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Pedagogia
SÃO ROQUE/SP
2016
JULIANA APARECIDA VIEIRA
SÃO ROQUE/SP
2016
A INFLUÊNCIA DO BULLYING NO PROCESSO ENSINO/APRENDIZAGEM
POR
Comissão julgadora
Orientador: __________________________________________
Profª Esp. Tágides Renata de Mello
__________________________________________
Profª Ms. Delly Danitza Lozano Carvalho
A Deus, que me deu condições para realização de mais esse sonho, a minha
família, pelo apoio e carinho, aos meus professores acadêmicos, que com
profissionalismo e dedicação contribuíram para minha melhor formação, aos amigos
professores que fiz durante o curso, onde me ofereceram ajuda, conselhos e até
mesmo um ombro amigo.
“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros
desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são sob
controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde
quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram
de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que
elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos
pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso, elas não
podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O
vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.”
Rubem Alves, 2004, p. 7.
RESUMO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................8
2. O BULLYING X ESCOLA.......................................................................................28
2.2 CONSEQUÊNCIAS MARCANTES......................................................................37
3. BULLYING X APRENDIZAGEM.............................................................................40
3.2 O PAPEL DO PROFESSOR................................................................................45
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................52
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INTRODUÇÃO
O fenômeno bullying, pode ser um ato de violência física e/ou verbal, onde
pode trazer diversas consequências, na maior parte do público quando se refere à
vítima, a mesma tende a guardar para si todas suas emoções, devido ser um alvo de
violência para seu agressor. Sendo assim, a vítima passa a carregar apenas para si
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aquilo que deveria dividir com seus pais e a equipe pedagógica da escola em que
estuda, porém a mesma pode optar por não compartilhar com ninguém, muitas
vezes por medo, receio, insegurança de contar para alguém e que o problema se
agrave ainda mais ao invés de ser resolvido.
Uma das causas do fracasso escolar dos alunos pode ser devido a reação
dos mesmos em se manter em silêncio perante o bullying em que sofre. A criança
pode passar a ter uma baixa auto estima, faltas excessivas nas aulas e ausência de
comprometimento e interesse com suas tarefas escolares.
Acredita-se que este trabalho trará grande contribuição acadêmica para o
leitor. Abordaremos o conceito de bullying, os cuidados em que o professor deve ter
em seu olhar perante o aluno que se encontra com dificuldades na aprendizagem e
os conflitos de emoções negativas em que o bullying causa na criança e que
consequentemente refletem no desempenho escolar da mesma.
Após leituras realizadas sobre o bullying, algumas perguntas foram lançadas
e com base nos materiais científicos relacionados ao tema, iremos responder
durante o desenvolvimento deste trabalho. As perguntas questionadas são:
O bullying pode influenciar no processo ensino/aprendizagem?
O bullying é uma das causas que pode comprometer o desenvolvimento do
aluno no processo ensino/aprendizagem?
O fenômeno bullying pode provocar a baixa auto estima no aluno?
O bullying pode trazer danos psicológicos para a vítima, que podem perdurar
por longo prazo de sua vida?
O professor pode influenciar para que o bullying aconteça em sala de aula?
Temos como objetivo geral explorar as causas da agressividade, suas
consequências e como lidar com a situação, com o intuito de fechar as portas para
esse fenômeno denominado bullying no ambiente escolar. Para responder nosso
problema e alcançar o objetivo proposto, nosso trabalho ficou assim estruturado:
abordaremos no capítulo 1 o conceito e história do bullying e suas formas e causas
mais comuns; no capítulo 2 o bullying x escola e as consequências marcantes das
ações e no capítulo 3 o bullying x aprendizagem e o papel do professor.
Esta pesquisa será desenvolvida com levantamento bibliográfico com autores
como Lélio Braga Calhau, Ana Beatriz Barbosa Silva, Cleo Fante, e não conta com
pesquisa de campo.
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Existem alguns critérios básicos, que foram estabelecidos pelo Dan Olweus,
da Universidade de Bergen, Noruega (1978 a 1993), para identificar as
condutas de bullying e diferenciá-las de outras formas de violência e das
brincadeiras próprias da idade. Os critérios estabelecidos são: ações
repetitivas contra a mesma vítima num período prolongado de tempo;
desequilíbrio de poder, o que dificulta a defesa da vítima; ausência de
motivo que justifique o ataque. Acrescentamos ainda que deva levar em
consideração os sentimentos negativos mobilizados e as seqüelas
emocionais, vivenciados pelas vítimas de bullying. (CALHAU, 2010, p. 7).
