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CENTRO COMUNITÁRIO HORTÍCOLA

UMA PROPOSTA DE REABILITAÇÃO

NO QUARTEL DO REGIMENTO DE LANCEIROS 2

Ana Paula Feijão Contente

(Licenciada)

Projeto final elaborado para a obtenção

do grau de mestre em Arquitetura

Orientação Científica:

Professora Doutora Bárbara Massapina Vaz

Professor Doutor José Luís Crespo

Júri:

Lisboa, FA Ulisboa, Julho 2022


CENTRO COMUNITÁRIO HORTÍCOLA
UMA PROPOSTA DE REABILITAÇÃO

NO QUARTEL DO REGIMENTO DE LANCEIROS 2


III

Ana Paula Feijão Contente

(Licenciada)

Projeto final elaborado para a obtenção

do grau de mestre em Arquitetura

Orientação Científica:

Professora Doutora Bárbara Massapina Vaz

Professor Doutor José Luís Crespo

Júri:

Lisboa, FA Ulisboa, Julho 2022


IV

PALAVRAS – CHAVE
Comunidade | Reabilitação | Lanceiros 2 | Cozinha Comunitária | Centro Interpretativo
RESUMO

Com a análise do eixo Belém- Ajuda entende-se a


necessidade de fortificar as redes de interações entre os
membros daquela comunidade. Já que, existe o risco de
fragmentação dessas redes devido à gentrificação da
zona, podendo gerar conflitos dentro da comunidade.

O Quartel do Regimento de Lanceiros 2, situado na


Calçada da Ajuda, é um espaço devoluto, tornando-se um
vazio na malha urbana do eixo Belém-Ajuda. Entretanto,
neste vazio encontra-se uma grande oportunidade de
proporcionar à comunidade um espaço que integre
pessoas e que envolva seus membros de forma a fortificar e
a criar novas redes de interações interpessoais.

Para tal fim, a proposta de projeto visa a reabilitação do


Quartel, tornando-o em um Centro Comunitário Hortícola
que comporta, principalmente, um centro interpretativo das
V
hortas, um espaço de feiras, hortas urbanas e cozinha
comunitária. A alimentação está diretamente ligada ao
relacionamento entre pessoas. Todo o processo que
engloba a alimentação desde o cultivo até a
comensalidade de indivíduos viabiliza a consolidação de
relações interpessoais.

Além disso, a promoção de hábitos alimentares


saudáveis em meio à globalização das cidades é uma
necessidade emergente. Neste contexto, o projeto explora
a disseminação de valores de uma alimentação saudável
que, por sua vez, integra pessoas. Portanto, o projeto
pretende estabelecer espaços qualificados para a prática
da agricultura urbana e a conscientização da mesma de
forma a promover a integração da comunidade.
VI

KEYWORDS
Community | Rehabilitation | Lanceiros 2 | Community Kitchen | Interpretation Center
ABSTRACT

By the analysis of Belém- the Ajuda axis, it is noticeable


that the interaction webs between the members of that
community need to be fortified. Due to the gentrification of
the area, there is already a fragmentation risk of those webs,
which can lead to conflicts inside the community.

The Quartel do Regimento de Lanceiros 2, located at


Calçada da Ajuda, is an abandoned space, turning into an
empty area on the urban environment of Belém- Ajuda axis.
However, in that space, there is a big opportunity of offering
an area where local citizens can interact, fortifying and
creating interpersonal interaction webs.

For that, this project aims to rehabilitate Quartel do


Regimento de Lanceiros 2, turning it into a Horticultural
Community Center which accommodates an interpretative
center of vegetable gardens, a market space, an urban
VII
vegetable gardens, and a community kitchen. Eating habits
are directly linked to the way people interact and their
relationships. Every process which encompasses eating, from
the cultivation until the act of eating, enables the
consolidation of interpersonal relationships.

In addition, the promotion of healthy eating habits, amid


the city’s globalization, is an emerging necessity. In this
context, this project explores the dissemination of healthy
eating values, which is also able to integrate people.
Therefore, it intends to establish qualified spaces for the
urban agricultural practice and its awareness to promote
integration among the members of the community.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus por ter me


capacitado a chegar até aqui, por sua misericórdia e
graça. Soli Deo Gloria.

Ao meu pai e à minha mãe, minha eterna gratidão. À


minha irmã, ao meu cunhado e aos meus pequeninos
sobrinhos, fonte de imensa alegria, sou grata por toda a
motivação e encorajamento.

Aos docentes da FAUL que fizeram parte desta jornada,


que transmitiram seu conhecimento e me auxiliaram na
minha formação como profissional.

Aos amigos, obrigada pela parceria, pelos momentos


de descontração e partilha de conhecimento.

Agradeço a todas as pessoas que me incentivaram,


VIII
apoiaram e possibilitaram esta oportunidade de ampliar
horizontes.

Em especial à Professora Orientadora Dr. Bárbara


Massapina Vaz e ao Professor Orientador Dr. José Luís
Crespo, por vossa disponibilidade e por fornecerem
conhecimentos necessários para a realização do Projeto
Final de Mestrado.
IX
ÍNDICE

RESUMO V
ABSTRACT VII
AGRADECIMENTOS VIII
ÍNDICE X
ÍNDICE DE FIGURAS

INTRODUÇÃO

1| RESTAURO E REABILITAÇÃO

1.1 ORIGEM DO RESTAURO E DA REABILITAÇÃO


1.2 REABILITAR O EDIFICADO

2| SENSO DE COMUNIDADE

2.1 O BAIRRO E A COMUNIDADE


2.2 ALIMENTAÇÃO E O BAIRRO

3| CASOS DE REFERÊNCIA
X 3.1 CENTRO INTERPRETATIVO

3.2 NOMA

3.3 EXPO MILÃO 2015: PAVILHÃO SLOW FOOD

4| O LUGAR

4.1 EIXO BELÉM-AJUDA


4.2 QUARTEL DO REGIMENTO DE LANCEIROS 2

5|A PROPOSTA

5.1 O LOCAL

5.2 O PROGRAMA

5.3 O PROJETO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

BIBLIOGRAFIA

ANEXOS
ÍNDICE DE FIGURAS

Nota: Imagens que não apresentam fonte foram tiradas


ou criadas pela autora.

Fig.1 – Centro Interpretativo do Mosteiro de Santa Clara-a-


Velha

Fonte: https://www.flickr.com/photos/ccdrc/6506008527
Acessado em 15 de março de 2022.

Fig. 2 – Esplanada do Centro Interpretativo do Mosteiro de


Santa Clara-a-Velha

Fonte:
https://www.expedia.com.br/fotos/europe/portugal/most
eiro-de-santa-clara-a-velha.d6116876?view=large-
gallery&photo=233443 Acessada em 27 de junho de 2022.
XIII
Fig. 3 – Planta explicativa do Centro Interpretativo do
Mosteiro de Santa Clara-a-Velha
(Base: Planta original. Fonte: Costa, Alexandre Alves.
(2015). “O Espaço do Olhar”. Revista de Cultura
Arquitetónica. Coimbra: Editorial do Departamento de
Arquitetura.)

Fig. 4 – Lado Sul do Centro Interpretativo do Mosteiro de


Santa Clara-a-Velha

Fonte: https://lifecooler.com/artigo/comer/mosteiro-de-
santa-clara-a-velha/328190 Acessado em 27 de junho de
2022.

Fig. 5 – Restaurante NOMA

Autor: Rasmus Hjortshõj


Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/902505/noma-big
Acessado em 2 de junho de 2022
Fig. 6 – Planta explicativa do Restaurante NOMA
(Base: Planta original. Fonte:
https://big.dk/projects#projects-noma Acessado em 2 de
junho de 2022)

Fig. 7 – Expo Milão 2015: Pavilhão Slow Food

Autor: Marco Jetti


Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/767788/expo-
milao-2015-pavilhao-slow-food-herzog-and-de-
meuron/555fc1aae58ece191b00018e-slow-food-pavilion-
herzog-and-de-meuron-photo Acessado em 28 de março
de 2022.

Fig. 8 – Planta explicativa da Expo Milão 2015: Pavilhão


Slow Food
(Base: Planta original. Fonte:
https://arquitecturaviva.com/works/pabellon-de-slow-
XIV
food-expo-milano-2015-7 Acessado em 28 de março de
2022).

Fig. 9 – Mapa de Edifícios Simbólicos na Calçada da Ajuda


(Base: Mapa do Google Earth)

Fig. 10 – Fotografias dos Edifícios Simbólicos

Fontes:
1- https://www.idealista.pt/news/imobiliario/construcao/
2021/06/11/47686-nova-ala-do-palacio-da-ajuda-
concluida-226-anos-depois-e-museu-do-tesouro-abre-
em
2- https://informacoeseservicos.lisboa.pt/contactos/diret
orio-da-cidade/junta-de-freguesia-da-ajuda
3- https://informacoeseservicos.lisboa.pt/contactos/diret
orio-da-cidade/forte-do-conde-de-lippe
4- https://toponimialisboa.wordpress.com/2018/04/30/igr
eja-da-memoria/
5- https://jomirifefotos.blogspot.com/2013/08/lisboa-
regimento-lanceiros.html
6- Mapa Google Earth
7- https://lucateatroluisdecamoes.pt/historia/
8- https://portugaldigital.com.br/costa-propoe-a-belem-
formacao-de-governo-do-ps-com-17-ministros-e-38-
secretarios-de-estado/
9- https://informacoeseservicos.lisboa.pt/contactos/diret
orio-da-cidade/picadeiro-real
10- https://www.guiadacidade.pt/pt/poi-museu-
nacional-dos-coches-18254
Acessado em 4 de novembro de 2021

Fig. 11 – Mapa de localização do Quartel do Regimento


de Lanceiros 2
(Base: Mapa do Google Earth)

Fig. 12 – Mapa de identificação dos espaços do Quartel


do Regimento de Lanceiros 2 e respetivas informações
acerca dos espaços. XV
(Base: Mapa do Google Earth)

Fig. 13 – Evolução histórica do Quartel do Regimento de


Lanceiros 2

Fig. 14 – Teoria de valor do Quartel do Regimento de


Lanceiros 2

Fig. 15 – Mapa de demolição e construção do Quartel do


Regimento de Lanceiros 2

Fig. 16 – Relação de fotografias do Quartel do Regimento


de Lanceiros 2 em 1945 e 2021

Fonte: SIPA e Catarina Monteiro

Fig. 17- Planta com idenficação dos espaços do Centro


Comunitário Hortícola no Quartel do Regimento de
Lanceiros 2
Fig. 18 – Planta com a proposta de novos acessos para o
Centro Comunitário Hortícola

Fig. 19 – Relação entre a evolução histórica da volumetria


de Lanceiros 2 e a volumetria do edifício do Centro
Interpretativo

Fig. 20 – Alçado Este e Oeste do Centro Interpretativo

Fig. 21 – Escola secundária Garcia da Horta do arquiteto


Ricardo Bak Gordon

Autor: Fernando Guerra


Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/624251/escola-
secundaria-garcia-da-orta-bak-gordon

Fig. 22 – Planta do Centro Interpretativo com identificação


XVI
dos espaços

Fig. 23- Planta do Espaço para Eventos de Feira

Fig. 24 – Comida como inspiração para a criação do


Espaço para Eventos de eira

Fig. 25- Planta da Cozinha Comunitária com identificação


dos espaços
INTRODUÇÃO

O projeto a ser desenvolvido pretende dar


continuidade ao trabalho iniciado na Unidade Curricular de
Projeto VI do Mestrado Integrado em Arquitetura com
especialização Interiores e Reabilitação do Edificado. O
trabalho consiste na reabilitação do Quartel do Regimento de
Lanceiros 2 localizado na Calçada da Ajuda, Lisboa, que se
encontra abandonado, atualmente.

