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ESCOLA SUPERIOR DE CRICIÚMA

JULIANA MARTINS DANIELCE


LUZIO
TIAGO JOSE
SARAH
PROFESSOR JAQUELINE

ADOÇÃO TARDIA

Criciúma
2016
RESUMO

De acordo com dados federais, atualmente no Brasil, há um grande número de crianças e


adolescentes em abrigos, a espera de uma família adotiva. Em virtude do seleto perfil
desejado e a demora do processo judicial, as crianças e adolescentes passam períodos
desnecessariamente longos nessas Instituições, tendo por consequência reações psicológicas
negativas. A lei assegura o direito à uma família, mas a morosidade no processo aumenta o
sentimento de abandono, trazendo dificuldades no processo de desinstitucionalização das
crianças e adolescentes. Este trabalho traz conceito de adoção, a institucionalização da
criança, o papel da família na adoção e a o auxilio da psicologia neste processo.

Palavras- chave
Institucionalização, abandono, crianças, adoção.
1 INTRODUÇÃO

O tema do presente trabalho é a adoção tardia de crianças institucionalizadas. A


palavra tardia é abordada para referir acrianças depois dos seis meses de idade, que
permanecem em abrigos a espera da adoção.

O papel do psicólogo familiar foi identificado neste trabalho com o intuito de


auxiliar nos processos de adoção tardia.

Os conceitos apresentados neste trabalho dizem respeito a adoção ser um direito


constituído e um dever moral do adotado e do adotante, na formação de uma sociedade
igualitária, onde o convívio familiar é um vinculo indispensável na constituição do sujeito e
na superação de possíveis traumas ocasionados pelo abandono.

Apesar desse compromisso com a responsabilidade social a morosidade no


processo é um marco nos abrigos e orfanatos brasileiros, deixando consequências
imensuráveis, sendo assim o processo psicológico envolvido na problemática constitui um
campo de pesquisa para a atuação do psicólogo ou ainda da terapia sistêmica familiar.

Buscou-se, também identificar as leis federais que asseguram os direitos das


crianças e adolescentes, bem como a causa de possíveis resistência ao processo de adoção.

No desenvolvimento teórico serão abordados temas como: Adotar é um direito e


um dever, importância da família e o abandono e o papel do psicólogo no processo de adoção.

Desta forma, o presente estudo, através de uma pesquisa bibliográfica e


documental, para isto foram pesquisadas na legislação brasileira e artigos em sites
acadêmicos as palavras-chave dos itens relacionados a adoção e processo psicológico
envolvido na mesma.
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2 REFERENCIAL TEORICO

2.1 ADOÇÃO TARDIA

2.1.1 Adotar é um direito e um dever

De acordo com o Estatuto da Criança e do adolescente ECA, (2010) no capítulo


III referente ao direito à convivência familiar e comunitária é assegurado ao menor,” Art. 19.
Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e,
excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em
ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.( (ECA,
art.19 § 1º)”
Seguindo este princípio, segundo Bragança e Pereira Junior (2015), adotar além
de constituir-se num ato de amor, é também um ato legal e jurídico, selando um compromisso
entre adotando e adotado. Ato simples, mas que implica em uma série de fatores, levando
muitas crianças a permanecerem por um tempo longo e prejudicial em abrigos. A busca por
filhos para quem não pode ou não deseja tê-los biologicamente, e a conquista de uma lar e
identidade familiar são pontos os positivos da adoção.
De acordo com, o ECA, (Estatuto da Criança e do Adolescente) (2010), algumas
regras foram fixadas para assegurar os direitos do menor, o Art. 46 destaca a necessidade de
um estágio de convivência entre a criança ou adolescente e o adotante, pelo prazo que a
autoridade judiciária determinar, ainda fixa que este período deverá ser acompanhado por
equipe multidisciplinar. Existem situações que este estágio pode ser dispensado. “§ 1o O
estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda
legal do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da
constituição do vínculo. (ECA, art.46 § 1º).”
De acordo com Bragança e Pereira Junior (2015), existem atualmente um número
muito mais expressivo de famílias buscando crianças para adoção do que de crianças
disponíveis para tal. Alguns fatores estariam dificultando a adoção destas crianças, entre eles
estão, “preferência por sexo, limite de idade, preferência por adoção única, ou seja, sem
irmãos, destituição do poder, entre outros. (BRAGANÇA; PEREIRA JUNIOR, 2015).” A
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demora na adoção traz prejuízos no desenvolvimento da criança, bem como desgaste


psicológico para os pais.

