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CUIDADOS

PSICOSSOCIAIS NAS
ADOLESCÊNCIAS
E JUVENTUDES

Autoras
Aline Henriques Reis
Andréa Chicri Torga Matiassi
Silvia Segovia Araujo Freire

Organizadoras
Rita Maria Lino Tarcia
Sílvia Helena Mendonça de Moraes
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
CURSO DE APERFEIÇOAMENTO
EM SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
DE ADOLESCENTES E JOVENS

CUIDADOS
PSICOSSOCIAIS NAS
ADOLESCÊNCIAS
E JUVENTUDES

Autoras
Aline Henriques Reis
Andréa Chicri Torga Matiassi
Silvia Segovia Araujo Freire

Organizadoras
Rita Maria Lino Tarcia
Sílvia Helena Mendonça de Moraes
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Reis, Aline Henriques


Cuidados psicossociais nas adolescências e
juventudes [livro eletrônico] / Aline Henriques Reis,
Andréa Chicri Torga Matiassi, Silvia Segovia Araujo
Freire ; organização Rita Maria Lino Tarcia, Sílvia
Helena Mendonça de Moraes, Débora Dupas Gonçalves do
Nascimento. -- Campo Grande, MS : Fiocruz Pantanal,
2023.
PDF

Bibliografia.
ISBN 978-85-66909-42-5

1. Adolescência 2. Adolescente - Cuidados e


tratamento 3. Dor 4. Saúde mental 5. Sofrimento
(Aspectos psicológicos) I. Matiassi, Andréa Chicri
Torga. II. Freire, Silvia Segovia Araujo.
III. Tarcia, Rita Maria Lino. IV. Moraes, Sílvia
Helena Mendonça de. V. Nascimento, Débora Dupas
Gonçalves do. VI. Título.

23-144539 CDD-362.21
Índices para catálogo sistemático:

1. Adolescentes : Política de saúde mental :


Bem-estar social 362.21

Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415


© 2022. Fundo das Nações Unidas para a Infância – Coordenação de Educação da Fiocruz MS Autoras
UNICEF. Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul. Débora Dupas Gonçalves do Nascimento Silvia Segovia Araujo Freire
Vice- coordenadora de Educação Aline Henriques Reis
Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução, Andréa Chicri Torga Matiassi
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sua totalidade, nos Termos de uso do ARES. Deve ser – UNA-SUS Revisora Técnico-científica
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Coordenadora Pedagógica do Módulo llustrador
Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul – Eliane Maria da Silva Anunciação Kelvin Rodrigues de Oliveira
Fiocruz MS
Jislaine de Fátima Guilhermino Revisor
Coordenadora Davi Bagnatori Tavares
SUMÁRIO

Apresentação do módulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
QUANDO O SOFRIMENTO BATE À PORTA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
O QUE FAZER? PRIMEIROS ESBOÇOS!. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
O ACOLHIMENTO E A ESCUTA: ALIADOS DO VÍNCULO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
COMPARTILHANDO E AMPLIANDO O CUIDADO: A CLÍNICA AMPLIADA, O PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR E
O APOIO MATRICIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
O FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS: CRIANÇAS, ADOLESCENTES, FAMILIARES E COMUNIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
PROJETOS DE VIDA E OUTRAS ESTRATÉGIAS POSITIVAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Encerramento do módulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Minicurrículo das autoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Material de apoio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

apresentação do módulo
Olá! Seja bem-vindo a mais uma etapa dessa jornada! da sua escola. Entretanto, na história de Ana, uma coordenadora
Nessa nova parada, nosso objetivo é ajudar você a identificar pedagógica da escola soube como acolhê-la, ou seja, teve uma
as necessidades psicossociais de crianças e adolescentes que escuta sensível e comprometida para o que se passava naque-
estão em situação de sofrimento e realizar os primeiros socorros le momento, fornecendo os primeiros cuidados, indispensáveis
psicológicos. Talvez, no seu dia a dia, você se depare com mui- para circunstâncias como essa. Venha conosco e vamos apren-
tas Anas e com certeza já se perguntou o que pode fazer para der um pouco sobre como você também pode ajudar os jovens
ajudá-las, tanto de forma presencial quanto remota. Assim como da sua comunidade!
no caso apresentado, nesse momento, aí próximo a você, exis-
tem muitas crianças e jovens vivenciando sofrimentos psíquicos
que se manifestam em comportamentos que colocam a vida
deles em risco, como: uso abusivo de drogas, bulimia, anorexia,
automutilação e tentativas de suicídio. Neste módulo, enfatizare-
mos os dois últimos. Talvez, você tenha muitas dúvidas e até se
sinta incapaz e paralisado, sem saber o que fazer diante de tantos
casos. E agora? O que fazer?

É possível que você acredite que apenas profissionais


de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras, possam ajudar
um jovem nessa situação. É provável também que você sinta que
tenha que encaminhar esse “problema” o mais rápido possível,
transferindo a responsabilidade para os serviços de saúde. Mas
calma! Neste módulo, veremos que identificar as necessidades
dos jovens e oferecer os primeiros socorros psicológicos são pa-
péis que podem ser exercidos por qualquer pessoa, desde que
ela esteja disposta a acolher e a escutar a criança e o adolescen-
te. Como vimos no caso, Ana teve comportamentos que coloca-
ram sua vida em risco, os quais só foram expostos para pessoas

Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes


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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Quando o sofrimento bate à porta


Feedback orientador:
O campo da saúde mental, amparado nos fundamentos O SUS é uma conquista social brasileira, referência em Saú-
do Sistema Único de Saúde (SUS), produz uma nova forma de de Pública em todo o mundo. Desde sua regulamentação,
lidar com o sofrimento psíquico: os cuidados voltados para as em 1990, o SUS vem se transformando e sendo aprimorado,
pessoas com sintomas psicológicos não se restringem às equi- inovando as formas de pensar e executar as ações em saú-
pes de saúde mental, mas se ampliam para outros profissionais, de. Uma das grandes inovações do SUS é a constatação da
além dos familiares e comunidade. complexidade dos fenômenos da saúde e do adoecimento,
exigindo a construção de saídas, que requer o envolvimento
de vários setores da sociedade e vários atores que atuam no
território. No que se refere à saúde mental, o SUS valoriza
Proposição 1 ? que o cuidado aconteça de forma integrada ao território, en-
globando os diferentes saberes de todos os envolvidos. Por
Você sabia que o Sistema Único de Saúde (SUS) brasilei-
isso, não é preciso ter uma formação específica, como psi-
ro é referência mundial em Saúde Coletiva?
cologia ou psiquiatria, para trabalhar na promoção da saúde
mental dos jovens. Você pode colaborar com essa constru-
ção procurando outras pessoas interessadas, de diferentes
setores e serviços, e organizar espaços para conversas e
Feedback positivo:
discussões, como reuniões, fóruns, entre outros. Nesses en-
O SUS é mais do que um conjunto de leis e normativas que
contros é importante que você busque informações sobre
orienta e regulamenta o funcionamento dos serviços de
os princípios que orientam o SUS e inicie o planejamento de
saúde. Ele é também uma proposta política que entende a
ações e projetos que, certamente, contribuirão para a me-
saúde como um direito de todas as pessoas. Além disso, o
lhoria da qualidade de vida de todos os integrantes do terri-
SUS parte da ideia de que a saúde vai muito além da ausên-
tório em que você vive e atua. Outra dica importante: como
cia de doenças e inclui todos os fenômenos que fazem parte
dissemos anteriormente, saúde não é apenas ausência de
da nossa vida. Por isso, no SUS, há uma valorização de um
doenças. Por isso, é importante que as ações enfatizem os
trabalho coletivo, envolvendo muitos atores, como profissio-
modos de vida, o cotidiano, os aspectos culturais e políticos,
nais de saúde, gestores, usuários, familiares e demais atores
ou seja, que também incluam aspectos relacionados à vida
dos territórios.
e ao contexto dos jovens.

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Serviços que acolham o público infantil e jovem seguem Portanto, inicialmente, é preciso compreender que a saú-
premissas semelhantes e devem levar em consideração as parti- de engloba o bem-estar físico, psíquico e emocional, não sendo
cularidades dessas etapas da vida, que não são poucas. apenas a ausência de doenças. Para isso, faremos algumas con-
ceituações importantes e, em seguida, refletiremos sobre vários

aspectos da saúde: desde os primeiros cuidados na urgência
Veremos a seguir que não existe uma abordagem
dessas crianças e adolescentes até as possibilidades de constru-
única para tratar dos impasses das crianças e dos jo-
ções de saídas coletivas para esses casos que serão abordados
vens, assim como não há uma boa abordagem sem
nas circunstâncias de crise e urgência.
um cuidado integral de saúde, ou seja, sem um olhar
mais ampliado que inclua os aspectos sociais, culturais,
políticos, entre outros.

Essa visão mais ampliada deve alcançar, por exemplo, a


bagagem histórica trazida pelas crianças e pelos adolescentes, e
essa não é uma tarefa exclusiva dos profissionais de saúde, po-
dendo ser exercitada por todas as pessoas que lidam e convivem
com esse público, sendo atores fundamentais para a garantia de
acolhimento, cuidado e encaminhamento para os tratamentos
especializados. Com essa escuta, profissionais e demais pes-
soas que atuam com os jovens podem promover o autoconhe-
cimento e ajudá-los na construção de saídas saudáveis para os
impasses e riscos que porventura se apresentem.

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Crise, automutilação e suicídio:


definição e entrelaçamento desses conceitos Feedback orientador:
Apesar de ser desafiadora devido às mudanças corporais,
Conviver com os amigos, o primeiro beijo, a primeira ex-
hormonais e cerebrais que provoca, a adolescência não
periência sexual, entre outras experiências são momentos muito
precisa ser desesperadora! A fase anterior à adolescência,
importantes na vida de um adolescente. Geralmente, essas expe-
chamada terceira infância, costuma ser mais tranquila, visto
riências costumam acontecer na escola ou no grupo de amigos
que a criança já tem mais autonomia, isto é, consegue fazer
que estudam juntos ou moram próximos. Você se lembra das
muitas coisas sozinha e não depende tanto dos pais como
suas experiências nesse período?
dependia antes. Isso pode trazer um afastamento gradativo,
já que, na infância, muitas interações aconteciam em virtude
Proposição 2 ? da necessidade dos cuidados diários. Para chegar à adoles-
A adolescência é uma fase desafiadora tanto para quem cência com uma relação saudável e de confiança com o fi-
está nela quanto para quem convive com o adolescente. lho, é necessário estar presente na vida dele, ter momentos
Você conhece as mudanças psicológicas que os adoles- para conversar sobre o dia, sobre os acontecimentos, ouvir
centes experienciam nessa fase e como elas afetam as abertamente, sem julgamentos e sem oferecer uma solução
relações com as famílias? imediata para os problemas. Assim, a criança vai aprenden-
do que pode confiar nos pais. À medida que a criança vai en-
Feedback positivo: trando no mundo digital, os pais precisam estar atentos ao
A adolescência é uma fase de busca de autonomia e cons- que acontece, ao que os filhos acessam. Um aplicativo cha-
trução da própria identidade. Nessa fase, há uma busca por mado Family link pode ser instalado no celular de um dos
gratificação imediata, isto é, quando se quer alguma coisa, pais. Ele possibilita aos pais: definir quanto tempo a criança
tem que ser naquele momento. Há maior impulsividade, ou poderá usar o celular; quais aplicativos ela baixa; bloquear
seja, agir sem pensar nas consequências. Os amigos pas- atividades, entre outras intervenções.
sam a ter muita influência, às vezes até maior que a famí-
lia, gerando algum tipo de distanciamento dos jovens dos
seus pais. E, com o mundo virtual, que se ampliou durante
a pandemia, é importante que a família procure estar mais
próxima dos jovens e conhecer os seus amigos, já que são
pessoas que podem ter (e geralmente têm) uma influência
muito grande sobre o comportamento dele.
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Para as crianças e adolescentes, além de ser um local de Nos últimos anos, esse cenário foi inesperadamente al-
aprendizagem de conteúdos e conceitos, a escola também é um terado. Como uma espécie de pesadelo ou história de terror, a
espaço que contribui para a socialização e promoção da cidada- pandemia de Covid-19 gerou insegurança, medo, angústias e
nia. Quando a família é ausente ou disfuncional, a escola serve muitas mortes. As medidas de distanciamento social tiraram dos
como local de refúgio e apoio, longe das dificuldades familiares. jovens as experiências de convivência com amigos e sociedade
Além dela, outros lugares, como centros de convivência, praças em geral e aumentaram o tempo de convivência com a família,
e espaços de lazer, instituições religiosas, entre outros, são espa- suscitando as dificuldades inerentes a essa convivência (DA
ços ocupados pelos jovens, onde aprendem a ser e a conviver. MATA et al., 2021). O distanciamento social também gerou ou-
tros desafios, como: a incerteza quanto ao futuro, à doença e à
morte; dificuldades acadêmicas e de adaptação ao estudo on-li-
ne; problemas financeiros; e insegurança alimentar. Além disso,
a mudança repentina do ensino presencial para o ensino remoto,
sem o preparo e as condições adequadas, somada à longa du-
ração da pandemia, fez com que as crianças e os adolescentes
entrassem em grande sofrimento.

Fonte: Wikimedia Commons

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Observe, a seguir, algumas falas de crianças e adolescen- Antes mesmo da pandemia de Covid-19, a saúde mental
tes de alguns países da América Latina sobre esse período (UNI- dos jovens já vinha chamando a atenção e gerando preocupa-
CEF, 2021): ções. De acordo com o relatório Situação Mundial da Infância
2021 (UNICEF, 2021), quase um em cada seis meninas e meni-
“Não poder ver seus amigos causa depressão porque nos entre 10 e 19 anos de idade, no Brasil, tem algum transtorno
falar em uma tela não é a mesma coisa – você não tem a
mental. Nessa idade, esse grupo está mais exposto ao risco de
mesma conexão que vê-los pessoalmente.” (Menina mais
automutilações, depressão e suicídio. Conforme Botega (2023),
nova, Jamaica).
em cada 100 habitantes, 17 têm ideação suicida, com pensa-
mentos de acabar com a própria vida, 5 chegam a elaborar um
“Fico muito triste e depois começo a tremer, começo a fi-
plano suicida, 3 tentam o suicídio e apenas 1 entre esses três é
car sem ar e depois começo a chorar, tipo sem conseguir
atendido em um pronto-socorro. Esses dados são preocupantes,
segurar... pareço um zumbi e não tenho mais nada para
pois revelam que o número de pessoas que precisam da nossa
fazer ou tento levantar meu ânimo, mas até que eu durma
isso não vai acontecer.” (Menina mais nova, Chile).
ajuda é muito maior do que aqueles que chegam até os serviços
de saúde. Ou seja, a coisa está feia! E, por isso, precisamos de
todos envolvidos no enfrentamento desse desafio.
“[Pais invalidando nossas experiências] acontece muito.
Por exemplo... uma pessoa conta [aos] pais [sobre] seus Identificar sinais precoces de sofrimento psíquico, no
problemas, e os pais podem dizer: ‘...Você não tem dívida contexto de vida da criança e do adolescente, pode impedir a
ou nada para ficar triste’, e coisas assim.” (Menino mais escalada da crise, bem como possibilitar o início do cuidado
novo, Chile). necessário o mais precocemente possível, protegendo a saúde
do jovem e potencializando os cuidados o mais rápido possível.
“Quando eu era mais jovem, expressava muito mais meus
Como vimos no caso de Ana, é muito importante refletirmos so-
sentimentos, mas eles não eram validados quando eu ti- bre como podemos fornecer os primeiros cuidados psicológicos
nha 13, 14 anos. Eu poderia dizer: ‘Tenho depressão ou em momentos de crise, quando as crianças e os adolescentes
me sinto triste’, e eles diriam: ‘Não, você não sabe o que estão colocando suas vidas em risco, principalmente com com-
sente porque tem 12 anos’.” (Menina mais velha, Chile). portamentos de automutilação e tentativas de suicídio.

Fonte: Unicef (2021). Disponível em: https://www.unicef.org/media/108126/file/SOW- Uma primeira forma é a observação durante a convivên-
C-2021-Latin-America-and-the-Caribbean-regional-brief.pdf. Acesso em: 10 nov. 2022. cia. Nesse contexto, você pode identificar alguns sinais e mu-
danças no comportamento da criança ou adolescente, como

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retraimento, tristeza e irritabilidade. Outra importante estratégia


para identificar pistas é acompanhar as redes sociais dos jovens, Feedback positivo:
um canal de comunicação muito utilizado por eles. Uma matéria Influenciador digital é uma pessoa que tem muitos segui-
do site BBC (2019) revela a história de uma jovem norueguesa dores (pessoas que estão cadastradas no perfil do influen-
que, ao perder a melhor amiga por suicídio, passou a observar ciador). Eles geralmente falam sobre um tema específico
posts que poderiam ser indicativos de sofrimento mental e idea- (humor, moda, jogos etc.), mas também podem usar o perfil
ção suicida. Segundo ela: para falar de si. Nos tempos das redes sociais e da internet,
é quase impossível que os jovens não estejam em contato
“Vejo muitas pessoas que querem morrer. Não vou apenas ficar
com influenciadores. As redes sociais também têm sido uti-
vendo uma pessoa dizer que vai se matar, ignorar isso e esperar
lizadas como espaços importantes para comunicação dos
pelo melhor”.
jovens, que podem encontrar influenciadores positivos que
No Brasil, um funkeiro levantou suspeitas de sofrimento ao colocar podem servir de inspiração para o aprendizado de diversos
uma foto pessoal que mostrava uma corda e a legenda: “Aprecie temas e assuntos.
a vida, cada momento!”, deixando internautas e fãs preocupados.

