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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

VÃO 70
Proposta de intervenção urbana para a Ponte de Igapó e seu entorno
com a participação dos moradores da Rua Rio Potengi

EVELYNE DA NÓBREGA ALBUQUERQUE

Orientadora: Profa. Dra. Amíria Brasil


Coorientador: Prof. Dr. José Clewton Nascimento

Natal-RN
2017
2

EVELYNE DA NÓBREGA ALBUQUERQUE

VÃO 70
Proposta de intervenção urbana para a Ponte de Igapó e seu entorno

Trabalho Final de Graduação apresentado


ao curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como requisito para obtenção do
título de Arquiteta e Urbanista, no semestre
letivo 2017.2.

Orientadora: Profa. Dra. Amíria Brasil


Coorientador: Prof. Dr. José Clewton Nascimento

Natal-RN
2017
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT

Albuquerque, Evelyne da Nóbrega.


Vão 70: proposta de intervenção urbana para a ponte de Igapó
e seu entorno com a participação dos moradores da rua Rio
Potengi / Evelyne da Nobrega Albuquerque. - Natal, 2017.
99f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande


do Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e
Urbanismo.
Orientadora: Amíria Bezerra Brasil.
Coorientador: José Clewton do Nascimento.

1. Intervenção urbana - Monografia. 2. Ponte de Igapó -


Monografia. 3. Rua Rio Potengi - Monografia. I. Brasil, Amíria
Bezerra. II. Nascimento, José Clewton do. III. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título.

RN/UF/BSE15 CDU 711.4

15/344 - ERICKA LUANA GOMES DA COSTA CORTEZ


3

RESUMO

Passado e presente se unem na Ponte de Igapó que traz consigo a controvérsia de


ter sido construída como o símbolo da modernidade e da integração e hoje presencia
o sucateamento e marca um eixo de segregação na cidade. Este trabalho reconhece
esse objeto histórico como um elemento estruturador do território e de localidades.
Busca na história a sua relevância para a consolidação da cidade e identifica a
construção de um lugar pelos moradores da Rua Rio Potengi, localizada em uma das
cabeceiras da ponte. Desta forma, a pesquisa se justifica por trazer a visão dos
moradores da Rua Rio Potengi para o debate de conservação desse bem.
Contribuindo para a discussão através de uma proposta de intervenção urbana na
Ponte de Igapó e seu entorno que agregue o território ao local, dando oportunidade
para os moradores expressarem a sua opinião e refletirem sobre o seu lugar.

Palavras-chave: Intervenção Urbana; Ponte de Igapó; Rua Rio Potengi.


4

ABSTRACT

Past and present join the bridge of Igapó that brings with it the controversy of having
been constructed as the symbol of modernity and integration, and nowadays is
scrapping and marks an axis of segregation in the city. This work recognizes this
historical object as a structuring element of the territory and localities. It seeks in history
its relevance to the consolidation of the city and identifies the construction of a place
by the residents of Rio Potengi Street, located in one of the headwaters of the bridge.
In this way, the research is justified by bringing the vision of the residents of Rua Rio
Potengi to the conservation of that good. Contributing to the discussion through a
proposal of urban intervention in the Igapó bridge and its surroundings that add the
territory to the place, giving opportunity to the residentes express their opinion and
reflect on their place.

Keywords: Urban Intervention; Igapó Bridge; Rio Potengi Street.


5

AGRADECIMENTOS

A Deus por todas as oportunidades e amigos que conquistei nessa jornada,


tudo só foi possível porque sempre estive cercada por pessoas maravilhosas que não
mediram esforços para me ajudar.
Ao corpo docente do curso de Arquitetura e Urbanismo por todos os
ensinamentos e reflexões que abriram meus olhos para enxergar o mundo de uma
maneira completamente diferente de quando entrei no curso.
A professora e orientadora Amíria Brasil por todo comprometimento, paciência
e companherismo desde os primeiros traços deste trabalho na disciplina de PPUR 6.
Ao professor e coorientador Clewton Nascimento pelas valiosíssimas
contribuições que romperam fronteiras e mostraram que a ponte conecta muito mais
do que as duas margens do Potengi.
A Gleice Elali, Eunádia Cavalcante, Verônica Lima e Maurício Camargo por
todo incentivo e orientações fundamentais para a utilização das metodologias
participativas.
Ao Diácono Léo pela disponibilidade para me apresentar a comunidade.
A todos da Escola Estadual Felizardo Moura, que me receberam de portas
abertas.
A D. Osana e todas da Associação Nossa Senhora das Dores por todos os
ensinamentos e acolhimento.
Aos amigos Raquel, Renan, Fábio e Wênia que me acompanharam durante o
desenvolvimento do trabalho.
Aos amigos de turma, cúmplices, companheiros de agústias e realizações.
Aos meus pais, Armindo Albuquerque e Edilza Albuquerque e irmãos, Aldo,
Armindinho e Elias pelo eterno exercício de questionar e sonhar.
A Vó Maria que com todo carinho coleciona e me envia recortes de revistas e
jornais com projetos.
A Vô Elias por todas as histórias compartilhadas.
A Tia Peu, por acreditar que não existem limites, quebra tudo!
Ao meu namorado, Ricardo Dantas, a quem devo a coautoria deste trabalho
pelo incentivo e intensa participação durantes todas as etapas do seu
desenvolvimento.
6

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Localização Rua Rio Potengi ............................................................................ 14


Figura 2: Diagrama do sentido de lugar e as três esferas da vivência. ........................... 15
Figura 3: Processo de percepção | cognição | resposta. ................................................ 16
Figura 4 Estratégia analítica para desenvolvimento do trabalho. .................................... 17
Figura 5: Natal no séc. XIX isolada pelas dunas e o Rio Potengi. .................................. 20
Figura 6: Traçado original das Estradas de Ferro do Rio Grande do Norte .................... 21
Figura 7: Ponte de Igapó, 1914. ..................................................................................... 22
Figura 8: Fluxos terrestres e no Rio Potengi em 1878. Em vermelho, local onde a ponte
foi construída em 1912. .................................................................................................. 23
Figura 9: Feira de Macaíba, 1912 ................................................................................... 24
Figura 10: Espacialização da população de baixa renda, sobre o mapa do Plano de
Sistematização de Henrique de Novaes para Natal de 1924. ......................................... 25
Figura 11: Proposta de via cortando a praça Augusto Severo ao meio, Plano Palumbo
(1929). ............................................................................................................................ 26
Figura 12: Nota na primeira página do jornal, no dia da inauguração da ponte
rodoferroviária. ............................................................................................................... 27
Figura 13: Mau estado de conservação da estrutura metálica........................................ 28
Figura 14: Ponte de Igapó utilizada para fins de lazer. ................................................... 29
Figura 15: Composição de imagens da proposta Museu Mirante do Rio Potengi ........... 30
Figura 16: Reconhecimento do mapa. ............................................................................ 34
Figura 17: Marcações no mapa gigante.......................................................................... 34
Figura 18: Legenda mantida no quadro negro para que os alunos que entrassem
identificassem as marcações feitas pelo grupo anterior. ................................................ 35
Figura 19: Desenvolvimento das propostas. ................................................................... 35
Figura 20: Mapa cidade, ra-o, bairros e rua. ................................................................... 37
Figura 21: Evolução urbana. ........................................................................................... 39
Figura 22: Setores ZPA 8 ............................................................................................... 40
Figura 23: Subzoneamento da ZPA8, setor B. ............................................................... 42
Figura 24: Áreas Especiais de Interesse Social .............................................................. 43
Figura 25: Mapa de expansão das linhas férreas ........................................................... 45
Figura 26: Limites técnico e social dos bairros. .............................................................. 47
Figura 27: Subdivisões Rua Rio Potengi ........................................................................ 48
7

Figura 28: Mapa de Uso do Solo. ................................................................................... 51


Figura 29: Mapa de equipamentos urbanos ................................................................... 52
Figura 30 Mapa de atividades ........................................................................................ 55
Figura 31 Mapa Gigante, cabeceira da Ponte de Igapó na Rua Rio Potengi. ................. 57
Figura 32: Vista lateral com ponte de concreto em primeiro plano. ................................ 58
Figura 33: Vista lateral com o rio primeiro plano. ............................................................ 59
Figura 34: Vista frontal, interna à comunidade. .............................................................. 59
Figura 35: Nuvem de palavras ........................................................................................ 60
Figura 36: High Line em funcionamento. ........................................................................ 63
Figura 37: Vegetação espontânea sobre a High Line. .................................................... 64
Figura 38: High Line, Nova Iorque. ................................................................................. 66
Figura 39: Promenade Planteè. ...................................................................................... 67
Figura 40: Croqui trajeto do Promenade Planteè. ........................................................... 68
Figura 41: Localização das propostas dos grupos de alunos. ........................................ 72
Figura 42 Zoneamento dos vãos, estrutura nova, rosa dos ventos e carta solar. ........... 80
Figura 43: Escadaria....................................................................................................... 81
Figura 44: Praia fluviomarinha. ....................................................................................... 82
Figura 45: Acesso à praia fluviomarinha. ........................................................................ 82
Figura 46: Piso de vidro entre dois vãos. ........................................................................ 83
Figura 47: Vão Rio Potengi ............................................................................................. 84
Figura 48: Segundo e quinto vãos (permanência e contemplação da paisagem) ........... 84
Figura 49: Terceiro vão (memória dos migrantes). ......................................................... 85
Figura 50: Acesso à plataforma de saltos ....................................................................... 86
Figura 51: Mirante .......................................................................................................... 86
Figura 52: Vão da plataforma de salto mostrando o flutuador. ....................................... 87
Figura 53: Trecho do vão 70 (exposições com o tema memória da Ponte de Igapó). .... 88
Figura 54: Croqui de concepção da ligação da parte nova à antiga. .............................. 89
Figura 55: Conexão entre a parte nova e a antiga, com acesso para a ponte de concreto.
....................................................................................................................................... 89
Figura 56: Mirante que permite a visualização das arcadas. .......................................... 90
Figura 57: Vista da estrutura antiga a partir da nova. ..................................................... 90
Figura 58: Estrutura nova. .............................................................................................. 91
Figura 59: Final da estrutura nova mostrando o último pilar da ponte de ferro ao fundo.92
Figura 60: Final da estrutura nova mostrando o balanço sugerindo a reconexão. .......... 92
8

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Quadro síntese da leitura urbana................................................... 62


Quadro 2: Diretrizes projetuais ....................................................................... 75
9

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------- 10
2 LUGAR ---------------------------------------------------------------------------------------- 13
2.1 PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS ------------------------------------------------------ 16
3 HISTÓRIA DA PONTE DE IGAPÓ------------------------------------------------------ 19
3.1 PASSADO, SÍMBOLO DA MODERNIDADE (1912-1940) ------------------------ 19
3.2 PRESENTE, PERDA DE DESTAQUE (1940 - 2017) ------------------------------ 25
3.3 FUTURO, TEMPO DAS IDEIAS --------------------------------------------------------- 29
4 RUA RIO POTENGI | PARE, OLHE E ESCUTE ------------------------------------ 32
4.1 ATRIBUTOS FÍSICOS --------------------------------------------------------------------- 36
4.1.1 Leitura técnica ------------------------------------------------------------------------------- 37
4.1.2 Leitura social --------------------------------------------------------------------------------- 46
4.2 ATIVIDADES --------------------------------------------------------------------------------- 50
4.2.1 Leitura técnica ------------------------------------------------------------------------------- 50
4.2.2 Leitura social --------------------------------------------------------------------------------- 53
4.3 CONCEPÇÕES E IMAGENS ------------------------------------------------------------ 56
4.3.1 Leitura técnica ------------------------------------------------------------------------------- 56
4.3.2 Leitura social --------------------------------------------------------------------------------- 56
5 ESTUDOS DE REFERÊNCIA ----------------------------------------------------------- 63
5.1 HIGH LINE, NOVA IORQUE ------------------------------------------------------------- 63
5.1.1 Contexto --------------------------------------------------------------------------------------- 64
5.1.2 Conceito --------------------------------------------------------------------------------------- 65
5.1.3 Usuário ---------------------------------------------------------------------------------------- 65
5.1.4 Uso 66
5.1.5 Plástica ---------------------------------------------------------------------------------------- 66
5.2 PROMENADE PLANTEÉ, PARIS ------------------------------------------------------- 67
5.2.1 Contexto --------------------------------------------------------------------------------------- 68
5.2.2 Conceito --------------------------------------------------------------------------------------- 68
5.2.3 Usuário ---------------------------------------------------------------------------------------- 68
5.2.4 Usos -------------------------------------------------------------------------------------------- 69
5.2.5 Plástica ---------------------------------------------------------------------------------------- 69
6 APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA ---------------------------------------------------- 71
CONSIDERAÇÕES FINAIS -------------------------------------------------------------------------- 93
REFERÊNCIAS ----------------------------------------------------------------------------------------- 95
ANEXO A ------------------------------------------------------------------------------------------------- 98
APÊNDICE A -------------------------------------------------------------------------------------------- 99
10

1 INTRODUÇÃO

A ponte de Igapó localiza-se na cidade de Natal entre os bairros Nordeste, na


Região Administrativa Oeste (R.A. Oeste); e o bairro de Igapó, na Região
Administrativa Norte (R.A. Norte). A área está inserida na Zona de Proteção Ambiental
8 (ZPA 8), setor B; e nas suas extremidades existem duas comunidades: a Mosquito
e a Beira-Rio classificadas pelo Plano Diretor de Natal como favelas (NATAL, 2007).
No ano em que completou cem anos da sua inauguração, esse bem volta a ser
objeto de discussão na cidade; no dia 29 de abril de 2016 ocorreu uma audiência
pública na Câmara Municipal de Natal, na qual foram discutidos o seu estado de
conservação e as possíveis reutilizações (REDAÇÃO, 2016). No discurso, observa-se
o reconhecimento da importância histórica e paisagística da ponte vinculada ao
potencial turístico da área. Porém nota-se o descolamento dessa estrutura com o
presente, para muitos ela é vista como um objeto congelado no passado que ignora
os assentamentos de baixa renda que se instalaram ao longo da ferrovia, e não
enxergam a relação entre a ponte e essas populações que até hoje introduzem novas
significações e usos, se apropriando da área para fins de lazer.
Observa-se que a ausência da voz dos moradores do entorno nos debates
sobre o futuro desse bem pode gerar intervenções não condizentes com a realidade
local. Desta forma, esta monografia, referente ao trabalho final de graduação do curso
de Arquitetura e Urbanismo da UFRN, trata da proposta de intervenção urbana da
Ponte de Igapó e seu entorno com a participação dos moradores da Rua Rio Potengi
localizada na margem do Rio Potengi, nos bairros Nordeste e Quintas.
Para fundamentar o trabalho foi necessário compreender o conceito de lugar
como também identificar elementos que o caracterizam para auxiliar na leitura do
espaço urbano. Entende-se que a inserção da visão das pessoas que moram próximo
às áreas em que ocorrem intervenções urbanas possam minimizar ações negativas
sobre essas populações.
Desta forma o objeto de estudo da presente pesquisa é a Ponte Metálica de
Igapó e seu entorno. Tendo como objetivo geral propor intervenção urbana na Ponte
Metálica de Igapó e seu entorno com a participação dos moradores da Rua Rio
Potengi. Em relação aos objetivos específicos, temos: ressaltar a ponte como um
objeto de valor histórico para a cidade; ressaltar a ponte como um lugar para os
11

