Você está na página 1de 36

Rosa António Gaspar

A Organização Social Linguística, caso do Bairro Saguar, na Cidade de Quelimane -


2021

Licenciatura em Ensino de Português com Habilitações em Língua Portuguesa como


Estrageira
4º Ano

Universidade Licungo
Quelimane
2021
Rosa António Gaspar

A Organização Social Linguística, caso do Bairro Saguar, na Cidade de Quelimane -


2021

Licenciatura em Ensino de Português com Habilitações em Língua Portuguesa como


Estrageira
4º Ano

Projecto Científico para a produção da


Monografia Científica a ser apresentado
no Departamento de Letras e
Humanidades.

Supervisor:
Dr. João Samuel.

Universidade Licungo
Quelimane
2021
3

Índice
Declaração.................................................................................................................................iii
Dedicatória.................................................................................................................................iv
Agradecimentos..........................................................................................................................v
Resumo......................................................................................................................................vi
Introdução...................................................................................................................................7
CAPÍTULO I – CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA......................................................8
1. Tema.......................................................................................................................................8
1.1. Delimitação do tema............................................................................................................8
1.2. Objectivos............................................................................................................................8
1.2.1. Geral..................................................................................................................................8
1.2.2. Específicos........................................................................................................................8
1.3. Justificativa..........................................................................................................................8
1.4. Problematização...................................................................................................................9
1.5. Hipóteses............................................................................................................................10
1.6. Metodologias......................................................................................................................10
1.6.1. Tipo de Pesquisa.............................................................................................................10
1.6.2. Quanto a Abordagem......................................................................................................10
1.6.3. Quanto aos Objectivos....................................................................................................11
1.6.4. Quanto ao Procedimento.................................................................................................11
1.6.5. Método de Abordagem...................................................................................................11
CAPÍTULO II: REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................12
2. Língua e Sociedade...............................................................................................................12
2.1.1. A Língua e os Reflexos da Posição Social do Falante....................................................17
2.2. Factores que Contribuem para a Organização Social Linguística.....................................18
2.2.1. Calão...............................................................................................................................18
2.2.2. Gírias...............................................................................................................................18
2.2.3. Jargão..............................................................................................................................19
2.3. Variação Linguística..........................................................................................................20
2.3.1. Tipos de variação............................................................................................................21
2.3.2. A Variação Dialectal.......................................................................................................21
2.3.3. Variedades Geográficas..................................................................................................21
2.3.4. Variedades Sociais.....................................................................................................22
4

CAPÍTULO 3: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS..............................................23


3.1. A Organização Social Linguística, caso do Bairro Saguar................................................23
3.2. Conclusão...........................................................................................................................33
Referências Bibliográficas........................................................................................................34
iii

Declaração
Declaro que a presente monografia intitulada Organização Social Linguística dos
Moradores do Bairro Saguar – Quelimane, foi por mim produzida e que não foi apresentado
em nenhuma outra instituição.
iv

Dedicatória
Dedico a presente monografia aos meus pais António Gaspar e Maria Amélia da Silva.
v

Agradecimentos
Ao meu supervisor, Dr. João Samuel, pela atenção, paciência e dedicação que tem como
docente, e pela disponibilidade demonstrada na orientação deste trabalho de pesquisa.

Aos docentes do Departamento de Letras e Humanidades da Universidade Licungo -


Delegação de Quelimane, em especial aos docentes do curso de Licenciatura em Ensino de
Português, pelos saberes partilhados durante todo o percurso académico.

Aos moradores do Bairro Saguar, por permitir que a pesquisa fosse desenvolvida.

Aos meus pais, António Gaspar e Maria Amélia da Silva que sempre deram o seu
contributo na minha vida académica.
vi

Resumo
A presente monografia de pesquisa tem como tema: Organização Social Linguística dos
Moradores do Bairro Saguar – Quelimane – 2021. E tem como objectivo geral: Identificar os
factores linguísticos que influenciam na organização social dos moradores do Bairro Saguar,
em Quelimane. Desta feita, durante a colecta de dados, verificou-se que são vários os factores
que influenciam na organização social linguística dos moradores do Bairro Saguar, como a
questão de idade, isto é, vimos que muitos gostam de conversar com pessoas da mesma idade
ou pessoas com idades acima deles; sexo, referente a sexo, concluímos que muitos gostam de
conversar com pessoas de sexo oposto; língua, vimos que muitos usam a língua portuguesa
para se comunicar; origem, isto é, muitos gostam de conversa com pessoas de mesma origem,
por partilharem os mesmos hábitos, costumes, e língua; e profissão, visto que estão em
constante contacto no local de trabalho, o que seria muito estranho, se não conversassem
juntos. No que diz respeito a estrutura, de salientar que a monografia encontra-se estruturada
em capítulos, isto é, apresenta três capítulos, sendo o primeiro, de contextualização da
pesquisa, o segundo, é o referencial teórico, que apresenta os subsídios teóricos, com base em
conceitos de vários autores, e por fim, o terceiro capítulo, que é o de análise e interpretação de
dados.
Papalvras-Chaves: Língua, Sociedade.
7

Introdução
A comunicação é uma das principais funções da língua. Através dela os homens se
desenvolvem, argumentam, perguntam, ensinam e instruem outros. A língua faz parte da
nossa identidade e da nossa cultura e está presente nas experiências do nosso quotidiano. Com
a invenção da escrita, a humanidade deixou o período da pré-história e passou a fazer
História. Foi um divisor de águas, pois com o uso da escrita pôde perpetuar-se o
conhecimento já adquirido e multiplicá-lo para que outras pessoas aprendessem.

No entanto, muitas coisas mudaram nesses cinco séculos, e a Língua Portuguesa ganhou
novas palavras, perdeu outras, por ocasião de desuso, e recebe constantemente a influência
dos empréstimos linguísticos de outras culturas. Porém, um país com dimensões continentais
e com tamanha diversidade cultural, é acometido também por diferenças marcantes que vão
desde as diferentes classes sociais até àquelas ligadas às relações étnico-raciais. Portanto,
seria impossível que não existissem variações que acompanhassem essa evolução da
sociedade e, sobretudo, da língua, e daí o surgimento das mais diversas variedades
linguísticas, tal como aconteceu com a Língua Portuguesa, que surgiu depois de inúmeras
reformulações do Latim.
8

CAPÍTULO I – CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA


Como o nome já diz, Contextualização da Pesquisa, é no entanto, a parte em que
fazemos menção a todos procedimentos que foram usados para a materialização do presente
trabalho, desde o tema até as metodologias, como se evidencia a seguir:

1. Tema

A Organização Social Linguística.

1.1. Delimitação do tema

A Organização Social Linguística, caso do Bairro Saguar, na Cidade de Quelimane.

1.2. Objectivos
1.2.1. Geral
 Identificar os factores linguísticos que influenciam na organização social dos
moradores do Bairro Saguar, em Quelimane.