Uma influencer digital, que enfrentava um quadro grave de de-


pressão e ansiedade e efetivou o suicídio, chegou a postar nas re- Feedback orientador:
des sociais: “Entendam, ter depressão é ter que sair da cama sem Apesar de as crianças e adolescentes muitas vezes criarem
vontade, e ter que lutar por coisas que não fazem mais sentido perfis falsos sem que os pais saibam, é importante que os
para você. Porque expor aqui? Simples. Pra que todos entendam cuidadores tenham acesso às redes sociais dos filhos e veri-
que a vida do insta só mostra uma camada, e tenho certeza que fiquem com alguma frequência o que eles postam, quem se-
tem muitaaaaaa gente aqui passando por isso”. guem e que tipo de conteúdo estão consumindo. Também
é importante conversar com os jovens a fim de conhecer
quem são as pessoas que os influenciam (artistas, bloguei-
Proposição 3 ? ras, personalidades da mídia etc.). Mais uma vez, o diálogo e
Os influenciadores digitais têm conquistado cada vez a escuta acolhedora são apoios importantes que permitem
mais a atenção do público infantil e adolescente. Você o fortalecimento de vínculo com os jovens e favorecem a re-
sabe o que é um influenciador digital? flexão sobre o conteúdo que acessam na internet.

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Como você viu anteriormente, o suicídio é um problema Geralmente, o suicídio é visto como uma maneira de acabar com
social que existe há muitos séculos, inclusive atingindo crian- a dor. Ocorre uma espécie de restrição mental em que a pessoa
ças e adolescentes, mas habitualmente era abordado de uma enxerga o suicídio como a única forma de resolver a situação,
forma silenciosa, tímida e delicada, tanto pelo tabu que envolve de acabar com o sofrimento que ela está vivenciando (BOTEGA,
o assunto, quanto pelo constrangimento causado em familiares 2023). Há níveis relacionados ao suicídio, que vão desde a exis-
que perderam alguém por suicídio. Hoje, por ser um indicador tência de ideias sobre o ato, como pensamentos de morrer, até
em constante crescimento, tornou-se um grande problema de planos muito elaborados de tirar a própria vida. No Quadro 1, há
saúde pública, sendo necessário conversar sobre o assunto em uma descrição de cada nível (BOTEGA, 2023) e a definição de
todos os espaços possíveis e com a ajuda de todas as áreas do automutilação (ARATANGY, 2017).
conhecimento.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)


(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2021), morrem, anualmente,
no mundo, 700 mil pessoas por suicídio. Essa é a quarta maior
causa de morte de adolescentes de 15 a 29 anos e tem crescido
exponencialmente em menores de 14 anos, indicador em que
Ana está enquadrada. Cabe destacar que o suicídio é um fenô-
meno complexo e multifatorial que pode afetar indivíduos de
diferentes origens, faixas etárias, condições socioeconômicas,
orientações sexuais e identidades de gênero. Assim, ele atinge
todos os grupos, tornando-se um desafio ainda mais complexo.
Contudo, como podemos definir o suicídio? Ele tem relação com
a automutilação? Vamos tentar entender, até para podermos
chegar às possibilidades de intervenção quando nos deparamos
com essas situações.

O suicídio pode ser definido “como um ato deliberado


executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção é a morte, de
forma consciente e intencional, mesmo que ambivalente, usan-
do um meio que ele acredite ser letal” (LOPES, 2022, p. 296-297).

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QUADRO 1 – NÍVEIS DE IDEAÇÃO E COMPORTAMENTO DE AUTOEXTERMÍNIO

Nível Definição Exemplos


Autolesão não suicida Machucar-se intencionalmente na superfície do cor- Objetos para se machucar: lâminas de barbear, cli-
ou automutilação po, gerando sangramento, contusão ou dor (por pes, grampos de cabelo, facas, tampas de caneta,
exemplo, cortar, queimar, bater, esfregar excessiva- entre outros.
mente), com a expectativa de que a lesão não leve
à morte (isto é, não há intenção suicida) (AMERICAN Queimar-se com isqueiro, cigarro ou ferro de pas-
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). A intenção da sar roupa também são ações possíveis. Os locais
automutilação é aliviar algum sofrimento emocional, podem ser: braços, pernas e barriga (ARATANGY,
sentimento de raiva, tristeza, angústia ou vazio inter- 2017).
no (ARATANGY, 2017).
Ideação suicida Ter pensamentos que se relacionam ao desamparo Pensamentos como: “se eu morresse, ninguém
(sensação de estar sozinho, não poder contar com sentiria a minha falta”; “eu queria dormir e não
ninguém) e à desesperança (a ideia de que as coisas acordar mais”; “não posso contar com ninguém”;
não vão melhorar ou que podem piorar). “as coisas nunca vão melhorar pra mim”; “nunca
vou ser feliz”; “eu preferia estar morto”.

Intenção suicida Ter o desejo de se matar e alguma intenção de agir Pensamentos como: “Eu não aguento mais. Tô sur-
conforme esse desejo. tando. Preciso pôr um fim nessa minha dor”.
Plano suicida A maneira como pretende executar o suicídio: dia, Pensamentos como: “Não vejo solução. É melhor
local, horário, método etc. Quanto maior a letalidade acabar com isso logo”; “Vou colocar um fim na mi-
do método, ou seja, a chance de morrer, e o conheci- nha dor”.
mento sobre isso, mais preocupante é.
Pesquisa sobre formas de fazer, conversa com pes-
soas sobre o tema, planeja como fazer.

Tentativa de suicídio Comportamento não fatal dirigido a si mesmo, poten- A tentativa pode ter sido feita por ingestão de me-
cialmente nocivo, com qualquer intenção de morrer. dicamentos, um nó em corda que se desfez, al-
Uma tentativa de suicídio pode ou não provocar feri- guém que salvou a pessoa antes da morte.
mento.
Suicídio Quando a pessoa tem êxito e consegue se matar. Os meios mais letais envolvem arma de fogo e en-
forcamento.
Fonte: Botega (2023) e Aratangy (2017).

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Já os comportamentos autolesivos, também conhecidos tampouco com doenças. De acordo com alguns estudos sobre
como automutilação, envolvem machucar partes do corpo de a adolescência, alguns comportamentos e características dessa
forma intencional, mas não têm o intuito de causar dano letal. etapa da vida são: insegurança, busca de sensações, impulsivi-
Podem ser: leves, quando as lesões são realizadas com pouca dade e agressividade, que seriam consequências das mudanças
frequência e têm baixa gravidade; moderadas, quando as le- biológicas e hormonais que acontecem nesse momento da vida
sões são graves a ponto de a pessoa precisar de ajuda médica; e (GOMES, 2017). Em outras palavras, a adolescência é uma fase
graves, quando as lesões são feitas com frequência e têm maior em que ocorrem muitas mudanças, o que nem sempre é vivido
gravidade, causando prejuízos às pessoas, como os machuca- sem conflitos.
dos no corpo e o isolamento dos grupos de pertença. As auto-
Contudo, a palavra crise é muito utilizada na área da
lesões geralmente têm impacto negativo na saúde mental do
saúde, especialmente para designar situações de intenso sofri-
próprio indivíduo e envolvem: punir-se por algo que acredita ter
mento e de gravidade significativa (ALKMIM, 2010). As mudan-
feito de errado e regular as emoções intensas e geralmente desa-
ças abruptas de comportamento decorrentes de sofrimento ou
gradáveis. A pessoa faz isso tanto porque, após se cortar, sente
prejuízo ajudam a entender melhor essa comparação, como:
um alívio, uma sensação de anestesia, como porque a dor desvia
um adolescente que sempre ficou irritado em determinadas si-
o foco das emoções desagradáveis. As autolesões também têm
tuações passa a ter comportamentos de raiva e agressividade
um impacto nas relações interpessoais, ou seja, as outras pesso-
mais intensamente, ameaçando machucar os colegas, animais e
as se preocupam e dão mais atenção, portanto pode trazer um
a si próprio. Essa mudança pode ser um sinal de que esse ado-
senso de pertencimento. Existem grupos e comunidades que se
lescente está em crise. Assim, o próprio jovem é usado como
relacionam justamente por compartilharem esses temas, como
parâmetro de comparação, ou seja, é preciso conhecer a história
as adolescentes que Ana encontrou na internet (QUESADA et al.,
dele para identificar quando as mudanças ocorreram e em qual
2020).
intensidade.
As situações descritas configuram o auge do sofrimento.
Podemos sugerir como indicadores “normais” as mudan-
No entanto, como perceber que a criança ou o adolescente pre-
ças de comportamento, o aparecimento da tristeza, a queda no
cisa de ajuda? Como diferenciar comportamentos típicos dessa
rendimento escolar, entre outros. No que se refere ao suicídio,
fase de situações de crise? Como a palavra crise é muito utilizada
um risco baixo envolve ausência de tentativa anteriores e, caso
no contexto da adolescência, é necessário esclarecer que ques-
ocorram ideias desse tipo, elas são passageiras e geram ansieda-
tões pontuais e certos comportamentos típicos desse momen-
de, perturbação. Além disso, se há um transtorno mental prévio,
to de vida não devem ser confundidos com situações de crise,
os sintomas são leves e o jovem tem vida e apoio social (BOTE-

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

GA, 2023). A música Eu sou um fracasso, de Bia Marques (https:// com/watch?v=7yIlon_oGnI, disponível em 11 out. 2022) retrata
www.youtube.com/watch?v=Z3qzsaim-AA, disponível em 11 out. um nível um pouco mais intenso de sofrimento: “não faz sen-
2022) mostra o início de uma crise, a sensação de estar só e de ser tido a vida que eu carrego”; “não sei mais se eu vivo por mim
um fracasso, assim como a desesperança de ser compreendida. mesmo”; “parece que estou perdido nesse mundo sem saída,
Por outro lado, cita lembranças de bons momentos, bem como onde a única opção é uma escolha suicida”. Nela, encontramos
alguma rede de apoio: “Mas pelo menos sei que com você posso alguns indícios de já ter havido uma tentativa anterior de sui-
contar”. cídio: “me olhando no espelho meu passado me atormenta. O
porquê eu fiz aquilo? Talvez ninguém entenda”. Apesar da su-
Com relação aos indicadores médios, “complicados”,
posta tentativa de suicídio anterior e de a pessoa considerar o
é preciso observar se os pensamentos negativos são persis-
suicídio como uma opção real e como a solução, identifica-se
tentes, mesmo que não envolvam a intenção de tirar a própria
uma rede de apoio: “Agradeço aos amigos por estarem ao meu
vida ou machucar alguém, se as autoagressões estão presen-
lado”, e a ambivalência, indicando, além do desejo de morrer,
tes e com qual frequência e gravidade, se tem algum histórico
uma esperança para viver.
de tentativa de tirar a própria vida, se há isolamento, piora no
rendimento escolar e falas de desesperança. Quanto ao risco Músicas, como a citada acima, falam de desesperança,
de suicídio, é moderado se há diagnóstico de depressão ou ideação suicida, sentimentos de vazio e temas afins. Apesar de
transtorno bipolar, se os pensamentos de suicídio são fre- serem impactantes, elas também podem ajudar a nos aproximar
quentes, se o suicídio parece ser a solução e se a pessoa conta da dor de nossas crianças e adolescentes para que possamos
ou não com apoio social. Em um risco moderado de suicídio, a compreender como eles se sentem. Além disso, as músicas po-
pessoa não é impulsiva, não faz uso ou abuso de drogas e não dem ser usadas para suscitar discussões sobre suicídio com os
tem um plano para se matar (BOTEGA, 2023). A música RAP - adolescentes, especialmente os que representam nível baixo e
me sinto perdido, nossos sentimentos (https://www.youtube. moderado de ideação.

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Proposição 4 ? acredita que a única opção é o suicídio. O que você pensa


De que maneira podemos usar músicas para abordar o sobre isso? Mesmo em situações de muita dificuldade ou de
sofrimento emocional dos jovens? extremo sofrimento, que alternativas uma pessoa pode ter?
(pedir ajuda na escola, na unidade básica de saúde, na as-
sistência social, no conselho tutelar etc.)
Feedback positivo:
O protagonista revela ter perdido pessoas que amava e se
Os jovens gostam muito de música. Passam boa parte do dia questiona se vale a pena viver. Que motivos fazem a vida
com seus fones de ouvido. As músicas citadas no texto fo- valer a pena? (família, amigos, animais de estimação, coisas
ram escritas por jovens e retratam elementos associados ao que eu quero fazer, lugares que eu quero conhecer etc.).
sofrimento de que tratamos neste módulo.
A música fala de momentos bons já vividos. Liste três mo-
mentos muito bons da sua vida. Tente relembrá-los, como se
Feedback orientador: pudesse revivê-los como um filme em sua mente.
Para iniciar a discussão, pode-se passar o clipe da música
ou apenas o áudio, entregando ou projetando a letra dela Considerando o trecho “É difícil ver pessoas sorrindo ale-
enquanto o áudio/vídeo é passado. Questões norteadoras gremente; Sem ao menos entender a batalha na sua mente”,
como as seguintes podem suscitar a discussão: você acredita que isso acontece na vida real? Ou seja, pes-
soas postam nas redes sociais momentos felizes, mas muitas
Música: “Eu sou um fracasso” vezes estão passando por alguma dificuldade ou sofrimento?
- O que fez com que a pessoa se sentisse dessa maneira?
- Como é a relação da protagonista da música com a pessoa O trecho “Tenho errado demais pra tu viver junto a mim” traz
a quem ela fala? a ideia de que o protagonista não se sente digno ou à altura
- Na sua opinião, o que a protagonista quer receber? Do que de uma pessoa de que ele gosta. Você já se sentiu dessa
ela precisa? maneira? Que motivos você tem para orgulhar-se de si mes-
- Você já se sentiu de forma parecida? Como? mo? Lembre-se de que todos nós temos defeitos e come-
temos erros. Todas as pessoas têm coisas sobre si que não
Música: “Rap - Me Sinto Perdido | Nossos Sentimentos” gostariam que os outros soubessem.
No início da música, o protagonista diz se sentir perdido e

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Como indicadores altos, ou “casos graves”, devem ser De acordo com Franzin, Reis e Neufeld (2017), o que
verificadas a existência de tentativas anteriores de suicídio e a costuma desencadear uma crise na infância e na adolescência são
dependência de álcool ou de outras drogas. Nesse cenário, o jo- problemas na família, na escola ou piora de uma psicopatologia
vem em crise não vê saídas. Há um plano definido de se matar e já existente, como depressão. A seguir serão listados alguns sinais
ele já pensou em formas de fazer isso, além de já ter providencia- que podem indicar que o adolescente está em crise, sempre
do o que precisa para o ato (BOTEGA, 2023). levando em consideração como ele era habitualmente, como
está agora e a frequência e intensidade dos comportamentos:
FRASES QUE PODEM SINALIZAR PENSAMENTOS SUICIDAS
- Comportamento agressivo e violento, como quebrar ou jogar
“Quero acabar com o sofrimento”. coisas, gritar, xingar ou desafiar adultos;

“Vou deixar de ser um problema para minha família ou - Tentativa de suicídio, tomando remédios, jogando-se de luga-
meus amigos”. res altos, enforcando-se, usando arma de fogo ou de outras ma-
neiras;
“Eu ando pensando besteira”.
- Machucar a si mesmo se beliscando, cortando-se, batendo em
“Acho que minha família ficaria melhor se eu não estivesse
aqui”. si mesmo;

“Eu sou um peso para os outros”. - Desenvolver depressão e transtornos de ansiedade;

“Estou com pensamentos ruins”. - Começar a usar álcool, cigarro ou outras drogas em excesso;

“Eu não aguento mais”. - Desregulação emocional, ou seja, choro difícil de controlar ou
ficar irritado com facilidade e com frequência, assim como falta
“As coisas não vão dar certo. Não vejo saída”.
de paciência.
“Eu preferia estar morto”.
No caso de Ana, o sentimento de culpa pela morte do
“Vou desaparecer”. pai, a falta que sentia dele, a baixa autoestima, o desconforto que
“As pessoas acham que depressão é frescura. Depois que a sentia em casa pela presença do padrasto, a falta de opções de
pessoa se mata vão ver o que é frescura”. lazer, o afastamento da amiga Karen e as críticas da mãe foram
fazendo com que ela ficasse cada vez mais distante, sentindo-se
“Vou sumir”.
ainda mais sozinha. Ana começou a ficar muito irritada, sem pa-
“Em breve isso tudo vai acabar!” ciência (a irritabilidade frequente e intensa é um sintoma impor-

