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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

BRUNO GIORGIO D’ALESSANDRI MARTINS

RIO DOCE E COLATINA-ES: DO CONFLITO À RECONCILIAÇÃO

Colatina

2017
BRUNO GIORGIO D’ALESSANDRI MARTINS

RIO DOCE E COLATINA-ES: DO CONFLITO À RECONCILIAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Coordenadoria do Curso de Arquitetura e
Urbanismo do Instituto Federal do Espírito Santo,
como requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: M. Sc. Renata Mattos Simões

Coorientador: D. Sc. Abrahão Alexandre


Alden Elesbon

Colatina-ES

2017
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
(Instituto Federal de Espírito Santo – Biblioteca Campus Colatina)

M386r Martins, Bruno Giorgio D’Alessandri

Rio Doce e Colatina : do conflito à reconciliação / Bruno Giorgio


D’Alessandri Martins. – 2017.

149 f. : il. ; 30 cm

Orientadores: Renata Mattos Simões e Abrahão Alexandre Alden


Elesbon.

Monografia (graduação) - Instituto Federal do Espírito Santo,


Coordenadoria de Arquitetura e Urbanismo, Bacharelado em Arquitetura e
Urbanismo, 2017.

1. Arquitetura paisagística – Colatina (ES). 2. Doce, Rio (ES e MG) –


Colatina (ES). 3. Ecologia das paisagens – Colatina (ES). I. Simões, Renata
Mattos. II. Elesbon, Abrahão Alexandre Alden. III. Instituto Federal do Espírito
Santo – campus Colatina. IV. Título.

CDD 712.098152

Elaborado por Richards Sartori Corrêa CRB6-ES / 767


DECLARAÇÃO DO AUTOR

Declaro, para fins de pesquisa acadêmica, didática e técnico-científica, que este


Trabalho de Conclusão de Curso pode ser parcialmente utilizado, desde que se faça
referência à fonte e ao autor.

Colatina, 7 de dezembro de 2017.

Bruno Giorgio D’Alessandri Martins


Para Sandra e Paola.
AGRADECIMENTOS

A Deus, pela infinidade de sentimentos bons que me proporciona.

À minha família, minha mãe e minha irmã, pelo amor, atenção, cuidados, carinho e
paciência incondicionais.

À minha orientadora, Renata Mattos Simões, pela amizade, receptividade,


ensinamentos, confiança, atenção, paciência, generosidade, compreensão, cuidados e,
fundamentalmente, bambinagem.

Ao meu coorientador, Abrahão Alexandre Alden Elesbon, pela amizade, confiança,


ensinamentos, generosidade, cuidados, paciência, compreensão e por ser, em termos
práticos, o cupido de mim com o rio Doce.

Ao professor Homero Marconi Penteado por ter aceito o convite de ser membro externo
da banca e pelas importantes considerações e participação.

À minha professora da disciplina de TCC II, Amábeli Dell Santo, pelos ensinamentos e
paciência durante o período.

A Marcos Alberto Penitente Júnior, pela confiança, compreensão e generosidade para


o desenvolvimento deste trabalho.

A Mateus Bernardo Scussulim Saloto, Michel dos Santos Martins e Igor Corona
Pedrone, pela amizade, confiança, generosidade e momentos únicos na República 202.

A Denise Aparecida de Souza, Alana Franzin Fagundes e Rafhaela Jejesky Vieira, pela
amizade incondicional e momentos únicos vividos durante a faculdade.

A Alexandre Cypreste Amorim e Sirana Palassi Fassina pela amizade, ensinamentos,


cuidados, apoio, receptividade e generosidade ao longo da faculdade.

À Ana Barbosa Maciel, Dona Ana, pela amizade, receptividade, cuidados e apoio.

A todos os meus professores do Ifes, pelos ensinamentos, paciência, atenção e que


juntos construíram grande parte do que sou hoje.

A todos meus amigos e colegas de curso que de alguma forma contribuíram na minha
trajetória da faculdade e deste trabalho.

Ao ensino gratuito público e de qualidade fornecido pelo Instituto Federal do Espírito


Santo, e a todos os servidores do Campus Colatina, por ajudarem a construir com
qualidade e dedicação um lugar memorável de aprendizados para toda a vida.
No quintal lá de casa
Passava um pequeno rio
Que descia lá da serra
Ligeiro, escorregadio.
A água era cristalina
Que dava pra ver o chão
Ia cortando a floresta
Na direção do sertão.
Lembrança ainda me resta
Guardada no coração.
E tudo era azul-celeste
Brasileiro cor de anil
Nem bem começava o ano
Já era final de abril
E o vento pastoreando
Aquelas nuvens no céu
Fazia o mundo girar
Veloz como um carrossel
E levantava a poeira
E me arrancava o chapéu.
Ah, o tempo faz, tempo desfaz,
E vai além sempre.
A vida vem lá de longe
É como se fosse um rio.
Pra rio pequeno, canoa,
Pros grandes rios, navios.
E bem lá no fim de tudo,
Começo de outro lugar,
Será como Deus quiser
Como o destino mandar.
No rastro da luz cheia
Se chega em qualquer lugar.

(SATER; TEIXEIRA, 2007)


RESUMO

O desenvolvimento humano e o surgimento das cidades sempre tiveram uma relação


forte de dependência e subsistência com os cursos d’água. No entanto, apesar de
fazerem parte da história humana e serem elementos estruturadores de cidades,
relações exploratórias têm provocado a ruptura das pessoas e núcleos urbanos com os
rios, sendo necessária uma reaproximação. O rio Doce, um dos maiores e mais
importantes rios do Brasil, ao longo de toda a colonização europeia passou por esse
processo de ocupação urbana desenfreada e descaracterização ambiental. Além disso,
Colatina, no estado do Espírito Santo, e outras cidades que fazem parte da bacia do rio
Doce desenvolveram-se em suas margens sem o devido planejamento de ocupação e
expansão de modo sustentável, trazendo inúmeros impactos negativos para as
riquezas naturais, a fauna, a flora e as pessoas. Com o objetivo de remodelar o espaço
de contato da cidade com o rio, este trabalho é uma ferramenta de reconciliação, neste
caso de Colatina com o rio Doce. A metodologia se estruturou em três etapas, iniciando
por um diagnóstico urbano e ambiental com a aplicação da Matriz Fofa. A segunda
etapa se representou por uma classificação e sistematização dos espaços livres e
conexões destas com o rio Doce, aplicando-se o método da Trama Verde-Azul nos
níveis urbano e regional. E na terceira etapa, elaboraram-se diretrizes e estratégias
projetuais para a requalificação urbana do rio Doce, representada pela proposta de um
parque linear em Colatina. Desse modo, o projeto foi resultado da sobreposição das
teorias do Urbanismo Ecológico associadas aos métodos de diagnóstico, de
sistematização dos espaços livres e de planejamento urbano-ambiental. Acredita-se
que a aplicação deste procedimento possibilita a reincorporação do rio à cidade e vice-
versa, tornando o território um lugar urbano de convívio social e um espaço sistêmico
natural conectado com a bacia hidrográfica em que está inserido.

Palavras chave: Parque linear. Trama Verde-Azul. Ecologia da paisagem. Colatina. Rio
Doce.
ABSTRACT

Human development and the emergence of cities have always had a strong relationship
of dependence and subsistence with watercourses. However, although they are part of
human history and are structural elements of cities, exploratory relations have caused
the rupture of people and urban nuclei with rivers, and a rapprochement is necessary.
The Doce river, one of the largest and most important rivers in Brazil, throughout this
European colonization has undergone this process of unbridled urban occupation and
environmental discharacterization. In addition, Colatina, in the state of Espirito Santo,
and other cities that form part of the Doce River basin have developed along its banks
without due planning of occupation and expansion in a sustainable way, bringing
innumerable negative impacts to natural resources, fauna, flora and people. With the
purpose of remodeling the contact space of the city and the river, this work is a tool of
reconciliation, in this case of Colatina with the Doce river. The methodology was
structured in three stages, starting with an urban and environmental diagnostic with the
application of the SWOT Analysis. The second stage was represented by a classification
and systematization of the free spaces and their connections with the Doce River,
applying the Green-Blue Network method at the urban and regional levels. And in the
third stage, guidelines and design strategies were developed for the urban
redevelopment of the Doce river, represented by the proposal of a linear park in Colatina.
Thus, the project was a result of the overlapping of Ecological Urbanism theories
associated with methods of diagnostic, systematization of free spaces and urban-
environmental planning. It is believed that the application of this procedure allows the
reincorporation of the river to the city and the opposite, making the territory an urban
place of social interaction and a natural systemic space connected with the hydrographic
basin in which it is inserted.

Key words: Linear Park. Green-Blue Network. Landscape ecology. Colatina. Doce River.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 – Croqui que representa a relação de antigas civilizações com a água. ..16

Ilustração 2 – Croqui que representa o respeito e dependência de comunidades


indígenas com a água. ..................................................................................................17

Ilustração 3 – Croqui em corte representativo da situação atual dos rios urbanos


brasileiros. ......................................................................................................................19

Ilustração 4 – Quadro com Funções Abióticas, Bióticas e Culturais (ABC) da


infraestrutura verde urbana. ..........................................................................................25

Ilustração 5 – Quadro com Estratégias de preservação de espaços livres. .................26

Ilustração 6 – Diagrama da relação entre paisagem, matriz, corredor, fragmentos e


conexões. .......................................................................................................................28

Ilustração 7 – Diagrama do princípio básico da Trama Verde-Azul. .............................29

Ilustração 8 – Diagrama dos atores do processo da agricultura urbana. .....................32

Ilustração 9 – Mapa de percurso do estudo de caso. ...................................................34

Ilustração 10 – Parc Du Chemin De L'ile, em Paris, França. ........................................35

Ilustração 11 – Margens do rio Sena entre 1947 e 1963, em Paris, França. ...............36

Ilustração 12 – Margens do Sena atualmente, em Paris, França. ................................37

Ilustração 13 – Antiga orla fluvial do Rhône, em Lyon, França. ....................................37

Ilustração 14 – Novo espaço urbano após execução do projeto no rio Rhône, em Lyon.
.......................................................................................................................................38

Ilustração 15 – Zonas de influência da intervenção na bacia do rio Capibaribe, em


Recife. ............................................................................................................................39

Ilustração 16 – Zonas de articulação do rio com seus elementos urbanos e naturais. 40


Ilustração 17 – Vista panorâmica do projeto no rio Capibaribe e sua inserção na cidade.
.......................................................................................................................................41

Ilustração 18 – Vista aproximada do projeto em uma das margens do rio Capibaribe.


.......................................................................................................................................41

Ilustração 19 – Processo de transformação da paisagem no rio Cheonggyecheon. ...42

Ilustração 20 – Seção esquemática do rio Cheonggyecheon mostrando o tempo de


recorrência de inundação e as galerias marginais. .......................................................43

Ilustração 21 – Esquema mostrando a separação das tubulações de água pluvial das


de esgoto. ......................................................................................................................43

Ilustração 22 – Rio Cheonggyecheon incorporado e apropriado pela cidade. .............44

Ilustração 23 – Mosaico de fotos do rio Chicago após as intervenções nas margens. 45

Ilustração 24 – Esquemas tipológicos de passeio no rio Chicago. ...............................46

Ilustração 25 – Mosaico de imagens do projeto Parque Botânico do Río Medellín. ....47

Ilustração 26 – Mapa da ecorregião do estuário do Tâmisa sobreposto às ações de


projeto. ...........................................................................................................................48

Ilustração 27 – Esquema de partido do projeto do rio Tâmisa......................................49

Ilustração 28 – Níveis de percepção e análise do território. .........................................50

Ilustração 29 – Croqui da localização da bacia hidrográfica do rio Doce e da cidade de


Colatina-ES. ...................................................................................................................51

Ilustração 30 - Cortes esquemáticos da evolução histórica de Colatina.......................53

Ilustração 31 – Infográfico dos resultados do desastre da lama de rejeitos de minério no


rio Doce. .........................................................................................................................55

Ilustração 32 – Fotografias do resgate de peixes em Colatina-ES. ..............................56

Ilustração 33 – Mapa esquemático dos pontos visitados com vista para o rio Doce. ..57
Ilustração 34 – Mosaico de fotografias de leitura do território nos pontos 1 a 13,
conforme Ilustração 32. .................................................................................................58

Ilustração 35 – Sobreposição temporal de símbolos antigos e recentes do rio Doce e de


Colatina. .........................................................................................................................61

Ilustração 36 – Mapa esquemático de diagnóstico pela Matriz Fofa. ...........................62

Ilustração 37 – Quadro com ações de projeto de sistematização dos espaços livres. 68

Ilustração 38 – Diretrizes e estratégias de projeto para relacionamento da cidade com o


rio. ..................................................................................................................................70

Ilustração 39 – Mapas de dados existentes sobre Colatina. .........................................71

Ilustração 40 – Propostas de sistematização dos espaços livres de Colatina..............73

Ilustração 41 – Proposta de mapeamento e recuperação de microbacias urbanas.....75

Ilustração 42 – Proposta de circuitos, mobilidade e acessos para o rio Doce. .............76

Ilustração 43 – Proposta de Trama Verde-Azul para o rio Doce no trecho urbano de


Colatina. .........................................................................................................................77

Ilustração 44 – Mapa de intervenção dos esquemas tipológicos de margem. .............79

Ilustração 45 – Esquemas tipológicos do parque linear ................................................80

Ilustração 46 – Descrição dos ícones de diretrizes e estratégias para as propostas de


intervenção. ...................................................................................................................81

Ilustração 47 – Corte ilustrativo Doce Central e Doce Verde e Azul.............................82

Ilustração 48 – Corte ilustrativo Doce Lazer..................................................................82

Ilustração 49 – Corte ilustrativo Doce Bosque. .............................................................83

Ilustração 50 – Corte ilustrativo Doce Lazer..................................................................83

Ilustração 51 – Corte ilustrativo Doce Dia e Noite. ........................................................83


Ilustração 52 – Corte ilustrativo Doce Dia e Noite. ........................................................84

Ilustração 53 – Corte ilustrativo Doce Central. ..............................................................84

Ilustração 54 – Corte ilustrativo Doce Central. ..............................................................84

Ilustração 55 – Corte ilustrativo Doce Bosque. .............................................................85

Ilustração 56 – Corte ilustrativo Doce Central. ..............................................................85

Ilustração 57 – Corte ilustrativo Doce Central. ..............................................................86

Ilustração 58 – Corte ilustrativo Doce Agro. ..................................................................86

Ilustração 59 – Corte ilustrativo Doce Bosque. .............................................................86

Ilustração 60 – Corte ilustrativo Doce Bosque. .............................................................87

Ilustração 61 – Corte ilustrativo Doce Agro. ..................................................................87

Ilustração 62 – Corte ilustrativo Doce Lazer e Doce Agro. ...........................................88

Ilustração 63 – Corte ilustrativo Doce Central. ..............................................................88

Ilustração 64 – Corte ilustrativo Doce Lazer..................................................................88

Ilustração 65 – Corte ilustrativo Doce Bosque. .............................................................89

Ilustração 66 – Corte ilustrativo Doce Bosque. .............................................................90

Ilustração 67 – Corte ilustrativo Doce Central. ..............................................................90

