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Ana Filipa Resende Pereira

CHANCA, PATRIMÓNIO E COMUNIDADE


UM CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL DE SICÓ

Dissertação no âmbito do Mestrado Integrado em Arquitetura,


orientada pelo Professor Doutor Adelino Manuel dos Santos Gonçalves
e apresentada ao Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologia
da Universidade de Coimbra.

Julho de 2023





CHANCA, PATRIMÓNIO E COMUNIDADE


Um Centro de Valorização da Paisagem Cultural de Sicó

Ana Filipa Resende Pereira

Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitetura

Orientação do Professor Doutor Adelino Gonçalves

Departamento de Arquitetura, FCTUC | julho 2023





Nota à edição: 

O presente trabalho segue a norma Chicago Autor-Data para a referenciação bibliográfica. 

Para uma melhor compreensão do projeto, propõe-se o acompanhamento da leitura com os


desenhos presentes em anexo. 





Agradeço, 

À minha família, 

Em especial aos meus pais, por me permitirem realizar todos os sonhos. Pelo amor e
dedicação infindáveis. A eles dedico o meu percurso e este trabalho.
Aos meus irmãos, pelo apoio e incentivo diários. À Gi, pelo exemplo. 

Ao tio Nuno, pelos ensinamentos partilhados.

Ao Francisco, pelo amor, paciência e compreensão. 

Ao professor Adelino Gonçalves, pela dedicação e partilha ao longo desta jornada. Pelo
entusiamo e incentivo constantes. 


Aos meus amigos, pelo apoio, amizade e companheirismo ao longo deste percurso. 

Ao d’Arq e a todos os que lhe pertencem, pelo conhecimento e todas as memórias criadas.
Por ser casa. 


 














Palavras-Chave 

Sicó | Aldeias de Calcário | Paisagem Cultural | Chanca | Comunidade | Capacitação 


Resumo

Há décadas que o espaço rural tem sofrido com o fenómeno da litoralização e, por
isso, reconhecemo-lo hoje uma realidade frágil e descaracterizada. Para atenuar os
desequilíbrios sociais e económicos que estão associados a esta realidade, também há muito
que foram criadas políticas e programas de política, primeiramente visando fixar a população
no mundo rural, depois principalmente através do turismo e, mais recentemente,
procurando promover abordagens integradas. Porém, têm-se mostrado insuficientes para
evitar a migração da população para centros urbanos e estes territórios acabaram como
espaços de baixa densidade física, devida ao seu despovoamento, mas também relacional. É
por isso imperativo pensar em soluções que visem o reforço da coesão territorial, com
políticas que valorizem e despertem a economia local e os recursos endógenos destas
regiões.

Com o propósito de repensar o futuro do território e as relações rural/urbano,


propõe-se uma estratégia de desenvolvimento integrado, no âmbito da iniciativa De volta ao
rural ou como reforçar a coesão da cidade regional? que tem a região de Sicó como
território de ação. Esta estratégia procura criar contributos para fazer face aos problemas e
desequilíbrios deste território, através de uma visão integrada, com a proposta de vários
programas em sete aldeias da região: Ariques, Chanca, Casmilo, Granja, Pombalinho e Poios,
pertencentes à RAC (Rede de Aldeias de Calcário) e, ainda, Rabaçal.

Neste sentido elaborou-se um Plano de Ação para cada uma das aldeias, que
densifica aquela estratégia, denominada Aldeias de Calcário: Polos de Multifuncionalidade,
Aglutinadores Sociais e Centros de Saber e Experiência. O presente trabalho integra o Plano
para a aldeia da Chanca, do concelho de Penela, e defende um projeto dedicado à valorização
da paisagem cultural de Sicó, numa perspetiva participativa e de inclusão da comunidade
local.

Este projeto, que se materializa em diversos programas, propõe uma reflexão sobre
a importância da consciencialização sobre os atributos e valores da paisagem cultural de Sicó,
e dos vários saberes associados. A proposta de um Centro Comunitário, uma Oficina do
Queijo Rabaçal, com um Curral associado, e uma Loja de produtos locais, através de bons
exemplos de práticas arquitetónicas que valorizam o património construído da região, visa a
aproximação e capacitação da comunidade local, valorizando e revitalizando os seus diversos
saberes-fazer.


Keywords

Sicó | Limestone Villages | Cultural Landscape | Chanca | Community | Capacitation 


Abstract

For decades, rural areas have suffered from the phenomenon of littoralisation and,
therefore, we recognise it today as a fragile and uncharacterised reality. In order to mitigate
the social and economic imbalances that are associated with this reality, policies and policy
programmes have also been established for a long time, first aiming to fix the population in
the rural areas, then mainly through tourism and, more recently, seeking to promote
integrated approaches. However, they have proved insufficient to prevent population
migration to urban centres and these territories have ended up as spaces of low physical
density, due to their depopulation, but also relational. It is therefore imperative to think of
solutions aimed at strengthening territorial cohesion, with policies that valorise and awaken
the local economy and the endogenous resources of these regions.

With the purpose of rethinking the future of the territory and rural/urban relations,
an integrated development strategy is proposed, within the scope of the initiative De volta
ao rural ou como reforçar a coesão da cidade regional? which has the Sicó region as its territory
of action. This strategy seeks to create contributions to address the problems and imbalances
of this territory, through an integrated vision, with the proposal of several programmes in
seven villages in the region: Ariques, Chanca, Casmilo, Granja, Pombalinho and Poios,
belonging to the RAC (Rede de Aldeias de Calcário) and also Rabaçal.

In this sense, an Action Plan was elaborated for each of the villages, which densifies
that strategy, called Aldeias de Calcário: Polos de Multifuncionalidade, Aglutinadores Sociais e
Centros de Saber e Experiência. The present work is part of the Plan for the village of Chanca,
in the municipality of Penela, and defends a project dedicated to the valorisation of the
cultural landscape of Sicó, from a participatory perspective and inclusion of the local
community.

This project, which materialises in several programmes, proposes a reflection on the


importance of raising awareness about the attributes and values of the cultural landscape of
Sicó, and the various associated know-how. The proposal for a Community Centre, a
Rabaçal Cheese Workshop, with an associated Corral, and a Shop of local products, through
good examples of architectural practices that value the region's architectural heritage, aims
to bring together and empower the local community, valuing and revitalising its various
know-how.


 
Sumário

Resumo 20

Abstract 22

Lista de siglas e acrónimos 26

Introdução 14

I. PROBLEMA 32

Assimetrias territoriais e a nova governança 34

O espaço rural português e as políticas de desenvolvimento territorial 48

Património e paisagem: a transformação de um conceito 56

Território e comunidade: uma perspetiva integrada para o desenvolvimento 68

II. CONTEXTO 78

Sicó: território de ação 80

A Rede de Aldeias de Calcário 84

Património(s) de Sicó 88

Arquitetura vernacular: O seu papel na construção da paisagem cultural de Sicó 100

O Associativismo em meio rural 114

O Associativismo em Sicó 116

A Ferraria de São João: uma aldeia ou uma associação? 120

III. PROPOSTA 124

Aldeias de Calcário: Uma estratégia de desenvolvimento integrado para a rede urbana de Sicó 126

A aldeia da Chanca 146

Chanca: Paisagem, Cultura e Património – Plano de Ação 152

Centro de Valorização da Paisagem Cultural de Sicó 160

Considerações finais 184

Bibliografia 190

Índice de Figuras 202

Anexos 214


 
Lista de siglas e acrónimos 

ADSICÓ Associação de Municípios da Serra de Sicó

ARU   Área de Reabilitação Urbana

ASAS   Aldeias Sustentáveis e Activas

DARQ  Departamento de Arquitetura

EAV   Equipamento de Apoio à Visitação 

GAL   Grupo de Ação Local 

ICOMOS  Conselho Internacional de Monumentos e Sítios

LEADER  Ligações Entre Ações de Desenvolvimento da Economia Rural 

MRUI  Mestrado em Reabilitação Urbana Integrada 

NEP   Núcleo de Espaço Publico 

NSB   Núcleo de Saúde e Bem-estar

NVPC  Núcleo de Valorização da Paisagem Cultural 

ORU   Operação de Reabilitação Urbana 

PDM   Plano Diretor Municipal 

PNPOT  Plano Nacional da Política do Ordenamento do Território 

RAC   Rede de Aldeias de Calcário 

UNESCO  Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

 

Introdução

Enquadramento

A presente dissertação foi desenvolvida no âmbito da iniciativa De volta ao rural ou


como reforçar a coesão da cidade regional?1 a decorrer desde setembro de 2020 no âmbito
de um protocolo de cooperação institucional entre a Terras de Sicó – Associação de
desenvolvimento e a Universidade de Coimbra (UC), através do Departamento de
Arquitetura da Universidade de Coimbra (DARQ). O trabalho foi desenvolvido nas unidades
curriculares de Atelier de Projeto ID e IID do Mestrado Integrado em Arquitetura (MIA),
sob a coordenação do Professor Doutor Adelino Gonçalves, envolvendo igualmente outros
docentes e/ou investigadores da UC e, ainda, estudantes do Mestrado de Reabilitação
Urbana Integrada (mRUI), também do DARQ.

O maciço de Sicó é o território de ação da presente iniciativa e dissertação, cujo


trabalho desenvolvido se centra na problemática das assimetrias do território nacional,
sobretudo nas fragilidades dos chamados territórios de baixa densidade que caracterizam o
interior. A partir da segunda metade do séc. XX, como consequência do fenómeno da
litoralização do país, esta problemática acentuou-se e estes territórios enfraqueceram
intensamente, sobretudo na sua economia local com todos os impactos daí resultantes,
desde logo o seu despovoamento – com a população a migrar e a concentrar-se nos centros
urbanos, sobretudo nos que se localizam no litoral – e consequentes limitações ao nível dos
serviços de interesse coletivo. Assim, o interior foi-se esvaziando e transformando-se, como
defende João Ferrão (2000, 48), no território de “espaços sem a ‘espessura’ social,
económica e institucional necessária para suportar estratégias endógenas de
desenvolvimento sustentadas no tempo.”.

Porém, apesar de se reconhecerem diversas fragilidades nestes territórios, hoje


marginalizados e associados a territórios subdesenvolvidos, eles distinguem-se igualmente pela


1
O programa da iniciativa De volta ao rural…, referente aos anos letivos de 2021/2022 e 2022/2023, encontra-
se em anexo.

14

 

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sua riqueza patrimonial, natural e cultural. A relação intrínseca do homem com o meio ao
longo do tempo, resultou na construção de paisagens culturais singulares, que espelham a
cultura das comunidades através de diversos valores, saberes e tradições, podendo constituir
um importante fator para o reforço da identidade e desenvolvimento destes territórios. 

As abordagens ao património e políticas de ordenamento aplicadas ao longo do


tempo e de cariz top-down, não só foram incapazes de cumprir os seus objetivos, como
acentuaram os desequilíbrios territoriais que já se sentiam. Estas abordagens afastaram-se
daquilo que é o próprio conceito de património, que é uma construção coletiva que se
baseia na partilha de valores e tradições, tornando-o sobretudo um objeto comercializado,
através da prática de um turismo massificado. 

No espaço rural, estas abordagens, como é exemplo o Programa das Aldeias


Históricas, atuaram sob essa perspetiva top-down e “monumentalizante”, encarando estes
pequenos núcleos do interior sob uma ótica histórica, transformando-os num produto
turístico. Isto resultou em poucos ganhos para os próprios locais e comunidades, pois os
interesses externos acabaram por ganhar mais relevância do que as necessidades especificas
de cada lugar. 

Assim, face a esta circunstância, reconhece-se que as abordagens ao património e ao


espaço rural devem ser outras, de cariz bottom-up, concentradas na valorização e
potencialização das valências de cada lugar, reforçando a sua identidade. Isto implica,
igualmente, o envolvimento e participação efetiva das comunidades locais nas iniciativas que
visem a valorização dos territórios, com novas atividades que contribuam para o seu
desenvolvimento e revitalização, ou seja, não funcionando apenas de e para fatores externos.

 


Estes objetivos estão estabelecidos na Constituição da República Portuguesa não se no seu Artigo 81º ouvido
a instrumentos jurídicos específicos para o ordenamento do território e urbanismo, nomeadamente na Lei de
Bases da Política do Ordenamento do Território e de Urbanismo. No primeiro caso, é dito que incumbe ao
Estado “Promover a coesão económica e social de todo o território nacional, orientando o desenvolvimento
no sentido de um crescimento equilibrado de todos os sectores e regiões e eliminando progressivamente as
diferenças económicas e sociais entre a cidade e o campo e entre o litoral e o interior”. No segundo caso, é
dito que constituem fins da política de ordenamento do território e de urbanismo, reforçar a coesão nacional,
organizando o território, corrigindo as assimetrias regionais e assegurando a igualdade de oportunidades dos
cidadãos no acesso às infraestruturas, equipamentos, serviços e funções urbanas. 

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 Ora, a partir desta problemática e enquadramento, a presente dissertação integra

uma estratégia para um conjunto de aldeias do maciço de Sicó – Ariques, Casmilo, Chanca,

Granja, Pombalinho, Poios e Rabaçal – que integram a Rede de Aldeias de Calcário, um Plano

Integrado de Intervenção criado pela Terras de Sicó, visando a promoção turística de Sicó. 
A estratégia em causa – iniciada pelos colegas de Atelier de Projeto IIC no ano
2020/2021 e reforçada pelo grupo de estudantes dos Ateliers de Projeto ID e IID nos anos
letivos 2021/2022 e 2022/2023 – entende Sicó como cidade-região, isto é, um sistema
urbano em rede que funciona com base nas relações entre os seus vários núcleos,
independentemente da sua dimensão. Os principais objetivos da estratégia passam, assim,
pela revitalização destas aldeias, procurando inverter a tendência verificada de abandono, de
forma que seja possível atingir um equilíbrio territorial. 

Esta visão defendida para Sicó configura as aldeias como Polos de Multifuncionalidade,
Aglutinadores Sociais e Centros de Saber e Experiência, e é a partir desta base que se
definiram objetivos e eixos estratégicos para cumprir com a estratégia proposta, de forma a
responder às necessidades especificas deste território, valorizando-o. Assim, a partir destes
objetivos, elaboraram-se Planos de Ação, um para cada aldeia, nos quais se propõem diversas
ações para a sua revitalização, pela reabilitação do espaço público das aldeias e pela proposta
de novos programas que contribuem para a concretização dos objetivos definidos na
estratégia global para a região de Sicó͘


Estrutura 

A presente dissertação é composta por três partes – Problema, Contexto e Proposta


– antecedidas por uma Introdução e finalizadas com uma Conclusão. A primeira parte, é
dedicada aos desequilíbrios territoriais e a novas abordagens para o desenvolvimento do
espaço rural, e está divida em quatro capítulos. 

No primeiro capítulo são tratadas as assimetrias do território nacional, que se


acentuaram sobretudo a partir da segunda metade do séc. XX, e os desafios e fragilidades
que o espaço rural tem enfrentado em consequência do fenómeno da litoralização e da

18

 

19

deslocação dos investimentos. Este primeiro capítulo faz ainda uma análise sobre as
abordagens e políticas adotadas ao longo do tempo para a gestão do território, e de como
o ordenamento do território, enquanto política pública, tem falhado no cumprimento dos
seus próprios. Nas palavras de João Ferrão (2011, 25), “corresponde a uma política
duplamente fraca: a) fraca em relação à sua missão [...] [e] b) fraca em relação a efeitos
inesperados e indesejados desencadeados por outras políticas...” No final defende-se uma
nova governança, ou seja, uma forma alternativa de encarar o território de modo que as
diferentes identidades cumpram um papel gerador de oportunidades e desenvolvimento,
nomeadamente nos territórios de baixa densidade, como é o caso de Sicó. 

O segundo capítulo expõe as iniciativas e políticas de desenvolvimento territorial


aplicadas no espaço rural português desde as primeiras décadas do séc. XX, desde a criação
da Junta de Colonização Interna, em 1936, até programas mais atuais como é o caso do
Programa das Aldeias Históricas (1995) e das Aldeias Sustentáveis e Ativas. Além da análise
destas iniciativas, é feita também uma análise critica aos ganhos socioeconómicos para os
próprios lugares e comunidades, que têm sido poucos, visto que, na sua maioria, partem de
uma perspetiva top-down e de sobreposição dos interesses exteriores às necessidades e
características de cada lugar. 

No terceiro capítulo é explorada a evolução do conceito de património ao longo do


tempo, desde a primeira definição associada ao monumento histórico até uma vertente, mais
recente, humanizada e identitária deste conceito. Para a definição deste capítulo identificam-
se alguns importantes autores como é o caso da Françoise Choay, que faz uma síntese da
transformação do conceito e um apelo a uma mudança de perspetiva e uma abordagem
consciente ao património; Laurajane Smith, que assume o património como uma construção
social, que se constrói a partir das comunidades e dos valores que transportam; e, ainda, Elsa
Silva, que alerta para a importância das iniciativas de promoção patrimonial funcionarem
como instrumentos para o desenvolvimento dos territórios e para o reforço da identidade
e coesão social dos lugares. 

O quarto e último capítulo, a partir das reflexões feitas nos capítulos anteriores,
dedica-se ao que esta dissertação acredita ser uma abordagem apropriada para o

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21

desenvolvimento do espaço rural, neste caso da região de Sicó. Esta abordagem passa por
uma identificação daquilo que são os valores de cada lugar de forma que sirvam como
motores para o seu desenvolvimento. A partir desta identificação percebe-se igualmente a
importância do papel das comunidades locais como portadoras de uma herança patrimonial,
nomeadamente de valores e tradições que se pretendem valorizar. Ora, defende-se,
portanto, a importância de que as ações implementadas envolvam ativamente as
comunidades para que se contribua, dessa forma, para um reforço da sua identidade e para
uma gestão consciente dos recursos locais.

A segunda parte da dissertação – Contexto – centra-se na apresentação do território


de ação da dissertação, a região de Sicó, e divide-se igualmente em quatro capítulos. Para a
conceção desta parte destacam-se os autores Carlos Silva e Lúcio Cunha, com um trabalho
fundamental para a compreensão do território de Sicó e dos seus valores.

O primeiro capítulo faz uma introdução a este território através da descrição do seu
contexto territorial, demografia e desafios que tem enfrentado, e ainda da apresentação da
Terras de Sicó – Associação de desenvolvimento, entidade que criou o plano integrado Rede
de Aldeias de Calcário: 6 aldeias, 12 experiências. Expõe-se os seus principais objetivos e
projetos em curso, incluindo a iniciativa, que envolve a presente dissertação, De volta ao rural
ou como reforçar a coesão da cidade regional?.

O segundo capítulo dedica-se à apresentação dos patrimónios de Sicó, natural e


cultural, onde são identificados os valores com mais importância para a distinção deste
território. Do património natural, destacam-se os fenómenos geomorfológicos associados à
formação cársica do maciço, como os canhões, buracas, grutas e os campos de lapiás, bem
como a riqueza da sua biodiversidade, onde sobressai a maior mancha de Carvalho
Cerquinho na europa. Do património cultural têm maior relevância os vestígios deixados
pelas ocupações romana e medieval, como várias Villae e castelos e, como parte do
património imaterial, os diferentes saberes-fazer e produtos locais de Sicó.

Do património cultural de Sicó faz também parte a arquitetura vernacular e é tratada


no terceiro capítulo desta parte, onde se destaca o importante contributo que dá para a
construção da sua paisagem cultural. Este capítulo dedica-se à exposição e compreensão

22

 

23

desta arquitetura, concentrando-se, sobretudo, em características distintivas que a tornam
uma marca identitária única desta região. 

O quarto capítulo desta parte retrata o associativismo em meio rural e a sua


importância na construção de uma identidade coletiva e o reforço da coesão social destes
lugares. São apresentadas as associações locais existentes na região de Sicó, nomeadamente
nas aldeias que são alvo da presente iniciativa, e os respetivos objetivos e desafios que têm
vindo a enfrentar. Por fim, é ainda apresentada a aldeia da Ferraria de São João como
exemplo, próximo a Sicó, de dinamização e revitalização de um território a partir das suas
valências e, com a participação ativa da comunidade local. 

A terceira parte desta dissertação dedica-se à apresentação da Proposta, neste caso,


o Centro de Valorização da Paisagem Cultural de Sicó, e está divida em quatro capítulos. No
primeiro capítulo é feita uma apresentação da estratégia global definida em grupo para a
Rede de Aldeias de Calcário e dos vários Planos de Ação desenvolvidos para as aldeias, que
integram a proposta de diferentes programas. 