moradores da Rua Rio Potengi; evidenciar a relação que a ponte estabelece entre o
território e o local; e estimular os moradores a refletirem sobre o lugar em que vivem.
A escolha da área de intervenção se deu pela insatisfação com a condição de
abandono pela qual a Ponte de Igapó vem passando desde a década de 1970 após a
sua desativação com a construção da nova ponte e o desmonte de parte da sua
estrutura. Apesar da sua proteção institucional há 25 anos, os órgãos responsáveis
ainda não demonstram ações para garantia da sua conservação.
O debate sobre a ponte gira em torno da sua relevância enquanto elemento de
inovação das técnicas construtivas e como elemento estruturador do território.
Entretanto, há a desconexão entre o patrimônio histórico e o seu entorno não sendo
feitas referências às populações vizinhas que já se apropriam da estrutura como uma
área de lazer e relacionam o bem à história de vida de suas famílias e da comunidade.
Inicialmente, o recorte espacial compreendia apenas a favela do Mosquito
demarcada no mapa 04 (Anexo A), anexo II do Plano Diretor de 2007 (NATAL, 2007).
Porém ao entrar em contato com a Escola Estadual Felizardo Moura, foi informado
que a comunidade se reconhece como moradores da Rua Rio Potengi. Dessa forma,
o recorte foi expandido por toda a rua que margeia o rio Potengi e corta os bairros
Nordeste e Quintas, tendo como limites a base dos fuzileiros navais (bairro das
Quintas) numa extremidade e a Ponte de Igapó (bairro Nordeste) na outra.
O trabalho se justifica por trazer uma outra visão para o debate de conservação
da Ponte de Igapó, além de reconhecê-la como um elemento histórico importante para
a estruturação do território também considera a sua relevância para a construção de
localidades a partir da história da Rua Rio Potengi. Contribui para a discussão através
de uma proposta de intervenção urbana que agregue o território ao local, dando
oportunidade para os moradores expressarem a sua opinião e refletirem sobre o seu
território.
Para se alcançar os objetivos da pesquisa foi necessária a adoção de alguns
procedimentos metodológicos: revisão da literatura para compreensão do conceito de
lugar; levantamento bibliográfico e documental da Ponte de Igapó; leitura urbana da
rua Rio Potengi; pesquisa de projetos precedentes com temáticas similares ao da
proposta; desenvolvimento da proposta de intervenção urbana.
O trabalho é dividido em sete capítulos, cujo primeiro é a introdução. O segundo
corresponde ao referencial teórico-metodológico, que contém o embasamento teórico
para o desenvolvimento da proposta de intervenção. Será apresentado o conceito de
12

lugar baseado nos autores Yu-Fi Tuan e Sylvia Cavalcante. Enquanto que aspectos
que conferem a qualidade do lugar serão fundamentados por meio do método de
Vicente Del Rio. O terceiro capítulo busca-se reconhecer a importância da ponte para
a história do Rio Grande do Norte e da cidade do Natal, apresentando-a em três
momentos históricos, passado, símbolo da modernidade; presente, perda de
destaque; futuro, tempo das ideias.
O quarto capítulo refere-se a leitura urbana da rua Rio Potengi sob o ponto de
vista técnico e social resultados da análise feita com base nas três escalas de vivência
– Atributos físicos, atividades, concepções e imagens – utilizadas por Del Rio (1995).
O quinto capítulo trata das análises dos projetos precedentes feitos em dois projetos
que transformaram linhas férreas em vias para pedestres e parques lineares. O sexto
capítulo trará o processo projetual da proposta de intervenção urbana da Ponte
Metálica de Igapó e seu entorno a nível de estudo preliminar. E o último capítulo
conterá os resultados alcançados no desenvolvimento do trabalho.
13

2 LUGAR

Intervenções urbanas causam impactos na vida das pessoas, em especial


daquelas que moram próximo às áreas modificadas. Com o intuito de minimizar ações
negativas sobre as populações vizinhas, buscou-se compreender o conceito de lugar
como a identificação dos elementos que o caracterizam para auxiliar na leitura do
espaço urbano.
Para Yi-Fu Tuan (1977) as definições de espaço e lugar se entrelaçam e podem
ser entendidas como conceitos indissociáveis visto que um complementa o sentido do
outro. O autor (1977, p.151) define que “o espaço transforma-se em lugar à medida
que ganha definição e significado”, afirmando que só é possível compreender a
vastidão do espaço quando se tem a delimitação do lugar.
Sylvia Cavalcante (2011) também relaciona os dois conceitos, e destaca a
dificuldade de se estabelecer uma definição de espaço devido ao caráter
multidisciplinar que ele assume. Desta forma, apresenta duas abordagens gerais: [1]
o espaço como uma área geométrica concreta, [2] o espaço como matéria exterior ao
indivíduo, neutro e sem significado. Por outro lado o lugar é caracterizado como um
espaço diferenciado cujo valor é adquirido pela vivência e sentimentos que lhe
atribuem significado.
Calvalcante (2011) e Tuan (1977) defendem que a delimitação de um lugar
parte de um processo de seleção que atribui valor a certos elementos em detrimento
de outros. Tuan (1977) descreve que os critérios de escolha assumem um caráter
subjetivo e variam de acordo com a percepção de cada indivíduo que é influenciado
por aspectos culturais. Desta forma, um mesmo elemento pode ter valor para uns,
sendo-lhe atribuída a condição de lugar, enquanto que para outros pode não ser
observada essa distinção. O autor destaca que devido ao caráter subjetivo do lugar,
os monumentos costumam desaparecer quando ocorre a decadência da sua cultura;
os raros exemplos que conseguiram traspor o tempo possuem uma importância geral
e outra específica, na qual a geral é mantida com o tempo enquanto que a específica
passa por ressignificações.
Como exemplo, tem-se a Ponte de Igapó que, com o passar do tempo e as
mudanças na sociedade, passou por transformações de significação que quase
levaram à sua destruição. Entretanto, ela vem resistindo ao tempo e se exibe como
lugar com uma importância geral para a consolidação do território da cidade, como
14

também transmite uma importância específica para os moradores da Rua Rio Potengi,
comunidade localizada em uma das cabeceiras da ponte.

Figura 1 Localização Rua Rio Potengi

Fonte: Canindé Soares, 2011


Nota: Editado pela autora

Para a identificação dos elementos que constituem um lugar, Del Rio (1995)
estuda a compreensão dos fenômenos urbanos sob a ótica do usuário e utiliza o
conceito genius loci que traduz a identidade, o caráter e a qualidade do lugar. O autor
considera que a qualidade físico-ambiental que caracteriza o “sentido do lugar “
relaciona-se com a sobreposição das três esferas de vivência – atividades ou usos,
atributos físicos, e concepções e imagens – propostas pelo psicólogo ambiental David
Canter (Figura 2).
Del Rio (1995) busca em várias metodologias formas de análise que se
complementam e auxiliam na compreensão do sentido de lugar. A esfera da
concepção e imagem é analisada a partir da “análise visual” e “percepção” e as outras
duas esferas são compreendidas através do “comportamento ambiental” e da
“morfologia”.
15

Figura 2: Diagrama do sentido de lugar e as três esferas da vivência.

Fonte: Del Rio (1995, p.70)

Na esfera das concepções e imagens, a análise visual busca a compreensão


das qualidades estéticas urbanas a partir da experiência emocional transmitida pelo
conjunto edificado, partindo da capacidade de interpretação do pesquisador e da
observação. Já a percepção estuda a relação entre o ser humano e o meio ambiente,
sendo utilizada para a identificação de imagens públicas e da memória coletiva (DEL
RIO, 1995).
As esferas das atividades e dos atributos físicos utilizam o comportamento
ambiental e a morfologia. Assim como a percepção, o comportamento ambiental
estuda a relação humano-ambiente, mas diferencia-se por analisar uma escala menor.
O autor utiliza os dois enfoques presentes na metodologia. O “piagetiano” compreende
que a memória é formada pelos processos cognitivos e pela experiência ambiental; e
a abordagem “comportamentalista” que trata a reação do ser humano como reflexo
da situação em que ele se encontra, desenvolvendo relações de causa-efeito. O uso
da morfologia pretende analisar a forma urbana para identificar a sua formação,
evolução, transformação, como também as suas inter-relações (DEL RIO, 1995).
A memória está presente na identificação das três esferas da vivência, sendo
apresentada por Del Rio (1995) no processo de percepção/cognição/resposta com
base nos trabalhos de Bailly e Oliveira (Figura 3). A memória representa um fragmento
da realidade, construída através de um processo de seleção que passa por filtros
sensoriais, sociais, culturais, econômicos e pode ser realimentada pelo raciocínio.
16

Figura 3: Processo de percepção | cognição | resposta.

Fonte: Del Rio (1995, p.92)

Neves (2000) defende que a memória e a História atuam como lastro da


identidade coletiva, e buscam evitar a perda de referências através de marcos
espaciais ou temporais. Elas podem se relacionar de duas maneiras. Na primeira,
atuam em conjunto, uma estimula o desenvolvimento da outra e contribuem para a
identificação da identidade coletiva. Enquanto que na segunda, a história atua como
destruidora da memória espontânea, sendo utilizada como um instrumento de poder,
podendo produzir memórias dirigidas.
A compreensão do sentido de lugar através da análise das três esferas de
vivência será utilizada na leitura da área e na elaboração de diretrizes de projeto, que
irão visar a manutenção dos componentes que constituem a estrutura do lugar, ou
seja aqueles elementos que representam a essência do lugar, as partes que ao sofrer
alteração podem descaracterizar o genius loci, que pode causar a perda da
identificação das pessoas.

2.1 PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS

Foi criada uma estratégia analítica geral dividida em duas frentes: uma
abordagem teórica e a outra empírica (Figura 4). Na abordagem teórica busca-se
através de revisão bibliográfica a compreensão do conceito lugar1 e utilização das três
esferas de vivência para auxiliar na leitura urbana. Para a identificação do valor da
ponte para a história da cidade será feito o levantamento bibliográfico e documental

1 Lugar (CAVALCANTE, 2011)


17

da história da Ponte de Igapó com recorte temporal de 1912 a 2017, desde o contexto
da sua construção (1912 a 1914), a sua desativação e deterioração (déc. 1970), até o
debate atual para a sua conservação com o reconhecimento institucional do município
e estado e a ação civil pública denunciando o seu abandono (1992 a 2017).

Figura 4 Estratégia analítica para desenvolvimento do trabalho.

Fonte: Elaboração da autora.

Por sua vez, a abordagem empírica terá sua metodologia detalhada em cada
capítulo e envolve a ampliação do repertório do projetista com os estudos de
referência através de revisão bibliográfica e documental. Como também tratou da
leitura do lugar além de uma visão técnica (revisão bibliográfica e documental), foi
realizada um leitura social por meio de pesquisa de campo com realização de oficinas
que utilizaram os métodos da Cartografia Social (BARROSO, 2015) e História Oral
(NEVES, 2000).
As oficinas foram realizadas na Escola2 Estadual Felizardo Moura e na
Associação3 Nossa Senhora das Dores. Nas oficinas realizadas na escola, foram
utilizadas as técnicas do mapa mental, questionário e o mapa gigante (PANELLA,

2 Oficinas realizadas em dois momentos, aplicação de mapa mental e questionário em outubro

de 2016 e atividade com o mapa gigante em agosto de 2017.


3 Oficina realizada durante o mês de agosto de 2017.
18

2012) em momento posterior; e na associação foi utilizada a entrevista semi-


estruturada.
Após a conclusão do referencial teórico e da pesquisa de campo se deu a fase
de análise que resultou na formulação de diretrizes que nortearam o desenvolvimento
do projeto. Posteriormente foi elaborarado um plano de ações, o masterplan e em
seguida desenvolveu-se o detalhamento da projeta da Ponte de Igapó e seus acessos.
19

3 HISTÓRIA DA PONTE DE IGAPÓ

A história da ponte de ferro de Igapó foi dividida em três partes: Passado,


símbolo da modernidade; Presente, perda de destaque; Futuro, tempo das ideias. Na
primeira buscou-se contextualizar a Natal do início do séc. XX; na segunda é
apresentada a desativação da ponte e os debates para a conservação em vigor; e na
terceira são exibidos alguns projetos e desejos que surgiram na mídia quanto ao
restauro da ponte.

3.1 PASSADO, SÍMBOLO DA MODERNIDADE (1912-1940)

No século XIX o mercado internacional de modelos pré-fabricados em aço entra


no Brasil por meio de incentivos políticos, com o intuito de criar uma malha ferroviária
nacional que interligasse as capitais portuárias. No contexto local, as linhas férreas
rompem com o isolamento provocado pelas barreiras naturais entre Natal e os
principais centros produtores da província, sendo determinante para a consolidação
da cidade como capital (RODRIGUES, 2006, p. 83).
O estabelecimento da lei n° 16 de 12 de agosto 1834 dava autonomia às
províncias brasileiras para relocarem as suas capitais para locais que melhor
atendessem às suas necessidades econômicas. Nesse período foram consolidadas
as mudanças de centro em várias províncias, como Alagoas, Sergipe e Piauí. No Rio
Grande do Norte, a criação de projetos de lei para a relocação da capital foi motivada
pela dificuldade de escoamento da produção da província por Natal que estava isolada
das regiões produtivas por um cordão de dunas e o Rio Potengi (Figura 5)
(RODRIGUES, 2006, p.65).
20

Figura 5: Natal no séc. XIX isolada pelas dunas e o Rio Potengi.

Fonte: RODRIGUES (2006, p. 36).


Nota: Editado pela autora.

Nesse período, Natal busca manter o título de capital através de investimentos


na modernização da cidade, com os preceitos de sanear, circular e embelezar
incorporado por diversas capitais brasileiras. São realizadas reestruturações no seu
traçado urbano; melhoramentos no porto e conexões com as linhas férreas, com o
intuito de integrar Natal com as outras capitais e as demais cidades da província para
potencializar o escoamento de mercadorias, consolidando a centralização do poder
administrativo e econômico (MEDEIROS, 2011, p.72).
A primeira ferrovia da província foi construída na década de 1880 com a
intenção de interligar a capital do Rio Grande do Norte à Paraíba e Pernambuco, a
Estrada de Ferro de Natal a Nova Cruz posteriormente encampada pela Great
Western Railway Company. No início do século XX, foi iniciada a construção da
Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte (Figura 6), com o intuito de interligar
21

o porto de Natal às principais regiões produtivas potiguares, passando pelo vale de


Ceará-Mirim, importante produtor açucareiro, e terminando no Seridó, região de
produção algodoeira (MEDEIROS, 2011, p.13).

Figura 6: Traçado original das Estradas de Ferro do Rio Grande do Norte

Fonte: MEDEIROS (2011, p.72).


Nota: Editado pela autora.

A construção da Estrada de Ferro Central exigia transpor a barreira do rio


Potengi. Desta forma, a Ponte de Igapó foi construída entre os anos de 1912 a 1914
(Figura 7) e inaugurada somente dois anos depois, logo após a conclusão da linha
férrea que fazia a conexão com o parque da Estação de Ferro Central, localizado no
bairro das Rocas vizinho ao bairro da Ribeira, na época o centro econômico da capital
e onde se localizava o porto da cidade (MEDEIROS, 2011).
22

Figura 7: Ponte de Igapó, 1914.

