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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

JADSON DAMASCENO RABELO

COMPLEXO CULTURAL COM APLICAÇÃO DE PRÍNCIPIOS BIOCLIMÁTICOS


PARA A CIDADE DE COLATINA-ES

Colatina
2020
JADSON DAMASCENO RABELO

COMPLEXO CULTURAL COM APLICAÇÃO DE PRÍNCIPIOS BIOCLIMÁTICOS


PARA A CIDADE DE COLATINA-ES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Coordenadoria do Curso de Arquitetura e
Urbanismo do Instituto Federal do Espírito Santo,
como requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientador: Prof° Me. Alexandre Cypreste Amorim

Colatina
2020
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
(Instituto Federal do Espírito Santo – Biblioteca campus Colatina)
R114c Rabelo, Jadson Damasceno

Complexo cultural com aplicação de princípios bioclimáticos


para a cidade de Colatina-ES / Jadson Damasceno Rabelo. – 2020

89 f. : il. ; 30 cm

Orientador: Alexandre Cypreste Amorim

Monografia (graduação) – Instituto Federal do Espírito Santo,


Coordenadoria de Arquitetura e Urbanismo, Bacharelado em
Arquitetura e Urbanismo, 2020.

1. Arquitetura de Teatros – Projetos e plantas – Colatina (ES). 2.


Arquitetura de Museus – Projetos e plantas – Colatina (ES). 3.
Arquitetura – Aspectos Ambientais – Colatina (ES). I. Amorim,
Alexandre Cypreste. II. Instituto Federal do Espírito Santo – campus
Colatina. III. Título.

CDD 728.370472098152

Elaborado por Richards Sartori Corrêa CRB 6-ES / 767


Por uma arquitetura consciente.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os profissionais que me influenciaram de maneira positiva ao longo


da vida desde o meu curso técnico. Agradeço nominalmente ao Breno Fernandes, Kelly
Guariento, Patrícia Ciribelli e especialmente ao Fábio Pinho.

Agradeço a minha mãe, Maria Lúcia Damasceno Rabelo, por ser minha base e por estar
comigo, por me dar o suporte necessário para que eu pudesse chegar até aqui.
Agradeço também ao meu pai, Belmiro do Nascimento Rabelo e ao meu irmão Jandson
Damasceno Rabelo, pelo apoio e em especial agradeço a minha namorada Otavia
Menegucci Amaral que se tornou minha maior incentivadora para realizar as metas
traçadas em minha vida.

Aos meus amigos, que com todas as implicâncias possíveis torceram para que eu
concluísse minha segunda graduação.

Agradeço ao meu orientador, professor Alexandre Cypreste Amorim por entender ou


simplesmente não entender, mas por estar comigo em meu ser caótico sem rédeas.
Obrigado por tudo e principalmente por sempre dividir seu conhecimento, onde levarei
para a vida todos seus ensinamentos, e quando calamos e ouvimos é quando
aprendemos.

Agradeço ao Instituto Federal do Espírito Santo, por ter me dado a oportunidade de


cursar um técnico há alguns anos e agora com uma graduação, e agradeço
principalmente aos professores, pela paciência e alguns que se tornaram mais que
professores, tornaram-se amigos. E não poderia esquecer, agradeço a professora
Amabeli Dell Santo por toda compreensão possível e impossível. Listar todos os
professores do curso que me foram marcantes por sua generosidade seria impossível,
que se sintam todos enormemente agradecidos.

Por um país que aprenda a respeitar, que questione e seja justo.


“Aprender a ver, que é fundamental, para um arquiteto e para todas as pessoas.
Não só a olhar, mas a ver em profundidade, em detalhe, na globalidade.”

- Álvaro Siza Vieira


RESUMO

O trabalho consiste no desenvolvimento de um complexo cultural na cidade de Colatina,


integrando os edifícios históricos e buscando aplicar soluções de conforto ambiental
com estratégias passivas do uso de arquitetura bioclimática, levando em consideração
o clima local. Caracterizando a localidade e seu clima, bem como as necessidades
culturais e de ligação entre o espaço público com as demandas existentes. A pesquisa
teve como objetivo a criação de um centro cultural que dê suporte a parte das demandas
culturais da cidade, através da criação de um espaço adequado as práticas de cultura,
visando atender a população colatinense e da região. O desenvolvimento projetual
apresenta, estratégias passivas de arquitetura bioclimáticas, implantação, plantas
baixas, cortes e perspectivas esquemáticas que demonstram a utilização do programa
e as diretrizes arquitetônicas, principalmente os aspectos climáticos e ambientais do
local, valorizando o ambiente, o entorno, e os eventos culturais. Desta forma, os
resultados apresentados da proposta do complexo cultural mostraram que o
planejamento de soluções projetuais responsáveis, com o entorno e o clima local,
podem ser mais efetivos ao garantir o conforto do usuário e gerando um menor impacto
ambiental, preservando a história e memória do município.

Palavras-chave: Centro cultural. Conforto. Arquitetura bioclimática. Projeto de


Arquitetura. Colatina.
ABSTRACT

The work consists in the development of a cultural complex in the city of Colatina,
integrating historic buildings, and seeking to apply environmental comfort solutions with
passive strategies of using bioclimatic architecture, taking into account the local climate.
Characterizing the locality and its climate, as well as the cultural needs and the
connection between the public space and the existing demands. The research had as
objective the creation of a cultural center that supports part of the cultural demands of
the city, through the creation of adequate space to the practices of a culture, aiming to
attend the colatinense population and of the region. The project development presents
passive bioclimatic architecture strategies, implantation, floor plans, cuts, and schematic
perspectives that demonstrate the use of the program and the architectural guidelines,
especially the climatic and environmental aspects of the place, valuing the environment,
the surroundings, and the events cultural. In this way, the results presented in the
proposal of the cultural complex showed that the planning of responsible design
solutions, with the local environment and climate, can be more effective in guaranteeing
user comfort and generating less environmental impact, preserving history and memory
of the municipality.

Keywords: Cultural center. Comfort. Bioclimatic architecture. Architectural design.


Colatina.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Calidarium e o Ipocausto..............................................................................18

Figura 2 – Região de Mesa Verde, Estados Unidos – Esquema das variáveis climáticas
anuais.............................................................................................................................19

Figura 3 – Localização do terreno escolhido...................................................................22

Figura 4 – Mapa dos climas do Brasil.............................................................................25

Figura 5 – Zoneamento Bioclimático Brasileiro..............................................................26

Figura 6 – Resumo das estratégias bioclimáticas definidas pela Norma NBR 15220-3
para Zona 8.....................................................................................................................26

Figura 7 – Abrangência da Zona Bioclimática 8 no Brasil e a carta bioclimática da


ZB8.................................................................................................................................27

Figura 8 – Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou...............................................................29

Figura 9 – Complexo Arquitetônico Porto das Barcas....................................................31

Figura 10 – Caracterização da topografia do município de Colatina...............................35

Figura 11 – Caracterização da temperatura, relevo e chuvas do município de


Colatina..........................................................................................................................35

Figura 12 – Caracterização do macroclima do município de Colatina-ES......................36

Figura 13 – Precipitações ao longo do ano em Colatina/ES, baseado nas precipitações


de Marilândia, antigo distrito de Colatina........................................................................36

Figura 14 – Série de vazões diárias máximas anuais (m3/s) do Rio Doce em Colatina..37

Figura 15 - Enchente de 1979 em Colatina ....................................................................38

Figura 16 - Cotas horárias da estação Colatina Corpo de Bombeiros, em dezembro de


2013................................................................................................................................39

Figura 17 - Cotas máximas observadas entre 1997 a 2013............................................39

Figura 18 – Áreas inundas em 2013 no munícipio de Colatina-ES.................................40

Figura 19 – Cotas de inundação do terreno...................................................................41

Figura 20 – Carta Solar – indicação das temperaturas..................................................42


Figura 21 –Rosa dos ventos – indicação das frequências de ventos..............................43

Figura 22 –Rosa dos ventos – indicação das velocidades dos ventos..........................43

Figura 23 – Esquema de ventilação natural com exaustão por convecção....................44

Figura 24 – Esquema de ventilação cruzada..................................................................45

Figura 25 – Influência da vegetação na edificação.........................................................45

Figura 26 – Esquema de terraço jardim.........................................................................46

Figura 27 – Localização do terreno em relação a cidade de Colatina.............................47

Figura 28 – Mapa de Zoneamento de Colatina...............................................................48

Figura 29 – Localização do terreno em relação às conexões da cidade de Colatina e


suas possibilidades........................................................................................................50

Figura 30 - Ponte de Ferro..............................................................................................51

Figura 31 – Biblioteca Municipal.....................................................................................51

Figura 32 – Antiga estação ferroviária............................................................................52

Figura 33 –Hospital e Maternidade Silvio Avidos............................................................52

Figura 34 – Catedral.......................................................................................................53

Figura 35 – Cristo Redentor............................................................................................53

Figura 36– Foto do antigo Iate Clube..............................................................................54

Figura 37 – Mapa de potencialidades do terreno............................................................55

Figura 38 – Vista da praça Sol Poente para o terreno escolhido.....................................55

Figura 39 – Vista da praça Sol Poente para a Biblioteca Municipal................................56

Figura 40 – Vista do terreno escolhido para praça Sol Poente.......................................56

Figura 41 – Mapa de gabarito das edificações existentes no entorno............................57


Figura 42 – Área do complexo cultural proposta.............................................................59

Figura 43 – Setorização das áreas do complexo............................................................60

Figura 44 – Implantação e usos dos blocos....................................................................62

Figura 45 – Bloco de exposição e cultura - Térreo..........................................................64

Figura 46 – Bloco de exposição e cultura – Mezanino....................................................65

