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Introdução

Boa noite turma, hoje como podem observar iremos apresentar o capítulo “The internal Supervisor”. Um
capítulo que tal como o próprio nome indica, expande um conceito já referido na semana passada e que
procura acentuar uma presença interior na mente de um terapeuta, que certa forma espelhe a presença de um
supervisor externo.
A nossa apresentação irá essencialmente seguir a estrutura apresentada. Iremos começar por abordar
um pouco o autor, não só pela sua relevância mas de forma a contextualizar o seu pensamento. De seguida
iremos abordar o principal conceito e como este é desenvolvido ao longo da prática terapêutica. Por fim,
iremos mencionar conceitos relevantes para o supervisor interno mencionados ao longo do artigo e ainda,
uma aplicação clínica destes em que gostaríamos de contar com a vossa participação

1 - Autor e contextualização

Desta forma, o autor do artigo é o Patrick Casement, um psicanalista inglês, já reformado,


distinguido não só por uma prática profissional de cerca de 40 anos como pela escrita de diversas obras,
incluindo a que iremos apresentar.
Nós consideramos relevante abordar o autor já que ele possui uma trajetória e sobretudo um
pensamento um pouco distinto. Ele começa por trabalhar como psicoterapeuta, durante uma década, até
chegar à conclusão que todo o seu treino apenas o permitia lidar com os problemas dos clientes de forma
superficial. Neste sentido, ele decidiu submeter-se a uma análise e consequentemente, tornar-se um
psicanalista.
É neste ponto que o seu pensamento se torna distinto e de certa forma estabelece uma base para o
supervisor interno. Desde o início da sua prática analítica que Casement demonstrou uma forte oposição na
dependência em conceitos teóricos ou teorias particulares. Por outro lado, ele procurava percorrer o caminho
que fazia mais sentido de acordo com a situação apresentada, e que sobretudo fosse útil no processo
terapêutico do paciente. Uma maneira útil de ilustrar esta dualidade acabou por ser aparente no vídeo que o
professor mostrou acerca da percussionista e como ouvir música. Ela refere que todo o treino rígido a que ela
foi sujeita, sobreuto a sua postura, a posição dos braços e o ângulo das baquetas. Todas estas condições que
podem ser comparadas aos conceitos teóricos que, tal como a percussionista menciona ( posso mencionar o
nome dela ) acabam simplesmente por tornar o ato mais rígido e não natural, caso se note uma elevada
dependência.
É neste contexto que surge o início do artigo. O autor refere a dualidade, ou paradoxo, que surge ao
aplicar o conceito de neutralidade analítica. Nesta, como sabemos, os terapeutas são encarados como objetos
de transferência e de tal forma, é crucial proteger o processo analítico de interferências desnecessárias da
personalidade do terapeuta. No entanto, o oposto também não é ideal, já que o autor adverte para que os
terapeutas evitem tornar-se defensivos, já que esta postura é igualmente prejudicial. O conceito de
"espaço potencial" é introduzido, um espaço que combina o real com o ilusório, onde o paciente deve ter a
liberdade de experimentar de forma ideal, sem interferência do terapeuta. Para preservar o potencial criativo
desse espaço, os terapeutas devem encontrar um equilíbrio delicado, sendo psicologicamente íntimos ao
paciente, mas mantendo uma distância suficiente para funcionar eficazmente como terapeutas. Em vez disso,
os terapeutas devem manter uma presença transicional, o autor usa o exemplo de uma mãe que observa o
filho a brincar, disponível mas não intrusiva, permitindo assim que o terapeuta seja invocado ou represente
uma ausência, quando necessário.
Nesta ótica, de foma a lidar com os diversos parodoxos descritos e inerentes à presença, o autor
sugere a implementação de um supervisor interno. Ele destacou, tal como ele sentiu ao longo da sua
formação, que a formação fornecida a analistas não os prepara, de forma competente, para lidar com os
cenários terapêuticos de uma forma não superficial, já que os analistas em formação acabam por depender
em demasia no supervisor.

