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LUDOTERAPIA II

2023.1

CRIANÇA E ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO DE ACOLHIMENTO

HISTÓRIA

A cultura de abrigo e acolhimento, no Brasil, foi trazida como herança colonial - portanto,
europeia. À época, valores morais eram os maiores juízes sociais, de modo que crianças tidas
fora do casamento ou filhos de mães solteiras (no geral, filhos que "seriam uma vergonha" à
família) iam para rodas de acolhimento dentro de instituições religiosas, apenas com a
única função social de "não deixar crianças na rua". Posteriormente, essas instituições foram
"formalizadas" a orfanatos, quando questões sociais e éticas foram mais reforçadas dentro das
políticas públicas.

Atualmente, crianças em situação de vulnerabilidade são acolhidas por não poderem, na-
quele momento, estar em ambiente familiar. A criança é tutelada pelo Estado, e essa prática
tem grandes pontos positivos, ao mesmo tempo que pode causar consequências negativas ao
desenvolvimento infantil.

"Há um problema grave quando a criança chega [à instituição]; é a


falta de estudos diagnósticos; a gente está começando do zero,
as justificativas de abrigamento são muito frágeis e, muitas
vezes, essa criança tinha família extensa com quem podia ter
ficado e não foi acionada, e chega a família extensa desesperada
(...) uma vez abrigada, corre todo um processo, o juiz só vai liberar
a primeira audiência - que pode acontecer em três meses".
Psicólogo 7

A burocracia estatal supracitada que pode - e, por muitas vezes, inevitavelmente irá -
prolongar a estadia da criança na instituição de acolhimento acarreta as consequências
negativas no desenvolvimento pela fragmentação da identidade quando se acolhe uma
criança, perdendo o caráter de individualidade (comida igual para todos, tratamento igual para
todos, entre outros).

Castro, Maria da Graça, K. e Anie Stürmer. Crianças e adolescentes em psicoterapia: a abordagem psicanalítica, 2009.CAP 15
LUDOTERAPIA II
2023.1

CRIANÇA E ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO DE ACOLHIMENTO

A PSICOLOGIA E O PSICÓLOGO NO SUAS

O psicólogo atua, assim, conjuntamente à assistência social e, como trabalhadores da


Assistência Social, os psicólogos devem contribuir para criar condições sociais para o
exercício da cidadania (promoção dos direitos socioassistenciais), bem como favorecer as
condições subjetivas para seu exercício (circular informação, fortalecer participação,
desenvolver potencialidades, facilitar processos decisórios, entre outros). Resumidamente,
psicoeducação à família e às crianças.

Parece que os psicólogos estão adquirindo esses conhecimentos no cotidiano de trabalho e


de acordo com o surgir da demanda - ou seja, "trocando o pneu de um carro com ele
andando". Os técnicos dos serviços são responsáveis por capacitar os educadores, mas eles
mesmos carecem de formação continuada. Sem uma formação prévia, corre-se o risco do
atendimento às crianças e adolescentes restringir-se a ações engessadas (e.g.,
costumeiramente o psicólogo em instituição trazer sempre a psicologia clínica para seu
ambiente), com baixa capacidade de adaptação a novas situações e de reflexão crítica
sobre estas - inclusive porque a fundamentação legal permite que o psicólogo seja mais efetivo
na luta pela garantia dos direitos das crianças acolhidas.

O psicólogo se preocupa não só com a criança, mas com todo o contexto familiar, visto que
a criança pode voltar à família. É papel fundamental, dentro da assistência social, cobrar
atuação de instituições como CRAS, CREAS, CAPS, entre outros.

"É uma relação de muita afetividade. Eu sempre busco uma relação de confiança,
sempre procuro estabelecer os limites corretamente, porque senão eles acabam
mandando na gente. Tem duas pequenas que até me chamam de avó e meu
marido de avô, se eu falo com ele no telefone, elas falam também".
Psicólogo 5

"Reza a lenda que a gente devia ser bem técnico, mas não dá para não se afetar
por eles. Sou atravessado afetivamente, eu sofro aqui, eu sofro em casa, eu tento,
com as crianças, ver possibilidades de mudança. Quando ligam de meia noite, a
gente atende e vê como é que faz".
Psicólogo 8

Castro, Maria da Graça, K. e Anie Stürmer. Crianças e adolescentes em psicoterapia: a abordagem psicanalítica, 2009.CAP 15

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