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CENTRO UNIVERSITÁRIO RITTER DOS REIS

ESCOLA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


CURSO DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA: PSICANÁLISE

ANELISE VEIGA
BÁRBARA STEFANELLO
BRUNA SARAIVA
JULIANA SEVERO

VIDA E CONTRIBUIÇÃO PARA A PSICANÁLISE DE WILFRED BION

PORTO ALEGRE
Outubro de 2022
No decorrer dos estudos psicanalíticos entra-se em contato com os estudos
de diversos psicanalistas que, durante a história, foram responsáveis pela
continuidade da obra de Freud. Nesse contexto, encontra-se o psicanalista britânico
Wilfred Bion, que para Zimerman (p. 42, 2004), “(...) é considerado um autêntico
inovador da prática psicanalítica”.
Wilfred Ruprecht Bion nasceu em 1897 e passou sua infância na Índia. Aos 8
anos foi mandado para a escola de preparação, na Inglaterra. Ele, que amava a
Índia, considera o período no internato como sendo os anos mais infelizes de sua
vida. Depois serviu para a França durante a Primeira Guerra Mundial.
Posteriormente, estudou história em Oxford e medicina em London.

O interesse do autor pela Psicanálise cresceu quando ele se formou em


medicina, tornando-se analisando da psicanalista Melanie Klein. Bion exerceu a
psiquiatria durante a Segunda Guerra Mundial com os soldados e vítimas,
oportunidade em que se interessou pelas dinâmicas grupais. Pode trabalhar
maneiras de melhorar a seleção dos oficiais, além de tratar as vítimas. Casou-se
duas vezes, sendo que, seu segundo casamento serviu de inspiração para sua
autobiografia: Todos os meus Pecados de Amor Recordados (1985). O psicanalista
faleceu em 1979 na cidade de Oxford, Inglaterra.

Sua obra comtempla quatro décadas. Nos anos 40, mostra interesse pela
prática e dinâmica em grupos. Segundo Zimerman (2004), Bion tornou-se discípulo e
seguidor de Melanie Klein, embora ela não simpatizasse com seu trabalho em
grupos, que, para ela, contradizia o trabalho psicanalítico.
Para Kirschbaum (p. 443, 2017), “desde os primeiros trabalhos, um novo
modelo de funcionamento mental foi ficando mais consciente na obra de Bion”, que
é caracterizado pela coexistência de todas as etapas vivenciadas pelo indivíduo,
desde o embrião, feto, bebê, infância, adolescência e adultez. Assim, cada uma
dessas etapas preserva sua própria linguagem.
A reflexão acerca dos conceitos bionianos é de suma importância tanto para o
analisando, especialmente dentro de seu contexto familiar, quanto para o analista,
no setting terapêutico.
Nesse sentido, para Bion o continente refere-se a um lugar estável e
constante. Pode ser um ambiente em que haja os sentimentos de respeito, amor e
carinho. A exemplo, a função materna pode ser o continente, ao passo que o bebê
será o contido. No entanto, para ser continente, a mãe deve ter sido contida pela
função paterna, que é responsável por criar um ambiente no qual a mãe possa se
dedicar integralmente ao bebê. Importante frisar que tal processo será repetido pelas
futuras gerações.
No ambiente terapêutico, espera-se que o analista seja o continente dos
conteúdos caóticos trazidos pelo paciente (contido). Por isso, é imprescindível que o
analista tenha passado por um processo de análise, ou seja, também tenha sido
analisado por outro analista.
O contido, por sua vez, deve estar em constante transformação, já que terá
que se adaptar ao continente no qual será inserido. Logo, se um paciente não se
sente à vontade no setting terapêutico, por ser um local acolhedor, isso significa que
ele não se adapta a locais que não está acostumado e, assim, o paciente não
poderá ser contido, pois não está apto ao processo de transformação.
Para Bion, quando o paciente procura o analista, ele não sabe o que há de
errado, mas sabe que existe “alguma coisa” que ele não está conseguindo “digerir”.
A teoria de Bion chamou de função alfa esse algo que não se sabe o que é, mas
que opera sobre aspectos sensoriais da experiência. Logo, a função alfa trabalha
sobre a experiência, “digerindo” a experiência. Ademais, os aspectos sensoriais de
uma experiência emocional Bion chamou de elemento beta. Voz, cor, cheiro,
paladar, ou seja, tudo que for captado por meio dos cinco sentidos é elemento beta.
Assim, enquanto a experiência emocional não for processada, tudo o que for
captado sensorialmente é elemento beta. Portanto, a função alfa opera sobre o
elemento beta e transforma o elemento beta em elemento alfa (KIRSCHBAUM,
2017).
Aliás, como bem disse Bion, citado por Alexandre Patrício de Almeida (p. 46,
2022):
Mas o que dizer do homem ou mulher que se apresenta em nosso
consultório? Esta pessoa é o colaborador mais poderoso que você jamais
encontrou. Essa profissão solitária, tudo depende de nós mesmos,
sozinhos, se bem que, ao mesmo tempo, estamos numa sala com um
“alguém” que, além de ser a pessoa que veio buscar assistência, é também
a pessoa apta a nos presta a assistência mais poderosa que jamais
encontraremos.

