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Estratégias de avaliação:
perspectivas em psicologia clínica
Jurema Alcides Cunha
PSICODIAGNÓSTICO - V 19
cientes, com menos tempo e custo. Também, Goldstein e Hersen (1990) apresentam a en-
profissionais com referencial cognitivo passa- trevista como um exemplo característico desse
ram a lançar mão de técnicas projetivas para tipo de movimento. Historicamente, como o
entendimento de motivações pessoais e de método mais antigo, individualizado e, portan-
outros aspectos idiossincrásicos (Piotrowski & to, não-estruturado, utilizado por psicólogos,
Keller, 1984) e igualmente incorporaram avan- psiquiatras e por seus predecessores, foi con-
ços do campo da neurociência (Mahoney, 1993). siderado não-fidedigno, já em 1967, por Zu- T . _ . . -
Tal tendência a mesclar estratégias de dife- bin, ao analisar a concordância entre avaliado- -
rentes abordagens teóricas pode ser conside- res em entrevistas psiquiátricas. Não obstan-
rada positiva como um recurso científico de nos te, sob a influência de tendências científicas, ::
aproximarmos de nosso objeto de estudo, para que incentivavam o uso de critérios mais obje- •BB necessárias |
explicar aspectos clinicamente relevantes. Po- tivos, a entrevista voltou a ganhar seu status mormer
rém, como salienta Gabbard (1998), "para al- na psiquiatria, num formato estruturado, com : : : :_;:•
guns clínicos, o desvio de uma perspectiva te- propriedades psicométricas bem estabelecidas
órica para outra, dependendo das necessida- e refletindo avanços recentes. Ias casos sorr
des do paciente, pode ser embaraçoso e difícil Assim, no momento em que a ciência e o T : : r:: : -
de manejar", e, a propósito, lembra que Wal- mercado tornaram acessíveis vários tipos de en- científi
lerstein, em 1988, "assinalou que é possível trevistas estruturadas, no campo da psiquia- í disso, nas cl
para os clínicos prestarem atenção ao fenóme- tria, tal estratégia pareceu sobrepor-se, quan- i regras de exc
no clínico descrito através de cada perspectiva to à sua utilidade, em relação a qualquer mé- ia uma consid
teórica, sem adotar o modelo metapsicológico todo da psicologia, objetivo ou projetivo. As • ::-: I ' . : - ' : :
completo". Ainda comenta que Cooper, em considerações levantadas, em princípio, foram Um dos proble
1977, propugnou por maior flexibilidade teó- absolutamente lógicas, pois, se pensarmos que, com transtornos i
rica, afirmando que "diferentes pacientes e uma vez que a entrevista psiquiátrica tem sido incidência mais 1
categorias diagnosticas sugerem diferentes utilizada como critério externo para a valida- uma posição hi(
modelos teóricos" (p.57). ção de testes, é claro que a entrevista terá prio- transtorno de d<
Outro emprego da expressão estratégia de ridade, "quando se pode usar igualmente, de (AFÃ, 1980), e, t
avaliação se refere à metodologia adotada pelo preferência o próprio critério de medida do que critérios diagnósl
psicólogo. Numa avaliação com propósitos clí- o teste" (Goldstein & Hersen, 1990, p.5). Po- tomo de ansiedac
nicos, por exemplo, é possível usar métodos rém, embora a entrevista estruturada tenha como diagnósticc
mais individualizados ou qualitativos ou, ain- boas características psicométricas, a questão dição de co-morb
da, métodos psicométricos, em que o manejo diagnostica, ainda que em situação melhor, o episódio de de
se fundamenta em normas de grupos. A tais "permanece mais complexa do que seria dese- nhecidamente m
métodos, pode-se acrescentar a entrevista, que jável" (Kendall & Clarkin, 1992, p.833). ginar os reflexos
tem precedência histórica sobre os demais Já na psicologia, a entrevista estruturada trás, não só para
(Goldstein & Hersen, 1990), bem como a ob- não teve tão grande aceitação, uma vez que, co e de sua etioli
servação sistemática de comportamentos, da na avaliação com propósitos clínicos, o psicó- determinação de
linha comportamental. logo, em princípio, não se limita a um único Entretanto, as m
Também no que se refere à metodologia, método (como a entrevista), mas tende a aliar classificações, ap
observa-se que o psicólogo não costuma se- enfoques quantitativos e qualitativos e, assim, de dificuldades, t
guir uma orientação puramente nomotética ou consegue testar, até certo ponto, a consistên- coes não só para
idiográfica. Por outro lado, a própria opção cia e a fidelidade dos subsídios que suas estra- pêuticas, como tí
quanto a métodos sofre a influência de even- tégias lhe fornecem, para chegar a inferências flexos em model
tos e avanços que ocorrem nesta e noutras com grau razoável de certeza. Por outro lado, vallée, 1993;Cloi
áreas da psicologia, bem como de outras ciên- mesmo considerando a qualidade psicométrica 1998; Hiller, Zar
cias afins. Nota-se ascensão e declínio de al- da entrevista estruturada, "faltam-lhe elementos 1991; Mineka, W