A intenção é desenvolver serviços ligados às atividades


agrícolas, como forma de amenizar os efeitos da gentrificação
na zona da Calçada da Ajuda. Através do programa de hortas
urbanas é possível viabilizar à comunidade uma experiência de
maior convívio e de interação entre as pessoas, fortalecendo
a comunidade. Além disso, as hortas são um meio de promover
uma conscientização alimentar mais sustentável, incentivando

1 a autossuficiência e contribuindo para a saúde mental e física.

O projeto arquitetónico se desenvolve através de um


Centro Comunitário Hortícola, que proporciona atividades
relativas às hortas, servindo de apoio para integração entre os
membros pertencentes à comunidade da Ajuda. Os serviços
ligados às hortas abrangem o cultivo e a alimentação. O
projeto propõe um espaço convidativo aos membros da
comunidade, incentivando a interação entre as pessoas
desde o cultivo da terra e a confecção de refeições à
comercialização e reutilização das sobras. O ato de cultivar,
comer, comercializar ou trocar atuam como agentes
catalisadores da transformação em uma comunidade
dividida.
1.1 Enquadramento e Motivação

O projeto visa reabilitar o edificado do Quartel de


Regimento de Lanceiros 2. Ele foi construído no século XVIII e
XIX na Calçada da Ajuda, possuindo valor histórico e valor de
antiguidade, por isso o Quartel pode ser considerado um
edifício singular.

No século XVIII, o surgimento de edifícios singulares,


juntamente com a realização de algumas intervenções
urbanas na Ajuda e a vinda da Corte para esta zona pós o
terremoto de 1755, resultaram numa ocupação mais intensa
da Calçada da Ajuda e de sua envolvente (Rosa, 2006). Dessa
forma, novos edificados habitacionais surgiram e uma
comunidade passou a ser estabelecida.

Atualmente, o Quartel está devoluto, o seu edificado se


tornou um vazio na comunidade da Ajuda. Sabe-se que um
2
edifício sem uma função está propenso a degradação e, por
conseguinte, a sua ruína. Dessa forma, o Quartel se tornou uma
descontinuidade na malha urbana do eixo Belém-Ajuda,
destacando-se a necessidade de intervir no edificado
atribuindo-lhe uma função.

Entretanto, o interesse de intervir no Quartel está além do


desejo de dar-lhe uma função. Atualmente, a comunidade da
Ajuda tem enfrentado um problema em comum, a
gentrificação da zona devido ao surgimento de condomínios
fechados. Alguns antigos moradores que ali permanecem
reforçam a incompatibilidade entre os condomínios fechados
e a comunidade ali existente (Raposo, 2021). Devido à
situação foi criado o movimento Cidadãos pela Ajuda, em que
as exigências feitas envolvem o fortalecimento do senso de
comunidade em relação às novas propostas imobiliárias. O
senso de comunidade consiste na rede de interações entre
indivíduos em uma comunidade. Comunidades fracas tendem
a originar bairros instáveis socioeconomicamente (Jacobs,
2000). Dessa forma, entende-se que comunidades com redes
de interação fortes estão mais propensas a serem bem-
sucedidas. Quando há quebras nessas redes de interações, a
comunidade começa a se dispersar e a se segregar. De
acordo com os Cidadãos pela Ajuda (2021),
aproximadamente 42% dos moradores da Freguesia da Ajuda
tiveram de se mudar para a periferia entre 1981 e 2011. A
motivação principal para o projeto é a busca pela resolução
das questões sociais levantadas no processo de gentrificação
do bairro. O projeto deve colaborar com a comunidade local.

Além disso, a prosperidade socioeconómica está ligada à


autossuficiência de uma comunidade. Ao considerar o
propósito de fortalecer as redes de interação na comunidade
e de promover a sua subsistência na mesma, tem-se o Centro
Comunitário Hortícola como um projeto em potencial.

A alimentação é uma necessidade em comum a qualquer


membro que compõe uma comunidade. Dessa forma, tudo o
que está relacionado à alimentação pode aproximar pessoas
3 e fortalecer as redes de interação. O ato de cultivar a terra e
produzir alimento, além de aproximar pessoas, também
promove a educação a cerca de hábitos saudáveis. Além
disso, o contato com a natureza e a conscientização alimentar
é de extrema importância em um mundo cada vez mais
globalizado.
1.2 Objetivos

O objetivo do trabalho consiste em reabilitar o espaço


abandonado do Quartel do Regimento de Lanceiros 2 com um
Centro Comunitário Hortícola. O foco principal será, através da
reabilitação, conceber um espaço que dinamize a interação
entre as pessoas do bairro, conduzindo-as a uma alimentação
mais sustentável. Dessa forma, o projeto desenvolvido tem
como propósito:

1- Requalificar o espaço do Quartel do Regimento de


Lanceiros 2.

2- Fortificar e ampliar as redes de interação no bairro, criando


uma zona multifuncional que potencializa o senso de
comunidade através das atividades agrícolas e
4
alimentícias.

3- Conceber equipamentos que viabilizam um ciclo alimentar


sustentável.

4- Incentivar a autossuficiência da comunidade, promovendo


o cultivo e consumo in loco.
1 . 3 Metodologia

O presente trabalho segue um modelo de investigação


dividido por fases que correspondem às pesquisas realizadas
em relação ao local de intervenção e ao tema proposto para
a realização do projeto. Dessa forma, a metodologia divide-se
em 3 fases explicadas a seguir.

A primeira fase consiste na análise urbana, onde há a


recolha de informações que viabilizam compreender a
formação do bairro em estudo e elementos que o compõem.
Neste processo são feitos estudos em relação à malha urbana,
uso dos edifícios, equipamentos existentes, entre outros. Em
seguida faz-se a análise do local de intervenção, que neste
caso é o Quartel do Regimento de Lanceiros 2. Para tal análise,
faz-se a recolha de informação através da pesquisa histórica,
registos fotográficos, peças desenhadas e literatura que sejam

5 significantes para a compreensão da zona a ser estudada. Os

desenhos base utilizados para este trabalho foram,


gentilmente, cedidos pelo Gabinete de Estudos
Arqueológicos de Engenharia Militar (PT-GEAEM), fornecidos na
cadeira de Laboratório de Projeto IV pela professora Bárbara
Massapina Vaz.
Ainda na primeira fase, recorre-se à revisão literária, onde
o objetivo é reunir dados literários que possibilitam o
aprofundamento no tema proposto e conceitos que o
envolvem. Em seguida, ainda nesta fase, é feita a visita à zona
que está situada o projeto. Neste caso, por ordens superiores,
o acesso ao Quartel do Regimento de Lanceiros 2 esteve
encerrado para visitas. Dessa forma, realizou-se apenas visitas
aos arredores do Quartel de maneira a contribuir para a melhor
compreensão acerca do urbanismo e da comunidade local.
A segunda fase consiste na análise dos casos de
referência. As escolhas dos casos de referência servem para
reflexão de ideias e inspirações, análise do programa, técnicas
usadas, materialidade, relacionando com o objeto de
intervenção.
Após as análises anteriores a terceira fase consiste nos
ensaios de propostas de projeto, começando-se pela na
construção de um programa com método de organograma
para organização das ideias. Além disso, faz-se desenhos à
mão levantada, desenhos escalados, experimentação com
maquetes. Após a realização destas fases, chega-se à uma
conclusão subjetiva em relação ao produto final do trabalho.

6
RESTAURO E REABILITAÇÃO

“Salvar da devastação do tempo que consome todos estes


antigos e preciosos monumentos do génio, é fazer conquistas
ao império da razão”

(Choay, 2011,20)
1.1 Origem do Restauro e da Reabilitação

O termo reabilitação é originário do latim re + habilito que,


de acordo com o dicionário Houaiss (2002), significa tornar
apto. Segundo a Carta de Appleton (1983), a reabilitação do
edificado consiste na modificação do objeto de forma que ele
seja adaptado ao padrão contemporâneo funcional,
envolvendo novos usos. Dessa forma, pode-se dizer que a arte
da reabilitação se encontra no seu potencial de revitalizar um
espaço e dar continuidade a uma história.
Até o renascentismo o conceito de restauro não possuía
uma base cientifica. As operações realizadas nos edifícios,
incluindo o restauro, eram feitas de forma que não houvesse
uma distinção evidente daquilo que era preexistente e o que
era adição. Já que as técnicas usadas e as materialidades dos
edifícios perduraram por longos anos. Tais técnicas eram
transmitidas de geração em geração sem regulamentações,
1 nem tratados ou qualquer base teórica da qual a prática do
restauro pudesse se basear.
Ainda que, na antiguidade clássica tenham se
estabelecido valores referenciais para a arquitetura como, por
exemplo, valores estéticos, construtivos e materiais, tais valores
não eram tidos como base para a prática do restauro. Já que
na antiguidade clássica o valor simbólico do edifício, ou seja,
aquilo que torna o edifício um objeto simbólico ou um
património edificado se encontrava na sacralidade da obra e
não no edifício, propriamente dito. Esta mentalidade torna
compreensível que edifícios monumentais fossem destruídos ou
substituídos por não cumprirem com o papel desejado ou o
gosto vigente daquela época. As demolições só ocorriam caso
houvesse um projeto novo que suprisse as expectativas
esperadas sobre o edifício (Vaz, 2015).
Séculos depois, durante a Idade Média, a Europa veio a
sofrer com a peste negra, a fome e o cisma papal. Estes
acontecimentos se traduziram em uma desvalorização das
convicções religiosas. Através disso novos valores começaram
a ser admitidos e com eles a admiração por valores do
passado. Em 1330, escritos do poeta Francesco Petrarca
propunham a reabilitação das artes, distanciando-a da
teologia dogmática da igreja, propagada durante a Idade
Média, e aproximando-a da filosofia do humanismo baseada
nos ideais clássicos. O conceito de restauro e de reabilitação se
origina a partir do momento em que se contempla o passado
como forma de inspiração e devoção, ainda que distante e
obsoleto (Vaz, 2015).
O autor Pedro Vaz (2015) cita uma das primeiras obras tidas
como pioneira no restauro, a obra realizada no Obelisco de
Montecitório por Giovanni Antinori, entre 1789 e 1792. O restauro
do obelisco possui a sua relevância na arquitetura devido ao
critério utilizado para o seu restauro. A ideologia de restauro
que acompanha essa obra foi descrita no seu contrato de
encomenda, no qual estabelecia que as peças em falta no
hieróglifo não deveriam ser refeitas. Sendo a primeira obra de
restauro que indicia uma distinção entre o preexistente e o
adicional. Dessa forma, percebe-se que começa a existir uma 2

consciência de valores relativa à prática de restauro.


O conceito de reabilitação, como é conhecido hoje, se
desenvolveu no século XVIII a partir da Revolução Francesa
(1789). Nesse período, monumentos e documentos históricos
foram destruídos e vandalizados. O termo monumento é
original do latim, que deriva da palavra monere, tendo como
significado: Advertir ou recordar (Choay, 2011). Ou seja, um
edificado tido como monumento é responsável por incitar uma
memória. Ele traz à vida um passado, uma história, portanto,
deve ser preservado mediante o valor que possui para a
sociedade.
Na sucessão desses atos de vandalismo, percebeu-se a
necessidade de haver critérios e padrões de intervenção no
edificado que protegessem aquilo que pertence ao povo e
que é responsável por nutrir a memória de uma sociedade
(Vaz, 2015). Em 1837, foi-se criada a Comissão dos Monumentos
Históricos em França que veio a contribuir, doravante, nos
critérios de classificação dos edifícios como patrimónios.
Segundo Choay (2011), a origem do termo património está
ligada às estruturas familiares, significando uma herança que
passa de geração em geração de acordo com as leis. O
conceito de património está no acúmulo contínuo de
heranças tangíveis e intangíveis que estão designados para o
usufruto de uma comunidade, constituindo uma base de
memórias, saberes e conhecimentos humanos.
Ainda em relação à Comissão dos Monumentos Históricos,
a sua pertinência quanto à regulamentação das práticas de
restauro e reabilitação está no fato de que os arquitetos
contratados pelo comité possuíam uma base crítica e
científica em relação às operações de restauro. Neste
contexto, começam a surgir estudiosos com suas respectivas
teorias e convenções com o intuito de atribuir uma linha de
atuação sobre a conservação, restauro e reabilitação.

