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Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque

Pedagogia

JULIANA APARECIDA VIEIRA

A INFLUÊNCIA DO BULLYING NO PROCESSO


ENSINO/APRENDIZAGEM

SÃO ROQUE/SP
2016
JULIANA APARECIDA VIEIRA

A INFLUÊNCIA DO BULLYING NO PROCESSO


ENSINO/APRENDIZAGEM

Monografia aprovada como exigência parcial obtenção do título


de licenciatura plena em pedagogia pela Faculdade de
Administração e Ciências Contábeis de São Roque

ORIENTADORA: PROFª ESP. TÁGIDES RENATA DE


MELLO MORAIS

SÃO ROQUE/SP
2016
A INFLUÊNCIA DO BULLYING NO PROCESSO ENSINO/APRENDIZAGEM

POR

JULIANA APARECIDA VIEIRA

Monografia aprovada como exigência parcial para obtenção do


título de licenciatura em Pedagogia pela comissão formada
pelos professores:

Comissão julgadora

Orientador: __________________________________________
Profª Esp. Tágides Renata de Mello

__________________________________________
Profª Ms. Delly Danitza Lozano Carvalho

São Roque, 20 de junho de 2016


DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os profissionais e estudantes da educação, que


acreditam que a mesma é o caminho para contribuir na formação de pensantes
críticos e para transformar o país, amenizando casos comuns de preconceito,
corrupção e violência.
AGRADECIMENTOS

A Deus, que me deu condições para realização de mais esse sonho, a minha
família, pelo apoio e carinho, aos meus professores acadêmicos, que com
profissionalismo e dedicação contribuíram para minha melhor formação, aos amigos
professores que fiz durante o curso, onde me ofereceram ajuda, conselhos e até
mesmo um ombro amigo.
“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros
desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são sob
controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde
quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram
de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que
elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos
pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso, elas não
podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O
vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.”
Rubem Alves, 2004, p. 7.
RESUMO

O presente trabalho visou relatar “A influência do bullying no processo


ensino/aprendizagem”. A pesquisa conta com um levantamento bibliográfico sobre a
história e definição do bullying, suas causas, como são as ações de agressão na
escola, as consequências mais comuns que afetam as vítimas, abordamos também
a prevenção e a influência/papel do professor em sala de aula. Após os
levantamentos da pesquisa bibliográfica, os resultados mostram que o bullying pode
afetar o estado emocional do aluno e causar baixo desempenho no processo
ensino/aprendizagem, a postura do professor em sala de aula também pode
influenciar tanto na amenização do bullying, como despertar ou alimentar o
fenômeno entre os alunos.

Palavras-chave: Bullying; relação professor-aluno; processo


ensino/aprendizagem.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................8

1. BULLYING: ORIGEM, CONCEITO E HISTÓRIA...................................................10


1.2 FORMAS E CAUSAS DE BULLYING..................................................................15

2. O BULLYING X ESCOLA.......................................................................................28
2.2 CONSEQUÊNCIAS MARCANTES......................................................................37

3. BULLYING X APRENDIZAGEM.............................................................................40
3.2 O PAPEL DO PROFESSOR................................................................................45

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................52
8

INTRODUÇÃO

Ao observarmos as diferentes razões pelo o qual não se obtém resultados


positivos no processo ensino/aprendizado, nos deparamos com o bullying, um
fenômeno de violência presente nas escolas.
Porém, é necessário sondar as características das ações em que estão sendo
sucedidas no momento do ato, pois a expressão bullying tem sido usada em muitos
casos. Casos esses em que não há nenhum vínculo com o fenômeno, mas apenas
usado porque o termo tornou-se um hábito para muitos, onde qualquer situação do
cotidiano é considerada bullying.

Um dos erros que devemos evitar numa avaliação de situação ou não de


bullying é a precipitação. Os céticos da existência do bullying criticam o
suposto “modismo” da mídia, professores, psicólogos etc., em, segundo
eles, apontam bullying em todas as situações de conflito de grupos com
indivíduos. Em parte, dou razão a esses críticos. Há excessos,
principalmente, quando há interesse mais afoito da mídia em divulgar o
caso. Devemos, então, redobrar o cuidado para uma análise mais cautelosa
e isenta possível sobre o fato que nos chega para análise. (CALHAU, 2010,
p. 7).

Os sentimentos em que o bullying pode causar à uma criança podem causar


bloqueios emocionais, onde os mesmos passam a ter fracasso do processo
ensino/aprendizagem. Assim, como o sentimento de alegria pode refletir no
desempenho do aluno, a tristeza também pode ter mesmo efeito.
A estrutura emocional e afetiva do aluno precisa estar em equilíbrio para que
o seu rendimento escolar possa caminhar positivamente.

Muitas vítimas passam a ter baixo desempenho escolar, apresentam queda


no rendimento escolar, déficits de concentração, prejuízos no processo de
aprendizagem, resistem ou recusam-se a ir para a escola, trocam de
colégios com freqüência ou abandonam os estudos. No âmbito da saúde
física e emocional, a vítima acaba desenvolvendo uma severa depressão,
estresse, pânico, fobias, distúrbios psicossomáticos, podendo chegar a
tentar ou cometer o suicídio (FANTE, 2005 p. 89).

O fenômeno bullying, pode ser um ato de violência física e/ou verbal, onde
pode trazer diversas consequências, na maior parte do público quando se refere à
vítima, a mesma tende a guardar para si todas suas emoções, devido ser um alvo de
violência para seu agressor. Sendo assim, a vítima passa a carregar apenas para si
9

aquilo que deveria dividir com seus pais e a equipe pedagógica da escola em que
estuda, porém a mesma pode optar por não compartilhar com ninguém, muitas
vezes por medo, receio, insegurança de contar para alguém e que o problema se
agrave ainda mais ao invés de ser resolvido.
Uma das causas do fracasso escolar dos alunos pode ser devido a reação
dos mesmos em se manter em silêncio perante o bullying em que sofre. A criança
pode passar a ter uma baixa auto estima, faltas excessivas nas aulas e ausência de
comprometimento e interesse com suas tarefas escolares.
Acredita-se que este trabalho trará grande contribuição acadêmica para o
leitor. Abordaremos o conceito de bullying, os cuidados em que o professor deve ter
em seu olhar perante o aluno que se encontra com dificuldades na aprendizagem e
os conflitos de emoções negativas em que o bullying causa na criança e que
consequentemente refletem no desempenho escolar da mesma.
Após leituras realizadas sobre o bullying, algumas perguntas foram lançadas
e com base nos materiais científicos relacionados ao tema, iremos responder
durante o desenvolvimento deste trabalho. As perguntas questionadas são:
O bullying pode influenciar no processo ensino/aprendizagem?
O bullying é uma das causas que pode comprometer o desenvolvimento do
aluno no processo ensino/aprendizagem?
O fenômeno bullying pode provocar a baixa auto estima no aluno?
O bullying pode trazer danos psicológicos para a vítima, que podem perdurar
por longo prazo de sua vida?
O professor pode influenciar para que o bullying aconteça em sala de aula?
Temos como objetivo geral explorar as causas da agressividade, suas
consequências e como lidar com a situação, com o intuito de fechar as portas para
esse fenômeno denominado bullying no ambiente escolar. Para responder nosso
problema e alcançar o objetivo proposto, nosso trabalho ficou assim estruturado:
abordaremos no capítulo 1 o conceito e história do bullying e suas formas e causas
mais comuns; no capítulo 2 o bullying x escola e as consequências marcantes das
ações e no capítulo 3 o bullying x aprendizagem e o papel do professor.
Esta pesquisa será desenvolvida com levantamento bibliográfico com autores
como Lélio Braga Calhau, Ana Beatriz Barbosa Silva, Cleo Fante, e não conta com
pesquisa de campo.
10

1. BULLYING: ORIGEM, CONCEITO E HISTÓRIA

Dentro do contexto da história do bullying, pode-se afirmar que o mesmo


sempre existiu, mas só passou a ser estudado por cientistas na década de 70 na
Suécia, quando o tema tornou-se algo preocupante e irrelevante para a população.
Logo após os estudos realizados na Suécia, despertou-se um grande interesse pelo
assunto em diversos países, numa intenção de conscientização contra o ato de
violência causado pelo bullying.

O bullying é um fenômeno tão antigo quanto a própria instituição


denominada escola. No entanto, o tema só passou a ser objeto de estudo
científico no início dos anos 70. Tudo começou na Suécia, onde grande
parte da sociedade demonstrou preocupação com a violência entre
estudantes e suas consequências no âmbito escolar. Em pouco tempo, a
mesma onda de interesse contagiou todos os demais países escandinavos.
(SILVA, 2010, p.111).

Segundo Calhau (2010), o bullying é um ato de violência que sempre existiu,


porém não era estudado, quando uma vítima era atacada a mesma mantinha-se em
silêncio, mudava de escola, de cidade, fugia dos maus tratos. Antes da década de
70 na Suécia, o bullying era encarado como algo natural, chegavam até a colocar a
culpa nas próprias vítimas pelas situações em que passavam.
Pais e professores do país da Noruega vivenciavam problemas de bullying,
mas, mesmo as escolas enfrentando esse mal, o governo norueguês não tomava
uma atitude que desse impacto perante a situação. No ano de 1982 três crianças
com a idade entre 10 a 14 anos cometeram suicídio após serem torturados
constantemente por alunos da escola em que frequentavam, após essa ruptura as
autoridades do Ministério da Educação do país tomaram a providência de realizar
uma campanha que iniciou no ano seguinte, com o objetivo de conscientizar e
amenizar esse ato de violência, com o foco voltado para o ambiente escolar.

Na Noruega, o bullying foi, durante muitos anos, motivo de apreensão entre


pais e professores que se utilizavam dos meios de comunicação para
expressar seus temores e angústias sobre os acontecimentos. Mesmo
assim, as autoridades educacionais daquele país não se pronunciavam de
forma oficial e efetiva diante dos casos ocorridos no ambiente escolar.
(SILVA, 2010, p. 111).
11

Desde então, os combates contra o fenômeno bullying escolar passaram a


serem desenvolvidos cada vez mais. Foi o caso do pesquisador Dan Olweus,
professor na Universidade de Bergen, Noruega (1978 à 1993), no qual realizou um
estudo nesse mesmo ano em que o Ministério da Educação norueguês aplicou.
O estudo de Dan Olweus foi baseado em um grande público de alunos,
professores e pais de alunos, o mesmo era elaborado em salas de aula, onde os
alunos eram observados para se entender como procediam os atos de violência, e,
consequentemente junto dela a conscientização dos problemas causados pelo
bullying e plena proteção para as vítimas, procurando observar a diferença entre
brincadeiras da idade e ações de bullying executadas pelos alunos. Um dos pontos
destacados onde se pode diferenciar brincadeiras saudáveis da própria idade e
bullying, é a insistência de uma brincadeira com um determinado aluno, onde nessa
ação fica claro o constrangimento do alvo, por tanto o mesmo tende a perder o
domínio da situação, e, consequentemente sendo vítima de violência escolar, o
próprio bullying.

Existem alguns critérios básicos, que foram estabelecidos pelo Dan Olweus,
da Universidade de Bergen, Noruega (1978 a 1993), para identificar as
condutas de bullying e diferenciá-las de outras formas de violência e das
brincadeiras próprias da idade. Os critérios estabelecidos são: ações
repetitivas contra a mesma vítima num período prolongado de tempo;
desequilíbrio de poder, o que dificulta a defesa da vítima; ausência de
motivo que justifique o ataque. Acrescentamos ainda que deva levar em
consideração os sentimentos negativos mobilizados e as seqüelas
emocionais, vivenciados pelas vítimas de bullying. (CALHAU, 2010, p. 7).

O resultado foi uma queda de 50% de casos de bullying, além do sucesso


conquistado pelo pesquisador, outros países como Inglaterra, Canadá e Portugal
passaram a adotar o mesmo método de pesquisa e campanha no ambiente escolar
de suas devidas populações.

