Você está na página 1de 28

Índice

Introdução ..................................................................................................................................................... 1
Anatomia do Tubo Digestivo ........................................................................................................................ 3
Estrutura geral da parede do tubo digestivo .............................................................................................. 3
Anatomia do Aparelho Digestivo Extra-Abdominal .................................................................................... 4
Anatomia do Sistema Digestivo Intra-Abdominal ........................................................................................ 6
Anatomia Dos Órgãos Anexos...................................................................................................................... 9
Glândulas salivares ................................................................................................................................... 9
Fisiologia do Aparelho Digestivo Extra-Abdominal .................................................................................. 13
Fisiologia dos Órgãos Anexos .................................................................................................................... 20
Regulação da Digestão............................................................................................................................ 21
Patologia Digestiva ..................................................................................................................................... 24
Conclusão ................................................................................................................................................... 26
Bibliografia: ................................................................................................................................................ 27
Introdução
O aparelho digestivo é um sistema vital para o nosso organismo, responsável por transformar os
alimentos que ingerimos em nutrientes que o corpo pode absorver e utilizar como fonte de energia.
É composto por órgãos que vão da boca ao ânus e possui um processo complexo e delicado, que
pode ser afetado por diversos fatores. Neste contexto, é fundamental conhecer a estrutura e
funcionamento do aparelho digestivo para manter uma boa saúde e qualidade de vida.

1
Sistema Digestivo
O sistema digestivo é responsável por receber os alimentos, decompô-los em nutrientes, absorver
os nutrientes e liberá-los na corrente sanguínea, além de eliminar do corpo as partes não digeríveis
dos alimentos.

Estruturas anatómicas do aparelho digestivo:


O aparelho digestivo é formado por um tubo longo e sinuoso de cerca de 10 a 12 metros de
comprimento que se estende desde a extremidade cefálica (cavidade oral) até a caudal (ânus).
Inclui: boca, faringe, esófago, estômago, intestino delgado, intestino grosso (ou cólon), recto e
ânus.
Ao longo do tubo digestivo existem órgãos anexos que auxiliam o processo da digestão dos
alimentos fazem parte dos órgãos anexos: os dentes, a língua, as glândulas salivares, o fígado, a
vesícula biliar e o pâncreas.

O objetivo final do sistema digestivo é transformar os alimentos em moléculas absorvíveis pelo


intestino. Esse processo inclui a ingestão, mastigação, deglutição e digestão.
Na ingestão, o alimento é introduzido na boca. Em seguida, na mastigação, os alimentos são
parcialmente desintegrados (de forma mecânica e química) com a ajuda dos dentes, língua e
glândulas salivares. A deglutição conduz os alimentos da boca até o estômago, passando pela
faringe e esôfago.
A digestão é a etapa em que ocorre a divisão química do alimento por sucos digestivos presentes
no estômago e intestino delgado, transformando-o em moléculas mais simples e utilizáveis pelo
corpo.
O processo digestivo envolve a mistura e propulsão do alimento por meio de movimentos
peristálticos do intestino, seguido pela absorção de nutrientes através da parede do intestino
delgado e grosso, e é crucial para fornecer energia e nutrientes ao organismo. Os resíduos
alimentares não digeridos são eliminados por meio da defecação, o que é importante para remover
toxinas e resíduos acumulados no intestino.

2
Desenvolvimento do sistema digestivo
O sistema digestivo humano começa a se desenvolver a partir do tubo digestivo primitivo, formado
a partir do endoderma. Durante a gestação, o tubo se divide em três partes: intestino anterior, médio
e posterior, que dão origem aos órgãos do sistema digestivo. O desenvolvimento embrionário
inclui também o surgimento de estruturas acessórias como o fígado, pâncreas e vesícula biliar. O
sistema digestivo continua a se desenvolver durante a infância e adolescência até atingir sua forma
definitiva na vida adulta.

O tubo digestivo divide-se em 3 partes


O tubo digestivo é dividido em três partes: intestino anterior, intestino médio e intestino posterior.
O intestino anterior é responsável pela origem de várias estruturas importantes, enquanto o
intestino médio forma a maior parte do intestino e o intestino posterior elimina os resíduos do
corpo.

A estrutura final do sistema digestivo


O sistema digestivo humano passa por duas rotações que determinam sua estrutura final. A
primeira rotação ocorre axialmente do intestino anterior para a direita, enquanto a segunda rotação
é anti-horária de 270 graus do intestino médio. Essas rotações são necessárias devido à localização
dos órgãos digestivos, como o estômago na porção superior e esquerda da cavidade abdominal, o
duodeno na parte posterior direita, o fígado na parte anterior direita, o pâncreas na parte posterior
esquerda e o intestino grosso na parte anterior da cavidade abdominal, com a parte proximal à
direita e a distal à esquerda.

Anatomia do Tubo Digestivo


Estrutura geral da parede do tubo digestivo
A parede do tubo digestivo é composta por quatro camadas principais:

Mucosa: é a camada interna do tubo digestivo que entra em contato com o alimento. É composta por três
subcamadas: o epitélio, a lâmina própria e a muscularis mucosae. O epitélio é a camada mais superficial e
é responsável pela absorção e secreção de substâncias. A lâmina própria é uma camada de tecido conjuntivo
frouxo que contém células imunológicas e glândulas que produzem muco. A muscularis mucosae é uma
fina camada de músculo liso que ajuda no movimento da mucosa.

3
Submucosa: é a camada de tecido conjuntivo que fica abaixo da mucosa. Contém vasos sanguíneos, vasos
linfáticos e nervos que fornecem nutrientes e oxigênio para a mucosa.

Muscularis: é a camada de músculo liso que é responsável pelos movimentos peristálticos que empurram
o alimento através do tubo digestivo. É composta por duas camadas de músculo liso: a camada circular
interna e a camada longitudinal externa.

Serosa: é a camada mais externa do tubo digestivo e é composta por tecido conjuntivo que protege e fixa
o tubo digestivo ao restante do corpo. A camada adventícia é encontrada em órgãos que estão fora da
cavidade abdominal, enquanto a serosa é encontrada em órgãos dentro da cavidade abdominal e é coberta
por uma camada de células mesoteliais.

