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PSICOLOGIA CIÊNCIA Ê PROFISSÃO, 1998, 18 (2), 10-15

A Psicopatologia
doTrabalho
Origens e desenvolvimentos recentes na França
O artigo apresenta um breve histórico da Psicopatologia do Trabalho na França,
abordando as principais correntes, suas contribuições mais importantes, os
autores mais representativos em cada uma delas e as possíveis críticas que
poderiam ser levantadas ao conjunto de sua obra.

A finalidade maior deste artigo é a de resgatar reflexões que julgamos essenciais dentro de um
campo relativamente pouco explorado pelos psicólogos brasileiros: o campo da saúde mental no
trabalho (SM&T). Apesar de ser recente a discussão sobre este tema no Brasil, sabemos que ela
iniciou-se na França, logo após a H Guerra Mundial, a partir de contribuições importantes da
Maria Elizabeth
Antunes Lima
chamada "psiquiatria social". A publicação em 1987 do livro de Christophe Dejours, "A lou-
cura do trabalho", teve uma importância crucial para o desencadeamento dessa discussão no
Professora Adjunta da
Universidade Federal de nosso país, possibilitando o seu aprofundamento e incentivando os pesquisadores a aperfeiçoar-
Minas Gerais e se e a desenvolver estudos dentro da nova especialidade que se delineava. Foi somente a partir
coordenadora do curso
de especialização em daí, que o interesse dos psicólogos brasileiros pela questão da saúde mental no trabalho fortaleceu
Saúde Mental e Trabalho e adquiriu certa visibilidade. No entanto, se é inegável a importância dessa publicação (e de
do Centro Universitário
Newton Paiva Ferreira. outras publicações do mesmo autor) para o desenvolvimento dessa especialidade no Brasil, não
se pode negar também que a (quase) ausência de discussão em torno da obra de
autores que também contribuíram para o crescimento dessa disciplina na França,
favoreceu o surgimento de um viés em nossas pesquisas e produções teóricas sobre O
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Maria Elizabeth Antunes Lima

especulativo) da solução encontrada por possibilitando a emergência da doença


Sivadon que ele não foi capaz de resolver mental.5
satisfatoriamente o dilema diante do qual se
encontrava.3 Louis Lê Cuillant integra também a chamada
psiquiatria social francesa e é percebido
A contribuição maior de Sivadon para o campo juntamente com Sivadon como um dos mais
J - Cf. "Psychiatrie sociale" da saúde mental no trabalho foi a
publicado em "Psychiatrie et importantes expoentes da Psicopatologia do
socialités". editora Era. Paris. sistematização de uma nova forma de abordar
1993. Trabalho na França, embora suas perspectivas •"H
o doente mental: a ergoterapia.4 Através dessa
teóricas sejam fundamentalmente diferentes
4 • È importante ressaltar que abordagem, o trabalho passa a ser
Sivadon reconhecia não ter sido o
"reconhecido especialmente pelo seu valor de (ou mesmo divergentes) em vários aspectos.
criador da ergoterapia <segundo
fie, uma abordagem da loucura cão integração social" (Veil, 1985, p. 14). Mas foi Ele irá apoiar-se em correntes de inspiração
antiga quanto apropria loucura),
mas sabemos que de trouxe também Sivadon que empregou pela primeira marxista e, principalmente, em Ceorges
elementos (tanto empíricos quanto
teóricos) extremamente inovadores vez o termo "psicopatologia do trabalho". Ou Politzer, o fundador da psicologia concreta na
para este campo. seja, apesar de ter dedicado grande parte dos França, para elaborar sua teoria sobre os
impactos do trabalho no psiquismo humano.
Sua contribuição para o desenvolvimento dessa l
nova disciplina foi decisiva, mas é até agora
(infelizmente) muito pouco conhecida no
Brasil. Ele. tenta compreender as possíveis
relações entre alienação mental e alienação
social, isto é, ele se interroga "sobre as
repercussões patológicas do condicionamento -
social e da alienação no traba/ho"(Billiard, art ;
cit, p. 82), vinculando-se às teorias que
tentam captar os determinantes sociais da
doença mental, mas sem perder de vista a
dimensão psicológica. O que ele propõe é
um esboço de uma psicopatologia social, istoj
é, tenta verificar o papel do meio no
surgimento e no desaparecimento dos
distúrbios mentais. Em outras palavras, apesar
5 • O artigo intitulado
seus esforços à compreensão do valor de não negar a presença de fatores orgânicos
"Psychopathologie du travai!" e
escrito em 1952, Joi publicado terapêutico do trabalho no tratamento de e psíquicos no adoecimento, Lê Cuillant busca
novamente na coletãnea de
trabalhos do autor anteriormente doentes mentais, ele foi capaz de "reconhecer nas transformações sócio-históricas os
citada.
o trabalhador no doente menta/"(Veil, op. cit, elementos essenciais para compreender a
6 - Seria impossível trazer aqui p.14), ao constatar o potencial patogênico de génese das doenças mentais. Além disso, ele
toda a riqueza da obra desse autor
(que não se limita absolutamente certas formas de organização do trabalho. No se apoia nas reflexões de Politzer, para
ao campo da psicopaiología do
artigo em que nomeou a nova disciplina que
trabalho), mas podemos indicar aos concluir que somente após o resgate das
leitores interessados a cole-tànea emergia das transformações do pós-guerra,
"Qucllc psychiatrie pour notre condições reais de existência dos indivíduos,
sociétc?". Paris, Editora Êrcs, 1984. Sivadon percorre todo este caminho que vai
das suas formas concretas de trabalhar e de
do trabalho como fonte de crescimento e
evolução do psiquismo humano até as formas ganhar a vida é que estaremos em condições
perversas de organização da atividade laborai, de compreender seu psiquismo e os distúrbios
gerando pressões e conflitos insuperáveis e que possa apresentar. A sua tentativa é a de
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Maria Elizabeth Antunes Lima

doença e preservar ainda que precariamente direção da psicodinâmica do trabalho está


seu equilíbrio psíquico. A partir dessa baseado em uma 'descoberta'essencial" que
constatação, ele propõe a mudança do nome é o reconhecimento de que "a relação entre
da disciplina para "Psicodinâmica do Trabalho" organização do trabalho e o homem não é um
argumentando que não foi possível estabelecer
bloco rígido, mas está em contínuo
uma relação causal entre certos distúrbios
movimento". w

