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UNIVERSIDADE CEUMA

CURSO DE PSICOLOGIA

JOSIANE ARAUJO DE SOUSA

RESENHA CRÍTICA
CARTAS A UM JOVEM TERAPEUTA DE CONTARDO CALLIGARIS

IMPERATRIZ

2021
CARTAS A UM JOVEM TERAPEUTA

Calligaris (2004) em seu livro “Cartas a um jovem terapeuta” está dividido em 11 capítulos,
distribuídos em 155 páginas, apresentando uma série de cartas e bilhetes, através de uma
linguagem clara, informal e sem preocupações com termos científicos para esclarecer dúvidas,
temores inerentes a introdução no campo e inquietações do psicoterapeuta iniciante,
aspirantes e curiosos a tal profissão. Acredito ser um livro essencial para estudantes da área de
psicologia, a respeito de como este pode ou não se identificar com a escolha da profissão.
Dentre as questões tratadas, está a aflição pela escolha da profissão, onde Calligaris apresenta
alguns requisitos fundamentais e essenciais para que se possa exercê-la de forma eficiente.
Apontando a importância de alguns traços de caráter ou de personalidade que são constituídos
durante toda a vida do indivíduo, desmistificando, assim, algumas fantasias acerca do ser
terapeuta e questionamentos sobre “serem visto com gratidão e ser respeitado entre os
pacientes e em geral”, indicando-lhes que talvez seja uma contraindicação para a profissão.
Trata também do valor positivo que tem a confiança estabelecida entre terapeuta e paciente,
como elemento facilitador de uma boa terapia. Assim, o autor em sua concepção indica alguns
traços de caráter que psicoterapeutas devem ter: ter carinho e saber escutar as pessoas mesmo
com suas diferenças, ter o mínimo de preconceito e ser curioso a cerca da vida humana, ter
experiencia efetiva, fazer terapia e ter uma boa dose de sofrimento psíquico. Compreendo
que, para saber cuidar do outro preciso cuidar de mim mesmo, permitir me acolher para
depois acolher o outro em toda sua subjetividade. Entretanto, no que tange o ato do paciente
demonstrar gratidão pode sim ocorrer na terapia, onde este percebe conteúdos e males que não
via e passa de certo modo, a demonstrar um sentimento de respeito, admiração pelo terapeuta,
porém sem deixá-lo dependente da psicoterapia, mantendo o vínculo terapêutico entre
paciente-terapeuta.
Outro aspecto relatado em seus bilhetes diz respeito aos possíveis empecilhos “desvios,
anormalidades” para se tornar psicoterapeuta, fazendo referência a possibilidade de ele
assumir papeis específicos como possuidor de um poder/saber que o permite interferir na vida
de seu paciente, interferindo de alguma forma na afinidade, confiança e relação com seus
pacientes. Desta maneira colocando uma lacuna entre o processo de aceitação do terapeuta
com relação aos pacientes na realização do processo terapêutico. Limites este que devem ser
respeitados, pois o que devem ser considerados são os desejos dos pacientes e as direções que
eles levam, desta forma eliminando a direção que lhe parece certa a vista de seus conceitos e
preconceitos de seu analista. Uma nota que o autor deixa é: aceitar carinhosamente a
variedades de vidas com todas as suas diferenças. O ser psicólogo vai muito além dos
desvios/anormalidades, dos conceitos e preconceitos, pois tem-se as teorias científicas, a
prática e a experiencia de vida que o ajudam a introduzir esse conhecimento em campo e
relacioná-los, visto que é a partir do egresso, que nosso campo de visão e compartilhamento
de saberes vai se ampliando e consolidando, assim nos tornando psicoterapeutas.
O autor denota uma outra hesitação, “quem me acolherá como terapeuta, com tantos
profissionais experientes e medalhões na praça?”. O terapeuta iniciante apresenta a
necessidade de reconhecimento de mérito como única possibilidade de atrair pacientes,
incitando-o a criar máscaras para impressionar o público. O paciente ao fazer essa busca e
escolha de um terapeuta é guiado por razões um pouco complexas e inimagináveis. Desse
modo, deve-se levar como ensinamento que nem sempre é verdade que pacientes preferem
terapeutas experientes, a curiosidade para com o mundo, a vida e a cultura, ser nós mesmo em
nossa singularidade, a vontade de escutar e transmitir confiança. Admito que devemos levar
esses ensinamentos para o decorrer da completude da nossa trajetória profissional, pois
sempre terá algo novo a ser aprendido e um receio de pôr em prática, e acreditar na nossa
capacidade de escuta e aprendizados advindos da experiencia é desafiador, mas deve ser visto
como algo positivo e necessário ao nosso processo.
A relação entre os dois sujeitos da psicoterapia paciente-terapeuta, remete-se a ideia de “o que
faço, se me apaixono por uma paciente?”. Numa visão psicanalítica essa paixão ou amor de