2-

O supervisor interno refere-se a uma presença ou processo internalizado na mente do terapeuta que
espelha o papel de um supervisor externo.
Esta entidade interna atua como um guia, fornecendo feedback, insights e avaliação crítica dos
pensamentos, sentimentos e reações do terapeuta durante as sessões de terapia. Isso auxilia o terapeuta a
compreender sua contratransferência (a resposta emocional do terapeuta ao paciente) e permite que façam
sentido de suas experiências subjetivas dentro da relação terapêutica.
O conceito do supervisor interno destaca a importância da autoconsciência e da autorreflexão
contínua para os terapeutas, permitindo-lhes aprimorar suas habilidades clínicas, compreender seus pontos
cegos e manter limites éticos no seu trabalho com os clientes. Essencialmente, é uma forma de os terapeutas
supervisionarem sua própria prática, integrando as lições e insights obtidos da supervisão externa em seu
processo de pensamento interno e abordagem clínica.

O Desenvolvimento do supervisor interno

Durante a análise pessoal, os terapeutas são encorajados a alcançar uma "dissociação terapêutica"
no ego do paciente, observando o processo de transferência. Isto envolve permitir que o paciente
observe o que está a experienciar em relação ao terapeuta, resultando na divisão entre o "ego
observador" e o "ego experimentador"
O processo de desenvolvimento do supervisor interno começa na análise pessoal dos terapeutas,
onde estes aprendem a observar a si mesmos a partir de um ponto de vista interno e a desenvolver a
capacidade de reflexão espontânea durante as sessões.

Na fase de formação, os terapeutas precisam de supervisão externa para desenvolver as habilidades


analíticas e adquirir uma base sólida para trabalhar de forma independente. No início, eles confiam
nas orientações dos seus supervisores, mas com o tempo, integram esses insights no próprio
trabalho terapêutico.

À medida que avançam na formação, os terapeutas devem desenvolver um diálogo entre o seu
supervisor externo e o supervisor interno, desenvolvendo assim a capacidade de funcionar de forma
mais autônoma quando se qualificam.

Após a qualificação, os terapeutas entram num período de consolidação, onde continuam a


aprimorar o seu supervisor interno e o seu entendimento da técnica terapêutica. O processo de
"tornar-se" um terapeuta nunca é concluído, e faz parte do trabalho de um terapeuta manter um
espírito de aprendizagem constante.

Quando têm a oportunidade de supervisionar outros terapeutas em formação, os terapeutas mais


experientes podem enfrentar desafios semelhantes aos que encontraram durante seu próprio treino.
Isso leva a refletir sobre o seu próprio trabalho e a aprender com as experiências dos seus
supervisionados.

O texto aborda também a prática da identificação experimenta? como parte da supervisão interna
sugerida pelo autor, conceito envolve o desenvolvimento da empatia e compreensão do paciente por
parte do analista, destacando a importância da identificação parcial, tanto introjetiva quanto
projetiva, com o paciente.

A capacidade do terapeuta de manter uma dissociação terapêutica no seu ego, permitindo que sua
experiência egóica se mova entre si mesmo e o paciente, é ressaltada. è mencionado também pelo
autor a regressão controlada como uma ferramenta útil para o analista, permitindo uma transição
entre o pensamento consciente e o pensamento inconsciente.

Concluindo este segmento a prática da trial identification, o nome original, é descrita como uma
ferramenta valiosa para compreender as experiências do paciente, podendo envolver diferentes
perspectivas, como adotar o lugar do paciente ou de outras pessoas mencionadas.Reforça também
importância de considerar a relação terapêutica e monitorar as comunicações inadvertidas e
inconscientes que podem surgir. O autor enfatiza que a capacidade de estar simultaneamente nos
"sapatos" do paciente na sua própria posição só é possível se os terapeutas conseguirem sintetizar
esses estados de ego aparentemente paradoxais. O conceito de supervisor interno é introduzido
como mais do que autoanálise ou auto supervisão, desempenhando uma função de processamento
essencial neste contexto.

