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Boa noite turma, hoje como podem observar iremos apresentar o capítulo “The internal Supervisor”. Um
capítulo que tal como o próprio nome indica, expande um conceito já referido na semana passada e que
procura acentuar uma presença interior na mente de um terapeuta, que certa forma espelhe a presença de um
supervisor externo.
A nossa apresentação irá essencialmente seguir a estrutura apresentada. Iremos começar por abordar
um pouco o autor, não só pela sua relevância mas de forma a contextualizar o seu pensamento. De seguida
iremos abordar o principal conceito e como este é desenvolvido ao longo da prática terapêutica. Por fim,
iremos mencionar conceitos relevantes para o supervisor interno mencionados ao longo do artigo e ainda,
uma aplicação clínica destes em que gostaríamos de contar com a vossa participação
1 - Autor e contextualização
2-
O supervisor interno refere-se a uma presença ou processo internalizado na mente do terapeuta que
espelha o papel de um supervisor externo.
Esta entidade interna atua como um guia, fornecendo feedback, insights e avaliação crítica dos
pensamentos, sentimentos e reações do terapeuta durante as sessões de terapia. Isso auxilia o terapeuta a
compreender sua contratransferência (a resposta emocional do terapeuta ao paciente) e permite que façam
sentido de suas experiências subjetivas dentro da relação terapêutica.
O conceito do supervisor interno destaca a importância da autoconsciência e da autorreflexão
contínua para os terapeutas, permitindo-lhes aprimorar suas habilidades clínicas, compreender seus pontos
cegos e manter limites éticos no seu trabalho com os clientes. Essencialmente, é uma forma de os terapeutas
supervisionarem sua própria prática, integrando as lições e insights obtidos da supervisão externa em seu
processo de pensamento interno e abordagem clínica.
Durante a análise pessoal, os terapeutas são encorajados a alcançar uma "dissociação terapêutica"
no ego do paciente, observando o processo de transferência. Isto envolve permitir que o paciente
observe o que está a experienciar em relação ao terapeuta, resultando na divisão entre o "ego
observador" e o "ego experimentador"
O processo de desenvolvimento do supervisor interno começa na análise pessoal dos terapeutas,
onde estes aprendem a observar a si mesmos a partir de um ponto de vista interno e a desenvolver a
capacidade de reflexão espontânea durante as sessões.
À medida que avançam na formação, os terapeutas devem desenvolver um diálogo entre o seu
supervisor externo e o supervisor interno, desenvolvendo assim a capacidade de funcionar de forma
mais autônoma quando se qualificam.
O texto aborda também a prática da identificação experimenta? como parte da supervisão interna
sugerida pelo autor, conceito envolve o desenvolvimento da empatia e compreensão do paciente por
parte do analista, destacando a importância da identificação parcial, tanto introjetiva quanto
projetiva, com o paciente.
A capacidade do terapeuta de manter uma dissociação terapêutica no seu ego, permitindo que sua
experiência egóica se mova entre si mesmo e o paciente, é ressaltada. è mencionado também pelo
autor a regressão controlada como uma ferramenta útil para o analista, permitindo uma transição
entre o pensamento consciente e o pensamento inconsciente.
Concluindo este segmento a prática da trial identification, o nome original, é descrita como uma
ferramenta valiosa para compreender as experiências do paciente, podendo envolver diferentes
perspectivas, como adotar o lugar do paciente ou de outras pessoas mencionadas.Reforça também
importância de considerar a relação terapêutica e monitorar as comunicações inadvertidas e
inconscientes que podem surgir. O autor enfatiza que a capacidade de estar simultaneamente nos
"sapatos" do paciente na sua própria posição só é possível se os terapeutas conseguirem sintetizar
esses estados de ego aparentemente paradoxais. O conceito de supervisor interno é introduzido
como mais do que autoanálise ou auto supervisão, desempenhando uma função de processamento
essencial neste contexto.
