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Colatina
2017
BRUNO GIORGIO D’ALESSANDRI MARTINS
Colatina-ES
2017
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
(Instituto Federal de Espírito Santo – Biblioteca Campus Colatina)
149 f. : il. ; 30 cm
CDD 712.098152
À minha família, minha mãe e minha irmã, pelo amor, atenção, cuidados, carinho e
paciência incondicionais.
Ao professor Homero Marconi Penteado por ter aceito o convite de ser membro externo
da banca e pelas importantes considerações e participação.
À minha professora da disciplina de TCC II, Amábeli Dell Santo, pelos ensinamentos e
paciência durante o período.
A Mateus Bernardo Scussulim Saloto, Michel dos Santos Martins e Igor Corona
Pedrone, pela amizade, confiança, generosidade e momentos únicos na República 202.
A Denise Aparecida de Souza, Alana Franzin Fagundes e Rafhaela Jejesky Vieira, pela
amizade incondicional e momentos únicos vividos durante a faculdade.
À Ana Barbosa Maciel, Dona Ana, pela amizade, receptividade, cuidados e apoio.
A todos meus amigos e colegas de curso que de alguma forma contribuíram na minha
trajetória da faculdade e deste trabalho.
Palavras chave: Parque linear. Trama Verde-Azul. Ecologia da paisagem. Colatina. Rio
Doce.
ABSTRACT
Human development and the emergence of cities have always had a strong relationship
of dependence and subsistence with watercourses. However, although they are part of
human history and are structural elements of cities, exploratory relations have caused
the rupture of people and urban nuclei with rivers, and a rapprochement is necessary.
The Doce river, one of the largest and most important rivers in Brazil, throughout this
European colonization has undergone this process of unbridled urban occupation and
environmental discharacterization. In addition, Colatina, in the state of Espirito Santo,
and other cities that form part of the Doce River basin have developed along its banks
without due planning of occupation and expansion in a sustainable way, bringing
innumerable negative impacts to natural resources, fauna, flora and people. With the
purpose of remodeling the contact space of the city and the river, this work is a tool of
reconciliation, in this case of Colatina with the Doce river. The methodology was
structured in three stages, starting with an urban and environmental diagnostic with the
application of the SWOT Analysis. The second stage was represented by a classification
and systematization of the free spaces and their connections with the Doce River,
applying the Green-Blue Network method at the urban and regional levels. And in the
third stage, guidelines and design strategies were developed for the urban
redevelopment of the Doce river, represented by the proposal of a linear park in Colatina.
Thus, the project was a result of the overlapping of Ecological Urbanism theories
associated with methods of diagnostic, systematization of free spaces and urban-
environmental planning. It is believed that the application of this procedure allows the
reincorporation of the river to the city and the opposite, making the territory an urban
place of social interaction and a natural systemic space connected with the hydrographic
basin in which it is inserted.
Key words: Linear Park. Green-Blue Network. Landscape ecology. Colatina. Doce River.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 – Croqui que representa a relação de antigas civilizações com a água. ..16
Ilustração 11 – Margens do rio Sena entre 1947 e 1963, em Paris, França. ...............36
Ilustração 14 – Novo espaço urbano após execução do projeto no rio Rhône, em Lyon.
.......................................................................................................................................38
Ilustração 33 – Mapa esquemático dos pontos visitados com vista para o rio Doce. ..57
Ilustração 34 – Mosaico de fotografias de leitura do território nos pontos 1 a 13,
conforme Ilustração 32. .................................................................................................58
1 INTRODUÇÃO
Para o poeta belga Verhaeren, a cidade é regida como um ser vivo único e formado por
outros seres (FABRIS, 2000). Sob este olhar, pode-se analisar esse panorama como
um universo particular e dependente, onde os habitantes interagem entre si, com os
elementos e a natureza. Viver, trabalhar, descansar e circular são tarefas que fazem as
pessoas utilizarem o espaço urbano e usufruírem daquilo que a cidade tem o dever de
oferecer e o que a natureza proporciona (IRAZÁBAL, 2001).
A ocupação humana fez uso da presença hídrica para o próprio sustento e, em muitos
casos, delimitou paisagens naturais de largos rios, regiões de delta, canais, mangues,
pântanos. Antes das grandes ocupações e conformações urbanas esse processo de
reciprocidade sociedade-água é visto naturalmente em povos tradicionais, como os
indígenas brasileiros (DIEGUES, 2007).
Para Diegues (2007), em muitas sociedades brasileiras dadas como “primitivas”, a água
doce é símbolo da vida, onde habitam divindades que as protegem. Águas de nascentes
são tidas como representação da pureza e inocência, devendo ser respeitadas, sob
pena de severos castigos.
Segundo Morán (1990 apud MUSEU..., 2017), os índios em território brasileiro que
vivem nas bacias de água preta sabem que, nas matas ciliares, inúmeras espécies de
peixes encontram alimento e refúgio para desova. Devido a essa percepção, as
comunidades evitam atividades agrícolas nessas áreas para não perturbar o
desenvolvimento do ciclo vital dessas espécies, pois estas ocupam importante lugar na
alimentação da tribo (Ilustração 2).
Ilustração 2 – Croqui que representa o respeito e dependência de comunidades indígenas com a água.