O segundo capítulo é dedicado à apresentação da aldeia da Chanca, alvo do trabalho


desta dissertação, com uma análise de algumas das suas características, como a sua
demografia, morfologia, o tipo e usos do edificado, e ainda os valores patrimoniais que lhe
conferem identidade e contribuem para a conceção da sua paisagem cultural. 

No terceiro capítulo é apresentado o Plano de Ação desenvolvido para Chanca


tendo como base a estratégia global, e no qual são definidos objetivos estratégicos e ações
para a revitalização e dinamização da aldeia. Este Plano integra a proposta do Centro de
Valorização da Paisagem Cultural de Sicó e, ainda, outros dois programas: a Quinta de
Chanca, pelo colega Gonçalo Pereira, e um Centro de Acolhimento e Tratamento de
Doentes de Alzheimer, proposta do colega Florentin Rocher. 

O quarto e último capítulo foca-se na estratégia individual com o projeto do Centro


de Valorização da Paisagem Cultural de Sicó, constituído por diversos programas funcionais:
um Centro Comunitário, uma Oficina do Queijo Rabaçal, com um Curral, e ainda uma Loja
para venda de produtos locais. Este Centro dedica-se à promoção dos valores de Sicó que

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Fig. 1. Cartaz do Seminário “Conhecer os recursos e valores de Sicó”

Fig. 2. Visitas de estudo às aldeias – Granja, Poios e Casmilo

25

constituem a sua paisagem cultural, e à inclusão, efetiva, da comunidade local nas iniciativas
para a sua valorização e desenvolvimento. O projeto de arquitetura, que se materializa em
reabilitação de edificado existente e construção nova, pretende contribuir para a valorização
do património construído vernacular de Sicó. 

Método 
O processo de desenvolvimento da presente dissertação pode dividir-se
essencialmente em três tipos de trabalho: Conhecer, Analisar e Intervir. Os trabalhos foram
realizados ao longo dos anos letivos 2021/2022 e 2022/2023 e seguiram uma linha metódica
que culminou na proposta de projetos de arquitetura. 

O primeiro tipo de trabalho – Conhecer - consiste no conhecimento profundo do


território, que se fez a partir de pesquisa e de um trabalho de campo em contacto direto
com as aldeias e com as várias pessoas e entidades que residem e atuam neste território.
Daqui destacaram-se as fragilidades e o abandono do espaço rural, nomeadamente de Sicó,
mas também as suas valências e recursos.

A primeira fase dos trabalhos iniciou-se com os Seminários “Conhecer os Recursos


e Valores de Sicó”, realizados nos dias 23 e 28 de setembro de 2021, onde os diversos
convidados apresentaram diferentes visões sobre a forma como os recursos e valores de
Sicó moldam a sua paisagem cultural e podem sustentar um desenvolvimento integrado
deste território. 

Posteriormente foram realizados os campos de estudo e visitas às aldeias (Figura 2),


entre os dias 29 de setembro e 3 de outubro de 2021, que permitiram a recolha de
informação e dados importantes de diagnostico, uma análise atenta do património
construído da região e, ainda, o contacto com vários moradores, autarcas, a Terras de Sicó,
entre outros. 

Este processo seguiu-se de uma pesquisa bibliográfica, que incluiu a consulta de


dissertações, livros, artigos e outros textos que apoiam a fundamentação da estratégia em 

26

 

Fig. 3. Sessões de apresentação e discussão dos trabalhos

Fig. 4. Processo de trabalho em Atelier de Projeto D 

27

desenvolvimento. Nesta pesquisa destacaram-se alguns autores importantes como Carlos
Silva e Lúcio Cunha, para uma melhor perceção do território de Sicó; João Ferrão, Paulo
Carvalho e Paula Reis, no entendimento dos valores da paisagem cultural dos lugares e de
como podem ser importantes motores de desenvolvimento; e, ainda, Françoise Choay e
Laurajanne Smith, essenciais para a compreensão do conceito de património e dos novos
paradigmas associados. 

O segundo tipo de trabalhos – Analisar – consistiu numa análise critica deste


território e na discussão das propostas de intervenção nas aldeias. 

A analise critica fez-se através da perceção das relações estabelecidas entre as aldeias
e as mesmas e os núcleos urbanos em redor, a caracterização do património natural e
construído, as redes de infraestruturas e de serviços de interesse coletivo, e outros
elementos que se consideraram importantes para a compreensão de toda a estrutura da
região de Sicó. Este processo culminou na realização de painéis em grupo que serviram
como material base de consulta durante todo o processo de trabalho. 

Durante este tipo de trabalhos, numa primeira fase, foi também possível discutir a
pertinência das propostas de intervenção nas aldeias com moradores e membros das
câmaras municipais e das associações locais de Sicó. 

A participação em discussões publicas de dissertações, realizadas no mesmo âmbito,


e a realização de sessões de apresentação dos trabalhos (Figura 3) com a participação de
arquitetos, autarcas, moradores da aldeias e integrantes da Terras de Sicó contribuíram
igualmente para uma melhor compreensão das necessidades e funcionamento deste
território. 

A última fase do trabalho consistiu em Intervir no território e fez-se através de


propostas integradas na estratégia global Aldeias de Calcário: Polos de Multifuncionalidade,
Aglutinadores Sociais e Centros de Saber e Experiência, reforçando-a, e tendo como principais
objetivos a revitalização destas aldeias e o reforço da coesão territorial. 

Neste sentido elaboraram-se Planos de Ação, um para cada aldeia, através dos quais
se estabeleceram objetivos específicos e direcionados às necessidades e características de 

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cada uma. Todos os Planos de Ação partilham objetivos comuns, como por exemplo, a
requalificação do espaço público e a valorização, através da reabilitação, do património
construído da região de Sicó. 

No processo de elaboração do Plano de Ação, que no caso da presente dissertação


se propôs para a aldeia da Chanca, foram realizadas várias visitas à aldeia para levantamentos
fotográficos e do edificado e para o contacto com os moradores. 

Seguiu-se a elaboração dos projetos de arquitetura, neste caso o Centro de


Valorização da Paisagem Cultural de Sicó, na aldeia da Chanca, que ocupou a maior parte
do tempo de trabalho nos últimos dois anos letivos, com o esquisso e as maquetes como
principais instrumentos de trabalho. 

O processo de trabalho, ao longo dos dois anos letivos, foi acompanhado de perto
pelas pessoas deste território, sejam elas moradores, autarcas e/ou arquitetos. Este
acompanhamento foi feito, principalmente, através das várias sessões de discussão dos
trabalhos, que contribuíram não só para a sua evolução, mas para a permanente discussão
da sua pertinência e aproximação das propostas ao local. 

 

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I. PROBLEMA

32

 

Fig. 6. População jovem relativamente à população idosa em Portugal

Fig. 7. Mapas de população residente e densidade populacional em Portugal

33

Assimetrias territoriais e a nova governança

Há muito que são percetíveis as assimetrias do desenvolvimento territorial


resultantes de políticas e práticas de governação sem uma visão integrada do território,
assimetrias essas que se intensificaram desde meados do século XX. Como grande
consequência, reconhecem-se as desigualdades e desequilíbrios que acentuam o contraste
entre litoral desenvolvido, povoado e jovem, e associado a melhores oportunidades de vida,
emprego e progresso, e o interior cada vez mais despovoado, envelhecido e carente de
serviços e atividades que atraiam e fixem pessoas. 

Esta situação é o resultado, por um lado, da falta de capacidade para assegurar um


desenvolvimento territorial equilibrado, uma incapacidade que segundo João Ferrão (2011,
25) corresponde ao facto de, em “Portugal, o ordenamento do território [corresponder] a
uma política duplamente fraca: a) fraca em relação à sua missão [...]; b) e fraca em relação a
efeitos inesperados e indesejados desencadeados por outras políticas.” Isto não deixa de
significar uma falta de perceção, por parte das políticas adotadas, do “relevo” ou “texturas”
do território, interpretando-o como uma realidade homogénea cujo futuro se possa definir
com medidas top-down, o que não corresponde à realidade, por não serem consideradas as
especificidades, características e fragilidades de cada lugar. 

Deste modo, enquanto as políticas e estratégias adotadas para o desenvolvimento


do território nacional se concentraram no crescimento das áreas urbanas e industriais da
fachada atlântica de Portugal, as regiões menos desenvolvidas foram-se afastando cada vez
mais dessa realidade, sobretudo no interior e o espaço rural, e entraram num declínio
económico e populacional, perdendo cada vez mais relevância territorial e atratividade.
(Carvalho 2003, 174) Em síntese, enquanto o litoral se densificou, o restante território foi-
se rarefazendo, tal como se pode ver nas figuras 6 e 7. 

A migração da população seguiu a concentração dos investimentos, fixando cada vez


mais pessoas no litoral do país, à custa de um êxodo rural massificado. Assim, o fenómeno
da litoralização afetou de forma intensa o espaço rural, criando territórios de baixa densidade
que têm, por isso, enfrentado uma realidade cada mais problemática: a sua associação a

34

 

Fig. 8. Aldeia do Vieiro, Oliveira do Hospital 

Fig. 9. Aldeia da Granja, Ansião

35

territórios subdesenvolvidos e sem potencial de desenvolvimento, contrariamente ao que
acontece no mundo urbano, visto como símbolo de progresso e de um futuro garantido.
Mas que futuro? E o que entendemos por desenvolvimento, tem de significar o mesmo em
todo o território, isto é, não estaremos a alimentar um preconceito negativo em relação ao
interior ou aos territórios de baixa densidade?

Resultante da migração para centros urbanos, estes territórios têm vindo a esvaziar-
se e, como consequência, acabaram descaracterizados, carentes de serviços e com uma
população cada vez mais envelhecida. Tudo isto acabou por ferir a imagem e identidade
destes territórios, deixando “marcas profundas na paisagem rural portuguesa” (Carvalho
2003, 176) e fazendo com que perdessem “a espessura social, económica e institucional
necessária para suportar estratégias endógenas de desenvolvimento sustentadas no tempo”.
(Ferrão 2000, 48)

Com a intensificação do despovoamento do interior, estabeleceu-se um pressuposto


relativamente aos territórios de baixa densidade que os configura como espaços “menores”
e sem potencial de desenvolvimento, em suma, como “espaços perdidos”. Hoje tornou-se
uma evidência que o despovoamento do interior é, além de uma consequência de políticas
que não conseguiram assegurar um equilíbrio territorial e responder às necessidades
especificas destes lugares, uma causa de outros problemas que prejudicam estes territórios,
nomeadamente o seu abandono que caracteriza muitas das suas povoações e a ruína muito
do seu edificado (figuras 8 e 9), mas também o descuidado das suas paisagens e os incêndios
que se lhe associam, como, por exemplo, os que flagraram no outono do ano de 2017.

Em parte, esta perceção dever-se-á ao preconceito de se associar a baixa densidade


a uma realidade pobre que está condenada definitivamente a essa mesma condição. Mas não
está. Significa isto que a sustentabilidade destes territórios não passa necessariamente por
uma inversão da sua realidade atual, isto é, que serão povoados como já foram ou que terão
uma economia que se possa comparar com o mundo urbano, mas que podem ser espaços
suficientemente atrativos para se fixarem serviços e atividades geradoras de emprego, e que
fixem pessoas. 

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37

Não conseguimos prefigurar o que estes territórios serão ou poderão ser de futuro.
Mas sabemos que os objetivos a definir e estratégias a adotar para os concretizar, não podem
ser os mesmos para todo o território, isto é, a governação deve adaptar-se e responder à
dimensão e particularidades de cada lugar, e que a sua gestão, apesar de necessariamente os
incluir, não deve esgotar-se com a elaboração de Planos. O caminho a percorrer, como
defende Alcides Monteiro (2019) é, pois, o da “politica de base territorial e de uma
governança territorializada e participada”, que reconhece valor nos territórios e naquilo que
lhes confere identidade. Esta abordagem é, assim, capaz de identificar facilmente os
problemas afetantes dos territórios e de permitir que as comunidades assumam um papel
preponderante nas decisões para o seu desenvolvimento. 

No que diz respeito ao planeamento, importa relevar que, em Portugal, a cobertura


do território com instrumentos de gestão territorial, ocorreu apenas após a adesão de
Portugal à União Europeia, com todas as Câmaras Municipais a elaborarem os seus Planos
Diretores Municipais (PDM). Assim, na década de 1990, surge a primeira geração de PDM
que, com vista numa elaboração urgente e apressada, foram estruturados em grande
quantidade e num curto espaço de tempo, o que acabou por originar grandes lacunas.
Algumas regras acabaram por se transpor de uns planos para os outros, ou seja, uma atuação
generalista que não considerou as especificidades de cada lugar, resultando numa falha de
planeamento que permitisse reverter as assimetrias territoriais que já se faziam sentir. 

De qualquer modo, o que importa relevar é que assim foi-se instalando a ideia de
que a intervenção no território se limitava à elaboração de Planos ou que, tendo Plano, nada
mais seria necessário para assegurar um desenvolvimento equilibrado do território. 

Ora todos estes primeiros PDM, que deveriam concretizar uma visão global de
ordenamento do território, foram demasiado generosos na delimitação das áreas
urbanizáveis e dos perímetros urbanos, o que, associado à infraestruturação do país com
fundos europeus, contribuiu significativamente para uma urbanização dispersa e
desenvolvimento desagregado dos territórios municipais. (Gonçalves 2018, 87-101)

 

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Porém, esta visão global para o território só ganhou forma em 2007, com o
Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT), mas há mais de
três décadas que Nuno Portas alertava para a alarmante e perigosa ideia, que se foi instalando
em Portugal, de que a intervenção e desenvolvimento territorial “se traduz e se reduz a
encomendar “planos”.” (Portas 1985, 8) 

Uma grande parte da gestão territorial em Portugal ainda se rege e continua vinculada
à regulamentação da primeira geração de PDM, e o problema é exatamente o facto de estes
Planos serem essencialmente regulamentos administrativos onde se determina os usos e
ocupação do solo, enquanto condicionantes, em vez de delinearem estratégias baseadas na
definição de objetivos para cada lugar, a par da identificação dos meios necessários para os
concretizar. Ou seja, não são planos de ação estratégicos, que se deveriam constituir por um
conjunto de ações de intervenção que visam o cumprimento dos objetivos traçados,
perspetivando o desenvolvimento dos lugares em função das suas características. 

Ora os PDM com um caráter claramente estratégico são bem mais recentes, sendo
já, portanto, revisões dos planos diretores da primeira geração. Com este mesmo caráter,
não no âmbito do Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial, mas no âmbito
do Regime Jurídico da Reabilitação Urbana, também têm sido elaborados instrumentos de
apoio à gestão territorial com esta natureza estratégica, o que corresponde, portanto, a uma
prática que é ainda recente.

Ora, isto reflete-se, como já se referiu, numa ideia, “de que ter um plano é já intervir,
ou pelo menos meio caminho andado para alguém intervir” e que, durante muitos anos, se
“aceitou a separação entre o plano e a capacidade de intervenção” (Portas 1985, 8), o que
significa uma grande distância ao planeamento estratégico e, consequentemente, à resolução
dos problemas e assimetrias que se vão acentuando no território. 

 



Publicado com a Lei n.º 58/2007, de 4 de setembro.

Estabelecido com o Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de setembro e revisto com o Decreto-Lei n.º 80/2015
de 14 de maio.

Estabelecido com o Decreto-Lei n.º 307/2009, de 23 de outubro e alterado com a Lei n.º 32/2012 de 14
de agosto.

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Os principais pontos a considerar aquando da elaboração de um plano deveriam ser,
primeiramente, uma avaliação das causas dos problemas do lugar ou região a intervencionar
e das suas aptidões para, com base nelas, construir propostas de desenvolvimento o mais
realistas possível. Só depois desta análise será prudente decidir o tipo de investimentos a
realizar, como, quando e com quem, ou seja, com que instrumentos, em que período e com
que atores. 

No entanto, em geral e durante muito tempo, o que aconteceu foi exatamente o


oposto. Ou seja, primeiramente “encomenda-se um plano sem se saber bem de que tipo
[...] e só mais tarde se formam decisões sobre quem assegura a implementação do dito ao
longo dos anos” (Portas 1985, 10). Desta forma, apesar de já se notarem, nos últimos anos,
algumas transformações na gestão territorial, nomeadamente no que toca à elaboração e
implementação de políticas estratégicas, em que os planos já procuram definir uma visão
para o futuro, há ainda mudanças significativas a implementar para a governança, tal como
defende François Ascher (2012). Ou seja, para que se torne uma prática comum, um efetivo
“enriquecimento da democracia representativa com novos procedimentos deliberativos e
consultivos” e uma “relação mais direta com os cidadãos e de novas formas democráticas
de representação à escala da metápoles - que é a escala a que se devem tomar decisões
urbanas estruturantes e estratégicas”.

Assim, continua a ser importante e urgente combater o entendimento de que “o


ordenamento do território tem como principal missão a regulação do uso e transformação
do solo” (Ferrão 2011, 38). A elaboração de um Plano não deve ser entendida como o único
caminho para o desenvolvimento dos lugares, quer dizer, a preparação de um Plano não
deve ofuscar o planeamento enquanto processo dinâmico que deve integrar estratégias de
atuação para a sua implementação, o que, no fundo, é a sua principal função e propósito. 

Isto deve traduzir-se numa “concepção de ordenamento do território mais


abrangente, integrada e estratégica, assente na interação e cooperação entre diferentes
actores [...] e na coordenação de diferentes políticas” (Ferrão 2011, 39), onde as Câmaras
Municipais deixam de ter uma função essencialmente de regulador e passam a ser
facilitadoras e geradoras de oportunidades, criando espaço para o desenvolvimento de 

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estratégias que permitam o reforço da atratividade dos lugares. Este novo modelo de
governação territorial deve, segundo Ascher (2012, 93-95), adotar relações de proximidade
com os cidadãos, transformando o planeamento estratégico a uma escala local e adotando
permanentemente uma postura analítica dos territórios. No fundo, uma governação reflexiva
e flexível que acompanha os processos de transformação dos espaços e das sociedades.

Significa isto que o processo de planeamento territorial deve incluir os diversos


atores que integram e atuam no território, nomeadamente a comunidade local, chamando-
os a participar, pois só assim, através de um trabalho cooperativo e de proximidade, é
possível atender às características e particularidades de cada lugar e contribuir para fazer
face às assimetrias do território nacional.

O despovoamento e o envelhecimento da população, a falta de investimentos e o


abandono continuam a ser os principais problemas dos espaços rurais, sobretudo dos
territórios de baixa densidade, e que resultaram de uma gestão territorial débil,
nomeadamente ao nível do planeamento e da implementação de estratégias que impedissem
que se instalassem. Com isto procura-se defender a ideia de que estes problemas só poderão
ser solucionados, ou revertidos, se existir uma mudança de paradigma nas formas de
governação e gestão do território.

A proposta defendida nesta dissertação, que parte de um reconhecimento e


valorização das valências e aptidões do território de Sicó com vista no seu desenvolvimento,
só poderá implementar-se se houver essa mudança, ou seja, se existir uma interpretação
critica do território e da sua gestão, com uma visão integrada, que se faça a partir de um
planeamento estratégico e adequado, através da definição de políticas locais. Pois bem, o
presente trabalho enquadra-se numa visão do sistema urbano do maciço de Sicó como
“cidade-regional” e densifica uma estratégia para a Rede de Aldeias de Calcário que assenta
neste pressuposto. Desde modo, acredita-se que os agentes territoriais locais, sobretudo a
Terras de Sicó e as suas Câmaras Municipais parceiras, podem ter um papel fundamental ao
nível da programação e da criação de oportunidades para implementar estratégias
semelhantes. Aliás, esse papel tem vindo a ser desempenhado desde a criação da Terras de
Sicó e a criação da RAC é um dos últimos projetos em curso que o exemplificam.

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Só assim, reforçando a atratividade destes lugares, que através da requalificação do
espaço seu físico e de um direcionamento adequado do investimento, se fixarão novas
atividades e, mais importante, pessoas. Com isto, acredita-se que a arquitetura mostrará que
desempenha um papel fundamental no processo de valorização do interior e dos territórios
de baixa densidade.

 

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O espaço rural português e as políticas de desenvolvimento territorial

A evolução do espaço rural português está intimamente relacionada com as políticas


de desenvolvimento territorial adotadas ao longo do tempo. A partir do séc. XX, apesar de
antes terem sido levadas a cabo algumas iniciativas por parte do Governo central para o
desenvolvimento do espaço rural e fixação de pessoas, nomeadamente através da promoção
da atividade agrícola, o processo de despovoamento e envelhecimento demográfico não só
não foi travado, como se foi intensificando e perdura ainda hoje. 

