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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO

DO RIO GRANDE DO SUL

CARINNE JULIÊ SCHÖFFER

A FRAGILIDADE DE VÍNCULOS AFETIVOS E SEUS DESDOBRAMENTOS

SANTA ROSA
2015
CARINNE JULIÊ SCHÖFFER

A FRAGILIDADE DE VÍNCULOS AFETIVOS E SEUS DESDOBRAMENTOS

Trabalho de Conclusão de
Curso apresentado como requisito
parcial ao curso de Psicologia da
Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio
Grande do Sul – UNIJUI, para
obtenção do título de psicólogo.
Departamento de Humanidades e
Educação – DHE.

Orientadora: Ms. Betina Beltrame

Santa Rosa
2015
CARINNE JULIÊ SCHÖFFER

A FRAGILIDADE DE VÍNCULOS AFETIVOS E SEUS DESDOBRAMENTOS

BANCA EXAMINADORA

_________________________
Ms. BETINA BELTRAME

_________________________
Ms. SIMONI ANTUNES FERNANDES
O cuidado somente surge quando a existência de alguém
tem importância para mim. Passo então a dedicar-me a ele;
disponho-me a participar do seu destino, de suas buscas, de
seus sofrimentos e de seus sucessos, enfim, de sua vida.
Cuidado significa então desvelo, solicitude, diligência, zelo,
atenção, bom trato. Como dizíamos, estamos diante de uma
atitude fundamental, de um modo de ser mediante o qual a
pessoa sai de si e centra-se no outro com desvelo e solicitude.
(BOFF, 1999, p. 19).
DEDICATÓRIA

Aos meus amores


AGRADECIMENTOS

Nenhum caminho se faz sozinho, depende-se de quem caminha junto, de quem


dá suporte, apoio e cuidado. Agradeço a todos que de uma forma ou outra estiveram
presentes no desenvolvimento, não apenas deste trabalho, mas de toda a trajetória
para chegar até ele.

Agradeço em especial aos meus pais, Maria e Oscar, que com muita dedicação,
esforço e amor me trouxeram até aqui.

Aos meus irmãos, pela participação involuntária, mas significativa deste


trabalho.

Ao meu amor, Émerson, por sua carinhosa presença.

A todos os professores, amigos e colegas que fizeram parte do meu crescimento


pessoal e profissional, especialmente a minha orientadora Ms. Betina Beltrame que
com cuidado me orientou nesse trabalho.
RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo compreender os primeiros vínculos


afetivos do sujeito e as relações entre as fragilidades desses vínculos afetivos e seus
desdobramentos, nas problemáticas das dificuldades de aprendizagens e tendência
antissocial e delinquência. Investigaram-se essas questões a partir de pesquisas
bibliográficas. O referencial teórico baseou-se principalmente nos estudos de Bowlby,
que trabalha a cerca de como ocorre os vínculos afetivo, que são a base do
desenvolvimento psíquico, bem como, o que pode ocasionar sua fragilidade e ruptura.
E também, a partir de Winnicott que estabelece uma ligação entre fragilidades de
vínculos afetivos e a tendência a atos delinquentes. Da forma que, após os estudos,
apresenta-se que os vínculos afetivos e o desenvolvimento psíquico saudável não
podem ser pensados separadamente.

Palavras-chave: vínculos afetivos, fragilidades, infância, não-aprendizagem,


delinquência.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9

1. APEGO E VÍNCULO: Bases para o Desenvolvimento Infantil ................. 11

2. FRAGILIDADE DE VÍNCULOS AFETIVOS: Consequências para o Sujeito


em Desenvolvimento ................................................................................................. 24

2.1 Dificuldades de aprendizagens ............................................................. 24

2.2 Delinquência e tendências antissociais ............................................... 28

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 36

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 38
9

INTRODUÇÃO

Um dos objetos de trabalho da Psicologia é o sujeito psíquico e seus processos,


e torna-se necessário o conhecimento e entendimento de todo o processo de
desenvolvimento deste, bem como, suas patologias e questões que se apresentam
na saúde psíquica. Sendo assim, toma-se a constituição deste sujeito como estudo
neste trabalho, tendo como foco o desenvolvimento desse sujeito a partir das relações
que intrinsicamente fazem parte do processo constitutivo. Dito de outra forma, o
vínculo que se estabelece entre o sujeito e o Outro, para que se permita o
desenvolvimento psíquico da criança. Como problemática será abordado a
consequência desses vínculos afetivos fragilizados ou com rupturas no
desenvolvimento da relação social futura do sujeito, pensado nas questões da
dificuldade de aprender e as pré-disposições aos atos delinquentes.

Dessa forma, o presente trabalho de conclusão do Curso de Psicologia tem


como ponto de partida o contato, a partir de estágio curricular obrigatório, com
crianças em situação de vulnerabilidade social, diretamente relacionado com a
fragilização e rompimento de vínculos afetivos. O estágio apesar de não ser foco do
trabalho, ajudou a elaborar os estudos do tema e das questões pertinentes que foram
surgindo no decorrer do mesmo. Dessa forma, o aprofundamento teórico dessas
questões, trouxe a problemática e o tema aqui desenvolvido.

Sendo assim, no estágio de ênfase em Processos Sociais e, a partir do projeto


de intervenção, foi possível acompanhar a história familiar e o desenvolvimento infantil
de crianças entre cinco e doze anos, de um mesmo contexto social (de
vulnerabilidade1), as quais apresentam questões originárias da fragilidade de seus
vínculos afetivos com as figuras parentais, como afastamento de uma das figuras ou
falecimento. A partir dessa experiência surgiu à questão de qual consequência os
vínculos afetivos vulneráveis ou rompidos irão ocasionar no futuro das crianças? E
com isso, originando as reflexões aqui elaboradas.

1 Vulnerabilidade social se caracteriza nas populações expostas à exclusão social, e assim, em


sofrimento sócio-econômico, decorrentes de processos como a fragilidade e privação de vínculos
afetivos, desigualdades sociais e em situações de discriminação por gênero, deficiências, ou
discriminação etária e étnica. A vulnerabilidade de vínculos sociais relaciona-se com o processo de
desafiliação, estudado por Sawaia, a partir de Robert Castel, no qual salienta a ruptura de vínculo
societal (SAWAIA, 2001).
10

Para tanto, no primeiro capítulo serão desenvolvidos os conceitos de autores


sobre vínculo afetivo, sua significação enquanto apego, e seu desenvolvimento nas
relações com as figuras parentais, bem como suas fragilidades e rupturas. Entre os
autores, se destacará John Bowlby2, com suas contribuições sobre a Teoria do Apego,
brevemente comentada, a qual afirma que o apego formado com as primeiras relações
terá a tendência de se manter na vida adulta.

O segundo capítulo, abordará a consequência desses vínculos afetivos no


desenvolvimento psíquico do sujeito, enfocando a constituição das relações sociais
futuras da criança no que diz respeito a sua aprendizagem e a tendência antissocial,
sendo estudado referencialmente Winnicott3 como um dos autores e posições frente
a essas problemáticas e as possibilidades de trabalho do psicólogo nessas questões,
que apesar de não ser o foco do trabalho, mas que necessariamente se fez presente.
E para finalizar segue a conclusão e as referências utilizadas neste trabalho.

2 1960, 1988, 1997, 2002, 2004


3 1963, 1971, 1975, 1982, 1997, 2005, 2006, 2014
11

1. APEGO E VÍNCULO: Bases para o Desenvolvimento Infantil

A sobrevivência do ser humano parte dos cuidados que necessita nos primeiros
anos de vida, principalmente nos meses posteriores ao nascimento, por nascer muito
imaturo. É a partir dos cuidados do outro que o bebê se nutre e se desenvolve
fisicamente. Mas, sabemos que o nascer do sujeito e o nascer do ser humano não
coincidem, pois, a constituição da subjetividade acontece a partir de relações com o
outro. Nessa relação é necessário que se estabeleça um vínculo afetivo, para que o
psiquismo humano comece a constituir-se. É a partir dessa constituição que o sujeito
estará apto ou não a relacionar-se socialmente nos primeiros anos de vida, na
adolescência e também na vida adulta, bem como, desenvolver processos simbólicos
para sua relação com o mundo.

A infância, período onde ocorrem as principais relações de apego, nem sempre


teve espaço social. Pois, antigamente não havia sentimento de cuidado com as
crianças, nem uma concepção de mundo infantil, podendo o papel social da criança
ser considerado nulo. A criança era vista apenas como um “adulto pequeno” que se
misturava com os demais adultos, sem distinção, vivia dos desejos dos outros, e seus
cuidados eram delegados às mães e às cuidadoras que trabalhavam para as famílias
(ARIÈS, 1981).