Outro conceito importante dentro desta temática é o conceito de unfocused listening. O autor
considera este o primeiro passo para além da atenção flutuante/suspensa.
Este conceito consiste em evitar ideias pré-concebidas através da separação de temas reconhecíveis
do contexto evidente, deixando assim espaço para novas interpretações.
Adicionalmente, também ajuda ter em mente a simetria inconsciente, isto é, ter em mente que as palavras
podem ter significados ocultos, isto ajuda a emergir outras compreensões possíveis.
Ambas estas abordagens vão ajudar o terapeuta a compreender melhor o que está a ser comunicado
na sessão, a não fazer interpretações precipitadas e a manter a mente aberta.
Por exemplo, se o paciente disser “O meu patrão está chateado comigo”, isto pode ser abstraído para
“alguém está chateado com alguém”, desta forma o terapeuta considera esta frase com uma mente mais
aberta (por exemplo, pode ser tanto um facto objetivo, como uma referência à raiva do paciente projetada no
patrão, entre outras).

O autor fala também do conceito do “jogar” com o paciente, citando Winnicott, 1971, que diz que
“a psicoterapia é a sobreposição de duas áreas de jogo, a do terapeuta e a do paciente”, um
indivíduo que não o saiba fazer não pode ser terapeuta, e caso o paciente não consiga entrar no
“jogo” cabe ao terapeuta promover esta dinâmica.

3- Aplicação clínica

O autor fornece diversos casos clínicos de forma a reconhecer as várias opções disponíveis dentro do
cenário terapêutico, juntamente com o ilustrar dos vários conceitos até agora apresentados, nomeadamente,
supervisor interno. É reconhecido que para possuir um melhor uso do termo anterior, é necessário recorrer a
material clínico fora da sessão propriamente dita. Um psicoterapeuta, durante a sessão, não deve estar
preocupado com problemas de “técnica”, já que esta pode ser desenvolvida, ao longo do tempo, através de
casos clínicos.

De supervisor para supervisor interno

Exemplo 2.2.

Para ilustrar o autor deu um exemplo:

No exemplo 2.2. o autor relata um caso onde a paciente dava respostas muito detalhadas de
conteúdos violentos e sexuais, sem contenção, e ia muitas vezes à casa de banho durante a sessão. O
terapeuta permanecia em silêncio. Quando a paciente afirmou que não conseguia dormir sem as
janelas e as portas fechadas, o terapeuta perguntou se a mãe dela fazia o mesmo, ao qual ela deu
uma resposta afirmativa com muitos detalhes.

Este exemplo mostra que o terapeuta não possuí supervisor, uma vez que ele podia ter comentado a
forma de comunicação da paciente, a quantidade de pormenores que ela oferece, bem como a
necessidade de se aliviar a ansiedade, através das idas à casa de banho.

Estas idas à casa de banho podem indicar medo por parte da paciente de que o terapeuta não a
ajude, usadas para se livrar do desconforto.
A paciente demonstra falta de contenção tanto nas sessões, como na vida pessoal. Assim, as janelas
e as portas no sonho do paciente, que precisam de estar firmemente fechadas, podem simbolizar a
contenção que ela necessita.
A introdução de um novo tópico sobre a infância do paciente trouxe detalhes importantes, mas
também pode indicar uma fuga do terapeuta do presente, possivelmente para lidar com o stress da
sessão ou desconforto na relação terapêutica.

Há muitos motivos que podem ter levado o terapeuta a fazer um desvio para o passado, pelo stress
da sessão, pode estar a sentir pressão e reverte isso para o paciente, ou seja, está a “retaliar
inconscientemente”, ou uma tentativa do terapeuta se afastar do que se está a passar na sessão
presentemente, ou que está desconfortável dentro da relação terapêutica. O paciente ao seguir a
pergunta do terapeuta também pode estar à procura de alívio de algo que lhe é difícil no presente.
Se o terapeuta estivesse a usar a sua própria identificação experimental, poderia ter sido solicitado a
reavaliar esta sequência. Este caso é uma evidência de que nem tudo é transferência, uma vez que
aqui falar sobre a patologia da mãe pode significar um afastamento do presente e da relação
paciente-terapeuta. O paciente também se pode aperceber deste evitamento do presente instigado
pelo terapeuta, o que pode resultar que o que tinha sido difícil para o paciente conter pode ser visto
como incontrolável tanto pelo terapeuta como pelo paciente.

