Disciplina: Estagio Supervisionado para Psicólogo I Docente: Crisostomo Lima Do Nascimento Discente: Maria Eduarda Dal Bon
Fichamento do Livro
Livro: Conversa Sobre Terapia – Bilê Talit Sapienza
· Ao longo do livro a autora exemplifica a prática psicoterapêutica a partir
de um referencial básico do pensamento heideggeriano, que se apresenta por uma abordagem fenomenológica adotada no Brasil como a Daseinsanalyse. · Ela inicia o texto trazendo uma problemática sobre o entendimento de uma teoria com base fenomenológica: “Se o nosso trabalho se situa na fenomenologia, então, esse assunto se torna mais complexo, pois o próprio uso ou não de uma teoria passa a ser urna questão” (p. 5) · Se questionado, portanto, como é possível fazer fenomenologia, no sentido proposto do conceito, se não houver uma suspensão das teorias de psicologia – epoché - para que assim, seja possível ir direto ao fenômeno tal como se apresenta: de maneira única. · “Suspendemos as teorias de psicologia. Mas precisamos saber o que estamos suspendendo; senão, estaremos sendo apenas ignorantes.” (p. 5) · Ao longo do texto, ela traz conceitos importantes como a compreensão de Dasein, que se apresenta como “ser-ai”, “ser-no-mundo”, “sercom”... · Além de explicitar que a existência do paciente, se torna em clínica, o fenômeno a ser compreendido “Sua existência se abre para ser compreendida.” (p. 9) · A autora faz uma observação sobre o cenário atual, onde os motivos que levam o ser-aí até um atendimento terapêutico, se tornaram mais definidos, normalmente a partir de diagnósticos como depressão, pânico, ansiedade, e até mesmo se apresentando a partir de siglas como TOC ou TDAH... “Ela vem com um pedido muito particularizado e urgente para que você a livre de um transtorno.” (P. 12) · “Se você trabalha com a fenomenologia, sabe que realidade é sempre realidade percebida.” (p. 15). A realidade do paciente é, portanto, uma possibilidade de percepção. · “Terapia é um pouco isto: possibilidade de dirigir um olhar diferente para a própria existência e, assim, reformular significados.” (p. 16) · Não é possível observar apenas a existência do “ser-ai”, já que existência e "mundo" são co-originários. · “Ao concebermos o "ser-com" como uma característica básica da existência, dizemos que esse "ser-com" o outro faz parte também da estrutura do "ser-no- mundo ``." (p. 23). Ou seja, o “outro” assim como o “mundo”, faz parte da existência do "ser-aí" · Em meio a um exemplo estereotipado dado pela autora, é possível perceber um fazer terapêutico pré-concebido: “...por aí você pode ver o quanto determinadas falas de terapeutas são estereotipadas: valem para qualquer paciente e não valem propriamente para nenhum.” (p. 25) · A autora destaca a ideia de horizontalidade como base de uma relação terapêutica fenomenológica, onde é preciso ter paciência para que o fenômeno em questão se mostre de maneira completa antes de atuar com qualquer interferência. · Entende-se que não é função do terapeuta dar lição de moral, ou mostrar ao paciente o que deve ou não ser feito, mas é próprio da terapia lidar com as questões importantes que afetam a existência do paciente a partir de uma abertura. · “O terapeuta está lá para ser essa abertura, numa disponibilidade para a compreensão daquilo que chega e se mostra; daquilo que não se mostra diretamente, mas se insinua, e, com paciência, acaba por aparecer; e também daquilo que nem sequer se insinua, visto que dele nem podemos dizer que “é”, mas que passa a “ser quando pode, enfim, articular-se na linguagem – a “linguagem” é a morada do ser” -; e, para isso, vai ser preciso mais paciência ainda." (p. 29) · Ainda destacando sobre a necessidade de uma cautela nas colocações feitas para o paciente, a autora fala que: “...terapeuta deveria ter cuidado também ao falar, apressadamente, determinadas coisas que, no momento em que o paciente está vivendo, podem ser mal compreendidas por ele.” (p. 32) · Com a leitura do texto, foi possível entender que a atuação terapêutica com base fenomenológica, deve ser encarada como um momento de cuidado. Buscando uma relação clínica que abra espaço para uma possibilidade de cuidado a partir de uma preocupação por anteposição, que se dá por meio da responsabilidade. · “Terapia vem da palavra grega therapeia-as, de therapeúein, e tem os significados de: servir, honrar, assistir, cuidar, tratar.” (p. 38) · "Então, qualquer cuidado terapêutico tem a ver com o devolver, recuperar ou resgatar para aquilo que é cuidado algo que diz respeito a ele e que por algum motivo foi perdido ou prejudicado” (p. 39) · “E o falar disso tudo acaba por constituir a abertura que possibilita ao paciente compreender que é dele a responsabilidade por sua existência e que existir é dedicar-se ao "cuidado".” (p. 40) · Terapia como um momento único de cuidado pela existência do paciente, cuidado esse que deve consistir em uma devolução da obrigação do cuidado. · Além disso, a autora destaca, por meio de um dos seus personagens, sobre a importância do encaminhamento quando necessário. Para que seja possível um atendimento ético e adequado. · É exemplificado também, a necessidade de um supervisão sob os atendimentos. · Por fim, conclui-se que a atuação do terapeuta fenomenológico se dá a partir de uma pluralidade de possibilidades: “A terapia toma-se o espaço propício para as indagações, porque o terapeuta as legitima e amplia. Paciente e terapeuta se empenham num trabalho de procura, que vai em busca de compreensão da existência do paciente. E é nesse caminho sincero de procura que o paciente pode vir a aceitar que: para algumas perguntas nao há respostas;” (p. 119)