Ilustração 68 – Corte ilustrativo Doce Lazer e Doce Agro. ...........................................91

Ilustração 69 – Corte ilustrativo Doce Verde e Azul. .....................................................91

Ilustração 70 – Corte ilustrativo Doce Agro e Doce Bosque. ........................................92

Ilustração 71 – Corte ilustrativo Doce Verde e Azul. .....................................................92

Ilustração 72 – Corte ilustrativo Doce Central. ..............................................................93


Ilustração 73 – Corte ilustrativo Doce Bosque e Doce Lazer. .......................................93

Ilustração 74 – Perspectiva que ilustra possibilidades de uso nas margens. ...............94

Ilustração 75 – Perspectiva que ilustra possibilidades de uso nas margens. ...............94


SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................16
1.1 OBJETIVOS ..........................................................................................................21
1.1.1 Geral ...................................................................................................................21
1.1.2 Específicos ........................................................................................................21
1.2 METODOLOGIA ...................................................................................................21
2 NAVEGANDO ENTRE TEORIAS E AÇÕES .........................................................23
2.1 CONCEITOS .........................................................................................................23
2.2 FERRAMENTAS ...................................................................................................28
2.3 PRÁTICAS ............................................................................................................30
2.3.1 Agricultura urbana ............................................................................................31
2.3.2 Corredores ecológicos.....................................................................................32
2.3.3 Parques lineares ...............................................................................................33
3 DE MEDELLÍN A CHICAGO: A GOTA D’ÁGUA PARA CIDADES FLUVIAIS ....34
3.1 RIO SENA, PARIS, FRANÇA ................................................................................34
3.2 RIO RHÔNE, LYON, FRANÇA .............................................................................37
3.3 RIO CAPIBARIBE, RECIFE, BRASIL ...................................................................39
3.4 RIO CHEONGGYECHEON, SEUL, CORÉIA DO SUL .........................................42
3.5 RIO CHICAGO, CHICAGO, ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA ..........................44
3.6 RIO MEDELLÍN, MEDELLÍN, COLÔMBIA ............................................................46
3.7 RIO TÂMISA, ESTUÁRIO DE LONDRES, INGLATERRA....................................47
4 LEITURA DO TERRITÓRIO ...................................................................................50
4.1 MEANDROS DA HISTÓRIA: RIO DOCE E COLATINA........................................50
4.2 LEVANTAMENTO E SISTEMATIZAÇÃO DOS DADOS ......................................57
4.3 ELABORAÇÃO DE DIRETRIZES .........................................................................68
5 PROPOSTA DE PROJETO....................................................................................71
6 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................95
REFERÊNCIAS .............................................................................................................97
16

1 INTRODUÇÃO

A cidade, vista como um organismo natural de transformação, sofre alterações ao longo


do tempo e altera os seres vivos urbanos. São vários instrumentos e autores que
constroem natural e artificialmente a sistemática de funcionamento da cidade e
relacionam seus elementos com o mundo externo.

Para o poeta belga Verhaeren, a cidade é regida como um ser vivo único e formado por
outros seres (FABRIS, 2000). Sob este olhar, pode-se analisar esse panorama como
um universo particular e dependente, onde os habitantes interagem entre si, com os
elementos e a natureza. Viver, trabalhar, descansar e circular são tarefas que fazem as
pessoas utilizarem o espaço urbano e usufruírem daquilo que a cidade tem o dever de
oferecer e o que a natureza proporciona (IRAZÁBAL, 2001).

Como agente transformador do espaço natural e determinante no desenho urbano, as


águas orientam o crescimento de cidades. A água esteve e sempre estará ligada à
alteração da topografia, à influência climática, ao surgimento e abundância da vida, e à
consequente ocupação das pessoas. A ligação dos homens com os cursos d'água
possui relação forte, devido à sua simples dependência pela existência, prevalecendo
uma sintonia de desenvolvimento, ou melhor, uma interação que sugere desde os
primórdios da civilização que a sociedade cresça e respeite os recursos hídricos e seus
ciclos (Ilustração 1). Essa realidade existe e se conhece desde as antigas civilizações
que utilizavam as cheias dos rios como mecanismo de fertilidade para produção
agrícola.

Ilustração 1 – Croqui que representa a relação de antigas civilizações com a água.

Fonte: Elaborado pelo autor.


17

A ocupação humana fez uso da presença hídrica para o próprio sustento e, em muitos
casos, delimitou paisagens naturais de largos rios, regiões de delta, canais, mangues,
pântanos. Antes das grandes ocupações e conformações urbanas esse processo de
reciprocidade sociedade-água é visto naturalmente em povos tradicionais, como os
indígenas brasileiros (DIEGUES, 2007).

Para Diegues (2007), em muitas sociedades brasileiras dadas como “primitivas”, a água
doce é símbolo da vida, onde habitam divindades que as protegem. Águas de nascentes
são tidas como representação da pureza e inocência, devendo ser respeitadas, sob
pena de severos castigos.

Segundo Morán (1990 apud MUSEU..., 2017), os índios em território brasileiro que
vivem nas bacias de água preta sabem que, nas matas ciliares, inúmeras espécies de
peixes encontram alimento e refúgio para desova. Devido a essa percepção, as
comunidades evitam atividades agrícolas nessas áreas para não perturbar o
desenvolvimento do ciclo vital dessas espécies, pois estas ocupam importante lugar na
alimentação da tribo (Ilustração 2).

Ilustração 2 – Croqui que representa o respeito e dependência de comunidades indígenas com a água.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Sendo o meio ambiente formado por vários ecossistemas, cada região apresenta suas
individualidades de formação e influência, pois cada uma é um sistema ecológico
diferente. Assim, pode-se afirmar que o meio ambiente significa um importante gerador
cultural, social e religioso, pois cada comunidade indígena se adaptou a esses aspectos
18

ambientais naturais para desenvolver sua subsistência e seu bem-estar (MORÁN, 1990
apud MUSEU..., 2017).

Analisando-se, brevemente, o estilo de vida de comunidades tradicionais, em


comparação com a ocupação “civilizada” da sociedade contemporânea, percebem-se
diversos paradoxos aos quais ela mesma criou para o modo citadino de encarar o meio
ambiente. Afinal, biologicamente, indígenas são idênticos a homens urbanos, possuem
as mesmas necessidades básicas, e, portanto, não há por que abandonar a cultura de
respeito e gratidão às águas.

Sob essa visão de respeito aos bens naturais, é importante salientar a visão de
Rodrigues (2012), que afirma o equívoco de conceito entre as expressões recursos
naturais e riquezas naturais. Pode parecer apenas uma questão linguística de
colocação, mas muito pode dizer sobre como o ser humano encara o que o planeta
oferece. Quando seus bens são vistos como recursos, pode-se subentender que são
matérias feitas para serem utilizadas e rejeitas, transformadas em algum produto pelo
homem, que representam valor monetário. Mas o termo riquezas induz a pensar que
são bens finitos, de grande valor, pois significam vida. Sendo assim, preferindo-se
passar a encarar o meio aquático não como recurso, mas como riqueza hídrica, é
necessário também que as cidades o tratem como tal.

Atualmente, o que se assiste na maioria das cidades brasileiras são mananciais que,
mesmo sendo fonte de abastecimento, perderam suas características naturais, sofrem
com o despejo de esgoto, águas pluviais carregadas de resíduos das ruas, e são
destino de entulho. Se esses fatos ocorrem, é evidente que população e governos são
inconsequentes com seus atos por não cumprirem o saneamento ambiental e se
apropriarem de áreas de várzea, de recarga e de nascente. Esses efeitos são
observados com mais evidência em locais onde as orlas fluviais urbanas foram
descaracterizadas com ações de infraestrutura urbana, como afirma Costa (2006, apud
GORSKI, 2010, p. 77):

Já sabemos que não é mais aceitável pensar em retificar um rio, revestir seu
leito vivo com calhas de concreto, e substituir suas margens vegetadas por vias
asfaltadas, como uma alternativa de projeto para sua inserção na paisagem
urbana. Estas propostas, que tinham como uma de suas bases conceituais a
busca do controle das enchentes urbanas, são muito criticadas não só pela
fragilidade socioambiental no resultado final do projeto, como também pela
pouca eficiência no controle destas mesmas enchentes.
19

A conclusão da autora induz, portanto, a um novo pensamento urbanístico que promove


uma ocupação consciente para as orlas fluviais urbanas. A ocupação que tinha as
antigas premissas se mostra falha, além do ponto de vista ambiental, por incentivar a
cidade que exclui o pedestre do espaço e prioriza a máquina como único meio de
transporte. O ambiente se torna ermo e os problemas sociais se acumulam. Lugares
como esses, criados por rejeição, tornam-se palco para habitações irregulares e
insalubres, crimes e consumo de drogas. Na visão de Gorski (2010), como tem função
apenas para tráfego, o espaço e aqueles que o utilizam não são vistos pela cidade,
como se não fizessem parte desta (Ilustração 3).

Ilustração 3 – Croqui em corte representativo da situação atual dos rios urbanos brasileiros.

Fonte: Elaborado pelo autor.

A grande população, inerte e sujeita a todo esse sistema cultural histórico, ciclicamente
desrespeita e subestima o espaço urbano e as riquezas hídricas. O desrespeito,
algumas vezes, resulta em catástrofe, exemplificado pelo ocorrido na bacia do rio Doce,
em novembro de 2015, quando a barragem de Fundão (Mariana-MG), repleta de lama
de rejeitos da mineração da Samarco se rompeu. Este, considerado o maior desastre
ambiental do Brasil, provocou mortes e impactou em toda a cadeia ambiental, desde
Bento Rodrigues, em Mariana-MG, até Regência, em Linhares-ES (MATOS et al.,
2016).

O que a sociedade precisa perceber é que os problemas ambientais e entraves


culturais, sociais e econômicos poderiam ser transformados com ações de gestão na
infraestrutura das águas urbanas. Tal gestão abrange a bacia hidrográfica, área de
captação e infiltração natural das águas pluviais, onde nascentes brotam e os afluentes
20

se convergem, de particularidades ecossistêmicas, climáticas e geológicas. Portanto,


deve-se enxergar o rio não apenas no seu leito, mas em toda a sua abrangência. Se
essa área circunscreve uma zona urbana densamente habitada até suas margens,
como é o caso da cidade de Colatina-ES, seria inviável, por exemplo, aplicar a
legislação ambiental que prescreve margens de matas ciliares.

Todavia, é possível criar orlas fluviais adequadas, com a construção de um ambiente


urbano que se associa ao espaço natural, um conceito que se refere à Trama Verde-
Azul (TVA). Segundo Martins (2015), cria-se essa trama ao se integrar a cidade
ocupada com áreas verdes e cursos d’água, reduzindo interferências no ciclo natural
da água e propiciando a vida de fauna e flora nativas. O importante em se analisar uma
TVA, é a ideia de planejar um sistema o mais próximo possível do equilíbrio, em que se
enxergue o espaço natural como habitat mútuo de várias espécies de todos os meios,
e não somente antrópico.

Aplicar o conceito de trama verde-azul em um ambiente densamente ocupado


representa caracterizá-lo com uma nova identidade. Formar-se-ia, assim, uma rede de
parques fluviais permeando toda uma zona urbana de maneira sistêmica e capilar
interligada com os demais parques urbanos e cursos d’água principal e afluentes,
gerando usos e circulações em várias escalas. Para Simões (2016), no cenário em que
a cidade de Colatina está inserida, “[...] é importante que os espaços livres sejam
incluídos nos tópicos que norteiam as decisões sobre o desenvolvimento da cidade”. É
fundamental que esses espaços sejam capazes de articular conexões ecológicas e
estimular relações sociais e culturais.

Como concluiu Albani et. al (2015), Colatina não possui parques e os espaços livres de
uso público (praças, jardins) são mal distribuídos espacialmente de acordo com a
densidade de habitantes. Para Ikeda (2016), esses espaços livres de uso público são
fundamentais para garantir o bem-estar das pessoas, pois essa é a função do lazer,
assegurando que os rios tenham visibilidade e demandem manutenção, podendo ser
ligação plena e cotidiana entre o homem e o lugar em que ele habita.

A cidade necessita de parques, e se estes se conectarem ao rio Doce, é possível que


se promova uma maior arborização, caminhos de microclima ameno e úmido, e um
21

ambiente urbano próspero para crescimento da fauna e da flora. Dessa forma, este
projeto idealiza refletir e discutir o papel que um rio urbano pode assumir.

Tem-se aqui como objeto de análise o rio Doce e, com este trabalho, forneceram-se
estudos, diretrizes e alternativas de projeto que o potencializem no trecho urbano da
cidade de Colatina, e promovam sua reconciliação com o município a partir do
atendimento às suas funções humanas de abastecimento, drenagem, lazer,
navegação, energia (IKEDA, 2016) e às de caráter sistêmico ecológico, com
manutenção dos processos naturais e preservação da paisagem (EVANGELISTA,
2016). Espera-se que, cumprindo-se essas funções e obedecendo-se as suas
necessidades, condições e demandas como um curso d’água, o espaço urbano terá,
enfim, um melhoramento da qualidade ambiental e social.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Geral

O objetivo geral deste trabalho é elaborar diretrizes e estratégias de projeto para um


parque linear no rio Doce, no trecho urbano da cidade de Colatina-ES.

1.1.2 Específicos

Os objetivos específicos compreendem:

a) pesquisar bibliografia sobre o tema;


b) identificar espacialmente os elementos que terão contato, ligação ou
influência com a área de estudo e o projeto, bem como suas características,
deficiências e potencialidades;
c) classificar os elementos; e
d) sistematizar dos dados para o projeto.

1.2 METODOLOGIA

O procedimento do desenvolvimento desta pesquisa embasou-se em teorias e práticas


publicadas em livros, periódicos, artigos e demais volumes científicos que se
22

aprofundam no Urbanismo Ecológico e abordam os temas de recuperação ambiental,


revitalização urbana de rios e parques lineares fluviais.

Para o reconhecimento e registro da cidade de Colatina e seu rio principal, executou-se


uma leitura do espaço. Por meio de caminhadas, fez-se um percurso ao longo da cidade
em lugares que tivesse contato físico ou visual com o rio Doce e registrou-se com
fotografias. Esta etapa foi fundamental para o levantamento de dados e elementos que
compõem a paisagem.

Os dados, obtidos com a leitura do território e com interpretação de fotos aéreas,


geraram informações conclusivas a respeito do atual panorama do objeto. Essas
informações foram levadas à aplicação da Matriz Fofa (forças, oportunidades, fraquezas
e ameaças), para posterior identificação e classificação dos elementos identificados.

Em seguida, a metodologia se baseou nos conceitos de Trama Verde-Azul, onde os


elementos verdes (espaços livres e áreas verdes) e azuis (nascentes, córregos, rios e
microbacias) foram classificados e sistematizados. Esse procedimento visa
principalmente estabelecer conexões dos espaços livres com o rio Doce dentro do
tecido urbano de Colatina e interligando-os com as áreas verdes de preservação
regionais, planejando-se por fim, como o nome já diz, uma trama ecológica.

