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SUL – UNIJUÍ
Ijuí
2015
ANDRIELI REGINA SEHNEM PADILHA
Ijuí
2015
ANDRIELI REGINA SEHNEM PADILHA
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Profa. Dra. (orientadora)
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Profa. (avaliadora)
Ijuí
2015
DIDICATÓRIA
À minha mãe Liséte, que dedicou amor incondicional a mim e meus irmãos,
ensinando-nos a importância da família e da educação.
À meu pai Adilson, pelo exemplo de homem honesto e pai dedicado e por ter me
ensinado da importância e da simplicidade e do bom humor.
Aos meus irmãos Andressa e Cristiano, que me proporcionaram crescer na diferença
e valorizar os vínculos familiares.
Ao meu namorado Fernando, pelo apoio, pela paciência e pelo amor dedicado a
mim, principalmente ao longo dessa trajetória.
À meu avô Henrique (in memoriam), pelos ensinamentos deixados acerca do amor e
do trabalho.
À minha avó Ilsa, pelo exemplo de mãe, luta e perseverança, e por todos os
momentos que foi além de avó, minha mãe.
À minha amiga e colega Andressa Noro, pela amizade e pelos momentos de
compartilhamento profissional e pessoal que me permitiram crescer de forma impar
durante os últimos anos de graduação.
À todos vocês meu agradecimento por estarem ao meu lado e contribuírem a seu
modo para a conclusão dessa jornada.
RESUMO
Este trabalho traz uma reflexão sobre a infância contemporânea de um modo nunca
visto antes na história. Nesta direção, leva-se em consideração as transformações
históricas, a sociedade, a formação da identidade, o consumismo, o universo infantil
criado pela mídia, o brincar e o brinquedo, o psiquismo infantil. A escrita ainda traz a
caracterização da família contemporânea, o declínio da função paterna e suas
consequências na dinâmica familiar, na estruturação infantil e na sociedade. Autores
da sociologia, filosofia e da psicologia dão o embasamento teórico, permitindo maior
compreensão dos fenômenos que se apresentam na infância contemporânea.
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8
2 A SOCIEDADE CAPITALISTA E O INFANTIL CONTEMPORÂNEO ...................... 10
2.1 GLOBALIZAÇÃO E CAPITALISMO ................................................................. 10
2.2 O CENÁRIO INFANTIL CONTEMPORÂNEO .................................................. 15
3 O BRINCAR E OS BRINQUEDOS NA CONTEMPORANEIDADE ........................ 19
4 ONDE VIVEM AS CRIANÇAS HOJE? ................................................................... 27
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 34
6 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 36
8
1 INTRODUÇÃO
1
Filme americano de comédia dramática, ficção científica e romance. Escrito,dirigido e produzido por
Spike Jonse. Lançado em 2013.
13
atual o filme foi muito bem avaliado pela crítica e ganhou diversas premiações.
Levando em conta essa nova forma de socialização, não podemos deixar de
lado os lugares do adulto e da criança, que nessa nova óptica são colocados como
seres iguais incompletos e dependentes, inseridos em uma sociedade que transmite
desmedidamente novos valores, crenças, informações, normas, imagens e estilos de
vida sem nenhum pudor.
É um novo modelo cultural que provoca grande influência sobre a vida
privada, as relações parentais e as estruturações infantis. Desenha-se
concomitantemente a essas mudanças um lugar infantil profundamente ligado ao
tecnológico, ao consumismo, ao real e às imagens em contrapartida com o simbólico
2
, com a palavra e a elaboração.
Ao analisar os séculos passados podemos sublinhar que a inserção da
criança no discurso social, enquanto categoria, começa a surgir a partir do século
XVII, com os discursos médico-científico e pedagógico. Em contrapartida o que
vemos atualmente é que o conceito de criança é resultado de transformações no
sistema político-econômico-social, que leva em conta o avanço e o desenvolvimento
do capitalismo.
A representação contemporânea da infância é marcada então por valores
burgueses de liberdade e felicidade. Liberdade, no sentido de ser detentora de
direitos e até mesmo capaz de decidir sobre seu futuro, e a felicidade como um ideal
social que é depositado na criança e constantemente reforçado pelos pais como
demanda. É na tentativa de alcançar a felicidade que o capitalismo encontra espaço
para capturar a criança.
