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TERAPIAS E TÉCNICAS
DA 3ª ONDA
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Seu experimento clássico com cachorros mostrou que os animais tinham a
capacidade de associar um barulho de sino à presença de comida; o toque do
sino já eliciava a salivação dos cães. Ou seja, algo que seria neutro (barulho do
sino) acabou virando um estímulo condicionado, gerando uma resposta
condicionada (salivação).
Edward Thorndike, por sua vez, desenvolveu o conceito de
condicionamento operante, mostrando de que modo consequências reforçadoras
ou punitivas contribuem para o aumento ou a diminuição de um comportamento.
O autor influenciou os estudos de B. F. Skinner e seu experimento com ratos
famintos – ao explorarem a caixa em que estão presos, os ratos aprendem que
receberão comida se pressionarem uma alavanca. Como esse comportamento foi
reforçado pela consequência, o animal aprende que, quando sente fome, basta
repetir o movimento.
Skinner acabou sendo um dos principais estudiosos da Teoria
Comportamental, cujo foco de trabalho direciona-se para o entendimento e a
modificação de comportamentos, por meio da utilização de técnicas baseadas nos
princípios de condicionamento citados anteriormente, como a dessensibilização
sistemática e a exposição. Essas intervenções mostraram-se eficazes para o
tratamento de diversas patologias, como fobias e transtornos de ansiedade.
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época, em busca de modificações de pensamentos vistos como irracionais e/ou
negativos.
Aos poucos, diversos “cognitivistas” passaram a incorporar técnicas
comportamentais efetivas aos tratamentos de seus pacientes, construindo a
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Resumindo, o foco na cognição
somou-se ao foco nas emoções, sempre com base nos comportamentos, que são
os alvos da terapia.
Além de tomar pensamentos e crenças como objetos de estudo, a Terapia
Cognitiva de Beck também sublinhou a importância de uma relação terapêutica
colaborativa entre paciente e terapeuta, por considerar que essa dinâmica pode
auxiliar no aumento da eficácia das técnicas aplicadas.
Assim, a busca por uma prática baseada em evidências transformou a TCC
em uma referência dentro das abordagens psicoterápicas ao longo das próximas
décadas. Com o avanço da ciência e da neurociência, e a integração de
conhecimentos de outras filosofias aos processos psicoterápicos, alguns
questionamentos sobre tal visão teórica e sua eficácia levaram ao
desenvolvimento das abordagens conhecidas como de terceira onda.
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importante fortalecer uma postura de aceitação dos estados internos, de modo
que eles sejam compreendidos dentro do contexto em que aparecem. Só então
eles podem ser mudados, se for possível e necessário.
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Além dessas abordagens, vamos estudar brevemente a Psicoterapia
Analítico Funcional (FAP), a Terapia Cognitiva Processual e a Terapia
Metacognitiva, com o objetivo de encorajar os alunos a se aprofundarem.
Considerando uma visão contextual das terapias de terceira onda, uma
capacidade se mostra essencial: observar estados internos com mais
distanciamento, “ficando” com eles por mais tempo, para entender quais as suas
funções, de modo a conseguir lidar com eles de maneira mais saudável. No
próximo tema, vamos estudar dois conceitos que proporcionam o aumento dessas
habilidades.
3.1 Mindfulness
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podemos evitar a dor; no entanto, podemos lidar com ela de outra maneira, para
não sofrermos.
Apesar dessa influência espiritual, é fundamental esclarecer para os
clientes, principalmente os mais céticos, que a prática de mindfulness não é algo
esotérico ou místico. A Psicologia usa entende conceito como uma habilidade de
atenção que pode ser treinada, para que o indivíduo esteja mais consciente de
seus estados internos para, com isso, desenvolver ações diferentes do que teria
feito com base em uma postura mais automática, a qual tendemos a estar mais
acostumados.
Uma definição bastante utilizada vem de Jon Kabat-Zinn, médico e
professor conhecido por trazer o mindfulness para o ocidente, com o objetivo de
auxiliar pacientes a lidarem com dores crônicas: “consciência que surge em
prestar atenção, de propósito, no momento presente, sem julgamentos” (Kabat-
Zinn, 1990, p. 3).
A partir do momento em que o indivíduo consegue desenvolver a
habilidade de voltar a sua atenção para o interno, sem julgamentos sobre o que
esses estados significam, ele pode criar uma relação com eles, diferentemente do
que normalmente experenciamos, pois temos a tendência de nos fundir com
nossos pensamentos e emoções.
Por exemplo, vamos pensar em um cliente cujas queixas podem se
encaixar em um diagnóstico de Transtorno Depressivo Maior. Algumas de suas
crenças podem incluir: “nada dá certo em minha vida” ou “nunca vou conseguir
sair dessa”. Com isso, ele sente-se desanimado e triste, como esperado.
