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O PSICÓLOGO NAS VARAS DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE

Temáticas que aparecem nas VIJ:

Adoção,

maus-tratos,

negligência dos pais ou responsáveis,

abuso sexual e

acolhimento da criança ou adolescente em instituições.

Atuação do psicólogo

O trabalho do Psicólogo Judiciário nas Varas da Infância e da Juventude compreende


diversas atuações, com teorias e técnicas específicas e, em algumas situações, sua
participação é obrigatória e em outras, facultativa, pois intervém a pedido do juiz.

Redação de um laudo pericial devidamente fundamentado que auxilie o juiz na


tomada de decisão mais favorável aos interesses da criança e/ou adolescente.

O psicólogo e as práticas de adoção

Conceitos de Adoção:

Jurídico: obtenção de um filho através da Lei.

ECA: adoção com reais vantagens para a criança.

A Constituição Federal CF/88, dispõe acerca da equiparação de filho adotivo em


direitos e deveres ao filho biológico, nos seguintes termos:

Art. 227: Parágrafo 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento ou por


adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação.

A adoção ocorre entre duas partes muito diferentes, que se unem por laços de
sofrimento: de um lado, uma criança rejeitada e abandonada pelos pais (ou mãe), que
tem um auto-conceito deteriorado e que vê, em sua fantasia, a imagem de uma família
substituta hostil e ameaçadora; de outro lado, a família que, diante da impossibilidade
de gerar seus próprios filhos, sente-se fracassada, diminuída e incapaz.

A investigação psicológica, neste caso, pode evitar grande parte dos problemas, ao
buscar compreender a linguagem inconsciente de cada uma das pessoas envolvidas e
sua disponibilidade interna para estabelecerem uma comunicação.

Quando a adoção acontece por questões de esterilidade ou infertilidade do casal, é


preciso verificar o significado psicológico dessa esterilidade na vida pessoal e na do
próprio casal.
É preciso que se encare a esterilidade/infertilidade como denominador comum do
casal pretendente, e avalie o modo como o casal vivencia esta esterilidade.

A adoção pode ocorrer também por pessoas solteiras, separadas, divorciadas ou


viúvas, desde que apresentem condições materiais e emocionais para prover as
necessidades do adotado.

O Novo Código Civil dispõe que somente as pessoas maiores de 18 anos podem
adotar, sozinhas ou conjuntamente (casal) e sempre que haja uma diferença etária de
16 anos entre o adotante e o adotado.

Pode ser ainda que o casal já tenha filhos biológicos ou adotivos; a entrada de um
novo integrante muda a dinâmica de toda a família, devendo o psicólogo envolver
todos, até mesmo porque filhos biológicos podem ter fantasias de que são também
adotados.

O acompanhamento psicológico do processo de adoção deve verificar quais são as


fantasias do casal adotante em relação à criança ou adolescente adotado. Isso porque
se considera um risco quando se tem uma criança idealizada.

A avaliação psicológica deverá estar pautada nos aspectos intrapsíquicos e na


dinâmica relacional e nos elementos contextuais que circunscrevem a cultura e a
realidade social dos pretendentes.

Em geral as entrevistas não devem ser inferiores a quatro, e se possível, o casal


pretendente deverá ser entrevistado individual e conjuntamente. Quando há filhos,
estes devem ser incluídos na avaliação, e poderá ser feito ainda uma entrevista com
todo o grupo familiar.

Faz-se necessário que os interessados na adoção passem por um período de preparo,


chamado de “gestação simbólica”, para que a criança não chegue repentinamente em
suas vidas, dificultando a adaptação. É comum que se organizem nas Varas da Infância,
grupos com outras pessoas nas mesmas condições, orientados por psicólogos, a fim de
se discutir e elaborar dúvidas.

É comum que os pais adotivos tenham fantasias que a qualquer momento os pais
biológicos possam retornar para buscar a criança, o que cria uma insegurança. Muitas
vezes, eles não contam às crianças que são adotadas, por medo de perdê-las.

O psicólogo deve avaliar e acompanhar casais e pessoas interessadas na adoção, com


um enfoque preventivo, na medida em que são discutidas as questões afetivo-
emocionais que envolvem uma adoção.