3
1.2 Reabilitar o Edificado

Segundo Vaz (2015), um dos primeiros teóricos da


preservação do património foi o arquiteto Viollet-le-Duc. (1814-
1879). Durante o século XIX, através das suas práticas e escritos,
ele se tornou um grande precursor do desenvolvimento teórico
na área de preservação de edifícios, destacando a
importância do assunto em questão, sintetizando métodos
críticos de operação. Viollet-le-Duc defendia que o edifício
deveria ser restaurado ao seu ideal original, de forma que, as
peças danificadas deveriam ser substituídas por peças da
mesma origem e que fossem usadas as mesmas técnicas
construtivas. Ademais, Viollet-le-Duc, afirmava que todas as
partes do edificado, inclusive as adições feitas ao longo do
tempo, também deveriam ser preservadas, desde que, não
desrespeitassem o trabalho intelectual do autor original da
obra. De forma que, a prática do restauro buscasse uma
linguagem harmoniosa do conjunto. O objetivo era 4

compreender o que deveria existir de acordo com o projeto


original e então conduzir a obra a um estado completo que
nunca teria existido (Viollet-Le-Duc, 2000).
Ainda durante o século XIX, entre 1855 e 1870, também se
destacam o escritor e filósofo John Ruskin (1819-1900) e o
designer William Morris (1864-1896), com ideias opostas as de
Viollet-le-Duc, sendo defensores do antirestauro. Devido ao
desenvolvimento industrial e a desvalorização da manufatura,
Ruskin se opõe às intervenções no edificado que envolvessem
os novos meios de produção, alegando que tal ato era um
procedimento falso (Vaz, 2015). As ideias de Ruskin consistiam
em manter as obras intactas, sem intervenções. Além disso, ele
afirmava que o estado de ruína também era uma fase do
edifício a ser respeitada (Aguiar, 2014). Intervir no edificado,
restaurando-o seria mudar aquilo que foi feito por
antepassados, sendo um ato desrespeitoso perante a
sociedade passada.
Outro teórico de grande influência sobre o assunto foi o
historiador Alois Riegl que no começo do século XX publicou a
obra “O Culto Moderno dos Monumentos”. Nesse livro foi
exposta a ideia da classificação de valores que pudessem ser
aplicados sobre monumentos, viabilizando uma linha de
raciocínio que facilitaria a intervenção sobre o edificado.
De acordo com Cunha (2006), a classificação de valores
definida por Riegl abrange alguns valores, dentre eles: o valor
de antiguidade, o valor histórico e o valor artístico, usados
ainda hoje como parâmetro para classificar edifícios. O valor
de antiguidade engloba edifícios antigos que podem ser
distinguidos de outros edifícios através da análise dos aspectos
modernos e não modernos da obra. Esse contraste entre o
novo e o antigo pode ser percebido não somente por pessoas
cultas, mas também pelas massas. Em relação ao valor
histórico, ele abrange edifícios que fizeram parte de um
momento particular relevante na história. Quanto ao valor
artístico, fazem parte dessa classificação os edifícios antigos
que possuem características que sensibilizam e satisfazem o
5 homem moderno, sejam elas a concepção, a forma ou a cor
do monumento (Riegl, 2014).
Essas classificações de valores servem como base para as
teorias atuais, sendo um grande contributo que permite uma
melhor compreensão de como atuar no campo da
reabilitação. Os diferentes valores que foram apresentados por
Riegl possibilitaram uma nova forma de interpretar os
monumentos de acordo com as histórias e contextos em que
estão inseridos, viabilizando uma análise crítica em relação a
como eles devem ser preservados.
Além de Viollet-le-Duc, Ruskin, Morris e Riegl, o arquiteto
Camillo Boito, fez contribuições teóricas tão significantes
quanto as de Riegl para a concepção do conceito de
reabilitação que se tem hoje. Boito era contra a ideia de Ruskin
que defendia a ruína, morte dos monumentos e era contra os
ideais de Viollet-le-Duc em relação a levar o edifício a um
estado que poderia nunca ter existido. Boito mantinha a
postura de respeitar a história do monumento (Vaz, 2015). Ou
seja, o edifício não deveria ter acrescentos posteriores que se
misturassem a ele, de forma a ser difícil distinguir as diferentes
fases de construção do edifício. Pelo contrário, as adições e os
acrescentos eram legítimos, desde que fossem honestos
quanto ao estilo e técnica utilizada no período da sua
concepção, sem causar danos ao valor do edificado original.
Este ideal foi expresso por Boito na primeira Carta de Restauro
italiano em 1883.
O edifício deve estar em constante manutenção ao longo
do tempo e quando necessária intervenção, deve-se intervir,
de maneira que, não haja enganos ou falsificação histórica em
relação à idade da construção ou do acréscimo feito. Deve
haver clareza na intervenção, diferenciando aquilo que é
antigo e original daquilo que é construção nova e moderna.
Após a exposição das ideias desses teóricos, principalmente, as
de Boito e suas contribuições para o avanço na área de
conservação, restauro e reabilitação, foram realizados
congressos internacionais dos quais resultaram algumas cartas
internacionais sobre conservação e restauro de monumentos.
Entre elas estão a Carta de Atenas (1931), a Carta de Veneza 6

(1964) e a Carta de Washington (1987).


A Carta de Atenas é o resultado de um congresso que foi
organizado pela Liga das Nações Unidas, atual ONU, em 1931.
É, efetivamente, nesta carta que surge o termo “reabilitação”,
sendo expostos os critérios fundamentais para a salvaguarda
de monumentos. Neste sentido, um dos critérios que a Carta
enfatiza é a manutenção dos edifícios de forma a assegurar a
sua durabilidade e quando houver necessidade de realizar
intervenções, deve-se respeitar os valores do objeto em análise
e os valores da sua envolvente. Além disso, a Carta também
aborda a importância da reutilização do edifício, respeitando
o seu caráter histórico e viabilizando a sua continuidade futura.
É nesta Carta que o termo reabilitação surge.
Em relação à Carta de Veneza realizada em 1964, pode-se
afirmar que ela foi o documento mais divulgado nesta área do
saber. O congresso que deu origem à Carta foi organizado
pela UNESCO, que é o setor de cultura da ONU, foi neste
congresso que o ICOMOS, Conselho Internacional dos
Monumentos e Sítios, foi criado. A Carta estabelece uma linha
de raciocínio que visa orientar uma interpretação correta da
salvaguarda dos monumentos, afirmando critérios aplicáveis
aos casos de estudo específicos, sem distanciar-se dos
princípios gerais defendidos. Tais critérios abordavam a
importância da funcionalidade e/ou a reabilitação do edifício,
que deveria albergar um programa que não implicasse em
alterações significantes no tecido do edificado. Além disso, a
Carta sugere que os acrescentos na obra correspondam às
características do estrato histórico do seu período de
concepção. Para que não haja enganos em relação ao
período histórico da parte, mas tendo em consideração a
salvaguarda da harmonia da obra em um todo. Em relação à
Carta de Washington de 1987, ela aborda os assuntos relativos
à salvaguarda de cidades históricas, não apenas dos
monumentos, mas de tudo aquilo que caracteriza a cidade
histórica, sendo considerada uma carta bastante relevante
para a conservação, restauro e reabilitação.
7 O presente trabalho segue as ideologias de Boito que
compreendem uma reabilitação sem enganos relativamente
à idade da construção. Além disso, suas ideias visam uma
intervenção que dignifique todo o conjunto, unindo o
preexistente com o novo de forma que a leitura do conjunto
seja coesa e aprazível para quem vê e para quem a vive.
SENSO DE COMUNIDADE

"As cidades têm a capacidade de prover algo para


todos, somente porque, e somente quando, são criadas
por todos nós."

(Jacobs, 2000,157)

8
2.1 O Bairro e a Comunidade

De acordo com Rossi (2001), o bairro é uma parte da cidade


e está diretamente ligado da mesma, sendo um reflexo da
origem e da forma da cidade em que está inserido. O bairro é
uma fração da cidade, sendo caracterizado por sua paisagem
urbana. Tal paisagem abrange a morfologia e a estrutura do
bairro. Além disso, o bairro caracteriza-se também pelo seu
retrato social, pela camada social ali existente.

Segundo Jacobs (2000), para um bairro ser saudável, ou seja,


bem-sucedido, os problemas que interviessem sobre ele
deveriam ser resolvidos na medida em que não se
acumulassem, de forma a sucumbir o bairro em uma cadeia de
deficiências. É comum a ideia de que bairros bem-sucedidos
estão ligados às classes altas ou média, entretanto, o grau de
sucesso depende de como o bairro lida com os problemas. A
9 autora cita o bairro de North End em Boston, composto por
famílias de baixa renda. Apesar da pobreza, os problemas se
reduziram com o tempo, devido a uma boa gestão, à união
dos habitantes daquela zona. Ao contrário de South End, em
Boston, de padrão classe alta, cujo insucesso e indiferença só
cresceram ao invés de diminuir.

Um grande êxito do bairro e, consequentemente, da cidade


acontece quando interesses em comum são partilhados numa
comunidade, o desafio está em criar essas ligações, já que os
indivíduos estão inseridos numa vasta rede de possíveis
interações sociais. A prosperidade de um bairro se dá quando
os espaços construídos facilitam e incentivam essas interações
através da continuidade física, social e económica. Essa rede
de interações e partilha de interesses em comum são cultivados
através da vida na rua, das conversas em cafés, da vida nos
parques públicos, entre outros (Jacobs, 2000)

Castells (2018) afirma que as pessoas tendem a querer


enquadrar-se no meio em que vivem, querem se sentir aceitas.
Elas refutam a individualização porque querem ser parte da
comunidade. Dessa forma, elas se agrupam em organizações
comunitárias, onde há interesses e atividades em comum. Esse
sentimento de pertença pode levar ao surgimento de uma
identidade cultural. Nesse contexto, é importante que os
indivíduos que compõem um bairro, por exemplo, participem
da vida em comunidade, de eventos promovidos, onde a vida
possa ser partilhada, onde a rede de interações entre indivíduos
possa ser fortificada.

Pode-se afirmar que as interações sociais regem a


comunidade e que, nesse sentido, a arquitetura tem o poder
de controlar essas interações. Pode criar barreiras e encerrar
espaços, sempre com o objetivo de gerar benefícios e atender
interesses, seja para uma fração da população, seja para a
população geral de um bairro ou de uma cidade. A
problemática está quando o interesse geral da população é
descartado, já que gera uma insatisfação em massa, cujo
resultado se reflete na vivência em bairro.

De acordo com Jacobs (2000), os indivíduos que 10

compõem as redes de interações numa comunidade investem


anos em relacionamentos com pessoas únicas. Caso esses
relacionamentos sejam desfeitos, a condição de sociabilidade
naquela comunidade se enfraquece. Isso pode trazer danos e
instabilidades para o bairro. Quando essas redes de interações
estão fortalecidas pode-se esperar uma possível melhoria nos
resultados socioeconómicos. Por exemplo, a diminuição do
índice de criminalidade, o melhor funcionamento do mercado
de trabalho, equipamentos e serviços (Williams, 2005). As
tensões sociais têm tendência a se reduzirem quando há uma
partilha no acesso e no uso de um espaço verde, ainda mais
para grupos minoritários, segundo Keniger et al. (2013). De
acordo com Moseley (2003), a comunidade é construída
através de pessoas que se relacionam, interagindo e
partilhando interesses em comum.
2.2 A Alimentação e o Bairro

A alimentação e as redes de interação formadas em uma


comunidade estão inteiramente ligadas. Pode-se afirmar isso
ao compreender todas as ações subjacentes ao ato de
alimentar-se. A começar pela produção alimentícia orgânica,
isto é, aquela que não é industrializada, é livre de químicos e
pesticidas.