Sendo o meio ambiente formado por vários ecossistemas, cada região apresenta suas
individualidades de formação e influência, pois cada uma é um sistema ecológico
diferente. Assim, pode-se afirmar que o meio ambiente significa um importante gerador
cultural, social e religioso, pois cada comunidade indígena se adaptou a esses aspectos
18
ambientais naturais para desenvolver sua subsistência e seu bem-estar (MORÁN, 1990
apud MUSEU..., 2017).
Sob essa visão de respeito aos bens naturais, é importante salientar a visão de
Rodrigues (2012), que afirma o equívoco de conceito entre as expressões recursos
naturais e riquezas naturais. Pode parecer apenas uma questão linguística de
colocação, mas muito pode dizer sobre como o ser humano encara o que o planeta
oferece. Quando seus bens são vistos como recursos, pode-se subentender que são
matérias feitas para serem utilizadas e rejeitas, transformadas em algum produto pelo
homem, que representam valor monetário. Mas o termo riquezas induz a pensar que
são bens finitos, de grande valor, pois significam vida. Sendo assim, preferindo-se
passar a encarar o meio aquático não como recurso, mas como riqueza hídrica, é
necessário também que as cidades o tratem como tal.
Atualmente, o que se assiste na maioria das cidades brasileiras são mananciais que,
mesmo sendo fonte de abastecimento, perderam suas características naturais, sofrem
com o despejo de esgoto, águas pluviais carregadas de resíduos das ruas, e são
destino de entulho. Se esses fatos ocorrem, é evidente que população e governos são
inconsequentes com seus atos por não cumprirem o saneamento ambiental e se
apropriarem de áreas de várzea, de recarga e de nascente. Esses efeitos são
observados com mais evidência em locais onde as orlas fluviais urbanas foram
descaracterizadas com ações de infraestrutura urbana, como afirma Costa (2006, apud
GORSKI, 2010, p. 77):
Já sabemos que não é mais aceitável pensar em retificar um rio, revestir seu
leito vivo com calhas de concreto, e substituir suas margens vegetadas por vias
asfaltadas, como uma alternativa de projeto para sua inserção na paisagem
urbana. Estas propostas, que tinham como uma de suas bases conceituais a
busca do controle das enchentes urbanas, são muito criticadas não só pela
fragilidade socioambiental no resultado final do projeto, como também pela
pouca eficiência no controle destas mesmas enchentes.
19
Ilustração 3 – Croqui em corte representativo da situação atual dos rios urbanos brasileiros.
A grande população, inerte e sujeita a todo esse sistema cultural histórico, ciclicamente
desrespeita e subestima o espaço urbano e as riquezas hídricas. O desrespeito,
algumas vezes, resulta em catástrofe, exemplificado pelo ocorrido na bacia do rio Doce,
em novembro de 2015, quando a barragem de Fundão (Mariana-MG), repleta de lama
de rejeitos da mineração da Samarco se rompeu. Este, considerado o maior desastre
ambiental do Brasil, provocou mortes e impactou em toda a cadeia ambiental, desde
Bento Rodrigues, em Mariana-MG, até Regência, em Linhares-ES (MATOS et al.,
2016).
Como concluiu Albani et. al (2015), Colatina não possui parques e os espaços livres de
uso público (praças, jardins) são mal distribuídos espacialmente de acordo com a
densidade de habitantes. Para Ikeda (2016), esses espaços livres de uso público são
fundamentais para garantir o bem-estar das pessoas, pois essa é a função do lazer,
assegurando que os rios tenham visibilidade e demandem manutenção, podendo ser
ligação plena e cotidiana entre o homem e o lugar em que ele habita.
ambiente urbano próspero para crescimento da fauna e da flora. Dessa forma, este
projeto idealiza refletir e discutir o papel que um rio urbano pode assumir.
Tem-se aqui como objeto de análise o rio Doce e, com este trabalho, forneceram-se
estudos, diretrizes e alternativas de projeto que o potencializem no trecho urbano da
cidade de Colatina, e promovam sua reconciliação com o município a partir do
atendimento às suas funções humanas de abastecimento, drenagem, lazer,
navegação, energia (IKEDA, 2016) e às de caráter sistêmico ecológico, com
manutenção dos processos naturais e preservação da paisagem (EVANGELISTA,
2016). Espera-se que, cumprindo-se essas funções e obedecendo-se as suas
necessidades, condições e demandas como um curso d’água, o espaço urbano terá,
enfim, um melhoramento da qualidade ambiental e social.
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Geral
1.1.2 Específicos
1.2 METODOLOGIA
2.1 CONCEITOS
Besse (2014, p. 34) ainda conclui que a paisagem pode ser encarada como uma obra,
em que terra, solo, elementos naturais “[...] são como materiais aos quais os homens
dão forma segundo valores culturais que também evoluem no tempo e no espaço”.
Assim, a paisagem pode ser interpretada como uma forma de transformação do meio
terrestre em mundo histórico através da ocupação humana.
Outra importante declaração de Besse (2014, p. 35) é que as paisagens não devem ser
conservadas simplesmente pelo seu valor estético, e afirma que a “[...] a razão estética
é certamente a mais pobre”. Os critérios que o autor julga relevantes para a preservação
e construção da paisagem são as possibilidades que esta oferece ao homem para viver,
ser livre e estabelecer relações sensatas com outros homens e a própria paisagem,
além de atuar como instrumento de realização pessoal e mudança social. O autor neste
ponto cita J. B. Jackson (2003 apud BESSE, 2014, p. 35), que afirma: “nunca se deve
24
mexer na paisagem sem pensar naqueles que vivem nela”, pois a paisagem e o projeto
de paisagem têm o desafio de tornar o mundo habitável para o homem. Numa visão
menos antropocêntrica, entende-se que a paisagem e o projeto de paisagem têm o
desafio de equilibrar a vida e o convívio do homem com as demais espécies e seus
habitats.
