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25 de Julho de 2023

Desestruturação familiar e a
conduta infanto-juvenil desviada
na cidade de Barreiras/Ba: Uma
abordagem à luz do controle
social informal
“Educai as crianças, para que não seja necessário
punir os adultos” (Pitágoras)
Publicado por Adailton Moreira de Souza há 8 anos  24,8K visualizações

Por Adailton Moreira de Souza; Maurielle Moreira de Souza;


Grasielly Medrado Bomfim; Lis Hemille Oliveira Martins; Ader-
lan Messias de Oliveira

RESUMO

O presente trabalho visa estudar a influência da instituição fa-


miliar como fator de controle social informal para que se deli-
mite a sua real importância na formação do indivíduo como ser
social e cumpridor das normas sociais e legais pertencentes à
sociedade em geral. Para esta pesquisa, foi realizada no pri-
meiro momento uma revisão bibliográfica, que aponta o papel
do controle social informal familiar na formação da personali-
dade da criança e do adolescente. Posteriormente, foram identi-
ficados os meios de proteção da criança e do adolescente no or-
denamento jurídico, com normas inseridas no ECA e na Consti-
tuição Federal, em seguida, abordou-se também a nova consti-
tuição familiar e, por conseguinte, os principais elementos de-
sencadeadores da conduta desviada da criança e do adolescente
no contexto familiar. Adiante, desenvolveu-se uma pesquisa de
campo pautada em uma entrevista ao Presidente do Conselho
Tutelar da cidade de Barreiras/ BA. Com os dados coletados,
certificou-se que dos 63 atendimentos realizados no terceiro bi-
mestre de 2015, 28% trata-se de termo de responsabilidade,
22% trata-se de abandono de incapaz, 14% conflito familiar, 9%
negligência, 8%, abuso sexual, 6% agressão física e adolescente
rebelde, 4% situação de risco e 3% uso de droga. Conforme o
Conselho Tutelar, a falta de estrutura familiar é a maior causa
da conduta desviada da criança e do adolescente. Diante disso,
percebeu-se que a instituição família, considerada a base para
formação da conduta da criança e do adolescente, tem se apre-
sentado como um controle social informal negativo. Os fatores
apresentados para essa negatividade são: a necessidade dos pais
trabalharem fora, com isso transferem muitas vezes a responsa-
bilidade para terceiros. Ocorre também abandono de incapaz e
material, divórcios e novas constituições familiares. Com isso,
compreende-se que a ausência de bases familiares sólidas pode
ser considerado fator de risco para a prática de conduta desvi-
ada da criança e o adolescente.

Palavras-chave: Conduta Desviada. Criança e Adolescente.


Controle Social.

INTRODUÇÃO
A família tem papel importante na sociedade, uma vez que ela é
responsável por proporcionar aos indivíduos os aportes neces-
sários para o desenvolvimento de comportamentos socialmente
aceitos. Neste sentido, o contexto familiar é de fundamental im-
portância para o desenvolvimento de crianças e adolescentes,
uma vez que as relações estabelecidas neste ambiente são deter-
minantes de comportamentos anti ou pro-sociais.
O presente trabalho visa estudar a influência da instituição fa-
miliar como fator de controle social informal para que se deli-
mite a sua real importância na formação do indivíduo como ser
social e cumpridor das normas sociais e legais pertencentes à
sociedade em geral.

A família possui importante papel na formação do cidadão,


sendo que um estudo voltado para os mecanismos de formação
do ser dentro da família e as deficiências encontradas na forma-
ção exercida por esta importante instituição social, deu a enten-
der que a desestruturação familiar contribui para a formação de
conduta desviada da criança e do adolescente.

Assim, será realizada uma entrevista no Conselho Tutelar da ci-


dade de Barreiras, de forma a se entender o aspecto familiar
como limitador do cometimento de crimes e identificar de que
maneira a família é importante na prevenção de delitos e na for-
mação do ser social.