Figura 47 – Bloco de exposição e cultura – Nível de Exposição.....................................66

Figura 48 – Bloco de oficinas e biblioteca – Térreo........................................................67

Figura 49 – Bloco de oficinas e biblioteca – Biblioteca....................................................68

Figura 50 – Bloco de oficinas e biblioteca – Terraço jardim............................................69

Figura 51 – Corte Esquemático dos níveis das cotas de inundação...............................69

Figura 52 – Perspectiva Esquemática com descrição geral...........................................70

Figura 53 – Perspectiva geral.........................................................................................70

Figura 54 – Perspectiva vista do píer para os blocos de exposição e cultura e bloco


oficinas e biblioteca........................................................................................................71

Figura 55 – Perspectiva de vão permeável de ligação entre os blocos........................71

Figura 56 – Perspectiva de vão permeável de ligação entre os blocos........................72

Figura 57 – Perspectiva do bloco respeitando a vista para o rio.....................................72

Figura 58 – Perspectiva da via compartilhada, paralela ao centro cultural.....................73

Figura 59 – Perspectiva do bloco de oficinas e biblioteca...............................................73

Figura 60 – Perspectiva do terraço jardim......................................................................74


Figura 61 – Perspectiva da via compartilhada paralela ao bloco de divulgação histórica
e cultural do município (atual biblioteca municipal) ........................................................74

Figura 62 – Perspectiva vista da via compartilhada para os blocos................................75

Figura 63 – Perspectiva vista do píer..............................................................................75

Figura 64 – Perspectiva do bloco de exposição e cultura ..............................................76

Figura 65 – Perspectiva da praça interna do bloco oficinas e biblioteca.........................76

Figura 66 – Perspectiva interna da biblioteca.................................................................77

Figura 67 – Perspectiva interna da cafeteria do bloco oficinas e biblioteca....................77

Figura 68 – Perspectiva interna do bloco de exposição e cultura...................................78

Figura 69 – Perspectiva interna do bloco de exposição e cultura...................................78

Figura 70 – Perspectiva interna da sala de exposição....................................................79

Figura 71 – Perspectiva geral com as árvores implantadas............................................79

Figura 72 – Perspectiva aérea dos blocos e seu entorno...............................................80

Figura 73 – Corte esquemático dos comportamentos dos ventos devido a sua


temperatura....................................................................................................................80

Figura 74 – Corte esquemático de ventilação natural no bloco de exposição e cultura..81

Figura 75 – Corte esquemático de ventilação natural, bloco oficinas e biblioteca........ 81

Figura 76 - Simulação de insolação do bloco de oficinas e biblioteca no mês de janeiro


às 15h.............................................................................................................................82

Figura 77 – Simulação bloco de exposição e cultura no mês de janeiro às 15h..............83

Figura 78 – Simulação bloco de exposição e cultura no mês de abril às 15h..................83


Figura 79 – Simulação bloco de exposição e cultura no mês de agosto às 15h..............84

Figura 80 – Simulação bloco de exposição e cultura no mês de dezembro às


15h..................................................................................................................................84
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Percentuais totais dos eventos realizados de 2004 a 2019.......................31

Gráfico 2 – Números totais de eventos oficiais por ano de 2004 a 2019.....................32


LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Programa de Necessidades dos Blocos......................................................34

Quadro 2 – Zona de Uso Diverso 2 – Zoneamento de Colatina-ES..............................46


LISTA DE SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INCAPER – Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural

LabEEE – Laboratório de Eficiência Energética em Edificações


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................17

1.1 OBJETIVO GERAL...................................................................................................20

1.1.1 Objetivos Específicos...............................................................................................21

1.1.2 Metodologia................................................................................................................21

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO................................................................................................23

2.1 ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA...................................................................................23

2.2 CLIMAS...........................................................................................................................24

2.3 ZONEAMENTO BIOCLIMÁTICO BRASILEIRO............................................................25

2.4 CASOS ASSEMELHADOS............................................................................................28

3 CONDICIONANTES DE PROJETO..................................................................................32

3.1 IMPLEMENTAÇÃO DE UM ESPAÇO CULTURAL.......................................................32

3.2 DEFINIÇÃO DO PROGRAMA DE NECESSIDADES....................................................33

3.3 VARIÁVEIS CLIMÁTICAS..............................................................................................35

3.3.1 Caraterização do Clima Local...................................................................................34

3.3.2 Série histórica de cheias do Rio Doce no município de Colatina........................37

3.3.3 Radiação solar e Ventilação.....................................................................................41

3.4 ESTUDO DO TERRENO................................................................................................46

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO: DESENVOLVIMENTO PROJETUAL..........................57

4.1 LEVANTAMENTO DE MASSAS....................................................................................57


4.2.1 Localização do complexo cultural em relação ao perímetro urbano....................57

4.2.2 Implantação dos blocos projetados.........................................................................61

5 CONCLUSÃO....................................................................................................................85

REFERÊNCIAS....................................................................................................................86
17

1 INTRODUÇÃO

Os centros urbanos devem ser visualizados como organismos vivos, esta perspectiva
nos faz enxergar uma outra maneira de analisar quando pensamos em planejamento
da malha urbana e na administração e gerenciamento dos recursos naturais
necessários para a manutenção das cidades. Estes recursos, por deixarem marcas,
podem ser mensurados. Quando falamos das questões que envolvem o meio ambiente,
não estamos falando de questões dissociáveis da parte social, pois ambas se
complementam e agem diretamente sobre a qualidade de vida da população e, quando
levadas em consideração, essas questões deixam os meios urbanos mais saudáveis,
tenros e com múltiplas funcionalidades (ROGERS, 2001). Sendo um aspecto
importante da cidade, um centro urbano quando voltado para essas questões, se torna
fundamental para melhoria da qualidade de vida, seja desta geração ou das futuras.

A partir das demandas humanas por um lugar para viver, com proteções em relação
aos fenômenos climáticos e de animais, surgiram os primeiros abrigos, e por
consequência, as primeiras moradias. A arquitetura surgiu, assim, em meio à essa
necessidade humana que, com o decorrer dos séculos, se tornou objeto primordial e de
exploração tecnológica, bem como sua necessidade de expressar algo, seja por
necessidade social ou com o intuito de atingir esferas espirituais. A arquitetura se
tornou, então, objeto histórico das invenções humanas, do caráter humano em
integração social e harmonia com o ambiente, como também de seus princípios
(ROGERS, 2001).

A arquitetura vernacular, para muitos, pode significar arquitetura do passado, mas esta,
atualmente, tem sido objeto de uma ligação com a arquitetura sustentável, por este tipo
de arquitetura se caracterizar pela pureza, sem influências estrangeiras, e trazendo
consigo muitos ensinamentos, principalmente com relação aos princípios bioclimáticos
e de questão sustentável que podem e devem ser empregados em conceitos,
construções e todos os elementos necessário para um bom ambiente construído atual,
elementos que tem contribuição direta nas demandas energéticas (LAMBERTS;
DUTRA; PEREIRA, 2014). Os princípios dessa arquitetura utilizavam o clima a seu
favor, onde, na antiga Roma que se teve notícia do primeiro sistema de aquecimento
18

feito de maneira artificial, sistemas esses conhecidos como Calidarium e o Ipocausto


(Figura 1).

Figura 1 – Ilustração de um Calidarium e do Ipocausto

Fonte: Lamberts; Dutra; Pereira (2014)

Neste cenário, já com as reservas de madeira se esgotando, Roma, com seu estilo
insustentável de cidade, teve a necessidade e obrigação de adotar medidas passivas
para suas construções, visando uma maneira autossuficiente para seus centros de
habitação, com as novas construções passando a tomar partido da principal fonte de
calor natural para a condição de vida, que é o sol (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA,
2014).
Em contrapartida, os povos ancestrais que viviam na região de Mesa Verde nos Estados
Unidos, edificaram suas habitações de forma a aproveitar o melhor da região, inserindo
suas construções nas encostas de pedra. Com isso, havia proteção da radiação direta
do sol durante o verão e, durante o inverno, o sol alcançava as edificações, devido a
inclinação solar mais baixa nesta época do ano. Com as rochas absorvendo o calor
durante o dia, no período noturno essas habitações passavam a ser aquecidas pelo
calor armazenado (Figura 2). Desta forma havia edificações ecologicamente corretas,
tomando partido do relevo, para melhor conforto de seu povo (LAMBERTS; DUTRA;
PEREIRA, 2014).
19

Figura 2 – Região de Mesa Verde, Estados Unidos – Esquema das variáveis


climáticas anuais

Fonte: Lamberts; Dutra; Pereira (2014)

A revolução industrial trouxe novos elementos e materiais, desafiando assim modelos


tradicionais até então, como as construções de pedra no ocidente e, no entre guerras
nasceu o estilo internacional, modificando das mais diversas formas os conceitos
arquitetônicos. As ideias de Le Corbusier surgiram nesse período, como o uso de
espaços livres, pilotis e a relação entre a proporção humana e o espaço construído.
Como poucos tinham a visão de Le Corbusier estabeleceram-se limites para o
funcionalismo, ocorrendo então uma simples competição entre fachadas e a luta por
gigantescos vãos em concreto armado. Mies Van Der Rohe criou então um ícone
moderno da arquitetura através do uso de cortinas de vidro, que fez com que várias
gerações seguissem por todo o globo este estilo formal limpo, ignorando os fatores
ambientais distintos de cada localidade (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).

Em paralelo ao movimento de arquitetura que utilizava cortinas de vidro, somado ao


crescimento das cidades sem nenhum tipo de ordenação, assim como dos materiais
utilizados na construção dos espaços, houve então uma interferência de processos de
difusão, absorção e reflexão dos raios solares na superfície, gerando mudanças
climáticas locais (IKEMATSU; LOH; SATO, 2007).

