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CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
VÃO 70
Proposta de intervenção urbana para a Ponte de Igapó e seu entorno
com a participação dos moradores da Rua Rio Potengi
Natal-RN
2017
2
VÃO 70
Proposta de intervenção urbana para a Ponte de Igapó e seu entorno
Natal-RN
2017
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT
RESUMO
ABSTRACT
Past and present join the bridge of Igapó that brings with it the controversy of having
been constructed as the symbol of modernity and integration, and nowadays is
scrapping and marks an axis of segregation in the city. This work recognizes this
historical object as a structuring element of the territory and localities. It seeks in history
its relevance to the consolidation of the city and identifies the construction of a place
by the residents of Rio Potengi Street, located in one of the headwaters of the bridge.
In this way, the research is justified by bringing the vision of the residents of Rua Rio
Potengi to the conservation of that good. Contributing to the discussion through a
proposal of urban intervention in the Igapó bridge and its surroundings that add the
territory to the place, giving opportunity to the residentes express their opinion and
reflect on their place.
AGRADECIMENTOS
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------- 10
2 LUGAR ---------------------------------------------------------------------------------------- 13
2.1 PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS ------------------------------------------------------ 16
3 HISTÓRIA DA PONTE DE IGAPÓ------------------------------------------------------ 19
3.1 PASSADO, SÍMBOLO DA MODERNIDADE (1912-1940) ------------------------ 19
3.2 PRESENTE, PERDA DE DESTAQUE (1940 - 2017) ------------------------------ 25
3.3 FUTURO, TEMPO DAS IDEIAS --------------------------------------------------------- 29
4 RUA RIO POTENGI | PARE, OLHE E ESCUTE ------------------------------------ 32
4.1 ATRIBUTOS FÍSICOS --------------------------------------------------------------------- 36
4.1.1 Leitura técnica ------------------------------------------------------------------------------- 37
4.1.2 Leitura social --------------------------------------------------------------------------------- 46
4.2 ATIVIDADES --------------------------------------------------------------------------------- 50
4.2.1 Leitura técnica ------------------------------------------------------------------------------- 50
4.2.2 Leitura social --------------------------------------------------------------------------------- 53
4.3 CONCEPÇÕES E IMAGENS ------------------------------------------------------------ 56
4.3.1 Leitura técnica ------------------------------------------------------------------------------- 56
4.3.2 Leitura social --------------------------------------------------------------------------------- 56
5 ESTUDOS DE REFERÊNCIA ----------------------------------------------------------- 63
5.1 HIGH LINE, NOVA IORQUE ------------------------------------------------------------- 63
5.1.1 Contexto --------------------------------------------------------------------------------------- 64
5.1.2 Conceito --------------------------------------------------------------------------------------- 65
5.1.3 Usuário ---------------------------------------------------------------------------------------- 65
5.1.4 Uso 66
5.1.5 Plástica ---------------------------------------------------------------------------------------- 66
5.2 PROMENADE PLANTEÉ, PARIS ------------------------------------------------------- 67
5.2.1 Contexto --------------------------------------------------------------------------------------- 68
5.2.2 Conceito --------------------------------------------------------------------------------------- 68
5.2.3 Usuário ---------------------------------------------------------------------------------------- 68
5.2.4 Usos -------------------------------------------------------------------------------------------- 69
5.2.5 Plástica ---------------------------------------------------------------------------------------- 69
6 APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA ---------------------------------------------------- 71
CONSIDERAÇÕES FINAIS -------------------------------------------------------------------------- 93
REFERÊNCIAS ----------------------------------------------------------------------------------------- 95
ANEXO A ------------------------------------------------------------------------------------------------- 98
APÊNDICE A -------------------------------------------------------------------------------------------- 99
10
1 INTRODUÇÃO
moradores da Rua Rio Potengi; evidenciar a relação que a ponte estabelece entre o
território e o local; e estimular os moradores a refletirem sobre o lugar em que vivem.
A escolha da área de intervenção se deu pela insatisfação com a condição de
abandono pela qual a Ponte de Igapó vem passando desde a década de 1970 após a
sua desativação com a construção da nova ponte e o desmonte de parte da sua
estrutura. Apesar da sua proteção institucional há 25 anos, os órgãos responsáveis
ainda não demonstram ações para garantia da sua conservação.
O debate sobre a ponte gira em torno da sua relevância enquanto elemento de
inovação das técnicas construtivas e como elemento estruturador do território.
Entretanto, há a desconexão entre o patrimônio histórico e o seu entorno não sendo
feitas referências às populações vizinhas que já se apropriam da estrutura como uma
área de lazer e relacionam o bem à história de vida de suas famílias e da comunidade.
Inicialmente, o recorte espacial compreendia apenas a favela do Mosquito
demarcada no mapa 04 (Anexo A), anexo II do Plano Diretor de 2007 (NATAL, 2007).
Porém ao entrar em contato com a Escola Estadual Felizardo Moura, foi informado
que a comunidade se reconhece como moradores da Rua Rio Potengi. Dessa forma,
o recorte foi expandido por toda a rua que margeia o rio Potengi e corta os bairros
Nordeste e Quintas, tendo como limites a base dos fuzileiros navais (bairro das
Quintas) numa extremidade e a Ponte de Igapó (bairro Nordeste) na outra.
O trabalho se justifica por trazer uma outra visão para o debate de conservação
da Ponte de Igapó, além de reconhecê-la como um elemento histórico importante para
a estruturação do território também considera a sua relevância para a construção de
localidades a partir da história da Rua Rio Potengi. Contribui para a discussão através
de uma proposta de intervenção urbana que agregue o território ao local, dando
oportunidade para os moradores expressarem a sua opinião e refletirem sobre o seu
território.
Para se alcançar os objetivos da pesquisa foi necessária a adoção de alguns
procedimentos metodológicos: revisão da literatura para compreensão do conceito de
lugar; levantamento bibliográfico e documental da Ponte de Igapó; leitura urbana da
rua Rio Potengi; pesquisa de projetos precedentes com temáticas similares ao da
proposta; desenvolvimento da proposta de intervenção urbana.
O trabalho é dividido em sete capítulos, cujo primeiro é a introdução. O segundo
corresponde ao referencial teórico-metodológico, que contém o embasamento teórico
para o desenvolvimento da proposta de intervenção. Será apresentado o conceito de
12
lugar baseado nos autores Yu-Fi Tuan e Sylvia Cavalcante. Enquanto que aspectos
que conferem a qualidade do lugar serão fundamentados por meio do método de
Vicente Del Rio. O terceiro capítulo busca-se reconhecer a importância da ponte para
a história do Rio Grande do Norte e da cidade do Natal, apresentando-a em três
momentos históricos, passado, símbolo da modernidade; presente, perda de
destaque; futuro, tempo das ideias.