PAPEL DO CONTROLE SOCIAL INFORMAL


FAMILIAR NA FORMAÇÃO DE PERSONALI‐
DADE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE;
Personalidade é o conjunto de características psicológicas, de
certa forma estáveis que determinam a maneira como o indiví-
duo interage com seu ambiente. Pode definir “personalidade”
como “à organização integral e dinâmica” do contexto formado
pelos atributos físicos, mentais e morais do indivíduo, compre-
endendo as características hereditárias e as adquiridas durante
a vida: hábitos, interesses, inclinações, complexos, sentimentos
e aspirações. (SÁPIRAS, 2006).

Para construir a sua personalidade e identidade se espelha em


alguém, principalmente nos mais próximos deles. Muitos ado-
lescentes e adultos hoje sofrem por algum problema que venha
ter com um de seus parentes no passado, mas para muitos acon-
tece o contrário, vence e fazem a diferença por causa da influên-
cia dos pais.

A personalidade de uma criança é formada nos primeiros anos


de vida, se o lar em que ela se encontra é um ambiente contur-
bado esta criança pode vim a sofrer no mesmo, desenvolver al-
gum tipo de transtorno emocional e sentimentos diversos (ódio,
desespero, angustia, tristeza), entretanto a falta de uma, afeta
também diretamente este indivíduo tanto positivamente como
não.

Muitos passam a vida à espera de uma família que os adote, en-


quanto muitos outros tentam se livrar da que a tem, é o caso que
aconteceu com a jovem Suzane Richthofen que foi a mentora do
assassinato dos próprios pais, porque não aprovaram seu
namoro.

Então o que pode observar deste caso é que esta família que
aparentemente tem uma boa estrutura financeira desenvolveu
uma pessoa com uma personalidade forte, com sérios transtor-
nos emocionais e comportamentais, por outro lado uma família
com menos estruturas ou sem nenhuma pode construir um ou
totalmente o contrário, se houver uma boa vivência com seus
integrantes.

A família pelo papel que desempenha é fundamental na socie-


dade e com esta vem também funções: econômica pela qual as-
segura aos seus meios de subsistência e bem-estar, educacional
que transmite hábitos, conhecimentos e atitudes necessárias
para os filhos participarem de uma vida em grupo. Portanto, di-
ante da rapidez com que as coisas estão acontecendo, a relação
que se estabelece entre pais e filhos nesta sociedade moderna,
traz uma série de incertezas e insegurança quanto o tipo de rela-
ção familiar que se deve ser construída em família, o que, nor-
malmente, acarreta problemas quanto adequação do filho ao
meio social. Com as mudanças sociais, esta relação tem sido afe-
tada cada vez mais.

O trabalho, e outras atividades, tem consumido o tempo dos


pais que se veem incapazes de educar seus filhos, atribuindo
este papel à escola. Cabe à família detectar e observar o que
ocorre com seu filho, se este está passando por algum trans-
torno, se a criança anda depressiva. (DURKHEIM, 1973).

1.1 CRIANÇA E ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO DE


VULNERABILIDADE SOCIAL

As desigualdades sociais não são mais suficientes para explicar


as situações de risco e abandono em que vivem crianças e ado-
lescentes em nosso país, e que propiciam marginalização, exclu-
são e perda dos direitos fundamentais.

Estas situações repousam principalmente sobre os fenômenos


de vulnerabilidade social, ruptura e crise indenitária pelos quais
passa a sociedade, ou seja, estão relacionadas ao enfraqueci-
mento das redes sociais e, portanto, a um forte sentimento de
solidão e vazio de existência.

As crianças e adolescentes que se encontram em situação de vul-


nerabilidade social são aquelas que vivem negativamente as
consequências das desigualdades sociais; da pobreza e da exclu-
são social; da falta de vínculos afetivos na família e nos demais
espaços de socialização; da passagem abrupta da infância à vida
adulta; da falta de acesso à educação, trabalho, saúde, lazer, ali-
mentação e cultura; da falta de recursos materiais mínimos para
sobrevivência; da inserção precoce no mundo do trabalho; da
falta de perspectivas de entrada no mercado formal de trabalho;
da entrada em trabalhos desqualificados; da exploração do tra-
balho infantil; da falta de perspectivas profissionais e projetos
para o futuro; do alto índice de reprovação e/ou evasão escolar;
da oferta de integração ao consumo de drogas e de bens, ao uso
de armas, ao tráfico de drogas. (ABRAMOVAY, CASTRO, PI-
NHEIRO, LIMA, MARTINELLI, 2002).

