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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Implicações psicológicas da guarda uniparental na família

Por: Cléa Márcia Gomes Santos

Orientador

Prof.ª Drª Ana Abreu

Rio de Janeiro

2012

ii
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Implicações psicológicas da guarda uniparental na família

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada


como requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Psicologia Jurídica.

Por: Cléa Márcia Gomes Santos

iii
AGRADECIMENTOS

Agradeço à Deus, minha filha Priscila e ao


meu ex-marido Jadir.

iv
DEDICATÓRI A

Dedico este trabalho ao meu pai Claudionor


Gomes.

v
RESUMO

Este trabalho tem por objetivo o estudo dos reflexos da ausência de um dos genitores na
vida da criança em guarda unilateral e as implicações a família, sob a perspectiva da
psicologia Humanista (Carl Rogers, 1942; Maslow, 1954). Pretende-se responder quais
são os aspectos negativos trazidos à criança em situação de guarda monoparental? E
quais são os déficits sofridos pela pirâmide das emoções dessas crianças? Através de um
questionário e entrevistas realizados com três mães em situação de guarda unilateral.

Palavras-chave: guarda unilateral, guarda compartilhada, vantagem, desvantagens,


família.

vi
Sumário

Introdução ..................................................................................................................................... 8
Fundamentação Teórica................................................................................................................ 9
A FAMÍLIA .................................................................................................................................... 9
A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ................................ 13
A SEPARAÇÃO ............................................................................................................................. 14
A GUARDA .................................................................................................................................. 14
Tipos de guarda ................................................................................................................... 18
Guarda alternada versus guarda compartilhada................................................................. 19
Levantamento sobre os tipos de guarda e suas implicações .............................................. 19
METODOLOGIA E CORPUS ............................................................................................................. 22
ANÁLISE DAS ENTREVISTAS ............................................................................................................ 23
Caso 01 - “ A ........................................................................................................... 23
Caso 02 - “ B ........................................................................................................... 23
Caso 03 - “ C ........................................................................................................... 24
Análise geral dos casos........................................................................................................ 24
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................ 25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 26
ANEXOS ..................................................................................................................................... 28
Roteiro da entrevista semiestruturada ............................................................................... 28

vii
Introdução
Tema
Este trabalho tem por objetivo estudo dos reflexos da ausência de um dos
genitores na vida da criança em guarda monoparental, sob a perspectiva da psicologia
Humanista (Carl Rogers, 1942; Maslow, 1954). Devido a guarda monoparental da
criança, a mesma pode vir a sofrer alienação parental, que pode ser voluntária ou
involuntária por parte dos genitores e por isso desenvolve problemas de segurança, de
auto realização, de autoestima e problemas de ordem social.
O quadro teórico que servirá de base para este trabalho será o da psicologia
Humanista, que é centrada na pessoa, além de visar à compreensão e o bem-estar. O
foco será a pirâmide das emoções de Maslow, que retrata cinco necessidades básicas
dos indivíduos: fisiológicas, segurança, auto- realização, autoestima e sociais.
A partir deste quadro será feito uma análise de crianças em situação de guarda
monoparental. O fenômeno em questão será analisado qualitativamente, para tal foi
compilado um corpus com os casos de guarda uniparental de menores das zonas sul e
norte do Rio de Janeiro.
Dessa forma pretende-se responder às seguintes questões: Quais são os aspectos
negativos trazidos à criança em situação de guarda monoparental? E quais são os
déficits sofridos pela pirâmide das emoções dessas crianças?
O interesse pelo tema justifica-se pela necessidade de: traçar o perfil psicológico
das crianças em guarda monoparental que apresenta déficit em suas pirâmides das
emoções. Para que sejam propostas formas de compensações das mesmas.
Como objetivo geral pretende-se descrever o panorama no qual se encontra as
crianças e as mães em guarda uniparental e analisar e descrever a situação psicológica
da criança e da família em guarda uniparental.
Já para como objetivos específicos pretende-se entender o funcionamento da
pirâmide das emoções nas crianças em guarda monoparental.e promover uma reflexão
sobre o funcionamento das emoções nessas crianças.