Anatomia do Aparelho Digestivo Extra-Abdominal


O aparelho digestivo extra-abdominal engloba a boca, língua, dentes, glândulas salivares, faringe e esôfago,
que são responsáveis pela fase inicial da digestão e transporte dos alimentos até o aparelho digestivo intra-
abdominal. A cavidade oral é revestida por mucosa oral e tem como limites o palato ósseo e mole, os lábios,
dentes, bochechas, língua e soalho da boca. A úvula é uma estrutura móvel que atua como válvula para
impedir a passagem de alimentos para o nariz. O espaço entre lábios e bochechas e dentes e gengivas é
conhecido como vestíbulo da boca.

Funções da boca:

A boca é um ponto de entrada para o sistema digestivo e respiratório e seu interior é revestido por
membranas mucosas que apresentam cor rosa avermelhada a marrom/preto. A mucosa oral é mais
escura em indivíduos de pele escura devido à atividade dos melanócitos, enquanto as gengivas têm
uma cor mais clara e se encaixam firmemente ao redor dos dentes.

Língua

A língua é composta por músculos intrínsecos altamente móveis e feixes de fibras extrínsecas que
se fixam em estruturas vizinhas, como os ossos temporal e hióide.

4
• Na parte anterior, o dorso da língua está recoberto de uma mucosa muito pregada em
elevações ásperas de diferentes formas (papilas), entre as que se encontram as terminais
nervosas sensitivas responsáveis do gosto.
• Na parte posterior do dorso da língua (raiz da língua, parte menos móvel) encontramos
numerosas glândulas mucosas (secretoras de saliva) e folículos linfáticos (tonsila lingual).

Funções da língua são:

• Mistura do bolo alimentar, que finalmente é empurrado posteriormente para a sua


deglutição.
• Modulação da voz.
• Gosto, órgão sensorial que informa ao cérebro da adequação dos alimentos, evitando a
ingestão de substâncias tóxicas.

Dentes

Os dentes são estruturas cilíndricas que permitem a mastigação e a comunicação oral. São 32
dentes permanentes distribuídos em duas arcadas simétricas, compostas por incisivos, caninos,
pré-molares e molares. Os dentes de leite começam a cair a partir dos 6-8 meses e são substituídos
gradualmente pelos permanentes até os 14 anos. A higiene bucal adequada e visitas regulares ao
dentista são essenciais para manter a saúde e estética dental.

Os dentes possuem duas partes: a coroa visível e a raiz que o fixa aos ossos. A raiz pode ser única
para alguns dentes e múltipla para outros. A polpa é o núcleo de conjuntivo com vasos e nervos
e a dentina é o tecido calcificado que a recobre. Já o esmalte é uma camada extremamente
calcificada e dura que reveste a coroa externamente. Os dentes têm a função de cortar e triturar
alimentos sólidos para formar o bolo alimentar.

Faringe

A faringe é um tubo muscular revestido por uma mucosa semelhante à da boca, que conecta a
boca ao esôfago. Ela é dividida em três partes: nasofaringe, orofaringe e laringofaringe. Sua

5
função é facilitar a rápida passagem do alimento da boca para o esôfago por meio da deglutição,
que é ajudada pela saliva e muco que revestem a boca, a faringe e o esôfago.

Esófago

É um tubo fibro-muscular de cerca de 25 cm de comprimento que conecta a faringe ao estômago.


Ele passa pela abertura do diafragma, chamada hiato esofágico, e termina no cárdia, que é a
entrada para o estômago.

Formado por três porções:

Cervical, torácica e abdominal, esta última com um esfíncter esofágico inferior para evitar o
refluxo do conteúdo do estômago.

Sua função é transportar o bolo alimentar até o estômago.

Anatomia do Sistema Digestivo Intra-Abdominal


Estômago

Localizado no quadrante superior esquerdo do abdômen, abaixo do diafragma e parcialmente


coberto pelas costelas. Ele tem a forma de um "J" dilatado, com uma curvatura menor medial e
uma curvatura maior lateral. O estômago está situado anteriormente ao pâncreas, à esquerda do
fígado e medial ao baço.

O estômago é dividido em quatro regiões distintas, que são:

• Cárdia: região em torno do orifício esofágico-gástrico de entrada, que ajuda a impedir o


refluxo gastroesofágico em colaboração com o esfíncter esofágico inferior;
• Fundo: zona superior do estômago, localizada acima e lateralmente à cárdia;
• Corpo: a maior região do estômago, representando cerca de dois terços do seu volume
total;
• Antro pilórico: a área de saída do estômago, que se conecta com o duodeno através do
conduto pilórico, dotado de um forte músculo em forma de válvula chamado esfíncter
gastro-duodenal ou piloro.

6
O estômago é um órgão do sistema digestivo que possui camadas semelhantes à parede do tubo digestivo,
porém com particularidades.

Algumas delas incluem:

• O epitélio do estômago é cilíndrico simples e secreta muco para lubrificar a mucosa.


• O epitélio possui criptas gástricas que produzem suco gástrico contendo enzimas
digestivas e ácido clorídrico secretado por células parietais.
• O estômago recebe o bolo alimentar e mistura-o com o suco gástrico para formar o quimo,
uma papa semi-líquida onde os alimentos são divididos em unidades moleculares cada
vez mais simples.

O intestino delgado é um tubo que vai do piloro até o ceco, com cerca de 6 a 8 m de comprimento
e 2 a 3 cm de diâmetro.

É dividido em três partes:

• Duodeno: com cerca de 25 cm, com forma de "C" e 4 porções: superior, descendente,
horizontal e ascendente.
• Jejuno: continuação do duodeno, com maior diâmetro, parede mais espessa e mesentério
mais vascular, localizado no quadrante superior esquerdo abdominal.
• Íleo: último segmento, continuação do jejuno até o intestino grosso, com parede mais fina
e menos vascularizada que o jejuno, situado no quadrante inferior direito abdominal. A
transição entre jejuno e íleo é progressiva e ambas são móveis, sobre seu próprio
mesentério.

O intestino delgado é uma estrutura do sistema digestivo com particularidades que o tornam
eficiente na absorção de nutrientes:

• Pregas circulares, vilosidades e microvilosidades aumentam a superfície da mucosa para


facilitar a absorção de nutrientes.
• A mucosa tem glândulas tubulares chamadas criptas de Lieberkuhn, que secretam suco
intestinal alcalino com diferentes enzimas digestivas.

