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TEMA: ALIENAÇÃO PARENTAL EM QUESTÃO NO BRASIL

D REPERTÓRIO SOCIOCULTURAL

Para iniciar:

LEI Nº 12.318, DE 26 DE AGOSTO DE 2010.


Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do
adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou
adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao
estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

O que fazer com essa informação que provavelmente aparecerá no Texto I da coletânea?

Faça perguntas:

1. Por que foi necessário criar uma lei pra isso?

Para responder a ela, é necessário antes considerar artigos importantes da CF/88 e do ECA:

- Artigo 227 (CF/88): a convivência familiar e comunitária é um direito fundamental de crianças e


adolescentes.
- Artigo 19 (ECA): toda criança e adolescente tem direito a ser criado e educado por sua família e, na
falta desta, por família substituta.

Foi necessário criar uma lei pois o convívio familiar é fundamental, um direito. Sendo assim, é dever
do poder público garantir que isso seja efetivado (lembre-se de que já existem artigos pra assegurar
esse convívio; porém, sempre quando a sociedade dificulta esse processo, criam-se mais
prerrogativas legais, que serão imprescindíveis para a maior fiscalização ou maior punição). Podemos
analisar também a mudança no comportamento da sociedade: os casais separam-se muito mais do
que antes.

DADOS: Um a cada três casamentos termina em separação. Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE), entre 1984 e 2016.

HISTÓRIA: Criação da Lei do Divórcio, em 1977.

EFEITOS NA CRIANÇA: SAP, o que é isso?

Síndrome de Alienação Parental (SAP), também conhecida pela sigla em inglês PAS, é o termo
proposto pelo psiquiatra americano Richard Gardner em 1985 para a situação em que a mãe ou o pai
de uma criança a treina para romper os laços afetivos com o outro genitor, criando fortes sentimentos
de ansiedade e temor em relação ao outro genitor.

Os casos mais frequentes da Síndrome da Alienação Parental estão associados a situações onde a
ruptura da vida conjugal gera, em um dos genitores, uma tendência vingativa muito grande. Quando
este não consegue elaborar adequadamente o luto da separação, desencadeia um processo de
destruição, vingança, desmoralização e descrédito do ex-cônjuge. Neste processo vingativo, o filho é
utilizado como instrumento da agressividade direcionada ao parceiro.
SAÚDE MENTAL: Crianças Vítimas de SAP são mais propensas a:

✓ Apresentar distúrbios psicológicos como depressão, ansiedade e pânico;


✓ Utilizar drogas e álcool como forma de aliviar a dor e culpa da alienação;
✓ Apresentar baixa autoestima;
✓ Não conseguir uma relação estável, quando adultas;
✓ Possuir problemas de gênero, em função da desqualificação do genitor atacado.
✓ Cometer suicídio.

Aproveite esta parte do repertório para entender os EFEITOS negativos da alienação parental. Busque
relacionar essas informações a outra de que você já dispõe (a exemplo da depressão, ansiedade e
suicídio) a respeito do desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes.

Exemplo de parágrafo com uso de algum desses efeitos:

Para a medicina psiquiátrica, doenças psicossomáticas são aquelas que envolvem simultaneamente
o corpo e a mente, comprovando as conexões entre os fatores sociais, comportamentais e
psicológicos. Nesse contexto, o processo de alienação parental pode criar um cenário mais grave de
saúde mental, com aumento nos casos de ansiedade, estresse e depressão, problemas já recorrentes
em uma sociedade social e emocionalmente fragilizada – características de uma sociedade que optou
por criar conexões individualizadas, como afirma o sociólogo Zygmunt Bauman. Esse novo cenário
desintegrado diverge completamente da visão de família como uma instituição garantidora da
interação e também se distancia dos preceitos constitucionais, quando defendem o empenho de todos
(sociedade, família e Estado) na garantia dos direitos mais fundamentais, a exemplo do bem-estar e
da felicidade pessoal. Logo, é indispensável a família repensar seu dever enquanto instituição basilar
para a formação do indivíduo (dentro e fora do seio familiar) e ser fiscalizada e punida quando
necessário.

Note que eu liguei os problemas (efeitos) de saúde a uma sociedade que naturalmente já provoca
essas doenças; ou seja, no lugar de amenizarmos o cenário já fragilizados, potencializamos ao jogar
o filho ou a filha contra seu pai ou contra sua mãe (ou responsável).

2. Como se dará a fiscalização do cumprimento dessa lei? A própria lei já prevê mecanismos
fiscalizatórios, ou prevê apenas punições?