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Fundamentação Teórica

A FAMÍLIA

A família é para a psicologia, revestida de uma importância capital, dado


que é o primeiro ambiente no qual se desenvolve a personalidade
nascente de cada novo ser humano, assim a família é vista como o
primeiro espaço psicossocial, protótipo das relações a serem
estabelecidas com o mundo. É a matriz da identidade pessoal e social,
uma vez que nela se desenvolve o sentimento de pertinência que vem
com o nome e fundamente a identificação social, bem como o sentimento
de independência e autonomia baseado no processo de diferenciação
que permite a consciência de si mesmo como alguém diferente e
separado do outro. O pertencer é constituído, por um lado, pela
participação da criança nos vários grupos familiares ao acomodar-se às
regras, padrões internacionais e compartilhar da cultura particular da
família, que se mantém através do tempo, como mitos, crenças e hábitos.
(Minuchin, 1976)

O propósito da família seria prover um ambiente propício para atender as


necessidades primárias de seus membros, referentes à sobrevivência, tais como:
segurança, alimentação e um lar. Já no que tange ao desenvolvimento a família deverá
proporcionar condições de desenvolvimento afetivo, cognitivo e social. E Por fim o
sentimento de ser aceito, cuidado e amado.
A família é muito importante, pois é uma prévia das interações sociais, como
podemos ver em:

A família é um dos grupos primários e naturais de nossa sociedade, nos


quais o ser humano vive e consegue se desenvolver. Na interação
familiar, que é prévia e social (porém determinada pelo meio ambiente),
configura-se bem precocemente a personalidade, determinando-se aí as
características sociais, éticas, morais e cívicas dos integrantes da
comunidade adulta. Por isso, muitos fenômenos sociais podem ser
compreendidos analisando as características da família. Muitas das
reações individuais que determinam modelos de relacionamentos
também podem ser esclarecidas e explicadas, de acordo com a
configuração familiar do sujeito e da sociedade da qual faz parte. (Knobel
1992).

As obrigações da família não só apenas descritas no âmbito da Psicologia, mas


também são descritas sob o aspecto legal, como podemos conferir em dois fragmentos

9
do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei n.º 8069/90, o termo “família”
aparece um primeiro lugar), bem como o art. 19 do referido Estatuto, conforme segue:
Art. 4.º ECA: É dever da família, da comunidade, da sociedade em
geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação
dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito,
à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Art. 19 ECA: Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e


educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família
substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em
ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias
entorpecentes.

Por conseguinte a família é a base de estruturação e ajuste da criança e do


adolescente e rupturas ou desajustes no âmbito familiar podem gerar problemas de
ordem psicológica e social na criança e adolescente expostos aos mesmos.
Cabe mencionar que há vários tipos de famílias, principalmente com a
modernização da sociedade, novos tipos de famílias são estabelecidos. A seguir será
apresentado um quadro com a tipologia familiar reirado de Novos Tipos de Família de
Caniço, Bairrada, Rodríguez & Carvalho, 2010.

TIPO DE FAMÍLIA CARACTERÍSTICAS DAS FAMÍLIAS


Duas pessoas em relação conjugal sem
Família Díade Nuclear filhos (não há descendentes comuns nem
de relações anteriores de cada elemento).
Família em que uma mulher se encontra
Família Grávida grávida, independente da restante
estrutura.
Família Nuclear ou Simples Uma só união entre adultos e um só nível
de descendência pais e seu(s) filho(s).
Coabitam ascendentes, descendentes e/ou
Família Alargada ou Extensa colaterais por consanguinidade ou não,
para além de progenitor (es) e/ou filho(s).
Família com crianças e jovens de idades
Família com prole extensa ou numerosa muito diferentes, independentemente da
restante estrutura familiar.
Família Reconstruída, Família em que existe uma nova união
conjugal, com ou sem descendentes de
Combinada ou
relações anteriores, de um ou dos dois
Recombinada cônjuges.
Família em que existe uma união conjugal
Família Homossexual entre duas pessoas do mesmo sexo,
independentemente da restante estrutura.