O quarto capítulo refere-se a leitura urbana da rua Rio Potengi sob o ponto de
vista técnico e social resultados da análise feita com base nas três escalas de vivência
– Atributos físicos, atividades, concepções e imagens – utilizadas por Del Rio (1995).
O quinto capítulo trata das análises dos projetos precedentes feitos em dois projetos
que transformaram linhas férreas em vias para pedestres e parques lineares. O sexto
capítulo trará o processo projetual da proposta de intervenção urbana da Ponte
Metálica de Igapó e seu entorno a nível de estudo preliminar. E o último capítulo
conterá os resultados alcançados no desenvolvimento do trabalho.
13
2 LUGAR
também transmite uma importância específica para os moradores da Rua Rio Potengi,
comunidade localizada em uma das cabeceiras da ponte.
Para a identificação dos elementos que constituem um lugar, Del Rio (1995)
estuda a compreensão dos fenômenos urbanos sob a ótica do usuário e utiliza o
conceito genius loci que traduz a identidade, o caráter e a qualidade do lugar. O autor
considera que a qualidade físico-ambiental que caracteriza o “sentido do lugar “
relaciona-se com a sobreposição das três esferas de vivência – atividades ou usos,
atributos físicos, e concepções e imagens – propostas pelo psicólogo ambiental David
Canter (Figura 2).
Del Rio (1995) busca em várias metodologias formas de análise que se
complementam e auxiliam na compreensão do sentido de lugar. A esfera da
concepção e imagem é analisada a partir da “análise visual” e “percepção” e as outras
duas esferas são compreendidas através do “comportamento ambiental” e da
“morfologia”.
15
Foi criada uma estratégia analítica geral dividida em duas frentes: uma
abordagem teórica e a outra empírica (Figura 4). Na abordagem teórica busca-se
através de revisão bibliográfica a compreensão do conceito lugar1 e utilização das três
esferas de vivência para auxiliar na leitura urbana. Para a identificação do valor da
ponte para a história da cidade será feito o levantamento bibliográfico e documental
da história da Ponte de Igapó com recorte temporal de 1912 a 2017, desde o contexto
da sua construção (1912 a 1914), a sua desativação e deterioração (déc. 1970), até o
debate atual para a sua conservação com o reconhecimento institucional do município
e estado e a ação civil pública denunciando o seu abandono (1992 a 2017).
Por sua vez, a abordagem empírica terá sua metodologia detalhada em cada
capítulo e envolve a ampliação do repertório do projetista com os estudos de
referência através de revisão bibliográfica e documental. Como também tratou da
leitura do lugar além de uma visão técnica (revisão bibliográfica e documental), foi
realizada um leitura social por meio de pesquisa de campo com realização de oficinas
que utilizaram os métodos da Cartografia Social (BARROSO, 2015) e História Oral
(NEVES, 2000).
As oficinas foram realizadas na Escola2 Estadual Felizardo Moura e na
Associação3 Nossa Senhora das Dores. Nas oficinas realizadas na escola, foram
utilizadas as técnicas do mapa mental, questionário e o mapa gigante (PANELLA,
Pelo “Artist” chegou hontem toda a ferragem destinada á grande ponte sobre
o rio Potengy. Nesta cidade já se acham os drs. Stephn e Beit, engenheiros
chefe e ajudante da the Cleveland Bridge & Engeering Cª Ltd. a quem está
entregue a construção da ponte. As primeiras instalações já foram iniciadas
na margem esquerda do Potengy. Além da casa de residência para o
engenheiro chefe e ajudante, serão construídas casas para acomodarem 200
operários, consultório médico, pharmacia, etc. A ponte vai ser construída no
conhecido “Porto do Padre”. Depois de atravessar o rio, a linha tomará a
direção da rua Silva e Jardim onde já se acham construídos edifícios e em
construcção a Estação Central. Ao encerrarmos essa ligeira noticia,
desejamos o melhor possível na construção se tão importante obra, afim de
que em pouco tempo seja uma realidade a travessia do Potengy.
(Estrada...,1912, p.01 apud Medeiros, 2011, p. 75)
Figura 8: Fluxos terrestres e no Rio Potengi em 1878. Em vermelho, local onde a ponte
foi construída em 1912.
Figura 11: Proposta de via cortando a praça Augusto Severo ao meio, Plano Palumbo
(1929).
Na nota também foi descrito que a ponte já precisava de reparos à época e que
acidentes eram recorrentes (Tribuna do Norte, 1970). Logo após estes
acontecimentos, a sua estrutura foi leiloada e o novo proprietário iniciou o desmonte,
28
mas interrompeu o processo após o quarto arco ter sido removido por não ter
viabilidade financeira (MPRN, 2013).
O interesse pela preservação do patrimônio ferroviário é recente e os estudos
sobre a importância da Ponte de Igapó para a consolidação do território da cidade e o
uso de técnicas construtivas inovadoras só aconteceu após o seu sucateamento. Em
1992 a ponte passou a ter reconhecimento institucional, sendo tombada como
patrimônio histórico na esfera estadual pela Fundação José Augusto (FJA). Apesar de
constar o tombamento municipal de 2003 na Ação Civil Pública (MPRN, 2013), em
entrevista, Hélio Oliveira – diretor de Patrimônio Cultural da Fundação Cultural
Capitania das Artes (Funcarte) – disse que a ponte não consta no registro de bens
tombados da instituição; na época deve ter sido feito um tombamento provisório, mas
não foram desenvolvidos os estudos necessários para efetivar o tombamento. Na FJA
a ponte consta no livro de tombo, mas novamente observa-se que não foram
realizados estudos mais aprofundados sobre esse bem nem tampouco há indicações
para a sua conservação.
No ano de 2011 a ONG Instituto dos Amigos do Patrimônio Histórico Artístico –
Cultural (IAPHAAC) denunciou ao ministério público o mau estado de conservação da
estrutura e, através dessa requisição, foi feita uma ação civil pública que determinava
o restauro imediato pelos órgãos responsáveis e pelo proprietário que alegaram não
ter verba para realizar a obra (MPRN, 2013).
Onze anos após o tombamento da Ponte de Igapó pela FJA começam a surgir
propostas para a reutilização da estrutura. Dentre as proposições estão o projeto
“Museu Mirante do Rio Potengi” (Figura 15), Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
30
Figura 18: Legenda mantida no quadro negro para que os alunos que entrassem
identificassem as marcações feitas pelo grupo anterior.