De uma forma mais sistemática, Assunto (1976 apud BENINI; CONSTANTINO, 2017,
p. 68) resume paisagem de uma forma direta e associativa da morfologia com o homem:
Creio que neste ponto surgirá com bastante facilidade uma definição de
‘paisagem’ como ‘forma’ que o ambiente (‘função’ ou ‘conteúdo’ [...]) confere ao
território como ‘matéria’ de que ele se serve. Ou melhor, se quisermos ser mais
precisos, paisagem é a ‘forma’ na qual se exprime a unidade sintética a priori
(no sentido kantiano: não a ‘unificação’ de dados recebidos separadamente,
mas a ‘unidade’ necessária que condiciona o seu apresentar-se na
consciência) da ‘matéria’ (território) e do ‘conteúdo ou função (ambiente)’ . [...]
O ambiente concreto, ambiente que vivemos e do qual vivemos vivendo nele,
é sempre ambiente como forma de um território: paisagem.
A rede que os autores dissertam precisa interagir em diversas escalas espaciais para
desempenhar seus papéis ecológicos. Por exemplo, em nível macro, a infraestrutura
verde constitui-se dos grandes biomas, unidades de conservação e corredores naturais.
Em nível médio, pode-se considerar uma rede formada pelo cinturão de áreas verdes
no perímetro urbano, e pelos espaços livres, permeáveis e vegetados. Já em escala de
bairro, em um nível micro, um sistema formado por tetos verdes, biovaletas, jardins de
chuva, lagoas pluviais, dentre outros elementos podem configurar uma infraestrutura
verde (ALMEIDA; GROSTEIN, 2016).
A sistematização das áreas verdes em uma escala média urbana assume diversos
objetivos e funções, proporcionando inúmeros impactos positivos na qualidade da vida
de uma cidade que implementa essas ações em várias escalas. A seguir, na Ilustração
4, tem-se o modelo de funções Abióticas, Bióticas e Culturais (ABC), proposto por Ahern
(2007), que exemplificam alguns dos potenciais benefícios da infraestrutura verde
urbana.
Ilustração 4 – Quadro com Funções Abióticas, Bióticas e Culturais (ABC) da infraestrutura verde urbana.
(continua)
Funções abióticas Funções bióticas Funções culturais
Interações entre águas Habitat para espécies Experiências diretas de
superficiais e subterrâneas generalistas ecossistemas naturais
(conclusão)
Funções abióticas Funções bióticas Funções culturais
Sequestro de carbono e outros Estímulos à expressão
Provisão de reservas genéticas
gases estufas artística/abstrata
Em escala meso, que é o nível principal de estudo deste trabalho, Ahern (2007, apud
ALMEIDA; GROSTEIN, 2016) classifica em quatro níveis os tipos de estratégias de
conservação de espaços livres dentro de uma infraestrutura verde. São eles estratégias
protetivas, defensivas, ofensivas e criativas, esclarecidos na Ilustração 5 a seguir.
Estratégia Conceito
São aplicadas quando um dado espaço é menos preservado e/ou quando não existem
Defensiva condições ideais ou necessárias para a sua proteção integral e assim preservam-se as
áreas ou os elementos mais importantes e excluem-se os/as demais
Envolvem o aproveitamento de espaços ou condições que não são usuais, mas que
estão cada vez mais inseridos em planos de conservação urbanos como, por exemplo:
a) áreas onde são previstas requalificações urbanas; b) infraestruturas cinzas
Criativa excessivas como ruas e avenidas desnecessariamente largas ou linhas de trem
desativadas; c) áreas livres e/ou grandes terraços de edificações públicas e privadas; d)
aterros desativados; e) piscinões; f) diques; g) cemitérios, h) jardins e hortas
comunitárias; E i) áreas de passagem de torres de transmissão de energia.
Ainda sob esse olhar ecológico da paisagem, de “rede de espaços naturais e abertos
planejados e gerenciados para proteger e conservar os ecossistemas e promover
serviços ambientais” (PLAM, 2014, p. 560 apud MARQUES, 2017, p. 144), associa-se
outro termo também recente, porém que constitui um conceito antigo e natural do meio
ambiente, a ecologia da paisagem.
Essa força que uma matriz exerce sobre a paisagem, para Baptista (2015), exemplifica-
se pela unidade de uma bacia hidrográfica, devido às suas características de solo, de
vegetação e de topografia que determinam suas características bióticas, abióticas e
morfológicas fluviais.
Baptista (2015) afirma que a matriz está relacionada à dimensão escalar geofísica,
englobando uma combinação de geomorfologia, clima, hidrologia, vegetação e fauna,
classificando-se como Geossistema, segundo Guerra e Marçal (2012, p. 120, apud
BAPTISTA, 2015). A autora conclui que essa estrutura se caracteriza pela associação
dos potenciais ecológico e biológico somados à ação antrópica, resultando no conceito
de matriz por meio da ecologia, cujos “principais componentes estruturais da paisagem,
de acordo com uma perspectiva antroponatural, são os fragmentos, corredores e
assentamentos humanos, conectados por uma matriz” (BAPTISTA, 2015, p. 45),
conforme Ilustração 6, que representa o diagrama de matriz em Colatina.
