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DOI: 10.5433/1679-0383.2021v42n1p99

Divórcio, fim ou recomeço? Avaliações e percepções


frente às Oficinas de Parentalidade

Divorce, end or restart? Evaluations and perceptions


above the Parenthood Workshops

Liniker Douglas Lopes da Silva1, Luciana Maria da Silva2

Resumo

No decorrer dos processos de divórcio/dissolução conjugal, os genitores podem apresentar dificuldades


em dissociar parentalidade de conjugalidade, envolvendo os filhos em seus embates, o que pode ser
prejudicial ao desenvolvimento das crianças e adolescentes. Pensando nisso, em 8 de maio de 2014
o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio da Recomendação 050/14, orientou aos tribunais
do País a adotarem as Oficinas de Parentalidade como política pública de resolução e prevenção de
conflitos familiares. Nesse sentido, o presente trabalho objetiva verificar as avaliações e percepções
imediatas dos genitores que participaram das Oficinas de Parentalidade em um município do Triângulo
Mineiro (Minas Gerais, Brasil). Trata-se de um estudo de corte transversal amparado na abordagem
mista de pesquisa que contou com a participação de 78 genitores. Dados quantitativos foram descritos
em porcentagens e qualitativos foram analisados via técnica de análise de conteúdo. Os resultados
evidenciaram que, na opinião dos genitores, as Oficinas de Parentalidade constituíram-se como
um importante espaço de reflexão, auxiliando-os a melhorar suas relações familiares, ainda que o
conflito conjugal e a culpabilização do ex-parceiro continue preponderando para alguns participantes.
Enquanto uma política pública as Oficinas de Parentalidade demostram que o divórcio não significa o
fim das relações familiares, mas sim um recomeço.
Palavras-chave: Divórcio. Parentalidade. Relações familiares. Relações pais-filho.

Abstract

In the course of divorce/marital dissolution processes, parents may experience difficulties in


dissociating parenthood from conjugality, involving children in their conflicts, which can be
detrimental to the development of children and adolescents. With that in mind, on May 8, 2014, the
National Council of Justice (CNJ), through Recommendation 050/14, instructed the country’s courts
to adopt Parenting Workshops as a public policy for resolving and preventing family conflicts. In
this sense, the present work aims to verify the immediate evaluations and perceptions of the parents
who participated in the Parenting Workshops in a city in the Triângulo Mineiro (Minas Gerais,
Brazil). This is a cross-sectional study supported by the mixed research approach that involved the
participation of 78 parents. Quantitative data were described in percentages and qualitative data were

1
Doutorando em Psicologia na Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Professor do Departamento
de Psicologia da Universidade de Uberaba (Uniube), Uberaba, Minas Gerais, Brasil. E-mail: linikerlopes@usp.br
2
Doutorado em Psicobiologia pela Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Professora do
Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba, Minas Gerais, Brasil.
E-mail: lumarias@hotmail.com
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analyzed using the content analysis technique. The results showed that, in the opinion of the parents,
the Parenting Workshops constituted an important space for reflection, helping them to improve their
family relationships, even though the marital conflict and the blaming of the ex-partner continue to
predominate for some participants. As a public policy, the Parenting Workshops demonstrate that
divorce does not mean the end of family relationships, but a new beginning.
Keywords: Divorce. Parenting. Family relations. Parent-child relations.

Introdução ou subsistemas, ou seja, cada membro está interli-


gado, fazendo com que a mudança de um acarrete
A palavra “divórcio” vem do latim divortium, mudanças nos outros. Assim, a vivência da dis-
que quer dizer “separação”, que por sua vez é solução conjugal afetará não somente o casal, mas
derivada de divertere, que significa “tomar cami- sim, todos os que fazem parte do sistema familiar,
nhos opostos, afastar-se”. Em meio a estas signifi- inclusive as crianças e adolescentes, podendo ge-
cações, entende-se a dissolução conjugal como um rar tanto afastamentos, quanto aproximações entre
processo que ocorre no ciclo vital da família e que pais e filhos, a depender da dinâmica estabelecida
desafia sua organização e dinâmica relacional. O pelo ex-casal e da maneira como administram seus
divórcio foi regulamentado judicialmente no Brasil conflitos (JURAS; COSTA, 2018; MENDES et al.,
em 1977, evidenciando configurações familiares 2016; MINUCHIN; COLAPINTO; MINUCHIN,
que já se faziam presentes, de modo velado, em 2011;..OLIVEIRA;..CREPALDI,..2018;..SILVA;
nossa sociedade (CANO et al., 2009). Nas últi- CHAPADEIRO, 2019).
mas décadas, o número de processos de divórcio/ Enquanto um complexo fenômeno que pode
dissolução conjugal vem crescendo consideravel- acometer o sistema familiar, o divórcio/dissolução
mente em nosso País e tende a aumentar no decorrer conjugal..demanda..reorganizações..socioemocio-
dos anos (BRITO; SILVA, 2017). nais, processuais e estruturais em todos os membros
O elevado número de divórcios na contem- do..grupo..familiar..(LAMELA;..FIGUEIREDO,
poraneidade relaciona-se às transformações sociais 2016;..SILVA;..CHAPADEIRO;..SILVA,..2020;
e traz à baila novas formas de pensar e repensar RAPIZO, 2016). A literatura aponta que no decor-
famílias e suas relações que paulatinamente vêm rer dos processos de divórcio/dissolução conjugal,
sofrendo alterações, tanto em termos estruturais os genitores podem apresentar dificuldades em
quanto nas funções desempenhadas por seus mem- lidar..com..as..novas..configurações..familiares..e
bros..(SILVA,..CHAPADEIRO;..ASSUMPÇÃO, em dissociar a parentalidade, que diz respeito às
2019). Minuchin, Colapinto e Minuchin (1999) relações construídas entre pais e filhos e que de-
entendem a família como um sistema aberto no vem ser mantidas após a dissolução conjugal, da
qual os membros se relacionam entre si e com o conjugalidade que se refere ao relacionamento
ambiente, estabelecendo uma dinâmica relacional, conjugal estabelecido entre o casal no decorrer de
na qual desempenham determinados papéis na bus- sua união e chegara ao fim após o rompimento do
ca da estabilidade do sistema familiar. Em meio à casamento/união..estável..(GOMES;..PEREIRA;
dinâmica relacional, os membros da família enfren- RIBEIRO, 2016; ABREU; SILVA; SILVA, 2020;
tam as contradições de seus comportamentos, afe- SILVA;..CHAPADEIRO;..ASSUMPÇÃO,..2019;
tos, tensões e os conflitos que permeiam o ambiente HAMEINSTER;..BARBOSA;..WAGNER,..2015;
e que, de maneira concomitante, contribuem para PONCIANO; FÉRES-CARNEIRO, 2017).
que o sistema se mantenha dinâmico e em contínua No desenrolar dos processos de divórcio/
transformação. dissolução..conjugal..os..genitores..podem..acirrar
De acordo com a abordagem sistêmica, todos desavenças...que...mantinham...ainda...durante...a
os componentes da família são interdependentes relação conjugal e, por vezes, envolver os filhos
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em seus embates, o que pode ocasionar novos manipuladoras..e..comportamentos..nocivos..que


