complementar e alterar os manuais e no âmbito de suas atribuições;
normas de projetos de implementação da sinalização, dos dispositi- II - realizar o patrulhamento ostensivo, executando operações
vos e equipamentos de trânsito aprovados pelo CONTRAN;
relacionadas com a segurança pública, com o objetivo de preservar
XX – expedir a permissão internacional para conduzir veículo e
a ordem, incolumidade das pessoas, o patrimônio da União e o de
o certificado de passagem nas alfândegas mediante delegação aos
terceiros;
órgãos executivos dos Estados e do Distrito Federal ou a entidade
III - executar a fiscalização de trânsito, aplicar as penalidades
habilitada para esse fim pelo poder público federal; (Redação dada
pela lei nº 13.258, de 2016) de advertência por escrito e multa e as medidas administrativas ca-
XXI - promover a realização periódica de reuniões regionais e bíveis, com a notificação dos infratores e a arrecadação das multas
congressos nacionais de trânsito, bem como propor a representa- aplicadas e dos valores provenientes de estadia e remoção de veí-
ção do Brasil em congressos ou reuniões internacionais; culos, objetos e animais e de escolta de veículos de cargas superdi-
XXII - propor acordos de cooperação com organismos interna- mensionadas ou perigosas;
cionais, com vistas ao aperfeiçoamento das ações inerentes à segu- IV - efetuar levantamento dos locais de acidentes de trânsito
rança e educação de trânsito; e dos serviços de atendimento, socorro e salvamento de vítimas;
XXIII - elaborar projetos e programas de formação, treinamen- V - credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar me-
to e especialização do pessoal encarregado da execução das ativi- didas de segurança relativas aos serviços de remoção de veículos,
dades de engenharia, educação, policiamento ostensivo, fiscaliza- escolta e transporte de carga indivisível;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

VI - assegurar a livre circulação nas rodovias federais, podendo XII - aplicar a penalidade de suspensão do direito de dirigir,
solicitar ao órgão rodoviário a adoção de medidas emergenciais, e quando prevista de forma específica para a infração cometida, e
zelar pelo cumprimento das normas legais relativas ao direito de comunicar a aplicação da penalidade ao órgão máximo executivo
vizinhança, promovendo a interdição de construções e instalações de trânsito da União.” (NR)
não autorizadas; XIII - fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído produzi-
VII - coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre aci- dos pelos veículos automotores ou pela sua carga, de acordo com o
dentes de trânsito e suas causas, adotando ou indicando medidas estabelecido no art. 66, além de dar apoio às ações específicas dos
operacionais preventivas e encaminhando-os ao órgão rodoviário órgãos ambientais locais, quando solicitado;
federal; XIV - vistoriar veículos que necessitem de autorização especial
VIII - implementar as medidas da Política Nacional de Seguran- para transitar e estabelecer os requisitos técnicos a serem observa-
ça e Educação de Trânsito; dos para a circulação desses veículos.
IX - promover e participar de projetos e programas de educa- XV - aplicar a penalidade de suspensão do direito de dirigir,
ção e segurança, de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo quando prevista de forma específica para a infração cometida, e
CONTRAN; comunicar a aplicação da penalidade ao órgão máximo executivo
X - integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema Nacio- de trânsito da União.
nal de Trânsito para fins de arrecadação e compensação de multas Parágrafo único. (VETADO)
impostas na área de sua competência, com vistas à unificação do Art. 22. Compete aos órgãos ou entidades executivos de trânsi-
licenciamento, à simplificação e à celeridade das transferências de to dos Estados e do Distrito Federal, no âmbito de sua circunscrição:
veículos e de prontuários de condutores de uma para outra unida- I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito,
de da Federação; no âmbito das respectivas atribuições;
XI - fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído produzi- II - realizar, fiscalizar e controlar o processo de formação, de
dos pelos veículos automotores ou pela sua carga, de acordo com aperfeiçoamento, de reciclagem e de suspensão de condutores e
o estabelecido no art. 66, além de dar apoio, quando solicitado, às expedir e cassar Licença de Aprendizagem, Permissão para Dirigir
ações específicas dos órgãos ambientais. e Carteira Nacional de Habilitação, mediante delegação do órgão
Art. 21. Compete aos órgãos e entidades executivos rodoviá- máximo executivo de trânsito da União;
rios da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no III - vistoriar, inspecionar as condições de segurança veicular,
âmbito de sua circunscrição: registrar, emplacar e licenciar veículos, com a expedição dos Certi-
I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, ficados de Registro de Veículo e de Licenciamento Anual, mediante
no âmbito de suas atribuições; delegação do órgão máximo executivo de trânsito da União;
II - planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de ve- IV - estabelecer, em conjunto com as Polícias Militares, as dire-
ículos, de pedestres e de animais, e promover o desenvolvimento trizes para o policiamento ostensivo de trânsito;
da circulação e da segurança de ciclistas; V - executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as medi-
III - implantar, manter e operar o sistema de sinalização, os dis- das administrativas cabíveis pelas infrações previstas neste Código,
positivos e os equipamentos de controle viário; excetuadas aquelas relacionadas nos incisos VI e VIII do art. 24, no
IV - coletar dados e elaborar estudos sobre os acidentes de exercício regular do Poder de Polícia de Trânsito;
trânsito e suas causas; VI - aplicar as penalidades por infrações previstas neste Código,
V - estabelecer, em conjunto com os órgãos de policiamento com exceção daquelas relacionadas nos incisos VII e VIII do art. 24,
ostensivo de trânsito, as respectivas diretrizes para o policiamento notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar;
ostensivo de trânsito; VII - arrecadar valores provenientes de estada e remoção de
VI - executar a fiscalização de trânsito, autuar, aplicar as pe- veículos e objetos;
nalidades de advertência, por escrito, e ainda as multas e medidas VIII - comunicar ao órgão executivo de trânsito da União a sus-
administrativas cabíveis, notificando os infratores e arrecadando as pensão e a cassação do direito de dirigir e o recolhimento da Cartei-
multas que aplicar; ra Nacional de Habilitação;
VII - arrecadar valores provenientes de estada e remoção de IX - coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre aciden-
veículos e objetos, e escolta de veículos de cargas superdimensio- tes de trânsito e suas causas;
nadas ou perigosas; X - credenciar órgãos ou entidades para a execução de ativida-
VIII - fiscalizar, autuar, aplicar as penalidades e medidas admi- des previstas na legislação de trânsito, na forma estabelecida em
nistrativas cabíveis, relativas a infrações por excesso de peso, di- norma do CONTRAN;
mensões e lotação dos veículos, bem como notificar e arrecadar as XI - implementar as medidas da Política Nacional de Trânsito e
multas que aplicar; do Programa Nacional de Trânsito;
IX - fiscalizar o cumprimento da norma contida no art. 95, apli- XII - promover e participar de projetos e programas de educa-
cando as penalidades e arrecadando as multas nele previstas; ção e segurança de trânsito de acordo com as diretrizes estabeleci-
X - implementar as medidas da Política Nacional de Trânsito e das pelo CONTRAN;
do Programa Nacional de Trânsito; XIII - integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema Nacio-
XI - promover e participar de projetos e programas de educa- nal de Trânsito para fins de arrecadação e compensação de multas
ção e segurança, de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo impostas na área de sua competência, com vistas à unificação do
CONTRAN; licenciamento, à simplificação e à celeridade das transferências de
veículos e de prontuários de condutores de uma para outra unida-
de da Federação;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

XIV - fornecer, aos órgãos e entidades executivos de trânsito e to de edificações privadas de uso coletivo, somente para infrações
executivos rodoviários municipais, os dados cadastrais dos veículos de uso de vagas reservadas em estacionamentos; (Redação dada
registrados e dos condutores habilitados, para fins de imposição e pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
notificação de penalidades e de arrecadação de multas nas áreas de VII - aplicar as penalidades de advertência por escrito e mul-
suas competências; ta, por infrações de circulação, estacionamento e parada previstas
XV - fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído produzi- neste Código, notificando os infratores e arrecadando as multas
dos pelos veículos automotores ou pela sua carga, de acordo com que aplicar;
o estabelecido no art. 66, além de dar apoio, quando solicitado, às VIII - fiscalizar, autuar e aplicar as penalidades e medidas ad-
ações específicas dos órgãos ambientais locais; ministrativas cabíveis relativas a infrações por excesso de peso, di-
XVI - articular-se com os demais órgãos do Sistema Nacional de mensões e lotação dos veículos, bem como notificar e arrecadar as
Trânsito no Estado, sob coordenação do respectivo CETRAN. multas que aplicar;
XVII - criar, implantar e manter escolas públicas de trânsito, IX - fiscalizar o cumprimento da norma contida no art. 95, apli-
destinadas à educação de crianças, adolescentes, jovens e adultos, cando as penalidades e arrecadando as multas nele previstas;
por meio de aulas teóricas e práticas sobre legislação, sinalização e X - implantar, manter e operar sistema de estacionamento ro-
comportamento no trânsito. (Redação dada pela Lei nº 14.440, de tativo pago nas vias;
2022) XI - arrecadar valores provenientes de estada e remoção de
Parágrafo único. As competências descritas no inciso II do veículos e objetos, e escolta de veículos de cargas superdimensio-
caput deste artigo relativas ao processo de suspensão de conduto- nadas ou perigosas;
res serão exercidas quando: XII - credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar me-
I - o condutor atingir o limite de pontos estabelecido no inciso didas de segurança relativas aos serviços de remoção de veículos,
I do art. 261 deste Código; escolta e transporte de carga indivisível;
II - a infração previr a penalidade de suspensão do direito de XIII - integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema Nacio-
dirigir de forma específica e a autuação tiver sido efetuada pelo nal de Trânsito para fins de arrecadação e compensação de multas
próprio órgão executivo estadual de trânsito.” (NR) impostas na área de sua competência, com vistas à unificação do
Art. 23. Compete às Polícias Militares dos Estados e do Distrito licenciamento, à simplificação e à celeridade das transferências de
Federal: veículos e de prontuários dos condutores de uma para outra unida-
I - (VETADO) de da Federação;
II - (VETADO) XIV - implantar as medidas da Política Nacional de Trânsito e do
III - executar a fiscalização de trânsito, quando e conforme Programa Nacional de Trânsito;
convênio firmado, como agente do órgão ou entidade executivos XV - promover e participar de projetos e programas de educa-
de trânsito ou executivos rodoviários, concomitantemente com os ção e segurança de trânsito de acordo com as diretrizes estabeleci-
demais agentes credenciados; das pelo CONTRAN;
IV - (VETADO) XVI - planejar e implantar medidas para redução da circulação
V - (VETADO) de veículos e reorientação do tráfego, com o objetivo de diminuir a
VI - (VETADO) emissão global de poluentes;
VII - (VETADO) XVII - registrar e licenciar, na forma da legislação, veículos de
Parágrafo único. (VETADO) tração e propulsão humana e de tração animal, fiscalizando, autu-
Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsi- ando, aplicando penalidades e arrecadando multas decorrentes de
to dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição: (Redação dada infrações; (Redação dada pela Lei nº 13.154, de 2015)
pela Lei nº 13.154, de 2015) XVIII - conceder autorização para conduzir veículos de propul-
I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, são humana e de tração animal;
no âmbito de suas atribuições; XIX - articular-se com os demais órgãos do Sistema Nacional de
II - planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de ve- Trânsito no Estado, sob coordenação do respectivo CETRAN;
ículos, de pedestres e de animais e promover o desenvolvimento, XX - fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído produzi-
temporário ou definitivo, da circulação, da segurança e das áreas dos pelos veículos automotores ou pela sua carga, de acordo com
de proteção de ciclistas; o estabelecido no art. 66, além de dar apoio às ações específicas de
III - implantar, manter e operar o sistema de sinalização, os dis- órgão ambiental local, quando solicitado;
positivos e os equipamentos de controle viário; XXI - vistoriar veículos que necessitem de autorização especial
IV - coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre os aci- para transitar e estabelecer os requisitos técnicos a serem observa-
dentes de trânsito e suas causas; dos para a circulação desses veículos.
V - estabelecer, em conjunto com os órgãos de polícia ostensiva XXII - aplicar a penalidade de suspensão do direito de dirigir,
de trânsito, as diretrizes para o policiamento ostensivo de trânsito; quando prevista de forma específica para a infração cometida, e
VI - executar a fiscalização de trânsito em vias terrestres, edifi- comunicar a aplicação da penalidade ao órgão máximo executivo
cações de uso público e edificações privadas de uso coletivo, autuar de trânsito da União;
e aplicar as medidas administrativas cabíveis e as penalidades de XXIII - criar, implantar e manter escolas públicas de trânsito,
advertência por escrito e multa, por infrações de circulação, esta- destinadas à educação de crianças, adolescentes, jovens e adultos,
cionamento e parada previstas neste Código, no exercício regular por meio de aulas teóricas e práticas sobre legislação, sinalização e
do poder de polícia de trânsito, notificando os infratores e arreca- comportamento no trânsito. (Redação dada pela Lei nº 14.440, de
dando as multas que aplicar, exercendo iguais atribuições no âmbi- 2022)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 1º As competências relativas a órgão ou entidade municipal III - quando veículos, transitando por fluxos que se cruzem, se
serão exercidas no Distrito Federal por seu órgão ou entidade exe- aproximarem de local não sinalizado, terá preferência de passa-
cutivos de trânsito. gem:
§ 2º Para exercer as competências estabelecidas neste artigo, a) no caso de apenas um fluxo ser proveniente de rodovia,
os Municípios deverão integrar-se ao Sistema Nacional de Trânsito, aquele que estiver circulando por ela;
por meio de órgão ou entidade executivos de trânsito ou direta- b) no caso de rotatória, aquele que estiver circulando por ela;
mente por meio da prefeitura municipal, conforme previsto no art. c) nos demais casos, o que vier pela direita do condutor;
333 deste Código.” (NR) IV - quando uma pista de rolamento comportar várias faixas
Art. 25. Os órgãos e entidades executivos do Sistema Nacio- de circulação no mesmo sentido, são as da direita destinadas ao
nal de Trânsito poderão celebrar convênio delegando as atividades deslocamento dos veículos mais lentos e de maior porte, quando
previstas neste Código, com vistas à maior eficiência e à segurança não houver faixa especial a eles destinada, e as da esquerda, des-
para os usuários da via. tinadas à ultrapassagem e ao deslocamento dos veículos de maior
Parágrafo único. Os órgãos e entidades de trânsito poderão velocidade;
prestar serviços de capacitação técnica, assessoria e monitoramen- V - o trânsito de veículos sobre passeios, calçadas e nos acos-
to das atividades relativas ao trânsito durante prazo a ser estabe- tamentos, só poderá ocorrer para que se adentre ou se saia dos
lecido entre as partes, com ressarcimento dos custos apropriados. imóveis ou áreas especiais de estacionamento;
Art. 25-A. Os agentes dos órgãos policiais da Câmara dos De- VI - os veículos precedidos de batedores terão prioridade de
putados e do Senado Federal, a que se referem o inciso IV do caput passagem, respeitadas as demais normas de circulação;
do art. 51 e o inciso XIII do caput do art. 52 da Constituição Federal VII - os veículos destinados a socorro de incêndio e salvamento,
, respectivamente, mediante convênio com o órgão ou entidade de os de polícia, os de fiscalização e operação de trânsito e as ambu-
trânsito com circunscrição sobre a via, poderão lavrar auto de in- lâncias, além de prioridade no trânsito, gozam de livre circulação,
fração de trânsito e remetê-lo ao órgão competente, nos casos em estacionamento e parada, quando em serviço de urgência, de poli-
que a infração cometida nas adjacências do Congresso Nacional ou ciamento ostensivo ou de preservação da ordem pública, observa-
nos locais sob sua responsabilidade comprometer objetivamente das as seguintes disposições:
os serviços ou colocar em risco a incolumidade das pessoas ou o a) quando os dispositivos regulamentares de alarme sonoro e
patrimônio das respectivas Casas Legislativas. iluminação intermitente estiverem acionados, indicando a proximi-
Parágrafo único. Para atuarem na fiscalização de trânsito, os dade dos veículos, todos os condutores deverão deixar livre a pas-
agentes mencionados no caput deste artigo deverão receber trei- sagem pela faixa da esquerda, indo para a direita da via e parando,
namento específico para o exercício das atividades, conforme regu- se necessário;
lamentação do Contran b) os pedestres, ao ouvirem o alarme sonoro ou avistarem a luz
intermitente, deverão aguardar no passeio e somente atravessar a
CAPÍTULO III via quando o veículo já tiver passado pelo local;
DAS NORMAS GERAIS DE CIRCULAÇÃO E CONDUTA c) o uso de dispositivos de alarme sonoro e de iluminação in-
termitente somente poderá ocorrer por ocasião da efetiva presta-
Art. 26. Os usuários das vias terrestres devem: ção de serviço de urgência; (Redação dada pela Lei nº 14.440, de
I - abster-se de todo ato que possa constituir perigo ou obstá- 2022)
culo para o trânsito de veículos, de pessoas ou de animais, ou ainda d) a prioridade de passagem na via e no cruzamento deverá se
causar danos a propriedades públicas ou privadas; dar com velocidade reduzida e com os devidos cuidados de segu-
II - abster-se de obstruir o trânsito ou torná-lo perigoso, atiran- rança, obedecidas as demais normas deste Código;
do, depositando ou abandonando na via objetos ou substâncias, ou e) as prerrogativas de livre circulação e de parada serão apli-
nela criando qualquer outro obstáculo. cadas somente quando os veículos estiverem identificados por dis-
Art. 27. Antes de colocar o veículo em circulação nas vias públi- positivos regulamentares de alarme sonoro e iluminação intermi-
cas, o condutor deverá verificar a existência e as boas condições de tente;
funcionamento dos equipamentos de uso obrigatório, bem como f) a prerrogativa de livre estacionamento será aplicada somen-
assegurar-se da existência de combustível suficiente para chegar te quando os veículos estiverem identificados por dispositivos regu-
ao local de destino. lamentares de iluminação intermitente;
Art. 28. O condutor deverá, a todo momento, ter domínio de VIII - os veículos prestadores de serviços de utilidade pública,
seu veículo, dirigindo-o com atenção e cuidados indispensáveis à quando em atendimento na via, gozam de livre parada e estacio-
segurança do trânsito. namento no local da prestação de serviço, desde que devidamente
Art. 29. O trânsito de veículos nas vias terrestres abertas à cir- sinalizados, devendo estar identificados na forma estabelecida pelo
culação obedecerá às seguintes normas: CONTRAN;
I - a circulação far-se-á pelo lado direito da via, admitindo-se as IX - a ultrapassagem de outro veículo em movimento deverá
exceções devidamente sinalizadas; ser feita pela esquerda, obedecida a sinalização regulamentar e as
II - o condutor deverá guardar distância de segurança lateral demais normas estabelecidas neste Código, exceto quando o veí-
e frontal entre o seu e os demais veículos, bem como em relação culo a ser ultrapassado estiver sinalizando o propósito de entrar à
ao bordo da pista, considerando-se, no momento, a velocidade e esquerda;
as condições do local, da circulação, do veículo e as condições cli- X - todo condutor deverá, antes de efetuar uma ultrapassa-
máticas; gem, certificar-se de que:
a) nenhum condutor que venha atrás haja começado uma ma-
nobra para ultrapassá-lo;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

b) quem o precede na mesma faixa de trânsito não haja indica- Art. 34. O condutor que queira executar uma manobra deve-
do o propósito de ultrapassar um terceiro; rá certificar-se de que pode executá-la sem perigo para os demais
c) a faixa de trânsito que vai tomar esteja livre numa extensão usuários da via que o seguem, precedem ou vão cruzar com ele,
suficiente para que sua manobra não ponha em perigo ou obstrua considerando sua posição, sua direção e sua velocidade.
o trânsito que venha em sentido contrário; Art. 35. Antes de iniciar qualquer manobra que implique um
XI - todo condutor ao efetuar a ultrapassagem deverá: deslocamento lateral, o condutor deverá indicar seu propósito de
a) indicar com antecedência a manobra pretendida, acionando forma clara e com a devida antecedência, por meio da luz indica-
a luz indicadora de direção do veículo ou por meio de gesto con- dora de direção de seu veículo, ou fazendo gesto convencional de
vencional de braço; braço.
b) afastar-se do usuário ou usuários aos quais ultrapassa, de tal Parágrafo único. Entende-se por deslocamento lateral a trans-
forma que deixe livre uma distância lateral de segurança; posição de faixas, movimentos de conversão à direita, à esquerda
c) retomar, após a efetivação da manobra, a faixa de trânsito e retornos.
de origem, acionando a luz indicadora de direção do veículo ou fa- Art. 36. O condutor que for ingressar numa via, procedente de
zendo gesto convencional de braço, adotando os cuidados necessá- um lote lindeiro a essa via, deverá dar preferência aos veículos e
rios para não pôr em perigo ou obstruir o trânsito dos veículos que pedestres que por ela estejam transitando.
ultrapassou; Art. 37. Nas vias providas de acostamento, a conversão à es-
XII - os veículos que se deslocam sobre trilhos terão preferência querda e a operação de retorno deverão ser feitas nos locais apro-
de passagem sobre os demais, respeitadas as normas de circulação. priados e, onde estes não existirem, o condutor deverá aguardar no
XIII - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigên- acostamento, à direita, para cruzar a pista com segurança.
cia) Art. 38. Antes de entrar à direita ou à esquerda, em outra via
§ 1º As normas de ultrapassagem previstas nas alíneas a e b ou em lotes lindeiros, o condutor deverá:
do inciso X e a e b do inciso XI aplicam-se à transposição de faixas, I - ao sair da via pelo lado direito, aproximar-se o máximo pos-
que pode ser realizada tanto pela faixa da esquerda como pela da sível do bordo direito da pista e executar sua manobra no menor
direita. espaço possível;
§ 2º Respeitadas as normas de circulação e conduta estabe- II - ao sair da via pelo lado esquerdo, aproximar-se o máximo
lecidas neste artigo, em ordem decrescente, os veículos de maior possível de seu eixo ou da linha divisória da pista, quando houver,
porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os caso se trate de uma pista com circulação nos dois sentidos, ou do
motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade bordo esquerdo, tratando-se de uma pista de um só sentido.
dos pedestres. Parágrafo único. Durante a manobra de mudança de direção,
§ 3º Compete ao Contran regulamentar os dispositivos de o condutor deverá ceder passagem aos pedestres e ciclistas, aos
alarme sonoro e iluminação intermitente previstos no inciso VII do veículos que transitem em sentido contrário pela pista da via da
caput deste artigo. qual vai sair, respeitadas as normas de preferência de passagem.
§ 4º Em situações especiais, ato da autoridade máxima federal Art. 39. Nas vias urbanas, a operação de retorno deverá ser fei-
de segurança pública poderá dispor sobre a aplicação das exceções ta nos locais para isto determinados, quer por meio de sinalização,
tratadas no inciso VII do caput deste artigo aos veículos oficiais des- quer pela existência de locais apropriados, ou, ainda, em outros lo-
caracterizados.” (NR) cais que ofereçam condições de segurança e fluidez, observadas as
Art. 30. Todo condutor, ao perceber que outro que o segue características da via, do veículo, das condições meteorológicas e
tem o propósito de ultrapassá-lo, deverá: da movimentação de pedestres e ciclistas.
I - se estiver circulando pela faixa da esquerda, deslocar-se Art. 40. O uso de luzes em veículo obedecerá às seguintes de-
para a faixa da direita, sem acelerar a marcha; terminações:
II - se estiver circulando pelas demais faixas, manter-se naquela I - o condutor manterá acesos os faróis do veículo, por meio da
na qual está circulando, sem acelerar a marcha. utilização da luz baixa:
Parágrafo único. Os veículos mais lentos, quando em fila, deve- a) à noite;
rão manter distância suficiente entre si para permitir que veículos b) mesmo durante o dia, em túneis e sob chuva, neblina ou
que os ultrapassem possam se intercalar na fila com segurança. cerração;
Art. 31. O condutor que tenha o propósito de ultrapassar um II - nas vias não iluminadas o condutor deve usar luz alta, exce-
veículo de transporte coletivo que esteja parado, efetuando em- to ao cruzar com outro veículo ou ao segui-lo;
barque ou desembarque de passageiros, deverá reduzir a velocida- III - a troca de luz baixa e alta, de forma intermitente e por
de, dirigindo com atenção redobrada ou parar o veículo com vistas curto período de tempo, com o objetivo de advertir outros moto-
à segurança dos pedestres. ristas, só poderá ser utilizada para indicar a intenção de ultrapassar
Art. 32. O condutor não poderá ultrapassar veículos em vias o veículo que segue à frente ou para indicar a existência de risco à
com duplo sentido de direção e pista única, nos trechos em cur- segurança para os veículos que circulam no sentido contrário;
vas e em aclives sem visibilidade suficiente, nas passagens de nível, IV - (revogado);
nas pontes e viadutos e nas travessias de pedestres, exceto quando V - O condutor utilizará o pisca-alerta nas seguintes situações:
houver sinalização permitindo a ultrapassagem. a) em imobilizações ou situações de emergência;
Art. 33. Nas interseções e suas proximidades, o condutor não b) quando a regulamentação da via assim o determinar;
poderá efetuar ultrapassagem. VI - durante a noite, em circulação, o condutor manterá acesa
a luz de placa;

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VII - o condutor manterá acesas, à noite, as luzes de posição Art. 48. Nas paradas, operações de carga ou descarga e nos
quando o veículo estiver parado para fins de embarque ou desem- estacionamentos, o veículo deverá ser posicionado no sentido do
barque de passageiros e carga ou descarga de mercadorias. fluxo, paralelo ao bordo da pista de rolamento e junto à guia da
§ 1º Os veículos de transporte coletivo de passageiros, quando calçada (meio-fio), admitidas as exceções devidamente sinalizadas.
circularem em faixas ou pistas a eles destinadas, e as motocicletas, § 1º Nas vias providas de acostamento, os veículos parados,
motonetas e ciclomotores deverão utilizar-se de farol de luz baixa estacionados ou em operação de carga ou descarga deverão estar
durante o dia e à noite. situados fora da pista de rolamento.
§ 2º Os veículos que não dispuserem de luzes de rodagem diur- § 2º O estacionamento dos veículos motorizados de duas rodas
na deverão manter acesos os faróis nas rodovias de pista simples será feito em posição perpendicular à guia da calçada (meio-fio) e
situadas fora dos perímetros urbanos, mesmo durante o dia.” (NR) junto a ela, salvo quando houver sinalização que determine outra
Art. 41. O condutor de veículo só poderá fazer uso de buzina, condição.
desde que em toque breve, nas seguintes situações: § 3º O estacionamento dos veículos sem abandono do condu-
I - para fazer as advertências necessárias a fim de evitar aci- tor poderá ser feito somente nos locais previstos neste Código ou
dentes; naqueles regulamentados por sinalização específica.
II - fora das áreas urbanas, quando for conveniente advertir a Art. 49. O condutor e os passageiros não deverão abrir a porta
um condutor que se tem o propósito de ultrapassá-lo. do veículo, deixá-la aberta ou descer do veículo sem antes se cer-
Art. 42. Nenhum condutor deverá frear bruscamente seu veí- tificarem de que isso não constitui perigo para eles e para outros
culo, salvo por razões de segurança. usuários da via.
Art. 43. Ao regular a velocidade, o condutor deverá observar Parágrafo único. O embarque e o desembarque devem ocorrer
constantemente as condições físicas da via, do veículo e da carga, sempre do lado da calçada, exceto para o condutor.
as condições meteorológicas e a intensidade do trânsito, obede- Art. 50. O uso de faixas laterais de domínio e das áreas adja-
cendo aos limites máximos de velocidade estabelecidos para a via, centes às estradas e rodovias obedecerá às condições de segurança
além de: do trânsito estabelecidas pelo órgão ou entidade com circunscrição
I - não obstruir a marcha normal dos demais veículos em circu- sobre a via.
lação sem causa justificada, transitando a uma velocidade anormal- Art. 51. Nas vias internas pertencentes a condomínios consti-
mente reduzida; tuídos por unidades autônomas, a sinalização de regulamentação
II - sempre que quiser diminuir a velocidade de seu veículo da via será implantada e mantida às expensas do condomínio, após
deverá antes certificar-se de que pode fazê-lo sem risco nem in- aprovação dos projetos pelo órgão ou entidade com circunscrição
convenientes para os outros condutores, a não ser que haja perigo sobre a via.
iminente; Art. 52. Os veículos de tração animal serão conduzidos pela di-
III - indicar, de forma clara, com a antecedência necessária e a reita da pista, junto à guia da calçada (meio-fio) ou acostamento,
sinalização devida, a manobra de redução de velocidade. sempre que não houver faixa especial a eles destinada, devendo
Art. 44. Ao aproximar-se de qualquer tipo de cruzamento, o seus condutores obedecer, no que couber, às normas de circulação
condutor do veículo deve demonstrar prudência especial, transi- previstas neste Código e às que vierem a ser fixadas pelo órgão ou
tando em velocidade moderada, de forma que possa deter seu veí- entidade com circunscrição sobre a via.
culo com segurança para dar passagem a pedestre e a veículos que Art. 53. Os animais isolados ou em grupos só podem circular
tenham o direito de preferência. nas vias quando conduzidos por um guia, observado o seguinte:
Art. 44-A. É livre o movimento de conversão à direita diante I - para facilitar os deslocamentos, os rebanhos deverão ser
de sinal vermelho do semáforo onde houver sinalização indicativa divididos em grupos de tamanho moderado e separados uns dos
que permita essa conversão, observados os arts. 44, 45 e 70 deste outros por espaços suficientes para não obstruir o trânsito;
Código II - os animais que circularem pela pista de rolamento deverão
Art. 45. Mesmo que a indicação luminosa do semáforo lhe seja ser mantidos junto ao bordo da pista.
favorável, nenhum condutor pode entrar em uma interseção se Art. 54. Os condutores de motocicletas, motonetas e ciclomo-
houver possibilidade de ser obrigado a imobilizar o veículo na área tores só poderão circular nas vias:
do cruzamento, obstruindo ou impedindo a passagem do trânsito I - utilizando capacete de segurança, com viseira ou óculos pro-
transversal. tetores;
Art. 46. Sempre que for necessária a imobilização temporária II - segurando o guidom com as duas mãos;
de um veículo no leito viário, em situação de emergência, deverá III - usando vestuário de proteção, de acordo com as especifi-
ser providenciada a imediata sinalização de advertência, na forma cações do CONTRAN.
estabelecida pelo CONTRAN. Art. 55. Os passageiros de motocicletas, motonetas e ciclomo-
Art. 47. Quando proibido o estacionamento na via, a parada tores só poderão ser transportados:
deverá restringir-se ao tempo indispensável para embarque ou de- I - utilizando capacete de segurança;
sembarque de passageiros, desde que não interrompa ou perturbe II - em carro lateral acoplado aos veículos ou em assento suple-
o fluxo de veículos ou a locomoção de pedestres. mentar atrás do condutor;
Parágrafo único. A operação de carga ou descarga será regula- III - usando vestuário de proteção, de acordo com as especifi-
mentada pelo órgão ou entidade com circunscrição sobre a via e é cações do CONTRAN.
considerada estacionamento. Art. 56. (VETADO)
Art. 56-A. (VETADO).

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Art. 57. Os ciclomotores devem ser conduzidos pela direita da c) nas estradas: 60 km/h (sessenta quilômetros por hora). (In-
pista de rolamento, preferencialmente no centro da faixa mais à cluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
direita ou no bordo direito da pista sempre que não houver acosta- § 2º O órgão ou entidade de trânsito ou rodoviário com cir-
mento ou faixa própria a eles destinada, proibida a sua circulação cunscrição sobre a via poderá regulamentar, por meio de sinaliza-
nas vias de trânsito rápido e sobre as calçadas das vias urbanas. ção, velocidades superiores ou inferiores àquelas estabelecidas no
Parágrafo único. Quando uma via comportar duas ou mais fai- parágrafo anterior.
xas de trânsito e a da direita for destinada ao uso exclusivo de outro Art. 62. A velocidade mínima não poderá ser inferior à metade
tipo de veículo, os ciclomotores deverão circular pela faixa adjacen- da velocidade máxima estabelecida, respeitadas as condições ope-
te à da direita. racionais de trânsito e da via.
Art. 58. Nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla, a circu- Art. 63. (VETADO)
lação de bicicletas deverá ocorrer, quando não houver ciclovia, ci- Art. 64. As crianças com idade inferior a 10 (dez) anos que não
clofaixa, ou acostamento, ou quando não for possível a utilização tenham atingido 1,45 m (um metro e quarenta e cinco centímetros)
destes, nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de de altura devem ser transportadas nos bancos traseiros, em dispo-
circulação regulamentado para a via, com preferência sobre os ve- sitivo de retenção adequado para cada idade, peso e altura, salvo
ículos automotores. exceções relacionadas a tipos específicos de veículos regulamenta-
Parágrafo único. A autoridade de trânsito com circunscrição das pelo Contran.
sobre a via poderá autorizar a circulação de bicicletas no sentido Parágrafo único. O Contran disciplinará o uso excepcional de
contrário ao fluxo dos veículos automotores, desde que dotado o dispositivos de retenção no banco dianteiro do veículo e as espe-
trecho com ciclofaixa. cificações técnicas dos dispositivos de retenção a que se refere o
Art. 59. Desde que autorizado e devidamente sinalizado pelo caput deste artigo.” (NR)
órgão ou entidade com circunscrição sobre a via, será permitida a Art. 65. É obrigatório o uso do cinto de segurança para condu-
circulação de bicicletas nos passeios. tor e passageiros em todas as vias do território nacional, salvo em
Art. 60. As vias abertas à circulação, de acordo com sua utiliza- situações regulamentadas pelo CONTRAN.
ção, classificam-se em: Art. 66. (VETADO)
I - vias urbanas: Art. 67. As provas ou competições desportivas, inclusive seus
a) via de trânsito rápido; ensaios, em via aberta à circulação, só poderão ser realizadas me-
b) via arterial; diante prévia permissão da autoridade de trânsito com circunscri-
c) via coletora; ção sobre a via e dependerão de:
d) via local; I - autorização expressa da respectiva confederação desportiva
II - vias rurais: ou de entidades estaduais a ela filiadas;
a) rodovias; II - caução ou fiança para cobrir possíveis danos materiais à via;
b) estradas. III - contrato de seguro contra riscos e acidentes em favor de
Art. 61. A velocidade máxima permitida para a via será indicada terceiros;
por meio de sinalização, obedecidas suas características técnicas e IV - prévio recolhimento do valor correspondente aos custos
as condições de trânsito. operacionais em que o órgão ou entidade permissionária incorrerá.
§ 1º Onde não existir sinalização regulamentadora, a velocida- Parágrafo único. A autoridade com circunscrição sobre a via
de máxima será de: arbitrará os valores mínimos da caução ou fiança e do contrato de
I - nas vias urbanas: seguro.
a) oitenta quilômetros por hora, nas vias de trânsito rápido:
b) sessenta quilômetros por hora, nas vias arteriais; CAPÍTULO III-A
c) quarenta quilômetros por hora, nas vias coletoras; (INCLUÍDO LEI Nº 12.619, DE 2012) (VIGÊNCIA)
d) trinta quilômetros por hora, nas vias locais; DA CONDUÇÃO DE VEÍCULOS POR MOTORISTAS PROFISSIO-
II - nas vias rurais: NAIS
a) nas rodovias de pista dupla: (Redação dada pela Lei nº
13.281, de 2016) (Vigência) Art. 67-A. O disposto neste Capítulo aplica-se aos motoristas
1. 100 km/h (cem quilômetros por hora) para automóveis, ca- profissionais: (Redação dada pela Lei nº 13.103, de 2015) (Vigência)
mionetas, caminhonetes e motocicletas; (Redação dada pela Lei nº I - de transporte rodoviário coletivo de passageiros; (Incluído
14.440, de 2022) pela Lei nº 13.103, de 2015) (Vigência)
2. 90 km/h (noventa quilômetros por hora) para os demais veí- II - de transporte rodoviário de cargas. (Incluído pela Lei nº
culos; (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) 13.103, de 2015) (Vigência)
3. (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vi- § 1o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.103, de 2015)
gência) (Vigência)
b) nas rodovias de pista simples: (Redação dada pela Lei nº § 2o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.103, de 2015)
13.281, de 2016) (Vigência) (Vigência)
1. 110 km/h (cento e dez quilômetros por hora) para automó- § 3o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.103, de 2015)
veis, camionetas, caminhonetes e motocicletas; (Redação dada pela (Vigência)
Lei nº 14.440, de 2022) § 4o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.103, de 2015)
2. 90 km/h (noventa quilômetros por hora) para os demais veí- (Vigência)
culos; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) § 5o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.103, de 2015)
(Vigência)

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§ 6o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.103, de 2015) § 9º O órgão competente da União ou, conforme o caso, a au-
(Vigência) toridade do ente da Federação com circunscrição sobre a via pu-
§ 7o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.103, de 2015) blicará e revisará, periodicamente, relação dos espaços destinados
(Vigência) a pontos de parada e de descanso disponibilizados aos motoristas
§ 8o (VETADO). (Incluído Lei nº 12.619, de 2012) (Vigência) profissionais condutores de veículos ou composições de transporte
Art 67-B. VETADO). (Incluído Lei nº 12.619, de 2012) (Vigência) rodoviário de cargas, especialmente entre os previstos no art. 10 da
Art. 67-C. É vedado ao motorista profissional dirigir por mais de Lei nº 13.103, de 2 de março de 2015, indicando o número de vagas
5 (cinco) horas e meia ininterruptas veículos de transporte rodovi- de estacionamento disponíveis em cada localidade. (Incluído pela
ário coletivo de passageiros ou de transporte rodoviário de cargas. Lei nº 14.440, de 2022)
(Redação dada pela Lei nº 13.103, de 2015) (Vigência) Art. 67-D. (VETADO). (Incluído Lei nº 12.619, de 2012) (Vigên-
§ 1o Serão observados 30 (trinta) minutos para descanso den- cia)
tro de cada 6 (seis) horas na condução de veículo de transporte de Art. 67-E. O motorista profissional é responsável por controlar
carga, sendo facultado o seu fracionamento e o do tempo de dire- e registrar o tempo de condução estipulado no art. 67-C, com vis-
ção desde que não ultrapassadas 5 (cinco) horas e meia contínuas tas à sua estrita observância. (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015)
no exercício da condução. (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015) (Vigência)
(Vigência) § 1o A não observância dos períodos de descanso estabele-
§ 1o-A. Serão observados 30 (trinta) minutos para descanso a
cidos no art. 67-C sujeitará o motorista profissional às penalida-
cada 4 (quatro) horas na condução de veículo rodoviário de pas-
des daí decorrentes, previstas neste Código. (Incluído pela Lei nº
sageiros, sendo facultado o seu fracionamento e o do tempo de
13.103, de 2015) (Vigência)
direção. (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015) (Vigência)
§ 1º-A. Não estará sujeito às penalidades previstas neste Códi-
§ 2o Em situações excepcionais de inobservância justificada do
tempo de direção, devidamente registradas, o tempo de direção go o motorista profissional condutor de veículos ou composições
poderá ser elevado pelo período necessário para que o condutor, de transporte rodoviário de cargas que não observar os períodos de
o veículo e a carga cheguem a um lugar que ofereça a segurança e direção e de descanso quando ocorrer a situação excepcional des-
o atendimento demandados, desde que não haja comprometimen- crita no § 8º do art. 67-C deste Código. (Incluído pela Lei nº 14.440,
to da segurança rodoviária. (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015) de 2022)
(Vigência) § 2o O tempo de direção será controlado mediante registra-
§ 3o O condutor é obrigado, dentro do período de 24 (vinte e dor instantâneo inalterável de velocidade e tempo e, ou por meio
quatro) horas, a observar o mínimo de 11 (onze) horas de descanso, de anotação em diário de bordo, ou papeleta ou ficha de trabalho
que podem ser fracionadas, usufruídas no veículo e coincidir com externo, ou por meios eletrônicos instalados no veículo, conforme
os intervalos mencionados no § 1o, observadas no primeiro perí- norma do Contran. (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015) (Vigência)
odo 8 (oito) horas ininterruptas de descanso. (Incluído pela Lei nº § 3o O equipamento eletrônico ou registrador deverá funcio-
13.103, de 2015) (Vigência) nar de forma independente de qualquer interferência do condutor,
§ 4o Entende-se como tempo de direção ou de condução ape- quanto aos dados registrados. (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015)
nas o período em que o condutor estiver efetivamente ao volante, (Vigência)
em curso entre a origem e o destino. (Incluído pela Lei nº 13.103, § 4o A guarda, a preservação e a exatidão das informações con-
de 2015) (Vigência) tidas no equipamento registrador instantâneo inalterável de velo-
§ 5o Entende-se como início de viagem a partida do veículo cidade e de tempo são de responsabilidade do condutor. (Incluído
na ida ou no retorno, com ou sem carga, considerando-se como pela Lei nº 13.103, de 2015) (Vigência)
sua continuação as partidas nos dias subsequentes até o destino.
(Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015) (Vigência) CAPÍTULO IV
§ 6o O condutor somente iniciará uma viagem após o cumpri- DOS PEDESTRES E CONDUTORES DE VEÍCULOS NÃO MOTORI-
mento integral do intervalo de descanso previsto no § 3o deste ar- ZADOS
tigo. (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015) (Vigência)
§ 7o Nenhum transportador de cargas ou coletivo de passagei- Art. 68. É assegurada ao pedestre a utilização dos passeios ou
ros, embarcador, consignatário de cargas, operador de terminais
passagens apropriadas das vias urbanas e dos acostamentos das
de carga, operador de transporte multimodal de cargas ou agente
vias rurais para circulação, podendo a autoridade competente per-
de cargas ordenará a qualquer motorista a seu serviço, ainda que
mitir a utilização de parte da calçada para outros fins, desde que
subcontratado, que conduza veículo referido no caput sem a obser-
não seja prejudicial ao fluxo de pedestres.
vância do disposto no § 6o. (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015)
(Vigência) § 1º O ciclista desmontado empurrando a bicicleta equipara-se
§ 8º Constitui situação excepcional de inobservância justificada ao pedestre em direitos e deveres.
do tempo de direção e de descanso pelos motoristas profissionais § 2º Nas áreas urbanas, quando não houver passeios ou quan-
condutores de veículos ou composições de transporte rodoviário de do não for possível a utilização destes, a circulação de pedestres na
cargas, independentemente de registros ou de anotações, a indis- pista de rolamento será feita com prioridade sobre os veículos, pe-
ponibilidade de pontos de parada e de descanso reconhecidos pelo los bordos da pista, em fila única, exceto em locais proibidos pela si-
órgão competente na rota programada para a viagem ou o exau- nalização e nas situações em que a segurança ficar comprometida.
rimento das vagas de estacionamento neles disponíveis. (Incluído § 3º Nas vias rurais, quando não houver acostamento ou quan-
pela Lei nº 14.440, de 2022) do não for possível a utilização dele, a circulação de pedestres, na
pista de rolamento, será feita com prioridade sobre os veículos,

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pelos bordos da pista, em fila única, em sentido contrário ao deslo- Parágrafo único. As campanhas de trânsito devem esclarecer
camento de veículos, exceto em locais proibidos pela sinalização e quais as atribuições dos órgãos e entidades pertencentes ao Siste-
nas situações em que a segurança ficar comprometida. ma Nacional de Trânsito e como proceder a tais solicitações.
§ 4º (VETADO)
§ 5º Nos trechos urbanos de vias rurais e nas obras de arte CAPÍTULO VI
a serem construídas, deverá ser previsto passeio destinado à cir- DA EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO
culação dos pedestres, que não deverão, nessas condições, usar o
acostamento. Art. 74. A educação para o trânsito é direito de todos e consti-
§ 6º Onde houver obstrução da calçada ou da passagem para tui dever prioritário para os componentes do Sistema Nacional de
pedestres, o órgão ou entidade com circunscrição sobre a via de- Trânsito.
verá assegurar a devida sinalização e proteção para circulação de § 1º É obrigatória a existência de coordenação educacional em
pedestres. cada órgão ou entidade componente do Sistema Nacional de Trân-
Art. 69. Para cruzar a pista de rolamento o pedestre tomará sito.
precauções de segurança, levando em conta, principalmente, a visi- § 2º Os órgãos ou entidades executivos de trânsito deverão
bilidade, a distância e a velocidade dos veículos, utilizando sempre promover, dentro de sua estrutura organizacional ou mediante
as faixas ou passagens a ele destinadas sempre que estas existirem convênio, o funcionamento de Escolas Públicas de Trânsito, nos
numa distância de até cinquenta metros dele, observadas as se- moldes e padrões estabelecidos pelo CONTRAN.
guintes disposições: Art. 75. O CONTRAN estabelecerá, anualmente, os temas e os
I - onde não houver faixa ou passagem, o cruzamento da via cronogramas das campanhas de âmbito nacional que deverão ser
deverá ser feito em sentido perpendicular ao de seu eixo; promovidas por todos os órgãos ou entidades do Sistema Nacional
II - para atravessar uma passagem sinalizada para pedestres ou de Trânsito, em especial nos períodos referentes às férias escola-
delimitada por marcas sobre a pista: res, feriados prolongados e à Semana Nacional de Trânsito.
a) onde houver foco de pedestres, obedecer às indicações das § 1º Os órgãos ou entidades do Sistema Nacional de Trânsito
luzes; deverão promover outras campanhas no âmbito de sua circunscri-
b) onde não houver foco de pedestres, aguardar que o semáfo- ção e de acordo com as peculiaridades locais.
ro ou o agente de trânsito interrompa o fluxo de veículos; § 2º As campanhas de que trata este artigo são de caráter per-
III - nas interseções e em suas proximidades, onde não existam manente, e os serviços de rádio e difusão sonora de sons e imagens
faixas de travessia, os pedestres devem atravessar a via na continu- explorados pelo poder público são obrigados a difundi-las gratuita-
ação da calçada, observadas as seguintes normas: mente, com a freqüência recomendada pelos órgãos competentes
a) não deverão adentrar na pista sem antes se certificar de que do Sistema Nacional de Trânsito.
podem fazê-lo sem obstruir o trânsito de veículos; Art. 76. A educação para o trânsito será promovida na pré-es-
b) uma vez iniciada a travessia de uma pista, os pedestres não cola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus, por meio de planejamento e
deverão aumentar o seu percurso, demorar-se ou parar sobre ela ações coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacio-
sem necessidade. nal de Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito
Art. 70. Os pedestres que estiverem atravessando a via sobre Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação.
as faixas delimitadas para esse fim terão prioridade de passagem, Parágrafo único. Para a finalidade prevista neste artigo, o Mi-
exceto nos locais com sinalização semafórica, onde deverão ser res- nistério da Educação e do Desporto, mediante proposta do CON-
peitadas as disposições deste Código. TRAN e do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, dire-
Parágrafo único. Nos locais em que houver sinalização semafó- tamente ou mediante convênio, promoverá:
rica de controle de passagem será dada preferência aos pedestres I - a adoção, em todos os níveis de ensino, de um currículo in-
que não tenham concluído a travessia, mesmo em caso de mudan- terdisciplinar com conteúdo programático sobre segurança de trân-
ça do semáforo liberando a passagem dos veículos. sito;
Art. 71. O órgão ou entidade com circunscrição sobre a via II - a adoção de conteúdos relativos à educação para o trânsito
manterá, obrigatoriamente, as faixas e passagens de pedestres em nas escolas de formação para o magistério e o treinamento de pro-
boas condições de visibilidade, higiene, segurança e sinalização. fessores e multiplicadores;
III - a criação de corpos técnicos interprofissionais para levanta-
CAPÍTULO V mento e análise de dados estatísticos relativos ao trânsito;
DO CIDADÃO IV - a elaboração de planos de redução de acidentes de trânsito
junto aos núcleos interdisciplinares universitários de trânsito, com
Art. 72. Todo cidadão ou entidade civil tem o direito de soli- vistas à integração universidades-sociedade na área de trânsito.
citar, por escrito, aos órgãos ou entidades do Sistema Nacional de Art. 77. No âmbito da educação para o trânsito caberá ao Mi-
Trânsito, sinalização, fiscalização e implantação de equipamentos nistério da Saúde, mediante proposta do CONTRAN, estabelecer
de segurança, bem como sugerir alterações em normas, legislação campanha nacional esclarecendo condutas a serem seguidas nos
e outros assuntos pertinentes a este Código. primeiros socorros em caso de acidente de trânsito.
Art. 73. Os órgãos ou entidades pertencentes ao Sistema Na- Parágrafo único. As campanhas terão caráter permanente por
cional de Trânsito têm o dever de analisar as solicitações e respon- intermédio do Sistema Único de Saúde - SUS, sendo intensificadas
der, por escrito, dentro de prazos mínimos, sobre a possibilidade nos períodos e na forma estabelecidos no art. 76.
ou não de atendimento, esclarecendo ou justificando a análise
efetuada, e, se pertinente, informando ao solicitante quando tal
evento ocorrerá.

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Art. 77-A. São assegurados aos órgãos ou entidades compo- § 2o Sem prejuízo do disposto no caput deste artigo, qualquer
nentes do Sistema Nacional de Trânsito os mecanismos instituídos infração acarretará a imediata suspensão da veiculação da peça pu-
nos arts. 77-B a 77-E para a veiculação de mensagens educativas de blicitária até que sejam cumpridas as exigências fixadas nos arts.
trânsito em todo o território nacional, em caráter suplementar às 77-A a 77-D. (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009).
campanhas previstas nos arts. 75 e 77. (Incluído pela Lei nº 12.006, Art. 77-F. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.304, de 2022) (Vi-
de 2009). gência)
Art. 77-B. Toda peça publicitária destinada à divulgação ou Art. 78. Os Ministérios da Saúde, da Educação e do Despor-
promoção, nos meios de comunicação social, de produto oriundo to, do Trabalho, dos Transportes e da Justiça, por intermédio do
da indústria automobilística ou afim, incluirá, obrigatoriamente, CONTRAN, desenvolverão e implementarão programas destinados
mensagem educativa de trânsito a ser conjuntamente veiculada. à prevenção de acidentes.
(Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). Parágrafo único. O percentual de dez por cento do total dos
§ 1o Para os efeitos dos arts. 77-A a 77-E, consideram-se pro- valores arrecadados destinados à Previdência Social, do Prêmio do
dutos oriundos da indústria automobilística ou afins: (Incluído pela Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por Veículos Auto-
Lei nº 12.006, de 2009). motores de Via Terrestre - DPVAT, de que trata a Lei nº 6.194, de 19
I – os veículos rodoviários automotores de qualquer espécie, de dezembro de 1974, serão repassados mensalmente ao Coorde-
incluídos os de passageiros e os de carga; (Incluído pela Lei nº nador do Sistema Nacional de Trânsito para aplicação exclusiva em
12.006, de 2009). programas de que trata este artigo.
II – os componentes, as peças e os acessórios utilizados nos Art. 79. Os órgãos e entidades executivos de trânsito poderão
veículos mencionados no inciso I. (Incluído pela Lei nº 12.006, de firmar convênio com os órgãos de educação da União, dos Estados,
2009). do Distrito Federal e dos Municípios, objetivando o cumprimento
§ 2o O disposto no caput deste artigo aplica-se à propagan- das obrigações estabelecidas neste capítulo.
da de natureza comercial, veiculada por iniciativa do fabricante do
produto, em qualquer das seguintes modalidades: (Incluído pela Lei CAPÍTULO VII
nº 12.006, de 2009). DA SINALIZAÇÃO DE TRÂNSITO
I – rádio; (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009).
II – televisão; (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). Art. 80. Sempre que necessário, será colocada ao longo da via,
III – jornal; (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). sinalização prevista neste Código e em legislação complementar,
IV – revista; (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). destinada a condutores e pedestres, vedada a utilização de qual-
V – outdoor. (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). quer outra.
§ 3o Para efeito do disposto no § 2o, equiparam-se ao fabri- § 1º A sinalização será colocada em posição e condições que a
cante o montador, o encarroçador, o importador e o revendedor tornem perfeitamente visível e legível durante o dia e a noite, em
autorizado dos veículos e demais produtos discriminados no § 1o distância compatível com a segurança do trânsito, conforme nor-
deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). mas e especificações do CONTRAN.
Art. 77-C. Quando se tratar de publicidade veiculada em out- § 2º O CONTRAN poderá autorizar, em caráter experimental e
door instalado à margem de rodovia, dentro ou fora da respectiva por período prefixado, a utilização de sinalização não prevista neste
faixa de domínio, a obrigação prevista no art. 77-B estende-se à Código.
propaganda de qualquer tipo de produto e anunciante, inclusive § 3º A responsabilidade pela instalação da sinalização nas vias
àquela de caráter institucional ou eleitoral. (Incluído pela Lei nº internas pertencentes aos condomínios constituídos por unidades
12.006, de 2009). autônomas e nas vias e áreas de estacionamento de estabeleci-
Art. 77-D. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) especifi- mentos privados de uso coletivo é de seu proprietário. (Incluído
cará o conteúdo e o padrão de apresentação das mensagens, bem pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
como os procedimentos envolvidos na respectiva veiculação, em Art. 81. Nas vias públicas e nos imóveis é proibido colocar lu-
conformidade com as diretrizes fixadas para as campanhas educati- zes, publicidade, inscrições, vegetação e mobiliário que possam
vas de trânsito a que se refere o art. 75. (Incluído pela Lei nº 12.006, gerar confusão, interferir na visibilidade da sinalização e compro-
de 2009). meter a segurança do trânsito.
Art. 77-E. A veiculação de publicidade feita em desacordo com Art. 82. É proibido afixar sobre a sinalização de trânsito e res-
as condições fixadas nos arts. 77-A a 77-D constitui infração punível pectivos suportes, ou junto a ambos, qualquer tipo de publicidade,
com as seguintes sanções: (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). inscrições, legendas e símbolos que não se relacionem com a men-
I – advertência por escrito; (Incluído pela Lei nº 12.006, de sagem da sinalização.
2009). Art. 83. A afixação de publicidade ou de quaisquer legendas
II – suspensão, nos veículos de divulgação da publicidade, de ou símbolos ao longo das vias condiciona-se à prévia aprovação do
qualquer outra propaganda do produto, pelo prazo de até 60 (ses- órgão ou entidade com circunscrição sobre a via.
senta) dias; (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009). Art. 84. O órgão ou entidade de trânsito com circunscrição so-
III - multa de R$ 1.627,00 (mil, seiscentos e vinte e sete reais) bre a via poderá retirar ou determinar a imediata retirada de qual-
a R$ 8.135,00 (oito mil, cento e trinta e cinco reais), cobrada do quer elemento que prejudique a visibilidade da sinalização viária
dobro até o quíntuplo em caso de reincidência. (Redação dada pela e a segurança do trânsito, com ônus para quem o tenha colocado.
Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) Art. 85. Os locais destinados pelo órgão ou entidade de trânsito
§ 1o As sanções serão aplicadas isolada ou cumulativamente, com circunscrição sobre a via à travessia de pedestres deverão ser
conforme dispuser o regulamento. (Incluído pela Lei nº 12.006, de sinalizados com faixas pintadas ou demarcadas no leito da via.
2009).

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Art. 86. Os locais destinados a postos de gasolina, oficinas, es- Art. 95. Nenhuma obra ou evento que possa perturbar ou in-
tacionamentos ou garagens de uso coletivo deverão ter suas entra- terromper a livre circulação de veículos e pedestres, ou colocar em
das e saídas devidamente identificadas, na forma regulamentada risco sua segurança, será iniciada sem permissão prévia do órgão
pelo CONTRAN. ou entidade de trânsito com circunscrição sobre a via.
Art. 86-A. As vagas de estacionamento regulamentado de que § 1º A obrigação de sinalizar é do responsável pela execução ou
trata o inciso XVII do art. 181 desta Lei deverão ser sinalizadas com manutenção da obra ou do evento.
as respectivas placas indicativas de destinação e com placas infor- § 2º Salvo em casos de emergência, a autoridade de trânsito
mando os dados sobre a infração por estacionamento indevido. (In- com circunscrição sobre a via avisará a comunidade, por intermé-
cluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) dio dos meios de comunicação social, com quarenta e oito horas de
Art. 87. Os sinais de trânsito classificam-se em: antecedência, de qualquer interdição da via, indicando-se os cami-
I - verticais; nhos alternativos a serem utilizados.
II - horizontais; § 3º O descumprimento do disposto neste artigo será punido
III - dispositivos de sinalização auxiliar; com multa de R$ 81,35 (oitenta e um reais e trinta e cinco centavos)
IV - luminosos; a R$ 488,10 (quatrocentos e oitenta e oito reais e dez centavos),
V - sonoros; independentemente das cominações cíveis e penais cabíveis, além
VI - gestos do agente de trânsito e do condutor. de multa diária no mesmo valor até a regularização da situação,
Art. 88. Nenhuma via pavimentada poderá ser entregue após a partir do prazo final concedido pela autoridade de trânsito, le-
sua construção, ou reaberta ao trânsito após a realização de obras vando-se em consideração a dimensão da obra ou do evento e o
ou de manutenção, enquanto não estiver devidamente sinalizada, prejuízo causado ao trânsito. (Redação pela Lei nº 13.281, de 2016)
vertical e horizontalmente, de forma a garantir as condições ade- (Vigência)
quadas de segurança na circulação. § 4º Ao servidor público responsável pela inobservância de
Parágrafo único. Nas vias ou trechos de vias em obras deverá qualquer das normas previstas neste e nos arts. 93 e 94, a autorida-
ser afixada sinalização específica e adequada. de de trânsito aplicará multa diária na base de cinqüenta por cento
Art. 89. A sinalização terá a seguinte ordem de prevalência: do dia de vencimento ou remuneração devida enquanto permane-
I - as ordens do agente de trânsito sobre as normas de circula- cer a irregularidade.
ção e outros sinais;
II - as indicações do semáforo sobre os demais sinais; CAPÍTULO IX
III - as indicações dos sinais sobre as demais normas de trân- DOS VEÍCULOS
sito.
Art. 90. Não serão aplicadas as sanções previstas neste Códi- SEÇÃO I
go por inobservância à sinalização quando esta for insuficiente ou DISPOSIÇÕES GERAIS
incorreta.
§ 1º O órgão ou entidade de trânsito com circunscrição sobre Art. 96. Os veículos classificam-se em:
a via é responsável pela implantação da sinalização, respondendo I - quanto à tração:
pela sua falta, insuficiência ou incorreta colocação. a) automotor;
§ 2º O CONTRAN editará normas complementares no que se b) elétrico;
refere à interpretação, colocação e uso da sinalização. c) de propulsão humana;
d) de tração animal;
CAPÍTULO VIII e) reboque ou semi-reboque;
DA ENGENHARIA DE TRÁFEGO, DA OPERAÇÃO, DA FISCALI- II - quanto à espécie:
ZAÇÃO E DO POLICIAMENTO OSTENSIVO DE TRÂNSITO a) de passageiros:
1 - bicicleta;
Art. 91. O CONTRAN estabelecerá as normas e regulamentos 2 - ciclomotor;
a serem adotados em todo o território nacional quando da imple- 3 - motoneta;
mentação das soluções adotadas pela Engenharia de Tráfego, assim 4 - motocicleta;
como padrões a serem praticados por todos os órgãos e entidades 5 - triciclo;
do Sistema Nacional de Trânsito. 6 - quadriciclo;
Art. 92. (VETADO) 7 - automóvel;
Art. 93. Nenhum projeto de edificação que possa transformar- 8 - microônibus;
-se em pólo atrativo de trânsito poderá ser aprovado sem prévia 9 - ônibus;
anuência do órgão ou entidade com circunscrição sobre a via e sem 10 - bonde;
que do projeto conste área para estacionamento e indicação das 11 - reboque ou semi-reboque;
vias de acesso adequadas. 12 - charrete;
Art. 94. Qualquer obstáculo à livre circulação e à segurança de b) de carga:
veículos e pedestres, tanto na via quanto na calçada, caso não pos- 1 - motoneta;
sa ser retirado, deve ser devida e imediatamente sinalizado. 2 - motocicleta;
Parágrafo único. É proibida a utilização das ondulações trans- 3 - triciclo;
versais e de sonorizadores como redutores de velocidade, salvo em 4 - quadriciclo;
casos especiais definidos pelo órgão ou entidade competente, nos 5 - caminhonete;
padrões e critérios estabelecidos pelo CONTRAN. 6 - caminhão;

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

7 - reboque ou semi-reboque; § 2º O Contran regulamentará o uso de pneus extralargos para


8 - carroça; os demais veículos. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
9 - carro-de-mão; § 3º É permitida a fabricação de veículos de transporte de pas-
c) misto: sageiros de até 15 m (quinze metros) de comprimento na configu-
1 - camioneta; ração de chassi 8x2. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
2 - utilitário; Art. 101. Ao veículo ou à combinação de veículos utilizados no
3 - outros; transporte de carga que não se enquadre nos limites de peso e di-
d) de competição; mensões estabelecidos pelo Contran, poderá ser concedida, pela
e) de tração: autoridade com circunscrição sobre a via, autorização especial de
1 - caminhão-trator; trânsito, com prazo certo, válida para cada viagem ou por período,
2 - trator de rodas; atendidas as medidas de segurança consideradas necessárias, con-
3 - trator de esteiras; forme regulamentação do Contran
4 - trator misto; § 1º (VETADO).
f) especial; § 2º A autorização não exime o beneficiário da responsabilida-
g) de coleção; de por eventuais danos que o veículo ou a combinação de veículos
III - quanto à categoria: causar à via ou a terceiros.
a) oficial; § 3º Aos guindastes autopropelidos ou sobre caminhões pode-
b) de representação diplomática, de repartições consulares de rá ser concedida, pela autoridade com circunscrição sobre a via, au-
carreira ou organismos internacionais acreditados junto ao Gover- torização especial de trânsito, com prazo de seis meses, atendidas
no brasileiro; as medidas de segurança consideradas necessárias.
c) particular; Art. 102. O veículo de carga deverá estar devidamente equipa-
d) de aluguel; do quando transitar, de modo a evitar o derramamento da carga
e) de aprendizagem. sobre a via.
Art. 97. As características dos veículos, suas especificações bá- Parágrafo único. O CONTRAN fixará os requisitos mínimos e a
sicas, configuração e condições essenciais para registro, licencia- forma de proteção das cargas de que trata este artigo, de acordo
mento e circulação serão estabelecidas pelo CONTRAN, em função com a sua natureza.
de suas aplicações.
Art. 98. Nenhum proprietário ou responsável poderá, sem pré- SEÇÃO II
via autorização da autoridade competente, fazer ou ordenar que DA SEGURANÇA DOS VEÍCULOS
sejam feitas no veículo modificações de suas características de fá-
brica. Art. 103. O veículo só poderá transitar pela via quando aten-
Parágrafo único. Os veículos e motores novos ou usados que
didos os requisitos e condições de segurança estabelecidos neste
sofrerem alterações ou conversões são obrigados a atender aos
Código e em normas do CONTRAN.
mesmos limites e exigências de emissão de poluentes e ruído pre-
§ 1º Os fabricantes, os importadores, os montadores e os en-
vistos pelos órgãos ambientais competentes e pelo CONTRAN, ca-
carroçadores de veículos deverão emitir certificado de segurança,
bendo à entidade executora das modificações e ao proprietário do
indispensável ao cadastramento no RENAVAM, nas condições esta-
veículo a responsabilidade pelo cumprimento das exigências.
belecidas pelo CONTRAN.
Art. 99. Somente poderá transitar pelas vias terrestres o veí-
§ 2º O CONTRAN deverá especificar os procedimentos e a pe-
culo cujo peso e dimensões atenderem aos limites estabelecidos
riodicidade para que os fabricantes, os importadores, os montado-
pelo CONTRAN.
§ 1º O excesso de peso será aferido por equipamento de pesa- res e os encarroçadores comprovem o atendimento aos requisitos
gem ou pela verificação de documento fiscal, na forma estabelecida de segurança veicular, devendo, para isso, manter disponíveis a
pelo CONTRAN. qualquer tempo os resultados dos testes e ensaios dos sistemas e
§ 2º Será tolerado um percentual sobre os limites de peso bru- componentes abrangidos pela legislação de segurança veicular.
to total e peso bruto transmitido por eixo de veículos à superfície Art. 104. Os veículos em circulação terão suas condições de se-
das vias, quando aferido por equipamento, na forma estabelecida gurança, de controle de emissão de gases poluentes e de ruído ava-
pelo CONTRAN. liadas mediante inspeção, que será obrigatória, na forma e perio-
§ 3º Os equipamentos fixos ou móveis utilizados na pesagem dicidade estabelecidas pelo CONTRAN para os itens de segurança e
de veículos serão aferidos de acordo com a metodologia e na perio- pelo CONAMA para emissão de gases poluentes e ruído.
dicidade estabelecidas pelo CONTRAN, ouvido o órgão ou entidade § 1º (VETADO)
de metrologia legal. § 2º (VETADO)
Art. 100. Nenhum veículo ou combinação de veículos poderá § 3º (VETADO)
transitar com lotação de passageiros, com peso bruto total, ou com § 4º (VETADO)
peso bruto total combinado com peso por eixo, superior ao fixado § 5º Será aplicada a medida administrativa de retenção aos ve-
pelo fabricante, nem ultrapassar a capacidade máxima de tração da ículos reprovados na inspeção de segurança e na de emissão de
unidade tratora. gases poluentes e ruído.
§ 1º Os veículos de transporte coletivo de passageiros poderão § 6º Estarão isentos da inspeção de que trata o caput, durante
ser dotados de pneus extralargos. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 3 (três) anos a partir do primeiro licenciamento, os veículos novos
2016) (Vigência) classificados na categoria particular, com capacidade para até 7
(sete) passageiros, desde que mantenham suas características ori-

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

ginais de fábrica e não se envolvam em acidente de trânsito com Parágrafo único. Quando se tratar de blindagem de veículo,
danos de média ou grande monta. (Incluído pela Lei nº 13.281, de não será exigido qualquer outro documento ou autorização para o
2016) (Vigência) registro ou o licenciamento.” (NR)
§ 7º Para os demais veículos novos, o período de que trata o § Art. 107. Os veículos de aluguel, destinados ao transporte in-
6º será de 2 (dois) anos, desde que mantenham suas características dividual ou coletivo de passageiros, deverão satisfazer, além das
originais de fábrica e não se envolvam em acidente de trânsito com exigências previstas neste Código, às condições técnicas e aos re-
danos de média ou grande monta. (Incluído pela Lei nº 13.281, de quisitos de segurança, higiene e conforto estabelecidos pelo poder
2016) (Vigência) competente para autorizar, permitir ou conceder a exploração des-
Art. 105. São equipamentos obrigatórios dos veículos, entre sa atividade.
outros a serem estabelecidos pelo CONTRAN: Art. 108. Onde não houver linha regular de ônibus, a autorida-
I - cinto de segurança, conforme regulamentação específica do de com circunscrição sobre a via poderá autorizar, a título precário,
CONTRAN, com exceção dos veículos destinados ao transporte de o transporte de passageiros em veículo de carga ou misto, desde
passageiros em percursos em que seja permitido viajar em pé; que obedecidas as condições de segurança estabelecidas neste Có-
II - para os veículos de transporte e de condução escolar, os de digo e pelo CONTRAN.
transporte de passageiros com mais de dez lugares e os de carga Parágrafo único. A autorização citada no caput não poderá ex-
com peso bruto total superior a quatro mil, quinhentos e trinta e ceder a doze meses, prazo a partir do qual a autoridade pública
seis quilogramas, equipamento registrador instantâneo inalterável responsável deverá implantar o serviço regular de transporte cole-
de velocidade e tempo; tivo de passageiros, em conformidade com a legislação pertinente
III - encosto de cabeça, para todos os tipos de veículos automo- e com os dispositivos deste Código. (Incluído pela Lei nº 9.602, de
tores, segundo normas estabelecidas pelo CONTRAN; 1998)
IV - (VETADO) Art. 109. O transporte de carga em veículos destinados ao
V - dispositivo destinado ao controle de emissão de gases po- transporte de passageiros só pode ser realizado de acordo com as
luentes e de ruído, segundo normas estabelecidas pelo CONTRAN. normas estabelecidas pelo CONTRAN.
VI - para as bicicletas, a campainha, sinalização noturna dian- Art. 110. O veículo que tiver alterada qualquer de suas carac-
teira, traseira, lateral e nos pedais, e espelho retrovisor do lado es- terísticas para competição ou finalidade análoga só poderá circular
nas vias públicas com licença especial da autoridade de trânsito, em
querdo.
itinerário e horário fixados.
VII - equipamento suplementar de retenção - air bag frontal
Art. 111. É vedado, nas áreas envidraçadas do veículo:
para o condutor e o passageiro do banco dianteiro. (Incluído pela
I - (VETADO)
Lei nº 11.910, de 2009)
II - o uso de cortinas, persianas fechadas ou similares nos veí-
VIII - luzes de rodagem diurna.
culos em movimento, salvo nos que possuam espelhos retrovisores
§ 1º O CONTRAN disciplinará o uso dos equipamentos obriga-
em ambos os lados.
tórios dos veículos e determinará suas especificações técnicas.
III - aposição de inscrições, películas refletivas ou não, painéis
§ 2º Nenhum veículo poderá transitar com equipamento ou
decorativos ou pinturas, quando comprometer a segurança do veí-
acessório proibido, sendo o infrator sujeito às penalidades e medi- culo, na forma de regulamentação do CONTRAN. (Incluído pela Lei
das administrativas previstas neste Código. nº 9.602, de 1998)
§ 3º Os fabricantes, os importadores, os montadores, os en- Parágrafo único. É proibido o uso de inscrição de caráter publi-
carroçadores de veículos e os revendedores devem comercializar citário ou qualquer outra que possa desviar a atenção dos condu-
os seus veículos com os equipamentos obrigatórios definidos neste tores em toda a extensão do pára-brisa e da traseira dos veículos,
artigo, e com os demais estabelecidos pelo CONTRAN. salvo se não colocar em risco a segurança do trânsito.
§ 4º O CONTRAN estabelecerá o prazo para o atendimento do Art. 112. (Revogado pela Lei nº 9.792, de 1999)
disposto neste artigo. Art. 113. Os importadores, as montadoras, as encarroçadoras
§ 5o A exigência estabelecida no inciso VII do caput deste ar- e fabricantes de veículos e autopeças são responsáveis civil e crimi-
tigo será progressivamente incorporada aos novos projetos de au- nalmente por danos causados aos usuários, a terceiros, e ao meio
tomóveis e dos veículos deles derivados, fabricados, importados, ambiente, decorrentes de falhas oriundas de projetos e da qualida-
montados ou encarroçados, a partir do 1o (primeiro) ano após a de dos materiais e equipamentos utilizados na sua fabricação.
definição pelo Contran das especificações técnicas pertinentes e
do respectivo cronograma de implantação e a partir do 5o (quinto) SEÇÃO III
ano, após esta definição, para os demais automóveis zero quilôme- DA IDENTIFICAÇÃO DO VEÍCULO
tro de modelos ou projetos já existentes e veículos deles derivados.
(Incluído pela Lei nº 11.910, de 2009) Art. 114. O veículo será identificado obrigatoriamente por ca-
§ 6o A exigência estabelecida no inciso VII do caput deste ar- racteres gravados no chassi ou no monobloco, reproduzidos em
tigo não se aplica aos veículos destinados à exportação. (Incluído outras partes, conforme dispuser o CONTRAN.
pela Lei nº 11.910, de 2009) § 1º A gravação será realizada pelo fabricante ou montador, de
Art. 106. No caso de fabricação artesanal ou de modificação modo a identificar o veículo, seu fabricante e as suas característi-
de veículo ou, ainda, quando ocorrer substituição de equipamento cas, além do ano de fabricação, que não poderá ser alterado.
de segurança especificado pelo fabricante, será exigido, para licen-
ciamento e registro, certificado de segurança expedido por institui-
ção técnica credenciada por órgão ou entidade de metrologia legal,
conforme norma elaborada pelo CONTRAN.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 2º As regravações, quando necessárias, dependerão de pré- § 9º As placas que possuírem tecnologia que permita a identifi-
via autorização da autoridade executiva de trânsito e somente se- cação do veículo ao qual estão atreladas são dispensadas da utiliza-
rão processadas por estabelecimento por ela credenciado, median- ção do lacre previsto no caput, na forma a ser regulamentada pelo
te a comprovação de propriedade do veículo, mantida a mesma Contran. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
identificação anterior, inclusive o ano de fabricação. § 10. O Contran estabelecerá os meios técnicos, de uso obriga-
§ 3º Nenhum proprietário poderá, sem prévia permissão da tório, para garantir a identificação dos veículos que transitarem por
autoridade executiva de trânsito, fazer, ou ordenar que se faça, rodovias e vias urbanas com cobrança de uso pelo sistema de livre
modificações da identificação de seu veículo. passagem. (Incluído pela Lei nº 14.157, de 2021)
Art. 115. O veículo será identificado externamente por meio Art. 116. Os veículos de propriedade da União, dos Estados e
de placas dianteira e traseira, sendo esta lacrada em sua estrutura, do Distrito Federal, devidamente registrados e licenciados, somen-
obedecidas as especificações e modelos estabelecidos pelo CON- te quando estritamente usados em serviço reservado de caráter
TRAN. policial, poderão usar placas particulares, obedecidos os critérios
§ 1º Os caracteres das placas serão individualizados para cada e limites estabelecidos pela legislação que regulamenta o uso de
veículo e o acompanharão até a baixa do registro, sendo vedado veículo oficial.
seu reaproveitamento. Art. 117. Os veículos de transporte de carga e os coletivos de
§ 2º As placas com as cores verde e amarela da Bandeira Nacio- passageiros deverão conter, em local facilmente visível, a inscrição
nal serão usadas somente pelos veículos de representação pessoal indicativa de sua tara, do peso bruto total (PBT), do peso bruto total
do Presidente e do Vice-Presidente da República, dos Presidentes combinado (PBTC) ou capacidade máxima de tração (CMT) e de sua
do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, do Presidente e dos lotação, vedado o uso em desacordo com sua classificação.
Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Ministros de Estado,
do Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da República. CAPÍTULO X
§ 3º Os veículos de representação dos Presidentes dos Tribu- DOS VEÍCULOS EM CIRCULAÇÃO INTERNACIONAL
nais Federais, dos Governadores, Prefeitos, Secretários Estaduais
e Municipais, dos Presidentes das Assembléias Legislativas, das Art. 118. A circulação de veículo no território nacional, inde-
Câmaras Municipais, dos Presidentes dos Tribunais Estaduais e do pendentemente de sua origem, em trânsito entre o Brasil e os paí-
Distrito Federal, e do respectivo chefe do Ministério Público e ainda ses com os quais exista acordo ou tratado internacional, reger-se-á
dos Oficiais Generais das Forças Armadas terão placas especiais, de pelas disposições deste Código, pelas convenções e acordos inter-
acordo com os modelos estabelecidos pelo CONTRAN. nacionais ratificados.
§ 4o Os aparelhos automotores destinados a puxar ou a arras- Art. 119. As repartições aduaneiras e os órgãos de controle de
tar maquinaria de qualquer natureza ou a executar trabalhos de fronteira comunicarão diretamente ao RENAVAM a entrada e saída
construção ou de pavimentação são sujeitos ao registro na repar- temporária ou definitiva de veículos.
tição competente, se transitarem em via pública, dispensados o li- § 1º Os veículos licenciados no exterior não poderão sair do
cenciamento e o emplacamento. (Redação dada pela Lei nº 13.154, território nacional sem o prévio pagamento ou o depósito, judicial
de 2015) (Vide) ou administrativo, dos valores correspondentes às infrações de
§ 4o-A. Os tratores e demais aparelhos automotores destina- trânsito cometidas e ao ressarcimento de danos que tiverem causa-
dos a puxar ou a arrastar maquinaria agrícola ou a executar tra- do ao patrimônio público ou de particulares, independentemente
balhos agrícolas, desde que facultados a transitar em via pública, da fase do processo administrativo ou judicial envolvendo a ques-
são sujeitos ao registro único, sem ônus, em cadastro específico do tão. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, acessível aos § 2º Os veículos que saírem do território nacional sem o cum-
componentes do Sistema Nacional de Trânsito. (Redação dada pela primento do disposto no § 1º e que posteriormente forem flagra-
Lei nº 13.154, de 2015) (Vide) dos tentando ingressar ou já em circulação no território nacional
§ 5º O disposto neste artigo não se aplica aos veículos de uso serão retidos até a regularização da situação. (Incluído pela Lei nº
bélico. 13. 281, de 2016) (Vigência)
§ 6º Os veículos de duas ou três rodas são dispensados da placa
dianteira. CAPÍTULO XI
§ 7o Excepcionalmente, mediante autorização específica e fun- DO REGISTRO DE VEÍCULOS
damentada das respectivas corregedorias e com a devida comuni-
cação aos órgãos de trânsito competentes, os veículos utilizados Art. 120. Todo veículo automotor, elétrico, articulado, reboque
por membros do Poder Judiciário e do Ministério Público que exer- ou semi-reboque, deve ser registrado perante o órgão executivo de
çam competência ou atribuição criminal poderão temporariamen- trânsito do Estado ou do Distrito Federal, no Município de domicílio
te ter placas especiais, de forma a impedir a identificação de seus ou residência de seu proprietário, na forma da lei.
usuários específicos, na forma de regulamento a ser emitido, con- § 1º Os órgãos executivos de trânsito dos Estados e do Distrito
juntamente, pelo Conselho Nacional de Justiça - CNJ, pelo Conselho Federal somente registrarão veículos oficiais de propriedade da ad-
Nacional do Ministério Público - CNMP e pelo Conselho Nacional de ministração direta, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Trânsito - CONTRAN. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012) Municípios, de qualquer um dos poderes, com indicação expressa,
§ 8o Os veículos artesanais utilizados para trabalho agrícola (je- por pintura nas portas, do nome, sigla ou logotipo do órgão ou en-
ricos), para efeito do registro de que trata o § 4o-A, ficam dispensa- tidade em cujo nome o veículo será registrado, excetuando-se os
dos da exigência prevista no art. 106. (Incluído pela Lei nº 13.154, veículos de representação e os previstos no art. 116.
de 2015) § 2º O disposto neste artigo não se aplica ao veículo de uso
bélico.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 121. Registrado o veículo, expedir-se-á o Certificado de XI - comprovante de aprovação de inspeção veicular e de po-
Registro de Veículo (CRV), em meio físico e/ou digital, à escolha do luentes e ruído, quando for o caso, conforme regulamentações do
proprietário, de acordo com os modelos e com as especificações CONTRAN e do CONAMA.
estabelecidos pelo Contran, com as características e as condições Parágrafo único. Os veículos cuja transferência de propriedade
de invulnerabilidade à falsificação e à adulteração.” (NR) seja resultado de apreensão ou de confisco por decisão judicial, lei-
Art. 122. Para a expedição do Certificado de Registro de Veí- lão de veículo recolhido em depósito ou de doação a órgãos ou en-
culo o órgão executivo de trânsito consultará o cadastro do RENA- tidades da administração pública são dispensados do cumprimento
VAM e exigirá do proprietário os seguintes documentos: do disposto no inciso VIII do caput deste artigo, e os débitos exis-
I - nota fiscal fornecida pelo fabricante ou revendedor, ou do- tentes devem ser cobrados do proprietário anterior. (Redação dada
cumento equivalente expedido por autoridade competente; pela Lei nº 14.440, de 2022)
II - documento fornecido pelo Ministério das Relações Exterio- Art. 125. As informações sobre o chassi, o monobloco, os agre-
res, quando se tratar de veículo importado por membro de missões gados e as características originais do veículo deverão ser prestadas
diplomáticas, de repartições consulares de carreira, de representa- ao RENAVAM:
ções de organismos internacionais e de seus integrantes. I - pelo fabricante ou montadora, antes da comercialização, no
Art. 123. Será obrigatória a expedição de novo Certificado de caso de veículo nacional;
Registro de Veículo quando: II - pelo órgão alfandegário, no caso de veículo importado por
I - for transferida a propriedade; pessoa física;
II - o proprietário mudar o Município de domicílio ou residên- III - pelo importador, no caso de veículo importado por pessoa
cia; jurídica.
III - for alterada qualquer característica do veículo; Parágrafo único. As informações recebidas pelo RENAVAM
IV - houver mudança de categoria. serão repassadas ao órgão executivo de trânsito responsável pelo
§ 1º No caso de transferência de propriedade, o prazo para o registro, devendo este comunicar ao RENAVAM, tão logo seja o ve-
proprietário adotar as providências necessárias à efetivação da ex- ículo registrado.
pedição do novo Certificado de Registro de Veículo é de trinta dias, Art. 126. O proprietário de veículo irrecuperável, ou destinado
sendo que nos demais casos as providências deverão ser imediatas. à desmontagem, deverá requerer a baixa do registro, no prazo e
§ 2º No caso de transferência de domicílio ou residência no forma estabelecidos pelo Contran, vedada a remontagem do veí-
mesmo Município, o proprietário comunicará o novo endereço culo sobre o mesmo chassi de forma a manter o registro anterior.
num prazo de trinta dias e aguardará o novo licenciamento para (Redação dada pela Lei nº 12.977, de 2014) (Vigência)
alterar o Certificado de Licenciamento Anual. § 1º. A obrigação de que trata este artigo é da companhia se-
§ 3º A expedição do novo certificado será comunicada ao órgão guradora ou do adquirente do veículo destinado à desmontagem,
executivo de trânsito que expediu o anterior e ao RENAVAM. quando estes sucederem ao proprietário. (Incluído pela Lei nº
Art. 124. Para a expedição do novo Certificado de Registro de 14.440, de 2022)
Veículo serão exigidos os seguintes documentos: § 2º A existência de débitos fiscais ou de multas de trânsito e
I - Certificado de Registro de Veículo anterior; ambientais vinculadas ao veículo não impede a baixa do registro.
II - Certificado de Licenciamento Anual; (Incluído pela Lei nº 14.440, de 2022)
III - comprovante de transferência de propriedade, quando for Art. 127. O órgão executivo de trânsito competente só efetuará
o caso, conforme modelo e normas estabelecidas pelo CONTRAN; a baixa do registro após prévia consulta ao cadastro do RENAVAM.
IV - Certificado de Segurança Veicular e de emissão de poluen- Parágrafo único. Efetuada a baixa do registro, deverá ser esta
tes e ruído, quando houver adaptação ou alteração de caracterís- comunicada, de imediato, ao RENAVAM.
ticas do veículo; Art. 128. Não será expedido novo Certificado de Registro de
V - comprovante de procedência e justificativa da propriedade Veículo enquanto houver débitos fiscais e de multas de trânsito e
dos componentes e agregados adaptados ou montados no veículo, ambientais, vinculadas ao veículo, independentemente da respon-
quando houver alteração das características originais de fábrica; sabilidade pelas infrações cometidas. (Vide ADIN 2998)
VI - autorização do Ministério das Relações Exteriores, no caso Art. 129. O registro e o licenciamento dos veículos de propul-
de veículo da categoria de missões diplomáticas, de repartições são humana e dos veículos de tração animal obedecerão à regu-
consulares de carreira, de representações de organismos interna- lamentação estabelecida em legislação municipal do domicílio ou
cionais e de seus integrantes; residência de seus proprietários. (Redação dada pela Lei nº 13.154,
VII - certidão negativa de roubo ou furto de veículo, expedida de 2015)
no Município do registro anterior, que poderá ser substituída por Art. 129-A. O registro dos tratores e demais aparelhos auto-
informação do RENAVAM; motores destinados a puxar ou a arrastar maquinaria agrícola ou
VIII - comprovante de quitação de débitos relativos a tributos, a executar trabalhos agrícolas será efetuado, sem ônus, pelo Mi-
encargos e multas de trânsito vinculados ao veículo, independente- nistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, diretamente ou
mente da responsabilidade pelas infrações cometidas; (Vide ADIN mediante convênio. (Incluído pela Lei nº 13.154, de 2015)
2998) Art. 129-B. O registro de contratos de garantias de alienação
IX - (Revogado pela Lei nº 9.602, de 1998) fiduciária em operações financeiras, consórcio, arrendamento mer-
X - comprovante relativo ao cumprimento do disposto no art. cantil, reserva de domínio ou penhor será realizado nos órgãos ou
98, quando houver alteração nas características originais do veículo entidades executivos de trânsito dos Estados e do Distrito Federal,
que afetem a emissão de poluentes e ruído; em observância ao disposto no § 1º do art. 1.361 da Lei nº 10.406,
de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) , e na Lei nº 13.709, de 14 de
agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

CAPÍTULO XII Art. 134. No caso de transferência de propriedade, expirado


DO LICENCIAMENTO o prazo previsto no § 1º do art. 123 deste Código sem que o novo
proprietário tenha tomado as providências necessárias à efetivação
Art. 130. Todo veículo automotor, elétrico, articulado, reboque da expedição do novo Certificado de Registro de Veículo, o antigo
ou semi-reboque, para transitar na via, deverá ser licenciado anu- proprietário deverá encaminhar ao órgão executivo de trânsito do
almente pelo órgão executivo de trânsito do Estado, ou do Distrito Estado ou do Distrito Federal, no prazo de 60 (sessenta) dias, cópia
Federal, onde estiver registrado o veículo. autenticada do comprovante de transferência de propriedade, de-
§ 1º O disposto neste artigo não se aplica a veículo de uso bé- vidamente assinado e datado, sob pena de ter que se responsabili-
lico. zar solidariamente pelas penalidades impostas e suas reincidências
§ 2º No caso de transferência de residência ou domicílio, é vá- até a data da comunicação.
lido, durante o exercício, o licenciamento de origem. Parágrafo único. O comprovante de transferência de proprie-
Art. 131. O Certificado de Licenciamento Anual será expedido dade de que trata o caput deste artigo poderá ser substituído por
ao veículo licenciado, vinculado ao Certificado de Registro de Veícu- documento eletrônico com assinatura eletrônica válida, na forma
lo, em meio físico e/ou digital, à escolha do proprietário, de acordo regulamentada pelo Contran.” (NR)
com o modelo e com as especificações estabelecidos pelo Contran. Art. 134-A. O Contran especificará as bicicletas motorizadas e
§ 1º O primeiro licenciamento será feito simultaneamente ao equiparados não sujeitos ao registro, ao licenciamento e ao empla-
registro. camento para circulação nas vias.
§ 2º O veículo somente será considerado licenciado estando Art. 135. Os veículos de aluguel, destinados ao transporte indi-
quitados os débitos relativos a tributos, encargos e multas de trân- vidual ou coletivo de passageiros de linhas regulares ou emprega-
sito e ambientais, vinculados ao veículo, independentemente da dos em qualquer serviço remunerado, para registro, licenciamento
responsabilidade pelas infrações cometidas. (Vide ADIN 2998) e respectivo emplacamento de característica comercial, deverão
§ 3º Ao licenciar o veículo, o proprietário deverá comprovar estar devidamente autorizados pelo poder público concedente.
sua aprovação nas inspeções de segurança veicular e de controle
de emissões de gases poluentes e de ruído, conforme disposto no CAPÍTULO XIII
art. 104. DA CONDUÇÃO DE ESCOLARES
§ 4º As informações referentes às campanhas de chamamento
de consumidores para substituição ou reparo de veículos realizadas Art. 136. Os veículos especialmente destinados à condução
a partir de 1º de outubro de 2019 e não atendidas no prazo de 1 coletiva de escolares somente poderão circular nas vias com auto-
(um) ano, contado da data de sua comunicação, deverão constar rização emitida pelo órgão ou entidade executivos de trânsito dos
do Certificado de Licenciamento Anual. (Redação dada pela Lei nº Estados e do Distrito Federal, exigindo-se, para tanto:
14.229, de 2021) I - registro como veículo de passageiros;
§ 5º Após a inclusão das informações de que trata o § 4º deste II - inspeção semestral para verificação dos equipamentos obri-
artigo no Certificado de Licenciamento Anual, o veículo somente gatórios e de segurança;
será licenciado mediante comprovação do atendimento às campa- III - pintura de faixa horizontal na cor amarela, com quaren-
nhas de chamamento de consumidores para substituição ou reparo ta centímetros de largura, à meia altura, em toda a extensão das
de veículos.” (NR) partes laterais e traseira da carroçaria, com o dístico ESCOLAR, em
§ 6º O Contran regulamentará a inserção dos dados no Cer- preto, sendo que, em caso de veículo de carroçaria pintada na cor
tificado de Licenciamento Anual referentes às campanhas de cha- amarela, as cores aqui indicadas devem ser invertidas;
mamento de consumidores para substituição ou reparo de veículos IV - equipamento registrador instantâneo inalterável de velo-
realizadas antes da data prevista no § 4º deste artigo. (Incluído pela cidade e tempo;
Lei nº 14.229, de 2021) V - lanternas de luz branca, fosca ou amarela dispostas nas ex-
Art. 132. Os veículos novos não estão sujeitos ao licenciamento tremidades da parte superior dianteira e lanternas de luz vermelha
e terão sua circulação regulada pelo CONTRAN durante o trajeto dispostas na extremidade superior da parte traseira;
entre a fábrica e o Município de destino. VI - cintos de segurança em número igual à lotação;
§ 1o O disposto neste artigo aplica-se, igualmente, aos veícu- VII - outros requisitos e equipamentos obrigatórios estabeleci-
los importados, durante o trajeto entre a alfândega ou entreposto dos pelo CONTRAN.
alfandegário e o Município de destino. (Renumerado do parágrafo Art. 137. A autorização a que se refere o artigo anterior deverá
único pela Lei nº 13.103, de 2015) (Vigência) ser afixada na parte interna do veículo, em local visível, com inscri-
§ 2o (Revogado pela Lei nº 13.154, de 2015) ção da lotação permitida, sendo vedada a condução de escolares
Art. 133. É obrigatório o porte do Certificado de Licenciamento em número superior à capacidade estabelecida pelo fabricante.
Anual. Art. 138. O condutor de veículo destinado à condução de esco-
Parágrafo único. O porte será dispensado quando, no momen- lares deve satisfazer os seguintes requisitos:
to da fiscalização, for possível ter acesso ao devido sistema infor- I - ter idade superior a vinte e um anos;
matizado para verificar se o veículo está licenciado. (Incluído pela II - ser habilitado na categoria D;
Lei nº 13. 281, de 2016) (Vigência) III - (VETADO)
IV - não ter cometido mais de uma infração gravíssima nos 12
(doze) últimos meses;
V - ser aprovado em curso especializado, nos termos da regula-
mentação do CONTRAN.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 139. O disposto neste Capítulo não exclui a competência Art. 142. O reconhecimento de habilitação obtida em outro
municipal de aplicar as exigências previstas em seus regulamentos, país está subordinado às condições estabelecidas em convenções
para o transporte de escolares. e acordos internacionais e às normas do CONTRAN.
Art. 143. Os candidatos poderão habilitar-se nas categorias de
CAPÍTULO XIII-A A a E, obedecida a seguinte gradação:
DA CONDUÇÃO DE MOTO-FRETE I - Categoria A - condutor de veículo motorizado de duas ou
(INCLUÍDO PELA LEI Nº 12.009, DE 2009) três rodas, com ou sem carro lateral;
II - Categoria B - condutor de veículo motorizado, não abrangi-
Art. 139-A. As motocicletas e motonetas destinadas ao trans- do pela categoria A, cujo peso bruto total não exceda a três mil e
porte remunerado de mercadorias – moto-frete – somente poderão quinhentos quilogramas e cuja lotação não exceda a oito lugares,
circular nas vias com autorização emitida pelo órgão ou entidade excluído o do motorista;
executivo de trânsito dos Estados e do Distrito Federal, exigindo-se, III - Categoria C - condutor de veículo abrangido pela catego-
para tanto: (Incluído pela Lei nº 12.009, de 2009) ria B e de veículo motorizado utilizado em transporte de carga cujo
I – registro como veículo da categoria de aluguel; (Incluído pela peso bruto total exceda a 3.500 kg (três mil e quinhentos quilogra-
Lei nº 12.009, de 2009) mas); (Redação dada pela Lei nº 14.440, de 2022)
II – instalação de protetor de motor mata-cachorro, fixado no IV - Categoria D - condutor de veículo abrangido pelas catego-
chassi do veículo, destinado a proteger o motor e a perna do con- rias B e C e de veículo motorizado utilizado no transporte de passa-
dutor em caso de tombamento, nos termos de regulamentação geiros cuja lotação exceda a 8 (oito) lugares, excluído o do motoris-
do Conselho Nacional de Trânsito – Contran; (Incluído pela Lei nº ta; (Redação dada pela Lei nº 14.440, de 2022)
12.009, de 2009) V - Categoria E - condutor de combinação de veículos em que
III – instalação de aparador de linha antena corta-pipas, nos a unidade tratora se enquadre nas categorias B, C ou D e cuja uni-
termos de regulamentação do Contran; (Incluído pela Lei nº 12.009, dade acoplada, reboque, semirreboque, trailer ou articulada tenha
de 2009) 6.000 kg (seis mil quilogramas) ou mais de peso bruto total, ou cuja
IV – inspeção semestral para verificação dos equipamentos lotação exceda a 8 (oito) lugares. (Redação dada pela Lei nº 12.452,
obrigatórios e de segurança. (Incluído pela Lei nº 12.009, de 2009) de 2011)
§ 1o A instalação ou incorporação de dispositivos para trans- § 1º Para habilitar-se na categoria C, o condutor deverá estar
porte de cargas deve estar de acordo com a regulamentação do habilitado no mínimo há 1 (um) ano na categoria B e não ter come-
Contran. (Incluído pela Lei nº 12.009, de 2009) tido mais de uma infração gravíssima nos últimos 12 (doze) meses.
§ 2o É proibido o transporte de combustíveis, produtos infla- (Redação dada pela Lei nº 14.440, de 2022)
máveis ou tóxicos e de galões nos veículos de que trata este artigo, § 2o São os condutores da categoria B autorizados a conduzir
com exceção do gás de cozinha e de galões contendo água mineral, veículo automotor da espécie motor-casa, definida nos termos do
desde que com o auxílio de side-car, nos termos de regulamenta- Anexo I deste Código, cujo peso não exceda a 6.000 kg (seis mil qui-
ção do Contran. (Incluído pela Lei nº 12.009, de 2009) logramas), ou cuja lotação não exceda a 8 (oito) lugares, excluído o
Art. 139-B. O disposto neste Capítulo não exclui a competência do motorista. (Incluído pela Lei nº 12.452, de 2011)
municipal ou estadual de aplicar as exigências previstas em seus § 3º Aplica-se o disposto no inciso V ao condutor da combina-
regulamentos para as atividades de moto-frete no âmbito de suas ção de veículos com mais de uma unidade tracionada, independen-
circunscrições. (Incluído pela Lei nº 12.009, de 2009) temente da capacidade de tração ou do peso bruto total. (Renume-
rado pela Lei nº 12.452, de 2011)
CAPÍTULO XIV § 4º Respeitada a capacidade máxima de tração da unidade
DA HABILITAÇÃO tratora, os condutores das categorias B, C e D podem conduzir com-
binação de veículos cuja unidade tratora se enquadre na respectiva
Art. 140. A habilitação para conduzir veículo automotor e elé- categoria de habilitação e cuja unidade acoplada, reboque, semirre-
trico será apurada por meio de exames que deverão ser realizados boque, trailer ou articulada tenha menos de 6.000 kg (seis mil qui-
junto ao órgão ou entidade executivos do Estado ou do Distrito Fe- logramas) de peso bruto total, e cuja lotação não exceda a 8 (oito)
deral, do domicílio ou residência do candidato, ou na sede estadu- lugares. (Incluído pela Lei nº 14.440, de 2022)
al ou distrital do próprio órgão, devendo o condutor preencher os Art. 144. O trator de roda, o trator de esteira, o trator misto
seguintes requisitos: ou o equipamento automotor destinado à movimentação de cargas
I - ser penalmente imputável; ou execução de trabalho agrícola, de terraplenagem, de construção
II - saber ler e escrever; ou de pavimentação só podem ser conduzidos na via pública por
III - possuir Carteira de Identidade ou equivalente. condutor habilitado nas categorias C, D ou E.
Parágrafo único. As informações do candidato à habilitação se- Parágrafo único. O trator de roda e os equipamentos automo-
rão cadastradas no RENACH. tores destinados a executar trabalhos agrícolas poderão ser condu-
Art. 141. O processo de habilitação, as normas relativas à zidos em via pública também por condutor habilitado na categoria
aprendizagem para conduzir veículos automotores e elétricos e à B. (Redação dada pela Lei nº 13.097, de 2015)
autorização para conduzir ciclomotores serão regulamentados pelo Art. 145. Para habilitar-se nas categorias D e E ou para condu-
CONTRAN. zir veículo de transporte coletivo de passageiros, de escolares, de
§ 1º A autorização para conduzir veículos de propulsão huma- emergência ou de produto perigoso, o candidato deverá preencher
na e de tração animal ficará a cargo dos Municípios. os seguintes requisitos:
§ 2º (VETADO) I - ser maior de vinte e um anos;
II - estar habilitado:

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a) no mínimo há dois anos na categoria B, ou no mínimo há um § 5o O condutor que exerce atividade remunerada ao veículo
ano na categoria C, quando pretender habilitar-se na categoria D; e terá essa informação incluída na sua Carteira Nacional de Habili-
b) no mínimo há um ano na categoria C, quando pretender ha- tação, conforme especificações do Conselho Nacional de Trânsito
bilitar-se na categoria E; – Contran. (Incluído pela Lei nº 10.350, de 2001)
III - não ter cometido mais de uma infração gravíssima nos últi- § 6º Os exames de aptidão física e mental e a avaliação psi-
mos 12 (doze) meses; cológica deverão ser analisados objetivamente pelos examinados,
IV - ser aprovado em curso especializado e em curso de trei- limitados aos aspectos técnicos dos procedimentos realizados, con-
namento de prática veicular em situação de risco, nos termos da forme regulamentação do Contran, e subsidiarão a fiscalização pre-
normatização do CONTRAN. vista no § 7º deste artigo.
Parágrafo único. A participação em curso especializado previs- § 7º Os órgãos ou entidades executivos de trânsito dos Estados
to no inciso IV independe da observância do disposto no inciso III. e do Distrito Federal, com a colaboração dos conselhos profissio-
(Incluído pela Lei nº 12.619, de 2012) (Vigência) nais de medicina e psicologia, deverão fiscalizar as entidades e os
§ 2o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.154, de 2015) profissionais responsáveis pelos exames de aptidão física e mental
Art. 145-A. Além do disposto no art. 145, para conduzir ambu- e pela avaliação psicológica no mínimo 1 (uma) vez por ano.” (NR)
lâncias, o candidato deverá comprovar treinamento especializado e Art. 147-A. Ao candidato com deficiência auditiva é assegurada
reciclagem em cursos específicos a cada 5 (cinco) anos, nos termos acessibilidade de comunicação, mediante emprego de tecnologias
da normatização do Contran. (Incluído pela Lei nº 12.998, de 2014) assistivas ou de ajudas técnicas em todas as etapas do processo de
Art. 146. Para conduzir veículos de outra categoria o condutor habilitação. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
deverá realizar exames complementares exigidos para habilitação § 1o O material didático audiovisual utilizado em aulas teóricas
na categoria pretendida. dos cursos que precedem os exames previstos no art. 147 desta
Art. 147. O candidato à habilitação deverá submeter-se a exa- Lei deve ser acessível, por meio de subtitulação com legenda ocul-
mes realizados pelo órgão executivo de trânsito, na ordem descrita ta associada à tradução simultânea em Libras. (Incluído pela Lei nº
a seguir, e os exames de aptidão física e mental e a avaliação psi- 13.146, de 2015) (Vigência)
cológica deverão ser realizados por médicos e psicólogos peritos § 2o É assegurado também ao candidato com deficiência audi-
examinadores, respectivamente, com titulação de especialista em tiva requerer, no ato de sua inscrição, os serviços de intérprete da
medicina do tráfego e em psicologia do trânsito, conferida pelo res- Libras, para acompanhamento em aulas práticas e teóricas. (Incluí-
pectivo conselho profissional, conforme regulamentação do Con- do pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
tran:“ (Parte promulgada pelo Congresso Nacional) Art. 148. Os exames de habilitação, exceto os de direção veicu-
I - de aptidão física e mental; lar, poderão ser aplicados por entidades públicas ou privadas cre-
II - (VETADO) denciadas pelo órgão executivo de trânsito dos Estados e do Distri-
III - escrito, sobre legislação de trânsito; to Federal, de acordo com as normas estabelecidas pelo CONTRAN.
IV - de noções de primeiros socorros, conforme regulamenta- § 1º A formação de condutores deverá incluir, obrigatoriamen-
ção do CONTRAN; te, curso de direção defensiva e de conceitos básicos de proteção
V - de direção veicular, realizado na via pública, em veículo da ao meio ambiente relacionados com o trânsito.
categoria para a qual estiver habilitando-se. § 2º Ao candidato aprovado será conferida Permissão para Di-
§ 1º Os resultados dos exames e a identificação dos respectivos rigir, com validade de um ano.
examinadores serão registrados no RENACH. (Renumerado do pa- § 3º A Carteira Nacional de Habilitação será conferida ao con-
rágrafo único, pela Lei nº 9.602, de 1998) dutor no término de um ano, desde que o mesmo não tenha co-
§ 2º O exame de aptidão física e mental, a ser realizado no local metido nenhuma infração de natureza grave ou gravíssima ou seja
de residência ou domicílio do examinado, será preliminar e renová- reincidente em infração média.
vel com a seguinte periodicidade: § 4º A não obtenção da Carteira Nacional de Habilitação, tendo
I - a cada 10 (dez) anos, para condutores com idade inferior a em vista a incapacidade de atendimento do disposto no parágrafo
50 (cinquenta) anos; anterior, obriga o candidato a reiniciar todo o processo de habili-
II - a cada 5 (cinco) anos, para condutores com idade igual ou tação.
superior a 50 (cinquenta) anos e inferior a 70 (setenta) anos; § 5º O Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN poderá dis-
III - a cada 3 (três) anos, para condutores com idade igual ou pensar os tripulantes de aeronaves que apresentarem o cartão de
superior a 70 (setenta) anos. saúde expedido pelas Forças Armadas ou pelo Departamento de
§ 3o O exame previsto no § 2o incluirá avaliação psicológica Aeronáutica Civil, respectivamente, da prestação do exame de apti-
preliminar e complementar sempre que a ele se submeter o condu- dão física e mental. (Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998)
tor que exerce atividade remunerada ao veículo, incluindo-se esta Art. 148-A. Os condutores das categorias C, D e E deverão com-
avaliação para os demais candidatos apenas no exame referente à provar resultado negativo em exame toxicológico para a obtenção
primeira habilitação. (Redação dada pela Lei nº 10.350, de 2001) e a renovação da Carteira Nacional de Habilitação.
§ 4º Quando houver indícios de deficiência física ou mental, § 1o O exame de que trata este artigo buscará aferir o consumo
ou de progressividade de doença que possa diminuir a capacidade de substâncias psicoativas que, comprovadamente, comprometam
para conduzir o veículo, os prazos previstos nos incisos I, II e III do a capacidade de direção e deverá ter janela de detecção mínima
§ 2º deste artigo poderão ser diminuídos por proposta do perito de 90 (noventa) dias, nos termos das normas do Contran. (Incluído
examinador. pela Lei nº 13.103, de 2015) (Vigência)
§ 2º Além da realização do exame previsto no caput deste ar-
tigo, os condutores das categorias C, D e E com idade inferior a 70
(setenta) anos serão submetidos a novo exame a cada período de

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

2 (dois) anos e 6 (seis) meses, a partir da obtenção ou renovação § 3º O militar, o policial ou o bombeiro militar interessado na
da Carteira Nacional de Habilitação, independentemente da valida- dispensa de que trata o § 2º instruirá seu requerimento com ofício
de dos demais exames de que trata o inciso I do caput do art. 147 do comandante, chefe ou diretor da unidade administrativa onde
deste Código. prestar serviço, do qual constarão o número do registro de identi-
§ 3º (Revogado). ficação, naturalidade, nome, filiação, idade e categoria em que se
§ 4º É garantido o direito de contraprova e de recurso adminis- habilitou a conduzir, acompanhado de cópia das atas dos exames
trativo, sem efeito suspensivo, no caso de resultado positivo para prestados. (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
os exames de que trata este artigo, nos termos das normas do Con- § 4º (VETADO)
tran. Art. 153. O candidato habilitado terá em seu prontuário a iden-
§ 5º O resultado positivo no exame previsto no § 2º deste ar- tificação de seus instrutores e examinadores, que serão passíveis
tigo acarretará a suspensão do direito de dirigir pelo período de 3 de punição conforme regulamentação a ser estabelecida pelo CON-
(três) meses, condicionado o levantamento da suspensão à inclu- TRAN.
são, no Renach, de resultado negativo em novo exame, e vedada a Parágrafo único. As penalidades aplicadas aos instrutores e
aplicação de outras penalidades, ainda que acessórias. examinadores serão de advertência, suspensão e cancelamento da
§ 6o O resultado do exame somente será divulgado para o inte- autorização para o exercício da atividade, conforme a falta come-
ressado e não poderá ser utilizado para fins estranhos ao disposto tida.
neste artigo ou no § 6o do art. 168 da Consolidação das Leis do Art. 154. Os veículos destinados à formação de condutores se-
Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio rão identificados por uma faixa amarela, de vinte centímetros de
de 1943. (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015) (Vigência) largura, pintada ao longo da carroçaria, à meia altura, com a inscri-
§ 7º O exame será realizado, em regime de livre concorrência, ção AUTO-ESCOLA na cor preta.
pelos laboratórios credenciados pelo órgão máximo executivo de Parágrafo único. No veículo eventualmente utilizado para
trânsito da União, nos termos das normas do Contran, vedado aos aprendizagem, quando autorizado para servir a esse fim, deverá
entes públicos: (Redação dada pela Lei nº 14.440, de 2022) ser afixada ao longo de sua carroçaria, à meia altura, faixa branca
I - fixar preços para os exames; (Incluído pela Lei nº 13.103, de removível, de vinte centímetros de largura, com a inscrição AUTO-
2015) (Vigência) -ESCOLA na cor preta.
II - limitar o número de empresas ou o número de locais em Art. 155. A formação de condutor de veículo automotor e elé-
que a atividade pode ser exercida; e (Incluído pela Lei nº 13.103, de trico será realizada por instrutor autorizado pelo órgão executivo
2015) (Vigência) de trânsito dos Estados ou do Distrito Federal, pertencente ou não
III - estabelecer regras de exclusividade territorial. (Incluído à entidade credenciada.
pela Lei nº 13.103, de 2015) (Vigência) Parágrafo único. Ao aprendiz será expedida autorização para
Art. 149. (VETADO) aprendizagem, de acordo com a regulamentação do CONTRAN,
Art. 150. Ao renovar os exames previstos no artigo anterior, após aprovação nos exames de aptidão física, mental, de primeiros
o condutor que não tenha curso de direção defensiva e primeiros socorros e sobre legislação de trânsito. (Incluído pela Lei nº 9.602,
socorros deverá a eles ser submetido, conforme normatização do de 1998)
CONTRAN. Art. 156. O CONTRAN regulamentará o credenciamento para
Parágrafo único. A empresa que utiliza condutores contratados prestação de serviço pelas auto-escolas e outras entidades desti-
para operar a sua frota de veículos é obrigada a fornecer curso de nadas à formação de condutores e às exigências necessárias para o
direção defensiva, primeiros socorros e outros conforme normati- exercício das atividades de instrutor e examinador.
zação do CONTRAN. Art. 157. (VETADO)
Art. 151. No caso de reprovação no exame escrito sobre le- Art. 158. A aprendizagem só poderá realizar-se: (Vide Lei nº
gislação de trânsito ou de direção veicular, o candidato só poderá 12.217, de 2010) Vigência
repetir o exame depois de decorridos quinze dias da divulgação do I - nos termos, horários e locais estabelecidos pelo órgão exe-
resultado. cutivo de trânsito;
Art. 152. O exame de direção veicular será realizado perante II - acompanhado o aprendiz por instrutor autorizado.
comissão integrada por 3 (três) membros designados pelo dirigen- § 1º Além do aprendiz e do instrutor, o veículo utilizado na
te do órgão executivo local de trânsito. (Redação dada pela Lei nº aprendizagem poderá conduzir apenas mais um acompanhante.
13.281, de 2016) (Vigência) (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 12.217, de 2010).
§ 1º Na comissão de exame de direção veicular, pelo menos § 2o (Revogado pela Lei nº 14.071, de 2020) (Vigência).
um membro deverá ser habilitado na categoria igual ou superior à Art. 159. A Carteira Nacional de Habilitação, expedida em meio
pretendida pelo candidato. físico e digital, de acordo com as especificações do Contran, aten-
§ 2º Os militares das Forças Armadas e os policiais e bombei- didos os pré-requisitos estabelecidos neste Código, conterá foto-
ros dos órgãos de segurança pública da União, dos Estados e do grafia, identificação e número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Distrito Federal que possuírem curso de formação de condutor mi- Físicas (CPF) do condutor, terá fé pública e equivalerá a documento
nistrado em suas corporações serão dispensados, para a concessão de identidade em todo o território nacional. (Redação dada pela Lei
do documento de habilitação, dos exames aos quais se houverem nº 14.440, de 2022)
submetido com aprovação naquele curso, desde que neles sejam § 1º É obrigatório o porte da Permissão para Dirigir ou da Car-
observadas as normas estabelecidas pelo Contran. (Redação dada teira Nacional de Habilitação quando o condutor estiver à direção
pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) do veículo.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 1º-A O porte do documento de habilitação será dispensa- Medida administrativa - retenção do veículo até a apresenta-
do quando, no momento da fiscalização, for possível ter acesso ao ção de condutor habilitado; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016)
sistema informatizado para verificar se o condutor está habilitado. (Vigência)
(Incluído pela Lei nº 14.071, de 2020) (Vigência) II - com Carteira Nacional de Habilitação, Permissão para Diri-
§ 2º (VETADO) gir ou Autorização para Conduzir Ciclomotor cassada ou com sus-
§ 3º A emissão de nova via da Carteira Nacional de Habilitação pensão do direito de dirigir: (Redação dada pela Lei nº 13.281, de
será regulamentada pelo CONTRAN. 2016) (Vigência)
§ 4º (VETADO) Infração - gravíssima; (Redação dada pela Lei nº 13.281, de
§ 5º A Carteira Nacional de Habilitação e a Permissão para Di- 2016) (Vigência)
rigir somente terão validade para a condução de veículo quando Penalidade - multa (três vezes); (Redação dada pela Lei nº
apresentada em original. 13.281, de 2016) (Vigência)
§ 6º A identificação da Carteira Nacional de Habilitação expe- Medida administrativa - recolhimento do documento de habili-
dida e a da autoridade expedidora serão registradas no RENACH. tação e retenção do veículo até a apresentação de condutor habili-
§ 7º A cada condutor corresponderá um único registro no RE- tado; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
NACH, agregando-se neste todas as informações. III - com Carteira Nacional de Habilitação ou Permissão para
§ 8º A renovação da validade da Carteira Nacional de Habili- Dirigir de categoria diferente da do veículo que esteja conduzindo:
tação ou a emissão de uma nova via somente será realizada após (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
quitação de débitos constantes do prontuário do condutor. Infração - gravíssima; (Redação dada pela Lei nº 13.281, de
§ 9º (VETADO) 2016) (Vigência)
§ 10. A validade da Carteira Nacional de Habilitação está condi- Penalidade - multa (duas vezes); (Redação dada pela Lei nº
cionada ao prazo de vigência do exame de aptidão física e mental. 13.281, de 2016) (Vigência)
(Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998) Medida administrativa - retenção do veículo até a apresenta-
§ 11. (Revogado). ção de condutor habilitado; (Redação dada pela Lei nº 13.281, de
§ 12. Os órgãos ou entidades executivos de trânsito dos Estados 2016) (Vigência)
e do Distrito Federal enviarão por meio eletrônico, com 30 (trinta) IV - (VETADO)
dias de antecedência, aviso de vencimento da validade da Cartei- V - com Carteira Nacional de Habilitação vencida há mais de 30
ra Nacional de Habilitação a todos os condutores cadastrados no (trinta) dias: (Redação dada pela Lei nº 14.440, de 2022)
Renach com endereço na respectiva unidade da Federação.” (NR) Infração - gravíssima; (Redação dada pela Lei nº 14.440, de
Art. 160. O condutor condenado por delito de trânsito deverá 2022)
ser submetido a novos exames para que possa voltar a dirigir, de Penalidade - multa; (Redação dada pela Lei nº 14.440, de 2022)
acordo com as normas estabelecidas pelo CONTRAN, independen- Medida administrativa - retenção do veículo até a apresentação
temente do reconhecimento da prescrição, em face da pena con- de condutor habilitado; (Redação dada pela Lei nº 14.440, de 2022)
cretizada na sentença. VI - sem usar lentes corretoras de visão, aparelho auxiliar de
§ 1º Em caso de acidente grave, o condutor nele envolvido po- audição, de prótese física ou as adaptações do veículo impostas por
derá ser submetido aos exames exigidos neste artigo, a juízo da au- ocasião da concessão ou da renovação da licença para conduzir:
toridade executiva estadual de trânsito, assegurada ampla defesa Infração - gravíssima;
ao condutor. Penalidade - multa;
§ 2º No caso do parágrafo anterior, a autoridade executiva es- Medida administrativa - retenção do veículo até o saneamento
tadual de trânsito poderá apreender o documento de habilitação da irregularidade ou apresentação de condutor habilitado.
do condutor até a sua aprovação nos exames realizados. VII - sem possuir os cursos especializados ou específicos obriga-
tórios: (Incluído dada pela Lei nº 14.440, de 2022)
CAPÍTULO XV Infração - gravíssima; (Incluído dada pela Lei nº 14.440, de
DAS INFRAÇÕES 2022)
Penalidade - multa; (Incluído dada pela Lei nº 14.440, de 2022)
Art. 161. Constitui infração de trânsito a inobservância de Medida administrativa - retenção do veículo até a apresenta-
qualquer preceito deste Código ou da legislação complementar, e ção de condutor habilitado. (Incluído dad
o infrator sujeita-se às penalidades e às medidas administrativas Art. 163. Entregar a direção do veículo a pessoa nas condições
indicadas em cada artigo deste Capítulo e às punições previstas no previstas no artigo anterior:
Capítulo XIX deste Código Infração - as mesmas previstas no artigo anterior;
Parágrafo único. (Revogado).” (NR) Penalidade - as mesmas previstas no artigo anterior;
Art. 162. Dirigir veículo: Medida administrativa - a mesma prevista no inciso III do artigo
I - sem possuir Carteira Nacional de Habilitação, Permissão anterior.
para Dirigir ou Autorização para Conduzir Ciclomotor: (Redação Art. 164. Permitir que pessoa nas condições referidas nos inci-
dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) sos do art. 162 tome posse do veículo automotor e passe a condu-
Infração - gravíssima; (Redação dada pela Lei nº 13.281, de zi-lo na via:
2016) (Vigência) Infração - as mesmas previstas nos incisos do art. 162;
Penalidade - multa (três vezes); (Redação dada pela Lei nº Penalidade - as mesmas previstas no art. 162;
13.281, de 2016) (Vigência) Medida administrativa - a mesma prevista no inciso III do art.
162.

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra Art. 169. Dirigir sem atenção ou sem os cuidados indispensá-
substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada veis à segurança:
pela Lei nº 11.705, de 2008) Infração - leve;
Infração - gravíssima; (Redação dada pela Lei nº 11.705, de Penalidade - multa.
2008) Art. 170. Dirigir ameaçando os pedestres que estejam atraves-
Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir sando a via pública, ou os demais veículos:
por 12 (doze) meses. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012) Infração - gravíssima;
Medida administrativa - recolhimento do documento de habi- Penalidade - multa e suspensão do direito de dirigir;
litação e retenção do veículo, observado o disposto no § 4o do art. Medida administrativa - retenção do veículo e recolhimento do
270 da Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997 - do Código de documento de habilitação.
Trânsito Brasileiro. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012) Art. 171. Usar o veículo para arremessar, sobre os pedestres ou
Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no caput veículos, água ou detritos:
em caso de reincidência no período de até 12 (doze) meses. (Reda- Infração - média;
ção dada pela Lei nº 12.760, de 2012) Penalidade - multa.
Art. 165-A. Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, Art. 172. Atirar do veículo ou abandonar na via objetos ou
perícia ou outro procedimento que permita certificar influência de substâncias:
álcool ou outra substância psicoativa, na forma estabelecida pelo Infração - média;
art. 277: (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) Penalidade - multa.
Infração - gravíssima; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vi- Art. 173. Disputar corrida: (Redação dada pela Lei nº 12.971,
gência) de 2014) (Vigência)
Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir Infração - gravíssima;
por 12 (doze) meses; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigên- Penalidade - multa (dez vezes), suspensão do direito de dirigir
cia) e apreensão do veículo; (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014)
Medida administrativa - recolhimento do documento de habi- (Vigência)
litação e retenção do veículo, observado o disposto no § 4º do art. Medida administrativa - recolhimento do documento de habili-
270. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) tação e remoção do veículo.
Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no caput Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no caput
em caso de reincidência no período de até 12 (doze) meses (Incluí- em caso de reincidência no período de 12 (doze) meses da infração
do pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) anterior. (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
“Art. 165-B. Conduzir veículo para o qual seja exigida habili- Art. 174. Promover, na via, competição, eventos organizados,
tação nas categorias C, D ou E sem realizar o exame toxicológico exibição e demonstração de perícia em manobra de veículo, ou
previsto no § 2º do art. 148-A deste Código, após 30 (trinta) dias do deles participar, como condutor, sem permissão da autoridade de
vencimento do prazo estabelecido: trânsito com circunscrição sobre a via: (Redação dada pela Lei nº
Infração - gravíssima; 12.971, de 2014) (Vigência)
Penalidade - multa (cinco vezes) e suspensão do direito de diri- Infração - gravíssima;
gir por 3 (três) meses, condicionado o levantamento da suspensão Penalidade - multa (dez vezes), suspensão do direito de dirigir
à inclusão no Renach de resultado negativo em novo exame. e apreensão do veículo; (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014)
Parágrafo único. Incorre na mesma penalidade o condutor que (Vigência)
exerce atividade remunerada ao veículo e não comprova a realiza- Medida administrativa - recolhimento do documento de habili-
ção de exame toxicológico periódico exigido pelo § 2º do art. 148-A tação e remoção do veículo.
deste Código por ocasião da renovação do documento de habilita- § 1o As penalidades são aplicáveis aos promotores e aos con-
ção nas categorias C, D ou E. dutores participantes. (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigên-
Art. 166. Confiar ou entregar a direção de veículo a pessoa que, cia)
mesmo habilitada, por seu estado físico ou psíquico, não estiver em § 2o Aplica-se em dobro a multa prevista no caput em caso de
condições de dirigi-lo com segurança: reincidência no período de 12 (doze) meses da infração anterior.
Infração - gravíssima; Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
Penalidade - multa. Art. 175. Utilizar-se de veículo para demonstrar ou exibir ma-
Art. 167. Deixar o condutor ou passageiro de usar o cinto de nobra perigosa, mediante arrancada brusca, derrapagem ou frena-
segurança, conforme previsto no art. 65: gem com deslizamento ou arrastamento de pneus: (Redação dada
Infração - grave; pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
Penalidade - multa; Infração - gravíssima;
Medida administrativa - retenção do veículo até colocação do
cinto pelo infrator. Penalidade - multa (dez vezes), suspensão do direito de dirigir
Art. 168. Transportar crianças em veículo automotor sem ob- e apreensão do veículo; (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014)
servância das normas de segurança especiais estabelecidas neste (Vigência)
Código: Medida administrativa - recolhimento do documento de habili-
Infração - gravíssima; tação e remoção do veículo.
Penalidade - multa; Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no caput
Medida administrativa - retenção do veículo até que a irregu- em caso de reincidência no período de 12 (doze) meses da infração
laridade seja sanada. anterior. (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 176. Deixar o condutor envolvido em acidente com vítima: Medida administrativa - remoção do veículo;
I - de prestar ou providenciar socorro à vítima, podendo fazê- V - na pista de rolamento das estradas, das rodovias, das vias
-lo; de trânsito rápido e das vias dotadas de acostamento:
II - de adotar providências, podendo fazê-lo, no sentido de evi- Infração - gravíssima;
tar perigo para o trânsito no local; Penalidade - multa;
III - de preservar o local, de forma a facilitar os trabalhos da Medida administrativa - remoção do veículo;
polícia e da perícia; VI - junto ou sobre hidrantes de incêndio, registro de água ou
IV - de adotar providências para remover o veículo do local, tampas de poços de visita de galerias subterrâneas, desde que devi-
quando determinadas por policial ou agente da autoridade de trân- damente identificados, conforme especificação do CONTRAN:
sito; Infração - média;
V - de identificar-se ao policial e de lhe prestar informações Penalidade - multa;
necessárias à confecção do boletim de ocorrência: Medida administrativa - remoção do veículo;
Infração - gravíssima; VII - nos acostamentos, salvo motivo de força maior:
Penalidade - multa (cinco vezes) e suspensão do direito de di- Infração - leve;
rigir; Penalidade - multa;
Medida administrativa - recolhimento do documento de habi- Medida administrativa - remoção do veículo;
litação. VIII - no passeio ou sobre faixa destinada a pedestre, sobre ci-
Art. 177. Deixar o condutor de prestar socorro à vítima de aci- clovia ou ciclofaixa, bem como nas ilhas, refúgios, ao lado ou sobre
dente de trânsito quando solicitado pela autoridade e seus agentes: canteiros centrais, divisores de pista de rolamento, marcas de cana-
Infração - grave; lização, gramados ou jardim público:
Penalidade - multa. Infração - grave;
Art. 178. Deixar o condutor, envolvido em acidente sem víti- Penalidade - multa;
ma, de adotar providências para remover o veículo do local, quan- Medida administrativa - remoção do veículo;
do necessária tal medida para assegurar a segurança e a fluidez do IX - onde houver guia de calçada (meio-fio) rebaixada destina-
trânsito: da à entrada ou saída de veículos:
Infração - média; Infração - média;
Penalidade - multa. Penalidade - multa;
Art. 179. Fazer ou deixar que se faça reparo em veículo na via Medida administrativa - remoção do veículo;
pública, salvo nos casos de impedimento absoluto de sua remoção X - impedindo a movimentação de outro veículo:
e em que o veículo esteja devidamente sinalizado: Infração - média;
I - em pista de rolamento de rodovias e vias de trânsito rápido: Penalidade - multa;
Infração - grave; Medida administrativa - remoção do veículo;
Penalidade - multa; XI - ao lado de outro veículo em fila dupla:
Medida administrativa - remoção do veículo; Infração - grave;
II - nas demais vias: Penalidade - multa;
Infração - leve; Medida administrativa - remoção do veículo;
Penalidade - multa. XII - na área de cruzamento de vias, prejudicando a circulação
Art. 180. Ter seu veículo imobilizado na via por falta de com- de veículos e pedestres:
bustível: Infração - grave;
Infração - média; Penalidade - multa;
Penalidade - multa; Medida administrativa - remoção do veículo;
Medida administrativa - remoção do veículo. XIII - onde houver sinalização horizontal delimitadora de ponto
Art. 181. Estacionar o veículo: de embarque ou desembarque de passageiros de transporte coleti-
I - nas esquinas e a menos de cinco metros do bordo do alinha- vo ou, na inexistência desta sinalização, no intervalo compreendido
mento da via transversal: entre dez metros antes e depois do marco do ponto:
Infração - média; Infração - média;
Penalidade - multa; Penalidade - multa;
Medida administrativa - remoção do veículo; Medida administrativa - remoção do veículo;
II - afastado da guia da calçada (meio-fio) de cinqüenta centí- XIV - nos viadutos, pontes e túneis:
metros a um metro: Infração - grave;
Infração - leve; Penalidade - multa;
Penalidade - multa; Medida administrativa - remoção do veículo;
Medida administrativa - remoção do veículo; XV - na contramão de direção:
III - afastado da guia da calçada (meio-fio) a mais de um metro: Infração - média;
Infração - grave; Penalidade - multa;
Penalidade - multa; XVI - em aclive ou declive, não estando devidamente freado
Medida administrativa - remoção do veículo; e sem calço de segurança, quando se tratar de veículo com peso
IV - em desacordo com as posições estabelecidas neste Código: bruto total superior a três mil e quinhentos quilogramas:
Infração - média; Infração - grave;
Penalidade - multa; Penalidade - multa;

272
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Medida administrativa - remoção do veículo; VIII - nos viadutos, pontes e túneis:


XVII - em desacordo com as condições regulamentadas espe- Infração - média;
cificamente pela sinalização (placa - Estacionamento Regulamen- Penalidade - multa;
tado): IX - na contramão de direção:
Infração - grave; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) Infração - média;
(Vigência) Penalidade - multa;
Penalidade - multa; X - em local e horário proibidos especificamente pela sinaliza-
Medida administrativa - remoção do veículo; ção (placa - Proibido Parar):
XVIII - em locais e horários proibidos especificamente pela si- Infração - média;
nalização (placa - Proibido Estacionar): Penalidade - multa.
Infração - média; XI - sobre ciclovia ou ciclofaixa:
Penalidade - multa; Infração - grave;
Medida administrativa - remoção do veículo; Penalidade - multa.” (NR)
XIX - em locais e horários de estacionamento e parada proibi- Art. 183. Parar o veículo sobre a faixa de pedestres na mudança
dos pela sinalização (placa - Proibido Parar e Estacionar): de sinal luminoso:
Infração - grave; Infração - média;
Penalidade - multa; Penalidade - multa.
Medida administrativa - remoção do veículo. Art. 184. Transitar com o veículo:
XX - nas vagas reservadas às pessoas com deficiência ou ido- I - na faixa ou pista da direita, regulamentada como de circula-
sos, sem credencial que comprove tal condição: (Incluído pela Lei ção exclusiva para determinado tipo de veículo, exceto para acesso
nº 13.281, de 2016) (Vigência) a imóveis lindeiros ou conversões à direita:
Infração - gravíssima; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vi- Infração - leve;
gência) Penalidade - multa;
Penalidade - multa; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vi- II - na faixa ou pista da esquerda regulamentada como de circu-
gência) lação exclusiva para determinado tipo de veículo:
Medida administrativa - remoção do veículo. (Incluído pela Lei Infração - grave;
nº 13.281, de 2016) (Vigência) Penalidade - multa.
§ 1º Nos casos previstos neste artigo, a autoridade de trânsito III - na faixa ou via de trânsito exclusivo, regulamentada com
aplicará a penalidade preferencialmente após a remoção do veí- circulação destinada aos veículos de transporte público coletivo de
culo. passageiros, salvo casos de força maior e com autorização do poder
§ 2º No caso previsto no inciso XVI é proibido abandonar o cal- público competente: (Incluído pela Lei nº 13.154, de 2015)
ço de segurança na via. Infração - gravíssima; (Incluído pela Lei nº 13.154, de 2015)
Art. 182. Parar o veículo: Penalidade - multa e apreensão do veículo; (Incluído pela Lei
I - nas esquinas e a menos de cinco metros do bordo do alinha- nº 13.154, de 2015)
mento da via transversal: Medida Administrativa - remoção do veículo. (Incluído pela Lei
Infração - média; nº 13.154, de 2015)
Penalidade - multa; Art. 185. Quando o veículo estiver em movimento, deixar de
II - afastado da guia da calçada (meio-fio) de cinqüenta centí- conservá-lo:
metros a um metro: I - na faixa a ele destinada pela sinalização de regulamentação,
Infração - leve; exceto em situações de emergência;
Penalidade - multa; II - nas faixas da direita, os veículos lentos e de maior porte:
III - afastado da guia da calçada (meio-fio) a mais de um metro: Infração - média;
Infração - média; Penalidade - multa.
Penalidade - multa; Art. 186. Transitar pela contramão de direção em:
IV - em desacordo com as posições estabelecidas neste Código: I - vias com duplo sentido de circulação, exceto para ultrapas-
Infração - leve; sar outro veículo e apenas pelo tempo necessário, respeitada a pre-
Penalidade - multa; ferência do veículo que transitar em sentido contrário:
V - na pista de rolamento das estradas, das rodovias, das vias Infração - grave;
de trânsito rápido e das demais vias dotadas de acostamento: Penalidade - multa;
Infração - grave; II - vias com sinalização de regulamentação de sentido único
Penalidade - multa; de circulação:
VI - no passeio ou sobre faixa destinada a pedestres, nas ilhas, Infração - gravíssima;
refúgios, canteiros centrais e divisores de pista de rolamento e mar- Penalidade - multa.
cas de canalização: Art. 187. Transitar em locais e horários não permitidos pela re-
Infração - leve; gulamentação estabelecida pela autoridade competente:
Penalidade - multa; I - para todos os tipos de veículos:
VII - na área de cruzamento de vias, prejudicando a circulação Infração - média;
de veículos e pedestres: Penalidade - multa;
Infração - média; II - (Revogado pela Lei nº 9.602, de 1998)
Penalidade - multa;

273
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 188. Transitar ao lado de outro veículo, interrompendo ou Art. 198. Deixar de dar passagem pela esquerda, quando soli-
perturbando o trânsito: citado:
Infração - média; Infração - média;
Penalidade - multa. Penalidade - multa.
Art. 189. Deixar de dar passagem aos veículos precedidos de Art. 199. Ultrapassar pela direita, salvo quando o veículo da
batedores, de socorro de incêndio e salvamento, de polícia, de ope- frente estiver colocado na faixa apropriada e der sinal de que vai
ração e fiscalização de trânsito e às ambulâncias, quando em servi- entrar à esquerda:
ço de urgência e devidamente identificados por dispositivos regu- Infração - média;
lamentados de alarme sonoro e iluminação intermitente: (Redação Penalidade - multa.
dada pela Lei nº 14.440, de 2022) Art. 200. Ultrapassar pela direita veículo de transporte coletivo
Infração - gravíssima; ou de escolares, parado para embarque ou desembarque de passa-
Penalidade - multa. geiros, salvo quando houver refúgio de segurança para o pedestre:
Art. 190. Seguir veículo em serviço de urgência, estando este Infração - gravíssima;
com prioridade de passagem devidamente identificada por disposi- Penalidade - multa.
tivos regulamentares de alarme sonoro e iluminação intermitente: Art. 201. Deixar de guardar a distância lateral de um metro e
(Redação dada pela Lei nº 14.440, de 2022) cinquenta centímetros ao passar ou ultrapassar bicicleta:
Infração - grave; Infração - média;
Penalidade - multa. Penalidade - multa.
Art. 191. Forçar passagem entre veículos que, transitando em Art. 202. Ultrapassar outro veículo:
sentidos opostos, estejam na iminência de passar um pelo outro ao I - pelo acostamento;
realizar operação de ultrapassagem: II - em interseções e passagens de nível;
Infração - gravíssima; Infração - gravíssima; (Redação dada pela Lei nº 12.971, de
Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de diri- 2014) (Vigência)
gir. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) Penalidade - multa (cinco vezes). (Redação dada pela Lei nº
Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no caput 12.971, de 2014) (Vigência)
em caso de reincidência no período de até 12 (doze) meses da infra- Art. 203. Ultrapassar pela contramão outro veículo:
ção anterior. (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) I - nas curvas, aclives e declives, sem visibilidade suficiente;
Art. 192. Deixar de guardar distância de segurança lateral e II - nas faixas de pedestre;
frontal entre o seu veículo e os demais, bem como em relação ao III - nas pontes, viadutos ou túneis;
bordo da pista, considerando-se, no momento, a velocidade, as IV - parado em fila junto a sinais luminosos, porteiras, cancelas,
condições climáticas do local da circulação e do veículo: cruzamentos ou qualquer outro impedimento à livre circulação;
Infração - grave; V - onde houver marcação viária longitudinal de divisão de flu-
Penalidade - multa. xos opostos do tipo linha dupla contínua ou simples contínua ama-
Art. 193. Transitar com o veículo em calçadas, passeios, pas- rela:
sarelas, ciclovias, ciclofaixas, ilhas, refúgios, ajardinamentos, can- Infração - gravíssima; (Redação dada pela Lei nº 12.971, de
teiros centrais e divisores de pista de rolamento, acostamentos, 2014) (Vigência)
marcas de canalização, gramados e jardins públicos: Penalidade - multa (cinco vezes). (Redação dada pela Lei nº
Infração - gravíssima; 12.971, de 2014) (Vigência)
Penalidade - multa (três vezes). Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no caput
Art. 194. Transitar em marcha à ré, salvo na distância neces- em caso de reincidência no período de até 12 (doze) meses da infra-
sária a pequenas manobras e de forma a não causar riscos à segu- ção anterior. (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
rança: Art. 204. Deixar de parar o veículo no acostamento à direita,
Infração - grave; para aguardar a oportunidade de cruzar a pista ou entrar à esquer-
Penalidade - multa. da, onde não houver local apropriado para operação de retorno:
Art. 195. Desobedecer às ordens emanadas da autoridade Infração - grave;
competente de trânsito ou de seus agentes: Penalidade - multa.
Infração - grave; Art. 205. Ultrapassar veículo em movimento que integre corte-
Penalidade - multa. jo, préstito, desfile e formações militares, salvo com autorização da
Art. 196. Deixar de indicar com antecedência, mediante gesto autoridade de trânsito ou de seus agentes:
regulamentar de braço ou luz indicadora de direção do veículo, o Infração - leve;
início da marcha, a realização da manobra de parar o veículo, a mu- Penalidade - multa.
dança de direção ou de faixa de circulação: Art. 206. Executar operação de retorno:
Infração - grave; I - em locais proibidos pela sinalização;
Penalidade - multa. II - nas curvas, aclives, declives, pontes, viadutos e túneis;
Art. 197. Deixar de deslocar, com antecedência, o veículo para III - passando por cima de calçada, passeio, ilhas, ajardinamen-
a faixa mais à esquerda ou mais à direita, dentro da respectiva mão to ou canteiros de divisões de pista de rolamento, refúgios e faixas
de direção, quando for manobrar para um desses lados: de pedestres e nas de veículos não motorizados;
Infração - média; IV - nas interseções, entrando na contramão de direção da via
Penalidade - multa. transversal;

274
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

V - com prejuízo da livre circulação ou da segurança, ainda que IV - quando houver iniciado a travessia mesmo que não haja
em locais permitidos: sinalização a ele destinada;
Infração - gravíssima; V - que esteja atravessando a via transversal para onde se di-
Penalidade - multa. rige o veículo:
Art. 207. Executar operação de conversão à direita ou à es- Infração - grave;
querda em locais proibidos pela sinalização: Penalidade - multa.
Infração - grave; Art. 215. Deixar de dar preferência de passagem:
Penalidade - multa. I - em interseção não sinalizada:
Art. 208. Avançar o sinal vermelho do semáforo ou o de para- a) a veículo que estiver circulando por rodovia ou rotatória;
da obrigatória, exceto onde houver sinalização que permita a livre b) a veículo que vier da direita;
conversão à direita prevista no art. 44-A deste Código II - nas interseções com sinalização de regulamentação de Dê
Infração - gravíssima; a Preferência:
Penalidade - multa. Infração - grave;
Art. 209. Transpor, sem autorização, bloqueio viário com ou Penalidade - multa.
sem sinalização ou dispositivos auxiliares, ou deixar de adentrar as Art. 216. Entrar ou sair de áreas lindeiras sem estar adequada-
áreas destinadas à pesagem de veículos: (Redação dada pela Lei nº mente posicionado para ingresso na via e sem as precauções com a
14.157, de 2021) segurança de pedestres e de outros veículos:
Infração - grave; Infração - média;
Penalidade - multa. Penalidade - multa.
Art. 209-A. Evadir-se da cobrança pelo uso de rodovias e vias Art. 217. Entrar ou sair de fila de veículos estacionados sem dar
urbanas para não efetuar o seu pagamento, ou deixar de efetuá-lo preferência de passagem a pedestres e a outros veículos:
na forma estabelecida: (Incluído pela Lei nº 14.157, de 2021) Infração - média;
Infração – grave; Penalidade - multa.
Penalidade – multa. Art. 218. Transitar em velocidade superior à máxima permitida
Art. 210. Transpor, sem autorização, bloqueio viário policial: para o local, medida por instrumento ou equipamento hábil, em
Infração - gravíssima; rodovias, vias de trânsito rápido, vias arteriais e demais vias: (Reda-
Penalidade - multa, apreensão do veículo e suspensão do di- ção dada pela Lei nº 11.334, de 2006)
reito de dirigir; I - quando a velocidade for superior à máxima em até 20% (vin-
Medida administrativa - remoção do veículo e recolhimento do te por cento): (Redação dada pela Lei nº 11.334, de 2006)
documento de habilitação. Infração - média; (Redação dada pela Lei nº 11.334, de 2006)
Art. 211. Ultrapassar veículos em fila, parados em razão de Penalidade - multa; (Redação dada pela Lei nº 11.334, de 2006)
sinal luminoso, cancela, bloqueio viário parcial ou qualquer outro II - quando a velocidade for superior à máxima em mais de 20%
obstáculo, com exceção dos veículos não motorizados: (vinte por cento) até 50% (cinquenta por cento): (Redação dada
Infração - grave; pela Lei nº 11.334, de 2006)
Penalidade - multa. Infração - grave; (Redação dada pela Lei nº 11.334, de 2006)
Parágrafo único. (VETADO).” (NR) Penalidade - multa; (Redação dada pela Lei nº 11.334, de 2006)
Art. 212. Deixar de parar o veículo antes de transpor linha fér- III - quando a velocidade for superior à máxima em mais de
rea: 50% (cinquenta por cento): (Incluído pela Lei nº 11.334, de 2006)
Infração - gravíssima; Infração - gravíssima;
Penalidade - multa. Penalidade - multa (três vezes) e suspensão do direito de diri-
Art. 213. Deixar de parar o veículo sempre que a respectiva gir.” (NR)
marcha for interceptada: Art. 219. Transitar com o veículo em velocidade inferior à me-
I - por agrupamento de pessoas, como préstitos, passeatas, tade da velocidade máxima estabelecida para a via, retardando ou
desfiles e outros: obstruindo o trânsito, a menos que as condições de tráfego e me-
Infração - gravíssima; teorológicas não o permitam, salvo se estiver na faixa da direita:
Penalidade - multa. Infração - média;
II - por agrupamento de veículos, como cortejos, formações Penalidade - multa.
militares e outros: Art. 220. Deixar de reduzir a velocidade do veículo de forma
Infração - grave; compatível com a segurança do trânsito:
Penalidade - multa. I - quando se aproximar de passeatas, aglomerações, cortejos,
Art. 214. Deixar de dar preferência de passagem a pedestre e a préstitos e desfiles:
veículo não motorizado: Infração - gravíssima;
I - que se encontre na faixa a ele destinada; Penalidade - multa;
II - que não haja concluído a travessia mesmo que ocorra sinal II - nos locais onde o trânsito esteja sendo controlado pelo
verde para o veículo; agente da autoridade de trânsito, mediante sinais sonoros ou ges-
III - portadores de deficiência física, crianças, idosos e gestan- tos;
tes: III - ao aproximar-se da guia da calçada (meio-fio) ou acosta-
Infração - gravíssima; mento;
Penalidade - multa. IV - ao aproximar-se de ou passar por interseção não sinalizada;
V - nas vias rurais cuja faixa de domínio não esteja cercada;