28
Fonte: Elaborado pelo autor. Adaptado de PENTEADO (2004, p. 25, apud BAPTISTA, 2015, p. 44)
Guerra e Marçal (2012 apud BAPTISTA, 2015) ainda ressaltam que função e fluxo entre
os elementos estruturantes devem ser considerados na matriz, incluindo-se os fluxos
hidrológicos e de partículas, e as atividades animais e humanas, pois estes processos
são responsáveis pelos padrões da paisagem.
2.2 FERRAMENTAS
Para o esclarecimento dos métodos, trata-se aqui em específico das ferramentas Matriz
Fofa e Trama Verde-Azul.
De acordo com o Centre de Ressources Trame Verte Et Bleue (2017), a Trama Verde-
Azul (TVA) pode ser entendida como uma rede de continuidades ecológicas nos meios
terrestre e aquático estabelecidas de forma a gerar uma coerência ecológica dentro de
uma região territorial. A TVA auxilia na conservação de habitats naturais e suas
espécies, e no bom estado ecológico das massas de água, podendo ser aplicada em
todo um território nacional. Como principais componentes estruturais da TVA têm-se as
reservas de biodiversidade e os corredores ecológicos.
a) físico-ambiental;
b) sociocultural;
c) seguridade socioambiental; e
d) mobilidade.
2.3 PRÁTICAS
A agricultura, quando desenvolvida no meio urbano, pode ser uma ferramenta para a
urbanização sustentável, pois representa um meio de preservar um ambiente saudável
e uma paisagem agradável. Além disso, retarda a urbanização desenfreada e
proporciona uma área de transição natural nos limites da zona urbana (MOUGEOT,
2005).
Segundo Mougeot (2000), agricultura urbana (AU) pode ser entendida como:
Vale destacar que todo um processo está por trás da simples prática da agricultura
urbana, que envolve a compreensão do setor agrícola em geral e as particularidades
da região e da cidade em que está inserida, processo este demonstrado pela Ilustração
8. Dessa forma, é necessária uma “informação mais abrangente para gerar políticas e
fortalecer o setor, incentivar a participação de atores locais, disponibilizar terra e
eliminar regulamentos que obstruam o cultivo de produtos agrícolas dentro das cidades”
(VEJRE et al., 2016, p. 18, tradução nossa).
32
Desenvolvimento Segurança
urbano sustentável alimentar urbana
Sistemas de Estratégias de
abastecimento de sobrevivência
alimentos urbanos urbana
Agricultura
Gestão da terra
Agricultura rural urbana urbana
Laurance e Laurance (1999, apud KORMAN, 2003), após estudos na Austrália, afirmam
que fragmentos lineares, floristicamente diversificados e com um mínimo de 30 a 40
33
metros de largura, podem atuar como habitat e como corredores de movimentos para
a maioria das espécies mamíferas arbóreas.
Benini (2015 apud BENINI; CONSTANTINO, 2017, p. 69) define parques lineares
enquanto parte tipológica de um sistema de infraestrutura verde, sendo:
Falcón (2007, p. 47 apud BENINI; CONSTANTINO, 2017, p. 69) entende que essa
tipologia de infraestrutura verde age como conector de diferentes áreas, assumindo um
papel de cinturão verde de biodiversidade urbana. E por isso entende a contribuição
dos parques lineares para além do ponto de vista ambiental, pois como eles se inserem
no contexto urbano, representam caminhos diferentes entre bairros e partes da cidade
e criam novos espaços ativos de convivência. Com isso, proporcionam encontro entre
as pessoas e significam uma ferramenta de coesão social e estímulo de práticas
culturais.
34
Dessa forma, destacam-se, como casos para análise, o rio Sena, na capital da França,
Paris; o rio Rhône, na cidade também francesa de Lyon; o rio Capibaribe, em Recife,
no Brasil; o rio Han e seus afluentes urbanos em Seul, capital da Coréia do Sul; o rio
Chicago, na cidade homônima, nos Estados Unidos da América; o rio Medellín, na
cidade de mesmo nome, capital da Colômbia; e o rio Tâmisa, em Londres, na Inglaterra
(Ilustração 9).
O rio Sena, de bacia hidrográfica semelhante em área à do Doce, foi degradado por
conta da poluição industrial, agravado pelo despejo de esgoto doméstico. Devido à sua
situação ambiental, desde a década de 1920 foi alvo de preocupações e, na década de
1960, a gestão passou a investir na revitalização do local, construindo estações de
35
A atual reestruturação do Sena visa torná-lo mais acessível. Assim como era décadas
atrás, pretende-se retomar atividades no seu cais baixo e no próprio leito, implantando-
se equipamentos públicos e projetos de paisagismo e integrando-o na cidade. Políticas
de redução de tráfego e substituição de fluxo motorizado por vias para pedestres e
ciclistas são realidade nas margens do Sena (IKEDA, 2016). As fotos da Ilustração 12
exemplificam esse uso, com intensa e diversificada apropriação ao longo de todo o dia.
Além da apropriação das margens, um sistema fluvial com embarcações transporta
diariamente pessoas ao longo do Sena por vários pontos turísticos, tornando a cidade
circulável em várias escalas.
37
Ilustração 14 – Novo espaço urbano após execução do projeto no rio Rhône, em Lyon.