O estudo constatou que um em cada sete alunos encontrava-se envolvido


em casos de bullying, tanto no papel de vítima como no de agressor. Essa
revelação mobilizou toda a sociedade civil e deu origem a uma campanha
nacional antibullying, que houve uma redução em cerca de 50% dos casos
dessa prática escolar. O sucesso de tal iniciativa foi tão grande que
desencadeou, de forma imediata, a promoção de campanhas antibullying
em outros países, entre eles a Inglaterra, o Canadá e Portugal. (SILVA,
2010, p. 112).
12

A palavra bullying é de origem inglesa, no Brasil ainda não há uma tradução


para a mesma, portanto a palavra não tem uma tradução definida. O bullying está
relacionado tanto ao gênero masculino como ao feminino, e está ligado a
comportamentos de violência, exclusão de pessoas em um ambiente, maus tratos,
atitudes ligadas a uma determinada pessoa, no qual resulta em constrangimentos,
agressões físicas e psicológicas.
A violência ocorre de uma maneira quase que natural, como uma atitude
assídua, porém, esse comportamento do agressor é tido como uma diversão, um
desejo em ter o domínio sobre a vítima. O causador da situação não tem um motivo
específico para tal ação, apenas prazer em ver a vítima sendo humilhada e sentir-se
no auge do poder, onde a parte mais frágil (vítima) é submissa ao mais forte
(agressor).
O bullying quando praticado acarreta muitos danos a vítima, um deles muito
comum é a perda variável de autoestima, o alvo tende a sofrer com as situações
delicadas e constrangedoras em que é submetida.

A palavra bullying ainda é pouco conhecida do grande público. De origem


inglesa e sem tradução ainda no Brasil, é utilizada para qualificar
comportamentos violentos no âmbito escolar, tanto de meninos quanto de
meninas. Dentre esses comportamentos podemos destacar as agressões,
os assédios e as ações desrespeitosas, todos realizados da maneira
recorrente e intencional por parte dos agressores. É fundamental explicitar
que as atitudes tomadas por um ou mais agressores contra um ou alguns
estudantes, geralmente, não apresentavam motivações específicas ou
justificáveis. Isso significa dizer que, de forma quase “natural”, os mais
fortes utilizavam os mais frágeis como meros objetos de diversão, prazer e
poder, com o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e amedrontar suas
vítimas. E isso, invariavelmente, sempre produz, alimenta e até perpetua
muita dor e sofrimento nos vitimados. (SILVA, 2010, p. 21).

Conforme Fante (2005), o bullying é um termo adotado por muitos países


para definir situações em que alguém alimenta uma vontade de ofender e atingir
moralmente e/ou fisicamente outra pessoa, onde é posta em prática de forma
consciente, sem motivo justificável, apenas para satisfazer seu desejo de poder ver
sua vítima sob tortura de suas ações.

[...] bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas


que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos
contra outro (s), causando dor, angústia e sofrimento. Insultos, imitações,
apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas,
atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de
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outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e


materiais, são algumas das manifestações do “comportamento bullying”.
(FANTE, 2005, p. 28 e 29).

Fante (2005) ainda afirma que os agressores agem como se a ação não
passasse de brincadeiras, porém deixam o verdadeiro sentido da ação em oculto,
para que não sejam descobertas em seus verdadeiros propósitos e intenções.
Calhau (2010) explica que para a Associação Brasileira Multiprofissional de
Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), não temos no Brasil uma palavra
exata que possa suprir definitivamente todas as ações e transtornos em que o
bullying acarreta, portanto quando se trata desse ato temos um vocabulário
diversificado em que estão ligadas a cada expressão de violência, tais como: colocar
apelidos, ofender, encarar, amedrontar, chutar, furtar, excluir, entre outros.
Calhau (2010) ainda afirma que para diferenciar o ato de bullying de
brincadeiras é necessário estabelecer o conceito de que não existem brincadeiras
quando alguém está sofrendo com a situação, ou seja, a partir do momento em que
se torna constrangedor para aquele em que se está sendo voltada a ação não pode
ser classificada como tal, mas sim como um ato de bullying, e que haja antes de
qualquer ação o bom senso para dirigir-se a alguém para realizar uma brincadeira.
Ou seja, se tratando de um comentário, deve-se pensar antes de tudo se o que
iremos pronunciar não irá afetar moralmente e/ou psicologicamente a pessoa
mencionada.
Silva (2010) afirma que o bullying é um fenômeno no qual não acontece só
dentro da escola, mas nos arredores da mesma. Nesse amplo espaço em que o
bullying predomina, consequentemente abrem-se oportunidades de ocorrências de
violência que por sua vez tratando-se de violência física ou não causam traumas
psicológicos as vítimas, porém se a segurança pública encarasse o bullying como
uma ação de violência e desrespeito oficial, evitar-se-iam os casos entre
adolescentes em que são relatados sobre assassinatos, suicídios e graves
hematomas deixados pelo corpo da vítima.

O bullying ocorre em todas as escolas, independente de sua tradição,


localização ou poder aquisitivo dos alunos. Pode-se afirmar que está
presente, de forma democrática, em 100% das escolas em todo o mundo,
públicas ou particulares. O que pode variar são os índices encontrados em
cada realidade escolar. Isso decorre do conhecimento da situação e da
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postura que cada instituição de ensino adota, ao se deparar com casos de


violência entre os alunos. (SILVA, 2010, p. 117).

Conforme Chalita (2008), o bullying pode ser considerado a negação da


amizade. Sendo assim, sem nenhum sinal de afetividade para com a vítima, o
agressor sente prazer em ver seu alvo sendo humilhado, fisicamente ou
verbalmente, onde por ser mais forte fisicamente, usa esse atributo para estar no
comando do poder. Raramente a vítima toma uma atitude em que tente cortar esses
laços de violência, mantém-se em silêncio diante da situação, fazendo que
consequentemente o agressor continue com suas ações de bullying contra o
agredido.
Deve-se observar que atualmente a mídia tem ganhado um grande espaço e
seu público espectador tem crescido gradativamente, onde a mesma usa como
ferramenta o termo bullying em determinados casos para que haja um determinado
impacto em seus espectadores, e consequentemente gerando polêmica entre os
mesmos. Não somente a mídia, mas no âmbito da educação e psicologia, onde
todas as situações em que geram intrigas entre grupos são classificadas como
bullying, e em muitas dessas situações não são casos de violência gerados pelo
fenômeno bullying, mas apenas uma expressão em que se usa, um modismo
adquirido pelos profissionais mencionados. Nesse caso é importante saber
diferenciar o verdadeiro sentido do bullying e as artimanhas da mídia em seus
respectivos interesses.

Um dos erros que devemos evitar numa avaliação de situação ou não de


bullying é a precipitação. Os céticos da existência do bullying criticam o
suposto “modismo” da mídia, professores, psicólogos etc., em, segundo
eles, apontam bullying em todas as situações de conflito de grupos com
indivíduos. Em parte, dou razão a esses críticos. Há excessos,
principalmente, quando há interesse mais afoito da mídia em divulgar o
caso. Devemos, então, redobrar o cuidado para uma análise mais cautelosa
e isenta possível sobre o fato que nos chega para análise. (CALHAU, 2010,
p. 7).

Fante; Pedra (2008) nos diz que se deve ficar atento as sequelas deixadas
pelo bullying, pois a violência não deixa apenas marcas visíveis.
Existem os ataques psicológicos, afetando o emocional da vítima, onde deixa
danos negativos, em que a vítima pode optar por transparecer que é uma
15

consequência obtida pelo bullying, ou a mesma pode não contar sobre o ocorrido e
sofrer calada.

1.2 FORMAS E CAUSAS DE BULLYING

Calhau (2010) afirma que existe o bullying por omissão, onde não há sinais de
violência física, o bullie ignora a vítima de maneira que envolve os demais colegas
de classe, os induzindo a excluir o alvo. O professor ao pedir que formem grupos
para a realização de alguma atividade, os integrantes induzidos pelos causadores de
bullying o desprezam, causando constrangimento e queda de autoestima no aluno
ali excluído, assim os grupos vão se formando, a vítima é escolhida por último ou o
professor toma a atitude de encaixar o aluno em algum dos grupos já formados. Em
situações como essa, além do constrangimento do aluno excluído ser visível,
também deixa transparecer que o mesmo não é popular e acolhido pelos demais
colegas da sala de aula.
O bullying por omissão é muito usado pelo sexo feminino, onde é quase
impossível de ser identificado. O ato de bullying por omissão, de início pode
transparecer que não é prejudicial, mas com as agressões feitas paulatinamente
podem afetar a vítima, de maneira que causam danos psicológicos com o passar do
tempo.

Em geral, o bullying praticado com omissão é mais afetado ao praticado por


meninas e é bem sutil. É quase invisível. Se você analisar o ato isolado ele
pode não significar nada, mas são como pequenas agressões, que pouco a
pouco vão minando a integridade psicológica da vítima. (CALHAU, 2010, p.
40).

Silva (2010) explica que no bullying existem os agressores, vítimas e


espectadores. Sendo que cada um deles mencionados podem ter diferentes atitudes
e reações.
Em respeito aos agressores, Silva (2010, p. 43) afirma que:

Eles podem ser de ambos os sexos. Possuem em sua personalidade traços


de desrespeito e maldade e, na maioria das vezes, essas características
estão associadas a um perigoso poder de liderança que, em geral, é obtido
ou legitimado através da força física ou de intenso assédio psicológico. O
agressor pode agir sozinho ou em grupo. Quando ele está acompanhado de
seus “seguidores”, seu poder de “destruição” ganha reforço exponencial, o
16

que amplia seu território de ação e sua capacidade de produzir mais e


novas vítimas.

Calhau (2010) afirma que se tratando em examinar o gênero masculino e


feminino para saber qual deles é mais violento, entende-se que o que os diferencia é
a maneira em que ambos provocam suas ações, onde o gênero masculino usa mais
de força física e o gênero feminino age mais com fofocas, onde é atingido os valores
morais e psicológicos da vítima.
O gênero feminino as ferramentas mais usadas são fofocas, intrigas verbais,
impedimento da vítima em se incluir em algum grupo de colegas na escola,
espalhando mentiras contra a mesma, colocando apelidos constrangedores, etc. O
sexo feminino em ação de violência usa também agressões físicas, mas os mais
frequentes são ações relacionadas a moral da vítima.

[...] o que basicamente ocorre é que os tipos de agressões são bem


diferentes. Regra geral, os agressores utilizam mais a força física e as
agressoras utilizam mais os ataques morais, como por exemplo, espalhar
fofocas, inventar mentiras, colocar apelidos, arquitetar pequenos complôs
para diminuir a vítima perante as colegas, proibir o acesso a grupinhos na
escola etc. (CALHAU, 2010, p. 37).

Conforme Simmons (2004) por usarem de doçura aos olhos dos adultos, as
agressoras agem por gestos, passam entre elas bilhetes com conteúdos de ofensa
diretamente ou indiretamente para o alvo, discretamente pressionam a vítima nos
corredores da escola, onde agridem com piadas de mau gosto, ou ações desse
mesmo porte e saem sorrindo, amenizando ali a situação pesarosa ao público
existente, mas para a vítima causa grandes danos psicológicos.
Silva (2010, p. 21) diz que:

Se recorrermos ao dicionário, encontraremos as seguintes traduções para a


palavra bully: indivíduo valentão, tirano, mandão, brigão. Já a expressão
bullying corresponde a um conjunto de atitudes de violência física e/ou
psicológica, de caráter intencional e repetitivo, praticado por um bully
(agressor) contra uma ou mais vítimas que se encontram impossibilitadas
de se defender. Seja por uma questão circunstancial ou por uma
desigualdade subjetiva de poder, por trás dessas ações sempre há um bully
que domina a maioria dos alunos de uma turma e proíbe qualquer atitude
solidária em relação ao agredido.
17

O bullie é acompanhado de características de indisciplina, não aceita ser


repreendido, em sua maioria tem notas regulares, seu comportamento é agressivo,
demonstrando falta de afetividade de sua parte ou afetividade parcial, ou seja, há
momentos que se mostra agressivo, onde esses aspectos podem ser observados
desde cedo, numa faixa etária de 5 e 6 anos, ocorrendo a implantação e maus tratos
com seus coleguinhas da própria idade, irmãos, animais de estimação, empregados
domésticos ou funcionários da escola. O bullying pode não ser praticado apenas
individualmente, mas por um grupo, onde todos tem a mesma intenção, que é atingir
o alvo frágil (vítima).

Os agressores apresentam, desde muito cedo, aversão às normas, não


aceitam serem contrariados ou frustrados, geralmente estão envolvidos em
atos de pequenos delitos, como furtos, roubos ou vandalismo, com
destruição do patrimônio público ou privado. O desempenho escolar desses
jovens costuma ser regular ou deficitário; no entanto, em hipótese alguma,
isso configura uma deficiência intelectual ou de aprendizagem por parte
deles. Muitos apresentam, nos estágios iniciais, rendimentos normais ou
acima da média. O que lhes falta de forma explícita, é afeto pelos outros.
Essa afetividade deficitária (parcial ou total) pode ter origem em lares
desestruturados ou no próprio temperamento do jovem. Nesse caso, as
manifestações de desrespeito, ausência de culpa e remorso pelos atos
cometidos contra os outros podem ser observadas desde muito cedo (por
volta dos 5 a 6 anos). Essas ações envolvem maus-tratos a irmãos,
coleguinhas, animais de estimação, empregados domésticos ou
funcionários da escola. (SILVA, 2010, p. 43 e 44).