Fante (2005) ainda afirma que os agressores agem como se a ação não
passasse de brincadeiras, porém deixam o verdadeiro sentido da ação em oculto,
para que não sejam descobertas em seus verdadeiros propósitos e intenções.
Calhau (2010) explica que para a Associação Brasileira Multiprofissional de
Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), não temos no Brasil uma palavra
exata que possa suprir definitivamente todas as ações e transtornos em que o
bullying acarreta, portanto quando se trata desse ato temos um vocabulário
diversificado em que estão ligadas a cada expressão de violência, tais como: colocar
apelidos, ofender, encarar, amedrontar, chutar, furtar, excluir, entre outros.
Calhau (2010) ainda afirma que para diferenciar o ato de bullying de
brincadeiras é necessário estabelecer o conceito de que não existem brincadeiras
quando alguém está sofrendo com a situação, ou seja, a partir do momento em que
se torna constrangedor para aquele em que se está sendo voltada a ação não pode
ser classificada como tal, mas sim como um ato de bullying, e que haja antes de
qualquer ação o bom senso para dirigir-se a alguém para realizar uma brincadeira.
Ou seja, se tratando de um comentário, deve-se pensar antes de tudo se o que
iremos pronunciar não irá afetar moralmente e/ou psicologicamente a pessoa
mencionada.
Silva (2010) afirma que o bullying é um fenômeno no qual não acontece só
dentro da escola, mas nos arredores da mesma. Nesse amplo espaço em que o
bullying predomina, consequentemente abrem-se oportunidades de ocorrências de
violência que por sua vez tratando-se de violência física ou não causam traumas
psicológicos as vítimas, porém se a segurança pública encarasse o bullying como
uma ação de violência e desrespeito oficial, evitar-se-iam os casos entre
adolescentes em que são relatados sobre assassinatos, suicídios e graves
hematomas deixados pelo corpo da vítima.
Fante; Pedra (2008) nos diz que se deve ficar atento as sequelas deixadas
pelo bullying, pois a violência não deixa apenas marcas visíveis.
Existem os ataques psicológicos, afetando o emocional da vítima, onde deixa
danos negativos, em que a vítima pode optar por transparecer que é uma
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consequência obtida pelo bullying, ou a mesma pode não contar sobre o ocorrido e
sofrer calada.
Calhau (2010) afirma que existe o bullying por omissão, onde não há sinais de
violência física, o bullie ignora a vítima de maneira que envolve os demais colegas
de classe, os induzindo a excluir o alvo. O professor ao pedir que formem grupos
para a realização de alguma atividade, os integrantes induzidos pelos causadores de
bullying o desprezam, causando constrangimento e queda de autoestima no aluno
ali excluído, assim os grupos vão se formando, a vítima é escolhida por último ou o
professor toma a atitude de encaixar o aluno em algum dos grupos já formados. Em
situações como essa, além do constrangimento do aluno excluído ser visível,
também deixa transparecer que o mesmo não é popular e acolhido pelos demais
colegas da sala de aula.
O bullying por omissão é muito usado pelo sexo feminino, onde é quase
impossível de ser identificado. O ato de bullying por omissão, de início pode
transparecer que não é prejudicial, mas com as agressões feitas paulatinamente
podem afetar a vítima, de maneira que causam danos psicológicos com o passar do
tempo.
Conforme Simmons (2004) por usarem de doçura aos olhos dos adultos, as
agressoras agem por gestos, passam entre elas bilhetes com conteúdos de ofensa
diretamente ou indiretamente para o alvo, discretamente pressionam a vítima nos
corredores da escola, onde agridem com piadas de mau gosto, ou ações desse
mesmo porte e saem sorrindo, amenizando ali a situação pesarosa ao público
existente, mas para a vítima causa grandes danos psicológicos.
Silva (2010, p. 21) diz que:
para lidar com o problema, sendo assim o ato continua a firmar raízes por todo o
país.
Calhau (2010) explica que uma das consequências graves que o bullying
acarreta é que quando ele ocorre não termina após o agressor deixar de torturar a
vítima, mas a violência em si quando cometida ocasiona diretamente a qualidade de
vida da vítima.
Em respeito à vítima, Calhau (2010) afirma que é comum que a mesma
mantenha-se em silêncio, pois na maior parte as agressões são morais e não
físicas, portanto não ficam visíveis ao público espectador. A vítima tem dificuldade
em falar das humilhações em que enfrenta por temer que o problema não seja
resolvido, podendo assim apenas aumentar os danos por ser revelado ao público.