Mas é importante salientar que:

Isso não significava que as crianças fossem até então desprezadas ou


negligenciadas, mas sim que não se tinha consciência de uma série de
particularidades intelectuais, comportamentais e emocionais que passaram,
então, a ser consideradas como inerentes ou até mesmo naturais às crianças.
(COSTA, 2010, p.8).

Sendo assim, ainda hoje pode ser observada a desvalorização e a fragilidade


que as crianças possuíam ao longo de séculos e que algumas ainda enfrentam.
Porém, a realidade começou a mudar consideravelmente a partir do século XVIII.
Segundo Ariès (1981), uma mobilização da Igreja junto com a família mudou essa
concepção de criança. As famílias passaram a ser um lugar de afeição entre seus
membros, algo não visto antes. Desse modo, a importância que a criança começou a
receber da família tirou-a do anonimato e os cuidados passaram a ser essencial para
com ela. Com isso, a criança se tornou um ser social, de escolhas, com direitos e
papéis na sociedade.
12

Winnicott afirma que a infância “[...] se refere à fase em que o infante (lactente)
depende do cuidado materno que se baseia na empatia materna mais do que na
compreensão do que é ou poderia ser verbalmente expresso” (WINNICOTT, 1988, p.
41) e conceitua infância como “um processo gradual de formação de uma crença.
Crença em pessoas e coisas que é elaborada a pouco e pouco através de inúmeras
experiências boas" (WINNICOTT, 1985, p.141).

Apesar de não serem evitáveis as experiências ruins e essas fazerem parte de


todo processo de constituição e desenvolvimento do sujeito, o mesmo autor enfatiza
que para as crianças consideradas saudáveis o que sobressai às más experiências é
a confiança que o meio materno propõe de forma fidedigna e previsível. Estas então
terão recursos suficientes para ter plasticidade frente a situações adversas e lidar com
seus conflitos e angústias.

Partindo da concepção de infância apresentada por Winnicott (1985), é


necessário estabelecer a ligação entre os termos apego e vínculo, que irão ser
trabalhados aqui como sinônimos. E apesar de J. Bowlby (2002) trabalhar com os dois
conceitos, ele afirma que esses termos podem ser erroneamente comparados se, ao
pensar vínculo (social) reportar-se à vinculação familiar por questões de ordem de
obrigação dos cuidados enquanto família. Porém, se pensado em relação ao
compromisso de cuidado com ambas as partes envolvidas (apego decorrente ao
cuidado exercido pelo outro), a equivalência é possível, aqui colocado então como
vínculo afetivo.

O conceito de apego foi inserido nos estudos psicológicos por John Bowlby
(1907-1990) a partir do questionamento acerca das consequências da privação,
separação, ou cuidados inadequados na infância. Obteve pesquisas sobre crianças
em privação ou abandonadas de lar, que originou seu livro intitulado: “Cuidados
Maternos e Saúde Mental” publicado em 1976 em Londres. Bowlby também incluiu
nos seus trabalhos experiências e estudos de campo etológico, incluindo as relações
entre filhotes e suas mães de diferentes animais para explicar as funções dos
comportamentos instintivos, que relacionou com os comportamentos dos seres
humanos (BOWLBY, 2002).
13

A partir destes estudos, Bowlby (2002) define apego como o vínculo afetivo que
há entre o bebê e seus cuidadores, e que a figura de apego promove a noção de
segurança a esse sujeito, como uma “base segura” para a partir dela a criança
explorar o mundo de forma segura. Esses vínculos afetivos são construídos desde o
nascimento, e “se desenvolve no bebê como resultado de sua interação com o seu
meio ambiente de adaptabilidade evolutiva e, em especial, de sua interação com a
principal figura nesse meio ambiente, ou seja, a mãe". (BOWLBY, 2002, p. 222).

Como salienta Freud:

A razão por que a criança de colo deseja perceber a presença de sua mãe é
somente porque ela já sabe por experiência que esta satisfaz todas as suas
necessidades sem delongas. (FREUD, 2006, p. 137).

Já como definição do termo vínculo, Pichón Rivière (1988) explica que este é
um processo que inclui o sujeito não como ser único, isolado, mas pertencente de um
grupo, geralmente o familiar. Nesse vínculo é através da linguagem que se estabelece
uma relação inconsciente, formando um processo de inter-relação e a constituição de
uma instituição familiar. Guimarães (2002, p. 168) explicita o vínculo entre os sujeitos
de uma família: “em que se estabelecem entre si novas relações, as quais passam a
integrar o mundo interno de cada um, agindo e esperando reações a partir dessa
mútua representação interna que se envolvem”.

Morris e Maisto retomam o apego como um vínculo emocional que os bebês


humanos têm com seus cuidadores, o qual requer longos períodos de interação para
que se desenvolva. Ambos os autores salientam que: “Sinais de apego são evidentes
aos seis meses de idade ou até mesmo antes disso. O bebê reage com sorrisos e
ruídos quando vê a pessoa que cuida dele, e com choro e olhares tristes quando essa
pessoa vai embora” (MORRIS; MAISTO, 2004, p. 310). Assim como afirma Bowlby:
“quando vir sua mãe, um bebê dessa idade sorrirá e vocalizará mais profundamente,
e a seguirá com os olhos por mais tempo do que quando vir qualquer outra pessoa.”
(BOWLBY, 2002, p. 247).

Zimerman (2004) também conceitua o vínculo e a importância de compreender


as relações de vínculo e define que:

O termo “vínculo” tem sua origem no étimo latino vinculum, que significa, uma
atadura, uma união duradoura (...) também o conceito de “vínculo” alude
14

alguma forma de ligação entre as duas partes que a um mesmo tempo, estão
unidas e inseparáveis, apesar de que elas apareçam claramente delimitadas
entre si.(ZIMERMAN, 2004, p.398).

Bowlby (2002) afirma que nos primeiros estudos sobre o apego considerava-se
que este só se constituía na relação da criança com aquela pessoa que satisfaria suas
necessidades fisiológicas, como a fome. A capacidade de vinculação estava
relacionada com os cuidados. Porém, posteriormente conceituou-se que a satisfação
das necessidades era uma via para que a relação social se estabelecesse e dessa
forma, o apego.

Já Freud (2006) destacava a posição de que a não satisfação dessas


necessidades causaria uma perturbação no psiquismo da criança, e que a mãe (aqui
como figura materna) tendo a possibilidade de satisfazer suas necessidades, evitaria
a desorganização do psiquismo.

Dessa forma, o apego não está diretamente ligado a quem satisfaz suas
necessidades fisiológicas, como inicialmente foi proposto, assim como Freud (1905),
ao afirmar que “durante todo o período de latência a criança aprende a amar outras
pessoas que a ajudam em seu desamparo e satisfazem suas necessidades, e o faz
segundo o modelo de sua relação de lactante com a ama e dando continuidade a ele”
(FREUD, 1905, p. 210).

Para exemplificar isso, Bowlby (2002) relata um estudo publicado em 1915 por
Anna Freud e Sophie Dann:

[...] no qual se descreve um grupo de seis crianças, entre três e quatro anos
de idade, que tinham estado num campo de concentração e cuja única
companhia persistente na vida tinha sido, evidentemente, a de umas às
outras. As autoras enfatizavam que “os sentimentos positivos das crianças
centravam-se exclusivamente em seu próprio grupo... preocupavam-se e
cuidavam muito umas das outras, nada nem ninguém mais sendo objeto de
suas atenções”. (BOWLBY, 2002, p. 269).

De que forma então, o apego se constitui na relação criança-mãe4 se independe


exclusivamente da satisfação das necessidades (biológicas) infantis? Bowlby (2002)
afirma que a interação social na qual o bebê está inserido desde seu nascimento (ou

4A palavra mãe, no presente texto, está relacionada à figura materna, independente de ser ou não a
mãe biológica, mas alguém que faça essa função. Da mesma forma, a palavra pai estará se referindo
a figura paterna, ou seja, a quem realiza tal função.
15

até mesmo antes) colabora para que se constitua tal vínculo, pois, este é pego no
colo, aquietado, para ele que é dirigido também à fala e a carícia. Sendo nessa relação
social de afetividade que o apego começa a constituir-se.

O autor ainda apresenta a ideia da origem do vínculo afetivo como baseada na


teoria do comportamento instintivo, o qual salienta que “[...] o vínculo da criança com
sua mãe é um produto da atividade de um certo número de sistemas comportamentais
que tenha a proximidade com a mãe como resultado previsível.” (BOWLBY, 2002,
p.221).