Com o intuito de inserir uma perspectiva de outra faixa etária, também foi
escolhido a Associação Nossa Senhora das Dores que semanalmente reúne
aproximadamente 15 mulheres com idade acima de 40 anos. Nessa oficina foi usada
a técnica da entrevista semiestruturada com o objetivo de delinear brevemente a
história da comunidade a partir das sobreposições das histórias de vida das
entrevistadas.
Foram trabalhados cinco temas: origens, mudança, proposta, lugar e ponte. O
primeiro tema foi motivado pela excassez de dados na bibliografia sobre o histórico
de ocupação dessa área. Desta forma buscou-se delinear as origens da comunidade,
a partir da identificação das datas e locais de migração das entrevistadas ou de suas
famílias. O tema mudança foi trabalhado pela possibilidade de remoção de edificações
na Rua Rio Potengi identificada no Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR,
2008) descrito no item (4.1.1) em que é apresentado a leitura técnica dos atributos
físicos da rua Rio Potengi. Foi perguntado se as entrevistadas se mudariam da rua e
foi mapeado para onde iriam caso tivessem a oportunidade de se mudar. Logo após
foi questionado o que elas fariam para melhorar a rua, demarcando pontos de
intervenção. Em seguida, foram indicados quais são os lugares da rua que elas mais
se identificam. Por fim questionamos se a ponte metálica tinha alguma importância
para a rua e se elas teriam alguma história para contar.
A rua Rio Potengi se localiza nos bairros das Quintas e Nordeste situados na
Região Administrativa Oeste da cidade de Natal, capital do estado do Rio Grande do
Norte. Esses bairros são classificados no macrozoneamento do Plano Diretor da
cidade, Lei Complementar nº 082 de 21 de julho de 2007, como Zonas Adensáveis 7
(ZA), com áreas ambientais frágeis delimitadas na Zona de Proteção Ambiental8
(ZPA).
9De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997), Via Local é aquela
caracterizada por interseções em nível não semaforizadas, destinada apenas ao acesso local ou a áreas restritas.
10De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997), Via Arterial é aquela
caracterizada por interseções em nível, geralmente controlada por semáforo, com acessibilidade aos lotes lindeiros
e às vias secundárias e locais, possibilitando o trânsito entre as regiões da cidade.
41
A rua Rio Potengi está inserida na Zona de Proteção Ambiental 8 (ZPA 8), que
visa a proteção do ecossistema de manguezal e estuário do Potengi/Jundiaí (NATAL,
2007). Essa ZPA encontra-se em processo de regulamentação, que vem se
desenvolvendo em audiências públicas e possui uma proposta de lei elaborada em
2016 pela Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMURB). Nessa proposta a
ZPA divide-se em dois setores: o setor A compreende a área localizada na R. A. Norte
e o setor B na R. A. Oeste (NATAL, 2016).
Os setores da proposta da SEMURB estão divididos em três subzonas:
subzona de preservação (SP), subzona de conservação (SC) e subzona de uso
restrito (SUR). A Subzona de Preservação corresponde à delimitação das Áreas de
Preservação Permanente11 (APP). As Subzonas de Conservação12 atuam como área
de amortecimento no entorno do mangue, adotando baixos índices de ocupação e alta
permeabilidade. As Subzonas de Uso Restrito13 caracterizam-se como áreas de
ocupação urbana consolidada com índices médios de ocupação e permeabilidade.
(NATAL, 2015).
Na proposição da SEMURB estão presentes na Rua Rio Potengi a Subzona de
Preservação (SP) e a Subzona de Uso Restrito 3 (a) (SUR 3 (a)) (Figura 23). A SP
corresponde à faixa marginal de curso d’água referente ao Rio Potengi (500m), o
ecossistema de manguezal14 e tabuleiro costeiro (50 m). A SUR 3 (a) regula a
ocupação da área, determina que os lotes devem ter área (mín.) de 200 m² com frente
(mín.) de 8 m; e as edificações devem ter coeficiente (máx.) de 0,6; taxa de ocupação
(máx.) 60%; permeabilidade (mín.) 60%; com recuos e gabarito conforme Plano
Diretor de Natal (Lei Complementar n°82/2007) (NATAL, 2016).
11
Área de Preservação Permanente (APP): área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o
fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (Lei nº 12.651, de
25 de maio de 2012, disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm.).
12 Subzonas de conservação são áreas definidas em regulamentações específicas das ZPA’s. (NATAL, 2007)
13 Subzonas de Uso Restrito caracterizam-se como áreas em processo de ocupação para qual o município
estabelece prescrições urbanísticas, no sentido de orientar e minimizar as alterações no meio ambiente e
consonância com o princípio do uso sustentável. (NATAL, 2007)
14Manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das marés, formado por vasas
lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como
mangue, com influência fluviomarinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e com dispersão descontínua
ao longo da costa brasileira, entre os Estados do Amapá e de Santa Catarina (Lei nº 12.651, de 25 de maio de
2012, disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm).
42
Outro aspecto que deve ser analisado são as delimitações das Áreas Especiais
de Interesse Social15 (AEIS) do Plano Diretor de Natal. Segundo a lei, a Rua Rio
Potengi está inserida na Mancha de Interesse Social (MIS) com predominância de
vilas16 na porção localizada no bairro das Quintas e trecho do bairro Nordeste. A
porção mais ao norte, próxima à Ponte de Igapó, denominada de mosquito, é
integrante da AEIS 1, que engloba as favelas17 (NATAL, 2007). (Figura 24).
15Áreas especiais de interesse social (AEIS) - se configuram a partir da dimensão sócio - econômica e cultural da
população, com renda familiar predominante de até 3 (três) salários - mínimos, definida pela Mancha de Interesse
Social (MIS), e pelos atributos morfológicos dos assentamentos. (NATAL, 2007, p.469)
16Vila: conjunto de casas contíguas, no mesmo lote, destinadas predominantemente a habitações de aluguel, com
algum nível de precariedades urbanísticas e ambientais, caracterizadas pela implantação encravada no interior
dos quarteirões ou no fundo de quintais. (NATAL, 2007, p.471)
17 Favela: assentamento habitacional com situação fundiária e urbanística, total ou parcialmente ilegal e/ou
irregular, com forte precariedade na infraestrutura e no padrão de habitabilidade, e com população de renda familiar
menor ou igual a 3 (três) salários mínimos, sendo considerada como consolidada a partir do segundo ano de sua
existência. (NATAL, 2007, p.470)
43
indicando que na década de 1950 a rua já tinha ocupação, havendo casos descritos
de migração e nascimento na própria localidade no final da década de 1940 e anos
subsequentes até a década de 1980. A maioria das entrevistadas vieram de cidades
do interior do Rio Grande do Norte e Paraíba e buscavam em Natal oportunidades de
emprego se instalando na Rua Rio Potengi pela acessibilidade a uma habitação de
baixo custo ao mesmo tempo pela proximidade de áreas que ofereciam melhores
fontes de renda que as dos seus locais de origem.