A criação da Junta de Colonização Interna (JCI) no âmbito do Ministério da


Agricultura, em 1936, é um exemplo deste tipo de iniciativas, que procurava explorar e
desenvolver a atividade agrícola como setor dominante do espaço rural e que proporcionou
duas principais ações de intervenção, implementadas durante o Estado Novo: as Colónias
Agrícolas e o Bem-Estar Rural. Estas iniciativas tinham como principal objetivo reverter o
êxodo rural e fixar pessoas nestes territórios, tendo sido postas em prática praticamente em
tempo real assim que os problemas se intensificaram, procurando realizar uma ação imediata
no reforço da capacidade de produção agrícola. Porém, apesar da sua importância, o que é
certo é que estas medidas contribuíram muito pouco para solucionar os problemas e
fragilidades do mundo rural, que se viriam a intensificar a partir da década de 1950, não
tendo sido suficientes para travar a migração da população para os principais centros
urbanos e o exterior, que se verificava já há algumas décadas. (Ribeiro 2017, 81-83)

Mais tarde, depois da criação da Política Agrícola Comum (PAC) , em 1962, ainda
no contexto da Comunidade Económica Europeia e, posteriormente, a entrada de Portugal
na União Europeia (1986), o investimento alargado em infraestruturas e na industrialização
não evitou a segregação do interior e a sua desvitalização acentuou-se.

 


A Política Agrícola Comum (PAC) surge, em 1962, como uma política comum a todos os Estados-Membros
da União Europeia com o principal objetivo de fornecer alimentos a preços acessíveis aos cidadãos europeus
e garantir um nível de vista justo e razoável aos agricultores. Nas últimas décadas esta política tem evoluído,
integrando novos objetivos de forma a responder às novas exigências e desafios, nomeadamente relacionados
com as alterações climáticas e com a dinamização dos espaços rurais. 

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Fig. 10. Aldeia de Monsanto

Fig. 11. Logótipo da Rede das Aldeias Históricas de Portugal 

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De facto, o investimento em infraestruturas, como a rodoviária e a hídrica, os
esforços para implementar programas de modernização agrícola ou ainda a construção de
equipamentos e serviços de interesse coletivo, não impediram que o interior se esvaziasse. 

A par da programação destes investimentos, e ainda na década de 1980, segundo


João Ferrão (2000, 47) a imagem do espaço rural reconfigura-se e “[assiste-se] à invenção
social de uma nova realidade: o mundo rural não agrícola”, onde a agricultura deixa de ser o
setor de atividade dominante e principal componente económico, e passou a estar investido
de preocupações de ordem ambiental e patrimonial. Estes territórios começam assim a ser
observados por uma ótica cultural e ambiental que lhes confere, em primeira instância,
funções e características essencialmente turísticas. 

De seguida, no início da década de 1990, é criada a iniciativa LEADER, no contexto


da União Europeia, visando o desenvolvimento dos espaços rurais através da melhoria e
inovação no setor agrícola, com projetos que contavam com o envolvimento das
comunidades locais. Esta iniciativa procurava assim possibilitar uma melhor exploração da
atividade agrícola, com pequenos investimentos, promovendo os produtos de origem local,
criando pequenas cadeias de comercialização dos mesmos. 

Ora, perante este cenário de isolamento e depressão crescente destes territórios de


baixa densidade, e no contexto do mundo rural não-agrícola, emergiram iniciativas e/ou ações
que procuram solucionar as assimetrias territoriais, com o objetivo de revitalizar, afirmar e
reforçar a autoestima das suas comunidades. Estas iniciativas surgem, essencialmente, como
redes temáticas que procuram a revitalização socioeconómica destes territórios, através de
uma ótica cultural e da sua promoção turística. 

A criação do Programa de Recuperação das Aldeias Históricas , em 1995, procurava


a valorização dos recursos dos espaços rurais, nomeadamente de pequenas vilas e aldeias,
visando a melhoria das condições de habitabilidade e a modernização das infraestruturas, 

 


Estabelecido com o Despacho Normativo n.º 2/95, de 11 de janeiro, que aprova o Regulamento da
Intervenção «Aldeias Históricas de Portugal - Beira Interior». 

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Fig. 10. Aldeia da Ferraria de São João, Penela

Fig. 11. Logótipo da Rede das Aldeias do Xisto 

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mas com fins essencialmente turísticos. Esta visão entende o rural sob uma perspetiva
histórica e monumentalizante, como uma espécie de produto turístico à venda para o
exterior, ou seja, “um rural que sobrevive para ser consumido ou para ser palco de múltiplos
consumos” (Reis 2012, 4). 

A esta iniciativa sucederam-se outras semelhantes com a criação de redes temáticas


como é o caso das “Aldeias do Côa” (1999), as “Aldeias do Xisto” (2000), as “Aldeias do
Douro Vinhateiro” (2001), as Aldeias de Água (2002), as Aldeias do Algarve (2003), as
Aldeias de Montanha (2013) e, mais recentemente, a Rede de Aldeias de Calcário (2019),
que motiva esta dissertação.

Além destas redes temáticas, centradas num modelo de visitação de passagem, é


relevante expor uma outra iniciativa, atual, que se aproxima daquilo que se defende nesta
dissertação mas que ainda não se tornou uma realidade comum, o projeto das Aldeias
Sustentáveis e Activas (ASAS) . Esta iniciativa procura ser uma estratégia alternativa para o
desenvolvimento dos espaços rurais, através de um método de atuação próximo às
comunidades locais, priorizando-as. 

Porém, apesar das iniciativas referentes, sobretudo, às redes de aleias temáticas


referidas terem permitido um desenvolvimento destes territórios no que toca,
essencialmente, à requalificação de espaços e infraestruturas, não foram suficientes para
reverter o seu abandono crescente. 

Perante as fragilidades que persistem, as abordagens antes referidas são um exemplo


de que a regeneração de aldeias tendo o turismo como principal impulsionador, resultam
em poucos ou nenhuns ganhos económicos e sociais, principalmente para os próprios locais.
Como consequência, algumas iniciativas acabaram, também, por transformar os lugares em
polos de atração turística marcados por encenações e recriações de um rural que não
corresponde à realidade, desconsiderando, como defende Paula Reis (2012), aquilo que 

 

Este projeto foi criado pela ANIMAR – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local – que tem
feito um trabalho de proximidade entre os vários agentes territoriais, com o objetivo de afirmar as comunidades
em primeiro plano nos modelos para o desenvolvimento territorial. 

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“todas as políticas de desenvolvimento rural proclamam como sendo absolutamente
necessário – local, endógeno e específico.” 

Estas visões do território, de cariz top-down, que apesar de se basearem numa ideia
de valorização dos patrimónios locais, entendem o turismo como eixo fundamental para o
desenvolvimento destas áreas e os mesmos são pensados, como já referido, como produtos
de um mercado para o exterior. A crescente procura destas pequenas aldeias por parte das
populações de meios urbanos, com o objetivo de encontrarem espaços para privação da
agitação citadina, conduziu a uma tendência clara, que se tem observado, para sobrepor as
exigências e interesses exteriores às necessidades especificas de cada lugar. 

A falta de envolvimento das populações locais, que deveriam ser os principais atores
destas iniciativas ou, pelo menos, estarem efetivamente envolvidos na sua implementação e
gestão, acaba por contribuir para um sentimento de perda de identidade e de pertença a
estes territórios.

Portanto, há que entender o problema referente às assimetrias territoriais como um


problema muito complexo e, por isso, aceitar que a solução é igualmente complexa, que é
uma solução plural para um problema plural, e que implica um modelo de governança
baseado no diálogo e cooperação dos vários atores e núcleos envolvidos. 

Contudo, muitos destes lugares já não têm hoje sequer uma comunidade local, daí
ser urgente a adoção de um método diferente que permita prefigurar o seu futuro como
uma construção coletiva. Um projeto de urbanidade que parta de um planeamento
integrado e que permita a construção de uma cultura comum, a partir daquilo que são os
elementos diferenciadores dos territórios e que lhes conferem identidade. No fundo, a
adoção de estratégias bottom-up ancoradas às valências dos lugares e que reflitam o apego
das pessoas com os lugares, enfim, com o(s) património(s). 

 

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Património e paisagem: a transformação de um conceito

O conceito de património provém originalmente do que era a passagem de uma


herança de pais para filhos. Porém, revestiu-se ao longo do tempo de um significado
conservador relativo aos monumentos históricos tidos como algo intocável, isto é, sobre os
quais não se pode exercer qualquer ação, a não ser as dirigidas à sua preservação.

Mas o património não é isso. Não é, sequer, uma “coisa”, como defende Laurajane
Smith (2006, 11). É sim, como defende esta dissertação, uma construção cultural e social
que reflete a identidade de uma comunidade, ou seja, “o património dos povos e das gentes
que lhe adstringem valor”. É, por isso, um conceito determinado pela “sua capacidade de
representar simbolicamente uma identidade” (Silva 2000, 219), através dos valores
reconhecidos em “coisas”, materiais ou imateriais, e partilhados por uma comunidade.

Pois bem, a atitude conservacionista e de estrita preservação do património levou à


afirmação de diversos posicionamentos relativamente a esta problemática e que
contribuíram de forma significativa para a sua transformação/evolução. Para Françoise Choay
(2012, 19-29), existem dois momentos particularmente significativos da evolução do
conceito de património, que surgem de duas revoluções culturais: o Renascimento e a
Revolução Industrial. No primeiro, os estudos e redescoberta da história levaram a um
crescente interesse sobre a Antiguidade Clássica e os seus valores. No que respeita à
Revolução Industrial, as suas consequentes transformações – e, também, destruições - dos
territórios, provocaram um sentimento de perda e nostalgia, que conduziu a uma atitude
conservacionista daqueles que se entendia serem os edifícios ou monumentos de carácter
identitário das cidades.

Ora, estas duas revoluções permitiram o surgimento de diferentes reflexões sobre a


forma de atuação para com os monumentos e bens patrimoniais. É relevante recordar, por
exemplo, as teorias intervencionista e não intervencionista, de Viollet-le-Duc e Ruskin,
respetivamente, que marcaram o séc. XIX.

Ruskin (1849, 182), assumindo uma postura conservadora e considerando os


monumentos como intocáveis, sem espaço, sequer, para o restauro, defendia que “it is

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again no question of expediency or feeling whether we shall preserve the buildings of past
times or not. We have no right whatever to touch them. They are not ours. They belong
partly to those who built them, and partly to all the generations of mankind who are to
follow us.”, acrescentando ”The dead have still their right in them.” Por seu lado, Viollet-le-
Duc (1875, 14) defendia o restauro dos edifícios adaptado aos tempos e mudanças,
considerando que “Restaurer un édifice, ce n'est pas l'entretenir, le réparer ou le refaire,
c'est le rétablir dans un état complet qui peut n'avoir jamais existéà un moment donné.”

Mais tarde, Alöis Riegl defende que “em matéria de restauração não pode existir
nenhuma regra científica absoluta, cada caso inscreve-se numa dialética particular de valores”
(Choay 2009, 33), ou seja, Riegl centra o seu discurso do património nos valores atribuídos
aos monumentos, valores que não se baseiam exclusivamente na sua dimensão histórica, e
na defesa de regras ou princípios de intervenção física.

Ora, neste momento o conceito de património estava ainda muito vinculado ao


significado de monumento histórico com abordagens de cariz top-down, onde os políticos e as
elites mais informadas tinham um papel central tanto a nível nacional como a nível
internacional. Aliás, é neste contexto internacional que estas abordagens têm mais expressão,
com a criação de documentos doutrinários que remontam à Carta de Atenas de 1931,
resultante de uma conferência mundial realizada em Atenas e organizada pelo Serviço
Internacional de Museus no âmbito da Comissão Internacional de Cooperação Intelectual
criada em 1919.

Nesta conferência foi promulgado um conjunto de medidas para as intervenções de


restauro e conservação de edifícios antigos, englobando não só as questões em volta das
intervenções diretas nos monumentos, mas também sobre qual deveria ser o papel das
entidades para a salvaguarda dos mesmos. A Carta de Atenas, marco inaugural da produção
doutrinária internacional, concentra-se, assim, exclusivamente na salvaguarda do edificado e
obras de arte, seguindo o vínculo do séc. XIX referido anteriormente.

Trinta e três anos mais tarde, em 1964, e no contexto do 2.º Congresso dos
Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos, é produzida a Carta de Veneza,
documento que revela uma evolução no conceito de património, reconhecendo valor não

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apenas aos monumentos em si, mas também ao contexto físico e à cultura civilizacional onde
os mesmos se inserem. Embora o conceito de monumento histórico esteja ainda muito
presente na Carta, a mesma defende que o mesmo “engloba a criação arquitetónica isolada,
bem como o sítio, rural ou urbano, que constitua testemunho de uma civilização particular.”
(ICOMOS 1964, 1) Isto é, surge uma perspetiva diferente sobre o património, neste caso
correspondente ao edificado, que o relaciona com o seu meio envolvente, englobando
construção, espaço e comunidade. Segundo Choay (2009, 35), esta Carta tem já “indícios
de uma mudança em curso desde o fim dos anos 50.”

A primeira conferência terá sido fortemente influenciada pelas ideias de Gustavo


Giovannoni (1873-1947), segundo Françoise Choay (2009, 193) criador do conceito de
património urbano e defensor de uma preservação viva, e não museificada, das cidades e
tecidos urbanos. Em relação a esta dimensão urbana do património, como Françoise Choay
(2009, 196) releva, Giovannoni alertava para um problema, que considera grave, de se
estarem a “il voler far penetrare a forza la massima intensità di vita moderna in un organismo
edilizio fatto con antichi criteri” (Giovannoni, 1913, 460), ou seja, com a modernização das
infraestruturas e meios de comunicação, estava a impor-se à cidade antiga uma realidade
desajustada à sua natureza. Ora, ele defendia, por isso, princípios urbanísticos “que
assegurassem a coesão da cidade integral ao longo do seu desenvolvimento”, conciliando as
duas escalas, da cidade antiga e da cidade moderna, no fundo, “uma integração sensível da
cidade existente nos processos de desenvolvimento urbano.” (Gonçalves 2018, 27,28) 

No entanto, a evolução do entendimento do valor cultural da “cidade velha” não


seguiria a visão integrada de Giovannoni, instituindo-se, nas décadas de 1950 e 1960, uma
visão dual da cidade que se caracterizava pela identificação dos dois núcleos urbanos
correspondentes à cidade antiga e à cidade moderna. Isto deveu-se em grande parte às
consequências territoriais do pós-guerra, resultando, naquilo que Adelino Gonçalves (2018)
defende ser uma “regressão epistemológica”. Ou seja, uma visão de cariz top-down, muito
centrada numa perspetiva conservadora dos monumentos e no progresso como um fim. 

Mais tarde, na década de 1970, começam a expressar-se, de forma mais intensa, os


conceitos de património cultural e natural devido à inquietude que perdurava pela ameaça

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dos mesmos, como consequência de todas as transformações sociais, económicas e
territoriais a que se assistia. Pois bem, com a Convenção para a Proteção do Património
Mundial, Cultural e Natural, adotada na Conferência Geral da Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura de 1972, consolida-se a definição do que se
considerava ser património cultural e património natural, ou seja, o património ser plural, e
quais os procedimentos para a sua salvaguarda. 

Dos princípios e orientações para a salvaguarda dos patrimónios, importa relevar


que se entende como património cultural não só como os monumentos, mas também
conjuntos e/ou lugares enquanto testemunhos de uma cultura civilizacional. Por isso defende
que a educação e a informação são meios apropriados para manter, ou até reforçar o
respeito e o apego das pessoas ao património cultural e natural, tal como consta no Art.º
27 da Convenção.

Porém, o facto de se atribuir o papel de valorização dos patrimónios aos povos de


todo mundo, acabou por conferir uma configuração turística e comercializada aos mesmos.
Neste aspeto, Françoise Choay (2009, 47) diz mesmo que é a intervenção da UNESCO,
com a “classificação do património mundial, que a comercialização patrimonial deve o seu
desenvolvimento exponencial.” Isto deve-se ao entendimento do património como
instrumento e promotor económico e turístico, uma perspetiva mercantilizada dos
patrimónios que é prejudicial não apenas para o visitante, “enganados quanto à natureza do
bem a consumir e colocados em situações de amontoamento e ruído totalmente impróprias
a qualquer deleite intelectual ou estético” (Choay, 2009, 48), mas principalmente para os
próprios lugares. 

Choay alerta ainda para a urgência de uma tomada de consciência sobre a construção
dos patrimónios a partir de uma “participação coletiva”, ou seja, pelo envolvimento das
comunidades, de forma a “encontrar e continuar a enriquecer a hierarquia das identidades
[de todos os lugares]” (Choay 2009, 53). Esta tese reflete ideias já presentes em 1979 na
Carta de Burra, do ICOMOS australiano, onde a dimensão social do património já era
defendida, nomeadamente através do conceito de “significância cultural” e que corresponde

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a valor cultural atribuído coletivamente a um bem, seja esse valor estético, histórico, científico
ou social, ou seja, como uma construção social e coletiva. 

Ora, este lado humanizado e identitário do património e das paisagens remete,


inevitavelmente, para o conceito que esta dissertação defende, a Paisagem Cultural. O
reconhecimento deste conceito pela Convenção do Património Mundial em 1992,
proporcionou uma nova perspetiva sobre o conceito de património, mais abrangente,
integrada e diversificada, questionando as abordagens de meados do séc. XX demasiado
limitadas aos monumentos. Desta forma, defende-se que os lugares devem ser “illustrative
of the evolution of human society and settlement over time, under the influence of the
physical constraints and/or opportunities presented by their natural environment and of
successive social, economic and cultural forces” (UNESCO 2011, 14). Resultantes de um
processo evolutivo e integrando uma forte componente social e de valores humanos, as
Paisagens Culturais adquirem, assim, um valor patrimonial. 

O conceito de Paisagem Cultural proporciona abordagens à questão do património


como parte integrante dos processos de transformação e evolução dos lugares e base de
uma “estratégia para a sustentabilidade e o desenvolvimento dos territórios e das
populações” (Carvalho 2003, 3).

Este conceito evoluiu desde uma raiz ligada à geografia, através da ideia simples da
paisagem natural que é fisicamente alterada pelo Homem, ou seja, uma paisagem
humanizada. Posteriormente, o conceito foi-se tornando mais complexo, com a paisagem
entendida não apenas numa ótica física, mas também cultural ou de valores associados aos
lugares. Deste modo, pode então afirmar-se que, no limite, todas as paisagens humanizadas
são culturais, pois são o resultado da interação do meio natural com o Homem e espelham
essa evolução. Por isso, são igualmente únicas, visto que cada uma reflete processos
evolutivos, sociais e culturais específicos de cada lugar (Carvalho e Marques 2019). 

Ora, o debate atual sobre as paisagens culturais centra-se na forma como podem
ser salvaguardados os valores que nelas reconhecidos, afastada de uma perspetiva
museológica e top-down, ou seja, em como as preservar de forma dinâmica e evolutiva, a
partir das suas valências e de tudo o que lhes confere identidade.

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Em suma, nos dias que correm, assistimos a uma nova visão e mudança de paradigma
que considera os patrimónios como ferramentas importantes para o desenvolvimento dos
lugares, sobretudo sob uma vertente cultural e identitária. Esta abordagem depende da
adoção de políticas de governação e desenvolvimento integradas, ou seja, que se baseiam,
primeiramente, num verdadeiro (re)conhecimento dos lugares e das suas especificidades, e
integrem o “envolvimento da comunidade e “públicos” a eles associados [como] um
importante pilar de sustentação desse novo processo” (Carvalho 2003, 222). 

É pertinente, portanto, questionar as abordagens top-down que mercantilizam o


património e o espaço rural enquanto produtos turísticos, resultando em perdas na
identidade desses territórios. As abordagens a adotar devem procurar solucionar as
fragilidades destes lugares, fundamentando-se numa discussão de outros valores que
merecem ser considerados e valorizados, isto é, “garantir que as iniciativas patrimoniais
contemplem a própria diversidade característica do nosso património cultural, funcionando
como factor de estabilidade, de desenvolvimento e de integração social.” (Silva 2000, 222)

 

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Território e comunidade: uma perspetiva integrada para o desenvolvimento 

A partir das reflexões feitas nos capítulos anteriores, entende-se que as estratégias
para o desenvolvimento territorial, sobretudo no espaço rural, não se basearam até
recentemente nas especificidades de cada lugar, acreditando-se, durante décadas, que “o
desenvolvimento era sinonimo de industrialização e urbanização.” (Reis 2012, 157) Os
investimentos concentraram-se, assim, nas grandes cidades, atraindo população e levando,
como já referido, ao abandono e marginalização do interior.