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tante de depressão em crianças e adolescentes), passou a não


dormir bem, perdeu a vontade de comer e deixou de fazer coisas Feedback orientador:
de que gostava antes, como fazer vídeos e postar no TikTok. Os pais precisam aprender habilidades de negociação e ser
menos impositivos e punitivistas. A próxima etapa de vida
Como destacado anteriormente, a mãe de Ana percebeu
será a adulta, portanto a adolescência é uma etapa de tran-
as mudanças do comportamento da adolescente e pensou que
sição na qual a pessoa precisa aprender a negociar, tomar
fosse coisa da adolescência ou “aborrescência”, termo muito uti-
decisões e lidar com as consequências dessas decisões.
lizado, no senso comum, para se referir a essa fase da vida. Essa
Como ainda está em fase de aprendizagem, precisa de mo-
nomeação é carregada de estereótipos, pois considera que os
nitoramento. Dessa forma, os adolescentes não podem ser
adolescentes sempre aborrecem ou têm comportamentos equi-
completamente livres para fazer o que quiserem. No entan-
vocados. Esses estereótipos colaboram para calar as crianças e os
to, a imposição, além de não ensinar o filho a refletir, pois a
adolescentes, principalmente nas horas em que eles mais preci-
ordem vem de cima para baixo, costuma gerar raiva e a sen-
sam, sendo, portanto, negligenciados, silenciados ou esquecidos.
sação de não ser ouvido. Assim, é preciso que os pais com-
preendam o comportamento do filho como uma luta pela
Proposição 5 ? autonomia e não como um desafio deliberado. Uma dica é
Você sabe por que é tão comum o conflito entre pais e estabelecer regras negociáveis e outras que não entram em
filhos na adolescência? negociação. As regras, de preferência dialogadas e nego-
ciadas, devem estar claras aos adolescentes, bem como as
consequências do não cumprimento. É preciso que ocorra
Feedback positivo: um monitoramento apropriado dos filhos, que os pais sai-
As interações entre pais/mães e filhos se transformam du- bam onde os filhos estão e o que fazem durante o dia. Para
rante a adolescência devido a algumas características dessa tanto, precisam definir claramente como terão acesso a es-
fase do desenvolvimento, como: busca pela independência sas informações e de que maneira isso será feito.
e pela identidade, maior maturidade e capacidade de crítica
sobre o mundo e ampliação da rede de contato do adoles-
cente, possibilitando o acesso a valores e informações que
fogem à esfera familiar. Trata-se de um momento de maior
autonomia dos jovens e que pode contribuir para o desen-
volvimento de importantes diálogos sobre temas comple-
xos, como valores, política e a própria vida.
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Fique de olho: sinais de alerta e fatores de risco para automu- infância que são sinais de alerta envolvem: traumas psicológicos,
tilação e ideação/tentativa de suicídio como negligência e violência sexual, física ou emocional; rela-
ções familiares disfuncionais; depressão ou dependência de ál-
A depressão é um importante fator de risco tanto para a
cool e de outras drogas em um ou ambos os pais.
automutilação quanto para o suicídio. Reconhecer que a criança
ou o adolescente está em um quadro depressivo é importante Analisando esses fatores de risco, pode-se verificar que
para fornecer suporte e fazer os encaminhamentos necessários. Ana tinha vários deles: pode-se pensar em relações familiares
O vídeo Um cachorro preto chamado depressão (https://www. disfuncionais (pai era alcoolista e faleceu e Ana se sentia culpa-
youtube.com/watch?v=6RIu4a7hdAA, disponível em 11 out. da pela morte dele; a mãe era crítica e distante emocionalmente;
2022) ilustra os sintomas do transtorno. Entre os jovens, em vez Ana tinha sensação de desconforto na presença do padrasto);
de tristeza, pode aparecer com maior frequência a irritabilidade, Ana mantinha contato pela internet com outras meninas que se
como no caso de Ana. Entre crianças de 6 a 8 anos, é comum cortavam; após o namoro da amiga Karen, Ana isolou-se em casa
queixas somáticas, como dor de cabeça e dor de barriga. Em e na escola, não tinha amigos e ainda lidava com uma queda no
adolescentes, as notas na escola podem cair e haver mais fome rendimento escolar. Ana não gostava de sua aparência nem de
e sono (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). seu corpo, portanto desenvolveu baixa autoestima, e suas baixas
notas pareciam confirmar suas dúvidas sobre seu próprio valor.
Aratangy (2017) explica que transtornos mentais (como
Ana apresentava muitos sintomas de depressão que poderiam
depressão e presença de um trauma), vivências difíceis na in-
ter sido reconhecidos, caso os pais e educadores soubessem
fância, características pessoais e aspectos sociais são fatores de
identificá-los.
risco para automutilação e ideação suicida. Com relação aos as-
pectos sociais, é preciso prestar atenção: se a criança ou o ado- Conforme Botega (2023), o suicídio pode acontecer tam-
lescente está se isolando em demasia, tanto da família como de bém de forma impulsiva, não planejada, em uma situação de so-
amigos; se está sofrendo bullying (ver módulo 3); se tem em seu frimento intenso (por exemplo, descobrir que a pessoa amada
histórico de navegação na internet busca de informações sobre está com outra pessoa ou estar diante de um evento inespera-
automutilação e/ou suicídio; e se tem pessoas conhecidas e/ do, como a prisão dos pais, a morte repentina de uma pessoa
ou próximas que se mutilam e/ou também apresentam ideação querida ou a descoberta de uma doença grave) com um meio
suicida. Quanto às características pessoais, destacam-se a im- letal disponível (arma, veneno, medicamentos, entre outros). O
pulsividade e a instabilidade emocional, distorções na imagem impulso de cometer suicídio pode ser transitório e durar alguns
corporal, pessimismo, insegurança e baixa autoestima e dificul- minutos ou horas. Acalmando-se a crise e ganhando-se tempo,
dades de se relacionar e de regular as emoções. As vivências na é possível diminuir o risco. Por isso, é muito importante que, nes-

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sas situações, os jovens recebam os primeiros socorros psicoló- • Descuido com a aparência;
gicos pelas pessoas que os acompanham, mesmo que não se-
• Perda ou ganho de peso;
jam profissionais de saúde mental. Essa ação rápida é essencial
para preservar a saúde e a vida do jovem em sofrimento. • Mudança no padrão de sono, ou seja, dormir mais do que es-
tava habituado ou ter dificuldade para dormir ou ainda acor-
Dessa forma, com o objetivo de prevenir o suicídio de
dar de madrugada e não conseguir dormir mais;
adolescentes, Botega (2023) sugere orientar os pais a tirar de
casa ou esconder elementos que possam ser usados no ato sui- • Comentários autodepreciativos persistentes (por exemplo,
cida, como armas, facas, cordas e medicamentos, que devem “sou uma pessoa ruim”; “ninguém vai querer namorar uma
ficar em local que a pessoa não consiga acessar, de preferência pessoa como eu”; “eu sou um peso para os outros”; “só faço
trancado, e com alguém responsável por administrá-los). O autor as pessoas sofrerem”);
também recomenda prestar atenção ao adolescente que geral-
• Comentários negativos sobre o futuro, desesperança;
mente demonstra alguns sinais de alerta relacionados ao risco
de suicídio. Alguns desses sinais são: • Disforia marcante (combinação de tristeza, irritabilidade e
acessos de raiva);
• Mudanças importantes no jeito de ser ou na rotina;
• Comentários sobre morte, sobre pessoas que morreram e in-
• Comportamento ansioso, agitado ou deprimido;
teresse por essa temática;
• Piora no desempenho na escola, no trabalho e em outras ati-
• Doação de pertences que valorizava;
vidades em que costumava ter bons resultados;
• Expressão clara ou velada de querer morrer ou pôr fim à vida.
• Afastamento de família e de amigos;

• Não querer mais fazer atividades de que gostava;

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Na história que vimos anteriormente, Ana passou a demons- ca, gay, bissexual ou transexual; e sofrer discriminação devido
trar bastante irritabilidade, isolou-se e tinha pensamentos mui- à orientação sexual e à identidade de gênero (BOTEGA, 2023).
to depreciativos sobre si: “Eu sou tão magra. Com 14 anos não Nesse último caso, o sofrimento e a ideação suicida também es-
tenho peito, não tenho bunda. Quem vai gostar de mim? Meu tão relacionados à vivência de preconceito e da falta de aceita-
cabelo parece uma vassoura. Nada que eu faço dá jeito nele”. ção da família.
Ela também deixou de fazer coisas de que gostava, como ir à
Existem ainda os fatores que aconteceram perto da ten-
praça (nesse caso, foi um dos fatores que desencadeou o início
tativa ou da ideia de suicídio, que chamamos de fatores preci-
da depressão) e gravar vídeos e postar no TikTok (consequên-
pitantes, por exemplo: exposição a casos de suicídio ou tenta-
cia da depressão). Em sua fala, ela expressa muitos sinais de seu
tivas de suicídio, conflitos familiares, separação dos pais, morte
sofrimento psíquico, os quais resultam em comportamentos que
de um genitor, rompimento de namoro, bullying e cyberbullying,
talvez possam ser vistos pelos adultos como rebeldia ou agressi-
dificuldades escolares, ações disciplinares e problemas legais,
vidade. Toda essa mudança revelava seu grito por socorro, que
sentir-se desonrado ou ter muita vergonha de algo sobre si (por
só foi ouvido tardiamente.
exemplo, ter uma foto de si nu circulando em WhatsApp) e ter
Os fatores de risco de comportamento podem estar re- fácil acesso a um meio letal (BOTEGA, 2023).
lacionados a eventos de vida que contribuíram em longo prazo
A automutilação é um fator de risco para o suicídio, pois
para o risco de suicídio, por exemplo: abuso físico na infância,
é como se uma primeira barreira tivesse sido transposta, isto é, a
violência sexual, abuso de substâncias psicoativas (álcool, ma-
de machucar o próprio corpo, tornando mais fácil uma nova ten-
conha, entre outras); transtorno de estresse pós-traumático (de-
tativa. Destaca-se que os fatores listados, isoladamente, não são
corrente de assalto, estupro, de assistir violência doméstica etc.);
exclusivamente as causas de suicídios, mas as consequências
ter alguém na família que se suicidou; comportamento agressi-
que possam ter causado na vida da pessoa podem impulsio-
vo e/ou impulsivo (agir com frequência sem pensar, às vezes até
ná-la a ter comportamentos de risco. Além disso, é importante
com consequências ruins); perfeccionismo; transtorno depres-
saber que, em geral, a pessoa com ideação suicida tem tanto o
sivo; automutilação; ter tentado suicídio antes; ter sido interna-
desejo de morrer, para acabar com a dor, como o desejo de viver,
do em uma clínica psiquiátrica recentemente; sentir-se enclau-
mostrando uma ambivalência. O apoio social e emocional tem
surado, sem conexão ou um peso; desesperança; transtorno de
como objetivo aumentar o desejo de viver.
identidade de gênero (ter um desconforto com o próprio gênero,
sentindo-se inadequado quando assume esse papel social, e
se identificar com o gênero oposto); identificar-se como lésbi-

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O que fazer? Primeiros esboços!


Muitas pessoas acreditam que conversar com o ado-
lescente sobre suicídio vai fazer com que ele pense sobre isso
ou que desperte nele a vontade de acabar com a própria vida.
Esse é um mito, pois, quando a ideia lhe ocorre, ele tem a inter-
net para buscar informações. Poder falar sobre a dor que o leva
a querer se matar pode, na verdade, ajudá-lo a pensar em ou-
tras maneiras de diminuir o sofrimento. Sabemos que, para mui-
tas pessoas, essa é uma conversa difícil, fazendo com que pais,
educadores e profissionais que atuam com jovens evitem falar
sobre o assunto ou simplesmente encaminhem os jovens, sem
o devido acolhimento, para um outro profissional, deixando-os
ainda mais vulneráveis. Contudo, diversos estudos vêm demons-
trando a importância de conversar abertamente e o mais empati-
camente possível com os jovens que lidam com a automutilação
e a ideação suicida. Muitas vezes, é mais fácil que eles se abram
com uma pessoa com a qual já tenham vínculo construído, como
professores, oficineiros, líderes comunitários, entre outros, do
que com um profissional que, embora especialista, é desconhe-
cido para ele. Por isso, é importante que você mantenha uma
postura de disponibilidade e escuta acolhedora, mantendo aber-
to um canal de comunicação em que a criança e o adolescente
possam se expressar e narrar o seu sofrimento.

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Proposição 6 ? passo é abordar, perguntar, querer saber o que está acon-
Por que conversar sobre automutilação e ideação suici- tecendo de maneira acolhedora, empática, dizendo para o
da é importante? Como podemos fazer isso? adolescente que tem percebido algumas coisas e que está
preocupado com ele, que está ali para ajudar e que podem
pensar juntos em saídas para esse sofrimento. Validar o so-
Feedback positivo: frimento e querer saber do que se trata para tentar ajudar
são instrumentos muito valiosos e que qualquer um pode
Poder falar sobre a dor e o sofrimento que está sentindo, ao
utilizar!!
mesmo tempo que quem escuta dá espaço para que o jo-
vem possa falar e se mostra disponível para acolher, ajuda
muito na prevenção desses comportamentos e na possibi-
lidade de as pessoas que sofrem buscarem ajuda. Uma das
primeiras coisas que podemos fazer para ajudar quem está Feedback orientador:
sofrendo – e, por isso, automutilando-se – e está com pensa- É mito achar que conversar sobre suicídio pode desenca-
mentos suicidas é nos informar, buscar informações confiá- dear intenções de tirar a própria vida. Diversos estudos vêm
veis sobre o suicídio, sobre automutilação e sobre crianças e demonstrando a importância de conversar abertamente e o
adolescentes em sofrimento. Querer se informar de maneira mais empaticamente possível com os jovens que lidam com
correta, ou seja, sem informações equivocadas e estigmati- a automutilação e a ideação suicida. A Organização Mundial
zadas, é o primeiro passo. Quando lançamos mão dessas in- da Saúde (OMS), com o objetivo de prevenir e reduzir os ín-
formações, ficamos mais atentos aos comportamentos das dices de suicídio, criou a campanha Setembro Amarelo. Essa
pessoas ao nosso redor, passamos a considerar importante campanha visa dar informações e criar ações para a preven-
qualquer comportamento diferente do habitual, não consi- ção ao suicídio. Existe um material complexo e bem elabora-
deramos mais esses comportamentos como algo que “vai do para ajudar na conscientização e formação das pessoas
passar” nem ficamos mais deduzindo o que pode ser. Tendo sobre a temática. O dia Mundial de Prevenção ao Suicídio é
essas informações, vamos querer aprofundar no que pode o dia 10 de setembro, mas as ações ocorrem durante todo
estar acontecendo, porque sabemos que pode ser algo gra- o ano. Para mais informações sobre as ações do Setembro
ve e que essa pessoa pode estar precisando de ajuda. Outro Amarelo, acesse o site: https://www.setembroamarelo.com/.

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A seguir, algumas perguntas que podem ajudar a abor- Na história de Ana, a coordenadora Letícia abordou tanto
dar o assunto. Sempre que uma resposta for positiva, faz-se uma a automutilação como os pensamentos suicidas. Primeiramente,
nova pergunta (BOTEGA, 2023): ela pediu calma à diretora Marli e solicitou que a deixassem sozi-
nha com a adolescente. Em seguida, Marli acompanhou a mãe
de Ana, dona Arlete, até a sala ao lado, onde permaneceram du-
- Alguma vez você já pensou que seria melhor morrer? Já
rante toda a conversa entre Letícia e Ana. Quando estavam so-
pensou em tirar a própria vida?
zinhas, com privacidade e em um ambiente favorável, Letícia e
- Como são esses pensamentos? Ana se sentaram uma do lado da outra e conseguiram iniciar um
diálogo respeitoso. A abordagem da coordenadora foi comple-
- Esses pensamentos te assustam? Você consegue afastá-
tamente diferente da de Marli, que havia tratado Ana como uma
-los?
adolescente inconsequente e que precisava de um puxão de
- Quando esses pensamentos começaram? orelha! Ao contrário, Letícia se mostrou disponível e interessa-
da em ouvir da própria adolescente o que estava acontecendo
- Você pensou em como se matar? Chegou a procurar infor-
com ela, não demonstrando nenhum tipo de julgamento moral
mações sobre como fazer isso?
e preconceito diante dos comportamentos da adolescente nem
- O que motivou a escolha desse método para se matar? a forçando a mostrar as cicatrizes que tinha, o que possibilitou
que Ana falasse sobre si e sobre o que estava acontecendo em
- Você tem acesso a esse método?
sua vida.
- Você chegou a pensar em um local e em uma data para se
matar?

- Você consegue pensar em razões para continuar vivo?

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens


Proposição 7 ? fre por qualquer motivo”, “brigou com a namoradinha e
agora está aí sofrendo”. Isso faz com que o adolescente se
Qual a diferença entre uma abordagem agressiva e uma
torne mais arredio, acuado, recusando qualquer possibili-
abordagem acolhedora? Tem diferença?
dade de fala e ajuda. Estamos chamando de abordagem
sensível e acolhedora aquela que quer de verdade saber
Feedback positivo: o que está acontecendo. A pessoa interrompe o que ela
estiver fazendo para escutar, saber do que se trata do pró-
Ao utilizar o acolhimento e a escuta qualificada, você ajuda-
prio adolescente, sem responder pelo outro e sem trazer
rá a proporcionar um início de intervenção sensível e que
frases prontas e preconceituosas sobre a adolescência,
possibilita outras entradas de ajuda. Com isso, será possível
automutilação e pensamentos suicidas. Só conseguimos
a entrada de outros profissionais e de equipes multidiscipli-
abordar de maneira acolhedora quando queremos saber
nares, assim como ações com as famílias e comunidade.
do adolescente o que ele tem para dizer. Só assim é pos-
sível que ele se abra, sinta-se seguro para dizer o que está
acontecendo, o que tem feito e o que tem pensado.
Feedback orientador:
Há muita diferença. Estamos chamando de abordagem
agressiva a abordagem feita de forma ríspida, que muitas
vezes envolve toque no corpo do adolescente que está
passando pela situação, gritos, conclusões precipitadas e
preconceituosas (“adolescente só faz isso para chamar a
atenção”, “suicídio é um ato de fraqueza”) e resposta sem o
conhecimento do que está acontecendo. Geralmente, essas
posturas acontecem na frente de outras pessoas. Quem está
na situação de sofrimento é exposta, ficando mais vulnerá-
vel ainda. Outra forma equivocada de abordagem é a que
tenta naturalizar e/ou minimizar o sofrimento. A pessoa que
faz essa abordagem acha que o adolescente “é assim mes-
mo, cheio de crise e frescura”, “não quer saber de nada”, “so-

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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Esse diálogo nos leva a refletir sobre algumas caracte-


rísticas que sugerem intenção suicida já em estágio avançado
presentes em situações em que os jovens vivenciam sofrimento
psíquico (BOTEGA, 2023):

- Comunicação prévia de que irá se matar;

- Mensagem ou carta de adeus;

- Providências finais antes do ato, isto é, organizar algumas


coisas da vida, como doar pertences;

- Planejamento detalhado, ou seja, já pensou em como fazer


e em quando e tomou precauções para que o ato não seja
descoberto;

- Não ter pessoas por perto que possam socorrer;

- Não procurar ajuda logo após a tentativa de suicídio;

- Método violento ou uso de substâncias psicoativas;

- Acreditar que a forma como planejou se matar seja irreversí-


vel e letal, ou seja, que vai levar à morte;

- Afirmação clara de que quer morrer;

- Desapontamento por ter sobrevivido.

Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes


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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Ao identificar algum desses sinais, é necessário entrar em


contato com a família e reforçar o apoio. É importante avisar ao Feedback orientador:
adolescente que esse contato será feito. Além disso, é importan- É preciso descobrir atividades que acalmem o adolescen-
te ajudar o adolescente a refletir sobre quando ocorre o desejo te, pois o que funciona para um pode não funcionar para o
de se matar ou de se autoagredir, isto é, em que momentos ge- outro. Por exemplo, uma pessoa pode se distrair e ficar mais
ralmente esse desejo acontece, porque, ao identificar situações calma ao brincar com o cachorro da família e outra pode se
que desencadeiam esse desejo, o adolescente pode buscar estabilizar fazendo uma atividade física, diminuindo a ativa-
ações para se colocar em segurança. Para tanto, sugere-se a ela- ção corporal por meio de respiração calmante ou resfriando
boração de um plano de segurança. Você pode encontrar um o rosto com o uso de gelo ou água gelada. Assim, é impor-
modelo desse plano no material desenvolvido por Franzin, Reis tante testar essas possibilidades em momentos de crises
e Neufeld (2017). mais leves de forma a ver o que realmente funciona. Além
disso, o adolescente pode recorrer ao Pode Falar ou ao CVV
em um momento fora da crise para já saber como funcionam
Proposição 8 ? e se sentir mais tranquilo e à vontade para recorrer a eles no
Você já tinha ouvido falar em plano de segurança? En- momento de crise. Uma pessoa que atende ao adolescente
tende como ele funciona? sozinha no momento da crise pode se sentir sobrecarrega-
da. Assim, é bom que o adolescente tenha mais de uma pes-
soa a quem recorrer. Isso aumenta a chance de que ele seja
Feedback positivo:
acolhido de maneira adequada.
O plano de segurança é uma estratégia que a pessoa pode
usar em um momento de crise, quando não consegue pen-
sar com clareza. Como dito anteriormente, a ideação suicida
pode ocorrer de maneira planejada ou de maneira impulsi-
va, exigindo nosso cuidado antes mesmo de ela acontecer.
Por isso, a identificação dos sinais de mudança de compor-
tamento dos jovens e as intervenções preventivas são es-
senciais para minimizar o sofrimento psíquico e diminuir as
possibilidades de automutilação e suicídio.

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

No caso de Ana, a motivação principal que levou ao di- As seguintes perguntas podem ser feitas:
álogo da adolescente com a coordenadora Letícia foi a auto-
• Machucar-se faz com que você se sinta melhor?
mutilação. A fala sobre os pensamentos de morte e as ideações
suicidas vieram depois. Cabe destacar, como já falamos anterior- • Que tipo de situação ou coisas fazem você pensar em se ma-
mente, que a pessoa que se automutila não quer acabar com a chucar?
própria vida, mas usar essa ação para aliviar alguma dor emo-
• Quando você começou esse comportamento? Sabe dizer
cional ou desconforto ou para impactar, de alguma maneira, o
por quê?
ambiente ao seu redor, seja para obter atenção e apoio nas re-
des sociais, seja para sentir-se pertencente a um grupo que tem • Quais motivos, nessa época, fizeram você considerar a possi-
a mesma prática. Contudo, no caso de Ana, há um agravamento bilidade de fazer a automutilação?
contínuo dos comportamentos de risco, já que, além das auto-
• Qual a função da automutilação em sua vida atualmente?
mutilações, ela apresenta também pensamentos de morte e von-
tade de morrer. • Em quais regiões do seu corpo você costuma se machucar?

Assim, Aratangy (2017) pontua que, de forma semelhante • Que objetos você geralmente usa para fazer essas lesões?
ao que acontece nos casos de ideação e tentativa de suicídio,
• O que você faz para cuidar de seus ferimentos?
na automutilação, em geral, há um transtorno mental, bem como
outros fatores de risco. Ao identificar que o adolescente está se • Alguma vez você se machucou mais gravemente do que pla-
cortando, o autor sugere que a pessoa comece a conversa so- nejava?
bre automutilação de forma respeitosa e sem julgamentos. Você
• Seus ferimentos já infeccionaram?
pode iniciar com falas como: “Estou preocupado/a com você e
gostaria de ajudá-lo/a”; “Estou preocupado/a com você”; “Tenho • Você já procurou ajuda médica por causa de seus ferimen-
visto cicatrizes em seus braços e pensei se você não estaria pro- tos?
vocando esses ferimentos”; “Se eu estiver certo/a, gostaria que
você soubesse que pode falar sobre isso comigo”; “Se você não
quiser falar para mim, eu espero que encontre alguém em quem
confie para conversar” (ARATANGY, 2017, p. 39).

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A automutilação pode ser vista como uma dificuldade em • Cuidar de animal de estimação, cozinhar, ler, ouvir música,
regular emoções intensas, isto é, é a forma que o adolescente tocar instrumento;
encontrou para lidar com a dor. Aratangy (2017) nos dá algumas
• Praticar atividade física;
dicas sobre como auxiliar o adolescente em um desses momen-
tos, especialmente quando ele sente o desejo de se automutilar. • Escrever pensamentos e sentimentos em um diário.”
Essas dicas têm o objetivo de aplacar a crise temporariamente,
Ao serem identificados, na escola, muitos casos de ado-
até que os cuidados de longo prazo possam ser acionados, por-
lescentes que se cortam ou que têm ideação suicida, é possível
que é preciso intervir naquilo que está na base da automutilação,
se inspirar no projeto do Centro Educacional Gesner Teixeira, es-
conforme visto anteriormente nos fatores de risco para a automu-
cola pública na Cidade Nova DVO, no Gama, a 42 km do centro
tilação. Portanto, as ações a seguir visam tão somente amenizar
de Brasília, conforme noticiado na mídia. Mediante pedido de
o desejo e o impulso de se machucar enquanto uma intervenção
ajuda de uma estudante, a escola se propôs a fazer uma ação.
mais global e especializada não é iniciada (ARATANGY, 2017, p.
A adolescente convidou para ação amigas e outras pessoas co-
44-45):
nhecidas da escola que ela sabia que se cortavam ou que tinham
• “Escrever na própria pele com caneta (estímulo tátil sem cau- ideação suicida. Foram desenvolvidas: rodas de conversas, ini-
sar danos à pele); cialmente direcionadas para os estudantes com depressão, que
se autolesionavam e que tinham ideação suicida, e posterior-
• Esfregar borracha nos locais em que costuma se machucar
mente ampliadas para outros temas em saúde mental, como os
(estímulo tátil sem causar danos à pele);
casos de bulimia, anorexia, timidez. Também envolveu os familia-
• Segurar uma pedra de gelo ou esfregá-la nas áreas em que res que se dispuseram a participar.
costuma se machucar (estímulo físico e desconforto, sem
causar danos à pele); Saiba mais
Para saber um pouco mais sobre o projeto no
• Escrever, desenhar ou pintar, quando o adolescente gosta
Gama, acesse este link ou clique no ícone ao lado.
dessas atividades; clique e
acesse

• Procurar alguém para conversar;

• Andar descalço sobre cascalho ou provocar outros estímulos


que não lesem a pele;

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Em associação com a secretaria de saúde, a escola tam-


Proposição 9 ? bém ofereceu reiki, meditação e automassagem. Além da parce-
Como podemos propor ações preventivas e interventivas ria com a secretaria de saúde, é possível também buscar apoio
em espaços ocupados pelas crianças e adolescentes? em diferentes instituições do seu território, como escolas, univer-
sidades, organizações não governamentais (ONGs), empresas,
movimentos sociais, entre outras. Dessa forma, é possível que
Feedback positivo: você identifique, no território, pessoas que podem acompanhar
É fundamental que os espaços de convívio das crianças e as rodas de conversas e desenvolver oficinas de teatro, dança,
dos adolescentes estejam atentos ao comportamento deles. expressão corporal, entre outras.
Além disso, promover ações que abordem temas como a au-
Automutilação, ideação e tentativa de suicídio podem fazer com
tomutilação e o suicídio pode ajudar o jovem a dizer o que
que a família leve o jovem nessa situação para serviços de saúde
está sentindo ou a contar que está percebendo comporta-
mental, embora a crise possa também acontecer na escola ou
mento atípico em um colega. Os jovens vão perceber que
em outros lugares. No caso de Ana, a crise começou em casa,
podem falar sobre o assunto sem tabu e sem medo.
mas a mãe não percebeu. Foi na escola que a crise de Ana teve o
ápice. Na experiência mencionada anteriormente, também foi na
escola que a adolescente recebeu ajuda. Dessa forma, a seguir,
Feedback orientador: serão dadas algumas dicas de o que fazer diante de um adoles-
As escolas, as comunidades e os locais que lidam com as cente em crise.
crianças e os jovens podem oferecer palestras e rodas de
conversas, chamar pessoas que sabem sobre o assunto
para abrir uma roda de perguntas e dúvidas e chamar a co-
munidade para conversar e falar sobre o tema.

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“Pode falar!” – vamos falar sobre isso? e sobre quanto é importante estarmos atentos aos sinais que o
corpo e a mente podem expressar quando não estamos bem.
Muitos elementos do plano de segurança foram trabalha-
dos com Ana pela coordenadora Letícia: ela falou sobre o CVV, le- O canal Pode Falar, então, surge com a proposta de ouvir o que
vantou possibilidades de ações que a adolescente poderia fazer os adolescentes e jovens estão sentindo em razão das suas per-
para regular as emoções decorrentes da crise e analisou com Ana cepções e permite que todos os usuários desse serviço se ex-
os motivos para viver. Letícia percebeu que Ana precisava falar e pressem sem medo e se sintam seguros e confiantes para desa-
ouviu com toda a atenção e carinho possível. Às vezes, as pesso- bafar. Isso é possível porque o adolescente pode escolher não
as só precisam falar, só precisam ser ouvidas. Percebendo isso, a se identificar, ou seja, muitas vezes, a pessoa que realiza a escu-
coordenadora pedagógica indicou para Ana o canal Pode Falar. ta não sabe sequer a cidade ou o estado de onde o jovem fala.
Esse canal é uma iniciativa que surgiu com a proposta de oferecer Além disso, não há a garantia de que a mesma pessoa atenda o
escuta acolhedora a adolescentes e jovens que precisam falar so- jovem caso ele ligue mais de uma vez.
bre seus sentimentos, mas não confiam em outras pessoas para
O atendimento do canal conta com um grupo de volun-
isso, têm medo do que vão ouvir e não querem se expor.
tários e está disponível 24 horas por dia por meio de chat. Caso
Muitas vezes, o jovem não consegue reconhecer uma o adolescente sinta a necessidade de falar mais especificamente
pessoa do seu círculo social em que possa confiar para com- sobre o seu sofrimento, ele pode ser encaminhado para um pro-
partilhar seu sofrimento. Em outras situações, as pessoas não fissional especializado em saúde mental. O Pode Falar tornou-se
expressam seus sentimentos por terem medo de julgamentos. um programa durante a pandemia, em 2020. O atendimento in-
A fala permite ao ser humano expressar suas percepções sobre dividual funciona em regime de plantão e conta com muitos e
si mesmo e/ou sobre o que está a sua volta. Os sentimentos tra- importantes parceiros. As mesmas instituições realizam a super-
duzem as percepções do que acontece com o corpo enquanto visão técnica de suas respectivas equipes. Existe um cronogra-
uma emoção ocorre. A palavra sentir, etimologicamente, traduz ma com todos os horários, e essa iniciativa está sendo abraçada
essa ideia de dar sentido a algo que ocorreu ou ocorre no corpo por diferentes universidades públicas. É importante ressaltar que
(SOUZA et al., 2020). não é um atendimento psicológico, mas todos os atendentes
estão preparados, pois recebem treinamentos sobre diferentes
O curta animado da ALIKE: https://www.youtube.com/
temas em saúde mental. Você pode saber mais sobre o projeto
watch?v=K4Foovfdb-E&t=3s, que permite várias reflexões sobre
clicando no link: https://www.podefalar.org.br/.
a educação e o trabalho, também nos possibilita refletir sobre a
importância das emoções, as diferentes formas de se expressar

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

O acolhimento e a escuta: apenas esses espaços são responsáveis por esse acolhimento e
intervenção. Além disso, essas questões não vão surgir apenas

aliados do vínculo em locais “especializados” ou da saúde, mas em locais e na pre-


sença de pessoas que lidam com os adolescentes em sua rotina,
Para intervir, é fundamental adotar uma postura aberta, como familiares, colegas, amigos, no ambiente escolar, nas redes
empática e de interesse genuíno por aquilo que o jovem fala. No sociais, entre outros, e isso pode acontecer de formas variadas. O
entanto, é comum ouvirmos as pessoas dizendo coisas do tipo: vínculo ou a relação de proximidade com a criança e com o ado-
“No meu tempo não era assim!” ou “Na minha época não tinha lescente – falaremos sobre isso mais adiante – possibilitam o sur-
essas frescuras não”. Esse tipo de abordagem mostra que, aos gimento de demandas veladas, sobre as quais eles só conversam
olhos da sociedade, a juventude é uma “geração perdida”, ro- se houver vínculo com o outro que escuta (GUIMARÃES, 2022).
tulando, muitas vezes, os adolescentes de hoje como “sem ju- O atendimento de crianças, adolescentes e jovens, então, não
ízo”, “manipuladores” e “inconsequentes”. Além disso, quando deve ser visto como prioridade do médico ou psicólogo. Não
um adolescente aparece com uma queixa ou mostra algo grave mesmo! Todos podemos contribuir com a melhora de alguém
que tem acontecido com ele, como Ana, que estava se cortan- que sofre, e muitas vezes temos ferramentas potentes que nem
do e tendo pensamentos de morte, é muito comum as pessoas imaginamos. Apesar de a grande maioria dos atendimentos às
dizerem: “o que fazer com isso?”, “isso é manipulação”, “vamos crianças e adolescentes ser feita por psicólogos, psiquiatras e/
internar”, “não tenho técnica ou conhecimento para saber o que ou pediatras, alguns atendimentos considerados menos graves
fazer”, “isso é muito grave... Se essa pessoa se matar, como que são realizados, por exemplo, pelas escolas, centros comunitá-
eu fico?” rios, ONGs e, ainda, pelos serviços da Atenção Primária, como as
Bom, quando estamos pensando na perspectiva dos Unidades Básicas de Saúde (UBS) (ESSWEIN et al., 2021).
profissionais que lidam com adolescentes, logo pensamos que
eles estão capacitados para lidar com essas situações, o que in-
clui conhecer tanto os aspectos éticos e legais dos atendimentos
como métodos para lidar com uma urgência, com uma crise. No
entanto, muitas vezes, não é isso que acontece, por isso muitos
profissionais, inclusive da área da saúde, encaminham crianças
e adolescentes que estão em crise para os espaços específicos
de atendimento em serviços especializados, considerando que

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Proposição 10 ?
Você sabia que a forma de acolher e de escutar quem
está em sofrimento psíquico pode ajudar muito mais do
que se imagina?

Feedback positivo:
A forma como acolhemos o sofrimento do outro e como es-
cutamos (sem julgamento) pode ajudar muito as pessoas
com sofrimento psíquico. O fato de você se propor a ouvir
e compreender a dor alheia pode fazer toda a diferença, e
essa sensibilidade não se restringe apenas aos profissionais
de saúde. Lembre-se de que alguns atendimentos consi-
derados menos graves podem ser realizados nas escolas,
centros comunitários e ONGs ou, ainda, pelos serviços da
Atenção Primária, como as Unidades Básicas de Saúde.

Feedback orientador:
O Ministério da Saúde lançou, em 2009, a cartilha Humaniza
SUS com o objetivo de orientar as pessoas sobre maneiras
de cuidar utilizando tecnologias simples e acessíveis a to-
dos. Operando com o princípio da transversalidade, o Hu-
maniza SUS lança mão de ferramentas e dispositivos para
consolidar redes, vínculos e a corresponsabilização entre
usuários, trabalhadores e gestores. Ao direcionar estratégias
e métodos de articulação de ações, saberes e sujeitos, po-
de-se efetivamente potencializar a garantia da atenção inte-
gral, resolutiva e humanizada (BRASIL, 2009).

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Além disso, Silva et al. (2019) pontuam que o sofrimento


psíquico pode ser causado por diferentes fatores, como a rela- - Perguntar sobre pensamentos e emoções. Por exemplo: “Como
ção consigo mesmo, com a família, com a escola ou com outras você está se sentindo diante disso que está acontecendo?”; “Você
instituições sociais, e, nesse sentido, é necessário buscar a pro- sente mais alguma coisa?”; “E o que você pensa disso tudo?”; “O
moção, prevenção e atenção em saúde mental. Precisamos es- que você gostaria que acontecesse?”; “Como você gostaria que as
tar preparados para ajudar quem precisa, para acolher e cuidar coisas ficassem?”. Diante do problema, se possível, pensar com ele
desses jovens que estão em risco devido a ideações suicidas, em possíveis soluções, se ele estiver mais calmo;
tentativas de suicídio e automutilações, que ficam evidentes nas
- Demonstrar empatia com o sofrimento. Por exemplo: “É natural se
marcas expostas pelo corpo, sugerindo um pedido de socorro.
sentir assim. Parece que está sendo muito difícil passar por tudo
Quando nos damos conta desse sofrimento, o que é possível fa-
isso”; “Vejo que você está sofrendo/triste/com medo”.
zer? Quando estamos com um adolescente em crise, podemos
(FRANZIN et al., 2017):

- Tranquilizar o adolescente, dizendo que ele está seguro e que No caso de Ana, quando Letícia, a coordenadora peda-
estamos ali para ouvi-lo. É possível dizer: “Eu imagino que aconte- gógica da escola, ouviu o relato de Mara, mãe de Mônica (colega
ceu algo muito ruim que te deixou assim. Estou aqui para te ajudar. de sala de Ana), que falou sobre os comportamentos de se cortar
Você pode me dizer o que está acontecendo para que eu possa te de Ana, ela se preocupou e foi conversar com a mãe de Ana e
ajudar? Você pode confiar em mim”; com a própria Ana. Ela usou, nesse momento, dois recursos mui-
to valiosos: o acolhimento e a escuta.
- Levá-lo para um lugar confortável, calmo e seguro, porém que
não seja isolado; sem objetos que o adolescente possa usar para Acolher tem vários significados: aceitar, dar ouvidos, dar
se machucar ou para machucar outras pessoas (tanto objetos que crédito, admitir, receber, agasalhar, entre outros, e pode ser visto
podem perfurar, como que podem ser jogados). Pode-se pergun- como ato ou efeito de aproximação, de “estar com” ou “estar per-
tar ao adolescente se ele se sente confortável no local; to de” (CUNHA, 2014). Pensar no acolhimento dessa forma per-
mite-nos pensá-lo como uma ação que difere de apenas cumprir
- Conversar com ele com tom de voz suave, mantendo certa distân-
um protocolo ou técnica quando alguém chega a um serviço
cia para que ele não se sinta intimidado;
solicitando alguma ajuda, sendo o conceito de triagem o mais
- Ficar sempre de frente para ele, deixar as mãos visíveis e manter apropriado nesse contexto, e às vezes as pessoas o confundem
movimentos tranquilos; com o de acolhimento. Enquanto a triagem segue um formulário
e um protocolo, cumprindo objetivos específicos e criando uma

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barreira entre quem busca o serviço e quem o atende, o acolhi-


mento possibilita uma escuta acolhedora, cuidadosa e atenta ao
que a pessoa que chega está dizendo (RODRIGUES; MARTINS;
AMARAL, 2022).

