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SANTA ROSA
2015
CARINNE JULIÊ SCHÖFFER
Trabalho de Conclusão de
Curso apresentado como requisito
parcial ao curso de Psicologia da
Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio
Grande do Sul – UNIJUI, para
obtenção do título de psicólogo.
Departamento de Humanidades e
Educação – DHE.
Santa Rosa
2015
CARINNE JULIÊ SCHÖFFER
BANCA EXAMINADORA
_________________________
Ms. BETINA BELTRAME
_________________________
Ms. SIMONI ANTUNES FERNANDES
O cuidado somente surge quando a existência de alguém
tem importância para mim. Passo então a dedicar-me a ele;
disponho-me a participar do seu destino, de suas buscas, de
seus sofrimentos e de seus sucessos, enfim, de sua vida.
Cuidado significa então desvelo, solicitude, diligência, zelo,
atenção, bom trato. Como dizíamos, estamos diante de uma
atitude fundamental, de um modo de ser mediante o qual a
pessoa sai de si e centra-se no outro com desvelo e solicitude.
(BOFF, 1999, p. 19).
DEDICATÓRIA
Agradeço em especial aos meus pais, Maria e Oscar, que com muita dedicação,
esforço e amor me trouxeram até aqui.
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 38
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INTRODUÇÃO
A sobrevivência do ser humano parte dos cuidados que necessita nos primeiros
anos de vida, principalmente nos meses posteriores ao nascimento, por nascer muito
imaturo. É a partir dos cuidados do outro que o bebê se nutre e se desenvolve
fisicamente. Mas, sabemos que o nascer do sujeito e o nascer do ser humano não
coincidem, pois, a constituição da subjetividade acontece a partir de relações com o
outro. Nessa relação é necessário que se estabeleça um vínculo afetivo, para que o
psiquismo humano comece a constituir-se. É a partir dessa constituição que o sujeito
estará apto ou não a relacionar-se socialmente nos primeiros anos de vida, na
adolescência e também na vida adulta, bem como, desenvolver processos simbólicos
para sua relação com o mundo.
Winnicott afirma que a infância “[...] se refere à fase em que o infante (lactente)
depende do cuidado materno que se baseia na empatia materna mais do que na
compreensão do que é ou poderia ser verbalmente expresso” (WINNICOTT, 1988, p.
41) e conceitua infância como “um processo gradual de formação de uma crença.
Crença em pessoas e coisas que é elaborada a pouco e pouco através de inúmeras
experiências boas" (WINNICOTT, 1985, p.141).
O conceito de apego foi inserido nos estudos psicológicos por John Bowlby
(1907-1990) a partir do questionamento acerca das consequências da privação,
separação, ou cuidados inadequados na infância. Obteve pesquisas sobre crianças
em privação ou abandonadas de lar, que originou seu livro intitulado: “Cuidados
Maternos e Saúde Mental” publicado em 1976 em Londres. Bowlby também incluiu
nos seus trabalhos experiências e estudos de campo etológico, incluindo as relações
entre filhotes e suas mães de diferentes animais para explicar as funções dos
comportamentos instintivos, que relacionou com os comportamentos dos seres
humanos (BOWLBY, 2002).
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A partir destes estudos, Bowlby (2002) define apego como o vínculo afetivo que
há entre o bebê e seus cuidadores, e que a figura de apego promove a noção de
segurança a esse sujeito, como uma “base segura” para a partir dela a criança
explorar o mundo de forma segura. Esses vínculos afetivos são construídos desde o
nascimento, e “se desenvolve no bebê como resultado de sua interação com o seu
meio ambiente de adaptabilidade evolutiva e, em especial, de sua interação com a
principal figura nesse meio ambiente, ou seja, a mãe". (BOWLBY, 2002, p. 222).
A razão por que a criança de colo deseja perceber a presença de sua mãe é
somente porque ela já sabe por experiência que esta satisfaz todas as suas
necessidades sem delongas. (FREUD, 2006, p. 137).
Já como definição do termo vínculo, Pichón Rivière (1988) explica que este é
um processo que inclui o sujeito não como ser único, isolado, mas pertencente de um
grupo, geralmente o familiar. Nesse vínculo é através da linguagem que se estabelece
uma relação inconsciente, formando um processo de inter-relação e a constituição de
uma instituição familiar. Guimarães (2002, p. 168) explicita o vínculo entre os sujeitos
de uma família: “em que se estabelecem entre si novas relações, as quais passam a
integrar o mundo interno de cada um, agindo e esperando reações a partir dessa
mútua representação interna que se envolvem”.