Em consequência a esses fatores somados, criavam-se assim, verdadeiros edifícios em


forma de estufa, mas que se tornaram símbolo de poder, com suas enormes estruturas
em aço e concreto e sistemas de condicionamento de ar complexos e grandes,
ignorando todo um contexto de inserção do edifício ao meio ambiental. Com isso, a
arquitetura estava se acomodando passando a ser empregado, em larga escala, à
20

mecanismos para climatização e iluminação de ambientes, colocando o projetista numa


posição extremamente cômoda diante das problemáticas que o clima regional
apresentava. Dessa forma, houve uma maior demanda por consumo de energia
elétrica, ocasionando também grandes impactos ambientes e sociais (LAMBERTS;
DUTRA; PEREIRA, 2014).

Rogers (2001) afirma que diante dessa situação, há uma urgência em se cobrar dos
arquitetos uma contribuição para os centros urbanos no desenvolvimento dos projetos,
atingindo assim questões sociais e ambientais, um dever que vai muito além das
pranchas e projetos impressos. Neste contexto, conceber projetos que atendam tais
demandas, proporcionando a elaboração projetuais de edificações mais eficientes
energeticamente e alcançando assim o conforto dos personagens incluídos no contexto
social assim como aqueles personagens que utilizam diretamente estas edificações
(LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).

Segundo Paiva (2010), ícones urbanos e arquitetônicos constituem estratégias que


reforçam a imagem histórica e turística, podendo atrair investimentos públicos ou
privados gerando desenvolvimento. Além disso, reforça um processo contínuo de
ressemantização da história da cidade. A criação de um complexo cultural, englobando
todos as características da região, será vantajoso tanto em questões econômicas como
culturais para a população local.

Desta maneira o turismo é uma atividade em crescimento de demanda no país,


trazendo consigo várias faces e conceitos a serem explorados. Levando em
consideração o patrimônio histórico, o turismo cultural admite o sentido histórico.
Partindo deste ponto, os personagens locais são de vital importância para a
preservação da cultura a fatos históricos adquiridos ao longo do tempo. Abarcando toda
essa ideia, um complexo cultural, tem por fio condutor a preservação histórica, cultural,
além de ser uma das formas de alavancagem econômica para a região (PERINOTTO;
SANTOS, 2011).

1.1 OBJETIVO GERAL

Elaborar um projeto, através do estudo de massas de um complexo cultural com


princípios bioclimáticos para a cidade de Colatina.
21

1.1.1 Objetivos Específicos

a) Propor uma integração dos espaços públicos no centro do município, através de


marcações esquemáticas em mapas;
b) Projetar o centro cultural através de estudos de massas e análise do entorno,
propondo a criação do complexo cultural com a inclusão da antiga estação
ferroviária e biblioteca municipal, indicando novos usos nestas edificações
através de sugestão de atividades e programa de necessidades;
c) Aplicação de princípios passivos bioclimáticos no estudo do centro cultural;
d) Propor estratégias projetuais que promovam a interação entre as edificações e
o entorno do centro cultural e o clima.

1.1.2 Metodologia

A pesquisa bibliográfica tem como base as obras de estudo no campo de conforto


ambiental e suas estratégias arquitetônicas baseado na literatura.

Considerando o levantamento dos dados culturais oficiais (eventos e feiras por


exemplo) realizados na cidade nos últimos 15 anos, embasando assim a importância
da existência de um espaço cultural apropriado para o contexto local, como também o
levantamento das informações climáticas disponíveis, sobre o centro da cidade de
Colatina.

A área escolhida é o espaço da praça do sol poente em Colatina (Figura 3). A escolha
se deu pelo fato de o local estar numa região que já abrigou e ainda abriga setores
culturais da cidade, como a feira livre aos sábados pela manhã, espaços de lazer, como
também sua relevância histórica, abrangidas pela biblioteca municipal e antiga estação
ferroviária.
22

Figura 3 – Localização do terreno escolhido

Fonte: Autor (2020), adaptado do Google Maps.

O estudo de massas se dará por meio de desenvolvimento em softwares diversos que


sejam necessários em cada etapa do trabalho, como Revit, Autocad, 3ds Max, todos na
sua versão estudantil. O estudo do local com fatores ambientais importantes para
concepção do projeto, como insolação, ventos, relevo e fluxo urbano, priorizando a
integração bioclimática e conceitos arquitetônicos com a cidade.

Com o desenvolvimento do estudo de massas, será aplicado o conhecimento adquirido


nas etapas anteriores, como a revisão bibliográfica e os dados levantados, para que
assim tenha um projeto bem estruturado nos campos pertinentes de estudo desta
proposta.
23

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.1 ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA

Nas últimas duas décadas, a atenção aos impactos causados no meio ambiente
ocasionados pelo crescente aumento populacional no mundo é tema constante de
extrema relevância nos meios teóricos e acadêmicos. A crise energética em países
desenvolvidos levou a criação de normas que buscam controlar o consumo energético
das edificações. Com a atenção necessária ao efeito estufa e à deterioração do meio
ambiente, surgiram novas legislações que visam aprimorar a eficiência energética do
ambiente construído. Entre tantos capítulos históricos onde as concepções da
arquitetura tiveram alterações, inclusões e exclusões, só em 1992 que houve a primeira
conferência da Organização das Nações Unidas onde o tema central foi o
desenvolvimento sustentável (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).

Nascido nos anos noventa, o termo arquitetura sustentável veio como uma forma de
admitir os grandes impactos causados pelas edificações ao meio ambiente, como
também uma fonte de reparação ao mesmo (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).

Uma arquitetura sempre deve estabelecer ligação entre o meio ambiente degastado e
o ambiente construído de forma a gerar equilíbrio entre as partes e seu entorno. Assim,
uma edificação eficiente busca limitar seus impactos ao meio ambiente externo, mas ao
mesmo tempo, busca o conforto interno de forma saudável, criando uma ligação entre
o homem e o espaço (TRAPANO; BASTOS, 2007).

Por definição, o desenvolvimento tecnológico, social e o equilíbrio ambiental


devem caminhar juntos, gerando tecnologias limpas, sem agressões à
biodiversidade e aos ecossistemas. O desenvolvimento sustentável ao mesmo
tempo estimula o crescimento e o desenvolvimento e preserva recursos
naturais, a fim de gerar comunidades autossustentáveis (TRAPANO; BASTOS,
2007, p. 1840).

A arquitetura sempre deve ser enxergada como elemento que necessita da eficiência
energética, atributo esse intrínseco ao ambiente construído que busca demonstrar sua
capacidade em proporcionar aos seus usuários, conforto nas suas mais diversas áreas,
como acústico, térmico, visual. Desta forma, uma edificação é mais efetiva
energeticamente quando é capaz de proporcionar tais condições ambientais com uma
baixa carga energética (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).
24

Neste século, a arquitetura tem o desafio de saber usufruir todas a tecnologias


disponíveis e conhecimentos científicos, lado a lado com a urgência em preservar e
manter o equilíbrio com o meio ambiente, tudo isso de forma integrada, sem que haja
sobreposição e adições às construções, mas sim um equilíbrio desde a concepção do
processo projetual, agregando esses recursos de forma que não haja perda da
qualidade arquitetônica (TRAPANO; BASTOS, 2007).

2.2 CLIMAS

Considerando que antes de qualquer traço ou projeto, o arquiteto deve tomar


conhecimento do clima onde a edificação será construída, gerando base e informações
para a concepção projetual, um projeto que atenda às demandas climáticas regionais,
às necessidades dos usuários, além das demandas energéticas inerentes ao projeto
(LAMBERTS; DUTRA E PEREIRA, 2014).

É importante o conhecimento das diferenças conceituais existentes entre


tempo e clima. Tempo é a variação diária das condições atmosféricas,
enquanto clima é a condição média do tempo em uma dada região baseada
em medições em longos períodos de tempo (30 anos ou mais). Um projeto
arquitetônico deve considerar o clima local e suas variáveis, que se alteram ao
longo do ano devido a elementos de controle, tais como: proximidade à água
(pois a terra se aquece ou esfria mais rapidamente que a água); altitude (a
temperatura do ar tende a diminuir com o aumento da altitude na ordem de –
1˚C para cada 100 metros de altitude); barreiras montanhosas e correntes
oceânicas. Os fatores climáticos atuam de forma intrínseca na natureza. A ação
simultânea das variáveis climáticas terá influência no conforto do espaço
arquitetônico construído (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014, p. 71).

O conhecimento dos fatores climáticos é fundamental para que haja um projeto


adequado ao seu clima local e ao usuário, tornando a edificação mais eficiente em
termos energéticos (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).

Graças às suas dimensões continentais, o Brasil é dotado de vários climas e subclimas.


Sendo assim, a cidade de Colatina-ES está localizada numa região do país em que o
clima é caracterizado por Clima Tropical Atlântico, conforme demonstra na Figura 4.
25

Figura 4 – Mapa dos climas do Brasil

Fonte: Lamberts; Dutra; Pereira (2014)

Essa região do clima tropical atlântico, tem como característica, temperatura elevada e
alta umidade, com chuvas de maior intensidade em determinados períodos do ano e
maior preponderância de chuvas na estação do verão.

2.3 ZONEAMENTO BIOCLIMÁTICO BRASILEIRO

Ao falar de edificações e seus principais usos (residencial, comercial e de uso público),


o consumo de energia de cada um é distinto, de forma que até a ocupação se difere na
densidade. Ao falar de edificações de uso público, devido a maior quantidade de
usuários e, por consequência, um maior volume de calor gerado, essas edificações têm
sua demanda energética diretamente influenciada por este fator. Desta forma, nota-se
que o maior uso para conforto do usuário se dá pelo condicionamento artificial de ar e
iluminação artificial, gerando um consumo aproximado de 64% do total (LAMBERTS;
DUTRA; PEREIRA, 2014).