O objetivo é favorecer uma relação familiar satisfatória, preparando os pais para


enfrentar a realidade de que a criança já sofreu uma situação de abandono ou rejeição
inicial, e que só conseguirão fazê-lo quando puderem lidar com sua própria história. A
estrutura saudável de relacionamento ocorrem quando os pais conseguem admitir a
realidade de que não geraram aquela criança.
Existe um estágio de convivência da criança adotada com a família adotiva, conf. Art.
46 ECA:

Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou


adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as peculiaridades do
caso.

Neste estágio podem surgir comportamentos regressivos, como uso de chupeta, fala
infantilizada, enurese noturna, comportamentos inadequados como forma de testar o
casal. Por isso, é necessário acompanhamento psicológico, a fim de detectar a
presença destes comportamentos e a leitura da dinâmica familiar envolvida no
processo.

A adoção é sempre uma situação complexa, pois sua essência consiste em criar um
processo segundo o qual se realiza a transição de uma criança da família biológica à
família adotiva. Neste processo estão presentes variáveis importantes para o
desenvolvimento psicológico e social da criança, como foram vividas e refletidas, tais
como abandono, ruptura, institucionalização, etc.

A intervenção da psicologia jurídica no direito de família, especialmente na adoção, vai


além das preocupações de moradia digna, alimentação, escola e saúde.

Na verdade, visa atender às necessidades biopsicossociais das crianças e adolescentes,


analisando os aspectos de adaptação, aceitação, integração da criança dentro da
família em relação aos filhos biológicos e demais familiares, na reconstrução de sua
nova história familiar.

É preciso,ainda, lembrar que “antes de uma história de adoção existe uma história de
abandono”. A situação de abandono das famílias originárias, o desamparo e o
grande sofrimento físico e psíquico das crianças e adolescentes, o motivo das
adoções, as características da família adotiva, seus anseios, medos, dificuldades e
vulnerabilidade são aspectos que precisam ser trabalhados antes e durante o
processo.

A psicologia permite uma análise sobre a importância dos métodos da psicologia, em


especial a escuta, para o atendimento das famílias e das crianças, podendo gerar
mudanças significativas em suas vidas. Objetivando defender os interesses e os
direitos do adotado numa tentativa de restituir os danos até então sofridos, com o
estabelecimento de uma relação familiar estável e benéfica.

Uniões homossexuais e a guarda dos filhos:

O ECA não traz qualquer restrição, o que ocorre porém, é que o preconceito acaba
prevalecendo sobre o “bem” da adoção,e com isso muitas crianças ficam privadas de
ter lar, carinho, afeto, atenção, educação. Não é o fato de os pais pertencerem ao
mesmo sexo que dificulta a identidade sexual da criança.

O papel do Psicólogo:
É necessário que a criança entenda que a homossexualidade é uma escolha daqueles
adultos que vão assumir os papéis parentais, para que tenha uma explicação lógica
(Dolto, 1989). Mais importante que a orientação sexual dos pais adotivos, o aspecto
principal é a habilidade dos pais em proporcionar para a criança um ambiente afetivo,
educativo e estável.

Adoção Internacional:

Os casais estrangeiros interessados em adotar uma criança brasileira devem cadastrar-


se em seu próprio país, onde se submetem a estudos psicológicos (entrevistas,
aplicação de testes e visita domiciliar), social, clínico (médico) e de antecedentes. Em
seguida, este estudo é enviado ao Brasil sendo analisado. Quando autorizado, o casal
vem para o Brasil, e passa pelo período de convivência.

Guarda e Tutela

Guarda: o ato de amparo e vigilância praticado por pessoa encarregada da função de


proteger. Guimarães (1995)

No caso da guarda discutida nas Varas da Infância e da Juventude, a pessoa será


designada judicialmente a realizar atos de assistência, educação, criação, cuidados
básicos (alimentação e higiene) a menores que não são filhos próprios, naturais ou
adotivos, e sim, de terceiros – parentes, amigos ou desconhecidos.

Psicologicamente, pode-se equiparar o pedido de guarda a uma adoção: a criança ou


adolescente está fora do núcleo familiar e sujeito a papéis desempenhados a
expectativas alimentadas pelos membros da nova família. A diferença é que a adoção
rompe definitivamente o vínculo do menor com sua família de origem, é irrevogável,
enquanto a guarda pode ou não vir acompanhada do poder familiar, e pode ser
revogada.