Outro conceito importante dentro desta temática é o conceito de unfocused listening. O autor
considera este o primeiro passo para além da atenção flutuante/suspensa.
Este conceito consiste em evitar ideias pré-concebidas através da separação de temas reconhecíveis
do contexto evidente, deixando assim espaço para novas interpretações.
Adicionalmente, também ajuda ter em mente a simetria inconsciente, isto é, ter em mente que as palavras
podem ter significados ocultos, isto ajuda a emergir outras compreensões possíveis.
Ambas estas abordagens vão ajudar o terapeuta a compreender melhor o que está a ser comunicado
na sessão, a não fazer interpretações precipitadas e a manter a mente aberta.
Por exemplo, se o paciente disser “O meu patrão está chateado comigo”, isto pode ser abstraído para
“alguém está chateado com alguém”, desta forma o terapeuta considera esta frase com uma mente mais
aberta (por exemplo, pode ser tanto um facto objetivo, como uma referência à raiva do paciente projetada no
patrão, entre outras).
O autor fala também do conceito do “jogar” com o paciente, citando Winnicott, 1971, que diz que
“a psicoterapia é a sobreposição de duas áreas de jogo, a do terapeuta e a do paciente”, um
indivíduo que não o saiba fazer não pode ser terapeuta, e caso o paciente não consiga entrar no
“jogo” cabe ao terapeuta promover esta dinâmica.
3- Aplicação clínica
O autor fornece diversos casos clínicos de forma a reconhecer as várias opções disponíveis dentro do
cenário terapêutico, juntamente com o ilustrar dos vários conceitos até agora apresentados, nomeadamente,
supervisor interno. É reconhecido que para possuir um melhor uso do termo anterior, é necessário recorrer a
material clínico fora da sessão propriamente dita. Um psicoterapeuta, durante a sessão, não deve estar
preocupado com problemas de “técnica”, já que esta pode ser desenvolvida, ao longo do tempo, através de
casos clínicos.
Exemplo 2.2.
No exemplo 2.2. o autor relata um caso onde a paciente dava respostas muito detalhadas de
conteúdos violentos e sexuais, sem contenção, e ia muitas vezes à casa de banho durante a sessão. O
terapeuta permanecia em silêncio. Quando a paciente afirmou que não conseguia dormir sem as
janelas e as portas fechadas, o terapeuta perguntou se a mãe dela fazia o mesmo, ao qual ela deu
uma resposta afirmativa com muitos detalhes.
Este exemplo mostra que o terapeuta não possuí supervisor, uma vez que ele podia ter comentado a
forma de comunicação da paciente, a quantidade de pormenores que ela oferece, bem como a
necessidade de se aliviar a ansiedade, através das idas à casa de banho.
Estas idas à casa de banho podem indicar medo por parte da paciente de que o terapeuta não a
ajude, usadas para se livrar do desconforto.
A paciente demonstra falta de contenção tanto nas sessões, como na vida pessoal. Assim, as janelas
e as portas no sonho do paciente, que precisam de estar firmemente fechadas, podem simbolizar a
contenção que ela necessita.
A introdução de um novo tópico sobre a infância do paciente trouxe detalhes importantes, mas
também pode indicar uma fuga do terapeuta do presente, possivelmente para lidar com o stress da
sessão ou desconforto na relação terapêutica.
Há muitos motivos que podem ter levado o terapeuta a fazer um desvio para o passado, pelo stress
da sessão, pode estar a sentir pressão e reverte isso para o paciente, ou seja, está a “retaliar
inconscientemente”, ou uma tentativa do terapeuta se afastar do que se está a passar na sessão
presentemente, ou que está desconfortável dentro da relação terapêutica. O paciente ao seguir a
pergunta do terapeuta também pode estar à procura de alívio de algo que lhe é difícil no presente.