Do total da produção nacional de energia elétrica, 15,4% são usados em


EDIFÍCIOS COMERCIAIS e 8,0% em EDIFÍCIOS PÚBLICOS (EPE 2012). Nos
edifícios públicos o ar condicionado representa 48% do total do consumo de
energia, enquanto a iluminação representa 23%, os equipamentos de escritório
15% e os demais usos finais 14% do total (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA,
2014, p. 18).

Visando aplicar princípios bioclimáticos, há a necessidade de se balizar com as


informações disponíveis em nível local, como orientação solar e ventos, além de se
26

realizar uma análise bioclimática de acordo com o clima onde NBR 15220-3
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2003) mostra as principais
características e estratégias bioclimáticas para a região (Figura 6).

Desta forma, o zoneamento bioclimático brasileiro serve como balizador, através das
estratégias que caracterizam cada zona, e suas particularidades. Colatina se localiza
na zona 8 segundo as diretrizes construtivas definidas pela Norma NBR 15220-3,
conforme demonstrado na Figura 5.

Figura 5 – Zoneamento Bioclimático Brasileiro

Fonte: Lamberts; Dutra; Pereira (2014)

Figura 6 – Resumo das estratégias bioclimáticas definidas pela Norma NBR 15220-3
para Zona 8

Fonte: Adaptado de Lamberts; Dutra; Pereira (2014)


27

Observa-se que para a Zona Bioclimática 8 as principais estratégias consistem em


grandes aberturas e seu sombreamento, o que permitirá maior ventilação, renovação
do ar interior e, consequentemente, resfriamento do ambiente.

O mapa de zona bioclimática e a carta bioclimática dão suporte às estratégias de projeto


arquitetônico e conforme a carta bioclimática (Figura 7), a ventilação se evidencia como
umas das principais maneiras de reduzir o desconforto por calor, tendo como suporte
o sombreamento a fim de reduzir as temperaturas internas.

Figura 7 – Abrangência da Zona Bioclimática 8 no Brasil e a carta bioclimática da ZB8

Fonte: ABNT (2005)

Desta forma, o crescimento das cidades deve ser levado em consideração nos
parâmetros projetuais, considerando os parâmetros apresentados, merecem atenção
também os materiais aplicados à arquitetura local, que influenciam diretamente nos
microclimas locais e regionais, tendo as edificações como um todo ação direta sobre as
mudanças microclimáticas, devido as diversas formas de transferência de calor
(IKEMATSU; LOH; SATO, 2007).

Portanto, cada decisão influencia diretamente o consumo energético da edificação, e


isso é necessário avaliar desde a implantação da construção e seu entorno, os
elementos relacionados a forma, afetando diretamente a quantidade de iluminação
necessária para a edificação, sendo necessário trabalhar com a iluminação natural para
assim atingir níveis satisfatórios de eficiência energética (RIBEIRO, 2010).
28

2.4 CASOS ASSEMELHADOS

A obra do Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou (Figura 8), localizada no pacífico sul em
Nova Caledônia, de autoria do arquiteto Renzo Piano, suscita diversas discussões
sobre o uso bioclimático na arquitetura local, de modo a estabelecer uma conexão entre
os elementos culturais, ambientais e tecnológicos.

Vários fatores deverão ser considerados de modo a concluir se a forma


resultante se baseou nos requisitos de alta qualidade ambiental para ser
elaborada, verificando se estes requisitos foram simplesmente agregados ao
projeto, se caminharam junto a uma solução formal pré-concebida ou se não
apresentaram nenhuma ligação com a forma proposta. A análise do projeto
mostra que o objetivo principal da obra foi à realização de um monumento que
resgatasse a cultura Kanak sob uma ótica contemporânea. A partir disso Renzo
Piano inteirou-se na busca e na pesquisa das tradições para elaborar o seu
projeto. (TRAPANO; BASTOS, 2007)

Considerando que a sua volumetria tomou partido do estudo climático do local, com as
fachadas mais baixas orientadas para a lagoa e as enormes fachadas direcionadas
para o mar, ocorre, por esse motivo, uma condução dos ventos fortes provenientes do
mar até às partes interiores da edificação. O edifício trabalha com a eliminação do ar
quente promovendo, assim, uma constante troca de ar, como também uma circulação
interna de ventilação, proporcionando maior conforto aos usuários. Apesar de todo o
contexto explorado, a obra de Renzo Piano recebeu críticas devido ao formado do
centro cultural por ser considerado um afastamento das formas originais da tribo local
e por fugir da premissa do uso de materiais locais. Apesar disso, Renzo Piano faz largo
uso do conceito de vila da comunidade local. Mesmo com todas as críticas à edificação,
o arquiteto consegue alcançar as mais diversas possibilidades de conforto ambiental
tomando como partido os preceitos bioclimáticos (TRAPANO; BASTOS, 2007).

As fachadas dos edifícios têm contribuição direta nos efeitos de conforto urbano ou
mesmo da própria edificação, pois é um elemento fundamental de envoltória para
proteção dos usuários. O correto planejamento projetual das mesmas pode trazer
reduções drásticas dos níveis de consumo energético (MARÇAL; SOARES; SOUZA,
2013). Entretanto, os usuários e elementos que utilizam/preenchem o espaço
construído interagem de maneiras variadas com a edificação entre si. O corpo humano
aceita de forma mais abrangente as mudanças de temperatura, enquanto que objetos
normalmente encontrados em acervos, de museus, bibliotecas, exposições, são mais
sensíveis a tais mudanças, sendo necessário um maior controle e estabilidade dos
29

ambientes que há estes tipos de exposições ou acervos estão localizados e


armazenados (GONÇALVES, 2016).

Figura 8 – Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou

Fonte: Trapano; Bastos (2007)

Já o Complexo Arquitetônico Porto das Barcas localizado em Parnaíba no Piauí, é


constituído por galpões edificados com a finalidade de armazenagem, os quais foram
construídos por volta do Séc. XVIII, onde alguns destes armazéns se encontram em
estado precário e esquecidos, enquanto outros servem de comércio, como, agências
de turismo e viajem e lojas de artesanatos. No decorrer dos anos, parte das construções
foram sofrendo alterações em sua arquitetura original, em parte por causa da idade das
construções e falta de manutenções periódicas, sejam pelos responsáveis pelo centro
cultural, assim como pela população. (PERINOTTO; SANTOS, 2011).

Por outro lado, com sua privilegiada posição geográfica, o Complexo Arquitetônico, ao
mesmo tempo que desperta interesse histórico-cultural para o município de Parnaíba,
pode se tornar um local de ponto turístico bem estruturado, com a finalidade de atender
bem e receber com qualidade os turistas (SOUZA; BRITO; PERINOTTO, 2011).
30

Desta forma podemos dizer que o conjunto material e simbólico da formação cultural
relacionado ao espaço construído se transformou em foco do olhar turístico,
acontecimento este, que enobrece os bens de distintas expressões culturais, expandido
a atração dos lugares. Identidades locais, diversas vezes perdidas pelos próprios
conjuntos culturais no qual estão inseridos, nascem como objetos de demanda
valorizados na economia turística dos locais, das paisagens e dos territórios e
conquistam novas proporções políticas, econômicas e culturais (PERINOTTO;
SANTOS, 2011).

Então, baseado na afirmação acima, o turismo atua como uma ação de


valorização da cultura, principalmente quando essa atividade é vista pela
população como geradora de emprego e renda. Toma-se como exemplo a
instalação de lojas de souvenir no entorno e até mesmo no próprio patrimônio,
como é o caso de lojas de artesanato e souvenir dentro do Centro Histórico de
São Luís, como também do Porto das Barcas. (PERINOTTO; SANTOS, 2011).

Todavia, para qualquer grupo social há uma conformação social, um conjunto de


linguagens simbólicas que possibilitam transformar, gradualmente, o espaço em um
aglomerado de formas especificas, que, atualmente, dialogam com o mundo pós-
moderno, em uma conversa com ruídos, mas que geram possibilidades de criação de
renda e trabalho, com a execução de diversas atividades, nas quais entre elas se
encontra também o turismo (PERINOTTO; SANTOS, 2011).

Com o desenvolvimento turístico do local, é notável, pois se transformou numa área


que vem cativando visitantes para estes locais, tendo o apelo dos acervos culturais que
são importantíssimos para seu contexto histórico, um atrativo para o aumento dos
visitantes (SOUZA; BRITO; PERINOTTO, 2011).

Com isso quem vem ao local conhecer, é fundamental conhecer a história, de forma a
se relacionar com o espaço, neste caso, com o município de Parnaíba no Piauí, através
dos símbolos históricos e culturais, entretenimento e naturais. (SOUZA; BRITO;
PERINOTTO, 2011).

Estes apontamentos nos lembram das singularidades culturais de cada região, e sua
história, tendo consigo uma capacidade de atrair turistas e visitantes da própria região
e município, sejam eles, atraídos pela curiosidade de conhecer um novo local ou a
vontade de conhecer determinado ponto específico do local. Contudo, motivações
estas, que são únicas e alavancam a atividade econômica relacionada ao turismo,
31

suportada por infraestrutura e serviços que permitam a realização deste tipo de


atividade (PERINOTTO; SANTOS, 2011).