A cidade de Recife, no nordeste brasileiro, possui forte relação com as águas por
abranger em seu território uma região de mangue, na foz do rio Capibaribe, de encontro
com a frente do oceano Atlântico. O rio e seus vinte afluentes vêm sendo
gradativamente transformados em canais de drenagem e despejo de esgoto, num
tecido urbano que engole o espaço fluvial (ALENCAR; SÁ, 2017).
Da esquerda para a direita: Parque Capibaribe (até 2016), Parque da Cidade (até 2020), e Recife Cidade
Parque (até 2037).
Fonte: Montezuma (2017).
40
Ilustração 21 – Esquema mostrando a separação das tubulações de água pluvial das de esgoto.
Fonte (em sentido horário): Oh (2015); Ávila; Rodrigues (2015); Pai (2012); Meinhold (2011).
O rio Chicago, na cidade americana de mesmo nome, era um rio pantanoso e já sofreu
inclusive a inversão de seu fluxo no ano de 1900, provocando um “bombeamento
natural” do lago Michigan e um abastecimento de água com mais qualidade e eficiência
para a cidade (KURATANI et. al, 2008). Durante o período industrial, foi canalizado para
impulsionar as transformações urbanas, e hoje (Ilustração 23) a cidade colhe resultados
da recuperação do rio e sua incorporação à cidade por meio de uma infraestrutura de
passeio à beira-rio que procura amenizar a forte presença urbana no entorno de suas
margens (ARCHDAILY BRASIL, 2016).
45
Após estudos sobre o rio, a equipe de projeto desenvolveu seis esquemas tipológicos
(Ilustração 24) para o parque que configurassem diferentes percepções e conexões do
pedestre com o rio em cada trecho da intervenção, ao longo de seis quadras da cidade.
Essas tipologias são o Boardwalk: passagem em nível numa rua de crítica confluência;
Jetty: um espaço de aprendizado sobre a ecologia do rio, que abriga elementos de flora
e fauna num conjunto de jardins pantanosos flutuantes; Watter Plaza: uma praça de
permanência destinada para crianças; River Theater: arquibancada que representa
uma aproximação em nível para até a água e espaço de contemplação sombreado;
Cove: enseada artificial para práticas de esportes aquáticos; e Marina Plaza: praça com
restaurantes e mesas ao ar-livre com acesso a embarcações, táxis aquáticos e passeios
turísticos (ARCHDAILY BRASIL, 2016).
46
O projeto foi desafiador, segundo os projetistas, pois havia uma pequena faixa de
menos de oito metros de largura de margem disponível, tendo que desenvolver
conexões sob pontes e combinar o projeto com os níveis anuais de cheias de cerca de
dois metros de altura (ARCHDAILY BRASIL, 2016).
Neste estudo de caso, apesar de ser uma proposta de concurso, escolheu-se abordar
o primeiro lugar selecionado devido à metodologia do projeto e coerência das ações. A
equipe do “Latitud Taller de Arquitectura y Ciudad” intitulou a proposta de “Parque
Botânico do Río Medellín” e traçou os seguintes eixos:
Com esses eixos, o projeto articula seus objetivos com as estratégias adotadas para o
parque, tornando o rio eixo projetual de suas ações, porém parte da infraestrutura verde
de toda a região metropolitana de Medellín. Na Ilustração 25, apresentam-se algumas
imagens do projeto ganhador.
O rio Tâmisa pode ser considerado um dos elementos mais importantes na paisagem
de Londres, capital da Inglaterra. Além da zona urbana da cidade, o rio possui
particularidades também em sua região de foz, a chamada região de estuário. No ano
48
de 2003, o escritório de projetos Farrells iniciou estudos e propostas para a região, aqui
selecionadas como estudo de caso devido à utilização das escalas de projeto adotadas.
4 LEITURA DO TERRITÓRIO
A bacia do rio Doce situa-se na região Sudeste do Brasil, com altitude média de 578
metros. Sua área é de, aproximadamente, 83.400 km², sendo 86% no estado de Minas
Gerais e 14% no Espírito Santo (Ilustração 29). O número de habitantes na bacia
ultrapassa os 3 milhões de pessoas, sendo que cerca de 70% encontra-se nas zonas
urbanas. As principais atividades econômicas desenvolvidas são mineração, siderurgia,
silvicultura e agropecuária, segundo o Plano Integrado de Recursos Hídricos da bacia
hidrográfica do rio Doce (PIRH, 2010).
51
No século XVIII, quando a extração de ouro na região de Minas Gerais estava em seu
auge, o rio Doce e a extensão da planície de sua foz pela costa do oceano Atlântico
ficaram intactas propositalmente. Essa foi uma medida protetiva da coroa portuguesa,
responsável pelo governo e pela mineração, para proibir a ocupação e o livre acesso
do rio Doce e demais meios de chegar à região de minas de ouro, reduzindo a
possibilidade de ataques externos e contrabandos (TEIXEIRA, 2002). Como também
52
afirma Teixeira (2002, p. 42), em 1773, o Real Erário do Governo de Minas expediu uma
ordem “proibindo que qualquer pessoa, sob pretexto algum, passasse pelo Rio Doce.
Os ‘sertões do leste’ passaram a ser mencionados nos documentos oficiais pela
denominação de ‘áreas proibidas’”.