1.2.2. Específicos
 Descrever os factores linguísticos influenciadores na organização social dos
moradores do Bairro Saguar, em Quelimane.
 Examinar como a língua influencia na forma escrita e oral para a organização social
dos moradores do Bairro Saguar em Quelimane;
 Propor condições que garantam uma boa organização social dos moradores do Bairro,
Saguar em Quelimane.

1.3. Justificativa
A escolha do tema baseia-se no interesse de investigar a interferência da oralidade e do
meio social no processo de organização social.

Não obstante, um dos factores que nos motivou a escolha do tema foi pela observância
nas diferentes sociedades que o falante não muda por si só sua maneira de falar, isto é, não é a
fala em si que faz com que o falante mude de posição social, mas, ao contrário, é a mudança
de posição social que faz o falante mudar sua maneira de falar. Porém essa mudança é
relativa, pois mesmo que o falante mude de posição social, sua língua não muda por
completo. Há marcas linguísticas que permanecem e fazem com que se perceba a sua origem
social.
9

De forma geral, pretendemos com o presente trabalho fazer compreender que não se
pode dissociar a forma linguística da posição social do falante, pois uma se reflecte na outra.
Numa sociedade de classe, as mobilidades sociais se reflectem na língua, muito embora, numa
análise mais apurada, seja possível identificar a origem social do falante que ascendeu a uma
classe de status mais elevada. As marcas linguísticas não se resumem à posição de classe, mas
também às relações de género e etnia, entre outras.

De forma particular, ao explorar o presente tema, pretendemos deixar o nosso parecer


sobre como a língua se manifesta na sociedade, isto é, demonstrando como a língua influencia
para a organização social linguística no Bairro Saguar, na Cidade de Quelimane.

Não obstante, pretende-se também com o mesmo trabalhar fazer perceber que a
organização social linguística não é feita de forma voluntária, no entanto, o tal processo pode
ser considerado normal.

1.4. Problematização
A mudança social não é autónoma, há sempre um movimento que a impulsiona. Uma
vez que a sociedade não é homogénea, os interesses dos grupos sociais que a compõem não
convergem para o mesmo fim e, devido à estratificação social, são por vezes conflitantes.

Não obstante, um dos factores que afecta ou impulsiona na organização social


linguística dos moradores do bairro Saguar na cidade de Quelimane, é o facto de muitos
profissionais, quer cidadãos e jovens optarem no uso desenfreado do calão e jargão, por parte
dos profissionais de uma certa área profissional. Portanto, isto de certa forma contribui para
aquilo a que podemos denominar por exclusão social linguística.

Observa-se actualmente que a ordem social se mantém sob o risco constante de


desordenar-se, pois, é confrontada continuamente com acções de resistência, as quais se
reflectem em todos os âmbitos da vida social. No entanto, sendo a língua um reflexo do grau
de desenvolvimento de uma sociedade e que seus valores são traduzidos na fala da
comunidade, ela não deixa de ser uma forma de demarcação social, porque as barreiras de
classe também são barreiras linguísticas e quando há um nivelamento de classe também há
um nivelamento linguístico.
10

Não obstante, as mudanças sociais são reflectidas no padrão linguístico e, da mesma


forma que estas, as mudanças linguísticas podem acontecer de baixo para cima ou de cima
para baixo como reflexo das lutas sociais no âmbito linguístico.

Importa aqui salientar que uma mudança linguística que se estabelece não ocorre por si
só, mas tem relação com o grupo social que a desencadeia. A força social do grupo
impulsiona a consolidação da mudança linguística. Se o grupo não consegue ascensão social,
sua forma linguística se torna estigmatizada. Então, a organização social linguística está
relacionada com a mudança do grupo, originário da forma linguística, na estrutura social.

Entretanto, percebe-se que na Cidade de Quelimane em geral, e em especial no bairro


Saguar, há variedades de língua originária de organização social. E, tendo em conta que a
língua serve de elo de socialização na comunidade e faculta a convivência social. Desta feita,
para perceber a relação que se estabelece entre as pessoas tendo em conta as línguas que
convivem com elas no seu quotidiano, considera-se inerente formular a seguinte questão:
Como se organizam social e linguisticamente os moradores do bairro Saguar, na cidade
de Quelimane?

1.5. Hipóteses
 No Bairro Saguar encontra-se diferentes níveis sociais e linguísticos organizados
dependendo das diferenças de interesses e ocupações de seus falantes;
 Há diferenças sociais, delimitadas por níveis educacionais, etárias, económicos e
étnicos dos falantes;
 No Bairro Saguar a organização linguística é feita tendo em conta as diferenças
regionais.

1.6. Metodologias
1.6.1. Tipo de Pesquisa
1.6.2. Quanto a Abordagem
A presente pesquisa é qualitativa. Pois considera-se que há uma relação dinâmica entre
o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objectivo e a
subjectividade do sujeito que não pode ser traduzido em números.

Assim, pesquisa não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural
é a fonte directa para colecta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. Os
11

pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são
os focos principais de abordagem.

1.6.3. Quanto aos Objectivos


É importante referir que quanto aos objectivos a pesquisa é exploratória. Pois ela visa
proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a
construir hipóteses.

Torna-se pertinente aferir que este tipo de pesquisa envolve levantamento bibliográfico;
entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado;
análise de exemplos que estimulem a compreensão. Assume, em geral, as formas de Pesquisas
Bibliográficas e Estudos de Caso.

1.6.4. Quanto ao Procedimento


Em relação ao procedimento a mesma pesquisa é estudo de caso. Acredita-se que a
mesma envolve um estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objectos de maneira que se
permita o seu amplo e detalhado conhecimento.

1.6.5. Método de Abordagem


Método científico é o conjunto de processos ou operações mentais que se devem
empregar na investigação. É a linha de raciocínio adoptada no processo de pesquisa. Os
métodos que fornecem as bases lógicas à investigação são: dedutivo, indutivo, hipotético-
dedutivo, dialéctico e fenomenológico (Gil, 1999; Lakatos; Marconi, 1993).

Assim, para a presente pesquisa usou-se o método indutivo. Partindo do pressuposto de


que no raciocínio indutivo a generalização deriva de observações de casos da realidade
concreta.
12

CAPÍTULO II: REFERENCIAL TEÓRICO


O Referencial Teórico corresponde a segunda parte do trabalho, que é, no entanto, onde
mencionamos, partindo de obras escritas, todos os aspectos relacionados ao tema de pesquisa,
de modo a dar mais sustentabilidade ao trabalho.

2. Língua e Sociedade
A linguística, a ciência que tem como foco e objecto de estudo descrição das línguas,
durante muito tempo não demonstrou interesse pelos aspectos da natureza social que
envolvem a língua. Assim, a linguística do século XX, tendo como molde de estudos o
estruturalismo liderado por Saussure, traça os limites entre a língua e os aspectos sociais.