Calhau (2010) explica que os bullies gostam de estar no controle, no poder da


situação, sendo assim, temos a compreensão de quando observamos que dois ou
três alunos dentro de uma sala de aula com cinquenta alunos conseguem estar no
auge do poder do ambiente.
Guillain (2012, p. 28) explica sobre os bullies da seguinte forma:

Não existe uma única razão ou motivo para o bullying. Às vezes, as


pessoas pensam que estão apenas brincando e não percebem que estão
magoando os outros. Podem apenas ter a intenção de se divertir com os
colegas à custa de alguém. Ou ainda pensar que, através do bullying,
podem se tornar mais populares e admirados pelos amigos. Outros podem
ter sido vítimas de agressões quando menores e querem vingança ou
atenção.

Quando a situação problema bullying é cometida, os alvos do ato e seus


familiares quando resolvem procurar auxílio do estado, se deparam com
profissionais que são leigos no assunto ou não estão estruturados profissionalmente
18

para lidar com o problema, sendo assim o ato continua a firmar raízes por todo o
país.
Calhau (2010) explica que uma das consequências graves que o bullying
acarreta é que quando ele ocorre não termina após o agressor deixar de torturar a
vítima, mas a violência em si quando cometida ocasiona diretamente a qualidade de
vida da vítima.
Em respeito à vítima, Calhau (2010) afirma que é comum que a mesma
mantenha-se em silêncio, pois na maior parte as agressões são morais e não
físicas, portanto não ficam visíveis ao público espectador. A vítima tem dificuldade
em falar das humilhações em que enfrenta por temer que o problema não seja
resolvido, podendo assim apenas aumentar os danos por ser revelado ao público.
Outras vítimas temem a reação contraditória dos pais, e por fim existem muitas
outras vítimas que temem que a escola não possa fazer nada para ajudá-las em
suas situações desconfortáveis.
As vítimas geralmente sentem-se infelizes, não estando satisfeitas consigo
mesmas. Em muitas vezes os alvos de bullying acham que todos estão contra elas,
onde todas as práticas escolares que envolvem competições, regras, e afins,
ocasionam em mais desmotivação para as vítimas.

[...] frequentemente, esses alunos são muito infelizes, não gostam de si


mesmos e ficam muito frustrados e ressentidos. Muitas vezes sentem que
todo mundo está contra eles, e que os adultos são injustos e nunca
compreendem seu ponto de vista. Para esses alunos, as práticas
tradicionais da escola de se concentrar nas conquistas, na competição, na
avaliação e nas regras criam um contexto que estimula mais frustração e
afastamento. (BEAUDOIN; TAYLOR, 2006, p. 75).

Se tratando da vítima típica, Silva (2010) específica alguns traços de seu


comportamento. Na intenção de identificar a vítima no ambiente escolar, pode-se
observar que a mesma no decorrer do intervalo da aula sempre está isolada, onde
não há a interação com os demais alunos, ou pode encontrar-se perto de um adulto,
seja esse um professor, inspetor, num ato de tentar proteger-se do agressor e suas
ações pejorativas. Ausência de presença com frequência nas aulas, não tem amigos
e quando tem os mesmos são poucos, mostra um semblante triste, e em casos mais
decadentes apresenta arranhões, manchas de batidas, empurrões, roupas
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rasgadas, detalhes esses que são causados infelizmente pelo bullying. A vítima é
alvo central de violência dos bullies.
A vítima típica tem vários aspectos que podem ser observados para identificá-
la, os mesmos aspectos são classificados como uma marca, que os diferencia dos
demais alunos, onde indica que a mesma pode ser um alvo fácil de violência.
Algumas das características em que são comuns entre as vítimas são: baixa
autoestima, dificuldade em interagir em grupos, falta de coordenação motora,
orientação sexual, deficientes físicos, alterações de peso tanto para mais como para
menos, etc.

As vítimas típicas são os alunos que apresentam pouca habilidade de


socialização. Em geral são tímidas ou reservadas, e não conseguem reagir
aos comportamentos provocadores e agressores dirigidos contra elas.
Normalmente são mais frágeis fisicamente ou apresentam alguma “marca”
que as destaca da maioria dos alunos: são gordinhas ou magras demais,
altas ou baixas demais; usam óculos; são “caxias”, deficientes físicos;
apresentam sardas ou manchas na pele, orelhas ou nariz um pouco mais
destacados; usam roupas fora de moda; são de raça, credo, condição
socioeconômica ou orientação diferentes...Enfim, qualquer coisa que fuja ao
padrão imposto por um determinado grupo pode deflagrar o processo de
escolha da vítima do bullying. Os motivos (sempre injustificáveis) são os
mais banais possíveis.
Normalmente, essas crianças ou adolescentes “estampam” facilmente as
suas inseguranças na forma de extrema sensibilidade, passividade,
submissão, falta de coordenação motora, baixa autoestima, ansiedade
excessiva, dificuldades de se expressar. Por apresentarem dificuldades
significativas de se impor ao grupo, tanto física quanto verbalmente, tornam-
se alvos fáceis e comuns dos ofensores. (SILVA, 2010, p. 37 e 38).

Silva (2010) afirma que as vítimas provocadoras são classificadas aqui como
imaturas, impulsivas e hiperativas, onde sem intenção através dessas características
que carregam, tornam o ambiente escolar mais agitado, onde despertam o interesse
no agressor em manifestar um conflito contra a vítima. Quando são atingidas
rebatem as atitudes através de insultos, xingamentos, porém não conseguem atingir
à altura do agressor, sendo assim terminam sem sucesso, trazendo apenas tumulto
diante a situação. Pelas características que carrega, a vítima é reconhecida como a
principal culpada pelo transtorno causado, e o agressor por sua vez continua no
anonimato, livre para continuar suas ações de violências transmitidas pelo fenômeno
bullying.
A vítima provocadora pode ter TDAH, ou seja, é agitada, intromete-se em
assuntos em que não está ligada a mesma, tem dificuldade de concentração,
20

portanto acarreta dificuldades na aprendizagem, tem a mente inquieta, é impaciente,


dá respostas sem pensar naquilo em que está sendo dito, porém esse conjunto de
características de um aluno que possui TDAH não está relacionado ao caráter da
mesma, mas ao seu funcionamento mental em que não permite o controle ideal de
sua impulsividade.

[...] quem está familiarizado com o assunto sabe que o portador de TDAH,
principalmente quando predomina o lado impulsivo e hiperativo, não
consegue parar quieto na carteira, corre de um lado para outro, vive a “mil
por hora”, é impaciente, dá respostas impensadas, é “abelhudinho” e
intromete-se nos assuntos sem ser chamado. Isso porque sua mente é
inquieta, veloz, não para nunca, como se estivesse plugada na tomada o
tempo todo. E é exatamente por essa velocidade em seus pensamentos
que muitos não conseguem se concentrar no que o professor está falando
ou apresentam dificuldades na aprendizagem. Porém, a impulsividade de
um TDAH (seja ela física ou verbal) não está associada a falta de caráter,
má educação ou intenções maldosas, mas ao funcionamento mental que
não permite o controle dos impulsos de forma adequada. Isso,
invariavelmente, ocasiona “gafes” sociais e dificuldades nos seus
relacionamentos interpessoais. (SILVA, 2010, p. 41).

A vítima agressora é aquela que sofre através das atitudes do bullying


aplicada pelo agressor, a mesma não consegue reagir mediante a situação em que
se encontra com o agressor, porém a vítima procura uma nova vítima mais frágil que
ela, onde aplica todo seu sofrimento em seu alvo escolhido. Sendo assim, torna-se
um fenômeno imortal, onde está sempre surgindo novas vítimas e agressores com
seus diferentes aspectos perante a violência causada pelo bullying.

A vítima agressora faz valer os velhos ditos populares “Bateu, levou” ou


“Tudo o que vem tem volta”. Ela reproduz os maus-tratos sofridos como
forma de compensação, ou seja, ela procura outra vítima, ainda mais frágil e
vulnerável, e comete contra esta todas as agressões sofridas. Isso aciona o
efeito “cascata” ou círculo vicioso, que transforma o bullying em um
problema de difícil controle e que ganha proporções infelizes de epidemia
mundial de ameaça à saúde pública. (SILVA, 2010, 42).

Segundo Silva (2010), os espectadores são os alunos que presenciam o


acontecimento de bullying, porém não ficam ao lado da vítima defendendo-a, e
também não alimentam as ações junto ao agressor. Dentre as diversas atitudes do
espectador, pode-se classificar o mesmo três grupos diferentes.
Fante; Pedra (2008) explica que os espectadores representam a maior parte
de alunos de uma escola, eles não sofrem da violência e também não praticam, mas
21

presenciam as situações de bullying realizadas entre os agressores e vítimas, onde


as atitudes de cada espectador são variadas. Existem os espectadores em que não
apóiam os agressores, mas também não tomam atitude alguma para intervir nos
constrangimentos em que as vítimas se encontram, outros espectadores estimulam
as agressões dando risada diante das situações, deixando a entender que são a
favor do agressor e suas atitudes de violência, e por fim temos os espectadores em
que encenam um falso divertimento perante o sofrimento das vítimas, porém os
espectadores desse grupo tomam atitude como uma maneira de se protegerem e
não serem escolhidos como os próximos alvos de bullying pelos agressores.
Para identificar os espectadores se faz necessário a observação constante
sobre os mesmos, pois eles costumam ser discretos, não deixando claro que
presenciam as ações de bullying. Grande parte dos espectadores se mantém
calados, não intervindo nem contra e nem à favor diante do ato de sofrimento das
vítimas. Mas existem os espectadores mais ansiosos, que costumam comentar
histórias de bullying, e quando são interrogadas sobre a situação desconversam,
negando qualquer envolvimento com o ato.

Tendem, em ambos os ambientes (na escola e no lar), a se manter calados


sobre o que sabem ou presenciam. Os mais ansiosos ou sensíveis contam
casos e histórias de bullying, mas negam que sejam reflexo de sua vivência
escolar. Quando indagados, disfarçam citando cenas de filmes, novelas,
seriados ou histórias da internet como a origem principal de seus
comentários. (SILVA, 2010, p. 51).

Os espectadores são os alunos que são as testemunhas dos acontecimentos


de violências causados pelo bullying, mas permanecem em seus respectivos lugares
sem revidar, ou seja, não defendem a vítima, e não ajudam os agressores em seus
atos contra seus alvos. O espectador passivo mantém-se em silêncio, pois assim
como a vítima, o mesmo também é frágil psicologicamente, portanto tem receio de
ser um alvo fácil para o agressor.

Em geral, os espectadores passivos assumem essa postura por medo


absoluto de se tornarem a próxima vítima. Recebem ameaças explícitas ou
veladas do tipo: “Fique na sua, caso contrário a gente vai atrás de você”.
Eles não concordam e até repelem as atitudes dos bullies; no entanto, ficam
de mãos atadas para tomar qualquer atitude em defesa das vítimas. Nesse
grupo encontram-se aqueles que, ao presenciarem cenas de violência ou
que trazem embaraços aos colegas, estão propensos a sofrer as
22

conseqüências psíquicas, uma vez que suas estruturas psicológicas


também são frágeis. (SILVA, 2010, p. 45 e 46).

O avanço tecnológico da internet tem sido de grande contribuição para a vida


humana, porém tem sido também um dos recursos usados pelos bullies para trazer
sofrimento e constrangimento para suas vítimas na prática de bullying. Se antes
havia pichações nos muros e banheiros da escola, com algo sempre ligado a
intenção de ataque à vítima, hoje os bullies mudaram seus meios, mas a ideia e
desejo de agressão a vítima continua sendo a mesma. O ato praticado pode ser
através de a criação de uma conta falsa numa rede social (fake), onde através desse
perfil falso o bullie que está por traz disso ataca a vítima sem exitar. Essa forma de
bullying praticada é chamada de cyberbullying, e infelizmente vem ganhando espaço
cada vez mais no mundo virtual.

Hoje, os “lobos” mudaram os métodos, mas não as práticas. Abrem


dolosamente, por exemplo, uma conta falsa (fake) no Orkut, MSN,
Facebook, Myspace etc. e passam a espalhar e-mails difamatórios contra
as vítimas com grande prejuízo para sua honra e integridade moral.
(CALHAU, 2010, p. 59).

