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REDES DE SERVIÇOS DE SAÚDE,

DE PROTEÇÃO SOCIAL E DE DIREITOS


NAS ADOLESCÊNCIAS E JUVENTUDES

Autoras
Neidy Marcia de Souza Silva
Helena Ferraz Gomes
Anália da Silva Barbosa

Organizadoras
Rita Maria Lino Tarcia
Sílvia Helena Mendonça de Moraes
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
CURSO DE APERFEIÇOAMENTO
EM SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
DE ADOLESCENTES E JOVENS

REDES DE SERVIÇOS DE SAÚDE,


DE PROTEÇÃO SOCIAL E DE DIREITOS
NAS ADOLESCÊNCIAS E JUVENTUDES

Autoras
Neidy Marcia de Souza Silva
Helena Ferraz Gomes
Anália da Silva Barbosa

Organizadoras
Rita Maria Lino Tarcia
Sílvia Helena Mendonça de Moraes
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Silva, Neidy Marcia de Souza


Redes de serviços de saúde, de proteção social e
de direitos nas adolescências e juventudes [livro
eletrônico] / Neidy Marcia de Souza Silva, Helena
Ferraz Gomes, Anália da Silva Barbosa ; organização
Rita Maria Lino Tarcia, Sílvia Helena Mendonça de
Moraes, Débora Dupas Gonçalves do Nascimento. --
Campo Grande, MS : Fiocruz Pantanal, 2023.
PDF

Bibliografia.
ISBN 978-85-66909-41-8

1. Adolescentes 2. Bem-estar social 3. Direitos


dos adolescentes - Brasil 4. Políticas públicas -
Brasil 5. Serviços de saúde I. Gomes, Helena Ferraz.
II. Barbosa, Anália da Silva. III. Tarcia, Rita Maria
Lino. IV. Moraes, Sílvia Helena Mendonça de. V.
Nascimento, Débora Dupas Gonçalves do. VI. Título.

23-144536 CDD-362.21
Índices para catálogo sistemático:

1. Adolescentes : Política de saúde mental :


Bem-estar social 362.21

Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415


© 2022. Fundo das Nações Unidas para a Infância – Coordenação de Educação da Fiocruz MS Autoras
UNICEF. Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul. Débora Dupas Gonçalves do Nascimento Helena Ferraz Gomes
Vice- coordenadora de Educação Neidy Márcia de Souza Silva
Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução, Anália da Silva Barbosa (co-autora)
disseminação e utilização dessa obra, em parte ou em Secretaria-Executiva da Universidade Aberta do SUS
sua totalidade, nos Termos de uso do ARES. Deve ser – UNA-SUS Revisora Técnico-científica
citada a fonte e é vedada sua utilização comercial. Maria Fabiana Damásio Passos Alessandra Silva Xavier
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Oficiais do Programa Sílvia Helena Mendonça de Moraes
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Higor Cunha Léia Conche da Cunha
Marina Oliveira Desenvolvedores AVA MOODLE
Thaís Santos Coordenadora Pedagógica Geral Luiz Gustavo de Costa
Consultores do Programa Rita Maria Lino Tarcia Vinicius Vicente Soares

Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Coordenadora Acadêmica do Módulo Editor de Audiovisual


Mario Santos Moreira Eloisa Grossman Adilson Santério da Silva
Presidente em exercício
Coordenadora Pedagógica do Módulo lustrador
Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul – Ewângela Aparecida Pereira Kelvin Rodrigues de Oliveira
Fiocruz MS
Jislaine de Fátima Guilhermino Revisor
Coordenadora Davi Bagnatori Tavares
SUMÁRIO

Apresentação do módulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
VAMOS CONVERSAR UM POUCO SOBRE HISTÓRIA? VOCÊ ACREDITA QUE
CONHECER O PASSADO AJUDA A EXPLICAR O QUE ESTÁ ACONTECENDO AGORA? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
VAMOS CAMINHAR MAIS UM POUCO NA COMPREENSÃO E ORGANIZAÇÃO
DOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO À SAÚDE? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
VAMOS, A PARTIR DE AGORA, PENSAR SOBRE A IMPORTÂNCIA DA POLÍTICA
DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS SUAS MUDANÇAS NOS DIAS ATUAIS? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
VOCÊ JÁ OUVIU FALAR NESSES EQUIPAMENTOS NO SEU TERRITÓRIO? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
VAMOS AGORA PENSAR COMO A REFORMA PSIQUIÁTRICA POSSIBILITOU A
CRIAÇÃO DE UMA REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Encerramento do módulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Minicurrículo das autoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Material de apoio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

apresentação do módulo
Olá! Neste módulo, vamos trocar conhecimentos, pensando
juntos sobre as Redes de Atenção à Saúde e proteção social
e o eixo de defesa de direitos nas adolescências e juventudes.

Você reconhece que ainda temos muitos desafios a serem su-


perados nesse campo, principalmente na efetivação de políti-
cas públicas que possam de fato assegurar direitos de adoles-
centes e jovens?

Acreditamos que podemos avançar coletivamente, e é por


isso que você está aqui, não é?

Sabemos que o número de adolescentes e jovens na popula-


ção brasileira é significativo, assim como o aumento da quan-
tidade de famílias em situação de pobreza e extrema pobreza,
agravando ainda mais as vulnerabilidades desse grupo po-
pulacional o que demonstra a necessidade de implementa-
ção de políticas públicas capazes de garantir acesso à saúde,
educação, alimentação, cultura, esporte e lazer, assim como
o desenvolvimento de suas potencialidades como pessoas e
cidadãos de direitos.

Módulo: Redes de serviços de saúde, de proteção social e de direitos nas adolescências e juventudes
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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Vamos conversar um pouco sobre

história? Você acredita que


conhecer o passado Para compreender os desafios relacionados a esse cam-

ajuda a explicar o que está po de intervenção, é importante entender que as políticas públi-
cas de atenção à criança, ao adolescente e ao jovem têm uma

acontecendo agora?
trajetória muito recente de mudança, fruto de muitas lutas.

• O Código de Menores, de 1927, estabeleceu que a pessoa


é penalmente inimputável até os 17 anos, portanto somen-
te a partir dos 18 responde por seus crimes e pode ser con-
“Não vou deixar denada à prisão. Essa foi a primeira lei do Brasil dedicada à
Não vou, não vou deixar você esculachar proteção da infância e da adolescência. Ele foi revogado na
década de 1970, mas o artigo 68, que prevê que os menores
Com a nossa história de 18 anos não podem ser processados criminalmente, resis-
tiu às mudanças dos tempos.
É muito amor, é muita luta

É muito gozo, é muita dor
Você já ouviu falar sobre maioridade penal? Até os anos de
E muita glória
1970, compreendia-se o termo “menor em situação irregular”
[...] como menor de 18 anos de idade que se encontrava abando-
nado materialmente, vítima de maus-tratos, em perigo moral,
Apesar de você dizer que acabou com desvio de conduta e autor da infração penal, constituin-
Que o sonho não tem mais cor do-se em ameaça à sociedade e à ordem vigente. Essa visão
era centrada na política autoritária do Código de Menores.
Eu grito e repito: Eu não vou” Você concorda que esses termos ainda são muito usados
atualmente? E que ainda os ouvimos muito nas nossas rela-
(Não vou deixar – Caetano Veloso)
ções pessoais e de trabalho? No entanto, precisamos estar
atentos, pois essas nomenclaturas nos indicam qual é a dire-
ção do nosso olhar para os nossos adolescentes e jovens!

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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Você considera inapropriada a utilização do


Saiba mais termo menor para designar crianças e adolescentes?
Se você quiser entender um pouco mais Acha que ele se contrapõe à ideia de direitos e cidadania?
esse período, converse com as pessoas
mais idosas do seu território, ou faça lei-
turas de livros e veja filmes que abordam
clique e
Proposição ?
essa temática. Deixamos aqui algumas su- acesse Você sabe de onde surgiram os termos: “menor de idade”,
gestões: “menor perante a lei”, “menor abandonado”, “menor infra-
Livro: O século perdido. Autora: Irene Rizzini. Esse livro é tor”, “menor carente”, “de menor” para se referir às crianças
um trabalho apresentado por uma autora que pretende fu- e adolescentes? Você acha que esses termos apontam para
gir do pequeno círculo de especialistas. Do livro participa alguma visão no que tange à compreensão acerca desses
uma vasta literatura devidamente incorporada e criticada sujeitos?
por Irene Rizzini, cuja segurança em temas tão controver-
sos como a infância e a construção nacional apenas reve-
Feedback positivo:
la a sua já longa dedicação a uma causa que, em geral, se
prefere ignorar. Há uma análise da legislação proposta e O termo menor, embora não seja dito com má intenção por
em vigor na passagem do século XIX ao XX, dos discur- parte da população, tem conotação pejorativa por seu his-
sos parlamentares e de fontes diversas, tais como jornais tórico de separação e inferiorização envolvendo crianças e
e obras de ficção, que, além da sua relevância substantiva, adolescentes pobres. Raramente o termo é usado para men-
revela o esmero metodológico na montagem e na exposi- cionar crianças ou adolescentes de classes sociais média e
ção dessa pesquisa. alta. O próprio dicionário já apresenta a palavra menor como
Filme: O contador de histórias. O filme re- sinônimo de inferioridade, menos importante e hierarquica-
trata a história de um menino pobre de Belo mente inferior.
Horizonte. Roberto Carlos Ramos que cres-
ce na Febem e tem sua vida mudada ao co- Feedback orientador:
clique e
nhecer uma pedagoga francesa. acesse
A expressão “menor de idade” está relacionada ao Código
de Menores de 1927, que foi criado para pensar especifi-
camente formas de lidar com crianças e adolescentes que
viviam em situação irregular. Esse código foi pensado para
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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