Nesse entendimento, o mesmo autor afirma que a criança nasce com sistemas
de comportamento que poderão ser ativados (como o choro e a sucção), fortalecidos
ou enfraquecidos por estímulos que segundo Bowlby (2002), serão a base para a
constituição do comportamento de apego5. A estimulação deles fica a cargo de outro
ser humano (figura materna), o cuidador que responde aos pedidos do bebê, e, que a
partir dessa resposta há a interação social, que estabelece o início do apego entre
eles. É a partir dessa relação primordial que para o resto da vida o sujeito irá
estabelecer os vínculos afetivos com algumas figuras, e consequentemente irá se
posicionar enquanto ser e sujeito no mundo social.

Para ampliar a concepção de apego Bowlby (2002) traz o conceito de


comportamento de apego, o qual seriam ações que um sujeito utiliza para se
aproximar e conservar a proximidade desejada com outra pessoa, sendo esta
considerada mais apta para se estabelecer no mundo, e para que assim possa
sobreviver. Com essa inicial aproximação, a relação mãe-bebê vai se tornar um
vínculo afetivo, e assim, a figura de apego6 inicial do bebê torna-se a mãe.
Relacionado a isso, para um vínculo se estabelecer de forma segura, há a

5 “Dizer que uma criança é apegada ou tem um apego por alguém, significa que ela está fortemente
disposta a buscar proximidade e contato com uma figura específica, principalmente quando está
assustada, cansada ou doente. A disposição de comportar-se dessa maneira é um atributo da criança,
atributo este que só se modifica com o tempo e não é afetado pela situação do momento. Em
contraposição, o comportamento de apego refere-se a qualquer forma de comportamento que uma
criança comumente adota para conseguir e/ou manter uma proximidade desejada. Em qualquer
ocasião alguma forma desse comportamento pode estar presente ou ausente e da qual ela depende,
em alto grau, das condições que prevalecem no momento.” (BOWLBY, 1988, p.396).
6 Para Bowlby (2002) a figura de apego é a referência de cuidado que o bebê encontra em algum

membro da família, ou cuidador, que tenha um comportamento de modo maternal para com ela, e que
de acordo com o autor, com este modo estará cumprindo as necessidades de desenvolvimento dessa
criança.
16

sensibilidade da figura de apego, para suprir o chamar da criança, e também a


intensidade da relação que há entre os dois.

Para além, há outra questão importante abordada por Bowlby (2002) que é a
busca do próprio bebê por essa interação com sua figura de apego, considerando,
portanto, seu papel ativo na relação. Dessa forma, a relação se constitui partindo dos
dois lados criança-mãe. Porém, quando há a ausência da mãe em responder à
tentativa de interação por parte da criança, inicia-se respostas a isso, como o protesto
e o desapego, podendo causar reações de ansiedade e medo, que irão se internalizar
e será base para futuros sentimentos.

Winnicott tem uma definição sobre apego próxima da de Bowlby, e afirma que
quando essas relações entre mãe e bebê são favoráveis, este pode ampliar a
capacidade de relacionar-se saudavelmente e dessa forma “o bebê pode desenvolver
a capacidade de ter sentimentos, que de alguma forma, correspondem aos
sentimentos da mãe que se identifica com o seu bebê”. (WINNICOTT, 2006, p. 5).

O mesmo autor afirma também que o relacionamento do bebê com sua mãe
ocorre a partir das necessidades (afetivas) do bebê, “O bebê triste quer pode ser
agarrado ao colo e acariciado porque, ao tomar a responsabilidade por aquilo que o
fere, ganha direito de manter boas relações com as pessoas [...] ele necessita o amor
físico e demonstrativo da mãe”. (WINNICOTT, 1982, p. 74).

O autor também enfatiza a importância desses vínculos:

[...] se a mãe não souber ver no filho recém-nascido um ser humano, haverá
poucas probabilidades de que a saúde mental seja alicerçada com uma
solidez tal que a criança, em sua vida posterior, possa ostentar uma
personalidade rica e estável, suscetível não só de adaptar-se ao mundo, mas
também de participar de um mundo que exige adaptação. (WINNICOTT,
1982, p.118).

E que:

Para que os bebês se convertam, finalmente, em adultos saudáveis, em


indivíduos independentes, mas socialmente preocupados, dependem
totalmente de que lhes seja dado um bom principio, o qual está segurado, na
natureza, pela existência de um vínculo entre a mãe e o seu bebê: amor é o
nome desse vínculo. (WINNICOTT, 1982, p. 17).
17

A partir das concepções já apresentadas, observa-se que os conceitos de


ambos os autores se divergem na intensidade e o momento em que o apego se
desenvolve nas relações mãe-bebê. Bowlby (2002) afirma que o bebê está apegado
a figura materna e que esse apego começa a desenvolver-se durante alguns meses
de convivência e não está presente diretamente no nascimento. Para Winnicott (1956,
1963), entretanto, o bebê é dependente da figura materna e o apego tem seu ápice
no nascimento e durante a vida vai diminuindo, apesar de ser sempre existente.

A Teoria da Vinculação foi elaborada por J. Bowlby e M. Ainsworth, a partir da


investigação das consequências da separação da mãe no desenvolvimento da
personalidade infantil. E que de acordo com Ribeiro e Souza (2002), é uma teoria
baseada no desenvolvimento emocional, que interliga a relação da mãe-bebê com as
futuras relações do sujeito, e dessa forma este criará expectativas sobre ele mesmo
e sobre os outros, susceptíveis de influenciar a competência social e todo seu
desenvolvimento emocional da infância a vida adulta. (RIBEIRO; SOUZA, 2002, p.1).

Tal teoria auxilia na compreensão de como se origina e se desenvolve os


padrões de relacionamento ao longo da vida, partindo especificamente das primeiras
relações que a criança estabelece nos seus primeiros anos. Essas relações primárias
são constituídas com a figura de vinculação, à qual se caracteriza por estar mais
próxima à criança e supre as necessidades dela, como as de proteção e de segurança.
Portanto, a criança terá condições para iniciar e se desenvolver também a partir das
explorações de seu meio. Para isso, é necessária essa base segura da figura de
vinculação para que a criança explore, mas quando a criança necessitar poderá
utilizar esse comportamento de procura e aproximação, para que retorne à segurança
de sua figura de apego, ao se deparar com algum perigo.

Ao se aproximar ou se afastar dessa figura de apego, a criança desenvolve esse


sistema de relações. E assim, constitui meios que a orientarão na intenção de
estabelecer suas relações futuras. Esse sistema de relações se caracteriza com o
prazer do reencontro na aproximação com a figura de apego, e a angústia ao se
separar dela.

Pode-se assim, relacionar à afirmação de Winnicott (2005), ao interligar isso à


segurança necessária para o desenvolvimento social da criança:
18

Quando oferecemos segurança [...] ajudamos a livrar a criança do


inesperado, de um sem-número de intrusões indesejáveis e de um mundo
ainda não conhecido ou compreendido [...] protegemos a criança de seus
próprios impulsos e dos efeitos que estes possam produzir. (WINNICOTT,
2005, p. 45).

Winnicott (1948) estuda a relação mãe-bebê como base para uma saúde
psíquica de todos os sujeitos, afirmando que esta é moldada nos primeiros anos de
vida, a partir dessa relação com a figura de apego, e dessa forma irá determinar a
interação social infantil. O mesmo autor ainda salienta que: “inicialmente, a criança
carece de um grau de adaptação ativa a suas necessidades que só pode ser
promovida se uma pessoa devotada estiver cuidando de tudo” (WINNICOTT, 2005,
p.33).

Esse é o estágio de dependência absoluta que o bebê tem ao nascer, onde a


mãe irá ter função de ego auxiliar para o bebê, até que este consiga desenvolver suas
capacidades. Winnicott (2005) afirma que essa é a função de holding7 que a mãe
opera para sustentar seu bebê física e emocionalmente. Relaciona-se aqui a mãe
suficientemente boa, que não gratifica excessivamente, nem frustra seu bebê.

Como conceito de holding Winnicott (2006) apresenta que:

Os cuidados com as crianças giram em torno do termo “segurar”,


principalmente se permitimos que seu significado se amplie à medida que o
bebê cresce e que seu mundo vai se tornando complexo. O termo pode
incluir, com muita propriedade, a função do grupo familiar, e, de uma forma
mais sofisticada, pode também ser empregado para caracterizar o trabalho
com casos, tal como ele se dá nas profissões cuja característica básica é a
prestação de cuidados. (WINNICOTT, 2006, p.53).