2.1.2 Importancia da familia e o abandono

Segundo Bragança e Pereira Junior (2015), a família tem um papel importante no


desenvolvimento de cada etapa de vida do sujeito, priva-lo deste convívio trará prejuízos
irreversíveis.“A família tem o papel de moldar o ser humano e, na fase entre o nascimento e
os cinco anos de idade, é absolutamente relevante o cuidado, pois é quando os estímulos
externos são mais absorvidos para sua formação, principalmente os provenientes de situações
de rejeição e abandono. (BRAGANÇA; PEREIRA JUNIOR, 2015).”
Para Weber (2005), as crianças em acolhidas em abrigos, por estarem afastadas do
convívio com uma família por longo período, até mesmo por nunca terem experimentado um
convívio familiar, são "protótipos dos resultados devastadores da ausência de uma vinculação
afetiva estável e constante e dos prejuízos causados por um ambiente empobrecido e
opressivo ao desenvolvimento infantil" (WEBER, 2005)]
De acordo com Weber (2005), o sentimento de abandono sofrido duas vezes pelas
crianças institucionalizadas poderá acarretar graves problemas psicológicos. Estas crianças
foram abandonadas primeiramente por suas famílias, e a demora em ser adotadas gera
novamente este sentimento. A depressão, rejeição de novos pais, dificuldades em adaptação,
dificuldades em responder as expectativas dos pais adotivos acarreta em “devolução” destas
crianças aos cuidados do estado.
De acordo com Dias, Silva e Fonseca (2008), os pais criam expectativas e ilusões
em torno do filho desejado, esquecendo que a criança trás consigo um sistema familiar já
constituído, ou seja o sujeito possui uma história de vida. “Para se evitar esses inconvenientes,
estudos apontam que o período de estágio de convivência com a família adotiva é um fator
positivo, ajudando a romper com as expectativas de ambas as partes e diminuindo as
possibilidades de frustrações que acarretam devoluções, e mais consequências psicológicas
negativas que podem ser irreparáveis. “(DIAS; SILVA; FONSECA, 2008)”. Para os autores ,
mesmo depois de adotada as expectativas que a criança deverá responder podem ser
consideradas muito altas.

Uma criança que está aguardando a adoção ou que já foi adotada vive imersa em
relações sociais que a segrega, que impõe um estigma de diferença social[...].
Independentemente da sua orientação sexual, gênero, identidade, condição
econômica, etnia, os adultos que entram nesse processo devem estar dispostos a
atender à demanda de afeto e direitos destas crianças, proporcionando um
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sentimento de filiação. Aquelas crianças que não correspondem ao perfil de


preferência dos futuros pais adotivos, pelas condições subjetivas citadas, são aquelas
maiores de três anos de idade, negras, com irmãos, dentre outros perfis que não
condizem com a idealização que se percebe nesse meio.[...] Estas tendem a
permanecer nos abrigos por mais tempo, atrapalhando seu desenvolvimento
emocional, na expectativa da adoção [...](DIAS; SILVA; FONSECA, 2008 )

Para Bragança e Pereira Junior (2015), o preconceito é apontado como um dos


pontos principais na interferência dos processos de adoção, ele está presente de forma
consciente ou inconsciente, acarretando grandes prejuízos sociais e psicológicos.