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VI - nos trechos em curva de pequeno raio; I - em situação que não a de simples toque breve como adver-
VII - ao aproximar-se de locais sinalizados com advertência de tência ao pedestre ou a condutores de outros veículos;
obras ou trabalhadores na pista; II - prolongada e sucessivamente a qualquer pretexto;
VIII - sob chuva, neblina, cerração ou ventos fortes; III - entre as vinte e duas e as seis horas;
IX - quando houver má visibilidade; IV - em locais e horários proibidos pela sinalização;
X - quando o pavimento se apresentar escorregadio, defeituo- V - em desacordo com os padrões e frequências estabelecidas
so ou avariado; pelo CONTRAN:
XI - à aproximação de animais na pista; Infração - leve;
XII - em declive; Penalidade - multa.
Infração - grave; Art. 228. Usar no veículo equipamento com som em volume ou
Penalidade - multa; frequência que não sejam autorizados pelo CONTRAN:
XIII - ao ultrapassar ciclista: Infração - grave;
Infração - gravíssima; Penalidade - multa;
Penalidade - multa; Medida administrativa - retenção do veículo para regulariza-
XIV - nas proximidades de escolas, hospitais, estações de em- ção.
barque e desembarque de passageiros ou onde haja intensa movi- Art. 229. Usar indevidamente no veículo aparelho de alarme
mentação de pedestres: ou que produza sons e ruído que perturbem o sossego público, em
Infração - gravíssima; desacordo com normas fixadas pelo CONTRAN:
Penalidade - multa. Infração - média;
Art. 221. Portar no veículo placas de identificação em desacor- Penalidade - multa e apreensão do veículo;
do com as especificações e modelos estabelecidos pelo CONTRAN: Medida administrativa - remoção do veículo.
Infração - média; Art. 230. Conduzir o veículo:
Penalidade - multa; I - com o lacre, a inscrição do chassi, o selo, a placa ou qualquer
Medida administrativa - retenção do veículo para regularização outro elemento de identificação do veículo violado ou falsificado;
e apreensão das placas irregulares. II - transportando passageiros em compartimento de carga,
Parágrafo único. Incide na mesma penalidade aquele que con- salvo por motivo de força maior, com permissão da autoridade
fecciona, distribui ou coloca, em veículo próprio ou de terceiros, competente e na forma estabelecida pelo CONTRAN;
placas de identificação não autorizadas pela regulamentação. III - com dispositivo anti-radar;
Art. 222. Deixar de manter ligado, nas situações de atendimen- IV - sem qualquer uma das placas de identificação;
to de emergência, o sistema de iluminação intermitente dos veícu- V - que não esteja registrado e devidamente licenciado;
los de polícia, de socorro de incêndio e salvamento, de fiscalização VI - com qualquer uma das placas de identificação sem condi-
de trânsito e das ambulâncias, ainda que parados: (Redação dada ções de legibilidade e visibilidade:
pela Lei nº 14.440, de 2022) Infração - gravíssima;
Infração - média; Penalidade - multa e apreensão do veículo;
Penalidade - multa. Medida administrativa - remoção do veículo;
Art. 223. Transitar com o farol desregulado ou com o facho de VII - com a cor ou característica alterada;
luz alta de forma a perturbar a visão de outro condutor: VIII - sem ter sido submetido à inspeção de segurança veicular,
Infração - grave; quando obrigatória;
Penalidade - multa; IX - sem equipamento obrigatório ou estando este ineficiente
Medida administrativa - retenção do veículo para regulariza- ou inoperante;
ção. X - com equipamento obrigatório em desacordo com o estabe-
Art. 224. Fazer uso do facho de luz alta dos faróis em vias pro- lecido pelo CONTRAN;
vidas de iluminação pública: XI - com descarga livre ou silenciador de motor de explosão
Infração - leve; defeituoso, deficiente ou inoperante;
Penalidade - multa. XII - com equipamento ou acessório proibido;
Art. 225. Deixar de sinalizar a via, de forma a prevenir os de- XIII - com o equipamento do sistema de iluminação e de sina-
mais condutores e, à noite, não manter acesas as luzes externas lização alterados;
ou omitir-se quanto a providências necessárias para tornar visível XIV - com registrador instantâneo inalterável de velocidade e
o local, quando: tempo viciado ou defeituoso, quando houver exigência desse apa-
I - tiver de remover o veículo da pista de rolamento ou perma- relho;
necer no acostamento; XV - com inscrições, adesivos, legendas e símbolos de caráter
II - a carga for derramada sobre a via e não puder ser retirada publicitário afixados ou pintados no pára-brisa e em toda a exten-
imediatamente: são da parte traseira do veículo, excetuadas as hipóteses previstas
Infração - grave; neste Código;
Penalidade - multa. XVI - com vidros total ou parcialmente cobertos por películas
Art. 226. Deixar de retirar todo e qualquer objeto que tenha refletivas ou não, painéis decorativos ou pinturas;
sido utilizado para sinalização temporária da via: XVII - com cortinas ou persianas fechadas, não autorizadas pela
Infração - média; legislação;
Penalidade - multa.
Art. 227. Usar buzina:

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XVIII - em mau estado de conservação, comprometendo a se- Medida administrativa - retenção do veículo para regulariza-
gurança, ou reprovado na avaliação de inspeção de segurança e de ção;
emissão de poluentes e ruído, prevista no art. 104; V - com excesso de peso, admitido percentual de tolerância
XIX - sem acionar o limpador de pára-brisa sob chuva: quando aferido por equipamento, na forma a ser estabelecida pelo
Infração - grave; CONTRAN:
Penalidade - multa; Infração - média;
Medida administrativa - retenção do veículo para regulariza- Penalidade - multa acrescida a cada duzentos quilogramas ou
ção; fração de excesso de peso apurado, constante na seguinte tabela:
XX - sem portar a autorização para condução de escolares, na a) até 600 kg (seiscentos quilogramas) - R$ 5,32 (cinco reais e
forma estabelecida no art. 136: trinta e dois centavos); (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016)
Infração – gravíssima; (Redação dada pela Lei nº 13.855, de (Vigência)
2019) (Vigência) b) de 601 (seiscentos e um) a 800 kg (oitocentos quilogramas)
Penalidade – multa (cinco vezes); (Redação dada pela Lei nº - R$ 10,64 (dez reais e sessenta e quatro centavos); (Redação dada
13.855, de 2019) (Vigência) pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
Medida administrativa – remoção do veículo; (Incluído pela Lei c) de 801 (oitocentos e um) a 1.000 kg (mil quilogramas) - R$
nº 13.855, de 2019) (Vigência) 21,28 (vinte e um reais e vinte e oito centavos); (Redação dada pela
XXI - de carga, com falta de inscrição da tara e demais inscri- Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
ções previstas neste Código; d) de 1.001 (mil e um) a 3.000 kg (três mil quilogramas) - R$
XXII - com defeito no sistema de iluminação, de sinalização ou 31,92 (trinta e um reais e noventa e dois centavos); (Redação dada
com lâmpadas queimadas: pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
Infração - média; e) de 3.001 (três mil e um) a 5.000 kg (cinco mil quilogramas)
Penalidade - multa. - R$ 42,56 (quarenta e dois reais e cinquenta e seis centavos); (Re-
XXIII - em desacordo com as condições estabelecidas no art. dação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
67-C, relativamente ao tempo de permanência do condutor ao vo- f) acima de 5.001 kg (cinco mil e um quilogramas) - R$ 53,20
lante e aos intervalos para descanso, quando se tratar de veículo de (cinquenta e três reais e vinte centavos); (Redação dada pela Lei nº
transporte de carga ou coletivo de passageiros: (Redação dada pela 13.281, de 2016) (Vigência)
Lei nº 13.103, de 2015) (Vigência) Medida administrativa - retenção do veículo e transbordo da
Infração - média; (Redação dada pela Lei nº 13.103, de 2015) carga excedente;
(Vigência) VI - em desacordo com a autorização especial, expedida pela
Penalidade - multa; (Redação dada pela Lei nº 13.103, de 2015) autoridade competente para transitar com dimensões excedentes,
(Vigência) ou quando a mesma estiver vencida:
Medida administrativa - retenção do veículo para cumpri- Infração - grave;
mento do tempo de descanso aplicável. (Redação dada pela Lei nº Penalidade - multa e apreensão do veículo;
13.103, de 2015) (Vigência) Medida administrativa - remoção do veículo;
XXIV- (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.619, de 2012) (Vigên- VII - com lotação excedente;
cia) VIII - efetuando transporte remunerado de pessoas ou bens,
§ 1o Se o condutor cometeu infração igual nos últimos 12 quando não for licenciado para esse fim, salvo casos de força maior
(doze) meses, será convertida, automaticamente, a penalidade dis- ou com permissão da autoridade competente:
posta no inciso XXIII em infração grave. (Incluído pela Lei nº 13.103, Infração – gravíssima; (Redação dada pela Lei nº 13.855, de
de 2015) (Vigência) 2019) (Vigência)
§ 2o Em se tratando de condutor estrangeiro, a liberação do Penalidade – multa; (Redação dada pela Lei nº 13.855, de
veículo fica condicionada ao pagamento ou ao depósito, judicial ou 2019) (Vigência)
administrativo, da multa. (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015) (Vi- Medida administrativa – remoção do veículo; (Redação dada
gência) pela Lei nº 13.855, de 2019) (Vigência)
Art. 231. Transitar com o veículo: IX - desligado ou desengrenado, em declive:
I - danificando a via, suas instalações e equipamentos; Infração - média;
II - derramando, lançando ou arrastando sobre a via: Penalidade - multa;
a) carga que esteja transportando; Medida administrativa - retenção do veículo;
b) combustível ou lubrificante que esteja utilizando; X - excedendo a capacidade máxima de tração:
c) qualquer objeto que possa acarretar risco de acidente: Infração - de média a gravíssima, a depender da relação entre
Infração - gravíssima; o excesso de peso apurado e a capacidade máxima de tração, a ser
Penalidade - multa; regulamentada pelo CONTRAN;
Medida administrativa - retenção do veículo para regulariza- Penalidade - multa;
ção; Medida Administrativa - retenção do veículo e transbordo de
III - produzindo fumaça, gases ou partículas em níveis superio- carga excedente.
res aos fixados pelo CONTRAN;
IV - com suas dimensões ou de sua carga superiores aos limites
estabelecidos legalmente ou pela sinalização, sem autorização:
Infração - grave;
Penalidade - multa;

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Parágrafo único. Sem prejuízo das multas previstas nos incisos Art. 241. Deixar de atualizar o cadastro de registro do veículo
V e X, o veículo que transitar com excesso de peso ou excedendo à ou de habilitação do condutor:
capacidade máxima de tração, não computado o percentual tolera- Infração - leve;
do na forma do disposto na legislação, somente poderá continuar Penalidade - multa.
viagem após descarregar o que exceder, segundo critérios estabe- Art. 242. Fazer falsa declaração de domicílio para fins de regis-
lecidos na referida legislação complementar. tro, licenciamento ou habilitação:
Art. 232. Conduzir veículo sem os documentos de porte obriga- Infração - gravíssima;
tório referidos neste Código: Penalidade - multa.
Infração - leve; Art. 243. Deixar a empresa seguradora de comunicar ao órgão
Penalidade - multa; executivo de trânsito competente a ocorrência de perda total do
Medida administrativa - retenção do veículo até a apresenta- veículo e de lhe devolver as respectivas placas e documentos:
ção do documento. Infração - grave;
Art. 233. Deixar de efetuar o registro de veículo no prazo de Penalidade - multa;
trinta dias, junto ao órgão executivo de trânsito, ocorridas as hipó- Medida administrativa - Recolhimento das placas e dos docu-
teses previstas no art. 123: mentos.
Infração - média; Art. 244. Conduzir motocicleta, motoneta ou ciclomotor:
Penalidade - multa; I - sem usar capacete de segurança ou vestuário de acordo com
Medida administrativa - remoção do veículo.” (NR) as normas e as especificações aprovadas pelo Contran;
Art. 233-A. (VETADO). II - transportando passageiro sem o capacete de segurança, na
Art. 234. Falsificar ou adulterar documento de habilitação e de forma estabelecida no inciso anterior, ou fora do assento suple-
identificação do veículo: mentar colocado atrás do condutor ou em carro lateral;
Infração - gravíssima; III - fazendo malabarismo ou equilibrando-se apenas em uma
Penalidade - multa e apreensão do veículo; roda;
Medida administrativa - remoção do veículo. IV - (revogado);
Art. 235. Conduzir pessoas, animais ou carga nas partes exter- V - transportando criança menor de 10 (dez) anos de idade ou
nas do veículo, salvo nos casos devidamente autorizados: que não tenha, nas circunstâncias, condições de cuidar da própria
Infração - grave; segurança:
Penalidade - multa; Infração - gravíssima;
Medida administrativa - retenção do veículo para transbordo. Penalidade - multa e suspensão do direito de dirigir;
Art. 236. Rebocar outro veículo com cabo flexível ou corda, sal- Medida administrativa - retenção do veículo até regularização
vo em casos de emergência: e recolhimento do documento de habilitação;
Infração - média; VI - rebocando outro veículo;
Penalidade - multa. VII - sem segurar o guidom com ambas as mãos, salvo eventu-
Art. 237. Transitar com o veículo em desacordo com as espe- almente para indicação de manobras;
cificações, e com falta de inscrição e simbologia necessárias à sua VIII – transportando carga incompatível com suas especifica-
identificação, quando exigidas pela legislação: ções ou em desacordo com o previsto no § 2o do art. 139-A desta
Infração - grave; Lei; (Incluído pela Lei nº 12.009, de 2009)
Penalidade - multa; IX – efetuando transporte remunerado de mercadorias em de-
Medida administrativa - retenção do veículo para regulariza- sacordo com o previsto no art. 139-A desta Lei ou com as normas
ção. que regem a atividade profissional dos mototaxistas: (Incluído pela
Art. 238. Recusar-se a entregar à autoridade de trânsito ou a Lei nº 12.009, de 2009)
seus agentes, mediante recibo, os documentos de habilitação, de Infração – grave; (Incluído pela Lei nº 12.009, de 2009)
registro, de licenciamento de veículo e outros exigidos por lei, para Penalidade – multa; (Incluído pela Lei nº 12.009, de 2009)
averiguação de sua autenticidade: Medida administrativa – apreensão do veículo para regulariza-
Infração - gravíssima; ção. (Incluído pela Lei nº 12.009, de 2009)[
Penalidade - multa e apreensão do veículo; X - com a utilização de capacete de segurança sem viseira ou
Medida administrativa - remoção do veículo. óculos de proteção ou com viseira ou óculos de proteção em desa-
Art. 239. Retirar do local veículo legalmente retido para regu- cordo com a regulamentação do Contran;
larização, sem permissão da autoridade competente ou de seus XI - transportando passageiro com o capacete de segurança
agentes: utilizado na forma prevista no inciso X do caput deste artigo:
Infração - gravíssima; Infração - média;
Penalidade - multa e apreensão do veículo; Penalidade - multa;
Medida administrativa - remoção do veículo. Medida administrativa - retenção do veículo até regularização;
Art. 240. Deixar o responsável de promover a baixa do registro XII – (VETADO).
de veículo irrecuperável ou definitivamente desmontado: § 1º Para ciclos aplica-se o disposto nos incisos III, VII e VIII,
Infração - grave; além de:
Penalidade - multa; a) conduzir passageiro fora da garupa ou do assento especial
Medida administrativa - Recolhimento do Certificado de Regis- a ele destinado;
tro e do Certificado de Licenciamento Anual. b) transitar em vias de trânsito rápido ou rodovias, salvo onde
houver acostamento ou faixas de rolamento próprias;

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c) transportar crianças que não tenham, nas circunstâncias, Penalidade - multa.


condições de cuidar de sua própria segurança. IV - deixar o veículo de transporte público coletivo de passagei-
§ 2º Aplica-se aos ciclomotores o disposto na alínea b do pará- ros ou de escolares de manter a porta fechada: (Incluído pela Lei nº
grafo anterior: 14.440, de 2022)
Infração - média; Infração - gravíssima; (Incluído pela Lei nº 14.440, de 2022)
Penalidade - multa. Penalidade - multa; (Incluído pela Lei nº 14.440, de 2022)
§ 3o A restrição imposta pelo inciso VI do caput deste artigo Medida administrativa - retenção do veículo até a regulariza-
não se aplica às motocicletas e motonetas que tracionem semi- ção. (Incluído pela Lei nº 14.440, de 2022)
-reboques especialmente projetados para esse fim e devidamente Art. 251. Utilizar as luzes do veículo:
homologados pelo órgão competente. (Incluído pela Lei nº 10.517, I - o pisca-alerta, exceto em imobilizações ou situações de
de 2002) emergência;
Art. 245. Utilizar a via para depósito de mercadorias, materiais II - baixa e alta de forma intermitente, exceto nas seguintes
ou equipamentos, sem autorização do órgão ou entidade de trânsi- situações:
to com circunscrição sobre a via: a) a curtos intervalos, quando for conveniente advertir a outro
Infração - grave; condutor que se tem o propósito de ultrapassá-lo;
Penalidade - multa; b) em imobilizações ou situação de emergência, como adver-
Medida administrativa - remoção da mercadoria ou do mate- tência, utilizando pisca-alerta;
rial. c) quando a sinalização de regulamentação da via determinar
Parágrafo único. A penalidade e a medida administrativa incidi- o uso do pisca-alerta:
rão sobre a pessoa física ou jurídica responsável. Infração - média;
Art. 246. Deixar de sinalizar qualquer obstáculo à livre circula- Penalidade - multa.
ção, à segurança de veículo e pedestres, tanto no leito da via terres- Art. 252. Dirigir o veículo:
tre como na calçada, ou obstaculizar a via indevidamente: I - com o braço do lado de fora;
Infração - gravíssima; II - transportando pessoas, animais ou volume à sua esquerda
Penalidade - multa, agravada em até cinco vezes, a critério da ou entre os braços e pernas;
autoridade de trânsito, conforme o risco à segurança. III - com incapacidade física ou mental temporária que compro-
Parágrafo único. A penalidade será aplicada à pessoa física ou meta a segurança do trânsito;
jurídica responsável pela obstrução, devendo a autoridade com cir- IV - usando calçado que não se firme nos pés ou que compro-
cunscrição sobre a via providenciar a sinalização de emergência, às meta a utilização dos pedais;
expensas do responsável, ou, se possível, promover a desobstru- V - com apenas uma das mãos, exceto quando deva fazer sinais
ção. regulamentares de braço, mudar a marcha do veículo, ou acionar
Art. 247. Deixar de conduzir pelo bordo da pista de rolamento, equipamentos e acessórios do veículo;
em fila única, os veículos de tração ou propulsão humana e os de VI - utilizando-se de fones nos ouvidos conectados a aparelha-
tração animal, sempre que não houver acostamento ou faixa a eles gem sonora ou de telefone celular;
destinados: Infração - média;
Infração - média; Penalidade - multa.
Penalidade - multa. VII - realizando a cobrança de tarifa com o veículo em movi-
Art. 248. Transportar em veículo destinado ao transporte de mento: (Incluído pela Lei nº 13.154, de 2015)
passageiros carga excedente em desacordo com o estabelecido no Infração - média; (Incluído pela Lei nº 13.154, de 2015)
art. 109: Penalidade - multa. (Incluído pela Lei nº 13.154, de 2015)
Infração - grave; Parágrafo único. A hipótese prevista no inciso V caracterizar-
Penalidade - multa; -se-á como infração gravíssima no caso de o condutor estar segu-
Medida administrativa - retenção para o transbordo. rando ou manuseando telefone celular. (Incluído pela Lei nº 13.281,
Art. 249. Deixar de manter acesas, à noite, as luzes de posição, de 2016) (Vigência)
quando o veículo estiver parado, para fins de embarque ou desem- Art. 253. Bloquear a via com veículo:
barque de passageiros e carga ou descarga de mercadorias: Infração - gravíssima;
Infração - média; Penalidade - multa e apreensão do veículo;
Penalidade - multa. Medida administrativa - remoção do veículo.
Art. 250. Quando o veículo estiver em movimento: Art. 253-A. Usar qualquer veículo para, deliberadamente, in-
I - deixar de manter acesa a luz baixa: terromper, restringir ou perturbar a circulação na via sem autoriza-
b) de dia, em túneis e sob chuva, neblina ou cerração; ção do órgão ou entidade de trânsito com circunscrição sobre ela:
c) de dia, no caso de veículos de transporte coletivo de passa- (Incluído pela Lei nº 13. 281, de 2016)
geiros em circulação em faixas ou pistas a eles destinadas; Infração - gravíssima; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016)
d) de dia, no caso de motocicletas, motonetas e ciclomotores; Penalidade - multa (vinte vezes) e suspensão do direito de diri-
e) de dia, em rodovias de pista simples situadas fora dos perí- gir por 12 (doze) meses; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016)
metros urbanos, no caso de veículos desprovidos de luzes de roda- Medida administrativa - remoção do veículo. (Incluído pela Lei
gem diurna; nº 13.281, de 2016)
II - (revogado); § 1º Aplica-se a multa agravada em 60 (sessenta) vezes aos
III - deixar de manter a placa traseira iluminada, à noite; organizadores da conduta prevista no caput. (Incluído pela Lei nº
Infração - média; 13.281, de 2016)

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§ 2º Aplica-se em dobro a multa em caso de reincidência no § 1º Aos proprietários e condutores de veículos serão impostas
período de 12 (doze) meses. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) concomitantemente as penalidades de que trata este Código toda
§ 3º As penalidades são aplicáveis a pessoas físicas ou jurídicas vez que houver responsabilidade solidária em infração dos precei-
que incorram na infração, devendo a autoridade com circunscrição tos que lhes couber observar, respondendo cada um de per si pela
sobre a via restabelecer de imediato, se possível, as condições de falta em comum que lhes for atribuída.
normalidade para a circulação na via. (Incluído pela Lei nº 13.281, § 2º Ao proprietário caberá sempre a responsabilidade pela
de 2016) infração referente à prévia regularização e preenchimento das for-
Art. 254. É proibido ao pedestre: malidades e condições exigidas para o trânsito do veículo na via
I - permanecer ou andar nas pistas de rolamento, exceto para terrestre, conservação e inalterabilidade de suas características,
cruzá-las onde for permitido; componentes, agregados, habilitação legal e compatível de seus
II - cruzar pistas de rolamento nos viadutos, pontes, ou túneis, condutores, quando esta for exigida, e outras disposições que deva
salvo onde exista permissão; observar.
III - atravessar a via dentro das áreas de cruzamento, salvo § 3º Ao condutor caberá a responsabilidade pelas infrações de-
quando houver sinalização para esse fim; correntes de atos praticados na direção do veículo.
IV - utilizar-se da via em agrupamentos capazes de perturbar o § 4º O embarcador é responsável pela infração relativa ao
trânsito, ou para a prática de qualquer folguedo, esporte, desfiles e transporte de carga com excesso de peso nos eixos ou no peso bru-
similares, salvo em casos especiais e com a devida licença da auto- to total, quando simultaneamente for o único remetente da carga
ridade competente; e o peso declarado na nota fiscal, fatura ou manifesto for inferior
V - andar fora da faixa própria, passarela, passagem aérea ou àquele aferido.
subterrânea; § 5º O transportador é o responsável pela infração relativa ao
VI - desobedecer à sinalização de trânsito específica; transporte de carga com excesso de peso nos eixos ou quando a
Infração - leve; carga proveniente de mais de um embarcador ultrapassar o peso
Penalidade - multa, em 50% (cinquenta por cento) do valor da bruto total.
infração de natureza leve. § 6º O transportador e o embarcador são solidariamente res-
VII - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) ponsáveis pela infração relativa ao excesso de peso bruto total, se
§ 1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) o peso declarado na nota fiscal, fatura ou manifesto for superior ao
§ 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) limite legal.
§ 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) § 7º Quando não for imediata a identificação do infrator, o
Art. 255. Conduzir bicicleta em passeios onde não seja permiti- principal condutor ou o proprietário do veículo terá o prazo de 30
da a circulação desta, ou de forma agressiva, em desacordo com o (trinta) dias, contado da notificação da autuação, para apresentá-
disposto no parágrafo único do art. 59: -lo, na forma em que dispuser o Contran, e, transcorrido o prazo, se
Infração - média; não o fizer, será considerado responsável pela infração o principal
Penalidade - multa; condutor ou, em sua ausência, o proprietário do veículo.
Medida administrativa - remoção da bicicleta, mediante recibo § 8º Após o prazo previsto no parágrafo anterior, não haven-
para o pagamento da multa. do identificação do infrator e sendo o veículo de propriedade de
pessoa jurídica, será lavrada nova multa ao proprietário do veículo,
CAPÍTULO XVI mantida a originada pela infração, cujo valor é o da multa multi-
DAS PENALIDADES plicada pelo número de infrações iguais cometidas no período de
doze meses.
Art. 256. A autoridade de trânsito, na esfera das competências § 9º O fato de o infrator ser pessoa jurídica não o exime do
estabelecidas neste Código e dentro de sua circunscrição, deverá disposto no § 3º do art. 258 e no art. 259.
aplicar, às infrações nele previstas, as seguintes penalidades: § 10. O proprietário poderá indicar ao órgão executivo de
I - advertência por escrito; trânsito o principal condutor do veículo, o qual, após aceitar a in-
II - multa; dicação, terá seu nome inscrito em campo próprio do cadastro do
III - suspensão do direito de dirigir; veículo no Renavam. (Incluído pela Lei nº 13.495, 2017) (Vigência)
IV - (Revogado pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) § 11. O principal condutor será excluído do Renavam: (Incluído
V - cassação da Carteira Nacional de Habilitação; pela Lei nº 13.495, 2017) (Vigência)
VI - cassação da Permissão para Dirigir; I - quando houver transferência de propriedade do veículo; (In-
VII - frequência obrigatória em curso de reciclagem. cluído pela Lei nº 13.495, 2017) (Vigência)
§ 1º A aplicação das penalidades previstas neste Código não II - mediante requerimento próprio ou do proprietário do veí-
elide as punições originárias de ilícitos penais decorrentes de cri- culo; (Incluído pela Lei nº 13.495, 2017) (Vigência)
mes de trânsito, conforme disposições de lei. III - a partir da indicação de outro principal condutor. (Incluído
§ 2º (VETADO) pela Lei nº 13.495, 2017) (Vigência)
§ 3º A imposição da penalidade será comunicada aos órgãos ou Art. 258. As infrações punidas com multa classificam-se, de
entidades executivos de trânsito responsáveis pelo licenciamento acordo com sua gravidade, em quatro categorias:
do veículo e habilitação do condutor. I - infração de natureza gravíssima, punida com multa no valor
Art. 257. As penalidades serão impostas ao condutor, ao pro- de R$ 293,47 (duzentos e noventa e três reais e quarenta e sete
prietário do veículo, ao embarcador e ao transportador, salvo os centavos); (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
casos de descumprimento de obrigações e deveres impostos a pes-
soas físicas ou jurídicas expressamente mencionados neste Código.

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II - infração de natureza grave, punida com multa no valor de I - sempre que, conforme a pontuação prevista no art. 259 des-
R$ 195,23 (cento e noventa e cinco reais e vinte e três centavos); te Código, o infrator atingir, no período de 12 (doze) meses, a se-
(Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) guinte contagem de pontos:
III - infração de natureza média, punida com multa no valor a) 20 (vinte) pontos, caso constem 2 (duas) ou mais infrações
de R$ 130,16 (cento e trinta reais e dezesseis centavos); (Redação gravíssimas na pontuação;
dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) b) 30 (trinta) pontos, caso conste 1 (uma) infração gravíssima
IV - infração de natureza leve, punida com multa no valor de R$ na pontuação;
88,38 (oitenta e oito reais e trinta e oito centavos). (Redação dada c) 40 (quarenta) pontos, caso não conste nenhuma infração
pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) gravíssima na pontuação;
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) II - por transgressão às normas estabelecidas neste Código,
(Vigência) cujas infrações preveem, de forma específica, a penalidade de sus-
§ 2º Quando se tratar de multa agravada, o fator multiplicador pensão do direito de dirigir. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016)
ou índice adicional específico é o previsto neste Código. (Vigência)
§ 3º (VETADO) III - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.304, de 2022) (Vigência)
§ 4º (VETADO) § 1º Os prazos para aplicação da penalidade de suspensão do
Art. 259. A cada infração cometida são computados os seguin- direito de dirigir são os seguintes: (Redação dada pela Lei nº 13.281,
tes números de pontos: de 2016) (Vigência)
I - gravíssima - sete pontos; I - no caso do inciso I do caput: de 6 (seis) meses a 1 (um)
II - grave - cinco pontos; ano e, no caso de reincidência no período de 12 (doze) meses, de 8
III - média - quatro pontos; (oito) meses a 2 (dois) anos; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016)
IV - leve - três pontos. (Vigência)
§ 1º (VETADO) II - no caso do inciso II do caput: de 2 (dois) a 8 (oito) meses,
§ 2º (VETADO) exceto para as infrações com prazo descrito no dispositivo infracio-
§ 3o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.619, de 2012) (Vigência) nal, e, no caso de reincidência no período de 12 (doze) meses, de 8
§ 4º Ao condutor identificado será atribuída pontuação pelas (oito) a 18 (dezoito) meses, respeitado o disposto no inciso II do art.
infrações de sua responsabilidade, nos termos previstos no § 3º do 263. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
art. 257 deste Código, exceto aquelas: III - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.304, de 2022) (Vigência)
I - praticadas por passageiros usuários do serviço de transporte § 2º Quando ocorrer a suspensão do direito de dirigir, a Car-
rodoviário de passageiros em viagens de longa distância transitan- teira Nacional de Habilitação será devolvida a seu titular imediata-
do em rodovias com a utilização de ônibus, em linhas regulares in- mente após cumprida a penalidade e o curso de reciclagem.
termunicipal, interestadual, internacional e aquelas em viagem de § 3º A imposição da penalidade de suspensão do direito de diri-
longa distância por fretamento e turismo ou de qualquer modalida- gir elimina a quantidade de pontos computados, prevista no inciso
de, excluídas as situações regulamentadas pelo Contran conforme I do caput ou no § 5º deste artigo, para fins de contagem subse-
disposto no art. 65 deste Código; quente.
II - previstas no art. 221, nos incisos VII e XXI do art. 230 e nos § 4o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.619, de 2012) (Vigência)
arts. 232, 233, 233-A, 240 e 241 deste Código, sem prejuízo da apli- § 5º No caso do condutor que exerce atividade remunerada ao
cação das penalidades e medidas administrativas cabíveis; veículo, a penalidade de suspensão do direito de dirigir de que trata
III - puníveis de forma específica com suspensão do direito de o caput deste artigo será imposta quando o infrator atingir o limite
dirigir.” (NR) de pontos previsto na alínea c do inciso I do caput deste artigo, in-
Art. 260. As multas serão impostas e arrecadadas pelo órgão dependentemente da natureza das infrações cometidas, facultado
ou entidade de trânsito com circunscrição sobre a via onde haja a ele participar de curso preventivo de reciclagem sempre que, no
ocorrido a infração, de acordo com a competência estabelecida período de 12 (doze) meses, atingir 30 (trinta) pontos, conforme
neste Código. regulamentação do Contran.
§ 1º As multas decorrentes de infração cometida em unidade § 6o Concluído o curso de reciclagem previsto no § 5o, o con-
da Federação diversa da do licenciamento do veículo serão arreca- dutor terá eliminados os pontos que lhe tiverem sido atribuídos,
dadas e compensadas na forma estabelecida pelo CONTRAN. para fins de contagem subsequente. (Incluído pela Lei nº 13.154,
§ 2º As multas decorrentes de infração cometida em unidade de 2015)
da Federação diversa daquela do licenciamento do veículo poderão § 7º O motorista que optar pelo curso previsto no § 5º não
ser comunicadas ao órgão ou entidade responsável pelo seu licen- poderá fazer nova opção no período de 12 (doze) meses. (Redação
ciamento, que providenciará a notificação. dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
§ 3º (Revogado pela Lei nº 9.602, de 1998) § 8o A pessoa jurídica concessionária ou permissionária de ser-
§ 4º Quando a infração for cometida com veículo licenciado viço público tem o direito de ser informada dos pontos atribuídos,
no exterior, em trânsito no território nacional, a multa respectiva na forma do art. 259, aos motoristas que integrem seu quadro fun-
deverá ser paga antes de sua saída do País, respeitado o princípio cional, exercendo atividade remunerada ao volante, na forma que
de reciprocidade. dispuser o Contran. (Incluído pela Lei nº 13.154, de 2015)
Art. 261. A penalidade de suspensão do direito de dirigir será § 9º Incorrerá na infração prevista no inciso II do art. 162 o con-
imposta nos seguintes casos: (Redação dada pela Lei nº 13.281, de dutor que, notificado da penalidade de que trata este artigo, dirigir
2016) (Vigência) veículo automotor em via pública. (Incluído pela Lei nº 13.281, de
2016) (Vigência)

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§ 10. O processo de suspensão do direito de dirigir a que se meteram infração de trânsito sujeita à pontuação prevista no art.
refere o inciso II do caput deste artigo deverá ser instaurado con- 259 deste Código, nos últimos 12 (doze) meses, conforme regula-
comitantemente ao processo de aplicação da penalidade de multa, mentação do Contran.
e ambos serão de competência do órgão ou entidade responsável § 1º O RNPC deverá ser atualizado mensalmente.
pela aplicação da multa, na forma definida pelo Contran. § 2º A abertura de cadastro requer autorização prévia e ex-
§ 11. O Contran regulamentará as disposições deste artigo. pressa do potencial cadastrado.
(Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) § 3º Após a abertura do cadastro, a anotação de informação no
§ 12. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.304, de 2022) (Vigên- RNPC independe de autorização e de comunicação ao cadastrado.
cia) § 4º A exclusão do RNPC dar-se-á:
§ 13. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.304, de 2022) (Vigên- I - por solicitação do cadastrado;
cia) II - quando for atribuída ao cadastrado pontuação por infração;
Art. 262. (Revogado pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) III - quando o cadastrado tiver o direito de dirigir suspenso;
Art. 263. A cassação do documento de habilitação dar-se-á: IV - quando a Carteira Nacional de Habilitação do cadastrado
I - quando, suspenso o direito de dirigir, o infrator conduzir estiver cassada ou com validade vencida há mais de 30 (trinta) dias;
qualquer veículo; V - quando o cadastrado estiver cumprindo pena privativa de
II - no caso de reincidência, no prazo de doze meses, das in- liberdade.
frações previstas no inciso III do art. 162 e nos arts. 163, 164, 165, § 5º A consulta ao RNPC é garantida a todos os cidadãos, nos
173, 174 e 175;
termos da regulamentação do Contran.
III - quando condenado judicialmente por delito de trânsito,
§ 6º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios po-
observado o disposto no art. 160.
derão utilizar o RNPC para conceder benefícios fiscais ou tarifários
IV - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.304, de 2022) (Vigência)
aos condutores cadastrados, na forma da legislação específica de
§ 1º Constatada, em processo administrativo, a irregularidade
na expedição do documento de habilitação, a autoridade expedido- cada ente da Federação
ra promoverá o seu cancelamento.
§ 2º Decorridos dois anos da cassação da Carteira Nacional de CAPÍTULO XVII
Habilitação, o infrator poderá requerer sua reabilitação, submeten- DAS MEDIDAS ADMINISTRATIVAS
do-se a todos os exames necessários à habilitação, na forma esta-
belecida pelo CONTRAN. Art. 269. A autoridade de trânsito ou seus agentes, na esfe-
§ 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.304, de 2022) (Vigência) ra das competências estabelecidas neste Código e dentro de sua
Art. 264. (VETADO) circunscrição, deverá adotar as seguintes medidas administrativas:
Art. 265. As penalidades de suspensão do direito de dirigir e de I - retenção do veículo;
cassação do documento de habilitação serão aplicadas por decisão II - remoção do veículo;
fundamentada da autoridade de trânsito competente, em processo III - recolhimento da Carteira Nacional de Habilitação;
administrativo, assegurado ao infrator amplo direito de defesa. IV - recolhimento da Permissão para Dirigir;
Art. 266. Quando o infrator cometer, simultaneamente, duas V - recolhimento do Certificado de Registro;
ou mais infrações, ser-lhe-ão aplicadas, cumulativamente, as res- VI - recolhimento do Certificado de Licenciamento Anual;
pectivas penalidades. VII - (VETADO)
Art. 267. Deverá ser imposta a penalidade de advertência por VIII - transbordo do excesso de carga;
escrito à infração de natureza leve ou média, passível de ser punida IX - realização de teste de dosagem de alcoolemia ou perícia
com multa, caso o infrator não tenha cometido nenhuma outra in- de substância entorpecente ou que determine dependência física
fração nos últimos 12 (doze) meses. ou psíquica;
§ 1º (Revogado). X - recolhimento de animais que se encontrem soltos nas vias e
§ 2º (Revogado).” (NR) na faixa de domínio das vias de circulação, restituindo-os aos seus
Art. 268. O infrator será submetido a curso de reciclagem, na proprietários, após o pagamento de multas e encargos devidos.
forma estabelecida pelo CONTRAN: XI - realização de exames de aptidão física, mental, de legisla-
I - (revogado); ção, de prática de primeiros socorros e de direção veicular. (Incluí-
II - quando suspenso do direito de dirigir;
do pela Lei nº 9.602, de 1998)
III - quando se envolver em acidente grave para o qual haja
§ 1º A ordem, o consentimento, a fiscalização, as medidas ad-
contribuído, independentemente de processo judicial;
ministrativas e coercitivas adotadas pelas autoridades de trânsito
IV - quando condenado judicialmente por delito de trânsito;
e seus agentes terão por objetivo prioritário a proteção à vida e à
V - a qualquer tempo, se for constatado que o condutor está
colocando em risco a segurança do trânsito; incolumidade física da pessoa.
VI - (revogado). § 2º As medidas administrativas previstas neste artigo não eli-
Parágrafo único. Além do curso de reciclagem previsto no dem a aplicação das penalidades impostas por infrações estabeleci-
caput deste artigo, o infrator será submetido à avaliação psicoló- das neste Código, possuindo caráter complementar a estas.
gica nos casos dos incisos III, IV e V do caput deste artigo.’ (NR)” § 3º São documentos de habilitação a Carteira Nacional de Ha-
(Parte promulgada pelo Congresso Nacional) bilitação e a Permissão para Dirigir.
Art. 268-A. Fica criado o Registro Nacional Positivo de Conduto- § 4º Aplica-se aos animais recolhidos na forma do inciso X o
res (RNPC), administrado pelo órgão máximo executivo de trânsito disposto nos arts. 271 e 328, no que couber.
da União, com a finalidade de cadastrar os condutores que não co-

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§ 5º No caso de documentos em meio digital, as medidas admi- § 5o O proprietário ou o condutor deverá ser notificado, no ato
nistrativas previstas nos incisos III, IV, V e VI do caput deste artigo de remoção do veículo, sobre as providências necessárias à sua res-
serão realizadas por meio de registro no Renach ou Renavam, con- tituição e sobre o disposto no art. 328, conforme regulamentação
forme o caso, na forma estabelecida pelo Contran.” (NR) do CONTRAN. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
Art. 270. O veículo poderá ser retido nos casos expressos neste § 6º Caso o proprietário ou o condutor não esteja presente no
Código. momento da remoção do veículo, a autoridade de trânsito, no pra-
§ 1º Quando a irregularidade puder ser sanada no local da in- zo de 10 (dez) dias contado da data da remoção, deverá expedir ao
fração, o veículo será liberado tão logo seja regularizada a situação. proprietário a notificação prevista no § 5º, por remessa postal ou
§ 2º Quando não for possível sanar a falha no local da infração, por outro meio tecnológico hábil que assegure a sua ciência, e, caso
o veículo, desde que ofereça condições de segurança para circula- reste frustrada, a notificação poderá ser feita por edital. (Redação
ção, deverá ser liberado e entregue a condutor regularmente ha- dada pela Lei nº 13.281, de 2016)
bilitado, mediante recolhimento do Certificado de Licenciamento § 7o A notificação devolvida por desatualização do endereço
Anual, contra apresentação de recibo, assinalando-se ao condutor do proprietário do veículo ou por recusa desse de recebê-la será
prazo razoável, não superior a 30 (trinta) dias, para regularizar a si- considerada recebida para todos os efeitos (Incluído pela Lei nº
tuação, e será considerado notificado para essa finalidade na mes- 13.160, de 2015)
ma ocasião. § 8o Em caso de veículo licenciado no exterior, a notificação
§ 3º O Certificado de Licenciamento Anual será devolvido ao será feita por edital. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
condutor no órgão ou entidade aplicadores das medidas adminis- § 9º Não caberá remoção nos casos em que a irregularidade for
trativas, tão logo o veículo seja apresentado à autoridade devida- sanada no local da infração.
mente regularizado. § 9º-A. Quando não for possível sanar a irregularidade no local
§ 4º Não se apresentando condutor habilitado no local da in- da infração, o veículo, desde que ofereça condições de segurança
fração, o veículo será removido a depósito, aplicando-se neste caso para circulação, será liberado e entregue a condutor regularmente
o disposto no art. 271. (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) habilitado, mediante recolhimento do Certificado de Licenciamen-
(Vigência) to Anual, contra a apresentação de recibo, e prazo razoável, não
§ 5º A critério do agente, não se dará a retenção imediata, superior a 15 (quinze) dias, será assinalado ao condutor para re-
quando se tratar de veículo de transporte coletivo transportando gularizar a situação, o qual será considerado notificado para essa
passageiros ou veículo transportando produto perigoso ou perecí- finalidade na mesma ocasião. (Incluído pela Lei nº 14.229, de 2021)
vel, desde que ofereça condições de segurança para circulação em § 9º-B. O disposto no § 9º-A deste artigo não se aplica às in-
via pública. frações previstas no inciso V do caput do art. 230 e no inciso VIII
§ 6º Não efetuada a regularização no prazo a que se refere o § do caput do art. 231 deste Código. (Incluído pela Lei nº 14.229, de
2o, será feito registro de restrição administrativa no Renavam por 2021)
órgão ou entidade executivo de trânsito dos Estados e do Distrito § 9º-C. Não efetuada a regularização no prazo referido no §
Federal, que será retirada após comprovada a regularização. (Inclu- 9º-A deste artigo, será feito registro de restrição administrativa no
ído pela Lei nº 13.160, de 2015) Renavam por órgão ou entidade executivos de trânsito dos Estados
§ 7o O descumprimento das obrigações estabelecidas no § 2o ou do Distrito Federal, o qual será retirado após comprovada a re-
resultará em recolhimento do veículo ao depósito, aplicando-se, gularização. (Incluído pela Lei nº 14.229, de 2021)
nesse caso, o disposto no art. 271. (Incluído pela Lei nº 13.160, de § 9º-D. O descumprimento da obrigação estabelecida no § 9º-A
2015) deste artigo resultará em recolhimento do veículo ao depósito,
Art. 271. O veículo será removido, nos casos previstos neste aplicando-se, nesse caso, o disposto neste artigo. (Incluído pela Lei
Código, para o depósito fixado pelo órgão ou entidade competente, nº 14.229, de 2021)
com circunscrição sobre a via. § 10. O pagamento das despesas de remoção e estada será cor-
§ 1o A restituição do veículo removido só ocorrerá mediante respondente ao período integral, contado em dias, em que efetiva-
prévio pagamento de multas, taxas e despesas com remoção e es- mente o veículo permanecer em depósito, limitado ao prazo de 6
tada, além de outros encargos previstos na legislação específica. (seis) meses. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016)
(Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) § 11. Os custos dos serviços de remoção e estada prestados
§ 2o A liberação do veículo removido é condicionada ao repa- por particulares poderão ser pagos pelo proprietário diretamente
ro de qualquer componente ou equipamento obrigatório que não ao contratado. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016)
esteja em perfeito estado de funcionamento. (Incluído pela Lei nº § 12. O disposto no § 11 não afasta a possibilidade de o res-
13.160, de 2015) pectivo ente da Federação estabelecer a cobrança por meio de taxa
§ 3º Se o reparo referido no § 2º demandar providência que instituída em lei. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016)
não possa ser tomada no depósito, a autoridade responsável pela § 13. No caso de o proprietário do veículo objeto do recolhi-
remoção liberará o veículo para reparo, na forma transportada, mento comprovar, administrativa ou judicialmente, que o recolhi-
mediante autorização, assinalando prazo para reapresentação. (Re- mento foi indevido ou que houve abuso no período de retenção em
dação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) depósito, é da responsabilidade do ente público a devolução das
§ 4º Os serviços de remoção, depósito e guarda de veículo po- quantias pagas por força deste artigo, segundo os mesmos critérios
derão ser realizados por órgão público, diretamente, ou por par- da devolução de multas indevidas. (Incluído pela Lei nº 13.281, de
ticular contratado por licitação pública, sendo o proprietário do 2016)
veículo o responsável pelo pagamento dos custos desses serviços.
(Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016)

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Art. 272. O recolhimento da Carteira Nacional de Habilitação e de 1940 (Código Penal), condenado por um desses crimes em de-
da Permissão para Dirigir dar-se-á mediante recibo, além dos casos cisão judicial transitada em julgado, terá cassado seu documento
previstos neste Código, quando houver suspeita de sua inautentici- de habilitação ou será proibido de obter a habilitação para dirigir
dade ou adulteração. veículo automotor pelo prazo de 5 (cinco) anos. (Incluído pela Lei
Art. 273. O recolhimento do Certificado de Registro dar-se-á nº 13.804, de 2019)
mediante recibo, além dos casos previstos neste Código, quando: § 1º O condutor condenado poderá requerer sua reabilitação,
I - houver suspeita de inautenticidade ou adulteração; submetendo-se a todos os exames necessários à habilitação, na
II - se, alienado o veículo, não for transferida sua propriedade forma deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.804, de 2019)
no prazo de trinta dias. § 2º No caso do condutor preso em flagrante na prática dos
Art. 274. O recolhimento do Certificado de Licenciamento Anu- crimes de que trata o caput deste artigo, poderá o juiz, em qual-
al dar-se-á mediante recibo, além dos casos previstos neste Código, quer fase da investigação ou da ação penal, se houver necessidade
quando: para a garantia da ordem pública, como medida cautelar, de ofício,
I - houver suspeita de inautenticidade ou adulteração; ou a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante repre-
II - se o prazo de licenciamento estiver vencido; sentação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a
III - no caso de retenção do veículo, se a irregularidade não suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo auto-
puder ser sanada no local. motor, ou a proibição de sua obtenção. (Incluído pela Lei nº 13.804,
Art. 275. O transbordo da carga com peso excedente é condi- de 2019)
ção para que o veículo possa prosseguir viagem e será efetuado às Art. 279. Em caso de acidente com vítima, envolvendo veículo
expensas do proprietário do veículo, sem prejuízo da multa aplicá- equipado com registrador instantâneo de velocidade e tempo, so-
vel. mente o perito oficial encarregado do levantamento pericial pode-
Parágrafo único. Não sendo possível desde logo atender ao rá retirar o disco ou unidade armazenadora do registro.
disposto neste artigo, o veículo será recolhido ao depósito, sendo Art. 279-A. O veículo em estado de abandono ou acidentado
liberado após sanada a irregularidade e pagas as despesas de re- poderá ser removido para o depósito fixado pelo órgão ou entidade
moção e estada. competente do Sistema Nacional de Trânsito independentemente
Art. 276. Qualquer concentração de álcool por litro de sangue da existência de infração à legislação de trânsito, nos termos da re-
ou por litro de ar alveolar sujeita o condutor às penalidades previs- gulamentação do Contran. (Incluído pela Lei nº 14.440, de 2022)
tas no art. 165. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012) § 1º A remoção do veículo acidentado será realizada quando
Parágrafo único. O Contran disciplinará as margens de tolerân- não houver responsável pelo bem no local do acidente. (Incluído
cia quando a infração for apurada por meio de aparelho de medi- pela Lei nº 14.440, de 2022)
ção, observada a legislação metrológica. (Redação dada pela Lei nº § 2º Aplicam-se à remoção de veículo em estado de abandono
12.760, de 2012) ou acidentado as disposições constantes do art. 328, sem prejuízo
Art. 277. O condutor de veículo automotor envolvido em aci- das demais disposições deste Código. (Incluído pela Lei nº 14.440,
dente de trânsito ou que for alvo de fiscalização de trânsito poderá de 2022)
ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimen-
to que, por meios técnicos ou científicos, na forma disciplinada pelo CAPÍTULO XVIII
Contran, permita certificar influência de álcool ou outra substância DO PROCESSO ADMINISTRATIVO
psicoativa que determine dependência. (Redação dada pela Lei nº
12.760, de 2012) SEÇÃO I
§ 1o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012) DA AUTUAÇÃO
§ 2o A infração prevista no art. 165 também poderá ser carac-
terizada mediante imagem, vídeo, constatação de sinais que indi- Art. 280. Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito,
quem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade lavrar-se-á auto de infração, do qual constará:
psicomotora ou produção de quaisquer outras provas em direito I - tipificação da infração;
admitidas. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012) II - local, data e hora do cometimento da infração;
§ 3º Serão aplicadas as penalidades e medidas administrativas III - caracteres da placa de identificação do veículo, sua marca
estabelecidas no art. 165-A deste Código ao condutor que se recu- e espécie, e outros elementos julgados necessários à sua identifi-
sar a se submeter a qualquer dos procedimentos previstos no caput cação;
deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) IV - o prontuário do condutor, sempre que possível;
Art. 278. Ao condutor que se evadir da fiscalização, não subme- V - identificação do órgão ou entidade e da autoridade ou
tendo veículo à pesagem obrigatória nos pontos de pesagem, fixos agente autuador ou equipamento que comprovar a infração;
ou móveis, será aplicada a penalidade prevista no art. 209, além VI - assinatura do infrator, sempre que possível, valendo esta
da obrigação de retornar ao ponto de evasão para fim de pesagem como notificação do cometimento da infração.
obrigatória. § 1º (VETADO)
Parágrafo único. No caso de fuga do condutor à ação policial, § 2º A infração deverá ser comprovada por declaração da
a apreensão do veículo dar-se-á tão logo seja localizado, aplican- autoridade ou do agente da autoridade de trânsito, por aparelho
do-se, além das penalidades em que incorre, as estabelecidas no eletrônico ou por equipamento audiovisual, reações químicas ou
art. 210. qualquer outro meio tecnologicamente disponível, previamente
Art. 278-A. O condutor que se utilize de veículo para a prática regulamentado pelo CONTRAN.
do crime de receptação, descaminho, contrabando, previstos nos
arts. 180, 334 e 334-A do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro

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§ 3º Não sendo possível a autuação em flagrante, o agente de I - no caso das penalidades previstas nos incisos I e II do caput
trânsito relatará o fato à autoridade no próprio auto de infração, in- do art. 256 deste Código, da data do cometimento da infração; (In-
formando os dados a respeito do veículo, além dos constantes nos cluído pela Lei nº 14.229, de 2021)
incisos I, II e III, para o procedimento previsto no artigo seguinte. II - no caso das demais penalidades previstas no art. 256 des-
§ 4º O agente da autoridade de trânsito competente para te Código, da conclusão do processo administrativo da penalidade
lavrar o auto de infração poderá ser servidor civil, estatutário ou que lhe der causa. (Incluído pela Lei nº 14.229, de 2021)
celetista ou, ainda, policial militar designado pela autoridade de § 6º-A. Para fins de aplicação do inciso I do § 6º deste artigo, no
trânsito com jurisdição sobre a via no âmbito de sua competência. caso das autuações que não sejam em flagrante, o prazo será con-
tado da data do conhecimento da infração pelo órgão de trânsito
SEÇÃO II responsável pela aplicação da penalidade, na forma definida pelo
DO JULGAMENTO DAS AUTUAÇÕES E PENALIDADES Contran.(Incluído pela Lei nº 14.229, de 2021)
§ 7º O descumprimento dos prazos previstos no § 6º deste ar-
Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da competência tigo implicará a decadência do direito de aplicar a respectiva pena-
estabelecida neste Código e dentro de sua circunscrição, julgará a lidade. (Redação dada pela Lei nº 14.229, de 2021)
consistência do auto de infração e aplicará a penalidade cabível. § 8º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.304, de 2022) (Vigência)
§ 1º O auto de infração será arquivado e seu registro julgado Art. 282-A. O órgão ou entidade do Sistema Nacional de Trân-
insubsistente: (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 14.304, sito responsável pela autuação notificará o proprietário do veículo
de 2022) (Vigência) ou o condutor autuado por meio eletrônico, mediante sistema de
I - se considerado inconsistente ou irregular; notificação eletrônica definido pelo Contran. (Redação dada pela
II - se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida a no- Lei nº 14.440, de 2022)
tificação da autuação. (Redação dada pela Lei nº 9.602, de 1998) § 1º O proprietário e o condutor autuado deverão manter seu
§ 2º O prazo para expedição da notificação da autuação refe- cadastro atualizado no órgão executivo de trânsito do Estado ou do
rente às penalidades de suspensão do direito de dirigir e de cassa- Distrito Federal.
ção do documento de habilitação será contado a partir da data da § 2º Na hipótese de notificação prevista no caput deste artigo,
instauração do processo destinado à aplicação dessas penalidades. o proprietário ou o condutor autuado será considerado notificado
(Incluído pela Lei nº 14.304, de 2022) (Vigência) 30 (trinta) dias após a inclusão da informação no sistema eletrônico
Art. 281-A. Na notificação de autuação e no auto de infração, e do envio da respectiva mensagem.
quando valer como notificação de autuação, deverá constar o pra- § 3º O sistema previsto no caput será certificado digitalmente,
zo para apresentação de defesa prévia, que não será inferior a 30 atendidos os requisitos de autenticidade, integridade, validade jurí-
(trinta) dias, contado da data de expedição da notificação dica e interoperabilidade da Infraestrutura de Chaves Públicas Bra-
Art. 282. Caso a defesa prévia seja indeferida ou não seja sileira (ICP-Brasil). (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
apresentada no prazo estabelecido, será aplicada a penalidade e § 4º A coordenação do sistema de que trata o caput deste arti-
expedida notificação ao proprietário do veículo ou ao infrator, por go é de responsabilidade do órgão máximo executivo de trânsito da
remessa postal ou por qualquer outro meio tecnológico hábil que União. (Incluído pela Lei nº 14.440, de 2022)
assegure a ciência da imposição da penalidade. (Redação dada pela § 5º (Vide Lei nº 14.440, de 2022) (Vigência)
Lei nº 14.229, de 2021) Art. 283. (VETADO)
§ 1º A notificação devolvida por desatualização do endereço Art. 284. O pagamento da multa poderá ser efetuado até a
do proprietário do veículo ou por recusa em recebê-la será con- data do vencimento expressa na notificação, por oitenta por cento
siderada válida para todos os efeitos. (Redação dada pela Lei nº do seu valor.
14.229, de 2021) § 1º Caso o infrator declare pelo sistema de notificação eletrô-
§ 2º A notificação a pessoal de missões diplomáticas, de repar- nica de que trata o art. 282-A deste Código a opção por não apre-
tições consulares de carreira e de representações de organismos sentar defesa prévia nem recurso, reconhecendo o cometimento
internacionais e de seus integrantes será remetida ao Ministério da infração, o pagamento da multa poderá ser efetuado por 60%
das Relações Exteriores para as providências cabíveis e cobrança (sessenta por cento) do seu valor, em qualquer fase do processo,
dos valores, no caso de multa. até o vencimento do prazo de pagamento da multa. (Redação dada
§ 3º Sempre que a penalidade de multa for imposta a condu- pela Lei nº 14.440, de 2022)
tor, à exceção daquela de que trata o § 1º do art. 259, a notificação § 2º O recolhimento do valor da multa não implica renúncia
será encaminhada ao proprietário do veículo, responsável pelo seu ao questionamento administrativo, que pode ser realizado a qual-
pagamento. quer momento, respeitado o disposto no § 1º. (Incluído pela Lei nº
§ 4º Da notificação deverá constar a data do término do prazo 13.281, de 2016) (Vigência)
para apresentação de recurso pelo responsável pela infração, que § 3º Não incidirá cobrança moratória e não poderá ser aplicada
não será inferior a trinta dias contados da data da notificação da qualquer restrição, inclusive para fins de licenciamento e transfe-
penalidade. (Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998) rência, enquanto não for encerrada a instância administrativa de
§ 5º No caso de penalidade de multa, a data estabelecida no julgamento de infrações e penalidades. (Incluído pela Lei nº 13.281,
parágrafo anterior será a data para o recolhimento de seu valor. de 2016) (Vigência)
(Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998) § 4º Encerrada a instância administrativa de julgamento de
§ 6º O prazo para expedição das notificações das penalidades infrações e penalidades, a multa não paga até o vencimento será
previstas no art. 256 deste Código é de 180 (cento e oitenta) dias acrescida de juros de mora equivalentes à taxa referencial do Siste-
ou, se houver interposição de defesa prévia, de 360 (trezentos e ma Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) para títulos federais
sessenta) dias, contado: (Redação dada pela Lei nº 14.229, de 2021) acumulada mensalmente, calculados a partir do mês subsequente

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ao da consolidação até o mês anterior ao do pagamento, e de 1% II - tratando-se de penalidade imposta por órgão ou entidade
(um por cento) relativamente ao mês em que o pagamento estiver de trânsito estadual, municipal ou do Distrito Federal, pelos CE-
sendo efetuado. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) TRAN E CONTRANDIFE, respectivamente.
§ 5º O sistema de notificação eletrônica de que trata o art. 282- Parágrafo único. No caso do inciso I do caput deste artigo,
A deste Código deve disponibilizar, na mesma plataforma, campo quando houver apenas uma Jari, o recurso será julgado por seus
destinado à apresentação de defesa prévia e de recurso, quando o membros.” (NR)
infrator não reconhecer o cometimento da infração, na forma re- Art. 290. Implicam encerramento da instância administrativa
gulamentada pelo Contran. (Redação dada pela Lei nº 14.440, de de julgamento de infrações e penalidades: (Redação dada pela Lei
2022) nº 13.281, de 2016) (Vigência)
Art. 285. O recurso previsto no art. 283 será interposto perante I - o julgamento do recurso de que tratam os arts. 288 e 289;
a autoridade que impôs a penalidade, a qual remetê-lo-á à JARI, (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
que deverá julgá-lo em até trinta dias. II - a não interposição do recurso no prazo legal; e (Incluído
§ 1º O recurso não terá efeito suspensivo. pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
§ 2º A autoridade que impôs a penalidade remeterá o recurso III - o pagamento da multa, com reconhecimento da infração
ao órgão julgador, dentro dos dez dias úteis subseqüentes à sua e requerimento de encerramento do processo na fase em que se
apresentação, e, se o entender intempestivo, assinalará o fato no encontra, sem apresentação de defesa ou recurso. (Incluído pela
despacho de encaminhamento. Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
§ 3º Se, por motivo de força maior, o recurso não for julgado Parágrafo único. Esgotados os recursos, as penalidades aplica-
dentro do prazo previsto neste artigo, a autoridade que impôs a pe- das nos termos deste Código serão cadastradas no RENACH.
nalidade, de ofício, ou por solicitação do recorrente, poderá conce-
der-lhe efeito suspensivo. (Vide Lei nº 14.229, de 2021) (Vigência) CAPÍTULO XIX
§ 4º Na apresentação de defesa ou recurso, em qualquer fase DOS CRIMES DE TRÂNSITO
do processo, para efeitos de admissibilidade, não serão exigidos
documentos ou cópia de documentos emitidos pelo órgão respon- SEÇÃO I
sável pela autuação.” (NR) DISPOSIÇÕES GERAIS
§ 5º O recurso intempestivo será arquivado. (Incluído pela Lei
nº 14.229, de 2021) Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos auto-
§ 6º (Vide Lei nº 14.229, de 2021) (Vigência) motores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do
Art. 286. O recurso contra a imposição de multa poderá ser Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não
dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de se-
interposto no prazo legal, sem o recolhimento do seu valor.
tembro de 1995, no que couber.
§ 1º No caso de não provimento do recurso, aplicar-se-á o es-
§ 1o Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa
tabelecido no parágrafo único do art. 284.
o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei no 9.099, de 26 de setembro
§ 2º Se o infrator recolher o valor da multa e apresentar recur-
de 1995, exceto se o agente estiver: (Renumerado do parágrafo
so, se julgada improcedente a penalidade, ser-lhe-á devolvida a im-
único pela Lei nº 11.705, de 2008)
portância paga, atualizada em UFIR ou por índice legal de correção
I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psi-
dos débitos fiscais.
coativa que determine dependência; (Incluído pela Lei nº 11.705,
Art. 287. Se a infração for cometida em localidade diversa
de 2008)
daquela do licenciamento do veículo, o recurso poderá ser apre- II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou com-
sentado junto ao órgão ou entidade de trânsito da residência ou petição automobilística, de exibição ou demonstração de perícia
domicílio do infrator. em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade
Parágrafo único. A autoridade de trânsito que receber o re- competente; (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)
curso deverá remetê-lo, de pronto, à autoridade que impôs a pe- III - transitando em velocidade superior à máxima permitida
nalidade acompanhado das cópias dos prontuários necessários ao para a via em 50 km/h (cinqüenta quilômetros por hora). (Incluído
julgamento. pela Lei nº 11.705, de 2008)
Art. 288. Das decisões da JARI cabe recurso a ser interposto, na § 2o Nas hipóteses previstas no § 1o deste artigo, deverá ser
forma do artigo seguinte, no prazo de trinta dias contado da publi- instaurado inquérito policial para a investigação da infração penal.
cação ou da notificação da decisão. (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)
§ 1º O recurso será interposto, da decisão do não provimento, § 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.546, de 2017) (Vigência)
pelo responsável pela infração, e da decisão de provimento, pela § 4º O juiz fixará a pena-base segundo as diretrizes previstas no
autoridade que impôs a penalidade. art. 59 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
§ 2º (Revogado pela Lei nº 12.249, de 2010) (Vide ADIN 2998) Penal), dando especial atenção à culpabilidade do agente e às cir-
Art. 289. O recurso de que trata o artigo anterior será aprecia- cunstâncias e consequências do crime. (Incluído pela Lei nº 13.546,
do no prazo de trinta dias: de 2017) (Vigência)
I - tratando-se de penalidade imposta por órgão ou entidade da Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão
União, por colegiado especial integrado pelo Coordenador-Geral da ou a habilitação para dirigir veículo automotor pode ser imposta
Jari, pelo Presidente da Junta que apreciou o recurso e por mais um isolada ou cumulativamente com outras penalidades. (Redação
Presidente de Junta; dada pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
a) (revogada);
b) (revogada);

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Art. 293. A penalidade de suspensão ou de proibição de se Parágrafo único. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.304, de
obter a permissão ou a habilitação, para dirigir veículo automotor, 2022) (Vigência)
tem a duração de dois meses a cinco anos. Art. 299. (VETADO)
§ 1º Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu será Art. 300. (VETADO)
intimado a entregar à autoridade judiciária, em quarenta e oito ho- Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de
ras, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação. trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em flagrante,
§ 2º A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela.
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor não se
inicia enquanto o sentenciado, por efeito de condenação penal, es- SEÇÃO II
tiver recolhido a estabelecimento prisional. DOS CRIMES EM ESPÉCIE
Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal,
havendo necessidade para a garantia da ordem pública, poderá o Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo au-
juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Mi- tomotor:
nistério Público ou ainda mediante representação da autoridade Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proi-
policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão bição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de automotor.
sua obtenção. § 1o No homicídio culposo cometido na direção de veículo au-
Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou a tomotor, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o
medida cautelar, ou da que indeferir o requerimento do Ministério agente: (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
Público, caberá recurso em sentido estrito, sem efeito suspensivo. I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilita-
Art. 295. A suspensão para dirigir veículo automotor ou a proi- ção; (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
bição de se obter a permissão ou a habilitação será sempre comu- II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; (Incluído
nicada pela autoridade judiciária ao Conselho Nacional de Trânsito pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
- CONTRAN, e ao órgão de trânsito do Estado em que o indiciado ou III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem ris-
réu for domiciliado ou residente. co pessoal, à vítima do acidente; (Incluído pela Lei nº 12.971, de
Art. 296. Se o réu for reincidente na prática de crime previsto 2014) (Vigência)
neste Código, o juiz aplicará a penalidade de suspensão da permis- IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver condu-
são ou habilitação para dirigir veículo automotor, sem prejuízo das zindo veículo de transporte de passageiros. (Incluído pela Lei nº
demais sanções penais cabíveis. (Redação dada pela Lei nº 11.705, 12.971, de 2014) (Vigência)
de 2008) V - (Revogado pela Lei nº 11.705, de 2008)
Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no pa- § 2o (Revogado pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
gamento, mediante depósito judicial em favor da vítima, ou seus § 3o Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de
sucessores, de quantia calculada com base no disposto no § 1º do álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine
art. 49 do Código Penal, sempre que houver prejuízo material re- dependência: (Incluído pela Lei nº 13.546, de 2017) (Vigência)
sultante do crime. Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibi-
§ 1º A multa reparatória não poderá ser superior ao valor do ção do direito de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
prejuízo demonstrado no processo. veículo automotor. (Incluído pela Lei nº 13.546, de 2017) (Vigência)
§ 2º Aplica-se à multa reparatória o disposto nos arts. 50 a 52 Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo
do Código Penal. automotor:
§ 3º Na indenização civil do dano, o valor da multa reparatória Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou
será descontado. proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veí-
Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalida- culo automotor.
des dos crimes de trânsito ter o condutor do veículo cometido a § 1o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocor-
infração: rer qualquer das hipóteses do § 1o do art. 302. (Renumerado do
I - com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com gran- parágrafo único pela Lei nº 13.546, de 2017) (Vigência)
de risco de grave dano patrimonial a terceiros; § 2o A pena privativa de liberdade é de reclusão de dois a cin-
II - utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adul- co anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo, se o
teradas; agente conduz o veículo com capacidade psicomotora alterada em
III - sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habili- razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que
tação; determine dependência, e se do crime resultar lesão corporal de
IV - com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de natureza grave ou gravíssima. (Incluído pela Lei nº 13.546, de 2017)
categoria diferente da do veículo; (Vigência)
V - quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados espe- Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente,
ciais com o transporte de passageiros ou de carga; de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo dire-
VI - utilizando veículo em que tenham sido adulterados equi- tamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade
pamentos ou características que afetem a sua segurança ou o seu pública:
funcionamento de acordo com os limites de velocidade prescritos Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato
nas especificações do fabricante; não constituir elemento de crime mais grave.
VII - sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente
destinada a pedestres.

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Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o con- pena privativa de liberdade é de reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos,
dutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo. (Incluído pela
ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimen- Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência)
tos leves. § 2o Se da prática do crime previsto no caput resultar morte, e
Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do aciden- as circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado
te, para fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é
atribuída: de reclusão de 5 (cinco) a 10 (dez) anos, sem prejuízo das outras
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa. penas previstas neste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014)
Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psico- (Vigência)
motora alterada em razão da influência de álcool ou de outra subs- Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a de-
tância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela vida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o
Lei nº 12.760, de 2012) direito de dirigir, gerando perigo de dano:
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo au-
veículo automotor. tomotor a pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou com
§ 1o As condutas previstas no caput serão constatadas por: (In- o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por seu estado de
cluído pela Lei nº 12.760, de 2012) saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em condi-
I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por ções de conduzi-lo com segurança:
litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
litro de ar alveolar; ou (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) Art. 310-A. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.619, de 2012) (Vi-
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, gência)
alteração da capacidade psicomotora. (Incluído pela Lei nº 12.760, Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a seguran-
de 2012) ça nas proximidades de escolas, hospitais, estações de embarque e
§ 2o A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida desembarque de passageiros, logradouros estreitos, ou onde haja
mediante teste de alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perí- grande movimentação ou concentração de pessoas, gerando peri-
cia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito go de dano:
admitidos, observado o direito à contraprova. (Redação dada pela Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de acidente auto-
§ 3o O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos mobilístico com vítima, na pendência do respectivo procedimento
testes de alcoolemia ou toxicológicos para efeito de caracterização policial preparatório, inquérito policial ou processo penal, o estado
do crime tipificado neste artigo. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente
de 2014) (Vigência) policial, o perito, ou juiz:
§ 4º Poderá ser empregado qualquer aparelho homologado Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - IN- Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo, ainda que
METRO - para se determinar o previsto no caput. (Incluído pela Lei não iniciados, quando da inovação, o procedimento preparatório, o
nº 13.840, de 2019) inquérito ou o processo aos quais se refere.
Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a per- Art. 312-A. Para os crimes relacionados nos arts. 302 a 312
missão ou a habilitação para dirigir veículo automotor imposta com deste Código, nas situações em que o juiz aplicar a substituição
fundamento neste Código: de pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos, esta
Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova deverá ser de prestação de serviço à comunidade ou a entidades
imposição adicional de idêntico prazo de suspensão ou de proibi- públicas, em uma das seguintes atividades: (Incluído pela Lei nº
ção. 13.281, de 2016) (Vigência)
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado que I - trabalho, aos fins de semana, em equipes de resgate dos
deixa de entregar, no prazo estabelecido no § 1º do art. 293, a Per- corpos de bombeiros e em outras unidades móveis especializadas
missão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação. no atendimento a vítimas de trânsito; (Incluído pela Lei nº 13.281,
Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via de 2016) (Vigência)
pública, de corrida, disputa ou competição automobilística ou ain- II - trabalho em unidades de pronto-socorro de hospitais da
da de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo rede pública que recebem vítimas de acidente de trânsito e poli-
automotor, não autorizada pela autoridade competente, gerando traumatizados; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
situação de risco à incolumidade pública ou privada: (Redação dada III - trabalho em clínicas ou instituições especializadas na recu-
pela Lei nº 13.546, de 2017) (Vigência) peração de acidentados de trânsito; (Incluído pela Lei nº 13.281, de
Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e 2016) (Vigência)
suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação IV - outras atividades relacionadas ao resgate, atendimento e
para dirigir veículo automotor. (Redação dada pela Lei nº 12.971, recuperação de vítimas de acidentes de trânsito. (Incluído pela Lei
de 2014) (Vigência) nº 13.281, de 2016) (Vigência)
§ 1o Se da prática do crime previsto no caput resultar lesão Art. 312-B. Aos crimes previstos no § 3º do art. 302 e no § 2º
corporal de natureza grave, e as circunstâncias demonstrarem que do art. 303 deste Código não se aplica o disposto no inciso I do
o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a caput do art. 44 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal) .

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CAPÍTULO XX cadas com fundamento no art. 209-A deste Código, ressalvado o


DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS previsto em regulamento do Poder Executivo. (Incluído pela Lei nº
14.157, de 2021)
Art. 313. O Poder Executivo promoverá a nomeação dos mem- Art. 320-A. Os órgãos e as entidades do Sistema Nacional de
bros do CONTRAN no prazo de sessenta dias da publicação deste Trânsito poderão integrar-se para a ampliação e o aprimoramento
Código. da fiscalização de trânsito, inclusive por meio do compartilhamento
Art. 314. O CONTRAN tem o prazo de duzentos e quarenta dias da receita arrecadada com a cobrança das multas de trânsito. (Re-
a partir da publicação deste Código para expedir as resoluções ne- dação dada pela Lei nº 13.281, de 2016)
cessárias à sua melhor execução, bem como revisar todas as reso- Art. 321. (VETADO)
luções anteriores à sua publicação, dando prioridade àquelas que Art. 322. (VETADO)
visam a diminuir o número de acidentes e a assegurar a proteção Art. 323. O CONTRAN, em cento e oitenta dias, fixará a meto-
de pedestres. dologia de aferição de peso de veículos, estabelecendo percentuais
Parágrafo único. As resoluções do CONTRAN, existentes até a de tolerância, sendo durante este período suspensa a vigência das
data de publicação deste Código, continuam em vigor naquilo em penalidades previstas no inciso V do art. 231, aplicando-se a penali-
que não conflitem com ele. dade de vinte UFIR por duzentos quilogramas ou fração de excesso.
Parágrafo único. Os limites de tolerância a que se refere este
Art. 315. O Ministério da Educação e do Desporto, mediante
artigo, até a sua fixação pelo CONTRAN, são aqueles estabelecidos
proposta do CONTRAN, deverá, no prazo de duzentos e quarenta
pela Lei nº 7.408, de 25 de novembro de 1985.
dias contado da publicação, estabelecer o currículo com conteúdo
Art. 324. (VETADO)
programático relativo à segurança e à educação de trânsito, a fim
Art. 325. As repartições de trânsito conservarão por, no míni-
de atender o disposto neste Código. mo, 5 (cinco) anos os documentos relativos à habilitação de con-
Art. 316. O prazo de notificação previsto no inciso II do pará- dutores, ao registro e ao licenciamento de veículos e aos autos de
grafo único do art. 281 só entrará em vigor após duzentos e quaren- infração de trânsito. (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016)
ta dias contados da publicação desta Lei. (Vigência)
Art. 317. Os órgãos e entidades de trânsito concederão prazo § 1º Os documentos previstos no caput poderão ser gerados e
de até um ano para a adaptação dos veículos de condução de es- tramitados eletronicamente, bem como arquivados e armazenados
colares e de aprendizagem às normas do inciso III do art. 136 e art. em meio digital, desde que assegurada a autenticidade, a fidedig-
154, respectivamente. nidade, a confiabilidade e a segurança das informações, e serão vá-
Art. 318. (VETADO) lidos para todos os efeitos legais, sendo dispensada, nesse caso, a
Art. 319. Enquanto não forem baixadas novas normas pelo sua guarda física. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
CONTRAN, continua em vigor o disposto no art. 92 do Regulamento § 2º O Contran regulamentará a geração, a tramitação, o arqui-
do Código Nacional de Trânsito - Decreto nº 62.127, de 16 de janei- vamento, o armazenamento e a eliminação de documentos eletrô-
ro de 1968. nicos e físicos gerados em decorrência da aplicação das disposições
Art. 319-A. Os valores de multas constantes deste Código po- deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
derão ser corrigidos monetariamente pelo Contran, respeitado o § 3º Na hipótese prevista nos §§ 1º e 2º, o sistema deverá ser
limite da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor certificado digitalmente, atendidos os requisitos de autenticidade,
Amplo (IPCA) no exercício anterior. (Incluído pela Lei nº 13.281, de integridade, validade jurídica e interoperabilidade da Infraestru-
2016) (Vigência) tura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil). (Incluído pela Lei nº
Parágrafo único. Os novos valores decorrentes do disposto no 13.281, de 2016) (Vigência)
caput serão divulgados pelo Contran com, no mínimo, 90 (noventa) Art. 326. A Semana Nacional de Trânsito será comemorada
dias de antecedência de sua aplicação. (Incluído pela Lei nº 13.281, anualmente no período compreendido entre 18 e 25 de setembro.
de 2016) (Vigência) Art. 326-A. A atuação dos integrantes do Sistema Nacional de
Art. 320. A receita arrecadada com a cobrança das multas de Trânsito, no que se refere à política de segurança no trânsito, deve-
trânsito será aplicada, exclusivamente, em sinalização, em enge- rá voltar-se prioritariamente para o cumprimento de metas anuais
de redução de índice de mortos por grupo de veículos e de índice
nharia de tráfego, em engenharia de campo, em policiamento, em
de mortos por grupo de habitantes, ambos apurados por Estado
fiscalização, em renovação de frota circulante e em educação de
e por ano, detalhando-se os dados levantados e as ações realiza-
trânsito. (Redação dada pela Lei nº 14.440, de 2022)
das por vias federais, estaduais e municipais. (Incluído pela Lei nº
§ 1º O percentual de cinco por cento do valor das multas de
13.614, de 2018) (Vigência)
trânsito arrecadadas será depositado, mensalmente, na conta de § 1o O objetivo geral do estabelecimento de metas é, ao final
fundo de âmbito nacional destinado à segurança e educação de do prazo de dez anos, reduzir à metade, no mínimo, o índice nacio-
trânsito. (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) nal de mortos por grupo de veículos e o índice nacional de mortos
§ 2º O órgão responsável deverá publicar, anualmente, na rede por grupo de habitantes, relativamente aos índices apurados no
mundial de computadores (internet), dados sobre a receita arreca- ano da entrada em vigor da lei que cria o Plano Nacional de Redu-
dada com a cobrança de multas de trânsito e sua destinação. (Inclu- ção de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans). (Incluído pela Lei nº
ído pela Lei nº 13. 281, de 2016) (Vigência) 13.614, de 2018) (Vigência)
§ 3º O valor total destinado à recomposição das perdas de re- § 2o As metas expressam a diferença a menor, em base per-
ceita das concessionárias de rodovias e vias urbanas, em decorrên- centual, entre os índices mais recentes, oficialmente apurados, e
cia do não pagamento de pedágio por usuários da via, não poderá os índices que se pretende alcançar. (Incluído pela Lei nº 13.614,
ultrapassar o montante total arrecadado por meio das multas apli- de 2018) (Vigência)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§ 3o A decisão que fixar as metas anuais estabelecerá as res- § 12. Os índices serão divulgados oficialmente até o dia 31 de
pectivas margens de tolerância. (Incluído pela Lei nº 13.614, de março de cada ano. (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência)
2018) (Vigência) § 13. Com base em índices parciais, apurados no decorrer do
§ 4o As metas serão fixadas pelo Contran para cada um dos ano, o Contran, os Cetran e o Contrandife poderão recomendar aos
Estados da Federação e para o Distrito Federal, mediante propos- integrantes do Sistema Nacional de Trânsito alterações nas ações,
tas fundamentadas dos Cetran, do Contrandife e do Departamento projetos e programas em desenvolvimento ou previstos, com o fim
de Polícia Rodoviária Federal, no âmbito das respectivas circunscri- de atingir as metas fixadas para cada um dos Estados e para o Distri-
ções. (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência) to Federal. (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência)
§ 5o Antes de submeterem as propostas ao Contran, os Cetran, § 14. A partir da análise de desempenho a que se refere o § 7o
o Contrandife e o Departamento de Polícia Rodoviária Federal reali- deste artigo, o Contran elaborará e divulgará, também durante a
zarão consulta ou audiência pública para manifestação da socieda- Semana Nacional de Trânsito: (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018)
de sobre as metas a serem propostas. (Incluído pela Lei nº 13.614, (Vigência)
de 2018) (Vigência) I - duas classificações ordenadas dos Estados e do Distrito Fe-
§ 6o As propostas dos Cetran, do Contrandife e do Departa- deral, uma referente ao ano analisado e outra que considere a evo-
mento de Polícia Rodoviária Federal serão encaminhadas ao Con- lução do desempenho dos Estados e do Distrito Federal desde o
tran até o dia 1o de agosto de cada ano, acompanhadas de relatório início das análises; (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência)
analítico a respeito do cumprimento das metas fixadas para o ano II - relatório a respeito do cumprimento do objetivo geral do
anterior e de exposição de ações, projetos ou programas, com os estabelecimento de metas previsto no § 1o deste artigo. (Incluído
respectivos orçamentos, por meio dos quais se pretende cumprir as pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência)
metas propostas para o ano seguinte. (Incluído pela Lei nº 13.614, Art. 327. A partir da publicação deste Código, somente pode-
de 2018) (Vigência) rão ser fabricados e licenciados veículos que obedeçam aos limites
§ 7o As metas fixadas serão divulgadas em setembro, durante de peso e dimensões fixados na forma desta Lei, ressalvados os que
a Semana Nacional de Trânsito, assim como o desempenho, absolu- vierem a ser regulamentados pelo CONTRAN.
to e relativo, de cada Estado e do Distrito Federal no cumprimento Parágrafo único. (VETADO)
das metas vigentes no ano anterior, detalhados os dados levanta- Art. 328. O veículo apreendido ou removido a qualquer título
dos e as ações realizadas por vias federais, estaduais e municipais, e não reclamado por seu proprietário dentro do prazo de sessenta
devendo tais informações permanecer à disposição do público na dias, contado da data de recolhimento, será avaliado e levado a
rede mundial de computadores, em sítio eletrônico do órgão máxi- leilão, a ser realizado preferencialmente por meio eletrônico. (Re-
mo executivo de trânsito da União. (Incluído pela Lei nº 13.614, de dação dada pela Lei nº 13.160, de 2015)
2018) (Vigência) § 1o Publicado o edital do leilão, a preparação poderá ser ini-
§ 8o O Contran, ouvidos o Departamento de Polícia Rodoviária ciada após trinta dias, contados da data de recolhimento do veícu-
Federal e demais órgãos do Sistema Nacional de Trânsito, definirá lo, o qual será classificado em duas categorias: (Incluído pela Lei nº
as fórmulas para apuração dos índices de que trata este artigo, as- 13.160, de 2015)
sim como a metodologia para a coleta e o tratamento dos dados es- I – conservado, quando apresenta condições de segurança
tatísticos necessários para a composição dos termos das fórmulas. para trafegar; e (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
(Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência) II – sucata, quando não está apto a trafegar. (Incluído pela Lei
§ 9o Os dados estatísticos coletados em cada Estado e no Dis- nº 13.160, de 2015)
trito Federal serão tratados e consolidados pelo respectivo órgão § 2o Se não houver oferta igual ou superior ao valor da avalia-
ou entidade executivos de trânsito, que os repassará ao órgão má- ção, o lote será incluído no leilão seguinte, quando será arrematado
ximo executivo de trânsito da União até o dia 1o de março, por pelo maior lance, desde que por valor não inferior a cinquenta por
meio do sistema de registro nacional de acidentes e estatísticas de cento do avaliado. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
trânsito. (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência) § 3o Mesmo classificado como conservado, o veículo que for
§ 10. Os dados estatísticos sujeitos à consolidação pelo órgão levado a leilão por duas vezes e não for arrematado será leiloado
ou entidade executivos de trânsito do Estado ou do Distrito Federal como sucata. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
compreendem os coletados naquela circunscrição: (Incluído pela § 4o É vedado o retorno do veículo leiloado como sucata à cir-
Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência) culação. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
I - pela Polícia Rodoviária Federal e pelo órgão executivo ro- § 5o A cobrança das despesas com estada no depósito será
doviário da União; (Incluído pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência) limitada ao prazo de seis meses. (Incluído pela Lei nº 13.160, de
II - pela Polícia Militar e pelo órgão ou entidade executivos 2015)
rodoviários do Estado ou do Distrito Federal; (Incluído pela Lei nº § 6o Os valores arrecadados em leilão deverão ser utilizados
13.614, de 2018) (Vigência) para custeio da realização do leilão, dividindo-se os custos entre
III - pelos órgãos ou entidades executivos rodoviários e pelos os veículos arrematados, proporcionalmente ao valor da arremata-
órgãos ou entidades executivos de trânsito dos Municípios. (Incluí- ção, e destinando-se os valores remanescentes, na seguinte ordem,
do pela Lei nº 13.614, de 2018) (Vigência) para: (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
§ 11. O cálculo dos índices, para cada Estado e para o Distri- I – as despesas com remoção e estada; (Incluído pela Lei nº
to Federal, será feito pelo órgão máximo executivo de trânsito da 13.160, de 2015)
União, ouvidos o Departamento de Polícia Rodoviária Federal e de- II – os tributos vinculados ao veículo, na forma do § 10; (Incluí-
mais órgãos do Sistema Nacional de Trânsito. (Incluído pela Lei nº do pela Lei nº 13.160, de 2015)
13.614, de 2018) (Vigência)

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REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

III – os credores trabalhistas, tributários e titulares de crédito § 17. O procedimento de hasta pública na hipótese do § 16
com garantia real, segundo a ordem de preferência estabelecida no será realizado por lote de tonelagem de material ferroso, observan-
art. 186 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tributá- do-se, no que couber, o disposto neste artigo, condicionando-se a
rio Nacional); (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) entrega do material arrematado aos procedimentos necessários à
IV – as multas devidas ao órgão ou à entidade responsável pelo descaracterização total do bem e à destinação exclusiva, ambien-
leilão; (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) talmente adequada, à reciclagem siderúrgica, vedado qualquer
V – as demais multas devidas aos órgãos integrantes do Siste- aproveitamento de peças e partes. (Incluído pela Lei nº 13.281, de
ma Nacional de Trânsito, segundo a ordem cronológica; e (Incluído 2016) (Vigência)
pela Lei nº 13.160, de 2015) § 18. Os veículos sinistrados irrecuperáveis queimados, adul-
VI – os demais créditos, segundo a ordem de preferência legal. terados ou estrangeiros, bem como aqueles sem possibilidade de
(Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) regularização perante o órgão de trânsito, serão destinados à re-
§ 7o Sendo insuficiente o valor arrecadado para quitar os dé- ciclagem, independentemente do período em que estejam em de-
bitos incidentes sobre o veículo, a situação será comunicada aos pósito, respeitado o prazo previsto no caput deste artigo, sempre
credores. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) que a autoridade responsável pelo leilão julgar ser essa a medida
§ 8o Os órgãos públicos responsáveis serão comunicados do apropriada. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
leilão previamente para que formalizem a desvinculação dos ônus Art. 329. Os condutores dos veículos de que tratam os arts. 135
incidentes sobre o veículo no prazo máximo de dez dias. (Incluído e 136, para exercerem suas atividades, deverão apresentar, previa-
pela Lei nº 13.160, de 2015) mente, certidão negativa do registro de distribuição criminal rela-
§ 9o Os débitos incidentes sobre o veículo antes da alienação tivamente aos crimes de homicídio, roubo, estupro e corrupção de
administrativa ficam dele automaticamente desvinculados, sem menores, renovável a cada cinco anos, junto ao órgão responsável
prejuízo da cobrança contra o proprietário anterior. (Incluído pela pela respectiva concessão ou autorização.
Lei nº 13.160, de 2015) Art. 330. Os estabelecimentos onde se executem reformas
§ 10. Aplica-se o disposto no § 9o inclusive ao débito relativo a ou recuperação de veículos e os que comprem, vendam ou des-
tributo cujo fato gerador seja a propriedade, o domínio útil, a pos- montem veículos, usados ou não, são obrigados a possuir livros de
se, a circulação ou o licenciamento de veículo. (Incluído pela Lei nº registro de seu movimento de entrada e saída e de uso de placas
13.160, de 2015) de experiência, conforme modelos aprovados e rubricados pelos
§ 11. Na hipótese de o antigo proprietário reaver o veículo, por órgãos de trânsito.
qualquer meio, os débitos serão novamente vinculados ao bem, § 1º Os livros indicarão:
aplicando-se, nesse caso, o disposto nos §§ 1o, 2o e 3o do art. 271. I - data de entrada do veículo no estabelecimento;
(Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) II - nome, endereço e identidade do proprietário ou vendedor;
§ 12. Quitados os débitos, o saldo remanescente será deposi- III - data da saída ou baixa, nos casos de desmontagem;
tado em conta específica do órgão responsável pela realização do IV - nome, endereço e identidade do comprador;
leilão e ficará à disposição do antigo proprietário, devendo ser ex- V - características do veículo constantes do seu certificado de
pedida notificação a ele, no máximo em trinta dias após a realiza- registro;
ção do leilão, para o levantamento do valor no prazo de cinco anos, VI - número da placa de experiência.
após os quais o valor será transferido, definitivamente, para o fundo § 2º Os livros terão suas páginas numeradas tipograficamente
a que se refere o parágrafo único do art. 320. (Incluído pela Lei nº e serão encadernados ou em folhas soltas, sendo que, no primeiro
13.160, de 2015) caso, conterão termo de abertura e encerramento lavrados pelo
§ 13. Aplica-se o disposto neste artigo, no que couber, ao ani- proprietário e rubricados pela repartição de trânsito, enquanto,
mal recolhido, a qualquer título, e não reclamado por seu proprie- no segundo, todas as folhas serão autenticadas pela repartição de
tário no prazo de sessenta dias, a contar da data de recolhimen- trânsito.
to, conforme regulamentação do CONTRAN. (Incluído pela Lei nº § 3º A entrada e a saída de veículos nos estabelecimentos re-
13.160, de 2015) feridos neste artigo registrar-se-ão no mesmo dia em que se ve-
§ 14. Se identificada a existência de restrição policial ou judicial rificarem assinaladas, inclusive, as horas a elas correspondentes,
sobre o prontuário do veículo, a autoridade responsável pela restri- podendo os veículos irregulares lá encontrados ou suas sucatas ser
ção será notificada para a retirada do bem do depósito, mediante apreendidos ou retidos para sua completa regularização.
a quitação das despesas com remoção e estada, ou para a autori- § 4º As autoridades de trânsito e as autoridades policiais terão
zação do leilão nos termos deste artigo. (Redação dada pela Lei nº acesso aos livros sempre que o solicitarem, não podendo, entretan-
13.281, de 2016) (Vigência) to, retirá-los do estabelecimento.
§ 15. Se no prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da notificação § 5º A falta de escrituração dos livros, o atraso, a fraude ao
de que trata o § 14, não houver manifestação da autoridade res- realizá-lo e a recusa de sua exibição serão punidas com a multa pre-
ponsável pela restrição judicial ou policial, estará o órgão de trân- vista para as infrações gravíssimas, independente das demais comi-
sito autorizado a promover o leilão do veículo nos termos deste nações legais cabíveis.
artigo. (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) § 6o Os livros previstos neste artigo poderão ser substituídos
§ 16. Os veículos, sucatas e materiais inservíveis de bens auto- por sistema eletrônico, na forma regulamentada pelo Contran. (In-
motores que se encontrarem nos depósitos há mais de 1 (um) ano cluído pela Lei nº 13.154, de 2015)
poderão ser destinados à reciclagem, independentemente da exis- Art. 331. Até a nomeação e posse dos membros que passarão
tência de restrições sobre o veículo. (Incluído pela Lei nº 13.281, de a integrar os colegiados destinados ao julgamento dos recursos ad-
2016) (Vigência) ministrativos previstos na Seção II do Capítulo XVIII deste Código, o
julgamento dos recursos ficará a cargo dos órgãos ora existentes.

291
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Art. 332. Os órgãos e entidades integrantes do Sistema Na- Art. 341. Ficam revogadas as Leis nºs 5.108, de 21 de setembro
cional de Trânsito proporcionarão aos membros do CONTRAN, de 1966, 5.693, de 16 de agosto de 1971, 5.820, de 10 de novem-
CETRAN e CONTRANDIFE, em serviço, todas as facilidades para o bro de 1972, 6.124, de 25 de outubro de 1974, 6.308, de 15 de
cumprimento de sua missão, fornecendo-lhes as informações que dezembro de 1975, 6.369, de 27 de outubro de 1976, 6.731, de 4 de
solicitarem, permitindo-lhes inspecionar a execução de quaisquer dezembro de 1979, 7.031, de 20 de setembro de 1982, 7.052, de 02
serviços e deverão atender prontamente suas requisições. de dezembro de 1982, 8.102, de 10 de dezembro de 1990, os arts.
Art. 333. O CONTRAN estabelecerá, em até cento e vinte dias 1º a 6º e 11 do Decreto-lei nº 237, de 28 de fevereiro de 1967, e os
após a nomeação de seus membros, as disposições previstas nos Decretos-leis nºs 584, de 16 de maio de 1969, 912, de 2 de outubro
arts. 91 e 92, que terão de ser atendidas pelos órgãos e entida- de 1969, e 2.448, de 21 de julho de 1988.
des executivos de trânsito e executivos rodoviários para exercerem
suas competências. ANEXO I
§ 1º Os órgãos e entidades de trânsito já existentes terão prazo DOS CONCEITOS E DEFINIÇÕES
de um ano, após a edição das normas, para se adequarem às novas
disposições estabelecidas pelo CONTRAN, conforme disposto neste Para efeito deste Código adotam-se as seguintes definições:
artigo. ACOSTAMENTO - parte da via diferenciada da pista de rola-
§ 2º Os órgãos e entidades de trânsito a serem criados exer- mento destinada à parada ou estacionamento de veículos, em caso
cerão as competências previstas neste Código em cumprimento às de emergência, e à circulação de pedestres e bicicletas, quando não
exigências estabelecidas pelo CONTRAN, conforme disposto neste houver local apropriado para esse fim.
artigo, acompanhados pelo respectivo CETRAN, se órgão ou enti- AGENTE DA AUTORIDADE DE TRÂNSITO - agente de trânsito e
dade municipal, ou CONTRAN, se órgão ou entidade estadual, do policial rodoviário federal que atuam na fiscalização, no controle e
Distrito Federal ou da União, passando a integrar o Sistema Nacio- na operação de trânsito e no patrulhamento, competentes para a
nal de Trânsito. lavratura do auto de infração e para os procedimentos dele decor-
Art. 334. As ondulações transversais existentes deverão ser rentes, incluídos o policial militar ou os agentes referidos no art.
homologadas pelo órgão ou entidade competente no prazo de um 25-A deste Código, quando designados pela autoridade de trânsito
ano, a partir da publicação deste Código, devendo ser retiradas em com circunscrição sobre a via, mediante convênio, na forma previs-
caso contrário. ta neste Código. (Redação dada pela Lei nº 14.229, de 2021)
Art. 335. (VETADO) AGENTE DE TRÂNSITO - servidor civil efetivo de carreira do
Art. 336. Aplicam-se os sinais de trânsito previstos no Anexo II órgão ou entidade executivos de trânsito ou rodoviário, com as
até a aprovação pelo CONTRAN, no prazo de trezentos e sessenta atribuições de educação, operação e fiscalização de trânsito e de
dias da publicação desta Lei, após a manifestação da Câmara Te- transporte no exercício regular do poder de polícia de trânsito para
mática de Engenharia, de Vias e Veículos e obedecidos os padrões promover a segurança viária nos termos da Constituição Federal.
internacionais. (Incluído pela Lei nº 14.229, de 2021)
Art. 337. Os CETRAN terão suporte técnico e financeiro dos Es- AR ALVEOLAR - ar expirado pela boca de um indivíduo, originá-
tados e Municípios que os compõem e, o CONTRANDIFE, do Distrito rio dos alvéolos pulmonares. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)
Federal. AUTOMÓVEL - veículo automotor destinado ao transporte de
Art. 338. As montadoras, encarroçadoras, os importadores e passageiros, com capacidade para até oito pessoas, exclusive o con-
fabricantes, ao comerciarem veículos automotores de qualquer dutor.
categoria e ciclos, são obrigados a fornecer, no ato da comercia- AUTORIDADE DE TRÂNSITO - dirigente máximo de órgão ou
lização do respectivo veículo, manual contendo normas de circula- entidade executivo integrante do Sistema Nacional de Trânsito ou
ção, infrações, penalidades, direção defensiva, primeiros socorros pessoa por ele expressamente credenciada.
e Anexos do Código de Trânsito Brasileiro. ÁREA DE ESPERA - área delimitada por 2 (duas) linhas de reten-
Art. 338-A. As competências previstas no inciso XV do caput ção, destinada exclusivamente à espera de motocicletas, motone-
do art. 21 e no inciso XXII do caput do art. 24 deste Código serão tas e ciclomotores, junto à aproximação semafórica, imediatamen-
atribuídas aos órgãos ou entidades descritos no caput dos referi- te à frente da linha de retenção dos demais veículos.
dos artigos a partir de 1º de janeiro de 2024. (Incluído pela Lei nº BALANÇO TRASEIRO - distância entre o plano vertical passando
14.229, de 2021) pelos centros das rodas traseiras extremas e o ponto mais recuado
Parágrafo único. Até 31 de dezembro de 2023, as competên- do veículo, considerando-se todos os elementos rigidamente fixa-
cias a que se refere o caput deste artigo serão exercidas pelos ór- dos ao mesmo.
gãos e entidades executivos de trânsito dos Estados e do Distrito BICICLETA - veículo de propulsão humana, dotado de duas ro-
Federal. (Incluído pela Lei nº 14.229, de 2021) das, não sendo, para efeito deste Código, similar à motocicleta, mo-
Art. 339. Fica o Poder Executivo autorizado a abrir crédito es- toneta e ciclomotor.
pecial no valor de R$ 264.954,00 (duzentos e sessenta e quatro mil, BICICLETÁRIO - local, na via ou fora dela, destinado ao estacio-
novecentos e cinquenta e quatro reais), em favor do ministério ou namento de bicicletas.
órgão a que couber a coordenação máxima do Sistema Nacional BONDE - veículo de propulsão elétrica que se move sobre tri-
de Trânsito, para atender as despesas decorrentes da implantação lhos.
deste Código. BORDO DA PISTA - margem da pista, podendo ser demarcada
Art. 340. Este Código entra em vigor cento e vinte dias após a por linhas longitudinais de bordo que delineiam a parte da via des-
data de sua publicação. tinada à circulação de veículos.

292
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

CALÇADA - parte da via, normalmente segregada e em nível di- ESTRADA - via rural não pavimentada.
ferente, não destinada à circulação de veículos, reservada ao trân- ETILÔMETRO - aparelho destinado à medição do teor alcoólico
sito de pedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário no ar alveolar. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)
urbano, sinalização, vegetação e outros fins. FAIXAS DE DOMÍNIO - superfície lindeira às vias rurais, delimi-
CAMINHÃO-TRATOR - veículo automotor destinado a tracionar tada por lei específica e sob responsabilidade do órgão ou entidade
ou arrastar outro. de trânsito competente com circunscrição sobre a via.
CAMINHONETE - veículo destinado ao transporte de carga com FAIXAS DE TRÂNSITO - qualquer uma das áreas longitudinais
peso bruto total de até três mil e quinhentos quilogramas. em que a pista pode ser subdividida, sinalizada ou não por marcas
CAMIONETA - veículo misto destinado ao transporte de passa- viárias longitudinais, que tenham uma largura suficiente para per-
geiros e carga no mesmo compartimento. mitir a circulação de veículos automotores.
CAMINHÃO - veículo automotor destinado ao transporte de FISCALIZAÇÃO - ato de controlar o cumprimento das normas
carga com peso bruto total superior a 3.500 kg (três mil e quinhen- estabelecidas na legislação de trânsito, por meio do poder de po-
tos quilogramas), podendo tracionar ou arrastar outro veículo, lícia administrativa de trânsito, no âmbito de circunscrição dos ór-
respeitada a capacidade máxima de tração. (Incluído pela Lei nº gãos e entidades executivos de trânsito e de acordo com as compe-
14.440, de 2022) tências definidas neste Código.
CANTEIRO CENTRAL - obstáculo físico construído como sepa- FOCO DE PEDESTRES - indicação luminosa de permissão ou im-
rador de duas pistas de rolamento, eventualmente substituído por pedimento de locomoção na faixa apropriada.
marcas viárias (canteiro fictício). FREIO DE ESTACIONAMENTO - dispositivo destinado a manter
CAPACIDADE MÁXIMA DE TRAÇÃO - máximo peso que a unida- o veículo imóvel na ausência do condutor ou, no caso de um rebo-
de de tração é capaz de tracionar, indicado pelo fabricante, basea- que, se este se encontra desengatado.
do em condições sobre suas limitações de geração e multiplicação FREIO DE SEGURANÇA OU MOTOR - dispositivo destinado a
de momento de força e resistência dos elementos que compõem a diminuir a marcha do veículo no caso de falha do freio de serviço.
transmissão. FREIO DE SERVIÇO - dispositivo destinado a provocar a diminui-
CARREATA - deslocamento em fila na via de veículos automo- ção da marcha do veículo ou pará-lo.
tores em sinal de regozijo, de reivindicação, de protesto cívico ou GESTOS DE AGENTES - movimentos convencionais de braço,
de uma classe. adotados exclusivamente pelos agentes de autoridades de trânsito
CARRO DE MÃO - veículo de propulsão humana utilizado no nas vias, para orientar, indicar o direito de passagem dos veículos
transporte de pequenas cargas. ou pedestres ou emitir ordens, sobrepondo-se ou completando ou-
CARROÇA - veículo de tração animal destinado ao transporte tra sinalização ou norma constante deste Código.
de carga. GESTOS DE CONDUTORES - movimentos convencionais de bra-
CATADIÓPTRICO - dispositivo de reflexão e refração da luz utili- ço, adotados exclusivamente pelos condutores, para orientar ou
zado na sinalização de vias e veículos (olho-de-gato). indicar que vão efetuar uma manobra de mudança de direção, re-
CHARRETE - veículo de tração animal destinado ao transporte dução brusca de velocidade ou parada.
de pessoas. ILHA - obstáculo físico, colocado na pista de rolamento, desti-
CICLO - veículo de pelo menos duas rodas a propulsão humana. nado à ordenação dos fluxos de trânsito em uma interseção.
CICLOFAIXA - parte da pista de rolamento destinada à circula- INFRAÇÃO - inobservância a qualquer preceito da legislação de
ção exclusiva de ciclos, delimitada por sinalização específica. trânsito, às normas emanadas do Código de Trânsito, do Conselho
CICLOMOTOR - veículo de 2 (duas) ou 3 (três) rodas, provido de Nacional de Trânsito e a regulamentação estabelecida pelo órgão
motor de combustão interna, cuja cilindrada não exceda a 50 cm ou entidade executiva do trânsito.
3 (cinquenta centímetros cúbicos), equivalente a 3,05 pol 3 (três INTERSEÇÃO - todo cruzamento em nível, entroncamento ou
polegadas cúbicas e cinco centésimos), ou de motor de propulsão bifurcação, incluindo as áreas formadas por tais cruzamentos, en-
elétrica com potência máxima de 4 kW (quatro quilowatts), e cuja troncamentos ou bifurcações.
velocidade máxima de fabricação não exceda a 50 Km/h (cinquenta INTERRUPÇÃO DE MARCHA - imobilização do veículo para
quilômetros por hora). atender circunstância momentânea do trânsito.
CICLOVIA - pista própria destinada à circulação de ciclos, sepa- LICENCIAMENTO - procedimento anual, relativo a obrigações
rada fisicamente do tráfego comum. do proprietário de veículo, comprovado por meio de documento
CIRCULAÇÃO - movimentação de pessoas, animais e veículos específico (Certificado de Licenciamento Anual).
em deslocamento, conduzidos ou não, em vias públicas ou privadas LOGRADOURO PÚBLICO - espaço livre destinado pela munici-
abertas ao público e de uso coletivo. (Incluído pela Lei nº 14.229, palidade à circulação, parada ou estacionamento de veículos, ou à
de 2021) circulação de pedestres, tais como calçada, parques, áreas de lazer,
CONVERSÃO - movimento em ângulo, à esquerda ou à direita, calçadões.
de mudança da direção original do veículo. LOTAÇÃO - carga útil máxima, incluindo condutor e passagei-
CRUZAMENTO - interseção de duas vias em nível. ros, que o veículo transporta, expressa em quilogramas para os
DISPOSITIVO DE SEGURANÇA - qualquer elemento que tenha veículos de carga, ou número de pessoas, para os veículos de pas-
a função específica de proporcionar maior segurança ao usuário da sageiros.
via, alertando-o sobre situações de perigo que possam colocar em LOTE LINDEIRO - aquele situado ao longo das vias urbanas ou
risco sua integridade física e dos demais usuários da via, ou danifi- rurais e que com elas se limita.
car seriamente o veículo. LUZ ALTA - facho de luz do veículo destinado a iluminar a via
ESTACIONAMENTO - imobilização de veículos por tempo supe- até uma grande distância do veículo.
rior ao necessário para embarque ou desembarque de passageiros.

293
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

LUZ BAIXA - facho de luz do veículo destinada a iluminar a via PASSARELA - obra de arte destinada à transposição de vias, em
diante do veículo, sem ocasionar ofuscamento ou incômodo injus- desnível aéreo, e ao uso de pedestres.
tificáveis aos condutores e outros usuários da via que venham em PASSEIO - parte da calçada ou da pista de rolamento, neste úl-
sentido contrário. timo caso, separada por pintura ou elemento físico separador, livre
LUZ DE FREIO - luz do veículo destinada a indicar aos demais de interferências, destinada à circulação exclusiva de pedestres e,
usuários da via, que se encontram atrás do veículo, que o condutor excepcionalmente, de ciclistas.
está aplicando o freio de serviço. PATRULHAMENTO - função exercida pela Polícia Rodoviária Fe-
LUZ INDICADORA DE DIREÇÃO (pisca-pisca) - luz do veículo des- deral com o objetivo de garantir obediência às normas de trânsito,
tinada a indicar aos demais usuários da via que o condutor tem o assegurando a livre circulação e evitando acidentes.
propósito de mudar de direção para a direita ou para a esquerda. PATRULHAMENTO OSTENSIVO - função exercida pela Polícia
LUZ DE MARCHA À RÉ - luz do veículo destinada a iluminar atrás Rodoviária Federal com o objetivo de prevenir e reprimir infrações
do veículo e advertir aos demais usuários da via que o veículo está penais no âmbito de sua competência e de garantir obediência às
efetuando ou a ponto de efetuar uma manobra de marcha à ré. normas relativas à segurança de trânsito, de forma a assegurar a
LUZ DE NEBLINA - luz do veículo destinada a aumentar a ilu- livre circulação e a prevenir acidentes. (Incluído pela Lei nº 14.229,
minação da via em caso de neblina, chuva forte ou nuvens de pó. de 2021)
LUZ DE POSIÇÃO (lanterna) - luz do veículo destinada a indicar PATRULHAMENTO VIÁRIO - função exercida pelos agentes de
a presença e a largura do veículo. trânsito dos órgãos e entidades executivos de trânsito e rodoviário,
MANOBRA - movimento executado pelo condutor para alterar no âmbito de suas competências, com o objetivo de garantir a segu-
a posição em que o veículo está no momento em relação à via. rança viária nos termos do § 10 do art. 144 da Constituição Federal.
MARCAS VIÁRIAS - conjunto de sinais constituídos de linhas, (Incluído pela Lei nº 14.229, de 2021)
marcações, símbolos ou legendas, em tipos e cores diversas, apos- PERÍMETRO URBANO - limite entre área urbana e área rural.
tos ao pavimento da via. PESO BRUTO TOTAL - peso máximo que o veículo transmite ao
MICROÔNIBUS - veículo automotor de transporte coletivo com pavimento, constituído da soma da tara mais a lotação.
capacidade para até vinte passageiros. PESO BRUTO TOTAL COMBINADO - peso máximo transmitido
MOTOCICLETA - veículo automotor de duas rodas, com ou sem ao pavimento pela combinação de um caminhão-trator mais seu
side-car, dirigido por condutor em posição montada. semi-reboque ou do caminhão mais o seu reboque ou reboques.
MOTONETA - veículo automotor de duas rodas, dirigido por PISCA-ALERTA - luz intermitente do veículo, utilizada em cará-
condutor em posição sentada. ter de advertência, destinada a indicar aos demais usuários da via
MOTOR-CASA (MOTOR-HOME) - veículo automotor cuja car- que o veículo está imobilizado ou em situação de emergência.
roçaria seja fechada e destinada a alojamento, escritório, comércio PISTA - parte da via normalmente utilizada para a circulação de
ou finalidades análogas. veículos, identificada por elementos separadores ou por diferença
NOITE - período do dia compreendido entre o pôr-do-sol e o de nível em relação às calçadas, ilhas ou aos canteiros centrais.
nascer do sol. PLACAS - elementos colocados na posição vertical, fixados ao
ÔNIBUS - veículo automotor de transporte coletivo com capa- lado ou suspensos sobre a pista, transmitindo mensagens de cará-
cidade para mais de vinte passageiros, ainda que, em virtude de ter permanente e, eventualmente, variáveis, mediante símbolo ou
adaptações com vista à maior comodidade destes, transporte nú- legendas pré-reconhecidas e legalmente instituídas como sinais de
mero menor. trânsito.
OPERAÇÃO DE CARGA E DESCARGA - imobilização do veículo, POLICIAMENTO OSTENSIVO DE TRÂNSITO - função exercida
pelo tempo estritamente necessário ao carregamento ou descar- pelas Polícias Militares com o objetivo de prevenir e reprimir atos
regamento de animais ou carga, na forma disciplinada pelo órgão relacionados com a segurança pública e de garantir obediência às
ou entidade executivo de trânsito competente com circunscrição normas relativas à segurança de trânsito, assegurando a livre circu-
sobre a via. lação e evitando acidentes.
OPERAÇÃO DE TRÂNSITO - monitoramento técnico baseado PONTE - obra de construção civil destinada a ligar margens
nos conceitos de Engenharia de Tráfego, das condições de fluidez, opostas de uma superfície líquida qualquer.
de estacionamento e parada na via, de forma a reduzir as interfe- REBOQUE - veículo destinado a ser engatado atrás de um veí-
rências tais como veículos quebrados, acidentados, estacionados culo automotor.
irregularmente atrapalhando o trânsito, prestando socorros ime- REGULAMENTAÇÃO DA VIA - implantação de sinalização de re-
diatos e informações aos pedestres e condutores. gulamentação pelo órgão ou entidade competente com circunscri-
PARADA - imobilização do veículo com a finalidade e pelo tem- ção sobre a via, definindo, entre outros, sentido de direção, tipo de
po estritamente necessário para efetuar embarque ou desembar- estacionamento, horários e dias.
que de passageiros. REFÚGIO - parte da via, devidamente sinalizada e protegida,
PASSAGEM DE NÍVEL - todo cruzamento de nível entre uma via destinada ao uso de pedestres durante a travessia da mesma.
e uma linha férrea ou trilho de bonde com pista própria. RENACH - Registro Nacional de Carteiras de Habilitação. (Reda-
PASSAGEM POR OUTRO VEÍCULO - movimento de passagem ção dada pela Lei nº 14.440, de 2022)
à frente de outro veículo que se desloca no mesmo sentido, em RENAVAM - Registro Nacional de Veículos Automotores.
menor velocidade, mas em faixas distintas da via. RETORNO - movimento de inversão total de sentido da direção
PASSAGEM SUBTERRÂNEA - obra de arte destinada à transpo- original de veículos.
sição de vias, em desnível subterrâneo, e ao uso de pedestres ou RODOVIA - via rural pavimentada.
veículos. SEMI-REBOQUE - veículo de um ou mais eixos que se apoia na
sua unidade tratora ou é a ela ligado por meio de articulação.

294
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

SINAIS DE TRÂNSITO - elementos de sinalização viária que se VEÍCULO EM ESTADO DE ABANDONO - veículo estacionado na
utilizam de placas, marcas viárias, equipamentos de controle lumi- via ou em estacionamento público, sem capacidade de locomoção
nosos, dispositivos auxiliares, apitos e gestos, destinados exclusi- por meios próprios e que, devido a seu estado de conservação e
vamente a ordenar ou dirigir o trânsito dos veículos e pedestres. processo de deterioração, ofereça risco à saúde pública, à seguran-
SINALIZAÇÃO - conjunto de sinais de trânsito e dispositivos de ça pública ou ao meio ambiente, independentemente de encontrar-
segurança colocados na via pública com o objetivo de garantir sua -se estacionado em local permitido. (Incluído pela Lei nº 14.440, de
utilização adequada, possibilitando melhor fluidez no trânsito e 2022)
maior segurança dos veículos e pedestres que nela circulam. VEÍCULO DE COLEÇÃO - veículo fabricado há mais de 30 (trinta)
SONS POR APITO - sinais sonoros, emitidos exclusivamente anos, original ou modificado, que possui valor histórico próprio.
pelos agentes da autoridade de trânsito nas vias, para orientar ou VIA - superfície por onde transitam veículos, pessoas e animais,
indicar o direito de passagem dos veículos ou pedestres, sobrepon- compreendendo a pista, a calçada, o acostamento, ilha e canteiro
do-se ou completando sinalização existente no local ou norma es- central.
tabelecida neste Código. VIA DE TRÂNSITO RÁPIDO - aquela caracterizada por acessos
TARA - peso próprio do veículo, acrescido dos pesos da carro- especiais com trânsito livre, sem interseções em nível, sem acessi-
çaria e equipamento, do combustível, das ferramentas e acessó- bilidade direta aos lotes lindeiros e sem travessia de pedestres em
rios, da roda sobressalente, do extintor de incêndio e do fluido de nível.
arrefecimento, expresso em quilogramas. VIA ARTERIAL - aquela caracterizada por interseções em nível,
TRAILER - reboque ou semi-reboque tipo casa, com duas, qua- geralmente controlada por semáforo, com acessibilidade aos lotes
tro, ou seis rodas, acoplado ou adaptado à traseira de automóvel lindeiros e às vias secundárias e locais, possibilitando o trânsito en-
ou camionete, utilizado em geral em atividades turísticas como alo- tre as regiões da cidade.
jamento, ou para atividades comerciais. VIA COLETORA - aquela destinada a coletar e distribuir o trân-
TRÂNSITO - movimentação e imobilização de veículos, pessoas sito que tenha necessidade de entrar ou sair das vias de trânsito
e animais nas vias terrestres. rápido ou arteriais, possibilitando o trânsito dentro das regiões da
TRANSPOSIÇÃO DE FAIXAS - passagem de um veículo de uma cidade.
faixa demarcada para outra. VIA LOCAL - aquela caracterizada por interseções em nível não
TRATOR - veículo automotor construído para realizar trabalho semaforizadas, destinada apenas ao acesso local ou a áreas restri-
agrícola, de construção e pavimentação e tracionar outros veículos tas.
e equipamentos. VIA RURAL - estradas e rodovias.
ULTRAPASSAGEM - movimento de passar à frente de outro ve- VIA URBANA - ruas, avenidas, vielas, ou caminhos e similares
ículo que se desloca no mesmo sentido, em menor velocidade e abertos à circulação pública, situados na área urbana, caracteriza-
na mesma faixa de tráfego, necessitando sair e retornar à faixa de dos principalmente por possuírem imóveis edificados ao longo de
origem. sua extensão.
UTILITÁRIO - veículo misto caracterizado pela versatilidade do VIAS E ÁREAS DE PEDESTRES - vias ou conjunto de vias destina-
seu uso, inclusive fora de estrada. das à circulação prioritária de pedestres.
VEÍCULO ARTICULADO - combinação de veículos acoplados, VIADUTO - obra de construção civil destinada a transpor uma
sendo um deles automotor. depressão de terreno ou servir de passagem superior.
VEÍCULO AUTOMOTOR - todo veículo a motor de propulsão
que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para
o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária de TRABALHO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo
compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não Trazer essa temática para o currículo da Educação Básica contri-
circulam sobre trilhos (ônibus elétrico). bui para a compreensão do Trabalho enquanto princípio educativo
VEÍCULO DE CARGA - veículo destinado ao transporte de carga, que envolve não só discussões acerca do mundo do trabalho, mas
podendo transportar dois passageiros, exclusive o condutor. também acerca do desenvolvimento de capacidades humanas para
VEÍCULO DE COLEÇÃO - aquele que, mesmo tendo sido fabrica- transformação da realidade material, social. Relaciona-se ainda à
do há mais de trinta anos, conserva suas características originais de compreensão da Ciência e Tecnologia enquanto dimensões capazes
fabricação e possui valor histórico próprio. de provocar reflexões e intervenções sobre o mundo nos aspectos
VEÍCULO CONJUGADO - combinação de veículos, sendo o pri- sociais e naturais sem perder de vista o caráter da sustentabilidade.
meiro um veículo automotor e os demais reboques ou equipamen- Nesse sentido, é fundamental que os currículos e as práticas
tos de trabalho agrícola, construção, terraplenagem ou pavimen- dos professores promovam a pesquisa, como princípio pedagógico,
tação. associada a uma abordagem reflexiva dos conteúdos que considere
VEÍCULO DE GRANDE PORTE - veículo automotor destinado ao a relação complexa entre os potenciais do Trabalho, da Ciência e da
transporte de carga com peso bruto total máximo superior a dez Tecnologia para resolução de problemas, a ampliação da capacida-
mil quilogramas e de passageiros, superior a vinte passageiros. de produtiva e empreendedora, bem como para a garantia de um
VEÍCULO DE PASSAGEIROS - veículo destinado ao transporte de espaço de reflexão e atuação crítica e ética sobre suas influências
pessoas e suas bagagens. nos impactos ambientais e sociais.
VEÍCULO MISTO - veículo automotor destinado ao transporte
simultâneo de carga e passageiro.

295
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

É importante que o currículo da Educação Básica, ao abordar


essa temática, promova uma reflexão sobre as diversas formas de RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 07/2010
trabalho, o uso das tecnologias, as suas respectivas funções e or-
ganização social em torno de cada profissão, a contribuição dessas Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em
para o desenvolvimento da sociedade, bem como sobre as relações tópicos anteriores.
sociais e de poder que se estabelecem em torno do mundo do tra-
balho.
DECRETO Nº 7.037/2009

Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em


PARECER CNE/CEB Nº 11/2010 tópicos anteriores.

Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em


tópicos anteriores. PARECER CNE/CP Nº 08/2012

RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 07/2010 Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em
tópicos anteriores.

Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 01/2012
tópicos anteriores.

Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em


SAÚDE, VIDA FAMILIAR E SOCIAL tópicos anteriores.

A temática saúde é um conceito que nos remete não só a au-


sência de doença, mas, sobretudo, ao completo bem-estar que per- AS ÁREAS DO CONHECIMENTO E SUAS ORGANIZA-
meia as pessoas saudáveis. A concepção que se entende por saúde ÇÕES CURRICULARES: LINGUAGENS
tem relações diretas com o meio cultural, social, político, econômi-
co, ambiental e afetivo em que se vive. A visão histórica dos diver- A área de Linguagens, nos documentos oficiais, é composta pe-
sos significados de saúde também sofre variações ao longo do tem- los seguintes componentes curriculares: Língua Portuguesa, Arte,
po. O currículo, ao desenvolver esse tema, deve considerar a saúde Educação Física nos Anos Iniciais, e nos Anos Finais com a Língua
numa perspectiva mais ampla que envolve as várias dimensões do Inglesa. É imprescindível, pois, que os estudantes se apropriem das
ser humano, tais como: saúde mental, comportamental, atitudinal, especificidades de cada linguagem sem, entretanto, se distanciar da
orgânica, física, motora, afetiva, sensorial, entre outras. visão do todo no qual elas estão inseridas. Portanto, é importante
É necessário que a pessoa se perceba em sua multidimensio- que eles percebam a dinamicidade das linguagens, considerando o
nalidade e que a esfera da saúde seja reconhecida sob os diver- fato de que todos são partícipes desse processo de transformação
sos aspectos que envolvem uma vida saudável. O contexto político contínua.
relativo a como a sociedade está organizada também interfere na Tão importante quanto estudar a Língua Portuguesa é reconhe-
dimensão da saúde do cidadão. A estrutura da saúde pública, o pla- cer que os outros componentes da área representam formas de en-
nejamento das cidades, o saneamento básico, o estilo de vida do/ contro como novo ao mesmo tempo em que se estabelecem como
no campo ou da/na cidade, o sistema de transporte e habitacional, conexões para as diversas realidades já vivenciadas pelos estudan-
as relações familiares e sociais poderão interferir na saúde. tes. O trabalho realizado para aproximar os estudantes da Arte se
Os temas integradores, acima abordados, além de estarem estabelece no cotidiano das escolas, a fim de aproximar realidades
presentes em habilidades e competências de diferentes componen- de produção cultural que vão do popular ao erudito. Uma vez que
tes curriculares, devem estimular o desenvolvimento de atividades consideramos que toda manifestação de arte deve ser compreendi-
para serem vivenciadas no contexto da escola, envolvendo todas da como forma de existência da atividade humana e de expressão
as áreas do conhecimento que compõem o currículo. Por isso, é de suas formas de ver e estar no mundo, estudar arte é condição
necessário que se realize um trabalho interdisciplinar, motivador, “sine qua non” para o currículo escolar.
inclusivo, resultando em uma experiência mais enriquecedora para É indispensável que nossos estudantes construam as habilida-
os estudantes, os professores participantes e toda a comunidade des relativas ao fortalecimento do seu corpo e de sua saúde, bem
escolar como que conheçam a história das práticas desportivas e sua influ-
ência para o desenvolvimento biopsicossocial do ser humano. De
modo semelhante, é imprescindível que a língua estrangeira seja
PARECER CNE/CEB Nº 11/2010 alvo de investimento dos anos finais do Ensino Fundamental uma
vez que o mundo globalizado oferece oportunidades para que se-
jam ampliadas as relações a partir do estudo de uma segunda lín-
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em gua.
tópicos anteriores.

296
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Como preceitua a BNCC, o objetivo do ensino da Língua Portu- mostrar aos estudantes a grande variedade da fala, conscientizan-
guesa reside em possibilitar aos estudantes uma participação efeti- doos de que a língua não é homogênea e estática, trabalhando com
va nas práticas das mais variadas linguagens, a fim de lhes ampliar eles diferentes níveis de linguagem, desde o coloquial até o mais
as capacidades expressivas linguísticas e seus conhecimentos rela- erudito. Assim, não se deve considerar nos atos de interação oral o
tivos a essas linguagens. “certo” e o “errado”, mas saber que a variedade linguística utiliza,
Deve-se, ainda, observar que é essencial aprofundar as re- nos diferentes contextos sociais, o registro adequado às diferentes
flexões acerca dos conhecimentos dos componentes da área de situações de comunicação, considerando as intencionalidades e
Linguagem, visto que uma análise mais acurada sobre a questão os interlocutores envolvidos no ato comunicativo. Isso implica em
é entendida como meio para o entendimento dos modos de se ex- considerar as variedades linguísticas existentes (geográfica ou dia-
pressar e de participar no mundo e não como fim em si mesma. tópica, histórica ou diacrônica, social ou diastrática, dentre outras).
Para ensinar Língua Portuguesa, assim como os demais compo- É importante destacar que, embora a oralidade e a escrita da
nentes curriculares, é fundamental que se reveja e se avalie concep- língua apresentem similaridades, há diferenças entre elas, pois a
ções, objetivos, procedimentos e resultados, de forma que todas fala é, na maioria das vezes, espontânea, a interação se dá, qua-
as ações pedagógicas possam convergir para um ponto comum: se sempre, face a face e é complementada com recursos gestuais,
ampliar as competências comunicativo-interacionais dos educan- de entonação e outros, enquanto que a escrita pode ser planejada,
dos. O empenho de se fazer essa reflexão sobre a ação pedagógica, elaborada e não dispõe de recursos extralinguísticos.
nas práticas diárias do ensino de língua, constitui-se em uma vigília
constante sobre o que se pretende ensinar, para que se pretende Práticas de Leitura de Textos
ensinar, como se pretende ensinar, o que e como estão sendo ava- A leitura de textos é uma atividade de interação entre sujei-
liados os conteúdos escolares. Dessa forma, o professor encontra
tos, indo além da simples decodificação de sinais gráficos. O leitor
condições de não ser apenas um mero repetidor de listas de conte-
como um dos sujeitos da interação, busca recuperar, interpretar
údos, muitas vezes, alheios à língua que se fala, ouve, lê e escreve
e compreender o conteúdo e as intenções do autor, por meio dos
elementos gráficos, elaborando hipóteses, confirmando-as ou refu-
tando-as e tirando suas conclusões. Muito do que o leitor consegue
COMPONENTE CURRICULAR DA LÍNGUA PORTUGUE- apreender faz parte do seu conhecimento de mundo, acerca dos
SA. PRÁTICAS DE ORALIDADE; PRÁTICAS DE LEITURA elementos que constituem e facilitam a compreensão do texto.
DE TEXTOS; PRÁTICAS DE PRODUÇÃO DE TEXTOS; A leitura tem como funções: o acesso ao conhecimento pro-
PRÁTICAS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA duzido, o desenvolvimento do prazer estético, o acesso às especi-
ficidades da escrita, o lazer(hedonística), a fuga da realidade, o es-
Para ensinar Língua Portuguesa, assim como os demais compo- tímulo à criatividade, o preenchimento de tempo, a satisfação das
nentes curriculares, é fundamental que se reveja e se avalie concep- pessoais, a moralidade; o auto respeito, dentre outras (MARCUS-
ções, objetivos, procedimentos e resultados, de forma que todas CHI,2008). As atividades de leitura em contextos escolares devem,
as ações pedagógicas possam convergir para um ponto comum: assim, contribuir para a ampliação dos repertórios de informação
ampliar as competências comunicativas interacionais dos estudan- do leitor. As experiências gratuitas do prazer de ler permitem tam-
tes. O empenho de se fazer essa reflexão sobre a ação pedagógica, bém que se compreenda o que é típico da escrita formal dos textos
nas práticas diárias do ensino de língua, constitui-se em uma vigília da comunicação pública.
constante sobre o que se pretende ensinar, para que se pretende
ensinar, como se pretende ensinar, e como estão sendo avaliados os Práticas de Produção de Textos
conteúdos escolares. Dessa forma, o professor encontra condições Marcuschi (2008) afirma que a escrita é usada em contextos so-
de não ser apenas um mero repetidor de listas dos conteúdos, mui- ciais da vida cotidiana em paralelo com a oralidade. Em cada texto,
tas vezes, alheios à língua que se fala, ouve, lê e escreve. as ênfases e os objetivos do uso da escrita são variados e diversos.
Neste currículo a concepção de linguagem é vista em uma pers- Há relação entre a escrita e o contexto social de produção e recep-
pectiva sociointeracionista, a qual leva em consideração tanto as ção, fazendo surgir gêneros textuais, cada um com suas formas e
formas linguísticas quanto os aspectos envolvidos em seu funciona- funções, suas particularidades temáticas, suas intenções específicas
mento, os níveis de linguagem e interlocutores, numa visão na qual e formas comunicativas.
a língua é um elemento cognitivo e social, constitutiva da realidade A atividade de escrita é interativa, com expressões e manifes-
e essencialmente dialógica. A partir dessa concepção de linguagem tações verbais de ideias, informações, intenções, crenças ou senti-
como interação, propõe-se que o ensino se efetive através de prá-
mentos que se quer partilhar. Embora o sujeito com quem se quer
ticas articuladas de oralidade, leitura e escrita e análise linguística.
interagir pela escrita, muitas vezes, não esteja presente, é inegável
Considerando esses pressupostos, em articulação com as com-
que ele existe e é imprescindível ser levado em consideração no
petências gerais da BNCC, o componente curricular Língua Portu-
momento da produção escrita, assim como devem ser consideradas
guesa deve garantir aos estudantes o desenvolvimento de compe-
tências específicas, de acordo com os seguintes eixos: também as condições de recepção desse texto.
Dessa forma, nas práticas de produção de texto, o professor
Práticas de Oralidade deve dar ênfase a práticas de escritas com autoria, destinatário, re-
São práticas sociais interativas, que se apresentam sob variadas ferência, enfim, decidir sobre o que vai ser escrito, para que, para
formas ou gêneros textuais, fundadas na realidade sonora. Elas são quem e como vai ser escrito, visto que, socialmente, não existe es-
realizadas em níveis de registros do menos formal ao mais formal crita “para nada”, “para não dizer nada” e “para não ser ato de lin-
- nos variados contextos de uso. Nesse sentido, o papel da escola é guagem” (MARCUSCHI,2008).

297
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Práticas de Análise Linguística A Arte desenvolveu-se num processo sócio-histórico-político,


O desenvolvimento da competência discursiva dos estudantes relacionando ambiente (lugar, espaço, tempo), filosofia (pensamen-
dependerá de um trabalho sistematizado, tanto no nível da textu- to, ideias), antropologia (comportamentos, modos de vida, costu-
alidade (estrutura macro e micro dos gêneros textuais) quanto no mes) e metafísica (crenças, valores, coisas místicas). É nela que se
nível da gramática (competência linguística). Assim, o isolamento interpreta/reinterpreta, se cria/recria o mundo, nos contextos que
de unidades mínimas é um procedimento de análise que só tem influem a criação, expressão e manifestações artístico-culturais ple-
sentido se retomado ao nível do texto. A análise do uso de determi- nas de sentido, simbologia, empirismo e epistemologia. O contato
nada palavra em um texto só terá sentido se contribuir para a sua com ela deve favorecer o diálogo, questionamento e análise do ob-
compreensão em um contexto comunicativo específico. Possenti jeto e/ou ato artístico. A arte na educação como expressão pessoal
(1999) define gramática a partir da noção de conjunto de regras: as e como cultura, é um importante instrumento para a identificação
que devem ser seguidas (gramática normativa), as que são seguidas cultural e o desenvolvimento individual (BARBOSA, 2010).
(gramática descritiva) e as que o falante domina (gramática inter- No ensino-aprendizagem em Arte, a celebrada proposta ou
nalizada). Nessa perspectiva, o objetivo do ensino da língua não é abordagem triangular de ensino da arte, pensada por Ana Mãe Bar-
formar gramáticos ou linguistas descritivistas, mas usuários da lín- bosa prevê três ações básicas a serem contempladas: apreciar/ler,
gua, pessoas capazes de interagir verbalmente, de modo autônomo contextualizar e praticar/produzir. Esta tríade não privilegia qual-
e eficaz, na perspectiva dos propósitos das múltiplas situações de quer dessas ações, alinhando-as no ato da fruição, decodificação e
interação em que estejam engajados. reprodução/releitura de um objeto artístico simultânea e dialogica-
Deve-se considerar como competência geral para o ensino da mente. “A arte como linguagem aguçadora dos sentidos transmite
Língua Portuguesa a ampliação da capacidade discursiva do estu- significados que não podem ser transmitidos por meio de nenhum
dante em atividades de uso social da língua, de maneira a com- outro tipo de linguagem, tal como a discursiva ou a científica” (BAR-
preender outras exigências de adequação da linguagem. Segundo BOSA, 2010).
Beaugrande e Dressler(1983), há sete fatores que condicionam as No Sistema Municipal de Ensino do Jaboatão dos Guararapes -
situações de produção textual, quais sejam: a coerência e a coe- SMEJG, o estudo da Arte, como previsto na Lei de Diretrizes e Bases
são (de natureza linguística e conceitual); e a intencionalidade, a da Educação, Nº 9.394/96 e estruturado na Base Nacional Comum
aceitabilidade, a situacionalidade, a informatividade e a intertex- Curricular, que vem adequar e atualizar os
tualidade (de natureza social e pragmática). Assim, um texto bem Parâmetros Curriculares Nacionais se dará a partir de quatro
elaborado deve conter esses fatores de textualidade. Quanto mais linguagens: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro. A cultura brasi-
variado for o contato do estudante com diferentes tipos e gêneros leira deve, de acordo com as Leis 10.639/03 e 11.645/08, valorizar
textuais, mais fácil será assimilar as regularidades que determinam a história e cultura de matriz africana, afro-brasileira e indígena. A
o seu uso. BNCC propõe que a abordagem das linguagens: Artes visuais, Dan-
Em relação à Literatura, esta tem sido uma forte aliada no de- ça, Música e Teatro articule seis dimensões do conhecimento que,
senvolvimento cultural dos estudantes. É importante não ser con- de forma indissociável e simultânea, caracterizam a singularidade
cebida como uma prática utilitária de leitura ou ainda que o texto da experiência artística. Não se trata de eixos temáticos ou catego-
literário sirva como pretexto para o trabalho da gramática ou de rias, mas de linhas maleáveis que se interpenetram, constituindo a
outros componentes do currículo, mas como atividade autônoma, especificidade da construção do conhecimento em Arte na escola,
funcionando como um jogo em torno da linguagem, das ideias, das sem nenhuma hierarquia ou ordem entre elas, para se trabalhar
formas, sem subordinação a um objetivo prático gramatical. com cada uma no campo pedagógico.
Essa referência busca facilitar o processo de ensino e apren-
dizagem em Arte, integrando os conhecimentos do componente
curricular. Sendo os conhecimentos e as experiências artísticas
COMPONENTE CURRICULAR DE ARTE constituídos por materialidades verbais e não verbais, sensíveis,
corporais, visuais, plásticas e sonoras, é importante levar em conta
A arte surgiu ainda nos primórdios da humanidade, dada a ne- sua natureza vivencial, experiencial e subjetiva. As dimensões são:
cessidade de o ser humano primitivo expressar ideias e sentimen- • Criação: refere-se ao fazer artístico, quando os sujeitos criam,
tos na sua relação com a natureza. Sendo o ser humano dotado de produzem e constroem. Trata do apreender o que está em jogo du-
raciocínio lógico, diversificou o seu modo de viver, pensar e agir. A rante o fazer artístico, permeado por tomadas de decisão, entraves,
partir daí a criatividade humana e a tecnologia existente levou à desafios, conflitos, negociações e inquietações.
invenção de objetos, artefatos e utensílios para auxiliar tarefas do • Crítica: refere-se às impressões que impulsionam os sujeitos
cotidiano, garantir a sobrevivência ou adornar corpos e ambientes, em direção a novas compreensões do espaço em que vivem, atra-
unindo o uso do raciocínio lógico ao das mãos no ato de “criar”. vés do estudo e pesquisa. Articula ação e pensamento propositivos,
Revelou-se, então, como uma de suas primeiras ações sobre a na- envolvendo aspectos estéticos, políticos, históricos, filosóficos, so-
tureza, em que o homem a utiliza e transforma (FISCHER, 1983). ciais, econômicos e culturais.
Disso surgiram as linguagens visual (pintura rupestre), oral (sons, • Estesia: é a experiência sensível dos sujeitos em relação ao
palavras) e simbólica (gestos, escrita, vestimentas e adornos), res- espaço, ao tempo, ao som, à ação, às imagens, ao próprio corpo e
significando as ideias humanas em objetos (vasos, colares, utensí- materiais diversos. Nela, o corpo em sua totalidade (emoção, per-
lios, armas de caça), e atos artísticos (música, dança e teatro) que cepção, intuição, sensibilidade e intelecto) protagoniza a experiên-
reuniam o senso auditivo e/ou visual. cia, pela sensibilidade e percepção para se conhecer a si mesmo, o
outro e o mundo.

298
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

• Expressão: possibilidades de exteriorizar e manifestar as cria- 2. Compreender as relações entre as linguagens da Arte e suas
ções subjetivas por meio de procedimentos artísticos, individual e práticas integradas, inclusive aquelas possibilitadas pelo uso das
coletivamente. Emerge da experiência artística com os elementos novas tecnologias de informação e comunicação, pelo cinema e
constitutivos de cada linguagem, dos seus vocabulários específicos pelo audiovisual, nas condições particulares de produção, na práti-
e das suas materialidades. ca de cada linguagem e nas suas articulações.
• Fruição: refere-se ao deleite, ao prazer, ao estranhamento e 3. Pesquisar e conhecer distintas matrizes estéticas e culturais
à abertura para se sensibilizar durante a participação em práticas – especialmente manifestas na arte e nas culturas que constituem
artísticas e culturais; implicando na relação continuada dos sujeitos a identidade brasileira –, sua tradição e manifestações contemporâ-
com produções artísticas e culturais das mais diversas épocas, luga- neas, reelaborando-as nas criações em Arte.
res e grupos sociais. 4. Experienciar a ludicidade, a percepção, a expressividade e
• Reflexão: refere-se ao processo de construir argumentos e a imaginação, ressignificando espaços da escola e de fora dela no
ponderações sobre as fruições, as experiências e os processos cria- âmbito da Arte.
tivos artísticos e culturais. É a atitude de perceber, analisar e inter- 5. Mobilizar recursos tecnológicos como formas de registro,
pretar a arte, seja como criador ou leitor. pesquisa e criação artística.
A referência a essas dimensões busca facilitar o processo de 6. Estabelecer relações entre arte, mídia, mercado e consumo,
ensino e aprendizagem em Arte, integrando os conhecimentos do compreendendo, de forma crítica e problematizadora, modos de
componente curricular. Uma vez que os conhecimentos e as expe- produção e de circulação da arte na sociedade.
riências artísticas são constituídos por materialidades verbais e não 7. Problematizar questões políticas, sociais, econômicas, cien-
verbais, sensíveis, corporais, visuais, plásticas e sonoras. É impor- tíficas, tecnológicas e culturais, por meio de exercícios, produções,
tante levar em conta sua natureza vivencial, experiencial e subje- intervenções e apresentações artísticas.
tiva. 8. Desenvolver a autonomia, a crítica, a autoria e o trabalho
Segundo a BNCC é importante que o componente curricular coletivo e colaborativo nas artes.
Arte considere o diálogo entre essas linguagens, com a literatura, e 9. Analisar e valorizar o patrimônio artístico nacional e interna-
outras formas estéticas híbridas, como as artes circenses, o cinema cional, material e imaterial, com suas histórias e diferentes visões
e a “performance”, integrando aprendizagens amplas e complexas de mundo.
e propiciando entender os costumes e valores das culturas, mani- O mundo atual, influenciado pelas mídias, é carregado de infor-
festados na arte. Do ponto de vista histórico, social e político, isso mações de apelo visual que leva as pessoas a consumirem muitos
contribui para a formação integral do Ser. Ao longo do Ensino Fun- produtos e serviços: imagens, vídeos e representações do real que
damental, os estudantes devem expandir seu repertório e ampliar se fazem cada vez mais presentes no cotidiano.
sua autonomia nas práticas artísticas, por meio da reflexão sensível, Assim, as Artes Visuais tradicionalmente conhecidas – pintura,
imaginativa e crítica sobre os conteúdos artísticos e seus elementos desenho, escultura, gravura, arquitetura, arte decorativa – funda-
constitutivos e também sobre as experiências de pesquisa, inven- mentam e se associam às expressões visuais contemporâneas: fo-
ção e criação. tografia, cinema, televisão, vídeo, web arte, holografia, instalação,
Na BNCC de Arte, cada uma das quatro linguagens do compo- “design”, moda, performance, “flash mobile”, “lives”, entre outras,
nente curricular constitui uma unidade temática, que reúne obje- ditadas pela tecnologia. E as pessoas fazem imediatas associações
tos de conhecimento e habilidades articulados às seis dimensões com símbolos, signos, mensagens, códigos e outras formas de per-
apresentadas anteriormente. Além dessas, uma última unidade cepção visual e de valores culturais dos povos.
temática, Artes integradas, explora as relações e articulações entre Nesse contexto, o olhar é entendido como forma de aprendi-
as diferentes linguagens e suas práticas, inclusive aquelas possibili- zagem, potencializando o simples fato de ver/enxergar para perce-
tadas pelo uso das novas tecnologias de informação e comunicação. bê-lo, compreendê-lo e reinterpretá-lo, ampliando a cultura visual,
Nessas unidades, as habilidades são organizadas em dois blo- que sempre acompanhou o ser humano como um campo que abor-
cos (1º ao 5º ano e 6º ao 9º ano), para permitir que os sistemas e as da os hábitos e costumes visuais dos povos os considera como fonte
redes de ensino, as escolas e os professores organizem seus currícu- de transmissão cultural e entendimento do mundo e da realidade,
los e suas propostas pedagógicas com a devida adequação aos seus combinando estudos da cultura, arte, história e antropologia.
contextos. Não sendo proposta de forma linear, rígida ou cumulati- Na escola as atividades com Artes Visuais devem levar o estu-
va com relação a cada linguagem ou objeto de conhecimento, mas dante a uma visão mais crítica, provocadora de sentidos e estesias
relacionando cada nova experiência às anteriores e às posteriores e ajudá-lo a compreender como, por que e de que maneira o fenô-
na aprendizagem em Arte. Os agrupamentos propostos não devem meno visual acontece para, daí, reconstruir/ressignificar esse olhar
ser tomados como modelo obrigatório para o desenho dos currícu- num processo de contextualização, fruição e produção, a partir de
los. Assim, as competências específicas da área de Linguagens, no diversas técnicas de composição visual (pintura, desenho, colagem,
componente curricular Arte, deve garantir aos estudantes o desen- entre outras).
volvimento de algumas competências específicas. No campo da linguagem corporal, a Dança sempre esteve asso-
1. Explorar, conhecer, fruir e analisar criticamente práticas e ciada ao raciocínio lógico, ampliando seu sentido e expressão para
produções artísticas e diversas sociedades, em distintos tempos representar ideias e fatos e simbolizar elementos naturais e artifi-
e espaços, para reconhecer a arte como um bem cultural do seu ciais. Na primitividade, a dança, consistia na imitação (mimese) da
entorno social, dos povos indígenas, das comunidades tradicionais natureza por meio do corpo, codificando o movimento dos astros,
brasileiras e de fenômeno cultural, histórico, social e sensível a dife- animais e plantas e embelezando expressões deíficas; quem criava
rentes contextos e dialogar com as diversidades. os movimentos era considerado como alguém ligado ao “sagrado”,
diferente dos demais seres humanos, conforme BERTHOLD(2010).