A mãe suficientemente boa, para Winnicott (1963), é a que possui a capacidade


de poder adaptar-se às necessidades do ego do bebê que através de uma atitude de
devoção e dedicação introduz as frustrações que são necessárias durante o
amadurecimento do bebê. Portanto, para que ocorra o crescimento físico e emocional
da criança, será necessário, esse ambiente suficientemente bom, e de uma
experiência de ilusão e de onipotência que se constituirá a partir da mãe
suficientemente boa.

7 É importante salientar a proximidade de significação dos termos holding, de Winnicott, com o

termo base segura, apresentado por Bowlby.


19

Para argumentar isso Nasio (1995) situa a posição que a mãe ocupa no
desenvolvimento psíquico do bebê:

A sustentação psíquica consiste em dar esteio ao eu do bebê em seu


desenvolvimento, isto é, em colocá-lo em contato com uma realidade externa
simplificada, repetitiva, que permita ao eu nascente encontrar pontos de
referência simples e estáveis, necessários para que ele leve a cabo seu
trabalho de integração no tempo e no espaço. (WINNICOTT, apud NASIO,
1995, p. 185).

Dessa forma, o apego surge como vínculo que sustenta a criança no seu
desenvolvimento social, ao se sentir segura e tranquila, a partir do comportamento de
apego na presença da uma figura de apego (BOWLBY, 2002).

E o vínculo familiar faz papel importante nessa constituição da criança, como


afirma Zimerman (2000):

O grupo familiar exerce uma profunda e decisiva importância na estruturação


do psiquismo da criança, logo, na formação da e personalidade do adulto e,
também na formação dos seus grupos internos, cuja importância reside no
fato de que tais grupos é que vão determinar como o sujeito irá interagir e
configurar suas relações grupais e sociais com os inúmeros demais grupos
com os quais conviverá ao longo da vida. (ZIMERMAN, 2000, p. 41).

Entretanto, esses vínculos tão importantes para o desenvolvimento infantil nem


sempre são oportunizados às crianças, ou se o são, ocorrem de forma inconsistente
e fragilizada que comprometem a constituição psíquica e até mesmo o
desenvolvimento físico saudável. Isso pode atingir de forma prejudicial às
capacidades tanto emocionais, como cognitivas, sociais e físicas das crianças, com o
distanciamento ou privação da mãe ou cuidador, ou seja, da figura materna. Pois, não
haverá estímulos de diferentes formas para impulsioná-la a se desenvolver nos mais
diversos aspectos constituintes dos sujeitos.

Para Bowlby (1988), a privação dos cuidados maternos se caracteriza na falta


dos cuidados que a mãe proporciona ao seu bebê sem planejá-los. Como a privação
de:

...todas as carícias e brincadeiras, da intimidade da amamentação através da


qual a criança conhece o conforto do corpo materno, dos rituais do banho e
do vestir, com os quais, através do orgulho e carinho materno para com seus
pequenos membros o bebê apreende seu próprio valor. (BOLWBY, 1988, p.
17).
20

Bowlby (1988) conceitua e exemplifica a privação da mãe para melhor


entendimento, tanto desse processo de vinculação mãe-bebê, como a consequência
de uma ruptura nessa relação, e que esta nem sempre ocorre na experiência física de
afastamento, na ausência, mas também na presença materna.

Dessa forma, o autor afirma que:

Chama-se “privação da mãe” a situação na qual uma criança não encontra


este tipo de relação. É uma expressão ampla, que abrange um grande
número de situações diferentes. Assim, uma criança sofre privação quando,
vivendo em sua casa, a mãe é incapaz de proporcionar-lhe os cuidados
amorosos de que as crianças pequenas precisam. E ainda, uma criança sofre
a privação se, por qualquer motivo, é afastada dos cuidados de sua mãe [...].
(BOWLBY, 1988, p. 14).

Assim como Bowlby (1988) nos traz, a mãe assume papel importante de
desenvolver vínculos afetivos para a constituição da criança como sujeito. E esse
contato insatisfatório ou inexistente pode também ser considerado como negligência.

Nesse sentido, Gomide (2009) explicita que:

A negligência é considerada um dos principais fatores, senão o principal, a


desencadear comportamentos antissociais nas crianças, e está muito
associada à história de vida de usuários de álcool e outras drogas e de
adolescentes com comportamento infrator. (GOMIDE, 2009, p. 69).

Essa privação pode interferir no desenvolvimento de forma satisfatória do


sujeito, assim como afirma Bowlby (1988, p. 14), “A privação parcial traz consigo a
angústia, uma exagerada necessidade de amor, fortes sentimentos de vingança e, em
consequência sentimento de culpa e depressão”. Dessa forma, podemos considerar
que a privação ou a fragilidade de vínculos afetivos prejudica o desenvolvimento
psíquico do sujeito o que acarretara relações deficitárias do indivíduo socialmente.
Com isso, também a dificuldade de apreensão de situações e experiências de
relacionamento que irão contribuir nos processos constituintes de significação e
subjetivação da realidade de cada sujeito.

Bowlby (1988) traz que a influencia da privação pode variar dependendo do


nível em qual esta se estabelece, podendo ser parcial ou total. E afirma ainda que um
bebê não consegue lidar com todas as emoções e impulsos decorrente dessas
21

rupturas, por ser imatura de mente e corpo, e que essa inadequação poderá
estabelecer como o próprio autor afirma distúrbios nervosos e personalidade instável.

Nesta perspectiva, para o mesmo autor:

A privação total [...] tem efeitos de alcance ainda maior sobre o


desenvolvimento da personalidade, e pode mutilar totalmente a capacidade
de estabelecer relações com outras pessoas. (BOWLBY, 1988, p. 14).

O autor também caracteriza situações mais complexas onde uma criança possa
sofrer privação. (BOWLBY, 1995, p. 14):

 A privação da mãe, na qual a mãe (ou substituta permanente) não estabelece


uma ligação afetiva com a criança, e não é capaz de proporcionar a criança
os cuidados amorosos do qual necessita.

 Privação parcial, em situações em que a criança, por algum motivo, é


afastada do convívio com a mãe, mas alguém da confiança dela substitui
essa posição de maternagem. Pode ser considerada também, como uma
privação relativamente suave, apesar do afastamento da mãe, a criança terá
algum tipo de satisfação nessa nova relação.

 Privação quase total é relacionada a criança que vive em instituição, e,


portanto, não há uma pessoa que irá prestar os cuidados para ela de forma
individualizada e que a passe segurança e estabilidade, como uma figura
materna o faria.

Portanto, a privação não só é considerada se há a separação física entre mãe


e bebê, mas também quando há insuficiências na interação entre os dois. O autor
afirma que a privação materna é a ausência da relação materno-filial, sendo este
termo amplo, mas que:

[...] considera-se “privada” a criança quando vive no mesmo lar que sua mãe
(ou quem a substitua de modo permanente) e uma ou outra se mostra incapaz
do amoroso cuidado de que a infância necessita. Da mesma forma,
considera-se “privada” a criança quando por qualquer motivo se a separa
(geograficamente E.W.) do cuidado materno. O efeito de tal privação resultará
relativamente leve se a criança for atendida. (BOWLBY, 1960, p. 11).
22

Spitz (1991) apresenta em seu trabalho a patologia, denominada por ele de


“Depressão Anaclítica”, cujos sintomas são desencadeados nos bebês a partir da
privação de suas figuras maternas, e são encaminhados para instituições.

O mesmo autor, cita os sintomas resultantes:

Primeiro mês: as crianças tornam-se chorosas, exigentes e tendem a apegar


se ao observador quando este consegue estabelecer contato com elas;
segundo mês: o choro transforma-se em gemidos. Começa a perda de peso.
Há uma parada no quoeficiente de desenvolvimento; terceiro mês: As
crianças recusam o contato. Permanecem a maior parte do tempo de bruços
na cama, um sintoma patognomônico. Começa a insônia, a perda de peso
continua. Há a tendência para contrair moléstias; o atraso motor torna-se
generalizado. Início da rigidez facial; após o terceiro mês: a rigidez facial
consolida-se. O choro cessa e é substituído por lamúria. O atraso motor cessa
e é substituído por letargia. O quociente de desenvolvimento começa a
diminuir. (SPITZ, 1991, p.202).

Em relação aos cuidados maternos, Erikson (1980) estuda a grande relevância


dos primeiros anos de desenvolvimento para a criança, focalizando o meio ambiente
e a interação do sujeito com esse para o surgimento da identidade. O autor apresenta
estágios8 de desenvolvimento e expõe que no primeiro estágio, a crise de confiança
versus desconfiança, o comportamento do provedor de seus cuidados, a figura
materna, é de suma importância para estabelecer no bebê o senso de confiança
básica. E afirma ainda, que as crianças que tiveram nesse estágio cuidados
insuficientes podem desencadear a desconfiança, e irá carregar em si esses aspectos
por todo seu desenvolvimento, inclusive para os estágios seguintes.