campo da saúde, assistência social, educação, entre outras,


tratar da população infantojuvenil que vivia alguma vulne- vai se consolidando, principalmente após a Constituição Fe-
rabilidade social – muitas vezes por negligência do Estado deral de 1988, um novo olhar para adolescentes e jovens,
na garantia do básico para se viver – e que seria objeto de que os reconhece como sujeitos com necessidades especí-
intervenção do próprio Estado. ficas, que devem ser garantidas pelo Estado, sociedade civil
e pela família. Foi com esse entendimento que a história rela-
tada, “Caio: da camisa do pai aos olhos de jabuticaba”, foi se
desenrolando em suas diferentes situações de vulnerabilida-
No princípio dos anos de 1980, com a gravidade da situação
des e riscos.
a que estavam expostas as crianças e adolescentes em nosso
país, desencadeou-se um processo de luta pelos direitos das Para alcançar os objetivos de reduzir riscos e fortalecer os
pessoas desse segmento, que ascenderam então à condição fatores protetores de adolescentes e jovens, é preciso que,
de sujeitos de direito, com a promulgação da Constituição ci- cada vez mais, as ações da rede de atenção e proteção este-
dadã brasileira de 1988, do Estatuto da Criança e do Adoles- jam articuladas, em uma concepção de abordagem integral,
cente e, recentemente, do Estatuto da Juventude. levando em consideração o contexto no qual o jovem está
inserido. Mais uma vez nos remetemos à ideia de adolescên-
O Brasil, assim, abandonou uma lei discriminatória, repressi-
cias e juventudes plurais. Cada pessoa é diferente e vem de
va e segregacionista relacionada à infância e adolescência,
culturas, famílias e territórios, por vezes, diferentes daqueles
recepcionada no Código de Menores, para adotar, em defini-
de quem os acolhe.
tivo, o Estatuto da Criança e do Adolescente. O novo marco
legal incorporou princípios da Convenção sobre os Direitos Assim, além de pensarmos nessa pluralidade e diversidade,
da Criança, adotada pela Resolução n. L44 (XLIV) da Assem- temos que lembrar que as ações das redes de serviço devem
bleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) de 20 contemplar uma atenção integral. Já pensou no significado
de novembro de 1989, ratificada pelo Brasil em 24 de setem- de atenção integral?
bro de 1990 (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1989;
BRASIL, 1990).
Proposição ?
Você acha importante o enfoque da atenção integral no
A Constituição de 1988 estabeleceu, em seu artigo 227,
campo do cuidado à saúde de adolescente e jovem?
que a infância e a adolescência são prioridades absolu-
tas (BRASIL, 1988), e o Estatuto da Criança e do Adoles-
cente consolidou os preceitos da Convenção e da Carta
Magna brasileira (BRASIL, 1990).
Feedback positivo:
Pensar na atenção integral para esse segmento nos leva
à compreensão da integralidade como base dessa ação, que
Além da materialização das políticas públicas específicas no
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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

nos remete ao significado de “qualidade de integrar”, “total,” trizes? Como elas se organizam e se entrelaçam em um movi-
“inteiro” e “completo”, num movimento de integralizar, com- mento de rede? Convidamos você a refletir conosco!
pletar, interagir , ou seja, compreender esse sujeito mediante • Você já pensou nos argumentos mais importantes para jus-
os diversos fatores, culturais, sociais e ambientais, que afe- tificar investimentos na saúde da população adolescente e
tam a sua saúde. Sendo assim, as ações de cuidado para jovem?
esse grupo etário devem buscar articulação e integração • Diante dos desafios da promoção, proteção e recuperação
entre campos e setores diversificados da sociedade, numa da saúde dos adolescentes e jovens e da magnitude das
visão holística do ser humano e uma abordagem sistêmica questões e das situações de risco que envolvem esse seg-
das necessidades da população. mento, o Ministério da Saúde criou o Programa de Saúde do
Adolescente (PROSAD) (BRASIL, 1996), cujas Bases Progra-
máticas foram publicadas em 1989.
Feedback orientador:
Destacamos alguns pontos desse Programa: a integrali-
Segundo alguns autores a atenção integral está diretamente dade das ações, o trabalho multidisciplinar e a integração
vinculada ao princípio da integralidade, podendo se apre- com outros setores governamentais e não governamen-
sentar com vários significados, vozes, sentidos e instrumen- tais (educação, trabalho, cultura, justiça e lazer). Esses as-
pectos têm como base fundamental a consideração da na-
tos, resultantes da interação democrática dos sujeitos no
tureza múltipla da problemática do adolescente.
cotidiano de suas práticas e dos saberes. Ou seja, é um prin-
cípio de ação que orienta uma determinada prática, tanto • Posteriormente, em 2005, o Minis-
no ato do atendimento ao usuário como na organização do tério lançou o documento Marco
Legal da Saúde de Adolescentes.
serviço, que assegure a realização de um tratamento digno e
Apenas em 2010 os jovens passa-
respeitoso, com qualidade, acolhimento e vínculo. No cam- ram a ser também incluídos nessa
po da saúde, para Mattos, a integralidade é definida como política consolidada nas Diretrizes
“garantia de oferta de um conjunto articulado de ações e ser- Nacionais para a Atenção Integral
viços de saúde, preventivos e curativos, individuais e coleti- à Saúde de Adolescentes e Jovens
na Promoção, Proteção e Repara-
vos, conforme as necessidades de cada caso, nos vários âm-
ção da Saúde. Esse documento
bitos de complexidade do sistema de saúde.”(Mattos, 2003) aprofunda o enfoque da perspec-
tiva de atenção integral da saúde
Partindo dessas reflexões, vamos avançar um pouco mais
do adolescente e jovem, visando
na nossa troca, abordando e conhecendo a Rede de Atenção
superar uma visão fragmentada e
à Saúde e de Proteção Social? Quais são suas principais dire-
entender os vários aspectos que
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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

fazem parte das suas necessidades de saúde. Além de pro-


por o diálogo interdisciplinar e intersetorial, ele propõe a inte-
ração com os adolescentes e jovens, respeitando sua cultu-
ra e conhecimentos adquiridos. Esse movimento aumenta a
possibilidade de identificação das necessidades dos adoles-
centes e de suas famílias e de absorção dos conhecimentos
pelos usuários, o que favorece o fortalecimento do acesso
aos direitos e uma maior organização da sociedade.

Agora que já nos apropriamos da existência do programa


voltado para atenção à saúde do adolescente e jovem, é preciso
entender que as discussões e formas de atuação no campo da
atenção integral à saúde dos adolescentes e jovens é tarefa im-
portante para as equipes de saúde e para a população local, haja
vista que lidar com situações complexas exige das equipes mul-
tidisciplinares uma abordagem integral dos problemas detecta-
dos. Sabemos, ainda, que modelos tradicionais de atendimento
à saúde, trabalhados de forma isolada e independente, não res-
pondem às necessidades dessa população (PINHEIRO, 2001).

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Vamos caminhar mais um pouco na (UBS) ou Estratégia Saúde da Família (ESF) (ANDERSON, 2019).

Partindo desses questionamentos, é importante destacar

compreensão e organização dos que as UBS e a ESF são unidades instaladas perto de onde as
pessoas vivem, trabalham e estudam que possibilitam a resolu-
ção de grande parte das suas necessidades de saúde e, caso
serviços de atenção à saúde? seja necessário, encaminham os usuários para outros níveis de
atenção. No caso relatado neste módulo, “Caio: da camisa do pai
“Em cada degrau que subi, encontrei a subida. A cada
passo que dei, encontrei o caminho. Sempre estreito, aos olhos de jabuticaba”, a ESF foi a porta de entrada e o início
mesmo tendo sido já trilhado. Sempre novo, mesmo de uma grande jornada na garantia dos direitos e da dignidade.
tendo sido já visitado. É o caminho da vida, que, não Essa rede de cuidados garantiu a Caio e à sua família o atendi-
nascendo pronto, a cada subida ou descida é revelado.”
mento pautado pelos princípios da universalidade, da integrali-
(Caminhos – Damião Fernandes)
dade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da equidade e da

humanização.
Para responder às diferentes demandas dos indivíduos
que procuram os cuidados em saúde, é preciso destacar o papel A ESF, por meio de seus agentes de cuidado, Agente Co-
da Atenção Básica ou Atenção Primária em Saúde na reorganiza- munitário de Saúde (ACS), médico, enfermeiro, assistente social e
ção do sistema. Ela foi desenvolvida com base na descentraliza- dos profissionais do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Aten-
ção e na capilaridade, para ser oferecida no local mais próximo ção Primária (NASF-AP) possibilitou a Caio a escuta ativa, a criação
da vida das pessoas (BRASIL, 2012; BRASIL, 2017a). de vínculo e a articulação com a rede de serviços de saúde, de
proteção social e demais políticas públicas que contribuem para o
A Atenção Básica é considerada a “porta de entrada” e o
acesso a direitos.
centro articulador da Rede de Atenção à Saúde. Carac-
teriza-se por um “conjunto de ações de saúde, no âm-
bito individual e coletivo, que abrange a promoção e a
proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnós-
tico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e
a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver
uma atenção integral” (BRASIL, 2012, p. 19).