299
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Ainda, segundo RAMOS (2009), Ainda com a ideia de se expressar, o ser humano fez surgir o
“A mimese, entendida não como mera imitação, cópia (sentido Teatro. Originado nele próprio, sua relação com a natureza e sua ca-
hegemônico modernamente), mas como produção que se consti- pacidade criativa, aparece em várias culturas, épocas e concepções
tui ontologicamente com identidade própria, será sempre a apre- variadas: nas expressões orientais (China, Japão e Índia) e heranças
sentação de algo que anteriormente inexistia, ou que só havia em ocidentais (civilizações Mesopotâmica e Helênica), entre outras. O
potência, e agora se instaura, ou se repete, no sentido de suceder Teatro surge da expressão do corpo e da voz por seres humanos
no tempo essa latência anterior, concreta ou imaginária, e se mate- que, por exemplo, chamava a atenção, vestidos e adornados com
rializa diante dos nossos olhos como se fosse a própria natureza a movimentos ao redor das fogueiras, imitando a natureza e seres
fazê-lo”. (RAMOS, 2009) vivos e se diferenciando dos demais, o que lhes conferia um sen-
Assim, surgiram rituais, procissões, desfiles e expressões que, tido mágico e encantatório: “o Xamã, que é o porta-voz do deus,
mesmo sem o uso da palavra, eram facilmente compreendidas pelos o dançarino mascarado que afasta os demônios, o ator que traz a
espectadores no contexto sociocultural e espaço-temporal, aprimo- vida à obra do poeta - todos obedecem ao mesmo comando, que é
rando-se e ganhando especificidades em cada cultura e transitando a conjuração de uma outra realidade, mais verdadeira. (...)elevam o
do sagrado para o mundano; dos palácios para as ruas; das procis- artista acima das leis que governam a vida cotidiana, o transforma
sões para a carnavalização; do erudito para o popular; confundin- no mediador de um vislumbre mais alto; e a presença de espec-
do-se com a gênese do Teatro e religiões primitivas. Na Antiguidade tadores preparados para receber a mensagem desse vislumbre”.
e Modernidade a Dança deu origem às danças: palaciana, pastoris (BERTHOLD, 2010).
(origem da quadrilha junina), clássica, moderna e contemporânea, Com a convenção dos gestos, sons, palavras, movimentos e es-
popular (frevo, maracatu, caboclinho, forró), de rua (“street dance”, paços, o Teatro se desenvolveu, principalmente na Grécia e Roma,
“break”, “hip hop”, “funk”); sempre para expressar alegria, tristeza, que criaram o aparato cênico (Theatron) e o texto teatral por volta
reverência, sentimentos nobres e outros aspectos da vida, coreo- de 500 a.C. e os gêneros da Tragédia e Comédia, celebrados até hoje
grafadas nas composições corporais dos povos (BERTHOLD, 2010). por vários autores ao longo dos séculos, com variantes estilísticas
No ambiente da escola, a Dança deve ser entendida como a cada era. De natureza complexa, estabelece relações com outras
aprendizado corporal e cinestésico, valorização da cultura e identi- linguagens da arte (música, dança, literatura e suas diversas moda-
dade. Pode ser trabalhada a partir de cantigas de roda, experimen- lidades), numa rede intercontextual e inter/transdisciplinar.
tos corporais, montagens coreográficas e outras ações que contem- Na escola, o Teatro deve favorecer a percepção do mundo, a
plem a mesma, no fazer artístico dos estudantes. Deve priorizar as vivência de personagens do cotidiano, a criação/recriação de dra-
manifestações originais do país e da região, nas suas formas popu- maturgias escritas ou cênicas e o protagonismo individual e coletivo
lares e eruditas. dos estudantes. Também desenvolver o senso crítico e reflexivo e a
A Música é uma expressão originária de todos os povos, que convivência em grupo; ajudar a lidar com: regras, tempo-ritmo de
abrange os diversos usos e funções: artísticas, culturais, sociais, re- cada indivíduo, ética e respeito, desenvolvendo aspectos afetivos,
ligiosas, filosóficas e políticas, conforme apresentado na Proposta cognitivos e socioculturais.
Curricular da Rede Municipal (2011). Sua aplicabilidade transdisci- Pode ser trabalhado com brincadeiras do faz-de-conta, jogos
plinar no contexto educacional aciona estratégias cognitivas, mo- dramáticos ou teatrais, improvisações com lendas, contos e narra-
toras, afetivas, críticas e contribui para a formação integral do ser tivas da tradição oral e textos dramáticos de autores nacionais e
humano. O ensino da Música, previsto pela Lei Federal Nº 11.769/ internacionais, jogos corporais, mímica e pantomima, entre outros
2008, torna a Música parte do componente curricular obrigatório
na Educação Básica e instituída como constituinte da
Arte. De acordo com Fonterrada (2008), pode-se compreen-
der a educação musical como um espaço para inserção da arte na COMPONENTE CURRICULAR DE EDUCAÇÃO FÍSICA
vida do ser humano, para atingir outras dimensões de si, do outro e
com o mundo. Deve ter um sentido muito mais amplo que apenas O Referencial Curricular da Educação do Município do Jaboa-
divertir ou desenvolver habilidades. Ela desperta o respeito e a va- tão dos Guararapes, a partir da LDBEN - Lei Nº 9.394/96 atribui à
lorização aos saberes e à identidade dos estudantes. Adequando a Educação Física valor igual aos demais componentes curriculares da
sua prática ao trabalho com a diversidade cultural brasileira, a mú- escola, abandonando o entendimento de ser uma mera atividade
sica possibilita compartilhar experiências e despertar a autonomia destituída de sentido e significado na prática educativa, passando
e dignidade. No campo científico, a neurociência revela que a mú- a ser considerada como área do conhecimento, como estabelecido
sica ativa diversas partes do cérebro, estimula e integra simultane- em seu Art.26 da Educação do Município. “A Educação Física, inte-
amente várias funções cognitivas: memória, associação sensorial e grada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da
corporal, linguagem corporal e simbólica. A música nas escolas, se Educação Básica, ajustando-se as faixas etárias e às necessidades
compreendida para o desenvolvimento da cidadania, faz superar as da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos”.(BRA-
negatividades de quaisquer processos formativos, possibilitando as SIL,1996).
positividades presentes nas culturas, garantindo condições subjeti- A referida Lei, então, passou por diferentes ajustes para garan-
vas e objetivas da humanização dos povos e formação cidadã. Pode tir, no texto de seus artigos, o real entendimento da Educação Física
ser trabalhada através de cantigas de roda, cancioneiro popular, enquanto componente curricular, sofrendo duas alterações: uma
grupos vocais e instrumentais, bandas musicais ou fanfarra, instru- incluindo o termo “obrigatório”, por meio da Lei nº 10.328/2001; e
mentos alternativos e experimentos acústicos diversos. a outra pela Lei nº 10.793/2003,definindo a atual redação:
“Art. 26. (...)

300
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

§3º A Educação Física integrada à proposta pedagógica da es- A Unidade Temática Esportes engloba as manifestações formais
cola, é componente curricular obrigatório da Educação Básica, sen- e derivadas dessa prática. O esporte é definido pela comparação
do sua prática facultativa ao estudante que: cumpra jornada de tra- de um determinado desempenho entre indivíduos ou grupos (ad-
balho igual ou superior a seis horas, maior de trinta anos de idade, versários), gerido por um conjunto de regras formais, instituciona-
que estiver prestando serviço militar inicial, ou que, em situação si- lizadas por organizações (associações, federações e confederações
milar, estiver obrigada à prática da Educação Física, amparado pelo esportivas), definidas por normas de disputa que promovem o de-
Decreto Lei n.1.044/69 e que tenha prole”. senvolvimento das modalidades em todos os níveis de competição.
A Educação Física está inserida na área de Linguagens e segun- Entretanto, essas características não apresentam um único sentido
do Daolio (2004), reflete a importância hoje atribuída ao movimen- ou apenas um significado entre aqueles que o praticam, principal-
to corporal humano como instância de comunicação, de interações mente quando o esporte é desenvolvido no contexto do lazer, da
recíprocas mediante expressões (significação e ressignificação) de educação e da saúde.
gestos corporais culturalmente construídos, legitimados, reconhe- As práticas provenientes dos esportes preservam suas carac-
cidos e compartilhados como expressões das linguagens. Desse terísticas formais de regulação das ações, mas adequam as demais
modo, a Educação Física é compreendida como o componente cur- normas institucionais aos interesses dos participantes, às caracte-
ricular responsável pelo ensino e aprendizagem das práticas corpo- rísticas quanto ao espaço, número de jogadores, material disponí-
rais culturalmente construídas e constituídas como expressões das vel etc.
linguagens humanas ao longo do processo histórico de civilização. Essa unidade temática está estruturada num modelo de clas-
Nesta perspectiva, o desafio da Educação Física é contribuir sificação baseado na lógica interna, tendo como pressuposto os
para o desenvolvimento de uma educação compreendida como um critérios de cooperação, interação com o adversário, desempenho
processo de formação humana, que valoriza o domínio de conhe- motor e objetivos táticos da ação.
cimentos, a formação política e ética dos sujeitos escolares, bem Essa organização propicia a distribuição das modalidades es-
como garantir uma educação inclusiva. Esta área do conhecimento portivas em categorias, favorecendo as ações motoras intrínsecas,
está comprometida com a construção de uma escola como tempo e agrupando esportes que apresentam exigências motrizes seme-
espaço de convivência sociocultural, com o aprendizado de saberes lhantes no desenvolvimento de suas práticas.
e desenvolvimento do sujeito, respeitando a pluralidade das poten- Conforme a BNCC, os esportes estão classificados em sete ca-
cialidades humanas, valorizando o conhecimento, a arte, a identi- tegorias, o que facilita a compreensão do que caracteriza cada uma
dade, os sentimentos e as suas múltiplas linguagens. delas, mas não se constituem como prescrições das modalidades a
Portanto, as práticas corporais na Educação Física, segundo a ser obrigatoriamente trabalhadas na escola. São elas:
BNCC (2017) estão organizadas em seis unidades temáticas: • Marca: modalidades caracterizadas pela comparação de re-
• Brincadeiras e Jogos; sultados registrados em segundos, metros ou quilos (todas as pro-
• Esportes; vas do atletismo, ciclismo, levantamento de peso etc.).
• Danças; •Precisão: modalidades que se caracterizam por arremessar/
• Lutas; lançar um objeto, visando acertar um alvo específico, estático ou
•Ginásticas; em movimento, com a comparação do número de tentativas re-
• Práticas Corporais de Aventura. alizadas, a pontuação obtida em cada tentativa (maior ou menor
A Unidade Temática Brincadeiras e Jogos abrange atividades do que a do adversário) ou a proximidade do objeto arremessado
voluntárias desenvolvidas dentro de determinados limites de tem- ao alvo (mais perto ou mais longe do que o adversário conseguiu
po e espaço, caracterizadas pela criação e alteração de regras, pelo deixar), como nos seguintes casos: bocha, golfe, tiro com arco, tiro
respeito de cada participante ao que foi acordado coletivamente, esportivo etc.
bem como pela perspectiva do ato de brincar em si. Essas práticas • Técnico-combinatório: modalidades em que o resultado da
não têm um conjunto estável de regras e, portanto, ainda que pos- ação motora comparado é a qualidade do movimento segundo pa-
sam ser reconhecidos como jogos similares em diferentes épocas drões técnico-combinatórios (ginástica artística, ginástica rítmica).
e partes do mundo, são recriados, constantemente, pelos diversos • Rede/quadra dividida ou parede de rebote: modalidades que
grupos culturais. Desse modo, é possível reconhecer que um con- se caracterizam por arremessar, lançar ou rebater a bola em direção
junto grande dessas brincadeiras e jogos é propagado através de a setores da quadra adversária nos quais o adversário seja incapaz
redes de sociabilidade informais, o que possibilita reconhecê-los de devolvê-la da mesma forma ou que leve o adversário a cometer
como populares. um erro dentro do período de tempo em que o objeto do jogo está
É de suma relevância estabelecer uma diferença entre jogo em movimento. Alguns exemplos de esportes de rede são voleibol,
como conteúdo específico e jogo como ferramenta auxiliar de en- vôlei de praia, tênis de campo, tênis de mesa, “badminton” e pete-
sino. Sabe-se que, no campo educacional, jogos e brincadeiras são ca. Já os esportes de parede incluem raquetebol, “squash” etc.
criados com o objetivo de provocar interações sociais específicas • Campo e taco: modalidades que se caracterizam por rebater
entre seus participantes ou para consolidar determinados conheci- a bola lançada pelo oponente o mais longe possível, para tentar
mentos. Nessa visão, o jogo, é compreendido como caminho para percorrer o maior número de vezes as bases ou a maior distância
outra aprendizagem. possível entre as bases, enquanto os defensores não recuperam o
Destaca-se, nesse contexto, a mesma importância atribuída controle da bola, e, assim, somar pontos (beisebol, críquete etc.).
aos jogos e brincadeiras presentes na memória dos povos indígenas
e das comunidades tradicionais, representando formas de conviver,
possibilitando o reconhecimento de seus valores e formas de viver
em diferentes contextos ambientais e socioculturais brasileiros.

301
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

• Invasão ou territorial: modalidades que se caracterizam por Por fim, na Unidade Temática Práticas Corporais de Aventura,
comparar a capacidade de uma equipe introduzir ou levar uma bola utilizam-se expressões e formas de experimentação corporal foca-
(ou outro objeto) a uma meta ou setor da quadra/campo defendida dos nas perícias e proezas provocadas pelas situações de imprevisto
pelos adversários (gol, cesta, “touchdown” etc.) protegendo, simul- surgidas quando o praticante interage com um ambiente desafia-
taneamente o próprio alvo, meta ou setor do campo (basquetebol, dor.
“frisbee”, futebol, futsal, futebol americano, “handebol”, hóquei so- Vale ressaltar que a diferenciação das Práticas Corporais de
bre grama, polo aquático, “rúgbi” etc.). Aventura tem por base o ambiente onde são praticadas: na natu-
• Combate: modalidades caracterizadas como disputas nas reza e urbanas. As práticas de aventura na natureza são caracte-
quais o oponente deve ser subjugado, com técnicas, táticas e estra- rizadas pela exploração das incertezas que o ambiente físico cria
tégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um para o praticante (corrida orientada, corrida de aventura, corridas
determinado espaço, por meio de combinações de ataque e defesa de “mountain bike”, rapel, tirolesa, arborismo etc.). Já nas práticas
(judô, boxe, esgrima, “tae kwon do”, capoeira etc.). de aventura urbanas são explorados os ambientes da cidade para o
A Unidade Temática Ginásticas constitui propostas práticas desenvolvimento de “parkour”, “skate”, patins, “bike” etc.
com formas de organização e significados distintos, o que exige a Vale ressaltar que, em princípio, todas as práticas corporais
necessidade de explicitar a classificação de cada uma: ginástica ge- poderão ser objeto do trabalho pedagógico em qualquer etapa e
ral, de condicionamento físico e de conscientização corporal. modalidade de ensino. No entanto, alguns critérios de progressão
A ginástica geral, também denominada como ginástica para do conhecimento devem ser garantidos, tais como os elementos
todos, agrupa as práticas corporais que têm como elemento organi- específicos das diferentes práticas corporais, as características dos
zador a exploração das possibilidades acrobáticas e expressivas do sujeitos e os contextos de atuação, sinalizando tendências de orga-
corpo, a interação social, o compartilhamento do aprendizado e a nização dos conhecimentos.
não competitividade. É importante frisar que apesar de não ter sido apresentada
Pode ser formada de exercícios no solo, no ar (saltos), em apa- como uma das práticas corporais do Currículo da Educação Física
relhos (trapézio, corda, fita elástica), de maneira individual ou cole- no Município, ressalta-se a necessidade, quando possível, dos estu-
tiva, e combina um conjunto diverso de piruetas, rolamentos, pa- dantes terem a oportunidade de vivenciar práticas corporais aquá-
radas de mão, pontes, pirâmides humanas etc. Compõem também ticas, em razão da sua relevância para a segurança pessoal e seu
essa prática os chamados jogos de malabar ou malabarismo. potencial de fruição durante o lazer. Essas práticas englobam tanto
As ginásticas de condicionamento físico se caracterizam pela os esportes aquáticos (em especial, a natação em seus quatro esti-
exercitação corporal voltada à melhoria do rendimento, à aquisi- los competitivos), quanto a proposta de vivenciar atividades aquáti-
ção e à manutenção da condição física individual ou à modificação cas como aprender, entre outros movimentos básicos, o controle da
da composição corporal. Na maioria das vezes, são organizadas em respiração, a flutuação em equilíbrio, a imersão e os deslocamentos
sessões planejadas de movimentos repetidos, com frequência e in- na água. Convém destacar que as práticas corporais na escola de-
tensidade definidas. verão ser recriadas com base em sua função social e suas possibili-
As ginásticas de conscientização corporal são formadas por dades materiais e o cenário de cada contexto escolar, podendo ser
práticas que utilizam movimentos suaves e lentos, como a recorrên- desenvolvidas em qualquer etapa e modalidade de ensino.
cia a posturas ou à conscientização de exercícios respiratórios, vol- O Referencial Curricular do Município segue critérios de pro-
tados à obtenção de uma melhor percepção sobre o próprio corpo gressão do conhecimento, respeitando as especificidades de cada
(Pilates). Algumas dessas práticas que constituem esse grupo têm etapa/ano, numa perspectiva inclusiva, levando em conta o reco-
origem em práticas corporais milenares da cultura oriental como a nhecimento do direito assegurado pela Declaração de Salamanca
“ioga” e o “taíchíchuan”. aprovada na Conferência Mundial de Educação (1994).
A Unidade Temática Danças compreende o conjunto das práti- Assim, o componente curricular de Educação Física deve garan-
cas corporais caracterizadas por movimentos rítmicos, organizados tir aos estudantes o desenvolvimento de competências específicas.
em passos e evoluções específicas, também podendo ser integra-
das a coreografias. As danças podem ser desenvolvidas de maneira
individual, em duplas ou em grupos. Dessa maneira, além das dan- A EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL -
ças presentes no contexto comunitário e regional, podem ser traba- ANOS INICIAIS
lhadas as danças do Brasil e do mundo, as de matrizes indígenas e
africanas, as danças urbanas e folclóricas regionais e as danças de A Educação Física no Ensino Fundamental - Anos Iniciais
salão e contemporânea.
A Unidade Temática Lutas é voltada para as disputas corporais, Nos Anos Iniciais, o foco do ensino-aprendizagem é a valori-
nas quais os participantes utilizam técnicas, táticas e estratégias zação do trabalho lúdico a partir do resgate das vivências experi-
específicas para imobilizar, desequilibrar, atingir ou excluir o opo- mentadas na Educação Infantil de maneira articulada, progressiva
nente de um determinado espaço, combinando ações de ataque e e sistemática. Nesse contexto, a progressão do conhecimento, para
defesa direcionadas ao corpo do adversário. Dessa maneira, além os anos iniciais, deverá favorecer a consolidação das aprendizagens
das lutas presentes no contexto comunitário e regional, podem ser anteriores garantindo ampliação das práticas de linguagem e da ex-
trabalhadas lutas brasileiras (capoeira, “huka-huka”, luta marajoara periência estética, inclusiva e intercultural das crianças.
etc.), bem como lutas de diversos países do mundo (judô, “aikido”,
“jiu-jítsu”, “muay thai”, boxe, “chinese boxing”, esgrima, “kendo”
etc.).

302
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

A Educação Física no Ensino Fundamental - Anos Finais A Matemática, conforme organização apresentada na BNCC
No que concerne aos Anos Finais, o trabalho a ser desenvolvido (2017), constitui área de conhecimento formada por cinco unidades
deverá explorar as práticas corporais numa perspectiva de vivência, temáticas específicas: números, álgebra, geometria, grandezas e
apropriação, aprofundamento, ressignificação e reconstrução, no medidas e probabilidade e estatística. Os componentes curriculares
contexto histórico e social da cultura humana em geral, garantindo são considerados essenciais na promoção das aprendizagens numa
aos estudantes a aprendizagem num nível de experimento que os perspectiva do letramento matemático, ou seja, a Matemática a ser
possibilite refletir sobre a ação, construir valores e o protagonismo ensinada deve proporcionar o desenvolvimento e manifestação do
comunitário. pensamento, do raciocínio e da argumentação, com base no conhe-
O desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem do cimento científico, para o exercício efetivo da cidadania.
componente curricular Educação Física nos Anos Iniciais e Finais de- Dessa forma, demonstrar autonomia e pluralidade nos modos
verá atender com base na BNCC, competências específicas, como: de pensar e agir, solucionar problemas de natureza numérica, al-
1. Compreender a origem da cultura corporal de movimento e gébrica, geométrica, probabilística ou estatística, com lógica e con-
seus vínculos com a organização da vida coletiva e individual. sistência diante de situações reais do cotidiano, ter espírito inves-
2. Planejar e empregar estratégias para resolver desafios e au- tigativo sendo capaz de ampliar as possibilidades do levantamento
mentar as possibilidades de aprendizagem das práticas corporais, de hipóteses e ter capacidade de expressar-se apropriadamente
além de se envolver no processo de ampliação do acervo cultural sempre que necessário, compõem o conjunto que caracteriza a for-
nesse campo. mação de um sujeito matematicamente letrado.
3. Refletir, criticamente, sobre as relações entre a realização Assim sendo, conforme Machado e D’Ambrosio (2014), apenas
das práticas corporais e os processos de saúde/doença, inclusive no tornar a Matemática palatável para facilitar a aprendizagem de con-
contexto das atividades laborais. teúdos que, ao longo da história da educação, resultaram falivel-
4. Identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saú- mente em tecnicidades insignificantes, não é suficiente. A didática
de, beleza e estética corporal, analisando, criticamente, os modelos e os procedimentos de ensino devem ser sólidos o suficiente para
disseminados na mídia e discutir posturas consumistas e precon- que os estudantes superem a limitação em unicamente memorizar
ceituosas. fórmulas e axiomas, mas façam uso deles por meio de múltiplas
5. Identificar as formas de produção dos preconceitos, compre- estratégias e variados procedimentos de cálculo, pois a Matemática
ender seus efeitos e combater posicionamentos discriminatórios deve, antes de tudo, elevar as condições de
em relação às práticas corporais e aos seus participantes. [...] articulação entre a expressão e a compreensão de fenôme-
6. Interpretar e recriar os valores, os sentidos e os significados nos; entre a análise argumentativa e a síntese que favorece a toma-
atribuídos às diferentes práticas corporais, bem como aos sujeitos da de decisões; entre o enfrentamento de questões que a realida-
que delas participam. de concreta continuamente apresenta e o recurso a instrumentos
7. Reconhecer as práticas corporais como elementos constituti- abstratos que constituem meios de aproximação de tal realidade”
vos da identidade cultural dos povos e grupos. (MACHADO e D’AMBROSIO, 2014, p.15).
8. Usufruir das práticas corporais de forma autônoma para po- Ampliar as possibilidades do desenvolvimento da inteligência
tencializar o envolvimento em contextos de lazer, ampliar as redes humana a partir da aprendizagem dos conteúdos de natureza lógi-
de sociabilidade e a promoção da saúde. ca, científica e útil, próprios da Matemática, contribui na formação
9. Reconhecer o acesso às práticas corporais como direito do crítica e reflexiva desde os primeiros anos do Ensino Fundamental,
cidadão, propondo e produzindo alternativas para sua realização no devendo ser consolidada e aprofundada à medida que se avançam
contexto comunitário. os níveis de escolaridade. Por fim, não menos importante, o uso de
10. Experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes brinca- princípios, normas e propriedades da Matemática devem ser va-
deiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais lorizados por sua relevância na análise e solução para as questões
de aventura, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo. prementes da sociedade contemporânea.

Componente Curricular de Matemática


COMPONENTE CURRICULAR DE MATEMÁTICA Considerando esses pressupostos e em articulação com as
competências gerais da Educação Básica, a área de Matemática e,
A Matemática, ciência indispensável para a resolução de pro- por consequência, o componente curricular de Matemática deve
blemas práticos da vida moderna, esteve presente, em todas as garantir aos estudantes o desenvolvimento de competências espe-
épocas, entre as formas de interação com o mundo físico, social cíficas:
e cultural, em resposta a um amplo leque de demandas, desde as 1. Reconhecer que a Matemática é uma ciência humana, fruto
mais elementares ações cotidianas até as relações de produção e das necessidades e preocupações de diferentes culturas, em dife-
de troca de bens e serviços que foram se diversificando e intensifi- rentes momentos históricos, e é uma ciência viva, que contribui
cando ao longo da história. Assim sendo, é reconhecida como pro- para solucionar problemas científicos e tecnológicos e para alicer-
duto da cultura humana e, como tal, está em constante evolução. çar descobertas e construções, inclusive com impactos no mundo
A realidade global, na qual nos encontramos imersos, e os anseios do trabalho.
da vida contemporânea decorrentes de tal realidade, tem mostrado 2. Desenvolver o raciocínio lógico, o espírito de investigação e a
a apropriação das habilidades matemáticas como um imperativo à capacidade de produzir argumentos convincentes, recorrendo aos
inserção e sucesso em sociedade, marcada por rápidas e profundas conhecimentos matemáticos para compreender e atuar no mundo.
mudanças, exigindo capacidade de adaptação a novos processos
tecnológicos de produção e de comunicação.

303
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

3. Compreender as relações entre conceitos e procedimentos É importante destacar que essas respostas podem ser mate-
dos diferentes campos da Matemática (Aritmética, Álgebra, Geome- maticamente expressas de forma exata, mas também por ideias de
tria, Estatística e Probabilidade) e de outras áreas do conhecimento, aproximação ou estimativa, tanto através da realização de cálculos
sentindo segurança quanto à própria capacidade de construir e apli- mentais, algoritmos quanto pelo uso de calculadoras e outros re-
car conhecimentos matemáticos, desenvolvendo a autoestima e a cursos tecnológicos.
perseverança na busca de soluções. O ensino dos números no Ensino Fundamental contempla o
4. Fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e conhecimento dos números naturais e dos números racionais, nas
qualitativos presentes nas práticas sociais e culturais, de modo a representações fracionárias e decimais, como instrumentos efica-
investigar, organizar, representar e comunicar informações relevan- zes para resolver determinados problemas e como objetos de es-
tes, para interpretá-las e avaliá-las crítica e eticamente, produzindo tudo, considerando-se suas propriedades, relações e o modo como
argumentos convincentes. se configuram historicamente (MANDARINO, 2010, p.98). Desse
5. Utilizar processos e ferramentas matemáticas, inclusive tec- modo, os estudantes devem ser estimulados a compreender os
nologias digitais disponíveis, para modelar e resolver problemas diferentes significados destes números e a relação existente entre
cotidianos, sociais e de outras áreas de conhecimento, validando eles, a valorizar e conhecer os diferentes percursos existentes para
estratégias e resultados. operar sobre eles e a ser capazes de estabelecer articulações com
6. Enfrentar situações-problema em múltiplos contextos, in- outras unidades temáticas.
cluindo-se situações imaginadas, não diretamente relacionadas Na Unidade Temática Álgebra, as relações lógicas do conceito
com o aspecto prático utilitário, expressar suas respostas e sinte-
de número são construídas a partir de todos os tipos de relações
tizar conclusões, utilizando diferentes registros e linguagens (gráfi-
que os sujeitos estabelecem entre os objetos do mundo físico (KA-
cos, tabelas, esquemas, além de texto escrito na língua materna e
MIL, 1991). Dentre as várias relações lógicas destacam-se indispen-
outras linguagens para descrever algoritmos, como fluxogramas, e
sáveis para o desenvolvimento do pensamento algébrico as relações
dados).
7. Desenvolver e/ou discutir projetos que abordem, sobretu- de ordenação de uma grandeza expressas por ordem de seriação
do, questões de urgência social, com base em princípios éticos, (quando se considera a ordem linear de grandeza), importante na
democráticos, sustentáveis e solidários, valorizando a diversidade aprendizagem da sucessão natural dos números, e por ordem de
de opiniões de indivíduos e de grupos sociais, sem preconceitos de sequenciação, quando se considera a sucessão de elementos orga-
qualquer natureza. nizados por um padrão ou regra estabelecida.
8. Interagir com seus pares de forma cooperativa, trabalhando Assim sendo, a relação da álgebra com os números é bastan-
coletivamente no planejamento e desenvolvimento de pesquisas te evidente no trabalho com sequências (recursivas e repetitivas)
para responder a questionamentos e na busca de soluções para (BNCC, 2017), pois os números além de serem usados como ins-
problemas, de modo a identificar aspectos consensuais ou não na trumentos para a contagem de coleções, para identificar com um
discussão de uma determinada questão, respeitando o modo de código uma pessoa ou um objeto, para medir e ordenar (MANDA-
pensar dos colegas e aprendendo com eles. RINO, 2010, p.106) também são utilizados para localizar um ele-
Tais habilidades específicas levam em conta que os diferentes mento de uma sequência, identificar padrões de regularidade ou
campos que compõem a Matemática reúnem um conjunto de ideias criar novos padrões. As ideias de regularidade, generalização de
fundamentais que produzem articulações entre eles: equivalência, padrões e propriedades da igualdade, (BNCC, 2017) envolvidas no
ordem, proporcionalidade, interdependência, representação, varia- pensamento algébrico são expressas por meio de equações e sis-
ção e aproximação. Essas ideias fundamentais são importantes para tema de equações a serem resolvidas no contexto da resolução de
o desenvolvimento do pensamento matemático dos estudantes e situações-problema, nas quais os estudantes devem ser capazes
devem se converter, na escola, em objetos de conhecimento. de indicar um valor desconhecido em uma sentença algébrica por
Assim, as cinco unidades temáticas, correlacionadas, orientam meio de equações e inequações estabelecendo relações quantitati-
a formulação de habilidades a serem desenvolvidas ao longo do En- vas representadas tanto por números quanto por letras ou outros
sino Fundamental, sendo que cada uma delas pode receber ênfase símbolos (BNCC, 2017, p. 268-269).
diferente, a depender do ano de escolarização. A Geometria está presente no nosso dia a dia e é vivenciada
Na Unidade Temática Números, a Matemática está presente por nós desde o aprendizado dos primeiros movimentos e no reco-
nas atividades mais simples do dia a dia e desde os mais remotos nhecimento dos objetos e do espaço que nos circunscreve, sendo,
tempos civilizatórios. A gênese da Matemática está indissociavel-
portanto, um campo da Matemática intrínseco à natureza humana
mente relacionada às necessidades básicas humanas, à quantifica-
(LIMA e CARVALHO, 2010, p. 135). É também originada das necessi-
ção de objetos e à mensuração de grandezas. À medida que se in-
dades e das interações com o contexto social e se desenvolve con-
tensificavam os usos da Matemática, a criação de símbolos e sinais
tinuamente nas artes, nas construções e em diversas outras ações
que facilitassem a expressão e generalizassem o raciocínio matemá-
tico, lhe garantiu o status de linguagem universal. rotineiras, como na realização de deslocamentos e na localização
Assim sendo, é esperado que além da capacidade de fazermos de pessoas ou objetos em diferentes representações gráficas (ma-
usos dos números para quantificar, medir, ordenar coisas ou saber pas, croquis, plantas baixas). O ensino da Matemática deve permi-
identificar ou criar códigos, também sejamos capazes de operar tir o desenvolvimento de competências geométricas cada vez mais
utilizando os números como forma de buscar soluções e respostas elaboradas de localização, de reconhecimento de deslocamentos,
para inúmeras situações práticas. de representação de objetos do mundo físico, de classificação das
figuras geométricas e de sistematização do conhecimento (LIMA e
CARVALHO, 2010, p. 135), fazendo uso de estratégias interventivas
que envolvam o estudo das representações em um sistema de co-

304
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

ordenadas cartesianas, a identificação de figuras bidimensionais e A estatística também se utiliza das teorias probabilísticas e tem
tridimensionais (descrevendo algumas de suas características, es- como finalidade levar os estudantes a compreender que nem todos
tabelecendo relações entre elas e a representação de diferentes os fenômenos são determinísticos.
vistas de figuras tridimensionais e reconhecimento da figura repre- Para isso, o ensino deve se centrar no desenvolvimento da no-
sentada por essas diferentes vistas), a resolução de situações-pro- ção de aleatoriedade, de modo que os estudantes compreendam
blema envolvendo cálculos de figuras geométricas e as aplicações e que há eventos certos, eventos impossíveis e eventos prováveis
demonstração do teorema de Tales e de Pitágoras. (BNCC, 2017, p. 272). A seleção de conteúdos deve priorizar a reso-
Todos os dias realizamos várias operações mentais inerentes à lução de situações-problema envolvendo o espaço amostral, atra-
Matemática e nem nos damos conta da presença dela em nossas vés do princípio multiplicativo e a indicação da probabilidade de um
vidas, assim, na Unidade Temática Grandezas e medidas olhamos evento, a resolução de situações-problema de contagem indicando
as horas nos relógios, medimos os intervalos de tempo nos calen- as possibilidades de sucesso de um evento.
dários, medimos os ingredientes para preparamos as refeições,
compramos ou vendemos alguma coisa, medimos a velocidade, a COMPONENTE CURRICULAR DE CIÊNCIAS
distância, a temperatura e até os objetos do mundo físico ao nosso
redor. Todas essas tarefas são possíveis a partir da determinação de
A BNCC (2017) reforça a importância da área de Ciências da Na-
uma unidade de medida capaz de comparar diferentes quantida-
tureza para a formação do estudante, uma vez que ensinar Ciências
des de uma mesma grandeza. Grandeza é tudo aquilo considerado no Ensino Fundamental está diretamente relacionado à promoção
como possível de ser medido e as grandezas estão relacionadas a e ao compromisso com o desenvolvimento do letramento científi-
um objeto geométrico ou a um fenômeno físico. A inclusão dos con- co, entendendo-se que esse envolve a capacidade de compreender,
teúdos dessa unidade temática justifica-se pelos seus usos sociais, interpretar e transformar o mundo.
por sua utilização nas técnicas e nas ciências, pelas conexões com Nesse contexto FREIRE (2002) reforça que ensinar exige com-
outras disciplinas escolares e pelas articulações com outros conte- preender que a educação é uma forma de intervenção no mundo.
údos da Matemática, sobretudo com a geometria. Seu ensino deve Certamente isso é possível uma vez que os estudantes são capazes
contemplar a resolução de situações-problema envolvendo as gran- de emitir juízos de valor sobre problemáticas socioambientais de
dezas comprimento, massa, capacidade, superfície, volume, ângu- forma crítica, com base nos conhecimentos sociais, históricos e cul-
lo, tempo, temperatura e velocidade; a realização de medições, es- turalmente construídos e integrados com os conhecimentos concei-
timativas e comparações em situações diversas; o reconhecimento tuais, procedimentais e atitudinais, vivenciados durante as aulas de
das unidades de medida padrão, seus múltiplos e submúltiplos e ciências. Dessa forma, a sala de aula se configura como um espaço
das unidades não convencionais; a variação de duas grandezas dire- permanente de construção do conhecimento.
ta ou inversamente proporcionais; medidas de superfície e de equi- Por sua vez, DELORS (2012), em seu estudo sobre a educação
valência de figuras planas por composição e decomposição; e rea- no século XXI, apresenta os quatro pilares que podem auxiliar o
lização de cálculos de área de figuras planas pela decomposição e/ processo de aprendizagem dos estudantes: o aprender a conhecer
ou composição em figuras conhecidas, ou por meio de estimativas, (adquirir instrumentos de compreensão), o aprender a fazer (para
bem como o cálculo da área da superfície total de alguns sólidos e poder agir sobre o meio envolvente), o aprender a viver juntos
do volume de alguns prismas retos. (cooperação com os outros em todas as atividades humanas) e o
Na Unidade Temática de Probabilidade e Estatística, a estatísti- aprender a ser (formação de indivíduos autônomos, intelectual-
ca é vista como uma ciência que lida com análises baseadas em um mente ativos e independentes, capazes, de estabelecer relações in-
conjunto de dados estatísticos. terpessoais, de se comunicarem e evoluírem permanentemente, de
A sua origem remonta aos tempos das antigas civilizações, cer- intervirem de forma consciente e proativa na sociedade).
ca de 2.000 anos antes da era cristã, quando se deu início a neces- Os estudantes do Município do Jaboatão dos Guararapes têm a
oportunidade de conviver em um local singular, que se caracteriza
sidade do levantamento de informações sobre a realidade popula-
por apresentar uma diversidade tanto nos aspectos antrópicos (ci-
cional e o acúmulo de riquezas (LIMA, 2019), sendo, portanto, de
ência, tecnologia, sociedade, cultura, turismo, indústria, comércio,
natureza intrínseca ao desenvolvimento tecnológico e científico da
agricultura), quanto nos aspectos naturais (remanescentes de Mata
humanidade.
Atlântica, manguezais, praias, dentre outros).
A estatística a ser ensinada na escola deve considerar o papel Do ponto de vista antrópico, as atividades econômicas desen-
social assumido por esta ciência e criar considerações favoráveis volvidas no município, permitem que o currículo da área de Ciências
para o desenvolvimento de habilidades interpretativas, dos níveis da Natureza seja vivenciado de forma contextualizada, mostrando
elementares até os mais complexos, diante de informações divulga- aos estudantes que as diversas atividades humanas se configuram
das em diferentes mídias comunicativas, e estimular o pensamento em potencialidades. No entanto, o desenvolvimento dessas poten-
crítico para que os leitores possam e saibam tomar decisões com cialidades aponta para a necessidade do cuidado com os aspectos
base nessas informações. Deve ainda priorizar o desenvolvimento naturais, vislumbrando, assim, um caminhar para o processo da
de capacidades investigativas que envolvam processos para a co- sustentabilidade.
leta, a construção de diferentes representações gráficas, por meio Em relação aos ambientes naturais, o Município possui rema-
de gráficos e tabelas, e a realização de análises baseadas nos dados nescentes de Mata Atlântica, manguezais, uma faixa litorânea com
coletados. aproximadamente 10 km de extensão, a maior lagoa urbana de res-
tinga do Brasil, um rio que tem a maior parte de sua bacia hidrográ-
fica localizada no município, dentre outros espaços que podem ser
utilizadas como campo de estudo.

305
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

Não bastasse essa riqueza natural, também possui um corpo Vida e Evolução, que sugere o estudo de questões relacionadas
docente, comprometido e envolvido em estudos e pesquisas, no aos seres vivos, às suas características e necessidades, à vida como
intuito de construir saberes, transpondo-os didaticamente para os fenômeno natural e social, aos elementos essenciais para sua ma-
diversos níveis e modalidades de ensino. nutenção e à compreensão dos processos evolutivos que geram a
Os estudantes, alicerçados a partir de uma formação tecnoló- diversidade de formas de vida no planeta.
gica e sustentável, são motivados, a refletir sobre suas ações (atitu- Terra e Universo, que busca a compreensão de características
des), considerando os impactos socioambientais, do passado, pre- da Terra, do Sol, da Lua e de outros corpos celestes – suas dimen-
sente e futuro, numa perspectiva local e global. sões, composição, localizações, movimentos e forças que atuam
Dessa forma, as características antrópicas e naturais do Muni- entre eles e os principais fenômenos celestes.
cípio favorecem o estudo de objetos de conhecimentos contidos na Toda organização desse currículo, em consonância com a BNCC,
BNCC, observando-se que existe uma relação intrínseca entre a área serve de alicerce para a estruturação dos objetos de conhecimentos
de Ciências da Natureza, com as ações de observação, investigação, de todas as etapas do Ensino Fundamental, com o intuito de desen-
registro, construção de novos conhecimentos e socialização destes, volver habilidades que superem a disciplinarização como forma de
vinculado ao desenvolvimento científico, tecnológico e sustentável. organização do currículo, garantindo, dessa maneira, o diálogo com
as demais áreas do saber e com o contexto do estudante.
Componente Curricular Ciências O desenvolvimento das competências relacionadas à área pos-
Os conhecimentos científicos e as tecnologias fazem parte do sibilitará uma compreensão mais ampla da estrutura de vida que
cotidiano dos estudantes, os quais têm acesso e mantêm interação temos e das condições que precisamos para a construção de uma
em diversos aspectos, tais como na produção de fármacos, alimen- sociedade justa, democrática e inclusiva.
tos, materiais de limpeza, eletroeletrônicos, dentre outros. Para tanto, a área de Ciências da Natureza e o componente cur-
Desde os primórdios até os dias atuais, a ciência procura aten- ricular de Ciências devem garantir aos estudantes o desenvolvimen-
der às necessidades sociais vigentes. Nessa perspectiva, o desen- to das seguintes competências específicas:
volvimento das ciências e suas tecnologias estão relacionados às 1. Compreender as Ciências da Natureza como empreendimen-
ondas de inovação científica e tecnológica. Essas ondas interferem to humano, e o conhecimento científico como provisório, cultural e
diretamente nos movimentos de inovação do saber fazer ciência e histórico.
tecnologia durante um determinado período. 2. Compreender conceitos fundamentais e estruturas explica-
Nesse contexto, o professor deve estimular a curiosidade epis- tivas das Ciências da Natureza, bem como dominar processos, prá-
temológica do estudante a partir de suas vivências e visão de mun- ticas e procedimentos da investigação científica de modo a sentir
do. Inicialmente, na etapa da Educação Infantil, oportunizando a segurança no debate de questões científicas, tecnológicas, socio-
exploração de ambientes e fenômenos, assim como a relação com ambientais e do mundo do trabalho, continuar aprendendo e co-
o próprio corpo e o bem-estar, proporcionando uma melhor quali- laborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e
dade de vida: inclusiva.
Ao manipular brinquedos e outros objetos, ao lidar com a luz, 3. Analisar, compreender e explicar características, fenôme-
as sombras, a água e o vento, ao observar o comportamento dos nos e processos relativos ao mundo natural, social e tecnológico
animais, o desenvolvimento de animais e plantas, e ao perceber (incluindo o digital), como também as relações que se estabelecem
o próprio corpo, as crianças vão construindo concepções que fun- entre eles, exercitando a curiosidade para fazer perguntas, buscar
damentam suas expectativas quanto ao modo como as coisas fun- respostas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos co-
cionam. As elaborações feitas pelas crianças sobre os fenômenos nhecimentos das Ciências da Natureza.
naturais e o funcionamento das coisas tem como ponto de partida 4. Avaliar aplicações e implicações política, socioambientais e
as interações socioculturais que ocorrem nas diversas esferas da culturais da ciência e de suas tecnologias para propor alternativas
comunidade, como por exemplo no meio familiar, ou partindo das aos desafios do mundo contemporâneo, incluindo aqueles relativos
aulas de Ciências. MORAIS e ANDRADE (2010). ao mundo do trabalho.
Dando continuidade e aprofundando esses conhecimentos nos 5. Construir argumentos com base em dados, evidências e in-
anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e na Educação de Jo- formações confiáveis e negociar e defender ideias e pontos de vista
vens e Adultos, utilizam-se práticas contextualizadas, integradas, que promovam a consciência socioambiental e o respeito a si pró-
desafiadoras e motivadoras. prio e ao outro, acolhendo e valorizando a diversidade de indiví-
O ensino de Ciências deve propiciar ao estudante a construção duos e de grupos sociais, sem preconceitos de qualquer natureza.
do seu próprio conhecimento, de forma ativa, crítica e sustentável, 6. Utilizar diferentes linguagens e tecnologias digitais de infor-
com base na compreensão científicotecnológica e na realidade so- mação e comunicação para acessar e disseminar informações, pro-
ciopolítico-econômica-ambiental, proporcionando a formação inte- duzir conhecimentos e resolver problemas das Ciências da Natureza
gral, contribuindo para uma sociedade justa, democrática e inclu- de forma crítica, significativa, reflexiva e ética.
siva. 7. Conhecer, apreciar e cuidar de si, do seu corpo e bem-estar,
O Currículo aqui estruturado está organizado em três unidades compreendendo-se na diversidade humana, fazendo-se respeitar e
temáticas: respeitando ao outro, recorrendo aos conhecimentos das Ciências
Matéria e Energia, que visa ao estudo de materiais e suas trans- da Natureza e as suas tecnologias.
formações, fontes e tipos de energia utilizados de inúmeras formas
na vida em geral, na perspectiva de construir conhecimento sobre a
natureza da matéria e dos diferentes usos da energia.

306
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

8. Agir pessoal e coletivamente com respeito, autonomia, res- Na área das Ciências Humanas o processo de ensino-aprendiza-
ponsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, recorrendo gem, deve estar articulado com as competências gerais da BNCC, e
aos conhecimentos das Ciências da Natureza para tomar decisões com as competências específicas da área citadas abaixo:
frente a questões científico-tecnológicas e socioambientais e a res- 1. Compreender a si e ao outro como identidades diferentes,
peito da saúde individual e coletiva, com base em princípios éticos, de forma a exercitar o respeito à diferença em uma sociedade plural
democráticos, sustentáveis e solidários. e promover os direitos humanos.
2. Analisar o mundo social, cultural e digital e o meio técnico-
ÁREA IV - CIÊNCIAS HUMANAS -científicoinformacional com base nos conhecimentos das Ciências
A área das Ciências Humanas se constitui historicamente atra- Humanas, considerando suas variações de significado no tempo e
vés dos componentes curriculares de Geografia e História tendo no espaço, para intervir em situações do cotidiano e se posicionar
como objeto de estudo o ser humano em suas relações com e na diante de problemas do mundo contemporâneo.
sociedade. Nos dias atuais, este objeto é tomado, do ponto de vista 3. Identificar, comparar e explicar a intervenção do ser humano
teórico e metodológico, numa perspectiva crítico-dialética que con- na natureza e na sociedade, exercitando a curiosidade e propondo
sidera o ser humano sujeito histórico e cultural, vivendo e atuando ideias e ações que contribuam para a transformação espacial, social
na sociedade em vista de sua transformação e tem, dentre os espa- e cultural, de modo a participar efetivamente das dinâmicas da vida
ços de formação, a escola que busca uma educação de qualidade social.
humana e social através do desenvolvimento do sujeito autônomo, 7. Interpretar e expressar sentimentos, crenças e dúvidas com
consciente e capaz de dialogar com o passado, articulando as ca- relação a si mesmo, aos outros e às diferentes culturas, com base
tegorias e os conhecimentos histórico-geográficos com o presente, nos instrumentos de investigação das Ciências Humanas, promo-
construindo um futuro em que os valores sociais sejam voltados vendo o acolhimento e a valorização da diversidade de indivíduos e
para o bem comum e que envolvam a solidariedade, a participação, de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potenciali-
o enfrentamento contra a desigualdade social, a liberdade individu- dades, sem preconceitos de qualquer natureza.
al e a diversidade de pensamento. 8. Comparar eventos ocorridos simultaneamente no mesmo
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC): espaço e em espaços variados, e eventos ocorridos em tempos di-
Os conhecimentos específicos na área de Ciências Humanas ferentes no mesmo espaço e em espaços variados.
exigem clareza na definição de um conjunto de objetos de conhe- 9. Construir argumentos, com base nos conhecimentos das Ci-
cimento que favoreçam o desenvolvimento de habilidades e que ências Humanas, para negociar e defender ideias e opiniões que
aprimorem a capacidade de os estudantes pensarem diferentes respeitem e promovam os direitos humanos e a consciência socio-
culturas e sociedades, em seus tempos históricos, territórios e pai- ambiental, exercitando a responsabilidade e o protagonismo vol-
sagens (compreendendo melhor o Brasil, sua diversidade regional e tados para o bem comum e a construção de uma sociedade justa,
territorial). E também que os levem a refletir sobre sua inserção sin- democrática e inclusiva.
gular e responsável na história da sua família, comunidade, nação e 10. Utilizar as linguagens cartográfica, gráfica e iconográfica e
mundo. (BRASIL, 2017, P.306). diferentes gêneros textuais e tecnologias digitais de informação e
É dessa forma que algumas categorias fundamentais das ci- comunicação no desenvolvimento do raciocínio espaço-temporal
ências humanas como tempo, espaço e movimento, permeiam o relacionado a localização, distância, direção, duração, simultanei-
pensamento histórico-geográfico despertando nas crianças e ado- dade, sucessão, ritmo e conexão.
lescentes a leitura e a compreensão da sociedade e do espaço de É importante salientar que o documento curricular não traz
vivência em que estão inseridos por meio de diversas linguagens. modelos prontos a serem seguidos. No entanto, pode-se desenvol-
Por essa razão, os saberes produzidos precisam estar em con- ver a autonomia dos professores e das professoras na construção
sonância com as demandas da sociedade diversa e plural contem- de caminhos a serem percorridos visando o bem comum da comu-
porânea, de forma que possa haver um diálogo entre passado e nidade educacional.
presente, na perspectiva de trabalhar na construção de um futuro
no qual haja a valorização do indivíduo como um cidadão dotado de
direitos e deveres, com um sentido de responsabilidade para valori- COMPONENTE CURRICULAR DE GEOGRAFIA
zar os direitos humanos, o respeito ao meio ambiente e o fortaleci-
mento de valores sociais, tais como a solidariedade, a participação A Geografia, enquanto ciência humana visa analisar as relações
e o protagonismo voltado para o bem em comum. estabelecidas entre a sociedade e a natureza ao longo do tempo,
Nessa perspectiva, o processo de ensino-aprendizagem deve buscando compreender a materialização dos fenômenos socioes-
ter como eixo condutor o desenvolvimento da autonomia dos es- paciais. O espaço, dessa forma, constitui-se o objeto de estudo da
tudantes a partir do estudo de problemas relacionados ao contexto Geografia, sendo formado por um conjunto indissociável, solidário
em que estão inseridos, já que o papel do estudante é ser um sujei- contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações no qual
to problematizador e investigador. Dessa forma, vale ressaltar que o a história se dá. O espaço geográfico é assim, multidimensional
processo de ensino-aprendizagem que busca a relação entre teoria no qual os indivíduos e os diferentes grupos sociais desenvolvem
e prática promovendo a relação entre pensamento e ação, possibi- suas práticas, ou seja, produzem, socializam, consomem, lutam, so-
litando a formação de indivíduos capazes de intervir na realidade, nham, enfim, vivem e fazem a vida caminhar.
conviver e respeitar a multiculturalidade, a pluralidade de ideias, a
diversidade de gênero, de religião, de sexualidade, de classe social
e étnico-racial (respaldado na Lei Federal nº 11.645, de 10 março
de 2008).

307
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

O Ensino da Geografia de acordo com a proposta curricular da • Mundo do trabalho, essa abordagem perpassa pela compre-
BNCC (2017) prioriza o desenvolvimento do raciocínio geográfico, ensão de processos e técnicas construtivas, além do uso de dife-
maneira pelo qual seu campo de estudo, acontece através da leitu- rentes materiais produzidos pelas sociedades em diversos tempos
ra dos lugares, das paisagens, da interpretação das espacialidades, e espaços. Bem como pelas transformações promovidas pela Revo-
dos territórios, da organização do espaço geográfico, potencializan- lução Industrial e Técnico-científico-informacional nas relações de
do e estimulando dessa forma, o desenvolvimento do pensamento trabalho, emprego e renda no campo e na cidade.
espacial com aplicação de pesquisa e análise das informações obti- • Formas de representação e pensamento espacial, o ensino se
das no estudo. baseia em conceitos cartográficos e formas de representação espa-
Para Neto, cial através da leitura, construção e/ou criação de mapas, gráficos,
O raciocínio geográfico é a capacidade mental do indivíduo em tabelas, audiovisuais, imagens de satélites, fotografias, histórias
fazer analogia e inferência dos eventos humanos e naturais desen- em quadrinhos, charges e uso de outras ferramentas tecnológicas,
volvido pela Geografia escolar ancorado nas estratégias pedagógi- desenvolvendo dessa forma, o pensamento espacial e o raciocínio
cas e nas categorias de análise da Geografia e de seus princípios geográfico.
lógicos de subcategorias que lhes possibilitam utilizarem (NETO, • Natureza, ambientes e qualidade de vida, favorece a articu-
2018). lação entre a Geografia física e a Geografia humana, tornando-se
A BNCC enumera o raciocínio geográfico a partir dos seguintes evidente e necessária uma vez que, as atividades antrópicas incen-
princípios: tivadas pelo capitalismo e os impactos socioambientais decorrentes
• Princípio da Analogia: um fenômeno geográfico sempre é dessas atividades, estão presentes em todo o planeta. O conheci-
comparável a outros. A identificação das semelhanças entre fenô- mento e a compreensão dessas transformações no meio natural,
menos geográficos é o início da compreensão da unidade terrestre. inclusive no ambiente rural (do Campo) e Urbano, leva o estudante
• Princípio da Conexão: um fenômeno geográfico nunca acon- a repensar sua relação com o meio ambiente.
tece isoladamente, mas sempre em interação com outros fenôme- De acordo com a BNCC (2017), essas unidades temáticas, apre-
nos próximos ou distantes. sentam como objetivo a continuidade e a progressão das aprendi-
• Princípio da Diferenciação: é a variação dos fenômenos de zagens dos estudantes do Ensino Fundamental em níveis crescen-
interesse da geografia pela superfície terrestre (por exemplo, o cli- tes de complexidade, estimulando o desenvolvimento do Raciocínio
ma), resultando na diferença entre áreas. Geográfico para melhor compreensão da sociedade em que está
• Princípio da Distribuição: exprime como os objetos se repar- inserido.
tem pelo espaço. Dentro de sua formulação a BNCC (2017) apresenta as seguin-
• Princípio da Extensão: espaço finito e contínuo delimitado tes competências específicas para o ensino da Geografia:
pela ocorrência do fenômeno geográfico. 1. Utilizar os conhecimentos geográficos para entender a inte-
• Princípio da Localização: posição particular de um objeto na ração sociedade/ natureza e exercitar o interesse e o espírito de
superfície terrestre. A localização pode ser absoluta (definida por investigação e de resolução de problemas.
um sistema de coordenadas geográficas) ou relativa (expressa por 2. Estabelecer conexões entre diferentes temas do conheci-
meio de relações espaciais topológicas ou por interações espaciais). mento geográfico, reconhecendo a importância dos objetos técni-
• Princípio da Ordem: ordem ou arranjo espacial é o princípio cos para a compreensão das formas como os seres humanos fazem
geográfico de maior complexidade. Refere-se ao modo de estrutu- uso dos recursos da natureza ao longo da história.
ração do espaço de acordo com as regras da própria sociedade que 3. Desenvolver autonomia e senso crítico para compreensão e
o produziu. aplicação do raciocínio geográfico na análise da ocupação humana
O ensino da Geografia deve, portanto, despertar nos estudan- e produção do espaço, envolvendo os princípios de analogia, cone-
tes o protagonismo, o (re)conhecimento, a compreensão e o senti- xão, diferenciação, distribuição, extensão, localização e ordem.
mento de pertencimento em seu espaço de vivência, bem como se 4. Desenvolver o pensamento espacial, fazendo uso das lingua-
sentir cidadão do mundo, cooperando para que as gerações futuras gens cartográficas e iconográficas, de diferentes gêneros textuais e
tenham um ambiente melhor, baseado em princípios éticos, res- das geotecnologias para a resolução de problemas que envolvam
peitando a diversidade étnico racial enfatizados na Lei Federal Nº informações geográficas.
11.645, de 10 março de 2008, combatendo a violência e o precon- 5. Desenvolver e utilizar processos, práticas e procedimentos
ceito em todas as suas variáveis. de investigação para compreender o mundo natural, social, econô-
Diante do exposto e dos desafios inerentes à ciência geográfica mico, político e o meio técnico-científico e informacional, avaliar
que por sua natureza é dicotômica, interdisciplinar, multidisciplinar ações e propor perguntas e soluções (inclusive tecnológicas) para
e transdisciplinar, a BNCC para o Ensino Fundamental (Anos Iniciais questões que requerem conhecimentos científicos da Geografia.
e Anos Finais), apresenta como unidades temáticas: 6. Construir argumentos com base em informações geográfi-
• O sujeito e seu lugar no mundo, a valorização da vida cotidia- cas, debater e defender ideias e pontos de vista que respeitem e
na e a percepção de suas relações sociais e étnico-raciais e espaciais promovam a consciência socioambiental e o respeito à biodiversi-
ocorre através do raciocínio geográfico que busca ampliar o olhar dade e ao outro, sem preconceitos de qualquer natureza.
do estudante para se desenvolver na sociedade como cidadão ati- 7. Agir pessoal e coletivamente com respeito, autonomia, res-
vo, democrático, solidário e consciente de seu papel como sujeito ponsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, propondo
social. ações sobre as questões socioambientais, com base em princípios
• Conexões e escalas, o foco passa a ser a analogia e a compre- éticos, democráticos, sustentáveis e solidários.
ensão entre as diversas escalas (local e global) existentes no espaço
de convivência, na sociedade e meio físico natural em diversos pe-
ríodos históricos.

308
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

• Processo Histórico;
COMPONENTE CURRICULAR DE HISTÓRIA • Tempo;
• Sujeito Histórico;
• Cultura, Memória;
O ensino de História tem como objeto de estudo a compre- • Cidadania;
ensão dos processos e dos sujeitos históricos, o desvendamento • Relações Sociais.
das relações estabelecidas entre os grupos humanos em diferentes A partir desse contexto seguem as competências específicas
tempos e espaços. Assim, as propostas pedagógicas no âmbito de de História a serem desenvolvidas pelos estudantes na Educação
ensino têm o compromisso com as práticas historiográficas, no sen- Básica:
tido da produção do conhecimento histórico com as devidas especi- 1. Compreender acontecimentos históricos, relações de poder
ficidades e particularidades. e processos e mecanismos de transformação e manutenção das es-
O processo de construção do conhecimento histórico está di- truturas sociais, políticas, econômicas e culturais ao longo do tem-
retamente ligado à interpretação que os historiadores fazem de po e em diferentes espaços para analisar, posicionar-se e intervir no
outras épocas, ou melhor, das fontes desses diferentes períodos, mundo contemporâneo.
travando constantes e significativos debates sobre os tempos histó- 2. Compreender a historicidade no tempo e no espaço, relacio-
ricos e suas dimensões social, cultural, econômica e política. nando acontecimentos e processos de transformação e manuten-
Compreendemos a História com as diferentes e múltiplas pos- ção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais, bem
sibilidades que se mostram nas sociedades, tanto nos dias atuais como problematizar os significados das lógicas de organização cro-
quanto no passado, as quais emergiram da ação consciente ou nológica.
inconsciente dos homens, considerando desdobramentos, que se 3. Elaborar questionamentos, hipóteses, argumentos e propo-
impuseram com o desenrolar das ações desenvolvidas por esses sições em relação a documentos, interpretações e contextos histó-
sujeitos. Cada época tem suas particularidades. A História é um co- ricos específicos, recorrendo a diferentes linguagens e mídias, exer-
nhecimento em constante construção e reconstrução realizada pe- citando a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos, a cooperação
los homens no seu tempo carregando em si as marcas, experiências e o respeito.
e valores de cada época. A produção do conhecimento Histórico se 4. Identificar interpretações que expressem visões de diferen-
faz em diferentes linguagens, narrações sobre o mundo em que os tes sujeitos, culturas e povos com relação a um mesmo contexto
indivíduos viveram e vivem, suas instituições e organizações sociais. histórico, e posicionar-se criticamente com base em princípios éti-
Portanto, a História não é rememorar de fatos considerados cos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
marcantes, mas conhecer, analisar e criticar, além desse, também 5. Analisar e compreender o movimento de populações e
os acontecimentos do cotidiano de sua população, suas resistên- mercadorias no tempo e no espaço e seus significados históricos,
cias e seus desejos, suas lutas, que, anonimamente, compõem o levando em conta o respeito e a solidariedade com as diferentes
universo geral da existência humana e influenciam na construção populações.
do futuro. 6. Compreender e problematizar os conceitos e procedimentos
Segundo PINSKY (2009), os currículos escolares vêm se ade- norteadores da produção historiográfica.
quando aos estudos históricos nas Universidades. Ela ressalta que a 7. Produzir, avaliar e utilizar tecnologias digitais de informação
velha História de fatos e nomes foi substituída pela História Social e e comunicação de modo crítico, ético e responsável, compreenden-
Cultural e que as pessoas comuns já são reconhecidas como sujei- do seus significados para os diferentes grupos ou estratos sociais.
tos históricos. Dessa forma, a proposta curricular de História do mu- É importante enfatizar que as competências homologadas na
nicípio de Jaboatão dos Guararapes pretende estimular ações nas BNCC podem se adequar as especificidades dos estados, municípios
quais professores e estudantes sejam sujeitos do processo de en- e comunidades. Nessa perspectiva, as escolas poderão tratar o con-
sino e aprendizagem. Nesse sentido, eles próprios devem assumir texto local a qual está inserido, flexibilizando a proposta do Referen-
uma atitude crítica diante dos conteúdos propostos no âmbito do cial Curricular. Por fim, acreditamos que este currículo tem como
Ensino Fundamental estimulando o movimento consciente e cria- objetivo estimular não só o aprendizado, mas também a conscien-
dor para conhecerem a própria história, realizando comparações tização dos estudantes como sujeitos ativos no processo histórico.
e interpretações do mundo social relacionadas à formação cidadã. Nesse sentido a BNCC legitima:
Sobretudo, o conhecimento do outro através de novas interpreta- “Por todas as razões apresentadas”, espera-se que o conhe-
ções pautadas no respeito à diversidade. cimento histórico seja tratado como uma forma de pensar, entre
Ao reconhecer o Brasil como um país multiétnico e pluricultural várias; uma forma de indagar sobre as coisas do passado e do pre-
deve ser garantido a todos o direito de aprender e construir conhe- sente, de construir explicações, desvendar significados, compor e
cimentos, afirmando sua identidade e multiplicidade de culturas. decompor interpretações, em movimento contínuo ao longo do
Por isso, a valorização de uma educação multicultural na atualidade tempo e do espaço. Enfim, trata-se de transformar a História em
é resultado de anos de resistência e de luta política de diversos gru- ferramenta a serviço de um discernimento maior sobre as experiên-
pos e movimentos sociais no Brasil e no mundo. A partir de então, cias humanas e as sociedades em que se vive”. (BNCC, 2017, p.399)
a luta e a mobilização desses grupos influenciaram o surgimento
de políticas afirmativas, como a Lei Federal Nº 11.645/2008, que
tornou obrigatória o ensino de História e Cultura AfroBrasileira e
Indígena nas escolas de todo o Brasil.
Nessa perspectiva, a abordagem deste campo de conhecimen-
to requer aprofundamento em seus conceitos estruturantes, tais
como:

309
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

em aspectos racionais, científicos e filosóficos, entre outros. “Esses


COMPONENTE CURRICULAR DE ENSINO RELIGIOSO princípios, geralmente, coincidem com o conjunto de valores secu-
lares de mundo e de bem, tais como: o respeito à vida e à dignidade
humana, o tratamento igualitário das pessoas, a liberdade de cons-
Desde o surgimento da vida, o ser humano se constituiu da ciência, crença e convicções, e os direitos individuais e coletivos”
sua relação com a natureza, com os seres vivos e os objetos con- (BNCC,2018).
cretos e com as ideias, sentimentos e emoções, esses de natureza
subjetiva. Essa dualidade estabeleceu no ser humano a dimensão Componente Curricular De Ensino Religioso
concreta, factual, da realidade (imanência) e a dimensão astral, ple- O Ensino Religioso, de acordo com a BNCC, constitui uma Área
na de símbolos, códigos, valores e crenças (transcendência), que do
se foram adensando nas diversas culturas ao longo da História. Es- Conhecimento e um Componente Curricular específico que
sas dimensões permeiam as relações dos seres humanos entre si, busca desenvolver o estudo dos aspectos religiosos inerentes ao ser
nas suas semelhanças e diferenças (alteridades), com a natureza e humano e integrantes da formação do Ser. A prática desse compo-
com o sagrado/divino, possibilitando distinguir o “eu” e o “outro”, nente apresenta um objetivo essencialmente social num processo
o “nós” e o “eles”, através de representações e símbolos que atuam de ensino-aprendizagem no qual o ser humano esteja voltado para
diretamente na construção e estabelecimento das identidades. E o outro, visando desenvolver uma vivência e uma filosofia de vida
na identificação dessas semelhanças e diferenças entre o eu e os fundamentada na ética, e na defesa dos direitos humanos, elemen-
outros e na compreensão desses símbolos, signos e códigos o ser tos fundamentais para a formação humanística.
humano promove a relação entre o concreto/imanente com o sub- No ambiente escolar o Ensino Religioso prescinde de uma ação
jetivo/transcendente. integrada, implicando numa proposta interdisciplinar e numa com-
Na transcendência se originam as manifestações religiosas nas preensão clara da relação entre religiosidade, fé e vida. Seus objeti-
quais os indivíduos e as coletividades buscam explicações para a vos devem ser bem definidos, os conteúdos selecionados com uma
vida e a morte, atribuindo sacralidade e sobrenaturalidade a coi- equilibrada programação para cada ano, proporcionando um estu-
sas, pessoas e forças naturais, ressignificando a realidade objetiva. E do sistemático e orgânico, situando o estudante no saber referente
para mediar essa dimensão transcendental atuam o símbolo, o mito ao que seja religião, religiosidade, doutrina, cultura e expressão re-
e o rito, linguagens básicas da expressão religiosa. ligiosa, e suscitando os temas: filosofias de vida, crenças, valores e
Nesse proceder, o ser humano fez surgir diversas expressões representações diversas do universo transcendental.
espirituais e ritualísticas nas quais aparecem cerimônias, festivida- Do ponto de vista do magistério, o componente requer do pro-
des, celebrações, louvações, orações, peregrinações e outras, nas fissional sua compreensão como fenômeno social, sua consciên-
quais os códigos, ritos, mitos e símbolos atuam marcantemente. cia da laicidade e não dogmatização no ensino de valores éticos e
Os códigos ressignificando ideias, os ritos narrando gestualmente a morais, contextualizando-os numa dimensão espaço-temporal, de
ideia metafísica, utilizando lugares sacralizados (montanhas, mares, acordo com os tópicos a seguir:
rios, florestas, templos, santuários, caminhos e outros), que se di- Configuração do fenômeno religioso por meio das ciências da
ferenciam dos outros graças ao caráter simbólico que adquirem na tradição religiosa;
execução dos rituais observados nas diferentes culturas; os mitos Conhecimento e sistematização do fenômeno religioso pelas
corporificando atributos heroicos e/ou deíficos a serem decodifica- tradições religiosas e suas teologias;
dos pelos homens. E para presidir essas ações aparecem as figuras Análise das tradições religiosas na estruturação e manutenção
também simbólicas dos líderes espirituais, incumbidos das reuniões das diferentes culturas e manifestações socioculturais;
e rituais religiosos: xamãs, sacerdotes, pajés, yalorixás e babalori- Exegese dos textos sagrados orais e escritos das diferentes ma-
xás (pais-de-santo da afro-brasilidade), entre outros que, além de trizes religiosas (africana, indígena, ocidental e oriental);
organizar os rituais e transmitir a doutrina e interpretar os textos Compreensão do sentido da atitude moral como consequência
sagrados, também fazem a divisão de atividades dos seguidores do pensamento religioso sistematizado na tradição e como expres-
nas manifestações religiosas, transmitindo e incentivando práticas, são da consciência e da resposta individual e coletiva das pessoas.
princípios e valores inerentes a cada uma delas. Tal liderança de O Componente Ensino Religioso, ao considerar as diferen-
certa forma se confunde com aspectos políticos, econômicos, cul- tes vivências, percepções e elaborações que integram o substrato
turais, e ainda educacionais, ambientais e da saúde, numa relação cultural da humanidade, a partir de relatos e registros elaborados
cósmica dos entes envolvidos. sistematicamente, por diferentes grupos sociais, pretende, como
Não obstante, surgem também nessa estruturação do fazer re- Área de conhecimento: instigar, desafiar e subsidiar as gerações
ligioso, as filosofias de vida que são fundamentadas nas crenças, vindouras, oportunizar a liberdade de expressão religiosa e viabili-
valores e tradições religiosas dos povos, refletindo-se nos mitos zar a prática da “Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural”
(ideia de como a vida cósmica foi criada), divindades (simbolizam (UNESCO,2001).
a ação heroica e divina dos “seres superiores”), vida e post-mor- O Ensino Religioso deve ser de caráter facultativo, sendo veda-
tem (imanência e transcendência), tradições orais e escritas (leis e da qualquer forma de discriminação, favoritismo ou sectarismo reli-
orientações das práticas religiosas), doutrinas (base do pensamento gioso. Sua prática na Educação Básica, visa a desenvolver as seguin-
sistemático religioso), crenças (ancestralidade, reencarnação, res- tes competências gerais: Compreensão da importância dos sujeitos
surreição, transmigração, entre outras), princípios e valores éticos na formação da sociedade; valorização das atitudes, das opiniões,
(equalizadores do comportamento ritual e social). Essas filosofias das críticas de si mesmo e dos outros; manifestação de atitudes de
permitem definir o que seria certo ou errado, permitido e não-per- respeito, cuidado e responsabilidade por si mesmo e pelo outro;
mitido e, independentemente de religiosidades estabelecem postu- respeito à natureza e reconhecimento da sua importância para a
ras que mesmo pessoas não religiosas passam a adotar, embasadas continuidade da vida; identificação do elemento transcendente;

310
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

conhecimento dos símbolos, ritos e mitos das tradições religiosas Os rituais religiosos são geralmente realizados coletivamente
a serem representadas em sala de aula; identificação de valores ne- em espaços e territórios sagrados naturais ou construídos, que se
cessários para o convívio em sociedade. distinguem dos demais por seu caráter simbólico, nos quais os dife-
O componente curricular de Ensino Religioso deve garantir aos rentes sujeitos se relacionam, constroem, desenvolvem e vivenciam
estudantes o desenvolvimento de competências específicas. suas identidades religiosas. Realizados em territórios sagrados, tais
1. Conhecer os aspectos estruturantes das diferentes tradi- rituais também apresentam lideranças que presidem e organizam
ções/movimentos religiosos e filosofias de vida, a partir de pressu- os serviços religiosos. Sacerdotes, líderes, funcionários, guias ou
postos científicos, filosóficos, estéticos e éticos. especialistas, entre outros, desempenham funções específicas: di-
2. Compreender, valorizar e respeitar as manifestações religio- fusão das crenças e doutrinas, organização dos ritos, interpretação
sas e filosofias de vida, suas experiências e saberes, em diferentes de textos e narrativas, transmissão de práticas, princípios e valores,
tempos, espaços e territórios. assumindo uma função religiosa, sociocultural e até política.
3. Reconhecer e cuidar de si, do outro, da coletividade e da Unidade Temática Crenças Religiosas e Filosofias de Vida, enfo-
natureza, enquanto expressão de valor da vida. ca os aspectos estruturantes das diferentes tradições/movimentos
4. Conviver com a diversidade de crenças, pensamentos, con- religiosos e filosofias de vida, particularmente sobre mitos, ideia(s)
vicções, modos de ser e viver. de divindade(s), crenças e doutrinas religiosas, tradições orais e es-
5. Analisar as relações entre as tradições religiosas e os campos critas, ideias de imortalidade, princípios e valores éticos.
da cultura, da política, da economia, da saúde, da ciência, da tecno- Os mitos, elemento estruturante das tradições religiosas, re-
logia e do meio ambiente. presentam a tentativa de explicar a criação da vida, da natureza e
6. Debater, problematizar e posicionar-se frente aos discursos e do cosmos. Contam histórias dos deuses ou heróis divinos, relatan-
práticas de intolerância, discriminação e violência de cunho religio- do, por meio de simbolismos, a manifestação das divindades, esta-
so, de modo a assegurar os direitos humanos no constante exercício belecendo uma relação entre imanência e transcendência. Situa-se
da cidadania e da cultura de paz. numa relação espaço-temporal e apresenta-se como uma história
Como previsto na BNCC, o Ensino Religioso se dará mediante a verdadeira, repleta de elementos imaginários. Para o mito, a cria-
observância das Unidades Temáticas, dos Objetos de Conhecimen- ção é uma obra de divindades, seres, entes ou energias que trans-
to e das Habilidades, que orientarão o Currículo ao longo de todo o cendem a materialidade do mundo. São representados de diversas
Ensino Fundamental, notadamente nos Anos Iniciais. maneiras, sob distintos nomes, formas, faces e sentidos, segundo
A Unidade Temática Identidades e Alteridades reúne as dimen- cada grupo social ou tradição religiosa.
O mito, o rito, o símbolo e as divindades alicerçam as crenças,
sões imanência (dimensão concreta, biológica) e transcendência
entendidas como um conjunto de ideias, conceitos e representa-
(dimensão subjetiva, simbólica).
ções estruturantes de determinada tradição religiosa. As crenças
Tais dimensões possibilitam que os humanos se relacionem
fornecem respostas teológicas aos enigmas da vida e da morte, que
entre si, com a natureza e com a(s) divindade(s), percebendo suas
se manifestam nas práticas rituais e sociais sob a forma de orienta-
semelhanças e diferenças (alteridades) e distinguindo o “eu” e o
ções, leis e costumes.
“outro”, “nós” e “eles”, mediando suas relações dialógicas por refe-
Daí surgem as narrativas religiosas que são preservadas e pas-
renciais simbólicos (representações, saberes, crenças, convicções,
sadas de geração em geração pela oralidade: cosmovisões, crenças,
valores) inerentes à construção das identidades. Nessa unidade
ideia(s) de divindade(s), histórias, narrativas e mitos sagrados cons-
pretende-se que os estudantes reconheçam, valorizem e acolham o tituíram tradições específicas, inicialmente orais ou sob a forma
caráter singular e diverso do ser humano, por meio da identificação de textos escritos. Estas narrativas reúnem afirmações, dogmas e
e do respeito às semelhanças e diferenças entre o eu (subjetivida- verdades que procuram atribuir sentidos e finalidades à existência,
de) e os outros (alteridades), da compreensão dos símbolos e signi- bem como orientar as formas de relacionamento com a(s) divinda-
ficados e da relação entre imanência e transcendência. de(s) e com a natureza. Se configurarão em doutrinas, do sistema
A dimensão da transcendência trata do fato de o ser humano religioso, sendo transmitidas e ensinadas aos seus adeptos de ma-
ter conferido valor de sacralidade a objetos, coisas, pessoas, forças neira sistemática para assegurar uma compreensão mais ou menos
da natureza ou seres sobrenaturais, transcendendo a realidade con- unitária e homogênea de seus conteúdos.
creta. Ela baseia os fenômenos e experiências religiosas e as respos- As filosofias de vida se ancoram em princípios cujas fontes não
tas, sentidos e significados da vida e morte ansiadas pelos homens advêm do universo religioso, decorrendo de fundamentos racio-
individual e coletivamente. Ela é mediada por linguagens específi- nais, filosóficos, científicos, entre outros. Pessoas sem religião ado-
cas, tais como o símbolo, o mito e o rito que, junto a outros elemen- tam princípios éticos e morais cuja origem tem relação com valores
tos, comporão a Unidade Temática Manifestações Religiosas. seculares de mundo e de bem, como o respeito à vida e à dignidade
Unidade Temática Manifestações Religiosas engloba a dimen- humana, a equidade das pessoas, a liberdade de consciência, cren-
são transcendental é mediada por linguagens específicas como o ça e convicções, e os direitos individuais e coletivos
símbolo, o rito e o mito. O símbolo é um elemento cotidiano res-
significado para representar algo além de seu sentido primeiro.
Sua função é mediar realidades da experiência religiosa, que é uma
construção subjetiva ali com diferentes práticas espirituais ou ritu-
alísticas: cerimônias, celebrações, orações, festividades, peregrina-
ções, entre outras. Enquanto linguagem gestual, os ritos narram,
encenam, repetem e representam histórias e acontecimentos reli-
giosos. Dessa forma, se o símbolo é uma coisa que significa outra, o
rito é um gesto que também aponta para outra realidade.

311
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

ORGANIZADOR CURRICULAR DA EDUCAÇÃO INFAN- QUESTÕES


TIL. ORGANIZADORES CURRICULARES DO ENSINO
FUNDAMENTAL; ORGANIZADORES CURRICULARES DA
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS 1-A Educação Ambiental (EA) surge e se molda por uma ne-
cessidade legítima e crescente de compatibilizar a sociedade hu-
Neste documento, os organizadores curriculares referentes às mana com os processos naturais primordiais. Porém, apesar do
modalidades da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e da adjetivo “ambiental” estar atrelado à esta forma de educação,
Educação de Jovens e Adultos, contempla as áreas de conheci- reconhecemos que os princípios da EA transcendem o ambiente
mento, obedecendo a ordem sequencial e uma abordagem sobre físico e biótico e fundamentam-se em uma ética humana de agir
cada componente curricular, e apresenta na sua estrutura, ano/ harmonicamente e com respeito, não somente para com os ou-
eixo, unidades temáticas, objetos de conhecimento, habilidades tros seres da biosfera, mas entre nós mesmos.
BNCC e habilidades específicas do Jaboatão dos Guararapes. https://www.pmf.sc.gov.br
Nesse sentido, é fundamental que os currículos e as práticas
dos professores promovam a pesquisa, como princípio pedagó- Entre os princípios básicos da Educação Ambiental, julgue os
gico, associada a uma abordagem reflexiva dos conteúdos que itens como Verdadeiros (V) ou Falsos (F):
considere a relação complexa entre os potenciais do Trabalho, da (__)Abordagem holística e desarticulada das questões am-
Ciência e da Tecnologia para resolução de problemas, a amplia- bientais locais, regionais, nacionais e globais.
ção da capacidade produtiva e empreendedora, bem como para a (__)Concepção do meio ambiente em sua totalidade, consi-
garantia de um espaço de reflexão e atuação crítica e ética sobre derando a interdependência entre o meio natural, o socioeconô-
suas influências nos impactos ambientais e sociais.(Currículo de mico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade.
PE - 2018) (__)Vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as prá-
Constitui-se em um documento orientador do Sistema Mu- ticas sociais.
nicipal de Ensino para a Rede municipal e na modalidade da Edu-
cação Infantil das escolas privadas. Também é inspirador para as Marque a alternativa CORRETA:
modalidades da educação básica, essas, por suas especificidades (A) F, V, V.
e singularidades, deverão ter adequações curriculares no interior (B) V, V, F.
das instituições. (C) V, F, F.
O estudo do Referencial Curricular Municipal do Jaboatão (D) F, F, V.
dos Guararapes deve acontecer de forma coletiva, assessorado (E) V, V, V.
pela supervisão educacional, dentro das instituições e/ou pelas
reuniões sistemáticas na formação continuada da rede municipal 2-A Educação Ambiental (EA) surge e se molda por uma ne-
de ensino. A consulta dos docentes aos organizadores curricula- cessidade legítima e crescente de compatibilizar a sociedade hu-
res, deverá acontecer de forma recorrente, na elaboração dos pla- mana com os processos naturais primordiais. Porém, apesar do
nos de trabalho para as práticas educativas nos estabelecimentos adjetivo “ambiental” estar atrelado à esta forma de educação,
de ensino do Ensino Fundamental e nas unidades educacionais da reconhecemos que os princípios da EA transcendem o ambiente
Educação Infantil da Rede Municipal de Ensino do Jaboatão dos físico e biótico e fundamentam-se em uma ética humana de agir
Guararapes – PE. Por isso, a providência de deixar os organizado- harmonicamente e com respeito, não somente para com os ou-
res curriculares em anexo, não desvirtua nem desmerece o valor tros seres da biosfera, mas entre nós mesmos.
do documento base, pelo contrário, cada organizador curricular é https://www.pmf.sc.gov.br
resultante da fundamentação segundo os preceitos da BNCC e do
Currículo de Pernambuco, no Referencial Curricular Municipal do Nas alternativas abaixo, estão descritos os objetivos funda-
Jaboatão dos Guararapes. mentais da Educação Ambiental, EXCETO:
O planejamento de ensino e a avaliação perpassam pela (A) O fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos po-
análise conjunta dos docentes e técnicos educacionais da rede de vos e solidariedade como fundamentos para o futuro da hu-
ensino, na construção de um plano com base no exposto do do- manidade.
cumento base e dos organizadores curriculares, podendo ainda (B) Incentivo à informação jornalística para que, cada vez mais,
acontecer uma flexibilização sobre adequações da realidade da possam transmitir as catástrofes ambientais.
instituição e do seu entorno social em atendimento aos pressu- (C) O fomento e o fortalecimento da integração com a ciência
postos das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica e a tecnologia.
(2010). (D) A garantia de democratização das informações ambientais.
(E) O estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica
sobre a problemática ambiental e social.

312
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

3-De acordo com a Lei nº 9.795/99, que institui a Política Na- 7-Segundo o Estatuto da Juventude, é diretriz expressa a ser
cional de Educação Ambiental, todos têm direito à educação am- observada pelos agentes públicos ou privados envolvidos com po-
biental, cabendo às instituições educativas promover: líticas públicas de juventude:
(A) a educação ambiental de maneira integrada aos programas (A) estabelecer a política cultural como eixo estruturante das
educacionais que desenvolvem demais políticas, programas e ações.
(B) o engajamento da sociedade na conservação, recuperação (B) ampliar a integração de grupos juvenis por meio de plata-
e melhoria do meio ambiente formas digitais públicas.
(C) a comunicação de massa destinada à disseminação de prá- (C) garantir acesso universal e gratuito ao ensino médio e à
ticas educativas sobre meio ambiente educação superior.
(D) a educação ambiental destinada à capacitação dos traba- (D) combater o uso de drogas e a gravidez precoce.
lhadores visando o controle do processo produtivo (E) promover o território como espaço de integração.

4-A precedência de atendimento nos serviços públicos ou de 8-Considerando o que dispõe a Lei nº 12.852, de 5 de agos-
relevância pública, assim como a preferência na formulação e na to de 2013, que dispõe sobre o Estatuto da Juventude, é correto
execução das políticas sociais públicas, são condições compreen- afirmar que é considerada uma pessoa jovem aquela que tem a
didas pelo ECA, em seu artigo 4º, como: idade de:
(A) Direitos à liberdade. (A) 12 a 18 anos.
(B) Direitos ao respeito. (B) 15 a 29 anos.
(C) Garantias de prioridade. (C) 18 a 25 anos.
(D) Garantias de segurança. (D) 19 a 30 anos.
(E) Direitos e fins sociais.
9-O Estatuto da Juventude (Lei 12.852/2013) reafirma o dis-
5-A respeito do Estatuto da Criança e do Adolescente, analise posto no ECA definindo a população jovem como detentora de
as afirmativas a seguir, considerando V, para verdadeira, ou F, para direitos resguardados pelo Estado, como a identificação de que os
falsa: jovens/adolescentes até os 17 anos são inimputáveis para trata-
( ) Trata-se de um ramo do direito especializado, dividido em mento prisional em regime fechado na mesma condição de adul-
partes geral e especial, onde a primeira traça, como as demais to. Em seu §2° do art. 1º., o Estatuto da Juventude apresenta o
codificações existentes, os princípios norteadores do Estatuto. seguinte destaque: “aos adolescentes com idade entre 15 (quinze)
( ) O objetivo estatutário é a proteção dos menores de 18 e 18 (dezoito) anos aplica-se a Lei 8.069, de 13 de julho de 1990 -
anos, proporcionando a eles um desenvolvimento físico, mental, Estatuto da Criança e do Adolescente, e, excepcionalmente, este
moral e social condizentes com os princípios constitucionais da Estatuto, quando não conflitar com as normas de proteção inte-
liberdade e da dignidade, preparando para a vida adulta em so- gral do adolescente” (Brasil, 2013).
ciedade.
( ) Para o Estatuto, considera-se criança a pessoa de até doze Sobre o tema, analise as afirmativas a seguir:
anos de idade incompletos, e adolescente aquela compreendida I. Há uma sobreposição de uma população que ambos co-
entre doze e dezoito anos. Entretanto, aplica-se o estatuto, excep- brem, a saber: adolescentes/jovens de 15 a 18 anos, visto que o
cionalmente, às pessoas entre dezoito e vinte e dois anos de idade debate sobre o Estatuto da Juventude e as interfaces com o ECA
em situações específicas. representou a fragilidade das políticas de juventude, necessitan-
do do reconhecimento, pelo Estado brasileiro, dessas populações
Após análise, assinale a alternativa que apresenta a sequên- especificas que demandam proteção.
cia CORRETA dos itens acima, de cima para baixo: II. A inserção desse parágrafo reforça o papel de proteção já
(A) V, F, V. garantido no ECA para a população até 18 anos, em especial em
(B) V, F, F. questões como a maioridade penal, que estabelece formas dife-
(C) V, V, F. renciadas para o tratamento de adolescentes e alia novos direitos
(D) F, V, V. previstos no Estatuto da Juventude para esse segmento.
(E) F, F, F. III. Um dos elementos que aproximam esses dois instrumen-
tos jurídicos é o reconhecimento de populações invisibilizadas.
6-Principal marco legal e regulatório dos direitos das crianças E, ainda, a mudança de paradigmas, com o distanciamento de
e dos adolescentes no Brasil. É CORRETO afirmar que este marco perspectivas punitivistas e reprodutoras de exclusão, para instru-
legal é conhecido como: mentos que reconhecem as diferenças, valorizam a diversidade,
(A) Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adoles- ao mesmo tempo em que garantem a universalidade do direito.
cente.
(B) Vara da Infância e Juventude. Assinale
(C) Declaração Universal dos Direitos Humanos. (A) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
(D) Constituição Federal. (B) se somente a afirmativa I estiver correta.
(E) Estatuto da Criança e do Adolescente. (C) se somente a afirmativa II estiver correta.
(D) se somente a afirmativa III estiver correta.
(E) se todas as afirmativas estiverem corretas.

313
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

10- A Política Nacional Integrada para a primeira infância será (B) Incentivar a organização estudantil por meio de grêmios,
formulada e implementada mediante abordagem e coordenação associações, observatórios, grupos de trabalhos, entre outros,
que articule as diversas setoriais a partir de uma visão de todos os como forma de aprendizagem dos princípios dos direitos hu-
direitos da criança na primeira infância. (Art. 6º Lei 13.257/2016 – manos, da ética, da convivência e da participação democrática
Lei da Primeira Infância). nas escolas de ensino fundamental e na sociedade.
(C) Dar apoio técnico e financeiro às experiências de formação
Assinale a alternativa que preencha correta e respectivamen- de estudantes secundaristas como agentes promotores de di-
te as lacunas. reitos humanos em uma perspectiva crítica, propondo para tal
(A) intersetorial / ações / holística a edição de textos de referência e bibliografia comentada, re-
(B) intersetorial / políticas / abrangente vistas, gibis, filmes e outros materiais multimídia em educação
(C) interdisciplinar / políticas / abrangente em direitos humanos.
(D) interdisciplinar / ações / holística (D) Voltar as atividades acadêmicas para a formação de uma
(E) integrada / políticas / holística cultura baseada na universalidade, indivisibilidade e interde-
pendência dos direitos humanos, como tema transversal e
11-De acordo com a Lei 13.257/2016 (Lei da Primeira Infân- transdisciplinar, de modo a inspirar a elaboração de programas
cia) em seu Art. 7º a gestante deverá receber orientação sobre específicos e metodologias adequadas nos cursos de gradua-
aleitamento materno, alimentação complementar saudável e ção e pós-graduação, entre outros.
crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre formas (E) Apoiar expressões culturais cidadãs presentes nas artes e
de favorecer a criação de vínculos afetivos e de estimular . nos esportes, originadas nas diversas formações étnicas de
nossa sociedade, favorecendo a valorização das expressões
Assinale a alternativa que preencha corretamente a lacuna. culturais regionais e locais pelos projetos político-pedagógicos
das escolas de educação infantil.
(A) o desenvolvimento integral da criança
(B) o sistema de garantia de direitos da criança
14-Analise as afirmativas a seguir, considerando o disposto no
(C) acesso prioritário, humanizado e integral da criança
Plano Nacional de Educação Em Direitos Humanos.
(D) os direitos fundamentais da primeira infância
(E) os direitos da gestante e da criança I. Os sistemas de ensino deverão criar políticas de produção
de materiais didáticos e paradidáticos, tendo como princípios
12-A gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas orientadores os Direitos Humanos e, por extensão, a Educação
de pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às con- em Direitos Humanos.
sultas pós-parto serão convocadas por meio de busca ativa, a qual II. É necessário incluir a educação em direitos humanos como
deverá ser realizada (Lei n.º 13.257 – Lei da Primeira Infância): . componente curricular específico da Base Nacional Comum Curri-
Assinale a alternativa que preencha corretamente a lacuna. cular nas etapas da educação infantil (pré-escola), ensino funda-
(A) Pelos profissionais de Serviço Social mental e médio, bem como na educação de jovens e adultos e na
(B) Pelos agentes comunitários de saúde educação especial.
(C) Pela atenção primária à saúde III. É preciso debater com os poderes públicos e a sociedade
(D) Pelos funcionários do administrativo civil a criação de uma resolução que estabeleça, pela primeira vez,
(E) Pelos profissionais da Enfermagem Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, com
prazo de encaminhamento ao Congresso Nacional até o ano de
13-A conquista do Estado Democrático delineou, para as insti- 2024.
tuições de ensino superior (IES), a urgência em participar da cons- IV. A Educação em Direitos Humanos fundamenta-se nos
trução de uma cultura de promoção, proteção, defesa e reparação princípios de dignidade humana; igualdade de direitos; reconhe-
dos direitos humanos, por meio de ações interdisciplinares, com cimento e valorização das diferenças e das diversidades; laicidade
formas diferentes de relacionar as múltiplas áreas do conheci- do Estado; democracia na educação; transversalidade, vivência e
mento humano com seus saberes e práticas. Nesse contexto, inú- globalidade; e sustentabilidade socioambiental.
meras iniciativas foram realizadas no Brasil, introduzindo a temáti-
ca dos direitos humanos e da educação em direitos humanos, nas Está correto o que se afirma em
atividades do ensino de graduação e pós-graduação, pesquisa e (A) I, II e IV, apenas.
extensão, além de iniciativas de caráter cultural. De acordo com o (B) II e III, apenas.
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, a contribuição (C) I, II e III, apenas.
(D) I, III e IV, apenas.
da educação superior na área da educação em direitos humanos
(E) I, e IV, apenas.
implica a consideração de vários princípios, dentre eles:
(A) Propor a inserção da educação em direitos humanos nas
diretrizes curriculares da educação básica, integrando os obje-
tivos da educação em direitos humanos aos conteúdos, recur-
sos, metodologias, diretrizes curriculares, atividades curricula-
res e formas de avaliação dos sistemas de ensino.

314
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

15-De acordo com o Plano Nacional da Educação em Direi- 17-Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), competên-
tos Humanos, a educação em direitos humanos é compreendida cia é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos
como um processo sistemático e multidimensional que orienta a e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemo-
formação do sujeito de direitos, articulando as seguintes dimen- cionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da
sões, à exceção de uma, que está errada. vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do
trabalho. Ao definir essas competências, a BNCC reconhece que
Assinale-a. a “educação deve afirmar valores e estimular ações que contribu-
(A) Apreensão de conhecimentos historicamente construídos am para a transformação da sociedade, tornando-a mais humana,
sobre direitos humanos e a sua relação com os contextos inter- socialmente justa e, também, voltada para a preservação da na-
nacional, nacional e local. tureza” (BRASIL, 2013). O documento apresenta dez competên-
(B) Afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expres- cias gerais da Educação Básica. Analise as proposições e coloque
sem a cultura dos direitos humanos em todos os espaços da (V) para verdadeiro e (F) para falso, em relação a algumas dessas
sociedade. competências previstas na BNCC.
(C) Formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer pre- ( ) Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e
sente em níveis cognitivo, social, ético e político. emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reco-
(D) Desenvolvimento de processos metodológicos exclusivistas nhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capa-
e de construção individualizada, que usam linguagens e mate- cidade para lidar com elas.
riais didáticos descontextualizados. ( ) Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e
(E) Fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao
ações e instrumentos em favor da promoção, da proteção e da outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da
defesa dos direitos humanos, bem como da reparação das vio- diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, iden-
lações. tidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer
natureza.
16-A Base Nacional Comum Curricular – BNCC (2017) aponta ( ) Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabili-
algumas competências específicas de língua inglesa para o Ensino dade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões
Fundamental. independentemente de princípios éticos, democráticos, inclusi-
Avalie o que se afirmam serem algumas dessas competências, vos, sustentáveis e solidários, uma vez que a Constituição do país
de acordo com a BNCC. garante o direito de liberdade dos indivíduos.

I - Identificar similaridades e diferenças entre a língua ingle- Marque a alternativa que contém a sequência CORRETA de
sa e a língua materna/outras línguas, articulando -as a aspectos preenchimentos dos parênteses.
sociais, culturais e identitários, em uma relação intrínseca entre (A) V, V, F.
língua, cultura e identidade. (B) V, F, V.
II - Utilizar novas tecnologias, com novas linguagens e modos (C) F, F, V.
de interação, para pesquisar, selecionar, compartilhar, posicionar- (D) F, V, F.
-se e produzir sentidos em práticas de letramento na língua ingle- (E) V, F, F.
sa, de forma ética, crítica e responsável.
III - Elaborar repertórios linguístico-discursivos da língua in- 18-Como primeira etapa da Educação Básica, a Educação In-
glesa, aplicados somente no Brasil, de modo a reconhecer a diver- fantil é o início e o fundamento do processo educacional. A entra-
sidade linguística como direito e valorizar os usos heterogêneos, da na creche ou na pré-escola significa, na maioria das vezes, a pri-
híbridos e multimodais emergentes nas sociedades contemporâ- meira separação das crianças dos seus vínculos afetivos familiares
neas. para se incorporarem a uma situação de socialização estruturada.
IV - Comunicar-se na língua inglesa, por meio do uso variado Tendo em vista os eixos estruturantes das práticas pedagógicas e
de linguagens em mídias impressas ou digitais, reconhecendo-a as competências gerais da Educação Básica propostas pela BNCC,
como ferramenta de acesso ao conhecimento, de ampliação das seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento asseguram, na
perspectivas e de possibilidades para a compreensão dos valores Educação Infantil, as condições para que as crianças aprendam em
e interesses de outras culturas e para o exercício do protagonismo situações nas quais possam desempenhar um papel ativo em am-
social, sem a necessidade de considerar o mundo do trabalho. bientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se pro-
vocadas a resolvê-los, tornando-se aptos a construir significados
Está correto apenas o que se afirma em sobre si, os outros e o mundo social e natural. Analise as proposi-
(A) I e II. ções, colocando (V) para verdadeiro e (F) para falso, em relação a
(B) I e III. alguns desses direitos previstos na BNCC.
(C) III e IV. ( ) Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e
(D) II e IV. grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o co-
nhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às
diferenças entre as pessoas.

315
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

( ) Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes (C) Os conteúdos relacionados à arte, à cultura e à história afri-
espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), cana e afro-brasileira devem ser trabalhados apenas no dia 20
ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra.
conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiên- (D) Considerando que a história da arte, como disciplina, é um
cias emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, so- dos espaços menos colonizados, a presença da arte negra sem-
ciais e relacionais. pre foi valorizada e trabalhada nos colégios, tornando a lei sem
( ) Conversar com outras crianças e com adultos, para que efeito.
possa desenvolver a sua linguagem argumentativa afim de parti- (E) A lei promove, além de uma alteração nos currículos esco-
cipar ativamente dos diferentes espaços de diálogos que a escola lares, a reafirmação de uma proposta constitucional de uma
proporciona. educação pluriétnica e emancipadora, trazendo para os espa-
ços escolares conteúdos e saberes não eurocentrados.
Marque a alternativa que contém a sequência CORRETA de
preenchimentos dos parênteses. 23-A luta antirracista no Brasil ainda percorre um longo e tor-
(A) F, V, F. tuoso caminho, entretanto alguns aspectos positivos têm surgi-
(B) V, F, V. do nos últimos anos. Um desses pontos foi a criação da Lei nº
(C) F, F, V. 10.639/2003. Qual das seguintes alternativas corresponde ao
(D) V, V, F. principal tema da referida Lei?
(E) V, F, F. (A) Tal lei tem como tema a obrigatoriedade de cotas raciais nas
universidades brasileiras.
19-A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe que a (B) Essa lei tem como base garantir cotas raciais em concursos
abordagem das linguagens articule seis dimensões do conheci- públicos.
mento. Nesse sentido, NÃO seria uma das dimensões, a seguinte: (C) A lei propõe a obrigatoriedade da apresentação de filmes
(A) Fruição. com temas afro-brasileiros nos cinemas brasileiros.
(B) Reflexão. (D) Essa lei tem como tema a obrigatoriedade do ensino de
(C) Crítica. História e Cultura afro-brasileira e africana na educação básica.
(D) Expressão. (E) Tal lei tem como tema a obrigatoriedade de cotas raciais
(E) Historicidade. para ingresso nas universidades públicas brasileiras.

20-Na primeira etapa da Educação Básica, e de acordo com os 24-Assinale a alternativa correta sobre a Lei nº 10.639 de
eixos estruturantes da Educação Infantil (interações e brincadei- 2003.
ra), devem ser assegurados seis direitos de aprendizagem e de- (A) O ensino sobre a História e Cultura Afro-Brasileira torna-se
obrigatória no ensino fundamental e médio na rede pública e
senvolvimento, para que as crianças tenham condições de apren-
particular.
der e se desenvolver.
(B) O ensino sobre a História e Cultura Afro-Brasileira torna-se
Dentre os citados abaixo, assinale a alternativa que não é um
obrigatória exclusivamente no ensino fundamental na rede pú-
direito previsto na BNCC:
blica e particular.
(A) Conviver.
(C) O ensino sobre a História e Cultura Afro-Brasileira torna-se
(B) Expressar.
obrigatória exclusivamente no médio na rede pública e parti-
(C) Impor-se.
cular.
(D) Brincar.
(D) O ensino sobre a História e Cultura Afro-Brasileira torna-
-se obrigatória exclusivamente no ensino fundamental na rede
21-De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, nos pública.
dois primeiros anos do Ensino Fundamental, a ação pedagógica (E) O ensino sobre a História e Cultura Afro-Brasileira torna-se
deve ter como foco: obrigatória no ensino fundamental e médio exclusiva nos esta-
(A) Os jogos cooperativos. belecimentos particulares.
(B) A brincadeira.
(C) A musicalização. 25-Acerca da Política Nacional de Direitos Humanos, analise
(D) A alfabetização. os itens a seguir:
(E) Os comportamentos inadequados. I. No Eixo Orientador I do Programa Nacional de Direitos Hu-
manos – PNDH 3, consta a diretriz de interação democrática entre
22-A lei n° 10.639/03 alterou a lei n° 9.394/96 incluindo a Estado e sociedade civil como instrumento de fortalecimento da
obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira democracia participativa.
e Africana nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, II. Na implementação do Programa Nacional de Direitos Hu-
oficiais e particulares. A respeito dos impactos e das transforma- manos – PNDH 1, em 2002, foi dada forte ênfase aos direitos hu-
ções pedagógicas dessa lei, assinale a alternativa correta. manos de terceira geração, com a extensão deles a grupos vulne-
(A) Os conteúdos relacionados à arte europeia foram removi- ráveis, tais como afrodescendentes e transexuais.
dos dando enfoque à arte africana e afro-brasileira.
(B) Fica a cargo apenas do professor de arte trabalhar com as
temáticas que envolvem a história e a cultura africana e afro-
-brasileira nas escolas.

316
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

III. A atual política nacional de direitos humanos reconhece 29-Em relação ao sujeito passivo dos delitos de violência do-
plenamente o direito à memória como um dever do Estado, po- méstica e familiar contra a mulher, é correto afirmar que:
rém evoluiu positivamente no sentido de não ser mais necessária (A) há necessidade de demonstração de vulnerabilidade con-
uma construção pública da verdade, dada a temporalidade dos creta;
direitos humanos. (B) a ausência de demonstração de relação de inferioridade in-
viabiliza a responsabilização criminal;
Está(ão) correto(s) o(s) item(ns): (C) a hipossuficiência e a vulnerabilidade da mulher em contex-
(A) apenas I. to de violência doméstica e familiar é presumida;
(B) apenas II. (D) em caso de subjugação feminina, a aplicação do sistema
(C) apenas III. protetivo depende de demonstração específica;
(D) apenas I e II. (E) a organização social brasileira não é mais um sistema hierár-
(E) I, II e III. quico de poder baseado no gênero.

26-Assinale a opção que apresenta o nome do eixo orientador 30-Considerando-se a Lei nº 11.947/2009, assinalar a alterna-
do Programa Nacional de Direitos Humanos que possui a diretriz tiva que preenche as lacunas abaixo CORRETAMENTE:
de promover e proteger os direitos ambientais como direitos hu-
manos, incluindo-se as gerações futuras como sujeitos de direitos. Do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE, no
(A) Universalização de Direitos em um Contexto de Desigual- âmbito do PNAE, no mínimo ______ deverão ser utilizados na
dades aquisição de gêneros alimentícios diretamente da agricultura fa-
(B) Educação e Cultura em Direitos Humanos miliar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações,
(C) Desenvolvimento e Direitos Humanos _______________ os assentamentos da reforma agrária, as co-
(D) Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência munidades tradicionais indígenas e as comunidades quilombolas.
(E) Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil (A) 15% | priorizando-se
(B) 25% | excetuando-se
27-O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), ela- (C) 30% | priorizando-se
borado por meio do Decreto nº 73.037/2009, é implementado de (D) 30% | excetuando-se
acordo com alguns eixos orientadores e suas respectivas diretri- (E) 80% | priorizando-se
zes; marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.

( ) Interação democrática entre Estado e sociedade civil. GABARITO


( ) Desenvolvimento e direitos humanos.
( ) Universalizar direitos em um contexto de desigualdades.
( ) Desenvolvimento e fortalecimento de equilíbrio trabalho- 1 A
família.
2 B
A sequência está correta em 3 A
(A) V, V, V, F.
4 C
(B) V, F, F, V.
(C) F, V, F, V. 5 C
(D) F, F, V, F. 6 E
28-Em conformidade com a Lei nº 10.741/2003 - Estatuto do 7 E
Idoso, zelarão, pelo cumprimento dos direitos do idoso, os Con- 8 B
selhos: 9 A
I. Nacional. 10 B
II. Estaduais. 11 A
III. Do Distrito Federal.
12 C
IV. Municipais.
13 D
Estão CORRETOS: 14 E
(A) Somente os itens I e II.
(B) Somente os itens II e III. 15 D
(C) Somente os itens III e IV. 16 A
(D) Somente os itens I, II e IV. 17 A
(E) Todos os itens.
18 D
19 E
20 C

317
REFERENCIAL CURRICULAR MUNICIPAL

21 D ______________________________________________________

22 E ______________________________________________________
23 D
______________________________________________________
24 A
______________________________________________________
25 A
26 C ______________________________________________________
27 A ______________________________________________________
28 E
______________________________________________________
29 C
30 C ______________________________________________________

______________________________________________________

ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
DE ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

AVALIAÇÕES DO ENSINO EM LARGA ESCALA (SISTEMA DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA - MATRIZES DE REFERÊNCIA
SAEB PROVA BRASIL (5º ANO) E SAEB - 2º ANO, EM LÍNGUA PORTUGUESA;

A Prova Brasil e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) são avaliações para diagnóstico, em larga escala, desen-
volvidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC). Têm o objetivo de avaliar a qualidade do
ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro a partir de testes padronizados e questionários socioeconômicos1.
Nos testes aplicados na quarta e oitava séries (quinto e nono anos) do ensino fundamental, os estudantes respondem a itens (ques-
tões) de língua portuguesa, com foco em leitura, e matemática, com foco na resolução de problemas. No questionário socioeconômico, os
estudantes fornecem informações sobre fatores de contexto que podem estar associados ao desempenho.
Professores e diretores das turmas e escolas avaliadas também respondem a questionários que coletam dados demográficos, perfil
profissional e de condições de trabalho.
A partir das informações do Saeb e da Prova Brasil, o MEC e as secretarias estaduais e municipais de Educação podem definir ações
voltadas ao aprimoramento da qualidade da educação no país e a redução das desigualdades existentes, promovendo, por exemplo, a
correção de distorções e debilidades identificadas e direcionando seus recursos técnicos e financeiros para áreas identificadas como prio-
ritárias.
As médias de desempenho nessas avaliações também subsidiam o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb),
ao lado das taxas de aprovação nessas esferas.
Além disso, os dados também estão disponíveis para toda a sociedade que, a partir dos resultados, pode acompanhar as políticas
implementadas pelas diferentes esferas de governo. No caso da Prova Brasil, ainda pode ser observado o desempenho específico de cada
rede de ensino e do sistema como um todo das escolas públicas urbanas e rurais do país.
O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) é integrado por provas desenvolvidas com base nas matrizes de referência para
cada área do conhecimento. Tais matrizes não abrangem o currículo escolar por completo, não estabelecendo relação com as estratégias
de ensino, visto que a avaliação deve ser aplicada de modo que possa ser auferida.  

• Descritores: cada uma dessas matrizes é formada por descritores, que, por sua vez, fixam os conteúdos relacionados às compe-
tências e às habilidades de cada série e componente curricular. Nessa perspectiva, todo descritor se relaciona às habilidades mentais e
aos conteúdos curriculares dos estudantes, e devem ser aplicados como fundamento para o desenvolvimento dos elementos da avaliação.  

As matrizes de referência do Saeb para cada área do conhecimento:  


1. Matriz de Referência de Língua Portuguesa e Matemática  
2. Matriz de Referência de Ciências da Natureza  
3. Matriz de Referência de Ciências Humanas  
4. Matriz de Referência de Língua Portuguesa e Matemática (2º ano do ensino fundamental)

1 http://portal.mec.gov.br/prova-brasil

319
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DE ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

QUADRO DA MATRIZ DE REFERÊNCIA DE LÍNGUA PORTUGUESA - 2º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Fonte: DAEB/Inep. MEC, 2018.

QUADRO 2
HABILIDADES DA MATRIZ DE LINGUAGENS – 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

320
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DE ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

MATRIZ DE REFERÊNCIA DE LÍNGUA PORTUGUESA – 5º ANO


DO ENSINO FUNDAMENTAL

321
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DE ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

QUADRO 2
DISTRIBUIÇÃO DOS DESCRITORES DE LÍNGUA PORTUGUESA, NO 5º ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL, DE ACORDO COM OS TÓPICOS

POLÍTICA NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO – MEC

Definição: a PNA é um instrumento elaborado pelo Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Alfabetização (Sealf) e em
parceria com representantes do Gabinete do Ministro, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), da
Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação (Semesp), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), da Coor-
denação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), da Secretaria Executiva (SE), da Secretaria de Educação Básica (SEB)
e a Secretaria de Alfabetização (Sealf). 

Objetivo geral: a PNA visa à elevação da qualidade da alfabetização e ao combate do analfabetismo em todo o território brasileiro. 

Resumos dos 13 artigos da PNA


• Artigo 1o: a alfabetização no Brasil deverá basear-se em evidências científicas. 
• Artigo 2o: a PNA traz definições precisas, o que possibilita um debate sério sobre políticas de alfabetização 
• Artigo 3o: Princípios → respeito aos entes federativos e adesão voluntária; fundamentação nas ciências cognitivas; literacia e
numeracia; centralidade do papel da família na alfabetização; alfabetização como instrumento de superação de vulnerabilidade social. 
• Artigo 4o: Objetivos → promover a cidadania por meio da alfabetização; elevar a qualidade do ensino e da aprendizagem; contri-
buir para alcançar as metas 5 e 9 do PNE. 
• Artigo 5o: Diretrizes → estímulos aos hábitos de leitura e escrita; priorização da alfabetização no primeiro anodo ensino funda-
mental; integração de práticas motoras e expressões artísticas; respeito às particularidades das modalidades especializadas; valorização
do professor alfabetizador.  
• Artigo 6o: Público-alvo → crianças na primeira infância e alunos dos não iniciais o ensino fundamental são o público prioritário;
jovens e adultos, alunos das modalidades especializadas e qualquer estudante com nível insatisfatório de alfabetização também são
contemplados.  
• Artigo 7o: Agentes → são agentes os professores, os gestores educacionais, as instituições de ensino as famílias e as organizações
da sociedade civil. 
• Artigos 8o e 9o: a PNA será implementada por meio e programas e ações do governo federal em parceria com os entes federati-
vos. Uma boa política pública deve ter bons indicadores e monitoramento, para aferir resultados e valorizar o dinheiro do contribuinte.  
• Artigos 10o e 13o: o MEC coordenará as ações derivadas da PNA, indo oferecer assistência técnica financeira aos entes federati-
vos. 

Prezado(a),
A fim de atender na íntegra o conteúdo do edital, este tópico será disponibilizado na Área do Aluno em nosso site. Essa área é reserva-
da para a inclusão de materiais que complementam a apostila, sejam esses, legislações, documentos oficiais ou textos relacionados a este
material, e que, devido a seu formato ou tamanho, não cabem na estrutura de nossas apostilas.

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FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DE ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

Por isso, para atender você da melhor forma, os materiais são Silábica:
organizados de acordo com o título do tópico a que se referem e po-
dem ser acessados seguindo os passos indicados na página 2 deste
material, ou por meio de seu login e senha na Área do Aluno.
Se preferir, indicamos também acesso direto ao arquivo pelo
link a seguir: http://portal.mec.gov.br/images/banners/caderno_
pna_final.pdf

PSICOGÊNESE DA LINGUAGEM ESCRITA NO PROCESSO


DE ALFABETIZAÇÃO

As etapas do processo de alfabetização


Analisando os estudos de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky
sobre a psicogênese da língua escrita, compreende-se uma outra
meneira de ver a aquisição do código escrito que é realizado pelas
crianças.“A leitura e a escrita não dependem exclusivamente da ha-
bilidade que o alfabetizando apresenta de ‘somar pedaços de escri-
ta’, e sim, antes disso, de compreender como funciona a estrutura Nessa fase a escrita já representa uma relação entre os ter-
da língua e a forma como é utilizada na sociedade”. mos,entre a grafia e a parte falada. Para cada parte falada (sílaba
Ferreiro e Teberosky pbservam que tentando compreender oral ) a criança atribui uma grafia, ou seja, uma letra escrita.
a escrita, as crianças criam teorias que se desenvolvem como: a Por exemplo, quando escreve a palavra ‘’MÃO’’, pode utilizar
pré-silábica, a silábica, a silábico-alfabética e a alfabética. São as apenas uma letra, pautando-se na hipótese silábica, onde vai cor-
chamadas hipóteses. responder o número de letras com a quantidade de vezes que ela
abriu a boca para falar, ou pode ainda utilizar dois ou três símbolos,
Pré silábica: pois não acredita que possa se escrever apenas com uma letra.
Nessa fase, pode também ser dividida em dois níveis: o pri-
meiro, silábico sem valor sonoro, onde a crianças representa cada
sílaba por uma letra qualquer, sem nenhuma relação com o som
que ela representa. O segundo é o silábico com valor sonoro onde
em cada sílaba é representada por uma vogal ou consoante que
expressa o som correspondente.

Silábico-alfabética:

Essa fase se caracteriza em dois níveis. No primeiro,as crianças


tentam diferenciar os desenhos da escrita, indentificando o que se
pode ler. No segundo nível, constroem princípios que vão acompa-
nhá-las no processo de alfabetização, como: é preciso um deter-
minado número de letras para que haja algo, de fato, escrito (em
torno de três) e o princípio de que há uma variedade de caracteres
para que se consiga ler.Para escrever, a criança vai utilizar letras
aleatórias, geralmente as que contém em seu nome e sem uma
quantidade significativa.

Nesta fase a criança vê que não é possível escrever apenas com


uma letra para cada sílaba. Como essa é uma transição da ‘’silábi-
ca’’ para a ‘’alfabética’’, a criança começa a escrever algumas vezes
representando a sílaba inteira, e em outras usando uma letra para
cada sílaba.

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FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DE ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

São exemplos de escritas silábico-alfabéticas: Segundo Morais (2012), existem duas fontes de variações, a
- CAVLU (cavalo) primeira é um processo cognitivo sobre as partes das palavras, se-
- JABUTCAA (jabuticaba) parando os pedaços, juntando, contando, comparando, identifican-
- MNINO (menino) do semelhanças e falar palavras parecidas com segmentos sonoros
- CADRA (cadeira) iguais.
A segunda refere-se às segmentações, das posições se é no ini-
Nível Alfabético: cio, se é o meio ou no fim, podem obter tamanhos diferenciados,
compostos por fonemas, sílabas, intrassílabas e rimas.

As relações entre consciência fonológica e alfabetização


Existem muitos processos cognitivos que precisam ser desen-
volvidos para que a alfabetização seja garantida: uma dessas habili-
dades essenciais é a consciência fonológica.
Pra começo de conversa, vamos visitar brevemente o conceito
de metacognição. Trata-se de uma habilidade de aprender como
nós mesmos aprendemos e tornar isso um processo consciente.
Esta é uma capacidade que pode ser desenvolvida, sim, pelo edu-
cador – e daí a importância de nós, professores, conhecermos os
processos de neurocognição, a fim de melhor auxiliarmos nossos
alunos a entenderem como eles aprendem.
A partir desse conceito, partimos para consciência metalinguís-
tica, ou seja, a capacidade de refletir e analisar intencionalmente
sobre a língua. Por exemplo, uma criança aprende a falar sem co-
nhecer as unidades linguísticas, mas com a escrita ocorre de modo
diferente: é importante conhecer e refletir sobre a linguagem para
Nessa fase a criança conhece o valor sonoro de algumas ou estar consciente e aprender de forma mais eficiente.
todas as letras e consegue agrupá-las formando sílabas. Estando Consciência fonológica não se resume a ficar segmentando e
nesse nível não quer dizer que a criança já saiba ler e escrever cor- repentindo palavras – não é sinônimo de método fônico. Abrange
retamente .Ainda escrevem: Xinelo, Coziha, caza, etc. muitas outras habilidades que não são restritas à repetição de fo-
nemas.
É importante ressaltar que cada criança tem seu ritmo. Espe- “Para aprender a ler e escrever é necessário que a criança tome
ra-se que aos 7 anos ela já domine de maneira razoável a leitura e consciência das relações entre os sons da fala e a sua representação
escrita. Claro que esse processo começa muito antes, pois desde gráfica” – Magda Soares
muito pequenas as crianças já fazem a leitura de sua própria manei-
ra: lê placas nas ruas, gravuras nos livros etc. Dicas importantes:
Uma criança que convive com o estímulo da leitura, com cer- - Dissociar do conteúdo semântico das palavras
teza, terá mais interesse, e provavelmente, o processo de alfabeti- - Ter sensibilidade para manipular as unidades linguísticas
zação será mais fácil.2 - Trabalhar desde a Educação Infantil
- Fazer atividades com consciência de:
A importância da consciência fonológica na alfabetização - Rimas e aliterações
Segundo Morais (2012), a consciência fonológica é um conjun- - Sílabas
to de habilidades no qual se caracterizam os segmentos sonoros - Palavras
das palavras. - Fonemas
A capacidade de refletir sobre as unidades sonoras de forma
consciente, compreendido mais especificamente como habilidades Como trabalhar com estas diferentes consciências?
metafonológicas. Em relação àsrimas, é importante trabalhar com as consonan-
Trabalhar essas segmentações na alfabetização ampliara o tes (palavras que terminam com as mesmas letras, por exemplo,
campo de possibilidades cognitivas do aluno, e não reduzirá a pro- café e boné) e as assonantes (coincidência na vogal, mas consoan-
cessos tradicionais, repetitivos, que enfatizam a memorização de tes diferentes, por exemplo, cachimbo e domingo). Portanto, deve-
silabas, pelo contrário, trabalhar a consciência fonológica exige um mos evitar falar para as crianças que as rimas só aparecem quando
processo de sistema de ensino alfabético que enfatiza o letramen- escrevemos palavras com o mesmo final.
to, descaracterizando um processo sem intervenções pedagógicas - Jogo com rimas (pode ser oral, escrito e com desenhos): “Co-
mais sistemáticas. loquei o meu pião na minha _____”, “Lavo minha mão com água e
Ou seja, a consciência fonológica não significa treinos fonêmi- ____”…;
cos exaustivos como requisitos para alfabetização, como a relação - Charadas: “Dica: todas terminarão com ão” – “Nome de fruta
do fonema (som) e grafema (letra). laranja por dentro”, “Onde esquentamos a comida”…
As aliterações são as repetições de sílabas ou fonemas iniciais,
muito trabalhadas a partir de trava-linguas e parlendas (por exem-
plo, “O rato roeu a roupa do rei de Roma”).
2Fonte: www.alfabetizandoeletrando10.blogspot.com

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FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DE ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

Consciência silábica não é ficar repentindo mecanicamente as A FLUÊNCIA LEITORA: a fluência pode ser compreendida como
sílabas canônicas (ba, be, bi, bo, bu), mas tornar consciente o co- um conjunto de habilidades que viabilizam uma leitura sem blo-
nhecimento da pauta sonora e saber que aquelas sílabas represen- queios de quaisquer naturezas. È um conceito que abrange pon-
tam uma sonoridade. tos relacionados à composição do texto e também à competência
- Marcar sílaba com os dedos, adesivos, tampinhas de garrafa do leitor, ou seja, uma interação eficiente entre esses elementos
ou outro material concreto para identificar quantas vezes foram assegura que a leitura seja fluente. Do ponto de vista do leitor, é
faladas; crucial que ele tenha desenvolvido uma série de habilidades, que
- Trabalhar com as diferentes formatações de sílabas (V+V, vão desde o reconhecimento das letras (no caso de muitas culturas,
C+V, C+C+V…); como a nossa, do alfabeto) até o reconhecimento de discursos e o
- Jogo de dicas, sempre com a mesma sílaba inicial (por exem- entrecruzamento de unidades maiores de textos. Para muitos pes-
plo, “BA”): “O macaco come muito!”, “A mamãe usa na boca”, “Par- quisadores, o reconhecimento das letras nem é o primeiro passo,
te no corpo”; pois, bem antes disso, as crianças identificam a função dos textos,
- Sequência de palavras dentro de um campo semântico: “leão, seus suportes e sua importância em dada cultura.
gato, elefante e ca…”, “régua, borracha, lápis e ca…”;
- Subtração e adição de sílabas em palavras (o que acontece se Leitores capazes de ler fluentemente são aqueles que conse-
eu tirar o “sa” de “sapato”?); guem: 
- Dividir as palavras em sílabas e contar quantas divisões foram • reconhecer as letras, as palavras, as frases e os textos 
feitas; • localizar informações menos ou mais explícitas 
- Link do material “As letras falam”. • fazer inferências de alcances e níveis de complexidade va-
riados, entre outras habilidades
Consciência fonêmicaé o processo mais complexo, pois tra-
ta-se da menor das unidades linguísticas. É o dar-se conta de que Os níveis de fluência leitora:  
cada letra representa um som. 1. leitura sensorial: esse nível está relacionado aos sentidos
- Subtrair ou adicionar fonemas; (visão, audição, tato e olfato) e pode também estar relacionado ao
- Palavras iguais apenas com o primeiro fonema diferente jogo de imagens, cores, sons, cheiros e dos gostos estimula o pra-
(mola, bola, cola, gola…); zer, a procura que pode aprazer ou mesmo proporcionar repulsas
- Leitura de frases onde os fonemas se repetem e pedir que os aos sentidos. Esse nível mostra ao leitor o que lhe apraz ou não,
alunos identifiquem qual é; mesmo sem explicações ou motivações. Seu início ocorre cedo,
- Ditado fonético: a professora faz os sons os alunos escrevem mas acompanha o leitor durante toda a sua vida, independente-
a letra correspondente; mente do tipo de leitura. 
- Contar o número de sons de cada sílaba 2. leitura emocional: esse nível passa a envolver o leitor pelo
seu inconsciente e o leva a fazer parte da história, sentindo, junto
com a leitura, todas as emoções que esta provoca. 
3. leitura racional: esse nível está diretamente relacionado
PRÁTICAS DE ENSINO DE LEITURA DO 1º AO 5º ANO, aos dois tipos de leitura anteriores e, embora seja uma leitura in-
NÍVEIS DE FLUÊNCIA LEITORA; telectual, possibilita uma conexão entre leitor e texto, levando a
reflexões, questionamentos e reorganização do mundo subjetivo,
As séries que correspondem ao período de alfabetização com- ampliando os saberes. 
preendem do 1o ao 5o ano. Nesse nível de educação, o foco está
nas estratégias de leitura. Na tradição pedagógica recente, a ex-
pressão práticas de leitura refere-se: 1) à criação de situações reais
O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA NA ABORDAGEM
de leitura em sala de aula; 2) à busca de apreensão e negociação
DISCURSIVA, POR MEIO DE GÊNEROS TEXTUAIS
dos significados que os aprendizes atribuem à  leitura  em geral,
como também à leitura de diversos gêneros textuais. 
Em geral, as práticas de ensino mais tradicionalmente O uso dos gêneros textuais no ensino da Língua Portuguesa
reconhecidas e efetivas se baseiam em: tem fundamento na proposta dos Parâmetros Curriculares Nacio-
1 → repetição e rima: a repetição torna os livros mais nais (PCN) de Língua Portuguesa (1998), que, por sua vez, apresen-
previsíveis. Assim, ela facilita a interação com os jovens leitores.  ta os gêneros textuais como ferramentas de ensino na prática de
2 → conversa sobre histórias: falar sobre o que se lê é outra leitura e produção textual e como aliados no processo de ensino-
maneira de ajudar as crianças a desenvolverem habilidades de lin- -aprendizagem da língua materna. Visando à uma nova concepção
guagem.   metodológica de desempenho no ensino da Língua Portuguesa, a
3 → mundo das palavras: essas são algumas maneiras de criar apresentação do texto como elemento primordial no processo de
uma aula rica em descobertas. Afinal, as histórias são formadas, ensino-aprendizagem adquirido pelo aluno em sala de aula é a pro-
primeiramente, por palavras.  posta com maior relevância, tanto que é defendida pelos PCNs —
4 → histórias com bonecos de pano  segundo eles, o texto constitui unidade de sentido e comunicação.
5 → leituras divertidas: as crianças adoram ouvir uma boa his- É evidente que isso se efetiva de forma prática ao se considerarem
tória lida em voz alta. Há uma abundância de histórias que as crian- aspectos como o grau de conhecimento de cada estudante e seu
ças vão querer ouvir muitas vezes. Por fim, elas finalmente vão ler contexto social, de forma a ajustar à série e a sua vida pessoal.
as histórias por si mesmas. 

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FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DE ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

Integração: a abordagem discursiva nas aulas de Língua Portu- 2. Prefeitura de Londrina - PR - 2021 - Prefeitura de Londrina
guesa tem como enfoque a utilização de textos/gêneros textuais, - PR - Professor de Educação Básica- Leia o texto, a seguir, para res-
e se preocupa com o uso efetivo da linguagem enquanto forma ou ponder à questão :
processo de interação do sujeito nos mais diferentes contextos do A partir das informações do SAEB e da Prova Brasil, o MEC e as
qual fazem parte (abordagem sociointeracionista). Nesse sentido, secretarias estaduais e municipais de educação podem definir ações
os PCNs destacam que “não há linguagem no vazio, seu grande voltadas ao aprimoramento da qualidade da educação no país e a
objetivo é a interação, a comunicação com o outro, dentro de um redução das desigualdades existentes, promovendo, por exemplo,
espaço social” (BRASIL, 1998). Isso promove a integração efetiva da a correção de distorções e debilidades identificadas e direcionando
utilização do texto com os processos de interação social dentro de seus recursos técnicos e financeiros para áreas identificadas como
um contexto amplo que abarca a linguagem e suas produções de prioritárias. As médias de desempenho nessas avaliações também
sentido.  subsidiam o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Bá-
sica (IDEB), ao lado das taxas de aprovação nessas esferas. Além
Metodologia: essa perspectiva de ensino da língua propõe a disso, os dados também estão disponíveis para toda a sociedade
adoção de uma metodologia que venha desvencilhar o ensino de que, a partir dos resultados, pode acompanhar as políticas imple-
língua materna da prática tradicional, ancorada no aspecto mera- mentadas pelas diferentes esferas de governo. No caso da Prova
mente normativo e conceitual. Porém, essa metodologia que se Brasil, ainda pode ser observado o desempenho específico de cada
pauta preferencialmente nos gêneros textuais nas práticas em sala rede de ensino e do sistema como um todo das escolas públicas
de aula, não inviabiliza e nem deve impedir a abordagem dos aspe- urbanas e rurais do país. Nos anos em que a Prova Brasil é aplicada,
tos gramaticais da língua. Contrariamente, o texto passa a operar as secretarias estaduais e municipais de educação e as escolas pú-
também como um lugar favorável à compreensão desses aspectos. blicas da educação básica, que possuem turmas de quinto e nono
Isso levando em conta, obviamente, metodologias capazes de be- ano do Ensino Fundamental, recebem cadernos com Matrizes de
neficiar-se do potencial linguístico do texto abordado. Assim,   Referência, Temas, Tópicos e Descritores. (fonte: http://portal.mec.
Objetivos da abordagem discursiva: envolver desde a apre- gov.br/prova-brasil/apresentacao), Acesso em agosto de 2021.
sentação das diversas estratégias de leitura e também de produção No total, a matriz de referência de Língua Portuguesa SAEB
textual, como também auxiliar os estudos do vocabulário e espe- - Prova Brasil do 5º ano é composta de cinco tópicos: 1. Procedi-
cialmente da gramática.  mentos de Leitura; 2. Implicações do Suporte, do Gênero e/ou do
Enunciador na Compreensão do Texto; 3. Relação entre Textos, 4.
Coerência e Coesão no Processamento do Texto; 5. Relações entre
QUESTÕES
Recursos Expressivos e Efeitos de Sentido.
( )CERTO
( ) ERRADO
1. FCC - 2022 - SEDU-ES - Professor MaPB Pedagogo- O princi-
pal objetivo do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) é 3. Prefeitura de Londrina - PR - 2021 - Prefeitura de Londri-
fornecer na - PR - Professor de Educação Básica- O Sistema de Avaliação da
(A) um indicador de qualidade da educação para poder compa- Educação Básica (Saeb) tem como objetivo diagnosticar a educação
rar as escolas brasileiras, estabelecer metas e distribuir bônus básica do País e contribuir para a melhoria de sua qualidade, ofe-
para os melhores no ranking. recendo subsídios concretos para a formulação, a reformulação e
(B) informações precisas sobre a aprendizagem de cada aluno o monitoramento das políticas públicas voltadas para a educação
para que os educadores da escola possam conhecer melhor básica. (Fonte: INEP, 2019, p. 4. Disponível em: https://download.
seus recursos cognitivos e planejar suas próximas ações. inep.gov.br/publicacoes/institucionais/av aliacoes_e_exames_da_
(C) dados atualizados sobre o desempenho dos alunos brasi- educacao_basica/cartilha_saeb _2019.pdf. Acesso em agosto de
leiros apenas em português e matemática porque estas são as 2021)
disciplinas mais básicas para todos.
(D) evidências sobre o sistema educacional brasileiro e trans- Sobre avaliação em larga escala, leia o texto para julgar o item .
formá-las em dados compatíveis com sistemas internacionais Os itens da prova são elaborados com base em uma matriz
de modo a entender a defasagem de aprendizagem dos alunos de referência, que reúnem os conteúdos (tópicos ou temas) e as
brasileiros. descrições das habilidades (descritores) a serem avaliados em cada
(E) subsídios que contribuam para a formulação de políticas área do conhecimento e etapa do ensino fundamental – 5º e 9º
que democratizem o acesso à escola, ampliem a qualidade e ano.
aumentem a equidade da educação brasileira. ( )CERTO
( ) ERRADO

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FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DE ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

4. Prefeitura de Londrina - PR - 2021 - Prefeitura de Londri- Assinale a alternativa correta:


na - PR - Professor de Educação Básica- O Sistema de Avaliação da (A) I, II, III e V.
Educação Básica (Saeb) tem como objetivo diagnosticar a educação (B) III, IV e V.
básica do País e contribuir para a melhoria de sua qualidade, ofe- (C) I, II e IV.
recendo subsídios concretos para a formulação, a reformulação e (D) I, II, III, IV e V.
o monitoramento das políticas públicas voltadas para a educação
básica. (Fonte: INEP, 2019, p. 4. Disponível em: https://download. 8. FEPESE - 2022 - Prefeitura de Biguaçu - SC - Professor II – EJA-
inep.gov.br/publicacoes/institucionais/av aliacoes_e_exames_da_ Segundo Ferreiro e Teberosky (1986) e Ferreiro (1992) apud Soares
educacao_basica/cartilha_saeb _2019.pdf. Acesso em agosto de (2022), o desenvolvimento da escrita se dá pela passagem de cinco
2021) níveis.
Identifique abaixo as afirmativas verdadeiras ( V ) e as falsas ( F
Sobre avaliação em larga escala, leia o texto para julgar o item. ) em relação ao assunto.
A Prova Brasil é aplicada todos os anos e avalia o desempenho ( ) Nível 1 (garatujas): uso de letras sem correspondência com
dos estudantes em Língua Portuguesa, com foco em leitura, e em seus valores sonoros e sem correspondência com as propriedades
Matemática, com ênfase na resolução de problemas. sonoras da palavra (número de sílabas), em geral respeitando as
( )CERTO hipóteses da quantidade mínima (não menos que três letras) e da
( ) ERRADO variedade (letras não repetidas).
( ) Nível 2 (pré-silábico): diferenciação entre as duas modalida-
5. FAUEL - 2020 - Prefeitura de Centenário do Sul - PR - Pro- des básicas de representação gráfica: o desenho e a escrita; uso de
fessor- A provinha Brasil é uma avaliação diagnóstica do nível de grafismos que imitam as formas básicas da escrita: linhas ondula-
alfabetização das crianças matriculadas no segundo ano de escola- das; reconhecimento de duas das características básicas do sistema
rização das escolas públicas brasileiras. Essa avaliação acontece em de escrita: a arbitrariedade e a linearidade.
duas etapas: ( ) Nível 3 (Silábico): uso de uma letra para cada sílaba da pala-
(A) No início e no meio do ano letivo. vra, inicialmente letras reunidas de forma aleatória, sem correspon-
(B) No meio e término do ano letivo. dência com as propriedades sonoras das sílabas, em seguida letras
(C) No início do ano letivo e no início do ano consequente. com valor sonoro representando um dos fonemas da sílaba.
(D) No início e término do ano letivo. ( ) Nível 4 (Silábico-alfabético): passagem da hipótese silábica
para a alfabética, quando a sílaba começa a ser analisada em suas
6. MS CONCURSOS - 2020 - Prefeitura de Chiador - MG - Profes- unidades menores (fonemas) e combinam-se, na escrita de uma pa-
sor II- Conforme o Decreto nº 9765/2019 que instituiu a Política Na- lavra, letras representando uma sílaba e letras já representando os
cional de Alfabetização, analise as assertivas e marque a incorreta. fonemas da sílaba.
(A) A Política Nacional de Alfabetização tem como um dos ob- ( ) Nível 5 (escrita alfabética): é o final do processo de compre-
jetivos assegurar o direito à alfabetização a fim de promover a ensão do sistema de escrita. Ao chegar a este nível, o estudante já
cidadania e contribuir para o desenvolvimento social e econô- franqueou a “barreira do código”.
mico do País
(B) Priorização da alfabetização no segundo do ensino funda- Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima
mental é uma das diretrizes para a implementação da Política para baixo.
Nacional de Alfabetização. (A) V • V • F • F • F
(C) Dentre outros, a Política Nacional de Alfabetização tem por (B) V • F • V • F • V
público-alvo alunos das modalidades especializadas de educa- (C) F • V • F • V • F
ção. (D) F • F • V • V • V
(D) É um dos princípios da Política Nacional de Alfabetização: (E) F • F • F • V • V
reconhecimento da família como um dos agentes do processo
de alfabetização. 9. Unoesc - 2022 - Prefeitura de Maravilha - SC - Professor de
Anos Iniciais - Edital nº 2- De acordo com a Teoria de Emília Ferreiro,
7. Prefeitura de Bataguassu - MS - 2021 - Prefeitura de Bata- exposta no livro “Psicogênese da Língua Escrita”, toda criança passa
guassu - MS - Professor de Ensino Fundamental- Entre as principais por quatro fases até que esteja alfabetizada: Pré- silábica, Silábica,
ideias que sustentam os estudos sobre a psicogênese da linguagem Silábico-alfabético e Alfabética. Portanto, da mesma forma como
escrita, é correto afirmar: Piaget, Emília também acredita que as crianças possuem um papel
I- A criança não começa a aprender a escrita apenas quando ativo em seu aprendizado, construindo seu próprio conhecimento.
entra para escola. II- O aprendizado não consiste em uma simples Assim, conforme anunciado acima, considere as seguintes afir-
imitação mecânica da escrita utilizada por adultos, mas numa busca mações:
de compreender o que é a escrita e como funciona. III- O desenvol- I. A escrita não resulta da simples cópia de um modelo externo,
vimento das hipóteses de escrita envolve construções progressivas. mas é um processo de construção social.
IV- O desenvolvimento da aprendizagem é imediato e independen- II. As escolas não devem focar somente no conteúdo, mas tam-
te da intervenção do adulto. V-. Na busca de compreensão da es- bém no sujeito que aprende.
crita, a criança faz perguntas e dá respostas a essas perguntas por III. A alfabetização é um caminho para se apropriar da escrita e
meio de hipóteses baseadas na análise da linguagem escrita. de todos os benefícios que ela pode proporcionar.

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FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DE ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

Assinale a alternativa correta: 3. planejar as atividades diárias garantindo que as de leitura


(A) Somente as alternativas I e III estão corretas. tenham a mesma importância que as demais.
(B) Todas as alternativas estão corretas. 4. construir na escola uma política de formação de leitores na
(C) Somente a alternativa III está correta. qual todos possam contribuir com sugestões para desenvolver uma
(D) Nenhuma das alternativas estão corretas. prática constante de leitura que envolva o conjunto da unidade es-
colar.

10. CESPE / CEBRASPE - 2022 - Prefeitura de Joinville - SC - Pro- Estão corretos apenas os itens:
fessor - 1 ao 5 Ano Ensino Fundamental - Séries- Um dos níveis de (A) 2 e 3.
aprendizagem proposto por Emília Ferrero caracteriza-se pela cor- (B) 1 e 2.
respondência entre a representação escrita das palavras e suas (C) 1, 3 e 4.
propriedades sonoras, que representa a descoberta de que a quan- (D) 2, 3 e 4.
tidade de letras com que se vai escrever uma palavra pode corres- (E) 1 e 3.
ponder à quantidades de partes que se reconhece na emissão oral.
Em geral, para a criança, uma grafia corresponde a cada sílaba. Esse 13. Instituto UniFil - 2020 - Prefeitura de Luiziana - PR - Profes-
nível do processo de alfabetização é denominado sor V- Uma das condições para o desenvolvimento do leitor pleno
(A) alfabético. é a fluência, que proporciona a autonomia, a compreensão e a in-
(B) pré-silábico. terpretação dos textos. Nesse sentido não está correto afirmar que
(C) silábico. (A) isso demanda a necessidade de se incluir práticas sistemáti-
(D) pré-alfabético. cas de leitura de textos de diferentes extensões, tanto silencio-
(E) silábico-alfabético. samente como em voz alta.
(B) o leitor não precisa se apropriar com segurança do sistema
11. CPCON - 2021 - Prefeitura de Areial - PB - Professor B - Lín- da Língua Portuguesa.
gua Portuguesa- O trabalho didático adequado com a leitura, a (C) o leitor precisa se apropriar com segurança do sistema da
produção de gêneros textuais escritos ou orais, bem como a aná- Língua Portuguesa.
lise linguística, sob a perspectiva enunciativo-discursiva de língua, (D) a fluência na leitura é fundamental para que o indivíduo
contempla o ensino de Língua Portuguesa como uma atividade de possa viver em uma sociedade letrada.
interação social, que envolve sujeitos ativos em práticas sociais de
usos diversos e de reflexão de uma língua/linguagem. Nesse senti- 14. AMEOSC - 2021 - Prefeitura de Palma Sola - SC - Professor
do, pode-se afirmar que de Educação Infantil - Edital nº 013- A partir da concepção teórica
I- as perspectivas para o ensino de Língua Portuguesa se voltam que, “Letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever dentro
essencialmente para um trabalho articulado, que toma a língua/lin- de um contexto em que a escrita e a leitura tenham sentido e façam
guagem, sob os parâmetros da dimensão textual e discursiva. II- a parte da vida do aluno”, tornam-se necessários cuidados ao condu-
mudança de postura em relação à língua possibilita ao professor a zir a alfabetização, pois conforme essa concepção:
promoção de situações concretas de interação discursiva, que ga- (A) Apenas ensinar a ler e a escrever é suficiente, alcançar ní-
rantam a participação efetiva dos aprendizes nos processos e nas veis de alfabetização funcional onde as pessoas leem e escre-
práticas de elaboração social do conhecimento. III- o trabalho de vem e, no entanto, não são capazes de fazer uso desse conhe-
análise linguística deve evidenciar o uso e a funcionalidade da lín- cimento numa esfera social.
gua em práticas de reflexão, constituídas na e pela multiplicidade (B) Apenas ensinar a ler e a escrever é suficiente, alcançar ní-
de linguagens, contempladas em diversos contextos e situações. veis de alfabetização funcional onde as pessoas leem e escre-
Está CORRETO o que se afirma em: vem, tornam-nas capazes de fazer uso desse conhecimento
(A) I e II apenas. numa esfera social.
(B) I, II e III. (C) Apenas ensinar a ler e a escrever é suficiente, alcançar ní-
(C) I e III apenas. veis de alfabetização funcional onde as pessoas leem e escre-
(D) II e III apenas. vem, tornam-nas capazes de fazer uso desse conhecimento
(E) III apenas. numa esfera individual.
(D) Apenas ensinar a ler e a escrever é insuficiente, alcançar
12. IBADE - 2017 - Prefeitura de Rio Branco - AC - Professor níveis de alfabetização funcional onde as pessoas leem e escre-
de Ensino Fundamental (1º ao 5º Ano) zona rural- Formar leitores vem e, no entanto, não são capazes de fazer uso desse conhe-
é algo que requer, portanto, condições favoráveis para a prática cimento numa esfera social.
de leitura - que não se restringem apenas aos recursos materiais
disponíveis, pois, na verdade, o uso que se faz dos livros e demais 15. FUNDATEC - 2021 - Prefeitura de Panambi - RS - Professor
materiais impressos é o aspecto mais determinante para o desen- Área II - Artes- Em 11 de abril de 2019, foi publicado o Decreto nº
volvimento da prática e do gosto pela leitura.Algumas dessas con- 9.765, que institui a Política Nacional de Alfabetização, na qual
dições são: consta a expressão literacia, que significa:
(A) Conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes relacio-
1. dispor, nos ciclos iniciais, de um acervo de classe com livros nados à leitura e à escrita, bem como sua prática produtiva.
e outros materiais de leitura. (B) Conjunto de letras do sistema alfabético.
2. organizar momentos de leitura livre em que o professor seja (C) Conjunto de obras literárias de reconhecido valor estético,
ouvinte, mas não leia. pertencentes a um país, época e gênero.

