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SINOPSE DO CASE: Decisões Complexas: O Destino de Pedro no Acolhimento

Institucional.

Marina Candeira Correia²

Gracielle Santana³

1. DESCRIÇÃO DO CASO

Dentro da complexa trama que envolve a rotina de trabalho da psicóloga Ana em


uma instituição de acolhimento infantil, esta apresenta-se diante de um caso
complexo e angustiante envolvendo Pedro, um garoto de apenas 7 anos. Pedro é
uma vítima de abusos físicos e emocionais, que fora retirado de um ambiente
doméstico marcado por graves violações de direitos.

Nesse interím, em sua primeira avaliação, Ana depara-se com Pedro


extremamente assustado, demonstrando evidentes sinais de trauma. Ademais, é
possível notar que este trauma é agravado pelo conflito emocional que Pedro
apresenta, expressando apego a seus agressores, seus próprios pais. Esta
dualidade emocional compõe a trama do dilema que Ana enfrenta.

O núcleo do problema enfrentado por Ana é a decisão de caráter ético e


emocional sobre o destino de Pedro que, não se limita apenas à proteção imediata
deste, mas tambem à busca por soluções que promovam seu desenvolvimento
saudável a longo prazo, balizadas pelo principio do melhor interesse da criança.

Nesse sentido, estabelece-se o questionamento: Deve ele permanecer sob os


cuidados da instituição de acolhimento, que oferece um ambiente seguro e
profissionais especializados para tratar de suas profundas necessidades emocionais
e psicológicas? Ou, ao invés disso, seria apropriado buscar a reintegração familiar,
ignorando os traumas e sofrimentos passados?.

1 Case apresentado à disciplina de Práticas Psicologicas Relacionadas, na Unidade de Ensino Superior Dom
Bosco –UNDB. 2 Aluna do 6 Período do curso de Psicologia, da UNDB. 3 Professora , orientador
2. IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DO CASO

2.1 Descrição da possível decisão:

2.1.1. Possíveis intervenções no contexto de acolhimento institucional.

2.2. Argumentos capazes de fundamentar cada decisão

2.2.1 Possíveis intervenções no contexto de acolhimento institucional.

A infância e adolescência são amplamentes reconhecidas como uma fase de


grande relevância na vida dos indivíduos. Esse reconhecimento decorre do fato de que
durante essa etapa que os infanto-juvenis iniciam e desenvolvem seus aspectos
cognitivos, biológicos e psicossociais. Contudo, esse desenvolvimento não se limita
apenas a fatores biológicos; ele também é profundamente influenciado pelas condições do
ambiente em que a criança está imersa. Nesse contexto, a família desempenha um papel
inestimável, incluindo funções cruciais de proteção e provisão de afeto.

Por outro lado, é importante reconhecer que nem sempre as famílias conseguem
assegurar um ambiente seguro e satisfatório para o crescimento saudável de seus filhos.
Em algumas situações, infelizmente, essas famílias tornam-se fontes de risco para seus
membros, especialmente crianças e adolescentes. Quando a situação de risco no seio
familiar atinge níveis preocupantes e resulta em violações de direitos, entram em cena
intervenções conhecidas como medidas de proteção, das quais o acolhimento institucional
faz parte (FONSCECA, 2017, p. 286).

Nesse interím, considera-se importante elucidar algumas informações e


consideraçoes necessárias para o melhor entedimento do caso supracitado. Dessa
maneira entende-se que, Acolhimento Institucional é um importante conceito dentro do
contexto da proteção à infância e à adolescência, regido pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) no Brasil. Este consiste em um serviço oferecido pelo Estado para
crianças e adolescentes que se encontram em situação de risco pessoal, abandono ou
que tiveram seus direitos violados de alguma forma. Conforme previsto no artigo 101 do
ECA,

O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e


excepcionais, utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar ou,
não sendo esta possível, para colocação em família substituta, não implicando
privação de liberdade.(BRASIL,1990)

Nesse cenário, o psicólogo desempenha um papel crucial. Na medida em que,o


psicólogo é responsável por criar um ambiente acolhedor, estabelecendo vínculos com as
crianças e adolescentes e oferecendo suporte emocional para lidar com os traumas e
desafios que estes enfrentam.