Outras vítimas temem a reação contraditória dos pais, e por fim existem muitas
outras vítimas que temem que a escola não possa fazer nada para ajudá-las em
suas situações desconfortáveis.
As vítimas geralmente sentem-se infelizes, não estando satisfeitas consigo
mesmas. Em muitas vezes os alvos de bullying acham que todos estão contra elas,
onde todas as práticas escolares que envolvem competições, regras, e afins,
ocasionam em mais desmotivação para as vítimas.
rasgadas, detalhes esses que são causados infelizmente pelo bullying. A vítima é
alvo central de violência dos bullies.
A vítima típica tem vários aspectos que podem ser observados para identificá-
la, os mesmos aspectos são classificados como uma marca, que os diferencia dos
demais alunos, onde indica que a mesma pode ser um alvo fácil de violência.
Algumas das características em que são comuns entre as vítimas são: baixa
autoestima, dificuldade em interagir em grupos, falta de coordenação motora,
orientação sexual, deficientes físicos, alterações de peso tanto para mais como para
menos, etc.
Silva (2010) afirma que as vítimas provocadoras são classificadas aqui como
imaturas, impulsivas e hiperativas, onde sem intenção através dessas características
que carregam, tornam o ambiente escolar mais agitado, onde despertam o interesse
no agressor em manifestar um conflito contra a vítima. Quando são atingidas
rebatem as atitudes através de insultos, xingamentos, porém não conseguem atingir
à altura do agressor, sendo assim terminam sem sucesso, trazendo apenas tumulto
diante a situação. Pelas características que carrega, a vítima é reconhecida como a
principal culpada pelo transtorno causado, e o agressor por sua vez continua no
anonimato, livre para continuar suas ações de violências transmitidas pelo fenômeno
bullying.
A vítima provocadora pode ter TDAH, ou seja, é agitada, intromete-se em
assuntos em que não está ligada a mesma, tem dificuldade de concentração,
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[...] quem está familiarizado com o assunto sabe que o portador de TDAH,
principalmente quando predomina o lado impulsivo e hiperativo, não
consegue parar quieto na carteira, corre de um lado para outro, vive a “mil
por hora”, é impaciente, dá respostas impensadas, é “abelhudinho” e
intromete-se nos assuntos sem ser chamado. Isso porque sua mente é
inquieta, veloz, não para nunca, como se estivesse plugada na tomada o
tempo todo. E é exatamente por essa velocidade em seus pensamentos
que muitos não conseguem se concentrar no que o professor está falando
ou apresentam dificuldades na aprendizagem. Porém, a impulsividade de
um TDAH (seja ela física ou verbal) não está associada a falta de caráter,
má educação ou intenções maldosas, mas ao funcionamento mental que
não permite o controle dos impulsos de forma adequada. Isso,
invariavelmente, ocasiona “gafes” sociais e dificuldades nos seus
relacionamentos interpessoais. (SILVA, 2010, p. 41).
Calhau (2010) ainda aborda que na vida real o bullying tem como ser detido e
colocado um ponto final, já na internet não há fim, e fica no anonimato sempre, como
uma sombra.
Ainda que a tecnologia tenha tido um grande avanço, a investigação pelo
poder jurídico em relação ao cyberbullying requer detalhes para se chegar ao bullie
em que deu origem as agressões e assim poder tomar providências e cessar a
violência.
A “bofetada feliz” (happy slapping) é uma prática cruel de bullying (real) que
se mistura ao cyberbullying (virtual). No entanto, os agressores atacam uma
vítima com bofetadas sendo que um comparsa fica a uma pequena
distância filmando as agressões com câmera de vídeo de um telefone
celular.
O vídeo com as agressões são imediatamente postados em redes sociais
(ou enviados para telefones celulares) e visualizados por centenas ou
milhares de pessoas em pouco tempo. Infelizmente, tem se tornado comum
no Brasil também.
Segundo Silva (2010), o uso inadequado da internet tem levado muitos para
um caminho de grandes problemas, onde pessoas inocentes acabam sendo
culpadas. É o caso do cyberbullying, em muitos casos o e-mail particular da vítima
chega a ser clonado pelos bullies, onde as mesmas passam a enviar mensagens
pejorativas para outros colegas como se fosse a vítima o autor de todo o transtorno.