A partir da leitura técnica foram identificados conflitos entre a área de
preservação, as linhas férreas e as habitações existentes em trecho da Rua Rio
Potengi sendo indicado pelo PMRR remoção e reassentamento das moradias
inseridas nessas áreas. A partir dessa possibilidade foi questionado às entrevistadas
da associação se havia o interesse em mudar endereço, tendo o não como maioria
das repostas, afirmando que gostam de morar naquele local, destacando a relação
afetiva com a vizinhança, a solidariedade entre os moradores, a oferta de serviços e
comércio, facilidade de locomoção por diversos meios de transporte, o baixo custo do
trem, o acesso à casa própria, à igreja e à associação, mas relatam a insatisfação
com a segurança.
Já na oficina realizada no 9° ano da Escola Estadual Felizardo Moura falamos
sobre a importância da participação da sociedade no processo de construção da
cidade para que não fossem edificados equipamentos que não refletissem a
necessidade da população e que não tivessem identificação por eles. Nesse momento
uma das estudantes falou que era pior quando o poder público desapropria
residências na cidade sem consultar a população, comentando sobre um caso de
movimentação popular da sua rua na época da construção do Viaduto da Urbana.
Na turma do segundo ano também houve a discussão sobre as remoções
quando os alunos viram a marcação próximo ao viaduto da urbana, também
mencionaram que no período das obras para a Copa 2014 houve a intenção de
remoção do trecho do Mosquito, mas que os moradores também se mobilizaram
contra.
50
4.2 ATIVIDADES
Este item trata das atividades e usos nos bairros Nordeste e Quintas. Na leitura
técnica são descritos os usos existentes na rua Rua Rio Potengi e os equipamentos
urbanos dos bairros, trazendo considerações sobre a proposta de regulamentação da
ZPA 8. Por outro lado a leitura social exibe as atividades realizadas e desejadas pelos
moradores a partir da perspectiva dos participantes das oficinas.
O relatório conheça seu bairro (SEMURB, 2012) indica que os bairros Quintas
e Nordeste possuem uma boa infraestrutura. Nas proximidades da Rua Rio Potengi
existem diversos equipamentos urbanos, como unidades de saúde, praças, escolas,
equipamentos desportivos e de segurança (Figura 29).
18 Bricadeira que simula o programa Big Brother Brasil transmitido pela rede Globo.
54
Apesar do salto da ponte ter sido recorrente nos mapas mentais da turma do
9° ano e entre homens e mulheres, durante a oficina do mapa gigante percebeu-se
que só a partir do 1°ano havia alunos que saltavam da ponte e as mulheres não
costumavam ter acesso à região. Esse aspecto também foi mencionado na
associação, as entrevistadas relatavam que seus maridos e filhos saltavam de lá, mas
elas não iam; as únicas que comentaram ir à ponte diziam não ter coragem de pular
e iam para tomar banho de rio.
A relação da Ponte de Igapó com a rua Rio Potengi também foi observada
durante as oficinas do Mapa Gigante. Panella (2016) menciona que os participantes
dessas atividades procuram a imagem de si na cidade, buscando a sua residência e
reconhecendo os lugares da sua memória. Esse fato foi observado com os alunos
durante as oficinas na Escola Estadual Felizardo Moura, ao entrar na sala eles se
impressionaram com a vastidão da cidade e buscaram as suas casas, usando o rio e
a ponte como referências de localização. Essa estrutura foi facilmente identificada no
mapa gigante e recebeu uma etiqueta com a inscrição “a melhor coisa” (Figura 31).
Nos mapas mentais em que foi pedido que se desenhasse a Ponte de Igapó
houve reprodução da mesma a partir de 3 pontos de observação distintos: vista lateral
a partir da ponte de concreto com os carros em primeiro plano (Figura 32); vista lateral
com o rio em primeiro plano (Figura 33), e vista frontal interna à comunidade (Figura
34). Como os participantes não indicaram se moravam na rua Rio Potengi, apenas
identificaram o bairro onde residiam, não foi possível associar os desenhos aos
moradores da rua. Tem-se apenas um indicativo do grau de envolvimento dos seus
autores com o local através do modo como representaram a ponte, sendo a visão mais
58
A partir da questão “Quais são as primeiras três palavras que te vem à cabeça
ao falar na ponte de ferro de Igapó?”, foi gerada uma nuvem de palavras19 (Figura 35),
19A nuvem de palavras foi gerada a partir do site wordclouds.com, no qual foi importada a lista de palavras
mencionadas pelos alunos compiladas no software Excel ®.
60
cuja proporção está de acordo com o número de vezes que ela foi mencionada nas
respostas. Entre as mais citadas estão: velha (11), enferrujada (9), ferrugem (7), ponte
(7), história (6), antiga (6), abandono (5), ferro (5), esquecida (4), cultura (4), água (4),
quebrada (3), pichação (3) e trem (3); as demais palavras foram citadas menos de três
vezes. Como se pode perceber palavras ligadas ao seu estado de má conservação e
abandono foram as mais recorrentes e em seguida tem-se as relacionadas à
importância histórica e cultural, demonstrando que, apesar do seu atual estado de
degradação, os estudantes reconhecem o valor desse bem para a história da cidade.
aquilo ali, não vejo sem”. Assim como os alunos da Felizardo Moura, as entrevistadas
também reconhecem a ponte como um lugar, associando a estrutura às suas histórias
de vida, mesmo aquelas que disseram não ter importância também relataram
memórias.
A constante relação entre a comunidade e a violência feita pela mídia local nos
motivou a questionar aos participantes da oficina do Mapa Gigante quais eram as
zonas de medo do bairro e solicitamos que eles fizessem essa demarcação no mapa.
Essa delimitação foi um dos momentos mais marcante nas oficinas, sendo
interessante observar a visão distinta entre os participantes de acordo com o local em
que moravam.