Nessa fase, há uma ideia no bebê de que a mãe é um ser supremo, e é onde
começa as identificações com essa figura materna, e se for correspondida de forma
positiva, o bebê irá construir um conceito de si e do mundo (no qual quem o representa
é a mãe) de uma forma boa e sadia. Caso contrário, se a identificação ocorre de forma
negativa, o bebê terá a mãe como um herói (culto ao herói), e não se identificando
com ela, acha que não será como a mãe, com isso desenvolve-se na criança a
agressividade e a desconfiança, o que irá refletir em si no futuro.

8 O primeiro estágio faz parte do enfoque do trabalho, porém, o autor traz no total oito estágios,
sendo eles: 1ª Confiança x Desconfiança, até um ano de idade; 2ª Autonomia x Vergonha e Dúvida,
dois e três anos; 3ª Iniciativa x Culpa, quatro e cinco anos; 4ª Zelo x Inferioridade, dos seis ao 11 anos;
5ª Identidade x Confusões de papéis, dos doze aos 18 anos; 6ª Intimidade x Isolamento, jovem adulto;
7ª Generatividade x Estagnação, meia idade; 8ª Integridade x Desespero, velhice (ERIKSON, 1980).
23

O autor mesmo relata a importância dessa confiança básica no primeiro estágio


de desenvolvimento do ego:

Não só aprendeu a confiar na uniformidade e na continuidade dos provedores


externos, mas também em si próprio e na capacidade dos próprios órgãos
para fazer frente aos seus impulsos e anseios. (ERIKSON, 1987, p.102).

Pode-se relacionar, portanto, a partir de vários autores as diversas interfaces


que os cuidados maternos pertencentes aos vínculos afetivos estabelecidos entre a
figura materna e o bebê, têm no desenvolvimento saudável infantil. Com isso, o
próximo capítulo irá abordar às consequências no desenvolvimento do sujeito e seus
desdobramentos, nas questões de aprendizagem, bem como os aspectos da
disposição à delinquência.
24

2. FRAGILIDADE DE VÍNCULOS AFETIVOS: Consequências para o Sujeito


em Desenvolvimento

2.1 Dificuldades de aprendizagens

Pensar na fragilidade de vínculos e o que isto significa para o desenvolvimento


infantil, nos remete a estudar quais as consequências que trará para o sujeito em
diferentes momentos de sua vida. De acordo com Bowlby (1988), algumas crianças
sim, podem sair de uma experiência de privação quase sem danos, mas que isso não
pode ser motivo para que as pesquisas e estudos sobre o assunto cessem, nem
mesmo as medidas possíveis de serem tomadas nesses casos.

Winnicott (2014) ao trabalhar sobre a privação pontua a importância de


salientar que se deve ter como princípio que as consequências da privação estão
relacionadas ao estágio do desenvolvimento emocional no qual o sujeito ainda não
tem o ego formado, e, portanto, não consegue elaborar essa perda. Assim como no
entendimento de Bowlby (1988) a idade na qual ocorre a privação também influencia
nas consequências nas crianças e se tratando dos efeitos, o autor relata que:

Algumas descobertas sugerem que a privação da mãe pode ter efeitos


particularmente negativos sobre determinados processos. Dentro os
processos intelectuais, os mais vulneráveis parecem ser a linguagem e a
abstração. Dentre os processos de personalidade, os mais vulneráveis
parecem ser os que são subjacentes à capacidade de controlar impulsos em
benefício de objetivos de longo alcance. (BOWLBY, 1988, p. 202).

Dessa forma, uma das principais evidências que pode ser constatada no
decorrer do Estágio Supervisionado de Psicologia e Processos Sociais, é a
interferência na aprendizagem infantil, sequela da fragilidade dos vínculos familiares.

A aprendizagem aqui se refere não só a escolar, mas também toda a


aprendizagem vivenciada pelas crianças na primeira etapa da vida humana.
Aprendizagem, portanto, de representações culturais, conceitos e sociais, “no sentido
psicológico – de se permitir acessar a um saber de responder ou não ao que o
processo civilizatório demanda de cada sujeito”. (GOULART, 1996, p. 33).

Portanto, para estudar os vínculos e sua relação com o conhecimento e


aprendizagens do sujeito, Zimerman (2010) utiliza-se dos conceitos de Bion sobre as
25

classificações desses vínculos, os quais são de suma importância para relacionar o


emocional com o intelectual, sendo eles: o amor, o ódio, o conhecimento e o
reconhecimento.

A primeira classificação de vínculo, o amor, se for desenvolvido sadiamente na


criança, oferece extrema importância para sua constituição. Porém, o autor afirma a
relevância de estabelecer a atenção para os sentimentos de amor ao extremo, como
a consolidação de uma relação pautada pela simbiose e que limita a individualização
e a diferenciação do sujeito. Se esta relação se estabelece na dependência excessiva,
pode comprometer o desenvolvimento intelectual.

A segunda classificação, a do vínculo ódio, pode ser desestruturante, tendo a


dimensão da crueldade. Mas pode ser utilizado como meio para seu crescimento,
como a agressividade, recurso que movimenta o sujeito em prol de seus desejos.

Já o conhecimento, é, segundo o autor, o que une o pensamento e as emoções,


sendo, portanto, a partir do desconhecido que o sujeito é capaz de intelectualmente
se desenvolver, ou seja, exerce a função do pensar. Essa relação entre o emocional
e o intelectual forma a importância para a aprendizagem do sujeito, e para que isso
aconteça há sempre um objeto que se coloca para ser conhecido, ou quem possa
impulsionar o sujeito em direção do conhecimento. Este pode ser, então, a figura
materna, que dá condições para que a aprendizagem aconteça. Há aqui, portanto, a
importância do vínculo, que fará função para que o desenvolvimento intelectual e
emocional ocorra de forma satisfatória.

Zimerman (2004), a partir do viés psicanalítico situa os principais fatores que


vão definir a forma de obter o conhecimento:

1) o modelo da mãe (mais particularmente no que se refere à rêverie, função


alfa e como foi o continente materno); 2) a capacidade de o paciente ingressar
na posição depressiva (...), pois é essa posição que propicia a possibilidade
de formação de símbolos; 3) possuir um amor às verdades, com um real
desejo de conhecer. (ZIMERMAN, 2004, p.402).

Molina (2008) coloca que as aprendizagens, assim como qualquer produto da


subjetividade humana, não podem ser consideradas sem o Outro9. Dessa forma,

9 Para explicar o conceito de Outro, Roudinesco nos traz que é um: “termo utilizado por Jaques

Lacan para designar um lugar simbólico – o significante, a lei, a linguagem, o inconsciente (...) cunhou
uma termologia específica (Outro/outro) para distinguir o que é da alçada do lugar terceiro, isto é, da
26

aparece o desejo do Outro no processo de aprendizagem da criança, pois, esta se


interroga sobre e passa a querer o desejo do Outro. A criança então irá precisar negar
que conhece a partir do Outro, para que possa preservar seu desejo e assim conhecer
(MOLINA, 2008), com isso o vínculo é aqui parte fundamental para essas trocas
acontecerem. Assim como é necessário o desejo do Outro, é também imprescindível
que este desejo passe pelo corte.

Como afirma Janete Teresinha de Aquino Goulart (1996):

A constituição de um sujeito, passa necessariamente pelo desejo de um


Outro Primordial. Porém, a constituição do desejo de um sujeito, requer
justamente um corte que impeça o sujeito de ficar preso à este desejo, apenas
como objeto de desejo. (GOULART, 1996, p. 33).

Esse corte é operação da Função Paterna, que vai impedir o sujeito de ficar
preso ao desejo do Outro e assim passe a iniciar um processo de busca, para suprir
essa falta simbólica do desejo do Outro. Assim, é permitido a ele que deseje buscar
aquilo que foi objeto de corte da Função Paterna, inscrevendo-se no desejo de saber
a partir da ordem simbólica. Ou seja, “a perda da mãe enquanto objeto de desejo abre
a possibilidade da criança, já de posse de uma imagem corporal unificada 10, ir em
busca de outras coisas, inclusive do conhecimento” (GOULART, 1996, p. 68).

Da mesma forma, afirmam Coriat e Jerusalinsky (1996), ao situar que:

Quando uma criança deseja, ela está se interessando por aquilo que, em uma
primeira instância, resulta interessante para a sua mãe. O meio, enquanto
coisas e pessoas, torna-se objeto de interrogação, de experimentação, de
intercâmbio organizado. Esta organização é em si mesma importante, porque
fornece sistemas cada vez mais confiáveis para realizar os intercâmbios.
Estamos então, diante do sujeito de conhecimento. (CORIAT;
JERUSALINSKY, 1996, p.9).