A partir da década de 1980, com a persistência e agravamento das assimetrias


territoriais, e um cenário cada vez mais deprimente dos espaços rurais, estes modelos de
desenvolvimento territorial, baseados num alto crescimento económico e num progresso
urbano e industrial, entraram em crise e surgiram outras abordagens que entendem os
territórios como portadores de valências que devem ser vistas como fatores de
desenvolvimento dos mesmos. No fundo, trata-se do reconhecimento da importância do
movimento bottom-up no desenho de políticas de ordenamento do território que reconhece
as especificidades, fragilidades e capacidades de cada lugar, e que tem como principais
objetivos a melhoria da qualidade de vida e o reforço da autoestima das suas comunidades.
(Reis 2012, 160-161)

Esta abordagem, de base local, que tem vindo a crescer nas últimas décadas, centrada
essencialmente no mundo rural, defende que a valorização destes territórios parte de uma
valorização dos seus patrimónios, como um importante recurso para o seu desenvolvimento. 

Com a ampliação da abrangência do conceito de património, através da sua


dimensão material e imaterial, este ganha ainda mais relevância no meio rural, onde as
paisagens são fortemente marcadas por uma riqueza natural em convivência com uma
herança cultural, no fundo, a interação do Homem com o meio onde está inserido, a
natureza e os seus recursos. É, por isso, no espaço rural onde o património pode mais
facilmente revelar uma dimensão plural, manifestando-se de diferentes formas, desde os
recursos naturais, passando pela arquitetura e até às tradições e saberes-fazer. Todos estes 

 
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recursos têm vindo a ser procurados como motores para o desenvolvimento destes locais
e o reforço da sua identidade (Carvalho 2003, 181).

Os atributos patrimoniais dos territórios, nomeadamente nos de baixa densidade,


têm vindo a ser explorados sobretudo no setor do turismo, embora, como referido antes,
num modelo de turismo de passagem que pouco tem contribuído para o desenvolvimento
local.

Ora, para um desenvolvimento integrado destes territórios, é importante que o


processo parta de uma análise e compreensão das necessidades individuais e coletivas, para,
necessariamente, “promover a melhoria da qualidade de vida das pessoas, bem como
aumentar os seus níveis de auto-confiança e organização” (Reis 2012, 161). Cada lugar é
único nas suas especificidades e por isso cada processo de desenvolvimento tem, igualmente,
de ser sensível às diferenças em todos eles. Na verdade, como defende Paula Reis (2012,
162), podemos dizer que “existem tantos desenvolvimentos locais como existem locais”.

Pois bem, as comunidades locais são, como se sabe, as portadoras da herança


patrimonial que se pretende divulgar e valorizar num processo destes. Por isso devem ser
os principais atores das iniciativas com esse objetivo, numa perspetiva ativa e participativa.
Deve ser-lhes dado poder de decisão e atuação no preparação e implementação de
estratégias desenvolvimento baseadas nas características de cada lugar, que são precisamente
essas pessoas as que melhor as conhecem. Desse modo, com intervenções diretas e
próximas à comunidade, a implementação de ações diversificadas a partir dos recursos locais
é potencialmente mais consciente.

Esta perspetiva que vê a comunidade e os seus valores como parte integrante dos
processos de desenvolvimento local, traduz-se no conceito de um modelo de Turismo de
Base Comunitária. Este conceito emergiu na década de 1990 como uma alternativa ao
turismo massificado e com o objetivo de diminuir os impactos negativos que o mesmo tinha
nas populações e nos próprios locais. O Turismo de Base Comunitária procura ser um
modelo de turismo de pequena escala, concentrado nos recursos dos lugares, incluindo as
pessoas, e integra estratégias de colaboração entre todos os atores por um bem comum, o
desenvolvimento integrado do território.

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A participação ativa e participativa da comunidade local, em seu benefício, é um dos
pilares-base deste conceito, e é mesmo um fator de sustentabilidade na construção e gestão
das iniciativas das atividade turísticas, ou dirigida ao turista. (Gómez et al. 2015, 1218)

Este modelo de turismo prevê a interação próxima da comunidade com o visitante,


com o objetivo de que não só o turista beneficie das atividades, mas também – e
principalmente – as pessoas que vivem nos locais. Ou seja, enquanto se contribui para a
salvaguarda e valorização dos patrimónios dos lugares, contribui-se igualmente para a
melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes. Só assim, através da implementação de
estratégias bottom-up baseadas nas valências e aptidões dos territórios, é possível o seu
desenvolvimento sustentável.

Ora, este modelo de turismo não procura transformar as comunidades, mas sim
dotá-las de capacidades para consolidarem e reforçarem as suas potencialidades (Silva 2022,
7-8). O seu envolvimento deve, assim, partir de uma participação ativa e direta, com
envolvimento efetivo, de forma que os recursos sejam geridos de forma consciente.

A valorização da herança cultural como fator de desenvolvimento dos lugares,


através da atividade turística, tem ganho maior visibilidade nas últimas décadas,
nomeadamente em meio rural. Os patrimónios, enquanto reflexos de uma identidade e
cultura local, podem ter um papel preponderante e diferenciador na criação de estratégias
e atividades turísticas inovadoras, que contribuem significativamente para a revitalização dos
territórios mais fragilizados. 

Com o espaço rural fora da ótica produtiva de alimento, surge uma abordagem
diferente “em que a dimensão local configura uma escala apropriada para concretizar ações
integradas, […] flexíveis […] e participadas” (Carvalho 2010, 129) para o seu
desenvolvimento global, integrado e sustentável. Esta vertente de um Turismo Cultural,
centrado na identidade cultural dos lugares e nos seus patrimónios, permite, assim, uma
oferta diversificada e especializada, respondendo às exigências dos modelos de visitação
atuais. 

 

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A crescente procura desta vertente turística cultural levou igualmente a uma
crescente preocupação em dar resposta com estratégias diversificadas e cada vez mais
próximas do visitante e das populações locais.

Ora, isto exige, necessariamente, um maior acompanhamento e proximidade nos


processos de desenvolvimento, para a concretização de uma resposta abrangente que
acompanha os vários tipos de solicitações, não só da parte do visitante, mas também das
populações locais. Estes processos de desenvolvimento em proximidade decorrem de um
método de atuação que parte da colaboração entre várias entidades, desde as autarquias,
associações locais e a própria comunidade.

A evolução e transformação do setor turístico e dos processos de valorização dos


lugares permitiram a criação de experiências inovadoras e únicas em cada lugar, atividades
lúdicas e criativas que agradam o turista e, ao mesmo tempo, contribuem para a valorização
e revitalização da região onde se desenvolvem. A criatividade no setor turístico,
nomeadamente no espaço rural, pode constituir-se como um fator fundamental para
revitalizar estes territórios e contribuir para a valorização da sua marca identitária e cultural.
Isto permite que o visitante esteja mais envolvido nas atividades e, consequentemente, esteja
mais próximo e interessado sobre o contexto que o rodeia. Assim, através de uma
experiência imersiva no local, a transmissão e partilha de saberes e tradições acontece de
forma mais fluida e natural, promovendo relações entre as pessoas, através da passagem de
saberes e tradições do passado para o presente.

Este modelo de turismo, que esta dissertação defende e ensaia com uma proposta
de programa e arquitetura, apelidado por vários autores de Turismo Criativo, baseia-se na
valorização dos recursos locais e na participação ativa das comunidades. Desse modo,
proporciona a valorização cultural dos lugares, bem como o seu reconhecimento por parte
do visitante. Além disso, promove ainda um desenvolvimento turístico sustentável e
integrado. No fundo, este modelo de turismo promove uma aproximação ao quotidiano das
comunidades, ou seja, a partir da raiz identitária dos lugares, conferindo um valor pedagógico
às atividades que se desenvolvem durante as visitas. Assim, contrariamente ao turismo

74

 

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massificado e de simples observação, o turismo criativo privilegia a aprendizagem pela
experiência e contacto próximo ao contexto. (Carvalho 2017, 174) 

É com o envolvimento, a uma escala pequena e local, com a matriz de valores


associadas à significância cultural dos patrimónios locais, que pode resultar a sua
redescoberta e, assim uma revitalização integrada, ou seja, uma reativação de saberes em
esquecimento. Dessa forma os saberes, tradições e conhecimento hoje desvalorizados, são
reutilizados e validados junto de quem ainda os pode transmitir.

Para a partilha destes valores, as estratégias de desenvolvimento local devem partir


de uma vertente educacional e formativa, primeiramente através do reconhecimento desses
valores junto das comunidades locais, para que, conscientes da herança patrimonial que
partilham, possam valorizá-los, depois, através da experiência com o visitante. 

Assim, os patrimónios contemplam igualmente esta vertente de transmissão de


saberes e valores culturais, como defende Laurajane Smith (2006) ao defender o conceito
de património como uma construção social, que se constrói com base nos valores atribuídos
a bens materiais ou imateriais e que espelham a cultura de uma comunidade, em interação
com um lugar, no fundo, uma paisagem cultural. 

Concluindo, sabemos hoje da importância do setor turístico para o desenvolvimento


do espaço rural e, com isso, da necessidade de serem implementadas estratégias, resultantes
de um planeamento integrado que reconheça as valências desses lugares e contribua para a
sua revitalização. Isto é, a implementação de modelos de turismo de base local e comunitária,
que esta dissertação acredita que, em conjunto com outras estratégias integradas, possam
contribuir para a sua revitalização, dinamização e desenvolvimento. A comunidade, portadora
de saberes e valores que se têm perdido no tempo, deve integrar, de forma ativa e
participativa, os processos para o desenvolvimento dos territórios, de forma que essa
herança patrimonial possa ser reconhecida, valorizada, partilhada e gerida de forma
consciente. 

 

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II. CONTEXTO 

 

78



 

Fig. 15. Localização da região de Sicó em território nacional

Fig. 16. Mapa da região de Sicó com sinalização das principais vias rodoviárias, municípios e aldeias em
estudo

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Sicó: território de ação 

O interior tem sofrido, em geral, com uma segregação que se tem vindo a acentuar
ao longo das últimas décadas em resultado do fenómeno da litoralização do país. Possui, no
entanto, áreas que, por características da sua paisagem cultural, pela sua proximidade a
núcleos urbanos polarizadores e a acessos principais, podem ver reforçado o seu
desenvolvimento. Este é o caso do maciço de Sicó, localizado na região centro de Portugal,
que apesar da sua proximidade ao litoral e a duas capitais de distrito, Coimbra a norte e
Leiria a sul, não conseguiu escapar ao processo de marginalização do mundo rural,
reconhecendo-se-lhe hoje com fraco dinamismo demográfico, económico, social e cultural.
(Cunha 2003, 3-5)

O maciço de Sicó interseta seis municípios que enfrentam hoje grandes adversidades,
sobretudo no combate ao esvaziamento populacional e à carência de serviços. Os municípios
em causa são Penela, Soure, Pombal, Condeixa-a-Nova, Alvaiázere e Ansião, e são parceiros
da Associação de Desenvolvimento Terras de Sicó, um Grupo de Ação Local criado em
1995 que corresponde a uma evolução da ADsicó - Associação de Municípios da Serra de
Sicó, criada em 1988. 

A região de Sicó, devido ao movimento migratório para o litoral que se intensificou


a partir de meados do séc. XX, têm apresentado um decréscimo demográfico elevado, o
que levou, consequentemente, ao seu abandono e envelhecimento populacional, resultando
num quadro geral desfavorável, nomeadamente nas suas aldeias, como muito do seu
edificado abandonado e progressiva degradação. 

Na sua evolução demográfica, verifica-se um decréscimo acentuado entre o ano de


2001, em que os seis municípios contavam com um total de cerca de 121 000 habitantes, e

 


Os Grupos de Ação Local (GAL) são vários grupos formais associados à iniciativa LEADER e são encarregues
de delinear e implementar ações e estratégias e de gerir conscientemente os recursos disponíveis do território. 

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"  #   

          
         
           

Fig. 17. Tabela com os números da população residente em Sicó nos anos 2001, 2011 e 2021, com base
nos dados do INE

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o ano de 2021, em que esse número diminuiu para cerca de 108500, o que resulta numa
perda de mais de dez mil habitantes. 

Ora, relativamente à sua integração no território, Sicó possui um enquadramento


geográfico privilegiado, com proximidade a importantes eixos rodoviários, com boas ligações
municipais, intermunicipais e nacionais. A região é delimitada a poente e nascente por duas
autoestradas – respetivamente, A1 e A13 -, atravessada por itinerários complementares -
IC2, IC3 e IC8 - e é ainda servida pela Linha do Norte, com estações em Soure e Pombal.
Isto permite uma facilidade e rapidez nas ligações internas dentro da região e da mesma com
o restante território nacional. 

Em suma, a região de Sicó apresenta, em geral, um decréscimo demográfico


significativo que resultou num envelhecimento da população, dedicada maioritariamente a
atividades do setor primário e com tendência para abandonar as práticas tradicionais locais,
o que tem dificultado a implementação de estratégias de desenvolvimento local. Os modelos
de turismo aplicados ao longo do tempo na região de Sicó são baseados numa prática de
visitação e têm tido, por isso, pouco significado no desenvolvimento socioeconómico dos
pequenos lugares da região. Isto leva a concluir que este modelo de turismo, por si só, não
é suficiente, sendo necessária a adoção de novos modelos que contribuam efetivamente
para a valorização e revitalização deste território. 

Mas apesar de se reconhecerem diversas fragilidades, “Sicó é um território de muitos


e variados Patrimónios” (Silva 2011, 42) que constituem as suas principais forças. Estes
podem ser divididos em dois grandes grupos – património natural e património cultural ± e
é na inter-relação entre ambos que esta investigação defende que se devem basear as
estratégias de desenvolvimento de Sicó, isto é, na leitura deste território como uma paisagem
cultural ou, como defendem Francesco Selicato e Claudia Piscitelli (2016), como um sistema
territorial cultural. 

 



Embora se verifique uma perda no total da população residente na região de Sicó, o município de Condeixa-
a-Nova, é o único, dos seis concelhos referidos, que não apresenta uma evolução demográfica negativa. Esta
tendência deve-se ao desenvolvimento no setor industrial e à proximidade à cidade de Coimbra. 

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A Rede de Aldeias de Calcário

Consciente das fragilidades e desafios que a região enfrenta, foi fundada, em 1988, a
Associação de Municípios da Serra de Sicó (ADSicó), que evoluiria mais tarde, em 1995, para
a Terras de Sicó - Associação de Desenvolvimento, com novos objetivos e visando uma
intervenção mais diversificada no seu território de ação. Esta associação tem como principal
objetivo a promoção do desenvolvimento da região através de uma dinâmica de cooperação
municipal, com iniciativas próprias ou de apoio a outros projetos, assentes no
reconhecimento de recursos e valores locais comuns, como grandes motores de
crescimento e progresso. 

A Terras de Sicó tem, entre os seus parceiros, os seis municípios já referidos –


Condeixa-a-Nova, Penela e Soure, do distrito de Coimbra, e Ansião, Pombal e Alvaiázere,
do distrito de Leiria – e baseando-se no aproveitamento de programas comunitários,
sobretudo do programa LEADER, concentra-se na valorização deste território a partir dos
seus recursos para promover uma aproximação aos seus diversos atores, nomeadamente
à comunidade local, procurando, através da cooperação, a sua revitalização e dinamização.

Com vista nas características particulares do território de Sicó e no seu


desenvolvimento a Terras de Sicó criou, em 2019, a Rede de Aldeias de Calcário: 6 Aldeias, 12
Experiências (RAC), um Plano Integrado de Intervenção sobre o qual se debruça a presente
dissertação, e que resultou de uma candidatura ao programa Valorizar – Programa de Apoio
à Valorização e Qualificação do Destino, especificamente à Linha de Apoio à Valorização
Turística do Interior. Este plano abrange doze aldeias da região de Sicó, duas de cada
município parceiro, e prevê duas fases de intervenção, sendo que cada uma se destina a seis
aldeias.

A primeira fase integra as aldeias de Ariques (Alvaiázere), Casmilo (Condeixa-a-


Nova), Chanca (Penela), Granja (Ansião), Poios (Pombal) e Pombalinho (Soure), e são alvo
de uma estratégia de reabilitação integrada, desenvolvida pelos seis municípios e apoiada pela 

 

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Património(s) de Sicó 

A região de Sicó, apesar das fragilidades que tem enfrentado, tem atributos que
merecem ser reconhecidos como fatores importantes para o seu desenvolvimento . É um
território com um rico património natural e cultural, desde os fenómenos geomorfológicos
resultantes da sua formação cársica, aos vestígios arqueológicos deixados presença romana,
bem como a sua arquitetura vernacular. 

No que refere ao Património Natural, a Serra de Sicó apresenta características


muito particulares, duas das quais se entrecruzam e determinam os principais aspetos da sua
paisagem e que dizem respeito ao facto de Sicó se localizar numa região que faz a transição
entre dois biomas e à carsificação do Maciço. A região, sendo um sistema cársico muito
fraturado, é assim profundamente marcada por estas particularidades e rica em geoformas
que possuem um valor patrimonial e turístico significativo. Existem vários fenómenos e
geoformas que caracterizam fortemente a paisagem natural de Sicó, e que se constituem
pontos de interesse e apreciação turística.

Considerando as montanhas como barreiras naturais, a ocupação humana no


território ter-se-á feito em cotas altas ou intermédias, pois consideravam-se lugares mais
seguros, mas com o evoluir dos tempos, as populações foram ocupando as zonas mais baixas
e os espaços serranos mais altos e montanhosos foram sendo abandonados, constituindo
hoje uma relação de fascínio e apreciação com o visitante. 

Isto acontece principalmente em zonas com fenómenos geomorfológicos


interessantes, como é o caso das Buracas do Casmilo (Condeixa-a-Nova), que é um dos
motivos de visita mais conhecidos de Sicó e frequentado por muitos praticantes de
desportos de natureza, cerca de 8500 a 10000 por ano (Cruz 2020), sobretudo de
montanhismo. Outros exemplos destes fenómenos são os Canhões Fluviocársicos do Vale
do Poio Novo e do Rio dos Mouros, bem como a Escarpa de Falha da Sr.ª da Estrela. Além
destes, também as fórneas se destacam como outro fenómeno existente em Sicó, a par dos
canhões fluviocársicos, marcando presença na sua paisagem cársica. (Cunha, Dimuccio e
Paiva 2018, 1228-1229)

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Fig. 21. Campo de Lapiás, Casmilo

Fig. 22. Dolina, Condeixa-a-Nova

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características singulares do Maciço e que tornam a sua biodiversidade rica, em particular o
Carvalho Cerquinho ou Carvalho Português que ocupa, na região de Sicó, a maior mancha
da Europa. (Seixas 2016, 67) Além desta espécie, estão também presentes outras com
elevada resistência aos declives vertiginosos e às particularidades climáticas da Serra de Sicó,
como é o caso do Sobreiro, da Oliveira e da Azinheira. A estas espécies, integradas no
Parque Ecológico de Algarinho (Penela) – Gramatinha (Ansião) – Ariques (Alvaiázere),
somam-se outras, mais vistosas nas primaveras, como as orquídeas selvagens e as rosas
albardeiras. A erva-de-Santa-Maria e o tomilho marcam igualmente presença em Sicó, com
a particularidade de contribuírem para as tradicionais receitas do Queijo Rabaçal. 

No que respeita à fauna, importa destacar duas espécies com relevância no território,
sendo elas a Lampreia-de-Riacho, existente no rio Nabão, e a colónia de Morcegos-de-
Peluche, que é a maior colónia existente no país. (Seixas 2016, 67)

Relativamente ao Património Cultural, a região de Sicó contém também


“importantes testemunhos da cultura popular nas suas vertentes materiais e imateriais”, um
património cultural vasto que transporta “as memórias dos povos […] ao longo de muitas
gerações” (Silva 2011, 19). 

Sicó é um território onde se encontram importantes testemunhos da ocupação do


Homem, que se estendem desde a pré-história e têm no período romano algumas das
marcas mais impactantes e que integram hoje o património cultural material, arquitetónico
e arqueológico da região. 