A maioria dos alunos se concentraram em torno da Rua Rio Potengi, os
moradores dos bairros das Quintas e Nordeste externos à comunidade demarcaram
toda a rua como área de medo dos bairros. Em relação a visão dos moradores da rua,
a zona de medo se restringia ao Mosquito. Porém, um morador da região do Mosquito
questionou aquela demarcação de medo, dizendo que lá é uma zona de medo “pra
quem é de fora” ele podia andar e brincar que ninguém “mexia” com ele. Também foi
notado o comportamento de um dos alunos da rua em sair marcando outras zonas de
medo pela cidade, assinalando outras comunidades no bairro e em toda a Zona Norte,
demonstrando que a zona de medo não estava apenas ali.
Quando a turma do 2º ano entrou na sala, já encontrou as zonas de medo
demarcadas e comentaram com risos que moravam na zona de medo das crianças.
Foi iniciada uma discussão na qual mencionamos que um dos estudantes de outra
sala também fez o mesmo questionamento, afirmando que zona de medo é “pra quem
é de fora” e os participantes do 2° ano concordaram e destacaram que zona de medo
é o “lugar onde eu não moro”.
A partir das leituras técnicas e sociais apresentadas neste capítulo foi
elaborado um quadro síntese com as diretrizes projetuais (Quadro 1) com função de
auxiliar no desenvolvimento da intervenção urbana na ponte de Igapó e entorno. As
colunas Leitura Técnica e Leitura Social trazem as sínteses de cada uma das três
esferas de vivência gerando uma terceira coluna com as diretrizes de projeto.
62
Indicativos de área de
remoção de residências Relação afetiva com a Rua Valorizar o potencial de
(PMRR) Rio Potengi integração da área
pelos diversos modais
Previsão de construção de de transporte
estação ferroviária no
bairro Nordeste (CBTU)
Predominância de uso
residencial na rua Rio
Potengi Apropiações no rio, no Valorizar as atividades
Atividades mangue e Ponte de Igapó existentes na área
Conflitos entre os usos
para atividades de lazer
propostos para ZPA 8 com
os existentes
Os moradores valorizam a
A visão externa à Ponte de Igapó pela sua
Concepções comunidade se relaciona a importância histórica e
e Imagens episódios de violência riqueza paisagística a
urbana partir dela
Os moradores destacaram
que a violência é
fenômeno recente na
Estimular a integração
comunidade
social
Foram relatados casos de
segregação social por
residir na rua Rio Potengi
5 ESTUDOS DE REFERÊNCIA
20
Notas de aula do Prof. Dr. Heitor Andrade da disciplina Atelier Integrado de Arquitetura e
Urbanismo.
64
5.1.1 Contexto
James Corner (2014) utiliza a teoria de John Dixon Hunt que valoriza as
especificidades do local através dos conceitos de gênio do luga, ler e escrever o local,
placemaking, mediação local, e o agrupamento de três naturezas. Para Hunt a leitura
do lugar através da sua história, representações, contexto e potenciais trazem
indicativos para o projeto de intensificação e enriquecimento desse lugar.
No High Line, Corner utiliza esses conceitos e faz uma leitura com base na
história do local e no seu contexto urbano. Destacando dois aspectos principais: o
primeiro relacionado à qualidade da infraestrutura de transportes, sua linearidade,
repetição, o descolamento com contexto circundante, a presença do aço e do
concreto; e o segundo foi o efeito causado pela vegetação que crescia
espontaneamente sobre a estrutura, e criou uma paisagem em que a natureza
retomava seu espaço na cidade (Figura 37).
5.1.2 Conceito
A Field Operations apresenta em seu discurso a busca por criar uma autêntica
experiência da cidade de Nova Iorque através da valorização das características do
local. Os projetistas destacam que o projeto é caracterizado pela coreografia íntima
do movimento, sendo moldado para oferecer paisagens e experiências dinâmicas
(THE HIGH LINE, 2017). James Corner diz que a proposta foi elaborada através das
condições encontradas, buscando dramatizar e revelar o passado, o presente e os
contextos futuros, o que o torna irreproduzível em outro local sem que haja perda da
sua identidade tanto pela história do High Line quanto pelo contexto urbano em que
ele está inserido (ARCHDAILY BRASIL, 2014).
Na leitura do contexto, o autor do projeto destaca duas características
fundamentais, a infraestrutura urbana e a vegetação. A vegetação espontânea que
crescia na estrutura do High Line foi lida pelos projetistas como um resgate da
natureza no meio urbano e inspirou a criação do conceito de Agri-tectura que mescla
o natural e o construído, transformando uma paisagem industrial em um equipamento
voltado para o lazer. Já a infraestrutura urbana é traduzida pelo contraste em que o
parque é marcado pela lentidão e distração, e busca preservar o aspecto selvagem
da vegetação encontrada; mas também houve a busca de estar alinhado com esse
contexto dinâmico, proporcionando flexibilidade com uma proposta sempre inacabada
que permite o crescimento e a mudança através do tempo (PER; ARPA, 2008).
5.1.3 Usuário
5.1.4 Uso
5.1.5 Plástica
O High Line foi projetado para que o usuário experiencie o lugar através de um
percurso com caminhos sinuosos que mesclam o construído e o natural com um
sistema de placas de concreto pré-fabricado que se moldam para criar os jardins. Esse
sistema é composto por cinco módulos de placas que podem ser reconfigurados
transformando-se em rampas, assentos e caminhos suspensos. Corner destaca que
o projeto não faz uso de símbolos e não tem a intenção de construir uma narrativa,
caracterizando-se pela sua própria materialidade, detalhamento e artificialidade.
Esses aspectos o distinguem como um lugar especial, um “outro mundo”, convidando
o visitante a participar da teatralidade da vida urbana e o passeio torna-se um palco
urbano e condensador social.
67
5.2.1 Contexto
5.2.2 Conceito
5.2.3 Usuário
5.2.4 Usos
5.2.5 Plástica
Usuário como elemento importante na concepção do projeto, Frequentado principalmente pelos moradores Incorporar a visão dos moradores do entorno no
havendo preocupação com a forma com que os visitantes da vizinhança que praticam caminhadas, desenvolvimento do projeto. Criar lugares de
experimentam, entendem e reinterpretam a obra. Sendo corridas e passeios pelos jardins. experiências.
Usuário utilizado o conceito de loungue durée de John Dixon Hunt que
considera o acréscimo de experiência e significado com o
passar do tempo.
Uso O projeto busca a diversidade de usos. A delimitação dos Passeio público construído na linha férrea Promover a diversidade de usos e flexibilizar o
espaços é feita através da paginação de piso e da vegetação. desativada e restaurantes, cafés, ateliês e espaço para possíveis alterações futuras.