Além disso, a Atenção Básica é constituída por equipe mul-


tidisciplinar que atua no desenvolvimento de programas e ações
que levam em consideração a diversidade das necessidades de
saúde dos usuários, com vistas a atender os princípios da acessi-
bilidade, coordenação do cuidado, vínculo, continuidade e inte-
gralidade. Essas equipes atuam nas Unidades Básicas de Saúde
Créditos: Universidade Aberta do SUS - Universidade Federal de São Paulo.
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Dentre os profissionais, destaca-se o ACS, que fortalece a Lembra-se da equipe do Consultório na Rua, que foi res-
integração entre os serviços de saúde e a comunidade. O ACS atua ponsável pela acolhida e escuta qualificada de Caio e que, por
como um elo, fazendo parte da comunidade, o que favorece o aco- meio de uma articulação com a rede, encaminhou o jovem a uma
lhimento e a criação do vínculo, e responsabilizando-se pelo usu- Central de Acolhimento para Crianças e Adolescentes?
ário na garantia do atendimento na rede de atenção à saúde. Nas
atividades desempenhadas por esses profissionais, eles reforçam A situação de Caio e de seu amigo nos leva a pensar na-
a importância da visita domiciliar, que favorece a avaliação das ne- quilo que Bruna Alt afirma no estudo que fez:
cessidades e demandas dos usuários e família: “é no cuidado do- a pessoa que se encontra em situação de rua sente
miciliar, na ida ao domicílio, percorrendo o trajeto de vida dessas fome e frio, e, mais do que o atendimento das neces-
sidades essenciais, essas pessoas precisam de meios
pessoas” que muitas situações se descortinam (BRASIL, 2020). para se tornarem protagonistas de suas vidas e con-
quistarem condições de suprir suas necessidades de
A Visita Domiciliar constitui instrumento técnico-operati- forma independente (ALT, 2017, p. 8).
vo de acompanhamento das famílias, tendo como objetivo com-
preender os aspectos que envolvem o cotidiano e a realidade As pessoas em situação de rua enfrentam violência psi-
socioterritorial daquela família. A Visita Domiciliar também visa cológica devido às ações preconceituosas e a discriminação
aprofundar o conhecimento sobre o modo de viver e as condi- que sofrem no cotidiano. Além disso, sofrem violência física nas
ções de vida das famílias, de modo singular, com postura ético- ruas e nos espaços institucionalizados.
-política voltada ao atendimento das necessidades, respeitando
a liberdade e a autonomia (CLOSS; SCHERER, 2017).

Nesse sentido, é importante lembrar o papel dos profis-


sionais que atuam nessas unidades, que é o de cuidar da saúde
da população adscrita, no âmbito da unidade de saúde e, quan-
do necessário, no domicílio e demais espaços comunitários,
como escolas, associações, entre outros.

Contudo, é preciso lembrar que essas unidades avan-


çaram e se remodelaram, levando em consideração as
diferentes populações e realidades do nosso país. Além
dos diversos formatos dessas unidades, houve a inclu-
são do atendimento pelo Consultório de Rua para a po-
pulação que vive nas ruas, além das UBS Fluviais e ESF
para as Populações Ribeirinhas. Ocorreu também a am-
pliação das ações intersetoriais e de promoção da saú-
de, com a universalização do Programa Saúde na Escola
Fonte: br.pixabay.com
e expansão dele às creches.
Módulo: Redes de serviços de saúde, de proteção social e de direitos nas adolescências e juventudes
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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Adolescentes e jovens sonham, constroem projetos de e que Bia passou a ser acompanhada no ambulatório de saúde
vida, amam com intensidade, sentem muita vontade de viver e mental do território?
gostam de rir e de se divertir. Se nos lembrarmos das nossas ju-
ventudes, vamos nos recordar desse momento de pujança de Saiba mais
vida. Vamos refletir um pouco sobre como se sentem os perso-
Vamos compreender melhor o que é ma-
nagens da nossa história?
triciamento? Leia o Guia prático de matri-
Imagine que Caio, após perder o amigo da forma trágica ciamento em saúde mental.
que o perdeu, entra em contato com você por meio do chat do
Nesse guia, podemos compreender que
podefalar.org.br1. Como seria essa conversa?
o matriciamento ou apoio matricial é um clique e
acesse
Essa iniciativa do canal Pode Falar é uma potente estraté- novo modo de produzir saúde em que duas ou mais equi-
gia de ação voltada aos adolescentes e jovens que busca a inte-
pes, num processo de construção compartilhada, criam
gração com as atividades rotineiramente previstas e desenvolvi-
uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica.
das pelas equipes de atenção básica.
No processo de integração da saúde mental à atenção pri-
Essas equipes da atenção básica são compostas por pro- mária na realidade brasileira, esse novo modelo tem sido
fissionais de saúde com a responsabilidade exclusiva de
o norteador das experiências implementadas em diversos
articular e prestar atenção integral à saúde das pessoas
em situação de rua, tendo papel importante dentro da municípios, ao longo dos últimos anos.
Rede de Atenção à Saúde porque articulam e desenvol-
vem ações em parceria com as demais equipes de aten- Nesse caso, podemos observar o papel da ESF e do
ção básica do território e dos Centros de Atenção Psicos- NASF e a articulação em rede, fundamentais para a garantia da
social, da Rede de Urgência e dos serviços e instituições resolutividade e do cuidado, que deve ser pautado pelas neces-
componentes do Sistema Único de Assistência Social. sidades de saúde do usuário.

Somam-se às equipes da NASF-AP, compostos por equi- Portanto, as UBS e a ESF estão próximas ao território e
pe multiprofissional e interdisciplinar com profissionais de saúde têm por função organizar a Rede de Atenção à Saúde por meio
de diferentes categorias e especialidades que atuam de forma da interlocução com os serviços de saúde, da proteção social e
integrada buscando garantir a ampliação das ações e a resoluti- demais políticas públicas que contribuem para o acesso a direi-
vidade. Lembra-se de que Bia e Carol, irmãs de Caio, por intermé- tos, ressignificando o modo de ser e de viver de muitos adoles-
dio da equipe pedagógica da escola em conjunto com a equipe centes, jovens e seus familiares.
da ESF, foram avaliadas pela psicóloga matriciadora do NASF-AP

1 O Pode Falar, canal de ajuda virtual em saúde mental e bem-estar para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos, foi criado em abril de 2021. A
iniciativa nasceu da parceria do UNICEF com organizações da sociedade civil e empresas com expertise em tecnologia e funciona de forma anônima
e gratuita por meio de um chatbot batizado de Ariel por adolescentes que pode ser acessado pelo site podefalar.org.br.
Módulo: Redes de serviços de saúde, de proteção social e de direitos nas adolescências e juventudes
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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Ah, lembra-se de que falamos do Programa Saúde na Escola WhatsApp que tinha profissionais que compunham os serviços
(PSE)? Pois bem, esse Programa foi instituído pelo Decreto n0 da rede local (CRAS, CREAS, Conselho Tutelar, CAPSi, CAPSad,
6.286, de 5 de dezembro de 2007 (BRASIL, 2007). Surgiu como Escola Municipal, Clínica da Família, ONGs), articulou uma reu-
política intersetorial e interministerial, em uma perspectiva de nião com os equipamentos públicos locais e com a rede socio-
atenção integral à saúde de crianças, adolescentes e jovens do assistencial do território para pensar estratégias de cuidado para
ensino básico, no âmbito das escolas e UBS. Caio. Bianca juntou todas as lembranças e aprendizados e trans-
formou-os em propulsão. 

Foto: flickr.com

Dentre as ações do PSE, destacam-se: a promoção da saúde


e a prevenção de agravos por meio da articulação de práticas
educativas, de formação e de saúde, como promoção da ali-
mentação saudável; práticas corporais e atividades físicas;
educação para a saúde sexual e reprodutiva; prevenção ao
uso de álcool, tabaco e outras drogas; promoção da cultura
de paz e prevenção das violências; além da avaliação clínica e
psicossocial, cujo objetivo é identificar necessidades de saú-
de e garantir a atenção integral na Rede de Atenção à Saúde.