O que se percebe através dos tempos é que o lugar da criança frente ao
mercado foi se modificando, como esclarece Pereira(2002) :
2
Real, Simbólico e Imaginário são os três registros psíquicos de acordo coma teoria psicanalítica. O
Real é o impossível, aquilo que não pode ser simbolizado e é impenetrável para o sujeito. O
Simbólico é o lugar onde se estrutura a linguagem e é através dessa que se manifesta. Essa
linguagem é o que estrutura o sujeito. O Imaginário corresponde ao ego do indivíduo e é onde se
instala as identificações.
14
O lugar da Tv, ou melhor, a TV como lugar, nada mais é que o novo espaço
público,ou uma esfera pública expandida. O exemplo brasileiro é um dos
mais indicados do mundo para quem observar os detalhes de como se dá a
expansão da esfera pública e, mais ainda, como se dá a sua constituição
em novas bases. Ás vezes tenho a sensação de que, se tirássemos a TV de
dentro do Brasil, o Brasil desapareceria. A televisão se tornou, a partir da
década de 1960, o suporte do discurso, ou dos discursos que identificam o
Brasil para o Brasil. Pode-se dizer que a TV ajuda a dar o formato da
democracia. (BUCCI, 2004, p.32).
A mídia transmite e contesta na maioria das vezes valores éticos e morais que
são instituídos na família, tirando assim seu valor e impondo uma cultura interessada
apenas no lucro. Essas informações constantes e repetitivas não sofrem ponderação
crítica e acabam ganhando valor de verdade, autoridade e permissividade.
O contato desmedido com essas informações e a falta de intervenção e
esclarecimento sobre alguns dados podem estimular a realização de desejos que
até então, eram sublimados e/ou reprimidos pela cultura. Além disso, algumas
perturbações na capacidade subjetiva podem ser percebidas no que diz respeito a
discriminação entre o real, a fantasia, o momentâneo e o rotineiro.
A criança como um ser em construção procura elementos em seu meio que
proporcionem a formação de sua subjetividade. Ao mesmo tempo em que colhe
elementos externos vai moldando os internos, porém quando esta criança tem um
contato constante com a publicidade desmedida, os elementos externos acabam se
sobressaindo e afetando suas manifestações espontâneas.
desse universo infantil. Para além dessa simples transmissão há uma publicidade
que tem por objetivo seduzir, impor e condicionar inconscientemente o consumidor,
fazendo progressivamente com que o mesmo perca a percepção sobre seus reais
desejos. Vemos uma transmissão tecnológica e sedutora que traz aos lares, e aos
espaços sociais onde esta criança circula, os produtos que ela precisaria para ser
aceita e reconhecida socialmente. E para além da aceitação social os produtos
também carregam promessa de felicidade.
A transformação do infantil como público-alvo no consumismo começou a se
desenhar a partir da década de 1980, tendo como base o imperativo cultural, de que
se é preciso ter para ser. Assim, o consumismo tornou-se uma prática social.
Como já destacado no capítulo anterior, os meios de comunicação, assim
como a música, o cinema, os vídeos e os jogos de computadores desenham novos
ídolos infantis que passaram a representar a criança e consequentemente ter
influência na construção de sua identidade. Esses personagens aliados à indústria
do brinquedo formam um círculo envolvente de indução ao consumismo, e que estão
sempre se reformulando para permanecer presente no cotidiano infantil .
Ao mesmo tempo que surgem novos aparelhos destinados ao público infantil,
os que anteriormente eram destinados somentes aos adultos também se atualizam,
porém o que nos chama atenção é como essas transformações e como esses
aparelhos são tomados por esses dois indivíduos. Para o adulto é necessário uma
nova forma de pensar e agir, já para a criança estes aparelhos tomam lugar
constitutivo e na forma de brinquedo são recobertos lúdicamente.
Cotidianamente vemos as crianças terem maior desenvoltura com as
novidades tecnológicas, essa habilidade a torna independente da tradução e
apresentação por meio do adulto. Por muitas vezes ela torna-se a tradutora dos
significados tecnológicos para o adulto.
Nota-se que a criança foi criando um espaço social ativo, status de
consumidor e um universo totalmente seu, logo tornou-se indispensável um
aproprimoramento nas pesquisas e uma reconstrução do saber sobre o infantil.
Entre os avanços trazidos por essa reconstrução, temos os livros especializados,
espaços diferenciados e a articulação do estatuto da criança que prevê direitos e
deveres a esta.
Assim como em outros momentos históricos, na contemporaniedade vemos
que a infância e o brinquedo ganham diferentes dimensões e significações, que são
21
Assim o brinquedo foi se tornando cada vez mais estranho para o universo
adulto. "[...]quanto mais atraentes (no sentido corrente) forem os brinquedos, mais
distantes estarão de seu valor como, instrumentos de brincar; quando ilimitadamente
a imitação anuncia-se neles, tanto mais se desviam da brincadeira viva."