transferência, é visto como como algo positivo e necessário ao processo, ou seja, o vínculo
terapêutico, devendo-se estar atento para os motivos ocultos por trás dessa relação, para que
se evite a criação de sentimentos e expectativas prejudiciais na terapia, e ainda sim podem
existir casos raros que o amor de transferência seja verdadeiro. Em uma aula aleatória, um
colega de turma perguntou se caso eu (terapeuta) me apaixona-se pelo paciente, o que seria
recomendado fazer? Então a professora respondeu, o certo é, quando perceber que você está
se interessando e tomando outro rumo na análise da terapia, recomenda-se explicar os motivos
que não poderá mais prosseguir com a terapia e encaminhá-la para outro consultório, e
posteriormente verificar se o amor é de transferência ou se é sentimento verdadeiro, pois
quando queremos ser amados idealizamos nossos objetos de amor para verificar se somos
amáveis aos olhos de nossos próprios ideais. E Calligaris ainda reforçar em casos de
repetições de amores, é sempre bom que o terapeuta volte a ser paciente. E aí surge um
questionamento, em que momento paro de ser paciente? Reflito, que surgirá sempre
demandas que me levarão enquanto terapeuta a ser paciente, demandas estas que não saberei
como seguir em frente.
Ao falar da cura, numa perspectiva psicanalítica e outras psicoterapias é exposto o conceito
tomado pela abordagem para explicar esse fenômeno, em que o sujeito se permite realizar
suas potencialidades. Destacando um caráter transformador e atenuador do sofrimento
psíquico por parte dessa teoria e ressaltando a necessidade da calma identificação precisa do
sintoma e na transformação da doença, diante do modelo médico e psicoterápico não
descartando ao que deveria ser o seu objeto de estudo, o trabalho com o paciente. Evidencia
também que a psicoterapia é uma experiencia que transforma e modifica a o eu, uma
transformação não somente por parte do paciente, mas também do próprio profissional.
É tratada também a importância do que fazer para ter mais pacientes, o autor revela “faça-se
conhecer”, é ter o compromisso com as pessoas que confiam em você e prestar o melhor
serviço possível, pois eles ficarão sabendo. Quanto as questões práticas do processo
terapêutico, o autor expõe algumas dicas baseadas em Freud de como conduzir uma terapia,
através do estabelecimento do primeiro contato, a formação da aliança terapêutica, o setting e
sua organização, quais perguntas devem ser utilizadas na entrevista preliminar, os
esclarecimento que devem ser dados ao paciente no início do processo, duração da sessão,
frequência de encontros, pagamentos e supervisão profissional do terapeuta iniciante, para
inspirar-lhe confiança e supere a insegurança. Concordo com o que o auto expõe, sempre no
primeiro contato é bom falar ao paciente como o processo da terapia, e estabelecer a aliança
terapêutica para que se cumpra o processo de análise por meio das queixas e demandas do
paciente, e assim traze-lhe a cura.
É notório um conflito inútil entre neurociências, fármacos e psicanalistas, apresentado suas
funções, importância e eventualidades de usos, mas acredita que a descrição neuronal não
altera nossa vivência subjetiva, como também aborda a temática da infância como um elo
entre o presente e o passado, os atos e fatos inseridos no contexto individual do sujeito. Onde
o autor comenta que reinterpretar o passado é descobrir novos sentidos para o que aconteceu,
demolir a certeza cristalizada para amenizar o futuro, porém requer cuidado, pois o sentindo
do presente e pruramos muito mais no futuro do que no passado, dessa foram causando
diferentes fenômenos na terapia. Acredito que o profissional psicólogo durante o decorrer de
sua graduação, aprende sobre neurociências ou neuroanatomia e como as sinapses acontecem,
estuda sobre farmacologia e como esses processos químicos alteram o sistema nervoso
central, bem como conhecem sobre o DSM e o CID para verificar quais sintomas e patologias
aquele paciente apresenta e quais as melhores formas de seguir o processo terapêutico ou se
precisa de associação dos dois.
E por fim o autor aconselha em suas cartas aos jovens e ao leitor que pretende ser terapeuta a
assumir sua naturalidade, agindo de forma condizente com seu caráter. Ou seja, agir o mais
próximo possível do seu desejo, de forma que, se o paciente procurar um exemplo em você,
será o exemplo de quem ousa se permitir ao que deseja. Incentiva também a qualidade da
experiência vivida e sua intensidade, que chegando ao fim os pacientes possam dizer que a
corrida foi boa, aceitando humildemente as condições impostas por eles para que a mudança
aconteça.

REFERÊNCIA
CALLIGARIS, C. Cartas a um jovem terapeuta. Rio de janeiro: Elsevier, 2004.

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