O termo “vínculo” tem sua origem no étimo latino vinculum, que significa, uma
atadura, uma união duradoura (...) também o conceito de “vínculo” alude
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alguma forma de ligação entre as duas partes que a um mesmo tempo, estão
unidas e inseparáveis, apesar de que elas apareçam claramente delimitadas
entre si.(ZIMERMAN, 2004, p.398).
Bowlby (2002) afirma que nos primeiros estudos sobre o apego considerava-se
que este só se constituía na relação da criança com aquela pessoa que satisfaria suas
necessidades fisiológicas, como a fome. A capacidade de vinculação estava
relacionada com os cuidados. Porém, posteriormente conceituou-se que a satisfação
das necessidades era uma via para que a relação social se estabelecesse e dessa
forma, o apego.
Dessa forma, o apego não está diretamente ligado a quem satisfaz suas
necessidades fisiológicas, como inicialmente foi proposto, assim como Freud (1905),
ao afirmar que “durante todo o período de latência a criança aprende a amar outras
pessoas que a ajudam em seu desamparo e satisfazem suas necessidades, e o faz
segundo o modelo de sua relação de lactante com a ama e dando continuidade a ele”
(FREUD, 1905, p. 210).
Para exemplificar isso, Bowlby (2002) relata um estudo publicado em 1915 por
Anna Freud e Sophie Dann:
[...] no qual se descreve um grupo de seis crianças, entre três e quatro anos
de idade, que tinham estado num campo de concentração e cuja única
companhia persistente na vida tinha sido, evidentemente, a de umas às
outras. As autoras enfatizavam que “os sentimentos positivos das crianças
centravam-se exclusivamente em seu próprio grupo... preocupavam-se e
cuidavam muito umas das outras, nada nem ninguém mais sendo objeto de
suas atenções”. (BOWLBY, 2002, p. 269).
4A palavra mãe, no presente texto, está relacionada à figura materna, independente de ser ou não a
mãe biológica, mas alguém que faça essa função. Da mesma forma, a palavra pai estará se referindo
a figura paterna, ou seja, a quem realiza tal função.
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até mesmo antes) colabora para que se constitua tal vínculo, pois, este é pego no
colo, aquietado, para ele que é dirigido também à fala e a carícia. Sendo nessa relação
social de afetividade que o apego começa a constituir-se.
Nesse entendimento, o mesmo autor afirma que a criança nasce com sistemas
de comportamento que poderão ser ativados (como o choro e a sucção), fortalecidos
ou enfraquecidos por estímulos que segundo Bowlby (2002), serão a base para a
constituição do comportamento de apego5. A estimulação deles fica a cargo de outro
ser humano (figura materna), o cuidador que responde aos pedidos do bebê, e, que a
partir dessa resposta há a interação social, que estabelece o início do apego entre
eles. É a partir dessa relação primordial que para o resto da vida o sujeito irá
estabelecer os vínculos afetivos com algumas figuras, e consequentemente irá se
posicionar enquanto ser e sujeito no mundo social.
5 “Dizer que uma criança é apegada ou tem um apego por alguém, significa que ela está fortemente
disposta a buscar proximidade e contato com uma figura específica, principalmente quando está
assustada, cansada ou doente. A disposição de comportar-se dessa maneira é um atributo da criança,
atributo este que só se modifica com o tempo e não é afetado pela situação do momento. Em
contraposição, o comportamento de apego refere-se a qualquer forma de comportamento que uma
criança comumente adota para conseguir e/ou manter uma proximidade desejada. Em qualquer
ocasião alguma forma desse comportamento pode estar presente ou ausente e da qual ela depende,
em alto grau, das condições que prevalecem no momento.” (BOWLBY, 1988, p.396).
6 Para Bowlby (2002) a figura de apego é a referência de cuidado que o bebê encontra em algum
membro da família, ou cuidador, que tenha um comportamento de modo maternal para com ela, e que
de acordo com o autor, com este modo estará cumprindo as necessidades de desenvolvimento dessa
criança.
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Para além, há outra questão importante abordada por Bowlby (2002) que é a
busca do próprio bebê por essa interação com sua figura de apego, considerando,
portanto, seu papel ativo na relação. Dessa forma, a relação se constitui partindo dos
dois lados criança-mãe. Porém, quando há a ausência da mãe em responder à
tentativa de interação por parte da criança, inicia-se respostas a isso, como o protesto
e o desapego, podendo causar reações de ansiedade e medo, que irão se internalizar
e será base para futuros sentimentos.