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Família Monoparental Família constituída por um progenitor que
coabita com o(s) seu(s) descendente(s).
Família constituída por familiares (de
Família Dança a Dois sangue ou não) sem relação conjugal ou
parental (ex: avó e neto, tia e sobrinha,
irmãos primos cunhados
Família constituída por uma pessoa que
Família Unitária vive sozinha, independentemente de
relação conjugal sem coabitação.
Homens e /ou Mulheres que vivem na
mesma habitação sem laços familiares ou
Família de Co-habitação conjugais, com ou sem objetivo comum (ex:
estudantes universitários, amigos,
imigrantes
Família composta por homens e/ou
mulheres e seus eventuais descendentes,
Família Comunitária coabitando na mesma casa ou em casas
próximas (ex: comunidades religiosas,
seitas, comunas, ciganos
Família em que ocorre a colocação
Família Hospedeira temporária de um elemento exterior à
família ex criança idoso amigo colega
Família que adotou uma ou mais crianças
Família Adoptiva não consanguíneas, com ou sem coabitação
de filhos biológicos.
Família em que existe uma relação conjugal
Família Consanguínea consanguínea, independentemente da
restante estrutura.
Família em que um dos elementos é
dependente dos cuidados de outros por
Família com Dependente motivo de doença (acamado, deficiente
mental e/ou motor, requerendo apoio nas
AVDs).
Família com desaparecimento de um
elemento de forma definitiva (falecimento)
ou dificilmente reversível (divórcio, rapto,
desaparecimento, motivo desconhecido)
Família com Fantasma em que o elemento em falta continua
presente na dinâmica familiar dificultando
a reorganização familiar e impedindo o
desenvolvimento individual dos restantes
membros.
Família em que um dos cônjuges se ausenta
por períodos prolongados ou frequentes
Família Acordeão (ex: trabalhadores humanitários
expatriados, militares em missão,
emigrantes de longa duração).
Família em que os elementos mudam
Família Flutuante frequentemente de habitação (ex:
progenitores com emprego de localização
variável) ou em que o progenitor muda

11
frequentemente de parceiro.
Família em que um membro tem problemas
Família Descontrolada crônicos de comportamento por doença ou
adição (ex: esquizofrenia,
toxicodependência, alcoolismo, etc.)
Família em que o elemento identificado
Família Múltipla integra duas ou mais famílias, constituindo
agregados diferentes, eventualmente com
descendentes em ambos.

A família também pode ser classificada segundo sua relação parental, como
pode se observar abaixo:

RELAÇÃO PARENTAL CARACTERÍSTICAS DAS FAMÍLIAS


Família Equilibrada
Família mostra-se unida e os pais são
(estável) concordantes e conscientes do seu papel.
Família Rígida Família em há dificuldade em compreender
assumir e acompanhar o desenvolvimento
(instável)
saudável dos filhos.
Família Superprotetora Família em que há preocupação excessiva
em proteger os filhos, sendo os pais
(instável)
supercontroladores.
Família Permissiva
Família em que os pais não são capazes de
(instável) disciplinar os filhos.
Família em que os pais não sabem
Família Centrada nos filhos
enfrentar os seus próprios conflitos
(instável) conjugais que desvalorizam sem avaliação
e ajustamento.
Família Centrada nos pais Família em que as prioridades dos pais
focalizam-se nos projeto pessoais
(instável)
individuais (profissionais ou lúdicos).
Família Sem objetivo
Família em que os pais estão confusos por
(instável) falta de objetivo e metas comuns.
(in Novos Tipos de Família de Hernâni Caniço, Pedro Bairrada, Esther Rodríguez, Armando Carvalho
Imprensa da Universidade de Coimbra, Junho 2010).