(BENJAMIN, 1986, p. 93).
Como nos explicam os autores citados, ao nos depararmos com esse forte
crescimento no oferecimento de imagens vemos consequentemente um
empobrecimento imaginário nas crianças. Imaginário este que sustenta o brincar,
suas fantasias, o faz de conta na cena, entre outros enlaces que sustentam os laços
que a criança cria com seus semelhantes.
37 e38)
[...] Não pintam as bonecas. São pintadas pelos pais, que lhes oferecem
batons, roupas provocantes, esmaltes. Isso fala de um horizonte onde o
corpo ganha primazia como marca subjetiva. […] Não sabem brincar. Ou
talvez não tenham o que brincar. Sabem, sim, olhar, assistir cenas. Oferecer
seu corpo para ser vestido pelo desejo dos pais que se dirige aos fantasmas
que os fundam e que na ordem sexual lhes remete a incertezas. (MEIRA,
1997, p. 25)
perdendo seu espaço para outros meios, principalmente o econômico, que ditam os
novos modos de relação.
Independente da configuração familiar, sua função é dar suporte para a que a
criança atinja a maturidade, e que possa formar no meio familiar seus primeiros
vínculos necessários para a sobrevivência. A família também deve oferecer à criança
valores, papéis e histórias que desenharão posteriormente sua identidade.
Essa identidade, como já vimos no primeiro capítulo, se modifica de acordo
com o período social e histórico em que os sujeitos estão inseridos. Assim as
identidades que se formam na sociedade contemporânea são provisórias, variáveis
e problemáticas, pois os sistemas de significação e representação cultural estão
fragilizados.
É a família que possibilita o desenrolar do desenvolvimento psíquico,
deixando marcas que fogem a consciência infantil e adulta. Assim se formam
conceitos e linguagens que perpetuarão durante toda a vida do sujeito como
referência e suporte para lidar com as mais diversas situações cotidianas.
Assim torna-se fundamental que a família ofereça á criança uma inserção na
cultura, através do jogo entre a função materna e paterna, que vão assim marcando
seu corpo e atribuindo sentido aos seus movimentos. Essa é a única forma que a
criança tem para se estruturar e se inserir na linguagem, inscrevendo aí uma cadeia
significante.
É a partir dos cortes, das marcas, das inscrições que o Outro irá realizando,
que o corpo subjetivado será constituído, e não ao contrário como entende-
se habitualmente no campo psicomotor. Não é que a criança já nasça com
um esquema corporal, como uma superfície corpórea já dada, e que, deste
modo, o corpo vá crescendo, são justamente os cortes, as inscrições, os
que vão construindo a superfície corporéa de um sujeito. (LEVIN,1995, p.
54).
psíquicas. 3
Analisando o quadro das famílias contemporâneas, nota-se que está muito
presente o declínio da função paterna como algo subjetivo e social. Porém, é
necessário lembrar que a função paterna é um papel e não uma pessoa em
especifico, ou seja, não precisa ser desempenhada necessariamente pelo pai
biológico. Deve ser um pai simbólico que vai exercer influência na estruturação
psíquica da criança. Para além desse papel simbólico, o pai deve ter participação em
sua história mítica.
Dessa forma pode-se afirmar que a procriação não é o que designa o lugar de
pai e sim sua fala. É a palavra que une as duas funções de paternidade, a de
nomeação e de transmissão sanguínea. O aparato biológico aponta o genitor, e seu
discurso permite ocupa um lugar de dominação afastando o filho do mundo dos
instintos, encarnado primordialmente na mãe.
3
As instâncias psíquicas se dividem em Id, Ego e Superego. O Id é fonte de energia psíquica e o
aspecto da personalidade relacionado aos instintos; o Ego é o aspecto racional da personalidade
responsável pelo contraste dos instintos e o Superego é o aspecto moral da personalidade, produto
da internalização dos valores e padrões recebidos dos pais e da sociedade.
31
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
6 BIBLIOGRAFIA
BUCCI, Eugênio, KHEL, Maria R. Videologias: ensaio sobre televisão. São Paulo:
Boitempo,2004.
DOLTO, F. A causa das crianças. São Paulo, Ideias & letras, 2005.
MORENO, L. K. Televisão: a babá nossa de cada dia. Jornal da USP, p.6-9. 1992.