Using the internalized supervisor


Exemplo 2.3.

Neste caso o paciente sente-se incapaz de se lembrar de onde deixaram as coisas na última sessão.
Na supervisão, o supervisor disse que o paciente aparentava ter a impressão errada de que devia
ligar uma sessão à outra. Na sessão seguinte, o terapeuta disse ao paciente que podia começar por
onde quisesse, e ver para onde os leva, não precisa de ligar as duas sessões.

Neste exemplo, observamos um paciente que mostra uma necessidade de ter alguém que não o
controla, deixe ir e que lhe dê a possibilidade de ser ativo e autónomo no processo terapêutico. O
terapeuta recorreu ao supervisor internalizado, explicado anteriormente, ao reconhecer e responder
à pista do paciente na sessão seguinte. Desta forma, mostra que está a começar a desenvolver e a
usar a sua própria supervisão interna.

Usar o Supervisor Interno:

Exemplo 2.4. – Aqui o autor usa um exemplo noutro contexto, para além do terapêutico e analítico.

O último caso fala de Teddy, um jovem de 24 anos com esquizofrenia, que foi tratado num hospital
psiquiátrico até a sua mãe preferir tratá-lo em casa. Devido a ter começado a dar respostas com uma única
palavra, a mãe levou Teddy a um terapeuta. A mãe levava o Teddy pela mãe até ao gabinete do doutor. O
terapeuta passou as primeiras semanas a fazer-lhe várias perguntais, às quais Teddy fornecia apenas
informações factuais, usando sim, não e nem por isso.

O terapeuta sentiu que não estava a fazer progressos com Teddy, então mudou a sua abordagem, colocou as
cadeiras de forma a não ficarem “face a face” e disse ao Teddy:

“When I imagine being in your place, with all those questions coming at me, I feel as if someone were trying
to get inside me – forcing me to give awat bits of myself that I might not want to give away” “I have na
image of being surrounded by people trying to force me to talk, and wanting to hide from them. I can algo
imagine myself not talking anyone, as a way of trying to build a Wall arond me to keep people out”
“Unfortunately until today, I have been failing to recognitze that you might be needing to keep up a Wall of
silence as a way of keeping me out and at a safe distance”

Teddy: “Its funny you puti t like that. I have often thought of myself as hiding under a man-hole cover, in a
drain, with people trying to find me – and sewage down below. I’m note afraid of drains. It’s people that
smell- They make it difficult for me to breathe. My mother suffocates me. She treats me like a little boy. T
am really a man inside, you know. She doesn’t realizes that”.

O terapeuta pôs-se então no lugar do paciente, refletindo como se sentiria na presença de um trabalhador
social que estava a disparar perguntas contra ele. Percebeu que Teddy se estava a sentir perseguido e que ele
próprio estava a tentar passar pela exclusão quase total do mundo exterior de Teddy. O modo de responder
do paciente era um compromisso entre a sua necessidade de se defender da intrusão e das pressões por parte
do terapeuta para que ele falasse.

Num segundo momento, o terapeuta conheceu a necessidade que o Teddy tinha da sua “retirada defensiva”,
reconheceu que ele precisava de espaço, separação e tinha de parar de ser intrusivo. Só quando o terapeuta
parasse de ser um “objeto de colisão” é que Teddy se ia sentir à vontade para se aproximar dele e se
relacionar. Através da identificação experimental (trial identification), para monitorizar a sua experiência, o
trabalhador social tomou consciência da natureza desta interação.

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