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A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Pode se considerar cosensual paras os teóricos da Psicanálise, como: XXX. Que


o ambiente familiar e as pessoas implicadas na composição desse grupo – pais, irmãos,
pessoas com interação significativa – é de profunda influencia na formação do
psiquismo da criança da sua personalidade.
O estudo das relações familiares é fundamental para a compreensão do
desenvolvimento psicológico da criança e do adolescente. Seja em famílias
equilibradas, nucleares, reconstituídas, em conflito conjugal 1 , guarda alternada,
compartilhada, unilateral.
Em pesquisas, Cummings e Davies (2002), apontam a associação da discórdia
parental e a presença da adversidade no contexto familiar como caracterizadores de
maior vunerabilidade emocional no sistema intrafamiliar.
A qualidade da relação parental e a presença de discórdia no ambiente familiar
são fatores associados à etiologia de distúrbios emocionais nas crianças e adolescentes,
que acabam por estar diretamente ligados ao desevolvimento da criança, conforme
apontado em Fincham (1994, 2003).
As relações entre pais e filhos são fundamentais o processo de desenvolvimento,
porém, o sistema familiar como um todo constitui um contexto relacional importante
para o desenvolvimento da criança e do adolescente. (Cummings & O´Reily, 1997apud
Benetti, 2006).
Logo, a exposição á episódios de conflito conjugal gera estados afetivos internos
na criança e adolescente de intenso sofrimento psíquico, estresse, alterações emocionais
e fisiológicas (El-Sheik & Harger, 2001 1997apud Benetti, 2006). E a exposição aos
conflitos conjugais também está relacionada a distúrbios em distintos aspectos do
desenvolvimento da criança e do adolescente, ais como nas aéreas emocional, cognitiva
e social.
A personalidade é constituída por duas funções básicas: afetividade e
inteligência. A afetividade está vinculada às sensibilidades internas e
orientada para o mundo social, para a construção da pessoa; a
inteligência, por outro lado, está vinculada às sensibilidades externas e
orientada para o mundo físico, para a construção do objeto. Desta forma,
a afetividade assume papel fundamental no desenvolvimento humano,

1
Caracteriza-se por diferentes níveis de intensidade, frequência, conteúdo e resolução, além de serem
expressam no cotidiano familiar de forma aberta ou encoberta.

13
determinando os interesses e necessidades individuais da pessoa; é um
domínio funcional, anterior à inteligência. (Wallon 1979 apud Borba &
Spazziani),

Com a família em conflito conjugal, desfeita ou ainda em situação de guarda que


não haja equilíbrio parental questões básicas como afetividade ficam comprometidas e
assim causam prejuízos para a formação da personalidade da criança, além de contribuir
para um desajuste social da mesma.

A SEPARAÇÃO

Conforme o artigo Divórcio e separações conjugais, do AbcSaúde, o divórcio,


quando ocorre, ou quando sua possibilidade se torna real na vida dos casados, é uma das
mais importantes crises da vida do adulto.
No casamento, ambos os parceiros mudam ou evoluem com os anos, geralmente
em diferentes ritmos, e não necessariamente em direções complementares, podendo
surgir a necessidade de separação.
Assim, diante de um casamento não satisfatório, começam a surgir inúmeros
problemas no convívio e no relacionamento, que chamaremos aqui de desajustes
conjugais. Ocorrendo a separação, ambos os ex-parceiros, independente de quem tenha
tomado a iniciativa, passam por um período de sofrimento em decorrência da perda da
relação, por pior que essa estivesse no período imediatamente anterior ao divórcio.
Esse sofrimento se estende aos filhos, pois implica na dissolução de um modelo
de família e é necessária uma reconfiguração do ambiente familiar. Mas essa transição
será mais ou menos árdua de acordo com o tipo de separação efetuada pelo casal.

A GUARDA

A acepção primeira do termo “Guarda” no Dicionário eletrônico Houaiss, 3ª


edição, é ação ou efeito de guardar; vigilância, proteção, cuidado, por significação
estendida de significado podemos acessar esta outra acepção: o que oferece amparo ou
acolhimento; proteção, abrigo.