Um exemplo de acolhimento que difere de triagem, ou


primeiro atendimento burocratizado e protocolar, acontece em
um ambulatório chamado Janela da Escuta (http://janeladaes-
cuta.org/, disponível em 11 out. 2022), que funciona no Hospital
das Clínicas em Belo Horizonte – Minas Gerais. O acolhimento
no projeto tem como pergunta orientadora “o que o outro tem a
dizer?”. A metodologia de trabalho é construída de acordo com a
demanda do adolescente que chega: “a ausência de protocolos
requer prontidão, interlocução e reflexão da equipe, em tempo
hábil, o que levou a denominar este tipo de acolhimento de ‘aco-
lhimento vivo’” (RODRIGUES; MARTINS; AMARAL, 2022, p. 114).

A partir do acolhimento vivo, acontece a construção e a


articulação do caso com a rede de suporte disponível no território
de origem do adolescente, envolvendo profissionais da educa-
ção, assistência social e saúde que trabalham ou já trabalharam
com o jovem e/ou sua família, bem como outros atores. O con-
ceito de articulação traz para a cena todas as pessoas que po-
dem se envolver no caso, diferentemente de pensar em apenas
encaminhar a criança e o adolescente para outra área ou setor,
como as especialidades médicas, passando a responsabilidade
do atendimento para outro serviço sem ao menos saber do que
se trata, ou sem fazer uma interlocução com outros profissionais.

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Proposição 11 ? Feedback positivo:


Sabia que o conceito de articulação e de cuidado em Muitas vezes, vemo-nos diante de casos de sofrimento psí-
rede considera todas as pessoas e serviços que podem quico intenso em crianças e adolescentes que geram gran-
contribuir com o cuidado? Você sabe como realizar o de preocupação. Compartilhar nossas angústias com outros
cuidado em rede? atores e profissionais que atuam com os jovens é essencial
para uma melhor compreensão do caso e para planejamen-
to das nossas intervenções. O cuidado em rede nos lembra
de que não estamos sozinhos e que podemos partilhar nos-
sas preocupações e anseios com outros profissionais e po-
tencializar o alcance de nossas ações.

Feedback orientador:
O trabalho em rede transcende nomear serviços e pessoas.
Significa juntar-se a todas as outras pessoas e serviços exis-
tentes no território que poderão complementar o cuidado
e ajudar na melhora do sofrimento psíquico das crianças e
adolescentes, cada qual com o seu conhecimento, tecno-
logia e, principalmente, interesse e disponibilidade. Em ou-
tras palavras, fazer um trabalho em rede não é encaminhar
a criança e/ou adolescente para outros serviços ou espe-
cialidades nem simplesmente se propor a escutar e ajudar.
Significa unir forças e conhecimentos que possam colabo-
rar para a melhora na qualidade de vida dessas crianças e
adolescentes.

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A escuta qualificada é, então, uma ferramenta que toda cuidado das crianças e adolescentes também foi se expandindo.
pessoa pode desenvolver e não é uma exclusividade do médi- A escola, por exemplo, é um lugar de protagonismo na vida de
co, nem do psicólogo, nem de qualquer outro profissional. Toda crianças e adolescentes e pode realizar importantes projetos no
pessoa pode ouvir atentamente e com interesse alguém que cuidado à saúde mental dessa população. Cid et al. (2019) refor-
muitas vezes está precisando falar. Maynart et al. (2014) esclare- çam que a escola é um dos principais contextos da vida de crian-
cem que a escuta qualificada é uma ferramenta leve que envolve ças e adolescentes na atualidade, tendo, assim, um caráter psicos-
o diálogo, o vínculo e o acolhimento, favorece a compreensão social relevante que deve ser assumido e explorado.
do sofrimento psíquico considerando a própria pessoa, valori-
As crianças e adolescentes percebem a escola como um
za as experiências e atenta para suas necessidades e diferentes
ambiente de convivência, de manifestação de vínculos afetivos,
aspectos que compõem seu cotidiano. Nesse caminho, Santos
comunitários e de relações sociais (SOUZA; PANÚNCIO-PINTO;
(2019) assinala que a escuta qualificada se constitui em uma fer-
FIORATI, 2019). O ambiente escolar propicia condições de ob-
ramenta capaz de revolucionar a lógica tradicional do cuidado
servação e acompanhamento do desenvolvimento das crianças,
em saúde mental no âmbito da Atenção Primária.
bem como o acompanhamento da sua saúde física e mental (FI-
Em um primeiro momento, podemos achar que isso é GUEREDO; ABREU; SOUZA, 2021). A escola é uma das institui-
fácil ou que todos fazem isso de alguma forma, mas não! Até ções que podem despertar a curiosidade por coisas novas e por
pouco tempo, quando alguém falava que não estava bem, que projetos de vida. Assim como as UBS, a escola pode contar com
estava triste, que não queria mais viver ou tivesse algum com- todos os profissionais que fazem parte da equipe de cuidadores,
portamento diferente do que a sociedade impõe como sendo o desde o porteiro até o diretor.
certo, esse alguém era colocado nos lugares que tratavam essas
Nesse sentido, a escola pode inserir no Projeto Pedagó-
pessoas como “loucas”. Nesses lugares, conhecidos como ma-
gico ações que promovam e previnam o sofrimento psíquico.
nicômios, as pessoas não eram ouvidas, não podiam falar, nem
Também pode criar parcerias e projetos com outros setores e dis-
mesmo com os profissionais. Hoje, temos os espaços de trata-
ponibilizar atividades que agradem as crianças e os adolescen-
mento, que têm uma lógica completamente diferente da época
tes, assim como espaços que ofereçam às crianças, adolescen-
dos manicômios. São espaços mais humanizados, que acolhem
tes e jovens a oportunidade de expressar seus sentimentos sem
e escutam as pessoas que sofrem.
terem medo. Aliás, é importante que os educadores incluam os
Após vários movimentos que buscaram por direitos da po- estudantes no planejamento e desenvolvimento dessas ações,
pulação, como a Constituição de 1988, a reforma sanitária, a refor- sendo essa uma potente parceria. Enfim... todos nós podemos
ma psiquiátrica e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o ajudar! Todos podemos desenvolver atitudes, como o acolhi-

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mento e a escuta qualificada, que podem salvar vidas. Ampliar


o cuidado é uma forma de cuidar. Expusemos alguns serviços Feedback positivo:
que estão próximos à população e com grande potencial de rea- O fato de você demonstrar interesse em ouvir pode contri-
lizar o cuidado, a escuta qualificada e a clínica ampliada. Quando buir para a criação do vínculo, da confiança e do respeito.
acolhemos alguém que busca o cuidado para o seu sofrimento, Não se trata de uma simples escuta, mas dar oportunidade
estamos garantindo que todos os serviços pratiquem o acesso a quem precisa de ajuda de se sentir à vontade para expor
aos direitos das pessoas. Quando assumimos a função de seus sentimentos, conflitos, medos, dores e outras emoções
acolher, escutar, ampliar as possibilidades de cuidado, estamos que lhe provocam dor.
promovendo saúde, prevenindo sofrimentos e cuidando de
quem precisa.

Feedback orientador:
A escuta qualificada tem potencial terapêutico quando rea-
lizada e contribui para a melhoria da atenção centrada na
pessoa com transtorno mental. Podemos permitir que a pes-
soa se expresse e consiga verbalizar seu sofrimento, que se
sinta segura e confiante durante sua fala. Podemos fazê-la
Proposição 12 ? perceber que seus problemas podem ser solucionados ou,
A escuta é muito mais potente do que se possa imaginar! ao menos, pormenorizados. O falar é terapêutico e contribui
Quanto uma simples escuta pode ajudar? para a melhora da dor emocional.

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A escuta qualificada, quando compreensiva, paciente dades e peculiaridades. Ao acolher e escutar os jovens, a pessoa
e acolhedora, tem um grande potencial para ajudar a prevenir, deve percebê-los como um todo e, mesmo quando procurada
tratar ou diminuir sofrimentos que apresentam indicadores que pelo adoecimento – no caso de Ana, por algo grave e com risco
podem ser considerados “normais”, “complicados” ou como –, deve saber que, para além dos comportamentos que causam
“casos graves”. A partir do momento que você passa a ouvir a uma estranheza e aflição que podem fazer a pessoa se perguntar
pessoa com atenção, carinho, respeito e sem julgamento, você “o que vou fazer com isso?”, existe uma pessoa com história e ex-
tem grande chance de criar um vínculo na relação, que faz toda periências e todas as questões que a vida pode provocar.
a diferença. Por meio da escuta qualificada é possível construir
Como você já pode deduzir, posturas preconceituosas e
um vínculo na relação de quem está falando com quem está
autoritárias, como as de Marli, provocam um distanciamento dos
ouvindo. Por meio da escuta é possível ouvir o ser humano para
jovens, como aconteceu com Ana. Ela tenta se afastar para que
além de suas palavras. A pessoa passa a ser ouvida também por
Marli nem mesmo consiga tocar nela. Outro fator que pode difi-
seus gestos, emoções etc.
cultar a criação do vínculo com o adolescente é a falta de privaci-
dade. Não haver no local um espaço privado para falar de si, de
suas questões, pode levar o jovem a se esquivar completamente.
A reação da diretora Marli não é diferente da de outras muitas
pessoas. Geralmente, os profissionais que atendem as pessoas
que tentam cometer suicídio carregam consigo alguns precon-
ceitos ou não são preparados para o acolhimento, fatores que
atrapalham o atendimento das pessoas com sofrimento psíquico.
Vidal e Gontijo (2013) descrevem que nem sempre as equipes
aproveitam a oportunidade para acolher as pessoas que tentam
o suicídio, seja pelas características do serviço de emergência,
Fonte: Pixabay seja por despreparo e dificuldade para lidar com pacientes com

ideação suicida, e, como consequência, os jovens percebem
Maynart et al. (2014) comentam que, a partir do momento esse comportamento dos profissionais de forma negativa, levan-
que se realiza uma escuta qualificada, é possível perceber a sen- do a respostas negativas quanto ao cuidado oferecido.
sibilidade do ser humano e os resultados diretos no seu tratamen-
Letícia, a coordenadora pedagógica da escola, desem-
to. O acolhimento e a escuta ao adolescente têm suas particulari-
penhou muito bem sua escuta: ela conseguiu criar condições

Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes


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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

para que Ana pudesse desabafar, conversar e abrir seu coração Além da escuta qualificada, a coordenadora Letícia de-
contando sobre os seus sentimentos e aquilo que estava lhe cau- monstra uma comunicação não violenta (CNV), isto é, um jeito de
sando dor. Em nenhum momento a coordenadora julgou, brigou conversar com as pessoas buscando compreendê-las e desen-
ou diminuiu o sofrimento de Ana. Pelo contrário, durante a escuta, volver colaboração. A CNV envolve expressar “como eu estou”,
nem mesmo quis apresentar uma saída rápida e imediata do tipo sem culpar ou criticar. Ela também engloba receber, de forma
“não fique assim”, “deixa disso”. Ao contrário, Letícia conseguiu empática, “como você está”, sem recriminar ou criticar. Ela se
perceber quais eram os indicadores que poderiam levar Ana a constitui de quatro componentes:
pensar em desistir de viver. Além disso, pediu que Arlete, mãe de
1. Observações: o que eu vejo e ouço que contribui ou não para
Ana, e Marli, a diretora, as deixassem a sós, dando privacidade
o meu bem-estar. Em vez de interpretações, busco descrever o
para que Ana pudesse dizer o que a afligia. “Quando a escuta é
que vi ou ouvi;
permeada de liberdade de expressão, torna-se decisiva para o
tratamento” (MAYNART et al., 2014, p. 303). 2. Sentimentos: como me sinto em relação ao que observo;

A escuta acolhedora fortalece os laços vinculares. A pes- 3. Necessidades: o que eu preciso ou o que é importante pra
soa em sofrimento consegue expressar seu sofrimento, suas an- mim;
gústias, suas necessidades, seus medos, suas dúvidas e seus
4. Ações concretas que eu gostaria que ocorressem, isto é,
afetos. Com relação à saúde mental, proporciona a sensação de
como eu gostaria que você agisse (ROSENBERG, 2006).
alívio e contribui para a elaboração de estratégias para resolução
dos conflitos (MAYNART et al., 2014; SANTOS, 2019). Uma escuta
aberta e sincera pode ajudar a identificar os indicadores de sofri-
mento que podem levar a pessoa a atentar contra a própria vida
por estar sofrendo. É preciso estar disponível para ouvir o ado-
lescente e o jovem por estarem em uma fase peculiar do desen-
volvimento, como apontado no módulo 1, e ações que ajudem
a se sentirem seguros e acolhidos podem prevenir ou diminuir o
sofrimento.

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

O vídeo Comunicação não violenta: o que é, benefícios e


como praticar ilustra os principais elementos da CNV. Está
disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uofE9C-
nWDYU. A seguir, apresentamos alguns exemplos de como
se comunicar usando a CNV:

“Filha, tenho percebido que você anda mais quieta, tem “Mãe, eu tenho reparado que, quando começo a falar
conversado menos e passado mais tempo no quarto” – coisas do meu dia ou sobre como estou me sentindo,
OBSERVAÇÃO. você me ouve um pouco e logo começa a fazer algu-
ma coisa, como olhar no celular ou arrumar a louça”
– OBSERVAÇÃO.
“Eu fico com medo de estar acontecendo algo ruim com
“Eu me sinto triste e que não sou importante para
você que esteja te afastando” – SENTIMENTOS.
você” – SENTIMENTOS.

“Eu gostaria de saber o que está acontecendo com


“Eu gostaria que você me ouvisse com atenção e se
você, como eu posso participar mais da sua vida e te
importasse com o que acontece comigo” – NECESSI-
ajudar, se for o caso” – NECESSIDADES.
DADES.

“Eu gostaria que você conversasse mais comigo, falas-


“Seria muito bom ter um momento só nosso em que
se sobre o seu dia e ficasse mais perto de mim quando
eu teria a certeza de que você está ali para me ouvir” –
estou em casa” – AÇÕES ESPERADAS.
AÇÕES ESPERADAS.

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Outro elemento que favorece a comunicação e diminui sentindo alguma emoção, estar ao lado dela, dando apoio, sem
conflitos é a empatia. Ela pode ser dividida em duas formas: em- julgá-la, apenas acolhendo e mostrando que estou disponível
patia cognitiva e empatia afetiva. caso ela precise (VAN LISSA; HAWK; MEEUS, 2017).

A empatia cognitiva envolve distanciar-se do calor da dis- Esses exemplos nos fazem compreender que a empatia
cussão e considerar a perspectiva do outro, isto é, pensar sobre pode ser desenvolvida e que, além de trabalhar essa habilida-
os motivos que podem levar a outra pessoa a se sentir de uma de com os adolescentes, podemos envolver os pais, visto que,
determinada maneira, por exemplo: um pai proíbe o filho de ir a muitas vezes, eles demonstram dificuldade em ouvir o ponto de
uma festa a que a maioria dos amigos da escola vai. Empatia cog- vista dos filhos. Dessa maneira, diminuir-se-iam as sensações de
nitiva seria o adolescente refletir sobre os motivos pelos quais o desamparo e solidão vivenciadas pelos jovens, que tendem a se
pai disse não: medo de que o filho use drogas, dificuldade para relacionar a comportamentos autolesivos e ideação suicida. Se
buscá-lo no final da festa, véspera de um dia de prova etc. Por o diálogo, por meio da escuta empática e CNV, acalmou o ado-
outro lado, o pai poderia buscar compreender por que aquela lescente, sugere-se pedir autorização a ele para chamar os pais
festa é importante para o filho: a maioria dos amigos estará lá, para explicar o que está acontecendo ou, ao menos, dizer que o
sentir que o pai confia nele, encontrar a pessoa que está queren- adolescente precisa de ajuda. Em seguida, é importante realizar
do namorar etc. A empatia cognitiva pode reduzir o comporta- o encaminhamento para o local apropriado, conforme a dificul-
mento negativo, promover a escuta e ajudar as pessoas a alcan- dade (Unidade de Pronto Atendimento – UPA, Unidade Básica de
çarem resultados benéficos para ambos os lados. Também inibe Saúde – UBS, hospitais, Centro de Atenção Psicossocial Infanto-
a escalada agressiva (falar mais alto, gritar, jogar coisas etc.) em juvenil – CAPSi, avaliação com psiquiatra, indicação para psico-
resposta à provocação e aumenta a sensibilidade interpessoal. terapia, entre outros).