Fonte: NEGREIROS NETO (2013, p.55)

Para baratear o sistema de construção foram tomadas algumas decisões como


uma baixa altura, construção de dois aterros em ambas as margens para reduzir a
distância entre elas e a importação de nove módulos metálicos de 50 m e um de 70
m, não necessitando de cálculos específicos e peças exclusivas (RODRIGUES, 2006,
p.167).
A obra foi executada pela empresa brasileira Companhia de Viação e
Construções SA (CVCSA), o projeto foi desenvolvido pelo francês Georges Camille
Imbault (1877-1951) e os materiais e a técnica de execução foram da empresa inglesa
Cleveland Bridge Engineering and Co., que em 1912 já tinha no currículo exemplares
construídos na Europa, Ásia e África (NEGREIROS NETO, 2013).
Em notícia de 1912, relatou-se a imponência da obra com a chegada do navio
Artist que trouxe a equipe inglesa e de todo material importado. Na nota também foi
descrita a grande infraestrutura montada para viabilizar a construção, que influenciou
a ocupação do lado esquerdo do rio, onde hoje se localiza o bairro de Igapó.
23

Pelo “Artist” chegou hontem toda a ferragem destinada á grande ponte sobre
o rio Potengy. Nesta cidade já se acham os drs. Stephn e Beit, engenheiros
chefe e ajudante da the Cleveland Bridge & Engeering Cª Ltd. a quem está
entregue a construção da ponte. As primeiras instalações já foram iniciadas
na margem esquerda do Potengy. Além da casa de residência para o
engenheiro chefe e ajudante, serão construídas casas para acomodarem 200
operários, consultório médico, pharmacia, etc. A ponte vai ser construída no
conhecido “Porto do Padre”. Depois de atravessar o rio, a linha tomará a
direção da rua Silva e Jardim onde já se acham construídos edifícios e em
construcção a Estação Central. Ao encerrarmos essa ligeira noticia,
desejamos o melhor possível na construção se tão importante obra, afim de
que em pouco tempo seja uma realidade a travessia do Potengy.
(Estrada...,1912, p.01 apud Medeiros, 2011, p. 75)

Rodrigues (2006) destaca a construção da ponte nesse trecho (Figura 8) como


um símbolo do confronto entre o transporte ferroviário e fluvial, visto que outros
centros urbanos como a vila de Macaíba e Guarapes faziam uso dos caminhos
naturais e tomaram destaque na economia da província pelo movimento comercial
(Figura 9), utilizando o rio como via de transporte. Assim, entende-se que sua baixa
altura além de ser uma decisão ligada aos custos da obra também faz parte de uma
política de desarticulação desse transporte, sendo verificado que após a construção
da mesma a cidade de Macaíba entrou em declínio econômico.

Figura 8: Fluxos terrestres e no Rio Potengi em 1878. Em vermelho, local onde a ponte
foi construída em 1912.

Fonte: RODRIGUES (2006, p.81).


Nota: Editado pela autora.
24

Figura 9: Feira de Macaíba, 1912

Fonte: RODRIGUES (2006, p.60)

O discurso de modernidade da elite natalense no final do século XIX, aliado ao


plano de hegemonia da capital, se opõe com o cenário de pobreza criado nas
adjacências da linha férrea que corta a cidade de Natal. Ao mesmo tempo em que
essas populações de baixa renda são vistas como um problema, foram elas que
proporcionaram as ações de embelezamento da capital. Rodrigues (2006) relata que
a grande seca do início do século XX trouxe a Natal 15.000 retirantes enquanto que a
população total da cidade não ultrapassava 12.000 habitantes. Os refugiados da seca
se alojaram na praça Augusto Severo e as elites fizeram uso desse quadro de
calamidade para atrair recursos para o combate à seca. Entretanto as verbas que
eram destinadas a realizar obras no interior foram utilizadas para embelezar a entrada
da capital com o discurso de empregar os “flagelados” e acabar com a memória
daquele cenário insalubre.
Esse crescimento significativo da população sem que houvesse a ampliação
da infraestrutura da cidade, provocou o aumento dos assentamentos precários às
margens do rio e da ferrovia. Medeiros (2011) destaca que até a metade do século XX
a linha férrea parece ter demarcado o zoneamento da população de baixa renda de
Natal, concentrada nas regiões do Passo da Pátria, Guarita, Rocas e Alecrim, como
são espacializadas no mapa de 1924 (Figura 10).
25

Figura 10: Espacialização da população de baixa renda, sobre o mapa do Plano de


Sistematização de Henrique de Novaes para Natal de 1924.

Fonte: MEDEIROS (2011, p.84)

3.2 PRESENTE, PERDA DE DESTAQUE (1940 - 2017)

Do mesmo modo que o transporte ferroviário desarticulou as vias fluviais, as


rodovias em seguida substituiriam as linhas férreas. Rodrigues (2006) relata que esse
processo teve início com a ascensão do poder no sertão sustentado pela economia
algodoeira. Nesse momento ocorreu o fim do ciclo de investimentos das estradas de
ferro e iniciou-se a construção das estradas de rodagem (RODRIGUES, 2006, p.172).
Apesar das estradas de ferro permanecerem como elementos de estruturação
da cidade, gradativamente observa-se a sua perda de destaque ao longo dos planos
urbanísticos. O Plano Palumbo (1929) considerou os parques ferroviários como
elementos estruturadores, porém propôs uma rodovia cortando ao meio a Praça
Augusto Severo (Praça da República) construída no início do século como símbolo da
civilidade e principal porta de entrada de Natal através das linhas férreas (

Figura 11). Em 1935 o escritório Saturnino de Brito sugere uma estação


conjunta para as estradas de ferro. No Plano Serete (1965) foi recomendada a
desocupação do pátio ferroviário para outras finalidades (RODRIGUES, 2006, p.173).
26

Figura 11: Proposta de via cortando a praça Augusto Severo ao meio, Plano Palumbo
(1929).

Fonte: RODRIGUES (2006, p. 175).


Nota: Editado pela autora.

Nesse período, as ferrovias perderam a relevância no planejamento da cidade


e foi iniciada a desarticulação da rede ferroviária, que hoje não corresponde a um
décimo do que havia sido originalmente. Rodrigues (2006, p.173), destaca a
construção da estação rodoviária no meio da praça Augusto Severo e a rodovia
cortando a praça ao meio em 1963 como símbolos do fim da era das estradas de ferro
no Rio Grande do Norte.
A desativação da Ponte de Igapó também traduz esse declínio, um marco do
transporte ferroviário rompido para dar lugar a um novo símbolo rodoviário. Assim
como a malha ferroviária, a ponte de Igapó foi gradativamente perdendo o seu valor
simbólico. A sua perda de destaque tem início na década de 1940 quando foi feita
uma adaptação para o compartilhamento da via com os carros. Como a sua calha só
permitia a passagem de um veículo por vez, a passagem do trem e dos carros era
controlada por bandeiras.
27

Em 1970 foi inaugurada a ponte rodoferroviária de concreto. No dia da


inauguração a capa da Tribuna do Norte tinha a manchete “Monsenhor entrega ao
povo ponte que é obra do século” e a chamada “gigante de concreto” tornou obsoleta
a ponte metálica que estava em operação há 54 anos.
A mesma matéria trouxe uma nota retomando a inauguração da “velha ponte”
relembrando que ela foi “uma das maiores obras do Nordeste” e retrata que o mesmo
trajeto realizado na sua inauguração foi refeito na inauguração da nova ponte no
mesmo dia da sua desativação (Figura 12). No que se refere ao seu destino são
descritas duas possibilidades, a recuperação ou a “venda do material”, considerando
que ela permaneceria montada por um tempo e depois seria desmontada e reutilizada
em outras rodovias.

Figura 12: Nota na primeira página do jornal, no dia da inauguração da ponte


rodoferroviária.

Fonte: Tribuna do Norte, set 1970.

Na nota também foi descrito que a ponte já precisava de reparos à época e que
acidentes eram recorrentes (Tribuna do Norte, 1970). Logo após estes
acontecimentos, a sua estrutura foi leiloada e o novo proprietário iniciou o desmonte,
28

mas interrompeu o processo após o quarto arco ter sido removido por não ter
viabilidade financeira (MPRN, 2013).
O interesse pela preservação do patrimônio ferroviário é recente e os estudos
sobre a importância da Ponte de Igapó para a consolidação do território da cidade e o
uso de técnicas construtivas inovadoras só aconteceu após o seu sucateamento. Em
1992 a ponte passou a ter reconhecimento institucional, sendo tombada como
patrimônio histórico na esfera estadual pela Fundação José Augusto (FJA). Apesar de
constar o tombamento municipal de 2003 na Ação Civil Pública (MPRN, 2013), em
entrevista, Hélio Oliveira – diretor de Patrimônio Cultural da Fundação Cultural
Capitania das Artes (Funcarte) – disse que a ponte não consta no registro de bens
tombados da instituição; na época deve ter sido feito um tombamento provisório, mas
não foram desenvolvidos os estudos necessários para efetivar o tombamento. Na FJA
a ponte consta no livro de tombo, mas novamente observa-se que não foram
realizados estudos mais aprofundados sobre esse bem nem tampouco há indicações
para a sua conservação.
No ano de 2011 a ONG Instituto dos Amigos do Patrimônio Histórico Artístico –
Cultural (IAPHAAC) denunciou ao ministério público o mau estado de conservação da
estrutura e, através dessa requisição, foi feita uma ação civil pública que determinava
o restauro imediato pelos órgãos responsáveis e pelo proprietário que alegaram não
ter verba para realizar a obra (MPRN, 2013).

Figura 13: Mau estado de conservação da estrutura metálica.

Fonte: MPRN (2013)


29

No centenário da sua inauguração, 2016, esse bem voltou a ser objeto de


discussão na cidade. No dia 29 de abril daquele ano ocorreu uma audiência pública
na Câmara Municipal de Natal, na qual foram discutidos o seu estado de conservação
e as possíveis reutilizações (AGORA RN, 2016). No discurso observa-se o
reconhecimento da importância histórica e paisagística da ponte vinculada ao
potencial turístico da área. Porém nota-se o descolamento dessa estrutura com o
presente. Para muitos ela é vista como um objeto congelado numa construção de
passado que ignora os assentamentos de baixa renda que se instalaram ao longo da
ferrovia, e não enxergam a relação entre a ponte e essas populações que até hoje
introduzem novas significações e usos, se apropriando da área para fins de lazer
(Figura 14).

Figura 14: Ponte de Igapó utilizada para fins de lazer.

Fonte: Acervo de Júnior Santos (2010).

3.3 FUTURO, TEMPO DAS IDEIAS

Onze anos após o tombamento da Ponte de Igapó pela FJA começam a surgir
propostas para a reutilização da estrutura. Dentre as proposições estão o projeto
“Museu Mirante do Rio Potengi” (Figura 15), Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
30

do arquiteto Ubarana Júnior, de 2003. Destinada a fins turísticos, a proposta inclui um


museu com cybercafé, auditório, deck e praça de alimentação em um anexo com três
andares, enquanto que a estrutura remanescente seria restaurada e ao longo da ponte
seriam inseridos bancos e mirantes. Além de prever a reconexão da linha férrea com
a Ribeira, na qual a locomotiva “Catita” – da viagem inaugural de 1917 – daria início
ao passeio vindo da Ribeira até o Museu, de onde sairia um barco visitando mais de
20 pontos turísticos nas margens do Potengi (LIMA, 2011).

Figura 15: Composição de imagens da proposta Museu Mirante do Rio Potengi

Fonte: LIMA (2011)

Em 2010, o artista visual João Natal propôs a criação de um espaço para a


comunidade, pesquisadores e estudantes. Sugere “recompletar” a ponte com a
construção de arcos com o mesmo desenho original, porém preenchidos e com
materiais que contrastem com o antigo para estimular o debate se a ponte estaria
sendo destruída para dar lugar a estrutura fechada ou reconstruída retornando ao
projeto original (PONTE... 2010).
Em audiência pública na Câmara Municipal de Natal em abril de 2016, o
pesquisador Manoel Negreiros Neto sugeriu que a ponte seja transformada em um
ponto turístico, sendo restaurada e aberta para pedestres. Assim como Negreiros, o
professor Luciano Capistrano diz que a ponte pode auxiliar na mobilidade e na
economia da cidade como um atrativo turístico.
Como já mencionado anteriormente, as intenções de restauro para a ponte
parecem descoladas do seu entorno, dando ênfase ao turismo e à preservação do
31

patrimônio histórico, focando a ponte como um objeto isolado, estando presentes


apenas as vozes de especialistas e não levando em consideração o significado da
estrutura para os moradores das áreas adjacentes.
Para verificar a possibilidade de uso da estrutura remanescente buscou-se na
dissertação de Negreiros (2013) informações sobre o seu estado de conservação.
Nesse trabalho foi feito um ensaio em um dos pilares da ponte e constatou-se que o
concreto se encontra em excelente estado de conservação. O engenheiro sugere que
sejam feitos ensaios nos demais pilares. Porém destaca que o perfeito alinhamento
da estrutura e ausência de patologias aparentes são indicativos que os demais pilares
também se mantêm conservados.
Durante a pesquisa, não foram encontrados estudos específicos sobre a
estrutura metálica da ponte. Desta forma, foi entrevistado o arquiteto Héctor Bosetti,
especialista em execução de estruturas metálicas. Na entrevista o arquiteto destaca
que o reparo da estrutura apresenta altos custos e é demorado, porém possível. O
processo de restauro envolve um trabalho minucioso, em que se deve remover todos
os resíduos de ferrugem do metal para então identificar quais peças ainda possuem
resistência estrutural. Poderão ser feitos reparos e reforços estruturais nas peças mais
conservadas e as peças que não puderem receber reforço deverão ser substituídas
por peças novas.
Como não foram identificados no documento de tombamento da Ponte de Igapó
diretrizes para a sua reutilização, buscou-se na literatura princípios que norteassem o
projeto de restauro do patrimônio industrial. Kühl (2007) destaca três princípios
fundamentais para a intervenção: a mínima intervenção, a reversibilidade e a
distinguibilidade. A intervenção mínima trata da manutenção da essência do
patrimônio histórico, a reversibilidade busca facilitar intervenções futuras e a
distinguibilidade visa facilitar a leitura do observador, possibilitando a diferenciação
entre o novo e antigo.
32

4 RUA RIO POTENGI | PARE, OLHE E ESCUTE

A leitura urbana parte da busca pela identificação do senso de lugar da Rua


Rio Potengi através das três escalas de vivência: atributos físicos, atividades, e
concepções e imagens. Cada esfera está dividida em duas categorias: a leitura
técnica e a leitura social. A leitura técnica refere-se aos estudos realizados por meio
de pesquisa bibliográfica e documental e às visitas à Secretaria Municipal de Meio
Ambiente e Urbanismo (SEMURB). Já a leitura social reúne os resultados das oficinas
e entrevistas realizadas na Associação Nossa Senhora das Dores e na Escola
Estadual Felizardo Moura.
Metodologia
A leitura social busca a visão dos moradores sobre o lugar em que vivem e a
relevância da ponte para o local através de pesquisa de campo com realização de
oficinas que utilizarão os métodos da Cartografia Social e da História Oral. A
Cartografia Social é uma linha de pesquisa da ciência cartográfica que visa inserir a
população no processo de criação de mapas com o intuito de buscar o
autoconhecimento da comunidade em relação ao seu território (BARROSO, 2015). A
História Oral tem o objetivo de registrar o tempo presente ou um passado próximo, a
partir de uma construção coletiva com diferentes testemunhos, contribuindo para a
conscientização histórica individual e coletiva (NEVES, 2000).
A primeira oficina4 foi realizada na Escola Estadual Felizardo Moura, localizada
no bairro das Quintas, próxima à Rua Rio Potengi, com os alunos do 7° A, 9º A do
ensino fundamental e 3ª série A do ensino médio, num total de 57 alunos com faixa
de idade predominante de 12 a 25 anos.
O roteiro da atividade foi elaborado sob a orientação da prof. Dra. Gleice Elali5
que recomendou a utilização das técnicas de mapa mental e aplicação de
questionário. Durante o seu desenvolvimento ela destacou a importância da ordem de
aplicação dessas atividades para não influenciar os resultados. Inicialmente foi
requisitado que os alunos desenhassem a rua Rio Potengi para identificarmos se a
ponte estava presente na sua imagem, em seguida pediu-se para que eles
representassem a ponte de Igapó e por fim foi aplicado o questionário (Apêndice A)