7
• No duodeno, estão as criptas de Brunner, que secretam muco alcalino para neutralizar o
ácido do estômago.
• O epitélio cilíndrico simples inclui células de absorção, células caliciformes e células
enteroendócrinas.
• Placas de Peyer, acúmulos de tecido linfóide, estão dispersas na mucosa.

O intestino delgado completa a digestão e absorve nutrientes para o sangue, graças à sua grande
superfície de mucosa adaptada para essa função. O intestino grosso é o segmento final do tubo
digestivo, que se estende desde o intestino delgado até o ânus, com formato quadrangular, 1,5 m
de comprimento e 6-8 cm de diâmetro.

O intestino grosso é dividido em seis partes:

• Ceco, com o apêndice vermiforme localizado no fundo.


• Cólon ascendente, que vai do ceco até o ângulo hepático.
• Cólon transverso, que se estende do ângulo hepático até o ângulo esplênico.
• Cólon descendente, que vai do ângulo esplênico até a fossa ilíaca esquerda, onde forma o
cólon sigmóide.
• Reto, um tubo vertical de cerca de 15 a 20 cm que perfura o soalho da pélvis.
• Ânus, com dois esfíncteres que mantêm a saída de conteúdo fecal fechada, exceto durante
a defecação.

O sistema anal humano tem dois esfíncteres - o interno, profundo e involuntário, e o externo,
superficial e voluntário. O esfíncter anal interno é formado por fibras musculares lisas circulares
espessadas do reto, enquanto o esfíncter anal externo é formado por músculo estriado que forma
o soalho da pélvis. O ânus é uma estrutura de transição, onde o epitélio cilíndrico simples do
intestino se torna plano estratificado, o que permite a eliminação das fezes.

O intestino grosso é diferente do intestino delgado em algumas características:

• Tem um maior diâmetro, que vá-se afinando progressivamente desde o ceco até o ânus.
• Não tem vilosidades.

8
• As glândulas mucosas (criptas) são mais profundas, mais frequentes e contem muitas
células caliciformes, produtoras de muco que lubrifica a mucosa para facilitar a passagem
do bolo fecal.
• O intestino grosso absorve água principalmente, recuperando-a do resíduo líquido
procedente da absorção de nutrientes pelo intestino delgado, até formar o bolo fecal, de
consistência semi-sólida. O cólon sigmóide e o recto fazem de reservatório das fezes até
serem expulsas.

Anatomia Dos Órgãos Anexos


Glândulas salivares
As glândulas salivares são estruturas responsáveis por produzir e secretar saliva, podendo ser
encontradas de forma dispersa na mucosa oral (glândulas menores) ou de forma mais definida ao
redor da cavidade oral (glândulas maiores), com comunicação através de ductos. As glândulas
menores são pequenas invaginações glandulares presentes nas paredes da boca, como as labiais,
palatinas, linguais e molares.

As glândulas salivares maiores são estruturas pares com ácinos glandulares que drenam à boca
por um conduto conjuntivo-muscular.

Existem três tipos:

• Glândulas Parótidas: maiores, localizadas na parte lateral da face, antero-inferior ao


pavilhão da orelha e externo ao ângulo mandibular.
• Glândulas Submandibulares: situam-se no assoalho da boca, interior ao ângulo mandibular.
• Glândulas Sublinguais: menores deste grupo, localizam-se embaixo da mucosa do assoalho
da boca.

9
Fígado
O fígado é a maior glândula do corpo humano, localizada no quadrante superior direito do
abdômen. Ele é responsável por funções vitais no metabolismo e na digestão, produzindo bile e
removendo toxinas.

O objeto descrito tem duas faces distintas:

• Face diafragmática: localizada na parte superior e possui uma superfície convexa e lisa
em contato com o diafragma.
• Face visceral: localizada na parte inferior e possui uma superfície irregularmente côncava
em contato com diferentes órgãos, que deixam impressões na sua superfície, como a
flexura direita do cólon, duodeno, rim direito e estômago.

Esta é uma descrição anatômica do fígado, um órgão que é completamente coberto pelo peritônio
visceral. O fígado é suspenso do diafragma pelo ligamento coronário e fixado ao peritônio parietal
da parede abdominal anterior pelo ligamento falciforme. O bordo do fígado é espessado pelo
ligamento redondo, que é um resíduo dos vasos umbilicais fetais.

A face visceral do fígado apresenta três estruturas fundamentais dispostas em forma de "H": o
ligamento falciforme, o hilo hepático e a vesícula biliar. O hilo hepático é a zona de entrada ao
fígado por onde transitam a veia porta, a artéria hepática, o ducto biliar, nervos e linfáticos. A
vesícula biliar é uma estrutura anexa ao fígado onde se armazena a bile, e na parte posterior
encontra-se a veia cava inferior.

Face visceral do fígado:

• Estruturas fundamentais em forma de "H"


o Ligamento falciforme (ramo vertical esquerdo do "H")
o Hilo hepático (zona de entrada ao fígado)
▪ Veia porta (traz sangue venoso dos órgãos abdominais)
▪ Artéria hepática (traz sangue oxigenado)
▪ Ducto biliar (conduto secretor da bile)
▪ Nervos e linfáticos (ramo horizontal do "H")
o Vesícula biliar (saco anexo ao fígado, armazena a bile)

10
o Veia cava inferior (ramo vertical direito do "H", parte posterior)

O fígado é um órgão complexo e dividido em lobos e segmentos. Algumas informações


importantes sobre sua estrutura incluem:

• sanguínea e canalização secretora.


• O lobo esquerdo O fígado tem 2 lobos e 8 segmentos, cada um com sua própria irrigação
é dividido pelo ligamento falciforme em 2 segmentos laterais e 2 segmentos mediais
(quadrado e caudado).
• O lobo direito é maior e tem outros 4 segmentos.

O parênquima hepático é composto por lóbulos hepáticos, unidades funcionais em forma de


hexágono, compostas por hepatócitos dispostos radialmente em torno de um espaço central.

