Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISBN 978-65-87134-18-5
Para
Impressão
Juizforana Gráfica e Editora
ISBN 978-65-87134-18-5
ise
1. Literatura infantil. I. Fukuda, Verônica. II. Título. III. Série.
CDD - 028.5
Meu nome é Carlos e eu tenho oito anos. Eu moro com meu pai e minha
Para mãe. No final do ano passado, saímos do Brasil. Viemos morar em Portugal.
anál
Papai disse que as condições de trabalho estavam melhores por aqui. Eu nunca
ise
tinha viajado de avião, então achei a novidade bem interessante.
No começo foi bem legal. Conhecemos algumas pessoas, que adorei, e
lugares muito bonitos. Eu estava com muita saudade das pessoas que amo e que
ficaram no Brasil, mas também é gostoso conhecer lugares diferentes. Nós
moramos perto da praia. Disso eu gostei bastante.
Estávamos ainda nos acostumando com todas as mudanças quando veio
uma enorme, que ninguém estava esperando: a pandemia. Essa tal de COVID-19
virou nossa vida de cabeça para baixo. Tá, eu sei que aconteceu isso no mundo
inteiro, mas a gente só consegue falar do que a gente sente, não é mesmo?
6 7
No começo, achei até divertido ter papai e mamãe em casa o tempo todo. Então, chegou um momento em que eu não consegui controlar. Eu sentia
Mas depois ficou muito chato. A gente não podia sair. Só papai saía para fazer as muita vontade de chorar. Chorava porque tinha saudade do Brasil e de toda
compras. Ele usava a máscara e tomava todos os cuidados. Acho que deu certo, o minha família. A gente até conversava pela internet, mas parece que a saudade
tal bichinho não entrou na nossa casa. só aumentava. Tinha saudade dos meus amigos e da escola. Chorava porque
Mamãe fazia comidas gostosas e até bolo de chocolate, o meu preferido. queria sair, ver os lugares bonitos. Eu queria ir para a praia. Papai e mamãe eram
Ela contava histórias para mim e nós brincávamos e jogávamos. Descobrimos muito carinhosos comigo, mas eu tinha cada vez mais vontade de chorar. Eu
alguns canais de contação de história que eu achei o máximo. Mas, como eu percebi que eles estavam preocupados, me sentia até um pouco culpado, mas eu
disse antes, tudo foi ficando muito chato. Até os jogos, de que eu mais gostava, não sabia o que fazer para mudar tudo aquilo.
perderam a graça. Aconteceu isso com você também?
Para
anál
ise
8 9
Tinha dias que dava vontade de dormir o dia inteirinho. Minha mãe disse que
isso não era bom e tentava me animar. Então eu pegava minha cobertinha e ficava
vendo desenhos, mas eu queria mesmo era ir lá fora, para ver as plantas, as flores,
os bichinhos e a praia. Ai que saudade da praia!
Um dia, quando acordei, minha mãe estava sorrindo, com uma caixa na mão.
Para
Ela disse que teve uma ideia genial. Eu fiquei bem curioso e levantei rapidinho.
anál
ise
10 11
Ela contou que iríamos fazer a Caixa de Abraços. Fui logo falando que não
tinha graça nenhuma. Nós estávamos proibidos de abraçar as pessoas, por
causa da pandemia. Mas mamãe, que é muito paciente, explicou direitinho:
– Carlos, nós vamos deixar essa caixa bem bonita. Depois, vamos escrever
nos papéis tudo que queremos abraçar quando o vírus for embora. Podemos
fazer uma etiqueta bem bonita, escrita assim: “Caixa de Abraços”. O que você
acha? Lá dentro, vamos colocar o nome de todas as pessoas que amamos, tanto
aqui de Portugal, quanto do Brasil. Vamos colocar até as comidas gostosas lá do
Brasil.
– Ah! Mãe, eu achei isso muito sem graça.
– Por quê, filho? Explique para mim por que você não gostou.
Para
anál
ise
12 13
Eu falei que não adiantava nada. Que a pandemia ia ficar em casa ainda por Foi depois que ela falou isso que eu tive vontade de fazer nossa caixa. Tudo
muito tempo e que não ia passar a vontade de abraçar só de escrever. Então bem, era uma caixa de sapatos, mas nós encapamos com papel bem bonito e
mamãe fez um trato que eu a-do-rei. colamos figurinhas na tampa. Mamãe também providenciou papel colorido
— Carlos, vamos fazer assim: nós vamos escrever o nome de todas as para fazermos os bilhetinhos que eram escritos com canetinha. Às vezes, eu até
pessoas que temos vontade de abraçar. Não só pessoas, né? Os lugares e as desenhava e a mamãe ria bastante.
comidas gostosas que queremos abraçar. Enfim, todas as aventuras que Descobri que não era só eu que estava com vontade de abraço, papai e
queremos realizar. Quando tudo isso acabar, nós abrimos a caixa e lemos os mamãe também escreveram um monte de bilhetinhos. Nossa caixa ficou cheia
papéis. Depois, vamos, devagarinho, abraçando tudinho. Um de cada vez. de papéis coloridos.
Para
anál
ise
14 15
Agora que a pandemia acabou, já estamos tirando os papéis da caixa e Espero que tenha gostado e, se quiser fazer uma caixa para você, tenho
dando abraços de verdade. Os primeiros são aqui pertinho. Já fui para a praia e certeza de que mamãe ficará muito feliz. Ela sempre diz que é para compartilhar
dei um abraço gostoso naquele lugar que eu tanto amo. Alguns abraços vão as coisas boas da vida.
esperar mais um pouquinho. Eles vão acontecer quando eu for para o Brasil. Agora eu vou. Ainda tem um monte de abraço para dar...
Mas sabe por que eu contei tudo isso para você? Agora não é mais segredo,
então vou revelar: num dos papéis eu escrevi que, no lugar de abraçar alguém, eu
queria contar essa ideia genial da mamãe, da Caixa de Abraços, para um monte
de gente. Comecei por você. Acho que assim algumas pessoas vão se sentir
abraçadas também.
Para
anál
ise
Para
anál
Oi, meu nome é Delma. Sou de Curitiba e, apesar de ter
ise
nascido numa capital, tive uma infância quase rural, com criação
de galinhas, árvores frutíferas e horta num grande quintal. Talvez
tenha surgido nessa época o sentimento de valorização das
coisas simples. Mais tarde, contando histórias como voluntária
em hospitais, percebi que sorrisos e abraços são presentes
valiosos. Quando escrevi CAIXA DE ABRAÇOS, pensei logo na
Verônica para dar cor e vida ao texto com sua arte e sensibilidade,
afinal imagens são universais e podem alcançar o mundo inteiro.