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“[...] Tomei para mim a ideia de que meu compromisso devia ser tentar me preparar
para ser uma pessoa mais bem capacitada para funcionar como analista, investindo no
“ser”, e não no “saber”.”
(PY, p.57, 2009).
Um ponto aprendido e relatado pelo autor Luiz Alberto Py, diante dos artigos escritos
por Bion na década de 50, seria o de dar atenção para os processos mentais do analista e não o
de estudo dos processos mentais do analisando. Com isso, o analista precisaria estar sempre
atento para não se deixar levar – conforme a tradição psicanalítica – ao desejo de cura e
compreensão do analisando.
Com isso, em concordância ao parágrafo e à citação acima, fazia-se importante
perceber que não era o acumulo intelectual – conceitual – do analista que se mostrava
importante para o trabalho de análise, mas o de ser uma pessoa sadia – física e mentalmente –,
na medida em que um ser humano – com sabedoria – teria maior chance de ser um bom
analista, quando comparado a um erudito – simplesmente dotado de saber.
O autor adentra comentando a respeito de tudo que aprendeu com Bion – quer em suas
leituras, quer nas conferências que Bion fez no Brasil –, onde dizia que só se tornaria possível
fazer psicanalise, no sentido de prática, quando se busca aprender o que ainda não se sabe e,
diante disso, de lidar com a tormenta enquanto essa durar, ser capaz de enfrentá-la até a
bonança – representaria a calmaria provinda ao se aprender e/ou descobrir algo que estava
desconhecido. Com isso, o fazer psicanalise não representaria simplesmente a encontrar
respostas ou interpretações, mas sim de dar a oportunidade para se descobrir tudo que pode
chegar a acontecer diante do encontro genuíno entre duas mentes humanas, salientando que
isso sim merece ser chamado de psicanálise. Após isso, o autor discorre páginas a fio a
respeito de sua experiência de ser analisando de Bion.
https://www.youtube.com/watch?v=j-DM6oa3wgY&feature=youtu.be
20/04
Clínica Psicanalítica I: Introdução de Bion
Preocupa-se mais com o uso das coisas, não propriamente a um conceito. É um autor
mais clínico do que teórico; Percebe-se isso pelo número de textos publicados, sendo
pouquíssimos (no máximo de 40 textos). Bion preocupa-se em não saturar demais uma
experiência, um conceito, afins, não tenta “fechar” nada, não tenta “diluir” demais as coisas.
(Saturação na química é quando um solvente dissolveu o máximo possível do soluto, o que
for acrescentado a mais de soluto não se dissolve).
Bion irá escrever e fazer “teorias” sobre elementos que acontecem dentro da clínica
(poucas vezes fala sobre algo fora da clínica, como infância, idade, afins, já que é algo
saturado, não permite uma abertura para a experiência do sujeito, seu modo singular, as
possíveis transformações, da forma que utiliza os elementos à sua disposição, afins). Então
busca abstrair os elementos que se encontra na clínica (não necessariamente padronizada,
individual, afins, pode ser grupal, por exemplo, se trata de uma situação de análise).
Bion busca diante da sessão de cada paciente, separar e categorizar os elementos beta,
elemento alfa, o que o paciente disse, a forma que usa dos elementos ao seu redor, afins. Feito
isso, observando vários casos, relatos e falas dos pacientes, faz um estudo metaclínico (que
vai além do que se pode observar na clínica), onde explica o como é uma sessão (com base no
seu entendimento diante das inúmeras sessões que teve com os pacientes), explica o
funcionamento de uma pessoa (de forma generalizada, mas também considera que cada um
dos sujeitos vai dar o seu toque, sua tonalidade pessoal para o elemento beta, função alfa,
continente, conteúdo, afins).
Acaba por criticar a forma que os psicanalistas categorizavam o paciente, o que
ocorria em sessão, onde rapidamente classificavam o que se estavam vivenciando, “isso é
transferência”, “isso é resistência”, afins... Bion questiona, “E o novo? Não existe mais nada
para se descobrir? Tudo que se tem para saber sobre o ser humano já foi descoberto?”. Com
isso, com essa preocupação da saturação da psicanálise, foi gradativamente adotando uma
linguagem mais aberta, acessível (tanto que suas obras finais são romances, onde se tinha a
teoria psicanalítica inserida entre os personagens, cada um com suas próprias
particularidades).