Winnicott tem uma definição sobre apego próxima da de Bowlby, e afirma que
quando essas relações entre mãe e bebê são favoráveis, este pode ampliar a
capacidade de relacionar-se saudavelmente e dessa forma “o bebê pode desenvolver
a capacidade de ter sentimentos, que de alguma forma, correspondem aos
sentimentos da mãe que se identifica com o seu bebê”. (WINNICOTT, 2006, p. 5).
O mesmo autor afirma também que o relacionamento do bebê com sua mãe
ocorre a partir das necessidades (afetivas) do bebê, “O bebê triste quer pode ser
agarrado ao colo e acariciado porque, ao tomar a responsabilidade por aquilo que o
fere, ganha direito de manter boas relações com as pessoas [...] ele necessita o amor
físico e demonstrativo da mãe”. (WINNICOTT, 1982, p. 74).
[...] se a mãe não souber ver no filho recém-nascido um ser humano, haverá
poucas probabilidades de que a saúde mental seja alicerçada com uma
solidez tal que a criança, em sua vida posterior, possa ostentar uma
personalidade rica e estável, suscetível não só de adaptar-se ao mundo, mas
também de participar de um mundo que exige adaptação. (WINNICOTT,
1982, p.118).
E que:
Winnicott (1948) estuda a relação mãe-bebê como base para uma saúde
psíquica de todos os sujeitos, afirmando que esta é moldada nos primeiros anos de
vida, a partir dessa relação com a figura de apego, e dessa forma irá determinar a
interação social infantil. O mesmo autor ainda salienta que: “inicialmente, a criança
carece de um grau de adaptação ativa a suas necessidades que só pode ser
promovida se uma pessoa devotada estiver cuidando de tudo” (WINNICOTT, 2005,
p.33).
Para argumentar isso Nasio (1995) situa a posição que a mãe ocupa no
desenvolvimento psíquico do bebê:
Dessa forma, o apego surge como vínculo que sustenta a criança no seu
desenvolvimento social, ao se sentir segura e tranquila, a partir do comportamento de
apego na presença da uma figura de apego (BOWLBY, 2002).
Assim como Bowlby (1988) nos traz, a mãe assume papel importante de
desenvolver vínculos afetivos para a constituição da criança como sujeito. E esse
contato insatisfatório ou inexistente pode também ser considerado como negligência.
rupturas, por ser imatura de mente e corpo, e que essa inadequação poderá
estabelecer como o próprio autor afirma distúrbios nervosos e personalidade instável.
O autor também caracteriza situações mais complexas onde uma criança possa
sofrer privação. (BOWLBY, 1995, p. 14):
[...] considera-se “privada” a criança quando vive no mesmo lar que sua mãe
(ou quem a substitua de modo permanente) e uma ou outra se mostra incapaz
do amoroso cuidado de que a infância necessita. Da mesma forma,
considera-se “privada” a criança quando por qualquer motivo se a separa
(geograficamente E.W.) do cuidado materno. O efeito de tal privação resultará
relativamente leve se a criança for atendida. (BOWLBY, 1960, p. 11).
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Nessa fase, há uma ideia no bebê de que a mãe é um ser supremo, e é onde
começa as identificações com essa figura materna, e se for correspondida de forma
positiva, o bebê irá construir um conceito de si e do mundo (no qual quem o representa
é a mãe) de uma forma boa e sadia. Caso contrário, se a identificação ocorre de forma
negativa, o bebê terá a mãe como um herói (culto ao herói), e não se identificando
com ela, acha que não será como a mãe, com isso desenvolve-se na criança a
agressividade e a desconfiança, o que irá refletir em si no futuro.
8 O primeiro estágio faz parte do enfoque do trabalho, porém, o autor traz no total oito estágios,
sendo eles: 1ª Confiança x Desconfiança, até um ano de idade; 2ª Autonomia x Vergonha e Dúvida,
dois e três anos; 3ª Iniciativa x Culpa, quatro e cinco anos; 4ª Zelo x Inferioridade, dos seis ao 11 anos;
5ª Identidade x Confusões de papéis, dos doze aos 18 anos; 6ª Intimidade x Isolamento, jovem adulto;
7ª Generatividade x Estagnação, meia idade; 8ª Integridade x Desespero, velhice (ERIKSON, 1980).
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Dessa forma, uma das principais evidências que pode ser constatada no
decorrer do Estágio Supervisionado de Psicologia e Processos Sociais, é a
interferência na aprendizagem infantil, sequela da fragilidade dos vínculos familiares.