Em outros casos os bullies criam perfis e páginas em redes sociais onde
destacam suas vítimas de forma constrangedora, onde através desses meios os
bullies falam e incentivam os internautas participantes daquela rede social a ajudá-
los a deixar suas vítimas humilhadas e com baixa autoestima, criando páginas com
algo relacionado a beleza física, como votações para saber quem é o mais esquisito
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[...] canções de ninar ou cantigas de roda como “Boi da cara preta”, “Atirei o
pau no gato”, “O cravo brigou com a rosa”, “Nana nenê”, “Marcha soldado”,
além de outras, assim como frases do tipo das que serão citadas a seguir;
podendo criar nela sentimentos de medo de falta de amor; e transmitir
conteúdo de violência. Eis as frases:
Você precisa deixar de ser sem educação!
Você não ama seus pais!
Você tem tudo de mão beijada; eu não tive!
Desse jeito, quem vai querer ser seu amigo?
Sua turminha não lhe conhece!
Você não aprende nada de bom!
Assim, você não vai ser feliz, nunca!
Por que você não é como o seu irmão?
Homem que é homem não chora!
Suma daqui ou lhe quebro a cara! (SANTANA, 2013, p. 30).
Santana (2013) diz que é necessário ressaltar que apesar das diferenças
entre as pessoas, sejam elas psicológicas, intelectuais, físicas, o respeito e a
igualdade deve prevalecer entre a sociedade.
Calhau (2010) explica que a mídia tem aumentado a exposição de notícias de
violência, tais essas notícias existentes mostram acontecimentos dentro da escola,
crianças e adolescentes como alvos de crime, gangues de jovens, pedofilia, etc.
Esses noticiários têm sido comuns e causa de grande preocupação na população.
Quando questionado o porquê da ocorrência do bullying, muitos dizem que a
vítima que se deixa ser vencida pela ação é fraca, porém a própria sociedade é
submissa aos padrões impostos pela mídia e ser diferente não se adequando aos
padrões impostos não é bem visto pela própria sociedade em que se convive.
São impostos padrões para a população em que chega a ser entendido por
muitos que para ser aceito entre os demais é necessário estar dentro das
comodidades em que são impostas, como consumismo de produtos caros, sem a
intenção de ter algo de qualidade, apenas com o propósito de estar incluso nos
padrões oferecidos por um modismo social.
Fromm (1987) explica que a situação problema não está em ter bens
materiais, mas sim uma linha tênue que nos liga ao ser. As atitudes dessa cultura
obtida pela sociedade deixam claro que o ser humano só é classificado como bom
quando se tem e não pela essência daquilo que o mesmo é.
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O mesmo autor ainda relata que não há problema em ter bens materiais, pois
para vivência humana ter é necessário e devem ser desfrutados, mas infelizmente
há pessoas que usam os mesmos para diminuir e atacar outras pessoas.
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2. O BULLYING X ESCOLA
O ensino no Brasil passa por uma fase muito difícil. Os atuais alunos não
estão habituados a respeitar limites, e isso já começa em casa, onde alguns
pais não fazem a sua parte. As crianças fazem o que querem, chegam à
escola e reproduzem esses comportamentos. (CALHAU, 2010, p. 28 e 29).
O mesmo autor afirma que atualmente o papel da escola não tem sido apenas
o processo ensino/aprendizagem, mas também educar os alunos, papel esse que é
um dever dos pais, porém muitos deles têm deixado nas mãos dos professores essa
função.
A violência dentro da escola tem aumentado, e um dos motivos tem sido a
ausência de limites trazidos do ambiente familiar, onde consequentemente os
professores vêem a situação como um desafio a ser driblado.
Quando falamos de leis uma grande parte dos cidadãos gostam de lembrar
apenas de seus direitos e esquecem que também existem deveres e obrigações a
serem cumpridas. Saímos de uma era onde o poder da ditadura dominava tudo ao
redor, atualmente vivemos em um país democrata, porém democracia não está
apenas ligada aos direitos, mas aos deveres, onde um deles é não causar danos
prejudiciais a outras pessoas.
Os problemas em relação aos limites estão ligados diretamente ao bullying. O
que se observa é que os pais não tratam do assunto com os filhos em casa,
passando esse dever que lhes cabe para a responsabilidade da escola, igreja,
colegas do filho.