conflitos, como os de lealdade e alienação parental visam inibir o contato da criança ou adolescente
(CATENACE; SCAPIN, 2018). O conflito de le- com..o..outro..genitor,..o..que..pode..ocasionar..o
aldade se instaura quando a criança ou adolescente rompimento do vínculo afetivo do filho com um
se alia a um dos pais e imagina que ao se aproximar dos pais (CATENACE; SCAPIN, 2018; GOMES;
do outro genitor irá trair ou prejudicar o progeni- PEREIRA; RIBEIRO, 2016). Comportamentos ali-
tor que detêm sua lealdade. O afastamento afetivo enantes, possuem maiores probabilidades de ocor-
entre pais e filhos pode acarretar prejuízos ao de- rer em meio aos processos litigiosos de divórcio
senvolvimento psicossocial das crianças e adoles- e são considerados um tipo de violência praticada
centes, haja vista a importância da manutenção das contra crianças e adolescentes, podendo acarre-
relações parentais e a preservação dos vínculos afe- tar sérias consequências psíquicas e transtornos
tivos entre ambos os genitores e seus filhos após psicopatológicos..nos..envolvidos..(CATENACE;
a dissolução conjugal (NÜSKE; GRIGORIEFF, SCAPIN, 2018; LEITE; OLIVEIRA NETA, 2016).
2015). Cabe..ressaltar..que,..alienação..parental..e
A lealdade está relacionada com as triangu- síndrome de alienação parental (SAP) tratam-se de
lações que permeiam o sistema familiar e quanto conceitos interligados, porém diferentes. Enquanto
maior o desequilíbrio no triângulo pai-mãe-filho, a alienação parental diz respeito aos comporta-
maior..a..intensidade..dos..conflitos..de..lealdade mentos alienantes que visam o afastamento do
nos..indivíduos..(NÜSKE;..GRIGORIEFF,..2015; filho de um dos genitores, a síndrome de alienação
SILVA; CHAPADEIRO, 2019). Cabe ressaltar que parental, descrita pela primeira vez em 1980 pelo
as triangulações estão na base de qualquer sistema psiquiatra infantil Richard Gardner, relaciona-se
emocional presente no grupo familiar, ou seja, no ao conjunto de sinais e sintomas referentes às se-
momento em que a tensão entre dois membros da quelas emocionais e comportamentais de que vem
família, frequentemente os pais, alcança níveis a padecer os filhos alijados de um dos genitores
intensos de ansiedade, uma terceira pessoa, geral- pelo outro genitor (CATENACE; SCAPIN, 2018;
mente um filho, é triangulado para reduzir a tensão LEITE; OLIVEIRA NETA, 2016).
que se encontra no sistema, o que pode propiciar Ressalta-se a importância de manter uma
conflitos, ou não, a depender da dinâmica relacional visão crítica acerca da alienação parental, uma vez
familiar (BOWEN, 1979). que os padrões conflituosos que podem emergir no
Nesse sentido, a qualidade da relação copa- grupo familiar após o divórcio originam-se de uma
rental, ou seja, a coparentalidade desempenhada complexa teia de interações interpessoais entre os
pelos genitores para com seus filhos, se configura familiares envolvidos. Assim, deve-se haver um
como um importante aspecto preditor de conflitos aprofundamento na dinâmica relacional e na inte-
de lealdade e particularmente de triangulação dentro ração existente entre os indivíduos que compõem o
de um sistema familiar (SILVA; CHAPADEIRO; sistema familiar, a fim de evitar enquadrar a família
SILVA, 2020). A coparentalidade diz respeito à em diagnósticos pautados somente em rotulações
negociação e articulação conjunta dos genitores individualizantes e em termos que dividem seus
em coordenar suas responsabilidades no que se membros..em..vítimas..ou..culpados..(NEGRÃO;
refere ao cuidado, formação, desenvolvimento e GIACOMOZZI,...2015)....Nesse...sentido,...ainda
proteção dos filhos, bem como seus valores, ideais existem questões que devem ser investigadas no
e expectativas de maneira equilibrada (BÖING; que concerne à construção da parentalidade pós-
CREPALDI, 2016; KOSTULSKI et al., 2017). divórcio, com intuito de estimular a coparentalidade
Por sua vez, a alienação parental diz respeito e a qualidade dos vínculos e relações familiares após
à..situação..em..que..um..dos..progenitores,..busca a..dissolução..conjugal..(SILVA;..CHAPADEIRO,
se..aliar..a..um..filho,..munindo-se..de..estratégias 2019; SILVA; CHAPADEIRO; SILVA, 2020).
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Diante da complexidade do fenômeno do di- divórcio, muitos trabalhos destacam a importância


vórcio na contemporaneidade e suas reverberações dessas práticas serem constantemente avaliadas e
no sistema familiar, há a necessidade de superação aprimoradas, a fim de oferecer serviços cada vez
dos conflitos, ou seja, entendê-los e transformá- mais condizentes com as demandas de pais, mães e
los em oportunidade de melhoria da qualidade dos filhos após a dissolução conjugal (BRITO; SILVA;
relacionamentos pessoais e/ou sociais (BRASIL, 2017; SILVA; CHAPADEIRO; 2019; SILVA et al.,
2016; RAPIZO, 2020; SILVA; CHAPADEIRO, 2015; SILVA; CHAPADEIRO; SILVA, 2020).
2019;..SILVA..et..al.,..2018)...Assim,..torna-se Portanto, este estudo tem por objetivo veri-
necessário trabalhar com as demandas advindas do ficar as avaliações e percepções imediatas decor-
divórcio de modo a contribuir com formas não ad- rentes das intervenções realizadas com os genitores
versariais de solução de conflitos psicoemocionais, durante o projeto de extensão “Oficinas de Paren-
bem como construir intervenções que favoreçam a talidade”, em um município do Triângulo Mineiro,
construção da coparentalidade e a manutenção dos Minas Gerais, Brasil. Ainda, se pretende descrever
vínculos afetivos entre genitores e seus filhos, fo- as expectativas e reflexões da amostra de genitores
mentando comunicações não violentas e a revisão participantes do projeto acerca das oficinas.
de posturas nocivas dentro do sistema familiar,
uma vez que a literatura tem demostrado que com- Método
portamentos alienantes podem culminar na ruptura
dos laços familiares e acarretar sérias consequên- Tipo de estudo
cias, principalmente para crianças e adolescentes
(BRITO; SILVA, 2017; SILVA; CHAPADEIRO; Trata-se de uma pesquisa delineada no campo
ASSUMPÇÃO, 2019). das Ciências Humanas, com caráter observacional
Nesse sentido, em 8 de maio de 2014 o descritivo, amparada na abordagem mista (quanti-
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio da qualitativa),..de..corte..transversal...A..pesquisa
Recomendação 050/14, orientou a todos os tribu- qualitativa detém interesse em compreender os
nais do País a adotarem as Oficinas de Parentali- significados de fenômenos, manifestações, ocor-
dade como política pública de resolução e pre- rências, fatos, ideias e assuntos que representam e
venção de conflitos familiares, disponibilizando fornecem molde à vida das pessoas. Esse método
o material necessário para implantação em todo faz uso de pressupostos iniciais revistos, conceitos
o País (BRASIL, 2014). O projeto inicialmente construídos e conhecimentos originais produzidos
foi desenvolvido pelo Tribunal de Justiça de São (TURATO,...2011)....Nesse...sentido,...a...pesquisa
Paulo (TJSP), com o apoio e acompanhamento qualitativa..tenta..conceber..todas..as..etapas..da
do Conselho Nacional de Justiça e implantado na investigação e da análise como partes do processo
Comarca de São Vicente, estado de São Paulo, com social analisado, e também leva em consideração
o nome de Oficina de Pais e Filhos; posteriormente a sua consciência crítica possível (CRESWELL,
a intervenção passou a ocorrer em diversas outras 2010).
comarcas do País (BRASIL, 2016). Em relação à pesquisa quantitativa, quando
A literatura aponta que estudos acerca das essa não é exclusiva, serve de fundamento ao co-
repercussões da dissolução conjugal no sistema fa- nhecimento produzido pela pesquisa qualitativa.
miliar se mostram relevantes e atuais, ressaltando Tal forma de pesquisa verifica e explica a influência
a importância de pesquisas acerca de programas de variáveis preestabelecidas sobre outras variáveis
de intervenção voltados às famílias pós-divórcio e pode trabalhar em uma relação de complemen-
(SILVA; CHAPADEIRO; ASSUMPÇÃO, 2019; taridade..mútua,..sem..reduzir..os..processos..me-
OLIVEIRA; CREPALDI, 2018). Acerca das in- todológicos a limites exclusivamente positivistas
tervenções voltadas às famílias que vivenciam o (MINAYO, 2011).
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Divórcio, fim ou recomeço? Avaliações e percepções frente às Oficinas de Parentalidade

