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ITU
2019
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo o estudo e exposição sistemática sobre a literatura
referente à etiologia da Alienação Parental sob a perspectiva da análise do comportamento,
além de explorar seus efeitos no âmbito familiar e social. Ao analisarmos a literatura atual, são
escassos os artigos que examinam de forma sistemática e objetiva os princípios que indiquem
a presença de casos de Alienação Parental (Gomide, Camargo e Fernandes, 2016), e ainda
inferior é o número de artigos que observem esta problemática pelo viés analítico-
comportamental .
Delimitamos como intuito deste artigo questionamentos para entender: que tipos de
comportamento podemos considerar como indicadores de alienação parental? Como o
psicólogo comportamental e o psicólogo jurídico podem identificar tais problemáticas
parentais em situações de separação? Como a análise do comportamento entende os aspectos
característicos da Alienação Parental?
Para tanto, é objetivada a exposição dos principais aspectos da Alienação Parental
sob a perspectiva analítico comportamental, além da análise de sua correlação com as alterações
nos vínculos afetivos e, por fim, revisar como as patologias decorrentes do processo de
Alienação Parental e comportamentos geradores de problemas.
O assunto a ser abordado é uma demanda atual e recorrente em nossa sociedade e,
juntamente ao programa de disciplina eletiva, é notável a importância desta matéria para
profissionais da psicologia, de direito e dos usuários que passam por avaliação psicológica.
É sabido que o processo de separação, principalmente em sua forma litigiosa, pode
causar danos destrutivos e irreparáveis àqueles que decidem pela dissolução da vida conjugal,
bem como para sua prole (Mendes e Bucher-Maluschke, 2017). Atualmente, no estado de São
Paulo, tanto o direito quanto a psicologia tentam lidar com estas situações, com propostas como
por exemplo a Oficina de Pais e Filhos, que tem como objetivo auxiliar o núcleo familiar a lidar
com o divórcio e suas consequências, na tentativa de diminuir os traumas decorrentes da
reestruturação familiar (Instituto Brasileiro de Direito de Família, 2013).
Logo, é de interesse da área da psicologia, bem como da área do direito, o
conhecimento acerca dos sinais comportamentais emitidos pelos genitores e pela criança, para
que se crie um espaço de reconhecimento e se amplie a discussão sobre o tema, além de auxiliar
no processo de prevenção de formações patológicas no comportamento de crianças,
adolescentes e adultos. Para tanto, a abordagem analítico-comportamental é utilizada com o
intento de favorecer a análise assertiva, objetiva, metodológica e científica que se dedica a
remediar tais situações.
2. PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS
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É denotado que à partir da metade do séc. XX, surgindo pelo viés do movimento
feminista no Brasil, instauram-se variadas mudanças e rearranjos nas relações entre homens e
mulheres e logo, nas estruturas familiares e, entre estas mudanças, temos a legalização do
divórcio em 1977 (Mendes e Bucher-Maluschke, 2017). Partindo desta premissa, se desenvolve
um novo processo de estruturação familiar e pós-divórcio, seja este amigável ou litigioso. Neste
contexto, discutimos a qualidade da relação entre pais e filhos e a relação entre ex-cônjuges.
Partindo da análise de Fonseca (2007), o processo de separação do casal procede
com a necessidade de delimitar um dos genitores como guardião da(s) criança(s).
Posteriormente, delimita-se também o formato das visitas do genitor não-guardião, estabelecido
por um juiz de direito, objetivando o melhor interesse da criança.
É viável apontar como foco da problemática, o fato de que, muitas destas
dissoluções se perpetuam como resultado de questões conjugais não resolvidas, abalando assim
o vínculo já sensível dos ex-cônjuges, bem como, o vínculo destes com seus filhos (Carvalho,
2017). Apesar do contexto de dissolução matrimonial, é necessário muito cuidado e atenção aos
estímulos proporcionados ao menor, à quem deve ser oferecido um ambiente de
desenvolvimento pleno e saudável (Carvalho, 2017).
Frequentemente, num ambiente em que o casal não superou emocionalmente
divórcio, encontramos um padrão de episódios conflitantes, comunicação não assertiva,
gerando instabilidade no sistema familiar e, portanto, situações que consternam e impactam a
prole (Mendes e Bucher-Maluschke, 2017). O desrespeito mútuo nas relações pós-maritais são
comuns, gerando circunstâncias de discórdia e comportamentos negativos por parte de um ou
ambos genitores (Carvalho, 2017).
Arma-se aí uma disputa entre os ex-cônjuges, em que apresentam-se aspectos de
vingança, conflitos e sofrimento, além de sentimentos de rejeição e abandono (Roque e
Chechia, 2015). Estes comportamentos negativos realizados por um ou ambos os genitores,
aliados a emoções destrutivas, passam a representar uma possibilidade de Alienação Parental,
configurando uma forma de abuso emocional que prejudica a relação entre pais e filhos
(Carvalho, 2017).
É importante frisar, inclusive, que para fins de direito, esta criança que se encontra
em meio a este embate emocional, está sendo privada de um ou mais direitos de nascimento,
conforme estabelece nossa Carta Magna em seu Art. 227:
FONSECA, Priscila Maria Pereira Correa da. Síndrome de alienação parental. Revista
Brasileira de Direito de Família, Porto Alegre, v. fe/mar. 2007, n. 40, p. 5-16, 2007.
Disponível em http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/32874-40890-1-
PB.pdf
SOUSA, Analicia Martins de. Síndrome da alienação parental: Um novo tema aos juízos
de família. Cortez Editora, 2014. 224p.
Constituição da República Federativa do Brasil. Art. 277. Título VIII, Da Ordem Social.
Capítulo VII. Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso.
https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_06.06.2017/art_227_.asp
GOMIDE, Paula Inez Cunha; CAMARGO, Everline Bedin; FERNANDES, Marcia Gonzales;
Analysis of the Psychometric Properties of a Parental Alienation Scale.Paidéia (Ribeirão
Preto), Ribeirão Preto , v. 26, n. 65, p. 291-298, Dec. 2016 . Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
863X2016000300291&lng=en&nrm=iso
Instituto Brasileiro de Direito de Família. Oficina de Pais e Filhos, projeto pioneiro no país,
é inaugurado em São Paulo. 2013. Disponível em:
https://ibdfam.jusbrasil.com.br/noticias/100434544/oficina-de-pais-e-filhos-projeto-pioneiro-
no-pais-e-inaugurado-em-sao-paulo
DE-FARIAS, Ana Karina C. R.; FONSECA, Flávia Nunes; NERY, Lorena Bezerra; Teoria e
Formulação de Casos em Análise Comportamental Clínica. Editora Artmed, 2018. 443p.