4 Oficinas realizadas em outubro de 2016 durante a disciplina de PPUR 06.


5 Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte do Departamento de Arquitetura
e Urbanismo com pesquisas relacionadas a Projeto de Arquitetura e Psicologia Ambiental.
33

cujas perguntas tinham como objetivo investigar se havia o reconhecimento do valor


patrimonial dessa estrutura. Durante essa oficina foi observada uma boa receptividade
sobre o tema e interesse dos alunos em participar das atividades.
Uma segunda oficina6 foi feita na Escola Estadual Felizardo Moura, sendo
realizado um mapeamento colaborativo utlizando o mapa gigante do projeto De fora
adentro – Cartografia dos Sentidos (PANELLA, 2012) e o roteiro das oficinas foi
desenvolvido pelo antropólogo Maurício Panella autor desse projeto. O mapa teve
como base a foto aérea de Natal de 2006 impressa em lona com 23 m de comprimento
por 16 m de largura. Para a oficina, tivemos restrição de espaço e utilizamos apenas
metade do mapa que foi dobrado para se adequar a uma sala de aula com 7m de
comprimento por 5 m de largura.
As oficinas foram realizadas com cada série separadamente. Entretanto, as
construções que os grupos fizeram no mapa permaneceram para que os demais
participantes reconhecessem e discutissem a visão já registrada, para então continuar
o processo deixando também as suas impressões.
Cada oficina foi dividida em cinco momentos. O primeiro foi de reconhecimento
do mapa, quando os alunos foram convidados a caminhar sobre ele e ver a cidade de
cima (Figura 16). No segundo momento, perguntamos a eles se sabiam o que um
arquiteto faz, para então apresentar o trabalho, falar sobre a importância da
participação da população na construção da cidade e por fim explicar como seriam os
momentos seguintes da oficina.
A partir do terceiro momento os alunos foram estimulados a pensar sobre o seu
território, convidados a ser “arquitetos”, e identificar lugares como vias, bairros e zonas
de recreação (Figura 17). Também criaram uma legenda (Figura 18) para que essas
marcações fossem compreendidas posteriormente pelos outros grupos. Tendo em
vista que as marcações eram mantidas, quando cada grupo saía da sala, o mapa
exibia uma configuração diferente. Dessa forma os grupos não refaziam o processo
que o anterior fez. Eles adicionaram informações que julgavam ter faltado na legenda
existente e acrescentavam novos itens sugeridos por nós e por eles.

6 Oficina realizada em agosto de 2017 com o 8º ano A do ensino fundamental, 1ª série A e B e


2ª série B do ensino médio.
34

Figura 16: Reconhecimento do mapa.

Fonte: Acervo da autora.

Figura 17: Marcações no mapa gigante.

Fonte: Acervo da autora.


35

Figura 18: Legenda mantida no quadro negro para que os alunos que entrassem
identificassem as marcações feitas pelo grupo anterior.

Fonte: Acervo da autora.

Após a leitura da área, foi iniciado o quarto momento no qual criamos um


ambiente de discussão e foi feita a pergunta “o que vocês fariam para melhorar o
bairro?” com o intuito de compreender as demandas existentes e possíveis locais para
intervenção. No quinto momento estimulamos os alunos a refletirem sobre soluções
para as demandas discutidas. Foi solicitado que eles se dividissem em grupos de 3
ou 4 pessoas, escolhessem um terreno para intervir e desenvolvessem uma proposta
para apresentar no final da atividade.

Figura 19: Desenvolvimento das propostas.

Fonte: Acervo da autora.


36

Com o intuito de inserir uma perspectiva de outra faixa etária, também foi
escolhido a Associação Nossa Senhora das Dores que semanalmente reúne
aproximadamente 15 mulheres com idade acima de 40 anos. Nessa oficina foi usada
a técnica da entrevista semiestruturada com o objetivo de delinear brevemente a
história da comunidade a partir das sobreposições das histórias de vida das
entrevistadas.
Foram trabalhados cinco temas: origens, mudança, proposta, lugar e ponte. O
primeiro tema foi motivado pela excassez de dados na bibliografia sobre o histórico
de ocupação dessa área. Desta forma buscou-se delinear as origens da comunidade,
a partir da identificação das datas e locais de migração das entrevistadas ou de suas
famílias. O tema mudança foi trabalhado pela possibilidade de remoção de edificações
na Rua Rio Potengi identificada no Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR,
2008) descrito no item (4.1.1) em que é apresentado a leitura técnica dos atributos
físicos da rua Rio Potengi. Foi perguntado se as entrevistadas se mudariam da rua e
foi mapeado para onde iriam caso tivessem a oportunidade de se mudar. Logo após
foi questionado o que elas fariam para melhorar a rua, demarcando pontos de
intervenção. Em seguida, foram indicados quais são os lugares da rua que elas mais
se identificam. Por fim questionamos se a ponte metálica tinha alguma importância
para a rua e se elas teriam alguma história para contar.

4.1 ATRIBUTOS FÍSICOS

Neste item estão descritos os aspectos relativos à leitura do ambiente para


compor o sentido de lugar. Na leitura técnica foi feito um levantamento da história dos
bairros das Quintas e Nordeste, da evolução urbana, legislação municipal vigente,
proposta de regulamentação da ZPA 8 (NATAL, 2016), como também no Plano
Municipal de Redução de Riscos (2008) e plano de ações da CBTU (2017). Na leitura
social buscou-se relacionar aspectos analisados na leitura técnica através da
percepção dos moradores quanto aos limites do bairro Nordeste e Quintas, as origens
da rua Rio Potengi e questionamentos sobre as suas visões quanto a possibilidade de
mudança de endereço.
37

4.1.1 Leitura técnica

A rua Rio Potengi se localiza nos bairros das Quintas e Nordeste situados na
Região Administrativa Oeste da cidade de Natal, capital do estado do Rio Grande do
Norte. Esses bairros são classificados no macrozoneamento do Plano Diretor da
cidade, Lei Complementar nº 082 de 21 de julho de 2007, como Zonas Adensáveis 7
(ZA), com áreas ambientais frágeis delimitadas na Zona de Proteção Ambiental8
(ZPA).

Figura 20: Mapa cidade, ra-o, bairros e rua.

Fonte: Acervo da autora.

O bairro das Quintas possui registros de ocupação desde o período colonial


com sítios de produção de gêneros alimentícios, mas foi no período da Segunda
Guerra que passou por um maior crescimento populacional e se consolidou como local
de habitação de baixa renda na cidade, sendo oficializada como bairro em 1947
(NATAL, 2008). Já o bairro Nordeste era uma grande propriedade rural que começou
a ser loteada por volta década de 1950 e foi oficializado como bairro em 1968 (NATAL,
2012).

7 Art. 11 – Zona Adensável é aquela onde as condições do meio físico, a disponibilidade de


infra-estrutura e a necessidade de diversificação de uso, possibilitem um adensamento maior do que
aquele correspondente aos parâmetros básicos de coeficiente de aproveitamento.
Art. 12 – Para fins de aplicação do art. 11, considera-se infra-estrutura urbana: I – sistema de
abastecimento de água e esgotamento sanitário; II – sistema de drenagem de águas pluviais; III –
sistema de energia elétrica; IV – sistema viário (NATAL, 2007, p. 472).
8 Art. 17 – Considera-se Zona de Proteção Ambiental a área na qual as características do meio
físico restringem o uso e ocupação, visando a proteção, manutenção e recuperação dos aspectos
ambientais, ecológicos, paisagísticos, históricos, arqueológicos, turísticos, culturais, arquitetônicos e
científicos (NATAL, 2007, p. 473).
38

Através do mapa de evolução urbana (Figura 21) observa-se no ano de 1978


que a margem do rio Potengi no bairro das Quintas já estava consolidada e no bairro
Nordeste ainda existia um trecho não ocupado. Nos anos seguintes notam-se duas
linhas de crescimento uma em direção à Ponte de Igapó, margeando a linha férrea e
outra em direção ao rio Potengi, ocupando a faixa de mangue. No ano de 2005 as
construções já haviam atingido o limite da ponte, enquanto que a expansão em direção
ao rio permanecia, como se pode observar na mancha de ocupação existente no ano
de 2016.
Figura 21: Evolução urbana.
Fonte: Elaborado pela autora.
40

No que se refere às vias da área de estudo, a Rua Rio Potengi é classificada


pelo Código de Obras e Edificações do Município de Natal (Lei complementar n° 055,
de 27 de janeiro de 2004), como uma Via Local9, e em suas imediações encontram-
se as Vias Arteriais10 Av. Felizardo Moura/ BR-406 e a Rua Dr. Mário Negócio. Sendo
um trecho de grande integração da cidade, concentra um intenso tráfego de
automóveis e ciclistas na Ponte de Igapó; é rota para o aeroporto Aluízio Alves; a
região é abastecida com linhas de ônibus para as Regiões Administrativas Norte,
Leste e Sul; a linha férrea metropolitana liga-se aos destinos de Parnamirim e Ceará-
Mirim e o Rio Potengi comporta embarcações de pequeno porte.

Figura 22: Setores ZPA 8

Fonte: SEMURB (2016)


Nota: Editado pela autora.

9De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997), Via Local é aquela
caracterizada por interseções em nível não semaforizadas, destinada apenas ao acesso local ou a áreas restritas.
10De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997), Via Arterial é aquela
caracterizada por interseções em nível, geralmente controlada por semáforo, com acessibilidade aos lotes lindeiros
e às vias secundárias e locais, possibilitando o trânsito entre as regiões da cidade.
41

A rua Rio Potengi está inserida na Zona de Proteção Ambiental 8 (ZPA 8), que
visa a proteção do ecossistema de manguezal e estuário do Potengi/Jundiaí (NATAL,
2007). Essa ZPA encontra-se em processo de regulamentação, que vem se
desenvolvendo em audiências públicas e possui uma proposta de lei elaborada em
2016 pela Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMURB). Nessa proposta a
ZPA divide-se em dois setores: o setor A compreende a área localizada na R. A. Norte
e o setor B na R. A. Oeste (NATAL, 2016).
Os setores da proposta da SEMURB estão divididos em três subzonas:
subzona de preservação (SP), subzona de conservação (SC) e subzona de uso
restrito (SUR). A Subzona de Preservação corresponde à delimitação das Áreas de
Preservação Permanente11 (APP). As Subzonas de Conservação12 atuam como área
de amortecimento no entorno do mangue, adotando baixos índices de ocupação e alta
permeabilidade. As Subzonas de Uso Restrito13 caracterizam-se como áreas de
ocupação urbana consolidada com índices médios de ocupação e permeabilidade.
(NATAL, 2015).
Na proposição da SEMURB estão presentes na Rua Rio Potengi a Subzona de
Preservação (SP) e a Subzona de Uso Restrito 3 (a) (SUR 3 (a)) (Figura 23). A SP
corresponde à faixa marginal de curso d’água referente ao Rio Potengi (500m), o
ecossistema de manguezal14 e tabuleiro costeiro (50 m). A SUR 3 (a) regula a
ocupação da área, determina que os lotes devem ter área (mín.) de 200 m² com frente
(mín.) de 8 m; e as edificações devem ter coeficiente (máx.) de 0,6; taxa de ocupação
(máx.) 60%; permeabilidade (mín.) 60%; com recuos e gabarito conforme Plano
Diretor de Natal (Lei Complementar n°82/2007) (NATAL, 2016).

11
Área de Preservação Permanente (APP): área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o
fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (Lei nº 12.651, de
25 de maio de 2012, disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm.).
12 Subzonas de conservação são áreas definidas em regulamentações específicas das ZPA’s. (NATAL, 2007)
13 Subzonas de Uso Restrito caracterizam-se como áreas em processo de ocupação para qual o município
estabelece prescrições urbanísticas, no sentido de orientar e minimizar as alterações no meio ambiente e
consonância com o princípio do uso sustentável. (NATAL, 2007)
14Manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das marés, formado por vasas
lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como
mangue, com influência fluviomarinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e com dispersão descontínua
ao longo da costa brasileira, entre os Estados do Amapá e de Santa Catarina (Lei nº 12.651, de 25 de maio de
2012, disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm).
42

Figura 23: Subzoneamento da ZPA8, setor B.

Fonte: SEMURB (2016, p.00).


Nota: Editado pela autora.

Outro aspecto que deve ser analisado são as delimitações das Áreas Especiais
de Interesse Social15 (AEIS) do Plano Diretor de Natal. Segundo a lei, a Rua Rio
Potengi está inserida na Mancha de Interesse Social (MIS) com predominância de
vilas16 na porção localizada no bairro das Quintas e trecho do bairro Nordeste. A
porção mais ao norte, próxima à Ponte de Igapó, denominada de mosquito, é
integrante da AEIS 1, que engloba as favelas17 (NATAL, 2007). (Figura 24).

15Áreas especiais de interesse social (AEIS) - se configuram a partir da dimensão sócio - econômica e cultural da
população, com renda familiar predominante de até 3 (três) salários - mínimos, definida pela Mancha de Interesse
Social (MIS), e pelos atributos morfológicos dos assentamentos. (NATAL, 2007, p.469)
16Vila: conjunto de casas contíguas, no mesmo lote, destinadas predominantemente a habitações de aluguel, com
algum nível de precariedades urbanísticas e ambientais, caracterizadas pela implantação encravada no interior
dos quarteirões ou no fundo de quintais. (NATAL, 2007, p.471)
17 Favela: assentamento habitacional com situação fundiária e urbanística, total ou parcialmente ilegal e/ou
irregular, com forte precariedade na infraestrutura e no padrão de habitabilidade, e com população de renda familiar
menor ou igual a 3 (três) salários mínimos, sendo considerada como consolidada a partir do segundo ano de sua
existência. (NATAL, 2007, p.470)
43

Figura 24: Áreas Especiais de Interesse Social

Fonte: Acervo da autora.