Contudo, pensar em rede é um desafio. Lembra-se


da Bianca, assistente social? Ela, por meio de um grupo de

Módulo: Redes de serviços de saúde, de proteção social e de direitos nas adolescências e juventudes
15
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Vamos, a partir de agora, pensar Na área da Assistência Social esse movimento é impul-
sionado pela Constituição Federal de 1988, em que o
termo Seguridade Social é utilizado pela primeira vez. A
sobre a importância da política Seguridade Social é composta pelo tripé: Saúde, como
direito de todos; Previdência, de caráter contributivo; e

de assistência social e as suas Assistência Social, para os que dela necessitarem (BRA-
SIL, 1988). Assim, a perspectiva da assistência social na
lógica dos direitos marca seu início em 1993 com a apro-
mudanças nos dias atuais? vação da Lei Orgânica da Assistência Social, Lei n0 8.742
(LOAS) (BRASIL, 1993).
“O tempo escorre pela ampulheta.
A LOAS preconiza que a gestão da política de Assistência
É ele o contador da história que construímos.
O tempo que cura saudades, Social e a organização das ações devem ser articuladas em um
que em mais-valia capitalista sistema descentralizado e participativo, organizado nos três ní-
explora cada trabalhador/a na sua labuta. veis de gestão governamental. A política de assistência social é
O tempo é também contradição, que prepara a luta, tece
a resistência...
um direito do cidadão e um dever do Estado no provimento aos
E que o tempo que nós vivemos mínimos sociais.
traga na sua outra face
a sonoridade da liberdade, um verde mais vicejante de Em 2004, o Ministério do Desenvolvimento Social e Com-
esperança. bate à Fome (MDS) consolidou a assistência social como Política
E que em todos os seus versos
Nacional de Assistência Social (PNAS), com o compromisso de
tenha a emergência da luta e da resistência,
no tempo em que lutar redesenhar, coletivamente, a política na perspectiva de imple-
é tão necessário quanto viver, respirar...” mentação de um Sistema com diretrizes e serviços envolvidos: o
(Tempo de luta e Resistência – Andrea Lima) Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que foi promulgado
em 2005 (BRASIL, 2005b). É a partir da implementação do SUAS
que há um forte movimento de rompimento com a lógica de uma
Vamos conversar um pouco mais sobre os percursos his-
ação vinculada à concepção assistencialista. Os segmentos mais
tóricos para entender o processo de fortalecimento desse cam-
pobres, com mais desempregados e subempregados sem vín-
po. Mais uma vez, esse caminho não foi fácil. Bem, aqui estamos
culo formal não tinham direito aos benefícios e serviços sociais
falando de uma rede de dispositivos, no campo da Assistência
públicos. Para eles eram destinados, pelo Estado ou sociedade
Social que assegura direitos, apesar de historicamente já demar-
civil, os programas assistenciais a título compensatório ou de be-
car na prática a necessidade de fortalecimento de uma política
nesse.
voltada para a lógica de direitos sociais. Esse movimento chega
bem mais tarde ao Brasil, o que o diferencia do campo da saúde Você sabe a diferença entre assistencialismo
que foi pioneira nessa luta. e a política de Assistência Social?

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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Equipamentos da politica de Assistencia Social:


Proposição ? CRAS – Centro de Referência de Assistência Social;
Por que você acha que as ações de apoio às famílias deixa-
CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência
ram de ser benesse e viraram política pública? Na sua avalia-
Social;
ção isso foi um avanço ou um retrocesso?
Centro Pop – Centros de Referência Especializados para Po-
pulação em Situação de Rua;
Feedback positivo: Centro Dia – Centro Dia de Referência para Pessoa com Defi-
Faz-se muito importante compreender a politica de assistên- ciência e suas Famílias;
cia social como uma politica de Estado e organizada dentro Unidades de Acolhimento – Casa Lar, Albergue, Abrigo Institu-
do Sistema Unico da Assistência Social.  cional, República, Residência Inclusiva, Casa de Passagem.

Será que já superamos essa lógica? O que você percebe


Feedback orientador: na sua região? De fato, o que o SUAS apresenta como diferente
Para facilitar o entendimento iremos listar as diferenças entre no seu desenho de política pública? Que tal agora conhecermos
os equipamentos e benefícios criados por essa política, assim
o assistencialismo e a política de assistência social garantida
como vimos na história de Caio?
pela Constituição Federal de 88.
Assistencialismo Vamos lá! O SUAS é um modelo de gestão descentraliza-
do, com uma nova lógica de organização das ações so-
- Ligado à filantropia, cioassistenciais, que considera as características do ter-
- Concepção culpabilizadora dos indivíduos; ritório e tem foco prioritário na atenção às famílias, que
- Eventual, incerta, fragmentada; são o alvo das ações de proteção social. O SUAS reforça
- Com o fim em si mesma; a importância de um conjunto protetivo da seguridade
- Sem capacidade para provocar mudanças na vida dos ci- social como um direito de cidadania, articulada à lógica
dadãos. da universalidade.
Assistência Social Com base nesse desenho, o SUAS consolida uma nova
- Ligada ao direito social e dever estatal; forma de gestão pública, tendo como pressupostos principais a
- Concepção contextualizada das situações em uma dada territorialização, a descentralização e a intersetorialidade.
realidade social, histórica, econômica, cultural e política; É importante destacar que o SUAS permitiu a ampliação
- Voltada ao desenvolvimento individual, familiar e coletivo; dos serviços socioassistenciais, respeitando as diferenças locais,
- Contínua e transformadora. desenvolvidos de forma descentralizada, com enfoque na matri-

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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
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cialidade familiar com ações intersetoriais conjuntas e articula-


das. Considerando essa lógica, observa-se que, no atendimento Feedback positivo:
às necessidades sociais de Caio, levaram-se em consideração Sabemos que por décadas as políticas públicas foram or-
a família, a rede de atenção à saúde e a rede constituída pelos ganizadas na lógica da centralização com base num único
equipamentos sociais e comunitários do território, tendo por comando. A proposta do SUAS tem por eixos ordenadores:
base o desafio de enfrentar as questões sociais que afetam a vida
o território, a família, a descentralização administrativa e a in-
do cidadão no local onde vive e convive com outros cidadãos.
tersetorialidade. Tem como foco principal a atenção integral
à família e indivíduos que a formam, buscando assegurar o
direito à convivência familiar e comunitária.

Feedback orientador:
O SUAS, por meio da territorialização, reconhece a presen-
ça dos múltiplos fatores sociais e econômicos que levam o
indivíduo e a família a situações de vulnerabilidade ou risco
social. Com a intersetorialidade, busca a integração entre
os diferentes serviços de saúde, proteção social e justiça. E
na perspectiva da descentralização, cada esfera de governo
Você consegue perceber que essa forma de gestão tem tem suas ações político-administrativas, respeitando-se as
o mesmo desenho do Programa Estratégia Saúde da Família, que diferenças e características socioterritoriais e locais. Além
desmonta uma marca a ser superada? Concorda que o contexto
disso, é importante enfatizar que todos somos participantes:
em que se encontram e se movimentam setores e organizações
faz diferença no desenvolvimento dos programas? gestores, técnicos, trabalhadores em geral, usuários, con-
junto social, na implementação e consolidação do SUAS.
Proposição ? Nessa perspectiva, a política de proteção social toma
Você consegue perceber no seu território que a execução uma nova forma, passando a compor um conjunto de ações que
das políticas públicas hoje estão focadas num desenho de deve assegurar a preservação, a segurança e a dignidade de to-
gestão e organização dos serviços de forma descentralizada, dos os cidadãos. Tem como fundamento diretrizes embasadas
intersetorial e focada no território? na perspectiva do acolhimento, do fortalecimento de vínculos,
do atendimento integral ao cidadão e da prática intersetorial.

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O SUAS buscou estruturar sua rede de proteção social


em níveis de complexidade, organizando os equipa-
mentos públicos em proteção social básica e especial,
materializados como Centros de Referência da Assistên-
cia Social (CRAS) e como Centro de Referência Especia-
lizado da Assistência Social (CREAS), espaços de pres-
tação de serviços e de articulação da rede de atenção
socioassistencial que têm como eixos estruturantes as
necessidades sociais das famílias em seus territórios.

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Você já ouviu falar nesses dos problemas e demandas de uma população em seus diversos
ciclos de vida. (SILVA JUNIOR et al, 2006)

equipamentos no seu território? A rede local caracteriza-se como um exercício de prática


intersetorial, um arranjo institucional, que exige articulação, co-
Então vamos situar você mais um pouco nesse rol de nexão, vínculos, ações complementares, relações horizontais en-
siglas! A Proteção Social Básica trabalha na prevenção de situ- tre parceiros, uma vez que o sujeito é um só com suas diferentes
ações de vulnerabilidade e risco, bem como no fortalecimento dimensões de vulnerabilidade e risco.
de vínculos familiares e comunitários. É por meio do Centro de É importante sabermos também sobre os Serviços de
Referência da Assistência Social (CRAS) que a proteção social se Proteção Social Especial, que tem estreita relação com o Sistema
territorializa e se aproxima da população, reconhecendo a exis- de Garantia de Direitos, cujo foco está nas famílias e indivíduos
tência das desigualdades sociais (BRASIL, 2009a). que estão em situação de risco pessoal e social.