Figura 9 – Complexo Arquitetônico Porto das Barcas

Fonte Delta Rio Parnaiba (2021)


32

3 CONDICIONANTES DE PROJETO

3.1 IMPLEMENTAÇÃO DE UM ESPAÇO CULTURAL

Com base em levantamento realizado através de notícias oficiais (Gráficos 1 e 2)


expostas desde 2004 no site da Secretaria de Cultura de Colatina (2020), viu-se a
necessidade de criação de um espaço que atenda a demanda por espaços de cultura
e atividades correlatas, criando-se assim condições de desenvolvimento com local
adequado e direcionado às práticas que, hoje, ocorrem em diversos locais da cidade de
forma adaptada, realizando-se assim um programa de necessidades que possa atender
a quantidade de demanda referente a cultura do município.

No gráfico 01 temos um aglomerado das informações levantadas no formato de


porcentagem destes dados, afim de demonstrar o montante anual de eventos ocorridos
de forma percentual. De acordo com os gráficos 01 e 02, existe um número significativo
de atividades culturais oficiais que são desenvolvidas anualmente no município, com
exceção dos anos entre 2009 a 2011 onde não houve nenhuma espécie de atividade
cultural oficial. Entre 2013 a 2016 houve um aumento significativo desses eventos,
somando-se aproximadamente 62% do total. Como eventos não amparados ou
informados pela Secretaria de Cultura de Colatina não tiveram divulgação por meio de
seu site, essas informações foram perdidas, levando a crer que o número de atividades
culturais anuais no município possam ter um número mais expressivo.

Gráfico 1 – Percentuais totais dos eventos realizados de 2004 a 2019

Fonte: Autor (2020)


33

Gráfico 2 – Números totais de eventos oficiais por ano de 2004 a 2019

Fonte: Autor (2020)

3.2 DEFINIÇÃO DO PROGRAMA DE NECESSIDADES

O programa de necessidades necessário é importante para que se estabeleça um


conjunto de usos para o projeto a ser desenvolvido e que atenda a demanda proposta,
servindo de orientação para as decisões projetuais.

De acordo com as informações obtidas e levantadas acerca das atividades culturais foi
possível criar um programa de necessidades, apresentado através do Quadro 1. Para
o desenvolvimento do projeto, foi estabelecida a proposta de dois novos blocos e listada
as atividades que passariam a ser realizadas nestes locais, além da redefinição do uso
da antiga estação ferroviária e biblioteca municipal, com a proposta de, na antiga
estação, um bloco com atividades de dança e teatro, fazendo uso da praça e cobertura
da estação para exibição de peças e danças ao ar livre, que será demonstrado mais
adiante. Onde hoje se encontra a biblioteca municipal, propõe-se um local de exposição
e divulgação histórica do município. Esta proposta não visa trazer todos os eventos
culturais do município para o complexo cultural, mas criar um ambiente adequado para
uma grande parte dos eventos, para fins de melhor divulgação na cidade e adequação
de suas necessidades.
34

Quadro 1 – Programa de Necessidades do estudo de massas, segmentado nos


Blocos propostos

Fonte: Autor (2020)

3.3 VARIÁVEIS CLIMÁTICAS

3.3.1 Caraterização do Clima Local

De acordo com IBGE (BRASIL, 2020), o município de Colatina possui uma população
estimada de 123.400 habitantes e uma área de territorial de 1.398.219 km² e de acordo
com o Ministério de Minas e Energia e Serviço Geológico do Brasil o município de
Colatina-ES é caracterizado por um relevo de topografia acidentada (Figura 10),
segundo o Incaper (2018) com temperaturas que variam de 30,7°C a 34°C nas épocas
mais quentes e 11,8°C a 18°C nos meses mais frios (Figura 11).
35

Figura 10 – Caracterização da topografia do município de Colatina

Fonte: Ministério de Minas e Energia Serviço Geológico do Brasil (2016)

Figura 11 – Caracterização da temperatura, relevo e chuvas do município de Colatina

Fonte: Incaper (2018)

Para um melhor entendimento dos climas de uma região é necessário compreender a


escala de macroclima (Figura 12) com sua abordagem geral e, numa escala mais
aproximada do objeto de estudo, a compreensão do microclima, que terá influência
direta na edificação construída, assim como interferências diretas do entorno ou do
projeto arquitetônico proposto.
36

Figura 12 – Caracterização do macroclima do município de Colatina

Fonte: Incaper (2018)

A ocorrência de precipitações varia significativamente ao longo do ano, onde os


períodos com maior incidência ocorrem entre outubro e dezembro e entre janeiro e
março.

Figura 13 – Precipitações ao longo do ano em Colatina, baseado nos dados de


Marilândia, antigo distrito de Colatina.

Fonte: Incaper (2018)


37

3.3.2 Série histórica de cheias do Rio Doce no município de Colatina

O município de Colatina é cortado pelo Rio Doce que nasce em Minas Gerais e deságua
em Linhares no Espírito Santo. Ao longo dos anos, o rio sofreu interferências naturais e
antrópicas, tendo por consequência sua calha e leito natural reduzidos, com
assoreamentos e aterros nas margens ao longo do seu curso. Esses aspectos foram
sendo naturalizados, com aumento da ocupação das margens do rio, principalmente na
zona central da malha urbana.

Ao longo dos últimos 74 anos o rio passou por três grandes cheias que ocorreram nos
anos recentes de 1979, 1997 e 2013, mostrando assim uma maior recorrência do
aumento dos níveis das águas em paralelo com o crescimento da degradação das suas
margens e leitos. No ano de 1979 o rio atingiu sua maior cota de enchente alcançando
9,68m, onde os níveis das águas chegaram às vigas metálicas que suportam os
tablados da ponte que faz a ligação dos dois lados da cidade, sendo este o único meio
de conexão das margens do centro da cidade (BRASIL, 2020)

A Figura 14 traz um histórico das vazões anuais ao longo dos últimos 74 anos de
medições mostrando o comportamento normal do rio e dos períodos atípicos.

Figura 14 – Série de vazões diárias máximas anuais (m3/s) do Rio Doce em Colatina

Fonte: Ministério de Minas e Energia Serviço Geológico do Brasil (2016)

Desta forma, é possível verificar as oscilações das vazões médias diárias máximas
anuais (m³/s), evidenciando um período de retorno e uma redução do período, devido
às modificações ocasionadas ao leito do rio, onde a cidade vem tomando seu espaço
38

em suas margens, gradativamente. A enchente que ocorreu no ano de 1979 é o maior


registro de cota de inundação nos últimos 80 anos (figura 15).

Figura 15 - Enchente de 1979 em Colatina

Fonte: Ministério de Minas e Energia Serviço Geológico do Brasil (2016)

No ano de 2013 ocorreu outra enchente que ocasionou perdas em comércios e


instituições públicas, onde o pico máximo de cheia atingiu a cota de 9,29m. Vale
ressaltar que a cota de inundação se inicia a partir da cota de 5m, sendo assim, a cota
de 9,29m se traduz em 4,09m acima da cota de inundação. A figura 16 ilustra o
comportamento do Rio Doce nas cheias de 2013 até que atingisse sua maior cota de
inundação neste ano.
39

Figura 16 - Cotas horárias da estação Colatina Corpo de Bombeiros, em dezembro de


2013

Fonte: Ministério de Minas e Energia Serviço Geológico do Brasil (2016)

Na Figura 17 é possível observar o comportamento de cheias cíclicas de 1997 a 2013


onde é possível analisar que, dos 16 anos de observação em quatro anos hidrológicos
foram atingidas cotas acima de 7m, e em outras seis oportunidades, dados acima da
cota de inundação que é de 5m e abaixo de 7m.

Figura 17 - Cotas máximas observadas entre 1997 a 2013

Fonte: Ministério de Minas e Energia Serviço Geológico do Brasil (2016)

Considerando a última inundação ocorrida na cidade, 2013, é possível observar, através


da figura 18, as áreas inundadas nesse período, evidenciando a ocupação das águas
sobre as massas de solo que margeiam o rio, contendo também a localização de onde
se encontra o terreno no contexto das cheias.
40

Figura 18 – Áreas inundas em 2013 no munícipio de Colatina-ES

Fonte: Ministério de Minas e Energia Serviço Geológico do Brasil (2016)

Complementando as análises, é possível observar através da figura 19 que, com


relação ao terreno escolhido, devido a sua altimetria topográfica em relação ao rio, o
corpo d’água passa a ocupar o terreno quando atinge 8m, e preenche toda a área com
cotas de 9,5m. Vale ressaltar que a maior cheia registrada atingiu 9,69m, e a última
grande cheia de 2013 chegou a 9,29m. Em valores práticos, considerou-se a enchente
de 1979 como referência, que alcançou 1,69m de altura do corpo d’água sobre o solo.
Desta forma, qualquer objeto construído até o momento no local que esteja 1,70m
acima do solo, a princípio estaria livre de interferências do rio.
41

Figura 19 – Cotas de inundação do terreno

Fonte: Adaptado do Ministério de Minas e Energia Serviço Geológico do Brasil (2016)

Portanto, tendo como base esses dados, pavimentos que forem inseridos acima dessa
cota estarão, a princípio, salvos de qualquer interferência nestas zonas de cheias.
Portanto, construções devem prever estes ciclos hidrológicos, buscando prever a
integridade física dos materiais que estão nestes locais, sendo fundamental ao arquiteto
considerar esse aspecto no momento da concepção projetual.

3.3.3 Radiação solar e Ventilação

Para o bom andamento do processo projetual adaptado ao contexto climático do local


a ser implantado a edificação, é essencial o uso de diagramas como a rosa dos ventos
e carta solar, dos quais a carta solar (Figura 20) nos apresenta de forma gráfica os
caminhos do sol no hemisfério celeste visível durante os dias nas mais diferentes
estações do ano.

Esta ferramenta auxilia nos ângulos das proteções solares para as aberturas da
edificação, como também permite avaliar as radiações solares incidentes, suas
42

temperaturas ao longo do ano e sombreamentos advindos do entorno, sejam eles


causados por edificações vizinhas, relevo ou vegetação.