Nesse sentido, o autor refere que Bion nutre certa desconfiança diante da
expressão: “Eu sei”. Essa fala – bastante comum entre professores e alunos dos
meios acadêmicos – atesta um fato: se o espaço disponível a aprender está todo
preenchido pelo que já se sabe, não há lugar para mais nada.
Já, na década de 1950, Bion publicou artigos sobre as concepções de
psicose. O olhar do autor sobre os processos intrapsíquicos ajudou a elucidar as
dificuldades do psicótico em constituir e sustentar uma vida subjetiva vinculada à
consciência das realidades interna e externa. Em seus estudos sobre a psicose,
refere que o paciente fica impossibilitado de usar a atenção, a memória, o
pensamento verbal e a capacidade de julgar para conhecer a si mesmo e a
realidade ao seu redor. Bion também fala das formas com que esses pacientes
tentam reconstituir seu aparelho psíquico e tomar contato com a realidade odiada.
Ademais, mecanismos associados à psicopatologia psicótica, como a alucinação, o
delírio e a identificação projetiva, também seriam usados para a reconstituição do
ego na busca por conhecimento.
Quanto ao estudo de grupos, a teoria de Bion refere que para que uma
análise de grupo aconteça é preciso a presença de dois elementos: método e
estratégia. Ademais, a presença de um líder do grupo é uma criação ou suposição
básica e seu papel é intervir, anotar e observar todas as ideias expostas pelo grupo.
Ainda, seu objetivo resume-se em fazer com que se potencialize o crescimento
pessoal e a capacidade de resolver problemas entre os indivíduos do grupo. Assim,
ele estimula os sujeitos para que vejam o outro como um companheiro e não como
um inimigo, fazendo também com que cada integrante se sinta compreendido.
Nas sessões de terapia, o líder é o terapeuta, que deve, com grande
influência, modelar certos comportamentos do grupo, auxiliando em sua
comunicação. Assim, aquele que tendia a julgar, passa a oferecer apoio. Para Bion,
a autoestima do grupo passa a melhorar dessa forma, além de acontecer um
desenvolvimento do crescimento emocional de cada indivíduo. Ao psicólogo cabe a
missão de fazer com que eles criem um sentimento de aceitação dentro do grupo.
Portanto, ele identifica o problema e, posteriormente, aplica sua estratégia.
Alguns dos conceitos elaborados por Bion no estudo dos grupos são: a
mentalidade de grupo, o grupo de trabalho, a valência e os supostos básicos
(acasalamento, dependência e luta e fuga).
A mentalidade de grupo significa que um grupo constituído funciona como
uma unidade, com uma atividade mental coletiva própria e que, às vezes, se conflita
com a mentalidade individual de cada um dos componentes do grupo.
Quanto ao grupo de trabalho, Bion afirma que todo grupo opera sempre em
dois níveis simultâneos, opostos e interativos, embora sejam delimitados entre si.
Um dos níveis refere-se ao grupo de trabalho e o outro nível é o grupo de
pressupostos básicos. O grupo de trabalho está voltado para os aspectos
conscientes de uma determinada tarefa combinada por todos os membros do grupo.
Na concepção freudiana, se comparando o funcionamento de um indivíduo com o
conceito de grupo de trabalho este estaria ligado às funções do ego consciente.
A valência é um termo que Bion extraiu da Química para aplicá-la na
dinâmica de grupos, com o fim de assinalar a maior ou menor disposição do
indivíduo para fazer combinações com os demais, de acordo com a vigência do
suposto básico em atividade. A predominância harmônica das valências é que dá
uma força de coesão grupal.
Já os supostos básicos obedecem mais às leis do inconsciente. O suposto
básico ou pressuposto básico prevalece um nível inconsciente em que as fantasias
grupais adquirem uma das formas típicas: de dependência e de luta e fuga. A
dependência está ligada ao sentimento que os membros do grupo criam quanto ao
seu líder. Para Bion, todo grupo necessita e elege um líder em busca de proteção,
segurança e de uma alimentação material e espiritual. Os vínculos com o líder
tendem a adquirir uma natureza simbiótica, voltada para um mundo ilusório. Já a
luta e fuga refere-se a uma condição em que o inconsciente grupal está dominado
por ansiedades e, por essa razão, mostra-se altamente defensivo e, por isso, luta
com uma rejeição contra qualquer situação nova; ou o grupo foge da referida
situação, criando um inimigo externo, ao qual atribuem todos os males e, por isso,
ficam unidos contra esse inimigo comum.
Nos anos 70, o autor passou a viajar ministrando conferências, debates,
supervisões e seminários clínicos. No Brasil, ele esteve ministrando palestras por
quatro vezes.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Patricio de. Psicanálise de Boteco: o inconsciente na vida cotidiana. São


Paulo: Planeta do Brasil, 2022)

KIRSCHBAUM, I. Breve Introdução a algumas ideias de Bion. São Paulo: Blucher,


2017.
ZIMERMAN, D. E., Manual de Técnica Psicanalítica: uma re-visão. Porto Alegre:
Artmed, 2004.

WILFRED BION. Wikipédia, 29 de maio de 2019. Disponível em:


<https://pt.wikipedia.org/wiki/Wilfred_Bion>. Acesso em: 06 de outubro de 2022. 

SALVITTI, Adriana. Psicose e ética do pensador na clínica de Bion: panorama dos


artigos dos anos 50. Disponível em: <file:///C:/Users/bahst/Downloads/363-3865-1-
PB.pdf>. Acesso em: 6 de outubro de 2022 

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