Como “ex-libris” cultural da região, na vertente arqueológica, destaca-se a cidade


romana de Conímbriga, com elevada importância turística a nível nacional e, até,
internacional. Das ruínas desta cidade apenas uma mínima parte está escavada, mas a
investigação desenvolvida até hoje permite perceber que se trata de um importante marco
histórico e cultural que reflete os testemunhos de uma civilização sobrevivente a períodos
de grande instabilidade. Depois de abandonada a partir do séc. V, Conímbriga foi
(re)descoberta no final do séc. XIX, com as primeiras escavações sistemáticas a serem
realizadas a partir de 1898. Na sua sequência, seria classificada como Monumento Nacional
em 1910, seguindo-se depois diversas campanhas de trabalhos arqueológicos a partir de 

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Fig. 26. Villa Romana do Rabaçal

Fig. 27. Castelo de Montemor-o-Velho

93

1929 (Correia e Ruivo 2012-2013, 142), sendo consequentemente, musealizada e
funcionando hoje como um dos maiores espaços, a nível nacional, de estudo e investigação
sobre a civilização romana. 

O período de ocupação romana na Península Ibérica deixou, assim, inúmeros


vestígios nesta região, incluindo dezenas de Villae, das quais se destacam as do Rabaçal e de
Santiago da Guarda que, tendo sido suficientemente escavadas, são hoje objeto de estudos. 

A Villa Romana do Rabaçal, datada do séc. IV d.C., está implantada no Vale do Rabaçal
e é uma obra arquitetónica notável da época, que resultou do refúgio dos íncolas às invasões
bárbaras, e é das mais belas e importantes encontradas até aos dias de hoje. A Villa de
Santiago de Guarda é igualmente um exemplo relevante, da qual não se tem a certeza da
data de edificação, mas que se crê que tenha tido origem noutras construções anteriores,
resultando num conjunto de edificado composto por diferentes processos de construção e
altimetrias. Esta Villa integra o Complexo Monumental de Santiago da Guarda que
testemunha várias épocas diferentes e que funciona atualmente como espaço museológico
e centro de investigação. 

Os castelos e muralhas são também um importante marco cultural da região como


testemunhos do período medieval e da instalação de D. Afonso Henriques em Coimbra no
séc. XII. O Castelo de Penela é um dos que assume maior relevância histórica e turística nos
dias de hoje, tendo sido um elemento essencial na construção da linha defensiva do
Mondego, que se estendia pelo território. Deste sistema defensivo faziam parte os castelos
de Coimbra, Lousã, Penela, Miranda do Corvo, Montemor-o-Velho, Soure e Atalaia de
Buarcos, tendo-se expandido mais tarde com a associação dos castelos de Pombal,
Germanelo, Ega e Santiago da Guarda. (Mendes 2022, 44) 

Deste património, destacam-se o Castelo de Soure e o Castelo de Montemor-o-


Velho, marcos culturais dos municípios e classificados como Monumentos Nacionais, com
grande importância turística, e, ainda, o Castelo de Pombal, um monumento patrimonial de
destaque, datado do séc. XII, e que sofreu intervenções recentes com propósitos de
promoção turística.

94



Fig. 28. Moinho de Vento, Granja 

Fig. 29. Muros de pedra seca, Chanca

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Hoje em dia, todos estes bens do património cultural material, arquitetónico e
arqueológico cumprem propósitos distintos dos originais, destinando-se maioritariamente à
visitação turística e a estudos históricos.

Como parte de um património arquitetónico não monumental, surgem os Moinhos


de Vento (Figura 28) que caracterizam ainda algumas das paisagens do território de Sicó e
testemunham a história da sua humanização. São construções que tiveram em tempos
importantes funções para as populações, com a moagem de cereais, mas hoje estes tendem
a ser abandonados e a desaparecer. 

Com a evolução tecnológica no séc. XX, muitas destas construções entraram em


declínio e desapareceram, e outras foram sendo reabilitadas como alojamento local e
turístico ou como espaços didáticos de divulgação do processo da moagem do cereal, sendo
que esta última contribui de forma mais significativa para a valorização de uma arte local que
tem vido a cair no esquecimento nas últimas décadas. Um exemplo destas práticas são os
Moinhos do Outeiro, tendo sido alguns reconstruídos e/ou reabilitados, que integram
programas e atividades pedagógicas relacionadas com a prática da moagem do cereal. 

Do património cultural material da região faz também parte um dos elementos mais
emblemáticos e característicos da paisagem cultural de Sicó: os muros de pedra seca (Figura
29). Eles são a materialização mais marcante na paisagem de Sicó de um bem cultural para
o qual a Terras de Sicó e as Câmaras Municipais parceiras se encontram a preparar o dossier
de candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO. Sob a
designação “Arte de Construção em Muros de Pedra Seca”, este trabalho concorre para se
juntar ao bem já inscrito, em 2018, na Lista Representativa de Património Cultural Imaterial
da Humanidade da UNESCO - Arte de muros de pedra seca, conhecimento e técnicas - em
resultado de uma candidatura em rede apresentada pela Croácia, Chipre, França, Grécia,
Itália, Eslovénia, Espanha e Suíça. É um dos elementos desta paisagem que reflete de forma
mais expressiva a apropriação do território pelo Homem, pois resultam da limpeza dos
campos para posterior ocupação, servindo para delimitar propriedades e guardar o gado. 

Ora, dentro do panorama do património cultural imaterial, os produtos locais e a


gastronomia têm se relevado, nas últimas décadas, como importantes argumentos para a 

96

 

Fig. 30. Placa de venda de queijo de fabrico


caseiro, Rabaçal

Fig. 31. Queijo Rabaçal Fig. 32. Mel de Sicó

97

divulgação e desenvolvimento da região. O produto mais célebre e que tem sido fundamental
na construção da imagem de promoção de Sicó, é o Queijo Rabaçal. Este Queijo curado é
feito através do leite de ovelha e cabra, e temperado com produtos e ervas aromáticas da
região, nomeadamente a erva-de-Santa-Maria. Apesar da inevitável industrialização deste
produto, existem ainda neste território, nomeadamente na aldeia do Rabaçal, famílias que
produzem o queijo de forma artesanal, para consumo próprio ou vendas de pequena escala.
(Figura 30) Para além deste produto, existem outros menos divulgados, todavia igualmente
relevantes, como é o caso do Mel, o Vinho e o Azeite de Sicó. 

 

98

 

99

Arquitetura vernacular: O seu papel na construção da paisagem cultural de Sicó

A arquitetura é um elemento importante na caracterização dos territórios, resultante


das especificidades de cada lugar, como as comunidades, a geografia, os modos de vida, enfim,
os inúmeros fatores que constroem uma cultura civilizacional. As regiões do interior
dependem, para serem competitivas, dos seus fatores únicos e diferenciadores para a atração
e fixação de população e atividades, daí reconhecer-se a importância dos seus recursos e
valências. Ora, em Sicó, a arquitetura vernacular é um património que marca a sua paisagem
cultural, sendo por isso um dos principais elementos que continua a contribuir ativamente
para o reforço da identidade da região. Assim, sendo a arquitetura antiga e vernacular um
fator único e distinto, um elemento caracterizador que carrega importantes saberes-fazer
da sua cultura civilizacional, o seu desaparecimento é sinónimo da perda de uma das maiores
forças deste território.

Durante o séc. XX, sobretudo nas últimas décadas, foi notória uma falta de
consideração pelos valores representados pela arquitetura vernacular de onde resultaram
construções que nada se relacionam com o contexto dos espaços rurais. Grande parte
dessas construções são as chamadas “casa de emigrante” (Ferreira 2014, 111), construídas
durante a sua permanência no exterior ou aquando do seu regresso, mas essa falta de
sensibilidade perdura ainda hoje.

Ora, esta situação levou a importantes reflexões sobre a arquitetura vernacular e os


seus valores, e que interessam igualmente à reflexão feita na presente dissertação. Daí
resultaram diversos estudos, dos quais se destacam o Inquérito à Habitação Rural em
Portugal (1930), o Movimento da Casa Portuguesa e o Inquérito à Arquitetura Popular em
Portugal (1961), este último promovido pelo Sindicato Nacional dos Arquitetos e que
ganhou o maior destaque nos estudos do séc. XX.

A primeira destas referências, o Inquérito à Habitação Rural, decorreu ainda na


primeira metade do séc. XX – 1930 - 1940 – e tinha como principal objetivo o estudo das
condições das habitações em meio rural, com a intenção de promover um conjunto de


100

 

101

medidas para a sua melhoria. Para a sua concretização, foi feito um levantamento rigoroso
de 80 construções, servindo como casos de estudo que permitiram detalhar várias
condicionantes e características das construções, a identificação de infraestruturas e de
anexos associados, as características socioeconómicas, e ainda a aparência dos espaços
exteriores e interiores das habitações.

O Movimento da Casa Portuguesa, desenvolvido em meados do séc. XX, e a partir


da ideia de perda de identidade cultural, teve Raul Lino como principal impulsionador e
defensor da identidade e dos valores desta arquitetura. Lino elegeu, assim, vários elementos
que considerava caracterizadores da tradição arquitetónica que defendia, “os seus alpendres,
as suas chaminés, os seus telhados com beiral, caiada e com os vãos com pedra à vista” (Leal,
2009, 26).

Ora, esta visão de Raul Lino, conservadora e anti-modernista (Leal, 2009, 25) é
contrária à de outros posicionamentos da época, como de Fernando Távora e Francisco Keil
do Amaral, que defendiam a modernização da arquitetura portuguesa, através de uma
adaptação consciente ao existente. Estes dois arquitetos defenderam, em 1945, através de
um artigo intitulado “Uma Iniciativa Necessária”, a necessidade de um inquérito à arquitetura
popular portuguesa, de forma que, através da recolha exaustiva de informação nas várias
regiões do país, se conhecesse profundamente esta arquitetura.

Como resultado, iniciou-se em 1955 o processo para a realização do Inquérito à


Arquitetura Popular em Portugal, organizado pelo Sindicato Nacional dos Arquitetos, onde se
percorreram 6 regiões do país, para um estudo minucioso sobre a arquitetura popular. Este
Inquérito não tinha como objetivo idealizar um método construtivo, mas sim conhecer e
valorizar a arquitetura que se fez e fazia em Portugal, afirmando a diversidade regional.

Mais tarde, entre 1950 e 1970, sob a coordenação de Ernesto Veiga de Oliveira,
explorou-se um “olhar antropológico que valoriza o laço entre o modo de vida rural e a
casa” (Leal, 2009, 54). Este estudo permitiu um olhar atento aos sistemas construtivos
associados à arquitetura popular, com um levantamento rigoroso não só nos edifícios de
habitação, mas também em pequenos edifícios de apoio, como currais ou palheiros. Isto
permitiu uma recolha minuciosa de variadas técnicas e detalhes construtivos utilizados em

102

 

Fig. 33. Edificado em ruína, Chanca

Fig. 34. Escadas em pedra calcária, Casmilo Fig. 35. Casa de Eira em ruína, Chanca

103

diferentes tipologias e que levou, mais tarde, à publicação do livro Arquitetura Tradicional
Portuguesa (1992). 

Portanto, foram vários e importantes os momentos de estudo e reflexão sobre a


arquitetura vernacular portuguesa, que permitiram a documentação da realidade e dos
modos de vida do espaço rural que se refletiam na arquitetura existente, permitindo
perceber-se o seu valor e a necessidade urgente da sua preservação. Sem estas reflexões
atentas ao mundo rural e às particulares técnicas construtivas da arquitetura vernacular,
durante estas décadas do séc. XX, este património estaria hoje ainda mais desvalorizado e
descaracterizado. 

Ora, apesar de todos estes estudos realizados no séc. XX, que procuraram mapear
a arquitetura pelas várias zonas do país, há muito pouca informação sobre a arquitetura
vernacular da região de Sicó, que terá ficado à margem destes inventários. A iniciativa De
volta ao rural…, e as dissertações resultantes têm procurado, assim, contribuir para a reflexão
e valorização do património construído vernáculo de Sicó, com propostas que defendem
boas praticas de intervenção no existente, bem como a valorização das suas principais
características. 

A arquitetura vernacular de Sicó constitui, assim, uma das suas principais forças, como
um relevante elemento caracterizador da sua paisagem cultural, e que pode contribuir para
a valorização deste território, bem como para o reforço da sua identidade e autoestima. Sicó
caracteriza-se pelas suas paisagens cársicas, distinguindo-se pela forte presença da pedra
calcária nas construções que, em conjunto com a madeira, constituem os principais materiais
utilizados. As construções deste território refletem, tal como é típico da arquitetura
vernacular, de forma expressiva a relação do Homem com o contexto, e o seu modo de
vida. 

Em Sicó, a maior percentagem de construções corresponde, naturalmente, à


tipologia de habitação, sendo que a sua maioria integra um ou mais edifícios de apoio, como
currais, casas de eira ou outras construções de apoio à atividade agrícola, e que acabam por
funcionar em conjunto. Estas construções típicas, nomeadamente os edifícios de carácter
secundário, em conjunto com os imensos muros de pedra seca que delimitam ruas e

104



 Fig. 36. Casa de Eira, Chanca

 Fig.
 37. Paço dos Jesuítas, Granja

Fig. 38. Casa de Eira, Chanca

105

terrenos agrícolas, contribuem significativamente para a construção desta paisagem
identitária da região. 

As casas de Sicó, geralmente, com um ou dois pisos e de planta quadrangular ou


retangular, são construídas com uma estrutura simples e condicionada pelos escassos
recursos do território. As paredes estruturais são, habitualmente, construídas em alvenaria
de pedra calcária, com cerca de cinquenta ou sessenta centímetros de espessura. Nas casas
desta região, as fachadas são normalmente rebocadas, no interior e no exterior, com um
reboco à base de cal, que além de proporcionar um melhor acabamento, protege a própria
alvenaria. As fachadas de algumas casas, eventualmente de famílias com mais posses,
caracterizam-se também pela presença de elementos decorativos em pedra calcária como
molduras de janelas e portas, canteiros, frisos de beirais e pilastras. Pelo contrário, nas
construções anexas, é comum que a alvenaria de pedra fique à vista e não tenha qualquer
tipo de adorno, sendo construídas da forma mais simples possível, tal como se pode ver na
figura 36. 

Nas casas de Sicó, os espaços interiores tinham normalmente uma organização


simples e eram divididos com paredes em tabique. A cobertura inclinada, quase sempre com
duas ou quatro águas, era construída com uma estrutura em madeira e revestida com telha,
inicialmente com telha de aba e canudo, mas que se foi substituindo por telha marselha. 

As chaminés são um elemento comum e têm maior expressão nos edifícios mais
imponentes, como é o caso do edifício do Paço dos Jesuítas, na aldeia da Granja, que é uma
construção de destaque na aldeia pela sua dimensão e importância histórica. Neste edifício
também é possível encontrar outros elementos mais raros e ostentosos, como é o caso das
varandas, bem como soluções arquitetónicas dos vãos que são dignas de nota (Figura 37).

Nos edifícios de apoio à atividade agrícola, é comum encontrar coberturas de uma


só água ou duas, com travamentos em madeira, reforçando o sentido de simplicidade que
caracteriza estas construções. Na maioria destes edifícios preserva-se ainda a utilização da
telha de aba e canudo, nomeadamente nas casas de eira (Figura 38). 

106

 Fig. 39. Solução para recolha de águas pluviais em curral, Casmilo

Fig. 40. Solução de beirado em pedra calcária em curral, Chanca




Fig. 41. Cunhal Fig. 42. Casa de Eira, Poios

107

Um outro elemento característico da arquitetura vernacular de Sicó está associado
à escassez de água à superfície. Trata-se de sistemas de recolha de águas pluviais para
cisternas ou reservatórios, que funcionam normalmente a partir da criação de uma caleira
ou caminho para a água. Estas soluções foram indispensáveis para a sobrevivência das
comunidades locais e para a prática das atividades agrícola e pecuária, e aparecem, nas aldeias,
resolvidas de forma muito variada. Na aldeia do Casmilo, existe uma solução particularmente
interessante para a recolha das águas num pequeno curral. Esta solução passa pela criação
de uma pendente para a água formada a partir da própria parede de uma das suas fachadas,
com a colocação de telhas canudo para a formação de caleira, tal como se pode observar
na figura 39. 

Apesar de haver uma crescente melhoria no abastecimento da rede de água nas


aldeias, algumas habitações ainda mantêm estes sistemas, muitas vezes reinventados, por
assim dizer, sendo que é mais frequente encontrá-los em edifícios de apoio. Quando o
objetivo não é a recolha de água, mas sim a criação de uma solução de beirado que afaste a
mesma das paredes do edifício, encontramos em Sicó outras soluções para além do uso
tradicional da telha, como é o caso de beirados em pedra calcária. O exemplo mais
expressivo presente nas aldeias encontra-se num curral na aldeia da Chanca (Figura 40). 

Das várias tipologias de edifícios de apoio existentes nas aldeias da RAC, destacam-
se as Casas de Eira, pequenas construções para o armazenamento e seca dos cereais e
leguminosas. São construções simples em alvenaria de pedra calcaria, normalmente com
cobertura de duas águas, com apenas um piso e com uma altura de pouco mais de três
metros. A alvenaria é, habitualmente, deixada a cru e, por isso, alguns detalhes revelam as
técnicas construtivas características desta arquitetura, tais como os cunhais e o
emolduramento das portas (Figura 42). É possível encontrar as Casas de Eira em todas as
aldeias da RAC, como elemento crucial na afirmação da sua identidade e paisagem cultural,
sendo que é na aldeia de Poios onde existem em maior número. 

Os moinhos de vento constituem também o património construído desta região e


eram construídos, em Sicó, em madeira de carvalho cerquinho ou, menos frequentemente,
em pedra calcária. Estas pequenas construções são, geralmente, de planta circular e têm 

108

Fig. 43. Solução de padieira em arco, Poios Fig. 44. Solução de padieiras triangulares, Chanca

Fig. 45. Solução de padieira quadrangular, Poios Fig. 46. Solução de padieira com lintel de
madeira, Rabaçal

Fig. 47. Intervenções pouco sensíveis ao contexto, Casmilo e Poios


 
109

cerca de cinco ou seis metros de altura, com um particular sistema de rotação em que eram
assentes numa calha em pedra sobre a qual rodavam e se adaptavam às diferentes direções
do vento. Tal como as tipologias construtivas anteriormente referidas, os moinhos
representam igualmente a humanização das paisagens de Sicó, integrando a sua marca e
paisagem identitárias. 

Ora, como dito, os muros de pedra seca são um dos elementos mais presentes,
expressivos e caracterizadores da paisagem cultural de Sicó, integrando igualmente este
património. São extremamente importantes no entendimento da forma como o Homem se
relacionou com este contexto e se foi apropriando do espaço, no fundo uma herança
civilizacional desta região que, por isso mesmo, concorre atualmente à inscrição na Lista de
a Património Mundial da UNESCO. Os muros de pedra seca marcam presença em todas as
aldeias da RAC, mas existem em maior número e de forma mais expressiva na aldeia da
Chanca, onde ladeiam praticamente todas as suas ruas. 

O reflexo das técnicas características da arquitetura vernacular de Sicó está presente


nos edifícios na sua globalidade, mas de forma muito particular e significativa em pequenos
pormenores da construção que representam esta forma simples, mas brilhante de construir.
Além dos pormenores já referidos, as soluções para as padieiras são talvez os que mais
interesse despertam no observador e que surgem de variadas formas pelo território, desde
um desenho triangular, quadrangular ou em arco, até a inserção de um lintel de madeira
(Figuras 43 a 46). 

A arquitetura vernacular de Sicó é, assim, um património construído pelas pessoas


que reflete as respostas às suas necessidades e adaptações ao contexto ao longo do tempo,
no fundo, um património que conta a história de uma civilização pelas soluções que foram
concebendo a partir dos escassos recursos disponíveis. 

Porém, encontramos também em Sicó exemplos de intervenções pouco ou nada


sensíveis a este património construído, revelando incompreensão dos valores e
ensinamentos da arquitetura vernacular, tal como se pode observar na figura 47. Estas
intervenções, mesmo que pontuais, causam um impacto negativo significativo nas paisagens
destes territórios. 

110

 

111

Por isto, é necessário, mesmo que hoje as necessidades a responder sejam mais
complexas, um conhecimento sobre os valores e técnicas da arquitetura vernacular, de
forma que se possam articular com essas mesmas exigências atuais. Só assim, através de um
conhecimento, recuperação e adaptação de técnicas tradicionais, é possível contribuir para
a preservação deste património construído, impedindo que caia no esquecimento. Isto não
se aplica apenas nas intervenções de reabilitação, mas também na nova construção, sendo
necessário, para atingir a harmonia com contexto existente, criar sempre em aproximação
ao lugar e àquilo que lhe confere identidade. 