Mesmo Saussure (2003) reconhecendo a relação harmoniosa entre a língua e sociedade,


optou por não considerar a natureza social, naquele momento, seu objecto de estudos
linguísticos. Estabeleceu, então, a língua oposta à fala como objecto de análise, estimulando a
descrição do sistema formal da língua como papel da linguística.

Dessa forma, Saussure constitui a dicotomia língua (language) e discurso (parole),


mesmo tendo definido a língua como um facto social, visto ser um sistema convencional
aprendido pelos falantes na convivência, em sociedade, e optou por excluir das pesquisas
linguísticas os elementos da ordem social, visto seu carácter heterogéneo.

Assim, para Martinet (519: 2014), língua é um instrumento de comunicação segundo o


qual a experiência humana se analisa, diferentemente em cada comunidade, em unidades
dotadas de um conteúdo semântico e de uma expressão fónica, os fonemas; esta expressão
fónica articula-se por sua vez em unidades distintivas e sucessivas, os fonemas, em número
determinado em cada língua, cuja natureza e relações mútuas diferem também elas de uma
língua para outra.

Em outras palavras podemos afirmar que língua é um sistema organizado de sons de


que nos servimos para expressar ideias e comunicar com os falantes conhecedores do mesmo
código.

Faria et al (1996: 482), língua no uso mais comum, é uma noção político-institucional.
Corresponde a um sistema linguístico abstracto, que por razões políticas, económicas e sociais
adquiriu independência tanto funcional como psicológica para os seus falantes.
13

Numa segunda acepção o termo ‘língua’ é usado numa perspectiva histórica, e está
relacionada com a noção de dialecto.

Partindo desses conceitos acima referenciados podemos dizer que a língua é um


depósito de signos e de regras combinatórias, que propiciam todos os falantes de uma
comunidade linguística a capacidade de comunicarem.

A fala ocorre através de um processo natural, é apreendida por meio da tradição oral e
tem carácter funcional, é inovadora por suas tendências livres.

Alguns autores defendem a ideia de que a fala apresenta características distintas, como
ser incompleta, não planificada, fragmentária, pouco elaborada, ter predominância de frases
curtas, e com pouco uso de passivas. Porém, a fala é estigmatizada e marginalizada por não
obedecer sempre à norma padrão, principalmente quando falada pelas classes populares.

A língua não se realiza num vácuo social. Ela não existe fora da sociedade, da mesma
forma que a sociedade não existe sem ela. A relação entre língua e sociedade não é uma
relação em que uma determina a outra, mas de interacção entre elas, em que uma se refracta
na outra, num sistema de influências.

Labov (2008:19), argumenta que numa sociedade estratificada, a língua não foge à
estratificação. Ela não é um corpo à parte, ela refracta a estrutura estratificada da sociedade,
pois “correlacionando-se o complexo padrão linguístico com diferenças concomitantes na
estrutura social, será possível isolar os factores sociais que incidem directamente sobre o
processo linguístico.

A língua é um espelho pelo qual se pode observar o desenho da sociedade. Esta não é
estática, da mesma forma que a língua também não é, ambas evoluem constantemente num
processo de interacção.

A evolução linguística não ocorre por si só. A mudança linguística não é autónoma, ela
não engendra a si mesma, ela faz parte de um processo de interacção social.

Face a isso, Bakhitin (2009, 67),corrobora o seguinte: “sabemos que cada palavra se
apresenta como uma arena em miniatura onde se entrecruzam e lutam os valores sociais de
orientação contraditória. A palavra revela-se no momento de sua expressão, como um produto
da interacção viva das forças sociais”.
14

A palavra é a materialidade da língua, é nela que a língua se realiza, mas não só na


palavra em si, mas em todo um contexto no qual está envolto o falante. O contexto de fala não
pode ser excluído da significação linguística e é em decorrência desse contexto que a língua
evolui, transforma-se.
[...] não se pode entender o desenvolvimento de uma mudança
linguística sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela
ocorre. Ou, dizendo de outro modo, as pressões sociais estão operando
continuamente sobre a língua, não de algum ponto remoto no passado,
mas como uma força social imanente agindo no presente vivo (Labov,
2008: 21).

O desenvolvimento linguístico de uma comunidade tem relação com a sua vida social,
as pressões sociais operam também sobre a língua. Toda mudança social se propaga também
na língua da comunidade, há uma inter-relação entre uma e outra, sendo que tanto uma como
a outra vivem continuamente em processo de transformação, que não são autónomos, mas
interdependentes. Se a língua muda, não pode ser por si só. Se ela surge por necessidade
social, também é necessário que ela se transforme em decorrência dela.

O desenvolvimento linguístico de um falante não é um processo centrado na sua


individualidade. O falante em si não é o senhor de sua língua, ele não fala a língua que deseja,
mas a língua que lhe é possível falar, com as formas verbais próprias de sua comunidade
linguística, que também é social, cultural e económica. A língua só se constitui como tal
devido às necessidades sociais, económicas e culturais, é só em decorrência dessas
necessidades que ela existe, e é em decorrência delas que ela se desenvolve, sendo que não se
pode deslocá-la de seu contexto de realização sem que ela perca significação.

A linguagem não é objectiva. Deve-se considerar a posição do sujeito em relação ao


tempo e ao espaço. Ela não visa à tradução objectiva das coisas, mas também não é produto
de um subjectivismo fundamentado na consciência de um sujeito deslocado do tempo e do
espaço. Em todo discurso está presente o sujeito que o produz, mas não é um sujeito que fala
por si mesmo, ele fala a partir de uma determinada posição social, o seu discurso ultrapassa a
sua individualidade para se tornar voz de uma colectividade, ou melhor, de um grupo social.

O sujeito não se sobrepõe ao tempo e ao espaço, mas ele é o que é em decorrência


desses factores e de outros mais, por isso que em um discurso encontra-se a presença do
sujeito que fala, mas também do contexto sociocultural no qual ele está inserido, o qual é
15

parte constitutiva do próprio sujeito. Assim, através do discurso, o sujeito não só revela algo,
como também a si mesmo e ao contexto sociocultural no qual ocupa determinadas posições
sociais.

O contexto espacial no qual está inserido o sujeito representa a influência que o espaço
exerce sobre ele. O desenvolvimento linguístico de um falante é influenciado pelos factores
sociais. Foucault diz que a linguagem mantém relação estreita com o espaço. Ela não é
desenvolvida no interior de cada ser humano, mas influenciada pelo meio exterior a si mesma,
“desde o fundo dos tempos, a linguagem se entrecruza com o espaço” (Foucault, 2000: 12).