Se o terapeuta estivesse a usar a sua própria identificação experimental, poderia ter sido solicitado a
reavaliar esta sequência. Este caso é uma evidência de que nem tudo é transferência, uma vez que
aqui falar sobre a patologia da mãe pode significar um afastamento do presente e da relação
paciente-terapeuta. O paciente também se pode aperceber deste evitamento do presente instigado
pelo terapeuta, o que pode resultar que o que tinha sido difícil para o paciente conter pode ser visto
como incontrolável tanto pelo terapeuta como pelo paciente.
Neste caso o paciente sente-se incapaz de se lembrar de onde deixaram as coisas na última sessão.
Na supervisão, o supervisor disse que o paciente aparentava ter a impressão errada de que devia
ligar uma sessão à outra. Na sessão seguinte, o terapeuta disse ao paciente que podia começar por
onde quisesse, e ver para onde os leva, não precisa de ligar as duas sessões.
Neste exemplo, observamos um paciente que mostra uma necessidade de ter alguém que não o
controla, deixe ir e que lhe dê a possibilidade de ser ativo e autónomo no processo terapêutico. O
terapeuta recorreu ao supervisor internalizado, explicado anteriormente, ao reconhecer e responder
à pista do paciente na sessão seguinte. Desta forma, mostra que está a começar a desenvolver e a
usar a sua própria supervisão interna.
Exemplo 2.4. – Aqui o autor usa um exemplo noutro contexto, para além do terapêutico e analítico.
O último caso fala de Teddy, um jovem de 24 anos com esquizofrenia, que foi tratado num hospital
psiquiátrico até a sua mãe preferir tratá-lo em casa. Devido a ter começado a dar respostas com uma única
palavra, a mãe levou Teddy a um terapeuta. A mãe levava o Teddy pela mãe até ao gabinete do doutor. O
terapeuta passou as primeiras semanas a fazer-lhe várias perguntais, às quais Teddy fornecia apenas
informações factuais, usando sim, não e nem por isso.
O terapeuta sentiu que não estava a fazer progressos com Teddy, então mudou a sua abordagem, colocou as
cadeiras de forma a não ficarem “face a face” e disse ao Teddy:
“When I imagine being in your place, with all those questions coming at me, I feel as if someone were trying
to get inside me – forcing me to give awat bits of myself that I might not want to give away” “I have na
image of being surrounded by people trying to force me to talk, and wanting to hide from them. I can algo
imagine myself not talking anyone, as a way of trying to build a Wall arond me to keep people out”
“Unfortunately until today, I have been failing to recognitze that you might be needing to keep up a Wall of
silence as a way of keeping me out and at a safe distance”
Teddy: “Its funny you puti t like that. I have often thought of myself as hiding under a man-hole cover, in a
drain, with people trying to find me – and sewage down below. I’m note afraid of drains. It’s people that
smell- They make it difficult for me to breathe. My mother suffocates me. She treats me like a little boy. T
am really a man inside, you know. She doesn’t realizes that”.
O terapeuta pôs-se então no lugar do paciente, refletindo como se sentiria na presença de um trabalhador
social que estava a disparar perguntas contra ele. Percebeu que Teddy se estava a sentir perseguido e que ele
próprio estava a tentar passar pela exclusão quase total do mundo exterior de Teddy. O modo de responder
do paciente era um compromisso entre a sua necessidade de se defender da intrusão e das pressões por parte
do terapeuta para que ele falasse.
Num segundo momento, o terapeuta conheceu a necessidade que o Teddy tinha da sua “retirada defensiva”,
reconheceu que ele precisava de espaço, separação e tinha de parar de ser intrusivo. Só quando o terapeuta
parasse de ser um “objeto de colisão” é que Teddy se ia sentir à vontade para se aproximar dele e se
relacionar. Através da identificação experimental (trial identification), para monitorizar a sua experiência, o
trabalhador social tomou consciência da natureza desta interação.