A variedade de usos é permitida pela flexibilidade do espaço galerias no Viaduct des Arts.
com configurações que podem se adaptar a pequenos públicos
ou a grandes aglomerações.
Plástica O High Line foi projetado para que o usuário experiencie o A vegetação delimita os caminhos do Criar percursos de experimentação com uso de
lugar através de um percurso com caminhos sinuosos que Promenade Planteè e gera quebras de símbolos e preservar os traços arquitetônicos da
mesclam o construído e o natural com um sistema de placas percurso. No Viaduct des Arts houve a estrutura existente buscando intervir
de concreto pré-fabricado que se moldam para criar os jardins. preservação dos traços arquitetônicos minimamente na paisagem.
O projeto não faz uso de símbolos e não tem a intenção de industriais, criando contraste entre o maciço
construir uma narrativa, se caracterizando pela sua própria dos tijolos vermelhos e a transparência dos
materialidade. vidros.
6 APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA
OFICINAS
ÁREA DE INTERVENÇÃO
Inicialmente, o recorte espacial do projeto compreendia a Ponte de Igapó e
considerava como seu entorno a favela do Mosquito demarcada no mapa 04 do anexo
II do Plano Diretor de 2007 (NATAL, 2007). Porém ao entrar em contato com a Escola
Estadual Felizardo Moura, foi informado que a comunidade se reconhece como
moradores da Rua Rio Potengi. Dessa forma, o recorte foi expandido por toda a rua
que margeia o rio Potengi e corta os bairros Nordeste e Quintas, tendo como limites a
base dos fuzileiros navais (bairro das Quintas) numa extremidade e a Ponte de Igapó
(bairro Nordeste) na outra.
A partir das demarcações feitas nas oficinas com o mapa gigante na escola
Felizardo Moura foi estabelecido novo recorte de projeto situado nas áreas que
concentravam as propostas dos estudantes indo da Ponte de Igapó até o campo do
São Paulo.
DIRETRIZES E PLANO DE AÇÕES
Para subsidiar o projeto de intervenção urbana da Ponte de Igapó e seu entorno
foram elaboradas diretrizes projetuais com base na história da ponte, na leitura técnica
e social da rua Rio Potengi, nos estudos de referência de projetos precedentes e nas
proposições feitas pelos participantes na Associação Nossa Senhora das Dores e
Escola Estadual Felizardo Moura.
Essas diretrizes foram divididas em quatro categorias identificadas durante o
desenvolvimento do trabalho como elementos essenciais para o sentido de lugar da
área de estudo: o patrimônio histórico, o patrimônio ambiental, a comunidade e a
integração. Para sistematizar a leitura foi elaborado um quadro síntese (Quadro 2) que
apresenta as categorias, as suas diretrizes e as fontes que embasaram a elaboração
das mesmas.
75
Categorias das
Diretrizes Projetuais Fonte
Diretrizes
I. Adotar os princípios da distinguibilidade,
reversibilidade e intervenção mínima Cap.03
A. Patrimônio
Histórico II. Criar pontes entre o passado e o
Cap.03
presente e entre a escala local e territorial
III. Equilibrar a relação entre o natural e o
construído Cap. 04
B. Patrimônio
Ambiental IV. Valorizar o potencial paisagístico da ZPA
Cap. 04
8
V. Valorizar as atividades existentes na
área Cap. 04
C. Comunidade
VI. Incorporar a visão dos moradores do
Cap.05
entorno no desenvolvimento do projeto
MASTER PLAN
O conceito do projeto é traduzido pela palavra ponte, não apenas pelo
elemento físico que interliga as duas margens do rio, mas principalmente pelo seu
sentido de criar conexões. A Ponte de Igapó traz consigo o “genius loci” de integração,
conecta o passado ao presente, a escala territorial à local, o natural ao construído.
O grande desafio dessa proposta foi de criar pontes entre as demandas sociais
existentes, a fragilidade ambiental da área e a valorização de um elemento histórico
fundamental para a configuração territorial do Estado, com relevância afetiva para os
moradores da rua Rio Potengi.
As áreas de intervenção escolhidas pelos alunos nas suas propostas que se
encontravam nos limites da rua Rio Potengi foram mantidas para a proposta de
intervenção do trabalho.
A Ponte de Igapó [1] será reutilizada como um museu ao ar livre, com
exposições artísticas que expressem a memória coletiva da Ponte de Igapó e seu
entorno, com espaços para contemplação da paisagem, permanência e plataforma de
salto.
A Maré [2] é uma praia fluviomarinha já utilizada pela população, onde será
construído um pátio que dará acesso à Ponte de Igapó, permitindo a realização de
atividades culturais de artes, música e dança.
O Campo Mirim [3] é um pequeno campo de futebol utilizado pelos moradores,
que irá concentrar atividades esportivas e de recreação.
A Estação Nordeste [4] está prevista no plano de expansão da CBTU, sendo
locada neste trabalho na margem da Av. Felizardo Moura e próximo a um local onde
é possível a instalação de um deck para pequenas embarcações com a intenção de
interligar os transportes ferroviário, rodoviário e hidroviário.
O Espaço da Paz [5] é um equipamento destinado a atividades relacionadas à
pesquisa e educação ambiental com salas de aula, salas para realização de oficinas,
laboratórios e administração.
No Campo da Compal/Mosquito [6] será mantido o caráter esportivo do lugar,
sendo preservado o campo de futebol existente, com melhorias na sua infraestrutura
(gramado, vestiários e arquibancada).
O Espaço de Solidariedade [7] será um centro comunitário com atividades
voltadas para a ação social, inclusão tecnológica e oferta de cursos
profissionalizantes.
78
O conjunto Rio Potengi [8] foi locado no antigo campo do São Paulo, terreno
particular utilizado antigamente como campo de futebol pelos moradores. Com o
objetivo abrigar as famílias relocadas das áreas de risco, buscando preservar as
qualidades do lugar descritas nas entrevistas na associação (acesso a comércio e
serviço, proximidade de transporte público, relações afetivas da vizinhança).
Os acessos [9] à área de intervenção priorizam o transporte público de massa
pelo trem e ônibus, utiliza as rotas pelo rio existentes para pequenas embarcações e
cria vias para pedestres e ciclistas.
79
80
PROPOSTA
Figura 42 Zoneamento dos vãos, estrutura nova, rosa dos ventos e carta solar.