Por sua vez, a empatia afetiva envolve uma orientação


para a resposta emocional da outra pessoa, ou seja, identificar o
Saiba mais
Você pode conhecer algumas possibilida-
que a outra pessoa está sentindo e conectar-se com essa emo-
des para trabalhar com os pais ou responsá-
ção. Por exemplo, uma pessoa que gosta muito de cachorros
veis por meio da ferramenta Disciplina posi-
pode se sentir muito triste se o cachorro da família morrer. Uma
tiva para educar os filhos: 52 estratégias para clique e
pessoa que nunca teve um animal de estimação pode não com- acesse
melhorar as habilidades de mães e pais, das auto-
preender o tamanho da tristeza, porque pode pensar que é só
ras Jane Nelsen e Adrian Garcia, da editora Manole.
adotar ou comprar outro. Empatia emocional é, independente-
Clique no ícone acima e saiba mais.
mente de eu entender ou não o porquê de a outra pessoa estar

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

No caso de Ana, Mônica (colega que havia se aproxi-


Quanta informação! A coordenadora pedagógica
mado de Ana mais recentemente) foi fundamental para que a
só conseguiu identificar os indicadores e ganhar a
adolescente recebesse assistência. A amiga foi sensível diante
confiança de Ana porque a escutou com paciência,
da crise de Ana, acolhendo a dor dela, esperando que se acal-
interesse, calma e respeito. A escuta que Letícia ofe-
masse, mantendo-se ali ouvindo o choro e demonstrando apoio
receu a Ana a ajudou a perceber seus sentimentos e suas
afetivo. Depois que Ana se acalmou um pouco, Mônica se mos-
emoções e a ajudou a identificar os riscos que estavam
trou disponível para ouvi-la. No entanto, Mônica não sabia muito
envolvidos naquele relato. Além de perceber os riscos, a
o que fazer e contou para a mãe, que entrou em contato com
escuta qualificada ajuda na criação do vínculo, da con-
a escola. Ter acionado a escola tornou possível que a coorde-
fiança na relação.
nadora pudesse não só ajudar Ana, mas pensar em ações que
abrangessem mais adolescentes em sofrimento. O cuidado na
A confiança foi tão bem estabelecida com Ana, que,
fala, o respeito, o afeto e a disposição em ajudar tanto de Mônica
quando Letícia a comunicou que precisaria fazer a notificação
como de Letícia foram fundamentais para que Ana recebesse o
compulsória, a adolescente entendeu. A coordenadora explicou
cuidado de que precisava. Veja que até mesmo as crianças e os
que não era apenas um preenchimento de formulário, mas que
adolescentes podem ser parceiros importantes no cuidado da
se tratava de um recurso muito importante. A notificação compul-
saúde mental dos colegas e amigos que frequentam os mesmos
sória, além de ajudar a entender como estão ocorrendo as lesões
espaços sociais, como a escola.
durante o preenchimento, contribui também para a elaboração
Também é importante estar atento aos riscos existentes de estratégias de cuidado, pois quem ouve o relato durante o
no discurso do adolescente e/ou jovem. Se eles perceberem que preenchimento da ficha tem acesso a muitas e importantes infor-
não estão sendo julgados e que a pessoa que está ouvindo de- mações.
monstra interesse, sentir-se-ão mais seguros para compartilhar
informações importantíssimas sobre suas intenções. No contex-
to da escuta acolhedora, quem está falando se sente à vontade
para dizer o que realmente está pensando e o que está sentindo,
mesmo que seja algo que lhe cause receio, vergonha ou culpa.
Do mesmo modo que escutar quem sofre pode ajudar no trata-
mento, uma escuta, quando atenciosa, pode também prevenir
consequências de um sofrimento intenso.

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Proposição 13 ? Feedback orientador:


Por que é tão importante conhecer e preencher a ficha O Ministério da Saúde exige o preenchimento das fichas de
de notificação compulsória de violência e/ou de auto- notificação em caso de suspeita e/ou da constatação de vio-
lesão? lências. Esse procedimento contribui para o desenvolvimen-
to de ações que possam promover e cuidar das pessoas que
estão em situação de risco e/ou sofreram algum tipo de vio-
lência. O Ministério da Saúde disponibiliza alguns telefones
Feedback positivo:
em caso de dúvidas.
Conhecer e preencher a ficha de notificação compulsória e/
ou de autolesão possibilita que os órgãos competentes co-
nheçam a realidade de cada local e colabora para o monito- TELEFONES ÚTEIS:
ramento, controle e criação de políticas públicas. Preencher
as fichas de notificação fará com que você contribua para a
Disque-Saúde 0800 61 1997
identificação de fenômenos que ocorrem em cada região.
Identificar as características e a prevalência das ocorrências
ajuda os órgãos responsáveis a identificar causas, idades, Central de Atendimento à Mulher 180
gênero, motivos e tantos outros fatores importantes ao re-
conhecimento das principais violências existentes, além de Disque-Denúncia - Exploração sexual de crianças e adoles-
contribuir para o planejamento e execução de políticas públi- centes 100
cas que podem prevenir, promover e tratar esse sofrimento.

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Em 2011, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria MS/ pelos estabelecimentos públicos e privados de saúde e ensino.
GM no 104, de 25 de janeiro (BRASIL, 2011) (https://bvsms.sau- A lei determina ainda que, “nos casos que envolverem criança
de.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt0104_25_01_2011.html, ou adolescente, o conselho tutelar deverá receber a notificação”
disponível em 11 out. 2022), estabeleceu a definição e relação (BRASIL, 2019).
de doenças, agravos e eventos em saúde pública que deveriam
ser notificados obrigatoriamente e estabeleceu fluxo, critérios,
responsabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de
saúde. Letícia explicou para Ana que a notificação compulsória é
a comunicação obrigatória à autoridade de saúde, que é realiza-
da por profissionais ou responsáveis pelos estabelecimentos de
saúde, públicos ou privados, sempre que há suspeita ou certeza
de doença, agravo ou evento de saúde pública, e ressaltou que,
no caso de crianças e adolescentes, a notificação é obrigatória.
Esse documento pode ainda ajudar com informações e indicar
riscos aos quais as pessoas estão expostas.

Durante a explicação, Letícia, de forma paciente e mi-


nuciosa, foi explicando para Ana sobre a atenção e o cuidado
que temos que ter quando sabemos de pessoas que estão se
automutilando ou pensando em suicídio. Por ser tão importante
esse cuidado, outra Lei foi promulgada no ano de 2019, a Lei no
13.819, de 26 de abril de 2019, que se refere especificamente à
Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicí-
dio (BRASIL, 2019). Você pode acessar o texto da lei logo a se-
guir (https://www.in.gov.br/web/dou/-/lei-n%C2%BA-13.819-de-
-26-de-abril-de-2019-85673796, disponível em 11 out. 2022). De
modo geral, essa lei exige a notificação compulsória (obrigatória)
dos casos suspeitos ou confirmados de violência autoprovoca-
da (automutilação, tentativa de suicídio e suicídio consumado)

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Compartilhando e ampliando os serviços e as pessoas do território da criança e do adolescen-


te podem compor essa nova proposta de cuidado. Para isso, é

o cuidado: a Clínica Ampliada, preciso estar aberto a acolher o sofrimento, a ouvir com interesse
e a construir saídas coletivas. O cuidado passa a ser ampliado e

o Projeto Terapêutico Singular compartilhado com todos os atores, como as famílias, os jovens,
os educadores, as instituições, entre outros atores, que se cor-

e o Apoio Matricial
responsabilizam pelo cuidado. O objetivo é buscar a ajuda em
outros setores, assumindo os limites do conhecimento dos pro-
fissionais e das tecnologias por eles utilizadas (BRASIL, 2007).
A clínica ampliada é uma das diretrizes da Política Nacio-
nal de Humanização (PNH). Entre os principais objetivos da clíni- Vários serviços, profissionais e pessoas que compõem
ca ampliada está o de evitar formas de cuidado que restringem o território podem ajudar, e muitas estão bem próximas a nós,
excessivamente algum conhecimento ou dimensão, como os como os serviços e as pessoas que compõem a Rede de Aten-
aspectos biológicos. Ela busca promover a articulação dos sabe- ção Psicossocial (RAPS) (descrita no módulo 4), de Educação, de
res envolvidos, considerando todos os aspectos que envolvem Segurança Pública, de Assistência Social, além das lideranças
o ser humano: os biológicos, os individuais, a integralidade e a comunitárias e até mesmo os jovens. Nessa direção, Sundfeld
determinação social dos fenômenos da saúde e doença, ou seja, (2010) explica que a noção de território é fundamental para as
engloba o todo. Nesse caminho, propõe um cuidado alinhado ações de promoção de saúde, pois não se restringe a um espaço
entre a comunidade, os cuidadores e o ser humano que está sen- geográfico ou a uma área física delimitada. Em outras palavras,
do cuidado, garantindo seu papel ativo na construção e direcio- trata-se de um espaço habitado, marcado pela subjetividade hu-
namento do seu próprio tratamento (BRASIL, 2009). mana, pelas relações afetivas, relações de pertencimento (SUN-
DFELD, 2010).
Curvo et al. (2018) referem que a ampliação da clínica
permite que os sujeitos que estabelecem a relação de cuidado, A clínica ampliada promove, portanto, tanto a articulação
tanto os profissionais quanto os usuários dos serviços de saúde, e o diálogo entre diferentes saberes para a compreensão dos
sejam considerados como seres em processo, singulares, que se processos de saúde e adoecimento como a inclusão dos usuá-
transformam nos encontros que estabelecem. Além do mais, aju- rios como cidadãos participantes das condutas em saúde, inclu-
da a integrar outros profissionais, serviços e pessoas que estão sive da elaboração de seu projeto terapêutico, e não desvaloriza
dispostos a acolher quem está em sofrimento, tornando-se, as- nenhuma abordagem disciplinar. Ao contrário, busca integrar
sim, uma clínica ampliada e compartilhada. Dessa forma, todos várias abordagens para possibilitar um manejo eficaz da comple-

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

xidade do trabalho em saúde, que é necessariamente transdisci- cesso é importante para que a pessoa que está recebendo o cui-
plinar e, portanto, multiprofissional (BRASIL, 2009). Nesse viés, a dado perceba que pode ter sua identidade de volta, que pode
clínica ampliada permite compartilhar e ampliar o cuidado e as escolher fazer as coisas de que gosta e aos poucos ir incluindo
possibilidades e integra serviços e pessoas visando à melhora outras atividades que ajudem no cuidado.
na qualidade de vida de quem é cuidado. Propõe um cuidado
O PTS é um conjunto de propostas de condutas terapêu-
focado na corresponsabilização de todos e engloba os diferen-
ticas articuladas para um sujeito individual ou coletivo, resultado
tes aspectos da pessoa que está sendo cuidada: “Clínica do su-
da discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar, com apoio
jeito: essa é a principal ampliação sugerida” (CAMPOS; AMARAL,
matricial, se necessário (SILVA et al., 2013). Nessa direção, o
2007, p. 852).
Apoio Matricial é pensado como uma possibilidade de ampliar o
Outra tecnologia importante no cuidado é o Projeto Tera- cuidado, pois propõe um cuidado supervisionado sem anular ou
pêutico Singular (PTS) (https://www.scielo.br/j/reben/a/BCtyHw- excluir nenhum participante do contexto. Assim, o “apoio” passa
C4h9TFqfNKVtfTKLw/?format=pdf&lang=pt, disponível em 11 a ser compreendido como uma tecnologia de gestão denomina-
out. 2022), que pode ser entendido como uma estratégia de cui- da “apoio matricial”, que une o processo de trabalho em equipes
dado que articula e integra um conjunto de ações que resulta da de referência (BRASIL, 2009).
construção em grupo de uma equipe multidisciplinar que obser-
O apoio matricial (https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publi-
va as necessidades e expectativas da pessoa ou da comunidade
cacoes/guia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf, dispo-
para a qual está sendo proposto (BRASIL, 2007). O PTS envolve
nível em 11 out. 2022) amplia a rede de serviços substitutivos,
um conjunto de propostas e condutas terapêuticas articuladas
colabora com as pessoas e diferentes lugares que disponibilizam
para atender quem precisa de cuidado, família ou coletividade.
o cuidado, ajuda a melhorar o andamento das ações que foram
Tem como objetivo elaborar estratégias de cuidado, contando
pensadas como propostas de atenção e contribui com o apren-
com os recursos da equipe, do território, da família e do próprio
dizado de quem cuida, com o objetivo de ampliar o acesso e os
sujeito, e envolve uma pactuação entre esses mesmos atores
cuidados em saúde mental (CONSELHO FEDERAL DE PSICO-
(HORI; NASCIMENTO, 2014).
LOGIA, 2022). Assim como as outras tecnologias disponíveis, o
Essa tecnologia coloca a pessoa que precisa de cuidado apoio matricial é o envolvimento de outros serviços do território
como protagonista das decisões dos encaminhamentos. Letícia no cuidado. Esse apoio técnico pode ser encontrado nos servi-
conseguiu iniciar a elaboração do PTS junto com Ana quando ços que realizam o atendimento e acompanhamento das pesso-
perguntou do que gostava. Propôs adotar o cachorrinho, retor- as em sofrimento mental. Os profissionais podem capacitar ou-
nar a fazer os vídeos no TikTok e retomar as amizades. Esse pro- tros agentes e ampliar o acesso e os cuidados em saúde mental.

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Além de capacitar, essa técnica também inova a forma de cuidar. que realmente acontece. No entanto, o mais importante é apren-
Você pode solicitar apoio de profissionais dos serviços que reali- der, é ter o conhecimento para que você possa saber o que fazer,
zam o cuidado em saúde mental e incluir no projeto terapêutico e isso faz toda a diferença.
singular atendimentos compartilhados. Além de facilitar o apren-
Lembre-se de que você tem em suas mãos fortes tecno-
dizado, contribui para o cuidado do adolescente/jovem quando
logias que podem ajudar quem precisa. Não tenha medo! Ao
você perceber situações que vão gerar insegurança, quando
utilizar o acolhimento, a escuta qualificada, a clínica ampliada, o
não souber o que fazer. Algumas ações conjuntas podem incluir
projeto terapêutico singular e o apoio matricial, você se empode-
discussão do caso, leituras, análises de discursos, ações interse-
rará, ou seja, desenvolverá e aprimorará habilidades importantes
toriais, entre outras. Você pode pedir ajuda a outros profissionais
para o cuidado de quem precisa.
para poder ajudar a pessoa que você está atendendo. Uma boa
forma de começar é organizando um encontro, uma reunião para Nesse sentido, o curta animado A Lua (disponível em:
se conhecerem e conversarem sobre as situações vivenciadas https://youtu.be/MJC9mYJfUPk) nos permite refletir sobre a pos-
no território (RIGOTTO; SACARDO, 2020). Você pode saber um sibilidade de realizar um trabalho em equipe em que cada um
pouco mais sobre o assunto lendo a cartilha da PNH, disponível pode colaborar com a tecnologia que tem, de que se apropria,
no link a seguir: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cli- e, assim, todos são importantes no processo de cuidado; e nos
nica_ampliada_2ed.pdf ensina a perceber a importância da escuta quando a criança ou
o adolescente têm algo a nos dizer, até mesmo nos ensinar. Por
É importante ressaltar que todas as tecnologias leves
vezes, não escutamos o que as crianças e os adolescentes têm a
apresentadas até aqui compõem as diretrizes da Política de Hu-
nos dizer e acabamos ignorando o seu conhecimento, suas per-
manização do SUS, contudo precisamos alertar que muitas ve-
cepções.
zes não são utilizadas e, quando isso ocorre, podem gerar certas
dificuldades de acesso ao cuidado em saúde mental. Não esta-
mos querendo dizer com isso que não adianta tentar. NÃO! NÃO
MESMO! Não se trata disso. O que estamos querendo é esclare-
cer ou mesmo subsidiar as suas ações no cuidado da criança e
do adolescente caso você se depare com algumas dificuldades
existentes no fluxo de funcionamento dos atendimentos em saú-
de mental. Geralmente, deparamo-nos com encaminhamentos
permanentes. Às vezes, pode acontecer de a pessoa ser encami-
nhada de um lugar para o outro sem ter sua demanda atendida, o
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O fortalecimento de vínculos: guns dos membros da família, em especial com a criança e com
o adolescente que estão tendo comportamentos de risco. Entre-

crianças, adolescentes, tanto, é muito recorrente que, diante do sofrimento, os jovens,


especialmente os adolescentes, recuem, silenciem-se e se fe-

familiares e comunidade chem em seu próprio mundo. A tendência a ficar mais fechados
e reclusos e a busca de refúgio nos próprios pensamentos e nas
redes sociais se fazem muito presentes, fazendo com que o di-
O momento da infância e da adolescência não afeta ape-
álogo com os familiares seja desafiador, mas ainda assim muito
nas os indivíduos que estão passando por ele, mas também todo
importante, “pois é justamente nesse período que eles mais ne-
o entorno deles, pois afeta as pessoas que convivem diretamente
cessitam da orientação e da compreensão dos pais, sendo que
com as crianças e os adolescentes, principalmente a família, e os
todo o legado que a família transmitiu aos mesmos desde a infân-
locais que eles frequentam cotidianamente, em especial o pró-
cia continua sendo relevante” (PRATA; SANTOS, 2007, p. 254).
prio território e as escolas. A infância e a adolescência dos filhos
influenciam diretamente o funcionamento familiar, constituindo- Além da família, conviver com pessoas da comunidade,
-se, portanto, processos que demandam um conhecimento do ocupar os espaços de lazer e ter amizades é considerado saudá-
que pode estar acontecendo com aquela criança e adolescente vel para todos nós. E claro que o diálogo também pode ocorrer
naquele momento de vida para que a convivência não se torne nesses espaços de convívio, como a escola, que tem uma im-
o tempo todo difícil, conflituosa e dolorosa tanto para as crian- portância significativa na vida de crianças e jovens. Assim, temos
ças e adolescentes quanto para seus familiares, já que “a família sempre que pensar, quando estamos acolhendo uma criança ou
não é constituída pela simples soma de seus membros, mas um um adolescente, que ele não está sozinho, porque existem ou-
sistema formado pelo conjunto de relações interdependentes no tras pessoas que se relacionam com ele.
qual a modificação de um elemento induz a do restante, transfor-
mando todo o sistema” (PRATA; SANTOS, 2007, p. 253). Dessa forma, cabe destacar que o acolhimento exclusi-
vo a crianças e a adolescentes se mostra insuficiente quando
Assim, uma ferramenta importante, tanto no contexto fa- existem demandas que envolvem várias esferas, como a saúde
miliar quanto em outros, é o diálogo. A escuta acolhedora pode mental, abuso sexual, violências, entre outros. No caso de Ana,
contribuir para a diminuição de conflitos entre os jovens e os fa- foram fundamentais o acolhimento e a escuta de Arlete, sua mãe,
miliares e ajudar a esclarecer o que está acontecendo com al- uma mulher que também já havia sofrido e ainda sofria diversas

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violências e não sabia lidar com a situação com a qual havia se


deparado: os cortes e a vontade de morrer da filha. Como não se
sentir culpada? Como saber lidar com tudo isso?

Estamos falando dos cuidados relacionados às necessi-


dades psicossociais dos jovens. Assim, estamos compreenden-
do a adolescência como fenômeno sociocultural, cujas mani-
festações não são deslocadas das experiências dos jovens no
território. Como já falamos, a escuta e o cuidado não se fazem
deslocados dessa realidade. No caso de Ana e em tantos outros,
é necessário um esforço para construir uma rede de cuidados
com auxílio dos profissionais que atuam em seu território (na saú-
de, assistência, educação etc.), atendem em territórios próximos
e podem contribuir para os cuidados da adolescente e de sua
família. Essa rede de cuidados também é chamada de retaguar-
da, já que cria uma possibilidade de proteção da criança, do
adolescente, assim como de sua família, dando apoio diante do
sofrimento. E, cá entre nós: também nos sentimos mais seguros
quando atuamos com outros profissionais, o que aumenta nosso
potencial de ajuda.