Calhau (2010) ainda aborda que na vida real o bullying tem como ser detido e
colocado um ponto final, já na internet não há fim, e fica no anonimato sempre, como
uma sombra.
Ainda que a tecnologia tenha tido um grande avanço, a investigação pelo
poder jurídico em relação ao cyberbullying requer detalhes para se chegar ao bullie
em que deu origem as agressões e assim poder tomar providências e cessar a
violência.

Um dos problemas no cyberbullying é a demora de sua apuração. Embora


com a tecnologia atual, através do IP, seja possível identificar a conexão
que originou a possível agressão, a demora na apuração desses crimes
ainda é um complicador. Isso ocorre tendo em vista a falta de recursos
materiais e humanos da polícia, que investiga quase todos os crimes
somente com prova testemunhal. No caso do cyberbullying isso não
funciona bem, é necessária a realização ainda da coleta de provas técnicas,
através de perícias, que só poderão ser realizadas com a tomada de
medidas judiciais prévias, tais como a busca e apreensão de computadores
e celulares suspeitos. (CALHAU, 2010, p. 60).

Calhau (2010, 62 e 63) em relação ao cyberbullying ainda afirma mais:


23

A “bofetada feliz” (happy slapping) é uma prática cruel de bullying (real) que
se mistura ao cyberbullying (virtual). No entanto, os agressores atacam uma
vítima com bofetadas sendo que um comparsa fica a uma pequena
distância filmando as agressões com câmera de vídeo de um telefone
celular.
O vídeo com as agressões são imediatamente postados em redes sociais
(ou enviados para telefones celulares) e visualizados por centenas ou
milhares de pessoas em pouco tempo. Infelizmente, tem se tornado comum
no Brasil também.

Em relação ao comportamento do bullie, Santana (2013, p. 29) explica que:


“[...] determinar com exatidão as causas do comportamento de um bully é algo muito
complexo. Todavia, há estudos de antropólogos, filósofos, pedagogos e psicólogos
que explicitam dados suficientes para conclusões lógicas [...]”.
Guillain (2012) explica que a vítima de cyberbullying não se sente segura nem
em sua própria casa, uma vez que as agressões causadas pelos bullies não é
necessário ser exatamente na escola, mas podendo atingir as vítimas a qualquer
hora, já que os ataques são feitas através do uso da internet. A autora Guillaiin
(2012, p. 22) conta uma história verídica que aconteceu com uma adolescente de 13
anos:

Megan Meier se suicidou aos 13 anos. Ela conheceu um garoto chamado


Josh na rede social MySpace, Josh foi muito legal no começo, mas depois
virou-se contra ela. Passou a postar mensagens ofensivas sobre ela,
deixando-a extremamente infeliz. Depois da morte de Megan, descobriu-se
que Josh nunca existira – tinha sido criado por uma família do bairro.
Histórias trágicas como esta, mostram a que ponto o bullying na internet
pode chegar.

Segundo Silva (2010), o uso inadequado da internet tem levado muitos para
um caminho de grandes problemas, onde pessoas inocentes acabam sendo
culpadas. É o caso do cyberbullying, em muitos casos o e-mail particular da vítima
chega a ser clonado pelos bullies, onde as mesmas passam a enviar mensagens
pejorativas para outros colegas como se fosse a vítima o autor de todo o transtorno.
Em outros casos os bullies criam perfis e páginas em redes sociais onde
destacam suas vítimas de forma constrangedora, onde através desses meios os
bullies falam e incentivam os internautas participantes daquela rede social a ajudá-
los a deixar suas vítimas humilhadas e com baixa autoestima, criando páginas com
algo relacionado a beleza física, como votações para saber quem é o mais esquisito
24

(a) daquela círculo de amizades, incluindo imagens em que de alguma forma


ataquem a vítima psicológicamente.
São através de atitudes assim que os bullies atingem suas vítimas de
cyberbullying e consequentemente muitas vezes atingem também a família e amigos
mais íntimos das vítimas.

Os praticantes de cyberbullying participam, inclusive, de fóruns e livros de


visitas virtuais para deixar mensagens depreciativas sobre o assunto em
que questão ou opinar de forma inconveniente. Tudo para semear brigas,
desordem e desentendimentos entre os participantes sérios e interessados.
Promovem, ainda, votações em diversos sites para eleger os colegas que
consideram mais esquisitos.
Quando as vítimas se deparam com toda essa gama de maldades
maquiavelicamente planejadas e executadas, seus nomes e imagens já se
encontram divulgados em rede mundial. Não há qualquer possibilidade de
sair ileso dessas situações. As conseqüências psicológicas para essas
vítimas são incalculáveis e, muitas vezes, chegam a atingir seus familiares
ou amigos mais próximos. (SILVA, 2010, p. 128).

Em relação às atitudes tomadas pelos adultos ao redor da criança, deve-se


ter bastante cautela, pois a criança tende a observar as ações dos adultos e tomá-
las como exemplo, ou seja, a criança se espelha no adulto.

[...] canções de ninar ou cantigas de roda como “Boi da cara preta”, “Atirei o
pau no gato”, “O cravo brigou com a rosa”, “Nana nenê”, “Marcha soldado”,
além de outras, assim como frases do tipo das que serão citadas a seguir;
podendo criar nela sentimentos de medo de falta de amor; e transmitir
conteúdo de violência. Eis as frases:
Você precisa deixar de ser sem educação!
Você não ama seus pais!
Você tem tudo de mão beijada; eu não tive!
Desse jeito, quem vai querer ser seu amigo?
Sua turminha não lhe conhece!
Você não aprende nada de bom!
Assim, você não vai ser feliz, nunca!
Por que você não é como o seu irmão?
Homem que é homem não chora!
Suma daqui ou lhe quebro a cara! (SANTANA, 2013, p. 30).

Santana (2013) explica que a mídia impõe um padrão de beleza e é aceito


com facilidade por muitos da sociedade, despertando em muitos sentimentos, como
desejo de competição, ressentimento, domínio, inveja, preocupação com a própria
imagem quando em seus primeiros laços familiares a pessoa sofre humilhações.
Programas de televisão mostram na íntegra casos de violência verídicos, jogo de
25

vídeo game, armas de brinquedo, que colaboram com a estimulação de


comportamentos agressivos na criança e adolescente.
Calhau (2010) afirma que existe um jogo de vídeo game chamado Bully, seu
procedimento é relatado dentro de um ambiente escolar, onde há cenas de
violência, humilhação e provocações entre alunos e professores, quanto mais o
jogador comete atos de bullying durante a partida do jogo mais ele avança. Como
um meio de capitalismo, observa-se que as pessoas não se importam com o
sofrimento em que podem ocasionar ao público, ficando claro que o jogo é uma
porta aberta para estimulação de violência, porém o Ministério Público do Rio
Grande do Sul conseguiu impedir a importação no Brasil do jogo Bully, onde a
quebra de cumprimento das determinações judiciais acarreta em multa diária de R$
1.000,00 por dia.
O preconceito de raça, religião, desigualdade social e orientação sexual são
alguns dos pontos principais em que ocasionam em atitudes de bullying. O desejo
em competir, seja no ambiente de trabalho, escolar e/ou familiar são características
de uma cultura onde ser o segundo colocado não é satisfatório, é necessário sempre
ser o melhor.

Como fatores causadores de bullying, podemos ainda citar as mudanças


sociais, o apelo ao consumismo, a dificuldade de integração étnica, a
desigualdade social, o preconceito de cor, raça e de religião, a homofobia,
enfim, a não aceitação do ser diferente. A alta competitividade nos mais
diversos setores da vida humana, como no trabalho, na família, na escola,
numa cultura onde ser o segundo colocado, ser o vice-campeão, em uma
competição, representa quase nada, pois a luta é sempre para ser o número
um – o que fortalece a individualidade em detrimento do coletivo, podendo
levar uma pessoa que já tenha tendência à prática de bullying a tentar
buscar, a qualquer custo, sua autoafirmação. (SANTANA, 2013, p. 30 e 31).

Outros fatores também são destacados para o compreendimento da causa


em que crianças e adolescentes usam a agressividade, fatores esses como a falta
de afetividade dos pais para com os filhos, que usam de violência psicológica e/ou
física para deixar claro aos filhos que o poder da casa está sobre os pais, a ausência
de regras, que está ligada muitas vezes ao excesso de afeto dos pais sobre a
criança, a ausência de pontos positivos e a presença de pontos negativos.

Somados às possíveis causas citadas, há outros aspectos evidenciados:


uso de violência psicológica e/ou física de pais sobre filhos, para afirmar sua
autoridade; exigência em demasia; ausência de limites, implicando a
26

permissividade, possivelmente devido ao excesso de ternura; impunidade;


ausência de exemplos positivos; presença de exemplos negativos; omissão
no seio da família; além de débito de afetividade no convívio familiar.
(SANTANA, 2013, p. 31).

Santana (2013) diz que é necessário ressaltar que apesar das diferenças
entre as pessoas, sejam elas psicológicas, intelectuais, físicas, o respeito e a
igualdade deve prevalecer entre a sociedade.
Calhau (2010) explica que a mídia tem aumentado a exposição de notícias de
violência, tais essas notícias existentes mostram acontecimentos dentro da escola,
crianças e adolescentes como alvos de crime, gangues de jovens, pedofilia, etc.
Esses noticiários têm sido comuns e causa de grande preocupação na população.
Quando questionado o porquê da ocorrência do bullying, muitos dizem que a
vítima que se deixa ser vencida pela ação é fraca, porém a própria sociedade é
submissa aos padrões impostos pela mídia e ser diferente não se adequando aos
padrões impostos não é bem visto pela própria sociedade em que se convive.
São impostos padrões para a população em que chega a ser entendido por
muitos que para ser aceito entre os demais é necessário estar dentro das
comodidades em que são impostas, como consumismo de produtos caros, sem a
intenção de ter algo de qualidade, apenas com o propósito de estar incluso nos
padrões oferecidos por um modismo social.

Lamentavelmente, ser honesto, para alguns, é sinônimo de fraqueza,


porque para esses o “mundo é dos espertos”, numa total deterioração dos
fundamentos éticos que devem dirigir as ações das pessoas. Ser diferente
nessa sociedade individualista é um “pecado”. A ditadura do modismo
impõe que nossas crianças e adolescentes, sem nenhum limite, consumam
cada vez mais e comprem objetos semelhantes (de marcas famosas e
caras), se vistam de forma similar e com produtos caros, sem se importarem
com a questão social. Chego a dizer que, para muitas pessoas, ostentar,
supera o desejo de consumir um produto de qualidade. (CALHAU, 2010, p.
4).

Fromm (1987) explica que a situação problema não está em ter bens
materiais, mas sim uma linha tênue que nos liga ao ser. As atitudes dessa cultura
obtida pela sociedade deixam claro que o ser humano só é classificado como bom
quando se tem e não pela essência daquilo que o mesmo é.
27

O mesmo autor ainda relata que não há problema em ter bens materiais, pois
para vivência humana ter é necessário e devem ser desfrutados, mas infelizmente
há pessoas que usam os mesmos para diminuir e atacar outras pessoas.
28

2. O BULLYING X ESCOLA

O ensino no Brasil passa por uma fase muito difícil. Os atuais alunos não
estão habituados a respeitar limites, e isso já começa em casa, onde alguns
pais não fazem a sua parte. As crianças fazem o que querem, chegam à
escola e reproduzem esses comportamentos. (CALHAU, 2010, p. 28 e 29).

O mesmo autor afirma que atualmente o papel da escola não tem sido apenas
o processo ensino/aprendizagem, mas também educar os alunos, papel esse que é
um dever dos pais, porém muitos deles têm deixado nas mãos dos professores essa
função.
A violência dentro da escola tem aumentado, e um dos motivos tem sido a
ausência de limites trazidos do ambiente familiar, onde consequentemente os
professores vêem a situação como um desafio a ser driblado.

Além de sobrecarregados pela omissão educacional de alguns pais, o


sistema escolar enfrenta novos desafios, mais e mais funções para os
professores, aumento da violência social e da provocada pelo bullying
também. Menos diálogo, mais conflitos. Ser professor é cada vez mais
difícil, pois se exige cada vez mais do profissional e pouco se fez na
melhora de suas condições de trabalho. O bullying acaba sendo mais um
problema, um círculo vicioso dentro do ambiente escolar, onde os
agressores sempre tentam arrastar mais vítimas para o seu campo de ação.
O problema cai quase sempre nas mãos dos professores. São eles que
tomam contato primeiro com o problema, ora sendo procurados pelas
vítimas, ora percebendo que um conflito está no ar. (CALHAU, 2010, p. 29).