Ao final do auge da extração do ouro em Minas Gerais, não havia porque continuar com
a região do rio Doce isolada. Dessa forma, a ocupação se iniciou no começo do século
XIX, primeiramente com tentativas de transporte fluvial de mercadorias, inclusive
produtos da indústria de minério de ferro, que havia começado na época. Em 1857,
começava o transporte de imigrantes para a colonização que, mesmo sob ataques
indígenas, gerou uma colônia que mais tarde se tornaria a cidade de Colatina. Mais
tarde, no século XX, vapores atuaram no trecho entre Colatina e Linhares, sendo o
último o Juparanã, que operou até 1955 (TEIXEIRA, 2002).
Colatina após a ocupação, bem como sua forte relação com o rio Doce, destacando-se
as principais enchentes e o recente desastre ambiental de rejeitos de minério.
Os aterros, que aconteceram na margem sul nos anos de 1968, 1972, 1982 e 2004,
respectivamente (DALLAPICOLA, 2015), mostram indícios de não terem sido feitos em
1 MARTINS, Bruno Giorgio D’Alessandri; SOUZA, Denise Aparecida de; LUIZ, Ihago Pereira; RABELO;
Jadson Damasceno; MONJARDIM, Manoela Paulinelli Cunha Maiolli; FABRES, Rafael Pestana;
VITÓRIA, Suélio Saldanha da. Material produzido sob orientação de Renata Mattos Simões para
participação no concurso de projeto “Urban21”, no ano de 2017, promovido pela editora ARCOweb.
54
harmonia com o lado ambiental que um curso d’água exige, pois o resultado foi a
simples canalização do rio Doce com margens de concreto.
Além disso, os períodos de cheia natural do rio Doce se intensificam também pela ação
antrópica, como a ocupação urbana, o processo erosivo, gerando desaparecimento de
matas e assoreamento do leito. Em épocas de eventos torrenciais, o nível das águas
tende a ocupar áreas de várzea do rio onde, no caso de Colatina, há densa zona urbana,
como mostra o esquema da Ilustração 30. A enchente de 1979 provocou calamidades
urbanas e projetou Colatina em nível nacional. A mais recente enchente no ano de
2013, além de provocar estragos, invadiu inclusive o mais novo aterro construído com
o propósito de conter as cheias (SIMÕES, 2016).
Em 2015, no dia 5 de novembro, um fato fez o mundo olhar para a bacia do rio Doce.
O rompimento de um dos diques da barragem de Fundão, construída para
armazenamento de rejeitos de mineração, fez despejar estimados 60 bilhões de metros
cúbicos de rejeitos liquefeitos. A tragédia levou a 17 perdas e dois desaparecimentos
de vidas humanas e um conjunto de prejuízos às cidades e povoados das margens do
rio Doce, principalmente o devastado distrito de Bento Rodrigues, em Mariana-MG.
Com o rompimento, incalculáveis danos ambientais ainda vêm sendo contabilizados,
sendo considerado por diversas agências de risco o maior desastre ambiental da
história brasileira (MATOS, 2016).
O infográfico na Ilustração 31 esquematiza o preço pago pelo rio Doce pela tragédia
que atingiu vários âmbitos.
55
Ilustração 31 – Infográfico dos resultados do desastre da lama de rejeitos de minério no rio Doce.
2 MARTINS, Bruno Giorgio D’Alessandri; SOUZA, Denise Aparecida de; LUIZ, Ihago Pereira; RABELO;
Jadson Damasceno; MONJARDIM, Manoela Paulinelli Cunha Maiolli; FABRES, Rafael Pestana;
VITÓRIA, Suélio Saldanha da. Material produzido sob orientação de Renata Mattos Simões para
participação no concurso de projeto “Urban21”, no ano de 2017, promovido pela editora ARCOweb.
56
Da direita para a esquerda: pescador retirando peixe do barco; corrente humana para abastecer tanque
de água para transporte dos peixes; e amostra de água do rio poluída com os rejeitos de minério, de
coloração avermelhada e intenso odor de ferro.
Fonte: Fotografado pelo autor.
Neste item, serão expostos os resultados de leitura do território, realizada com imersão
in loco, croquis, estudos em diferentes escalas de análise, mapas de diagnóstico,
fotografias e outros meios necessários para representação. Posteriormente à leitura, os
dados de diagnóstico foram sistematizados em classes de informação para torná-los
mais palpáveis e serem trabalhados na etapa de determinação de diretrizes e
estratégias. A sistematização dos dados mostrará, com base na metodologia da Matriz
Fofa, os pontos em potencial, forças e oportunidades, e os pontos em fragilidade,
fraquezas e ameaças.
Ilustração 33 – Mapa esquemático dos pontos visitados com vista para o rio Doce.
Os ícones em azul representam os pontos visitados com a respectiva numeração, fazendo referência ao
mosaico de fotografias a seguir.
Fonte: Elaborado pelo autor.
percurso com fotografias e, dentre todas, selecionou-se a mais significativa para cada
ponto visitado na cidade, gerando-se um mosaico que acumula de maneira geral as
percepções visuais do rio Doce como um elemento da paisagem (Ilustração 34).
Ilustração 34 – Mosaico de fotografias de leitura do território nos pontos 1 a 13, conforme Ilustração 33.
(continua)
1 1 2 2
3 4
5 5
6 7 8 9
10 10 10
11 12 12 13
59
(continuação)
14 15 15 16
16
17 18 18
19 19 19 19
20 20 21
22 23 23
60
(conclusão)
24 24 24 24
Fonte: Elaborado pelo autor. Fotografado por Bruno Giorgio D’Alessandri Martins e Renata Mattos
Simões.