Chama-se de grade/grelha a forma que se esquematiza a sessão (após ela), os
elementos principais daquela sessão, o como esses elementos foram usados, a forma que o
paciente usou dos elementos da sessão, afins.
“Sonhei com minha mãe fugindo de casa” – é um elemento onírico (do sonho, não é
nem um elemento alfa e nem beta) –, a forma que o paciente usa desse relato em sessão é
importante, já que esse relato pode ser usado para buscar comoção/preocupação do terapeuta,
para “dar material” para o terapeuta trabalhar, realmente buscar entender o que se passa
consigo/com a mãe. Sendo assim, o terapeuta se atenta aos elementos e aos seus usos pelo
paciente.
A grade tenta esquematizar e “reproduzir” a sessão, mas apenas em partes, mutilada,
não corresponde a própria sessão de fato, já que o essencial de uma sessão é irreproduzível (o
que se percebe é o que se pode ser anotado, por exemplo, os demais conteúdos se perdem
nessa grade, que ao mesmo tempo que prende a sessão, deixa muito conteúdo vazar entre os
vãos).
Esquematizar a sessão é puramente romance, onde o terapeuta mostra o que foi feito
diante do que lhe vinha. Um psicanalista freudiano poderia ver Édipo em tudo, os
mecanismos de defesa, também; Uma psicanalista kleiniana poderia ver a agressividade,
inveja e voracidade; assim por diante com diversos teóricos e abordagens “fechadas”.
Novamente, conforme já foi dito, Bion questiona, “Mas é só isso? Tudo é isso? E o novo?”.
Os textos de Bion fomentam reflexões abstratas. Compara-se aos aforismas de
Nietzsche, onde diante das frases, parábolas, por mais que curtas, cada sujeito acabará
“tirando” um sentido daquilo. Reflexões ricas, inúmeras, mas nunca fechadas/finais.
Bion acaba sendo um teórico da curiosidade, no sentido de se opor à certeza e à
arrogância daquele que acha – acredita – que sabe. A arrogância “mata” o novo, já que está
restrita ao velho. Não permite “talvez...”, restringe-se a “tenho certeza de que...” (essa
perspectiva de “tenho certeza de que...” é muito comum com psicóticos).
Capacidade para o negativo se refere ao recuo filosófico, ao “não atropelamento”, a
“dar um passo atrás” para conseguir entender do que se trata. Positivo e negativo no sentido
de estudável, o negativo envolve o “não sei”, posição de insaturação, envolve se abrir a
possibilidade de adotar a posição daquele que não sabe, diferentemente do que outros
psicanalistas fazem, onde se colocam como dotador do conhecimento e automaticamente vão
“encaixando” conceitos; o positivo seria essa ideia de achar que sabe do que se trata, algo
saturado, já estudado, já dado. A capacidade para o negativo acaba sendo uma condição do
pensamento, já que é a incerteza que permite o pensar, já que quem aceita uma verdade como
já dita, não lidando com a incerteza, não pensa, apena reproduz o que já foi pensado.
Com isso, Bion acaba por defender a capacidade para o negativo, que seria a
capacidade de se manter na dúvida, na incerteza, na posição do que não sabe – posição
daquele que sabe é positivista –, na capacidade de destruir o significado de um signo e abri-lo
novamente para suas infinitas significações – pausar o que já é considerado como verdade
dada e se abrir para as demais possibilidades, uma redução fenomenológica. A ciência acaba
tendo o significado de verdade e, ao “abrir” isso, percebe-se que ciência é um método, o
método científico que é usado para explicar as coisas (lembrando que é muito útil para N
questões, mas não é universal, não se pode ser usada para explicar a tudo, como já dito
algumas vezes, a fé, o saber indígena, por exemplo).
Positivo seria então, aquilo que é estabelecido ou reconhecido como um fato, opõe-se
ao natural. Direito natural envolve o direito a liberdade, a propriedade, livre expressão, afins,
direitos que se têm simplesmente por existir, nasce-se com. Direito positivo seria o conjunto
de leis que criamos em um Estado, como o direito do consumidor, não é todos que possuem
esse direito – só o consumidor, no caso –, os sujeitos em situação de rua não possuem acesso
a esse direito, direito construído, antinatural. Assim pode-se dizer do direito tributário, direito
monetário.