Zagury (2014) relata que ensinar limite para os filhos requer um trabalho de
diálogo e quando necessário a correção, porém muitos acreditam que essa correção
causa traumas psicológicos nos filhos, e assim esse valor que é de extrema
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importância no educar acabava ficando ausente. Sem conhecer seus limites não é
possível respeitar seu próximo, e é preciso também deixar claro para a criança que
ela poderá ter muitas coisas que deseja, porém nem tudo será no momento em que
ela quer e outras coisas ela não chegará a ter.
Calhau (2010) diz que no ambiente escolar, professores vivenciam a falta de
limite dos alunos todos os dias, falta de educação e respeito muitas vezes através
de brincadeiras que julgam ser saudáveis, quando na verdade estão agindo com
falta de respeito com os demais colegas de sala e/ou professor, e quando se fala de
falta de limite não está relacionado apenas às crianças e adolescentes, mas adultos
e/ou adolescentes em universidades, ao receber uma nota ruim os mesmos se
voltam contra o professor e em alguns casos chegam a realizar baixo assinado para
mandar o professor embora daquela instituição, afirmando que o mesmo não tem
competência para ensiná-los.
A negação está presente no bullying de maneira que os agressores indagam
que toda sua forma de violência é uma “zoação”, ou seja, a colocação verbal zoar é
apenas uma maneira de ocultar todos os atos violentos que afetam o alvo e trazem
transtornos ao ambiente escolar.
O papel de ensinar para as crianças que existem limites pertencem aos pais,
porém quando foge do controle dos mesmos, a educação das crianças deixa a
desejar.
Os pais, em sua grande maioria, agem desta forma sob a alegação de que
não querem ferir a sensibilidade dos filhos ou para evitar desavenças
familiares. Outros, ainda, assim o fazem como forma de compensar o
período que estão distantes dos filhos por motivos profissionais. Por essa
razão, passam a ser permissivos em excesso e as crianças ou adolescentes
“pintam e bordam” sobre suas cabeças. O resultado dessa matemática
(mais emocional do que racional) é que, desde muito cedo, as crianças se
habituam a fazer tudo o que querem e impõem-se, de forma autoritária e
tirana, perante os pais sobrecarregados e exaustos. Em função do
sentimento de culpa que carregam por não acompanharem a vida dos filhos
como deveriam, os pais cedem praticamente a todas as vontades deles e
toleram quase tudo, inclusive posturas intoleráveis. (SILVA, 2010, p. 61).
Silva (2010) explica que os resultados de filhos que não se habituam aos
limites são de estado crítico, os mesmos crescem sem se importarem com as regras
sociais e as consequências de suas atitudes infratoras que podem afetar outras
pessoas, onde as mesmas pagam sem merecer. A autora ainda afirma que existem
escolas que sabendo das mudanças em todo o mundo estão à procura de uma
reforma escolar, no objetivo de combater os desafios em que dia após dia
aumentam.
Quando os jovens assumem sua real postura agressiva, fica fácil de identificá-
los, bem como os mais frágeis que são afetados por esses agressores através das
violências que os mesmos cometem contra os jovens mais sensíveis. As agressões
na juventude são comuns, pois é nesse momento em que os jovens estão
construindo uma identidade pessoal. É evidente que pela trajetória dessa busca por
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Silva (2010) relata que jovens sensíveis, com fragilidade psicológica e baixa
autoestima, são ineptos diante das atitudes violentas físicas e/ou verbais dos
agressores, por isso sofrem das mesmas e da incompreensão familiar. Esse cenário
histórico em muitos casos termina em afastamento das pessoas ao seu redor,
abatimento psíquico, e em casos mais graves podem chegar ao cenário de suicídio
e homicídio. Os adultos podem intervir em casos como esse ficando atentos ao
comportamento dos jovens, desenvolvendo um possível diálogo com os mesmos,
tentando uma aproximação afetiva, participação em todo seu desenvolvimento tanto
escolar como construção de identidade, orientando os jovens de forma que se crie
um vínculo entre ambos e desde cedo estabelecer limites e regras a serem
respeitadas.
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Silva (2010) explica que todo ser humano tem suas habilidades em alguma
área, um gênio físico pode ser bom em matemática, porém pode mostrar que deixa
a desejar na área de comunicação (publicidade/marketing), e um publicitário o
inverso dessa suposição. Ou seja, o ser humano nunca será perfeito, portanto não
existem motivos para julgar uns aos outros, sempre haverá falhas e acertos, e sobre
tudo somos todos diferentes.