Quando falamos de leis uma grande parte dos cidadãos gostam de lembrar
apenas de seus direitos e esquecem que também existem deveres e obrigações a
serem cumpridas. Saímos de uma era onde o poder da ditadura dominava tudo ao
redor, atualmente vivemos em um país democrata, porém democracia não está
apenas ligada aos direitos, mas aos deveres, onde um deles é não causar danos
prejudiciais a outras pessoas.
Os problemas em relação aos limites estão ligados diretamente ao bullying. O
que se observa é que os pais não tratam do assunto com os filhos em casa,
passando esse dever que lhes cabe para a responsabilidade da escola, igreja,
colegas do filho.
Zagury (2014) relata que ensinar limite para os filhos requer um trabalho de
diálogo e quando necessário a correção, porém muitos acreditam que essa correção
causa traumas psicológicos nos filhos, e assim esse valor que é de extrema
29

importância no educar acabava ficando ausente. Sem conhecer seus limites não é
possível respeitar seu próximo, e é preciso também deixar claro para a criança que
ela poderá ter muitas coisas que deseja, porém nem tudo será no momento em que
ela quer e outras coisas ela não chegará a ter.
Calhau (2010) diz que no ambiente escolar, professores vivenciam a falta de
limite dos alunos todos os dias, falta de educação e respeito muitas vezes através
de brincadeiras que julgam ser saudáveis, quando na verdade estão agindo com
falta de respeito com os demais colegas de sala e/ou professor, e quando se fala de
falta de limite não está relacionado apenas às crianças e adolescentes, mas adultos
e/ou adolescentes em universidades, ao receber uma nota ruim os mesmos se
voltam contra o professor e em alguns casos chegam a realizar baixo assinado para
mandar o professor embora daquela instituição, afirmando que o mesmo não tem
competência para ensiná-los.
A negação está presente no bullying de maneira que os agressores indagam
que toda sua forma de violência é uma “zoação”, ou seja, a colocação verbal zoar é
apenas uma maneira de ocultar todos os atos violentos que afetam o alvo e trazem
transtornos ao ambiente escolar.
O papel de ensinar para as crianças que existem limites pertencem aos pais,
porém quando foge do controle dos mesmos, a educação das crianças deixa a
desejar.

Quando os pais não conseguem delimitar de forma clara as fronteiras entre


o que se pode e o que não se pode fazer, eles se tornam incapazes de
exercer uma ação educativa eficaz. Os pais podem até, de forma
momentânea, obter um clima doméstico mais calmo e livre de conflitos
diários. No entanto, isso impede o amadurecimento de seus filhos dentro
dos processos evolutivos no verdadeiro diálogo, na responsabilização e na
futura independência efetiva e financeira da família. (SILVA, 2010, 62).

Quando a ausência de ensinamento de limites para as crianças existe, o


resultado é filhos sem nenhuma noção de limite, despreparados para um futuro com
desafios, e em casos mais graves os mesmos se tornam dependentes químicos.
As pessoas em muitos casos omitem a agressão da criança, rebatem dizendo
que com o tempo esse comportamento é deixado para trás, que não é uma atitude
em que deve haver preocupação, pois são crianças e faz parte do temperamento ou
fase em que a criança está vivendo.
30

Algumas pessoas ainda têm a impressão de que bullying é um


comportamento normal e aceitável, que as crianças aprenderão quando
crescerem. Elas dizem coisas como depois passa, é coisa de criança, ele é
só esquentado, é só não dar bola que passa. Não passa (MOZ; ZAWADSKI,
2008, p. 79).

Benjamin Spock (1960) relata a importância da presença de limites na


vivência dos filhos, onde os pais devem ser firmes com os mesmos quando eles
cometem algo que não está dentro dos limites impostos. Spock explica que a
correção dos erros dos filhos é necessária na construção da educação.
Nos dias presentes o que se observa é que os pais omitem os erros de seus
filhos, e ainda afirmam que não contrariam os mesmos para evitar cortar laços
familiares, que a rebeldia é consequência de sua fase de desenvolvimento, etc.

Os pais, em sua grande maioria, agem desta forma sob a alegação de que
não querem ferir a sensibilidade dos filhos ou para evitar desavenças
familiares. Outros, ainda, assim o fazem como forma de compensar o
período que estão distantes dos filhos por motivos profissionais. Por essa
razão, passam a ser permissivos em excesso e as crianças ou adolescentes
“pintam e bordam” sobre suas cabeças. O resultado dessa matemática
(mais emocional do que racional) é que, desde muito cedo, as crianças se
habituam a fazer tudo o que querem e impõem-se, de forma autoritária e
tirana, perante os pais sobrecarregados e exaustos. Em função do
sentimento de culpa que carregam por não acompanharem a vida dos filhos
como deveriam, os pais cedem praticamente a todas as vontades deles e
toleram quase tudo, inclusive posturas intoleráveis. (SILVA, 2010, p. 61).

Silva (2010) explica que os pais tolerando quase todos os comportamentos


dos filhos, até atitudes intoleráveis, fazem parecer que seu lar tem harmonia e
tranquilidade, porém é um quadro falso, onde só aparenta, pois os pais estão
submissos aos seus filhos e não os punem justamente por receio de causar o
aumento da rebeldia dos mesmos e tornar o ambiente familiar ainda mais
desagradável.

Quando os pais não conseguem delimitar de forma clara as fronteiras entre


o que se pode e o que não se pode fazer, eles se tornam incapazes de
exercer uma ação educativa eficaz. Os pais podem até, de forma
momentânea, obter um clima doméstico mais calmo e livre de conflitos
diários. No entanto, isso impede o amadurecimento de seus filhos dentro
dos processos evolutivos inerentes ao ser humano, o que desfavorece laços
relacionais estruturados no verdadeiro diálogo, na responsabilização e na
futura independência efetiva e financeira da família. (SILVA, 2010, p. 62).
31

Silva (2010) explica que os resultados de filhos que não se habituam aos
limites são de estado crítico, os mesmos crescem sem se importarem com as regras
sociais e as consequências de suas atitudes infratoras que podem afetar outras
pessoas, onde as mesmas pagam sem merecer. A autora ainda afirma que existem
escolas que sabendo das mudanças em todo o mundo estão à procura de uma
reforma escolar, no objetivo de combater os desafios em que dia após dia
aumentam.

Individualmente falando, os jovens refletem no dia a dia a cultura na qual


estão inseridos. Eles exprimem um comportamento repleto de elementos
infantis, egocêntricos e transgressores, marcado por uma busca contínua e
desenfreada de compensações e gratificações imediatas. (SILVA, 2010, p.
64).

Os amigos ou o grupo pode ser um meio de influência para o indivíduo. Os


pais e professores devem estar cientes de que as amizades podem influenciar de
maneira tanto positiva como negativa. A partir disso é necessário observar toda a
estrutura dessas amizades, desde seu linguajar, vestimenta, ideologias, entre outros
aspectos, e só depois disso poder interferir nessa influência quando for negativa.
Não são apenas amizades que causam influência de comportamento dos
filhos ou alunos, mas também a televisão, internet, música, drogas, entre outras que
podem fazer parte da cultura dos jovens.

O aumento do comportamento agressivo entre os adolescentes é um dos


fenômenos que mais preocupam e angustiam os pais e todos que, de forma
direta ou indireta, lidam ou se ocupam com os jovens. A agressividade entre
eles pode se manifestar das mais diversas formas, desde pequenos
conflitos verbais entre indivíduos e/ou grupos até brigas físicas e violentas
geradas pelas razões mais fúteis possíveis. São visíveis os abusos e as
arbitrariedades dos “mais fortes” em relação aos mais frágeis, através de
intimidações psicológicas e físicas, humilhações públicas, comentários
maldosos, difamações, intrigas e até as mais variadas formas de violência
propriamente dita. (SILVA, 2010, p. 66).

Quando os jovens assumem sua real postura agressiva, fica fácil de identificá-
los, bem como os mais frágeis que são afetados por esses agressores através das
violências que os mesmos cometem contra os jovens mais sensíveis. As agressões
na juventude são comuns, pois é nesse momento em que os jovens estão
construindo uma identidade pessoal. É evidente que pela trajetória dessa busca por
32

sua identidade o indivíduo explore experiências novas e vivencie vários momentos


tanto concretos como psicológicos.

Temos que considerar que comportamentos agressivos do tipo transgressor


são freqüentes na adolescência, afinal é nesse período da vida que nos
lançamos no mundo em busca de nossa identidade. A adolescência
pressupõe riscos, aventuras, inquietações, angústias, descobertas,
irresponsabilidades pontuais, insensatez, paixões, emoções exacerbadas
etc. Na maior parte das vezes, todas essas manifestações não são fruto de
patologias de fundo psíquico individual ou sociofamiliar (apesar de a maioria
das pessoas achar o contrário). Elas são, na maioria absoluta dos casos,
manifestações exasperadas, ainda que disfuncionais e socialmente
inaceitáveis, de jovens se lançando na busca de sua própria identidade. Em
última instância, são as formas tortas e ineficazes de demonstrarem que
existem e que valem alguma coisa para seus colegas, amigos, familiares e
também para a sociedade. (SILVA, 2010, p. 67).

Essa agressividade na juventude não permanece e não se torna uma


característica de sua futura identidade, na maioria dos casos esse comportamento é
passageiro e permanece apenas numa pequena fração, que continua a prevalecer
atos de violência, desrespeito e imprudência.

Se, de um lado, existem jovens que têm um comportamento muito agressivo


e sérias dificuldades de adaptação às regras sociais, de outro há, também,
aqueles que tendem a não se mostrar socialmente. Do ponto de vista
psicológico, estes adolescentes possuem uma nítida tendência à
introspecção; são personalidades inseguras, angustiadas e quase
desprovidas de autoestima.
Para eles, a vida social pode representar um verdadeiro martírio. (SILVA,
2010, p. 68).

Silva (2010) relata que jovens sensíveis, com fragilidade psicológica e baixa
autoestima, são ineptos diante das atitudes violentas físicas e/ou verbais dos
agressores, por isso sofrem das mesmas e da incompreensão familiar. Esse cenário
histórico em muitos casos termina em afastamento das pessoas ao seu redor,
abatimento psíquico, e em casos mais graves podem chegar ao cenário de suicídio
e homicídio. Os adultos podem intervir em casos como esse ficando atentos ao
comportamento dos jovens, desenvolvendo um possível diálogo com os mesmos,
tentando uma aproximação afetiva, participação em todo seu desenvolvimento tanto
escolar como construção de identidade, orientando os jovens de forma que se crie
um vínculo entre ambos e desde cedo estabelecer limites e regras a serem
respeitadas.
33

A palavra afeto vem de “afetar”, de modificar através das emoções e dos


sentimentos. Dessa forma, um trauma psicológico é capaz de deixar
cicatrizes não só na “alma”, mas também em nosso cérebro. Dessa forma,
situações positivas ou posturas transcendentes perante as mazelas vitais
podem “tatuar” nossos cérebros com força e determinação, capazes de
transformar as fragilidades de uma fase da vida em diferenças vitoriosas no
futuro. (SILVA, 2010, p.74).

Silva (2010) explica que todo ser humano tem suas habilidades em alguma
área, um gênio físico pode ser bom em matemática, porém pode mostrar que deixa
a desejar na área de comunicação (publicidade/marketing), e um publicitário o
inverso dessa suposição. Ou seja, o ser humano nunca será perfeito, portanto não
existem motivos para julgar uns aos outros, sempre haverá falhas e acertos, e sobre
tudo somos todos diferentes.

Podemos afirmar, então, que o nosso cérebro, além de ser a mais complexa
e deslumbrante estrutura humana, é também o atestado vivo de que o
preconceito e a intolerância com as diferenças são, sobretudo, uma
estupidez científica, um atraso na nossa evolução como espécie, uma vez
que esta só pode obter sucesso quando há solidariedade e colaboração
entre todos os seres humanos. (SILVA, 2010, p. 75).