No entanto, muitas vezes, o psicólogo se depara com casos em que a criança


ainda mantém um forte apego à família, apesar das violações de direitos que sofreu, como
no caso de Pedro. Diante dessa situação, a atuação do psicólogo desempenha um papel
central, guiado pelos parâmetros estabelecidos na "Nota Técnica - Parâmetros para
Atuação das e dos Profissionais de Psicologia no Âmbito Sistema Único de Assistência
Social (SUAS)", ao estabelecer uma escuta qualificada e o respeito aos sentimentos e
experiências da criança ou adolescente que, são fundamentais para o trabalho nesse
contexto. Isso significa que, ao lidar com crianças que ainda mantêm apego à família, o
profissional deve ouvir atentamente suas preocupações e sentimentos em relação aos
pais, promovendo um espaço seguro para que expressem seus desejos e angústias.

Desse modo, a atuação da psicóloga nessa instituição deve ser dividida em três
pontos: o trabalho com as crianças ou adolescentes; com a família, e com a equipe
técnica e os demais profissionais da instituição. No trabalho com as crianças, o psicólogo
deverá se utilizar de aparatos lúdicos e técnicas de dinâmicas de grupo, como forma de
proporcionar a expressão e o autoconhecimento, a interação entre o grupo, além de gerar
o debate e o manejo de questões variadas que surgem (AGUIAR; CARRERO; RONDINA,
2007, p122).Além disso,torna-se necessário que o profissional da psicologia guie a sua
atuação para práticas de intervenções sócio comunitárias, por intermédio da escola, áreas
de lazer ou passeios. As práticas interventivas podem ser eficazes tanto para tornar as
relações nesses locais mais saudáveis, quanto para diminuir o sofrimento de crianças e
adolescentes acolhidos. (SILVA, et al, 2019, p. 125)

Ademais, tendo em vista que, o acolhimento visa a manuntenção da garantia de


direitos dentre eles, o direito à convivência familiar e comunitária ,a atuação da psicóloga
Ana também deve se desenvolver, através visitas domiciliares, juntamente de um
assistente social, com o objetivo principal a mediação da reconstrução dos laços afetivos,
como meio de favorecimento a reaproximação da família com a crianca. Nessa situação, a
psicóloga poderá identificar e apontar tudo o que deve ser feito para a reaproximação
familiar e desenvolver estratégias juntamente com a equipe da rede de atenção.

Enfatiza-se também, a necessidade de colaboração interdisciplinar, uma vez que o


trabalho da psicóloga deve ocorrer em conjunto com outros profissionais, como
assistentes sociais e com o Sistema Judiciário. Essa colaboração é essencial para uma
avaliação completa da situação da criança, garantindo que todas as medidas tomadas
estejam alinhadas com o princípio do melhor interesse da criança.

Em última análise, conclui-se que a psicóloga Ana deve seguir um caminho que
equilibre concomitantemente a proteção imediata de Pedro com esforços para sua
reintegração familiar, desde que essa reintegração seja segura e benéfica para ele,
sempre mantendo o bem-estar da criança como prioridade máxima. Este é um processo
complexo e desafiador, que requer uma abordagem interdisciplinar e sensível às
necessidades de Pedro.
3. Descrição dos critérios e valores contidos em cada decisão possível

Psicologia Social: é o ramo da psicologia que se concentra no estudo científico dos


pensamentos, sentimentos, comportamentos e interações humanas em contextos
sociais. Ela explora como fatores sociais, como influência de grupos, normas sociais,
percepção dos outros e dinâmicas sociais, moldam o comportamento e a cognição
dos indivíduos. Além disso, a Psicologia Social investiga questões como identidade
social, preconceito, empatia, conformidade e cooperação, contribuindo para uma
compreensão mais profunda das complexas interações entre as pessoas em
sociedade.