Saiba mais A Proteção Social Especial prevê dois níveis de com-


plexidade: os serviços de média complexidade, organizados
Despertou seu interesse em conhecer
nos Centros de Referência Especializados de Assistência Social
mais sobre o Centro de Referência da As- (CREAS), unidades que oferecem atendimento às famílias e in-
sistência Social (CRAS)? divíduos que tiveram seus direitos violados, mas cujos vínculos
Essa obra apresenta o funcionamento do familiares e comunitários não foram rompidos; e os serviços de
CRAS por todo o país, representando mais clique e alta complexidade (Serviço de Acolhimento Institucional, Repú-
acesse
blica de jovens, Família Acolhedora, entre outros), que garantem
um fio da extensa rede de proteção e promoção social que
proteção integral tanto para famílias e indivíduos (crianças, ado-
está sendo construída no Brasil. lescentes, jovens e adultos) que estão sem referência e cujos vín-
culos familiares e afetivos foram rompidos como para indivíduos
Mais uma vez, lembra-se da Assistente Social da ESF que em situação de ameaça, que precisam ser retirados do convívio
lembrou do grupo do WhatsApp? Pois é, esse espaço é impor- familiar e/ou comunitário.
tante para organizar esse trabalho de formação de rede local!
Você compreendeu a relação entre esses diferentes ser-
Contudo, é fundamental entender que essa articulação viços na história de vida do jovem Caio e de sua família? Muitas
na formação de rede é um ato em movimento impulsionada redes se entrelaçaram, né? Assim, podemos pensar que, apesar
pelos diferentes atores institucionais. Essa rede se constitui em de haver muitas lacunas na operacionalização desses serviços,
cada território mediante a integração de serviços, reconhecendo eles existem na estrutura da política da Assistência Social e pre-
a interdependência dos atores e organizações, em face da cons- cisam exercer o seu papel na proteção social da população.
tatação de que nenhuma delas dispõe da totalidade de recursos,
atribuições e competências necessários para a resolutividade

Módulo: Redes de serviços de saúde, de proteção social e de direitos nas adolescências e juventudes
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Você já pensou nos múltiplos significados que a palavra sionais de saúde e à família assegurar a proteção de crianças,
rede tem? Rede de pesca, rede de cabelo, rede de fute- adolescentes e jovens. Dentro do ordenamento jurídico, ressal-
bol, redes de cuidado, e, mais recentemente, um grupo ta-se a importância do Conselho Tutelar, do Ministério Público e
de redes ganhou destaque: as redes sociais virtuais. das Varas da Infância e da Juventude, órgãos responsáveis pela
Bianca buscou parcerias em um grupo de WhatsApp. defesa dos direitos de criança e adolescente e assegurados pelo
Você já fez uso ou vislumbra outras utilidades das redes Sistema de Garantia do Direito da Criança e do Adolescente (SG-
sociais para acolher adolescentes e jovens em situação DCA) (Resolução 113 do CONANDA) (CONSELHO NACIONAL
de vulnerabilidade psicossocial? DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 2006).

Por falar em redes, a família é o primeiro espaço de socia- Esses órgãos são fundamentais no eixo de defesa diante
lização de uma criança e, por isso, tem um papel importante de da violação de direitos de adolescentes e jovens. O objetivo deles
representação do mundo exterior. Vamos refletir um pouco sobre é defender e garantir direitos, podendo, com a aplicação da lei, de-
família, esse grupo social tão importante em nossa sociedade? terminar ações de atendimento e de responsabilização do Estado,
da sociedade e da família. Assim, é importante termos a compreen-
Ao pensar em vínculos familiares e afetivos rompidos, não
são de que, sempre que possível, devemos buscar o diálogo com
podemos deixar de destacar a violência intrafamiliar, problema so-
esses órgãos de defesa. Eles devem estar próximos e acessíveis à
cial complexo que afeta toda a sociedade, atingindo, de forma con-
população. Destacamos aqui a importância do Conselho Tutelar e
tínua, mulheres, crianças, adolescentes e jovens (BRASIL, 2009b).
de romper com a visão tão impregnada na população de que esse
A violência intrafamiliar é a ação ou a omissão de algum órgão desempenha uma função “policialesca”, “repressora” e de
membro da família que causa danos ao outro indivíduo. Esse poder máximo nas intervenções diante da violação de direitos de
tipo de violência contra crianças, adolescentes e jovens viola crianças e adolescentes. Como vimos na história de Caio, não foi
os direitos humanos, prejudicando o bem-estar, a liberdade e a atribuído ao Conselho Tutelar o poder de decisão sobre o afasta-
integridade física e psicológica da pessoa que sofre a violência mento do adolescente do convívio familiar e sobre a guarda provi-
(BRASIL, 2009b; RIBEIRO, 2020). sória, mas à decisão da autoridade judiciária, conforme estabelece
o ECA, em seu artigo 101 (BRASIL, 1990).
O ECA, em seu artigo 50, estabelece que nenhuma
criança ou adolescente será objeto de qualquer forma Você sabia que a promulgação do ECA rompeu com a
de negligência, discriminação, exploração, violência, cultura do acolhimento institucional ao garantir a excep-
crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer cionalidade da medida apenas quando esgotadas todas
atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos funda- as possibilidades para a manutenção da criança e/ou do
mentais (BRASIL, 1990). Além disso, ampara a denúncia adolescente na família de origem, família ampliada ou
e estabelece os princípios para o seu enfrentamento, as- comunidade? Sabia, ainda, que o ECA assegura que a
sim como para a atenção psicossocial da família. situação de pobreza da família não é motivo suficiente
para o afastamento de criança e adolescente do conví-
A violência precisa ser visibilizada, discutida e combati- vio familiar, conforme artigo 23? (BRASIL, 1990).
da. Cabe a toda a sociedade civil, a agentes públicos, a profis-
Módulo: Redes de serviços de saúde, de proteção social e de direitos nas adolescências e juventudes
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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

São muitas as conquistas no campo da defesa dos direitos da crian-


Feedback orientador:
ça e do adolescente atribuídas a esse marco regulatório. Ao falar
ainda nos órgãos, precisamos lembrar aqui da importância da par- O Conselho Tutelar é um órgão permanente , autônomo e
ticipação no processo eleitoral realizado nos Conselhos Tutelares. não jurisdicional (que não integra ao judiciário), encarrega-
do pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos
Você sabe como os conselheiros tutelares são eleitos?
da criança e do adolescente, constituído por cinco mem-
bros escolhidos pela comunidade local, para um mandato
Proposição ? de quatro anos. A principal função é a garantia dos direitos
Em algum momento você participou em seu município ou das crianças e adolescentes estabelecidas no ECA (art. 136).
presenciou o processo de eleição dos representantes do Divulgar o trabalho desse órgão e lutar pela consolidação de
conselho tutelar? Você sabia que esse conselho tem um im- suas ações é garantir uma vida mais digna aos nossos ado-
portante papel de auxiliar o gestor municipal na defesa dos lescentes e jovens.
direitos da criança e do adolescente?
Com certeza, você, assim como eu, preocupa-se com a
garantia de defesa de direitos desse segmento da população.
Feedback positivo:
A história de Caio escancara diversas formas de violação
A participação ativa da população na eleição dos represen- de direitos e situações de violência: o menino que saiu do Pará
tantes do conselho tutelar é um exercício de cidadania, con- no meio da noite, que veio para a cidade grande, que sofre com
tudo a maioria dos municípios não reconhece a importância a desorganização familiar, que vê naqueles que deveriam cuidar
da escolha dessa representatividade, principalmente no a falta de carinho, zelo e atenção, que vê a mãe e o padrasto de-
apoio operacional nas ações de divulgação e mobilização da pendentes do álcool e das drogas, que sofre violência na escola,
que vai morar nas ruas, que sofre violência institucional... o meni-
população local. Todos os cidadãos do território podem vo-
no dos “olhos de jabuticaba” da “blusa do seu pai”.
tar e eleger os representantes deste órgão. Esse movimento
tem como gestores da organização o Conselho Municipal Diante de tantas vulnerabilidades, como pensar a Rede
de Atenção Psicossocial? Qual é o seu papel dentro da Rede
dos Direitos da Criança e do Adolescente-CMDCA, Minis-
de Atenção à Saúde e Proteção Social? Como pensar toda essa
tério Público e o apoio do Tribunal Superior Eleitoral, que rede no contexto da garantia da dignidade da pessoa humana?
oferece o suporte operacional para a votação, respeitando Como pensar essa Rede considerando a proteção de Caio e de
a organização do processo eleitoral no Brasil. Os locais de sua família?
votação são divulgados no momento da eleição por cada
município.

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

Vamos agora pensar como a Re- Saiba mais


Vamos ver um vídeo que mostra o drama

forma Psiquiátrica possibilitou a dos pacientes psiquiátricos em um hos-


pital psiquiátrico. O vídeo trata de uma

criação de uma Rede de Atenção adaptação do livro homônimo escrito por


Daniela Arbex, este é um retrato aprofun-

Psicossocial?
clique e
dado e contundente sobre os eventos acesse

que ficaram conhecidos como: Holocausto Brasileiro. O


“Estou vivendo
No mundo do hospital
grande genocídio cometido contra os pacientes psiquiátri-
Tomando remédios cos do hospício de Barbacena, em Minas Gerais.
De psiquiatria mental
[...] A partir da promulgação da Lei n0 10.216/2001, o modelo
Me amarram, me aplicam
Me sufocam
de saúde mental foi redirecionado para um modelo de atenção
Num quarto trancado pautado pela perspectiva da Atenção Psicossocial, e os Centros
Socorro de Atenção Psicossocial (CAPS) passaram a ser considerados
Sou um cara normal
dispositivos estratégicos do movimento progressivo do desloca-
Asfixiado
[...] mento do centro do cuidado para fora do hospital em direção à
Ai, ai, ai comunidade (BRASIL, 2004).
Que sufoco da vida
Sufoco louco Nessa direção, de acordo com o previsto pelo Ministério
(Sufoco da Vida – Harmonia Enlouquece) da Saúde, é também dada aos CAPS a responsabilidade de or-
ganizar a rede de serviços de saúde mental de seu território, em
uma perspectiva de que esses dispositivos estejam articulados
Para pensarmos na criação da RAPS, precisamos enten-
na rede de serviços de saúde e intersetorial, o que configura a
der como o sofrimento psíquico era visto há poucos anos. No
Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).
Brasil, o movimento da Reforma Psiquiátrica se iniciou no final
dos anos de 1970, com a iniciativa e organização dos trabalha- Lembra-se de Caio e de sua família? Lembra-se da impor-
dores da saúde mental, pacientes e seus familiares que ques- tância do CAPSi em articular a rede de Belém para encontrar o pai
tionavam o modelo manicomial existente à época. Esses atores do adolescente? E da importância do CAPS AD no acompanha-
propuseram, nos anos de 1980, a diversificação de serviços e de mento e suporte a Telma para garantir o contato e o diálogo com o
ações em saúde mental, de acordo com as complexidades, com judiciário? A interação com outras redes sociais é necessária para
vistas à constituição do que seria chamado de rede de atenção fazer face à complexidade das demandas de inclusão e compre-
em saúde mental (AMARANTE, 1996). ensão nesses casos, visto que pessoas com transtornos mentais