1.2 DESESTRUTURA FAMILIAR

A família é a base da sociedade e é a principal responsável para


transmitir cultura, valores, compreensão, amor entre seus mem-
bros e para um desenvolvimento saudável para os filhos em ní-
vel psicológico, emocional e comportamental. Mas, infelizmente
a desestrutura familiar que envolve carência emocional e afe-
tiva, facilita para respostas negativas em muitos laços familia-
res, envolvendo toda a sociedade.

A carência afetiva pode surgir desde a infância, quando a pró-


pria família (pais e/ou principais responsáveis), podem contri-
buir para o desenvolvimento de distúrbios de comportamento,
emocional e de personalidade para os filhos. A desestrutura fa-
miliar é a fonte da carência emocional e afetiva.

A família de hoje, mudou alguns valores, gerando frustrações


entre pais e filhos: como conflitos conjugais, englobando todos
os tipos de violência; separações e divórcios que não foram bem
elaborados para os filhos; pais ausentes; conflitos entre pais e fi-
lhos adolescentes; a falta de tempo dos pais, facilitando a falta
de diálogo com os filhos; falta de educação e limites; os exem-
plos apresentados pelas programações de televisão (violência,
drogas, sexo) apelativas e também, quando exibidos em qual-
quer horário; filhos que ficam o tempo todo no vídeo game (al-
guns muito violentos) e internet e com isso, possibilitando o iso-
lamento da família, entre outros.
Todos estes comportamentos facilitam para que muitos adoles-
centes procurem amizades como referência e que também de-
pendendo da sua história de vida, personalidade e como lidam
com as frustrações, procurem companhias como bandos, gan-
gues, muitos casos facilitando também o consumo de álcool e
outras drogas ilícitas e muitos casos, sendo vítimas de acidentes
de trânsito por imprudência. Vale ressaltar que existem famílias
aparentemente bem estruturadas que podem ter pessoas com
sérios problemas emocionais e com comportamentos inadequa-
dos perante a sua vida e para a sociedade, como também tem
pessoas que tiveram o seu passado vivido com família desestru-
turada, mas que hoje estas pessoas conseguiram se desenvolver
emocionalmente de forma saudável e com comportamentos
adequados perante a sua vida e para a sociedade. (DEBORA,
AFALMA, 2015).

2. A PROTEÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLES‐


CENTE NO ORDENAMENTO JURÍDICO
BRASILEIRO
O ECA foi sancionado no Brasil em 13 de julho de 1990, pela Lei
nº 8.069, a qual se baseia na proteção integral das crianças e
adolescentes, garantindo-lhes o direito a proteção à vida e à
saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que per-
mitam o nascimento e o desenvolvimento sadio, harmonioso e
em condições dignas de existência.

O ECA define as crianças e os adolescentes como sujeitos de di-


reito, sendo-lhes garantida a proteção integral. Conforme o ar-
tigo 4º,

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do


poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação
dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educa-
ção, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à digni-
dade, ao respeito, à liberdade, e à convivência familiar e comu-
nitária. (BRASIL, 1990, on-line)

O ECA dispõe ainda que, nos casos de maus-tratos, opressão ou


abuso sexual impostos pelos pais ou responsáveis, a autoridade
judiciária poderá afastar o agressor da moradia comum. Com
relação aos alcoólatras e toxicômanos, as medidas de proteção
são diversas, entre elas a orientação, apoio e acompanhamento
temporário, a inclusão em programas comunitários ou oficiais
de auxílio à família, crianças e adolescentes, o requerimento de
tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico e até a colocação
em família substituta.