Freud, na visão de Kupfer (1992), apesar de não ter escrito sobre


aprendizagens diretamente, indagava sobre o que leva o sujeito a ser um “desejante

determinação pelo inconsciente freudiano (Outro), do que é do campo da pura dualidade (outro) no
sentido da psicologia.” (ROUDINESCO; PLON, 1998, p. 558).
10 Para exemplificar esse conceito a autora traz que “o ser humano nasce indiferenciado, esfacelado,

não existe uma Imagem Corporal, um “Todo” que possam servir de suporte para qualquer tipo de
construção. O que existe são partes que somente formarão um todo e terão uma significação própria
na medida em que forem sendo olhadas, apontadas e tocadas pelo Outro Primordial. A criança somente
poderá reconhecer seu corpo como inteiro, como unidade, na imagem que vem de fora, que é a imagem
que vem do Outro (mãe)”. (GOULART, 1996, p. 20).
27

do saber”. Dessa forma, “a aprendizagem é um processo que depende da razão que


motiva a busca de conhecimento” (KUPFER, 1992, p. 79). Portanto, o motivo parte da
busca de saber de onde viemos e para onde vamos, parte da angústia da castração
que faz querer saber, o desejo de saber (KUPFER, 1992), isso tudo se evidencia no
desenvolvimento sexual infantil, o qual está intrinsicamente ligado ao vínculo
estabelecido entre as figuras parentais e a criança.

É após o conflito edípico, grande parte da busca e do interesse pela


investigação sexual é reprimida e passa a ser sublimada em uma pulsão de saber.
Esse investimento na busca pelo objeto de conhecimento de forma prazerosa só
ocorre pelo desejo de saber, que se origina na pulsão de saber. Essa pulsão está
relacionada ao saber sexual, “não é a questão da diferença sexual, e sim o enigma,
de onde vêm os bebês?” (FREUD, 1989, p. 182).

De acordo com os autores estudados pode-se constatar que a possibilidade da


aprendizagem está diretamente relacionada à família, especialmente à forma como
os vínculos afetivos são estabelecidos, o que irá sustentar ou não a criança no seu
desejo de buscar aprender. Com isso, se os vínculos estão em com rupturas ou
frágeis, isto poderá resultar em uma inibição ou limitação no processo de aprender.

Assim como nos afirma Bowlby (1988):

... o que se acredita ser essencial à saúde mental é que o bebê e a criança
pequena tenham a vivência de uma relação calorosa, íntima e contínua com
a mãe (ou mãe substituta permanente – uma pessoa que desempenha,
regular e constantemente, o papel de mãe para ele) na qual ambos
encontrem satisfação e prazer. É esta relação complexa, rica e
compensadora com a mãe, nos primeiros anos, enriquecida de inúmeras
maneiras pelas relações com o pai e com os irmãos e irmãs, que os
psiquiatras infantis e muitos outros julgam, atualmente, estar na base do
desenvolvimento da personalidade e saúde mental. (BOWLBY, 1988, p.13).

Molina (2008) nos traz a possibilidade de se pensar o trabalho psicológico


nessa questão, ao destacar que:

Só a interdisciplinaridade possibilitará fazer as revitalizações necessárias


àquele instrumento teórico-clínico para evitar cometer iatrogenias nas
operações tanto instrumentais quanto educativas. Será a fluência do
deslocamento significante que garantirá o funcionamento da estrutura
cognitiva sem entraves sintomáticos, já que sempre, na modelação do
conhecimento estará a determinação da ordem inconsciente. (MOLINA,
2008, p. 18).
28

Nessa perspectiva, para que se possa intervir torna-se necessário um trabalho


psicológico não voltado ao sintoma em si, o não-aprender, mas em todo o enredo que
participa da constituição infantil, seus vínculos familiares. É preciso, portanto, ocupar-
se com a forma que a criança está estruturada psiquicamente no campo do desejo do
outro. Com isso, é possível proporcionar a criança condições para que possa
ressignificar sua história, se sustentar enquanto Sujeito de desejo e a partir disso se
tornar protagonista de suas relações subjetivas e trocas cognitivas.

Nos estudos de Bowlby, utilizando as conclusões do Dr. Goldfarb citado na obra,


essa relação também surge quando o autor coloca a forte ligação entre privação de
vínculos e a dificuldade de aprendizagens, da delinquência e atitudes antissociais:

Os níveis de inteligência das crianças abandonadas e delinquentes estão


muito abaixo dos das crianças do grupo de controle. Observa-se também uma
diminuição na capacidade de raciocínio abstrato – o que, na opinião do
pesquisador, indica a existência de um forte vínculo entre o desenvolvimento
da capacidade mental de abstração e a vida familiar e social da criança. Ele
observa especialmente as seguintes características da criança abandonada
e delinquente: Atenção fraca, devido à sua grande instabilidade. Noção muito
superficial das realidades objetivas, imaginação transbordante e absoluta
falta de capacidade crítica. Incapacidade para abstração rigorosa e para o
raciocínio lógico. Notável atraso no desenvolvimento da linguagem.
(BOWLBY, 1988, p. 48).

2.2 Delinquência e tendências antissociais

Outra questão importante que se apresenta é a delinquência, que se relaciona


à privação ou fragilidades de vínculos afetivos, trabalhado tão atentamente por
Winnicott em seu livro Privação e Delinquência (2014). Seu trabalho nesse livro
originou-se a partir de estudos e experiências na época da Segunda Guerra Mundial,
ao se deparar com os mais diversos tipos de privações sofridas pelas crianças que
foram evacuadas.

Nos seus estudos, Winnicott (1960) situa a relação entre os vínculos afetivos,
como ocorre a ligação entre mãe e bebê, e como elaborar a noção da privação. Para
isso, nos traz que o bebê liga-se a mãe antes mesmo de nascer, aos sons que a mãe
produz, ao toque e as respostas aos movimentos do bebê, assim vai estabelecendo
uma percepção ao bebê de um ambiente confiável. Refere-se à um cuidado que cria
29

um espaço que amplia-se da díade mãe-bebê, onde só existe um bebê se há uma


mãe.

Com o desenvolvimento do bebê chega-se ao momento em que a não


diferenciação entre mãe e bebê torna-se mãe e bebê, e em seguida mãe sem bebê.
Isso remete à relativa dependência do bebê (mãe e bebê sem diferenciação) e o
caminho para a independência, nesse processo há em desenvolvimento uma
capacidade de percepção de uma existência pessoal e individual. Ou seja, “... a mãe,
na expressão de Winnicott (1987) é o primeiro “organizador psíquico” da criança” (Sá,
2001, p. 15). Então, é a partir da independência do bebê, que as estruturas psíquicas
que anteriormente estavam em comum, irão se distinguir de forma completa e perfeita.

Da mesma forma que:

A saúde mental do indivíduo está sendo construída desde o início pela mãe,
que oferece o que chamei de ambiente facilitador, isto é, um ambiente em
que os processos evolutivos e as interações naturais do bebê com o meio
podem desenvolver-se de acordo com o padrão do indivíduo. A mãe está
assentando, sem que o saiba, as bases da saúde mental do sujeito.
(WINNICOTT, 2006, p. 20).

Para estabelecer um entendimento sobre o processo que desencadeia a


tendência antissocial e a delinquência, Winnicott (2014) esclarece como é uma criança
normal. Esta, de acordo com o autor, colocará a prova qualquer possibilidade de se
impor, de desorganizar o seu lar, para assim ter consciência de uma referência
estável. Porém, se este lar consegue suportar todas estas tentativas a criança irá
conseguir incorporar a referência que suas figuras parentais a propõe, criando a
possibilidade de socialização e assim toda a agressividade vai adquirir um valor
positivo.

Nas palavras do mesmo autor:

Uma criança normal, se tem a confiança do pai ou da mãe, usa de todos os


meios possíveis para se impor. Com o passar do tempo, põe à prova o seu
poder de desintegrar, destruir, assustar, cansar, manobrar, consumir e
apropriar-se. Tudo o que leva as pessoas aos tribunais (ou aos manicômios,
pouco importa no caso) tem seu equivalente normal na infância, na relação
da criança com seu próprio lar. Se o lar consegue suportar tudo o que a
criança pode fazer para desorganizá-lo, ela sossega e vai brincar; mas
primeiro os negócios, os testes têm que ser feitos e, especialmente, se a
criança tiver dúvida quanto à estabilidade da instituição parental e do lar (que
para mim é muito mais do que a casa). Antes de mais nada, a criança precisa
estar consciente de um quadro de referência se quiser sentir-se livre e se
30

quiser ser capaz de brincar, de fazer seus próprios desenhos, ser uma criança
irresponsável. (WINNICOTT, 2014, p. 129).