Participantes aos pais que, por precaução, são alocados em salas


diferentes (SILVA et al., 2015).
Fizeram parte deste estudo 78 genitores que O perfil socioeconômico dos 78 genitores
participaram de alguma das Oficinas de Parenta- que participaram do estudo apontou que a idade da
lidade entre junho e dezembro de 2016 em um amostra é em média de 37 anos, o que indica que os
município do Triângulo Mineiro. participantes das oficinas são relativamente jovens.
A partir da demanda identificada em um 45% são do sexo masculino e 55% do sexo femi-
município situado no Triângulo Mineiro, referente nino; esta equivalência demostra que tanto homens
às dificuldades encontradas pelas famílias durante quanto mulheres preocupam-se em buscar novos
os processos de divórcio ou dissolução da união conhecimentos acerca do divórcio e de suas re-
estável, foi implantado um projeto de extensão percussões. Destes, 28% declararam escolaridade
intitulado “Oficinas de Parentalidade”. O projeto básica, 50% escolaridade média e 21% escolari-
constitui-se em uma parceria entre uma universi- dade superior, e 1% declarou pós-graduação, indi-
dade do referido município e uma das promotorias cando que as oficinas atendem pessoas dos mais
da comarca local, tendo início em novembro de diversos graus de instrução.
2014; esta é segunda experiência do tipo no estado No que tange ao estado civil, 38% se decla-
e a primeira no interior. Em 2014, nas três Varas raram casados ou em uma união estável, diferente
de Família desta cidade tramitavam cerca de 7.800 daquele que os levaram a participar das oficinas,
processos relacionados a divórcios e eram protoco- 27% solteiros, 3% viúvos e 32% separados/divor-
lados cerca de 20 a 30 novos pedidos de divórcios ciados. O número de filhos ficou em média 1,7,
litigiosos mensalmente (SILVA et al., 2015). com idades entre 0 e 17 anos. Tais dados apontam
O...objetivo...da...intervenção...é...oferecer para a heterogeneidade da amostra atendida pelas
suporte às famílias para que possam entender as oficinas e demostram a importância de a interven-
novas configurações familiares advindas da dis- ção estar preparada para atender tanto pais quanto
solução conjugal e as repercussões de um divór- filhos, sejam crianças ou adolescentes, visto que os
cio conflituoso para crianças e adolescentes, a genitores possuem filhos de variadas idades.
fim de auxiliar as famílias a se organizarem e Os genitores que compuseram a amostra
colocarem em prática mudanças eficientes para o são provenientes de diversas regiões de nosso País
bom entendimento familiar. Busca-se, desta forma, (Norte, Nordeste, Sul e Sudeste) e atualmente to-
instrumentalizar e empoderar pais, mães e filhos, dos residem com algum familiar no município
favorecendo um menor dano emocional a todos onde foi realizada a coleta de dados. A profissão
os envolvidos, por meio de um viés educacional e dos..genitores..também..se..mostrou..heterogênea,
preventivo (SILVA et al., 2015). abrangendo indivíduos com profissões de alta, mé-
As Oficinas de Parentalidade são coordena- dia e baixa qualificação. A renda familiar variou de
das por uma equipe multiprofissional e acontecem 1 a 15 salários mínimos, demostrando, mais uma
uma vez por mês, aos sábados, em um campus vez, a heterogeneidade da amostra. No que tange
da referida universidade, com duração de quatro ao tipo de processo no qual os genitores estavam
horas..e..contam..com..público..diferente..a..cada envolvidos, os dados apontaram que 29% estavam
encontro. As Varas de Família da comarca local envolvidos em processos de divórcio, 20% em dis-
são responsáveis por convidar, mensalmente, 30 putas de guarda, 30% em processos relacionados à
famílias que estejam em processo de divórcio ou pensão, 19% em processos relacionados a visitas
dissolução da união estável para a participação nas e 2% declararam estar envolvidos em outros tipos
oficinas. Há uma oficina voltada para crianças de de processo. Vale ressaltar que 21% dos genitores
6 a 11 anos de idade, outra para adolescentes de encontravam-se envolvidos simultaneamente em
12 a 17 anos de idade e duas outras direcionadas mais de um tipo de processo.
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Instrumentos excluídos do estudo genitores que não participa-