A produção natural está no ato de cultivar a terra. O


processo do cultivo, além de trazer benefícios à saúde, é um
ato que potencializa a construção de relações interpessoais.
Isto pode ser exemplificado com o cultivo da agricultura nas
cidades realizado através das hortas urbanas. As hortas urbanas
consistem no plantio de frutas ou hortaliças situadas nos centros
urbanos. Os benefícios da implementação das hortas urbanas
estão associados com segurança alimentícia, saúde,
oportunidades de aprimoramento da comunidade em relação
11
à educação e, também, a fortificação das redes de interação
entre indivíduos (Wakefield et al. 2007).

A valorização daquilo que é proveniente da terra, torna-se


um assunto cada vez mais relevante, devido ao modo de vida
nas grandes cidades. A condição da vida na cidade, é
ironizada por Rogers (2001), onde ele afirma que a destruição
do ecossistema e a sobrevivência humana é ameaçada pelo
próprio espaço que deveria nos proteger. Para exemplificar,
brevemente, o autor cita o Japão, onde cerca de 20 milhões
toneladas de lixo são produzidos por ano. Este é um grande
exemplo que revela o consumo exacerbado das cidades na
era moderna.

Segundo Rogers (2001), as questões ambientais e as


questões sociais estão intimamente ligadas. Sociedades que
buscam o lucro como motivação maior, além de causarem
grandes danos ao meio ambiente, também atuam na
desigualdade social. Neste sentido, o cultivo da terra na cidade
visa melhorar a qualidade do ambiente urbano com uma
produção que viabiliza a fortificação das relações sociais.
Além do cultivo, o outro ato que engloba a ação de
alimentar-se e que também dissemina valores e interesses em
comum é o ato de “sentar-se à mesa”, definido pela palavra
comensalismo. Este termo vem do latim commensalis que
significa dividir a mesa.

O comensalismo remonta às origens da civilização. De


acordo com Flandrin e Montanari (1996), desde o momento em
que se descobre o fogo como forma de cozer alimentos, já
ocorre a demonstração de um ato coletivo relacionado à
alimentação. O uso do fogo coletivo para preparar alimentos
gerava possibilidades para o consumo em comum. Vitrúvio no
tratado de Architectura libre decem relata a origem da
arquitetura em torno do fogo, onde a cabana primitiva e o fogo
estariam intimamente ligados, o que indiciaria a conexão entre
o espaço e o preparo de refeições.

O comer e o beber juntos era uma forma de reunir pessoas


e estreitar laços de amizade, desde o terceiro milénio, 12

governantes realizavam banquetes e festas, onde os vínculos e


hierarquias sociais eram fortalecidas. Não somente a classe
social mais abastarda se relacionava através da comida como
forma de estabelecer relações e de fazer acordos. Mas
também aqueles de classe social mais baixa, como os
mercadores que se reuniam em tabernas a volta de panelas
(Flandrin e Montanari, 1996).

Dessa forma, é possível perceber que o ato de cozinhar e


de sentar-se à mesa favorece a criação de redes de interação
em uma comunidade. A comensalidade traduz uma atividade
que é comum a todo ser humano, o ato de preparar e de
comer as refeições. É interessante ressaltar que a alimentação
está presente não apenas pela necessidade nutricional, mas
também pela satisfação, pelo prazer em comer e pelo convívio
à volta da mesa.

A gastronomia atua na caracterização de uma


comunidade, configurando sua identidade cultural, assim
como a arquitetura, já que, ambas práticas refletem a forma
como uma comunidade reage com uma determinada
realidade. Ao observar a cozinha tradicional e a arquitetura
vernacular, vê-se que elas estão fortemente ligadas à
expressão de necessidades, hábitos e costumes da
comunidade. O abrigo e o alimento são necessidades básicas,
dessa forma, a arquitetura e a alimentação são os canais que
exprimem essas necessidades, dependendo do local e do
tempo. De maneira que, uma identidade seja estabelecida
(Rodrigues, 2013).

Segundo Marot (2019), a prática da alimentação voltada


para a agricultura e a prática da arquitetura evoluíram
proporcionalmente desde o período neolítico. Durante este
período as plantas passaram a ser domesticadas, juntamente
com a domesticação do homem em construções de pedra.
Entretanto, com o passar dos anos, a relação entre a
construção feita por homens e a agricultura foi se distanciando
devido à revolução industrial e ao avanço da tecnologia,
responsáveis por emancipar as cidades e transferir a produção
13
agrícola para fora delas (Steel, 2016).

As inovações tecnológicas e o crescimento do comércio


advindo de um consumo exacerbado trazem um rompimento
entre a cidade e o campo, destruindo a “paisagem amorosa e
laboriosamente construída pelo agricultor” (Telles, 2003). Em
uma citação o arquiteto Sérgio Rodrigues (2013) diz que
“…antes da era da globalização e da fast food, cozinhar e
construir eram a forma e meio pelo qual uma comunidade se
expressava”. Dessa forma, com os efeitos da globalização
observa-se cada vez a separação entre as origens da
alimentação e a cidade.

Além disso, o autor Rogers (2001), afirma que o modo de


vida na cidade, a forma como ela se desenvolve em termos
construtivos, sociais e económicos, com padrões insustentáveis
a longo prazo, é a principal causa da destruição do equilíbrio
ecológico. O arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles revela em uma
entrevista publicada pela Câmara Municipal de Lisboa (2022)
a sua preocupação em relação à cidade de hoje ao afirmar
que ao destruir o saloio, destrói-se também a pessoa do futuro,
destrói-se o homem. Ele conclui esse raciocínio, afirmando ser
necessário repensar a cidade. Pode-se dizer que trazer a
alimentação sustentável de base agrícola para a cidade é
uma forma de repensar os hábitos citadinos.

Segundo informações do programa Biosfera (2022), a


problemática de depender de uma grande rede de
abastecimento alimentar pode ser exemplificado com o que
aconteceu durante a pandemia do COVID-19, onde o sistema
alimentício da cidade foi posto em causa. Durante este período
os campos agrícolas que deveriam abastecer a cidade
estavam com excesso de mercadoria e com alimentos a
estragar-se, enquanto as prateleiras dos mercados na cidade
estavam vazias. A pandemia revelou uma grande falha no
sistema de abastecimento alimentar atual, evidenciando a
necessidade de criar cidades mais resilientes que possam
sobreviver às crises como o COVID-19.

Uma das atitudes que pode ser tomada diante da realidade 14

apresentada é a diminuição da dependência da cidade em


relação ao sistema alimentar global. Já que, de acordo com a
fundação Ellen MacArthur, tem-se por estimativa que no ano
de 2050, cerca de 80% dos alimentos produzidos serão
consumidos nas cidades. Ou seja, o consumo nas cidades
tende a aumentar, entretanto a produção dos alimentos
continua fora das cidades. Para amenizar os impactos que
crises podem causar sobre a alimentação na cidade, a cadeia
de abastecimento alimentar deveria ser encurtada. De forma
a viabilizar uma maior proximidade entre a produção e o
consumo. Além disso, a produção e consumo in loco
favorecem uma alimentação menos industrializada e mais
equilibrada, ecologicamente, dentro das cidades. (Biosfera,
2022)

Neste sentido, a conceção de espaços que incentivem a


alimentação de economia circular possui grande significância.
A alimentação de economia circular é um conceito derivado
da expressão economia circular, que se baseia nos princípios
de redução, reutilização e recuperação. A alimentação de
economia circular é um projeto do programa Food Initiative
desenvolvido pela fundação Ellen MacArthur. O projeto visa
aplicar os princípios da economia circular na alimentação.
Segundo informações da Fundação Calouste Gulbenkian, o
objetivo do projeto é incentivar o consumo de alimentos
originados da agricultura regenerativa nas cidades. Já que
nesse tipo de agricultura se utiliza técnicas e métodos de
conservação e restauro do solo. Além disso, o projeto apoia a
produção de alimentos no próprio local de consumo,
viabilizando a sua comercialização e a instrução da
comunidade sobre os produtos alimentares saudáveis tanto
nutricionalmente, como pela forma em que são produzidos.

Dessa forma, percebe-se que os hábitos alimentares do


século XXI precisam ser repensados. A arquitetura na sua
relação com a comida desde o período neolítico, carrega o
potencial de conceber e qualificar espaços que viabilizam o
15 relacionamento de uma comunidade com a alimentação.
Dessa forma, a arquitetura é um meio pelo qual as pessoas
possam se conscientizar sobre hábitos alimentares mais
saudáveis. Elizabeth Cromley (2011) afirma que, a arquitetura é
um agente ativo nas transformações sociais ligadas à
alimentação. Já que, ela molda e forma espaços que
albergam funcionalidades dedicadas às necessidades básicas
do homem, tal como a alimentação. Os atos de cozinhar,
armazenar, servir, comer e descartar atuam como uma rede de
atividades que determinam e caracterizam a produção dos
espaços na arquitetura. Segundo Horwitz e Singley (2004), a
relação da arquitetura e da gastronomia está na essência de
ambas práticas em transmitirem cheiros, sabores e
temperaturas, fazendo-as perdurar na memória.
CASOS DE REFERÊNCIA

Os casos de referência foram escolhidos de acordo com


qualidades especificas de cada projeto. Os critérios de escolha
foram baseados na materialidade, na funcionalidade,
princípios do programa e como ele está organizado no espaço.
Os casos de referência escolhidos foram: O Centro
Interpretativo do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, o
restaurante NOMA e o Pavilhão Slow Food.

16
3.1 Centro Interpretativo do Mosteiro de Santa Clara-a-
Velha

A escolha deste caso de referência deve-se ao fato de ser


uma reabilitação bem-sucedida, onde o espaço criado
viabiliza uma boa integração entre o novo e o preexistente.
Além disso, o novo edificado possui o programa de centro
interpretativo, tal como o projeto a ser criado através deste
trabalho, viabilizando uma leitura comparativa entre o caso de
referência e o caso de estudo.

17

Fig. 1

O Centro Interpretativo do Mosteiro de Santa Clara-a-


Velha está situado em Coimbra e teve a construção concluída
no ano de 2008. O projeto foi concebido pelos arquitetos
Alexandre Alves Costa, Sérgio Fernandez e Luís Urbano.

O projeto consiste na valorização do Mosteiro,


transformando a igreja e suas ruínas em um museu, sendo
adicionado, também, um novo edificado como centro
interpretativo (Fig.1). De maneira que, o espaço pudesse ter
condições de receber visitas públicas e que também fosse um
ambiente atrativo para as pessoas. A reabilitação da igreja
consistiu na eliminação de elementos espúrios e no restauro de
zonas degradadas.
O centro interpretativo neste local tem por finalidade
disseminar conhecimentos acerca do Mosteiro. De forma que,
o público possa ser informado relativamente à história e à
cultura do espaço. A relação entre a preexistência e o novo
edifício, o centro interpretativo, permite que o Mosteiro seja
dignificado, de forma que a nova construção esteja ali para
enobrecer o espaço preexistente. O foco está no Mosteiro e na
paisagem que o circunda.