Ele inclui:

• Tríadas portais nos vértices do hexágono com ramos da veia porta, artéria hepática e via
biliar. • Veia centro-lobular que ocupa o espaço central.
• Sinusóides que comunicam os vasos portais aos hepatócitos.
• Células de Kupfer que fagocitam restos celulares sanguíneos e microrganismos.
• Canalículos biliares que comunicam os hepatócitos ao ducto biliar para a drenagem da
bile produzida pelos hepatócitos.

O fígado tem uma dupla irrigação sanguínea:

• Artéria hepática: com sangue oxigenado e nutrientes.


• Veia porta: com sangue desoxigenado e substâncias absorvidas no tubo digestivo. O
retorno venoso acontece através das veias centro-lobulares, que deságuam em outras
maiores até chegar às veias hepáticas esquerda, média e direita. As veias hepáticas
desembocam na veia cava inferior.

11
Via biliar

É um conjunto de ductos que transportam a bile, produzida pelo fígado, até o duodeno.

Inclui:

A bile é transportada através de uma série de canais dentro do fígado, começando nos canalículos
e progredindo para vasos biliares maiores, que correm paralelamente aos vasos sanguíneos da
árvore portal. Os ductos hepáticos esquerdo e direito drenam cada lobo do fígado.

O sistema biliar extra-hepático é composto por:

• Ducto hepático comum que se dirige até o duodeno.


• Ducto cístico, ramo lateral do ducto hepático comum, que se comunica com a vesícula
biliar.
• Canal colédoco, tubo que passa posterior ao duodeno e se introduz na cabeça do pâncreas
até desembocar no duodeno.

Funções:

• Armazenamento da bílis na vesícula biliar.


• Drenagem da bílis e sucos pancreáticos no duodeno através do canal colédoco.

Pâncreas

O pâncreas é uma glândula aplanada e comprida, com estrutura semelhante às glândulas salivares,
que se localiza na parte retroperitoneal, atrás do estômago. Ele se divide em cabeça, corpo e
cauda, sendo que a cabeça fica alojada na curva do duodeno.

O pâncreas é um órgão com dois tipos de tecido:

• Parênquima com duas componentes:


• Glândula exócrina (99% do tecido pancreático) secreta suco pancreático no
duodeno.
• Glândula endócrina secreta hormônios no sangue para regular o metabolismo dos
carboidratos.

12
O suco pancreático é um líquido alcalino que contém água, sais, bicarbonato e enzimas digestivas.

O ducto pancreático principal é um tubo no pâncreas que transporta suco pancreático dos acinos
até o duodeno, onde se une ao ducto colédoco na ampola hepato-pancreática.

Fisiologia do Aparelho Digestivo Extra-Abdominal


O processo fisiológico da digestão começa na boca, mediante:

• Dissociação Mecânica: alimentos são triturados pelos dentes e misturados com saliva para
formar bolo alimentar
• Dissociação Química: enzimas na saliva decompõem alimentos em moléculas menores.

Mastigação

Os dentes são responsáveis por iniciar a divisão dos alimentos na boca através da mastigação.
Cada tipo de dente tem uma função específica: os incisivos cortam, os caninos rasgam e os pré-
molares e molares trituram.

• A mastigação é um processo voluntário que é estimulado pela presença de alimentos na


boca, desencadeando um reflexo de mastigação.

Ensalivação
processo de mistura dos alimentos triturados com a saliva. A saliva é um líquido viscoso, sem odor
e sem sabor que contém enzimas que ajudam na digestão dos alimentos e protegem a mucosa oral.
A saliva é composta por duas porções, cada uma com funções diferentes:

• A serosa é uma solução clara com enzimas digestivas, como a ptialina e a lipase lingual,
que decompõem carboidratos e lípidos, respectivamente. É secretada pelas glândulas
maiores.
• A mucosa é uma solução viscosa produzida pelas glândulas submandibulares, sublinguais
e menores, que tem a função de lubrificar e proteger o epitélio da boca.

13
A parte mucosa é secretada continuamente, enquanto a parte serosa é liberada em resposta a sinais
indicando que a ingestão de alimentos está prestes a começar.

Deglutição

O bolo alimentar, produto da mastigação e da mistura com saliva, será deglutido em fracções de
segundos, mediante três estágios:

• Voluntário através dos músculos da língua: no qual o bolo alimentar é empurrado pela
língua para a parte oral da faringe.
• Faríngeo: controlada pelo sistema nervoso autónomo onde ocorre a passagem do bolo
alimentar pela faringe para o esófago.
• Esofágico: também controlada pelo sistema nervoso autónomo onde ocorre a passagem do
bolo alimentar pelo esófago para o estômago.

Na fase faríngea da deglutição, a faringe impede que o alimento entre na cavidade nasal e no trato
respiratório através do levantamento do palato mole e da movimentação da traqueia para cima,
que permite a cobertura da entrada da via respiratória pelo epiglote.

O esôfago transporta o bolo alimentar para o estômago por meio de contrações rítmicas
ondulatórias (peristalse).

• A peristalse é desencadeada pela presença de alimentos no esôfago.


• Glândulas mucosas no esôfago produzem muco lubrificante para facilitar o trânsito do bolo
alimentar.

A fisiologia do sistema digestivo que ocorre dentro da cavidade abdominal.


O sistema digestivo no abdômen inclui estômago, intestino delgado e grosso até o ânus. Aqui, a
digestão ocorre com o bolo alimentar, que foi triturado e misturado com saliva na boca e
transportado pelo esôfago.

O tubo digestivo prepara os alimentos para serem utilizados pelo organismo através de três
mecanismos fisiológicos presentes em todos os segmentos do aparelho digestivo intra-abdominal.

O tubo digestivo tem capacidade de mudar de forma por meio de contrações do músculo liso em
sua parede. Essas contrações são de dois tipos e têm diferentes finalidades em cada segmento do
tubo:

14
• Os movimentos segmentares ou de mistura facilitam a digestão química do alimento,
misturando-o com secreções e emulsionando-o.
• Os movimentos peristálticos impulsionam o alimento pelo tubo digestivo, desde a boca até
o ânus

A digestão química utiliza enzimas e compostos químicos do tubo digestivo e órgãos anexos para
quebrar grandes moléculas de alimentos em pequenas moléculas que podem ser absorvidas pelo
intestino delgado.