Módulo: Redes de serviços de saúde, de proteção social e de direitos nas adolescências e juventudes
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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

eram simplesmente excluídas da sociedade (BRASIL, 2004). aos pontos de atenção. Além disso, busca garantir a articulação
e integração com as redes de atenção no território, promovendo
Seixas et al. (2021) ressaltam a aposta nos cuidados de
um cuidado pautado pelo acolhimento, acompanhamento contí-
proximidade como estratégia para configurar um cuidado am-
nuo e atenção às situações de urgência (BRASIL, 2017b).
pliado no território, mais próximo da população, presente na vida
cotidiana dos usuários, que articula diferentes atores no território A Rede é composta por diferentes serviços e equipa-
para criar possibilidades de cuidado que atendam às necessida- mentos: Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); Serviços Resi-
des particulares de cada sujeito, entendendo que é imprescindí- denciais Terapêuticos (SRT); Centros de Convivência e Cultura;
vel essa compreensão para não sermos cooptados pela lógica Unidade de Acolhimento (UAs); e leitos de atenção integral (em
médico-centrada e para que não haja a retomada do modelo ma- Hospitais Gerais, nos CAPS III).
nicomial.

A organização dessa rede tem a noção de território como


importante orientadora. O conceito de território no campo da
saúde mental opera como instrumento para promoção de saúde
e cidadania, afirmando que só será possível produzirmos saúde
Centros de
se valorizarmos a região emoldurada pelas referências sociais e Convivência e Cultura
Leitos de atenção
integral (em Hospitais
culturais daquela comunidade. Gerais, nos CAPS III)

Serviços Residenciais
O território deve ser entendido não apenas como o bairro Terapêuticos (SRT)
do domicílio do sujeito, mas como um conjunto de referên- Unidade de
Acolhimento (UAs)
cias socioculturais e econômicas que desenham seu proje-
to de vida e sua inserção no mundo (SANTOS, 2007).
Centros de Atenção
Lembra-se do impacto da mudança de território em cada Psicossocial (CAPS)

membro nesse núcleo e de seus diferentes sofrimentos psíqui-


cos, com demandas diversas? É compreendendo essas dife-
rentes ordens de sofrimento que a RAPS estabelece serviços
diferentes no campo da atenção psicossocial, com intensidades
de cuidados diferentes, de acordo com a complexidade do sofri-
Os CAPS, regulamentados pela Portaria n0 336 (BRASIL,
mento que os sujeitos apresentam.
2002), devem ser compostos por uma equipe multiprofissional,
Dentre os objetivos, destacam-se: ampliar o acesso à e os profissionais que a integram devem trabalhar em perspecti-
atenção psicossocial da população em geral e promover o aces- va interdisciplinar, e cada sujeito acompanhado nesse dispositi-
so às pessoas com transtornos mentais e com necessidades de- vo deve ter seu Projeto Terapêutico Singular, o que permite um
correntes do uso de crack, álcool e outras drogas e a suas famílias olhar considerando a particularidade da forma como o sofrimen-

Módulo: Redes de serviços de saúde, de proteção social e de direitos nas adolescências e juventudes
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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

to se apresenta naquele sujeito. Os CAPS podem se constituir em


5 modalidades: CAPS I, CAPS II e CAPS III, diferenciando-se ape-
Saiba mais
nas quanto à ordem crescente de porte/complexidade e abran- Vamos conhecer mais sobre a importância
gência populacional; e outros 2 serviços específicos de atenção das redes para a garantia de direitos?
psicossocial, o CAPSi (Criança e Adolescente), voltado à atenção Nesse documento, são resgatados os
psicossocial para atendimento de crianças e adolescentes, e o
principais marcos no campo dos direitos
CAPSad (Álcool e outras Drogas), responsável pela atenção psi-
humanos e da atenção psicossocial de clique e
cossocial de pessoas com transtornos decorrentes de uso e de- acesse
pendência de substâncias psicoativas. crianças e adolescentes, bem como os principais temas e
desafios para o desenvolvimento de ações efetivas na pro-
moção, na proteção e na defesa de direitos.

CAPS Outra importante reflexão que precisamos fazer é sobre


o atraso de nosso país na implantação de uma atenção voltada
especificamente para crianças e adolescentes.

CAPS I CAPS II CAPS III Quando estudamos políticas públicas de saúde mental
voltadas para crianças e adolescentes, verificamos uma grande
Diferem-se apenas quanto à ordem crescente de defasagem de atenção a essa população.
porte/complexidade e abrangência populacional

Couto, Duarte e Delgado (2008) fazem uma análise do


processo histórico da implementação de políticas no

CAPSi CAPSad campo da saúde mental infantil no Brasil. Destacam


que a tardia implantação de políticas públicas de saúde
CRIANÇA E ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS mental infantil se deu devido à variedade de demandas,
ADOLESCENTE responsável pela atenção
voltado à atenção psicossocial de pessoas com pois nessas faixas etárias são encontrados problemas de
psicossocial para transtornos decorrentes de
atendimento de crianças e uso e dependência de
saúde como transtornos invasivos do desenvolvimen-
adolescentes substâncias psicoativas to, transtornos de conduta, transtornos de ansiedade,
transtornos depressivos, uso abusivo de substâncias,
Considerando essas modalidades, vale destacar os CAPS além da extrema violência e vulnerabilidade social a que
que atuaram no caso “Caio: da camisa do pai aos olhos de jabu- está exposta parte dessas crianças e adolescentes.
ticaba”. Você já acompanhou algum caso que demandou articu-
lação com o CAPSi e/ou CAPSad? Como foram as suas experiên- Além disso, outros pontos levantados dizem respeito ao
cias quando precisou acionar esses dispositivos? conhecimento apenas recente das consequências de transtor-
nos da infância e da adolescência na vida adulta, assim como

Módulo: Redes de serviços de saúde, de proteção social e de direitos nas adolescências e juventudes
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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

ao fato de haver poucos dados produzidos que comprovem a


eficácia de tratamento desses transtornos, ainda muito pautado Feedback orientador:
por uma lógica médico-centrada. Romper com a desinformação técnico-política, promover a
Sendo assim, as iniciativas no campo da assistência a intersetorialidade e particularizar o atendimento ao público
crianças e adolescentes que sofrem com transtorno mental ain- infanto-juvenil, antes pautado na assistência aos adultos ou
da demandam um trabalho dos profissionais na lógica de rom- deficientes, representa o desafio que se coloca ante as no-
per com a desinformação técnico-política, promover a interseto-
vas formas de lidar com a assistência em saúde mental, prin-
rialidade e particularizar o atendimento ao público infantojuvenil,
antes pautado pela assistência a adultos ou deficientes. Esse é o cipalmente quando se fala de práticas profissionais.
desafio que se coloca ante as novas formas de lidar com a assis-
tência em saúde mental, principalmente quando se fala de práti- Diante do que expusemos, você viu a importância do
cas profissionais (GUERRA, 2003). profissional que atendeu Caio e da articulação que os diferen-
tes dispositivos de saúde mental CAPSi e CAPSad fizeram para o
Você já pensou quão difícil deve ser o trabalho no
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários? Telma, a
CAPSi diante de todas as particularidades que
mãe de Caio, fazia uso excessivo de substância que prejudicava
a infância e a adolescência têm?
suas relações e afetava o vínculo com seus filhos. Você conse-
guiu identificar a importância do CAPSad no apoio e nas estraté-
gias de cuidado a Telma?
Proposição ?
Você acredita que o campo da infância e adolescência pos- Você sabe sobre a importância do CAPSad e
sui suas especificidades e particularidades, diferentes da as- o significado da lógica da redução de danos?
sistência aos adultos? E o que pensar da relação desse pú-
blico com a atenção psicossocial? Proposição ?
Você já ouviu falar em redução de danos? O que você acha
Feedback positivo: dessa lógica que orienta o trabalho nos CAPSad para acom-
Um dos desafios na assistência em saúde mental infanto- panhar as pessoas que fazem uso prejudicial de substâncias?
juvenil é promover um diálogo entre os diferentes saberes
que perpassam as crianças e os jovens, uma vez que estão Feedback positivo:
diluídos por diferentes áreas, como pedagogia, psicologia
A lógica da redução de danos privilegia e propõe romper
e medicina, importantes para a construção e a reconstrução
com os modelos anteriores de estigmatização das drogas,
de projetos de vida.