328
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DE ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

(D) Habilidade de sustentar e operar mentalmente as informa- ______________________________________________________


ções, quer sejam auditivas/verbais, quer sejam visuoespaciais.
(E) Maneira mais simples de ler palavras. Tenta-se “adivinhar” ______________________________________________________
a palavra escrita por meio do contexto ou pela presença de al-
guns elementos conhecidos, como as letras iniciais. ______________________________________________________

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GABARITO
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1 E
2 ERRADO ______________________________________________________
3 CERTO ______________________________________________________
4 ERRADO
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5 D
6 B ______________________________________________________

7 A ______________________________________________________
8 D
______________________________________________________
9 B
______________________________________________________
10 C
11 B ______________________________________________________
12 C ______________________________________________________
13 B
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14 D
15 A ______________________________________________________

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ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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329
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DE ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

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330
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
DO ENSINO DA MATEMÁTICA

– Identificar propriedades comuns e diferenças entre poliedros


AVALIAÇÕES DO ENSINO EM LARGA ESCALA (SISTEMA e corpos redondos, relacionando figuras tridimensionais com suas
DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA - MATRIZES DE planificações.
REFERÊNCIA SAEB PROVA BRASIL (5º ANO) E SAEB (2º – Identificar propriedades comuns e diferenças entre figuras
ANO), EM MATEMÁTICA bidimensionais pelo número de lados e pelos tipos de ângulos.
– Identificar quadriláteros observando as posições relativas en-
— Avaliações do Ensino em larga escala (sistema de avaliação tre seus lados (paralelos, concorrentes e perpendiculares).
da educação básica) – Reconhecer a conservação ou modificação de medidas dos
A Prova Brasil e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação lados, do perímetro, da área em ampliação e/ou redução de figuras
Básica (Saeb) são avaliações para diagnóstico, em larga escala, de- poligonais usando malhas quadriculadas.
senvolvidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu-
cacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC). Tem o objetivo de avaliar a II – Grandezas e Medidas
qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro – Estimar a medida de grandezas utilizando unidades de medi-
a partir de testes padronizados e questionários socioeconômicos1. da convencionais ou não.
Nos testes aplicados na quarta e oitava séries (quinto e nono – Resolver problemas significativos utilizando unidades de me-
anos) do ensino fundamental, os estudantes respondem a itens dida padronizadas como km/m/cm/mm, kg/g/mg, l/ml.
(questões) de língua portuguesa, com foco em leitura, e matemá- – Estabelecer relações entre unidades de medida de tempo.
tica, com foco na resolução de problemas. No questionário socio- – Estabelecer relações entre o horário de início e término e/ou
econômico, os estudantes fornecem informações sobre fatores de o intervalo da duração de um evento ou acontecimento.
contexto que podem estar associados ao desempenho. – Num problema, estabelecer trocas entre cédulas e moedas
Professores e diretores das turmas e escolas avaliadas também do sistema monetário brasileiro, em função de seus valores.
respondem a questionários que coletam dados demográficos, perfil – Resolver problema envolvendo o cálculo do perímetro de fi-
profissional e de condições de trabalho. guras planas, desenhadas em malhas quadriculadas.
A partir das informações do Saeb e da Prova Brasil, o MEC e as – Resolver problema envolvendo o cálculo ou estimativa de
secretarias estaduais e municipais de Educação podem definir ações áreas de figuras planas, desenhadas em malhas quadriculadas.
voltadas ao aprimoramento da qualidade da educação no país e a
redução das desigualdades existentes, promovendo, por exemplo, III – Números e Operações/Álgebra e Funções
a correção de distorções e debilidades identificadas e direcionando – Reconhecer e utilizar características do sistema de numera-
seus recursos técnicos e financeiros para áreas identificadas como ção decimal, tais como agrupamentos e trocas na base 10 e princí-
prioritárias. pio do valor posicional.
As médias de desempenho nessas avaliações também subsi- – Identificar a localização de números naturais na reta numé-
diam o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica rica.
(Ideb), ao lado das taxas de aprovação nessas esferas. – Reconhecer a decomposição de números naturais nas suas
Além disso, os dados também estão disponíveis para toda a diversas ordens.
sociedade que, a partir dos resultados, pode acompanhar as políti- – Reconhecer a composição e a decomposição de números na-
cas implementadas pelas diferentes esferas de governo. No caso da turais em sua forma polinomial.
Prova Brasil, ainda pode ser observado o desempenho específico de – Calcular o resultado de uma adição ou subtração de números
cada rede de ensino e do sistema como um todo das escolas públi- naturais.
cas urbanas e rurais do país. – Calcular o resultado de uma multiplicação ou divisão de nú-
meros naturais.
— Matriz de Referência de Matemática do Saeb: Temas e seus – Resolver problema com números naturais, envolvendo di-
Descritores – 5º ano do Ensino Fundamental2 ferentes significados da adição ou subtração: juntar, alteração de
um estado inicial (positiva ou negativa), comparação e mais de uma
I – Espaço e Forma transformação (positiva ou negativa).
– Identificar a localização/movimentação de objeto em mapas, – Resolver problema com números naturais, envolvendo di-
croquis e em outras representações gráficas. ferentes significados da multiplicação ou divisão: multiplicação
comparativa, ideia de proporcionalidade, configuração retangular
e combinatória.
– Identificar diferentes representações de um mesmo número
1 http://portal.mec.gov.br/prova-brasil racional.
2 https://download.inep.gov.br/educacao_basica/prova_brasil_saeb/menu_ – Identificar a localização de números racionais representados
do_professor/o_que_cai_nas_provas/Matriz_de_Referencia_de_Matematica. na forma decimal na reta numérica.
pdf

331
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

– Resolver problema utilizando a escrita decimal de cédulas e Tema I – Espaço e Forma


moedas do sistema monetário brasileiro. – Identificar a localização/movimentação de objeto em mapas,
– Identificar fração como representação que pode estar asso- croquis e outras representações gráficas.
ciada a diferentes significados. – Identificar propriedades comuns e diferenças entre poliedros
– Resolver problema com números racionais expressos na for- e corpos redondos, relacionando figuras tridimensionais com suas
ma decimal envolvendo diferentes significados da adição ou sub- planificações.
tração. – Identificar propriedades comuns e diferenças entre figuras
– Resolver problema envolvendo noções de porcentagem bidimensionais pelo número de lados e pelos tipos de ângulos.
(25%, 50%, 100%). – Identificar quadriláteros observando as relações entre seus
lados (paralelos, congruentes e perpendiculares).
IV – Tratamento da Informação – Reconhecer a conservação ou modificação de medidas dos
– Ler informações e dados apresentados em tabelas. lados, do perímetro, da área em ampliação e/ou redução de figuras
– Ler informações e dados apresentados em gráficos (particu- poligonais usando malhas quadriculadas.
larmente em gráficos de colunas).
Tema II – Grandezas e Medidas
— Matrizes de Referência – Prova Brasil (5º ano) em Mate- – Estimar a medida de grandezas utilizando unidades de medi-
mática das convencionais ou não.
A matriz de referência que norteia os testes de Matemática do – Resolver problemas significativos utilizando unidades de me-
Saeb e da Prova Brasil está estruturada sobre o foco Resolução de dida padronizadas como km/m/cm/mm, kg/g/mg, l/ml.
Problemas. Essa opção traz implícita a convicção de que o conhe- – Estabelecer relações entre unidades de medida de tempo.
cimento matemático ganha significado, quando os alunos têm si- – Estabelecer relações entre o horário de início e término e/ou
tuações desafiadoras para resolver e trabalham para desenvolver o intervalo da duração de um evento ou acontecimento.
estratégias de resolução3. – Num problema, estabelecer trocas entre cédulas e moedas
A Matriz de Referência de Matemática, diferentemente do que do sistema monetário brasileiro, em função de seus valores.
se espera de um currículo, não traz orientações ou sugestões de – Resolver problema envolvendo o cálculo do perímetro de fi-
como trabalhar em sala de aula. Além disso, não menciona certas guras planas, desenhadas em malhas quadriculadas.
habilidades e competências que, embora sejam importantes, não – Resolver problema envolvendo o cálculo ou estimativa de
podem ser medidas por meio de uma prova escrita. áreas de figuras planas, desenhadas em malhas quadriculadas.
Em outras palavras, a Matriz de Referência de Matemática do
Saeb e da Prova Brasil não avalia todos os conteúdos que devem Tema III – Números e Operações/Álgebra e Funções
ser trabalhados pela escola no decorrer dos períodos avaliados. Sob – Reconhecer e utilizar características do sistema de numera-
esse aspecto, parece também ser evidente que o desempenho dos ção decimal, tais como agrupamentos e trocas na base 10 e princí-
alunos em uma prova com questões de múltipla escolha não forne- pio do valor posicional.
ce ao professor indicações de todas as habilidades e competências – Identificar a localização de números naturais na reta numé-
desenvolvidas nas aulas de matemática. rica.
Desse modo, a Matriz não envolve habilidades relacionadas a – Calcular o resultado de uma adição ou subtração de números
conhecimentos e a procedimentos que não possam ser objetiva- naturais.
mente verificados. Um exemplo: o conteúdo “utilizar procedimen- – Reconhecer a composição e a decomposição de números na-
tos de cálculo mental”, que consta nos Parâmetros Curriculares turais em sua forma polinomial.
Nacionais, apesar de indicar uma importante capacidade que deve – Resolver problema com números naturais, envolvendo di-
ser desenvolvida ao longo de todo o Ensino Fundamental, não tem, ferentes significados da multiplicação ou divisão: multiplicação
nessa Matriz, um descritor correspondente. comparativa, ideia de proporcionalidade, configuração retangular
Assim, a partir dos itens do Saeb e da Prova Brasil, é possível e combinatória.
afirmar que um aluno desenvolveu uma certa habilidade, quando – Calcular o resultado de uma multiplicação ou divisão de nú-
ele é capaz de resolver um problema a partir da utilização/aplica- meros naturais.
ção de um conceito por ele já construído. Por isso, o teste busca – Reconhecer a decomposição de números naturais nas suas
apresentar, prioritariamente, situações em que a resolução de pro- diversas ordens.
blemas seja significativa para o aluno e mobilize seus recursos cog- – Identificar diferentes representações de um mesmo número
nitivos. racional.
– Resolver problema utilizando a escrita decimal de cédulas e
— A Matriz de Referência de Matemática: Temas e seus Des- moedas do Sistema Monetário Brasileiro.
critores – 4ªsérie / 5º ano do Ensino Fundamental – Resolver problema com números naturais, envolvendo di-
As matrizes de matemática estão estruturadas por anos e sé- ferentes significados da adição ou subtração: juntar, alteração de
ries avaliadas. Para cada um deles são definidos os descritores que um estado inicial (positiva ou negativa), comparação e mais de uma
indicam uma determinada habilidade que deve ter sido desenvolvi- transformação (positiva ou negativa).
da nessa fase de ensino. Esses descritores são agrupados por temas – Identificar fração como representação que pode estar asso-
que relacionam um conjunto de objetivos educacionais. ciada a diferentes significados.
– Resolver problema com números racionais expressos na for-
ma decimal, envolvendo diferentes significados de adição ou sub-
3 http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/prova%20brasil_matriz2.pdf tração.

332
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

– Identificar a localização de números racionais representados na forma decimal na reta numérica


– Resolver problema envolvendo noções de porcentagem (25%, 50%, 100%).

Tema IV – Tratamento da Informação


– Ler informações e dados apresentados em tabelas.
– Ler informações e dados apresentados em gráficos (particularmente em gráficos de colunas).

— Matrizes de Referência Saeb (2º ano) em Matemática4

HABILIDADES DA MATRIZ MATEMÁTICA DO 2º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL


Eixo do
Eixo Cognitivo
Conhecimento
Compreender e aplicar conceitos e procedimentos Resolver problemas e argumentar
Reconhecer o que os números naturais indicam em Resolver problemas de adição ou de subtração, envolvendo
diferentes situações: quantidade, ordem, medida ou código números naturais de até 3 ordens,
de identificação. com os significados de juntar, acrescentar, separar ou retirar.
Resolver problemas de multiplicação ou de divisão
Identificar a posição ordinal de um objeto ou termo em (por 2, 3, 4 ou 5), envolvendo números naturais, com os
uma sequência (1º, 2º etc.). significados de formação de grupos iguais ou proporcionalidade
(incluindo dobro, metade, triplo ou terça parte).
Escrever números naturais
de até 3 ordens em sua Analisar argumentações
representação por algarismos ou em língua materna. sobre a resolução de problemas de adição, subtração,
Associar o registro numérico de números naturais de até 3 multiplicação ou divisão envolvendo números naturais.
ordens ao registro em língua materna.
NÚMEROS Comparar ou ordenar quantidades de objetos (até duas ordens).
Comparar ou Ordenar números naturais, de até 3 ordens, com ou
sem suporte da reta numérica.
Identificar a ordem ocupada por um algarismo ou seu valor posicional
(ou valor relativo) em um número natural de até 3 ordens.
Calcular o resultado de adições ou subtrações, envolvendo
números naturais de até 3 ordens.
Compor ou Decompor números naturais de até 3 ordens
por meio de diferentes adições.

HABILIDADES DA AMTERIZ MATEMÁTICA DO 2º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL


Eixo do
Eixo Cognitivo
Conhecimento
Compreender e aplicar conceitos e procedimentos Resolver problemas e argumentar
Identificar a classificação ou Classificar objetos ou
representações por figuras, por meio de atributos, tais como cor, forma e medida.
Inferir ou Descrever atributos
ÁLGEBRA ou propriedades comuns que os elementos que constituem uma sequência de
números naturais apresentam.
Inferir o padrão ou a regularidade de uma sequência de números naturais
ordenados, de objetos ou de figuras.
Inferir os elementos ausentes em uma sequência de números naturais
ordenados, de objetos ou de figuras.

4 https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/avaliacoes_e_exames_da_educacao_basica/matriz_de_referencia_de_lingua_portuguesa_e_matema-
tica_do_saeb_ensino_fundamental.pdf

333
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

HABILIDADES DA MATRIZ MATEMÁTICA DO 2º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL


Eixo do conhecimento Eixo Cognitivo
Compreender e aplicar conceitos e procedimentos Resolver problemas e argumentar
Descrever ou Esboçar o deslocamento
Identificar a localização ou a descrição/esboço do
de pessoas e/ou objetos em representações
deslocamento de pessoas e/ou de objetos em
bidimensionais
representações
(mapas, croquis etc.) ou plantas de ambientes,
bidimensionais (mapas, croquis etc.).
de acordo com condições dadas.
Reconhecer/ nomear figuras geométricas espaciais
GEOMETRIA (cubo, bloco retangular, pirâmide, cone, cilindro e esfera),
relacionando-as com objetos do mundo físico.
Reconhecer/nomear figuras geométricas planas
(círculo, quadrado, retângulo e triângulo.

HABILIDADES DA MATRIZ MATEMÁTICA DO 2º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL


Eixo do Conhecimento Eixo do Cognitivo
Compreender e aplicar conceitos e procedimentos Resolver problemas e argumentar
Determinar a data de
Comparar comprimentos, capacidades ou massas ou
início, a data de término
Ordenar imagens de objetos com base na comparação
ou a duração de um
visual de seus comprimentos,
acontecimento entre duas
capacidades ou massas.
datas.
Estimar/ Inferir medida de
Determinar o horário de
comprimento, capacidade
início, o horário de término ou a duração
ou massa de objetos,
de um
utilizando unidades de medida convencionais ou não ou
acontecimento.
Medir comprimento, capacidade ou massa de objetos.
Identificar a medida do
comprimento, da capacidade Resolver problemas que envolvam moedas
GRANDEZAS E
ou da massa de objetos, e/ou cédulas
MEDIDAS
dada a imagem de um do sistema monetário brasileiro.
instrumento de medida.
Reconhecer unidades de
medida e/ou instrumentos
utilizados para medir
comprimento, tempo, massa
ou capacidade.
Identificar sequência de
acontecimentos relativos
a um dia.
Identificar datas, dias da
semana, ou meses do ano em
calendário ou Escrever uma
data, apresentando o dia,
o mês e o ano.
Relacionar valores de moedas e/ou cédulas do sistema
monetário brasileiro, com base nas imagens desses objetos.

334
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

HABILIDADES DA MATRIZ MATEMÁTICA DO 2º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL


Eixo do Conhecimento Eixo Cognitivo
Compreender e aplicar conceitos e procedimentos Resolver problemas e argumentar
Representar os dados de uma pesquisa
Classificar resultados de eventos cotidianos aleatórios
estatística ou de um levantamento em listas,
como “pouco prováveis”,
tabelas (simples ou de dupla entrada) ou gráficos
“muito prováveis”, “certos” ou “impossíveis”.
(barras simples, colunas simples ou pictóricos).
PROBABILIDADE E Ler/ Identificar ou Comparar dados estatísticos ou informações
ESTATÍSTICA expressos em tabelas (simples ou de dupla entrada).
Ler/ Identificar ou Comparar dados estatísticos expressos
em gráficos (barras simples, colunas simples ou pictóricos)

TENDÊNCIAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS, MODELAGEM MATEMÁTICA, INVESTIGAÇÃO


MATEMÁTICA, ETNOMATEMÁTICA E MATEMÁTICA CRÍTICA

— Tendências da Educação Matemática


A área da Educação tem sido alvo de constantes pesquisas que buscam inovar a sala de aula e desenvolver uma prática docente criativa
e adequada às necessidades da sociedade do século XXI. A Educação Matemática não ficou de fora deste processo. Ao contrário, também
abre espaço para pesquisas e discussões que envolvam o ensino da Matemática. Neste contexto, surgem tendências tanto na área da Edu-
cação como na de Educação Matemática, que envolvem diferentes abordagens consideradas importantes quando aplicadas ao processo
de ensino-aprendizagem5.
Pesquisadores da educação matemática mostram diferentes abordagens quando tratam das tendências da Educação Matemática.
Para entender a evolução histórica, apresenta-se uma categorização a partir da análise histórica do ensino da Matemática ao longo dos
anos.
Definem-se aspectos para diferenciar cada uma das tendências como, por exemplo, a concepção de ensino, aprendizagem e de Ma-
temática, as finalidades e os valores atribuídos ao ensino de Matemática e a relação professor-aluno. As tendências apresentadas são:
empírico-ativista, formalista-moderna, tecnicista e suas variações, construtivista, histórico-crítica e sócio-etnoculturalista.
Na década de 1930, com o nascimento da Escola Nova, a Matemática é ensinada pelos seus valores utilitários, suas relações com as
outras ciências e suas aplicações para resolver problemas do dia-a-dia. Utilizam-se atividades experimentais, a resolução de problemas e o
método científico acreditando-se que o aluno aprende fazendo. Esta forma de trabalho é chamada de tendência empírico-ativista.
Nas décadas de 1960 e 1970 o ensino de Matemática foi influenciado por um movimento de renovação conhecido como Matemática
Moderna. Neste período, caracteriza-se a tendência formalista-moderna, com ênfase no uso da linguagem, no rigor e nas justificativas. O
ensino era centrado no professor e distanciava-se das aplicações práticas.
Nos anos setenta, surge a tendência tecnicista, na qual os conteúdos são apresentados como uma instrução programada. Os recursos
e as técnicas de ensino passam a ser o centro do processo ensino-aprendizagem. Os alunos e o professor passam a meros executores de
um processo desenvolvido por especialistas.
O construtivismo é a base da tendência construtivista, que considera o conhecimento matemático resultante da ação interativa-refle-
xiva do indivíduo com o meio ambiente. Destaca-se o aprender a aprender e o desenvolvimento do pensamento lógico-formal.
A tendência histórico-crítica trata de uma aprendizagem significativa, que acontece quando o aluno consegue atribuir sentido e signi-
ficado às ideias matemáticas e sobre elas é capaz de pensar, estabelecer relações, justificar, analisar, discutir e criar.
A tendência sócioetnocultural traz uma visão antropológica, social e política da Matemática e da Educação Matemática. Parte-se de
problemas da realidade, inseridos em diversos grupos culturais, que gerarão temas de trabalho na sala de aula.
Tais tendências seguem uma evolução histórica vivenciada pelo processo educacional. Pode-se dizer que as tendências da Educação
Matemática vêm acompanhando as da área da Educação.
Atualmente, diversos autores citam formas de trabalho que podem ser consideradas tendências da Educação Matemática. Por exem-
plo, Carvalho trata das tendências em Educação Matemática quando apresenta as linhas de pesquisa em Educação Matemática fornecidas
em 1993 por instituições que atuavam nesta área tais como: resolução de problemas, informática e Educação Matemática, etnomatemá-
tica.
Já Bicudo, Viana e Penteado apresentam como diretrizes de pesquisa a visão histórica da Matemática, a ideologia presente nos discur-
sos matemáticos (linguagem matemática) e a etnomatemática.

5 Flemming, Diva Marília. Tendências em educação matemática/ Diva Marilia Flemming, Elisa Flemming Luz, Ana Cláudia Collaço de Mello; instrucional designer
Elisa Flemming Luz. - 2. ed. - Palhoça: UnisulVirtual, 2005.

335
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Para Lopes e Borba uma tendência é uma forma de trabalho Schoenfeld ao discutir a resolução de problemas afirma que até
que surgiu a partir da busca de soluções para os problemas da Edu- os anos de 1950 os currículos de Matemática eram relativamente
cação Matemática. A partir do momento que é usada por muitos estáveis e “aborrecidos”. Sua afirmação estava baseada no fato de
professores ou, mesmo que pouco utilizada, resulte em experiên- que os estudantes eram incentivados a memorizar fatos e procedi-
cias bem-sucedidas, estamos diante de uma verdadeira tendência. mentos, e não compreendiam conceitos ou técnicas de aplicações.
Colocam, ainda, que a Educação Matemática crítica, a etnomatemá- Essa estratégia de ensino provoca dificuldades para a resolução de
tica, a modelagem matemática, o uso de computadores e a escrita problemas.
na Matemática são verdadeiras tendências. A partir de 1957, o ensino da Matemática sofre a influência do
Assim, pode-se perceber que, apesar de citarem diferentes for- advento da Matemática Moderna e praticamente todas as nações
mas de trabalho ou linhas de pesquisa, os autores concordam que do mundo adotaram mudanças curriculares. Assim, passa-se a vi-
a utilização de uma tendência no processo ensino-aprendizagem da venciar a década de muita abstração no ensino da Matemática. Foi
Matemática pode contribuir para que professores e alunos viven- possível observar muito atropelos no ensino da Matemática, pois
ciem diferentes formas de ensinar e aprender Matemática. pais e professores despreparados ou despreocupados com as abs-
trações, esqueceram-se das habilidades básicas.
Atuais tendências da educação matemática A violenta reação resultou no movimento back to basics6. Como
Em sala de aula, o professor pode utilizar várias tendências em resposta têm-se a instrução focada, em larga escala, na rota do bá-
uma mesma atividade, pois é possível pensar em diversos conjun- sico lápis e papel e algoritmo. Esta medida parece ter sido mais ex-
tos que possuem intersecções. Assim, em sala de aula, o professor tremamente seguida nos Estados Unidos do que em outros países.
pode usar o seu potencial criativo para definir atividades que carac- Na avaliação de Onuchic, a importância dada à Resolução de
terizem o uso de várias tendências. Problemas é recente e somente nas últimas décadas é que os edu-
cadores matemáticos passaram a aceitar a ideia de que o desen-
– Resolução de Problemas volvimento da capacidade de se resolver problemas merecia mais
No decorrer dos últimos anos a comunidade de pesquisado- atenção.
res e professores de Matemática tem-se preocupado em discutir Não podemos deixar de destacar que Polya considerado um
e analisar de forma mais profunda as questões relativas as poten- inovador ao discutir pela primeira vez a resolução de problemas na
cialidades da resolução de problemas para a formação do cidadão década de 40 com a primeira tiragem de seu livro How to Solve it,
em todos os níveis de ensino. Os resultados dessas preocupações já em agosto de 1944. Suas ideias tiveram um forte impacto no ensino
começam a aparecer, na medida em que novos estudos e pesquisas da resolução de problemas, alicerçando muitas pesquisas posterio-
são desenvolvidos e publicados. res.

– Evolução Histórica O autor apresenta uma estratégia baseada em questionamen-


Quando nos propomos a analisar objetos matemáticos no con- tos e sugestões e descreve quatro fases de trabalho:
texto da sua evolução histórica, com certa frequência, nos depara- Primeiro, temos de compreender o problema, temos de perce-
mos com a resolução de problemas. Como exemplo, podemos citar ber claramente o que é necessário. Segundo, temos de ver como os
o trabalho de Bhaskara, matemático medieval importante da Índia, diversos itens estão inter-relacionados, como a incógnita está ligada
o Lilavati. aos dados, para termos a ideia da resolução, para estabelecermos
No Lilavati, Bhaskara compilou problemas de Brahmagupta e um plano. Terceiro, executamos o nosso plano. Quarto, fazemos um
de outros matemáticos, acrescentando observações próprias. Vá- retrospecto da resolução completa, revendo-a e discutindo-a.
rios problemas têm como tema as equações lineares e quadráticas, Nas décadas de 1960 a 1980 observa-se nos relatos de pesqui-
mensuração, progressões geométricas e aritméticas, radicais e trí- sas a preocupação com a definição de diferentes estratégias para a
adas pitagóricas. resolução de problemas. Em 1980 é editada a agenda (NCTM - Na-
tional Council of Teachers of Mathematics) contendo recomenda-
Problema do Bambu Quebrado: ções que destacavam a importância de: organizar currículos acerca
Se um bambu de 32 cúbitos de altura é quebrado pelo vento de resolução de problemas; definir linguagens e novas estratégias;
de modo que a ponta encontra o chão a 16 cúbitos da base, a que estruturar novos ambientes de aprendizagens e incentivar novas
altura a partir do chão ele foi quebrado? pesquisas. Assim, na metade da década de 1980, a resolução de
problemas passa a ocupar a atenção de quase todos congressos in-
Problema do Pavão: ternacionais em Educação Matemática.
Um pavão está sobre o topo de uma colina em cuja base há um Na década de 1990 surgem os questionamentos sobre os diver-
buraco de cobra. Vendo a cobra a uma distância da coluna igual a sos modelos e estratégias apresentados. As perspectivas didático-
três vezes a altura da coluna, o pavão avançou para a cobra em -pedagógicas da resolução de problemas são discutidas e as ques-
linha reta alcançando-a antes que chegasse a sua cova. Se o pavão tões que seguem são discutidas.
e a cobra percorreram distâncias iguais, a quantos cúbitos da cova
eles se encontraram?

É usual o professor em sala de aula desenvolver a ideia errada


de que todos os problemas têm uma única solução. É urgente que
esta mentalidade seja modificada, pois ao trabalhar problemas que 6 O movimento back to basics consistia no regresso ao cálculo, às contas e ao
têm várias soluções pode-se explorar mais os conteúdos e estabele- fazer de cor. Este movimento encontrou forte oposição, logo desde o seu início,
cer diferentes estratégias de soluções e interpretações. da parte da comunidade educativa.

336
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

O que é um problema? Existem quatro etapas básicas:


Quando e como utilizar um problema? Compreensão do problema: é preciso compreender o proble-
Qual a finalidade de utilizar um problema? ma.
Charnay discute essas questões e salienta que, normalmente, Estabelecimento de um plano: precisamos encontrar a cone-
os professores utilizam o problema como: critério de aprendiza- xão entre os dados e a incógnita. Quando esta conexão não é visua-
gem, motor de aprendizagem e recurso de aprendizagem. A utili- lizada de forma imediata podemos considerar problemas auxiliares.
zação de problemas como critério de aprendizagem é usada, em Execução do plano: o plano deve ser executado.
geral, nos livros ou textos didáticos. Nesse caso, é necessário partir Retrospecto: a solução obtida precisa ser analisada.
do simples para ter acesso ao complexo, e os problemas complexos
são visualizados como um conjunto de partes simples. Questionamentos direcionadores da etapa 1:
A visão do problema como motor de aprendizagem supõe que Qual é a incógnita?
o aluno seja um pesquisador em busca de novos conhecimentos, Quais são os dados?
portanto, deve percorrer os caminhos previstos numa pesquisa. Ao Qual é a condicionante?
considerar o problema como um recurso de aprendizagem, é neces- É possível satisfazer a condicionante?
sário selecionar uma série de problemas para que o aluno construa A condicionante é suficiente para determinar a incógnita? Ou é
seus conhecimentos a partir da interação com o professor e com os insuficiente? Ou redundante? Ou contraditória?
outros alunos. Você pode traçar uma figura?
Na prática, os professores deveriam estabelecer estratégias Já adotou uma notação conveniente?
que envolvem mais de um método. Independente do método es- É possível separar as diversas partes da condicionante? É pos-
colhido é importante que o professor tenha em mente que só há sível anotá-las?
problema se o aluno percebe uma dificuldade, um obstáculo que
pode ser superado. Questionamentos direcionadores da etapa 2:
Wechsler afirma que de acordo com teorias cognitivistas, o alu- Você já conhecia este problema? Ou um problema parecido?
no pode fazer diferentes operações ao pensar sobre um determi- Você conhece um problema que poderia lhe ser útil? É possível
nado conteúdo. Por exemplo, diante de um problema observa-se: utilizar o resultado? É possível utilizar o método? Devemos introdu-
– Produção divergente: Formulação de conclusões lógicas a zir algum elemento auxiliar para tornar possível a sua utilização?
partir de informações obtidas, buscando a melhor resposta para o É possível reformular o problema?
problema. É possível resolver um problema correlato mais simples? Ou
– Produção divergente: Formulação de alternativas variadas a mais acessível? Ou mais genérico?
partir das informações dadas, procurando diferentes soluções para Você consegue trabalhar somente com uma parte da condicio-
o problema. nante?
É possível obter outros dados?
Assim, na sua sala de aula, o professor fica diante de alunos É possível variar os dados? Ou as incógnitas?
que buscam a aquisição dos conhecimentos através de abordagens Utilizou todos os dados? Todas as condicionantes?
diferentes. Uns procuram uma solução de imediato e outros traba-
lham analisando várias soluções. Isto pode, em parte, justificar o Questionamentos direcionadores da etapa 3:
fato de que alguns alunos afirmam que um problema simples é um Ao resolver cada passo do seu plano é possível verificar clara-
problema complexo. mente que o passo está correto?
Atualmente muitos pesquisadores e professores concordam É possível demonstrar que está correto?
com Onuchic quando salienta que o ponto de partida das atividades
matemáticas não é a definição mas o problema; que o problema Questionamentos direcionadores da etapa 4:
não é um exercício no qual o aluno aplica, de forma quase mecâ- É possível verificar o resultado?
nica, uma fórmula ou uma determinada técnica operatória; que É possível chegar ao resultado por um caminho diferente? É
aproximações sucessivas ao conceito criado são construídas para possível perceber isto num relance?
resolver um certo tipo de problemas e que, num outro momento, o É possível utilizar o resultado, ou o método, em algum outro
aluno utiliza o que já aprendeu para resolver outros problemas; que problema?
o aluno não constrói um conceito em resposta a um problema, mas
constrói um campo de conceitos que tomam sentido num campo A estratégia de Polya é bastante eficiente, entretanto se não
de problemas; que a Resolução de Problemas não é uma atividade for mediada corretamente pode gerar os famosos vícios de pegar
para ser desenvolvida em paralelo ou como aplicação da aprendiza- problemas idênticos e simplesmente fazer a conversão de dados.
gem, mas como orientação para a aprendizagem. Já D‘Amore coloca vários modelos para a atividade de resolu-
ção de problemas. As quatro fases que seguem são consideradas
Estratégias para a resolução de problemas clássicas:
A proposta de Polya está toda baseada no processo de intera- Preparação – os elementos do problema são analisados e rela-
ção entre professor-aluno e aluno-aluno. A mediação pode ser feita cionados entre si. São necessárias determinadas competências para
através de questionamentos direcionadores. ser resolvido.
Incubação – às vezes, parece que não queremos resolver o pro-
blema, entretanto estamos incubando os componentes do mesmo.
Inspiração – chegou o momento de retornar ao problema de
forma explícita. A atenção aos detalhes é explicitada.

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Verificação – as ideias são geradas e podem ser discutidas, Ao contrário do que se possa imaginar, o uso da modelagem
comparadas e verificadas. matemática não é recente. Pesquisadores buscam as raízes da
Outros importantes modelos são apresentados por D’Amore modelagem analisando a história da ciência e seus grandes pensa-
tais como o modelo de Burton e Stacey, formalizado em 1982 com dores. Por exemplo, Biembengut mostra textos históricos de apro-
as seguintes etapas: ximadamente 1200 a.C., que apontam problemas cujas soluções
Fase inicial – nesta fase temos a busca da compreensão do pro- culminaram com a elaboração dos primeiros modelos matemáticos.
blema. É uma fase decisiva, pois a partir do momento que temos a Porém, foi no início do século XX que a modelagem foi muito
visualização concreta do problema ficamos motivados para a busca utilizada na resolução de problemas de Biologia e de Economia. A
da solução. partir da década de 1980 encontram-se vários exemplos de utiliza-
Fase de ataque – é a fase mais relevante. Podemos ter uma ção da modelagem nas aulas de Matemática. Neste período a mo-
estratégia de resolução que não conduzirá à solução. Precisamos delagem se consolidou como uma abordagem pedagógica.
então “atacar” uma nova proposta. Chegamos mais perto da definição de modelagem matemáti-
Fase de revisão – a solução deve ser comparada com os pró- ca que, de maneira bem simples, nada mais é do que o processo
prios dados do problema para verificarmos a existência da congru- utilizado para a obtenção de modelos matemáticos. A seguir apre-
ência entre solução e dados. sentam-se algumas definições de autores para a modelagem ma-
Fase de extensão – a solução de um problema deveria nos le- temática:
var à criação de outro problema. Assim, teríamos sucessivamente Para Bienbemgut e Hein, modelagem é a arte de expressar, por
um ciclo de problemas e o desenvolvimento de uma atitude mate- intermédio da linguagem matemática, situações-problema reais. É
mática propiciadora de um processo de ensino-aprendizagem. um processo que emerge da própria razão e participa da nossa vida
como forma de constituição e de expressão do conhecimento.
É possível observar que dois componentes são fundamentais Para Bassanezi, modelagem é uma nova forma de encarar a
quando estamos discutindo a resolução de problemas no contexto Matemática e consiste na arte de transformar problemas da reali-
da Matemática: interação e mediação. É importante estabelecer dade em problemas matemáticos e resolvê-los interpretando suas
diferentes tipos de interação. soluções na linguagem do mundo real.
A figura que segue apresenta uma proposta: Para Lopes e Borba, é uma maneira de tentar entender a mate-
mática no cotidiano, de traduzir um problema real para a linguagem
matemática.
Para Davis, a modelagem é caracterizada como a forma com
que fazemos as coisas e é um processo fundamental para o sucesso
da humanidade nos diferentes segmentos da sociedade.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, publicados em 1998
pelo Ministério da Educação, mencionam a modelagem como um
ambiente de aprendizagem no qual os alunos têm a possibilidade
de utilizar a Matemática para indagar e/ou investigar situações
https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANI- oriundas de outras áreas da realidade. A abordagem, que conside-
MA/22126/1/fulltext.pdf ra a modelagem como um ambiente de aprendizagem, vem sendo
também defendida por pesquisadores como Ole Skovsmose, da
As interações acontecem em todas as etapas da resolução, são Universidade de Aalborg na Dinamarca, e Jonei Cerqueira Barbosa,
indicadores de que o processo ensino-aprendizagem está sendo da Universidade Católica de Salvador no Brasil.
consolidado. Para facilitar o processo de interação é necessário que Skovsmose coloca que o ambiente de aprendizagem que ca-
se tenham: racteriza a modelagem faz um convite aos alunos que são estimu-
– Mecanismos para facilitar a compreensão do texto; lados a desenvolver atividades. Destaca que o convite por si só não
– Referenciais teóricos para abordar os conteúdos envolvidos; garante o envolvimento dos alunos nas atividades propostas. Isto
– Recursos (lápis, papel, calculadora, computador etc.) adequa- só acontecerá se os seus interesses forem abordados no ambiente.
dos; Também, Barbosa ressalta que esse ambiente de aprendiza-
– Sequências didáticas motivadoras. gem estimula explorações e investigações matemáticas de situa-
ções de outras áreas que não a Matemática. O autor concorda com
— Modelagem Matemática Skovsmose que, para um maior envolvimento dos alunos, é impor-
A modelagem matemática é uma técnica que pode ser aplicada tante trabalhar com situações ligadas aos seus interesses. Assim, o
no ensino da Matemática em todos os níveis, com relatos de utiliza- trabalho com situações fictícias ou artificiais, mesmo que envolva
ção anteriores à década de 1980. Quando utilizada, muitos questio- os alunos em ricas discussões, não deve ser privilegiado.
namentos são feitos no contexto de sua adequação aos programas O trabalho com situações reais colocará os alunos frente a
curriculares e também em nível metodológico. problemas que efetivamente dizem respeito a um contexto social
Atualmente a modelagem matemática tem sido usada com e cultural vivenciado em determinado momento da história da hu-
frequência em experimentos nos cursos de pós-graduação, criando manidade. Pode-se enfatizar a importância da modelagem quando
muitas expectativas referentes ao seu uso. Ainda não se constata possibilita a conexão de conteúdos matemáticos com outras áreas
uma sistemática geral de utilização, mas podemos encontrar vários do conhecimento.
exemplos de aplicações bem-sucedidas.

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Trabalha-se numa das questões importantes do processo ensino-aprendizagem da Matemática, que diz respeito ao interesse do aluno
em visualizar aplicações práticas, ligadas ao seu dia-a-dia. O uso da modelagem pode propiciar esta conexão, além de ampliar o conheci-
mento matemático, ajudando a estruturar a maneira de pensar e agir do aluno.
A modelagem pode ser utilizada em dois contextos específicos: como ferramenta na resolução de problemas e como metodologia
para o processo ensino-aprendizagem da Matemática.

https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/22126/1/fulltext.pdf

Modelo Matemático
Conforme o contexto, a palavra modelo possui vários significados. De forma geral, pode-se dizer que um modelo é uma representação
simplificada de algum fenômeno ou situação real. Mas e o modelo matemático?
O modelo matemático é uma representação simplificada, porém tendo como característica o uso de um conjunto de símbolos e re-
lações matemáticas. Desta forma, representa o objeto ou fenômeno estudado, ou ainda, o problema proveniente de uma situação real.
Muitas situações do mundo real podem apresentar problemas que precisam ser resolvidos. Por exemplo, o problema de cálculo do
juro cobrado por uma instituição financeira em razão de determinado empréstimo, contém fatos matemáticos relativamente simples e
envolve uma matemática elementar.
Um modelo matemático pode ser formulado a partir de expressões numéricas ou fórmulas, diagramas ou tabelas, expressões algébri-
cas ou ainda representações gráficas. Os programas computacionais podem ajudar muito na apresentação e obtenção de um modelo. É
importante, porém, que tenha uma linguagem concisa e que expresse as ideias de maneira clara e sem ambiguidades.
Vejamos alguns modelos de aeronaves. Observa-se que, a partir de cada modelo podemos delinear somente algumas características
do objeto real.
Percebe-se que estes não são modelos matemáticos:

https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/22126/1/fulltext.pdf

Agora veja-se um modelo matemático. Trata-se de um modelo para a dinâmica populacional de uma nova colmeia de abelhas.
É descrito da seguinte forma: o crescimento populacional de uma colmeia é proporcional à diferença entre a população máxima sus-
tentável e a população dada em cada instante.

https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/22126/1/fulltext.pdf

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Para se chegar neste modelo é necessário resolver uma equa-


ção diferencial de primeira ordem. No contexto da modelagem
matemática, um modelo fica inserido num processo de decisão,
na solução de um problema real, permitindo relacionar os diversos
elementos de forma mais simples que o real.

https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANI-
MA/22126/1/fulltext.pdf

Com o intuito de sistematizar este processo, Biembengut e


Hein propõem procedimentos que podem ser agrupados em três
etapas:

Etapa 1: Interação
Num primeiro momento é importante que se reconheça a situ-
ação-problema, bem como se levante o referencial teórico relativo
ao assunto que será modelado. Esta etapa não termina com o iní-
cio da próxima, visto que a situação-problema torna-se mais clara à
medida que se interage com os dados.
https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANI-
MA/22126/1/fulltext.pdf Etapa 2: Matematização
É uma etapa desafiante e complexa pois é nela que se expressa
Diante de um problema do mundo real é possível selecionar o problema em linguagem matemática. Nesta etapa identificam-se
variáveis e delinear o modelo. Por sua vez, o modelo produz infor- os fatos envolvidos, classificando as informações como relevantes
mações importantes para a criação de alternativas de solução. A ou não.
partir de referenciais teóricos, pode-se escolher a melhor alternati- Levantam-se as hipóteses, se selecionam variáveis e constan-
va, obtendo assim uma solução. tes envolvidas e descrevemos as relações em termos matemáticos.
Como a solução é encontrada a partir de um modelo é necessá- Após a formulação do problema, passamos à resolução ou à análise
ria a validação, ou seja, a verificação da solução encontrada. A ideia com as ferramentas matemáticas disponíveis.
é responder a perguntas como: Esta etapa exige um conhecimento considerável dos objetos
matemáticos e muitas vezes o uso do computador pode-se tornar
A solução é efetivamente apropriada para o problema? imprescindível.
Poderá ser usada de forma efetiva?
Existem etapas metodológicas a serem seguidas para todo o Etapa 3: Modelo Matemático
processo. Desta forma, fica mais fácil a obtenção de um modelo Para concluir e validar o modelo é necessário avaliar e definir
matemático. o quanto ele se aproxima da situação-problema representada, bem
como o grau de confiabilidade de sua utilização.
Etapas da Modelagem Matemática
A modelagem matemática pode ser vista como um processo
que envolve a obtenção de um modelo, sendo um meio de fazer
com que Matemática e realidade possam interagir. Na construção
de um modelo são necessárias criatividade e intuição, além do co-
nhecimento de Matemática, visto que é importante interpretar o
contexto, identificar as variáveis e o conteúdo matemático que me-
lhor se adapte a determinada situação.
O processo de interação entre a Matemática e a realidade não
é trivial para muitos professores e alunos. Então, a obtenção de um
modelo matemático passa a ser um desafio quando se trabalha com
a modelagem matemática. https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANI-
Pode-se visualizar o processo da modelagem matemática pelo MA/22126/1/fulltext.pdf
esquema, sendo a Matemática e a realidade representadas por dois
conjuntos disjuntos e a modelagem como um meio de fazê-las in-
teragir.

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— Investigação Matemática Percebe-se que a eficiência do MD, no que se refere ao proces-


Uma necessidade é fazer os alunos pensarem matematicamen- so de ensino-aprendizagem, está intrinsecamente ligada à postura
te e buscarem construir seu próprio aprendizado, sendo protago- do professor e à sua mediação nesse processo. O material manipu-
nistas dessa construção, e não se prendendo a decorar métodos lável por si só não é instrumento capaz de garantir a aprendizagem
e fórmulas. Uma metodologia que pode auxiliar o professor nesse dos alunos, é preciso que o professor tenha clareza das potenciali-
processo é a Investigação Matemática, pois o fazer Matemática está dades do MD escolhido e que esteja apto a mediar a interação entre
ligado diretamente à sua investigação, não se consegue fazer Mate- o aluno e o saber através do material didático.
mática sem praticá-la, essa prática não é mecânica e algoritimizada,
é a sua fluição baseada em tentativas, erros e acertos e essa prática — Recurso ou Material Didático Manipulável
pode gerar uma aprendizagem significativa7. No Brasil, o uso de MD voltado para o ensino de Matemática
O uso da Investigação Matemática se dá quando o professor ganhou força a partir da década de 40, motivado pelo movimento li-
propõe que os seus alunos investiguem a matemática existente em derado por pesquisadores em diversos países do mundo, a exemplo
determinadas situações, e a partir da análise da situação, que pode disso pode-se citar G. Cuisenaire e Van Lierde, na Bélgica; Gattegno
ser, por exemplo, um jogo, ele construa uma explicação matemática e Puig Adam, na Inglaterra e Biguenet, na França.
para aquilo e através da discussão e troca de ideias, o conhecimen- Existem vários tipos de MD. Pela natureza das aulas que acon-
to é produzido. tecem no LEM, observa-se uma maior utilização dos chamados MDs
Inicialmente há a exploração e formulação de questões, segui- manipuláveis. Os MDs manipuláveis constam de materiais didáticos
da da formulação de conjecturas, logo após são feitos testes e re- que permitem a manipulação táctil do aluno, permitindo realizar
formulação, a fim de aprimorar as conjecturas. E por último é feita construções e deformações de objetos geométricos, cálculos de for-
a argumentação e avaliação do trabalho que foi realizado. E nisso ma concreta através de jogos (por exemplo), ajudando a perceber
tudo, o professor atua como mediador para ajudar o aluno a chegar conceitos e propriedades de elementos matemáticos, bem como o
nesses pensamentos. desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, que é determi-
Para isso, é importante o planejamento por parte do profes- nante na resolução de problemas matemáticos do seu cotidiano.
sor para garantir aos alunos avanços nessa investigação. E assim, São exemplos de materiais didáticos manipuláveis: o material
se proposto um ambiente adequado, a sala de aula se transforma dourado; escalas de Cuisenaire, jogos geométricos, dominós, sóli-
em um ambiente de diálogo e desenvolvimento de percepção, tudo dos geométricos, tangram, blocos lógicos, sementes, palitos de pi-
levando a aprendizagem. colés, tampinhas, etc.

MDs Manipuláveis
RECURSOS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE MATEMÁ-
TICA - MANIPULÁVEIS E DIGITAIS

Recurso ou Material didático (MD) é qualquer ferramenta útil à


mediação do processo de ensino-aprendizagem. Podemos destacar
alguns exemplos de MD: giz, lousa, computador, calculadora, jogos,
transferidor, cartolina, Datashow, uma música, um instrumento de
avaliação, entre outros8.
Pela enorme variedade de MD que pode ser utilizada na sala
de aula, ou mesmo no Laboratório de Ensino de Matemática - LEM,
as finalidades de sua utilização podem apresentar diferentes carac-
terísticas e objetivos. O professor, por exemplo, pode utilizar o MD
para:
1 – Avaliar se o aluno aprendeu um conteúdo trabalhado em
aulas anteriores.
2 – Apresentar um conteúdo matemático novo para os alunos. Lucena, Regilania da Silva. Laboratório de Ensino de Matemática /
3 – Aplicar exercícios de investigação e construção de conjec- Regilania da Silva Lucena. - Fortaleza: UAB/IFCE, 2017. p. 27.
turas.
4 – Realizar provas e demonstrações de resultados matemáti- Alguns exemplos de materiais didáticos manipuláveis
cos, entre outros. Os recursos didáticos manipuláveis podem oferecer benefícios
para o ensino-aprendizagem da matemática e, o professor poderá
conseguir confeccioná-lo utilizando materiais de baixo custo

7 https://editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2021/TRABALHO_
EV150_MD1_SA113_ID633_29072021224009.pdf
8 Lucena, Regilania da Silva. Laboratório de Ensino de Matemática / Regilania
da Silva Lucena. - Fortaleza: UAB/IFCE, 2017.

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FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Ábaco O tangram pode ser confeccionado a partir de matérias-primas,


como madeira, cartolina, papel, EVA. É de fácil construção e mani-
pulação, podendo ser trabalhado com alunos de diferentes faixa-e-
tárias. A manipulação consta da utilização das sete peças do que-
bra-cabeça na representação de figuras geométricas, como quadra-
do, retângulo, triângulo, assim como na representação de diversos
tipos de imagens (gatos, cachorros, casas, pessoas, numerais, etc.).

Matrix

Lucena, Regilania da Silva. Laboratório de Ensino de Matemática /


Regilania da Silva Lucena. - Fortaleza: UAB/IFCE, 2017. p. 28.

Descrição: Quebra-cabeça chinês formado por sete peças ge-


ométricas.
Benefício: favorece a aprendizagem matemática acerca de con-
teúdos, como figuras geométricas planas, razão, proporção, sime-
tria, área, perímetro, assim como o desenvolvimento da criativida- Lucena, Regilania da Silva. Laboratório de Ensino de Matemática /
de e do pensamento lógico-matemático. Regilania da Silva Lucena. - Fortaleza: UAB/IFCE, 2017. p. 29.
Tangram
Descrição: Jogo de tabuleiro, que pode ser 6X6, 8X8, 10X10.
Suas peças representam números inteiros.
Benefício: favorece o cálculo mental, a antecipação, a constru-
ção de estratégias, a reversibilidade do pensamento, a adição algé-
brica de números inteiros, a discriminação de quantidades, entre
outros.

Matrix é um jogo de tabuleiro que se joga em dupla. O seu ob-


jetivo é que o jogador acumule o maior número de pontos ao final
da partida, em que os números positivos acrescentam e os números
negativos retiram o valor equivalente ao representado na peça do
somatório da pontuação dos jogadores. A movimentação das peças
deve ocorrer respeitando a linha e a coluna da peça escolhida pelo
jogador.
Pode ser confeccionado a partir de materiais como madeira,
EVA, duplex, cartolina, tampas de garrafa.

Lucena, Regilania da Silva. Laboratório de Ensino de Matemática / O professor e o uso de Recursos Didáticos Manipuláveis
Regilania da Silva Lucena. - Fortaleza: UAB/IFCE, 2017. p. 29. É importante destacar que, para que os alunos aprendam ma-
temática de forma significativa, não basta que o professor dispo-
Descrição: Quebra-cabeça chinês formado por sete peças ge- nha de um LEM equipado com uma enorme variedade de MDs. É
ométricas. preciso, acima de tudo, que o professor saiba utilizar corretamente
Benefício: favorece a aprendizagem matemática acerca de con- os MDs aos quais tem acesso. Pode-se afirmar que a atuação do
teúdos, como figuras geométricas planas, razão, proporção, sime- professor é determinante para o sucesso ou para o fracasso escolar
tria, área, perímetro, assim como o desenvolvimento da criativida- de seus alunos.
de e do pensamento lógico-matemático.

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FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

A escolha do MD, feita pelo professor de matemática, no intuito de constituir uma ferramenta de ensino-aprendizagem, deve ser
pensada de modo muito particular, atentando para as especificidades de cada turma de alunos. Faz-se necessário que, para cada aula
planejada com a utilização de MDs, o professor possa questionar-se perseguindo as seguintes perguntas: é necessário o uso do MD como
mediador da aprendizagem, nesta aula?; qual seria o MD mais apropriado?; o MD escolhido para a aula é conveniente para o trabalho com
a matemática nesta sala de aula ou precisará sofrer adaptações?
Tendo tais questionamentos em conta, percebe-se que o professor deve estar capacitado a trabalhar com o MD não somente na sua
apresentação original, mas também necessita perceber quando o material didático precisará passar por adaptações com a finalidade de
melhorar o desempenho do professor no gerenciamento da aprendizagem dos alunos. Nesse caso, obviamente, os MDs manipuláveis
devem ser escolhidos pelo professor, principalmente pela observação dos objetivos a serem atingidos durante a aula, pois a natureza ex-
ploratória do MD manipulável pode variar de acordo com a sua estrutura.
Existem aqueles mais rígidos que permitem pouca interação do aluno, como por exemplo os sólidos geométricos construídos em
madeira, enquanto materiais como o ábaco e os jogos de tabuleiro, devido à sua capacidade dinâmica, são mais propícios às atividades de
manipulação para a investigação de propriedades matemáticas.
Uma interessante proposta com objetos de nossa rotina que podem se transformar em MD manipulável: palitos de fósforo. Com eles,
podemos proporcionar aos alunos, em sala de aula ou no LEM, atividades de investigação geométrica e quantitativa, estudo de simetria e
reflexão, bem como o desenvolvimento do raciocínio lógico. Vejamos, a seguir, como isso se dá.

Desafios com palitos de fósforos

Lucena, Regilania da Silva. Laboratório de Ensino de Matemática / Regilania da Silva Lucena. - Fortaleza: UAB/IFCE, 2017. p. 31.

Nos desafios propostos na figura acima, o aluno ainda poderá desenvolver compreensões acerca de conceitos matemáticos, como
triângulos, quadrados e hexágonos através da manipulação dos palitos de fósforos, com a intenção de atender aos comandos dados pelo
professor durante a aula. Materiais como os palitos de picolé ou de fósforos, tampinhas, garrafas, bolas de gude, sementes, entre muitos
outros, são interessantes para se constituir como materiais do LEM, pois apresentam baixo custo de aquisição, aspecto lúdico e podem ser
utilizados em diversos contextos de ensino-aprendizagem de matemática.

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FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Apesar de toda essa variedade, é preciso que se perceba algo O uso dessas ferramentas pode contribuir para levar o aluno
fundamental: o potencial educativo de oficinas como a dos pali- a uma aprendizagem pautada na investigação, na interação e na
tos de fósforos está intimamente ligado ao ambiente criado pelo construção de significados, tendo como instrumento as diversas
professor, no sentido de fazer o aluno pensar criticamente sobre linguagens disponíveis nos softwares dinâmicos. Os softwares di-
as suas decisões. É essencial, então, que o professor possa lançar nâmicos permitem ao aluno a manipulação interativa com suas fer-
questionamentos, aos alunos, como estes: “Você conseguiu execu- ramentas sob múltiplas formas de linguagem (algébrica, aritmética,
tar o comando dado?”, “Qual(is) procedimento(s) você utilizou?”, geométrica, estatística, gráfica).
“Quais as figuras geométricas observadas nos procedimentos reali- O Geogebra, winplot, cabri-geometry e o Régua e Compasso
zados?”, “Quais as transformações geométricas ocorridas durante o são alguns exemplos de softwares dinâmicos. Neles o aluno pode
processo de execução do comando dado?”. criar tarefas como desenhar, construir figuras e sólidos geométri-
Isso significa que os materiais não podem ser utilizados alea- cos, calcular áreas e perímetros, construir e estudar o gráfico de
toriamente. A importância da utilização dos MD manipuláveis nas uma função, integrar funções, elaborar tabelas e gráficos estatísti-
aulas do LEM como mecanismo de ensino-aprendizagem pode ser cos, entre outros.
destacada sob as seguintes perspectivas: Para que o professor possa trabalhar com os softwares dinâmi-
Para o professor: na possibilidade de planejar aulas criativas na cos nas aulas de Matemática, é necessário que a escola disponha
exploração das diversas formas de se utilizar um ou mais de um MD de um LEM com uma quantidade de computadores compatível com
manipulável, motivar os alunos à participação ativa no seu processo a quantidade de alunos, permitindo-lhes realizar uma atividade in-
de aprendizagem, explorar os aspectos lúdicos presentes no ensino vestigativa de qualidade. Além disso, é imprescindível que o profes-
da matemática; sor conheça os softwares dinâmicos de que vai fazer uso, podendo
Para o aluno: na possibilidade de desenvolver o seu raciocínio assim mediar a aprendizagem dos alunos.
lógico-matemático, de experimentar o trabalho coletivo – caracte- São alguns softwares dinâmicos desenvolvidos intencional-
rístico das atividades do LEM, assim como na capacidade de se tor- mente para o ensino da Matemática:
nar protagonista de sua aprendizagem quando observa, pesquisa,
pergunta, executa, calcula, infere e deduz resultados pertinentes ao Geogebra
tema em estudo. O software Geogebra foi criado por Markus Hohenwarter em
2001 e tem se consolidado como uma tecnologia inovadora na edu-
Utilização de Tecnologia da Informação e Comunicação – TICs cação matemática. Trata-se de um software de matemática dinâmi-
no ensino e na aprendizagem da Matemática ca, gratuito e que pode ser utilizado em todos os níveis de ensino.
As tecnologias têm se apresentado como campo de pesquisa Sua multiplataforma combina geometria, álgebra, cálculo, tabelas e
em educação matemática com uma vastidão de assuntos a serem gráficos numa única aplicação.
explorados pelos pesquisadores. Uma das perguntas fundamentais As ferramentas deste software são auto-explicativas poden-
relacionadas a essa temática de pesquisa é esta: “Como é possível, do ser exploradas por professores e alunos mesmo que estes não
através do uso das novas tecnologias digitais, potencializar o ensino tenham conhecimento aprofundado de informática. A plataforma
e a aprendizagem da matemática?” combina várias janelas que apresentam um mesmo objeto mate-
Sabemos que as tecnologias, especialmente as digitais, domi- mático utilizando linguagens diferentes, possibilitando, por exem-
nam boa parte das atividades cotidianas dos alunos. A comunica- plo, ao aluno interligar a equação de uma circunferência com a re-
ção, ferramenta indispensável ao desenvolvimento cognitivo do presentação geométrica no plano, bem como associar os elementos
indivíduo, atualmente tem se transformado cada vez mais em co- como centro e raio da circunferência aos números que aparecem
municação virtual. em sua equação.
O advento das Tecnologias da Informação e da Comunicação
dá espaço para a experimentação de novos jeitos de ensinar e de Software Régua e Compasso (C.a.R.)
aprender, uma vez que disponibilizam à professores e alunos ferra- O software “Régua e Compasso” (C.a.R.) foi desenvolvido pelo
mentas que potencializam o ensino de matemática aproximando o professor René Grothmann da Universidade Católica de Berlim, na
aluno da aprendizagem via interação com as diferentes linguagens Alemanha. É um software gratuito e trabalha a geometria dinâmica
tratadas nos softwares específicos de matemática e de geometria, plana. A utilização do Régua e Compasso nas aulas de matemática
além de proporcionar-lhes atividades de efetiva investigação mate- permite ao aluno e ao professor, no ensino-aprendizagem da Geo-
mática. É nesse sentido que elegem-se as TICs como temática im- metria, investigar, conjecturar, levantar hipóteses, fazer simulações
portante para a pesquisa em educação Matemática. e construir resultados.
Este software permite a construção e o estudo dos elementos
— Recurso ou Material Didático Digital da geometria plana de maneira interativa e dinâmica através da
manipulação de suas ferramentas. Conteúdos que fazem parte do
Softwares dinâmicos e modelagem matemática no LEM currículo da matemática escolar como polígonos, desenho geomé-
A popularização da internet foi um dos principais motivos que trico, cálculo de comprimentos, de perímetros e de áreas, seme-
levaram a disseminação de variados sistemas, programas, softwa- lhança entre figuras geométricas são alguns exemplos que podem
res entre outros, em diversas áreas sociais, tais como indústria, co- ser ensinados com o auxílio do software Régua e Compasso, com o
mércio, produção científica, prestação de serviços, educação, etc. intuito de mediar à aprendizagem da matemática fazendo uso das
Através das Tecnologias de Informação e Comunicação, o ensino de tecnologias digitais.
matemática tem se fortalecido.

344
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Modelagem matemática e softwares dinâmicos


Através do que estudamos sobre softwares dinâmicos para o ensino de Matemática, foi possível perceber que a capacidade de con-
jecturar, de realizar simulações e inferir resultados foi ampliada. Devido à natureza de suas ferramentas, o uso de um software dinâmico
possibilita que alunos e professores tenham maior velocidade e qualidade na realização das etapas de investigação e da resolução de um
problema matemático. Como exemplo, podemos citar o estudo da definição dos paralelogramos que afirma “Paralelogramos são quadri-
láteros que possuem os lados opostos paralelos”.
A construção de paralelogramos como o quadrado, o losango e o retângulo pode ser feita com maior rapidez e precisão quando
recorremos ao uso de um software. Acrescentam-se a essa ideia os conceitos de paralelismo dos lados opostos de cada figura, a qual
pode ser investigada tanto pela percepção visual (geometria da figura), como pelas equações das retas que suportam cada segmento dos
paralelogramos construídos (equações observadas em janelas alternativas do software), ou seja, o software constitui uma ferramenta de
matematização de um problema geométrico.
A partir dessas características, podemos afirmar que o software dinâmico pode contribuir, acima de tudo, para a investigação e a
resolução de problemas oriundos da realidade. Nesse sentido, os softwares dinâmicos podem ser considerados instrumentos de ensino-
-aprendizagem na prática da Modelagem Matemática em sala de aula.
No que diz respeito à Modelagem Matemática, destaca-se que a mesma consiste na arte de transformar problemas da realidade em
problemas matemáticos e resolvê-los interpretando suas soluções na linguagem do mundo real. A modelagem pressupõe multidiscipli-
naridade. E, nesse sentido, vai ao encontro de novas tendências que apontam para a remoção de fronteiras entre as diversas áreas da
pesquisa.
A Modelagem Matemática tem se destacado pela sua proposta de estudar nas aulas de matemática as situações do dia a dia ou de
outras ciências. A sua abordagem dá destaque à observação da relação existente entre a matemática e o contexto sociocultural, permitin-
do que o aluno construa significados para além das definições e dos conceitos matemáticos estudados na escola. Isso acontece quando o
aluno percebe a presença da matemática no contexto social no qual está inserido.
Na tentativa de solucionar os problemas reais, os alunos necessitarão abranger na sua pesquisa, outras áreas do conhecimento como
Biologia, Física, Economia, Meio Ambiente, Sociologia, Cultura, entre outros. O caráter multidisciplinar presente na modelagem matemáti-
ca proporciona ao aluno uma formação que pressupõe o desenvolvimento de algumas habilidades, conforme a figura abaixo:

Habilidades com uso da Modelagem Matemática

Lucena, Regilania da Silva. Laboratório de Ensino de Matemática / Regilania da Silva Lucena. - Fortaleza: UAB/IFCE, 2017. p. 65.

345
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Na tentativa de auxiliar o professor de matemática, destacam-se algumas etapas que organizam um projeto que envolve modelagem
matemática. São elas:

Lucena, Regilania da Silva. Laboratório de Ensino de Matemática / Regilania da Silva Lucena. - Fortaleza: UAB/IFCE, 2017. p. 65.

Observa-se que as etapas 3, 4, 5 e 6 podem ser subsidiadas pela utilização de softwares dinâmicos, pois eles apresentam ferramentas
muito favoráveis à construção dos modelos e à realização de simulações e testes dos modelos construídos.
A figura abaixo apresenta como ocorre o esquema das etapas descritas anteriormente. Percebe-se que a modelagem matemática não
apresenta um esquema linear de trabalho e de aprendizagem. As setas revelam as “idas e vindas” características de uma pesquisa que
envolve crítica, investigação e reflexão acerca dos resultados obtidos.

346
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Esquema das etapas da modelagem matemática

Lucena, Regilania da Silva. Laboratório de Ensino de Matemática / Regilania da Silva Lucena. - Fortaleza: UAB/IFCE, 2017. p. 66.

O trabalho com a modelagem matemática em sala de aula instiga alunos e professores a direcionar um olhar crítico para situações
da realidade, no sentido de compreendê-la, de investigar os seus problemas e, possivelmente, de apontar soluções aplicáveis através de
modelos matemáticos.

INTERDISCIPLINARIDADE E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

— Interdisciplinaridade
O movimento defensor da interdisciplinaridade no ambiente escolar surgiu na Europa, mais precisamente na França e na Itália da
década de 1960. No Brasil, a interdisciplinaridade chegou como um modismo da época, com várias distorções. A primeira preocupação em
relação a esse novo termo era a de conceituá-lo, pois a palavra era considerada como difícil de pronunciar e de escrever. Além disso, a ideia
de um ensino interdisciplinar trazia a concepção, no julgar de muitos, da necessidade da construção de um novo paradigma de ciência, de
conhecimento, e a elaboração de um novo projeto de educação, de escola e de vida9.
Na verdade, a prática interdisciplinar surgiu para superar a fragmentação do conhecimento, através do diálogo entre as diversas
disciplinas científicas e curriculares, uma vez que o saber precisa ser universal. Desse modo, a interdisciplinaridade surge como a prática
pedagógica capaz de proporcionar um novo nível de comunicação entre os diversos componentes curriculares. Para isto, é necessário
superar o ensino tradicional baseado na transmissão verbal de conceitos e memorização mecânica com uma visão simplificada do ensino,
do professor e de sua informação.
O saber em migalhas revela uma inteligência esfacelada. O desenvolvimento da especialização dividiu ao infinito o território do saber.
Cada especialista ocupou, como proprietário privado, seu minifúndio de saber, onde passa a exercer seu minipoder.
A interdisciplinaridade é uma relação de reciprocidade, de mutualidade, que pressupõe uma atitude diferente a ser assumida frente
ao problema de conhecimento, ou seja, é a substituição de uma concepção fragmentária para unitária do ser humano, ou seja, da capaci-
dade de estabelecer relações entre os diferentes conhecimentos, em um mundo de relações.
O conhecimento é dinâmico, portanto, faz-se necessário estabelecer relações dialéticas no emaranhado sistema de conexões cogniti-
vas. Se o conhecimento fosse absoluto, a educação poderia constituir-se numa mera transmissão e memorização de conteúdo. Mas, como
é dinâmico, há necessidade da crítica, do diálogo, da comunicação, da interdisciplinaridade.

9 https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/download/18294/16403/228550

347
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

A interdisciplinaridade se subdivide em: No espaço escolar e acadêmico, organizados em disciplinas, a


– Interdisciplinaridade Heterogênea: trata-se da união dos prática interdisciplinar refere-se à ação que parte de uma disciplina,
conteúdos de diversas disciplinas que visa a uma formação ampla mas utiliza de conceitos ou instrumentos de outras para tratar das
e geral; questões previstas em seus objetivos. O professor que atua numa
– Pseudo-interdisciplinaridade: utiliza-se de uma estrutura de perspectiva interdisciplinar é aquele que domina o conteúdo de sua
união, uma espécie de “metadisciplina”, geralmente um modelo te- área e recorre a outras disciplinas para explorar plenamente os te-
órico que é aplicado para ser trabalhado em disciplinas distintas. mas de que está tratando.
Porém, o emprego de instrumentos comuns não é suficiente para A Interdisciplinaridade acontece quando um tema é explorado
conduzir a um empreendimento interdisciplinar, caracteriza assim, através de conceitos e instrumentos de outra disciplina. Logo, não
a “pseudo-interdisciplinaridade” como falso interdisciplinar; é uma prática que exija a reunião de mais de um professor. Em vez
– Interdisciplinaridade Auxiliar: consiste no fato de uma dis- disso, o comportamento interdisciplinar exige que o professor ou
ciplina tomar de outra, empréstimo de seus métodos ou de seus professora aplique em seu contexto curricular diferentes formas de
procedimentos. A interdisciplinaridade auxiliar tem como um dos atuação pedagógica.
objetivos a socialização dos saberes para possibilitar novas visões O professor precisa ter uma atitude interdisciplinar, ou seja,
referentes a um assunto específico em benefício de outro; necessita ser compromissado para com a aprendizagem de seus
– Interdisciplinaridade Compósita: trata-se da reunião de co- alunos, buscando constantemente utilizar novas técnicas e procedi-
nhecimentos diversos para resolver determinados problemas, en- mentos de ensino e sendo hábil no ato de conhecer e de pesquisar.
contrar soluções técnicas. Ou seja, resolver os grandes e complexos A Interdisciplinaridade de forma nenhuma nega a individualidade
problemas da sociedade contemporânea: fome, poluição, guerra, das disciplinas. Seu intuito é favorecer a inclusão da realidade do
entre outros; aluno dentro do processo de ensino e aprendizagem, levando-o a
– Interdisciplinaridade Unificadora: promove tanto a integra- ser protagonista da própria história dentro de seu contexto social.
ção teórica com os métodos correspondentes das diversas discipli- Portanto, a BNCC traz várias recomendações para os profes-
nas em interação. Como a Biofísica, que possui fenômenos os quais sores com vistas ao trabalho pedagógico de forma interdisciplinar.
não seriam entendidos somente a partir da Física ou da Biologia. A Conforme o próprio documento, “a BNCC propõe a superação da
interdisciplinaridade unificadora é a forma legítima da Interdiscipli- fragmentação radicalmente disciplinar do conhecimento” Brasil
naridade, embora reconheça que somente por meio da pesquisa (2017, p.15). Embora haja a recomendação, não se estabelecem
científica essa forma de trabalho pedagógico terá a sua devida im- propostas de como se trabalhar a interdisciplinaridade no âmbito
plementação. do ensino público. Essa falta de parâmetros definidos nos docu-
mentos norteadores da educação pública visando a uma educação
É evidente que nenhuma disciplina do currículo escolar não interdisciplinar é uma carga a mais na demanda de responsabilida-
pode ser apresentada de uma forma isolada. O pensar interdiscipli- des dos professores.
nar parte da premissa de que nenhuma forma de conhecimento é É importante, desse modo, estabelecer de forma clara o que
em si mesma racional. Tenta, pois, o diálogo com outras formas de é uma atitude ou um comportamento interdisciplinar. O termo in-
conhecimento, deixando-se interpenetrar por elas. Salienta-se que terdisciplinaridade apresenta inúmeros conceitos e entendimentos,
a interdisciplinaridade não tem como função criar uma nova disci- podendo ser interpretado de maneira equivocada como sinônimo
plina, mas sim utilizar os conhecimentos de várias disciplinas para de multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade e transdisciplinari-
resolver um problema ou compreender determinados fenômenos dade. De uma forma geral, todos esses conceitos refletem práticas
por diferentes pontos de vista, tudo conforme as diversas situações pedagógicas que contribuem para a relação existente entre as disci-
do cotidiano. plinas do currículo escolar.
Dessa forma, o ensino fragmentado precisa ceder lugar ao tra- A Disciplinaridade consiste na formação do processo de ensino
balho pedagógico interdisciplinar. O objetivo utópico da prática pe- através de disciplinas com conhecimentos especializados, trazendo
dagógica interdisciplinar é a unidade do saber e se amplia quando fragmentos da realidade. Verifica-se esse processo curricular em
se reconhece que a Interdisciplinaridade não é algo que se ensine muitas escolas. Seu currículo escolar é organizado de uma forma
ou que se aprenda, mas algo pelo qual se vive. Sim, a interdiscipli- que cada disciplina fica restrita dentro do seu próprio arcabouço
naridade é fundamentalmente uma atitude de espírito. Atitude fei- de saber.
ta de curiosidade, de abertura, de sentido de aventura, de intuição Quanto à Multidisciplinaridade, destaca-se que se refere à jus-
das relações existentes entre as coisas e que escapam à observação taposição de disciplinas diversas desprovidas de relação aparente
comum. entre elas. Isto é, não existe elo entre as disciplinas, pois o conheci-
Questiona-se a reformulação da educação através da prática mento informado é de cada matéria, não existindo integração entre
interdisciplinar. Como se a solução estivesse na recuperação da elas. Essa prática pedagógica não é considerada eficaz, devido à fal-
ideia primeira da cultura (formação do homem total), no papel da ta da relação entre os diversos conhecimentos.
escola (formação do homem inserido na sua realidade) e no papel A Pluridisciplinaridade, por sua vez, é a justaposição de discipli-
do homem (agente de mudanças no mundo). Também indaga-se nas mais ou menos vizinhas nos domínios do conhecimento. Assim,
a graduação dos futuros professores, pois se acredita que, a par- consiste em uma reunião de várias disciplinas que se relacionam
tir de uma formação interdisciplinar dos professores, será possível entre si, devido à existência de uma relação entre as suas diversas
exceder o ensino fragmentado na educação escolar disciplinar. O áreas de conhecimento. No entanto, cada área de saber procura
professor precisa aprender a utilizar outros conhecimentos que não nessa relação esclarecer melhor o conhecimento específico de sua
fazem parte do ambiente educativo no qual atua. própria área.

348
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

A Transdisciplinaridade busca conhecer qual a importância de No entanto, quando a BNCC versa sobre a contextualização do
cada ligação no processo pedagógico e o seu papel na resolução do conhecimento, o ato de contextualizar é estabelecido como uma
problema, isto é, busca a integração de várias especialidades para competência. O referido documento declara: O desenvolvimento
a compreensão do mundo. Na corrente interdisciplinar a constru- dessa competência específica, que é bastante ampla, pressupõe
ção da pesquisa em interdisciplinaridade obriga a transformação do habilidades que podem favorecer a interpretação e compreensão
pesquisador de mero agente, operário da pesquisa, em livre-pensa- da realidade pelos estudantes, utilizando conceitos de diferentes
dor e formador de opinião, dado que este se torna o “dono” de seu campos da Matemática para fazer julgamentos bem fundamenta-
próprio método. Ele não tem a obrigação de coletar dados, como de dos. Brasil (2017, p. 532).
fazer parte destes dados. O objeto de pesquisa torna-se seu próprio Em busca de novas metodologias para alavancar a eficácia do
pesquisador. ensino de Matemática, na atualidade, algumas tendências peda-
São vários os grupos de pesquisa em todo o mundo que vêm gógicas são aplicadas em sala de aula. Além disso, procedimentos
discutindo e promovendo a superação das limitações do conheci- como resolução de problemas, modelagem Matemática, história
mento fragmentado a partir do processo interdisciplinar. Através da da Matemática, jogos e curiosidades, Etnomatemática, nova tec-
interdisciplinaridade, permite-se não somente o diálogo entre as nologias e método de projeto são constantes nas salas de aula de
disciplinas, mas, principalmente, a conscientização de que os sabe- Matemática. O objetivo de todo esse arsenal de tendências e pro-
res não são estanques e que sua dialética interdisciplinar contribui cedimentos pedagógicos é possibilitar uma significativa mudança
para um ensino integral, humano e cidadão. no processo de ensino e aprendizagem de Matemática, tornando o
ensino desse importante componente curricular mais contextuali-
Interdisciplinaridade e a Matemática zado e mais integrado a outras disciplinas.
A Matemática está integrada à vida em sociedade, fazendo-se Dar ênfase para a resolução de problemas em diferentes situ-
extremamente presente no dia a dia, sendo um saber que possui ações do cotidiano do aluno é uma estratégia fundamental para
um extenso campo de aplicação. Todavia, sua aplicabilidade não é tornar a Matemática prazerosa e significativa, demonstrando para
tão evidenciada nas escolas. o aluno a importância dessa disciplina no contexto cognitivo das
Dessa maneira, os alunos costumam ter uma falsa ideia de que demais disciplinas curriculares.
os conteúdos matemáticos ensinados na escola não passam de um O conteúdo “Funções” é um exemplo de conteúdo matemá-
saber formal, desvinculado do mundo prático. Diante disso, surge a tico que merece uma contextualização bastante consistente. Isso
importância de se integrar a Matemática a diversas outras áreas de porque dentro desse assunto há diversas aplicações no cotidiano,
conhecimento e, consequentemente, ao entendimento do conceito sempre relacionadas a grandezas, a valores, a índices, a variações,
de interdisciplinaridade dentro do plano de estudo das escolas. entre outras situações.
Frequentemente, os meios de comunicação, a televisão, os Por exemplo, a inflação é uma realidade econômica medida
meios digital ou impresso informam os resultados oriundos dos sis- através da função que relaciona os preços atuais com os preços an-
temas de avaliação realizados pelo Sistema de Avaliação da Educa- teriores, dentro de um determinado período. Caso ocorra variação
ção Básica (SAEB), Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), entre para menos, o fenômeno econômico chama-se deflação.
outros. Esses índices educacionais demonstram a ineficácia do ensi- Outro exemplo de contextualização dos conhecimentos mate-
no, especificamente o de Matemática. máticos pode ser o cálculo da receita arrecadada em um transporte
Os professores da área da Matemática têm investigado novas público em determinado horário, sabendo-se o fluxo de passagei-
metodologias para o desenvolvimento do ensino. Os matemáticos ros. Seguindo a abordagem interdisciplinar e contextualizada dos
têm buscado caminhos para a melhoria do ensino da Matemática. conteúdos, utilizou-se nesse estudo o conteúdo matemático Fun-
Para eles, o ensino da Matemática não está acontecendo como de- ção Quadrática. Pode-se observar a sua aplicabilidade principal-
veria e a responsabilidade disso recai sobre os professores do en- mente na representação gráfica (parábola).
sino fundamental e médio. E a consequência de tudo isso é certa Em edificações como o Palácio do Alvorada e Ponte Juscelino
aversão dos alunos pela disciplina. Kubitschek, localizadas em Brasília, é possível observar arcos (pa-
Adotar metodologias que procurem contextualizar o ensino rábolas). Assim, a Matemática está em todos os lugares e nas mais
na sala de aula com o intuito de levar o estudante a construir e variadas aplicações, mesmo que não essas aplicações não sejam
compreender a Matemática e seus procedimentos e que também o percebidas. Utilizou-se nessa análise o conteúdo Função Quadrática
auxiliem na formalização de diferentes conceitos é uma alternativa aplicado em problemas contextualizados das disciplinas de Biologia,
para desmistificar esta disciplina. A contextualização é o ato de vin- Química e Física para responder à questão central dessa pesquisa.
cular o conhecimento teórico e a sua aplicação aos conhecimentos
que os educandos já possuem.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN 1998), a
contextualização e a interdisciplinaridade permitem a relação en-
tre vários conceitos matemáticos e distintas formas de pensamento
matemático. Isso se aplica também aos efeitos dos conhecimentos
matemáticos em outros campos de conhecimento. Para exempli-
ficar isso, pode-se citar a importância histórica da Matemática no
desenvolvimento da tecnologia humana, o que justifica o percurso
didático dessa ciência como disciplina escolar. Portanto, quando a
escola trabalha o conhecimento de forma contextualizada, o aluno
passa da condição de expectador passivo para um aluno autônomo,
capaz de ser construtor de seu conhecimento.

349
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Nessa fase, as habilidades matemáticas que os alunos devem


BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) E AS desenvolver não podem ficar restritas à aprendizagem dos algorit-
ESPECIFICAÇÕES NO CURRÍCULO DE MATEMÁTICA mos das chamadas “quatro operações”, apesar de sua importância.
No que diz respeito ao cálculo, é necessário acrescentar, à realiza-
ção dos algoritmos das operações, a habilidade de efetuar cálcu-
— Competências Específicas de Matemática para o Ensino los mentalmente, fazer estimativas, usar calculadora e, ainda, para
Fundamental decidir quando é apropriado usar um ou outro procedimento de
1. Reconhecer que a Matemática é uma ciência humana, fruto cálculo.
das necessidades e preocupações de diferentes culturas, em dife- Portanto, a BNCC orienta-se pelo pressuposto de que a apren-
rentes momentos históricos, e é uma ciência viva, que contribui dizagem em Matemática está intrinsecamente relacionada à com-
para solucionar problemas científicos e tecnológicos e para alicer- preensão, ou seja, à apreensão de significados dos objetos mate-
çar descobertas e construções, inclusive com impactos no mundo máticos, sem deixar de lado suas aplicações. Os significados desses
do trabalho10. objetos resultam das conexões que os alunos estabelecem entre
2. Desenvolver o raciocínio lógico, o espírito de investigação e a eles e os demais componentes, entre eles e seu cotidiano e entre
capacidade de produzir argumentos convincentes, recorrendo aos os diferentes temas matemáticos. Desse modo, recursos didáticos
conhecimentos matemáticos para compreender e atuar no mundo. como malhas quadriculadas, ábacos, jogos, livros, vídeos, calcula-
3. Compreender as relações entre conceitos e procedimen- doras, planilhas eletrônicas e softwares de geometria dinâmica têm
tos dos diferentes campos da Matemática (Aritmética, Álgebra, um papel essencial para a compreensão e utilização das noções ma-
Geometria, Estatística e Probabilidade) e de outras áreas do co- temáticas. Entretanto, esses materiais precisam estar integrados a
nhecimento, sentindo segurança quanto à própria capacidade de situações que levem à reflexão e à sistematização, para que se ini-
construir e aplicar conhecimentos matemáticos, desenvolvendo a cie um processo de formalização.
autoestima e a perseverança na busca de soluções. Em todas as unidades temáticas, a delimitação dos objetos
4. Fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e de conhecimento e das habilidades considera que as noções ma-
qualitativos presentes nas práticas sociais e culturais, de modo a in- temáticas são retomadas, ampliadas e aprofundadas ano a ano.
vestigar, organizar, representar e comunicar informações relevan- No entanto, é fundamental considerar que a leitura dessas habi-
tes, para interpretá-las e avaliá-las crítica e eticamente, produzindo lidades não seja feita de maneira fragmentada. A compreensão
argumentos convincentes. do papel que determinada habilidade representa no conjunto das
5. Utilizar processos e ferramentas matemáticas, inclusive tec- aprendizagens demanda a compreensão de como ela se conecta
nologias digitais disponíveis, para modelar e resolver problemas com habilidades dos anos anteriores, o que leva à identificação das
cotidianos, sociais e de outras áreas de conhecimento, validando aprendizagens já consolidadas, e em que medida o trabalho para o
estratégias e resultados. desenvolvimento da habilidade em questão serve de base para as
6. Enfrentar situações-problema em múltiplos contextos, in- aprendizagens posteriores. Nesse sentido, é fundamental conside-
cluindo-se situações imaginadas, não diretamente relacionadas rar, por exemplo, que a contagem até 100, proposta no 1º ano, não
com o aspecto prático-utilitário, expressar suas respostas e sinte- deve ser interpretada como restrição a ampliações possíveis em
tizar conclusões, utilizando diferentes registros e linguagens (grá- cada escola e em cada turma. Afinal, não se pode frear a curiosida-
ficos, tabelas, esquemas, além de texto escrito na língua materna de e o entusiasmo pela aprendizagem, tão comum nessa etapa da
e outras linguagens para descrever algoritmos, como fluxogramas, escolaridade, e muito menos os conhecimentos prévios dos alunos.
e dados). Na Matemática escolar, o processo de aprender uma noção em
7. Desenvolver e/ou discutir projetos que abordem, sobretu- um contexto, abstrair e depois aplicá-la em outro contexto envol-
do, questões de urgência social, com base em princípios éticos, ve capacidades essenciais, como formular, empregar, interpretar e
democráticos, sustentáveis e solidários, valorizando a diversidade avaliar – criar, enfim –, e não somente a resolução de enunciados
de opiniões de indivíduos e de grupos sociais, sem preconceitos de típicos que são, muitas vezes, meros exercícios e apenas simulam
qualquer natureza. alguma aprendizagem. Assim, algumas das habilidades formuladas
8. Interagir com seus pares de forma cooperativa, trabalhando começam por: “resolver e elaborar problemas envolvendo...”. Nes-
coletivamente no planejamento e desenvolvimento de pesquisas sa enunciação está implícito que se pretende não apenas a resolu-
para responder a questionamentos e na busca de soluções para ção do problema, mas também que os alunos reflitam e questio-
problemas, de modo a identificar aspectos consensuais ou não na nem o que ocorreria se algum dado do problema fosse alterado ou
discussão de uma determinada questão, respeitando o modo de se alguma condição fosse acrescida ou retirada. Nessa perspectiva,
pensar dos colegas e aprendendo com eles. pretende-se que os alunos também formulem problemas em ou-
tros contextos.
Matemática no Ensino Fundamental – Anos Iniciais: Unidades
Temáticas, Objetos de Conhecimento e Habilidades
No Ensino Fundamental – Anos Iniciais, deve-se retomar as vi-
vências cotidianas das crianças com números, formas e espaço, e
também as experiências desenvolvidas na Educação Infantil, para
iniciar uma sistematização dessas noções.

10 http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_ver-
saofinal_site.pdf

350
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Matemática – 1º ano

UNIDADES
OBJETOS DE CONHECIMENTO HABILIDADES
TEMÁTICAS
Contagem de rotina
Contagem ascendente e descendente (EF01MA01) Utilizar números naturais como indicador de quantidade
Reconhecimento de números no contexto ou de ordem em diferentes situações cotidianas e reconhecer situações
diário: indicação de quantidades, indicação em que os números não indicam contagem nem ordem, mas sim código
de ordem ou indicação de código para a orga- de identificação.
nização de informações

(EF01MA02) Contar de maneira exata ou aproximada, utilizando dife-


rentes estratégias como o pareamento e outros agrupamentos.
Quantificação de elementos de uma coleção:
(EF01MA03) Estimar e comparar quantidades de objetos de dois con-
estimativas, contagem um a um, pareamento
juntos (em torno de 20 elementos), por estimativa e/ou por correspon-
ou outros agrupamentos e comparação
dência (um a um, dois a dois) para indicar “tem mais”, “tem menos” ou
“tem a mesma quantidade”.

(EF01MA04) Contar a quantidade de objetos de coleções até 100 uni-


Números dades e apresentar o resultado por registros verbais e simbólicos, em
Leitura, escrita e comparação de números
situações de seu interesse, como jogos, brincadeiras, materiais da sala
naturais (até 100)
de aula, entre outros.
Reta numérica
(EF01MA05) Comparar números naturais de até duas ordens em situa-
ções cotidianas, com e sem suporte da reta numérica.

(EF01MA06) Construir fatos básicos da adição e utilizá-los em procedi-


Construção de fatos básicos da adição
mentos de cálculo para resolver problemas.
(EF01MA07) Compor e decompor número de até duas ordens, por
Composição e decomposição de números meio de diferentes adições, com o suporte de material manipulável,
naturais contribuindo para a compreensão de características do sistema de nu-
meração decimal e o desenvolvimento de estrtégias de cálculo.
(EF01MA08) Resolver e elaborar problemas de adição e de subtração,
Problemas envolvendo diferentes significados
envolvendo números de até dois algarismos, com os significados de jun-
da adição e da subtração (juntar, acrescentar,
tar, acrescentar, separar e retirar, com o suporte de imagens e/ou mate-
separar, retirar)
rial manipulável, utilizando estratégias e formas de registro pessoais.
Padrões figurais e numéricos: investigação de (EF01MA09) Organizar e ordenar objetos familiares ou representações
regularidades ou padrões em sequências por figuras, por meio de atributos, tais como cor, forma e medida.
Álgebra Sequências recursivas: observação de regras
(EF01MA10) Descrever, após o reconhecimento e a explicitação de um
usadas utilizadas em seriações numéricas
padrão (ou regularidade), os elementos ausentes em sequências recur-
(mais 1, mais 2, menos 1, menos 2, por
sivas de números naturais, objetos ou figuras.
exemplo)
(EF01MA11) Descrever a localização de pessoas e de objetos no espaço
em relação à sua própria posição, utilizando termos como à direita, à
Localização de objetos e de pessoas no espa- esquerda, em frente, atrás.
ço, utilizando diversos pontos de referência e (EF01MA12) Descrever a localização de pessoas e de objetos no espaço
vocabulário apropriado segundo um dado ponto de referência, compreendendo que, para a
utilização de termos que se referem à posição, como direita, esquerda,
Geometria em cima, embaixo, é necessário explicitar-se o referencial.
Figuras geométricas espaciais: reconheci-
(EF01MA13) Relacionar figuras geométricas espaciais (cones, cilindros,
mento e relações com objetos familiares do
esferas e blocos retangulares) a objetos familiares do mundo físico.
mundo físico
Figuras geométricas planas: reconhecimento (EF01MA14) Identificar e nomear figuras planas (círculo, quadrado,
do formato das faces de figuras geométricas retângulo e triângulo) em desenhos apresentados em diferentes dispo-
espaciais sições ou em contornos de faces de sólidos geométricos.

351
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

(EF01MA15) Comparar comprimentos, capacidades ou massas, utilizan-


Medidas de comprimento, massa e capacida-
do termos como mais alto, mais baixo, mais comprido, mais curto, mais
de: comparações e unidades de medida não
grosso, mais fino, mais largo, mais pesado, mais leve, cabe mais, cabe
convencionais
menos, entre outros, para ordenar objetos de uso cotidiano.
(EF01MA16) Relatar em liguagem verbal ou não verbal, sequência de
acontecimentos relativos a um dia, utilizando, quando possível, os
horários dos eventos.
Medidas de tempo: unidades de medidade
(EF01MA17) Reconhecer e relacionar períodos do dia, dias da semana e
de tempo, suas relações e o uso do calendá-
meses do ano, utilizando calendário, quando necessário.
rio.
(EF01MA18) Produzir a escrita de uma data, apresentando o dia, o mês
e o ano, e indicar o dia da semana de uma data, consultando calendá-
Grandezas
rios.
e medidas
(EF01MA19) Reconhecer e relacionar valores de moedas e cédulas do
Sistema monetário brasileiro: reconhecimen-
sistema monetário brasileiro para resolver situações simples do cotidia-
to de cédulas e moedas
no do estudante.
(EF01MA20) Classificar eventos envolvendo o acaso, tais como “acon-
Noções de acaso tecerá com certeza”, “talvez aconteça” e “é impossível acontecer”, em
situações do cotidiano.
Leitura de tabelas e de gráficos de colunas (EF01MA21) Ler dados expressos em tabelas e em gráficos de colunas
simples simples.
Probabi-
lidade e Coleta e organização de informações (EF01MA22) Realizar pesquisa, envolvendo até duas variáveis categóri-
estatística Registros pessoais para comunicação de cas de seu interesse e universo de até 30 elemento, e organizar dados
informações coletadas por meio de apresentações pessoais.

Matemática – 2º ano

UNI-
DADES
OBJETOS DE CONHECIMENTO HABILIDADES
TEMÁTI-
CAS
(EF02MA01) Comparar e ordenar números naturais (até a ordem de cente-
nas) pela compreensão de caracteristicas do sistema de numeração decimal
Leitura, escrita, comparação e ordena- (valor posicional e função do zero).
ção de números de até três ordens pela (EF02MA02) Fazer estimativas por meio de estratégias diversas a respeito
compreensão de caracteristicas do sistema da quantidade de objetos de coleções e registrar o resultado da contagem
de numeração decimal (valor posicianal e desses (objetos (até 1000 unidades).
papel do zero) (EF02MA03) Comparar quantidades de objetos de dois conjuntos, por esti-
mativa e/ou por correspondência (um a um, dois a dois, entre outros), para
indicar “tem mais’, “tem menos” ou “tem a mesma quantidade”, indicando,
quando for o caso, quantos a mais e quantos a menos.
Composição e decomposição de números (EF02MA04) Compor e decompor números naturais de até três ordens, com
naturais (até 1000) suporte de material maripulável, por melo de diferentes adições.
Números Construção de fatos fundamentais da adi- (EF02MA05) Construir fatos básicos da adição e subtração e utilizá-los no
ção e da subtração cálculo mental ou escrito.
Problemas envolvendo diferentes signi- (EF02MA06) Resolver e elaborar problemas de adição e de subtração, envol-
ficados da adição e da subtração (untar, vendo números de até três ordens, com os significados de juntar, acrescen-
acrescentar, separar, retirar) tar, separar, retirar, utilizando estratégias pessoais.
(EF02MA07) Resolver e elaborar problemas de multiplicação (por 2. 3, 4 e
Problemas envolvendo adição de parcelas
5) com a ideia de adição de parcelas iguais por meio de estratégias e formas
iguais
de registro pessoais, utilizando ou não suporte de imagens e/ou material
(multiplicação)
manipulável.
(EF02MA08) Resolver e elaborar problemas envolvendo dobro, metade,
Problemas envolvendo significados de
triplo e terça parte, com o suporte de imagens ou material manipulável,
dobro, metade, triplo e terça parte
utilizando estratégias pessoais.

352
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Construção de sequências repetitivas e de (EF02MA09) Construir sequências de números naturais em ordem crescente
sequências ou decrescente a partir de um número qualquer, utilizando uma regularida-
recursivas de estabelecida.
Álgebra Identificação de regularidade de sequên- (EF02MA10) Descrever um padrão (ou regularidade) de sequências repetiti-
cias e determinação de elementos ausentes vas e de sequências recursivas, por meio de palavras, símbolos ou desenhos.
na sequência (EF02MA11) Descrever os elementos ausentes em sequências repetitivas e
em sequências recursivas de números naturais, objetos ou figuras.
Localização e movimentação de pessoas e (EF02MA12) Identificar e registrar, em linguagem verbal ou não verbal, a
objetos no espaço, segundo pontos de refe- localização e os deslocamentos de pessoas e de objetos no espaço, conside-
rência, e indicação de mudanças de direção rando mais de um ponto de referência, e indicar as mudanças de direção e
e sentido de sentido.
(EF02MA13) Esboçar roteiros a ser seguidos ou plantas de ambientes famlla-
Esboço de roteiros e de plantas simples
res, assinalando entradas, saídas e alguns pontos de referência.
Geome-
tria Figuras geométricas espaciais: (cubo, bloco (EF02MA14) Reconhecer, nomear e comparar figuras geométricas espaciais
retangular, pirâmide, cone, cilindro e esfe- (cubo, bloco retangular, pirâmide, cone, cilindro e esfera), relacionando-as
ra): reconhecimento e características com objetos do mundo físico.
(EF02MA15) Reconhecer, nomear e comparar figuras geométricas planas
Figuras geométricas planas: (círculo, qua-
(círculo, quadrado, retângulo e retângulo), por meio de características co-
drado, retângulo e retângulo): reconheci-
muns, em desenhos apresentados em diferentes disposições ou em sólidos
mento e características
geométricos.
(EF02MA16) Estimar, medir e comparar comprimentos, de lados de salas
Medidas de comprimento: unidades não
(incluindo contorno) e de polígonos, utilizando unidades de medida não
padronizadas e padronizadas (metro, centí-
padronizadas e padronizadas (metro, centímetro e milímetro) e instrumen-
metro e milímetro)
tos adequados.
Medidas de capacidade e de massa:
(EF02MA17) Estimar, medir e comparar capacidade e massa, utilizando estra-
unidades de medida não convencionais e
tégias pessoais e unidades de medida não padronizadas e padronizadas (litro,
convencionas (litro, mililitro, cm², grama e
Gran- mililitro, cm², grama e quilograma)
quilograma)
dezas e
medidas (EF02MA18) Indicar a duração de intervalos de tempo entre duas datas,
Medidas de tempo: intervalo de tempo, como dias da semana e meses do ano, utilizando calendário, para planeja-
uso do calendário, leitura de horas em mentos e organização de agenda.
relógios digitais e ordenação de datas (EF02MA19) Medir a duração de um intervalo de tempo por meio de relógio
digital e registrar o horário do início e do fim do intervalo.
Sistema monetário brasileiro: reconheci- (E02MA20) Estabelecer a equivalência de valores entre moedas e cédulas do siste-
mento de cédulas e moedas e equivalência. ma monetário brasileiro para resolver situações cotidianas.
Análise da ideia de aleatório em situações (EF02MA21) Classificar resultados de eventos cotidianos aleatórios como
do cotidiano “pouco prováveis”, “muito prováveis” “improváveis” e “impossíveis”.
Probabi- (EF02MA22) Comparar informações de pesquisas apresentadas por meio de
lidade e tabelas de dupla entrada e em gráficos de colunas simples ou barras, para
estatís- Coleta, classificação e representação de da-
melhor compreender os aspectos da realidade próxima.
tica dos em tabelas simples e de dupla entrada
(EF02MA23) Realizar pesquisa em universo de até 30 elementos, escolhendo até
e em gráficos de colunas
três variáveis categóricas de seu interesse, organizando os dados coletados em
listas, tabelas e gráficos de colunas simples.

353
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Matemática – 3º ano

UNIDADES OBJETOS DE CONHECIMENTO HABILIDADES


TEMÁTICAS
Leitura, escrita, comparação e (EF03MA01) Ler, escrever e comparar números naturais de até a ordem de uni-
ordenação de números naturais de dade de milhar, estabelecendo relações entre os registros numéricos e em língua
quatro ordens. materna.
Composição e decomposição de (EF03MA02) Identificar características do sistema de numeração decimal, utilizan-
números naturais do a composição e a decomposição de número natural de até quatro ordens.

Construção de fatos fundamentais (EF03MA03) Construir e utiizar fatos básicos da adição e da multiplicação para o
da adição, subtração e multiplicação cálculo mental ou escrito.
Reta numérica (EF03MA04) Estabelecer a relação entre números naturais e pontos da reta numé-
rica para utilizá-la na ordenação dos números naturais e também na construção de
fatos da ação e da subtração, relacionando-os com deslocamentos para a direita
ou para a esquerda.
Procedimentos de cálculo (mental (EF03MA05) Utilizar diferentes procedimentos de cálculo mental e escrito, inclu-
e escrito) com números naturais: sive os convencionais, para resolver problemas significativos envolvendo adição e
Números adição e subtração subtração com números naturais.
Problemas envolvendo significados (EF03MA06) Resolver e elaborar problemas de adição e subtração com os signifi-
da adição e da subtração: juntar, cados de juntar, acrescentar, separar, retirar, comparar e completar quantidades,
acrescentar, separar, retirar, compa- utilizando diferentes estratégias de cálculo exato ou aproximado, incluindo cálculo
rar e completar quantidades mental.
Problemas envolvendo diferentes (EF02MA07) Resolver e elaborar problemas de multiplicação (por 2, 3, 4, 5 e 10) com
significados da multiplicação e da os significados de adição de parcelas iguais e elementos apresentados em disposição
divisão: adição de parcelas iguais, retangular, utilizando diferentes estratégias e registros.
configuração particular, repartição (EF03MA08) Resolver e elaborar problemas de divisão de um número natural por
em partes iguais e medida outro (até 10), com resto zero e com resto diferente de zero, com os significados
de repartição equitativa e de medida, por meio de estratégias e registros pessoais.
Significados de metade, terça parte, quar- (EF03MA09) Associar o quociente de uma divisão com resto zero de um número
ta parte, quinta parte e décima parte. natural por 2, 3, 4, 5 e 10 às ideias de metade, terça, quarta, quinta e décima partes.
Identificação e descrição de regula- (EF03MA10) Identificar regularidades em sequências ordenadas de números natu-
ridades em sequências numéricas rais, resultantes da realização de adições ou subtrações sucessivas, por um mesmo
recursivas número, descrever uma regra de formação da sequência e determinar elementos
faltantes ou seguintes.
Relação de igualdade (EF03MA11) Compreender a ideia de igualdade para escrever diferentes sentenças
Álgebra de adições ou de subtrações de dois números naturais que resultem na mesma
soma ou diferença.
Localização e movimentação: re- (EF03MA12) Descrever e representar, por meio de esboços de trajetos ou utili-
presentação de objetos e pontos de zando croquis e maquetes, a movimentação de pessoas ou de objetos no espaço,
referência incluindo mudanças de direção e sentido, com base em diferentes pontos de
referência.
Figuras geométricas espaciais: (EF03MA13) Associar figuras geométricas espaciais (cubo, bloco retangular, pirâmi-
(cubo, bloco retangular, pirâmide, de, cone, cilindro e esfera) a objetos do mundo físico e nomear essas figuras.
cone, cilindro e esfera): reconheci- (EF03MA14) Descrever características de algumas figuras geométricas espaciais
mento, análise de características e (primas retos, pirâmides, cilindros, cones), relacionando-as com suas planificações.
planificações
Geome- Figuras geométricas planas: (triân- (EF03MA15) Classificar e comparar figuras planas (triângulo, quadrado, retângulo,
tria gulo, quadrado, retângulo, trapézio trapézio e paralelogramo) em relação a seus lados (quantidade, posições relativas
e paralelogramo): reconhecimento e comprimento) e vértices.
e análise de características
Congruência de figuras geométricas (EF03MA16) Reconhecer figuras congruentes, usando sobreposição e desenhos
planas em malhas quadriculadas ou triangulares, incluindo o uso de tecnologias digitais.

354
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Significado de medida e de unidade (EF03MA17) Reconhecer que o resultado de uma medida depende da unidade de
de medida medida utilizada.
(EF03MA18) Escolher a unidade de medida e o instrumento mais apropriado para
medições de comprimento, tempo e capacidade.
Medidas de comprimento (unidades (EF03MA19) Estimar, medir e comparar comprimentos, utilizando unidades de me-
não convencionais e convencionais): dida não padronizadas e padronizadas mais usuais (metro, centímetro e milímetro)
registro, instrumentos de medida, e diversos instrumentos de medida.
estimativas e comparações
Medidas de capacidade e de massa (EF03MA20) Estimar e medir capacidade e massa, utilizando unidades de medida
(unidades não convencionais e con- não padronizadas e padronizadas mais usuais (litro, mililitro, quilograma, grama e
vencionas): registro, instrumentos miligrama), reconhecendo-as em leitura de rótulos e embalagens, entre outros.
de medida, estimativas e compara-
ções
Grandezas Comparação de áreas por superpo- (EF03MA21) Comparar, visualmente ou por superposição, áreas de faces de obje-
e medidas sição tos, de figuras planas ou de desenhos.
Medidas de tempo: leitura de horas (EF03MA22) Ler e registrar medidas e intervalos de tempo, utilizando relógios
em relógios digitais e analógicos, (analógico e digital) para informar os horários de início e término de realização de
duração de eventos e reconheci- uma atividade e sua duração.
mento de relações entre unidades (EF03MA23) Ler horas em relógios digitais e em relógios analógicos e reconhecer a
de medida de tempo relação entre hora e minutos e entre minuto e segundos.
Sistema monetário brasileiro: (EF03MA24) Resolver e elaborar problemas que envolvam a comparação e a
estabelecimento de equivalências equivalência de valores monetários do sistema brasileiro em situações de compra,
de um mesmo valor na utilização de venda e troca.
diferentes cédulas e moedas
Análise da ideia de aleatório em (EF03MA25) Identificar, em eventos familiares aleatórios, todos os resultados pos-
situações do cotidiano: espaço síveis, estimando os que têm maiores ou menores chances de ocorrência.
amostral
Leitura, interpretação e representa- (EF03MA26) Resolver problemas cujos dados estão apresentados em tabelas de
ção de dados em tabelas de dupla dupla entrada, gráficos de barras ou de colunas.
entrada e gráficos de barras (EF03MA27) Ler, interpretar e comparar dados apresentados em tabelas de dupla
entrada, gráficos de barras ou de colunas, envolvendo resultados de pesquisas
significativas, utilizando termos como maior e menor frequência, apropriando-se
desse tipo de linguagem para compreender aspectos da realidade sociocultural
Probabi- significativos.
lidade e
estatística Coleta, classificação e representa- (EF02MA28) Realizar pesquisa envolvendo variáveis categóricas em um universo
ção de dados referentes a variáveis de até 50 elementos, organizar os dados coletados utilizando listas, tabelas simples
categóricas, por meio de tabelas e ou de dupla entrada e representá-los em gráficos de colunas simples, com e sem
gráficos uso de tecnologias digitais.

355
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Matemática – 4º ano

UNIDADES OBJETOS DE CONHECIMENTO HABILIDADES


TEMÁTICAS
Sistema de numeração decimal: leitura, (EF04MA01) Ler, escrever e ordenar números naturais de até a ordem de
escrita, comparação e ordenação de nú- dezenas de milhar.
meros naturais de até cinco ordens
Composição e decomposição de um (EF04MA02) Mostrar, por decomposição e composição, que todo nú-
número natural de até cinco ordens, por mero natural pode ser escrito por meio de adições e multiplicações por
meio de adições e multiplicações por potências de dez, para compreender o sistema de numeração decimal e
potências de 10 desenvolver estratégias de cálculo.
Propriedades das operações para o desen- (EF04MA03) Resolver e elaborar problemas com números naturais envolven-
volvimento de diferentes estratégias de do adição e subtração, utilizando estratégias diversas, como cálculo, cálculo
cálculo com números naturais mensal e algoritmos, além de fazer estimativas do resultado.
(EF04MA04) Utilizar as relações entre adição e subtração, bem como en-
tre multiplicação e divisão, para ampliar as estratégias de cálculo.
(EF04MA05) Utilizar as propriedades das operações para desenvolver
estratégias de cálculo.
Problemas envolvendo diferentes sig- (EF04MA06) Resolver e elaborar problemas envolvendo diferentes significa-
nificados da multiplicação e da divisão: dos da multiplicação (adição de parcelas iguais, organização retangular e pro-
Números adição de parcelas iguais, configuração porcionalidades), utilizando estratégias diversas, como cálculo por estimativa,
retangular, proporcionalidade, repartição cálculo mental e algoritmos.
equitativa e medida (EF04MA07) Resolver e elaborar problemas de divisão cujo divisor tenha
no máximo dois algarismos, envolvendo os significados de repartição
equitativa e de medida, utilizando estratégias diversas, como cálculo por
estimativa, cálculo mental e algoritmos.
Problemas de contagem (EF04MA08) Resolver, com o suporte de imagem e/ou material manipu-
láel, problemas simples de contagem, como a determinação do número
de agrupamentos possíveis ao se combinar cada elemento de uma coleção
com todos os elementos de outra, utilizando estratégias e formas de
registro pessoais.
Números racionais: frações unitárias mais (EF04MA09) Reconhecer as frações unitárias mais usuais (1/2, 1/3, 1/4,
usuais (1/2, 1/3, 1/4, 1/5, 1/10 e 1/100) 1/5, 1/10 e 1/100) como unidades de medida menores do que uma unida-
de, utilizando a reta numérica como recurso.
Números racionais: representação de- (EF04MA10) Reconhecer que as regras do sistema de numeração decimal
cimal para escrever valores do sistema podem ser estendidas para a representação decimal de um número racio-
monetário brasileiro nal e relacionar décimos e centésimos com a representação do sistema
monetário brasileiro.
Sequência numérica recursiva formada (EF04MA11) Identificar regularidades em sequências numéricas compos-
por múltiplos de um número natural tas por múltiplos de um número natural.
Sequência numérica recursiva formada (EF04MA12) Reconhecer, por meio de investigações, que há grupos de
por números que deixam o mesmo resto números naturais para os quais as divisões por um determinado número
ao ser divididos por um mesmo número resultam em restos iguais, identificando regularidades.
natural diferente de zero.
Relações entre adição e subtração e entre (EF04MA13) Reconhecer, por meio de investigações, utilizando a calcula-
multiplicação e divisão dora quando necessário, as relações inversas entre as operações de adição
e de subtração e de multiplicação e divisão, para aplicá-las na resolução
Álgebra de problemas.
Propriedades da igualdade (EF04MA14) Reconhecer e mostrar, por meio de exemplos, que a relação
de igualdade existente entre dois termos permanece quando se adiciona
ou se subtrai um mesmo número a cada um desses termos.
(EF04MA15) Determinar o número desconhecido que torna verdadeira
uma igualdade que envolve as operações fundamentais com números
naturais.

356
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Localização e movimentação: pontos de (EF04MA16) Descrever deslocamentos e localização de pessoas e de


referência, direção e sentido objetos no espaço, por meio de malhas quadriculadas e representações
Paralelismo e perpendicularismo como desenhos, mapas, planta baixa e croquis, empregando termos como
direita e esquerda, mudanças de direção e sentido, intersecção, transver-
sais, paralelas e perpendiculares.
Figuras geométricas espaciais: (primas e (EF04MA17) Associar prismas e pirâmides e suas planificações e analisar,
pirâmides): reconhecimento, representa- nomear e comparar seus atributos, estabelecendo relações entre as repre-
ções , planificações e características sentações planas e espaciais.
Geometria Ângulos retos e não retos: uso de dobra- (EF04MA18) Reconhecer ângulos retos e não retos em figuras poligonais
duras, esquadros e softwares com o uso de dobraduras, esquadros ou softwares de geometria.
Simetria de reflexão (EF04MA19) Reconhecer simetria de reflexão em figuras e em pares de
figuras geométricas planas e utilizá-la na construção de figuras congruen-
tes, com o uso de malhas quadriculadas e de softwares de geometria.
Medidas de comprimento, massa e (EF04MA20) Medir e estimar comprimentos (incluindo perímetros),
capacidade: estimativas, utilização de massas e capacidades, utilizando unidades de medida padronizadas mais
instrumentos de medida e de unidades de usuais, valorizando e respeitando a cultura local.
medida convencionais mais usuais
Áreas de figuras construídas em malhas (EF04MA21) Medir, comparar e estimar área de figuras planas desenhadas
quadriculadas em malha quadriculada, pela contagem dos quadradinhos ou de metades
de quadradinho, reconhecendo que duas figuras com formatos diferentes
podem ter a mesma medida de área.
Medidas de tempo: leitura de horas em (EF04MA22) Ler e registrar medidas e intervalos de tempo em horas,
relógios digitais e analógicos, duração minutos e segundos em situações relacionadas ao seu cotidiano, como
de eventos e relações entre unidades de informar os horários de início e término de realização de uma tarefa e sua
medida de tempo duração.
Medidas de temperatura em grau Celsius: (EF04MA23) Reconhecer temperatura como grandeza e o grau Celsius
Grandezas e construção de gráficos para indicar a como unidade de medida a ela associada e utilizá-lo em comparações de
medidas variação da temperatura (mínima e máxi- temperaturas em diferentes regiões do Brasil ou no exterior ou, ainda, em
ma) medida em um dado dia ou em uma discussões que envolvam problemas relacionados ao aquecimento global.
semana (EF04MA24) Registrar as temperaturas máxima e mínima diárias, em
locais do seu cotidiano, e elaborar gráficos de colunas com as variações
diárias da temperatura, utilizando, inclusive, planilhas eletrônicas.
Problemas utilizando o sistema monetário (EF04MA25) Resolver e elaborar problemas que envolvam situações de
brasileiro compra e venda e formas de pagamento, utilizando termos como troco e
desconto, enfatizando o consumo ético, consciente e responsável.
Análise de chances de eventos aleatórios (EF04MA26) Identificar, em eventos familiares aleatórios, todos os resul-
tados possíveis, estimando os que têm maiores ou menores chances de
ocorrência.
Leitura, interpretação e representação (EF04MA27) Analisar dados apresentados em tabelas simples ou de dupla
de dados em tabelas de dupla entrada, entrada e em gráficos de colunas ou pictóricos, com base em informações
gráficos de colunas simples e agrupadas, das diferentes áreas do conhecimento, e produzir texto com síntese de
Probabili- gráficos de barras e colunas e gráficos sua análise.
dade pictóricos
e estatística
Diferenciação entre variáveis categóricas (EF04MA28) Realizar pesquisa envolvendo variáveis categóricas e numéri-
e variáveis numéricas cas e organizar os dados coletados por meio de tabelas e gráficos simples
Coleta, classificação e representação de ou agrupadas, com e sem uso de tecnologias digitais.
dados de pesquisa realizada

357
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Matemática – 5º ano

UNIDADES OBJETOS DE CONHECIMENTO HABILIDADES


TEMÁTICAS
Sistema de numeração decimal: leitura, (EF05MA01) Ler, escrever e ordenar números naturais de até a ordem das
escrita e ordenação de números naturais centenas de milhar com compreensão das principais características do
(de até seis ordens) sistema de numeração.
Números racionais expressos na forma deci- (EF05MA02) Ler, escrever e ordenar números racionais na forma decima
mal e sua representação na reta numérica com compreensão das principais características do sistema de numera-
ção, utilizando, como recursos, a composição e de composição e a reta
numérica.
Representação fracionária dos números (EF05MA03) Identificar e representar frações (menores e maiores que a uni-
racionais: reconhecimento, significados, dade), associando-as ao resultado de uma divisão ou à ideia de parte de um
leitura e representação na reta numérica todo, utilizando a reta numérica como recurso.
Comparação e ordenação de números (EF05MA04) Identificar frações equivalentes.
racionais na representação decimal e na fra- (EF05MA05) Comparar e ordenar números racionais positivos (represen-
Números cionária utilizando a noção de equivalência tações fracionária e decimal), relacionando-os a pontos na reta numérica.
Cálculo de porcentagens e representação (EF05MA06) Associar as representações 10%, 25%, 50%, 75% e 100%
fracionária respectivamente à décima parte, quarta parte, metade, três quartos e um
inteiro, para calcular porcentagens, utilizando estratégias pessoais, cálculo
mental e calculadora, em contextos de educação financeira, entre outros.
Problemas: adição e subtração de números (EF05MA07) Resolver e elaborar problemas de adição e subtração com
naturais e números racionais cuja represen- números naturais e com números racionais, cuja representação decimal
tação decimal é finita seja finita, utilizando estratégias diversas, como cálculo por estimativa,
cálculo mental e algoritmos.
Problemas: multiplicação e divisão de nú- (EF05MA08) Resolver e elaborar problemas de multiplicação e divisão
meros racionais cuja representação decimal com números naturais e com números racionais cuja representação
é finita por números naturais decimal é finita (com multiplicador natural e divisor natural e diferente de
zero), utilizando estratégias diversas, como cálculo por estimativa, cálculo
mental e algoritmos.
Problemas de contagem do tipo: “Se cada (EF05MA09) Resolver e elaborar problemas simples de contagem envol-
objeto de uma coleção A for combinado vendo o princípio multiplicativo, como a determinação do número de
com todos os elementos de uma coleção B, agrupamentos possíveis ao se combinar cada elemento de uma coleção
quantos agrupamentos desse tipo podem com todos os elementos de outra coleção, por meio de diagramas de
ser formados?” árvore ou por tabelas.
Propriedades da igualdade e noção de (EF05MA10) Concluir, por meio de investigações, que a relação de igual-
equivalência dade existente entre dois membros permanece ao adicionar, subtrair,
multiplicar ou dividir cada um desses membros por um mesmo número,
para construir a noção de equivalência.
(EF05MA11) Resolver e elaborar problemas cuja conversão em senten-
ça matemática seja uma igualdade com uma operação em que um dos
termos é desconhecido.
Grandezas diretamente proporcionais (EF05MA12) Resolver problemas que envolvam variação de proporciona-
Problemas envolvendo a partição de um lidade direta entre duas grandezas, para associar a quantidade de um pro-
todo em duas partes proporcionais duto ao valor a pagar, alterar as quantidades de ingredientes de receitas,
Álgebra ampliar ou reduzir escala em mapas, entre outros.
(EF05MA13) Resolver problemas que envolvam a partilha de uma quan-
tidade em duas partes desiguais, tais como dividir uma quantidade em
duas partes, de modo que uma seja o dobro da outra, com compreensão
da ideia de razão entre as partes e delas com o todo.

358
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Plano cartesiano: coordenadas cartesianas (EF05MA14) Utilizar e compreender diferentes representações para a loca-
(1º quadrante) e representação de desloca- lização de objetos no plano, como mapas, células em planilhas eletrônicas
mentos no plano cartesiano e coordenadas geográficas, a fim de desenvolver as primeiras noções de
coordenadas cartesianas.
(EF05MA15) Interpretar, descrever e representar a localização ou movimen-
tação de objetos no plano cartesiano (1º quadrante), utilizando coordena-
das cartesianas, indicando mudanças de direção e de sentido e giros.
Figuras geométricas espaciais: reconhe- (EF05MA16) Associar figuras espaciais a suas planificações (prismas, pirâ-
cimento, representações , planificações e mides, cilindros e cones) e analisar, nomear e comparar seus atributos.
Geometria características
Figuras geométricas planas: características, (EF05MA17) Reconhecer, nomear e comparar polígonos, considerando
representações e ângulos lados, vértices e ângulos, e desenhá-los, utilizando material de desenho
ou tecnologias digitais.
Ampliação e redução de figuras poligonais (EF05MA18) Reconhecer a congruência dos ângulos e a proporcionalidade
em malhas quadriculadas: reconhecimento entre os lados correspondentes de figuras poligonais em situações de ampli-
da congruência dos ângulos e da proporcio- cação e de redução em malhas quadriculadas e usando tecnologias digitais.
nalidade dos lados correspondentes.
Medidas de comprimento, área, massa, (EF05MA19) Resolver e elaborar problemas envolvendo medidas das
tempo, temperatura e capacidade: utiliza- grandezas comprimento, área, massa, tempo, temperatura e capacidade,
ção de unidades convencionais e relações recorrendo a transformações entre as unidades mais usuais em contextos
entre as unidades de medida mais usuais. socioculturais.
Áreas e perímetros de figuras poligonais: (EF05MA20) Concluir, por meio de investigações, que figuras de períme-
algumas relações tros iguais podem ter áreas diferentes e que, também, figuras que têm a
mesma área podem ter perímetros diferentes.
Grandezas
e medidas Noções de volume (EF05MA21) Reconhecer volume como grandeza associada a sólidos geo-
métricos e medir volumes por meio de empilhamento de cubos, utilizan-
do, preferencialmente objetos concretos.
Espaço amostral: análise de chances de (EF05MA22) Apresentar todos os possíveis resultados de um experimento
eventos aleatórios aleatório, estimando se esses resultados são igualmente prováveis ou não.
Cálculo de probabilidade de eventos equi- (EF05MA23) Determinar a probabilidade de ocorrência de um resultado
prováveis em eventos aleatórios, quando todos os resultados possíveis têm a mes-
ma chance de ocorrer (euiprováveis).
Probabi- Leitura, coleta, classificação, interpretação e (EF05MA24) Interpretar dados estatísticos apresentados em textos, tabelas e gráficos
lidade e representação de dados em tabelas de du- (colunas ou linhas), referentes a outras áreas do conhecimento ou a outros contextos,
estatística pla entrada, gráfico de colunas agrupadas, como saúde e trânsito, e produzir textos com o objetivo de sintetizar conclusões.
gráficos pictóricos e gráfico de linhas (EF05MA25) Realizar pesquisa envolvendo variáveis categóricas e numéricas, orga-
nizar dados coletados por meio de tabelas, gráficos de colunas, pictóricos e de linhas,
com e sem uso de tecnologias digitais e apresentar texto escrito sobre a finalidade da
pesquisa e a sintese dos resultados.

Matemática no Ensino Fundamental – Anos Finais: Unidades Temáticas, Objetos de Conhecimento e Habilidades
Para o desenvolvimento das habilidades previstas para o Ensino Fundamental – Anos Finais, é imprescindível levar em conta as expe-
riências e os conhecimentos matemáticos já vivenciados pelos alunos, criando situações nas quais possam fazer observações sistemáticas
de aspectos quantitativos e qualitativos da realidade, estabelecendo inter-relações entre eles e desenvolvendo ideias mais complexas.
Essas situações precisam articular múltiplos aspectos dos diferentes conteúdos, visando ao desenvolvimento das ideias fundamentais da
matemática, como equivalência, ordem, proporcionalidade, variação e interdependência.
Da mesma forma que na fase anterior, a aprendizagem em Matemática no Ensino Fundamental – Anos Finais também está intrin-
secamente relacionada à apreensão de significados dos objetos matemáticos. Esses significados resultam das conexões que os alunos
estabelecem entre os objetos e seu cotidiano, entre eles e os diferentes temas matemáticos e, por fim, entre eles e os demais compo-
nentes curriculares. Nessa fase, precisa ser destacada a importância da comunicação em linguagem matemática com o uso da linguagem
simbólica, da representação e da argumentação.
Além dos diferentes recursos didáticos e materiais, como malhas quadriculadas, ábacos, jogos, calculadoras, planilhas eletrônicas e
softwares de geometria dinâmica, é importante incluir a história da Matemática como recurso que pode despertar interesse e representar
um contexto significativo para aprender e ensinar Matemática. Entretanto, esses recursos e materiais precisam estar integrados a situa-
ções que propiciem a reflexão, contribuindo para a sistematização e a formalização dos conceitos matemáticos.

359
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

A leitura dos objetos de conhecimento e das habilidades essenciais de cada ano nas cinco unidades temáticas permite uma visão
das possíveis articulações entre as habilidades indicadas para as diferentes temáticas. Entretanto, recomenda-se que se faça também
uma leitura (vertical) de cada unidade temática, do 6º ao 9º ano, com a finalidade de identificar como foi estabelecida a progressão das
habilidades. Essa maneira é conveniente para comparar as habilidades de um dado tema a ser efetivadas em um dado ano escolar com as
aprendizagens propostas em anos anteriores e também para reconhecer em que medida elas se articulam com as indicadas para os anos
posteriores, tendo em vista que as noções matemáticas são retomadas ano a ano, com ampliação e aprofundamento crescentes. Cumpre
também considerar que, para a aprendizagem de certo conceito ou procedimento, é fundamental haver um contexto significativo para os
alunos, não necessariamente do cotidiano, mas também de outras áreas do conhecimento e da própria história da Matemática. No entan-
to, é necessário que eles desenvolvam a capacidade de abstrair o contexto, apreendendo relações e significados, para aplicá-los em outros
contextos. Para favorecer essa abstração, é importante que os alunos reelaborem os problemas propostos após os terem resolvido. Por
esse motivo, nas diversas habilidades relativas à resolução de problemas, consta também a elaboração de problemas. Assim, pretende-se
que os alunos formulem novos problemas, baseando-se na reflexão e no questionamento sobre o que ocorreria se alguma condição fosse
modificada ou se algum dado fosse acrescentado ou retirado do problema proposto. Além disso, nessa fase final do Ensino Fundamental,
é importante iniciar os alunos, gradativamente, na compreensão, análise e avaliação da argumentação matemática. Isso envolve a leitura
de textos matemáticos e o desenvolvimento do senso crítico em relação à argumentação neles utilizada.

Matemática – 6º ano

UNIDADES OBJETOS DE CONHECIMENTO HABILIDADES


TEMÁTICAS
Sistema de numeração decimal: (EF06MA01) Comparar, ordenar, ler e escrever números naturais e números racio-
características, leitura, escri- nais cuja representação decimal é finita, fazendo uso da reta numérica.
ta e comparação de números (EF05MA02) Reconhecer o sistema de numeração decimal, como o que prevaleceu
naturais e de números racionais no mundo ocidental, e destacar semelhanças e diferenças com outros sistemas, de
representados na forma decimal modo a sistematizar suas principais características (base, valor posicional e função
do zero), utilizando, inclusive, a composição e decomposição de números naturais e
números racionais em sua representação decimal.
Operações (adição, subtração, (EF06MA03) Resolver e elaborar problemas que envolvam cálculos (mentais ou
multiplicação, divisão e poten- escritos, exatos ou aproximados) com números naturais, por meio de estratégias
ciação) com número naturais variadas, com compreensão dos processos neles envolvidos com e sem uso de
Divisão euclidiana calculadora.
Fluxograma para determinar a (EF06MA04) Construir algoritmo em linguagem natural e reprensentá-lo por fluxograma que
paridade de um número natural indique a resolução de um problema simples (por exemplo, se um número natural qualquer é
Múltiplos e divisores de um par).
número natural (EF06MA05) Classificar números naturais em primos e compostos, estabelecer relações entre
Números primos e compostos números, expressas pelos termos “é múltiplo de”, “é divisor de”, “é fator de”, e de estabelecer,
por meio de investigações, critérios de divisibilidade por 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 100 e 1000.
(EF06MA06) Resolver e elaborar problemas que envolvam as ideias de múltiplo e de divisor.
Frações: significados (parte/ (EF06MA07) Compreender, comparar e ordenar frações associadas às ideias de partes
todo, quociente), equivalência, de inteiros e resultado de divisão, identificando frações equivalentes.
comparação, adição e subtração: (EF06MA08) Reconhecer que os números racionais positivos podem ser expressos nas
cálculo da fração de um número formas fracionária e decimal, estabelecer relações entre essas representações, passan-
natural: adição e subtração de do de uma representação para outra, e relacioná-los a pontas na reta numérica.
frações (EF06MA09) Resolver e elaborar problemas que envolvam o cálculo da fração de uma
quantidade e cujo resultado seja um número natural, com e sem uso de calculadora.
(EF06MA10) Resolver e elaborar problemas que envolvam adição ou subtração com
Números números racionais positivos na representação fracionária.
Operações (adição, subtração, (EF06MA11) Resolver e elaborar problemas com números racionais positivos na
multiplicação, divisão e poten- representação decimal, envolvendo as quatro operações fundamentais e a poten-
ciação) com número racionais ciação, por meio de estratégias diversas, utilizando estimativas e arredondamentos
para verificar a razoabilidade de resppostas, com e sem uso de calculadora.
Aproximação de números para (EF06MA12) Fazer estimativas de quantidades e aproximar números para múltiplos
múltiplos de potências de 10 da potência de 10 mais próxima.
Cálculo de porcentagens por (EF06MA13) Resolver e elaborar problemas que envolvam porcentagens, com base
meio de estratégias diversas, na ideia de proporcionalidade, sem fazer uso da “regra de três”, utilizando estraté-
sem fazer uso da “regra de três” gias pessoais, cálculo mental e calculadora, em contextos de educação financeira.

360
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Propriedades da igualdade (EF06MA14) Reconhecer que a relação de igualdade matemática não se altera ao adi-
cionar, subtrair, multiplicar ou dividir os seus dois membros por um mesmo número e
utilizar essa noção para determinar valores desconhecidos na resolução de problemas.
Problemas que tratam da parti- (EF06MA15) Resolver e elaborar problemas que envolvam a partilha de uma quanti-
ção de um todo em duas partes dade em duas partes desiguais, envolvendo relações aditivas e multiplicativas, bem
Álgebra desiguais, envolvendo razões como a razão entre as partes eentre uma das partes e o todo.
entre as partes e entre uma das
partes e o todo.
Plano cartesiano: assoaciação (EF06MA16) Associar pares ordenados de números a pontos do plano cartesiano do
dos vértices de um polígono a 1º quadrante, em situações como a localização dos vértices de um polígono.
pares ordenados
Prismas e pirâmides: planifica- (EF06MA17) Quantificar e estabelecer relações entre o número de vértices, faces e
ções e relações entre seus ele- arestas de prismas e pirâmides, em função do seu polígono da base, para resolver
mentos (vértices, faces e arestas) problemas e desenvolver a percepção espacial.
Polígonos: classificações quanto (EF06MA18) Reconhecer, nomear e comparar polígonos, considerando lados, vérti-
ao número de vértices, às ces e ângulos, e classificá-los em regulares e não regulares, tanto em suas represen-
medidas de lados e ângulos e ao tações no plano como em faces de poliedros.
paralelismo e perpendicularismo (EF06MA19) Identificar características dos triângulos e classificá-los em relação às
dos lados medidas dos lados e dos ângulos.
(EF06MA20) Identificar características dos quadriláteros, classificá-los em relação a
Geometria lados e a ângulos e reconhecer a inclusão e a intersecção de classes entre eles
Construção de figuras semelhantes: (EF06MA21) Construir figuras planas semelhantes em situações de amplicação e de
amplicação e redução de figuras redução, com o uso de malhas quadriculadas, plano cartesiano ou tecnologias digitais.
planas em malhas quadriculadas
Construção de retas paralelas e (EF06MA22) Utilizar instrumentos, como réguas e esquadros, ou softwares para represen-
perpendiculares, fazendo uso de tações de retas paralelas e perpendiculares e construção de quadriláteros, entre outros.
réguas, esquadros e softwares (EF06MA23) Construir algoritmo para resolver situações passo a passo (como na cons-
trução de dobraduras ou na indicação de deslocamento de um objeto no plano segund
pontos de referência e distâncias fornecidas etc.).
Problemas sobre medidas (EF06MA24) Resolver e elaborar problemas que envolvam as grandezas comprimen-
envolvendo grandezas como to, massa, tempo, temperatura, área (triângulos e retângulos), capacidade e volume
comprimento, massa, tempo, (sólidos formados por blocos retangulares), sem uso de fórmulas, inseridos, sempre
temperatura, área, capacidade e que possível, em contextos oriundos de situações reais e/ou relacionadas às outras
volume áreas do conhecimento.
Ângulos: noção, usos e medida (EF06MA25) Reconhecer a abertura do ângulo com grandeza associada às figuras geométricas.
(EF06MA26) Reconhecer problemas que envolvam a noção de ângulo em diferentes contextos
e em situações reais, como ângulo de visão.
(EF06MA27) Determinar medidas da abertura de ângulos, por meio de transferidor e/ou
tecnologias digitais.
Grandezas e Plantas baixas e vistas áeres (EF06MA28) Interpretar, descrever e desenhar plantas baixas simples de residências e vistas aéreas.
medidas Perímetro de um quadrado (EF06MA29) Analisar e descrever mudanças que ocorrem no perímetro e na área de um
como grandeza proporcional à quadrado ao se ampliarem ou reduzirem, igualmente, as medidas de seus lados, para com-
medida do lado preender que o perímetro é proporcional à medida do lado, o que não ocorre com a área.

361
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Cálculo de probabilidade como a (EF06MA30) Calcular a probabilidade de um evento aleatório, expressando-a por
razão entre o número de resul- número racional (forma fracionária, decimal e percentual) e comparar esse número
tados favoráveis e o total de re- com a probabilidade obtida por meio de experimentos sucessivos.
sultados possíveis em um espaço
amostral equiprovável
Cálculo de probabilidade por meio
de muitas repetições de um expe-
rimento (frquências de ocorrên-
cias e probabilidade frequentista)
Leitura e interpretação de (EF06MA31) Identificar as variáveis e suas frequências e os elementos constitutivos
tabelas e gráficos (de colunas (título, eixos, legendas, fontes e datas) em diferentes tipos de gráfico.
ou barras simples ou múltiplas) (EF06MA32) Interpretar e resolver situações que envolvam dados de pesquisas
referentes a variáveis categóricas sobre contextos ambientais, sustentabilidade, trânsito, consumo responsável, entre
Probabi- e variáveis numéricas outros, apresentadas pela mídia em tabelas e em diferentes tipos de gráficos e redi-
lidade e gir textos escritos com o objetivo de sintetizar conclusões.
estatística
Coleta de dados, organização e (EF06MA33) Planejar e coletar dados de pesquisa referente a práticas sociais esco-
registro lhidas pelos alunos e fazer uso de planilhas eletrônicas para registro, representação
Construção de diferentes tipos e interpretação das informações, em tabelas, vários tipos de gráficos e texto.
de gráficos para representá-los e
interpretação das informações
Diferentes tipos de representa- (EF06MA34) Interpretar e desenvolver fluxogramas simples, identificando as rela-
ção de informações: gráficos e ções entre os objetos representados (por exemplo, posição de cidades considerando
fluxogramas as estradas que as unem, hierarquia dos funcionários de uma empresa etc).

Matemática – 7º ano

UNIDADES OBJETOS DE CONHECIMEN-


HABILIDADES
TEMÁTICAS TO
(EF07MA01) Resolver e elaborar problemas com números naturais, envolvendo as
Múltiplos e divisores de um
noções de divisor e de múltiplo, podendo incluir máximo divisor comum ou mínimo
número natural
múltiplo comum, por meio de estratégias diversas, sem a aplicação de algoritmos.
Cálculo de porcentagens e (EF07MA02) Resolver e elaborar problemas que envolvam porcentagens, como os que
de acréscimos e decrésci- lidam com acréscimos e decréscimos simples, utilizando estratégias pessoais, cálculo
mos simples mental e calculadora, no contexto de educação financeira, entre outros.
(EF07MA03) Comparar e ordenar números inteiros em diferentes contextos, incluindo
Números inteiros: usos,
o histórico, associá-los a pontos da reta numérica e utilizá-los em situações que envol-
história, ordenação, asso-
vam adição e subtração.
ciação com pontos da reta
(EF07MA04) Resolver e elaborar problemas que envolvam operações com números
numérica e operações
inteiros.
(EF07MA05) Resolver um mesmo problema utilizando diferentes algoritmos.
(EF07MA06) Reconhecer que as resoluções de um grupo de problemas que têm a mes-
ma estrutura podem ser obtidas utilizando os mesmos procedimentos.
Números Frações e seus significados: (EF07MA07) Representar por meio de um fluxograma os passos utilizados para resolver
como parte de inteiros, um grupo de problemas.
resultado da divisão, razão (EF07MA08) Comparar e ordenar frações associadas às ideias de partes de inteiros,
e operador resultado da divisão, razão e operador.
(EF07MA09) Utilizar, na resolução de problemas, a associação entre razão e fração,
como a fração 2/3 para expressar a razão de duas partes de uma grandeza para três
partes da mesma ou três partes de outra grandeza.
Números racionais na repre- (EF07MA10) Comparar e ordenar números racionais em diferentes contextos e associá-los a
sentação fracionária e na pontos da reta numérica.
decimal: usos, ordenação e (EF07MA11) Compreender e utilizar a multiplicação e a divisão de números racionais, a relação
associação com pontos da entre elas e suas propriedades operatórias.
reta numérica e operações (EF07MA12) Resolver e elaborar problemas que envolvam as operações com números racionais.

362
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

(EF07MA13) Compreender a ideia de variável representada por letra ou símbolo, para expressar
relação entre duas grandezas, diferenciando-a da ideia de incógnita.
Linguagem algébrica: variá- (EF07MA14) Classificar sequências em recursivas e não recursivas, reconhecendo que o concei-
vel e incógnita to de recursão está presente não apenas na matemática, mas também nas artes e na literatura.
(EF07MA15) Utilizar asimbologia algébrica para expressar regularidades encontradas em sequ-
ências numéricas.
Equivalência de expressões
algébricas: identificação da (EF07MA16) Reconhecer se duas expressões algébricas obtidas para descrever a regulari-
regularidade de uma sequ- dade de uma mesma sequência são ou não equivalentes.
ência numérica
Problemas envolvendo
(EF07MA17) Resolver e elaborar problemas que envolvam variação de proporcionalidade
grandezas diretamente
direta de proporcionalidade inversa entre duas grandezas, utilizando sentença algébrica
proporcionais e grandezas
Álgebra para expressar a relação entre elas.
inversamente proporcionais
Equações polinomiais do (EF07MA18) Resolver e elaborar problemas que possam ser representados por equações po-
1º grau linomiais de 1º grau, redutíveis à forma ax+b=c, fazendo uso das propriedades da igualdade.
Transformações geométri-
cas de polígonos no plano
(EF07MA19) Realizar transformações de polígonos representados no plano cartesiano, decorren-
cartesiano: multiplicação
tes da multiplicação das coordenadas de seus vértices por um número inteiro.
das coordenadas por um
(EF07MA20) Reconhecer e representar, no plano cartesiano, o simétrico de figuras em
número inteiro e obtenção
relação aos eixos e à origem.
de simétricos em relação
aos eixos e à origem
(EF07MA21) Reconhecer e construir figuras obitdas por simetrias de translação, rota-
Simetrias de translação, ção e reflexão, usando instrumentos de desenho ou softwares de geometria dinâmica e
rotação e reflexão vincular esse estudo a representações planas de obras de arte, elementos arquitetôni-
cos, entre outros.
(EF07MA22) Construir circunferências, utilizando compasso, reconhecê-las como lugar
A circunferência como lugar
geométrico e utilizá-las para fazer composições artísticas e resolver problemas que
geométrico
envolvam objetos equidistantes.
Relações entre os ângulos
formados por retas parale- (EF07MA23) Verificar relações entre os ângulos formados por retas paralelas cortadas
las intersectadas por uma por uma transversal, com e sem uso de softwares de geometria dinâmica.
transversal
(EF07MA24) Construir triângulos, usando régua e compasso, reconhecer a condição de
existência do triângulo quanto à medida dos lados e verificar que a soma das medidas dos
Triângulos: construção, con- ângulos internos de umtriângulo é 180°.
dição de existência e soma (EF07MA25) Reconhecer a rigidez geométrica dos triângulos e suas aplicações, como
das medidas dos ângulos na construção de estruturas arquitetônicas (telhados, estruturas metálicas e outras) ou
internos nas artes plásticas.
Geometria (EF07MA26) Descrever, por escrito e por meio de um fluxograma, um algoritmo para a
construção de um triângulo qualquer, conhecidas as medidas dos três lados.
(EF07MA27) Calcular medidas de ângulos internos de polígonos regulares, sem o uso
de fórmulas, e estabelecer relações entre ângulos internos e externos de polígonos,
Polígonos regulares: qua- preferencialmente vinculadas à construção de mosaicos e de ladrilhamentos.
drado e triângulo equilátero (EF07MA28) Descrever, por escrito e por meio de um fluxograma, um algoritmo para a
construção de um polígono regular (como quadrado e triângulo equilátero), conhecida
a medida de seu lado.

363
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

(EF07MA29) Resolver e elaborar problemas que envolvam medidas de grandezas in-


Problemas envolvendo
seridos em contextos oriundos de situações cotidianas ou de outras áreas do conheci-
medições
mento, reconhecendo que toda medida empírica é aproximada.
Cálculo de volume de blo-
(EF07MA30) Resolver e elaborar problemas de cálculo de medida do volume de blocos
cos retangulares, utilizando
retangulares, envolvendo as unidades usuais (metro cúbico, decímetro cúbico e centí-
unidades de medida con-
metro cúbico).
vencionais mais usuais
Equivalência de área de
figuras planas: cálculo de (EF07MA31) Estabelecer expressões de cálculo de área de triângulos e de quadriláte-
áreas de figuras que podem ros.
ser decompostas por outras, (EF07MA32) Resolver e elaborar problemas de cálculo de medida de área de figuras
cujas áreas podem ser facil- planas que podem ser decompostas por quadrados, retângulos e/ou triângulos, utili-
Grandezas e mente determinadas como zando a equivalência entre áreas.
medidas triângulos e quadriláteros.
Medida do comprimento da (EF07MA33) Estabelecer o número π como a razão entre a medida de uma circunferência e
circunferência seu diâmetro, para compreender e resolver problemas, inclusive os de natureza historica.
Experimentos aleatórios:
espaço amostral e esti-
(EF07MA34) Planejar e realizar experimentos aleatórios ou simulações que envolvem
mativa de probabilidade
cálculo de probabilidades ou estimativas por meio de frequência de ocorrências.
por meio de frequência de
ocorrências
Estatística: média e ampli- (EF07MA35) Compreender, em contextos significativos, o significado de média estatís-
tude de um conjunto de tica como indicador da tendência de uma pesquisa, calcular seu valor e relacioná-lo,
dados intuitivamente, com a amplitude do conjunto de dados.
Pesquisa amostral e pesqui-
sa censitária
(EF07MA36) Planejar e realizar pesquisa envolvendo tema da realidade social, identifi-
Planejamento de pesquisa,
cando a necessidade de ser censitária ou de usar amostra, e interpretar os dados para
coleta e organização dos da-
comunicá-los por meio de relatório escrito, tabelas e gráficos, com o apoio de planilh-
Probabilidade dos, construção de tabelas
jas eletrônicas.
e estatística e gráficos e interpretação
das informações
Gráficos de setores: inter-
pretação, pertinência e (EF07MA37) Interpretar e analisar dados apresentados em gráficos de setores divulga-
construção para representar dos pela mídia e compreender quando é possível ou conveniente sua utilização.
conjunto de dados

Matemática – 8º ano

UNIDADES OBJETOS DE CONHECIMENTO HABILIDADES


TEMÁTICAS
Notação científica (EF08MA01) Efetuar cálculos com potências de expoentes inteiros e aplicar esse
conhecimento na representação de números em notação científica.
Potenciação e radiação (EF08MA02) Resolver e elaborar problemas usando a relação entre potenciação e
radiciação, para representar uma raiz como potência de expoente fracionário.
O princípio multiplicativo da (EF08MA03) Resolver e elaborar problemas de contagem cuja resolução envolva a
contagem aplicação do princípio multiplicativo.
Porcentagens (EF08MA04) Resolver e elaborar problemas, envolendo cálculo de porcentagens,
Números incluindo o uso de tecnologias digitais.
Dízimas periódicas: fração (EF08MA05) Reconhecer e elaborar problemas que envolvam cálculo do valor numé-
geratriz rico de expressões algébricas, utilizando as propriedades das operações.