A lei prevê medidas que vão desde o acompanhamento psicológico até a aplicação de multa, ou
mesmo a perda da guarda da criança a pais que estiverem alienando os filhos.

QUEM PODE AUXILIAR NA FISCALIZAÇÃO?

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL:


Antes, defendia o rei; depois defendeu o Estado; passou a defender a sociedade; agora, com a
CF/88, deve defender a sociedade democrática (deve servir a coletividade, fiscalizando as leis e
atuando como órgão defensor da sociedade).

Esse órgão atua muito bem quando também recebe o apoio da Assistência Social; ou seja, é
sempre um trabalho conjunto, nunca isolada, de vários órgãos, departamentos – além, é claro,
da própria sociedade, em denunciar, em buscar sempre a defesa da criança e do adolescente,
como previsto no Art. 227.

LEMBRE: A criança e o adolescente são PRIORIDADE, para o Estado: “..., com absoluta prioridade,
(...)”. Está lá na Carta Magna!

3. Qual o papel do núcleo familiar na formação das crianças?

Nesta parte do repertório, iniciarei tentando responder à questão proposta, mas, logo depois, partirei
para ramificações dela, outros entendimentos sobre nossas relações.
ÁREAS/TEÓRICOS

✓ São Tomás de Aquino: reconhecia a felicidade como o fim almejado pela sociedade.
DIREITO: direito à felicidade pessoal e direito à dignidade da pessoa humana.

A família, portanto, é uma instituição que deve garantir a felicidade de seus filhos.

✓ Sociologia da Família (abordagem interacionista): nessa abordagem, vale a percepção


da vida familiar em um nível micro sociológico, em que se valorizam as complexas
relações existentes nesse grupo, que acaba por envolver todos os seus elementos, além
de compreender essas relações como fatores preponderantes dos comportamentos
humanos nos círculos sociais além-família.

Essa abordagem sociológica para a família pode ser utilizado para defender que é
necessário que todos saibam e tenham consciência sobre a sua importância dentro do
seio familiar, para que a interação seja sempre ampla, considerando a família e a
sociedade. Quando, por exemplo, a criança sofre alienação parental, naquele momento
o comportamento da mãe ou do pai, ou do responsável pelo infante, surtirá efeitos no
comportamento do próprio filho ou da própria filha, que poderá desenvolver outros
problemas sociais, de interação com os outros, fora da família.

✓ Nelson Mandela, líder político: “O sonho de cada família é poder viver junta e feliz, num
lar tranquilo e pacífico, em que os pais têm oportunidade de criar os filhos da melhor
maneira possível, ou de os orientar e ajudar a escolher as suas carreiras, dando-lhes o
amor e carinho que desenvolverá neles um sentimento de segurança e de
autoconfiança.”

✓ Durkheim, filósofo francês: o autor encarava a família como uma instituição fulcral da
sociedade e uma parte importante da estrutura social e incluiu a "sociologia da família"
no seio da "sociologia jurídica" e da ciência dos fenômenos morais. Nos cursos "A família
conjugal" (1892) e "O divórcio por mútuo consentimento" (1906) mostrou sua
preocupação com os problemas importantes da mudança na família e perda de suas
funções; abordou também uma metodologia para o estudo dos tipos de família, a partir
de dados da família europeia. O teórico estava preocupado com o aumento do divórcio,
especialmente quando solicitado por mútuo acordo, mas também com o suicídio, pois
via uma relação entre ambos, e escreve um artigo sobre o impacto do divórcio no seio
da família, como algo bastante nocivo.

É possível entender que questões éticas e morais fragilizam-se com o divórcio pois o
casamento está enfraquecido. Não use, no entanto, essa teoria para defender um
padrão ideal de família – isso pode cair no discurso mais conservador que desconsidera
os outros arranjos familiares.

✓ Zygmunt Bauman, sociólogo polonês: “A partir do século 19 e 20, o afeto e o amor


surgem como elementos fundadores da família, mas nem sempre foi assim e não é por
acaso que nosso imaginário sempre gostou de idealizar as histórias de amor". Bauman
observa que o século 20 sofreu uma passagem da sociedade de produção para a
sociedade de consumo. Com isso, também passamos pelo processo de fragmentação da
vida humana e deixamos de pensar em termos de comunidade — a qual nação, grupos
ou movimento político pertencemos. A identidade pessoal, após essa transformação,
restringiu o significado e propósito da vida e da felicidade a tudo aquilo que acontece
com cada pessoa individualmente. “A ideia de progresso foi transferida da ideia de
melhoria partilhada para a de sobrevivência do indivíduo”. “O progresso é pensado
não mais a partir do contexto de um desejo de corrida para a frente, mas em conexão
com o esforço desesperado para se manter na corrida.”
A partir dessa tese de Bauman, podemos entender que as conexões no mundo foram
INDIVIDUALIZADAS. Esse novo cenário DIVERGE completamente da visão de família
como uma instituição de INTERAÇÃO (abordagem interacionista) e de todos os preceitos
constitucionais, mais coletivistas, por essência, quando defendem o empenho de todos
(sociedade, família e Estado) na garantia dos direitos mais fundamentais.