Tutela:

Pode ser conceituada como o poder conferido a uma pessoa capaz, para reger a
pessoa de um incapaz e administrar os seus bens. O tutor substitui os pais na sua falta,
com o objetivo de proteger o menor até que ele se torne capaz de manter-se sozinho.

Os filhos menores são postos em tutela:

Com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes;

Em caso de os pais decaírem do poder familiar.

No caso de pedido de tutela, o psicólogo deverá analisar a estrutura de personalidade


do tutor, para saber quais seus valores morais e éticos, e se não apresenta indícios de
intenção obscura de prejudicar o menor.

Família substituta
É aquela que se propõe a trazer para o convívio doméstico uma criança ou adolescente
que, por qualquer circunstância, foi desprovida da família de origem, acolhendo-a
como se fosse um membro seu, dispensando-lhes os cuidados materiais e afetivos de
que necessita.

Eca: Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio
da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência
familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de
substâncias entorpecentes.

Poder familiar:

O art. 229 – CF/88 preceitua a existência do poder familiar, cabendo aos pais se
autodeterminarem quanto à assistência, criação e educação dos filhos. O poder
familiar é exercido por ambos os pais, em igualdade de condições, estejam ou não
casados, morem ou não sob o mesmo teto.

Os arts. 21 e 22 do ECA, tratam do exercício do poder familiar:

Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela
mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito
de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a
solução da divergência.

Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores,
cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as
determinações judiciais.

Embora os pais tenham determinação para decidir o modo de assistir, criar e educar os
filhos, é preciso observar regras sociais, cabendo à justiça dirimir eventuais conflitos e
divergências de interesses referentes à família.

O psicólogo deverá avaliar os motivos e fatores da estrutura de personalidade dos pais


que ocasionaram a destituição do poder familiar que detinham, seja por maus-tratos à
criança, seja por abuso sexual, negligência de cuidados básicos, sugerindo medida
cabível a ser aplicada aos pais. Deverá observar a convivência da criança no novo
ambiente familiar, a fim de determinar o grau de influência e possíveis seqüelas das
relações parentais no desenvolvimento de sua personalidade, bem como sugerir
medidas para que ela se desenvolva plenamente.

Abrigamento e Desabrigamento:

São muitos os motivos que levam ao abrigamento dos filhos:

Os genitores podem solicitá-lo ou para ficarem livres deles por algum tempo;

Ou por causa de um novo companheiro,

Ou por falta de condições para cuidar (mães que pretendem abandonar seus filhos
recém-nascidos em uma instituição porque não tem como sustentá-lo)
Ou por determinação da justiça em situações de risco para a criança ou adolescente.

O psicólogo deverá fazer uma avaliação da situação familiar para saber se o


abrigamento é cabível ou não.

A motivação psicológica é feita no sentido de reconhecer a necessidade ou não do


abrigamento, analisando-se os motivos, buscando formas de amenizar os efeitos
prejudiciais.

Nos casos de desabrigamento, a Psicologia realiza o acompanhamento, por certo


período, da readaptação dos familiares, uma vez que o vínculo com a criança ou o
adolescente foi interrompido, e poderá não retornar sob as mesmas condições.

Vitimização:

Qualquer tipo de violência praticada contra a criança: física, sexual e/ou psicológica.
Nesse caso, o agressor libera toda a sua força ao dar “apenas” um tapa na criança, mas não
consegue se controlar e acaba praticando agressões mais violentas, chegando mesmo a causar
seqüelas irreversíveis ou até matá-la.

Ato violento

É conceituado como aquele que preenche os seguintes requisitos:

causa dano;

faz uso de força (física ou psíquica);

é intencional;

dirige-se contra a livre e espontânea vontade de quem é objeto do dano.

Nesse sentido, considera-se violência doméstica aquela que se constitui de ato ou


omissão cometido por familiares ou por pessoa de confiança contra a criança/adolescente,
mulher ou idoso.

Tentativa de suicídio de criança ou adolescente:

Nesses casos, a Vara da Infância e da Juventude é notificada pelo hospital. O menor é


entrevistado no hospital, ou os pais são intimados a comparecerem em juízo. O
psicólogo deve conscientizar os familiares da importância do tratamento e analisar os
fatores que contribuíram para o comportamento.