18

Fig. 2

O centro interpretativo está elevado sobre pilotis, onde o


acesso principal se faz através de uma rampa no alçado sul,
vencendo o desnível do terreno ao lado norte. O edifício é em
betão, possui planta retangular e é constituído por um piso
único. O alçado sul é quase completamente encerrado,
entretanto, o alçado norte é todo em vidro (Fig. 2). Esta
transparência no alçado permite que o edifício funcione como
um miradouro, emoldurando uma vista para o mosteiro e para
o terreno circundante. É uma forma de contemplação da
preexistência.
19

Fig. 3

Na planta (Fig. 3) é possível observar que o programa


comporta pelo menos um pequeno auditório de 72m2, uma
sala polivalente e uma sala de exposição que totalizam 290m2.
Para os funcionários há sete gabinetes, seis com 15m2 e um
com 25m2. Em relação às instalações sanitárias, elas estão
divididas entre duas partes, uma que serve ao público e outra
que serve aos funcionários, totalizando uma área de 45m2.
Além disso, o programa inclui uma cafetaria de 70m2 junto com
uma esplanada à norte, virada ao mosteiro, que contabiliza
100m2. Estas áreas servirão de apoio à proposta a ser
concebida neste trabalho.

O edificado sobre pilotis e o uso da rampa de acesso para


vencer o desnível das cotas (Fig. 4) é uma opção para a
proposta de projeto a ser feita neste trabalho. Já que, o declive
causado pelas diferenças de cota no terreno do Quartel do
regimento de Lanceiros 2 é expressivo. Além disso, o modelo de
fachada norte envidraçada pode ser aplicado no caso de
estudo, pois viabilizaria uma vista de todo o complexo
preexistente no Quartel, além de permitir uma vista privilegiada
da ponte e do rio Tejo, tornando o espaço um lugar aprazível
aos visitantes.

20

Fig. 4

3.2 NOMA

A segunda escolha de caso de referência é o restaurante


NOMA (Fig. 5) que está situado em Copenhagen e foi
construído em 2018 pelo ateliê Bjark Ingels Group. A escolha
deve-se ao fato de o restaurante consistir na reabilitação de um
antigo armazém militar, tal como o Quartel do Regimento de
Lanceiros 2, havendo certa similaridade na tipologia
construtiva. Além disso, o restaurante incentiva hábitos
alimentares mais saudáveis utilizando-se das hortas presentes
nas estufas (Casas verdes) do próprio restaurante. Essa filosofia
de alimentação saudável se relaciona com uma das intenções
da proposta de projeto a ser criada neste trabalho.

Em relação à volumetria do caso de referência, o espaço é


composto pelos armazéns preexistentes com planta retangular
e pelos novos espaços compostos por blocos de volumetria
retangular e quadrangular com cobertura em duas águas,
semelhantes às do Quartel em estudo. Os interiores dos espaços
são majoritariamente em madeira, tornando o ambiente
agradável e caloroso, contrapondo-se à rigidez e à robustez
dos armazéns preexistentes.

O restaurante possui uma cozinha aberta que fica no centro


das atividades que acontecem no restaurante (Fig. 6). A
aplicação dessa forma de distribuição dos espaços, com uma
cozinha aberta no centro, é uma tipologia interessante para
uma cozinha comunitária, já que permite que haja uma
interação entre quem cozinha e quem se alimenta,
21 favorecendo a comensalidade. Isto aplica-se ao trabalho a ser
desenvolvido, já que, o programa da proposta de projeto inclui
uma cozinha comunitária. Além disso, a materialidade do
espaço interior do NOMA com a utilização da madeira é uma
opção para ser implementada nos armazéns do Quartel do
regimento de Lanceiros 2.

Fig. 5
Fig. 6

3 . 3 Expo Milão 2015: Pavilhão Slow Food


22

O terceiro caso de referência é o Pavilhão Slow Food (Fig.


7) que foi construído em 2015 para a Expo de Milão. O Slow
Food é uma organização fundada na Itália em 1980 que tem
como objetivo promover a ecogastronomia, ou seja, “...restituir
ao alimento a sua dignidade cultural, favorecer a sensibilidade
do gosto e lutar pela conservação e uso sustentável da
biodiversidade” (Slow Food Brasil, 2020).

O projeto foi concebido pelo escritório de arquitetura


Herzog & de Meuron. O pavilhão era, na realidade, um
complexo que contemplava três edificados de planta
retangular e que juntos formavam o perímetro de um triângulo,
cujo centro era um pátio com hortas (Fig. 8). O programa para
o complexo dividia-se entre as três construções, havendo então
um espaço para a exposição de produtos alimentares, um
espaço para degustação e outro espaço para conferências
(Fig.). A volumetria dos edificados era retangular com
cobertura em duas águas, além disso, a materialidade dos
espaços consistia no uso da madeira.
Este caso de referência é inspirador para este trabalho, pois
aborda o conceito e o programa de uma alimentação mais
saudável e que une pessoas com o objetivo de conscientizá-las
e integrá-las. Além disso, a estrutura dos três edificados
assemelha-se à volumetria dos edifícios do caso de estudo, o
Quartel do Regimento de Lanceiros 2, viabilizando uma maior
integração entre o caso de referência e o caso de estudo.

23

Fig. 7

Fig. 8
O LUGAR

“As questões do património e da reabilitação urbana


ganham, em áreas como Belém e Ajuda, dimensões
simbólicas de grande relevância, assumindo particularidades
que se tornam mais expressivas e sensíveis face à histórica
natureza monumental e simbólica do Lugar.”

(Ferreira, 2020, 102)

24
4.1 Eixo Belém-Ajuda

A freguesia da Ajuda foi fundada oficialmente em 1587.


O nome da freguesia deve-se à prática devocional de culto
que D. Catarina, mulher de D. João III, tinha à Nossa Senhora
da Ajuda. Essa zona passou a ser um local de peregrinação,
contribuindo para o desenvolvimento da Ajuda. Entretanto, a
crescente popularidade da freguesia dá-se ao fato da
mudança da família real para a Ajuda pós terramoto de 1755,
já que grande parte de Lisboa ficou destruída. Com a
instalação da família real na Ajuda, o centro político e cultural
passou a ser nessa zona. Juntamente com a família real, a
nobreza passou a acompanhar o interesse pela zona (CML,
2010).

Até ao terramoto de 1755, as edificações desenvolviam-


se pelo caminho traçado na peregrinação à Nossa Senhora
25 da Ajuda, conhecido hoje como a Calçada do Galvão.
Posteriormente, a Calçada do Galvão e a Calçada da Ajuda,
iniciada em um plano urbanístico a mando do rei D. João V,
viriam a ser as duas vias que estruturavam o território. O rei D.
João V viu a Ajuda como um potencial local de defesa da
Capital devido à sua posição geográfica, já que era uma das
zonas de fácil entrada à Lisboa e que estava desprotegida.
Ele decide então iniciar um conjunto de ações com o objetivo
de controlar toda a zona que a Ajuda abrange. Até 1770 o
território da Ajuda compreendia as zonas ribeirinhas de Algés
e de Alcântara. Até este período o rei comprou diversas
quintas, ordenou a construção do primeiro troço daquilo que
viria a ser a Calçada da Ajuda e do edificado que hoje é
designado como quartel da G.N.R. (Rosa, 2006). Em 1770 e em
1833 foram criadas, respectivamente, a freguesia de S. Pedro
de Alcântara e a freguesia de Belém, desmembrando-se do
território da Ajuda.

Ainda sobre o desenvolvimento da malha urbana que


aos poucos tomava forma, destacava-se o interesse da
nobreza em adquirir terrenos ao perceber o investimento do
soberano na região, já que a zona possuía um ambiente
natural com vistas sobre o rio, sendo considerado um território
aprazível à corte. Esse movimento para a zona da Ajuda se
tornou ainda mais significante com a mudança da família real
para a Real Barraca construída na Ajuda após o terramoto de
1755, se tornando a nova residência dos monarcas. Dessa
maneira, formavam-se quintas com algumas casas nobres nos
arredores da Real Barraca e junto à nobreza achegava-se,
também, os serviçais da lavoura e trabalhadores no geral, que
por sua vez também se instalavam na zona (Rosa, 2006).

Desde o século XVI desenvolvem-se na região quintas


agrícolas, onde a nobreza edificava suas casas de lazer,
caracterizando a Ajuda como uma zona de forte cariz rural.
O rei D. João V compra quintas designando-as como a Regius
Hortus Suburbanus em 1768, que viriam a ser o atual Jardim
Botânico d’Ajuda e Jardim Tropical de Lisboa. O Jardim
Botânico foi construído em terreno fértil onde havia hortas e
26
árvores frutíferas (Coelho A. C. et al., 2013). Percebe-se então
que, a ruralidade coexistia com a malha urbana que se
formava na Ajuda. O Jardim Botânico d’Ajuda foi concebido
pelo naturalista Domenico Vandelli, o programa do Jardim
contemplava uma zona de museu, uma casa de risco e um
laboratório de história natural. O espaço existia como uma
forma de disseminar o conhecimento relativo à botânica,
explorando as diferentes espécies vegetativas das colónias
portuguesas. O prestígio e relevância do jardim é evidente ao
destacar que os príncipes eram educados no local.

Em 1794, ocorre um incêndio na Real Barraca, a família real


então muda-se para o Palácio de Queluz e ordena a
construção do Palácio na Ajuda para substituir a Real Barraca.
Com as invasões napoleónicas (1807 -1810) a família real
muda-se para o Brasil e com isso o desenvolvimento da região
da Ajuda fica estagnado. O próprio Jardim Botânico fica
isolado da Calçada da Ajuda, mas volta à normalidade com
o retorno da família real após a derrota de Napoleão,
havendo uma religação entre o jardim e a Calçada através
de uma estrutura metálica (Coelho A. C. et al., 2013).

Em meados do século XIX e início do século XX,


começaram a desenvolver-se novas infraestruturas portuárias
e indústrias na região ribeirinha ocidental de Lisboa,
abrangendo as zonas de Alcântara e do Calvário. Entretanto,
as tradições rurais na Ajuda ainda demostravam resistência a
esse fenómeno. Através do desenvolvimento dessas novas
infraestruturas e com o incremento dos transportes na zona
ribeirinha e da linha de elétricos para a Ajuda em 1927, vê-se
o aumento considerável da população na região.
População, predominantemente, de trabalhadores,
operários, o que desenvolveu na região uma vivência social
de caráter popular (Rosa, 2006).

Com o avanço do desenvolvimento da cidade, a


ruralidade e a agricultura foram sendo substituídas por
27 edificados e terrenos expectantes, restando apenas os jardins,
citados anteriormente, como espaços verdes remetentes à
vida no campo (anexo IX). Entretanto, nos dias de hoje, é
possível ver a herança da ruralidade da Ajuda através do
traçado das ruas e dos seus respectivos nomes. Tais ruas
relembram um passado rural e trazem à memória os caminhos
que conectavam as quintas e as hortas (Coelho A. C. et al.,
2013).

Além disso, um inquérito realizado pela aluna Marta


Morgado do curso de sociologia do Instituto Superior de
Ciências Sociais e Políticas no ano de 2016, revela que alguns
moradores da freguesia da Ajuda mantêm ou querem iniciar
a prática do cultivo com hortas domiciliares (anexo XI). Há
apenas uma horta urbana na freguesia da Ajuda e está
localizada no Bairro 2 de Maio, existindo uma lista de espera,
referente ao ano de 2021 (anexo X), entre os moradores para
aceder a tal horta urbana. Isto revela o desejo de parte da
comunidade em retornar aos hábitos alimentícios mais
saudáveis, provenientes do campo.
Durante o século XX foram criados alguns bairros sociais na
zona por incentivo do governo no Estado Novo, onde as
habitações eram de cariz unifamiliar inspiradas na Cidade-
Jardim. Posteriormente, surgiram propostas de edifícios de
habitação coletiva. Ainda no século XX, os aterros na zona
ribeirinha causaram uma grande alteração no espaço. Por
exemplo, o Mosteiro dos Jerónimos situado em Belém que,
anteriormente, possuía uma relação direta com o rio acaba
por ficar mais afastado do mesmo, perdendo um pouco do
seu protagonismo. Entretanto, através da Exposição do
Mundo português em 1940 em Belém, este protagonismo foi
recuperado devido ao investimento no caminho-de-ferro, nas
construções do Museu de Arte Popular, da Praça do Império,
entre outras construções que faziam parte da exposição e
que atraíram cerca de 3 milhões de visitantes (Ferreira, 2020).