Desta forma o processo de destitucionalização deverá ser gradual, e o apoio


psicológico multidisciplinar a nova família em formação deve ser intenso.
Weber (2005) compartilha também deste pensamento e aponta para a grande
dificuldade de desenvolver vínculos dentro dos abrigos, sendo necessário a criança passar por
um processo de aprender a confiar quando adotada.
A literatura mundial sobre o tema aponta que essa grande dificuldade de formação e
manutenção de vínculos afetivos numa instituição de internamento é determinada
por vários fatores: o elevado número de crianças por instituição; o tratamento
massificado, no qual todos devem fazer as mesmas coisas ao mesmo tempo e nada
podem possuir; a rotatividade dos funcionários; as transferências dos internos para
outras instituições; o desligamento da criança de sua família e comunidade; a
impossibilidade de interação com o mundo exterior e da convivência social;
invariabilidade do ambiente físico; planejamento das atividades com ênfase na
rotina, ordem, vigilância contínua, ênfase na submissão, silêncio e falta de
autonomia, (WEBER, 2005 p.13)
Para Weber (2005) o apego a outro ser humano é o que nos constitui como
sujeitos, nos tornando capazes de amar e ser amados, a desinstitucionalização das crianças em
abrigos começou apenas depois dos anos 70, ainda está em nosso país em período de
adaptação. É preciso assegurar as crianças e adolescentes o direito de uma família, de amor e
de uma vida saudável. Este preconceito em dotar crianças maiores de seis meses está
atravessado pelo medo da dificuldade em educar, dos problemas da criança institucionalizada,
de perder a criança para os pais biológicos, de possíveis problemas genéticos e medo da
reação da sociedade. Outro fator do preconceito é o desconhecimento dos reais benefícios
para o adotado, do processo e dos caminhos a seguir. Weber (2005) aponta o risco de
devolução marcado por equívocos na adoção, motivação inadequada, falta de maturidade
psicológica da família, preconceito e incredibilidade na capacidade de que a criança possa se
tornar um sujeito com identidade.
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2.2 RESULTADO DA PESQUISA

Para o ser humano se estabelecer como sujeito necessita de ambiente favorável


para se desenvolver tanto aspecto físico como no emocional. Nos primeiros anos de vida a
presença de uma família que ofereça cuidados, carinho, afeto, amor, proteção, estabelecendo
vínculos afetivos com o sujeito, são indispensáveis, podendo acarretar no desenvolvimento de
transtornos sérios de personalidade e depressão em sujeitos privados deste direito.
Sendo assim, pode-se constatar que o processo de adoção é algo moroso, podendo
acarretar sérios transtornos psicológicos nas crianças que aguardam em abrigos e instituições.
A psicologia tem um campo vasto para contribuir neste cenário, na avaliação das
famílias pretendentes à adoção, com as crianças e com a equipe multidisciplinar que envolve
esse processo, ainda pode ser acrescentado o acompanhamento da criança adotada e o auxilio
na compreensão dos novos papeis dessa família.
Na instituição o trabalho educacional com grupos de famílias visando diminuir a
angustia da espera e preparar a família para receber o novo membro, com crianças os grupos
visam diminuir a ansiedade, fortalecer a auto imagem, e o sentimento de rejeição. Também é
papel do psicólogo junto com a equipe multidisciplinar levar informações a sociedade sobre
processos de adoção, sobre a realidade dos internatos e abrigos, promover pesquisas, preparar
famílias, desfazer rótulos e promover a saúde emocional dos adotantes. dos adotados, que
aguardam na morosidade do processo.
Depois da adoção constituída o psicólogo pode acompanhar a família com terapia,
para auxiliar no processo de luto, para a criança em adoção tardia deixar a instituição consiste
em um luto e desvincular-se de um sistema com regras, sem vínculos de fato, mas ao qual já
estava institucionalizado, muitas vezes é reviver o luto pela família biológica, e se já existe
histórico de devoluções, o medo de ser rejeitado é uma constante, Ainda o trauma, se
estabelecido na família biológica pode assombrar e dificultar a adoção, fortalecer a auto
estima desta criança, permitira que fale de suas expectativas, frustrações e da forma como se
percebe nessa nova concepção familiar é indispensável. A terapia sistémica familiar virá,
neste momento em auxilio a esta família.
Utilizando a terapia sistêmica e familiar traremos a ideia de que terapeuticamente
deve-se pensar sobre as demandas familiares como uma unidade familiar e não analisando
seus componentes individualmente.
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O papel da psicologia sistêmica inicia no momento em que a criança é adotada e