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Contudo temos uma acepção jurídica do termo extraída do manual da Guarda no
Direito da Criança e do Adolescente (CEJUP, 1997), guarda é o poder-dever de manter
criança ou adolescente no recesso do lar enquanto menores e não emancipados, dando
assistência moral, material e educacional.
Cabe aqui apresentar o fragmento da LEI Nº 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE
2002, mas especificamente o CAPÍTULO XI, Da Proteção da Pessoa dos Filhos, que
versa como se dará a guarda.

Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada. (Redação


dada pela Lei nº 11.698, de 2008).

§ 1o Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos


genitores ou a alguém que o substitua (art. 1.584, § 5o) e, por guarda
compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e
deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes
ao poder familiar dos filhos comuns. (Incluído pela Lei nº 11.698, de
2008).

§ 2o A guarda unilateral será atribuída ao genitor que revele


melhores condições para exercê-la e, objetivamente, mais aptidão para
propiciar aos filhos os seguintes fatores: (Incluído pela Lei nº 11.698, de
2008).

I afeto nas relações com o genitor e com o grupo


familiar; (Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).

II saúde e segurança; (Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).

III educação. (Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).

§ 3o A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a


supervisionar os interesses dos filhos. (Incluído pela Lei nº 11.698, de
2008).

§ 4o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).

Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá


ser: (Redação dada pela Lei nº 11.698, de 2008).

I requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer


deles, em ação autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de
união estável ou em medida cautelar; (Incluído pela Lei nº 11.698, de
2008).

II decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas do


filho, ou em razão da distribuição de tempo necessário ao convívio deste
com o pai e com a mãe. (Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).

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§ 1o Na audiência de conciliação, o juiz informará ao pai e à mãe o
significado da guarda compartilhada, a sua importância, a similitude de
deveres e direitos atribuídos aos genitores e as sanções pelo
descumprimento de suas cláusulas. (Incluído pela Lei nº 11.698, de
2008).

§ 2o Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à


guarda do filho, será aplicada, sempre que possível, a guarda
compartilhada. (Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).

§ 3o Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos


de convivência sob guarda compartilhada, o juiz, de ofício ou a
requerimento do Ministério Público, poderá basear-se em orientação
técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar.(Incluído pela Lei nº
11.698, de 2008).

§ 4o A alteração não autorizada ou o descumprimento imotivado


de cláusula de guarda, unilateral ou compartilhada, poderá implicar a
redução de prerrogativas atribuídas ao seu detentor, inclusive quanto ao
número de horas de convivência com o filho.(Incluído pela Lei nº 11.698,
de 2008).

§ 5o Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a


guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda à pessoa que revele
compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de
preferência, o grau de parentesco e as relações de afinidade e
afetividade. (Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).

Art. 1.585. Em sede de medida cautelar de separação de corpos,


aplica-se quanto à guarda dos filhos as disposições do artigo
antecedente.

Art. 1.586. Havendo motivos graves, poderá o juiz, em qualquer


caso, a bem dos filhos, regular de maneira diferente da estabelecida nos
artigos antecedentes a situação deles para com os pais.

Art. 1.587. No caso de invalidade do casamento, havendo filhos


comuns, observar-se-á o disposto nos arts. 1.584 e 1.586.

Art. 1.588. O pai ou a mãe que contrair novas núpcias não perde o
direito de ter consigo os filhos, que só lhe poderão ser retirados por
mandado judicial, provado que não são tratados convenientemente.

Art. 1.589. O pai ou a mãe, em cuja guarda não estejam os filhos,


poderá visitá-los e tê-los em sua companhia, segundo o que acordar com
o outro cônjuge, ou for fixado pelo juiz, bem como fiscalizar sua
manutenção e educação.

Parágrafo único. O direito de visita estende-se a qualquer dos avós,


a critério do juiz, observados os interesses da criança ou do
adolescente. (Incluído pela Lei nº 12.398, de 2011)

Art. 1.590. As disposições relativas à guarda e prestação de


alimentos aos filhos menores estendem-se aos maiores incapazes.