ram das Oficinas de Parentalidade no período desta-
Os instrumentos utilizados na coleta dos da- cado ou que não aceitaram participar da pesquisa
dos foram: um Questionário Socioeconômico cons- voluntariamente por meio da assinatura do Termo
truído pelos pesquisadores e uma Ficha de Ava- de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
liação Inicial que consta no material de apoio das Os..participantes..foram..abordados..e..indagados
oficinas elaborado pelo CNJ. Estes instrumentos sobre sua vontade de participar da pesquisa antes
caracterizam-se por serem autoaplicáveis e foram de..iniciarem..o..preenchimento..do..Questionário
preenchidos antes do início das oficinas. O Ques- Socioeconômico e da Ficha de Avaliação Inicial,
tionário Socioeconômico abrangeu os seguintes e..somente..responderam..aos..instrumentos..após
itens: sexo, idade, cidade de origem, estado civil, assinatura do TCLE. O pesquisador foi previamen-
renda, escolaridade, local de residência, número de te treinado para prestar informações necessárias
filhos e idades, profissão e ocupação atual, renda ao..preenchimento..dos..instrumentos..e..elucidar
familiar e tipo de processo. Por sua vez, a Ficha questões sobre o sigilo e confidencialidade dos
de Avaliação Inicial visou examinar se os partici- dados, em linguagem clara e acessível, utilizando-
pantes já haviam ouvido falar das oficinas, como se das estratégias mais apropriadas à cultura, faixa
ficaram sabendo das mesmas, como definem seus etária, condição socioeconômica e autonomia dos
relacionamentos..com..o..ex-parceiro..e..com..o(s) convidados a participar da pesquisa. Para tanto, foi
filho(s) e o que esperavam das oficinas. concedido um período de tempo adequado para que
O instrumento utilizado para avaliar o grau os participantes pudessem refletir e, se necessá-
de satisfação e a percepção dos pais sobre o traba- rio, consultar o pesquisador. A Ficha de Avalia-
lho realizado durante as oficinas foi uma Ficha de ção Final foi respondida ao término das oficinas,
Avaliação específica para os genitores, que consta de modo individual e também autoaplicável. Os
no material de apoio das oficinas elaborado pelo participantes tiveram tempo livre para preencher
CNJ. Esta ficha caracteriza-se por ser autoaplicável os..instrumentos..iniciais..e..finais..de..avaliação,
e foi preenchida ao final de cada oficina, onde os sendo auxiliados pelo pesquisador quando surgia
genitores puderam deixar suas apreciações sobre o alguma dúvida.
trabalho realizado avaliando o método, material,
profissionais, espaço e duração, com espaço para Procedimento de análise de dados
sugestões,..observações..e/ou..reclamações...Nela
também constam perguntas relativas aos sentimen- Os dados socioeconômicos e as questões
tos e atitudes com relação aos filhos e ao ex- objetivas referentes às avaliações imediatas frentes
cônjuge, avaliando de forma geral os impactos às Oficinas de Parentalidade foram descritos em
gerados durante a realização da oficina. Ao final, há porcentagens. Já os dados qualitativos referentes
um espaço na ficha para que deixem um endereço às percepções da amostra frente às oficinas foram
de e-mail e/ou número de telefone para que possam submetidos à técnica de análise de conteúdo. De
ser contatados após dois meses a fim de avaliar se acordo com Bardin (2009), a análise de conteúdo
a oficina causou alguma consequência na sua vida, é caracterizada como um conjunto de técnicas que
na vida dos filhos e do ex-cônjuge. possibilitam..analisar..diversos..tipos..de..comuni-
cações. Assim sendo, utiliza procedimentos ob-
Procedimentos de coleta de dados jetivos e sistemáticos de descrição do conteúdo
presente nas mensagens, visando obter indicadores
A coleta se deu nas dependências da universi- que..permitam..a..inferência..de..conhecimentos
dade, nas salas de aula onde ocorrem as Oficinas de relativos às condições de produção/recepção das
Parentalidade específicas para os genitores. Foram mensagens.
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Divórcio, fim ou recomeço? Avaliações e percepções frente às Oficinas de Parentalidade

Considerações éticas 73%..dos..genitores..ficaram..“muito..satisfeitos”,


24% “satisfeitos” e 3% assinalaram a alternativa
O..projeto..que..deu..origem..a..este..estudo “prefiro não opinar”. A respeito do método, 82% o
foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa avaliaram como “muito bom”, 17% como “bom” e
da instituição de origem dos autores (Protocolo 1% como “regular”. Sobre o material, 75% o avali-
nº 52670716.5.0000.5154), e está amparado na aram como “muito bom”, 24% como “bom” e 1%
Resolução nº 466, de 12/12/2012, do Conselho como “regular”. O trabalho dos profissionais foi
Nacional de Saúde (CNS). avaliado por 90% dos genitores como “muito bom”
e por 10% como “bom”. Quanto ao espaço, 74% o
avaliaram como “muito bom” e 26% como “bom”.
Resultados e Discussão O tempo de duração das oficinas foi avaliado por
55% como “muito bom”, por 41% como “bom” e
Avaliações imediatas dos genitores acerca da por 4% como “regular”. Ao final, 100% da amos-
participação nas Oficinas de Parentalidade tra sugeriram que indicariam a oficina a alguém e
84% assinalaram que gostariam de ser contatados
As avaliações imediatas dos genitores diante novamente após dois meses, deixando um contato.
do trabalho realizado nas Oficinas de Parentalidade
foram descritas em porcentagens. No que tange ao Percepções imediatas dos genitores
contexto relacional familiar e às expectativas dos frente às Oficinas de Parentalidade
genitores para com as oficinas, os dados indicaram
que 28% já haviam tomado conhecimento da exis- Os dados qualitativos referentes às percep-
tência desta intervenção e 72% ainda não conhe- ções..imediatas..dos..genitores..frente..às..Oficinas
ciam o trabalho. Destes, 67% souberam das oficinas de..Parentalidade..foram..analisados..pela..técnica
por meio de audiência, 6% por amigos, 9% por da análise de conteúdo segundo Bardin (2009) e
alguém que já havia participado e 18% por outras agrupados em três categorias temáticas: Categoria
formas. O número expressivo de participantes que 1 - Impressões gerais frente às Oficinas de Paren-
conheceram as oficinas via audiência indica que, talidade; Categoria 2 - O impacto das Oficinas de
muitas vezes, o convite realizado nesse contexto Parentalidade nas relações parentais: novos cami-
pode..ser..encarado..como..uma..“intimação”..que nhos; e 3 - O desafio da efetivação da coparentali-
obriga o comparecimento ou até mesmo como um dade frente aos resquícios do conflito conjugal.
“castigo” do judiciário aos casais que vivenciam
litígios. Categoria 1: Impressões gerais frente
No que tange à relação familiar, 11% da às Oficinas de Parentalidade
amostra definiram o relacionamento com o ex-
cônjuge como “ótimo”, 23% como “bom”, 26% Esta categoria evidencia as impressões ge-
como “regular” e 40% como “péssimo”. No que rais dos genitores frente ao trabalho realizado nas
se refere ao relacionamento mantido com os fi- Oficinas de Parentalidade, enfatizando a importân-
lhos, 73% indicaram ser “ótimo”, 19% “bom”, 5% cia de espaços que propiciem às famílias, envolvi-
“regular” e 3% “péssimo”. Os pais demostraram das em processos de divórcio/dissolução conjugal,
ter grande expectativa para com as oficinas sendo novos entendimentos acerca das relações familiares
esta, na maioria vezes, vista como um meio para após o rompimento conjugal.
solucionar os problemas parentais e conjugais nos A característica educativa/reflexiva das Ofi-
quais estão inseridos. cinas de Parentalidade se confirma por meio das
Acerca..do..trabalho..realizado..durante..as observações gerais dos genitores, o que indica que
Oficinas.de.Parentalidade,.os.dados.revelaram.que a..intervenção..pode..auxiliá-los..no..entendimento
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e..esclarecimento..acerca..das..relações..familiares insegurança nos filhos e influenciar negativamente