Para explicar a importante concepção sobre a necessidade de testar a


referência parental, o autor também nos traz que:

O fato é que os estágios iniciais do desenvolvimento emocional estão repletos


de conflito e desintegração potenciais. A relação com a realidade externa
ainda não está firmemente enraizada; a personalidade ainda não está bem
integrada; o amor primitivo tem um propósito destrutivo e a criança pequena
ainda não aprendeu a tolerar e enfrentar os instintos. Pode chegar a fazer
essas coisas e mais se o seu ambiente for estável e pessoal. No começo, ela
tem necessidade absoluta de viver num círculo de amor e força (com a
conseqüente tolerância), para não sentir medo excessivo de seus próprios
pensamentos e dos produtos de sua imaginação, a fim de progredir em seu
desenvolvimento pessoal. (WINNICOTT, 2014, p. 129).

A criança considerada normal, segundo Winnicott (2014), terá a ajuda de seu


lar para desenvolver a sua própria capacidade de controlar-se. Se a criança não
encontra uma referência ela pode se tornar angustiada, e irá buscar essa referência
fora de seu lar, procurando uma estabilidade externa. E aqui se coloca a criança que
enfrenta a situação de delinquência, e a tendência antissocial. Busca, portanto, na
sociedade e em demais meios sociais, como a escola, a estabilidade que não
encontrou em seu lar “a fim de transpor os primeiros e essenciais estágios de seu
crescimento emocional”. (WINNICOTT, 2014, p. 130).

Como afirma Winnicott (2014):

A delinquência indica que alguma esperança subsiste. Vocês verão que,


quando a criança se comporta de modo anti-social, não se trata
necessariamente de uma doença, e o comportamento anti-social nada mais
é, por vezes, do que um SOS, pedindo o controle de pessoas fortes,
amorosas e confiantes. Entretanto, a maioria dos deliqüentes são, em certa
medida, doentes, e a palavra doença torna-se apropriada pelo fato de que,
em muitos casos, o sentimento de segurança não chegou à vida da criança a
tempo de ser incorporado às suas crenças. Enquanto está sob forte controle,
uma criança anti-social pode parecer muito bem; mas, se lhe for dada
liberdade, ela não tardará em sentir a ameaça de loucura. Assim, ela
transgride contra a sociedade (sem saber o que está fazendo) a fim de
restabelecer o controle proveniente do exterior. (WINNICOTT, 2014, p. 131).

Desta forma, o autor define a tendência antissocial como tendo um “elemento


que compele o meio ambiente a ser importante” (WINNICOTT, 2014, p. 139). Ou seja,
é uma ação do inconsciente do sujeito que força alguém a cuidar dessa criança,
quando há esperança de encontrar, pois, ela necessita de um controle externo para
31

criar um ambiente interno bom. É a partir desse meio, do ato delinquente e da


tendência antissocial, que o sujeito busca uma filiação, insígnias paternas para
estabelecer a referência. Dessa forma, a privação, como nos traz o autor, não é
simplesmente uma carência, mas sim uma falta, um desapossar de algo que para a
criança foi bom e que a foi privado.

E para caracterizar a tendência antissocial, Winnicott (2014) destaca as direções


que essa pode tomar:

Uma direção é representada tipicamente pelo roubo e a outra pela destruição.


Numa direção a criança procura alguma coisa, em algum lugar, e não a
encontrando busca-a em outro lugar, quando tem esperança. Na outra, a
criança está procurando aquele montante de estabilidade ambiental que
suporte a tensão resultante de comportamento impulsivo. É a busca de um
suprimento ambiental que se perdeu, uma atitude humana que, uma vez que
se possa confiar nela, dê liberdade ao indivíduo para se movimentar, agir e
se excitar. (WINNICOTT, 2014, p. 140).

Melman (2000) traz a delinquência como característica possível daquele que


não passou pela internalização da lei simbólica, se caso ocorresse, isso iria determinar
uma filiação que colocaria o sujeito em dívida. Porém, como isso não ocorreu nesse
sujeito, por falta de um vínculo transferencial que estabelecesse a lei simbólica, não
há uma dívida para quitar, são os outros que devem a ele, algo que lhe deixaram faltar.
Desta forma, vai em busca de algo que supra essa falta, nem sempre sendo uma
metáfora, ou seja, na “base da tendência anti-social está uma boa experiência inicial
que se perdeu” (WINNICOTT, 2014, p. 145).

Nesse sentido Melman (2000) propõe:

As condutas delinquentes são simbólicas de uma falta, e de uma falta


essencial, uma vez que é a falta de acesso ao objeto que conta [...] trata-se
de uma falta de acesso a este objeto que comanda o gozo, isto é, ao falo”.
(MELMAN, 2000, p.44).

Sobre a questão do falo e sua ligação com a falta do sujeito, tem-se como
referência o entendimento de Fleig (1998):

Segundo a psicanálise, aquilo que nos falta e que por isso mesmo detém o
máximo valor se denomina de falo. E isso é o que nos falta a todos. Somente
temos um certo acesso ao falo através de suas representações. Por isso
mesmo que o calor [...] não se mede simplesmente pela operação de sua
produção ou pelos atributos empíricos, mas pela posição de representação
que tem para o sujeito numa dada cultura. O valor do objeto se estabelece
pelo plus de felicidade que promete a cada um de nós. Dado isso, podemos
ver que quanto mais alguém encontra distante de participar efetivamente do
valor fálico circulante no social tanto mais se encontra numa injunção que
32

pode levar ao ato de inscrever-se na representação fálica à força. (FLEIG,


1998, p. 44).

Esse conceito se complementa com o que Winnicott (2014) aponta ao sublinhar


que a privação ocorre no período em que “o ego está em processo de realização da
função das raízes libidinais e agressivas (ou motilidade) do id” (WINNICOTT, 2014, p.
145).

Essa privação, ou perda sofrida pelo sujeito liga-se ao mesmo mecanismo de


luto, e assim, Winnicott (2014) afirma que ambos os mecanismos são complexos e só
alcançados por um indivíduo maduro, mas que ainda depende de um ambiente que
sustente uma elaboração. O luto faz com que o sujeito internalize o objeto o qual é
sujeitado ao ódio do ego, parte desse ódio pode ser, de forma saudável, acessado
conscientemente. Isso, no entanto, requer do sujeito a maturidade que um bebê ou
uma criança submetida à privação dos cuidados maternos ainda não possui.

Portanto, fica claro que o processo de luto ou perda no qual o bebê precisa
passar quando a mãe se ausenta ou este é privado de seus cuidados, depende de um
ego maduro o suficiente para elaborar esse processo. E esse entendimento, de acordo
com o autor, irá ser essencial em um trabalho com uma criança que passou pela
privação dos cuidados maternos, pois, o momento em que o ego está se constituindo
será o que caracteriza a maior ou a menor possibilidade para uma reversão desse
sujeito.

Vale ressaltar que essa ausência ou privação dos cuidados maternos, não
depende, necessariamente, à ausência física da pessoa que cuida da criança, mas
sim a capacidade desta em suprir as necessidades psíquicas do bebê.

Para exemplificar o contexto da privação, Winnicott (1983) salienta que:

Um rapaz ou uma moça anti-social é uma criança privada de algo. A criança


privada de algo é uma criança que teve algo suficientemente bom, e depois
não mais o teve, o que quer que seja, tendo havido então suficiente
crescimento e organização do indivíduo na ocasião da privação, para essas
privações serem percebidas como traumáticas. Em outras palavras, no
psicopata, no delinquente e na criança anti-social existe lógica na atitude
implícita "o ambiente me deve algo" (...) A ênfase é na falha ambiental e a
patologia está primariamente no ambiente e apenas secundariamente na
reação da criança. (...) O fato ambiental não é um trauma isolado, mas um
padrão de influências que distorcem; o oposto, de fato, do ambiente favorável
que permite a maturação do indivíduo. (WINNICOTT, 1983, p.123-127).
33

Para aprofundar essa questão, Winnicott (2005) ao afirmar que o processo da


perda surge a partir da privação (perda) de algo que possuía e que lhe foi retirado,
chamando esse processo de de(privação), ou desapossamento11. Para o autor, a
tendência antissocial surge nas crianças que sabem que tiveram uma sustentação e
esta lhe foi retirada, ou seja, uma falha do ambiente. E aqui surge a noção de
esperança, no qual o sujeito espera e quer que o ambiente devolva o que lhe foi
privado. Seus atos, então, são um apelo para atenderem sua esperança.