Sabe-se que crianças e adolescentes que convivem com


mais proximidade e relação afetiva de cumplicidade e segurança
com seus familiares e amigos têm menos chance de automutila-
ção e tentativas de suicídio. Muitos adolescentes que se cortam
e têm pensamentos de querer morrer não concretizam o suicídio
pelo medo de magoar pais, avós, irmãos, outros familiares e ami-
gos. Vínculos familiares e sociais fortes são fatores de proteção
importantes para os jovens.

Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes


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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Proposição 14 ? Feedback positivo:


Como a família e os vínculos sociais podem ajudar os Enquanto família, é importante ter interesse no que as crian-
jovens que se automutilam, que já tentaram tirar a pró- ças e jovens estão fazendo nas escolas e com os amigos e
pria vida ou que pensam em suicídio? saber quais são os tipos de interesse e os projetos de vida.
Manter o vínculo exige interesse e envolvimento dos familia-
res com as crianças e os jovens. Isso não significa controle ou
vigilância. É muito diferente. Significa compartilhar, demons-
Feedback positivo:
trar interesse, ter curiosidade pelo novo, pelo que as crian-
A família e os amigos próximos exercem um papel fundamen-
ças e adolescentes sempre trazem de novo e que podemos
tal de suporte emocional quando um adolescente está pas-
aprender. É importante que os pais conheçam os amigos,
sando por algum sofrimento, estresse ou tristeza profunda.
saibam o que está acontecendo nas redes sociais e tenham
Quando um adolescente tem vínculos fortes com sua famí-
confiança no que os jovens falam e contam sobre o que está
lia e amigos e sabe que pode buscar conforto e apoio neles
acontecendo. Incentivar as potencialidades e não focar ou
nos momentos difíceis, é mais fácil buscar (e receber) ajuda
destacar os erros é fundamental para o desenvolvimento das
na busca de uma saída para o sofrimento. A esperança e a
crianças e jovens.
expectativa de possibilidades melhores, tendo alguém que
aposta e confia em você ao seu lado, auxiliam na busca de
soluções e na aderência de tratamentos. A simples expectati-
va ou a crença de que as coisas podem melhorar, muitas ve-
zes, pode auxiliar na busca de soluções para os problemas,
impactando positivamente a vontade de viver.

Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes


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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Para esse fortalecimento de vínculos, existe o Serviço de Oficinas com Famílias: as oficinas com famílias têm por intuito
Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), que está vin- suscitar reflexão sobre um tema de interesse das famílias, como
culado ao CRAS e é um serviço ofertado de forma complementar vulnerabilidades e riscos ou potencialidades identificados no
ao trabalho social que o território oferece para as famílias. É reali- território, contribuindo para o alcance de aquisições, em espe-
zado no Serviço de Proteção e Atendimento Integral às Famílias cial o fortalecimento dos laços comunitários, o acesso a direitos,
(PAIF) e no Serviço de Proteção e Atendimento Especializado às o protagonismo, a participação social e a prevenção de riscos.
Famílias e Indivíduos (PAEFI). Entende-se que é fundamental for-
Ações Comunitárias: são ações de caráter coletivo voltadas
talecer a função protetiva da família, que é entendida como um
para a dinamização das relações no território. Têm escopo maior
lugar de cuidado, proteção, afetos, construção de identidades e
que as oficinas com famílias por mobilizarem um número maior
vínculos relacionais e de pertencimento, mas sem perder de vis-
de participantes e terem a necessidade de agregar diferentes
ta que ela pode também ser espaço de reprodução de desigual-
grupos do território a partir do estabelecimento de um objetivo
dades e de violência (CADERNO DE ORIENTAÇÕES, 2016).
comum (CADERNO DE ORIENTAÇÕES, 2016).
Os termos “fortalecer”, “prevenir” e “promover” estão

presentes nos objetivos e na própria descrição desses serviços,
destacando o caráter preventivo e antecipatório a situações de
riscos e vulnerabilidades desses serviços e tentando oferecer
às famílias uma forma de atendimento que engloba todos os
seus membros. Além da proteção, é importante reconhecer as
potencialidades de cada família, com o intuito de “fortalecer os
recursos disponíveis das famílias, suas formas de organização,
participação social, sociabilidade e redes sociais de apoio, en-
tre outros, bem como dos territórios onde vivem” (CADERNO DE
ORIENTAÇÕES, 2016, p. 12).

Visando concretizar seus objetivos, esses serviços pro-


põem atividades coletivas de cunho artístico, cultural, esportivo
e de lazer, de forma a criar situações que estimulem os familiares
e integrantes do território a construírem e reconstruírem suas his-
tórias e vivências individuais e coletivas, como:

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Alguns fatores podem contribuir para tornar a família um


espaço de proteção:

- Ambiente de respeito mútuo e cultura de paz: respeitar as for-


mas de pensamento e opiniões diversas relacionadas a ideolo-
gias políticas, partidárias e religiosas;

- Vínculos fortalecidos: o empenho da família em ajudar a criança


e o adolescente favorece o fortalecimento dos vínculos, mostran-
do para o sujeito em sofrimento que a família é um lugar de segu-
rança que lhe serve de apoio e amparo;

- Comunicação não violenta (CNV): precisamos dizer não para a


violência, tanto física quanto verbal, com palavras agressivas;

- Ambiente participativo: é importante que todos os membros da


família participem das decisões, inclusive as crianças e os ado-
lescentes. Isso possibilita o processo de “sentir-se pertencente
àquele grupo”;

- Momentos de partilha e escuta: o tempo dedicado à família é


fundamental. Desligar a TV, o celular e outros meios que dificul-
tam esses momentos pode ajudar;

- Uso moderado das tecnologias: o uso excessivo de tecnologias


pode indicar que algo está errado, principalmente se a pessoa
fica muito inquieta caso não tenha acesso a ela ou se substitui as
relações presenciais por interações virtuais.

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Projetos de vida e outras nais. Alguns jovens nem pensam em fazer faculdade, seja por-
que moram em uma cidade pequena que não tem universidade,

estratégias positivas seja porque acreditam que não vão passar no vestibular em uma
instituição pública, seja ainda porque precisam trabalhar para
Projeto de vida e identidade caminham juntos e constro- ajudar a família financeiramente. A opção de um curso técnico
em-se mutuamente. O ideal é que esses projetos possam ser cons- também pode não ser viável, e a entrada no mercado de trabalho
truídos desde a infância e se tornem mais robustos a partir da ado- pode ocorrer muito cedo. Em termos de escola e comunidade, é
lescência em virtude de novas demandas do sujeito. Ao longo da importante que os jovens conheçam as oportunidades de que
vida, esses projetos são redimensionados e modificados para se dispõem, por exemplo: muitas universidades públicas usam sis-
adequarem à história individual e coletiva de cada um e às novas tema de cotas para ingresso e oferecem subsídio para inscrição
relações em grupo que surgem pela vida. Como pode ser pensa- no vestibular e bolsas que auxiliam na permanência do estudan-
do um projeto de vida? Ele se organiza em torno de objetivos que te na universidade; e financiamentos estudantis para faculdades
são significativos, tanto para as pessoas quanto para o que elas particulares. Há ainda a possibilidade de estudar em outros pa-
percebem como necessário para o mundo em que vivem. Com íses. Oferecer ao jovem possibilidades para além daquelas ime-
isso, planejam e motivam ações, levando aquele que está desen- diatas que ele conhece é importante. Outros desafios atravessam
volvendo o projeto de vida a tomar decisões, formular objetivos a vida financeira, moradia, a forma de viver e com quem viver, e
de curto prazo e se engajar nas atividades necessárias para sua todas essas discussões podem acontecer durante o desenvolvi-
concretização (ARAÚJO; ARANTES; PINHEIRO, 2020). mento dos projetos de vida.

Os projetos de vida já estão sendo aplicados na área da Outro importante desafio dessa fase do desenvolvimento
educação, fazendo parte do projeto curricular das escolas em é consolidar um senso de pertencimento, isto é, sentir que é acei-
toda a educação básica, especialmente a partir das reformas to, que é parte de um grupo. Nem sempre isso ocorre na família,
recentes nas diretrizes curriculares. O desafio é trabalhar para especialmente se as escolhas pessoais ou a identidade de gê-
construir o processo de autonomia e de desenvolvimento de nero destoam das expectativas dos pais. Também é um desafio
identidade e motivações na vida das crianças e adolescentes. encontrar um par romântico, constituindo-se como uma preocu-
pação muito importante nessa fase do desenvolvimento. Dificul-
Um dos grandes desafios enfrentados nos últimos anos dades nesses aspectos podem desencadear instabilidades nos
da adolescência envolve a descoberta e perspectiva da profis- adolescentes, como visto no caso de Ana, que se sentia só em
são, o que o adolescente almeja de futuro em termos profissio- casa e na escola e não se sentia atraente.

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Além disso, é importante que aqueles que atuam com “Do que você mais gosta? Descreva suas experiências mais pra-
crianças e adolescentes os auxiliem na identificação de suas for- zerosas”;
ças e habilidades e os estimulem a usá-las nas tarefas do dia a dia.
“Em que você é bom? Descreva as experiências que desperta-
Você pode conhecer um pouco mais esse assunto no podcast/ví-
ram o melhor em você”;
deo disponível a seguir (https://www.youtube.com/watch?v=j7u-
AbkZUzzE, disponível em 11 out. 2022). Perguntas como as que “Quais são suas aspirações para o futuro?”;
estão a seguir nos ajudam a identificar as forças de assinatura e
“O que faz com que um dia seja satisfatório para você?”;
podem ajudar você no diálogo com os jovens (RASHID; SELIG-
MAN, 2019, p. 48): “Que experiências lhe dão um sentimento de autenticidade?”;

“Descreva uma situação em que você se sentiu verdadeiramente


você”.

Note que essa é uma abordagem bastante diferente da-


quela que estamos habituados a vivenciar no nosso cotidiano,
que enfatiza as fraquezas e as limitações dos jovens. Ao contrá-
rio, convidamos você a experimentar um novo fazer: limpar as
suas lentes e estimular as qualidades e as virtudes dos jovens,
disparando um processo que alguns autores chamam de flores-
cimento, isto é, o desenvolvimento máximo do nosso potencial.
Segundo Rashid e Seligman (2019), esse processo está susten-
tado nos seguintes pilares, representados pela sigla PERMA:

P - (POSITIVE EMOTIONS) EMOÇÕES POSITIVAS


E - (ENGAGEMENT) ENGAJAMENTO
R - (RELATIONSHIP) RELACIONAMENTOS
M- (MEANING) SIGNIFICADO E PROPÓSITO
A - (ACCOMPLISHMENT) REALIZAÇÕES

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Emoções positivas relacionadas ao passado envolvem do a essa amizade foram fatores cruciais para o desenvolvimento
serenidade, orgulho, contentamento, satisfação; relacionadas e manutenção do quadro depressivo da jovem. Por outro lado,
ao presente envolvem saborear, isto é, prestar atenção àquilo de a aproximação de Mônica foi fundamental para que Ana rece-
positivo que está acontecendo e sentir-se grato; relacionadas ao besse ajuda. Muitas vezes, os jovens têm dificuldades em fazer
futuro envolvem segurança, fé, confiança, esperança e otimismo. novos amigos, às vezes porque são tímidos, às vezes porque se
Emoções positivas estão relacionadas à satisfação nas relações, sentem inadequados, sem as qualidades necessárias para que
longevidade, resiliência, além de trazerem benefícios para a saú- alguém goste deles. Pensar em lugares e atividades para que
de física e mental. Podemos pensar em ações, atividades e pes- eles possam descobrir interesses em comum e estreitar laços au-
soas que nos despertam emoções positivas e buscar que acon- xilia nesse aspecto.
teçam com maior frequência (RASHID; SELIGMAN, 2019).

Engajamento está relacionado a se envolver, profun- Saiba mais


damente, com o trabalho, lazer ou relações íntimas. Geralmente A importância do desenvolvimento de relações
nos engajamos em situações que podemos usar nossas forças saudáveis é discutida no vídeo TED: estudo de
de assinatura. Por exemplo, se a força de assinatura da pessoa Harvard sobre felicidade. O que faz uma boa
vida?, disponível clicando no ícone ao lado. clique e
envolve espiritualidade, uma situação de engajamento pode ser acesse
participar de um retiro. Se a força de assinatura é amor ou ge-
nerosidade, ações de voluntariado podem ativar o engajamento.
Significado e propósito nos ajudam a nos recuperar de
Se a força de assinatura é amor ao conhecimento, fazer um cur-
problemas difíceis, falta de esperança e de controle. Relacionam-
so, uma palestra ou ler um livro pode trazer essa oportunidade
-se a pertencer e servir a algo que é maior que nós mesmos. A
(RASHID; SELIGMAN, 2019).
depressão está na contramão, isto é, geralmente quando uma
Relacionamentos positivos, seguros e confiáveis tra- pessoa está deprimida e com ideação suicida, é porque não tem
zem um senso de pertencimento, aumentam o bem-estar, prote- esperança de que a vida poderá ser melhor. Victor Frankl foi um
gem-nos de psicopatologias e estão associados à longevidade autor que discutiu bastante sobre senso de propósito. Em seu
(RASHID; SELIGMAN, 2019). Em todas as fases da vida, desen- livro Em busca de sentido, comenta que percebia claramente
volver relacionamentos positivos é importante, no entanto, na in- quando os companheiros dos campos de concentração per-
fância e adolescência, quando começamos a nos relacionar com diam o propósito de vida e se entregavam à morte. Poucos dias
pessoas fora do contexto familiar, isso é ainda mais relevante. No depois eles vinham a óbito (FRANKL, 2021).
caso de Ana, o afastamento de Karen e a perda do lazer associa-

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Além do modelo PERMA, Seligman também desenvol- Uma atividade para compreender o senso de propósito de cada
veu um modelo que avalia aspectos positivos da personalida- um é proposta por Rashid e Seligman (2019):
de das pessoas (https://www.viacharacter.org/survey/account/
Pense antecipadamente na sua vida como gostaria que
register?registerPageType=popup). Pesquisando diversas cul- ela fosse e como você gostaria de ser lembrado pelas
turas, ele chegou a 24 forças de assinatura, distribuídas entre 6 pessoas que lhe são mais próximas. Que realizações e/
virtudes. No vídeo Quais são as 24 forças de caráter, é possível ou forças pessoais elas mencionariam sobre você? O que
conhecer todas elas. No link a seguir (https://www.youtube.com/ você gostaria que fosse o seu legado? Quando terminar,
leia o que escreveu e pergunte a si mesmo se você tem
watch?v=lCUa9hG7Qo0, disponível em 11 out. 2022), é possível
um plano para criar um legado que seja não só realista,
que o adolescente faça um teste que foi validado empiricamente mas também dentro de suas condições de realizar. Quan-
para conhecer as principais forças de caráter pessoais. do terminar de escrever, deixe de lado essa folha e guar-
de-a em um lugar seguro. Leia novamente daqui a um ou
Rashid e Seligman (2019) sugerem alguns exemplos que
cinco anos. Pergunte a si mesmo se você fez progresso
podem promover propósito e significado: identificar formas ino- em direção aos seus objetivos e revise-os (RASHID; SE-
vadoras de aumentar a doação para pessoas que precisam; in- LIGMAN, 2019, p. 257).
vestir em pessoas, em talentos que podem promover mudanças
Realização envolve crescimento pessoal e interpesso-
positivas no mundo; envolver-se politicamente para defender
al. Na medida em que usamos nossas forças de assinatura nas
uma causa social importante; tornar-se mentor de pessoas des-
ações que desempenhamos, que descobrimos nosso senso de
favorecidas; contribuir para uma causa que possa trazer confor-
propósito e vamos em busca deles, temos a oportunidade de
to aos necessitados. Algumas pessoas, inclusive jovens, podem
ampliar nosso senso de realização.
nos inspirar com os seus sensos de propósito. Você pode conhe-
cer alguns exemplos nos vídeos disponíveis a seguir: Ana precisa aprender a gostar de si mesma. Para isso,
precisa fazer as pazes com o corpo e o cabelo. O padrão branco
Malala Yousafzai – Mulheres Fantásticas
de beleza faz com que aquelas pessoas que não se encaixam
#1 | Malala Yousafzai (https://www.youtu-
nele se sintam insatisfeitas com seus corpos e, em muitos casos,
be.com/watch?v=aIUvH5b0A_8, disponí-
feias e inadequadas. É preciso mostrar outras formas de beleza, e
vel em 11 out. 2022)
a escola pode iniciar um projeto para empoderar as alunas, traba-
Greta Thunberg – Discurso na íntegra de lhando a diversidade de diferentes maneiras, desde a diversida-
Greta Thunberg nas Nações Unidas (ht- de estética, como os diferentes tipos de corpos e belezas, até a
tps://www.youtube.com/watch?v=mbnR- diversidade sexual, incluindo as identidades de gênero, a orien-
Greta Thunberg. Fonte: Wiki-
media Commons v81s_9Q, disponível em 11 out. 2022) tação sexual, além da diversidade religiosa, entre outras. Assim,
Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes
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fomenta-se o respeito e se minimiza a sensação de ser inferior ou


defeituoso.

Outra estratégia positiva é dar a oportunidade aos pais


de conhecer as características da adolescência de maneira que
possam diferenciá-las de características que indicam um pro-
blema real. Sentir-se aceito, amado e ouvido pela família é um
importante fator de proteção. Em outras palavras, o acolhimento
dos jovens e a escuta acolhedora são as principais ferramentas
que todos nós podemos utilizar para promover o cuidado em
saúde mental, antes, durante e após situações de crise, como as
que vimos neste módulo.