E, a última etapa de projeto, representa a elaboração de diretrizes de ocupação das


margens do rio Doce no trecho urbano de Colatina, bem como de estratégias projetuais
que materializam o projeto de parque linear fluvial.
23

2 NAVEGANDO ENTRE TEORIAS E AÇÕES

Este capítulo apresenta a fundamentação teórico-metodológica que conduziu o trabalho


e foi estruturado em três partes que envolvem conceitos, ferramentas e aplicações. Para
a primeira parte, foram escolhidos conceitos que tangenciam a temática, como
paisagem, infraestrutura verde, infraestrutura ecológica e ecologia da paisagem. Na
segunda parte, são apresentadas as ferramentas que auxiliaram a aplicação dos
conceitos e se desdobrou em dois momentos, um de diagnóstico, com a matriz de
análise e outro de proposição, com a trama verde-azul. Por fim, na última parte, são
apresentadas possíveis estratégias compatíveis com as diretrizes para aproximação
com o rio.

2.1 CONCEITOS

Como subsídio ao embasamento teórico, traz-se o conceito de paisagem, que Besse


(2014), com um olhar que inclui o homem como agente, mostra que ela é a expressão
de uma relação mais profunda do homem com a superfície terrestre, relação essa que
representa a forma ativa e prática pela qual o homem transforma seu meio natural. Essa
interpretação mostra que a paisagem não é apenas um conjunto de espaços
organizados pelo homem, mas “uma sucessão de rastros, de pegadas que se
superpõem no solo e constituem [...] sua espessura tanto simbólica quanto material”
(BESSE, 2014, p. 33).

Besse (2014, p. 34) ainda conclui que a paisagem pode ser encarada como uma obra,
em que terra, solo, elementos naturais “[...] são como materiais aos quais os homens
dão forma segundo valores culturais que também evoluem no tempo e no espaço”.
Assim, a paisagem pode ser interpretada como uma forma de transformação do meio
terrestre em mundo histórico através da ocupação humana.

Outra importante declaração de Besse (2014, p. 35) é que as paisagens não devem ser
conservadas simplesmente pelo seu valor estético, e afirma que a “[...] a razão estética
é certamente a mais pobre”. Os critérios que o autor julga relevantes para a preservação
e construção da paisagem são as possibilidades que esta oferece ao homem para viver,
ser livre e estabelecer relações sensatas com outros homens e a própria paisagem,
além de atuar como instrumento de realização pessoal e mudança social. O autor neste
ponto cita J. B. Jackson (2003 apud BESSE, 2014, p. 35), que afirma: “nunca se deve
24

mexer na paisagem sem pensar naqueles que vivem nela”, pois a paisagem e o projeto
de paisagem têm o desafio de tornar o mundo habitável para o homem. Numa visão
menos antropocêntrica, entende-se que a paisagem e o projeto de paisagem têm o
desafio de equilibrar a vida e o convívio do homem com as demais espécies e seus
habitats.

De uma forma mais sistemática, Assunto (1976 apud BENINI; CONSTANTINO, 2017,
p. 68) resume paisagem de uma forma direta e associativa da morfologia com o homem:

Creio que neste ponto surgirá com bastante facilidade uma definição de
‘paisagem’ como ‘forma’ que o ambiente (‘função’ ou ‘conteúdo’ [...]) confere ao
território como ‘matéria’ de que ele se serve. Ou melhor, se quisermos ser mais
precisos, paisagem é a ‘forma’ na qual se exprime a unidade sintética a priori
(no sentido kantiano: não a ‘unificação’ de dados recebidos separadamente,
mas a ‘unidade’ necessária que condiciona o seu apresentar-se na
consciência) da ‘matéria’ (território) e do ‘conteúdo ou função (ambiente)’ . [...]
O ambiente concreto, ambiente que vivemos e do qual vivemos vivendo nele,
é sempre ambiente como forma de um território: paisagem.

O tornar a paisagem habitável para o homem pode representar intervenções de


diversos impactos, dependendo das diretrizes dessas modificações. Nesse âmbito, a
infraestrutura verde representa uma diretriz que assume valores ambientais, funcionais
e estéticos e atua como elemento estruturador da paisagem, segundo Benini e
Constantino (2017).

A infraestrutura do verde é, segundo Madureira (2012, p. 34, apud BENINI;


CONSTANTINO, 2017, p. 69) “[...] um conceito abrangente, integrativo conceptual e
espacialmente de outras abordagens aos espaços naturais”, como por exemplo, o
“corredor ecológico ou estrutura ecológica”. Benedict e McMahon (2002, p. 8, apud
BENINI; CONSTANTINO, 2017, p. 69), acrescentam que, apesar de ser um termo
relativamente novo, a infraestrutura verde não é uma ideia nova. Os autores revelam
que essa diretriz “[...] permite a conjugação de sistemas ecológicos multifuncionais,
sendo que sua implementação em espaços urbanos, contribui para melhoria da
qualidade de vida da população”.

Ainda nessa escala da cidade, Almeida e Grostein (2016, p. 65) destacam a


infraestrutura verde como de igual importância como as demais classes de
infraestruturas urbanas:

Infraestruturas são tradicionalmente definidas como estruturas ou bases


fundamentais para a manutenção e desenvolvimento de uma sociedade.
Constituem sistemas e redes que dependem de um grau de hierarquia
complementar e de uma soma de elementos conectados, como no caso das
redes de transporte viário, de telecomunicações, de esgotamento sanitário, de
25

drenagem e abastecimento público. Assim, traçando um paralelo, reconhece-


se que uma infraestrutura verde também deve ser garantida de maneira
prioritária no planejamento espacial e nas políticas públicas.

Almeida (2015 apud ALMEIDA; GROSTEIN, 2016, p. 66) complementa que a


infraestrutura verde pode ser definida como uma “[...] rede ativamente desenvolvida e
conservada de espaços, elementos e estruturas”. Esta rede devidamente integrada visa
permitir “[...] o desempenho das funções ecológicas, econômicas e culturais desejáveis
à busca da sustentabilidade da paisagem”.

A rede que os autores dissertam precisa interagir em diversas escalas espaciais para
desempenhar seus papéis ecológicos. Por exemplo, em nível macro, a infraestrutura
verde constitui-se dos grandes biomas, unidades de conservação e corredores naturais.
Em nível médio, pode-se considerar uma rede formada pelo cinturão de áreas verdes
no perímetro urbano, e pelos espaços livres, permeáveis e vegetados. Já em escala de
bairro, em um nível micro, um sistema formado por tetos verdes, biovaletas, jardins de
chuva, lagoas pluviais, dentre outros elementos podem configurar uma infraestrutura
verde (ALMEIDA; GROSTEIN, 2016).

A sistematização das áreas verdes em uma escala média urbana assume diversos
objetivos e funções, proporcionando inúmeros impactos positivos na qualidade da vida
de uma cidade que implementa essas ações em várias escalas. A seguir, na Ilustração
4, tem-se o modelo de funções Abióticas, Bióticas e Culturais (ABC), proposto por Ahern
(2007), que exemplificam alguns dos potenciais benefícios da infraestrutura verde
urbana.

Ilustração 4 – Quadro com Funções Abióticas, Bióticas e Culturais (ABC) da infraestrutura verde urbana.
(continua)
Funções abióticas Funções bióticas Funções culturais
Interações entre águas Habitat para espécies Experiências diretas de
superficiais e subterrâneas generalistas ecossistemas naturais

Processo de desenvolvimento Habitat para espécies


Recreação física
dos solos especialistas

Manutenção dos regimes Rotas e corredores para Experiência e interpretação da


hidrológicos movimento de espécies histórica cultural

Acomodação de regimes de Manutenção dos distúrbios e Provisão do senso de solitude e


distúrbios regimes sucessionais inspiração

Enriquecimento dos ciclos de Oportunidades para interações


Produção de biomassa
nutrientes sociais positivas
26

(conclusão)
Funções abióticas Funções bióticas Funções culturais
Sequestro de carbono e outros Estímulos à expressão
Provisão de reservas genéticas
gases estufas artística/abstrata

Regulação de eventos Suporte para interações entre


Educação Ambiental
climáticos extremos fauna e flora
Fonte: Ahern (2007, p. 269).

Em escala meso, que é o nível principal de estudo deste trabalho, Ahern (2007, apud
ALMEIDA; GROSTEIN, 2016) classifica em quatro níveis os tipos de estratégias de
conservação de espaços livres dentro de uma infraestrutura verde. São eles estratégias
protetivas, defensivas, ofensivas e criativas, esclarecidos na Ilustração 5 a seguir.

Ilustração 5 – Quadro com Estratégias de preservação de espaços livres.

Estratégia Conceito

Utilização de instrumentos legais que garantam a preservação integral de uma área,


Protetiva
sendo recomendada nos espaços mais preservados e de maior valor ecológico

São aplicadas quando um dado espaço é menos preservado e/ou quando não existem
Defensiva condições ideais ou necessárias para a sua proteção integral e assim preservam-se as
áreas ou os elementos mais importantes e excluem-se os/as demais

Ofensiva Envolvem a restauração ou recuperação de um espaço fragmentado ou degradado

Envolvem o aproveitamento de espaços ou condições que não são usuais, mas que
estão cada vez mais inseridos em planos de conservação urbanos como, por exemplo:
a) áreas onde são previstas requalificações urbanas; b) infraestruturas cinzas
Criativa excessivas como ruas e avenidas desnecessariamente largas ou linhas de trem
desativadas; c) áreas livres e/ou grandes terraços de edificações públicas e privadas; d)
aterros desativados; e) piscinões; f) diques; g) cemitérios, h) jardins e hortas
comunitárias; E i) áreas de passagem de torres de transmissão de energia.

Fonte: Ahern (2007 apud ALMEIDA; GROSTEIN, 2016, p. 66).

Os benefícios trazidos pela infraestrutura verde tangenciam os conceitos da


infraestrutura ecológica ou paisagística, conceitos estes importantes por apresentar um
viés teórico voltado para um olhar associativo da cultura e do ambiente com a paisagem.
Dessa forma, basear o planejamento das cidades nos conceitos da ecologia exige que
haja um entendimento do território como um sistema vivo e seja identificada uma
infraestrutura ecológica (IE) para guiar o desenvolvimento urbano. Define-se IE como
sendo uma rede paisagística estrutural. Em sua essência, ela tem uma importância
27

estratégica na preservação “[...] da integridade e da identidade das paisagens culturais


e naturais, que por sua vez garantem serviços ecossistêmicos sustentáveis” (YU, 2014,
p. 284).

Ainda sob esse olhar ecológico da paisagem, de “rede de espaços naturais e abertos
planejados e gerenciados para proteger e conservar os ecossistemas e promover
serviços ambientais” (PLAM, 2014, p. 560 apud MARQUES, 2017, p. 144), associa-se
outro termo também recente, porém que constitui um conceito antigo e natural do meio
ambiente, a ecologia da paisagem.

Segundo a ecologia da paisagem, a visão sistêmica dos elementos pode ser


interpretada como uma matriz, considerada por Baptista (2015), a estrutura mais
importante para compreensão e análise da paisagem. Forman e Godron (1986, p. 159,
apud BAPTISTA, 2015) definem a matriz como a estrutura de maior área e que controla
a dinâmica ecossistêmica da paisagem.

Essa força que uma matriz exerce sobre a paisagem, para Baptista (2015), exemplifica-
se pela unidade de uma bacia hidrográfica, devido às suas características de solo, de
vegetação e de topografia que determinam suas características bióticas, abióticas e
morfológicas fluviais.

Baptista (2015) afirma que a matriz está relacionada à dimensão escalar geofísica,
englobando uma combinação de geomorfologia, clima, hidrologia, vegetação e fauna,
classificando-se como Geossistema, segundo Guerra e Marçal (2012, p. 120, apud
BAPTISTA, 2015). A autora conclui que essa estrutura se caracteriza pela associação
dos potenciais ecológico e biológico somados à ação antrópica, resultando no conceito
de matriz por meio da ecologia, cujos “principais componentes estruturais da paisagem,
de acordo com uma perspectiva antroponatural, são os fragmentos, corredores e
assentamentos humanos, conectados por uma matriz” (BAPTISTA, 2015, p. 45),
conforme Ilustração 6, que representa o diagrama de matriz em Colatina.
28

Ilustração 6 – Diagrama da relação entre paisagem, matriz, corredor, fragmentos e conexões.

Fonte: Elaborado pelo autor. Adaptado de PENTEADO (2004, p. 25, apud BAPTISTA, 2015, p. 44)

Guerra e Marçal (2012 apud BAPTISTA, 2015) ainda ressaltam que função e fluxo entre
os elementos estruturantes devem ser considerados na matriz, incluindo-se os fluxos
hidrológicos e de partículas, e as atividades animais e humanas, pois estes processos
são responsáveis pelos padrões da paisagem.

2.2 FERRAMENTAS

Para o esclarecimento dos métodos, trata-se aqui em específico das ferramentas Matriz
Fofa e Trama Verde-Azul.

2.2.1 Matriz Fofa

Este é um método de diagnóstico que se baseia em quatro dimensões: Forças,


Oportunidades, Fraquezas e Ameaças, por isso denominada Matriz Fofa
(ABICHEQUER, 2011). A aplicação da Matriz neste projeto foi importante para
estabelecer e classificar os elementos do espaço, seus pontos positivos (forças e
oportunidades) e negativos (fraquezas e ameaças). Com a determinação desses
pontos, a elaboração das diretrizes se tornou objetiva e clara, possibilitando a resolução
29

das necessidades do espaço e contribuindo para a delimitação do partido de


intervenção.

2.2.2 Trama Verde-Azul

De acordo com o Centre de Ressources Trame Verte Et Bleue (2017), a Trama Verde-
Azul (TVA) pode ser entendida como uma rede de continuidades ecológicas nos meios
terrestre e aquático estabelecidas de forma a gerar uma coerência ecológica dentro de
uma região territorial. A TVA auxilia na conservação de habitats naturais e suas
espécies, e no bom estado ecológico das massas de água, podendo ser aplicada em
todo um território nacional. Como principais componentes estruturais da TVA têm-se as
reservas de biodiversidade e os corredores ecológicos.

As reservas são grandes áreas onde a biodiversidade é rica e melhor representada,


onde as espécies nativas podem completar parte ou todo seu ciclo de vida. Representa
um habitat comum que suporta várias espécies e pode abranger parte ou toda uma área
protegida. Já os corredores ecológicos fornecem as conexões entre as reservas e
fragmentos de biodiversidade, fornecendo condições biológicas favoráveis para as
espécies se deslocarem e completarem seu ciclo de vida. Essas regiões podem ter
caráter linear, descontínuo (trampolim ecológico) e/ou paisagístico, serem naturais ou
seminaturais (se sobreporem e interligarem a zonas urbanas dentro de uma bacia
hidrográfica, por exemplo), e ainda podem constituir uma superfície vegetal combinada
com parte ou todo um curso d’água, canal, manguezal, regiões costeiras dentre outros
“elementos azuis” (CENTRE DE RESSOURCES TRAME VERTE ET BLEUE, 2017),
conceitos representados pelo esquema da Ilustração 7.

Ilustração 7 – Diagrama do princípio básico da Trama Verde-Azul.

Fonte: Elaborado pelo autor.