O património construído vernáculo de Sicó tem, assim, um papel fundamental no


reforço da identidade desta região, bem como na sua valorização e revitalização, sendo um
elemento transmissor de uma cultura civilizacional, de uma relação intrínseca com o lugar e
os seus recursos.

 

112

 

113

O Associativismo em meio rural 

As associações locais têm um papel fundamental para o desenvolvimento dos lugares


e reforço da autoestima das comunidades, contribuindo para a coesão social e territorial,
pela vertente económica, cultural e/ou recreativa. Estas associações surgem de variadas
formas, quer de iniciativas públicas ou privadas, com maior incidência, principalmente em
meio rural, através de agrupamentos espontâneos de grupos de pessoas unidas por
interesses comuns.

A informalidade que existe em meio rural, nos modos de vida e no quotidiano,


permite que estas associações surjam com alguma naturalidade. Os moradores e os agentes
locais são quem acaba por se associar, posicionando-se naquilo que se pode caracterizar
como governança local, ou seja, tomando iniciativas que deveriam partir de entidade
superiores, em busca de benefícios e melhoria da qualidade de vida das populações. (Ribeiro
2020, 9)

O fator de proximidade existente nestas associações permite que as atividades sejam


de caracter participativo, estratégias bottom-up que envolvem todas as partes intervenientes,
nomeadamente as comunidades locais. O facto de os próprios moradores serem chamados
a intervir e a terem uma voz decisiva reforça a identidade coletiva e o sentimento de pertença
nestes lugares. 

As associações promovem o crescimento dos lugares com iniciativas que procuram


a melhoria da qualidade de vida das comunidades, nomeadamente através de um reforço e
desenvolvimento das suas próprias capacidades, como também da divulgação dos seus
próprios territórios e respetivas valências. A presente dissertação debruça-se, assim, sobre
esta problemática e reconhece a importância que as associações locais podem ter para a
revitalização e valorização destes territórios e das suas valências, sejam elas relacionadas com
o património natural ou de carácter cultural e imaterial. Estas associações e as respetivas
iniciativas têm também um papel fundamental no reconhecimento por parte das
comunidades locais dos seus próprios valores e na sua capacitação, reforçando assim a sua
autoconfiança e identidade coletiva. 

114

 

Fig. 48. Centro Recreativo Cultural e Desportivo (CRCD) do Casmilo

115

O Associativismo em Sicó 

A região de Sicó tem muito presente o espírito de associativismo, o que foi possível
constatar através das viagens exploratórias para o estudo das aldeias da RAC e do contacto
direto com as respetivas comunidades. Segundo Catarina Ribeiro (2022) este território conta
com mais de 300 associações distribuídas pelos seis municípios parceiros da RAC e com
diferentes vertentes de ação, nomeadamente de carácter recreativo, social, cultural ou
desportivo. Estas associações locais desenvolvem um importante trabalho de interação e
proximidade com as comunidades locais, dinamizando estes lugares contribuindo assim para
a atratividade. Algumas associações fazem também um importante trabalho nas áreas da
saúde e da segurança social, essencial sobretudo para as populações mais envelhecidas que
carecem de cuidados especiais, permitindo melhorias na sua qualidade de vida e bem-estar. 

A partir do contacto direto com este território e a partir do diálogo com a população
residente e autarcas dos vários municípios, percebeu-se que se reconhece a importância
destas associações locais para o desenvolvimento dos lugares, sendo que algumas atividades
se realizam em cooperação ou apoio dos municípios. Ainda assim, em várias aldeias da RAC,
um dos problemas mais identificado pelos moradores foi a falta de espaços para a reunião
e convívio da comunidade, tal como cafés ou pequenas associações. A criação de espaços
que permitam o convívio entre os vários habitantes contribuiria de forma significativa para
inverter o sentimento de solidão, muito presente sobretudo na população mais idosa, e,
consequentemente, para o reforço do espírito de comunidade e da sua dinamização. 

Apesar de se identificar um elevado número de associações espalhadas pelos seis


municípios, das aldeias que integram a estratégia Aldeias de Calcário, apenas dispõem de
associações Casmilo, Poios e Rabaçal. O Centro Recreativo Cultural e Desportivo (CRCD)
do Casmilo é uma associação criada na década de 1980, construída e financiada pelos
próprios moradores da aldeia. Esta associação realiza atividades com alguma frequência
nomeadamente relacionadas com o desporto de natureza nas Buracas, incluindo caminhadas
pelos trilhos existentes, mas também marchas, passeios de motorizadas, mercados e outras
atividades em conjunto com o próprio município de Condeixa-a-Nova. 

116



 

Fig. 49.  Associação Estrela Poiense, Poios

Fig. 50. Espaço de funcionamento da Companhia da Chanca Fig. 51. Casal morador da aldeia e
fundador da companhia da Chanca

117

Na aldeia de Poios, a Associação Estrela Poiense (Figura 49) tem um impacto
significativo na imagem da aldeia, marcando a zona da entrada, e foi igualmente construída
aos fins-de-semana pelos moradores. Apesar da sua grande dimensão, as instalações desta
associação são visivelmente fracas, estando uma grande parte da construção inacabada. Ainda
assim, contornando esse problema, a Estrela Poiense e os moradores da aldeia organizam
algumas atividades como caminhadas, atividades gastronómicas e festas populares. 

O Centro Social Polivalente do Rabaçal funciona sobretudo com o grupo de Rancho


Folclórico do Rabaçal, que participa em vários eventos, dentro e fora da aldeia. Para além
disso também organiza mercados e feiras relacionados com o produto célebre da região, o
Queijo Rabaçal. 

Além destas associações, merece ainda relevo a Companhia da Chanca, que embora
tenha uma natureza muito diferente, distinguindo-se por se dedicar, sobretudo, ao teatro,
tem desenvolvido um meritório trabalho de projeção da aldeia da Chanca para o exterior,
ajudando a mudar o destino destes territórios. (Luz 2020) Os espetáculos de teatro
realizados na aldeia têm contribuído para fomentar o convívio entre os vários moradores e
para reforçar o espírito de comunidade. Esta Companhia não dispõe de um espaço próprio
para o seu funcionamento, sendo que os ensaios e alguns dos espetáculos se realizam na
habitação dos responsáveis (Figura 50). 

Ora, apesar de se reconhecer uma vontade de estimulação e fomentação destes


locais, através destes centros culturais e associações, a verdade é que os mesmos apresentam
algumas fragilidades, nomeadamente ao nível das suas instalações e das respetivas atividades.
Estas fragilidades advêm, na maioria das vezes, pela falta de meios disponíveis, o que acaba
por resultar em impactos significativos para as próprias aldeias e moradores. 

118

 

Fig. 52. Participação dos estudantes em atividades na aldeia da Ferraria de São João

Fig. 53. Espaço de workshops e forno comunitário, Ferraria de São João

119

A Ferraria de São João: uma aldeia ou uma associação?

Em territórios próximos e semelhantes a Sicó, é também possível identificar este tipo


de iniciativas locais, como é o caso da Ferraria de São João, uma aldeia integrante da Rede
de Aldeias do Xisto, e que se localiza num dos municípios parceiros da Terras de Sicó, o
município de Penela.

Esta aldeia promove inúmeras atividades, principalmente através da Associação de


Moradores, uma associação local que é gerida pela comunidade e que permite a interação
com o visitante (Figura 52). Esta associação, além de contribuir para a divulgação dos
produtos e saberes locais, visto que duas das atividades que se podem realizar consistem em
workshops de queijo e pão, é muito interativa e impulsiona a inclusão participativa da
comunidade local, na medida em que os moradores da aldeia são os principais atores das
iniciativas que se realizam. Para além dos dois projetos mais conhecidos que se desenvolvem
na aldeia da Ferraria, “Aldeia Viva” e “Adoção de Sobreiros”, realizam-se também com
frequência várias ações de voluntariado e uma diversidade de convívios, que têm vindo a
reforçar a coesão social e espírito de comunidade. 

Ora, este tipo de iniciativa, que parte do associativismo, permite recuperar e valorizar
tradições e saberes locais, potenciar e reforçar a economia e desenvolver a oferta turística.
A aldeia da Ferraria de São João é, assim, um exemplo de dinamização e revitalização
territorial, onde as valências do território – os saberes e a cultura local – são usados como
motores de desenvolvimento, bem como a inclusão da comunidade de forma ativa e
participativa. 



Ambos os projetos foram criados pela Associação de Moradores. “Aldeia Viva” - iniciado em 2011, em
parceria com a Câmara Municipal de Penela, inserido no Plano de Animação das Aldeias do Xisto e usufruindo
do cofinanciamento da União Europeia através do programa PROVERE Aldeias do Xisto - é o projeto que
integra os Workshops de Queijo e Pão em forno a lenha. O projeto “Adoção de Sobreiros” surge como uma
resposta ativa aos grandes incêndios de 2017 e consiste na aquisição de sobreiros que depois são “adotados”,
permitindo que qualquer pessoa possa contribuir financeiramente para uma iniciativa de valorização e
salvaguarda desta espécie florestal. 

120

 

121

Em suma, o associativismo pode considerar-se como um importante motor do
desenvolvimento do meio rural, “quer cultural e recreativo, quer desportivo ou social, é
fundamental na “afirmação de identidades coletivas […] [e] no desenvolvimento e
capacitação das pessoas enquanto cidadãs” (Heleno 2019). Baseia-se naquilo que são os
recursos locais, permitindo a partilha de conhecimento e experiências, ou seja, contribuindo
para a valorização, preservação e revitalização destes territórios, precisamente o que esta
dissertação defende.

 

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III. PROPOSTA

 

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A presente proposta defende esta abordagem centrada na valorização da paisagem
cultural do maciço de Sicó e concretiza-se na aldeia da Chanca através de um Plano de Ação
e um projeto de capacitação da comunidade local, acreditando na importância da
consciencialização das pessoas sobre o valor dos patrimónios desta região para a sua própria
sustentabilidade. No fundo, defende-se que a aldeia da Chanca seja um ator da valorização
da paisagem cultural de Sicó e o projeto aqui defendido proporciona o suporte arquitetónico
necessário para esse efeito.

Os programas propostos convergem com os objetivos da estratégia global criada


para a RAC integrada na iniciativa De volta ao rural ou como reforçar a coesão da cidade regional?
e que propõe, através de uma visão integrada do território, intervenções em todas as aldeias
da rede: Ariques (Alvaiázere), Chanca (Penela), Casmilo (Condeixa-a-Nova), Granja (Ansião),
Poios (Pombal) e Pombalinho (Soure). 

Esta estratégia, intitulada Aldeias de Calcário: Polos de Multifuncionalidade, Agregadores


Sociais e Centros de Saber e Experiência (Aldeias de Calcário), baseia-se numa análise atenta
dos problemas e desafios do território e assenta numa visão integrada da rede urbana de
Sicó, incluindo os pequenos núcleos em espaço rural. 

Esta visão, defendida por João Pereira (2022) na sua dissertação com base no
conceito “cidade-região”, procura uma diversificação de propostas em rede que, em
conjunto e de forma complementar, contribuam para o reforço da atratividade destas aldeias
para a fixação de novas atividades e pessoas. O território é tratado através de uma ótica
diferenciada, entendendo Sicó como cidade-região, isto é, como um sistema urbano
policêntrico para o qual se defende o reforço das relações interurbanas e rural-urbanas,
apostando no reconhecimento e valorização dos recursos e valores específicos de cada lugar,
enquanto fatores de desenvolvimento.

 



A este conjunto soma-se a aldeia de Rabaçal, do concelho de Penela, que embora não integre a RAC, foi
contemplada nos trabalhos dos Atelier de Projeto ID e IID nos anos letivos 2021/2022 e 2022/2023.

128

 

Fig. 56. Equipamento de Apoio à Visitação (EAV), Ariques

129

Assim, a estratégia assenta em três pilares de configuração das aldeias da RAC como
Polos de Multifuncionalidade, Aglutinadores Sociais e Centros de Saber e Experiência. Estes
três pilares desdobram-se em eixos e objetivos estratégicos que visam a revitalização das
aldeias com um método de cooperação, isto é, procurando redes de relações funcionais
entre as aldeias e entre estas e o sistema urbano de que fazem parte. 

Os eixos estratégicos de intervenção, a partir dos quais são estabelecidos diferentes


objetivos, procuram: a criação de sinergias e promoção da multifuncionalidade; o reforço e
capacitação do associativismo; a valorização e requalificação do espaço público; a
sustentabilidade e bem-estar da população; a valorização do património natural e cultural; e
o desenvolvimento de um turismo sustentável e de base local. 

Neste sentido, para a implementação da estratégia Aldeias de Calcário, elaborou-se


um Plano de Ação para cada uma das aldeias em estudo, Planos que estabelecem uma visão
de futuro para cada aldeia que se traduz em objetivos específicos e é concretizada através
de ações e intervenções estruturantes, tanto no seu espaço físico, como no espaço
socioeconómico. Todos os Planos contêm propostas de integração de novas atividades,
preferencialmente com a reabilitação de edificado, e requalificação do espaço público das
aldeias visando configurar centros de identidade, incluindo a integração do Equipamento de
Apoio à visitação (EAV) (Figura 56). O objetivo principal de cada Plano de Ação é a
revitalização destes pequenos núcleos no espaço rural de Sicó e, desse modo, o reforço da
coesão do sistema urbano policêntrico da região. 

No caso do Plano de Ação para a aldeia de Ariques, a estratégia “Ariques Integra”,


elaborada pelas colegas Joana Ramos e Giulia Campos, alicerça-se em três conceitos:
Natureza, Cultura e Cidadania. As ações propostas são complementares e visam a
preservação do património natural e construído, com uma perspetiva integrada no projeto
de urbanidade subjacente à estratégia Aldeias de Calcário. 



O Equipamento de Apoio à Visitação (EAV) é um equipamento publico previsto no Plano Integrado de
Intervenção Rede de Aldeias de Calcário: 6 aldeias, 12 experiências. Tem como principais objetivos dinamizar
e criar um elemento conetor e identitário entre as várias aldeias da Rede, estando prevista a instalação de um
equipamento em cada uma. O EAV é uma pequena construção, com cerca de 9m2 de implantação, e servirá
informações gerais sobre o território, bem como um pequeno espaço de repouso. 

130

 

Fig. 57 e 58. Plano de Ação para a aldeia de Ariques – “Ariques Integra”

131

Para isso, o Plano prevê a introdução de novos programas: um deles dedicado à
peregrinação, justificado por a aldeia ser atravessa pela Rota Carmelita e pelo Caminho de
Santiago, outro dedicado à população idosa, um centro sénior designado Aldeia Lar no
âmbito do Plano de Ação.

Em ambos os casos, existem valências que se complementam e que se servem


igualmente aos habitantes da aldeia, bem como de novos moradores.

O Plano integra também ações para o tratamento e requalificação do espaço público,


que passam principalmente por diminuir o impacto do tráfego automóvel e favorecer o uso
pedonal do sistema de espaço público da aldeia. Para isso, é prevista uma melhor integração
do EAV da RAC, já construído, e a criação de um novo perfil de rua conseguido com o
condicionamento do tráfego automóvel a um único sentido de circulação. Em conjunto, estas
intervenções procuram o reforço da imagem identitária da aldeia, bem como uma maior
segurança e integração do caminhante no percurso.

Posto isto, as propostas do Plano são organizadas em dois grandes grupos de ações,
com diferentes propósitos: por um lado, uns que servem toda a comunidade, por outro,
programas com um público-alvo mais específico, neste caso, o peregrino e o caminhante, e
a terceira idade. Os dois projetos propostos (re)qualificam as duas principais entradas da
aldeia, a nascente e a poente.

O projeto direcionado ao apoio ao peregrino ± que se integra numa estratégia


própria que se traduz em intervenções noutra aldeia da RAC que é igualmente atravessada
pela Rota Carmelita, Granja (Ansião) ± parte da valorização deste caminho de peregrinação
e tem como principal objetivo a criação de contributos para o desenvolvimento de Sicó
através do apoio e integração do caminhante, e da valorização dos patrimónios de Sicó. Na
aldeia de Ariques, esta estratégia traduz-se no Abrigo Carmelita, um complexo de apoio ao
peregrino que é composto, a partir da reabilitação de pequenos edifícios e de novas
construções, pelas valências de alojamento, espaços de cuidados médicos e fisioterapia, e
ainda, espaços dedicados à oração.

132

 

Fig. 59 e 60. Plano de Ação para a aldeia do Casmilo – “Passar e Morar”

133

Ainda na aldeia de Ariques, o projeto Aldeia Lar visa uma melhor integração social
do idoso e a projeção de boas práticas para um envelhecimento ativo e saudável em Sicó. A
partir da reabilitação e construção nova de edifícios, este centro sénior, conta com um
programa não só de alojamento, mas também de espaços de lazer e restauração, sendo que
servem também toda a comunidade local. 

No caso de Casmilo, aldeia da RAC pertencente a Condeixa-a-Nova, o Plano de


Ação “Casmilo, Um Projeto de Revitalização do Rural” organiza os seus objetivos em torno
de dois conceitos: Morar e Passar. No fundo, defende uma estratégia com objetivos
pensados para o visitante e para os moradores da Aldeia. Desenvolvido pelos colegas André
Correia e Matthias Voulouzan, centra-se na valorização do património natural da aldeia,
nomeadamente as Buracas, que caracterizam de forma particular esta paisagem, com o
objetivo de tornar a aldeia não só num importante ponto turístico – Passar. Mas, a par das
propostas pensadas para o visitante, como uma loja de produtos endógenos e um serviço
de bike sharing, o Plano prevê um restaurante e um bar associados a uma cooperativa
agrícola, e um centro de formação em escalada, procurando reforçar a economia do lugar
e fixar novos residentes – Morar. Pensando nos moradores da aldeia, o Plano prevê a
requalificação de duas zonas de espaço público, com a criação de pequenos largos, a
repavimentação de ruas e a redefinição dos sentidos de circulação automóvel, criando
condições para um convívio entre automóvel e peão; e ainda a criação de bolsas de
estacionamento automóvel e de aluguer de bicicletas. 

A proposta do Centro de Escalada Indoor de Sicó (CEIS) tem como principal


objetivo a formação para a atividade de escalada, preparando os desportistas para o
montanhismo em Sicó, nomeadamente nas Buracas do Casmilo ou no Canhão de Poios.
Desta forma, este projeto procura apoiar o desporto de natureza, incentivando a prática de
escalada em Sicó e integrando o desportista, contribuindo assim para a valorização da
paisagem natural da região. Além do CEIS, a proposta desenvolvida pelo colega André
Correia integra ainda programas de apoio ao Centro Recreativo do Casmilo e a criação de
um parque, contribuindo para a dinamização e revitalização da aldeia. 

134

 

Fig. 61. Plano de Ação para a aldeia da Granja – “Granja: Coliving & Coworking”

135

“Granja: Coliving & Coworking” é o título da estratégia desenvolvida pelos colegas
José Ferreira e Ana Neves para a aldeia da Granja, do concelho de Ansião. O respetivo Plano
de Ação tem como principal objetivo reverter um dos principais problemas do espaço rural:
o decréscimo demográfico, uma realidade que na aldeia da Granja se faz sentir de forma
intensa. Na tentativa de fazer face a esta tendência, procura-se reforçar a atratividade da
aldeia com dois projetos: um Centro de Coworking e uma Cooperativa de Habitação e
Produção Agrícola. 

Como referido antes, o Plano de Ação para a Granja conta ainda com uma valência
dedicada ao peregrino, um Centro de Cuidados Médicos, que serve tanto o peregrino como
a comunidade local e de proximidade. 

Embora a Granja seja uma pequena aldeia, o seu crescimento mais recente
prejudicou a qualidade e coerência do espaço construído. Por isso o Plano integra propostas
que visam a requalificação da rede viária e o reforço da sua coesão e integração no território.

Assim, de forma a tornar a aldeia mais unitária, prevê-se a criação de uma nova
urbanização que liga os dois núcleos de Granja, um mais antigo e originário, e outro de
construções mais recentes. Esta intervenção, associada ao projeto da Cooperativa de
Habitação, almeja, além do reforço da coesão da aldeia, a sua revitalização e o reforço da
sua atratividade. 