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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

a fim de suscitar o surgimento de outras possibilidades tera- ção de dependência com a droga. Essa relação do sujeito com
pêuticas em relação ao uso e dependência. a droga não é desconsiderada, mas também não é entendida
como protagonista na intervenção de cuidado. Logo, o cuidado
passa pelo acesso a outros serviços de saúde e por diversas po-
Feedback orientador: líticas públicas, assim como pelo conjunto de profissionais, com
Dessa maneira, a redução de danos não exige abstinência estratégias de intervenção que alcancem os produtores de cui-
dado ao apostarem em novas organizações para a vida desses
como pré-requisito para permanência em programas de
sujeitos.
atenção à saúde, mas busca criar estratégias não coercitivas
para adesão aos serviços, estabelecer uma relação acolhe-
dora dos profissionais com os usuários (Canadian AIDS So-
ciety, 2008), além de incluí-los como partícipes na produção
de cuidado (Souza, 2007).

Vale destacar que o vasto e diversificado perfil dos usuá-


rios de um CAPSad é um aspecto importante a ser considerado
no contexto de trabalho desse serviço, uma vez que as pessoas
chegam, muitas vezes, com demandas relacionadas à integrida-
de física, como higiene, comida, alojamento e cuidados básicos
em saúde, ou ainda que requerem o envolvimento de outros
setores da política pública, como a mediação entre a justiça, a
educação, o trabalho etc.

Para tanto, faz-se imprescindível pensar na concepção


de doença vinculada à concepção de assistência, para
que seja possível acolher as diversas demandas dos su-
jeitos que chegam à equipe desse dispositivo e, assim,
constituir vínculo.

Se o usuário de álcool e de outras drogas é um sujeito em


sofrimento na sua relação com a substância e isso faz com que
se afaste das pessoas, o vínculo com o local de tratamento pode
permitir que esse sujeito estabeleça outras relações em sua vida
e, com isso, no decorrer do tratamento, esvazie um pouco a rela-

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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

ENCERRAMENTO DO MÓDULO
A história “Caio: da camisa do pai aos olhos de jabutica-
ba” nos possibilitou observar como as Redes de Atenção à Saúde
no SUS e a Rede Socioassistencial do SUAS se entrelaçam, se or-
ganizam mutuamente por meio de construções e reconstruções,
que permitem que o cuidado dos indivíduos e das famílias seja
efetivado. A vida de Caio e de sua família é semelhante à vida de
muitos outros brasileiros e brasileiras, marcada por diversas vul-
nerabilidades e pela falta de efetividade das políticas públicas.

Essa narrativa de vida nos permite refletir sobre a impor-


tância dos diferentes agentes sociais, das redes de apoio formal
e informal e do papel do Estado, da comunidade e da sociedade
civil na garantia de direitos de adolescentes e jovens.

Crianças, adolescentes e jovens são sujeitos de direitos


do presente e do futuro!

Módulo: Redes de serviços de saúde, de proteção social e de direitos nas adolescências e juventudes
28
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

REFERÊNCIAS Psicossocial, e dá outras providências.Diário Oficial da União,


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Centro de Ciências Jurídicas, Econômicas e Sociais, Universida-
de Católica de Pelotas/UCPEL, Pelotas, 2017. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Bá-
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BRASIL. Portaria N0 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova Programa Saúde na Escola - PSE, e dá outras providências. Diá-
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Módulo: Redes de serviços de saúde, de proteção social e de direitos nas adolescências e juventudes
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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

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transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial. In: BRA- CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADO-
SIL. Legislação em saúde mental: 1990-2004. 5. ed. ampl. Bra- LESCENTE (CONANDA). Resolução N0 113, de 19 de abril de
2006. Dispõe sobre os parâmetros para a institucionalização e
sília, 2004. p. 17-20.
fortalecimento do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria N0 336, de 19 de fevereiro do Adolescente. Diário Oficial da União, 2006.
de 2002. Dispõe sobre as diretrizes de organização dos CAPS.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2002. COUTO, M. C. V.; DUARTE, C. S.; DELGADO, P. G. G. A saú-
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BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Coordenação al e desafios. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 30, n. 4, p.
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Adolescente. Bases Programáticas. 2.ed. Brasília: Ministério da 44462008000400015. Acesso em: 14 nov. 2022.
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GUERRA, A. M. C. Tecendo a rede na assistência em saúde men-
BRASIL. Lei N 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a
0
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tribuição no campo da psicanálise e da saúde mental. Belo Hori-
BRASIL. Lei N0 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o
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Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Assembleia Geral das Na-
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: ções Unidas. Convenção sobre os Direitos da Criança. 1989.
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BRASIL. Lei N° 17.943-A, de 12 de outubro de 1927.Consolida as
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Brasil, 31 dez. 1927. SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo. Razão e
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CLOSS, T. T.; SCHERER, G. A. Visita domiciliar no trabalho do as-
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sistente social. Revista Libertas, v. 17, n. 2, p. 41-60, 2017. Dis-
ponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/libertas/article/
Módulo: Redes de serviços de saúde, de proteção social e de direitos nas adolescências e juventudes
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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

SEIXAS, C. T.et al. A crise como potência: os cuidados de proxi-


midade e a epidemia pela Covid-19. Interface - Comunicação,
Saúde, Educação, v. 25, supl. 1,2021. Disponível em: https://doi.
org/10.1590/interface.200379.Acesso em: 14 nov. 2022.

SILVA, Jr. et al. Refletindo sobre o ato de cuidar da saúde. In PI-


NHEIRO, R e MATTOS, RA (Orgs.). Gestão em redes: práticas de
avaliação, formação e participação na saúde. Rio de Janeiro,
IMS- UERJ – ABRASCO, 2006.

PINHEIRO, R., MATTOS, R.A. (Org.). Os Sentidos da Integralidade


na Atenção e no Cuidado à Saúde. Rio de Janeiro, IMS- UERJ –
ABRASCO, 2001.

Módulo: Redes de serviços de saúde, de proteção social e de direitos nas adolescências e juventudes
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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

MINICURRÍCULO DaS AUTORaS


Neidy Marcia de Souza Silva

Graduação em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio


de Janeiro (1985) e Mestrado em Serviço Social pela Universida-
de do Estado do Rio de Janeiro (2007). Assistente Social da Uni-
versidade do Estado do Rio de Janeiro e da Prefeitura da Cidade
do Rio de Janeiro (aposentada), com ênfase de intervenção no
campo da Saúde, Assistência Social e gestão em órgãos de con-
trole social na área da criança e do adolescente, atuando princi-
palmente no seguinte tema: Saúde do Adolescente. Atualmente,
é Assistente Social do Núcleo de Estudos da Saúde do Adoles-
cente, realizando atendimento com abordagem interdisciplinar e
interinstitucional a adolescentes e famílias nas ações de atenção
à saúde e participando em programas e projetos de garantia de
direitos de adolescentes e jovens. Realiza preceptoria a alunos
da faculdade de Serviço Social da UERJ e residentes do curso de
Especialização Lato Sensu em Serviço Social e Saúde.

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

MINICURRÍCULO DaS AUTORaS


Helena Ferraz Gomes

Formada em Bacharelado e Licenciatura em Enfermagem pela


Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de
Fora em 2009. Especialista em Saúde Coletiva, sob moldes de
residência em enfermagem pela UNIRIO/UFF (2010-2012). Dou-
tora e Mestre em Enfermagem pela Faculdade de Enfermagem
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Docente: Profes-
sora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro – Departamento de Enfermagem Médi-
co-Cirúrgica (DEMC) – Área Clínica. Atuação Teórico-Prática em
Enfermagem Clínica com enfoque na Saúde do Adolescente. Ex-
periência Profissional nas seguintes áreas: Enfermagem Clínica,
Saúde do Adolescente e Saúde Coletiva. Realiza pesquisas nas
seguintes áreas: Saúde do Trabalhador, Saúde do Adolescente e
Terapia Infusional. Atua na Coordenação do Programa de Resi-
dência de Enfermagem em Saúde do Adolescente da Faculdade
de Enfermagem da UERJ.

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

MINICURRÍCULO DaS AUTORaS


Anália da Silva Barbosa

Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal Flumi-


nense, Mestre em Serviço Social pelo Programa de Pós-Gradua-
ção em Serviço Social da Escola de Serviço Social da Universida-
de Federal do Rio de Janeiro (PPGSS/ESS/UFRJ) e Doutoranda
do Programa de Políticas Públicas e Formação Humana da Uni-
versidade do Estado do Rio de Janeiro (PPFH/UERJ). Preceptora
e Docente da Residência Multiprofissional em Saúde Mental da
UERJ. Atualmente é Coordenadora do Centro de Atenção Psi-
cossocial da UERJ e presta assessoria para Entidade Filantrópica
do Terceiro Setor (Instituto Santa Lúcia) na área da política de as-
sistência social, criança e adolescente e saúde mental.