após o divórcio/dissolução conjugal e na revisão o ajustamento psicológico das crianças e adoles-
de posturas frente aos filhos e ao ex-cônjuge: “que centes (JURAS; COSTA, 2016). Assim, modelos
essa oficina continue para muitos pais entende- violentos de comunicação devem ser desconstruí-
rem sobre a separação e seus filhos” (Participante dos, abrindo margem para formas de linguagem
8); “[...] é de suma importância para nós casais mais pacificadoras denominadas “Comunicações
que passamos por essa situação” (Participante 9); não violentas”, caracterizadas por diálogos e re-
“acho válida a oficina para melhorar as relações flexões, além de revisões de conceitos, pensamen-
com o ex e com os filhos” (Participante 12); “as tos e posturas na busca de soluções possíveis para
oficinas..têm..bastantes..questões..esclarecedoras. que as necessidades de todos os integrantes da
Parabéns!!!”..(Participante..23);..“o..trabalho..é família sejam atendidas, especialmente as dos fi-
muito produtivo e esclarecedor quanto à relação lhos (BRASIL, 2016).
familiar”..(Participante..17);..“gostei..muito,..não Os..profissionais..que..atuam..em..Varas..de
conhecia esse trabalho, me ajudou muito e quero Família bem sabem o quão angustiante pode ser
a cada momento dar o melhor de mim aos meus um..processo..judicial..envolvendo..famílias..em
filhos” (Participante 29). litígio..(SILVA;..CHAPADEIRO;..SILVA,..2020).
A vivência do divórcio pode provocar em to- As questões que entrelaçam conteúdos de cunho
dos os familiares, principalmente em pais e filhos, emocional e jurídico podem culminar em diversos
angústias e incertezas que ameaçam a estabilidade conflitos familiares. Sendo que a vivência do di-
emocional, devido às transformações na dinâmica vórcio pode acarretar tanto repercussões negativas,
do cotidiano familiar (SILVA et al., 2018). Após quanto positivas aos membros do sistema familiar,
a dissolução conjugal muitas mudanças acometem a depender da maneira como a família enxerga e
as famílias em processos de reconfiguração e fa- administra os desacordos que podem surgir após
tores como os arranjos de guarda, visitas, pensão o rompimento conjugal (SILVA; CHAPADEIRO,
alimentícia e divisão patrimonial movem-se em 2019; SILVA; CHAPADEIRO; SILVA, 2020).
uma arena permeada por conflitos, principalmente A literatura ressalta a importância da elabo-
no que tange à relação entre o ex-casal e a cons- ração de intervenções educativas/reflexivas vol-
trução...da...parentalidade...(LEITE;...OLIVEIRA tadas..à..construção..e..manutenção..dos..vínculos
NETA, 2016). afetivos e das funções parentais de ambos os geni-
No decorrer das Oficinas de Parentalidade tores e seus filhos após a dissolução conjugal. Por
os genitores demonstram insatisfação diante da vezes, os genitores carecem de informações que
nova situação familiar, havendo carência de infor- os auxiliem na elaboração de possíveis conflitos
mações acerca de maneiras de lidar com o divórcio advindos do rompimento conjugal e na distinção de
e com a frustração pelo fim da relação conjugal, parentalidade e conjugalidade, o que dificulta um
não sendo raros comportamentos destrutivos para ambiente familiar saudável para o desenvolvimen-
com o ex-cônjuge e, também, para com os filhos to das crianças e adolescentes (JURAS; COSTA,
que podem acabar sendo envolvidos nos embates 2018; OLIVEIRA; CREPALDI, 2018; RAPIZO,
dos genitores, o que pode acarretar conflitos in- 2020; SILVA et al., 2018; SILVA; CHAPADEIRO;
terparentais e prejudicar a construção da paren- SILVA, 2020).
talidade nesse período (SILVA et al., 2015; SILVA; Assim, as Oficinas de Parentalidade ao fo-
CHAPADEIRO; SILVA, 2020). mentar a construção de relações salutares entre
O conflito interparental é permeado por sen- pais, mães e filhos, demostram que embora feridos
timentos negativos que incluem tristeza e raiva, com o processo do divórcio e suas consequências,
bem..como..a..presença..de..diálogos..agressivos. os pais podem compreender que possuem o poder
Um ambiente familiar estressante pode ocasionar de determinar o melhor para seus próprios filhos,
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Divórcio, fim ou recomeço? Avaliações e percepções frente às Oficinas de Parentalidade

principalmente quando crianças. Assim, ao se em- (Participante 6); “[...] ajudou a abrir mais a mente
poderarem de suas funções parentais, os genitores dos pais que o mais importante na separação
podem buscar dentro de si mesmos o real sentido são os filhos. Para os pais não serem egoístas”
de exercer a parentalidade de maneira colaborativa (Participante 9); “nos faz refletir as nossas ações
e de fato saudável, compreendendo a importância e como essas ações são recebidas pelos filhos”
da manutenção dos vínculos afetivos para com (Participante 12); “[...] como tratar a criança e
seus filhos, mesmo na ausência da conjugalidade a ex para ter um convívio melhor” (Participante
(ABREU; SILVA; SILVA, 2020). 16); “meu filho precisa de mais atenção do que o
Portanto, ações como as desenvolvidas nas momento vivido durante o processo” (Participante
Oficinas de Parentalidade devem ser estimuladas, 18); “ajudou a compreender melhor os sentimen-
uma vez que, de maneira educativa e reflexiva po- tos de minha filha em relação ao término do
dem auxiliar as famílias a terem acesso a maneiras matrimônio” ..(Participante..33); ..“[...] ..pois ..me
positivas de enfrentar os conflitos, bem como trazer mostrou a importância que minha filha pode dar
esclarecimentos aos familiares acerca do complexo à presença do pai” (Participante 35); “muito me
momento que vivenciam, o que pode favorecer a esclareceu..sobre..várias..questões..importantes,
diminuição dos conflitos entre os ex-cônjuges e a como, por exemplo, a alienação parental e como
construção da parentalidade (SILVA et al., 2015; trabalhar de modo mais efetivo para que ela
BRITO; SILVA, 2017; SILVA et al., 2018). não ocorra” (Participante 59); “[...] e muito, eu
não sabia o quanto a separação mexia com os
Categoria 2: O impacto das Oficinas de nossos filhos, tinha noção, mas não tanto assim”
Parentalidade nas relações parentais: (Participante 60).
novos caminhos Nesse sentido, é necessário que a experiên-
cia do divórcio seja vivida pelo ex-casal que a
Esta categoria traz à baila a dinâmica rela- enfrenta de forma equilibrada, com maturidade e
cional familiar entre pais e filhos envolvidos em respeito, para que os filhos sejam protegidos de
processos de divórcios e/ou dissoluções conjugais consequências emocionais que podem causar da-
e como, por meio das percepções imediatas dos nos ao desenvolvimento emocional (MOTA, 2016;
genitores, as Oficinas de Parentalidade puderam RAPIZO, 2016; SILVA et al., 2015; SILVA et al.,
auxiliá-los a lidar com estes processos. 2018;..SILVA;..CHAPADEIRO;..ASSUMPÇÃO,
Percebe-se na fala dos genitores ao se referi- 2019). A família é para as crianças a primeira e
rem ao impacto das oficinas na relação com os fi- principal fonte de apoio social, auxiliando-as a
lhos, reflexões acerca de como seus atos, que muitas reconhecer o mundo, sendo que um divórcio con-
vezes passam despercebidos, podem influenciar/ flituoso pode fomentar sentimentos como raiva,
prejudicar seus filhos. Dessa forma, as oficinas tristeza, medo do abandono e culpa frente à nova
caracterizam-se como uma importante ferramenta configuração familiar advinda da dissolução conju-
de aprendizado que possibilita aos genitores vis- gal (ABREU; SILVA; SILVA, 2020). Já para o
lumbrar novos caminhos para com a conduta que adolescente, a família é o alicerce que o respalda no
mantinham com os filhos, como fora evidenciado desenvolvimento de seus interesses e habilidades
nas seguintes falas: “[...] ajudou muito, por mais diante transformações físicas e psicológicas ca-
que saibamos quão importante é nossa ajuda para racterísticas desta fase, sendo que a ruptura dos
com o filho, a oficina nos ajuda a ver com uma laços afetivos com os genitores após a dissolução
forma diferente” (Participante 2); “[...] foi possível conjugal pode gerar repercussões nocivas à sua
pontuar situações em que não me comportei da capacidade adaptativa, autonomia e confiança pa-
maneira correta. Com certeza pensarei melhor de ra lidar com as desafios inerentes a adolescência
agora em diante antes de tomar certas atitudes” (MOTA, 2016).
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Silva, L. D. L.; Silva, L. M.