30

Segundo Martins (2015), o conceito da Trama Verde-Azul já era discutido fortemente


em nível mundial na década de 1970, porém com aplicações efetivas a partir dos anos
1990 nos Estados Unidos, Europa e Cingapura. No Brasil, sua primeira aplicação veio
com o Plano de Macrozoneamento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (MZ-
RMBH), onde de forma clara e institucionalizada abrangeu 4 dimensões:

a) físico-ambiental;

b) sociocultural;

c) seguridade socioambiental; e

d) mobilidade.

A aplicação desta metodologia ampara-se no procedimento de Martins (2015) e


compreende:

1. identificação da hidrografia e áreas de proteção de mananciais;


2. delimitação das áreas verdes urbanas;
3. localização das praças, áreas de atividades agrícolas e zonas de interesse
ambiental, cultural, histórico, paisagístico e turístico; e
4. marcação das conexões existentes e das desejadas entre as áreas localizadas,
a fim de potencializar as atuais características e ativar novos espaços urbanos e
naturais subestimados.

Vale destacar que, após a implementação da TVA, o papel da sociedade seja


participativo, uma vez que é uma ferramenta para o desenvolvimento local de
comunidades e uso do solo. O incentivo ao uso misto, à descentralização das atividades
econômicas e de renda, e à promoção de espaços de uso coletivo são medidas sociais,
ambientais e urbanas que visam favorecer o desenvolvimento sustentável e
interconectado de uma rede de recuperação e preservação (MARTINS, 2015).

2.3 PRÁTICAS

Elencaram-se, neste item, três práticas de implementação dos conceitos discutidos no


tópico 2.1: agricultura urbana, corredores ecológicos e parques lineares. O
entendimento dessas práticas será fundamental para a compreensão das decisões
projetuais conclusivas deste trabalho.
31

2.3.1 Agricultura urbana

A agricultura é a prática da produção de alimentos, combustível, fibras ou forragens de


forma organizada, sendo muitas vezes confinada a uma unidade econômica – uma
fazenda, sítio – de propriedade privada ou pública, e administrada por um indivíduo ou
um coletivo. A agricultura é extremamente diversificada, mas algumas características
são compartilhadas por todas as atividades agrícolas: dependência de sistemas
terrestres e biológicos, trabalho humano e investimentos em instalações de produção
(VEJRE et al., 2016).

A agricultura, quando desenvolvida no meio urbano, pode ser uma ferramenta para a
urbanização sustentável, pois representa um meio de preservar um ambiente saudável
e uma paisagem agradável. Além disso, retarda a urbanização desenfreada e
proporciona uma área de transição natural nos limites da zona urbana (MOUGEOT,
2005).

Segundo Mougeot (2000), agricultura urbana (AU) pode ser entendida como:

[...] uma indústria localizada dentro (urbano) ou à margem (periurbano) de uma


cidade ou zona metropolitana, que produz, processa e distribui uma
diversidade de alimentos e não alimentos, reutilizando ou usando recursos
humanos e materiais, produtos e serviços, que existem nas áreas urbanas ou
imediatamente circundantes (periurbano), que por sua vez, fornece esses
recursos humanos e materiais, produtos e serviços, em larga medida para a
área urbana.

Vale destacar que todo um processo está por trás da simples prática da agricultura
urbana, que envolve a compreensão do setor agrícola em geral e as particularidades
da região e da cidade em que está inserida, processo este demonstrado pela Ilustração
8. Dessa forma, é necessária uma “informação mais abrangente para gerar políticas e
fortalecer o setor, incentivar a participação de atores locais, disponibilizar terra e
eliminar regulamentos que obstruam o cultivo de produtos agrícolas dentro das cidades”
(VEJRE et al., 2016, p. 18, tradução nossa).
32

Ilustração 8 – Diagrama dos atores do processo da agricultura urbana.

Desenvolvimento Segurança
urbano sustentável alimentar urbana

Sistemas de Estratégias de
abastecimento de sobrevivência
alimentos urbanos urbana
Agricultura
Gestão da terra
Agricultura rural urbana urbana

Fonte: Mougeot (2000). Adaptado pelo autor.

A principal diferença e, ao mesmo tempo, destaque da agricultura urbana em relação à


rural é que a primeira está inserida nos sistemas econômico e ecológico da cidade. O
fato da localização ser dentro da zona urbana é que promove a inserção e interação
com o ecossistema urbano (RICHTER et al., 1995 apud VEJRE et al., 2016), atuando
como ferramenta e ator da infraestrutura ecológica.

2.3.2 Corredores ecológicos

Forman e Godron (1986, p. 153 apud BAPTISTA, 2015), caracterizam corredores


ecológicos com três tipos de estruturas básicas que representam inúmeras
possibilidades de aplicação prática:

- corredor linear: faixa de vegetação ao longo de elementos construídos, como


estradas, canais de irrigação etc.;
- corredor verde: faixa de vegetação que em seu interior possui um número de
organismos abundante; e
- corredor verde à beira de um curso d’água: faixa de vegetação que segue um
eixo de fluxo d’água, e atua no controle e qualidade da água, nutrientes e erosão.

Os autores destacam que, normalmente, as áreas centrais dos corredores possuem


maior importância de habitat por proporcionarem mais proteção e fluxo de matéria entre
os elementos envolvidos.

Laurance e Laurance (1999, apud KORMAN, 2003), após estudos na Austrália, afirmam
que fragmentos lineares, floristicamente diversificados e com um mínimo de 30 a 40
33

metros de largura, podem atuar como habitat e como corredores de movimentos para
a maioria das espécies mamíferas arbóreas.

Os autores ainda destacam que, em regiões em desenvolvimento, como algumas áreas


da bacia do rio Amazonas, corredores verdes à beira de cursos d’água podem ser uma
estratégia-chave para auxiliar na manutenção da conectividade ecossistêmica em
paisagens dominadas pelo homem (LAURANCE; LAURANCE, 1999; LIMA; GASCON,
1999, apud KORMAN, 2003).

2.3.3 Parques lineares

Benini (2015 apud BENINI; CONSTANTINO, 2017, p. 69) define parques lineares
enquanto parte tipológica de um sistema de infraestrutura verde, sendo:

“[...] considerados como elementos estruturadores da paisagem urbana, visto


que no contexto dos ecossistemas urbanos, permite a conjugação do sistema
verde (produção de biomassa) com o sistema azul (circulação da água) por
meio de inúmeras soluções técnicas, as quais podem ser adaptadas às
particularidades da cidade contemporânea”.

Almeida e Grostein (2016) também inserem a prática de parque linear dentro do


conceito amplo de infraestrutura verde, sendo este mais abrangente e sistêmico,
destacando que essas práticas melhoram ambientalmente os espaços rurais e urbanos
por meio da conectividade e continuidade ecológica.

Herzog (2010, p. 11 apud BENINI; CONSTANTINO, 2017, p. 69) enxerga os parques


lineares fluviais como “corredores verdes multifuncionais”. O autor destaca a função de
“infiltrar as águas das chuvas, evitar o assoreamento dos corpos d’água, abrigar vias
para pedestres e ciclistas, áreas de lazer e contemplação”.

Falcón (2007, p. 47 apud BENINI; CONSTANTINO, 2017, p. 69) entende que essa
tipologia de infraestrutura verde age como conector de diferentes áreas, assumindo um
papel de cinturão verde de biodiversidade urbana. E por isso entende a contribuição
dos parques lineares para além do ponto de vista ambiental, pois como eles se inserem
no contexto urbano, representam caminhos diferentes entre bairros e partes da cidade
e criam novos espaços ativos de convivência. Com isso, proporcionam encontro entre
as pessoas e significam uma ferramenta de coesão social e estímulo de práticas
culturais.
34

3 DE MEDELLÍN A CHICAGO: A GOTA D’ÁGUA PARA CIDADES FLUVIAIS

Neste capítulo, são apresentadas intervenções executadas e propostas em rios e


cidades. Considerou-se, para a relevância nesta abordagem, o objetivo do projeto, a
integração sistêmica do manancial com seu contexto urbano e natural, a semelhança
com a realidade do território do rio Doce, e a criatividade projetual de intervenção no
espaço.

Dessa forma, destacam-se, como casos para análise, o rio Sena, na capital da França,
Paris; o rio Rhône, na cidade também francesa de Lyon; o rio Capibaribe, em Recife,
no Brasil; o rio Han e seus afluentes urbanos em Seul, capital da Coréia do Sul; o rio
Chicago, na cidade homônima, nos Estados Unidos da América; o rio Medellín, na
cidade de mesmo nome, capital da Colômbia; e o rio Tâmisa, em Londres, na Inglaterra
(Ilustração 9).

Ilustração 9 – Mapa de percurso do estudo de caso.

Fonte: Elaborado pelo autor.

3.1 RIO SENA, PARIS, FRANÇA

O rio Sena, de bacia hidrográfica semelhante em área à do Doce, foi degradado por
conta da poluição industrial, agravado pelo despejo de esgoto doméstico. Devido à sua
situação ambiental, desde a década de 1920 foi alvo de preocupações e, na década de
1960, a gestão passou a investir na revitalização do local, construindo estações de
35

tratamento de esgoto. Além disso, como parte da recuperação ambiental, criaram-se


leis que multam fábricas e empresas poluentes, e incentivo financeiro entre 100 e 150
euros por hectare para agricultores que vivem às margens dos rios não despejem tóxico
(BARATTO, 2014).

Associada à política de não despejo de rejeitos no Sena e ao tratamento de esgoto


urbano de Paris, projetou-se o Parque ‘du Chemin de L’ile (Ilustração 10), em Nanterre,
na França, construído entre 2003 a 2006. O objetivo do parque, classificado como uma
wetland ou parque inundado, é o tratamento de parte das águas do Sena pelo processo
de fito-depuração, em que são utilizadas plantas aquáticas filtrantes. O local do parque,
uma antiga área industrial, hoje abriga um espaço de lazer que trata e oxigena as águas,
gerando inclusive material fertilizante para produtores rurais e mudas para plantio
urbano (BEDENDO et. al, 2010).

Ilustração 10 – Parc Du Chemin De L'ile, em Paris, França.

Fonte: Divisare (2014)

Pensou-se não apenas no meio ambiental, mas na revitalização urbana de Paris


integrada ao rio, fato que recorre ao século passado, como mostra a Ilustração 11 com
fotografias entre 1947 e 1963. Nota-se a apropriação do cais baixo do Sena para
atividades de lazer, passeio e descanso. A proximidade com o nível da água
potencializa essa apropriação, pois não há grandes alturas, mas uma sensação de
segurança, eliminando inclusive a necessidade de guarda-corpo.
36

Ilustração 11 – Margens do rio Sena entre 1947 e 1963, em Paris, França.

Fonte: Ikeda (2016).

A atual reestruturação do Sena visa torná-lo mais acessível. Assim como era décadas
atrás, pretende-se retomar atividades no seu cais baixo e no próprio leito, implantando-
se equipamentos públicos e projetos de paisagismo e integrando-o na cidade. Políticas
de redução de tráfego e substituição de fluxo motorizado por vias para pedestres e
ciclistas são realidade nas margens do Sena (IKEDA, 2016). As fotos da Ilustração 12
exemplificam esse uso, com intensa e diversificada apropriação ao longo de todo o dia.
Além da apropriação das margens, um sistema fluvial com embarcações transporta
diariamente pessoas ao longo do Sena por vários pontos turísticos, tornando a cidade
circulável em várias escalas.
37

Ilustração 12 – Margens do Sena atualmente, em Paris, França.

À esquerda, a utilização da margem do Sena à noite. À direita, embarcação com transporte de


passageiros e os usos de passeio e permanência na margem. Fonte (da esquerda para a direita):
Camus (2016) e G1 (2010).

3.2 RIO RHÔNE, LYON, FRANÇA

A cidade de Lyon, na França, surgiu na confluência entre os rios Rhône e Saône e


sempre possuiu uma relação muito forte com o meio fluvial, porém, assim como
diversas outras cidades, o espaço urbano começou a se deteriorar a partir da Revolução
Industrial. Para intensificar esse processo negativo, o uso do automóvel ganhou força e
seus efeitos passaram a ser sentidos a partir da segunda metade do século XX
(BORDAS, 2017). A Ilustração 13 confirma como Lyon não conseguiu suportar a
pressão do automóvel e destinou um espaço para estacionamento à beira rio.

Ilustração 13 – Antiga orla fluvial do Rhône, em Lyon, França.

Fonte: Bordas (2017)


38

Em 2003, a organização municipal abriu uma competição de projetos para a


reconciliação da cidade com o rio. O novo espaço tinha como premissa ser um local de
encontro, uma área de lazer e uma zona de contato com a natureza. Foi um processo
participativo que movimentou cerca de 85 mil visitantes a uma exposição pública e 600
participantes em oficinas para discutir soluções em áreas específicas, como transporte
sustentável e atividades de pesca (BORDAS, 2017).

O projeto ocupa uma área de aproximadamente 10 hectares, distribuídos em 5


quilômetros de extensão fluvial na margem esquerda do Rhône. O projeto é quase
simétrico, marcado por um ponto médio no centro urbano de Lyon e suas extremidades
em um cenário mais natural. A intervenção foi dividida em dois níveis transversais
principais: um superior, no nível do tecido urbano, onde o fluxo de automóveis foi
separado do caminho de pedestres; e um inferior, quase exclusivo para pedestres, com
uma sucessão de bosques, campos com gramíneas e pavimentos destinados para
diversas atividades de lazer. A conexão entre os dois níveis se dá por rampas e setores,
utilizados para elevadores, escadas, postos de saúde e informação, fontes de água
potável, pontos de aluguel de bicicletas e patins e quiosques comerciais (BORDAS,
2017). A Ilustração 14 mostra como o espaço se transformou após a execução do
projeto.

Ilustração 14 – Novo espaço urbano após execução do projeto no rio Rhône, em Lyon.

Fonte: In situ (2017).


39

3.3 RIO CAPIBARIBE, RECIFE, BRASIL

A cidade de Recife, no nordeste brasileiro, possui forte relação com as águas por
abranger em seu território uma região de mangue, na foz do rio Capibaribe, de encontro
com a frente do oceano Atlântico. O rio e seus vinte afluentes vêm sendo
gradativamente transformados em canais de drenagem e despejo de esgoto, num
tecido urbano que engole o espaço fluvial (ALENCAR; SÁ, 2017).

Alencar e Sá (2017) complementam que foram feitas diversas ações de infraestrutura


nos canais, como canalização, retificação, impermeabilização de margens, o que
impacta hoje em problemas de drenagem urbana na cidade, como inundações,
alagamentos e desmoronamentos.

O projeto de intervenção no rio Capibaribe é amplo e inclui três etapas de


implementação: Parque Capibaribe, até 2016; Parque da Cidade, até 2020; e Recife
Cidade Parque, até 2037. Na Ilustração 15 a seguir, apresentam-se as zonas de
influência em cada etapa de implementação do projeto com sua respectiva
denominação (MONTEZUMA, 2017).

Ilustração 15 – Zonas de influência da intervenção na bacia do rio Capibaribe, em Recife.

Da esquerda para a direita: Parque Capibaribe (até 2016), Parque da Cidade (até 2020), e Recife Cidade
Parque (até 2037).
Fonte: Montezuma (2017).
40

Importante salientar a base conceitual do projeto que se atentou às peculiaridades da


fauna e flora do território, associando com a morfologia do rio e sua inserção na cidade,
gerando zonas de articulação que se tornaram diretrizes para o projeto (Ilustração 16).