Os nutrientes preparados no tubo digestivo são absorvidos pela mucosa intestinal e distribuídos
pelo organismo através do sangue.

O estômago é o primeiro órgão do aparelho digestivo intra-abdominal, responsável por receber o


bolo alimentar já triturado e amolecido pela saliva e decomposto quimicamente pela amilase
salivar ou ptialina.

O estômago mistura e realiza digestão química de alimentos com suco gástrico, mas tem pouca
função de absorção.

O suco gástrico é uma solução altamente ácida (pH 2) produzida pelo epitélio gástrico (cerca de
3 litros diários), que contém a enzima digestiva pepsina. Essa enzima é capaz de quebrar as
proteínas em moléculas menores (polipeptídeos).

• O ácido no estômago não só ajuda a ativar a pepsina, mas também possui uma função
defensiva, eliminando a maioria dos microrganismos que entram no corpo através dos
alimentos.
• Apesar de estarem protegidas por uma densa camada de muco, as células da mucosa
gástrica são continuamente lesadas pela acção do ácido, pelo que tem que estar sempre em
regeneração. Estima-se que a superfície do estômago é totalmente reconstituída em cada
três dias.
• Em lactentes, a quimosina é a principal enzima responsável por separar o leite em frações
líquidas e sólidas, ao contrário da pepsina.

O alimento mastigado, conhecido como bolo alimentar, fica no estômago por cerca de 2 a 4 horas,
onde é misturado com suco gástrico e agitado por contrações musculares, formando uma mistura
semilíquida e ácida chamada quimo.
15
O estômago tem uma absorção limitada de nutrientes. Além do álcool, alguns sais, água e
medicamentos como aspirina podem ser absorvidos diretamente no estômago.

O quimo segue do estômago para o duodeno através do esfíncter muscular de saída, também
conhecido como piloro. A passagem é controlada por contrações peristálticas que empurram o
quimo do corpo gástrico para o antro pilórico, permitindo a passagem apenas de pequenas
quantidades.

A velocidade do esvaziamento depende de:

• A acidez do quimo afeta sua velocidade de transporte para o duodeno. Quanto mais ácido,
mais lento é o transporte,e
• O intestino delgado tem a capacidade de controlar a velocidade de esvaziamento do
estômago de acordo com a sua própria plenitude, ou seja, quanto mais cheio o duodeno,
mais lento o estômago se esvazia.

No duodeno e no início do jejuno, o quimo se mistura com a bile do fígado, o suco pancreático e
o suco entérico do intestino, formando o quilo, um líquido alcalino que ajuda a decompor as
macromoléculas dos alimentos em unidades mais simples.

A bílis é uma solução alcalina produzida no fígado (cerca de 1 litro por dia) e armazenada na
vesícula biliar. Além de água e íons, a bílis contém outras substâncias como:

• Os sais dos ácidos biliares, semelhantes ao sabão, emulsionam as gorduras em milhares de


microgotículas para que as enzimas digestivas possam agir.
• Os pigmentos biliares, incluindo a bilirrubina, são responsáveis pela cor amarelo-
esverdeada da bílis e são produzidos a partir da decomposição da hemoglobina do sangue.
• Colesterol, Lecitina,…

O pâncreas produz cerca de 1,5 litros por dia de suco pancreático, que é uma solução alcalina
com pH de 9 contendo grandes quantidades de bicarbonato de sódio. Esse suco contém a maioria
dos enzimas digestivos necessários para quebrar as diferentes macromoléculas dos alimentos:

• A amilase pancreática é uma enzima que degrada o amido em carboidratos mais simples.

16
• A lipase é uma enzima responsável pela quebra de gorduras em seus componentes básicos,
glicerol e ácidos graxos.
• As enzimas tripsina, quimotripsina e elastase têm a função de quebrar proteínas em
peptídeos de cadeia curta. Para evitar a digestão interna do pâncreas, essas enzimas são
secretadas como precursores inativos e ativadas no duodeno por meio da enterocinase, uma
enzima produzida pelo epitélio intestinal.
• Ribonuclease e Desoxirribonuclease são enzimas que quebram as ligações dos ácidos
nucléicos, RNA e DNA, respectivamente, convertendo-os em nucleótidos de cadeia curta.

O suco intestinal é uma solução produzida pelo intestino delgado, contendo enzimas digestivas e
pH neutro. Sua principal função é degradar as unidades moleculares menores, resultantes da
digestão inicial realizada pelas enzimas pancreáticas. É produzido em média 2 litros por dia e é
essencial para a digestão.

Inclui:

• Alfa-dextrinase, Maltase, Sacarase e Lactase, capazes de dividir os respectivos


carbohidratos nas unidades mais simples (como a glicose).
• Peptidases, que fazem a digestão dos péptidos em aminoácidos.
• Nucleosidases e Fostatases que fazem a digestão dos nucleótidos em bases nucleicas
simples.

O quimo estimula a secreção de sucos e os movimentos do intestino delgado, que são mantidos
até o esvaziamento para o intestino grosso.

Absorção.

No intestino delgado, as células da mucosa intestinal absorvem nutrientes do quilo digerido e os


transportam para o sangue através dos capilares da submucosa. Os nutrientes, exceto os lípidos,
chegam ao fígado através das veias intestinais e da veia porta para serem processados e
armazenados.

A água é absorvida por osmose em ambos os sentidos junto com eletrólitos e nutrientes.

17
Os eletrólitos entram nas células intestinais por transporte passivo ou ativo e vão para os capilares,
enquanto os carboidratos simples atravessam a mucosa intestinal por transporte passivo ou ativo
e passam para os capilares sanguíneos intestinais. Aminoácidos e peptídeos de cadeia curta são
absorvidos ativamente e passam para os capilares por difusão facilitada.

Durante a digestão de lipídeos, o glicerol e os ácidos graxos são absorvidos pelas células intestinais
e reunidos em pequenos grãos lipídicos cobertos por proteínas chamados quilomicrones.

• Os quilomicrones são grandes demais para passarem pelos capilares sanguíneos e são
transportados pela rede linfática. Viajam dos vasos linfáticos intestinais até a veia subclávia
esquerda e se incorporam ao sangue sem passar pelo fígado.
• Após uma refeição gordurosa, o sangue pode ficar com aparência leitosa devido aos muitos
quilomicrones presentes.