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encerramento do módulo Assim, você conheceu algumas ferramentas que estão


em suas mãos e que são extremamente importantes para promo-
Complexo, não é mesmo? Mas não se assuste! Ao contrá- ver, prevenir e/ou cuidar da saúde mental de crianças, adoles-
rio, a constatação da complexidade do cuidado da saúde mental centes e jovens. E lembre-se: a construção de ações em saúde
das crianças e adolescentes deve nos convidar a pensar ações mental não é exclusiva dos profissionais de saúde mental. Por
que envolvam o maior número de pessoas e saberes possível, isso, todas as pessoas que trabalham com crianças e jovens, in-
considerando uma diversidade de práticas. Como vimos, embo- clusive você, desempenham um importante papel, sobretudo na
ra não existam receitas prontas ou simples, a reflexão, o diálogo, identificação das necessidades desse público e, ainda, no aco-
o acolhimento e o planejamento de ações interdisciplinares são lhimento e construção de vínculos, essenciais nos momentos de
estratégias muito potentes e que podem ser colocadas em práti- crise. Você é importante para o cuidado e tem condições de aju-
ca aí mesmo onde você atua. dar e cuidar de quem precisa. Não tenha dúvida disso!

Trazer temas como suicídio e automutilação praticados


por crianças e adolescentes demanda cuidado e ética, pois são
temas delicados e emergenciais e, por isso, precisamos falar so-
bre eles, mas com o cuidado de não banalizar ou falar de maneira
rasa e superficial. Outro cuidado importante é o de romper tan-
to com os estereótipos que dificultam o vínculo com os jovens
como com as práticas de culpabilização e moralização, que só
servem para nos distanciar desse público, aumentando ainda
mais o sentimento de desamparo e o sofrimento. Então, nossa
tentativa foi explorar, com base em dados estatísticos, como está
a situação atual dos indicadores de suicídio no Brasil e trazer refe-
rências teóricas para colaborar na construção dos conhecimen-
tos deste módulo. A ideia não foi fazer uma receita de bolo, pois
não há protocolos para o que é singular e cada caso irá apontar
a direção do tratamento necessário, mas foi, pelo menos, traçar
algumas diretrizes para o manejo de situações de crise.

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18 nov. 2022.

Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes


64
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

minicurrículo dAs autorAs


Aline Henriques Reis

Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande


do Sul (UFRGS). Mestrado e graduação em Psicologia pela Uni-
versidade Federal de Uberlândia (UFU). Especialização em Psi-
cologia Clínica na abordagem cognitivo-comportamental pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Formação em Terapia
do Esquema pela Wainer e Picoloto Centro de Psicoterapia. Pro-
fessora Adjunta da Faculdade de Ciências Humanas da Universi-
dade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes


65
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

minicurrículo dAs autorAs


Andréa Chicri Torga Matiassi

Graduação em Psicologia pela Fumec/BH/MG, Especialização


em Saúde do Adolescente pela Faculdade de Medicina da Uni-
versidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mestre em Educa-
ção Tecnológica pelo CEFET/MG e Doutora em Educação pela
Faculdade de Educação FAE/UFMG. Professora do curso de
bacharelado em Psicologia na Faculdade Pitágoras. Psicóloga/
psicanalista em consultório particular e membro da equipe de
coordenação do ambulatório Janela da Escuta – Hospital das
Clínicas da UFMG.

Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes


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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

minicurrículo dAs autorAs


Silvia Segovia Araujo Freire

Graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Mato


Grosso do Sul (UFMS) (2004). Especialização em Dependência
Química pela UNIDERP (2009). Mestrado em Saúde e Desenvol-
vimento na Região Centro-Oeste pela Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul (2012). Especialização em Processos Edu-
cacionais na Saúde EPES. Especialização com Ênfase em Tec-
nologias Educacionais Construtivas pelo Instituto Sírio-Libanês
de Ensino e Pesquisa (2017). Doutoranda do Programa de Pós-
-Graduação em Educação PPGEdu UFMS – Campo Grande-MS.
Atualmente Psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial Infan-
tojuvenil (CAPSi) de Corumbá-MS.

Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes


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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

material de apoio
1 Título do material
Escuta qualificada como ferramenta de humanização do cuidado em
saúde mental na Atenção Básica

Santos, A. B. Escuta qualificada como ferramenta de humanização do


Sinopse, resumo, contexto, referência cuidado em saúde mental na Atenção Básica. APS em Revista. Vol. 1, n. 2,
p. 170/179| maio/julho-2019ISSN 2596-3317 –DOI 10.14295/aps. v1i2.23.

O artigo contribui para compreensão da humanização das práticas de


promoção e prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação em saúde
Contribuições do material para o estudo do tema
mental, e apresenta a importância da escuta no cuidado da pessoa com
sofrimento.

Link https://apsemrevista.org/aps/article/view/23/22

2 Título do material Ficha de notificação compulsória

Sinopse, resumo, contexto, referência

Contribuições do material para o estudo do tema O material orienta sobre a importância e os objetivos da notificação.

Link http://portalsinan.saude.gov.br/notificacoes#

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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

material de apoio
3 Título do material Saúde mental de crianças e adolescentes no contexto escolar

FIGUEREDO, Alziane Evelyn dos Santos. ABREU, Regimara Simão de.


SOUZA, Júlio César Pinto de. Saúde mental de crianças no contexto
escolar. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano

Sinopse, resumo, contexto, referência 06, Ed. 08, Vol. 05, pp. 86-103. Agosto de 2021. ISSN: 2448-0959.

SILVA TEIXEIRA, C. M. F. A escola como espaço de prevenção ao suicídio


de adolescentes – relato de experiência. Revista Inter Ação, Goiânia, v. 27,
n. 1, p. 99–114, 2007. DOI: 10.5216/ia.v27i1.1509.

Os artigos apresentam que a escola é o espaço que pode identificar


prejuízos ou sofrimento psíquico nas crianças e nos adolescentes, e
Contribuições do material para o estudo do tema
o quanto a escola é um espaço potencializador de ações que podem
prevenir, tratar e cuidar.

https://www.nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/criancas-no-

Link -contexto

https://revistas.ufg.br/interacao/article/view/1509/1496

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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

material de apoio
4 Título do material Pode Falar

Sinopse, resumo, contexto, referência

Esse Canal foi criado pensando em ajudar jovens que precisam ser
ouvidos e não conseguem ou não querem se expressar facilmente
Contribuições do material para o estudo do tema com quem conhecem. Por ser gratuito e confidencial, os jovens podem
acessá-lo e relatar o que estão sentindo e serem ouvidos sem qualquer
julgamento.

Link https://www.podefalar.org.br/

5 Título do material “Eu sou um fracasso”

A letra da música revela a sensação de muitas adolescentes, de se sentir


fracassada, de acreditar que está sempre errada (muitas vezes a família
pode ser muito crítica, especialmente na adolescência quando a pessoa
Sinopse, resumo, contexto, referência
tende a se distanciar um pouco da família e se aproximar mais dos ami-
gos, compartilhando os valores deles). A letra também traz a ideia de se
sentir incompreendida e revela alguns sinais de depressão.

A música nos aproxima do universo adolescente, fala das angústias, do


sofrimento. A mãe de Ana a trata de maneira distante, critica sobre ela
Contribuições do material para o estudo do tema não fazer algumas atividades domésticas, sobre o corpo (que está muito
magra), sobre o tempo no celular, hora de dormir. “Tudo o que eu faço,
parece errado”, como diz a música.

Link https://www.youtube.com/watch?v=Z3qzsaim-AA

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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

material de apoio
6 Título do material Música: “RAP – me sinto perdido/Nossos sentimentos

A música mostra a ambivalência entre o desejo de morrer: “Parece que


estou perdido nesse mundo sem saída; onde a única opção é uma esco-
Sinopse, resumo, contexto, referência lha suicida” e o desejo de viver: “Fraco, debilitado, mas eu nunca desisti.
A batalha só começou e nela eu vou insistir” e “E agradeça no final por
você ainda viver. Você teve outra chance, então procure se erguer”.

Pode-se ver um paralelo em relação a um continuum de sofrimento.


Comparada à música anterior, essa revela maior sofrimento e
desesperança. A música explora as ambivalências vividas pelos
adolescentes diante das emoções e da intensidade que o sofrimento
Contribuições do material para o estudo do tema pode atingir. Assim, revela a importância de oferecer intervenções
adequadas e precoces para restaurar a esperança. É importante
estarmos cientes de que a vida pode ser potencializada mesmo diante
dos sofrimentos mais difíceis quando são oferecidas intervenções
adequadas.

Link https://www.youtube.com/watch?v=7yIlon_oGnI

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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

material de apoio
7 Filme:

Título do material As vantagens de ser invisível.

As melhores coisas do mundo

Sinopse “As vantagens de ser invisível”- Charlie (Logan Lerman) é um


jovem que tem dificuldades para interagir em sua nova escola. Com os
nervos à flor da pele, ele se sente deslocado no ambiente. Seu professor
de literatura, no entanto, acredita nele e o vê como um gênio. Mas Charlie
continua a pensar pouco de si... até o dia em que dois amigos, Patrick
(Ezra Miller) e Sam (Emma Watson), passam a andar com ele.

Sinopse: “As melhores coisas do mundo” - Mano (Francisco Miguez) é


Sinopse, resumo, contexto, referência um adolescente de 15 anos. Ele está aprendendo a tocar guitarra com
Marcelo (Paulo Vilhena), pois deseja chamar a atenção de uma garota.
Seus pais, Camila (Denise Fraga) e Horácio (Zé Carlos Machado), estão
se separando, o que afeta tanto ele quanto seu irmão mais velho, Pedro
(Fiuk). Sua melhor amiga e confidente é Carol (Gabriela Rocha), que está
apaixonada pelo professor Artur (Caio Blat). Em meio a estas situações,
Mano precisa lidar com os colegas de escola em momentos de diversão
e também sérios, típicos da adolescência nos dias atuais.

Ambos os filmes apresentam conteúdos sensíveis, mas necessários para


pensarmos as questões dos adolescentes que precisam de cuidados. É
Contribuições do material para o estudo do tema
importante pensarmos quais estratégias podem ser utilizadas diante da
situação de dor emocional vivenciadas pelos adolescentes.

Link

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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

material de apoio
8 Título do material “Um cachorro preto chamado depressão”

O vídeo se inspirou no livro de Matthew Johnstone chamado “Black


Dog of Depression”. Baseada no livro, a Organização Mundial de Saúde
(OMS), produziu a animação contando a história de um homem e sua
Sinopse, resumo, contexto, referência
relação com um cachorro preto, este como uma metáfora para a de-
pressão. No vídeo são ilustrados os sintomas do transtorno e algumas
estratégias de intervenção.

Ana estava com depressão, que é um fator de risco tanto para


automutilação como para ideação suicida. Assistir ao vídeo nos ajuda a
conhecer os sintomas da doença e reconhecê-los quando eles surgem
Contribuições do material para o estudo do tema
na gente ou em pessoas próximas a nós. Pode ser usado com pais para
mostrar-lhes que não é “frescura”, que o adolescente não está daquela
maneira “porque quer chamar a atenção”, como muitos pais acreditam.

Link https://www.youtube.com/watch?v=6RIu4a7hdAA

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

material de apoio
9 Título do material Reportagem sobre o Centro Educacional Gesner Teixeira (Gama-DF)

A reportagem fala sobre as ações que a escola desenvolveu para lidar


com diversos casos de automutilação na escola. Inicialmente criaram
Sinopse, resumo, contexto, referência uma terapia de roda, onde os adolescentes poderiam falar e ser ouvidos,
sem serem julgados. Depois trouxeram outras práticas integrativas em
saúde.

Assim como na reportagem, Ana se cortava também na escola. A


primeira situação de cuidado também ocorreu nesse ambiente. Muitas
vezes os pais, assim como a mãe de Ana, não percebem o sofrimento
Contribuições do material para o estudo do tema
dos filhos. Ações como as da reportagem podem fornecer suporte aos
jovens, diminuindo o sofrimento, ampliando o cuidado e resgatando os
motivos para viver.

https://plenarinho.leg.br/index.php/2019/09/setembro-amarelo-escuta-e-
Link
-acolhimento-mudam-rotina-de-uma-escola/

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

material de apoio
10 Título do material Dr. Martin Seligman e a psicologia positiva

No vídeo um dos principais autores da psicologia positiva explica o que


ela é. Por muito tempo a psicologia se direcionou a explicar o que fazia
com que as pessoas desenvolvessem transtornos mentais, como depres-
são, por exemplo, e a fazer intervenções para diminuir os sintomas. No
Sinopse, resumo, contexto, referência
entanto, não estar deprimido (ou ansioso) não significa ter uma vida com
significado e bem-estar. Então, esse movimento da psicologia se direcio-
nou a estudar sobre as pessoas felizes, isto é, como levavam a própria
vida, o que faziam que pudesse dar pistas sobre a felicidade.

Todo o material deste módulo se refere a manejo de crise, isto é, o que


fazer quando um adolescente está se lesionando ou com ideação ou
tentativa de suicídio? Como prestar os primeiros socorros? Como abordá-
Contribuições do material para o estudo do tema lo? Passada a crise, é importante fortalecer esse adolescente para que
ele tenha recursos que o auxiliem a lidar com momentos de dificuldade
posteriores. Assim, elementos da psicologia positiva podem ser inseridos
no trabalho com os jovens.

Link https://www.youtube.com/watch?v=j7uAbkZUzzE

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

material de apoio
11 Título do material TED: estudo de Harvard sobre felicidade. O que faz uma boa vida?

O vídeo revela os resultados de uma grande e longa pesquisa realizada


ao longo de décadas com os mesmos participantes. A pesquisa buscou
saber o que fazia as pessoas terem mais tempo de vida, com saúde e
bem-estar. Para tanto, tinha dois grupos de participantes: um deles era
Sinopse, resumo, contexto, referência
composto por estudantes de Harvard e outro por homens que viviam na
periferia. Um dos resultados mais marcantes como preditor de saúde e
bem-estar foi a importância do desenvolvimento de relações interpesso-
ais saudáveis.

No caso de Ana, ver-se sozinha, sem a amiga com quem saía aos finais
de semana, sem ninguém com quem estar no horário do recreio, em
uma família em que não se sentia vista, ouvida e segura, foram fatores
Contribuições do material para o estudo do tema primordiais para o desenvolvimento e manutenção da depressão,
automutilação e ideação suicida. Assim, após contida a crise, seria
importante auxiliar Ana a desenvolver novas amizades, ampliando a rede
de apoio, além de fortalecer a relação dela com a mãe.

Link https://www.youtube.com/watch?v=d52BStMyOMw

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material de apoio
12 Malala Yousafzai - Mulheres Fantásticas #1 | Malala Yousafzai

Título do material Greta Thunberg - Discurso na íntegra de Greta Thunberg nas Nações
Unidas

Ambos os vídeos têm o intuito de demonstrar de que maneira adolescen-


tes podem descobrir e aplicar seu senso de propósito. Ambas as adoles-
Sinopse, resumo, contexto, referência centes dos vídeos mostraram bravura, perseverança, integridade, justiça,
esperança, algumas das forças de assinatura. E mostraram como, desde
a adolescência, podemos conhecer e aplicar as nossas forças.

O vídeo pode ser o ponto de partida para inspirar Ana a descobrir quais
são as suas forças e como aplicá-las no dia a dia. Passada a crise, é hora
Contribuições do material para o estudo do tema
de iniciar o planejamento de um projeto de vida para Ana, reforçando
aquilo de que ela já dispõe.

https://www.youtube.com/watch?v=aIUvH5b0A_8
Link
https://www.youtube.com/watch?v=mbnRv81s_9Q

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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

material de apoio
13 Título do material Quais são as 24 forças de caráter?

O vídeo apresenta as 24 forças de caráter que são ilustradas em algumas


Sinopse, resumo, contexto, referência
cenas do cotidiano.

Aprender quais são as 24 forças no cotidiano. Conhecer quais as


principais forças de cada adolescente.

Contribuições do material para o estudo do tema Os temas trazidos pela psicologia positiva podem ser inseridos após a
crise ter cessado, no momento em que está sendo construído o projeto
de vida. O segundo vídeo traz uma aula que promove reflexões sobre
como desenvolver as forças de caráter/assinatura.

https://www.youtube.com/watch?v=lCUa9hG7Qo0
Link
https://www.youtube.com/watch?v=6nFqtwFYnsI&t=1622s

14 Título do material Curta animado da ALIKE/ Escolhas da vida

O curta animado da ALIKE, também encontrado na internet com o título


de Escolhas da vida, permite uma reflexão sobre a educação e o trabalho.
Contribuiu para amplas discussões quanto às nossas escolhas e o impacto
na nossa saúde mental. Além do mais, o vídeo possibilita a reflexão sobre
Sinopse, resumo, contexto, referência
a importância das emoções e as diferentes formas que o corpo e a mente
podem expressar o sofrimento. Ao perder a cor e o encanto pela vida de-
vido à rotina maçante e impetuosa, a criança expressa sua dor emocional
que foi percebida pelo seu pai ao se descolorir e não mais sorrir.

Compreender as diferentes formas que uma pessoa pode expressar


Contribuições do material para o estudo do tema que está em sofrimento psíquico e a importância de uma observação
atenciosa.

Link https://www.youtube.com/watch?v=K4Foovfdb-E&t=3s

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

material de apoio
15 Título do material Curta animado A Lua da Disney Pixar

O curta animado nos permite fazer duas importantes reflexões: A primeira


que todos podem colaborar com as tecnologias/ferramentas que pos-
suem, e juntos realizar um lindo trabalho. A segunda, é que muitas vezes
não damos ouvidos às crianças e adolescentes, desconsideramos o que
Sinopse, resumo, contexto, referência
tem para nos dizer, e por vezes eles podem nos dizer ou ensinar, como
o garoto no filme tentou por várias vezes fazer do jeito dele, mas não foi
permitido. Por isso a importância de realizar um acolhimento e escuta
qualificada.

Contribuições do material para o estudo do tema

Link https://youtu.be/MJC9mYJfUPk

16 Título do material
COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA: O Que é, Benefícios e Como Praticar |
Marshall Rosenberg

O vídeo apresenta um resumo animado sobre os conceitos básicos e


Sinopse, resumo, contexto, referência
princípios da Comunicação Não-violenta.

Contribuições do material para o estudo do tema

Link https://www.youtube.com/watch?v=uofE9CnWDYU

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Realização
FIOCRUZ MATO GROSSO DO SUL

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