Figura 20 – Carta Solar de Colatina com indicação das temperaturas médias

Fonte: Adaptado de Amorim (2015) com uso do software Solar

O diagrama da rosa dos ventos permite avaliar a direção dos ventos predominantes,
orientações, frequências (Figura 21), e velocidade (Figura 22) de acordo com as
estações do ano, permitindo orientar as aberturas para estratégias desejadas no projeto
tirando máximo proveito deste recurso.

Cabe ressaltar que o ar, por ser tratar de um fluido, assim como a água, tende a permear
caminhos mais fáceis e sem barreiras. Segundo Hewitt (2015) vivemos no fundo de um
oceano de ar, onde a pressão deste fluído é exercida pela coluna de ar acima de nós,
pela atmosfera que é determinada pela energia cinética e a gravidade. Portanto, a rosa
de ventos é um mecanismo importante para compressão dos ventos, mas é necessário
avaliar também o relevo, as barreiras e os cânions formados por edifícios ou casas, que
podem se tornar caminhos preferenciais deste fluído. O vento predominante nem
sempre é o mesmo vento predominante na rua de trás.
43

Figura 21 – Rosa dos ventos – indicação das frequências de ventos para a cidade de
Colatina-ES

Fonte: Amorim (2015)

Figura 22 – Rosa dos ventos – indicação das velocidades dos ventos para a cidade de
Colatina-ES

Fonte: Amorim (2015)


44

Com as informações obtidas na revisão bibliográfica e normas, foi possível obter as


melhores estratégias com a finalidade de aplicação no processo projetual no município
de Colatina, estas estratégias consistem em três pilares: ventilação, orientação solar e
sombreamento.

A ventilação natural é um dos principais recursos para obtenção do conforto térmico,


pois através do efeito chaminé, ocasionado pela convecção, o ar quente é eliminado
pelas aberturas superiores, permitindo a entrada de ar mais fresco na edificação,
promovendo assim a renovação constante do ar, e a circulação do ar no interior da
edificação, dessa forma diminuindo o desconforto térmico (Figura 23).

Figura 23 – Esquema de ventilação natural com exaustão por convecção.

Fonte: Projeteee (2020)

Tirando partido da circulação de ar no interior das edificações (Figura 24), temos meios
de criar uma melhora no conforto do ambiente através da ventilação cruzada, além da
criação de pátios que beneficiam a ventilação e melhoram a capacidade da iluminação
natural para que possa agir ocasionado um menor uso da iluminação artificial.
45

Figura 24 – Esquema de ventilação cruzada

Fonte: Projeteee (2020)

Além dessas estratégias, podemos tomar partido da vegetação para melhor fluxo dos
ventos a fim de conduzi-los para a edificação, além das árvores terem papel importante
como reguladora do microclima, gerando sombreamento no entorno da edificação e na
própria edificação, reduzindo assim as temperaturas superficiais (Figura 25).

Figura 25 – Influência da vegetação na edificação

Fonte: Eduardo González et al. (1986)


46

Conforme Figura 26, a vegetação posta que agrega ao resfriamento das superfícies,
sendo que uma maneira eficaz é a utilização de vegetação em coberturas como por
exemplo em terraços jardins, onde o resfriamento da superfície é feito de forma efetiva.

Figura 26 – Esquema de terraço jardim

Fonte: Projeteee (2020)

Desta forma, varandas e beirais contribuem para o sombreamento da edificação, desde


que projetados de acordo com as orientações solares.

3.4 ESTUDO DO TERRENO

Após a confecção do programa de necessidades e a escolha do terreno, foi necessário


avaliar legislação vigente, com o Plano Diretor Municipal (Lei 2016) e Código de Obras
(Lei 4.226/1996). Dentro desta proposta vale ressaltar a importância de uma análise do
entorno e suas potencialidades e variáveis ambientais.
47

O Plano Diretor Municipal apresenta o zoneamento para a cidade, sendo possível


verificar a zona urbana da localidade da área escolhida, os usos permitidos e tolerados,
taxas de ocupação, taxa de permeabilidade e coeficiente de aproveitamento.

O terreno selecionado se encontra na área que atualmente encontra-se ocupada


diariamente por estacionamento de veículos e aos sábados pela manhã é destinado ao
uso da tradicional feira livre. O terreno se caracteriza por uma topografia em leve declive
em direção ao rio doce, com acessos pela Avenida Beira Rio e Avenida Delta, com
cânions propícios para ventilação cruzadas advindas pelas Avenidas Delta e José
Zouain.

Figura 27 – Localização do terreno em relação a cidade de Colatina

Fonte: Autor (2020), adaptado do Google Maps.

A figura 28 ilustra o zoneamento do terreno escolhido para a inserção da proposta


projetual desse trabalho, contextualizando e apresentando onde o terreno se situa de
acordo com a legislação vigente – Zona de Usos Diversos 2 - e o quadro 22 apresenta
os índices urbanístico desta zona.
48

Figura 28 – Mapa de Zoneamento de Colatina

Fonte: Autor (2020), adaptado da Prefeitura Municipal de Colatina (2016)

Quadro 2 – Índices da ZUD 2 - Zona de Uso Diverso 2

Fonte: Prefeitura Municipal de Colatina (2016)

Buscando entender o entorno do terreno e aspectos relevantes ao projeto, a figura 29


apresenta a localização do espaço escolhido e suas conexões com a cidade e suas
possibilidades. São oito edificações destacadas que tem um vasto valor histórico
cultural, com espaços e vias marcados em seis cores distintas, onde cada um contém
um potencial de exploração e são de suma importância para o município:
1. A área verde da Avenida Beira Rio, tem por objetivo a ocupação popular com
grandes planos verdes gramados, percursos voltados para a prática de
atividades físicas ao céu aberto e eventos de ocupação popular.
49

2. Localização das praças existentes e conectadas através de eixo verde.


3. Via compartilhada proposta, elevando piso que atualmente é utilizado como via
preferencial para veículos, retirando o revestimento asfáltico e colocando um
novo revestimento de blocos intertravados, mantendo assim a permeabilidade
do solo e buscando reduzir as temperaturas do entorno, além de criação de novo
paisagismo, conferindo barreiras naturais para redução da velocidade dos
veículos que ali fossem se locomover, criando um piso sem divisas altimétricas,
com preferência para pedestres e bicicletas.
4. Centro Cultural proposto no espaço, atualmente ocupado como estacionamento
de veículos e feira livre municipal, e através do projeto do Centro Cultural terá
uma área destinada a cultura e utilizações públicas para a população
colatinense.
5. Via de ligação entre os setores através de eixos verdes constituído por biovaletas
e adoção de paisagismo, redução das vagas de estacionamento e alargamento
das calçadas, com a ocupação planejada de parklets ao longo do eixo verde.
6. Via de ligação existente através do calçadão da Avenida Beira Rio.
50

Figura 29 – Localização do terreno em relação às conexões da cidade de Colatina e


suas possibilidades

Fonte: Autor (2020), adaptado do Google Maps.

As figuras 30 a 36 mostram os monumentos históricos do entorno que influenciam no


projeto do Centro Cultural, pois carregam a memória da cidade como marcos históricos.
Como neste centro será proposto um espaço destinado para galeria, com exposição
histórica através de fotografias e imagens, considerou-se apresentar as imagens das
mesmas, no entanto, alguns destes objetos construídos necessitam passar por
melhorias e restaurações.
51

Figura 30 - Ponte de Ferro

Fonte: Autor (2020)

Figura 31 – Biblioteca Municipal

Fonte: Autor (2020)


52

Figura 32 – Antiga estação ferroviária

Fonte: Autor (2020)

Figura 33 –Hospital e Maternidade Silvio Avidos

Fonte: Autor (2020)


53

Figura 34 – Catedral

Fonte: Nossa Colatina (2020)

Figura 35 – Cristo Redentor

Fonte: Nossa Colatina (2020)


54

Figura 36 – Foto do antigo Iate Clube

Fonte: Nossa Colatina (2020)

O terreno escolhido possui, além de todas as ligações potenciais com outras áreas da
cidade, potencialidades importante, como ventilação cruzadas e visuais quase que a
360°. Os visuais existentes permitem um panorama quase completo da calha do rio
doce no território urbano e da ponte Florentino Ávidos, que liga os dois lados da cidade,
além da visão do emblemático pôr do sol colatinense.

Quanto a ventilação, ao tomar partido dos ventos predominantes, as aberturas nas


fachadas permitem a captação dos ventos e troca do ar interno da edificação, através
do fluxo criado pelas ventilações cruzadas que o terreno permite.

Por se tratar de um campo aberto, sem proteção artificial ou natural aos raios solares,
o sombreamento das aberturas nos períodos de maior incidência solar é fundamental
ao conforto ambiental e eficiência energética da edificação, reduzindo a carga térmica
interna da edificação. Contudo, a orientação norte permite uma ampla captação dos
raios solares para geração de energia através de placas fotovoltaicas, reduzindo o
consumo de energia elétrica distribuída pela rede da concessionária de energia do
município, fator que deve ser considerado.
55

Figura 37 – Mapa de potencialidades do terreno

Fonte: Autor (2020), adaptado do Google Maps.

As figuras 38, 39 e 40 apresentam os visuais marcadas no mapa de potencialidades do


terreno.