364
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Valor numérico de expressões (EF08MA06) Resolver e elaborar problemas que envolvam cálculo do valor numérico
algébricas de expressões algébricas, utilizando as propriedades das operações.
Associação de uma equação (EF08MA07) Associar uma equação linear de 1° grau com duas incógnitas a uma reta
linear de 1° grau a uma reta no no plano cartesiano.
plano cartesiano
Sistemas de equações poli- (EF08MA08) Resolver e elaborar problemas relacionados ao seu contexto próximo, que
nomiais de 1° grau: resolução possam ser representados pro sistemas de equações de 1º grau com duas incógnitas e
algébrica e representação no interpretá-los, utilizando, inclusive, o plano cartesiano como recurso.
plano cartesiano
Equação polinomial de 2° grau (EF08MA09) Resolver e elaborar, com e sem uso de tecnologias, problemas que pos-
do tipo ax²=b sam ser representados por equações polinomiais de 2° grau do tipo ax²=b
Sequências recursivas e não (EF08MA10) Identificar a regularidade de uma sequência numérica ou figural não recursi-
Álgebra recursivas va e construir um algoritmo por meio de um fluoxgrama que permita indicar os números
ou as figuras seguintes.
(EF08MA11) Identificar a regularidade de uma sequência numérica recursiva e construir
uma algoritmo por meio de um fluxograma que permita indicar os números seguintes.
Variação de grandezas: direta- (EF08MA12) Identificar a natureza da variação de duas grandezas, diretamente, inver-
mente proporcionais, inversa- samente proporcionais ou não proporcionais, expressando a relação existente por meio
mente proporcionais ou não de sentença algébrica e representá-la no plano cartesiano.
proporcionais (EF08MA13) Resolver e elaborar problemas que envolvam grandezas diretamente ou
inversamente proporcionais, por meio de estratégias variadas.
Congruência de triângulos e de- (EF08MA14) Demonstrar propriedades de quadriláteros por meio da identificação da
monstrações de propriedades congruência de triângulos.
de quadriláteros
Construções geométricas: (EF08MA15) Construir, utilizando instrumentos de desenho ou softwares de geometria
ângulos de 90°, 60°, 45° e 30 ° e dinâmica, mediatriz, bissetriz, ângulos de 90°, 60°, 45° e 30° e polígonos regulares.
polígonos regulares (EF08MA16) Descrever, por escrito e por meio de um fluxograma, um algoritmo para
a construção de um hexágono regular de qualquer área, a partir da medida do ângulo
central e da utilização de esquadros e compasso.
Geometria Mediatriz e bissetriz como luga- (EF08MA17) Aplicar os conceitos de mediatriz e bissetriz como lugares geométricos
res geométricos: construção e na resolução de problemas.
problemas
Transformações geométricas: si- (EF08MA18) Reconhecer e construir figuras obtidas por composições de transfor-
metrias de translação, reflexão mações geométricas (translação, reflexão e rotação), com o uso de instrumentos de
e rotação desenho ou de softwares de geometria dinâmica.
Área de figuras planas (EF08MA19) Resolver e elaborar problemas que envolvam medidas de área de figuras
Área do círculo e comprimento geométricas, utilizando expressões de cálculo de área (quadriláteros, triângulos e
de sua circunferência círculos), em situações como determinar medida de terrenos.
Volume de bloco retangular (EF08MA20) Reconhecer a relação entre um litro e um decímetro cúbico e a relação entre
Medidas de capacidade litro e metro cúbido, para resolver problemas de cálculo de capacidade de recipientes.
Grandezas e (EF08MA21) Resolver e elaborar problemas que envolvam o cálculo do volume de recipien-
medidas te cujo formato é o de um bloco retangular.

365
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Princípio multiplicativo da (EF08MA22) Calcular a probabilidade de eventos, com base na construção do espaço
contagem amostral, utilizando o princípio multiplicativo, e reconhecer que a soma das probabi-
Soma das probabilidades de to- lidades de todos os elementos do espaço amostral é igual a 1.
dos os elementos de um espaço
amostral
Gráficos de barras, colunas, li- (EF08MA23) Avaliar a adequação de diferentes tipos de gráficos para representar um
nhas ou setores e seus elemen- conjunto de dados de uma pesquisa.
tos constitutivos e adequação
para determinado conjunto de
dados
Organização dos dados de uma (EF08MA24) Classificar as frequências de uma variável contínua de uma pesquisa em
variável contínua em classes classes, de modo que resumam os dados de maneira adequada para a tomada de
decisões.
Probabi-
lidade e Medidas de tendência central e (EF08MA25) Obter os valores de medidas de tendência central de uma pesquisa esta-
estatística de dispersão tística (média, moda e mediana) com a compreensão de seus significados e relacioná-
-los com a dispersão de dados, indicada pela amplitude.

Pesquisas censitária ou amos- (EF08MA26) Selecionar razões de diferentes naturezas (física, ética ou econômica),
tral que justificam a realização de pesquisas amostrais e não censitárias, e reconhecer
Planejamento e execução de que a seleção da amostra pode ser feita de diferentes maneiras (amostra casual sim-
pesquisa amostral ples, sistemática e estratificada).
(EF08MA27) Planejar e executar pesquisa amostral, selecionando uma técnica de
amostragem adequada, e escrever relatório que contenha os gráficos apropriados
para representar os conjuntos de dados, destacando aspectos como as medidas de
tendência central, a amplitude e as conclusões.

Matemática – 9º ano

UNIDADES OBJETOS DE CONHECIMENTO HABILIDADES


TEMÁTICAS
Necessidade dos números reais para (EF09MA01) Reconhecer que, uma vez fixada uma unidade de compri-
medir qualquer segmento de reta mento, existem segmentos de reta cujo comprimento não é expresso por
Números irracionais: reconhecimento e número racional (como as medidas de diagonais de um polígono e alturas
localização de alguns na reta numérica de um triângulo, quando se torna a medida de cada lado como unidade).
(EF09MA02) Reconhecer um número irracional como um número real
cuja representação decimal é infinita e não periódica, e estimar a localiza-
ção de alguns deles na reta numérica.
Potencias com expoentes negativos e (EF09MA03) Efetuar cálculos com números reais, inclusive potências com
fracionários expoentes fracionários.
Números Números reais: notação científica e (EF09MA04) Resolver e elaborar problemas com números reais, inclusive
problemas em notação científica, envolvendo diferentes operações.
Porcentagens: problemas que envolvem (EF09MA05) Resolver e elaborar problemas que envolvam porcentagens,
cálculo de percentuais sucessivos com a ideia de aplicação de percentuais sucessivos e a determinação das
taxas percetuais, preferencialmente com o uso de tecnologias digitais, no
contexto da educação financeira.

366
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Funções: representações numérica, algé- (EF09MA06) Compreender as funções como relações de dependência
brica e gráfica unívoca entre duas variáveis e suas representações numérica, algébrica
e gráfica e utilizar esse conceito para analisar situações que envolvam
relações funcionais entre duas variáveis.
Razão entre grandezas de especíes (EF09MA07) Resolver problemas que envolvam a razão entre duas grande-
diferentes zas de espécies diferentes, como velocidade e densidade demográfica.
Grandezas diretamente proporcionais e (EF09MA08) Resolver e elaborar problemas que envolvam relações de
grandezas inversamente proporcionais proporcionalidade direta e inversa entre duas ou mais grandezas, inclusive
escalas, divisão em partes proporcionais e taxas de variação, em contextos
socioculturais, ambientais e de outras áreas.
Expressões algébricas: fatoração e produ- (EF09MA09) Compreender os processos de fatoração de expressões algé-
tos notáveis bricas, com base em suas relações com os produtos notáveis, para resolver
Resolução de equações polinomiais do 2° e elaborar probleas que possam ser representados por equações polino-
Álgebra grau por meio de fatorações miais do 2° grau.
Demonstrações de relações entre os (EF09MA10) Demonstrar relações simples entre os ângulos formados por
ângulos formados por retas paralelas retas paralelas cortadas por uma transversal.
intersectadas por uma transversal
Relações entre arcos e ângulos na circun- (EF09MA11) Resolver problemas por meio do estabelecimento de rela-
ferência de um círculo ções entre arcos, ângulos centrais e ângulos inscritos na circunferência,
fazendo uso, inclusive, de softwares de geometria dinâmica.
Semelhança de triângulos (EF09MA12) Reconhecer as condições necessárias e sufucientes para que
dois triângulos sejam semelhantes.
Relações métricas no triângulo retângulo (EF09MA13) Demonstrar relações métricas do triângulo retângulo, entre
Teorema de Pitágoras: verificações expe- elas o teorema de Pitágoras, utilizando, inclusive, a semelhança de triân-
rimentais e demonstração gulos.
Retas parelas cortadas por transversais: (EF09MA14) Resolver e elaborar problemas de aplicação do teorema de
teoremas de proporcionalidade e verifi- Pitágoras ou das relações de proporcionalidade envolvendo retas parale-
cações experimentais las cortadas por secantes.
Geometria
Polígonos regulares (EF09MA15) Descrever, por escrito e por meio de um fluxograma, um
algoritmo para a construção de um polígono regular cuja medida do lado
é conhecida, utilizando régua e compasso, como também softwares.
Distância entre prontos no plano carte- (EF09MA16) Determinar o ponto médio de um segmento de reta e a dis-
siano tância entre dois pontos quaisquer, dadas as coordenadas desses pontos
no plano cartesiano, sem o uso de fórmulas, e utilizar esse conhecimento
para calcular, por exemplo, medidas de perímetros e áreas de figuras
planas construídas no plano.
Vistas ortogonais de figuras espaciais (EF09MA17) Reconhecer vistas ortogonais de figuras espaciais e aplicar
esse conhecimento para desenhar objetos em perspectiva.
Unidades de medida para medir distân- (EF09MA18) Reconhecer e empregar unidades usadas para expressar
cias muito grandes e muito pequenas medidas muito grandes ou muito pequenas, tais como distância entre
Unidades de medida utilizadas na infor- planetas e sistemas solares, tamanho de vírus ou de células, capacidade
mática de armazenamento de computadores, entre outros.
Volume de prismas e cilindros (EF09MA19) Resolver e elaborar problemas que envolvam medidas de
Grandezas e volumes de prismas e de cilindros retos, inclusive com uso de expressões
medidas de cálculo, em situações cotidianas.

367
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Análise de probabilidade de eventos (EF09MA20) Reconhecer, em experimentos aleatórios, eventos indepen-


aleatórios: eventos dependentes e inde- dentes e dependentes e calcular a probabilidade de sua ocorrência, nos
pendentes dois casos.
Análise de gráficos dibulgados pela (EF09MA21) Analisar e identificar, em gráficos divulgados pela mídia, os
mídia: elementos que podem induzir a elementos que podem induzir, às vezes propositadamente, erros de leitu-
erros de leitura ou de interpretação ra, como escalas inapropriadas, legendas não explicitadas corretamente,
omissão de informações importantes (fontes e datas), entre outros.
Leitura, interpretação e representação de (EF09MA22) Escolher e construir o gráfico mais adequado (colunas, seto-
dados de pesquisa expressos em tabelas res, linhas), com ou sem uso de planilhas eletrônicas, para apresentar um
Probabilidade de dupla entrada, gráficos de colunas determinado conjunto de dados, destacando aspectos como as medidas
e estatística simples e agrupadas, gráficos de barras e de tendência central.
de setores e gráficos pictóricos.
Planejamento e execução de pesquisa (EF09MA23) Planejar e executar pesquisa amostral envolvendo tema da
amostral e apresentação de relatório realidade social e comunicar os resultados por meio de relatório conten-
do avaliação de medidas de tendência central e da amplitude, tabelas e
gráficos adequados, construídos com o apoio de planilhas eletrônicas.

— Competências Específicas de Matemática e suas Tecnologias para o Ensino Médio


1. Utilizar estratégias, conceitos e procedimentos matemáticos para interpretar situações em diversos contextos, sejam atividades
cotidianas, sejam fatos das Ciências da Natureza e Humanas, das questões socioeconômicas ou tecnológicas, divulgados por diferentes
meios, de modo a contribuir para uma formação geral.
2. Propor ou participar de ações para investigar desafios do mundo contemporâneo e tomar decisões éticas e socialmente responsá-
veis, com base na análise de problemas sociais, como os voltados a situações de saúde, sustentabilidade, das implicações da tecnologia no
mundo do trabalho, entre outros, mobilizando e articulando conceitos, procedimentos e linguagens próprios da Matemática.
3. Utilizar estratégias, conceitos, definições e procedimentos matemáticos para interpretar, construir modelos e resolver problemas
em diversos contextos, analisando a plausibilidade dos resultados e a adequação das soluções propostas, de modo a construir argumen-
tação consistente.
4. Compreender e utilizar, com flexibilidade e precisão, diferentes registros de representação matemáticos (algébrico, geométrico,
estatístico, computacional etc.), na busca de solução e comunicação de resultados de problemas.
5. Investigar e estabelecer conjecturas a respeito de diferentes conceitos e propriedades matemáticas, empregando estratégias e
recursos, como observação de padrões, experimentações e diferentes tecnologias, identificando a necessidade, ou não, de uma demons-
tração cada vez mais formal na validação das referidas conjecturas.

Competência Específica 1
Utilizar estratégias, conceitos e procedimentos matemáticos para interpretar situações em diversos contextos, sejam atividades
cotidianas, sejam fatos das Ciências da Natureza e Humanas, das questões socioeconômicas ou tecnológicas, divulgados por diferentes
meios, de modo a contribuir para uma formação geral.
O desenvolvimento dessa competência específica, que é bastante ampla, pressupõe habilidades que podem favorecer a interpretação
e compreensão da realidade pelos estudantes, utilizando conceitos de diferentes campos da Matemática para fazer julgamentos bem
fundamentados.
Essa competência específica contribui não apenas para a formação de cidadãos críticos e reflexivos, mas também para a formação
científica geral dos estudantes, uma vez que prevê a interpretação de situações das Ciências da Natureza ou Humanas. Os estudantes
deverão, por exemplo, ser capazes de analisar criticamente o que é produzido e divulgado nos meios de comunicação (livros, jornais,
revistas, internet, televisão, rádio etc.), muitas vezes de forma imprópria e que induz a erro: generalizações equivocadas de resultados de
pesquisa, uso inadequado da amostragem, forma de representação dos dados – escalas inapropriadas, legendas não explicitadas correta-
mente, omissão de informações importantes (fontes e datas), entre outros.

HABILIDADES
(EM13MAT101) Interpretar criticamente situações econômicas, sociais e fatos relativos às Ciências da Natureza que envolvam a variação
de grandezas, pela análise dos gráficos das funções representadas e das taxas de variação, com ou sem apoio da tecnologias digitais.
(EM13MAT102) Analisar tabelas, gráficos e amostras de pesquisas estatísticas apresentadas em relatórios divulgados por diferentes
meios de comunicação, identiicando, quando for o caso, inadequações que possam Induzir a erros de nterpretação, como escalas e
amostras não apropriadas.
(EM13MAT103) Interpretar e compreender textos científicos ou divulgados pelas mídias, que empregam unidades de medida de dife-
rentes grandezas e as conversões possíveis entre elas, adotadas ou nãp pelo Sistema Internacional (SI), como as de armazenamento
e velocidade de transferência da dados, ligadas aos avanços tecnológicos.

368
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

(EM13MAT104) Interpretar taxas e índices de natureza socioeconômica (índice de desenvolvimento humano, taxas de inflação, entre
outros), investigando os processos de cálculo desses números, para analisar criticamente a realidade e produzir argumentos.
(EM13MAT105) Utilizar as noções de transformações isométricas (translação, reflexão, rotação e composições destas) e transforma-
ções homotéticas para construir figuras e analisar elementos da natureza e diferentes produções humanas (fractais, construções civis,
obras de arte, entre outras)
(EM13MAT106) Identificar situações da vida cotidiana nas quais seja necessário fazer escolhas levando-se em conta os riscos probabi-
lísticos (usar esta ou aquele método contraceptivo, optar por um tratamento médico em detrimento de outro etc).

Competência Específica 2
Propor ou participar de ações para investigar desafios do mundo contemporâneo e tomar decisões éticas e socialmente responsá-
veis, com base na análise de problemas sociais, como os voltados a situações de saúde, sustentabilidade, das implicações da tecnologia
no mundo do trabalho, entre outros, mobilizando e articulando conceitos, procedimentos e linguagens próprios da Matemática.
Essa competência específica amplia a anterior por colocar os estudantes em situações nas quais precisam investigar questões de im-
pacto social que os mobilizem a propor ou participar de ações individuais ou coletivas que visem solucionar eventuais problemas.
O desenvolvimento dessa competência específica prevê ainda que os estudantes possam identificar aspectos consensuais ou não na
discussão tanto dos problemas investigados como das intervenções propostas, com base em princípios solidários, éticos e sustentáveis,
valorizando a diversidade de opiniões de grupos sociais e de indivíduos e sem quaisquer preconceitos. Nesse sentido, favorece a interação
entre os estudantes, de forma cooperativa, para aprender e ensinar Matemática de forma significativa.
Para o desenvolvimento dessa competência, deve-se também considerar a reflexão sobre os distintos papéis que a educação mate-
mática pode desempenhar em diferentes contextos sociopolíticos e culturais, como em relação aos povos e comunidades tradicionais do
Brasil, articulando esses saberes construídos nas práticas sociais e educativas.

HABILIDADES
(EM13MAT201) Propor ou participar de ações adequadas às demandas da região, preferencialmente para sua comunidade, envolven-
do medições e cálculos de perímetro, de área, de volume, de capacidade ou de massa.
(EM13MAT202) Planejar e executar pesquisa amostral sobre questões relevantes, usando dados coletados diretamente ou em diferen-
tes fontes, e comunicar os resultados por meio de relatório contendo gráficos e interpretação das medidas de tendência central e das
medidas de dispersão (amplitude e desvio padrão), utilizando ou não recursos tecnológicos.
(EM13MAT203) Aplicar conceitos matemáticos no planejamento, na execução e na análise de ações envolvendo a utilização de apli-
cativos e a criação de planilhas (para o controle de orçamento famiíliar, simuladores de cálculos de juros simples e compostos, entre
outros), para tomar decisões.

Competência Específica 3
Utilizar estratégias, conceitos, definições e procedimentos matemáticos para interpretar, construir modelos e resolver problemas
em diversos contextos, analisando a plausibilidade dos resultados e a adequação das soluções propostas, de modo a construir argu-
mentação consistente.
As habilidades indicadas para o desenvolvimento dessa competência específica estão relacionadas à interpretação, construção de
modelos, resolução e formulação de problemas matemáticos envolvendo noções, conceitos e procedimentos quantitativos, geométricos,
estatísticos, probabilísticos, entre outros.
No caso da resolução e formulação de problemas, é importante contemplar contextos diversos (relativos tanto à própria Matemática,
incluindo os oriundos do desenvolvimento tecnológico, como às outras áreas do conhecimento). Não é demais destacar que, também no
Ensino Médio, os estudantes devem desenvolver e mobilizar habilidades que servirão para resolver problemas ao longo de sua vida – por
isso, as situações propostas devem ter significado real para eles. Nesse sentido, os problemas cotidianos têm papel fundamental na escola
para o aprendizado e a aplicação de conceitos matemáticos, considerando que o cotidiano não se refere apenas às atividades do dia a dia
dos estudantes, mas também às questões da comunidade mais ampla e do mundo do trabalho.
Deve-se ainda ressaltar que os estudantes também precisam construir significados para os problemas próprios da Matemática.
Para resolver problemas, os estudantes podem, no início, identificar os conceitos e procedimentos matemáticos necessários ou os
que possam ser utilizados na chamada formulação matemática do problema. Depois disso, eles precisam aplicar esses conceitos, executar
procedimentos e, ao final, compatibilizar os resultados com o problema original, comunicando a solução aos colegas por meio de argu-
mentação consistente e linguagem adequada.
No entanto, a resolução de problemas pode exigir processos cognitivos diferentes. Há problemas nos quais os estudantes deverão
aplicar de imediato um conceito ou um procedimento, tendo em vista que a tarefa solicitada está explícita. Há outras situações nas quais,
embora essa tarefa esteja contida no enunciado, os estudantes deverão fazer algumas adaptações antes de aplicar o conceito que foi
explicitado, exigindo, portanto, maior grau de interpretação.
Há, ainda, problemas cujas tarefas não estão explícitas e para as quais os estudantes deverão mobilizar seus conhecimentos e habili-
dades a fim de identificar conceitos e conceber um processo de resolução. Em alguns desses problemas, os estudantes precisam identifi-
car ou construir um modelo para que possam gerar respostas adequadas.

369
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

Esse processo envolve analisar os fundamentos e proprieda- (EM13MAT309) Resolver e elaborar problemas que envolvem
des de modelos existentes, avaliando seu alcance e validade para o cálculo de áreas totais e de volumes de prismas, pirâmides e
o problema em foco. Essa competência específica considera esses corpos redondos em situações reais (como o cálculo do gasto
diferentes tipos de problemas, incluindo a construção e o reconhe- de material para revestimento ou pinturas de objetos cujos for-
cimento de modelos que podem ser aplicados. matos sejam composições dos sólidos estudados), com ou sem
Convém reiterar a justificativa do uso na BNCC de “Resolver e apoio de tecnologias digitais.
Elaborar Problemas” em lugar de “Resolver Problemas”. Essa opção
amplia e aprofunda o significado dado à resolução de problemas: a (EM13MAT310) Resolver e elaborar problemas de contagem
elaboração pressupõe que os estudantes investiguem outros pro- envolvendo agrupamentos ordenáveis ou não de elementos,
blemas que envolvem os conceitos tratados; sua finalidade é tam- por meio dos princípios multiplicativo e aditivo, recorrendo a
bém promover a reflexão e o questionamento sobre o que ocor- estratégias diversas, como o diagrama de árvore.
reria se algum dado fosse alterado ou se alguma condição fosse (EM13MAT311) Identificar e descrever o espaço amostral de
acrescentada ou retirada. eventos aleatórios, realizando contagem das possibilidades,
Cabe ainda destacar que o uso de tecnologias possibilita aos para resolver e elaborar problemas que envolvem o cálculo da
estudantes alternativas de experiências variadas e facilitadoras de probabilidade.
aprendizagens que reforçam a capacidade de raciocinar logicamen-
te, formular e testar conjecturas, avaliar a validade de raciocínios e (EM13MAT312) Resolver e elaborar problemas que envolvem o
construir argumentações. cálculo de probabilidade de eventos em experimentos aleatórios
sucessivos.

HABILIDADES (EMISMAT313) Utilizar, quando necessário, a notação científica


para expressar uma medida, compreendendo as noções de al-
(EM13MAT301) Resolver e elaborar problemas do cotidiano, da garismos significativos e algarismos duvidosos, e reconhecendo
Matemática e de outras áreas do conhecimento, que envolvem que toda medida é inevitavelmente acompanhada de erro.
equações lineares simultâneas, usando técnicas algébricas e
gráficas, com ou sem apoio de tecnologias digitais. (EM13MAT314) Resolver e elaborar problemas que envolvem
grandezas determinadas pela razão ou pelo produto de outras
(EM13MAT302) Construir modelos empregando as funções poli- (velocidade, densidade demográfica, energia elétrica etc.).
nomiais de 1º ou 2º graus, para resolver problemas em contex-
tos diversos, com ou sem apoio de tecnologias digitais. (EM13MAT315) Investigar e registrar, por meio de um fluxogra-
ma, quando possível, um algoritmo que resolve um problema.
(EM13MAT303) Interpretar e comparar situações que envolvam
juros simples com as que envolvem juros compostos, por meio (EM13MAT316) Resolver e elaborar problemas, em diferentes
de representações gráficas ou análise de planilhas, destacando o contextos, que envolvem cálculo e interpretação das medidas
crescimento linear ou exponencial de cada caso. de tendência central (média, moda, mediana) e das medidas de
dispersão (amplitude, variância e desvio padrão).
(EM13MAT304) Resolver e elaborar problemas com funções ex-
ponenciais nos quais seja necessário compreender e interpretar Competência Específica 4
a variação das grandezas envolvidas, em contextos como o da Compreender e utilizar, com flexibilidade e precisão, diferen-
Matemática Financeira, entre outros. tes registros de representação matemáticos (algébrico, geométri-
(EM13MAT305) Resolver e elaborar problemas com funções co, estatístico, computacional etc.), na busca de solução e comu-
logaritmicas nos quais seja necessário compreender e interpre- nicação de resultados de problemas.
tar a variação das grandezas envolvidas, em contextos como os As habilidades vinculadas a essa competência específica tra-
de abalos sísmicos, pH, radioatividade, Matemática Financeira, tam da utilização das diferentes representações de um mesmo ob-
entre outros. jeto matemático na resolução de problemas em vários contextos,
como os socioambientais e da vida cotidiana, tendo em vista que
(EM13MAT306) Resolver e elaborar problemas em contextos
elas têm um papel decisivo na aprendizagem dos estudantes. Ao
que envolvem fenômenos periódicos reais (ondas sonoras, fases
conseguirem utilizar as representações matemáticas, compreender
da lua, movimentos cíclicos, entre outros) e comparar suas re-
as ideias que elas expressam e, quando possível, fazer a conver-
presentações com as funções seno e cosseno, no plano cartesia-
são entre elas, os estudantes passam a dominar um conjunto de
no, com ou sem apoio de aplicativos de álgebra e geometria.
ferramentas que potencializa de forma significativa sua capacidade
(EM13MAT307) Empregar diferentes métodos para a obten- de resolver problemas, comunicar e argumentar; enfim, ampliam
ção da medida da área de uma superfície (reconfigurações, sua capacidade de pensar matematicamente. Além disso, a análise
aproximação por cortes etc.) e deduzir expressões de cálculo das representações utilizadas pelos estudantes para resolver um
para aplicá-las em situações reais (como o remanejamento e a problema permite compreender os modos como o interpretaram e
distribuição de plantações, entre outros), com ou sem apoio de como raciocinaram para resolvê-lo.
tecnologias digitais. Portanto, para as aprendizagens dos conceitos e procedimen-
(EM13MAT308) Aplicar as relações métricas, incluindo as leis do tos matemáticos, é fundamental que os estudantes sejam estimu-
seno e do cosseno ou as noções de congruência e semelhança, lados a explorar mais de um registro de representação sempre que
para resolver e elaborar problemas que envolvem triângulos, em possível. Eles precisam escolher as representações mais convenien-
variados contextos. tes a cada situação, convertendo-as sempre que necessário. A con-
versão de um registro para outro nem sempre é simples, apesar de,

370
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

muitas vezes, ser necessária para uma adequada compreensão do apenas com argumentos empíricos, mas deve trazer também ar-
objeto matemático em questão, pois uma representação pode faci- gumentos mais “formais”, incluindo a demonstração de algumas
litar a compreensão de um aspecto que outra não favorece. proposições.
Tais habilidades têm importante papel na formação matemáti-
HABILIDADES ca dos estudantes, para que construam uma compreensão viva do
que é a Matemática, inclusive quanto à sua relevância. Isso significa
(EM13MAT401) Converter representações algébricas de funções percebê-la como um conjunto de conhecimentos inter-relaciona-
polinomiais de 1º grau em representações geométricas no plano dos, coletivamente construído, com seus objetos de estudo e mé-
cartesiano, distinguindo os casos nos quais o comportamento é todos próprios para investigar e comunicar seus resultados teóricos
proporcional, recorrendo ou não a softwares ou aplicativos de ou aplicados. Igualmente significa caracterizar a atividade matemá-
álgebra e geometria dinâmica. tica como atividade humana, sujeita a acertos e erros, como um
(EM13MAT402) Converter representações algébricas de funções processo de buscas, questionamentos, conjecturas, contraexem-
polinomiais de 2º grau em representações geométricas no plano plos, refutações, aplicações e comunicação.
cartesiano, distinguindo os casos nos quais uma variável for Para tanto, é indispensável que os estudantes experimentem
diretamente proporcional ao quadrado da outra, recorrendo ou e interiorizem o caráter distintivo da Matemática como ciência, ou
não a softwares ou aplicativos de álgebra e geometria dinâmica, seja, a natureza do raciocínio hipotético-dedutivo, em contraposi-
entre outros materiais. ção ao raciocínio hipotético-indutivo, característica preponderante
de outras ciências.
(EM13MAT403) Analisar e estabelecer relações, com ou sem
apoio de tecnologias digitais, entre as representações de
funções exponencial e logarítmica expressas em tabelas e em HABILIDADES
plano cartesiano, para identificar as características fundamentais (EM13MAT501) Investigar relações entre númeras expressos em
(domínio, tabelas para representá-los no plano cartesiano, identifican-
imagem, crescimento) de cada função. do padrões e criando conjecturas para generalizar e expressar
(EM13MAT404) Analisar funções definidas por uma ou mais algebricamente essa generalização, reconhecendo quando essa
sentenças (tabela do Imposto de Renda, contas de luz, água, gás representação é de função polinamial de 1º grau.
etc.), em suas representações algébrica e gráfica, identificando (EM13MAT502) Investigar relações entre números expressos
domínios de validade, imagem, crescimento e decrescimento, e em tabelas para representá-los no plano cartesiano, identifican-
convertendo essas representações de uma para outra, com ou do padrões e criando conjecturas para generalizar e expressar
sem apoio de tecnologias digitais. algebricamente essa generalização, reconhecendo quando essa
(EM13MAT405) Utilizar conceitos iniciais de uma linguagem representação é de função polinomial de 2º grau da tipo y = ax2.
de programação na implementação de algoritmos escritos em (EM13MAT503) Investigar pontos de máximo ou de mínimo
linguagem corrente e/ou matemática. de funções quadráticas em contextos envolvendo superfícies,
(EM13MAT406) Construir e interpretar tabelas e gráficos de Matemática Financeira ou Cinemática, entre outros, com apoio
frequências com base em dados obtidos em pesquisas por de tecnologias digitais.
amostras estatísticas, incluindo ou não o uso de softwares que (EM13MAT504) Investigar processos de obtenção da medida
inter-relacionem estatística, geometria e álgebra. do volume de prismas, pirâmides. cilindros e cones, incluindo o
(EM13MAT407) Interpretar e comparar conjuntos de dados principio de Cavalieri, para a obtenção das fórmulas de cálculo
estatísticos por meio de diferentes diagramas e gráficos (his- da medida do volume dessas figuras.
tograma, de caixa (box-plot), de ramos e folhas, entre outros), (EM13MAT505) Resolver problemas sobre ladrilhamento do
reconhecendo os mais eficientes para sua análise. plano, com ou sem apoio de aplicativos de geometria dinâmica,
para conjecturar a respeito dos tipos ou composição de poligo-
Competência Específica 5 nos que podem ser utilizados em ladrilhamento, generalizando
Investigar e estabelecer conjecturas a respeito de diferentes padrões
conceitos e propriedades matemáticas, empregando estratégias observados.
e recursos, como observação de padrões, experimentações e dife-
(EM13MAT506) Representar graficamente a variação da área e
rentes tecnologias, identificando a necessidade, ou não, de uma
do perímetro de um polígono regular quando os comprimen-
demonstração cada vez mais formal na validação das referidas
tos de seus lados variam, analisando e classificando as funções
conjecturas.
envolvidas.
O desenvolvimento dessa competência específica pressupõe
um conjunto de habilidades voltadas às capacidades de investi- (EM13MAT507) ldentificar e associar progressões aritméticas
gação e de formulação de explicações e argumentos, que podem (PA) a funções afins de domínios discretos, para análise de
emergir de experiências empíricas – induções decorrentes de inves- propriedades, dedução de algumas fórmulas e resolução de
tigações e experimentações com materiais concretos, apoios visu- problemas.
ais e a utilização de tecnologias digitais, por exemplo. Ao formular
conjecturas com base em suas investigações, os estudantes devem
buscar contraexemplos para refutá-las e, quando necessário, pro-
curar argumentos para validá-las. Essa validação não pode ser feita

371
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

(EM13MAT508) Identificar e associar progressões geométricas ções culturais e históricas, sendo que a função do instrumento é
(PG) a funções exponenciais de domínios discretos, para análise servir como condutor da influência humana sobre o objeto da ativi-
de propriedades, dedução de algumas fórmulas e resolução de dade; ele é orientado externamente; deve necessariamente levar a
problemas. mudanças nos objetos.
Constitui um meio pelo qual a atividade humana externa é diri-
(EM13MAT509) Investigar a deformação de ângulos e áreas gida para o controle e domínio da natureza. O signo, por outro lado,
provocada pelas diferentes projeções usadas em cartografia não modifica em nada o objeto da operação psicológica. Constitui
(como a cilindrica e a cônica), com ou sem suporte de tecnologia um meio da atividade interna dirigido para o controle do próprio
digital. indivíduo; o signo é orientado internamente.
(EM13MAT510) Investigar conjuntos de dados relativos ao com- Vigotski destaca a orientação externa do instrumento e a orien-
partamento de duas variáveis numéricas, usando ou não tecno- tação interna do signo na atividade humana. O conceito de ativida-
logias da informação, e, quando apropriado, levar em conta a de, desta forma, ganha importância na proposição da teoria históri-
variação e utilizar uma reta para descrever a relação observada. co-cultural ao definir uma forma intencional de relação do homem
com o mundo. Infelizmente, Vigotski na sua curta vida (1896-1934)
(EM13MAT511) Reconhecer à existância de diferentes tipos de não aprofundou seus estudos sobre tal conceito, o que foi feito pos-
espaços amostrais, discretos ou não, e de eventos equiprováveis teriormente por Leontiev.
ou não, e investigar implicações no cálculo de probabilidades. Leontiev define a atividade como sendo um processo psicológi-
co. Assim, o primeiro ponto que devemos atentar quando falamos
do conceito de atividade, a partir da teoria histórico-cultural, é que
A TEORIA HISTÓRICO - CULTURAL E SUAS IMPLICA- a atividade não é sinônimo de ação, de fazer algo. Embora envol-
ÇÕES NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA va ações, a atividade enquanto um processo psicológico é bastante
mais abrangente. Em primeiro lugar, a atividade humana parte de
uma intencionalidade, tem um motivo para acontecer.
A Teoria Histórico-Cultural tem suas bases nas produções de Esse motivo se relaciona com a necessidade que faz nascer a
Vigotski, psicólogo russo que viveu na primeira metade do século atividade. Assim, podemos dizer que toda atividade humana parte
XX e que se propôs a construir uma nova psicologia que superasse de uma necessidade e esta, por sua vez, pode ser satisfeita com o
o que ele entendia como abordagens empíricas ou idealistas da psi- objeto que será produzido ao longo da atividade e que, ao mesmo
cologia. Tomando como objeto de investigação o desenvolvimento tempo, se transforma em objetivo a ser alcançado e motivo que im-
do psiquismo, Vigotski parte de uma base marxista ao assumir a pulsiona a atividade. Para atingir a esse objetivo, o homem planeja
constituição do humano no homem a partir da sua vida social, suas intencionalmente ações que possam garantir a sua realização.
vivências ou, de forma mais geral, a atividade humana socialmente Para exemplificar a ideia de atividade, Leontiev apresenta a si-
significativa11. tuação de um estudante lendo um livro, preparando-se para uma
Nesse processo, vamos nos apropriando de elementos da pro- prova e propõe imaginarmos que o professor avise à turma que
dução humana acumulada ao longo da história e que se objetiva na o livro não será mais objeto de avaliação. Nessa situação, podem
forma de conceitos, conhecimentos, valores, arte, etc., porém, ao acontecer duas coisas: o estudante pode parar a leitura ou, ten-
longo do desenvolvimento humano, a apropriação dessa produção do se interessado pelo conteúdo do livro, continue lendo-o mesmo
histórica não se dá de forma natural. A constituição do humano só que não seja para a prova.
é possível na relação com o outro, no meio social em que está inse- Leontiev defende que apenas a segunda situação caracterizaria
rido, por meio de um processo mediado de apropriação da cultura a atividade uma vez que a ação de leitura do estudante coincidiria
humana. com o motivo que o induzia a ler, ou seja, o conteúdo do livro. Um
O conceito de mediação é essencial para compreendermos, aspecto essencial nessa compreensão da estrutura do conceito de
nesta perspectiva teórica, a apropriação dos sujeitos de uma hu- atividade é o que a motiva, seu motivo, e a relação do motivo com
manidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto o sentido pessoal da atividade.
de homens. Assim, a mediação é elemento fundamental na cons- Ao discutir a motivação da atividade, Leontiev diferencia o mo-
tituição do humano, uma vez que permite a este se apropriar da tivo compreensível do motivo eficaz. Para entendermos essa dife-
produção histórica e social da humanidade ao agir sobre a realidade renciação, vamos retomar o exemplo do estudante que apresenta-
de forma mediada por instrumentos e signos produzidos cultural- mos a pouco. Se o estudante começou a ler o livro sob a demanda
mente. do professor, por um motivo criado externamente pelo professor, a
Tais ideias iniciais, porém, potencialmente inovadoras na com- leitura não foi motivada inicialmente pelo conteúdo do livro e, nes-
preensão do psiquismo humano, levam Vigotski a investigar a cons- se caso, temos um motivo compreensível para o sujeito, mas que
tituição desse psiquismo humano a partir da sua gênese na criança não é suficiente para motivar autonomamente a atividade.
e, por isso, o pesquisador assume a unidade dialética entre o pen- No entanto, é possível que no decorrer da leitura o conteúdo
samento e a linguagem nesse processo. do livro tenha se tornado significativo o suficiente para o estudante
Nessa compreensão, a criança vai humanizando-se ao longo da de modo que ele queria continuar a ler mesmo que o motivo exter-
sua vida social, na atividade especificamente humana que é sempre no ser objeto de avaliação deixe de existir. Assim, o que se iniciou a
significada e mediada por signos e instrumentos que são constru- partir de um motivo compreensível passa a existir com um motivo
11 Flávia Dias de Souza, Vanessa Dias Moretti. Teoria Histórico-Cultural e eficaz. Ou seja, na situação descrita, um motivo inicialmente com-
Educação Matemática: diálogos possíveis na formação de professores. Revista preensível transformou-se em motivo eficaz, no próprio curso da
Venezolana de Investigación en Educación Matemática (REVIEM), 1(2), 2021, atividade do sujeito, à medida que o resultado da ação (ler) foi mais
pp. 1-26 - e202106. significativo para o sujeito do que o motivo que o levou a agir.

372
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

A mudança de motivo compreensível para motivo eficaz fre- Segundo enuncia Davydov, Vygotski avançou para a necessida-
quentemente se manifesta em situações de formação continuada de de diferenciar os conceitos discursivo-empíricos (representações
de professores. Não raro, há professores que começam um curso gerais) e os conceitos teóricos, genuinamente científicos. Segundo
de formação motivados pela certificação que será oferecida e que ele, a diferença determinante dos conceitos usuais e científicos ba-
impacta na progressão de carreira na educação básica. Sem dúvida, seava-se não em seu conteúdo objetivo, mas no método e nas vias
o desejo da certificação é legítimo e tem relação com as condições de assimilação, sendo os conceitos científicos aqueles obtidos na
objetivas de trabalho e profissionalidade docente. escola.
O problema é quando esse é o único motivo para participar do Para Rubtsov o conhecimento empírico é elaborado ao se com-
curso, quando o motivo não tem relação com o conteúdo que será parar os objetos às suas representações, baseando-se centralmente
abordado. Temos acompanhado situações nas quais, embora de- na observação, enquanto o conhecimento teórico sustenta-se nas
terminado professor tenha iniciado a formação motivado pela cer- relações entre as coisas, suas ligações internas, superando repre-
tificação, no decorrer das ações propostas o professor reconhece sentações sensoriais. No caso do saber teórico, essa concretização
que os resultados obtidos (junto a seus estudantes) é significativo exige a transformação do saber em uma teoria desenvolvida através
frente a seus desafios cotidianos como docente e, assim, reavalia de uma dedução e uma explicação das manifestações concretas do
o motivo para participar da formação. Nesse processo, um motivo sistema, a partir da base fundamental.
que inicialmente era compreensível, acaba se transformando em Utilizando-se de um estudo com estudantes de matemática
um motivo eficaz no curso da atividade do professor, desencadeada em situações de resolução de problemas, Semenova discute o de-
pela proposta de formação continuada. senvolvimento do pensamento teórico considerando-o como um
O motivo tem sempre relação com o sentido pessoal que o su- processo que envolve reflexão, análise e o plano interior das ações.
jeito atribui à atividade, o qual, por sua vez, é algo que é produ- Segundo a autora, o pensamento teórico, comporta, antes de mais
zido ao longo da vida, das experiências, das atividades humanas. nada, a reflexão. Essa consiste na descoberta, por parte do sujeito,
Tal caráter faz com que o sentido de algo não possa ser ensinado das razões de suas ações e de sua correspondência com as condi-
a alguém. Porém, embora não possa ser ensinado, o sentido pode ções do problema.
ser educado e sua unidade com o significado social é possível na Segue-se a análise do conteúdo do problema. Visa levantar o
unidade entre a educação e o ensino. princípio ou modo universal para a sua resolução, a fim de poder
O encontro entre o sentido pessoal e o significado social se dá transferi-lo para toda uma classe de problemas análogos. Por fim,
na atividade humana na qual é possível a apropriação pelo sujeito é o plano interior das ações que assegura a sua planificação e a sua
tanto de instrumentos materiais quanto sistemas de significação efetivação mental. Desse entendimento decorre que, a aprendiza-
que são resultados da produção humana histórica. De forma mais gem conceitual, entendida como a apropriação do conhecimento
ampla, a significação é a generalização da realidade que é crista- científico elaborado, constitui-se pela via do desenvolvimento do
lizada e fixada num vetor sensível, ordinariamente a palavra ou a pensamento teórico.
locução. É a forma ideal, espiritual da cristalização da experiência e Nesse sentido, partindo-se da compreensão de que a escola é
da prática social da humanidade. A sua esfera das representações o ambiente propício ao desenvolvimento do pensamento teórico,
de uma sociedade, a sua ciência, a sua língua, existem enquanto entende-se que a docência necessita ser compreendida como ati-
sistemas de significação correspondentes. vidade.
O sentido pessoal e a significação social estão intrinsecamente
ligados uma vez que, embora a significação tenha um caráter mais — Teoria Histórico-Cultural e Educação Matemática: Alguns
geral, relacionado à experiência humana histórica, ela não existe in- diálogos possíveis na formação de professores
dependente dos sujeitos. Daí a relação dialética entre sentido e sig- Ao investigarmos processos de formação inicial ou continuada
nificado, a qual traz implicações para a organização da atividade de de professores que ensinam Matemática sob as lentes teóricas da
ensino e para a formação de professores uma vez que o significado perspectiva histórico-cultural, busca-se fazê-lo em coerência com o
se aproxima da ideia do objeto a ser ensino, porém só se objetiva na método dialético que assume que é somente em movimento que
atividade de ensino por meio da apropriação que se dá na atividade um corpo mostra o que é. Visando desencadear o movimento do
coletiva e na produção de sentidos pessoais sobre tal objeto. fenômeno a ser estudado, muitas pesquisas têm adotado como
Nessa perspectiva, entende-se que os conhecimentos esco- estratégia metodológica o experimento formativo. Alguns autores
lares preservam significados históricos e culturais, produzidos no têm optado por chamá-lo de experimento didático quando voltado
processo humano de resolver problemas de ordem coletiva, com- ao campo da formação docente.
preende-se que a educação escolar é o ambiente propício para a Nas pesquisas sobre formação de professores, a utilização do
apropriação de elementos essenciais de uma determinada forma experimento formativo permite ao pesquisador propor ações no
de conhecimento, ou seja, de apropriação dessa significação social. sentido de provocar a emergência do fenômeno a ser investiga-
Dessa forma, compreende-se que ao educar em Matemática, se do e intervir de modo a acompanhar o movimento de formação
educa com a Matemática, no sentido de que esta forma específica desencadeado no espaço coletivo. Além disso, ao acompanhar o
de conhecimento revela em si um modo humano de produzir sig- movimento de formação em experimentos formativos por meio de
nificado. intervenções intencionais o pesquisador atua no caráter fossilizado
A apropriação teórica desses significados historicamente pro- de certos comportamentos criando condições para que esses re-
duzidos é compreendida por Leontiev na medida em que o sujeito gressem às suas formas originárias o que permite o estudo genético
entra em atividade. É em atividade que se mobiliza o desenvolvi- proposto por Vygotsky.
mento psíquico e que se torna possível o desenvolvimento do pen-
samento teórico que permite ao sujeito a apropriação de conheci-
mentos científicos.

373
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

O movimento que se busca desencadear no processo formativo A intenção do pesquisador/formador ao desencadear a ativi-
tem como referência a atividade de ensino do professor. A ideia de dade de ensino é que seja possível a produção, em espaço coletivo,
atividade de ensino insere-se no diálogo com o conceito de ativi- de novas ações que impliquem na mudança de prática pedagógica.
dade em Leontiev e, neste recorte teórico, entendemos que o pro- Tais mudanças passam pelo desenvolvimento do pensamento teó-
fessor está em atividade de ensino quando o seu motivo para agir rico do professor e a pela mudança de sentido pessoal que, como já
coincidir com o resultado da sua atividade. Assim, a atividade de apresentamos, só é possível na atividade humana.
ensino é processo, e não produto, e pode ser compreendida como Daí a importância de que se investigue a formação de professo-
o próprio trabalho do professor. res em movimento que tenha como referência o trabalho docente
As ações formativas que visam desencadear a atividade de e em um espaço coletivo.
ensino buscam problematizar conceitos e situações relacionadas à
organização do ensino em sala de aula. Para isso, busca-se colocar Formação de Professores em Atividade de Ensino
os professores diante de problemas para os quais não se tem uma
solução imediata. Nesse sentido, concorda-se com Saviani quando
afirma que a essência do problema é a necessidade.
Assim, uma questão, em si, não caracteriza o problema, nem
mesmo aquela cuja resposta é desconhecida; mas uma questão
cuja resposta se desconhece e se necessita conhecer, eis aí um pro-
blema. Algo que eu não sei não é problema; mas quando eu igno-
ro alguma coisa que eu preciso saber eis-me, então, diante de um
problema.
A ideia de colocar os professores diante de problemas ou si-
tuações-problema a serem resolvidas para as quais não se tem a
resposta imediata também converge com o princípio de Vigotski de
que o bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento.
Embora feito referência a sujeitos adultos, entende-se que diante
da resolução de um problema para o qual ainda não se tem solução,
os sujeitos se mobilizam e buscam resolver coletivamente o que,
talvez, não fossem capazes de resolver sozinhos.
Neste processo mediado, é fundamental a figura do parceiro https://www.academia.edu/70932694/Teoria_Hist%C3%B3rico_Cul-
mais capaz que pode ser o formador ou um colega do grupo e que, tural_e_Educa%C3%A7%C3%A3o_Matem%C3%A1tica_di%C3%A1lo-
a cada novo problema, pode ser um sujeito diferente. Tais princí- gos_poss%C3%ADveis_na_forma%C3%A7%C3%A3o_de_professores
pios também ancoram a proposta da Atividade Orientadora de
Ensino - AOE, uma estratégia teórica-metodológica que tem sido
utilizada por muitas pesquisas desenvolvidas pelos grupos que inte- QUESTÕES
gram a Rede Gepape (Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Atividade
Pedagógica).
O conceito de Atividade Orientadora de Ensino foi elaborado 1. PREFEITURA DE LONDRINA/PR – PROFESSOR – PREFEITURA
por Moura e toma a estrutura do conceito de atividade ao definir DE LONDRINA/PR/2021
objetivo, ações e operações que visam proporcionar a necessida- O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) tem como
de de apropriação do conceito pelo estudante, de modo que suas objetivo diagnosticar a educação básica do País e contribuir para a
ações sejam realizadas na busca da solução de um problema que melhoria de sua qualidade, oferecendo subsídios concretos para a
o mobilize para atividade de aprendizagem –a apropriação dos co- formulação, a reformulação e o monitoramento das políticas públi-
nhecimentos. cas voltadas para a educação básica.
Para isso, a AOE lança mão de situações desencadeadoras de
aprendizagem - SDA que, ao se apoiarem no movimento lógico- (Fonte: INEP, 2019, p. 4. Disponível em: https://download.inep.gov.br/
-histórico do conceito a ser ensinado, têm por objetivo colocar os publicacoes/institucionais/avaliacoes_e_exames_da_educacao_basi-
sujeitos diante da essência da necessidade histórica que motivou ca/cartilha_saeb _2019.pdf. Acesso em agosto de 2021).
a produção do conceito. Ao criar condições para que os sujeitos re-
solvam coletivamente o problema proposto na SDA, busca-se favo- Sobre avaliação em larga escala, leia o texto para julgar o item.
recer tanto a apropriação do conceito quanto a apropriação de uma A Prova Brasil é aplicada todos os anos e avalia o desempenho
forma de ação geral, que se torna base de orientação das ações em dos estudantes em Língua Portuguesa, com foco em leitura, e em
diferentes situações que o cercam. Matemática, com ênfase na resolução de problemas.
Nas pesquisas sobre formação de professores, a proposição de ( ) CERTO
SDA ancoradas na atividade orientadora de ensino, ao desencadear ( ) ERRADO
o movimento da atividade dos professores, tem sido um importan-
te modo de ação no desenvolvimento de experimentos formativos.

374
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

2. PREFEITURA DE CABEDELO/PB – PROFESSOR DE EDUCAÇÃO 5. IF/PB – PROFESSOR DE MATEMÁTICA – IDECAN/2019


BÁSICA – EDUCA/2020 A partir da tendência metodológica baseada na resolução de
O conhecimento de Matemática no Saeb deve ser demonstrado problemas, como se deve trabalhar situações problemas no campo
por meio da resolução de problemas e são consideradas capacida- da Matemática na sala de aula?
des como: observação, estabelecimento de relações, comunicação (A) Utilizando situações do cotidiano.
(diferentes linguagens), argumentação e validação de processos. (B) Trabalhando de forma rotineira e mecânica as definições e
Os conhecimentos e as competências matemáticas esperadas para demonstrações.
cada etapa estão indicadas nos descritores da Matriz de Referência (C) Enfatizando apenas a aplicação e sistematização dos conhe-
de Matemática. cimentos.
(D) Treinando excessivamente as definições, técnicas e de-
(Disponível em: http://provabrasil.ine.gov.br) monstrações.
(E) Trabalhando com testes objetivos e subjetivos para captar a
São descritores do tópico/tema denominado Grandeza e Medi- totalidade do fenômeno.
das do 5º ano do ensino fundamental, EXCETO:
(A) Reconhecer a conservação ou modificação de medidas dos 6. PREFEITURA DE CHÃ GRANDE/PE – PROFESSOR DE MATEMÁ-
lados, do perímetro, da área em ampliação e/ou redução de TICA – IDHTEC/2019
figuras poligonais usando malhas quadriculadas. Algumas tendências na Educação Matemática estão listadas
(B) Estimar a medida de grandezas utilizando unidades de me- em cada alternativa abaixo. Marque a alternativa que traz uma in-
dida convencionais ou não. formação incorreta.
(C) Resolver problemas significativos utilizando unidades de (A) Etnomatemática.
medida padronizadas como km/m/ cm/mm, kg/g/mg, l/ml. (B) História no Ensino da Matemática.
(D) Estabelecer relações entre unidades de medida de tempo. (C) Uso de TICs (tecnologias da informação e comunicação).
(E) Resolver problema envolvendo o cálculo do perímetro de (D) Resolução de Problemas.
figuras planas, desenhadas em malhas quadriculadas. (E) Matemática Avançada.

3. PREFEITURA DE ANANINDEUA/PA – PROFESSOR – CE- 7. PREFEITURA DE LONDRINA/PR – PROFESSOR DE EDUCAÇÃO


TAP/2019 BÁSICA – PREFEITURA DE LONDRINA/PR/2021
Aponte a avaliação da Educação Básica a qual se refere a des- Leia o texto para julgar o item
crição seguinte: De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), no
Avaliação para diagnóstico, em larga escala, na qual estudantes Ensino Fundamental – Anos Iniciais, a expectativa em relação a uni-
do 5° e 9° anos do ensino fundamental respondem a questões de dade temática Números é que os alunos resolvam problemas com
língua portuguesa e matemática, com o objetivo de avaliar a quali- números naturais e números racionais cuja representação decimal
dade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro a par- é finita, envolvendo diferentes significados das operações, argu-
tir de testes padronizados e questionários socioeconômicos. mentem e justifiquem os procedimentos utilizados para a resolução
e avaliem a plausibilidade dos resultados encontrados. No tocante
(Portal do MEC, Avaliação da Educação Básica, 2019) aos cálculos, espera-se que os alunos desenvolvam diferentes estra-
tégias para a obtenção dos resultados, sobretudo por estimativa e
(A) ANA. cálculo mental, além de algoritmos e uso de calculadoras.
(B) PISA.
(C) Prova Brasil. (Fonte: MEC-BRASIL, 2017, p. 268. Disponível em: http://basenacional-
(D) ENCCEJA. comum.mec.gov.br/. Acesso em: agosto de 2021).

4. PREFEITURA DE MARABÁ/PA – PROFESSOR DE MATEMÁTICA O ensino de algoritmos para resolver operações básicas requer
– FADESP/2019 o domínio das características do Sistema de Numeração Decimal.
Analise a sequência sinteticamente apresentada a seguir: O estudante precisa compreender os agrupamentos e reagrupa-
1º) compreensão; mentos na base 10, tal conhecimento pode ser desenvolvido por
2º) elaboração de um plano; meio de jogos, materiais manipuláveis, brincadeiras e resolução de
3º) execução do plano; problemas, dentre outras abordagens metodológicas e recursos di-
4º) verificação da validade do obtido na execução do plano. dáticos.
( ) CERTO
Ela se enquadra como etapas, mais especificamente, no que se ( ) ERRADO
tem, metodologicamente, para a tendência da Educação Matemá-
tica denominada de:
(A) Etnomatemática, como prescrita por Ubiratan D’Ambrosio.
(B) Didática da Matemática, como estabelecida por Guy Brou-
sseau.
(C) Resolução de problemas, como formulada por George
Polya.
(D) Modelagem Matemática, como descrita por Rodney Bas-
sanezi.

375
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

8. PREFEITURA DE IPORÃ DO OESTE/SC – PROFESSOR DE MATE- 11. COLÉGIO PEDRO II – PROFESSOR – COLÉGIO PEDRO II/2018
MÁTICA – AMEOSC/2020 O professor José está trabalhando o tema saúde e atividade
Com relação ao uso de recursos didáticos tecnológicos em Ma- física. Combinou com os estudantes que farão entrevistas para bus-
temática, é correto afirmar que car informações sobre o assunto com os colegas de outras turmas.
(A) Oferecem resultados de modo mais rápido e eficiente, por Para isso conversou com o professor de Língua Portuguesa, a fim
isso, eliminam a importância do cálculo mecânico e da simples de elaborar o roteiro das perguntas. A professora de Matemática
manipulação simbólica. ajudou com os dados e a elaboração de gráficos, e o professor de
(B) O uso de computadores e calculadoras devem ser limitado, Ciências, com o funcionamento do corpo e as relações entre ali-
pois reduzem o papel do professor e sua atuação em sala de mentação e gasto energético.
aula. Assinale a alternativa que, de acordo com Darido e Rangel, em
(C) O uso de calculadoras não tem eficácia na aprendizagem Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica
(D) Permitem a construção de uma visão mais completa da ver- (2005), corresponde a esse tipo de trabalho.
dadeira natureza da atividade matemática. (A) Participativo.
(B) Interdisciplinar.
9. PREFEITURA DE GUARACIABA/SC – PROFESSOR DE MATEMÁ- (C) Multidisciplinar.
TICA – AMEOSC/2020 (D) Transdisciplinar.
O uso de recursos didáticos envolvendo tecnologia traz contri-
buições para se repensar sobre o processo de ensino e aprendiza- 12. SME/SP – PROFESSOR DE MATEMÁTICA – FGV/2016
gem de Matemática. É correto afirmar que: O professor de Matemática do 6º ano propôs ao professor de
(A) Apesar de serem grandes aliados do desenvolvimento cog- História da mesma série que desenvolvessem um trabalho interdis-
nitivo dos alunos, deve-se ter em mente o grande potencial ciplinar sobre a origem da Álgebra entre os árabes, propondo um
desses recursos didáticos na substituição do professor e, por estudo sobre a origem dos números e a história de diferentes po-
isso, devem ser utilizados com ressalvas. vos e culturas. O professor de História que nunca tinha participado
(B) A integração de tecnologia no ensino reforça o papel do desse tipo de atividade perguntou ao colega se, para desenvolver o
professor na preparação, condução e avaliação do processo de trabalho, seria necessário abrir mão do objeto de estudo específico
ensino e aprendizagem. de sua disciplina. Com base em sua experiência e nos documentos
(C) No mundo atual saber fazer cálculos com lápis e papel é oficiais da Rede Municipal de Ensino, o colega de Matemática expli-
uma competência de extrema importância, por isso as calcu- cou que o trabalho interdisciplinar
ladoras não favorecem o aprendizado se forem adotadas no (A) permite que cada área de conhecimento amplie sua abran-
processo de ensino. gência a partir da relação com as outras áreas de conhecimen-
(D) A atual tecnologia de produção de vídeos educativos permi- to.
te que conceitos, figuras, relações, gráficos sejam apresentados (B) pressupõe que as áreas de conhecimento se distanciem de
de forma atrativa e dinâmica, o que não favorece a aprendiza- seus objetos de estudo para proporcionar a relação com as de-
gem por se aproximar de um contexto lúdico e de ambientes mais.
não formais. (C) articula os conhecimentos das duas áreas de conhecimento,
negligenciando os objetos específicos que lhes são próprios.
10. PREFEITURA DE PALHOÇA/SC – PROFESSOR DE MATEMÁTI- (D) pressupõe que as áreas de conhecimento devem absorver
CA – IESES/2021 os objetos de estudo das outras áreas envolvidas.
Assinale a alternativa correta em relação a Interdisciplinarida- (E) requer apenas uma reorganização metodológica.
de:
(A) A interdisciplinaridade deve estar atenta para a relação, for- 13. PREFEITURA DE GUATAMBÚ/SC – PROFESSOR – FEPE-
ma e conteúdo dentro de diversas disciplinas no que tange aos SE/2022
níveis de complexidade do conhecimento, de grande importân- A teoria Histórico-Cultural defende o pressuposto de que a
cia para a prática esportiva. aprendizagem e o desenvolvimento humano ocorrem:
(B) Consiste em processos de interação entre conhecimento ra- (A) De maneira linear.
cional e conhecimento sensível, e de integração entre saberes (B) Espontaneamente.
tão diferentes, e, ao mesmo tempo, indissociáveis na produção (C) De maneira cartesiana.
de sentido da vida. (D) Mediados pelos signos e instrumentos.
(C) Um conceito historicamente e juridicamente produzido, (E) Quando o sujeito amadureceu emocionalmente.
apresentando no campo epistemológico, no mundo do traba-
lho, e na educação, movimento de continuidade e ruptura em
relação às questões que busca elucidar, e que simultaneamen-
te a constituem.
(D) Para Piaget (1981, p.52), a interdisciplinaridade pode ser
entendida como o intercâmbio mútuo e integração recíproca
entre duas ciências”.

376
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

14. PREFEITURA DE GUATAMBÚ/SC – PROFESSOR – FEPE- ______________________________________________________


SE/2022
Qual autor defende a premissa de que o professor, em sua ati- ______________________________________________________
vidade de ensino, deve propor mediações que sejam capazes de
promover o desenvolvimento das funções psicológicas superiores ______________________________________________________
nos estudantes?
______________________________________________________
(A) Durkheim.
(B) Skinner. ______________________________________________________
(C) Pavlov.
(D) Freinet. ______________________________________________________
(E) Vigotski.
______________________________________________________
15. Prefeitura de Guatambú/SC – Professor – FEPESE/2022
Qual teoria defende o pressuposto de que a atividade principal ______________________________________________________
da criança em idade pré-escolar é a brincadeira?
______________________________________________________
(A) Inatista.
(B) Behavorista. ______________________________________________________
(C) Ambientalista.
(D) Histórico-Cultural. ______________________________________________________
(E) Construtivista.
______________________________________________________

______________________________________________________
GABARITO ______________________________________________________

______________________________________________________
1 ERRADO
______________________________________________________
2 A
3 C ______________________________________________________
4 C ______________________________________________________
5 A
______________________________________________________
6 E
7 CERTO ______________________________________________________

8 D ______________________________________________________
9 B ______________________________________________________
10 B
______________________________________________________
11 B
12 A ______________________________________________________
13 D ______________________________________________________
14 E
______________________________________________________
15 D
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ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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377
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DA MATEMÁTICA

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378
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Nome do Cargo

Neste patamar de como é descrito a organização do trabalho


PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO pedagógico, o planejamento é entendido como instrumento pelo
PEDAGÓGICO: PROCESSO DE PLANEJAMENTO, qual se estima o modo de elaborar, executar e avaliar os planos de
CONCEPÇÃO, IMPORTÂNCIA, DIMENSÕES E NÍVEIS;
ensino que organizam o trabalho docente. Porquanto o planeja-
PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO: CONCEPÇÃO,
mento norteia as possibilidades do processo de ensino aprendiza-
CONSTRUÇÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO;
gem, constituindo-se assim, em um todo ativo, visto que ao falar de
PLANEJAMENTO ESCOLAR: PLANOS DA ESCOLA, DO
planejamento deve-se inferir como sua característica principal a re-
ENSINO E DA AULA
flexão. São fatores do sucesso do trabalho docente a viabilidade das
ações dispostas no plano de ensino durante o planejamento, que
Os regulamentos de ensino existem como ferramentas que neste contexto é um documento que descreve os procedimentos
confiabilizam o prosseguimento do processo educativo sistematiza- fundamentais do ensino e as respectivas considerações de contro-
do e que, por isso, todas as suas ações têm como intento aprovar os le e projeções indicativas de intervenções diarias realizadas pelos
objetivos que a escola pretendem alcançar, isto denota envergadu- educadores.
ra para ter uma inserção social analítica e modificadora. Portanto, o A partir da ação docente planejada pode-se problematizá-la,
propósito da escola é que as crianças obtenham os conhecimentos ampliar a compreensão teórica sobre esta, elaborando ações estra-
produzidos pela humanidade, ampliem as possibilidades para ope- tégicas compartilhadas para transformá-las. Portanto, a definição
rá-los, transformá-los e redirecioná-los tendo como meta alocar os da direção política da prática educativa decorre da análise crítica da
avanços da civilização a serviço da humanização da sociedade. atual prática educativa, desabrochando numa perspectiva também
Diante disso, o projeto político-pedagógico brota da construção crítica para o futuro trabalho.
coletiva da Educação Escolar. Ele é a tradução maior da organização A reflexão no ato do planejamento em si incube-se de fixar
pedagógica que a escola faz de suas finalidades, a partir das ne- parâmetros e requisitos, que se destinará ao cidadão que se quer
cessidades que lhe estão colocadas diante dos recursos humanos e formar dentro da atual conjuntura da sociedade, prevendo quais
materiais. O projeto político-pedagógico ganha coerência e estabi- as aprendizagens realmente significativas e contextualizadas com
lidade à medida que apresenta a realidade na qual se insere, desta- as quais as crianças terão acesso e evidenciando propriedades de
cando como são organizadas as práticas para trabalhar com sujeitos novos conhecimentos, uma vez que, a ação de obtenção do conhe-
que atenderão, pois seu enfoque é o eixo principal da organização cimento deriva da relação sujeito-objeto-conhecimento, neste sen-
das práticas pedagógicas que serão adotadas pelo educador. tido os aspectos do planejamento são articulados na totalidade das
No ensino da Educação Infantil, as instituições se aparelha de reflexões. Tal premissa do planejamento, ou seja, da organização
forma incisiva com a necessidade social que está culturalmente des- pedagógica nem sempre é adotada por todos os educadores, é o
crita. No âmbito do currículo, há a significação de como se dará a que encontra-se muito no contexto geral da educação, onde profis-
organização do trabalho pedagógico como explicitação do fazer da sionais necessitam restaurar sua compreensão de planificação, ain-
escola e do professor, mostrando que sucedem ações ordenadas e da tida como mera formalidade sistêmica e burocrática, sem ação
amparadas por uma filosofia educacional. E é neste sentido que o coesa, que em linhas gerais restringe-se em um mecanismo nulo.
professor desempenha papel fundamental, visto que ele organizará Em nível pedagógico do sistema educativo o professor é res-
o dia a dia das vivências que as crianças terão acesso na Educa- ponsável pela organização do trabalho docente observando os tra-
ção Infantil, e bem como os procedimentos que as levarão a atingir mites da função maior da escola, o de democratizar os conhecimen-
maiores níveis de desenvolvimento. tos construídos pela humanidade ao longo da história. Na Educação
Falar de organização remete-se a um acompanhamento e con- Infantil os conteúdos programáticos dos eixos oferecem propostas
trole que objetiva detalhar as metas e prioridades dentro do traba- de encaminhamento para alcançar os objetivos traçados pelo edu-
lho docente, ou seja, a organização é uma peça chave que está inti- cador, mediando as crianças a aprenderem e a construírem novos
mamente ligada ao objetivo primordial da escola que é promover o conhecimentos. Nesta direção a organização pedagógica da Educa-
desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. É importante pon- ção Infantil dispõe de alternativas metodológicas como o trabalho
tuar que a organização do trabalho pedagógico se dá em dois níveis: com projetos que ressurge com nova terminologia “Pedagogia de
no da escola como um todo, com seu projeto político pedagógico e Projetos” que adota uma visão global e interdisciplinar dos conteú-
no da sala de aula, incluindo as ações do professor na dinâmica com dos. Os Temas Geradores formam as crianças na exploração de te-
seus alunos, através de seu planejamento e planos de aulas. Este mas cíclicos ou geradores, e os Centros de Interesse que decorre da
trabalho como é mencionado por Libâneo é uma atividade global observação, associação e expressão do agrupamento de conteúdos
da organização que requer diligência e preparação. e atividades em torno de temas centrais.
“O trabalho docente é uma atividade intencional, planejada
conscientemente visando a atingir objetivos de aprendizagem. Por
isso precisa ser estruturado e ordenado”. LIBÃNEO, 1994, p. 96)

379
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Outro fator essencial na organização do trabalho docente diz Dimensão política – toda ação humana é eminentemente uma
respeito a função desempenhada pela avaliação da aprendizagem. ação política. O planejamento não pode ser uma ação docente en-
Comumente são instrumentos avaliativos encontrados na Educação carada como uma atividade neutra, descompromissada e ingênua.
Infantil os pareceres descritivos, relatórios, fichas comportamen- Mesmo quando o docente “não” planeja, ele traduz uma escolha
tais, etc. Esses mecanismos são geralmente uniformizados adqui- política. A ação de planejar é carregada de intencionalidades, por
rindo assim uma conotação mecânica, onde acata mais os interes- isso, o planejamento deve ser uma ação pedagógica comprometida
ses da família, do que descrevem o real grau de desenvolvimento e consciente.
infantil. Apreender os elementos que compõem a organização pe- Dimensão técnica – o saber técnico é aquele que permite viabi-
dagógica, são centrais na organização do planejamento de ensino, lizar a execução do ensino, é o saber fazer a atividade profissional.
pois cuida da articulação interna que estes fazem, então, as práticas No caso da prática do planejamento educacional, o saber técnico
pedagógicas necessitam ser re-significadas, revendo seus paradig- determina a competência para organizar as ações que serão desen-
mas, conceitos, no movimento da ação-consideração. Diante disso, volvidas com visando à aprendizagem dos alunos. Cabe ao profes-
a avaliação deve ser percebida como estratégia de observação no sor saber fazer, elaborar, organizar a prática docente.
processo individual, que declara com mais precisão as reais con-
quistas nas experiências educativas. E não se pauta em comporta- Momentos ou etapas do planejamento
mentos padronizados, mas em dados relevantes, que encaminham Por ser uma atividade de natureza prática, o planejamento
novas oportunidades de desenvolvimento. organiza-se em etapas sequenciais, que devem ser rigorosamente
Em consonância a todo o exposto, o planejamento como per- respeitadas no ato de planejar:
no que norteia a organização pedagógica do trabalho docente na 1.Diagnóstico sincero da realidade concreta dos alunos. Estudo
Educação Infantil perpassa pelos eixos de conteúdos, as formas de real da escola e a sua relação com todo contexto social que está
organização sistêmica seguida pela instituição e as alternativas de inserida.
avaliação do ensino-aprendizagem. De modo que para compreen- 2. Os alunos e os professores possuem uma experiência social e
der melhor todo esse procedimento da organização é importante cultural que não pode ser ignorada pelo planejamento.
refletir a formação de iniciativas de propostas de inovação e criativi- 3.Organização do trabalho pedagógico. Nesta etapa os elemen-
dade a fim de atingir a operalização de uma prática pedagógica con- tos da Didática são sistematizados através de escolhas intencionais.
textualizada e em conformidade com a realidade de cada criança. Definição de objetivos a serem alcançados, escolha de conteúdos a
Pensar em Educação Infantil implica ponderar que tipo de tra- serem aprendidos pelos alunos e a seleção das atividades, técnicas
balho se pretende desenvolver. Neste sentido, a proposta peda- de ensino, que serão desenvolvidas para que a aprendizagem dos
gógica desenvolvida precisa estar voltada à formação integral das alunos se efetive. Esse momento representa a organização da me-
crianças. Para isso eles devem ser concebidos como seres históricos todologia de ensino.
e sociais, construtores de conhecimento e cultura e que estão em 4. Sistematização do processo de avaliação da aprendizagem.
permanente progresso. Portanto vale lembrar que as práticas peda- Avaliação entendida como um meio, não um fim em si mesma, mas
gógicas destinadas às crianças devem estar sempre em harmonia um meio que acompanha todo processo da metodologia de ensino.
com a realidade das mesmas. A avaliação deve diagnosticar, durante a aplicação da metodologia
Por isso o trabalho docente deve considerar as manifestações de ensino, como os alunos estão aprendendo e o que aprenderam,
culturais, trazidas pela criança, bem como o meio social em que para que a tempo, se for necessário, a metodologia mude seus pro-
ela está inserida. Esta postura do planejamento valoriza cada indi- cedimentos didáticos, favorecendo a reelaboração do ensino, tendo
víduo em suas peculiaridades e acaba por fomentar nele o respeito em vista a efetiva aprendizagem.
e a consideração pelo outro, além de propiciar uma aprendizagem
significativa bem delineada pelo planejamento/plano da prática do- Requisitos para o planejamento do ensino
cente no cotidiano da instituição infantil.1 Agora que estudamos que o planejamento necessita de um
rigor de sistematização das atividades, apresentamos alguns requi-
Planejamento e ação pedagógica: dimensões técnicas e polí- sitos essenciais para o professor realizar um planejamento justo e
ticas do planejamento coerente com seus alunos. Lembre-se, estes requisitos são saberes
Todo planejamento deve retratar a prática pedagógica da esco- adquiridos ao longo da formação de professor, por isso, aproveitem
la e do professor. No entanto, a história da educação brasileira tem ao máximo cada disciplina, cada conteúdo e cada atividade.
demonstrado que o planejamento educacional tem sido uma práti- - Conhecer em profundidade os conceitos centrais e leis gerais
ca desvinculada da realidade social, marcada por uma ação mecâ- da disciplina, conteúdos básicos, bem como dos seus procedimen-
nica, repetitiva e burocrática, contribuindo pouco para mudanças tos investigativos (e como surgiram historicamente na atividade
na qualidade da educação escolar. Por isso, caro(a) aluno(a), ao científica).
estudar esta unidade, reflita sobre a importância do planejamento - Saber avançar das leis gerais para a realidade concreta, enten-
como uma prática crítica e transformadora do pedagogo; por isso, der a complexidade do conhecimento para poder orientar a apren-
faz-se necessário que você compreenda as duas dimensões que dizagem.
constituem o planejamento: - Escolher exemplos concretos e atividades práticas que de-
monstrem os conceitos e leis gerais, os conteúdos e os assuntos de
maneira que todos os entendam.
- Iniciar o ensino do assunto pela realidade concreta (objetos,
fenômenos, visitas, filmes), para que os alunos formulem relações
entre conceitos, ideias- chave, das leis particulares às leis gerais,
1 Fonte: www.webartigos.com para chegar aos conceitos científicos mais complexos.

380
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Saber criar problemas e saber orientá-los (situações de apren- como a formação inicial do professor. Para permanecer planejando
dizagem mais complexas, com maior grau de incerteza que propi- o ensino atualizado, contemporâneo e coerente com seus alunos,
ciam em maior medida a iniciativa e a criatividade do aluno). faz-se necessária a continuação dos estudos através da formação
continuada.
Objetivo da educação e do ensino Quando explico sobre o que ensinar, faço referência aos con-
Toda ação humana tem um propósito orientado e dirigido em teúdos de ensino. A seleção dos conteúdos que farão parte do en-
prol daquilo que se quer alcançar. Assim é a ação docente que deve sino é uma tomada de decisão carregada de intencionalidades. É
ser realizada em função dos objetivos educacionais. Objetivos edu- da responsabilidade do professor escolher os conteúdos que de-
cacionais orientam a tomada de decisão no planejamento, porque senvolverão aprendizagens nos alunos para que estes expliquem a
são proposições que expressam com clareza e objetividade a apren- realidade conscientemente. Deve-se ensinar o que é significativo
dizagem que se espera do aluno. São os objetivos que norteiam a sobre o mundo, a vida, a experiência existencial, as possibilidades
seleção e organização dos conteúdos, a escolha dos procedimentos de mudança, o trabalho, o passado, o presente e o futuro do ho-
metodológicos e definem o que avaliar. mem (MARTINS, 1995.)
Os objetivos são finalidades que pretendemos alcançar. Retra- Veja o que escreve o professor Libâneo sobre os conteúdos de
tam os valores e os ideais educacionais, a aprendizagem dos con- ensino: Conteúdos de ensino são o conjunto de conhecimentos, ha-
teúdos das ciências, as expectativas e necessidades de um grupo bilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social,
social. Para articularmos os valores gerais da educação (concepção organizados pedagógica e didaticamente, tendo em vista a assimi-
de educação) com as aprendizagens dos conteúdos programáticos lação ativa e aplicação pelos alunos na sua vida prática. Englobam,
e as atividades que o professor pretende desenvolver na sua aula, portanto: conceitos, ideias, fatos, processos, princípios, leis cientí-
devemos elaborar os objetivos gerais e os específicos. ficas, regras; habilidades cognoscitivas, modos de atividade, méto-
O objetivo geral expressa propósitos mais amplos acerca da dos de compreensão e aplicação, hábitos de estudos, de trabalho e
função da educação, da escola, do ensino, considerando as exigên- de convivência social; valores convicções, atitudes. São expressos
cias sociais, do desenvolvimento da personalidade ou do desenvol- nos programas oficiais, nos livros didáticos, nos planos de ensino e
vimento profissional dos alunos. Podemos pontuar os seguintes de aula, nas atitudes e convicções do professor, nos exercícios nos
objetivos gerais que orientam a prática dos professores: métodos e forma de organização do ensino. Podemos dizer que os
- A educação escolar deve possibilitar a compreensão do mun- conteúdos retratam a experiência social da humanidade no que se
do e os conteúdos de ensino; instrumentalizar culturalmente os refere a conhecimentos e modos de ação, transformando-se em
professores e os alunos para o exercício consciente da cidadania; instrumentos pelos quais os alunos assimilam, compreendem e en-
- A escola deve garantir o acesso e a qualidade do ensino a to- frentam as exigências teóricas e práticas da vida social. Constituem
dos, garantindo o desenvolvimento das capacidades físicas, men- o objeto de mediação escolar no processo de ensino, no sentido
tais, emocionais dos professores e alunos; de que a assimilação e compreensão dos conhecimentos e modos
- A educação escolar deve formar a capacidade crítica e criativa de ação se convertem em ideias sobre as propriedades e relações
dos conteúdos das matérias de ensino. Sob a responsabilidade do fundamentais da natureza e da sociedade, formando convicções e
professor os alunos desenvolverão o raciocínio investigativo e de critérios de orientação das opções dos alunos frente às atividades
reflexão; teóricas e práticas postas pela vida social (1991, p.128-129).
- O percurso de escolarização visa atender à formação da qua- Desta forma, os conteúdos de ensino junto com a metodologia
lidade de vida humana. Professores e alunos deverão desenvolver são responsáveis pela produção e elaboração das aprendizagens e
uma atitude ética frente ao trabalho, aos estudos, à natureza etc. dos saberes na escola. Libâneo (1991) acrescenta que escolher os
O objetivo específico expressa as expectativas do professor so- conteúdos de ensino não é tarefa fácil; por isso, quanto mais plane-
bre o que deseja obter dos alunos no processo de ensino. Ao iniciar jado, ordenado e esquematizado estiver mais os alunos entenderão
o planejamento, o professor deve analisar e prever quais resultados a sua importância social; porém, a seleção e a organização dos con-
ele pretende obter, com relação à aprendizagem dos alunos. Esta teúdos não se confundem com uma mera listagem.
aprendizagem pode ser da ordem dos conhecimentos, habilidades Cabe ao professor selecionar e organizar o conteúdo devida-
e hábitos, atitudes e convicções, envolvendo aspectos cognitivo, mente planejado para atender às necessidades dos seus alunos.
afetivo, social e motor. Conteúdos de ensino bem selecionados devem atender aos crité-
Os objetivos específicos devem estar vinculados aos objetivos rios de validade, flexibilidade, significação, possibilidade de ela-
gerais, e retratar a realidade concreta da escola, do ensino e dos boração pessoal; sem esses critérios, o professor corre o risco de
alunos. Correspondem às aprendizagens de conteúdos, atitudes e escolher conteúdos sem relevância para seus alunos. Atendendo
comportamentos. aos critérios, o conteúdo terá validade quando apresenta o caráter
científico do conhecimento, e faz parte de um conhecimento que
Seleção e organização dos conteúdos escolares reflete os conceitos, ideias e métodos de uma ciência. O conteúdo
Os estudos da Didática contribuem com o professor, oferecen- será significativo quando expressar de forma coerente os objetivos
do possibilidades de escolher o que ensinar, para que o aluno apren- sociais e pedagógicos da educação, atendendo à formação cultural
da e descubra como aprendeu. Essa é uma habilidade que requer e científica do aluno; eles não são rígidos, são flexíveis. O conteúdo
conhecimento e um compromisso com a realidade do aluno. Neste de ensino está a serviço da aprendizagem dos alunos, e estes o uti-
sentido, o professor deve ter conhecimento do presente e perspec- lizam para explicar a sua realidade. Todo conteúdo de ensino deve
tivas de futuro, tanto pessoal como dos alunos. Em hipótese alguma ser articulado com a experiência social do aluno. Para que haja a
o professor pode se basear na ideia de que deve somente ensinar o possibilidade de elaboração pessoal e o domínio efetivo do conte-
que lhe ensinaram. É neste sentido, que o Curso de Graduação em údo, conhecimento, o ensino não pode se limitar à memorização e
Licenciatura: Pedagogia, Matemática, Geografia etc. é reconhecido repetição de fórmulas e regras. Deve, fundamentalmente, possibi-

381
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

litar a compreensão teórica e prática através de conhecimentos e o jeito de trabalhar do grupo, e, claro, mostrar os dados da escola
habilidades, obtidas na aula ou obtidas em situações concretas da para todos os docentes, além de apresentar as informações sobre
vida cotidiana (LIBÂNEO, 1991). as turmas para as quais cada um vai lecionar.
Podemos considerar três fontes que o professor deve utilizar
para selecionar os conteúdos de ensino e organizar suas aulas: a Veja o que é importante planejar, discutir, elaborar e definir
primeira é a programação oficial, na qual são fixados os conteúdos nessa primeira semana do ano:
de cada matéria; a segunda são os próprios conhecimentos básicos 1. as diretrizes quanto à organização e à administração da es-
das ciências transformados em matéria de ensino; a terceira são as cola,
exigências teóricas e práticas que emergem da experiência de vida 2. normas gerais de funcionamento da escola,
dos alunos, tendo em vista o mundo do trabalho e a participação 3. atividades coletivas do corpo docente,
democrática na sociedade. 4. o calendário escolar,
5. o período de avaliações,
Planejamento Educacional 6. o conselho de classe,
O Planejamento Educacional, de responsabilidade do estado, 7. as atividades extraclasse,
é o mais amplo, geral e abrangente. Tem a duração de 10 anos e 8. o sistema de acompanhamento e aconselhamento dos alu-
prevê a estruturação e o funcionamento da totalidade do sistema nos e o trabalho com os pais,
educacional. Determina as diretrizes da política nacional de edu- 9. as metas da escola e os passos que precisam ser dados, du-
cação. Segundo Sant’anna (1986), o Planejamento Educacional “é rante o ano, para atingi-las,
um processo contínuo que se preocupa com o para onde ir e quais 10. os projetos realizados no ano anterior,
as maneiras adequadas para chegar lá, tendo em vista a situação 11. os novos projetos que serão desenvolvidos durante o ano,
presente e possibilidades futuras, para que o desenvolvimento da 12. os temas transversais que serão trabalhados e distribuí-los
educação atenda tanto as necessidades do desenvolvimento da nos meses,
sociedade, quanto as do indivíduo.” É um processo de abordagem 13. revisar o PPP.
racional e científica dos problemas da educação, incluindo definição De acordo com uma pesquisa feita por Vasconcellos (2000), há
de prioridades e levando em conta a relação entre os diversos níveis a descrença na utilidade do planejamento. Ele aponta que alguns
do contexto educacional. professores consideram impossível dar conta da tarefa por diferen-
tes motivos: o trabalho em sala de aula é dinâmico e imprevisível;
Segundo Coaracy (1972), os objetivos do Planejamento Educa- faltam condições mínimas, como tempo; e existe o pensamento de
cional são: que nada vai mudar e, portanto, basta repetir o que já tem sido
1. relacionar o desenvolvimento do sistema educacional com o feito. Há também aqueles que acreditam na importância do plane-
desenvolvimento econômico, social, político e cultural do país, em jamento, mas não concordam com a maneira como é feito.
geral, e de cada comunidade, em particular;
2. estabelecer as condições necessárias para o aperfeiçoamen- Planejamento Curricular
to dos fatores que influem diretamente sobre a eficiência do siste- O Planejamento Curricular tem por objetivo orientar o trabalho
ma educacional (estrutura, administração, financiamento, pessoal, do professor na prática pedagógica da sala de aula. Segundo Coll
conteúdo, procedimentos e instrumentos); (2004), definir o currículo a ser desenvolvido em um ano letivo é
3. alcançar maior coerência interna na determinação dos obje- uma das tarefas mais complexas da prática educativa e de todo o
tivos e nos meios mais adequados para atingi-los; corpo pedagógico das instituições. De acordo com Sacristán (2000),
4. conciliar e aperfeiçoar a eficiência interna e externa do sis- “[...] planejar o currículo para seu desenvolvimento em práticas pe-
tema. dagógicas concretas não só exige ordenar seus componentes para
É condição primordial do processo de planejamento integral da serem aprendidos pelos alunos, mas também prever as próprias
educação que, em nenhum caso, interesses pessoais ou de grupos condições do ensino no contexto escolar ou fora dele. A função
possam desviá-lo de seus fins essenciais que vão contribuir para a mais imediata que os professores devem realizar é a de planejar ou
dignificação do homem e para o desenvolvimento cultural, social e prever a prática do ensino.”
econômico do país. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), elaborados por
O PNE - Plano Nacional de Educação é o resultado do Planeja- equipes de especialistas ligadas ao Ministério da Educação (MEC),
mento Educacional da União. O novo Plano Nacional de Educação têm por objetivo estabelecer uma referência curricular e apoiar a
para a próxima década (2011-2020) foi apresentado no dia 15 de revisão e/ou a elaboração da proposta curricular dos Estados ou
dezembro de 2010, pelo ministro da Educação Fernando Haddad ao das escolas integrantes dos sistemas de ensino. Os PCNs são, por-
presidente Lula. O projeto de lei descreve, dentre outras coisas, as tanto, uma proposta do MEC para a eficiência da educação escolar
20 metas para os próximos dez anos. brasileira. São referências a todas as escolas do país para que elas
garantam aos estudantes uma educação básica de qualidade. Seu
Planejamento Escolar objetivo é garantir que crianças e jovens tenham acesso aos co-
Mais um ano se inicia! Um bom Planejamento Escolar feito nhecimentos necessários para a integração na sociedade moderna
na primeira semana do ano letivo, certamente, evitará problemas como cidadãos conscientes, responsáveis e participantes.
futuros. Esse é o objetivo da Semana Pedagógica: reunir gestores, Todavia, a escola não deve simplesmente executar o que é de-
orientadores, supervisores, coordenadores e corpo docente para terminado nos PCNs, mas sim, interpretar e operacionalizar essas
planejarem os próximos 200 dias letivos. É o momento de integrar determinações, adaptando-as de acordo com os objetivos que quer
os professores que estão chegando, colocando-os em contato com alcançar, coerentes com a clientela e de forma que a aprendizagem

382
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

seja favorecida. Portanto, o planejamento curricular segundo Tur- Planejamento da ação didática.
ra et al. (1995), “[...] deve ser funcional. Deve promover não só a Na prática pedagógica atual o processo de planejamento do
aprendizagem de conteúdo e habilidades específicas, mas também ensino tem sido objeto de constantes indagações quanto à sua vali-
fornecer condições favoráveis à aplicação e integração desses co- dade como efetivo instrumento de melhoria qualitativa do trabalho
nhecimentos. Isto é viável através da proposição de situações que do professor. As razões de tais indagações são múltiplas e se apre-
favoreçam o desenvolvimento das capacidades do aluno para so- sentam em níveis diferentes na prática docente.
lucionar problemas, muitos dos quais comuns no seu dia-a-dia. A A vivência do cotidiano escolar nos tem evidenciado situações
previsão global e sistemática de toda ação a ser desencadeada pela bastante questionáveis nesse sentido. Percebeu-se, de início, que
escola, em consonância com os objetivos educacionais, tendo por os objetivos educacionais propostos nos currículos dos cursos apre-
foco o aluno, constitui o planejamento curricular. Portanto, este ní- sentam-se confusos e desvinculados da realidade social. Os con-
vel de planejamento é relativo à escola. Através dele são estabeleci- teúdos a serem trabalhados, por sua vez, são definidos de forma
das as linhas-mestras que norteiam todo o trabalho[...]. autoritária, pois os professores, via de regra, não participam dessa
tarefa. Nessas condições, tendem a mostrarem-se sem elos signi-
Planejamento de Ensino ficativos com as experiências de vida dos alunos, seus interesses e
O Planejamento de Ensino é a especificação do planejamento necessidades.
curricular. É desenvolvido, basicamente, a partir da ação do profes- Percebe-se também que os recursos disponíveis para o desen-
sor e compete a ele definir os objetivos a serem alcançados, desde volvimento do trabalho didático tendem a ser considerados como
seu programa de trabalho até eventuais e necessárias mudanças simples instrumentos de ilustração das aulas, reduzindo-se dessa
de rumo. Cabe ao professor, também, definir os objetivos a serem forma a equipamentos e objetos, muitas vezes até inadequados aos
alcançados, o conteúdo da matéria, as estratégias de ensino e de objetivos e conteúdos estudados.
avaliação e agir de forma a obter um retorno de seus alunos no Com relação à metodologia utilizada pelo professor, observa-
sentido de redirecionar sua matéria. -se que esta tem se caracterizado pela predominância de atividades
O Planejamento de Ensino não pode ser visto como uma ativi- transmissoras de conhecimentos, com pouco ou nenhum espaço
dade estanque. Segundo Turra et al. (1995), “[...] o professor que para a discussão e a análise crítica dos conteúdos. O aluno sob esta
deseja realizar uma boa atuação docente sabe que deve participar, situação tem se mostrado mais passivo do que ativo e, por decor-
elaborar e organizar planos em diferentes níveis de complexidade rência, seu pensamento criativo tem sido mais bloqueado do que
para atender, em classe, seus alunos. Pelo envolvimento no pro- estimulado. A avaliação da aprendizagem, por outro lado, tem sido
cesso ensino-aprendizagem, ele deve estimular a participação do resumida ao ritual das provas periódicas, através das quais é verifi-
aluno, a fim de que este possa, realmente, efetuar uma aprendi- cada a quantidade de conteúdos assimilada pelo aluno.
zagem tão significativa quanto o permitam suas possibilidades e Completando esse quadro de desacertos, observa-se ainda
necessidades. O planejamento, neste caso, envolve a previsão de que o professor, assumindo sua autoridade institucional, termina
resultados desejáveis, assim como também os meios necessários por direcionar o processo ensino-aprendizagem de forma isolada
dos condicionantes históricos presentes na experiência de vida dos
para alcançá-los. A responsabilidade do mestre é imensa. Grande
alunos.
parte da eficácia de seu ensino depende da organicidade, coerência
No contexto acima descrito, o planejamento do ensino tem se
e flexibilidade de seu planejamento.”
apresentado como desvinculado da realidade social, caracterizan-
do-se como uma ação mecânica e burocrática do professor, pouco
O Planejamento de Ensino deve prever:
contribuindo para elevar a qualidade da ação pedagógica desenvol-
1. objetivos específicos estabelecidos a partir dos objetivos
vida no âmbito escolar.
educacionais;
No meio escolar, quando se faz referência a planejamento do
2. conhecimentos a serem aprendidos pelos alunos no sentido
ensino, a ideia que passa é aquela que identifica o processo atra-
determinado pelos objetivos; vés do qual são definidos os objetivos, o conteúdo pragmático, os
3. procedimentos e recursos de ensino que estimulam, orien- procedimentos de ensino, os recursos didáticos, a sistemática de
tam e promovem as atividades de aprendizagem; avaliação da aprendizagem, bem como a bibliografia básica a ser
4. procedimentos de avaliação que possibilitem a verificação, consultada no decorrer de um curso, série ou disciplina de estudo.
a qualificação e a apreciação qualitativa dos objetivos propostos, Com efeito, este é o padrão de planejamento adotado pela grande
cumprindo pelo menos a função pedagógico-didática, de diagnósti- maioria dos professores e que, em nome da eficiência do ensino
co e de controle no processo educacional. disseminada pela concepção tecnicista de educação, passou a ser
O resultado desse planejamento é o plano de ensino, um ro- valorizado apenas em sua dimensão técnica.
teiro organizado das unidades didáticas para um ano, um semes- Ao que parece, essa situação dos componentes do plano de
tre ou um bimestre. Esse plano deve conter: ementa da disciplina, ensino de uma maneira fragmentária e desarticulada do todo social
justificativa da disciplina em relação ao objetivos gerais da escola é que tem gerado a concepção de planejamento incapaz de dina-
e do curso, objetivos gerais, objetivos específicos, conteúdo (com mizar e facilitar o trabalho didático. Consideramos, contudo, que
a divisão temática de cada unidade), tempo provável (número de numa perspectiva trasformadora, ou seja, o processo de planeja-
aulas do período de abrangência do plano), desenvolvimento meto- mento visto sob uma perspectiva crítica de educação, passa a extra-
dológico (métodos e técnicas pedagógicas específicas da disciplina), polar a simple tarefa de se elaborar um documento contendo todos
recursos tecnológicos, formas de avaliação e referencial teórico (li- os componentes tecnicamente recomendáveis.
vros, documentos, sites etc). Do plano de ensino resultará, ainda, o
plano de aula, onde o professor vai especificar as realizações diárias
para a concretização dos planos anteriores.

383
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Após analisarmos os aspectos do processo de planejamento, Nesse sentido trivial, qualquer indivíduo razoavelmente equi-
faremos agora uma síntese do didatismo no planejamento. librado é um planejador [...]. Não há uma ‘ciência do planejamen-
Quando falamos em planejar o ensino, ou a ação didática, es- to’ nem mesmo há métodos de planejamentos gerais e abstratos
tamos prevendo as ações e os procedimentos que o professor vai que possam ser aplicados a tantas variedades de situações sociais e
realizar junto a seus alunos, e a organização das atividades discen- educacionais principalmente se considerarmos a natureza política,
tes e da experiência de aprendizagem, visando atingir os objetivos histórica, cultural, econômica etc. (AZANHA, 1993, p. 70-78).
educacionais estabelecidos. Nesse sentido, o planejamento de ensi- - Planejamento é um processo de busca de equilíbrio entre
no torna-se a operacionalização do currículo escolar. meios e fins, entre recursos e objetivos, na busca da melhoria do
Assim, no que se refere ao aspecto didático, segundo HAIDT funcionamento do sistema educacional. Como processo o planeja-
(1995), planejar é: mento não corre em um momento do ano, mas a cada dia. A reali-
- Analisar as características da clientela (aspirações, necessida- dade educacional é dinâmica. Os problemas, as reivindicações não
des e possibilidades dos alunos); têm hora nem lugar para se manifestarem. Assim, decide-se a cada
- Refletir sobre os recursos disponíveis; dia a cada hora (SOBRINHO, 1994, p.3).
- Definir os objetivos educacionais considerados mais adequa- - Planejamento é um “processo de tomada de decisão sobre
dos para a clientela em questão; uma ação. Processo que num planejamento coletivo (que é nossa
- Selecionar e estruturar os conteúdos a serem assimilados, meta) envolve busca de informações, elaboração de propostas, en-
distribuídos ao longo do tempo disponível para o seu desenvolvi- contro de discussões, reunião de decisão, avaliação permanente”
mento; (MST, 1995, p.5).
- Prever e organizar os procedimentos do professor, bem como - Planejamento é processo de reflexão, de tomada de decisão
as atividades e experiências de construção do conhecimento con- [...] enquanto processo, ele é permanente (VASCONCELOS, 1995,
sideradas mais adequadas para a consecução dos objetivos esta- p.43).
belecidos; Em síntese, o planejamento é uma tomada de decisão siste-
- Prever e escolher os recursos de ensino mais adequados para matizada, racionalmente organizada sobre a educação, o educando,
estimular a participação dos alunos nas atividades de aprendiza- o ensino, o educador, as matérias, as disciplinas, os conteúdos, os
gem; métodos e técnicas de ensino, a organização administrativa da es-
- E prever os procedimentos de avaliação mais condizentes com cola e sobre a comunidade escolar.
os objetivos propostos. O planejamento da educação é composto por diferentes níveis
O planejamento didático também é um processo que envolve de organização. Assim, podemos pensar em nível macro no Planeja-
operações mentais, como: analisar, refletir, definir, selecionar, es- mento do Sistema de Educação, que corresponde ao planejamento
truturar, distribuir ao longo do tempo, e prever formas de agir e da educação em âmbito nacional, estadual e municipal. Este plane-
organizar. O processo de planejamento da ação docente é o plano jamento elabora, incorpora e reflete as políticas educacionais.
didático. Em geral, o plano didático assume a forma de um docu- O planejamento global da escola corresponde às ações sobre o
mento escrito, pois é o registro das conclusões do processo de pre- funcionamento administrativo e pedagógico da escola; para tanto,
visão das atividades docentes e discentes. este planejamento necessita da participação em conjunto da comu-
Outro aspecto a ser lembrado é que o plano é apenas um ro- nidade escolar. Nos dias atuais, em que o trabalho pedagógico tem
teiro, um instrumento de referência e, como tal, é abreviado, es- sido solicitado em forma de projeto, o planejamento escolar pode
quemático, sem colorido e aparentemente sem vida. Compete ao estar contido no Projeto Político Pedagógico – PPP, ou no Plano de
professor que o confeccionou dar-lhe vida, relevo e colorido no ato Desenvolvimento Escolar – PDE.
de sua execução, impregnando-o de sua personalidade e entusias- O planejamento curricular é a organização da dinâmica escolar.
mo, enriquecendo-o com sua habilidade e expressividade. É um instrumento que sistematiza as ações escolares do espaço físi-
Planejamento participativo e organização do trabalho docen- co às avaliações da aprendizagem.
te O planejamento de ensino envolve a organização das ações dos
O planejamento é um processo de sistematização e organiza- educadores durante o processo de ensino, integrando professores,
ção das ações do professor. É um instrumento da racionalização do coordenadores e alunos na elaboração de uma proposta de ensino,
trabalho pedagógico que articula a atividade escolar com os con- que será projetada para o ano letivo e constantemente avaliada.
teúdos do contexto social (LIBÂNEO, 1991). O ato de planejar está O planejamento de aula organiza ações referentes ao trabalho na
presente em todos os momentos da vida humana. A todo o mo- sala de aula. É o que o professor prepara para o desenvolvimento
mento as pessoas são obrigadas a planejar, a tomar decisões que, da aprendizagem de seus alunos coerentemente articulado com o
em alguns momentos, são definidas a partir de improvisações; em planejamento curricular, com o planejamento escolar e com o pla-
outros, são decididas partindo de ações previamente organizadas nejamento de ensino.2
(KENSKI, 1995).
- O significado do termo ‘planejamento’ é muito ambíguo, mas
no seu uso trivial ele compreende a ideia de que sem um mínimo
de conhecimento das condições existentes numa determinada situ-
ação e sem um esforço de previsões das alterações possíveis desta
situação nenhuma ação de mudança será eficaz e eficiente, ainda
que haja clareza dos objetivos dessa ação.

2 Fonte: www.rcolacique.files.wordpress.com/www.educamoc.com.br/www.
educador.brasilescola.uol.com.br – Por Eliane da Costa Bruini

384
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O currículo surge, então, em uma dimensão ampla que o en-


CURRÍCULO DO PROPOSTO À PRÁTICA tende em sua função socializadora e cultural, bem como forma de
apropriação da experiência social acumulada e trabalhada a partir
A palavra currículo deriva do latim curriculum (originada do do conhecimento formal que a escola escolhe, organiza e propõe
verbo latino currere, que significa correr) e refere-se ao curso, à como centro as atividades escolares.
rota, ao caminho da vida ou das atividades de uma pessoa ou grupo Atualmente, verifica-se que ainda há professores/educadores,
de pessoas (GORDON apud FERRAÇO, 2005, p. 54). Já, conforme que demostram compreender o currículo escolar, como, uma área
o Dicionário Aurélio da língua portuguesa, Ferreira (1986, p. 512), meramente técnica, passiva/ neutra. Segundo Moreira e Silva (1994,
define-se currículo como “a parte de um curso literário, as matérias p. 7), o currículo tem que possuir uma “tradição” crítica, pois:
constantes de um curso”. De acordo com Zotti (2008), o termo foi O currículo há muito tempo deixou de ser apenas uma área
utilizado pela primeira vez, para caracterizar um plano estruturado meramente técnica, voltada para questões relativas a procedimen-
de estudos, em 1963, no Oxford English Dictionary. tos, técnicas, métodos. Já se pode falar agora em uma tradição
É importante repensar, a função socializadora que o currículo crítica de currículo, guiada por questões sociológicas, políticas e
escolar deve exercer no âmbito educacional. Analisa-se contem- epistemológicas. Embora questões relativas ao currículo continuem
poraneamente, que o currículo escolar não pode ser visto e nem importantes, elas só adquirem sentido dentro de uma perspectiva
compreendido, como, um “acúmulo” de disciplinas isoladas, frag- que as considere em sua relação com questões que perguntem pelo
mentadas, com conteúdos apresentados de modo tradicional, e “por que” das formas de organização do conhecimento escolar.
transmitidos sem reflexão pelo professor/educador em sala de É interessante recordar, que as definições de currículo até o sé-
aula. Verifica-se, que o currículo escolar é histórico, e vai além de culo XIX, referiam-se restritamente á matéria, conforme indica Zotti
conteúdos e disciplinas, sendo que o currículo deve que ser elabo- (2008):
rado de forma a oportunizar condições de conhecimentos para os Inserido no campo pedagógico, o termo passou por diversas
educandos, na busca de abranger e atender as diversas realidades definições ao longo da história da educação. Tradicionalmente o
sociais existentes, de maneira ampla, real, significativa, reflexiva, currículo significou uma relação de matérias/disciplinas com seu
dinâmica, democrática, inclusiva, ética e moral. corpo de conhecimento organizado numa sequência lógica, com o
Discutir sobre o currículo escolar na contemporaneidade, é de respectivo tempo de cada uma (grade ou matriz curricular). Esta co-
fato, analisar profundamente o sistema educacional, como tam- notação guarda estreita relação com o “plano de estudos”, tratado
bém, o que o ser humano produziu e contínua produzindo ao longo como o conjunto das matérias a serem ensinadas em cada curso ou
do tempo, tempo esse, chamado história. Portanto, é necessário série e o tempo reservado a cada uma.
buscar compreender os conhecimentos elaborados e apropriados Após o século XIX, o significado de currículo vai tomado outra
por todos os membros da sociedade, assim como, as diversas cultu- proporção, o que inclui não apenas o conhecimento escolar, mas
ras existentes, ampliadas gradativamente ou até mesmo modifica- também, as experiências de aprendizagem. Sendo assim, o currícu-
das de geração em geração. lo envolve tanto a construção, quanto o aprimoramento necessá-
O currículo é transformação, não apenas no que se refere a rio para o desenvolvimento do sujeito. Segundo Moreira e Candau
mudar o sentido, de ir por outro caminho, mas de buscar novas al- (2008, p. 18).
ternativas, novas soluções, novas metas e novas conquistas. O cur- Currículo associa-se, assim, ao conjunto de esforços pedagó-
rículo consiste em transformar o impreciso em conhecido, e tal fato, gicos desenvolvidos com as intenções educativas. Por esse motivo,
envolve um ensino-aprendizagem qualitativo. a palavra tem sido usada para todo e qualquer espaço organizado
O currículo nunca é simplesmente uma montagem neutra de para afetar e educar pessoas, o que explica o uso de expressões
conhecimentos, que de alguma forma aparece nos livros e nas salas como o currículo da mídia, o currículo da prisão etc. Nós, contudo,
de aula de um país. Sempre parte de uma tradição seletiva, da se- estamos empregando a palavra currículo apenas para nos referir-
leção feita por alguém, as visões que algum grupo tem do que seja mos ás atividades organizadas por instituições escolares. Ou seja,
o conhecimento legítimo. Ele é produzido pelos conflitos, tensões para nos referirmos á escola.
e compromissos culturais, políticos e econômicos que organizam e Podemos entender, que ao falarmos de currículo, estamos tra-
desorganizam um povo. (APLLE, 2000, p. 53) tando da escola, ou seja, a maneira como os conteúdos são dosados
O currículo representa a caminhada que o sujeito irá fazer ao e sequenciados no processo pedagógico. Não existe um currículo
longo de sua vida escolar, tanto em relação aos conteúdos apropria- único a ser seguido por todas as instituições brasileiras, pois em
dos, quanto ás atividades realizadas sob a sistematização da escola. seu art. 26 a Lei n° 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
Nesse sentido, Sácristán e Gómez (1998, p. 125), afirmam que “a cação Nacional – LDBEN), define disciplinas de Base Nacional co-
escolaridade é um percurso para alunos/as, e o currículo é seu re- mum, àquelas que devem ser ensinada em todo o país, e uma parte
cheio, seu conteúdo, o guia de seu progresso pela escolaridade”. diversificada, aquela exigida pelas características regionais e locais
No contexto escolar, o currículo deve ter uma função formati- da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. Dessa forma,
va, educativa, social e cultural. O currículo escolar, como prática de a Base Nacional Comum é o conjunto mínimo de conteúdos arti-
transformação da realidade e do conhecimento concreto, precisa culados a aspectos da cidadania. Por ser obrigatória nos currículos
ser debatido e refletido constantemente, por todos aqueles que nacionais, a Base Nacional Comum deve predominar em relação à
compõem a equipe escolar, onde, todos os profissionais da escola parte diversificada.
devem estar preparados para entenderem, que o currículo é essen- De acordo com o parecer CNE/CEB 4/98, que estabelece dire-
cial na práxis pedagógica e na vida escolar, social e cultural de todos trizes curriculares para o Ensino Fundamental, a parte diversificada
os alunos que chegam até a escola em busca de conhecimentos sig- “envolve os conteúdos complementares, escolhidos por cada siste-
nificativos. De acordo com Krug (2001, p. 56). ma de ensino e estabelecimentos escolares, integrados à Base Na-
cional Comum, de acordo com as características regionais e locais

385
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

da sociedade, da cultura e da economia, refletindo-se, portanto, na momento em que os alunos voltam ás aulas, sendo que tais cele-
Proposta Pedagógica de cada escola, conforme o artigo 26”. (BRA- brações só se encerram no mês de dezembro, e assim finaliza-se o
SIL, 1992) ano, com um “recheio de festividades, sem reflexão para a vida hu-
Além disso, ela constitui uma ampla faixa do currículo em que a mana dos alunos”. É preciso ressaltar, que nem tudo que acontece
escola pode exercitar toda a sua criatividade, no sentido de atender ou realiza-se na escola, pode ser considerado do currículo escolar,
às reais necessidades de seus alunos, considerando as característi- isso pelo fato, que inúmeras vezes, não há uma reflexão intencional
cas culturais e econômicas da comunidade que atua, construindo-a, sobre as atividades elaboradas dentro do contexto educacional.
essencialmente, mediante o desenvolvimento de projetos e ativi- Saviani (2000), ao tratar sobre os conteúdos que são trabalha-
dades de interesse. A parte diversificada pode tanto ser utilizada dos na escola, afirma que, muitas vezes, os professores dedicam
para aprofundar elementos da Base Nacional Comum, como para bastante tempo ás questões secundárias em detrimento da real
introduzir novos elementos, sempre de acordo com as necessida- necessidade da escola. Perde-se, muito tempo com atividades des-
des. No Ensino Médio, é um espaço em que pode ser iniciada a contextualizadas, como, por exemplo, as diversas comemorações
formação profissional, mediante o oferecimento de componentes realizadas durante o ano letivo, que seguem desde o carnaval até as
curriculares passíveis de aproveitamento em curso técnico da área festas natalinas. Essas atividades, em sua maioria, partem de ações
correspondente. isoladas, não vinculadas ao planejamento, e com uma concepção
Se para a escola é importante poder contar com uma parcela de cunho ideológico que relegam para segundo plano as questões
do currículo livremente estabelecida, para o aluno essa pode ser históricas que permeiam tais festividades.
uma importante oportunidade de participar ativamente da seleção Segundo o mesmo autor, a escola poderia dedicar seu tem-
de um plano de estudos. Isso pode acontecer na escolha de discipli-
po para a apropriação do saber científico. Nas palavras de Saviani
nas optativas ou facultativas, por exemplo. “As disciplinas optativas
(2000, p. 1):
são aquelas que, sendo obrigatórias, admitem que o aluno esco-
Dou apenas um exemplo: o ano letivo começa em fevereiro e
lha entre as alternativas disponíveis, não podendo, porém, deixar
logo temos a semana do índio, a semana santa, a semana das mães,
de fazê-las […] A disciplinas facultativas são aquelas que o aluno
semana do folclore, as festas juninas, em agosto vem à semana do
acrescenta a um plano de estudos que já satisfaz os mínimos exi-
soldado, depois a semana da Pátria, a semana da árvore, os jogos
gidos pela escola.” (BRASIL, 2006). Ou seja, a disciplinas optativas
da primavera, semana da criança, festa do professor, do funcionário
fazem parte da base curricular obrigatória, enquanto as disciplinas
público, semana da asa, semana da República, festa da bandeira, e
facultativas podem ser escolhidas livremente para complementar
nesse momento já chegamos ao final de novembro. O ano letivo se
o currículo.
Contudo, a lei indica que compete á escola elaboração de sua encerra e estamos diante da seguinte constatação: fez-se tudo na
proposta pedagógica. Em continuação, a Lei de Diretrizes e Bases escola; encontrou-se tempo para toda espécie de comemoração,
da Educação Nacional (LDBEN), identifica os delineamentos gerais mas muito pouco tempo foi destinado ao processo de transmis-
para a organização do trabalho pedagógico nas escolas. No art. 27 são-assimilação de conhecimentos sistematizados. Mas, pode-se
da lei que trata da educação básica, podemos destacar as seguintes perguntar: qual é o problema? Se tudo é currículo, se tudo o que
diretrizes no que se refere aos conteúdos dos currículos escolares a escola faz é importante, se tudo concorre para o crescimento e
da educação básica. aprendizagem dos alunos, então tudo o que faz é válido e a escola
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica observa- não deixou de cumprir sua função educativa. No entanto, o que se
rão ainda, as seguintes Diretrizes: constata é que, de semana em semana, de comemoração em come-
I – a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos moração a verdade é que a escola perdeu de vista a sua atividade
direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e á nuclear que é a de propiciar aos alunos a aquisição dos instrumen-
ordem democrática: tos de acesso ao saber elaborado.
II – consideração das condições de escolaridade dos alunos em É imprescindível repensar, a ideia crítica do autor Saviani (2000),
cada estabelecimento: ideia essa, que permite analisar de fato, que a escola dispõe sim, de
III – orientação para o trabalho; muito tempo para atividades comemorativas, fragilizadas e secun-
IV – promoção do desporto educacional e apoio ás práticas dárias. É importante acrescentar, que ninguém está afirmando que
desportivas não formais. essas atividades são desnecessárias no contexto escolar, muito pelo
O currículo escolar é um elemento enriquecedor do trabalho contrário, as atividades comemorativas, históricas e culturais, tem
do professor/educador no contexto formal e no contexto não for- que ser realizada, vivenciada, praticada e compreendida verdadei-
mal. O currículo é de suma importância para a vida e para o plane- ramente pelos discentes no ambiente escolar, onde tais atividades
jamento do docente, pois é o currículo que possibilita ao profes- devem ser praticadas de uma maneira mais real e reflexiva, e não
sor uma organização fixa dos conteúdos e das atividades de forma apenas do professor chegar à sala de aula e disser para os alunos,
clara, crítica, autônoma, reflexiva, ativa e democrática no contexto por exemplo: “hoje comemoramos o dia do índio, vamos colorir em
escolar, sendo o currículo, um recurso em prol ao ensino-aprendiza- folha de papel sulfite, a aldeia, a qual representa a comunidade dos
gem e ao desenvolvimento significativo dos discentes na sociedade. povos indígenas”. Nota-se, que só dos alunos saber que tal data co-
É necessário refletir, sobre as diversas atividades elaboradas em memora-se o dia do índio, e que a aldeia representa a comunidade
algumas escolas, onde, se observa a carga horária extensa utilizada dos povos indígenas, não vai contribuir para a aprendizagem dos
para a realização de atividades festivas/ comemorativas no âmbito discentes, muito menos para ampliar qualquer conhecimento ou
educacional. Sabe-se, que há muitas datas comemorativas que as entendimento, pois, o assunto precisa ser exemplificado, a história
escolas adquirem como uma “tradição popular”, datas essas, que precisa ser contada com valores, ensinamentos, princípios e princi-
começam a ser celebradas no início do ano no mês de fevereiro, no palmente com reflexão e análise crítica.

386
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Não há como negar, que há um distanciamento das atividades clos, etapas ou módulos – os conteúdos programáticos, a planejada
escolares com a realidade social dos discentes, a escola e os profes- complexificação de atividades e a crescente autonomia dos alunos
sores/educadores, precisam propor metodologias de ensino mais no desenvolvimento de tarefas, aquisição de habilidades e demons-
concreta, como também, estar mais abertos ao diálogo, na busca de tração de competências (BRASIL, 2006).
obter uma conversa sensibilizada com os pais e com os educandos A escola quando segue passo a passo o calendário tradicional,
que chegam até a escola, na tentativa de conhecer concretamente e uma grade curricular baseada em conteúdos e disciplinas isola-
a realidade dos discentes, para então, poder oferecer uma apren- das, causa á impressão, que tal escola pouco se preocupa, ou se
dizagem de qualidade, sendo que esta aprendizagem deve atender quer, reflete sobre a aprendizagem e as dificuldades encontradas
as necessidades e as diversas realidades dos alunos em processo de no ensino dos alunos, como também, no desenvolvimento cientí-
escolarização. fico, social, cultural, e ativo dos discentes na sociedade, pois além
Contudo, observa-se que tais atividades comemorativas de- de atividades comemorativas, os discentes precisam primeiramen-
vem ter certos limites, pois é muitas comemorações de fevereiro te de um ensino-aprendizagem concreto, significativo, qualitativo,
á dezembro na escola. Não há como contrariar a opinião do autor democrático, autônomo e inclusivo nos diversos contextos sociais.
Saviani (2000), quando o mesmo afirma que a escola desperdiça O currículo escolar quando bem elaborado pela comunidade
muito tempo com atividades comemorativas e secundárias. Se pa- escolar, este busca atender há diversidade cultural presente na
rarmos para refletir, e analisar concretamente cada data festiva que escola, e ao mesmo, oferece um conjunto significativo de conhe-
a escola comemora, e não consegue se “desligar um pouco”, nem cimentos, o qual deve ser compreendido de maneira democrática
mesmo, deixar de lado nenhuma comemoração, certamente, en- no contexto escolar, pois quando o currículo apresenta conteúdos
tenderemos a carga horária esbanjada com atividades repetitivas passivos, certamente, é porque a escola também é passiva frente
todo ano no contexto escolar, ano após ano, as atividades comemo- ao processo de aprendizagem. A escola deve lutar incansavelmente
rativas seguem o mesmo padrão, isto é, comemoração de fevereiro pela formação da consciência humana, científica, e não apenas de-
há dezembro. Diante desse fato, é possível entender também, as sempenhar a tarefa de preparar os discentes para ás necessidades
muitas dificuldades de aprendizagem que tantos alunos enfrentam do mercado de trabalho, pois nessa ênfase do trabalho, a escola
durante o ano todo na escola, pois com tantas comemorações e não é capaz de formar seus alunos para a cidadania, nem mesmo,
festividades, o tempo para reflexão e para a assimilação concreta oportuniza aos educandos, o entendimento e a compreensão de
seus direitos e deveres enquanto pessoas humanas.
do conhecimento, é limitado.
Sobre essa questão, Wihby, Favaro e Lima (2007, p. 13) pro-
Exemplo: as comemorações de festas juninas parecem ser sim-
põem:
ples, rotineiras, com pouco tempo de ensaio, mas, se vamos á qual-
A luta pela garantia de uma escola pública da melhor qualida-
quer escola, e acompanhamos a turma, o professor/educador nos
de possível nas condições históricas atuais, que supere os projetos
ensaios, nas danças, no entendimento por parte dos alunos sobre
pedagógicos capitalistas, o paradigma do mercado aplicado á edu-
como dançar e entender a música apresentada pelo educador, nes-
cação, indo além da função de preparar para o mercado de trabalho
se tempo, pode-se observar quantas horas e quantas aulas se aca-
ou universidade. O objetivo deve ser o de assegurar aos indivíduos
bam apenas de explicações que se faz necessário para a concretiza-
a apropriação dos conhecimentos sistematizados, ou seja, da ciên-
ção da dança e para a compreensão da música. Nas festas juninas,
cia, propiciando o desenvolvimento de uma concepção mais elabo-
é interessante lembrar, que o ensaio por turma pode levar até um rada de mundo, que possibilite sua compreensão, a apreensão de
mês, obvio que não é ensaiado todo dia na escola, mas é claro, que suas múltiplas e complexas dimensões, para uma atuação humana
é ensaiado pelo menos duas vezes por semana. mais racional e consciente.
Obviamente, essa cultura curricular instalada dentro das es- Nesse sentido, analisa-se que currículo escolar deve ser mais
colas, prejudica gradativamente o desenvolvimento científico dos bem elaborado na escola, pois o currículo é um conjunto de co-
alunos, a qual precisa ser modificada tempo ao tempo. É quase nhecimentos em prol ao ensino-aprendizagem dos educandos, e
“normal” visualizarmos ou lermos em jornais, livros ou revistas, o quando o mesmo é bem planejado, organizado e elaborado cole-
quanto é constante em algumas escolas, os alunos não aprenderem tivamente por todos no contexto escolar, certamente os conheci-
nem o básico dos valores humanos e educacionais, para então, po- mentos serão muito mais abrangentes, qualitativos e gratificantes
derem viver bem em sociedade. Infelizmente, o ensino-aprendiza- para todos que fazem parte do processo do aprender-aprender. O
gem está muito fragilizado, passivo, fragmentado, e precisa sim, de que se analisa muitas vezes são instituições escolares que não sa-
uma reestruturação na aprendizagem escolar de todos os alunos. bem fazer um bom uso do currículo escolar, onde acabam desvalori-
A carga horária para atividades comemorativas no contexto esco- zando o mesmo, ou fragmentando-o. Contudo, a escola passiva que
lar deve ser levada em conta, isto é, precisa ser diminuída, pois, não valoriza o currículo como fundamental na práxis pedagógica,
se refletirmos um pouco sobre tantas comemorações o ano todo, obviamente não consegue formar cidadãos críticos, não humaniza,
chegaremos à conclusão, que a escola não precisa comemorar cada não sensibiliza para com o respeito ás diferenças, nem ativa o pen-
data festiva, como destacada no calendário tradicionalmente. samento crítico/ reflexivo dos discentes, assim como não atende
Na estruturação do currículo é importante a apropriada admi- aos interesses da comunidade, e muito menos, dos alunos em pro-
nistração do tempo: da escola, no que diz respeito ao cumprimento cesso de aprendizagem e conhecimento.
do ano letivo, do aluno, otimizando a utilização de sua permanência Diante desse fato, pode-se afirmar, que quando há na esco-
no ambiente escolar; e do professor, para o correto aproveitamento la um ensino-aprendizagem sem estratégia, sem estrutura e sem
da carga horária de seu contrato de trabalho. Além disso, é neces- reflexão para o desenvolvimento humano, certamente tal ensino,
sário distribuir, ao longo dos diferentes anos letivos – seja qual for a deve ser excluído totalmente da escola e da vida de todos que com-
organização adotada na escola, em séries semestrais, anuais, por ci- põem o espaço formal.

387
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O currículo escolar como um eixo na concretização de objetivos Resumindo a tal reflexão, tantas pessoas não estudaram déca-
educacionais das atrás por falta de oportunidades concretas no sistema de ensi-
O currículo escolar é muito significativo na prática educativa, no, da dificuldade de transporte que não existia, da pobreza extre-
no dia-a-dia no âmbito educacional, sendo o currículo, um eixo para ma que viviam tais pessoas, sendo que hoje, muitos não se dedicam
a consecução/realização dos objetivos propostos pela escola. O cur- e não estudam por falta de interesse e não de oportunidade, essa
rículo escolar faz parte da história da educação brasileira, portanto é uma real e triste situação a qual enfrentamos na sociedade con-
o currículo é histórico, o qual passou por debates, transformações, temporânea.
alterações, e modificações inúmeras vezes no contexto educacional. É essencial relembrar, que ao final da Primeira República 80%
Contemporaneamente, o currículo escolar tem um importante da população brasileira era analfabeta. Como comentado acima, es-
papel no ambiente formal, pois o currículo é uma ferramenta in- ses oitenta por cento, pode-se concluir, que eram pessoas da classe
dispensável e essencial ao conhecimento e á transformação social, trabalhadora, do proletariado, as quais não tinham acesso á educa-
cultural, educacional e no ensino de crianças, jovens e adultos. O ção, muito menos oportunidade para concretizar os seus estudos.
currículo deve ter uma base e uma estrutura coletiva, inclusiva e Desde então, com a maioria da população sem saber ler, escrever
jamais neutra. Por vez, o currículo deve propiciar ao aluno o acesso e fazer cálculos, o espanto e preocupação por parte do governo de
ao conjunto de conhecimentos historicamente produzidos, tanto Getúlio Vargas foi ampla, pois o governo desejava a prosperidade/
para a vida escolar do educando, quanto para vida social do mesmo. crescimento do país, e com um povo analfabeto, Getúlio Vargas
O currículo tem que ser olhado pelos educadores de forma diferen- jamais conseguiria a tão sonhada prosperidade para o Brasil. Por-
ciada, bem mais que uma simples grade curricular a ser cumprida, tanto, em 1930, o governo do então Presidente Getúlio Vargas, con-
mas um compromisso ético no ensino-aprendizagem, na busca de siderou a educação como fundamental para a qualificação do tra-
investigar e refletir sobre questões de natureza teórica e prática que balho e para a formação da pessoa humana, oferecendo educação
norteiam a prática pedagógica voltada a atender as demandas da pública gratuita para todos. Contudo, observa-se que a educação
atualidade, e principalmente a diversidade cultural presente nas escolar começou há se desenvolver com mais prioridade, durante o
instituições de ensino. governo de Getúlio Vargas, onde, ocorreu o processo de urbaniza-
O currículo escolar, sempre foi um elemento fundamental para ção e industrialização do Brasil, sendo que o trabalho e a educação
as decisões e reflexões da prática pedagógica no contexto escolar. É passaram a ser necessário para o crescimento significativo do país.
imprescindível, relatar um pouco da história da educação, onde se Percebe-se, então, que o currículo escolar tem finalidades po-
analisa que, o primeiro modelo de educação brasileira foi caracte- líticas muito precisas. Zotti (2004), afirma que os currículos oficiais
rizado pelos jesuítas, os quais chegaram ao Brasil no ano de 1549, foram elaborados ao longo da história, para atenderem ás deman-
e trouxeram consigo um programa de educação bem definido, das econômicas. Nesse sentido, todas as mudanças no campo cur-
chamado Ratio Studiorum. A educação jesuítica era baseada num ricular que já foram realizadas seguiram os interesses políticos do
ensino fragmentado, descontextualizado da realidade, e ideológico modelo econômico vigente. A autora nos conduz a refletir sobre as
com base no método tradicional, sendo que esse método de ensino implicações político-econômicas que subsidiaram a construção dos
tradicional valorizava á memorização, a aprovação, o rendimento currículos oficiais durante toda a história da educação brasileira.
quantitativo e a decoreba dos alunos, onde, apenas o professor/ Essa maneira de pensar o currículo dá origem a questionamentos
educador “era o dono do saber”, ou seja, a pessoa que possuía todo sobre o que já foi estabelecido no campo curricular, as possíveis
e qualquer ensinamento/ conhecimento, sendo o professor o trans- ideologias ocultas e as contradições eminentes, quando se compara
missor dos conhecimentos fragmentados, sem reflexão nenhuma o discurso pedagógico com a realidade escolar.
para com a vida dos discentes. O período jesuítico durou 210 anos Nesse enfoque, a escola, juntamente com os professores/edu-
no Brasil, nessa época, o período foi marcado como educação je- cadores e a comunidade escolar em geral, deve analisar a consecu-
suítica, onde as disciplinas e os conteúdos escolares, já eram orga- ção do currículo na busca de objetivos específicos no âmbito educa-
nizados de forma a manter certa distância com realidade dos fatos. cional, na intenção de oferecer novas possibilidades, aos alunos, e
É essencial lembrar, que o termo currículo não se falava no ensino ao mesmo tempo, criar oportunidades para todos através da apren-
dos jesuítas, pois o termo apareceu somente no ano de 1963, isto é, dizagem, sendo que o ensino tem que ser comprometido com os
no tempo jesuítico em 1549, os mesmos obtinham uma educação interesses de toda a sociedade, principalmente com os interesses,
tradicional e moral, baseada em uma grade de disciplinas estabele- e as diversas realidades dos discentes. O professor educador tem
cidas pelos próprios jesuítas, disciplinas essas, que contemporane- um papel fundamental na elaboração do currículo na escola, sendo
amente, entendemos por currículo escolar. que o mesmo deve sempre se envolver nos assuntos escolares. Para
É comum ouvirmos, as pessoas mais de idade falar, que no sé- Moreira e Candau (2007).
culo passado ou nos “tempos mais severos”, tudo era mais difícil O currículo é, em outras palavras, o coração da escola, o espa-
para as pessoas, podemos então pensar no passado, e refletir niti- ço central em que todos atuamos o que nos torna, nos diferentes
damente, como por exemplo: como era a oportunidade de estudo níveis do processo educacional, responsáveis por sua elaboração.
de tantas pessoas há décadas atrás? Ou, como era a vida das pes- O papel do educador no processo curricular é, assim, fundamental.
soas antigamente era mais benéfica ou mais rigorosa que a nossa Ele é um dos grandes artífices, queira ou não, da construção dos
hoje? currículos construídos que sistematizam nas escolas e nas salas de
Certamente, saberemos as repostas, se um dia questionados, aula. (MOREIRA e CANDAU, 2007, p. 19).
pois, nossos bisavôs, avôs ou qualquer outra pessoa mais de idade,
nos acrescentaram fatos, ou contaram algumas histórias sobre o
tempo vívido por elas e por sua família.

388
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O currículo escolar contemporaneamente está muito fragmen- tivas, econômicas, culturais, sociais, escolares…) na base das quais
tado, e sem relação nenhuma para com a vida dos discentes que existe interesses concretos e responsabilidades compartilhadas.
chegam até a escola. Analisa-se em muitas escolas, que o currículo (PACHECO, 2001, p. 20)
não é repensado e utilizado para concretizar o ensino-aprendiza- Compreender as diferenças e contemplar a multiplicidade de
gem dos alunos de forma diversificada, ativa, democrática, crítica indivíduos que compõem a mesma sala de aula é de fato saber
e social. incluir com valores e princípios como manda há legislação educa-
Obviamente, muitas escolas insistem em utilizar o método de cional vigente. O currículo deve ser usado para possibilitar a trans-
ensino tradicional no contexto escolar. Observa-se, que as escolas formação social e não para ser guardado em uma gaveta e de vez
quando buscam priorizar e oferecer um ensino fragmentado e tra- em quando ser olhado, e verificado a grade de disciplina que no
dicional aos seus alunos, certamente são escolas que tem como currículo contém.
foco, os conteúdos passivos e as disciplinas a serem seguidas sem Desde então, como verificado no desenvolvimento do trabalho,
reflexão ativa, e, contudo, se distanciam totalmente da realidade o currículo escolar deve ser visto como, “o coração da escola”, isto
social dos educandos que frequentam a escola, assim como da po- é, o currículo tem que ser respeitado, valorizado coletivamente e
pulação em geral. democraticamente no âmbito educacional e social, pois é o currí-
culo que oportuniza a concretização de ações sociais, culturais e
Em relação há isso Mantoan declara:
educacionais nas instituições de ensino.3
O ensino curricular de nossas escolas, organizado em discipli-
nas, isola, separa os conhecimentos, em vez de reconhecer suas
inter-relações. Contrariamente, o conhecimento evolui por recom-
posição, contextualização e integração de saberes em rede de en- TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA
tendimento. O conhecimento não reduz o complexo ao simples, EDUCAÇÃO
para aumentar a capacidade de reconhecer o caráter multidimen-
sional dos problemas e de suas soluções. (MANTOAN 2006, p. 15). A mídia pode ser inserida em sala de aula através dos Recursos
As escolas, juntamente com seus educadores, precisam se or- de Ensino. Estes segundo Gagné (1971, p. 247) “são componentes
ganizar e verificar de forma diferenciada o currículo escolar, focan- do ambiente da aprendizagem que dão origem à estimulação para
do a realidade social, e não apenas os conteúdos enciclopédicos. Os o aluno”. Estes componentes são, além do professor, todos os tipos
conteúdos de forma geral devem ser trabalhados de acordo com as de mídias que podem ser utilizadas em sala de aula, tais como, re-
diversas realidades encontradas em cada escola, em cada sala de vistas, livros, mapas, fotografias, gravações, filmes etc.
aula, pois a escola precisa formar cidadãos de consciência crítica, A utilização de recursos de ensino diminui o nível de abstração
para o conhecimento humano e científico. Os discentes precisam dos alunos, pois eles vêem na prática o que estão aprendendo na
saber questionar as diversas realidades existentes, como também, escola, e podem relacionar a matéria aprendida com fatos reais do
compreender as injustiças muitas vezes “mascaradas” em nossa so- seu cotidiano. Desta forma é mais fácil eles absolverem os conteú-
ciedade, caso o ensino curricular seja passivo, não teremos como dos escolares.
desenvolver a consciência crítica no ensino-aprendizagem, e, por- Dale (1966) criou uma classificação de recursos de ensino que
tanto, não atenderemos á diversidade cultural. é bastante utilizada. Ele nos trouxe o “cone de experiências”, que
Sabe-se que a construção curricular é um projeto que deve mostra que o ensino verbalizado, uso de palavras sem experiência,
levar em conta muitos fatores da contemporaneidade, como por não deve mais ser usado pelo professor, pois os alunos aprendem
exemplo, (classe social, econômica, religião, família, raça, gênero, mais quanto mais pratica experiências em torno do que está sendo
valores, dificuldades de aprendizagem, até mesmo o emocional dos ensinado.
educandos), Zotti (2004, p. 229) defende que: Segundo Dale (1966), os objetivos do uso dos recursos de en-
O educador, então, não pode se limitar a desenvolver o que sino são:
diversos agentes decidem, mas deve estar atento aos diversos con- • motivar e despertar o interesse dos alunos;
textos em que são gestadas as propostas curriculares, pois esse é o • favorecer o desenvolvimento da capacidade de observação;
• aproximar o aluno da realidade;
instrumento de intervenção e defesa de propostas coerentes com
• visualizar ou concretizar os conteúdos da aprendizagem;
uma educação e uma sociedade mais condizentes com os desejos
• oferecer informações e dados;
da maioria da população.
• permitir a fixação da aprendizagem;
A escola deve ter uma função socializadora, e o projeto curricu-
• ilustrar noções mais abstratas;
lar tem que ser elaborado com base em ações práticas e educativas, • desenvolver a experimentação concreta.
ações essas, voltadas há coletividade, a interatividade, e a intencio-
nalidade no ensino-aprendizagem, na compreensão dos fatos histó- Para utilização dos recursos de ensino é preciso estar atento
ricos do passado, como também, da diversidade cultural presente aos seus objetivos, eficácia e função em relação à matéria ensinada.
nos diversos contextos sociais. Em relação ao projeto curricular, Pa- Todos esses objetivos podem ser alcançados através de recursos de
checo (2001) afirma: ensino, midiáticos, como, por exemplo, computador, internet, em
[…] um projeto, cujo processo de construção e desenvolvimen- que o aluno além de conhecer novas tecnologias, faz também inte-
to é interativo, que implica unidade, continuidade e interdependên- ração com o mundo e novas informações. O aluno busca algo novo,
cia entre o que se decide ao nível do plano normativo, ou oficial, e algo atrativo, e a educação deve acompanhar essa busca. Mas não
ao nível do plano real, ou do processo de ensino e de aprendizagem. basta apenas usar a tecnologia, no ambiente de ensino/aprendiza-
Mais ainda, o currículo é uma prática pedagógica que resulta da gem temos que rever o uso que fazemos de diferentes tecnologias
interação e confluência de várias estruturas (políticas, administra- 3 Fonte: www.nucleodoconhecimento.com.br

389
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

enquanto estratégias, tendo clareza quanto à função do que esta- Em relação ao universo da comunicação, a Resolução CNE/CEB
mos utilizando, não basta trocar o livro por um computador se na nº. 7, de 14/12/2010, que estipula as diretrizes para o ensino de
prática não promovemos a inclusão do aluno, no que se refere aos nove anos, não permanece, contudo, apenas num denuncismo inó-
processos de aprendizagem. cuo. Ao contrário, estabelece metas a serem cumpridas.
O computador é conhecido como uma tecnologia da informa- É necessário, por exemplo, que a escola contribua para trans-
ção devido a sua grande capacidade na solução de problemas rela- formar os alunos em consumidores críticos dos produtos midiáticos
cionados a armazenamento, organização e produção de informa- (meta número 1), ao mesmo tempo em que passem a usar os re-
ção de várias áreas do conhecimento. A utilização dessa tecnologia cursos tecnológicos como instrumentos relevantes no processo de
pode ser usada de varias formas, como programas de exercício-e- aprendizagem (meta número 2). É dessa criticidade do olhar e da
-prática, jogos educacionais, programas de simulação, linguagem de criatividade no uso dos recursos midiáticos que pode surgir uma
programação entre outros, despertando assim um grande interesse nova aliança entre o aluno e o professor (meta número 3), favore-
do aluno. cida justamente pelo diálogo que a produção cultural na escola é
Conforme observado por Valente (1993), o computador não é capaz de propiciar.
mais o instrumento que ensina o aprendiz, mas a ferramenta com No caso do docente, o parecer que justificou o documento do
CNE entende que “muitas vezes terá que se colocar na situação de
a qual o aluno desenvolve algo, e, portanto, o aprendizado ocorre
aprendiz e buscar junto com os alunos as respostas para as ques-
pelo fato de estar executando uma tarefa por intermédio do com-
tões suscitadas”. Surge, aqui, a meta número 4: reconhecer o aluno
putador. O processo de interação se torna mais agradável com a
como partícipe e corresponsável por sua própria educação, sujeito
presença da multimídia na aprendizagem, pois naquele momento o
que é de um direito muito especial: o de expressar-se numa socie-
aluno está descobrindo o novo, o contemporâneo. dade plural.
Assim como a tecnologia, a comunicação envolvida no proces-
Educação, Mídia e Tecnologia so de ensino e aprendizagem também está em constante transfor-
A aplicação de novas tecnologias na educação vem modifican- mação. Por esse motivo, não é mais possível estar diante de uma
do o panorama do sistema educacional e, por isso, pode-se falar sala de aula com a expectativa de captar a atenção de toda uma
de um tipo de aula antes e depois da difusão de mídias integradas turma de crianças e adolescentes e utilizando uma linguagem do
e tecnologias avançadas de comunicação digital. Os resultados das século passado. Hoje, não é mais possível falar sobre ecologia, sem
aplicações de tais tecnologias estão criando condições objetivas falar sobre sustentabilidade e tecnologias limpas. Ou falar sobre
para questionarem a real necessidade de se preparar para o ensino linguagens, sem mencionar os memes e as fake news. E esses são
virtual. Hoje, há a percepção de algumas tendências relativas aos apenas alguns dos exemplos possíveis.
novos modelos de ensino e aprendizagem de idiomas mediados por Para estabelecer uma comunicação verdadeira com a realidade
computador. Uma dessas tendências é a aprendizagem por meio de dos estudantes das novas gerações, o processo de ensino e apren-
Redes Sociais ou Comunidades Virtuais de Aprendizagem. dizagem necessita, invariavelmente, levar em conta e valer-se da
Afirma-se que a Educomunicação apresenta-se, hoje, como tecnologia. Dessa necessidade emergiu a Tecnologia Educacional.
um paradigma, um conceito orientador de caráter sociopolítico e Pensada especificamente para trazer inovação e facilitar o processo
educacional a partir da interface Comunicação/Educação. Mais do de ensino e aprendizagem, ela aparece nas salas de aula de diversas
que como uma metodologia, no âmbito da didática, o neologismo maneiras: em novos dispositivos ou gadgets, softwares e soluções
tem sido visto como um parâmetro capaz de mobilizar consciências educacionais.
em torno de metas a serem alcanças coletivamente nas diferentes É raro ver qualquer tipo de interação entre professor e alunos
esferas da leitura e da construção do mundo, como propunha Paulo em sala de aula que ignore completamente as novas tecnologias.
Freire. Mesmo em uma sala de aula desprovida de equipamentos de últi-
O fato permite e facilita um diálogo permanente entre os que ma geração, com o professor mais tradicional, a interação é sempre
buscam dar respostas tanto às questões vitais anunciadas e des- permeada por ela. E não poderia deixar de ser: além dos avanços
critas nas diretrizes propostas pelo poder público quanto às “ex- tecnológicos que conquistaram as gerações X e Y (você se lembra
como enviava mensagens e fazia planos com os amigos antes do
periências escolares” inovadoras e multidisciplinares, previstas na
smartphone?), os estudantes das novas gerações são nativos digi-
reforma do ensino
tais. Isso significa que a maioria deles nunca conheceu um mundo
Trata-se de um percurso que leva em conta a sociedade da in-
sem internet, celular, Google ou redes sociais, dessa forma, o uso
formação e o papel da mídia na geração de conteúdos, mensagens
de tecnologias educacionais se tornou fundamental para potencia-
e apelos comportamentais. lizar o ensino e principalmente, gerar maior interesse e interação
Segundo a justificativa do CNE que embasa o documento, se, dos alunos.
de um lado, “é importante a escola valer-se dos recursos midiáti- A Tecnologia Educacional é um conceito que diz respeito à utili-
cos é, igualmente, fundamental submetê-los aos seus propósitos zação de recursos tecnológicos para fins pedagógicos. Seu objetivo
educativos”. Nesse sentido, o texto propõe que valores — presen- é trazer para a educação – seja dentro ou fora de sala de aula – prá-
tes muitas vezes de forma conflituosa no convívio social e assim ticas inovadoras, que facilitem e potencializem o processo de en-
reproduzidos pela mídia — sejam identificados e revisitados pela sino e aprendizagem. O uso da TE tem sido amplamente discutido
educação. É o caso, por exemplo, do consumismo e de uma pouco no meio acadêmico, na mídia e nos círculos sociais, espaços onde
disfarçada indiferença com relação aos desequilíbrios que ocorrem nem sempre é bem recebido. As maiores críticas dizem respeito à
no mundo; indiferença essa que leva, com certa naturalidade, à ba- sua relação com o papel da escola e do professor e à dificuldade de
nalização dos acontecimentos por parte significativa dos meios de acesso à tecnologia, especialmente nas escolas da rede pública e
informação. entre estudantes com menor renda familiar.

390
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Mas, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, o foco dos para transmiti-la (tecnologias digitais, canais frequentemente
principal da Tecnologia Educacional não está sobre os dispositivos utilizados pelas novas gerações). Isso auxilia não apenas na com-
tecnológicos (a escola não precisa, obrigatoriamente, contar com preensão do conteúdo, mas também na visualização e na resolução
os equipamentos mais modernos para trabalhar a TE), e sim sobre de problemas reais que se apresentam no dia a dia do estudante.
as práticas que o seu uso possibilita. Em outras palavras: ter bem
definida a finalidade do uso da tecnologia em sala de aula é mais 3. A tecnologia digital insere os jovens no debate social e con-
importante que os meios e recursos tecnológicos que serão empre- tribui para a formação do senso crítico.
gados para tal prática. Uma das principais vantagens da aplicação da tecnologia digital
E é aí que entra o papel fundamental do professor e do profis- na educação é a possibilidade de acessar informações atualizadas,
sional da educação no emprego da Tecnologia Educacional: definir em tempo real. Não é mais preciso aguardar pela atualização do
quais são os recursos e ferramentas mais adequados para a realida- livro didático impresso para ter acesso a temas contemporâneos,
de de seus alunos, e também a forma mais relevante de os utilizar questões recentes de vestibulares, dados atualizados e debates so-
em suas práticas pedagógicas. Ainda assim, pode surgir a dúvida: ciais relevantes. Trabalhar com informações hiperatualizadas con-
com que objetivo um profissional da educação deveria inserir a tec- tribui para inserir o estudante no debate social e desenvolver seu
nologia nas práticas pedagógicas e no dia a dia da sua instituição senso crítico e de argumentação, preparando-o simultaneamente
de ensino? para os desafios da vida social e acadêmica.

Tecnologia Educacional: por que usar? 4. A tecnologia digital trabalha a responsabilidade na utiliza-
Ao longo das últimas décadas praticamente todas as áreas da ção da internet e dos recursos digitais.
sociedade têm experimentado uma grande evolução tecnológica. A tecnologia digital está presente na vida das novas gerações
Toda evolução compreende uma mudança na comunicação, nas re- desde muito cedo. É extremamente comum ver crianças em idade
lações sociais e, é claro, no processo de ensino e aprendizagem. pré-escolar utilizando tablets e smartphones, por exemplo. A inser-
Mas, como dissemos no tópico acima, a utilização da Tecnologia ção da tecnologia no ambiente escolar ajuda a estabelecer regras
Educacional nem sempre é bem recebida – inclusive por educado- de convivência e segurança nos ambientes virtuais. Também é uma
res. A raiz dessa resistência talvez esteja na desinformação sobre as boa oportunidade para trabalhar a responsabilidade no manuseio e
diferentes possibilidades que ela oferece à educação. na conservação dos equipamentos digitais.