Para conectar o pátio com o Rio Potengi, optou-se por substituir o muro de
arrimo existente na sua margem por uma escadaria que manteve a função de
contenção e permite a contemplação da paisagem com acesso das pessoas ao rio e,
ainda, a possibilidade de ancoragem de pequenas embarcações (Figura 43).
A praia fluviomarinha (Figura 44) localizada entre as duas pontes já era utlizada
pela comunidade para banho de rio. Na proposta, o uso para fins de lazer foi mantido
e no projeto buscou-se intensificar a sua conexão com o pátio através de uma passeio
e rebaixamento de muros existentes (Figura 45). Para acessar a ponte foi projetada
uma rampa de concreto que permite a contemplação da paisagem durante o seu
percurso.
82
O primeiro vão é dedicado ao Rio Potengi. Esse tema foi escolhido pois o rio
destacou-se como um dos principais elementos na construção desse lugar. Está
presente na história da Ponte de Igapó, na leitura técnica, e também demonstrando
relevância na leitura social. Desta forma, esse vão tem como objetivo destacar
importância ambiental, a história e a riqueza cênica do Potengi através de exposições
artísticas e da abertura de uma janela na cidade para contemplá-lo, tendo como
escultura permanente o pescador, que foi um dos personagens mais presentes nos
mapas mentais da Ponte de Igapó, feitos pelos estudantes, e nas fotografias
analisadas durante o desenvolvimento do trabalho (Figura 47).
84
O terceiro vão tem como tema de exposição os migrantes que, assim como o
Rio Potengi, compõe o sentido desse lugar. Estando presentes durante todo o
trabalho, os migrantes marcam a história das estradas de ferro e caracterizam a
origem dos moradores da rua Rio Potengi. Desta maneira, esse vão se dedica a
apresentar histórias e memórias de viajantes que deixaram sua cidade em busca das
oportunidades na capital, tendo como escultura permanente uma família que caminha
em direção à Natal (Figura 49).
Foi criada uma conexão com o rio para que os saltadores retornem à ponte
através de uma escadaria interligada a um flutuador com uma rampa móvel que se
adapta à variação da maré. O flutuador consiste em um elemento de concreto com
interior oco, preenchido com ar para acompanhar as mudanças de nível do rio. Tendo
como função delimitar a área de salto, propiciando proteção e oferecer um apoio aos
87
saltadores para retornarem a ponte, com recorte na sua estrutura para os usuários
sairem debaixo da zona de pulo, evitando acidentes (Figura 52).
O vão 70 irá abrigar exposições com o tema memória da Ponte de Igapó. Como
mencionado anteriormente, esse vão está presente na memória coletiva da rua Rio
Potengi, representando a conexão do passado com o presente. Foi escolhida como
escultura permanente para esse trecho uma locomotiva vazada que rasga o piso de
concreto expondo a estrutura abaixo com um piso de vidro, representando a
desativação da linha férrea sobre a ponte, mas demonstrando que esse meio de
transporte ainda deixa marcas nesse lugar (Figura 53).
88
Figura 53: Trecho do vão 70 (exposições com o tema memória da Ponte de Igapó).
Para unir a estrutura nova à antiga foi utilizado uma passarela (Figura 54),
criando um acesso de pedestres a partir da ponte de concreto construída na década
de 1970 (Figura 55) com uma passagem de nível com controle de acesso em função
da passagem dos trens. E, também, foi criado um mirante que permite a observação
das arcadas da estrutura metálica (Figura 56).
Optou-se por deixar o centro vazado para que a visão a partir da estrutura nova
para a antiga permitisse a visualização do elemento antigo por completo, desde o pilar
até o topo do arco (Figura 57).
89
Figura 55: Conexão entre a parte nova e a antiga, com acesso para a ponte de
concreto.
A estrutura nova foi projetada para ser apropriada com usos temporários ao
mesmo tempo que oferece espaço de contemplação da paisagem do Rio Potengi.
Projetou-se o local como um grande pátio sombreado sem barreiras físicas no seu
interior para propiciar atividades de naturezas diversa, como apresentações artísticas,
feiras e exposições (Figura 58). A intenção formal é que ela impactasse minimamente
na paisagem deixando a estrutura metálica em evidência contrastando com ela pela
forma e material, tendo como solução o uso de duas lâminas paralelas em concreto
protendido.
Figura 59: Final da estrutura nova mostrando o último pilar da ponte de ferro ao
fundo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
podendo direcionar ações futuras de intervenção, bem como apontar caminhos para
interessados em projetos de cunho participativo.
A pesquisa ofereceu material que subsidiou a proposta apresentada e assim
entendemos ter sido alcançado o objetivo geral deste trabalho, que foi propor uma
intervenção urbana na Ponte de Igapó e seu entorno, com a participação dos
moradores da Rua Rio Potengi, ressaltando a ponte como um objeto de valor histórico
para a cidade e como um lugar para os moradores da Rua Rio Potengi, evidenciando
a relação que a ponte estabelece entre o território e o local.
Dessa forma, foi destacada a importância de se estimular a população a refletir
sobre o seu território, mapeando áreas com apropriações e propondo melhorias que
podem vir a auxiliar projetistas no desenvolvimento de propostas de intervenção
urbana.
95
REFERÊNCIAS
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Sylvia; ELALI, Gleice A. (Org.). Temas básicos em Psicologia Ambiental. Petrópolis:
Editora Vozes, 2011. Cap. 14. p. 182-190.
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DAVID, Joshua; HAMMOND, Robert. HIGH LINE: A história do parque suspenso de Nova
York. São Paulo: Bei, 2011. 339 p.
DEL RIO, Vicente. Introdução ao desenho urbano no processo de planejamento. 1.ed. São
Paulo: Pini, 1990. 198 p.
GOREB, Adryane et al. Antonio Jeovah de Andrade Meireles: Edson Vicente da Silva. In:
GORAYEB, Adryane; MEIRELES, Antonio Jeovah de Andrade; SILVA, Edson Vicente da
(Org.). Cartografia Social e Cidadania: experiências de mapeamento participativo dos
territórios de comunidades urbanas e tradicionais. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora,,
2015. p. 9-24.
JARDIM, Renata Maciel. Revitalização de espaços urbanos ociosos como estratégia para a
sustentabilidade ambiental: o caso do High Line Park no contexto do PlaNYC. 2012. 180 f.
Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Urbana e Ambiental, Puc-rio, Rio de Janeiro,
2012.
96
LOIOLA, Luís Eduardo. Viaduc des Arts, promenade plantée. Um recorte sobre a produção
de espaço público em Paris. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 189.02, Vitruvius, abr.
2016. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.189/5980>.