16
(LEI Nº 10.406, 2002)

Cabe destacar o artigo 1632, segundo o qual a separa ção judicial, o


divórcio e a dissoluçã o de união está vel nã o alteram as relações entre pais e
filhos senão quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua
compa nhia os segundos. Desta forma a justiça garante não só os direitos da criança,
mas também que não haja alienação parental, por meio da separação dos pais.

17
Uma das vantagens dessa modalidade de guarda é que a criança é a convivência
com ambos os genitores, contudo há teóricos que acreditam que a residência alternada
possa ser prejudicial ao menor, já que ele pode se sentir instável e assim não fixar os
laços sociais.

Guarda compartilhada

O direito brasileiro não possui norma jurídica impeditiva da guarda


conjunta, bem ao contrário: de sua sistemática desponta a conclusão de
que precisa ser aceita esta modalidade de custódia. O desuso doutrinário
e jurisprudencial, a toda evidência, não tem o dom de elidir o instituto
em estudo. (Desembargador Sérgio Gischkow Pereira)

É privilegiada a ideia de estar com, de compartilhar, sempre voltada para o


melhor interesse das crianças e consequentemente dos pais. E tal modalidade de guarda
só é cabível em hipótese de total acordo sobre todas as questões relativas à prole. E se
reserva, a cada um dos pais, o direito de participar das decisões importantes que se
referem à criança.

Guarda alternada versus guarda compartilhada

Cabe aqui esclarecer que a guarda alternada difere da guarda compartilhada, pois
a primeira o genitor que estiver de guardião e quem tem a responsabilidade e toma as
decisões referentes ao menor. Já na guarda compartilhada a responsabilidade das
decisões referentes ao menor cabe aos dois genitores, independente de com qual genitor
o menor se encontra no momento.

Levantamento sobre os tipos de guarda e suas implicações

O psicólogo - com formação em Psicanálise, assistente técnico e mediador em


processos da vara de família e pesquisador - Evandro Luiz Silva faz um levantamento
de pesquisas sobre os tipos de guarda e suas implicações nas crianças e adolescentes,
mas também em seus genitores realizadas nos maiores centros de estudo de psicologia
internacional.

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A seguir veremos trechos dos resultados encontrados:

D.A.Luepnitz estudou a guarda monoparental e a guarda compartilhada


física. As crianças de guarda monoparental demonstraram insatisfação
com a quantidade de visitas que recebiam, enquanto as crianças de
guarda alternada demonstravam satisfação com as companhias de
ambos os pais. A qualidade da relação pai-filho foi constatada como
sendo melhor no caso da guarda alternada. ( maternal, paternal and joint
custody. A study of families ater divorce / Doctoral thesis 1980. State
University of New york at Buffalo UMI No. 80-27618).

S.A Nunam comparou 20 casos de guarda conjunta (alternada e


compartilhada), entre crianças de 7 e 11 anos com 20 casos de guarda
monoparental (mesma faixa de idade). Todas as famílias tinham pelo
menos dois anos de separação ou divórcio. Crianças de guarda
compartilhada apresentaram ego e superego mais forte e maior auto-
estima que as crianças de guarda monoparental. As crianças de guarda
compartilhada também apresentaram menor excitabilidade e menos
impaciência. Para crianças que tinham menos de 4 anos na época da
separação, esta diferença foi menor. (Joint custody versus single custody
effects on child development / Doctorial thesis 1980. California School of
professional Psychology, Berkeley, UMI NO. 81-10142).

S.A. Wolchik, S.L. Braver and I.N. Sandler detectaram em suas pesquisas
que a auto-estima de crianças de guardas compartilhadas foi maior.
Crianças de guardas conjuntas apresentaram significativamente maior
número de experiências positivas do que crianças de guarda
monoparental maternal. (J. of Clinical Child Psychology Vol.14, p.5-
101985).