Essa área delimitada no Plano Diretor de Natal (2007) como favela do


Mosquito, também está inserida no Plano Municipal de Redução de Riscos de Natal
(PMRR, 2008) que classifica a área com índice de risco 5, contendo processos de
carreamento de lixo (risco 2), inundação (risco 4), alagamento pluvial (risco 4),
ocupação irregular de faixa de domínio de ferrovia (risco 3), e área de preservação
permanente (risco 5). Nesse plano também são indicadas estratégias para redução
dos índices de risco do assentamento, sendo recomendadas medidas estruturais e
não estruturais.
As estruturais indicam serviços de limpeza para evitar a poluição do estuário
do Rio Potengi; obras de micro drenagem e proteção superficial para solucionar os
problemas referentes ao risco de alagamento pluvial; estruturas de contenção de
pequeno porte (≤ 3 m) na via férrea; isolamento do manguezal para revegetação das
matas ciliares e do mangue; propõe remoção e reassentamento parcial de moradias
e sugere posterior reassentamento involuntário das habitações inseridas em faixa de
domínio de linha férrea e em área de APP de mangue (PMRR, 2008).
44

Já as estratégias não estruturais envolvem a mobilização social com oficinas


de discussão sobre ocupação de áreas insalubres e invasão de áreas de preservação
permanente; projeto social específico de desocupação das áreas irregulares;
convocação dos conselhos existentes para a discussão sobre a remoção e
reassentamento das moradias; elaboração de plano social específico de remoção de
lixo e recuperação ambiental do mangue; monitoramento semestral das áreas sob
intervenção (PMRR, 2008).
A condição de risco causada pela linha férrea também é destacada no plano
de ações de 2017 da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). São
enumerados problemas como: danos às edificações causados pelas vibrações; o
elevado número de passagens de nível (autorizadas e irregulares) que reduz a
velocidade dos trens; o não isolamento da faixa de domínio, favorecendo ocupações
irregulares que aumentam o risco de ocorrência de acidentes.
Além de apresentar uma condição de risco para área, a CBTU indica que a
linha férrea atua como um elemento de integração, sendo descritas vantagens do
transporte ferroviário que envolvem a alta capacidade de transporte de passageiros;
a não influência dos horários de rush ou intempéries do trânsito; o alcance a locais
onde ônibus e alternativos não chegam e o baixo valor de tarifa. Nesse documento
também é indicado um projeto de modernização que visa aumento do número de
passageiros através da criação de novas estações, expansão das vias existentes,
reativação de trechos desativados e criação de novas linhas. Como se pode observar
na Figura 25, esse projeto contempla a rua Rio Potengi com a adição de uma estação
no bairro Nordeste, no trecho entre a estação das Quintas e a Ponte de Igapó.
45

Figura 25: Mapa de expansão das linhas férreas

Fonte: CBTU (2017, p.11)


Nota: Editado pela autora
46

4.1.2 Leitura social

Para a identificação dos limites do bairro foi solicitado aos participantes da


oficina com o mapa gigante que identificassem os bairros Quintas e Nordeste, sendo
demarcados como limites das Quintas o Rio Potengi, a Av. Bernardo Vieira /
assentamento Japão (Novo Horizonte), a Av. Felizardo Moura e a Ponte de Igapó. O
limite com o bairro do Alecrim não foi marcado devido o recorte do mapa ocasionado
pela restrição das dimensões da sala onde ocorreram as atividades. Quanto ao bairro
Nordeste foram estabelecidos como limites o Rio Potengi, a Av. Industrial João
Francisco da Mota e a Av. Felizardo Moura.
Figura 26: Limites técnico e social dos bairros.
Fonte: Elaborado pela autora.
48

Durante as oficinas foi observado que os limites percebidos variam em função


da idade dos participantes. Um morador que vivenciou o bairro das Quintas na década
de 1980 reconhecia o bairro com um limite maior que os estabelecidos pelos mais
novos, se estendendo do Rio Potengi até o Bairro de Bom Pastor incluindo o curtume
de João Mota, os assentamentos Salgadinho e Japão / Novo Horizonte. Já em relação
ao bairro Nordeste não se observou a variação dos limites pela idade. Um dos
participantes comentou que desde a sua construção o bairro assume características
diferentes do bairro das Quintas com padrão das edificações mais elevado pois eram
destinados aos militares.
Já em relação à rua Rio Potengi, os participantes dividiram-na em três setores:
o Mosquito, a Granja e a Castanhola. O primeiro é delimitado entre a Ponte de Igapó
e um trecho de estreitamento da rua Rio Potengi. A Granja parte desse estreitamento
até o campo da castanhola (campo de futebol). E a Castanhola corresponde a parcela
que se inicia nesse campo até a base dos fuzileiros navais (Figura 27).

Figura 27: Subdivisões Rua Rio Potengi

Fonte: Elaborado pela autora.

Na busca pelas origens da rua Rio Potengi, delineou-se o histórico de ocupação


a partir dos relatos das oficinas realizadas na Associação Nossa Senhora das Dores,
49

indicando que na década de 1950 a rua já tinha ocupação, havendo casos descritos
de migração e nascimento na própria localidade no final da década de 1940 e anos
subsequentes até a década de 1980. A maioria das entrevistadas vieram de cidades
do interior do Rio Grande do Norte e Paraíba e buscavam em Natal oportunidades de
emprego se instalando na Rua Rio Potengi pela acessibilidade a uma habitação de
baixo custo ao mesmo tempo pela proximidade de áreas que ofereciam melhores
fontes de renda que as dos seus locais de origem.
A partir da leitura técnica foram identificados conflitos entre a área de
preservação, as linhas férreas e as habitações existentes em trecho da Rua Rio
Potengi sendo indicado pelo PMRR remoção e reassentamento das moradias
inseridas nessas áreas. A partir dessa possibilidade foi questionado às entrevistadas
da associação se havia o interesse em mudar endereço, tendo o não como maioria
das repostas, afirmando que gostam de morar naquele local, destacando a relação
afetiva com a vizinhança, a solidariedade entre os moradores, a oferta de serviços e
comércio, facilidade de locomoção por diversos meios de transporte, o baixo custo do
trem, o acesso à casa própria, à igreja e à associação, mas relatam a insatisfação
com a segurança.
Já na oficina realizada no 9° ano da Escola Estadual Felizardo Moura falamos
sobre a importância da participação da sociedade no processo de construção da
cidade para que não fossem edificados equipamentos que não refletissem a
necessidade da população e que não tivessem identificação por eles. Nesse momento
uma das estudantes falou que era pior quando o poder público desapropria
residências na cidade sem consultar a população, comentando sobre um caso de
movimentação popular da sua rua na época da construção do Viaduto da Urbana.
Na turma do segundo ano também houve a discussão sobre as remoções
quando os alunos viram a marcação próximo ao viaduto da urbana, também
mencionaram que no período das obras para a Copa 2014 houve a intenção de
remoção do trecho do Mosquito, mas que os moradores também se mobilizaram
contra.
50

4.2 ATIVIDADES

Este item trata das atividades e usos nos bairros Nordeste e Quintas. Na leitura
técnica são descritos os usos existentes na rua Rua Rio Potengi e os equipamentos
urbanos dos bairros, trazendo considerações sobre a proposta de regulamentação da
ZPA 8. Por outro lado a leitura social exibe as atividades realizadas e desejadas pelos
moradores a partir da perspectiva dos participantes das oficinas.

4.2.1 Leitura técnica

Na Rua Rio Potengi existe a predominância de uso residencial unifamiliar com


presença de uso misto (residência com comércio ou serviço local), mas também foram
identificados alguns usos institucionais como a Igreja Madre Beata Ana Rosa
Gattorno, Assembléia de Deus Chama Viva e a Escola Municipal Nossa Senhora das
Dores que também abriga a Associação Nossa Senhora das Dores.
51

Figura 28: Mapa de Uso do Solo.

Fonte: SEMURB (2016).


Nota: Editado pela autora.
52

O relatório conheça seu bairro (SEMURB, 2012) indica que os bairros Quintas
e Nordeste possuem uma boa infraestrutura. Nas proximidades da Rua Rio Potengi
existem diversos equipamentos urbanos, como unidades de saúde, praças, escolas,
equipamentos desportivos e de segurança (Figura 29).

Figura 29: Mapa de equipamentos urbanos

Fonte: SEMURB (2012).


Nota: Editado pela autora

Como a área está inserida na ZPA 8, que encontra-se em processo de


regulamentação foi necessária a identificação dos usos e atividades permitidos na
proposta de lei feita pela SEMURB. São restritos em todo perímetro da ZPA o
lançamento de efluente sanitário sem tratamento, rebaixamento do lençol freático,
coleta de exemplares de fauna e flora nativas sem autorização do órgão competente,
implantação de aterros sanitários e hidráulicos, deposição e incineração de resíduos
sólidos de qualquer natureza, utilização de agrotóxicos e afins, pecuária e afins,
53

instalação de abatedouros, frigoríficos e novos postos de combustíveis, uso para fins


industriais, exceto os de baixo impacto e para abastecimento local (NATAL, 2016).
Na Subzona de Preservação (SP) são proibidos o parcelamento do solo,
movimentação de terra e extração de areia, compactação do solo, atividades de
carcinicultura, supressão parcial ou total da vegetação nativa e/ou quaisquer danos à
biodiversidade, ocupações urbanas, exceto os equipamentos de apoio às atividades
em conformidade com o Plano de Manejo, tais quais: atividades relacionadas à
pesquisa científica, ações de preservação e conservação ambiental, preservação da
biodiversidade, recuperação de áreas degradadas, programas de uso público
destinado à educação ambiental, recreação, lazer e ecoturismo de baixo impacto,
pesca artesanal para fins de subsistência, criação de unidades de conservação. Na
Subzona de Uso Restrito 3 (SUR3) será permitido o parcelamento do solo, o uso
residencial e não residencial (NATAL, 2016)

4.2.2 Leitura social

Nos mapas mentais elaborados pelos alunos da Escola Felizardo Moura os


participantes desenharam atividades existentes na comunidade sendo frequente o
desenho de bolas de futebol e campos, pessoas empinando pipa, caranguejos,
mangue, salto da ponte, pescadores e banho de rio.
Nos questionários, a pergunta “Você levaria um amigo para a Ponte de Igapó?
O que vocês fariam lá?” resultou em respostas que traduziam atividades existentes e
também desejos dos participantes. Os participantes disseram que levariam um amigo
porque ela tem muita história para contar, que lá existem lendas, mencionando as
atividades de pescar, ver os pescadores, contemplar a paisagem, pular, brincar, tomar
banho de rio, tirar foto, ver o pôr-do-sol, conhecer a história da ponte, pesquisar como
ela era antigamente, mostrar como era linda. Os alunos que não levariam um amigo
enfatizam a falta de manutenção da estrutura, a insegurança e dizem que na cidade
existem outros lugares mais interessantes para visitar.
No mapa gigante foram espacializadas atividades similares aos dos
questionários e mapas mentais como: campos, quadras, praças, brincadeiras de rua
(chuta o tubo), Big Brother18, reciclagem, empinar pipa, banho de rio (maré), catar
caranguejo e sururu, pesca, diversão no mangue e saltar da ponte.

18 Bricadeira que simula o programa Big Brother Brasil transmitido pela rede Globo.
54

Durante as oficinas foi observado, em todas as turmas e na associação, que as


mulheres demarcavam espaços mais próximos às suas casas e foi recorrente o
comentário de que não se conhece muita coisa porque não podia sair de casa, as
mais velhas diziam que tiveram uma educação rígida e as mais novas justificaram
pela falta de segurança. Observou-se também a expansão do mapa pelos homens em
função da idade, quanto mais velhos mais extensa se torna a área de recreação e
ainda se nota, com o passar dos anos, que as subdivisões existentes no bairro e na
rua vão ficando mais intensas e criam barreiras (Figura 30).
Figura 30: Mapa de atividades.
Fonte: Elaborado pela autora.
56

Apesar do salto da ponte ter sido recorrente nos mapas mentais da turma do
9° ano e entre homens e mulheres, durante a oficina do mapa gigante percebeu-se
que só a partir do 1°ano havia alunos que saltavam da ponte e as mulheres não
costumavam ter acesso à região. Esse aspecto também foi mencionado na
associação, as entrevistadas relatavam que seus maridos e filhos saltavam de lá, mas
elas não iam; as únicas que comentaram ir à ponte diziam não ter coragem de pular
e iam para tomar banho de rio.

4.3 CONCEPÇÕES E IMAGENS

Na esfera das concepções e imagens buscou-se investigar a visão das pessoas


sobre a rua Rio Potengi. Na leitura técnica é exibida a percepção a partir de uma
perspectiva externa à comunidade enquanto que a leitura social exibe as visões dos
moradores da rua e dos bairros Nordeste e Quintas.

4.3.1 Leitura técnica

Neste item buscou-se identificar as imagens da comunidade a partir de uma


visão externa da rua Rio Potengi, sendo realizada pesquisa nos meios de
comunicação locais e documentos da SEMURB. Foi identificado a existência de
estudos sobre o potencial paisagístico da ZPA 8 e informações sobre a relevância
histórica da Ponte de Igapó. Porém não existe associação desses aspectos positivos
à rua Rio Potengi. Sendo frequentes matérias que relacionam a comunidade à
violência, noticiando operações policiais e disputas entre facções criminosas na área.

4.3.2 Leitura social

Os mapas mentais feitos pelos estudantes da Escola Estadual Felizardo Moura,


em que foi pedido a representação da Rua Rio Potengi, apresentaram em sua maioria
a linha férrea margeada com um conjunto de casas com a tipologia de porta e janela.
A natureza se encontra presente nas representações, sendo recorrente nos desenhos
a imagem de um dia ensolarado e a presença de elementos naturais como rio, peixes,
caranguejos e vegetação. Verificou-se a ocorrência da Ponte de Igapó, indicando que
para alguns estudantes essa estrutura faz parte da imagem da rua Rio Potengi.
57

A relação da Ponte de Igapó com a rua Rio Potengi também foi observada
durante as oficinas do Mapa Gigante. Panella (2016) menciona que os participantes
dessas atividades procuram a imagem de si na cidade, buscando a sua residência e
reconhecendo os lugares da sua memória. Esse fato foi observado com os alunos
durante as oficinas na Escola Estadual Felizardo Moura, ao entrar na sala eles se
impressionaram com a vastidão da cidade e buscaram as suas casas, usando o rio e
a ponte como referências de localização. Essa estrutura foi facilmente identificada no
mapa gigante e recebeu uma etiqueta com a inscrição “a melhor coisa” (Figura 31).

Figura 31 Mapa Gigante, cabeceira da Ponte de Igapó na Rua Rio Potengi.

Fonte: Acervo da autora.

Nos mapas mentais em que foi pedido que se desenhasse a Ponte de Igapó
houve reprodução da mesma a partir de 3 pontos de observação distintos: vista lateral
a partir da ponte de concreto com os carros em primeiro plano (Figura 32); vista lateral
com o rio em primeiro plano (Figura 33), e vista frontal interna à comunidade (Figura
34). Como os participantes não indicaram se moravam na rua Rio Potengi, apenas
identificaram o bairro onde residiam, não foi possível associar os desenhos aos
moradores da rua. Tem-se apenas um indicativo do grau de envolvimento dos seus
autores com o local através do modo como representaram a ponte, sendo a visão mais
58

externa representada, por exemplo, pela Figura 32 e a mais próxima da comunidade,


por exemplo, pela Figura 34.

Figura 32: Vista lateral com ponte de concreto em primeiro plano.

Fonte: Acervo da autora.


59

Figura 33: Vista lateral com o rio primeiro plano.

Fonte: Acervo da autora.

Figura 34: Vista frontal, interna à comunidade.

Fonte: Acervo da autora.

A partir da questão “Quais são as primeiras três palavras que te vem à cabeça
ao falar na ponte de ferro de Igapó?”, foi gerada uma nuvem de palavras19 (Figura 35),

19A nuvem de palavras foi gerada a partir do site wordclouds.com, no qual foi importada a lista de palavras
mencionadas pelos alunos compiladas no software Excel ®.
60

cuja proporção está de acordo com o número de vezes que ela foi mencionada nas
respostas. Entre as mais citadas estão: velha (11), enferrujada (9), ferrugem (7), ponte
(7), história (6), antiga (6), abandono (5), ferro (5), esquecida (4), cultura (4), água (4),
quebrada (3), pichação (3) e trem (3); as demais palavras foram citadas menos de três
vezes. Como se pode perceber palavras ligadas ao seu estado de má conservação e
abandono foram as mais recorrentes e em seguida tem-se as relacionadas à
importância histórica e cultural, demonstrando que, apesar do seu atual estado de
degradação, os estudantes reconhecem o valor desse bem para a história da cidade.

Figura 35: Nuvem de palavras

Fonte: Elaborado pela autora.