Ilustração 16 – Zonas de articulação do rio com seus elementos urbanos e naturais.

Fonte: Montezuma (2017).

Este projeto se insere no programa internacional das Nações Unidas ONU-HABITAT e


está em fase de implantação. Na Ilustração 17, tem-se uma vista do projeto de
intervenção no Capibaribe e pode-se perceber como o projeto não se restringe às
margens do rio, mas se funde à cidade de Recife por meio de corredores ecológicos e
conexões com espaços livres e áreas verdes urbanas.
41

Ilustração 17 – Vista panorâmica do projeto no rio Capibaribe e sua inserção na cidade.

Fonte: Montezuma (2017).

Na Ilustração 18, apresenta-se uma das propostas de intervenção nas margens do


Capibaribe em que se faz uso do desnível em degraus para possibilitar um maior
contato com a água, além de criar um espaço de convivência e contemplação nas
margens. No tópico de elaboração das estratégias deste trabalho, será retomada a
metodologia abordada no rio Capibaribe como referência projetual de ocupação das
margens no rio Doce.

Ilustração 18 – Vista aproximada do projeto em uma das margens do rio Capibaribe.

Fonte: Montezuma (2017).


42

3.4 RIO CHEONGGYECHEON, SEUL, CORÉIA DO SUL

O processo de urbanização em Seul, na Coréia do Sul, assim como em outras


metrópoles mundiais, trouxe no início considerável desenvolvimento econômico e um
posterior declínio e abandono da área central. A partir da década de 1980, o centro se
tornou obsoleto, a paisagem desgastada, e a população se mudou para a periferia por
conta da qualidade de vida. Um dos elementos de maior presença na paisagem de
Seoul era o viaduto sobre o rio Cheonggyecheon (Ilustração 19), que nos anos 1990
começou a apresentar problemas estruturais e, ao invés de repará-lo, o viaduto foi
demolido, revelando o antigo rio tamponado, resultando em um importante projeto de
revitalização urbana para a cidade (SEOUL SOLUTION, 2017).

Ilustração 19 – Processo de transformação da paisagem no rio Cheonggyecheon.

Da direita para a esquerda fotografias dos anos de 2003, 2004 e 2005.


Fonte: Korea.(2011).

Na Ilustração 19, pode-se perceber o impacto que o viaduto provocava na paisagem e


como, após a demolição, o espaço foi transformado drasticamente com a recuperação
do rio urbano e a criação de um parque linear. Apesar dos valores históricos e culturais
urbanos que o projeto significa, aspectos hidrológicos e hidráulicos do rio e sua bacia
foram levados gerenciados por meio de um planejamento de inundação com intervalo
43

de recorrência de 200 anos, para garantir a segurança dos cidadãos e o controle


durante períodos chuvosos. Além disso, como mostra o plano de seção esquemático
da Ilustração 20, para que se mantivesse um passeio marginal com vias urbanas,
propôs-se espaços abaixo destas que funcionasse como galerias pluviais de
escoamento em caso de grandes volumes de chuva, numa tentativa de eliminar
inundações na cidade (SEOUL SOLUTION, 2017).

Ilustração 20 – Seção esquemática do rio Cheonggyecheon mostrando o tempo de recorrência de


inundação e as galerias marginais.

Fonte: Seoul Solution (2017).

Outra medida importante do ponto de vista do saneamento ambiental foi separar as


águas de esgoto das águas pluviais. Antes da intervenção, ambas corriam nas mesmas
tubulações e eram despejadas juntas no leito do Cheonggyecheon. Na Ilustração 21,
pode-se perceber as tubulações separadas, conduzindo o esgoto para outro destino de
tratamento, e toda essa infraestrutura incorporada à margem, como alternativa à
pequena largura disponível para intervenção no rio.

Ilustração 21 – Esquema mostrando a separação das tubulações de água pluvial das de esgoto.

Fonte: Seoul Solution (2017).


44

Como resultado das modificações e da despoluição do rio, o espaço hoje é ativo,


frequentado, revitalizado do ponto de vista urbano e atua como uma estratégia para o
desenvolvimento sustentável da cidade de Seul. A Ilustração 22 exemplifica a
incorporação do rio à cidade e sua apropriação pelas pessoas.

Ilustração 22 – Rio Cheonggyecheon incorporado e apropriado pela cidade.

Fonte (em sentido horário): Oh (2015); Ávila; Rodrigues (2015); Pai (2012); Meinhold (2011).

3.5 RIO CHICAGO, CHICAGO, ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

O rio Chicago, na cidade americana de mesmo nome, era um rio pantanoso e já sofreu
inclusive a inversão de seu fluxo no ano de 1900, provocando um “bombeamento
natural” do lago Michigan e um abastecimento de água com mais qualidade e eficiência
para a cidade (KURATANI et. al, 2008). Durante o período industrial, foi canalizado para
impulsionar as transformações urbanas, e hoje (Ilustração 23) a cidade colhe resultados
da recuperação do rio e sua incorporação à cidade por meio de uma infraestrutura de
passeio à beira-rio que procura amenizar a forte presença urbana no entorno de suas
margens (ARCHDAILY BRASIL, 2016).
45

Ilustração 23 – Mosaico de fotos do rio Chicago após as intervenções nas margens.

Fonte: Archdaily Brasil (2016).

Após estudos sobre o rio, a equipe de projeto desenvolveu seis esquemas tipológicos
(Ilustração 24) para o parque que configurassem diferentes percepções e conexões do
pedestre com o rio em cada trecho da intervenção, ao longo de seis quadras da cidade.
Essas tipologias são o Boardwalk: passagem em nível numa rua de crítica confluência;
Jetty: um espaço de aprendizado sobre a ecologia do rio, que abriga elementos de flora
e fauna num conjunto de jardins pantanosos flutuantes; Watter Plaza: uma praça de
permanência destinada para crianças; River Theater: arquibancada que representa
uma aproximação em nível para até a água e espaço de contemplação sombreado;
Cove: enseada artificial para práticas de esportes aquáticos; e Marina Plaza: praça com
restaurantes e mesas ao ar-livre com acesso a embarcações, táxis aquáticos e passeios
turísticos (ARCHDAILY BRASIL, 2016).
46

Ilustração 24 – Esquemas tipológicos de passeio no rio Chicago.

Fonte: Archdaily Brasil (2016).

O projeto foi desafiador, segundo os projetistas, pois havia uma pequena faixa de
menos de oito metros de largura de margem disponível, tendo que desenvolver
conexões sob pontes e combinar o projeto com os níveis anuais de cheias de cerca de
dois metros de altura (ARCHDAILY BRASIL, 2016).

3.6 RIO MEDELLÍN, MEDELLÍN, COLÔMBIA

A cidade colombiana de Medellín começou um forte processo de reestruturação urbana,


social e ambiental há alguns anos. Em 2013, a Sociedade Colombiana de Arquitetos
lançou o Concurso Público Internacional “Parque del Río Medellín”, como uma das
ações de transformação da cidade e que integrasse o rio à cidade. Vale destacar que
uma das premissas do concurso era a possibilidade de avançar 60 metros das margens
atuais para dentro do limite do rio (ARCHDAILY BRASIL, 2013).

Neste estudo de caso, apesar de ser uma proposta de concurso, escolheu-se abordar
o primeiro lugar selecionado devido à metodologia do projeto e coerência das ações. A
equipe do “Latitud Taller de Arquitectura y Ciudad” intitulou a proposta de “Parque
Botânico do Río Medellín” e traçou os seguintes eixos:

a) sistema ambiental de conexão para a cidade;


- rio como eixo estrutural;
- repotenciação de lacunas verdes urbanas e seu vínculo ao sistema;
- recuperação e integração de corpos d’água;
47

- reciclagem de estrutura subutilizada na área de influência do corredor


biótico.
b) conectividade ambiental metropolitana;
- redes ecológicas: corredor biótico / nós – enlaces – fragmentos;
- uso do solo a partir de recriação de ambientes e paisagens.
c) critérios viários e de mobilidade; e
- estratégias de mobilidade.
d) plano piloto do parque para implantação em etapas (ARCHDAILY BRASIL,
2014).

Com esses eixos, o projeto articula seus objetivos com as estratégias adotadas para o
parque, tornando o rio eixo projetual de suas ações, porém parte da infraestrutura verde
de toda a região metropolitana de Medellín. Na Ilustração 25, apresentam-se algumas
imagens do projeto ganhador.

Ilustração 25 – Mosaico de imagens do projeto Parque Botânico do Río Medellín.

Fonte: Archdaily Brasil (2014).

3.7 RIO TÂMISA, ESTUÁRIO DE LONDRES, INGLATERRA

O rio Tâmisa pode ser considerado um dos elementos mais importantes na paisagem
de Londres, capital da Inglaterra. Além da zona urbana da cidade, o rio possui
particularidades também em sua região de foz, a chamada região de estuário. No ano
48

de 2003, o escritório de projetos Farrells iniciou estudos e propostas para a região, aqui
selecionadas como estudo de caso devido à utilização das escalas de projeto adotadas.

A essência da proposta se baseia no conceito de parklands, isto é, na regeneração de


espaços livres urbanos e rurais por meio da criação de uma paisagem interconectada,
transformando o território em uma ecorregião. A ecorregião tem por objetivo proteger
a paisagem única da foz do rio Tâmisa levando em consideração a história, cultura e
presença de comunidades, com a criação de circuitos, espaços de lazer, produção de
alimentos e preservação ambiental (FARRELLS, 2017). A Ilustração 26 traz o mapa que
exemplifica a complexidade da região e as diferenças de superfície na região de foz.

Ilustração 26 – Mapa da ecorregião do estuário do Tâmisa sobreposto às ações de projeto.

Fonte: Farrells (2017).

Com o conceito da intervenção sendo parklands ou ecorregiões, o partido do projeto se


ateve à interação de todas as áreas que o estuário abrange, resultando numa paisagem
com várias interfaces que mesclam os territórios urbano, rural e natural. Na Ilustração
27, essas interfaces da paisagem são melhor visualizadas por meio de um diagrama,
onde na legenda pode-se compreender a diversidade de usos do solo e propostas de
integração do sistema verde com o sistema azul.
49

Ilustração 27 – Esquema de partido do projeto do rio Tâmisa.

Os números da ilustração representam: 1 – Parque de lazer; 2 – Habitat de margem do rio; 3 –


Loteamento; 4 – Avenida principal; 5 – Afluente revelado; 6 – Pocket park (praça em terreno vago); 7 –
“Avenida Parkland”; 8 – Fazendas urbanas; 9 – “Praça Parkland”; 10 – Parque urbano; 11 – Arborização
de ruas secundárias; 12 – Revitalização do patrimônio histórico; 13 – Passeio à beira-rio; e 14 – Praia
urbana.
Fonte: Adaptado de Farrells (2017).

Dentre os casos destacados, pode-se evidenciar características importantes, como o


parque urbano associado ao tratamento de águas poluídas, no rio Sena; a eliminação
do tráfego motorizado das margens e a criação de espaços livres mais verdes, no rio
Rhône; o planejamento sistêmico integrando o meio natural com a contexto urbano e a
progressão da recuperação ao longo dos anos, no rio Capibaribe; a substituição de um
viaduto por um curso d’água despoluído que renovou um centro urbano, no rio
Cheonggyecheon; a variedade de usos e espaços projetados na revitalização do rio
Chicago; a conectividade ambiental metropolitana e sua integração com a mobilidade
urbana, no rio Medellín; e o conceito de ecorregião com a valorização das
características do território natural e dos núcleos urbanos, rio Tâmisa. Entende-se que
essas particularidades de cada caso são fundamentais para a elaboração das diretrizes
e estratégias, pois representam referências projetuais para esta proposta no rio Doce.
50

4 LEITURA DO TERRITÓRIO

O espaço fluvial urbano é um cenário ativo, de constante transformação. Imergir nesse


espaço faz parte do processo técnico-criativo de determinação de diretrizes para o
projeto. Considera-se que apenas dessa forma, lendo e estudando o território de estudo
em diferentes níveis de percepção e escalas de análise, sendo eles macro, meso e
micro (Ilustração 28), podem ser compreendidas com mais eficácia as nuances dessa
área de interseção e contato do rio com a cidade.

Ilustração 28 – Níveis de percepção e análise do território.

Fonte: Elaborado pelo autor.

4.1 MEANDROS DA HISTÓRIA: RIO DOCE E COLATINA

A bacia do rio Doce situa-se na região Sudeste do Brasil, com altitude média de 578
metros. Sua área é de, aproximadamente, 83.400 km², sendo 86% no estado de Minas
Gerais e 14% no Espírito Santo (Ilustração 29). O número de habitantes na bacia
ultrapassa os 3 milhões de pessoas, sendo que cerca de 70% encontra-se nas zonas
urbanas. As principais atividades econômicas desenvolvidas são mineração, siderurgia,
silvicultura e agropecuária, segundo o Plano Integrado de Recursos Hídricos da bacia
hidrográfica do rio Doce (PIRH, 2010).
51

Ilustração 29 – Croqui da localização da bacia hidrográfica do rio Doce e da cidade de Colatina-ES.

Em vermelho, a localização de Colatina na bacia hidrográfica.


Fonte: Elaborado pelo autor.

No trecho capixaba, considerável porção do rio Doce encontra-se no território de


Colatina. O município se localiza na região noroeste do estado do Espírito Santo, a 135
km da capital Vitória, possui área de 1.416 km², e população estimada de 123 mil
pessoas, sendo que cerca de 80% é urbana (IBGE, 2016).

A relação da cidade com o rio Doce é inseparável e caminha desde a colonização,


passando do cenário selvagem de matas e tribos indígenas (TEIXEIRA, 2002) para uma
cidade desmatada e de ocupação espraiada. Devido a diversos fatores históricos que
aconteceram não só em Colatina, mas em toda a bacia hidrográfica, atualmente a
população sofre com vários problemas urbanos, resposta do meio natural às ações de
desmatamento, ocupação não planejada, poluição do solo e das águas, que culminam
hoje, por exemplo, na falta de qualidade de vida da população, desaparecimento de
espécies fauna e flora nativas e grandes enchentes urbanas.

No século XVIII, quando a extração de ouro na região de Minas Gerais estava em seu
auge, o rio Doce e a extensão da planície de sua foz pela costa do oceano Atlântico
ficaram intactas propositalmente. Essa foi uma medida protetiva da coroa portuguesa,
responsável pelo governo e pela mineração, para proibir a ocupação e o livre acesso
do rio Doce e demais meios de chegar à região de minas de ouro, reduzindo a
possibilidade de ataques externos e contrabandos (TEIXEIRA, 2002). Como também
52

afirma Teixeira (2002, p. 42), em 1773, o Real Erário do Governo de Minas expediu uma
ordem “proibindo que qualquer pessoa, sob pretexto algum, passasse pelo Rio Doce.
Os ‘sertões do leste’ passaram a ser mencionados nos documentos oficiais pela
denominação de ‘áreas proibidas’”.