O espaço público é igualmente requalificado, nomeadamente ao redor da Capela de


Nossa Sr.ª da Orada e da zona de entrada na aldeia, através da renovação do equipamento
existente e criação de novos espaços de lazer e encontro da comunidade.

Na aldeia de Poios, o Plano de Ação, desenvolvido pelas colega Andreia Guimarães


e Bárbara Rocha, intitula-se de “Poios no Mundo”. No fundo, é um Plano que tem a ambição
de projetar a aldeia para o exterior, através da valorização do seu património vernacular e
da instalação de uma unidade de ensino alternativo. Os principais objetivos do plano passam
pela dinamização sociocultural da aldeia, o reforço das relações intercomunitárias e
intracomunitárias, e ainda, a requalificação de espaços públicos, nomeadamente a
reestruturação das duas entradas da aldeia.

136

 

Fig. 62 e 63. Plano de Ação para a aldeia de Poios – “Poios no Mundo”

137

Deste modo, o Plano integra dois projetos estruturantes: um Polo de Turismo de
Base Comunitária e uma Comunidade de Aprendizagem. Em ambos os casos, pretende-se
que sejam criados impactos diretos na comunidade local através do seu envolvimento nas
atividades de cada um dos programas. 

As intervenções no espaço público da aldeia de Poios procuram, além da sua


requalificação, uma melhor integração e segurança do peão na via pública, contando com o
reordenamento do tráfego automóvel e o reperfilamento e repavimentação das vias. 

O projeto de turismo de base comunitária é proposto com o pressuposto de a sua


gestão ser assegurada pela associação local, a Estrela Poiense, e resulta da reabilitação de um
conjunto de edifícios diretamente associados à agricultura para as unidades alojamento, bem
como das instalações da referida associação, localizada na entrada nascente da aldeia, onde
se concentram os serviços comuns.

De todo o conjunto de aldeias da RAC, Poios é que possui o maior número de casas
de eira, denotando a importância que a agricultura terá tido ao longo da sua história. Desde
modo, através desta proposta, o Plano de Ação pretende valorizar o património construído
vernacular com um programa que procura a integração do visitante na atividade quotidiana
da aldeia, ou seja, com o modelo de turismo de experiência em que a própria comunidade
local é um dos seus principais atores. 

No lado oposto da aldeia, na entrada poente, o Plano de Ação prevê a instalação de


uma Comunidade de Aprendizagem de Poios (CAP), isto é, uma unidade de ensino
alternativo, pensada como uma reinvenção da escola rural, onde as valências do território
integram o próprio ensino. Este é um projeto inspirado na Comunidade de Aprendizagem
das Cerejeiras (CAC), localizada na aldeia do Rabaçal, que usa o Método Montessori e cuja
pedagogia tem trabalhado no sentido de produzir resultados ao nível da inserção e
integração na comunidade local. Na verdade, a CAC, tem vindo a mostrar ser uma ponte
de ligação do espaço rural de Sicó ao exterior, nomeadamente ao estrangeiro. 

138

 

Fig. 64. Plano de Ação para a aldeia de Pombalinho 

139

De facto, como se pode confirmar durante o trabalho de campo, existem famílias
que se mudaram propositadamente para esta região, para que os filhos frequentassem esta
Comunidade. Dentro deste mesmo tema e igualmente integrada na iniciativa De volta ao
rural..., foi já defendida uma dissertação, pela aluna Inês Bailão, onde se propõe uma
Comunidade de Aprendizagem na aldeia do Casmilo, que questiona igualmente o ensino
tradicional e o papel da escola no rural.

Deste modo, a proposta de criação da CAP em Poios é pensada com um


funcionamento em rede destes três polos e em todos os casos, a aldeia onde estão inseridos
é ela própria um espaço educativo, com a interação entre a comunidade local e as crianças. 

Para Pombalinho, o Plano de Ação, desenvolvido pelo colega Marcelo Cancela, é


dominado pela proposta da criação de novas atividades que procuram valorizar a paisagem
cultural de Sicó. Para isso, prevê a criação de dois importantes equipamentos cujos
programas correspondem a objetivos que se complementam: o Laboratório do Património
e um Centro Formativo de Arquitetura Vernacular (CeFAV) que, em conjunto, dão corpo
a uma visão para aldeia como “capital” dos patrimónios de Sicó. O primeiro é pensado como
um organismo dedicado à valorização dos patrimónios de Sicó, tendo como principal alvo a
comunidade local. Por sua vez, o CeFAV dirige-se especificamente ao património construído
vernacular de Sicó e assenta na ideia de ser fundamental, para a sua salvaguarda, a
revitalização e transmissão dos saberes-fazer na arte de construir.

Além destes da instalação destes dois equipamentos, o Plano prevê igualmente


intervenções no espaço construído e uma das mais importantes ações é a criação de uma
nova via de circulação automóvel, exterior ao perímetro da aldeia, com o objetivo de
reforçar a segurança do peão ao longo da Rua Principal. 

O Plano propõe ainda a requalificação de espaço publico e criação de espaços verdes


e de estar, nomeadamente no acompanhamento de uma rota pedonal dedicada aos muros
de pedra seca, um percurso com seguimento para outras aldeias da RAC, o que fomenta



O Laboratório do Património corresponde ao projeto desenvolvido por Inês Gouveia no ano letivo
2020/2021, no âmbito da iniciativa De volta ao rural ou como reforçar a coesão da cidade regional? Porém, o
colega Marcelo Cancela considerou que se deveria manter enquanto proposta do presente Plano de Ação.

140

 

Fig. 65 e 66. Plano de Ação para a aldeia do Rabaçal – “Rabaçal Resiliente”

141

um estilo de turismo mais saudável e interativo, reforçando as relações com as aldeias mais
próximas.

O Plano propõe ainda a requalificação de espaço publico e criação de espaços verdes


e de estar, nomeadamente no acompanhamento de uma rota pedonal dedicada aos muros
de pedra seca, um percurso com seguimento para outras aldeias da RAC, o que fomenta
um estilo de turismo mais saudável e interativo, reforçando as relações com as aldeias mais
próximas. 

O projeto do Centro Formativo de Arquitetura Vernacular (CeFAV), resultante da


reabilitação de um conjunto de edifícios devolutos, tem como principal objetivo, além do
reforço da economia local e a criação de emprego, a valorização do património construído
vernacular de Sicó. Resulta num centro formativo constituído por um polo prático e outro
teórico, onde será possível ensinar, praticar e divulgar os métodos construtivos tradicionais,
característicos da arquitetura vernacular da região. O próprio projeto pretende ser um
exemplo de boas práticas de reabilitação e da aplicação de técnicas construtivas tradicionais
nos dias de hoje. 

“Rabaçal Resiliente” é uma estratégia proposta pelos colegas Alexandre Pinto e Diana
Cunha para esta aldeia de Penela e assenta em três vetores temáticos de ação: História,
Economia e Social. O principal objetivo de Plano de Ação, como o título da estratégia
permite adivinhar, é a criação de soluções para diminuir a sua vulnerabilidade e os fatores
que vêm fragilizando os territórios de baixa densidade referidos na primeira parte desta
dissertação. Assim, o Plano organiza um conjunto de propostas de desenvolvimento do
Rabaçal que assentam, precisamente, em duas das suas principais forças: o sítio arqueológico
da Villa Romana e o Queijo Rabaçal. 

Deste modo, para o vetor de ação “História”, o Plano propõe uma intervenção na
zona norte da aldeia, incidindo a continuidade dos trabalhos encetados pela Câmara
Municipal de Penela para a criação de um Complexo Arqueológico da Villa Romana do
Rabaçal, propondo a integração de um Laboratório de Investigação com uma valência de
armazenamento de achados, dedicado a toda a região centro. 

142

 

143

O espaço público da aldeia caracteriza-se, além dos arruamentos, por um pequeno
largo em frente à capela, no qual está implantado um pequeno parque infantil, embora
degradado por inutilização, dada a falta de crianças em Chanca. Além disso, junto à entrada
sul da aldeia, existe uma pequena construção que serve de palco aquando das festividades
locais. 

Apesar das fragilidades, Chanca é uma das aldeias da RAC que reflete de forma mais
expressiva os valores da Paisagem Cultural da região de Sicó, nomeadamente o património
construído vernacular onde a pedra calcária assume um papel determinante na imagem
global da aldeia. 

Do património que caracteriza Sicó, os muros de pedra seca são o elemento mais
emblemático e caracterizante das suas paisagens, com particular incidência na aldeia da
Chanca, onde existem em maior número e mais bem preservados. Na aldeia, os muros
ladeiam maioria das suas vias, reforçando a sua imagem identitária e da RAC, tendo
igualmente um peso significativo no entendimento da história destes lugares, pois é possível
perceber, de forma mais clara, a apropriação dos terrenos pelo Homem. 

É igualmente importante referir o restante património construído vernáculo presente


na aldeia, nomeadamente as suas casas de eira e algum edificado habitacional, que são
atributos importantes da Paisagem Cultural de Sicó e da Rede de Aldeias de Calcário. Os
edifícios, construídos em alvenaria de pedra calcária, são imersos em valores e saberes-fazer
que constituem a sua significância cultural e que se entende nesta proposta que é uma força
deste território. Transparecem a cultural e os valores enraizados do lugar e da sua
comunidade, cada vez mais escassos, mas por isso mais valiosos, pela passagem do tempo e
das gerações. 

 

150



 

Fig. 78. Esquema de intervenção na aldeia da Chanca

151

onde o visitante se pode preparar para a experiência da produção do queijo, e é também
nele onde estão as câmaras de cura e conservação, e uma pequena zona de embalamento
e armazenamento.

Sendo a Oficina um programa excecional na aldeia, a sua linguagem construtiva foi


pensada para reforçar esse caráter excecional, assumindo-se com uma imagem
contemporânea, mas sensível ao contexto e ao património construído vernáculo da região.
Para isso, propõe-se uma construção em betão branco à vista e uma cobertura com
estrutura em madeira revestida a camarinha de zinco. 

A cofragem do betão é criada com tábuas de madeira na horizontal e com uma


textura pouco rígida, remetendo à horizontalidade da alvenaria dos muros de pedra seca,
nomeadamente os que existem em redor da Oficina. Em contraste, propõe-se a colocação
de portas e portadas rilhadas de madeira nos vãos que se considera terem maior relevância
para o programa e maior interação com o espaço público exterior, nomeadamente na
entrada principal, a norte, e na fachada nascente do edifício. 

A entrada principal da Oficina tem, ela própria, um carácter excecional, pelo aparente
“deslocamento” da estrutura de betão em relação ao restante edifício, que cria um espaço
exterior coberto e que se distingue do resto do edifício pela sua materialidade. Este espaço
é delimitado com uma estrutura e revestimento em madeira, integrando a porta rilhada,
parecendo um “esqueleto” do edifício. A escolha da madeira como revestimento permite
que este espaço tenha uma expressão distinta, mas provoca uma afinidade entre técnicas
construtivas distintas, dado a cofragem do betão ser feita com um réguas. 

No interior do edifício, nos espaços de trabalho e circulação, as paredes são


revestidas com azulejo branco até à padieira dos vãos, e o pavimento é revestido, na
totalidade, com manta vinílica. A escolha destes revestimentos, além de considerar uma
melhor trabalhabilidade e limpeza do espaço, tem como objetivo manter um diálogo fluido
entre diferentes linguagens. 

A estrutura da cobertura é composta por um sistema de asnas em lamelado de


madeira, o que reflete a intenção de trazer para este projeto, embora com soluções 

176

construído vernáculo, como dos saber-fazer associados ao queijo que começam na pastagem
dos animais. 

O Curral implanta-se num terreno baldio na zona poente da aldeia e a estratégia


adotada para a sua construção parte de uma intenção de se experienciar a arquitetura
vernacular na “magnificência da sua simplicidade”. Para isto, propõe-se uma construção em
alvenaria de pedra seca, com cobertura de uma água em estrutura de madeira e finalizada
com telha canudo. 

O programa funcional distribui-se de forma simples com duas zonas dedicadas ao


gado – para alimentação e/ou ordenha e descanso –, e uma pequena zona para o pastor,
com arrumos e um sanitário. 

De forma a evitar problemas estruturais e dar maior resistência à alvenaria de pedra


seca, propõe-se a colocação, pontualmente, de fiadas argamassadas de pedra regular A
solução adotada para a divisão do espaço interior é de uma estrutura leve de madeira,
construída a partir de um sistema de pilares cujo posicionamento segue a métrica estrutural
da cobertura. 

Neste projeto merecem relevo duas soluções arquitetónicas inspiradas em


construções vernaculares diversas existentes em várias aldeias da RAC. Uma delas baseada
num sistema de recolha das águas pluviais que se faz através do perfil da parede mais baixa
do telhado, e que culmina num reservatório de água que é integrado na construção do
próprio curral. A outra diz respeito ao uso de duplo lintel de madeira para vencer os vãos
na alvenaria de pedra e suportar uma padeira em pedra. 

Dos projetos aqui apresentados, a proposta do Curral é a construção que reflete de


forma mais autêntica os valores da arquitetura vernacular de Sicó. Além da proposta de um
programa que valoriza por si só os valores culturais desta região, a arquitetura tem um papel
fortemente importante, de forma particular, para a divulgação deste património construído.
Por isso se pensa que a própria construção deste pequeno edifício pode integrar as ações
que a Terras de Sicó e as seis Câmaras Municipais parceiras deverão desenvolver no âmbito 

 

180

do processo de candidatura da Arte de Construção em Muros de Pedra Seca a Património
Cultural Imaterial da Humanidade. 

Em suma, a proposta para o Centro de Valorização da Paisagem Cultural de Sicó na


aldeia da Chanca, centra-se no reconhecimento de a significância cultural dos recursos locais
da região ser uma força para alavancar o seu desenvolvimento. Assim, defende-se que todos
os projetos e programas propostos darão, em cooperação, um importante contributo e
densificarão o projeto de urbanidade defendido na estratégia global Aldeias de Calcário, Polos
de Multifuncionalidade, Agregadores Sociais, Centros de Saber e Experiência. De facto, o
complexo proposto é Centro de Saber e Experiência, contando para isso com a Oficina do
Queijo e o Curral, e um Aglutinador Social, contando para isso com o Centro Comunitário. 

 

182

 

183

Considerações finais 

A presente dissertação defende, através da compreensão e de um olhar critico sobre


o território, uma estratégia de desenvolvimento integrado baseada nas valências e recursos
de Sicó, com o objetivo de revitalizar, dinamizar e capacitar um conjunto de aldeias desta
região. 

Apesar de se reconhecerem diversas fragilidades no espaço rural resultantes do


abandono e envelhecimento populacional, bem como da escassez de serviços e atividades
daí resultante que tornaram estas áreas territórios de baixa densidade, também são lugares
que possuem características distintivas. O valor cultural dos seus patrimónios e as relações
intrínsecas que estabelece com o meio natural, são forças destes lugares e que os tornam
destinos cada vez mais procurados pelas populações citadinas, como forma de
descompressão e alívio da agitação urbana. 

As estratégias que há muito têm vindo a ser adotadas para o desenvolvimento destes
territórios, baseadas na maioria das vezes em modelos de turismo de visitação e resultantes
de medidas de política de cariz top-down, têm contribuído muito pouco para a sua
revitalização. Por isto, esta dissertação defende um modelo de turismo diferente baseado
nos recursos de cada lugar e na participação ativa da comunidade local, uma abordagem de
cariz bottom-up que se faz a partir de um método de cooperação e partilha de saberes e
tradições entre os vários agentes do território. Um turismo que não é apenas turismo, ou
seja, que não se define pela simples e rápida visitação, sem uma experiência imersiva no local
e com o local. 

No fundo, a proposta parte de um entendimento do território como um sistema


relacional e defende, antes de qualquer introdução de atividades e iniciativas, um reforço do
associativismo e da autoestima das comunidades, reconhecendo-lhes o valor cultural que
possuem, entendendo-as como os principais atores de um modelo de turismo que não se
limita a receber o visitante, mas integrando-o nas dinâmicas socioculturais das próprias
comunidades. 

184

 

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Esta dissertação alerta, assim, para a importância e urgência da adoção de políticas
territoriais baseadas numa nova governança que questione as abordagens adotadas até agora
e que considere as especificidades e necessidades de cada lugar. Só assim é possível gerir
conscientemente os recursos locais e contribuir para a inversão das assimetrias territoriais.

O presente trabalho, inserido na iniciativa De volta ao rural ou como reforçar a coesão


da cidade regional? entende Sicó como cidade-região, ou seja, um sistema urbano relacional,
e pretende contribuir para a revitalização das aldeias da RAC, reforçando a sua atratividade,
autoconfiança e melhoria das condições de habitabilidade.

A definição dos programas propostos foi feita em diálogo com as camaras municipais
e os moradores das várias aldeias. Esta interação permanente permitiu uma intervenção
integrada, respondendo, assim, às necessidades especificas de cada lugar e das suas
comunidades, bem como contribuindo para a revitalização deste território.

A proposta do Centro de Valorização da Paisagem Cultural de Sicó, na aldeia da


Chanca, pretende, assim, demonstrar a importância do reforço do associativismo e do
espírito de comunidade para o desenvolvimento dos lugares, e para o reforço da sua
identidade e coesão social. A comunidade local deve ser o principal interveniente e
beneficiário nos diferentes programas e atividades, por ser uma parte essencial integrante da
paisagem cultural de Sicó, e quem possui as tradições e saberes que se pretendem valorizar,
neste caso o saber-fazer do Queijo Rabaçal.

Este Centro possibilita um funcionamento em rede e cooperação com outros


programas noutras aldeias da RAC, nomeadamente na aldeia de Pombalinho, com
programas dedicados à valorização do património construído vernáculo de Sicó, e em Poios
com uma proposta de turismo de base comunitária, bem como com outras iniciativas criadas
pela Terras de Sicó ou pelas autarquias parcerias desta associação.

Ora, este trabalho admite que solução para o problema que esta dissertação trata
não se resolve plenamente com a proposta defendida. Isto é, apesar de se responder aos
objetivos propostos, reconhece-se que a solução para o problema em causa, que é plural e
complexo, deve ser ela também plural. Por isso, os contributos para a sua concretização

186

 

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resultarão de trabalho em cooperação com outras iniciativas que se dediquem a outros
vetores de ação, tal como proposto na estratégia Aldeias de Calcário: Polos de
Multifuncionalidade, Agregadores Sociais, Centros de Saber e Experiência. 

O projeto de arquitetura proposto resulta na reabilitação de dois edifícios da Chanca,


aldeia de Penela, e na proposta de duas novas construções que consideram os valores da
arquitetura vernacular, referenciando e reinventando as suas técnicas construtivas, e
adaptando-as às necessidades atuais e programáticas. Os projetos contribuem, assim, para a
requalificação da imagem da aldeia e para a valorização do património construído de Sicó,
permitindo-lhe uma continuidade no tempo de forma que estes valores não se percam. 

O presente trabalho pretende, desta forma, demonstrar que os recursos e valores


de cada lugar devem considerar-se como elementos fundamentais e decisivos para o seu
desenvolvimento. As intervenções no território, nomeadamente nos de baixa densidade,
devem reconhecer, as particularidades de cada sítio, para que o planeamento territorial possa
ser sustentável e integrado, revertendo os seus desequilíbrios. 

Nesse âmbito, o papel da arquitetura é crucial.

 

188

 

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Arquitetura. Faculdade de Ciências e Tecnologias, Universidade de Coimbra, Coimbra.
https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/99415 

Reis, Paula. Desenvolvimento Local Em Áreas Rurais de Baixa Densidade: Uma Proposta de
Intervenção Para as Aldeias Históricas de Portugal de Trancoso e Marialva. Em Revista Turismo
& Desenvolvimento. IPP -C3i – Comunicações em Congressos. 2012. 177-193.
http://hdl.handle.net/10400.26/4073 

Reis, Paula. Desenvolvimento Local: O binómio turismo/áreas rurais nas estratégias de
desenvolvimento local. “Exedra”, nº6. 2012. 155-172. 

Ribeiro, Catarina. 2022. CRCD Casmilo: Um projeto de urbanidade para as aldeias de Sicó.
Dissertação no âmbito do Mestrado Integrado em Arquitetura. Faculdade de Ciências e
Tecnologias, Universidade de Coimbra, Coimbra. 
https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/104777 




196



 

197

Ribeiro, Fernando Vítor Félix. 2017. Práticas de reabilitação em áreas rurais. Contributos para
uma metodologia de intervenção a partir da experiência dos programas de revitalização de aldeias
em Portugal. Dissertação de Doutoramento. Faculdade de Arquitetura, Universidade de
Lisboa. 