Existem dois tipos de vitaminas:

lipossolúveis (A, D, E e K) e hidrossolúveis (C, B1, B2, B6, niacina e ácido fólico). As vitaminas
lipossolúveis são absorvidas por difusão simples e são transportadas pelo sistema linfático. Já as
vitaminas hidrossolúveis são absorvidas pelos capilares por difusão facilitada. A vitamina B12 só
é absorvida no íleo e requer o fator intrínseco produzido pelo estômago.

O cólon ascendente e transverso são partes importantes do intestino grosso, onde ocorre a absorção
de água. Esta água pode ser proveniente da ingestão de líquidos ou da secreção de sucos digestivos.
Em média, são absorvidos cerca de 1-2 litros de água por dia.

• O intestino grosso não possui vilosidades e nem secreta sucos digestivos com enzimas,
sendo assim, o seu papel é a absorção da água para a formação do bolo fecal.
• A formação do bolo fecal por absorção de água no intestino grosso dura em média cerca
de 3-8 horas e faz-se mediante suaves movimentos.

No intestino grosso, muitas bactérias não patogênicas vivem e desempenham funções importantes
como:

18
• Dissolver os restos alimentares não assimiláveis mediante fermentação, o que produz os
gases (metano, CO2, sulfureto de hidrogénio, indol,…) que acompanham às fezes.
• Decompor a bilirrubina da bílis em estercobilina, que dá a cor parda característica das fezes.
• Proteger o organismo contra bactérias estranhas geradoras de doenças (com as quais
concorrem para se alimentarem dos resíduos fecais).

As fibras vegetais, como a celulose, não são digeríveis e contribuem para a formação da massa
fecal. Elas retêm água por um mecanismo osmótico, o que torna as fezes mais macias e fáceis de
serem eliminadas.

O intestino grosso distal é responsável pelo armazenamento e expulsão das fezes, possuindo uma
função reduzida de absorção de água. As fezes são transportadas para o reto através de movimentos
em massa que ocorrem de 1 a 3 vezes por dia.

Defecação é a expulsão ou evacuação das fezes ao exterior.

As fezes acumuladas no cólon descendente e sigmóide são impulsionadas por movimentos em


massa até o recto, onde a distensão causada pela sua presença estimula o reflexo da defecação.
Esse reflexo leva à contração do recto e ao relaxamento do esfíncter anal interno, permitindo a
evacuação dos resíduos.

O esfíncter anal externo é responsável por regular o reflexo de defecação. Em condições normais,
ele fica contraído, impedindo a eliminação das fezes, mesmo quando há o reflexo defecatório. Para
permitir a defecação, é preciso que haja um relaxamento voluntário desse músculo.

• Durante a evacuação das fezes, o esfíncter externo relaxa e a musculatura da parede


abdominal e diafragma se contraem voluntariamente. Isso é conhecido como manobra de
Valsalva e ajuda na evacuação.

19
Fisiologia dos Órgãos Anexos
Os órgãos anexos do tubo digestivo são glândulas especializadas na síntese e secreção de
substâncias, como enzimas, para facilitar a digestão. As glândulas salivares, localizadas na boca,
são um exemplo desses órgãos e produzem saliva, cuja função foi abordada na aula 26 de
Fisiologia do aparelho digestivo extra-abdominal.
O fígado tem diversas funções, incluindo a produção e excreção da bílis que é armazenada na
vesícula biliar e excretada no duodeno em resposta a alimentos ricos em gorduras.
Metabolismo e armazenamento de carbohidratos:
• Após uma refeição com alta concentração de glicose no sangue, o organismo armazena a
glicose em forma de glicogênio, que consiste em grandes cadeias de unidades de glicose.
• Durante o jejum ou exercício, quando a concentração de glicose no sangue está baixa, o
corpo degrada o glicogênio para liberar glicose e equilibrar os níveis sanguíneos.

O metabolismo e armazenamento de lipídios (triglicerídeos e colesterol) são influenciados pelas


concentrações dessas substâncias no sangue.
Síntese das proteínas plasmáticas (do plasma), abaixo indicadas:
• A albumina é a principal responsável pela pressão oncótica do sangue, que é a pressão
osmótica devido às proteínas no sangue.
• A vitamina K é importante para a síntese de fatores de coagulação, tanto aqueles
dependentes quanto independentes dela. Ela também é responsável pela degradação desses
fatores e pela fibrinólise.
• As glicoproteínas e proteínas transportadoras de ferro, como a ferritina e transferrina, são
importantes na regulação do ferro no corpo. Outras proteínas estão envolvidas no processo
de fibrinólise, que é a dissolução de coágulos sanguíneos.
O corpo humano armazena minerais como ferro para produzir hemoglobina e também metaboliza
carboidratos e aminoácidos para gerar energia, armazenando-a em forma de ATP.
O corpo humano metaboliza substâncias tóxicas, medicamentosas e hormonais, como álcool,
antibióticos, estrógenos, testosterona e insulina.
Esta acção química pode ser de:
• Activação, mediante a transformação das substâncias precursoras inactivas em outras já
activas que libera no sangue; ou de
• Desactivação, mediante a captação dos princípios activos desde o sangue e sua degradação
em metabólitos inactivos, que depois serão excretados com a bílis ou devolvidos ao sangue
para serem eliminados com a urina.
Produção ou activação de vitaminas, como a D (para calcificação dos ossos) ou a K (para a síntese
dos factores da coagulação).

20
Limpeza do sangue, mediante a fagocitose (através das células de Kupfer) de restos celulares e
microrganismos.
As funções do pâncreas são duas, realizadas por cada uma das partes histológicas:
Pela glândula pancreática exócrina: produção e excreção no duodeno pela via pancreática, do suco
pancreático.
Pela glândula pancreática endócrina (ilhotas de Langerhans): produção e secreção ao sangue de
hormónios que regulam o metabolismo dos carbohidratos, insulina e glucagon principalmente.