Assim, a experiência do divórcio para os “[...] me deu mais ânimo para a vida e sair des-
filhos depende em larga medida de como os geni- sa depressão e enxergar as coisas de forma mais
tores..compartilham..suas..funções..parentais,..ou abrangente” (Participante 29); “[...] me mostrou a
seja, exercem a coparentalidade e conduzem suas como lidar com o divórcio” (Participante 36); “sig-
divergências relacionadas à conjugalidade que se nificou que é possível resolver problemas através
findou (SILVA; CHAPADEIRO; ASSUMPÇÃO, do diálogo” (Participante 42).
2019). Sendo que, caso sejam instauradas dinâmi- O empoderamento significa capacitar os par-
cas relacionais conflituosas no sistema familiar ticipantes das oficinas para que aprendam a resol-
após a dissolução conjugal, como alienação pa- ver seus conflitos de forma sensata, potencializando
rental, conflitos de lealdade, ações violentas e/ou ações,..comunicações..não..violentas..e..reflexões
abandono afetivo, a família pode passar a utilizá- acerca de suas próprias atitudes, para com os filhos
las como modo padrão de comunicação, deixando e com o ex-parceiro, sendo que um dos princípios
de resolver os conflitos prementes, o que pode das Oficinas de Parentalidade é auxiliá-los nessa
fomentar o surgimento de novos conflitos e pro- tarefa (BRASIL, 2016).
duzir prejuízos ao desenvolvimento de crianças e Sabe-se que divórcios e dissoluções conju-
adolescentes. Percebe-se, então, a relevância de gais implicam diversos desafios, seja na clínica ou
ações que estimulem o exercício da coparentali- na esfera jurídica, sendo a qualidade das vivências
dade pelos genitores e que promovam reflexões entre pais e filhos um determinante fator na inten-
acerca de suas condutas para com os ex-cônjuges sidade dos efeitos do fim do relacionamento con-
e..seus..filhos..(BRITO;..SILVA,..2017;..SILVA; jugal. Maneiras nocivas de gerenciar os conflitos
CHAPADEIRO, 2019). por parte dos genitores, principalmente quando há
No que tange aos impactos e significados grande litigiosidade, podem acarretar um forte aba-
da participação nas Oficinas de Parentalidade nas lo emocional para todos os envolvidos (NÜSKE;
vidas dos genitores, percebe-se que a intervenção GRIGORIEFF,..2015)...O..rompimento..conjugal,
funciona como forma de empoderá-los sobre suas quando mal conduzido, pode desagregar toda a
atitudes e comportamentos diante dos ex-cônjuges família e extinguir para os filhos a possibilidade
e dos filhos, promovendo reflexões acerca de re- de futuras aproximações, seja por medo de que o
lações familiares mais saudáveis e menos adver- outro genitor também vá embora, ou por sentirem
sariais. O empoderamento dos participantes pode que adultos não são honestos nem confiáveis. Por-
ser evidenciado nas seguintes falas: “uma chance tanto, uma ajuda especializada de operadores ju-
de paz com minha ex-parceira” (Participante 2); rídicos e não jurídicos não é apenas bem-vinda,
“uma nova visão com relação à convivência com mas também crucial para a retomada do ciclo de
nossos filhos. Tenho conhecimento que já tive ati- crescimento das famílias de modo menos danoso
tudes erradas e quero melhorar nesse sentido” (SILVA et al., 2015).
(Participante 6); “melhora na forma de como li- Sendo assim, a partir do entendimento de
dar com situações adversas. Tentar e fazer o que como a experiência do divórcio/dissoluções conju-
o ex não puder para não prejudicar a filha. Evi- gais e os conflitos que emergem destes impactam
tar debates, comentários sobre a ex e problemas os envolvidos e repercutem no sistema familiar
para minha filha” (Participante 7); “[...] a refletir como um todo, é possível que os genitores enxer-
e pensar nos meus filhos e não só em briga com guem novas maneiras de mediar as questões que
meu..ex-marido”..(Participante..9);..“serviu..como enfrentam, tentando melhorar a relação com os ex-
uma..referência..positiva..na..minha..maneira..de parceiros, o que pode reverberar em um ambiente
entender esse momento de separação” (Partici- familiar mais saudável para as crianças e adoles-
pante 24); “muito na minha vida, mostrou algu- centes. Nesse sentido, as Oficinas de Parentalidade
mas coisas que não queria ver” (Participante 27); despontam como uma importante ferramenta de
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Divórcio, fim ou recomeço? Avaliações e percepções frente às Oficinas de Parentalidade