Da mesma forma, Labov diz que toda mudança linguística é influenciada pelo contexto
em que o falante vive, sendo que “nenhuma mudança ocorre num vácuo social. Até mesmo a
mudança em cadeia mais sistemática ocorre num tempo e num lugar específicos” (Labov,
2008:20).

O contexto sociocultural influencia o discurso, pois este não é um ato livre do sujeito ou
de sua consciência, mas influenciado pelos determinantes socioculturais do contexto de vida
do sujeito.

A língua é um código que se materializa na fala e na escrita, tanto uma como a outra se
inserem num sistema linguístico, porém esse sistema não pode ser considerado em si mesmo,
porque em si mesmo ele não existe. Ele só existe em função de uma realidade sociocultural na
qual o falante da língua está inserido.

Não se pode dissociar a língua do falante que a utiliza, como não se pode deslocar o
falante de seu contexto de vida. Um está no outro de uma forma indissociável: língua e
falante, falante e contexto de vida. Dessa forma, a língua se relaciona com o contexto de vida
do falante com todas suas nuances (sociais, culturais, económicas, históricas, artísticas,
religiosas etc). Assim, a língua não pode ser analisada como um sistema formal isolado de
significações socioculturais. Este entendimento se afasta da concepção saussuriana, que
compreende que a “língua previamente realiza conceitos isolados, que esperam ser
relacionados entre si para que haja significação do pensamento” (Saussure, 1978: 04).

Ao contrário, não se pode isolar os signos linguísticos de suas significações


socioculturais, pois estes só podem ganhar significação dentro de um contexto sociocultural.
16

Não obstante disso, é importante salientar que quando se relaciona a supervalorização


linguística com as relações sociais, observa-se que as formas verbais valorizadas são as de uso
da classe social dominante, daí a estreita relação entre a estratificação da língua e a
estratificação social.

Entretanto, é também, menos importante ter cuidado quando se pretende relacionar a


estrutura social com a estrutura linguística, sendo que elas não são coextensivas, pois a grande
maioria das regras linguísticas estão bastante distantes de qualquer valor social.

Assim, (Labov, 2008:290), afirma também que “os valores sociais são atribuídos a
regras linguísticas somente quando há variação”, isto porque os falantes não aceitam que
variantes linguísticas diferentes tenham o mesmo significado e quando um grupo social tem
uma variante diferente, os valores sociais desse grupo são transferidos para essa variante.
Com isso, o contexto social em que se produz uma forma linguística influencia no valor que
se atribui a ela. Daí a impossibilidade de se negar a relação entre língua e sociedade.

O valor social da língua só ganha relevância quando formas linguísticas se contrapõem,


ou seja, quando há variação linguística, pois a forma valorizada será a de uso da classe ou
grupo que possui maior status social.

Dessa forma, não há elemento interno na forma verbal que justifique o seu valor de uso,
mas, ao contrário, são elementos extralinguísticos que lhe conferem a supremacia em relação
às formas linguísticas concorrentes. Dessa forma, uma forma linguística é valorizada ou
desvalorizada em função da classe ou do grupo social que a realiza. Ela em si não possui valor
social; este se agrega a ela a partir da posição social de quem a realiza.

O valor social da língua é um mecanismo criado pela estratificação social e ao mesmo


tempo um mecanismo de manutenção dessa estratificação. Não há como existir uma língua
não estratificada em uma sociedade estratificada, uma vez que ela surge e se desenvolve pelas
necessidades sociais.

De acordo com Meillet, 1921 apud Calvet, 2002, p. 16), pelo simples facto da língua ser
um fato social resulta que a linguística e uma ciência social, e o único elemento variável ao
qual se pode recorrer para dar conta da variação linguística e a mudança social”

Como se pode notar nessa citação, do ponto de vista de Meillet, toda e qualquer
variação na língua é motivada estritamente por factores sociais.
17

Por ora, a língua é um instrumento de uso dos falantes de um grupo social, sendo que o
contexto sociocultural dos falantes muda em decorrência do grupo social ao qual o falante
pertence, então, inevitavelmente há formas linguísticas inerentes a cada grupo social, sendo
que existe um núcleo linguístico comum, mas também um núcleo diversificado dentro de uma
sociedade de classe. Em relação ao núcleo comum não há valor social explícito, porém em
relação ao núcleo diversificado, a estratificação social é reflectida na língua. A partir da fala
se identifica o grupo social ao qual o falante pertence.

2.1.1. A Língua e os Reflexos da Posição Social do Falante


A língua identifica, mas também diferencia os grupos sociais e os falantes desses
grupos. Ela marca a posição social do falante. Numa sociedade estratificada, ela é um
elemento de identidade de um grupo social e, ao mesmo tempo, é uma marca que o diferencia
dos outros grupos. Há níveis e barreiras na sociedade que são percebidos e exercidos também
na língua. Não é ela que cria a estratificação social, mas reflecte-a, regista e marca essa
estratificação.

São as classes que agrupam as profissões e as separam. A língua regista essa separação:
as funções exercidas por artesões não se chamam profissões e sim ofícios” (Goblot, 1989:38).

A simples distinção entre profissão e ofício demarca uma divisão de classe que se
concretiza também na língua. Não é a partir da língua que se supera a estratificação social. Ela
por si só não é capaz de desencadear mudanças radicais na estrutura social, mas é a partir dela
que se transmitem valores e ideias, ou seja, o conteúdo ideológico que alicerça e constrói os
fundamentos da sociedade.

A variação no comportamento linguístico não exerce, em si


mesma, uma influência poderosa sobre o desenvolvimento social, nem
afecta drasticamente as perspectivas de vida do indivíduo; pelo
contrário, a forma do comportamento linguístico muda rapidamente à
medida que muda a posição social do falante. Essa maleabilidade da
língua sustenta sua grande utilidade como indicador de mudança social
(Labov, 2008:140).
18

2.2. Factores que Contribuem para a Organização Social Linguística


2.2.1. Calão
É importante salientar que o calão é tido como uma linguagem especial usada por
vadios, larápios, ciganos. Linguagem peculiar a certas classes.

Assim, e de acordo com Cândido (1996), o calão tem origem no castelhano caló e é um
“nível de língua usado em determinadas situações de comunicação”. Numa segunda acepção
surge como sinónimo de “boémia” e, por fim, numa terceira acepção consta como sinónimo
de “gíria”. Aqui, introduz-se a noção de nível/registo de língua, bem como a questão da
variação situacional, ou seja, em que o calão é usado apenas em certas situações.

Face a definição, podemos definir calão como sendo uma “linguagem especial, usada
pelos grupos marginais, por criminosos, recluso, portanto, caracterizada pelo uso frequente de
termos grosseiros e obscenos; gíria de marginais.

2.2.2. Gírias
A gíria é o tipo de linguagem que surge restrita a um determinado grupo, como um
código, que com o passar dos tempos invade a sociedade sendo utilizada pelas pessoas até de
forma inconsciente, independentemente da idade ou nível social da qual fazem parte, tornando
o seu uso muito frequente em qualquer situação de interacção.