Regulação da Digestão
As três funções do sistema digestivo (motilidade, digestão e absorção) que conduzem ao
aproveitamento dos nutrientes dos alimentos estão reguladas por diferentes mecanismos locais e
sistémicos, mediados por:
Estruturas nervosas (regulação nervosa), que incluem:
• Sistema nervoso autónomo simpático, inibidor geral das funções digestivas ( diminui o
peristáltismo e a actividade secreto-motora);
• Sistema nervoso autónomo parassimpático ou vagal (do nervo vago), estimulador geral das
funções digestivas ( aumenta o peristaltismo, a actividade secreto-motora e relaxa os
esfíncteres involuntários) ;
• Sistema nervoso entérico constituído pelos plexos submucoso e mioenterico que são
estruturas nervosas da parede intestinal. Este sistema pode dar origem as respostas locais
directas ou sob a influencia do sistema nervoso autónomo
• Alças de retroalimentação para o Sistema Nervoso Central que integram e coordenam as
actividade entre Sistema Nervoso Entérico e o Sistema Nervoso Autónomo.
Hormónios, produtos químicos produzidos no próprio intestino ou em outros órgãos que
comandam acções do tubo digestivo (regulação hormonal).
O apetite ou vontade de comer é regulado pelo equilíbrio entre dois centros do hipotálamo: centro
da fome e centro da saciedade, que controla o anterior por mecanismo homeostático
(retroalimentação negativa).
A redução da concentração da glicose no sangue (hipoglicémia) e outros estímulos bioquímicos
inibem (desactivam) o centro da saciedade, de maneira que o centro da fome desencadeia a
sensação de vontade de comer, que estimula a procura e ingestão de alimento.
Uma vez ingerido o alimento, a glicose aumenta no sangue e activa o centro da saciedade, que
trava o centro da fome (retroalimentação negativa).
A Salivação tem regulação nervosa exclusivamente, desde o centro da salivação do bulbo, que
envia ordens às glândulas salivares por via parassimpática para a sua contracção, que provoca a
secreção salivar. Existem diferentes estímulos:

21
Estímulos positivos, que provocam maior salivação:
• Informação directa da presença de alimentos apetitosos pelo sentido do gosto (papilas
gustativas da língua).
• Informação indirecta da presença de alimentos apetitosos por outros sentidos (ver, cheirar
ou pensar em comida).
• Presença de alimento na boca, faringe ou esófago. A irritação destes órgãos provoca
também a salivação, pelo que uma salivação excessiva, sem relação com a comida pode
ser sintoma de tumores ou inflamações a estes níveis.
• Estimulação parassimpática, como se produz em estados de relaxamento ou com certos
medicamentos ou drogas parassimpaticomiméticos (medicamentos que estimulam a
actividade do sistema nervoso parassimpático).
Estímulos negativos, que reduzem a salivação:
• Informação pelos órgãos dos sentidos sobre o estado dos alimentos em mal estado ou coisas
nojentas.
• Desidratação reduz a produção de saliva, mediante mecanismo homeostático de poupança
de água.
• Inibição parassimpática, como se produz em estados de ansiedade e alerta ou com certos
medicamentos ou drogas (parassimpaticolíticos).
A composição e volume da saliva depende do tipo de alimento ingerido: substâncias ácidas e
secas produzem mais saliva aquosa; substâncias proteícas e com carbohidratos provocam maior
secreção enzimática.
A deglutição tem também regulação nervosa (mediante o centro da deglutição do bulbo),
começando com um mecanismo voluntário (a língua empurra o bolo alimentar para a faringe) e
continuando com reflexos simples provocados pela própria presença de alimento.
A chegada do bolo à faringe estimula o centro da deglutição, que responderá provocando:
• Encerramento da nasofaringe e laringe, para evitar a passagem do bolo para a via aérea,
• Inibição do centro respiratório do bulbo, para parar a respiração, e
• Contracção da musculatura faríngea, para empurrar o bolo até o esófago.
A chegada do bolo ao esófago provoca, por meio de estímulo parassimpático (vagal) a contracção
ondulatória (Peristálse) da musculatura esofágica, empurrando o bolo até o estômago.
O estômago tem regulação mista:
• Nervosa, pelos nervos vago (estimulador) e simpático abdominal (inibidor), e
• Hormonal, pela gastrina, hormónio estimulador produzido pelo próprio epitélio gástrico,
que facilita a secreção de suco gástrico, os movimentos de mistura e de propulsão e o
relaxamento do piloro
A regulação gástrica faz-se em 3 fases:

22
• Cefálica, que começa antes da chegada do bolo ao estômago e na que participam os níveis
superiores do encéfalo. Assim, a visão, cheiro,… de alimentos provoca, além de salivação,
secreção de suco gástrico e movimentos do estômago (contracções de fome)
• Gástrica. A chegada de alimento ao estômago provoca um reflexo simples: o enchimento
do fundo gástrico e o aumento do pH gástrico pelo alimento, estimulam a secreção de
gastrina.
• Intestinal. A entrada de quimo no duodeno provoca a libertação de hormónios intestinais
com função oposta à gastrina, diminuindo a secreção gástrica e retardando o esvaziamento
gástrico.
O intestino delgado, como o estômago, tem regulação nervosa e hormonal.
A chegada de quimo ácido ao duodeno desencadeia a liberação de diferentes hormónios da própria
mucosa duodenal:
• Enterogastrona, secretada quando passa uma porção de quimo pelo piloro, inibindo a
motilidade e a secreção gástrica. Quando essa porção avança e deixa o duodeno, este se
esvazia, cessando a produção de enterogastrona, e o estômago, agora já não inibido, reinicia
a motilidade, deixando passar uma nova porção de quimo para o duodeno, reiniciando o
ciclo.
• Secretina, secretada quando o duodeno recebe ácido do quimo, estimulando o pâncreas
para liberar um suco pancreático rico em água e bicarbonato.
• Colecistocinina, secretada perante um quimo rico em gorduras, estimula a liberação de bílis
e de suco pancreático.
A chegada de quimo ao duodeno também desencadeia os movimentos (de mistura e de propulsão)
do intestino delgado, que tem uma regulação mista:
• Gastrina, colecistocinina e insulina estimulam a motilidade intestinal
• O nervo vago, perante a distensão mecânica do duodeno, estimula a Peristálse. A falta do
reflexo (sempre que o intestino está vazio), faz com que o simpático predomine, inibindo
a motilidade.