Figura 38 – Vista da praça Sol Poente para o terreno escolhido

Fonte: Autor (2020)


56

Figura 39 – Vista da praça Sol Poente para a Biblioteca Municipal

Fonte: Autor (2020)

Figura 40 – Vista do terreno escolhido para praça Sol Poente

Fonte: Autor (2020)

Desta forma, a escolha desse terreno se faz pela importância deste para a conexão dos
elementos que constituem o aspecto histórico e cultural da cidade, principalmente por
sua proximidade com a antiga estação ferroviária, a biblioteca municipal, o rio, a praça
57

do Sol Poente e calçadão da Avenida Beira Rio, gerando assim um potencial


paisagístico para integração das áreas, criando um complexo com diferentes setores
devido a sua proximidade com essas edificações e infraestrutura e respeitando o
conceito cultural presente do município. E analisando o gabarito das edificações do
entorno, podemos perceber que a maior parte são constituídas por construções de até
3 pavimentos, com um ambiente urbano nas proximidades pouco verticalizado,
permitindo maior circulação de ventos na região do complexo cultural (Figura 41).

Figura 41 – Mapa de gabarito das edificações existentes no entorno

Fonte: Autor (2020)

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO: DESENVOLVIMENTO PROJETUAL

4.1 LEVANTAMENTO DE MASSAS

4.1.1 Localização do complexo cultural em relação ao perímetro urbano

O estudo de massas abordou uma proposta de quatro blocos culturais, sendo eles:

1) Bloco de Exposição e Cultura;


2) Bloco de Oficinas e Biblioteca;
3) Bloco de Teatro e Danças e;
4) Bloco de Divulgação Histórica e Cultural do município
58

Foram propostos quatro blocos que se conversam e criam essa interação social através
de pisos de mesmo nível, criando assim ambientes compartilhados sem obstáculos. As
ruas teriam seus níveis elevados, nivelando o piso das vias e calçadas, integrando-os
e criando uma nova paginação das ruas através dos pisos e vegetação, vias essas que
atualmente tem os veículos como prioridade, passando a ter um fluxo compartilhado
entre pedestres e veículos, tendo como personagens principais as pessoas que fariam
uso deste local.
Estes blocos possuem características que buscam integração à comunidade
colatinense, mantendo seu aspecto cultural e histórico, com a permanência dos prédios
da Antiga Estação e Biblioteca Municipal, preservando sua história e identidade. As
praças no entorno das edificações permaneceriam, buscando esta conexão, trazendo
novos usos aos prédios antigos e históricos.
A Biblioteca Municipal passaria a abrigar um mini museu com a ideia da divulgação dos
eventos culturais da cidade, assim como sua história. O prédio da antiga estação, por
seu formato monolítico no seu corpo principal e uma cobertura marcado ao lado,
passaria para o uso de escolas de teatro e dança, tomando partido da sua cobertura
para exibições públicas e abertas, utilizando também a praça para eventos de
ocupação popular.
Com relação à proposta projetual deste trabalho para a área onde hoje é a Feira Livre,
este seria constituído de dois blocos. No primeiro bloco, mais especificamente onde
hoje é utilizado como estacionamento de veículos e a feira livre do município, passaria
a ser um centro cultural contendo espaço de teatro, para apresentação de peças
voltadas para utilização pública e privada, cinema, com a exibição de filmes alternativos
ou de menor apelo comercial, como acontece no cinema da Universidade Federal do
Espírito Santo – UFES, atendendo ao público que hoje não possui espaço adequado
para utilização destes eventos, Nesse mesmo bloco, no espaço interno, em seus vãos
e corredores anexos, haveria exposições de artistas locais e nacionais. Contudo,
destaca-se que o espaço da feira livre não seria perdido pois, com a edificação
proposta, o espaço passaria a ser coberto, em parte, por esta edificação ou com
proteção da vegetação de grande porte, trazendo maior conforto aos seus usuários.

No segundo bloco, seria construída a nova Biblioteca Municipal, aproveitando o acervo


público e cultural, mas prevendo ampliação do mesmo, onde também haveria um
59

espaço para que se possa fazer oficinas, voltadas a comunidade, de forma que possa
garantir o local adequado e destinado para tal serviço.
Com o aterro no final da Avenida Rio Doce foi criada uma área verde, visto que,
atualmente, o espaço é destinado para uso popular de famílias e personagens urbanos
em busca de atividades físicas ou convívio social. Assim, esse público estaria
conectado ao centro cultural através do calçadão da Avenida Rio Doce.
A figura 42 ilustra o complexo cultural, com as novas conexões entre os edifícios
existentes e os propostos.

Figura 42 – Área do complexo cultural proposta

Fonte: Autor (2020)

A setorização do complexo segue a seguinte configuração (figura 43):

1. Píer com vista 180°, visuais para a ponte Florentino Ávidos, pôr e nascer do sol
e estátua do Cristo Redentor;
2. Espaço multiuso (esplanada) de ocupação plural, eventos ao ar livre, barracas
da feira livre, piso permeável para infiltração das águas no solo e reservatório
subterrâneo para captação das águas pluviais e reuso na manutenção das áreas
verdes do complexo;
60

3. Terraço jardim na cobertura do bloco de oficinas e biblioteca, vista 360°, com


visuais para a ponte Florentino Ávidos, pôr e nascer do sol, estátua do Cristo
Redentor, ponte de ferro, setor 8 e 7 e demais blocos do complexo;
4. Espaço multiuso de ocupação plural, eventos ao ar livre, barracas da feira livre,
piso permeável para infiltração das águas no solo, sombreado por árvores que
bloqueiam parte da insolação;
5. Praça com função de contemplação adjacente ao bloco de divulgação histórica
e cultural;
6. Bloco de divulgação histórica e cultural, partindo do restauro do atual prédio da
biblioteca municipal;
7. Espaço esportivo existente;
8. Praça para fins de passagem, descanso e para eventos de teatro e shows ao
céu aberto;
9. Bloco de teatro e danças, partindo do restauro da antiga estação ferroviária;
10. Praça de acesso ao complexo com função de transição do espaço urbano pro
histórico e cultural.

Figura 43 – Setorização das áreas do complexo

Fonte: Autor (2020)

Conforme Figura 43, a setorização do complexo segue a seguinte configuração:


61

1. Píer com vista 180°, visuais para a ponte Florentino Ávidos, pôr e nascer do sol
e estátua do Cristo Redentor;
2. Espaço multiuso (esplanada) de ocupação plural, eventos ao ar livre, barracas
da feira livre, piso permeável para infiltração das águas no solo e reservatório
subterrâneo para captação das águas pluviais e reuso na manutenção das áreas
verdes do complexo, onde as estratégias de sombreamento se baseiam no porte
das árvores que seriam implantadas nas áreas verdes, assim como o
sombreamento advindo da edificação proposta;
3. Terraço jardim na cobertura do bloco de oficinas e biblioteca, vista 360°, com
visuais para a ponte Florentino Ávidos, pôr e nascer do sol, estátua do Cristo
Redentor, ponte de ferro, setor 8 e 7 e demais blocos do complexo;
4. Espaço multiuso de ocupação plural, eventos ao ar livre, barracas da feira livre,
piso permeável para infiltração das águas no solo, sombreado por árvores que
bloqueiam parte da insolação;
5. Praça com função de contemplação adjacente ao bloco de divulgação histórica
e cultural;
6. Bloco de divulgação histórica e cultural, partindo do restauro do atual prédio da
biblioteca municipal;
7. Espaço esportivo existente;
8. Praça para fins de passagem, descanso e para eventos de teatro e shows ao
céu aberto, atividades essas, anteriormente exercidas no local;
9. Bloco de teatro e danças, partindo do restauro da antiga estação ferroviária;
10. Praça de acesso ao complexo com função de transição do espaço urbano pro
histórico e cultural.

4.1.2 Implantação dos blocos projetados

A implantação dos blocos no terreno toma partido dos espaços abertos criando conexão
entre os espaços de ocupação e a vegetação, criando assim um fluxo de ar e ventilação
cruzada no entorno dos blocos, com sombreamento gerado pelas vegetações que
circundam os blocos, recebendo assim uma adequada ventilação e insolação (figura
44). Levando em consideração as cheias do Rio Doce, as partes mais sensíveis dos
blocos, sendo eles o acervo da biblioteca projetada, acervo de exposição e
62

equipamento de projeção cinematográfica, foram planejados para estarem acima das


cotas de inundação.

Conforme a Figura 44;

1. Bloco 1 - exposição e cultura;


2. Bloco 2 - oficinas e biblioteca.

Figura 44 – Implantação e usos dos blocos

Fonte: Autor (2020)

Desta forma, foram propostos quatro blocos que se conversam e criam essa interação
social através de pisos de mesmo nível, criando assim ambientes compartilhados sem
obstáculos, as ruas teriam seus níveis elevados, nivelando o piso das vias e calçadas,
integrando-os e criando uma nova paginação das ruas através dos pisos e vegetação,
vias essas que atualmente tem os veículos como prioridade, passaria a ter um fluxo
compartilhado entre pedestres e veículos, tendo como personagens principais as
pessoas que fariam uso deste local.
Estes blocos possuem características que buscam integração a comunidade
colatinense, a fim de expressar seu aspecto cultural e histórico com a permanência dos
prédios da antiga estação e biblioteca municipal, de maneira que irá preservar sua
história e identidade. As praças no entorno das edificações permaneceriam, buscando
esta conexão, trazendo novos usos aos prédios antigos e históricos.
63