Podemos afirmar, então, que o nosso cérebro, além de ser a mais complexa
e deslumbrante estrutura humana, é também o atestado vivo de que o
preconceito e a intolerância com as diferenças são, sobretudo, uma
estupidez científica, um atraso na nossa evolução como espécie, uma vez
que esta só pode obter sucesso quando há solidariedade e colaboração
entre todos os seres humanos. (SILVA, 2010, p. 75).
É através desse conceito que podemos afirmar que o bullying é um ato que
não deve ser tolerado, pois o ser humano tem valores culturais, sociais, morais e até
científicos que não são iguais aos dos outros seres humanos, devido a fatores
biológicos individuais.
Silva (2010) relata que nós seres humanos sendo diferentes uns dos outros,
podemos dizer que em relação ao bullying cada um tem um comportamento
diferente. Alguns alvos procuram ajuda médica para uma melhora mental, no qual o
deixe mais estruturado diante do sofrimento causado pelo bullying, melhora na
autoestima e até relações sociais com outras pessoas ao seu redor. Existem
também vítimas que através do bullying geram sentimentos de raiva, mágoa, mas
transformam esses sentimentos em aprendizado, algumas frases definem
exatamente a postura dessa vítima, como: “Aquilo que não me mata só me
fortalece”, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, ou “O guerreiro está ferido, mas
não está morto!”, de Ronaldo, o Fenômeno. Outras vítimas por sua vez carregam
junto de si os traumas e frustrações em que o bullying as afetou quando criança e/ou
jovem, levam para a fase adulta e se tornam pessoas ansiosas, depressivas,
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inseguras ou até mesmo agressivas, e repetem toda a violência que um dia sofreu
no ambiente escolar, usando seus familiares e/ou aqueles que convivem junto delas.
Outras crianças e/ou jovens devido a violência que sofrem transmitidas pelo bullying,
podem apresentar alguns transtornos como depressão, bulimia, anorexia, fobias,
geralmente esses transtornos psiquiátricos são desenvolvidos nas crianças e/ou
jovens que já possuem uma genética de fácil desenvolvimento para essas
patologias. Algumas crianças já possuem todas essas características patológicas,
como os de espectro autista, quando as mesmas sofrem bullying o que ocorre é a
piora de desses transtornos.
Silva (2010) explica que os alunos populares são aqueles que têm qualidades
que são impostas pela própria sociedade, por isso são bem vindos pelos demais
alunos da escola. Os meninos populares são os que têm uma boa aparência física,
habilidade para esportes, corpo atlético, estão sempre acompanhados pela sua
turma de amigos e são conhecidos também por suas muitas conquistas amorosas.
As meninas populares são aquelas que possuem uma beleza padrão imposta pela
sociedade, vestem roupas da moda, tem um bom relacionamento social com os
meninos populares e são protegidas pelos mesmos.
Os alunos neutros são os que por insegurança ou tentativa de se
socializarem, tentam manter uma ligação com os populares, porém não são íntimos
dos mesmos, e evitam o contato com os excluídos para não aborrecer os populares.
Os alunos excluídos são os que não estão de acordo com o padrão
estabelecido pela sociedade e pelo próprio ambiente escolar. Os pensamentos,
vestimentas e comportamentos desses alunos não são considerados bem vindos
pelos padrões impostos, por isso são as vítimas preferidas dos bullies.
Silva (2010) relata que não quer dizer que um popular sempre será um
praticante de bullying, mas pela influência que ele exerce no seu grupo de amigos e
até por ser querido por grande parte da escola, o mesmo pode praticar o bullying
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através de suas ideias negativas que ele tem sobre os excluídos, deixando seu
grupo de amizades contra as vítimas.
Silva (2010) indaga que o poder político precisa tomar consciência dos
perigos e danos em que a violência causada pelo fenômeno bullying traz. A
elaboração de leis é uma providência em que precisa ser tomada, e junto com as
campanhas de combate ao bullying será uma grande utilidade para esclarecer para
crianças e jovens do ambiente escolar que o bullying não se trata de uma
brincadeira da idade, mas uma violência em que pode afetar a vítima de uma forma
tão profunda e levar de traumas psicológicos para o resto de sua vida e até mesmo
suicídio.