O intestino grosso tem regulação nervosa.


A entrada de quilo no cego provoca a distensão deste, que tem efeito reflexo sobre a actividade
parassimpática (nervo vago) provocando as contracções da parede do cólon:
• Peristaltismo suave do cólon ascendente e transverso, que faz avançar lentamente o bolo
fecal.
• Movimentos em massa de todo o cólon, para depositar o material fecal no recto.
A distensão gástrica (quando passa o bolo alimentar ao estômago), provoca outros dois reflexos
simples por via parassimpática:

23
• Gastro-ileal, pelo que estimula a motilidade do íleo e portanto, a passagem de quilo pela
válvula íleo-cecal.
• Gastro-cólico, que provoca movimentos em massa do cólon.
A defecação é regulada por duas vias nervosas interligadas. A distensão do recto envia um sinal com dois
destinos:
A nível da medula espinal sacra, que provoca involuntariamente o reflexo da defecação:
contracção do recto e relaxamento do esfíncter interno
A nível do hipotálamo e outros centros cerebrais, que provoca a vontade de defecar, que permite
a defecação só se voluntariamente se faz o relaxamento do esfíncter anal externo e a contracção
da musculatura da parede abdominal e diafragma.

Patologia Digestiva
Grande parte da patologia de esófago e estômago se dá pela condição extremamente ácida do
conteúdo gástrico:
O refluxo gastro-esofágico se dá quando o esfíncter esofágico inferior não se fecha
adequadamente, permitindo ao quimo ácido reflua para a parte inferior do esófago. Isto causa azia,
com sensação de queimação epigástrica e retroesternal chamada pirose.
• Disfagia refere-se à dificuldade para a deglutição do alimento, que acontece em diferentes
doenças do esófago.
A alteração (por bactérias, medicamentos,…) da barreira de muco que protege a mucosa gástrica
do seu próprio ácido, provoca:
• Lesões difusas da mucosa (gastrite) ou
• Lesões localizadas e profundas (úlceras gastro-duodenais) que até podem sangrar
severamente ou perfurar a parede do estômago ou duodeno.
Diarreia é a evacuação frequente (mais de 3 vezes por dia) de fezes, que geralmente são fezes
líquidas ou pastosas, ocasionalmente acompanhadas de sangue (disenteria).
Obstipação ou Constipação é a evacuação pouco frequente (menos de 3 vezes por semana) de
fezes, geralmente duras. É uma condição de longa duração (meses), geralmente relacionada com
hábitos alimentares e higiénicos inadequados. O termo constipação, embora seja sinónimo de
obstipação, na prática clínica e como senso comum, tem-se usado para se referir a congestão nasal
por resfriado, gripes.
A Obstrução Intestinal é uma condição aguda, de muitas possíveis causas, caracterizada pela
obstrução completa do trânsito intestinal, de maneira que não há emissão de fezes nem de gases e
se acompanha geralmente de vómitos.

24
O fígado adoece principalmente pela acção de tóxicos (álcool, principalmente) e de
microorganismos (como o vírus da hepatite), que podem actuar durante muito tempo (cronificar)
até diminuir a função do fígado. Esta situação chama-se insuficiência hepática e pode provocar:
• Retenção de líquidos no interstício de todo o corpo, especialmente na cavidade peritoneal
(ascite), devido a diminuição da produção de albumina (proteína plasmática que mantém a
pressão oncótica do sangue) e/ou aumento da pressão hidrostática.
• Sangramentos, por diminuição da produção de factores da coagulação.
• Alterações metabólicas, pela incapacidade de realizar as suas funções habituais e pela
incapacidade para metabolizar medicamentos e tóxicos.
A obstrução ao fluxo do sangue pela veia porta (por trombose da mesma ou por doença crónica
do fígado) provoca um aumento da pressão do sangue do seu território (hipertensão portal), que
frequentemente provoca sangramentos dentro do próprio tubo digestivo (hemorragia digestiva
alta).
A via biliar produz frequentemente cálculos (formações minerais, como pedras, por cristalização
dos seus componentes). Os cálculos podem não dar problemas ou provocar diferentes doenças, em
relação à obstrução e infecção da via biliar e do pâncreas.
Doenças do pâncreas incluem: a sua inflamação aguda com auto-digestão do órgão pelos enzimas
que contém (pancreatite aguda), a sua inflamação crónica e cicatrização do seu tecido (pancreatite
crónica) e os tumores (carcinoma pancreático). Lesões das células beta das ilhotas de
Langerhans no pâncreas resultam em diabetes insulino-dependente

25
Conclusão
O aparelho digestivo é um sistema essencial para a nossa sobrevivência e manutenção da saúde.
Composto por diversos órgãos que trabalham em conjunto para transformar os alimentos em
nutrientes, sua importância é inegável. Entretanto, a má alimentação, o estresse e outras condições
podem afetar negativamente o funcionamento desse sistema, causando sintomas desagradáveis e
problemas de saúde. Por isso, é fundamental adotar um estilo de vida saudável, que inclua uma
dieta equilibrada, atividades físicas e cuidados com a saúde mental. Além disso, é importante estar
atento aos sintomas gastrointestinais e buscar atendimento médico em caso de necessidade, a fim
de obter diagnóstico e tratamento adequados. Com essas atitudes, é possível garantir um aparelho
digestivo saudável e uma vida mais plena e feliz.

26
Bibliografia:

GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2017.
SCHMITT, V. L. et al. Tratado de Gastroenterologia: da Graduação à Pós-graduação. 2ª ed. Porto
Alegre: Artmed, 2017.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE GASTROENTEROLOGIA. Aparelho Digestivo. Disponível
em: https://www.sbgg.org.br/publico/pacientes/aparelho-digestivo/. Acesso em: 12 abr. 2023.
Frank H. Netter, MD, Atlas of Human Anatomy, Fifth Edition, Saunders - Elsevier, Chapter 4
Abdomen, Subchapters 24 to 31.
Neil S. Norton, Ph.D. and Frank H. Netter, MD, Netter’s Head and Neck Anatomy for Dentistry,
2nd Edition, Elsevier Saunders, Chapter 22 Introduction to the Upper Limb, Back, Thorax and
Abdomen, Page 556 to 614.

27

Você também pode gostar