A agressividade pelo entendimento de Winnicott (2014) é força vital que parte


dos impulsos do sujeito, para reconhecer o ambiente e fazer o reconhecimento deste
como desvinculado do sujeito. Abram (2000, citado por Maia, 2005, p.4) destaca que
"... a agressão modifica suas características à medida que o bebê cresce. Essa
mudança depende do ambiente com que o bebê se depara". E ainda, esta força
realizadora necessita ser compreendida, significada e acolhida, não necessariamente
contida.

A mãe ocupa no imaginário do bebê uma posição de fantasia com sua presença
constante, e assim esta pode ser recriada e destruída, através da agressividade. Ou
seja, a presença constitui a agressividade como uma construção (na fantasia), o que
não ocorre se esta não se faz presente, e sim se dá o desamparo. A busca da criança
por esse objeto que não encontra redireciona sua agressividade de forma destrutiva,
pois, não é possível para o bebê absorver tal falta, falha do ambiente.

A agressividade, porém, na sua forma inicial, primária, está relacionado ao


amor, quando pelo sentido de voracidade, limitando-se a boca. O bebê tem o impulso
de morder, ou seja, “talvez a palavra voracidade expresse melhor do que qualquer
outra a ideia de fusão original de amor e agressão, embora o maior neste caso esteja
confinado ao amor-boca” (WINNICOTT, 2014, p. 96).

O bebê então, apesar de poder utilizar sua agressividade de forma dolorosa só


o faz sem intenção, o que busca é a sua satisfação, e sabe que para isto ocorrer pode
por em perigo seu objeto amado. De forma geral, o bebê concilia tais coisas, porém,
isso lhe causa frustração, e é preciso buscar em outra parte de si para odiar, ou

11Difere-se de privação, no qual segundo o autor, é a situação no qual a criança nunca teve algo para
perder, é se negado o contato dos cuidados maternos de início.
34

alguém externo que suporte ser odiado, podendo ser na forma de fantasia. Isso ocupa
um grande tempo para que o bebê consiga conciliar as suas satisfações com seus
impulsos agressivos, e utilizá-lo como energia para se desenvolver sadiamente.

Todo esse processo de agressividade como forma construtiva só pode se


desenvolver se houver como suporte um ambiente confiável, que deriva do holding de
sua mãe. Este conceito, como já mencionado, é trazido por Winnicott e explicado por
Davis e Walbrige, (1982, p. 113) ao situar que: "a função de suporte em termos
psicológicos é fornecer apoio egóico em particular na fase da dependência antes do
estabelecimento da integração do ego." (DAVI; WALBRIGE, 1982, p. 113).

Abram (2000) situa, especialmente, o conceito de Winnicott de agressividade:

A agressividade no indivíduo, de acordo com Winnicott, tem seu início em seu


próprio interior e é sinônimo de atividade e motilidade. No princípio de sua
obra Winnicott refere-se a "agressão primária", estabelecendo que a
agressividade instintiva é originalmente parte do apetite. A agressão modifica
suas características à medida que o bebê cresce. Essa mudança depende
completamente do tipo de ambiente que o bebê se depara. Com uma
maternagem suficientemente boa e um ambiente facilitador, a agressão na
criança que se desenvolve transforam-se em algo integrado. Se o ambiente
não for bom o bastante, a forma encontrada pela agressão para manifestar-
se é pintada em cores anti-sociais, ou seja, surge a destrutividade. (ABRAM
(2000) apud MAIA (2005, p 4).

Para o autor a agressividade na forma destrutiva é o desvio que a agressividade


saudável toma, denunciando essa falha, e que apesar de não entendível por quem
recebe, é uma forma positiva de sinal dessa falta, o que lhe afirma a esperança da
criança com tendências antissociais. Isso se inicia com atos considerados
incomodativos como o choro excessivo, o xixi na cama, e que se não posto limite irá
atravessar o seio familiar, estendendo-se de outras formas para a escola, a sociedade
e podendo ter como etapa final a prisão. (WINNICOTT, 2014).

A (de) privação a qual a criança pode sofrer precocemente priva-a dos laços
afetivos que auxiliam na agressividade de forma construtiva, não canalizando-a para
a criatividade e questões reparatórias e constitutivas saudáveis. A reparação se dá
quando a mãe proporciona uma presença confiável e estável, e assim, a criança,
através de brincadeiras e da sua criatividade, pode amar, destruir e então reparar, no
seu imaginário. Mas, se não houver essa presença materna estável, a reparação
35

acontece então, no meio externo, substituído pela destrutividade, e, a agressividade


desliza-se para a violência.

Como proposto por Winnicott (1989):

A tendência anti-social está inerentemente ligada à privação. Em outras


palavras, um fracasso específico é mais importante que um fracasso social
geral. Para a criança que é objeto de nosso estudo, pode-se dizer que as
coisas iam bem, mas, de repente, começaram a não ir tão bem assim. Ocorre
uma modificação que altera a vida inteira da criança, e essa modificação
ambiental acontece quando a criança já tem idade suficiente para entender
as coisas. (WINNICOTT, 1989, p. 72).

O autor traz que "o trauma implica que o bebê experimentou uma ruptura na
continuidade da vida" (WINNICOTT, 1975, p. 135), com isso, a privação deixa a
criança “... notoriamente inquieta e incapaz de brincar, apresentando um
empobrecimento da capacidade de experiência cultural", em razão do “... fracasso da
fidedignidade ou perda do objeto significa para a criança, perda da área da brincadeira
a perda de um símbolo significativo". (WINNICOTT, 1975, p. 141).

Portanto, podemos relacionar a tendência antissocial como uma “[...] via de


solução da privação emocional”. (SÁ, 2001, p. 13). E como uma busca pelo objeto
negado a ela, como afirma Winnicott: “[...] A criança que rouba um objeto não está em
busca do objeto roubado, mas da mãe sobre a qual ela tem direito” (WINNICOTT,
2000, p. 411).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos acerca dos desdobramentos dos vínculos afetivos e suas


significâncias para o desenvolvimento psíquico de todos os sujeitos atravessam
décadas, partir de diversos autores e discussões, e isso se apresenta de forma muito
notória nos dias atuais, principalmente, no que foi observado durante o Estágio
Supervisionado de Psicologia e Processos Sociais no que remete as fragilidades e
rupturas em seus processos vinculatórios. Ressaltando que este estágio não foi foco
neste trabalho, mas foi o que originou os questionamentos para as reflexões aqui
realizadas.

Para este trabalho foi considerado o que o autor John Bowlby (2002) estabelece
ao afirmar que os vínculos afetivos são a base segura para o desenvolvimento físico
e a constituição psíquica dos sujeitos, e essa base é a figura materna, que proporciona
não apenas os cuidados biológicos, mas de forma equivalente e imprescindível, os
cuidados psíquicos. Da mesma forma, que Winnicott (1982) sustenta ao reconhecer
que aos adultos saudáveis e independentes foi proporcionado o vínculo afetivo, o qual
nomeia como amor.

As consequências da fragilidade desses vínculos afetivos foram apresentadas


nas problemáticas de dificuldade de aprendizagens e a tendência antissocial e
delinquente. A primeira se relacionado à privação do contato com o Outro que
proporcionaria a possibilidade do desejar conhecer para o sujeito. A tendência
antissocial, apresentada como uma busca por uma referência que não se estabeleceu
pelas figuras parentais.

Dessa forma, os autores estudados expressam a importância dos vínculos


afetivos como sendo a principal função para uma saúde psíquica estável em todos os
sujeitos, estabelecendo a importância absoluta da família (os cuidadores) nesse
processo.

Como possível trabalho é necessário promover o fortalecimento dos vínculos


fragilizados e de alguma forma concebível proporcionar meios para que as rupturas
sejam amenizadas para os sujeitos que foram expostos a esses processos.
Possibilitar assim, condições para que os sujeitos possam ressignificar e sustentar
37

sua posição enquanto sujeito a partir de um referencial psíquico. Esse processo pode
ser pensado com a utilização do brincar, que pode ajudar a direcionar tais questões
da criança.

A partir desse trabalho surgem outros questionamentos que podem vir a ser
objetivos de estudos mais aprofundados, como que mecanismos psíquicos os sujeitos
conseguem elaborar para se constituir psiquicamente para além das fragilidades e
rupturas que seus vínculos afetivos com sua figura materna, foram acometidos? Seria
apenas um deslocamento de seu vínculo para outra figura de apego? E como esta se
constitui?
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