reflexão que pode auxiliar nas relações familiares, da rotina, das regras e dos rituais que caracterizam
abrindo novos caminhos para o bem-estar dos ge- cada família (PONCIANO; FÉRES-CARNEIRO,
nitores e, principalmente, dos filhos (SILVA et al., 2017). Sendo que, a conjugalidade é permeada por
2015; SILVA; CHAPADEIRO; SILVA, 2020). mitos e quando os casais constatam a discrepân-
cia entre suas expectativas e a realidade da vida a
Categoria 3: O desafio da efetivação da dois, a decepção é tamanha que se inicia um pro-
coparentalidade frente aos resquícios cesso no qual um tende a culpabilizar o outro pe-
do conflito conjugal las frustrações da união que fugira da idealizada
(WAGNER; MOSMANN, 2013). Entretanto, os
Nesta categoria emergem questões relacio- impasses que permeiam o sistema familiar após o
nadas à dinâmica relacional exercida pelo ex-casal rompimento conjugal envolvem aspectos relacio-
após o rompimento conjugal, enfatizando como os nais, contextuais e pessoais, que de maneira cir-
resquícios dos conflitos conjugais podem rever- cular se entrelaçam e interatuam recursivamente
berar na efetivação da coparentalidade e, também, um sobre o outro, o que impossibilita explicações
como as Oficinas de Parentalidade enquanto ins- lineares e unicausais que responsabilizem um ou
trumento de pacificação e reflexão, repercutem na outro membro do sistema familiar pelos conflitos
dissociação entre conjugalidade e parentalidade. que podem ocorrer no decorrer dos processos de
No que tange à relação com o ex-cônjuge, divórcio (OLIVEIRA; CREPALDI; 2018).
percebe-se que mesmo com auxílio das oficinas Nos casais envolvidos em processos de di-
parentalidade,..alguns..genitores..apresentam..di- vórcio/dissolução conjugal, são comuns sentimen-
ficuldades em dissociar a parentalidade da con- tos de mágoa, frustração, decepção, ódio e vingan-
jugalidade, se mantendo presos os resquícios do ça, que vão muito além do puro desejo de findar o
conflito conjugal, atribuindo ao outro progenitor relacionamento conjugal. Os ex-cônjuges tendem
a culpa pelos conflitos que permeiam o sistema a buscar devastar uns aos outros, seja por meio de
familiar, bem como suas angústias e frustrações, represálias materiais ou mesmo emocionais. Para
o que poder dificultar a construção da coparen- tanto, por vezes, os filhos podem ser usados como
talidade, como pode ser evidenciado nas seguintes escudo ou armas, sendo arrastados para dentro do
falas: “[...], a pessoa quem causa todo o conflito campo de batalha dos pais (SILVA et al., 2015)
em família é minha ex” (Participante 8); “[...] ter Portanto, diferenciar a conjugalidade, que se trata
calma e fazer minha parte mesmo que o outro não da relação dos indivíduos enquanto casal, da paren-
faça a sua” (Participante 9); “na verdade espero talidade, que tem a ver com a relação dos genitores
que tenha o ajudado a refletir sobre como agir para com seus filhos, torna-se fundamental para o
comigo e com as crianças” (Participante 11); “não, bem-estar dos filhos e para a efetivação da copa-
porque não temos contato” (Participante 36); “aju- rentalidade pós-divórcio (SILVA; CHAPADEIRO;
dou, mas mesmo assim ela é uma pessoa difícil, SILVA, 2020).
vou fazer minha parte” (Participante 41); “ah, De acordo com a teoria familiar sistêmica,
mais ou menos, tenho muita mágoa dele, ele que a relação coparental pode ser entendida como um
amava muito nossas filhas, se distanciou muito, ele subsistema autônomo, no mínimo triádico, com-
é quem mais precisava dessa reunião, porém não posto por ambos os genitores e seus filhos crianças
veio!!!” (Participante 60). e/ou adolescentes e, que, exerce influência e re-
O grupo familiar é fundado a partir de um verbera no desenvolvimento dos filhos e no grupo
casal, que traz consigo o peso das influências e de- familiar em sua totalidade. Nesse sentido, torna-se
sejos das gerações que os precederam, sendo um importante que os genitores busquem a efetivação
local de transmissão de influências, tanto biológi- da coparentalidade, ou seja, o envolvimento com-
cas quanto psicológicas, que se mantêm por meio partilhado e recíproco nos cuidados prestados aos
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Silva, L. D. L.; Silva, L. M.

filhos, independentemente de seus laços relacio- seguintes falas: “sim, posso rever o que ele po-
nais que possuem com outro progenitor (BÖING; deria..estar..pensando..sobre..a..situação..vivida”
CREPALDI, 2016). (Participante 3); “[...] tínhamos bastantes conflitos
Contudo,..nem..todos..os..genitores..conse- perante..nosso..filho,..depois..das..oficinas..vamos
guem dissociar a conjugalidade da parentalidade mudar nossos modos” (Participante 10); “ajuda a
e minimizar os conflitos advindos do rompimento entender melhor as ações do outro, se colocar no
conjugal, o que prejudica a coparentalidade e pode lugar do outro” (Participante 12); “[...] vou buscar
vir a repercutir negativamente na manutenção dos falar e utilizar outros métodos para buscar o que
vínculos parentais entre pais e filhos após a dis- realmente precisam meus filhos” (Participante 17);
solução conjugal (KOSTULSKI et al., 2017). A “[...] mostraram que as duas partes envolvidas
distinção entre conjugalidade e parentalidade é um devem se conscientizar na melhor forma de cuidar
desafio para o exercício da parentalidade; por ve- desse..assunto”..(Participante..24);..“devemos..ter
zes, os genitores, mesmo que não intencionalmente, uma relação cordial em benefício da nossa filha”
envolvem os filhos em suas disputas, o que pode (Participante..33);..“agora..sei..que..eu..e..meu..ex
propiciar conflitos de lealdade e práticas alienan- podemos ter uma boa convivência” (Participante
tes, dificultando a construção da coparentalidade 42); “eu tenho que me policiar mais e ter uma
e a continuidade das relações parentais (SILVA; mente mais aberta, escutar mais e me colocar no
CHAPADEIRO;..ASSUMPÇÃO,..2019;..SILVA; lugar do ex” (Participante 55).
CHAPADEIRO; SILVA; 2020). Assim, ações com Sabe-se que, o divórcio em si não é o causa-
pais e mães no sentido de minorar os resquícios do dor de danos aos membros da família, pois também
conflito conjugal e estimular a relação coparental seria prejudicial se os genitores adiassem o rompi-
visando a preservação dos vínculos afetivos entre mento conjugal e mantivessem relacionamentos
os genitores e seus filhos devem ser estimuladas familiares violentos e não saudáveis ao desenvolvi-
(KOSTULSKI et al., 2017). mento dos filhos. Contudo, o divórcio é mais bem
Nesse sentido, as Oficinas de Parentalidade compreendido pelos filhos quando os pais sabem
são desenvolvidas com o intuito de promover, por conduzi-lo de maneira saudável e, quando bem
meio de estratégias de empoderamento, instrumen- administrada, a dissolução conjugal pode até ser
talização e responsabilização, reflexões acerca da encarada de forma positiva, pois os filhos apren-
“cultura da paz” e reduzir a litigiosidade que per- derão a se adaptar mais cedo às situações de perdas
meia a sociedade, buscando auxiliar os genitores a que porventura surgirão no decorrer de suas vidas
resolver adequadamente seus conflitos e entender (HAMEISTER;..BARBOSA;..WAGNER,..2015;
a importância da participação de ambos no cotidi- MOTA, 2016).
ano dos filhos, para que assim possam ajudá-los no De imediato, a conscientização da família
trato para com a nova configuração familiar e per- em fase pós-rompimento conjugal caracteriza-se
severar o desenvolvimento emocional saudável das como a maior vantagem de se participar das Ofici-
crianças e adolescentes após a dissolução conjugal nas de Parentalidade, pois, embora seja uma fase
(BRASIL, 2016). delicada, esta pode ser vivenciada de uma forma
Tais características das Oficinas de Paren- menos..agressiva..e..que..preze..pela..manutenção
talidade se mostram presentes nas falas da maioria dos vínculos familiares, possibilitando aos filhos
dos genitores que conseguiram se colocar no lugar o direito de conviver com ambos os genitores em
do outro e deixar lado seus conflitos, expandindo o igualdade de condições (SILVA et al., 2015). Nesse
olhar sobre a relação com o ex-cônjuge, demons- sentido, no decorrer dos processos de divórcio,
trando perceber que a maneira como conduzem principalmente em casos litigiosos, deve-se haver
suas relações podem afetar os filhos, dissociando um grande esforço dos genitores para se adapta-
a parentalidade da conjugalidade, como visto nas rem às mudanças advindas da dissolução conjugal
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Divórcio, fim ou recomeço? Avaliações e percepções frente às Oficinas de Parentalidade

e preservar os vínculos parentais. Assim, a dife- após processos de divórcio/dissolução de uniões