Ribeiro, Sofia. 2020. Governança rural e Desenvolvimento local: um caso de associativismo no
concelho de Tomar. Dissertação de Mestrado, Universidade de Lisboa.
https://repositorio.ul.pt/handle/10451/43498 

Ribeiro, Vítor e Miguel Reimão Costa. Conservação e Revitalização do Património Rural:
Contributo para a definição de alguns princípios fundamentais a partir de uma experiência
particular. Em: “Anuário do Património: Boas Práticas de Conservação e Reabilitação.” 2014.
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https://www.academia.edu/35235001/Conserva%C3%A7%C3%A3o_e_revitaliza%C3%A7
%C3%A3o_do_patrim%C3%B3nio_rural_Contributo_para_a_defini%C3%A7%C3%A3o_
de_alguns_princ%C3%ADpios_fundamentais_a_partir_de_uma_experi%C3%AAncia_parti
cular 

Rotondo, Francesco. Selicato, Francesco. Marin, Vera. Galdeano, Josefina López. 2016.
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Development in Eastern Europe. Suiça: Springer International Publishing.

Ruskin, John. 1885. The Seven Lamps of Architecture. New York: John Wiley & Sons.

Seixas, Joana. 2016. Remanescências culturais da Idade Média no concelho de Penela: Proposta
de um percurso turístico interpretado para crianças e respetivo guia de atividades. Dissertação de
Mestrado, Escola Superior Agrária de Coimbra.
https://comum.rcaap.pt/handle/10400.26/13480

Silva, Carlos. 2011. Sicó a dimensão cultural das paisagens - Um Estudo de Turismo Nas Suas
Vertentes Cultural e Natureza. Dissertação de Doutoramento, Faculdade de Letras,
Universidade de Coimbra. http://hdl.handle.net/10316/18466 

Silva, Elsa Peralta. Património e Identidade. Os Desafios do Turismo Cultural. “Antropológica”,
nº4. 2000. Universidade Técnica de Lisboa. 218-224. 


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199

Silva, João. 2022. Um Roteiro para a Elaboração de Programas de Turismo Rural de Base
Comunitária com Enfoque na Salvaguarda do Património Rural de Portugal. Dissertação de
Mestrado em Reabilitação Urbana Integrada. Faculdade de Ciências e Tecnologias,
Universidade de Coimbra. 

Smith, Laurajane. 2006. Uses of Heritage. 1ª edição. New York: Routledge in Taylor & Francis
Group. 

Portas, Nuno. 1985. Notas sobre a intervenção na cidade existente.Sociedade e Território (4).8-
13.

UNESCO. 1972. Convenção para a Proteção do Património Mundial, Cultural e Natural. Paris:
17 de outubro a 21 de novembro. https://whc.unesco.org/archive/convention-pt.pdf.

UNESCO. 2011. Operational Guidelines for the Implementation of the World Heritage
Convention. França, novembro 2011. 

Viollet-le-Duc, Eugène-Emmanuel. 1875. Dictionaire raisonné de l'architecture française du XIe
au XVIe siècle. Paris: A. Morel. 


 

200

 

201

Índice de Figuras

Fig. 1. Cartaz do Seminário “Conhecer os recursos e valores de Sicó”. Setembro 2021.


Adelino Gonçalves.

Fig. 2. Visitas de estudo às aldeias – Granja, Poios e Casmilo. Setembro/outubro 2021. Alunos
de Atelier de Projeto D.

Fig. 3. Sessões de apresentação e discussão dos trabalhos. 2021/2022. Adelino Gonçalves.


Fig. 4. Processo de trabalho em Atelier de Projeto D. 2021/2022. Ana Pereira.

Fig. 5. Casa de Eira, aldeia da Chanca, Penela. 2021. Ana Pereira

Fig. 6. População jovem relativamente à população idosa em Portugal. 2018. PNPOT -


Território Portugal: Diagnóstico.

Fig. 7. Mapas de densidade populacional em Portugal. PNCT (Plano Nacional para a Coesão
Territorial) – O Interior em números. INE (Instituto Nacional de Estatística).

Fig. 8. Aldeia do Vieiro, Oliveira do Hospital. Adelino Gonçalves.


Fig. 9. Aldeia da Granja, Ansião. 2021. Alunos de Atelier de Projeto D.

Fig. 10. Aldeia de Monsanto. 2022. Joana Ramos.

Fig. 11. Logótipo da Rede das Aldeias Históricas de Portugal. Disponível em:
https://aldeiashistoricasdeportugal.com/

Fig. 12. Aldeia da Ferraria de São João, Penela. 2022. Ana Pereira

Fig. 13. Logótipo da Rede das Aldeias do Xisto. Disponível em:


https://www.aldeiasdoxisto.pt/pt/
Fig. 14. Muro de pedra seca, aldeia da Chanca, Penela. 2023. Ana Pereira.

Fig. 15. Localização da região de Sicó em território nacional. 2023. Ana Pereira.

Fig. 16. Mapa da região de Sicó com sinalização das principais vias rodoviárias, municípios e
aldeias em estudo. 2023. Ana Pereira.

Fig. 17. Tabela com os números da população residente em Sicó nos anos 2001, 2011 e
2021, com base nos dados do INE. 2023. Ana Pereira.
Fig. 18. Buracas do Casmilo. 2021. Ana Pereira.

Fig. 19. Nossa Senhora da Estrela, Poios. 2020. Adelino Gonçalves.

Fig. 20. Mapa do Património Natural de Sicó. 2023. Ana Pereira.

202

 

203

Fig. 21. Campo de Lapiás, Casmilo. Disponível em: https://viagens.sapo.pt/viajar/viajar-
portugal/artigos/a-morfologia-das-rochas-e-inesquecivel-descubra-o-incrivel-vale-das-
buracas#&gid=1&pid=47

Fig. 22. Dolina, Condeixa-a-Nova. Disponível em: https://cm-condeixa.pt/noticia/1830/

Fig. 23. Aldeia de Ariques, Alvaiázere. 2020. Alunos de Atelier de Projeto C.


Fig. 24. Ruínas de Conímbriga. Disponível em: https://cm- condeixa.pt/turismo/patrimonio/
museus/ruinas-de-conimbriga/

Fig. 25. Mapa do património arquitetónico e arqueológico de Sicó. 2023. Ana Pereira

Fig. 26. Villa Romana do Rabaçal. Disponível em: https://www.patrimoniocultural.gov.


pt/pt/museus-e-monumentos/rede-portuguesa/m/museu-da-villa-romana-do-rabacal/

Fig. 27. Castelo de Montemor-o-Velho. Disponível em: https://www.cm-montemorvelho.pt


/index.php/component/k2/item/140-castelo
Fig. 28. Moinho de Vento, Granja. 2020. Adelino Gonçalves.

Fig. 29. Muros de pedra seca, Chanca. 2022. Ana Pereira.

Fig. 30. Placa de venda de queijo de fabrico caseiro, Rabaçal. 2021. Adelino Gonçalves.

Fig. 31. Queijo Rabaçal. Disponível em: https://www.jornalterrasdesico.pt/2020/04/penela-


serqueijos-baixa-preco-do-queijo-rabacal-dop-para-incentivar-consumo/

Fig. 32. Mel de Sicó. Disponível em: https://www.jornalterrasdesico.pt/2020/09/penela-vespa-


asiatica-e-pandemia-condicionam-feira-do-pouco-mel-do-espinhal/
Fig. 33. Edificado em ruína, Chanca. 2021. Ana Pereira.

Fig. 34. Escadas em pedra calcária, Casmilo. 2021. Ana Pereira.

Fig. 35. Casa de Eira em ruína, Chanca. 2021. Adelino Gonçalves.

Fig. 36. Casa de Eira, Chanca. 2020. Alunos de Atelier de Projeto C.

Fig. 37. Paço dos Jesuítas, Granja. 2021. Alunos de Atelier de Projeto D.

Fig. 38. Casa de Eira, Chanca. 2021. Adelino Gonçalves.


Fig. 39. Solução para recolha de águas pluviais em curral, Casmilo. 2021. Adelino Gonçalves.

Fig. 40. Solução de beirado em pedra calcária em curral, Chanca. 2021. Adelino Gonçalves.

Fig. 41. Cunhal. 2021. Alunos de Atelier de Projeto D.

Fig. 42. Casa de Eira, Poios. 2021. Alunos de Atelier de Projeto D.

Fig. 43. Solução de padieira em arco, Poios. 2021. Alunos de Atelier de Projeto D.

Fig. 44. Solução de padieiras triangulares, Chanca. 2021. Adelino Gonçalves.

204



 

205

Fig. 45. Solução de padieira quadrangular, Poios. 2021. Alunos de Atelier de Projeto D.

Fig. 46. Solução de padieira com lintel de madeira, Rabaçal. 2021. Adelino Gonçalves.

Fig. 47. Intervenções pouco sensíveis ao contexto, Casmilo e Poios. 2021. Alunos de Atelier
de Projeto D.

Fig. 48. Centro Recreativo Cultural e Desportivo (CRCD) do Casmilo. 2022. Catarina
Ribeiro. Disponível em: https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/104777 

Fig. 49. Associação Estrela Poiense, Poios. 2021. Adelino Gonçalves. 

Fig. 50. Espaço de funcionamento da Companhia da Chanca. Disponível em: https://www.


companhiadachanca.pt/residencias.php

Fig. 51. Casal morador da aldeia e fundador da Companhia da Chanca. Disponível em:
https://www.dn.pt/pais/dar-vida-ao-interior-o-papel-principal-de-dois-atores-13083374.html 
Fig. 52. Participação dos estudantes em atividades na aldeia da Ferraria de São João. 2020.
Alunos de Atelier de Projeto C. 

Fig. 53. Espaço de workshops e forno comunitário, Ferraria de São João. 2022. Ana Pereira.

Fig. 54. Conjunto em ruína, Chanca. 2021. Ana Pereira.

Fig. 55. Painéis estratégia Aldeias de Calcário: Polos de Multifuncionalidade, Agregadores


Sociais e Centros de Saber e Experiência. 2021. João Pereira. Disponível em:
https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/99415 

Fig. 56. Equipamento de apoio à visitação (EAV), Ariques. 2021. Alunos de Atelier de Projeto
D. 

Fig. 57. Plano de Ação para a aldeia de Ariques – “Ariques Integra”. 2023. Joana Ramos e
Giulia Campos. 

Fig. 58. Idem.

Fig. 59. Plano de Ação para a aldeia do Casmilo – “Passar e Morar”. 2023. André Correia e
Matthias Voulouzan. 
Fig. 60. Idem.

Fig. 61. Plano de Ação para a aldeia da Granja – “Granja: Coliving & Coworking”. 2023. José
Ferreira e Ana Neves.
Fig. 62. Plano de Ação para a aldeia de Poios – “Poios no Mundo”. 2023. Andreia Guimarães
e Bárbara Rocha. 

Fig. 63. Idem. 

Fig. 64. Plano de Ação para a aldeia de Pombalinho. 2023. Marcelo Cancela. 

206



 

207

Fig. 65. Plano de Ação para a aldeia do Rabaçal – “Rabaçal Resiliente”. 2023. Diana Cunha e
Alexandre Pinto. 

Fig. 66. Idem. 

Fig. 67. Localização da aldeia da Chanca no território de Sicó. 2023. Ana Pereira. 

Fig. 68. Vista do miradouro de Chanca para o Vale do Rabaçal. 2023. Ana Pereira.
Fig. 69. Análise da hierarquia viária e do valor arquitetónico, Chanca. 2023. Ana Pereira.

Fig. 70. Conjunto em ruína, Chanca. 2021. Ana Pereira. 

Fig. 71. Largo da Capela da Chanca. 2022. Ana Pereira.

Fig. 72. Análise do estado de conservação do edificado, Chanca. 2023. Ana Pereira.

Fig. 73. Análise dos usos e funções do edificado, Chanca. 2023. Ana Pereira 

Fig. 74. Parque infantil, Chanca. 2022. Ana Pereira. 

Fig. 75. Zona do palco, Chanca. 2021. Adelino Gonçalves. 


Fig. 76. Muros de pedra seca e construção vernacular, Chanca. 2021. Ana Pereira. 

Fig. 77. Reflexos de uma paisagem de pedra, Chanca. 2021. Ana Pereira. 

Fig. 78. Esquema de intervenção na aldeia da Chanca. 2023. Ana Pereira. 

Fig. 79. Plano de Ação para Chanca. 2023. Ana Pereira, Gonçalo Pereira e Florentin Rocher. 

Fig. 80. Plano de Ação para Chanca. 2023. Ana Pereira, Gonçalo Pereira e Florentin Rocher.

Fig. 81. Esquema da proposta de redefinição dos sentidos de circulação, Chanca. 2023. Ana
Pereira. 
Fig. 82. Esquemas da proposta de repavimentação das vias, Chanca. 2023. Ana Pereira

Fig. 83. Proposta para o novo perfil de rua. 2023. Ana Pereira e Gonçalo Pereira. 

Fig. 84. Zona de chegada sul à aldeia. 2022. Ana Pereira. 

Fig. 85. Largo da Capela e parque infantil. 2022. Ana Pereira. 

Fig. 86. Corte esquemático da proposta para o novo palco. 2023. Ana Pereira e Gonçalo
Pereira. 
Fig. 87. Planta e perfil de intervenção no Núcleo de Espaço Público (NEP) da aldeia. 2023.
Ana Pereira e Gonçalo Pereira. 

Fig. 88. Planta e perfil de intervenção. Escala 1:500. 2023. Ana Pereira.

Fig. 89. Conjunto em ruína a reabilitar. 2021. Adelino Gonçalves. 

Fig. 90. Idem.

208



 

209

Fig. 91. Idem.

Fig. 92. Plantas e cortes – Vermelhos e amarelos: Centro Comunitário. Escala 1:200. 2023.
Ana Pereira.

Fig. 93. Plantas Centro Comunitário. Escala 1:200. 2023. Ana Pereira. 

Fig. 94. Perfis Centro Comunitário. Escala 1:200. 2023. Ana Pereira.
Fig. 95. Fotomontagem Sala da Comunidade. 2023. Ana Pereira.

Fig. 96. Fotomontagem Espaço Exterior da Sala da Comunidade. 2023. Ana Pereira. 

Fig. 97. Perfil Construtivo: Centro Comunitário. Escala 1:50. 2023. Ana Pereira. 

Fig. 98. Estado atual do edifício a reabilitar. 2021. Ana Pereira

Fig. 99. Idem. 

Fig. 100. Idem. 

Fig. 101. Plantas e cortes – Vermelhos e amarelos: Loja. Escala 1:200. 2023. Ana Pereira.
Fig. 102. Plantas Loja. Escala 1:200. 2023. Ana Pereira. 

Fig. 103. Perfil Loja. Escala 1:200. 2023. Ana Pereira. 

Fig. 104. Fotomontagem do espaço de venda da Loja. 2023. Ana Pereira. 

Fig. 105. Referências arquitetónicas. a) João Mendes Ribeiro, Herdade Torre de Palma
https://www.archdaily.com.br/br/757231/intervencao-na-herdade-de-torre-de-palma-joao-
mendes-ribeiro, b) João Mendes Ribeiro, Centro de Artes Contemporâneas
https://www.archdaily.com.br/br/762180/arquipelago-centro-de-artes-contemporaneas-
menos-e-mais-arquitectos-plus-joao-mendes-ribeiro-arquitecto, c) LADO, Casa RR
https://www.archdaily.com.br/br/935575/casa-rr-lado-arquitectura-e
design?ad_medium=gallery, e) DEPA, Casa do Rosário
https://www.archdaily.com.br/br/795392/casa-do-rosario-depa-plus-margarida-leitao 
Fig. 106. Perfil Construtivo: Loja. Escala 1:50. 2023. Ana Pereira. 

Fig. 107. Planta Oficina do Queijo Rabaçal. Escala 1:200. 2023. Ana Pereira. 
Fig. 108. Perfis Oficina do Queijo Rabaçal. Escala 1:200. 2023. Ana Pereira. 

Fig. 109. Fotomontagem da zona de entrada. 2023. Ana Pereira. 

Fig. 110. Fotomontagem do espaço de receção a atividades. 2023. Ana Pereira. 

Fig. 111. Fotomontagem da zona de trabalho. 2023. Ana Pereira.


Fig. 112. Perfil Construtivo: Oficina do Queijo Rabaçal. Escala 1:50. 2023. Ana Pereira. 

210

 

211

Fig. 113. Referências arquitetónicas. a) João Mendes Ribeiro, Casa Fonte Boa
https://www.archdaily.com.br/br/778793/casa-fonte-boa-joao-mendes-ribeiro, b) João
Mendes Ribeiro, Casa na Chamusca da Beira https://www.archdaily.com.br/br/788553/casa-
na-chamusca-da-beira-joao-mendes-ribeiro, c) Baukooperative, Jardim de Infância Ramsau
https://www.archdaily.com.br/br/962467/jardim-de-infancia-ramsau-baukooperative, d)Lúcio
Rosato, La Casa Tra Le Case https://divisare.com/projects/297170-luciorosato-iacopo-
pasqui-la-casa-tra-le-case , e) Etar Arkitekter, Casa em Gotland https://etat.se/House-on-
Gotland
Fig. 114. Planta Curral. Escala 1:200. 2023. Ana Pereira. 

Fig. 115. Fotomontagem do espaço exterior. 2023. Ana Pereira. 

Fig. 116. Perfil Construtivo: Curral. Escala 1:50. 2023. Ana Pereira. 

Fig. 117. Fotomontagem do espaço interior. 2023. Ana Pereira. 


Fig. 118. Idem. 

 

212

 

213

Anexos 


Programa da iniciativa De volta ao rural ou como reforçar a coesão da cidade regional? 

Fotografias de Maquetes 

Desenhos

Painéis 

214

Sumário de desenhos e painéis

1. Painel Síntese – Centro de Valorização da Paisagem Cultural de Sicó

Plano de Ação - Chanca

1. Plano de Ação – Síntese 1. Chanca: Paisagem, Cultura e Património.

2. Plano de Ação – Síntese 2. Chanca: Paisagem, Cultura e Património.

3. Plano de Ação – Espaço público. Chanca: Paisagem, Cultura e Património.

00. Planta e perfil de intervenção | Escala 1:500.

Centro Comunitário

CC01. Planta do piso térreo: Centro Comunitário | Escala 1:200.

CC02. Planta do piso superior: Centro Comunitário | Escala 1:200.

CC03. Perfis 1, 2 e 3: Centro Comunitário | Escala 1:200.

CC04. Perfis 4 e 5: Centro Comunitário | Escala 1:200.

CC05. Plantas construtivas – secção: Centro Comunitário | Escala 1:50.

CC06. Perfil construtivo: Centro Comunitário | Escala 1:50 e 1:20.

2. Centro Comunitário: Painel síntese | Escala 1:200

3. Centro Comunitário: Painel construtivo | Escala 1:50 e 1:10

Oficina do Queijo Rabaçal e Loja de Produtos Locais

QL01. Planta do piso térreo: Oficina do Queijo Rabaçal e Loja de Produtos Locais | Escala
1:200.

QL02. Planta do piso superior: Loja de Produtos Locais | Escala 1:200.

QL03. Perfis 6 e 7: Loja de Produtos Locais | Escala 1:200.


QL04. Perfis 8 e 9: Oficina do Queijo Rabaçal | Escala 1:200.

QL05. Perfis 10 e 11: Oficina do Queijo Rabaçal | Escala 1:200.

QL06. Plantas construtivas: Loja de Produtos Locais | Escala 1:50.

QL07. Perfil construtivo: Loja de Produtos Locais | Escala 1:50 e 1:20.

QL08. Planta construtiva: Oficina do Queijo Rabaçal | Escala 1:50.

QL09. Perfil construtivo: Oficina do Queijo Rabaçal | Escala 1:50 e 1:20.

QL10. Pormenores construtivos: Oficina do Queijo Rabaçal | Escala 1:20.

4. Loja de Produtos Locais e Oficina do Queijo Rabaçal: Painel Síntese | Escala 1:200

5. Loja de Produtos Locais: Painel construtivo | Escala 1:50 e 1:10

6. Oficina do Queijo Rabaçal: Painel construtivo | Escala 1:50 e 1:20

Curral

CU01. Planta construtiva: Curral | Escala 1:50.

CU02. Perfis 12 e 13: Curral | Escala 1:200.

CU03. Perfil construtivo: Curral | Escala 1:50 e 1:10.

7. Curral: Painel Síntese e Construtivo | Escala 1:50 e 1:10

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