✓ Byung Chul-Han, filósofo coreano: Numa “Sociedade do Cansaço” estamos sempre


fadados a falhar. Se não com o trabalho, com a família. Se não com a família, com os
amigos. Se não com os amigos, com os projetos pessoais. Sociedade do Cansaço: “a
sociedade do século XXI não é mais a sociedade disciplinar, mas uma sociedade de
desempenho. Também seus habitantes não se chamam mais ‘sujeitos de obediência’,
mas sujeitos de desempenho e produção. São empresários de si mesmos”.

Não é possível explorar tanto assim esse teórico, porém ele seria incluído para um
comentário sobre o fato de estamos fadados a falhar, em algum momento, com algum
aspecto de nossa vida. Exemplo de uso:

(...) os pais perdem contato com os filhos, trabalham incessantemente e freneticamente,


estressam-se, cansam-se. Tudo isso culminará em um menor tempo dedicado aos
cuidados com os filhos e a preocupação com o bem-estar de todos – visão já defendida
pelo filósofo Byung Chul-Han, ao analisar a Sociedade do Cansaço e perceber que
estamos fadados a falhar, e a família pode ser a que mais sofrerá com essa lacuna.

✓ Erich Fromm, psicanalista alemão e filósofo humanista: “O primeiro passo é tornar-se


consciente de que o amor é uma arte, assim como a vida é uma arte. Se queremos
aprender a amar, devemos proceder da mesma forma como se fôssemos aprender
qualquer outra arte, como a música, pintura, carpintaria ou a medicina e engenharia”.

Em um tema como o da alienação parental, é possível usar argumentos mais sensíveis,


mais humanistas, porque, no final das contas, o que falta realmente é amarmos mais,
cuidarmos mais um dos outros. Você pode usar Augusto Cury? Pode. Porém, Erich
Fromm é menos utilizado, menos conhecido, o que causará MAIOR IMPACTO em seu
texto. Clássico é clássico, né, galera!

OUTROS MODELOS, LINKS E FONTES

DOCUMENTÁRIO: “A MORTE INVENTADA”, DE ALAN MINAS.

O filme, além de outros casos, apresenta dois em que são relatadas falsas denúncias de abuso
sexual, talvez o sintoma mais crítico da alienação parental e cada vez mais comum entre as
famílias desfeitas. Nesses casos, a justiça tem como procedimento afastar o possível abusador,
imediatamente, até a conclusão do inquérito. Como, em geral, a investigação é demorada, o
vínculo entre o sujeito acusado e o filho é perdido. Percebe-se que, quanto a esta questão, ainda
há muito no que avançar, a fim de preservar a integridade da criança, mas também
considerando a hipótese da falsidade da denúncia.

Leiam este artigo de 4 páginas, caso queiram se aprofundar no documentário para utilizá-lo em
suas redações: http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v28n2/15.pdf

MODELO DE INTRODUÇÃO

Na novela da Rede Globo "O outro lado do Paraíso", o personagem Tomaz entristece-se ao ter que se
mudar para a casa de sua mãe, ainda que esta seja jurídica e biologicamente sua responsável. Esse cenário
devastador extrapola as telas e ganha contornos preocupantes dentro da chamada alienação parental,
quando um dos genitores mata simbolicamente (apenas na cabeça da criança) o outro. Nesse contexto, é
preciso discutir as causas e as consequências para que haja construção de uma nova realidade sem
traumas psicossociais.

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE IGUALDADE PARENTAL

https://www.huffpostbrasil.com/roberto-dalmo/alienacao-parental-precisamos-falar-sobre-
isso_a_21690762/

Nesse artigo, eles classificam os tipos de alienação. E você ainda ganha uma Associação! Provavelmente
não estará no texto motivador. Ah, e isso faz um gancho bem legal com a proposta de intervenção: a
necessidade de outras associações e de mobilizações sociais para informar a população sobre os riscos da
alienação parental para o bom desenvolvimento social, comportamental e psíquico das crianças e dos
adolescentes.

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