É através desse conceito que podemos afirmar que o bullying é um ato que
não deve ser tolerado, pois o ser humano tem valores culturais, sociais, morais e até
científicos que não são iguais aos dos outros seres humanos, devido a fatores
biológicos individuais.
Silva (2010) relata que nós seres humanos sendo diferentes uns dos outros,
podemos dizer que em relação ao bullying cada um tem um comportamento
diferente. Alguns alvos procuram ajuda médica para uma melhora mental, no qual o
deixe mais estruturado diante do sofrimento causado pelo bullying, melhora na
autoestima e até relações sociais com outras pessoas ao seu redor. Existem
também vítimas que através do bullying geram sentimentos de raiva, mágoa, mas
transformam esses sentimentos em aprendizado, algumas frases definem
exatamente a postura dessa vítima, como: “Aquilo que não me mata só me
fortalece”, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, ou “O guerreiro está ferido, mas
não está morto!”, de Ronaldo, o Fenômeno. Outras vítimas por sua vez carregam
junto de si os traumas e frustrações em que o bullying as afetou quando criança e/ou
jovem, levam para a fase adulta e se tornam pessoas ansiosas, depressivas,
34

inseguras ou até mesmo agressivas, e repetem toda a violência que um dia sofreu
no ambiente escolar, usando seus familiares e/ou aqueles que convivem junto delas.
Outras crianças e/ou jovens devido a violência que sofrem transmitidas pelo bullying,
podem apresentar alguns transtornos como depressão, bulimia, anorexia, fobias,
geralmente esses transtornos psiquiátricos são desenvolvidos nas crianças e/ou
jovens que já possuem uma genética de fácil desenvolvimento para essas
patologias. Algumas crianças já possuem todas essas características patológicas,
como os de espectro autista, quando as mesmas sofrem bullying o que ocorre é a
piora de desses transtornos.

No sistema escolar, encontramos outro micromundo, uma subdivisão


denominada universo dos estudantes. Infelizmente, em grande parte das
escolas, sejam elas públicas ou particulares, deparamo-nos com uma
hierarquia que quase reproduz os sistemas de castas das sociedades mais
desiguais. No mundo dos estudantes, três classes costumam se distinguir
de forma bem marcada: os populares, os neutros e os excluídos. (SILVA,
2010, p. 79).

Silva (2010) explica que os alunos populares são aqueles que têm qualidades
que são impostas pela própria sociedade, por isso são bem vindos pelos demais
alunos da escola. Os meninos populares são os que têm uma boa aparência física,
habilidade para esportes, corpo atlético, estão sempre acompanhados pela sua
turma de amigos e são conhecidos também por suas muitas conquistas amorosas.
As meninas populares são aquelas que possuem uma beleza padrão imposta pela
sociedade, vestem roupas da moda, tem um bom relacionamento social com os
meninos populares e são protegidas pelos mesmos.
Os alunos neutros são os que por insegurança ou tentativa de se
socializarem, tentam manter uma ligação com os populares, porém não são íntimos
dos mesmos, e evitam o contato com os excluídos para não aborrecer os populares.
Os alunos excluídos são os que não estão de acordo com o padrão
estabelecido pela sociedade e pelo próprio ambiente escolar. Os pensamentos,
vestimentas e comportamentos desses alunos não são considerados bem vindos
pelos padrões impostos, por isso são as vítimas preferidas dos bullies.
Silva (2010) relata que não quer dizer que um popular sempre será um
praticante de bullying, mas pela influência que ele exerce no seu grupo de amigos e
até por ser querido por grande parte da escola, o mesmo pode praticar o bullying
35

através de suas ideias negativas que ele tem sobre os excluídos, deixando seu
grupo de amizades contra as vítimas.

Já aos excluídos cabe, quase automaticamente, exercer o papel de vítimas


nesse cenário trágico que é o bullying escolar. Aqui entra uma questão, no
mínimo, intrigante: ser diferente é sempre algo negativo? Definitivamente,
não! Ser diferente pode representar um papel difícil de se exercer em uma
sociedade que estimula e prega a massificação dos modos de vestir, agir e
pensar. (SILVA, 2010, p. 80)

Perante uma cultura imposta no ambiente escolar, onde quem se adapta ao


estilo dessa cultura é bem vindo, pode-se afirmar que os alunos são manipulados
para se adequar a esse padrão, comprando roupas da moda, ouvindo músicas de
um nível baixo, possuem ideologias preconceituosas em relação aqueles que não se
enturmam nesse padrão imposto pela sociedade e/ou ambiente escolar. Porém, ter
um perfil diferente dos outros alunos na escola não quer dizer que o mesmo não
possua habilidades, e que não possa ter sucesso na vida, nada é justificável para a
exclusão desses alunos.

No Brasil existe um Projeto de Lei (nº 350, de 2007) do deputado estadual


Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP), no qual o Poder Executivo fica
autorizado a instituir o Programa de Combate ao Bullying, de ação
interdisciplinar e de participação comunitária nas escolas públicas e
privadas do estado de São Paulo. (SILVA, 2010, p. 119).

Silva (2010) indaga que o poder político precisa tomar consciência dos
perigos e danos em que a violência causada pelo fenômeno bullying traz. A
elaboração de leis é uma providência em que precisa ser tomada, e junto com as
campanhas de combate ao bullying será uma grande utilidade para esclarecer para
crianças e jovens do ambiente escolar que o bullying não se trata de uma
brincadeira da idade, mas uma violência em que pode afetar a vítima de uma forma
tão profunda e levar de traumas psicológicos para o resto de sua vida e até mesmo
suicídio.

É preciso ainda reiterar a interferência drástica que o bullying produz no


processo de aprendizagem e de socialização de nossas crianças e jovens.
Para algumas vítimas, mesmo após a interrupção do bullying, as
consequências advindas dessa violência tendem a propagar por toda uma
existência, em decorrência das experiências traumáticas difíceis de serem
removidas da memória. Em casos mais graves, quando a violência é
intensa e contínua, a vítima pode chegar a cometer suicídio ou praticar atos
36

desesperados de heteroagressão e autoagressão (homicídio, seguido de


suicídio). (SILVA, 2010, p. 156).

Fante (2005) conta que existe um programa antibullying de sua autoria, o


mesmo chama-se “Programa Educar para a Paz”, é uma ação brasileira que tem o
objetivo de diagnosticar e prevenir o fenômeno bullying através de estratégias
psicopedagógicas nas escolas.
Silva (2010) afirma que as escolas no Brasil não estão totalmente
estruturadas para lidarem com as ações e consequências causadas pelo bullying, o
corpo docente não sabe em muitos casos como identificar e intervir, e essa situação
crítica em que as escolas brasileiras enfrentam se dá pelo fato do despreparamento
profissional, negação, comodidade, entre outros fatos.
Calhau (2010) relata que segundo uma pesquisa realizada pela ONG PLAN, o
método seguido pelas escolas tradicionais com o objetivo de punir o aluno em que
quebra regras, que incluí a prática de bullying, é a suspensão da criança ou
adolescente, ou reunião com pais junto ao corpo docente. Ficando claro que essa
estratégia não é o suficiente para o corte de laços de violências causados pelo
bullying. A pesquisa diz que as escolas brasileiras não têm métodos eficazes ao
ponto de amenizar o fenômeno bullying, talvez essas medidas sirvam para casos de
indisciplina na escola, mas não são suficientes quando se trata do bullying.
Chalita (2007) diz que através de uma pesquisa realizada pela Associação
Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), no
estado do Rio de Janeiro, foram entrevistados 5.875 alunos de onze escolas do
ensino de 5º ano à 8º ano, em relação ao bullying. No ato da entrevista houve uma
porcentagem de 40,5% que revelaram terem envolvimento direto à atos de violência
de bullying, onde as características que levavam aos alunos alvos da violência eram
deficientes físicos, obesos e raça.

No Brasil, não são incomuns casos de alunos que são flagrados dentro de
escolas com armas de fogo. Em 2003, em Taiúva (SP), um ex-aluno voltou
à escola e atirou em seis alunos e numa professora, que sobreviveram ao
ataque. Era ex-obeso e vítima de bullying, e após o atentado, cometou
suicídio. Em 2004, em Remanso (BA), um adolescente matou dois e feriu
três, após sofrer humilhações (era também vítima de bullying). Em 2008, um
adolescente de 17 anos no Rio de Janeiro morreu depois de ser espancado
na escola, por conta de um corte de cabelo. Os alunos tinham por
“brincadeira” dar socos em colegas o caso de novo corte de cabelo. Como a
vítima não gostou e reagiu, mais de dez alunos o agrediram e ele morreu
37

quatro dias depois, tendo como causa da morte contusão no crânio.


(CALHAU, 2010, p. 4).

Assim como Chalita (2007), Calhau (2010) também relata uma pesquisa
realizada pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à
Adolescência (ABRAPIA), que tem como objetivo mostrar dentro do ambiente
escolar os lugares comuns onde é praticado o bullying, os pontos escolares são:
sala de aula (60,2%), recreio (16,1%), portão (15,9%) e corredores (7,8%). Essa
pesquisa foi baseada nos estudos realizados pelo pesquisador Dan Olweus.
Calhau (2010) conta que trabalhou como Promotor de Justiça em Itanhomi
(MG), num determinado dia alguns pais achegaram até ele para se apresentar
contra a Diretoria da Escola pública. Os pais afirmavam uma história em que os
filhos quebraram os vidros da escola, mas que foi num ato de brincadeira e que
queriam a punição da Diretoria da escola e professores. Calhau ao ouvir o relato dos
pais, os aconselhou para que pagassem os vidros quebrados por seus filhos. Dentro
desse contexto, fica nítido à que nível muitos pais chegaram à relação em educação
de seus filhos, onde o ideal seria corrigi-los e fazê-los reconhecer seus erros, mas
em vez disso os pais viram-se contra a escola e apóiam os atos de indisciplina dos
jovens.
Calhau (2010) relata que através de uma pesquisa também desenvolvida pela
ABRAPIA, aponta que o bullying é mais frequente no Sudeste e Centro Oeste do
Brasil, envolvendo adolescentes de idade entre 11 a 15 anos, porém no momento da
entrevista quando lhes foi perguntado sobre o que os levam a sofrer ou praticar o
bullying, os alunos tiveram dificuldade em explicar.
Notamos que o bullying é uma realidade nas escolas e que a relação
pais/filho poderia contribuir para a diminuição desse ato que pode acarretar
consequências marcantes na vida de quem sofre o ato, conforme veremos a seguir.

2.2 CONSEQUÊNCIAS MARCANTES

Fernanda, desde muito nova, apresentava problemas com relação a seu


peso. No colégio, ela sempre recebia apelidos pejorativos do tipo “baleia”,
“balofa”, “bola”, “elefante”. Tanto os meninos quanto as meninas a
discriminavam por ser diferente do modelo “imposto” pelo grupo e evitavam
um contato mais estreito. Sua autoestima já se encontrava bastante
abalada, em função das constantes humilhações, o que a fazia travar
verdadeiras batalhas contra a balança. Aos 14 anos, Fernanda não
38

suportou a pressão e, para sua própria sobrevivência emocional, decidiu


emagrecer a qualquer custo. Ela descobriu na internet sites de
relacionamentos que ensinavam fórmulas “mágicas” para perder peso
rapidamente e tornar-se um “modelo” de beleza feminina. Grande cilada!
Sem que os pais percebessem, Fernanda passou a fazer dietas rigorosas,
com jejuns prolongados. Quanto mais emagrecia, mais pensava em
emagrecer de forma obsessiva. Aos 16 anos, a jovem se tornou uma
escrava da magreza “ideal”, inatingível e autodestrutiva. Ela sofria de
anorexia e estava sem as condições mínimas necessárias para ser
considerada uma pessoa saudável. Seu estado físico e mental exigia um
tratamento clínico, com acompanhamento psiquiátrico, psicológico e
nutricional. (SILVA, 2010, p. 38 e 39).

Muitos profissionais como diretores, professores, terapeutas e outros que


trabalham com crianças e adolescentes são informados de histórias como essa ou
piores. Devido à prática de bullying contra as vítimas, muitas consequências podem
afetar os mesmos, como: sintomas psicossomáticos, transtorno do pânico, fobia
escolar, fobia social (transtorno de ansiedade social – TAS), transtorno de ansiedade
generalizada (TAG), depressão, anorexia e bulimia, transtorno obsessivo-compulsivo
(TOC), transtorno do estresse pós-traumático (TEPT), e os menos frequentes
esquizofrenia e suicídio/homicídio.
As consequências citadas são na maior parte despertadas em crianças e
adolescentes que já possuem esses traços na genética, vindos dos pais ou parentes
bem próximos. Porém devido à pressão física e/ou psicológica em que a vítima de
bullying enfrenta pode vir a afetar a mesma, mesmo não sendo quadros
apresentados em seus fatores genéticos.