Com o propósito de isolar a Província do Espírito Santo, as medidas protetivas, além


de isolar a região do médio e baixo rio Doce durante 150 anos iniciais de colonização,
acabaram por criar um refúgio para as últimas tribos indígenas do leste brasileiro. Em
sua maioria eram botocudos, “[...] aguerridos, ferozes e numerosos [...]”, “guerreiros por
natureza e instinto” (TEIXEIRA, 2002, p. 42), que mantiveram constante luta com os
brancos por quase três séculos. Além dos botocudos, toda a região do rio Doce era
ocupada por uma farta diversidade de tribos, que deixaram marcas de suas culturas no
passado:

Os índios do interior da bacia descendiam principalmente dos cuietés ou


aimorés, originários da família dos tapuias, e se desdobravam em um grande
número de tribos. No alto Rio Doce viviam os coroados, puris, coropós,
goitacases, manachós, malalises, caposes, panamés e outros. No médio Rio
Doce, os pancas, inkut-crac, crenac, nacna-nuc. O norte e noroeste da bacia
eram habitados pelos pupuris, macuanis, camarachós, malalis, tocoiós. Os
aimorés botocudos eram nômades e circulavam por diversas regiões da bacia.
(TEIXEIRA, 2002, p. 44)

Ao final do auge da extração do ouro em Minas Gerais, não havia porque continuar com
a região do rio Doce isolada. Dessa forma, a ocupação se iniciou no começo do século
XIX, primeiramente com tentativas de transporte fluvial de mercadorias, inclusive
produtos da indústria de minério de ferro, que havia começado na época. Em 1857,
começava o transporte de imigrantes para a colonização que, mesmo sob ataques
indígenas, gerou uma colônia que mais tarde se tornaria a cidade de Colatina. Mais
tarde, no século XX, vapores atuaram no trecho entre Colatina e Linhares, sendo o
último o Juparanã, que operou até 1955 (TEIXEIRA, 2002).

A colonização na região enfrentou o desbravamento das densas matas do baixo rio


Doce, gerando o início do desmatamento na região. A implantação da linha férrea
intensificou as ocupações, chegando à Colatina em 1906 (TEIXEIRA, 2002). Com o
estabelecimento de Colatina e sua interligação com a capital Vitória, a região crescia
no mercado de café e escoava a produção, enquanto a cidade se tornava cada vez
mais urbana. A Ilustração 30 resume esquematicamente a evolução histórica de
53

Colatina após a ocupação, bem como sua forte relação com o rio Doce, destacando-se
as principais enchentes e o recente desastre ambiental de rejeitos de minério.

Ilustração 30 - Cortes esquemáticos da evolução histórica de Colatina.

Fonte: Martins et al. (2017)1

Os aterros, que aconteceram na margem sul nos anos de 1968, 1972, 1982 e 2004,
respectivamente (DALLAPICOLA, 2015), mostram indícios de não terem sido feitos em

1 MARTINS, Bruno Giorgio D’Alessandri; SOUZA, Denise Aparecida de; LUIZ, Ihago Pereira; RABELO;
Jadson Damasceno; MONJARDIM, Manoela Paulinelli Cunha Maiolli; FABRES, Rafael Pestana;
VITÓRIA, Suélio Saldanha da. Material produzido sob orientação de Renata Mattos Simões para
participação no concurso de projeto “Urban21”, no ano de 2017, promovido pela editora ARCOweb.
54

harmonia com o lado ambiental que um curso d’água exige, pois o resultado foi a
simples canalização do rio Doce com margens de concreto.

Além disso, os períodos de cheia natural do rio Doce se intensificam também pela ação
antrópica, como a ocupação urbana, o processo erosivo, gerando desaparecimento de
matas e assoreamento do leito. Em épocas de eventos torrenciais, o nível das águas
tende a ocupar áreas de várzea do rio onde, no caso de Colatina, há densa zona urbana,
como mostra o esquema da Ilustração 30. A enchente de 1979 provocou calamidades
urbanas e projetou Colatina em nível nacional. A mais recente enchente no ano de
2013, além de provocar estragos, invadiu inclusive o mais novo aterro construído com
o propósito de conter as cheias (SIMÕES, 2016).

Em 2015, no dia 5 de novembro, um fato fez o mundo olhar para a bacia do rio Doce.
O rompimento de um dos diques da barragem de Fundão, construída para
armazenamento de rejeitos de mineração, fez despejar estimados 60 bilhões de metros
cúbicos de rejeitos liquefeitos. A tragédia levou a 17 perdas e dois desaparecimentos
de vidas humanas e um conjunto de prejuízos às cidades e povoados das margens do
rio Doce, principalmente o devastado distrito de Bento Rodrigues, em Mariana-MG.
Com o rompimento, incalculáveis danos ambientais ainda vêm sendo contabilizados,
sendo considerado por diversas agências de risco o maior desastre ambiental da
história brasileira (MATOS, 2016).

Como afirma Matos (2016, p. 4):

[...] a lama é composta de água, areia, ferro, resíduos de alumínio, manganês,


cromo além das suspeitas de presença de mercúrio. Essas substâncias
causam danos à saúde humana, pioram a qualidade da água dos mananciais
atingidos; destroem matas ciliares e pesqueiros essenciais à pesca artesanal;
asfixiam espécies aquáticas e eliminam micro-organismos do fundo do rio;
comprometem faixas de terras nas margens (soterradas por material inerte). A
recuperação da biodiversidade pode levar décadas, o assoreamento pode ser
irreversível em muitos trechos do leito do Doce, assim como a extinção de
espécies típicas do rio pode ser irreversível [...].

O infográfico na Ilustração 31 esquematiza o preço pago pelo rio Doce pela tragédia
que atingiu vários âmbitos.
55

Ilustração 31 – Infográfico dos resultados do desastre da lama de rejeitos de minério no rio Doce.

Fonte: Martins et al. (2017)2. Adaptado pelo autor.

2 MARTINS, Bruno Giorgio D’Alessandri; SOUZA, Denise Aparecida de; LUIZ, Ihago Pereira; RABELO;
Jadson Damasceno; MONJARDIM, Manoela Paulinelli Cunha Maiolli; FABRES, Rafael Pestana;
VITÓRIA, Suélio Saldanha da. Material produzido sob orientação de Renata Mattos Simões para
participação no concurso de projeto “Urban21”, no ano de 2017, promovido pela editora ARCOweb.
56

Como consequência dos impactos do rompimento, há tentativas de ações em


andamento para a recuperação do rio, por parte das empresas responsáveis pela
tragédia. Além disso, vale ressaltar ações que aconteceram durante o caminhamento
dos rejeitos no rio, como o resgate de espécies entre Baixo Guandu, Colatina e
Linhares, antes da água poluída chegar nessas localidades. Os peixes e demais
animais do rio foram pescados, transportados e devolvidos em lagoas da região e
reservatórios preparados. O esforço envolveu pescadores amadores e profissionais,
instituições de ensino, órgãos ambientais e voluntários moradores das cidades
envolvidas (Ilustração 32).

Ilustração 32 – Fotografias do resgate de peixes em Colatina-ES.

Da direita para a esquerda: pescador retirando peixe do barco; corrente humana para abastecer tanque
de água para transporte dos peixes; e amostra de água do rio poluída com os rejeitos de minério, de
coloração avermelhada e intenso odor de ferro.
Fonte: Fotografado pelo autor.

O importante desta ação é a resistência gerada pela sociedade civil em resposta ao


desastre, mostrando que foi possível dar uma resposta em tempo com o resgate de
espécies endêmicas do rio Doce que provavelmente não resistiriam após a chegada da
lama, assim como foi nas localidades a jusante da região de Colatina. Esse e outros
fatos mostram que há preocupação com o rio por parte da população e esforços na sua
recuperação podem envolver as pessoas.
57

4.2 LEVANTAMENTO E SISTEMATIZAÇÃO DOS DADOS

Neste item, serão expostos os resultados de leitura do território, realizada com imersão
in loco, croquis, estudos em diferentes escalas de análise, mapas de diagnóstico,
fotografias e outros meios necessários para representação. Posteriormente à leitura, os
dados de diagnóstico foram sistematizados em classes de informação para torná-los
mais palpáveis e serem trabalhados na etapa de determinação de diretrizes e
estratégias. A sistematização dos dados mostrará, com base na metodologia da Matriz
Fofa, os pontos em potencial, forças e oportunidades, e os pontos em fragilidade,
fraquezas e ameaças.

Durante a imersão in loco foram selecionados 24 pontos espalhados pela mancha


urbana para visita e registro fotográfico. Dos 24, 13 localizam-se na margem norte, 9,
na margem sul e 2, sobre as pontes (Ilustração 33).

Ilustração 33 – Mapa esquemático dos pontos visitados com vista para o rio Doce.

Os ícones em azul representam os pontos visitados com a respectiva numeração, fazendo referência ao
mosaico de fotografias a seguir.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Os pontos foram escolhidos em função da geomorfogia, priorizando-se áreas de contato


direto com o rio e as cotas elevadas para visões panorâmicas. Registrou-se este
58

percurso com fotografias e, dentre todas, selecionou-se a mais significativa para cada
ponto visitado na cidade, gerando-se um mosaico que acumula de maneira geral as
percepções visuais do rio Doce como um elemento da paisagem (Ilustração 34).

Ilustração 34 – Mosaico de fotografias de leitura do território nos pontos 1 a 13, conforme Ilustração 33.
(continua)

1 1 2 2

3 4

5 5

6 7 8 9

10 10 10

11 12 12 13
59

(continuação)

14 15 15 16

16

17 18 18

19 19 19 19

20 20 21

22 23 23
60

(conclusão)

24 24 24 24
Fonte: Elaborado pelo autor. Fotografado por Bruno Giorgio D’Alessandri Martins e Renata Mattos
Simões.

Após a leitura do território e cruzamento com informações históricas, foi possível


elaborar a Ilustração 35, que representa uma sobreposição temporal de símbolos
antigos e recentes. Como destaques antigos seguem os índios botocudos (primeiros
habitantes de Colatina); o vapor Juparanã, que navegava entre Colatina e a foz do Rio
Doce, em Linhares; a fauna silvestre; o contato imediato do Iate Clube com o rio; e os
afluentes do Rio Doce protegidos por matas ciliares. Enquanto os recentes apontam
para a ocupação espraiada ao longo do acentuado relevo; novos eixos de crescimento
ao longo do prolongamento da BR-259; e verticalização na margem sul.

Dos símbolos antigos só restaram os registros históricos: os índios foram dizimados; o


Juparanã abandonado; a fauna foi expulsa em função do desmatamento; o Iate Clube
foi afastado do rio por aterro e, atualmente, encontra-se abandonado e mal conservado;
e os afluentes se transformaram em filetes de esgoto.
61

Ilustração 35 – Sobreposição temporal de símbolos antigos e recentes do rio Doce e de Colatina.

Fonte: Elaborado pelo autor.


62

Ao longo do percurso de leitura do território, foram identificados elementos que de alguma forma se relacionam com o rio e, em seguida, estes elementos foram classificados por meio da Matriz Fofa
(Ilustração 36).

Ilustração 36 – Mapa esquemático de diagnóstico pela Matriz Fofa.

Fonte: Elaborado pelo autor.


63

A aplicação da Matriz Fofa foi essencial para evidenciar o que pode ser usado (forças),
explorado (oportunidades), eliminado (fraquezas) e evitado (ameaças).

Como forças, a Foz de um rio é um elemento da paisagem que naturalmente possui


suas potencialidades ecológicas. São locais de confluência de águas, que representam
toda uma vida e trajeto de um curso d’água, com suas complexidades de bacia
hidrográfica e diversidades de fauna e flora, podendo ser criados acessos com trilhas e
passeios, ampliando-se as conexões ecológicas e urbanas entre as margens do rio ou
córrego afluente do Doce. Além disso, poderiam ser implementadas ações de
recuperação e conscientização ambiental, transformando uma foz em uma espécie de
laboratório e escola ao ar livre para práticas ecológicas.

A Agricultura, se aplicada com um manejo de práticas conscientes, como sistemas


agroflorestais, por exemplo, pode tornar altamente produtivas áreas que se encontram
sub ou inutilizadas. Dentro da zona urbana há áreas de cultivo que proporcionam hoje
diversos benefícios, como os tratados no item 2.3.1, e o fato destas e novas áreas
criadas estarem próximas à população, pode incentivar o trabalho no campo, com
geração de emprego e renda, produção de qualidade para a própria cidade e região,
além dos benefícios ambientais, como a recuperação de solos degradados.

Além das conexões ecológicas, as conexões urbanas também são essenciais, aqui
representadas como Travessias. Num tecido urbano espraiado ao longo do rio como é
Colatina, as duas pontes que interligam as margens são, logicamente, fundamentais
para a cidade, mas também são importantes locais de apreciação da paisagem, pois a
relação das pessoas com o rio ao passar sobre as pontes se torna íntima. É passando
sobre a ponte que se percebem visuais privilegiados, que se acompanha a preocupante
situação do rio, que se registra uma fotografia da natureza, do pôr e do nascer do sol.
Caso houvesse mais travessias, as pessoas poderiam traçar novas rotas e ter mais
contato com o rio, e se essas travessias dispusessem de infraestrutura verde, como
pontes ecológicas, seriam também elementos de continuidade para fauna e flora, isto
é, um elemento de fluxo ecológico.

O Calçadão, assim como as travessias, é um forte personagem no relacionamento da


cidade com o rio. De certa forma, o calçadão à beira-rio na margem sul pode ser
considerado um dos elementos mais apropriados em Colatina pelas pessoas, seja com
64

práticas esportivas, passeio, descanso, alimentação, exibições artísticas etc. A questão


é que a larga apropriação deste espaço urbano se dá mesmo com as fragilidades que
ele apresenta, por não ter qualidade espacial, subespaços, elementos de arquitetura da
paisagem, e por possuir equipamentos urbanos insuficientes, como assentos e demais
elementos necessários para permanência dos usuários. Provavelmente a apropriação
do calçadão existe pela carência de espaços livres de uso público com qualidade na
cidade, e essa utilização talvez se dê pelos atributos naturais que o local possui. Dessa
maneira, melhorar a infraestrutura e a interface com o espaço natural fluvial, isto é, a
margem do rio Doce, pode ser uma ferramenta que poderá renovar e impulsionar esse
elemento de força. Essa melhora da infraestrutura pode vir associada à implantação de
um percurso ou circuito, disponde de continuidade e interligação com as ilhas e
margens oposta, gerando mais atrativos e qualidade para a cidade.

Sendo o último elemento de força previamente estabelecido, têm-se o Cais, localizado


na margem Sul. Considerado até mesmo como um ponto turístico devido à sua
proximidade com o rio e vista privilegiada para o pôr do sol na cidade, o cais é o local
aonde atualmente embarcações são levadas à água, para passeio ou pesca, sendo
esta última prejudicada devido ao desastre ambiental dos rejeitos de minério. Assim
como o calçadão, é um elemento que mesmo com pouca infraestrutura é considerado
uma referência, sendo o único de uso público na cidade. Ao se percorrer as margens,
pode-se perceber pequenos barcos atracados, o que pode sugerir uma possibilidade
de novos cais, e uma consequente interligação por meio de transporte fluvial.