Ao longo do percurso de leitura do território, foram identificados elementos que de alguma forma se relacionam com o rio e, em seguida, estes elementos foram classificados por meio da Matriz Fofa
(Ilustração 36).
A aplicação da Matriz Fofa foi essencial para evidenciar o que pode ser usado (forças),
explorado (oportunidades), eliminado (fraquezas) e evitado (ameaças).
Além das conexões ecológicas, as conexões urbanas também são essenciais, aqui
representadas como Travessias. Num tecido urbano espraiado ao longo do rio como é
Colatina, as duas pontes que interligam as margens são, logicamente, fundamentais
para a cidade, mas também são importantes locais de apreciação da paisagem, pois a
relação das pessoas com o rio ao passar sobre as pontes se torna íntima. É passando
sobre a ponte que se percebem visuais privilegiados, que se acompanha a preocupante
situação do rio, que se registra uma fotografia da natureza, do pôr e do nascer do sol.
Caso houvesse mais travessias, as pessoas poderiam traçar novas rotas e ter mais
contato com o rio, e se essas travessias dispusessem de infraestrutura verde, como
pontes ecológicas, seriam também elementos de continuidade para fauna e flora, isto
é, um elemento de fluxo ecológico.
Como oportunidades destacadas pela Matriz Fofa, têm-se elementos que foram
considerados subutilizados com potencialidade de se tornarem forças. O primeiro
dentre estes selecionados são as Ilhas, elementos de formação natural pela morfologia
do rio que hoje têm vegetação natural e/ou atividades de agricultura, e ainda algumas
possuem habitações irregulares. Por se encontrarem dentro dos limites do rio Doce,
considera-se que as ilhas podem ser parte integrada de um possível parque linear
urbano, com infraestrutura para tal, porém sem perder suas características
ecossistêmicas. Podem dispor, por exemplo, de passeios em trilha, arvorismo, talvez
até mesmo construções modulares para alimentação e convívio social, além de práticas
agroflorestais de recuperação do solo e das águas do rio.
65
Os locais Arborizados são geralmente pequenas faixas de área verde nas margens do
rio Doce e estão aqui considerados como oportunidades, porque podem ser ampliados
e dispor de maior diversidade vegetal. Essas faixas de vegetação podem auxiliar na
manutenção do habitat de aves e espécies aquáticas, além da possibilidade de
interligação ecológica com corredores e áreas verdes urbanas e periurbanas, prática
tratada no item 2.3.2. Desta forma, conectar-se-ia o rio e suas margens arborizadas
com os fragmentos verdes na cidade e no seu entorno, além da continuidade linear das
margens no sentido longitudinal do rio, evitando-se, assim, que a zona urbana não seja
uma pausa ou bloqueio no fluxo ecológico do rio na escala de bacia hidrográfica.
Outro fato considerado oportunidade são as áreas de Sedimentação do rio, que por
atividade natural da morfologia das águas muda constantemente, mas em algumas
regiões há constante deposição de partículas. Essas áreas formadas de areia
constituem um prolongamento das margens que, após intervenção, poderiam ser
utilizadas nos períodos de estiagem, quando o nível do Doce se encontra baixo. Além
de vegetação nativa e melhoramento ecológico da interface urbano-fluvial, usos para a
população poderiam ser explorados, como atividades ao ar livre, comércio de
alimentação, infraestrutura para práticas esportivas, dentre outros que a densa
população não possui disponível. A criação de uso para o local de sedimentação, além
de dar vida ao local de contato com o rio, pode ser concebido num caráter harmônico
com o curto período de cheia anual do Doce.
O último elemento classificado como fraqueza são os locais às margens do rio Doce
com caráter Degradado. Geralmente, são encostas de morros próximos ou das
próprias margens, que permitem a erosão do solo, podendo intensificar o processo de
assoreamento do leito do rio. Além disso, por serem áreas dentro do perímetro urbano
e sem vegetação, podem facilitar a ocupação irregular de moradias, com
consequências graves, como deslizamento de terra.
Por último e talvez mais recente episódio negativo que o Doce tenha passado, a Lama
de rejeitos é aqui caracterizada como uma ameaça à qualidade da água, ao leito do
curso d’água principal e seus afluentes, ao lençol freático, ao equilíbrio da cadeia
alimentar e manutenção das espécies de fauna e flora, dentre outros fatores ambientais,
além dos problemas sociais, econômicos, psicológicos e biológicos que esse elemento
tem trazido. Para que essa ameaça se transforme em uma oportunidade, ações de
68
A análise desses elementos classificados pela Matriz Fofa foi fundamental para a
elaboração das diretrizes de projeto de intervenção no rio. Além disso, surgiram quatro
diretrizes principais como ferramentas de sistematização dos espaços livres:
acrescentar, demarcar, conectar e ativar, que serão tratadas no item 4.3.
(continua)
Diagrama Diretriz Conceito
(conclusão)
Diagrama Diretriz Conceito
CHEGAR Passeio
Rua parque Alameda Via verde
ATRAVESSAR
ABRAÇAR
Terraços Passarela Deck Deck flutuante Arquibancada
Janelas
PERCORRER
Pedestres e ciclistas separados Pedestres e ciclistas compartilhado Pedestres e ciclistas adaptados a preexistências
ATIVAR
As estratégias de Montezuma (2017) foram incorporadas no desenvolvimento dos esquemas de projeto para as margens do rio Doce, mostrados em corte também no item 5.