Pais que tentam impedir o tratamento médico do filho, por questões religiosas:

Quando os pais negam autorização para transfusão de sangue ou transplante


de órgão por motivos religiosos, o hospital comunica a Vara da Infância, e o juiz, com
base no parecer médico que atesta o risco de vida se o tratamento não for realizado,
suspende temporariamente o poder familiar dos pais até que o tratamento se
complete, quando os pais voltam a ter o direito sobre o filho.

INTERDIÇÃO

A interdição judicial de um cidadão, no Estado de Direito, está prevista como medida


de exceção da cidadania, sendo regulada por lei, e atribui a responsabilidade aos
agentes públicos, para efeito da sua execução. Como ato do Estado que estabelece
restrição ao gozo dos direitos do cidadão, o instituto da interdição judicial deveria
encontrar-se revestida de todos os cuidados e reservas, na medida em que sua
ocorrência produz sérias limitações ao atingido no tocante à sua capacidade de se
posicionar como agente de reivindicação diante das instituições, inclusive do próprio
Estado e dos seus agentes.

Estabelece-se uma posição semelhante a de menor idade civil, por meio da tutela ou
da curatela, instaura-se graves prejuízos ao desempenho social dos atingidos,
fragilizando-os sobremaneira e colocando-os à mercê de injunções em suas vidas
privadas, sobre as quais estes não têm o menor controle.

A interdição judicial é uma excepcionalidade contra a cidadania: ao mesmo tempo em


que priva de responsabilidades o cidadão, transfere a gestão de seus direitos a um
terceiro, seja este um agente do Estado, seja um particular que passa a responder por
aquele cidadão.

O termo ação cível se enquadra no processo da "Capacidade Cível" em que se permite


a uma pessoa adquirir direitos e contrair obrigações por conta própria, por si mesma,
sem a necessidade de um representante legal. Para a ocorrência de uma ação cível de
interdição, faz-se necessário que o indivíduo perca a capacidade de gerir seus bens e
sua própria pessoa.

Esta situação judicial apresenta-se como a mais freqüente nas perícias psiquiátricas,
que incidem freqüentemente na incapacidade total e definitiva, a qual se configura
pela perda da autodeterminação da pessoa.

A necessidade da perícia psiquiátrica nos casos de ações para uma possível interdição
apresenta-se hoje freqüente na realidade brasileira. Este fato solicita deste
profissional, cada vez mais, uma especificidade para diagnóstico diferencial, cuja
conduta seja adequada a cada caso.

Conclusão...

A psicologia jurídica desempenha papel imprescindível nos processos de guarda,


adoção e interdição. Suas análises acerca dos indivíduos que compõem a relação
jurídica e dos terceiros envolvidos enriquecem e muito o trabalho dos juristas, que
com base nas informações que os psicólogos abstraem, através de seus métodos
específicos norteiam as decisões judiciais tornando o processo menos danoso e sofrido
principalmente para as crianças e adolescentes envolvidos, além de possibilitarem
uma tomada de decisão, por parte do juiz, mais justa e humana fundada na
individualidade daquele determinado grupo familiar.

Atualmente, tem-se implementado conhecimentos de psicologia jurídica na própria


formação dos juristas, o que não ameaça o trabalho dos psicólogos, visto que é uma
atividade complexa que cabe apenas aos psicólogos devido sua formação específica.
Para os juristas essas noções de psicologia jurídica servem para que estes não sejam
totalmente leigos diante de um laudo pericial psicológico. Além dos inúmeros
benefícios na compreensão global dos casos a eles confiados, tanto na atividade de
advogados quando de juizes, permitindo-lhes uma visão mais subjetiva e não
limitando-se apenas à objetividade da lei.

Parece simples, mas é uma questão de fundamental importância no direito de família,


por se tratar de um momento delicado em um dos principais pilares da sociedade, a
estrutura familiar.

Referências

GONÇALVES, H.S. e BRANDÃO, E. P. (org.). Psicologia Jurídica no Brasil. Rio de Janeiro:


NAU Ed., 2004.

SILVA, Denise Maria Perissini. Psicologia Jurídica no Processo Civil Brasileiro: a


interface da psicologia com direitos nas questões de família e infância. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 2003.

http://www.coladaweb.com/direito/aplicacao-da-psicologia-nas-questoes-judiciais
acesso em 12/02/2012.

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