A biblioteca municipal passaria a abrigar um mini museu com a ideia da divulgação dos
eventos culturais da cidade, assim como sua história. O prédio da antiga estação, por
seu formato monolítico no seu corpo principal e uma cobertura marcando ao lado,
passaria para o uso de escolas de teatro e dança, tomando partido da sua cobertura
para exibições públicas e abertas, utilizando também a praça para eventos de ocupação
popular.
O estudo de massa e estratégias a ser proposto seria constituído de dois blocos, no
primeiro bloco, onde atualmente é utilizado como estacionamento de veículos e a feira
livre do município, passaria a ser um centro cultural contendo espaço de teatro, para
apresentação de peças voltadas para utilização pública e privada e contendo cinema
para atrações, como filmes alternativos ou de menor apelo comercial, como acontece
no cinema da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, assim atendendo ao
público que hoje não possui espaço adequado para utilização destes eventos, e nesse
mesmo bloco, no espaço interno, em seus vãos e corredores anexos, haveria
exposições de artistas locais e nacionais.
No segundo bloco, seria construído uma nova biblioteca municipal, para que com esse
espaço a população colatinense possa aproveitar o acervo público e cultural, e também
teria um espaço para que se possa fazer oficinas, voltadas a comunidade, de forma que
possa garantir o local adequado e destinado para tal serviço.
O espaço da feira livre não seria perdido, com a edificação construída, o espaço
passaria a ser coberto, em parte, pela nova edificação ou com proteção da vegetação
de grande porte, trazendo maior conforto aos seus usuários.
Com o aterro no final da Avenida Rio Doce foi criada uma área verde, atualmente o
espaço é destinado para uso popular de famílias e personagens urbanos em busca de
atividades físicas ou convívio social, portanto esse público estaria conectado ao centro
cultural através do calçadão da Avenida Rio Doce.
64

Figura 45 – Bloco de exposição e cultura – Térreo

Fonte: Autor (2020)


65

Neste mesmo bloco, no pavimento superior, inseriu-se o mezanino e uma área de


exposição, estes, em níveis distintos, levando a sensação de que a cada nível há uma
nova descoberta (figuras 45 e 46). Como não foi possível o acesso via elevador entre
estes dois níveis, foram colocadas escadas rolantes com função de plataforma, desta
forma nenhum usuário ficará sem acesso aos pavimentos.

Figura 46 – Bloco de exposição e cultura – Mezanino

Fonte: Autor (2020)


66

Figura 47 – Bloco de exposição e cultura – Nível de Exposição

Fonte: Autor (2020)

O bloco 2, denominado bloco de Oficinas e Biblioteca foi baseado no conceito de


conhecimento, onde nos primórdios, o saber era concebido de forma empírica,
passando pela escrita até chegar nos filósofos gregos, até atingir o saber, que passaria
por contemplar a existência. Desta forma o térreo foi concebido para abrigar as aulas
de oficinas e conhecimentos práticos e técnicos, e o saber teórico encontra lugar no
segundo nível da edificação onde o acervo da biblioteca está numa altura protegida de
todas inundações já registradas. Por fim, o terraço jardim que além de possuir
propriedades de isolamento térmico, tem finalidade também de contemplação, com
vista de 360º do entorno, visuais para o Rio Doce, bloco de exposição e cultura, bloco
67

de teatro e dança, bloco de divulgação histórica e cultural do município e cristo redentor


(igura 48, 49 e 50).

Figura 48 – Bloco de oficinas e biblioteca – Térreo

Fonte: Autor (2020)


68

Figura 49 – Bloco de oficinas e biblioteca – 2º pavimento

Fonte: Autor (2020)


69

Figura 50 – Bloco de oficinas e biblioteca – Terraço jardim

Fonte: Autor (2020)

A Figura 51 apresenta corte esquemático do bloco de exposição e cultura com os níveis


das cotas de inundação mencionadas anteriormente.

Figura 51 – Corte Esquemático dos níveis das cotas de inundação

Fonte: Autor (2020)


70

Figura 52 – Perspectiva Esquemática com descrição geral

Fonte: Autor (2020)

Figura 53 – Perspectiva geral

Fonte: Autor (2020)


71

Figura 54 – Perspectiva vista do píer para os blocos de exposição e cultura e bloco


oficinas e biblioteca

Fonte: Autor (2020)

Figura 55 – Perspectiva de vão permeável de ligação entre os blocos

Fonte: Autor (2020)


72

Figura 56 – Perspectiva de vão permeável de ligação entre os blocos

Fonte: Autor (2020)

Figura 57 – Perspectiva do bloco respeitando a vista para o rio

Fonte: Autor (2020)


73

Figura 58 – Perspectiva da via compartilhada, paralela ao centro cultural

Fonte: Autor (2020)

Figura 59 – Perspectiva do bloco de oficinas e biblioteca

Fonte: Autor (2020)


74

Figura 60 – Perspectiva do terraço jardim

Fonte: Autor (2020)

Figura 61 – Perspectiva da via compartilhada paralela ao bloco de divulgação histórica


e cultural do município (atual biblioteca municipal)

Fonte: Autor (2020)


75

Figura 62 – Perspectiva vista da via compartilhada para os blocos

Fonte: Autor (2020)

Figura 63 – Perspectiva vista do píer

Fonte: Autor (2020)


76

Figura 64 – Perspectiva do bloco de exposição e cultura

Fonte: Autor (2020)

Figura 65 – Perspectiva da praça interna do bloco oficinas e biblioteca

Fonte: Autor (2020)


77

Figura 66 – Perspectiva interna da biblioteca

Fonte: Autor (2020)

Figura 67 – Perspectiva interna da cafeteria do bloco oficinas e biblioteca

Fonte: Autor (2020)


78

Figura 68 – Perspectiva interna do bloco de exposição e cultura

Fonte: Autor (2020)

Figura 69 – Perspectiva interna do bloco de exposição e cultura

Fonte: Autor (2020)


79

Figura 70 – Perspectiva interna da sala de exposição

Fonte: Autor (2020)

Figura 71 – Perspectiva geral com as árvores implantadas

Fonte: Autor (2020)


80

Figura 72 – Perspectiva aérea dos blocos e seu entorno

Fonte: Autor (2020)

Tomando partido dos ventos predominantes, as aberturas nas fachadas permitem a


captação dos ventos e troca do ar interno da edificação, através do fluxo interno criado
pelas ventilações cruzadas que o terreno permite. A Figura 73 exemplifica o
comportamento dos ventos devido a sua temperatura, e as cores de representação.

Figura 73 – Corte esquemático dos comportamentos dos ventos devido a sua


temperatura

Fonte: Autor (2020)


81

Em função da altura do pé direito nos pavimentos térreos dos blocos é possível a


abertura em dois níveis em cada andar, permitindo assim a entrada do ar mais frio na
parte inferior e o efeito chaminé do ar mais quente na parte superior de cada pavimento,
gerando assim um fluxo e troca constante do ar (Figuras 74 e 75). O fato de as
construções serem predominantemente de cores claras, permitem uma maior reflexão
da radiação e menor absorção do calor, somado ao fato de se ter uma menor área de
superfície para radiação quando comparados com coberturas inclinadas e na direção
norte.

Figura 74 – Corte esquemático de ventilação natural no bloco de exposição e cultura

Fonte: Autor (2020)

Figura 75 – Corte esquemático de ventilação natural, bloco oficinas e biblioteca

Fonte: Autor (2020)

Com os dados obtidos da carta solar e orientações das fachadas, foram projetadas
proteções nas aberturas conforme as simulações de insolação realizadas, tomando
partido do sombreamento através de beirais volumosos no Bloco de Exposição e
Cultura e grandes varandas no Bloco de Oficinas e Biblioteca, não sofrendo nenhum
82

tipo de entrada das insolações mais fortes que comprometessem o uso dos ambientes
em nenhum dos blocos projetados. A Figura 76 mostra uma simulação no bloco de
oficinas e biblioteca para o mês de janeiro às 15h.

Figura 76 – Simulação de insolação do bloco de oficinas e biblioteca no mês de


janeiro às 15h

Fonte: Autor (2020)

Quanto ao bloco de exposição e cultura, foi realizado simulação de alguns meses do


ano no mesmo horário da simulação anterior (Figuras 77 e 80), e foi possível observar
que em nenhuma das simulações houveram interferências que comprometessem o
conforto.
83

Figura 77 – Simulação bloco de exposição e cultura no mês de janeiro às 15h

Fonte: Autor (2020)

Figura 78 – Simulação bloco de exposição e cultura no mês de abril às 15h

Fonte: Autor (2020)


84

Figura 79 – Simulação bloco de exposição e cultura no mês de agosto às 15h

Fonte: Autor (2020)

Figura 80 – Simulação bloco de exposição e cultura no mês de dezembro às 15h

Fonte: Autor (2020)


85

5 CONCLUSÃO

Os resultados mostram que é possível a construção de um complexo cultural que ligue


a história do município, sua importância e memoria, além de promover a ocupação
plural e popular dos ambientes públicos, atendendo os requisitos de legislação
necessários. Tal resultado só pôde ser alcançado de forma satisfatória com a aplicação
dos princípios e estratégias projetuais direcionadas ao bioclimatismo, eficiência
energética e sustentabilidade.

Este estudo teve como objetivo a utilização de soluções passivas, para a obtenção do
conforto com base no clima local, visando promover estratégias das quais o arquiteto
pode tomar partido em benefício de seu projeto e, principalmente, em benefício do
usuário e do meio ao qual a edificação está inserida. Foi tido como base o uso de
ventilação, orientação solar e vegetação para que houvesse uma mudança local em
termos de microclima, interferindo, inclusive, no seu entorno.

O projeto arquitetônico teve por característica a integração entre a cultura, espaço


público e edificação conjunta com locais históricos do município, visando uma maior
integração entre setor público privado e social, permitindo uma constante agenda de
eventos divulgados pelo município por meio de sua Secretaria de Cultura, buscando
proporcionar, então, um espaço propício para o exercício cultural na cidade de Colatina.

Portanto, foi possível verificar potencial de toda uma rede de integração cultural, através
de símbolos históricos e sociais, cabendo uma pesquisa de maior amplitude explorando
essas ligações e aspectos sociais do município, já que muitas de suas edificações
antigas ainda existem escondidas atrás de letreiros no centro comercial da cidade.
86

REFERÊNCIAS

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