Podemos dizer que esse cliente está em um processo de fusão cognitiva com tais
crenças, pois vê tais pensamentos como um reflexo acurado de sua realidade. O
contrário disso, a desfusão cognitiva, envolve a habilidade de nos relacionarmos
com nossos pensamentos de outra forma. Eles podem ser vistos apenas como
fenômenos, que não precisam ser necessariamente verdadeiros ou significativos.
Simplificando, um pensamento é só um pensamento, e assim podemos ou não o
levar em consideração, dependendo do contexto que estamos vivenciando e de
sua função.
Nesse exemplo, tais pensamentos acabam sendo disfuncionais, pois
enquanto o cliente enxergar que eles são verdadeiros, terá dificuldades para
acolher essas emoções e entender o que realmente está acontecendo. Assim, fica
mais difícil apresentar comportamentos que se direcionem para os seus objetivos.
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Assim, podemos entender que uma habilidade básica da TCC, a
identificação de pensamentos automáticos e crenças, pode levar a um caminho
diferente da reestruturação cognitiva, buscando modificações nas maneiras de
pensar. Podemos auxiliar o paciente a observar suas cognições e estimular a
flexibilização psicológica, um conceito muito utilizado pela Terapia de Aceitação e
Compromisso.
3.2 Aceitação
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Uma maneira diferente de lidar com essa ansiedade estaria na
identificação, na observação dessa emoção, com o auxílio de estratégias de
mindfulness, que permitem ao sujeito sentir as sensações como elas são.
Aumentar sua capacidade de ficar com essas emoções pode fortalecer, por meio
da prática, a segurança de que ele tem capacidade de lidar com elas; com isso,
pode conseguir fazer algo que o aproxime do que deseja: amizades e conexões
com outras pessoas.
Assim, percebemos que a aceitação é um processo ativo e não passivo,
como muitos tendem a acreditar. Quando aceitamos, nos tornamos capazes de
lidar com nossas questões de uma maneira mais flexível e menos automática, o
que leva a diferentes resultados.
Podemos aproveitar o termo ondas para entender a importância das
habilidades de mindfulness e aceitação. Se pensarmos nas ondas do mar,
podemos concluir: não importa o que façamos, elas sobem, atingem um pico e
descem. De certa forma, se assimilam às emoções, pois também podemos
observar, com mais distância, seu aumento e diminuição dentro de nós, aceitando
que esse processo é esperado e buscando habilidades que nos permitam viver
uma vida significativa, incluindo a capacidade de sentir emoções desconfortáveis.
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Ou seja, é essencial manter uma consistência teórica. Buscar uma visão
integrativa jamais irá implicar em usar de tudo um pouco, sem coerência ou lógica
para os objetivos daquele caso. Quando pensamos em técnicas, por exemplo,
precisamos tomar cuidado para aplicá-las, pois apesar de serem muito efetivas,
podem simplesmente não funcionar e, dependendo do caso, até desregular o
paciente. O que indica o sucesso da aplicação de uma técnica é o quanto ela faz
sentido para o que o terapeuta busca como intervenção naquele momento.
Ao longo dos conteúdos, vamos ver exemplos dessa visão integrativa na
prática, de modo a entender de que modo as técnicas de uma abordagem podem
estar a serviço de intervenções em outras abordagens. Mas antes, vamos
entender como outro aspecto essencial do processo terapêutico recebe um
destaque especial, em especial quando falamos de terapias da terceira onda.
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importância da relação terapêutica está, entre outros aspectos, em facilitar a
adesão das técnicas e a melhoria dos sintomas do paciente.
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ser colocada como inferior. A partir dessa intervenção, feita durante a sessão, o
paciente tem a oportunidade de generalizar essa percepção para outras relações,
observando o impacto dessa postura em suas relações, de modo a fazer
mudanças de vida efetivas.
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dois. Se o terapeuta entende e percebe a sua ativação esquemática, pode retomar
sua postura terapêutica e considerar a situação de maneira mais distanciada,
mostrando para o cliente como seu comportamento o afeta, o que leva à ideia de
que o seu funcionamento pode mudar, levando a uma vida de conexões
emocionais mais saudáveis.
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
KABAT-ZINN, J. Full Catastrophe Living: Using the wisdom of your body and
mind to face stress. United States: Delta, 1990.
LUOMA, J. B.; HAYES, S. C. WALSER, R. D. The focus of ACT and its six aspects.
In: _____. Learning ACT 2nd edition: an acceptance and commitment therapy
skills training manual for therapists. United States: Context Press, 2018. p. 13-36.
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