Listamos aqui alguns dos motivos para utilizar a Tecnologia 5. A tecnologia digital contribui para democratizar o acesso
Educacional em sua escola. ao ensino.
Hoje existem diversas ferramentas e metodologias desenvolvi-
- Ampliar o acesso à informação.
das com o objetivo de ajudar os profissionais da educação a promo-
- Facilitar a comunicação escola – aluno – família.
ver a democratização do acesso ao ensino e a trabalhar a favor de
- Automatizar processos de gestão escolar.
uma educação mais inclusiva. O uso da tecnologia digital em sala de
- Estimular a troca de experiências.
aula (na forma de recursos sonoros, visuais e de escrita, por exem-
- Aproximar o diálogo entre professor e aluno.
plo) pode dar mais autonomia aos estudantes portadores de defi-
- Possibilitar novas formas de interação.
ciência, transtornos ou problemas de aprendizagem, ajudando-os a
- Melhorar o desempenho dos estudantes.
superar limitações e a desenvolver ao máximo seu potencial.
Vamos analisar alguns motivos por que o uso da tecnologia di-
gital em sala de aula pode melhorar o desempenho dos seus alunos. 6. A tecnologia digital oferece feedback imediato e constante
a professores, alunos e responsáveis.
1. A tecnologia digital desperta maior interesse e prende a Nas escolas que utilizam um ambiente virtual de aprendizagem
atenção dos alunos. (AVA), transferir as tarefas e avaliações para o meio digital é uma
O uso da tecnologia digital na educação contribui enorme- maneira de gerar dados de desempenho imediatos para professo-
mente para o engajamento dos estudantes na dinâmica de aula. A res, alunos e responsáveis. Dessa maneira, o aluno pode corrigir
mente humana é apaixonada por novidades. Por isso, é importante equívocos enquanto o conteúdo continua “fresco” na memória, em
variar a rotina de estudos, fazer pequenas mudanças no local e, es- vez de descobrir dias depois (ou apenas no final do bimestre) que,
pecialmente, experimentar diferentes ferramentas e recursos tec- durante todo o tempo, seu desempenho esteve abaixo do espera-
nológicos. Quando se buscam novas formas de ensinar e aprender, do. Além disso, professores e responsáveis acompanham de perto a
coloca-se uma aura de novidade sobre a rotina de estudos, tornan- evolução de cada estudante, intervindo e direcionando os estudos
do-a mais interessante e prazerosa. Consequentemente, crescem a conforme necessário.
atenção e o interesse dos alunos pelo assunto em pauta.
7. A tecnologia digital permite traçar um plano de ensino ade-
2. A tecnologia digital auxilia na percepção e na resolução de quado a cada aluno.
problemas reais. A tecnologia digital permite gerar uma grande quantidade de
Grande parte dos artigos e discussões recentes na área da edu- dados educacionais. É possível identificar temas e conceitos nos
cação (inclusive a recém-aprovada Base Nacional Comum Curricu- quais os estudantes apresentam maior facilidade ou dificuldade de
lar) diz que é preciso aproximar o conteúdo estudado da realidade compreensão, bem como verificar o desempenho da turma e de
dos alunos. Experimente dar um sentido mais prático à sua discipli- cada aluno, individualmente. A análise desses dados dá autonomia
na, seja por meio da contextualização da informação (aplicação em para que professores, pais e alunos tracem um plano de ensino per-
situações reais, apresentação de casos locais) ou dos meios utiliza- sonalizado, mais adequado a cada turma e estudante. Também pos-

391
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sibilita que o próprio aluno, nas etapas mais avançadas da educação Microlearning
básica, direcione seu aprendizado para suas áreas de interesse e da Tanto para as novas gerações quanto para as anteriores, a enor-
formação que pretende seguir. me quantidade de informações com as quais temos contato diaria-
mente ocasionou uma transformação na forma como consumimos
Exemplos de usos da Tecnologia Educacional conteúdo. Para que a atenção não seja desviada de pronto, este
A Tecnologia Educacional pode estar presente na educação de conteúdo aparece em nosso dia a dia de forma muito mais frag-
diversas maneiras, algumas delas são: mentada, em vídeos e mensagens breves. Daí surge a expressão
- em gadgets (dispositivos), como a lousa digital, os tablets e as microlearning, que consiste na fragmentação de conteúdo educa-
mesas educacionais; cional para que este seja melhor assimilado pelos alunos. O meio
- em softwares, como os aplicativos, os jogos e os livros digitais; digital favorece este tipo de interação, por meio de vídeos, jogos,
- e em outras soluções educacionais, como a realidade aumen- animações, apresentações interativas etc.
tada, os ambientes virtuais de aprendizagem e as plataformas de
vídeo. Como inserir a tecnologia na minha escola?
Existem medidas essenciais para inserir a Tecnologia Educacio-
Diversas práticas e iniciativas educacionais apenas tornaram-se nal de maneira relevante no dia a dia de sua instituição de ensino.
Elencamos algumas delas a seguir:
realidade com o uso da TE. A seguir, vamos falar um pouco sobre
as possibilidades do uso da Tecnologia Educacional e as diferentes
Diagnóstico
formas de como ela vem transformando a educação.
Antes de mais nada, é preciso entender os alunos e professores
da sua escola. Em que momentos eles estão conectados? A partir
Ensino híbrido de quais dispositivos? Quais são as redes sociais em que estão pre-
A prática de combinar o estudo on e offline, conhecido como sentes e os sites que acessam? Essa investigação é essencial caso
ensino híbrido, é uma grande tendência possibilitada pela Tecnolo- sua instituição pretenda estabelecer uma conexão verdadeira com
gia Educacional. Ela confere maior autonomia aos estudantes, para os seus públicos e propor usos significativos para a Tecnologia Edu-
que trilhem seus próprios roteiros de estudo, desenvolvam proje- cacional.
tos ou atividades de sistematização e de reforço. Também é uma
prática que incentiva e facilita que o aluno desenvolva o hábito do Documentos normativos
estudo diário, fora do ambiente escolar. As possibilidades para o uso da TE, bem como o destaque da
sua importância, devem estar previstas dentro do PPP e em outros
Sala de aula invertida documentos normativos da instituição de ensino.
Na sala de aula invertida, o aluno traz para a aula o conheci-
mento prévio sobre o tema que será estudado, adquirido a partir Investimento
de textos, vídeos, jogos e outros formatos de conteúdo recomen- É importante relacionar tudo aquilo que a escola possui de su-
dados pelo professor – quase sempre no meio digital. A constru- porte para o uso da tecnologia, para daí desenvolver planos reais
ção e significação deste conhecimento, no entanto, acontecem em sobre as práticas que podem ser adotadas. Essa relação também
conjunto, na sala de aula. Assim como o ensino híbrido, a proposta deixa claro aquilo que é preciso melhorar e o investimento que
da sala de aula invertida tem como objetivo colocar o estudante no pode ser feito com esta finalidade.
papel de protagonista de seu processo de aprendizagem e da sua
própria evolução, engajando também os outros membros do seu Capacitação
núcleo familiar. De nada adiantam os recursos tecnológicos sem uma equipe de
professores e profissionais capacitados para extrair deles as melho-
Gamificação res práticas pedagógicas. Por isso, a formação dos educadores para
A gamificação, assunto muito comentado no meio educacional a tecnologia é primordial.
nos últimos anos, consiste em utilizar elementos de jogos digitais
Diálogo
(como avatares, desafios, rankings, prêmios etc.) em contextos que
Uma ação importante é estimular o diálogo e a troca de expe-
diferem da sua proposta original – como na educação. A principal
riências entre as equipes. Os professores sentem-se mais seguros,
vantagem apontada pelos profissionais da educação no uso da ga-
dispostos e motivados a utilizar a tecnologia quando compartilham
mificação é o aumento no interesse, na atenção e no engajamento
das experiências de seus pares.
dos alunos com o conteúdo e as práticas propostas.
Segurança
Personalização do ensino É preciso estimular o uso consciente e seguro dos recursos digi-
A geração de dados educacionais é extremamente beneficiada tais, por parte tanto das equipes da escola quanto dos estudantes.
pelo uso da TE, pois simplifica a aferição do desempenho e dos re-
sultados de avaliações objetivas. A partir desses dados, é possível Atualização
criar modelos de ensino personalizados, que estejam em sintonia A partir do momento em que o professor identifica uma prática
com o momento real de aprendizagem de cada estudante. Assim, o ou rotina que poderia ser inovada com o uso da tecnologia, tam-
professor tem uma noção mais clara do panorama da turma e pode bém é importante pensar na atualização dos planos de aula que
agir individualmente e de forma personalizada sobre os pontos po- irão nortear essas práticas.
tenciais e de maior dificuldade de cada estudante.

392
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Plano de Aula X tecnologia O hipertexto, pela sua natureza não sequencial e não linear,
A partir da modernização de espaços, ferramentas e práticas afeta não só a maneira como lemos, possibilitando múltiplas entra-
educacionais, profissionais da educação em todo o mundo estão das e múltiplas formas de prosseguir, mas também afeta o modo
trabalhando por uma transformação cada vez mais profunda e efe- como escrevemos, proporcionando a distribuição da inteligência
tiva no processo de ensino e aprendizagem. Essa transformação e cognição. De um lado, diminui a fronteira entre leitor e escritor,
é um processo nascido e desenvolvido dentro de cada espaço de tornando-os parte do mesmo processo; do outro, faz com que a es-
aprendizagem, baseado em uma mudança de hábitos e paradigmas crita seja uma tarefa menos individual para se tornar uma atividade
estabelecidos nas relações diárias entre alunos e professores. Não mais coletiva e colaborativa. O poder e a autoridade ficam distri-
basta esperar que a transformação chegue até a sala de aula, ela buídos pelas imensas redes digitais, facilitando a construção social
precisa ter um ponto de partida dentro do ambiente escolar. Que do conhecimento.(MARCUSCHI, Luiz A. O hipertexto como um novo
tal ser um agente dessa mudança na sua escola, começando pelo espaço de escrita em sala de aula. Linguagem e Ensino, Rio Grande
plano de aula? do Sul, 2001. v.4, n. 1, p. 79-111.)
A chegada da Base Nacional Comum Curricular deixa ainda
mais evidente a necessidade de trazer a tecnologia para dentro da A BNCC e os gêneros digitais
realidade das escolas. Segundo a BNCC, os estudantes devem de- A tecnologia está presente ao longo de todo o texto da Base
senvolver ao longo da Educação Básica a competência para: Nacional Comum Curricular. Ela aparece especialmente na leitura,
Compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e interpretação e produção dos novos gêneros digitais, como:
comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas di- - Blogs;
versas práticas sociais (incluindo as escolares), para se comunicar - Tweets;
por meio das diferentes linguagens e mídias, produzir conhecimen- - Mensagens instantâneas;
tos, resolver problemas e desenvolver projetos autorais e coletivos. - Memes;
(BNCC) - GIFs;
- Vlogs;
A seguir, apresentamos 6 ideias para atualizar seu plano de aula - Fanfics;
e trabalhar a tecnologia de maneira relevante e integrada ao dia a - Entre diversos outros.
dia da turma.
Se engana quem pensa que os novos gêneros digitais devem
1. Interação em ambientes virtuais ser trabalhados apenas pelo professor de Língua Portuguesa. O tra-
Desde a primeira infância, os estudantes da Geração Z estão balho com esses gêneros pode ser explorado em diferentes áreas
navegando em ambientes virtuais. Eles comunicam-se com desen- do conhecimento, valorizando também o trabalho interdisciplinar
voltura no meio digital, às vezes mais do que seus pais e professo- – como sugere, inclusive, a própria BNCC.
res. Incentivar e orientar a interação nesses espaços tem muito a
acrescentar à prática pedagógica. Procure identificar as tarefas que 3. Métodos colaborativos de produção de conteúdo
podem ser transpostas, facilitadas ou repensadas para o meio di- Uma maneira de engajar os estudantes com o plano de aula
gital. da sua disciplina é torná-los parte da construção do conhecimento.
As ferramentas para isso são abundantes: é possível criar gru- Mobilize a criação de um blog para a turma e estimule a interação
pos e comunidades nas redes sociais; fóruns de discussão com te- por meio dos comentários; organize e deixe disponível para con-
máticas específicas relacionadas ao conteúdo que está sendo es- sulta um banco de textos e artigos com as produções dos alunos;
tudado; ou mesmo utilizar um ambiente virtual de aprendizagem, desenvolva projetos interdisciplinares.
caso a sua escola ou sistema de ensino disponha de um. O Google Docs, por exemplo, é uma ferramenta gratuita, que
permite construir textos de maneira colaborativa, editando, adicio-
2. Textos em formato digital nando comentários e enviando feedback em tempo real. No entan-
O consumo de textos em formato digital é baseado na lingua- to, existem diversas outras ferramentas disponíveis. Procure pelas
gem hipertextual e em uma forma de leitura não linear. O texto em melhores soluções que conversem com a realidade e as necessida-
formato digital permite ampliar o conhecimento acerca de uma te- des da turma.
mática, elucidar e ilustrar conceitos, contextualizar momentos his-
tóricos, esclarecer vocabulários específicos, entre diversas outras 4. Apresentações em formatos multimídia
possibilidades. A leitura deixa de ser apenas receptiva para tornar- É importante empregar recursos tecnológicos ao seu plano de
-se um processo interativo. aula, uma vez que o uso de materiais em diferentes formatos (como
Muitos materiais didáticos já possuem uma versão digital que vídeos, apresentações em slides, mapas mentais etc.) colabora para
pode ser aproveitada como recurso em sala de aula ou em casa. o engajamento da turma. Além disso, pode servir para enriquecer
Explore também as funcionalidades oferecidas por portais de no- tanto a aula do professor quanto as apresentações dos próprios alu-
tícia online, e-books, PDFs interativos etc. O hipertexto permite nos.
adicionar links, imagens, vídeos, referências e diversos formatos de Algumas ferramentas que apresentam essas funcionalidades
conteúdo adicional ao corpo do texto, transformando a forma como são o YouTube (edição e compartilhamento de vídeos), o Google Sli-
lemos e aprendemos. Quando se transforma a forma de ler, modifi- des e o Prezi (apresentação de slides e construção de mapas men-
ca-se também a forma de produzir conteúdo. tais), o PowToon (construção de vídeos e animações – em inglês),
entre outras. Busque também compartilhar experiências e conhe-
cer as ferramentas utilizadas por outros professores.

393
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

5. Diferentes formatos de avaliação Pensar novas formas de utilização da tecnologia a favor da edu-
A tecnologia também pode convergir para o plano de aula no cação é uma missão de todo profissional que atua hoje nessa área.
modo de avaliação. Por mais que a prova em papel e caneta – com Procure manter-se atualizado sobre as tendências em tecnologia
os alunos em fila e vigiados pelo professor – continue sendo o mé- educacional, acompanhando blogs, revistas e portais de notícia so-
todo de avaliação mais comum, existem formas diferentes de verifi- bre o assunto. Troque experiências com outros profissionais e des-
car a aprendizagem dos estudantes. cubra novas práticas, soluções e ferramentas que estão surgindo a
Caso a sua escola utilize um sistema de ensino, uma dica é ve- cada dia.4
rificar se ele disponibiliza avaliações em formato digital, como ativi-
dades de fixação e reforço, provas e simulados. Você também pode
desenvolver suas próprias avaliações, pesquisas e questionários uti- EDUCAÇÃO PARA DIVERSIDADE, CIDADANIA E
lizando ferramentas gratuitas como o Google Forms. EDUCAÇÃO PARA DIREITOS HUMANOS
6. Aplicativos e softwares educacionais
Utilizar elementos lúdicos para facilitar o entendimento de Vivemos em uma sociedade complexa, plural, diversa e desi-
conceitos, além de estimular e engajar os estudantes para a realiza- gual, em que o tema Educar para a Diversidade e Cidadania conduz
ção de tarefas, das mais simples as mais complexas, não é nenhu- a uma grande reflexão e a um desafio, pois somos parte integrante
ma novidade na área da educação. No entanto, o desenvolvimento desta sociedade.
tecnológico ocorrido nos últimos anos possibilitou que essa prática
fosse transportada para o meio digital e amplamente difundida nas Como cidadãos promotores de uma política educacional, re-
salas de aula em diferentes partes do mundo. Nas pautas mais re- conhecemos que a luta pelos direitos e respeito às diferenças não
centes, esse fenômeno é conhecido como gamificação. pode se dar de maneira isolada, mas sim, como resultados de prá-
Ao buscar no App Store ou Play Store, na categoria “Educação”, ticas culturais, políticas, sociais e pedagógicas, que reconheçam a
é possível encontrar inúmeros jogos e aplicativos – muitos deles participação de toda sociedade extrapolando os muros escolares.
gratuitos – que podem ser aproveitados dentro do contexto edu-
cacional. Criar de fato condições de conhecimento e compreensão em
diversos espaços como lares, instituições e comunidades, reivindi-
O que inserir em seu plano cando o respeito às diferenças e garantindo o direito de todos os
… e como? grupos sem perder a direção do diálogo, são atitudes marcantes de
de aula…
combate às desigualdades sociais.
- Grupos e comunidades nas redes
sociais; Sabemos que esta luta pelos direitos contra as diferenças sem-
1. Interação em ambientes - Fóruns de discussão; pre esteve presente na história da humanidade. A diferença de tra-
virtuais - Ambiente virtual de aprendiza- tar o outro sempre teve conotação violenta e excludente. (Escravi-
gem; dão, Nazismo, Inquisição).
- Etc.
- Portais de notícia; Hoje verificamos que esta diversidade não se evidencia somen-
2. Textos em formato - E-books; te nas diferentes culturas constituintes da população, mas sim na
digital - PDFs interativos; desigualdade social, cultural, econômica e racial, encontrando-se
- Etc. refletida no sistema educacional.
- Blog/vlog;
3. Métodos colaborativos A escola constitui um dos espaços socioculturais onde as dife-
- Banco de textos e artigos;
de produção de conteúdo renças se encontram?
- Etc.
- Vídeos; Será que as diferenças são tratadas de forma adequada?
4. Apresentações em for- - Slides;
matos multimídia - Mapas mentais; Será que a garantia da educação escolar visa seus direitos so-
- Etc. ciais na inclusão dos ditos diferentes, criando recursos adequados à
- Avaliações online; formação integral de cidadão?
5. Diferentes formatos de - Atividades de fixação e reforço;
avaliação - Simulados; Educar para a Diversidade e Cidadania é fazer das diferenças
- Etc. o ponto de arranque para o caminhar em direção ao respeito ao
outro. É saber enxergar e aprender com a riqueza que esta relação
- Jogos pode nos propiciar e não apenas reconhecer o outro como dife-
6. Aplicativos e softwares
- Aplicativos educacionais; rente, mas reconhecer que esta relação entre eu e o outro pode
educacionais
- Etc. significar uma troca de crescimento social, político e pedagógico.
Não é fácil, mas devemos dirigir o olhar para história, repen-
sar valores, reconhecer e romper com muitos preconceitos, velhas
opiniões formadas muitas vezes sem o menor contato com o outro,
enfim mudar paradigmas.
4 Fonte: www.blog.sae.digital/www.revistas.usp.br/www.administradores.com.
br

394
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Será que estamos dispostos aceitar este desafio? tância cultural, gerar certa tensão com quaisquer alunos rebeldes
As desigualdades (sociais, econômicas, sexuais, raciais, entre à aprendizagem, superar momentos de desânimo quanto o tédio
outras), exigem de todos, um posicionamento crítico, político um inerente à repetição das mesmas explicações, as quais acompa-
olhar mais avançado que envolve reconhecer os direitos dos grupos nham tarefas elementares, por mais fundamentais que elas sejam.
(negros, índios, mulheres, portadores de necessidades especiais, (PERRENOUD, 2001, p. 46.)
homossexuais entre outros) numa visão frente a frente com a luta Daí a proposta de novas formas de se educar, enxergando o
de todos pelos direitos, colocando-nos diante do grande desafio de aluno não somente como uma folha em branco, que está esperan-
implementação de políticas públicas, ações afirmativas contribuin- do para ser escrita, mas que, todavia, já traz consigo suas histórias,
do para o processo educacional e a garantia da cidadania. anseios e modos de vida própria e somente a escola poderá se ade-
quar às necessidades das práticas escolares justamente às caracte-
Devemos todos nos propor a encontrar a igualdade na diversi- rísticas de cada estudante, pois claramente como afirma o próprio
dade, lembrando sempre que, acima de tudo, somos todos huma- Perrenoud (2001, p.48), “é normal ter vontade de trabalhar com os
nos e como tal temos grande capacidade para a solidariedade, a alunos mais gratificantes, mais curiosos, mais rápidos. É inútil sen-
cooperação e o amor. tir-se culpado. O essencial é analisar lucidamente suas escolhas”.
Em uma abordagem de se trabalhar com as diferenças apresen-
A sociedade e o homem se transformam a cada dia. A educa- tadas pelos alunos é que Candau e Leite (2006) afirmam a necessi-
ção precisa acompanhar essas mudanças. O processo de formação dade da quebra de paradigmas impostos pela escola tradicional e a
do professor deve ser pensado nessa perspectiva. Portanto, os pro- proposta de uma educação que reconheça as diferenças individuais
jetos pedagógicos dos cursos e suas matrizes curriculares, devem dos alunos e, consequentemente, a adequação de práticas peda-
apresentar disciplinas que favoreçam acompanhar as vicissitudes gógicas que priorizem essas características individuais desses estu-
da humanidade. dantes. As autoras justificam essa necessidade já que a aquisição
Cada instituição escolar é única, se analisarmos e levarmos em do conhecimento não se dá da mesma forma para todos e essas
consideração o ambiente em que estes alunos estão inseridos, e é diferenças na aprendizagem acabam tornando-se manifestações
justamente pela importância do tema, que a discussão em relação excludentes e discriminatórias.
à diversidade cultural vem ganhando uma maior conotação, o que Ainda segundo Candau e Leite (2006) foi justamente essa
incentivou o estudo desta questão à alguns anos, ratificando assim, proposta na mudança educacional desenvolvida na década de 60,
não se tratar de algo novo, apontando para a necessidade de apro- que motivou Paulo Freire, no nordeste brasileiro, na implantação
fundar se nessa construção do discurso sobre as diferenças, e de da educação de jovens e adultos. O método implantado por Paulo
uma educação que seja capaz de produzir um espírito de criticidade Freire tem como proposta uma educação que considera o universo
e do real significado do termo cidadania. cultural no qual está inserido. Dessa maneira, é possível considerar
Cada escola, cada sala de aula tem a sua história e suas preo- também a diferença cultural que influencia diretamente na defici-
cupações que a faz diferente uma das outras, essas diferenças apre- ência da aprendizagem no espaço escolar e nas interações sociais.
sentadas pela comunidade escolar, pode ser explicada justamente É comum, na obra de Paulo Freire a crítica à educação e à prá-
pela diversidade cultural/territorial expressas no chão de cada es- ticas escolares que carregam uma concepção massificadora e exclu-
cola, pois trata se de uma população formada por diversos grupos dente, induzindo seus alunos a simples repetição de conhecimen-
étnicos, com seus costumes, seus rituais e suas crenças. tos que foram disseminados durante anos, não proporcionando e
Ao analisarmos como se dá o processo de aprendizagem nos muito menos possibilitando aos discentes a discussão de proble-
dias atuais, e principalmente em nossas escolas, vários fatores in- mas emergentes do cotidiano. Para o autor é preciso considerarmos
fluenciadores poderiam ser enumerados tanto enquanto aspectos uma sociedade que passa constantemente por transição e, dessa
positivos, no que se refere à possibilidade de conhecer e conviver forma, negarmos uma educação que não leva a discussão de ideias,
com novas culturas, tanto nos aspectos negativos, principalmen- e muito menos a produção de novos conhecimentos.
te na definição de culturas, que com o passar dos anos vieram de Freire (2003, p.98) exorta que “só podíamos compreender uma
outras regiões do país, e essas passaram a ser consideradas como educação que fizesse do homem um ser cada vez mais consciente
inferiores em relação as que já existiam naquele chão. de sua transitividade que deve ser usada tanto quanto possível criti-
A atual sociedade tem passado por significativas transforma- camente, ou com acento cada vez maior da racionalidade”.
ções em seus vários aspectos, político, econômico, religioso, fami- Não é mais justificável uma educação estática que não contem-
liar e principalmente o aspecto cultural. E é justamente no âmbito ple a conscientização e a libertação do indivíduo, daí a importância
cultural, que mais tem se divergido as ideias, principalmente de sua do questionamento não somente dos conteúdos, mas da própria
influência na vida de nossos alunos na relação ensino aprendiza- forma e da relação entre educadores e educandos. Dessa forma a
gem. educação era concebida de forma arbitrária e os indivíduos foram
Nota se claramente que há um distanciamento cultural muito moldados de acordo com os interesses culturais e políticos, e o pro-
grande, o que tem causado sérios danos à formação das crianças, fessor era puramente um reprodutor de ideias e não um formador
jovens e adultos, seja tanto dentro da sociedade, assim como no de cidadão críticos capazes de transformar uma sociedade.
próprio ambiente escolar, o que tem levado constantemente aos Assim poderíamos enxergar que a escola possui uma função
professores a trabalharem com alunos que teoricamente não lhes política e social que pautada pela razão deve tentar ajudar na me-
trarão problemas, como pontua claramente Philippe Perrenoud: lhora da qualidade do ensino/aprendizagem uma vez que somos
Diferenciar é trabalhar prioritariamente com os alunos que têm frutos de um sistema que acaba engessando o pensamento dos
dificuldades. Ora, nem sempre eles são cooperativos, trabalhado- indivíduos com um conhecimento que fora outrora padronizado,
res, simpáticos, bem educados, divertidos, limpos e charmosos, ou criando barreiras que impedem os professores de alcançarem re-
seja, gratificantes. Diferenciar é enfrentar com frequência certa dis- sultados que possam ser visíveis não só na formação intelectual,

395
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mas também na formação pessoal do educando, o que exigirá ques- de educação, de saúde e de assistência. Estas metáforas afirmam
tionamento não só aos conteúdos, mas à própria forma, ao próprio que assim como os acidentes naturais e as doenças põem em perigo
método da educação e da relação entre educadores e educandos. o corpo social, político, cultural e moral. (ARROYO, 2009, p.45)
A flexibilidade da consciência e a necessidade constante da Ainda de acordo com o autor, foram criadas campanhas que vi-
participação do individuo nas mudanças necessárias na sociedade, savam proteger a educação popular que acabava infantilizando-a ao
deve passar por uma mudança educacional no agir educativo, que invés de protegê-la, e que verdadeiramente acabava por desqualifi-
várias vezes pode ter sido reprimida pelo próprio sistema educa- car e desconceituar tal grupo. Dessa forma, em tempos modernos
cional através da padronização do ensino, priorizando o ensino de autoimagens foram criadas a respeito da cultura popular e saúde,
conteúdos programáticos que não conseguem contemplar realida- que exigem uma mudança de postura de todos os envolvidos nes-
des vivenciadas por esses alunos e o que só seria possível, quando se processo, possibilitando o aparecimento de uma nova dinâmica
os cidadãos estiverem participando efetivamente das mudanças político-cultural, que exigirá a ressignificação dessas manifestações
que ocorrem na sociedade, através de uma educação que pudesse preconceituosas.
enquadrar esse individuo nas discussões pertinentes ao seu espaço Com isso Arroyo (2009) qualifica a educação popular e saúde
e tempo. como uma “reação as tentativas conservadoras de despolitização
Agir educativo que, não esquecendo ou desconhecendo as con-
de suas ações inventando gestos para chocar a cultura política e
dições culturológicas de nossa formação paternalista, vertical, por
abrem espaços para explorar suas dimensões pedagógicas” (p.410).
tudo isso antidemocrática, não esquecesse também e, sobretudo
E esse processo de mudança se dará com a formação e cons-
as condições novas da atualidade. De resto, condições propícias ao
cientização dos novos educadores, com a configuração de novos
desenvolvimento de nossa mentalidade democrática, se não fossem
destorcidas pelos irracionalistas. (FREIRE, 2003, p.99) hábitos, valores éticos, políticos e culturais e com novos rumos pro-
Freire e Shor (1987) falam sobre enfrentar o medo no cotidiano postos por uma educação transformadora, quebrando velhos pa-
de nossas lutas pela transformação da sociedade. Essa transforma- radigmas e criando novos conceitos de educação popular e saúde,
ção seria mais eficaz a partir do momento que professores fizessem pois a intenção das classes dominantes não é a de educar as classes
uso da chamada educação informal, que seria justamente o reco- populares mais simplesmente massificá-la, dominá-la ou simples-
nhecimento de conhecimentos empíricos adquiridos e vivenciados mente aniquilá-la.
por esses sujeitos em sua realidade cotidiana, não priorizando ape- Os movimentos populares repolitizam e radicalizam a peda-
nas a educação formal, que seguem um ensino padronizado e ins- gogia popular, na medida em que repõem suas lutas no campo de
titucionalizado. Os autores afirmam que “se estou seguro do meu direito. Ao afirmarem-se sujeitos de direitos, vinculam as políticas
sonho político, então uma das condições para continuar a ter esse sociais com a igualdade, a justiça e a equidade. Não mais com a in-
sonho é não me imobilizar enquanto caminho para sua realização. E clusão excludente. Fazem avançar uma conformação do povo como
o medo pode ser paralisante” (1986, p.35). sujeito de direitos. (ARROYO, 2009, p.411)
A abordagem da educação libertadora, não se faz em favor dos A legitimidade dos movimentos sociais populares acaba por
oprimidos; é feita a partir do povo e com ele, é o que justamente resgatar aos cidadãos princípios básicos de igualdade e cidadania,
é chamado de cultura popular. Nessa globalidade do processo da que reagindo a ideais conservadores acabam por abrir novos cami-
cultura popular, a educação ganha sentido originário de busca do nhos para a aplicação de diferentes e inovadores dispositivos peda-
pleno reconhecimento ativo do homem e pelo homem. Educar-se gógicos que poderá em um futuro muito breve contribuir na refor-
é participar ativamente do processo total da cultura, através da mulação e reorganização da práxis pedagógica, principalmente na
qual o homem se faz e refaz, radicalmente, é o processo da cultura formação político pedagógico e ideológico de uma classe jovem que
do povo trabalhador, sendo assim, cultura popular no seu sentido amanhã possivelmente estará a frente do nosso país, incentivada e
mais profundo e originário. Assim, na luta pela educação popular sustentada por uma nova classe de professores, abertos para uma
como objeto de resistência à ideologia dominante e, como objeto nova discussão do que seria, ou deveria ser a aproximação da nova
na construção de uma cultura geral, todos temos uma parcela de dinâmica educativa provocada pelos novos educadores.
responsabilidade. Daí também em se pensar em uma nova proposta na recons-
É justamente nesse terreno da chamada educação popular que
trução dessas autoimagens, que os referidos movimentos popula-
Arroyo (2009) chama-nos a atenção que desde seu surgimento na
res deveriam continuar submissos ao próprio sistema, esperando
década de 60, concepções estereotipadas e errôneas tem sido cons-
uma mudança política e ideológica de forma pacífica por parte dos
truída do que seja esse movimento e consequentemente a constru-
governos ou representações políticas. Não é concebível na atual
ção de imagens que acabaram padronizando as pessoas de classes
menos favorecidas como seres inferiores ou portadores de uma cul- sociedade moderna, luta por direitos sem manifestações ou con-
tura que fora ocultada por essa classe dominante. fronto, principalmente o confronto de ideias que contribuirá na for-
Segundo Arroyo (2009) a ligação entre a educação popular e mação do senso crítico desses novos cidadãos.
saúde se dá justamente por que determinados setores da socieda- Assim é impensável discutir sobre direito à diversidade e edu-
de criam imagens metafóricas tiradas da patologia: fala-se da igno- cação para cidadania sem antes partirmos de uma abordagem an-
rância popular como chaga social, não enxergando nesses grupos tropológica com o intuito de podermos tentar compreender qual o
qualquer tipo de conhecimento, seja no aspecto cultural ou inte- real significado do termo identidade, como uma construção que se
lectual. faz com atributos culturais, isto é, ela se caracteriza pelo conjunto
Estas visões naturalizadas, biologizadas e patológicas dos se- de elementos culturais adquiridos pelo indivíduo através da heran-
tores populares ainda estão muito arraigadas e orientam o pensa- ça cultural. E é essa mesma identidade que confere diferenças aos
mento, as análises e a ação, as políticas, programas e campanhas grupos humanos, evidenciando-se em termos da consciência da di-
ferença e do contraste do outro.

396
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Uma afirmação que muito poderá nos ajudar na reflexão na Mesmo considerando que no Brasil a diversidade cultural seja
diversidade das culturas é de Lévi-Strauss (1976, p.328-329), ao facilmente notada e que a escola é a instituição em que mais se
ponderar que; convive com as mais diversas formas de manifestações culturais,
[...] resultaria em um esforço vão ter consagrado tanto talento a mesma mostra-se despreparada para trabalhar com manifesta-
e tantos esforços para demonstrar que nada, no estado atual da ções preconceituosas e discriminatórias que ocorrem no dia a dia.
ciência, permita afirmar que superioridade ou a inferioridade inte- E esses preconceitos perpassam desde a relação entre educandos
lectual de uma raça em relação à outra, e que as culturas humanas e educandos e entre educadores e educandos, e esse educador até
não diferem entre si do mesmo modo nem no mesmo plano, mas por não ter recebimento formação suficiente para lidar com essa di-
que a diversidade das culturas é de fato no presente, e também de versidade mostrando-se despreparado para lidar com tal situação,
direito no passado, muito maior e mais rica que tudo o que estamos acaba por estereotipar o aluno contribuindo para que a discrimi-
destinados a dela conhecer. nação possa interferir na aprendizagem e na aquisição do conhe-
O autor pontua que a diversidade cultural faz parte das rela- cimento.
ções estabelecidas no interior de cada sociedade, ou seja, não é Diante de todas essas situações,a sociedade brasileira também
um problema apenas das relações entre sociedades diferentes, mas tem o desafio de redefinir suas colocações, seus conceitos políticos
acontece em cada subcultura que compõe a sociedade estudada, e sociais, para garantir às minorias, o direito de igualdade de opor-
sendo que cada uma delas atribui importância a suas diferenças. tunidades e respeito às suas diferenças, valorizando as característi-
(LÉVI-STRAUS, 1976) cas culturais de todas as partes do país e principalmente a caracte-
rística de cada escola em particular, promovendo um diálogo cada
Para Ruben George Oliven vez maior entre o verdadeiro conceito de cidadania tantas vezes
O que se verifica atualmente é um cruzamento das fronteiras desprezado por nossa sociedade e também por nossas escolas.
culturais e simbólicas que faz com que haja uma desterritorializa- Sendo de grande relevância, priorizar a cultura específica de
ção dos fenômenos culturais. Todo esse processo de mundialização cada cidadão, e consequentemente a diversidade cultural de cada
da cultura, que dá a impressão de que vivemos numa aldeia glo- região, contribuindo para a preservação da identidade cultural de
bal, acaba repondo a questão da tradição, da nação e da região. A cada povo.
medida em que o mundo se torna mais complexo e se internaliza, A existência humana como as diferentes formas que assumem
a questão das diferenças se recoloca e há um intenso processo de as sociedades ao longo dos tempos e dos espaços, as relações en-
construção de identidades. (OLIVEN, 1992, p. 135). tre povos, culturas, civilizações, etnias, grupos sociais e indivíduos,
Historicamente e até pelo pesado fardo que carregamos em configurando-se como desafio central, não só das práticas peda-
nossos ombros pelo processo de colonização ao qual fomos bru- gógicas escolares, mas das possíveis formas de convivência que se
talmente submetidos até os dias atuais, fica evidente que nossa queira construir, para humanizar as relações na economia, na polí-
sociedade ainda não adquiriu uma cultura de aceitar, respeitar e tica e no saber.
trabalhar com o diferente. Baseado na ideia de Philippe Perrenoud (2001), podemos afir-
mar que existe uma grande distância cultural na relação pedagó-
Como alerta o autor, ao tratar da questão das novas fronteiras gica. Entre professores e alunos, a comunicação, a cumplicidade,
da cultura: a estima mútua dependem muito de gostos e valores comuns, em
A tensão entre o global e o local não está restrito ao Velho Mun- âmbitos aparentemente estranhos ao programa, pois a escola não é
do. Os Estados Unidos estão experimentando conflitos de grande feita apenas de saberes intelectuais a serem estudados, ensinados
violência, por trás dos quais estão diferentes grupos étnicos que afir- e exigidos.
mam suas diferenças em relação aos outros e não aceitam mais um Com isso se confirma,segundo Perrenoud, que,na interação co-
modelo único de ser dos norte-americanos. (OLIVEN, 1992, p.133). tidiana, a escola é elitista, mesma que essa não seja sua intenção:
Oliven (1992) ainda aponta que, no Brasil, apesar de não ter- Não podemos subestimar o choque cotidiano das culturas. Ele
mos conflitos étnicos, regionais ou religiosos vivenciamos debates influência o fracasso escolar: as rejeições, as rupturas na comuni-
que apontam para discussões semelhantes pois, apesar de não per- cação, os conflitos de valores e as diferenças de costumes contam
tencermos ao chamado mundo desenvolvido ou primeiro mundo, tanto quanto o eventual elitismo dos conteúdos. Uma criança que
não queremos fazer parte do mundo subdesenvolvido ou terceiro rejeita a violência, que respeita os livros, que cumprimenta educa-
mundo. damente e sempre tem as mãos limpas será mais apreciada do que
Direito de ser autêntico, de ser diferente, ainda parece uma aquela que, com iguais dificuldades, agride os outros, diz palavrões,
conquista longe de ser alcançada em nossa sociedade, ignorando masca chiclete, cheira mal, destrói disfarçadamente as plantas do
muitas vezes que o que realmente deveria ser posto em prática, professor ou acaba abertamente com suas profissões de fé ecoló-
são a consciência e a razão, e não os aspectos sociais, econômicos, gicas em nome do “sacrossanto carrão”. (PERRENOUD, 2001, p. 57)
raciais, religiosos e culturais, esquecendo que isso sim, é requisito Essa educação elitista, bem como as diferenças culturais são
indispensável para que possamos ter uma equidade social. bem claras na sociedade, e na educação isso se evidencia ainda
Num país tão rico culturalmente como o Brasil, não se justifi- mais, pois as diferenças não estão somente fora dos portões das
ca haver tanto preconceito e discriminação, eles se tornaram uma escolas, mas está dentro da própria escola, e muitas vezes vem sen-
arma contra a nossa civilização e cabe a nós combatê-lo. A consci- do utilizada mesmo de forma camuflada, ou até inconscientemente
ência de que ser diferente é algo bom e que deve ser respeitado, é como fator de discriminação e preconceito.
algo que necessita ser buscado frequentemente em nossa socieda- Exemplo maior é o defendido por Vera Candau e Miriam Leite
de e principalmente no ambiente escolar. (2006, p.2-3), para quem:

397
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

[...] a forma mais básica de aplicação desse processo discrimi- nais, seja da escola formal ou não, mas a retomada de valores que
natório é a forma mais básica de aplicação dessa perspectiva na foramuita das vezes, esquecidos por ele e pela própria sociedade,
prática pedagógica que sobreviveu até os dias atuais: a diferencia- e consequentemente o direito a diversidade e a educação na cons-
ção tipológica, ou seja, o agrupamento de alunos em classes homo- trução da cidadania.
gêneas, em função do que seria a sua “capacidade de aprendiza- Assim, podemos entender o verdadeiro sentido da educação e
gem” (TITONE, 1966) da instituição escola, aquela instituição consciente que possa cons-
A escola acaba rotulando e criando pré-juízos dos alunos pela truir e oferecer aos seus, uma educação de equidade, voltados para
sua capacidade ou não de aprendizagem, excluindo e discriminan- a finalidade de atender as reais necessidades apresentadas pela co-
do várias vezes esses alunos, fomentando assim a própria exclusão munidade escolar.
social, o que em diversos casos acaba sendo camuflado pela própria Dentro desse contexto torna-se claro a afirmativa de Sandra
intituição de ensino, enquanto a função primordial da escola além Pereira Tosta:
da transmissão do conhecimento elaborado e intelectual seria a so- De todo modo, é inegável que diferenças e desigualdades fa-
cialização do indivíduo, formando o aluno para o exercício pleno da zem parte do cotidiano escolar e tais questões muito importam pe-
chamada cidadania. los significados que contém e que dizem respeito empiricamente à
A partir dessa concepção do papel da escola, podemos refletir problemática das culturas presentes na escola, mesmo que, como
sobre o que aborda os PCNS (1997), afirmando que: tais, não sejam consideradas. Remetem, em termos epistemológi-
O grande desafio da escola é reconhecer a diversidade como cos, à questão fundante da Antropologia –a relação com o outro.
parte inseparável da identidade nacional e dar a conhecer a riqueza (PEREIRA-TOSTA, 2011, p. 418)
representada por essa diversidade etnocultural que compõe o patri- A autora sugere que os educadores possam ser formados a
mônio sociocultural brasileiro, investindo na superação de qualquer partir do diálogo interdisciplinar, em que educação e antropologia,
tipo de discriminação e valorizando a trajetória particular dos gru- mesmo sendo ciências diferentes, estejam simplesmente unidas,
pos que compõem a sociedade. (PCNS, p. 117) mas que possa contribuir na interlocução dos sujeitos e consequen-
Dessa forma podemos entender que a mudança desse quadro temente na aquisição do conhecimento.
de uma educação elitista poderá ser modificada com a valorização Não é mais possível permanecer com práticas embasadas por
da cultura desses alunos, que consequentemente irá ajudar na me- visões nonodisciplinares e descoladas de realidades sociais dife-
lhor absorção dos conteúdos, sem desconsiderar o aspecto peda- rentes e desiguais que demandam uma visão diferente e mais po-
gógico de cada instituição, partindo do pressuposto que o convívio lissêmica do que sejam os processos educacionais, a escola, o co-
com essa diversidade cultural promoverá a compreensão do seu nhecimento, as práticas pedagógicas, os currículos, a formação e a
próprio valor, melhorando a autoestima dos educandos que fora profissão. (idem, 2011, p.416)
sendo perdido no convívio com a sociedade. “A escola como insti- Teoricamente poderíamos afirmar que o objetivo primordial
tuição voltada para a constituição de sujeitos sociais deve afirmar da escola seria um local destinado a aquisição do conhecimento
um compromisso com a cidadania, colocando em análise suas rela- formal, cientifico e sistematizado, onde diversas culturas pudes-
ções, suas práticas, as informações e os valores que veicula” (PCNS, sem conviver harmoniosamente entre si, visto que, temos escola
p. 52) não só na formação ética, mas sim também na formação in- para pobre e para rico, para negros e para brancos, para mulheres
telectual que acaba sendo o objetivo principal da instituição escola. e para homens, de boa e de má qualidade, pública e privada, onde
E infelizmente a forma como se tem tratado a diferença vem a pública esta intrinsicamente ligada à defesa de interesses de uma
trazendo sérios prejuízos ao educando, seja nas relações de apren-
pequena classe social dominante e jamais poderá competir em real
dizagem, socialização, convívio com professores e colegas e com a
igualdade com a privada, mas na prática podemos perceber que a
própria sociedade da qual ele faz parte ou está inserido.
escola se tornou um dos lugares mais discriminatórios e excluden-
Como afirmam os PCN:
tes da sociedade.
A criança na escola convive com a diversidade e poderá apren-
E é justamente a partir de meados da década de 60, segundo
der com ela. Singularidades presentes nas características de cultu-
Candau, que aparece a discussão de novas abordagens sociológicas,
ra, de etnias, de regiões, de famílias, são de fato percebidas com
como a Nova Sociologia da Educação (NSE):
mais clareza quando colocadas junto a outras. A percepção de cada
Desenvolvida na Inglaterra, que iniciaram uma discussão que
um, individualmente, elabora-se com maior precisão graças ao
outro, que se coloca como limite e possibilidade. Limite, de quem tratavam especificamente das populações recentemente ingressas
efetivamente cada um é. Possibilidade, de vínculos, realizações de nos sistemas de educação formal que opunha se a teoria do deficit
“vir-a-ser”. Para tanto, há necessidade de a escola instrumentalizar- linguístico e cultural, que entendia que os alunos de camadas popu-
-se para fornecer informações mais precisas a questões que vêm lares trariam para a escola uma linguagem e um background cul-
sendo indevidamente respondidas pelo senso comum, quando não tural deficientes, inadequados ao pensamento cultural deficientes,
ignoradas por um silêncio constrangimento. Essa proposta traz a inadequados ao pensamento lógico e à apropriação do que seria o
necessidade imperiosa da formação de professores no tema da Plu- patrimônio cultural da humanidade, explicando assim o quadro fre-
ralidade cultural. Provocar essa demanda específica na formação quente de fracasso escolar desses estudantes. (CANDAU, 2006, p.6)
docente é exercício de cidadania. É um investimento importante e O sistema educacional poderia e deveria se sentir privilegiado,
precisa ser um compromisso político-pedagógico de qualquer pla- pois é este o local ideal para discutir as diferentes culturas, como
nejamento educacional/escolar para a formação e/ou desenvolvi- elas se entrelaçam e criam novas culturas, e principalmente as
mento profissional dos professores. (PCNS, p. 123) suas contribuições na formação do nosso povo, mas sem nunca es-
Cabe aos professores conseguir perceber essas diferenças e quecer a particularidade do sujeito, pois cada vez mais o diferente
promover a mediação da tentativa de solucionar esses problemas e aparece, seja na forma de aprender, de se comunicar, de se vestir,
propiciar ao aluno a retomada não somente dos valores educacio- ou na de refletir, para tanto, é importante, valorizar o espaço so-

398
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cial, ampliar ações e principalmente, reconhecer que as crianças e fessores são a peça fundamental no processo de conscientização da
adolescentes precisam sonhar, ter oportunidades, não importando sociedade dos problemas ambientais, pois, buscarão desenvolver
qual a sua diferença. em seus alunos hábitos e atitudes sadias de conservação ambiental
Em um país cada vez mais globalizado, trabalhar com o diferen- e respeito à natureza transformando-os em cidadãos conscientes e
te parece uma tarefa árdua e difícil de ser concluída, mas sem dú- comprometidos com o futuro do país.
vida antes de se trabalhar com a diversidade cultural, é necessário Apesar da importância fundamental do professor no processo
que os professores estejam preparados para assumir tão grandiosa de desenvolvimento da nação, ainda, não se dá o devido valor, por
missão. parte de nossas autoridades, ao professor e com isto a educação.
Muitas vezes somos encurralados por perguntas, hábitos, mo- O Estado, ainda, não se conscientizou que a educação é o veículo
dos e atitudes de nossos alunos, o que quase sempre nos leva a do bem estar social, mas, sim, de forma oposta, se tem priorizado
emitir certos juízos de valores sem termos conhecimento de causa, o interesse político de manter a massa sem uma formação cultural
e os professores quase na sua totalidade, estão trabalhando com a adequada.
diversidade cultural a partir de forma padronizada. Qualquer ação de proteção ambiental deve passar pela educa-
Acabam lidando com essas questões, não por terem sido pre- ção ambiental.
parados por meio de um conhecimento científico elaborado e dis- Na carta de Belgrado, de 1975, apud Rebollo (2001), foi apre-
cutido por estudiosos que dedicam suas pesquisas sobre o assunto, sentado uma linha de ação onde diz: a) conscientizar os cidadãos de
mas sim através de suas experiências que aprenderam ao longo de todo mundo sobre o problema ambiental; b) disponibilizar o acesso
suas vidas, bem anterior, ou durante a sua formação profissional. a conhecimentos específicos sobre o meio ambiente; c) promover
A mudança tão esperada e falada em nossa sociedade só se atitudes para a preservação ambiental; d) desenvolver habilidades
dará quando nós professores assumirmos nosso papel nesse pro- específicas para ações ambientais; e) criar uma capacidade de ava-
cesso, fazendo com que nossos alunos entendam que conviver com liação das ações e programas implantados; f) promover a participa-
as diferenças é possível. Ser diferente não é definitivamente ser in- ção de todos na solução dos problemas ambientais.
ferior. Lopes de Sá (1999), afirma: ¨há uma consciência mundial em
Assim estaremos dando a real possibilidade da contribuição marcha, cuja formação se acelera e que condena a especulação gra-
na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, em que vosa da riqueza tão como o uso inadequado de utilidades, como
o indivíduo seja respeitado por aquilo que ele é, e não por aquilo fatores de destruição do planeta e lesão à vida dos entes eu povo-
que a sociedade queria que ele fosse independente da diversidade am o mundo¨.
cultural/territorial na qual está inserido.5 Diversos movimentos de massa humana pressionaram os po-
deres políticos e catástrofes expressivas (Bhopal em 1984, Cherno-
byl em 1986, afundamentos de petroleiros, destruições de florestas
EDUCAÇÃO AMBIENTAL etc.) e em parte terminaram por convencer aos dirigentes do Esta-
do de que era grave a questão.
A Educação Ambiental corresponde à conscientização ambien- Caseirão (2000) diz (1997) ¨no pólo norte foi detectado partí-
tal para questões que envolvem a valorização do meio ambiente e o culas de césio, que é produto radioativo, acumulados nos tecidos
comprometimento de atitudes voltadas à sua preservação. das focas da área.
A importância da educação ambiental reside na formação de Este fato demonstra que os problemas da poluição não têm in-
cidadãos conscientes. Ela visa o aumento de práticas sustentáveis, cidência meramente local.
bem como a redução de danos ambientais. A poluição é transportada para locais muito distantes daqueles
A educação ambiental nasceu com o objetivo de gerar uma em que a mesma é produzida;
consciência ecológica em cada ser humano, preocupada com o en- ¨No Rio Grande do Sul, Brasil (1998) um barco esteve cerca
sejar a oportunidade de um conhecimento que permitisse mudar o de uma semana a descarregar ácido sulfúrico diretamente para as
comportamento volvido à proteção da natureza. águas do porto, que se situa perto da reserva ecológica da Lagoa
O desenvolvimento sustentável deve estar, também, aliada à dos Patos¨.
educação ambiental, a família e a escola devem ser os iniciadores ¨Resultado: a pesca teve de ser proibida numa faixa de 18 km,
da educação para preservar o ambiente natural. A criança, desde cerca de 6,5 mil famílias de pescadores ficaram sem meio de subsis-
cedo, deve aprender cuidar da natureza, no seio familiar e na es- tência e o prazo estimado para a recuperação do ecossistema des-
cola é que se deve iniciar a conscientização do cuidado com o meio truído é de 10 anos¨.
ambiente natural. Minamata, Japão (195?) informou: ¨As descargas contínuas de
É fundamental essa educação ambiental, pois, responsabilizará mercúrio na baía de Minamata, provocaram o nascimento de vários
o educando para o resto de sua vida. bebes com graves deformações físicas¨.
Segundo Munhoz (2004), uma das formas de levar educação Prince William Sound, Alasca (1989), também recrimina: ¨Um
ambiental à comunidade é pela ação direta do professor na sala de derramamento causado pelo superpetroleiro Exxon Valdez destruiu
aula e em atividades extracurriculares. todo o ecossistema da região, liquidou mais de 250.000 aves e ma-
Através de atividades como leitura, trabalhos escolares, pes- tou um número não determinado de mamíferos marinhos e peixes.
quisas e debates, os alunos poderão entender os problemas que ¨Passados que estão 10 anos, a vida na região não está ainda
afetam a comunidade onde vivem; instados a refletir e criticar as reconstituída e a Exxon já pagou indenizações de valor superior a
ações de desrespeito à ecologia, a essa riqueza que é patrimônio do 2,5 mil milhões de dólares (cerca de 450 milhões de contos)¨;
planeta, e, de todos os que nele se encontram. E ainda diz: Os pro- Consta no relatório Greenpeace sobre a contaminação do leite
5 Fonte: www.itu.com.br/www.fucamp.edu.br por dioxina na Alemanha.

399
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

¨Em março de 1998, foram detectados níveis alarmantes da pois, “é delegado à escola um papel cada vez mais decisivo, de tal
substância cancerígenos dioxina no leite produzido no estado ale- modo que a função não se restringe a formação formal, mas en-
mão de Baden – Wurttemberg (sudeste da Alemanha). volve ao mesmo tempo, também, a formação social” (SILVA, 2011,
¨O leite foi retirado do mercado. p.4).
Investigações científicas realizadas pelo Freiburg State Istitute Além disso, Rodrigues (2013, p.14) aborda que: [...] a escola
for Chemical Analysis of Food indicaram um aumento assustador é uma entidade que tem por função principal educar e ensinar, de
dos índices de dioxina nas amostras de leite e manteiga coletadas modo organizado, uma população com características próprias de
desde setembro de 1997. idade, de saberes e de experiências. A escola deve responder, no
A descoberta levou as autoridades alemãs a conduzirem um contexto do seu tempo, ao desenvolvimento dos seus destinatários
estudo abrangente para determinar a fonte da contaminação¨. que são os alunos, de acordo com o processo de educação ao longo
São alguns exemplos, dos muitos existentes, de referências a da vida e tendo em conta a sua plena inserção na sociedade.
poluição ambiental e de produtos que comprometem a vida do ser Dessa forma, a escola pode ser considerada como “lócus da
humano e da terra. diversidade social” (LIMA, 2009), pois, verifica-se no contexto edu-
O que precisa ser feito é acelerar a conscientização ecológica cacional um amplo e diversificado ambiente de culturas. Diante
na empresa e na comunidade e construir uma cultura ambiental, disso, surge a equidade na educação que está muito presente nos
que se imponha àquela do consumo.
discursos políticos e nos documentos oficiais brasileiros, contudo
Para melhorar a qualidade ambiental diz Frers (2000): ¨Dar a
é preciso averiguar se esses discursos estão sendo concretizados.
conhecer a um público cada vez mais amplo as causas principais do
No campo educacional brasileiro, as discussões acerca de te-
problema e conseguir nele a compreensão e conscientização sobre
mas como diversidade, diferenças, cultura intensificaram-se a partir
isso, conhecer, compreender, tomar consciência e atuar, essa deve
ser a dinâmica e finalmente, formar uma Associação não governa- da criação da Lei nº 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de
mental que congrega a todos os participantes ativos no processo, história da cultura afro-brasileira e africana nas escolas brasileiras
com o objetivo de organizar professores e estudantes do sistema e a Lei nº 11.645/08 que inclui também a questão indígena nos
educativo nacional desde os níveis elementares até os pós-gradu- currículos escolares. Em 2004 o Ministério da Educação (MEC) cria
ados, a todos as associações civis não governamentais e em fim a uma secretária específica, a Secretaria de Educação Continuada,
toda pessoa que responsável e organizadamente, baseada em sua Alfabetização e Diversidade (SECAD), com intuito de articular, en-
própria experiência ou em dos demais, deseja atuar para oferecer tre outras questões, o tema diversidade nas políticas educacionais.
um projeto alternativo e fundamentado que possa dar aos gover- Essa secretaria procurou aglutinar, programas, projetos e ações, na
nos de mecanismos de ação cuja proposta seja da sociedade civil qual vieram compor dois departamentos, o de Educação de Jovens
organizada¨. e Adultos e o de Educação para a Diversidade e Cidadania, neste
Ainda é importante observar o referido sobre o assunto em último subdividido em cinco coordenações gerais: Educação Escolar
evento que reuniu Ministros da Educação em Cúpula das Américas, Indígena; Diversidade e Inclusão Educacional; Educação do Campo;
Cúpula de Brasília (1998): ¨A educação ambiental para a sustentabi- Educação Ambiental; Ações Educacionais Complementares.
lidade deve permitir que a educação se converta em uma experiên- O tema inclusão, principalmente a que se refere à entrada de
cia vital, alegre, lúdica, atrativa, criadora de sentidos e significados, alunos com necessidades especiais, vem sendo discutido há mais
que estimule a criatividade e permita redirecionar a energia e a re- tempo, desde a promulgação da Constituição Federal de 1988 e
beldia da juventude para execução de projetos de atividades com a da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB – nº 9394/96, na
construção de uma sociedade mais justa, mais tolerante, mais eqüi- qual preconizam ideias de sistemas educacionais inclusivos. Na LDB
tativa, mais solidária democrática e mais participativa e na qual seja 9394/96 em seu artigo 58º é determinado que a educação para alu-
possível a vida com qualidade e dignidade¨. nos com necessidades especiais seja ofertada preferencialmente na
Na atualidade se impõe a necessidade da educação para o de- rede regular de ensino (BRASIL, 1996).
senvolvimento sustentável e do controle, por legislação do meio Contudo é comum presenciarmos discussões acerca dos temas
ambiente natural e da gestão ambiental.6 inclusão e diversidade cultural no ambiente escolar separadamen-
te, algo equivocado. Pensar num sistema educacional inclusivo, não
FUNDAMENTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL/ significa estarmos nos referindo apenas a inclusão de alunos com
INCLUSIVA E O PAPEL DO PROFESSOR necessidades especiais, mais sim num conjunto imenso de diferen-
ças que habitam as instituições de ensino. De acordo com Santos
(2008, p.18) pensar em inclusão parte do pressuposto “de que in-
As questões sobre inclusão e diversidade estão cada vez mais
presentes nos debates sobre educação, principalmente pelo fato, clusão é a ideia de que todas as crianças têm direito de se educar
que cresce a necessidade de diminuir as desigualdades existentes juntos em uma mesma escola, sem que esta escola exija requisitos
nas escolas. Conforme Lima (2009, p.87) “pensar sobre a diversida- para o ingresso e não selecione os alunos, mas, sim uma escola que
de no contexto escolar é uma necessidade no momento atual, essa garanta o acesso e a permanência a todos os seus alunos”.
temática é alvo constante de debate e reflexões pelos profissionais Dessa maneira, alunos advindos dos mais diferentes ambien-
da educação”. Já que a instituição escolar tem como desafio lidar tes, com culturas e experiências de vida diferenciadas, necessitam
com a diversidade que constitui os seres humanos. ser acolhidos, respeitados e educados da mesma maneira, sem ne-
Com base nisso, é necessário compreender e valorizar as di- nhuma distinção. Nesse contexto, surge a necessidade por parte
ferenças existentes na sociedade em geral, principalmente porque dos agentes educativos a uma reflexão sobre a diversidade cultural
essas diferenças estão intimamente ligadas ao âmbito educacional, e inclusão no ambiente escolar, ou seja, pensar na construção de
6 Fonte: www.brasilescola.uol.com.br espaços de diálogo, na qual as diferenças se complementem e não

400
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sejam fatores de exclusão. E aqui cabe nos bem o papel do pro- passa a ser conhecido como sendo próprio a esses alunos o que sig-
fessor como agente prioritário para a construção de uma educação nifica uma segregação dentro da própria sala de aula, fortalecendo
igualitária, ou seja, inclusiva. assim o preconceito e não combatendo (CROCHÍK, 2012). Contudo
De acordo com Zampieri; Souza; Monteiro (2008, p.4) “temos não se trata de desconhecer que alunos com deficiências necessi-
convicção de que o professor é uma peça muito importante no con- tem de um profissional especializado, mas que isso não signifique
junto que movimenta todo o sistema educacional”. E por isso há que deva haver um isolamento desses alunos em relação a seus co-
necessidade do professor estar preparado para atuação significativa legas.
com seu alunado, pois é ele que irá organizar a sala de aula, guiará Numa escola que pretende ser inclusiva todos devem estar en-
e orientará as atividades dos alunos durante o processo de aprendi- volvidos, ou seja, gestores, professores e funcionários. Com isso,
zagem para a aquisição de saberes e competências. Pois quando se “investimentos na formação dos professores, valorização do tra-
fala em trabalhar com a inclusão requer-se alguns aspectos, como: balho docente, estímulos à formação continuada de todos aque-
- Maturidade do profissional em busca de um trabalho efetivo, les que fazem parte da escola,” (CRUZ; TASSA, 2014, p.3), fazem-se
de uma vivência para a construção do conhecimento; necessários, pois, através destes mecanismos pode se pensar real-
- Capacidade de desenvolver recursos próprios para lidar com a mente em uma educação de todos e para todos.
frustação de estar limitado quanto às possibilidades; Martins (2012, p.35) questiona que, Não basta, porém, apenas
- Conhecer o aluno para educá-lo; oferecer aos alunos o acesso à escola. Necessário se faz ministrar
- Conhecer como aprende para ensiná-lo; um ensino que seja de qualidade para todos, que atenda às reais
- Saber quais aprendizagens estão construídas nesse sujeito; necessidades dos educandos. Em outras palavras, deve existir aber-
- Saber quais marcas estão definindo suas escolhas; tura para um trabalho pedagógico efetivo com a diferença presente
- Estar disposto a vincular-se ao sujeito; nos educandos, em geral.
- Ter possibilidade para o vínculo afetivo; Dessa forma, percebe-se a importância de uma formação ini-
- Ter disponibilidade para aceitação do outro em sua maneira cial e continuada que ofereça aos professores e futuros docentes
de ser. (SANTOS, 2004, p.6) condições de reflexão sobre a sua prática educativa, de forma a me-
Contudo desenvolver práticas pedagógicas que tenham como lhorar sua atuação com as diferenças que se fazem tão presentes
princípio a inclusão plena de todos os alunos ainda é um desafio, na sala de aula.
já que muitos profissionais se recusam a realizar essa atividade ou Um modelo que pode auxiliar muitos professores em relação à
sentem dificuldade em lidar com essa questão. De acordo com Al- inclusão é o ensino colaborativo. Este ensino parte de uma parceria
ves (2012, p.35) “ao que parece o medo dos professores está ligado entre os professores de educação regular e os de educação espe-
à ausência do conhecimento necessário para lidar com as limita- cial, na qual ambos trabalham juntos compartilhando objetivos, ex-
ções, o que gera, no professor, resistência ou rejeição em relação à pectativas e frustrações (MENDES, 2006). Essa colaboração possibi-
inclusão”. Seguindo esse mesmo raciocínio Pimentel (2012, p.142) lita que cada um com suas experiências auxiliem nas resoluções de
discute que, “por não saber o que fazer e nem como atuar, alguns problemas mais sérios de aprendizagem e/ou comportamento de
docentes, em sua impotência, acabam por sugerir, através de pa- seus alunos, envolvendo a parceria direta entre eles. Dessa manei-
lavras ou ações, que não conseguem lidar com a diferença e que, ra, essa prática possibilita que o professor não atue sozinho, mais
portanto, é mais produtiva a retirada dos estudantes daquele es- sim possa contar com a participação de outros profissionais.
paço escolar”. Porém é perceptível ainda, no diálogo de muitos professores, a
Portanto, não se pode negar o fato de que se deve haver uma ausência de conhecimentos sobre questões referentes à inclusão e
formação específica para os professores, sendo esse processo im- diversidade. Falamos anteriormente na formação dos profissionais
prescindível ao atendimento das especificidades e singularidades de ensino e de um modelo colaborativo de educação, mas mesmo
dos educandos. Sendo assim, é necessária a formação inicial, assim assim, vemos que ainda há uma carência profunda nos discursos
como, a formação continuada entre todos os profissionais de en- desses profissionais, dessa forma entende-se que não adianta ofe-
sino. De acordo com Martins (2012, p.33), A formação dos profis- recer somente capacitação aos docentes, mais estes precisam estar
sionais de ensino, porém, de maneira geral, não se esgota na fase totalmente envolvidos com o processo de educação, já que o objeti-
inicial, por melhor que essa tenha se processado. Para aprimorar a vo primordial do profissional de ensino é desenvolver em seu aluna-
qualidade de ensino ministrado pelos profissionais de ensino em do autonomia e competências pra que este possa viver e conviver
geral, nas escolas regulares, atenção especial deve ser atribuída em sociedade, ou, seja não cabe ao professor abordar mais que não
também à sua formação continuada. tem capacidade de ensinar alunos “diferentes”.
Nesse caso, essa formação continuada contribui para possibili- Contudo, o que se verifica de modo geral nas licenciaturas é
tar condições de reflexão por parte dos docentes sobre a sua prá- que estas não têm estado preparadas para assumir a função de for-
tica educativa, de forma a melhorar a atuação com as diferenças mar profissionais de ensino, capazes de lidar com a diversidade nas
que se fazem presentes na sala de aula. Dessa maneira, a formação salas de aulas, o que vemos então é um tipo de inclusão precária.
permanente é um dos fatores imprescindíveis para que os educa- De acordo com Libâneo e Pimenta (1999), boa parte dos cursos de
dores possam atuar de maneira ampla, oferecendo condições de licenciatura, a aproximação do futuro docente com a realidade de
atendimento educacional que sejam adequados a cada educando sala de aula acontece depois de ter passado pela formação “teóri-
(MARTINS, 2012). ca”, tanto na disciplina especifica como nas disciplinas pedagógicas.
Porém, infelizmente verificamos ainda a inclusão como um Quando que na verdade desde que o aluno ingressa no curso
simples espaço de socialização. Observamos que, na educação in- de licenciatura, deve se possibilitar situações de prática vinculadas
clusiva, principalmente no que se refere à inclusão de alunos com aos conteúdos das disciplinas, ou seja, os futuros professores pre-
deficiências, há uma proposta que traz um professor formado e ex- cisam conhecer o mais cedo possível os sujeitos e as situações com
periente em educação especial para sala de aula. Esse profissional qual irá trabalhar.

401
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde – OMS, Se por um lado à lei traz o benefício, por outro, causa muitos
aproximadamente 10% de qualquer população são portadoras de transtornos, já que a falta de preparo nos cursos de magistério e
algum tipo de deficiência. O Brasil possui atualmente cerca de mais licenciatura, aliada a falta de vivência e ao preconceito, transfor-
de 180 milhões de habitantes, logo mais de 18 milhões de pessoas ma os portadores de necessidades especiais em fantasmas, assom-
possuem algum tipo de deficiência. Desse total, 50% são portado- brando o cotidiano dos professores.
ras de deficiência mental.
Todo diagnóstico tem duas funções básicas
Quem são? – Localizar e analisar as causas das dificuldades dos alunos em
São pessoas que apresentam significativas diferenças físicas, todas as áreas das suas atividades,
sensoriais ou intelectuais, decorrentes de fatores inatos ou adqui- – Identificar e avaliar as áreas de aprendizagem e ajustamen-
ridos, de caráter permanente, que acarretam dificuldades em sua to, tanto as positivas, quanto às negativas.
interação com o meio físico, moral e material.
Classificação e caracterização dos alunos especiais
O que eles precisam? São em inúmeras as desvantagens e desvios existentes na
Eles precisam exatamente das mesmas coisas que qualquer classificação de pessoas em categorias, mas acabam tornando-se
um de nós: dignidade, respeito, liberdade, educação, saúde, lazer, necessárias principalmente do ponto vista da administração do Sis-
assistência social, trabalho e amparo. Direitos fundamentais e ina- tema Educacional.
lienáveis de todos os seres humanos.
Maria Tereza Mantoan, coordenadora do LEPED (Laboratório 1. Excepcionais intelectuais
de Estudos e Pesquisas em Ensino e Reabilitação de Pessoas com 1.1. Superdotados
Deficiência) da UNICAMP, que é responsável pela implantação do 1.2. Deficientes mentais
Ensino Inclusivo em redes municipais e estaduais para todo o Brasil, a) Educáveis
diz que: “o mais difícil é a transformação da mentalidade do profes- b) Treináveis
sor e de muitos pais que acreditam que as escolas especiais são a c) Dependentes
solução ideal, e que o grande receio dos professores é de não terem
a formação adequada para lidar com os deficientes”. 2. Excepcionais psicossociais
2.1. Deficientes físicos não sensoriais
O portador de necessidades especiais 2.2. Deficientes físicos sensoriais
Quando se fala na inclusão de alunos portadores de necessi- a) Deficientes auditivos
dades especiais em sala de aula, duas constatações se fazem sentir b) Deficientes visuais
que são expressas pela maioria dos professores:
– Ignorância: Por não conhecerem adequadamente as carac- 3. Excepcionais psicossociais
terísticas desse tipo de clientela, já que antes eram denominados 3.1. Alunos com distúrbios emocionais
“deficientes”. 3.2. Alunos com desajustes sociais
– Preconceito: Por reproduzirem a percepção estereotipada 4. Excepcionalidade múltipla
de que se trata de “gente diferente”, “doentes”, “inadequados”, 4.1. Alunos com mais de um tipo de desvio
“defeituosos” e outras expressões igualmente equivocadas, ali-
mentada por mitos ou representações equivocadas sobre a nature- O papel da escola na inclusão
za do problema dos portadores de necessidades especiais. A escola é um espaço democrático, que deve estar aberto e
Convém ressaltar que essa não é uma crítica aos educadores, preparado para receber todos os alunos. A Educação Infantil, fase
pois eles somente expressam a forma como a sociedade em geral inicial da formação acadêmica, representa o primeiro contato das
sempre encarou o portador de necessidades especiais – como pes- crianças com esse universo repleto de aprendizados e novas des-
soas esteticamente indesejáveis, cujo contato e convivência geram cobertas, e a inclusão neste período é fundamental, pois além de
constrangimento e como sujeitos incapacitados para desempenha- todos os desafios que o pequeno terá ao iniciar a socialização, é
rem papéis sociais autônomos na comunidade, ou seja, eternos de- preciso levar em conta que esse é um dos primeiros momentos em
pendentes. que o estudante estará longe dos olhares de sua família.
Nos últimos anos, a preocupação com problema de exclusão Trabalhar a inclusão na Educação Infantil é muito importan-
social ganhou impulso, tendo o conceito tomado o lugar de muitos te para que a criança se adapte ao ambiente escolar e possa dar
outros. A inclusão social tomou impulso primeiro nos meios acadê- sequência aos seus estudos no Ensino Fundamental sem maiores
micos e técnicos e depois junto à mídia e, mais especificamente, dificuldades. Para isso, gestores, educadores e toda a equipe peda-
junto aos setores ligados à educação e a promoção social. gógica precisam estar engajados e preparados para oferecer todo o
A partir da lei específica e regulamentada, a inclusão educacio- suporte e atenção que as crianças precisam.
nal como sendo obrigatória caiu como uma bomba na cabeça dos Na sequência deste artigo, iremos falar mais sobre a inclusão
educadores e dos organismos educacionais, pois teriam de incluir a na Educação Infantil e apresentar dicas de como a instituição de
qualquer custo, clientes deficientes em salas de aula comuns, den- ensino pode trabalhar esse conceito na prática.
tro de um curto prazo.

402
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A importância da inclusão nas escolas Compreenda as diferenças entre educação inclusiva e espe-
De acordo com o Artigo 205 da Constituição Federal de 1988, cial
“a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será O conceito de educação especial partia do princípio de que
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando crianças com desenvolvimento diferente do “senso comum” preci-
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício savam frequentar escolas diferenciadas. A partir disso, foram cria-
da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” das as Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAEs), e de-
Todos nós, como cidadãos brasileiros, temos direito a educa- mais instituições para alunos com autismo ou surdez, por exemplo.
ção, sendo que qualquer tipo de restrição em relação a isso não é Em 1996 essa metodologia começou a mudar um pouco. O
correto e impede que esse direito seja exercido. Por isso, o debate Governo Federal aprovou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
sobre a inclusão desde a Educação Infantil vem se fortalecendo bas- (LDB), de nº 9.394. Desse modo, foi criada a obrigatoriedade de
tante nos últimos anos. todas as escolas oferecerem atendimento aos alunos com necessi-
Por muito tempo, a educação inclusiva era realizada de forma dades especiais.
paralela, por instituições de ensino especializadas nesta área. Po- A criação da lei também mudou a maneira como a sociedade
rém, muitas escolas estão investindo em ações reais de inclusão e a escola devem avaliar a educação de crianças com deficiência. A
para que todas as crianças aprendam e se desenvolvam no mesmo inclusão escolar tem justamente o intuito de promover a integra-
ambiente, sempre respeitando o tempo e as necessidades de cada ção entre os alunos com desenvolvimento padrão e os que apre-
uma. sentam maneiras diferentes de aprendizado.
Nesta proposta, a instituição de ensino se compromete a ofe- Dessa forma, entende-se que todas as crianças aprenderão
recer atividades diárias nas quais os alunos da Educação Infantil com as diferenças, sabendo respeitar mais uns aos outros. Essa
possam cultivar o respeito, a cidadania, o cuidar de si e do outro, nova maneira de pensar e agir tem como objetivo mudar a cultura
a aceitação, o companheirismo e tantos outros valores necessários educacional e assegurar o acesso de todos à educação tradicional,
para a formação de cidadãos justos, éticos e que respeitam as di- para que as crianças possam ser valorizadas e se sentirem integra-
versidades que tanto contribuem para o nosso desenvolvimento. das à sociedade.
Para a criança portadora de necessidades especiais, participar
de um processo de inclusão é essencial para que ela tenha acesso a Conheça o que trata a legislação sobre inclusão escolar
estratégias multidisciplinares, que irão ajudar no desenvolvimento No artigo 58, a LDB define que a educação especial deve ser
da linguagem, das competências e das habilidades motoras, cog- oferecida na rede regular de ensino, para qualquer educando com
nitivas e emocionais que são fundamentais para a sua formação. deficiência — seja ela transtorno de desenvolvimento ou altas ha-
Esse acompanhamento exige muito preparo e conhecimento bilidades. Para tanto, cabe à escola oferecer apoio especializado
dos gestores e professores, pois a inclusão é uma etapa complexa nos casos em que o aluno demandar um atendimento mais perso-
e repleta de desafios, mas essencial para que as crianças tenham nalizado.
esse estímulo desde a Educação Infantil, as preparando para os pró- A lei abrange não apenas as escolas de nível fundamental ou
ximos passos que serão ainda mais desafiadores. médio, ela também obriga o cumprimento da exigência pela edu-
cação infantil. Nesse sentido, as escolas precisam aperfeiçoar os
Trabalhando a inclusão na Educação Infantil métodos de ensino e práticas adotadas em sala de aula para que o
Como mencionado no tópico anterior, a inclusão na Educação aluno especial possa desenvolver suas habilidades.
Infantil é uma ação social e cidadã muito importante, pois ajuda Também é dever na escola de educação infantil criar metodo-
diretamente as crianças com necessidades especiais e também pro- logias diferenciadas de avaliação dos educandos de acordo com o
move um aprendizado valiosíssimo para todos os alunos, que é o grau de deficiência ou segundo o alto grau de habilidade.
respeito às diferenças. Para complementar, em 1999 o Governo Federal aprovou o
Para trabalhar a inclusão na Educação Infantil na prática, é Decreto nº 3.298 que apresenta normativas para a integração das
essencial que a equipe pedagógica faça um planejamento das ati- pessoas portadoras com deficiência, seja ela física ou mental.
vidades que são significativas para os alunos e que promovam a Desse modo, o aluno que demanda atenção especial tem direi-
integração. Também é importante considerar o ritmo de cada es- to a ingressar na educação infantil a partir dos primeiros meses de
tudante e as suas peculiaridades, somente assim a educação será vida. Cabe à escola criar uma equipe especializada para atender às
realmente inclusiva demandas da criança e oferecer orientações pedagógicas de acor-
A inclusão escolar vai muito além do pensar em “educação es- do com o perfil do aluno.
pecial”. Ela foi criada com o intuito de reconhecer as diferenças en- A criança só poderá ser encaminhada para uma instituição de
tre os alunos e valorizar essas características por meio de atividades ensino especializada quando ela não se adaptar aos processos edu-
que favoreçam as potencialidades de cada criança. cacionais do ensino regular.
Desse modo, o paradigma de que as crianças que apresentam
um desenvolvimento diferenciado precisam frequentar a educação Saiba o que levar em consideração na hora de adotar a
especial é quebrado. Por meio desse entendimento, educadores e inclusão escolar
pais precisam se unir para encontrar atividades pedagógicas que se Agora você já sabe como é importante a participação dos ges-
encaixem no perfil dos alunos. tores, professores e dos pais no processo educacional dos peque-
nos com algum grau de deficiência. Então, é hora de compreender
os aspectos que devem ser considerados para oferecer o melhor
modelo de educação inclusiva:

403
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

1. Preparação dos professores A educação inclusiva é uma oportunidade da escola, em con-


Se educar uma criança que apresenta um desenvolvimento junto com a comunidade, de contribuir para que os pequenos se
dentro do padrão já apresenta alguns desafios, a inclusão dos pe- tornem cidadãos solidários e conscientes sobre o valor das diferen-
quenos com alguma deficiência pode ser um problema para a esco- ças.7
la que não se prepara para a situação.
Por esse motivo, cabe ao gestor da escola cobrar o aperfeiçoa- Desenvolvimento para crianças portadoras de necessidades
mento profissional de seus professores e oferecer cursos de capaci- especiais
tação com esse foco. Eles precisam aprender práticas pedagógicas A escola inclusiva é aquela que abre espaço para todas as crian-
diferenciadas para que possam atender as especificidades de cada ças, incluindo as que apresentam necessidades especiais. As crian-
aluno especial. ças com deficiência têm direito à Educação em escola regular. No
O professor precisa compreender as características de cada convívio com todos os alunos, a criança com deficiência deixa de
deficiência, para que saiba identificá-las e criar um programa ade- ser “segregada” e sua acolhida pode contribuir muito para a cons-
quado de ensino. Ele também deve estar preparado para buscar trução de uma visão inclusiva. Garantir que o processo de inclusão
ajuda de um psicólogo quando o aluno apresentar dificuldades de possa fluir da melhor maneira é responsabilidade da equipe direti-
inclusão em sala de aula. va – formada pelo diretor, coordenador pedagógico, orientador e
vice-diretor, quando houver – e para isso é importante que tenham
2. Foco nas potencialidades do aluno conhecimento e condições para aplicá-lo no dia a dia da escola.
A gestão escolar precisa estar preparada para direcionar a O princípio de inclusão parte dos direitos de todos à Educa-
atenção aos potenciais de aprendizado da criança especial. Por ção, independentemente das diferenças individuais – inspirada nos
esse motivo, é importante promover encontros entre os professo- princípios da Declaração de Salamanca (Unesco, 1994). Está pre-
res para que eles possam trocar experiências e ampliar o conheci- sente na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva de
mento sobre o assunto. Educação Inclusiva, de 2008. Os gestores devem saber o que diz
O educador deve compreender que a inclusão escolar se ba- a Constituição, mas principalmente conhecer o Plano Nacional de
seia em entender as dificuldades do educando e ajustar as ativida- Educação (PNE), que estabelece a obrigatoriedade de pessoas com
des para que ele possa apresentar o melhor desempenho possível deficiência e com qualquer necessidade especial de frequentar am-
em sala de aula. bientes educacionais inclusivos.
Também faz parte desse processo a aproximação da escola
com os pais. É por meio dessa relação que todos poderão identificar “Por ser inovador e diferente em sua concepção da Educação
as formas de aprendizagem que funcionam melhor para a criança Especial, o Atendimento Educacional Especializado (AEE) tem sido
e como a convivência em grupo pode beneficiar o desenvolvimen- motivo de dúvidas e interpretações”, afirma Maria Teresa Eglés
to do aluno. Muitas vezes, é necessário adequar o planejamento Mantoan, coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas
a cada mês, de acordo com o desenvolvimento apresentado pela em Ensino e Diferença (Leped), na Universidade Estadual de Cam-
criança. pinas Unicamp). Segundo ela, com a compreensão correta do que
é o AEEE e o entendimento dos demais documentos, o gestor tem
3. Espaços adequados à sua disposição toda informação necessária para fazer o devido
A escola de educação infantil precisa estar preparada em todos acolhimento ao aluno com deficiência. “O que não se pode fazer é
os aspectos para receber o aluno especial. Sendo assim, o gestor basear esse acolhimento nos conhecimentos anteriores sobre Edu-
deve ficar atento à regulamentação sobre acessibilidade para pes- cação Especial”, diz ela. “Porque aí é como tirar um óculos e colocar
soas com mobilidade reduzida. outro. É preciso ler com rigor e responsabilidade, ou seja, trocar de
Mas essa compreensão vai além. As salas de aula devem estar óculos”.
preparadas para receber os alunos especiais, bem como o gestor
precisa criar espaços diferenciados para que o educador possa rea- A educadora reforça que “ninguém pode tirar o direito à edu-
lizar aulas complementares com as crianças. cação do aluno”. E lamenta que na leitura feita dos documentos de
A educação é um direito de todos e a escola tem o dever de es- inclusão, muitas vezes a interpretação dada para o termo “adapta-
tar preparada para receber bem as crianças e promover a inclusão. ções razoáveis” seja entendida como adaptações curriculares. “O
documento fala em adaptações no meio físico, na comunicação, na
4. Parceria entre pais e educadores forma de realizar as provas, por exemplo. Se um aluno tem defici-
Quando a criança apresenta necessidades especiais, a comuni- ência física ou auditiva, ele pode precisar de um recurso, como uma
cação eficaz entre a escola e os pais se torna ainda mais importan- carteira adaptada ou uma avaliação em braile. Mas não deve ser
te. Os professores podem compartilhar as experiências em sala de confundida com adaptação curricular”, diz. Segundo ela, os docen-
aula e orientar a família sobre as atividades que podem ser desen- tes não precisam imaginar atividades completamente diferentes
volvidas em casa para ampliar o aprendizado dos pequenos. para o aluno com deficiência, nem tentar simplificar a realização
Os pais, por sua vez, podem identificar alguns exercícios que para evitar problemas. “Nós não temos a capacidade de fazer nin-
apresentam mais resultados com os seus filhos e repassar esse guém aprender. Temos que dar liberdade para que o aluno possa
conhecimento para os educadores. Desse modo, a parceria con- aprender e considerar o que ele consegue e o que não tem inte-
tribuirá para o desenvolvimento das habilidades da criança e sua resse em aprender. O bom professor considera o ensino igual para
inclusão na sociedade. todos, mas o aprendizado completamente díspar”.

7 Fonte: www.educacaoinfantil.aix.com.br/www.sophia.com.br

404
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Outro ponto que consta da política educacional de inclusão é Conversa e resolução de conflitos em sala
a criação de salas de recursos multifuncionais, que não pode ser Os professores podem conversar com suas turmas sobre a che-
confundida com uma sala qualquer de recursos. As salas multifun- gada de um aluno com deficiência para reforçar a visão inclusiva.
cionais são pensadas para complementar ou suplementar a apren- Sendo um estudante com deficiência de locomoção, que talvez pre-
dizagem dos estudantes com deficiência, transtornos globais do cise de uma carteira adaptada, pode-se orientar os alunos como
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Mas o que tem proceder (evitar correrias, empurra-empurra etc). Se o aluno apre-
pesado, em algumas escolas, é a interpretação de que é preciso sentar comportamento agressivo, é importante analisar a origem
laudo médico para que a escola receba o Fundeb em dobro. “Está do problema junto a professores, especialistas e familiares. Caso
nas notas técnicas do MEC e Secadi que nenhuma criança precisa ocorra um incidente, é importante convidar as famílias para uma
de laudo médico para isso. Não é o laudo que vai dizer que uma conversa. E ao menor indicativo de bullying, a equipe diretiva e os
criança precisa de serviço de Educação Especial e sim o laudo edu- professores podem conversar sobre ações que envolvam todos os
cacional, que é o estudo de caso feito pelo professor AEE. Infeliz- alunos para reforçar a formação de valores.
mente, poucos fazem por desconhecer a política”, diz Maria Teresa.
Qualidade do ensino e da aprendizagem
O que diz a lei Todas as crianças são capazes de aprender: esse processo é
A Lei nº 7.853 estipula a obrigatoriedade de todas as escolas individual e o professor deve estar atento para as necessidades dos
em aceitar matrículas de alunos com deficiência – e transforma em alunos. Crianças com deficiência visual e auditiva desenvolvem a
crime a recusa a esse direito. Aprovada em 1989 e regulamentada linguagem e pensamento conceitual. Alunos com deficiência men-
em 1999, a lei é clara: todas as crianças têm o mesmo direito à tal podem enfrentar mais dificuldade no processo de alfabetização,
educação. Os gestores estaduais e municipais devem organizar sis- mas são capazes de desenvolver oralidade e reconhecer sinais grá-
temas de ensino que sejam voltados à diversidade, firmando e fis- ficos. É importante valorizar a diversidade e estimular as crianças
calizando parcerias com instituições especializadas e administram a apresentar seu melhor desempenho, sem fazer uso de um único
os recursos que vêm do governo federal. Mas é somente um dos nivelador. A avaliação deve ser feita em relação ao avanço do pró-
documentos que o gestor precisa conhecer. Do ponto de vista edu- prio aluno, sem usar critérios comparativos.8
cacional, o maior conteúdo está na Política Nacional de Educação Princípios e fundamentos da Educação especial
Especial na Perspectiva de Educação Inclusiva. Princípios e Conceitos na Educação Inclusiva. Esse é um tema
muito já discutido pela sociedade, mas muito ainda se tem a refletir
Apoio e recursos do governo sobre esse tema, pois é notória, a necessidade de mudanças pro-
O aluno com deficiência tem direito à educação regular na es- fundas na mentalidade da sociedade diante a sua negação sobre o
cola, com aulas dadas pelos professores, e atendimento especiali- tema inclusão, dificultando assim o entendimento que a inclusão
zado que não é responsabilidade do professor de sala de aula. O é o caminho certo para que pessoas com necessidades especiais
estado oferece assistência técnica e financeira. Conforme a defi- tenham o direito a igualdade perante todos, pois assim como qual-
ciência, o estado deve oferecer um cuidador, que nada mais é do quer outro ser humano, elas sejam olhadas e aceitas por aquilo que
que uma pessoa para ajudar a cuidar do aluno. Esse cuidador deve são hoje, e não por aquilo que poderão vir a ser e a produzir.
participar das reuniões sobre acompanhamento de aprendizagem. A pessoa com necessidades especiais tem os mesmos direitos
Conforme a jurisdição da escola, o gestor deve procurar a Secreta- como qualquer outro cidadão brasileiro, pois conforme a legislação
ria estadual ou municipal para suas reivindicações, além de buscar que nos rege, Art. 5º da CF/88, “Todos são iguais perante a lei, sem
informações junto a organizações não governamentais, associa- distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
ções e universidades. estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Adaptação e previsão de recursos em sala O preconceito e a falta de informação talvez seja um dos maio-
Cabe ao gestor oferecer tempo e espaço para que professores, res fatores que justifique a resistência da sociedade em aceitar a in-
coordenador e especialistas possam conversar e tirar dúvidas sobre clusão de pessoas com necessidades especiais em nosso cotidiano.
a integração do aluno com deficiência. O coordenador deve estar Através de uma pesquisa qualitativa de várias obras de auto-
atento a possíveis alterações no plano político-pedagógico (PPP) e res renomados como: Werneck, Omote, Sassaki, Singer e Montoan,
no currículo para contemplar o atendimento à diversidade e ma- podemos fundamentar nossa pesquisa sobre os princípios e concei-
teriais pedagógicos necessários ao atendimento, além de prever o tos na educação inclusiva.
uso de projeções, áudio e outros recursos nas atividades.
Para Werneck:
Formação da equipe inclusiva A sociedade esta sempre em busca de um padrão de normali-
O ideal é garantir a formação na própria escola, já que o gestor dade, quase sempre baseado em conceitos estáticos culturais, isso
conhece melhor sua equipe e a comunidade. O gestor pode formar justifica a dificuldade de aceitação no processo de inclusão de pes-
um grupo para levantar as informações relevantes em relação à de- soas com necessidades educativas especiais nas escolas regulares
ficiência dos alunos (junto a organizações e sites oficiais) e compar- de ensino, pois consideram essas pessoas fora do padrão de beleza
tilhar em reunião. É essencial abrir o diálogo para que professores e de normalidade da sociedade. (WERNECK, 1998, p.21)
e funcionários possam tirar dúvidas. Se ficar claro durante as con-
versas que é necessário orientar melhor algumas pessoas, o gestor
pode recorrer a possíveis formações oferecidas pela Secretaria de
Educação.
8 Fonte: www.gestaoescolar.org.br

405
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Omote (1990) se refere à deficiência não só como um proble- O objetivo dessa política é garantir o atendimento educacio-
ma do aluno, mas de nosso próprio comportamento. Singer fala de nal ao aluno portador de necessidades especiais, pois num passado
um princípio muito importante, para ele o princípio da igualdade não muito distante as crianças eram segregadas em instituições es-
relaciona-se com a igual consideração de interesses. Sassaki fala em pecializadas, perdendo a chance de conviver e participar da socie-
adaptação da sociedade para que o processo de inclusão se realize. dade em geral.
Montoan destaca o conceito de autonomia como finalidade da edu- Atualmente através de muitas discussões vem se buscando de
cação de pessoas com necessidades educativas especiais. forma gradual a inclusão de pessoas com necessidades educativas
Enfim todos os autores citados convergem em um senso co- especiais nas classes regulares de ensino, com ótimos resultados.
mum, a inclusão na vida escolar de pessoas com algum tipo de de- No entanto, infelizmente esse caminho é longo e moroso, pois
ficiência é fundamental para seu desenvolvimento e a torne uma vários obstáculos devem ser vencidos como: a maioria das escolas
pessoa digna de todos os direitos de qualquer cidadão comum. do país ainda não recebeu a infraestrutura adequada para a inclu-
são, à maioria dos professores ainda não recebeu qualificação ade-
Princípios e conceitos quada para trabalharem com aluno com necessidades educativas
especiais previstas em lei, sem falar no pior dos obstáculos, a re-
O princípio da igualdade e a igual consideração de interesses sistência de todos nós, família, educadores, governo e a sociedade,
Segundo dicionário da língua portuguesa (FERREIRA, 1986, em aceitar a pessoa com necessidades especiais iguais a quaisquer
p.34) entende-se por igualdade, “Qualidade daquilo que é igual; outras pessoas, com os mesmos direitos.
uniformidade; identidade de condições entre os membros de uma As pessoas com necessidades especiais na maioria das vezes
sociedade, em que não há privilégios de classes”. não são vistas como cidadãs, e sim como pessoas que precisam de
A história comprova que pessoas muito diferentes da média atendimento tão especial que acabam sendo diferenciados ainda
na aparência física ou no modo de pensar e de agir tem sido vistas mais dos outros, trazendo para ela uma única realidade: a diferen-
como deslize da natureza. É como se a humanidade tivesse um evi- ça.
dente padrão de qualidade. Segundo Carvalho (1997, p. 18):
As sociedades preferem serem lembradas e referidas mais por Embora a desigualdade seja estrutural em qualquer socieda-
suas identidades do que por suas diferenças. Seres humanos ten- de, os índices ainda registrados no Brasil são indicadores dos baixos
dem a se agrupar com seus semelhantes em bairros, grupos de ado- níveis de bem estar social, com o que temos convivido. A produção
lescentes, de apreciadores de música clássica, etc.. E sempre que da deficiência se dá portanto, não apenas sob a ótica do aluno que
possível, até mesmo inconscientemente, desprezamos ou evitamos se torna deficiente circunstancial ou tem agravada sua deficiência
o convívio íntimo com quem consideramos diferente. Quando a di- real. Pode-se dizer que a produção da deficiência na nossa qualida-
ferença é uma deficiência, essa tendência se agrava.
de de vida é de nossa considerável participação.
A busca do padrão de normalidade, quase sempre baseado em
conceitos estáticos culturais, tem justificado, através dos séculos,
Essa desigualdade social se reflete nas dificuldades de acesso e
assassinatos de pessoas que se diferenciavam da maioria, apenas
permanência na escola, de crianças com dificuldades e com neces-
por terem pele mais escura ou defenderem crenças que fugisse da
sidades especiais. Com isso nasce um tipo de deficiência cultural,
época.
que é mais comum em nossas escolas, tendo como consequência,
Segundo Werneck (1997), a sociedade para todos, conscientes
o fracasso escolar de muitos alunos.
da diversidade da raça humana, estaria estruturada para atender
Todos são diferentes uns dos outros, temos preferências dife-
às necessidades básicas de cada cidadão, das maiorias às minorias,
dos privilegiados aos marginalizados. Crianças, jovens e adultos rentes, necessidades diferentes.
com deficiência seriam naturalmente incorporadas à sociedade Essas diferenças dependem e são produto da interação das
inclusiva, definida pelo princípio: “todas as pessoas tem o mesmo características biológicas com cada um de nós vem equipado (ge-
valor”. E assim, trabalhariam juntas com papéis diferenciados para néticas, hereditárias e adquiridas após o nascimento), do nível de
atingir o bem comum: desenvolvimento real em que cada um de nós se encontra e do sig-
Na sociedade inclusiva não há lugar para atitudes como “abrir nificado que atribuímos às situações que vivemos em nosso cotidia-
espaço para deficientes” ou “aceita-los”, num gesto de solidarieda- no. (MEC, 1986, p.30)
de, e depois bater no peito ou mesmo ir dormir com a sensação de Todos podem se desenvolver, todos podem aprender desde
ter sido muito bonzinho. (WERNECK, 1998, p.22) que ensinemos e possamos mediar esse processo. Entretanto, para
Ninguém precisa ser caridoso, bonzinho, somos sim todos cida- que isso acorra, temos que garantir a igualdade de condições.
dãos, e é nosso dever privar pela qualidade de vida do nosso seme- Segundo Peter Singer (1994) o princípio da igualdade relacio-
lhante, por mais diferente que ele nos pareça ser. na-se diretamente com a igual consideração de interesses.
Em todas as regiões do planeta, pessoas com necessidades O princípio de igual consideração de interesses dos outros não
especiais estão entre os mais excluídos. Excluídos das escolas, do dependem das aptidões ou de características destes, executando a
direito de ir e vir, da sociedade em fim. característica de ter interesse. É verdade que não podemos saber
Temos a Política Nacional de Educação, elaborada desde 1993. aonde vai nos levar a igual consideração de interesse enquanto não
E a partir da Declaração de Salamanca (1994) e da nova Lei de Di- soubermos quais interesses tem as pessoas, o que pode variar de
retrizes e base da Educação, Lei n.º 9.394, muito tem se discutido e acordo com suas aptidões, ou outras características.
se atualizado sobre este tema através de discussões de várias ideias Levar em conta os interesses das pessoas, sejam elas quais
com representantes de organizações governamentais e não gover- forem, devesse aplicar-se a todos, sem levar em consideração sua
namentais, abrangendo todos os campos de pessoas com necessi- raça, sexo ou nível de inteligência, pois ela nada tem a haver com
dades educativas especiais. muitos interesses do ser humano como o interesse de evitar a dor,

406
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

desenvolver as próprias aptidões, satisfazer as necessidades bási- rência não só da quantidade e qualidade de informações que lhes
cas de alimentação, abrigo e de manter relações saudáveis com os estiverem disponíveis para tomar a melhor decisão, mas também
outros. da sua autodeterminação e prontidão para tomar decisões numa
Nossa sociedade, muitas vezes escraviza pessoas ditas defi- determinada situação. Esta situação pode ser pessoal (quando en-
cientes mentais, impedindo-as se satisfazer seus interesses. No volve a pessoa na privacidade), social (quando ocorre junto a outras
entanto, o principio da igual consideração de interesses é forte o pessoas) e econômica (quando se refere às finanças dessa pessoa).
suficiente para excluir essa sociedade baseada no índice de inteli- Tanto a autodeterminação como prontidão pode ser aprendida ou
gência. Também exclui a discriminação sob o pretexto de incapaci- desenvolvida. E quanto mais cedo na vida, a pessoa tiver oportuni-
dade, tanto intelectual como física. dade para fazer isso, melhor. Porém, muitos adultos parecem espe-
Com o passar dos tempos difundiu-se a constatação de que rar que a independência da criança com necessidades especiais irá
todas as tentativas de “normalização” das vidas das pessoas com ocorrer de repente, depois que ela crescer.
necessidades especiais se baseavam na modificação da própria pes-
soa, como premissa para o seu ingresso na sociedade. Depois foi se Equiparação de Oportunidades
generalizando a compreensão de que a deficiência, qualquer ela Existem várias declarações que amparam a Equiparação de
seja, tem como referência, “a norma”, o ambiente psicossocial ou oportunidades das pessoas com necessidades especiais.
o espaço físico, para que a pessoa possa desenvolver ao máximo De acordo com Sassaki (1997), uma das primeiras organiza-
suas capacidades. ções foi a Disables International (DPI), uma organização criada por
Acreditamos que todas as pessoas devem levar em conta o ver- pessoas portadoras de deficiência (termo usado na época), não go-
dadeiro sentido da igualdade, não como discurso, mas como princí- vernamental e sem fins lucrativos. A DPI define “equiparação de
pio de guiar suas vidas. oportunidades” como processo mediante o qual os sistemas gerais
da sociedade são feitos acessíveis para todos. Inclui a remoção das
Autonomia barreiras que impedem a plena participação das pessoas deficien-
“Autonomia é a condição de domínio no ambiente físico e so- tes em todas as áreas, permitindo-lhes alcançar uma qualidade de
cial, preservando ao máximo a privacidade e a dignidade da pessoa vida igual à de outras pessoas.
que a exerce”. (Sassaki, 1997, p.36) Uma definição semelhante consta no documento “Progra-
Para o autor citado, ter mais ou menos autonomia significa que ma Mundial de Ação às pessoas com Deficiência”, adotado em
a pessoa com necessidades especiais tem maior ou menor controle 3/12/1982 pela Assembleia Geral da Organização das Nações Uni-
nos vários ambientes físicos e sociais que ela queira ou necessite das (ONU). Este documento define Equiparação de Oportunidades
frequentar, para atingir seus objetivos. Por exemplo, as rampas de como o processo através do qual os sistemas gerais da sociedade,
acesso nas calçadas, transporte coletivo com acesso aos cadeiran- tais como o ambiente físico e cultural, a habitação e os transportes,
tes enfim adaptação de todas as infraestruturas facilitando o deslo- os serviços sociais e de saúde, as oportunidades educacionais e de
camento o mais autônomo possível no espaço físico. trabalho, a vida cultural e social, incluindo as instalações esportivas
Muitas pessoas com necessidades especiais, na conquista de
e recreativas devem ser acessíveis a todos.
sua autonomia no meio escolar, possuem uma percepção negativa
Dez anos depois, a Assembleia Geral da ONU adotou o docu-
delas mesmas. As pessoas creem que o sucesso escolar está fora
mento Normas Sobre Equiparação de Oportunidades que traz outra
de seu alcance, também tendem a um sub desempenho escolar,
definição: “Significa o processo através do qual os diversos sistemas
porque essa percepção negativa inibe a aquisição do meio para
da sociedade e do ambiente são tornados disponíveis para todos”.
adaptarem-se as exigências da escola. Na maioria das vezes, elas
Mais adiante esse documento acrescenta que pessoas com de-
percebem o esforço de adaptação como sendo não gratificante e
ficiência são membros da sociedade e tem o direito de permanecer
tornarem-se dependentes e mesmo subordinadas às outras, esco-
em suas comunidades locais. Elas devem receber o apoio que neces-
lhas e respostas alheias. Nesse sentido, a atitude passiva de aceita-
ção no meio escolar, que é largamente adotada pela escola e pela sitam dentro das estruturas comuns de educação, saúde, emprego
sociedade com relação às pessoas com necessidades educativas e serviços sociais. (SASSAKI, 1997, p.39)
especiais, deve ser substituída por atitudes ativas e modificadoras. Em todas estas definições, esta em primeiro lugar a igualdade
Elas precisam ser colocadas em situações problemáticas para de direitos. O princípio de direitos iguais implica nas necessidades
aprender a viver o equilíbrio cognitivo e emocional. Se aos conflitos de cada um e de todos. As comunidades devem basear-se nisso
lhes sã evitados, como poderão chegar a uma tomada de consci- para construção de uma vida melhor e digna para todos os mem-
ência dos problemas a resolver e como testarão sua capacidade de bros de uma sociedade.
enfrentá-los? (Montoan, 1997, p.141)
Montoan (1997) comenta que a situação remete a quadros Rejeição zero
conceituais e a paradigmas educacionais mais amplos, que estão De acordo com Sassaki (1997), inicialmente a rejeição zero, ou
sendo apontados como propostas para prover o meio escolar de exclusão zero, consistia em não rejeitar uma pessoa, par qualquer
condições favoráveis ao desenvolvimento da à autonomia de alu- finalidade, com base no fato de que ela possuía uma deficiência
nos com necessidades educativas especiais. ou por causa do grau de severidade dessa deficiência. Mais tarde,
o conceito passou a abranger as necessidades especiais, indepen-
Independência dente de suas causas.
Segundo Sassaki (1997), independência é a faculdade de de- Este conceito vem revolucionando a prática das instituições as-
cidir sem depender de outras pessoas, tais como: membros da fa- sistenciais que excluem pessoas cujas deficiências ou necessidades
mília ou profissionais especializados. Uma pessoa com deficiência especiais não possam ser atendidas pelos programas ou serviços
pode ser mais independente ou menos independente em decor- disponíveis.

407
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A luz do princípio da exclusão zero, porém, as instituições são [...] o currículo pode ser entendido como território de produ-
desafiadas a serem capazes de criar programas e serviços interna- ção, circulação e consolidação de significados. Nesse sentido, ele é
mente ou busca-los em entidades comuns da comunidade a fim de também um espaço privilegiado de política de identidade. A cultu-
melhor atenderem as pessoas com deficiência. As avaliações (so- ra, nesse contexto, é um campo de lutas em torno da significação
ciais, psicológicas, educacionais, profissionais, etc.) devem trocar social. É ‘onde se define não apenas a forma que o mundo deve
sua finalidade tradicional de diagnosticar e separar pessoas, pas- ter, mas também a forma como as pessoas e os grupos devem ser’.
sando para a moderna finalidade de oferecer parâmetros em face (LUNARDI, 2008 apud SILVA, 1999, p. 44-5).
dos quais as soluções são buscadas a todos. (SASSAKI, 1997, p.41) As teorias do Currículo, entretanto, na busca de compreender
Isso faz com que as instituições tenham que servir às pessoas e o sentido e o significado fazem o seu cruzamento com aspectos que
não às pessoas terem que se ajustar às instituições. superam os limites de sua configuração prescritiva, especialmente
Para Montoan (1997), as comunidades que rejeitam a riqueza as teorias críticas e pós‐críticas. Para Sacristán (2000):
da diversidade continuam ultrapassadas, colocando a sociedade A prática a que se refere o currículo [...] é uma realidade prévia
em risco, não permitindo, assim, que todos exerçam seus direitos. muito bem estabelecida através de comportamentos didáticos, po-
Verifica-se que os princípios e conceitos essenciais da proposta líticos, administrativos, econômicos, etc., através dos quais se enco-
de inclusão envolvem: igualdade e equiparação de oportunidades, brem muitos pressupostos, teorias parciais, esquemas de racionali-
autonomia, independência e rejeição zero. dade, crenças, valores, etc., que condicionam a teorização sobre o
Tudo está mudando tão rápido, são novas tecnologias que mui- currículo. (SACRISTÁN, 2000, p.13).
tos de nós nem conseguimos conhece-las direito. As concepções atuais acerca do Currículo são oriundas da pers-
Para os mais jovens, já é quase normal às pessoas não se cum- pectiva pós-estruturalista, que concebe a ideia do sujeito como um
primentarem. Tudo é cercado por “interesses” e “aparências”, o ser centrado em sua subjetividade e individualidade. Observamos
tempo é algo muito importante, quase todos querem ganhar sem que, ao se tratar deste e do pós-estruturalismo, estes são, interpre-
pensar naqueles que precisam de uma chance para poder “andar” tados como prática cultural e como produtos de significações, em
pelas ruas sem olhares preconceituosos. que a cultura se configura como um campo de lutas em torno das
O país e o mundo vivem atravessando crises financeiras, usan- significações. Em outras palavras, a cultura não é entendida nesta
do-a como desculpa pela falta de investimento na saúde, educação perspectiva como algo concluído, mas sim, como algo que se mani-
etc... Afetando os mais fracos: pobres, idosos e pessoas com ne- pula em meio a conflitos.
cessidades especiais, isto é, todos que se diferenciam um pouco do
que a sociedade impõe que deva ser normal. Currículo na Educação Inclusiva – Especial na Perspectiva
Verificamos também que a sociedade deve se esforçar para Contemporânea
transformar esta situação de rejeição ao que se considera fora do A escola é concebida como instituição, capaz e capacitada,
padrão. Não existe nenhuma fórmula, basta que as pessoas pen- para disseminar o conhecimento, assim sendo, todos os alunos que
sem um pouco naqueles que estão a sua volta como cidadãos que a frequentam necessitam desenvolver de forma adequada suas po-
possuem os mesmos direitos e deveres, não importando se pos- tencialidades, independentemente de possuírem ou não uma ne-
sui necessidades especiais ou não, todos viemos do mesmo lugar cessidade mais específica na aprendizagem.
e vamos acabar no mesmo lugar, independente se somos ricos ou Porém, quando há estudantes que não estão tendo evolução
pobres, brancos ou pretos, enfim de qualquer coisa. em seu processo de ensino e aprendizagem (no caso aqueles com
A luta pela educação especial no Brasil nunca foi fácil. Temos necessidades educacionais especiais), o Currículo embutido no Pro-
uma legislação, mas sabemos que ela sozinha não resolve nada. jeto Pedagógico construído na escola, pode vim a torna-se um me-
Ainda são poucas as pessoas que lutam pelos direitos das pesso- canismo de exclusão, um estigma da diferença.
as com necessidades especiais e que defendem para todos, uma Quanto aos discursos em torno do processo da inclusão da
sociedade inclusiva. Precisamos dar as mãos nesta luta e repensar- pessoa com deficiência, Silva (2010, p.2) destaca que “[...] parece
mos a maneira pela qual lidamos com as diferenças. refletir o modo pelo qual são representadas e expressadas, histo-
Incluir não é favor, mas uma troca e todos saem ganhando. ricamente, as principais inquietações das práticas de escolarização
E convivendo com as diferenças humanas construiremos um país desses indivíduos, particularmente, àquelas relacionadas à escola
diferente e melhor.9 e ao Currículo”.
Por isso, entendemos que, é de suma importância realizar uma
A educação especial e o Currículo. reflexão construtiva sobre a pessoa com deficiência, nesse contex-
Ainda há espaços que compreendem o Currículo como mero to educacional inclusivo, aonde cada sujeito apresenta uma carac-
guia de conteúdos a serem administrados aos estudantes. Tem-se terística peculiar em que o discurso inclusivo, por tendência, massi-
hoje a consciência de que a real concepção do mesmo está muito fica. Desta forma, quando se defende a inclusão sem a valorização
além dessa perspectiva. Isto é, compreendemos o, como um cami- de fato da alteridade e das especificidades que a constitui, está se
nho a percorrer muito além do caminho meramente de conteúdos compreendendo o grupo das pessoas com deficiência de forma he-
a serem compridos. gemônica, colocando estes sujeitos, como seres que apresentam
Ele pode ser compreendido como um contexto de produção de características e necessidades únicas e comuns. É nessa conjuntura
significações, aonde habitam as diversas identidades que são forja- que o Currículo se configura como locus de importância no que diz
das em meio a um campo de luta e conflitos, pelo domínio do saber respeito à discussão quanto à questão da diferença e da diversida-
e do poder. Sobre isso, atesta Lunardi (2008), citando Silva (1999): de.

9Fonte: www.centraldeinteligenciaacademica.blogspot.com

408
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A inclusão vem tomando espaço cada vez maior nas políticas As Políticas Públicas colocam para os sistemas de ensino, a
públicas, na sociedade e nas escolas, princípios educacionais for- responsabilidade de garantir que nenhum aluno seja discriminado,
mulados a partir dos ideais de Educação para Todos ganharam mais de reestruturar as escolas de ensino regular, de elaborar projeto
consistência com as diversas diretrizes, elaboradas para os diferen- pedagógico inclusivo, de programar propostas e atividades diversi-
tes níveis de ensino (Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensi- ficadas, de planejar recursos para promoção da acessibilidade nos
no Fundamental, 1996; Diretrizes Curriculares para a Educação Es- ambientes e de atender às necessidades educacionais especiais, de
pecial na Educação Básica, 2001; Diretrizes Curriculares Nacionais forma que todos os alunos tenham acesso pleno ao Currículo.
para a Formação de Professores, 2002). Considerando que os aspectos acima mencionados são deter-
Esses documentos configuram‐se como um conjunto de defini- minantes para o sucesso da Política Educacional Inclusiva e que os
ções doutrinárias sobre princípios, fundamentos e procedimentos, resultados do censo escolar em nosso país, indicam o crescimento
com o objetivo de orientar as escolas em suas organizações, articu- de alunos incluídos no ensino regular.
lações, desenvolvimento e avaliação de suas propostas pedagógi- Porém o que se vê é despreparo na prática para lidar com toda
cas. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Especial a situação que permeia a inclusão. Além do mais, não bastam so-
na Educação Básica (CNE/CB, Nº 2, 11 de fevereiro de 2001) expres- mente Leis, Decretos, Portarias, Resoluções em âmbito federal,
sam determinações e orientações voltadas ao processo de inclusão estadual e municipal que digam o que fazer, necessita-se urgen-
dos alunos com necessidades educacionais especiais, no que tange temente articular a legislação com a prática executada no dia a dia
aos aspectos pedagógicos e formação de professores. No Parecer nas escolas.
17/2001, referente à Resolução 2/2001. Tendo em vista que, as dificuldades que emergem do cotidiano
A inclusão é definida como a garantia, a todos, do acesso con- escolar, nos mostraram que o tema inclusão escolar ainda perma-
tínuo ao espaço comum da vida em sociedade, sociedade essa que nece como um problema a ser resolvido pelas escolas e pela socie-
deve estar orientada por relações de acolhimento à diversidade hu- dade. Ter acesso à instituição escolar, em si, não garante que os
mana, de aceitação das diferenças individuais, de esforço coletivo alunos estão tendo o suporte necessário para o desenvolvimento
na equiparação de oportunidades de desenvolvimento, com quali- do seu processo de ensino e aprendizagem.
dade, em todas as dimensões da vida (BRASIL/CNE, 2001). É corriqueiro observarmos que, em alguns espaços pedagógi-
Nesse contexto entendemos que a educação voltada às pes- cos, ao receber alunos com necessidades educacionais especiais,
soas com necessidades educacionais especiais está fundamentada em escolas ditas como inclusivas (aonde na proposta pedagógica
nos princípios da preservação da dignidade humana, na busca da tem-se um relato de que a escola é inclusiva e de que todos os
identidade e no exercício da cidadania. professores participaram das discussões – gestão democrática),
Práticas durante muito tempo negligenciadas no trato às pes- tenha-se dificuldades para recepciona-los e orienta-los, apresen-
soas que apresentassem qualquer tipo de deficiência fosse ela físi- tando uma à prática que foge da proposta apresentada no Projeto
ca sensorial ou cognitiva. De acordo com o Parecer, os princípios Pedagógico.
que orientam a elaboração das diretrizes têm por finalidade acabar Por isso, quando há o ingresso de um estudante com necessi-
com qualquer tipo de discriminação e garantir o desenvolvimento dades educacionais especiais, por mais que, a professora faça um
da cidadania. trabalho de aceitação dos demais estudantes e isso aconteça com
Embasadas na LDB 9394/96 e na Declaração de Salamanca sucesso, à prática diária escolar demonstra o quanto à mesma de-
(1994), podemos dizer que o princípio fundamental da escola inclu- monstra dificuldade, em desenvolver os conteúdos do Currículo
siva é o de que todas as crianças devem aprender juntas. junto a esse aluno, e a reconhecer aonde inicia a capacidade de
Sendo assim, as escolas devem reconhecer e responder às ne- aprendizagem desse estudante e como fazer com que ele se apro-
cessidades diversas de seus estudantes, acomodando os estilos e prie de tais conteúdos curriculares.
ritmos de aprendizagem, por fim, assegurando uma educação de No contexto da perspectiva de inclusão da pessoa com defi-
qualidade a todos, por meio de um Currículo apropriado, arranjo ciência, compreendemos que esta discussão ajude a promover o
organizacional, estratégias de ensino, usa de recursos e parceria olhar sobre o sujeito com deficiência como o Outro. Somente, a
com a comunidade. partir daí, a escola será uma real ação onde a diferença será com-
De acordo com os Parâmetros Curriculares para a educação preendida como algo inerente à humanidade, conforme Silva
inclusiva (1998), o Currículo é construído a partir do projeto peda- (2010), não mais será entendido como:
gógico da escola e deve viabilizar a operacionalização do mesmo, [...] um instrumento pedagógico neutro, ao contrário (o currí-
orientando as atividades educativas, as formas de executá-las e de- culo) é um campo de conflitos, tensões e relações de poder do qual
finindo as suas finalidades. O mesmo documento usa as palavras resulta um conjunto de prescrições sobre os conteúdos, as organi-
“Adequações Curriculares” para referir-se ao mesmo como sendo zações e as práticas que refletem (e reproduzem) as relações sociais
um elemento dinâmico da educação para todos e que a sua via- e políticas existentes em cada momento histórico, que são negocia-
bilização para os alunos com necessidades educacionais especiais, das, efetivadas, construídas e reconstruídas na escola (SILVA, 2010,
pode ser realizando através da flexibilização, na prática educacio- p. 06).
nal, com o objetivo de atender todos os alunos. Neste momento de mudança de paradigma de uma escola ex-
Pensar em adequação curricular significa considerar o cotidia- cludente para uma que inclui, é conciso que se trilhem os recursos
no das escolas, levando-se em conta as necessidades e capacidades necessários para efetivar o compromisso de desenvolver em cada
dos seus alunos e os valores que orientam a prática pedagógica. estudante as suas potencialidades.
Para os alunos que apresentam necessidades educacionais espe-
ciais essas questões têm um significado particularmente importan-
te (PCNs, 1998, p. 32).

409
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Pois, a educação inclusiva, entendida sob a dinâmica didáti- isso, não querem dizer que o aluno incluído não necessite de adap-
co-curricular, é aquela que proporciona ao aluno com necessida- tações curriculares, mas argumentam em favor de uma inclusão
des educacionais especiais, participar das atividades cotidianas da real, que repense o currículo escolar, que efetive um atendimento
classe regular, aprendendo as mesmas coisas que os demais, mes- de qualidade.
mo que de modos diferentes, preferencialmente sem defasagem Para Carvalho (2004, p. 79), a educação inclusiva pode ser con-
idade-série. Sendo o professor, o agente mediador do processo de siderada como um “processo que permite colocar valores em prá-
ensino aprendizagem, cabe a ele o papel de fazer as adequações tica, sem pieguismos, caridade, filantropia, pois está alicerçada em
necessárias ao currículo (GLAT, 2004). princípios que conferem igualdade de valor a todas as pessoas”.
A escola inclusiva precisa ter claro o reconhecimento de que Nesse sentido, a reformulação do processo educacional deveria ga-
cada estudante tem um potencial, ritmo de trabalho diferenciado, rantir currículos que valorizassem a diferença como constituição da
expectativas, estilos de aprendizagens, motivações e valores cultu- sociedade e não como deformações diante de padrões estabeleci-
rais, ou seja, reconhecê-los como diferentes. Segundo a Declaração dos socialmente.
de Salamanca: Contudo, superar a lógica de adaptações, pressupõe uma pro-
O princípio fundamental das escolas inclusivas consiste em to- posta curricular construída na perspectiva de viabilizar a articulação
dos os alunos aprenderem juntos, sempre que possível, independen- dos conhecimentos do ensino especial e do ensino comum, ambos
temente das dificuldades e das diferenças que apresentem. Estas devem promover a ampliação dos conhecimentos, das experiências
escolas devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos de vida e a valorização dos percursos de aprendizagem.
seus alunos, adaptando-se aos vários estilos e ritmos de aprendi- Um Currículo fundamentado na perspectiva da inclusão preci-
zagem, de modo a garantir um bom nível de educação para todos, sa ser construído, de fato, pelo sistema educacional brasileiro (prin-
através de currículos adequados, de uma boa organização escolar, cipalmente na escola), pois passa pela formação inicial e continua-
de estratégias pedagógicas, de utilização de recursos e de uma da de professores, pela organização do trabalho pedagógico, pelo
cooperação com as respectivas comunidades. É preciso, portanto, desvelamento e superação de práticas culturais e pedagógicas que
um conjunto de apoios e de serviços para satisfazer o conjunto de perpetuam preconceitos reforçam discriminações.
necessidades especiais dentro da escola (UNESCO, 1994, p.11-12). Para tanto, não é possível atribuir apenas a figura do professor
Podemos assim analisar que, o termo “necessidades educa- em sala de aula a responsabilidade por um Currículo que se consti-
cionais especiais” estar se referindo a todas aquelas crianças ou tua a partir da diversidade e respeite os ritmos diferentes de apren-
jovens, cujas necessidades educacionais que surgiram em função dizagem. O progresso é, sem dúvida, o fator mais importante para
de deficiências ou dificuldades de aprendizagem. Muitas crianças se alcançar uma educação inclusiva de qualidade, primando pela
experimentam dificuldades de aprendizagem e, portanto, possuem heterogeneidade de nossos alunos. O grande objetivo para a esco-
penúrias especiais em algum momento em seu processo de esco- la inclusiva consiste em planejar a participação de todos os alunos
larização. e saber como dar suporte à aprendizagem dos mesmos, sem lhes
Com esse contexto em que a criança esta inserida espera-se fornecer respostas predeterminadas ou fazer do Currículo, um es-
que o professor saiba acolher a diversidade e desenvolver a apren- tigma da diferença. É necessário estar atento à importância de que
dizagem em seus alunos, levando em consideração a diversidade não é o aluno que tem que se adaptar aos moldes da escola, mas a
nos ritmos que se encontram presentes em sua sala de aula. Por escola que deve adaptar-se a atender seus alunos.
isso, é imprescindível que a escola se adapte às necessidades dos Assim sendo, para a execução de um Currículo inclusivo é pre-
alunos. ciso garantir uma educação com atitude abrangente, que antes de
Para tal, destaca-se a necessidade de um Currículo flexível, tudo, uma questão de direitos humanos, que se insere na perspecti-
abrangente de uma proposta de conteúdos, a partir da realidade va de assegurar o direito à educação das crianças, jovens e adultos,
de cada escola com base na sua autonomia, aonde, os elementos independentemente de suas características ou dificuldades. Impor-
curriculares ganhem novas formas, ou seja, os conteúdos não se- ta não perder de vista que assegurar o direito à educação é ir além
rão decorados, mas apreendidos compreensivamente; a relação de do acesso: é prever e redefinir ações verdadeiramente destinadas
professor e alunos será de uma parceria mútua; as metodologias a estes sujeitos/alunos, em função das suas necessidades/ou espe-
serão diversificadas e ativas; a avaliação não será a cobrança da cificidades, tendo em vista sua formação humana e educacional.
falta ou o reforço do comportamento obediente, mas a análise do Por fim, de acordo com o que foi apresentado percebemos
processo para reorganizar as ações na rotina escolar. então que o Currículo faz diferença sim, no processo de ensino e
aprendizagem, sendo importante investir estudos para o avanço do
É de fundamental importância salientar que o currículo não mesmo no cotidiano escolar, e vale ressaltar que este deve alcançar
deve ser concebido de maneira a ser o aluno quem se adapte aos todos os sujeitos, independente das características apresentadas
moldes que a escola oferece, mas como um campo aberto à diversi- por estes considerando todos os aspectos culturais que fazem par-
dade. Essa diversidade não é no sentido de que cada aluno poderia te do meio social onde os sujeitos habitam.10
aprender conteúdos diferentes, mas sim aprender conteúdos de
diferentes maneiras. Para efetivar tal acontecimento, ao planejar, Metodologias e estratégias na educação especial
professor precisa estabelecer expectativas altas e criar oportunida- As estratégias pedagógicas correspondem aos diversos proce-
des para todos os alunos aprenderem com sucesso, incluídos todos. dimentos planejados e implementados por educadores com a fina-
Moreira e Baumel (2001) escrevem que, as adaptações curri- lidade de atingir seus objetivos de ensino. Elas envolvem métodos,
culares não podem correr o risco de produzirem na mesma sala de técnicas e práticas explorados como meios para acessar, produzir e
aula um Currículo de segunda categoria, que possa denotar a sim- expressar o conhecimento.
plificação ou retirar do contexto referente ao conhecimento. Com 10Fonte: www.editorarealize.com.br

410
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

No contexto da educação inclusiva, recomenda-se que o ponto Quando o planejamento não leva em conta as particularidades
de partida seja as singularidades do sujeito, com foco em suas po- de cada aluno, as estratégias pedagógicas podem constituir uma
tencialidades. Se, por um lado, a proposta curricular deve ser uma das principais barreiras à inclusão educacional de alunos com e
só para todos os estudantes, por outro, é imprescindível que as es- sem deficiência.
tratégias pedagógicas sejam diversificadas, com base nos interes-
ses, habilidades e necessidades de cada um. Só assim se torna viá- O que fazer quando um aluno “não aprende”?
vel a participação efetiva, em igualdade de oportunidades, para o Na verdade, não são os estudantes que não aprendem. A esco-
pleno desenvolvimento de todos os alunos, com e sem deficiência. la é que, muitas vezes, não está habituada a lidar com a diferença
Esta página apresenta orientações e exemplos práticos sobre e, assim, não oferece estratégias pedagógicas que favoreçam a cria-
como desenvolver estratégias pedagógicas nessa perspectiva e ção de vínculos, as relações de troca e o acesso ao conhecimento.
como construir um planejamento pedagógico, escolher ou até mes- Um dos princípios da educação inclusiva é justamente esse: toda
mo criar materiais e conceber estratégias de avaliação capazes de pessoa aprende, sejam quais forem suas particularidades intelec-
garantir a participação e a aprendizagem de todos os estudantes. tuais, sensoriais e físicas. O que remete a outro princípio: o proces-
so de aprendizagem de cada pessoa é singular. Por isso, torna-se
Como desenvolver estratégias pedagógicas inclusivas fundamental avaliar cada situação, a fim de encontrar meios de
O ponto de partida deve ser o próprio estudante. É preciso em- garantir a inclusão efetiva de qualquer estudante, independente-
penhar-se em conhecê-lo bem. Partir do seu repertório e dos seus mente do laudo que o acompanha.
eixos de interesse torna o processo de ensino-aprendizagem muito E a colaboração do profissional do atendimento educacional
mais espontâneo, prazeroso e significativo. Uma dica é se pergun- especializado (AEE) nesse processo pode ser determinante, con-
tar com frequência: o que cada um deles sabe sobre o conceito a siderando que, segundo a Política nacional de educação especial
ser trabalhado? Como seus interesses podem ser explorados como na perspectiva da educação inclusiva, esse serviço tem a função de
facilitadores do ensino de cada conteúdo? identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibi-
Vale ressaltar a importância de se observar as barreiras exis- lidade para a eliminação de barreiras para a plena participação dos
tentes e investir na diversificação de estratégias pedagógicas. O alunos, levando em conta suas necessidades específicas.
profissional de em o papel de colaborar com esse processo. Pro-
fessores criativos ou que já tenham experiência com inclusão de Planejamento pedagógico
estudantes com deficiência também podem ser bons parceiros. O planejamento pedagógico tem como finalidade definir os
Exemplo disso aconteceu na Escola Municipal de Educação objetivos e as estratégias que orientam o processo de ensino-
Básica Professora Maria Therezinha Besana, em São Bernardo do -aprendizagem.
Campo (SP). Ao chegar na unidade, Gustavo, um aluno com autis- No contexto da educação inclusiva o planejamento deve ser
mo, começou a apresentar dificuldades no processo de alfabetiza- contínuo e colaborativo. Ao mesmo tempo, deve valorizar os inte-
ção. A situação se modificou quando suas educadoras passaram a resses e atender às necessidades de cada estudante. Isso significa
contextualizar as atividades de acordo com os gostos e interesses pensar aulas desafiadoras para todos, diversificando as formas de
do garoto. apresentar e explorar os conteúdos curriculares.
Quem deve planejar as atividades para os alunos com defici-
Atividades para alunos com um mesmo diagnóstico devem ência?
ser iguais? O responsável pelo planejamento – para todos os estudantes
Durante muito tempo, acreditou-se ser possível generalizar – é o professor regente. No entanto, essa não precisa, nem deve,
as características das pessoas e, assim, padronizar estratégias pe- ser uma tarefa solitária. Ao contrário, a perspectiva inclusiva prevê
dagógicas a partir de um mesmo quadro diagnóstico. Atualmente, que o processo de elaboração do planejamento pedagógico inclusi-
sabemos que essa noção é, no mínimo, simplista. Ainda que apre- vo seja colaborativo, envolvendo a participação de outros agentes
sentem pareceres diagnósticos absolutamente iguais, duas pesso- da escola, docentes e não docentes, das famílias e até mesmo dos
as podem reagir às mesmas estratégias de maneiras totalmente alunos, como protagonistas do próprio processo de ensino e apren-
distintas. dizagem.
Não há, portanto, “receitas prontas” ou manuais de atividades Assim, outros professores criativos ou que já tenham trabalha-
ideais, indicando exatamente como ou o que trabalhar com um alu- do com alunos com deficiência e, particularmente, o profissional
no com esse ou aquele diagnóstico. E isso não se aplica somente a do atendimento educacional especializado (AEE) podem contribuir
pessoas com alguma deficiência. Posto que a diferença é inerente à significativamente sugerindo atividades e recursos – desde que isso
condição humana, o processo de aprendizagem de cada estudante se dê numa perspectiva de colaboração, considerando que tais ati-
torna-se singular. vidades precisam estar contextualizadas no planejamento.

Qual a relação entre estratégias pedagógicas e fracasso esco-


lar?
Se partirmos do pressuposto de que toda pessoa aprende,
quando isso não acontece, pode ser que o problema resida nas es-
tratégias pedagógicas adotadas em sala de aula. É por meio delas
que o estudante se conecta ao currículo, ou seja, acessa o conhe-
cimento.

411
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Como o AEE pode contribuir um planejamento pedagógico os modos de interação, proporcionando oportunidades de realizar
inclusivo? atividades individualmente, em dupla e em grupos – cujos critérios
O atendimento educacional especializado pode contribuir para de formação também devem ser diversificados. E flexibilizando a
um planejamento pedagógico inclusivo tanto na proposição de es- rotina, a partir de um planejamento que muda constantemente.
tratégias diversificadas, considerando os interesses e as necessi-
dades de cada um dos estudantes com deficiência, transtorno do Material pedagógico
espectro autista (TEA) e altas habilidades/superdotação, quanto Material pedagógico é todo e qualquer recurso utilizado em
na identificação das barreiras a sua aprendizagem e na escolha sala de aula com uma finalidade específica de ensino e aprendiza-
ou construção de recursos ou estratégias para a superá-las e para gem.
equiparar oportunidades. A educação inclusiva prevê o uso de diferentes materiais peda-
Apesar de atender diretamente somente os alunos com defici- gógicos para alcançar um mesmo objetivo de ensino. Nesse caso, a
ência, o profissional de AEE pode contribuir para que o planejamen- referência para a escolha ou desenvolvimento de atividades deve
to pedagógico seja de fato inclusivo, ou seja, garanta a aprendiza- ser o próprio estudante, suas necessidades (baseadas em caracte-
gem e o pleno desenvolvimento do potencial de todos os alunos, rísticas físicas, sensoriais ou outras), seus interesses e habilidades,
já que as estratégias pensadas para estudantes com deficiência visando sempre a equiparação de oportunidades.
podem servir, também, para outras crianças. A rede municipal de Sorriso (MT) criou uma formação entre
professores do atendimento educacional especializado para a troca
O que significa dizer que o planejamento é contínuo? de soluções criativas e materiais pedagógicos para a inclusão.
Um planejamento fechado, “parado no tempo”, baseado em
etapas estanques fundamentadas na expectativa de homogeneiza- Avaliação
ção é característico de uma pedagogia tradicional, excludente. A A avaliação na perspectiva inclusiva é um processo contínuo
partir da perspectiva inclusiva, sabemos que o processo de apren- e contextualizado, no qual a referência deve ser a trajetória indi-
dizagem e o desenvolvimento de cada estudante é único, singular. vidual do estudante, sem que haja classificações ou comparações.
Assim como também é dinâmico, não linear.
Isso porque a educação inclusiva parte do pressuposto de que cada
Não há como prever, por exemplo, o que um determinado alu-
pessoa tem um modo singular de acessar, produzir e expressar o
no será capaz de fazer sozinho em um mês. Por isso o processo de
conhecimento. Por essa razão, a avaliação demanda a adoção de
elaboração do planejamento pedagógico na perspectiva inclusiva é
estratégias e ferramentas diversificadas, considerando as especifi-
contínuo, isto é, baseado no que cada estudante – e o grupo como
cidades de cada aluno.
um todo – demanda, aqui e agora. O planejamento deve ser revisto
O Plano educacional individualizado (PEI), instrumento cada
continuadamente a partir da configuração dos novos desafios e po-
vez mais utilizado no contexto do atendimento educacional espe-
tencialidades que se apresentam para a garantia de uma educação
cializado (AEE), pode se tornar um importante recurso de avaliação
de qualidade para todos, em igualdade de condições.
para todos os estudantes, com e sem deficiência.
Como o currículo influencia na construção de um planejamen-
to pedagógico inclusivo? Qual a diferença entre a avaliação tradicional e a inclusiva?
A perspectiva inclusiva indica o direito de todos os estudantes, A avaliação tradicional tem como referência um padrão con-
com e sem deficiência, acessarem um mesmo currículo. Um currí- siderado “normal” ou estatisticamente mais frequente. É como se
culo flexível, que implica a busca pela coesão da base curricular co- todos os estudantes devessem aprender da mesma forma, no mes-
mum com a realidade dos estudantes, suas características sociais, mo ritmo e no mesmo espaço de tempo. Os métodos de medição
culturais e individuais – incorporando também os diferentes mo- de conhecimento são padronizados, justamente porque se espera
dos de aprender presentes em sala de aula. o mesmo resultado de todos os alunos. Aqueles que não alcançam
Um planejamento pedagógico tradicional, baseado em conteú- esse parâmetro são excluídos.
dos pré-determinados que desconsideram o contexto e as diferen- Na perspectiva inclusiva, a avaliação tem como referência o
ças que compõe o grupo, está fadado à exclusão, particularmente processo individual do estudante. Não há comparação com o ou-
daqueles que historicamente já vem sendo excluídos do direito à tro. O parâmetro do aluno é ele mesmo. Por isso, o objetivo não é
participação e à aprendizagem. classificar nem selecionar.
Para desenvolver uma avaliação inclusiva, o ponto de partida
Como lidar com os diferentes tempos de aprendizagem dos deve ser o próprio estudante. Ou seja, é preciso, antes de qualquer
alunos? coisa, “olhar” para ele – porém não pontualmente, nem descon-
Esperar que todos os alunos de um mesmo grupo realizem uma textualizadamente. É preciso acompanhá-lo processualmente para
determinada atividade ou aprendam determinados conteúdos num conhecer sua trajetória individual e conhecê-lo profundamente
mesmo período de tempo corresponde à lógica da homogeneiza- para descobrir de que modo é capaz de expressar melhor o co-
ção e gera, inevitavelmente, exclusão. A educação inclusiva parte nhecimento.
do pressuposto de que a diferença é uma característica humana. Não há um padrão de avaliação para o grupo como um todo
Assim, os diferentes tempos de aprendizagem devem ser não que é adaptado a alguns poucos “diferentes”. Partindo do pressu-
somente respeitados bem como considerados no planejamento posto de que a diferença é uma característica humana, ou seja, de
pedagógico. Ou seja, planejar na perspectiva inclusiva implica pre- que todos são diferentes, é preciso pensar em estratégias de ava-
ver estratégias pedagógicas diversificadas também em relação ao liação diversificadas para todos os alunos, não somente os com
tempo, considerando o ritmo de cada um. Diversificando também deficiência.