Quando perguntado se a ponte de ferro de Igapó é importante para a história


de Natal, do bairro/comunidade e da sua família, a expressiva maioria dos
participantes reconheceu a sua relevância para a história da cidade, mais da metade
identificou ter relevância para o bairro e cerca de um terço também associa o bem à
história dos seus familiares.
Nas entrevistas na Associação Nossa Senhora das Dores foi perguntado se a
ponte tinha alguma importância para a rua. As entrevistadas que responderam “não”
enfatizaram nas suas respostas o seu estado de degradação. Enquanto as
participantes que reconhecem esse valor destacaram a história, a conexão com a R.A.
Norte, e as atividades de lazer como saltar da ponte e tomar banho no rio. Uma das
entrevistadas mencionou que a ponte “faz parte, que toda vida nós crescemos com
61

aquilo ali, não vejo sem”. Assim como os alunos da Felizardo Moura, as entrevistadas
também reconhecem a ponte como um lugar, associando a estrutura às suas histórias
de vida, mesmo aquelas que disseram não ter importância também relataram
memórias.
A constante relação entre a comunidade e a violência feita pela mídia local nos
motivou a questionar aos participantes da oficina do Mapa Gigante quais eram as
zonas de medo do bairro e solicitamos que eles fizessem essa demarcação no mapa.
Essa delimitação foi um dos momentos mais marcante nas oficinas, sendo
interessante observar a visão distinta entre os participantes de acordo com o local em
que moravam.
A maioria dos alunos se concentraram em torno da Rua Rio Potengi, os
moradores dos bairros das Quintas e Nordeste externos à comunidade demarcaram
toda a rua como área de medo dos bairros. Em relação a visão dos moradores da rua,
a zona de medo se restringia ao Mosquito. Porém, um morador da região do Mosquito
questionou aquela demarcação de medo, dizendo que lá é uma zona de medo “pra
quem é de fora” ele podia andar e brincar que ninguém “mexia” com ele. Também foi
notado o comportamento de um dos alunos da rua em sair marcando outras zonas de
medo pela cidade, assinalando outras comunidades no bairro e em toda a Zona Norte,
demonstrando que a zona de medo não estava apenas ali.
Quando a turma do 2º ano entrou na sala, já encontrou as zonas de medo
demarcadas e comentaram com risos que moravam na zona de medo das crianças.
Foi iniciada uma discussão na qual mencionamos que um dos estudantes de outra
sala também fez o mesmo questionamento, afirmando que zona de medo é “pra quem
é de fora” e os participantes do 2° ano concordaram e destacaram que zona de medo
é o “lugar onde eu não moro”.
A partir das leituras técnicas e sociais apresentadas neste capítulo foi
elaborado um quadro síntese com as diretrizes projetuais (Quadro 1) com função de
auxiliar no desenvolvimento da intervenção urbana na ponte de Igapó e entorno. As
colunas Leitura Técnica e Leitura Social trazem as sínteses de cada uma das três
esferas de vivência gerando uma terceira coluna com as diretrizes de projeto.
62

Quadro 1: Quadro síntese da leitura urbana

Leitura Técnica Leitura Social Diretrizes Projetuais


Eixo de crescimento
urbano em direção ao rio
Potengi invadindo a área Equilibrar a relação
de mangue entre o natural e o
Existência de subdivisões
Integrada com a cidade construído
territoriais no bairro das
através de diversas linhas
Quintas e na rua Rio
de ônibus e transporte
Potengi
ferroviário
Presença de área
ambientalmente frágil (ZPA Valorizar o potencial
Atributos 8) paisagístico da ZPA 8
físicos
Área com vulnerabilidade
social (AEIS 1)

Indicativos de área de
remoção de residências Relação afetiva com a Rua Valorizar o potencial de
(PMRR) Rio Potengi integração da área
pelos diversos modais
Previsão de construção de de transporte
estação ferroviária no
bairro Nordeste (CBTU)
Predominância de uso
residencial na rua Rio
Potengi Apropiações no rio, no Valorizar as atividades
Atividades mangue e Ponte de Igapó existentes na área
Conflitos entre os usos
para atividades de lazer
propostos para ZPA 8 com
os existentes

A rua é associada a linha


férrea e ao seu entorno
natural, rio e mangue

A Ponte de Igapó está


presente na imagem da Ressaltar os laços
rua Rio Potengi afetivos da comunidade

Os moradores valorizam a
A visão externa à Ponte de Igapó pela sua
Concepções comunidade se relaciona a importância histórica e
e Imagens episódios de violência riqueza paisagística a
urbana partir dela

Os moradores destacaram
que a violência é
fenômeno recente na
Estimular a integração
comunidade
social
Foram relatados casos de
segregação social por
residir na rua Rio Potengi

Fonte: Elaborado pela autora.


63

5 ESTUDOS DE REFERÊNCIA

Neste capítulo são analisados projetos precedentes que transformaram linhas


férreas desativas em parques urbanos. Foram selecionados o High Line localizado na
cidade de Nova Iorque e o Promenade Planteè em Paris. Para desenvolver essas
análises foram feitas a leitura de livros e artigos que trazem informações desses
projetos. Nos quais foram feitas análises20 referentes ao contexto, conceito, usuário,
usos e a plástica.

5.1 HIGH LINE, NOVA IORQUE

A High Line (Figura 36)


Figura 36: High Line em funcionamento.
localizada na cidade de Nova Iorque
foi inaugurada na década de 1930
para transporte de carga entre
armazéns no distrito industrial de
Manhattan. A linha elevada com 1,9
km de extensão fez parte de um
projeto mais amplo de melhorias da
borda oeste da cidade. O projeto
visava aumentar a segurança nas
ruas, por meio da redução das
passagens de nível, sendo promovido
pela cidade e estado de Nova Iorque,
e a companhia ferroviária New York
Central Railroad. Fonte: David e Hammond (2011, p.140)

Na década de 1980 o crescimento do transporte rodoviário repercutiu na sua


desativação. Duas décadas depois surgiu o interesse de demolição da via férrea com
a justificativa de que a estrutura subutilizada degradava a área. Em resposta, foi criada
a “Friends of High Line“ idealizada por Joshua David e Robert Hammond com a
proposta de preservar a linha e reutilizá-la como um espaço livre público.

20
Notas de aula do Prof. Dr. Heitor Andrade da disciplina Atelier Integrado de Arquitetura e
Urbanismo.
64

O grupo conduziu estudos para viabilizar a preservação e o reuso da linha.


Após chegar à conclusão de que o projeto era economicamente viável foi aberto um
concurso de ideias chamado “Designing the High Line”. Em 2004, a “Friends of High
Line” e a de Nova Iorque selecionaram a equipe de projeto para o parque, sendo
contratados os escritórios James Corner Field Operations (arquitetura paisagística),
Diller Scofidio + Renfro e Piet Oudolf (paisagismo). O parque está dividido em três
seções, a primeira foi inaugurada em 2009, a segunda em 2011 e a terceira em 2014.

5.1.1 Contexto

James Corner (2014) utiliza a teoria de John Dixon Hunt que valoriza as
especificidades do local através dos conceitos de gênio do luga, ler e escrever o local,
placemaking, mediação local, e o agrupamento de três naturezas. Para Hunt a leitura
do lugar através da sua história, representações, contexto e potenciais trazem
indicativos para o projeto de intensificação e enriquecimento desse lugar.
No High Line, Corner utiliza esses conceitos e faz uma leitura com base na
história do local e no seu contexto urbano. Destacando dois aspectos principais: o
primeiro relacionado à qualidade da infraestrutura de transportes, sua linearidade,
repetição, o descolamento com contexto circundante, a presença do aço e do
concreto; e o segundo foi o efeito causado pela vegetação que crescia
espontaneamente sobre a estrutura, e criou uma paisagem em que a natureza
retomava seu espaço na cidade (Figura 37).

Figura 37: Vegetação espontânea sobre a High Line.

Fonte: http://www.thehighline.org/about. Acesso em: out. 2017


65

5.1.2 Conceito

A Field Operations apresenta em seu discurso a busca por criar uma autêntica
experiência da cidade de Nova Iorque através da valorização das características do
local. Os projetistas destacam que o projeto é caracterizado pela coreografia íntima
do movimento, sendo moldado para oferecer paisagens e experiências dinâmicas
(THE HIGH LINE, 2017). James Corner diz que a proposta foi elaborada através das
condições encontradas, buscando dramatizar e revelar o passado, o presente e os
contextos futuros, o que o torna irreproduzível em outro local sem que haja perda da
sua identidade tanto pela história do High Line quanto pelo contexto urbano em que
ele está inserido (ARCHDAILY BRASIL, 2014).
Na leitura do contexto, o autor do projeto destaca duas características
fundamentais, a infraestrutura urbana e a vegetação. A vegetação espontânea que
crescia na estrutura do High Line foi lida pelos projetistas como um resgate da
natureza no meio urbano e inspirou a criação do conceito de Agri-tectura que mescla
o natural e o construído, transformando uma paisagem industrial em um equipamento
voltado para o lazer. Já a infraestrutura urbana é traduzida pelo contraste em que o
parque é marcado pela lentidão e distração, e busca preservar o aspecto selvagem
da vegetação encontrada; mas também houve a busca de estar alinhado com esse
contexto dinâmico, proporcionando flexibilidade com uma proposta sempre inacabada
que permite o crescimento e a mudança através do tempo (PER; ARPA, 2008).

5.1.3 Usuário

Corner destaca a importância do usuário para a concepção do projeto, é


destacada a preocupação com a forma com que os visitantes experimentam,
entendem e reinterpretam a obra. Sendo utilizado o conceito de loungue durée de
John Dixon Hunt que considera o acréscimo de experiência e significado com o passar
do tempo.
Para Corner as paisagens encontram-se em um processo de transformação
constante e o visitante deve sempre experienciar o High Line de uma forma diferente.
No projeto ele buscou a velocidade reduzida do passeio para contrastar com o
contexto movimentado de Manhattan, com caminhos de traçado sinuoso e vegetação
alta que direcionam o percurso, criando cenas que se desenvolvem em sequência. O
dinamismo também está presente na vegetação com flores variadas, cores, texturas;
66

nas mudanças de luz em diferentes momentos do dia; nas estações do ano e


mudanças de tempo.

5.1.4 Uso

O projeto busca a diversidade de usos. A delimitação dos espaços é feita


através da paginação de piso e da vegetação, que criam recintos em pontos
específicos e destinam áreas para o uso intensivo (Figura 38). Os assentos são
compostos por cadeiras fixas e móveis que proporcionam a proteção da vegetação, e
permitem a variedade de usos a partir da flexibilidade de arranjo do espaço, com
configurações que podem se adaptar às necessidades diárias, com pequenas
aglomerações, como também pode se adequar a acontecimentos especiais com um
público maior.

Figura 38: High Line, Nova Iorque.

Fonte: Disponível em http://www.kuoni.co.uk/usa/new-york/new-york-high-line. Acesso em: out. 2017

5.1.5 Plástica

O High Line foi projetado para que o usuário experiencie o lugar através de um
percurso com caminhos sinuosos que mesclam o construído e o natural com um
sistema de placas de concreto pré-fabricado que se moldam para criar os jardins. Esse
sistema é composto por cinco módulos de placas que podem ser reconfigurados
transformando-se em rampas, assentos e caminhos suspensos. Corner destaca que
o projeto não faz uso de símbolos e não tem a intenção de construir uma narrativa,
caracterizando-se pela sua própria materialidade, detalhamento e artificialidade.
Esses aspectos o distinguem como um lugar especial, um “outro mundo”, convidando
o visitante a participar da teatralidade da vida urbana e o passeio torna-se um palco
urbano e condensador social.
67

5.2 PROMENADE PLANTEÉ, PARIS

A linha de Vincennes foi inaugurada em 1859 com objetivo de interligar a Praça


da Bastilha à região do bosque de Vincennes na cidade de Paris, proporcionando
passeios de fim de semana às margens do rio Marne e transporte de trabalhadores e
mercadorias. O declínio do seu uso se iniciou a partir de 1930 com a associação da
crise econômica e a concorrência do metrô, que ocasionou a desativação de parte do
seu trecho em 1969.
Na década 1970 foi realizado um estudo do tecido urbano parisiense para
subsidiar a elaboração do plano diretor de 1977 surgindo um consenso de valorização
dos espaços públicos da cidade. Nesse contexto, em 1983 foi apresentada uma
proposta que previa a criação de quatro eixos verdes, incorporando o potencial
paisagístico do antigo sistema ferroviário metropolitano. Dentre eles estava a
transformação da antiga linha de Vincennes em um parque linear. O projeto do
Promenade Planteè foi desenvolvido pelo arquiteto Philippe Mathieux e o arquiteto
paisagista Jaques Verguely sendo inaugurado no ano de 1993. As estruturas abaixo
do trecho elevado foram restauradas e ocupadas por usos comerciais e de serviços,
sendo chamada de Viaduct des Arts, com projeto do arquiteto Patrick Berger,
inaugurada parcialmente em 1994 e finalizada em 1997 (Figura 39).

Figura 39: Promenade Planteè.

Fonte: Jardim (2012, p.116)


68

5.2.1 Contexto

O Promenade Planteè possui 4,5 km de extensão, cruzando cenários urbanos


distintos da praça da Bastilha ao Bosque de Vincennes. O percurso segue o caminho
da linha férrea com trechos elevados, no nível da rua e em túneis e trincheiras (Figura
40). O trecho de 1,5 km, correspondente ao Viaduct des Arts, já havia sido apropriado
pela população antes do projeto e o arquiteto Patrick Berger incorporou esse uso à
sua proposta.

Figura 40: Croqui trajeto do Promenade Planteè.

Fonte: Sanches (2011, p.67)

5.2.2 Conceito

A passarela atua como um fio de Ariadne21 costurando os distintos cenários


urbanos, buscando respeitar a identidade de cada área cruzada pelo percurso
enquanto que proporciona a continuidade do parque a partir do mobiliário urbano,
pisos e vegetação.

5.2.3 Usuário

O Promenade Planteè situa-se num distrito um pouco afastado do centro


turístico de Paris, de forma que esse parque não se firmou como um dos principais
destinos turísticos da cidade, sendo frequentado principalmente pelos moradores da
vizinhança que praticam caminhadas, corridas e passeios pelos jardins.

21 O Fio que conduziu Teseu do labirinto do Minotauro na mitologia Grega.


69

5.2.4 Usos

O programa do Promenade Planteè é composto por dois elementos principais:


o passeio público construído na linha férrea desativada e os restaurantes, cafés,
ateliês e galerias, ocupando os espaços vazios das 71 arcadas presentes nos trechos
elevados.

5.2.5 Plástica

A massa vegetal delimita os caminhos do Promenade Planteè e gera quebras


de percurso criando a sensação de se estar em uma floresta. No Viaduct des Arts foi
utilizada a fachada contínua existente para receber os usos sem a necessidade de
novas construções com preservação dos traços arquitetônicos industriais presentes
nas estruturas, criando contraste entre o maciço dos tijolos vermelhos e a
transparência dos vidros.
A seguir tem-se o quadro síntese elaborado a partir das análises realizadas nos
estudos de referência, tendo objetivo de subsidiar as tomadas de decisões na fase de
elaboração da proposta. Contém informações referentes aos contextos, conceitos,
usuários, usos e plásticas dos projetos analisados neste capítulo, com uma coluna
contendo diretrizes projetuais.
Quadro 1: Quadro síntese dos estudos de referência

Quadro síntese - Aspectos de cada projeto analisado


Categorias High Line Promenade Plantèe Rebatimento no projeto | Diretrizes
O Promenade Planteè possui 4,5 km de Respeitar a identidade do local valorizando as
O projeto valoriza as especificidades do local através de uma extensão, cruzando cenários urbanos especificidades do contexto urbano em que está
leitura com base na história e no seu contexto urbano. São distintos. O trecho do Viaduct des Arts, já inserido
Contexto destacados dois aspectos principais, o primeiro relacionado à havia sido apropriado pela população antes
valorização da estrutura física da linha férrea; e o segundo se do projeto e o arquiteto Patrick Berger
refere ao cenário espontâneo criado pela natureza. incorpora esse uso na proposta.
Valorização das características do local, caracterizado pela A passarela atua como um fio de Ariadne Criar conexões entre passado, presente e futuro;
coreografia íntima do movimento, sendo moldado para oferecer costurando os distintos cenários urbanos, a comunidade e cidade; e o natural e construído
Conceitos paisagens e experiências dinâmicas. Utilização do conceito de buscando respeitar a identidade de cada
Agri-tectura que mescla o natural e o construído. área.