guns métodos e vice-versa, como numa "espi- importantes de rapport, riqueza idiográfica e a Dessa maneir
ral histórica, com vários níveis deixados de lado flexibilidade que caracteriza interações menos o decorrer do tei
e retomados em diferentes níveis" (p.4). estruturadas" (Groth-Marnat, 1999, p.7). te, refinamentos
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características do examinando e a questão pro- tos em seus sistemas de avaliação e interpre-
posta. tação" (p.98). Já Dana (1984) comentava, com
Com tais perspectivas do ponto de vista clí- certo senso comum, que também se mantêm
nico, salienta-se a importância do psicólogo os instrumentos que aprendemos a usar em
bem se instrumentalizar, principalmente no que nossos cursos de graduação. É difícil substituí-
se refere a recursos psicométricos, já que a ne- los por instrumentos mais sofisticados e, as-
cessidade principal, em nível de contribuição sim, permanecem como herança académica de
para o diagnóstico, tem sido definida como di- professor a aluno. As substituições, em seu
mensional (Brown & Barlow, 1992). Escalas, in- modo de ver, ocorreriam por razões pragmáti-
ventários e check-lists estão na ordem do dia. cas ou éticas. De nossa parte, acreditamos que
As escalas Wechsler e muitos outros instrumen- um dos mais importantes fatores para a inova- Fum
tos vêm sendo constantemente revisados, re- ção e renovação, na área de testes, é a partici-
normatizados ou reapresentados (Hutz & Ban- pação em encontros ou em congressos de psi-
deira, 1993), e intensificam-se os esforços para cólogos.
adaptações no Brasil. As chamadas WIS (We- De alguma forma, pode-se pensar que as
chsler Intelligence Scales), cada vez menos técnicas projetivas ambicionam medir o que
empregadas para a determinação de nível in- Herman van Praag (1992) chamou de "psico-
telectual, constituem-se em importantes ins- patologia subjetiva", que, embora considere,
trumentos para atender necessidades muito es- "por definição", mensurável, verificável e ex-
pecíficas no diagnóstico de psicopatologias e tremamente importante para o diagnóstico, ao I a disseram e rep
na avaliação neuropsicológica, e são um bom mesmo tempo, acha que tais recursos virtual- J :: : ; : s e ~ ;
exemplo de tais esforços. mente inexistem (p.255). ooáogos dirúcos, et
Quanto às técnicas projetivas, também po- Na realidade, ainda que as técnicas projeti-
dem ser consideradas estratégias de avaliação. vas não tenham justificado todo o entusiasmo r ,~
Historicamente caracterizadas por seu estilo de com que foram recebidas por muitos psicólo- (fagnostíco é uma
avaliação impressionista (Cronbach, 1996), que gos, nem mereçam se constituir como meros com propósitos dir
causa pruridos em académicos mais compro- estímulos para interpretações subjetivas, bas- gê todos os mode
metidos com uma posição científica sofistica- tante literárias, e sejam suficientemente com- de diferenças indr
da, tiveram um declínio de seu uso em pesqui- plexas para serem manejadas apenas numa visa a identificar fc
sa, apesar de continuarem populares. "A maio- base quantitativa, cientificamente muitas de- namento psicológi
ria dos autores que defendem o seu uso o faz las possuem o seu status indiscutível como re- cia ou não de psic
visando à exploração de aspectos dinâmicos da cursos importantes de avaliação psicológica e, ca que a classificai
personalidade, que adquirem significado sob segundo Gabbard (1998), especialmente, na jetívo precipuo de
a ótica de um referencial teórico ao qual há avaliação psicodinâmica. que, para medir f c
difícil acesso via psicométrica" (Cunha & Nu- Estratégias de avaliação é, pois, uma expres- namento psicológ
nes, 1996, p.341). Isso significa que não se são com uma abrangência semântica muito como parâmetros
pode simplesmente transformar uma técnica ampla e flexível, ainda que possa ser usada de normal (Yager & (
projetiva num teste psicométrico, embora mui- maneira muito específica. Psicólogos lançam gem que confere
tas delas suportem o uso de procedimentos que mão de estratégias quando realizam avaliações. tipo de avaliação
permitem avaliar sua qualidade como medida. Numa perspectiva clínica, a avaliação que é fei- O psicodiagnó
As razões pelas quais conservam sua popu- ta comumente é chamada de psicodiagnósti- clínica, introduzi!
laridade são variadas. Hutz e Bandeira (1993) co, porque procura avaliar forças e fraquezas 1896, e criada sob
acham que, dentre as técnicas projetivas, se no funcionamento psicológico, com um foco dêmica e da tradk
mantêm aquelas que "receberam refinamen- na existência ou não de psicopatologia. ao fundador da [
designação "clínic
ta de melhor altei
obstante, tudo ini
ca, associada à p<
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