71
5 PROPOSTA DE PROJETO
(continua)
(conclusão)
Acrescentar Demarcar
Conectar Ativar
Fonte: Elaborado pelo autor.
As propostas para Demarcar se propõem a delimitar de fato áreas livres e/ou verdes
que, principalmente, encontram-se limítrofes a mancha urbana. Como aconteceu ao
longo da ocupação urbana, áreas verdes foram desmatadas para construção de
habitações irregulares. Portanto, essa é uma medida preventiva para que este fato não
perpetue até a eliminação total das áreas verdes urbanas.
A ação seguinte de Conectar visa traçar rotas de fluxo ecológico ou corredores verdes,
mencionados no item 2.3.2. Os corredores verdes atuariam na conexão entre rio Doce,
74
Microbacias em verde claro e contorno pontilhado, mancha urbana em cinza, e áreas verdes urbanas
em verde escuro. Fonte: Elaborado pelo autor.
Ilustração 43 – Proposta de Trama Verde-Azul para o rio Doce no trecho urbano de Colatina.
se uma cadeia de parques lineares com diferentes atividades ao longo do rio, sendo
eles:
1 2 3
4 5 6
Os números da ilustração representam: 1 – Doce Central; 2 – Doce Verde e Azul; 3 – Doce Agro; 4 –
Doce Lazer; 5 – Doce Bosque; e 6 – Doce Dia e Noite.
Fonte: Elaborado pelo autor.
81
O objetivo dos esquemas tipológicos é mostrar que o espaço fluvial pode ter diversidade
de usos ao longo de todo o ano, compatível aos períodos de cheia, que melhore o bem-
estar das pessoas, auxilie na mitigação dos conflitos urbanos de Colatina, estimule os
fluxos ecológicos e atue na recuperação da fauna e flora do rio Doce e de toda a região.
Esse embasamento trazido de Ahern e Montezuma é representado neste item por meio
de ícones que interagem com as propostas para as margens do rio Doce. Na Ilustração
46, encontra-se a descrição desses ícones.
Abraçar
Protetiva
Chegar
Defensiva
Atravessar
Ofensiva
Percorrer
Criativa
Ativar
[...]
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.
[...] (PESSOA, 1995)
Ilustração 53 – Corte ilustrativo Doce Central.
[...]
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
[...] (PESSOA, 1995)
86
[...]
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim. (PESSOA, 1995)
[...]
Doce meu santo, a velha canoa
Gaiolas são pássaros
Flutuantes imagens deságuam os
Instantes
O vento e a vela
Me levam distante
Prazer, novo Doce
Diz o povo nas margens
[...] (Adaptado de MENDES; CAPINAM, 2007)
[...]
Para a árvore
pelo menos há esperança:
se é cortada, torna a brotar,
e os seus renovos vingam.
Suas raízes poderão envelhecer
no solo
e seu tronco morrer no chão;
ainda assim, com o cheiro de água
ela brotará
e dará ramos como se fosse
muda plantada.
[...] (Versículos 7 a 9, de Jó 14. BÍBLIA, 2017).
Além dos cortes, perspectivas ilustram novos usos e espaços revitalizados nas
margens do rio Doce, nas Ilustrações 74 e 75.
94
3 MARTINS, Bruno Giorgio D’Alessandri; SOUZA, Denise Aparecida de; LUIZ, Ihago Pereira; RABELO; Jadson
Damasceno; MONJARDIM, Manoela Paulinelli Cunha Maiolli; FABRES, Rafael Pestana; VITÓRIA, Suélio
Saldanha da. Material produzido sob orientação de Renata Mattos Simões para participação no concurso de projeto
“Urban21”, no ano de 2017, promovido pela editora ARCOweb.
95
6 CONSIDERAÇÕES
A estruturação da metodologia nas três etapas pôde conduzir a uma linha de raciocínio
que une as teorias do Urbanismo Ecológico às estratégias projetuais. A primeira etapa
é essencial para a leitura e compreensão do território, pois, por meio da Matriz Fofa, é
possível chegar à uma classificação dos elementos que compõem o rio e interagem na
margem da cidade.
Colatina. Resgatando-se o objetivo geral do trabalho, pode-se concluir que este foi
atingido, pois em termos práticos, a elaboração das intervenções nas margens constitui
a uma proposta de parque linear fluvial urbano em Colatina.
Com o espaço urbano remodelado, acredita-se que haverá um maior convívio social na
cidade de Colatina, com maior oferta de espaços de lazer e uma consequente
identidade urbana desenvolvida ao longo dos anos com a incorporação de uma nova
paisagem ao contexto da cidade. Além dos benefícios humanos, o meio urbano passa
a ser parte de um sistema ecológico que contribui para a diversificação e circulação da
fauna e flora, numa tentativa de recuperação ambiental da natureza original da região.
Além do nível de escala de Colatina, acredita-se que, por meio das conexões
ecológicas, da renovação de áreas urbanas e naturais e do melhoramento do rio no
trecho urbano da cidade, a intervenção possa se expandir pelo rio e seus afluentes,
direcionando o caminho para a recuperação total da bacia, com planos integrados entre
os municípios e estados abrangidos.
97
REFERÊNCIAS
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