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LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. 3. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011. 227 p.
(Mundo Arte) ISBN: 9788578274726.
KUHNEN, Ariane. Percepção. In: CAVALCANTE, Sylvia; ELALI, Gleice A. (Org.). Temas
básicos em Psicologia Ambiental.Petrópolis: Editora Vozes, 2011. Cap. 21. p. 250-266.
NATAL, Prefeitura de. Lei Complementar nº 082: Plano Diretor de Natal. Natal, 2007.
NATAL. Prefeitura Municipal do. Conheça melhor o seu bairro: Nordeste. Disponível em:
https://www.natal.rn.gov.br/semurb/paginas/File/bairros/Bairros2017/.../Nordeste.pdf. Natal:
SEMURB, 2012. Acesso em: 23 nov. 2017.
NATAL. Prefeitura Municipal do. Conheça melhor o seu bairro: Quintas. Disponível em:
http://www.natal.rn.gov.br/bvn/publicacoes/oeste_quintas.pdf. Natal: SEMURB, 2008. Acesso
em: 23 nov. 2017.
NATAL, Prefeitura Municipal do. Natal: meu bairro, minha cidade. Secretaria Municipal de
Meio Ambiente e Urbanismo. Natal: SEMURB, 2009.
NATAL. Minuta do Anteprojeto de Lei que disciplina o uso e ocupação do solo, delimita
subzonas e estabelece as prescrições urbanísticas para a Zona de Proteção Ambiental 8
(ZPA8), criada pela Lei Complementar Municipal nº 82, de 21 de junho de 2007. Natal, 2016.
Disponível em: http://natal.rn.gov.br/semurb/paginas/File/zpa8atualizada/ZPA8-
Minuta_de_Lei (Atualizada).pdf. Acesso em: 23 nov. 2017.
NEGREIROS NETO, Manoel Fernandes de. A construção da ponte metálica sobre o rio
Potengi: Aspectos históricos, construtivos e de durabilidade - Natal/RN, Brasil (1912-1916) -
Estudo de caso. 2013. 84 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Civil, Engenharia
Civil, UFRN, Natal, 2013. Cap. 4.
______; SILVA, Walney Gomes da; SOUZA JÚNIOR, José Martins de. A durabilidade do
concreto de uma ponte centenária sem conservação em Natal RN, Brasil. Natal: N.c,
2014. 38 slides, color.
97
_______, História oral e narrativa: tempo, memória e identidade . História Oral: Revista da
Associação Brasileira de História Oral, São Paulo, v. 6, p.109-116, jun. 2003. Anual.
PER, Aurora Fernández; ARPA, Javier. The Public Chance: New urban landscapes. Vitoria-
gasteiz: A+t Ediciones, 2008. 419 p.
PONTE é marco da engenharia no RN. Tribuna do Norte. Natal, mar. 2010. Disponível em:
<http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/ponte-e-marco-da-engenharia-no-rn/144200>.
Acesso em: 04 nov. 2016.
TUAN, Yi-fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983. 219 p.
WALKER, Connor. The Landscape Imagination: Ensaio sobre o High Line, por James Corner
(Tradução de Arthur Stofella). ArchDaily Brasil, jul. 2014. Disponível em:
https://www.archdaily.com.br/br/623369/the-landscape-imagination-ensaio-sobre-o-high-line-
por-james-corner. Acesso em: 23 Nov 2017.
98
ANEXO A
APÊNDICE A
Esta é uma pesquisa inicial sobre a imagem socioambiental da Ponte de Ferro de Igapó, Natal - RN. Estamos interessados
na sua opinião sobre essa área da cidade. Agradecemos a sua colaboração. (Depto. de Arquitetura, UFRN)
1. PERFIL DO USUÁRIO
Local de nascimento:
(cidade/bairro/comunidade)________________________________________________
Outros:_________________________________________________________________________
4. Você levaria um amigo para conhecer a Ponte de Ferro de Igapó?O que vocês fariam lá?
6. A Ponte de Ferro de Igapó faz parte da sua história ou da sua família?Conte uma história.
Agradecemos sua colaboração. Se desejar acrescentar alguma informação, use este espaço.
01
SEM ESCALA
Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 01/09
BEIRA RIO
PLANTA BAIXA 05 - MUSEU PLANTA BAIXA 04 - MUSEU PLANTA BAIXA 03 - MUSEU PLANTA BAIXA 02 - MUSEU PLANTA BAIXA 01 - MUSEU
02
ESCALA ........................................................................................... 1/200
Discente: P :
Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 02/09
01
ESCALA ........................................................................................... 1/200
02
ESCALA ........................................................................................... 1/200
Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 03/09
Abaixo
Abaixo
01
ESCALA ........................................................................................... 1/200
02
ESCALA ........................................................................................... 1/200
Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 04/09
01
ESCALA ........................................................................................... 1/200
Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 05/09
01
ESCALA ........................................................................................... 1/200
02
ESCALA ........................................................................................... 1/200
Discente: P :
Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 06/09
PLATAFORMA DE
SALTO
LAJE EM CONCRETO
DA PARTE NOVA
PLATAFORMA DE
SALTO
PISO DA PONTE
DE CONCRETO
PISO DA PONTE
DE FERRO
01
ESCALA ......................... 1/200
PLATAFORMA DE
SALTO
LAJE EM CONCRETO
DA PARTE NOVA
PLATAFORMA DE
SALTO
PISO DA PONTE
DE CONCRETO
PISO DA PONTE
DE FERRO
02
ESCALA ......................... 1/200
Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 07/09
PLATAFORMA DE
SALTO
LAJE EM CONCRETO
DA PARTE NOVA
PLATAFORMA DE
SALTO
01
ESCALA ......................... 1/200
PLATAFORMA DE
SALTO
LAJE EM CONCRETO
DA PARTE NOVA
PLATAFORMA DE
SALTO
PISO DA PONTE
DE CONCRETO
PISO DA PONTE
DE FERRO
02
ESCALA ......................... 1/200
Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 08/09
PLATAFORMA DE
SALTO
LAJE EM CONCRETO
DA PARTE NOVA
PLATAFORMA DE
SALTO
PISO DA PONTE
DE FERRO
01
ESCALA ......................... 1/200
PLATAFORMA DE
SALTO
LAJE EM CONCRETO
DA PARTE NOVA
PLATAFORMA DE
SALTO
PISO DA PONTE
DE CONCRETO
PISO DA PONTE
DE FERRO
02
ESCALA ......................... 1/200
Orientadora: Coorientador:
CLEWTON NASCIMENTO 09/09