412
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os erros são bem-vindos, produções autorais são valorizadas e O uso do plano educacional individualizado é obrigatório?
um mesmo problema suscita a oportunidade de explorar múltiplas Em alguns países, como em Portugal e nos Estados Unidos, a
respostas. Provas, testes ou outras estratégias pontuais de avalia- aplicação do instrumento é obrigatória para todos os estudantes
ção têm menor valor que os processos de aprendizagem, a partir com deficiência. No Brasil, essa obrigatoriedade não existe. Entre-
dos quais é possível reconhecer a evolução em relação ao que o tanto, algumas redes de ensino regulamentam o uso da ferramenta
educando já sabia ou era capaz de fazer anteriormente. localmente.
A atribuição de nota emerge justamente dos fenômenos ob- A legislação brasileira garante aos alunos com deficiência o ple-
servados no cotidiano da aprendizagem, em contextos que tornam no acesso ao currículo e a participação em todas as atividades da
visíveis os novos conhecimentos e as novas execuções. escola em condições de igualdade. Ou seja, o modelo não precisa
necessariamente ser o mesmo, mas estratégias de planejamento e
Faz sentido adaptar avaliações para estudantes com deficiên- acompanhamento individual do processo de aprendizagem e de-
cia? senvolvimento dos alunos público-alvo da educação especial são,
As estratégias de avaliação deveriam ser “adaptadas” a todos sim, necessários.11
os alunos, e a cada um, no sentido de levar em conta suas especifi-
cidades – necessidades, interesses, estilo de aprendizagem, conhe-
cimentos prévios etc. Ou seja, o objetivo central ao se “adaptar” EDUCAÇÃO/ SOCIEDADE E PRÁTICA ESCOLAR
uma avaliação ou qualquer outra estratégia pedagógica deve ser a
equiparação de oportunidades. E para isso, é fundamental avaliar Sendo a escola uma instituição organizada e integrada na co-
cada situação especificamente. munidade, ela deve desempenhar uma função pró-ativa de súbita
importância na formação, transformação e desenvolvimento do ca-
Quem deve adaptar uma avaliação para um estudante com pital social.
deficiência? Pensar a escola de hoje é refletir a sociedade nas vertentes so-
O professor do atendimento educacional especializado (AEE) cial, económico e pessoal.
deve trabalhar como aliado dos professores das classes comuns A relação escola, família e comunidade carece de melhoria,
e demais profissionais da escola para a elaboração e definição pois constata-se quase que um divórcio entre elas. As escolas, mui-
do processo de avaliação. Infelizmente, essa não é a realidade de tas vezes, não fomentam nem facilitam o intercâmbio de experiên-
muitas escolas. Alguns professores do ensino regular, por falta de cias com outras escolas e com o meio em que estão inseridas, não
conhecimento ou comodismo, depositam toda a responsabilidade promovem a procura de soluções inovadoras, nem proporcionam
nos serviços de apoio, como se esses fossem os únicos responsáveis uma participação efetiva dos pais e encarregados de educação na
pela aprendizagem e inclusão. gestão escolar.
Escola é a principal instituição para a transmissão e aquisição
Plano educacional individualizado (PEI) de conhecimentos, valores e habilidades, por isso deve ser tida
O plano educacional individualizado (PEI) é um instrumento de como o bem mais importante de qualquer sociedade.
planejamento e acompanhamento do processo de aprendizagem Escola – instituição social que tem o encargo de educar, segun-
e desenvolvimento de estudantes com deficiência, transtornos do do planos sistemáticos, os indivíduos nas diferentes idades da sua
espectro autista (TEA) e altas habilidades/superdotação, cuja refe- formação, casa ou estabelecimento onde se ministra o ensino.
rência é a trajetória individual de cada um. O modelo mais comum, Escola é uma instituição educativa fundamental onde são or-
adotado por escolas e redes de ensino no Brasil e em outros países, ganizadas, sistematicamente, atividades práticas de carácter peda-
baseia-se em seis áreas de habilidades: acadêmicas, da vida diá- gógico.
ria, motoras/atividade física, sociais, recreação/lazer e pré-profis- Para Gary Marx, (in Azevedo, 1994,p.147) a escola é verdadei-
sionais/profissionais. Quando aplicado numa perspectiva inclusiva, ramente uma instituição de último recurso, após a família, comuni-
pode-se tornar uma importante ferramenta de apoio ao trabalho dade e a igreja terem fracassado.
em sala de aula, principalmente na avaliação de estudantes públi- Comunidade é um conjunto de pessoas que vive num determi-
co-alvo da educação especial. nado lugar e ligado por um ideal e objetivos comuns.
Participação – de acordo com a etimologia da palavra, partici-
O PEI pode ser usado na sala de aula regular? pação origina-se do latim “participatio” (pars + in + actio) que ignifi-
Sim. Usar o plano educacional individualizado na sala de aula ca ter parte na ação. Para ter parte na ação é necessário ter acesso
regular não só recomendável como necessário. ao agir e às decisões que orientam o agir. “
Primeiro porque, considerando seus objetivos, o trabalho do Executar uma ação não significa ter parte, ou seja, responsabi-
atendimento educacional individualizado (AEE) perde o sentido se lidade sobre a ação. E só será sujeito da ação quem puder decidir
não for diretamente articulado com o realizado em sala de aula. sobre ela”
Idealmente, o PEI deveria ser construído de forma colaborativa, a A participação é «um modo de vida» que permite resolver fa-
partir do estabelecimento de uma parceria efetiva entre o profes- voravelmente a tensão sempre existente entre o individual e o cole-
sor de sala e o de AEE. Além disso, considerando que a educação in- tivo, a pessoa e o grupo, na organização.
clusiva diz respeito a todos os estudantes e que o processo de cada
estudante é singular, estratégias de planejamento e acompanha-
mento individual do processo de aprendizagem e desenvolvimento
como o PEI deveriam ser estendidas a todos, ao invés de ficarem
restritas somente ao público-alvo da educação especial.
11Fonte: www.diversa.org.br/www.gestaoescolar.org.br

413
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A participação deve ser vista como um processo permanente vem evitar a comparação, pois cada um é único e tem seu próprio
de estabelecer um equilíbrio dinâmico entre: a autoridade delega- ritmo de aprendizado e sua maneira singular de ver o mundo e a
da do poder central ou local na escola; as competências profissio- sociedade em que esta inserido.
nais dos professores (enquanto especialistas do ensino) e de outros É preciso ainda ressaltar que o conhecimento e o aprendizado
trabalhadores não docentes; os direitos dos alunos enquanto «au- não são adquiridos somente nos bancos escolares, mas é construído
tores» do seu próprio crescimento; e a responsabilidade dos pais na pelo contato com o social, dentro da família, e no mundo ao seu
educação dos seus filhos. redor. Fazer do aprendizado um prazer é tarefa não só dos professo-
Considerando que toda criança faz parte de uma família e que res, mas também, de pais, da sociedade e de qualquer profissional
toda família, além de possuir características próprias, está inserida interessado no bem-estar de quem aprende.12
em uma comunidade, hoje, ambas, família e comunidade, estão in- Pensar em educação de qualidade hoje, é preciso ter em mente
cumbidas, juntamente com a escola, da formação de um mesmo que a família esteja presente na vida escolar de todos os alunos em
cidadão, portanto são peças fundamentais no processo educativo todos os sentidos. Ou seja, é preciso uma interação entre escola e
e, porque não, na elaboração do projeto pedagógico da escola e na família. Nesse sentido, escola e família possuem uma grande tare-
gestão da mesma. fa, pois nelas é que se formam os primeiros grupos sociais de uma
Quando a escola recebe os educandos, de onde eles vêm? criança.
Envolver os familiares na elaboração da proposta pedagógica
Quem os encaminha? Eles vêm de uma sociedade, de uma família,
pode ser a meta da escola que pretende ter um equilíbrio no que
e os pais e responsáveis realizam seu encaminhamento.
diz respeito à disciplina de seus educandos. A sociedade moderna
Não são os educandos seres viventes em um núcleo familiar
vive uma crise de valores éticos e morais sem precedentes. Essa é
e social, onde recebem orientação moral, vivenciam experiências e
uma constatação que norteia os arredores dos setores educacio-
reforçam seus conhecimentos? Tudo isso é educação. Para estabele- nais, pois é na escola que essa crise pode aflorar mais, ficando em
cer uma educação moral, crítica e comprometida com o meio social, maior evidência.
é primordial a integração entre escola, família e sociedade. Pois, o Nesse sentido, A LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação
ser humano é um ser social por excelência. Podemos pensar na res- ( lei 9394, de dezembro de 1996) formaliza e institui a gestão de-
ponsabilidade da escola na vida de uma pessoa. E ainda, partindo mocrática nas escolas e vai além. Dentre algumas conquistas des-
desse princípio, é um equívoco desvincular a família no processo da tacam-se:
educação escolar. A escola vem reforçar os valores recebidos em A concepção de educação, concepção ampla, estendendo a
casa, além de transmitir conhecimentos. Age também na formação educação para além da educação escolar, ou seja, comprometimen-
humana, salientando a autonomia, o equilíbrio e a liberdade - que to com a formação do caráter do educando.
está condicionada a limites e respeito mútuo. Por que não, a escola Nunca na escola se discutiu tanto quanto hoje assuntos como
trabalhar com a família e a sociedade em prol de um bem comum? falta de limites, desrespeito na sala de aula e desmotivação dos
A parceria entre família, sociedade e escola só tem a contribuir alunos. Nunca se observou tantos professores cansados e muitas
para o desenvolvimento do educando. Assim, a escola passa a ser vezes, doentes física e mentalmente. Nunca os sentimentos de im-
um espaço que se relaciona com a vida e não uma ilha, que se isola potência e frustração estiveram tão marcantemente presentes na
da sociedade. Com a participação da família no meio escolar, cria-se vida escolar.
espaços de escuta, voz e acesso às informações que dizem respeito Por essa razão, dentro das escolas as discussões que procuram
a seus filhos, responsáveis tanto pela materialidade da escola, bem compreender esse quadro tão complexo e, muitas vezes, caótico,
como pelo ambiente no qual seus filhos estão inseridos. É preciso no qual a educação se encontra mergulhada, são cada vez mais fre-
que os pais se impliquem nos processos educativos de seus filhos no quentes. Professores debatem formas de tentar superar todas essas
sentido de motivá-los afetivamente ao aprendizado. O aprendizado dificuldades e conflitos, pois percebem que se nada for feito em
formal ou a educação escolar, para ser bem sucedida não depende breve não se conseguirá mais ensinar e educar.
apenas de uma boa escola, de bons professores e bons programas, Entretanto, observa-se que, até o momento, essas discussões
mas principalmente de como o educando é tratado na sociedade e vêm sendo realizadas apenas dentro do âmbito da escola, basica-
em casa e dos estímulos que recebe para aprender. É preciso enten- mente envolvendo direções, coordenações e grupos de professo-
res. Em outras palavras, a escola vem, gradativamente, assumindo
der que o aprender é um processo contínuo que não cessa quando
a maior parte da responsabilidade pelas situações de conflito que
ele está em casa. Qualquer gesto, palavra ou ação positiva de qual-
nela são observadas.
quer membro da sociedade ou da família pode motivá-la, porém,
Assim, procuram-se novas metodologias de trabalho, muitos
qualquer palavra ou ação que tenha uma conotação negativa pode
projetos são lançados e inúmeros recursos também lançados pelo
gerar um bloqueio no aprendizado. É claro que, como qualquer ser governo no sentido de não deixar que o aluno deixe de estudar.
humano, ele precisa de limites, e que não pode fazer tudo que qui- Porém, observa-se que se não houver um comprometimento maior
ser, porém os limites devem ser dados de maneira clara, sem o uso dos responsáveis e das instituições escolares isso pouco adiantará.13
de palavras rudes, que agridam ou desqualifiquem-no.
Uma pessoa agredida, com palavras ou ações, além de apren- O papel da educação na sociedade brasileira
der a agredir, perde uma boa parte da motivação para aprender, Sempre estamos nos perguntando qual é a finalidade da educa-
pois seus sentimentos em relação a si mesma e aos outros ficam ção? Escolarizamos nossos alunos para a vida ou para a sociedade?
confusos, tornando-a insegura com relação às suas capacidades, e Ao longo dos anos, muitos estudiosos e autores, se compeliram em
consequentemente gerando uma baixa autoestima. Outro aspecto 12 Texto adaptado de Claudia Puget Ferreira / Fabiola Carmanhanes Anequim /
que merece ser lembrado é o que se refere à comparação com ou- Valéria Cristina P.Alves Bino
tros irmãos que foram bem sucedidos; os pais ou responsáveis de- 13 Fonte: www.portaldoconhecimento.gov.cv

414
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

compreender o real papel da escola, perante a sociedade. A insti- profissional que almeja destacar-se no mercado de trabalho, fica-
tuição de ensino foi concebida com o principal objetivo de originar rá sempre antenado em inúmeras formas de manter-se atualizado,
grandes transformações que causariam nos indivíduos e na socie- dando assim, continuidade a sua formação profissional e com isso
dade, a libertação da classe dominadora, onde todos poderiam, qualificando sua mão de obra. A ação de ensinar tem como prin-
a priori, ter as mesmas oportunidades e privilégios que só à bur- cípio fundamental a formação integral do indivíduo, bem como, o
guesia, até então, possuía. Ir a escolar, ocupar um lugar nas salas objetivo de prepará-lo para o espírito de liderança, de consciência
de aula, deixou de ser um lugar privilegiado, sacralizado e de aces- crítica, ética e moral, para que ele possa aprender a viver e conviver
so restrito ao conhecimento e a informação, para ser um recinto em sociedade, de forma consciente, ativa, participativa, discernin-
aberto, amplo, onde todos poderiam aprender e desenvolver suas do o certo do errado, diferenciando bem de mal e assim, transfor-
capacidades de inter-relacionar-se, construindo assim, múltiplos sa- mar-se em um cidadão integro e de respeito.
beres. Existem ainda, muitas ideias que estão enraizadas na nossa Ao encetar a leitura de um artigo escrito por Terezinha Saraiva,
forma de pensar sobre a educação e seu papel junto à sociedade. onde ela fala que, competia a família a educação de seus filhos e à
Em inúmeras formas e diversos prismas, conhecemos discursos que escola o ensinar, percebeu que hoje, em pleno século XXI, muitos
definem o papel da educação, da escola, como sendo, reconstruto- pais inverteram essa ação. Ela cita o seguinte:
res da sociedade, por meio da homogeneização das desigualdades, “A educação passou a ser exercida por vários agentes, meios e
com a produção de indivíduos críticos e conscientes, estimulados espaços, que avultam o papel da escola. Agigantou-se sua respon-
para o desenvolvimento cognitivo e socioeconômico. sabilidade, ao ser tornar um espaço educativo, abrangendo a edu-
O Filósofo e Prof. Dr. Mario Sergio Cortella (1998), diz que, dis- cação e o ensino. E isto ocorreu à proporção que as famílias, muitas
cutir o papel da escola, é procurar uma compreensão política da delas, declinaram do dever de educar seus filhos. Por esta razão, a
própria finalidade do trabalho pedagógico. Diante disso, nos per- par de ser responsável pelo processo de ensino e de aprendizagem
guntamos mais uma vez, Qual o Papel da Educação para a Socie- de conteúdos cognitivos, sobretudo em se tratando de crianças e
dade? Formar indivíduos críticos ou especializar mão de obra? Em adolescentes, a escola assumiu a atribuição de formar o cidadão,
longo prazo, acredita-se que a escolarização, irá melhorar a socie- construindo com ele não só conhecimentos, competências e habili-
dade brasileira e que o sistema educacional permitirá que todos, dades, mas a escala de valores, onde avultam a moral e a ética, que
crianças, jovens e adultos, possam ter um ensino de qualidade, que vai servir de farol, iluminando sua caminhada”. Terezinha Saraiva
lhes garanta a possibilidade de ascensão social. É estéril debater Reforçando o que Terezinha Saraiva fala o Filósofo Professor Dr.
sobre o tema proposto, sem esquecer-se das imensas mazelas que Mário Sergio Cortella, em entrevista para a Revista Filosofia, cita
figuram nosso Brasil, as desigualdades sociais que persistem em que certo dia um pai de aluno lhe perguntou como ou o quê, a famí-
existir, nos fazem pensar mais a fundo, sobre o principal papel da lia deveria fazer para colaborar com a educação dos filhos na escola,
e gentilmente, ele responde ao pai que existia um equívoco na for-
escola para a sociedade, pois, a educação é vista como forma de
mulação da questão, pois, não cabia a escola educar os filhos, por-
nivelar essas desigualdades, uma vez que, o indivíduo adentrando a
que a escola colabora na educação, escolarizando e dando oportu-
instituição de ensino, teria oportunidades iguais de conhecimento e
nidades de desenvolvimento das crianças e jovens, e que a função
aprendizagem, onde poderia assim, desenvolver suas habilidades e
de educar era da família, e, salienta mais, dizendo que a escola nos
conquistar seu lugar no mercado de trabalhando, sendo valorizado
últimos 20 anos, principalmente a pública, assumiu diversas tarefas,
por ser um profissional diferenciado, que soube aproveitar as opor-
porque ela é a parte da rede de proteção social, e por isso desem-
tunidades a ele oferecidas, conquistando, por mérito próprio seu
penha tarefas do Estado, entre elas a proteção à vida, segurança e
lugar perante a sociedade. No entanto, fala-se tanto dessa inclu-
liberdade dos indivíduos. De acordo com esses fatos, a proeminên-
são, mas infelizmente, a escola está muito longe de ser um ambien- cia de que a família não cumpre com seu dever é notório, e por con-
te seguro e imparcial, que impede que as diferenças que existem ta disso, a escola, teve sua responsabilidade aumentada, e a função
fora dos seus portões, adentrem o ceio escolar e massacrem vários de propiciar e mediar a construção do saber, do conhecimento e
discentes por serem negros e/ou pobres e/ou homossexuais e/ou do exercício da socialização, foi-lhe agregada a responsabilidade de
adolescentes grávidas e/ou usuários de entorpecentes, enfim, eles educar e preparar crianças e jovens, para a vida, e ainda, para en-
acabam sendo excluídos e humilhados, porque a escola não está frentarem as desigualdades, injustiças, Bulling e etc.
preparada para evitar o Bulling, pois, cabe a escola como institui- Sobre empreendedorismo e desenvolvimento socioeconômi-
ção de ensino, fazer um trabalho de conscientização de respeito, co, Ivan Luís Tonon (2011), em seu artigo: “O papel da Educação no
à homofobia, racismo, violência (de todas as formas), gravidez na desenvolvimento Econômico e no surgimento do empreendedoris-
adolescência, educação para o trânsito, ética profissional, além, dos mo”, defende que, através do desenvolvimento econômico e suas
conteúdos que fazem parte de sua grade curricular. influências, a educação pode ser mediada contribuindo, assertiva-
“O empreendedorismo é uma revolução silenciosa, que será mente, com o desenvolvimento econômico aliado ordenadamente
para o século XXI mais do que a Revolução Industrial já foi para o ao desenvolvimento educacional, criando condições eficientes para
século XX”. Jeffry Timmons, 1990. acabar com a desigualdade social. Ao dar início a leitura de alguns
Qual o papel da educação para a sociedade? Segundo diver- artigos sobre educação e empreendedorismo deparei-me, com o
sos autores e estudiosos cabe a Educação iniciar um processo de artigo de Marival Coanl (2012): “Educação para o Empreendedor
aprendizagem continuo que possibilite crianças, jovens e adultos, com Estratégia para formar um trabalhador de novo tipo”, cita que:
alcançarem a excelência em suas habilidades cognitivas e sociais, A necessidade de se formar um homem trabalhador para o
transformando-se em profissionais dedicados, críticos e especiali- empreendedorismo, por meio da educação, tornou-se evidente
zados em suas áreas de atuação. O papel da escolarização é dar nos últimos tempos como estratégia para combater o desempre-
condições para o processo de formação contínua e continuada para go, constituindo-se dessa forma, uma ideologia que, enaltecendo
todos aqueles que anseiam crescer como pessoas e profissionais. O o modo de produção capitalista, intenta moldar os indivíduos à or-

415
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dem social vigente com a promessa de que, com o desenvolvimen- um lugar garantido ao sol, aos que não procuraram ascender em
to de suas potencialidades empreendedoras, obterão sucesso na sua formação, infelizmente, continuarão reclamando da desigual-
vida profissional e pessoal. O discurso sobre o empreendedorismo, dade salarial e manter-se-ão no obscurantismo da profissão, sendo
embebido de valores liberais, prima por ocultar as causas dos pro- deixados para trás, por não oferecerem habilidades e qualificações
blemas sociais, inclusive, apresentando-os como desafios a serem necessárias para o cargo/ocupação que o mercado de trabalho ofe-
superados com iniciativa e proatividade individual. rece/exige, e que tanto anseiam ocupar. O mercado de trabalho
Percebe-se que a sociedade capitalista estimula a competitivi- está muito exigente, e procura por profissionais qualificados e críti-
dade e o individualismo, de forma a sobressair-se a todos sem pre- cos. Pois ao tornarem-se qualificados e especializados em sua área
ocupar-se com as diferenças sociais. No entanto, com o surgimento de formação, tornam-se peça chave para o desenvolvimento so-
do empreendedorismo, e inúmeros projetos que visam abrandar a cioeconômico. Acredito que a desigualdade salarial, hoje existente
pobreza, através da educação, estimula-se a competitividade e o in- entre diversos profissionais, ocorre pela falta de desenvolvimento
dividualismo como valor moral, como também, a sociedade é cha- educacional. Não adianta querer abraçar o mundo sem ao menos,
mada para a responsabilidade de forma a contribuir para a solução aprender como abraça-lo! Os indivíduos precisam aprender que,
das diferenças sociais. Mesmo que, o indivíduo seja estimulado a singularmente falando, somente a educação pode melhorar sua
competitividade e individualismo, ele torna-se solidário e preocu- formação, somente o profissional qualificado tem uma vida finan-
pado com essas tais “diferenças”, e acaba por colaborar na dimi- ceira saudável, além, é claro, são valorizados pelos seus gestores,
nuição da desventura humana. O Novo Trabalhador, como é cha- que, sem sombra de dúvida, procuram investir nesse profissional,
mado o Empreendedor do século XXI, utiliza-se de estratégias para propiciando a eles, novos conhecimentos, através de capacitações
difundir o empreendedorismo, mas é através da educação, que o e treinamentos, oferecidos pela empresa que labutam.
ensino sobre empreendedorismo torna-se significativo, dinâmico, Nos dias atuais, a educação vem criando vários projetos para
atrativo. É pela educação, através de cursos e/ou capacitações e/ou que o ensino do empreendedorismo seja consolidado na grade
especializações que ele aprende a suprir as demandas num perío- curricular, das escolas de ensino fundamental e médio, baseados
do que, novos modelos de escolas e profissionais estão surgindo. A na pedagogia empresarial, como disciplina ou atividades extracur-
demanda atualmente, por profissionais proativos, que sabem agir, e riculares. Projetos como a Empresa Júnior, dentro das escolas, tem
tem bem definido as competências, habilidades e atitudes que todo o apoio do SEBRAE, que participa ativamente destas atividades e
profissional em excelência almeja ter, saberá ser um empreende- apoia o desenvolvimento das Micro e Pequenas empresas. Além
dor capaz de amenizar as diferenças e a superar as individualidades desse apoio, o SEBRAE criou o “Desafio Universitário Empreende-
existentes num mundo capitalista. A educação para o empreende- dor”, projeto este, que se destina aos acadêmicos de instituições
dorismo faz parte de uma ideologia que faria a inclusão social por públicas e/ou privadas de qualquer curso, que queiram estimular
meio de atitudes inovadoras e criativas – empreendedoras. Sua ori- atitudes empreendedoras, através de inúmeras atividades, jogos
gem, está associada a crise do emprego formal. Para Souza (2009): virtuais e cursos de capacitação presenciais. Muitas pesquisas des-
O “aprender a empreender” reduz o trabalho educativo à pro- crevem a necessidade de se educar os alunos e jovens acadêmicos,
dução de mais-valia em contexto de crise estrutural, aproxima, des- para o desenvolvimento de habilidades empreendedoras, onde
sa forma, a educação ao complexo da alienação, “pois pretende, em possam formar uma mentalidade adequada para atender as mu-
vão, adaptar o indivíduo à sociedade capitalista de forma a tentar danças do mundo atual.
inutilmente harmonizar os conflitos entre capital e trabalho, ao des- A palavra empreendedor (entrepreneur) tem origem francesa
considerar o conteúdo desumano que existe durante a produção de e quer dizer aquele que assume riscos e começa algo novo, sen-
do assim, Empreendedorismo é o estudo dedicado ao desenvolvi-
mais-valia” (SOUZA, 2009, p.15).
mento de competências e habilidades relacionadas à criação, que
É público e de ciência de todos, que a Educação, nem sempre
oportuniza o indivíduo a saber identificar oportunidades e transfor-
esteve relacionada ao desenvolvimento econômico, destarte, é
má-las em realidade. A importância do empreendedorismo está na
através da educação que se qualificam e especializam-se profissio-
geração de riquezas, que promove crescimento e desenvolvimento,
nais, os quais são entregues a sociedade com senso crítico apurado
gerando mudança tanto econômica quanto social.
e mão de obra especializada. A título de exemplo, o SENAC – Serviço
Diniz (2009), em seu artigo: “Empreendedorismo, uma nova
Nacional de Aprendizagem Comercial que tem como Missão: “Edu-
visão: enfoque no perfil empreendedor”, fala que:
car para o trabalho em atividades de Comércio de Bens, Serviços
O empreendedor não é um ser mágico, é uma pessoa como
e Turismo, no contexto nacional, concentra todos os seus esforços qualquer outra, porém, apresenta algumas características que o de-
no sentido de incrementar ações educativas voltadas à formação ferem dos demais, por exemplo, o senso de oportunidade, a capa-
de profissionais criativos, colaborando assim com as empresas que cidade de lidar com as pessoas, a persistência e a criatividade. Isso
desejam permanecer operando num mercado cada vez mais com- é muito bom, uma vez que todas estas características são passivas
petitivo”. Sua Visão: “É consolidar-se, como referência brasileira de se adquirir com a vivência, busca de instituição de ensino e com
em Educação para o trabalho, conciliando ações mercadológicas e a força de vontade. Diniz, 2009.
de promoção social”. Existem muitas Instituições de Ensino como Temos que estimular uma valorização que nunca deveria ter
o SENAC, que qualificam e especializam inúmeros profissionais ao deixado de existir, teremos avanços e melhorias perceptíveis em
longo dos anos, com uma equipe de professores qualificados, que todos os aspectos, do ensino básico ao superior, do presencial ao
ao contratar, selecionam professores especializados como Mestres virtual, de dentro das nossas casas ao convívio social. Cuidar da
e doutores, para que, o ensino e a qualidade do nome SENAC, seja educação é uma das ações de maior valor para garantir uma vida
elevada, mantendo-se como referência em qualidade de ensino. A melhor em nossas casas, em nossas famílias, em nossa comunida-
escolha de um profissional, qualificado e especializado conta muito, de, em nosso município, enfim, em nosso Brasil e no mundo. Ante o
para a contratação de novos profissionais. Os mais qualificados, têm exposto, notamos, que o papel da educação para a sociedade, não

416
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

é só formar e especializar, é preparar um cidadão blindado, para planejamento e avaliação enquanto se executa; há planejamento e
que este possa transpor as barreiras que encontrará durante sua execução enquanto se avalia. No texto pretendemos estudar o Pla-
jornada profissional. Nesse caso, a responsabilidade para o docen- nejamento, deixando claro que separar o planejamento dos demais
te aumenta, quando este, terá de exercer sua função, não só de momentos da organização didática do processo, apenas responde a
professor, mas de educador, pai e conselheiro, mantendo-se atu- uma questão metodológica para seu melhor tratamento.
alizado, crítico, conhecedor de uma visão de mundo adequada e No universo da educação, especialmente no ambiente escolar
justa, tendo uma vida regrada, ética e digna, para servir de modelo a palavra didática está presente de forma imperativa, afinal são
para seus alunos, pois, o professor será uma bússola, que apontará componentes fundamentais do cotidiano escolar os materiais didá-
para qual caminho seguir e quais conhecimentos adquirir de valores ticos, livros didáticos, projetos didáticos e a própria didática como
morais e éticos, além, dos cognitivos que deverá ensinar em sala de um instrumento qualificador do trabalho do professor em sala de
aula, enfim, caminhos desafiadores, que infelizmente, apenas pou- aula. Afinal, a partir do significado atribuído à didática no campo
cos (determinados) seguiram. Não nos aprofundando muito nesse educacional, é comum ouvir que o professor x ou y é um bom pro-
assunto, mas diante desse fato, o docente terá de ser a pessoa mais fessor porque tem didática.
correta, regrada e empreendedora que possa existir, onde, então, Para as teorias da educação, porém, a didática é mais do que
ele poderá fazer os apontamentos adequados, sem correr o risco de um termo utilizado para representar a dicotomia entre o bom e o
ser apontado como um infrator de regras e normas, pois sua condu- mal professor ou para designar os materiais utilizados no ambiente
ta moral e ética será intocável. Destarte, o papel da educação é um escolar. Termo de origem grega (didaktiké), a didática foi instituída
caminho abstruso, mas de extrema importância para a vida de um no século XVI como ciência reguladora do ensino. Mais tarde Co-
indivíduo, pois, através da escola que o futuro profissional fará sua menius atribuiu seu caráter pedagógico ao defini-la como a arte de
formação e dará continuidade a ela. A escola pode ser vista como ensinar.
um realizador de sonhos, um tanto filosófico, mas sine qua non. A Nos dias atuais, a definição de didática ganhou contornos mais
demanda por profissionais capacitados e especializados é grande, e amplos e deve ser compreendida enquanto um campo de estudo
somente e exclusivamente, só a Educação pode proporcionar isso. que discute as questões que envolvem os processos de ensino.
Não há nada mais valoroso e imprescindível para a transformação Nessa perspectiva a didática pode ser definida como um ramo da
de realidades, de uma sociedade e de um País, do que a Educação! ciência pedagógica voltada para a formação do aluno em função de
Diante disso, entendo que a educação não conseguirá transfor- finalidades educativas e que tem como objeto de estudo os proces-
mar a sociedade e a sociedade por sua vez, não conseguirá mudar sos de ensino e aprendizagem e as relações que se estabelecem en-
sem a educação. A pergunta é pertinente: Qual o Papel da Educa- tre o ato de ensinar (professor) e o ato de aprender (aluno). Nesta
ção para a Sociedade: Formar um indivíduo critico ou especializar a perspectiva a didática passa a abordar o ensino ou a arte de ensinar
mão de obra? O que queremos para uma sociedade que está desa- como um trabalho de mediação de ações pré-definidas destinadas
brochando para o desenvolvimento econômico e que tanto se fala à aprendizagem, criando condições e estratégias que assegurem a
em empreendedorismo? Como definir o papel da educação, se não construção do conhecimento.
conseguimos mensurar a forma pela qual, ela pode contribuir ob- Nesse contexto, a Didática enquanto campo de estudo visa pro-
jetivamente e definitivamente no desenvolvimento econômico das por princípios, formas e diretrizes que são comuns ao ensino de
famílias e das pessoas? Enquanto, a sociedade não compreender todas as áreas de conhecimento. Não se restringe a uma prática de
que deve investir colaborar e corroborar com a melhoria da educa- ensino, mas se propõe a compreender a relação que se estabelece
ção, estará fadado a “criar” profissionais frustrados, obsoletos, ir- entre três elementos: professor, aluno e a matéria a ser ensinada.
responsáveis, duvidosos e que não passam de meros expectadores Ao investigar as relações entre o ensino e a aprendizagem media-
da ruína humana, e mal querem saber de aniquilar as desigualdades das por um ato didático, procura compreender também as relações
humanas as quais fazem parte, pois, preferem continuar no lamaçal que o aluno estabelece com os objetos do conhecimento. Para isso
da ignorância a terem que “perder tempo” adquirindo a fórmula do privilegia a análise das condições de ensino e suas relações com os
crescimento cognitivo, pessoal e social que se chama: Educação!14 objetivos, conteúdos, métodos e procedimentos de ensino.
Entretanto, postular que o campo de estudo da Didática é res-
ponsável por produzir conhecimentos sobre modos de transmissão
DIDÁTICA E PRÁTICA HISTÓRICO- CULTURAL, A de conteúdos curriculares através de métodos e conhecimentos
DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR não deve reduzir a Didática a visão de estudo meramente tecnicista.
Ao contrário, a produção de conhecimentos sobre as técnicas
A didática na formação do professor. de ensino oriundos desse campo de estudo tem por objetivo tornar
A organização didática do processo de ensino-aprendizagem a pratica docente reflexiva, para que a ação do professor não seja
passa por três momentos importantes: o planejamento, a execução uma mera reprodução de estratégias presentes em livros didáticos
e a avaliação. Como processo, esses momentos sempre se apresen- ou manuais de ensino. Não basta ao professor reproduzir pressu-
tam inacabados, incompletos, imperfeitos, flexíveis e abertos a no- postos teóricos ou programas disciplinares pré-estabelecidos, as
vas reformulações e contribuições dos professores e dos próprios informações acumuladas na prática ao longo do processo ensino-
alunos, com a finalidade de aperfeiçoá-los de maneira continua e -aprendizagem devem despertar a capacidade crítica capaz de pro-
permanente à luz das teorias mais contemporâneas. Como proces- porcionar questionamentos e reflexões sobre essas informações a
so, esses momentos também se apresentam interligados uns ao ou- fim de garantir uma transformação na prática. Como um processo
tros, sendo difícil identificarem onde termina um para dar lugar ao em constante transformação, a formação do educador exige esta
outro e vice-versa. Há execução e avaliação enquanto se planeja; há interligação entre a teoria e a prática como forma de desenvolvi-
14 Fonte: www.todamateria.com.br/www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br/ mento da capacidade crítica profissional.15
www.infoescola.com/www.blog.abmes.org.br/ www.pensaraeducacao.com.br 15 Fonte: www.infoescola.com

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A didática, o processo de aprendizagem e a organização do Uma vez que a prática educativa é o processo pelo qual são
processo didático. assimilados conhecimentos e experiências acumulados pela prática
A didática é uma disciplina técnica e que tem como objeto es- social da humanidade, cabe à Pedagogia assegura-lo, orientando-o
pecífico a técnica de ensino (direção técnica da aprendizagem). A para finalidades sociais e políticas, e criando um conjunto de condi-
Didática, portanto, estuda a técnica de ensino em todos os aspectos ções metodológicas e organizativas para viabiliza-lo.
práticos e operacionais, podendo ser definida como: O caráter pedagógico da prática educativa se verifica como
“A técnica de estimular, dirigir e encaminhar, no decurso da ação consciente, intencional e planejada no processo de formação
aprendizagem, a formação do homem”. (AGUAYO) humana, através de objetivos e meios estabelecidos por critérios
socialmente determinados e que indicam o tipo de homem a for-
Didática Geral e Especial mar, para qual sociedade, com que propósitos. Vincula-se pois a
A Didática Geral estuda os princípios, as normas e as técnicas opções sociais. A partir daí a Pedagogia pode dirigir e orientar a
que devem regular qualquer tipo de ensino, para qualquer tipo de formulação de objetivos e meios do processo educativo.
aluno. Podemos, agora, explicar as relações entre educação escolar.
A Didática Geral nos dar uma visão geral da atividade docente. Pedagogia e ensino: a educação escolar, manifestação peculiar do
A Didática Especial estuda aspectos científicos de uma determi- processo educativo global: a Pedagogia como determinação do
nada disciplina ou faixa de escolaridade. A Didática Especial analisa
rumo desse processo em suas finalidades e meios de ação; o ensino
os problemas e as dificuldades que o ensino de cada disciplina apre-
como campo específico da instrução e educação escolar. Podemos
senta e organiza os meios e as sugestões para resolve-los. Assim,
dizer que o processo de ensino-aprendizagem é, fundamentalmen-
temos as didáticas especiais das línguas (francês, inglês, etc.); as
te, um trabalho pedagógico no qual se conjugam fatores externos
didáticas especiais das ciências (Física, Química, etc.).
e internos. De um lado, atuam na formação humana como direção
Didática e Metodologia consciente e planejada, através de objetivos/conteúdos/métodos e
Tanto a Didática como a metodologia estudam os métodos de formas de organização propostos pela escola e pelos professores;
ensino. Há, no entanto, diferença quanto ao ponto de vista de cada de outro, essa influência externa depende de fatores internos, tais
uma. A Metodologia estuda os métodos de ensino, classificando-os como as condições físicas, psíquicas e sócio-culturais do alunos.
e descrevendo-os sem fazer juízo de valor. A Pedagogia sendo ciência da e para a educação, estuda a edu-
A Didática, por sua vez, faz um julgamento ou uma crítica do va- cação, a instrução e o ensino. Para tanto compõe-se de ramos de es-
lor dos métodos de ensino. Podemos dizer que a metodologia nos tudo próprios como a Teoria da Educação, a Didática, a Organização
dá juízos de realidades, e a Didática nos dá juízos de valor. Escolar e a História da Educação e da Pedagogia. Ao mesmo tem-
- Juízos de realidade são juízos descritivos e constatativos. po, busca em outras ciências os conhecimentos teóricos e práticos
Exemplos: que concorrem para o esclarecimento do seu objeto, o fenômeno
Dois mais dois são quatro. educativo. São elas a Filosofia da Educação, Sociologia da Educação,
Acham-se presentes na sala 50 alunos. Psicologia da Educação, Biologia da Educação, Economia da educa-
ção e outras.
- Juízos de valor são juízos que estabelecem valores ou normas. A Didática é o principal ramo de estudos da Pedagogia. Ela in-
Exemplo: vestiga os fundamentos, condições e modos de realização da ins-
A democracia é a melhor forma de governo. trução e do ensino. A ela cabe converter objetivos sócio-políticos
Os velhos merecem nosso respeito. e pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e mé-
todos em função desses objetivos, estabelecer os vínculos entre
A partir dessa diferenciação, concluímos que podemos ser me- ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das ca-
todologistas sem ser didáticos, mas não podemos ser didáticos sem pacidades mentais dos alunos. A Didática está intimamente ligada
ser metodologistas, pois não podemos julgar sem conhecer. Por à Teoria da Educação e à Teoria da Organização Escolar e, de modo
isso, o estudo da metodologia é importante por uma razão muito muito especial, vincula-se a Teoria do Conhecimento e à Psicologia
simples: para escolher o método mais adequado de ensino precisa- da Educação.
mos conhecer os métodos existentes.
A Didática e as metodologias específicas das matérias de ensi-
no formam uma unidade, mantendo entre si relações recíprocas. A
Educação escolar, pedagogia e Didática
Didática trata da teoria geral do ensino. As metodologias específi-
A educação escolar constitui-se num sistema de instrução e
cas, integrando o campo da Didática, ocupam-se dos conteúdos e
ensino com propósitos intencionais, práticas sistematizadas e alto
grau de organização, ligado intimamente as demais práticas sociais. métodos próprios de cada matéria na sua relação com fins educa-
Pela educação escolar democratizam-se os conhecimentos, sendo cionais.
na escola que os trabalhadores continuam tendo a oportunidade A Didática, com base em seus vínculos com a Pedagogia , gene-
de prover escolarização formal aos seus filhos, adquirindo conheci- raliza processos e procedimentos obtidos na investigação das ma-
mentos científicos e formando capacidades de pensar criticamente térias específicas, das ciências que dão embasamento ao ensino e
os problemas e desafios postos pela realidade social. a aprendizagem e das situações concretas da prática docente. Com
A Pedagogia é um campo de conhecimentos que investiga a na- isso, pode generalizar para todas as matérias, sem prejuízo das pe-
tureza das finalidades da educação numa determinada sociedade, culiaridades metodológicas de cada uma, o que é comum e funda-
bem como os meios apropriados para a formação dos indivíduos, mental no processo educativo escolar.
tendo em vista prepará-los para as tarefas da vida social.

418
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Há uma estreita ligação da Didática com os demais campo do didática entre ensino e aprendizagem através da arte de ensinar,
conhecimento pedagógico. A Filosofia e a História da Educação pois ambos fazem parte de um mesmo processo. Segundo Libâneo
ajudam a reflexão em torno das teorias educacionais, indagando (1994), o professor tem o dever de planejar, dirigir e controlar esse
em que consiste o ato educativo, seus condicionantes externos e processo de ensino, bem como estimular as atividades e competên-
internos, seus fins e objetivos; busca os fundamentos da prática do- cias próprias do aluno para a sua aprendizagem.
cente. A condição do processo de ensino requer uma clara e segura
A Sociologia da Educação estuda a educação com processo so- compreensão do processo de aprendizagem, ou seja, deseja enten-
cial e ajuda os professores a reconhecerem as relações entre o tra- der como as pessoas aprendem e quais as condições que influen-
balho docente e a sociedade. Ensina a ver a realidade social no seu ciam para esse aprendizado. Sendo assim Libâneo (1994) ressalta
movimento, a partir da dependência mútua entre seus elementos que podemos distinguir a aprendizagem em dois tipos: aprendiza-
constitutivos, para determinar os nexos constitutivos da realidade gem casual e a aprendizagem organizada.
educacional. A partir disso estuda a escola como “fenômeno socio- a.Aprendizagem casual: É quase sempre espontânea, surge na-
lógico”, isto é, uma organização social que tem a sua estrutura in- turalmente da interação entre as pessoas com o ambiente em que
terna de funcionamento interligada ao mesmo tempo com outras vivem, ou seja, através da convivência social, observação de objetos
organizações sociais(conselhos de pais, associações de bairros, sin- e acontecimentos.
dicatos, partidos políticos). A própria sala de aula é um ambiente b.Aprendizagem organizada: É aquela que tem por finalidade
social que forma, junto com a escola como um todo, o ambiente específica aprender determinados conhecimentos, habilidades e
global da atividade docente organizado para cumprir os objetivos normas de convivência social. Este tipo de aprendizagem é trans-
de ensino. mitido pela escola, que é uma organização intencional, planejada e
A Psicologia da Educação estuda importantes aspectos do pro- sistemática, as finalidades e condições da aprendizagem escolar é
cesso de ensino e da aprendizagem, como as implicações das fases tarefa específica do ensino (LIBÂNEO, 1994. Pág. 82).
de desenvolvimento dos alunos conforme idades e os mecanismos Esses tipos de aprendizagem tem grande relevância na assimi-
psicológicos presentes na assimilação ativa de conhecimentos e ha- lação ativa dos indivíduos, favorecendo um conhecimento a partir
bilidades. A psicologia aborda questões como: o funcionamento da das circunstâncias vivenciadas pelo mesmo.
atividade mental, a influência do ensino no desenvolvimento inte- O processo de assimilação de determinados conhecimentos,
lectual, a ativação das potencialidades mentais para a aprendiza- habilidades, percepção e reflexão é desenvolvido por meios atitu-
gem, organização das relações professor-alunos e dos alunos entre dinais, motivacionais e intelectuais do aluno, sendo o professor o
si, a estimulação e o despertamento do gosto pelo estudo etc. principal orientador desse processo de assimilação ativa, é através
A Estrutura e Funcionamento do Ensino inclui questões da or- disso que se pode adquirir um melhor entendimento, favorecendo
ganização do sistema escolar nos seus aspectos políticos e legais, um desenvolvimento cognitivo.
administrativos, e aspectos do funcionamento interno da escola Através do ensino podemos compreender o ato de aprender
como a estrutura organizacional e administrativa, planos e progra- que é o ato no qual assimilamos mentalmente os fatos e as relações
mas, organização do trabalho pedagógico e das atividades discentes da natureza e da sociedade. Esse processo de assimilação de co-
etc.16 nhecimentos é resultado da reflexão proporcionada pela percepção
prático-sensorial e pelas ações mentais que caracterizam o pensa-
O Processo Didático Pedagógico de Ensinar e Aprender
mento (Libâneo, 1994). Entendida como fundamental no processo
Didática é considerada como arte e ciência do ensino, o ob-
de ensino a assimilação ativa desenvolve no individuo a capacidade
jetivo deste artigo é analisar o processo didático educativo e suas
de lógica e raciocínio, facilitando o processo de aprendizagem do
contribuições positivas para um melhor desempenho no processo
aluno.
de ensino-aprendizagem. Como arte a didática não objetiva ape-
Sempre estamos aprendendo, seja de maneira sistemática ou
nas o conhecimento por conhecimento, mas procura aplicar os seus
de forma espontânea, teoricamente podemos dizer que há dois
próprios princípios com a finalidade de desenvolver no individuo as
níveis de aprendizagem humana: o reflexo e o cognitivo. O nível
habilidades cognoscitivas, tornando-os críticos e reflexivos, desen-
reflexo refere-se às nossas sensações pelas quais desenvolvemos
volvendo assim um pensamento independente.
Nesse Artigo abordamos esse assunto acerca das visões de Li- processos de observação e percepção das coisas e nossas ações fí-
bâneo (1994), destacando as relações e os processos didáticos de sicas no ambiente. Este tipo de aprendizagem é responsável pela
ensino e aprendizagem, o caráter educativo e crítico desse processo formação de hábitos sensório motor (Libâneo, 1994).
de ensino, levando em consideração o trabalho docente além da or- O nível cognitivo refere-se à aprendizagem de determinados
ganização da aula e seus componentes didáticos do processo edu- conhecimentos e operações mentais, caracterizada pela apreen-
cacional tais como objetivos, conteúdos, métodos, meios de ensino são consciente, compreensão e generalização das propriedades e
e avaliação. Concluímos o nosso trabalho ressaltando a importância relações essenciais da realidade, bem como pela aquisição de mo-
da didática no processo educativo de ensino e aprendizagem. dos de ação e aplicação referentes a essas propriedades e relações
(Libâneo, 1994). De acordo com esse contexto podemos despertar
A Didática é o principal ramo de estudo da pedagogia, pois ela uma aprendizagem autônoma, seja no meio escolar ou no ambien-
situa-se num conjunto de conhecimentos pedagógicos, investiga os te em que estamos.
fundamentos, as condições e os modos de realização da instrução e Pelo meio cognitivo, os indivíduos aprendem tanto pelo conta-
do ensino, portanto é considerada a ciência de ensinar. Nesse con- to com as coisas no ambiente, como pelas palavras que designam
texto, o professor tem como papel principal garantir uma relação das coisas e dos fenômenos do ambiente. Portanto as palavras são
importantes condições de aprendizagem, pois através delas são for-
16 Fonte: www.pedagogiadidatica.blogspot.com.br mados conceitos pelos quais podemos pensar.

419
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O ensino é o principal meio de progresso intelectual dos alu- É ainda o espaço de interação entre o professor e o indivíduo
nos, através dele é possível adquirir conhecimentos e habilidades em formação constituindo um espaço de troca mútua. A aula é o
individuais e coletivas. Por meio do ensino, o professor transmite os ambiente propício para se pensar, criar, desenvolver e aprimorar
conteúdos de forma que os alunos assimilem esse conhecimento, conhecimentos, habilidades, atitudes e conceitos, é também onde
auxiliando no desenvolvimento intelectual, reflexivo e crítico. surgem os questionamentos, indagações e respostas, em uma bus-
Por meio do processo de ensino o professor pode alcançar seu ca ativa pelo esclarecimento e entendimento acerca desses questio-
objetivo de aprendizagem, essa atividade de ensino está ligada à namentos e investigações.
vida social mais ampla, chamada de prática social, portanto o papel Por intermédio de um conjunto de métodos, o educador busca
fundamental do ensino é mediar à relação entre indivíduos, escola melhor transmitir os conteúdos, ensinamentos e conhecimentos de
e sociedade. uma disciplina, utilizando-se dos recursos disponíveis e das habili-
dades que possui para infundir no aluno o desejo pelo saber.
O Caráter Educativo do Processo de Ensino e o Ensino Crítico. Deve-se ainda compreender a aula como um conjunto de meios
De acordo com Libâneo (1994), o processo de ensino, ao mes- e condições por meio das quais o professor orienta, guia e fornece
mo tempo em que realiza as tarefas da instrução de crianças e jo- estímulos ao processo de ensino em função da atividade própria
vens, também é um processo educacional. dos alunos, ou seja, da assimilação e desenvolvimento de habilida-
No desempenho de sua profissão, o professor deve ter em des naturais do aluno na aprendizagem educacional. Sendo a aula
mente a formação da personalidade dos alunos, não apenas no as- um lugar privilegiado da vida pedagógica refere-se às dimensões do
pecto intelectual, como também nos aspectos morais, afetivos e fí- processo didático preparado pelo professor e por seus alunos.
sicos. Como resultado do trabalho escolar, os alunos vão formando
Aula é toda situação didática na qual se põem objetivos, co-
o senso de observação, a capacidade de exame objetivo e crítico de
nhecimentos, problemas, desafios com fins instrutivos e formati-
fatos e fenômenos da natureza e das relações sociais, habilidades
vos, que incitam as crianças e jovens a aprender (LIBÂNEO, 1994-
de expressão verbal e escrita. A unidade instrução-educação se re-
Pág.178). Cada aula é única, pois ela possui seus próprios objetivos
flete, assim, na formação de atitudes e convicções frente à realida-
de, no transcorrer do processo de ensino. e métodos que devem ir de acordo com a necessidade observada
O processo de ensino deve estimular o desejo e o gosto pelo es- no educando.
tudo, mostrando assim a importância do conhecimento para a vida A aula é norteada por uma série de componentes, que vão
e o trabalho, (LIBÂNEO, 1994). conduzir o processo didático facilitando tanto o desenvolvimento
Nesse processo o professor deve criar situações que estimule o das atividades educacionais pelo educador como a compreensão
indivíduo a pensar, analisar e relacionar os aspectos estudados com e entendimento pelos indivíduos em formação; ela deve, pois, ter
a realidade que vive. Essa realização consciente das tarefas de en- uma estruturação e organização, afim de que sejam alcançados os
sino e aprendizagem é uma fonte de convicções, princípios e ações objetivos do ensino.
que irão relacionar as práticas educativas dos alunos, propondo Ao preparar uma aula o professor deve estar atento às quais in-
situações reais que faça com que os individuo reflita e analise de teresses e necessidades almeja atender, o que pretende com a aula,
acordo com sua realidade (TAVARES, 2011). quais seus objetivos e o que é de caráter urgente naquele momen-
Entretanto o caráter educativo está relacionado aos objetivos to. A organização e estruturação didática da aula têm por finalidade
do ensino crítico e é realizado dentro do processo de ensino. È atra- proporcionar um trabalho mais significativo e bem elaborado para
vés desse processo que acontece a formação da consciência crítica a transmissão dos conteúdos. O estabelecimento desses caminhos
dos indivíduos, fazendo-os pensar independentemente, por isso o proporciona ao professor um maior controle do processo e aos alu-
ensino crítico, chamado assim por implicar diretamente nos objeti- nos uma orientação mais eficaz, que vá de acordo com previsto.
vos sócio-políticos e pedagógicos, também os conteúdos, métodos As indicações das etapas para o desenvolvimento da aula, não
escolhidos e organizados mediante determinada postura frente ao significa que todas elas devam seguir um cronograma rígido (LIBÂ-
contexto das relações sociais vigentes da prática social, (LIBÂNEO, NEO, 1994-Pág. 179), pois isso depende dos objetivos, conteúdos
1994). da disciplina, recursos disponíveis e das características dos alunos e
È através desse ensino crítico que os processos mentais são de cada aluno e situações didáticas especificas.
desenvolvidos, formando assim uma atitude intelectual. Nesse con- Dentro da organização da aula destacaremos agora seus Com-
texto os conteúdos deixam de serem apenas matérias, e passam ponentes Didáticos, que são também abordados em alguns traba-
então a ser transmitidos pelo professor aos seus alunos formando lhos como elementos estruturantes do ensino didático. São eles: os
assim um pensamento independente, para que esses indivíduos
objetivos (gerais e específicos), os conteúdos, os métodos, os meios
busquem resolver os problemas postos pela sociedade de uma ma-
e as avaliações.
neira criativa e reflexiva.
Objetivos
A Organização da Aula e seus Componentes Didáticos do Pro-
cesso Educacional São metas que se deseja alcançar, para isso usa-se de diversos
A aula é a forma predominante pela qual é organizado o pro- meios para se chegar ao esperado. Os objetivos educacionais ex-
cesso de ensino e aprendizagem. É o meio pelo qual o professor pressam propósitos definidos, pois o professor quando vai ministrar
transmite aos seus alunos conhecimentos adquirido no seu proces- a aula já vai com os objetivos definidos. Eles têm por finalidade, pre-
so de formação, experiências de vida, conteúdos específicos para a parar o docente para determinar o que se requer com o processo
superação de dificuldades e meios para a construção de seu próprio de ensino, isto é prepará-lo para estabelecer quais as metas a serem
conhecimento, nesse sentido sendo protagonista de sua formação alcançadas, eles constituem uma ação intencional e sistemática.
humana e escolar.

420
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os objetivos são exigências que requerem do professor um po- conteúdos apresentem relação com a realidade dos discentes e que
sicionamento reflexivo, que o leve a questionamentos sobre a sua sirvam para que os mesmos possam enfrentar os desafios impostos
própria prática, sobre os conteúdos os materiais e os métodos pelos pela vida cotidiana. Estes devem também proporcionar o desenvol-
quais as práticas educativas se concretizam. vimento das capacidades intelectuais e cognitivas do aluno, que o
Ao elaborar um plano de aula, por exemplo, o professor deve levem ao desenvolvimento critico e reflexivo acerca da sociedade
levar em conta muitos questionamentos acerca dos objetivos que que integram.
aspira, como O que? Para que? Como? E Para quem ensinar?, e isso Os conteúdos de ensino devem ser vistos como uma relação
só irá melhorar didaticamente as suas ações no planejamento da entre os seus componentes, matéria, ensino e o conhecimento que
aula. cada aluno já traz consigo. Pois não basta apenas a seleção e organi-
Não há prática educativa sem objetivos; uma vez que estes in- zação lógica dos conteúdos para transmiti-los. Antes os conteúdos
tegram o ponto de partida, as premissas gerais para o processo pe- devem incluir elementos da vivência prática dos alunos para torná-
dagógico (LIBÂNEO, 1994- pág.122). Os objetivos são um guia para -los mais significativos, mais vivos, mais vitais, de modo que eles
orientar a prática educativa sem os quais não haveria uma lógica possam assimilá-los de forma ativa e consciente (LIBÂNEO, 1994
para orientar o processo educativo. pág. 128). Ao proferir estas palavras, o autor aponta para um ele-
Para que o processo de ensino-aprendizagem aconteça de mento de fundamental importância na preparação da aula, a con-
modo mais organizado faz-se necessário, classificar os objetivos de textualização dos conteúdos.
acordo com os seus propósitos e abrangência, se são mais amplos,
denominados objetivos gerais e se são destinados a determinados a.Contextualização dos conteúdos
fins com relação aos alunos, chamados de objetivos específicos. A contextualização consiste em trazer para dentro da sala de
a.Objetivos Gerais: exprimem propósitos mais amplos acerca aula questões presentes no dia a dia do aluno e que vão contribuir
do papel da escola e do ensino diante das exigências postas pela para melhorar o processo de ensino e aprendizagem do mesmo.
realidade social e diante do desenvolvimento da personalidade dos Valorizando desta forma o contexto social em que ele está inserido
alunos (LIBANÊO, 1994- pág. 121). Por isso ele também afirma que e proporcionando a reflexão sobre o meio em que se encontra, le-
os objetivos educacionais transcendem o espaço da sala de aula vando-o a agir como construtor e transformador deste. Então, pois,
atuando na capacitação do indivíduo para as lutas sociais de trans- ao selecionar e organizar os conteúdos de ensino de uma aula o
formação da sociedade, e isso fica claro, uma vez que os objetivos professor deve levar em consideração a realidade vivenciada pelos
têm por fim formar cidadãos que venham a atender os anseios da alunos.
coletividade.
b.A relação professor-aluno no processo de ensino e aprendi-
b.Objetivos Específicos: compreendem as intencionalidades
zagem:
específicas para a disciplina, os caminhos traçados para que se
O professor no processo de ensino é o mediador entre o indiví-
possa alcançar o maior entendimento, desenvolvimento de habili-
duo em formação e os conhecimentos prévios de uma matéria. Tem
dades por parte dos alunos que só se concretizam no decorrer do
como função planejar, orientar a direção dos conteúdos, visando à
processo de transmissão e assimilação dos estudos propostos pelas
assimilação constante pelos alunos e o desenvolvimento de suas
disciplinas de ensino e aprendizagem. Expressam as expectativas do
capacidades e habilidades. É uma ação conjunta em que o educa-
professor sobre o que deseja obter dos alunos no decorrer do pro-
dor é o promotor, que faz questionamentos, propõem problemas,
cesso de ensino. Têm sempre um caráter pedagógico, porque expli- instiga, faz desafios nas atividades e o educando é o receptor ativo
citam a direção a ser estabelecida ao trabalho escolar, em torno de e atuante, que através de suas ações responde ao proposto produ-
um programa de formação. (TAVARES, 2001- Pág. 66). zindo assim conhecimentos. O papel do professor é levar o aluno a
desenvolver sua autonomia de pensamento.
Conteúdos
Os conteúdos de ensino são constituídos por um conjunto de Métodos de Ensino
conhecimentos. É a forma pela qual, o professor expõem os saberes Métodos de ensino são as formas que o professor organiza
de uma disciplina para ser trabalhado por ele e pelos seus alunos. as suas atividades de ensino e de seus alunos com a finalidade de
Esses saberes são advindos do conjunto social formado pela cultura, atingir objetivos do trabalho docente em relação aos conteúdos es-
a ciência, a técnica e a arte. Constituem ainda o elemento de me- pecíficos que serão aplicados. Os métodos de ensino regulam as
diação no processo de ensino, pois permitem ao discente através da formas de interação entre ensino e aprendizagem, professor e os
assimilação o conhecimentohistórico, cientifico, cultural acerca do alunos, na qual os resultados obtidos é assimilação consciente de
mundo e possibilitam ainda a construção de convicções e conceitos. conhecimentos e desenvolvimento das capacidades cognoscitivas e
O professor, na sala de aula, utiliza-se dos conteúdos da matéria operativas dos alunos.
para ajudar os alunos a desenvolverem competências e habilidades Segundo Libâneo (1994) a escolha e organização os métodos
de observar a realidade, perceber as propriedades e características de ensino devem corresponder à necessária unidade objetivos-con-
do objeto de estudo, estabelecer relações entre um conhecimento teúdos-métodos e formas de organização do ensino e as condições
e outro, adquirir métodos de raciocínio, capacidade de pensar por concretas das situações didáticas. Os métodos de ensino dependem
si próprios, fazer comparações entre fatos e acontecimentos, for- das ações imediatas em sala de aula, dos conteúdos específicos, de
mar conceitos para lidar com eles no dia-a-dia de modo que sejam métodos peculiares de cada disciplina e assimilação, além disso, es-
instrumentos mentais para aplicá-los em situações da vida prática ses métodos implica o conhecimento das características dos alunos
(LIBÂNEO 2001, pág. 09). Neste contexto pretende-se que os con- quanto à capacidade de assimilação de conteúdos conforme a ida-
teúdos aplicados pelo professor tenham como fundamento não só de e o nível de desenvolvimento mental e físico e suas característi-
a transmissão das informações de uma disciplina, mas que esses cas socioculturais e individuais.

421
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A relação objetivo-conteúdo-método procuram mostrar que Ao longo da década de oitenta, as produções teóricas dos edu-
essas unidades constituem a linhagem fundamental de compreen- cadores expressam tentativas de dar conta dessa nova situação.
são do processo didático: os objetivos, explicitando os propósitos Tomando como parâmetro a questão da relação teoria-prática,
pedagógicos intencionais e planejados de instrução e educação dos podemos identificar processos distintos que procuram ampliar a
alunos, para a participação na vida social; os conteúdos, constituin- discussão da Didática, iniciada por Candau (1984), em reação ao
do a base informativa concreta para alcançar os objetivos e deter- modelo pedagógico centrado no campo da instrumentalidade.
minar os métodos; os métodos, formando a totalidade dos passos, A autora propõe uma Didática Fundamental, que, nas palavras
formas didáticas e meios organizativos do ensino que viabilizam a de Freitas (1995, p.22), “(...) mais do que um enfoque propriamen-
assimilação dos conteúdos, e assim, o atingimento dos objetivos. te dito, foi um amplo movimento de reação a um tipo de didática
No trabalho docente, os professores selecionam e organizam baseada na neutralidade”.
seus métodos e procedimentos didáticos de acordo com cada ma- Desta forma, o movimento que inicialmente incluiu uma críti-
téria. Dessa forma destacamos os principais métodos de ensino uti- ca e uma denúncia ao caráter meramente instrumental da Didática
lizado pelo professor em sala de aula: método de exposição pelo avançou em seguida para a busca de alternativas e reconstrução
professor, método de trabalho independente, método de elabora- do conhecimento da área. E, em oposição ao modelo pedagógico
ção conjunta, método de trabalho em grupo. Nestes métodos, os centrado no campo da instrumentalidade, grupos de educadores
conhecimentos, habilidades e tarefas são apresentados, explicadas passam a discutir a importância de formar uma consciência crítica
e demonstradas pelo professor, além dos trabalhos planejados in- nos professores para que estes coloquem em prática as formas mais
dividuais, a elaboração conjunta de atividades entre professores e críticas de ensino, articuladas aos interesses e necessidades práti-
alunos visando à obtenção de novos conhecimentos e os trabalhos cas das camadas populares, tendo em vista garantir sua permanên-
em grupo. Dessa maneira designamos todos os meios e recursos cia na escola pública.
matérias utilizados pelo professor e pelos alunos.17 Propostas expressivas como a Pedagogia Históricocrítica, de
Dermeval Saviani (1983), base teórica da Pedagogia Crítico-social
Didática e Organização Do Ensino dos Conteúdos, sistematizada por José Carlos Libâneo (1985), cami-
Um breve resgate histórico da Didática no Brasil é de funda- nham nessa direção. Do ponto de vista didático, o ensino orienta-se
mental importância para compreender o lugar que essa área do pelo eixo da transmissão-assimilação ativa de conhecimentos. Dirá
conhecimento ocupa na formação do professor hoje. Isso porque Libâneo (1985 p. 127-128):
entendemos que a organização curricular dos cursos de licencia- A pedagogia crítico-social dos conteúdos valoriza a instrução
tura nas novas propostas para os cursos de licenciaturas expressa enquanto domínio do saber sistematizado e os meios de ensino,
a relação social básica do sistema nesse momento histórico. Data enquanto processo de desenvolvimento das capacidades cognitivas
de 1972 o I Encontro Nacional de Professores de Didática realizado dos alunos e viabilização da atividade de transmissão/assimilação
na Universidade de Brasília, período pós-64, momento histórico em ativa de conhecimentos.
que o planejamento educacional é considerado “área prioritária”, Nessa proposta, o elemento central está calcado na concepção
integrado ao Plano Nacional de Desenvolvimento, e a educação segundo a qual a aprendizagem se faz fundamentalmente a partir
passa a ser vista como fator de desenvolvimento, investimento indi- do domínio da teoria. A prática decorre da teoria. Daí a importância
vidual e social. Nesse momento discute-se a necessidade de formar do racional, do cognitivo, do pensamento. Nessa concepção, a ação
um novo professor tecnicamente competente e comprometido com prática é guiada pela teoria. Valoriza-se o pensamento sobre a ação.
o programa político-econômico do país. E a formação do professor Por outro lado, grupos mais radicais se voltam para a alteração
passa a se fazer por meio de treinamentos, em que são transmitidos dos próprios processos de produção do conhecimento; das relações
os instrumentos técnicos necessários à aplicação do conhecimento sociais. A Pedagogia dos Conflitos Sociais, de Oder José dos Santos
científico, fundado na qualidade dos produtos, eficiência e eficá- (1992), base teórica da Sistematização coletiva do conhecimento,
cia. A racionalização do processo aparece como necessidade básica proposta por Martins (1998), caminha nessa direção.
para o alcance dos objetivos do ensino e o planejamento tem papel Passa-se a discutir a importância de se romper com o eixo da
central na sua organização. transmissão-assimilação dos conteúdos, ainda que críticos, buscan-
Dez anos depois, em 1982, realiza-se no Rio de Janeiro o I Semi- do um processo de ensino que altere, na prática, suas relações bá-
nário A Didática em Questão num período marcado pela abertura sicas na direção da sistematização coletiva do conhecimento. Dirá
política do regime militar instalado em 1964 e pelo acirramento das Martins, (2009, p.175)
lutas de classe no país. Um dos pontos-chave da nova proposta pedagógica encontra-
Nesse momento histórico, enfatiza-se a necessidade de formar -se na alteração do processo de ensino e não apenas na alteração
educadores críticos e conscientes do papel da educação na socie- do discurso a respeito dele. (...) não basta transmitir ao futuro pro-
dade, e mais, comprometidos com as necessidades das camadas fessor um conteúdo mais crítico; (...) é preciso romper com o eixo
populares cada vez mais presentes na escola e cedo dela excluídos. da transmissão-assimilação em que se distribui um saber sistemati-
A dimensão política do ato pedagógico torna-se objeto de discus- zado falando sobre ele. Não se trata de falar sobre, mas de vivenciar
são e análise, e a contextualização da prática pedagógica, buscando e refletir com.
compreender a íntima relação entre a prática escolar e a estrutura Desse movimento resultaram alterações na organização das
social mais ampla, passa a ser fundamental. Esses desafios marca- escolas, nos cursos de formação de professores, nas produções aca-
ram a década de oitenta como um período de intenso movimento dêmicas dos estudiosos da área e fundamentalmente na prática pe-
de revisão crítica e reconstrução da Didática no Brasil. dagógica dos professores de todos os níveis de ensino. Nesse perí-
17 Fonte: www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br - Elieide odo, os professores intensificaram suas iniciativas para fazer frente
Pereira dos Santos/Isleide Carvalho Batista/Mayane Leite da Silva às contradições do sistema e produziram saberes pedagógicos nas
Souza suas próprias práticas.

422
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Nesse contexto, uma pesquisa-ensino longitudinal realizada A didática nas propostas curriculares das licenciaturas
por Martins (1998) acompanhando durante dez anos as iniciativas Com relação à didática nesse processo de formação em desen-
dos professores de todos os níveis de ensino, além da produção da volvimento nas universidades investigadas, o que se verifica numa
área, resultou na sistematização de três momentos fundamentais, primeira aproximação com a estruturação desses cursos é a perda
com ênfases específicas, nas discussões e práticas da didática na de espaço dessa área do conhecimento e a mudança na sua abor-
formação de professores. Esses momentos, que não se anulam, dagem. Em outros termos, a didática tende a priorizar aspectos es-
mas se interpenetram, devem ser entendidos como uma parte de pecíficos do fazer pedagógico, perdendo a dimensão de totalidade
um todo, quais sejam: (i) a Dimensão política do ato pedagógico conquistada na década de oitenta do século passado.
(1985/88); (ii) a organização do trabalho na escola (1989/93); (iii) a Os dados coletados nos projetos pedagógicos dos cursos de
produção e sistematização coletivas de conhecimento (1994/2000). licenciaturas das universidades investigadas mostram que a maio-
O primeiro momento a Dimensão política do ato pedagógico ria dos cursos deixa de oferecer a disciplina Didática Geral e vol-
é marcado por intensa movimentação social no Brasil, que conso- ta a trabalhar o processo de ensino – seu objeto de estudo – em
lida novas formas de organização e mobilização quando os grupos disciplinas específicas voltadas para as metodologias das áreas de
sociais se definem como classe. Passa-se, então, a dar ênfase à pro- conhecimento. Essa tendência também se manifesta na produção
blemática política. Os professores, no seu dia-a-dia, na sala de aula acadêmica da última década, conforme estudo realizado sobre o
e na escola reclamam da predeterminação do seu trabalho por ins- estado do conhecimento (MARTINS e ROMANOWSkI, 2008).
tâncias superiores, estão querendo participar e essa participação Em uma universidade pública do interior do Estado, por exem-
tem um caráter eminentemente político. A centralidade do planeja- plo, dos 15 (quinze) cursos oferecidos, apenas os cursos de Física,
mento passa a ser questionada.
Química e Música apresentam a disciplina de Didática Geral. Ela é
Já no final da década de oitenta e início dos anos noventa,
encontrada também no curso de Pedagogia com outras denomina-
avança-se para as discussões em torno da organização do trabalho
ções:
na escola (1989/93), segundo momento. Ocorre uma intensificação
a) Didática: Trabalho Pedagógico Docente;
da quebra do sistema organizacional da escola. Os professores já se
compreendem e se posicionam como trabalhadores, assalariados; b) Didática: Organização do Trabalho Pedagógico;
organizam-se em sindicatos, participam de movimentos reivindica- c) Didática: Avaliação e Ensino.
tórios. Na escola, vão quebrando normas, tomando iniciativas que Também no curso de Filosofia encontramos uma disciplina
consolidem novas formas de organização da escola e da relação denominada Didática e Teoria da Educação. Nos demais cursos, o
professor, aluno e conhecimento. processo de ensino – objeto de estudo da didática – é desenvolvi-
À medida que se verificam alterações no interior da organiza- do através das didáticas específicas, metodologias específicas, nas
ção escolar, por iniciativa de seus agentes, intensifica-se a busca da disciplinas de práticas de ensino e nas propostas de estágio super-
produção e sistematização coletivas de conhecimento e a ênfase na visionado. Isso se repete com alguma variação, nas demais univer-
problemática do aluno como sujeito vai se aprofundando. No perío- sidades investigadas.
do 1994/2000, o aluno passa a ser concebido como um ser histori- Com relação à articulação da disciplina Didática com as escolas
camente situado, pertencente a uma determinada classe, portador de Educação Básica, observa-se uma variação significativa nas ini-
de uma prática social com interesses próprios e um conhecimento ciativas desses cursos. Há uma busca pela aproximação da universi-
que adquire nessa prática, os quais não podem mais ser ignorados dade com as escolas de Educação Básica em que esses egressos irão
pela escola. atuar. Contudo, pode-se observar que a lógica subjacente à organi-
Esse período se relaciona com os anteriores através da proble- zação desses cursos, via de regra, valoriza a preparação do futuro
mática da interdisciplinaridade, que passa a ser uma questão im- professor com recursos técnicos, tendo em vista posterior aplicação
portante. na prática de ensino no espaço escolar. Essa lógica se verifica nas
Com efeito, o movimento histórico do final do século passado disciplinas que compõem o currículo, incluindo as que focalizam o
provocou uma alteração na concepção de conhecimento que deu ensino, tais como: Didática Geral, didática específica, metodologias
um passo à frente em relação aos modelos anteriores. Trata-se de específicas por área de conhecimento.
um processo didático pautado numa concepção de conhecimento Em decorrência, no que tange à articulação da Didática, geral
que tem a prática como elemento básico, fazendo a mediação en- e/ou específicas, com as práticas pedagógicas desenvolvidas nas es-
tre a realidade e o pensamento. Nessa concepção a teoria não é colas de Educação Básica, numa primeira leitura dos programas e
entendida como verdade que vai guiar a ação prática, mas como ex- pela entrevista com professores, verifica-se que o espaço da escola
pressão de uma relação, de uma ação sobre a realidade, que pode
de Educação Básica são tidos como forma de ilustração, exemplos
indicar caminhos para novas práticas; nunca guiá-la. Desse princípio
práticos que reafirmam os conteúdos trabalhados nas disciplinas;
básico, delineia-se um modelo aberto de Didática que vai além de
ou ainda, como espaço de aplicação dos preceitos teóricos traba-
compreender o processo de ensino em suas múltiplas determina-
lhados na universidade. Com efeito, o que se observa é que a for-
ções para intervir nele e reorientá-lo na direção política pretendida
(MARTINS, 2008, p.176); ela vai expressara ação prática dos pro- mação de professores está centrada no aprender a aprender ha-
fessores, sendo uma forma de abrir caminhos possíveis para novas bilidades específicas que garantam competência no fazer. Há uma
ações. valorização da prática, não mais como campo de problematização,
Acompanhando esse movimento, nesse momento histórico, al- explicação e compreensão dos processos de ensinar e aprender,
gumas questões se colocam: quais são as prioridades estabelecidas tendo em vista a sua transformação, mas sim como espaço de de-
pelos cursos de licenciaturas para a formação de professores nesse monstração de habilidades e competências técnicas no exercício
início de século? Que espaço da didática ocupa nesse processo de profissional. Isso implica valorização de procedimentos específicos,
formação? vinculados às áreas de conteúdo e trabalhadas nas metodologias e

423
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

didáticas específicas. Verifica-se que a didática geral, enquanto área Ao que parece, essa situação dos componentes do plano de
do conhecimento que tem como objeto de estudo o processo de ensino de uma maneira fragmentária e desarticulada do todo social
ensino numa dimensão de totalidade, buscando compreendê-lo em é que tem gerado a concepção de planejamento incapaz de dina-
suas múltiplas determinações para intervir nele e reorientá-lo na di- mizar e facilitar o trabalho didático. Consideramos, contudo, que
reção pretendida, (MARTINS, 2008, p.176) vem perdendo espaço.18 numa perspectiva trasformadora, ou seja, o processo de planeja-
mento visto sob uma perspectiva crítica de educação, passa a extra-
Planejamento da ação didática. polar a simple tarefa de se elaborar um documento contendo todos
Na prática pedagógica atual o processo de planejamento do os componentes tecnicamente recomendáveis.
ensino tem sido objeto de constantes indagações quanto à sua vali-
dade como efetivo instrumento de melhoria qualitativa do trabalho Após analisarmos os aspectos do processo de planejamento,
do professor. As razões de tais indagações são múltiplas e se apre- faremos agora uma síntese do didatismo no planejamento.
sentam em níveis diferentes na prática docente. Quando falamos em planejar o ensino, ou a ação didática, es-
A vivência do cotidiano escolar nos tem evidenciado situações tamos prevendo as ações e os procedimentos que o professor vai
bastante questionáveis nesse sentido. Percebeu-se, de início, que realizar junto a seus alunos, e a organização das atividades discen-
os objetivos educacionais propostos nos currículos dos cursos apre- tes e da experiência de aprendizagem, visando atingir os objetivos
sentam-se confusos e desvinculados da realidade social. Os con- educacionais estabelecidos. Nesse sentido, o planejamento de ensi-
no torna-se a operacionalização do currículo escolar.
teúdos a serem trabalhados, por sua vez, são definidos de forma
Assim, no que se refere ao aspecto didático, segundo HAIDT
autoritária, pois os professores, via de regra, não participam dessa
(1995), planejar é:
tarefa.
- Analisar as características da clientela (aspirações, necessida-
Nessas condições, tendem a mostrarem-se sem elos significa-
des e possibilidades dos alunos);
tivos com as experiências de vida dos alunos, seus interesses e ne- - Refletir sobre os recursos disponíveis;
cessidades. - Definir os objetivos educacionais considerados mais adequa-
Percebe-se também que os recursos disponíveis para o desen- dos para a clientela em questão;
volvimento do trabalho didático tendem a ser considerados como - Selecionar e estruturar os conteúdos a serem assimilados,
simples instrumentos de ilustração das aulas, reduzindo-se dessa distribuídos ao longo do tempo disponível para o seu desenvolvi-
forma a equipamentos e objetos, muitas vezes até inadequados aos mento;
objetivos e conteúdos estudados. - Prever e organizar os procedimentos do professor, bem como
Com relação à metodologia utilizada pelo professor, observa- as atividades e experiências de construção do conhecimento con-
-se que esta tem se caracterizado pela predominância de atividades sideradas mais adequadas para a consecução dos objetivos esta-
transmissoras de conhecimentos, com pouco ou nenhum espaço belecidos;
para a discussão e a análise crítica dos conteúdos. O aluno sob esta - Prever e escolher os recursos de ensino mais adequados para
situação tem se mostrado mais passivo do que ativo e, por decor- estimular a participação dos alunos nas atividades de aprendiza-
rência, seu pensamento criativo tem sido mais bloqueado do que gem;
estimulado. A avaliação da aprendizagem, por outro lado, tem sido - E prever os procedimentos de avaliação mais condizentes com
resumida ao ritual das provas periódicas, através das quais é verifi- os objetivos propostos.
cada a quantidade de conteúdos assimilada pelo aluno. O planejamento didático também é um processo que envolve
Completando esse quadro de desacertos, observa-se ainda operações mentais, como: analisar, refletir, definir, selecionar, es-
que o professor, assumindo sua autoridade institucional, termina truturar, distribuir ao longo do tempo, e prever formas de agir e
por direcionar o processo ensino-aprendizagem de forma isolada organizar. O processo de planejamento da ação docente é o plano
dos condicionantes históricos presentes na experiência de vida dos didático. Em geral, o plano didático assume a forma de um docu-
alunos. mento escrito, pois é o registro das conclusões do processo de pre-
No contexto acima descrito, o planejamento do ensino tem se visão das atividades docentes e discentes.
apresentado como desvinculado da realidade social, caracterizan- Outro aspecto a ser lembrado é que o plano é apenas um rotei-
do-se como uma ação mecânica e burocrática do professor, pouco ro, um instrumento de referência e, como tal, é abreviado, esque-
mático, sem colorido e aparentemente sem vida. Compete ao pro-
contribuindo para elevar a qualidade da ação pedagógica desenvol-
fessor que o confeccionou dar-lhe vida, relevo e colorido no ato de
vida no âmbito escolar.
sua execução, impregnando-o de sua personalidade e entusiasmo,
No meio escolar, quando se faz referência a planejamento do
enriquecendo-o com sua habilidade e expressividade.19
ensino, a ideia que passa é aquela que identifica o processo atra-
vés do qual são definidos os objetivos, o conteúdo pragmático, os A didática na formação do professor.
procedimentos de ensino, os recursos didáticos, a sistemática de Compreender-se que o educador, é visto como “um sujeito,
avaliação da aprendizagem, bem como a bibliografia básica a ser que junto com outros sujeitos, constrói em seu agir” (LUCKESI,
consultada no decorrer de um curso, série ou disciplina de estudo. 2001), entretanto o educador tem a capacidade de transformar vi-
Com efeito, este é o padrão de planejamento adotado pela grande das por meio da educação.
maioria dos professores e que, em nome da eficiência do ensino Portanto sua formação pedagógica reflete em sua prática de
disseminada pela concepção tecnicista de educação, passou a ser ensino, por isso, a importância da didática, como disciplina, em sua
valorizado apenas em sua dimensão técnica. formação acadêmica dos futuros educadores. Nessa prerrogativa da
18 Fonte: www.webartigos.com – Texto adaptado de Lourival 19 Fonte: www.educador.brasilescola.uol.com.br – Por Eliane
De Oliveira Santos da Costa Bruini

424
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

importância da didática na formação dos educadores que abordare- os especialistas que estão mais bem-dotados para exercer a tarefa
mos neste artigo, envolvendo o estudo sintetizado da contribuição educativa, dado que, por um lado, detém o conhecimento e por
da didática na pratica pedagógica e a avaliação das diferentes ten- um lado conhecem o método”. Portanto, como a tarefa educativa é
dências pedagógicas que influencia a didática dos educadores no reponsabilidade dos educadores, compete aos professores à atua-
âmbito escolar. lização constantemente, pois a competência de ensinar deve estar
A palavra didática origina-se do grego didaktiké, traduzido unida as de aprender. O professor antes de exercer suas atividades
como “arte de ensinar”. Em primeiro momento, este sentido mais de ensinar, deve optar por uma tendência pedagógica que orienta a
originário correspondia aproximadamente a tudo aquilo que é sua pratica educativa, não se deve usar uma delas de forma isolada
“próprio para o ensino”. em toda a sua docência. Entretanto, procurar analisar cada uma e
O termo Didática surge das ações de Comênio (1592-1670) em averiguar a melhor que convém ao seu desempenho acadêmico,
sua obra Didática Magna, e originalmente significa “a arte de en- com maior eficiência e qualidade de atuação. Atualmente, na prati-
sinar” que tinha como objetivo a reformar a escola e o ensino. E ca docente, existem uma mistura dessas tendências.
através da Didática Magna, Comenius pretendia estabelecer os fun-
damentos da “arte universal de ensinar tudo a todos”, privilegiando A didática e o docente
sobre tudo o educador, o método e o conteúdo. Tendência da didática nos processos de formação de professo-
Durantes séculos, a didática foi entendida como técnicas e mé- res no momento atual
todos de ensino, sendo uma ramificação da pedagogia que corres- Numa primeira aproximação com os dados da pesquisa, po-
pondia somente por “como ensinar”. demos dizer que enquanto no período de 1985 a 1988 a didática
Entretanto, a didática pode ser definida como um conjunto de trouxe como ênfase a dimensão política do ato pedagógico; no pe-
atividades organizadas pelo docente visando o favorecimento da ríodo de 1989 a 1993 a área trouxe para o centro das discussões a
construção do conhecimento pelos estudantes. questão da organização do trabalho na escola e no período de 1994
Os elementos da ação da didática constituem tradicionalmente a 2000 focalizou a questão da produção e sistematização coletiva de
em: professor, aluno, conteúdo, contexto e estratégias metodológi- conhecimento (MARTINS, 1998).
cas (PACIEVITCH, 2012). Nesse início de século, esboça-se um quarto momento carac-
Presentemente, a didática é uma ramificação da pedagogia, terizado pela ênfase na aprendizagem: “aprender a aprender”, que
sendo uma das disciplinas fundamentais na formação dos profes- tem sua centralidade no aluno como sujeito, não mais como um ser
sores, denominada por LIBÂNEO (1990, p.25) como “teoria do en- historicamente situado, portador de um conhecimento que adquire
na prática laboral, mas um sujeito intelectualmente ativo, criativo,
sino” por investigar os fundamentos, as condições e as formas de
produtivo, capaz de dominar os processos de aprender (MARTINS,
realização do ensino.
2004).
Portanto, a didática está inteiramente associada à teoria da
A questão central é que o aluno aprenda a aprender habilida-
educação, as teorias da organização escolar, as teorias do conheci-
des específicas, definidas como competências, que são previamen-
mento e à psicologia da educação. Nesse contexto teórico a base da
te definidas nos programas de aprendizagem em sintonia com as
pratica educativa, entretanto, a didática tornou-se principal ramo
demandas do mercado de trabalho.
da pedagogia, sendo necessária a dominação de todas as teorias
Assim, verifica-se que a expressão “aprender a aprender” do
na integração para desenvolver uma boa pratica educativa. Assim,
final do século XIX e início do século XX retorna em outras bases.
o professor dispõe de recursos teóricos para organização e articula- Não mais centrada no sujeito psicológico, mas no sujeito produtivo,
ção dos processos de ensino e aprendizagem. na perspectiva neoliberal. Articula-se ao aprender fazer da segunda
Segundo LIBÂNEO (1990) aponta que a didática: metade do século XX. (MARTINS, 2008).
“A ela cabe converter objetivos sociopolíticos e pedagógicos em Sobre essa tendência, Saviani (2007), referindo-se ao final do
objetivos de ensino, selecionar conteúdos e métodos em função des- século XX, registra que os movimentos em prol da educação popu-
ses objetivos, estabelecer os vínculos entre ensino e aprendizagem, lar perderam o vigor.
tendo em vista o desenvolvimento das capacidades mentais dos alu- Durante a década de 1990, o autor destaca os movimentos da
nos (...) trata da teoria geral do ensino (1990, p.26).” Escola Cidadã, vinculados ao Instituto Paulo Freire; a Escola Plural
De acordo com PACIEVITCH (2012) afirma que a disciplina da em Belo Horizonte, inspirados no Relatório Jacques Delors, publica-
didática deve desenvolver a capacidade crítica dos docentes, no in- do com título “Educação: um tesouro a descobrir”, que desenvolve
tuito que possam avaliar de forma clara a realidade do ensino. Um propostas na perspectiva do aprender a aprender, aprender a co-
dos desafios da didática é de articular os conhecimentos adquiridos nhecer, aprender a fazer, aprender a conviver, aprender a ser.
sobre o como, para quem, “o que” ensinar e o “por que” ensinar. Além disso, Saviani (2007) escreve que o lema “aprender a
Para Luckesi (2001) a função da Didática é de criar condições aprender” está ligado às ideias escolanovistas, mas na perspectiva
para que o educador se prepare técnica, cientifica, filosófica e efe- da constante atualização para ampliar as possibilidades de empre-
tivamente para qualquer tipo de ação que irar exercer. Por sua vez, gabilidade. Com efeito, trata-se da flexibilidade do trabalhador para
existem vários elementos que formarão a didática do professor, e ocupar vários tipos de trabalho, o que exige educação ao longo da
cada classe turma exigirá uma pratica diferente. vida para responder aos desafios das mudanças constantes da reor-
Entre os elementos da didática encontramos o planejamento, a ganização dos processos produtivos, com inserção de novas tecno-
metodologia e a avaliação. Para isso o professor necessitar conhecer logias e de novos processos de gestão das empresas.
cada um deles para desenvolver um trabalho de excelência como Refletindo sobre esse momento histórico, Santos (2005) apon-
educador. Em outras palavras o professor tem o conhecimento teó- ta um novo modo de exigência da organização do trabalho, em que
rico da didática e dos métodos a ser aplicados em sala de aula. De além da força produtiva, do tempo para a produção, há especula-
acordo com COMENIUS (2001, p.51) expõe que “os educadores são ção das capacidades cognitivas dos trabalhadores para a melhoria

425
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do processo de produção. Tais exigências solicitam capacidades de mediante instituições. O pressuposto básico é que “o homem não
adaptabilidade, flexibilidade, iniciativa e inovação para a melhoria reflete sobre o mundo, mas reflete a sua prática sobre o mundo”
dos resultados da cadeia de produção. (BERNARDO, 1977, v. 1, p.86).
Estas capacidades atrelam-se a um tipo de cognição e aprendi- Dessa forma, “(...) o conhecimento é sempre o conhecimen-
zagem para o imprevisível, para a solução de problemas, planejar, to de uma prática, nunca da realidade natural ou social” (SANTOS
tomar decisões, uso estratégico dos recursos, regulação do proces- 1992, p.29).
so, relacionados ao aprender a aprender. Desse ponto de vista, buscamos analisar os cursos de formação
Nesse sentido, entendemos que a perda de espaço da Didáti- de professores procurando entender à tendência da sua organiza-
ca, numa dimensão mais ampla, e a valorização das didáticas espe- ção. Procedemos a um mapeamento das propostas curriculares dos
cíficas e metodologias específicas das áreas de conhecimento nas cursos para, em seguida, buscar junto aos agentes envolvidos no
atuais propostas de formação de professores expressam o novo planejamento e desenvolvimento dessas propostas as formas e prá-
momento do capitalismo no qual “as novas formas de exploração e ticas dessa formação.
controle da força de trabalho exigem um novo tipo de trabalhador, Uma primeira aproximação com os dados revelam que as ins-
uma vez que a produtividade repousa cada vez mais na utilização do tituições de educação superior estão em processo de alteração de
trabalho complexo” (SANTOS, 2005, p.42). Ainda que os indicado- suas propostas de cursos de licenciaturas, tendo em vista as de-
res sejam desfavoráveis para a área, ampliar a compreensão desse terminações legais do Parecer 09/2001 e Resoluções 01/2002 e
momento da didática é o nosso desafio. Auscultar e sistematizar os 02/2002, aprovados pelos Conselho Nacional de Educação. Há um
processos de formação de professores e o lugar da didática no con- movimento que busca atender à nova proposta para os cursos de
junto dessas ações.20 Quanto a organização do ensino veremos abai- formação de professores não atrelada ao bacharelado com iniciati-
xo os entraves que a educação infantil tem enfrentado em busca de vas dos seus agentes, que vão desde a criação de uma coordenação
maiores investimentos e valorização deste nível de ensino, por se geral para os cursos de Licenciaturas, fóruns de Licenciaturas até
tratar da primeira etapa que o indivíduo tem com as instituições de simples ajustes e redistribuição de carga horária das disciplinas.
ensino, a educação infantil deveria ser inclusa no ensino obrigatório Uma das universidades particulares, aqui identificada pela letra
previsto na Constituição Federal de 1988. Será abordada também A, por exemplo, criou uma coordenação geral dos cursos de Licen-
a significativa melhoria ao atendimento do ensino fundamental se- ciaturas, que tem um papel articulador nas discussões e proposi-
gunda etapa da educação básica e de acordo com a Lei 9394/96, em ções para esses cursos. A coordenadora das Licenciaturas da univer-
seu artigo nº 32 obrigatório, e gratuito com duração de nove anos e sidade A informa que das 800 horas regulamentadas para estágios,
matrícula a partir dos seis anos de idade, levando em consideração 400 são distribuídas durante o curso, enquanto as outras 400 horas
o antigo Fundo de Valorização do Ensino Fundamental (FUNDEF), e são destinadas ao estágio supervisionado.
veremos também sobre a educação de jovens e adultos (EJA), um Nas palavras da coordenadora: Em média, 10% de cada uma
programa do governo federal destinado a erradicar o analfabetismo das disciplinas devem articular suas disciplinas com prática. Quan-
no Brasil, pois são inúmeros os esforços nesse sentido, atualmente do ele aprende morfologia, por exemplo, de que forma essa apren-
o governo tem investido no programa Brasil Alfabetizado (educação dizagem é aplicada na prática.(...) Também temos grupos de estudo
de jovens e adultos), programa este que pode ser desenvolvido em interdisciplinar onde nossos alunos são levados à reflexão.
parcerias com instituições não governamentais, além, das secreta- Observamos uma iniciativa de trabalhar a relação teoria e prá-
rias estaduais e municipais de educação. tica ao longo do curso e no interior de cada disciplina que compõe
o currículo. Além disso, o grupo está buscando uma integração das
Prioridades estabelecidas para a formação dos professores disciplinas de fundamentos comum a todas as licenciaturas, já que
nos cursos de licenciaturas tais disciplinas eram trabalhadas de forma isolada e em tempos di-
Para compreender a tendência atual da formação de professo- ferentes de acordo com o colegiado de cada curso.
res e o lugar da didática nessa formação, trabalhando com a con- Com relação à proposta de práticas de ensino e de estágio, per-
cepção da teoria como expressão de uma determinada prática e cebemos que a instituição busca manter essa integração, articulan-
não de qualquer prática, desenvolvemos uma pesquisa tomando do teoria e prática entre as disciplinas de fundamentos e a ação do
como campo de investigação os cursos de licenciatura de cinco uni-
aluno na escola.
versidades de grande porte do estado do Paraná.
Há uma preocupação de estabelecer a estreita relação entre
Por meio de análise documental e entrevistas semiestrutura-
as disciplinas teóricas com as didáticas específicas e metodologias
das, numa abordagem qualitativa de pesquisa buscamos analisar
específicas por área de conhecimento.
as tensões e prioridades dessas universidades nos processos de for-
Contudo numa perspectiva de aplicação prática: “de que forma
mação de professores.
a aprendizagem de determinado conteúdo é aplicado na prática...”.
Assim, nosso estudo apoia-se no entendimento de que a prá-
Já o contato direto com a escola – o estágio – mantém o for-
tica não é dirigida pela teoria, mas a teoria vai expressar a ação
mato usual dessas práticas, qual seja: a observação, a participação
prática dos sujeitos. São as formas de agir que vão determinar as
em sala de aula junto ao professor regente e finalmente a regência.
formas de pensar dos homens.
“A teoria pensa e compreende a prática sobre as coisas, não a Esses estágios ocorrem em escolas conveniadas e preferencialmen-
coisa. Daí, a sua única função é indicar caminhos possíveis, nunca te públicas.
governar a prática.” (BRUNO 1989, p.18). A base do conhecimento Com efeito, a criação de uma coordenação geral das licenciatu-
é a ação prática que os homens realizam através de relações sociais, ras, forma encontrada pela instituição A para reorganizar as licen-
ciaturas tendo em vista as novas exigências do CNE, tem favorecido
20 Texto adaptado de Pura Lúcia Oliver Martin; Joana Paulin
alguns avanços na busca da articulação teoria e prática. Os agentes
Romanowski

426
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

envolvidos tentam minimizar a dicotomia teoria-prática existentes A coordenadora explica:


nessa formação. Contudo, observa-se que não se altera a lógica da Os colegiados foram achando suas peculiaridades. Você tem
aplicação prática e a valorização do como aplicar esse conhecimen- matéria de instrumentação no ensino de matemática, matérias
to na prática. como laboratório de física e ciências e tem ensino de biologia. O
Já na Universidade B criou-se o espaço do Fórum de Licencia- mais bonito foi que eles foram chegando, sem imposição, a certos
turas para discutir as novas exigências do CNE, buscando a obser- denominadores comuns. Eles estudam toda a legislação pertinente
vância das horas exigidas. Nesse espaço os professores discutem à educação, os PCNs e fazem uma ligação com a escola básica. Essa
seus projetos de curso, as disciplinas que integram o currículo de disciplina envolve todos os professores da série. (...) era sempre o
cada licenciatura e a integração entre elas. Observa-se uma preo- que se quis: que as licenciaturas pensassem sempre em educação
cupação de adequar as horas exigidas na nova legislação e também básica e em ensino. Não se bacharelassem.
de viabilizar a inserção do aluno nas escolas onde irão atuar desde Com relação aos estágios, estes acontecem da metade do curso
o primeiro semestre do curso. Essa busca de inserção dos alunos para o final e, segundo a coordenadora, alguns cursos estão indo
desde o início do curso tem sido a marca dessa instituição. Na fala muito bem, enquanto outros têm encontrado muitas dificuldades.
Nas palavras dela:
de um coordenador de curso:
Isso é um calcanhar de Aquiles. (...) o estágio é da segunda me-
O aluno tem a formação pedagógica desde o primeiro período.
tade do curso para frente. Então em alguns cursos está indo muito
Ele sempre vai ter algo relacionado com a formação pedagógica e
bem e em alguns cursos está indo muito mal. (...) Pelo pouco que
a escola. Todo um eixo que é ministrado pelo pessoal da educação
eu sei a universidade já tem uma caminhada de conquistas com a
e depois tem outra vertente que é ministrada pelos próprios pro- escola. (...) Primeiro a universidade conquistou as escolas e depois
fessores da área específica com experiência na área da escola e da foi para dentro das escolas.
licenciatura. Observa-se uma preocupação e um movimento no sentido de
Observa-se que essa solução encontrada pelo grupos de pro- aproximar os professores em formação com as escolas de educação
fessores e coordenadores de curso discutidas no Fórum de Licen- básica, e cada curso a seu modo vai buscando essa aproximação. No
ciaturas mantido pela instituição constitui um avanço na busca de entanto a prática ali desenvolvida não avança no sentido de promo-
articulação teoria-prática. ver uma reflexão a partir das iniciativas dos professores na busca
Contudo, a ênfase da formação pedagógica continua no final de equacionar os problemas que enfrentam nesse espaço escolar.
do curso, o estágio a partir do 5º Período. A base epistemológica Além disso, a manutenção dos estágios no final do curso indica a
da organização desses cursos mantém a concepção da teoria como manutenção da lógica das escolas como espaço de aplicação dos
guia da ação prática. conteúdos das disciplinas teóricas.
Já nas instituições públicas, as alterações ficam a cargo dos de- Dentre as universidades públicas pesquisadas, a Universidade
partamentos e é mais evidente a manutenção da cisão: pedagógico D é a que deixa clara a manutenção do esquema três mais um. A
e conteúdos específicos, teoria e prática. Uma das universidade pú- maioria dos coordenadores de cursos afirmou que para atender a
blicas, aqui identificada pela letra c, embora tenha criado uma coor- resolução foram criadas disciplinas práticas e ampliada a carga ho-
denação geral para os cursos de licenciaturas, manifesta dificuldade rária de estágio nos dois últimos anos. A coordenadora do curso de
de viabilizar a integração almejada. Assim ela se expressa: Letras aponta que a carga horária das disciplinas teóricas foi reduzi-
Convocamos o CEP, convidamos pessoas das licenciaturas, con- da em função do aumento das horas de estágio.
vidamos coordenadores, convocamos também o pessoal da educa- A maioria regista que o currículo foi alterado e as mudanças
ção, o pessoal de métodos, chamamos todas as pessoas e algumas estão em processo de implantação a partir de 2009.
pessoas ficaram. Na fala de um coordenador fica clara a preocupação com os
Porém, outras saíram do processo dizendo: “essa lei não vai pe- fundamentos teóricos nos anos iniciais para posterior formação
gar”, é o que ocorre sempre por aí. pedagógica, implicando opção do aluno após dois anos e meio de
Não obstante essas dificuldades, observamos que a instituição curso. Assim ele se expressa:
Aqui na Universidade nós oferecemos duas habilitações: bacha-
faz um movimento para articular teoria e prática, inserindo, nas
relado e licenciatura... como uma recomendação da própria estru-
disciplinas de conteúdo específico da área, uma articulação com a
tura curricular tivemos de pensar nos núcleos de formação de base
prática de ensino daquela área. A coordenadora explica:
e depois nos núcleos de formação específica. Os dois primeiros anos
Quanto àquele intem, a prática como componente curricular,
são comuns para qualquer uma das habilitações e na passagem da
existem mil e uma interpretações de como fazer aqui (...) toda dis- segunda para a terceira série o aluno faz a opção pela sua habilita-
ciplina nós sabemos que tem uma dimensão prática, tudo isso é ção – bacharelado ou licenciatura.
perfeito, tudo bem, tudo certo. Você vai me convencer que vai criar Não obstante essa lógica dos três mais um, há uma tentativa de
dentro da disciplina (...) uma ponte com a educação básica. distribuir a prática, que antes era concentrada em dois semestres
de estágio no final do curso, ao longo do curso. Nas palavras do
No entanto, não se pode ter garantia de que o professor indivi- coordenador:
dualmente vá fazer isso, embora seja o desejável. Então, a comissão Com o aumento da carga horária, procuramos contemplar às
achou por bem criar uma disciplina de 1ª a 4ª séries denominada 800 horas e distribuir melhor a prática ao longo do curso. Tanto é
disciplina articuladora, que contempla 400 horas. Esta deverá estar que a oficina 1 e 2 surge com essa finalidade. Ela tem um caráter
articulada à escola de educação básica e ficou a cargo da cada co- prático que é de criar a identidade do estudante com a área de atu-
legiado de curso a definição da ementa e sua forma de realização. ação. (...) Nós dividimos os estágios em estágio I e 2 que é de forma-
Cada curso buscou a articulação com a prática das escolas, respei- ção mais conceitual; o estágio 3 que tem a finalidade da regência de
tando as peculiaridades de cada área do conhecimento. classe, tem a finalidade de integrar teoria e prática na licenciatura.

427
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Observa-se que a tentativa de tratar da prática ao longo do cur- não se reduzem ao mero domínio de técnicas e regras, mas impli-
so mantém a lógica do esquema três mais um garantindo a articula- cam também os aspectos teóricos, ao mesmo tempo que fornecem
ção teoria e prática no último estágio do curso. à teoria os problemas e desafios da prática. A formação profissional
Também a Universidade pública e, para atender as 800 horas do professor implica, pois, uma contínua interpenetração entre te-
de estágio regulamentadas pelo CNE, evidencia que alguns cursos oria e prática, a teoria vinculada aos problemas reais postos pela
tendem a aumentar a quantidade de disciplinas que promovem a experiência prática orientada teoricamente.
prática dos alunos, enquanto outros procuram desenvolver no inte- Nesse entendimento, a Didática se caracteriza como mediação
rior das disciplinas de conteúdos específicos algum tipo de relação entre as bases teórico-científicas da educação escolar e a prática
com a prática de ensino. Há uma ênfase na formação teórica sólida docente. Ela opera como que uma ponte entre o “o que” e o “como”
para garantir uma prática consequente. do processo pedagógico escolar. Para isso recorre às contribuições
Nas palavras de uma coordenadora: das ciências auxiliares da Educação e das próprias metodologias
Nós temos 240 horas de estágio de docência e 240 horas de específicas. É, pois, uma matéria de estudo que integra e articula
estágio na função propriamente dita do pedagogo nas dimensões conhecimentos teóricos e práticos obtidos nas disciplinas de forma-
de organizações de trabalhos pedagógicos de passes escolares e ção acadêmica, formação pedagógica e formação técnico-prática,
não escolares e temos outras dimensões que é a questão da pes- provendo o que é comum, básico e indispensável para o ensino de
quisa (...) o pedagogo pesquisador. (...) Além desses estágios que todas as demais disciplinas de conteúdo.
A formação profissional para o magistério requer, assim, uma
dá um total de 480 horas, nós temos algumas disciplinas facilmente
sólida formação teórico-prática. Muitas pessoas acreditam que o
ligadas à prática... Não abrimos mão de uma sólida formação teóri-
desempenho satisfatório do professor na sala de aula depende de
ca. Essa lógica está presente na totalidade dos cursos e os estágios
vocação natural ou somente da experiência prática, descartando-se
concentram-se no final dos cursos. Observa-se que as ações para
a teoria. É verdade que muitos que muitos professores manifestam
adequar os cursos às novas normas ficam a cargo dos colegiados especial tendência e gosto pela profissão, assim como se sabe que
de cursos e não há um espaço, uma coordenação geral onde essas mais tempo de experiência ajuda no desempenho profissional. En-
discussões possam ocorrer, tendo em vista uma integração entre os tretanto, o domínio das bases teórico-científicas e técnicas, e sua
cursos. articulação com as exigências concretas do ensino, permitem maior
Com efeito, as discussões nesses espaços – fóruns, coordena- segurança profissional, de modo que o docente ganhe base para
ções de Licenciaturas – indicadas pelos entrevistados, as formas pensar sua prática e aprimore sempre mais a qualidade do seu tra-
como encaminham a ampliação de tempo de estágio na determina- balho.21
ção das 800 horas, nos possibilitam perceber a estrutura do pensa-
mento educacional que está na base da organização desses cursos A Didática e o Trabalho Docente
e a forma como concebem e encaminham a articulação teoria e prá- Como vimos anteriormente à didática estuda o processo de en-
tica na formação do professor. sino no seu conjunto, no qual os objetivos, conteúdos fazem parte,
Nesse sentido, percebemos que ainda é marcante a concepção de modo a criar condições que garantam uma aprendizagem signi-
de que uma formação teórica sólida garante uma prática conse- ficativa dos alunos. Ela ajuda o professor na direção, orientação das
quente. Os encaminhamentos, com raras exceções, invariavelmen- tarefas do ensino e da aprendizagem, dando a ele uma segurança
te situam o momento da prática nos anos finais do curso, antecedi- profissional. Segundo Libâneo (1994), o trabalho docente também
da pela formação teórica. chamado de atividade pedagógica tem como objetivos primordiais:
• Assegurar aos alunos o domínio mais seguro e duradouro
A Didática e a formação profissional do professor possível dos conhecimentos científicos;
A formação do professor abrange, pois, duas dimensões: a for- • Criar as condições e os meios para que os alunos desen-
mação teórico-científica, incluindo a formação acadêmica específi- volvam capacidades e habilidades intelectuais de modo que domi-
ca nas disciplinas em que o docente vai especializar-se e a formação nem métodos de estudo e de trabalho intelectual visando a sua
pedagógica, que envolve os conhecimentos da Filosofia, Sociologia, autonomia no processo de aprendizagem e independência de pen-
samento;
História da Educação e da própria Pedagogia que contribuem para
o esclarecimento do fenômeno educativo no contexto histórico-so-
• Orientar as tarefas de ensino para objetivo educativo de
formação da personalidade, isto é, ajudar os alunos a escolherem
cial; a formação técnico-prática visando a preparação profissional
um caminho na vida, a terem atitudes e convicções que norteiem
específica para a docência, incluindo a Didática as metodologias
suas opções diante dos problemas e situações da vida real (LIBÂ-
específicas das matérias, a Psicologia da Educação, a pesquisa edu-
NEO, 1994, Pág. 71).
cacional e outras.
Além dos objetivos da disciplina e dos conteúdos, é fundamen-
A organização dos conteúdos da formação do professor em tal que o professor tenha clareza das finalidades que ele tem em
aspectos teóricos e práticos de modo algum significa considera-los mente, a atividade docente tem a ver diretamente com “para que
isoladamente. São aspectos que devem ser articulados. As disci- educar”, pois a educação se realiza numa sociedade que é forma-
plinas teórico-científicas são necessariamente referidas a prática da por grupos sociais que tem uma visão diferente das finalidades
escolar, de modo que os estudos específicos realizados no âmbito educativas.
da formação acadêmica sejam relacionados com os de formação Para Libâneo (1994), a didática trata dos objetivos, condições
pedagógica que tratam das finalidades da educação e dos condicio- e meios de realização do processo de ensino, ligando meios peda-
nantes históricos, sociais e políticos da escola. Do mesmo modo, os gógico-didáticos a objetivos sócio-políticos. Não há técnica peda-
conteúdos das disciplinas específicas precisam ligar-se às suas exi- gógica sem uma concepção de homem e de sociedade, sem uma
gências metodológicas. As disciplinas de formação teórico-prática 21 Fonte: www.pedagogiadidatica.blogspot.com.br

428
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

competência técnica para realiza-la educacionalmente, portanto o NEO, 1994 pág.17). O professor deve formar para a emancipação,
ensino deve ser planejado e ter propósitos claros sobre suas finali- reflexão, criticidade e atuação social do indivíduo e não para a sub-
dades, preparando os alunos para viverem em sociedade. missão ou o comodismo.
É papel de o professor planejar a aula, selecionar, organizar os Com este conteúdo podemos perceber o importante papel que
conteúdos de ensino, programar atividades, criar condições favo- a didática desempenha no processo de ensino e aprendizagem.
ráveis de estudo dentro da sala de aula, estimular a curiosidade e Como vimos ela proporciona os meios, as condições pelos quais a
criatividade dos alunos, ou seja, o professor dirige as atividades de prática educacional se concretiza. Ela orienta o trabalho do profes-
aprendizagem dos alunos a fim de que estes se tornem sujeitos ati- sor fazendo-o significativo para que possa guiar de forma compe-
vos da própria aprendizagem. tente, expressiva e coerente as práticas de ensino.
Entretanto é necessário que haja uma interação mútua entre Através dos componentes que constituem o processo de en-
docentes e discentes, pois não há ensino se os alunos não desenvol- sino, visa propiciar os meios para a atividade própria de cada alu-
verem suas capacidades e habilidades mentais. no, busca ainda formá-los para serem indivíduos críticos, reflexivos
Podemos dizer que o processo didático se baseia no conjunto capazes de desenvolverem habilidades e capacidades intelectuais.
de atividades do professor e dos alunos, sob a direção do professor, Para que toda prática educativa seja efetiva, o professor preci-
para que haja uma assimilação ativa de conhecimentos e desen- sa conhecer a didática enquanto conteúdo específico, isto ajudara
volvimento das habilidades dos alunos. Como diz Libâneo (1994), é em sua formação no âmbito escolar discernindo as diferentes for-
necessário para o planejamento de ensino que o professor compre- mas de educar e as diversificadas tendências pedagógicas buscan-
enda as relações entre educação escolar, os objetivos pedagógicos do a melhor pratica para desenvolver em cada turma estudantil.
e tenha um domínio seguro dos conteúdos ao qual ele leciona, sen- Mas a prática educativa não pode suceder de forma espontânea,
do assim capaz de conhecer os programas oficiais e adequá-los ás sem um planejamento, metas e instrumentos a ser aplicados em
necessidades reais da escola e de seus alunos. sala de aula. Segundo Marinho e Ferreira (2012) o professor tendo
Um professor que aspira ter uma boa didática necessita apren- posse desses conhecimentos, terá uma variedade de metodologias
e concepção que auxiliarão a elaborar seus planejamentos e sua
der a cada dia como lidar com a subjetividade do aluno, sua lingua-
didática em sala de aula.Por isso é fundamental o professor tem
gem, suas percepções e sua prática de ensino. Sem essas condições
uma excelente formação em didática no curso de graduação conhe-
o professor será incapaz de elaborar problemas, desafios, pergun-
cendo diversos tipos de abordagens de práticas educativas, pois ele
tas relacionadas com os conteúdos, pois essas são as condições
exercer a função de educador e disseminador de conhecimento aos
para que haja uma aprendizagem significativa. No entanto para que discentes no processo de ensino e aprendizagem.
o professor atinja efetivamente seus objetivos, é preciso que ele Para exercer uma pratica educativa de qualidade, os profissio-
saiba realizar vários processos didáticos coordenados entre si, tais nais da educação precisam ter um pleno “domínio das bases teóri-
como o planejamento, a direção do ensino da aprendizagem e da cas cientificas e tecnológicas, e sua articulação com as exigências
avaliação (LIBÂNEO, 1994). concretas do ensino” (LIBANÊO, 2002, p.28), por meio desse domí-
nio que ele poderá estar revendo, analisando e aprimorando sua
A Profissão Docente e sua Repercussão Social prática educativa.
Segundo Libâneo (1994) o trabalho docente é a parte integran- Essa concepção de didática visa auxiliar na compreensão crítica
te do processo educativo mais global pelo qual os membros da so- da arte de ensinar.22
ciedade são preparados para a participação da vida social. Com es-
sas palavras Libâneo deixa bem claro o importante e essencial papel
do professor na inserção e construção social de cada individuo em PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM
formação. O educador deve ter como principal e fundamental com-
promisso com a sociedade formar alunos que se tornem cidadãos Quando entendida na perspectiva do senso comum, a relação
ativos, críticos, reflexivos e participativos na vida social. ensino-aprendizagem é linear; assim, quando há ensino, deve ne-
O docente no processo de ensino e aprendizagem é a ponte cessariamente haver aprendizagem.
de mediação entre o aluno em formação e o meio social no qual Ao inverso, quando não houve aprendizagem, não houve en-
está inserido; uma vez que ele vai através de instruções, conteú- sino. Desse modo, o ensino é subordinado à aprendizagem. Essa
dos e métodos orientar aos seus alunos a viver socialmente.Sendo subordinação é expressa em concepções que compreendem o pro-
a educação um fenômeno social necessário à existência e funciona- fessor como facilitador da aprendizagem, ou ainda como mediador
mento de toda a sociedade, exige-se a todo instante do professor as do conhecimento.
competências técnicas e teóricas para a transmissão desses conhe- Aqui a proposta é discutir referências teóricas e metodológicas
cimentos que são essenciais para a manutenção e progresso social. que possam revelar uma concepção não linear da relação em foco,
O processo educacional, notadamente os objetivos, conteúdos bem como criticar as concepções de professor facilitador e profes-
sor mediador.
do ensino e o trabalho do professor são regidos por uma série de
A mediação no campo educacional é geralmente considerada
exigências da sociedade, ao passo que a sociedade reclama da edu-
como o produto de uma relação entre dois termos distintos que,
cação a adequação de todos os componentes do ensino aos seus
por meio dela podem ser homogeneizados. Essa homogeneização
anseios e necessidades. Porém a prática educativa não se restringe
elimina a diferença entre eles e, por conseguinte, a possibilidade de
as exigências da vida em sociedade, mas também ao processo de conflito entre ambos. Portanto, quando se compreende a mediação
promover aos indivíduos os saberes e experiências culturais que o
22 Fonte: www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br - Elieide
tornem aptos a atuar no meio social e transformá-lo em função das Pereira dos Santos/Isleide Carvalho Batista/Mayane Leite da Silva
necessidades econômicas, sociais e políticas da coletividade (LIBÂ- Souza /www.nucleodoconhecimento.com.br

429
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

como o resultado, como um produto, a necessária relação entre de ensino. Os professores que se utilizam com frequência desses
dois termos se reduz à sua soma, o que resulta na sua anulação mú- recursos nutrem a esperança de que essas práticas sejam capazes
tua, levando-os ao equilíbrio. Essa ideia concebe a mediação como de estabelecer mediações que eles, os professores, talvez não se
o resultado da aproximação entre dois termos que, embora distin- sintam seguros para desenvolver. Alguns professores precisam ser
tos no início, quando totalmente separados, tendem a igualar-se à lembrados de que sala de aula não é sala de cinema nem oficina de
medida que se aproximam um do outro. terapia ocupacional.
Em estudos desse contexto discute-se o conceito de mediação Os professores que se utilizam desses artifícios o fazem muitas
local, indicando que mediar implica solucionar conflitos por meio vezes no intuito de facilitar a aprendizagem; porém, sendo a rela-
de ações educativas. Assim, a mediação restringe-se a uma ação ção entre o ensino e a aprendizagem uma luta de contrários, não
pragmática, circunscrita a uma situação de conflito. Este entendi- há como facilitá-la. Ao inverso, o professor deve dificultar a vida
mento da mediação não é muito distante daquele em que ela é cotidiana do aluno inserindo nela o conhecimento, e, dessa forma,
compreendida na situação da sala de aula. negando-a. Pois, na vida cotidiana não há conhecimento e sim ex-
A mediação na sala de aula é também pragmática, pois preten- periência. Desse modo, não há como facilitar o que é difícil. Apren-
de que o aluno aprenda de modo imediato. Nos dois casos, em que der é difícil.
mediar é agir de modo pragmático, todo conflito pode ser “solucio- será sempre necessário que ela [criança] se fatigue a fim de
nado”, e o aluno pode “aprender”. aprender e que se obrigue a privações e limitações de movimento
Para compreendermos a mediação na sala de aula, é preciso, físico isto é que se submeta a um tirocínio psicofísico. Deve-se con-
em primeiro lugar, estabelecermos que o estudante está sempre vencer a muita gente que o estudo é também um trabalho e muito
no plano do imediato, e o professor está, ou deveria estar, no pla-
fatigante com um tirocínio particular próprio, não só muscular-ner-
no do mediato. Assim, entre eles se estabelece uma mediação que
voso mas intelectual: é um processo de adaptação, é um hábito ad-
visa, como já o dissemos, a superação do imediato no mediato. Em
quirido com esforço, aborrecimento e mesmo sofrimento. (Gramsci,
outras palavras, o estudante deve superar a sua compreensão ime-
1985, p. 89)
diata e ascender a outra que é mediata. E isso só pode ocorrer pela
ação do professor que medeia com o aluno, estabelecendo com ele Como assinala Gramsci, a aprendizagem depende do esforço
uma tensão que implica negar o seu cotidiano. Por outro lado, o alu- pessoal de cada estudante. É claro que o professor sempre pode-
no tentará trazer o professor para o cotidiano vivido por ele, aluno, rá intervir, de modo direto, neste processo, auxiliando o aluno. Ele
negando, assim, o conhecimento veiculado pelo professor. Nessa deve esforçar-se para que os estudantes aprendam, mas não pode
luta de contrários – professor e aluno, conhecimento sistematizado minimizar nem esconder as dificuldades inerentes à aprendizagem.
pela humanidade e experiência cotidiana – é que se dá a media- Quando se compreende a relação ensino-aprendizagem na
ção; e ela ocorre nos dois sentidos, tanto do professor para o aluno sala de aula como mediação, o ensino e aprendizagem são opostos
quanto do a É uma luta de contrários. entre si e se relacionam por meio de uma tensão dialética. Desse
Esse modo de compreender a mediação não aceita a ideia do modo, esses termos, apesar de negarem-se mutuamente, se com-
professor mediador do conhecimento, tampouco a noção de pro- pletam, mas, como já o dissemos, essa unidade não se estabelece
fessor facilitador da aprendizagem. de modo linear.
Essas duas acepções são equivocadas, porque, em primeiro Neste artigo, conceituaremos primeiro o ensino e, pela sua
lugar, o professor não é o único mediador, pois o aluno também negação, conceituaremos aprendizagem. Sabemos da dificuldade
medeia, e, em segundo lugar, a mediação não se estabelece com de conceituar esses dois termos, pois de modo geral os estudiosos
o conhecimento e sim entre o aluno e o professor. Trata-se de uma da área de educação e os professores, talvez por influência das pe-
automediação no segundo sentido atribuído por Mészáros; ou seja, dagogias contemporâneas, não o fazem; pois preocupam-se quase
a mediação entre o homem e os outros homens: aluno para o pro- exclusivamente com o “como ensinar”, ou mais precisamente como
fessor. Em outros termos, a mediação, na escola, é um processo que facilitar a aprendizagem dos alunos.
ocorre a sala de aula e promove a superação do imediato no media- A ideia principal que informa o nosso conceito de ensino é a
to por meio de uma tensão dialética entre pólos opostos. de que ele expressa a relação que o professor estabelece com o
conhecimento produzido e sistematizado pela humanidade. Assim,
A relação entre o homem e a natureza é ‘automediadora’ o ensino constitui-se de três atividades distintas a serem desenvol-
num duplo sentido. Primeiro, porque é a natureza que propicia a vidas pelo professor.
mediação entre si mesma e o homem; segundo, porque a própria A primeira consiste em, diante de um tema, selecionar o que
atividade mediadora é apenas um atributo do homem, localizado
deve ser apresentado aos alunos; por exemplo, no tema “Revolução
numa parte específica da natureza. Assim,na atividade produtiva,
Francesa”, próprio da História, selecionar o que é mais importante
sob o primeiro desses dois aspectos ontológicos a natureza faz a
ensinar aos alunos da 5ª série (nomenclatura brasileira). Já o pro-
mediação entre si mesma e a natureza; e, sob o segundo aspecto
fessor do 1º ano do Ensino Médio deve defrontar-se com a mesma
ontológico - em virtude do fato de ser a atividade produtiva ine-
rentemente social - o homem faz a mediação ente si mesmo e os pergunta; a mesma situação se coloca ao professor universitário
demais homens. (Mészáros, 1981, p.77-78) encarregado de abordá-lo. Dessa forma, o docente deve preocu-
par-se em compatibilizar a seleção do conhecimento a ser ensina-
Sendo a mediação na sala de aula uma automediação, não po- do com a possibilidade de aprendizagem dos alunos. Nos dias de
demos abrir mão da relação direta entre professor e aluno. Desse hoje, é bastante comum que a seleção seja abrangente; e isso pode
modo, não podemos substituí-la por falsos mediadores, como por levar os professores a apresentarem aos seus alunos informações
exemplo, a exibição de filmes quando a temática não corresponde supérfluas, que, quando confundidas com conhecimento, não lhes
àquela tratada pelo professor, ou a execução aleatório de atividades permitem fazer as sínteses necessárias para a superação do cotidia-

430
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

no, produzindo neles uma “erudição balofa” que pode ao contrário das pedagogias contemporâneas em desenvolver esta associação.
encerrá-los na vida cotidiana. Esse equívoco ocorre, por exemplo, Do nosso ponto de vista, o que a psicologia, no seu estado atual,
quando o professor de História, ao abordar a Revolução francesa, pode fazer é controlar a aprendizagem, o que é diferente de com-
preocupa-se com detalhes da vida privada de Maria Antonieta ou preendê-la.
com a moda ditada por Luís XV. Ainda exemplificando, o mesmo
pode ocorrer com o professor de Literatura que expõe aos alunos Quando a relação ensino-aprendizagem é tomada na perspec-
os períodos literários e seus principais expoentes sem apresentar as tiva da mediação no seu sentido original, ao mesmo tempo em que
relações entre os autores, bem como entre os períodos literários, não há uma relação direta entre ensino e aprendizagem, não há
ocultando assim a historicidade inerente à literatura. também uma desvinculação desses dois processos. Ou seja, para
A erudição balofa pode também estar presente nas disciplinas haver aprendizagem, necessariamente deve haver ensino.
ligadas às ciências naturais; ela tem levado os professores a acredi- Porém, eles não ocorrem de modo simultâneo. Dessa forma, o
tar que quanto maior a quantidade de informações mais os alunos professor pode desenvolver o ensino – selecionar, organizar e trans-
sabem. mitir o conhecimento – e o aluno pode não aprender.
A segunda atividade desenvolvida pelo professor é a organiza- Para que o aluno aprenda, ele precisa desenvolver sua síntese
ção, ou seja, diante da seleção feita a partir de um tema é preciso singular do conhecimento transmitido, e isso se dá pelo confron-
organizar esta seleção para apresentá-la aos alunos. Desde o mo- to, por meio da negação mútua, desse conhecimento com a vida
mento em que fazemos a seleção já não podemos falar mais em te- cotidiana do aluno. Como cada aluno tem um cotidiano, e o co-
mas; devemos preocupar-nos com os conceitos que os constituem. nhecimento é aprendido por meio da síntese já explicitada, o co-
Agora o que o professor deve fazer é organizar os conceitos e as nhecimento não pode ser aprendido igualmente por todos os alu-
relações entre eles. Esse processo, de acordo com Lefebvre (1983), nos, embora aquele transmitido pelo professor seja único. Assim,
implica dois movimentos: a retrospecção e a prospecção. a relação ensino-aprendizagem na perspectiva aqui apresentada
A retrospecção permite que o estudante compreenda o pro- expressa o vínculo dialético entre unidade e diversidade. Por isso,
cesso de formação e desenvolvimento do conceito abordado e a o conhecimento transmitido pelo professor pode ser uno e aquele
prospecção possibilita o entendimento do estado atual do conceito aprendido pelo aluno pode ser diverso. A unidade e a diversidade
a partir das relações que o conceito estudado estabelece com ou- são opostos que se completam, ou e é próprio do humano.
tros, tanto com aqueles que o corroboram quanto com os que a
ele se opõem. A prospecção do conceito permite o estabelecimento
de relações interdisciplinares, a que temos chamado de interdisci- RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO
plinaridade conceitual para distingui-la daquela que é corrente na
escola, a interdisciplinaridade temática. Não podemos ensinar por Uma relação extremamente importante para qualquer estu-
meio do tema, devemos fazê-lo por meio do conceito. Evitamos o dante, independentemente da sua idade ou do seu grau de forma-
uso da expressão conteúdo de ensino em virtude da sua impreci-
ção, é aquela que se estabelece com o educador. Quando os profes-
são. Quando a organização do ensino é baseada nos processos de
sores e os alunos mantêm um bom relacionamento em sala de aula,
retrospecção e prospecção de conceitos, o fundamental são as re-
o aprendizado se torna mais eficiente e passa a existir um maior
lações que se estabelecem nos dois processos. No primeiro, elas
engajamento de ambas as partes.
dizem respeito ao desenvolvimento do conceito, à oposição entre a
Durante o momento de aprendizagem, todas as partes envol-
sua origem e o estado atual, no segundo, elas tratam dos vínculos
vidas trocam experiências, informações e conhecimentos. Sendo
entre conceitos. Assim, podemos afirmar que ensinar é fazer rela-
assim, a dinâmica flui melhor quando se mantém uma relação posi-
ções. Por isso, ensinar é tão difícil quanto aprender.
tiva, o que também contribui para se manter a motivação em sala.
A terceira tarefa do professor é transmitir aos alunos aqui-
lo que foi previamente selecionado e organizado. Dessa forma, a Como é a convivência entre professor e aluno em sala de aula?
transmissão é a única etapa do processo de ensino que ocorre efeti- Essa é uma pergunta essencial que educadores de todos os ní-
vamente na sala de aula. Em que pese o preconceito sobre a palavra veis de aprendizado devem se fazer. Afinal, ter uma boa convivência
transmissão, não abrimos mão dela, porque é isso o que o professor com os alunos, em vez de alimentar relações conflituosas e de ten-
faz na sala de aula. É na transmissão do conhecimento que ocorrem são, é uma ótima forma de garantir um ambiente saudável, muito
as mediações entre professores e alunos. mais propício ao aprendizado.
Se o ensino é a relação que o professor estabelece com o co- Salas de aula com brigas constantes, alunos desafiando a auto-
nhecimento, a aprendizagem ao contrário é a relação que o estu- ridade do professor a todo momento e intimidação definitivamente
dante estabelece com o conhecimento e, portanto, é nela que a não favorecem a convivência adequada entre professores e alunos.
mediação se efetiva: pela superação do imediato no mediato. Entretanto, muitas vezes essa tensão é intensificada pelo fato de
Não é possível discutir a aprendizagem como fizemos com o que os estudantes estão crescendo em um mundo globalizado, com
ensino, porque ela é de cunho singular e, dessa forma, ocorre de grande acesso às informações pela internet. Com isso, comumente
modo diverso em cada estudante. A discussão da aprendizagem os alunos assumem uma posição crítica, com opiniões pré-estabele-
na perspectiva deste texto, ou seja, em oposição ao ensino, ainda cidas e dispostos a se impor em uma argumentação.
deve ser elaborada e, certamente, não poderá sê-lo pela psicologia, Como estabelecer uma relação de confiança?
mas sim pela filosofia. A única possibilidade, ainda que remota no Para contornar esses desafios de convivência, é preciso estabe-
âmbito da psicologia, estaria no desenvolvimento do pensamento lecer uma relação de confiança entre alunos e professores. Quando
de Vigotski, desde que compreendido numa perspectiva filosófica, existe esse sentimento em sala de aula, os alunos têm mais disposi-
pois a psicologia como ciência tem por objeto o comportamento, e ção para aprender e os professores se sentem mais motivados para
aprender não é o mesmo que comportar-se, em que pese o esforço aprimorar seu processo didático.

431
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Comece pela transparência ao estabelecer critérios avaliativos.


Assim, seus alunos saberão exatamente o que esperar em relação às OS COMPONENTES DO PROCESSO DE ENSINO:
notas, aos esforços de estudo e ao desempenho geral. Além disso, OBJETIVOS, CONTEÚDOS, MÉTODOS, ESTRATÉGIAS
procure criar um ambiente em que seja possível questionar temas PEDAGÓGICAS E OS MEIOS
e aprender em conjunto, sem repreender perguntas e curiosidades,
por mais básicas que sejam. Os alunos devem se sentir confortáveis O planejamento de ensino possui componentes básicos que
para expressar suas dúvidas livremente de maneira que o seu de- são: os objetivos, o conteúdo, procedimento de ensino, recursos de
senvolvimento seja garantido. ensino e avaliação.
Uma boa alternativa é pensar em atividades interdisciplinares O objetivo é a descrição clara do que se pretende alcançar
e contextualizadas para os alunos. Isso porque o conteúdo passa a como resultado da atividade e são sempre do aluno e para o aluno.
fazer muito mais sentido para o estudante quando é entendido de Esses objetivos são divididos em educacionais e instrucionais. Os
forma contextualizada, o que contribui com a motivação em sala. objetivos educacionais são as metas e os valores mais amplos que a
escola procura atingir. Já os objetivos instrucionais são proposições
E o que fazer com conflitos de personalidade? mais específicas referentes às mudanças comportamentais espera-
Uma sala de aula sempre reúne vários tipos de personalidade, das para um determinado grupo-classe.
incluindo aí até mesmo a do professor. Alguns são mais tímidos, Segundo Piletti (1991), para manter a coerência interna do tra-
outros mais extrovertidos. Há aqueles que gostam de demonstrar balho de uma escola, o primeiro cuidado que devemos ter é sele-
conhecimento, os que buscam afirmação, bem como aqueles que cionar os objetivos instrucionais que tenham correspondência com
são extremamente inseguros ou possuem dificuldades específicas. os objetivos gerais das áreas de estudo que, por sua vez, devem
Sendo assim, como lidar com essa diversidade, uma vez que os con- estar coerentes com os objetivos educacionais do planejamento de
flitos são naturais da vivência em sociedade? currículo; e os objetivos educacionais, consequentemente, devem
Nesse contexto, é importante que o professor aja como um ver- estar coerentes com a linha de pensamento da entidade à qual o
dadeiro gestor de conflitos, a fim de estabelecer, da melhor forma plano se destina.
possível, um equilíbrio entre todas essas personalidades. No caso, O conteúdo refere-se à organização do conhecimento em si
repreender atitudes desrespeitosas, garantir voz aos alunos mais com bases nas próprias regras, além de abranger as experiências
tímidos e também estimular o convívio saudável entre eles passam educativas no campo do conhecimento, devidamente selecionadas
a figurar entre as tarefas do educador. e organizadas pela escola. Sendo assim o conteúdo é o instrumento
Essa ações são imprescindíveis para o crescimento pessoal de básico para se atingir os objetivos.
cada um, pois dessa maneira, eles poderão aprender como convi-
ver com as opiniões e os pensamentos diferentes dos seus. Todo Contudo alguns cuidados devem ser tomados em relação aos
aprendizado que começa em sala deve ser uma ponte para o conhe- conteúdos como:
cimento, assim como para a sua aplicação na vida de cada aluno. - o conteúdo selecionado precisa estar relacionado com os ob-
jetivos definidos. Devemos escolher os conhecimentos indispensá-
Pertencimento veis para que os alunos adquiram os comportamentos fixados;
Outra importante função do professor consiste em fomentar, - um bom critério de seleção é a escolha feita em torno de con-
dentro da sala de aula, o espírito de grupo e de pertencimento dos teúdos mais importantes, mais centrais e mais atuais;
alunos. Esse sentimento deve estar presente para estimular o en- - o conteúdo precisa ir do mais simples para o mais complexo,
gajamento dos estudantes nos estudos e também na vida social do mais concreto para o mais abstrato.
escolar como um todo. Isso pode ser feito por meio de atividades O procedimento de ensino são ações, processos ou comporta-
em grupo, discussões em sala e constante estímulo à cooperação. mentos planejados pelo professor para colocar o aluno em conta-
to direto com as coisas, fatos ou fenômenos que lhes possibilitem
Diálogo modificar sua conduta, em função dos objetivos previstos (TURRA,
Independentemente dos tipos de personalidade dos alunos, 1982).
é imprescindível que a relação seja permeada por muito diálogo. O professor, ao planejar sua aula, deve utilizar-se de técnicas
Assim, cada tarefa deve vir acompanhada de explicações sobre sua de ensino, que são maneiras específicas de provocar a atividade dos
importância e pertinência, fazendo com que o estudante compre- alunos durante o processo de aprendizagem. Ao planejar os proce-
enda seu propósito. Se surgirem desentendimentos, tem-se uma dimentos de ensino, não basta fazer uma listagem de técnicas que
brecha para, mais uma vez, esclarecer finalidades e papéis. É preci- serão selecionadas como aula expositiva, trabalho dirigido, entre
so ter sempre em mente que o diálogo é a melhor reposta para os outros, e sim o professor deve prever como utilizar o conteúdo se-
problemas em sala. lecionado com a finalidade de atingir os objetivos propostos.
Assim como é fundamental o bom relacionamento entre os Os procedimentos não são apenas uma coletânea de técnicas
alunos e o corpo docente, a relação entre os familiares e a escola isoladas. Eles têm uma abrangência mais ampla, pois envolvem
também é responsável pelo melhor aproveitamento do ensino. Isso todos os passos do desenvolvimento da atividade de ensino pro-
porque o processo de aprendizagem vai muito além da sala de aula priamente dita. Os procedimentos de ensino selecionados pelo pro-
e depende não apenas da escola, mas também da família. Pensan- fessor devem ser diversificados; estar coerentes com os objetivos
do nisso, preparamos um infográfico com dicas para melhorar o re- propostos e com o tipo de aprendizagem previsto nos objetivos;
lacionamento com os pais e responsáveis dos alunos.23 adequar-se às necessidades dos alunos; servir de estímulo à par-
ticipação do aluno no que se refere às descobertas e apresentar
desafios (PILETTI, 1991).
23 Fonte: www.somospar.com.br

432
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os recursos/meio de ensino são os componentes do ambiente Luckesi (1994) considera que os procedimentos de ensino ge-
da aprendizagem que dão origem à estimulação para o aluno e se ram consequências para a prática docente: para se definir procedi-
classifica em dois tipos: os recursos humanos e os recursos mate- mentos de ensino com certa precisão, é necessário ter clara uma
riais. proposta pedagógica; é preciso compreender que os procedimen-
Os recursos humanos são os professores, os alunos que são os tos de ensino selecionados ou construídos são mediações da pro-
colegas de outras classes, o diretor e outros profissionais que traba- posta pedagógica e metodológica, devendo estar estreitamente ar-
lham na escola, e a comunidade na qual a escola está inserida. Já os ticulados; se a intenção é que efetivamente a proposta pedagógica
recursos materiais são classificados em materiais do ambiente que se traduza em resultados concretos, tem-se que selecionar ou cons-
são os materiais naturais como água, folha, e os materiais escolares truir procedimentos que conduzam a resultados, ainda que parciais,
que são quadro, giz, Datashow. E os materiais da comunidade que porém complexos com a dinâmica do tempo e da história; ao lado
podem ser a biblioteca, lojas, indústrias, entre outros. da proposta pedagógica, o educador deve lançar mão dos conheci-
A avaliação é o processo pelo qual se determina o grau e a qua- mentos científicos disponíveis; estar permanentemente alerta para
lidade de resultados alcançados em relação aos objetivos propos- o que se está fazendo, avaliando a atividade e tomando novas e
tos, sempre considerando o contexto no qual o trabalho de apren- subsequentes decisões.
dizagem foi desenvolvido. No processo de ensino-aprendizagem, vários são os fatores
que interferem nos resultados esperados: as condições estruturais
Estratégias e métodos de ensino da instituição de ensino, as condições de trabalho dos docentes, as
A atividade docente é caracterizada pelo desafio permanente condições sociais dos alunos, os recursos disponíveis.
dos profissionais da educação em estabelecer relações interpesso- Outro fator é o de que as estratégias de ensino utilizadas pelos
ais com os educandos, de modo que o processo de ensino-apren- docentes devem ser capazes de sensibilizar (motivar) e de envolver
dizagem seja articulado e que os métodos utilizados cumpram os os alunos ao ofício do aprendizado, deixando claro o papel que lhe
objetivos a que se propõem. cabe.
No ensino superior nota-se de maneira acentuada que os
universitários, genericamente falando, buscam na formação uma O uso de formas e procedimentos de ensino deve considerar
oportunidade de ascensão social. Esse fator condiciona a postura que o modo pelo qual o aluno aprende não é um ato isolado, esco-
do aluno para uma conduta de interesse maior, senão quase ex- lhido ao acaso, sem análise dos conteúdos trabalhados, sem consi-
clusivo, nas disciplinas de formação específica, não compreenden- derar as habilidades necessárias para a execução e dos objetivos a
do, muitas vezes, a relevância das disciplinas de formação básica e serem alcançados.
A definição do uso de determinada estratégia de ensino-apre-
complementar.
dizagem considera os objetivos que o docente estabelece e as ha-
Dessa forma, o discente espera dos professores das disciplinas
bilidades a serem desenvolvidas em cada série de conteúdos. No
específicas uma atuação destacada, tendo-o como modelo profis-
entender de Pimenta e Anastasiou (2002, p. 195) “a respeito do
sional, esperando desses profissionais a transmissão dos conhe-
método de ensinar e fazer aprender (ensinagem) pode-se dizer que
cimentos e métodos necessários para um destaque na sua futura
ele depende, inicialmente, da visão de ciência, de conhecimento e
atuação no mercado de trabalho.
de saber escolar do professor”.24
A maneira pela qual o professor planeja suas atividades de sala
de aula é determinante para que o grupo de alunos de sua plateia
reaja com maior ou menor interesse e contribua no modo como a
aula transcorre. INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE
Para Petrucci e Batiston (2006, p. 263), a palavra estratégia es- DO CONHECIMENTO
teve, historicamente, vinculada à arte militar no planejamento das
ações a serem executadas nas guerras, e, atualmente, é largamente O papel da escola, mais precisamente do ensino e da educa-
utilizada no ambiente empresarial. ção, sempre foi e sempre será questionado através dos tempos.
Porém, os autores admitem que: Questionar-se-á não sobre a sua necessidade e importância na vida
[...] a palavra ‘estratégia’ possui estreita ligação com o ensino. dos indivíduos, uma vez que estes temas já foram amplamente dis-
Ensinar requer arte por parte do docente, que precisa envolver o cutidos e esgotados por diversos grupos durante a história. Ques-
aluno e fazer com ele se encante com o saber. O professor precisa tionar-se-á sempre se esta, a escola, tem servido ao seu papel so-
promover a curiosidade, a segurança e a criatividade para que o ciológico, propósito central, de “cunhar” indivíduos preparando-os
principal objetivo educacional, a aprendizagem do aluno, seja al- para se posicionarem como seres sociais integrados e adaptados
cançada. à convivência em grupo, à sociedade, agindo como participantes
Desse modo, o uso do termo “estratégias de ensino” refere-se no desenvolvimento do todo. Ainda, não somente como membros
aos meios utilizados pelos docentes na articulação do processo de destes grupos capazes de se interrelacionarem com seus entes, mas
ensino, de acordo com cada atividade e os resultados esperados. como membros qualitativos capazes de somar através de suas habi-
Anastasiou e Alves (2004, p. 71) advertem que: lidades e conhecimentos.
As estratégias visam à consecução de objetivos, portanto, há
que ter clareza sobre aonde se pretende chegar naquele momento
com o processo de ensinagem. Por isso, os objetivos que norteiam
devem estar claros para os sujeitos envolvidos – professores e alu-
nos – e estar presentes no contrato didático, registrado no Progra- 24 Fonte: www.portaleducacao.com.br/www.siteantigo.por-
ma de Aprendizagem correspondente ao módulo, fase, curso, etc. taleducacao.com.br

433
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Ao pontuarmos a escola, e suas responsabilidades, como algo pela compreensão multifacetada da realidade vivenciada do aluno.
focado na “formatação” de indivíduos para serem inseridos em Seria a instituição da relação dialógica real entre o professor e o
grupos sociais perceberemos, claramente, de que o desafio aqui aluno na construção do saber.
proposto para a escola é, indubitavelmente, complexo e dinâmico. Na construção deste currículo informal, mas real, extraído das
Dinâmico pelo fato de se estruturar sobre um conjunto de regras páginas da realidade do aluno Fazenda indica a necessidade da dis-
e padrões, os sociais, que se apresentam em constante mudança, solução das barreiras entre as disciplinas buscando uma visão inter-
reflexo do próprio processo evolutivo social de cada era na qual disciplinar do saber “que respeite a verdade e a relatividade de cada
se viverá; Complexo pelo fato de exigir de si mesma a necessidade disciplina, tendo-se em vista um conhecer melhor” (Fazenda,1992)
de capacitar o indivíduo a observar a sociedade, seus problemas, Surge então a necessidade de reformular o  modus operand
relacionamentos e saberes de uma forma dinâmica, interligada, iestabelecido através da re-análise das atuais temáticas e conse-
completamente dependente de causas e efeitos nas mais diversas qüentemente propondo uma visão horizontalizada para a analise e
áreas, do saber do conhecimento ao saber do relacionamento, per- pesquisa dos temas apresentados no dia-a-dia do discente surgem
mitindo assim, e somente assim, que estes possam ser formados a multidisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a transdisciplina-
com as habilidades necessários, acima descritas, para ocuparem ridade.
sua posição dentro desta sociedade.
Diante do entendimento da complexidade na qual estamos in- Multidisciplinaridade
seridos percebe-se a necessidade da implantação de um raciocínio A multidisciplinaridade é a visão menos compartilhada de to-
horizontalizado complementar para o estabelecimento do saber. O das as 3 visões. Para este, um elemento pode ser estudado por dis-
estudo dos problemas através de uma comunicação horizontalizada ciplinas diferentes ao mesmo tempo, contudo, não ocorrerá uma
se faz necessário no intuito de maximizar o “produto social final” sobreposição dos seus saberes no estudo do elemento analisado.
esperado das escolas, e mais do que isso, para a busca da democra- Segundo Almeida Filho (Almeida Filho, 1997) a idéia mais correta
tização real do conhecimento através da libertação do pensamento, para esta visão seria a da justaposição das disciplinas cada uma co-
da visão e do raciocínio crítico na formação do saber individual seja operando dentro do seu saber para o estudo do elemento em ques-
ele de quem for. tão. Nesta, cada professor cooperará com o estudo dentro da sua
própria ótica; um estudo sob diversos ângulos, mas sem existir um
rompimento entre as fronteiras das disciplinas.
Currículo e as disciplinas
Como um processo inicial rumo à tentativa de um pensamento
O questionamento se inicia ao analisarmos a estrutura atual na
horizontalizado entre as disciplinas, a multidisciplinaridade institui
qual estão inseridas as escolas e centros de pensamento crítico-cria-
o inicio do fim da especialização do conteúdo. Para Morin (Morin,
tivo, os centros de ensino superior. Umas das primeiras barreiras
2000) a grande dificuldade nesta linha de trabalho se encontra na
encontradas para a implantação de um pensamento horizontaliza-
difícil localização da “via de interarticulação” entre as diferentes
do na construção do conhecimento esta na estrutura do currículo.
ciências.É importante lembrar que cada uma delas possui uma lin-
Saviani [Saviani, 2003] é categórico quando apresenta os posi-
guagem própria e conceitos particulares que precisam ser traduzi-
cionamentos de autores como Apple e Weis sobre o currículo. Para
dos entre as linguagens.
estes o foco central na estruturação do currículo esta na concre-
tização do monopólio social sobre a sociedade através do campo Interdisciplinaridade
educacional. Apple prossegue afirmando que esta ferramenta será A interdisciplinaridade, segundo Saviani (Saviani, 2003) é indis-
estruturada através de regras não formalizadas que constituirão o pensável para a implantação de uma processo inteligente de cons-
que ele mesmo denominou de “currículo oculto”. trução do currículo de sala de aula – informal, realístico e integrado.
Berticelli (Berticelli, 2003) e Moreira e Silva (Moreira e Silva, Através da interdisciplinaridade o conhecimento passa de algo se-
1995)não destoam de Saviani ao indicar que o currículo é um local torizado para um conhecimento integrado onde as disciplinas cien-
de “jogos de poder”, de inclusões e exclusões, uma arena política. tíficas interagem entre si.
Na busca da prática da horizontalização do pensamento e do Bochniak (Bochniak, 1992) afirma que a interdisciplinaridade
estudo a presença do currículo como selecionador de conhecimen- é a forma correta de se superar a fragmentação do saber instituída
tos pré-definidos se constitui como uma ferramenta castratória que no currículo formal. Através desta visão ocorrem interações recípro-
limita o docente a mero reprodutor de conhecimento. São verda- cas entre as disciplinas. Estas geram a troca de dados, resultados,
deiros instrumentos que tolem o processo crítico-criativo necessá- informações e métodos. Esta perspectiva transcende a justaposição
rio ao entendimento contextualizado e multifacetado das proble- das disciplinas, é na verdade um “processo de co-participação, reci-
máticas presentes na vida real. procidade, mutualidade, diálogo que caracterizam não somente as
A presença do currículo formal como ferramenta norteado- disciplinas, mas todos os envolvidos no processo educativo”(idem).
ra do processo de ensino-aprendizado institui a fragmentação do
conhecimento trazendo ao discente uma visão completamente Transdisciplinaridade
esfacelada do item analisado e desta forma impossibilitando uma A transdisciplinaridade foi primeiramente proposta por Piaget
compreensão maior de mundo, de sociedade e de problemática es- em 1970 (PIAGET, 1970) há muitos anos, contudo, só recentemente
tudada. é que esta proposta tem sido analisada e pontualmente estudada
Em busca de uma solução Silva (Silva, 1999) propõe o abando- para implementação como processo de ensino/aprendizado.
no do currículo padrão, pré-definido utilizado atualmente, para a Para a transdisciplinaridade as fronteiras das disciplinas são
adoção do “currículo da sala de aula”. Este, construído no trabalho praticamente inexistentes. Há uma sobreposição tal que é impossí-
diário do docente e do seu relacionamento com o meio na busca vel identificar onde um começa e onde ela termina.

434
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

“a transdisciplinaridade como uma forma de ser, saber e abor- Vamos ver o que a LDB 9.394/96 fala sobre a avaliação?
dar, atravessando as fronteiras epistemológicas de cada ciência, Art. 24. V – a verificação do rendimento escolar observará os
praticando o diálogo dos saberes sem perder de vista a diversidade seguintes critérios:
e a preservação da vida no planeta, construindo um texto contextu- a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno,
alizado e personalizado de leitura de fenôminos”. (Theofilo, 2000) com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e
A importância deste novo método de analise das problemáticas dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas
sob a ótica da transdisciplinaridade pode ser constatada através da finais;
recomendação instituída pela UNESCO em sua conferência mundial Perceba que os aspectos abordados na lei não são notas, mas
para o ensino Superior (UNESCO, 1998). registros de acompanhamento das atividades alunos. A avaliação
Nicolescu (Nicolescu, 1996) formula a frase: “A transdisciplina- contínua e cumulativa demonstra que ela é diária, transparente,
ridade diz respeito ao que se encontra entre as disciplinas, através assim possui uma aparência diagnóstica. Os aspectos qualitativos
das disciplinas e para além de toda a disciplina”. A esta ultima colo- devem sobrepor os aspectos quantitativos.
cação entende-se “zona do espiritual e/ou sagrado”.
O indivíduo do terceiro milênio esta exposto a problemas cada Princípios da avaliação:
vez mais complexos. Estes podem estar ligados a própria comple- Integralidade: a avaliação deve perceber o estudante como um
xidade do inter-relacionamento dentro da sociedade humana ou todo, considerando todos os envolvidos no processo.
através do grau de especialização atingido pelo conhecimento cien- - Funcionalidade: relaciona a avaliação aos objetivos educacio-
tífico da humanidade. nais.
O fato é que o ser social deste novo milênio, caracterizado pela - Orientação: direciona a prática escolar. Ela não pode assumir
era da informação, do avanço tecnológico diuturno, da capacidade um caráter excludente.
de interconexão em rede e de outras propriedades que caracteri- - Sistematicidade: a avaliação deve ser muito bem planejada,
zam os paradigmas que constituem essa nova era, precisa encontrar integrando todo o trabalho educativo.
na escola, seu ente social para a formação, o aparato técnico-cientí-
fico-social capaz de o “cunhar” para a sua participação social. A avaliação é um processo contínuo, por isso deve ser projeta-
Diante de paradigmas tão dispares quanto os que são vivencia- da para acompanhar a aprendizagem, identificando as conquistas
dos hoje pela humanidade, a necessidade de se repensar o proces- diante do desenvolvimento real do aluno. Uma avaliação inicial traz
so de ensino-aprendizagem atual se faz necessário. Continuar com para o professor as características e o suporte necessário para que
o processo pedagógico-histórico atualmente instituído nas escolas ele possa desenvolver o planejamento de acordo com as caracterís-
e centros de estudo acadêmico é somente comparável com a gera- ticas de seus alunos.
ção de indivíduos, e consequentemente, de uma sociedade, intelec-
tualmente analfabeta e limitada.25 Segue abaixo, as principais características da avaliação escolar
conforme Libâneo:
- Reflete a unidade objetivos-conteúdos-métodos
- Possibilita a revisão do plano de ensino
AVALIAÇÃO ESCOLAR - Ajuda a desenvolver capacidades e habilidades
- Volta-se para a atividade dos alunos
A avaliação escolar é um componente do processo de ensino e - Deve ser objetiva
aprendizagem que busca comparar o que foi adquirido com o que - Ajuda na percepção do professor
se pretende alcançar. - Reflete valores e expectativas do professor em relação aos
Podemos dizer que a avaliação tem como objetivo diagnosticar alunos
como a escola e o professor estão contribuindo para o desenvolvi- Esse autor ainda nos traz como tarefas da avaliação a verifica-
mento dos alunos. ção, a qualificação e a apreciação qualitativa.
- Avaliação processual: é a avaliação continua. - Verificação: coleta de dados por meio de provas, exercícios e
- Avaliação pontual: é a avaliação de resultado. tarefas ou outros meios auxiliares.
Segundo Libâneo (2017) ao analisar os resultados obtidos, por - Qualificação: comprovação dos resultados alcançados e con-
meio da avaliação, percebe-se se os objetivos propostos foram al- forme o caso, atribuição de notas.
cançados para que o trabalho docente seja reorientado, logo a ava- - Apreciação Qualitativa: avaliação propriamente dita, referin-
liação é uma reflexão do processo educativo que abrange aluo e do-se aos padrões de desempenho esperados.
professor. Os dados coletados são mensurados em quantitativos e Muita atenção nas funções da avaliação (que mudam de acor-
qualitativos. do com alguns autores) e que sempre caem nas provas. O conceito
abaixo é um dos mais cobrados por nossas bancas examinadoras.
Avaliação quantitativo e qualitativo
- Avaliação quantitativo: é o que pode ser mensurado por meio Funções da avaliação
de nota e informações. Ela é classificatória. A avaliação apresenta três funções, sendo elas:
- Avaliação qualitativa: é o que não pode ser mensurável, ob- - Função diagnóstica: é realizada no início do processo para di-
serva-se o processo de ensino-aprendizagem de forma contínua e recionar o trabalho do professor. Nessa fase é estudado e levantado
global. os conhecimentos prévios dos alunos para que o professor possa
25 Baseado em “Ensinar a ensinar: didática para a escola funda- verificar como colocará em prática o seu planejamento, de forma a
mental e média” - Por Amélia Domingues de Castro, Anna Maria/ atender as características dos alunos.
www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/www.webartigos

435
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Função formativa ou processual: é realizada durante o proces- Ocorre em três fases:


so para acompanhar o desenvolvimento dos alunos. A função for- - Início: para sondar os conhecimentos.
mativa proporciona ao professor e aos estudantes as informações - Durante: para acompanhar o desenvolvimento dos professo-
necessárias para corrigir as possíveis falhas, estimulando todos a res e alunos.
continuarem o trabalho. Nessa fase encontra-se o famoso feedback - Final: para verificar o resultado do trabalho desenvolvido.
que reorienta os envolvidos em suas tarefas de forma positiva. Com essas informações o professor poderá propor modifica-
- Função somativa (classificatória): é realizada no final do pro- ções durante o processo de ensino e aprendizagem.
cesso, classificando os alunos quanto ao nível de desenvolvimento. Controle: está relacionada aos meios e a frequência das veri-
Esta fase oferece também as informações necessárias para o regis- ficações e de qualificação dos resultados escolares, permitindo o
tro das atividades que foram desempenhadas pelos alunos. diagnóstico das situações didáticas.
Essas três funções atuam de forma interdependentes, não po-
Em resumo, segue simplificação da visão apresentada acima: dendo ser isoladas!