Como oportunidades destacadas pela Matriz Fofa, têm-se elementos que foram
considerados subutilizados com potencialidade de se tornarem forças. O primeiro
dentre estes selecionados são as Ilhas, elementos de formação natural pela morfologia
do rio que hoje têm vegetação natural e/ou atividades de agricultura, e ainda algumas
possuem habitações irregulares. Por se encontrarem dentro dos limites do rio Doce,
considera-se que as ilhas podem ser parte integrada de um possível parque linear
urbano, com infraestrutura para tal, porém sem perder suas características
ecossistêmicas. Podem dispor, por exemplo, de passeios em trilha, arvorismo, talvez
até mesmo construções modulares para alimentação e convívio social, além de práticas
agroflorestais de recuperação do solo e das águas do rio.
65

Os locais Arborizados são geralmente pequenas faixas de área verde nas margens do
rio Doce e estão aqui considerados como oportunidades, porque podem ser ampliados
e dispor de maior diversidade vegetal. Essas faixas de vegetação podem auxiliar na
manutenção do habitat de aves e espécies aquáticas, além da possibilidade de
interligação ecológica com corredores e áreas verdes urbanas e periurbanas, prática
tratada no item 2.3.2. Desta forma, conectar-se-ia o rio e suas margens arborizadas
com os fragmentos verdes na cidade e no seu entorno, além da continuidade linear das
margens no sentido longitudinal do rio, evitando-se, assim, que a zona urbana não seja
uma pausa ou bloqueio no fluxo ecológico do rio na escala de bacia hidrográfica.

Outro fato considerado oportunidade são as áreas de Sedimentação do rio, que por
atividade natural da morfologia das águas muda constantemente, mas em algumas
regiões há constante deposição de partículas. Essas áreas formadas de areia
constituem um prolongamento das margens que, após intervenção, poderiam ser
utilizadas nos períodos de estiagem, quando o nível do Doce se encontra baixo. Além
de vegetação nativa e melhoramento ecológico da interface urbano-fluvial, usos para a
população poderiam ser explorados, como atividades ao ar livre, comércio de
alimentação, infraestrutura para práticas esportivas, dentre outros que a densa
população não possui disponível. A criação de uso para o local de sedimentação, além
de dar vida ao local de contato com o rio, pode ser concebido num caráter harmônico
com o curto período de cheia anual do Doce.

Encarou-se a Estação ferroviária também como uma oportunidade devido à sua


tradição na cultura de Colatina e região, afinal com a linha férrea chegou crescimento
para a cidade e as pessoas puderam se conectar. O antigo traçado dos trilhos mudou,
uma antiga estação preserva apenas a memória no centro da Cidade, mas o trem
continua sendo uma referência na cidade. Outro motivo é a identidade que o trem
constrói no percurso que liga os municípios de Cariacica-ES a Belo Horizonte-MG, num
trajeto que começou a ser ligado desde 1904 (VALE, 2015). Pelo fato de percorrer por
vários quilômetros as margens do rio Doce, ao se embarcar na estação, o contato visual
com o rio não se perde em grande parte do trajeto. Dessa forma, acredita-se que a
estação, de administração privada e localizada próxima à margem, tem a oportunidade
de estar melhor interligada com a cidade e o rio, com modais fluviais, mirantes e passeio
de acesso à beira do Doce, intensificando-se o lado turístico do elemento.
66

Apontou-se, na Ilustração X, também como oportunidade, a região do centro histórico


de Colatina. O Patrimônio se refere ao conjunto de construções de importância
histórica para a cidade que no passado desenvolveram importante relação com o rio
Doce. O Iate Clube é um desses elementos que, de estilo arquitetônico moderno, foi
construído para atracagem de embarcações e atividades culturais e sociais, porém
encontra-se degradado e sem uso público. Há ainda outras edificações na região
central, como a antiga estação, na praça Sol Poente; a Câmara e a Escola Aristides
Freire, ambas na praça Municipal; dentre outras edificações nos entornos destas
praças. Em um projeto de revitalização do centro histórico de Colatina, pode-se tomar
como diretriz a recuperação dessas edificações, praças e ruas e integrá-las ao passeio
e infraestrutura do rio, privilegiando-se os acessos, permeabilidade e visuais.

Entrando na classificação de Fraquezas, a Matriz apresenta o item Foz Tamponada,


que constitui uma fragilidade ambiental dentro do tecido urbano. Colatina possui
diversas nascentes dentro da cidade, e dentre aquelas que geram pequenos e médios
cursos d’água, muitas das vezes estes córregos foram canalizados, misturando-se até
mesmo com a rede de esgoto. Essas microbacias apesar de estarem dentro do
perímetro urbano, ainda constituem parte integrante da bacia principal do rio Doce,
portanto seria fundamental a recuperação dessas bacias, com intervenções ambientais
fazendo interface com edificações e infraestrutura urbana. Isto compreende a
recuperação de nascentes urbanas, possibilidade de conexão ecológica dos cursos
d’água com fragmentos de áreas verdes, e a recuperação da foz tamponada, por meio
da separação das águas de esgoto e abertura das fozes, com preservação ambiental,
diversidade ecológica e possibilidade de contato pelas pessoas, dentre outras ações.

As Vias Marginais são aqui consideradas fraquezas para o rio devido às


consequências urbanas que trazem, pois constituem um elemento de bloqueio à
permeabilidade e insegurança aos pedestres pela alta velocidade dos automóveis, além
dos ruídos e dispersão de poluentes que podem ser prejudiciais tanto aos usuários das
margens quanto às espécies de fauna e flora. Como trazido no capítulo 3, cidades
mundiais, como Lyon, Paris e Chicago, conceberam parques lineares reduzindo ou
afastando vias de tráfego motorizado das margens. Essa ação faz valorizar ainda mais
o ambiente urbano devido às qualidades ambientais que proporciona, aumentando a
área de contato da cidade com o caminho linear que o rio desenvolve.
67

O último elemento classificado como fraqueza são os locais às margens do rio Doce
com caráter Degradado. Geralmente, são encostas de morros próximos ou das
próprias margens, que permitem a erosão do solo, podendo intensificar o processo de
assoreamento do leito do rio. Além disso, por serem áreas dentro do perímetro urbano
e sem vegetação, podem facilitar a ocupação irregular de moradias, com
consequências graves, como deslizamento de terra.

Para a classificação de ameaças, procurou-se encontrar elementos que prejudicam o


acesso, visibilidade, permeabilidade e continuidade ecológica para com o rio. Os
elementos de Barreira estão assim classificados por serem edificações, lotes vazios,
faixas de areia resultado de assoreamento, ruas e a linha férrea. A simples implantação
de um circuito à beira rio e reformulação da ocupação das margens já eliminaria esses
obstáculos, e criaria usos combinados, que impulsionariam o acesso e contato direto
com o rio. Quanto ao fluxo ecológico, a conexão das áreas verdes também pode
acontecer em áreas livres nos terrenos privados e em seus limites com a margem do
rio. Além disso, terrenos vazios às margens do Doce podem se tornar altamente
produtivos, com implantação de espaços de convívio com geração de emprego e renda,
horta urbana, área de esportes e lazer comunitário e funcionar como acesso para um
possível circuito ou parque linear à beira-rio.

Outro elemento classificado como ameaça são as Indústrias localizadas às margens


do rio Doce. A região norte de Colatina apresenta fábricas de vários ramos, como
frigorífico e têxtil, além de postos de gasolina a poucos metros da margem. Não é
possível afirmar que esse tipo de uso traz constante ameaça ao rio, porém em caso de
acidentes ou vazamento de produtos tóxicos, pode-se imaginar riscos que fauna e flora
correm. Dessa maneira, estudos mais apurados e fiscalizações podem orientar
diretrizes de funcionamento sustentáveis para essas indústrias, eliminando-se
possíveis desastres ambientais.

Por último e talvez mais recente episódio negativo que o Doce tenha passado, a Lama
de rejeitos é aqui caracterizada como uma ameaça à qualidade da água, ao leito do
curso d’água principal e seus afluentes, ao lençol freático, ao equilíbrio da cadeia
alimentar e manutenção das espécies de fauna e flora, dentre outros fatores ambientais,
além dos problemas sociais, econômicos, psicológicos e biológicos que esse elemento
tem trazido. Para que essa ameaça se transforme em uma oportunidade, ações de
68

infraestrutura urbana e ecológica das margens podem funcionar como agentes. A


cidade de Paris mostrou, no item 3.1, que é possível tratar águas poluídas do rio Sena
em um parque, logo, estudos concretos podem mostrar possibilidades de tratamento
das águas e leito do rio, por meio da retirada do material poluente, associado a
benefícios sociais e culturais, com a criação de espaços de esportes e lazer, e ainda
chances de geração de emprego e renda nesse sistema.

A análise desses elementos classificados pela Matriz Fofa foi fundamental para a
elaboração das diretrizes de projeto de intervenção no rio. Além disso, surgiram quatro
diretrizes principais como ferramentas de sistematização dos espaços livres:
acrescentar, demarcar, conectar e ativar, que serão tratadas no item 4.3.

4.3 ELABORAÇÃO DE DIRETRIZES

A proposta projetual foi amparada pelas conclusões do levantamento e sistematização


dos dados. As diretrizes, instruções e parâmetros norteadores para o projeto foram
definidos para solucionar as fraquezas, corrigir as ameaças, potencializar as
oportunidades e impulsionar as forças que atuam no espaço urbano-fluvial. Desse
modo, as estratégias surgem como decisões de projeto que representem as diretrizes
em soluções práticas, aqui trazidas em uma metodologia adaptada de Tardin (2008),
para sistematização dos espaços livres de Colatina. Para tal, como mostra a Ilustração
37, separaram-se 4 ferramentas de diretriz: acrescentar, demarcar, conectar e ativar.

Ilustração 37 – Quadro com ações de projeto de sistematização dos espaços livres.

(continua)
Diagrama Diretriz Conceito

Somar espaços livres a outros próximos já


Acrescentar considerados com instrumento específico de
proteção.

Colocar limite onde não há referência de


Demarcar
proteção definida.
69

(conclusão)
Diagrama Diretriz Conceito

Unir espaços já protegidos e acrescentados


Conectar aos espaços a demarcar por meio de
superfícies livres contínuas.

Adaptar condições dos espaços livres diante de


Ativar possíveis ocupações urbanas e para o
adequado desenvolvimento de seus papéis.

Fonte: Tardin (2008). Adaptado pelo autor.

A metodologia adaptada de Tardin (2008) aplica diretrizes em uma escala meso de


análise, isto é, consiste numa ferramenta de trabalho a nível de cidade. Os resultados
dessa aplicação de metodologia serão explicitados no item 5.

Aproximando-se para uma escala micro de trabalho, tem-se o procedimento de projeto


desenvolvido para o rio Capibaribe, em Recife, exemplo dado por Montezuma (2017) e
citado no item 3.3. Com este, a intervenção projetual se torna mais pontual no âmbito
da escala, pois consiste em 5 diretrizes de relacionamento da cidade com o rio: chegar,
atravessar, abraçar, percorrer e ativar. Cada diretriz apresenta estratégias projetuais,
elucidadas com os croquis da Ilustração 38.
70

Ilustração 38 – Diretrizes e estratégias de projeto para relacionamento da cidade com o rio.

CHEGAR Passeio
Rua parque Alameda Via verde

ATRAVESSAR

Travessia de barco Ponte de pedestres e ciclistas

ABRAÇAR
Terraços Passarela Deck Deck flutuante Arquibancada
Janelas

PERCORRER
Pedestres e ciclistas separados Pedestres e ciclistas compartilhado Pedestres e ciclistas adaptados a preexistências

ATIVAR

Fonte: Montezuma (2017). Adaptado pelo autor.

As estratégias de Montezuma (2017) foram incorporadas no desenvolvimento dos esquemas de projeto para as margens do rio Doce, mostrados em corte também no item 5.
71

5 PROPOSTA DE PROJETO

Como já observado no decorrer dos capítulos anteriores, este trabalho se desenvolve


sobre diferentes escalas de análise. Considerou-se esse método importante para um
melhor entendimento do território, e para que este seja compreendido como parte
integrante de um sistema. Desta forma, este capítulo pretende mostrar possibilidades
de projeto seguindo as escalas de análise. As estratégias aqui apresentadas se
embasam desde os conceitos e práticas do capítulo 2, tomando-se como repertório os
exemplos do capítulo 3, e agregando a história, o diagnóstico e as diretrizes das
propostas apresentadas no item 4.

Em escala meso, a aplicação das diretrizes de sistematização dos espaços livres,


embasada na metodologia de Tardin (2008) e mencionada no item 4.3, fez uso de
informações geográficas obtidas com imagens aéreas e informações de bases de
dados sobre a cidade de Colatina (Ilustração 39).

Ilustração 39 – Mapas de dados existentes sobre Colatina.

(continua)

Áreas verdes Hidrografia

Topografia (curvas em 10 metros) Ilhas no rio Doce


72

(conclusão)

Conexões verdes existentes Mancha urbana

Bancos de areia Linhas de ônibus

Ícones de localização das praças


Fonte: Elaborado pelo autor. Mapas produzidos pelo autor e Renata Mattos Simões.

Com a sobreposição desses mapas, pôde-se aplicar a metodologia de sistematização


dos espaços livres, chegando-se nas 4 ações já mencionadas, conforme a Ilustração
40.
73

Ilustração 40 – Propostas de sistematização dos espaços livres de Colatina.

Acrescentar Demarcar

Conectar Ativar
Fonte: Elaborado pelo autor.

As ações de Acrescentar foram elaboradas após a percepção de que há fragmentos


de espaços livres, principalmente, nas margens do rio Doce, em encostas próximas a
estas e nas próprias ilhas fluviais, que poderiam estar unidas. Geralmente possuem
algum bloqueio ou área com uso oposto ou desuso que interrompe a continuidade
ecológica.

As propostas para Demarcar se propõem a delimitar de fato áreas livres e/ou verdes
que, principalmente, encontram-se limítrofes a mancha urbana. Como aconteceu ao
longo da ocupação urbana, áreas verdes foram desmatadas para construção de
habitações irregulares. Portanto, essa é uma medida preventiva para que este fato não
perpetue até a eliminação total das áreas verdes urbanas.

A ação seguinte de Conectar visa traçar rotas de fluxo ecológico ou corredores verdes,
mencionados no item 2.3.2. Os corredores verdes atuariam na conexão entre rio Doce,
74

ilhas fluviais, afluentes, fragmentos verdes, praças, regiões de nascentes urbanas,


limites de microbacias hidrográficas, e áreas verdes fora da zona urbana.

Já a ação de Ativar sugere adaptar as condições das áreas livres e verdes


preexistentes para possibilitar novas ocupações e usos coerentes com suas finalidades.
Isso consiste em aumentar a produtividade dos espaços nos âmbitos ambiental,
econômico, social, cultural, trazendo retorno para a cidade e para a bacia hidrográfica
em vários níveis de escala.