9 Para explicar o conceito de Outro, Roudinesco nos traz que é um: “termo utilizado por Jaques
Lacan para designar um lugar simbólico – o significante, a lei, a linguagem, o inconsciente (...) cunhou
uma termologia específica (Outro/outro) para distinguir o que é da alçada do lugar terceiro, isto é, da
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Esse corte é operação da Função Paterna, que vai impedir o sujeito de ficar
preso ao desejo do Outro e assim passe a iniciar um processo de busca, para suprir
essa falta simbólica do desejo do Outro. Assim, é permitido a ele que deseje buscar
aquilo que foi objeto de corte da Função Paterna, inscrevendo-se no desejo de saber
a partir da ordem simbólica. Ou seja, “a perda da mãe enquanto objeto de desejo abre
a possibilidade da criança, já de posse de uma imagem corporal unificada 10, ir em
busca de outras coisas, inclusive do conhecimento” (GOULART, 1996, p. 68).
Quando uma criança deseja, ela está se interessando por aquilo que, em uma
primeira instância, resulta interessante para a sua mãe. O meio, enquanto
coisas e pessoas, torna-se objeto de interrogação, de experimentação, de
intercâmbio organizado. Esta organização é em si mesma importante, porque
fornece sistemas cada vez mais confiáveis para realizar os intercâmbios.
Estamos então, diante do sujeito de conhecimento. (CORIAT;
JERUSALINSKY, 1996, p.9).
determinação pelo inconsciente freudiano (Outro), do que é do campo da pura dualidade (outro) no
sentido da psicologia.” (ROUDINESCO; PLON, 1998, p. 558).
10 Para exemplificar esse conceito a autora traz que “o ser humano nasce indiferenciado, esfacelado,
não existe uma Imagem Corporal, um “Todo” que possam servir de suporte para qualquer tipo de
construção. O que existe são partes que somente formarão um todo e terão uma significação própria
na medida em que forem sendo olhadas, apontadas e tocadas pelo Outro Primordial. A criança somente
poderá reconhecer seu corpo como inteiro, como unidade, na imagem que vem de fora, que é a imagem
que vem do Outro (mãe)”. (GOULART, 1996, p. 20).
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... o que se acredita ser essencial à saúde mental é que o bebê e a criança
pequena tenham a vivência de uma relação calorosa, íntima e contínua com
a mãe (ou mãe substituta permanente – uma pessoa que desempenha,
regular e constantemente, o papel de mãe para ele) na qual ambos
encontrem satisfação e prazer. É esta relação complexa, rica e
compensadora com a mãe, nos primeiros anos, enriquecida de inúmeras
maneiras pelas relações com o pai e com os irmãos e irmãs, que os
psiquiatras infantis e muitos outros julgam, atualmente, estar na base do
desenvolvimento da personalidade e saúde mental. (BOWLBY, 1988, p.13).
Nos seus estudos, Winnicott (1960) situa a relação entre os vínculos afetivos,
como ocorre a ligação entre mãe e bebê, e como elaborar a noção da privação. Para
isso, nos traz que o bebê liga-se a mãe antes mesmo de nascer, aos sons que a mãe
produz, ao toque e as respostas aos movimentos do bebê, assim vai estabelecendo
uma percepção ao bebê de um ambiente confiável. Refere-se à um cuidado que cria
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A saúde mental do indivíduo está sendo construída desde o início pela mãe,
que oferece o que chamei de ambiente facilitador, isto é, um ambiente em
que os processos evolutivos e as interações naturais do bebê com o meio
podem desenvolver-se de acordo com o padrão do indivíduo. A mãe está
assentando, sem que o saiba, as bases da saúde mental do sujeito.
(WINNICOTT, 2006, p. 20).
quiser ser capaz de brincar, de fazer seus próprios desenhos, ser uma criança
irresponsável. (WINNICOTT, 2014, p. 129).
Sobre a questão do falo e sua ligação com a falta do sujeito, tem-se como
referência o entendimento de Fleig (1998):
Segundo a psicanálise, aquilo que nos falta e que por isso mesmo detém o
máximo valor se denomina de falo. E isso é o que nos falta a todos. Somente
temos um certo acesso ao falo através de suas representações. Por isso
mesmo que o calor [...] não se mede simplesmente pela operação de sua
produção ou pelos atributos empíricos, mas pela posição de representação
que tem para o sujeito numa dada cultura. O valor do objeto se estabelece
pelo plus de felicidade que promete a cada um de nós. Dado isso, podemos
ver que quanto mais alguém encontra distante de participar efetivamente do
valor fálico circulante no social tanto mais se encontra numa injunção que
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Portanto, fica claro que o processo de luto ou perda no qual o bebê precisa
passar quando a mãe se ausenta ou este é privado de seus cuidados, depende de um
ego maduro o suficiente para elaborar esse processo. E esse entendimento, de acordo
com o autor, irá ser essencial em um trabalho com uma criança que passou pela
privação dos cuidados maternos, pois, o momento em que o ego está se constituindo
será o que caracteriza a maior ou a menor possibilidade para uma reversão desse
sujeito.