Avaliação Diagnóstica Outros conceitos da avaliação escolar


- Realiza-se no início do curso, do ano letivo, do semestre/tri- Vamos conhecer um pouquinho mais sobre alguns fatores que
mestre, da unidade ou de um novo tema. envolvem a avaliação escolar e que não foram conceituados:
- Verifica pré-requisitos. A observação: é muito importante durante o acompanhamen-
to dos alunos. Com ela o professor pode modificar as dificuldades
Avaliação Formativa identificadas que influenciam a aprendizagem dos estudantes.
- Ocorre ao longo do ano letivo. A entrevista: ajuda e busca conhecer o aluno em seu desempe-
- Localiza deficiências/dificuldades. nho escolar. Contribui com as informações que o professor já tem,
tratando assim problemas mais específicos, esclarecendo dúvidas
Avaliação Somativa quanto às atitudes e hábitos de determinada criança.
- Classifica os alunos no fim de um semestre/trimestre, do cur- Existem também outras formas de avaliação que já caíram em
so, do ano letivo, segundo níveis de aproveitamento. concursos, vamos conhecer um pouquinho mais:
- Tem a função Classificadora (classificação final). Avaliação es- - Avaliação informal: faz parte do processo desenvolvido pelo
colar na visão dos principais autores. professor que consiste em elogios, castigos, ameaças entre outros
aspectos em que o educador traça sobre o perfil do aluno durante
Vejamos como alguns autores abordam sobre a avaliação: o processo de ensino. Para Freitas, esse tipo de avaliação consiste
O momento de avaliar é também para diagnosticar dificuldades na construção, pelo professor, “de juízos gerais sobre o aluno, cujo
e mostrar caminhos de superação. (ANDRADE 2014, p. 21). processo de constituição está encoberto e é aparentemente assis-
Nenhuma avaliação dá resultados absolutos, mas informações temático”.
sobre o que e como o aluno aprendeu. E a função da avaliação é - Avaliação formal: é formada por instrumentos específicos de
diagnosticar o processo de aprendizagem, não a capacidade do alu- avaliação como provas, trabalhos e tarefas organizadas. Compõe-se
no. (TAVARES, 2011, p. 108) das práticas “que envolvem o uso de instrumentos explícitos de ava-
O processo de avaliação tem início quando: São levantados os liação, cujos resultados podem ser examinados objetivamente pelo
conhecimentos prévios dos alunos. A partir disso é possível esta- aluno, à luz de um procedimento claro” (Freitas).
belecer objetivos e metas, escolher conteúdos e aplicar métodos.
(SANTOS, 2011, p. 106) O papel da avaliação na prática escolar
Tendo um ponto de partida, a avaliação torna-se auxiliadora, Que tal lembrarmos o papel da avaliação que está presente em
quantitativamente e principalmente qualitativamente, do processo cada prática pedagógica? Vamos para elas:
de ensino-aprendizagem em que progresso ou fracasso são impor- - Função da avaliação tradicional: é exercida de forma classifi-
tantes para se repensar as estratégias com vistas a auxiliar o desen- catória com memorização e reprodução através de provas e exer-
volvimento do aluno. (SANTOS, 2011, p. 106) cícios.
Assim sendo, a avaliar os alunos representa incluí-la no mun- - Avaliação – escola nova: há a valorização dos aspectos afeti-
do do conhecimento. Assim caracteriza-se o tipo de avaliação que vos. A auto avaliação está presente priorizando o desenvolvimento
é preparada para ensinar, reforçar o processo de aprendizagem, e individual do aluno.
não apenas para atribuir notas, medindo o que foi memorizado. - Avaliação – tecnicista: é analisada através do comportamento
(ANDRADE 2014, p. 21). desejado. Há o apego aos livros didáticos, a produtividade do aluno
Agora que já sabemos desses conceitos, vamos analisar as fun- com exercícios programados.
ções da avaliação escolar na perspectiva de José Carlos Libâneo que - Avaliação – libertária: não há uma avaliação dos conteúdos.
também é muito cobrado. - Avaliação – libertadora: busca a emancipação do grupo.
- Avaliação – histórico-crítica: existe a tomada de decisão para
Libâneo classifica a avaliação em três funções: a transformação da sociedade. Função diagnóstica.26
Pedagógico-didática: está relacionada ao cumprimento dos ob-
jetivos educacionais. Essa avaliação ajuda na compreensão acerca
do alcance dos objetivos educacionais.
Diagnóstica: apresenta os avanços e os problemas dos alunos
junto com a atuação do professor.
26 Fonte: www.pedagogiaparaconcurso.com.br

436
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Na atualidade alguns discursos tenham ganhado força na teoria


AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA E SUAS IMPLICAÇÕES da educação. Estes discursos e teorias, centrados na problemática
PEDAGÓGICAS educacional e na contradição existente entre teoria e prática pro-
duzem certas conformações e acomodações entre os educadores.
Prezado(a) candidato(a), o tema supracitado foi abordado Muitos atribuem a problemática da educação às situações as-
na matéria de “Fundamentos Teóricos E Metodológicos Do Ensi- sociadas aos valores humanos, como a ausência e/ou ruptura de
no Da Matemática”. valores essenciais ao convívio humano. Assim, como alegam des-
Não deixe de conferir! preparo profissional dos educadores, salas de aula superlotadas,
Bons estudos! cursos de formação acelerados, salários baixos, falta de recursos,
currículos e programas pré-elaborados pelo governo, dentre tantos
outros fatores, tudo em busca da redução de custos.
Todas essas questões contribuem de fato para a crise educa-
O PAPEL POLÍTICO DO ENSINAR E DO APRENDER. cional, mas é preciso ir além e buscar compreender o núcleo dessa
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA ESCOLA: problemática, encontrar a raiz desses fatores, entendendo de onde
CONCEPÇÃO, PRINCÍPIOS E EIXOS NORTEADORES eles surgem. A grande questão é: qual a origem desses fatores que
impedem a qualidade na educação?
A escola é um espaço educativo, o seu trabalho não pode ser Certamente a resposta para uma discussão tão atual como essa
pensado nem realizado no vazio e na improvisação. O projeto pe- surja com o estudo sobre as bases que compõem a sociedade atual.
dagógico que possibilita à escola inovar sua prática pedagógica, na Pois, ao analisar o sistema capitalista nas suas mais amplas esferas,
medida em que apresenta novos caminhos para as situações que descobre-se que todas essas problemáticas surgem da forma como
precisam ser modificadas. a sociedade está organizada com bases na propriedade privada, lu-
Definir o papel político que a escola exerce é de extrema im- cro, exploração do ser humano e da natureza e se manifestam na
portância quando discutimos sobre o Projeto Político-Pedagógico. ideologia do sistema.
A ação pedagógica é também política, pois visa formar cidadãos, Um sistema que prega a acumulação privada de bens de pro-
e esta ação será assumida no Projeto Político-Pedagógico, já que o dução, formando uma concepção de mundo e de poder baseada
mesmo oferece a identidade da escola. no acumular sempre para consumir mais, onde quanto mais bens
Quando se fala do papel da escola frente à sociedade não se possuir, maior será o poder que exercerá sobre a sociedade, acaba
pode esquecer que a escola cumpre seu papel dentro de uma so- por provocar diversos problemas para a população, principalmen-
ciedade que está historicamente situada, possuindo ideologias, te para as classes menos favorecidas, como: falta de qualidade na
relações de poder, divisões de classes sociais, modo de produção, educação, ineficiência na saúde, aumento da violência, tornando os
analisar o papel da escola dentro de uma determinada sociedade sistemas públicos, muitas vezes, caóticos.
implica reconhecer a educação como um ato político, pois suas Independentemente do discurso sobre a educação, ele sempre
ações possuem uma intencionalidade que reforçará o modo im- terá uma base numa determinada visão de homem, dentro e em
posto pela sociedade ou criará um espaço de construção de uma função de uma realidade histórica e social específica. Acredita-se
contra - ideologia. Ao conter em si uma concepção de sociedade, que a educação baseia-se em significações políticas, de classe. Frei-
de homem, de cultura e conhecimento, a educação essencialmente tag (1980) ressalta a frequente aceitação por parte de muitos estu-
afirma-se intencional, não existindo uma neutralidade no fazer pe- diosos de que toda doutrina pedagógica, de um modo ou de outro,
dagógico, pois a escola incorpora interesses ideológicos e políticos. sempre terá como base uma filosofia de vida, uma concepção de
[...]“Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor homem e, portanto, de sociedade.
que, por não ser neutra, minha prática exige de mim uma defini- Ainda segundo Freitag (1980, p.17) a educação é responsável
ção... Não posso ser professor a favor simplesmente do Homem ou pela manutenção, integração, preservação da ordem e do equilí-
da Humanidade, frase de uma vaguidade demasiado contrastante brio, e conservação dos limites do sistema social. E reforça “para
com a concretude da prática educativa.” (Freire 1996, p. 115). que o sistema sobreviva, os novos indivíduos que nele ingressam
precisam assimilar e internalizar os valores e as normas que regem
Função social da escola o seu funcionamento.”
A escola tem como função criar uma forte ligação entre o for- A educação em geral, designa-se com esse termo a transmissão
mal e teórico, ao cotidiano e prático. Reúne os conhecimentos com- e o aprendizado das técnicas culturais, que são as técnicas de uso,
provados pela ciência ao conhecimento que o aluno adquire em sua produção e comportamento, mediante as quais um grupo de ho-
rotina, o chamado senso comum. Já o professor, é o agente que mens é capaz de satisfazer suas necessidades, proteger-se contra a
possibilita o intermédio entre escola e vida, e o seu papel principal hostilidade do ambiente físico e biológico e trabalhar em conjunto,
é ministrar a vivência do aluno ao meio em que vive. de modo mais ou menos ordenado e pacífico. Como o conjunto des-
A escola, principalmente a pública, é espaço democrático den- sas técnicas se chama cultura, uma sociedade humana não pode so-
tro da sociedade contemporânea. Servindo para discutir suas ques- breviver se sua cultura não é transmitida de geração para geração;
tões, possibilitar o desenvolvimento do pensamento crítico, trazer as modalidades ou formas de realizar ou garantir essa transmissão
as informações, contextualizá-las e dar caminhos para o aluno bus- chama-se educação. (ABBAGNANO, 2000, p. 305-306)
car mais conhecimento. Além disso, é o lugar de sociabilidade de Assim a educação não alienada deve ter como finalidade a for-
jovens, adolescentes e também de difusão sóciocultural. Mas é pre- mação do homem para que este possa realizar as transformações
ciso considerar alguns aspectos no que se refere a sua função social sociais necessárias à sua humanização, buscando romper com o os
e a realidade vivida por grande parte dos estudantes brasileiros. sistemas que impedem seu livre desenvolvimento.

437
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A alienação toma as diretrizes do mundo do trabalho no seio A complexidade da educação como prática social não permite
da sociedade capitalista e no modo como esse modelo de produção tratá-la como fenômeno abstrato e natural, mas sim, imerso num
nega o homem enquanto ser, pois a maioria das pessoas vive ape- sistema educacional situado em uma dada sociedade e em um tem-
nas para o trabalho alienado, não se completa enquanto ser, tem po histórico determinado. A análise levada a efeito, neste texto,
como objetivo atingir a classe mais alta da sociedade ou, ao menos, propõe discutir, ainda que brevemente, sobre a corrente da psicolo-
sair do estado de oprimido, de miserável. Perde-se em valores e gia soviética autodenominada Históricocultural e sua contribuição
valorações, não consegue discernir situações e atitudes, vive para para a educação e busca responder ao seguinte questionamento:
o trabalho e trabalha para sobreviver. Sendo levado a esquecer de em quais aspectos a teoria histórico-cultural, elaborada no início do
que é um ser humano, um integrante do meio social em que vive, século XX por estudiosos soviéticos, implica na educação escolar da
um cidadão capaz de transformar a realidade que o aliena, o exclui. contemporaneidade no Brasil?
Há uma contribuição de Saviani (2000, p.36) que a respeito do A resposta para essa questão se dará mediante a dissertação
homem considera “(...) existindo num meio que se define pelas co- dos seguintes pontos: os aspectos sociais, históricos e culturais da
ordenadas de espaço e tempo. Este meio condiciona-o, determina- elaboração da teoria de Vigotski; a relação do pensamento e da lin-
-o em todas as suas manifestações.” Vê-se a relação da escola na guagem e sua função social; a formação dos conceitos espontâneos
formação do homem e na forma como ela reproduz o sistema de e científicos; e a relação entre trabalho, educação e práticas edu-
classes. cativas.
Para Duarte (2003) assim como para Saviani (1997) o trabalho Ao afirmarmos que não podemos discutir a educação alijada
educativo produz nos indivíduos a humanidade, alcançando sua fi- das questões que formam a sociedade, dialogamos com Gasparin
nalidade quando os indivíduos se apropriam dos elementos cultu- (2007, p. 1-2) que enfatiza que “a escola, em cada momento histó-
rais necessários a sua humanização. rico, constitui uma expressão e uma resposta à sociedade na qual
O essencial do trabalho educativo é garantir a possibilidade do está inserida. Nesse sentido, ela nunca é neutra, mas sempre ideo-
homem tornar-se livre, consciente, responsável a fim de concretizar lógica e politicamente comprometida. Por isso, cumpre uma função
sua humanização. E para issotanto a escola como as demais esfe- específica”, e tem sua função política.
ras sociaisdevem proporcionar a procura, a investigação, a reflexão, Esta citação nos remete à discussão da função da escola no pro-
buscando razões para a explicação da realidade, uma vez que é atra- cesso de formação do homem. Pela Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
vés da reflexão e do diálogo que surgem respostas aos problemas. cação Nacional (LDBEN) Lei nº 9394/96 (BRASIL, 1996, p. 1) a edu-
Saviani (2000, p.35) questiona “(...) a educação visa o homem; cação tem por finalidade o “pleno desenvolvimento do educando,
na verdade, que sentido terá a educação se ela não estiver voltada seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
para a promoção do homem?” E continua sua indagação ao refle- trabalho”. Para atingir a formação indicada pela legislação, partimos
tir “(...) uma visão histórica da educação mostra como esta esteve da ideia de que a escola tem um pressuposto teórico e filosófico
sempre preocupada em formar determinado tipo de homem. Os que determina sua dinâmica e seu desenvolvimento. Isto porque,
tipos variam de acordo com as diferentes exigências das diferentes temos o entendimento defendido por Duarte (2007) o qual seria
épocas. Mas a preocupação com o homem é uma constante.” impossível analisar histórica e criticamente a educação sem a fun-
Os espaços educativos, principalmente aqueles de formação de damentação em uma teoria que a sustente. Ao nosso ver, essa deve
educadores devem orientar para a necessidade da relação subjeti- definir a formação do indivíduo como um processo, em essência,
vidade-objetividade, buscando compreender as relações, uma vez histórico e social. Ao nos posicionarmos desta forma, justificamos
que, os homens se constroem na convivência, na troca de experi- a escolha da base teórica e anunciamos a importância do aprofun-
ências. É função daqueles que educam levar os alunos a romperem damento nos aspectos históricos em que se originou e como ela se
com a superficialidade de uma relação onde muitos se relacionam desenvolve na contemporaneidade educacional do início do século
protegidos por máscaras sociais, rótulos. XXI.
A educação, vista de um outro paradigma, enquanto mecanis-
mo de socialização e de inserção social aponta-se como o caminho Vigotski e a Teoria Histórico-Cultural
para construção da ética. Não usando-a para cumprir funções ou A teoria Histórico-Cultural é uma corrente da psicologia so-
realizar papéis sociais, mas para difundir e exercitar a capacidade de viética de base materialista que parte do entendimento de que o
reflexão, de criticidade e de trabalho não-alienado. homem é um ser histórico e social e que, pelo processo de apren-
(...) sem ingenuidade, cabe reconhecer os limites impostos pela dizagem e desenvolvimento, participa da coletividade. A teoria foi
exploração, pela exclusão social e pela renovada força da violência, elaborada pelo pensador russo Vigotski com a colaboração de seus
da competição e do individualismo. Assim, se a educação e a ética compatriotas Leontiev4 (1904-1979) e Luria5 (1902-1977).
não são as únicas instâncias fundamentais, é inegável reconhecer 4 Alexei
que, sem a palavra, a participação, a criatividade e apolítica, muito Lev Semyonovich Vygodsky6 nasceu em 05 de novembro de
pouco, ou quase nada, podemos fazer para interferir nos contextos 1896 em Orsha, cidade provinciana da Bielo-Rússia e faleceu em 11
complexos do mundo contemporâneo. Esse é o desafio que diz res- de junho de 1934, em decorrência de complicações causadas pela
peito a todos nós. (RIBEIRO; MARQUES; RIBEIRO 2003, p.93) tuberculose. Sua vida foi muito breve, mas, em seus 37 anos teve
A escola não pode continuar a desenvolver o papel de agência uma singular contribuição para a compreensão da natureza huma-
produtora de mão de obra. Seu objetivo principal deve ser formar o na e seu desenvolvimento.
educando como homem humanizado e não apenas prepará-lo para De acordo com Blanck (1996), a produção intelectual do insig-
o exercício de funções produtivas, para ser consumidor de produ- ne psicólogo apresenta mais de 180 trabalhos e alguns manuscritos
tos, logo, esvaziados, alienados, deprimidos, fetichizados.27 importantes os quais ainda não foram publicados. Seus estudos tra-
duzidos e ou interpretados são fontes de consultas de pesquisado-
27 Fonte: www.webartigos.com res das diversas áreas das ciências humanas, em principal: da psico-

438
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

logia e da educação. É necessário evidenciar que não é possível se Conforme Blanck (1996) e Van Der Veer e Valsiner (2006), Vi-
apropriar da teoria descontextualizada do tempo em que ele viveu gotski casou-se em 1924 com Rosa Noevna Smekhova7. Foi nesse
e os fatos históricos que vivenciou tais como a revolução popular ano que participou do II Congresso de Psiconeurologia de Leningra-
contra o czar (1905); a crise social (1905-1917); a Revolução Russa do, marco importante em sua vida profissional, porque determina
(1917-1929); a morte de Lênin (1924); e, o início da ditadura de a segunda fase da sua produção biográfica. Nesse mais importante
Stalin (1929). Vigotski nasceu em uma família judia de boa instru- evento da Rússia, estavam presentes Luria e Kornilov, diretor do Ins-
ção e situação financeira favorável para uma excelente formação. tituto de Psicologia de Moscou. Em pouco tempo, Kornilov, suficien-
De acordo com Van Der Veer e Valsiner (2006) e Blanck (1996) foi o temente impressionado com a genialidade de Vigotski, convida-lhe
segundo filho de uma família de oito irmãos. Com um ano de idade, para ingressar ao Instituto como pesquisador. Em algumas sema-
mudou-se para Gomel, localizada no sudoeste da Bielo-Rússia.Tinha nas, ele e sua família se estabelecem em Moscou.
acesso à boa biblioteca e estudou até 15 anos com tutores particu- Na literatura, podemos identificar que é nesse momento que
lares. Blanck (1996) relata que com essa idade ele era chamado de Vigotski se associa à Luria e Leontiev para iniciar sua teoria revolu-
“pequeno professor”, porque realizava debates e estudos com seus cionária:
amigos. Foi nessa época que teve contato e interesse pelas ideias de [...] Na manhã seguinte de sua chegada, ele se reuniu com Luria
Karl Marx (1812-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). e Leontiev para planejar um projeto ambicioso que contrastava no-
Após os quinze anos de instrução com professores particulares, tavelmente com a posição modesta de assistente de segunda classe
Vigotski foi um dos melhores alunos do Gymnasium judeu particu- com a qual Vygotsky iniciava sua carreira: a criação de uma nova
lar de Gomel. Em 1913, aos 17 anos já tinha concluído os estudos psicologia. [...] Foi assim que a famosa troika Vygotsky – Luria –
básicos com medalha de ouro. Devido à sua religião, essa láurea, Leontiev foi formada, com Vygotsky assumindo a liderança natu-
era o seu acesso ao ensino universitário, já que apenas três por ral. Cada um dos principais conceitos de psicologia cognitiva foram
cento dos estudantes podiam ser judeus. Todavia, Vigotski precisou revisados radicalmente. No início, eles reuniram-se duas vezes por
mais do que capacidade para entrar na universidade, precisou de semana no quarto de Vygotsky para organizar as pesquisas neces-
sorte, porque: sárias ao desenvolvimento de suas idéias. Em cerca de dois anos
[...] quando Vygotsky estava fazendo seus exames, o ministro a eles se agregaram estudantes como Alexandre Zaporovhets, Liya
da educação divulgou uma circular declarando que estudantes ju- Slavina, Lidia Bozhovich, Natália Morova e Rosa Levina. Os ‘oito’,
deus deveriam ser matriculados por sorteio. Esse foi um golpe vio- como eles eram chamados por seus colegas, encontravam-se no
lento para Vygotsky, cuja medalha de ouro tornara-se praticamente apartamento de uma peça da rua Bolshaya Serpukhova, onde Vy-
sem valor. Por sorte, ele foi um dos poucos felizardos e começou gotsky passara a viver, e onde passaria o resto de sua vida. Mais
a estudar na Universidade de Moscou (VAN DER VEER; VALSINER, tarde, eles continuariam suas investigações no laboratório da Aca-
2006, p. 19). demia Krupskaya, sob a direção de Luria (BLANCK, 1996, p. 38).
O contexto histórico em que estava inserido exigia uma revolu-
O objetivo da mudança no critério de seleção era de diminuir
ção na forma de entender e desenvolver seu país. A União Soviética
a qualidade dos estudantes judeus nas melhores universidades, já
apresentava sérios problemas sociais, entre eles, a educação. Havia
que a cota de três por cento estava mantida. Sobre esse dado bio-
nesse momento histórico pós-revolução um alto índice de analfa-
gráfico Blanck (1996) relata que Vigotski, favorecido pela boa sorte,
betismo, e ainda, o descaso com as pessoas com deficiência. O ob-
ingressou no curso de medicina. A escolha foi determinada por in-
jetivo de Vigotski e seus colaboradores era construir uma psicologia
fluência de seus pais. Com um mês de estudos trocou pelo Direito
marxista para atender e solucionar as contradições sociais. A psico-
formando-se em 1917, e ainda se formou em História e Filosofia.
logia burguesa não apresentava condições de superar e revolucio-
Vygotsky estava interessado em estudar história ou filologia,
nar o status quo. Aceitá-la seria negar a revolução e o comunismo.
mas estas áreas de estudo o levariam a uma carreira de professor, Era necessário criar um novo conceito de homem para uma nova
e como judeu ele não poderia ser um empregado do Estado. Con- sociedade.
sequentemente, ingressou no curso de medicina, uma opção enco- De acordo com Tuleski (2008, p. 91) a nova compreensão da
rajada por seus pais por garantir uma vida profissional modesta, especificidade humana precisaria ser comprovada cientificamente,
porém segura. Depois de um mês; todavia, transferiu-se para a pois não se reduzia a noções subjetivistas ou mecanicistas. A nova
escola de direito, uma opção mais adequada a seus interesses nas psicologia deveria tratar a “relação homem e natureza de uma pers-
humanidades. Ironicamente, anos mais tarde, já como um psicólo- pectiva histórica, na qual o homem fosse produto e produtor de si e
go renomado, Vygotsky entrou uma vez mais na escola de medicina da própria natureza”. Em outras palavras, era necessária a negação
como um modesto estudante de primeiro ano. A vida é uma estrada das bases filosóficas empregadas até então, para a compreensão do
com muitas curvas (BLANCK, 1996, p. 34). indivíduo como um ser histórico, complexo e dinâmico. A presença
O preconceito que sua origem judaica sofreu esteve presente de Marx é o determinante para a elaboração de uma teoria sobre
em muitos momentos da vida de Vigotski, entre eles: na obrigato- essa temática, em principal, pela visão de totalidade e síntese de
riedade de viver no Território de Assentamento durante o gover- homem. Mas, não intentava utilizar-se do método existente e adap-
no czarista; no ingresso à universidade e na escolha e exercício da tar às condições da sociedade, o objetivo era empregar a metodo-
profissão. Em relação à formação profissional como trazemos no logia marxista para desenvolver uma nova psicologia. Os interesses
texto supracitado, a opção inicial não era viável porque na época, da troika e de seus colaboradores parece-nos explícitos na seguinte
professores judeus não tinham permissão para serem funcionários passagem das Obras Escogidas, tomo 1:
públicos, restaria então lecionar no Gymnasium judeu particular, Não se trata de adaptar o indivíduo ao sábado, mas sim, o sá-
o mesmo em que ele tinha se formado. Enquanto que o curso de bado ao indivíduo; o que necessitamos encontrar em nossos autores
Direito poderia possibilitar sua mudança para fora do Território de é uma teoria que ajude a conhecer a psique, mas em modo algum
Assentamento onde morava. a solução do problema da psique, a fórmula que fecha e resume a

439
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

totalidade da verdade científica. [...] O que se pode buscar previa- Projeto Político-Pedagógico
mente nos mestres do marxismo não é a solução da questão, e nem O Projeto Político-Pedagógico (PPP) é uma ferramenta primor-
sequer uma hipótese de trabalho (porque esta se obtém sobre a dial na organização e no direcionamento do ano letivo. Administrar
base da própria ciência), mas o método de construção. [...] o que eu uma instituição escolar requer conhecimento, tempo, colaboração
quero é aprender a totalidade do método de Marx, como a ciência é e planejamento de uma série de pessoas envolvidas com o ambien-
construída, a forma de abordar a análise da psique. [...] O que falta te educacional.
não são opiniões pontuais, mas um método: e não o materialismo Tudo isso, porém, tem grandes chances de acabar se voltando
dialético, mas o materialismo histórico (VYGOTSKI, 1997, p. 390- para a figura central da direção: o diretor ou gestor escolar.
391, grifo do autor, tradução nossa). O problema é que os diretores já realizam inúmeras tarefas,
É possível estabelecermos, por meio dessa citação, duas con- como lidar com fornecedores e parceiros da instituição, por exem-
dições essenciais para compreender a complexidade em que esses plo. Além também de lidar com o corpo docente e até com os res-
pensadores pretendiam estruturar a nova teoria. Sinalizamos como ponsáveis pelos alunos e interessados na matrícula. Tudo isso pode
primeira, a clareza de que não bastava utilizar-se de uma metodo- acabar sobrecarregando-o e, na ausência de um planejamento sóli-
logia que adaptasse á ideia, o interesse vogava em estruturar uma do, revelar-se como algo muito prejudicial.
teoria, que obedecesse o conjunto do método de análise do fenô-
meno. E para isso, eis aqui a segunda, o materialismo dialético, por O que é o Projeto Político Pedagógico?
buscar compreender os fenômenos naturais e sociais em termos da Em termos gerais, trata-se de um documento que norteia as
lógica dialética do filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel bases de ações da instituição. Ele assumirá as diretrizes da institui-
(1770-1831), seria incompleto. Faltava a essência da tese marxis- ção como compromisso de gestão escolar participativa. Esse docu-
ta, a qual estabelece que a história da humanidade é impulsionada mento tem uma longa história. Simultaneamente, tem comprovada
pelos avanços tecnológicos (meios para a produção de bens mate- importância para o bom desenvolvimento das diretrizes de educa-
riais) e pelas mudanças na organização social, política e econômica. ção.
Portanto, como afirma Duarte (2007, p. 79) “para se compreender A partir da década de 1980 o Fórum Nacional em Defesa da Es-
o pensamento de Vigotski e sua escola é indispensável o estudo dos cola Pública iniciou um processo que pudesse instituir uma gestão
fundamentos filosóficos marxistas dessa escola psicológica”. democrática no ensino. Isto proporcionou uma autonomia escolar.
É inevitável pesquisar sobre Vigotski e não referenciar a ques- Além de ter gerado diversas consequências positivas, como a Lei de
tão pontual sobre as apropriações neoliberais e pós-moderna da Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996.
teoria vigotskiana que entre outros aspectos cruciais exclui a con- De acordo com os artigos 12 a 14 da LDB, a escola tem auto-
cepção marxista da teoria, a qual tem como princípio fundamental nomia para determinar qual será o seu PPP e a estrutura que será
do ser social, o trabalho. Essa corrente teórica nega a existência seguida. O documento é encaminhado posteriormente para a se-
de uma cultura de valor universal e retira da escola sua função de cretaria de ensino e deverá ser revisado pela instituição de ano em
transmitir e garantir a apropriação da cultura pelos indivíduos e ano.
TÍTULO IV
que, por conta de sua ideologia, secundariza o papel do professor
DA ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NACIONAL
nesse processo.
Isto posto, evidenciamos a importância de se conhecer o con-
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas
texto da produção de uma teoria; pois assim, entendemos o todo
comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:
maior da qual ela faz parte. Ao percebermos que o momento pes-
I – elaborar e executar sua proposta pedagógica;
soal de elaboração da teoria era de pós-revolução e que para o
II – administrar seu pessoal e seus recursos materiais e finan-
homem daquela época era imprescindível à apropriação do saber,
ceiros;
compreendemos a importância que a teoria vigotskiana atribui à
III – assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula es-
apropriação do indivíduo, da experiência histórica e social e, dos tabelecidas;
conhecimentos produzidos e acumulados historicamente pela hu- IV – velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada do-
manidade. cente;
A escola tem papel fundamental na formação dos intelectuais, V – prover meios para a recuperação dos alunos de menor ren-
é nela que se transmite cultura. A classe dominada precisa desse dimento;
espaço de formação cultural. Neste caso, com o entendimento de VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando pro-
cultura como instrumento pela transformação social, formar indiví- cessos de integração da sociedade com a escola;
duos que fazem a distinção entre o senso comum e a “filosofia da VII – informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o ren-
práxis”. Cidadãos que consigam, conforme Kosik (2002), compreen- dimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta
der e destruir o mundo da pseudoconcreticidade. pedagógica;
Para finalizar, trazemos Saviani (2003, p. 88) que ao analisar a VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município a relação dos
dimensão política da educação e a dimensão educacional da polí- alunos que apresentem quantidade de faltas acima de 30% (trinta
tica, conclui que “[...] a importância política da educação reside na por cento) do percentual permitido em lei; (Redação dada pela Lei
sua função de socialização do conhecimento. É realizando-se na es- nº 13.803, de 2019)
pecificidade que lhe é própria, que a educação cumpre sua função IX - promover medidas de conscientização, de prevenção e de
política”. Em síntese, ela só poderá desenvolver sua função política combate a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação
de humanização se fundamentar sua prática na sua função peda- sistemática (bullying), no âmbito das escolas; (Incluído pela Lei nº
gógica de promover o ensino e a apropriação dos conhecimentos 13.663, de 2018)
elaborados e acumulados pela sociedade.

440
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz O que ele deve conter?
nas escolas. (Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018) Em princípio, o PPP deve conter as informações gerais que
XI - promover ambiente escolar seguro, adotando estratégias identificam a escola. É essencial, também, que descreva a missão,
de prevenção e enfrentamento ao uso ou dependência de drogas. caracterização da clientela, informações sobre a aprendizagem, re-
(Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) cursos, composição do corpo administrativo e docente, composição
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: do conselho de pais e mestres, e planos de ação estratégicos.
I – participar da elaboração da proposta pedagógica do estabe- Deve reunir, ainda, outras informações igualmente importan-
lecimento de ensino; tes, como a forma de avaliação dos alunos, os projetos que serão
II – elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta desenvolvidos ao longo do ano, temas geradores de debates e as
pedagógica do estabelecimento de ensino; aulas ou redes temáticas para serem desenvolvidas nas aulas minis-
III – zelar pela aprendizagem dos alunos; tradas pelos professores.
IV – estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de Como complemento, deve conter o método de ensino, os no-
menor rendimento; mes dos autores em que se baseia o processo de aprendizagem,
V – ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de qual o modelo pedagógico da escola e como esse trabalho será de-
participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, senvolvido por ela. Ou seja, o PPP vai desenvolver tanto uma ava-
à avaliação e ao desenvolvimento profissional; liação geral da educação, como as etapas a serem seguidas durante
VI – colaborar com as atividades de articulação da escola com o ano.
as famílias e a comunidade. Importante lembrar que o Projeto Político-Pedagógico da es-
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão cola é um guia para a execução das atividades e deve manter a
democrática do ensino público na educação básica, de acordo com flexibilidade necessária para lidar com imprevistos. Além disso, é
as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: relevante conter os métodos da escola para gerenciamento de cri-
I – participação dos profissionais da educação na elaboração do ses e especificações para lidar com eventuais problemas que são
projeto pedagógico da escola; possíveis de serem previstos.
II – participação das comunidades escolar e local em conselhos Basicamente, o Projeto Político Pedagógico vai reunir sete
escolares ou equivalentes. itens, que podem ser divididos em capítulos da seguinte forma.
O nome se refere aos planos de ações futuros que a escola pre-
tende executar quanto às situações apresentadas, seja em curto, 1. Identificação da escola
médio ou longo prazo. Outro ponto são as diretrizes políticas, par- Nessa parte inicial, devem constar os dados gerais sobre a es-
tindo do princípio que o ambiente forma cidadãos conscientes de cola, tais como CNPJ, endereço, entidade mantenedora, nome do
suas responsabilidades. E por fim com a parte acadêmica, mostran- diretor e do coordenador pedagógico, membros da equipe de ela-
do quais serão os recursos necessários para suprir essa demanda. boração do PPP, além da caracterização: se a escola atende ao en-
sino fundamental, médio e/ou técnico, horários de atendimento,
Por que esse documento é necessário? turnos etc.
O PPP vai contemplar todo o trabalho desenvolvido na insti- A identificação da escola é essencial, visto que o Projeto Polí-
tuição ao longo do ano letivo. Ele é o norte, a direção a seguir, e, tico-Pedagógico é um documento oficial que deverá ser registrado
por isso, deve ser elaborado de acordo com a realidade da escola. na Secretaria de Educação da unidade federativa da escola. Logo, é
Posteriormente é necessário ver a realidade da comunidade na qual parte integrante dos requisitos mínimos para a validade do docu-
ela está inserida. O objetivo é garantir que ele seja útil e possa servir mento.
a seu propósito.
É fundamental que o PPP seja anualmente atualizado para que 2. Missão
possa ser mantido vivo dentro da instituição, pois é a partir dos indi- A missão se refere aos valores e princípios sobre os quais a
cadores trazidos por ele que a escola terá a consciência empresarial escola se baseia. Essa parte do documento pode iniciar com um
da verdadeira necessidade de determinar e executar um plano de histórico da instituição, desde a sua fundação, por quais mudanças
ação que lhe traga reais vantagens. Entretanto, infelizmente, é co- passou, entre outras informações relevantes que reforcem as suas
mum vê-lo engavetado e tornando-se um instrumento meramente diretrizes.
burocrático. A missão em si costuma se resumir a uma frase que designa o
Uma situação comum que merece atenção é que os indicado- objetivo primário da instituição, considerando o modelo pedagógi-
res precisam servir para identificar os problemas e trabalhar em so- co utilizado e o que se deseja alcançar em relação aos alunos, co-
luções. Quer dizer, a escola precisa saber o que fazer com os dados munidade e própria equipe.
que consegue obter para chegar em melhores resultados. Como os valores e princípios tendem, ao longo do tempo, a se
Uma escola que pretende proporcionar uma educação eficien- consolidar, essa é uma parte do PPP que não precisa ser reajustada
te e de qualidade deve ter a consciência da importância que o PPP anualmente — a não ser que a escola passe por mudanças significa-
tem. É um caminho flexível e que se adapta às necessidades que os tivas em sua missão naquela comunidade. No entanto, não se deve
alunos e a própria instituição apresentam e pode ajudar bastante engessar a instituição com base no seu histórico, pois toda escola
na tomada de decisões estratégicas. precisa estar aberta a evolução e melhorias.

441
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

3. Contexto 7. Plano de ação


O contexto no qual a escola está inserida influencia diretamen- Por último, mas não menos importante, entra o plano de ação.
te no seu PPP. Conhecer a realidade no seu entorno é fundamental O PPP deve conter as propostas de ações que serão executadas para
para definir metas e objetivos do projeto. É preciso ter um panora- que a instituição alcance seus objetivos e metas. Qual o caminho
ma da comunidade, e isso envolve a análise de dados e pesquisa que será percorrido para que, no final do ano, haja 100% de aprova-
de campo demográfica, assim como colher informações relevantes ção, por exemplo. Ou que índices de qualidade precisam superados,
entre os próprios alunos. são exemplos dessa reflexão.
A equipe de elaboração do PPP pode, por exemplo, fazer um O conjunto desses dados é que vai determinar quais são os
levantamento de informações básicas, utilizando as fichas de ma- caminhos que a instituição pretende seguir e os prazos que serão
trícula dos alunos e, a partir daí, elaborar uma pesquisa para obter estipulados para isso. O documento deve ficar disponível para as
informações mais específicas, como a situação socioeconômica das pessoas que participaram e na incumbência dos diretores de com-
famílias e da comunidade ao redor. pilar os dados e concluir essa documentação.
É o momento, também, de firmar compromisso com as famí-
lias, deixando claro o que a escola tem a oferecer e o que espera Como elaborar o PPP?
da comunidade escolar. Isso também fornece importantes infor- Para que o Projeto Político-Pedagógico tenha a eficiência de-
mações para eventuais ações de marketing educacional e subsídios sejada para o desenvolvimento da escola, é preciso saber de que
para lidar melhor com questões externas. forma deve ser elaborado. Ou seja, quais as melhores práticas que
devem ser adotadas.
4. Indicativos sobre aprendizado
Essa parte do documento interessa diretamente aos pais, que Conhecimento regional
procuram indicativos para saber de que qualidade é o ensino na Toda escola nasce com o propósito de instruir e formar cida-
instituição. Portanto, entram nesse tópico o número atualizado de dãos dentro da comunidade que está sendo inserida. Sendo assim,
alunos na escola (total e por segmento), as taxas de reprovação, a é imprescindível que seja feita uma análise dos motivos da existên-
média de notas, o desempenho nas avaliações governamentais, os cia de uma instituição de ensino naquele ambiente.
prêmios recebidos (quando houver) entre outros. A equipe escolar deve verificar se a comunidade é carente ou
Os indicativos sobre aprendizado são igualmente importantes não. Isto é, qual o poder aquisitivo das famílias, assim como os cos-
para delimitar planos de ação da gestão escolar e pedagógica da tumes, moradias, enfim! Tudo que indique o contexto socioeconô-
instituição de ensino. Com base neles, é possível verificar o que é mico do entorno da escola.
passível de melhora, as áreas de risco e os campos de incentivo, por Estando isso claro, passa a ser observado qual o contexto so-
exemplo. cial que aquela instituição pode proporcionar à comunidade que
se encontra. Os objetivos estratégicos devem ter total clareza para
5. Recursos que a instituição consiga alcançá-los, considerando ainda prazos de
Os recursos, nesse caso, não se referem apenas às questões e implantação.
métricas financeiras. Esses podem estar citados, mas o importante
são os recursos humanos, ou seja, quantos e quem são os profes- Participação colaborativa
sores e demais funcionários, qual a infraestrutura da escola e os Na teoria, esse documento deveria ser elaborado por todos
recursos tecnológicos para atender à necessidade de aprendizado que contribuem para o crescimento e desenvolvimento da institui-
dos alunos. ção. Ou seja: pais, mestres, coordenação, diretoria etc. Isso aconte-
Isso ajuda no mapeamento de alocação de recursos e nas for- ce naturalmente em uma gestão participativa.
mas de otimizar os gastos. É possível, por meio desse tópico, tornar Infelizmente, é comum muitos gestores optarem pela elabo-
os gastos e despesas mais eficientes, planejar melhor as compras, ração por meio de consultores externos ou cópias compradas de
ser mais eficaz na construção dos horários de aulas etc. outros estabelecimentos estudantis. O ideal seria que sua execução
fosse algo colaborativo. Por mais que a escola tenha a autonomia
6. Diretrizes pedagógicas de fazer o que acha necessário dentro da construção desse docu-
Aqui são detalhadas as diretrizes da escola, tais como o mode- mento. Isto é, de responsabilidade de várias pessoas e de diferentes
lo pedagógico: tradicional, democrático, construtivista etc. Deve-se competências e atribuições.
explicar o que está previsto no currículo para cada nível ou etapa
escolar, o que permite uma construção mais sólida da estrutura pe- Plano de ação a partir da matrícula
dagógica da instituição. Vários indicadores podem ser formulados a partir do momento
Cabe lembrar que a base curricular é nacional, porém, devido em que a matrícula é efetivada. Esses dados, por conseguinte, serão
às características regionais, cada instituição também tem liberdade muito úteis na confecção do Projeto Político-Pedagógico da escola.
para construir sua grade de disciplinas e focar mais ou menos em Por meio da matrícula, a escola consegue mapear a localização
determinados temas. Nessa hora, a participação dos professores de dos alunos para prever, por exemplo, se pode ou não ocorrer eva-
cada área na elaboração do documento é fundamental, com coor- são escolar e quais as ferramentas necessárias para controlar isso.
denações atuantes. Além disso, o plano de ação pode lidar com a potencial ina-
dimplência escolar, ao já estabelecer meios e táticas para melhor
cobrança. Aqui entram as diversas estratégias usadas para aumen-
tar a adimplência.

442
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Quais os erros comuns na elaboração e execução do PPP? A construção do Projeto Político Pedagógico – PPP, pelas Insti-
Infelizmente, muitas escolas não dão o devido valor ao Projeto tuições Educacionais é uma necessidade sem precedência, disposto
Político-Pedagógico e cometem erros repetidamente. na Lei de Diretrizes e Bases - LDB nº 9.394/96, especificamente nos
1. Copiar o PPP de outra instituição artigos 12, 13, e 14.
Quando o gestor não tem ideia de como elaborar o PPP, parece Pensar no processo de construção de um projeto político-pe-
fácil usar outro como base. É comum fazer pequenas modificações, dagógico requer uma reflexão inicial sobre seu significado e impor-
como a identificação da escola, por exemplo. tância. Vamos verificar como a LDB ressalta a importância desse
A elaboração de um Projeto Político-Pedagógico, ainda que instrumento:
possa se valer de um modelo, deve ser específica e construída para No artigo 12, inciso I, que vem sendo chamado o “artigo da
a escola e sua comunidade. O objetivo é garantir melhores resulta- escola” a Lei dá aos estabelecimentos de ensino a incumbência de
dos. elaborar e executar sua proposta pedagógica.
2. Não revisar anualmente o documento O artigo 12, inciso VII define como incumbência da escola infor-
Depois de tanta pesquisa e elaboração, o PPP está pronto e não mar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos
há mais no que mexer, certo? Errado. O documento deve ser re- alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica.
visado anualmente. Inclusive, ao longo do ano. Isto deve ser feito No artigo 13, chamado o “artigo dos professores”, aparecem
quantas vezes for necessário para melhorar a escola para oferecer o como incumbências desse segmento, entre outras, as de partici-
melhor serviço educacional. par da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de
Ele não é algo engessado, pois o contexto socioeconômico da ensino, elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta
comunidade pode mudar. Com isso, as avaliações podem apresen- pedagógica do estabelecimento de ensino.
tar resultados diferentes, problemas e soluções surgem ao longo No artigo 14, em que são definidos os princípios da gestão de-
do tempo. mocrática, o primeiro deles é a participação dos profissionais da
A instalação de uma indústria no bairro ou mesmo um desastre educação na elaboração do projeto pedagógico da escola.
natural são exemplos de algo que pode interferir no contexto. Isto No artigo 15, concedeu à escola progressivos graus de autono-
pode mexer com as vidas dos alunos e afetar os estudos. Enfim, mia pedagógica, administrativa e de gestão financeira. O que isso
é importante manter o projeto atualizado, pois ele deve refletir a significa? Ter autonomia significa construir um espaço de liberdade
realidade local e da própria escola. e de responsabilidade para elaborar seu próprio plano de trabalho,
definindo seus rumos e planejando suas atividades de modo a res-
3. Não ter transparência ponder às demandas da sociedade, ou seja, atendendo ao que a so-
Algumas escolas mantêm o projeto guardado e dificultam o ciedade espera dela. A autonomia permite à escola a construção de
acesso a ele. Isso é um grande equívoco, pois o seu conhecimento sua identidade e à equipe escolar uma atuação que a torna sujeito
pela comunidade escolar é o que vai torná-lo efetivo. Por exemplo, histórico de sua própria prática.
o ideal é imprimi-lo e fixá-lo nos murais da escola ou deixá-lo dis- A Resolução nº 17/99/CEE/SC DE 13/04/99, estabelece diretri-
ponível no site da escola. Outra boa opção é compartilhá-lo com zes para a elaboração do PPP. No Capítulo IV, art. 8ª, define o prazo
todos os professores e funcionários. Além também dos familiares final para as escolas aprovarem o seu projeto político pedagógico
dos alunos já no começo do período letivo, junto com a matrícula. até o dia 31 de dezembro de 1999.
No parecer nº 405 aprovado em 14/12/2004, o PPP aparece
4. Ignorar conflitos de ideias como: PPP como direito e dever: o PPP se apresenta como direito
Como dissemos, o PPP deve ser elaborado coletivamente — e ao permitir a escola consolidar sua autonomia pensando, executan-
isso implica em debates. Todas as opiniões devem ser considera- do e avaliando o próprio trabalho, ao mesmo tempo que, explicita a
das e discutidas até que haja consenso majoritário. Desconsiderar intencionalidade de suas ações. O PPP se apresenta como dever por
a opinião da comunidade em geral cria um distanciamento com a se vincular aos aspectos legais que emanam da Lei de Diretrizes e
realidade. Portanto, não passe por cima dos conflitos de forma ar- Bases da Educação Nacional, Lei do Sistema Estadual de Educação e
bitrária. diretrizes emanadas pelo Conselho Estadual de Educação de Santa
Catarina. (Proc. PCEE 781/045 fl. 4).
5. Estagnar a evolução tecnológica Quando a escola solicita auxílio para elaboração de sua pro-
Escolas que têm um sistema de gestão escolar conseguem posta, ela não está se referindo apenas ao documento em questão,
apurar diversas situações que auxiliam no PPP. Além de ajudar nas mas também busca subsídios que a ajude a enfrentar os desafios
várias áreas nele descritas. Bons exemplos são os aspectos acadê- presentes no seu cotidiano.
micos, financeiros, de controle bibliotecário e de integração entre Os cursos de formação também poderiam incentivar as escolas
alunos, responsáveis, professores, etc. a reestruturarem o seu PPP, utilizando o curso como estratégia de
Muitos gestores se beneficiariam dos resultados obtidos e as motivação (ou sensibilização) para se repensar a prática e os objeti-
informações seriam melhor alimentadas e atualizadas no sistema, vos da escola, como também propor mudanças necessárias.
tornando o processo bem menos burocrático e engessado. As escolas já não sabem mais como trabalhar as questões de
Dentre os mais variados planos de ação que uma escola pode violência e falta de ambiente favorável à aprendizagem. Professores
executar, a aplicação de simulados é muito eficiente. Por meio da e alunos cada vez mais estressados e desesperançados. Estamos vi-
utilização de uma tecnologia atual, é possível proporcionar índices vendo um momento de conflitos interiores e exteriores.
menores de reprovação. Além de uma preparação maior para os
alunos em provas futuras.

443
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O que fazer? Como fazer? São perguntas que nos atormentam Ao concluir este documento coletivamente, a escola terá dado
constantemente. (SILVA, 2004, p. 32). “Discutir com os professores um grande passo, não apenas pela definição do trabalho pedagógi-
assuntos relacionados a esta temática foi considerado de grande co, mas pela vivência de um trabalho onde foi possível exercitar a
importância neste período, para efetivar melhorias no relaciona- cidadania.
mento dentro das instituições escolares. Porém, cabe destacar que O projeto político pedagógico faz parte do planejamento e da
esses assuntos podem ser resolvidos dentro da própria escola, bus- gestão escolar e sua importância reside no fato de que ele passa a
cando os pressupostos filosóficos presentes nos PPPs e consideran- ser uma direção, um rumo para as ações da escola. É uma ação in-
do os problemas apontados no cotidiano de cada uma delas.” tencional que precisa ser definida coletivamente, com consequente
Pensar no processo de construção de um projeto político-peda- compromisso coletivo. O projeto é político porque reflete as opções
gógico requer uma reflexão inicial sobre seu significado e importân- e escolhas de caminhos e prioridades na formação do cidadão,
cia. Como vimos anteriormente a LDB ressalta a importância desse como membro ativo e transformador da sociedade em que vive. O
instrumento em vários de seus artigos. É bom lembrar que, pela projeto é pedagógico porque expressa as atividades pedagógicas e
primeira vez no Brasil, há uma Lei de Diretrizes e Bases da Educação didáticas é que levam a escola a alcançar seus objetivos educacio-
Nacional que detalha aspectos pedagógicos da organização escolar, nais.28
o que mostra bem o valor atribuído a essa questão pela atual legis-
lação educacional. Eixos norteadores do PPP
Dessa forma, essa é uma exigência legal que precisa ser trans- O PPP, contemplando a organização do trabalho da escola
formada em realidade por todas as escolas do país. Entretanto, não como um todo, deve estar embasado em princípios que norteiam
se trata apenas de assegurar o cumprimento da legislação vigente, a escola democrática, pública e gratuita, dando identidade à ins-
mas, sobretudo, de garantir um momento privilegiado de constru- tituição escolar. De acordo com Veiga (1991, p. 82), os princípios
ção, organização, decisão e autonomia da escola. Por isso, é impor- do PPP são: igualdade, qualidade, gestão democrática, liberdade/
tante evitar que essa exigência se reduza a mais uma atividade bu- autonomia e valorização do magistério. Esses possuem um caráter
rocrática e formal a ser cumprida. permanente e fundamentado nas ações pedagógicas.
Um projeto político-pedagógico voltado para construir e asse- Acreditamos que os princípios analisados e o aprofundamen-
gurar a gestão democrática se caracteriza por sua elaboração cole- to dos estudos sobre a organização do trabalho pedagógico trarão
tiva e não se constitui em um agrupamento de projetos individuais, contribuições relevantes para a compreensão dos limites e das pos-
ou em um plano apenas construído dentro de normas técnicas para sibilidades dos PPPs voltados aos interesses das camadas menos
ser apresentado às autoridades superiores. Mas o que é mesmo favorecidas.
projeto político-pedagógico? Segundo Veiga (1991, p.82), a importância desses princípios
Segundo Libâneo (2004), é o documento que detalha objetivos, está em garantir sua operacionalização nas estruturas escolares,
diretrizes e ações do processo educativo a ser desenvolvido na es- pois uma coisa é estar no papel, na legislação, na proposta, no cur-
cola, expressando a síntese das exigências sociais e legais do siste- rículo pensado, e outra é estar ocorrendo na dinâmica interna da
ma de ensino e os propósitos e expectativas da comunidade escolar. escola, na ação-reflexão-ação, no real, no concreto.
Na verdade, o projeto político-pedagógico é a expressão da A seguir, serão abordados cada um desses princípios.
cultura da escola com sua (re)criação e desenvolvimento, pois ex-
pressa a cultura da escola, impregnada de crenças, valores, signifi- Gestão democrática
cados, modos de pensar e agir das pessoas que participaram da sua É um dos princípios contemplados pela Constituição Federal,
elaboração. abrange as dimensões pedagógicas, administrativas e financeira. A
Assim, o projeto orienta a prática de produzir uma realidade. gestão democrática implica o repensar da estrutura de poder da
Para isso, é preciso primeiro conhecer essa realidade. Em seguida escola, tendo em vista sua socialização, propiciando a participação
reflete-se sobre ela, para só depois planejar as ações para a cons- coletiva dos diferentes segmentos no processo de tomada de deci-
trução da realidade desejada. É imprescindível que, nessas ações, sões.
estejam contempladas as metodologias mais adequadas para aten- A gestão democrática é um princípio fundamental para a elabo-
der às necessidades sociais e individuais dos educandos. ração do PPP, constituindo-se em um importante direcionamento,
A partir dessas finalidades, é preciso destacar que o projeto pois a partir dela a integralidade das ações da escola, sejam elas po-
políticopedagógico extrapola a dimensão pedagógica, englobando líticas ou pedagógicas, são definidas por toda a comunidade escolar.
também a gestão financeira e administrativa, ou seja, os recursos De acordo com o Módulo 5 - Gestão Escolar Democrática, verifica-
necessários à sua implementação e as formas de gerenciamento. -se que o grande desafio da gestão democrática é como incentivar a
Em suma: construir o projeto político-pedagógico significa enfren- participação da comunidade nas discussões e tomadas de decisões
tar o desafio da transformação global da escola, tanto na dimensão para que ela se torne corresponsável pelos objetivos da escola em
pedagógica, administrativa, como na sua dimensão política. função do aprendizado dos estudantes Este direcionamento pressu-
Segundo Vasconcellos (2006, p169), projeto político-pedagógi- põe que todos os envolvidos no trabalho escolar devem participar
co é “a sistematização, nunca definitiva, de um processo de Plane- das definições e dos rumos que a escola seguirá para atingir seus
jamento Participativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na cami- objetivos. Ao adotar este princípio na elaboração do PPP, eviden-
nhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer cia-se que a escola não está centralizada nas decisões dos diretores
realizar. É um importante caminho para a construção da identidade escolares ou de uns poucos profissionais, estando aberta à parti-
da instituição. É um instrumento teórico-metodológico para a in- cipação de todos os segmentos da comunidade escolar nos seus
tervenção e mudança da realidade. É um elemento de organização processos de discussão e decisões.
e integração da atividade prática da instituição neste processo de 28 Fonte: www. escolaweb.com.br/www2.senado.leg.br/www.antigo.fecam.
transformação.” org.br

444
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

É por meio dessa participação que as relações entre escola e Segundo Veiga (2013, p. 17),
comunidade se estreitam. Segundo Libâneo (2013), A escola de qualidade tem obrigação de evitar de todas as ma-
a participação é o principal meio de assegurar a gestão demo- neiras possíveis a repetência e a evasão. Precisa garantir a meta
crática, possibilitando o envolvimento de todos os integrantes da qualitativa do desempenho satisfatório de todos. Qualidade para
escola no processo de tomada de decisão e no funcionamento da todos, portanto, vai além da meta quantitativa de acesso global, no
organização escolar. A participação proporciona melhor conheci- sentido de que as crianças, em idade escolar, entrem na escola. É
mento dos objetivos e das metas da escola, de sua estrutura organi- preciso garantir a permanência dos que nela ingressarem.
zacional e de sua dinâmica, de suas relações com a comunidade, e O PPP deve definir os fins e o tipo de escola que almeja, pressu-
propicia um clima de trabalho favorável a maior aproximação entre pondo uma concepção de sociedade, de homem/cidadão, de escola
professores, alunos e pais. (LIBÂNEO, 2013, p.89). e de mundo, as quais são essenciais para a construção de um proje-
Entretanto, para gerar a participação da comunidade no am- to de qualidade, pois norteiam as ações específicas para obtenção
biente escolar faz-se necessário que os diretores escolares com- dos fins que se pretende.
preendam a real importância da participação e permitam que ela Devemos inferir, portanto, que a educação de qualidade é
ocorra de maneira efetiva. aquela mediante a qual a escola promove, para todos, o domínio
dos conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades cognitivas
É importante que os diretores escolares viabilizem espaços e e afetivas indispensáveis ao atendimento de necessidades individu-
horários para interação dos segmentos com seus pares e com ou- ais e sociais dos alunos. (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2010, p.117).
tros, por meio de reuniões e assembleias que permitam a discussão Liberdade/autonomia
e a troca de ideias sobre as possibilidades e necessidades da escola, O princípio da liberdade está sempre associado à ideia de au-
de modo que a comunidade seja ouvida como parte integrante dos tonomia, a qual nos remete para regras e orientações criadas pe-
processos decisórios. los próprios sujeitos da ação educativa, sem imposições externas.
A liberdade deve ser considerada, também, como liberdade para
Igualdade aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a arte e o saber direciona-
Segundo Veiga (2013, p.16), a igualdade de oportunidades, dos para uma intencionalidade definida coletivamente. Na escola, a
mais do que a expansão quantitativa de ofertas, necessita da am- liberdade deve ser pensada na relação entre os diferentes segmen-
pliação do atendimento com simultânea manutenção de qualidade. tos em um contexto participativo, em que todos podem influir no
Isso quer dizer: acesso, permanência com sucesso escolar. processo de tomada dedecisões e, em consequência, terem respon-
A Constituição Federal, a LDBEN n.º 9.394/96 e a Lei nº sabilidades sobre elas, inclusive no que diz respeito à elaboração
8.069/1990, que trata do Estatuto da Criança e do Adolescente do PPP.
(ECA), também citam a igualdade de condições para acesso e per- De acordo com Medel (2008, p. 54), a autonomia refere-se à
manência na escola. Assim, para enfrentar este desafio, é impres- capacidade de governar e de dirigir-se dentro de certos limites de-
cindível a previsão de ações e estratégias de acompanhamento para finidos pela legislação e pelos órgãos do sistema educacional, auxi-
todos os estudantes, especialmente aqueles que se encontram em liando os vários atores a estabelecerem os caminhos que a escola
situação de risco de abandono e/ou vulnerabilidade, no sentido de define para percorrer. Faz-se necessário compreender que quanto
assegurar a permanência na escola. Há que se prever uma prática mais a instituição de ensino adquire autonomia e competência,
pedagógica diferenciada para os estudantes com dificuldades de mais responsabilidade ela assume diante da comunidade.
aprendizagem. A escola tem autonomia para definir em seu PPP as concepções
Conforme aponta Cury (2007, p. 490), “não basta o acesso à e ações a serem desenvolvidas, no entanto deve observar o que
escola. É preciso entrar e permanecer. A permanência se garante compete a ela segundo os preceitos legais.
com critérios extrínsecos e intrínsecos ao ato pedagógico próprio
do ensino/ aprendizagem”. Os critérios extrínsecos são determina- Valorização do magistério
dos socialmente, interferem na prática pedagógica, mas as possibili- A qualidade de educação está estreitamente relacionada à for-
dades de resolução estão para além da escola. Quanto aos critérios mação inicial e continuada, condições de trabalho e remuneração
intrínsecos à prática pedagógica, destacamos a organização curri- dos profissionais do magistério. A formação continuada é indispen-
cular adotada, tendo em vista garantir uma aprendizagem voltada sável para a discussão da organização da escola como um todo e de
às necessidades e ao sucesso do aluno. Os critérios extrínsecos e suas relações com a sociedade.
intrínsecos à prática pedagógica por sua vez estão intimamente re- A formação continuada é um direito de todos os profissio-
lacionados com a qualidade do ensino nais que trabalham na escola, uma vez que não só ela possibilita
a progressão funcional baseada na titulação, na qualificação e na
Qualidade competência dos profissionais, mas também propicia, fundamental-
O desafio do PPP é propiciar uma educação de qualidade para mente, o desenvolvimento profissional dos professores articulado
todos, não sendo um privilégio de minorias econômicas e sociais, com as escolas e seus projetos. (VEIGA, 2013, p. 20).
além de assegurar um padrão mínimo de qualidade para a institui- Dessa forma, o PPP deve contemplar a formação dos profissio-
ção de ensino. nais da escola, sendo necessário que o diretor investigue as neces-
sidades destes para a sua formação continuada, elaborando seus
programas com apoio da entidade mantenedora. É importante que
o diretor oportunize tempos e espaços para a formação continuada
em serviço, acompanhando e estimulando a participação de todos
os profissionais da educação nos eventos previstos no Calendário
Escolar.

445
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Após conhecer os princípios norteadores do PPP, é preciso or- Assim, as concepções e os pressupostos descritos no Marco
ganizar este documento. Confira no próximo tópico os elementos Conceitual constituem-se como base para o planejamento do pro-
que constituem a (re)construção do PPP. fessor, a fim de que a sua prática pedagógica seja condizente com
as necessidades educativas dos estudantes, possibilitando que a es-
Elementos constitutivos do PPP cola cumpra sua função social.
Ao projetar ações e intenções partindo do já existente e das Somente com conhecimento das concepções é possível tomar
possibilidades concretas, o PPP se apoia em concepções necessaria- decisões condizentes com as necessidades delineadas no Marco
mente ligadas ao caráter social da educação e que definem a opção Conceitual. Identificar as concepções em que se pautam as práti-
educativa da escola, a partir da qual, a escola organiza e registra as cas pedagógicas realizadas na escola implica em reconhecer quais
ações que serão realizadas pela comunidade escolar para atingir os valores, objetivos e compromissos são priorizados nas experiências
objetivos educacionais. de aprendizagens propiciadas aos estudantes, bem como quais os
O PPP é constituído de três partes que se integram para traçar princípios que sustentam as práticas dos sujeitos presentes na esco-
o projeto da escola: Marco Situacional, Marco Conceitual e Marco la. Assim, sugerimos que os diretores escolares incentivem a equi-
Operacional. pe pedagógica e os docentes a refletirem sobre a função social da
escola aliada aos estudos das tendências pedagógicas da educação
Marco situacional - o que somos? brasileira, bem como atentar para as discussões atuais, como a Base
Esta primeira parte do PPP apresenta o diagnóstico da realida- Nacional Comum Curricular e as legislações dos Conselhos Nacional
de escolar e do seu entorno, bem como as necessidades detectadas e Estadual de Educação.
no Plano de Ação da instituição de ensino. É importante porque a
partir do estudo da realidade escolar, delineia-se a identidade insti- Marco operacional - o que faremos?
tucional da escola, o que possibilita identificar e fortalecer práticas É a parte do PPP que compreende o planejamento das ações
pedagógicas coerentes com essa identidade, ou seja, a análise dos a serem tomadas pela comunidade escolar para efetivar o projeto
dados da realidade escolar possibilita definições de permanências de escola traçado nos dois primeiros marcos. Tal planejamento é
e/ou mudanças pautadas em concepções condizentes com os prin- um processo contínuo de conhecimento e análise da realidade es-
cípios da escola pública e que visem à aprendizagem de todos os colar em busca da solução de problemas no propósito de tomada
estudantes daquela comunidade específica. de decisões.
Chegar a esse diagnóstico exige, além da observação atenta e Nesse sentido, deve passar periodicamente por avaliação e re-
criteriosa da comunidade escolar, o conhecimento das concepções visão, tendo em vista o redirecionamento das ações. Isso porque,
que subsidiam o entendimento da sua realidade. Além disso, essa o Marco Operacional indica o caminho a seguir antecipando resul-
análise deve valorizar a pluralidade cultural, o respeito às diferen- tados, uma vez que articula objetivos e elementos para atingi-los,
ças de gêneros, raça, etnia e orientação sexual, que são elementos como as estratégias, os recursos e os responsáveis. Assim, definem-
constitutivos do território educacional em que a escola está locali- -se ações de curto, médio e longo prazo a serem realizadas nos âm-
zada. bitos pedagógico e administrativo, as quais estão correlacionadas
Esse território educacional é registrado no Marco Situacional com o Plano de Ação da escola.
do PPP, em que se apresenta uma descrição da realidade escolar Além disso, o Marco Operacional deve contemplar a descrição
com as características mais relevantes da comunidade em que a es- de quais projetos e/ou programas, sejam eles institucionais/esta-
cola está inserida (perfil socioeconômico), incluindo a diversidade duais/ federais, que a escola desenvolve. No entanto, deve ter em
dos sujeitos e priorizando os aspectos que implicam no processo de mente sempre que as ações didático-pedagógicas descritas terão
ensino e aprendizagem. como ponto de partida e de chegada a articulação com a PPP.
Para planejar as ações, é preciso saber o que se quer realizar, Essa parte do PPP é a referência para a sua execução, pois é um
o que está dando certo e o que precisa ser mudado. Os diretores instrumento para guiar as ações da escola. Para tanto, o marco ope-
escolares, como condutores do processo de elaboração do PPP, racional deve conter as proposições de ações voltadas às situações
devem ficar atentos ao diagnóstico e tê-lo em mente em todas as identificadas no marco situacional (diagnóstico) considerando o
decisões da gestão. marco conceitual (fundamentos) em que se estabeleceu a intencio-
As considerações a respeito da realidade da instituição incluem nalidade. As ações na prática indicam como a escola pretende che-
os aspectos positivos e os desafios que subsidiam o planejamento, gar ao projeto de escola político e pedagógico. Reflete as decisões
e, essencialmente, definem a identidade da escola. tomadas pelo grupo e pelas quais os diretores são responsáveis por
mobilizar a efetivação, ou seja, implementar as ações propostas
Marco conceitual - o que queremos? neste documento.
Esta segunda parte do PPP apresenta a conceituação dos fun- A implementação do PPP acontece na inter-relação entre os
damentos teóricos nos quais a escola se pauta para atender à sua três marcos (situacional/conceitual/operacional), por meio da efe-
função social, ou seja, a partir do que foi descrito no Marco Situa- tiva execução das ações assumidas coletivamente.
cional, a instituição de ensino relaciona o seu contexto com concep- Uma dica para os diretores organizarem melhor o marco opera-
ções e pressupostos teóricos que mais se aproximam da realidade cional é dividir as ações em curto prazo, médio prazo e longo prazo.
de sua comunidade escolar e das necessidades da escola pública, a Para as ações de curto prazo, pode-se estabelecer um formato se-
fim de definir as ações a serem desenvolvidas no cotidiano escolar, melhante ao Plano de Ação da escola, pois este é um instrumento
bem como as projetadas como referência para o futuro. de planejamento dinâmico com o intuito de especificar ações ime-
diatas e contínuas. As ações de médio e longo prazo preveem os
projetos e programas que a escola pretende desenvolver ou dar
continuidade incorporados às práticas escolares.

446
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A gestão educacional a partir do PPP Por meio do estabelecido regime de colaboração entre os entes
Abordar o tema Gestão Educacional é uma tarefa complexa federativos (sistemas: federal, estaduais, municipais e do distrito fe-
em virtude, principalmente, de sua abrangência. Significa tecer deral), iniciou-se um processo de descentralização do planejamen-
considerações sobre as ações pedagógicas desenvolvidas no cam- to, do financiamento e da administração do ensino.
po educacional, e, por conseguinte, fomentar reflexões sobre as Anterior à promulgação da CF/88, os encontros, as conferên-
concepções que motivam o desenvolvimento do todo o processo cias internacionais já davam sinais de grande influência sobre a edu-
educativo. cação brasileira. Essa articulação com os organismos internacionais
Sabemos que a Educação sistematizada não é imparcial e que suscitaram planos, programas, documentos oficiais e dispositivos
o desenvolvimento de um projeto de educação é permeado de in- legais que modificaram concepções e ações em torno do cenário
tenções e de ideologias (FREIRE, 2002). Do mesmo modo, quando educacional do país, principalmente a partir da década de 1990.
falamos em Gestão Educacional nos referimos à materialização de Nessa esteira, com a perspectiva de descentralização da gestão
intenções e de planejamentos repletos de influências ideológicas. escolar, a legislação educacional passou a regulamentar a ampliação
No caso brasileiro, a Gestão Educacional tem fundamentação da autonomia da escola quanto à organização do processo educati-
nas mais importantes leis que envolvem a educação escolar: a Cons- vo, o que culminou na elaboração de Projetos Políticos Pedagógicos
tituição Federal de 1988 (CF/88) e a Lei de Diretrizes e Bases para a (PPP) preconizados em lei. Consoante a isso, nos termos da LDB, em
Educação Nacional (LDB). Com base nesses documentos podemos seu artigo 12, fica estabelecido que, entre outras atribuições, cabe
compreender a Gestão Educacional como a forma de planejar, or- aos estabelecimentos de ensino: “elaborar e executar sua propos-
ganizar, normatizar, regular e executar a educação escolar pelos sis- ta pedagógica, administrar seu pessoal e seus recursos materiais e
temas de ensino, que, por sua vez, são regulados pelos respectivos financeiros, assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula
entes federados: nacional, estadual, municipal e distrito federal. estabelecidas”, velar pela aprendizagem dos alunos, assegurando,
Sobre o significado dos termos concernentes à gestão educa- inclusive formas de recuperação da aprendizagem, além de promo-
cional, vale organizá-los conforme o contexto a que se refere, a fim ver a articulação com a família e com a comunidade em geral.
de viabilizar a melhor compreensão do leitor. Assim, apresentamos Sobre a elaboração do PPP na escola, Libâneo, Oliveira e Toschi
abaixo, de forma breve e à luz de alguns autores da área e de do- (2009, p.178) afirmam que o documento/ação é “[...] proposto com
cumentos oficiais, concepções sobre o termo gestão nas diversas o objetivo de descentralizar e democratizar a tomada de decisões
esferas de sua abrangência no contexto educacional. pedagógicas, jurídicas e organizacionais na escola, buscando maior
Em linhas gerais, o termo gestão é concebido por Libâneo participação dos agentes escolares”.
(2008) como a atividade pela qual são mobilizados meios e proce- Podemos notar que a elaboração do PPP vai ao encontro dos
dimentos para se atingir determinados objetivos, ou seja, são “os princípios constitucionais que agrega à educação o direito funda-
processos intencionais e sistemáticos de se chegar a uma decisão e mental inalienável e como vistas à formação integral do aluno. Pois,
de fazer a decisão funcionar [...]” (LIBÂNEO, 2008, p. 101). ao produzirem o PPP, as unidades escolares, em consonância com
No contexto educacional, a gestão é concebida por Paro (2010) os respectivos órgãos administrativos, devem garantir que sejam
como o ato de administrar ou de mediar todos os recursos, mobi- priorizadas as necessidades e as realidades dos alunos e da comu-
lizando-os para a obtenção de resultados. Ainda na concepção do nidade local/regional.
autor, a gestão educacional, com ênfase no papel desempenhado Nesse percurso que aponta para a consolidação da educação
pelo diretor escolar, pode ser comparada à administração empre- participativa, Freire (2003) tece advertências sobre algumas ca-
sarial, que se curva muito mais aos aspectos burocráticos do que às racterísticas histórico-culturais da educação escolar que precisam
ações de natureza diretamente pedagógicas. ser superadas. Entre elas, destacam-se: a superposição da escola à
No caso dos Sistemas de Ensino, com base na LDB e demais realidade escolar local/regional, a orientação excessivamente cen-
legislações educacionais, a gestão é dirigida ou administrada por ór- tralizadora das instituições escolares; o histórico autoritarismo e o
gãos (Secretarias de Educação, diretorias de ensino), que orientam, caráter assistencialista das atividades (BEISIEGEL, 2008).
instituem normas, acompanham e avaliam o desenvolvimento do Por outro lado, para que a educação escolar cumpra o papel
trabalho pedagógico nas unidades de ensino. de formação integral, torna-se necessário o planejamento de ações
Além das esferas de abrangência supramencionadas, há ainda educativas voltadas à educação para e pela cidadania, o que sig-
a gestão que ocorre no interior dos estabelecimentos de ensino, nifica transformar o ambiente escolar num espaço de práticas de-
ou seja, feita no cotidiano de cada escola. Nesse espaço o trabalho mocráticas e democratizantes. Nessa perspectiva, a produção de
escolar conta com a orientação e o acompanhamento de gestores mecanismos e instrumentos de gestão democrática no espaço in-
escolares, tanto no âmbito administrativo como na organização do tra-escolar se torna condição sine qua non.
trabalho pedagógico. Considerando o exposto, salientamos neste texto a importân-
Portanto, abordar o tema gestão consiste em lançar questões, cia das reflexões e das discussões em torno da construção do PPP
discussões e declarações sobre um processo intencional, de caráter escolar, pois compreendemos e defendemos que esse instrumento/
político e social. Trata-se de uma ação, que materializará o planeja- mecanismo de gestão educacional pode viabilizar a educação parti-
mento ideológico e político que a fundamenta. cipativa, a qual concebemos como um dos pilares para a efetivação
Vale retomar que a partir das reformas educacionais ocorridas da democracia na gestão da escola.
no Brasil após o período da ditadura civil militar, na década de 1980, Sendo assim, este estudo tem como objetivo central refletir e
o advento da CF/88 estabeleceu uma lógica de participação federa- lançar a discussão sobre a importante função social do PPP escolar
tiva na oferta e no desenvolvimento da educação escolar. na organização e no desenvolvimento do projeto educativo voltado
à participação popular, na perspectiva de uma educação não ape-
nas participativa, mas, sobretudo, democrática.

447
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O Projeto Político Pedagógico como mecanismo da gestão No que se refere ao termo projeto, Veiga (2013) esclarece que
educacional democrática está ligado à ideia de lançar para diante, ao futuro. No caso educa-
O processo de redemocratização do Brasil na década de 1980 cional, a autora afirma que se trata de planejar o que se tem a in-
suscitou mudanças importantes no cenário educacional. Esse perí- tenção de fazer, de realizar, partindo da realidade constatada, tendo
odo foi marcado pela busca da abertura política, com participação por base os recursos disponíveis e visando a alterações do futuro.
popular e a organização da sociedade na luta por direitos, por ges- Trata-se da busca de um rumo, uma direção. É intencional e,
tão democrática do Estado, em prol da construção de uma socie- no caso educacional, constitui-se como um compromisso definido
dade mais justa e igualitária. Esse cenário favoreceu mudanças nas coletivamente, a partir dos interesses reais e coletivos da população
concepções e no planejamento de ações e políticas educacionais majoritária e caminha na direção da formação do cidadão para um
voltadas para a abertura à democracia. tipo de sociedade, daí a sua dimensão política. (VEIGA, 2013).
Entre as reformas ocorridas na época, a promulgação da CF/88 Na dimensão pedagógica é caracterizado pela possibilidade de
consolidou a conquista de direitos sociais, inclusive no que se refere efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação do ci-
à democratização da educação e abriu possibilidades de ampliação dadão participativo, responsável, compromissado, crítico e criativo.
da participação popular na gestão educacional e favoreceu o desen- Define as ações educativas e as características necessárias às esco-
volvimento da autonomia dos entes federados e dos sistemas de las de cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade (VEIGA,
ensino. Os movimentos sociais em prol da democracia alcançaram
2013).
o interior das unidades escolares, fortalecendo a implementação
Por fim, quanto ao sentido de plano, concebemos neste texto
dos órgãos colegiados.
como as formas escritas de oficialização dos planejamentos e dos
Na década seguinte, anos de 1990, a educação escolar foi pauta
projetos.
de muitos estudos teóricos e de agendas políticas. Nesse período,
uma das ações de expressiva relevância consiste na promulgação da
nova LDB/96, que, apesar de suas limitações e/ou omissões, vem Bases legais para a elaboração do Projeto Político Pedagógico
garantir no texto legal a abertura da gestão educacional, principal- Considerando as abordagens anteriores, é importante salien-
mente ao estabelecer a prática da democracia no planejamento e tarmos a necessidade e as formas de materialização dos projetos e
nas decisões do trabalho escolar como um dos princípios funda- planejamentos voltados à gestão educacional.
mentais de desenvolvimento da educação escolar. Assim, estabe- Ao longo das décadas, observamos o surgimento de diversos
leceu-se a organização do espaço e do trabalho pedagógico escolar documentos oficiais, sendo que alguns contaram com a força da lei
tendo como participantes dessa gestão pais, alunos, professores e e outros foram publicados como diretrizes e propostas aos sistemas
demais educadores, com vistas à articulação efetiva entre a institui- e estabelecimentos de ensino.
ção escolar e a comunidade. Entre a gama de documentos supramencionados, destacamos
Diante dessa concepção de gestão participativa e democrática alguns que permanecem em vigência no contexto atual ou que am-
surge a necessidade de implementação de ações e de mecanismos pararam a implementação de outros.
voltados às perspectivas políticas e educacionais da gestão escolar. No âmbito federal, a definição do Plano Nacional de Educação
Vale retomar a CF/88 para não perdermos de vista que o texto (PNE) pela lei 10.172/01, constituiu-se em um documento com me-
legal garantiu, por um lado, a autonomia aos sistemas de ensino em tas e ações com prazo de cumprimento de dez anos. Teve o objetivo
elaborarem as suas propostas pedagógicas e por outro lado, por combater o analfabetismo, universalizar, prioritariamente, a educa-
meio da LDB, estabeleceu a participação dos profissionais da edu- ção básica e garantir a qualidade do ensino e a permanência do
cação e dos pais de alunos no planejamento e no acompanhamento aluno na escola, estando em conformidade como o estabelecido na
de seus projetos pedagógicos locais. Constituição Federal de 1988.
No desdobramento desse cenário, foram surgindo progressi- Na explanação de Gracindo (2009), a aprovação desse PNE tor-
vamente necessidades de planejamentos e de elaboração de do- nou-se a base para os planos decenais das outras instâncias fede-
cumentos oficiais que garantissem a consolidação das perspectivas rativas de poder (estados e municípios), bem como para a elabo-
lançadas nos projetos educacionais. ração dos planos plurianuais, que dariam suporte à realização de
Notamos nesse contexto que os termos planejamento, plano suas metas. Vale ressaltar que a partir do PNE, os planos estaduais
e projetos se tornaram alvos de muitos estudos e passaram a ser
e municipais passaram a ser encaminhados aos respectivos poderes
comumente incorporados nos discursos relacionados aos processos
legislativos, ganhando força de lei e representando as decisões da
de gestão educacional.
sociedade nos âmbitos regionais e locais.
Gandin (2001) aborda a questão concernente ao planejamento
Para Gracindo (2009), um dos pontos fortes do PNE se deve ao
e declara que podemos compreendê-lo como as ações a serem exe-
cutadas com vistas às necessidades de alguém ou de grupos, tendo fato da apresentação quantificada e datada de suas metas, o que
por base o que é socialmente desejável. possibilitou a verificação de seu cumprimento. A autora ressalta
Entretanto, elucida que, que após o prazo de dez anos da promulgação do primeiro PNE, ve-
É impossível enumerar todos os tipos e níveis de planejamento rificou-se que, apesar do amparo legal, o documento não garantiu
necessários à atividade humana. Sobretudo porque, sendo a pessoa impactos que influenciassem diretamente na concepção de políti-
humana condenada, por sua racionalidade, a realizar algum tipo cas públicas. Gracindo (2009) destaca o Plano de Desenvolvimento
de planejamento, está sempre ensaiando processos de transformar da Educação (PDE), apresentado à sociedade brasileira, em maio de
suas ideias em realidade. Embora não o faça de maneira consciente 2007. Trata-se de documento constituído por 28 ações voltadas à
e eficaz, a pessoa humana possui uma estrutura básica que a leva educação básica, das quais “todas se voltam para, de alguma ma-
a divisar o futuro, a analisar a realidade e a propor ações e atitudes neira, intervir na melhoria da qualidade do ensino e somente oito
para transformá-la (GANDIN, 2001, p. 85). garantem, direta ou indiretamente, a ampliação do acesso e per-

448
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

manência dos estudantes na educação básica” (GRACINDO, p. 78). Destacamos que, conforme o PNE, o levantamento da realida-
A autora enfatiza que, assim como o PNE/2001, o PDE não provocou de, bem como as ações planejadas e implementadas para o alcan-
impactos na realidade educacional. ce das metas e dos objetivos presentes nos documentos oficiais,
Na atualidade, o novo PNE (2014-2024) foi definido pela lei como as DCNs e a BNCC, são responsabilidades dos estados, dos
13.005/14, representando, por um lado, o final de um processo e, municípios, das instituições de ensino e de educadores de todos os
de outro, o início de outro momento. Não significa que se trata de segmentos do país.
uma ruptura, mas de um marco representativo, sendo configurado Dentro dessa perspectiva, a CF/88 estabelece que cada um dos
pelo resultado de um longo processo de discussões com a socie- entes federativos, usando da autonomia conferida pela lei, elabore
dade, a partir das Conferências de Educação (Nacional, estaduais, e implemente ações e políticas que atendam as necessidades edu-
intermunicipais e municipais) e de embates no âmbito do congres- cacionais locais e regionais, bem como garantam a articulação com
so nacional com as emendas e/ou tentativas de alterações do texto os interesses públicos de todo o país. Por isso, os documentos ofi-
produzido a partir das aspirações sociais. Contudo, a sua aprovação ciais elaborados pelos sistemas de ensino estaduais e municipais
marcou o início de um novo momento para o cumprimento das me- devem estar em conformidade os da esfera federal.
tas projetadas para uma década (MILITÃO; PERBONI, 2017). Notamos que os documentos citados acima visam, em tese,
Vale retomar que, assim como mencionou Gracindo (2009) contribuir para a construção de uma educação de melhor qualida-
sobre o primeiro PNE, o novo plano resultou na reelaboração dos de, considerando as características e peculiaridades de cada região
planos educacionais dos estados e municípios. e localidade do país, tendo como foco a garantia das aprendizagens
Outro documento de importância na orientação da educação fundamentais à formação humana dos alunos.
escolar se trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa-
ção Básica (DCNs), criadas pelo Conselho Nacional de Educação com Conceitos e considerações sobre o Projeto Político e Pedagó-
o propósito de articularem os princípios, os critérios e os procedi- gico escolar
mentos a serem observados nos sistemas de ensino e nas unidades Os documentos oficiais mencionados na seção anterior bus-
escolares com vistas aos objetivos da educação básica para o ensino cam orientar a elaboração dos documentos-base que representam
da etapa escolar obrigatória, que compreende os alunos de 4 a 17 os planos e projetos pedagógicos dos sistemas de ensino e das es-
anos de idade. Tal documento visa orientar os estabelecimentos de colas. Assim, com amparo da LDB e de resoluções específicas, cada
ensino na elaboração de seus PPP, tendo como foco a garantia do sistema de ensino regulamenta os seus regimentos e/ou estatutos-
acesso, da permanência e da aprendizagem almejada dos alunos para estabelecerem as diretrizes e as orientações administrativas e
pedagógicas concernentes à organização do trabalho educacional.
em prol da oferta da educação de qualidade.
Da mesma forma, as unidades escolares elaboram os seus re-
Mais recentemente, foi criada a Base Nacional Comum Curri-
gimentos internos, representados pelas suas diretrizes, suas orien-
cular (BNCC), definindo as habilidades necessárias à aprendizagem
tações e suas normas específicas. Entretanto, vale lembrarmos que
dos alunos, visando o cumprimento dos princípios da igualdade,
esses documentos, ou seja, suas normatizações devem estar alinha-
estabelecidos na CF-88 e na LDB e buscando legitimar a unidade
das com as legislações vigentes. Ou seja, a escola possui uma au-
e a qualidade da ação pedagógica na diversidade do país (BRASIL,
tonomia relativa para elaborar os seus documentos-base internos.
2017).
Entre os documentos elaborados pelas unidades de ensino,
Diante disso, o documento define um conjunto de conteúdos
destacamos dos que podem ser considerados peças centrais no de-
curriculares básicos, que devem estar articulados com as diversas senvolvimento da gestão educacional, o regimento escolar e o PPP.
dimensões da vida social/cidadã. E por isso, abrange conteúdos Com base na legislação educacional, podemos caracterizar o
complementares, definidos pelos sistemas de ensino e pelas unida- regimento escolar como em um instrumento em que se estabe-
des escolares, conforme as características regionais e locais (BRA- lecem as diretrizes administrativas e as orientações para a vida
SIL, 2017). escolar. Ele estabelece as normas a serem seguidas, velando pela
Assim como os documentos citados anteriormente, a BNCC materialização dos direitos e dos deveres de todos que convivem
fundamenta a elaboração dos PPP institucionais e escolares. no ambiente escolar. Esse documento deve ser produzido mediante
A primeira versão da BNCC foi apresentada à sociedade entre reflexões e diálogos entre a comunidade escolar, já que vislumbra a
outubro de 2015 e março de 2016. Em 2016 a segunda versão da melhor convivência entre todas as partes envolvidas.
BNCC foi publicada, após passar por discussões entre as Secreta- O outro documento escrito que representa a vida da escola
rias Estaduais de Educação e redes de educação de todo país. Esse é o PPP escolar, que se trata de um mecanismo oficializado que,
processo foi coordenado pelo Conselho Nacional de Secretários de em tese, representa e apresenta a realidade e as necessidades da
Educação (Consed) e pela União Nacional dos Dirigentes Municipais escola. O seu conteúdo deve ser conhecido, bem como revisitado
de Educação (Undime). Em 2017, a segunda versão da BNCC passou permanentemente pela comunidade escolar (VEIGA, 2013). PPP e
por revisões e foi complementada, o que deu corpo à terceira ver- regimento escolar devem ser produzidos em conformidade um com
são, disponibilizada para consulta pública no site do Ministério da o outro e com as legislações vigentes.
Educação (MEC). Ainda sobre o PPP, deve ser um documento revelador da iden-
Vale ser destacada que o documento oficial da BNCC afirma tidade da escola, deve projetar ações e refletir os fundamentos da
que a segunda versão foi examinada por especialistas do Brasil e de organização do trabalho escolar, bem como a sua realidade.
outros países e que, em distintos momentos, a terceira versão pas- Nas palavras de Veiga (2013),
sou por análises de leitores críticos, como especialistas, associações [...] o projeto político-pedagógico tem a ver com a organização
científicas e professores universitários, sendo que esses emitiram do trabalho em dois níveis: como organização da escola como um
pareceres referentes às especificidades das etapas da Educação Bá- todo e como organização da sala de aula, incluindo a sua relação
sica. como o contexto social imediato, procurando preservar a visão de

449
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

totalidade. Nesta caminhada será importante ressaltar que o proje- Entendemos que a educação escolar abrange possiblidades
to político-pedagógico busca a organização do trabalho pedagógico plurais de lançar sua comunidade à evolução do pensamento ingê-
da escola na sua globalidade (VEIGA, 2013, p 14). nuo para o patamar da consciência crítica. Isso implica possibilitar
Reiterando as palavras acima, o PPP deve ser concebido como o conhecimento (lúcido e crítico) da importância do seu papel na
o instrumento de organização do trabalho escolar na micro e na organização do trabalho pedagógico, de tal forma que cada um as-
macro dimensão. Deve ser fundado em princípios que garantam os suma as responsabilidades quanto à ingerência da escola (FREIRE,
direitos e os deveres de sua comunidade e, portanto, precisa ser 2016).
um produto social e estar fundado nos princípios constitucionais da Neves (2005) enfatiza que a nova pedagogia da hegemonia,
escola pública e gratuita, conforme vimos acima. que busca educar o consenso da sociedade, por meio da assunção
de responsabilidades do Estado, tem velado a histórica ingenuidade
Sobre a construção do PPP na escola, ressalta-se que deve ser das camadas populares no que se refere aos processos decisórios
pautada nos princípios de igualdade, qualidade, liberdade, gestão da gestão educacional. O progressivo incentivo ao trabalho volun-
democrática e valorização do magistério. Visa à concretização de tário nas últimas décadas, o fortalecimento das parcerias do Estado
um novo jeito de promover a gestão, partindo da reflexão coletiva com o terceiro setor, destacando-se as Organizações Não Governa-
mentais – ONGS – voltadas, muitas vezes, a projetos assistenciais
sobre os princípios supracitados e projetando ações voltadas às ne-
– tem resultado na impressão de participação efetiva da sociedade
cessidades locais.
na gestão das políticas educacionais, pois, de certa forma, a parti-
Ainda sobre a sua construção, alguns elementos básicos devem
cipação existe, porém é, na maioria das vezes, restrita ao plano da
contemplados: as finalidades da escola, a estrutura organizacional,
execução e não da construção/elaboração coletiva.
o currículo, o tempo escolar, o processo de decisão, as relações de Em oposição ao modelo de gestão acima, concordamos com
trabalho, a avaliação. Contudo, a escola deve assumir a tarefa fun- Freire (2006) na defesa de outro jeito de gerir o trabalho pedagó-
damental de refletir sobre os seus objetivos e sobre o seu papel gico escolar, que é através da participação consciente, crítica e re-
na formação humana, política e social (FREIRE, 2006; VEIGA, 2013). flexiva do público em questão, que busca melhorias em seu projeto
Por se constituir em um processo democrático de decisões na educativo, a partir de interesses coletivos, especialmente de sua
gestão educacional, algumas ações são indispensáveis na elabo- comunidade.
ração do referido documento. Em consonância com Vasconcellos Para a efetivação do modelo de gestão democrática e partici-
(2013), destacamos algumas que consideramos vitais para a sua pativa defendida neste artigo, torna-se essencial a incorporação de
construção: um método fundado na práxis dialógica, que busca reduzir a frag-
· Reuniões pedagógicas com a equipe escolar, onde a escuta e mentação na divisão das tarefas e do controle hierárquico, propon-
o registro do parecer de todos os segmentos do conjunto de profis- do a reflexão e o diálogo sobre as necessidades do coletivo escolar.
sionais devem ser considerados. Nessa direção, o PPP deve ser um instrumento pautado nos objeti-
· Implementação dos órgãos colegiados, partindo da discussão vos e na luta de todas/os e produzido nos anseios e responsabilida-
de sua finalidade e do estudo de como viabilizá-los. des de todas/as.
· Reuniões pedagógicas ou conferências abertas a toda comu- Em termos de conclusão, a gestão da escola não pode mais ser
nidade escolar, refletindo e discutindo sobre a questão da respon- dirigida de cima para baixo e, tampouco, ser ditada por normas ins-
sabilidade de cada e do coletivo no desenvolvimento da gestão do titucionais descoladas da realidade local. Em oposição a isso deve
trabalho educativo. ser feita de uma forma mais humana, democrática, que garanta à
· Ações e atividades pedagógicas que envolvam a comunidade, organização do trabalho pedagógico o seu caráter essencialmente
salientando sobre a responsabilidade para com o projeto escolar. social, ou seja, que consolide o projeto educativo como um produto
social (FREIRE, 2003).29
A relação entre a construção do PPP e a gestão educacional
passa pela autonomia da escola quanto ao delineamento de sua POLÍTICAS PÚBLICAS PARA EDUCAÇÃO BÁSICA
identidade. A relação de poder e com o poder da liderança é algo
imprescindível. Cabe a orientação Freire (2006) quando salienta
que na gestão educacional o poder conferido ao gestor líder deve
Supervisão e avaliação do desenvolvimento e do alcance das
ser utilizado em favor do bem social e jamais para impor as suas
políticas públicas para a educação básica e de ensino médio
próprias “verdades”.
Práticas de Política Pública
Ressaltamos ainda que é de suma importância que a constru- Política pública são ações sociais coletivas que têm por objetivo
ção do PPP passe pela avaliação do trabalho escolar e após a sua à garantia de direitos perante a sociedade, envolvendo compromis-
elaboração seja acompanhado e avaliado continuamente, garantin- sos e tomadas de decisões para determinadas finalidades. É impor-
do, assim, a sua dimensão de controle social (VEIGA, 2013). tante saber como são definidas algumas atividades que requerem
Observamos que a escola sempre foi um espaço social marca- uma avaliação nas etapas de planejamento das políticas e instru-
do, por um lado, por inúmeras contradições, que dão forma às re- ções governamentais, que geram informações que possibilitam no-
lações opressor/oprimido, controlador/controlado, administrado/ vas escolhas na análise para possíveis necessidades de reorienta-
administrados e por outro lado pela luta de uns e acomodação de ções de ações para se alcançar os objetivos traçados.
outros (FREIRE, 1987).
Em oposição às contradições supramencionadas defendemos
neste estudo a importância do PPP escolar como articulador do mo- 29 Fonte: www.bdm.unb.br/www.educere.bruc.com.br/www.gestaoescolar.
delo de gestão educacional pautado na democracia. diaadia.pr.gov.br/www.journal.unoeste.br

450
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Por isso é preciso compreender que: modo geral, o aluno deverá ser capaz de possuir domínio dos prin-
“Programa – é um conjunto de atividades constituídas para se- cípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna;
rem realizadas dentro de um cronograma e orçamento específicos conhecimento das formas contemporâneas de linguagem; e domí-
disponíveis para a criação de condições que permitam o alcance de nio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao
metas políticas desejáveis” (SILVA, 2002, p. 18). exercício da cidadania.
“Projeto – é um instrumento de programação para alcançar os No artigo 36 da LDB 9.394/96, são tratadas as diretrizes do cur-
objetivos de um programa, envolvendo um conjunto de operações, rículo do ensino médio, a compreensão do significado da ciência,
das quais resulta um produto final que concorre para a expansão ou das letras e das artes; o processo histórico transformação da socie-
aperfeiçoamento da ação do governo” (GARCIA, 1997, p. 6). dade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de co-
Ensino Fundamental e Médio municação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania. Este
As medidas tomadas pelo governo brasileiro em relação à edu- artigo sugere também adotar uma metodologia e uma avaliação
cação básica constituem um conjunto de políticas públicas estabe- que estimulem a iniciativa dos estudantes, assim como, à inclusão
lecidas na tentativa de colocar o país em condições similares aos de uma língua estrangeira moderna como disciplina obrigatória es-
presentes nos demais países, tanto nos resultados alcançados pelos colhida pela escola, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das
alunos como na duração da escolaridade obrigatória. disponibilidades da instituição. Ao término do curso, o educando
Na década de 1990, com a globalização ocorreram várias mu- terá que demonstrar domínio dos princípios científicos e tecnológi-
danças no mundo do trabalho e nas relações sociais. Em relação à cos que presidem a produção moderna; conhecimento das formas
educação, foi aprovada a proposta do governo em 1996, a Lei de contemporâneas da linguagem; domínio dos conhecimentos de Fi-
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394 de 20 de De- losofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania.
zembro de 1996. “[…] pelo seu caráter geral, possibilitou um con- O Plano Nacional de Educação foi elaborado com significativa
junto de reformas que foi se processando de forma isolada, mas pressão da sociedade, ocorrida no Fórum Nacional em Defesa da
que correspondia a um bem elaborado plano de governo, que, Escola Pública, com a população presente, educadores, pais de alu-
articulando os projetos para as áreas econômicas, administrativa, nos, estudantes e demais profissionais da educação impediram o
previdenciária e fiscal, foi dando forma ao novo modelo de Estado.” governo a dar entrada, na Câmara dos Deputados, em 10 de feve-
(KÜENZER, 1999, p.10) reiro de 1998. O plano consolidou no Projeto de Lei nº 4.155/98. O
Tal legislação ao ser sancionada, ainda não admitia a obriga- PNE foi aprovado pelo Governo Federal em 2000 e regulamentado
toriedade da entrada de crianças no ensino fundamental a partir pela Lei nº 10.172 de 9 de janeiro de 2001. Descrevendo metas para
dos seis anos. A lei nº 10.172, de 9 de Janeiro de 2001, que aprova a Educação no Brasil e tem tempo determinado de até dez anos
o Plano Nacional de Educação (2001-2011), com a sinalização na para que todas elas sejam realizadas. Entre as principais metas es-
LDB lei nº 9.394 de 20 de Dezembro de 1996, institui entre outras tão à melhoria da qualidade do ensino e a erradicação do analfabe-
medidas os objetivos e metas do ensino fundamental: Ampliar para tismo. Nem todos os itens do plano foram aprovados pelo Governo
nove anos a duração do ensino fundamental obrigatório com início Federal.
aos seis anos de idade, à medida que for sendo universalizado o Dentre os principais objetivos do PDN destaca-se a elevação
atendimento na faixa de sete a quatorze anos. do nível de escolaridade da população; a melhoria da qualidade
Durante a década de 1990, viu-se construir um aparato teóri- do ensino em todos os níveis; redução das desigualdades sociais
co em torno da chamada “pedagogia das competências”, na qual e regionais, na educação pública e a democratização da gestão do
garantiu a propagação de um tipo de educação que considerava o ensino público.
domínio dos “conhecimentos e habilidades necessárias ao exercício Como Metas do PNE destacam-se a ampliação das matrículas
do trabalho em uma sociedade industrializada e urbanizada” (Ra- no Ensino Médio, de forma a atender, no final da década, pelo me-
mos, 2002, p.19). O nível de ensino mais atingido por essa pedago- nos 80% dos concluintes do ensino fundamental; implantar e con-
gia foi o ensino médio, podendo ser comprovado pela Lei nº 9.394 solidar no prazo de cinco anos, a nova concepção curricular, estabe-
de 20 de Dezembro de 1996, que no seu artigo 35 determina: O lecida pela forma de ensino médio proposta pelo MEC.; estabelecer
ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima e consolidar, em cinco anos, um sistema nacional de avaliação da
de três anos, terá como finalidades: Educação Básica (SAEB) e pelos sistemas de avaliação que venham a
I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos ad- ser implantadas nos estados; e, finalmente, assegurar que em cinco
quiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento anos, todas as escolas estejam equipadas, pelo menos, com biblio-
de estudos; teca, telefone e reprodutor de textos.
II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do edu-
cando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se Objetivos da ampliação do Ensino Fundamental
adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aper- A partir de 2009 a matrícula no ensino se tornou obrigatória a
feiçoamento posteriores; partir dos quatro anos de idade, por meio de uma emenda constitu-
De acordo Brandão (2004, p.61) ao analisar as finalidades do cional. Antes só era obrigatória a de crianças de seis a quatorze anos
ensino médio postas na LDB, explica que estariam divididas em três de idade, depois da emenda a matrícula passa a ser obrigatória dos
ideias básicas: a formação do cidadão, a preparação para o trabalho quatro aos dezessete anos, incluído pré-escola, ensino fundamental
e a preparação para continuação dos estudos. e médio.
O Ensino Médio poderá formar o educando para o exercício de Com essa medida o estado estabelece o ensino fundamental
profissões técnicas, sendo este item facultativo. (BRASIL, 1996). Em como ensino publico e subjetivo, garantido vagas e infraestruturas
suma, ao término do Ensino Médio, segundo a LDB nº 9.394/96, de satisfatória e adequado para o desenvolvimento do ensino.

451
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Principais objetivos: Ensino Fundamental


– Melhorar as condições e a qualidade da educação básica; - Ampliar a duração do ensino fundamental para nove anos,
– Estruturar um novo ensino fundamental para que as crianças com início aos seis anos de idade;
prossigam nos estudos, alcançando assim um nível maior de esco- - Assegurar escolas com padrões mínimos de infra-estrutura,
laridade; em cinco anos;
– Assegurar que ingressando mais cedo nas unidades de ensino - Assegurar o Programa de Garantia de Renda Mínima para fa-
a criança tenha um tempo mais longo para a aprendizagem da alfa- mílias carentes (não define %);
betização e do letramento. - Oferecer escolas com dois turnos diurnos e um noturno;
- Ampliar progressivamente a jornada escolar para, pelo me-
O intuito do Ministério da Educação (MEC) ao estabelecer esses nos, sete horas/dia;
objetivos era o de proporcionar às crianças de seis anos de idade o - Promover a eliminação gradual da necessidade de oferta do
ingresso mais cedo, e conclusão do ensino fundamental aos cator- ensino noturno.
ze anos. Vale reafirmar que as políticas de antecipação do ingresso
obrigatório das crianças de seis anos no ensino fundamental e a am- Ensino Médio
pliação deste para nove anos de duração, que foram implantadas no - Atendimento a 50% da demanda (população de quinze a de-
Brasil nestes últimos anos, como objetivo de melhorar as condições zessete anos) em cinco anos;
do nível escolar das crianças brasileiras. Por tanto, um processo de - Atendimento a 100% da demanda (população de quinze a de-
ensino e aprendizagem de qualidade requer mais ações, responsa- zessete anos) em dez anos;
bilidade, investimento e comprometimento, ou seja, um conjunto - A formação superior para todos os professores, em cinco
de medidas que ultrapassem a política de focalização. anos;
Objetivo do Governo - Assegurar escolas com padrões mínimos de infraestrutura,
O principal objetivo do governo é erradicar o analfabetismo no em cinco anos;
país, assim como a desigualdade étnica, melhorar a qualidade de - Assegurar programa emergencial para a formação de profes-
ensino para que assim possamos entrar no nível mundial de educa- sores, especialmente nas áreas de Ciências e Matemática.
ção. Para isso o governo criou muitas alternativas das políticas pú-
blicas voltadas para a educação: FUNDEB, Piso Salarial Nacional do Principais benefícios para a sociedade
Magistério, IDEB, REUNI, IFET, entre outras iniciativas. O sentido é A ampliação do ensino fundamental para nove anos se com-
colocar esses projetos em prática, com os fundamentos do trabalho pactua com a prática de vários países que apresentam em média
que vem sendo desenvolvido, visando ao aprimoramento cada vez 12 anos de escolarização básica, incluindo países da América Lati-
maior, e ao intuito de melhorar cada vez mais o sistema educacional na. Assim, o Brasil busca alinhar-se a tal situação, na expectativa de
brasileiro. O Ministério da Educação diz: “A educação, como sempre melhorar a educação no país, por que historicamente a educação
afirmamos, é um caminho sólido para o Brasil crescer beneficiando brasileira enfrenta muitos desafios ainda não superados: altas ta-
todo o nosso povo. O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) xas de evasão e repetência; analfabetismo; carreira e valorização
é um passo grandioso nesse sentido”. de professores; infraestrutura inadequada e o ingresso nas esco-
Com o Programa Mais Educação do MEC com o objetivo de in- las brasileiras não têm representado a apropriação do processo de
duzir a ampliação do horário escolar e a organização curricular na alfabetização, sendo este um dos maiores impasses a tão buscada
perspectiva da Educação Integral. As escolas das redes públicas de qualidade na educação.
ensino estaduais, municipais e do Distrito Federal fazem a adesão Percebe-se nas camadas menos privilegiadas que a educação
ao Programa e, de acordo com o projeto educativo em curso, op- escolar é uma parte predominante na vida das crianças, sendo esta
tam por desenvolver atividades nos macro campos de acompanha- obrigatória, pública e gratuita. É importante reconhecer que nos
mento pedagógico; educação ambiental; esporte e lazer; direitos últimos anos, vários esforços têm sido realizados por parte do Es-
humanos em educação; cultura e artes; cultura digital; promoção tado, no sentido de melhorar a escolarização dos brasileiros. Vale
da saúde; comunicação e uso de mídias; investigação no campo das ressaltar que as taxas de acesso das crianças e jovens à educação
ciências da natureza e educação econômica. é de 98%, segundo a Organização para a Cooperação e o Desen-
Essas atividades tiveram início em 2008, com a participação de volvimento Econômicos (OCDE/PNAD/2006). Os investimentos re-
1.380 escolas, em 55 municípios nos 26 estados e no Distrito Fede- alizados nos últimos anos, também são considerados significativos,
ral, atendendo 386 mil estudantes. Em 2009, houve a ampliação embora, não sejam suficientes para atender de fato às demandas e
para cinco mil escolas, 126 municípios, de todos os estados e no prioridades de uma educação pública de qualidade.
Distrito Federal com o atendimento a 1,5 milhão de estudantes, ins- Programas e objetivo para os alunos e o professor
critos pelas escolas e suas respectivas redes de ensino. Em 2010, o
Programa foi implantado em 389 municípios, atendendo cerca de Programa: Brasil escolarizado
10 mil escolas e beneficiando 2,3 milhões de alunos a partir dos Objetivo: Garantir, com melhoria de qualidade, o acesso e a
seguintes critérios: escolas contempladas com PDDE/Integral no permanência de todas as crianças, adolescentes, jovens e adultos
ano de 2008 e 2009; escolas com baixo IDEB e/ou localizadas em na educação básica.
zonas de vulnerabilidade social; escolas situadas nas capitais e nas - Apoio à alimentação escolar na educação básica;
cidades das nove regiões metropolitanas, bem como naquelas com - Apoio à ampliação da oferta de vagas do ensino fundamental
mais de 90 mil habitantes. a jovens e adultos;
Metas de maior impacto do Plano Nacional de Educação (a con- - Apoio à difusão de metodologias inovadoras de professores
tar de 2001) do ensino médio;

452
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Apoio à distribuição de materiais didáticos e pedagógicos para - Promoção da educação especial como fator de inclusão es-
a pré-escola, ensino fundamental, educação de jovens e adultos; colar;
- Apoio à distribuição de material didático para a promoção de - Promoção e desenvolvimento da saúde do escolar na educa-
uma cultura de paz nas escolas de ensino fundamental; ção básica;
- Apoio à educação ambiental nas escolas públicas de educação - Resgate da cidadania da criança e do adolescente em situação
básica; de risco;
- Apoio à educação fundamental no campo; - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB).
- Apoio à educação para a ciência no ensino médio;
- Apoio à Educação Profissional com elevação de escolaridade; Programa: Escola básica ideal
- Apoio a grupos socialmente desfavorecidos para acesso à uni- Objetivo: Oferecer atendimento integral e de qualidade em es-
versidade; colas de educação básica modelares de referência.
- Apoio à melhoria da qualidade do ensino médio noturno; - Apoio à ampliação da jornada escolar no ensino fundamental
- Apoio a projetos de cursos voltados para a diversidade social e no ensino médio;
e cultural; - Apoio à implantação de projetos juvenis no ensino médio;
- Apoio a projetos especiais para oferta de ensino fundamental - Apoio à implantação do 4º ano vocacional no ensino médio;
a jovens e adultos; - Apoio à implantação da escola básica ideal;
- Apoio ao combate à evasão escolar; - Apoio à reestruturação da rede pública de ensino para escola
- Apoio ao desenvolvimento da educação infantil, ensino fun- básica ideal;
damental, ensino médio; - Apoio ao transporte escolar no ensino médio;
- Apoio ao desenvolvimento de atividades educativas comple- - Concessão de bolsa de estudos no ensino médio.
mentares nos municípios;
- Apoio ao ensino médio de jovens e adultos trabalhadores; Programa: Gestão da política de educação
- Apoio ao transporte escolar no ensino fundamental; Objetivo: Coordenar o planejamento e a formulação de polí-
- Aquisição de vagas na rede particular de ensino fundamental; ticas setoriais e a avaliação e controle dos programas na área da
- Avaliação Internacional de Alunos (PISA); educação.
- Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB); - Acompanhamento do Plano Nacional de Educação;
- Avaliação Nacional das Condições da Educação Básica (ACEB); - Capacitação de servidores públicos federais em processo de
- Avaliação Nacional de Educação de Jovens e Adultos (ANEJA); qualificação e requalificação;
- Censo Escolar da Educação Básica; - Certificação Nacional de Competência do Trabalhador;
- Complementação da União ao Fundo de Manutenção e De- - Controle e inspeção de arrecadação do salário-educação e sua
senvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magis- regular aplicação;
tério (FUNDEF); - Cooperação internacional com países em desenvolvimento;
- Concessão de Bolsa Escola para o ensino fundamental; - Desenvolvimento de modelos de gestão escolar para a educa-
- Correção do fluxo escolar; ção profissional (PROEP);
- Dinheiro direto na escola para o ensino fundamental e ensino - Desenvolvimento de parâmetros curriculares nacionais do ní-
médio; vel tecnológico (PROEP);
- Disseminação de conhecimento sobre educação especial; - Estudos e pesquisas para a implantação das políticas para o
- Distribuição de livro didático para o ensino fundamental e en- ensino médio (PROMED);
sino médio; - Estudos e pesquisas sócias educativas;
- Distribuição de material didático para a educação especial; - Estudos, pesquisas, estatísticas e avaliações educacionais;
- Distribuição de material especializado e de livros e textos no - Formulação de políticas para educação nacional;
sistema Braille; - Fortalecimento da política nacional para formação de profes-
- Distribuição de uniformes escolares para alunos do ensino sor do ensino fundamental;
fundamental; - Fórum Brasil de Educação;
- Expansão e melhoria da rede escolar (PROMED); - Gerenciamento das políticas de educação a distância, educa-
- Fortalecimento da Escola – Fundescola II e III; ção especial, erradicação do analfabetismo, inclusão educacional,
- Funcionamento do ensino fundamental e ensino médio na ensino fundamental, ensino médio e tecnológico, ensino superior;
rede federal; - Gestão democrática das instituições da rede federal de edu-
- Funcionamento do Instituto Benjamin Constant e do Instituto cação profissional;
Nacional de Educação de Surdos; - Implantação do centro de memória e informação do Conselho
- Garantia das condições de aprendizagem com atendimento Nacional de Educação;
integral; - Implantação do Sistema de Informações da Educação Profis-
- Implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensi- sional (PROED);
no médio (PROMED); - Implantação do Sistema Nacional de Certificação Profissional
- Poupança-Escola para alunos carentes do ensino fundamen- (PROED);
tal/médio que progredirem nas séries/ciclos sem reprovação/inter- - Integração das fundações de apoio às instituições federais de
rupção; educação superior e hospitais de ensino;
- Produção e distribuição de periódicos para a educação infan- - Plano estratégico do setor educacional do MERCOSUL.
til;

453
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Programa: Democratização da gestão nos sistemas de ensino - Formação em serviço e certificação em nível médio de pro-
Objetivo: Promover e fortalecer a gestão democrática nos Esta- fessores leigos;
dos e municípios, assegurando a implantação de forma contínua e - Qualificação de docentes em nível de pós-graduação.
eficaz das políticas educacionais em todos os níveis e modalidades
de ensino com a adoção de novos mecanismos de participação e A educação brasileira está longe de chegar ao seu objetivo de
controle social. se igualar ao patamar mundial, mas devemos fazer a nossa parte
- Apoio à capacitação de profissionais atuantes nas instituições em ajudar e a lutar para que as leis sejam posta em prática. Muitos
de educação infantil; programas para escola e professor estão disponíveis pelo governo,
- Apoio à capacitação dos trabalhadores atuantes no ensino para que possamos fazer nossa parte e melhorar o rumo da edu-
fundamental; cação. Ao governo cabe investir cada vez mais na educação, pois
- Apoio à capacitação dos trabalhadores estaduais atuantes no o investimento feito ate agora não foi o suficiente para melhorar a
ensino médio; qualidade de educação brasileira.
- Apoio à capacitação permanente dos trabalhadores estaduais Se não foi possível afirmar que os problemas da educação no
e municipais de ensino fundamental; país podem ser resolvidos com as mudanças adotadas, entretanto
- Apoio à educação fiscal nos Estados e municípios; não se pode afirmar que também nada tem foi e tem sido feito para
- Apoio à melhoria e democratização da gestão escolar das es- alterar a situação. Com as reformas educacionais destacamos que
colas de ensino médio;
as crianças têm a oportunidade de estar na escola por um perío-
- Apoio à organização de sistemas estaduais de avaliação do
do maior de tempo, se socializam melhor com as outras crianças,
ensino fundamental;
criando maiores oportunidades de brincar e inserir-se num contex-
- Capacitação de gestores para o monitoramento de programas
to cultural novo. O ensino médio tem como principal objetivo ser
e projetos educacionais;
- Capacitação para o exercício do controle social; um complemento do ensino fundamental e preparar o jovem para
- Fortalecimento da capacidade tecnológica de municípios be- o mercado de trabalho e ensino superior, entretanto muito ainda
neficiados por programas de inclusão educacional. deve ser feito para que haja menos evasão escolar nesse período.

Programa: Valorização e formação de professores e trabalha- POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA


dores da educação A educação, por ser um dever do estado, da família e de toda
Objetivo: Oferecer oportunidades de capacidade e formação a sociedade, deveria ser muito mais democratizada, com acessibili-
continuada aos professores, associados aos planos de carreira, car- dade assistida e a cobrança, incessante, de sua qualidade, tanto do
gos e salários e promover acesso a bens culturais e a meios de tra- poder público quanto da sociedade, tendo em vista, que a sua es-
balho. sência depende dos esforços coletivos. É essa qualidade, que uma
- Apoio à capacitação de educadores para promoção de uma vez levada em conta, promoverá o desenvolvimento individual e so-
cultura de paz nas escolas de ensino fundamental; cial do homem além de propiciar a efetivação da perfeita cidadania.
- Apoio à capacitação de professores da educação infantil; Admite-se que se refaça uma profunda reflexão sobre as ações
- Apoio à capacitação de professores de jovens e adultos; das políticas públicas na área educacional, descartando aspectos de
- Apoio à capacitação de professores do ensino fundamental; pouca relevância e aprimorando os que possam gerar os efeitos ne-
- Apoio à capacitação de professores do ensino médio; cessários. Os programas educacionais implementados pelo governo
- Apoio à capacitação de professores e profissionais para edu- tendem a ser úteis, desde que a sociedade não se debruce no co-
cação especial; modismo esquecendo-se de exigir o seu íntegro cumprimento, pois
- Apoio à capacitação de recursos humanos no ensino médio o acesso e a permanência a uma educação de qualidade é direito
(PROMEB); de todos.
- Apoio à especialização pedagógica de professores do ensino Na verdade, todos aqueles que acreditam e reconhecem o di-
médio; reito à educação, devem exigir a efetivação de políticas, cujos alme-
- Capacitação de docentes da educação profissional; jos estejam voltados para a sua qualidade e não para estatísticas
- Capacitação de profissionais para a área de surdez; numerológicas que só servem para uma amostragem ficticiosa. A
- Capacitação de recursos humanos para a educação a distância
qualificação da educação brasileira depende dos programas oferta-
e para o Programa TV Escola;
dos pelo governo, da harmonia entre esse, as entidades formadoras
- Capacitação de recursos humanos para a educação profissio-
e a sociedade que, por sua vez, deve refletir sobre os resultados.
nal (PROEP/FAT);
As políticas públicas são ações desenvolvidas pelo Estado com
- Capacitação de recursos humanos para o uso de tecnologia na
educação pública; o envolvimento de compromissos e ações que possibilitem o desen-
- Capacitação dos profissionais da educação profissional (PRO- volvimento cultural e social de um povo. É um conjunto de ações
EP); sociais que dependem, não só do governo, mas de toda a sociedade
- Certificação de professores da educação infantil e fundamen- e das instituições educacionais, com intenções à garantia dos di-
tal; reitos à cidadania de todos, principalmente dos que encontram-se
- Concessão de bolsa de incentivo à formação inicial e continu- no declive da pobreza. No entanto, é preciso que haja uma relação
ada de professores da educação infantil e fundamental; harmônica entre o Estado, as entidades formadoras e a população,
- Fomento à pesquisa e desenvolvimento da educação infantil; além da definição de algumas atividades avaliativas do planejamen-
- Fomento à pesquisa e desenvolvimento do ensino fundamen- to dessas políticas, para a posterior busca de novas ações.
tal;

454
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

É sabido que a educação é uma área que requer atenção espe- desenvolvimento econômico apareceram com os objetivos básicos
cial do Estado, com políticas que favoreçam o fortalecimento das da política educacional, e foi a partir dessa perspectiva que o fun-
competências intelectuais, éticas e afetivas do cidadão. Os obje- cionamento real dos sistemas educacionais existentes foi avaliado.
tivos traçados nas ações dessas políticas só se efetivarão a partir (TEDESCO, 1995, p. 92)
do momento em que se permita uma análise para possíveis reo- É inegável que, nas últimas décadas, tenha havido uma que-
rientações. São essas análises que, uma vez realizadas, indicarão da no índice de analfabetismo no Brasil, graças aos investimentos
as supostas lacunas das ineficiências, possibilitando, assim, novas econômicos na área educacional, a preparação de profissionais e
estratégias para as suas superações. a conscientização da própria sociedade que, paulatinamente, pas-
De modo que há uma urgente necessidade de ajustamento nas sou a perceber a imensurável importância dos esforços aplicados
políticas públicas brasileiras em todas as áreas, principalmente na na educação dos filhos. Mesmo assim, a reflexão sobre a educação
educacional, por ser essa a orientadora e a responsável pelas de- que a sociedade brasileira espera, está sendo posta como desafio.
mais. Segundo a UNESCO,
A POLÍTICA E ALGUNS DOS INVESTIMENTOS EDUCACIONAIS
Os problemas educacionais não tem origem exclusivamente na
O governo federal, através do Ministério de Educação e Cultu-
educação, mas busca-se resolvê-los apenas com reformas educa-
ra – MEC, tem proporcionado programas educacionais que visam
cionais. O tema do abandono precoce da escola é um exemplo pa-
o resgate da qualidade da educação brasileira. Programas, esses,
radigmático desta situação, um alto percentual de fracasso escolar
que demonstram as melhores intenções possíveis, mas, às vezes,
tem sua origem direta nas carências econômicas, sociais e culturais tornam-se ineficientes pela a ausência de interesse do seu cumpri-
que sofrem determinados grupos da população. (UNESCO, 2002, p. mento, pela falta de fiscalização dos recursos destinados, pela sua
102) má aplicação, além de uma série de fatores.
As metas provindas das políticas educacionais devem deter- A implementação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
minar a implementação de ações que norteiem a redistribuição cional – LDBEN, Lei nº 9.394/96, que objetiva disciplinar e estrutu-
dos benefícios sociais, visando a diminuição das desigualdades e o rar o funcionamento do sistema educacional brasileiro, a criação
desenvolvimento socioeconômico. Nesse contexto cabe, priorita- do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Bási-
riamente, as autoridades responsáveis pelo sistema educacional, ca e Valorização dos Profissionais em Educação – FUNDEB, Lei nº
analisar e refletir sobre os investimentos aplicados e os seus res- 11.494/07, com vigência entre 2007/2020, que orienta a aplicação
pectivos resultados. O que se tem percebido, com certa nitidez, é dos recursos na área, com almejos no desenvolvimento social, a
que prioridades educacionais vem sendo substituídas por outros instituição do Piso Salarial Nacional do Magistério – PSNM, Lei nº
interesses, que não fazem parte do sistema educativo. 11.738/08, que regulamento o salário nacional dos profissionais
O nosso país avançou muito com políticas públicas, nos últimos em educação básica, a elaboração do Plano Nacional de Educa-
anos, por entender que a educação é a mola mestra responsável ção – PNE, Lei nº 13.005/04, referido no artigo 214 da Constituição
pela alavancagem do desenvolvimento. No entanto, fez-se menção Federal, contendo 20 metas e 254 estratégias, com vigência entre
anteriormente que, não basta o esforço específico do governo, é 2014/2024 além de outras, trouxeram fôlego e muita energia para
preciso que todos estejam envolvidos na luta, com os mesmos ob- a condução de uma das tarefas mais árduas e mais complexas do
jetivos, com as mesmas perspectivas e com mesmos sonhos. É esse seio social.
conjunto de esforços, sobretudo os educacionais, que proporcio- Com normativas delicadamente elaboradas, essas leis obje-
narão a consolidação das equidades e dos valores humanos para tivam o avanço do desenvolvimento educacional básico do Brasil,
todos. porém os seus efeitos não tem culminado onde a sociedade almeja.
Enfim, as políticas educacionais definem que todos tem o di- Os seus desnorteios se dão, graças as políticas partidárias, a ausên-
reito assistido à escola, que deverá ofertar um ensino de qualidade. cia de fiscalização e de cobranças efetivas da população.
Para Comênio, “o sistema de ensino deve ser articulado, reconhe- A LDB, no seu artigo 2º garante que a educação, dever da fa-
mília e do estado, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
cendo o igual direito de todos os homens ao conhecimento, desen-
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e qualificação
volvido através de uma educação permanente, durante toda a vida
para o trabalho e o artigo 32º, inciso I, faz menção ao Ensino Fun-
humana”. COMÊNIO (1592-1670)
damental, tendo como objetivo, o desenvolvimento da capacidade,
As políticas que regem a educação no Brasil precisam refletir
com pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo. Contudo, é
profundamente à respeito do assunto, descartando a importância preciso que se refaça a seguinte reflexão: Será que os nossos alu-
quantitativa mas dando ênfase a qualidade que possibilitará o exer- nos, ao concluir o Ensino Fundamental, estão correspondendo com
cício pleno da cidadania do indivíduo. Os países de primeiro mun- essas perspectivas? E ao consumar o Ensino Médio, estão realmen-
do sinalizam essa preocupação e não poupam nos investimentos, te preparados para o exercício pleno da cidadania?
por terem a certeza que investir no setor educacional é, ao mesmo Em relação ao FUNDEB, os recursos destinados podem até ser
tempo, apostar no desenvolvimento sociocultural de seu povo e no suficientes, mas a sua empregabilidade é que talvez não seja feita
futuro promissor de seu país. de forma legal e dentro das exigências do Fundo. Dentre os recursos
federais, a verba da educação é uma das maiores destinadas aos
Na concepção de Tedesco, municípios que, muitas vezes, a usam para fins que, supostamente,
Democratizar a educação seria a condição necessária para a não fazem parte do orçamento, proporcionando, de certa forma,
democratização social. Depois da Segunda Guerra Mundial, a ex- um déficit na área.
pansão educativa foi considerada como uma necessidade para o O Piso Salarial do Magistério, criado em julho de 2008, é um
crescimento econômico. Gastar em educação seria investir, tanto determinante, que veio contemplar os profissionais que desem-
ao nível individual quanto social. Dessa forma, a democratização e o penham atividades docentes, pedagogos, diretores, supervisores,

455
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

orientadores, inspetores ou seja, nenhum desses profissionais de- As políticas públicas são necessárias, por fazerem parte da vida
vem receber abaixo do piso. O piso passou a ser a verdadeira refe- social cotidiana, sendo decisivas ao norteamento de projetos que,
rência dos Planos de Carreira Cargos e Salários, criados pelos esta- uma vez desenvolvidos, propiciarão resultados satisfatórios. Pelo
dos e municípios, com o objetivo de valorizar os profissionais em contrário, haveria uma perda de trabalho e de recursos, tendo como
educação, além de incentivá-los ao aperfeiçoamento e permanên- consequências, o descrédito e a nodoação de sequelas irreparáveis.
cia na área. No entanto, a sua normativa não é respeitada nem tam- Investir bem na área educacional, através de projetos que este-
pouco considerada como devia, por alguns estados e municípios. jam sintonizados às necessidade da sociedade, significa economizar
O novo Plano Nacional de Educação – PNE, reacendeu muitas gastos futuros em outras áreas como saúde e segurança. Uma so-
expectativas da sociedade brasileira, que sempre almejou maiores ciedade que tem a educação consolidada nos preceitos constitucio-
investimentos no setor e por acreditar na consolidação de grande nais, está preparada para contribuir com o desenvolvimento de sua
parte de suas metas. Suas estratégias estabelecidas trouxeram cre- Pátria. (Grifo nosso)
dibilidade e otimismo com a sinalização de mudanças positivas em Sabe-se que investir bem na educação é acreditar em um futu-
tempo breve. Com base no PNE, estados e municípios criaram os ro melhor, em uma sociedade mais justa e igualitária. A construção
seus Planos Estaduais de Educação – PEE e Planos Municipais de da cidadania se dá por meio dos estudos que dependem da imple-
Educação – PME, ajustados ou condicionados às suas realidades. mentação de recursos provindos das políticas públicas. No entanto,
Muitas são as leis que tem gerado expectativas à população é preciso que se democratize a sua construção, realizando diagnós-
brasileira, que ainda acredita em melhores dias e aguarda uma ticos, discutindo os problemas com a sociedade e flexibilizando as
educação que atenda as reais necessidades dos indivíduos, trans- suas estratégias conforme as reais necessidades.
formando-os em verdadeiros cidadãos. São essas políticas públicas Em nosso país ainda existe o empecilho da escolarização e do
educacionais que poderão fazer a diferença, possibilitando a aboli- sucesso acadêmico que permeia por inúmeras variáveis, desde a
ção das desigualdades sociais, da exclusão e do racismo. falta de preparo dos professores, às inadequações dos espaços fí-
Todavia, essas expectativas sinalizam a perda de forças me- sicos, recursos mal administrados, condições econômicas deficitá-
diante a uma Proposta de Emenda Constitucional – PEC, de nº 241 rias, entre outras. Por isso, há a necessidade de políticas educacio-
que tem como objetivo criar um teto para os gastos públicos e fre- nais que priorize todas essas demandas para o combate à exclusão
ar o seu crescimento por vinte anos. Diante disso, e por saber que e o avanço do desenvolvimento social.
educação e saúde poderão deixar de receber um terço das verbas As políticas públicas devem priorizar a qualidade da educação
obrigatórias que injetariam recursos para a alavancagem nessas para que os resultados acadêmicos dos estudantes melhorem e
áreas, conclui-se que as políticas públicas educacionais dão sinal de o nível socioeconômico se estabilize. É percebível que o financia-
fraquejamento. Ora, se o setor educacional necessita da ampliação mento dessas políticas é razão decisiva para que a educação possa
de investimentos para a retomada do desenvolvimento, como po- alcançar o melhor nível qualitativo, proporcionando ao educando
deria avançar com recursos limitados? Como consolidar as metas e subsídios para a consumação dos objetivos almejados.
as estratégias do PNE, que almejam estimular a formação inicial e
continuada de professores, oferecer educação integral em 50% das OS PALIATIVOS NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
escolas, ampliar investimentos do Produto Interno Bruto – PIB, em Em meio toda essa turbulência socioeconômica, que o Brasil
até 10% entre outras, se a PEC limita gastos? vem atravessando, nos últimos anos, tem-se observado políticas
que são utilizadas como meros paliativos na educação. São progra-
A ESSÊNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO mas de cunho político que não desenvolvem o espírito crítico, nem
O Estado brasileiro encontra-se incumbido de implementar o pensamento reflexivo, tampouco estimulam a criação cultural do
políticas enérgicas que reparem supostas ineficiências e ofereçam indivíduo. A expansão dos programas educacionais é vista com niti-
possibilidades para os avanços norteadores da verdadeira cidada- dez, mas os resultados esperados são nebulosos.
nia. Acredita-se que o financiamento da educação, antecipadamen- A Reforma do Ensino Médio, por exemplo, pode ser interpreta-
te refletido e previamente consultado a sociedade, seria a causa da, por muitos, como uma dessas medidas paliativas no setor edu-
determinante para que se alcançasse uma educação de nível qua- cacional, uma vez que, apresenta o aumento progressivo da carga
litativo. Os recursos previstos para a educação, em especial a dos horária, a farsa do ensino integral e da formação técnica e profissio-
municípios, são imprescindíveis e significativos para a efetivação nal, tendo como consequências, o encolhimento do conhecimento
dos benefícios comuns que sociedade necessita. a quem o tem por direito, previsto na lei. Para o Coordenador Na-
Considera-se, portanto, ser missão do Estado, desenvolver cional pelo Direito à Educação, Daniel Cara,
projetos que elenquem metas e estratégias possíveis para a exe- Essa reforma é uma falácia, porque não resolve as questões es-
cução de ações. No entanto, o que se tem percebido são criações truturais, como a formação de professores e pontos que eram de-
de apreciáveis projetos que finalmente tornam-se fictícios ou são mandas dos estudantes que ocuparam as escolas, como a redução
desprezados pelo meio do caminho. O compromisso público deve do número de alunos por classe. De nada adianta ênfase em exatas
visar as verdadeiras demandas sociais oferecendo medidas que ou humanas, se o professor for mal preparado, se não houver recur-
possibilitem mudanças para uma vida melhor e mais digna para a so. (DANIEL CARA, 2017)
sociedade.
É sabido que nenhum país progredirá se a sua educação não for
prioridade. A precariedade da educação traz prejuízos irreversíveis
além de contribuir para a formação de uma sociedade mascarada
e acomodada. Todas as pessoas necessitam e devem ter acesso a
uma educação de qualidade, que deve ser buscada nas políticas pú-
blicas, com base nas normativas das leis que lhes garantem.

456
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A exemplo de alguns desses programas destaca-se, como pres-


suposto, o Ensino Médio com Intermediação Tecnológica – EMITEC, QUESTÕES
no estado da Bahia, que originou-se em 2001, com a justificativa de
atender a três vertentes desafiadoras da educação baiana: a exten- 1. (Quadrix/2017 - SEDF)
são territorial, a carência de docentes habilitados e atenuação às No que se refere aos aspectos pedagógicos e sociais da prática
desigualdades socioculturais do estado, prevendo o encolhimento educativa, julgue o item a seguir.
do êxodo rural e o desenvolvimento para o campo, além de possibi- De acordo com a tendência progressista histórico-crítica, a edu-
litar a continuidade das famílias em suas terras de origem. A priori, cação deve estar centralizada no aluno e o professor deve garantir
intenções que proporcionam comodidade à população ruralista, um relacionamento de respeito, promovendo uma aprendizagem
mas a posteriori, o atropelamento dos artigos 22 da LDB e 105 da baseada na motivação e na estimulação de problemas.
CF, que preveem o pleno desenvolvimento do indivíduo, seu pre- ( ) CERTO
paro para o exercício da cidadania, qualificação para o trabalho e ( ) ERRADO
estudos posteriores, após concluir o ensino básico.
Essa modalidade, supostamente, deixa de oferecer condições 2. (IBFC/2013 - SEAP-DF)
necessárias a uma aprendizagem que possibilite ao educando o Considerando o papel político pedagógico e organicidade do
exercício da cidadania, tendo em vista, muitas carências encontra- ensinar, aprender e pesquisar, e de acordo com seus conhecimen-
das, desde a falta de professores capacitados, a ausência de mate- tos sobre essa temática, julgue os itens a seguir:
rial pedagógico e da inter-relação com outros professores, à osci- I. O projeto político-pedagógico contribui na sistematização e
lação de internet, além de outros fatores. É um curso que poderia organicidade da prática reflexiva dos sujeitos, estes que são múl-
ter como público alvo aqueles que estão com o currículo em atraso, tiplos e convergem para ações autônomas e compromissadas com
que não tiveram oportunidade ou condições de participar de um a construção do projeto, voltado para crítica, intervenção social e
curso médio normal. formação de sujeitos reflexivos.
Com isso, termina se obstruindo qualquer possibilidade de II. O projeto político-pedagógico pode ser definido como um
uma educação escolar pública qualitativa para a juventude baiana/ simples agrupamento de planos de ensino e de atividades diver-
brasileira, sobretudo para os menos favorecidos e periféricos que já sas, sendo construído e encaminhado às autoridades educacionais
vem sofrendo o descaso da sociedade e do estado. como prova do cumprimento de tarefas burocráticas da escola.
III. A construção de um projeto político-pedagógico deve con-
CONSIDERAÇÕES FINAIS siderar as singularidades e a participação de todos os sujeitos da
Por se considerar a educação um campo de cunho social, res- escola, potencializando a criatividade e a capacidade reflexiva. Essa
ponsável pela transformação positiva da sociedade, necessita ser perspectiva remete à compreensão das relações entre os sujeitos
vista e considerada como um direito fundamental do indivíduo e que interagem no contexto do pesquisar, ensinar, aprender, de
dever do Estado, que tem a responsabilidade de implementar políti- modo a ser coletiva a construção do projeto em questão.
cas públicas capazes de garanti-la com qualidade. O único e exclusi- IV. O processo político-pedagógico, embora constituído em
vo caminho que possibilitará as melhores condições socioeconômi- processo democrático, não aborda a eliminação de relações com-
cas de uma nação é a educação que, uma vez valorizada, propiciará petitivas e corporativas, reiterando a rotina do mando racionalizado
oportunidades de igualdade para todas as classes sociais. da burocracia, aumentando efeitos fragmentários da divisão do tra-
No entanto, é preciso pensar em políticas educacionais como balho que acaba por hierarquizar os poderes de decisão.
essência para o norteamento da cidadania e para a formação de É correto o que se afirma nas sentenças:
uma base nacional igualitária e verdadeiramente ativa. Não basta a (A) I, II e III, apenas
criação de “Reforma Educacional”, simplesmente para atender con- (B) I e III, apenas.
vicções políticas, o que se espera é por um sistema que possa aten- (C) III e IV, apenas.
der as reais necessidades da nação, atenuando as desigualdades so- (D) I, III e IV, apenas.
ciais, desmascarando e fortalecendo o senso crítico dos indivíduos.
As políticas públicas surgiram com o intuito de viabilizar a cons- 3. (TJ-MA - FESAG - Pedagogo - 2005)
trução do bem comum de todos os cidadãos que integram a so- O projeto político pedagógico é um instrumento que deve ser
ciedade. Cabe, pois, o Estado refletir sobre o compromisso que a implementado na perspectiva de uma educação para a cidadania.
ação governamental tem com as suas implementações, para que Com esta compreensão é correto afirmar que:
contribuam com a transformação educacional e a efetivação da ci- (A) O projeto político pedagógico precisa ser construído inclu-
dadania, em virtude dos direitos previstos na Constituição Federal. sive por interferência política partidária. Um processo sempre
É percebível que as políticas educacionais, no Brasil, avança- inconcluso e se possível parcial.
ram bastante nas últimas décadas, mas é percebível também, que (B) O projeto político pedagógico não nega o instituído coleti-
os seus efeitos não atingiram grande parte das metas almejadas. vamente, que é a sua história, seus atores. O projeto político
Com isso, fica a sociedade credenciada a lutar por um ensino de pedagógico não deve confrontar o instituído com o instituinte.
qualidade, que possibilite a melhoria do nível de desenvolvimento (C) O projeto político pedagógico precisa ser construído sem
do nosso país. interferência política. Um processo sempre inconcluso e se
possível imparcial.
(D) O projeto político pedagógico não nega o instituído coleti-
vamente, que é a sua história, seus atores. O projeto político
pedagógico sempre confronta o instituído com o instituinte.
(E) N.R.A.

457
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

4. “Qual é o papel da avaliação no processo de ensino aprendi- 8. (CESPE - 2012 - TJ-RO)


zagem? É certo que podermos separar o fato de ensinar do fato de Confrontar a experiência do aluno com o saber sistematizado
ensinar e avaliar? Antes de ensinar, sempre fazemos uma avaliação constitui método de ensino-aprendizagem próprio da concepção
inicial?” BASSEDAS, HUGUETE, SOLE, 1999. São muitos os questio- pedagógica.
namentos sobre avaliação. Analise as afirmativas a seguir e marque (A) liberal tecnicista.
a alternativa INCORRETA: (B) progressista histórico-crítica.
(A) A avaliação é utilizada para ajustar ou modificar as ativida- (C) liberal renovadora progressiva.
des em função dos conhecimentos e as dificuldades no início (D) progressista libertadora.
de uma sequência de ensino e de aprendizagem. (E) progressista libertária.
(B) Uma prática de avaliação formativa supõe um domínio do
currículo e dos processos de ensino e de aprendizagem. 9. (Quadrix/2018 - SEDUCE-GO)
(C) Ao elaborar uma avaliação, o educador deve observar a Na escola, o coordenador pedagógico exerce um papel estra-
contextualização, a interdisciplinaridade e a parametrização. tégico nas diversas instâncias que a permeiam. Considerando essa
(D) A avaliação se restringe ao julgamento sobre sucesso ou informação, assinale a alternativa que apresenta corretamente a
fracasso do aluno e pode ser compreendida como um conjunto função do coordenador pedagógico na escola.
de ações que orientam a intervenção pedagógica. (A) motivar os professores a manterem a boa aparência da es-
cola, de modo a estimular, na comunidade escolar, a aderência
5. (Professor – Anos Iniciais – 2013 – ICAP). às propostas feitas pela gestão
A contribuição da escola é a de: (B) cuidar da disciplina dos alunos, assumindo a postura de
(A) Não eleger a cidadania como eixo vertebrador da educação uma personagem apaziguadora da escola
escolar. (C) cuidar dos critérios de avaliação em sala de aula, optando
(B) Colocar-se contra valores e práticas sociais. sempre por um sistema mais rígido, mantendo o controle dos
(C) Desenvolver um projeto de educação comprometida com professores e assegurando o bom desempenho dos alunos
o desenvolvimento de capacidades que permitam intervir na (D) ser articulador, formador e transformador, possibilitando
realidade para transformá-la. que novos significados sejam atribuídos à prática educativa da
(D) Desrespeitar princípios e descomprometer-se com as pers- escola e à prática pedagógica dos professores
pectivas e decisões que as favoreçam. (E) cuidar da administração do tempo nas salas de aula, contro-
(E) Não valorizar conhecimentos que permitam desenvolver as lando principalmente o tempo destinado aos intervalos e evi-
capacidades necessárias para a participação efetiva. tando que haja dispersão dos alunos e dificuldades no retorno

6. (IF/GO – 2019 – IF/Goiano) 10. (FURB/2019 - Prefeitura de Blumenau/SC)


A inclusão implica um esforço de modernização e reestrutura- Valorização da diversidade como elemento enriquecedor da
ção das condições de funcionamento e organização da maioria das aprendizagem, atendimento às necessidades coletivas e individu-
escolas brasileiras, em especial as de educação básica. No entanto, ais de ensino e aprendizagem, adaptação da escola às necessidades
mudar a escola é enfrentar, de acordo com Mantoan, estudiosa da dos alunos e currículo flexível são fundamentos relacionados, cor-
questão da inclusão, muitas frentes de trabalho, cuja tarefa funda- retamente, à/ao:
mental é: (A) Educação inclusiva.
(A) recriar o modelo educativo da escola, tendo como eixo o (B) Ensino especial.
ensino para todos. (C) Educação especial.
(B) reorganizar administrativamente as escolas, tendo como (D) Ensino integrativo.
princípio a normalização. (E) Atendimento especializado.
(C) reestruturar a prática pedagógica dos professores, tendo
como eixo o ensino especializado.
(D) aprimorar os sistemas educacionais, tendo como princípio GABARITO
a integração.
1 ERRADO
7. (CESPE/2018 - ABIN)
A questão não é mais discutir a inserção ou não de tecnologias 2 B
da informação e comunicação na educação, mas a sua apropriação 3 D
pelos sujeitos pedagógicos (alunos e professores), para contribuir
com a melhoria da qualidade dos processos educativos e, conse- 4 D
quentemente, da aprendizagem. Com relação a esse assunto, jul- 5 C
gue o item que se segue.
6 A
Iniciativas educacionais e culturais têm procurado minimizar a
discrepância no acesso às tecnologias da informação e comunica- 7 CERTO
ção por meio da utilização das mídias nos processos educacionais. 8 E
( ) CERTO
( ) ERRADO 9 D
10 A

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