O Conselho Tutelar é um órgão público, permanente, autônomo,


não jurisdicional, eleito pela comunidade local para zelar pelo
cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. Atua no
âmbito do município, tendo a função específica de atender casos
de maus-tratos, violência sexual, exploração do trabalho infan-
til, abandono ou quaisquer outras formas de violência cometi-
das contra as crianças e adolescentes. Esse órgão deve garantir o
completo estado de bem-estar físico, mental e social, devendo-
se acionar o serviço de saúde quando tais condições não forem
ofertadas àqueles que dele necessitem.

As atribuições do Conselho estão dispostas no Art. 136 do ECA,


destacando-se atendimento e aconselhamento de pais ou res-
ponsável pelas crianças e adolescentes, requerimento de servi-
ços públicos na saúde, educação, previdência, trabalho, segu-
rança e serviço social e encaminhamento ao Ministério Público
de notificações que constituam infração administrativa ou penal
contra os direitos garantidos aos adolescentes e crianças.
NOVA CONSTITUIÇÃO FAMILIAR
A instituição família vem sofrendo transformações no decorrer
da história, que pode variar de uma cultura para outra (OLI-
VEIRA, et al, 2008). Durante muito tempo a definição de famí-
lia se restringiu à ideia de que o pertencimento familiar se efeti-
vava somente pelo fator de consanguinidade.

Atualmente, percebe-se uma grande modificação na estrutura


familiar, aonde o conceito de família passou a ser uma unidade
nuclear, ampliada para outros indivíduos que com elas possam
ter grau de parentesco ou de afinidade, que forme um grupo do-
méstico, vivendo sob o mesmo teto e que se mantêm pela contri-
buição de seus membros.

Atualmente a sociedade tornou-se mais flexível, compreen-


dendo as novas relações familiares, que antes só formada pela
família tradicional, composta por pai, mãe e filhos, agora dando
lugar a pluralidade existente nessas relações.

Assim, tem-se as famílias monoparentais:

“formadas após o divórcio ou separação, situação em


que o pai ou mãe assume cuidado com os filhos. A
Constituição, ao esgarçar o conceito de família, elencou
como entidade familiar a comunidade formada por
qualquer dos pais e seus descendentes. (DIAS, 2010,
p.48).

O modelo de família monoparental é bastante comum nos dias


atuais. E na sua maioria, a responsabilidade fica a cargo da mu-
lher, tornando-a chefe do lar. Algo que não era comum em déca-
das passadas e que está bastante presente em nossa sociedade
atual.
Segundo o artigo 226 § 4º da Constituição Federal: Entende-se,
também, como entidade familiar a comunidade formada por
qualquer dos pais e seus descendentes. (BRASIL, 1988, p. 157)

Outra forma de família na modernidade é a união homoafetiva,


em que pessoas do mesmo sexo decidem constituir uma família.
Felizmente, começa a surgir uma nova postura. Reconhecidas as
uniões homoafetivas como entidades familiares, as ações devem
tramitar na vara de família. Assim, nem que seja por analogia,
deve ser aplicada a legislação de união estável, assegurando-se
partilha de bens, direitos sucessórios e direito real de habitação.
(DIAS, 2010, p 47),

E por fim, ainda temos as famílias pluriparentais, que são for-


madas por famílias reconstituídas, no qual um ou ambos de
seus integrantes têm filhos provenientes de um casamento ou
relação prévia. Essa expressão famílias pluriparentais, resulta
da pluralidade das relações parentais, especialmente fomenta-
das pelo divórcio, pela separação, pelo recasamento, seguidos
das famílias não matrimoniais e das desuniões. (DIAS, 2010,
p.49)

Pela ótica de Dias (2010, p.49)

A especificidade decorre da peculiar organização do


núcleo, reconstruído por casais onde um ou ambos são
egressores de casamentos ou união anteriores. Eles tra-
zem para a nova família seus filhos e, muitas vezes, têm
filhos em comum. É a clássica expressão: os meus, os
teus, os nossos...