Nessa segunda fase do estudo da


Psicopatologia do Trabalho na França,
observa-se uma significativa presença de
conceitos psicanalíticos nas suas principais
produções teóricas, revelando a forte
influência da psicanálise sobre a disciplina. Isto
não é novidade, uma vez que já é bastante
conhecido o "retorno" da psicanálise para o
campo das Ciências Sociais, após os
movimentos de maio de 68. Segundo Billiard
(art. cit.,1996, p.82), no caso da SM&T esse
impacto vai se dar de forma mais evidente na
"'refundação' da psicopatologia do trabalho em
torno dos anos 80". É fácil concluir que essa
busca de recursos na psicanálise a fim de
explicar o sofrimento psíquico do homem no
trabalho tem sido objeto de polémica. Para
alguns autores, a teoria psicanalítica não tratou
do trabalho e ainda menos das possíveis
9 - Cf. posfácio à segunda edição psíquicos e certas formas de organização do
de "Travai!, usure mentale", consequências psicopatológicas do sofrimento
Cencurion, Paris, 1992. trabalho. Além disso, considera esta segunda
e da alienação presentes na relação do homem
10 - Assim como ocorreu com os
denominação mais adequada na medida em
autores precedentes, seria que amplia o campo da investigação, com sua atividade profissional. Codo, W. et
impossível trazer aqui toda a alli (1994) discutem longamente a ausência
contribuição de C. Dejours. No permitindo um olhar para o sofrimento, mas
entanto, no caso deste autor, o também para o prazer no trabalho. Em suma, da categoria trabalho não apenas na
problema é menos grave uma vez
que boa parte dos seus trabalhos Dejours não admite que o trabalho seria psicanálise, mas na psicologia em geral. Eles
foi publicada no Brasil. Dentro do
campo específico da causador de doenças mentais, podendo no concluem que a maioria das teorias
Psicopatologia do Trabalho máximo desencadeá-las e, ainda assim, sob psicológicas têm pouca contribuição a
indicamos ao leitor
"Psicodinâmicado Trabalho", Ed. certas circunstâncias bastante específicas. oferecer para o campo da SM&T. Nós também
Atlas, 1994, além da obrajá citada
"A loucura do Trabalho". Segundo ele, "ao se dar a normalidade como fizemos uma longa reflexão sobre a
objeto, a psicodinâmica do trabalho abre pertinência dessa importação de conceitos
11 - Foi por isto que recorremos à
teoria sobre os mecanismos de perspectivas mais amplas que (...) não dizem psicanalíticos pela Psicopatologia do Trabalho
defesa para analisar resultados respeito apenas ao sofrimento, mas também
alcançados na pesquisa que (cf, Lima, M.E.A., 1988). No entanto, apesar
subsidiou nossa tese de doutorado. ao prazer no trabalho; não apenas ao homem,
Cf. Lima, M.E.A., "Os equívocos de ainda considerarmos válida a maior parte
da excelência - as novasformas de mas ao trabalho; não apenas à organização do
sedução na empresa". Ed. Vozes, trabalho, mas às situações de trabalho no dessas reflexões, concluímos que alguns
Petrópolis, 1996.
detalhe rigoroso de sua dinâmica interna".9 desses conceitos ainda preservam sua força
Além disso, ele a f i r m a que o "desen- na explicação de certos fenómenos detectados
volvimento da psicopatologia do trabalho em nas pesquisas em SM&T.11
A Psícopatologia do Trabalho - Origens e desenvolvimentos recentes na França

Conclusão

A partir dos trabalhos de Sivadon e, principalmente, após o seu famoso artigo intitulado
"Psicopatologia do Trabalho", um novo campo de estudos delineou-se na França. Os autores
que vieram a seguir, romperam em grande parte com a visão proposta por Sivadon. Alguns
reforçaram a importância das categorias marxianas para a compreensão dos impactos do trabalho
na saúde mental: neste grupo tivemos, inicialmente, Follin, Bonnafé e Lê Guiilant e, atualmente,
contamos com os trabalhos de Yves Clot e Bernard Doray. Um segunda vertente discute as
possíveis contribuições da teoria freudiana para este campo, sendo C. Dejours o seu maior
expoente. Entre discussões, rupturas e as inevitáveis tensões que acompanham a construção
de qualquer disciplina, a "Psicopatologia do Trabalho" prossegue o seu caminho, oferecendo
hoje uma vasta produção teórica que deveria ser mais explorada por nós psicólogos.

Ao tentar resgatar algumas dessas reflexões não tivemos, evidentemente, qualquer intenção
de esgotar o assunto. Isto seria impossível dentro do espaço necessariamente limitado de um
artigo. Nossa intenção foi bem mais modesta: pretendemos apenas despertar nos leitores que
porventura desconheçam esse percurso, o interesse pelos trabalhos desses autores e por um
"novo" campo de atuação que se apresenta para os psicólogos brasileiros.

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