As consequências do bullying são terríveis para todos os envolvidos, mas,


em especial, para as vítimas.
Dentre as diferentes e variadas consequências encontradas em estudos de
casos e atendimentos clínicos, podemos mencionar que o estresse é
responsável por cerca de 80% das doenças da atualidade, pelo
rebaixamento da resistência imunológica e sintomas psicossomáticos
diversificados, principalmente próximos ao horário de ir à escola
(especialmente no caso de crianças menores), como dores de cabeça,
tonturas, náuseas, ânsia e vômito, dor no estômago, diarreia, enurese,
sudorese, febre, taquicardia, tensão, dores musculares, excesso de sono ou
insônia, pesadelos, perdas ou aumento de apetite, dores generalizadas,
dentre outras. Podem surgir doenças de causas psicossomáticas, como
gastrite, úlcera, colite, bulimia, anorexia, herpes, rinite, alergias, problemas
respiratórios, obesidade e comprometimento de órgãos e sistemas.
(CALHAU, 2010, p. 13 e 14).

Em casos mais graves a vítima pode chegar a cometer suicídio ou tratar


outras pessoas de forma violenta. As consequências que podem afetar a vítima são
39

relativas à sua vulnerabilidade perante da situação, a pressão psicológica que a


mesma está enfrentando, a frequência e intensidade das ações, ou seja, varia de
uma para a outra.
40

3. BULLYING X APRENDIZAGEM

As equipes docentes das escolas devem estar cientes profissionalmente de


que o bullying pode ser um dos motivos dos resultados não satisfatórios no processo
ensino/aprendizagem.

Para começar a virar esse jogo, as escolas precisam, inicialmente,


reconhecer a existência do bullying (em suas diversas formas) e tomar
consciência dos prejuízos que ele pode trazer para o desenvolvimento
socioeducacional e para a estruturação da personalidade de seus
estudantes. Bullying é um fato e não dá mais para botar panos quentes nas
evidências. (SILVA, 2010, p. 162).

Deve se dar uma atenção significativa em relação ao bullying, sendo assim os


profissionais precisam ter um apoio para uma capacitação em relação a violência,
onde pode ser possível que os mesmos tenham a facilidade de reconhecer as
formas de bullying, personagens envolvidos, causas, consequências e como intervir
diante as ações.
As escolas têm toda a autonomia de fazer uma discussão sobre o tema entre
seus profissionais, logo após incluir a participação da comunidade, iniciando projetos
e programas de conscientização, intervenção e amenização do problema. Todo
apoio e conhecimento são válidos e consequentemente torna os projetos mais
estruturados em termos de profissionalismo, por tanto não só educadores devem ser
participantes, mas também profissionais especializados no tema, como pediatras,
psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais.
Toda ajuda especializada sobre o tema é de extrema importância, pois quanto
antes às raízes dessa maldade possam ser descobertas melhor. Quando não se
está ciente das agressões o tempo torna-se um aliado dos bullies e contra a vítima,
que por sua vez o tempo é torturante devido às violências sofridas.

[...] e quando se trata de bullying, o tempo sempre trabalha a favor dos


agressores e contra as vítimas, que, na maioria das vezes, vêem com
perplexidade suas vidas sendo destruídas em uma velocidade assustadora.
(SILVA, 2010, p. 162 e 163).

As escolas devem tomar providências que facilitem o reconhecimento do


bullying no ambiente escolar, podendo realizar uma pesquisa eficaz entre seus
41

alunos através de autobiografias anônimas, onde os mesmos possam expressar os


sentimentos contidos para si mesmos, e consequentemente em caso de bullying
cessar o silêncio mantido e relatar as agressões que tem enfrentado até então.
Essas biografias de autoria dos alunos podem ser enviadas para um endereço de e-
mail criado pela própria instituição de ensino e a partir daí serem tomadas medidas
profissionais para o combate ao bullying presente na escola.
Outras estratégias também podem ser feitas, uma delas é a realização de um
teatro entre os alunos, com papéis de mocinhos e vilões, é distribuídos os papéis
para os alunos, e estipulado um tempo para o estudo dos mesmos. Quando o dia da
apresentação chega é pedido para os alunos que os papéis sejam invertidos,
mocinhos tornam-se vilões e vice-versa, o nome desse exercício chama-se “Se eu
fosse você”, é necessário que o aluno 1 coloque-se no lugar do aluno 2 e encene o
papel, e não como o aluno 1 faria, mas espelhando-se no aluno 2. As cenas podem
ser baseadas em filmes que contenham preconceito, falta de afeto e intolerância,
esse exercício tende a mostrar com clareza os respectivos lugares de cada aluno
mediante as situações apresentadas.
O vídeofeedback também é uma estratégia eficaz, onde as cenas teatrais do
“Se eu fosse você” são gravadas, e em seguida são mostradas para os alunos e
observadas às expressões faciais, posturas e reações dos mesmos. Uma imagem
vale mais do que mil palavras e no caso dos alunos não é diferente, a ausência de
facilidade em se autoavaliar entre os jovens é normal nessa fase, pois a identidade
dos mesmos ainda está em construção, passando por mudanças cerebrais e
hormonais. Porém esse exercício deve ser realizado por um profissional
especializado e que tenha domínio sobre todo o andamento na execução do
exercício, para que não seja causado nenhum tipo de constrangimento em algum
aluno, expondo sua imagem de maneira que traga alguma atitude de bullying no
grupo de alunos, já que a intenção é o inverso, combater a violência e não alimentá-
la ainda mais. Essa estratégia deve ser usada apenas para esse tipo de objetivo
(combate ao bullying) e não para outros fins.
Silva (2010) explica que as mudanças depois da dinâmica vídeofeedback não
demoram a aparecerem, os agressores que encenaram no lugar das vítimas passam
a tomar consciência do mal em que o bullying afeta as vítimas, e passam a dar apoio
42

dentro e fora do ambiente escolar para aqueles que um dia foram seus alvos de
bullying.
Quando o bullying é identificado na escola o primeiro procedimento em que
pode ser tomado é realizar entrevistas individuais com os alunos. O entrevistador
precisa dominar o tema e mostrar compreensão para a vítima, deixando claro de que
o mesmo está disposto a ajudá-la. É necessário passar confiança, para que a vítima
se sinta segura o suficiente, ao ponto de se abrir contando os fatos vivenciados. Não
se deve tomar nenhuma atitude diante da vítima, criticar ou mostrar superproteção
pode fazer com que a mesma se retraia ou fique mais vulnerável em relação ao
bullying.
Quanto aos agressores, o entrevistador também não deve demonstrar
nenhuma postura crítica, o mesmo deve mostrar-se compreensivo e acolhedor,
porém expondo as consequências causadas pelas atitudes do agressor quando
pratica o bullying. É aconselhável que as entrevistas comecem com o líder do grupo
que pratica o bullying, pois sem os seus seguidores submissos ao seu lado o mesmo
perde o equilíbrio de poder de intimidação psicológica e/ou física.
As entrevistas com os envolvidos nos casos de bullying nas escolas, com
suas orientações e prevenções dadas pelo entrevistador, são o suficiente para
cessar as práticas de violência pelos agressores.
Silva (2010) explica que professores e outros profissionais que trabalham com
crianças e jovens devem tomar conhecimento do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), onde através do mesmo possam ficar atentos e informados em
relação as atitudes diárias em que presenciam e também as consequências que
afetam os envolvidos.
Existem casos em que o poder de domínio do agressor é tão intenso que é
capaz de passar dos limites e fugir do controle dos profissionais que estão
trabalhando para cessar a violência. Quando isso acontece, as dinâmicas e métodos
apresentados até então não são o suficiente para cessar os atos, por tanto é preciso
buscar outros auxílios, como o conselho tutelar.

Infelizmente, por vezes, deparamo-nos com situações em que a postura dos


agressores é mais resistente e/ou francamente transgressora. Nesses
casos, faz-se necessário ir além do diálogo no território escolar, e buscar
auxílio de outros profissionais ou de instituições comprometidas com a
proteção integral de crianças e adolescentes. Em primeira instância, deve-
43

se recorrer a um Conselho Tutelar, que poderá orientar os alunos e


familiares. (SILVA, 2010, p. 167).

Schelb (2007) diz que os profissionais da educação devem estar atentos e


informados sobre o tema bullying, não apenas intervir para cessar as ações do
fenômeno, mas ajudar a vítima a construir sua autodefesa, onde a mesma tenha
autonomia suficiente para contar qualquer laço que a torne um alvo fácil de agressão
dos bullies. Para esse procedimento é preciso uma ação preventiva e diálogos
contínuos entre professor e alunos sempre que necessário.
O bullying precisa ser estudado antes de qualquer atitude ser tomada, pois
sem conhecer as causas que o originou e seu nível não são possíveis detê-lo.
Procurar apenas o auxílio do conselho tutelar, Poder Jurídico, entre outros não será
o suficiente para cessar as ações, pois esses mesmos poderes impõem medidas
que não serão seguidas por muito tempo, exatamente por não conhecerem seu
histórico de violência. É preciso então que tenha a contribuição daqueles que estão
presenciando o bullying, só assim unindo as forças profissionais é possível combater
as ações pejorativas do fenômeno.

Compreender a dinâmica desse fenômeno é importante para controlá-lo.


Será que o conselheiro tutelar, assistente social, membro do Ministério
Público ou Poder Jurídico saberá lidar de forma efetiva e adequada com
essa situação? Estamos preparados para dar uma resposta efetiva para
reduzir o bullying?
Sem procurar entender as origens do problema e seu funcionamento a
resposta dos agentes do Estado pode mais agravar do que resolver a
situação.
O motivo é simples: imposições externas tendem a não ser seguidas a
médio e longo prazo pelos jovens e adolescentes (e nem com adultos)
quando não partem de um consenso com o grupo envolvido. (CALHAU,
2010, p. 108).

Mesmo depois de todo o planejamento ser seguido no combate ao bullying


pode vir a acontecer das agressões continuarem a serem cometidas, nesse caso é
aconselhável que se acione o Conselho Tutelar e o Ministério Público.
A polícia também é um poder que pode participar no acompanhamento,
porém a presença da mesma pode causar retraimento dos alunos envolvidos,
tornando-se consequentemente em um obstáculo no processo de aniquilar o
bullying.
44

Calhau (2010, p. 110) aponta outras estratégias podem ser utilizadas na


intervenção e prevenção do bullying, como por exemplo:

a) formação de conselhos anti-bullying, formados por representantes dos


professores, servidores da escola e dos alunos, com o fim de avaliar as
medidas que podem ser adotadas para impedir o bullying;
b) formação de peças de teatro e concursos de redação, poesias ou de
músicas: como forma de estimular a reflexão e o engajamento dos alunos;
c) emissão de um boletim: a escola deve firmar posição clara para toda a
comunidade (interna e externa) contra o bullying, e de preferências,
aproveitamento de artigos dos alunos;
d) organização dinâmica de grupos sobre os temas “tolerância” e
“solidariedade”: podem ter como ponto de reflexão filmes que tratem
também do bullying e que são expostos em um dos capítulos deste livro;
e) testemunhos de ex-bullies: isso é muito interessante, pois faz com que os
alunos se sintam motivados a “mudar de lado” em caso de serem bullies;
f) faça parcerias com outras escolas, com o Conselho Tutelar e com o
Ministério Público: envolver esses profissionais e outras instituições agrega
muito conteúdo para as iniciativas.

Dado como um exemplo, os atos podem acontecer sem violência dentro da


escola e com violência na saída do ambiente escolar, não significa que não esteja
acontecendo bullying dentro da mesma, pois essa transição também faz parte do
fenômeno de violência denominado bullying. A gestão escolar é responsável no
papel de controlar as agressões de bullying, mesmo quando as mesmas acontecem
na saída da escola.

Recentemente, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territótios


(TJDFT), em um recurso de apelação civil, condenou uma escola a
indenizar a família de uma vítima de bullying no pagamento de uma
indenização no valor de R$ 3.000,00 a título de danos morais. (CALHAU,
2010, p. 41).

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios afirmou que o aluno foi


vítima de agressões físicas e verbais de outros alunos durante todo o ano letivo de
2005. A escola tentou acobertar a situação que vinha acontecendo, porém sem
sucesso, já que as agressões se estenderam por todo o ano letivo escolar.
Aparentemente a gestão escolar não conseguiu cortar os laços firmados de bullying
ali presentes porque no próprio ambiente escolar não era posto em prática a
inclusão social, inclusive no caso de alunos vistos como diferentes.

A interiorização de tais conhecimentos e experiências vividas se processa,


primeiro no interior da família e do grupo em que este indivíduo se insere, e
45

depois, em instituições como a escola. No dizer de Helder Baruffi, “Neste


processo de socialização ou de inserção do indivíduo na sociedade, a
educação tem papel estratégico, principalmente na construção da
cidadania” (CALHAU, 2010, p. 41 e 42).

Calhau (2010) explica que ato infracional e bullying não é a mesma coisa,
porém no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o bullying é classificado um
ato infracional.