Usuário como elemento importante na concepção do projeto, Frequentado principalmente pelos moradores Incorporar a visão dos moradores do entorno no
havendo preocupação com a forma com que os visitantes da vizinhança que praticam caminhadas, desenvolvimento do projeto. Criar lugares de
experimentam, entendem e reinterpretam a obra. Sendo corridas e passeios pelos jardins. experiências.
Usuário utilizado o conceito de loungue durée de John Dixon Hunt que
considera o acréscimo de experiência e significado com o
passar do tempo.
Uso O projeto busca a diversidade de usos. A delimitação dos Passeio público construído na linha férrea Promover a diversidade de usos e flexibilizar o
espaços é feita através da paginação de piso e da vegetação. desativada e restaurantes, cafés, ateliês e espaço para possíveis alterações futuras.
A variedade de usos é permitida pela flexibilidade do espaço galerias no Viaduct des Arts.
com configurações que podem se adaptar a pequenos públicos
ou a grandes aglomerações.

Plástica O High Line foi projetado para que o usuário experiencie o A vegetação delimita os caminhos do Criar percursos de experimentação com uso de
lugar através de um percurso com caminhos sinuosos que Promenade Planteè e gera quebras de símbolos e preservar os traços arquitetônicos da
mesclam o construído e o natural com um sistema de placas percurso. No Viaduct des Arts houve a estrutura existente buscando intervir
de concreto pré-fabricado que se moldam para criar os jardins. preservação dos traços arquitetônicos minimamente na paisagem.
O projeto não faz uso de símbolos e não tem a intenção de industriais, criando contraste entre o maciço
construir uma narrativa, se caracterizando pela sua própria dos tijolos vermelhos e a transparência dos
materialidade. vidros.

Fonte: Elaboração da autora.


71

6 APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA

Nesse capítulo será apresentada a proposta de intervenção urbana na Ponte


de Igapó e seu entorno. No qual serão descritas as etapas de desenvolvimento do
projeto e as soluções adotadas. Primeiramente serão apresentados os resultados das
oficinas e entrevistas que subsidiaram a elaboração das diretrizes projetuais. Na
sequência será mostrado o recorte espacial do trabalho com as condicionantes
ambientes referentes a insolação, ventilação e ruído. Em seguida tem-se o plano de
ações da intervenção que resultaram no Master Plan, no qual é estabelecido um
recorte para o detalhamento da proposta descrita no final do capítulo.

OFICINAS

Durante as oficinas na Associação Nossa Senhora das Dores e na Escola


Estadual Felizardo Moura questionamos aos participantes o que eles fariam para
proporcionar melhorias no bairro. As entrevistadas da associação levantaram
demandas relativas à segurança, saúde, comércio, educação e atividades de lazer.
Propuseram a construção de posto policial e de saúde, supermercado, escola para
Ensino Fundamental II, Médio e educação profissional, lazer para idosos e crianças,
especificando academia da terceira idade e locais para caminhada.
Os alunos da Escola Felizardo Moura desenvolveram propostas escolhendo
um terreno, determinando o uso e criando um programa de necessidades para um
equipamento que trouxesse melhorias para o bairro. Os alunos foram divididos em
grupos e tiveram liberdade de escolher o local de intervenção tendo como resultado a
escolha de nove lugares distintos, em sua maioria, concentrados na rua Rio Potengi.
72

Figura 41: Localização das propostas dos grupos de alunos.

Fonte: Elaboração da autora.


73

O grupo 01 apresentou uma proposta que visava preservar a Ponte de Igapó


criando na sua cabeceira um centro cultural com museu que trouxesse a história da
comunidade e que pudesse abrigar atividades voltadas à ação social e inclusão
tecnológica de jovens, com percurso interligado por ciclovia. O grupo 02 propôs o
Espaço da Paz, que seria uma área de lazer e ponto turístico com ciclovia, quadra,
academia, local para soltar pipa, posto policial e restaurante popular com uma horta
para abastecê-lo. A terceira proposta, foi denominada Zoo do Thalex com parque
aquático, zoológico, pizzaria e estacionamento.
Da mesma forma que o grupo 01, o 04 sugeriu a preservação da Ponte de Igapó
propondo um local para realização de ações sociais na comunidade, com espaço para
academia, soltar pipa e campo de futebol, denominado de Clube de Solidariedade. O
quinto grupo criou o Bosque da Amizade, espaço público que abrigasse atividades
temporárias (circo, teatro, feira de artesanato), quadra esportiva com arquibancada,
espaço para prática de skate, palco, lanchonete e estacionamento. O sexto grupo
propôs o Instituto Quintas, local voltado para educação tecnológica, profissionalizante
e prática esportiva.
A sétima proposta foi intitulada de Melhoria para o Bairro das Quintas, sendo
indicada a criação de uma praça com parque infantil, quadra e espaço para cursos. O
grupo 08 desenvolveu a Praça das Aventuras no bairro Bom Pastor, com restaurante,
bar e parque infantil. Já o nono grupo propôs intervenção em espaço que os mesmos
utilizam para lazer, o Presépio de Natal que se localiza no bairro de Candelária,
descrevendo a segurança como um ponto de melhoria e destacando as atividades
relacionadas à música e dança de rua.
Como observado nas entrevistas na associação e propostas dos alunos, as
sugestões de melhorias para o bairro são concentradas em três categorias principais:
lazer, segurança e oportunidades profissionais. Cada faixa etária determina graus de
prioridades diferentes para essas categorias: os alunos do ensino fundamental
priorizam o lazer com a segurança em segundo plano; os alunos do ensino médio
enfatizam o acesso às oportunidades profissionais, em seguida tem-se o lazer e por
último a segurança; já as mulheres da associação destacam em primeiro lugar a
segurança, seguido pelo lazer e oportunidades profissionais para os jovens.
74

ÁREA DE INTERVENÇÃO
Inicialmente, o recorte espacial do projeto compreendia a Ponte de Igapó e
considerava como seu entorno a favela do Mosquito demarcada no mapa 04 do anexo
II do Plano Diretor de 2007 (NATAL, 2007). Porém ao entrar em contato com a Escola
Estadual Felizardo Moura, foi informado que a comunidade se reconhece como
moradores da Rua Rio Potengi. Dessa forma, o recorte foi expandido por toda a rua
que margeia o rio Potengi e corta os bairros Nordeste e Quintas, tendo como limites a
base dos fuzileiros navais (bairro das Quintas) numa extremidade e a Ponte de Igapó
(bairro Nordeste) na outra.
A partir das demarcações feitas nas oficinas com o mapa gigante na escola
Felizardo Moura foi estabelecido novo recorte de projeto situado nas áreas que
concentravam as propostas dos estudantes indo da Ponte de Igapó até o campo do
São Paulo.
DIRETRIZES E PLANO DE AÇÕES
Para subsidiar o projeto de intervenção urbana da Ponte de Igapó e seu entorno
foram elaboradas diretrizes projetuais com base na história da ponte, na leitura técnica
e social da rua Rio Potengi, nos estudos de referência de projetos precedentes e nas
proposições feitas pelos participantes na Associação Nossa Senhora das Dores e
Escola Estadual Felizardo Moura.
Essas diretrizes foram divididas em quatro categorias identificadas durante o
desenvolvimento do trabalho como elementos essenciais para o sentido de lugar da
área de estudo: o patrimônio histórico, o patrimônio ambiental, a comunidade e a
integração. Para sistematizar a leitura foi elaborado um quadro síntese (Quadro 2) que
apresenta as categorias, as suas diretrizes e as fontes que embasaram a elaboração
das mesmas.
75

Quadro 2: Diretrizes projetuais

Categorias das
Diretrizes Projetuais Fonte
Diretrizes
I. Adotar os princípios da distinguibilidade,
reversibilidade e intervenção mínima Cap.03
A. Patrimônio
Histórico II. Criar pontes entre o passado e o
Cap.03
presente e entre a escala local e territorial
III. Equilibrar a relação entre o natural e o
construído Cap. 04
B. Patrimônio
Ambiental IV. Valorizar o potencial paisagístico da ZPA
Cap. 04
8
V. Valorizar as atividades existentes na
área Cap. 04

C. Comunidade
VI. Incorporar a visão dos moradores do
Cap.05
entorno no desenvolvimento do projeto

VII. Estimular a integração social Cap. 04

VIII. Valorizar o potencial de integração da


Cap. 04
área pelos diversos modais de transporte
D. Integração
IX. Respeitar a identidade do local
valorizando as especificidades do Cap.05
contexto urbano em que está inserido
Fonte: Elaboração da autora

Com base nas diretrizes foram estabelecidas ações que respondessem às


demandas identificados ao longo do desenvolvimento do trabalho. Foram
especializadas no mapa 18 ações divididas de acordo com as categorias de diretrizes,
em vermelho as ações que correspondem ao patrimônio histório, em verde ao
patrimônio ambiental, em amarelo à comunidade, e cinza à integração.
76
77

MASTER PLAN
O conceito do projeto é traduzido pela palavra ponte, não apenas pelo
elemento físico que interliga as duas margens do rio, mas principalmente pelo seu
sentido de criar conexões. A Ponte de Igapó traz consigo o “genius loci” de integração,
conecta o passado ao presente, a escala territorial à local, o natural ao construído.
O grande desafio dessa proposta foi de criar pontes entre as demandas sociais
existentes, a fragilidade ambiental da área e a valorização de um elemento histórico
fundamental para a configuração territorial do Estado, com relevância afetiva para os
moradores da rua Rio Potengi.
As áreas de intervenção escolhidas pelos alunos nas suas propostas que se
encontravam nos limites da rua Rio Potengi foram mantidas para a proposta de
intervenção do trabalho.
A Ponte de Igapó [1] será reutilizada como um museu ao ar livre, com
exposições artísticas que expressem a memória coletiva da Ponte de Igapó e seu
entorno, com espaços para contemplação da paisagem, permanência e plataforma de
salto.
A Maré [2] é uma praia fluviomarinha já utilizada pela população, onde será
construído um pátio que dará acesso à Ponte de Igapó, permitindo a realização de
atividades culturais de artes, música e dança.
O Campo Mirim [3] é um pequeno campo de futebol utilizado pelos moradores,
que irá concentrar atividades esportivas e de recreação.
A Estação Nordeste [4] está prevista no plano de expansão da CBTU, sendo
locada neste trabalho na margem da Av. Felizardo Moura e próximo a um local onde
é possível a instalação de um deck para pequenas embarcações com a intenção de
interligar os transportes ferroviário, rodoviário e hidroviário.
O Espaço da Paz [5] é um equipamento destinado a atividades relacionadas à
pesquisa e educação ambiental com salas de aula, salas para realização de oficinas,
laboratórios e administração.
No Campo da Compal/Mosquito [6] será mantido o caráter esportivo do lugar,
sendo preservado o campo de futebol existente, com melhorias na sua infraestrutura
(gramado, vestiários e arquibancada).
O Espaço de Solidariedade [7] será um centro comunitário com atividades
voltadas para a ação social, inclusão tecnológica e oferta de cursos
profissionalizantes.
78

O conjunto Rio Potengi [8] foi locado no antigo campo do São Paulo, terreno
particular utilizado antigamente como campo de futebol pelos moradores. Com o
objetivo abrigar as famílias relocadas das áreas de risco, buscando preservar as
qualidades do lugar descritas nas entrevistas na associação (acesso a comércio e
serviço, proximidade de transporte público, relações afetivas da vizinhança).
Os acessos [9] à área de intervenção priorizam o transporte público de massa
pelo trem e ônibus, utiliza as rotas pelo rio existentes para pequenas embarcações e
cria vias para pedestres e ciclistas.
79
80

PROPOSTA

Dentre as oito intervenções propostas no masterplan optou-se por detalhar a


Ponte de Igapó e seus acessos. Essa estrutura era composta por 9 vãos de 50 m e
um vão de 70 m. Dos 9 vãos de 50 m, cinco permanecem com a estrutura original
enquanto quatro foram completamente removidos, sendo preservados apenas os
pilares. O projeto preserva a estrutura remanescente da Ponte de Igapó e cria uma
nova aproveitando os pilares da parte removida. Entre o novo e o antigo é criado uma
ligação das duas partes com função contemplativa e de acesso a ponte de concreto
construída na década de 1970.
Na proposta foi feita a reconexão da ponte de Igapó com a rua Rio Potengi
através de uma rampa interligada com um pátio. O equipamento é destinado
exclusivamente a pedestres e os cinco vãos da estrutura antiga abrigam um museu
com temas distintos nos seus módulos, o primeiro vão recebe o tema Rio Potengi, o
segundo e o quinto são destinados à contemplação, o terceiro refere-se aos
Migrantes, o quarto contém plataforma de salto e o sexto é o vão da Memória . Já a
parte nova é destinada a atividades culturais e sugere o início da reconexão da ponte
sem tocar a outra margem do rio. Na (Figura 42) observa o zoneamento da ponte com
a rosa dos ventos e carta solar da cidade de Natal, utilizados para o dimensionamento
da cobertura presente na intervenção.

Figura 42 Zoneamento dos vãos, estrutura nova, rosa dos ventos e carta solar.

Fonte: Acervo da autora.


81

Para conectar o pátio com o Rio Potengi, optou-se por substituir o muro de
arrimo existente na sua margem por uma escadaria que manteve a função de
contenção e permite a contemplação da paisagem com acesso das pessoas ao rio e,
ainda, a possibilidade de ancoragem de pequenas embarcações (Figura 43).

Figura 43: Escadaria.

Fonte: Acervo da autora.

A praia fluviomarinha (Figura 44) localizada entre as duas pontes já era utlizada
pela comunidade para banho de rio. Na proposta, o uso para fins de lazer foi mantido
e no projeto buscou-se intensificar a sua conexão com o pátio através de uma passeio
e rebaixamento de muros existentes (Figura 45). Para acessar a ponte foi projetada
uma rampa de concreto que permite a contemplação da paisagem durante o seu
percurso.
82

Figura 44: Praia fluviomarinha.

Fonte: Acervo da autora.

Figura 45: Acesso à praia fluviomarinha.

Fonte: Acervo da autora.

O piso sobre a estrutura antiga foi desenvolvido buscando-se atender os


princípios da distinguibilidade, reversibilidade e intervenção mínima. O piso é
deslocado dos arcos, deixando um vazio que permite a vizualização das peças
metálicas (Figura 46). A paginação foi definida a partir da estrutura existente, na qual
a linha central irá concentrar o passeio enquanto as duas laterais serão destinadas às
exposições e espaços de permanência. Foram criados 4 tipos de piso que podem ser
83

alterados de acordo com as necessidades futuras: o piso de concreto pré-moldado,


para propiciar estabilidade ao caminhar; o piso de vidro, para exibir a estrutura
existente e o rio; a jardineira, propicia a inserção de vegetação na ponte isolada da
estrutura original; e o display, consiste em duas camadas de vidro com a função de
proteger peças das exposições temporárias que são suscentíveis às intempéries.

Figura 46: Piso de vidro entre dois vãos.