Sobre essa utilização cada vez maior da gíria, Patriota (2009, p. 8) diz: “É essa
generalização de uso, que desconhece barreiras etárias, sociais, económicas e culturais, que
garante a gíria um lugar de destaque entre as outras variedades da língua”.

Ainda sobre o mesmo assunto, Preti (1984), salienta que a forma ou norma linguística
adoptada por uma determinada sociedade influencia a maneira de pensar dos indivíduos.
Salienta ainda que a forma de comunicação utilizada pelos indivíduos torna-se linear na
medida em que grande parte do grupo a adopta na comunicação.

Sobre isto podemos dizer que essa forma de comunicação escolhida pelas sociedades
pertencente as sociedades urbanas, com os regionalismos, e é transmitida por meio da
comunicação.

Labov (1977), afirma que quando o falante do interior chega a capital, ele normalmente
acha que o seu jeito de falar é ridicularizado. Entretanto, para o autor, a linguagem urbana é
tão dominante na sociedade que as próprias pessoas oriundas de cidades menores acabam por
19

adoptar esse linguajar. A linguagem urbana torna-se uma norma comum, e os indivíduos
utilizam-na para mostrar a pertença de um grupo.

Face a isto, podemos aferir que as gírias pressupõem um grupo constitutivo da


sociedade, distinguindo-se, pois, da noção de dialecto, a qual está associada a uma
determinada extensão territorial.

Ao surgir, o signo de grupo torna-se símbolo criptológico, de acesso excluído aos


membros, pois o uso e o entendimento ficam restritos aos integrantes. Portanto, esse tipo de
linguagem tem o objectivo de diferenciar um grupo dos demais, dentro de uma mesma
sociedade.

Esse tipo de grupo denomina-se gíria, que segundo Preti (1984: 03), é um vocabulário
criptológico, um identificador da vida e da cultura de determinado grupo:

O aparecimento da gíria, como um fenómeno de grupo restrito, é uma


decorrência dessa dinâmica social e linguística. Caracterizada como um
vocabulário especial, a gíria surge como um signo de grupo, a princípio
secreto, domínio exclusivo de uma comunidade social restrita (seja a gíria dos
marginais ou da policia, dos estudantes, ou de outros grupos de profissões).
Atento as definições de Preti, podemos ver que elas ajudam a compreender a
necessidade de criar um linguajar específico, a gíria de grupo, com o intuito de formar um
símbolo de pertença ao grupo. Nota-se que a gíria surge como uma linguagem secreta,
oriunda da necessidade de protecção e defesa social.

Assim sendo, podemos definir as giras como sendo a linguagem de uma classe,
caracterizando-se por se manter intencionalmente secreta, sendo ininteligível aos profanos e
funcionando como arma de defesa contra os demais elementos da sociedade.

2.2.3. Jargão
Antes de avançarmos quaisquer subsídios sobre este pequeno tema, vale de antemão
salientar que o jargão já era utilizado nos séculos XII e XIII para definir uma fala inteligível.
Mais tarde, no século XIX, o jargão ocupou espaço na linguagem dos desportistas com a
formação e comercialização de diversos desportos.
20

Percebe-se que o jargão era um termo utilizado de forma abrangente, não havia uma
diferença consistente entre gíria e jargão. Com o passar do tempo, houve uma especialização
do termo jargão, e hoje, sua distinção tornou-se mais clara:

Percebe-se que a especialização sofrida pelo termo jargão fez com que outros termos
assumissem a função de designar a linguagem do submundo. Dessa forma, os termos
utilizados para definir a linguagem secreta dos grupos sociais marginalizados também se
tornaram um pouco mais específicos. Muitos desses termos já existentes desde o século XVI
quando ainda era registados como sinónimos do jargão.

Assim sendo, Preti (1984), define jargão como sendo uma linguagem técnica
banalizada, pelo uso largamente ampliado e pelas formações neológicas abusivas, visando a
certos efeitos, em particular aqueles decorrentes de prestígio linguístico do vocábulo. Em
muitos casos, os jargões se enriquecem pela criação individual, de pouca duração, que não
chega a passar para o grupo.

Olhando para esta definição, podemos constatar que o jargão se trata de uma linguagem
técnica banalizada de pouca duração.

De acordo de Borba (1998), as línguas técnicas são uma variante do registo formal,
respondendo à necessidade de designar-se cientificamente, com um valor semântico
especifico. Elas ocorrem quando a profissão ocupa um lugar muito importante na vida de um
individuo tornando-se fonte inesgotável de enriquecimento lexical.

Em fim, podemos dizer que o jargão é entendido apresenta-se sob uma carga semântica
negativa, algo incorrecto ou de difícil de compreensão.

2.3. Variação Linguística


De acordo com Marcuschi (2001), a variação linguística é um fenómeno que acontece
com a língua e pode ser compreendida por intermédio das variações históricas e regionais. Em
um mesmo país, com um único idioma oficial, a língua pode sofrer diversas alterações feitas
por seus falantes. Como não é um sistema fechado e imutável, a língua portuguesa ganha
diferentes nuances.
21

As variações acontecem porque o princípio fundamental da língua é a comunicação,


então é compreensível que seus falantes façam rearranjos de acordo com suas necessidades
comunicativas.

As variações linguísticas acontecem porque vivemos em uma sociedade complexa, na


qual estão inseridos diferentes grupos sociais. Alguns desses grupos tiveram acesso à
educação formal, enquanto outros não tiveram muito contacto com a norma culta da língua.
Podemos observar também que a língua varia de acordo com suas situações de uso, pois um
mesmo grupo social pode se comunicar de maneira diferente, de acordo com a necessidade de
adequação linguística.

2.3.1. Tipos de variação


A variação linguística pode ocorrer em função dos falantes assim como em função dos
usos que estes fazem da língua. Dessa forma, numa análise abrangente, podem-se propor dois
tipos de variação linguística: a dialectal e a de registos.

2.3.2. A Variação Dialectal


A variação dialectal é devida aos usuários da língua e ao grupo social a que pertencem.
Ela ocorre em função da região em que os usuários vivem, dos grupos e da classe social a que
pertencem, de sua geração, de seu sexo, seu grau de escolaridade e ainda da função que
exercem na sociedade.

2.3.3. Variedades Geográficas


As variedades geográficas, regionais ou territoriais ocorrem em função da existência de
comunidades linguísticas geograficamente limitadas no interior de uma comunidade mais
extensa, a nação.

Falantes de uma determinada região constituem uma comunidade linguística, que se


manifesta e se comporta linguisticamente de forma homogénea, em função do
desenvolvimento de um comportamento cultural próprio, distinto do de outras comunidades.
A linguagem comum a esses falantes contribui para a identificação e a distinção de sua
comunidade. Os limites geográficos de uma comunidade, no entanto, não são necessariamente
coincidentes com os limites políticos de um estado ou de uma região.
22

Eles também não são nítidos e precisos, mas graduais, na medida em que se encontram
certas áreas de maior ou menor concentração de determinadas características pertencentes a
determinados dialectos.