No Brasil, não são incomuns casos de alunos que são flagrados dentro de
escolas com armas de fogo. Em 2003, em Taiúva (SP), um ex-aluno voltou
à escola e atirou em seis alunos e numa professora, que sobreviveram ao
ataque. Era ex-obeso e vítima de bullying, e após o atentado, cometou
suicídio. Em 2004, em Remanso (BA), um adolescente matou dois e feriu
três, após sofrer humilhações (era também vítima de bullying). Em 2008, um
adolescente de 17 anos no Rio de Janeiro morreu depois de ser espancado
na escola, por conta de um corte de cabelo. Os alunos tinham por
“brincadeira” dar socos em colegas o caso de novo corte de cabelo. Como a
vítima não gostou e reagiu, mais de dez alunos o agrediram e ele morreu
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Assim como Chalita (2007), Calhau (2010) também relata uma pesquisa
realizada pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à
Adolescência (ABRAPIA), que tem como objetivo mostrar dentro do ambiente
escolar os lugares comuns onde é praticado o bullying, os pontos escolares são:
sala de aula (60,2%), recreio (16,1%), portão (15,9%) e corredores (7,8%). Essa
pesquisa foi baseada nos estudos realizados pelo pesquisador Dan Olweus.
Calhau (2010) conta que trabalhou como Promotor de Justiça em Itanhomi
(MG), num determinado dia alguns pais achegaram até ele para se apresentar
contra a Diretoria da Escola pública. Os pais afirmavam uma história em que os
filhos quebraram os vidros da escola, mas que foi num ato de brincadeira e que
queriam a punição da Diretoria da escola e professores. Calhau ao ouvir o relato dos
pais, os aconselhou para que pagassem os vidros quebrados por seus filhos. Dentro
desse contexto, fica nítido à que nível muitos pais chegaram à relação em educação
de seus filhos, onde o ideal seria corrigi-los e fazê-los reconhecer seus erros, mas
em vez disso os pais viram-se contra a escola e apóiam os atos de indisciplina dos
jovens.
Calhau (2010) relata que através de uma pesquisa também desenvolvida pela
ABRAPIA, aponta que o bullying é mais frequente no Sudeste e Centro Oeste do
Brasil, envolvendo adolescentes de idade entre 11 a 15 anos, porém no momento da
entrevista quando lhes foi perguntado sobre o que os levam a sofrer ou praticar o
bullying, os alunos tiveram dificuldade em explicar.
Notamos que o bullying é uma realidade nas escolas e que a relação
pais/filho poderia contribuir para a diminuição desse ato que pode acarretar
consequências marcantes na vida de quem sofre o ato, conforme veremos a seguir.
3. BULLYING X APRENDIZAGEM
dentro e fora do ambiente escolar para aqueles que um dia foram seus alvos de
bullying.
Quando o bullying é identificado na escola o primeiro procedimento em que
pode ser tomado é realizar entrevistas individuais com os alunos. O entrevistador
precisa dominar o tema e mostrar compreensão para a vítima, deixando claro de que
o mesmo está disposto a ajudá-la. É necessário passar confiança, para que a vítima
se sinta segura o suficiente, ao ponto de se abrir contando os fatos vivenciados. Não
se deve tomar nenhuma atitude diante da vítima, criticar ou mostrar superproteção
pode fazer com que a mesma se retraia ou fique mais vulnerável em relação ao
bullying.
Quanto aos agressores, o entrevistador também não deve demonstrar
nenhuma postura crítica, o mesmo deve mostrar-se compreensivo e acolhedor,
porém expondo as consequências causadas pelas atitudes do agressor quando
pratica o bullying. É aconselhável que as entrevistas comecem com o líder do grupo
que pratica o bullying, pois sem os seus seguidores submissos ao seu lado o mesmo
perde o equilíbrio de poder de intimidação psicológica e/ou física.
As entrevistas com os envolvidos nos casos de bullying nas escolas, com
suas orientações e prevenções dadas pelo entrevistador, são o suficiente para
cessar as práticas de violência pelos agressores.
Silva (2010) explica que professores e outros profissionais que trabalham com
crianças e jovens devem tomar conhecimento do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), onde através do mesmo possam ficar atentos e informados em
relação as atitudes diárias em que presenciam e também as consequências que
afetam os envolvidos.
Existem casos em que o poder de domínio do agressor é tão intenso que é
capaz de passar dos limites e fugir do controle dos profissionais que estão
trabalhando para cessar a violência. Quando isso acontece, as dinâmicas e métodos
apresentados até então não são o suficiente para cessar os atos, por tanto é preciso
buscar outros auxílios, como o conselho tutelar.
Calhau (2010) explica que ato infracional e bullying não é a mesma coisa,
porém no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o bullying é classificado um
ato infracional.