Neste processo de desenvolvimento de Ajuda e Belém


destaca-se também o plano de salvaguarda do património
28
urbano e arquitetónico para a zona, dirigido pelo Professor
Costa Lobo com o objetivo de revitalizar a área. Inclui-se o
concurso para a construção do Centro Cultural de Belém,
além disso, os vazios deixados pela Exposição do Mundo
Português foram alvo de requalificação. Ainda neste sentido,
houve as propostas para a reabilitação do Palácio da Ajuda
que estava inacabado e que, por meio do projeto de João
Carlos Santos, foi concluído em 2021.

Através da história desenvolvida no eixo Belém-Ajuda


percebe-se que a zona foi palco para diversos
acontecimentos que marcaram a história portuguesa. Os
edificados que compõem a malha urbana do eixo Belém-
Ajuda trazem à memória a história da zona. Observa-se então
o grande desenvolvimento urbano-turístico na zona e o
desafio de integrar as novas construções às construções
preexistentes, considerando o compromisso com o valor
patrimonial e monumental da região (Ferreira, 2020).

Dessa forma, o eixo Belém-Ajuda se tornou uma referência


de cultura (Silva, I. C., Seixas, M. M., 2009), já que é uma zona
onde estão situados diversos edifícios simbólicos, ou seja,
edifícios com valor patrimonial. Ao analisar o mapa a seguir
(Fig. 9 e 10) é possível constatar alguns edifícios simbólicos
existentes na malha do eixo Belém- Ajuda.

29

Fig. 9
Fig. 10
30

Em relação à demografia na Ajuda, de acordo com o


censo de 2021 realizado pelo Instituto Nacional de Estatística,
cujos dados ainda não estão completos, a freguesia da Ajuda
conta com 14.313 habitantes, sendo 51% dos seus habitantes
pertencentes à faixa etária entre 25 e 64 anos. Percebe-se
então, que mais de metade dos residentes na Ajuda fazem
parte da população economicamente ativa. Entretanto, de
acordo com o II Diagnóstico Social de Lisboa (2016), dentro
deste grupo, a população da Ajuda entre os 20 e 29 anos que
nem trabalha nem estuda possui o quarto valor mais alto do
concelho de Lisboa com uma percentagem de 18,21 (DSL,
2016). Em seguida o grupo etário com maior percentagem é
o de idosos com 27% (INE). A percentagem de idosos também
é significativa. No censo de 2011, a freguesia da Ajuda foi
considerada como a segunda freguesia de Lisboa com o
maior número de idosos. De acordo com a ficha de
identificação das problemáticas sociais da Ajuda dado pelo
II Diagnóstico Social de Lisboa (2016), entre os idosos há um
crescente isolamento social. Sendo assim, esses resultados
revelam a importância de promover na região atividades que
envolvam os idosos para mantê-los ativos e sãos, mas que
também estimulem o envolvimento dos jovens de forma a
dinamizar a vida em comunidade.

Além disso, de acordo com a matéria de Ferreira (2021)


publicada pelo Jornal Público, entre 1991 e 2011 a freguesia
da Ajuda perdeu 30% dos seus habitantes, levando-os a se
realocar na periferia, já que, o rendimento familiar já não era
suficiente para permanecer na zona. Esse fenómeno reflete o
início de uma gentrificação. O termo pode ser definido como
a migração de famílias com boas condições de renda para
locais ocupados por uma população com poder aquisitivo
inferior (Atkinson, 2012). Dessa forma, as famílias com renda
inferior veem-se na condição de mudar de zona, porque já
não conseguem se sustentar ali.

O surgimento pontual de dois condomínios fechados na


31 freguesia da Ajuda está associado à gentrificação daquele
meio. A igualdade a nível social é o interesse dos habitantes
dos condomínios fechados. Segundo Blakely e Synder (1997),
apesar dos habitantes desses condomínios não poderem se
isolar completamente da sociedade, a intenção é estarem
livres de interações com qualquer grupo indesejável, gerando
uma segregação no convívio de bairro. Na freguesia da
Ajuda esse fenómeno é ainda mais agravante, já que os
condomínios fechados são de luxo. Isso cria uma maior
segregação entre os membros da comunidade, pois a
camada populacional predominante na Calçada da Ajuda
é pertencente à classe média. Além disso, na freguesia da
Ajuda também há 5 bairros sociais destinados às famílias mais
carenciadas.

A gentrificação do eixo Belém-Ajuda também está


ligada a uma procura turística pelo edificado patrimonial na
área. Dessa forma, a vida no cotidiano do bairro pode ser
comprometida devido a influência turística sobre os serviços e
as atividades necessárias do bairro (Ferreira, 2020). Sendo
assim, compreende-se a necessidade de desenvolver
equipamentos que promovam e viabilizem a integração
social entre pessoas do próprio bairro.

4.2 Quartel do Regimento de Lanceiros 2

O Quartel do Regimento de Lanceiros 2 surge no século


XVIII, na altura em que os ideais da Revolução Francesa
estavam a se espalhar pela Europa. Dessa forma, por temor ao
perigo que tais ideais representavam para a Coroa Portuguesa,
D. Maria I, rainha de Portugal, ordena a construção de uma
Guarda de Corpo a Cavalo. O Quartel se localizaria em um
terreno da Calçada da Ajuda pela sua aproximação com a
residência Real que viria a ser o Palácio da Ajuda. Oliveira Rego
foi encarregue pelo projeto do Quartel, juntamente com Brito
Rebelo. Ambos conceberam um edifício principal de comando 32

com características da construção pombalina, juntamente


com casernas, entre outros equipamentos. O edificado nunca
foi utilizado pela Guarda de Corpo a Cavalo, já que a unidade
não chegou a ser criada, dessa forma, em 1833 o local passou
a ser habitado pelo Regimento de Lanceiros 2 da Rainha.
Atuando na proteção dos paços régios da Ajuda e dos paços
régios das zonas vizinhas (Silva, I. C., Seixas, M. M., 2009).

Atualmente, o Quartel encontra-se devoluto na Calçada


da Ajuda, já que, os militares foram realocados para antigas
instalações do antigo Regimento de Comandos na Amadora,
em 2014, após 230 anos de ocupação naquele espaço. Em
2018, o ministro da Defesa Nacional fez o anúncio de que o
Quartel do Regimento de Lanceiros 2 acolheria a futura sede
do Ministério da Defesa, entretanto o projeto ainda não foi
realizado (CML, 2018).

O fato do edifício não estar em utilização é um fenómeno


explicado por Trancik (1986), onde ele define espaços sem
utilização como espaços perdidos. De forma que, já não é
viável manter a função presente no edificado, sendo
necessária receber uma nova função que o torne desejável
perante a sociedade. A necessidade da reabilitação desses
espaços está no fato deles não trazerem qualquer contribuição
para potenciais utilizadores que vivem nos seus arredores uma
vez que se encontram sem função. Essas partes abandonadas
na cidade causam uma falha na leitura de conexões e
interações possíveis numa camada urbana. Contudo, o autor
acrescenta, que esses espaços revelam grandes ocasiões para
redescobrir recursos escondidos da cidade e desenvolver
novas perspetivas urbanísticas.

33
A PROPOSTA

“Como arquiteto, se desenha para o presente, com certo


conhecimento do passado, para um futuro que é
essencialmente desconhecido.”

(Foster, 2007)

34
5.1 O Local

Como já referido, anteriormente, o local da intervenção


de projeto é o Quartel do Regimento de Lanceiros 2. O
Quartel localiza-se na Calçada da Ajuda em Lisboa, entre
o limite das freguesias de Ajuda e de Belém. (Fig. 11) Como
visto no capítulo 4, a zona da Calçada da Ajuda possui
alguns edifícios simbólicos, inclusive o Palácio da Ajuda que
é Monumento Nacional está protegido pela Direção - Geral
do Património cultural. Dessa forma, devido à proximidade
ao Palácio, o Quartel do Regimento de Lanceiros 2 está
incluído na Zona Especial de Proteção do Palácio Nacional
de Belém (SIPA, 2007). A Zona de Proteção impõe restrições
às obras de construção na área protegida, de maneira a
salvaguardar e valorizar a zona (DGPC). Portanto, a
proposta de projeto segue valores de intervenção que tem
por objetivo salvaguardar e valorizar o edificado
35
preexistente.

Ajuda

Belém

Limite entre freguesias Zona de Intervenção

Fig. 11

O Quartel é um complexo composto por casernas,


edifício de comando, campo de obstáculos, armazéns,
instalações desportivas, campo de futebol descoberto,
entre outros (SIPA, 2007). O espaço tem cerca de 70 000 m2,
dos quais 18 000 m2 são cobertos, evidenciando a
amplitude territorial do Quartel. Dessa forma, devido à
grandeza do terreno, optou-se por intervir,
especificamente, nas zonas das casernas, armazéns e da
parada (Fig. 12). Em relação ao edifício de comando, este
será destinado às instalações do Ministério da Defesa, já
que, em 2018 foi anunciada a iniciativa de utilizar o espaço
como instalações do Campus da Defesa (CML, 2018). A
priori, segundo o anúncio da Câmara Municipal de Lisboa,
todo o complexo seria utilizado, entretanto, sabe-se que o
Quartel continua devoluto até os dias de hoje.

36

Parada
Armazéns (Século XXI)
Edifício de
Sem valor histórico e
Comando (1790)
sem valor de
Possui valor histórico antiguidade
Construção
e valor de
na entrada Edifício de Comando (Século XVIII)
principal
antiguidade
(Século XXI Possui valor histórico e valor de
antiguidade. Entretanto algumas
Sem valor paredes interiores sofreram
histórico e alterações
sem valor de Casernas (Sofreram obras de alteração em 1960 – 70.
antiguidade Entretanto, os elementos estruturais mantem-se
originais do século XVIII).