renciação entre conjugalidade e parentalidade é de estáveis os membros do sistema familiar podem
suma importância para os pais superarem seus con- apresentar grandes dificuldades em lidar com as
flitos e exercerem de fato a coparentalidade, o que novas configurações familiares advindas do rompi-
pode vir a beneficiar o desenvolvimento saudável mento conjugal e que diferem do modelo ideoló-
dos filhos (SILVA; CHAPADEIRO; SILVA, 2020). gico patriarcal que ainda é dominante em nossa
Ao promover reflexões acerca de relações fa- sociedade. Nesse sentido, o estudo permite susci-
miliares mais saudáveis, vislumbra-se que as Ofici- tar a importância de práticas educativas/reflexivas,
nas de Parentalidade, podem, também, auxiliar o como as oferecidas pelas Oficinas de Parentali-
judiciário na conciliação e mediação de acordos dade, que buscam empoderar seus participantes
com famílias pós-divórcio. No entanto, até o mo- acerca de comportamentos alienantes exercidos,
mento não foi possível elaborar estatisticamente o muitas vezes, por eles próprios, e que podem ser
índice de conflitos solucionados judicialmente pe- danosos para todos os membros da família, princi-
los participantes das oficinas, o que demanda mais palmente para as crianças e adolescentes.
estudos acerca das Oficinas de Parentalidade e suas Enquanto um instrumento que visa promo-
reverberações no cotidiano de seus participantes, ver a “cultura da paz” e disseminar conhecimentos
uma vez que espera-se que muitos ex-casais que acerca de como lidar com as mudanças familiares
passaram pela intervenção cheguem às audiências provenientes de divórcios/dissoluções conjugais,
com novos conceitos absorvidos por essa experiên- as Oficinas de Parentalidade realizadas no referi-
cia (SILVA et al., 2015). do município demostraram, por meio deste estudo,
No..mais,..práticas..grupais..necessitam..de atender genitores com características socioeconô-
uma constante análise crítica acerca de suas po- micas heterogêneas, o que salienta sua eficácia
tencialidades e limitações, cabendo ao profissional independente da classe social ou do nível de ins-
reconhecer a subjetividade do grupo e se manter trução/qualificação de seus participantes.
em permanente atualização para que as deman- Os..genitores..que..compuseram..o..estudo
das sejam trabalhadas de forma eficaz (RASERA; demonstraram alto nível de reflexão e empodera-
ROCHA, 2010). Sendo assim, observando as per- mento, principalmente ao se referirem às atitu-
cepções imediatas dos genitores acerca da relação des para com os filhos. Tornou-se evidente que,
com o ex-cônjuge, podemos perceber que, de ime- muitas vezes, os genitores se prendem tanto aos
diato, nem todos conseguem atingir o nível de em- conflitos conjugais que não percebem que estão
poderamento que as oficinas buscam proporcionar. utilizando os próprios filhos como meio de punir
Muitos ex-casais encontram-se presos no conflito os ex-parceiros. Sendo assim, as oficinas abrem
conjugal, o que pode ser negativo para as relações novos..caminhos..para..que..os..genitores..possam
parentais e dificultar a efetivação da coparentali- pensar sobre suas relações parentais e diferenciem
dade, o que fomenta discussões acerca de como as conjugalidade de parentalidade, beneficiando a si
oficinas atingem seus participantes a longo prazo, próprios e aos filhos.
fazendo-se necessários estudos longitudinais acer- Contudo, pôde se constatar que, enquanto
ca das repercussões das Oficinas de Parentalidade a maioria dos genitores reflete sobre formas mais
no funcionamento familiar. saudáveis de se relacionar com os ex-parceiros
em beneficio dos filhos e reconhecem a necessi-
Considerações finais dade de mudanças em seus comportamentos que
outrora vinham sendo destrutivos, alguns não con-
Percebe-se que na contemporaneidade a fa- seguem apreender de imediato os conteúdos minis-
mília vem sofrendo transformações em suas confi- trados nas Oficinas de Parentalidade, atribuindo
gurações e dinâmicas relacionais e, principalmente, ao ex-cônjuge a culpa pelos conflitos familiares
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Silva, L. D. L.; Silva, L. M.

presentes no sistema familiar, fato que pode vir a do Conselho Nacional de Justiça. Contudo, ainda
ser negativo para as relações parentais e para a efe- existem poucos trabalhos que buscam descrever o
tivação da coparentalidade. Torna-se necessário, funcionamento da intervenção em cada região, o
então, a produção de estudos longitudinais acerca que dificulta uma visão mais ampla da ação e dos
das repercussões das Oficinas de Parentalidade no resultados que produz em prol das famílias pós-
funcionamento familiar, buscando entender como divórcio.
a intervenção ecoa em seus participantes a médio Logo, estudos que abarquem as Oficinas de
e longo prazo. Parentalidade, bem como outras intervenções que
Os dados encontrados neste estudo eviden- ocorrem a favor das famílias pós-divórcio devem
ciam que a Oficina de Parentalidade, na opinião ser estimulados, uma vez que práticas grupais de-
dos participantes, constituíram-se como importan- vem se manter em constante construção, para que
te espaço de reflexão, auxiliando-os a melhorar sempre tragam resultados positivos e condizentes
suas relações familiares, ainda que o conflito con- com as necessidades da comunidade. No mais, as
jugal e a culpabilização do ex-parceiro continuem Oficinas de Parentalidade despontam como uma
preponderando para alguns genitores. Cabe ressal- importante política pública de auxílio às famílias,
tar que este trabalho não teve o intuito de esgotar evidenciando..que..o..divórcio..e..as..dissoluções
o conhecimento no que se refere à temática e teve conjugais não devem significar o fim das relações
como limitação a análise exclusivamente das ava- familiares, mas sim recomeços.
liações e percepções imediatas dos genitores que
participaram das Oficinas de Parentalidade. Assim,
recomenda-se que futuros estudos englobem, tam- Referências
bém, a percepção dos filhos para que seja possível
um maior conhecimento acerca da vivência do ABREU, C. D.; SILVA, L. D. L.; SILVA, L. M.
Divórcio dos pais: sentimentos e percepções das
divórcio e das reverberações das Oficinas de Pa-
crianças...Semina:..Ciências..Sociais..e..Humanas,
rentalidade nas relações familiares. Londrina, Londrina, v. 41, n. 1, p. 19-32, 2020. Doi:
Diante..da..complexidade..das..relações..fa- https://doi.org/ 10.5433/1679-0383.2020v41n1p19.
miliares pós-divórcio, o trabalho com famílias nas Disponível..em:..https://bit.ly/3sXUaBo...Acesso
Oficinas de Parentalidade apresenta questões de- em: 29 jun. 2020.
safiadoras aos profissionais. Por vezes os genitores BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições
se encontram em um momento tenso e desgastante, 70, 2009.
apresentando atitudes hostis para com a equipe e/
BOWEN, .. M. .. De .. la .. familia .. al .. individuo: .. la
ou levando aos profissionais demandas demasi-
diferenciación del sí mismo em el sistema familiar.
adamente pessoais e jurídicas, o que pode acar- Barcelona: Paidos, 1979.
retar sentimentos de incapacidade e angústias na
equipe. Assim, seria oportuno que estudos futuros BÖING, E.; CREPALDI, M. A. Relação pais e filhos:
se debrucem, também, em buscar instrumentos que compreendendo o interjogo das relações parentais
e coparentais. Educar em Revista, Curitiba, n. 59,
fomentem a formação contínua dos profissionais
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