Pereira (2002) explica que muitas vítimas de bullying sofrem em silêncio por
um longo tempo sem que nenhum profissional na escola note o que está ocorrendo,
o que leva as mesmas a não contar a ninguém sobre seu sofrimento é a
insegurança em não confiar nas pessoas, e por não conseguirem superar os
episódios de violência chegam a preferir a morte a carregarem consigo o peso do
sofrimento vivenciado.
Silva (2010) cita um exemplo de relatório que pode ser usado pelo professor
para o preenchimento individual de cada aluno na identificação de possível violência
de bullying. O relatório apresenta várias características de atitudes do aluno e o
professor deve assinar aquelas que a criança/jovem apresenta, tais como
isolamento do aluno dos demais alunos na sala de aula e no recreio, se o mesmo é
alvo de apelidos e implicâncias incessantes, se apresenta sinais de tristeza, mau
humor, agressividade, se houve num curto tempo a queda no seu rendimento
escolar, se apresenta hematomas pelo corpo, se em sua expressão facial há algum
tipo de sentimento como medo, angústia, etc.
Silva (2010) explica que o relatório em que ela aponta não é o suficiente para
o diagnóstico definitivo de bullying, mas é um dos materiais em que pode ser usado
no reconhecimento do fenômeno.
É necessário um diagnóstico profundo na identificação do bullying, pois nem
todos os casos de violência existentes nas escolas são causados pelo bullying, por
isso a avaliação deve ser cuidadosa para que não se obtenha resultados
precipitados.
O professor pode não ser o único indicado culpado da existência do bullying
em sala de aula, porém o mesmo está vinculado ao fenômeno por ser o responsável
sobre a sala de aula.
Lobo (1997) afirma que o professor em sua postura pode abrir portas para
conflitos de bullying entre os alunos, como piadas contadas e apelidos que as
crianças e jovens usam em um determinado aluno. Se o professor ri participando
desses momentos ou ele mesmo põe apelidos pejorativos em alunos, o mesmo
pode não saber, mas está consequentemente deixando o bullying estar presente em
sua sala de aula. Uma vez que o professor não deve ser um contribuidor do bullying,
mas impedir que o fenômeno esteja presente na vivência escolar de seus alunos.
Morales (2004) explica que muitos conteúdos são aprendidos pelos alunos
mesmo quando não foi proposital do professor ensinar. “[...] o que se ensina sem
querer ensinar e o que se aprende sem querer aprender pode ser, com frequência, o
mais importante e permanente do ensino-aprendizagem [...]”. (MORALES, 2004, p.
16).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
professor até iniciar a presença do fenômeno, que até então não existia. Isso é
possível porque o professor pode exercer influência sobre seus alunos, podendo ser
positiva ou negativa. Nota-se que o silêncio do professor frente às atitudes de
desrespeito, violência física e/ou psicológica entre os educandos, seja através de
piadas, apelidos ou algo do gênero, também pode influenciar a repetição dessas
ações ou até mais graves, por tanto, o professor deve praticar o respeito ao próximo,
deixando claro que atitudes que venham deixar algum colega de classe
constrangido, mesmo denominando as atitudes como brincadeiras, não serão
aceitas, desenvolver atividades em grupo para o desenvolvimento da socialização
entre a sala e deixar visível que o professor está junto deles e não contra, agindo
dessa forma pode possibilitar a construção de um vínculo com a classe, podendo
haver uma melhoria na relação professor-aluno, que através disso poderá ter um
ambiente de paz na sala de aula e propício para um melhor aprendizado.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CALHAU, Lélio Braga; Bullying: O que você precisa saber: identificação, prevenção
e repressão. 2º edição, Niterói RJ: Editora Impetus, 2010.
FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: Como previnir a violência nas escolas e educar
para a paz. Campinas: Editora Verus, 2005.
FROMM, Erich. Ter ou ser?. 4º edição, Trad. Nathanael C. Caixeiro, Rio de Janeiro:
LTC, 1987.
LOBO, Luiz. Escola de pais: Para que seu filho cresça feliz. Rio de Janeiro: Editora
Lacerda Editores,1997.
PEREIRA, Beatriz Oliveira. Para uma escola sem violência – estudo e prevenção
das práticas agressivas entre crianças. Lisboa: Editora Dinalivro, 2002.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying: Mentes perigosas nas escolas. Rio de
Janeiro: Editora Objetiva Ltda, 2010.
SIMMONS, Rachel. Garota fora do jogo: A cultura oculta da agressão nas meninas.
Trad. Talita M. Rodrigues, São Paulo: Editora Rocco, 2004.