2.3.4. Variedades Sociais


Para Castilho (1998), as diferenças linguísticas na dimensão social ocorrem em função
de as pessoas pertencerem a classes ou grupos sociais distintos. O meio em que vivem os
falantes – o ambiente familiar bem como o grupo social – é caracterizado por normas de
conduta e padrões culturais e linguísticos próprios a cada comunidade. Daí a semelhança entre
as formas de expressão de falantes de um mesmo grupo.

Assim, pode-se falar em linguagem de médicos, de economistas, de professores, de


mecânicos etc. Essas linguagens ou jargões profissionais são reservados a ambientes e
ocasiões determinados em que os integrantes do grupo mantêm-se unidos e excluem pessoas
de outras comunidades linguísticas de sua comunicação. As gírias também têm essa função.

A gíria assim como os jargões profissionais podem constituir variedades quase


impenetráveis para os falantes externos aos grupos. Mas o intercâmbio entre membros dos
diferentes grupos pode ocorrer e ainda possibilitar uma adaptação das formas de expressão de
um para outro grupo.

Uma forma interessante de adaptação, que costuma ocorrer quando há convivência de


falantes de variedades sociais diferentes, é a hipercorrecção. Às vezes, determinados falantes,
percebendo que seu dialecto é estigmatizado, tentam adequar sua maneira de se expressar ao
dialecto de maior prestígio social e, com isso, acabam produzindo formas que não são usadas
nem na sua variedade nem na outra.

As variedades sociais têm também como factores a idade, o sexo e o grau de


escolaridade dos falantes, que serão tratados à frente em item separados.
23

CAPÍTULO 3: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS


Esta corresponde a terceira e a última parte do trabalho, que como o nome diz, é onde
foi feita a análise e interpretação de dados colhidos no bairro Saguar, em relação ao tema de
pesquisa.

Importa aqui salientar que os dados aqui apresentados, é fruto da entrevista dirigida aos
moradores do bairro Saguar, no ano corrente.

Para a apresentação dos dados colhidos, recorreu-se a codificação que segundo Marconi
e Lakatos (2001:126), “nesta técnica os dados são categorizados e transformados em símbolos
ou números, e, este processo engloba classificação e atribuição de códigos”. Assim, o
processo de codificação do questionário sobre o tema: A Organização Social Linguística,
caso do Bairro Saguar, na Cidade de Quelimane, obedece a seguinte codificação: I – que
corresponde aos Indivíduos, onde será (I1; I2, I3… I40).

3.1. A Organização Social Linguística, caso do Bairro Saguar


Tabela 1: Dados referentes a identificação da população
Sexo X Idade Bairro
2 19
3 20
1 22
2 24
3 25
1 28
M 2 Bairro Saguar
1 29
0
2 34
1 39
1 45
1 56
2 72
F 2 3 4 3 2 3 2 3
F 0 X Bairro
2 19 2 30 36 4 50 5 Saguar
5 3 8
24

0
Fonte: (Autora, 2021)

Como ilustram os dados apresentados, temos um total de quarenta (40) indivíduos


entrevistados, divididos em vinte (20) mulheres e vinte (20) homens. Não obstante, vimos
ainda nos dados apresentados, que a idade dos indivíduos entrevistados variam de 19 anos de
idade à 72 anos de idade, sendo no entanto, 25, a idade mais representativa do presente
estudo.

Tabela 2: Instituição que trabalha.

Agricultur MINED Policia Serigrafi Municipi V.Mundi Seguranç Desem


a H a o al a p.
1 7 2 2 3 2 2 16
Saúde Domestic Trabalh
a o Indep.
1 3 1

Fonte: (Autora, 2021)

Como ilustra a tabela 2, referente a instituição do trabalho, constata-se que dos


entrevistados, (1) trabalha na agricultura, (7) indivíduos trabalham no MINEDH, (2)
trabalham na polícia, (2) trabalham numa serigrafia, (3) trabalham no município, (2)
trabalham numa segurança, (16) são desempregados, (1) trabalha na saúde, (3) são domésticas
e por fim, (1) tem um trabalho independente.

Assim sendo, constata-se, através desses dados, que a maior parte dos entrevistados, são
desempregados, correspondendo um número de (16) indivíduos.

Tabela 3: Proveniência/Naturalidade
Quelimane Ile Luabo Macuse A.Molocue Milange Beira Nampula
20 2 2 2 2 3 4 5
Fonte: (Autora, 2021)

Referente a proveniência ou naturalidade dos indevidos entrevistado, os dados dizem que


a maioria dos entrevistados são oriundos da província da Zambézia, e outros são doutras
25

província, como podemos ver na tabela 3, que (20) indevidos são natural da cidade de
Quelimane, (2) são do distrito do Ile, (2) são do distrito de Luabo, (2) são do distrito de
Macuse, (2) são do distrito de Alto Molocue, (3) são do Milange, (4) são oriundos da cidade
da Beira e (5) são da cidade de Nampula.

Tabela 4: Língua usada para comunicação.


No Código Respostas
I2; I3; I4; I5; I6; I7;
I8; I9; I10; I15; I22;
20 I23; I25; I26; I27; Português

I28; I34; I35; I36;


I37.
I16; I18; I19; I21;
10 I30; I31; I32; I33; Chuabo
I38; I39.
3 I1; I20; I24; Sena
I11; I12; I13; I14;
7 I17; I29; I40. Português e Chuabo
Fonte: (Autora, 2021)

No que tange a questão da língua usada para comunicação, os dados da tabela 4,


confirmam a resposta dos entrevistados, sendo que (20) disseram usar a língua portuguesa
para se comunicar, sendo assim a língua mais usada pelos entrevistado, (10) responderam usar
a língua Chuabo para se comunicar, (3) indivíduos alegaram usar a língua Sena no acto da sua
comunicação, e por fim, (7) indivíduos responderam usar a língua portuguesa e a língua
chuabo para se comunicar.

Olhando para estes dados, constata-se que os indivíduos do bairro Saguar, usam várias
línguas para se comunicar, sendo a mais usada o português, seguido do chuabo e sena.
26

Tabela 5: Frequência de conversa no bairro Saguar.


No Código Respostas
11 I2; I3; I4; I5; I6; I16; As vezes
I18; I19; I21; I30; I31
29 I1; I7; I8; I9; I10;
I11; I12; I13; I14;
I15; I17; I20; I22;
I23; I24; I25; I26; Sempre

I27; I28; I29; I32;


I33; I34; I35; I36;
I37; I38; I39; I40.
- - Não converso
Fonte: (Autora, 2021)

Perguntado sobre a frequência de conversa com pessoas do bairro Saguar, a tabela 5 nos
diz que (11) indivíduos conversas as vezes com pessoas do bairro Saguar, e (29) indivíduos
responderam conversar sempre com pessoas do bairro Saguar.