Com as ações de sistematização elaboradas, propõem-se ainda outras medidas de


intervenção, como por exemplo a recuperação de microbacias. Pode-se perceber, na
Ilustração 41, a considerável quantidade de microbacias urbanas e suas regiões de
nascentes muito próximas à zona urbana e, em alguns casos, coincidentes
espacialmente. Por falta de planejamento urbano, a ocupação gerou canalização e
tamponamento de foz de córregos, como já dissertado no item 4.2. Em alguns casos,
como a bacia do Córrego de São Silvano, na margem norte, o curso d’água principal
corre sob ruas e até mesmo edificações, além de ser destino de dejetos, fatos que
ocasionam diversos problemas em períodos chuvosos. Contudo, percebe-se ainda a
proximidade também com áreas verdes, o que pode ser um fator de oportunidade para
a recuperação dessas microbacias urbanas, bem como sua interligação com áreas de
preservação na zona rural.
75

Ilustração 41 – Proposta de mapeamento e recuperação de microbacias urbanas.

Microbacias em verde claro e contorno pontilhado, mancha urbana em cinza, e áreas verdes urbanas
em verde escuro. Fonte: Elaborado pelo autor.

Sabendo-se que as intervenções de caráter ambiental em um território não podem se


restringir apenas à fauna e flora, propôs-se que houvesse também acessos para as
pessoas, pois a população também usa, constrói e mantém o território. Embasando-se
nos conceitos trazidos nos itens 2.2.2, sobre Trama Verde-Azul, e 2.3.3, sobre Parques
lineares, elaborou-se um circuito no contorno do rio Doce dentro da zona urbana de
Colatina. Também propõem-se meios de transporte direto das comunidades em morros
próximas às margens, pois, como identificado na Ilustração 39, os itinerários de ônibus
na cidade interligam com dificuldade as comunidades às margens, podendo ocasionar
barreiras de acesso a um novo espaço livre integrado à zona urbana, como o rio Doce.
Sendo assim, a Ilustração 42 traz essa proposta, com um circuito principal e outro
secundário, que permeiam entre margem e ilhas por meio de possíveis pontes, e os
transportes para as comunidades nos pontos elevados da cidade.
76

Ilustração 42 – Proposta de circuitos, mobilidade e acessos para o rio Doce.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Acumulando-se todas essas informações mapeadas, descritas e construídas, fez-se


uma sobreposição, gerando-se o que a bibliografia denomina Trama Verde-Azul como
proposta de reconciliação da cidade de Colatina com o rio Doce (Ilustração 43),
interligando-se riquezas verdes e azuis com a cidade ocupada, nas dimensões físico-
ambiental; sociocultural; seguridade socioambiental; e de mobilidade.
77

Ilustração 43 – Proposta de Trama Verde-Azul para o rio Doce no trecho urbano de Colatina.

Fonte: Elaborado pelo autor.


78

Aproximando-se a escala de visualização e retomando-se teorias sobre parques


lineares trazidas no item 2.3.3 e exemplos pelo mundo no item 3, elaborou-se um
conjunto de intervenções para as margens do rio Doce. Essas intervenções visam
materializar, sob forma de estratégias projetuais de espaço urbano e paisagem, as
propostas desenvolvidas na Trama Verde-Azul, apresentada na Ilustração 43.
Procurou-se sistematizar as intervenções nas margens, pois, por se tratar de um
território fluvial amplo e extenso, há locais com semelhanças urbanas e ambientais, que
poderiam receber as mesmas propostas de uso. Dessa forma, esse sistema de
intervenções consiste em classes de uso de margem, marcadas na Ilustração 44.
79

Ilustração 44 – Mapa de intervenção dos esquemas tipológicos de margem.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os números no mapa indicam possíveis tipologias de uso, elaboradas de acordo com


os problemas, potencialidades e características naturais e urbanas de cada área de
margem e região urbana limítrofe ou que está inserida, com base no diagnóstico
desenvolvido com a Matriz Fofa. Sendo assim, classificaram-se as tipologias criando-
80

se uma cadeia de parques lineares com diferentes atividades ao longo do rio, sendo
eles:

1 - Doce Central: percurso, contemplação e comércio;


2 - Doce Verde e Azul: conexão e fitotratamento;
3 - Doce Agro: trabalho e produção agroflorestal;
4 - Doce Lazer: comunitário de ócio e lazer;
5 - Doce Bosque: recuperação do ecossistema nativo; e
6 - Doce Dia e Noite: cultural e multiuso urbano.

Os esquemas tipológicos encontram-se demonstrados na Ilustração 45, que, devido à


concepção do desenho, mostra possibilidades de conexões e mudanças de uma
tipologia para outra.

Ilustração 45 – Esquemas tipológicos do parque linear

1 2 3

4 5 6
Os números da ilustração representam: 1 – Doce Central; 2 – Doce Verde e Azul; 3 – Doce Agro; 4 –
Doce Lazer; 5 – Doce Bosque; e 6 – Doce Dia e Noite.
Fonte: Elaborado pelo autor.
81

O objetivo dos esquemas tipológicos é mostrar que o espaço fluvial pode ter diversidade
de usos ao longo de todo o ano, compatível aos períodos de cheia, que melhore o bem-
estar das pessoas, auxilie na mitigação dos conflitos urbanos de Colatina, estimule os
fluxos ecológicos e atue na recuperação da fauna e flora do rio Doce e de toda a região.

Em uma nova aproximação, agora em escala micro de projeto da paisagem,


elaboraram-se cortes das margens do rio Doce no trecho urbano de Colatina, numa
tentativa de representar as possibilidades de uso, classificadas pelos esquemas
tipológicos, e suas interfaces com o tecido urbano e o rio. Além disso, relacionaram-se
as propostas de projeto com as estratégias de preservação de espaços livres,
desenvolvidas por Ahern (2007), citadas na Ilustração 5 no item 2.1, e com as diretrizes
de projeto para relacionamento da cidade com o rio, por Montezuma (2017), na
Ilustração 38, no item 4.3.

Esse embasamento trazido de Ahern e Montezuma é representado neste item por meio
de ícones que interagem com as propostas para as margens do rio Doce. Na Ilustração
46, encontra-se a descrição desses ícones.

Ilustração 46 – Descrição dos ícones de diretrizes e estratégias para as propostas de intervenção.

Diretrizes para relacionamento cidade-rio Estratégias de preservação de espaços


(MONTEZUMA, 2017) livres (AHERN, 2007)

Abraçar
Protetiva

Chegar
Defensiva

Atravessar
Ofensiva
Percorrer

Criativa
Ativar

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os cortes dispõem-se entre as Ilustrações Ilustração 47 e Ilustração 73, com escala


gráfica de representação e uma planta mosca de localização no rio Doce, no trecho
82

urbano de Colatina. Intercalaram-se os cortes com letras de músicas e trechos de


poesias e livros numa tentativa de manter a sensibilidade que a aproximação com as
águas e o meio ambiente de modo geral provocam. Deseja-se mostrar que a
subjetividade e a emoção também desempenham uma diretriz de projeto urbanístico.

Ilustração 47 – Corte ilustrativo Doce Central e Doce Verde e Azul.

Fonte: Elaborado pelo autor.

[...] Perto de muita água, tudo é feliz. [...] (ROSA, 1956)

Ilustração 48 – Corte ilustrativo Doce Lazer.

Fonte: Elaborado pelo autor.


83

Entre o sono e o sonho,


Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho,
Corre um rio sem fim.
[...] (PESSOA, 1995)

Ilustração 49 – Corte ilustrativo Doce Bosque.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ilustração 50 – Corte ilustrativo Doce Lazer.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ilustração 51 – Corte ilustrativo Doce Dia e Noite.

Fonte: Elaborado pelo autor.


84

Ilustração 52 – Corte ilustrativo Doce Dia e Noite.

Fonte: Elaborado pelo autor.

[...]
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.
[...] (PESSOA, 1995)
Ilustração 53 – Corte ilustrativo Doce Central.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ilustração 54 – Corte ilustrativo Doce Central.

Fonte: Elaborado pelo autor.


85

Ilustração 55 – Corte ilustrativo Doce Bosque.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ilustração 56 – Corte ilustrativo Doce Central.

Fonte: Elaborado pelo autor.

[...]
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
[...] (PESSOA, 1995)
86

Ilustração 57 – Corte ilustrativo Doce Central.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ilustração 58 – Corte ilustrativo Doce Agro.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ilustração 59 – Corte ilustrativo Doce Bosque.

Fonte: Elaborado pelo autor.


87

[...]
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim. (PESSOA, 1995)

Ilustração 60 – Corte ilustrativo Doce Bosque.

Fonte: Elaborado pelo autor.

O menino e velho Doce viagens


Mergulham em meus olhos
Barrancos, carrancas, paisagens
Doce, Doce
Tantas águas corridas
Lágrimas escorridas, despedidas
saudades
[...] (Adaptado de MENDES; CAPINAM, 2007)

Ilustração 61 – Corte ilustrativo Doce Agro.

Fonte: Elaborado pelo autor.


88

Ilustração 62 – Corte ilustrativo Doce Lazer e Doce Agro.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ilustração 63 – Corte ilustrativo Doce Central.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ilustração 64 – Corte ilustrativo Doce Lazer.

Fonte: Elaborado pelo autor.


89

[...]
Doce meu santo, a velha canoa
Gaiolas são pássaros
Flutuantes imagens deságuam os
Instantes
O vento e a vela
Me levam distante
Prazer, novo Doce
Diz o povo nas margens
[...] (Adaptado de MENDES; CAPINAM, 2007)

Ilustração 65 – Corte ilustrativo Doce Bosque.

Fonte: Elaborado pelo autor.


90

Ilustração 66 – Corte ilustrativo Doce Bosque.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ilustração 67 – Corte ilustrativo Doce Central.

Fonte: Elaborado pelo autor.


91

[...]
Para a árvore
pelo menos há esperança:
se é cortada, torna a brotar,
e os seus renovos vingam.
Suas raízes poderão envelhecer
no solo
e seu tronco morrer no chão;
ainda assim, com o cheiro de água
ela brotará
e dará ramos como se fosse
muda plantada.
[...] (Versículos 7 a 9, de Jó 14. BÍBLIA, 2017).

Ilustração 68 – Corte ilustrativo Doce Lazer e Doce Agro.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ilustração 69 – Corte ilustrativo Doce Verde e Azul.

Fonte: Elaborado pelo autor.


92

Ilustração 70 – Corte ilustrativo Doce Agro e Doce Bosque.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Meu rio é uma grande pessoa.


Meu Doce é a criança pura, boa, inocente.
É também o sofrido adolescente,
Ou então, o jovem combativo e sonhador.

E agora, em tempo novo redivivo,


Eis que meu Doce se prepara em tom definitivo,
Para ser tratado de Senhor.
Sr. Doce.
(Adaptado de BOLDRIN, ...)

Ilustração 71 – Corte ilustrativo Doce Verde e Azul.

Fonte: Elaborado pelo autor.


93

Ilustração 72 – Corte ilustrativo Doce Central.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ilustração 73 – Corte ilustrativo Doce Bosque e Doce Lazer.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Além dos cortes, perspectivas ilustram novos usos e espaços revitalizados nas
margens do rio Doce, nas Ilustrações 74 e 75.
94

Ilustração 74 – Perspectiva que ilustra possibilidades de uso nas margens.

Fonte: Martins et al. (2017)3.

Ilustração 75 – Perspectiva que ilustra possibilidades de uso nas margens.

Fonte: Martins et al. (2017)³.

3 MARTINS, Bruno Giorgio D’Alessandri; SOUZA, Denise Aparecida de; LUIZ, Ihago Pereira; RABELO; Jadson
Damasceno; MONJARDIM, Manoela Paulinelli Cunha Maiolli; FABRES, Rafael Pestana; VITÓRIA, Suélio
Saldanha da. Material produzido sob orientação de Renata Mattos Simões para participação no concurso de projeto
“Urban21”, no ano de 2017, promovido pela editora ARCOweb.
95

6 CONSIDERAÇÕES

Reconciliar-se é estabelecer boa relação entre indivíduos anteriormente em conflito.


Espera-se que a proposta de solução do conflito entre a cidade e seu rio satisfaça as
demandas de cada parte, atuando como mediadora da ocupação urbana, restituindo o
rio como papel de gênese da cidade e recuperando sua essência como elemento
natural.

A estruturação do método de pesquisa foi desenvolvida ao longo do trabalho de modo


que o objeto de estudo não fosse visto espacialmente isolado, mas parte de um sistema
maior. O desenvolvimento do projeto em escalas diferentes de análise possibilita uma
maior compreensão das diretrizes definidas, pois procura mostrar que os conflitos não
são particulares do território urbano. Esse pensamento sistêmico se relaciona com a
visão espacial de bacia hidrográfica, em que todo o sistema ecológico pode se
relacionar e ser gerido e manejado de maneira sustentável e consciente.

A estruturação da metodologia nas três etapas pôde conduzir a uma linha de raciocínio
que une as teorias do Urbanismo Ecológico às estratégias projetuais. A primeira etapa
é essencial para a leitura e compreensão do território, pois, por meio da Matriz Fofa, é
possível chegar à uma classificação dos elementos que compõem o rio e interagem na
margem da cidade.

Saindo da etapa de diagnóstico, os elementos da interface cidade-rio e os espaços


livres urbanos passam por uma sistematização. Este é um método fundamental pois
remonta à teoria dos corredores ecológicos, provendo de infraestrutura verde a nível
urbano. Além disso, é um método que gera um resultado objetivo, pois compreende o
simples inter-relacionamento das áreas e corredores verdes, cursos d’água e suas
nascentes, espaços livres, praças e demais fragmentos vegetados que poderiam estar
conectados entre si. Neste caso, trata-se o rio como um eixo estruturante dessas
conexões e, também, como um elemento parte de um sistema natural inserido no tecido
urbano. O resultado principal é a elaboração da Trama Verde-Azul, um mapa que
interliga os elementos verdes (vegetados) e azuis (riquezas hídricas), sendo um mapa
conjunto de diretrizes que norteiam a seguinte etapa.

O último passo metodológico compreende a elaboração das diretrizes e estratégias,


que representam o projeto de uso e requalificação das margens do rio Doce em
96

Colatina. Resgatando-se o objetivo geral do trabalho, pode-se concluir que este foi
atingido, pois em termos práticos, a elaboração das intervenções nas margens constitui
a uma proposta de parque linear fluvial urbano em Colatina.

Desse modo, acredita-se que o processo de sobreposição das teorias da paisagem e


do Urbanismo Ecológico às ferramentas metodológicas descritas pôde conduzir a
estratégias consideravelmente objetivas e coerentes com a problemática levantada
nesta pesquisa. Espera-se que as propostas aqui desenvolvidas possam provocar na
prática a reincorporação do rio à cidade e vice-versa.

Com o espaço urbano remodelado, acredita-se que haverá um maior convívio social na
cidade de Colatina, com maior oferta de espaços de lazer e uma consequente
identidade urbana desenvolvida ao longo dos anos com a incorporação de uma nova
paisagem ao contexto da cidade. Além dos benefícios humanos, o meio urbano passa
a ser parte de um sistema ecológico que contribui para a diversificação e circulação da
fauna e flora, numa tentativa de recuperação ambiental da natureza original da região.

Além do nível de escala de Colatina, acredita-se que, por meio das conexões
ecológicas, da renovação de áreas urbanas e naturais e do melhoramento do rio no
trecho urbano da cidade, a intervenção possa se expandir pelo rio e seus afluentes,
direcionando o caminho para a recuperação total da bacia, com planos integrados entre
os municípios e estados abrangidos.
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