Vale ressaltar que essa ausência ou privação dos cuidados maternos, não
depende, necessariamente, à ausência física da pessoa que cuida da criança, mas
sim a capacidade desta em suprir as necessidades psíquicas do bebê.
A mãe ocupa no imaginário do bebê uma posição de fantasia com sua presença
constante, e assim esta pode ser recriada e destruída, através da agressividade. Ou
seja, a presença constitui a agressividade como uma construção (na fantasia), o que
não ocorre se esta não se faz presente, e sim se dá o desamparo. A busca da criança
por esse objeto que não encontra redireciona sua agressividade de forma destrutiva,
pois, não é possível para o bebê absorver tal falta, falha do ambiente.
11Difere-se de privação, no qual segundo o autor, é a situação no qual a criança nunca teve algo para
perder, é se negado o contato dos cuidados maternos de início.
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alguém externo que suporte ser odiado, podendo ser na forma de fantasia. Isso ocupa
um grande tempo para que o bebê consiga conciliar as suas satisfações com seus
impulsos agressivos, e utilizá-lo como energia para se desenvolver sadiamente.
A (de) privação a qual a criança pode sofrer precocemente priva-a dos laços
afetivos que auxiliam na agressividade de forma construtiva, não canalizando-a para
a criatividade e questões reparatórias e constitutivas saudáveis. A reparação se dá
quando a mãe proporciona uma presença confiável e estável, e assim, a criança,
através de brincadeiras e da sua criatividade, pode amar, destruir e então reparar, no
seu imaginário. Mas, se não houver essa presença materna estável, a reparação
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O autor traz que "o trauma implica que o bebê experimentou uma ruptura na
continuidade da vida" (WINNICOTT, 1975, p. 135), com isso, a privação deixa a
criança “... notoriamente inquieta e incapaz de brincar, apresentando um
empobrecimento da capacidade de experiência cultural", em razão do “... fracasso da
fidedignidade ou perda do objeto significa para a criança, perda da área da brincadeira
a perda de um símbolo significativo". (WINNICOTT, 1975, p. 141).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para este trabalho foi considerado o que o autor John Bowlby (2002) estabelece
ao afirmar que os vínculos afetivos são a base segura para o desenvolvimento físico
e a constituição psíquica dos sujeitos, e essa base é a figura materna, que proporciona
não apenas os cuidados biológicos, mas de forma equivalente e imprescindível, os
cuidados psíquicos. Da mesma forma, que Winnicott (1982) sustenta ao reconhecer
que aos adultos saudáveis e independentes foi proporcionado o vínculo afetivo, o qual
nomeia como amor.
sua posição enquanto sujeito a partir de um referencial psíquico. Esse processo pode
ser pensado com a utilização do brincar, que pode ajudar a direcionar tais questões
da criança.
A partir desse trabalho surgem outros questionamentos que podem vir a ser
objetivos de estudos mais aprofundados, como que mecanismos psíquicos os sujeitos
conseguem elaborar para se constituir psiquicamente para além das fragilidades e
rupturas que seus vínculos afetivos com sua figura materna, foram acometidos? Seria
apenas um deslocamento de seu vínculo para outra figura de apego? E como esta se
constitui?
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REFERÊNCIAS
BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano - compaixão pela terra. Rio de Janeiro:
Vozes, 1999.
BOWLBY, J. Cuidados Maternos e Saúde Mental. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
—. Apego e perda: Apego, a natureza do vínculo. 3ª. Tradução: Álvaro Cabral. Vol. I.
São Paulo: Martins Fontes, 2002.
—. Apego e perda: Perda, tristeza e depressão. 3ª. Tradução: Valtensir Dutra. Vol. III.
São Paulo: Martins Fontes, 2004.
—. Cuidados maternos e saúde mental. 2ª. Tradução: Vera Lúcia Baptista de Souza,
& Irene Rizzini. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
—. Formação e Rompimentos dos Laços Afetivos. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
GOMIDE, P. I. C. Pais presentes, pais ausentes: regras e limites. 9ª. Rio de Janeiro:
Vozes, 2009.
WINNICOTT, D. A criança e o seu mundo. 2ª. Tradução: Álvaro Cabral. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1971.
ZIMERMAN, D. OSORIO, Luiz Carlos, e et al. Como trabalhamos com Grupos. Porto
Alegre: Artmed, 1997.