Religião natural envolve o amor ao próximo, um aspecto e religiosidade, questões
comuns do que se espera e do que deveria ser religião. Religião positiva envolve, assim como
foi dito no direito, especificidades, onde se tem uma configuração do conceito religião, feito
pelo homem, interpretado e alterado pelo homem, como as Cruzadas que matavam – indo
contra a ideia da religião natural –, o acúmulo de capital e a compra de indulgências, afins,
questões envolvendo a religião que foram estruturadas pelo homem.
A primeira definição de positivo seria a dessa oposição ao natural. Já a outra definição
seria o que se é tido como fato – que foi obtido com um método positivo –, opondo-se à
fantasia, às crenças, afins, um fato positivo seria algo medido, comprovado cientificamente,
“é isso sim, pois eu medi e deu 12 cm, 150 g”.
*Não sei se entendi direito essa questão de positivo e negativo, no final o professor
resume o positivo em algo presente e observável, o negativo no contrário, na ausência.
Comenta o behaviorismo, onde o termo positivo influi em adicionar algo,
recompensa/aversivo, o negativo influi na retirada.
No positivismo, a ciência era romantizada e idealizada, onde somente a ciência
poderia estudar tudo que se existe. Questiona-se a respeito, a fé pode ser estudada pela
ciência? Todo o conhecimento provindo de outras fontes de conhecimento são descartáveis?
Bion diz que não, que não se deve descartar esses conteúdos, já que existem outros
mecanismos apropriados para o estudo do mundo, do que existe, não somente a ciência pode
explicar a tudo (volta na fé). Embora a ciência possa ser útil para estudar e explicar N coisas,
não pode ser usada para explicar e “olhar” tudo. Os sonhos e intuições, por exemplo,
transmitem um conhecimento, mas que não tem validade científica.
Bion diz que o pensar não se restringe a deduções lógicas, seguir raciocínios, o pensar
para Bion acaba envolvendo as possíveis interpretações que o sujeito possa vir a ter, de um
conteúdo aberto – sua escrita é aberta, não é fechada, não coloca pontos finais, mas vírgulas, o
leitor interpreta, conforme comparado com os aforismas de Nietzsche. O pensar é visto como
uma “arma” contra a megalomania – envolve fantasia de poder, daquele ser dotador do poder
e conhecimento, relevante e onipotente –, contra a arrogância e contra a identificação com
Deus; Essa convicção de certeza é uma característica de distintas neuroses – aquele que tem
certeza de que não vale nada, por exemplo – e psicoses – aquele que tem certeza de que está
sendo perseguido, por exemplo –, com isso, o pensar e mostra como “arma” contra o
patológico; Já que a certeza é típica do pensamento doentio.
https://youtu.be/uDetNoeWLs4
27/04
Clínica Psicanalítica I: Os elementos alfa e beta, assim como suas funções
Os elementos beta são os elementos que não possuem acesso ao verbal, tudo que ainda
não foi entendido, por exemplo; tudo que é do campo inconsciente.
Para Freud, algo ocorre, entra na consciência e em seguida é afastado da consciência.
Já em Bion, há elementos que nunca entraram na consciência – com isso, sendo algo muito
mais primitivo. O elemento beta se trata disso, é um conteúdo, um elemento que nunca
chegou a ser consciente.
O inconsciente de Bion é o conteúdo inominado, sem nome ainda, sem simbolização.
Se os animais não têm palavras, não possuem consciência, por não possuírem palavras, não
possuem símbolos – que não é a coisa propriamente dita, apenas a representação dessa coisa.
O paradoxo de Bion é ao explicar elemento beta, já que ao conseguir falar, digerir, se
torna um elemento alfa.
Sofrimento para Freud era visto como o aumento da tensão – o ângulo econômico –,
para Bion, diante do desconforto do sujeito – bebê que chora –, outra mente pode nominar
esse desconforto e em seguida o eliminar e servir de função alfa para esse sujeito em
desconforto – mãe que da a mamadeira e diz que o bebê estava com fome.
Rêve = sonho. Rêverie se trata de um estado de percepção no qual a mãe percebe a
situação do filho, seu desconforto. Assimilar também ao terapeuta com o papel similar ao da
mãe e, o cliente com o do filho. É só isso? Só percebe esse desconforto ou também faz algo
sobre? Por exemplo, emprestar a própria função alfa para o filho/paciente.