Ainda no mesmo estudo o psicólogo apresenta um quadro com e desvantagens


da guarda uniparental e vantagens da guarda compartilhada realçadas nas pesquisas
analisadas.
DESVANTAGENS DA GUARDA UNIPARENTAL
As crianças perdem muito da qualidade da relação com o pai não residente,
desenvolvendo vários sintomas.
Crianças de 7 e 11 anos têm ego e superego mais fraco e menor auto estima do
que as crianças de guarda compartilhada física.
Meninas têm menor autoestima. .
Meninos de 5 a 13 anos são mais desajustados .
As crianças são menos ativas.
As crianças apresentam mais excitabilidade e tem mais impaciência.
Meninos não são tão felizes quanto aos de famílias intactas.
Se apresenta maior rivalidade entre irmãos durante as visitações dos pais.
Quanto menor o tempo de visitação do pai não residente , mais as crianças
rejeitavam o pai e mais desajustadas eram.

20
Considerada pelos próprios pais como elemento encorajador de estratégias de
persuasão baseadas em punição
Campo fértil para a utilização de técnicas de pressão psicológica para controlar
as crianças, induzindo a elas culpa.
Em situações de separações com alto grau de litígio as crianças correm maior
risco de serem sequestradas pelos pais ou sofrerem agressões.
As famílias submetidas Ao modelo de guarda monoparental são comumente
dependentes da tutela da Vara de família.
As crianças apresentam pior relacionamento com suas mães.
As crianças demonstram insatisfação com a quantidade de visitas recebidas pelo
pai não residente.
A qualidade da relação pai-filho é inferior.
As crianças apresentam menos satisfação com o tempo gasto com os pais
As crianças perdem o contato com o seu pai.
Crianças entre 5 e 12 anos apresentam maior envolvimento negativo com os pais,
no período logo após a separação.
As crianças são 3 vezes mais omissas em relação a avaliação da importância dos
membros da família paterna ou materna, dependendo de quem é a guarda

VANTAGENS DA GUARDA COMPARTILHADA


As crianças criam vínculos positivos na casa de ambos os pais, convivendo com
ambos de forma muito boa.
As relações sociais das crianças não são alteradas em consequência da criança
conviver em duas casas distintas, pois continuam estudando no mesmo colégio,
frequentando o mesmo clube, etc.,
Amplia-se os vínculos da criança em face dos vizinhos das residências de ambos
os pais.
A qualidade da relação pai-filho é superior no caso da guarda compartilhada
física.
Crianças de a anos de idade têm ego e superego mais forte e maior auto
estima que as crianças de guarda monoparental.
As crianças apresentam menos excitabilidade e menos impaciência.
As crianças apresentam maior satisfação com o tempo gasto com os pais Vide
pesquisa: Universidade de South Dakota 82-6914).
As crianças apresentam melhor relacionamento com suas mães
Meninos de a 13 anos são mais ajustados.
Meninos são tão felizes quanto os de famílias intactas
Meninas têm auto-estima maior.
As crianças são mais ativas
Não perdem o contato com seus pais não se sentem abandonados
Técnicas de manipulação e alienação parental são raramente utilizadas e sendo,
o poder de percepção das crianças entre 9 e 12 anos a tornam ineficazes.

21
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos ao longo deste trabalho argumentos teóricos e aplicados que a guarda


compartilhada é mais interessante no sentido de benefícios para o menor. Mas embora a
guarda compartilhada apresente muitas vantagens tanto para o menor, quanto para a
família, cada caso merece atenção específica, pois nem todas as famílias se configuram
da mesma forma.
Só o juiz com a ajuda do psicólogo jurídico será capaz de avaliar o melhor tipo
de guarda para cada família. Sendo que em casos muito específicos a privação da visita
de um dos genitores se faz necessária para o bem do menor envolvido, como nos casos
de violência doméstica e sexual. A privação evita que cause problemas maiores ao
menor.
Por tanto é muito importante uma avaliação da família e não só do menor
envolvido para a decisão sobre a guarda a ser estabelecida nos casos de separação dos
pais

25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Roberta Leal Teixeira de. Cuidados infantis - sentidos atribuídos à guarda
compartilhada. 2009. 104f. Dissertação (mestrado em Psicologia) - Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009. Disponível em:
<http://www.psicologia.ufrj.br/pos_eicos/pos_eicos/arqanexos/arqteses/robertaleal.pdf>
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