Fonte: Acervo da autora.

O primeiro vão é dedicado ao Rio Potengi. Esse tema foi escolhido pois o rio
destacou-se como um dos principais elementos na construção desse lugar. Está
presente na história da Ponte de Igapó, na leitura técnica, e também demonstrando
relevância na leitura social. Desta forma, esse vão tem como objetivo destacar
importância ambiental, a história e a riqueza cênica do Potengi através de exposições
artísticas e da abertura de uma janela na cidade para contemplá-lo, tendo como
escultura permanente o pescador, que foi um dos personagens mais presentes nos
mapas mentais da Ponte de Igapó, feitos pelos estudantes, e nas fotografias
analisadas durante o desenvolvimento do trabalho (Figura 47).
84

Figura 47: Vão Rio Potengi

Fonte: Acervo da autora.

O segundo e o quinto vãos são destinados à permanência e contemplação da


paisagem com espaços sombreados por uma cobertura de concreto apoiada em vigas
de aço. Na jardineira, propõe-se a utilização de vegetação nativa a ser definida através
de levantamento botânico da área (Figura 48).

Figura 48: Segundo e quinto vãos (permanência e contemplação da paisagem)

Fonte: Acervo da autora.


85

O terceiro vão tem como tema de exposição os migrantes que, assim como o
Rio Potengi, compõe o sentido desse lugar. Estando presentes durante todo o
trabalho, os migrantes marcam a história das estradas de ferro e caracterizam a
origem dos moradores da rua Rio Potengi. Desta maneira, esse vão se dedica a
apresentar histórias e memórias de viajantes que deixaram sua cidade em busca das
oportunidades na capital, tendo como escultura permanente uma família que caminha
em direção à Natal (Figura 49).

Figura 49: Terceiro vão (memória dos migrantes).

Fonte: Acervo da autora.

Durante as oficinas foi verificado que os moradores da Rua Rio Potengi


costumam utilizar a ponte para prática de saltos. Desta forma, buscou-se incorporar
essa atividade na proposta, através da criação de uma plataforma de salto, que
também possui a função de contemplação, sendo um mirante para a paisagem. O
projeto dessa plataforma buscou minimizar a obstrução do campo de visão para quem
caminha no seu interior com a disposição da escada em um dos lados do percurso
(Figura 50).
86

Figura 50: Acesso à plataforma de saltos

Fonte: Acervo da autora.

Figura 51: Mirante

Fonte: Acervo da autora.

Foi criada uma conexão com o rio para que os saltadores retornem à ponte
através de uma escadaria interligada a um flutuador com uma rampa móvel que se
adapta à variação da maré. O flutuador consiste em um elemento de concreto com
interior oco, preenchido com ar para acompanhar as mudanças de nível do rio. Tendo
como função delimitar a área de salto, propiciando proteção e oferecer um apoio aos
87

saltadores para retornarem a ponte, com recorte na sua estrutura para os usuários
sairem debaixo da zona de pulo, evitando acidentes (Figura 52).

Figura 52: Vão da plataforma de salto mostrando o flutuador.

Fonte: Acervo da autora.

O vão 70 irá abrigar exposições com o tema memória da Ponte de Igapó. Como
mencionado anteriormente, esse vão está presente na memória coletiva da rua Rio
Potengi, representando a conexão do passado com o presente. Foi escolhida como
escultura permanente para esse trecho uma locomotiva vazada que rasga o piso de
concreto expondo a estrutura abaixo com um piso de vidro, representando a
desativação da linha férrea sobre a ponte, mas demonstrando que esse meio de
transporte ainda deixa marcas nesse lugar (Figura 53).
88

Figura 53: Trecho do vão 70 (exposições com o tema memória da Ponte de Igapó).

Fonte: Acervo da autora.

Para unir a estrutura nova à antiga foi utilizado uma passarela (Figura 54),
criando um acesso de pedestres a partir da ponte de concreto construída na década
de 1970 (Figura 55) com uma passagem de nível com controle de acesso em função
da passagem dos trens. E, também, foi criado um mirante que permite a observação
das arcadas da estrutura metálica (Figura 56).
Optou-se por deixar o centro vazado para que a visão a partir da estrutura nova
para a antiga permitisse a visualização do elemento antigo por completo, desde o pilar
até o topo do arco (Figura 57).
89

Figura 54: Croqui de concepção da ligação da parte nova à antiga.

Fonte: Acervo da autora.

Figura 55: Conexão entre a parte nova e a antiga, com acesso para a ponte de
concreto.

Fonte: Acervo da autora


90

Figura 56: Mirante que permite a visualização das arcadas.

Fonte: Acervo da autora

Figura 57: Vista da estrutura antiga a partir da nova.

Fonte: Acervo da autora


91

A estrutura nova foi projetada para ser apropriada com usos temporários ao
mesmo tempo que oferece espaço de contemplação da paisagem do Rio Potengi.
Projetou-se o local como um grande pátio sombreado sem barreiras físicas no seu
interior para propiciar atividades de naturezas diversa, como apresentações artísticas,
feiras e exposições (Figura 58). A intenção formal é que ela impactasse minimamente
na paisagem deixando a estrutura metálica em evidência contrastando com ela pela
forma e material, tendo como solução o uso de duas lâminas paralelas em concreto
protendido.

Figura 58: Estrutura nova.

Fonte: Acervo da autora

A estrutura termina com um balanço apoiada no penúltimo pilar simbolizando


que a construção desse equipamento não está finalizada, e sugerindo-se a
possibilidade de ser completada a partir da comunidade Beira Rio, localizada na outra
margem do Rio Potengi (bairro de Igapó) (Figura 59 e Figura 60).
92

Figura 59: Final da estrutura nova mostrando o último pilar da ponte de ferro ao
fundo.

Fonte: Acervo da autora

Figura 60: Final da estrutura nova mostrando o balanço sugerindo a reconexão.

Fonte: Acervo da autora


93

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A desconexão das discussões de conservação da Ponte de Igapó com o seu


entorno, não sendo feitas referências às populações vizinhas, motivaram a pesquisa
para incluir a voz dos moradores da rua Rio Potengi nesse debate. A partir desse
momento foi necessário compreender o que caracterizava a área de estudo e buscou-
se a definição de lugar, bem como estudar métodos que auxiliassem na sua leitura,
inserindo o olhar dos moradores na discussão.
Compreender o valor histórico da Ponte de Igapó para a cidade e como um
lugar para os moradores da rua Rio Potengi, bem colmo evidenciar a relação que a
ponte estabelece entre o território e o local, estimulando os moradores a refletirem
sobre o lugar em que vivem, foram os elementos principais que direcionaram a
pesquisa.
O aspecto territorial da Ponte de Igapó torna-se evidente após a revisão
bibliográfica da história, em que essa estrutura compõe uma unidade com as estradas
de ferro do Rio Grande do Norte, auxiliando na compreensão da estruturação do
território de Natal no séc. XX. Por outro lado, o caráter local da Ponte de Igapó revela
apropriações e novas significações por parte dos moradores da Rua Rio Potengi.
No tocante à Rua Rio Potengi, observa-se que a visão externa à comunidade
geralmente associa o local à violência e à precariedade. Entretanto, observou-se que
o lugar possui atributos que conferem qualidade para a comunidade, fazendo com que
os moradores gostem de morar lá, destacando como principais qualidades da rua a
vizinhança, a proximidade de serviços, o acesso aos meios de transportes, o valor
histórico da ponte e a beleza paisagística do local.
Durante a pesquisa foram identificados quatro elementos definidores do sentido
de lugar: o patrimônio histórico, o patrimônio ambiental, a comunidade e a integração.
Ao trabalhar com a leitura social observa-se que os moradores possuem uma visão
conectada desses quatro elementos, sentindo-se integrados ao lugar. Enquanto que
os estudos técnicos não demonstram essa conexão, estando isolados nas suas linhas
de pesquisa específicas.
O desenvolvimento do trabalho proporcionou o conhecimento de metodologias
participativas no processo de projeto bem como as suas potencialidades para inserir
a visão do usuário em projetos urbanos. Também se observou a relevância desse tipo
de processo para identificar a visão da população sobre os bens patrimoniais,
94

podendo direcionar ações futuras de intervenção, bem como apontar caminhos para
interessados em projetos de cunho participativo.
A pesquisa ofereceu material que subsidiou a proposta apresentada e assim
entendemos ter sido alcançado o objetivo geral deste trabalho, que foi propor uma
intervenção urbana na Ponte de Igapó e seu entorno, com a participação dos
moradores da Rua Rio Potengi, ressaltando a ponte como um objeto de valor histórico
para a cidade e como um lugar para os moradores da Rua Rio Potengi, evidenciando
a relação que a ponte estabelece entre o território e o local.
Dessa forma, foi destacada a importância de se estimular a população a refletir
sobre o seu território, mapeando áreas com apropriações e propondo melhorias que
podem vir a auxiliar projetistas no desenvolvimento de propostas de intervenção
urbana.
95

REFERÊNCIAS

AGORA RN. CMN discute transformação da antiga ponte de Igapó em ponto turístico.
2016. Disponível em: http://agorarn.com.br/cidades/cmn-discute-transformacao-da-antiga-
ponte-de-igapo-em-ponto-turistico/. Acesso em: 23 nov. 2017.

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GORAYEB, Adryane; MEIRELES, Antonio Jeovah de Andrade; SILVA, Edson Vicente da
(Org.). Cartografia Social e Cidadania: experiências de mapeamento participativo dos
territórios de comunidades urbanas e tradicionais. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora,
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CAVALCANTE, Sylvia; NÓBREGA, Lana Mara Andrade. Espaço e lugar. In: CAVALCANTE,
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Acesso em: 04 nov. 2016.

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<http://agorarn.com.br/cidades/cmn-discute-transformacao-da-antiga-ponte-de-igapo-em-
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RODRIGUES, Wagner do Nascimento. Dos caminhos de água aos caminhos de ferro: a


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(Tradução de Arthur Stofella). ArchDaily Brasil, jul. 2014. Disponível em:
https://www.archdaily.com.br/br/623369/the-landscape-imagination-ensaio-sobre-o-high-line-
por-james-corner. Acesso em: 23 Nov 2017.
98

ANEXO A

Fonte: NATAL, 2007.


99

APÊNDICE A

Esta é uma pesquisa inicial sobre a imagem socioambiental da Ponte de Ferro de Igapó, Natal - RN. Estamos interessados
na sua opinião sobre essa área da cidade. Agradecemos a sua colaboração. (Depto. de Arquitetura, UFRN)

PESQUISA: IMAGEM SOCIOAMBIENTAL DA PONTE DE FERRO DE IGAPÓ, NATAL - RN

Local de aplicação:________________________ Quest n°:_____ /aplicação_____

1. PERFIL DO USUÁRIO

Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Idade: _____ anos

Local de nascimento:
(cidade/bairro/comunidade)________________________________________________

Local de moradia atual

Igapó ( ) Mosquito ( ) N. S. Vitórias ( ) Mireto ( ) Quintas ( )

Salinas ( ) Nordeste ( ) Japão ( ) Salgadinho/ Maré ( ) Beira Rio ( )

Potengi ( ) Bom Pastor ( ) Curtume ( ) Cambuim ( )

Outros:_________________________________________________________________________

Há quanto tempo mora nesse local? _______

Escolaridade: ( ) não alfabetizado ( ) 1° grau ( ) 2° grau ( ) superior

Fora da escola você tem alguma outra


ocupação?________________________________________________
2. Quais são as primeiras três palavras que lhe vem à cabeça ao falar na ponte de ferro de
Igapó?

3. Como você descreveria a Ponte de Ferro de Igapó para um amigo?

4. Você levaria um amigo para conhecer a Ponte de Ferro de Igapó?O que vocês fariam lá?

5. A Ponte de Ferro de Igapó é importante para a história de Natal?Por quê?

5. A Ponte de Ferro de Igapó é importante para a história do seu bairro / comunidade?Por


quê?

6. A Ponte de Ferro de Igapó faz parte da sua história ou da sua família?Conte uma história.

Agradecemos sua colaboração. Se desejar acrescentar alguma informação, use este espaço.
01
SEM ESCALA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA)


: Escala:
INDICADA

Local: Assunto: Data: DEZ/2017


ZONEAMENTO
Discente: P :

Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 01/09
BEIRA RIO

PLANTA BAIXA 05 - MUSEU PLANTA BAIXA 04 - MUSEU PLANTA BAIXA 03 - MUSEU PLANTA BAIXA 02 - MUSEU PLANTA BAIXA 01 - MUSEU

PLANTA BAIXA 06 - ELO


01
ESCALA ...................... 1/1500

02
ESCALA ........................................................................................... 1/200

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA)


: Escala:
INDICADA

Local: Assunto: Data: DEZ/2017

Discente: P :

Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 02/09
01
ESCALA ........................................................................................... 1/200

02
ESCALA ........................................................................................... 1/200

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA)


: Escala:
1/200

Local: Assunto: Data: DEZ/2017


PLANTA BAIXA 02 E 03 - MUSEU
Discente: P :

Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 03/09
Abaixo
Abaixo

01
ESCALA ........................................................................................... 1/200

02
ESCALA ........................................................................................... 1/200

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA)


: Escala:
1/200

Local: Assunto: Data: DEZ/2017


PLANTA BAIXA 04 E 05 - MUSEU
Discente: P :

Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 04/09
01
ESCALA ........................................................................................... 1/200

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA)


: Escala:
1/200

Local: Assunto: Data: DEZ/2017


PLANTA BAIXA 06 - ELO
Discente: P :

Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 05/09
01
ESCALA ........................................................................................... 1/200

02
ESCALA ........................................................................................... 1/200

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA)


: Escala:
1/200

Local: Assunto: Data: DEZ/2017

Discente: P :

Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 06/09
PLATAFORMA DE
SALTO

LAJE EM CONCRETO
DA PARTE NOVA

PLATAFORMA DE
SALTO

PISO DA PONTE
DE CONCRETO
PISO DA PONTE
DE FERRO

01
ESCALA ......................... 1/200

PLATAFORMA DE
SALTO

LAJE EM CONCRETO
DA PARTE NOVA

PLATAFORMA DE
SALTO

PISO DA PONTE
DE CONCRETO
PISO DA PONTE
DE FERRO

02
ESCALA ......................... 1/200

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA)


: Escala:
1/200

Local: Assunto: Data: DEZ/2017


CORTE 01 E CORTE 02
Discente: P :

Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 07/09
PLATAFORMA DE
SALTO

LAJE EM CONCRETO
DA PARTE NOVA

PLATAFORMA DE
SALTO

01
ESCALA ......................... 1/200

PLATAFORMA DE
SALTO

LAJE EM CONCRETO
DA PARTE NOVA

PLATAFORMA DE
SALTO
PISO DA PONTE
DE CONCRETO
PISO DA PONTE
DE FERRO

02
ESCALA ......................... 1/200

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA)


: Escala:
1/200

Local: Assunto: Data: DEZ/2017


CORTE 03 E CORTE 04
Discente: P :

Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 08/09
PLATAFORMA DE
SALTO

LAJE EM CONCRETO
DA PARTE NOVA

PLATAFORMA DE
SALTO

PISO DA PONTE
DE FERRO

01
ESCALA ......................... 1/200

PLATAFORMA DE
SALTO

LAJE EM CONCRETO
DA PARTE NOVA

PLATAFORMA DE
SALTO

PISO DA PONTE
DE CONCRETO
PISO DA PONTE
DE FERRO

02
ESCALA ......................... 1/200

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA)


: Escala:
1/200

Local: Assunto: Data: DEZ/2017


CORTE 05 E CORTE 06
Discente: P :

Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 09/09

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