Professor, alfabetização mental é a mesma coisa que função alfa? Esse processo é a
simbolização ou ocorre por meio da simbolização?
Função alfa é uma função, no sentido da matemática, pegar alguma coisa e
transformar em outra coisa. É um mecanismo de pegar uma coisa e transformar em outra
coisa. Já alfabetização é o processo todo, o como o elemento beta vai ser transformado em
alfa. Ocorre por meio da simbolização, não é a simbolização propriamente dita, ocasiona a
simbolização e usa da simbolização (retroalimentação, cada vez sofistica mais, você começa
aprendendo o que é estar bravo, depois diferencia em irritado, raiva, ódio, afins... Ódio é uma
raiva estruturada que se sustenta pelo tempo, é uma simbolização com mais enriquecimento,
p. ex.)
Outra coisa, rêverie é o tomar consciência do que está sentindo e também agir sobre
isso ou, rêverie seria “só” o estado de percepção do desconforto, sem agir sobre (quer
desconforto próprio, quer o do outro)?
Rêverie é um estado mental, uma capacidade, uma receptividade para digerir beta em
alfa. É um modo da mente funcionar que permite a consciência do que estou sentindo. “estou
com fome”. Ou seja, a segunda parte da pergunta, o perceber o que se sente, digerir o
conteúdo e identificar.
Tomar consciência do que está sentindo e também agir sobre isso. A mãe percebe e
toma consciência do desconforto do filho – como fome – e, age sobre isso – “isso é fome meu
anjo, toma tetê”. Eu percebo que estou ranzinza e com desconforto na barriga, por estar
faminto, vou agir sobre, comendo e saciando a fome, assim como, parando de reclamar.
Sonhar no sentido de fantasiar o que poderia estar se passando com a outra pessoa.
O conceito se direciona a relação mãe-bebê, onde a mãe pressupõe o que o bebê está
passando, o que o bebê está sentindo e, nisso a mãe consegue trazer o que o bebê sente para a
linguagem, o terror sem nome do bebê ganha um nome, “você está com frio, vou te enrolar na
mantinha”, “isso é fome, toma tetê”. Sendo assim, aqueles que não possuem a noção de outro
sujeito, que não consegue entender e verbalizar o que sente, conta com outra pessoa para fazê-
lo, para nomear para si, quer a mãe (relação mãe-filho), quer o terapeuta (relação terapeuta-
cliente, principalmente os psicóticos).
Pode-se assemelhar o ego com a pele, temos consciência de nós/pele. Para os autistas,
parece-se que sua pele é mais fina, onde seu ego o protege pouco do contato com o mundo.
Nisso pode-se falar da hipersensibilidade que o autista tem, tátil.
Rêverie seria um desdobramento do que Freud chamava de atenção flutuante, onde
não se tem uma atenção pré-selecionada, não se tem elementos pré-determinados para se
atentar, mas o terapeuta e a mãe mantêm a sua atenção pra captar aquilo que se mostrar
relevante, conforme o momento. O terapeuta fica calmamente esperando, falando no
momento que achar certo e relevante, não ficar se forçando a falar algo, um algo já pronto,
frases feitas.
Terapeuta nessa perspectiva Bioniana seria de que “O analista deve ser sem desejo –
nem o de curar o paciente, nem de prover felicidade, nem nada disso, apenas de acompanhar o
paciente nas decisões desse próprio paciente, já que um terapeuta com desejo poderia
manipular e agir pragmaticamente, guiando o cliente para seu próprio fim desejado, ou o
contrário, que diante do desejo do terapeuta, o cliente controle a situação –, sem memória – o
terapeuta não fica retomando o que foi conversado na semana anterior, não fica pedindo
continuidade do assunto, afins, já que o sujeito muda constantemente e, não faz sentido querer
relembrar de algo que já não possui relevância para o paciente atualmente, se mostrar aberto
para o que o paciente quiser falar hoje, sem forçar nenhuma memória – e sem ânsia de
compreensão” – calma receptividade, a capacidade de suportar o negativo.
https://web.microsoftstream.com/video/5cbe8f91-2a4c-4484-8915-ea2428950fa6
11/05
Clínica Psicanalítica I: Parte psicótica e não psicótica da personalidade