Elementos estruturais com valor histórico e de


antiguidade

Outros elementos, como pavimentos, paredes


interiores e teto não possuem valor
Fig. 12
A proposta de reabilitação do Quartel é de suma
importância como visto no capítulo 4. Tal relevância é
reafirmada através da análise da evolução do conjunto
edificado desde o século XVIII até os dias atuais, o que
evidencia o valor histórico e o valor de antiguidade do
Quartel. É o que o torna um conjunto autêntico e um
testemunho da história. A seguir, tem-se a identificação dos
espaços e a sua evolução histórica (Fig. 13)

Projeto original (Século XVIII)

37

1807

1856

1911

PROJETO ORIGINAL

Século XXI

Fig. 13
Após a análise da evolução histórica do local de
intervenção, também é importante a análise da teoria de valor
do edificado baseada no artigo de Clarke et Al. (2019). Ela
consiste na categorização dos elementos construtivos de
acordo com o valor histórico, artístico e de antiguidade de tais
elementos (Fig. 14). Uns devem ser preservados e conservados
em estado original (azul), outros devem ser desenvolvidos
novamente, porém, utilizando a materialidade e estrutura
original (verde), outros podem ser mantidos se possível,
dependendo do estado de conservação (amarelo) e outros
devem ser demolidos porque não dignificam a leitura do
conjunto edificado (vermelho). Esta análise contribui para a
elaboração da proposta, justificando as novas construções e
demolições sugeridas na proposta. (Fig. 15 e 16)

38

Fig. 14
39

Fig. 14
Fig. 15 40

Fig. 16
5.2 O Programa

O programa (Fig. 17) para a reabilitação do Quartel do


Regimento de Lanceiros 2 tem por objetivo potencializar as
redes de interações entre as pessoas da comunidade do
eixo Ajuda-Belém, explicado no capítulo 2. Além disso, o
programa visa estabelecer uma conscientização sobre os
hábitos alimentares do século XXI, ressaltando como a
alimentação está diretamente ligada às interações
interpessoais, que por sua vez estão ligadas à arquitetura,
aos espaços que são experenciados e àquilo que eles
proporcionam à comunidade, visto também no capítulo 2.
Seguindo essa linha de pensamento, o programa
proposto para o Quartel é o de um Centro Comunitário
Hortícola que abrange um espaço para o Ministério da
Defesa, um Centro interpretativo das Hortas que visa a
disseminação de conhecimentos relativos à agricultura e à
41
alimentação, uma estufa para o cultivo de hortas verticais
e hortaliças delicadas que são mais sensíveis às intempéries
climáticas. Além disso, o programa aborda um centro de
assistência às hortas, onde haverá espaços administrativos
das hortas e espaços administrativos para outras
associações ligadas à agricultura, alimentação e
comunidade. O programa contém também um centro de
compostagem e armazém para guardar sementes,
ferramentas e outros utensílios necessários para o plantio.
Além disso, também faz parte do programa um espaço
para eventos de feira, uma cozinha comunitária, as hortas
e um estacionamento subterrâneo. Tais espaços serão mais
bem abordados a seguir.
A começar pelo Centro Interpretativo das Hortas, sabe-
se que um centro interpretativo consiste na disseminação
de conhecimentos como forma de melhorar a
comunicação em relação ao tema do centro aos visitantes.
Neste caso, o Centro Interpretativo das Hortas propagará
conhecimentos acerca da alimentação, abordando sua
origem, a sua história e valores culturais agregados a ela e
que fortalecem uma comunidade. O objetivo principal é
que o Centro interpretativo das Hortas seja um espaço que
apoie o conceito de alimentação saudável, integrando
pessoas e disponibilizando, ao mesmo tempo, espaços que
sirvam para outras expressões culturais da comunidade,
além da alimentação.
Além disso, o objetivo é que o Centro Interpretativo
tenha uma relação com os escoteiros da Ajuda que estão
situados na Calçada da Ajuda, Tal como o Lanceiros 2. O
Centro Interpretativo seria um local no qual a associação
dos escoteiros, que são uma associação com uma forte
ligação à comunidade da Ajuda, pudesse usufruir do
espaço para aprender e transmitir conhecimentos ligados à
natureza a biodiversidade alimentícia.
Em relação ao Centro de assistências às Hortas, o intuito
é que o espaço seja utilizado para administração das
hortas, como já referido, mas que também seja um espaço
para a instalação de outras associações, como por 42

exemplo, o Projeto Fruta Feia que visa diminuir o


desperdício, aproveitando frutas e legumes que não são
perfeitos em termos de formato e que, por sua vez, não são
vendidas em mercados (Fruta Feia). Além disso, pode haver
um espaço administrativo para o Jardim Botânico, situado
na Calçada da Ajuda, já que possuem workshops de
plantio e cultivo de hortas, mas na prática o Jardim
Botânico não possui hortas, o que viabilizaria uma boa
relação de interdependência entre o Jardim e o Centro
Comunitário Hortícola.
O espaço do centro de compostagem é onde os restos
dos alimentos são transformados em adubo. Isto ajuda na
diminuição do desperdício alimentar, contribuindo para os
princípios de redução, reutilização e recuperação
alimentar, citada no capítulo 2. Além disso, o centro de
compostagem também poderá receber os desperdícios do
Mercado da Ajuda, situado na Travessa da Boa Hora.
Em relação ao espaço para eventos de feira, o objetivo
é que ele possa abrigar de maneira alternada feirantes que
não possuem um espaço com uma infraestrutura
adequada para comercializar seus produtos ou que
desejam ampliar sua clientela e, principalmente propagar
o conhecimento dos seus produtos. Como por exemplo, a
feira de produtos biológicos do Príncipe Real, o Mercado
Biológico Agrobio que está presente em diferentes
freguesias de Lisboa, entretanto não há na Ajuda, nem em
Belém. Neste caso, o Mercado Agrobio não é um mercado
convencional, ele funciona como uma feira na rua.
Também há a feira do Jardim Vasco da Gama que é
relativamente próxima ao Lanceiros 2. Além disso, o espaço
também poderia ser utilizado pela associação Fruta Feita
para a realização de cabazes e para propagar o
conhecimento sobre os serviços que eles fazem.
Quanto à cozinha comunitária, ela é um equipamento
público que tem por objetivo garantir a segurança
alimentar da comunidade. Dessa forma, famílias mais
43 carenciadas podem usufruir de uma boa alimentação e
serem incluídas socialmente. O objetivo é que a Junta de
freguesia da Ajuda, que não possui espaço próprio para
serviços sociais alimentícios, segundo entrevista realizada1,
possa gerir este espaço. Além disso, o espaço também
pode ser utilizado para eventos culinários e workshops que
envolvam o preparo de refeições.
Em relação às hortas, elas estarão inseridas no programa
de hortas urbanas e de hortas sociais da Câmara Municipal
de Lisboa. As hortas urbanas são definidas como espaços
de cultivo em meio urbano, tal como as hortas sociais.
Ambas não podem ter meios de produção mecanizados e
estão destinadas à produção agrícola. A diferença entre
elas é de que as hortas urbanas se dirigem mais para o
cultivo por lazer e aprendizagem, enquanto, as hortas
sociais dirigem-se mais para satisfazer as necessidades
alimentícias de um indivíduo ou família (CML). O programa

1
Entrevista realizada em março de 2022 por Ana contente na Junta de
Freguesia da Ajuda. Informações cedidas por Arthur, que trabalha na
parte administrativa da Junta.
de Hortas da CML está presente em diversas freguesias de
Lisboa (anexo VIII), entretanto não há em Belém e existe
apenas uma de pequeno porte na Ajuda, havendo lista de
espera para sua utilização (anexo), revelando o interesse
por parte da população e a propagação do conceito de
hortas urbanas.
Além disso, também faz parte do programa um
estacionamento subterrâneo. Sendo uma necessidade na
Calçada da Ajuda, visto que o parqueamento público é
escasso e a situação se agrava porque, como já referido
anteriormente, no eixo Belém-Ajuda estão presentes
diversos edifícios simbólicos e outros espaços, como o
Jardim Botânico Tropical, onde ocorrem eventos, visitação
turística e, portanto, as vias viárias ficam ainda mais
sobrecarregadas.

44

10 1

8
2
7
8
7

3 4 5 6 6 6

1-Ministério da Defesa 2- Centro Interpretativo das Hortas 3- Estufa 4- Centro de assistência às Hortas 5- Armazém e centro de
compostagem 6- Espaço de eventos de feira 7- Cozinha Comunitária 8- Hortas 9- Estacionamento 10-Miradouro de Lanceiros 2

50 100 Fig. 17
5.3 O Projeto

A proposta de projeto se baseia nos princípios de uma


reabilitação que dignifica o edifício preexistente,
respeitando o passado que ali existe, mas projetando de
maneira contemporânea. Diferenciando aquilo que é
antigo e original daquilo que é construção nova e
moderna, como afirmava Boito. Após apresentar o local
com análise da evolução histórica e a teoria de valor e de
apresentar o programa, apresenta-se a proposta de
projeto que concretiza o programa estipulado.

A estratégia urbana (Fig. 18) neste projeto consiste em


criar caminhos pedonais que ligam a Calçada e a Parada
no Lanceiros 2, viabilizando um local seguro rodeado por
jardins para passeios pedonais agradáveis e de fácil
acesso que permitem percorrer todo o espaço do
45
Lanceiros 2. Além disso, a Rua Anthony Bacon foi
prolongada até a Calçada da Ajuda, criando uma via
viária que permite o acesso de transportes aos espaços de
feira e à cozinha comunitária que necessita de
abastecimento alimentar fornecido através de caminhões.
Além disso, foi criado um acesso através da Rua Alexandre
Sá Pinto que permite o acesso de carros ao
estacionamento subterrânea que fica na Parada de
Lanceiros 2.

Fig. 18
O edifício do Centro Interpretativo é uma nova
construção que faz o remate da Calçada da Ajuda,
trazendo à memória o projeto original (anexo II) para o
Lanceiros 2. A sua volumetria vislumbra o projeto original
que nunca fora concluído e marca a presença de um
edifício que ali existia durante o século XIX, mas que fora
demolido (Fig. 19). A volumetria do Centro traz à memória
o projeto original, entretanto, sua estrutura, plasticidade e
materialidade são contemporâneas.

46

Fig. 19

O edifício do Centro Interpretativo possui dois pisos e está


dividido em duas partes. Uma parte está elevada sobre pilotis,
permitindo o acesso e a visibilidade direta de quem passa pela
Calçada da Ajuda sobre o conjunto do Centro Comunitário
Hortícola e uma outra parte que está assentada diretamente
sobre o terreno (Fig. 20).
Alçado Este

Alçado Oeste
Fig. 20

A estrutura do edifício viabiliza um vão livre de 11 metros


com vigas metálicas expostas que dão uma plasticidade
interessante ao edifício. A inspiração para tal estrutura foi o
projeto da Escola secundária Garcia da Horta do arquiteto
Ricardo Bak Gordon construída em 2010 (Fig. 21). O edifício é
composto por alvenaria de tijolo e betão armado, seu
revestimento exterior consiste em reboco pintado com a cor
47
NCS S 0502-Y. Em relação ao revestimento interior de todo o
edifício, o mesmo consiste em pavimentos flutuantes laminados
de carvalho natural, paredes rebocadas e pintadas com tinta
NCS S 0502-Y e o teto com a laje aligeirada à vista.

Fig. 21

O acesso principal ao edifício se faz através de uma rampa


presente no alçado oeste do edifício, que faz a ligação entre a
Calçada da Ajuda e o Centro Interpretativo. O acesso ao
Centro Interpretativo também pode ser feito através de
escadarias localizadas no miradouro preexistente do Lanceiros
2, que por sua vez, viabiliza a vista para o Tejo. O alçado este
do edifício também é uma espécie de miradouro porque
através dos vãos envidraçados que compõem o alçado é
possível contemplar todo o Centro Comunitário Hortícola e o
Rio Tejo.

Como já referido anteriormente, o Centro Interpretativo é


composto por dois pisos. No piso 0 encontra-se uma sala
polivalente com arrumos e instalações sanitárias que podem ser
utilizadas, por exemplo, pelos escoteiros da Ajuda para
apresentações e outros fins. Este é o único espaço que para ter
acesso não é necessário subir ao piso 1 do centro interpretativo,
além disso, o acesso à sala está voltado para a Calçada da
Ajuda, o que a torna independente do resto do edifício e de
fácil encontro. Dessa forma, podem ocorrer ali atividades
variadas, já que não irá perturbar o funcionamento do Centro 7

Interpretativo das Hortas. O outro espaço do edifício que se


7
encontra no piso 0 é o auditório, entretanto o seu acesso faz-se
pelo piso 1. Todos os outros espaços encontram-se no piso 1(Fig.
22).