Essas novas relações familiares interferem diretamente na for-


mação psicologia, afetiva e sociológica da criança e do adoles-
cente. Muitas vezes as condições aos quais são submetidos le-
vam ao mundo do crime.
PRINCIPAIS ELEMENTOS DESENCADEADO‐
RES DA CONDUTA DESVIADA DA CRIANÇA E
DO ADOLESCENTE NO CONTEXTO
FAMILIAR;
A constituição familiar dos dias atuais também é considerada
um elemento de grande relevância para a formação da conduta
da criança e do adolescente. Já que a família é a base de toda a
formação do ser e exerce um papel preponderante nesse pro-
cesso, pois os ensinamentos passados pelos ascendentes influ-
enciam diretamente na formação do ser social.

Outros elementos que podem ser destacados como principais


desencadeadores são: o uso de drogas, o cometimento de delito
por algum membro da família, maior número de irmãos, as prá-
ticas parentais inadequadas, como punições físicas, negligência,
a ausência do pai ou genitores, atribuindo a responsabilidade de
educação e formação a terceiros (como avós, tios e vizinhos).

A violência doméstica também é considerada um elemento mo-


tivador de comportamento agressivo, uma vez que as vítimas
tendem a repetir as condições de exploração e abandono as
quais são submetidas, contribuindo assim para a perpetuação
da violência contra crianças e adolescentes, num ciclo vicioso.

A violência intrafamiliar pode impedir adequado desenvolvi-


mento e integração social, em virtude de traumas físicos e psico-
lógicos, durante a trajetória de vida, sendo frequentemente, jus-
tificada pelos agressores como formas de educar e corrigir
transgressões de comportamento (COSTA et al, on-line)

O fator sócio econômico também é um elemento considerado de


risco, se for levado em conta a necessidade de sobrevivência. O
jovem, seja por abandono ou pobreza extrema, tende a entrar
pelo caminho da infração como tentativa de sobrevivência e de
aumento da renda familiar.
Ressalva-se que a ausência da disciplina familiar traz con-
sequências que na maioria das vezes são irreversíveis e visíveis a
toda sociedade, conduzindo a criança e o adolescente a um pés-
simo desemprenho escolar, a marginalização e a cometer certos
crimes perante a sociedade (prostituição, uso exagerado de en-
torpecentes, etc). Essa fragilização constante traduz o quanto
está a desejar a proteção social

Para Miralles (apud SCHECARIA, 1983, p.41)

[ ] as instâncias de controle informal são eficazes


quando convertem o indivíduo em um sujeito adaptado
que aceita o que a sociedade lhe impõe ao longo da
vida. Completa-se, desse modo, a formação ideológica
do indivíduo. A autora, valendo-se de uma chave de lei-
tura fortemente calcada na economia e na ordem capi-
talista, afirma que tais instancias de controle não lo-
gram transmitir sua ideologia por adaptação aos indi-
víduos situados em uma zona social de marginalização
em que a falta de poder social, econômico e político é
tão evidente que mostra em todos os aspectos a falácia
da ideologia consensual.

Confirmado que a base familiar tanto influencia e contribui para


esses e tantos outros fatores desencadeadores de convívio so-
cial, o que se envolve na falta de segurança e sustentabilidade
dos princípios no núcleo familiar.

DADOS COLETADOS NO CONSELHO TUTE‐


LAR DA CIDADE DE BARREIRAS
Conforme entrevista realizada com o Presidente do Conselho
Tutelar da cidade de Barreiras, verificou-se que na maioria dos
casos, a conduta desviada dar-se-á pela falta de estrutura fami-
liar, pela terceirização da responsabilidade, pela separação dos
pais e pelos casos das mães ou pais que arrumam outros (as)
companheiros (as) e abandonam seus lares e filhos.

Também são registrados muitos casos de abandono do lar por


parte da criança e do adolescente quando o mesmo sofre violên-
cia, abuso sexual e rejeição dos familiares. Já que o lar se carac-
teriza como um lugar de refúgio e quando o mesmo não oferece
esse “conforto”, a criança e o adolescente tende ir para rua, es-
tando vulnerável a prática de condutas desviadas.