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material de apoio
1 Título do material O século perdido

O Século Perdido é um trabalho apresentado por uma autora


que pretende fugir do pequeno círculo de especialistas. Do livro
participa uma vasta literatura devidamente incorporada e criticada
por Irene Rizzini, cuja segurança em temas tão controversos como
a infância e a construção nacional apenas revela a sua já longa
dedicação a uma causa que, em geral, se prefere ignorar. Há uma
análise da legislação proposta e em vigor na passagem do século
Sinopse, resumo, contexto, referência XIX ao XX, dos discursos parlamentares e de fontes diversas, tais
como jornais e obras de ficção, que, além da sua relevância subs-
tantiva, revela o esmero metodológico na montagem e na exposi-
ção dessa pesquisa.

Referência: Rizzini, I. O século perdido: raízes históricas das po-


líticas públicas para a infância no Brasil / Rio de Janeiro; Editora
Universitária Santa Úrsula; 1997.
A autora traz reflexões acerca da infância, adolescência e
juventude em diferentes aspectos envolvendo as legislações
do século XIX ao XX. Entender o passado para compreender o
Contribuições do material para o estudo do tema
presente e o futuro no que tange aos aspectos que contribuem
para os marcos legais (Carta Magna, ECA, Políticas Públicas) à
importância da Rede de Proteção a adolescentes e jovens.
Link http://www.ser.puc-rio.br/4_S%C3%A9culo_Perdido_completo.pdf

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material de apoio
2 Título do material O contador de Histórias

O filme, baseado em fatos reais, conta a história de Roberto Carlos


Ramos, nascido numa favela em Belo Horizonte, no fim da déca-
da de 70, e que, aos 6 anos, já demonstrava enorme talento para
contar histórias. Caçula de dez irmãos, é o escolhido por sua mãe
Sinopse, resumo, contexto, referência para viver numa nova instituição, Febem, anunciada pelo governo
como uma oportunidade para aqueles que viviam na pobreza. Ao
conhecer uma pedagoga francesa sua vida muda radicalmente.

Referência: Produção: O Contador de Histórias, Drama, Brasil,


2009, 100 min. Direção: Luiz Villaça
Contribuições do material para o estudo do tema: Ao retratar
a instituição Febem, o vídeo reporta a história de Caio, que foi
encaminhado a uma Instituição e que, pela violência institucional,
acaba fugindo. Nos leva a refletir sobre o papel do Estado
Contribuições do material para o estudo do tema na proteção aos direitos de adolescentes e jovens dentro do
ordenamento jurídico. Vale destacar que o material apresenta
reflexões sensíveis e conteúdos fortes, entretanto necessários
para pensarmos as questões que atravessam a realidade dos
adolescentes.
Link https://www.youtube.com/watch?v=kRJwQg-oavc

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material de apoio
3 Título do material Voz da poesia, vozes do poeta: um jovem em conflito com a lei.

Este artigo é baseado em pesquisa realizada sobre a história


de vida de um adolescente em conflito com a lei, que cometeu
suicídio em 2006, e cuja memória foi suscitada por meio de en-
trevistas, poemas e cartas deixados pelo jovem. O estudo conclui
apontando dois aspectos: a responsabilidade mútua e complexa
do próprio adolescente e da sociedade marcada por estigmas e
Sinopse, resumo, contexto, referência intolerância na produção do ato infracional, e a importância de
pesquisas sobre história de vida para a compreensão de sujeitos
submetidos a processos de exclusão.

Referência: CHAVES, Roberta Arueira e RABINOVICH, Elaine Pe-


dreira.Voz da poesia, vozes do poeta: um jovem em conflito com
a lei. Temas psicol. [online]. 2010, vol.18, n.1, pp. 243-254. ISSN
1413-389X
O artigo nos leva à reflexão sobre as redes de apoio formal e
informal para o cuidado em saúde mental de Adolescentes e
Contribuições do material para o estudo do tema
Jovens e o papel do Estado, sociedade civil e família na proteção
e garantia da dignidade de adolescentes e jovens.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S-
Link
1413-389X2010000100020

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material de apoio
4 Médicos pelo Brasil e as políticas de saúde para a Estratégia
Título do material Saúde da Família de 1994 a 2019: caminhos e descaminhos da
Atenção Primária no Brasil
O propósito deste artigo é contribuir para uma análise desta mais
recente proposta de política de saúde no âmbito da Atenção Pri-
mária à Saúde no contexto do Mais Médicos e das demais políti-
cas de desenvolvimento e qualificação da ESF no país no período
de 1994 a 2019
Sinopse, resumo, contexto, referência
Referência: Anderson MIP. Médicos pelo Brasil e as políticas de
saúde para a Estratégia Saúde da Família de 1994 a 2019: cami-
nhos e descaminhos da Atenção Primária no Brasil. Rev Bras Med
Fam Comunidade [Internet]. 10 de outubro de 2019 [citado 9 de
outubro de 2022];14(41):2180.
O texto contribui para a compreensão da Atenção Primária à
Saúde dentro do SUS. Trazendo uma breve reflexão sobre a
Contribuições do material para o estudo do tema importância dos serviços de saúde numa lógica voltada para
as pessoas, famílias e comunidades, na perspectiva da atenção
integral à saúde.
Link https://rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/2180

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material de apoio
5 Título do material Guia Prático de Matriciamento Saúde Mental

Matriciamento ou apoio matricial é um novo modo de produzir


saúde em que duas ou mais equipes, num processo de constru-
ção compartilhada, criam uma proposta de intervenção pedagógi-
co-terapêutica.

No processo de integração da saúde mental à atenção primária na


realidade brasileira, esse novo modelo tem sido o norteador das
Sinopse, resumo, contexto, referência
experiências implementadas em diversos municípios, ao longo
dos últimos anos.

Referência: Guia prático de matriciamento em saúde mental /


Dulce Helena Chiaverini (Organizadora) ... [et al.]. [Brasília, DF]:
Ministério da Saúde: Centro de Estudo e Pesquisa em Saúde Cole-
tiva, 2011
O texto traz a compreensão do matriciamento ou apoio matricial
levando o leitor a compreender o papel da assistente social
Contribuições do material para o estudo do tema Bianca no atendimento às necessidades de Caio. Ainda, dialoga
com a compreensão das redes de atenção à saúde no SUS, com
ênfase na Rede de Atenção Psicossocial.
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_matri-
Link
ciamento_saudemental.pdf

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

material de apoio
6 Orientações Técnicas da Proteção Social Básica do Sistema Único
Título do material de Assistência Social – SUAS: Centro de Referência de Assistência
Social – CRAS
Essa publicação, destinada a gestores e trabalhadores do SUAS,
subsidia o funcionamento do CRAS por todo o país, representan-
do mais um fio da extensa rede de proteção e promoção social
que estamos construindo no Brasil. Proteção e promoção social
que, desde o início do governo Lula, foram ganhando espaço
como prioridade, a partir do reconhecimento de que só há desen-
Sinopse, resumo, contexto, referência volvimento se o crescimento econômico for somado à proteção
social, ou seja, que as ações sociais de Estado são fundamentais
para o processo de desenvolvimento de um país.

Referência: Orientações Técnicas: Centro de Referência de As-


sistência Social – CRAS/ Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome. – 1. ed. – Brasília: Ministério do Desenvolvimen-
to Social e Combate à Fome, 2009.72 p
O material levará o leitor a compreender como funciona o Centro
de Referência de Assistência Social, fundamental dentro Sistema
Contribuições do material para o estudo do tema
Único de Assistência Social – SUAS, fundamental no contexto do
atendimento a Caio e sua família.
https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_so-
Link
cial/Cadernos/orientacoes_Cras.pdf

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material de apoio
7 Título do material O holocausto Brasileiro

O filme é uma adaptação do livro homônimo escrito por Daniela


Arbex, este é um retrato aprofundado e contundente sobre os
eventos que ficaram conhecidos como Holocausto Brasileiro. O
grande genocídio cometido contra os pacientes psiquiátricos do
Sinopse, resumo, contexto, referência hospício de Barbacena, em Minas Gerais.

Referência: O roteiro e a direção são da jornalista Daniela Arbex,


autora de Holocausto Brasileiro (Geração Editorial, 2013), livro que
inspira o filme. Armando Mendz também assina a direção.
O filme levará o leitor a refletir sobre a importância da Reforma
Contribuições do material para o estudo do tema Psiquiátrica como um novo modelo de assistência na saúde
mental.
Link https://www.youtube.com/watch?v=jIentTu8nc4

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e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens

material de apoio
8 Título do material
Caderno do Ministério da Saúde Atenção Psicossocial a Crianças
e Adolescentes no SUS: Tecendo Redes para Garantir Direitos
Documento elaborado para os profissionais que atuam no sistema
de garantia de direitos de crianças e adolescentes, especialmente
os da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do Sistema Único de
Saúde (SUS).
Sinopse, resumo, contexto, referência
Referência: Brasil. Ministério da Saúde. Atenção psicossocial a
crianças e adolescentes no SUS: tecendo redes para garantir
direitos / Ministério da Saúde, Conselho Nacional do Ministério
Público. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 60 p.: il.
O documento traz pontos importantes no ordenamento jurídico de
proteção a crianças, adolescentes e jovens. Discorre sobre a Rede
Contribuições do material para o estudo do tema
de Atenção à Saúde (SUS), de Proteção Social (SUAS) e Rede de
Atenção Psicossocial.
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_psicosso-
Link
cial_criancas_adolescentes_sus.pdf

Módulo: Redes de serviços de saúde, de proteção social e de direitos nas adolescências e juventudes
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Realização
FIOCRUZ MATO GROSSO DO SUL

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