Muitas vítimas passam a ter baixo desempenho escolar, apresentam queda


no rendimento escolar, déficits de concentração, prejuízos no processo de
aprendizagem, resistem ou recusam-se a ir para a escola, trocam de
colégios com freqüência ou abandonam os estudos. No âmbito da saúde
física e emocional, a vítima acaba desenvolvendo uma severa depressão,
estresse, pânico, fobias, distúrbios psicossomáticos, podendo chegar a
tentar ou cometer o suicídio (FANTE, 2005 p. 89).

No ambiente escolar existe uma diversidade de problemas para serem


resolvidos durante o ano letivo, mas é preciso que o olhar de afetividade e o cuidado
para realização de um bom trabalho estejam presentes nos docentes, podendo
servir como vantagem para mudanças positivas na educação. A formação
continuada sendo aderida pela equipe pedagógica da escola pode ser muito eficaz
para auxiliar na identificação e combate ao bullying, pois os alunos que praticam as
ações de agressão, em muitos casos tomam cuidado para que o olhar dos
profissionais da educação não esteja presente sobre eles no momento do ato e se
as vítimas nesse caso não manifestam o que está ocorrendo, essas ações podem
afetar no seu processo ensino/aprendizagem, trazendo baixo rendimento escolar.

3.2 O PAPEL DO PROFESSOR

Infelizmente muitos professores e funcionários na escola são faltosos em dar


atenção quando se fala no bullying, e consequentemente os alunos que são vítimas
das agressões por se sentirem incapazes de se defenderem acabam desistindo dos
estudos, pois se vêem sozinhos, não podendo contar com os profissionais da escola
nesse caso.
46

Adolescentes vítimas do bullying geralmente são pessoas com dificuldades


para reagir diante das situações agressivas, retraindo-se, o que pode
contribuir para a evasão escolar, já que, muitas vezes, não conseguem
suportar a pressão a que são submetidos. (MARRIEL, 2006, p.37).

Marriel (2006) afirma que sozinho o professor não conseguirá facilmente o


sucesso contra a violência escolar, por tanto é indispensável a colaboração de toda
a gestão escolar e pais dos alunos. Quando é praticada a afetividade entre
professores e funcionários para com os alunos o ambiente escolar torna-se um lugar
agradável e passa a se estabelecer um ambiente de paz e diálogo, mas se o inverso
acontece, a escola torna-se um lugar de conflitos, violências e um ambiente de
desequilíbrio emocional onde dificulta a convivência entre os que ali estão. O
investimento na relação professor-aluno é um dos itens que devem ganhar destaque
para que haja melhoria, pois os professores criando um vínculo de afeição e
compreensão com seus alunos, torna-se mais fácil quando for necessário observá-
los ou estabelecer um diálogo, pois os laços de uma relação de paz estão
estabelecidos entre ambos e até mesmo na contribuição da formação de futuros
cidadãos e estimulação da auto estima de seus alunos. A formação continuada dos
professores precisa ser valorizada e dada a devida importância, pois caso os
professores não estejam preparados o suficiente para receber seus alunos em
termos de cessar conflitos entre os mesmos, a ausência de conhecimento no
assunto e as atitudes sendo tomadas de maneira errada pode aumentar ainda mais
a violência escolar. Os professores não estão capacitados o suficiente para lidar
com o bullying escolar, para as vítimas do fenômeno só há algumas alternativas a
escolher: sofrer em silêncio as agressões até que um dia sintam-se exaustas da
situação e tornem-se as futuras agressoras, desistir de frequentar a escola ou dão
um fim em suas vidas de maneira trágica.
O bullying nem sempre deixa marcas visíveis onde se podem ter provas de
sua prática, porém com a atenção e dedicação dos profissionais que trabalham com
crianças e jovens é possível identificar a presença do fenômeno.

Infelizmente, são poucos os alunos alvos que procuram os educadores


reclamando da situação vivenciada e pedindo ajuda. Vivendo sob ameaças
e intimidações, o medo do autor invade o aluno alvo, que por conseqüência,
contribui para que impere a lei do silencio e seu contínuo sofrimento pela
vivencia do bullying. Algumas vezes os docentes até percebem as
movimentações do bullying entre os alunos, no entanto, como não há
47

reclamações ou pedidos de ajuda dos alunos, comumente, passam a


entender como um gesto exclusivo de indisciplina. (OLIBONI, 2008, p. 92).

Pereira (2002) explica que muitas vítimas de bullying sofrem em silêncio por
um longo tempo sem que nenhum profissional na escola note o que está ocorrendo,
o que leva as mesmas a não contar a ninguém sobre seu sofrimento é a
insegurança em não confiar nas pessoas, e por não conseguirem superar os
episódios de violência chegam a preferir a morte a carregarem consigo o peso do
sofrimento vivenciado.
Silva (2010) cita um exemplo de relatório que pode ser usado pelo professor
para o preenchimento individual de cada aluno na identificação de possível violência
de bullying. O relatório apresenta várias características de atitudes do aluno e o
professor deve assinar aquelas que a criança/jovem apresenta, tais como
isolamento do aluno dos demais alunos na sala de aula e no recreio, se o mesmo é
alvo de apelidos e implicâncias incessantes, se apresenta sinais de tristeza, mau
humor, agressividade, se houve num curto tempo a queda no seu rendimento
escolar, se apresenta hematomas pelo corpo, se em sua expressão facial há algum
tipo de sentimento como medo, angústia, etc.
Silva (2010) explica que o relatório em que ela aponta não é o suficiente para
o diagnóstico definitivo de bullying, mas é um dos materiais em que pode ser usado
no reconhecimento do fenômeno.
É necessário um diagnóstico profundo na identificação do bullying, pois nem
todos os casos de violência existentes nas escolas são causados pelo bullying, por
isso a avaliação deve ser cuidadosa para que não se obtenha resultados
precipitados.
O professor pode não ser o único indicado culpado da existência do bullying
em sala de aula, porém o mesmo está vinculado ao fenômeno por ser o responsável
sobre a sala de aula.

Ter consciência de que o papel do professor é de extrema importância para


se obter na sala de aula um clima de respeito mútuo, fazendo com que os
alunos entendam a importância de se respeitar o colega, de se dialogar ao
invés de ofender e brigar é fundamental ao educador e futuro educador.
(SANTOS, 2007 p. 45).
48

A convivência no ambiente escolar pode interferir de forma positiva ou


negativa no processo ensino/aprendizagem, muitos alunos passam a maior parte do
seu dia dentro da escola, portanto o professor torna-se um modelo de exemplo para
os mesmos. O comportamento do professor na presença dos alunos é observado
pelos mesmos, pois ficam atentos à todos os detalhes em que o professor reproduz.
A diversidade deve ser abordada em sala de aula, para que os alunos percebam e
reflitam sobre o tema e suas implicações no meio do caminho quando a mesma não
é aceita e respeitada.

Sabemos que o papel dos professores é fundamental para a detecção


precoce dos casos de bullying. Em geral, são eles que mantêm a
observação mais privilegiada das interações pessoais que ocorrem entre os
alunos de uma mesma classe. O ideal é que eles anotem na ficha individual
do estudante suas impressões e percepções sobre aqueles que despertem
sua atenção. Para facilitar o trabalho dos professores, a escola pode
providenciar uma folha de apontamentos, em que estejam listados diversos
indicativos do comportamento bullying, para que o professor assinale os que
se aplicam a cada aluno. Com a sobrecarga de trabalho enfrentada pelos
professores, esta sistematização será uma grande ajuda. (SILVA, 2010, p.
164 e 165).

Lobo (1997) afirma que o professor em sua postura pode abrir portas para
conflitos de bullying entre os alunos, como piadas contadas e apelidos que as
crianças e jovens usam em um determinado aluno. Se o professor ri participando
desses momentos ou ele mesmo põe apelidos pejorativos em alunos, o mesmo
pode não saber, mas está consequentemente deixando o bullying estar presente em
sua sala de aula. Uma vez que o professor não deve ser um contribuidor do bullying,
mas impedir que o fenômeno esteja presente na vivência escolar de seus alunos.

Muitas coisas importantes na vida se aprendem quase inconscientemente,


por imitação de modelos (aprende-se a ser homem ou a ser mulher;
aprende-se até mesmo a ser professor...; repetem-se condutas vistas em
outros, internalizadas, aprovadas pela cultura ambiental). (MORALES, 1999,
p. 22).

Morales (2004) explica que muitos conteúdos são aprendidos pelos alunos
mesmo quando não foi proposital do professor ensinar. “[...] o que se ensina sem
querer ensinar e o que se aprende sem querer aprender pode ser, com frequência, o
mais importante e permanente do ensino-aprendizagem [...]”. (MORALES, 2004, p.
16).
49

O processo ensino/aprendizagem não é apenas realizado pela comunicação


de palavras e atitudes entre professor e aluno, mas por aquilo que não é dito e feito,
esse processo pode ser um contribuidor tanto positivo ou negativo para os alunos,
pois os mesmos são influenciados por seu professor. A relação professor-aluno é
um eficiente aliado para que se estabeleça um ambiente de paz em sala de aula,
pois o professor é o mediador em sala de aula, onde sua relação entre os alunos
pode firmar um ambiente de respeito, compreensão, amizade, como também pode
ser um ambiente de intriga, rivalidade, preconceito.
A relação professor-aluno pode ser um fator essencial para contribuir no
processo ensino/aprendizagem, uma vez que o professor cria um vínculo com seus
alunos, mostrando que ele está junto dos mesmos e não contra eles.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a pesquisa realizada nossos questionamentos foram respondidos,


observando que o bullying existe na escola e que pode afetar o psicológico do aluno
e consequentemente influenciar no processo ensino/aprendizagem, pois o aluno
pode sentir-se desmotivado e teme contar para o corpo docente da escola ou os
pais, por medo de que o problema não seja solucionado ou até mesmo por sentir-se
constrangido pela situação em que se encontra, o aluno nos casos mais comuns
tende a guardar os relatos para si próprio, o que só beneficia o agressor, que por
sua vez não sendo descoberto e detido, continua a praticar o bullying contra a
vítima. Porém, verificamos que existem variações ao comportamento das vítimas,
podendo silenciar-se em relação ao problema ou em outros casos a mesma pode
revidar, rebatendo as agressões ao bullie ou até mesmo agredir uma nova vítima
mais frágil que a mesma, com a intenção de descontar e aliviar sua dor, mesmo que
a nova vítima não tenha lhe feito nada, esse processo torna-se um ciclo vicioso,
onde não há fim, pelo contrário, há sempre novas vítimas e agressores. A vítima que
opta pelo silêncio pode ser um caso mais perigoso, pois a mesma pode não
aguentar enfrentar o problema em silêncio e consequentemente desenvolver
problemas de saúde como depressão, anorexia, fobia escolar e/ou social, ansiedade
e em casos mais graves podem acabar cometendo suicídio/homicídio.
Aprendemos que o corpo docente deve estar atento ao que ocorre com seus
alunos, pois a resposta para o fracasso do desempenho escolar está nas entrelinhas
do perfil de cada aluno, não apenas em relação ao aprendizado das crianças e
jovens, mas para a melhor segurança física e psicológica. A gestão escolar deve
investir na realização de programas de combate e prevenção de bullying no
ambiente escolar, dando autonomia para debates sobre o bullying entre o corpo
docente e a comunidade, capacitação para os professores com relação ao tema,
procurando parcerias com profissionais que trabalham na educação ou que também
trabalham com crianças e jovens, como pediatras, psiquiatras, psicólogos e
assistentes sociais.
Entendemos que, em sala de aula o professor deve ser cauteloso em seu
comportamento na presença dos alunos, pois suas atitudes podem cortar laços de
ações de bullying ou alimentá-lo, sendo possível através do comportamento do
51

professor até iniciar a presença do fenômeno, que até então não existia. Isso é
possível porque o professor pode exercer influência sobre seus alunos, podendo ser
positiva ou negativa. Nota-se que o silêncio do professor frente às atitudes de
desrespeito, violência física e/ou psicológica entre os educandos, seja através de
piadas, apelidos ou algo do gênero, também pode influenciar a repetição dessas
ações ou até mais graves, por tanto, o professor deve praticar o respeito ao próximo,
deixando claro que atitudes que venham deixar algum colega de classe
constrangido, mesmo denominando as atitudes como brincadeiras, não serão
aceitas, desenvolver atividades em grupo para o desenvolvimento da socialização
entre a sala e deixar visível que o professor está junto deles e não contra, agindo
dessa forma pode possibilitar a construção de um vínculo com a classe, podendo
haver uma melhoria na relação professor-aluno, que através disso poderá ter um
ambiente de paz na sala de aula e propício para um melhor aprendizado.
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