O Conselho Tutelar diversas denúncias, desde abandono de in-


capaz, violência psicológica, maus tratos e drogas. Outro dado
importante apresentado na entrevista, é o de alienação parental,
que é definida pela Lei 12.318/10 como:

Interferência na formação psicológica da criança e do adoles-


cente, promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós
ou pelos que tenham a criança e o adolescente sob sua autori-
dade, guarda ou vigilância, para que repudie genitor ou que
cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos
com este. (BRASIL, 2010, on-line)

Quando os pais percebem que a alienação parental gerou refle-


xos na adolescência, torna-se muito tardia a prevenção, pois
trata-se de uma fase que o controle é mais difícil, tornando
aquele adolescente rebelde e um possível menor infrator.

Ainda com dados apresentados pelo Presidente, o mesmo relata


que existem 3 fatores desencadeadores da conduta desviada na
cidade de Barreiras. Sendo o abandono de incapaz, abandono
material e o termo de responsabilidade o primeiro, já em se-
gundo tem-se a questão dos conflitos familiares, que incluem di-
vórcios, recasamentos e a alienação parental e o terceiro é a ex-
ploração e abuso sexual.
E por fim, o mesmo relata que a realidade apresentada hoje na
sociedade é o reflexo dos lares, das famílias que são desestrutu-
radas e não conseguem desempenhar seu papel desde o início
da vida do ser.

Gráfico-01 – Fatores de conduta desviada da criança e do


adolescente.

Fonte: Pesquisa de campo (2015).

Conforme gráfico apresentado é possível verificar os elementos


responsáveis pela conduta desviada da criança e do adolescente.
Os dados coletados no Conselho Tutelar da cidade de Barreiras,
são referentes aos 63 atendimentos realizados no terceiro bi-
mestre de 2015, sendo que 28% dos atendimentos tratam-se de
termo de responsabilidade, 22% tratam-se de abandono de inca-
paz, 14% conflito familiar, 9% negligência, 8%, abuso sexual, 6%
agressão física e adolescente rebelde, 4% situação de risco e 3%
uso de droga. Conforme o Conselho Tutelar, a falta de estrutura
familiar é a maior causa da conduta desviada da criança e do
adolescente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio deste artigo foi possível discutir algumas questões li-
gadas ao comportamento infrator. Sabendo que é a família a
instituição responsável pelo processo de socialização primária e
que também é sua função proporcionar os aportes afetivos e
emocionais necessários ao desenvolvimento saudável da perso-
nalidade, nota-se que esta instituição não tem cumprido seu pa-
pel. O contexto social e familiar das crianças e dos adolescentes
são cercados de violências, privações, abandono, além de que o
envolvimento de membros da família com infrações e com uso
de drogas tem contribuído para o desenvolvimento de condutas
antissociais.

A formação atual da família também tem grande contribuição


na conduta desviada da criança e do adolescente, principal-
mente nos casos das famílias monoparentais e nas famílias que
ocorrem o recasamento, ou seja, pais separados formam novas
famílias e com isso, os cônjuges atuais não aceitam os filhos das
relações anteriores, terceirizando a educação e muitas vezes os
mesmos são rejeitados e acolhidos pela rua, tornando-se vulne-
ráveis a práticas de condutas desviadas.

Outro fator presente é o de ordem socioeconômica, que provoca


interferências no ambiente familiar, como fome, desemprego,
ausência de políticas públicas, contribuem de forma direta ou
indireta para que adolescentes iniciem e permaneçam come-
tendo atos infracionais

Com isso, pode se dizer que elementos como relatos de aban-


dono, rejeições, descontinuidade nas relações familiares, maus-
tratos e exposição à violência marcaram a vida dos participantes
deste artigo, constituindo-se elementos desencadeadores de
conduta desviada da criança e do adolescente.

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de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e
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de 2010. Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da
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infanto-juvenil-desviada-na-cidade-de-barreiras-ba-uma-abordagem-a-luz-do-controle-social-
informal/256262986

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