48

Fig. 22
Em relação à estufa, ao centro de assistência às hortas, ao
armazém e centro de compostagem, ao espaço de eventos
de feira e à cozinha comunitária eles estão alocados nas
casernas preexistentes no Lanceiros 2. A estrutura das casernas
se manterá original, os vãos abertos nos alçados são verticais e
permitem uma leitura mais contemporânea e coesa de todo o
conjunto, combinando o preexistente com o novo. Os acessos
podem ser sempre feitos pelo lado norte e/ou sul. Os acessos
ao norte são feitos através da Parada de Lanceiros 2 e os que
estão ao sul são feitos através de rampas que vencem os
desníveis do terreno. Todas as casernas mantiveram-se em piso
único, com exceção da caserna que abriga o centro de
assistência às hortas, tal possui dois pisos com uma estrutura
independente da estrutura preexistente. Dessa forma, as novas
paredes e escadas deste espaço consistem em uma estrutura
de ferro com uma laje aligeirada, onde a laje está à vista, mas
as paredes estão revestidas em madeira. Em relação à
49 materialidade dos interiores, os pavimentos das casernas são
em pavimentos flutuantes laminados de carvalho natural, com
paredes pintadas com a cor NCS S 0502-Y, tal como no exterior,
e o teto tem as asnas à vista.

Quanto ao edifício da estufa, este ocupa o espaço de uma


caserna que será demolida, já que ela estaria ligada ao edifício
de remate que nunca fora construído como mostra as plantas
originais (anexo II). A estufa consiste em uma estrutura de
madeira lamelada e vidro.

Em relação aos interiores dos espaços de feiras nas


casernas (Fig. 23), estes possuem bancadas, para exposição
das mercadorias, e paredes divisórias formadas por uma
estrutura de ferro revestida por madeira. Tais paredes e
bancadas possuem formas circulares que estão dispostas de
maneiras diferentes, formando um conjunto de leitura única. A
inspiração para as formas circulares deriva das formas
orgânicas das frutas e legumes presentes nas hortas. (Fig. 24)
Sobre a cozinha comunitária, no seu exterior existe um
espelho d’água que faz a divisão entre as hortas e a cozinha,
além disso, ele traz a sensação de que o edifício da cozinha
comunitária é maior, dando-lhe certo destaque, apesar de ser
o edifício mais distante em relação ao acesso principal na
Calçada da Ajuda. Em relação ao interior da cozinha, ela
segue o conceito de cozinha aberta, onde o espaço de
cocção é visível a todos aqueles que estão a comer, entretanto
há um espaço de copa suja encerrado ao público. Além disso,
o objetivo é que a cozinha usufrua das hortas para a cocção
de alimentos sendo uma forma de permitir que as pessoas
interajam com os diversos processos da alimentação (Fig. 25).

50
Fig. 23

Fig. 24
Produzido
pela
própria
autora

Fig. 25
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho mostra sua relevância através do


tema da alimentação como forma de integração entre
pessoas que vivem em uma comunidade em processo de
gentrificação. Construir uma comunidade forte com bons
relacionamentos interpessoais é imprescindível para o sucesso
de um bairro. Ao mesmo tempo, o trabalho faz uma crítica aos
hábitos e produção alimentar dos tempos atuais, que são
insustentáveis a longo prazo.
É emergente a necessidade da conscientização
alimentar no meio urbano e o estímulo à vivência entre
pessoas no bairro. Neste caso, a arquitetura, como arte que
transforma lugares, viabiliza a criação de espaços funcionais
e qualificados que agem em prol das necessidades de uma
sociedade. Sabe-se que a comida possui a sua relevância
social, entretanto, é na arquitetura que os espaços são
51
moldados para comportar funções que podem, neste caso,
dedicar-se à alimentação e à convivência entre pessoas.
Dessa forma, a reabilitação do Quartel do Regimento de
Lanceiros 2 em um Centro Comunitário Hortícola visa a
potencialização de relações interpessoais da comunidade do
eixo Belém-Ajuda através de uma alimentação saudável e
sustentável. A intervenção une os habitantes de diferentes
classes sociais e resgata o passado agrícola da freguesia da
Ajuda. Isto é feito através da criação de espaços que
incentivem o cultivo, a comensalidade entre indivíduos e a
disseminação de conhecimentos alimentares. De forma que,
os moradores da zona possam partilhar a vida em conjunto
através do ato de cultivar, cozinhar e comer em comunidade.
Acredita-se que o Centro Comunitário Hortícola oferece
oportunidades de conexão entre indivíduos, diminuindo as
tensões geradas pela gentrificação e pelo turismo na zona.
Além disso, o Centro incentiva uma alimentação mais
saudável e sustentável em meio urbano, contribuindo para
uma conscientização alimentar.
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https://doi.org/10.1080/13574800500086998

57
ANEXOS

Anexo I - Cartografia Histórica

Anexo II – Levantamento de desenhos do Quartel do


Regimento de Lanceiros 2

Anexo III – Levantamento Fotográfico Histórico

Anexo IV– Desenhos de Levantamento do Existente

Anexo V- Levantamento Fotográfico do Existente (Cedido


gentilmente pela aluna Catarina Monteiro, 5 ano, Turma B. Ano
letivo 2020-2021. Visita a Lanceiros abril de 2021)

Anexo VI – Análises do Território.

Anexo VII – Processo de trabalho: Esquissos

Anexo VIII – Hortas da CML

Anexo IX – Evolução Histórica das Hortas na Ajuda.

Anexo X – Lista de fila de espera de Hortas no Bairro 2 de maio

Anexo XI – Parte de Inquérito realizado pela aluna Marta


Morgado do curso de sociologia do Instituto Superior de 58
Ciências Sociais e Políticas no ano de 2016

Anexo XII – Processo de trabalho: Maquetes (em processo de


construção)

Anexo XIII - Peças desenhadas: Painéis


Anexo I - Cartografia Histórica

59
60

Cartografia de Lisboa. Zona da Calçada da Ajuda. Duarte


Fava 1807

CML.https://tiles.arcgis.com/tiles/1dSrzEWVQn5kHHyK/arcgis/re
st/services/CartografiaHistoricaDuarteFava1807/MapServer
61

Cartografia de Lisboa. Zona da Calçada da Ajuda. Filipe


Folque 1856

CML.https://geodados-
cml.hub.arcgis.com/maps/CML::cartografiahistorica-
filipefolque-1856-1858/about
62

Cartografia de Lisboa. Zona da Calçada da Ajuda. Silva Pinto


1911

CML.http://dados.cm-lisboa.pt/en/dataset/cartografia-
historica-de-lisboa/resource/8bb8d50d-150b-443d-b8ca-
c5304ab690ed
63

Ortofotomapa da cidade de Lisboa, 2022. Google Earth.


64

Ortofotomapa da zona da Calçada da Ajuda, 2022. Google


Earth.
65

Vista aérea do Quartel do Regimento de Lanceiros 2, 2022.


Google Earth
Anexo II – Levantamento de desenhos do Quartel do
Regimento de Lanceiros 2

66
67

Planta de conjunto do projeto original para o Quartel de


Lanceiros 2. Biblioteca do Exército – GEAEM
68

Planta e Alçados do lado do Quartel que faz frente à Calçada


da Ajuda (Corpo nunca construído),1765-1833. Biblioteca do
Exército – GEAEM
69

Planta e Alçados do lado do Quartel que faz frente à Calçada


da Ajuda (Corpo nunca construído),1765-1833. Biblioteca do
Exército – GEAEM
70

Planta e Alçados do edifício a norte do Quartel de Lanceiros.


Biblioteca do Exército – GEAEM.
71

Planta e Alçados do edifício a norte do Quartel de Lanceiros.


Biblioteca do Exército – GEAEM
72

Desenhos das Latrinas do Quartel,1852. Biblioteca do Exército –


GEAEM
73

Desenhos das Latrinas do Quartel,1852. in Biblioteca do Exército


– GEAEM.
74

Planta e alçados de uma parte do edifício norte. Biblioteca do


Exército – GEAEM
75

Planta e alçados de uma parte do edifício norte. Biblioteca do


Exército – GEAEM.
76

Alçado sul de uma parte do edifício norte. Biblioteca do


Exército – GEAEM.
77

Planta de uma parte do edifício norte. Biblioteca do Exército –


GEAEM.
78

Planta e corte de uma parte do edifício norte. Biblioteca do


Exército – GEAEM.
79

Esboço de Planta e corte de um Armazém, 1854. Biblioteca do


Exército – GEAEM
80

Planta das cavalariças (armazéns) do Quartel de Lanceiros 2,


1858. Biblioteca do Exército – GEAEM.
81

Planta de conjunto do Regimento de Lanceiros 2, 1932.


Biblioteca do Exército -GEAEM
Anexo III – Levantamento Fotográfico Histórico

82
83

Registo fotográfico do Quartel de Lanceiros 2, 1945. Zona dos


armazéns. Sistema de Informação para o Património
Arquitetónico (SIPA).
84

Registo fotográfico do Quartel de Lanceiros 2, 1945. Edifício de


Comando. Sistema de Informação para o Património
Arquitetónico (SIPA).
85

Registo fotográfico do Quartel de Lanceiros 2, 1945. Parada do


Quartel. Sistema de Informação para o Património
Arquitetónico (SIPA).
86

Registo fotográfico do Quartel de Lanceiros 2, 1945. Vista Rua


Alexandre Sá Pinto. Sistema de Informação para o Património
Arquitetónico (SIPA).
87

Registo fotográfico do Quartel de Lanceiros 2, 1945. Vista do


edifício de comando da rua Nova do Calhariz. Sistema de
Informação para o Património Arquitetónico (SIPA)
88

Registo fotográfico do Quartel de Lanceiros 2, 1945. Edifício de


Comando. Sistema de Informação para o Património
Arquitetónico (SIPA).
89

Registo fotográfico do Quartel de Lanceiros 2, 19-?. Arquivo


Municipal de Lisboa.
90

Registo fotográfico do Quartel de Lanceiros 2, 19-?. Arquivo


Municipal de Lisboa.
Anexo IV– Desenhos de Levantamento do Existente

(Desenhos base do Quartel do Regimento de Lanceiros 2


produzidos através de um levantamento cedido pelo GEAEM)

91
92
93
94
95
96
97
98
99
100
101
102
103
104
105
106
107
108
109
Anexo V- Levantamento Fotográfico do Existente (Cedido
gentilmente pela aluna Catarina Monteiro, 5 ano, Turma B.
Ano letivo 2020-2021. Visita a Lanceiros abril de 2021)

110
Entrada do Quartel do Regimento de Lanceiros 2 pela Calçada
da Ajuda.

111

Parada do Quartel do Regimento de Lanceiros 2.

Entrada do Quartel do Regimento de Lanceiros 2 pela Calçada


da Ajuda. *única imagem de autor desconhecido
Casernas do Quartel do Regimento de Lanceiros2.

112

Casernas e Parada do Quartel do Regimento de Lanceiros2

Vista aérea das Casernas.


Casernas do Quartel do Regimento de Lanceiros2

113

Interior de uma das casernas.


Edifício de Comando

114

Passagem entre os blocos das casernas

Vista do miradouro do Quartel do Regimento de Lanceiros2.


Anexo VI – Análises do Território.

115
116

Análise Urbana da Ajuda. Elaborado pela própria autora


117

Análise Urbana da Ajuda. Elaborado pela própria autora


118

Análise Urbana da Ajuda. Elaborado pela própria autora


Anexo VII – Processo de trabalho: Esquissos

119
Desenhos do local de Intervenção – Quartel do Regimento de
Lanceiros 2

120
121
122
123
124

Planta do Quartel com o programa do Laboratório de Projeto


VI
125
126
127
128
129
130
131
132
Anexo VIII – Hortas da CML

133
134

Freguesias de Belém e Ajuda

Hortas do programa da Câmara Municipal de Lisboa.


Elaborado pela autora.
Anexo IX – Evolução Histórica das Hortas na Ajuda

Elaborado pela própria autora.

135
136
137
138
139
Anexo X – Lista de fila de espera de Hortas no Bairro 2 de maio

140
141
Anexo XI – Parte de inquérito realizado pela aluna Marta
Morgado do curso de sociologia do Instituto Superior de
Ciências Sociais e Políticas no ano de 2016

142
143
144
145
146
147
148
Anexo XII – Processo de trabalho: Maquetes (em processo de
construção)

149
150

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