O Princípio do Melhor Interesse da Criança é um conceito fundamental que guia


decisões e políticas relacionadas ao bem-estar das crianças em várias áreas,
incluindo direito da família, assistência social e políticas públicas. Esse princípio
estabelece que, em todas as ações e decisões que afetam crianças, o interesse
superior da criança deve ser uma consideração primordial e prioritária.Isso significa
que qualquer medida, decisão judicial, intervenção ou política relacionada a crianças
deve ser tomada com base no que é considerado melhor para o bem-estar,
desenvolvimento e segurança da criança, independentemente de outros interesses
ou considerações. Esse princípio busca garantir que os direitos e necessidades da
criança sejam protegidos e promovidos, com ênfase na sua saúde física, emocional
e psicológica.O Princípio do Melhor Interesse da Criança é um padrão ético e legal
amplamente aceito em todo o mundo e é consagrado em várias convenções
internacionais, como a Convenção sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas.
Ele orienta a tomada de decisões em casos que envolvem guarda, adoção, cuidados
de saúde, educação, bem como questões relacionadas à proteção infantil e
situações de risco.

O acolhimento institucional é um serviço que faz parte do sistema de proteção à


infância e à adolescência em muitos países, incluindo o Brasil, regido pelo Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA). Esse serviço consiste na oferta de abrigamento
e cuidado em instituições específicas, conhecidas como abrigos ou casas de
acolhimento, para crianças e adolescentes em situações de risco pessoal, abandono
ou que tiveram seus direitos violados de alguma forma.Em termos simples, o
acolhimento institucional é uma medida provisória e excepcional que visa oferecer
um ambiente seguro e adequado para crianças e adolescentes que não podem viver
temporariamente com suas famílias de origem devido a abusos, negligência,
violência doméstica, ou outras situações que coloqu em em risco seu bem-estar.
Essas instituições são supervisionadas por órgãos governamentais e devem seguir
diretrizes específicas para garantir o cuidado adequado, o desenvolvimento saudável
e a proteção dos direitos das crianças e adolescentes acolhidos. O objetivo final do
acolhimento institucional é, sempre que possível e seguro, promover a reintegração
familiar ou, se essa não for uma opção viável, encontrar uma família substituta por
meio da adoção ou guarda legal.

O estágio de desenvolvimento, em um contexto psicológico, refere-se a uma fase


específica e relativamente uniforme do desenvolvimento humano que compartilha
características e marcos de desenvolvimento comuns. Essas fases são identificadas
com base em mudanças significativas no comportamento, habilidades, cognição,
emoções e interações sociais que ocorrem em determinada faixa etária

A família é um conceito fundamental que descreve uma unidade social básica e uma
estrutura fundamental na sociedade humana. De forma geral, a família é definida
como um grupo de pessoas que compartilham laços de parentesco biológico, legal
ou afetivo e que geralmente vivem juntas em um ambiente doméstico. No entanto, as
definições e configurações de família podem variar amplamente em diferentes
culturas e contextos sociais.A concepção de família está em constante evolução e
adaptação às mudanças sociais, culturais e legais, refletindo a diversidade das
experiências familiares em todo o mundo. Portanto, a compreensão da família pode
ser flexível e aberta para incluir uma variedade de estruturas e relacionamentos que
desempenham papéis importantes na vida das pessoas.
REFERÊNCIAS

Brasil. Governo Federal. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal 8.069/1990.


Brasília: Presidência da República; 1990.

Comissão Nacional de Psicologia na Assistência Social (CONPAS). Nota Técnica nº 001/2016 –


CONPAS/CFP. Parâmetros para atuação das e dos profissionais de Psicologia no âmbito do
Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Brasília, 2016a.

SILVA, Christie Dinon Lourenço da et al . A Psicologia nos serviços de acolhimento


institucional e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Pesqui. prát.
psicossociais, São João del-Rei , v. 10, n. 1, p. 55-65, jun. 2015 .

Aguiar, O. X., Carrero, M. L. C., & Rondina, R. C. (2007). Casa abrigo: possibilidade de atuação
para o psicólogo. Revista Científica Eletrônica de Psicologia, 9(5), 1-7.

ANTONI, C.; KOLLER, S.H. O psicólogo ecológico no contexto institucional: uma experiência
com meninas vítimas de violência. Psicol. Ciênc. E Profissão, vol.21, n.1, p.14-29, 2001.

FONSECA, Patrícia Nunes da. O impacto do acolhimento institucional na vida de


adolescentes. Rev. psicopedag., São Paulo , v. 34, n. 105, p. 285-296, 2017 .

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