Como ilustra os dados, nenhuma pessoa respondeu não conversa com pessoas do bairro
Saguar.

Tabela 6: Faixa etária com quem gostas de conversar.

No Código Respostas
5 I7; I8; I9; I28; I29. Mais novas
I2; I3; I4; I5; I6; I16; I19; Mesma faixa etária
11 I21; I30; I31; I32.
I17; I18; I20; I22; I23; Mais velhas
16 I24; I25; I26; I27; I30;
I33; I34; I36; I37; I39;
I40.
I1; I10; I11; I12; I13; Qualquer/todas faixas
8 I14; I15; I38.
Fonte: (Autora, 2021)
27

Como podemos ver na tabela 6, que diz respeito a faixa etária com quem mais gostas de
conversar, os dados dizem que: (5) pessoas gostam de conversar com pessoas mais novas,
(11) pessoas gostam de conversar com pessoas da mesma faixa etária, (16) gostam de
conversar com pessoas mais velhas, e (8) indevidos responderam gostar de conversar com
pessoas de todas faixas etárias, isto é, com pessoas de idade inferior, mesma idade e superior.

Importa aqui salientar que para esta questão houve várias justificativas, uma delas foi
daqueles que responderam gostar de conversar com pessoas mais novas, justificando, no
entanto, por elas não criarem muitos problemas na conversação. Dos que responderam gostar
de conversar com pessoas da mesma faixa etária, justificaram por partilhar da mesma
experiencia de vida e sentirem-se mais à-vontades. Não obstante, os que gostam de conversar
com pessoas mais velhas, disseram por gostar de adquirir novas experiencias de vida, receber
bons conselhos, por eles apresentarem uma visão ampla das coisas.

De salientar que houve também um número não insignificante, de pessoas que gostam de
conversar com pessoas de idades inferiores, iguais e mais velhas a delas, por simples razão de
não fazer nenhuma diferença, isto é, muitos deles disseram por gostar de vivenciar e adquirir
diferentes experiencias de vida, de pessoas mais novas, da mesma idade, assim como de
pessoas mais velhas.

Tabela 7: Nível de escolaridade com quem mais conversas.


No Código Respostas
10 I1; I2; I3; I8; I10;
I11; I12; I13; I14; Inferior
I15.
10 I20; I21; I22; I23;
I24; I25; I31; I32; Igual
I33; I34.
9 I4; I5; I6; I9, I35; I36;
I37; I29; I30. Superior
8 I7; I16; I17; I18; I19;
I26; I27; I28. Todos os níveis
3 I38; I39; I40. Alto e baixo
Fonte: (Autora, 2021)
28

Referente a questão do nível de escolaridade com quem mais conversas, os dados da


tabela 7 evidenciam que (10) indivíduos gostam de conversar com pessoas com nível de
escolaridade inferior a deles, (10) responderam gostar de conversar com pessoas com nível de
escolaridade igual a deles, (9) indivíduos responderam gostar de conversar com pessoas com
nível de escolaridade superior e deles, (8) indivíduos responderam gostar de conversar com
pessoas de todos os níveis, isto é, com pessoas com nível inferior, igual e superior ao seu.

Como os dados evidenciam, também houve diferentes justificações referente a esta


questão, isto é, dos que responderam gostar de conversar com pessoas do nível de
escolaridade inferior, justificaram por gostar de motiva-los estar mais próximo de pessoas
com este nível de escolaridade.

Dos que gostam de conversar com pessoas do mesmo nível de escolaridade, disseram por
partilhar da mesma experiencia e pensar quase da mesma maneira.

Os que gostam de conversar com pessoas de nível superior, disseram por elas
transmitirem boas ideias e acabam de certa maneira, adquirindo novas competências
linguísticas, sem se esquecer de novos vocábulos.

Há ainda outros que responderam gostar de conversar com pessoas de todos os níveis de
escolaridade, alegando, no entanto, por gostar de aprender com todos os níveis, visto que
somos seres humanos e estamos em constante aprendizagem.

Vale também destacar que outros responderam gostar de conversar com pessoas de níveis
inferiores e superiores, por gostar de transmitir conhecimentos aos de nível inferior e aprender
com os do nível superior.

Tabela 8: Profissão
No Código Respostas
1 I7. Escritoraria
3 I32; I33; I34. Professor
7 I20; I21; I22; I23; Camponesa
I24; I25; I31.
2 I26; I27. Guarda
12 I1; I2; I3; I8; I10; Estudante
I11; I12; I13; I14;
29

I15; I39; I40.


3 I4; I5; I6; I9. Desempregada
5 I35; I36; I37; I29; Medico
I30.
2 I16; I17. Seregrafo
5 I18; I19; I26; I27; Motorista
I28.
Fonte: (Autora, 2021)

Referente a profissão, os dados ilustram que das 40 pessoas entrevistadas, (1) é


escritoraria, (3) são professores, (7) são camponeses, (2) são guardas, (12) são estudantes, (3)
são desempregados, (5) dos entrevistados são médicos, (2) são seregrafos, e (5) são
motoristas.

Como comprovam os dados da tabela 8, a maior parte dos entrevistados são estudantes,
seguido de camponeses.

Tabela 9: Se conversa com pessoas da sua profissão.


No Código Respostas
29 I12; I13; 114; I15;
I16; I17; I18; I19;
I20; I21; I22; I23;
I24; I25; I26; I27;
Sim
I28; I29; I30; I31;
I32; I33; I34; I35;
I36; I37; I38; I39 e
I40.
6 I6; I7; I8; I9; I10; I11. Não
5 I1; I2; I3; I4; I5. Nem sempre
Fonte: (Autora, 2021)

Perguntados se conversam com pessoas da sua profissão, (29) indivíduos responderam


sim, (6) responderam não, e (5) responderam nem sempre conversam com pessoas da sua
profissão.
30

Como podemos ver na tabela acima, dos que conversam com pessoas da mesma
profissão, justificaram por poder fazer troca de conhecimento facilmente, pois acreditam
aprender mais com colegas da mesma profissão. Outros, justificaram por não ter escolha, pois,
estão quase sempre juntos.

Dos que responderam não gostar de conversar com pessoas da sua profissão justificaram
por não ter bom relacionamento com os colegas de trabalho.

E há ainda aqueles que responderam nem sempre, ou seja, que poucas vezes conversam,
pois, não faz nenhuma diferença no seu dia-a-dia de trabalho.

Tabela 10: Se conversa/passa mais tempo com os conterrâneos.