inserida no ambiente familiar. É preciso que a família permita que o filho se sinta realmente
pertencente ao grupo, visto que assim tornará possível a realização do processo de
individuação e diferenciação da criança adotiva. Isto comprova que o trabalho
psicoterapêutico é de grande importância dentro do contexto familiar adotivo, principalmente
ao período inicial de adaptação.
Assim, a psicoterapia familiar irá auxiliar na manutenção do equilíbrio familiar,
que será adquirido com a ajuda da própria família, sendo que o psicoterapeuta necessitará
ficar atento, a fim de evitar o surgimento de rigidez na família ou surgimento de novos
sintomas.

2.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A burocracia pode contribuir para consequências psicológicas severas nas


crianças, que esperam pelo processo de adoção, mesmo com a criação de políticas públicas
para contemplar esta questão o processo ainda encontra dificuldades. Começando na
burocracia da espera, seguindo pelas idealizações dos pais que traçam um perfil seleto do
adotado, criança recém-nascida, branca, ou com características parecidas com as de suas
famílias.
Dois anos é o prazo máximo estipulado para que as crianças fiquem em abrigos,
mas a realidade brasileira é outra. Irmãos, doença, ou histórico familiar que negue os ideais
desejados faz com que muitas vezes estas crianças permaneçam até a maior idade nas
instituições, A realidade é avessa a teoria, com filhos biológicos existem problemas e
dificuldades, não haveria de ser diferente na adoção.
A institucionalização destas crianças, marcada pela necessidade de buscar uma
identidade na sua constituição como sujeito frente ao mundo, muitas vezes atravessada pelo
sentimento de luto, constituído no momento do primeiro abandono, reafirmado na perda dos
parcos vínculos estabelecidos em abrigos e fortificado com o temor da devolução, traz
problemas psicológicos e dificuldades no processo de adaptação. Fazendo com que o adotado
não queira fazer parte do sistema familiar.
É importante ter em mente que, a família adotiva vai assumir então a
responsabilidade de inserir a criança em seu meio social, dando-lhe assim a oportunidade de
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ampliação de sua rede social, que é essencial para que ocorra a individuação da criança e o
psicólogo poderá ser um facilitador deste processo.
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REFERÊNCIAS

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº. 8.069, promulgada em 13 de julho de


1990. Publicada no Diário Oficial da União, de 16 de julho de 1990, e retificada em 27 de
setembro de 1990.

BRAGANÇA, Renata Resende; PEREIRA JUNIOR, Antonio Alexandre. Crianças


Institucionalizadas: A Demora na Adoção. Uningá, Maringá, v. 23, n. 3, p.89-97, jun. 2015.
Trimestral. Disponível em: <www.mastereditora.com.b>. Acesso em: 5 out. 2016.

DIAS, Cristina Maria de Souza Brito; SILVA, Ronara Veloso Bonifácio da; FONSECA,
Célia Maria Souto Maior de Souza. A adoção de crianças maiores na perspectiva dos pais
adotivos: Contextos Clínicos, São Leopoldo, Rs, v. 1, n. 1, 2008. Semanal. Disponível em:
<revistas.unisinos.br>. Acesso em: 08 out. 2016.

WEBER, Lidia Natalia Dobrianskyj. Abandono, Institucionalização e Adoção no


Brasil:: Problemas e Soluções. 2005, Departamento de Psicologia da Universidade Federal do
Paraná, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005. Disponível em:
<http://www.lidiaweber.com.br/>. Acesso em: 05 out. 2016.

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