No Código Respostas
23 I12; I13; 114; I15;
I16; I17; I18; I19;
I20; I21; I22; I23; Sim

I24; I25; I26; I27;


I28; I29; I30; I31;
I32; I33; I34.
11 I6; I7; I8; I9; I10;
I11; I35; I36; I37; Não
I38; e I40.
6 I1; I2; I3; I4; I5.I39. Diferentes
Fonte: (Autora, 2021)

Respondendo a pergunta se passa mais tempo com os conterrâneos, os indivíduos


entrevistados responderam da seguinte maneira: (23) indivíduos sim, (11) responderam não, e
seis (6) responderem passar tempo com pessoas de diferentes regiões.

Dos que responderam sim à questão acima apresentada, justificaram por muitos deles
serem naturais de Quelimane, e por poder conversar na sua língua materna e dialectos, o que
facilitaria a comunicação entre eles.
31

Dos 11 que responderam não passar muito tempo com os conterrâneos, justificaram por
eles serem das outras regiões do país, e estão distantes dos conterrâneos, tendo-se mudado
para Quelimane recentemente, e muitos deles, por motivo de trabalho ou estudos.

Os 6 que responderam gostar de passar com pessoas de diferentes regiões, justificaram da


seguinte maneira: por querer aprender hábitos, tradições e culturas doutras regiões ou povos,
por isso não vêem necessidades de conversar, apenas, com seus conterrâneos.

Tabela 11: Se conversa mais com pessoas do mesmo sexo.


No Código Respostas
I6; I7; I8; I9; I10;
I11; I25; I26; I27; Homens
20 I28; I29; I30; I31;
I32; I33; I34; I35;
I36; I37; I38; e I40.
I12; I13; 114; I15;
I16; I17; I18; I19;
14 I20; I21; I22; I23; Mulheres

I24.
6 I1; I2; I3; I4; I5; I39. Todos
Fonte: (Autora, 2021)

Respondendo se conversam mais com pessoas do mesmo sexo ou não, os indivíduos do


bairro Saguar responderam da seguinte maneira: 20 pessoas responderam gostar de conversar
com homens, (19) responderam gostar de conversar mais com mulheres e (6) pessoas
responderam gostar de conversa com pessoas de ambos sexos.

Isto é, dois homens responderam gostar de conversar mais com mulheres, três mulheres
responderam gostar de conversar com pessoas de ambos os sexos, e, dez mulheres
responderam gostar de conversar com pessoas de sexo oposto, isto é, conversar com homens.

Importa aqui salientar, que as mulheres que responderam gostar de conversar com outras
mulheres, justificaram, no entanto, por entre elas terem fácil entendimento. Não obstante,
mulheres que responderam gostar de conversar com homens, justificaram por se sentirem bem
e evitar fofocas, o que acontece geralmente nas conversas de mulheres.
32

Dos seis que responderam gostar de conversar com pessoas de todos sexos, ou seja, com
homens e mulheres, 3 são mulheres e 3 são homens, tendo quase todos justificado da mesma
maneira: por querer saber questões que só homens podem explicar e no caso dos homens, por
querer perceber questões que só mulheres seriam capazes de esclarecer, como a questão da
menstruação, do aleitamento, entre outras coisas que só dizem respeito a mulheres.

Conclusão
Chegado a este ponto da pesquisa, vale aferir que no Bairro Saguar, as pessoas
organizam-se, social e linguisticamente, devido a vários factores, como a questão de idade,
33

sexo, status social, nível de escolaridade, emprego, origem e sem se esquecer do factor mais
importante, que é a língua.

Como os dados evidenciam, as pessoas do bairro Saguar, não difere dos outros lugares da
nossa sociedade, isto é, dos indivíduos entrevistados, encontram-se pessoas desde
desempregadas, aqueles que optam em empregos pessoais, até aqueles que trabalham no
Aparelho do Estado, como professores, guardas, enfermeiros, entre outros.

Verificou-se ainda, partindo dos dados acima apresentados, que muitos deles gostam de
conversar com pessoas da mesma faixa etária, alegando, no entanto, por partilharem da
mesma experiencia de vida; não obstante, os que gostam de conversar com pessoas de idades
inferiores, a maria deles disseram, por sentirem-se bem e pelo facto de os mais novos não
induzirem ao erro; já os que gostam de conversar com pessoas de idade mais avançadas, é
pelo facto de, durante a comunicação, serem mais formais, que difere nas conversas de
pessoas com idades inferiores.

Conclui-se ainda que muitos gostam de conversar com pessoas da mesma profissão, pelo
simples facto de partilharem experiencias referente a área de trabalho. Os que não gostam, é
pelo facto de não ter boa relação com os colegas, o que é extremamente errado.

Em relação a naturalidade, concluímos que muitos gostam de conversar com pessoas da


mesma naturalidade, visto que comungam da mesma língua, e desses, a maioria são naturais
de Quelimane. Dos que não conversam com pessoas da mesma naturalidade, são por razões
como distância, visto que muitos são deles são naturais de outras províncias, e encontram-se
em Quelimane, no Bairro Saguar, pelos estudos ou trabalho.

Perguntados se gostam de conversar com pessoas de mesmo sexo ou não, concluímos que
a maioria dos homens responderam gostar de conversar com homens, e muitas mulheres
responderam gostar de conversar com homens, alegando ser bom e evitar problemas e
fofocas, que é algo que se nota maioritariamente, entre mulheres.

Referências Bibliográficas
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas
fundamentais do método sociológico da linguagem. Hucitec, São Paulo, 2009.
34

BORBA, F. D. S. introdução aos estudos linguísticos. 12ª ed. Pontes, Campinas, 1998.

CALVET, L. Sociolinguística: uma introdução critica. São Paulo: Parábola, 2002.

CASTILHO, Ataliba T. de. A língua falada no ensino de português. Contexto, São Paulo,
1998.

FARIA, Isabel Hub. Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. 2ª Edição, Lisboa,


Caminho editora, 1996.

FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Forense Universitária, Rio de Janeiro, 2000.

GOBLOT, Edmond. A barreira e o nível: retrato da burguesia francesa na passagem do


século. Papirus, Campinas, 1989.

LABOV, W. Linguistc patterns: Conduct and Communication. 5a ed. University of


Pennsyvania Press, Philadelphia, 1997.

LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. Parábola Editorial, São Paulo, 2008.

MARCUSCHI, Luiz António. Da fala para a escrita: actividades de retextualização. Cortez,


São Paulo, 2001.

MARTINET, Andre. Elementos de Linguística Geral. Clássica editora, Lisboa, 2014.

PATRIOTA, L. M. A gíria comum na interacção em sala de aula. São Paulo, Cortez, 2009.

PRETI, D. Sociolinguística: os níveis da fala. 3ª ed. Nacional, São Paulo, 1984.

SAUSSURE, Ferdinand de. As palavras sob as palavras. Abril Cultural, São Paulo, 1978.

Você também pode gostar